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UNIVERSIDADE DE PERNAMBUCO UPE FACULDADE DE CIÊNCIAS DA ADMINISTRAÇÃO MESTRADO PROFISSIONAL EM GESTÃO DO DESENVOLVIMENTO LOCAL SUSTENTÁVEL DANIEL MORENO DE SOUZA EMPREENDEDORISMO SOCIAL E DESENVOLVIMENTO LOCAL SUSTENTÁVEL: A contribuição da organização humanitária Visão Mundial para a geração de renda através do projeto REDES. Recife 2014

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UNIVERSIDADE DE PERNAMBUCO – UPE

FACULDADE DE CIÊNCIAS DA ADMINISTRAÇÃO

MESTRADO PROFISSIONAL EM GESTÃO DO DESENVOLVIMENTO

LOCAL SUSTENTÁVEL

DANIEL MORENO DE SOUZA

EMPREENDEDORISMO SOCIAL E DESENVOLVIMENTO LOCAL SUSTENTÁVEL:

A contribuição da organização humanitária Visão Mundial para a geração de renda

através do projeto REDES.

Recife

2014

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Daniel Moreno de Souza

EMPREENDEDORISMO SOCIAL E DESENVOLVIMENTO LOCAL SUSTENTÁVEL:

A contribuição da organização humanitária Visão Mundial para a geração de renda

através do projeto REDES.

Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado Profissional em

Desenvolvimento Local Sustentável da Faculdade de Ciências da

Administração de Pernambuco – FCAP/UPE, como requisito para a

obtenção do título de Mestre em Gestão do Desenvolvimento Local

Sustentável.

Orientador: Prof. Dr. Fábio José de Araújo Pedrosa.

Recife

2014

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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

Universidade de Pernambuco - UPE

Faculdade de Ciências da Administração de Pernambuco – FCAP

Biblioteca Leucio de Lemos

S719e

Souza, Daniel Moreno de.

Empreendedorismo social e desenvolvimento local sustentável: a contribuição da organização humanitária visão mundial para a geração de renda através do projeto REDES. / Daniel Moreno de Souza. – Recife: do autor, 2014.

154 f.: il.; graf., tab. -

Orientador: Fábio José de Araújo Pedrosa.

Dissertação (Mestrado) - Universidade de Pernambuco, Faculdade

de Ciências da Administração de Pernambuco, Gestão do

Desenvolvimento Local Sustentável, Recife, 2014.

1. Empreendedorismo. 2. Empreendedorismo social. 3. Projeto REDES.

4. Metodologia GOLD. 5. Desenvolvimento sustentável. I. Pedrosa, Fábio

José de Araújo. (orient.). II. Título.

658.421 CDD (23. ed.)

Edna Meirelles - CRB-4/1022 FCAP-UPE 07-2014

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DANIEL MORENO DE SOUZA

EMPREENDEDORISMO SOCIAL E DESENVOLVIMENTO LOCAL SUSTENTÁVEL:

Aa contribuição da organização humanitária Visão Mundial para a geração de renda

através do projeto REDES.

Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado Profissional em

Desenvolvimento Local Sustentável da Faculdade de Ciências da

Administração de Pernambuco – FCAP/UPE, como requisito para a

obtenção do título de Mestre em Gestão do Desenvolvimento Local

Sustentável.

Orientador: Prof. Dr. Fábio José de Araújo Pedrosa.

Banca examinadora

____________________________________

Profª. Dra. Theresa Cristina Jardim Frazão – Universidade de Pernambuco

Examinadora externa

____________________________________ Prof. Dr. Emanuel Ferreira Leite – Mestrado em Desenvolvimento Local Sustentável

Examinador interno

____________________________________

Prof. Dr. Ericê Bezerra Correia – Mestrado em Desenvolvimento Local Sustentável Examinador interno

Recife, 27 de junho de 2014.

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"Minha Vida não tem nenhum valor, a menos que eu a use para

realizar a obra que me foi confiada, pelo Senhor Jesus, obra de

contar as boas novas sobre a maravilhosa bondade e sobre o

amor de Deus" (Atos 20: 24).

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DEDICATÓRIA

A Deus por sua infinita graça, a minha mãe Ana Lucia Varela e a minha amada

esposa Sheyla Moreno.

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AGRADECIMENTOS

Primeiramente a Deus, meu eterno e amado Pai, Senhor da vida, da justiça,

da paz e do amor. Sem Ele e sem sua condução não teria nem iniciado este

trabalho.

Em segundo as duas mulheres mais especiais e inspiradoras de minha vida,

minha mãe Ana Lucia Varela, pelo carinho, dedicação, exemplo e amor, e a minha

fabulosa esposa Sheyla Kátia da Rocha Pimentel Moreno, pela inspiração, cuidado,

nutrição, esperança, força, paciência, amor e apoio em todo o período de estudo.

Aos meus amados irmãos, Ana Paula de Souza Muniz, João Moreno de

Souza Filho, Manasses Moreno de Souza, Moisés Moreno e Miriam Paula de Souza

pelo amor e exemplo.

Aos queridos amigos, Jeyson Rodrigues, Gustavo de Queiroz e Leonardo

Wanderley pelo incentivo, companheirismo e carinho; aos colegas e amigos de

mestrado, inspiradores e incentivadores na caminhada, dentre eles destaco as

adoráveis Deyse Mendes, Midiã Rodrigues e Renata Laranjeiras o melhor grupo de

trabalho que já tive; e aos amigos Daniel Penalva e Otávio Wesley Cavalcanti pelos

bons papos, dedicação e esmero nos estudos, o que muito me ensinou.

Aos professores Doutores, pelo acolhimento, respeito, dedicação e por

deixarem um pouco de si em minha vida.

A equipe do mestrado pelo profissionalismo, disponibilidade e respeito.

Ao meu querido orientador, professor Fábio Pedrosa, pela paciência, respeito

e apoio na condução deste trabalho.

A Visão Mundial Brasil por me proporcionar o ambiente e a condição

necessária para o estudo, trabalho e pesquisa de campo; em especial, meu

obrigado, a Elisio Gomes, Karina Lira, Julio Cesar, Marcio Andrade, Renata

Calvalcante e Maria Carolina.

As mulheres do GOLD esperança, pelo acolhimento e exemplo de superação.

Sem vocês esse trabalho não teria tanta cor e sabor.

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RESUMO

O presente trabalho tem propósito analisar a contribuição da ONG Visão

Mundial para o empreendedorismo social e o desenvolvimento local através do

projeto Redes de Desenvolvimento (REDES). Para tanto, se utilizou da pesquisa

bibliográfica sobre o empreendedorismo, empreendedorismo social, economia

solidária, desenvolvimento local e desenvolvimento sustentável, que se constitui

como fundamentação teórica desta pesquisa. Além disso, fez uso da pesquisa

documental para compreender as especificidades do projeto REDES, da ONG Visão

Mundial e da metodologia GOLD; e também da pesquisa de campo que contou com

a participação de dez mulheres que aplicam esta metodologia na cidade de Maceió,

e sete colaboradores da Visão Mundial. De acordo com os resultados obtidos nesse

estudo, ficou evidente que o projeto REDES, além de contribuir para a geração de

renda, educação financeira e o empreendedorismo, também contribui, através de

sua metodologia, para o bem estar psíquico e emocional de seus beneficiários,

melhora da autoestima, desenvolvimento comunitário, participação comunitária,

organização associativa, inclusão social, autoconfiança e confiança nos outros,

desenvolvimento profissional e melhoria da qualidade de vida, entre outros.

Somando a isso, a integração dos resultados da pesquisa de campo com os

conteúdos teóricos, permitiu a conclusão de que o projeto REDES também contribui

para o empreendedorismo social e o desenvolvimento local sustentável, e permitiu a

possibilidade do vislumbre de novas ações conforme as recomendações desta

pesquisa.

Palavras-chave: Empreendedorismo, empreendedorismo social, projeto REDES,

metodologia GOLD.

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ABSTRACT

The present work have purpose analyze the contribution the NGO World Vision for

social entrepreneurship and local development through the project Networks

Development (NETS). Therefore, has used the search bibliographic about

entrepreneurship, social entrepreneurship, solidarity economy, local development

and sustainable development, that constitute as theoretical foundation of this

research. Furthermore, made use of documentary research to understand the

specifics of the project NETS, of the NGO World Vision and methodology GOLD; and

also of the field research which counted with the participation of ten women applying

this methodology in Maceió city, and seven employees of World Vision. According to

the results obtained in this study, became evident that the project NETS, besides

contributing to the income generation, financial education and the entrepreneurship,

also contributes, through its methodology, for psychological and emotion well-being

of its beneficiaries, improved self-esteem, community development, community

participation, membership organization, social inclusion, confidence and trust in

others, professional development and improvement in quality of life, among other

things. Adding to that, the integration of the results of the field research with the

theoretical content, allowed the conclusion that NETS project also contributes to

social entrepreneurship and sustainable local development, and allowed the

possibility of glimpse of the new shares according to the recommendations of this

research.

Keywords: Entrepreneurship, social entrepreneurship, NETS project, GOLD

methodology.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

FIGURA 1: TERRITÓRIO DA CIDADE DE MACEIÓ E EM DESTAQUE O BAIRRO DA PONTA

GROSSA. ............................................................................................................. 69

FIGURA 2: BAIRRO DA PONTA GROSSA .......................................................................... 69

FIGURA 3: RESUMO METODOLÓGICO DA PESQUISA ......................................................... 73

FIGURA 4: ÁREA DE ATUAÇÃO DA VISÃO MUNDAL NO BRASIL .......................................... 77

FIGURA 5: EIXOS DO PROJETO REDES ......................................................................... 86

FIGURA 6: RESUMO DA DISTRIBUIÇÃO DE RECURSOS DO PROJETO REDES POR EIXO E

RESPONSÁVEIS ..................................................................................................... 87

FIGURA 7: REUNIÕES PREPARATÓRIAS .......................................................................... 91

FIGURA 8: MÓDULO DE FORMAÇÃO ............................................................................... 95

FIGURA 9: SISTEMA DE VOTAÇÃO DO GOLD .................................................................. 97

FIGURA 10: DISPOSIÇÃO DE UMA REUNIÃO DO GOLD ..................................................... 98

FIGURA 11: CAIXA DO DINHEIRO E SUPRIMENTOS ......................................................... 100

FIGURA 12: MODELO DA CADERNETA INDIVIDUAL PREENCHIDA ...................................... 101

FIGURA 13: FICHA DE CONTROLE DE EMPRÉSTIMO........................................................ 102

FIGURA 14: CALENDÁRIO DE FORMAÇÃO E SUPERVISÃO DO GOLD ................................ 103

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LISTA DE QUADROS

QUADRO 1: AS AVENIDAS EMPREENDEDORAS ................................................................ 36

QUADRO 2: EMPREENDEDORISMO PRIVADO X EMPREENDEDORISMO SOCIAL ..................... 44

QUADRO 3: OS DESAFIOS DO EMPREENDEDORISMO SOCIAL ............................................ 47

QUADRO 4: AS SEIS DIMENSÕES DO EMPREENDEDORISMO SOCIAL ................................... 48

QUADRO 5: AS SEIS DIMENSÕES DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL ............................ 62

QUADRO 6: RESUMO DOS PRINCIPAIS ACONTECIMENTOS RELACIONADOS COM

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL .......................................................................... 63

QUADRO 7: RESUMO DAS CATEGORIAS DE ANÁLISE ........................................................ 67

QUADRO 8: COLABORADORES DA VISÃO MUNDIAL QUE RESPONDERAM A PESQUISA ......... 71

QUADRO 9: COMPONENTES E ATIVIDADES DO PROJETO REDES ..................................... 81

QUADRO 10: CUSTO EM US$ DO PROJETO REDES ...................................................... 82

QUADRO 11: RESULTADOS ESPERADOS DO PROJETO REDES ........................................ 83

QUADRO 12: METODOLOGIA DE AVALIAÇÃO, CARACTERÍSTICAS E RESULTADOS PRETENDIDO

........................................................................................................................... 85

QUADRO 13: MODELO DE ABORDAGEM DA HAND IN HAND .............................................. 89

QUADRO 14: INFORMAÇÕES FUNDAMENTAIS DA REUNIÃO “C” DO GOLD .......................... 93

QUADRO 15: QUALIDADES E RESPONSABILIDADES DO PRESIDENTE .................................. 95

QUADRO 16: QUALIDADES E RESPONSABILIDADES DO(A) SECRETÁRIO(A) ......................... 96

QUADRO 17: QUALIDADES E RESPONSABILIDADES DO GUARDIÃO DA CAIXA ....................... 96

QUADRO 18: QUALIDADES E RESPONSABILIDADES DOS CONTADORES DE DINHEIRO ........... 96

QUADRO 19: RESULTADO DE BEM ESTAR INFANTIL (RBI) ............................................. 104

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LISTA DE GRÁFICOS

GRÁFICO 1: MELHORA DA AUTOESTIMA DAS PARTICIPANTES DO GOLD ESPERANÇA ....... 112

GRÁFICO 2: MELHORIA DO ENVOLVIMENTO COM A COMUNIDADE .................................... 114

GRÁFICO 3: MELHORIA DA ORGANIZAÇÃO FINANCEIRA .................................................. 115

GRÁFICO 4: RENDA MENSAL ANTES DE PARTICIPAR DA METODOLOGIA GOLD ................. 116

GRÁFICO 5: MELHORIA DA RENDA APÓS PARTICIPAÇÃO NA METODOLOGIA GOLD ........... 116

GRÁFICO 6: QUANTIDADE DE PESSOAS QUE MORAM COM AS MULHERES DO GOLD

ESPERANÇA ....................................................................................................... 117

GRÁFICO 7: CONHECIMENTO DE EMPREENDIMENTOS MELHORADOS PELA METODOLOGIA

GOLD ............................................................................................................... 118

GRÁFICO 8: PERCEPÇÃO SOBRE A METODOLOGIA GOLD PROMOVER O DESENVOLVIMENTO

COMUNITÁRIO ..................................................................................................... 118

GRÁFICO 9: AVALIAÇÃO DA METODOLOGIA GOLD ........................................................ 119

GRÁFICO 10: IMPORTÂNCIA DA METODOLOGIA GOLD PARA OUTRAS COMUNIDADES ....... 120

GRÁFICO 11: PROJETO REDES CONTRIBUI PARA O DLS ............................................... 121

GRÁFICO 12: PERCEPÇÃO DOS ASPECTOS DO DLS PROMOVIDOS PELO PROJETO REDES

......................................................................................................................... 123

GRÁFICO 13: PERCEPÇÃO DA CONTRIBUIÇÃO DO PROJETO REDES PARA A

SUSTENTABILIDADE SOCIAL ................................................................................. 124

GRÁFICO 14: PERCEPÇÃO DA CONTRIBUIÇÃO DO PROJETO REDES PARA A

SUSTENTABILIDADE ECONÔMICA ........................................................................... 125

GRÁFICO 15: PERCEPÇÃO DA CONTRIBUIÇÃO DO PROJETO REDES PARA A

SUSTENTABILIDADE CULTURAL ............................................................................. 125

GRÁFICO 16: PERCEPÇÃO DA CONTRIBUIÇÃO DO PROJETO REDES PARA A

SUSTENTABILIDADE COMUNITÁRIA......................................................................... 126

GRÁFICO 17: PERCEPÇÃO DA CONTRIBUIÇÃO DO PROJETO REDES PARA A

SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL ............................................................................ 126

GRÁFICO 18: PERCEPÇÃO DA CONTRIBUIÇÃO DO PROJETO REDES PARA O

DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO DOS SEUS BENEFICIADOS ..................................... 127

GRÁFICO 19: A IMPORTÂNCIA DO GOLD PARA OUTRAS COMUNIDADES .......................... 132

GRÁFICO 20: GOLD UMA ESTRATÉGIA VIÁVEL PARA GERAÇÃO DE RENDA E REDUÇÃO DA

POBREZA ............................................................................................................ 133

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GRÁFICO 21: PERCEPÇÃO DE QUE O PROJETO REDES PROMOVE O EMPREENDEDORISMO

SOCIAL ............................................................................................................... 133

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ABREVIATURAS E SIGLAS

ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas

AC – Agente de Campo

ANDE – Agencia Nacional de Desenvolvimento Microempresarial

BID – Banco Interamericano de Desenvolvimento

DL – Desenvolvimento Local

DLS – Desenvolvimento Local Sustentável

GOLD – Grupos de Oportunidades Locais de Desenvolvimento

HiH – Hand in Hand.

ONG – Organização não Governamental

PDA – Programa de Desenvolvimento de Área

REDES – Redes de Desenvolvimentos

SEBRAE - Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas

SHG – Self Help Group (Grupo de Auto Ajuda)

VM – Visão Mundial

RBI – Resultado de Bem estar da Infância

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 17

2 OBJETIVOS ........................................................................................................... 22

2.1 Objetivo Geral .................................................................................................. 22

2.2 Objetivos Específicos....................................................................................... 22

3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA .............................................................................. 23

3.1 Empreendedorismo e o Empreendedor ........................................................... 23

3.2 O empreendedorismo pode ser aprendido ...................................................... 32

3.3 Fatores que contribuíram para o surgimento do tema empreendedorismo no

Brasil ...................................................................................................................... 34

3.4 Empreendedorismo social .............................................................................. 37

3.5 Empreendedores sociais ................................................................................. 42

3.6 Economia Solidária .......................................................................................... 49

3.7 Desenvolvimento Local .................................................................................... 52

3.8 Desenvolvimento Local Sustentável ................................................................ 56

4 METODOLOGIA ..................................................................................................... 65

4.1 Enfoque e natureza da pesquisa ..................................................................... 65

4.2 Quanto aos objetivos ....................................................................................... 66

4.3 Obtenção de Dados ......................................................................................... 66

4.4 Categorias de análise ...................................................................................... 67

4.5 Locus da pesquisa ........................................................................................... 68

4.6 Os sujeitos da pesquisa ................................................................................... 70

4.7 Instrumentos de pesquisa ................................................................................ 72

4.8 Tabulação e Apresentação dos Dados ............................................................ 72

4.9 Resumo da metodologia em gráfico ................................................................ 73

5 CARACTERIZAÇÃO GERAL DA ÁREA DE ESTUDO ........................................... 74

5.1 A ONG Visão Mundial ...................................................................................... 74

5.2 Atuação nacional ............................................................................................ 77

5.3 Programa de Desenvolvimento de Área (PDA) ............................................... 78

5.4 O Projeto Rede de Desenvolvimento ............................................................... 79

5.5 Primeira fase do projeto REDES ..................................................................... 80

5.6 A Fase de Expansão........................................................................................ 83

5.7 Estrutura operacional ....................................................................................... 86

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5.8 Os recursos do projeto REDES ....................................................................... 87

5.9 A metodologia GOLD ....................................................................................... 87

5.10 Principais características do modelo de intervenção Self Help Groups (SHG)

............................................................................................................................... 90

5.11 Elementos e passos da Metodologia GOLD .................................................. 91

6 PESQUISA EMPÍRICA ......................................................................................... 106

6.1 Resultados da entrevista com o GOLD Esperança ....................................... 106

6.2. Resultados da observação direta com o GOLD Esperança .......................... 109

6.3 Resultado dos questionários com o GOLD Esperança .................................. 111

6.4 Resultados da pesquisa com equipe da ONG Visão Mundial ........................ 121

7 CONCLUSÃO ....................................................................................................... 138

REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 141

APÊNDICE A – Questionário Aplicado ao GOLD Esperança ................................. 148

APENDICE B – Questionário Aplicado aos Colaboradores da Visão Mundial ........ 149

APENDICE C – Informação sobre a pesquisa ........................................................ 150

ANEXO 1: Fotos do lócus da pesquisa na cidade de Maceió ................................. 151

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1 INTRODUÇÃO

A atual sociedade é marcada pelas grandes descobertas do último século e

pelo avanço tecnológico, os quais vêm proporcionando excelentes conquistas nas

diversas áreas da ciência e no modo de vida de milhões de pessoas em todo o

mundo. No entanto, o outro lado da moeda revela uma realidade deprimente, na

qual vive a maior parte da população mundial onde podemos observar: o aumento

da violência, a degradação ambiental, a fome, a desigualdade em estado alarmante,

a má distribuição de renda, entre outros. Sung (2008, p.76), nos traz duas ideias que

vigoram como verdades em nossa sociedade atual: a primeira é que “toda a

evolução da história humana serviu para desembocar no sistema de mercado

capitalista e não há alternativas”; a segunda sinaliza o mercado livre como a única

salvação para nossa economia (defendida pelos neoliberais). Ele destaca ainda,

como características centrais desse sistema, o controle total das empresas privadas

sobre os meios de produção com foco no desejo dos consumidores (nessa lógica, os

pobres, impossibilitados de consumir são excluídos do mercado) e a concorrência

como regente das relações de mercado, causando, desta forma, a sobrevivência

apenas dos mais fortes. Padilla (2005, p.60) também destaca que “a sociedade de

consumo12 é um fruto da técnica e do capitalismo. Historicamente, ela apareceu no

mundo ocidental quando a burguesia ascendeu ao poder político e colocou a técnica

a serviço de seu próprio enriquecimento.” Sobre essa sociedade de consumo ele

descreve algumas características e fundamento histórico: a palavra de ordem

passou a ser o aumento constante da produção, ainda que boa parte desta

consistisse em trivialidades; a propriedade privada, que na sociedade pré-industrial

havia servido para dar segurança às pessoas comuns, deixou de cumprir uma

1 Para Barbosa e Campbell (2006, p.21), “o consumo é ambíguo porque por vezes é entendido como uso e

manipulação e/ou como experiência; em outras, como compra, em outras ainda como exaustão, esgotamento e realização. Significados positivos e negativos entrelaçam-se em nossa forma cotidiana de falar sobre como nos apropriamos, utilizamos e usufruímos do universo a nossa volta. Essa ambiguidade começa na própria etmologia do termo. Consumo deriva latim consumere, que significa usar tudo, esgotar e destruir; e do termo inglês consummation, que significa somar e adicionar.” Para este estudo consideramos consumo como “a atividade que consiste na fruição de bens e serviços pelos indivíduos, pelas empresas ou pelo governo, e que implica a posse e destruição material (no caso dos bens) ou imaterial (no caso dos serviços). Constitui-se na fase final do processo produtivo, precedido pelas etapas da produção, distribuição e comercialização.” (WIKPEDIA, 2014, www) 2 Para Cunha e Guerra (2010), a sociedade de consumo tem como marcas, a manutenção de uma lógica de

acumulação e concentração crescente do capital; e como perspectiva de qualidade de vida a capacidade do consumo individual.

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função social e se transformou num direito absoluto. Surgiram, então, as grandes

indústrias capitalistas. Toda outra atividade que não incidisse diretamente no

desenvolvimento industrial, seria relegada a um plano secundário; as relações

trabalhistas estariam regidas, fundamentalmente, pelo princípio da conveniência

pessoal dos proprietários da indústria, para os quais a propriedade seria um meio de

enriquecimento e não um instrumento de serviço à sociedade; os meios massivos de

comunicação (especialmente o rádio e a televisão) seriam utilizados para

condicionar os consumidores a um estilo de vida em que se trabalha para ganhar, se

ganha para comprar e se compra para valer.

O atual sistema industrial está a serviço do capital, não do homem. Por conseguinte, converte-o num ser unidimensional – um parafuso de uma grande máquina que funciona segundo as leis da oferta e da procura; ele é a causa principal da contaminação ambiental, e cria um imenso abismo entre os que têm e os que não têm a nível nacional, e entre os países ricos e os países pobres, em nível internacional. (PADILLA, 2005, p.62)

Sung (2008) também disserta sobre os problemas gerados pelo atual sistema

capitalista, entre outros, destaca a impossibilidade deste modelo resolver os atuais

problemas sociais ou proporcionar melhoria de qualidade de vida para os que

sofrem na atualidade. Para Guimarães (2010, p.84) a noção de progresso vigente na

sociedade atual degrada o meio ambiente e “prima pelos interesses privados

(econômicos) frente aos bens coletivos (meio ambiente), consubstanciando-se em

uma visão antropocêntrica de mundo, gerador de fortes impactos socioambientais”,

e para a resolução dos problemas atuais, ele ressalta a necessidade de um novo

paradigma, de uma nova lógica de pensar e ver a realidade, que leve em conta a

complexidade e que não seja fragmentada e simplista como o paradigma científico

mecanicista. Sustenta ainda, que se essa visão de mundo fragmentada3 não for

mudada e não se levar em conta o paradigma da complexidade e integralidade,

caminharemos para a degradação da qualidade de vida humana e do planeta, para

uma crise socioambiental.

3 De acordo com Cunha e Guerra (2010), a visão fragmentada de mundo, é resultado da ciência moderna ao

criar um instrumental teórico-metodológico de produção de conhecimento, que fragmenta a realidade decompondo-a em campo de estudo, representando partes de uma totalidade. Sobre os aspectos e consequência desse paradigma destacam entre outros: a simplificação da realidade; não leva em conta a integralidade e conexão dos diversos aspectos da vida (realidade); tem seu reflexo na separação da sociedade x natureza; pressupõe a capacidade de se controlar a ordem e a realidade; dá suporte à compreensão construída sobre a noção de desenvolvimento construída, que tem como marcas a injustiça, desigualdade social, degradação ambiental, o antropocentrismo, entre outros.

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Sobre o novo paradigma, Gutiérrez (1999) afirma que este precisa ter uma

visão holística, que considere o mundo a partir das relações e integrações e não do

ponto de vista de entidades isoladas. Ele salienta que “abandonar o paradigma que

presidiu nosso agir até o momento significa, por isso, apoderar-se de espaços

inéditos que requerem novas respostas em todos os âmbitos: político, econômico,

cultural, educativo e outros” (GUTIÉRREZ, 1999, p.30). Fialho (2007, p.159)

constata a crise no atual modelo de desenvolvimento, mas aponta para o surgimento

de iniciativas que já sinalizam uma nova lógica (paradigma). Para ele “essas

evidências têm contribuído para o surgimento de diversas iniciativas, voltadas para

compatibilizar o crescimento econômico com os imperativos de equidade social e

respeito aos limites naturais dos ecossistemas”. Alguns autores, dentre eles,

Schumpeter (1968) e Dolabela (2003) argumentam que são os empreendedores (ou

o empreendedorismo) as pessoas com as características de promover as mudanças

e uma nova realidade para o desenvolvimento da humanidade. De acordo com

Dolabela (2003) o empreendedorismo é o elemento do capital humano mais

importante para o desenvolvimento; e para Schumpeter (1968) o empreendedor é

quem promove o desenvolvimento econômico ao inovar e realizar novas

combinações na lógica do mercado. Filion (2000) destaca que os empreendedores

são pessoas que estão sempre de olho nos acontecimentos, traçando novas

diretrizes e corrigindo rumos para se chegar onde pretende. Para Dess (2001) os

empreendedor social é como um tipo de reformador revolucionário que busca

promover mudanças sociais, econômicas e ambientais significativas numa

determinada realidade:

Os empreendedores sociais são reformadores e revolucionários, de acordo com a descrição de Schumpeter, mas têm uma missão social. Levam a cabo mudanças fundamentais na forma como as coisas são feitas no sector social e têm perspectivas ousadas. Vão diretamente às causas dos problemas, em vez de lidar simplesmente com os sintomas e, com frequência, reduzem as necessidades em vez de se limitarem a satisfazê-las. Procuram criar mudanças sistémicas e progressos sustentáveis. Ainda que possam agir localmente, as suas ações têm potencial para estimular melhorias globais nas arenas escolhidas, sejam elas a educação, a saúde, o desenvolvimento económico, o ambiente, as artes ou qualquer outro campo social. (DESS, 2001, p.4)

Sobre esse tipo de empreendedor Bessant e Tidd (2009), falam de Muhammad

Yunus que “[...] revolucionou a economia com a fundação do Grameen Bank, ou

“village bank”, em Bangladesh, em 1976, para oferecer “microcrédito” a fim de ajudar

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pessoas pobres a alcançar autossuficiência econômica por meio do emprego

autônomo – um modelo reproduzido atualmente em 58 países em todo o mundo.”

No ponto de vista de Yunus (2008, p.35), é possível, mesmo na atual lógica do

capitalismo, promover equidade e desenvolvimento que alcance as parcelas

excluídas da sociedade e, como uma solução viável, ele destaca a necessidade das

atuais empresas focarem suas potencialidades para resolver problemas sociais e

não somente no lucro. Para ele, “os empreendedores fundarão empresas sociais

não para alcançar ganhos pessoais limitados, mas para buscar metas sociais

específicas”.

Com vista no tema do empreendedorismo social, o seguinte estudo tem como

objetivo geral analisar a contribuição da ONG Visão Mundial para o

empreendedorismo social e o desenvolvimento local através do projeto Redes de

Desenvolvimento (REDES) e como objetivos específicos: discutir as bases teóricas

do desenvolvimento local sustentável e empreendedorismo social que sustentam o

estudo; identificar como o projeto Redes de Desenvolvimento tem ajudado a

desenvolver economicamente as famílias através do empreendedorismo social e

investigar quais as contribuições da metodologia Grupo de Oportunidade Local de

Desenvolvimento (GOLD) para o Desenvolvimento Local Sustentável.

Este estudo parte da hipótese de que o Projeto Redes de Desenvolvimento

contribui para o empreendedorismo social e o desenvolvimento local sustentável

através da metodologia GOLD.

Com a finalidade de alcançar os objetivos traçados, este trabalho está dividido

em sete principais capítulos. O capítulo 1 é composto pela corrente introdução, o

capítulo 2 pelos objetivos da pesquisa já descritos. O capítulo 3 é composto pela

fundamentação teórica e aborda o tema do empreendedorismo, empreendedorismo

social, economia solidária, desenvolvimento local e desenvolvimento local

sustentável. O capítulo 4 descreve a metodologia e caminhos adotados para

alcançar com confiabilidade os resultados desta pesquisa. Fazem parte deste

capítulo entre outros: O enfoque e natureza da pesquisa, o método utilizado e seu

caráter exploratório, a forma como os dados foram obtidos, os instrumentos

utilizados na pesquisa, a forma como os mesmos foram tabulados, o locus da

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pesquisa e os sujeitos da pesquisa formados pelas mulheres do GOLD Esperança,

que se reúnem no bairro da Ponta Grossa na cidade de Maceió, e os colaboradores

da Visão Mundial. No capítulo 5, apresentamos a caracterização geral da pesquisa,

composta pela pesquisa documental e a descrição da ONG Visão Mundial, o projeto

Redes de Desenvolvimento (REDES) e a Metodologia Grupos de Oportunidades

Locais de Desenvolvimento (GOLD). O capítulo 6 apresenta os resultados da

pesquisa de campo aplicada ao GOLD Esperança e aos colaboradores da Visão

Mundial e por fim a conclusão deste trabalho é o que forma o capítulo 7.

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2 OBJETIVOS

2.1 Objetivo Geral

Analisar a contribuição da Visão Mundial para o empreendedorismo social e o

desenvolvimento local através do projeto Redes de Desenvolvimento (REDES).

2.2 Objetivos Específicos

Discutir as bases teóricas do Desenvolvimento Local Sustentável e

Empreendedorismo social que sustentam o estudo.

Identificar como o projeto Redes de Desenvolvimento tem ajudado a

desenvolver economicamente as famílias através do empreendedorismo

social.

Investigar quais as contribuições da metodologia Grupos de Oportunidades

Locais de Desenvolvimento (GOLD) para o Desenvolvimento Local

Sustentável.

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3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

3.1 Empreendedorismo e o Empreendedor

Com as mudanças que estão ocorrendo de forma tão repentina em nossa

sociedade devido ao avanço tecnológico, as novas descobertas, o crescimento cada

vez maior do poder do mercado, se faz necessário o fomento e a valorização do

papel do empreendedor como agente essencial para as mudanças e transformação

da sociedade em que vivemos. De acordo com Oliveira (2004, p.180) a raiz

etimológica da palavra empreendedorismo está na palavra francesa “entreprener”,

que surgiu na França entre o século XVII e XVIII, e significa “aquele que se

compromete com um trabalho ou uma atividade específica e significante”. Segundo

Dess (2001, p.1) o termo em francês significa alguém que “”empreende” um projecto

ou uma actividade significativa. Mais especificamente, o termo passou a ser usado

para identificar os indivíduos mais arrojados que estimulavam o progresso

econômico ao descobrirem novas e melhores formas de fazer as coisas.

Hashimoto (2010, p.1) e Dornelas (2014, p.19), traçam um breve histórico da

evolução do empreendedorismo conforme pode ser visto abaixo:

Marco Polo tentando estabelecer uma rota comercial para o Oriente, pode ter

sido o primeiro exemplo da definição de empreendedorismo. Ele assinou um

contrato com um homem que possuía dinheiro para vender suas mercadorias.

Nele se diferencia a ideia do capitalista, aquele que assumia risco

passivamente, do empreendedor, que assumia um papel ativo, correndo

todos os riscos incluindo os emocionais e físicos. (Dornelas, 2014, p.19)

Na Idade Média a palavra ““empreendedor” foi usado para definir aquele que

gerenciava grandes projetos de produção. Esse indivíduo não assumia

grandes riscos, apenas gerenciava os projetos, utilizando os recursos

disponíveis, geralmente provenientes do governo do país.

Em 1755, Richard Cantillon registra o primeiro uso do termo

empreendedorismo; seu sentido era explicar a “receptividade ao risco de

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comprar algo por um determinado preço e vendê-lo em um regime de

incerteza.”

Em 1803, Jean Baptiste Say, faz a ampliação dessa definição e relaciona o

empreendedorismo a transferência de um setor de produtividade mais baixa

para um setor de produtividade mais elevada e de maior rendimento, dando a

ideia de que o empreendedor é quem abre seu próprio negócio.

O economista Joseph Schumpeter, um dos nomes mais relacionados ao

empreendedorismo, em 1934 ele associou o empreendedor à ação inovadora

ou criativa.

Em 1959, Arthur Cole definiu empreendedorismo como sendo “a atividade

com propósito de iniciar, manter e aumentar uma unidade de negócios

voltada ao lucro, para a produção ou distribuição de bens e serviços.”

Por fim, Longenecker e Schoen (1975 apud HASHIMOTO, 2010) diferenciam

a administração e empreendedorismo, indicando que este “reside em três

elementos localizados no coração da atividade empreendedora: a inovação, o

risco e a autonomia.”

Segundo Hashimoto (2010, p.7) existe uma grande dificuldade em se definir o

empreendedorismo e “essa dificuldade reside, sobretudo, no fato de que sua

utilização foi se tornando cada vez mais ampla com o tempo, servindo a distintos

propósitos de acordo com o contexto em que era utilizado”. Peter Drucker (2006)

também escreve sobre a confusão da definição de empreendedorismo e salienta a

importância da inovação para compreendê-la:

Hoje, há muita confusão quanto à definição adequada da palavra empreendedorismo. Alguns observadores usam o termo para se referir às pequenas empresas; outros, a todos os novos negócios. Na prática, porém, o sucesso de inúmeras organizações está intimamente relacionado ao empreendedorismo. Portanto, o termo não se refere ao tamanho ou à idade de uma empresa, mas sim a um determinado tipo de atividade. No cerne dessa atividade está a inovação: o esforço para criar mudanças propositadas e focadas no potencial social ou econômico de uma empresa. (DRUCKER, 2006, p. 70)

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Para Melo Neto e Froes (2002, p.4), a maneira como o empreendedorismo é

visto varia de acordo com quatro correntes de pensamentos. Para uns o

empreendedorismo é “[...] um ramo da administração de empresas, que enfatiza a

criação, o desenvolvimento e a gestão de novas organizações [...]”, outros já veem

como sendo “[...] uma disciplina, um campo de estudo da arte e da ciência gerencial

[...]”, “[...] pode ser visto ainda como uma política de ação do governo, das empresas

e da comunidade, gerando uma alternativa para a promoção do desenvolvimento

econômico e social locais” e ainda “[...] como suporte indispensável ao

desenvolvimento autossustentável das micro, pequenas e médias empresas, e cujo

órgão representativo no país é o SEBRAE”.

Muitos são os autores que estudam e escrevem sobre o empreendedorismo e

entre as várias definições existentes sobre o assunto, Dornelas (2014) relata que

empreendedorismo “pode ser definido como o envolvimento de pessoas e processos

que, em conjunto, levam à transformação de ideias em oportunidades. A perfeita

implementação dessa oportunidade leva à criação de negócios de sucesso.” Para

Dolabela (2003, p.17), “a origem e a essência do empreendedorismo estão na

emoção do indivíduo, na energia que o leva a transformar-se e transformar sua

vida”. Melo Neto e Froes (2002, p.6), afirmam que “empreendedorismo é um

neologismo derivado da livre tradução da palavra entrepreneurship, sendo utilizado

para designar os estudos relativos ao empreendedor, seu perfil, suas origens, seu

sistema de atividades, seu universo de atuação.” Eles afirmam ainda que “é um

processo dinâmico pelo qual indivíduos identificam ideias e oportunidades

econômicas e atuam desenvolvendo-as, transformando-as em empreendimentos e,

portanto, reunindo capital, trabalho e outros recursos para a produção de bens e

serviços.” (MELO NETO; FROES, 2002, p.9). Ao referir-se ao empreendedorismo

LEITE (2012, p.73), acredita que “empreendedorismo é o espírito empreendedor, é a

prática de empreender (o ato, a ação árdua, criativa, difícil e arrojada), é o resultado

(efeito) dessa prática (a empresa, o empreendimento, o negócio). Não é arte nem

ciência, mas sim prática e disciplina”. Sendo assim, podemos perceber que

empreendedorismo, empreender e ser empreendedor ao que se fala

corriqueiramente não é simplesmente abrir e gerir uma empresa, diz respeito e

envolve “todo o sistema de vida da pessoa” conforme Fillion e Dolabela (2000, p.18).

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O comportamento empreendedor faz parte de um processo total, que comporta várias dimensões da vida e diferentes escolhas. Estas nem sempre são realizadas de forma consistente: podem decorrer do acaso dos encontros, de atividades anteriores, da influência de um professor, do exemplo de alguém que tenha estipulado nosso interesse por tal ou qual assunto. (FILLION; DOLABELA, 2000, p.20)

Para Gerber (2011, p.22), “o empreendedor vive no futuro; nunca no passado

e raras vezes no presente. Sua felicidade é sentir-se livre para construir imagens de

conjecturas e hipóteses” e Leite (2012), identifica o empreendedor como um

indivíduo que tem capacidade de fazer acontecer o futuro e perceber a mudança

como oportunidade:

O que é um empreendedor? Pode-se afirmar que é um indivíduo capaz de estimular a criação do futuro. É dotado de rara sensibilidade para antever uma situação determinada com os olhos da fé. Quando empreende, não só vislumbra o que irá acontecer, mas também possibilita a todos os seus colaboradores a escolha do melhor caminho para o sucesso do empreendimento. (LEITE, 2012, p. 127)

Ser empreendedor significa ter a capacidade de iniciativa, imaginação fértil para conceber as ideias, flexibilidade para adaptá-las, criatividade para transformá-las em oportunidade de negócio, motivação para pensar conceitualmente e capacidade para perceber a mudança como oportunidade. (LEITE, 2012, p.7)

Ele indica ainda que ser um empreendedor diz respeito a uma postura interior

e exterior, interior ao sonhar, inventar, criar, ver as oportunidades com mais clareza

que a maioria das pessoas, e exterior ao por em prática seu sonho, ao ir em busca

das novas oportunidades visualizadas, ao labutar, organizar-se, seguir as leis

existentes, enfrentar os riscos e desafios que já existem e os que surgirão. “Os

empreendedores são indivíduos que montam seu próprio negócio e que organizam,

administram e assumem o risco do resultado do empreendimento. Os verdadeiros

empreendedores criam empresas a partir de suas ideias, por meio de trabalho árduo

e duro.” (LEITE, 2012, p.127). Nesse sentido concorda com Fillion e Dolabela

(2000):

O empreendedor é uma pessoa que empenha toda sua energia na inovação e no crescimento, manifestando-se de duas maneiras: criando sua empresa ou desenvolvendo alguma coisa completamente nova em uma empresa preexistente (que herdou ou comprou, por exemplo). Nova empresa, novo produto, novo mercado, nova maneira de fazer – tais são as manifestações do empreendedor. (FILLION; DOLABELA, 2000, p.25)

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Em geral, ele visa ao crescimento e cresce progressivamente com sua organização. Desse modo, precisa aprender continuamente, porque exerceu um ofício complexo, de múltiplas facetas e em constante evolução. Em seu aprendizado, deverá enfatizar a concepção, o desenho de projetos e as visões. Deverá também elaborar bons sistemas de acompanhamento e de supervisão dos projetos que implantar. (FILLION; DOLABELA, 2000, p.25)

Como a ideia de empreender ultrapassa o meio privado, por dizer respeito a

uma postura interna e externa do indivíduo,

os empreendedores são pessoas que estão simultaneamente criando novos tipos de negócios e aplicando novos e insólitos conceitos administrativos. Eles não devem surgir, necessariamente, no empreendimento privado; autoridades, universitários e administradores municipais também podem atuar de forma empreendedora – embora um estudo de caso do setor privado familiar sirva muito bem para tornar clara a concepção de Drucker, temos, também o exemplo dos empreendedores sociais: indivíduos que se dedicam a atacar problemas sociais como Aids, abuso de crianças, alcoolismo, entre outros. (LEITE, 2012, p. 74)

Dolabela (1999, p. 68) argumenta que “o empreendedor é alguém que define

por si mesmo o que vai fazer e em que contexto será feito. Ao definir o que vai fazer,

ele leva em conta seus sonhos, desejos, preferencias e o estilo de vida que quer ter.

Desta forma, consegue dedicar-se intensamente, já que seu trabalho se confunde

com o prazer.” Para Gerber (2011, p.22), “o empreendedor é nossa personalidade

criativa – sempre satisfeito em lidar com o desconhecido, de olho no futuro,

transformando possibilidades em probabilidade, fazendo o caos resultar em

harmonia.” Segundo Dornelas (2014, p.2) “os empreendedores são pessoas

diferenciadas, que possuem motivação singular, são apaixonadas pelo que fazem,

não se contentam em ser mais um na multidão, querem ser reconhecidas e

admiradas, referenciadas e imitadas, querem deixar um legado.” Salienta ainda que

eles aceitam assumir riscos calculados e a possibilidade de fracasso, utilizam os

recursos da sua disposição com criatividade para transformar o ambiente social e

econômico onde vivem e criam novos negócios. Conforme Bessant e Tidd (2009), os

empreendedores são motivados por uma grande necessidade de conquista e correm

risco moderadamente; aliado a isso, afirmam que eles gostam de estabelecer metas

pessoais desafiadoras e realistas, encontrar soluções para os problemas e de

assumir responsabilidades e ter informações sobre o seu desenvolvimento pessoal.

Quanto às características comuns de um empreendedor, relatam que eles buscam

identificar novas oportunidades com disciplina e foco, bem como se beneficiam das

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mudanças e rupturas, são focados em poucos projetos, são voltados para a ação e

execução, aproveitam da rede de relacionamentos para se desenvolverem

explorando a experiência e recursos, contribuindo assim para que outros se

desenvolvam e alcancem seus objetivos. Afirmam também que as características

empreendedoras podem ser desenvolvidas em qualquer indivíduo desde que se

tenha treinamento, prática, experiência e apoio. Para REIS (2012, p.23) “[...] o

empreendedor sabe conjugar como ninguém os verbos agir, fazer e tomar (a

iniciativa). Sabe sair na frente. Correr atrás é para quem já chegou tarde. [...] agir e

fazer são sinônimos de acreditar.” Já de acordo com Peter Drucker (2011, p.39), “os

empreendedores inovam. A inovação é o instrumento específico do espírito

empreendedor. É o que contempla os recursos com a nova capacidade de criar

riqueza. A inovação de fato cria um recurso.” Para Drucker (2006, p.71 ) o que todos

o empreendedores de sucesso têm em comum é “um compromisso com a prática

sistemática da inovação” e afirma que

a inovação é a função específica do empreendedorismo, seja numa organização já estabelecida, numa instituição pública ou numa empresa individual no fundo do quintal. Esse é o meio pelo qual o empreendedor cria novos recursos para produzir riqueza ou alocar os recursos disponíveis da

maneira correta para prosperar. (DRUCKER, 2006, p. 70)

A inovação é o instrumento específico dos empreendedores, o meio pelo qual eles exploram a mudança como uma oportunidade para um negócio diferente ou um serviço diferente. Ela pode bem ser apresentada como uma disciplina, ser apreendida e ser praticada. Os empreendedores precisam buscar, com propósito deliberado, as fontes de inovação, as mudanças e seus sintomas que indicam oportunidades para que uma inovação tenha êxito. E os empreendedores precisam conhecer e por em prática os princípios da inovação bem sucedida. (DRUCKER, 2011, p.25)

No entanto deixa claro, que o empreendedorismo exige mais do que a prática

da inovação.

É claro que o empreendedor envolve muito mais do que a inovação sistemática – estratégias empreendedoras distintas, por exemplo, e princípios de gestão empreendedora, igualmente necessários no empreendimento estabelecido, na organização de serviços públicos e no novo empreendimento. Mas o alicerce do empreendedorismo em si é a prática da inovação sistemática. (DRUCKER, 2006, p. 80)

Para ele, a inovação é mais que conceito, envolve também percepção:

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Uma vez que a inovação é tanto conceitual quanto de percepção, um potencial inovador também deve sair e olhar, perguntar, ouvir. Um bom inovador usa tanto o lado direito quanto o esquerdo do cérebro. Por meio de análise, define o que a inovação deve ser para atender à oportunidade. Só então sai e estuda usuários potenciais para avaliar seus valores, expectativas e necessidades. (DRUCKER, 2006, p. 79)

Dolabela (2003), concorda com Peter Drucker e afirma que a inovação é o

que permite o empreendedor se desenvolver e dá início a sua caminhada

empreendedora:

Por que o empreendedor precisa representar o mundo de forma diferenciada do real socialmente objetivado? Porque somente a inovação lhe permite iniciar sua caminhada empreendedora e desenvolver-se. A capacidade de identificar oportunidades é fruto do "olhar" e, portanto, atributo do indivíduo que aprendeu a ver o que os outros não distinguem. (DOLABELA, 2003, p.29)

Outra característica do empreendedor segundo Drucker (2011, p.36), diz

respeito a sua busca constante por mudanças. Para ele “o empreendedor vê a

mudança como norma e como sendo sadia. [...] o empreendedor sempre está

buscando a mudança, reage a ela, e a explora como sendo uma oportunidade.” E

salienta que a sede dos empreendedores vai além da busca de mudar ou melhorar

algo,

todavia, os empreendedores querem mais. Não se contentam em simplesmente melhorar o que já existe, ou em modifica-lo. Eles procuram criar valores novos e diferentes, e satisfações novas e diferentes, convertendo um “material” em um “recurso”, ou combinar recursos existentes em uma nova e mais produtiva configuração. (DRUCKER, 2011, p.45)

Para Fillion e Dolabela (2000), “ser empreendedor é também saber definir

projetos e realiza-los. Para isso, convém se habituar a dividir seus planos em

etapas, que deverão ser realizadas gradualmente.” Destacam ainda que o

empreendedor não segue a multidão ele é um criador de caminhos:

A ideia por traz de tudo é que o empreendedor não é um seguidor, mas um criador de caminhos – para si e para os outros. Portanto, precisa se conhecer muito bem, tanto para detectar no ambiente externo os sinais que lhe interessam quanto para definir o papel que pretende desempenhar neste mundo. (FILLION; DOLABELA, 2000, p.18).

Eles também identificam que a diferença entre os empreendedores e os

outros agentes dentro de uma organização, está na sua capacidade de definir

visões, projetos inovadores, percepção de oportunidades de negócios no mercado e

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a capacidade de se relacionar com os outros. “Isso nos leva a uma constatação:

além de definir visões, uma das particularidades do empreendedor é sua habilidade

de gerar relacionamentos (o famoso network) – o que exige dele um bom domínio da

comunicação.” (FILLION; DOLABELA, 2000, p.22). Segundo Oliveira (2004, p.181)

“os empreendedores têm a capacidade de movimentar recursos e pessoas para

alcançarem seus objetivos e projetos que venham a impactar os processos

produtivos e o mercado.”

Sobre as características do empreendedor, Bernardi (2010, p.64) aponta:

“Senso de oportunidade, dominância, agressividade e energia para realizar,

autoconfiança, otimismo, dinamismo, independência, persistência, flexibilidade e

resistência a frustrações, criatividade, propensão ao risco, liderança carismática;

habilidade de equilibrar “sonho” e realização, habilidade de relacionamento”. Para

Gerber (2011, p.22) “A personalidade empreendedora transforma a condição mais

trivial em oportunidade excepcional. O empreendedor é o visionário que existe em

nós. O sonhador. A energia por traz de toda atividade humana. A imaginação que

acende a centelha do futuro. O catalizador da mudança.” Ele destaca que a

personalidade empreendedora pode fazer parte das mais variadas áreas da

atividade humana:

No campo da ciência, a personalidade empreendedora atua nas áreas mais abstratas e menos pragmáticas da física nuclear, da matemática pura e da astronomia teórica. No campo das artes, floresce na arena exclusiva da vanguarda. No mundo dos negócios, o empreendedor é o grande estrategista, o inovador, aquele que desenvolve métodos para penetrar em mercados já existentes ou criar novos. É o gigante, como Sears Roebuck, Henry Ford, Tom Watson, da IBM, e Ray Kroc, do McDonald’s. (GERBER, 2011, p. 22)

Para Leite (2012) o empreendedor é um artista, um criador, alguém que cria

novos produtos, novos empregos, novas coisas e que nunca para. Os

empreendedores de sucesso sabem como identificar e aproveitar as oportunidades,

tomando-as não como risco, mas como destino. Ele destaca entre outras, as

seguintes características do empreendedor:

“Tem livre determinação.” (LEITE, 2012, p.16)

“Te um faro aguçado para tirar partido do saber singular e se lançarem num negócio próprio.” (LEITE, 2012, p.14)

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“É impulsionado pela criação do próprio posto de trabalho.” (LEITE, 2012, p.15)

“Os Empreendedores percebem novas ideias como grandes oportunidades.” (LEITE, 2012, p.19)

“A sua segurança econômica não está fundamentada em um emprego, mas no próprio potencial de produzir, pensar, aprender, criar e se adaptar.” (LEITE, 2012, p.19)

“São ágeis, persistentes e, geralmente, trabalham com um tipo de capital intangível: boas ideias.” (LEITE, 2012, p.25)

“Precisam trabalhar duro.” (LEITE, 2012, p.74)

“O empreendedor é um indivíduo de muita iniciativa, dotado de uma personalidade agressiva, um eterno farejador de oportunidades, sobretudo aquelas ligadas a seu interesse e motivações.” (LEITE, 2012, p.148)

“Faz o que gosta” (LEITE, 2012, p.148)

Sobre empreender, Bernardi (2010) afirma que a ideia de empreender se

concretiza de cinco formas: Através da montagem de um empreendimento, por meio

da compra de uma empresa em funcionamento, pela sociedade em um novo

empreendimento ou em um que já esteja em funcionamento e por meio da franquia.

Percebe-se de acordo com a definição de Bernardi, que o foco de sua atenção está

na ideia de empreender ligada a esfera econômica e empresarial. Para Peter

Drucker (2011, p.36) “‘empreender’ diz respeito a todas as atividades dos seres

humanos que não aquelas que poderíamos chamar de “existenciais” em vez de

“sociais”. E conclui “que o empreendimento de maneira alguma está limitado à

esfera econômica, embora o termo dela se originasse.” Dolabela (2003), também

nos traz o conceito de empreender:

“Empreender não significa apenas criar novas propostas, inventar novos produtos ou processos, produzir novas teorias, engendrar melhores concepções de representação da realidade ou tecnologias sociais. Empreender significa modificar a realidade para dela obter a auto-realização e oferecer valores positivos para a coletividade. Significa engendrar formas de gerar e distribuir riquezas materiais e imateriais por meio de ideias, conhecimentos, teorias, artes, filosofia.” (DOLABELA, 2003, p.29)

Ele destaca ainda que, “empreender é essencialmente um processo de

aprendizagem proativa, em que o indivíduo constrói e reconstrói ciclicamente a sua

representação do mundo, modificando-se a si mesmo e ao seu sonho de auto-

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realização em processo permanente de auto-avaliação e autocriação” (Dolabela,

2003, p.32), e mais,

empreender é um processo essencialmente humano, com toda a carga que isso representa: ações dominadas por emoções, desejos, sonhos, valores; ousadia de enfrentar as incertezas e de construir a partir da ambiguidade e no indefinido; consciência da inevitabilidade do erro em caminhos não-percorridos; rebeldia e inconformismo; crença na capacidade de mudar o mundo; indignação diante de iniquidades sociais. Empreender é, principalmente, um processo de construção do futuro. (DOLABELA, 2003, p.29)

3.2 O empreendedorismo pode ser aprendido

Para Hashimoto (2010, p.7), “[...] qualquer pessoa é um empreendedor em

potencial, assim como qualquer pessoa pode passar sua vida inteira sem

demonstrar suas características empreendedoras”. De acordo com Dolabela (2003,

p.24) “assim como no caso do artista, no do empreendedor também não há milagre.

O espirito empreendedor é um potencial de qualquer ser humano e necessita de

algumas condições indispensáveis para se materializar e produzir efeitos.” Ele cita

algumas condições necessárias para o desenvolvimento desse potencial.

Entre essas condições estão, no ambiente macro, a democracia, a cooperação e a estrutura de poder tendendo para a forma de rede. Sem tais “aminoácidos”, formadores de capital social, há pouco espaço para o afloramento do espírito empreendedor, que é um dos componentes do capital humano. (DOLABELA, 2003, p.24)

Sobre o espírito empreendedor Peter Drucker destaca:

O espírito empreendedor é, portanto, uma característica distinta, seja de um indivíduo, ou de uma instituição. Não é um traço de personalidade; em trinta anos tenho visto gente de personalidade e temperamento, os mais variados possíveis, desempenharem-se bem, frente a desafios empreendedores. (DRUCKER, 2011, p.33)

Dolabela (2003) falando sobre educação empreendedora afirma que a mesma

deve começar na mais tenra idade, porque diz respeito à cultura, que tem o poder de

frustrar ou de fomentar a capacidade empreendedora do indivíduo e que todos

nascem empreendedores e com o tempo perdem essa característica:

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“Na lida aprendi que todos nascem empreendedores e que, se deixamos de sê-lo mais tarde, isso se deve à exposição a valores antiempreendedores na educação, nas relações sociais, no “figurino cultural” conservador que somos submetidos. Lidar com crianças, portanto, é lidar com autênticos empreendedores ainda não contaminados por esses valores” (DOLABELA, 2003, p.16)

No entanto, mesmo a pessoa perdendo as características empreendedoras inatas, o

empreendedorismo pode ser aprendido e ensinado como destaca Dornelas (2014),

hoje em dia, esse discurso mudou e, cada vez mais, acredita-se que o processo empreendedor possa ser ensinado e entendido por qualquer pessoa e que o sucesso seja decorrente de uma gama de fatores internos e externos ao negócio, do perfil do empreendedor e de como ele administra as adversidades que encontra no dia a dia de seu empreendimento. (DORNELAS, 2014, p.29)

Dolabela (2003) defende que o saber empreendedor vai além dos conteúdos

científico e técnico.

O saber empreendedor ultrapassa o domínio de conteúdos científicos, técnicos, instrumentais. Estes poucos servem para quem não sonha, para quem não tem a capacidade de, a partir do sonho, gerar novos conhecimentos que produzam mudanças significativas para o avanço da coletividade. A “rebeldia” do empreendedor não se manifesta somente pela denúncia do inadequado, do obsoleto, do prejudicial à sociedade, mas sobre tudo pela proposta de solução ou melhoria para os problemas que encontra. Por isso, só o sonho (ou ideia) não é suficiente para configurar uma ação empreendedora: é preciso transformá-la em algo concreto, viável, sedutor, por sua capacidade de trazer benefícios para todos, o que lhe dá o caráter de sustentabilidade. (DOLABELA, 2003, p.29)

Tratando do sucesso do empreendedor, Berbardi (2010, p.68), argumenta que

o diferencial do empreendedor bem sucedido são “as características da

personalidade empreendedora, uma correta modelagem do negócio e um

planejamento bem elaborado [...]”. Já de acordo com Peter Drucker (DRUCKER,

2011, p.45) “os empreendedores bem sucedidos, qualquer que seja a sua motivação

pessoal – Seja dinheiro, poder, curiosidade ou desejo de fama ou reconhecimento –,

tentam criar valor e fazer uma contribuição.” Para o alcance desse sucesso, Fillion e

Dolabela (2000), consideram o plano de negócio a principal ferramenta do

empreendedor e elemento central da prática empreendedora. “Sem ele, fica difícil

sobreviver. Sem ele, torna-se impossível até mesmo descobrir por que as coisas dão

errado e acabam matando ideias promissoras.” (FILLION; DOLABELA, 2000, p. 18)

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Fillion e Dolabela (2000), falam sobre a cultura empreendedora e sustentam

que assumir uma cultura empreendedora tem haver com o nível de autonomia da

pessoa, capacidade de iniciar a mudança e não simplesmente se adaptar a

mudança. E destacam cinco elementos da cultura empreendedora: A identificação

de oportunidades de negócios, a definição de visões, expressão de diferenciais,

avaliação de riscos e gestão de relacionamentos.

Sobre a motivação para se empreender, Bernardi (2010, p.66), menciona

entre outras motivações a “necessidade de realização; implementação de ideias;

independência; fuga da rotina profissional; maiores responsabilidades e risco; prova

de capacidade; auto realização; maior ganho; status; controle da qualidade de vida”.

Para ser um empreendedor não é preciso necessariamente abrir uma

empresa ou negócio próprio, a pessoa pode ser um empreendedor trabalhando

como funcionário dentro de qualquer organização. Tais pessoas são denominadas

de intraempreendedores. Para Fillion e Dolabela (2000), um intraempreendedor é

uma pessoa que age como empreendedor em uma empresa que não é sua e, dentro

dessa, usa sua criatividade, realiza coisas novas, inova, assume riscos pelos quais

não é remunerada, dessa forma aprende a ser líder e a empreender. Para tal a

tendência é subir na hierarquia da empresa ou se tornar um empreendedor.

Schumpeter (1968) também considera o Intra-empreendedor e destaca:

“[...] chamamos ‘empresários’ não apenas aos homens de negócios ‘independentes’ em uma economia de trocas, que de modo geral são assim designados, mas todos que de fato preenchem a função pela qual definimos o conceito mesmo que sejam, como está se tornando regra, empregados ‘dependentes’ de uma companhia, como gerentes, membros da diretoria etc.”( SCHUMPETER, 1968, p.83)

3.3 Fatores que contribuíram para o surgimento do tema empreendedorismo

no Brasil

A difusão do conceito de empreendedorismo no Brasil ocorreu no final de

1990, tornando-se mais conhecido somente a partir de 2000. Entre os fatores que

contribuíram para sua consolidação estavam: a preocupação com a criação de

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pequenas empresas que tivesse vida longa e a diminuição de empresas que

estavam falindo. Nessa época muitas pessoas perderam seus empregos devido às

novas adequações que as grandes empresas tiveram que fazer para manter-se no

mercado, por causa do fenômeno da globalização. Sem alternativas, muitos dos

desempregados abriram novos negócios, inexperientes e com os recursos de suas

economias pessoas (Dornelas, 2014).

Essa junção de fatores e o ímpeto do brasileiro de ser dono do próprio nariz, busca a independência por meio do próprio negócio e da relevância das micro e pequenas empresas para a economia do país, despertou discussões a respeito do tema empreendedorismo, com crescente ênfase para pesquisas relacionadas com o assunto no meio acadêmico, e também com a criação de programas específicos voltados ao público empreendedor. (DORNELAS, 2014, p.2)

Nesse contexto destaca-se a criação do SEBRAE e da Sociedade Brasileira de

Exportação (Softex). Antes dessas entidades quase não se falava de

empreendedorismo e na criação de pequenas empresas. “Os ambientes político e

econômico do país não eram propícios, e o empreendedor praticamente não

encontrava informações para auxiliá-lo na jornada empreendedora.” O surgimento

do SEBRAE, teve como objetivo, dar todo o suporte que os novos empreendedores

precisassem para abrir sua empresa e também consultoria para a resolução de

problemas pontuais do novo negócio. Hoje o SEBRAE é o órgão mais conhecido

entre o pequeno empresário brasileiro. (DORNELAS, 2014, pg.14). Traçando os

principais acontecimentos para a evolução do empreendedorismo no Brasil,

Dornelas (2014) destaca: A criação em 1990 dos programas Softex e Geração de

Novas Empresas de Software, Informação e Serviço (Genesis), que apoiavam

atividades empreendedoras em software, o ensino da disciplina em universidades e

geração de empresas na área de software; o programa Brasil Empreendedor, criado

pelo Governo Federal com foco na capacitação de mais de seis milhões de

empreendedores em todo o país. Com duração de 1999 à 2002; os programas

Empretec e Jovem Empreendedor do SEBRAE, voltado à capacitação

empreendedora; o movimento de criação de empresas de internet em 1999 e 2000;

o movimento de incubadoras de empresas no país; as novas Leis a favor das micro

e pequenas empresas (a Lei Geral da Micro e Pequena Empresa, a instituição do

simples, a Lei da Inovação, o Programa Empreendedor Individual); os vários cursos

e programas criados nas universidades sobre empreendedorismo e criação de

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negócios o que ajudou na disseminação do empreendedorismo; o aumento

numérico de professores mestres e doutores dedicados ao ensino do

empreendedorismo e o apoio do Governo Federal às micro e pequenas empresas.

Em síntese, os últimos anos foram repletos de iniciativas em prol do empreendedorismo, criando as bases para a nova fase do empreendedorismo no país, que pode ser representada por dois importantes eventos que ocorrerão no Brasil nesta década: a Copa do Mundo de Futebol de 2014 e as Olimpíadas de 2016. Trata-se de dois importantes eventos que já estão estimulando novas oportunidades empreendedoras e que proporcionarão a criação e o desenvolvimento de novos negócios no país. É o novo momento do Brasil, e o empreendedorismo será o protagonista desta década. (DORNELAS, 2014, p.17)

Tantos argumentos apontam que não existe uma única modalidade para o

empreendedorismo. A manifestação do empreendedorismo pode ser vista em todos

os meios que se organiza a vida humana; nas artes, nas iniciativas públicas, nos

empreendimentos que visam o bem estar social e comunitário, na medicina, nos

projetos a favor da conservação ambiental, na construção de uma nova sociedade,

entre outros. Sabendo disso, Fillion e Dolabela (2000), traçaram algumas possíveis

modalidades do empreendedorismo conforme pode ser visto no quadro 1.

Quadro 1: As avenidas empreendedoras

AVENIDAS ATIVIDADES APRENDIZADO

Intraempreendedorismo Inovação Visão, relações, sistema de suporte dentro da empresa

Empreendedorismo Proprietário/administrador

Inovação Gestão

Visão, concepção, projeção, gestão (em especial de marketing, recursos humanos, finanças, operações)

Empresa familiar Gestão, sucessão Gestão, comunicação e relacionamento interpessoal, sistemas sociais

Microempresa Trabalho autônomo

Gestão Gestão

Gestão operacional, gestão de si, de operações, marketing, ecologia pessoal

Tecnoempreendedorismo Invenção, inovação Visão, gestão, trabalho de equipe, redes, globalização

Empresas cooperativas e coletivas

Gestão Trabalho de comunicação de grupo

Empreendedorismo social Ação benemérita, sem fim lucrativo

Implicação social

Fonte: Adaptado de FILLION; DOLABELA, 2000, p. 24.

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De acordo com o quadro 1, o intraempreendor é o empreendedor que está

lotado em uma empresa ou organização que não é sua, nela desenvolve sua

capacidade empreendedora, promove inovação, desenvolvimento para a

organização e o seu próprio desenvolvimento; o empreendedor proprietário é

comumente chamado de empresário, ele desenvolve sua capacidade

empreendedora abrindo e gerindo seu próprio negócio; a empresa familiar também é

uma forma de empreender junto aos parentes, dando continuidade (promovendo

inovação, aproveitando as oportunidades, desenvolvendo a empresa) ou abrindo um

novo negócio da família; no trabalho autônomo o empreendedor utiliza sua própria

capacidade e técnica para promover o seu ganho por meio da inovação e das

oportunidades visualizadas, aqui o empreendedor é o próprio recurso para produzir

riqueza e transformação; devido a grande demanda por novas tecnologia o

tecnoempreendedor tem como características promover a inovação na área

tecnológica, para isso utiliza-se se suas próprias habilidades; as cooperativas aplica

os princípios do empreendedorismo na lógica da autogestão e o empreendedorismo

social que visa promover o bem estar social, a transformação da realidade local,

enfrentar algum problema social e buscar soluções e qualidade de vida para as

pessoas de determinada comunidade.

3.4 Empreendedorismo social

Conforme visto acima, os empreendedores com enfoque social são

denominados de empreendedorismo social, por fazer uso da inovação, das

oportunidades, e da ação a favor do bem estar social, a favor da construção de uma

sociedade mais justa e digna, levando em conta o bem estar humano. Isso pode ser

realizado a través de uma empresa que mesmo tendo seu foco no lucro pode

também trazer benefícios a uma sociedade ou comunidade local, ou por meio da

articulação comunitária (UNIVERSIA, 2014, www).

Abordando o histórico e origem do empreendedorismo social, Silva (2011)

ressalta a sua estreita ligação com o surgimento do empreendedorismo e ressalta o

elemento de filantropia e caridade presente em sua definição:

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O histórico do empreendedorismo social praticamente se confunde ao do empreendedorismo propriamente dito, porém pode-se diferenciá-lo, mormente na origem da palavra “caridade” de origem latina, caritas, significando amor ao próximo, beneficência e da palavra “filantropia” de origem grega, significando boa vontade para com as pessoas. (SILVA, 2011, p.3)

Silva (2011) salienta ainda que “o tema empreendedorismo social é novo, mas sua

essência já existe há muito tempo”.

Os novos focos e abordagens refletem a busca incessante da humanidade por soluções para seus grandes dilemas, como a fome, a concentração de riquezas, a má distribuição de renda, a exclusão social, os índices altíssimos de mortalidade infantil nos países em desenvolvimento, o esgotamento dos recursos naturais. Foi no início dos anos 80 que o ato de empreender, até então relacionado às atividades empresariais, também sofreu transformações, adquirindo contornos sociais. (SILVA, 2011, p.4)

Para Schmitt, Beiler e Walkowski (2011) a evolução do empreendedorismo vem

sendo analisada há muitos anos; no entanto, somente no início da década de 90 é

que o Brasil começou a se aprofundar no estudo do empreendedorismo. Os estudos

se aprofundaram muito em empreendedorismo corporativo (com foco no bem estar

das empresas privadas), deixando de lado outras vertentes, dentre elas o

empreendedorismo social. Melo Neto e Froes (2002, p.8), destaca quatro ações que

ajudaram a alavancar o empreendedorismo no Brasil:

a inserção do apoio ao empreendedorismo e à dinâmica empreendedora como política ou ação governamental voltada para a promoção do desenvolvimento econômico;

investimentos na educação superior, de forma a garantir o aumento

auto-sustentado a logo prazo das atividades empreendedoras;

criação de disciplina de empreendedorismo e negócios nas redes de

ensino fundamental, médio e universitário;

apoio governamental à criação de novas empresas. (MELO NETO;

FROES, 2002, p.8)

Segundo Bessant e Tidd (2009), apesar das várias definições que se tem

sobre empreendedorismo social, a maioria tem como objetivo criar valor e mudança

social e, para alcançar esse objetivo, se faz necessário o envolvimento com

organizações privadas, públicas e do terceiro setor. Para eles, alguns exemplos de

empreendedorismo social incluem: a redução da pobreza; o desenvolvimento

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comunitário; o bem estar e saúde das pessoas; o meio ambiente e a

sustentabilidade; a arte e a cultura; a educação e o emprego. Indicam ainda que o

empreendedorismo social e empresarial possuem muitas características

semelhantes, mas que o de cunho social se diferencia nos seguintes aspectos: É

menos preocupado com independência e lucro financeiro e mais com as questões

sociais; tem geralmente sua ênfase em resultados a longo prazo e com a herança

duradoura que vai deixar; foco na rede de investidores e recursos para desenvolver

e realizar mudança ao invés de focar na empresa e na equipe de gestão. Uma

característica marcante dos empreendedores sociais é o grande nível de empatia e

a sede por justiça social. Melo Neto e Froes (2002, p.9), diferencia

empreendedorismo social de empreendedorismo em dois aspectos importantes:

“não produz bens e serviços para vender, mas para solucionar problemas sociais,” e

o outro, “não é direcionado para mercados, mas para segmentos populacionais em

situações de risco social (exclusão social, pobreza, miséria, risco de vida)”. Para

eles,

o empreendedor social é um tipo especial de líder – suas ideias e inovações não são incorporadas aos produtos e serviços a serem produzidos e prestados. Mas, sobretudo, são adicionadas à metodologia utilizada na busca de soluções para os problemas sociais, objeto das ações de empreendedorismo. (MELO NETO; FROES, 2002, p.9)

Os autores acima acreditam que os empreendedores sociais “são pessoas

que trazem aos problemas sociais a mesma imaginação que os empreendedores do

mundo dos negócios trazem à criação de riqueza.” Assim como os empreendedores,

ao identificarem oportunidades logo têm ideias, “os empreendedores sociais buscam

soluções inovadoras para os problemas sociais existentes e potenciais.” (MELO

NETO; FROES, 2002, p.9). De acordo com Atitudes Sustentáveis (2014, www),

“Empreendedorismo Social é um nome dado a um conjunto de ações

empreendedoras que visam à melhoria da sociedade, onde os empreendedores

lançam mão de medidas que podem ser ao mesmo tempo lucrativas e sociais.” Esta

fonte ressalta a diferença entre o empreendedor com foco empresarial e o

empreendedor social,

o empreendedor trabalha para conseguir lucro, estabelece medidas e estratégias que gerem um resultado financeiro positivo, já o empreendedor social trabalha para conseguir resultados positivos dentro de uma

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sociedade, estabelecendo medidas e estratégias que gerem um retorno social e ambiental positivo. (ATITUDES SUSTENTÁVEIS, 2014, www)

Nesse contexto inclui a dimensão da sustentabilidade ambiental ao definir que “o

empreendedorismo social busca hoje implantar nas comunidades medidas

sustentáveis para que possam conciliar avanços tecnológicos e outros progressos

com um meio ambiente saudável e boas condições de vida para todos.” (ATITUDES

SUSTENTAVEIS, 2014, www) Conforme Dees (2001, p. 1), “a ideia de

“empreendorismo social” toca uma corda sensível. É uma expressão bem adaptada

ao nosso tempo e que combina a paixão de uma missão social com uma imagem de

disciplina ligada à gestão, de inovação e de determinação que é normalmente

associada, por exemplo, aos pioneiros da alta tecnologia de Silicon Valley.”

Argumenta também que,

para além de atividades inovadoras sem fins lucrativos, o empreendorismo social pode incluir atividades lucrativas com objetivos sociais, como bancos de desenvolvimento comunitário, e organizações híbridas que combinam elementos lucrativos e não-lucrativos, como os abrigos para os sem-abrigo que iniciam atividades lucrativas para formar e dar trabalho aos seus utilizadores. (DEES, 2001, p.1)

O Governo Federal Brasileiro também traz a definição de empreendedorismo social

e negócios sociais:

Empreendedorismo social é um termo que significa um negócio lucrativo e que ao mesmo tempo traz desenvolvimento para a sociedade. As empresas sociais, diferentes das ONGs ou de empresas comuns, utilizam mecanismos de mercado para, por meio da sua atividade principal, buscar soluções de problemas sociais. (BRASIL, 2014, www)

Os negócios sociais4 integram a lógica dos diferentes setores econômicos e oferecem produtos e serviços de qualidade à população excluída do mercado tradicional, ajudando a combater a pobreza e diminuir a desigualdade. Inclusão social, geração de renda e qualidade de vida são os objetivos principais dos negócios sociais, que também são economicamente rentáveis. (BRASIL, 2014, www)

4 Segundo Yunus (2008, pg 36, 38), para que a estrutura do capitalismo seja completa, se faz necessário à

introdução das empresas sociais, que tem como meta a busca de soluções de problemas sócias (negócios socais). Para ele, “uma empresa social é movida por uma causa, em vez de ser impulsionada pelo lucro, e tem o potencial de atuar como agente de mudanças no mundo.” Ele argumenta ainda que “o ponto principal da empresa social é funcionar sem incorrer em perdas e, ao mesmo tempo, ser útil às pessoas e ao planeta da melhor maneira possível – particularmente aos indivíduos menos favorecidos.”

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Oliveira (2004), em sua tese de doutorado destrincha algumas importantes

organizações internacionais de empreendedorismo social e destaca os seus

conceitos sobre o assunto: ele afirma que para a School Social Entrepreneurship

(SSE) do Reino Unido, o empreendedor social é “É alguém que trabalha de uma

maneira empresarial, mas para um público ou um benefício social.” Esse tipo de

empreendedor nunca diz: Não pode ser feito. Para a Canadian Center Social

Entrepreneurship Canada (CCSE) “um empreendedor social vem de qualquer setor,

com as características de empresários tradicionais de visão, criatividade e

determinação,” mas com foco na inovação social5. Por fim cita a Foud Schwab da

Suíça que acredita que esses empreendedores são agentes de intercambiação da

sociedade que propõem ideias uteis para a resolução dos problemas sociais, usando

uma combinação de conhecimento e prática de inovação para criar novos

procedimentos e serviços, parcerias e meios de auto sustentabilidade dos projetos,

transformação das comunidades, utilização de enfoques baseados no mercado para

resolver os problemas sociais e identificação de novos mercados e oportunidades

para financiar uma missão social. Ele sintetiza os conceitos dessas organizações e

destaca os seguintes aspectos:

1) o empreendedor social pode ser qualquer pessoa, de qualquer idade, formação, credo, cor, etc; 2) são pessoas que sabem trocar, intercambiar, são criativas, inovadoras, tenazes, bem relacionadas, objetivas, sensíveis; 3) tem conhecimento de negócios apreendidos em suas práticas comerciais e que são voltadas para o campo social na mesma perspectiva de busca por oportunidades e sucesso na realização de seu sonho; 4) são pessoas, como diz a SSE, que nunca dizem “não pode ser feito”, ou, ainda, como afirma o ISE, “onde as pessoas vêem problemas os empreendedores sociais vêem solução”; 5) sua motivação está em construir e transformar a sociedade, dando melhor qualidade de vida e gerar soluções concretas para problemas concretos; 6) é um agente de mudança catalisador de energia para transformação através de esforços coletivos e integrados com todos os seguimentos da sociedade. (OLIVEIRA, 2004, p.177, 178)

A partir da análise de vários conceitos de empreendedorismo social, Oliveira (2014),

afirma que mesmo sendo um conceito recente, sua prática tem sido realizada a

5 De acordo com Bignetti (2011, p.1), a inovação social surge como uma das formas de se buscarem alternativas

para o futuro da sociedade. Ele define inovação social “como o resultado do conhecimento aplicado a necessidades sociais através da participação e da cooperação de todos os atores envolvidos, gerando soluções novas e duradouras para grupos sociais, comunidades ou para a sociedade em geral.” Para Sesi (2014, www) “a Inovação Social se refere ao desenvolvimento de processos, produtos e serviços que permitam a inclusão social, geração de trabalho e renda e, sobretudo, promovam a qualidade de vida das pessoas.”

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muito tempo por diversas pessoas na história da humanidade. Ele traça um

panorama conceitual do empreendedorismo social no mundo e afirma que mesmo

assume um novo significado decorrente de quatro fatores:

1) desenvolvimento econômico globalizado, conjuntamente com o crescimento dos problemas sociais; 2) crescimento das organizações sem fins lucrativos nas décadas de 60 e 70; 3) ineficiência da ação governamental, das organizações e da filantropia na resolução dos problemas sociais; 4) crescimento do chamado setor sem fins lucrativos, ou Terceiro Setor a partir da década de 1990 e, conseqüentemente, a redução de fontes e recursos de financiamento, o que conduz a busca de uma nova lógica de gestão para autosustentabilidade destas organizações e suas missões; esta busca por uma nova lógica da gestão das organizações sem fins lucrativos abre espaço para um novo paradigma, o empreendedorismo social, que é uma derivação do empreendedorismo de negócios, mas com finalidades sociais. (OLIVEIRA, 2004, p.201)

Quanto à característica do empreendedor social de acordo com a organização

Foud Schwab da Suíça destaca que eles: “apontam ideias inovadoras, e vem

oportunidades onde outros não vem nada; combinam risco e valor com critério e

sabedoria; estão acostumados a resolver problemas concretos, são visionários com

sentido prático, cuja motivação é a melhoria de vida das pessoas, trabalham vinte e

quatro horas do dia para conseguir seu objetivo social.” (OLIVEIRA, 2004)

3.5 Empreendedores sociais

Segundo Ashoka (2014, www), importante organização de fomento ao

empreendedorismo social em todo o mundo, o termo empreendedor social foi

definido e disseminado pelo fundador e Presidente da organização, Bill Drayton, “ao

perceber a existência de indivíduos que combinam pragmatismo, compromisso com

resultados e visão de futuro para realizar profundas transformações sociais.”

Para essa organização, empreendedor social não é apenas um termo e sim alguém

que aponta tendências e resolutividade para problemas sociais e ambientais de

forma inovadora, pois o mesmo tem a capacidade de enxergar um problema que a

sociedade ainda não enxergou e ainda vê-lo de uma perspectiva diferenciada. Com

isso, naturalmente, ele acelera o processo de mudança e inspira outras pessoas a

acreditarem e trabalharem por uma causa comum. Afirma também que “os

empreendedores sociais muitas vezes parecem estar possuídos por suas ideias,

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dedicando suas vidas para mudar a sociedade. Conseguem ser visionários e

realistas ao mesmo tempo, preocupando-se com a aplicação prática da sua visão

acima de tudo,” e destaca algumas características desse tido de empreendedor:

Os empreendedores sociais são indivíduos com soluções inovadoras para os problemas mais prementes da sociedade. Eles são fortemente engajados e muito persistentes, enfrentando as principais questões sociais e oferecendo novas ideias para a mudança em larga escala. Em vez de deixar as necessidades da sociedade só para o governo ou a iniciativa privada, os empreendedores sociais identificam o que não está funcionando e buscam colocar em ação soluções para os problemas estruturais e sistêmicos da sociedade. Além disso, se comprometem a disseminar essas novas soluções e a persuadir toda a sociedade a tomar esses novos saltos também. (ASHOKA, 2014, www)

Dees (2001,p.3) destaca que “os empreendedores sociais são uma espécie de

gênero empreendedor, são empreendedores com uma missão social. No entanto,

por causa dessa missão, enfrentam alguns desafios característicos e qualquer

definição tem que refletir esse aspecto.”

Para os empreendedores sociais, a missão social é explícita e central, o que, obviamente, afecta a forma como os empreendedores sociais detectam e avaliam as oportunidades. O impacto relacionado com a missão torna-se o critério central, não a criação de riqueza. Para os empreendedores sociais, a riqueza é apenas um meio para atingir um fim, enquanto que para os empreendedores empresariais a criação de riqueza é uma forma de medir a criação de valor. (DEES, 2001, p.3)

De acordo com Melo Neto e Froes (2002, p.10), os empreendedores sociais

têm algumas características peculiares que os distingue dos demais

empreendedores. Entre elas está o fato de que o seu sucesso é medido pelo

impacto social, o retorno desejado é a melhoria da qualidade de vida, seu foco está

em resolver os problemas sociais de uma determinada comunidade, buscam o

desenvolvimento local e sua criatividade, por vezes, é maior. Além disso, produzem

bens e serviços para a comunidade, suprindo carências e resolvendo problemas

sociais e, por fim, tem como objetivo principal retirar as pessoas de situação de risco

social. Silva (2011, p.4), completa essas características destacando a “sinceridade,

a paixão pelo que fazem, clareza, confiança pessoal, valores, boa vontade de

planejamento, sonhador e habilidade para o improviso.”

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Não é difícil perceber as diferenças entre o empreendedorismo privado e o

social. Melo Neto e Froes (2002), afirmam que ambos estão em duas lógicas

diferentes. O primeiro é individual, tem seu foco de produção de bens e serviços

para o mercado e para a satisfação das necessidades de seus clientes, o segundo

tem seu foco nos problemas sociais, na comunidade alvo de seus projetos de

intervenções e em mudar a realidade de determinada comunidade. O quadro 2 traz,

com clareza, as diferenças entre os dois.

Quadro 2: Empreendedorismo privado x empreendedorismo social

Empreendedorismo privado Empreendedorismo social

1. É individual 1. É coletivo

2. Produz bens e serviços para o mercado

2. Produz bens e serviços para a comunidade

3. Tem o foco no mercado 3. Tem o foco na busca de soluções para os problemas sociais

4. Sua medida de desempenho é o lucro 4. Sua medida de desempenho é o impacto social

5. Visa satisfazer necessidades dos clientes e ampliar as potencialidades do negócio

5. Visa resgatar pessoas da situação de risco social e promove-las

Fonte: Adaptado de MELO NETO; FROES, 2002, p. 11

De acordo com Dess (2001, p. 6) “os empreendedores sociais são uma

estirpe especial de líderes e devem ser reconhecidos enquanto tal. Esta definição

preserva o seu estatuto distintivo e assegura que o empreendorismo social não seja

tratado com superficialidade.” Para ele “os empreendedores sociais desempenham o

papel de agentes de mudança no setor social ao:”

Adoptar uma missão para criar e manter valor social (e não apenas valor privado);

Reconhecer e procurar obstinadamente novas oportunidades para servir essa missão;

Empenhar-se num processo contínuo de inovação, adaptação e aprendizagem;

Agir com ousadia sem estar limitado pelos recursos disponíveis no momento; e

Prestar contas com transparência às clientelas que servem (DESS, 2001, p.4)

Por fim, Hartigan e Elkington (2009, p.5), traçam dez características dos

empreendedores sociais bem sucedidos:

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Tentam livrar-se das restrições da ideologia ou da disciplina.

Identificam e aplicam soluções práticas aos problemas sociais, combinando inovação, engenhosidade e oportunidade.

Inovam ao encontrar um novo produto, um novo serviço ou uma nova abordagem a um problema social.

Concentram-se – em primeiro lugar e antes de tudo – na criação de valor social e, nesse espírito, estão dispostos a compartilhar suas inovações e insights com os outros, para que possam reproduzi-los.

Abraçam o desafio antes mesmo de estarem totalmente preparados.

Têm uma crença inabalável na capacidade nata de todos, muitas vezes independente da educação, de contribuir de modo significativo para o desenvolvimento econômico e social.

Demonstram uma determinação tenaz que os leva a assumir riscos que os outros não ousariam correr.

Equilibram a paixão pela mudança com zelo pela avaliação e controle de seu impacto.

Tem muito a ensinar aos criadores de mudança dos outros setores.

Demonstram um impaciência saudável (por exemplo não têm um bom desempenho em papeis burocráticos que, com o crescimento – e a quase inevitável burocratização – da organização, podem suscitar questões de sucessão.)

No que diz respeito ao perfil do empreendedor social Melo Neto e Froes

(2001, p. 34), afirmam que não é qualquer um que pode ser este tipo de

empreendedor, para tanto é preciso gostar e pensar no social, “subordina o

econômico ao humano, o individual ao coletivo e carregar consigo o sonho de

transformar a realidade atual.” “É movido a ideias transformadoras e assume uma

atitude de inconformismo e crítica diante das injustiças sociais existentes em sua

região e no mundo.”

O desejo maior do empreendedor social é ajudar as pessoas, desenvolver a sociedade, criar coletividades e comunidades, vê-las crescerem e fortalecerem-se para nelas implementar ações auto-sustentáveis que lhes garantam o sustento e a melhoria contínua do seu bem-estar. (MELO NETO; FRÓES, 2001, p. 34)

De acordo com o site de Empreendedorismo Social (2014, www), evento que

aconteceu em 2012 como parte dos eventos paralelos da Conferência das Nações

Unidas sobre o desenvolvimento Sustentável, Rio+20, os “empreendedores sociais

são pessoas que, com seus trabalhos e ideias, trazem soluções promissoras para os

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problemas da sociedade. São agentes de mudança; inovadores que perturbam o

status quo e transformam nosso mundo.” Esta fonte descreve características

importantes e inatas dos empreendedores sociais. Os mesmos são:

Ambiciosos: Estão preocupados com as grandes questões sociais, de cotas para o ingresso às universidades ao combate à pobreza mundial, da destinação do lixo nuclear a soluções para o aquecimento global. Atuam em todos os tipos de organizações, privadas, governamentais ou não governamentais, com ou sem fins lucrativos. Acreditam em uma missão: O valor social é o critério central de suas ações. A obtenção de lucro pode ser parte do processo, mas não é um fim em si. Promover mudanças sociais sistêmicas é o objetivo real. Estratégicos: Empreendedores sociais veem e agem sobre o que os demais não percebem: enxergam oportunidades para melhorar os sistemas, inventam novas abordagens que criam valor social. E, como empresários de sucesso, são intensamente direcionados em sua busca de uma visão social. Versáteis: Como operam dentro de um contexto social e não apenas no mundo dos negócios, os empreendedores sociais têm um acesso limitado ao capital e aos sistemas tradicionais de apoio do mercado. Como resultado, precisam ter habilidade para mobilizar recursos humanos, financeiros e políticos. Perseguem resultados: Os empreendedores sociais buscam resultados mensuráveis. Esses resultados transformam realidades, abrem novos caminhos para o potencial de pessoas marginalizadas e desfavorecidas, e provocam mudanças sociais. (FÓRUM DE EMPREENDEDORISMO SOCIAL, 2014, www)

Segundo Melo Neto e Froes (2001, p. 33), o paradigma do

empreendedorismo social tem o objetivo transformar a realidade social com base

nos seguintes pressupostos fundamentais:

reflexão junto às comunidades; criação e desenvolvimento de soluções antes impossíveis de inserção

social em seu sentido mais amplo;

existência do exercício pleno da cidadania;

enfoque da sociedade em termos de geração de renda, produtividade, justiça social e ética;

estabelecimento de novas parcerias, com a total integração entre governo, comunidade e setor privado;

foco na melhoria da qualidade de vida dos atores sociais;

reversão do distanciamento entre economia, sociedade e ética;

incremento de práticas sociais empreendedoras e reforço da solidariedade social local. (MELO NETO; FRÓES, 2002, p. 31)

E quanto ao desafio do empreendedorismo social destacam que,

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no empreendedorismo social, os desafios são de outra natureza. Decorrente de condicionamentos sociais, econômicos, políticos e, sobretudo culturais e ambientais. Este empreendedorismo social tem na comunidade o seu principal eixo de atuação, diferentemente do empreendedorismo convencional, cuja principal força motriz é o mercado. (MELO NETO; FROES, 2002, p. 36)

E para que tal processo seja bem sucedido, os autores apontam a necessidade de

se cumprir algumas exigências: mudanças no comportamento da população,

encorajamento a auto sustentabilidade e a adoção a comportamentos responsáveis

e éticos, engajamento das pessoas em todo o processo de construção, práticas de

novas formas de inserção social, manutenção das culturas locais bem como garantia

do uso sustentável de áreas naturais e auto geração de renda e emprego.

Com vista nas exigências, os autores também definem os principais desafios

dos projetos de empreendedorismo social, conforme o quadro 3.

Quadro 3: Os desafios do empreendedorismo social

1. Como mudar comportamentos da população?

2. Como utilizar processos de participação?

3. Como inovar em termos de inserção social?

4. Como engajar pessoas no processo de empreendedorismo social?

5. Como minorar os impactos indesejáveis na cultura local? E no meio ambiente?

6. Como assegurar o uso sustentável de áreas naturais?

7. Como garantir a proteção das culturas locais?

8. Como incentivar iniciativas de auto-sustentação?

9. Como incentivar comportamentos responsáveis e éticos?

10. Como produzir renda e criar empregos?

11. Como criar uma cultura de auto-sustentabilidade?

12. Como criar novas organizações sociais e torna-las mais atuantes?

13. Como criar e implementar instrumentos legais e políticas públicas de incentivo ao empreendedorismo social?

14. Como melhorar a qualidade de vida das populações envolvidas?

15. Como gerar alternativas econômicas para a população local?

16. Como criar e implementar critérios conservacionistas de desenvolvimento sustentável?

17. Como administrar as pressões da comunidade?

18. Como criar fontes viáveis de financiamento para as iniciativas empreendedoras locais?

19. Como criar novas fontes alternativas e não-tradicionais de desenvolvimento local e regional?

20. Como toda a população, e não apenas um pequeno segmento populacional, pode ser beneficiada?

Fonte: MELO NETO; FROES, 2002, p. 37

No quadro acima, é possível perceber a complexidade enfrentada pelos

empreendedores sociais para o alcance de seus objetivos. As perguntas do quadro

indicam entre outras, a necessidade de parceria e articulação com comunidade foco

do investimento do empreendedor social, a necessidade de um processo de

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formação contínua com investimento de longo prazo e um tempo considerável para

que os resultados sejam obtidos; isso por lidar com a necessidade de mudança

cultural e de valores, participação comunitária, construção conjunta, democracia,

cidadania e conscientização sócio-política.

Com base nos desafios apresentados, os autores destacam as seis

dimensões do empreendedorismo que são: psicossocial, cultural, econômica,

política, ambiental e a dimensão regulatória/institucional.

Quadro 4: As seis dimensões do empreendedorismo social

Dimensão Desafios Objetivos

Psicossocial Como mudar comportamentos, como utilizar processos de participação, como inovar em termos de inserção social, como engajar pessoas no processo, como incentivar comportamentos responsáveis e éticos, como administrar pressões da comunidade.

Mudar comportamentos. Melhorar o sentimento de auto-estima das pessoas da comunidade e proporcionar-lhes orgulho de sua cultura e meio ambiente.

Cultural Como preservar as culturas locais, como incentivar o uso sustentável de áreas naturais, como criar uma cultura de auto-sustentabilidade.

Criar a cultura de auto-sustentação e preservar as culturas locais.

Econômica Como gerar renda, como criar emprego, como melhorar a qualidade de vida da população, como oferecer benefícios, como criar fontes alternativas de desenvolvimento e de financiamento.

Implementar mecanismos de geração de renda e emprego e o surgimento de novas organizações sociais.

Política Como criar organizações sociais e torna-las mais atuantes.

Contribuir para o surgimento de novas organizações sociais.

Ambiental Como assegurar o uso sustentável dos recursos naturais existentes, como minorar os impactos indesejáveis no meio ambiente, como criar e implementar critérios conservacionistas.

Promover iniciativas de preservação do meio ambiente local e dos recursos naturais existentes.

Regulatória/institucional Como criar e implementar instrumentos legais e políticas de incentivo ao empreendimento social.

Criar instrumentos legais e políticas públicas de fomento ao empreendedorismo social local, regional, nacional e suas articulações de caráter continental e global.

Fonte: Adaptado de MELO NETO; FROES, 2002, p. 38

No quadro 4, podemos essas seis dimensões e suas características. Todas

elas apontam para a necessidade de mudanças estruturais que começam no

indivíduo (mudança de mentalidade, ver a realidade com outras lentes) e se

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deslancha para a relação do indivíduo com a comunidade, na mudança cultural ou

modos de vida da comunidade, na relação da comunidade com o meio ambiente,

com a economia local e na necessidade de fortalecer politicamente os atores locais

no acesso ás políticas públicas e aos seus direitos.

3.6 Economia Solidária

Com base no que descreve Melo Neto e Froes (2002), tanto sobre a

complexidade do empreendedorismo social, como em sua forte ênfase no trabalho

comunitário para a busca de soluções dos problemas locais e o bem estar de

determinada comunidade; ressaltamos nesse cenário a importância da economia

solidária uma importante estratégia de empreendedorismo social. A economia

solidária não é um conceito nem uma prática nova, olhando historicamente, percebe-

se que suas práticas já existiam bem antes do feudalismo e do capitalismo. É

possível vê-la no princípio da humanidade, nas várias formas que as tribos antigas

se organizam socioeconomicamente. Baseado no bem comum do grupo, essas

tribos trabalhavam com a lógica da solidariedade, cooperativismo, equilíbrio na

forma de produção e distribuição dos produtos, inclusão de todos no processo de

produção e na ideia do cuidado mútuo (Arroyo e Schuch, 2006). A economia

solidária, contrapõe-se ao movimento capitalista neoliberal baseado no crescimento

econômico e na concentração de riqueza de uma pequena parcela da população

mundial, promotora de desigualdade social, miséria e exclusão social para a maioria.

Ela “é um jeito de fazer a atividade econômica de produção, oferta de serviços,

comercialização, finanças ou consumo baseada na democracia e na cooperação, o

que chamamos de autogestão: ou seja, na Economia Solidária não existe patrão

nem empregado, pois todos/as os/as integrantes do empreendimento (associação,

cooperativa ou grupo) são ao mesmo tempo trabalhadores e donos.” (FEBES, 2010,

p.14). Para Andrade (2005), “a Economia Popular Solidária nada mais é do que um

instrumento de inclusão através do trabalho e de transformação social a partir das

práticas econômicas locais.”

A Economia Solidária é um poderoso instrumento de combate à exclusão social, pois apresenta alternativa viável para a geração de trabalho e renda e para a satisfação direta das necessidades de todos, provando que é possível organizar a produção e a reprodução da sociedade de modo a

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eliminar as desigualdades materiais e difundir os valores da solidariedade humana. A economia Solidária constitui um eixo fundamental de um desenvolvimento transformador sustentável, socialmente justo. (ANDRADE, 2005, p.4)

Sua contraposição ao atual modelo vigente está no fato de conceber uma lógica

econômica centrada na solidariedade, justiça social, cooperativismo, partilha,

equidade de gênero, respeito ao meio ambiente e nas capacidades locais e por estar

organizada a partir do trabalho e não do capital. (Arroyo; Schuch, 2006). De

acordo com Arruda (2006, p.50), “nos anos 1990 tem-se tornado comum o uso do

termo economia solidária para designar uma economia fundada na lógica da

interconexão, da partilha, da cooperação, em oposição à economia da

fragmentação, do egoísmo, da competição.”

Economia popular e solidária é aquela que acrescenta o desafio de, também como fator de desenvolvimento, ser germinada, brotada de dentro para fora, de baixo para cima, aberta para o mundo, mas com identidade própria, que possa estabelecer um diálogo em que o eixo é o equilíbrio, a distribuição, a justiça. É a economia que se estabelece a partir da associação, da cooperação, da comunhão, tanto entre indivíduos para a constituição de empreendimentos coletivos como entre empreendimentos para obter saltos de competitividade, em estruturas em rede que também podem ser compreendidas como empreendimentos coletivos. Então, começa a se fundir, a se misturar com outros valores com os quais a economia atual não dialoga. (ARROYO; SCHUCH, 2006, pg. 63)

Segundo Brasil (2010, p.3), a economia solidária apresenta vantagens em

relação ao capitalismo, para ele “a autogestão torna cada trabalhador consciente do

seu papel no todo em que atua; a inteligência coletiva dos trabalhadores está

permanentemente a serviço do desenvolvimento do Empreendimento Econômico

Solidário, inclusive porque todos ganhos de produtividade são diretamente

apropriados pelos próprios trabalhadores; há uma necessária vinculação ao território

em que a atividade econômica solidária está inserida, acarretando no respeito às

especificidades e cultura regionais e ao meio-ambiente em que está inserida” e

conforme Jesus (2008, p.9) ela tem se apresentado como uma alternativa inovadora

para geração de trabalho, renda e inclusão social.

A economia solidária vem se apresentando, nos últimos anos, como inovadora alternativa de geração de trabalho e renda e uma resposta a favor da inclusão social. Compreende uma diversidade de práticas econômicas e sociais organizadas sob a forma de cooperativas,

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associações, clubes de troca, empresas autogestionárias, redes de cooperação, grupos informais, entre outras, que realizam atividades de produção de bens, prestação de serviços, finanças solidárias, trocas, comercio justo e consumo solidário. (JESUS, 2008, p.09)

Os empreendimentos solidários tem tido grande crescimento em todo o Brasil.

Primeiro pela luta dos diversos movimento sociais e organizações, e atualmente

promovida pelo próprio governo brasileiro.

A economia solidária também vem recebendo, nos últimos anos, crescente apoio de governos municipais e estaduais. O número de programas de economia solidária tem aumentado, com destaque para os bancos do povo, empreendedorismo popular solidário, capacitação, centros populares de comercialização etc. Fruto do intercâmbio dessas iniciativas, existe hoje um movimento de articulação dos gestores públicos para promover troca de experiências e o fortalecimento das políticas públicas de economia solidária. Em âmbito nacional, o Governo Federal em 2003 criou a Secretaria Nacional de Economia Solidária que está implementando o PROGRAMA ECONOMIA SOLIDÁRIA EM DESENVOLVIMENTO. Sua finalidade é promover o fortalecimento e a divulgação da economia solidária mediante políticas integradas visando o desenvolvimento por meio da geração de trabalho e renda com inclusão social. (BRASIL, 2014, www)

De acordo com o atlas da economia solidária de 2007, divulgado pela Secretaria

Nacional de Economia Solidária (SENAES), foram catalogados 21.859

empreendimentos solidários em todo o Brasil. Sendo o Nordeste a região com mais

empreendimentos solidários, com um total de 9.498, seguido pelo Sudeste 3.912, a

Região Sul com 3.583, o Norte do país com 2.656 e por fim o Centro Oeste com um

total de 2.210. As informações contidas no atlas definem exatamente em que

municípios estão esses empreendimentos e qual a quantidade por cidade, nos

indicando a potencialidade e importância da economia solidária para o

desenvolvimento local.

Sobre os fundamentos que sustentam a economia solidária, Arroyo e Schuch

(2006, p.38) apresentam os seguintes princípios gerais:

Valorização social do trabalho humano, ou seja, valorização do homem e do ser humano na atividade econômica, não sendo mais visto como mero portador de uma única mercadoria, sua força de trabalho;

Reconhecimento do papel da mulher e do feminino; Desenvolvimento integrado e sustentável da sociedade cujo objetivo é o

intercambio respeitoso do homem com a natureza; Busca dos valores do associativismo, cooperativismo, do mutualismo e

da solidariedade como forma de criar uma sociedade humanizadora e eficaz para todos;

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O valor central da economia solidária é o trabalho, o saber (coleta de informação para a geração de conhecimento) e a criatividade humana, que é fruto do trabalho e do processo de geração de conhecimento;

O ser humano é sujeito e finalidade da atividade econômica, e não gerador de riquezas e capitais para particulares;

Buscar a unidade entre produção e reprodução, evitando a contradição fundamental do sistema capitalista, que desenvolve a produtividade, mas exclui crescentes setores de trabalhadores do acesso a seus benefícios, gerando hoje crises recessivas de alcance global;

Buscar solidariedade dos povos dos hemisférios Norte e Sul, objetivando o aumento da qualidade de vida para todos, propondo a atividade econômica e social enraizada no seu contexto mais imediato e tendo a territorialidade e o desenvolvimento local como marcos de referência;

Geração de trabalho e renda, visando combater a exclusão social e a eliminação das desigualdades materiais.

É possível perceber com clareza nos princípios de economia solidária, o

aspecto sócio-ambiental-local (localidade) e não apenas sua contribuição na

dimensão econômica. A economia solidária como resposta ao modelo excludente do

capitalismo tem historicamente sua grande expressão na dimensão local, sendo uma

importante estratégia para o desenvolvimento local.

3.7 Desenvolvimento Local

Sobre o desenvolvimento local, Amaro (2009), afirma que dois marcos

sinalizam o surgimento e aceitação do conceito de desenvolvimento local: sua

afirmação cientifica no final de 1970, e seu reconhecimento político-institucional a

partir dos anos 1990. O primeiro surge pelas publicações dos trabalhos de John

Friedman e Clyde Weaver, Walter Stohr e David Taylor, entre outros, e o segundo

pelo Programa Iniciativas Locais de Emprego da Organização para a Cooperação e

Desenvolvimento Econômico (OCDE), no fim dos anos 80 e sua importância

assumida na organização das políticas públicas da Europa ao combate da pobreza,

exclusão social e desemprego.

Após a segunda guerra mundial, instalou-se no mundo o modelo de

desenvolvimento que levava em conta o crescimento econômico do país. Nações

que antes foram quase destruídas pela guerra, conseguiram seu desenvolvimento

focado nesta premissa e definiram o desenvolvimento econômico e industrializado

como modelo a ser seguido pelos países em desenvolvimento. Esse modelo pré

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definido logo começou a ser repassado para outras nações e isso sem levar em

conta as suas características, peculiaridades, riquezas, conhecimento, sua cultura,

sua forma de aprender e de ensinar, entre outros. Isso porque aos olhos dos

promotores dessa forma de desenvolvimento, essas características locais eram tidas

como obsoletas, inferiores e empecilhos ao desenvolvimento. Com o tempo ficou

perceptível a impossibilidade da resposta desse modelo às necessidades das

comunidades locais. Sung (2008), se refere a duas características centrais do

sistema de mercado capitalista:

a) a produção é controlada pelas empresas privadas e destinada ao mercado para atender os desejos dos consumidores (os não-consumidores, os pobres, os excluídos do mercado, não são levados em conta pelas empresas produtoras de mercadorias); b) o espírito que rege as relações dentro do mercado é o da concorrência, um regime de sobrevivência dos mais capazes. Isso significa na prática a exclusão dos “menos capazes”, dos que não têm as mesmas condições para concorrer com os mais fortes no mercado. (SUNG, 2008, p.78),

Para Padilla (2005, p.60) o sistema de mercado se entranhou na sociedade a ponto

de formar uma sociedade ao seu molde. A esta sociedade ele chama de sociedade

de consumo, e diz que “a sociedade de consumo é um fruto da técnica e do

capitalismo. Historicamente, ela apareceu no mundo ocidental quando a burguesia

ascendeu ao poder político e colocou a técnica a serviço de seu próprio

enriquecimento.” Sobre essa sociedade de consumo descreve algumas

características e fundamento histórico:

A palavra de ordem passou a ser o aumento constante da produção,

ainda que boa parte dela consistia em trivialidades;

A propriedade privada, que na sociedade pré-industrial havia servido para dar segurança às pessoas comuns, deixou de cumprir uma função social e se transformou num direito absoluto. Surgiram as grandes indústrias capitalistas.

Toda outra atividade que não incidisse diretamente no desenvolvimento industrial seria relegada a um plano secundário;

As relações trabalhistas estariam regidas fundamentalmente pelo principio da conveniência pessoal dos proprietários da indústria, para os quais a propriedade seria um meio de enriquecimento e não um instrumento de serviço a sociedade;

Os meios massivos de comunicação (especialmente o rádio e a televisão) seriam utilizados para condicionar os consumidores a um estilo de vida em que se trabalha para ganhar, se ganha para comprar e se comprar para valer. (PADILLA, 2005, p.60)

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Nesse cenário surge o conceito de desenvolvimento local. Conforme Amaro

(2009), o que é definido hoje por desenvolvimento local, surge inicialmente com a

terminologia de desenvolvimento comunitário, que era nada mais que resposta das

comunidades locais, ante a ineficácia do modelo econômico e mercantilista adotado

por muitos países. Eram respostas das comunidades locais ante aos problemas que

elas mesmas precisavam enfrentar, e que surgiram das crises econômicas, políticas,

tecnológicas e ambientais. A ideia de desenvolvimento comunitário surge baseado

em três pontos principais: as necessidades das comunidades locais devem ser

diagnosticadas com a participação das mesmas, a própria comunidade deve usar

seus próprios recursos e sua capacidade para responder às suas necessidades e

tanto os problemas quanto as soluções precisam ser abordados de forma integrada.

Conforme Buarque (2008, p. 26), “o desenvolvimento local pode ser conceituado

como um processo endógeno de mudança, que leva ao dinamismo econômico e à

melhoria da qualidade de vida da população em pequenas unidades territoriais e

agrupamentos humanos.” E salienta ainda que,

para ser consistente e sustentável, o desenvolvimento local deve mobilizar e explorar as potencialidades locais e contribuir para elevar as oportunidades sociais e a viabilidade e competitividade da economia local; ao mesmo tempo, deve assegurar a conservação dos recursos naturais locais, que são a base mesma das suas potencialidades e condição para a qualidade de vida da população local. Esse empreendimento endógeno demanda, normalmente, um movimento de organização e mobilização da sociedade local, explorando as suas capacidades e potencialidades próprias, de modo a criar raízes efetivas na matriz socioeconômica e cultural da localidade. (BUARQUE, 2008, p.26)

Para ele, “o desenvolvimento local depende da capacidade de os atores e a

sociedade locais se estruturarem e se mobilizarem, com base nas suas

potencialidades e na matriz cultural, para definir e explorar suas prioridades e

especificidades”, e “está associado, normalmente, a iniciativas inovadoras e

mobilizadoras da coletividade, articulando as potencialidades locais nas condições

dadas pelo contexto externo.” (BUARQUE, 2008, p.30)

O desenvolvimento local sustentável resulta, dessa forma, da interação e sinergia entre qualidade de vida da população local – redução da pobreza, geração de riqueza e distribuição de ativos –, a eficiência econômica – com agregação de valor na cadeia produtiva – e a gestão pública eficiente. (BUARQUE, 2008, p.27)

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Ainda tratando sobre o desenvolvimento local, Buarque (2008), identifica o

empreendimento social como importante ferramenta para proporcionar o

desenvolvimento local comunitário:

O empreendimento social de busca de alternativas de desenvolvimento leva à construção de um projeto coletivo, contribuindo, portanto, para a criação do ambiente de inovação e formação de sociedades locais inteligentes (smart societis). Até um certo limite, o processo de aprendizado tende a ser crescente com a diversidade sociocultural do local, confrontando múltiplas e diferenciadas visões de mundo e percepções da realidade, de cuja troca e interação se forma o ambiente de inovação e conhecimento. Dessa forma, a sociedade aprendiz precisa de diversidade interna, da mesma forma que a sustentabilidade da natureza depende da diversidade de espécies com sua complexa e rica interação. (BUARQUE, 2008, p.32)

Amaro (2009, p.108), define o desenvolvimento local como sendo “o processo de

satisfação de necessidades e de melhorias das condições de vida de uma

comunidade local, a partir essencialmente das suas capacidades, assumindo a

comunidade o protagonismo principal nesse processo e segundo uma perspectiva

integrada dos problemas e das respostas.” Falando em características intrínsecas no

conceito de desenvolvimento local, ele define o mesmo utilizando dez atributos:

a)um processo de mudança, levando à melhoria do bem-estar e das condições de vida da população; b) centrado numa comunidade territorial de pequena dimensão, definida pela existência (real ou potencial) de uma identidade comum, capaz de mobilizar solidariedades de ação (coletiva) e com pretensões a uma autonomia de afirmação do seu destino; c)que tem como uma das suas motivações fundamentais a resposta a necessidades básicas da comunidade que estão por satisfazer; d) a partir essencialmente da mobilização das capacidades locais; e) o que implica a opção de metodologias participativas e de “emporwerment” da comunidade local (do ponto de vista individual e coletivo); f) contando também com a contribuição de recursos exógenos, capazes de mobilizar e fertilizar os recursos endógenos (e não de os substituir ou inibir); g) numa perspectiva integrada, na abordagem dos problemas e das respostas; h) o que exige uma lógica de trabalho em parceria, ou seja, de articulação dos vários atores, protagonistas e instituições locais para trabalhar no local; i) com impacto tendencial em toda a comunidade; j) e segundo uma grande diversidade de processos, dinâmicas e resultados. (AMARO, 2009, pg. 111)

E de acordo com Jesus (2006) o “desenvolvimento local é entendido como um

processo que mobiliza pessoas e instituições buscando a transformação de trabalho

e renda, superando dificuldades para favorecer a melhoria das condições de vida da

população local.” Salienta que,

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[...] trata-se de um esforço localizado e concentrado, isto é, são lideranças, instituições, empresas e habitantes de um determinado lugar que se articulam com vistas a encontrar atividades que favoreçam mudanças nas condições de produção e comercialização de bens e serviços de forma a proporcionar melhores condições de vida aos cidadãos e cidadãs, partindo da valorização e ativação das potencialidades e efetivos recursos locais. (JESUS, 2006, p.25)

3.8 Desenvolvimento Local Sustentável

De acordo com Morin e Kern (2002, p.65), “durante o século XX, a economia,

a demografia, o desenvolvimento, a ecologia se tornaram problemas que doravante

dizem respeito a todas as nações e civilizações, ou seja, ao planeta como um todo”.

Esses quatro elementos são apontados como os quatro principais desregramentos

que tem ocorrido no mundo. Em relação ao desregramento econômico mundial,

defendem a ideia da necessidade de articular o econômico com o não econômico e

afirma que:

O crescimento econômico, desde o século XIX, foi não apenas o motor, mas também regulador da economia, fazendo aumentar simultaneamente a demanda e a oferta. Mas ao mesmo tempo destruiu irremediavelmente as civilizações rurais, as culturas tradicionais. Ele produziu melhorias consideráveis no nível de vida; ao mesmo tempo provocou perturbações no modo de vida. (MORIN; KERN, 2002, p.66)

Sobre as perturbações no modo de vida; apontam para a degradação da biosfera, a

degradação de “nossas vidas mentais, afetivas, morais” o que define como

“degradação da psicosfera”, a mercantilização de todas as coisas, a perda da

gratuidade e da doação, o interesse financeiro, a sede de riqueza, o

desenvolvimento tecnológico que permite a produtividade e rentabilidade ao mesmo

tempo que aumenta o desemprego e a desregulação do ritmo da vida humano e a

concorrência. Quanto ao desregramento demográfico mundial apontam para o

problema no aumento populacional e afirma que, no mundo, havia um bilhão de

humanos em 1800, e que até 2050 está previsto 10 Bilhões de pessoas. Indicam,

ainda, que a maior parte da população mundial atual, vive nos países pobres e

miseráveis e estão vulneráveis à fome. Por fim, referente à crise ou desregramento

ecológico relatam as catástrofes que ocorreram nos anos 80, que entre outras estão:

a secagem do mar Aral, o problema com a usina de Chernobyl (que ultrapassou os

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limites do continente europeu), a contaminação da água nos países industrializados,

o envenenamento do solo por excesso de pesticida e fertilizante, as chuvas ácidas,

a desertificação, o desmatamento, a urbanização selvagem e a emissão de CO² que

permite a intensificação do efeito estufa. “Desde então, a consciência ecológica

tornou-se a tomada de consciência do problema global e do perigo global que

aumentaram no planeta”. (MORIN; KERN, 2002, p.69). Sobre a crise do

desenvolvimento escreve:

A crise de desenvolvimento foi a ideia chave dos anos do pós-guerra. Havia um mundo dito desenvolvido, dividido em dois, um “capitalista” e o outro “socialista”. Ambos apresentavam ao terceiro mundo seu modelo de desenvolvimento. Hoje, após os múltiplos fracassos do desenvolvimento do modelo “capitalista” ocidental, a crise do comunismo de aparato levou a falência o modelo “socialista” de desenvolvimento. Mais do que isso, há crise mundial do desenvolvimento. O problema do desenvolvimento depara-se diretamente com o problema cultural/civilizacional e o problema ecológico. O próprio sentido da palavra desenvolvimento, tal como foi aceito, contém nele e provoca o subdesenvolvimento. (MORIN; KERN, 2002, p.70).

Scotto, Carvalho e Guimaraes (2007), traçam um pano de fundo sobre o que

mobilizou a crise do desenvolvimento e do debate ambiental nos anos 60 e 70 e

destacam, entre outros pontos, os seguintes:

O contexto de pós Segunda Guerra Mundial, particularmente os anos 40, foi

marcado pela crença de desenvolvimento compreendido como a possibilidade

de crescimento ilimitado e pela ideia de progresso. Essa ideia foi um dos

pilares da sociedade industrial desse período.

No cenário internacional, disputando o poder, estavam de um lado os Estados

Unidos junto com a Europa promovendo o capitalismo, e do outro a U.R.S.S

promovendo o socialismo. Essa disputa ficou popularmente conhecida como

guerra fria.

A política internacional tinha como característica a noção de desenvolvimento,

subdesenvolvimento e modernização, principalmente nos países capitalistas

ocidentais.

O desenvolvimento foi então identificado com o crescimento econômico, tecnológico, urbano e a internalização da lógica da acumulação e da perda capitalista em todas as esferas da vida social. Um modo de vida desenvolvido ou “moderno” foi estabelecido como um caminho evolutivo,

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linear e inevitável a ser trilhado pelas sociedades subdesenvolvidas para superação da pobreza e do atraso. O paradigma de desenvolvimento a ser alcançado era a sociedade de consumo norte-americana. (SCOTTO, CARVALHO; GUIMARAES, 2007, p.16)

Inconformados com o modelo de desenvolvimento materialista, individualista,

competitivo e destruidor do meio ambiente (os efeitos do modelo de

desenvolvimento perverso), os movimentos ecológicos e contra culturais dos

anos 60 questionam a sociedade industrial. “Esta preocupação indica a crise

do modelo desenvolvimentista que prometeu o atendimento das

necessidades humanas pela via do crescimento econômico e a modernização

tecnológica.” (SCOTTO; CARVALHO; GUIMARAES, 2007, p.17)

“A consciência da crise ecológica nos anos 70 veio somar-se às

constatações do fracasso do desenvolvimentismo na solução dos problemas

globais, denunciado a exploração ilimitada dos bens ambientais e a

insustentabilidade social e ambiental por ele gerada.” (SCOTTO; CARVALHO;

GUIMARAES, 2007, p.19)

Nos anos 80, marcados pela crise econômica e ambiental, cresce a crítica

pelo modelo de desenvolvimento, que tinha como marca central o modelo de

supremacia ou hegemônico. Nesse cenário os movimentos ecológicos “[...]

vão se contrapor a outros setores do movimento ecológico e das instituições

internacionais que buscarão reformar o desenvolvimento, buscando

incorporar a ideia de desenvolvimento, uma dimensão ambiental que este

projeto, inicialmente, excluíra de seu horizonte.” (SCOTTO; CARVALHO;

GUIMARAES, 2007, p.19)

Eles afirmam ainda que mesmo havendo uma concordância sobre a crise ambiental

e social, ela precisava ser encarada com urgência, bem como no insustentável

modelo de desenvolvimento, havia uma grande divergência na identificação sobre o

que estava causando o problema, e, consequentemente, nas soluções e estratégias

que deveriam ser utilizadas.

Callernbach (2003, p.87), afirma que os problemas ecológicos de nosso

tempo não podem ser analisados separada ou isoladamente, precisam ser

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observados dentro da compreensão sistêmica. Ele deixa claro a necessidade de um

novo paradigma ou pensamento que precisa vir “acompanhado de uma mudança de

valores, passando da expansão para a conservação, da quantidade para a

qualidade, da dominação para a parceria”.

O novo paradigma pode ser denominado como uma visão de mundo holística – a visão do mundo como um todo interligado, e não como um conjunto de partes dissociadas. Pode ser denominado como uma visão sistêmica, ou sistemas, em referência a seu embasamento mais teórico e abstrato na teoria dos sistemas. Finalmente, o novo paradigma pode ser denominado com uma visão ecológica, usando esse termo numa concepção muito mais ampla e profunda do que a usual. (CALLERNBACH, 2003, p.87)

No entanto, pela necessidade de novos paradigmas e de uma compreensão mais

holística sobre o desenvolvimento é que surge o conceito de desenvolvimento

sustentável, a partir de 1980, de acordo com (SCOTTO, 2007):

Foi formulado num documento intitulado Our Common Future (“Nosso Futuro Comum”). Foi resultado do trabalho da Comissão Mundial Sobre o Meio Ambiente (CMMAD), formada por representantes de governos, ONGs e da comunidade científica de vários países. A comissão foi criada pela Assembléia Geral da ONU em 1983, em atendimento às resoluções da Conferência Mundial sobre Meio Ambiente Humano de 1972. (SCOTTO, 2007, p.8)

Em concordância com Scotto (2007), Dias (2009, p.31) afirma que “foi o relatório

produzido pela Comissão Brundtland (Nosso Futuro Comum) que apresentou pela

primeira vez uma definição elaborada do conceito de “Desenvolvimento

Sustentável”. Quanto ao conteúdo do relatório ele diz que o mesmo:

Procura estabelecer uma relação harmônica do homem com a natureza, como centro de um processo de desenvolvimento que deve satisfazer às necessidades e às aspirações humanas. Enfatiza que a pobreza é incompatível com o desenvolvimento sustentável e indica a necessidade de que a política ambiental deve ser parte integrante do processo de desenvolvimento e não mais uma responsabilidade setorial fragmentada. (DIAS, 2009, p.31)

Quanto ao conceito de desenvolvimento sustentável trazido pelo documento

foi: “Desenvolvimento que é capaz de garantir as necessidades do presente sem

comprometer a capacidade das gerações futuras atenderem também as suas”.

(CMMAD, 1988, p.9). Após essa definição, surgiram vários outros conceitos e

definições do que seja o desenvolvimento sustentável, algumas em harmonia e

outras, nem tanto, conforme salienta Mawlinney (2005):

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Das primeiras definições ecológicas, que se concentravam exclusivamente em preocupações ambientais, as definições de desenvolvimento sustentável passaram rapidamente a abranger um número cada vez maior de disciplinas, dando margem a princípios conflitantes, compromissos e dúvidas sobre os quais é impossível haver alguma concordância. (MAWLINNEY, 2005, p. 9)

Muitos dos argumentos apresentados geralmente estão profundamente enraizados na visão que o mundo desenvolvido tem sobre o que é desenvolvimento sustentável. O ponto de vista das nações menos favorecidas pode ser bem diferente, e muitos textos sobre o tema recomendam levar em consideração ambas as visões ao mesmo tempo. (MAWLINNEY, 2005, p. 10)

Entre os diferentes pontos de vista sobre o desenvolvimento sustentável

MAWLINNEY (2005, p.35), seleciona três para indicar a forma como eles avaliam o

desenvolvimento sustentável são eles: o economista típico que “tende a simpatizar

com o status quo, a menos que a evidência prove o contrário, basicamente acredita

que os atuais sistemas de escolha, avaliação e decisão são os melhores possíveis,

embora não sejam perfeitos, orienta-se com frequência pela economia (com

implicações sociais)”; os ambientalista aguerrido que “tende a considerar mudanças

radicais como solução, inclui grupos que acreditam que o sistema atual fracassou

completamente, tanto para a humanidade como para o meio ambiente e precisa ser

completamente suprido e substituído”, eles são orientados frequentemente pela

ecologia; e o moderado; esse “sugere a necessidade de alguma mudança, inclui

defensores de um compromisso entre as partes que, muitas vezes, acreditam que o

sistema atual precisa de ajustes, mudanças e de mais trabalho conjunto”; eles se

dividem em distintos grupos que promovem “uma série de causas (tecnologias,

sociais ou um equilíbrio entre as duas), enquanto alguns deles baseiam seus

argumentos na simples prática de seus trabalhos.”

Para Clóvis Cavalcanti, “Desenvolvimento sustentável significa qualificar o

crescimento e reconciliar o desenvolvimento econômico com a necessidade de se

preservar o meio ambiente” (CAVALCANTI, 1997, p.41). Para a Rio+20 (2014, www)

“desenvolvimento sustentável é o modelo que prevê a integração entre economia,

sociedade e meio ambiente. Em outras palavras, é a noção de que o crescimento

econômico deve levar em consideração a inclusão social e a proteção ambiental.”

De acordo com Binswanger (in CAVALCANTI, 1997, p. 41), “o conceito de

desenvolvimento sustentável deve ser visto como uma alternativa ao conceito de

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crescimento econômico”. Ele ainda afirma, sobre o desenvolvimento sustentável, o

seguinte:

Admitindo-se, antes que a natureza é a base necessária e indispensável da economia moderna, bem como das vidas das gerações presentes e futuras, desenvolvimento sustentável significa qualificar o crescimento e reconciliar o desenvolvimento econômico com a necessidade de se preservar o meio ambiente. (BINSWANGER In CAVALCANTI, 1997, p.41)

Segundo Silva (2006, p.36) “o Desenvolvimento Sustentável vem sendo divulgado

por todo o planeta como uma forma mais racional de prover uma qualidade de vida

equânime e socialmente justa.”

Grosso modo, pode-se dizer que a sustentabilidade é o modo de sustentação, ou seja, da qualidade de manutenção de algo. Este algo pode ser traduzido pela forma de vida dos seres humanos enquanto espécie biológica, individualidade psíquica e seres sociais. Obviamente, também se inclui no princípio da sustentabilidade o meio ambiente – lato sensu – e as demais formas de vida do planeta. Afinal, embora o ser humano possua autonomia de existências, não possui independências da natureza. (SILVA, 2006, p. 39)

De acordo com Dias (2009, p. 30), o desenvolvimento sustentável é uma nova visão

de desenvolvimento que envolve não apenas o meio ambiente natural, mas inclui

também em destaque os aspectos socioculturais, onde a qualidade de vida dos

seres humanos torna-se condição para o progresso. Para ele “as propostas de

desenvolvimento sustentável estão baseadas na perspectiva de utilização atual dos

recursos naturais desde que sejam preservados para as gerações futuras” e ressalta

que, “embora de princípio aparentemente simples, a concepção do desenvolvimento

sustentável norteia o atual debate sobre a questão ambiental em qualquer setor das

atividades humanas.” Segundo FIALHO (2007, p.149), “a noção geral de

desenvolvimento sustentável [...] resume-se, portanto, a como obter, para todos,

padrões de vida desejáveis – medido pelo acesso a bem e serviços – sem

comprometer a qualidade de vida, isto é, as condições do meio ambiente e a

disponibilidade de recursos naturais para a possibilidade da reprodução continuada

– das gerações atuais e futuras”. Para ele “a expressão “sustentável” está

associada ao novo paradigma tecno-científico do desenvolvimento, e expressa à

ideia daquilo que tem continuidade ao longo do tempo”, e argumenta que:

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Sustentabilidade implica na noção de perenidade, algo que não se esgota, na concepção de que aquilo que atualmente existe possa garantir-se no futuro. Ela tem forte ligação com as questões ambientais, pois o esgotamento de fontes de recursos naturais, assim como a degradação do meio ambiente, traz consequências de muito longo prazo, comprometendo a continuidade dos processos socioeconômicos. (FIALHO et Al, 2007, p.149)

Para ele a sustentabilidade pode ser divida em seis dimensões: social, econômica,

ecológica, espacial/geográfica, cultural e temporal. No quadro 5 essas seis

dimensões estão categorizadas conforme sua aplicação pratica e objetivo.

Quadro 5: As seis dimensões do desenvolvimento sustentável

Dimensão Componentes Objetivos

Sustentabilidade Social

Criação de postos de trabalho que permitam a obtenção de renda individual adequada (à melhor condição de vida; à maior qualificação profissional). Produção de bens dirigida prioritariamente às necessidades básicas sociais.

Redução das desigualdades sociais.

Sustentabilidade Econômica

Fluxo de investimentos públicos e privados (com especial destaque para o cooperativismo). Manejo eficiente dos recursos. Absorção pela empresa, dos custos ambientais. Endogenização: contar com suas próprias forças.

Aumento da produção e da riqueza social sem dependência externa.

Sustentabilidade Ecológica

Produzir respeitando os ciclos ecológicos dos ecossistemas. Prudência no uso de recursos naturais não-renováveis. Prioridade à produção de biomassa e à industrialização de insumos naturais renováveis. Redução da intensidade energética e aumento da conservação de energia. Tecnologia e processos produtivos de baixo índice de resíduos. Cuidado ambiental.

Melhoria da qualidade do meio ambiente e preservação das fontes de recursos energéticos e naturais para as próximas gerações.

Sustentabilidade Espacial/Geográfica

Desconcentração espacial (de atividades; de população). Desconcentração/democratização do poder local e regional. Relação cidade/campo equilibrada (benefícios centrípetos).

Evitar excesso de aglomerações.

Sustentabilidade Cultural

Soluções adaptadas a cada ecossistema. Respeito à forma cultural comunitária.

Evitar conflitos culturais com potencial regressivo.

Sustentabilidade Temporal

A complexidade do sistema pode ser mais bem apreendida a partir da representação gráfica de medidas vetoriais. O negócio pode ser mantido ao longo do tempo, sem restrições ou escassez de insumos e matérias primas.

Oferece uma visão não só das unidades utilizadas na sua composição, mas também do todo.

Fonte: FIALHO, 2007, p. 150

Por fim, Dias (2009) traça um resumido panorama sobre o desenvolvimento

sustentável no mundo conforme o quadro 6.

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Quadro 6: Resumo dos principais acontecimentos relacionados com

desenvolvimento sustentável

Ano Acontecimento Observação

1962 Publicação do livro Primavera Silenciosa

Livro publicado por Rachael Carson que teve grande repercussão na opinião pública e expunha os perigos do inseticida DDT.

1968 Criação do Clube de Roma

Organização informal cujo objetivo era promover o entendimento dos componentes variados, mas interdependentes – econômicos, políticos, naturais e sociais –, que formam o sistema global.

1968 Conferência da Unesco

Conferencia UNESCO sobre a conservação e o uso racional dos recursos da biosfera. Nessa reunião, em Paris, foram lançadas as bases para a criação do Programa: Homem e a Biosfera (MAB)

1971 Criação do Programa MAB da UNESCO

Programa de pesquisa no campo das Ciências Naturais e sociais para a conservação da biodiversidade e para a melhoria das relações entre o homem e o meio ambiente.

1972 Publicação do livro Os limites do crescimento

Informes apresentado pelo Clube de Roma no qual previa que as tendências que imperavam até então conduziriam a uma escassez catastrófica dos recursos naturais e a níveis perigosos de contaminação num prazo de 100 anos.

1972 Conferência das ONU sobre o Meio Ambiente Humano em Estocolmo, Suécia

A primeira manifestação dos governos de todo o mundo com as consequências da economia sobre o meio ambiente. Participaram 113 Estados-membros da ONU. Um dos resultados do evento foi a criação do Programa das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente (PNUMA).

1980 I Estratégia Mundial para a Conservação

A IUCN, com a colaboração do PNUMA e do World Wildlife Fund (WWF), adota um plano de longo prazo para a conservar os recursos biológicos do planeta. No documento aparece pela primeira vez o conceito de “desenvolvimento sustentável”.

1983 É formada pela ONU a Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento (CMMAD)

Presidida pela Primeira-Ministra da Noruega, Gro Harlem Brundtland, tinha como objetivo examinar as relações entre o meio ambiente e o desenvolvimento e apresentar propostas viáveis.

1987 É publicado o informe Brundtland, da CMMAD, o “Nosso Futuro Comum”

Um dos mais importantes sobre a questão ambiental e o desenvolvimento. Vincula estreitamente economia e ecologia e estabelece o eixo em torno do qual se deve discutir o desenvolvimento, formalizando o conceito de desenvolvimento sustentável.

1991 II Estratégia Mundial para a Conservação: “Cuidando da Terra”

Documento conjunto do IUCN, PNUMA e WWF, mais abrangente que o formulado anteriormente; baseado no informe Brundtland, preconiza o reforço dos níveis políticos e sociais para a construção de uma sociedade mais sustentável.

1992 Conferência da ONU sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, ou Cúpula da Terra

Realizada no Rio de Janeiro, constitui-se no mais importante foro mundial já realizado. Abordou novas perspectivas globais e de integração da questão ambiental planetária e definiu mais concretamente o modelo de desenvolvimento sustentável. Participaram 170 Estados, que aprovaram a Declaração do Rio e mais quatro documentos, entre os quais a Agenda 21.

1997 Rio + 5 Realizada em New York, teve como objetivo analisar a implementação do Programa da Agenda 21.

2000 I Forum Mundial de Âmbito Ministerial – Malmo (Suécia)

Teve como resultado a aprovação da Declaração de Malmo, que examina as novas questões ambientais para o século XXI e adota compromisso no sentido de contribuir efetivamente para o desenvolvimento sustentável.

2002 Cúpula Mundial sobre o Desenvolvimento Sustentável –Rio+ 10

Realizada em Johannesburgo, nos meses de agosto e setembro, procurou examinar se foram alcançadas as metas estabelecidas pela Conferência do Rio-92 e serviu para que os estados reinterassem seu compromisso com os princípios do Desenvolvimento sustentável.

Fonte: Dias, 2009, p.35

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Outros acontecimentos importantes sobre o desenvolvimento sustentável

foram: em 2007, o relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças

Climáticas (IPCC), que previu as consequências desastrosas do aquecimento global

até 2100, caso nada seja feito para impedir; em 2009 a 15º Conferência das Partes

da Convenção sobre Mudança Climáticas (COP -15), realizada em Copenhague,

que consolidou o tema climático nas agendas públicas, corporativa e da sociedade

civil e em 2012, a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento

Sustentável a Rio+20. (RADARRIO20, 2014, www)

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4 METODOLOGIA

4.1 Enfoque e natureza da pesquisa

Com a finalidade de atingir os objetivos aos quais este estudo se propõe, o

mesmo foi desenvolvido a partir de um enfoque qualitativo por ter uma relação mais

harmônica com os objetivos e estratégia deste trabalho. Entre as características da

abordagem qualitativa Gil (2008, p.102) destaca a relação dinâmica entre o mundo

real e o sujeito, isto é, um vínculo indissociável entre o mundo objetivo e a

subjetividade do sujeito que não pode ser traduzida em números. Para ela a

interpretação dos fenômenos e a atribuição de significados são básicos no processo

de pesquisa qualitativa e não requer o uso de métodos e técnicas estatísticas. O

ambiente natural é a fonte direta para coleta de dados e o pesquisador é o

instrumento chave. Para Neves (1996), a pesquisa qualitativa busca ser direcionada

ao longo do seu desenvolvimento, os dados descritivos são obtidos por meio do

contato direto e interativo do pesquisador com a situação objeto de estudo, e este

busca entender os fenômenos de acordo com a perspectiva dos participantes da

situação estudada; a partir daí situa sua interpretação dos fenômenos estudados.

De acordo com Godoy (1995) pesquisa qualitativa é descritiva; a palavra escrita

ocupa lugar de destaque nessa abordagem, desempenhando um papel fundamental,

tanto no processo de obtenção dos dados quanto na disseminação dos resultados.

O método utilizado foi o método indutivo, que tem como característica a análise do

particular para uma questão mais ampla e geral. De acordo com Lakatos e Marconi

(2007, p. 86), “indução é um processo mental por intermédio do qual, partindo de

dados particulares, suficientemente constatados, infere-se uma verdade geral ou

universal, não contida nas partes examinadas. Quanto à natureza se configura como

uma pesquisa aplicada por ter o objetivo de gerar conhecimentos para aplicação

prática e dirigidos à solução de problemas específicos e por envolver verdades e

interesses locais (PRODANOV; FREITAS, 2013).

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4.2 Quanto aos objetivos

Quanto aos objetivos, este estudo teve o caráter exploratório, o que permitiu o

estudo do tema sob diversos ângulos e aspectos, facilitar a delimitação do tema da

pesquisa e orientar a fixação dos objetivos (PRODANOV; FREITAS, 2013).

4.3 Obtenção de Dados

Tendo em vista o alcance dos objetivos desta pesquisa, se fez necessário a

utilização de instrumentos que possibilitassem uma abordagem qualitativa. Foi

realizada uma pesquisa bibliográfica com vista no levantamento de informações

relacionadas ao tema do Empreendedorismo, Empreendedorismo Social e

Desenvolvimento Local e Desenvolvimento Local Sustentável, levando em conta a

relação existente entre eles. De acordo com Severino (2008, p.122) a pesquisa

bibliográfica é

“aquela que se realiza a partir do registro disponível, decorrente de pesquisas anteriores, em documentos impressos, como livros, artigos, teses etc. Utiliza-se de dados ou de categorias teóricas já trabalhados por outros pesquisadores e devidamente registrados. Os textos tornam-se fontes dos temas a serem pesquisados. O pesquisador trabalha a partir das contribuições dos autores dos estudos analíticos constantes dos textos.”

Outros dois procedimentos técnicos adotados foram a pesquisa documental por se

basear em materiais que não receberam ainda um tratamento analítico ou que

podem ser reelaborados de acordo com os objetivos da pesquisa (GIL, 2008), tais

quais documentos oficiais da Ong Visão Mundial, do Projeto REDES e da

metodologia GOLD e a pesquisa de campo com a finalidade de conseguir

informações relevantes para alcançar os objetivos da pesquisa, comprovar a

hipótese, e esclarecer algum problema relacionado a este estudo, através da

observação, entrevista e aplicação de questionário junto ao GOLD Esperança e

com os colaboradores da Visão Mundial (PRODANOV; FREITAS, 2013).

Na pesquisa de campo, o objeto/fonte é abordado e seu meio ambiente próprio. A coleta dos dados é feita nas condições naturais em que os fenômenos ocorrem, sendo assim diretamente observados, sem intervenção e manuseio por parte do pesquisador. Abrange desde os levantamentos (surveys), que são mais descritivos, até estudos mais analíticos. (SEVERINO, 2008, p.122)

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4.4 Categorias de análise

As categorias de análise no qual se baseia este estudo têm como objeto

teórico o empreendedorismo social, e como temas transversais ou subcategorias de

análise; o empreendedorismo, que se constitui com a base inicial e fundamental

para o aprofundamento conceitual do objeto teórico; a economia solidária, por ser

uma das dimensões do empreendedorismo social e por estar ligada a prática dos

sujeitos da pesquisa de campo; o desenvolvimento local e desenvolvimento local

sustentável por se constituir como um resultado direto do empreendedorismo social

para o bem estar comunitário. O objeto teórico e as subcategorias se constituem

como a fundamentação teórica deste estudo e foram obtidos por meio da pesquisa

bibliográfica. O quadro 7 apresenta o resumo das categorias de análise deste

estudo.

Quadro 7: Resumo das categorias de análise

Fonte: O autor, 2014.

Conforme o quadro acima é possível perceber também o objeto empírico

desta pesquisa e suas respectivas subcategorias. A ONG Visão Mundial é o objeto

empírico da pesquisa, mas não o lócus da pesquisa. O lócus da pesquisa foi o grupo

GOLD Esperança conforme será descrito mais abaixo nesta metodologia e que

também se constitui como uma subcategoria de análise. Outras categorias de

análise do objeto empírico foram: o projeto REDES, que está dentro da linha

estratégica da ONG Visão Mundial para a geração de renda e empreendedorismo; a

Objetos Subcategorias Instrumentos de coleta

CATEGORIAS DE ANÁLISE

Teórico: Empreendedorismo Social

Empreendedorismo Pesquisa Bibliográfica

Economia Solidária

Desenvolvimento Local

Desenvolvimento Local Sustentável

Empírico: Visão Mundial

Projeto REDES Pesquisa documental: entrevista e questionário. Metodologia GOLD

GOLD Esperança (Lócus da pesquisa)

Pesquisa de campo: Entrevista e questionário. Colaboradores da Visão

Mundial

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metodologia GOLD; o GOLD Esperança e colaboradores da ONG Visão Mundial. Os

dados sobre a ONG Visão Mundial, o projeto REDES e a metodologia GOLD fora

obtidos por meio da pesquisa documental; já a pesquisa de campo (entrevista e

aplicação de questionário) foi o método de coleta dados utilizados junto aos

colaboradores desta ONG e com o GOLD Esperança.

4.5 Locus da pesquisa

Essa pesquisa foi desenvolvida, com o GOLD Esperança, formado por treze

mulheres, beneficiadas do projeto REDES, que se reúnem na casa de uma dessas

mulheres para os encontros e produção de seus produtos que, por sua vez, são

comercializados nas feiras artesanais. A casa onde ocorrem as reuniões está

localizada num bairro próximo ao centro da capital chamado Ponta Grossa, na

cidade de Maceió, capital de Alagoas, Brasil. A escolha da cidade de Maceió para a

realização desta pesquisa se justifica por ser a cidade onde o pesquisador reside, o

que garantiu além da redução do custo financeiro e de tempo, a possibilidade de

acompanhar o grupo de mulheres foco da pesquisa com qualidade (participar do

universo das mulheres).

A cidade de Maceió tem como principais atividades econômicas o comércio, o

turismo e a indústria. De acordo com o IBGE (2014, www) a cidade tem uma

população de 932.748 habitantes (conforme senso de 2010). Ela está dividida em

oito regiões administrativas e é composta por cinquenta bairros que podem ser

vistos de acordo com a figura 1 (MACEIÓ, 2014, www). Em destaque o bairro da

Ponta Grossa.

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Figura 1: Território da cidade de Maceió e em destaque o bairro da Ponta Grossa.

Fonte: WIKIPEDIA, 2014, www

O bairro da Ponta Grossa faz parte da 2º região administrativa da cidade de

Maceió, tem uma população de 21.796 habitantes (IBGE, 2014, www) e se estende

por uma área geográfica de 1.283 Km² (BAIRROS DE MACEIÓ, 2014, www).

Localizado próximo ao centro de Maceió, o bairro faz divisa com os bairros do

Trapiche da Barra, Prado, Vergel do Lago e Levada, vide o destaque do bairro na

figura 2.

Fonte: GOOGLE MAPS, 2014, www

Figura 2: Bairro da ponta Grossa

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As reuniões são realizadas na residência de uma das participantes do grupo,

que, como já referido antes, localiza-se no bairro da Ponta Grossa. Essa residência

foi escolhida por ser o lugar mais central e estratégico para todas. No anexo 1

encontram-se imagens que demonstram com exatidão o lócus da pesquisa: na figura

3 é possível verificar a localização da rua dentro do bairro da Ponta Grossa; as

figuras 4 e 5 indica a rua onde são realizadas as reuniões do GOLD, bem como a

produção artesanal deste grupo. A figura 6 mostra a casa onde as mulheres se

reúnem e nas figuras 7 e 8 um desses momentos de reunião para planejamento,

demonstração e discussão. Na figura 9 podemos ver alguns dos artigos produzidos

pelas artesãs; esses produtos são voltados para o público feminino, pois este é o

foco principal desse grupo de artesãs. Entre os principais produtos estão: enfeites

uso feminino, utensílios para cozinha, artigos para o lar em geral e brinquedos.

4.6 Os sujeitos da pesquisa

Os sujeitos desta pesquisa são dez mulheres do GOLD Esperança e sete

colaboradores da Visão. O que justificou a escolha do GOLD Esperança para ser

alvo desta pesquisa foi: está localizado na cidade de Maceió, acessibilidade e

segurança ao bairro e local das reuniões e a disponibilidade e interesse do grupo em

participar da pesquisa. Quanto à escolha dos colaboradores da Visão Mundial, eles

foram escolhidos por indicação da Gerente Nacional do Projeto REDES e teve como

critérios: pessoas que conhecem bem a metodologia GOLD e o projeto REDES, que

representassem todas as funções do projeto, que fossem de estados diferentes e de

contextos urbano e rural, que tivessem disponibilidade de responder a pesquisa e

responder no prazo estipulado. No quadro 8, é possível verificar a representação

dos colaboradores da ONG Visão Mundial por função, estado, cidade e contexto

(rural ou urbano).

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Quadro 8: Colaboradores da Visão Mundial que responderam a pesquisa

Funções Estado Cidade Contexto

Gerente Nacional do Projeto REDES

Pernambuco Recife Urbano

Assessor Nacional da ONG Visão Mundial de Educação Financeira

Alagoas Maceió Urbano

Assessor Nacional da ONG Visão Mundial de Oportunidades Econômicas

Minas Gerais Belo Horizonte Urbano

Assessor Nacional da Metodologia GOLD

Rio Grande do Norte Mossoró Rural

Coordenadora de Projetos

Ceará Fortaleza Urbano

Coordenadora de Projetos

Minas Gerais Caraí Rural

Agende de Campo Minas Gerais Montes Claros Rural

Fonte: O autor, 2014

O GOLD Esperança surgiu a partir do Programa de Desenvolvimento de Área

da Visão Mundial em Maceió. Em Setembro de 2011 começaram a trabalhar com a

metodologia GOLD, mas por falta de um facilitador da metodologia e também pela

desistência das mulheres, o grupo deixou de trabalhar com a metodologia GOLD,

retornando somente em 27 de Agosto de 2013, como GOLD Esperança. Essas

mulheres também formam o grupo de artesãs Somando Talentos e fazem parte do

movimento de Economia Solidária na cidade de Maceió; movimento este que

mobiliza artesãs para negociarem seus produtos nas feiras de Economia Solidária

em vários bairros de Maceió. O grupo que é foco principal deste trabalho negocia

seus produtos em uma conhecida praça da cidade, chamada Praça Centenário, no

bairro do Farol. É válido ressaltar que, a maioria dessas mulheres são também

empreendedoras individuais.

Das treze mulheres que formam o GOLD Esperança, dez responderam a

pesquisa semiestruturada e quatro dentre elas participaram da entrevista em grupo

focal. Não foi possível reunir todo o grupo no mesmo dia e local, com isso a

estratégia utilizada foi aplicar a pesquisa em momentos distintos e em pequenos

grupos de acordo com a disponibilidade das entrevistadas.

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Para não revelar a identidade dos entrevistados, bem como proporcionar uma

melhor compreensão, organização dos resultados e as inclusões de suas respostas

nos resultados dessa pesquisa de campo; se fez necessário definir uma siglas para

as mulheres do GOLD Esperança e identificar os colaboradores da ONG Visão

Mundial por função, que serão utilizadas a partir daqui até o fim deste trabalho. E

para identificar as diferentes pessoas que responderam a pesquisa do GOLD

Esperança, serão utilizadas uma numeração no final de cada sigla (MGE 1, MGE2,

MGE 3...).

Gerente do Projeto REDES

Assessor Nacional do GOLD

Assessor de Oportunidade Econômica da Visão Mundial

Assessor de Educação Financeira da Visão Mundial

Coordenadora de Projetos

Agente de campo /AC – Agente de Campo

MGE – Mulheres do Gold Esperança.

4.7 Instrumentos de pesquisa

Os instrumentos utilizados para este estudo foram: a observação

assistemática, por não determinar um planejamento ou roteiro previamente

elaborado; a entrevista de caráter não estruturada, caracterizada por não haver

rigidez de roteiro e por poder explorar mais amplamente algumas questões

específicas; e dois questionários, sendo um aplicado para o GOLD Esperança e

outro para os colaboradores da Visão Mundial, com perguntas abertas e fechadas,

ordenadas e alinhadas com os objetivos desta pesquisa e de fácil compreensão

(SILVA; MENEZES, 2005)

4.8 Tabulação e Apresentação dos Dados

Os dados da pesquisa foram tabulados, organizados e sistematizados através

do programa de computador Microssoft Word e Excel. Através do ultimo também

foram construídos os gráficos utilizados na descrição do resultado desta pesquisa.

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4.9 Resumo da metodologia em gráfico

Com a finalidade de proporcionar uma visão integrada e simplificada da

metodologia deste trabalho, é possível ver na figura abaixo a representação de

gráfica de todos os componentes metodológicos descritos neste capítulo.

Fonte: O autor, 2014

Figura 3: Resumo metodológico da pesquisa

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5 CARACTERIZAÇÃO GERAL DA ÁREA DE ESTUDO

Esse capítulo tem como propósito descrever e trazer informações relevantes

sobre a ONG Visão Mundial, o projeto REDES e a metodologia GOLD. Caracteriza-

se como a pesquisa documental por fazer uso de documentos institucionais da ONG

Visão Mundial.

5.1 A ONG Visão Mundial

A ONG Visão Mundial é uma organizacional humanitária cristã, que tem como

foco principal a promoção do bem estar de crianças, adolescentes e jovens, que

vivem em algumas comunidades pobres do Brasil. Sua missão é “Seguir a Jesus,

nosso Senhor e Salvador, trabalhando com os pobres e oprimidos, para promover a

transformação humana, buscar a justiça e testificar das boas novas do Reino de

Deus”. (Visão Mundial, 2011, p.5). Ela faz parte uma parceria internacional Word

Vision Internacional, que está presente em mais de 90 países espalhados no mundo,

cujo esforço é erradicar a pobreza e promover a justiça. Sob a motivação dos

valores cristãos, ela se dedica a trabalhar com as pessoas mais vulneráveis,

independente de religião, raça, grupo ético ou gênero.

Fundada em 22 de Setembro de 1950, pelo norte-americano Robert Willard

Pierce (mais conhecido por Bob Pierce) a Visão Mundial teve seu primeiro escritório

em Portland, Oregon/EUA. Sua fundação foi motivada pelo encontro de Robert

Willard Pierce com uma criança órfão da guerra, num um orfanato em Taiwan:

Em 1947, o norte-americano Robert Pierce, pastor e correspondente de guerra, ao visitar um orfanato na ilha de Xiamen (Estreito de Formosa - Taiwan), se sensibilizou com a situação de White Jade, uma criança órfã da guerra. A professora alemã Tena Hoelkedoer, incapaz de cuidar da menina sozinha, pediu ajuda a Pierce, pois o orfanato não tinha condições de prover alimento para mais órfãos. Bob Pierce, como era conhecido, deu à professora seus últimos cinco dólares e fez um trato com ela: todos os meses enviaria a mesma quantia para ajudá-la a cuidar de Jade. É nessa promessa que está a causa da Visão Mundial, fundada por Bob Pierce, três anos depois, em 22 de setembro de 1950. Após a Guerra da Coreia, Pierce teve a ideia de ajudar os milhares de órfãos através de doações mensais. Também na Coreia, em 1954, o primeiro escritório de

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campo da Visão Mundial foi fundado. Nas décadas seguintes, a Visão Mundial expandiu seu trabalho pela Ásia, América Latina, África e Leste Europeu. Nos anos 1970, ao perceber que o apadrinhamento tradicional não atacava as causas da pobreza, a Visão Mundial implantou o modelo de desenvolvimento comunitário e de assistência humanitária em situações de emergência, que vem sendo constantemente aprimorado até hoje. (VISÃO MUNDIAL, 2011, www)

A ONG Visão Mundial chegou ao Brasil no ano de 1975 e o seu primeiro

escritório foi na cidade de Belo Horizonte no estado de Minas Gerais, que era

responsável também para dar suporte a atuação da organização no América do Sul.

Em 1982 o segundo escritório foi inaugurado na cidade do Recife, e desde 2006 se

tornou o escritório central da Visão Mundial no Brasil.

A Visão Mundial tem uma identidade cristã, e a mesma pode ser percebida

por meio de seus valores centrais que norteiam toda a organização: 1) Somos

cristãos: “da transbordante plenitude do amor de Deus nos vem o chamado para o

ministério” (Visão Mundial, 2011, p.9); 2) Temos compromisso com os pobres:

“somos chamados para servir aos mais necessitados, aliviar seus sofrimentos e

promover a transformação de suas condições de vida, buscando solidariamente a

justiça.” (Visão Mundial, 2011, p.10); 3) Valorizamos as pessoas: “consideramos

todas as pessoas como criadas e amadas por Deus. Priorizamos as pessoas em

lugar do dinheiro, das estruturas e dos sistemas.” (Visão Mundial, 2011, p.10); 4)

Somos Mordomos : “somos leais ao princípio de que Deus nos confia os recursos

para que, com eles, façamos o máximo possível em benefício dos pobres.” (Visão

Mundial, 2011, p.11); 5) Somos parceiro “mantemos uma postura de cooperação e

um espírito de abertura para com as demais organizações humanitárias.” (Visão

Mundial, 2011, p.11); 6) Somos sensíveis: “agimos com presteza em quaisquer

emergências que ameacem a vida, sempre que o nosso envolvimento é necessário

e adequado.” ( Visão Mundial, 2011, p.12)

Na Visão dessa organização, é possível perceber um importante motivador

para suas iniciativas junto as comunidades pobres na qual atua: “Nossa visão para

todas as crianças: vida em abundância; nossa oração para todos os corações: a

vontade para tornar isso uma realidade.” (Visão Mundial, 2011, p.6).

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De acordo com o relatório anual de 2012 da Ong (Visão Mundial, 2013), para

cumprir sua missão a Visão Mundial tem três linhas estratégicas, que são chamadas

de linhas ministeriais, das quais são formulados seus projetos e programas de

intervenção social aqui no Brasil, são elas:

Desenvolvimento Transformador – São as ações e processos através dos quais crianças, famílias e comunidades se movem em direção à plenitude da vida com dignidade, promovendo justiça, paz e esperança, como a Bíblia descreve o Reino de Deus. (Visão Mundial, 2013, p.2)

Advocacy e Promoção de Justiça para a Infância – O trabalho de advocacy e promoção de justiça da VMB tem foco nas ações que promovam transformações das estruturas e dos sistemas injustos que afetam sobretudo crianças, adolescentes e jovens, e considera este público como agente ativo e legítimo na construção de alternativas à injustiça. (Visão Mundial, 2013, p.2)

Emergência e Reabilitação – A VMB presta assistência humanitária de emergência para comunidades vítimas de desastres naturais visando à diminuição do sofrimento e criando capacidades de convivência com situações que envolvem risco e restaurando as condições de vida digna. (Visão Mundial, 2013, p.2)

E seus programas desenvolvem ações nas seguintes áreas:

Geração de Renda e Empreendedorismo - Microcrédito rural e urbano; comércio

ético e solidário e agroecologia, com ênfase no cuidado com o meio ambiente. O

projeto REDES está dentro desta linha estratégica.

Promoção da Justiça para a Infância e Juventude - Defesa dos direitos da criança

e do adolescente, com ênfase no protagonismo e no monitoramento de políticas

públicas.

Promoção de Bons Tratos - Iniciativas de enfrentamento à violência urbana, com

ênfase no enfrentamento à violência sexual contra crianças e adolescentes, e

promoção da cultura de paz.

Educação para a Vida - Processos educativos de esporte, cultura e lazer com

ênfase na formação de crianças e jovens para desenvolvimento de ações

empreendedoras e inserção no mercado de trabalho.

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Saúde Materno-Infantil: Ênfase em saúde na primeira infância, segurança alimentar

e gravidez precoce.

Assistência Humanitária e de Emergência: Socorro em situações de emergência.

5.2 Atuação nacional

No Brasil a Visão Mundial atua na região Sudeste (Minas Gerais, Rio de

Janeiro e São Paulo), na região Norte (Amazonas) e no Nordeste (Alagoas, Bahia,

Ceará, Paraíba, Pernambuco e Rio Grande do Norte) onde atua de formar mais

abrangente. Sua principal estratégia de atuação é o Programa de Desenvolvimento

de Área (PDA), que está presente nas capitais quanto em pequenas cidades do

interior. Na figura 4 estão localizados os estados em que a ONG atua.

Fonte: Visão Mundial, 2014, www

De acordo com o relatório anual de 2012 (Visão Mundial, 2013) o impacto e

investimento da organização nesse mesmo ano foram de R$ 32 milhões, investidos

em 77 programas, dos quais 37 são PDAs. Através desses programas foram

beneficiadas o total de 2.090.345 pessoas, sendo 408.106 de maneira direta, e

Figura 4: Área de atuação da Visão Mundal no Brasil

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1.392.307 indiretamente; alcançando o total de 885 comunidades espalhadas em 49

municípios, localizados em 11 estados brasileiros.

5.3 Programa de Desenvolvimento de Área (PDA)

A principal estratégia de intervenção social da Visão Mundial é o Programa de

Desenvolvimento de Área (PDA). Através do PDA a organização busca contribuir

para o desenvolvimento local das comunidades onde atua. Esses Programas são

desenvolvidos por meio de parcerias com organizações locais, as quais se

comprometem a trabalhar dentro das três linhas ministeriais da organização que

são: o desenvolvimento transformador, advocacy e promoção de justiça pela infância

e ajuda humanitária em emergência e reabilitação. Em geral, um PDA é inserido em

uma comunidade através de uma ONG local, e é planejado para se manter na

comunidade de 10 à 15 anos. Em sua atuação, busca fortalecer as capacidades

locais e o desenvolvimento comunitário com iniciativas e projetos de geração de

renda, formação de lideranças locais, educação, lazer, esporte, arte e cultura para

as crianças, adolescentes e jovens, formação e fortalecimento de rede comunitária

com os diversos atores locais (escolas, posto de saúde, igrejas, centro comunitário)

para enfrentar os problemas locais e a violação dos direitos das crianças (violência,

desemprego, infraestrutura, saneamento, acesso aos serviços públicos),

campanhas e mobilizações, entre outros. O foco dos PDAs são as crianças,

adolescentes e jovens, no entanto para que estes sejam beneficiados, os pais,

cuidadores e a comunidade em geral também são alvos de investimento.

Visão Mundial aplica o conceito de Desenvolvimento Transformador nos locais onde atua, com foco nas crianças e adolescentes, envolvendo toda a comunidade nos programas para garantir o desenvolvimento sustentável da região. As ações implementadas têm o compromisso de gerar condições econômicas e sociais para a auto sustentabilidade e para o desenvolvimento integral de toda a comunidade. A principal estratégia de intervenção para o fomento do desenvolvimento local são os Programas de Desenvolvimento de Área (PDAs). Os PDAs geram impacto transformador em uma região e incorporam às ações desenvolvidas os conceitos de fortalecimento institucional, mobilização, participação, planejamento e avaliação comunitária. Os PDAs contribuem definitivamente para o desenvolvimento das comunidades apoiadas, nas quais são estabelecidas parcerias com organizações locais e desenvolvidos os programas e projetos integrados nas três linhas ministeriais da organização: desenvolvimento transformador; advocacy e promoção da justiça para a infância; e emergência e reabilitação. (VISÃO MUNDIAL, 2014, www)

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5.4 O Projeto Rede de Desenvolvimento

O Projeto Redes de Desenvolvimento (REDES) é um projeto especial da

ONG Visão Mundial. Os projetos especiais surgem a partir da oportunidade de

financiamentos e tem a função de responder uma linha estratégica específica desta

organização e cooperam para os resultados da ONG. Além disso, são projetos de

curta duração se comparados com os Programas de Desenvolvimento de Área.

Este projeto faz parte dos objetivos da organização para a geração de renda e

empreendedorismo para as comunidades pobres.

O Projeto REDES surgiu da parceria entre a Visão Mundial, o Banco

Interamericano de Desenvolvimento (BID)6, a Agencia Nacional de Desenvolvimento

Microempresarial (ANDE) e o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas

Empresas (SEBRAE), conforme contrato assinado em 21 de Novembro de 2008.

Inicialmente esse projeto surge com o nome de Programa de Redução da Pobreza

Mediante Integração Regional de Capacidades Locais no Nordeste do Brasil (Visão

Mundial, 2008) e, de acordo com o contrato assinado, o objetivo geral do mesmo é

contribuir com a redução do nível de pobreza por meio da criação de oportunidades

de geração de renda com foco no Nordeste brasileiro:

O objetivo geral do Programa é contribuir para a redução dos níveis de pobreza por meio da criação de oportunidades de geração de renda no Nordeste do Brasil. O propósito específico é desenvolver e implementar um modelo integrado de redução da pobreza em larga escala no Nordeste do Brasil. O Programa foca em particular o pobre que é dono de pequenas fazendas e outros negócios rurais, principalmente em atividades de artesanato, serviços e comércio e outros interessados em desenvolvimento de pequenos negócios. O programa tem como foco particular em mulheres e jovens. (VISÃO MUNDIAL, 2008, p.21)

6 O BID é a principal fonte de financiamento multilateral e de conhecimentos para o desenvolvimento econômico,

social e institucional sustentável na América Latina e no Caribe. O Grupo do BID é constituído pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento, pela Corporação Interamericana de Investimentos (CII) e pelo Fundo Multilateral de Investimentos (Fumin). A CII concentra-se no financiamento de médias e pequenas empresas, enquanto o Fumin promove o crescimento do setor privado com investimentos e operações de cooperação técnica não-reembolsáveis, com un ênfase na microempresa. (BID, 2014, www)

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5.5 Primeira fase do projeto REDES

A primeira fase do projeto REDES teve como principal objetivo, desenvolver

e por em prática um modelo integrado de redução da pobreza com foco no fomento

de projetos empresariais no Nordeste do Brasil e baseado na experiência de Self

Help Groups (Grupo de Auto Ajuda), modelo de intervenção desenvolvido pela ONG

Hand in Hand. Essa fase teve seu início em Janeiro de 2009 e foi concluída em

Julho de 2010 e contou com a integração de três organizações para garantir a sua

execução: O Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), organização

financiadora do projeto, a ONG Visão Mundial e a Agencia Nacional de

Desenvolvimento Micro Empresarial (ANDE), ambas responsável por gerir e

executar o mesmo.

Todo o projeto foi desenhado em quatro componentes principais, conforme

pode ser visto a baixo e no quadro 9 onde estão detalhadas com todas as

atividades previstas por componentes.

Componente 1: Desenvolver e teste do modelo baseado na metodologia

Hand in Hard7;

Componente 2: Fortalecimento, integrado e institucionalizado da rede

regional para a expansão do Programa. Esse componente tinha como

objetivo central interligar a rede regional com a ONG Visão Mundial e a

ANDE.

Componente 3: Implementar o modelo de intervenção baseado na

metodologia da Hand in Hand na rede regional, com o objetivo de reduzir a

pobreza das populações alvo.

Componente 4: Sustentabilidade da rede e divulgação do modelo.

7 O Modelo HiH, é baseado na metodologia Self Help Group (SHP), desenvolvida e aplicada pela Hand in Hand

no Estado de Tamil Nadul, Índia. De forma geral, um SHG é uma associação informal de 10-20 mulheres pobres (que possuem, ou não, negócios) que se unem para acessar serviços sociais e financeiros. É uma metodologia utilizada em larga escala por organizações de microfinanças em toda Índia, não apenas pela HiH. No Brasil os SHL são as Unidades Locais de Oportunidades que Geram Renda (ULO’s). (Visão Mudial, 2009, p.4)

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Quadro 9: Componentes e atividades do projeto REDES

Componente Atividades delimitadas

Componente 1: Desenvolver e teste do modelo baseado na metodologia Hand in Hard.

(i) avaliação pela HIH da rede e do ambiente no Brasil; (ii) capacitação de duas instituições no modelo; (iii) desenvolvimento de sistemas e procedimentos para fortalecer as atividades de micro-finanças relacionadas à nova metodologia; (iv)preparação e tradução dos manuais operacionais e de treinamento em coordenação com a Agência Nacional de Desenvolvimento Micro empresarial – ANDE e o Órgão Executor; (v) treinamento de 20 Coordenadores Metodológicos (CM) em dinâmica de grupo, contabilidade, controladoria, gerenciamento financeiro, desenvolvimento de negócio; vi) organização de 3.000 pessoas no Modelo e prover treinamento; (vii) estabelecimento e consolidação de links com a indústria e o mercado; e (viii) monitoramento, avaliação e sistematização da experiência desde a fase piloto.

Componente 2: Fortalecimento, integrado e institucionalizado da rede regional para a expansão do Programa.

(i) dois eventos para mobilizar a rede e selecionar sues participantes; (ii) promover assistência técnica para o desenvolvimento de pleno de negócios para a Rede para formalizá-la; (iii) desenvolver estatutos, normas e regulamentos com os resultados e indicadores de gerenciamento para a rede e para os participantes institucionais; (iv) prover assistência técnica em governança, planejamento estratégico e angariação de fundos; e (v) prover assistência técnica para fortalecer as habilidades operacionais das organizações.

Componente 3: Implementar o modelo de intervenção baseado na metodologia da Hand in Hand na rede regional, com o objetivo de reduzir a pobreza das populações alvo.

(i) treinamento de Agentes de Desenvolvimento Local (ADL); (ii) criar ULO

8 e realizar treinamento no modelo; (iii) mobilizar capacidades

locais para fornecer assistência técnica para empreendedorismo; (iv) assistência técnica para o desenvolvimento de manuais de treinamento sobre gestão básica de negócios; (v) assistência técnica de acesso de mercado, cadeia de valor e comercialização; e (vi) treinamento vocacional para a demanda do mercado local.

Componente 4: Sustentabilidade da rede e divulgação do modelo.

(i) acessar fundos públicos e privados disponíveis na região para a expansão das atividades da rede; (ii) desenvolver plano de mobilização de recursos de médio-prazo para a rede; (iii) desenhar mecanismo alternativo para acessar fundo adicionais; (iv) criar uma sistema de monitoramento do Programa; (v) mensurar, analisar e disseminar os resultados; (vi) realizar worshops locais e regionais e internacionais para disseminar e trocar experiências; (vii) participar e, eventos locais, regionais e internacionais de treinamentos; (viii) sistematizar e validar experiências e resultados; e (ix) organizar uma conferência final.

Fonte: VISÃO MUNDIAL, 2008, p. 21-23 (Adaptado pelo autor)

O custo total do projeto foi de US$ 5.500.000,00 divididos por componentes

conforme o quadro 10.

8 ULO - Unidades Locais de Oportunidades que Geram Renda. Grupo de pessoas (10 a 15) que serão

organizadas e treinadas por meio da nova metodologia. (Visão Mundial, 2009, p.3)

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Quadro 10: Custo em US$ do Projeto REDES

Componentes FUMIN Contrapartida Total

Componente 1. Desenvolvimento e teste do modelo

435.000 (8%) 215.000 (4%) 650.000 (12%)

Componente 2. Criação da rede regional de instituições

160.500 (3%) 1.105.000 (20%) 1.265.500 (23%)

Componente 3. Implementação do modelo

1.250.000 (23%) 1.320.000 (24%) 2.570.000 (47%0

Componente 4. Disseminação 190.000 (3%) 110.000 (2%) 300.000 (5%)

Administração 250.000 (4,5%) 250.000 (4,5%) 500.000 (9%)

Avalição e auditoria 77.000 (1%) 0 77.000 (1%)

Contigência 125.000 (2%) 0 125.000 (2%)

Avaliação de Impactos 12.500 (0,5%) 0 12.500 (0,5%)

Total 2.500.000 (45%) 3.000.000 (55%) 5.500.000

Fonte: VISÃO MUNDIAL, 2008, p. 23

Tendo em vista garantir a boa aplicação dos recursos do programa, a ONG

Visão Mundial e o BID, criaram no ano de 2009, um documento intitulado

Regulamento Operativo, o qual “estabelecia os termos e condições para a utilização

dos recursos do Programa Redução da Pobreza a través da Integração Regional

das Capacidades Locais de Negócios no Nordeste do Brasil a ser executado pela

Visão Mundial.” (Visão Mundial, 2009, p.1). Constam no regulamento operativo,

entre outras as seguintes informações: os detalhes das atividades do programa bem

como os respectivos resultados esperados, as nomenclaturas e definições dos

órgãos e funções inerentes do próprio programa, a delimitação dos beneficiários, as

responsabilidades e deveres do órgão executor e das demais organizações

envolvidas, a forma como o programa seria avaliado bem como o monitoramento

durante todo o seu processo de execução, definições quanto ao repasse financeiro,

os prazos, aquisição de bens e serviços, o comitê formado pelos órgãos envolvidos

e seus respectivos deveres.

Para cada componente foram definidos resultados esperados, e estes seriam

a base para dar direcionamento ao projeto e garantir sua avaliação. O quatro 11 nos

traz os principais resultados esperados por componentes.

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Quadro 11: Resultados esperados do projeto REDES

Componente Resultados

Componente 1

1) O modelo baseado na metodologia HiH e testado satisfatoriamente no contexto brasileiro; 2) Pelo menos 3.000 beneficiários organizados em 200 Unidades Locais de Oportunidades que Geram Renda (ULO’s)

9 integradas à Rede (GRIM).

Componente 2

1) Obter uma Rede estruturada e gerando resultados; 2) Uma Rede formada por pelo menos 25 membros, com estrutura legalizada e tendo desenvolvido resultados comuns, com indicadores de gestão que permitam medir o impacto de acordo com o Modelo.

Componente 3

1) Pelo menos 250 ADL’s capacitados; 2) Pelo menos 50.000 pessoas em 2.800 ULO’s treinadas na metodologia por meio da Rede; 3) 200 ULO’s treinados em acesso ao mercado, cadeias de valor e comercialização; 4. 10 associações locais que provendo assistência técnica identificadas.

Componente 4

1) Fundos alternativos e 5 mecanismos para obter os fundos identificados ou implementados; 2) Participação em pelo menos 5 workshops em nível nacional ou internacional; 3) Evento de encerramento implementado.

Fonte: Visão Mundial, 2009

Com base nos resultados esperados, essa primeira fase do projeto foi

avaliada no mês de Julho de 2010. Os resultados alcançados superam em muito ao

que estava estipulado para essa fase, alavancando o projeto para sua próxima

etapa, a fase de expansão. De acordo com o documento de Informe sobre a Fase

Piloto (Visão Mundial, 2010, p.5), os resultados adquiridos foram: de 606 grupos

GOLDs criados, envolvendo 6.528 pessoas, cumprindo assim 303% da meta

planejada de grupos e 217% da meta de pessoas envolvidas

5.6 A Fase de Expansão

A segunda fase do projeto, também conhecida como fase de expansão, teve

seu início no mês de Julho de 2010. Conduzida pela parceria do BID, da ONG Visão

Mundial, da ANDE e do SEBRAE; teve como propósito principal, transferir a

metodologia Grupos de Oportunidade Local de Desenvolvimento (GOLD) para uma

9 Cada ULO tem em média 15 pessoas.

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rede mais ampla de instituições, com a finalidade de integrar ao programa e produzir

um impacto massivo na redução da pobreza. Quanto ao objetivo geral, o projeto

busca “contribuir para reduzir os níveis de pobreza no Nordeste do Brasil por meio

da geração de oportunidades de negócios, que fomente: aumento de renda e

fortalecimentos da economia local via aplicação da metodologia GOLD” (Visão

Mundial, 2010, p.5). O público definido como prioritário, foram os “microempresários

(urbanos e rurais, individuais e coletivos) e pessoas/grupos com potencial de

empreender, cujo enquadramento econômico esteja abaixo da linha nacional da

pobreza10 situados na região Nordeste e norte do Estado de Minas Gerais” (ANDE,

2009, p.2).

Com finalidade de promover impacto em longa escala, essa fase do projeto

contou com os seguintes resultados a serem alcançados: adaptar, testar e implantar

nova metodologia para atendimento em serviços de assessoria microempresarial e

microfinanceiros a microempresários situados abaixo da linha da pobreza; atender

50.000 mil pessoas com a metodologia GOLD e ascender 25.000 microempresários

da linha da pobreza e prestar 30.000 orientações microempresariais para público-

alvo por meio dos GOLD.

Impactos desejados na economia local também foram previstos e

delimitados, dentre estes, vale destacar: o foco no aumento do investimento nos

empreendimentos para fortalecer a economia local, a geração de novos postos de

trabalho e o aumento da renda das pessoas (ANDE, 2009). E o impacto principal

desejado, foi delimitado pela capacidade do microempresário conseguir gerar renda

suficiente para sustentar sua família e ultrapassa a linha de pobreza.

Um plano de avaliação e monitoramento também foi definido no desenho do

projeto a fim de garantir a qualidade e o alcance dos resultados do programa. Este

10 De acordo com as notas técnicas do Instituto de Pesquisa e Estratégica Econômica do Ceará (IPECE, 2014,

www), tratando sobre as principais linhas de pobreza utilizada no Brasil afirma que: As definições de pobreza em geral utilizadas em estudos nacionais e internacionais se baseiam na capacidade de adquirir produtos e serviços e desses cálculos se deriva a linha de pobreza. O Banco Mundial tornou popular a noção de linha de pobreza para quem ganham menos de U$1,00/dia. No Brasil, é comum a utilização da linha da pobreza de ½ salário mínimo por mês de renda per capita como medida de pobreza, ou, ainda, tendo como base uma cesta mínima de consumo. No caso do Projeto REDES considera-se abaixo da linha da pobreza pessoas com renda mensal inferior a meio salário mínimo do Brasil.

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plano previa três métodos de avaliação: “1) Implantação de sistemas de informação

que farão a gestão de diversas etapas do projeto; 2) Avaliações Independentes (a

partir de dados dos sistemas de informação e dos resultados pretendidos); 3)

Auditorias externas anuais.” (ANDE, 2009, p.38). A Necessidade de se ter três

métodos de avaliação, se justifica pela complexidade dos resultados propostos e a

extensão do alcance projeto. No quadro 12, é possível verificar as características e

os critérios definidos de cada método de avaliação.

Quadro 12: Metodologia de avaliação, características e resultados pretendido

Metodologia Característica Resultados Pretendidos

Sistema de informação

Implementação de dois sistemas de informação. O primeiro com a função de acompanhar o desenvolvimento da metodologia, e o segundo com a pretensão de assegurar o acompanhamento permanente dos objetivos e metas do projeto como um todo.

Primeiro sistema: 1) Caracterização e monitoramento da evolução dos indicadores socieoeconômicos dos clientes dentro das GOLDs; 2) Caracterização socioeconômica das GOLDs; 3) Caracterização operacional das atividades dos ADN; 4) Controle das atividades microfinaceiras; 5) Controle das atividades das assistências técnicas oferecidas as GOLDs; Segundo Sistema: 1) Permanência, vigilância e grau de cumprimento dos objetivos do programa; 2) Qualidade dos serviços oferecidos; 3) Sustentabilidade (em termos técnicos, econômico-financeiro; sociais e institucionais) do programa e uma vez finalizado o projeto; 4) Acompanhamento da expansão da experiência; 5) Impactos alcançados tanto em termos de melhoras das condições econômicas dos beneficiários como em termos de capital social.

Avaliação Independente

Realização de duas avaliações a partir das informações dos sistemas, sendo uma intermediária nos primeiros 24 meses do projeto, e uma no final do projeto.

1) O grau de cumprimento dos resultados e metas; 2) O desempenho da ANDE a respeito de suas responsabilidades; 3) Lições aprendidas e as recomendações para melhorar o Programa no próximo biênio.

Auditoria externa

Realização de uma auditoria externa ao final de cada ano.

Certificação do cumprimento das normas pela ANDE e outros parceiros envolvidos no projeto.

Fonte: Adaptado pelo autor de ANDE, 2009, p.38

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5.7 Estrutura operacional

A estrutura operacional dessa fase do projeto, foi organizada em quadro eixos

centrais: O primeiro eixo com o objetivo de adaptar e testar metodologia, baseada na

metodologia de SHG3, para atendimento de pessoas abaixo da linha da pobreza; o

segundo com seu foco na Implementação da metodologia na região para redução

em escala da pobreza; o terceiro ligado a sustentabilidade e divulgação do Modelo e

o quarto se refere a gestão do Programa (ANDE, 2009, p.9). Vide a estrutura

organizacional do projeto REDES no figura 5.

Conforme a integração das quatro organizações envolvidas, é importante

considerar aqui, que para dar andamento ao projeto, foi definido que a Visão

Mundial seria a organização responsável para gerir o primeiro eixo com o apoio do

SEBRAE, o segundo e o terceiro com o apoio da ANDE, e que o quarto eixo (gestão

do programa), seria de responsabilidade de todas as organizações envolvidas. A

figura 12 mostra a subdivisão do Projeto REDES por eixos.

Fonte: Adptado de ANDE, 2009

Figura 5: Eixos do projeto REDES

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5.8 Os recursos do projeto REDES

Tendo em vista atender 50.000 pessoas com a metodologia Grupos de

Oportunidades Locais de Desenvolvimento (GOLD) e gerir todo o projeto, os

recursos previsto para os quatro anos do projeto em sua nova fase contou com a

maior contribuição financeira do BID e do SEBRAE, e com a execução e também

aporte financeiro (em menor escala) da ANDE e Visão Mundial (ANDE, 2009). A

figura 6 resume o orçamento do programa por eixo, tendo em vista os quatro anos

de atividades. Inicialmente a previsão do projeto era que seu encerramento

acontecesse no mês de Julho de 2014, no entanto com vista a alcançar seus

objetivos e por definição das quatro organizações parceiras, o projeto terá seu

encerramento no mês de Julho de 2015.

Figura 6: Resumo da distribuição de recursos do projeto REDES por eixo e responsáveis Fonte: ANDE, 2009, p.14

5.9 A metodologia GOLD

A metodologia Grupos de Oportunidades Locais de Desenvolvimento (GOLD)

é a principal metodologia utilizada pelo Projeto REDES, para a promoção do

empreendedorismo social e a redução da pobreza nas áreas delimitadas pelo

projeto (Região Nordeste e o Estado de Minas Gerais). De acordo com o manual da

metodologia (VISÃO MUNDIAL, 2011) o GOLD se caracteriza por um grupo de 10 a

20 pessoas que residem numa mesma rua ou bairro e que se reúnem,

semanalmente para discutir os problemas e as dificuldades do grupo, bem como da

comunidade, buscando soluções para superar a pobreza, por meio da solidariedade

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e da troca de experiências. A poupança financeira é um dos elementos centrais no

GOLD, é ela que permite a junção do grupo semanalmente durante um determinado

ciclo (MIRANDA, 2013). Além dos aspectos mencionados acima, a metodologia

busca promover a autogestão dos grupos, a utilização das poupanças para

empréstimos dos membros participantes para investimentos, atendimento das

necessidades básicas, apoio em situações de emergência e na alavancagem de

empréstimos externos, entre outras:

Para além de uma metodologia de mobilização, organização de grupos, desenvolvimento do hábito da poupança e empreendedorismo, o GOLD permite a criação de uma base organizacional, informal ou formal, capaz de absorver e tratar os mais diversos aspectos do desenvolvimento comunitário: economia solidária, saúde, educação, resgate dos direitos individuais e coletivos, melhoria da renda e da qualidade de vida. (VISÃO MUNDIAL, 2011, p. 4)

De acordo com Visão Mundial (2011), o surgimento da metodologia GOLD se

deu a partir da contextualização da metodologia Self Help Group, através da

parceria técnica com a instituição indiana Hand in Hand, em conjunto com a

experiência e contribuição metodológica da Visão Mundial Brasil e ANDE, e dos

diversos parceiros da Visão Mundial de atuação local, principalmente aqueles dos

Estados do Ceará e Rio Grande do Norte.

Sobre a organização Hand in Hand, o documento oficial do Projeto Redes a

descreve da seguinte forma:

Hand in Hand (HiH) é uma organização não governamental Indiana, localizada no estado de Tamil Nadu e Pondicherry, mas também com atuação no Afeganistão e África do Sul. A organização tem como objetivo central erradicar o trabalho infantil. Ela cumpre esse objetivo desenvolvendo projetos de educação, saúde, cidadania e meio ambiente. Um outro programa relevante é o de geração de renda, por meio dos Self Help Groups, que atendem os membros mais pobres da sociedade, em particular mulheres, com financiamento, educação empreendedora, alfabetização e outros serviços de microfinanças. (ANDE, 2009, p.40)

Conforme a Hand in Hand (2014, www), o trabalho da organização leva em conta a

abordagem integrada para o desenvolvimento; para tanto seu trabalho está focado

em cinco pilares fundamentais: microfinanças, educação, saúde, Centro Cidadão de

Empresas e meio ambiente. O resumo do modelo da abordagem da organização na

Índia, pode ser visto no quadro abaixo.

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Quadro 13: Modelo de abordagem da Hand In Hand

Pilares Característica/Propósito

Microfinanças - SHG – Self Help Groups (Grupos de Auto-Ajuda)

Mobilização de mulheres de comunidades pobres e desfavorecidas para a formação de grupos de autoajuda, afim de torná-las confiantes para poupar, acessar a micro empréstimos, estabelecer pequenos empreendimentos, buscar soluções para os problemas de suas comunidades, apoio em capacitações e inserção dos pequenos negócios a outras empresas e organizações.

Meio Ambiente Consciente de que a degradação ambiental afeta aos mais pobres. Nesse pilar são trabalhados junto às comunidades pobres, projetos que visam a gestão de resíduos sólidos, gestão de recursos naturais, plantio de árvores, limpeza de lagos e lagoas, construção de usina de biogás, criação de represas de águas, educação e conscientização.

Eliminação do Trabalho Infantil e Educação

A luta para a eliminação do trabalho infantil foi o que deu início a organização. Esse enfoque é transversal e está em todas as iniciativas da ONG.

Saúde Assegurar que os grupos mais pobres e marginalizados da sociedade Indiana tenha acesso a cuidados de saúde e estejam conscientes dos seus direitos à saúde.

Centro Cidadão de Empresas

Promove apoio e acesso a créditos para os empresários rurais, além de acesso a informações sobre o governo da índia e da sociedade civil.

Fonte: Adaptado de HAND IN HAND, 2014, www

De acordo com a ANDE (2009, p.40), fica claro o porquê da escolha da Hand

in Hand e de seu modelo de intervenção para a redução da pobreza (Self Help

Groups) através da popança e empreendedorismo social, pela Visão Mundial, BID,

SEBRAE e ANDE:

Destaque, frente às outras organizações indianas, por seu empreendedorismo e inovação;

Foco na sustentabilidade social, econômica e ambiental de todas as ações e seus impactos;

A lógica da solidariedade e da responsabilidade social entre os indivíduos (ajuda por meio do conceito de “Self-Help” – ajudá-los a se ajudarem);

A produtividade e qualidade das ações da organização, isso por terem indicadores qualitativos e quantitativos que são mensurados sistematicamente e constantemente;

Sua intervenção levando em conta a participação social (as pessoas participam do seu processo de desenvolvimento);

Cooperação com instituições locais;

Seus programas são desenvolvidos para atingir milhares de pessoas;

Foco no empoderamento de mulheres, por meio da criação de micro empreendimentos e de geração de empregos.

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5.10 Principais características do modelo de intervenção Self Help Groups

(SHG)

Os Self Help Groups (SHG) pode ser traduzido como “Grupos de Auto Ajuda”,

ou simplesmente por meio do conceito de “Self-Help” – ajudá-los a se ajudarem

(ANDE, 2009, p.40). O SHG é uma metodologia utilizada em larga escala por

organizações de microfinanças na Índia, chamadas de SHPI (Self Help Promotion

Institutions). Juntas, estas organizações atendem 35 milhões de pessoas na Índia

por meio dos SHG (Projeto REDES, 2009, p.41). Esta metodologia também é

utilizada no pilar de microcrédito da ONG Hand In Hand. De acordo com a Hand In

Hand (2014, www) o foco dos grupos de alto ajuda (SHG) e microfinanças é aliviar a

pobreza rural e promover a autonomia das mulheres, através do empreendedorismo.

Isso é realizado por meio da formação de grupos de mulheres onde elas passam por

capacitação e tem suas competências desenvolvidas, levando em conta a melhoria

e sustentabilidade de suas vidas e de suas famílias. A Hand In Hand promove o

acesso desses grupos às alternativas de micro crédito mais barato. Quando o

acesso aos bancos torna-se insuficiente por seus altos juros ou rigidez contratual, a

própria Hand In Hand busca preencher a lacuna fornecendo créditos baratos para a

criação de empresas dos membros dos grupos. Uma outra forma de acesso ao

crédito por meio dos grupos SHG, é através da poupanças que é realizada em todos

os encontros dos grupos.

De acordo com ANDE (2009, p. 42), SHG é uma associação informal que

mobiliza de 10 a 20 mulheres pobres (que possuem ou não negócios) para acessar

serviços sociais e financeiros. Entre os serviços sociais estacam-se: alfabetização;

educação financeira; treinamento em gestão de pequenos negócios, financeira,

auditoria interna, empreendimentos coletivos, formação de ONG; acesso ao

mercado, planejamento familiar, convivência comunitária, saúde da mulher e da

criança, poupança, empréstimos e seguros.

Quanto ao foco em mulheres, a Hand In Hand justifica a opção da seguinte

forma:

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Hand in Hand acredita que quando os empréstimos são dadas às mulheres para a criação de ativos e geração de renda, aumenta o seu estatuto e reforça a sua posição na família. Consequentemente, como as mulheres estão capacitadas, a pobreza das famílias diminui e os padrões de saúde e de educação na família como um todo aumenta. Além disso, com a criação de empresas, as mulheres migram de trabalho mal remunerado ou trabalho doméstico não remunerado, para o auto-emprego eo empreendedorismo. (HAND IN HAND, 2014, www)

5.11 Elementos e passos da Metodologia GOLD

De acordo com Allen e Staehle (2011), a metodologia GOLD foi desenhada e

articulada em 4 fases principais. São elas: fase preparatória, intensiva, de

desenvolvimento e de maturidade. Abaixo segue a descrição das mesmas.

A Fase preparatória: Oferece informações gerais sobre o GOLD através de

reuniões a membros de uma determinada comunidade (potenciais membros do

GOLD). Ela tem dois objetivos: o primeiro é conseguir apoio das lideranças locais e

agendar um encontro com os membros da comunidade e o segundo é apresentar

metodologia GOLD na comunidade, dando informações detalhadas do

funcionamento de um GOLD, dos compromissos do agente de campo (AC) e da

Visão Mundial e ainda, para as pessoas que tiverem interesse como participar do

grupo. As reuniões preparatórias são definidas conforme as orientações descritas na

figura 7.

Fonte: ALLEN; STAEHLE, 2011, p.9 Figura 7: Reuniões preparatórias

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A reunião A e B são, basicamente, para trazer todas as informações necessárias

sobre a metodologia GOLD e mobilizar a comunidade local, para formar um grupo

GOLD. Entre as informações fundamentais aos comunitários estão:

O que é a metodologia GOLD e qual a organização responsável por sua

gestão (Visão Mundial);

A existência de metodologias semelhantes no mundo e o êxito delas, bem

como do GOLD em outras comunidades e cidades no Brasil;

A seriedade da proposta de intervenção e o compromisso das organizações

envolvidas no projeto REDES;

O papel do Agente de campo (AC) no suporte e apoio ao grupo, e como os

mesmos serão treinados para realizar as poupanças de acordo com a

metodologia; bem como o período de assistência e supervisão;

Que a intenção é iniciar grupos de poupança e empréstimo, geridos pelas

comunidades, e que pertencem aos seus membros.

Todos os fundos usados para providenciar empréstimos aos membros, vêm

dos esforços dos próprios membros. O programa não dá nenhum dinheiro aos

grupos GOLDs para emprestar aos seus membros.

O tamanho do Grupo não pode ser menor que dez membros ou maior que

vinte e cinco.

Informação sobre o caráter de autogestão dos grupos, e que os mesmos

definirão, através de votação quem assumirá as devidas responsabilidades do

grupo, bem como o local de reuniões dos mesmos.

Existência de uma caixa metálica que deverá ser comprada por cada grupo.

Esta caixa tem três cadeados e contém todos os materiais necessários para

gerir um GOLD, bem como o dinheiro poupado pelo grupo. Esta caixa não

pode ser aberta entre as reuniões semanais.

Por fim, orientações para a seleção dos membros a participar do GOLD.

Após as reuniões A e B, caso haja interesse dos membros da comunidade em

formar um GOLD, marca-se a próxima reunião (reunião C) com o grupo GOLD

recém-formado, onde serão apresentados todas as regras e funcionamento do

GOLD. Allen e Staehle, (2011, p.13 e 14) descrevem as informações fundamentais

para essa reunião conforme sintetizado no quadro 14:

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Quadro 14: Informações fundamentais da reunião “C” do GOLD

Tópico Conteúdo

Informações e regras

gerais sobre o GOLD:

Um GOLD é criado para que as pessoas possam poupar e emprestar dinheiro e ter um fundo de emergência.

Os membros são auto-selecionados e o GOLD é gerido pelos seus membros

Cada Grupo tem Estatutos escritos e regras claras.

Algumas regras como a quantidade a poupar, ou a taxa de serviço nos empréstimos, são decididas pelos membros.

Outras regras como a necessidade de eleições anuais, já estão fixadas, pois verificou-se que isto é importante.

Cada Grupo tem uma Comissão de Gestão que é democraticamente eleita e muda cada ano.

Os membros têm que assistir a todas as reuniões e comprar pelo menos uma ação em cada reunião.

Existem multas para os casos de atrasos e faltas às reuniões.

O Grupo permite que cada membro compre entre uma a cinco ações cada semana. O preço da ação é definido pelos membros.

O dinheiro recolhido da compra das ações é usado para fazer pequenos empréstimos aos membros, que são reembolsados durante um período máximo de três meses.

Em todos os empréstimos, tem que se pagar uma taxa de serviço, de uma percentagem decidida pelos membros.

Existe um Fundo Social, do qual os membros podem, em caso de emergência, receber pequenas doações.

Quanto ao dinheiro Todo o dinheiro do Grupo é guardado numa caixa com três cadeados, e as chaves ficam com três membros diferentes do grupo que não fazem parte da Comissão de Gestão.

A caixa só pode ser aberta nas reuniões, de modo que todas as transações são efetuadas em frente a todos os membros.

O sistema de registro O sistema de registo baseia-se em simples cadernetas individuais e na memorização coletiva de informação importante, tal como a quantidade de dinheiro na caixa e quem não tem pago a sua contribuição ao Fundo Social.

Cada membro tem uma caderneta, em que são registados as suas poupanças e os seus empréstimos.

As cadernetas ficam trancadas na caixa entre as reuniões para evitar que alguém altere os registos.

Novo ciclo

Os membros decidem sobre o período de operação do GOLD antes de poder distribuir os lucros. Este período é chamado o ciclo, e nunca dura menos de nove

A caixa e os seus conteúdos serão fornecidos pelo programa e devem ser pagos pelo grupo. Isto significa um pagamento inicial de pelo menos 25 % e o restante a ser pago antes do fim do ciclo. Se existe um saldo no fim do ciclo, o grupo tem que fazer este pagamento do Fundo de Empréstimos antes de proceder à sua distribuição.

O período de formação e supervisão é de 36 semanas; depois deste período, o GOLD continua a operar independentemente sem qualquer apoio externo.

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meses ou mais de doze meses.

No fim de cada ciclo, todos os empréstimos são reembolsados e todas as poupanças e todos os lucros são distribuídos aos membros de acordo com o número de ações que cada um comprou.

Durante o período de formação, o GOLD se reúne semanalmente, e o AC visita-os quinze vezes.

Uma vez independente, O GOLD receberá visitas do AC nas suas reuniões apenas se estas forem requisitadas pelos membros.

Módulos de

Formação

O AC explica que existem sete módulos de formação: Grupos, liderança e eleições; fundo Social, compra de ações e atividades de crédito; desenvolvimento dos Estatutos do Grupo; primeira reunião de poupança; primeira reunião de desembolso de empréstimos; primeira reunião de reembolso de empréstimos; distribuição e graduação. .

Qualidades do bom

membro:

O AC enumera as qualidades de um bom membro, e sugere que os que não se sentem capazes de corresponder a estas qualificações, não deveriam fazer parte do grupo.

Conhecer-se e vir dum meio econômico semelhante; Não viver longe de onde acontecerão as reuniões; Ter reputação de ser honestos; Poder assistir a todas as reuniões; Chegar às reuniões a tempo; Seguir as regras; Ter uma personalidade colaborativa (alguém conhecido por causar

conflitos, provavelmente não deveria entrar); Ter a capacidade de comprar pelo menos uma ação cada semana; Ter a capacidade de reembolsar os empréstimos a tempo; Só deve haver um membro de cada agregado familiar. Será melhor

que os membros do mesmo agregado se juntem a diferentes GOLDs.

Fonte: Allen; Staehle, 2011, p.13 e 14

Fase intensiva: É a fase onde está concentrada a mecânica de funcionamento das

reuniões do GOLD. O grupo já está formado e é nesse período que é definido o

nome do grupo, a criação do estatuto, as regras de funcionamento, o valor a ser

poupado, as regras para a concessão de empréstimos, as multas, entre outros. A

figura 8 apresenta os sete módulos de formação e seus respectivos conteúdos,

formando assim a própria metodologia GOLD.

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Figura 8: Módulo de formação Fonte: ALLEN; STAEHLE, 2011, p.15

Módulo 1: Nesse módulo é escolhido o nome do Grupo GOLD e realizada a escolha

da comissão de gestão que terá um mandato de um ano. Para a escolha da

comissão, os membros podem se candidatar ou aceitar indicações do grupo para

que se candidate. A comissão é formada por: um presidente, um(a) secretário(a);

um(a) guardião(ã) da caixa e dois contadores de dinheiro. Para cada cargo da

comissão existem alguns requisitos conforme demonstrado nos quadros a seguir.

Quadro 15: Qualidades e responsabilidades do presidente

Qualidades Responsabilidades

Ser respeitado

Ser confiante e calmo quando falar diante de outras pessoas

Tratar todas as pessoa com igualdade

Ouvir os outros e pedir suas opiniões

Ser organizado

Ser pontual

Manter a ordem nas reuniões, anunciar a agenda e dirigir os debates

Assegurar que as reuniões sigam os procedimentos corretos e que se respeite os Estatutos

Manter a disciplina e cobrar multas, quando necessário

Facilitar os debates e assegurar que todas as opiniões sejam ouvidas

Resolver conflitos

Representar o Grupo fora, inclusive junto dos oficiais locais do governo

Fonte: ALLEN; STAEHLE, 2011, p.17

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Quadro 16: Qualidades e responsabilidades do(a) secretário(a)

Qualidades Responsabilidades

Ser bom com números e saber fazer contas

Saber escrever

Ter reputação de ser digno de confiança

Ser sempre pontual

Concordar em trabalhar horas extras se necessário

Assegurar que todas as transações do Fundo Social, de compra de ações e de empréstimos sejam realizadas de acordo com o procedimento correto e que todas as regras sejam seguidas

Efetuar todos os lançamentos nas cadernetas sobre as ações e empréstimos

Anunciar em voz alta os saldos do Fundo Social e do Fundo de Empréstimos em cada reunião

Fonte: ALLEN; STAEHLE, 2011, p.17

Quadro 17: Qualidades e responsabilidades do guardião da caixa

Qualidades Responsabilidades Ser digno de confiança

Ser proveniente duma família com uma boa reputação

Viver numa casa com boa segurança

Ser pontual

Guardar a caixa em segurança entre as reuniões

Assegurar que tenha acompanhamento no caminho para as reuniões, se for necessário

Trazer a caixa às reuniões pontualmente Fonte: ALLEN; STAEHLE, 2011, p.17

Quadro 18: Qualidades e responsabilidades dos contadores de dinheiro

Qualidades Responsabilidades Ser capaz de contar rápida e corretamente

Ser digno de confiança

Ser calmo e organizado

Ser pontual

Contar o dinheiro e informar a todos do grupo

Informar o Conservador do Registo sobre os montantes corretos a serem registados nas cadernetas

Fonte: ALLEN; STAEHLE, 2011, p.18

Quanto ao sistema de votação, o mesmo acontece da seguinte forma: os

candidatos são identificados por cores diferentes e ficam de frente para os membros

do grupo; três sacolas ou recipientes nas cores dos candidatos são colocados ao por

traz dos candidatos separado por uma parede ou cortina; cada membro utiliza algum

material (ficha de papel, pedra, ou outros) e deposita na sacola ou recipiente

referente à cor dos candidatos e volta ao seu lugar de assento; com o termino da

votação apura-se os votos perante todos; caso haja empate, uma nova votação é

realizada com os dois membros que empataram e se houver recorrência a comissão

tomará a decisão final. Na figura 9 podemos ver o modelo resumido de como

acontece as votações no GOLD.

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Figura 9: Sistema de votação do GOLD Fonte: ALLEN; STAEHLE, 2011, p.41

Modulo 2: A função desse módulo é ensinar sobre o fundo social, compras de

ações e atividades de crédito do grupo. Além disso, uma série de regras são

desenvolvidas e definidas entre outras, como os membros vão fazer poupanças

através da compra de ações, como receberão os empréstimos e de que maneira vão

reembolsá-los, e ainda como acessar o fundo social caso precisem.

A metodologia GOLD estipula também o formato como os grupos devem se

organizar para as reuniões, a fim de promover a interação e a visualização por

todos, do que está acontecendo nas reuniões. As regras são:

Cada membro tem um número definido; isso facilitará as transações durante

as reuniões;

Os membros da comissão seguem uma ordem conforme a figura 10. Eles

ficam de frente para os outros membros do grupo;

As reuniões são abertas sempre pelo presidente da comissão. Após a

abertura ele passa palavra para o (a) secretário (a);

O secretário (a) chama o guardião da caixa e os três membros com as chaves

dos cadeados para que a caixa seja aberta.

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Figura 10: Disposição de uma reunião do GOLD Fonte: ALLEN e STAEHLE, 2011, p.19

Fundo Social – É um serviço opcional que tem como finalidade providenciar

pequenas doações, para ajudar os membros do grupo com sérios problemas. As

ajudas são concedidas em caso de gastos funerais ou alguma tragédia. O fundo

social é guardado separado do fundo de empréstimos e é usado para doação e não

empréstimo. Cada grupo define, em seu estatuto, como será o seu fundo social.

Regras para a compra de ações – Num GOLD os membros poupam dinheiro

através da compra de ações. Durante as reuniões, cada membro tem a possibilidade

de comprar até cinco ações. O valor da ação é definido por cada grupo e deve ser

acessível a todos os participantes.

Regras para os empréstimos

Os membros podem comprar ações para poupar em todas as reuniões;

Os empréstimos só podem ser disponibilizados uma vez em quatro semanas;

isso permite que o fundo de empréstimo cresça, que as reuniões sejam mais

curtas e os registros mais simples.

O grupo precisa definir em que situações os empréstimos serão

disponibilizados.

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Os membros não podem pegar empréstimos que não possam reembolsar;

para isso é estipulado que a importância emprestada, por qualquer membro,

não pode ser mais do que três vezes as suas poupanças.

O grupo precisa definir o prazo para o reembolso dos empréstimos

solicitados. A duração máxima do empréstimo não deve ultrapassar três

meses.

Os membros devem pagar uma taxa de serviço a cada quatro semanas. É um

pagamento ao Grupo por poder levar emprestado dinheiro, mas que volta aos

membros na distribuição anual. A taxa deve ser baseada no montante do

empréstimo, paga a cada quatro meses.

Segurança dos Fundos – Os fundos do grupo ficam em uma caixa conforme o

modelo da figura 11. Essa caixa tem três cadeados que ficam com três pessoas do

grupo que não são da comissão gestora. A caixa só pode ser aberta nas reuniões do

GOLD e perante todos os membros. A razão de ter três cadeados é poder guardar o

dinheiro e os registos dos membros com segurança e garantir que não haja

transações privadas entre as reuniões.

Elementos da caixa do dinheiro e suprimentos: Os elementos que ficam dentro

da caixa são: uma calculadora, dois carimbos (em forma de seta), duas canetas,

uma régua, três sacolas (uma para o dinheiro poupado, uma para o fundo social e a

última para as ações), três cadeados que ficam com três membros do GOLD e as

cadernetas de poupança dos membros do grupo. Na figura 11 podemos ver os

elementos da caixa que são: duas canetas, uma régua, dois carimbos, as

cadernetas dos participantes, uma calculadora e duas bacias (uma para o fundo

social e outra para a compra de ações)

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Fonte: MIRANDA, 2013, p.43

Módulo 3: Desenvolvimento do estatuto do grupo. O estatuto são regras criadas

pelo grupo que tem a finalidade de ajudar a governabilidade do grupo. Ele inclui,

entre outros, as tomadas de decisão sobre o fundo social, compra de ações e

empréstimos.

Os estatutos desempenham duas funções: em primeiro lugar proporcionar um guia para garantia da governabilidade dos grupos, resolução de conflitos e ação disciplinar e em segundo lugar para especificar as condições para compra de ações/poupança e o acesso ao benefício do fundo social. (MIRANDA, 2013, p.50)

Módulo 4: No quarto módulo é realizada a primeira reunião de poupança. Isso

acontece sobre a orientação do agente de campo, mas quem executa é o próprio

grupo sob o comando da Comissão de Gestão. Nesse módulo é definido que o

guardião da caixa é o responsável pela segurança do kit, bem como por trazer a

caixa para todas as reuniões do grupo. O grupo precisa definir nessa reunião, quem

serão os três membros responsáveis pelas chaves da caixa. Essas pessoas não

podem ser membros da comissão, nem ser da mesma família e precisam sempre

estar pontualmente nas reuniões. A fim de garantir a segurança e clareza em todo o

processo do GOLD, a caixa só deve ser aberta nas reuniões e pelos três membros

escolhidos.

Figura 11: Caixa do dinheiro e suprimentos

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O sistema de compra de ações e o registro das poupanças são realizadas nas

cadernetas individuais de cada membro do grupo. Cada um é chamado por número

a frente da comissão, para realizar a compra de ações e poupanças. A transação é

registrada e confirmada pelo próprio membro, conforme o modelo da caderneta na

figura 12. As setas indicam a quantidade de ações compradas em cada reunião;

cada folha corresponde a três meses; as riscas em azul são feitas pelo secretário na

frente da comissão e do membro e apresentada a todos os membros. No fim é

especificado o número de ações compradas.

Figura 12: Modelo da caderneta individual preenchida Fonte: (MIRANDA, 2013, p.47)

Módulo 5: Primeira reunião de desembolso de empréstimos. Ela ocorre três

semanas depois da primeira reunião de poupança. Os empréstimos são concedidos

só após as atividades padrões das reuniões ( atividades referente ao fundo social e

a compras de ações). Os desembolsos e reembolsos só são permitidos que

aconteçam em cada quatro semanas, para que as reuniões sejam objetivas e haja o

crescimento do fundo de empréstimos. A figura 13 mostra o modelo do controle de

empréstimos.

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Figura 13: Ficha de controle de empréstimo Fonte: (MIRANDA, 2013, p.49)

Módulo 6: Primeira reunião de reembolso de empréstimos. Os empréstimos são

concedidos e reembolsados somente a cada quatro semanas. Essa reunião também

conta com a facilitação do AC.

Módulo 7: Nesse módulo é realizado a partilha de todo o dinheiro poupado. Para

isso todos os empréstimos devem ser devolvidos. Cada pessoas recebe a sua

caderneta e o montante de acordo com as ações que comprou. Este módulo

também tem o objetivo de definir o novo ciclo do grupo e dar a oportunidade para a

entrada de novos membros. Ainda define se haverá mudanças no estatuto ou nas

regras do grupo.

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Fase de desenvolvimento: Aqui o grupo já está desenvolvendo as suas habilidades

empreendedoras e os membros já estão fortalecendo os seus negócios.

Fase de maturidade: Também conhecida como fase do desmame ou da

emancipação. Nessa fase o grupo é preparado para seguir sozinho, não havendo

mais a intervenção do AC.

A figura 14 resume todas as fases e etapas da metodologia.

Fonte: ALLEN; STAEHLE, 2011, p.8

Outro aspecto importante da metodologia GOLD é a melhora da qualidade de

vida dos familiares e principalmente das crianças de seus beneficiários. Para a ONG

Visão Mundial é importante que todos os seus projetos causem um impacto positivo

na vida de crianças, adolescentes e jovens, seja de forma direta ou indireta. Para

isso, a ONG tem padrões e indicadores que orientam suas ações. Esse indicadores

são conhecidos como resultados de bem estar da infância (RBIs).

A Visão Mundial tem como meta melhorar o bem-estar das crianças através de desenvolvimento transformador com foco na criança, gestão de desastres e emergências e promoção de justiça. As Aspirações Resultados do Bem-Estar da Infância oferecem uma definição prática da maneira como a Visão Mundial entende o bem-estar das crianças. Nossa meta é “o bem-estar sustentável das crianças dentro de suas famílias e comunidades, especialmente as mais vulneráveis.” A Visão Mundial enxerga o bem-estar das crianças em termos holísticos:

Figura 14: Calendário de formação e supervisão do GOLD

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desenvolvimento individual saudável (envolvendo saúde física e mental, nas dimensões social e espiritual), relações positivas e um contexto que ofereça segurança, justiça social e participação na sociedade civil. (VISÃO MUNDIAL, 2010)

O quadro 19 apresenta em resumos os resultados de bem estar da infância,

da ONG Visão Mundial.

Quadro 19: Resultado de Bem Estar Infantil (RBI)

Fonte: VISÃO MUNDIAL, 2010.

Na prática a metodologia GOLD promove os seguintes resultados no bem

estar das crianças dos membros do grupo (MIRANDA, 2013, p.14):

1º) Saúde para as Crianças - Com o aumento da entrada de recursos financeiros,

as famílias podem prover mais comida para seus filhos, fortalecendo as condições

de saúde; melhorando as condições sanitárias e da qualidade de vida.

Meta:

Bem-estar sustentável para crianças dentro das famílias e comunidades,

especialmente as mais vulneráveis

Meninas e Meninos

Gozam de boa saúde Estão educados para a

vida

Vivenciam o amor de

Deus e de seu próximo

Recebem cuidado,

proteção e participam

Crianças bem nutridas.

Crianças sabem ler e

escrever e possuem

habilidades básicas de

matemática.

Crianças crescem no

conhecimento e na vivência

do amor de Deus, em um

ambiente que reconhece a

liberdade das crianças.

As crianças recebem

cuidado em um ambiente de

amor, seguro, familiar e

comunitário, com lugares

seguros para brincarem.

Crianças protegidas de

infecções, doenças e

ferimentos.

Crianças realizam bons

julgamentos, podem

proteger-se, lidam bem

com emoções e sabem

comunicar ideias.

Crianças gozam de bons

relacionamentos com outras

crianças, família e membros

da comunidade.

Pais ou responsáveis suprem

as necessidades de suas

crianças.

Crianças e as pessoas

que cuidam delas

recebem serviços

essenciais de saúde.

Adolescentes prontos para

oportunidades econômicas.

Crianças valorizam e cuidam

dos outros e do meio-

ambiente.

O nascimento das crianças é

celebrado e registrado.

Crianças acessam e

completam a educação

básica.

Crianças têm esperança e

visão de futuro.

As crianças são participantes

respeitados nas decisões

que afetam suas vidas.

Princípios fundamentais: As crianças são cidadãos e seus direitos e dignidade são defendidos (incluindo meninas e meninos de todas as

religiões e etnias, portadores ou não de HIV, e os que têm necessidades especiais).

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2º) Crianças educadas para vida - Os GOLDs capacitam as famílias para melhorar

o gerenciamento de seus orçamentos domésticos, aprendendo a utilizar o dinheiro

para investir na educação dos filhos. Jovens também podem ser encorajados a

participarem dos GOLDs.

3º) Solidariedade cristã - Os GOLDs promovem sentimentos de solidariedade cristã

e cidadania. As crianças serão beneficiadas pelo fortalecimento do capital social nas

suas comunidades e estarão aptas a entender o amor de Deus pela experiência com

a partilha, esperança e comunhão que estão sendo desenvolvidos na comunidade.

4º) Crianças são cuidadas e protegidas - Os pais terão mais oportunidades e não

precisarão fazer uso do trabalho infantil para melhoria de renda.

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6 PESQUISA EMPÍRICA

Este capítulo apresenta os resultados da entrevista, da observação direta e

aplicação dos questionários semiestruturados. Foram dezessete o total de pessoas

que participaram da coleta de dados, sendo dez do GOLD Esperança na cidade de

Maceió e sete colaboradores da Visão Mundial.

Com o GOLD Esperança, a coleta de dados aconteceu em três momentos

diferentes, por motivos de conciliação da agenda das mulheres. No primeiro

momento a pesquisa foi realizada com quatro participantes, onde foi aplicada a

pesquisa semiestruturada e realizado a entrevista com grupo focal no dia 17 de abril

de 2014 das 9h às 11h da manhã. Duas pesquisas semiestruturadas foram

aplicadas no mesmo dia no horário da noite. No segundo momento, mais duas

mulheres responderam ao questionário, no dia 22 de abril no horário da tarde, na

reunião mensal do grupo. Como não foi possível realizar a pesquisa presencial com

todas as participantes do grupo, a estratégia adotada foi realizar a pesquisa por

telefone. Após conseguir o telefone das cinco mulheres que não participaram dos

momentos presencias, iniciaram-se os contatos no dia 23 de abril de 2014. Nesse

mesmo dia mais duas entrevistas foram realizadas totalizando o total de dez

mulheres alcançadas. Tentou-se realizar o contato com as três e não foi obtido

sucesso.

6.1 Resultados da entrevista com o GOLD Esperança

Passamos a gora a descrever os resultados da entrevista realizada com

quatro mulheres do GOLD Esperança. Com a finalidade de garantir que nenhuma

informação fosse perdida, toda a entrevista foi grava utilizando gravador eletrônico e

contou com a aprovação das entrevistadas.

Quando perguntadas sobre o surgimento do GOLD Esperança, a mulheres

relataram que o atual grupo surgiu em 27 de agosto de 2013; ele é resultado de

outro grupo iniciado em setembro de 2011, mas que teve suas atividades

encerradas, por falta do apoio do facilitador da metodologia e porque algumas

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mulheres desistiram do grupo. Ainda, sobre o surgimento do grupo, as entrevistadas

informaram que tudo começou por meio do Programa de Desenvolvimento de Área

da Visão Mundial (PDA Mundaú), localizado no Bairro do Vergel, na cidade de

Maceió. Através dele, no ano de 2008, as mães das crianças beneficiadas pelo

programa foram convidadas para participar de um projeto de geração de renda com

foco em artesanato e alimentação. Três grupos foram formados, mas com o tempo

muitas mulheres foram desistindo, o que estava desfalcando os grupos. A alternativa

adotada pela liderança do projeto foi fundir os três grupos em apenas um, formando

assim, o grupo de artesãs Somando Talento. De acordo com as mulheres, foi a partir

do grupo Somando Talentos que conheceram e começaram a utilizar a metodologia

GOLD e também se inseriram no movimento de economia solidária.

Sobre as reuniões do grupo, informaram que se reúnem oficialmente na

ultima quinta feira da cada mês e que nas reuniões além de seguir a metodologia

GOLD, realizarem a poupança e prestação de contas, aproveitam para realizarem a

produção do grupo, organização da agenda de trabalho e conversarem.

Quanto a escolha do local da reunião, informaram que o mesmo foi decidido

por ser o lugar mais estratégico e central para todas as mulheres, já que não são

todas que moram no mesmo bairro.

De acordo com as entrevistadas, o GOLD promoveu para o grupo

aprimoramento administrativo, orientação financeira o que as capacitou a organizar

melhor seus recursos (ter capital de giro, poupar, gerir melhor os lucros e

organização).

Sobre a forma como negociam seus produtos, as mulheres informaram que

fazem parte do movimento de Economia Solidária na cidade de Maceió e nessa

lógica atuam como grupo, no entanto, disseram que, a metodologia GOLD as ajudou

a atuarem com empreendedoras individuais no ofício de artesãs e no ramo

alimentício.

Como grupo Somando Talentos, as mulheres negociam seus produtos,

através das feiras de economia solidária, promovidas pela prefeitura de Maceió, em

locais fixos (Praça Centenário) ou em feiras esporádicas, na cidade de Maceió ou

em outras cidades. Já a produção individual, é escoada a través de suas pequenas

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lojas (armarinhos) ou por oportunidades aberta para empreendedores individuais na

cidade.

A melhora da autoestima e o bem estar emocional pôde ser percebido através

das afirmações de que se livraram da depressão, pela ajuda mútua que encontram

no grupo, pelo compartilhamento das histórias de vida uma com as outras,

momentos de reflexões e solidariedade entre elas mesmas. Baseado nisso,

disseram que o grupo também é um lugar terapêutico.

Para essas mulheres, o grupo se configura também como um importante

espaço para expressão da fé e espiritualidade, e concordam de que esses

momentos são significativos e importantes para qualidade de vida delas. Relataram

também, que após começar a participar do grupo, alguns sentimentos e ações

positivas deram inicio em suas vidas, dentre eles: começaram a acreditar mais em si

mesmas, a se sentirem valorizadas, capazes, a se reconhecer como

empreendedoras, a respeitar as diferentes pessoas, a partilhar o aprendizado, se

sentiram felizes em poder ajudar ao marido em casa e em ter uma atividade para

realizar (livre da ociosidade), a reconhecer capacidades e potenciais que tinham

mas que não sabiam e a se sentiram incentivadas.

Ao serem perguntadas se tinham interesse de promover alguma ação que

beneficiassem a comunidade onde estão inseridas ou outras mulheres, relataram

que sim, e que têm vontade de ampliar o grupo em uma associação para beneficiar

a outras mulheres e pessoas da comunidade. Segundo elas, desejam ajudar a

outras pessoas que vivem as mesmas dificuldades que elas viveram, querem

compartilhar o que receberam.

Sobre o aumento da renda mensal, afirmaram que além da melhora da renda

financeira o GOLD trouxe independência, reconhecimento do trabalho, elogios,

realização, troca de experiências, percepção do lucro muito além da soma de

dinheiro, percebem que os novos contatos realizados, as trocas, os aprendizados, o

receber elogios também como lucro.

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6.2. Resultados da observação direta com o GOLD Esperança

Em vários momentos, durante a entrevista, ficou evidente a satisfação das

mulheres com a metodologia GOLD, tanto por sua contribuição para o trabalho que

realizam como grupo de artesãs Somando Talentos, como pelo bem estar pessoal e

de seus familiares. Através da observação de direta, foi possível perceber outros

impactos na vida dessas mulheres tais quais:

Aumento da renda mensal – Nesse caso o benefício vai para além das

beneficiárias diretas da metodologia GOLD, chegando a seus familiares e

promovendo melhorias na alimentação, vestimenta, estudo e possibilidades

de compra de bens materiais.

Organização financeira e experiência na prática da poupança – Algumas

mulheres relataram que estão pondo em prática o que aprende na

metodologia, e que já estão vendo os resultados na gestão financeira mensal.

Capacidade empreendedora aguçada – Ficou claro através das falas

mulheres, que a compressão de empreendedorismo que têm, vai além da

abertura e gestão de uma empresa, para elas, empreendedorismo tem haver

com desenvolvimento e protagonismo delas próprias e de suas famílias, com

a solidariedade, com o trabalho em conjunto, com a superação dos problemas

financeiros, com a troca de experiência com outras pessoas, com o poder

ensinar aos outros e com a capacidade de sonhar e ir atrás dos sonhos.

Bem estar e saúde emocional – O impacto no bem estar emocional das

mulheres pode ser verificado através de vários relatos sobre a superação de

depressão e da constante tristeza que algumas delas viviam antes da

participação na metodologia GOLD.

É possível perceber, que a participação dessas mulheres no movimento de

economia solidária contribui e muito para a realização do trabalho em equipe

que elas realizam. Foi perceptível a interação do grupo, organização, capricho

como fazem seus produtos e o senso de solidariedade.

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Proposito de vida – Foi comum no relato das mulheres, expressões que

denotam o sentimento da importância e significado de suas vidas, para elas

mesmas, para suas famílias e de uma para com as outras.

Metas para o futuro – Isso pôde ser percebido pela busca laboriosa e

organizada pela qual buscam realizar seus sonhos, seja através do trabalho

que realizam, capacitações participam e por terem a meta de se organizarem

em uma associação. Aqui inclui também um aguçado senso de esperança por

um futuro melhor e pela compressão de que juntas e organizadas elas podem

conseguir suas metas e superar seus limites.

Empoderamento11 – Pode ser verificado pela capacidade auto gestora das

mulheres, credibilidade em si mesmas, senso de direção e metas para o

futuro, superação dos problemas e medos, protagonismo, valorização de si

mesmas e de suas capacidades pessoais, confiança e pelas conquistas que

já obtiveram.

Aperfeiçoamento técnico e intelectual – As mulheres estão sempre

procurando se desenvolver através de formações, encontros e do trabalho. A

participação na metodologia GOLD é apenas um indicador dessa busca

laboriosa por aprendizado.

Socialização e convivência – Durante as reuniões e produção em grupo, as

mulheres aproveitam para desenvolver as relações interpessoais e de

amizade. Os momentos de lanche, confraternização, mística, exposição e

venda dos produtos são centrais e importantes para essa nutrição.

11 O “Empoderamento” é este processo pelo qual as pessoas, as organizações, as comunidades tomam controle

de seus próprios assuntos, de sua própria vida, tomam consciência da sua habilidade e competência para produzir, criar e gerir seus destinos. O conceito de empoderamento surgiu com os movimentos de direitos civis nos Estados Unidos nos anos de 1970, por meio da bandeira do poder negro, como forma de auto-valoração da raça e conquista de cidadania plena. Ainda no mesmo ano, o termo começou a ser usado pelo movimento de mulheres. A capacidade de decidir sobre a própria vida é um dos objetivos de estratégias de empoderamento de pessoas e comunidades, mas o poder consiste também na capacidade de decidir sobre a vida da comunidade – do coletivo, na intervenção em fatos que direcionam, impedem, obrigam, circunscrevem ou impedem. Logo, um processo de empoderamento eficiente deve envolver tanto componentes individuais como coletivos. Só assim é possível desenvolver as capacidades necessárias para que se obtenham reais transformações sociais. (Direitos Humanos, 2014, www)

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Espaço para o desenvolvimento espiritual – Aqui inclui também a capacidade

de respeito às diferenças de crenças e realização de momentos de mística e

espiritualidade com enfoque ecumênico e inclusivo. Os momentos de

espiritualidade mostraram ser um importante ingrediente para o bem estar do

grupo. Através da oração, musicalidade, leitura da Bíblia ou de algum outro

texto as mulheres buscam fortalecimento e inspiração.

Mesmo percebendo que o senso de responsabilidade com a comunidade

tenha melhorado entre as mulheres, e que haja vontade de compartilhar o

aprendizado com outras mulheres, não se verificou nenhum ação articulada

para a promoção do desenvolvimento comunidade local. No entanto, ha sim

algumas ações pontuais, como promoção de oficinas e cursos com a intenção

de compartilhar o que o grupo tem aprendido.

Sustentabilidade Ambiental – As mulheres buscam utilizam em seus produtos

matérias não agressivos ao meio ambiente ou a saúde das pessoas. O

compromisso que elas têm com a economia solidária garante o rigor na

escolha das matérias.

6.3 Resultado dos questionários com o GOLD Esperança

Apresentaremos a seguir as análises das respostas dos questionários

aplicados às participantes do GOLD Esperança, buscando uma relação com os

objetivos desta pesquisa e com as teorias discutidas ao longo deste estudo.

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Questão 1

Quando perguntadas se houve melhora na autoestima ao participarem do

grupo GOLD, quatro mulheres afirmaram que houve melhora na auto estima e seis

indicaram que houve uma grande melhora. Não houve nenhuma indicação de piora

ou de que não tenha havido melhora na autoestima por participar do grupo GOLD.

Isso indica que além da promoção da educação financeira, poupança e do

empreendedorismo, como se pretende a metodologia, seu alcance incide também

no bem estar e qualidade de vida das pessoas que participam dos grupos. Algumas

entrevistadas, afirmaram que após sua entrada no GOLD houve melhora da saúde

emocional e superação da depressão. Ainda sobre a autoestima, afirmaram que

tiveram melhora na qualidade de vida e, atrelaram a isso, o fato de se sentirem

valorizadas e respeitadas pelas pessoas da comunidade e por seus familiares, por

se sentirem úteis para ajudar aos outros, por terem direcionamento e foco (gerado a

partir do grupo), aos relacionamentos positivos construídos dentro do grupo, ao

apoio mútuo, a capacidade de sonhar e ir a traz sonhos, a valorização de si mesmas

e aos momentos de oração e reza.

O que relatam as mulheres, se relaciona com o que sustenta Melo Neto e

Froes (2002, p.10), ao indicar que o retorno que os empreendedores sociais

esperam além do matéria, tem haver também com o desenvolvimento pessoal e a

melhoria da qualidade de vida, promoção da pessoal humana e resgate do risco

Gráfico 1: Melhora da autoestima das participantes do GOLD Esperança

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social. Hartigan e Elkington (2009, p.3), destacam a capacidade sonhadora dos

empreendedores sociais e a crença inabalável na capacidade nata de todos.

Questão 2

Ao serem perguntadas para que destacassem o impacto ou mudança que o

GOLD trouxe para suas vidas, as entrevistadas destacaram:

Saída da estagnação;

Aprendizado para gerir melhor as finanças e dívidas (planejamento);

Melhora da autoestima

Reconhecimento e amor próprio;

Desenvolvimento espiritual;

Melhor organização financeiramente;

Aprenderam a poupar e utilizar melhor o dinheiro;

Organização das compras e dos gastos no trabalho e em casa;

Reconhecimento e valorização do valor das outras artesãs do grupo;

Crescimento profissional;

Valorização pessoal;

Vontade de continuar se desenvolvendo;

A possibilidade de novas amizades;

Melhora da qualidade de vida familiar por meio do aumento da renda,

organização, bem estar emocional delas.

Sobre o impacto da metodologia em suas vidas, uma das entrevistadas

destacou: “Foi assim que aconteceu comigo, quando fui apresentada a este projeto,

fiquei de início um pouco cismada, mas com o incentivo das colegas e com as

reuniões feitas mensalmente, saí do ócio, passei a reestruturar as finanças, saber

calcular melhor as dívidas, diferenciar gastos e lucros, e o que é melhor, ainda

melhorou minha autoestima, ser reconhecida e me amar mais, sem esquecer

também que existe o meu “Deus” que está no controle do meu barco, neste imenso

mar, que é o mundo que temos a explorar.” (MGE 1)

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Outra entrevistada destacou a capacidade de gerir melhor os rendimentos:

“Hoje eu administro melhor os meus rendimentos, consigo separar o que é lucro e

despesas.” (MGE 2)

E outras duas, destacaram da seguinte forma:

“O GOLD trouxe muitas mudanças para minha vida, tanto na área financeira, como

na área emocional, mudou a alto estima, reconhecendo o valor da cada uma. No

lado financeiro aprendi a administrar mais o dinheiro, a investir nos produtos, sem

gastar o dinheiro todo. Esse projeto só veio a beneficiar mais a minha vida e

organizar meus negócios.” (MGE 3)

“O GOLD foi muito, é muito importante, não só mostrando a importância do poupar,

economizar, mais de se organizar, tendo a oportunidade de crescer,

profissionalmente, mais tendo uma influência muito grande na vida pessoal; sua

autoestima cresce; você vê o seu potencial, um potencial que nem você sabia que

tinha. Você vê o seu trabalho sendo valorizado, reconhecido, vendido, exposto,

comercializado. Isso é gratificante e estimulante e o GOLD tem uma participação

muito grande nesse momento de minha vida.” (MGE 4)

Questão 3

Gráfico 2: Melhoria do envolvimento com a

comunidade

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Sobre a melhora no envolvimento comunitário e com outras organizações,

100% das entrevistadas disseram que houve melhora após participarem do GOLD.

Uma das entrevistadas destacou que, assim como elas estão se desenvolvendo e

sendo beneficiadas, também desejam que outras pessoas se desenvolvam, por isso,

ensinam a outras mulheres e as incentivam para que saiam da estagnação.

Silva (2011, p.3), destaca o elemento de caridade, amor ao próximo e

filantropia no empreendedorismo social. Bessant e Tidda (2009) salienta a criação

de valor e mudança social, a redução da pobreza; desenvolvimento comunitário;

bem estar e saúde; meio ambiente e sustentabilidade; arte e cultura; educação e

emprego. Dees (2001, p.1), escreve sobre a paixão de uma missão social do

empreendedor social e Oliveira (2004), destaca que a motivação do empreendedor

social é a construção e transformação da sociedade, promoção da qualidade de vida

e a resolução de problemas concretos concordando com Melo Neto e Froes (2002).

Questão 4

100% das mulheres disseram que melhoraram a organização financeira após

participarem da metodologia GOLD; o que revela, de certa forma, a eficiência da

metodologia no cumprimento dos seus princípios e objetivos.

Gráfico 3: Melhoria da organização financeira

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Questão 5

Sobre quanto era a renda mensal antes de participarem do GOLD, 10%

disseram que antes do GOLD, tinham uma renda mensal que variava entre R$ 1,00

à R$ 100,00; para 80% das entrevistadas a renda mensal variava entre R$ 101,00 à

R$ 250,00 e para 10% a renda se enquadrava entre R$ 251,00 à R$ 500,00.

Questão 6

Ao serem perguntadas sobre quanto foi à melhora da renda após começarem

a participar da metodologia GOLD, duas mulheres indicaram que o aumento de sua

Gráfico 4: Renda mensal antes de participar da metodologia

GOLD

Gráfico 5: Melhoria da renda após participação na metodologia

GOLD

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renda mensal foi de 10% a 25%; para quatro mulheres o aumento foi de 26% a 50%

e para outras quatro mulheres o aumento na renda foi entre 50% à 75% da renda

mensal.

Questão 7

Quando perguntadas sobre quantas pessoas moram com elas em suas

casas, 60% das mulheres responderam que os residentes de sua casa são entre

duas a três pessoas; já para 40% delas, os que moram com elas são entre quatro a

seis pessoas. Isso sinaliza que o benefício da metodologia GOLD, alcança outros

beneficiários de forma indireta. De acordo com a Karina Lira, Gerente da Assessoria

de Programas da Visão Mundial, os beneficiários indiretos de um projeto em geral

são calculados de três para cada beneficiário.

Gráfico 6: Quantidade de pessoas que moram com as

mulheres do GOLD Esperança

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Questão 8

Todas as mulheres, afirmaram que conhecem ao menos um empreendimento

que tenha melhorada a partir do GOLD. Indicaram o grupo de artesãs da qual fazem

parte como um exemplo claro.

Questão 9

A concordância foi unânime também, sobre a percepção da metodologia

GOLD promover desenvolvimento comunitário. Do ponto de vista de Buarque

Gráfico 7: Conhecimento de empreendimentos

melhorados pela metodologia GOLD

Gráfico 8: Percepção sobre a metodologia GOLD

promover o desenvolvimento comunitário

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(2008), o empreendimento social é uma importante ferramenta para proporcionar o

desenvolvimento local comunitário e tem uma grande capacidade de promover

qualidade de vida das populações locais. Amaro (2009, p.108), conceitua o

desenvolvimento local como sendo “o processo de satisfação de necessidades e de

melhorias das condições de vida de uma comunidade local, a partir essencialmente

das suas capacidades, assumindo a comunidade o protagonismo principal nesse

processo e segundo uma perspectiva integrada dos problemas e das respostas.”

Questão 10

Quanto à avaliação da metodologia GOLD, 60% das entrevistadas

consideraram a metodologia como excelente, para 30% delas, ela foi consideram

como boa e de acordo com 10% a metodologia foi avaliada como regular.

Gráfico 9: Avaliação da metodologia GOLD

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Questão 11

Sobre a importância da metodologia GOLD em se fazer presente em outras

comunidades, 100% das entrevistadas acham importante que o GOLD se expanda

para outras comunidades.

Questão 12

Quando perguntadas sobre o que mais gostavam na metodologia GOLD as

artesãs destacaram:

A simplicidade e acessibilidade da metodologia para as comunidades de

baixa renda;

A contribuição que trouxe para os pequenos empreendimentos e abertura

para novas oportunidades de negócios;

Valorização dos talentos pessoais;

Promoção do trabalho em parceria com outras pessoas;

Influência positiva no bem estar emocional das pessoas;

As reuniões e a comunhão que ele proporciona entre as pessoas;

A educação financeira, o ensino a poupar e valorizar os recursos financeiros;

Gráfico 10: Importância da Metodologia GOLD para

outras comunidades

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“A metodologia que o GOLD aplica é e foi de fundamental importância para as

nossas vidas. Nos ajudou a descobrir que somos capazes de mudar para melhor, a

minha alto estima melhorou em 100%, me fez ver e sentir que eu posso e sou capaz

de me tornar uma pessoa melhor, tanto no grupo como na minha vida pessoal. Hoje

eu posso dizer que sou uma outra pessoa. Graças a visitas e palestras nos

encontros que temos.” (MGE 2)

“Nosso grupo ficou mais conhecido, aprendemos a viver em grupo, nossa

auto estima ficou elevada, a depressão sumiu. Vivo mais feliz. Gosto de ensinar meu

trabalho nas comunidades.” (MGE 7)

6.4 Resultados da pesquisa com equipe da ONG Visão Mundial

Os colaboradores da ONG Visão Mundial, responderam aos questionários

semiestruturados através de correio eletrônico. Os questionários foram enviados

aos colaboradores selecionados no dia 09 de abril de 2014 e recebidos até o dia 17

de abril de 2014. Segue abaixo, os resultados das respostas dos sete colaboradores

da ONG Visão Mundial.

Questão 1

Gráfico 11: Projeto Redes contribui para o DLS

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Todos os entrevistados afirmaram que o Projeto REDES, promove o

desenvolvimento local sustentável nas comunidades onde atuam. Sobre a forma

como acontece essa promoção as respostas se concentram nas seguintes questões:

Através do ensino da educação financeira para as famílias, da poupança e do

crédito; garantindo promoção do desenvolvimento das capacidades locais

empreendedoras, contribuindo para a melhora da autoestima dos

beneficiários diretos e despertando o desejo de mudar a realidade de suas

comunidades.

A metodologia GOLD é o veículo para promover o desenvolvimento local

sustentável através dos grupos (reflexão, discussão). Ela faz isso ao

promover o empoderamento, a organização e o protagonismo dos

participantes, através de grupos com caráter associativo, democrático e

autogestionário na busca do seu bem estar, no bem estar de suas famílias e

de suas comunidades. Isso inclui, entre outras ações, a luta por objetivos

comuns e engajamento político.

Gerando capacidade técnica e reforçando as relações comunitárias o que

possibilita o incremento do capital social local, insumo este que, por si só,

prove o Desenvolvimento Local sobre bases Sustentáveis.

Contribuindo com a organização social da Economia e com o

Empreendedorismo Popular que produz trabalho e renda para as famílias

mais vulneráveis.

Um dos entrevistados respondeu sobre a contribuição do projeto REDES para

o desenvolvimento local sustentável da seguinte forma:

“O Projeto Redes através de sua metodologia GOL.D auxilia indivíduos a se

organizarem em grupos. Contribuindo para a construção e fortalecimento do

desenvolvimento socioeconômico local, para que reconheçam suas necessidades e

juntos possam buscar soluções que contribuam para melhorar as condições de vida

da comunidade de forma sustentável, quer seja no social quando juntos se articulam

para reivindicar alguma política pública mal implementada, no econômico quando se

organizam em grupos para poupar e acessar o recurso suprindo alguma

necessidade, ou produzindo coletivamente e comercializando dentro da comunidade

valorizando a economia local. Culturalmente quando o grupo desenvolve algum

projeto que valorize sua cultura local em diversas áreas (artesanato, grupos de

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teatros, culinária etc.). Ambiental, pois o projeto proporcionar momentos de reflexão

e prática sobre utilização de recurso tanto financeiros e/ou natural. Logo todos estes

aspectos não ficam restrito apenas aquele pequeno grupo de discussão e acabam

ultrapassando a barreira geográfica dentro da comunidade, contribuindo para o

desenvolvimento comunitário.” (Edna Claudia, coordenadora de projetos).

Além de concordar com as mulheres do GOLD Esperança, as respostas dos

colaboradores da Visão Mundial reafirmam o que escreveu Buarque (2008, p. 26),

ao afirmar que “o desenvolvimento local pode ser conceituado como um processo

endógeno de mudança, que leva ao dinamismo econômico e à melhoria da

qualidade de vida da população em pequenas unidades territoriais e agrupamentos

humanos.” E salienta ainda que, “para ser consistente e sustentável, o

desenvolvimento local deve mobilizar e explorar as potencialidades locais, e

contribuir para elevar as oportunidades sociais e a viabilidade e competitividade da

economia local” e ao mesmo tempo promover a conservação dos recursos naturais

e a qualidade de vida da população local.

O desenvolvimento local sustentável resulta, dessa forma, da interação e sinergia entre qualidade de vida da população local – redução da pobreza, geração de riqueza e distribuição de ativos –, a eficiência econômica – com agregação de valor na cadeia produtiva – e a gestão pública eficiente. (BUARQUE, 2008, p.27)

Questão 2

Gráfico 12: Percepção dos aspectos do DLS promovidos pelo

projeto REDES

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Quando perguntados sobre quais aspectos do desenvolvimento local

sustentável o Projeto REDES busca contribuir, os entrevistados responderam de

acordo com o gráfico 12. Neste gráfico a série 1 em azul, indica as repostas

positivas quanto contribuição do projeto REDES para os cinco aspectos do DLS, e a

série 2 em vermelho, as respostas negativas por não perceberem a contribuição

deste projeto para os aspectos mencionados. Nos gráficos 13 a 17 estão

destrinchados em detalhes a análise das respostas deste quadro.

Sustentabilidade social: 86% dos entrevistados referiam perceber a

importância do projeto redes na dimensão social, contribuindo para o

desenvolvimento local sustentável. Apenas 14% não perceberam a contribuição

também no aspecto social.

Gráfico 13: Percepção da contribuição do projeto

REDES para a sustentabilidade Social

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Sustentabilidade econômica: Quanto à sustentabilidade econômica todos

os entrevistados responderam que esse é um aspecto que o Projeto REDES

contribui, conforme a figura 34. Isso revela o caráter prioritário e foco do projeto que

é o desenvolvimento econômico.

Sustentabilidade cultural: O gráfico 15 mostra que 57% dos entrevistados

reconheceram a contribuição do projeto REDES também para a sustentabilidade

cultural das localidades onde atua; 43% não reconheceram a contribuição no

aspecto cultural.

Gráfico 14: Percepção da contribuição do projeto

REDES para a sustentabilidade econômica

Gráfico 15: Percepção da contribuição do projeto

REDES para a sustentabilidade cultural

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Sustentabilidade geográfica/comunitária: Em relação a sustentabilidade

geográfica/comunitária 71% da população pesquisa confirma a contribuição do

projeto REDES nessa área e 29% não.

Sustentabilidade Ecológica/Ambiental: Por fim, quando perguntados sobre

a contribuição do projeto REDES para a sustentabilidade ecológica ambiental, 57%

dos entrevistados afirma essa contribuição e 43% não acreditam que haja

contribuição nessa área.

Gráfico 16: Percepção da contribuição do projeto

REDES para a sustentabilidade comunitária

Gráfico 17: Percepção da contribuição do projeto

REDES para a sustentabilidade ambiental

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Mesmo havendo algumas divergências sobre quais aspectos do DLS o

projeto REDES contribui, ficou claro que a maior parte da população pesquisada

acredita que ele contribua para todos os aspectos do DLS.

Questão 3.

Quando perguntados sobre se o projeto REDES tem ajudado a desenvolver

economicamente aos seus beneficiários diretos, todos afirmaram que sim, e sobre a

forma como ele realiza responderam:

Através dos empréstimos realizados pelo GOLD. O empréstimo tem como

objetivo investir em um pequeno negócio de um participante do grupo. Ele

provoca um incremento no fluxo de caixa com a entrada de um capital de giro,

e o aumento dos recursos financeiros, possibilitando o atendimento das

necessidades básicas do membro, a ampliação dos sonhos de crescimento e,

como consequência, o aumento da renda familiar.

Disponibilizando informação que possibilita a organização de pequenos

empreendimentos e acesso ao mercado, bem como a financiamento.

Através das formações e capacitações. Os participantes diretos aprendem a

economizar, poupar, gerir seu dinheiro e investir em algum tipo

Gráfico 18: Percepção da contribuição do projeto

REDES para o desenvolvimento econômico dos seus

beneficiados

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empreendimento que seja rentável. Isso promove e desenvolve as qualidades

empreendedoras das pessoas.

Com a promoção de novos empreendimentos e as capacitações dos

beneficiários diretos, promovem a geração de novos negócios, o

fortalecimento de negócios já existentes e a inovação a desenvolverem novos

produtos e novas formas de negócios.

Através da organização social das atividades econômicas populares e da

inclusão de atividades periféricas.

Um dos entrevistados salienta o aspecto da preparação profissional relatando

que: “ [...] a preparação profissional em oficinas ofertadas pelo projeto, faz com que

as pessoas sejam independentes e criem as oportunidades de sustetabilidade. O

REDES conquistou um grande números de pessoas educadas financeiramente e

capacitadas para geração de renda que, consequentemente, buscam e geram uma

melhoria na qualidade de vida de suas famílias.” (Natana Matos, coordenadora de

projetos)

Outros aspectos, além do desenvolvimento econômico, são relatados por

mais dois entrevistados em suas respostas:

“Muitas vezes percebo que projeto surge como instrumento para população

de baixa renda, que geralmente buscam formas de enfrentar problemas comuns, a

fim de superar as dificuldades e fragilidades do cotidiano e como uma nova

alternativa de se criar trabalho e renda, ainda mais quando se existe a real

possibilidade de inclusão daqueles que não tinham acesso ao crédito, desta forma à

participação no projeto estimula seus beneficiários à criação de empreendimentos,

oportunizando a geração de renda onde mulheres e homens se planejam para criar

e/ou ampliar seus negócios a partir da poupança realizada. Podemos citar vários

exemplos de negócios criados: entretenimento para crianças a partir da compra de

brinquedos coletivos, produção e revenda de vestuários, fabricação e venda de

chocolates, produção de artesanato, dentre outros.” (Edna Claudia, coordenadora de

projetos)

“Entendo que a pobreza é um fenômeno complexo, que não pode ser

analisada apenas pelo aspecto monetário. As pessoas e a comunidades têm

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necessidades e capacidade de superação e o Projeto REDES, com a metodologia

Gold, auxilia os seus membros além de promover a geração de renda, o

empreendedorismo, a alfabetização, os serviços de micro finanças, a confiança

mútua, a democracia, as políticas públicas e também a buscar seu próprio

crescimento, resgatando autoestima. Dessa forma acredito que o projeto também

possa contribuir para a diminuição da pobreza.” (Maria Ilda, agente de campo)

Questão 4

Quando perguntados quais as contribuições sociais que o projeto REDES

promove nas comunidades, os entrevistados responderam:

Melhora da autoestima nos beneficiários diretos;

Melhora a qualidade de vida das famílias da comunidade;

Atendimento às necessidades básicas;

Retorno à vida escolar;

Empoderamento dos grupos e das pessoas;

Auto realização financeira por alcançar sonhos almejados;

Participação comunitária;

Cidadania;

Socialização, partilha e aprendizado cristão, reforço da interação solidária

entre pessoas;

Autoconfiança e confiança nos outros;

Estímulo para que os grupos façam incidência para melhoria dos serviços

públicos (posto de saúde, segurança, lazer...);

Autonomia política e econômica;

Disponibilização de informações relevantes que possibilitam acesso a

oportunidades locais, antes não percebidas pela própria comunidade.

Organização associativa (em grupos);

Práticas de poupança;

Inclusão social;

Sustentabilidade ambiental, econômica e social;

Promoção da resiliência humana;

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Dois entrevistados destacaram, com muito critério, os aspectos do

desenvolvimento local sustentável e do empreendedorismo social em suas

respostas: “o Projeto Redes, é uma ferramenta de transformação social e de

oportunidade de busca da autonomia das pessoas. Nesse sentindo, ocorre o

empoderamento comunitário, melhor visão de mundo no que se refere a busca por

seus direitos e ideais, transformação econômica e Política dos sujeitos,

oportunidade de melhorar a qualidade de vida. (Natana Matos, coordenadora de

projetos)

“Alguns grupos iniciaram suas discussões focando apenas na poupança, não

pretendendo discutir problemas das comunidades, porém, com o passar das

reuniões, perceberam a necessidade de intervir nas questões das comunidades,

pois as mesmas impactam também em suas vidas e alguns destes exemplos são:

Realização de atividades com grupos de idosos;

Realização de atividades com crianças;

Criação de uma associação comunitária;

Realização de reforço escolar;

Participação no orçamento participativo;

Empréstimos de cadeiras de rodas a pessoas que necessitam

Participação em redes e fóruns locais.

Os beneficiários afirmam que hoje são pessoas mais unidas e isso contribui também

nas relações com os demais moradores das suas comunidades.” (Edna Claudia,

coordenadora de projetos)

Tais opiniões estão de acordo com o que sustenta Jesus (2006, p.25):

“desenvolvimento local é entendido como um processo que mobiliza pessoas e

instituições, buscando a transformação de trabalho e renda, superando dificuldades

para favorecer a melhoria das condições de vida da população local”, e com a

definição de Amaro (2009, p.108), ao afirmar que o desenvolvimento local é “o

processo de satisfação de necessidades e de melhorias das condições de vida de

uma comunidade local, a partir essencialmente das suas capacidades, assumindo a

comunidade o protagonismo principal nesse processo e segundo uma perspectiva

integrada dos problemas e das respostas.”

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Questão 5

Perguntados sobre o que a metodologia GOLD tem de inovadora, os entrevistados

responderam da seguinte forma:

O fato da metodologia não depender de agentes externos para promover o

desenvolvimento e a partir de recursos próprios, é possível realizar sonhos de

transformação pessoal e coletiva;

Tem os próprios beneficiários como os atores principais em busca da

melhoria de vida;

Utiliza da participação de grupos para garantir a geração de renda,

participação social e a luta por seus direitos;

O fato de unir o desenvolvimento financeiro com o empoderamento social e

as comunidades pobres para lutarem por seus objetivos e ideais;

O trabalho da construção e conhecimento na dimensão do ensino e da

capacitação;

A utilização da quantidade limitada de recurso financeiro (poupança interna),

para produzir, reproduzir e utilizar capital social como suporte para acesso a

uma quantidade maior de dinheiro e este, uma vez acessado, exige que se

produza mais capital social para geri-lo de forma competente. Dessa forma, é

estabelecido um círculo virtuoso que contribui para que, gradativamente, os

envolvidos se afastam da linha de pobreza;

A prática de poupar e o crédito solidário como utilização de recursos próprios;

A autonomia em relação ao sistema financeiro oficial;

A inserção da juventude na metodologia GOLD incentivando ao

empreendedorismo e a sua entrada no mercado de trabalho.

Uma das pessoas entrevistada destaca o aspecto do trabalho em conjunto e a

capacidade que a mobilização e organização comunitária tem na resolução dos

problemas que afetam as suas vidas:

“Em minha opinião as comunidades são muito carentes, faltam recursos de todas as

partes por isso elas esperam uma proposta que lhes resolvam o problema de

imediato, e quando percebem que no Gol.d essa solução partira deles próprios ficam

desestimulados. Logo creio que o que diferencia a metodologia GOL.D de outras é

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quando percebem que aos poucos só terá mudança se eles contribuírem com este

processo, que não é fácil nem rápido. Pois essa participação não acontece por si só,

é preciso ser estimulada e encorajada pois o Gol.d introduz a dimensão dessa

proposta que tem um poder de transformação muito forte na vida dessas pessoas”

(Edna Claudia, coordenadora de projetos)

Para Drucker (2006) a inovação é a função específica do empreendedor e o

meio pelo qual ele cria novos recursos para produzir riqueza ou alocar os recursos

disponíveis para o desenvolvimento. Para ele “o empreendedor vê a mudança como

norma e como sendo sadia. Geralmente ele não provoca a mudança por si mesmo.

Mas, é isto que define o empreendedor e o empreendimento; o empreendedor

sempre está buscando a mudança, reage a ela, e a explora como sendo uma

oportunidade.” (DRUCKER, 2011, p.36)

Questão 6

Todos os entrevistados responderam que a metodologia GOLD apresenta ser

uma alternativa viável para ser aplicada nos diversos contextos do Brasil. Isso é

comprovado pelos números da metodologia a nível nacional, conforme planilha de

calculo do projeto do mês de Abril: 2911 GOLDs formados, 42.080 beneficiários

diretos, em média 126.240 beneficiário indiretos, espalhados pelo nordeste do Brasil,

o estado de Minas Gerais e do Amazonas, gerando o total de R$ 614.598,95.

Gráfico 19: A importância do GOLD para outras

comunidades

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Questão 7

Todos os entrevistados afirmam que a metodologia GOLD pode ser uma das

estratégias viável para a redução da pobreza.

Questão 8

Gráfico 20: GOLD uma estratégia viável para geração

de renda e redução da pobreza

Gráfico 21: Percepção de que o projeto REDES

promove o empreendedorismo social

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100% dos entrevistados afirmaram que o projeto REDES promove o

empreendedorismo social nas comunidades onde atua. Sobre a forma com que isso

acontece, responderam que era através de:

Feiras de economia solidária e dos empreendimentos coletivos e individuais.

Através da colaboração de todos de um grupo GOLD para realizar o

empreendimento de um só membro ou da colaboração de todos, para gerar

renda para todos; o que configura um aspecto importante da solidariedade e

do bem estar comunitário.

Do desenvolvimento da economia local;

A partir dos conteúdos das reuniões periódicas e das práticas coletivas de

poupança e crédito.

Desenvolvimento de empreendimentos com foco em reciclagem e

reaproveitamento de resíduos;

Incentivo a uma cultura empreendedora nos participantes do projeto;

Com base nas respostas, é possível perceber alguns elementos centrais do

empreendedorismo social (ASHOKA, 2014, www), tais quais: a mobilização

comunitária na busca do bem estar social, a inovação para resolver problemas

sociais e ambientais e o engajamento por uma causa comum.

“O projeto contribui para que os participantes estejam em constante processo

de participação ativa, desta forma os mesmos se sentem encorajados a organizarem

seus empreendimentos dentro de uma perspectiva social com objetivo comum, onde

todos possam ser beneficiados dentro do grupo ou de sua comunidade, seja

realizando palestras de violência contra mulher, campanhas de maus tratos de

crianças e adolescentes, campanhas pela educação e outras, quase sempre

comprometidos com a justiça social.” (Edna Claudia, coordenadora de projetos)

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Questão 9

Sobre os aspectos positivos que o Projeto REDES busca trazer aos seus

beneficiários , as respostas foram:

Autoconfiança;

Resgate da autoestima;

O despertar empreendedor;

Habilidades para trabalhar e viver em comunidade;

Realização pessoal e comunitária;

Independência financeira;

A solidariedade como elo entre as pessoas;

A capacidade de sonhar e ir atrás da realização dos sonhos;

Retomada das relações de confiança e cooperação;

Acesso à informação e fomento as capacidades empreendedoras dos

envolvidos;

Mudança para melhor nas relações familiares;

Melhor organização financeira;

Melhoria das práticas de economia solidária;

Autogestão;

Associativismo;

Empoderamento pessoal e político;

Capital social;

Capital financeiro;

Fortalecimento de vínculos;

Desenvolvimento de habilidades;

Apoio mútuo.

Uma das pessoas entrevistadas ao responder a essa questão escreveu:

“Vimos mulheres frágeis e de auto-estima baixa, se transformarem em guerreiras. Se

arrumarem mais, buscarem mais o seu valor. Vimos pessoas idosas, doentes

levantarem de cadeiras prisioneiras e brincarem como criança junto ao seu grupo.

Vimos pessoas vencerem seus medos de falar, vimos pessoas chorarem de

emoção. Vimos pessoas criarem laços, e entenderem o verdadeiro sentindo de

sermos solidários e viver em grupo. Vimos pessoas terem chances de melhorar de

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vida, aumentando e gerando renda para o sustento de seus lares.” (Natana Matos,

coordenadora de projetos)

Questão 10

Quando perguntados sobre os principais tipos de empreendimentos que tem

surgido através do Projeto REDES, os entrevistados responderam:

Venda de doces e salgados;

Vendedoras de perfumes e artigos femininos (revenda);

Salões de beleza;

Diversão infantil;

Venda de artesanatos;

Feiras de economia solidária;

Custeio para plantio;

Criação de pequenos animais;

Retorno à escola;

Lojas e grupos de artesanatos;

Padarias;

Especialidades em costura;

Bodegas;

Lanchonetes;

Prestação de serviços;

Micro empreendimentos de produção de alimentos beneficiados;

Vestuário;

Indústria caseira;

Negócios na área de entretenimento;

Produção e venda de artesanato;

Culinária;

Beleza;

Confecção.

De acordo com Júlio Cesar, assessor de educação da Visão Mundial, o fato

do projeto REDES ter uma grande área geográfica de atuação, talvez não seja

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possível dimensional a quantidade de empreendimentos espalhados por este Brasil

que tiveram início da iniciativa dos grupos GOLDs; é sabido, no entanto, que estes

empreendimentos perpassam os seguintes ramos: “artesanato, agricultura, pecuária,

comercio, vendedores ambulantes e empreendimento sociais (limpeza urbana,

reinstalação de serviços de instalação de água potável, entre outros).”

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7 CONCLUSÃO

Esta dissertação teve como objetivo central, analisar a contribuição da ONG

Visão Mundial para o empreendedorismo social e o desenvolvimento local

sustentável através do projeto Redes de Desenvolvimento. Para o alcance deste

objetivo, percorreu-se um caminho delimitado por três objetivos específicos, a saber:

discutir as bases teóricas do desenvolvimento local sustentável e

empreendedorismo social que sustentam o estudo; identificar como o projeto Redes

de Desenvolvimento tem ajudado a desenvolver economicamente as famílias

através do empreendedorismo social e investigar quais as contribuições da

metodologia GOLD para o Desenvolvimento Local Sustentável.

Com finalidade de garantir um bom fundamento teórico para sustento desse

estudo, o mesmo se utilizou de importantes teóricos da atualidade, de conceitos e

princípios sobre o empreendedorismo, empreendedorismo social, economia

solidária, desenvolvimento local e desenvolvimento local sustentável.

Para o alcance do segundo e do terceiro objetivos específicos, se fez

necessário à realização de uma pesquisa documental e da pesquisa de campo. A

primeira se valeu de documentos da ONG Visão Mundial e do Projeto REDES e foi

essencial para responder com clareza as especificidades deste projeto, da

metodologia que o mesmo se utiliza (GOLD), bem como das informações da ONG,

conforme descrito no capítulo 5 desse estudo. A segunda foi realizada com sete

colaboradores desta ONG e dez mulheres do GOLD Esperança, na cidade de

Maceió e buscou responder, como o projeto REDES ajuda a desenvolver

economicamente os seus beneficiários, por meio do empreendedorismo social e

qual a contribuição da metodologia GOLD para o desenvolvimento local sustentável.

Por meio dos resultados obtidos através da pesquisa de campo, é possível

chegar à conclusão de que o projeto REDES de fato tem ajudado a desenvolver

economicamente os seus beneficiários diretos. A forma como isso acontece, é

principalmente através da metodologia GOLD, que tem seu foco na educação

financeira, poupança e no empreendedorismo. No entanto, está claro com os

resultados obtidos, de que a contribuição da metodologia vai bem além do

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desenvolvimento econômico de seus beneficiários; promove entre outros, o bem

estar emocional dos envolvidos, melhora da qualidade de vida, o resgate da

autoestima, a participação comunitária, o aumento da renda mensal, o

associativismo, a capacidade empreendedora do indivíduo, melhora nas relações

familiares, solidariedade entre as pessoas, apoio mútuo, o interesse pela

comunidade local, cidadania, inclusão social, a abertura de micro empreendimentos

privados ou cooperativos e a disponibilização informações relevantes que

possibilitam o acesso a oportunidades locais que até então não eram percebidas

pelos seus beneficiários. Soma-se a isso, o forte elemento de solidariedade,

participação, democracia, formações, o empoderamento das pessoas e a integração

com a economia solidária. É importante pontuar que as características descritas

acima, por si só comprovam o elemento de empreendedorismo social do projeto

REDES, conforme sustenta o conteúdo teórico deste trabalho.

Quanto à contribuição da metodologia GOLD para o DLS, foi possível

constatar seu impacto principalmente na esfera econômica e social da

sustentabilidade. Os resultados desta pesquisa apontam, com clareza, para o

aumento da renda mensal das mulheres após participarem do grupo, e também o

compromisso cidadão e a vontade de contribuir com a comunidade onde residem.

Já a sustentabilidade ambiental foi percebida no grupo investigado, por escolherem

cuidadosamente os materiais utilizados para a produção. As mulheres não utilizam

materiais que tenham em seu processo de composição indícios de degradação

ambiental, atrela-se a isso o compromisso do grupo a economia solidária.

Com a clara compreensão de que este estudo é apenas uma parte e

contribuição para outros estudos e investigações, nos temas e objetos por este

utilizados, recomenda-se com base em seus resultados: a utilização da metodologia

GOLD que se mostrou é ser uma estratégia viável para a geração de renda,

poupança, educação financeira, empreendedorismo social, DLS, mobilização

comunitária, empoderamento e bem estar das pessoas, principalmente em

comunidades pobres. Nesse sentido, recomenda-se, que esta metodologia seja

utilizada como programa ou política pública dos governos municipais, estaduais ou

federal nos enfoques supracitados; adaptar a metodologia GOLD para o público

jovem, aproveitando seu forte elemento de mobilização comunitária e relações

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sociais para lhe dar com questões que afetam a juventude pobre como o

desemprego, a violência, a ociosidade, a baixa estima entre outros. Como soluções

a metodologia pode promover entre os jovens: o compromisso social e engajamento

político, a cultura de paz, a geração de emprego e o fortalecimento da economia

local, novos empreendedores com foco social, qualidade de vida e senso de

propósito entre outros; importante adaptar a metodologia para que funcione como

uma rede, onde os diversos GOLDs se comuniquem, possam se auto-organizar, se

fortalecer para enfrentar um mercado. Recomenda-se listar as diversas politicas

públicas e programas dos governos (municipal, estadual e federal) que se

relacionam com esta metodologia, para que os futuros GOLDs tenham

conhecimento destas, bem como possam acessá-los seja pelos órgãos

competentes, seja por meio de mobilização política; a metodologia GOLD pode ser

uma importante estratégia para o engajamento político das comunidades pobres; os

GOLDs podem ser direcionados para aproveitar as oportunidades que existem nas

diversas comunidades para promover a economia local. Um diagnóstico para

identificar a potencialidade econômica da comunidade pode conduzir esse

direcionamento; por proporcionar a melhora da autoestima, a qualidade de vida, o

trabalho participativo, recomenda-se a metodologia GOLD para o trabalho com

grupos terapêuticos. Pode ser útil para o enfrente de problemas como o alcoolismo,

para ser usada com pessoas que estejam em centros de recuperação devido ao uso

de drogas ou em depressão e por fim, recomenda-se a metodologia para que seja

utilizada com pessoas desempregadas ou com pessoas em diversas organizações,

igrejas, centros comunitários, entre outros; nesse caso essas organizações podem

servir de base para os encontros e fortalecimento dos vínculos do grupo. Quanto às

formas como podem se organizar e empreender são várias entre elas estão as feiras

comunitárias no ramo alimentício, corte e costura, artesanato, ou promoção de

ações sociais, ou ainda como empreendedores individuais.

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APÊNDICE A – Questionário Aplicado ao GOLD Esperança

Grupo GOLD: Cidade: Data: ___/___/____

Idade: Sexo: ( ) Feminino ( ) Masculino Tempo de GOLD:

1. A sua participação no GOLD trouxe melhora a sua autoestima? Piorou Não Melhorou Melhorou Melhorou Muito

2. Qual impacto ou mudança você destacaria que o GOLD trouxe para sua vida?

3. Seu envolvimento com a comunidade e outras organizações locais aumentou depois de participar do GOLD?

Sim Não

4. A partir das dicas de educação financeira discutidas no GOLD você passou a se organizar melhor financeiramente?

Sim Não

5. Quanto era a sua renda mensal antes de participar do GOLD? Não tinha De R$ 1 à R$ 100,00 De R$ 101,00 à R$ 250,00

De 251 à R$ 500,00 De R$ 501 à 724,00 Mais de 724,00

6. De quanto foi a melhora na sua renda mensal?

Não melhorou De 10% a 25% De 26% a 50% De 51% a 75% De 76% a 100% Mais de 100%

7. Quantas pessoas fazem parte da sua família (moram em casa com você)? 2 a 3 pessoas 4 a 6 pessoas 7 a 9 pessoas Mais que 9 pessoas

8. Você participa ou conhece algum empreendimento (individual ou coletivo, formal ou informal),que surgiu ou melhorou sua organização e renda a partir do GOLD (pequenos empreendimentos, feiras, etc)?

Sim Não

9. Para você o GOLD promove desenvolvimento comunitário? Sim Não

10. Como você avaliaria a metodologia GOLD?

Ruim Regular Boa Excelente

11. Você acha que seria importante à metodologia GOLD em outras comunidades?

Sim Não

12. O que você mais gosta na metodologia GOLD?

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APENDICE B – Questionário Aplicado aos Colaboradores da Visão Mundial

NOME: Data:

Organização: Setor: Função:

Cidade: Estado:

1) Pra você o Projeto REDES promove o Desenvolvimento Local Sustentável nas comunidades

onde atua?

Sim Não

Se sim de que forma:

2) Quais aspectos do Desenvolvimento Local Sustentável o Projeto REDES contribui:

Social Econômico Cultural

Geográfico/Comunitário Ecológica/Ambiental

3) O projeto REDES tem ajudado a desenvolver economicamente aos seus beneficiários diretos?

Sim Não

Se sim de que forma:

4) Quais as contribuições sociais você destacaria que o projeto REDEs promove nas comunidades

onde atua?

5) Pra você o que a metodologia GOLD tem de inovadora?

6) A metodologia GOLD apresenta ser uma alternativa viável para ser aplicada nos diversos

contextos do Brasil?

Sim Não

7) A metodologia GOLD apresenta ser uma estratégia viável para a geração de renda e redução da

pobreza?

Sim Não xx

8) O projeto Redes promove o empreendedorismo social nas comunidades onde atua?

Sim Não

Se sim de que forma:

9) Quais aspectos positivos você destacaria que o Projeto REDES tem trazido para os beneficiários

diretos (pessoas)?

10) Quais os principais tipos de empreendimentos tem surgido através do projeto REDES?

x

x

x

x

x

x

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APENDICE C – Informação sobre a pesquisa

Prezado (a) Senhor(a),

Esta é uma pesquisa acadêmica que visa avaliar a contribuição do

Projeto REDES para o Desenvolvimento Local Sustentável e o

Empreendedorismo Social.

Ressaltamos que não será necessária a sua identificação nesta

pesquisa. Pela sua participação e apoio nesta pesquisa, agradecemos

antecipadamente.

_______________________________

Daniel Moreno de Souza

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ANEXO 1: Fotos do lócus da pesquisa na cidade de Maceió

Figura: Local de reunião do GOLD Esperança Fonte: GOOGLE MAPS, 2014, www

Figura: Rua onde o GOLD Esperança se reúne Fonte: O autor, 2014

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Figura: Rua onde o GOLD Esperança se reúne Fonte: O autor, 2014

Figura: Local de reunião do GOLD Esperança Fonte: O autor, 2014

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Figura: Local de reunião do GOLD Esperança Fonte: O autor, 2014

Figura: Local de reunião do GOLD Esperança Fonte: O autor, 2014

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Figura: Produtos das mulheres que forma o GOLD Esperança

Fonte: O autor, 2014