UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO Escola de Comunicação e...

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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO Escola de Comunicação e Artes Departamento de Relações Públicas, Propaganda e Turismo Curso de Pós-Graduação Latu Sensu de Especialização em Gestão Estratégica em Comunicação Organizacional e Relações Públicas EVELYN TOLEDO DIAS A CONTRIBUIÇÃO DAS PRÁTICAS DE RELAÇÕES PÚBLICAS PARA A GESTÃO DE PESSOAS NAS ORGANIZAÇÕES EM PROCESSO DE FUSÃO OU AQUISIÇÃO Estudo de caso: SKY Brasil Serviços Ltda. São Paulo, 2008

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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

Escola de Comunicação e Artes Departamento de Relações Públicas, Propaganda e Turismo

Curso de Pós-Graduação Latu Sensu de Especialização em Gestão Estratégica em

Comunicação Organizacional e Relações Públicas

EVELYN TOLEDO DIAS

A CONTRIBUIÇÃO DAS PRÁTICAS DE RELAÇÕES PÚBLICAS PARA

A GESTÃO DE PESSOAS NAS ORGANIZAÇÕES EM PROCESSO DE

FUSÃO OU AQUISIÇÃO

Estudo de caso: SKY Brasil Serviços Ltda.

São Paulo, 2008

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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

Escola de Comunicação e Artes Departamento de Relações Públicas, Propaganda e Turismo

Curso de Pós-Graduação Latu Sensu de Especialização em Gestão Estratégica em

Comunicação Organizacional e Relações Públicas

EVELYN TOLEDO DIAS

A CONTRIBUIÇÃO DAS PRÁTICAS DE RELAÇÕES PÚBLICAS PARA

A GESTÃO DE PESSOAS NAS ORGANIZAÇÕES EM PROCESSO DE

FUSÃO OU AQUISIÇÃO

Estudo de caso: SKY Brasil Serviços Ltda.

Monografia apresentada ao Departamento de Relações Públicas, Propaganda e Turismo da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, em cumprimento parcial às exigências do Curso de Pós-Graduação, para obtenção do título de Especialista em Gestão Estratégica em Comunicação Organizacional e Relações Públicas, sob orientação do Prof. Dr. Luis Alberto de Farias.

São Paulo, 2008

3

TERMOS DE APROVAÇÃO

Autor (a): Evelyn Toledo Dias

Título:

Banca Examinadora:

Prof(a). Dr(a).____________________________________Instituição:_______________

Prof(a). Dr(a).____________________________________Instituição:_______________

Prof(a). Dr(a).____________________________________Instituição:_______________

Aprovado em:

___/___/____

4

Ao Eduardo, meu querido companheiro

que cuida do jardim,

do meu jantar,

do céu e do mar,

e de você e de mim.

5

AGRADECIMENTOS

Às minhas duas sereias, Heloísa e Gabriela que me inspiram e me motivam todos os dias,

quando vejo seus olhinhos.

Aos meus pais, Dias e Helena: experiências maravilhosas de vida e meu porto seguro.

Aos amigos queridos que me apóiam nos bons e maus momentos.

À SKY, empresa que me acolheu há oito anos, em uma troca recíproca de respeito,

aprendizado e progresso.

6

“Eu sou guerreiro

Sou trabalhador

E todo dia vou encarar

Com fé em Deus

E na minha batalha”

O Rappa – Lado B Lado A

7

SUMÁRIO

Lista de Tabelas...................................................................................................................... 9

Capítulo I

Introdução................................................................. ............................................................ 13

1.1 Questionamentos iniciais e objetivos................................................................... 13

1.2 Justificativas......................................................................................................... 14

1.3 Estrutura e Enfoques do Trabalho........................................................................ 15

Capítulo II

As Relações Públicas no Brasil................................................................................................17

2.1 As Relações Públicas no mundo: o início..............................................................17

2.2 O surgimento da atividade e do profissional de Relações Públicas no Brasil até os

dias atuais.....................................................................................................................19

2.3 Estudo científico e produções literárias das Relações Públicas no Brasil: o respaldo

teórico para o surgimento de novas possibilidades......................................................25

2.4 Conhecimento generalista: o profissional completo..............................................28

Capítulo III

Comunicação Organizacional no Brasil...................................................................................31

3.1 Teoria da Comunicação e o conceito de Comunicação Organizacional................31

3.2 Cultura Organizacional e a sua influência na Comunicação.................................34

3.3 Comunicação Interna e novas oportunidades........................................................36

3.3.1 Fluxo de informação...........................................................................................38

3.3.2 Níveis de informação..........................................................................................40

3.3.3 Redes de informação...........................................................................................40

3.3.4 Canais.................................................................................................................42

3.4 As linguagens e sua função para a gestão de pessoas...........................................43

Capítulo IV

Liderança..............................................................................................................................45

4.1 As escolas da Administração e as contribuições humanísticas..........................45

4.2 Motivação...........................................................................................................51

8

4.3 Estudos sobre a Liderança................................................................................55

Capítulo V

Fusões e aquisições de empresas no Brasil........................................................................61

5.1 Evolução das fusões e aquisições no mundo e no Brasil.................................61

Capítulo VI

SKY – O desafio de uma fusão para uma empresa de telecomunicações.........................64

6.1 Histórico empresarial – SKY e DIRECTV......................................................64

6.2 Histórico empresarial - SKY Brasil Serviços Ltda......................................... 65

6.2.1 Acionistas......................................................................................................66

6.3 Telecomunicações: perfil do segmento e conjuntura social.............................68

6.4 Tecnologia e público interno: os dois lados da mesma moeda........................69

6.5 Convergências e diferenças culturais da nova organização.............................71

Conclusões.........................................................................................................................80

Referências........................................................................................................................84

Anexo 1.............................................................................................................................88

Anexo 2.............................................................................................................................90

9

LISTA DE TABELAS

TABELA 1: Evolução da atividade e profissão de Relações Públicas no Brasil............23

TABELA 2: Evolução das Produções Científicas e Livros no Brasil.............................27

TABELA 3: Comunicação Interna - Fluxos....................................................................39

TABELA 4: Comunicação Interna – Redes.....................................................................41

TABELA 5: Ciências do Comportamento.......................................................................49

TABELA 6: Foco dos campos do conhecimento.............................................................50

TABELA 7: Pirâmide de Maslow....................................................................................54

TABELA 8: Gráfico de pesquisa – Empresa de origem..................................................76

TABELA 9: Gráfico de pesquisa – Cargos......................................................................77

TABELA 10: Gráfico de pesquisa – Índice de Satisfação SKY......................................78

TABELA 11: Gráfico de pesquisa – Satisfação por empresa de origem.........................78

TABELA 12: Gráfico de pesquisa – Insatisfação por empresa de origem......................79

10

RESUMO

O cenário atual das organizações que estão iniciando ou em processo de fusão ou

aquisição de outras organizações é extremamente complexo, devido à multiplicidade de

circunstâncias que envolvem ambos os lados: as economias locais e do país de origem de uma

ou mais organizações diretamente associadas à fusão, a legislação e a política, o ambiente

sócio-cultural, a tecnologia, o ambiente demográfico e principalmente seus respectivos

públicos: fornecedores, clientes, acionistas, órgãos governamentais e empregados. Este estudo

propõe analisar e comprovar a contribuição e, conseqüentemente, a eficácia da utilização das

práticas de Relações Públicas no que diz respeito à gestão de pessoas. Durante o processo de

reestruturação destas empresas ou da nova organização que participa deste processo, a

sustentação, o alicerce desta mesma organização é sua equipe de empregados, principalmente

os gestores que os conduzirão durante todo o período de transição e de prováveis

instabilidades a que os ambientes internos e externos destas organizações estarão sujeitos.

Quero mostrar além, ou melhor, que os profissionais mais preparados para apoiar e direcionar

as ações das equipes internas devem ter as características do profissional de Relações

Públicas. O foco será dado com base em conceitos teóricos sobre Comunicação

Organizacional, a Antropologia e Sociologia quando relacionadas à construção cultural da

história pessoal e profissional do indivíduo, as Relações Públicas de forma geral e no Brasil.

Fica evidente enquanto acompanhamos o estudo por meio dos conceitos e referências que

constarão para análise, em sua maior parte, a importância das Relações Públicas para a

liderança organizacional.

Palavras-Chave: Cultura; Comunicação Organizacional; Fusões; Aquisições;

Liderança; Relações Públicas.

11

RESUMEN

El escenario actual de las organizaciones que ingresan al mercado o que pasan por una

fusión o compra por parte de otras empresas es muy complejo, esto porque hay una

abundancia de hechos que se ponen a ambos los lados: las economías locales y del país de

origen, o de una o más organizaciones vinculadas a esta fusión, la legislación y la política, el

entorno social y cultural, la tecnología, el ambiente demográficos y sus respectivos públicos:

proveedores, clientes, accionistas, órganos del gobierno y colaboradores. Este estudio

propone un análisis y al mismo tiempo comprobar la contribución y por consiguiente la

eficacia que viene aportar las prácticas de las Relaciones Públicas a la gestión de personas.

Durante toda reestructuración de estas empresas o de la nueva organización que participa del

proceso, el sostén, los pilares de esta son sus colaboradores y en especial los directivos que

serán los conductores en esta fase de transición, bien como en todo el período de inestabilidad

a que pueden pasar los ambientes internos y externos de estas organizaciones. Se espera

mostrar algo más que esto, a lo mejor que los profesionales que están más preparados para

apoyar, influir y estar al mando de las acciones de sus empleados son aquellos que presentan

las características de un profesional de Relaciones Públicas. El enfoque está basado en los

conceptos teóricos sobre la Comunicación Organizacional, la Antropología y Sociología en

cuanto a la construcción de la historia personal y profesional de uno, las Relaciones Públicas

en general y en Brasil. Esto se pone aun más claro mientras se desarrolla El estudio por

medio de conceptos y referencias que estarán disponibles para consulta, en su gran parte, la

importancia de las Relaciones Publicas para el liderazgo organizacional.

Palabras Clave: Cultura, Comunicación Organizacional, Fusiones; Adquisiciones;

Liderazgo; Relaciones Públicas

12

ABSTRACT

The current scenario of organizations in starting or the process of merger or

acquisition of other organizations is very complex, due to the variety of circumstances

involving both sides: local economies and the country of origin of one or more organizations

directly associated with the merger, legislation and policy, the socio-cultural environment,

technology, environment and demographic mainly their procedures: suppliers, customers,

shareholders, government agencies and employees. This study proposes examine and verify

the contribution and consequently, the effectiveness of the use of public relations the practices

in regard to the management of people. During the process of restructuring of these

companies or the new organisation that takes part of this process, support, the foundation of

that organization is its team of employees, especially the managers that lead throughout the

period of transition and instability probable that the environments internal and external these

organizations are subject. I want to show well, or better, that those most prepared to support

and guide the actions of the internal teams must have the characteristics of professional Public

Relations. The focus will be based on theoretical concepts of Organizational Communication,

Anthropology and Sociology when related to the cultural construction of the personal and

professional history of the individual, the Public Relations in general and Brazil. It is evident

as the study follow through concepts and references that appear for review, for the most part,

the importance of Public Relations to organizational leadership.

KeyWords: Culture; Organizational Communication; Mergers, Acquisitions;

Leadership; Public Relations.

13

CAPÍTULO I - INTRODUÇÃO

1.1 Questionamentos iniciais e objetivos

Ao estudar Comunicação e conhecer as Relações Públicas, identifiquei as inúmeras

oportunidades no abrangente e crescente mercado de trabalho, principalmente no atual

ambiente global, que traz desafios constantes devido às informações e às surpresas ocultas

relacionadas às organizações e seu entorno.

O interesse sobre o tema surgiu ao analisar crítica e internamente o ambiente de

trabalho das organizações nas quais trabalhei. Os diferentes perfis de líderes e suas

respectivas formas de conduzir as equipes mostravam a “babel” organizacional que podia

resultar positivamente, porém em muitas situações, negativamente. Cada célula ou

departamento direcionava seus esforços para lados opostos, sem planejamento e preocupação

com os objetivos únicos e ao mesmo tempo, abrangentes da organização. O propósito de

sucesso para ambas as partes interessadas, organização e empregados, é a união de esforços,

pois havendo a convergência de seus interesses em torno de um mesmo objetivo, existe seu

conseqüente alcance.

Essa sensação está cada vez mais evidente, principalmente devido aos sinais atuais de

uma época pós-moderna, de incertezas e mudanças constantes no comportamento humano. A

alta rotatividade dos funcionários, causando excessivos gastos financeiros para a organização,

pouca ou nenhuma otimização da produtividade em função disto, sinalizam a carência de um

planejamento adequado das ações de liderança e, portanto, do perfil de um profissional que

conduzisse sua equipe de forma estruturada e planejada com conhecimentos generalistas que

abrangeriam aspectos técnicos como finanças, economia, tecnologia e aspectos do

conhecimento do comportamento humano: antropologia, sociologia, cultura.

E de que forma esse gestor poria em prática esse conhecimento? Por meio de ações

gerenciais definidas por uma estratégia de comunicação em todas as suas formas e linguagens.

14

Segundo Philip Lesly (2002),1 “Relações Públicas é a ciência e a arte de

compreender, de ajustar e influenciar o clima humano”.

Assim, acredito que um excelente gestor será bem sucedido se aplicar ou tiver o perfil

do profissional de Relações Públicas.

Alguns objetivos foram estabelecidos, sendo o primeiro - avaliar como as Relações

Públicas evoluíram no contexto empresarial brasileiro. Em seguida, observamos as referências

sobre as diferentes vertentes da liderança e poder, a Comunicação Organizacional, o cenário

interno sobre as organizações em processo de fusão e finalmente, informações sobre a

empresa que foi objeto de estudo de caso, concluindo o assunto deste projeto.

1.2 Justificativas

É comum encontrarmos diversas análises e pesquisas acerca do tema abordado aqui. E

é cada vez mais imperativo que as organizações acompanhem e analisem o processo

comunicacional. O processo comunicacional afeta, independentemente de haver planejamento

ou não, as atitudes das pessoas. E uma organização é composta por um conjunto de pessoas

que deveria ter, teoricamente, os mesmos objetivos. As Relações Públicas têm a capacidade

ampla de analisar completamente todos os aspectos que cercam determinado objeto de estudo,

sistematizando o conjunto dessas informações de forma organizada e planejar as ações de

forma a abranger e contemplar todos esses aspectos.

Este estudo direciona as análises das práticas de Relações Públicas na gestão de

pessoas em uma organização que se encontra em momento de fusão: a SKY Brasil Ltda.,

empresa do segmento de TV por assinatura. Mais especificamente, tem a pretensão de

comprovar que o profissional que ocupa um cargo estratégico na organização e possui as

características e perfil do profissional de Relações Públicas é o aliado primordial.

Há uma vasta literatura sobre o processo de comunicação indica a existência de uma

relação profunda de poder entre a comunicação e as organizações que a utilizam para o

1 LESLY, Philip. Os fundamentos de relações públicas e da comunicação. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2002.

15

atingimento de seus objetivos, procurando causar, uma “lavagem cerebral” em seus

colaboradores, descartando completamente seus interesses individuais e como profissionais.

As Relações Públicas situam-se em um nível acima desta relação, pois são mediadoras

e conciliam ambos os interesses: da organização e de seus públicos, neste caso, os

colaboradores. Tem consciência de que o processo de comunicação pode afetar a gestão de

pessoas em seu direcionamento, bem como, tem ciência de que é necessário considerar os

interesses dos funcionários desta organização, seus mais poderosos aliados, pois é desse

equilíbrio que se constitui uma organização que pretende ter sucesso de forma sustentável e

em longo prazo.

1.3 Estrutura e Enfoques do Trabalho

Para adentrar este complexo e abrangente tema, foi necessário que a Autora delineasse

uma seqüência de dados relevantes para a melhor compreensão do contexto a que se refere o

motivo deste trabalho.

No capítulo II, foi feita a descrição do histórico das Relações Públicas no mundo e

principalmente, no Brasil, onde se dá o cenário. Após esse levantamento, foi feito um

cruzamento da trajetória da atividade, estudo científico e profissão de Relações Públicas com

o histórico da evolução das organizações, da sociedade brasileira e sobre o perfil generalista

do profissional de Relações Públicas.

Para tanto, faz-se necessário entender a base do trabalho de Relações Públicas que é a

comunicação e todos os seus enfoques e perspectivas, perpassando pela cultura e

comunicação interna, linguagens e seus aspectos simbólicos que codificam sentimentos e

expressões que influenciam o comportamento humano. Também se refere à comunicação

organizacional, que tem uma grande responsabilidade de justificar o cenário do

comportamento humano contemporâneo, suportado pela sociologia e a antropologia. Esse

assunto será tratado no capítulo III.

A relação da psicologia, sociologia e antropologia com a motivação do ser humano é

um dos assuntos novamente abordados no capítulo IV – Liderança que é um dos estudos mais

desenvolvidos do campo administrativo e é um tema interessante, pois tem relação direta com

16

as ciências do comportamento humano e colabora para o entendimento do que motiva os

empregados no âmbito pessoal, a produzirem mais, com criatividade e comprometimento, que

é a grande meta e ao mesmo tempo, desejo das organizações.

Um breve relato do cenário de fusões e aquisições no país é tratado no capítulo V.

Esse aspecto tem influência direta no ambiente organizacional, afetando as demais

circunstâncias da sociedade.

E por fim, no último capítulo, estão as informações sobre a empresa que é o objeto de

estudo, SKY Brasil Serviços Ltda. Seu histórico anterior à fusão, como está composta a nova

organização: organograma, acionistas, mercado, a relação do perfil do segmento de

telecomunicações com a tecnologia e os empregados e aspectos da cultura, clima

organizacional.

Boa leitura!

17

CAPÍTULO II – AS RELAÇÕES PÚBLICAS NO BRASIL

Muito já foi estudado e publicado sobre a complexidade a que se refere as Relações

Públicas: da origem do termo2, às referências filosóficas e à aplicabilidade de suas técnicas,

segmentada por áreas de interesse.

O objetivo deste capítulo é que haja a compreensão da abrangência das Relações

Públicas, incluindo a habilidade em atuar nas relações humanas, por meio do resgate resumido

dos fatos ocorridos no Brasil do início do século XX até os dias de hoje, introduzindo

brevemente a história das Relações Públicas no mundo: EUA, Europa e América Latina.

2.1 As Relações Públicas no mundo: o início

É de conhecimento geral e principalmente, dos especialistas e profissionais da área de

Comunicação que Ivy L. Lee foi o precursor do que chamamos Relações Públicas: atividade e

profissão. Isso se deu no início do século XX e o cenário construído por conta das

conseqüências da 1ª Guerra Mundial que transformaram as indústrias americanas em

potências, causaram graves problemas a essas organizações que estavam sofrendo os impactos

de suas ações impostos por grandes grupos interessados e que se relacionavam com as

organizações: os trabalhadores através das greves constantes que visavam melhorar as

condições de trabalho; escritores radicais e o próprio governo que se encontravam

insatisfeitos com o surgimento dos monopólios, a busca inescrupulosa pela riqueza e sua

conseqüente concentração nas mãos de uma minoria que utilizava os métodos torpes para

conseguí-la.

“Essa quase revolta popular era inspirada também pelas obras de escritores

radicais, como Lincoln Steffens, David Graham Phillips, Upton Sinclair,

Theodore Dreiser e Jack London. Não eram somente os trabalhadores que se

organizavam em incipientes sindicatos para enfrentar os poderosos, mas a

própria classe média que se manifestava, contra os abusos das empresas.

2 Sobre as hipóteses de origem do termo Relações Públicas, ver ANDRADE, Cândido Teobaldo de. Panorama histórico de Relações Públicas. 1972.

18

Por outro lado, os “muckrackes” (exploradores profissionais de escândalos),

conseguiam envenenar mais a situação, já que cuidavam de relatar, com

pormenores exageros, a vida nababesca e imoral dos magnatas do mundo

dos negócios. Por essa época, atingiram seu apogeu os célebres “tycoons”,

empresários que faziam praça de seus métodos despóticos no lidar com seus

operários. É desse tempo, igualmente, a famosa obra “História da Standard

Oil Company” de autoria de Ida Tarbell, que dizia revelar a criminalidade

imoral oculta detrás da armadura de respeitabilidade e cristianismo.

O crescimento da onda de protestos obrigou o Governo norte-americano a

tomar algumas medidas legais e propor ao Congresso leis contra os

monopólios e cartéis. Os homens de empresa sentiram que precisavam vir a

público, para tentar explicar suas atividades, através de advogados e

jornalistas. Foi quando John D. Rockfeller Junior contratou os serviços de

Ivy Lee, um antigo jornalista nova-iorquino, com o ordenado mensal de mil

dólares”. (ANDRADE, 1972, p. 4-5).

As principais ações iniciais de Relações Públicas praticadas por Ivy L. Lee foram: a

horizontalização da cadeia através de técnicas de aproximação do inalcançável, onipotente e

desumano capitalista com seus respectivos públicos3 de interesse: a imprensa com a abertura

das portas da organização da família Rockefeller4, dispensa dos seguranças pessoais da

família; o governo com a disponibilidade de diálogo e a comunidade, incluindo os

trabalhadores com a criação de entidades filantrópicas, hospitais, centros de pesquisa,

universidades com concessão de bolsas de estudo entre outras.

A partir deste momento, caracterizou-se a transição da fase “O público que se dane”,

célebre frase dita por Vanderbilt5 que demonstrava a absoluta falta de preocupação dos

3 Para conhecer o conceito de público, ver FRANÇA, Fabio. Públicos. Como identificá-los em uma nova visão estratégica. São Caetano do Sul: Difusão, 2004, p. 33-58. 4 Netsaber. Biografia Rockfeller. John Davison Rockefeller. Industrial norte-americano. Depois de uma formação escolar básica, Rockefeller dedicou-se desde jovem à profissão de contabilista. Adquiriu, com 22 anos, uma pequena empresa, com a qual passou a fazer parte do setor da refinação, transporte e venda de produtos petrolíferos. Em 1863, fundou sua primeira refinaria, a que se seguiu a segunda em 1866. Rapidamente assegurou o monopólio do negócio, construindo os próprios oleodutos, comprando numerosas empresas e utilizando métodos rápidos de negociação. Em 1879, a sua Standard Oil Company controlava 95% do mercado do petróleo. [Internet]. fev.2008.Disponível em http://www.netsaber.com.br/biografias/ver_biografia_c_949.html. 5 Netsaber. Biografia Vanderbilt. Cornelius (Comodore) Vanderbilt. Capitalista e inventor americano nascido em Port Richmond, Staten Island, New York, NY, que patenteou muitos dispositivos para ferrovias, adquirindo grande fortuna ficando conhecido como o barão magnata das estradas de ferro. Filho do fazendeiro falido e barqueiro Cornelius Vanderbilt (1843-1899), deixou a escola aos 11 anos trabalhar no rio. [Internet]. fev. 2008. Disponível em http://www.netsaber.com.br/biografias/ver_biografia_c_1729.html.

19

empresários com o que o público pensava para a frase “O público deve ser informado”,

conclusão natural ocorrida após inúmeras reportagens “de Muckrackers da categoria de Upton

Sinclair, David Phillips, Ida Tarbell que denunciavam a corrupção do governo e no mundo de

negócios,(...)”(JAMESON, Samuel H, 1962, p.23).

A literatura de Relações Públicas sempre destaca sua evolução com o foco principal na

experiência americana, que embora precursora e de extrema importância, principalmente por

ter atuado como agente influenciador do comportamento de empresários, trabalhadores,

jornalistas, não é única tendo no contexto global, outras experiências com seu devido grau de

importância na história da evolução econômica e social mundial e suas respectivas

características. Nos países europeus, a Inglaterra foi a precursora, criando am 1912, o

primeiro serviço de Relações Públicas, criação esta demandada pela necessidade percebida do

governo inglês em esclarecer informações pertinentes às leis, mensagens de apoio ao Império

Britânico e sobre a guerra, ou seja, com cunho governamental. Outros países da Europa como

Bélgica, França, Alemanha, Itália, Noruega iniciaram as atividades de Relações Públicas em

meados dos anos 50. Na América Latina, foi fundada em 1960, no México, a FIARP –

Federação Interamericana de Relações Públicas durante a primeira Conferência

Interamericana de Relações Públicas 6.

2.2 O surgimento da atividade e do profissional de Relações Públicas no Brasil até

os dias de hoje

No Brasil, embora a primeira referência sobre as Relações Públicas tenha sido

marcada pela criação do primeiro departamento de Relações Públicas em 1914, pela Light &

Power Co. Ltd., atualmente conhecida por Eletropaulo Eletricidade de São Paulo S.A.7 ,

conduzido pelo engenheiro Eduardo Pinheiro Lobo8, foi somente a partir dos anos 50 que as

Relações Públicas se expandiram. Exatamente, como outros países mencionados no sub-

capítulo acima, essa expansão foi incentivada, principalmente devido o advento da Segunda

Guerra Mundial: “(...)a moderna história de relações públicas, para muitos, tenha início

coincidindo com o fim da última guerra, 1946(...)”. (D’AZEVEDO, Martha A., 1971, p.21)

6 ANDRADE, C. Op. cit. p.10 a 21. 7 Wikipedia. São Paulo Tramway Light and Power Company. [Intranet]. Fev. 2008. Disponível em http://pt.wikipedia.org/wiki/S%C3%A3o_Paulo_Tramway,_Light_and_Power_Company. Acesso em 27/02/2008. 8 ANDRADE, Op. cit. p.21.

20

Para maior clareza da evolução das Relações Públicas no Brasil, comento a seguir, o

histórico da sociedade e do ambiente político e econômico, correlacionando diretamente com

o tema deste capítulo.

Após a crise de 1929, nos EUA que culminou com a queda das exportações, aumento

dos produtos nos estoques das indústrias e baixo volume de vendas, causando o desemprego

de milhares de trabalhadores:

“Como os países europeus, depois da guerra, recomeçaram a produção

desses bens que durante o conflito importavam dos Estados Unidos, caíram

as exportações do país e o mercado interno norte-americano viu-se

abarrotado de produtos que não conseguia absorver. Em suma, a produção

industrial chegou a exceder consideravelmente o consumo; as indústrias

começaram então a diminuir o ritmo da produção, deixando grandes massas

de operários sem emprego. Estes numerosos desempregados não tinham

capacidade de compra, o que fazia com que o consumo diminuísse ainda

mais. A crise refletia-se também nos meios financeiros e na agricultura. O

capitalismo concorrencial entrou em grande crise fazendo com que muitos

empresários fossem à falência gerando o fortalecimento de monopólios”.

(PERUZZO, Cicília K., 1982, p.18).

No Brasil, iniciou-se o período Getuliano, de 1930 a 1945, “(...)nesse período

encontra-se paradoxalmente, a fase de gestação (com a emergência das massas urbanas na

cena política) da limitada democracia nos anos posteriores a 1945)”. (LOPES, 1976, p. 86).

Getulio Vargas promoveu melhorias nas condições de vida e de trabalho dos

empregados, regulamentou a função e campo de atuação dos sindicatos, criou o DIP –

Departamento de Imprensa e Propaganda, atuando em todas as frentes envolvidas, atendendo

e antecipando-se às suas necessidades, com o objetivo claro de amenizar conflitos, no papel

mediador, para que todos os esforços fossem direcionados para o avanço da industrialização.

“Getúlio Vargas foi assim, um grande Relações Públicas (...) procurou harmonizar as

relações capital-trabalho cuidando dos interesses dos trabalhadores e dos interesses do

capital em geral”. (PERUZZO, 1982, p.23).

21

A partir dos anos 50, houve um aceleramento econômico, devido à abertura do

mercado nacional às empresas multinacionais e ao avanço tecnológico, com o surgimento do

rádio transistor, da TV e dos novos departamentos de Relações Públicas nas agências:

“As maiores agências de propaganda para atender os seus grandes clientes,

que queriam serviços especializados de Relações Públicas, incluíram em

seus organogramas, divisões específicas para a área. Estas viriam a

constituírem-se em celeiros de grandes profissionais que, nas décadas

seguintes, montariam suas próprias assessorias ou empresas de Relações

Públicas”. (KUNSCH,1996, p.24).

O primeiro departamento de Relações Públicas foi criado em 1951 pela Companhia

Siderúrgica Nacional, uma empresa nacional, situada em Volta Redonda, RJ9. Esta área foi

chefiada por Evaldo Simas Pereira, o precursor das Relações Públicas no Brasil. Em 1952, foi

criada a primeira empresa de Relações Públicas, Formação de Opinião e Propaganda, a

Companhia Nacional das Relações Públicas e Propaganda em 1953, criado o primeiro curso

regular de Relações Públicas na Fundação Getúlio Vargas, RJ.10

Também foi nesta década que surgiram os primeiros movimentos oficiais e efetivos

para a instituição da atividade e da profissão de Relações Públicas.

Em março de 1954, um grupo de profissionais, a Escola de Administração Pública da

Universidade de São Paulo e o IDORT – Instituto de Organização Racional do Trabalho),

juntaram-se e criaram a ABRP – Associação Brasileira de Relações Públicas. Essa associação

de caráter profissional, foi fundamental para a definição e compreensão da atividade11.

Movidas por questões políticas, essa associação sofreu algumas mudanças, incluindo a

criação de outra associação de um grupo dissidente da ABRP, a AERP – Associação dos

Executivos de Relações Públicas, responsável pela instituição do “Dia Nacional de Relações

9 KUNSCH, Margarida M. K. As Relações Públicas e suas interfaces com a Comunicação Organizacional no

Brasil. São Paulo: Tese de livre-docência, ECA-USP, 1996, p. 24. 10 KUNSCH, Op. cit. p.24. 11 THOMAZZI, Maria Stella. O ensino e a pesquisa em Relações Públicas no Brasil e sua repercussão na

profissão. In: KUNSCH, Op. cit. p. 25.

22

Públicas” – 20 de abril e pelo programa intitulado “Homem de Relações Públicas do ano”,

realizado periodicamente para premiar e reconhecer as figuras que através de suas ações,

divulgavam as Relações Públicas.

Sobre a regulamentação da profissão de Relações Públicas, não tenciono analisá-la

item por item e sim, identificar as características, perfil e campo de atuação e quais os

impactos trazidos à atividade e imagem do profissional de Relações Públicas.

Não obstante o pioneirismo do Brasil ao regulamentar as Relações Públicas, através da

lei 5.377 de 26 de setembro de 196812, houve um prejuízo devido sua falta de planejamento,

sendo que poderia ter sido melhor justificada através de seus anais e portanto, fazer jus ao real

significado e atuação da profissão13.

O governo militar utilizou amplamente as Relações Públicas através de órgãos oficiais

que serviram para divulgar oportunamente as ações do governo, no período de 1968 a 1980:

- AERP – Assessoria Especial de Relações Públicas;

- AIRP – Assessoria de Imprensa e Relações Públicas;

- SECOM – Secretaria Especial de Comunicação Social.

A partir dos anos 80, houve um importante passo para as Relações Públicas no que

tange à valorização de seus aspectos comunitários. Foram desenvolvidos diversos projetos

para a comunidade, a confecção de artigos, publicações, o debate, eventos culturais e

científicos para o desenvolvimento da comunicação popular14.

Os anos 90 foram marcados pelas iniciativas dos órgãos do setor em regularizar as

definições contidas na lei 5.377 de 28/09/1968, com o claro objetivo de reinserção da

atividade no contexto atual das organizações efetiva e permanentemente, dentro dos reais

conceitos das Relações Públicas. 12 CONFERP. Regulamentação da lei 5.377. fev.2008. [Internet]. Disponível em: http://www.conferp.org.br/site/legislacao/Exibe.do;jsessionid=B44F19810AEDBEA812975B7724E782F5?codLegislacao=6&tipo=lei. 13 Para conhecer o levantamento histórico dos bastidores da regulamentação, ler OLIVEIRA, José Xavier. Usos e abusos de relações públicas. Rio de Janeiro: Agir, 1970, p.194-225. 14 Para mais referências sobre a comunicação popular, ler PERUZZO, Cicília M. K. Comunicação popular em seus aspectos teóricos. In: Comunicação e Culturas Populares, organizado por Cicília Maria Krohling Peruzzo. São Paulo: Intercom, 1995. p. 27-44 GT’s Intercom; 5.

23

Foi desenvolvido por mim, um quadro contendo os principais fatos históricos das

Relações Públicas no Brasil:

TABELA nº 1 – A evolução da atividade e profissão de Relações Públicas no

Brasil

DATA FATOS OBSERVAÇÕES

1914 1º Departamento de Relações

Públicas

Empresa: Light & Power Co. Ltd.

Responsável: Engenheiro Eduardo

Pinheiro Lobo

1930 a 1945 Período Getuliano

Criação DIP – Departamento de

Imprensa e Propaganda e

primeiras ações de Relaçõs

Públicas com cunho governamental

1951 1º Departamento de Relações

Públicas em uma empresa nacional

Empresa: CSN – Companhia

Siderúrgica Nacional

Responsável: Evaldo Simas

Pereira

1952 1ª empresa de Relações Públicas,

Formação de Opinião e

Propaganda

Empresa: Companhia Nacional de

Relações Públicas

Fundadores: Inácio Penteado da

Silva Telles e Romildo Fernandes

1954 Criação da ABRP – Associação

Brasileira de Relações Públicas

Responsáveis: profissionais do

mercado, Fundação Getúlio

Vargas, Instituto de Administração

da Universidade de São Paulo e

IDORT.

1964 Criação da AERP – Associação de

Executivos de Relações Públicas

Responsável: grupo dissidente da

ABRP

1967 IV Congresso Mundial de Relações

Públicas, sediado pelo RJ

Lançamento do livro de Cândido

Teobaldo de Andrade: Curso de

Relações Públicas

1968 Regulamentação da profissão e

atividade de Relações Públicas

através da lei nº 5.377

Criação da AERP – Assessoria

Especial de Relações Públicas

Responsável: Cel. Octávio Costa

Governo: Gal. Emílio Garrastazzu

Médici

24

(1969-1974)

1975 Substituição da AERP pela AIRP

– Assessoria de Imprensa e

Relações Públicas

Governo: Gal. Ernesto Geisel

(1974-1979)

1976 Criação da ARP – Assessoria de

Relações Públicas

Responsável: Cel. José Maria

Toledo de Camargo

1979 Extinção da AIRP e criação da

SECOM – Secretaria Especial de

Comunicação Social

Responsável: publicitário Said

Farhat

Governo: Gal. João Baptista de

Figueiredo

(1979-1984)

1980 Criação do “Prêmio Opinião

Pública”

Responsável: CONRERP –

Conselho Regional dos

Profissionais de Relações Públicas

– 2ª Região (São Paulo e Paraná).

Objetivo: Homenagear os

melhores trabalhos dos

profissionais de Relações Públicas

1982 Lançamento da “Campanha para

valorização da profissão de

Relações Públicas”

Responsável: ABRP e CONRERP

1983 Criação da ABERP – Associação

Brasileira das Empresas de

Relações Públicas

Responsável: Valentim Lorenzetti

1985 Implantação da Gerência de

Comunicação Social da Rhodia

S.A. que contemplava Imprensa,

Relações Públicas e Marketing

Social

Responsável: Walter Nori

1990 Simpósio “Formação do

profissional de Relações Públicas

na Universidade”

Debate entre meio acadêmico

(professores) e mercado

(profissionais)

1992 Início da discussão sobre os rumos

da profissão

Responsável: CONFERP e

CONRERP – Conselhos Federal e

Regional dos profissionais de

Relações Públicas

25

2.3 Estudo científico e produções literárias das Relações Públicas no Brasil: o

respaldo teórico para o surgimento de novas possibilidades

Acredito que para toda a prática, sempre deve haver o suporte teórico que racionaliza,

estrutura e propõe novas vertentes de pensamentos para que essa mesma prática seja efetiva e

obtenha sucesso. É o círculo virtuoso do crescimento intelectual e material para qualquer área

de atuação.

Assim o é, também para as Relações Públicas. No Brasil, houve um distanciamento

entre teoria e prática, vindo somente nos anos 80, a fazer o alinhamento entre os pensamentos

teóricos e pesquisas, a profissão e a atividade.

Neste tópico, descrevo as principais ações, estudos, publicações científicas e as

resumo em um quadro para facilitar a compreensão cronológica dos fatos.

Em iniciativas tímidas, porém inovadoras e de vanguarda, foram criados o primeiro

curso de Relações Públicas, na Escola de Comunicações Culturais da Universidade de São

Paulo, hoje chamada de Escola de Comunicações e Artes, em 196615 e em 1972, o curso de

Pós-Graduação em Ciências da Comunicação16. Mas, havia a necessidade urgente do

aprimoramento da atividade das Relações Públicas e para legitimá-las, deveria haver o

alinhamento do embasamento teórico que daria sustentação a essas práticas e abriria caminho

para novos horizontes, tanto no âmbito acadêmico quanto em relação ao mercado, garantindo

assim, sua perenidade. Assim, a partir da década de 70, quando a percepção do

distanciamento entre área acadêmica e mercado profissional estava evidente, houve a

retomada, mesmo que desorganizada, da expansão dos cursos universitários de Relações

Públicas:

“A implantação dos cursos de Relações Públicas implicou no começo, muita

improvisação e adaptação. Não se tinham professores em número suficiente

para atender as novas demandas, a atividade ainda não estava consolidada e

as necessidades da sociedade neste campo eram praticamente desconhecidas, 15 KUNSCH, Op. cit. p. 37. 16 ORGANICOM. Revista Brasileira de Comunicação Organizacional e Relações Públicas. Comunicação e

mudança cultural nas organizações. São Paulo: USP, n.5, 2º sem.2006. 5 p.

26

pois em momento algum se tivera uma preocupação em analisá-las mais

profundamente. Assim, com raras exceções, os cursos se pautavam,

inicialmente, pelos velhos padrões da escola de jornalismo. A transmissão de

conhecimentos se dava de forma dogmática e verbalista, em razão de uma

visão imprecisa do mercado e da falta de domínio da concepção que vinham

sendo desenvolvidas pelos precursores dos anos 50”. (KUNSCH, 1996, p.

37-38).

As publicações sobre Jornalismo Empresarial (1972) e Comunicação

Empresarial/Organizacional (1986) de Francisco Gaudêncio Torquato do Rego17 e a tese de

mestrado defendida por Margarida M. Krohlinng Kunsch18, em 1985, preconizaram uma nova

fase codificando uma visão sobre a necessidade inevitável do planejamento estratégico e da

comunicação integrada, que promoveria a convergência dos interesses das organizações e

seus públicos.

O enriquecimento do arcabouço teórico da Comunicação e das Relações Públicas foi

substancial nos anos 80, pois:

“Houve um crescimento acentuado tanto das indústrias da comunicação

quanto da pesquisa da produção científica. Foi o período em que se formou o

maior número de mestres e doutores nessa área. As empresas de Relações

Públicas e muitas agências de Propaganda se transformaram em empresas de

Comunicação, prestando serviços integrados e completos”. (KUNSCH,

1996, p. 45).

Todos esses esforços estão sendo positivos. Grunig, citado por KUNSCH (2003, p. 69

In: Organicom nº 5, p. 33), afirma que “As Relações Públicas estão se tornando uma profissão

fundamentada em conhecimentos acadêmicos”.

17 REGO, Francisco Gaudêncio Torquato do. Comunicação Empresarial/Organizacional: estratégias, sistemas, estrutura, planejamento e técnicas. São Paulo: Summus, 1986. 18 KUNSCH, Margarida M. Krohling. Planejamento de Relações Públicas na Comunicação Integrada. 4ª. ed. São Paulo: Summus, 2003.

27

TABELA nº 2 – Evolução Produções Científicas e Livros no Brasil

DATA FATOS OBSERVAÇÕES

1953 1º Curso Regular de Relações

Públicas

Entidade: Escola de

Administração Pública da

Fundação Getúlio Vargas, RJ

Professor: Eric Carlson

Tradutora: Sylla M. Chaves

1962 Lançamento do livro “Para

entender as Relações Públicas”

Autor: Cândido Teobaldo de

Souza Andrade

1967 1º Curso Superior de Relações

Públicas com duração de 4 anos

Instituição: Escola de

Comunicação Culturais da

Universidade de São Paulo, hoje

chamada de Escola de

Comunicação e Artes

1967 IV Congresso Mundial de

Relações Públicas, sediado pelo

RJ

Lançamento do livro de Cândido

Teobaldo de Andrade: Curso de

Relações Públicas

1978 Criação dos Projetos

Experimentais de Relações

Públicas

Responsável: Conselho Federal de

Comunicação

1982 Criação do “Concurso

Universitário de Monografias e

Projetos Experimentais”

Responsável: ABRP – Associação

Brasileira de Relações Públicas

1983 Resolução 480/83 que definiu o

novo currículo para as escolas de

Comunicação

Responsável: MEC – Ministério

da Educação e Cultura

1990 Simpósio “Formação do

profissional de Relações Públicas

na Universidade”

Debate entre meio acadêmico

(professores) e mercado

(profissionais)

1999 Criação do curso de Pós-

Graduação “Gestão Estratégica

de Comunicação Organizacional

e Relações Públicas”

Instituição: Escola de

Comunicação e Artes da

Universidade de São Paulo

Ao final desta análise, faz-se necessário comentar a importância e as contribuições da

Escola de Comunicação e Artes, da Universidade de São Paulo no âmbito teórico-científico e

também, na construção das Relações Públicas dentro do contexto histórico, pois até 1996 foi

28

responsável por 80% das teses de doutorado e mestrado e 100% das teses de livre-docência19.

Esse estudo estruturado e profundo proporciona o que considero a melhor das contribuições

feitas pela Escola de Comunicações e Artes que é promover o direcionamento das Relações

Públicas, analisando e identificando as oportunidades futuras,

Sua postura vanguardista sempre traz à tona novas vertentes de atuação e de estudo da

Comunicação e Relações Públicas, transformando-se no porto seguro do desenvolvimento

intelectual sem manter-se na zona de conforto, atitude que lhe é inerente.

2.4 Conhecimento generalista: um profissional completo

Desde o início da história das Relações Públicas, foi apresentado como modelo de

profissional aquele que tem visão 360°, ou seja, conhecimento amplo para diagnosticar de

forma precisa, as variáveis internas e externas que afetam a situação ou problema a ser

resolvido. À medida que as mudanças culturais ocorrem, essas questões também sofrem

alterações e em uma velocidade cada vez maior, sendo preciso tomar decisões que podem

causar um impacto forte em todos os públicos relacionados. Devido à complexidade do

cenário, dos personagens envolvidos e do objetivo que se deseja alcançar, é preciso o

envolvimento de um profissional multidisciplinar e generalista que planejará as ações a serem

adotadas, estrategicamente, pois considerará todas as variáveis envolvidas e integradas,

valendo-se de todas as ferramentas de comunicação disponíveis.

”Nos últimos anos, ganhou projeção a figura do generalista, profissional que,

possuindo conhecimentos específicos, reúne condições e potencial para

estabelecer abordagens abrangentes da sociedade e da empresa. Lembre-se

que o generalista era considerado um profissional não muito respeitado pelo

fato de “querer saber de tudo” e, no fim das contas, “não saber de nada”. Sua

imagem, porém, ganhou consistência. O conhecimento holístico, capaz de

integrar as partes no todo, constitui uma exigência do mundo competitivo e

globalizado. As análises simplistas começam a ser rejeitadas. (...) A

comunicação é um sistema-meio que se espalha na moldura ampla dos

ambientes social, político e econômico. Os generalistas são figuras que

19 KUNSCH, Op. cit. p.

29

integram tal conceito. Com visão abrangente, passam a ser disputados no

mercado”. (TORQUATO, 2002 p. 6-7).

Os sinais de um tempo pós-moderno transformaram o profissional técnico e

instrumentalista em estratégico, pois atua simultaneamente, conciliando as ações

institucionais e administra o relacionamento com os stakeholders20; sua atuação antes era

voltada para organizações empresariais e governo, hoje, aplica-se a qualquer tipo de

organização, incluindo as organizações não-governamentais e entidades com ou sem fins

lucrativos.

A função do profissional de Relações Públicas é posicionar através de uma

comunicação clara e precisa para inspirar credibilidade e transparência às ações

organizacionais.

“Os profissionais de relações públicas têm um papel intermediário – fixados

entre seus clientes/empregadores e seus públicos. Devem estar sintonizados

no pensamento e nas necessidades das organizações às quais servem ou não

poderão servi-las bem. Devem estar sintonizados com a dinâmica e

necessidades dos públicos, de modo a poder interpretar esses públicos para

clientes; assim como interpretar os clientes para os públicos.

Esse papel ‘intermediário’ não se aplica a nenhum outro grupo que lida com

o clima das atitudes. Especialistas de outros campos – jornalistas,

sociólogos, psicólogos, políticos etc. – estão dirigidos para suas

especialidades.

O papel dos profissionais de relações públicas é o de aplicar essa especial e,

crescentemente crucial orientação – acrescida das nossas habilidades

particulares – para interpretar o direcionamento das atitudes; compreendendo

o que esse direcionamento significa para a sociedade e para diversas

organizações; e recomendar aquilo que deve ser feito no sentido da

adequação a essas condições e direcionamentos”. (LESLY, 1995, p. 4).

20 França, 2004, p.59-61, traz os conceitos da terminologia stakeholders . Por ser uma palavra inglesa, não tem um correspondente em português. Sugere que poderíamos identificar como o público conectado com a empresa por razões de participação, investimentos; que tem participação; um ponto de apoio na empresa. Não confundir o termo com stockholders, que significa acionistas, assim como shareholders.

30

Outra possibilidade para a profissão no mercado de trabalho é que o profissional de

Relações Públicas está totalmente habilitado a ocupar uma posição de liderança nas

organizações e/ou instituições, independentemente da área de atuação, pois o gestor também

exerce papel mediador, ou seja, está posicionado para equilibrar as necessidades distintas e

muitas vezes, antagônicas de seus dois principais públicos: empresa e empregados.

Riel (1997) corrobora esse entendimento: “nas organizações, os diretores

desempenham funções-chaves. A direção é descrita como a que ‘leva a cabo o trabalho por

intermédio de outras pessoas”. (RIEL,1997, p. 9).

Outra opinião sobre o mesmo entendimento é de TORQUATO (2006):

“Nos casos das organizações, para efeito de referência comum, a fonte mais

expressiva é o gerente. Ele, regra geral, se posiciona como linha

intermediária da organização, sendo um pólo emissor e receptor de

informações, transmitindo informações para baixo e para cima, para

subordinados e chefes”. (TORQUATO, 2006, p. 36).

Para o líder é permitido, pelo papel mediador e do poder instituído pela própria

posição, colocar em prática o planejamento estratégico de uma comunicação integrada para a

gestão de pessoas: abertura de canais de comunicação, planejamento e assessoramento da

divulgação das informações que resultam em imagem, identificam focos de problemas e

oportunidades, avaliando o comportamento dos públicos e da opinião pública, atuação nas

causas, com aplicação de técnicas de sociologia.

31

CAPÍTULO III – COMUNICAÇÃO ORGANIZACIONAL NO BRASIL

Hoje, é comum ouvirmos a expressão Comunicação Organizacional e sua importância,

seja no meio acadêmico e nas empresas, devido aos sinais de uma época pós-moderna21, em

que as pessoas têm posicionamentos individuais extremamente pessoais, sem se adequar a

somente um grupo, mas a diversos grupos com características cada vez mais personificadas.

Os diversos papéis desempenhados em sociedade: cliente, empregado, pai, esposo, estudante,

voluntário, cidadão estão mesclados entre si, o processo decisório é movido por um conjunto

de fatores, a cada momento com um peso diferente, dependendo do ambiente e variáveis

externas. As organizações acabam convivendo, se adaptando e atuando sinergicamente com

essa multiplicidade de pessoas e situações para atenuar a sensação de instabilidade a que

ambos estão sujeitos: empregados e organizações.

O objetivo deste capítulo é incentivar a reflexão sobre o que é a Comunicação

Organizacional, as variáveis intangíveis, como a cultura e as linguagens e de que forma ela

está diretamente associada ao clima da organização.

3.1 Teoria da Comunicação e o conceito de Comunicação Organizacional

É o estudo dos primórdios da Comunicação.

O fenômeno da Comunicação é um amplo e interdisciplinar campo de estudo –

sociologia, psicologia, semiologia, ciência política, antropologia, com um vasto acervo com

autores como:

“Carl Hovland, em psicologia experimental, Kurt Lewin, em psicologia

social, Harold Lasswell, em ciência política e muitos outros, contribuíram

para a formação de uma determinada maneira de investigar a comunicação

que talvez possa ser caracterizada pela preocupação em conhecer para

eficientizar. Isto é, trata-se de considerar os fenômenos da Comunicação

como um objeto a ser melhor conhecido em sua estrutura e funcionamento, a

21 Mauro Wilton justifica pós-modernidade como a era da tecnologia, a última das três idades da linguagem. Para saber sobre o conceito de pós-modernidade, ler SOUSA, Mauro Wilton de. Novas Linguagens. São Paulo, 2003, p. 11-23.

32

fim de eficientizar funcionalmente essa estrutura e esse funcionamento

dentro do sistema social”. (MOREIRA, 1979, p. 18).

O estudo do sistema simbólico, a comunicação e do sistema social, a sociologia, deve

partir das premissas da ideologia:

“A categoria teórica básica para a análise da comunicação e da cultura é a da

ideologia. A análise deve concentrar-se sobre as condições de produção de

uma modalidade específica de manifestação ideológica, e sobre o modo

como essa produção se reflete nos seus produtos”. (COHN, 1973. In:

MOREIRA, 1979, p. 14).

Concordo com o autor sobre ser esse estudo uma posição ideológica, ou seja, uma

formação de idéias do sentido simbólico e as suas representações através das origens

filosóficas e sociológicas. A comunicação só existe se considerarmos a política, sociologia,

filosofia e trata-se da relação de um mundo simbólico de valores através de mediações

técnicas. Os valores são a identidade de algo ou alguém e podemos chamar de mediações

técnicas, o suporte: códigos escritos, sonoros ou imagéticos.

Portanto, comunicadores são mediadores de conflitos.

Ao estudar a composição ideológica de uma pessoa ou um grupo de pessoas, em se

tratando do ambiente organizacional, entendo que o processo da comunicação organizacional

sempre existiu, não da forma como conhecemos, mas como um processo natural, até casual,

pois é inerente ao ser humano, desde seu início de vivência em grupo, a necessidade da

utilização de técnicas ou meios para se comunicar, mesmo que as mais rudimentares.

“se uma organização humana só é possível sobre um sistema de relações

(comunicação) humanas, então conceber uma empresa é conceber um

sistema complexo de comunicação com a finalidade de executar tarefas

determinadas”. (SCHULER, 1996, p. 111).

Suscita o pensamento que a partir do momento em que houver uma organização, onde

existirá um grupo de pessoas co-existindo, haverá comunicação organizacional. A questão que

33

surge é: esse tipo de comunicação informal, casual pode ser considerado Comunicação

Organizacional?

“A comunicação organizacional compreende o conjunto das modalidades

comunicacionais praticada dentro das organizações - a comunicação

institucional, a comunicação mercadológica ou de marketing, a comunicação

interna e a comunicação administrativa”. (KUNSCH, 1999, p. 139).

Ou seja, para essa autora, a comunicação organizacional é algo formalizado, instituído,

provocado e não uma prática casual.

O meio acadêmico e o mercado têm formas diferentes de denominar a prática da

comunicação dentro da organização. Há quem utilize a expressão Comunicação Empresarial e

outros, utilizam Comunicação Organizacional. Para Kunsch (1996), o termo adequado é

Comunicação Organizacional, principalmente por seu aspecto abrangente, sem restringir essa

prática somente ao mundo empresarial.

“Se adote o termo Comunicação Organizacional, que além de abranger todo

o espectro das atividades comunicacionais, tem maior amplitude, aplicando-

se a qualquer tipo de organização e não só àquilo que se chama ‘empresa’”.

(KUNSCH, 1996, p. 89).

Torquato (2004), também se rende à nomenclatura Comunicação Organizacional,

esclarecendo seu ponto de vista:

“Com o desenvolvimento da área, a evolução dos modelos e a multiplicação

das estruturas de comunicação, passei a usar, inclusive em cursos de

graduação e pós-graduação, a terminologia comunicação organizacional. (...)

Não há mais sentido, portanto, em se restringir a comunicação ao exclusivo

mundo das empresas. A organização – sindical, associativa, partidária –

tornou-se a designação mais abrangente e apropriada para essa realidade.”

(TORQUATO, 2004, p. 1).

Em face às análises desses autores e pelo levantamento da evolução histórica das

organizações e a comunicação, apresentado neste trabalho até o momento, é corroborada a

34

utilização da terminologia Comunicação Organizacional, como sendo a mais adequada para

os dias atuais.

3.2 Cultura Organizacional e a sua influência na Comunicação

“Cultura organizacional é o conjunto de pressupostos básicos que um grupo

inventou, descobriu ou desenvolveu ao aprender como lidar com os

problemas de adaptação externa e integração interna e que funcionaram bem

o suficiente para serem considerados válidos e ensinado a novos membros

como a forma correta de perceber, pensar e sentir em relação a esses

problemas”. (SCHEIN, 1989. In: FLEURY, 2006, p. 274).

Os pressupostos básicos que podem definir a cultura organizacional nada mais são que

o conjunto de fatores e experiências comuns vividas por um determinado grupo de pessoas em

um determinado intervalo de tempo que causaria um mesmo movimento entre essas pessoas,

ou seja, se um dado grupo compartilha durante algum tempo um número significativo de

experiências, lidando com problemas internos e externos, pode-se concluir que este grupo irá

compartilhar uma visão de grupo. (FLEURY, 2006, p. 275. In: MOTTA, 2006).

Para entender o conjunto de critérios que podem colaborar para definir e disseminar a

cultura organizacional, Schein (1989)22 classifica as categorias que estabelecem os

pressupostos básicos:

o A relação da organização com seu ambiente

o A natureza da realidade e da verdade

o A natureza da natureza humana

o A natureza da atividade humana

o A natureza dos relacionamentos humanos

A cultura organizacional sempre estará sujeita às mudanças do comportamento

humano, bem como às mudanças originárias da organização, fazendo-se necessário o correto

diagnóstico da situação, valendo-se dos conhecimentos sobre psicologia, sociologia, incluindo

a antropologia.

22 SCHEIN, E. Organizational culture and leadership. San Francisco: Jossey-Bass, 1989. p. 86.

35

“Embora análise organizacional se tenha utilizado de variáveis e conceitos

tirados da economia, da sociologia, da ciência política e da psicologia, a

antropologia permanecia distante da área organizacional. O interesse

potencial de análises antropológicas, usando o conceito amplo de cultura, foi

despertado mais uma vez a partir da preocupação com aquilo que é

diferente.” (BERTERO, 1996, p. 35. In: FLEURY, 1996).

Refletindo sobre essa questão e adaptando à cultura organizacional no Brasil, nota-se

uma alta atividade comunicacional devido ao perfil dos nativos, principalmente pela sua

característica de feminilidade, conforme descrito por HOFSTEDE (1984)23, que é a dimensão

da preocupação com relacionamentos, as pessoas e a qualidade de vida.

“(...) as empresas brasileiras são marcadas por decisão que tendem a ser

caracterizada por uma interação social intensa, bem como por um

envolvimento ativo dos dirigentes superiores geralmente autocráticos.

Comumente, esses dirigentes são responsáveis pela parte mais substantiva

das etapas do processo. Essa autoridade hierárquica e a intensiva

comunicação fora das horas de trabalho, bem como fora do trabalho, levam

as decisões nas empresas brasileiras a serem tomadas de forma

significativamente mais rápida e continuada”. (MOTTA, 2006, p.30).

Outra característica cultural brasileira importante e que aparece na comunicação

informal da organização é o “jeitinho brasileiro”,

“uma prática cordial que implica em personalizar as relações por meio da

descoberta de um time de futebol comum ou de uma cidade natal comum, ou

ainda de um interesse comum qualquer. É diferente da arrogância em apelar

para um status mais alto de um parente ou de um conhecido importante,

Porém, as duas coisas são freqüentes em nosso país e, por vezes, aparecem

habilmente combinadas. No âmbito da tecnocracia organizacional, isto

permanece no não-dito, ou no dito de outra forma. Existe uma etiqueta que

faz com que seu uso difira daquele do homem ‘comum’”. (MOTTA, 2006,

p. 34).

23 A pesquisa de HOFSTEDE sobre as dimensões da cultura: feminilidade e masculinidade, constam em HOFSTEDE, G. Culture’s consequences: international differences in work-related values. London: Sage Publications, 1984.

36

Embora a comunicação não seja reduzida a somente esses dois fatores, pois

compreende um amálgama de situações, seria conveniente haver uma análise aprofundada por

parte das organizações sobre como o clima interno, as redes informais se desenvolvem e se

estabelecem.

3.3 Comunicação Interna e novas oportunidades

“A comunicação interna deve contribuir para o exercício da cidadania e para

a valorização do homem. Quantos valores poderão ser descobertos e

acentuados mediante uma atividade comunicacional participativa! A

oportunidade de se manifestar e de se comunicar livremente, canalizará

energias para fins construtivos, tanto do ponto de vista pessoal quanto

profissional. Se considerarmos que uma pessoa passa a maior parte do seu

dia dentro da organização, as razões são muitas para que o ambiente de

trabalho seja o mais agradável possível. E um serviço de comunicação tem

muito a ver com isso, uma vez que, agilizando o processo comunicativo,

promove a integração entre os diferentes setores”. (KUNSCH, 1997, p. 128).

A definição inspiradora de Kunsch sobre o que é comunicação interna serve para

nortear e conduzir os gestores da comunicação dentro de uma organização. Trata-se de um

conceito completo e abrangente sobre o papel da organização na sociedade e com

características próprias das Relações Públicas que harmoniza a relação homem, organização,

natureza.

Algumas organizações denominam suas ações de comunicação interna como

Endomarketing (do grego endon: interno). Para Kunsch (1997), os termos não têm o mesmo

significado, pois:

“O endomarketing limita-se a ver os colaboradores como ‘clientes internos’.

Já a comunicação interna é muito mais envolvente. Atua com base numa (...)

direção mais ampla, buscando valorizar o empregado enquanto pessoa e

cidadão e visando muito mais a integração capital e trabalho”. (KUNSCH,

1997, p. 40).

37

Deve ser considerado que o ambiente interno atual das organizações é de agilidade

devido à quantidade e à velocidade de informações, pressão por melhores resultados e metas,

cobrança para ter criatividade e ser empreendedor, em otimizar os custos, fazendo “mais com

menos”. Essa é a pressão externa a que o funcionário está sujeito. Esse clima também sofre

influência dos interesses pessoais dos empregados, ou seja, a pressão interna: desempenhar

um ótimo trabalho, ser reconhecido por isso, buscar recursos financeiros para cumprir suas

responsabilidades, conseguir administrar trabalho e lazer entre outros.

Segundo Cabral (2004),

“apesar dos recursos tecnológicos, hoje a maioria dos executivos e

profissionais qualificados trabalham mais de 48 horas semanais e, ainda

assim, é constante a sensação, ao término do dia de se ter deixado algo

importante para traz, acumulando em seu íntimo um conjunto de pendências

relacionadas a si mesmo, aos amigos, à família, à profissão, à organização.

Perdeu-se o senso de dever cumprido”. (CABRAL, 2004, p. 58. In:

Organicom nº 1).

É nesse aspecto que a organização deve valer-se da comunicação interna que exerce

uma função estratégica no ambiente organizacional e tem como missão básica “contribuir

para o desenvolvimento e a manutenção de um clima positivo, propício ao cumprimento das

metas estratégicas da organização e ao crescimento continuado de suas atividades e serviços

e à expansão de sua linha de produtos”. (TORQUATO, 2004, p. 54).

Entendo a comunicação interna como um processo formalizado, pois é instituída por

ação da organização que viabiliza e é responsável pela estruturação, identificação das

melhores ferramentas e conteúdos, implementação e manutenção deste processo. E para que

haja conectividade e sinergia neste processo e sejam atingidos os objetivos, o fluxo de

informações deve ser interativo, com a colaboração dos empregados que são os principais

beneficiados.

38

3.3.1 Fluxo de informação ou comunicação

O fluxo de informações que pode contribuir para essa sinergia, é dividido em quatro

categorias, segundo TORQUATO (2004):

Fluxo descendente

Ocorre de cima para baixo, do nível superior para a base de empregados e na maioria

das situações, são formais. As principais características desse fluxo é a elevada quantidade de

informação, causando o “entupimento dos canais”24. Pode ocorrer o bloqueio do fluxo de

informações pela chefia, que teme perder ou diminuir seu poder, compartilhando informações.

É uma visão retrógrada, pois limita o poder de ação do conjunto que tem um alcance muito

maior e traria maior visibilidade ao gestor e à equipe.

Fluxo ascendente

Ocorre de baixo para cima, da base para o nível superior e tendem a ser menos

formais. Por serem informais, utilizam canais informais para a propagação da informação,

podendo causar dispersão e falta de controle, sendo por esse mesmo motivo, pouco

resistentes.

Fluxo lateral ou horizontal

Ocorre entre níveis hierárquicos com a mesma posição no organograma. A

característica mais forte desse fluxo é a retenção da informação entre pares, que devido à

competitividade, podem causar falhas e mal-entendidos no processo comunicacional. E é

exatamente por esse motivo que se trata de um fluxo estratégico e deve ter o acompanhamento

da organização.

24 TORQUATO DO REGO, F.Gaudêncio. Tratado de Comunicação Organizacional e política. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2004.

39

Fluxo diagonal ou transversais

Entre diferentes níveis e departamentos, por exemplo: um Diretor de Marketing e um

analista de Tecnologia. Acontece em organizações menos burocráticas e mais abertas. O

aspecto negativo mais evidente é a possibilidade de causar constrangimento e ruídos, por

passar por cima da autoridade do gestor direto. Os aspectos positivos são a rapidez e a

transparência.

TABELA nº 3 – Comunicação Interna – Fluxos25

25 TORQUATO, Op. Cit. p. 40.

Comunicação Interna - Fluxos

Descendente

Ascendente

Lateral Lateral Diagonal

O entupimento dos fluxos da comunicação decorre freqüentemente da excessiva quantidade de comunicações descendentes

40

3.3.2 Níveis de informação

Outra esfera a ser considerada é a dos quatro níveis de informação:

Nível intrapessoal

Refere-se às habilidades internas e pessoais do profissional para comunicar-se. As

condições físicas e psicológicas determinam o grau de eficácia da comunicação. Por exemplo:

um gestor com problemas na fala, um empregado com um bom raciocínio lógico.

Nível interpessoal

Trata-se da comunicação entre dois indivíduos. Normalmente, não há ruídos,

principalmente se forem profissionais do mesmo nível hierárquico ou em discussão por algum

assunto comum.

Nível grupal

É a relação da informação transmitida em uma reunião ou palestra em que participam

profissionais do mesmo nível. Os aspectos negativos podem ser monotonia, palestras

desinteressantes, falta de sintonia entre grupo e apresentador, entre outros.

Nível coletivo

Utilizam-se os meios clássicos de comunicação organizacional entre a gestão:

gerentes, supervisores, diretores para enviarem mensagens a outros públicos. A desvantagem

é o surgimento de ruídos pela distância entre as fontes e os receptores.

3.3.3 Redes de informação

Torquato (2004). Também cita os tipos de equilíbrio da comunicação:

o Tecnologia: Comunicação de dados – com objetivo informativo;

o Instituição: Comunicação Normativa

41

o Sentimentos: Comunicação Expressiva

E as redes de comunicação:

o Formal: Relatórios estratégicos, políticos, normas, rotinas, poucos canais

expressivos.

o Informal: Rumores, boatos, tensão e expectativa, muitos canais expressivos.

TABELA nº 4 – Comunicação Interna – Redes26

A comunicação interna pode acontecer de forma centralizada ou descentralizada.

26 TORQUATO, Op. cit. p. 57.

Tipos de Comunicação

Comunicação Interna

O equilíbrio entre as redes formal e informal é fundamental para a fluidez do processo comunicativo nas organizações.

Equilíbrio

Tecnologia – Comunicação de Dados - Informativa

Instituição – Comunicação Normativa

Sentimentos – Comunicação Expressiva

Os ambientes frios nas organizações recebem influência da excessiva quantidade de comunicações normativas e informativas.

Redes

Ajuste

Formal

Informal

* Relatórios Estratégicos, Políticos, Administrativo, Vendas * Rotinas * Poucos canais expressivos * Rumores e boatos * Momentos de tensão e expectativa * Muitos canais expressivos

42

o Comunicação Interna Centralizada

O aspecto positivo principal é o controle da informação transmitida, tendo em

contrapartida, como pontos negativos: a inexpressividade, a falta de interatividade, o

distanciamento causado pelo desconhecimento ou padronização.

o Comunicação Interna Descentralizada

A diminuição ou a perda total do controle pode acontecer, mas como aspecto positivo,

pode manter as características do grupo, causando a aproximação do público-alvo com as

ferramentas e maior adesão.

3.3.4 Canais

Os canais ocupam o papel de mediar a comunicação entre os extremos interessados.

Os canais existentes e mais utilizados, agrupados devido à sua categoria, são:

o Jornais e revistas;

o Boletins, folhetos, memorandos, comunicados;

o Quadro de avisos, murais;

o Reuniões grupais; encontros;

o Conversas individuais com funcionários;

o Caixas de sugestões;

o Programa Interno de Oportunidade;

o TV e Rádio;

o Intranet e portais eletrônicos.

Após o conteúdo técnico ter sido apresentado e também, as questões que envolvem o

ambiente interno das organizações, concluo que os sinais de um tempo célere demonstram a

urgência em buscar novas formas de produzir o sentimento de conectividade entre a

organização e seus empregados, através da utilização da comunicação interna que deve atingir

um próximo patamar, evoluindo à medida que a sociedade e seus costumes mudam.

43

3.4 As linguagens e a sua função para a gestão de pessoas

Um dos componentes mais importantes do processo comunicacional, se não o mais

importante deles é a linguagem. Não obstante a sua relevância, sua observância tem sido

relegada ou negligenciada dentro deste processo, exatamente pelo motivo que a posiciona

como essencial: a primordialidade.

Mauro Wilton de Sousa (2003), discrimina e categoriza como idades das linguagens:

o Oralidade – caracteriza-se pelo estágio inicial da comunicação, onde os

códigos como a palavra, escrita, símbolos, índices foram criados para as

manifestações do estar-junto. Essa idade continua até os dias de hoje, há

aproximadamente dezoito séculos, com menor intensidade e importância

devido o surgimento das idades que veremos a seguir;

o Cultura da Imagem – revolução surgida há 200 anos aproximadamente:

invenção da imagem eletrônica. A fotografia, o cinema e a TV despertaram

para uma nova situação: a interpretação da sociedade através da imagem.

o Multimídia – é a idade do visual, da linguagem digital.

“A idade da imagem eletrônica é caracterizada, sobretudo, pelo que

chamamos de necessidade de representação: não importa o quê, importa

representar. Talvez por isso, a imagem tenha seduzido tanto. Talvez por isso,

estejamos tão afastados da palavra. Tão próximos da representação e com

certa dificuldade para continuar a compor a palavra segundo os códigos da

escrita. (...) Quando eu dizia que a palavra está ligada ao código escrito, que

a imagem está ligada à representação e que a multimídia está ligada à

simulação, isso dá bem uma idéia da complexidade do que significa hoje o

processo comunicacional”. (SOUSA, 2003, p. 11-14).

Essa análise nos faz refletir sobre a extensão de nossos atos, intencionais ou não e os

atos alheios, incluindo a ação de uma organização. Entendendo por ação, as iniciativas de

comunicação de uma organização, que é composta de linguagens, com diversos públicos

44

envolvidos que também se comunicam através das mesmas linguagens, é percebida a extensão

da complexidade deste processo de comunicação.

Transferindo para a realidade da organização, é imprescindível que a gestão de uma

empresa tenha conhecimento desses fatores que sinalizam comportamentos, sentimentos

ocultos sob a forma das linguagens e utilize uma metodologia de acompanhamento para

mapear o movimento sutil e atuar assertivamente. Esse conhecimento também é válido para a

utilização da comunicação interna, incluindo a própria figura do gestor que é, também um

canal de comunicação com a equipe, principalmente por sua posição intermediária, mediática:

sua postura, habilidade oral, vestimenta.

Essa linha de pensamento é justificada por Novaes (2005)27,

“tal é a ilusão imaginária gerada por certas imagens. Na verdade, essa ilusão

pode ser gerada por qualquer imagem, mas torna-se mais e mais sensível à

medida que cresce a ambição de representação da imagem: quanto mais a

imagem se esforça em tornar presente o ausente, mais ela tenta representar o

irrepresentável, tornar visível o invisível, mais ela gera a ilusão de não ser

imagem.”

27 NOVAES, Adauto. Muito além do espetáculo. São Paulo: Editora Senac São Paulo, 2005, p. 36.

45

CAPÍTULO IV – LIDERANÇA

“Chegou o momento em que o preparo de uma pessoa especializada em

relações humanas exige não apenas que ela ‘goste de gente’. Nas mãos de

pessoas qualificadas, isto pode vir a ser uma contribuição útil para o

processo administrativo, assim como um maior progresso no sentido da

compreensão básica da conduta humana”. (ARGYRIS, 1979, p. 16).

Iniciar este capítulo com a citação de Argyris (1979), há quase 30 anos, se faz ainda

importante nestes tempos pós-modernos e mutantes. A premissa básica para a liderança de

pessoas é a percepção sobre o comportamento humano.

Para Argyris (1979), o líder quer saber porque as pessoas se conduzem de determinada

maneira na organização. Uma vez que isso é compreendido, torna-se fácil predizer e controlar

a conduta humana. Previsão e conduta humana são conseqüências do conhecimento. Quanto

melhores forem as formas de diagnosticar, melhor será o controle e para dominar o

conhecimento, é preciso ter conhecimento próprio.

Para esse autor, o líder deve ter as seguintes características:

o Gostar de gente;

o Habilidade para prever e controlar a conduta humana;

o Conhecer-se a si próprio para conhecer o outro.

Com esta introdução, cito que o objetivo deste capítulo é trazer as questões históricas

acerca do movimento humanista, as condições que motivam o ser humano, os princípios de

liderança resumidamente e correlacionar essas características ao perfil do profissional de

Relações Públicas.

4.1 As escolas da Administração e as contribuições humanísticas

Paralelamente ao surgimento das organizações e as escolas Clássicas da

Administração, a partir do modelo construído por Ford e Taylor, as quais se preocupavam

46

com os fatores técnicos relacionados às organizações, surgiram também os primeiros

pesquisadores e filósofos humanistas, dentro da Escola Clássica. Sempre foi de conhecimento

geral, a importância dos aspectos humanos na organização, porém devido à falta de

preocupação dos administradores da Escola Clássica com esses aspectos, foi que houve a

motivação de uma linha de pensamento humanista que considerava a condição das pessoas no

ambiente de trabalho.

Muitos autores deram suas contribuições para o campo através de estudos e pesquisas.

Em 1908, Henry Grant já dizia que os trabalhadores são seres humanos e não máquinas. O

casal Gilbreth também identificou e antecipou muito desses conceitos que serviram de base

para outros pesquisadores. Oliver Sheldon, em 1923, avaliou em seu livro The philosophy of

managment,

“que o problema fundamental da indústria era equilibrar o problema da

produção com a humanidade da produção. Sheldon propôs as seguintes

regras para tratar com os empregados:

o Os trabalhadores deveriam ajudar a organizar seu ambiente

de trabalho.

o Eles deveriam dispor de meios para alcançar um padrão

respeitável de vida.

o Eles deveriam dispor de tempo apropriado de lazer para o

autodesenvolvimento.

o Eles deveriam ficar protegidos do desemprego involuntário.

o Eles deveriam participar dos lucros de acordo com sua

contribuição.

o Nas relações entre mão-de-obra e empregados, deveria

predominar o espírito de igualdade”. (SHELDON, 1923, In: MAXIMIANO,

2000, p. 246-247).

Na mesma época, Mary Parker Follet afirmou que a motivação do homem independe

da atividade e do local em que estivesse, ou seja, a autonomia faz com que o empregado sinta-

se mais motivado. Assim, sugeriu para o processo de gestão, que coordenar era melhor do

que intimidar.

47

Charles Barnard, outra importante referência sobre a linha de pensamento humanista,

era engenheiro e executivo de uma indústria. Escreveu o livro As funções do executivo, em

1938, onde afirmou que organizações são sistemas de cooperação.

“A cooperação é alcançada quando há o equilíbrio entre os benefícios que a

organização oferece para o indivíduo (que Barnard chamou de inducements)

e o esforço que o indivíduo dá para a organização (que Barnard chamou de

contributions)”. (MAXIMIANO, 2000, p. 247).

A Psicologia também contribuiu para o entendimento do comportamento humano nas

organizações. Chamada de Psicologia Industrial, teve como um dos mais importantes

pesquisadores, Hugo Munsterberg que no início do século XX, fixou-se nos EUA,

desenvolveu pesquisas e escreveu a obra Psychology of industrial efficiency, primeira obra

significativa neste campo de estudo. Inicialmente, os trabalhos eram direcionados para

Recrutamento e Seleção de pessoas e a partir dos anos 30, devido sua evolução, a

terminologia Psicologia Industrial já não correspondia à amplitude do campo: relações

humanas, processo de supervisão e liderança, comunicação e satisfação no trabalho, sendo

substituída por Psicologia Organizacional.

Foi a partir do experimento de Hawthorne, quando aconteceu a primeira fase do

trabalho, de 1927 a 1933, que Elton Mayo, de Harvard, precedeu a fundação da Escola das

Relações Humanas. Mesmo não sendo seu objetivo principal, foi originado o estudo sobre a

organização informal, pois identificou que o desempenho depende da relação entre

administradores e trabalhadores.

Em 1933, em seu livro The human problems of an industrial civilization, identificou

que o desempenho se dá mais por fatores emocionais e comportamentais e que dentre esses

fatores, o mais poderoso é a participação do trabalhador em grupos sociais.

A partir dos anos 30, a experiência das relações humanas foi estendida às escolas e à

educação informal como: associações de classe e programas de treinamento de forma rápida e

efetiva. Não houve mudança na estrutura construída por Ford e Taylor, o que esse trabalho

promoveu foi a mudança na forma como os administradores se relacionavam com os

empregados, considerando seriamente, o comportamento humano na produção.

48

“A empresa deve ser vista como sistema social, formado primariamente por

pessoas, sentimentos, interesses e motivações. (...) Compreender o sistema

social (ou organização informal) da empresa é um dos dois objetivos

principais do enfoque comportamental na administração moderna”.

(MAXIMIANO, 2000, p. 251).

Compreender que as organizações são sistemas sociais, compostos por pessoas, ao

gestor é importante analisar as diversas ciências do comportamento, pois estão em constante

evolução:

49

TABELA nº5 – Ciências do comportamento28

Um estudo feito por Robbins (1998)29 distribui os campos, relaciona as competências

a cada uma das ciências.

28 MAXIMIANO, Op. Cit. p. 262. 29 ROBBINS, Stephen P.. Organizational Behavior. Englewood Cliffs: Prentice Hall, 1998, p. 1-29. In: MAXIMIANO, 2000, p. 263.

CIÊNCIA DEFINIÇÃO ALGUMAS ÁREAS DE

APLICAÇÃO NA

ADMINISTRAÇÃO

PSICOLOGIA Ciência da mente; ciência que

estuda, mede, explica, procura

entender e, eventualmente, mudar o

comportamento humano

individual.

Aprendizagem, personalidade,

inteligência, características e

diferenças individuais, seleção e

orientação profissional e

vocacional, treinamento e

desenvolvimento, estudos

motivacionais, processo decisório,

qualidade de vida no trabalho

SOCIOLOGIA Ciência da sociedade; ciência que

estuda e, eventualmente, procura

mudar o comportamento dos

grupos.

Teoria das organizações,

burocracia, dinâmica de grupos,

comportamento de grandes grupos,

poder, conflito, relações entre

grupos.

PSICOLOGIA SOCIAL Ciência do comportamento nos

pequenos grupos; ciência que

estuda as relações entre pessoas.

Atitudes, opiniões, comunicação

entre pessoas e grupos, dinâmica

de grupo, liderança e processos de

decisão em pequenos grupos.

ANTROPOLOGIA Ciência que estuda a sociedade e

sua evolução

Cultura organizacional, cultura na

sociedade global, ambiente

organizacional.

CIÊNCIA POLÍTICA Ciência que estuda o

comportamento das pessoas e

sociedades em relação ao poder.

Poder, conflito, alocação de

recursos escassos, processos de

influência e decisão nas

organizações.

50

TABELA nº. 6 – Foco dos campos do conhecimento30

Esse direcionamento estrutura as avaliações e competências que o gestor possa ter

conhecimento para a composição de seu processo avaliativo da gestão da atividade e das

pessoas, consolidando informações primordiais e desempenhando eficazmente seu papel de

líder.

30 MAXIMIANO. Op. Cit. p. 264.

Aprendizagem Personalidade

Liderança Estilo de liderança

Motivação Processo individual de tomar

decisões Seleção de pessoal

Stress e qualidade de vida

Dinâmica de grupo Teoria das organizações

Poder Conflito

Comportamento dos grandes grupos

Dinâmica de grupo Liderança

Processos de decisão em pequenos grupos

Mudanças de atitudes

Cultura organizacional Diferenças de culturas entre

países Ambiente Organizacional

Poder Conflito Política

Relações entre organizações e poderes

PSICOLOGIA

SOCIOLOGIA

PSICOLOGIASOCIAL

ANTROPOLOGIA

CIÊNCIA POLÍTICA

INDIVÍDUO

GRUPO

ORGANIZAÇÃO E SISTEMA

51

4.2 Motivação

Para discorrer sobre o tema Liderança de forma completa é importante entender

também, a origem do sentimento que move as pessoas, as faz movimentar em busca de um

objetivo.

A palavra motivação advém do latim motivus: que faz andar, movimenta. O estudo da

motivação é extremamente importante para entender o comportamento do indivíduo, o que o

mobiliza para atingir um objetivo, suas condicionantes e mecanismos.

Motivação não necessariamente, significa entusiasmo ou disposição elevada e

simplesmente que todo comportamento tem uma causa.

“Um motivo é um fator interno que dá início, dirige e integra o

comportamento de uma pessoa. Este motivo é constituído usualmente de um

impulso (que pode ser provocado por um fator externo, porém é sempre um

fenômeno interno) e uma recompensa que se dá quando o objetivo do

impulso é alcançado”.31 (TOLEDO, 1996, p. 34).

A motivação produz um comportamento para se alcançar um determinado objetivo. As

condições desta motivação podem ser positivas ou negativas, causando evidentemente, um

comportamento similar.

Há duas linhas de estudo sobre a motivação no âmbito profissional. A teoria de

processo que é direcionado a esclarecer como funciona o mecanismo da motivação e a teoria

de conteúdo que explicita quais são os motivos que promovem a ação das pessoas.

o Teorias de processo: expectativa, Behaviorismo e eqüidade.

o Teorias de conteúdo: clássicas, das necessidades, Frustação e dos dois fatores.

Neste capítulo, discorreremos sobre as principais e mais conhecidas teorias.

31 TOLEDO. F. Administração de pessoal: desenvolvimento de recursos humanos. São Paulo: Atlas, 1996.

52

Teoria da Expectativa

Essa teoria procura explicar a forma como as expectativas que as pessoas têm aliado

ao desejo de se atingir um objetivo, promova a motivação. O esforço depende do resultado

que se deseja alcançar.

A proposta desta teoria pode ser segmentada em três aspectos que estão interligados,

pois o desempenho alcançado depende do esforço proporcional, esse esforço é proporcional

ao valor que a recompensa tem e sendo ela, uma recompensa grande, a motivação para o

esforço também o será32.

Os elementos que compõe o estudo das expectativas das pessoas dependem do valor, a

importância da recompensa, podendo haver diferença de uma pessoa para outra; da crença de

que o desempenho permite alcançar a recompensa e da que o esforço produz o desempenho.

Teoria do Behaviorismo

O behaviorismo é conhecido por utilizar animais em laboratório para estudar e

identificar a motivação do comportamento humano. Embora tenha uma imagem polêmica,

trouxe esclarecimentos importantes sobre o condicionamento do comportamento.

o Condicionamento operante: trata do reforço do comportamento devido suas

próprias conseqüências. Quando o organismo tem uma necessidade e um comportamento

supre-a, tendência a repetição deste comportamento para atender essa necessidade. Em um

comparativo com o ambiente da organização, podemos exemplificar com o cumprimento

diário do horário de trabalho ou usar uma roupa casual na sexta-feira.

o Reforço positivo: são estímulos às recompensas, as conseqüências agradáveis

que fazem o comportamento repetir-se.

32 Ver VROOM, Victor. Work and motivation. New York: John Willey, 1964.

53

o Punição: é a conseqüência desagradável após um determinado

comportamento. Um detalhe interessante sobre a punição é de que é acreditado que se trata do

oposto da recompensa, ou seja, o comportamento castigado tende a não se repetir. Existem

algumas conclusões que contrapõem esse pensamento. De acordo com Gibson, Ivancevich e

Donnelly, citado por Maximiano (2000)33, o castigo é um método ruim de motivação, pois:

I – Os resultados do castigo não são tão previsíveis quanto os da recompensa.

II – Os efeitos do castigo não são tão permanentes quanto os da recompensa.

III – Os castigos são freqüentemente acompanhados por atitudes negativas em

relação a quem os aplicou e em relação à atividade que os produziu.

o Programação de estímulos: refere-se à freqüência do reforço que pode ser

intermitente ou contínuo.

o Extinção: acontece quando o comportamento não é reforçado e tende a

desaparecer.

Teoria da Eqüidade

O pressuposto básico que justifica a teoria da equidade ou equilíbrio é que haverá

esforços iguais desde que as recompensas sejam iguais para todos. A premissa desta teoria

acredita que exista uma comparação entre as pessoas e pode causar desarmonia entre as

expectativas de igualdade, causando um maior ou menor esforço das pessoas.

Teoria das Necessidades

A mais importante dos estudos sobre a motivação do comportamento humano define

que as pessoas são movidas por necessidades humanas. Essas necessidades podem ser

efêmeras como a procura de vestimenta quando sente frio, enquanto existem as necessidades

mais longas, como o poder.

Inicialmente, foram definidos dois grupos de necessidades:

33 GIBSON, James L., IVANCEVICH, John M., DONNELLY JR, James H. Organizations. In: MAXIMIANO, Op. Cit. p. 304)

54

o Básicas: atendem à condição humana – alimentação, abrigo e segurança.

o Adquiridas: aquisição pelas experiências, treinamentos, incorporações de

valores da sociedade – interesse por determinada carreira.

Hierarquia de Maslow

Abraham Maslow (1908-1970)34 é o mais conhecido autor da teoria das necessidades

básicas, pois através de pesquisas e estudo, desenvolveu um conceito de que as necessidades

básicas não se resumem às básicas e adquiridas, como colocado anteriormente, mas

correspondem a cinco necessidades, Essas necessidades estão estruturadas em forma de

pirâmide, pois o conceito desta teoria é a de que o ser humano tem as necessidades atendidas

da base para o topo, conforme a figura 7.

TABELA nº 7 – Pirâmide de Maslow

34 Ver MASLOW, A. H. A theory of human motivation. Psychological Review, July 1943 e MASLOW, A. H. Motivation and personality. New York: Harper, 1954.

BÁSICAS Alimentação, abrigo, proteção, repouso, exercício, sexo.

SEGURANÇA Proteção contra ameaças, inclusive de

perder o emprego.

SOCIAIS Amizade, interação e aceitação no grupo.

ESTIMA Auto-estima e por

parte de outros

AUTO-REALIZAÇÃO Usar aptidões e habilidades, auto-

desenvolvimento e realização pessoal.

55

Após Maslow (1908-1970), surgiram novas teses que contrapuseram ou complementaram sua

pirâmide, como Clayton Alderfer, com a teoria ERG (Existente, Relatedness, Growth) que

defende a idéia de que a satisfação das necessidades não é seqüencial e sim, simultânea e

David McClelland35 acrescentando as necessidades de realização, poder, associação ou

filiação.

4.3 Estudos sobre a Liderança

“O que habita à sombra do Altíssimo, na proteção do Deus do céu

descansará.

Dirá ao Senhor: Tu és meu defensor e o meu refúgio; o meu Deus, em que

esperarei.

Porque me livrou do laço dos caçadores, e da palavra áspera.

Com as suas espáduas te fará sombra, e debaixo das suas asas estarás cheio

de esperança.

Como um escudo te cercará a sua verdade, não temerás sustos noturnos, nem

a seta que voa de dia, nem o inimigo que anda nas trevas, nem os assaltos do

demônio do meio-dia.

Cairão mil ao teu lado, e dez mil à tua direita; mas não se aproximará de ti.

E tu, com teus olhos contemplarás, e verás o castigo dos pecadores.

Porque (dissestes): Tu és, Senhor, a minha esperança”. (Bíblia Sagrada,.

Salmo 90, p.655 ).

Um dos maiores exemplos de liderança da Humanidade é o conceito de Deus. O texto

dos Salmos mostra as diversas expectativas do liderado em relação ao seu líder: refúgio,

fortaleza, proteção, atendimento às suas necessidades.

E para que haja a legitimação desta liderança, a expectativa deve ser correspondida, ou

seja, o líder guiará seus seguidores por conta da imagem que os mesmos tem e que é

consolidada através das próprias ações e ou características pessoais deste líder: qualidades,

carisma, mensagem que transmite ou habilidades.

35 Ver McCLELLAND, David C. The achieving society. New York: Van Nostrand, 1961.

56

Fazendo uma analogia com o mundo organizacional, identificamos que a comunicação

e seu conjunto de linguagens, signos e símbolos e o conhecimento aprofundado sobre o

comportamento humano, o transformarão em um líder eficaz e com a equipe com os melhores

resultados.

Existem várias definições de Liderança:

“É o processo de conduzir as ações ou influenciar o comportamento e a

mentalidade de outras pessoas. Proximidade física ou temporal não é

importante nesta definição. Um cientista pode ser influenciado por um

colega de profissão que nunca viu ou mesmo que viveu em outra época. Da

mesma forma, líderes religiosos são capazes de influenciar adeptos que estão

muito longe e que têm pouquíssima chance de vê-los pessoalmente”.

(MAXIMIANO, 2000, p. 326).

Para Prentice (1961)36:

“É a realização de metas por meio da direção de colaboradores. A pessoa

que comanda com sucesso seus colaboradores para alcançar finalidades

específicas é líder. Um grande líder tem essa capacidade dia após dia, ano

após ano, numa grande variedade de situações”. (PRENTICE, 1961. In:

MAXIMIANO, 2000, p; 326).

A liderança somente é conseguida quando os seguidores o fizerem espontaneamente,

através de seu consentimento. Para que haja o consentimento, é preciso haver, entre o líder e

os liderados, interesses a serem alcançados por ambos os lados: os seguidores esperam que

alguma necessidade seja resolvida pelo líder e, por sua vez, o líder conta com o

comprometimento dos mesmos para que um determinado objetivo seja alcançado.

Quanto mais pessoas consentirem em seguir o líder, maior o seu poder de alcance, a

sua área de influência. Em outro aspecto, um líder pode ser seguido por um determinado

grupo de pessoas e ser detestado por outro; e temos o líder circunstancial, que deixa de

36 PRENTICE, W. H. C.. Understanding leadership. Harvard Business Review (16.511), Set./Out. 1961.

57

exercer influência e ser seguido após o esgotamento das situações que justificavam a

permanência do mesmo.

Obediência e consentimento têm motivadores diferentes. A obediência é conferida

pela obtenção da autoridade formal, pois se trata de uma questão legal e o liderado deve

seguir as orientações do gestor. O consentimento é a permissão, a anuência pessoal do

liderado que segue, espontaneamente, as orientações do líder.

Para Douglas McGregor (1960)37, a liderança não é resultado somente das habilidades

pessoais do líder, mas um conjunto de características passíveis de serem adquiridas:

1. Características do líder;

2. Atitudes, necessidades e características pessoais dos liderados;

3. Características da organização e da atividade;

4. Características dos aspectos sociais, políticos econômicos.

O líder pode ser alguém que assumiu a responsabilidade de um grupo, e envolve dois

aspectos importantes: habilidade e motivação. Também há outro aspecto essencial para a

composição do cenário da liderança que é a relação do líder com seus liderados.

No contexto organizacional, as características da tarefa causam influência no tipo de

liderança e se relacionam interdependentemente. Etzioni (1974)38 distribui essas tarefas como

missões:

o Moral: o envolvimento dos seguidores realiza-se pela força da idéia ou

proposta, sendo o atingimento do objetivo desta idéia, a recompensa para o

liderado;

o Calculista: esse envolvimento acontece pela recompensa material ou

psicológica apresentada pelo líder;

37 MCGREGOR, Douglas. The human side of entrerprise. New York: McGraw Hill, 1960. 38 ETZIONI, Amitai. Análise comparativa das organizações complexas. Rio de Janeiro: Zahar, 1974.

58

o Alienatória: os liderados cumprem as tarefas seja pela preocupação com a

represália ou por responsabilidade, independentemente de concordarem ou não

com a legitimidade da idéia apresentada.

Como já mencionado, a compreensão da liderança é dependente de uma variedade de

fatores, incluindo as características pessoais do líder. Mintzberg (1973)39 é um dos autores

mais conhecidos dessa linha de estudo, defendendo que esse complexo de tarefas e

habilidades pode ser desenvolvido, havendo motivação. Dessa forma, a liderança é uma

competência passível de ser adquirida através de treinamentos e atividades. Podemos

distribuir essas características em:

o Comunicação: essa habilidade é uma demonstração de que é possível atuar

como líder através da educação e treinamentos:

“A comunicação é o alicerce da liderança, uma vez que o requisito básico

para um líder é a capacidade de transmitir sua mensagem de modo a

persuadir, inspirar ou motivar seus seguidores. Isso não significa apenas

habilidade com as palavras e o modo de dizê-las, mas a capacidade de

transformar idéias em mensagens convincentes”. (MAXIMIANO, Op. Cit. p.

339).

o Competência técnica: trata-se de uma característica pessoal do líder, o

liderado acredita que o mesmo tenha mais conhecimento ou competência.

Por fim, acredito ser importante esclarecer que existem estilos de liderança diferentes:

no que diz respeito à concentração do poder: autocracia, democracia e liberalismo e seus

excessos como a tirania e a demagogia40 e no que diz respeito ao tipo de recompensa que o

líder oferece: carismático ou transacional.

39 MINTZBERG. Henry. The nature of managerial work. In: MAXIMIANO, Antônio Cesar A. Teoria Geral da Administração: da escola científica à competitividade na economia globalizada. São Paulo: Atlas, 2000. 40 Ver PLUTARCO. Vidas paralelas. São Paulo: Paumape, 1991.

59

Concentração do poder – comportamento do líder em relação ao liderado.

o Autocracia: maior concentração do poder nas mãos do líder;

o Democracia: maior influência do grupo nas decisões;

o Liberalismo: transferência da autoridade aos liderados, feita pelo líder, dando-

lhes poder para a tomada de decisão;

o Tirania: abuso da autoridade e o excesso de poder;

o Demagogia: excesso de democracia, com um claro objetivo de conseguir a

popularidade entre os governados.

Estilo motivacional – comportamento do liderado em relação ao líder.

o Carismático: é um líder transformador e agente de mudanças que focaliza os

interesses dos seguidores na missão.

o Transacional: oferece recompensas materiais, focalizando as necessidades

primárias dos liderados.

Analisando os aspectos que envolvem a temática Liderança e considerando seu grau

de influência no comportamento humano, entendo como sendo similares às característica que

um profissional de Relações Públicas possui, principalmente pela habilidade e conhecimento

sobre comunicação que mostra-se imprescindível para que uma equipe tenha seus resultados

atingidos.

“Qualquer que seja o qualificativo, o líder desse tipo é alguém que leva os

seguidores a transcenderem seus próprios interesses e trabalhar

excepcionalmente para a concretização da missão, meta ou causa. Para

alcançar esse grau de comprometimento e realização, os líderes carismáticos

devem dar especial atenção para as necessidades de desenvolvimento de seus

seguidores. No final das contas, os líderes carismáticos afetam

60

profundamente seus seguidores porque os encorajam e inspiram, para que

eles vejam os problemas de maneira diferente, dêem o máximo de si e

apresentem novas idéias”. 41 (MASSIE, 1992).

41 Ver MASSIE, Joseph L., DOUGLAS, John. Managing: a contemporary introduction. New York: Prentice Hall, 1992.

61

CAPÍTULO V – FUSÕES E AQUISIÇÕES DE EMPRESAS NO BRASIL

Neste capítulo, resumidamente, será relembrado o cenário histórico que propagou a

avalanche de fusões e alianças estratégicas no mundo e no Brasil e inclui o esclarecimento de

alguns conceitos acerca do tema.

5.1 Evolução das fusões e aquisições no mundo e no Brasil

“Assim é que o surgimento da análise cultural pode ser vista como apoiando-

se um pouco na tradição dos cross cultural analysis de organizações que

remontavam aos anos 60. Tal abordagem foi desencadeada especialmente

pelo processo de multinacionalização das empresas, e o fato de terem de

atuar em culturas diferentes”. [grifo nosso]. (BERTERO, 1996, p. 35. In:

FLEURY: 1996).´

Existe uma razoável quantidade de expressões para designar uma aliança estratégica

entre empresas. As terminologias são conhecidas, porém, não seu significado. Na literatura

sobre o assunto, temos Betânia Tanure de Barros (2003), que fez um estudo detalhado sobre a

evolução do processo das fusões e aquisições e incluiu mais alguns tipos de aliança, conforme

abaixo:

o “Licenciamento: representa a venda de um serviço com algum tipo de

relacionamento entre as empresas, implicando um baixo grau de investimento,

de controle e de integração entre elas.

o Parceria ou aliança estratégica: envolve um esforço cooperativo de duas ou

mais empresas para alcançar um objetivo estratégico comum. As empresas

empenham recursos comuns para desenvolverem uma nova atividade. A

aliança refere-se à relação estabelecida entre concorrentes; e a parceria, entre

determinada empresa e fornecedores ou clientes, na lógica da cadeia de valor.

62

o Joint venture: acontece quando duas ou mais empresas se reúnem para criar

uma nova, formalmente separada das demais, com governança, força de

trabalho, procedimentos e cultura própria. Literalmente, significa “união de

risco”.

o Fusão: união de duas ou mais empresas que deixam de existir legalmente para

formar uma terceira, com nova identidade, teoricamente sem predominância de

nenhuma das empresas anteriores. Normalmente, ocorre o controle

administrativo da maior ou mais próspera.

o Aquisição: compra do controle acionário de uma empresa por outra,

determinando o desaparecimento legal da empresa comprada. Localiza-se no

extremo do continum, implicando alto grau de investimento e de controle, além

de um processo de integração mais complexo”. (BARROS, 2003, p. 5-6).

É importante relembrar o processo da recente história mundial: ao final do século XX,

mais concentrado nos anos 90, ocorreu a explosão da comunicação, ultrapassando as

fronteiras da comunicação e o avanço tecnológico, provocou mudanças muito profundas e

permanentes para a sociedade.

“A explosão da comunicação derrubou tudo: fronteiras, conhecimento,

valores, ideologias, mitos, comportamentos”. (NEVES, 1998, p. 167).

Neste processo, as organizações em crise, com disputas internas pelo poder, em sua

maioria, não sobreviveram, pois o mercado ficava cada vez mais competitivo, buscando

inovações imediatas, as alianças estratégicas começaram a surgir como forma de

sobrevivência, expandindo sua área de atuação, simultaneamente à redução ou mesmo a

extinção de seus concorrentes.

Barros (2003), identifica dois aspectos que podem motivar as organizações a se

aliarem estrategicamente:

a) Aumento do valor da empresa que beneficiaria o acionista;

b) Questões mercadológicas, expansão do território onde está o produto.

63

Para Waldírio Bulgarelli, citado por Aidar (2005)42 são três categorias que motivam o

movimento das alianças estratégicas:

a) Obtenção de recursos próprios: equipamentos, profissionais;

b) Aumentar a dimensão da empresa;

c) Supressão da concorrência.

Embora o movimento das alianças tivesse um claro objetivo de ampliação do território

da empresa e conseqüente, lucratividade, existiram algumas situações em que não foi

alcançada a meta proposta. Aidar (2003) cita novamente Bulgarelli:

a) A junção de duas empresas não necessariamente implicaria em soma das duas

clientelas;

b) Os gastos podem ser aumentados, sem haver a contrapartida de sua

reorganização;

c) A reorganização das duas empresas nem sempre é suficiente para eliminar

todas as questões que envolvem as dificuldades das organizações.

Após o boom das fusões e aquisições que aconteceram entre os anos 1994 e 1999,

sendo seu ápice em 1995, houve uma significativa redução dos processos de alianças entre

empresas, devido à previsão de redução do volume de negócios no mundo feita pelo Banco

Mundial e aumentada pela crise de 11 de setembro de 2001, nos EUA.

Como já mencionado, a SKY participou de um processo de fusão, onde os atores do

cenário acionário foram alterados, ambas as empresas juntaram-se, sendo que prevaleceram os

processos e fluxos da DIRECTV e o conteúdo da programação da SKY. Em relação aos

empregados, houve uma conjunção dos gestores de ambas as empresas, uma avaliação do

desempenho dos profissionais foi feita e foram mantidos os melhores. Não houve

desligamentos em massa. Houve uma proposta de trabalho com as mesmas condições para as

áreas que foram terceirizadas.

42 BULGARELLI, Fusões, incorporações e cisões de sociedade. In: AIDAR, Fabiana Colturato. O papel da comunicação interna na integração cultural em fusões e aquisições de empresas. Monografia Pós Graduação, 2005.

64

CAPÍTULO VI – SKY BRASIL – O DESAFIO DE UMA FUSÃO PARA UMA

EMPRESA DE TELECOMUNICAÇÕES

Neste capítulo, para comprovação da hipótese levantada neste trabalho, trago

informações detalhadas sobre a empresa que é o objeto do estudo de caso, SKY Brasil

Serviços Ltda – do segmento de Telecomunicações. Além do objetivo de justificar ou

comprovar, servirá como base referencial para novos estudos acadêmicos ou de empresas.

A metodologia utilizada foi a observação participante, análise documental das

políticas da empresa, pesquisa de opinião quantitativa e entrevista qualitativa43 com o

responsável pela área de Capital Humano, responsável pela gestão de pessoas da organização.

Este estudo, além de descrever e analisar a fusão das empresas SKY e DIRECTV, contempla

um breve histórico da empresa no mundo e principalmente, no Brasil, a criação de uma nova

cultura e a descoberta do perfil do profissional adequado para esta nova organização.

Para ilustrar a questão da mudança cultural com maior propriedade, traço um breve

relato a seguir, sobre a origem desta nova organização: o histórico das antigas empresas -

SKY e DIRECTV.

6.1 Histórico empresarial – SKY e DIRECTV.

A SKY foi fundada em 1996 e atuava no segmento de TV por assinatura com

transmissão digital, via satélite. Sua fundação ocorrida após o surgimento da DIRECTV no

mesmo ano, aconteceu devido a uma aliança entre as Organizações Globo, a News

Corporation e a Liberty Media International. As Organizações Globo são responsáveis por

diversas empresas do ramo de mídia: jornais, como O Globo, Diário de São Paulo, Valor

Econômico; revistas, como Época, Galileu, Marie Claire; televisão, como Rede Globo,

Sportv. A News Corporation também é uma empresa do segmento de mídia eletrônica, cujo

responsável é o empresário australiano Rupert Murdoch. Algumas empresas subsidiárias à

News Corporation: Fox Entertainment Group; New York Post e The Wall Street Journal.

43 Para verificar os métodos de pesquisa, ver DUARTE, Jorge, BARROS, Antônio (Org.). Métodos e técnicas de pesquisa em comunicação. São Paulo: Atlas, 2005.

65

A DIRECTV americana foi fundada em 1994, nos EUA e atuava no segmento de

televisão via satélite. No Caribe e América Latina, era a DirecTV Latin América que atuava e

seus acionistas iniciais eram a Hughes Eletronics (EUA), o Grupo Abril (Brasil) e o Grupo

Cisneros (Venezuela). Após a fusão das empresas, a principal acionista, a News Corporation

pôs em prática sua estratégia na região. Em alguns países da América Latina em que

predominava a marca DIRECTV, foi extinta a SKY, como na Colômbia e no Chile. No

México e no Brasil, ficou a marca SKY. Nos restante dos países latinos: Argentina, Uruguai,

Venezuela foi mantida a marca DIRECTV, pois não havia a SKY no mercado.

6.2 Histórico Empresarial SKY Brasil Serviços Ltda.

A SKY Brasil Serviços Ltda é uma organização nova resultante da fusão entre duas

empresas do segmento de Telecomunicações: SKY e DIRECTV, que transmitiam uma

programação televisiva diversificada a um público pagante, ou melhor, TV por assinatura via

satélite, há mais de 10 anos no mercado. A fusão destas empresas foi aprovada em

Junho_2006 pelo CADE – Conselho Administrativo de Defesa Econômica, e foi motivada,

principalmente, pelo movimento global de fusões e aquisições em que as empresas unem-se

para mobilizar suas forças, garantindo perenidade no mercado. Seus acionistas são DIRECTV

Group Inc., com 74% de participação e Globo Comunicações e Participações, com 26%44.

Seguem abaixo, alguns dados sobre a empresa no Brasil:

• Aproximadamente 1.600.000 clientes, quase um terço de todos os assinantes de

TV paga no país.

• 986 funcionários (base dez/2007)

• Sites em São Paulo (CENU, Tamboré e Lapa) e Regionais – área Comercial em

todos os Estados

• Opera em todos os estados do Brasil

• Mais de 145 canais

• Vários canais pay-per-view

• 21 canais de filmes

• 9 canais de esportes

44 Disponível em https://intranet.sky.com.br/Intranet. Acessado em 25 de Fevereiro de 2008.

66

• 9 canais de notícias

• 15 canais de música e variedades

• 9 canais culturais

• 31 canais de áudio e 11 de rádio

• 7 canais infantis

• 8 canais abertos

• 4 canais políticos e outros

• 2 canais educativos

• 6 canais adultos

• 6 canais étnicos

• 4 canais cortesia

6.2.1 - Acionistas

DIRECTV Group Inc.45

Um dos maiores grupos de comunicação do mundo e divide-se em dois grandes

segmentos: EUA e América Latina.

- DIRECTV Group EUA:

• 7.500 funcionários

• 16 milhões de assinantes

• 1.500 vídeos digitais e canais de áudio

• 130 canais básicos de entretenimento

• 31 canais de filmes

• 33 canais de esportes

• 1.100 canais locais

• 70 canais espanhóis e outros idiomas

• 50 canais de filmes e eventos pay-per-view

45 Fonte: www.directv.com.

67

- DIRECTV América Latina

• 2.7 milhões de assinantes

• Atua em 27 países, incluindo Brasil, Argentina, Venezuela e Porto Rico

• Abrange 3 grandes regiões: a América do Sul, América Central e Caribe

Globo Comunicações e Participações46

É o maior grupo de mídia e entretenimento do Brasil e também é um dos maiores

provedores de programação da SKY. Atua em produções e distribuição de TV, jornais,

revistas, rádio, Internet.

• Primeiro lugar entre as empresas de mídia e de comunicação e a décima

colocação entre as cem "mais ligadas" do país.

• A TV Globo é assistida por 5.043 municípios brasileiros e 130 países em todos

os continentes.

• 24 horas de programa no ar.

• 8.000 funcionários.

• O principal fornecedor de imagens do Brasil para o exterior.

• Toda a programação da TV Globo está também na internet.

• Cinco horas diárias de telejornalismo ao vivo, em nove telejornais, cinco deles

de rede. Conta com a maior equipe de jornalistas do país.

• Globo News, canal transmitido pela SKY está em primeiro lugar entre os

canais de jornalismo da TV por assinatura e é o canal líder entre os assinantes com mais de 12

anos (fonte Ibope Telereport).

• 115 emissoras formam a Rede em todo o país. 159 milhões de telespectadores

de público estimado, destas, 110 são emissoras afiliadas .

• A estrutura da rede de afiliadas (110 emissoras) conta com uma equipe de mais

de 8.700 funcionários, distribuídos em todas as áreas.47

46 Fonte: http://www.globo.com. 47 Fonte: http://institucionaltvg.globo.com

68

6.3 Telecomunicações: perfil do segmento e conjuntura social

As transformações significativas e a evolução do segmento de Telecomunicações no

Brasil, para o que entendemos hoje como estruturação do setor, iniciou-se entre a década de

60 a 70, com os planos de expansão. Nos anos 80, houve a aproximação das empresas do

segmento de informática às de telecomunicações e nos anos 90 ocorreu a abertura do mercado

nacional ao capital estrangeiro, promovendo uma revolução interna com as

multinacionalização das organizações, principalmente porque a revolução tecnológica e a

integração econômica mundial aconteceram simultaneamente, de forma rápida e desigual.

Neste novo cenário, o diferencial competitivo é a inovação.

Nos países em desenvolvimento, como o Brasil, houve um movimento conjunto de

ações para acelerar sua integração à conjuntura econômica mundial. Foram abertas as

fronteiras comerciais, privatizaram as empresas estatais e desregulamentaram as atividades,

facilitando o acesso às empresas multinacionais.

A globalização econômica, não obstante a polêmica que envolve esse termo48,

promoveu uma acelerada disseminação das novas tecnologias de informação e comunicação

(TICs) que romperam as barreiras territoriais e possibilitaram a interação crescente entre os

públicos envolvidos: organizações, pessoas físicas. As tecnologias e a revolução

informacional conduziram o mercado e a sociedade a entrar em uma nova era: a dos

investimentos nas tecnologias de informação.

A principal característica deste novo ambiente organizacional é a formação de redes de

todo o tipo, estendendo o potencial dos meios técnicos, desenvolvidos pelos setores de

informação e telecomunicação, promovendo a convergência tecnológica.

Em 1962, foi instituído o Código Brasileiro de Telecomunicações e em 1995, houve a

regulamentação do serviço de TV a cabo. Em 1997, devido à quebra do monopólio estatal no

setor com a privatização das mesmas, foi criada a Anatel – Agência Nacional de

Telecomunicações49.

48 Para mais informações sobre as contribuições teóricas do termo, ler LASTRES (1997). 49 Anatel. Tv por assinatura. Disponível em http://www.anatel.gov.br/Portal/exibirPortalInternet.do. Acesso em 29 de Fevereiro de 2008.

69

É responsável pela regulamentação, a outorga e o controle legal e de qualidade dos

quatro serviços de TV por assinatura no Brasil: Especial de TV por assinatura (TVA);

Distribuição de Sinais Multiponto Multicanal (MMDS); TV a cabo e Direct-to-Home (DTH)

por satélite. Está vinculada ao Ministério das Comunicações, porém não subordinado, sendo

um regime autárquico50, independente administrativa e financeiramente.

6.4 Tecnologia e público interno: os dois lados da mesma moeda

Por ser inerente à característica do próprio produto, as empresas deste segmento

sempre respirarão inovação, agilidade, flexibilidade em seus departamentos, seja pelas

atitudes dos empregados ou pela comunicação. Assim, esse sentimento é transmitido tanto

pelas ações informais quanto pelas formais da empresa, incluindo sua comunicação interna,

através de sua missão, visão e valores:

Missão

Transformar a indústria de comunicação por meio de uma combinação diversificada e

irresistível de conteúdo, tecnologia e serviços – fazendo da SKY a opção favorita para o

cliente.

Visão

Ser a melhor opção em TV por assinatura do mercado.

Valores o Liderança

o Inovação

o Determinação

o Agilidade

o Trabalho em Equipe

o Integridade

Também pode ser observado em outras circunstâncias, o reforço dos objetivos da

empresa sobre o foco em tecnologia e no cliente:

50 Autarquia: governo autônomo; autonomia, corporação administrativa que goza de certa autonomia. FERNANDES, Francisco, LUFT, Celso Pedro, GUIMARÃES, F. M. Dicionário Brasileiro Globo. 42. ed. São Paulo: Globo, 1996.

70

o Prover um conteúdo diferenciado e poderoso

o Liderar o mercado com novas tecnologias

o Oferecer excelência em serviços ao cliente

o Aumentar a base de clientes para mais de 20 milhões de clientes

o Ter uma estratégia de investimento rentável e lucrativa

o Atrair e manter profissionais diferenciados e extraordinários

o Maximizar a eficiência e excelência operacional

É utilizada a tecnologia DTH que significa Direct to Home e corresponde ao serviço

de Distribuição de Sinais de Televisão e de Áudio por Assinatura via Satélite 51 que leva aos

assinantes imagem e som com qualidade 100% digital e é a única com capacidade de

transmissão para todo o território nacional.

A SKY Brasil Serviços Ltda apresenta como seus diferenciais de mercado, os aspectos

tecnológicos, de conteúdo e comunicação, relacionamento com o cliente, conforme abaixo:

• A programação mais completa

• Qualidade de imagem e som

• Controle de segurança

• Informações na tela

• Maneira interativa de ver TV

• Controle total da programação (SKY+)

• Programas de relacionamento com promoções exclusivas

• Simples e fácil: da escolha do pacote a como operar o equipamento

• Especialista em TV: entrega a melhor experiência em ver TV.

• Respeito ao cliente: agilidade no atendimento, Serviço Premium e diversas opções de formas

de pagamento.

E, em se tratando do ambiente organizacional de uma empresa de Telecomunicações

que possue tradição de competência técnica e gestão, são consideradas empresas

informacionais, buscando e atraindo intrinsecamente à essa característica, profissionais de alto

nível e conseqüentemente, alto padrão de exigência na sua relação com a empresa e a

qualidade de seu trabalho. Por seu grau de importância para uma organização, principalmente

devido às suas características técnicas e seu alto nível de capacitação, a equipe é um dos

fatores preponderantes para o sucesso da organização. E sendo a SKY, uma empresa do setor 51 Anatel. Tv por assinatura. Disponível em http://www.anatel.gov.br/Portal/exibirPortalInternet.do. Acesso em 29 de Fevereiro de 2008.

71

de telecomunicações, diretamente ligada à tecnologia, promovendo novas possibilidades de

mercado, de potencialização da tecnologia desenvolvida, é possível afirmar que são dois lados

da moeda: tecnologia e público interno.

6.5 Convergências e diferenças culturais da nova organização

Para avaliar os impactos na cultura e de que forma as Relações Públicas estão

envolvidas neste processo, a instância de sua atuação, foi feita uma entrevista com a Gerente

de Capital Humano (ANEXO 1), área que está responsável pela comunicação interna da SKY.

Foi identificado que não há atuação de um profissional de Relações Públicas,

assessorando as ações dirigidas ao público interno e que o perfil do gestor, desejado pela

empresa é o que tem foco nos resultados e no negócio e no desenvolvimento de suas equipes.

A empresa está satisfeita com o quadro de gestores, pois acredita que atendam aos requisitos

informados.

A estrutura organizacional é a forma como são estruturados e agrupados os recursos

humanos, físicos e financeiros da empresa e a departamentalização é feita por agrupamento de

produção e clientes e atualmente está dividida em:

1 Presidente

4 Vice-Presidentes

5 Diretores

37 Gerentes do 1º nível

Esse tipo de organograma é necessário quando a estrutura da organização é grande e

exige controle das ações, porém tem como aspectos negativos, o distanciamento das

principais lideranças da base da corporação, causando um sentimento de distanciamento e

conseqüente falta de alinhamento das ações.

PRESIDÊNCIA

o Luiz Eduardo Baptista da Rocha o Profissão: Engenheiro Civil, formado pela URFJ e MBA em Administração de

Empresas pela COPPEAD RJ.

72

VICE-PRESIDÊNCIAS

o Operações e Comercial – Delfim Freitas.

o Marketing e Programação – Agrício Neto

o Engenharia e Supply Chain – Luiz Fernando Barcellos

o Finanças e TI – Fabio Zamith

DIRETORIAS

o Relacionamento – Eduardo Henrique Moreira Belham

o Atendimento – Vito Chiarella Neto

o Capital Humano – Roseli Parrella

o Jurídica/Auditoria e RI – Adir de Souza Mattos

o Planejamento – Roger Haick de Andrade

GERÊNCIAS

o Força Remota

o Campo

o Operações de Campo

o Planejamento Comercial

o Rede Autorizada

o Aquisição e Novos Negócios

o Produtos

o WEB e Interatividade

o Programação e Operações Financeiras

o Programação

o Trade Marketing

o Engenharia de Campo

o Planejamento e Logística

o Compras Produtivas

o Pesquisa e Desenvolvimento de Produto

o Produção e exibição

o Engenharia Técnica

73

o Controle e Planejamento Tributário

o Controladoria

o Planejamento Financeiro

o Tesouraria/Faturamento/Contas a Receber

o TI

o SAS

o Fidelização

o Intelli-Customer

o Call Center

o Comunicação e Monitoração

o Retenção

o Negociação

o Tráfego e KPI

o Operações de Capital Humano

o Remuneração e Benefícios

o Treinamento Técnico

o Comunicação

o Auditoria

o Jurídico

o Relações Institucionais

É importante citar que 62% dos líderes da SKY são oriundos da antiga DIRECTV,

incluindo o presidente. Desta forma, é correto dizer que a cultura da nova organização sofreu

grande influência da forma de conduzir o negócio da DIRECTV. Outro dado importante sobre

o perfil da liderança é de que a maior parte não tem formação nas áreas das ciências da

Comunicação ou de Relações Públicas. São executivos com formação e habilidades técnicas e

retornarei a mencionar este assunto em CONCLUSÕES.

Assim, destacarei adiante, os pontos relevantes de uma pesquisa quantitativa feita para

identificar como está o clima da organização para a equipe da Diretoria de Atendimento.

Porém, para que haja a melhor compreensão do contexto que envolve os empregados desta

área, é importante comentar brevemente, a história desta Diretoria dentro da organização.

74

Há seis anos, aproximadamente, foi identificada a necessidade da criação de uma

Diretoria de Atendimento em uma das organizações que originaram esta nova empresa: a

DIRECTV. Na SKY, a área de Atendimento estava vinculada à Diretoria de Relacionamento,

que englobava o relacionamento com o cliente via ações de Marketing. O objetivo desta

alteração era conferir maior autonomia a essa área que se tornara estratégica no mercado, pois

refletia a imagem da organização para um dos públicos mais importantes da empresa: o

cliente. Essa cultura de excelência no atendimento ao cliente iniciou-se com as mudanças no

cenário econômico e de tecnologia no início dos anos 80, com a implementação do Código de

Defesa do Consumidor e o acesso às informações, através do que foi conhecido como a

terceira revolução tecnológica52.

Houve um investimento maciço na capacitação dos profissionais da área, melhorias na

estrutura física e mudanças nos benefícios e remuneração, abertura para a participação de

processos seletivos internos. Desta forma, o nível de qualidade dos profissionais desta área e

de forma geral, foi elevado à medida que os investimentos foram sendo direcionados, além da

busca por profissionais do mercado que tivessem o perfil que a empresa estava exigindo. O

grau de exigência também foi elevado, não somente pelas características técnicas dos

funcionários, que são as influências internas, bem como pelas mudanças sociais e culturais a

que essas pessoas estavam sujeitas, ou seja, as influências externas.

Essa situação não é privilégio da SKY, mas também da maioria das organizações da

era da informação que oferecem serviços de tecnologia em que a inovação consiste em

diferencial competitivo.

Hoje, a área de Atendimento é miscigenada, contendo grupos advindos das antigas

organizações SKY e DIRECTV, sendo a maior parte, profissionais do mercado.

A pesquisa selecionada foi elaborada por Antônio César Maximiano e Roberto Sbragia

(MAXIMIANO, 2000, p. 261) e tem como objetivo único e simples: identificar a quantidade

de funcionários satisfeitos ou insatisfeitos apresentando questões de ordem prática, voltadas

aos processos, atitudes da chefia e a comunicação.

52 Para saber mais sobre Terceira Revolução Tecnológica, ver

75

“O produto dos sentimentos individuais e grupais em relação à realidade

percebida chama-se clima organizacional. O clima é formado pelos

sentimentos que as pessoas partilham a respeito da organização e que afetam

de maneira positiva ou negativa sua satisfação e motivação para o trabalho.”

(MAXIMIANO, 2000, p. 260).

A amostragem para a pesquisa foi de 6% do total de funcionários da área de

Atendimento, composto por 21% de funcionários que vieram da SKY, 21% da DIRECTV e

58 %, oriundos do mercado.

76

TABELA nº 8 – Empresas de origem

Empresas Origem

21%

21%58%

SKY DIRECTV MERCADO

Desta amostragem, 79% são funcionários operacionais e 22% corresponde à gestão da

área:

77

TABELA nº 9 - Cargos

79%

11% 11%

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

nível operacional

Cargos

nível operacional gestão nível intermediário gestão

No grupo de funcionários advindos da SKY, foi identificado que 25% dos

entrevistados ocupam um cargo de liderança, sendo no grupo da DIRECTV, 50%. No grupo

Mercado, 9% é o que corresponde à gestão.

No índice do Nível de Satisfação da empresa, registrou-se 74% de satisfação, sendo

distribuídos: 57% do grupo Mercado, 29% da DIRECTV e 14% corresponde à ex-equipe

SKY.

78

TABELA nº 10 – Índice de Satisfação SKY

Índice de Satisfação

74%

26%

Satisfeitos Insatisfeitos

TABELA nº 11 – Satisfação por empresa de origem

Satisfeitos

14%

29%57%

SKY DTV MERCADO

Sobre o percentual do nível de Insatisfação, 26%, há uma inversão na posição da SKY

e DIRECTV: 0% da DIRECTV, 40% da SKY e, por fim, 60% da equipe do Mercado.

79

TABELA nº 12 – Insatisfação por empresa de origem

Insatisfeitos

40%

0%

60%

SKY DTV MERCADO

Analisando o nível de satisfação intragrupos, constatou-se que 50% dos entrevistados

do grupo da SKY estão insatisfeitos com a empresa, sendo 27% do Mercado e 0% do grupo

DIRECTV.

Após esse levantamento, comprova-se que, sendo o modelo de gestão vigente oriundo

da DIRECTV, conforme já mencionado e salvo as mudanças que estão acontecendo pós-fusão

há 1 ano aproximadamente, os empregados que vieram da DIRECTV não sentiram diferença

e estão assimilando bem a situação, sendo que os originários da SKY perceberam a diferença

e 50% não está adaptado à nova organização. Outra observação que se faz importante é que o

grupo SKY tem um percentual menor de gestores em relação ao grupo DIRECTV, o que

reforça a constatação de que houve uma desvinculação da cultura organizacional em um

primeiro momento, devido à fusão e, em segundo, devido às características dos líderes

mantidos serem diferentes ao que esse grupo estava familiarizado, causando um choque

cultural e provocando esse sentimento de insatisfação.

80

CONCLUSÕES

A força que moveu o ambiente e a sociedade a impulsionar a criação das Relações

Públicas foi a busca incessante pela perfeição, seja sobre o aspecto humano ou pelo aspecto

técnico. O ser humano tem a necessidade de questionar seu comportamento, as ações externas

e internas que mobilizam e constroem.

Posso supor que a atividade de Relações Públicas é inerente ao ser humano e deve

existir desde que o homem, vivendo em sociedade, descobriu as linguagens e precisou se

comunicar. A convivência em grupo e os sinais das linguagens, que são interpretativos sob a

ótica de quem os analisa, pode gerar conflitos uma vez que cada pessoa tem uma

complexidade de aspectos culturais e sociais que influenciam sua experiência de vida e

conseqüentemente, sua percepção analítica.

Desta forma, sempre deve ter havido espaço para a atuação da pessoa que reúne as

habilidades de Relações Públicas.

Essa atividade teve uma prospecção grandiosa a partir início do século passado, pois

os exemplos iniciais com a atuação de Ivy Lee e, para citar o cenário nacional, com Getúlio

Vargas tiveram um sucesso absoluto, codificando as ações em imagem e promovendo

mudança interior.

Segundo Roberto de Castro Neves (1998), as Relações Públicas é a profissão do futuro

porque ela “é um produto do avanço e do aperfeiçoamento da democracia”.53

Philip Lesly (2002), um dos principais expoentes do tema, afirma que “Relações

Públicas é um fenômeno e uma necessidade dos nossos tempos”.54

A ampliação das formas de comunicação nos leva a refletir e buscar o conhecimento

das melhores técnicas para aprimorar relacionamentos, promover a sinergia para que haja a

53 NEVES, Roberto de Castro. Imagem Empresarial: como as organizações e as pessoas podem proteger e tirar partido do seu maior patrimônio. Rio de Janeiro: Mauad, 1998. 54 LESLY, Op. cit. p.2.

81

durabilidade desta relação. Transferindo a análise para o contexto organizacional, composto

de indivíduos que exercem diversos papéis na sociedade e também são parte desta sociedade

informacional, a empresa não poderia deixar de aproveitar a oportunidade de influenciar e se

deixar influenciar pela comunicação. O estudo da comunicação nos remete à cultura que a

influencia e vice-versa, segundo Edward Hall (1973), “cultura é comunicação e comunicação

é cultura”.55

A cultura é a expressão de sentimentos que faz com que as pessoas se sintam

ambientadas, seguras. Na organização, não é diferente: para a empresa, a definição de papéis,

responsabilidades e os direcionamentos compreendem a cultura formal; para os empregados,

as ações, o clima, a atividade, o espaço físico compreendem a cultura informal e ambas

compõem a cultura da organização. Segundo Fernando C. Prestes Motta (2006), existem

diversas definições de cultura, incluindo “a adaptação em si, é a forma pela qual uma

comunidade define seu perfil em função da necessidade de adaptação ao meio leva à

evolução nessa direção”.56

No contexto da organização, os líderes excepcionais têm, entre suas habilidades, os

conhecimentos da comunicação e da ciência do comportamento humano. É evidente que

existe uma diferença entre liderança e autoridade formal e se uma empresa deseja ter como

diferencial competitivo, seus empregados, deve identificar os elementos que motivam as

pessoas e novamente, aproveitar a oportunidade de interagir e direcioná-los ao sucesso

diretamente com as orientações sobre como desempenhar melhor sua atividade e

indiretamente, causando um efeito psicológico positivo, promovendo seu bem-estar e auto-

estima, fechando um círculo virtuoso de recompensas para ambos os lados: empresa e

empregados.

O líder que atuar em organizações resultantes de processos de fusão e aquisição, tem

mais um grande desafio em suas mãos: administrar o clima interno devido à avalanche de

transformações e informações que circularão e dependendo da eficácia da comunicação desta

organização, colaborar para controlar ou amenizar o fluxo de informações informais,

normalmente muito ágeis e com efeitos negativos intensos.

55 HALL, Edward T. The silent language. Anchor Books Edition, New York: Doubleday, 1973. 56 MOTTA, Op. cit. p. 16.

82

A SKY é uma empresa que passou por um longo processo de fusão e ainda está

passando pela integração de ambas as empresas, da cultura, dos processos, tendo

internamente, ainda um sentimento de insegurança, pois o processo acontece simultaneamente

às condições sociais presentes e mutantes, à velocidade da informação e à evolução das

tecnologias, em que as empresas buscam se superarem e também, umas às outras.

Dada a dimensão desta nova organização que vem reestruturando seu organograma de

acordo com seu proporcional crescimento e potencial de mercado, hoje há um grande número

de níveis hierárquicos entre o Presidente e a operação da empresa, como foi visto no capítulo

VI. Esse organograma proporciona a melhor divisão do trabalho, direcionando esforços

específicos para o atingimento dos resultados, mas há também, o distanciamento do líder

principal de suas bases.

A maior parte dos Diretores e Gerentes não tem formação em ciências da

Comunicação ou Relações Públicas, bem como também não contam com o suporte do

profissional de Relações Públicas, conforme a entrevista comprovou, para a tomada de

decisão das ações estratégicas da empresa principalmente, àquelas que estão diretamente

relacionadas ao público interno, pois a Comunicação Interna da empresa está vinculada à área

de Capital Humano.

Obter a coesão de ações de seus empregados é hoje, um desafio para essa organização

principalmente, no atual cenário nacional, da sociedade informacional, regida pelos avanços

tecnológicos constantes e a pressão externa devido às instabilidades de uma época pós-

moderna, além da busca incessante por inovação, que é um dos maiores diferenciais

competitivos.

Segundo Norbert Alter, citado por WOOD JR. (2004)57, “a empresa ‘informacional’,

tendo em vista suas pressões constantes por inovação e lidando em um ambiente cheio de

incertezas, procura a coesão, mais que a coerência interna”.

São tantas as variáveis que podem comprometer o sucesso da organização que não há

a possibilidade de correr riscos em relação à estabilidade do ambiente interno, que conforme

57 WOOD JR, Thomaz. [cood.] Mudança organizacional. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2004.

83

descrito ao longo deste trabalho, é o alicerce da organização, composto por um de seus

públicos mais importantes: seus empregados. Estes assumem diversos papéis na sociedade,

propagando através de suas atitudes diárias, dentro e fora da empresa, a cultura da

organização seja ela, positiva ou negativa.

Por esse motivo, é imperativo que a empresa aproveite a oportunidade, tendo a visão

de negócio para integrar toda a equipe aos objetivos da empresa. E de que forma isso pode

acontecer em uma empresa desta proporção, com diversos níveis hierárquicos que distanciam

os gestores de sua base, seu alicerce e que pode contribuir para a falta de alinhamento dos

objetivos a serem seguidos?

A resposta é a equipe de líderes com habilidades e conhecimento das práticas de

Relações Públicas. O profissional de Relações Públicas tem um campo abrangente podendo

colocar em ação as suas características generalistas, atuando em qualquer segmento. Na

posição de líder, tem condições de personificar a cultura da empresa e inspiraria seus

liderados a contribuir de forma efetiva, para o sucesso desta relação: empresa e empregado.

“No contexto atual, um dos papéis gerenciais é justamente o de

administrador deste confronto, buscando continuamente a reconstrução de

significados e valores compartilhados pelos membros da organização, com o

fim último de dar direção à empresa e influenciar positivamente sua

performance. É importante notar os limites e o caráter controlado deste

processo inovativo”. (WOOD, Op. cit. p. 93).

E quem melhor para essa função que o profissional de Relações Públicas?

84

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ANEXOS

Anexo 1 – Entrevista com Fernanda Henritzi Abilel - Gerente de Capital Humano em

28/02/2008.

1 – Você participou do processo de integração das empresas SKY e DIRECTV?

Sim.

2 – Defina o papel da área de Capital Humano neste processo.

R.: A área de Capital Humano não só planejou a integração de seus próprios

processos, como também auxiliou na integração dos processos das demais áreas e estruturas

organizacionais.

3 – Durante a integração das áreas, foi criado algum planejamento integrado de

comunicação com os empregados? Quais foram as ações?

R.: A comunicação aos funcionários ocorria conforme as etapas do planejamento eram

cumpridas e a operacionalização das ações ocorria. A prioridade da comunicação sempre foi

interna. Ou seja, antes do mercado saber qualquer passo da integração, nossos funcionários já

haviam sido comunicados.

4 – Os objetivos foram atingidos? Por quê?

R.: Como a aprovação da fusão não foi rápida, tivemos tempo de nos planejarmos com

antecedência e cautela. Isto fez com que nossas ações fossem mais focadas e assertivas.

Comunicar e envolver os funcionários também é uma excelente forma de se ter

sucesso nas ações, assim, entendo que os objetivos foram atingidos.

5 – Houve envolvimento de algum profissional de Relações Públicas neste

planejamento? Por que?

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R.: Para a comunicação interna aos funcionários e parceiros, contamos com o apoio e

parceria das demais áreas de negócio para fornecimento de informações, mas basicamente

utilizamos a equipe de Capital Humano que já tem esta função específica. A comunicação

com o mercado não envolvia a equipe e Capital Humano.

6 – Como a SKY Brasil Serviços Ltda. avalia o perfil de sua equipe de gestores e

qual o modelo ideal?

R.: A SKY entende que todo gestor deve ter foco em resultados, no negócio e no

desenvolvimento da equipe. Entendemos que os gestores que estão conosco após todo este

processo de fusão e de construção de uma nova empresa estão alinhado a estes conceitos.

7 – Como a área de Capital Humano avalia a necessidade de assessoramento de

suas ações por um profissional de Relações Públicas?

R.: Entendemos que os profissionais de Capital Humano responsáveis pela

comunicação interna devem ter uma relação muito próxima com as demais áreas de negócio,

comunicando aos funcionários tudo o que for relevante antes que estas informações cheguem

ao mercado. Toda ajuda que um profissional de Relações Públicas pudesse oferecer neste

sentido seria muito bem vinda.

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Anexo 2 – Pesquisa qualitativa sobre o clima organizacional na área de Atendimento da SKY pós-fusão.

PESQUISA QUANTITATIVA SOBRE CLIMA ORGANIZACIONAL – 01_Março_2008 ÁREA: TEMPO DE EMPRESA: EMPRESA DE ORIGEM: ( ) SKY ( ) DIRECTV ( ) MERCADO CARGO:

INDICADOR SATISFAÇÃO INSATISFAÇÃO 1. Clareza na definição de objetivos

2. Clareza na definição das atribuições

3. Igualdade na distribuição da carga de trabalho

4. Colaboração entre as unidades da empresa: CENU, Tamboré e Lapa

5. Prestação de serviços aos clientes internos: funcionários

6. Distribuição do espaço físico e outros recursos

7. Ritmo de trabalho 8. Conduta dos chefes quanto à aceitação de opiniões, idéias e sugestões dos funcionários

9. Conduta dos chefes quanto à transmissão de informações para a equipe

10. Administração de reuniões (quantidade e duração)

11. Estruturação do processo decisório

12. Processo de análise e avaliação de resultados

13. Disponibilidade de informações para controle

14. Utilização das informações de controle para melhorar o desempenho

15. Qualidade das relações humanas

16. Colaboração da equipe em relação ao chefe

17. Sentido de pertencer à empresa

18. Interesses dos colegas pelo desempenho da empresa

19. Conhecimento dos

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produtos e serviços da empresa 20. Compatibilidade entre meu cargo e meus interesses e aptidões

21. Oportunidades para aprender

22. Imagem externa da empresa

23. Planos de carreira 24. Treinamento e desenvolvimento

25. Pontualidade no pagamento do salário

26. Competitividade dos salários e benefícios

27. Premiação do desempenho