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Universidade de São Paulo Escola de Enfermagem
PREVENÇÃO DO EXCESSO DE PESO INFANTIL NA ATENÇÃO BÁSICA:
CONSTRUÇÃO E VALIDAÇÃO DE UM ÁLBUM SERIADO
Mirna Ferré Fontão Más
São Paulo 2015
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Mirna Ferré Fontão Más
PREVENÇÃO DO EXCESSO DE PESO INFANTIL NA ATENÇÃO BÁSICA:
CONSTRUÇÃO E VALIDAÇÃO DE UM ÁLBUM SERIADO
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação Mestrado Profissional Atenção Primária em Saúde no SUS da Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo para obtenção do título de Mestre em Ciências.
Orientadora: Prof.ª Dr.ª Elizabeth Fujimori Versão corrigida. A versão original eletrônica
encontra‐se disponível tanto na Biblioteca da EEUSP quanto na Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP (BDTD)
São Paulo 2015
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AUTORIZO A REPRODUÇÃO E DIVULGAÇÃO TOTAL OU PARCIAL DESTE
TRABALHO, POR QUALQUER MEIO CONVENCIONAL OU ELETRÔNICO, PARA FINS
DE ESTUDO E PESQUISA, DESDE QUE CITADA A FONTE.
Assinatura: _________________________________
Data:___/____/___
Catalogação na Publicação (CIP)
Biblioteca “Wanda de Aguiar Horta”
Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo
Más, Mirna Ferré Fontão
Prevenção do excesso de peso infantil na atenção básica:
construção e validação de um álbum seriado / Mirna Ferré
Fontão Más. São Paulo, 2015.
79 p.
Dissertação (Mestrado) – Escola de Enfermagem da
Universidade de São Paulo.
Orientadora: Prof.ª Dr.ª Elizabeth Fujimori
Área de concentração: Cuidado em Atenção Primária em
Saúde
1. Saúde da criança. 2. Sobrepeso. 3. Obesidade.
4. Nutrição da criança. 5. Educação em saúde. 6. Promoção da
saúde. 7. Enfermagem. I. Título.
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Nome: Mirna Ferré Fontão Más
Título: Prevenção do excesso de peso infantil na atenção básica: construção e validação de um álbum seriado Dissertação apresentada à Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo para obtenção de título de Mestre em Ciências Aprovado em: __/__/____
Banca examinadora Profª Drª______________________________ Instituição__________________ Julgamento___________________________Assinatura__________________ Profª Drª______________________________ Instituição__________________ Julgamento___________________________Assinatura__________________ Profª Drª______________________________ Instituição__________________ Julgamento___________________________Assinatura__________________
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DEDICATÓRIA
Aos meus pais, Aurora e Hermínio, que sempre acreditaram que o estudo é o
maior legado que poderiam deixar para os filhos. Ao meu esposo e companheiro de todas as horas, Élio, por compreender os
momentos de ausência para que este estudo pudesse ser realizado. Às minhas filhas do coração, Heyd e Hellen, pelo cuidado e carinho demonstrado
em cada gesto. Às crianças da minha vida Laura, Isac e Nathan: esperança de um mundo melhor.
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AGRADECIMENTOS A Deus, por me amar incondicionalmente.
À minha família, por torcer, orar por mim e compreender minha ausência.
À Claudia Nery Teixeira Palombo (Claudia, que virou Claudinha, que virou Clau)
pela colaboração e pela força incessante nos momentos mais críticos.
Às colegas do NEPESC, Luciane Simões Duarte e Patrícia Pereira, que me
acompanharam nas etapas iniciais do estudo.
À Márcia Garcia e aos funcionários da Secretaria da Pós-Graduação pela
eficiência e gentileza dispensadas em todas as horas.
Às professoras do Mestrado Profissional pela oportunidade de aprimorar meus
conhecimentos.
À enfermeira Virgínia e à técnica de enfermagem Viviane Barros da UBS
Sorocaba I pela contribuição inestimável com a formatação da dissertação.
À Luciana Pereira Rodrigues, coordenadora da UBS Sorocaba I, pela disposição
em buscar novas possibilidades para que o mestrado não fosse interrompido.
À enfermeira Dulce Mara Gomes da UBS Quilombo, pela rica colaboração nas
oficinas de escuta.
Aos agentes comunitários de saúde da UBS Quilombo, Telma e Rafael, pelo
empenho para que as mães participassem das oficinas.
Às mães da UBS Quilombo - Graziele, Josiane, Luciana, Márcia, Mônica, Paloma,
Rosângela, Tatiana, Tatiane, Telma – sem vocês este estudo não seria possível.
À Diretoria de Saúde de Itupeva por permitirem que este estudo acontecesse.
À bibliotecária Juliana Takahashi pelas orientações valiosas e ao pessoal da
biblioteca pela disponibilidade em ajudar sempre.
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AGRADECIMENTO ESPECIAL À Profª Drª Elizabeth Fujimori, por aceitar o desafio de caminhar comigo durante os anos de orientação. Muito obrigada!!!!
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“Ninguém ignora tudo. Ninguém sabe tudo. Todos nós sabemos alguma coisa. Todos nós ignoramos alguma coisa. Por isso aprendemos sempre.”
(Paulo Freire, 1921 – 1997)
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Más MFF. Prevenção do excesso de peso infantil na atenção básica: construção e validação de um Álbum Seriado. [Dissertação]. São Paulo: Escola de Enfermagem, Universidade de São Paulo; 2015.
RESUMO
Introdução: O excesso de peso destaca-se como importante problema de saúde na atualidade e
sua prevenção desde a primeira infância é essencial para a promoção da saúde da população. O uso de
material didático e instrucional, como o álbum seriado, contribui para a prática do processo educativo em
saúde na rotina dos serviços. Objetivo: Construir e validar um Álbum Seriado sobre prevenção do excesso
de peso infantil na atenção básica. Método: Estudo descritivo que foca o desenvolvimento e a validação de
um instrumento para intervenção educativa. Integra investigação mais ampla desenvolvida no município de
Itupeva, Estado de São Paulo, aprovada por Comitê de Ética em Pesquisa e autorizada pela Diretoria de
Saúde do município. Foi desenvolvida em três etapas: 1) Oficinas de escuta com mães e profissionais de
saúde da atenção básica; 2) Construção do álbum seriado; 3) Validação do álbum seriado. Com base no
referencial teórico da educação crítica, três oficinas com duração de 90 minutos cada, foram realizadas no
período de abril a junho de 2015: duas com 10 mães e uma com 14 profissionais da atenção básica. As
oficinas foram gravadas, transcritas e submetidas à análise de conteúdo. Os temas extraídos das oficinas,
documentos técnicos do Ministério da Saúde e figuras disponíveis no banco de imagens da web foram
utilizados na construção do Álbum Seriado. O Álbum Seriado foi validado por oito juízes, profissionais
vinculados à Diretoria de Saúde e Educação do município, que avaliaram conteúdo e aparência mediante
preenchimento de uma ficha de validação, durante discussão em grupo. Analisou-se a porcentagem de
concordância dos juízes. Resultados: A construção do Álbum Seriado teve como base os temas extraídos
das oficinas realizadas com mães e profissionais de saúde, porém para uma sequência lógica de
apresentação, o material foi organizado de acordo com os temas “reconhecimento do excesso de
peso/obesidade”, “consequências para a saúde da criança” e “estratégias para prevenção e promoção da
saúde infantil”. O Álbum Seriado foi constituído por 27 folhetos com frente (figura) e verso (ficha-roteiro).
Houve 99% de concordância dos juízes quanto ao tema proposto, 96% com relação à clareza/compreensão
dos folhetos, 94% quanto à importância de cada uma das figuras para o álbum seriado e 47% quanto à
necessidade de ajustes ou exclusão de folhetos. Melhorias na resolução e substituição de algumas figuras
foram as principais sugestões para o ajuste do material apresentado para validação. Conclusões: A
construção e validação do álbum seriado, com base na educação crítica, envolve os participantes, facilita o
uso dessa tecnologia pelos profissionais de saúde no processo educativo na atenção básica e favorece a
compreensão e incorporação de passos importantes para a prevenção do excesso de peso infantil,
contribuindo para a promoção da saúde da criança.
Palavras-chave: Saúde da Criança; Sobrepeso; Obesidade Pediátrica; Nutrição da Criança; Prevenção Primária; Enfermagem Primária; Enfermagem em Saúde Pública; Tecnologia Educacional.
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Más MFF. Prevention of child overweight in primary care: construction and
validation of flip chart. [Dissertation]. Sao Paulo: School of Nursing, University of
São Paulo; 2015.
ABSTRACT
Introduction: Weight excess stands out as a major health problem today and its prevention since early
childhood is essential for the population health. The use of instructional teaching materials such as flip chart in
the educational process in health contributes to the effectiveness of this practice in the service routine.
Objective: To develop and validate a flip chart on prevention of childhood weight excess in primary care.
Methods: Descriptive study that focuses on the development and validation of an instrument for educational
intervention. Honest and wide investigation was developed in the city of Itupeva, State of São Paulo,
approved by the Research Ethics Committee and authorized by the city's Health Board. It was developed in
three steps: 1) Listening workshops with mothers and health professionals in primary care; 2) Development of
a flip chart; 3) Flip chart validation. Based on the theoretical framework of critical education, where three
workshops which lasted 90 minutes each were held from April to June 2015: two with 10 mothers, and one
with 14 primary care professionals. The workshops were recorded, transcribed and subjected to content
analysis. To develop the flip chart, themes were drawn from workshops, technical documents were used from
the Ministry of Health and pictures were taken from the internet. The flip chart was validated by eight judges,
who were part of the city professional Board of Health and Education. They evaluated the flip chart’s content
and appearance by filling out a form validation for group discussion. The percentage of the judges’ agreement
was analyzed. Results: The analysis of the listening workshops gave origin to the topics, “weight excess
acknowledgement", “consequences for the child’s health" and "strategies for prevention and children’s health
promotion. The flip chart consists of 27 sheets: odds pages with figure and even pages with plug-Script. There
was 99% of the judges’ agreement on the proposed theme, 96% regarding clarity and understanding, 94%
regarding the importance of each picture, and 47% as for needs of adjustments or exclusion. Resolution
improvements and picture replacements were the main suggestions for the material validation. Conclusions:
The flip chart construction and validation based on critical education involves the participants, facilitates the
use of this technology by health professionals in the educational process in primary care, and promotes
understanding and incorporation of important steps to prevent child's weight overflow, contributing to the
child's health promotion.
Keywords: Child Health; weight excess ; Pediatric obesity; Child Nutrition; Primary prevention; Primary
nursing; Public Health Nursing; Educational technology.
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LISTA DE FIGURAS
Figura 1. Localização do município de Itupeva no Estado de São Paulo................................................................................................................................................28
Figura 2. Apresentação e Capa do Álbum Seriado.............................................................................................................................................36
Figura 3. Páginas 3 e 4 do Álbum Seriado.......................................................................................37
Figura 4.Páginas do Álbum Seriado referentes à percepção do estado nutricional dos filhos........38
Figura 5. Páginas do Álbum Seriado referentes aos aspectos epidemiológicos do excesso de peso..................................................................................................................................................39
Figura 6. Páginas do Álbum Seriado referentes ao reconhecimento do excesso de peso infantil...40
Figura 7. Páginas do Álbum Seriado referentes a importância da Caderneta de Saúde da Criança na prevenção do excesso de peso infantil.......................................................................................41
Figura 8. Páginas do Álbum Seriado referentes à importância da Caderneta de Saúde da Criança na prevenção do excesso de peso infantil – Cálculo do IMC...........................................................42
Figura 9. Páginas do Álbum Seriado referentes aos gráficos de crescimento.................................43
Figura 10. Páginas do Álbum Seriado referentes ao ciclo do excesso de peso..............................45
Figura 11. Páginas do Álbum Seriado referentes às consequências do excesso de peso..............46
Figura 12. Páginas do Álbum Seriado referentes à alimentação adequada e saudável..................47
Figura 13. Páginas do Álbum Seriado que abordam os “10 passos para alimentação saudável”..........................................................................................................................................48
Figura 14. Páginas do Álbum Seriado referentes aos principais cuidados com a alimentação nos primeiros meses de vida...................................................................................................................49
Figura 15. Páginas do Álbum Seriado referentes aos grupos de alimentos..........................................................................................................................................50
Figura 16. Páginas do Álbum Seriado referentes à Pirâmide Alimentar..........................................................................................................................................51
Figura 17. Páginas do Álbum Seriado referentes às porções dos grupos alimentares....................52
Figura 18. Páginas do Álbum Seriado referentes às dicas sobre introdução e oferta de alimentos às crianças.......................................................................................................................................53
Figura 19. Páginas do Álbum Seriado referentes à oferta de alimentação às crianças...................54
Figura 20. Páginas do Álbum Seriado sobre leitura dos rótulos das embalagens......................................................................................................................................56
Figura 21. Páginas do Álbum Seriado sobre alimentos com excesso de açúcar e sódio.................................................................................................................................................57
Figura 22. Páginas do Álbum Seriado sobre o incentivo da prática da atividade física.................................................................................................................................................58
Figura 23. Páginas do Álbum Seriado sobre práticas inadequadas de alimentação infantil...............................................................................................................................................59
Figura 24. Páginas do Álbum Seriado sobre práticas inadequadas de alimentação infantil...............................................................................................................................................60
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LISTA DE QUADROS E TABELAS
Quadro 1. Síntese dos artigos selecionados sobre práticas educativas e práticas educativas em
grupo................................................................................................................................................21
Quadro 2: Temas e subtemas que compõem o Álbum Seriado.......................................................34
Tabela 1. Distribuição da porcentagem de concordância dos juízes para validação do álbum
seriado. Itupeva, 2015......................................................................................................................61
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LISTA DE SIGLAS
AIDPI Ação Integrada às Doenças Prevalentes na Infância
CNS Conselho Nacional de Saúde
CSC Caderneta de Saúde da Criança
EEUSP Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo
FAPESP Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo
IMC Índice de Massa Corporal
MS Ministério da Saúde
NEPESC Núcleo de Estudos Epidemiológicos na Perspectiva da Enfermagem
em Saúde Coletiva
OMS Organização Mundial da Saúde
PNAB Política Nacional de Atenção Básica
PNDS Pesquisa Nacional de Demografia e Saúde
SBP Sociedade Brasileira de Pediatria
TCLE Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
UBS Unidade Básica de Saúde
WHO World Health Organization
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SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO...........................................................................................................................15
1 INTRODUÇÃO...........................................................................................................................17
1.1 Excesso de peso na infância...............................................................................................17
1.2 Práticas de educação em saúde na Atenção Básica...........................................................19
1.3 O uso de tecnologias educativas na prática de educação em saúde .................................23
1.3.1 O Álbum Seriado como recurso visual para a prática educativa......................................24
2 CONSIDERAÇÕES TEÓRICAS................................................................................................25
3 JUSTIFICATIVA.......................................................................................................................26
4 OBJETIVOS................................................................................................................................27
4.1 Geral....................................................................................................................................27
4.2 Específicos...........................................................................................................................27
5 MÉTODO.....................................................................................................................................28
5.1 Tipo de estudo.....................................................................................................................28
5.2 Local do estudo....................................................................................................................28
5.3 População do estudo...........................................................................................................29
5.4 Desenvolvimento do estudo.................................................................................................29
5.4.1 Oficinas de escuta com mães e profissionais de saúde.............................................29
5.4.2 Construção do Álbum Seriado....................................................................................31
5.4.3 Validação do Álbum Seriado......................................................................................31
5.5 Considerações Éticas .........................................................................................................32
6 RESULTADOS............................................................................................................................33
6.1 Oficinas de escuta com mães e profissionais de saúde......................................................33
6.2 Construção do Álbum Seriado.............................................................................................34
6.3 Validação do Álbum Seriado................................................................................................61
7 DISCUSSÃO...............................................................................................................................62
8 CONSIDERAÇÕES FINAIS E IMPLICAÇÕES PARA A PRÁTICA...........................................68
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................................................................69
APÊNDICE A – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido – mães...........................................76
APÊNDICE B – Validação por juízes do Álbum Seriado..................................................................77
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APRESENTAÇÃO
Meu interesse pela saúde da criança foi despertado durante minha
graduação em enfermagem no desenvolvimento do trabalho de conclusão de
curso. O objetivo do trabalho foi caracterizar o perfil social de crianças atendidas
em uma creche na cidade de Sorocaba-SP, as quais, sem exceção,
apresentavam a peculiaridade de já terem convivido ou ainda conviverem com
pais soropositivos.
Posteriormente, tive algumas experiências profissionais que acentuaram
meu interesse pela área, principalmente quando trabalhei em uma enfermaria
pediátrica de um hospital público de São Paulo-SP e depois em uma Unidade
Básica de Saúde da Estratégia Saúde da Família em Sorocaba-SP.
Apesar de minha permanência breve nesses serviços, durante as consultas
de enfermagem pude observar que as queixas de alimentação e os problemas
nutricionais eram muito comuns na minha rotina de trabalho.
Como docente da graduação em enfermagem da UNIP/Sorocaba, a
orientação de alunos para realização de suas monografias me motivou a buscar
mais conhecimento sobre as questões relativas à nutrição infantil.
Passei a frequentar o grupo de pesquisa “Cuidado à Saúde Infantil”
coordenado pelas professoras Drª Magda Andrade Rezende e Drª Maria de La Ó
Veríssimo da Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo (EEUSP)
entre 2007 e 2009, mesmo período em que voltei a trabalhar como enfermeira
assistencial na Atenção Básica.
Aceitando a sugestão da professora Dra. Maria de La Ó Veríssimo de
buscar um grupo mais afinado com minhas necessidades e propostas de
pesquisa, me inseri no NEPESC (Núcleo de Estudos Epidemiológicos na
Perspectiva da Enfermagem em Saúde Coletiva), grupo de pesquisa liderado pela
professora Drª Elizabeth Fujimori do Departamento de Saúde Coletiva da EEUSP.
Durante as reuniões, tomei conhecimento de um estudo, já em andamento,
coordenado pela Drª Elizabeth Fujimori, intitulado “Efeito do aconselhamento
nutricional da estratégia de Atenção Integrada às Doenças Prevalentes na
Infância (AIDPI) sobre práticas alimentares, estado de nutrição e desenvolvimento
infantil”.
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A primeira fase da pesquisa evidenciou alta prevalência de distúrbios
nutricionais, anemia, atraso no desenvolvimento infantil e práticas alimentares
inadequadas entre as crianças menores de três anos cadastradas nas unidades
básicas de saúde de um município de pequeno porte do estado de São Paulo,
além de práticas profissionais aquém do que se recomenda nos protocolos
institucionais, tais como a realização de grupos educativos na comunidade.
Já como aluna do curso de mestrado profissional, que tem como proposta
a formação continuada de enfermeiros com vistas a desenvolvimento de projetos
voltados para a prática profissional, interessei-me, então, em desenvolver um
Álbum Seriado para facilitar o trabalho educativo dos profissionais da atenção
básica.
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1 INTRODUÇÃO
Este estudo tem como objeto a construção de um álbum seriado para a
prevenção do excesso de peso infantil na atenção básica, elaborado a partir de
oficinas de escuta com mães e profissionais de saúde, com vistas a ampliar as
ferramentas e tecnologias para o cuidado da criança.
1.1 Excesso de peso na infância
No presente estudo, o termo excesso de peso refere-se a sobrepeso e
obesidade definidos como acúmulo de gordura corporal em excesso, que se
associa a maiores chances de desenvolver doenças como hipertensão,
dislipidemia, resistência à insulina e câncer (Freedman et al. 2009; WHO 2015),
com impacto substancial na redução da expectativa de vida (Raj & Kumar 2010).
O índice antropométrico recomendado pela Organização Mundial da Saúde
(OMS) e atualmente adotado pelo Ministério da Saúde (MS) para identificar o
excesso de peso, mesmo para crianças menores de cinco anos de idade, é o
Índice de Massa Corporal (IMC)-para-idade, com os seguintes pontos de corte:
IMC-para-idade maior que o percentil 85 e menor ou igual ao percentil 97 = risco
de sobrepeso; IMC-para-idade maior que o percentil 97 e menor ou igual ao
percentil 99,9 = sobrepeso; e IMC-para-idade maior que o percentil 99,9 =
obesidade (Brasil 2012)
No Brasil, dados da Pesquisa Nacional de Demografia e Saúde (PNDS)
realizada em 2006 mostraram que, entre as crianças menores de cinco anos,
apenas 1,6% apresentavam baixo peso para a estatura, enquanto o excesso de
peso (sobrepeso e obesidade) afetava 7,4% (Brasil 2009a).
Mudanças no estilo de vida, caracterizadas pela falta de atividade física e
dieta pouco saudável, são fatores que contribuem para o aumento do excesso de
peso infantil (Davison & Birch 2001, Popkin 2002, Schmidt et al. 2011).
Crianças com excesso de peso tendem a se tornar obesos na idade adulta
(Guo et al. 2002, Baker et al. 2007, Chomthlo et al. 2008, Larnkjær et al. 2010,
WHO 2015) e mais suscetíveis a desenvolver precocemente as doenças
relacionadas ao sobrepeso e à obesidade (Goran et al. 2003, Baker et al. 2007,
Ferreira et al. 2007, Cocetti et al. 2009, Lee 2009, Ricco et al. 2010, WHO 2015).
18
Juonala et al. (2011) evidenciaram que crianças com excesso de peso que
se tornaram adultos obesos apresentavam maior risco para dislipidemia,
hipertensão arterial, diabetes tipo 2, e aterosclerose da artéria carótida, enquanto
crianças com excesso de peso que não se tornaram adultos obesos,
apresentavam risco semelhante ao de pessoas que nunca foram obesas.
Outrora, o excesso de peso era considerado problema apenas nos países
de alta renda, mas atualmente afeta também os países de baixa e média rendas,
sobretudo nos ambientes urbanos (WHO 2015), determinando uma crise de
saúde pública pelos problemas de saúde a ele associados (Onis et al. 2010).
Em 2012, cerca de 44 milhões de crianças menores de 5 anos em todo o
mundo tinham sobrepeso ou obesidade (OMS 2014). Porém, estima-se que em
2020 a prevalência global de sobrepeso e obesidade infantil atinja cerca de 60
milhões de crianças (Onis et al. 2010).
Além da maior chance de se tornarem adultos obesos com uma ampla
gama de complicações graves, a obesidade na infância também se associa ao
aumento do risco precoce de enfermidades crônicas (OMS 2014).
Apesar disso, diversos trabalhos têm mostrado que os pais têm dificuldade
para reconhecer o peso de seus filhos (Carvalhaes & Godoy 2002, Maynard et al.
2003, Carnell et al. 2005, Hirschler et al. 2005, He & Evans 2007, Chuproski &
Mello 2009, Molina et al. 2009, Duarte 2014). Entre os fatores que influenciam a
percepção materna do estado nutricional dos filhos destacam-se a idade, sexo e
peso da criança, escolaridade materna e padrões sociais e culturais (Chuproski &
Mello 2009).
À vista disso, ressalta-se a necessidade de ações educativas
especialmente dirigidas para o envolvimento das mães no acompanhamento
nutricional de seus filhos, assim como, para o entendimento do peso da criança
como indicador precoce de desvios nutricionais (Carvalhaes & Godoy 2002,
Chuproski & Melo 2009, Duarte 2014).
A avaliação nutricional de 357 crianças menores de 3 anos de idade
realizada no município de Itupeva/São Paulo constatou que quase um terço
apresentava excesso de peso (risco de sobrepeso, sobrepeso e obesidade), mas
apenas 20% das mães tinham a percepção do problema (Duarte 2014), o que
justifica o desenvolvimento do presente estudo nesse município.
19
1.2 Práticas de educação em saúde na Atenção Básica
A Política Nacional de Atenção Básica (PNAB), aprovada em 2006,
estruturou a Atenção Básica como o primeiro elemento de um processo de
atenção continuada à saúde. Estabeleceu esse como o primeiro nível de contato
dos indivíduos, da família e da comunidade com o sistema nacional de saúde e
definiu como seu componente fundamental: atividades de promoção e educação
em saúde, prevenção de doenças e agravos e atenção curativa (Brasil 2006).
Assim, prevê-se que sejam desenvolvidas continuamente ações individuais
e coletivas voltadas às populações e às patologias específicas, principalmente na
promoção da saúde, prevenção e tratamento de doenças e redução de danos ou
de sofrimentos que possam comprometer suas possibilidades de viver de modo
saudável (Brasil 2006).
As ações educativas em grupo constituem instrumental indicado para
produzir vínculo de confiança entre os profissionais de saúde e a população,
principalmente na Atenção Básica. Além disso, tornam possível que a população
se desenvolva e, de alguma maneira, encontre o melhor momento e a melhor
forma de se cuidar (Braccialli & Vieira 2012).
Apesar das recomendações de se privilegiar ações educativas na Atenção
Básica para grupos populacionais, constata-se que as práticas de saúde ainda
estão centradas na atenção individual (Furlan & Campos 2010).
Os enfermeiros, por sua vez relatam dificuldades para desenvolver
atividades de educação em saúde por uma série de entraves, destacando-se
entre eles: sobrecarga de trabalho; formação profissional deficiente; carência de
educação permanente, insuficiência de profissionais preparados; de recursos
físicos (espaço para o desenvolvimento do trabalho) e de materiais disponíveis;
além da falta de aceitação e adesão às atividades educativas, por parte da
população, por persistir a cultura curativa (Roecker et al. 2012), uma vez que a
sociedade em geral ainda associa os serviços de saúde às situações de doença e
não à saúde (Silva et al. 2009).
De fato, nos serviços de saúde brasileiros há predominância de um modelo
assistencial biomédico que privilegia as ações curativas, condicionando a prática
educativa às ações prescritivas que visam modificar os hábitos considerados
inadequados pelos profissionais. Quando se propõem atividades participativas,
especificamente a formação de Grupos Educativos, sua sistematização prevê
20
prioritariamente aulas ou palestras, praticamente não existindo espaço para
outras manifestações diferentes de dúvidas pontuais a serem respondidas pelos
profissionais (Chiesa & Veríssimo 2001, Teixeira 2007, Carvalho 2009, Alves
2010, Rumor et al. 2010, Cervera et al. 2011, Roecker et al. 2012).
Pesquisa descritiva, que usou o método comparativo para reconhecer as
características dos Grupos Educativos nas cidades de São Paulo e Bogotá
verificou que a teoria/prática dos grupos está em transição da abordagem
tradicional para outra mais humanista, porém em uma velocidade lenta
comparada às políticas e necessidades de saúde (Vincha et al. 2014).
Revisão bibliográfica realizada no presente estudo, acerca de práticas
educativas e práticas educativas em grupo reiteram esses e outros achados
(Quadro 1).
Em síntese, destacam-se:
desejo de desenvolver práticas de forma mais democrática que esbarra na
falta de formação permanente dos profissionais (Carvalho 2009);
que a incorporação dos princípios da Carta de Ottawa permanece distante
da prática concreta dos profissionais (Rumor et al. 2010);
que as práticas educativas ainda ocorrem na forma de palestra, mediadas
pela concepção bancária de educação, que, segundo os usuários,
desestimulam a participação (Alves 2010);
que os enfermeiros enfrentam dificuldades no desenvolvimento da
educação em saúde por sobrecarga de trabalho, formação profissional
deficiente para execução das práticas educativas, carência de educação
permanente, falta de recursos e visão do gestor, cultura curativa, falta de
aceitação e adesão dos usuários às atividades educativas (Roecker et al.
2012);
necessidade de se propiciar mais espaços de diálogo entre mães, pais,
outros familiares, cuidadoras comunitárias e profissionais que lidam com a
infância, com o intuito de se ampliar os conhecimentos sobre o cuidado
infantil (Montrone et al., 2013);
que a teoria/prática dos grupos está em transição da abordagem tradicional
para outra mais humanista, entretanto, em uma velocidade lenta
comparada às políticas e necessidades de saúde (Vincha et al. 2014).
21
Considerando-se que os grupos educativos ainda não têm atingido os
objetivos a que se destinam, justifica-se o desenvolvimento do presente estudo.
Quadro 1. Síntese dos artigos selecionados sobre práticas educativas e práticas
educativas em grupo.
Referências/ano/local
Método Objeto de estudo Resultados
Pereira 2005 Revisão bibliográfica
Estudo exploratório com enfermeiros brasileiros, relatos de experiência educativa
Processo educativo em saúde como uma das atividades inscritas na prática social da enfermagem ao integrar o processo de trabalho em saúde
Identificou-se a necessidade de a enfermagem dominar as concepções de saúde, educação e educação em saúde para que o processo de trabalho educativo seja transformador da realidade de saúde nos moldes da saúde coletiva.
Maffaccioli e Lopes 2005 Porto Alegre - RS
Relato de experiência com hipertensos, diabéticos e obesos
Introdução de práticas de grupos orientadas para a educação-prevenção de danos á saúde, centradas no componente alimentar, através de dinâmicas de grupo.
Visualizou-se a assistência sob o foco educativo, apoiando-se na promoção das relações interpessoais convergindo para o estabelecimento de confiança e autodeterminação.
Silva et al. 2006 Cuiabá - MT
Exploratório descritivo com enfermeiros da ESF
Trabalhos com grupos como espaços geradores ou potencializadores de participação da comunidade e controle social do serviço
A realização de grupos se consolidou como uma estratégia clínica assistencial, enquanto a dimensão educativo-participativa e de empoderamento para o exercício da cidadania se apresentou reduzida.
Teixeira et al.2007 Belém - PA
Relato de experiência com cerca de 50 mulheres
Práticas educativas em grupo sobre saúde e ambiente.
Detectou-se a necessidade de ampliar tanto as práticas cuidativas como as educativas e, com isso, alargar o pensar/fazer/conviver no sistema.
Frota et al. 2007 Fortaleza - CE
Pesquisa-ação com 8 mães e 1 pai
Identificação da percepção dos pais acerca das oficinas de educação e saúde e proposição de ações de educação popular em saúde na assistência à criança desnutrida.
O método despertou nova consciência no cuidado com o filho desnutrido na cultura da comunidade.
Gehrmann et al. 2007 Florianópolis - SC
Relato de experiência com mães e crianças de 1 a 6 meses e de 7 a 12 meses
Experiência de profissionais de uma unidade local de saúde com grupos de mães e/ou familiares e seus lactentes como uma estratégia para a atenção integral à saúde da criança.
Concluiu-se que o grupo de mães e/ou familiares e seus lactentes é uma forma atraente de engajar profissionais e família na agenda de compromissos para a saúde integral da criança e redução de mortalidade infantil e uma possibilidade de inserção da enfermeira e da equipe de enfermagem de forma ativa na assistência integral da criança.
Carvalho 2009 São Paulo - SP
Qualitativa Estudo de caso com 11 profissionais (médicos, enfermeiras e gerente da unidade)
Processo educativo estabelecido por equipes de SF na atenção à saúde infantil
Reconheceram-se, no discurso dos trabalhadores a importância da educação em saúde da criança e o desejo de desenvolver as práticas de forma mais democrática, vontade que esbarra na falta de formação permanente dos profissionais.
Rumor et al. 2010 Florianópolis - SC
Estudo qualitativo com 19 profissionais e 26 usuários
Como as principais ações de promoção da saúde (Carta de Ottawa) são trabalhadas nas práticas educativas
A incorporação dos princípios da Carta de Ottawa permanece distante da prática concreta dos profissionais
Alves 2010 Itajaí - SC
Estudo qualitativo – participativo Com 16 profissionais e 15 usuários
Percepção dos usuários e da equipe de ESF sobre os grupos.
Evidenciaram-se práticas educativas geralmente, em forma de palestra, mediadas pela concepção bancária de educação, que, segundo os usuários, desestimulam a participação.
22
Referências/ano/local
Método Objeto de estudo Resultados
Cervera et al. 2011 Uberaba - MG
Estudo qualitativo – descritivo com 20 enfermeiros da ESF
Percepção dos enfermeiros da ESF sobre educação em saúde.
Identificou-se que, no cotidiano, os enfermeiros apresentam uma perspectiva de educação em saúde ampla e proximidade com essa prática, porém de forma verticalizada, institucionalizada e com um sentido único profissional-usuário.
Monteiro et al. 2011 Natal - RN
Estudo qualitativo - Descritivo com 4 enfermeiras
Descrição da autonomia do enfermeiro no processo de planejamento e implementação da proposta de acompanhamento coletivo do crescimento e desenvolvimento da criança.
Observou-se o surgimento de um novo método de fazer consulta, o coletivo, onde cada mãe pôde dar e receber contribuições, tirar suas dúvidas e, juntamente com o profissional, exercer também sua autonomia.
Teixeira et al. 2011 Comunidade do Tauari - PA
Estudo qualitativo –descritivo com 15 indivíduos e 13 mães
Os saberes e os modos de cuidar da saúde da criança de 0 a 5 anos entre famílias ribeirinhas.
A escuta sensível das mães apontou a necessidade de uma maior aproximação entre os profissionais de enfermagem e a família.
Lopes et al. 2012 Mariana - MG
Relato de experiência com mães de crianças assistidas pelo Programa de Atenção à Criança (PAC)
Realização de dinâmicas educativas e avaliativas com os responsáveis pelas crianças e de atividades lúdicas para entretenimento das crianças que são assistidas pelo PAC ambas pautadas na metodologia da educação popular.
A incorporação da brincadeira para o contexto da educação em saúde propiciou aos membros dos grupos operativos, a vivência do sentido do brincar e dos efeitos que o “brincar” tem na vida das crianças.
Roecker et al. 2012 10ª Regional de Saúde do Paraná
Estudo qualitativo, descritivo-exploratório com 20 enfermeiros de ESF
Trabalho educativo do enfermeiro na Estratégia Saúde da Família.
Enfermeiros enfrentam dificuldades no desenvolvimento da educação em saúde por: sobrecarga de trabalho; formação profissional; falta de educação permanente; falta de recursos e visão do gestor; cultura curativa; falta de aceitação e adesão dos usuários às atividades educativas.
Silva et al. 2012 Revisão bibliográfica
Pesquisa bibliográfica, descritivo-exploratória com enfermeiros da Atenção Básica
Atuação dos enfermeiros na atenção básica quanto à educação em saúde com os usuários.
Detectou-se a necessidade de efetivação da prática de educação em saúde emancipatória no trabalho dos profissionais de saúde, em especial do enfermeiro atuante na atenção básica.
Montrone et al. 2013 São Carlos – SP
Estudo descritivo com 18 cuidadoras comunitárias
Percepções e formas de cuidar de cuidadoras comunitárias de crianças menores de três anos.
Identificou-se a necessidade de se propiciar mais espaços de diálogo entre mães, pais, outros familiares, Cuidadoras comunitárias e profissionais que lidam com a infância, com o intuito de se ampliar os conhecimentos sobre o cuidado infantil.
Vincha et al. 2014 São Paulo e Bogotá
Estudo descritivo com 54 nutricionistas
Grupos educativos que trabalham a alimentação e nutrição na dimensão teórica e prática dentro da APS em São Paulo e Bogotá.
A teoria/prática dos grupos está em transição da abordagem tradicional para outra mais humanista, entretanto, em uma velocidade lenta comparada às políticas e necessidades de saúde.
Rocha 2014 12 municípios adscritos à 3ª CR/RS
Estudo descritivo com 61 enfermeiras de ESF
Modo de desenvolvimento das atividades e grupo da ESF segundo a percepção das enfermeiras.
A diversidade de ações desenvolvidas requer dos profissionais uma organização prévia para contemplar as recomendações ministeriais e consequentemente a produção de um espaço de reflexão, informação e incentivo à participação nas atividades em grupo que favoreçam o ingresso e a permanência dos clientes em uma perspectiva promotora da saúde.
23
1.3 O uso de tecnologias educativas na prática da educação em saúde
De acordo com Nietsche e Leopardi (2000) as tecnologias podem ser
educacionais (dispositivos para a mediação de processos de ensinar e aprender,
utilizadas entre educadores e educandos, nos vários processos de educação
formal-acadêmica, formal-continuada), assistenciais (dispositivos para a mediação
de processos de cuidar, aplicadas por profissionais com os “clientes-usuários” dos
sistemas de saúde - atenção primária, secundária e terciária) e gerenciais
(dispositivos para a mediação de processos de gestão, utilizadas por profissionais
nos serviços e unidades dos diferentes sistemas de saúde).
No âmbito da Enfermagem, essas tecnologias vêm sendo elaboradas,
validadas e avaliadas. Revisões que percorreram o período entre 1986 e 2000
não encontraram números expressivos de trabalhos na área (Gutierrez et al.
2001), porém constataram predomínio de tecnologias educacionais, voltadas às
novas estratégias de ensino-aprendizagem, com ênfase na educação comunitária,
de grupos ou tipos específicos de clientes (Mendes et al. 2002).
Quando se trata de produção e validação de tecnologias educacionais,
independentemente da modalidade, aponta-se como desafio, a promoção de
estudos que dêem voz à comunidade, com vistas a identificar quais informações
lhes interessam, bem como quais são as tecnologias educacionais de mais fácil
acesso e uso entre os diferentes grupos (crianças, adolescentes, adultos e
idosos) (Teixeira 2010).
Santos e Lima (2008) constataram que a realização de oficinas educativas,
como tecnologia educativa em saúde, viabilizou tanto mudanças no estilo de vida
dos sujeitos da pesquisa, quanto a manutenção delas e a inserção de outras
mudanças necessárias à prevenção e ao controle dos fatores de risco ambientais
da Hipertensão Arterial Sistêmica.
De forma semelhante, Dodt (2013), ao elaborar e validar tecnologia
educativa para autoeficácia da amamentação, verificou que a utilização do álbum
foi considerada apropriada na promoção do aleitamento materno. O autor
constatou que a utilização dessa ferramenta facilitou a comunicação entre o
profissional de saúde e a nutriz e favoreceu o processo de aprendizagem a partir
das necessidades da nutriz, ao promover a autoeficácia materna para amamentar
e aumentar a duração do período do aleitamento materno.
24
Martins et al (2012), em um relato de experiência quanto à utilização de um
álbum seriado sobre alimentos regionais por meio de intervenção educativa entre
famílias de crianças pré-escolares de uma zona rural, comprovaram que essa
ferramenta pode ser caracterizada como uma tecnologia de ensino emancipatória,
tornando o indivíduo sujeito do seu próprio aprendizado.
1.3.1 O álbum seriado como recurso visual para a prática educativa
As tecnologias educativas também são conhecidas como recursos
educativos e podem ser visuais, auditivos ou audiovisuais, segundo a
Classificação Brasileira de Recursos Audiovisuais (Freitas 2009).
Recursos visuais são importantes pontos de apoio numa apresentação,
tanto para o espectador quanto para o apresentador, pois permitem organizar o
material apresentado verbalmente pelo apresentador e seguir a sequência
proposta. Para o apresentador, esse recurso o auxilia a não se desviar do assunto
ou estender-se além do tempo previsto, além de ilustrar pontos importantes para
a compreensão do assunto. Apesar de constituírem auxílio para uma
apresentação, devem, de modo algum, assumir o papel principal (Schmidt &
Pazin-Filho 2007).
A aplicação dos recursos educativos podem estimular a utilização de mais
de um sentido (audição e visão), de forma que pontos fundamentais podem ser
apresentados oralmente e reforçados visualmente com a apresentação de uma
imagem, em reforço à mensagem (Schmidt & Pazin-Filho 2007).
Assim, o álbum seriado possibilita apresentar um assunto de forma
gradativa e organizada, evita dispersão ou confusão e facilita a fixação dos pontos
essenciais (Caires 2007).
Recomenda-se que o tamanho médio de um álbum seriado seja de 50 x 70
cm, podendo ser colocado sobre um tripé de madeira para melhor visualização.
Geralmente é constituído por textos e ilustrações, as quais devem ser de fácil
compreensão e visualização, atraentes e que representem a realidade, podendo
ser retiradas de livros, revistas ou desenhadas. Em relação ao texto, deve ser
objetivo, utilizar linguagem e orações simples, bem como servir como um roteiro
para auxiliar o expositor quanto ao assunto a ser abordado, subsidiando a fala.
Quando suas páginas tiverem título, recomenda-se o uso de letras maiores para
destacá-lo do restante do texto (Freitas 2009).
25
2 CONSIDERAÇÕES TEÓRICAS
O presente estudo fundamenta-se nas concepções do educador Paulo
Freire, que propõe uma educação crítica, reflexiva e participativa, destinada à
libertação através de um processo dialógico, ou seja, pelo diálogo entre os
sujeitos.
Brandão (1991) destaca que Paulo Freire não propôs um método, mas
apresenta o ABC do método, onde ressalta que:
Um dos pressupostos do método é a ideia de que ninguém educa ninguém e ninguém se educa sozinho. A educação, que deve ser um ato coletivo, solidário, (...) não pode ser imposta. Porque educar é uma tarefa de trocas entre pessoas e, se não pode ser nunca feita por um sujeito isolado (...), não pode ser também resultado do desejo de quem supõe que possui todo o saber sobre aquele que, do outro lado, foi obrigado a pensar que não possui nenhum (...). De um lado e do outro do trabalho em que se ensina-e-aprende, há sempre educadores-educandos e educandos-educadores. De lado a lado se ensina. De lado a lado se aprende.” (Brandão 1991, p.21,22)
A primeira etapa do método foi chamada por Paulo Freire de “levantamento
do universo vocabular” (Freire 1967, p. 118) e “descoberta do universo vocabular”
(Freire 1979, p. 23), cujo objetivo é “surpreender a maneira como uma realidade
social existe na vida e no pensamento, no imaginário de seus participantes”
(Brandão 1991, p. 28) e retrata “desejos, frustrações, desilusões, esperanças,
desejos de participação...” (Freire 1979, p. 42).
No caso da alfabetização, mote da pedagogia de Paulo Freire,
“Métodos de alfabetização têm um material pronto: cartazes, cartilhas, cadernos de exercício. Quanto mais o alfabetizador acredita que aprender é enfiar o saber-de-quem-sabe no suposto vazio-de-quem-não-sabe, tanto mais tudo é feito de longe e chega pronto, previsto. Paulo Freire pensou que um método de educação construído em cima da ideia de um diálogo entre educador e educando, onde há sempre partes de cada um no outro, não poderia começar com o educador trazendo pronto, do seu mundo, do seu saber, o seu método e o material da fala dele.” (Brandão 1991, p.21)
Assim, na concepção freireana de educação, os conteúdos e as ações se
articulam para uma construção conjunta emancipatória (Freire 1979), a partir de
uma “permanente dialogação das pessoas entre si e de todas com a realidade
circundante, em vista de sua transformação” (Freire 2011, p.9).
O diálogo é, pois, uma das categorias fundantes, pois o processo dialógico
possibilita a construção conjunta do conhecimento a partir de experiências
individuais, na perspectiva crítico-emancipatória, em contraposição à concepção
26
“bancária”, em que a educação é um ato de depositar, transferir, transmitir valores
e conhecimentos (Freire 2005, p. 47; 2013, p. 142).
Nessa perspectiva, considera-se que na prática dialógica, a atitude de
escuta é tão importante quanto a fala, pois o sujeito que escuta sabe que o que
tem a dizer tem valor semelhante à fala dos outros. Consequentemente, o saber
escutar relaciona-se não apenas a silenciar para dar a vez à fala do outro, mas
também a estar na posição de liberdade de acesso às diferenças (Menezes &
Santiago 2014).
Entretanto, como evidenciado na revisão de literatura (Quadro 1), as
práticas educativas em saúde têm, predominantemente, se desenvolvido na
lógica da concepção “bancária”, apesar do desejo dos profissionais em fazê-las
de uma forma diferente, mais participativa.
No cuidar e educar em enfermagem, o diálogo atrelado à teoria freireana
deve constituir-se no eixo central da pedagogia a ser utilizada na educação em
saúde. Assim, chama-se a atenção aos princípios da dialogicidade, da pedagogia
crítico-reflexiva, da transformação-ação e educação dialógica com vistas à busca
da passagem da consciência, de ingênua à crítica (Alvim & Ferreira 2007).
3 JUSTIFICATIVA
Os grupos de educação em saúde são espaços privilegiados para
discussão, troca de experiências e orientação da comunidade e estão incluídos
entre as principais atribuições da equipe de saúde, principalmente do enfermeiro.
No papel de educador, o enfermeiro tem a tarefa de transcender a maneira
tradicional de transferir informação, conduzindo o indivíduo no processo de
reflexão e adoção de hábitos saudáveis (Costa et al. 2004).
Ademais, a construção de materiais educativos numa perspectiva mais
participativa, tem se tornado cada vez mais presente no universo da Enfermagem,
sendo possível encontrar relatos de experiências de elaboração de murais (Souza
et al. 2003), jogos educativos (Araújo 2000) e outras ferramentas/ tecnologias.
A intervenção educativa crítica estabelece um envolvimento gradativo que
gera troca de experiências e de saberes entre os profissionais e os usuários do
serviço de saúde proporcionando reflexão, compreensão e transformação da
realidade (Cucolo et al. 2007).
27
Entre as ações previstas pela PNAB destacam-se as ações coletivas,
educativas e focalizadas nos grupos populacionais de maior risco
comportamental, alimentar e/ou ambiental e que possam interferir no processo
saúde-doença e nos problemas de saúde mais frequentes de cada território
(Brasil 2006).
Nesse âmbito, a fim de contribuir para a prevenção do excesso de peso na
infância, propôs-se a construção de um álbum seriado, tendo como base o
referencial teórico da educação crítica.
A finalidade é ampliar as ferramentas e tecnologias para o enfrentamento
desse problema e favorecer a realização de grupos educativos na rotina dos
serviços da atenção básica, de forma a contribuir para a compreensão e
incorporação de passos importantes para a prevenção do excesso de peso por
parte das mães e responsáveis pelas crianças.
4 OBJETIVOS
4.1 Geral
Construir e validar um álbum seriado para prevenção do excesso de peso infantil
na atenção básica.
4.2 Específicos
- Caracterizar os conhecimentos e demandas das mães e profissionais de saúde
acerca dos temas a serem abordados no álbum seriado;
- Organizar os conteúdos e temas para construção do álbum seriado;
- Submeter o álbum seriado a avaliação de juízes.
28
5 MÉTODO
5.1 Tipo de estudo
Estudo descritivo que foca a construção e validação de um álbum seriado
tendo como referencial teórico a educação crítica.
Trata-se de subprojeto de investigação mais ampla intitulada “Efeito do
aconselhamento nutricional da estratégia de Atenção Integrada às Doenças
Prevalentes na Infância (AIDPI) sobre práticas alimentares, estado de nutrição e
desenvolvimento infantil” aprovada em Comitê de Ética e com auxílio financeiro
da Fapesp (Edital FAPESP/Fundação Maria Cecília Souto Vidigal, Processo
número 2011/509309) e do CNPq (Processo número 480255/2012-1).
5.2 Local do estudo
O estudo foi realizado no município de Itupeva, São Paulo, localizado 70
km a oeste da capital (Figura 1).
Com população de 42.458 habitantes (IBGE 2009), Itupeva integra a
microrregião de Jundiaí e a Diretoria Regional de Saúde de Campinas (DIR XII-
Campinas). Conta com 17 estabelecimentos públicos de saúde: 1 hospital
municipal de pequeno porte (50 leitos), 1 centro de atenção psicossocial, 3
ambulatórios e 12 unidades básicas de saúde (UBS), sendo 8 tradicionais, 1 mista
com Programa Agentes Comunitários de Saúde e 3 Unidades de Saúde da
Família.
29
Os recursos humanos da atenção básica compreendem 13 médicos (9
pediatras e 4 médicos da saúde da família), 12 enfermeiros, 26 auxiliares de
enfermagem e 32 agentes comunitários de saúde (Relatório Anual de Gestão,
2010).
5.3 População do estudo
Participaram do processo de construção do Álbum Seriado, 10 mães de
crianças menores de três anos de idade, cadastradas em uma UBS indicada pela
Diretoria de Saúde do município e 14 profissionais de saúde vinculados à atenção
básica.
Participaram da etapa de validação do Álbum Seriado, oito juízes,
constituídos por profissionais da saúde e educação do município.
5.4 Desenvolvimento do estudo
Após aprovação da proposta do estudo pela Diretoria de Saúde do
município, o presente estudo foi desenvolvido em três etapas: 1) Realização de
oficinas de escuta com mães e profissionais da atenção básica; 2) Construção do
Álbum Seriado; 3) Validação do Álbum Seriado por juízes.
5.4.1 Oficinas de escuta com mães e profissionais de saúde
Esta etapa consistiu na divulgação da proposta do estudo entre mães e
profissionais da atenção básica e na identificação de temas em acordo com as
necessidades levantadas nas oficinas.
Foram realizadas três oficinas de escuta no período de abril a junho de
2015, sendo duas com mães e uma com profissionais de saúde. Cada oficina teve
duração aproximada de 90 minutos.
As oficinas foram conduzidas por enfermeiras do Grupo de Pesquisa do
‘Núcleo de Estudos Epidemiológicos na Perspectiva da Enfermagem em Saúde
Coletiva (NEPESC)’, da Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo
(EEUSP), uma doutoranda membro do NEPESC que apresentou os resultados
finais encontrados na pesquisa realizada no município em 2013 e uma mestranda,
autora do presente estudo.
30
Tanto as oficinas realizadas com as mães, quanto as realizadas com os
profissionais foram gravadas, transcritas e submetidas à análise de conteúdo para
extração das categorias empíricas (Minayo 2000).
Oficinas de escuta com as mães
As duas oficinas com as mães foram realizadas em uma Unidade de Saúde
da Família indicada pela Diretoria de Saúde do município. Participaram 10 mães
de crianças menores de três anos, após divulgação e convite feito pelos agentes
comunitários de saúde.
Foram esclarecidos os aspectos éticos e legais do desenvolvimento do
trabalho e utilizou-se como elemento disparador da discussão, edição de 17
minutos e 55 segundos do documentário “Muito além do peso” (2012), que trata
da obesidade infantil no Brasil, com críticas à indústria, à publicidade, ao governo
e à sociedade de modo geral quanto à produção e consumo excessivo de
alimentos não nutritivos.
Após o filme, lançou-se a seguinte pergunta para as mães “o que vocês
gostariam que fosse abordado durante as consultas ou trabalho educativo
realizado na UBS?“
Além da apresentação do documentário, utilizou-se também como
elemento disparador para as discussões, a Caderneta de Saúde da Criança,
instrumento indispensável ao acompanhamento da saúde da criança (Trapé et al.
2009; Brasil 2013a).
Oficina de escuta com profissionais da saúde
A oficina com os profissionais de saúde foi realizada no auditório do Paço
Municipal. Participaram 14 profissionais de saúde do município: 10 enfermeiros,
três agentes comunitários de saúde e uma fonoaudióloga, coordenadora do
Programa Primeiríssima Infância, ligada à Fundação Maria Cecília Souto Vidigal.
Após breve relato das reuniões com as mães e das sugestões dadas pelas
mesmas, solicitou-se a colaboração dos profissionais na criação do álbum
seriado, cuja finalidade é ser disponibilizado para as Unidades Básicas de Saúde
do município para serem utilizados pelos profissionais de saúde na sua prática
para a prevenção do excesso de peso infantil.
31
Chamou-se a atenção dos profissionais para os resultados da pesquisa
realizada no município, especialmente quanto à prevalência do excesso de peso
entre as crianças menores de 3 anos, não apenas como uma realidade local, mas
sim como uma tendência nacional e mundial.
A questão norteadora utilizada nesse grupo foi: “o que nós, profissionais de
saúde da atenção básica, poderíamos abordar nos grupos educativos com mães
para prevenção do excesso de peso infantil?”
Além disso, também se utilizou como elemento disparador das discussões,
o filme documentário “Muito além do peso” (2012), edição com 17 minutos e 55
segundos.
5.4.2 Construção do álbum seriado
A construção do álbum seriado teve como base os temas extraídos das
oficinas de escuta realizadas com mães e profissionais, documentos técnicos do
Ministério da Saúde, especialmente aqueles direcionados à Atenção Básica, tais
como: “Caderneta de Saúde da Criança” (Brasil 2013a), “Os Dez passos para
alimentação saudável de crianças menores de dois anos – guia para profissionais
de saúde” (Brasil 2013b), “Nutrição infantil – caderno da Atenção Básica nº 23”
(Brasil 2009b), manuais da estratégia de Atenção Integrada às Doenças
Prevalentes na Infância (AIDPI) (Brasil 2002) e cadernos Estratégia Nacional de
Promoção à Alimentação Complementar Saudável (ENPACS) (Brasil 2010a),
além de informações científicas atualizadas.
O material foi elaborado no programa PowerPoint, ilustrado com figuras
retiradas do banco de imagens da web (imagens free), acompanhadas de suas
respectivas fontes.
A primeira versão do Álbum Seriado continha 54 páginas. As figuras foram
colocadas nas páginas de números pares que correspondiam à frente do Álbum
Seriado que seria apresentado ao grupo. As páginas impares (verso)
corresponderam às fichas-roteiro, ou seja, ao script para nortear os profissionais
de saúde na utilização do Álbum Seriado.
5.4.3 Validação do Álbum Seriado
A primeira versão do Álbum Seriado foi validada por oito juízes: cinco
enfermeiras da atenção básica, duas coordenadoras de educação infantil do
32
município e uma fonoaudióloga. A validação foi realizada em um encontro de
quatro horas no mês de junho de 2015.
Juízes são indivíduos considerados capacitados para analisar questões
relacionadas à validade do material, ou seja, se a ferramenta desenvolvida e as
questões que ela abrange representam o domínio do conteúdo que se pretende
medir (Lobiondo-Wood & Haber 1998).
O Álbum Seriado foi apresentado ao grupo e posteriormente cada
participante recebeu uma “ficha de avaliação” (Apêndice B) para o julgamento de
cada página quanto a: clareza/compreensão e relação com o tema (sim/não),
importância para o álbum seriado (muito importante/importante/não é importante),
necessidade de ajustes/exclusão (não necessita de ajustes/necessita de ajustes/
deve ser retirado).
Os dados obtidos foram analisados pela “porcentagem de concordância”,
método simples empregado para calcular a concordância interobservadores
(Hulley et al. 2003) que consiste em:
Estabeleceu-se o grau de concordância mínima de 85%.
Após os ajustes sugeridos pelos juízes, a versão final do Álbum Seriado
ficou com 47 páginas, incluindo a capa e a bibliografia.
5.5 Considerações éticas
O projeto foi submetido e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da
Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo e pela Diretoria de Saúde
do município de Itupeva, SP, conforme determinações da Resolução CNS/MS
466/2012, que regulamenta a ética em pesquisa envolvendo seres humanos no
Brasil.
Como medida de proteção aos direitos humanos, todas as participantes
(profissionais de saúde e mães) foram informadas detalhadamente sobre os
objetivos do estudo e as mães que não participaram das etapas anteriores da
investigação mais ampla assinaram Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
(Apêndice A). A liberdade de se recusar a participar ou retirar seu consentimento,
33
em qualquer fase do desenvolvimento das atividades foi assegurada aos sujeitos
sem penalização alguma ou prejuízo ao seu cuidado. Também foi garantido o
sigilo das informações e a privacidade dos sujeitos. No presente estudo, as mães
e os profissionais foram identificadas como M e P, respectivamente e foram
numerados por ordem de entrada na digitação.
6 RESULTADOS
6.1 Oficinas de escuta com mães e profissionais de saúde
As mães que participaram das oficinas de escuta tinham em média 28 anos
de idade, três filhos e não trabalhavam fora do lar. Quanto à escolaridade, das 10
mães participantes, uma não era alfabetizada, cinco tinham o ensino fundamental
completo, duas tinham o ensino médio incompleto e outras duas tinham
completado o ensino médio.
Quanto aos profissionais, todos eram do sexo feminino, com tempo de
formação profissional entre 4 e 35 anos e tempo de trabalho na rede municipal
entre 10 e 30 anos.
A análise das falas dos participantes, obtidas nas oficinas, revelou que há
uma preocupação das mães quanto ao reconhecimento do excesso de peso de
seus filhos:
(...) e como saber se meu filho está gordinho? (M3)
O preparo e a oferta da alimentação à criança também aparecem como
preocupação de mães e profissionais de saúde:
“Eu acho que uma coisa que poderia nos auxiliar...alguma coisa que a criança
começasse a conhecer os legumes porque...mostra no filme que criança não
conhece legumes, verduras, frutas...E outra coisa que mãe tem muita dificuldade é
a introdução das primeiras papinhas...Aí como devo proceder? Coloco sal? Não
coloco sal? Quando eu posso colocar...usar o alimento inteiro?” (M1)
“A minha filha não come...Eu posso deixar o prato ali que ela não come (...) O único
legume que ela come é batata só, e tomate. Só isso que ela come. Iogurte, bolacha
ela come.” (M2)
“...colocar (no álbum seriado) a alimentação que a criança deve consumir durante o
dia...” (P1)
34
Observa-se que as práticas alimentares e o tipo de atividade física exercida
atualmente pela população são apontados pelos profissionais de saúde como
comportamentos que contribuem para o ganho de peso infantil:
“...hoje uma criança de onze anos era pra ser superativa mas hoje em dia com os
smartphones, videogames, internet...com nove, dez anos espera-se que...andar de
bicicleta, de patins, jogando bola, pega-pega mas isso era antes...” (P1)
“...hoje em dia quantas refeições uma família faz junto?” (P4)
6.2 Construção do Álbum Seriado
A construção do Álbum Seriado teve como base os temas extraídos das
oficinas realizadas com mães e profissionais de saúde, porém para uma
sequência lógica de apresentação, o material foi organizado de acordo com temas
e subtemas apresentados no Quadro 2.
Quadro 2: Temas e subtemas que compõem o Álbum Seriado.
TEMAS SUBTEMAS
Reconhecimento do excesso de peso Percepção de mães sobre o estado nutricional dos filhos
Aspectos epidemiológicos do excesso de peso infantil
Cálculo do Índice de Massa Corporal (IMC)
Uso da Caderneta de Saúde da Criança como instrumento de vigilância do estado nutricional
Causas e consequências do excesso de peso
Ciclo do excesso de peso
Doenças decorrentes do excesso de peso
Estratégias de prevenção do excesso de peso e promoção da saúde infantil
Alimentação adequada e saudável
Atividade física
Apresenta-se, a seguir, as páginas da versão final do Álbum Seriado, a
frente e o verso, ou seja, duas a duas em cada página para visualização. As letras
miúdas próximas às figuras correspondem à citação da fonte da figura.
As páginas 1 e 2 correspondem à apresentação e capa do Álbum Seriado,
respectivamente (Figura 2). Na sequência, as páginas 3 e 4 têm o objetivo de
auxiliar o profissional a iniciar a roda de conversa com as mães perguntando-se:
A criança gordinha é sinônimo de saúde ou doença? (Figura 3). A partir das
respostas das mães, o profissional pode conduzir o grupo para a percepção do
estado nutricional dos filhos, nas páginas 5 e 6 (Figura 4).
35
As páginas 7 e 8 apresentam sucintamente os aspectos epidemiológicos
do excesso de peso infantil (Figura 5). No tema “reconhecimento do excesso de
peso”, apresentam-se as páginas 6, 7, 8 e 9 do Álbum seriado, que abordam o
cálculo do Índice de Massa Corporal (IMC) e a Caderneta de Saúde da Criança
como valioso instrumento para o acompanhamento e a vigilância do estado
nutricional e prevenção do excesso de peso infantil.
36
Figura 2. Apresentação e Capa do Álbum Seriado.
37
Figura 3. Páginas 3 e 4 do Álbum Seriado.
38
Figura 4. Páginas do Álbum Seriado referentes à percepção do estado nutricional dos filhos.
39
Figura 5. Páginas do Álbum Seriado referentes aos aspectos epidemiológicos do excesso de peso.
40
Figura 6. Páginas do Álbum Seriado referentes ao reconhecimento do excesso de peso infantil – Cálculo do IMC.
41
Figura 7. Páginas do Álbum Seriado referentes à importância da Caderneta de Saúde da Criança.
42
Figura 8. Páginas do Álbum Seriado referentes à importância da Caderneta de Saúde da Criança na prevenção do excesso de peso infantil.
43
Figura 9. Páginas do Álbum Seriado referentes aos gráficos de crescimento.
44
As páginas 17 e 18 conduzem o grupo a discutir e refletir sobre
comportamentos do cotidiano que levam ao excesso de peso, ou seja, uma
criança saudável que passa muitas horas assistindo televisão ou jogando
videogame, que tem uma alimentação rica em açúcares e gorduras, e que
gradativamente acumula tecido adiposo, de forma que apresenta menor
disposição para realizar atividade física, ou seja, o ciclo do ganho de peso (Figura
10). A seguir se trata das consequências do excesso de peso, que pode causar
diversos problemas à saúde ainda na infância como: distúrbios do sono,
problemas osteoarticulares, diabetes mellitus, hipertensão, entre outros (Figura
11).
As Figuras de 12 a 15 apresentam as páginas 21 a 28 referentes ao tema
“Estratégias de prevenção do excesso de peso e promoção da saúde infantil” e o
subtema “alimentação adequada e saudável”. Essas páginas abordam os “Dez
passos para uma alimentação saudável”, especialmente quanto ao aleitamento
materno e introdução da alimentação complementar adequada e oportuna. Além
disso, destaca a Caderneta de Saúde da Criança como importante fonte de
informação às mães.
Ainda dentro do mesmo tema, as páginas 29 a 36 tratam os aspectos
relativos à alimentação, focando a Pirâmide Alimentar e apresentando dicas
importantes às mães na oferta da alimentação às crianças (Figuras 16 a 19).
45
Figura 10. Páginas do Álbum Seriado referentes ao ciclo do excesso de peso.
46
Figura 11. Páginas do Álbum Seriado referentes às consequências do excesso de peso.
47
Figura 12. Páginas do Álbum Seriado referentes à alimentação adequada e saudável.
48
Figura 13. Páginas do Álbum Seriado que abordam os “10 passos para
alimentação saudável”.
49
Figura 14. Páginas do Álbum Seriado referentes aos principais cuidados com a alimentação nos primeiros meses de vida.
50
Figura 15. Páginas do Álbum Seriado referentes aos grupos de alimentos.
51
Figura 16. Páginas do Álbum Seriado referentes à Pirâmide Alimentar.
52
Figura 17. Páginas do Álbum Seriado referentes às porções dos grupos alimentares.
53
Figura 18. Páginas do Álbum Seriado referentes às dicas sobre introdução e oferta de alimentos às crianças.
54
Figura 19. Páginas do Álbum Seriado referentes à oferta de alimentação às crianças.
55
De acordo com o diálogo estabelecido com mães e profissionais, incluiu-se
também informações sobre a leitura dos rótulos das embalagens (Figura 20) e os
alimentos onde se pode encontrar maior concentração de açúcar e sódio (Figura
21).
As Páginas 41 e 42 destacam que a atividade física para crianças menores
de três anos deve ser realizada de forma lúdica, como por exemplo, pular corda,
andar de bicicleta, correr com outras crianças no quintal, entre outras. Sempre
que possível, atividades como dança, judô, natação também podem ser
estimuladas. Destaca-se também que além de afastar o risco de obesidade, a
atividade física estimula a coordenação motora e ajuda no desenvolvimento da
criança como um todo (Figura 22).
As Páginas 43 e 44 referem-se a uma brincadeira com as mães para que
elas encontrem no meio das figuras, as situações inadequadas de alimentação
das crianças, como: ‘forçar a criança a comer’, ‘comer muito rapidamente’, ‘tomar
líquidos junto às refeições’, entre outras (Figuras 23 e 24). Esses folhetos foram
incluídos para contemplar uma solicitação dos profissionais de saúde que
gostariam de um material mais interativo e dinâmico.
A última página do Álbum Seriado refere-se à bibliografia consultada e,
portanto, não foi incluída como figura nesta apresentação.
56
Figura 20. Páginas do Álbum Seriado sobre leitura dos rótulos das embalagens.
57
Figura 21. Páginas do Álbum Seriado sobre alimentos com excesso de açúcar e sódio.
58
Figura 22. Páginas do Álbum Seriado sobre o incentivo da prática da atividade física.
59
Figura 23. Páginas do Álbum Seriado sobre práticas inadequadas de alimentação infantil.
60
Figura 24. Páginas do Álbum Seriado sobre práticas inadequadas de alimentação infantil.
61
6.3 Validação do Álbum Seriado por juízes
Todos os juízes eram do sexo feminino, com nível superior completo, uma
delas com mestrado e tempo de trabalho no município entre 10 e 30 anos.
Mesmo se tratando de um estudo em que o processo de construção do
material foi coletivo, com a participação de mães da comunidade, optou-se por
validar o material apenas com os profissionais de saúde, pois não se encontraram
estudos que envolvessem pessoas da comunidade no processo de validação.
A Tabela 1 apresenta a distribuição da porcentagem de concordância das
juízas de acordo com os itens avaliados na ficha de validação individual. Observa-
se que para a maioria dos itens, obteve-se grau de concordância maior que 85%,
exceto quanto à necessidade de ajustes das páginas, que ficou em 47,7%. As
principais sugestões de ajustes apontadas pelos profissionais foram: melhorar a
resolução das figuras; inserir legenda nas figuras; alterar o título da página;
acrescentar outras figuras; alterar ou trocar figuras e mudar a posição da figura.
Tabela 1. Distribuição da porcentagem de concordância dos juízes para validação
do álbum seriado. Itupeva, 2015.
Questões da ficha de validação % de concordância
A figura é clara/compreensível?
Sim
96,0
A figura relaciona-se com o tema?
Sim
98,6
A figura é importante para o álbum seriado?
Muito importante
89,4
A figura necessita de ajustes?
Necessita de ajustes
47,7
62
7 DISCUSSÃO
A proposta de construir um material didático instrucional para a prevenção
do excesso de peso infantil na atenção básica ocorreu em decorrência dos
resultados obtidos na investigação mais ampla, os quais evidenciaram que o
excesso de peso (risco de sobrepeso, sobrepeso e obesidade) afetava uma em
cada três crianças do Município de Itupeva, cadastradas nas unidades básicas de
saúde, além da constatação de que as mães apresentavam dificuldade para
reconhecer o real estado nutricional do filho (Duarte 2014).
Considerando que para a transformação da realidade há necessidade da
construção coletiva, desencadeou-se um processo dialógico, tendo como base o
referencial teórico da educação crítica, em busca de avançar na proposição de
um material que favorecesse a reflexão crítica.
Assim, iniciou-se a construção do Álbum Seriado com o envolvimento “de
pessoas da comunidade (...) numa ação dialogal entre educadores-e-educandos
(...), com uma prática de ação comum entre as pessoas do programa (...) e as da
comunidade” (Brandão 1991, p. 24). Nesse âmbito, foram realizadas oficinas de
escuta com mães e profissionais de saúde.
Essa etapa foi conduzida com o objetivo de ouvir as mães e os
profissionais de saúde da atenção básica, em busca de reconhecer “a cultura da
gente do lugar, que deve ser investigado, pesquisado, levantado, descoberto”
(Brandão 1991, p.25). Dessa forma, levantaram-se ‘temas geradores”, que se
referem a temas concretos da vida que surgem espontaneamente quando se fala
sobre ela, neste caso particular, sobre o excesso de peso infantil, para descobrir
os modos de ver e compreender esse fenômeno na perspectiva das mães e dos
profissionais de saúde. As oficinas de escuta tiveram também como objetivo,
apresentar os resultados da investigação mais ampla e sensibilizar mães e
profissionais quanto ao estado nutricional das crianças menores de três anos no
município de Itupeva.
A escuta nas oficinas foi além de apenas ouvir a fala do outro. Buscou-se
promover o diálogo para situar o ponto de vista das ideias dos sujeitos na busca
da construção de um material didático que fosse elaborado a partir da
necessidade de cada um e dos grupos de mães e profissionais, pois a construção
63
coletiva, a partir das relações entre os diferentes sujeitos é que proporciona a
cooperação para o enfrentamento de problemas concretos (Brasil 2007).
Portanto, a construção do Álbum Seriado desenvolveu-se, de fato, na
perspectiva da educação crítica, pois o levantamento dos temas articulou o que
era significativo aos participantes e envolveu os conhecimentos prévios e os
diversos interesses.
A fim de tornar as oficinas de escuta mais dinâmicas, utilizou-se como
elemento disparador do diálogo entre as mães, a projeção de um filme. Além da
função de entretenimento, essa é uma ferramenta de reflexão espontânea que
permite ao espectador analisar criticamente algumas situações, apropriar-se das
produções e das linguagens, emocionar-se, atualizar-se, divertir-se (Xavier et al.
2011).
Projetou-se uma versão editada de cerca de 20 minutos do documentário
“Muito além do peso” (2012). Esse filme resulta de uma parceria entre Maria
Farinha Filmes e o Instituto Alana, que para a produção do documentário
mergulharam no tema da obesidade infantil para discutir por que 33,5% das
crianças brasileiras entre 5 e 9 anos apresentam excesso de peso (Brasil 2010b).
O filme destaca os efeitos devastadores da comunicação mercadológica e
veiculação das propagandas de alimentos dirigida ao público infantil e a partir de
histórias reais, debate o excesso de peso infantil nas cinco regiões brasileiras,
com depoimentos de profissionais envolvidos com a saúde e a alimentação da
criança, que alertam para esse alarmante problema da atualidade.
Dessa forma, o filme chama a atenção para o consumo excessivo de
alimentos ultraprocessados, definidos pelo Ministério da Saúde como biscoitos
recheados, salgadinhos ‘de pacote’, refrigerantes, macarrão ‘instantâneo’, os
quais são nutricionalmente desbalanceados, uma vez que sua fabricação envolve
a combinação de açúcar, sal e gordura em grande quantidade (Brasil 2014).
Sawaya & Filgueiras (2013) ressaltam a forte influência das propagandas
na mudança dos hábitos alimentares e sua contribuição para o aumento do
excesso de peso que acomete cada vez mais crianças e adolescentes. Nesse
âmbito, as autoras debruçam-se em pesquisas recentes para explicar como a
combinação de açúcar, gordura e sal, utilizados em ‘dose certa’ nos alimentos
industrializados geram emoções positivas e prazer que aumentam a motivação
para obtê-los. Denominam tais alimentos e bebidas (bombons, biscoitos,
64
salgadinhos, batata frita, refrigerantes, sucos) como “recompensadores”, pela
geração de prazer que faz com que se queira comer mais, mesmo na ausência de
fome, o que leva ao descontrole alimentar.
A partir da demanda do próprio grupo de mães e profissionais durante as
oficinas de escuta, a Página 38 apresentou um grande rótulo com ingredientes
para os profissionais auxiliarem as mães a identificarem a grande quantidade de
sal, açúcar e gordura nos alimentos industrializados e ultraprocessados. Esse
folheto chama a atenção para o fato de que o primeiro ingrediente é o que está
presente em maior quantidade, que nem sempre o alimento com mais caloria é o
menos saudável, e que se deve prestar atenção para a quantidade de açúcar, sal
e gordura presentes nos alimentos, de forma a priorizar aqueles com menor
quantidade desses componentes. A Página 40 apresenta os alimentos mais
comumente consumidos pelas crianças, que contêm quantidade excessiva de
açúcar, gordura e/ou sal (sódio), destacando-se que o sal está presente na forma
de sódio, mesmo nos alimentos doces, por constituírem aditivos usados para
dotar os alimentos ultraprocessados de sabor, aroma, cor e textura que os tornam
atraentes e também para a preservação e extensão da duração desses alimentos
industrializados (Brasil 2014).
Na Página 4, incluiu-se a apresentação de figuras de crianças gordinhas
como forma de apresentar o excesso de peso infantil como problema de saúde
local e mundial e levantar como os participantes do grupo percebem o excesso de
peso: como saúde ou como doença? Para contemplar esse tema, apresenta-se
na Página 6, uma escala de silhuetas para crianças de 2 a 3 anos (Hager et al.
2010), pois o reconhecimento do excesso de peso é o primeiro requisito
necessário para a busca de ajuda profissional para o controle desse problema.
Considerando as evidências científicas de que os pais têm dificuldade para
avaliar adequadamente o estado nutricional do filhos (Carvalhaes & Godoy 2002,
Maynard et al. 2003, Carnell et al. 2005, Hirschler et al. 2005, He & Evans 2007,
Chuproski & Mello 2009, Molina et al. 2009, Duarte 2014), as páginas 9 a 16
introduzem a avaliação do estado nutricional com a utilização da Caderneta de
Saúde da Criança (CSC) e apresenta uma Tabela (Gráfico) que permite fácil
obtenção do IMC (Página 14) e os gráficos para acompanhamento do
crescimento (Página 16). O objetivo é que essas páginas permitam a
65
compreensão da CSC como importante instrumento para o acompanhamento do
crescimento (Brasil 2013a).
Nesse contexto, é possível abordar também os principais usos da CSC,
enfatizando-se que seu preenchimento deve ter início na maternidade, com o
registro das informações sobre o parto, condições de alta do bebê, primeiras
vacinas e exames ou testes realizados, e sua continuidade deve ser dada,
preferencialmente, pelos profissionais das Unidades Básicas de Saúde (UBS),
onde a análise da CSC deve ser o primeiro cuidado prestado ao recém-nascido
(Brasil 2013a).
Apesar da importância desse instrumento na promoção da saúde da
criança, número reduzido de estudos analisa o uso da CSC e todas as
publicações evidenciam falhas importantes, principalmente no seu preenchimento
(Alves et al. 2009, Goulart et al. 2008, Frota et al. 2007, Vieira et al. 2005, Ratis &
Batista Filho 2004). Revisão de literatura publicada no Brasil entre 2005 e 2011,
acerca das dificuldades no uso da CSC por profissionais de saúde, aponta como
principais fatores, a desvalorização e o desconhecimento de mães/familiares
sobre a CSC e a falta de capacitação dos profissionais para o seu uso correto
(Abreu & Cunha 2012).
Assim, para que a CSC cumpra seu papel de instrumento de comunicação,
educação, vigilância e promoção da saúde infantil são necessários tanto o registro
correto e completo das informações, quanto o diálogo com a família sobre as
anotações realizadas (Alves et al. 2009).
Para abordar o tema alimentação saudável utilizou-se a Pirâmide
Alimentar, um guia simples e confiável que apresenta os Grupos de Alimentos e a
quantidade mínima a ser consumida para garantir a ingestão dos nutrientes
necessários ao organismo. A Sociedade Brasileira de Pediatria (2012) recomenda
a ingestão de água e a prática de atividade física para a manutenção de um peso
saudável, recomendado para o crescimento e desenvolvimento adequados.
Na Pirâmide Alimentar, cada andar refere-se a um Grupo de Alimentos, e
em cada Grupo indicam-se as porções que devem ser consumidas. Os andares
representam os Grupos em ordem decrescente do que se recomenda de
consumo. A base refere-se ao Grupo de Cereais e Tubérculos (arroz, farinhas,
macarrão, pão, mandioca, batata). No andar de cima, encontram-se Legumes,
Verduras e Frutas. Acima estão os Grupos das Carnes, Miúdos, Ovos; Grupos de
66
Leguminosas/Feijões e Grupos de Leite e derivados. No cume da pirâmide estão
os Grupos dos Açúcares, Óleos e Gorduras, que devem ser consumidos o mínimo
possível (Brasil 2005).
A atividade física foi abordada numa das páginas devido sua importância
nas diferentes fases da vida, inclusive na infância. Além de afastar o risco de
obesidade (Matsudo et al. 2003), sua prática estimula a coordenação motora e
ajuda no seu desenvolvimento global (Sociedade Brasileira de Pediatria, 2012).
Segundo Matsudo et al. (2003), até os 5 anos, os exercícios físicos devem
ser diários e lúdicos, como correr, pular corda, dar cambalhota, e não
competitivos.
Revisão da literatura aponta que hábitos sedentários, como assistir
televisão por mais de 1 hora, jogar videogame ou outros jogos no computador,
smartphones e tablets, contribuem para uma diminuição do gasto calórico diário e
consequentemente, para excesso de peso, sobrepeso e obesidade (Mello et al.
2004). Além disso, crianças menores de 2 anos de idade que assistem TV por
mais de 1 hora podem desenvolver atraso nos desenvolvimentos cognitivo, motor
e de linguagem (Lin et al. 2015).
No Brasil, dados da POF 2002-2003 mostraram que a aquisição de açúcar
e refrigerantes pelas famílias brasileiras compreendeu 13,4% do valor energético,
enquanto que o percentual relativo a frutas, verduras e legumes totalizou apenas
2,3%. Tal realidade aliada ao fato da TV influenciar o consumo de alimentos ricos
em gorduras e açúcares, impõe a necessidade de regulamentação da publicidade
de alimentos nos canais de TV, tendo em vista que frutas e hortaliças
evidentemente não são anunciadas de modo enfático (Rossi et al. 2010).
No processo de validação da primeira versão do Álbum Seriado, houve
praticamente concordância de 90% dos juízes com relação à clareza e
compreensão, relação das figuras com o tema e importância da figura para o
Álbum Seriado. As principais sugestões de alteração referiram-se à necessidades
de ajustes de algumas figuras. A realização dessa etapa com a participação de
profissionais da atenção básica como juízes na validação do Álbum Seriado foi
muito importante e possibilitou ajustar o material às necessidades e expectativas
dos profissionais, imprescindível no desenvolvimento de materiais educativos
(Echer 2005). Entretanto, destaca-se como uma limitação, a impossibilidade de
67
validar o material com as mães, uma vez que se tratou de um estudo em que o
processo de construção foi coletivo, com a participação das mães da comunidade.
No entanto, a produção do Álbum Seriado a partir de um processo
dialógico é um processo inacabado, pois “será sempre um vir a ser e um
redesenho dinâmico, histórico e fértil. A realidade trará novos olhares, novas
formas de ver, interagir, cooperar e enfrentar” o problema do excesso de peso
(Carvalho 2007, p.101).
68
8 CONSIDERAÇÕES FINAIS E IMPLICAÇÕES PARA A PRÁTICA
A construção e validação do Álbum Seriado de forma participativa, com
base na educação crítica, atende mães e profissionais de saúde em suas
demandas e necessidades, facilita o uso dessa tecnologia pelos profissionais de
saúde no processo educativo na atenção básica e favorece a compreensão e
incorporação de passos importantes para a prevenção do excesso de peso infantil
por parte das mães, contribuindo para a promoção da saúde da criança.
O conteúdo abordado no Álbum Seriado teve como base o produto das
oficinas de escuta com mães e profissionais, os documentos técnicos do
Ministério da Saúde direcionados à rotina da atenção básica e informações
científicas atualizadas.
Considera-se que as implicações práticas deste estudo referem-se ao uso
do Álbum Seriado como material didático e instrucional, especialmente em grupos
educativos da atenção básica. No entanto, pode ser utilizado por qualquer
profissional de saúde durante consultas, visitas domiciliares, orientações em sala
de espera ou quaisquer outras situações oportunas ao diálogo com as mães e
com a comunidade em geral.
É importante ressaltar que o Álbum Seriado não precisa ser utilizado de
forma rígida e sistematizada e que, considerando os pressupostos da educação
crítica, é um produto ainda inacabado que possibilita a inclusão de outros temas a
partir de novos diálogos.
Entretanto, faz-se necessário criar espaços legítimos de educação em
saúde na rotina dos serviços da atenção básica e sensibilizar os profissionais
para uma abordagem dialógica com a comunidade, que favoreça a comunicação
contínua, pela desconstrução e construção dos saberes mútuos, tornando a
pessoa sujeito do seu próprio aprendizado.
Além disso, também se faz necessário investir na capacitação dos
profissionais para a prevenção do excesso de peso infantil como forma de
colaborar para o enfrentamento precoce, exaustivo e aprimorado da realidade.
69
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76
APÊNDICE A
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO- ESCOLA DE ENFERMAGEM DEPARTAMENTO DE ENFERMAGEM EM SAÚDE COLETIVA
Av. Dr. Enéas de Carvalho Aguiar, 419, 2ª andar - Cerqueira Cesar São Paulo/SP – CEP 05403-000 – e-mail: [email protected]
Telefones: (11) 3061-7652 – Fax: (11) 3061 7662
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO PARA AS MÃES
Eu, __________________________________________________________ fui convidada
a participar de uma pesquisa que busca construir um processo de educação em saúde com mães de
crianças menores de três anos de idade a fim de ampliar as estratégias de enfrentamento das
situações relacionadas ao cuidado de seus filhos.
Minha participação é voluntária e terei total liberdade de não participar da pesquisa, ou se
aceitar participar, poderei retirar meu consentimento a qualquer momento. Foi-me garantido que as
informações são sigilosas e confidenciais. Satisfeita com as explicações, concordo em participar
como voluntário da pesquisa e assino duas cópias deste documento, uma para mim e outra para o
pesquisador. Caso eu tenha alguma dúvida, reclamação ou necessite de algum tipo de
esclarecimento poderei entrar em contato com a pesquisadora responsável, Enfermeira Mirna Ferré
Fontão Más tel: (015) 997518448 ou se for relacionado aos aspectos éticos, poderei entrar em
contato com o Comitê de Ética em Pesquisa da Escola de Enfermagem da USP no fone (11) 3061-
7548.
ITUPEVA, ____/_____/ 2015.
77
APÊNDICE B
VALIDAÇÃO POR JUÍZES DO ÁLBUM SERIADO – PREVENINDO O EXCESSO DE PESO INFANTIL
Formação profissional:___________________________________Tempo de formação:_______
Há quanto tempo trabalha na atenção básica? ____________________
Figura A figura é clara/ compreensível?
A figura relaciona-se com o tema?
Sua importância para o álbum seriado:
Sua permanência no álbum seriado:
1
( ) Sim ( ) Não
( ) Sim ( ) Não
( ) É muito importante ( ) É importante ( ) Não é importante
( ) Não necessita de ajustes ( ) Necessita de ajustes ( ) Deve ser retirado
2
( ) Sim ( ) Não
( ) Sim ( ) Não
( ) É muito importante ( ) É importante ( ) Não é importante
( ) Não necessita de ajustes ( ) Necessita de ajustes ( ) Deve ser retirado
3
( ) Sim ( ) Não
( ) Sim ( ) Não
( ) É muito importante ( ) É importante ( ) Não é importante
( ) Não necessita de ajustes ( ) Necessita de ajustes ( ) Deve ser retirado
4
( ) Sim ( ) Não
( ) Sim ( ) Não
( ) É muito importante ( ) É importante ( ) Não é importante
( ) Não necessita de ajustes ( ) Necessita de ajustes ( ) Deve ser retirado
5
( ) Sim ( ) Não
( ) Sim ( ) Não
( ) É muito importante ( ) É importante ( ) Não é importante
( ) Não necessita de ajustes ( ) Necessita de ajustes ( ) Deve ser retirado
6
( ) Sim ( ) Não
( ) Sim ( ) Não
( ) É muito importante ( ) É importante ( ) Não é importante
( ) Não necessita de ajustes ( ) Necessita de ajustes ( ) Deve ser retirado
7
( ) Sim ( ) Não
( ) Sim ( ) Não
( ) É muito importante ( ) É importante ( ) Não é importante
( ) Não necessita de ajustes ( ) Necessita de ajustes ( ) Deve ser retirado
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8
( ) Sim ( ) Não
( ) Sim ( ) Não
( ) É muito importante ( ) É importante ( ) Não é importante
( ) Não necessita de ajustes ( ) Necessita de ajustes ( ) Deve ser retirado
9
( ) Sim ( ) Não
( ) Sim ( ) Não
( ) É muito importante ( ) É importante ( ) Não é importante
( ) Não necessita de ajustes ( ) Necessita de ajustes ( ) Deve ser retirado
10
( ) Sim ( ) Não
( ) Sim ( ) Não
( ) É muito importante ( ) É importante ( ) Não é importante
( ) Não necessita de ajustes ( ) Necessita de ajustes ( ) Deve ser retirado
11
( ) Sim ( ) Não
( ) Sim ( ) Não
( ) É muito importante ( ) É importante ( ) Não é importante
( ) Não necessita de ajustes ( ) Necessita de ajustes ( ) Deve ser retirado
12
( ) Sim ( ) Não
( ) Sim ( ) Não
( ) É muito importante ( ) É importante ( ) Não é importante
( ) Não necessita de ajustes ( ) Necessita de ajustes ( ) Deve ser retirado
13
( ) Sim ( ) Não
( ) Sim ( ) Não
( ) É muito importante ( ) É importante ( ) Não é importante
( ) Não necessita de ajustes ( ) Necessita de ajustes ( ) Deve ser retirado
14
( ) Sim ( ) Não
( ) Sim ( ) Não
( ) É muito importante ( ) É importante ( ) Não é importante
( ) Não necessita de ajustes ( ) Necessita de ajustes ( ) Deve ser retirado
15
( ) Sim ( ) Não
( ) Sim ( ) Não
( ) É muito importante ( ) É importante ( ) Não é importante
( ) Não necessita de ajustes ( ) Necessita de ajustes ( ) Deve ser retirado
16
( ) Sim ( ) Não
( ) Sim ( ) Não
( ) É muito importante ( ) É importante ( ) Não é importante
( ) Não necessita de ajustes ( ) Necessita de ajustes ( ) Deve ser retirado
17
( ) Sim ( ) Não
( ) Sim ( ) Não
( ) É muito importante ( ) É importante ( ) Não é importante
( ) Não necessita de ajustes ( ) Necessita de ajustes ( ) Deve ser retirado
18
( ) Sim ( ) Não
( ) Sim ( ) Não
( ) É muito importante ( ) É importante ( ) Não é importante
( ) Não necessita de ajustes ( ) Necessita de ajustes ( ) Deve ser retirado
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19
( ) Sim ( ) Não
( ) Sim ( ) Não
( ) É muito importante ( ) É importante ( ) Não é importante
( ) Não necessita de ajustes ( ) Necessita de ajustes ( ) Deve ser retirado
20
( ) Sim ( ) Não
( ) Sim ( ) Não
( ) É muito importante ( ) É importante ( ) Não é importante
( ) Não necessita de ajustes ( ) Necessita de ajustes ( ) Deve ser retirado
21
( ) Sim ( ) Não
( ) Sim ( ) Não
( ) É muito importante ( ) É importante ( ) Não é importante
( ) Não necessita de ajustes ( ) Necessita de ajustes ( ) Deve ser retirado
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( ) Sim ( ) Não
( ) Sim ( ) Não
( ) É muito importante ( ) É importante ( ) Não é importante
( ) Não necessita de ajustes ( ) Necessita de ajustes ( ) Deve ser retirado
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( ) Sim ( ) Não
( ) Sim ( ) Não
( ) É muito importante ( ) É importante ( ) Não é importante
( ) Não necessita de ajustes ( ) Necessita de ajustes ( ) Deve ser retirado
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( ) Sim ( ) Não
( ) Sim ( ) Não
( ) É muito importante ( ) É importante ( ) Não é importante
( ) Não necessita de ajustes ( ) Necessita de ajustes ( ) Deve ser retirado
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( ) Sim ( ) Não
( ) Sim ( ) Não
( ) É muito importante ( ) É importante ( ) Não é importante
( ) Não necessita de ajustes ( ) Necessita de ajustes ( ) Deve ser retirado
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( ) Sim ( ) Não
( ) Sim ( ) Não
( ) É muito importante ( ) É importante ( ) Não é importante
( ) Não necessita de ajustes ( ) Necessita de ajustes ( ) Deve ser retirado
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( ) Sim ( ) Não
( ) Sim ( ) Não
( ) É muito importante ( ) É importante ( ) Não é importante
( ) Não necessita de ajustes ( ) Necessita de ajustes ( ) Deve ser retirado
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