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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE COMUNICAÇÃO E ARTES
PÓS-GRADUAÇÃO EM GESTÃO INTEGRADA DA COMUNICAÇÃO DIGITAL EM AMBIENTES CORPORATIVOS - DIGICORP
CLARISSA BORASCHI MARIA
Transformações editoriais: historiografia, desafios e possibilidades de (novos) negócios do curador acadêmico na
contemporaneidade
São Paulo
2014
CLARISSA BORASCHI MARIA
Transformações editoriais: historiografia, desafios e possibilidades de (novos) negócios do curador acadêmico na
contemporaneidade
Monografia apresentada ao curso de Pós-graduação em Gestão Integrada da Comunicação Digital em Ambientes Corporativos da Universidade de São Paulo como requisito final para obtenção do título de especialista.
Orientador: Prof. Dr. Elizabeth Saad Corrêa
São Paulo 2014
Autorizo a reprodução e divulgação total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrônico, para fins de estudo e pesquisa, desde que citada a fonte.
Maria, Clarissa Boraschi Transformações editoriais: historiografia, desafios e
possibilidades de (novos) negócios do curador acadêmico na contemporaneidade. Clarissa Boraschi Maria: orientador Elizabeth Saad Corrêa. São Paulo – 2014. 63 fls.
Monografia (Especialização Lato Sensu) – Escola de
Comunicações e Artes, Universidade de São Paulo, 2014. 1. e-book. 2. livro. 3. modelo de negócio. 4. editor 5. serviços
CLARISSA BORASCHI MARIA
Transformações editoriais: historiografia, desafios e possibilidades de (novos) negócios do curador acadêmico na contemporaneidade
Trabalho de conclusão do curso de Pós-Graduação em Gestão Integrada da Comunicação Digital em Ambientes Corporativos, pela Escola de Comunicação e Artes da Universidade de
São Paulo.
Aprovado em:
Banca examinadora
Prof. ______________________________ Julgamento: ________________________
Instituição: ___________________________ Assinatura: __________________________
Prof. ______________________________ Julgamento: ________________________
Instituição: ___________________________ Assinatura: __________________________
Prof. ______________________________ Julgamento: ________________________
Instituição: ___________________________ Assinatura: __________________________
AGRADECIMENTOS
À professora Dra. Elizabeth Saad Corrêa pela orientação na produção deste trabalho e
também pela dedicação na organização e coordenação do Digicorp.
À Bianca Marder pela dedicação na organização do Curso e pelo apoio a todos os
alunos.
À Valdinete Sousa, sempre presente, interessada e disposta a nos ajudar em todo o
possível.
À Thaís de Camargo Rodrigues, Henderson Fürst, Ligia Alves, Ana Cristina Garcia,
Maria Izabel Barreiros Bittencourt Bressan e William Paiva, companheiros de profissão:
muito obrigada por toda a troca de ideias, incentivo, suporte e torcida na elaboração desta
monografia.
Ao Carlos Costa e Sousa e, principalmente, à Nathalie Lima, sem os quais o caminho,
as aulas e as avaliações teriam sido muito mais difíceis nesses dois anos. Muito obrigada pela
convivência, parceria, risadas e troca de experiências: foram extremamente importantes.
Ao Rafael Maria, à Paula de Araújo, à Adriana Campos, ao André Cabral e à Thereza
Cavalcanti, pelos desabafos e ajudas a distrair a cabeça durante o curso e a monografia:
obrigada pela amizade sincera.
Ao Leandro Valiengo, pelo carinho e companheirismo e pelo incentivo reforçado
nesses meses de escrita: obrigada pelo sorriso no seu olhar.
Aos meus pais, Maura e Aloisio, por todo o amor, dedicação, incentivo e apoio.
E acredito, sim, apesar de uma longa tradição de alguns eventuais erros intelectuais trágicos, que observar, analisar e teorizar é um modo de ajudar a construir um mundo diferente e melhor. Não oferecendo as respostas, mas suscitando algumas perguntas pertinentes. CASTELLS, 1999, p. 24
RESUMO
Este trabalho tem como objetivo oferecer um panorama geral das transformações históricas da composição do produto livro e do modelo de negócios do segmento de publicações ligadas ao ensino acadêmico e ao compartilhamento do conhecimento. Partindo da Revolução da “prensa de Gutenberg” até a Revolução Digital iniciada na década de 1960, apresentaremos elementos que estão sendo considerados para o desenvolvimento de novos negócios editoriais partindo da mercantilização do conhecimento diante do contexto de excesso informativo em decorrência do desenvolvimento microtecnológico e das novas necessidades de consumo geradas pela sociedade em rede.
Palavras-chave: e-book – livro – modelo de negócio – editor – serviços
ABSTRACT
This paper aims to provide an overview of the historical transformations of book’s composition and the business of the publications linked to academic learning and sharing of knowledge model segment. Starting from "Gutenberg press Revolution" to the Digital Revolution started in the 1960s, we will present elements that have been considered for the development of new editorial business model, starting from the commodification of knowledge on the context of information due to excess, microtechnology development and new consumer needs generated by the network society.
Keywords: e-book – book – business model – publisher – services
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 1 - Folder EAD - página par .......................................................................................... 50 Figura 2 - Folder EAD - página ímpar ..................................................................................... 52
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 11
1. O PRODUTO LIVRO .......................................................................................... 16 1.1 DEFINIÇÕES CONTEMPORÂNEAS DE LIVRO .............................................. 16 1.2 VOLUMEN ........................................................................................................ 18 1.3 CÓDICE ............................................................................................................ 18 1.4 INCUNÁBULOS E OS LIVROS IMPRESSOS .................................................. 19 1.5 LIVRO DIGITAL ................................................................................................ 22 1.6 A TRANSCODIFICAÇÃO DO LIVRO ............................................................... 25
2. O NEGÓCIO DO LIVRO ..................................................................................... 29 2.1 DEFINIÇÕES: PRODUTO E SERVIÇOS ......................................................... 29 2.2 LIVROS CIENTÍFICOS,TÉCNICOS E PROFISSIONAIS ................................ 32 2.3 CONHECIMENTO COMO GRANDE NEGÓCIO .............................................. 32 2.4 NÚCLEOS DE CONHECIMENTO .................................................................... 35 2.4.1 Universidades .............................................................................................. 35 2.4.2 Bibliotecas .................................................................................................... 37 2.5 DIREITO AUTORAL, PLÁGIO E PIRATARIA: QUESTÕES SEMPRE ATUAIS 37 2.6 TRANSFORMAÇÕES EDITORIAIS CONTEMPORÂNEAS ............................. 38 2.6.1 A sociedade em rede e o editor/curador .................................................... 39 2.6.2 Possibilidades digitais ................................................................................ 41 2.6.3 Associações a outras indústrias ................................................................ 43
3. NOVOS NEGÓCIOS EDITORIAIS ..................................................................... 45 3.1 BIBLIOTECAS DIGITAIS: MINHA BIBLIOTECA .............................................. 46 3.2 FRACIONAMENTO DE CONTEÚDO DISPONIBILIZADO ON-LINE: PASTA DO PROFESSOR ............................................................................................................ 48 3.3 EDUCAÇÃO À DISTÂNCIA – SOLUÇÕES EDUCACIONAIS SARAIVA .......... 49 3.4 NOVAS TECNOLOGIAS E PROVEDORES DE CONTEÚDO ......................... 52 3.4.1 Produtos acadêmicos .................................................................................. 53
CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................... 57
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 59
11
INTRODUÇÃO
A evolução tecnológica, que possibilitou a explosão de informações, das
comunicações globalizadas e da cibernética no Pós-Modernismo, proporciona um tempo de
opções incessantes a todo o momento. Definida como um período de questionamento da
Modernidade, a Pós-modernidade questiona a racionalidade, as leis, o planejamento do tempo,
o ensino como elemento de poder, as instituições familiares, religiosas e sociais. As
metanarrativas, que são os grandes discursos axiológicos em torno dos quais se organizaram o
pensamento moderno, passaram a se fragmentar de forma que dificilmente se reconhece os
eixos que conduzem o badalar do pêndulo da cultura. Todos esses valores estão em crise;
perdem-se as referências educacionais, amorosas, políticas, sociais e também a crença da
felicidade que está projetada no futuro. Questiona-se o tempo linear: o passado deixou de ser
referência e o futuro deixou de ser previsível, existindo apenas um presente contínuo – tudo
coexiste. O que era firme, sólido, certo, torna-se instável. O indivíduo está inserido em uma
sociedade em constante mutação.
A economia pede flexibilidade administrativa, globalização do capital, da produção e
do comércio. Em uma sociedade líquida, como alcunha o sociólogo polonês Zygmunt
Bauman em sua obra A modernidade líquida, as Instituições, a moral, a ética e a sexualidade
estão em xeque. Na Pós-modernidade, a felicidade é o consumo, é o ter para disfrutar a vida, o
momento. É o consumismo, é uma racionalidade sustentada em viver no presente, em ter
liberdade individual, liberdade de comunicação, em ser admirado e ter acesso a uma
infinidade de recursos e serviços.
Alia-se a isso a revolução microeletrônica e os avanços da computação e das
telecomunicações e é desse contexto de novas possibilidades de comunicação e da
fragilização da relação emissor-receptor que surgiram as mídias horizontais, onde emissores e
receptores estão ligados em rede e onde todo receptor é um emissor em potencial. Esse
contexto, que possibilita uma possibilidade infinita de escolhas de consumo, surge de acordo
com os três princípios básicos do progresso da cibercultura descritos por Lemos e Lévy:
“liberação da emissão, conexão generalizada e reconfiguração social, cultural, econômica e
política” (2010, p. 45). Ou seja: grande circulação de informação por conta da transformação
do receptor em emissor (liberdade da emissão) em ambiente em que tudo (diversos objetos) se
comunica e está ligado em rede (conexão generalizada), ocasionando transformações de
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estruturas sociais, instituições e de práticas comunicacionais (reconfiguração social, cultural,
econômica e política).
Nesse contexto, as pessoas deixam de ser apenas consumidoras e passam também a ser
produtoras de conteúdo, protagonizando ações como a publicação e o compartilhamento de
textos, imagens e vídeos. A partir dessa mudança passamos a caminhar de uma cultura gerida
pelo produtor em direção a uma cultura dirigida pelo consumidor.
É diante desse cenário que encontramos o mercado editorial. Em um universo onde
“escassa é a atenção, não o conteúdo” (THOMPSON, 2012, p. 28), como uma editora pode se
destacar e ser bem-sucedida editorialmente e financeiramente? Publicar um livro, no sentido
de torná-lo disponível para o público, é, atualmente, algo fácil: seja através de iniciativas
individuais de autopublicação, impressas ou digitais, ou de postagens de textos na internet, a
evolução tecnológica e o contexto sociocultural facilitam a disponibilização de ideias sem a
necessidade de um polo emissor. Entretanto, publicar, no sentido de construir uma identidade
para o livro, fazer com que ele seja (re)conhecido do público, ganhe visibilidade, vendas e
leitores, é um processo mais complexo e difícil na atualidade justamente por conta do volume
de informações, ofertas, necessidades e escolhas disponíveis.
Ainda que o livro guarde um caráter duplo, de valor cultural e de bem de consumo,
cada vez mais a indústria editorial vem assumindo posicionamento de negócio orientado pelo
mercado, estando sujeita às mesmas condições que regulam outros segmentos. Forças
ambientais, tais como os processos sociais, econômicos, demográficos, culturais, políticos,
tecnológicos e interações entre agentes que competem ou cooperam entre si dentro de um
determinado contexto e segmento empresarial condicionam o sucesso de um produto, que
deve estabelecer uma eficiente estratégia competitiva para crescer e competir no mercado
(ROSA, 2008, p. 33-34)
O uso crescente da tecnologia microeletrônica, a crescente complexidade e
volatilidade do consumo, trabalhos rotineiros eliminados pela mudança tecnológica e a
demanda crescente na indústria por uma força de trabalho mais qualificada são mudanças
significativas ocorridas nas economias mais avançadas nos últimos anos. A partir do estudo
de alguns autores da área de economia, Anita Kon aponta que
[...] as tecnologias da informação e das comunicações têm conduzido à industrialização dos serviços, à inovação organizacional e a novas formas de comercialização dos serviços, no que se refere aos relacionamentos entre produtor e consumidor (...). Resumindo as principais características dos serviços e da inovação técnica como exemplos da dinâmica da reestruturação dos serviços, é possível
13
observar alguns aspectos relacionados às transformações na produção dos serviços, no produto, no consumo e nos mercados [...] (KON, 2004, p. 73)
Estamos observando, então, transformações sociais e econômicas dando lugar a novas
modalidades ou formas modificadas de serviços e também acarretando em transformações no
consumo, no produto e nos mercados.
Diante desse contexto de excesso informacional, de desenvolvimento da
microtecnologia e de mudanças comportamentais no consumo, como as editoras estão lidando
com o seu principal produto, que remonta a séculos de existência? Como veremos neste
trabalho, podemos notar uma movimentação no mercado editorial no sentido de produzir e
distribuir mais do que apenas conteúdo em forma de livro, seja ele impresso ou digital.
Justamente por conta da liberação do polo emissor de informações, o valor percebido do
material vem se tornando cada vez mais reduzido, já que existem materiais disponíveis para
consulta gratuita na Internet. A simples comercialização de livros digitais, ou seja, a
disponibilização de um mesmo conteúdo em um suporte (digital) diferente, não tem rendido
tanto faturamento para as editoras de grande porte1. Para que o ramo editorial continue
rentável, algumas alternativas, como bibliotecas virtuais2, serviços de assinatura3 e parcerias
com instituições de ensino4 vêm sendo desenvolvidas e implantadas. A necessidade de
agregar valor ao conteúdo, proporcionando experiências para os consumidores5, parece ser
uma das questões promissoras e fundamentais para a manutenção e o sucesso do meio
editorial.
Editoras do segmento de educação têm realizado parcerias com grupos educacionais
tendo em vista novas oportunidades de negócio. A relação produtor (editora)-consumidor
(aluno) encontra-se em processo de modificação em virtude da perspectiva de agregar valor
ao conteúdo, proporcionando experiências e soluções de aprendizagem. A editora não vende
mais à livraria, mas a uma instituição de ensino; seu público final não é aquele que escolhe o
1 JARDIM, 2014. 2 LINDOSO, 2014. 3 MELO, 2014. 4 GRUPO A e GSI Online vão fundir suas operações. 2011. Disponível em: <http://www.publishnews.com.br/telas/noticias/detalhes.aspx?id=65382>. Acesso em: 20 ago. 2014. 5 Congresso Internacional CBL do Livro Digital: YoungSuk Chi. 2012. Disponível em: <http://revolucaoebook.com.br/congresso-internacional-cbl-livro-digital-youngsuk-chi/>. Acesso em: 20 ago. 2014.
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que quer ler, mas o que aceita o que a instituição lhe indica; essa modificação de papéis
espalha-se por toda a produção do conteúdo editorial.
Neste trabalho, propomos um panorama geral das transformações históricas da
composição do produto livro e do modelo de negócios do segmento de publicações ligadas ao
ensino acadêmico e ao compartilhamento do conhecimento. Para tanto, cartesianamente
optamos por dividir o estudo da seguinte forma:
No primeiro capítulo faremos uma análise historiográfica das principais
transformações da apresentação do produto livro, desde a Antiguidade até a
Contemporaneidade, demonstrando possibilidades de produção e de interação a partir do
advento digital. Queremos, assim, demonstrar que a evolução tecnológica traz novas
possibilidades de composição e uso do conteúdo, bem como de interação deste conteúdo com
o público-leitor.
No segundo capítulo, o recorte historiográfico seguirá à comercialização do
conhecimento acadêmico, dos modelos de negócio do livro, fixando-nos em dois momentos
históricos: o pós-invenção da prensa, com a impressão em massa dos livros (ou melhor,
incunábulos), e o modelo contemporâneo, com as possibilidades da digitalização. Neste
momento, destacaremos também a atuação de uma das figuras-chave desse processo, o editor
acadêmico.
No terceiro capítulo, como consequência do atual momento das transformações do
livro e da comercialização do conhecimento acadêmico, analisaremos um pequeno “mix” de
projetos ligados ao ensino acadêmico de nível superior que atualmente vêm sendo
desenvolvidos e implantados por algumas editoras em conjunto com empresas de distribuição
de conteúdo e com universidades. O objetivo é demonstrar alguns modelos de negócio
propiciados pelo advento da digitalização de conteúdo e também pela convergência de mídias,
facilitando o acesso à distância. Certas possibilidades saem da simples transposição do
conteúdo impresso para o formato digital e partem para a elaboração, ou melhor, edição de
conteúdo programático, baseado nas necessidades dos “clientes” das editoras.
É importante mencionar que a escolha dos três projetos analisados também se deve a
estarem atrelados à Editora Saraiva, local de trabalho da pesquisadora. A familiaridade e a
facilidade de acesso às informações e à produção de conteúdo dirigidos a eles por conta do
vínculo laboral foi levada em conta na seleção.
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Ao final desta monografia, nas considerações gerais, apresentaremos nossas
observações mais amplas sobre o estudo e possíveis caminhos futuros de investigação.
Trabalhando esses temas, pretendemos contribuir para o enriquecimento do debate
sobre os rumos que vêm se desenhando no mercado editorial apresentando levantamento
bibliográfico, trazendo informações da transformação do livro e levando ao conhecimento de mais
pesquisadores da comunicação novas possibilidades de utilização do conteúdo produzido
editorialmente.
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1. O PRODUTO LIVRO
O livro passou por diversas transformações tecnológicas ao longo da História e todas
proporcionaram modificações na forma de sua divulgação e comercialização. Atualmente, as
possibilidades que a digitalização proporciona, desde diferentes formatos, fontes e cores de
exibição, até mesmo o fato de agregar outras mídias, tornando-se uma hipermídia, abrem
portas não apenas para aumentar a experiência de utilização do livro, mas como de utilização
e distribuição desse conteúdo em múltiplas plataformas.
Para Manuel Castells, “a tecnologia é a sociedade, e a sociedade não pode ser
entendida ou representada sem suas ferramentas tecnológicas” (CASTELLS, 1999, p. 25). Há
uma interação dialética entre a sociedade e a tecnologia, pois a tecnologia incorpora o que há
na sociedade e esta utiliza a inovação tecnológica, resultando em um complexo padrão
interativo. Não é porque certa tecnologia foi inventada para determinado fim que ela
realmente ficará reduzida a essa aplicação: “devemos localizar esse processo de
transformação tecnológica revolucionária no contexto social em que ele ocorre e pelo qual
está sendo moldado” (CASTELLS, 1999, p. 24)
Neste primeiro capítulo apresentaremos um breve panorama histórico da
transformação dos formatos de apresentação do objeto livro desde a Antiguidade até os dias
atuais. Por conta da natureza deste trabalho, nos deteremos com mais detalhamento nas
questões relativas ao livro digital. A intenção é demonstrar que as transformações no formato
estão intrinsecamente ligadas à evolução tecnológica, trazendo cada vez mais possibilidades
de leitura e de interatividade.
Veremos que conforme os processos de produção dos materiais de suporte se
tornavam cada vez mais refinados, mais rapidez de produção, praticidade de utilização,
armazenamento, distribuição e acesso eram desenvolvidas. Ao mesmo tempo, veremos que
definições relativamente contemporâneas sobre o que é “livro” ainda estão ou inseguras em
relação à questão da materialidade/imaterialidade de sua apresentação.
1.1 DEFINIÇÕES CONTEMPORÂNEAS DE LIVRO
A definição da UNESCO, de 19 de novembro de 1964, para livro é a de que “um livro
é uma publicação não-periódica de pelo menos 49 páginas, excluindo as páginas de capa,
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publicada no país e disponibilizada ao público”6. Essa definição enfatiza duas características
atribuídas ao conceito mais difundido do que é livro: a de que tem de ser impresso e tornado
público. Assim, ele precisa circular e comunicar.
No dicionário Houaiss, a definição contempla o objeto tátil e o seu conteúdo, porém
não destaca a necessidade de circulação e nem distingue manuscrito de impresso:
1 coleção de folhas de papel, impressas ou não, cortadas, dobradas e reunidas em cadernos cujos dorsos são unidos por meio de cola, costura etc., formando um volume que se recobre com capa resistente 2 livro (cap. 1) considerado tb. do ponto de vista do seu conteúdo: obra de cunho literário, artístico, científico, técnico, documentativo etc. que constitui um volume [Segundo as normas de documentação da ABNT e organismos internacionais, o livro é a publicação com mais de 48 páginas, além da capa.].
Note-se que a definição da norma da ABNT, a NBR 6026 de 2006, está citada na
definição do dicionário Houaiss e corrobora a questão material do livro.
Dessa forma, ao usar o termo livro, tradicionalmente acabamos nos referindo tanto ao
formato da mídia impressa, o objeto brochura solidificada desde os tempos de Gutenberg,
quanto ao conteúdo (organização das ideias, conhecimento, histórias), e essa atribuição do
mesmo nome tanto para um quanto para o outro não é aleatória ou trivial. Essa referência é o
senso comum sobre o que é livro e é também parâmetro fundamental para instituições
vinculadas à produção editorial, como a Câmara Brasileira do Livro (CBL) e o Sindicato
Nacional dos Editores de Livros (SNEL), que a utilizam para seus sistemas de estatística. Nos
últimos anos, entretanto, os livros digitais e os audiolivros vieram para explicitar o quanto o
conteúdo e o formato são passíveis de separação, transformando essa visão de materialidade
sobre como nomear diferentes formas de apresentar os textos e as ideias.
Ao simplificarmos essa oposição, ou melhor, essa transição, do livro impresso para as
possibilidades de disponibilização de textos e de ideias digitalmente, pode parecer que o livro
impresso como conhecemos sempre foi o mesmo. Entretanto, diversas foram as
transformações tecnológicas que ocorreram ao longo dos séculos e que tiveram influência na
apresentação, no suporte do livro.
Não é demais dizer que a escrita surgiu antes do livro: costumeiramente atribuída aos
sumérios na Mesopotâmia, em cerca de 3700 A.C., ela tinha como primeira finalidade o
aprimoramento da comunicação dos registros contábeis e administrativos (posteriormente
6 “(a) A book is a non-periodical printed publication of at least 49 pages, exclusive of the cover pages, published in the country and made available to the public;” Disponível em: http://portal.unesco.org/en/ev.php-URL_ID=13068&URL_DO=DO_TOPIC&URL_SECTION=201.html Acesso em: 31 ago. 2014.
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outros textos ligados à religião e às ciências foram encontrados) e necessitava de um suporte
para existir: no caso, a argila/barro. Entretanto, a argila, o barro, a madeira, ossos e partes de
animais não eram suportes muito perenes e de fácil transporte.
1.2 VOLUMEN
O livro nasceu propriamente apenas com o volumen (rolo), que consistia em um
cilindro de papiro, formado pela “colagem” de folhas (originadas através da casca do caule da
planta, que é “liberada, livrada” – e daí livro – do restante do vegetal), que era desenrolado
com as duas mãos conforme sua leitura. Cada exemplar era manuscrito: o texto era escrito
apenas de um lado do papiro e em colunas, o que obrigava o leitor a enrolar e desenrolar o
rolo, havendo ainda a possibilidade de que ele contivesse várias obras ao longo dos seus
usuais 6 metros de extensão. Bastante difundido na Antiguidade, apesar de não ser um
formato popular por conta de questões de custo, raridade e contexto social, o volumen
promoveu o conhecimento e a transmissão de textos literários, religiosos e legais,
especialmente entre os estudiosos e as bibliotecas, com destaque para a de Alexandria
(PINSKY, 2013, p. 31-33).
1.3 CÓDICE
No século I, com o aparecimento do códice, é que temos um formato que mais se
assemelha ao objeto livro impresso que conhecemos hoje. Entretanto, apenas no século V é
que a nova tecnologia vai totalmente suplantar o volumen, trazendo facilidades na produção e
reprodução dos livros. Até o século XI os códices eram produzidos nos monastérios, desde a
preparação do suporte até a composição manual: usualmente feitos de pergaminho, ou seja, de
pele de animais, como carneiro ou cabra, esse material podia ser usado dos dois lados, além
de ser dobrável. Isso gerou a possibilidade de que as “páginas” dos códigos fossem
compiladas e transformadas em cadernos costurados e encadernados, o que não poderia ser
realizado com o papiro. Os cadernos variavam de tamanho e de aplicação: o maior formato,
in-folio, com duas folhas, era destinado ao estudo, utilizando-se uma mesa como apoio; o
formato intermediário, in-quarto, com quatro folhas, era associado aos humanistas, clássicos
antigos e novos lançamentos; o menor formato, in-oitavo, com quatro folhas, era destinado
aos livros de prece e às vezes aos de diversão. (BARBIER, 2008, p. 75 apud PINSKY, 2013,
19
p. 36; CHARTIER, 1998, p. 8-9 apud PINSKY, 2013, p. 36). O códice, como podemos
observar, permitia um melhor transporte, conservação e manuseio: não havia necessidade do
uso de duas mãos, sendo que uma poderia ficar livre para a escrita e a tomada de notas, a
consulta de páginas específicas e também o armazenamento e a localização em bibliotecas.
Nessa época, a escrita também sofreu transformações: não havia espaço entre as
palavras, pouca era a pontuação e a paragrafação, além da inexistência de margens e de letras
maiúsculas, elementos que foram sendo criados, desenvolvidos e implantados conforme a
leitura foi se transformando de um ato coletivo para um ato individual, conforme a cultura
transformava-se de oral para escrita, conforme a transmissão do conhecimento desenvolvia-se
da memorização para a alocação em um suporte. Essa passagem para a individualização da
leitura está ligada à percepção do homem sobre si mesmo e os acontecimentos históricos e
econômicos da transição da Idade Média para o período do Renascimento. Até o século XIV a
leitura era coletivizada por conta do baixíssimo índice de alfabetização e dos poucos livros
disponíveis, mas sua individualização provavelmente deu-se antes, ainda que não possamos
precisar quando, entre os religiosos nos mosteiros, os copistas, e entre os acadêmicos nas
universidades (PINKSKY, 2013, p. 35-36).
A partir dos séculos XII e XIII, quando os letrados europeus (estudiosos leigos cultos,
em geral médicos e advogados, cujas profissões tinham prestígio tanto dentro das
universidades medievais quanto no mundo fora delas) tornam-se visíveis fora dos mosteiros, e
quando cada vez mais as universidades estão se desenvolvendo e expandindo, maior a
demanda por material de leitura e também de produção de manuscritos. Para atender essa
demanda que não é suprida pela forma tradicional, aumenta-se a velocidade de cópia
dividindo-se ao mesmo tempo os cadernos entre vários copistas. (BURKE, 2004, p. 27;
BARBIER, 2008, p. 110 apud PINSKY, 2013, p. 37)
1.4 INCUNÁBULOS E OS LIVROS IMPRESSOS
Tamanha é a demanda de acesso ao conhecimento que novas técnicas de produção de
material de suporte quanto de forma de reprodução são desenvolvidas e dão início à produção
em massa dos incunábulos: já no século XI o papel, invenção chinesa7, é introduzido na
7 No prólogo de seu A sociedade em rede, v. I, Manuel Castells indica que a primeira revolução no processamento da informação foi chinesa: “o papel e a imprensa foram inventados na China. O papel foi introduzido nesse país mil anos antes que no Ocidente, e a impresna provavelmente começou no final do século VII” (CASTELLS, 1999, p. 27).
20
Europa por meio do mundo árabe; no século XV a chamada “revolução da imprensa”
acontece no continente com a invenção da prensa tipográfica com tipos móveis reutilizáveis,
feitos de chumbo fundido, desenvolvida e aplicada por Johannes Gutenberg e sua famosa
impressão da Bíblia, em latim, por volta de 1455.
Os primeiros incunábulos, livros impressos nos primórdios (até 1500) da imprensa
com tipos móveis, imitavam os manuscritos. A origem de sua denominação vem da expressão
latina in cuna (no berço), referindo-se ao nascimento/berço da tipografia. Os incunábulos
pretendiam imitar os manuscritos porque estes eram o padrão da época, não porque
pretendiam ser apenas uma continuidade. A inovação buscava não modificar a apresentação
do livro, mas alterar sua produção e difusão de maneira a produzir mais, com rapidez,
economia e mais qualidade:
O propósito original da tipografia era simplesmente o de copiar. A tarefa do tipógrafo era imitar a mão do escriba para permitir uma replicação rápida e exata. Dúzias, centenas, milhares de cópias eram impressas em menos tempo de que um escriba precisaria para fazer apenas uma. (BRINGHURST, 2005, p. 24-25)
Nesse momento, sabia-se que os incunábulos podiam ser ilustrados com gravuras
feitas em madeira ou metal e também com capitulares feitas manualmente após a impressão
por tipos. A prensa possibilitava o controle da pressão dos tipos sobre o material de suporte,
pergaminho ou papel. Este último era, além de mais barato, o que mais se adaptava à
tipografia, favorecimento o desenvolvimento de centros papeleiros e tipográficos. Como
vemos, novos profissionais, ou melhor, outros detentores dos novos conhecimentos de
produção foram exigidos para aquele momento, assim como investimentos na área (PINSKY,
2013, p. 37). Novos papéis acabam surgindo porque há mudança na cadeia de produção,
distribuição e apresentação do livro.
Com o desenvolvimento dos novos ofícios, uma série de mudanças formais
aconteceram na apresentação do livro impresso a partir do século XVI: uniformização dos
tipos regionais, consolidando-se os caracteres romanos, introdução das paginais iniciais dos
livros utilizando a folha de rosto com título, autoria, local, editor e data; introdução do
conceito de paginação, a impressão em linhas corridas e não em colunas; variedade de edições
maiores ou menores, de acordo com a finalidade e público-alvo; desenvolvimento e
preocupação com o design gráfico; além da introdução da marca tipográfica, que identificava
e promovia o trabalho dos impressores. (PINSKY, 2013, p. 39-40)
Uma das mudanças na forma de apresentação do livro foi a utilização do vernáculo
local na impressão dos livros, embora o latim tenha se mantido como língua franca nos
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assuntos acadêmicos e religiosos por muito tempo. A diplomacia foi um dos assuntos que, ao
longo dos séculos XVII ao XX, publicou-se em francês, e a temática ligada à administração já
havia sido iniciada em vernáculo desde o início do século XV. Foram os reformistas,
liderados por Martin Lutero, que difundiram em massa tanto o vernáculo como suas ideias
entre a sociedade cada vez mais alfabetizada que tinha acesso direto aos escritos. Neste
momento, mais intensamente, o livro torna-se objeto de circulação das ideias e de transmissão
de conhecimento. (PINSKY, 2013, p. 39)
A reprodução em série espalha e amplia a circulação da nova mercadoria, atingindo o
maior número de pessoas possíveis. A demanda das grandes cidades universitárias fará com
que cada vez mais haja difusão de casas de tipografia, de livreiros impressores e das técnicas
de impressão. Entretanto, apenas nos locais onde há condições sociais e culturais favoráveis
ao desenvolvimento de uma nova tecnologia é que ela irá se desenvolver. Como salienta
Manuel Castells em A sociedade em rede v. I:
Sem dúvida, a habilidade ou inabilidade de as sociedades dominarem a tecnologia e, em especial, aquelas tecnologias que são estrategicamente decisivas em cada período histórico, traça seu destino a ponto de podermos dizer que, embora não determine a evolução histórica e a transformação social, a tecnologia (ou sua falta) incorpora a capacidade de transformação social, a tecnologia (ou sua falta) incorpora a capacidade de transformação das sociedades, bem como os usos que as sociedades, sempre em um processo conflituoso, decidem dar ao seu potencial tecnológico. (CASTELLS, 1999, p. 26)
Outra condição favorável para o desenvolvimento da impressão e sua difusão por toda
Europa foram os investimentos financeiros feitos pelos bancos no século XV, em que houve a
troca do controle dos saberes dos processos de se fazer livros para as mãos dos burgueses, que
tinham uma grande necessidade de obter lucros com essa prática. O desenvolvimento cultural
e social das civilizações também alavancou a difusão do livro e da imprensa em geral (jornais,
periódicos), sua necessidade de utilização e, consequentemente, novas maneiras de
representação gráfica para tornar o produto cada vez mais atraente ao seu público.
Ao longo do tempo, as inovações tecnológicas de impressão foram possibilitando
novos recursos na apresentação física dos livros: na parte externa, deram origem a uma
variedade de formatos e de acabamentos, desde produtos mais simples como brochuras feitas
com papel cartão até acabamentos de luxo, com capas “duras” e sobrecapas artísticas;
propiciou a utilização de laminação protetora e de vernizes nas capas; além da possibilidade
de um uso variado de cores na parte interna, no miolo.
[...] o final do século dezoito parece representar um ponto crítico, quando se pode visualizar a emergência de uma leitura de massa que iria atingir proporções
22
gigantescas no século dezenove, com o desenvolvimento do papel feito à máquina, as prensas movidas a vapor, o linotipo e uma alfabetização quase universal. Todas essas mudanças abriram novas possibilidades, não diminuindo a intensidade, mas aumentando a variedade. (DARTON, 1991, p. 212-213 apud PINSKY, 2013, p. 42)
Cada recurso e formato, assim como no tempo dos códices, eram utilizados para servir
melhor à sua finalidade e a seu público de destino, pedagogicamente e ludicamente. A
diversidade de produtos é refletida também na diversidade de profissionais envolvidos em sua
produção: editores, produtores gráficos, preparadores de texto, revisores, diagramadores,
livreiros etc. são exemplos de carreiras que se desenvolveram nos anos (séculos?) posteriores
a Gutenberg.
1.5 LIVRO DIGITAL
Os avanços da tecnologia digital, principalmente a partir da década de 1960,
trouxeram também inovação nas possibilidades de utilização de diversos recursos de mídia.
Com a convergência de mídias para o formato digital, tecnologias diferentes de comunicação
(imagens, sons, vídeos, texto) fundiram-se em um único meio, possibilitando novas
experiências. Em 1965, Theodor Nelson cunhou como “hipermídia” o resultado do acesso
simultâneo e integrado, por uma ou mais telas eletrônicas, de imagens, sons e dados, levando
à hibridização de linguagens, de códigos e de signos, que proporciona ao leitor uma
experiência de imersão. Nas palavras de Lúcia Santaella:
Além de permitir a mistura de todas as linguagens, textos, imagens, som, mídias e vozes em ambientes multimidiáticos, a digitalização, que está na base da hipermídia, também permite a organização reticular dos fluxos informacionais em arquiteturas hipertextuais […] O poder definidor da hipermídia está na sua capacidade de armazenar informações e, através da interação do receptor, transmuta-se em incontáveis versões virtuais que vão brotando na medida mesma em que o receptor se coloca em posição de co-autor. Isso só é possível devido à estrutura de caráter hiper, não sequencial, multidimensional que dá suporte as infinitas ações de um leitor imersivo. (Trecho do prefácio do livro Hipermídia: psicanálise e história da cultura, de Sérgio Bairon e Luis Carlos Petry, p. 8-9 apud NUNES FILHO, s.d, p. 58).
As mídias digitais, em geral, utilizam bancos de dados, que são uma coleção de itens
no qual o usuário pode executar várias operações, como visualizar, navegar e pesquisar, por
base de seu processo de criação. Isso representa possibilidades interessantes para o formato
digital de livros especialmente ligados à ficção e a conteúdo didáticos. permitindo a
construção de narrativas desenvolvidas pelos leitores. Os avanços da tecnologia digital
trouxeram, assim, inovação nas possibilidades de apresentação do livro. No final da década de
1990, os primeiros livros digitais eram lançados por editoras inglesas e norte-americanas
23
diante de um prognóstico de mercado extremamente favorável de adoção e vendas.
Entretanto, até o começo dos anos 2000, o retorno desse investimento foi significantemente
baixo, fazendo com que o mercado só voltasse a reaquecer a partir de 2008, com a
popularização dos aparelhos de visualização, como smartphones, tablets e outros e-readers
(principalmente o Kindle).
No meio editorial, o termo “formato” pode ser aplicado tanto para indicar as medidas
físicas de uma publicação impressa, quanto para indicar o tipo de mídia de uma publicação, se
é impressa ou digital. Dentro dessa qualificação de digital, ainda assim emprega-se “formato”
para indicar como o livro está construído, ou seja, utilizamos formato PDF, formato e-pub,
formato Aplicativo, dentre outros para indicar o tipo/extensão do arquivo em que o livro
digital foi disponibilizado.
O livro digital, ou e-book, abrange “[...] desde um simples arquivo digital do conteúdo
de um livro até ao arquivo digital acompanhado pelo Software que possibilita o acesso e
a navegação do conteúdo.” (FURTADO, 2006, p. 44 apud STUMPF, 2013, p. 27). Para
Procópio (2010 apud TEIXEIRA, 2013, p. 3), o e-book compreende três fatores-chave:
hardware (recipiente ou suporte dos livros); software (aplicativo que auxilia na leitura do
livro na tela) e o conteúdo (o título em si ou a obra escrita em diversos formatos que
possibilitem a leitura digital). Stumpf, em sua dissertação de mestrado, indica que um
conceito similar é adotado por Rao, para o qual há um quarto elemento a ser considerado na
definição de e-book: o formato/extensão de arquivo em que a obra foi digitalizada (STUMPF,
2013, p. 27).
Conforme pontuamos acima, dentro do jargão editorial podemos dizer que os livros
digitais apresentam uma série de formatos. Apresentaremos aqui apenas três dos que mais se
destacam, ou seja, os mais comuns no meio das publicações de livros acadêmicos, técnicos e
de ficção. PDF e e-pub são os mais conhecidos e utilizados especialmente em textos
científicos e acadêmicos que, por possuírem linguagem dissertativa de caráter argumentativo
e formal, normalmente não aceitam muitas interferências do usuário na construção e
apresentação de conteúdo. É importante destacar que a manutenção das formas tradicionais do
impresso na apresentação do formato e-pub, por exemplo, está mais ligada ao gênero do livro
do que às questões tecnológicas que vêm sendo desenvolvidas. O e-pub é um formato livre e
aberto de arquivo digital padrão específico para e-books criado pelo Internacional Digital
Publishing Forum. Está projetado para que a tela de texto seja otimizada de acordo com o
24
dispositivo usado para leitura, de maneira que haja fluidez,. Imagens e animações são
permitidas, assim como acesso a vídeos e sons e a remissões textuais.
Dessa forma, o e-pub possibilita mais interação do que o formato PDF que pode ser
considerado “estático”, já que nele há a “fixação” de uma composição gráfica (com o tamanho
do corpo da fonte e a escolha da mesma definidos no momento de seu “fechamento”), que
permite mecanismo de busca e aumento ou diminuição de zoom, além da inclusão de imagens.
O livro digital interativo em formato de aplicativo executável (APP) é um software
que permite grande potencial de interatividade. Nele há um universo de possibilidades de
recursos interativos, sonoros e animados, elementos que o formato PDF, por exemplo, não
oferece. Os recursos dos aplicativos possibilitam ao leitor uma experiência de conteúdo, um
atrativo que proporciona acréscimo de valor em relação ao que ele já vivenciou com os livros
de papel. Os ambientes narrativos estão relacionados a tecnologias de realidade virtual, a
estratégias de imersão no conteúdo e participação ativa dos leitores na construção de um
roteiro interativo. Entretanto, aplicativos são desenvolvidos para sistemas operacionais, ou
seja: para cada sistema deve ser desenvolvido um aplicativo diferente, o que em muitos casos
é oneroso ou nada rentável para a editora/empresa que o publica. Já os formatos de arquivo
PDF e e-pub necessitam de um software em que possam ser abertos, mas não têm limitação
de sistema operacional.
O livro digital pode se apropriar de elementos audiovisuais provenientes da fotografia,
do cinema e da música para transformar-se em um complexo e interessante objeto das mídias
sociais. Atualmente, os e-readers apresentam formas de visualização dos e-books com
bastantes recursos disponíveis, porém é nos tablets que inúmeras outras funções de leitura
digital são possibilitadas. Por conta disso, conquistaram uma popularização muito maior do
que a dos e-readers (normalmente constituídos de tinta eletrônica e sem acesso a sons), sendo
um dos grandes responsáveis por esse fato, o lançamento do iPad da Apple. Em pesquisa
pessoal realizada, grande parte dos e-books interativos apresenta versão para iPad ou iPhone.
As versões para e-pub são escassas e com menos possibilidade de interação.
A experiência de leitura de um livro digital é culturalmente nova, especialmente em
relação às possibilidades de interação. Aqui não estamos falando apenas de um texto
disponibilizado digitalmente, mas de um livro editado e concebido para a versão digital. A
possibilidade de agregar mídias acaba transformando a utilização e também a formação do
conceito do objeto livro e de seu formato de “páginas”.
25
1.6 A TRANSCODIFICAÇÃO DO LIVRO
Com base no que discutimos até o momento, somos levados a uma série de
indagações. A transcodificação do formato tradicional livro para o formato digital possibilitou
dois resultados de nova mídia. Uma delas, a da versão e-book, está mais atrelada à concepção
tradicional de livro. A versão aplicativo também pode ser considerada um livro, já que possui
todo o conteúdo da versão e-book e mais possibilidades de interação interna e externa? Quão
tênue é a diferença entre o que se entende por livro digital e por aplicativo? Editoras que
oferecem o mesmo título em versão impressa e digital, seja e-pub e versão aplicativo, por
exemplo, não editam produtos de diferentes mídias para criar tipos de interação subordinados
a dispositivos diferentes? Ou, na verdade, tudo pode ser considerado livro, já que “as
particularidades de funcionamento dos dispositivos condicionam a geração dos formatos”
(RAMOS, 2011-B, p. 2) e os livros cada vez mais estão sendo acessados por interfaces
variáveis? O livro digital acaba, com as possibilidades digitais, tendo uma variação grande de
formatos porque existem possibilidades para tanto.
Um livro de papel proporciona ao leitor uma interface gráfica comum e estática para
vários usuários devido às limitações de impressão, mas no digital, a mesma publicação pode
ser vista de formas diferentes entre os usuários, além de poder ser consultada por uma
possibilidade maior de meios. Ao mesmo tempo, na versão digital, se o leitor estiver
conectado à Internet durante a utilização de seu e-reader, ele pode compartilhar com outros
leitores impressões, trechos e também estatísticas do que está lendo.
O livro digital está tornando-se, ainda que timidamente, cada vez mais presente na
vida de muitos leitores e um dos fatores responsáveis por essa adesão é a possibilidade de
agregar, diferentemente do produto impresso, várias mídias dinâmicas ao texto, como áudio,
vídeo e animações. Novas possibilidades de uso do livro estão sendo utilizadas, ainda que
nem todos os tipos de livros sejam ricos em interação. Ou seja, vemos o uso da hipermídia no
mundo dos livros através da imaterialidade (suporte eletrônico), da interatividade e da
velocidade com a qual são feitas as operações, assim como pela existência de operações com
informações vinculadas, interconexões narrativas, multiplicidade, instantaneidade e
estruturação não-linear. Ao aliarmos isso a dispositivos eletrônicos de fácil mobilidade, temos
como resultado a expansão e crescimento do formato entre os consumidores/leitores.
26
O desenho informático dos livros digitais contém inúmeras variáveis, “pois a execução
do design não é física e palpável, mas um processamento de códigos e linguagens na tela
digital, uma síntese do design informático” (RAMOS, 2011-B, p. 4), o que possibilita diversas
interações e diversos produtos. Entretanto, para isso, há a necessidade de projetar, desenhar,
criar o seu design, criar e organizar narrativas. Essa tarefa está na mão dos autores e
principalmente dos editores e designers instrucionais, que modelam as informações, a fim de
criar produtos interessantes para o mercado.
O digital separa o conteúdo do formato, porém no momento atual, a “identidade” do
objeto livro, independentemente do suporte, continua essencialmente a mesma, assim como os
envolvidos na produção e comercialização do produto. O suporte, entretanto, representa um
conjunto de implicações econômicas e sociais importantes. A adoção ou não de determinada
tecnologia não tem apenas a ver com seus usuários, mas com o que ela representa para
grandes e importantes elementos da camada dominante. Por exemplo: no século XV o
renascimento europeu estava iniciando o processo de transformação tecnológica que depois
dominaria o planeta, porém era a China a civilização mais avançada em tecnologia do mundo.
A tinta, os tipos de madeira e o papel já eram conhecidos, porém extremamente ligados à
classe imperial e sem contato com as camadas populares. Castells explica que inúmeras forças
sociais eram contrárias à difusão da tecnologia na China, e como o relacionamento Estado e
sociedade é determinante para o desenvolvimento ou retardo tecnológico, “os governantes
temiam os impactos potencialmente destrutivos das transformações tecnológicas sobre a
estabilidade social”, que poderiam gerar conflitos sociais e desestabilizar o Estado.
(CASTELLS, 1999, p. 28-29)
Como aponta John B. Thompson em seu Mercadores de cultura, a revolução digital,
entretanto, afetou os negócios editoriais de diversas formas, não apenas no formato do livro:
houve alteração nos sistemas operacionais utilizados, na gestão de conteúdo e no fluxo de
trabalho digital, nas vendas e no marketing e, claro, no conteúdo propriamente.
Assim, mais do que no formato de apresentação do livro ao público, as editoras, como
grande parte das empresas, atualizaram-se tecnologicamente. A transformação tecnológica
deu-se utilizando e-mails para comunicação, softwares especializados para controle de
estoque, de vendas, de previsão de vendas para programação de impressão, sistemas de
pagamento, gerenciamento de fluxo de produção e também de produção do próprio livro:
preparadores de texto utilizam não mais papéis para efetuar seu trabalho, mas arquivos de um
processador de texto; o livro, mesmo que apenas na versão impressa, é entregue às editorias
27
em arquivo digitado; a composição do livro é feita totalmente de maneira digitalizada, com
softwares dede digitalização; o arquivo do livro a ser impresso é “fechado” e só assim enviado
para impressão; as gráficas não utilizam apenas a impressão offset, mas também a impressão
sob demanda (POD – printing on demand) e impressão digital para pequenas tiragens (SRDP
– short-run digital printing), que necessitam de arquivos digitais para gravação de fotolitos e
também para utilização direta de saída para impressão. (THOMPSON, 2013 p. 354-360)
O digital e a sociedade em rede também possibilitaram a contratação de freelancers
para a produção, dispensando a presença física dos colaboradores de produção em um único
ambiente. Assim, o novo paradigma, o da produção flexível, “tem como ponto-chave a
flexibilidade para produzir vários produtos com o uso dos mesmos equipamentos que são
reprogramáveis, associada a novas formas de organização e coordenação de pessoal e do
planejamento da produção.” (KON, 2004, p. 83)
***
Vemos, assim, que as transformações de formato pelas quais o produto livro passou ao
longo dos séculos foram muitas, sempre acompanhando as inovações tecnológicas: do
volumen feito de papiro, que exigia grande esforço por parte daqueles que o liam, passando
pelos códices manuscritos de manuseio mais prático e de melhor conservação, chegando aos
incunábulos impressos, que se mantém mais ou menos no mesmo formato físico até a
atualidade. A “prensa de Gutenberg” foi um marco para a potencialização da circulação do
conhecimento e da produção de livros e periódicos, assim como todo um novo mundo de
possibilidades que se abre com as novas tecnologias de informação e comunicação a partir da
década de 1960. O livro digital, o e-book, surge com diversas possibilidades de produção,
temáticas, conceitos de design e conteúdos.
A função do livro, a de carregar em si conteúdo, conhecimento, e transmiti-lo a seus
leitores, porém, sempre se manteve. Percebemos o deslocamento do papel central do livro
como suporte do texto escrito para o de resultado de um conjunto mais amplo de processos
(ou seriam, serviços) multimídias, dando início a possibilidades de mudanças inovadoras em
modelos de negócios e de disponibilização e interação de conteúdo. As editoras precisam
pensar que seu público-alvo de consumo é bastante variado: desde o público tradicional, mais
fiel e acostumado ao livro impresso, até o novo público, que está completamente adaptado ao
digital. Ou seja, o caminho de transformações da indústria editorial parece estar na ampliação
da visão de possibilidades de produção e de comercialização do core business das editoras.
28
Entretanto, como veremos no próximo capítulo, isso não é nenhuma novidade na história da
humanidade.
29
2. O NEGÓCIO DO LIVRO
Como vimos no capítulo anterior, praticamente desde o período da Idade Média o
desenvolvimento tecnológico geral propicia mudanças no modo de produção de livros.
Especialmente durante a Idade Moderna, a utilização da prensa, iniciada por Gutenberg, foi
fundamental para as etapas de produção do objeto livro: rapidez da impressão da quantidade
de cópias e melhora na qualidade de apresentação dos exemplares. Com isso, novos produtos
e novas possibilidades de negócio foram sendo desenvolvidos, assim como o que a Internet e
a digitalização propiciam nos dias atuais. A explosão da tecnologia desde os anos 1960,
especialmente a desenvolvida no Vale do Silício, além de mudar as relações humanas, vem
mudando, também, a forma de apresentação do livro e de leitura. Consequentemente, a
relação que os leitores têm com o que estão lendo e as novas necessidades de conteúdo fazem
com quem novos negócios editoriais sejam criados.
Partindo da pontuação de alguns conceitos sobre o que é produto e as transformações
do oferecimento de serviços, sobretudo em decorrência das transformações comerciais e
empresariais da reformulação capitalista da década de 1980, apresentaremos um panorama
dos negócios editoriais existentes na Idade Moderna e nos dias atuais, escolhendo como
recorte metodológico os livros do segmento ligado às publicações acadêmicas de ensino
superior. Para tanto, traçamos referências e contextualizações de exemplos ocorridos nesses
dois períodos de forma a apresentar ao leitor uma espécie de comparação entre as duas
situações, além de vislumbrar oferecer um leque de possibilidades de negócios editorais na
atualidade. Pretendemos contextualizar o cenário de possibilidades de atuação para a
apresentação, no capítulo seguinte, de alguns exemplos de modelos de negócios que vêm
sendo desenvolvidos pelas editoras e prestadores de serviço.
2.1 DEFINIÇÕES: PRODUTO E SERVIÇOS
Segundo a definição da American Marketing Association, um produto, no contexto de
marketing, é:
Um pacote de atributos (características , funções, benefícios e usos ) capaz de troca ou utilização; geralmente uma mistura de formas tangíveis e intangíveis. Assim, um produto pode ser uma ideia, uma entidade física ( um bem ) , ou um serviço, ou qualquer combinação dos três. Ela existe com a finalidade de troca na satisfação dos objetivos individuais e organizacionais. (2) O uso ocasional de hoje implica uma definição de produto como o pacote de atributos para qual a troca ou uso diz respeito principalmente à forma física ou tangível , em contraste com um serviço, em que o
30
vendedor , comprador ou usuário está interessado principalmente no intangível. Apesar de falar de "produtos" e "serviços" seja conveniente, ele nos deixa sem um termo o a ser aplicado ao conjunto dos dois combinados. O prazo para produtos tangíveis são os bens , e deve ser usado com serviços para fazer o par tangível / intangível , como subconjuntos do produto prazo.8
O produto é o meio concreto de satisfazer desejos, necessidades e demandas dos
consumidores, porém não basta que ele seja apenas aceitável por esse púbico, ele precisa
atingir, individualmente ou em conjunto com outros produtos, as condições de rentabilidade,
ou seja: precisa atender o mercado, porém ser rentável para quem o produz. (ROSA, 2009)
Podemos definir serviços “como atividades econômicas que produzem utilidades
relativas a tempo, lugar, forma e benefícios psicológicos” (KON, 2004, p. 25) e que facilitam
a produção e a distribuição de bens, atendendo a necessidades da vida particular das pessoas.
Entretanto, há muita discussão a respeito da construção da classificação adequada para essas
atividades devido a características particulares de cada uma delas em relação a quantidades e
utilidade de um serviço ao longo do tempo. A intangibilidade dos serviços, que muitas vezes
são invisíveis, também dificulta a mensuração de seus efeitos ambientais e monetários, além
da indefinição da fronteira de atuação de certas atividades.
Anita Kon (2004) enfatiza que a linguagem tradicional para definir o que é manufatura
e serviços está obsoleta, pois as economias são um emaranhado de diversas atividades,
combinações de trabalho na área de produção, combinações de materiais e de informação nos
bens e serviços, que aumentou em diversidade e em especialização conforme a evolução da
sociedade. O crescimento do setor de serviços tem determinadas características de acordo com
o nível de desenvolvimento econômico das economias e a capacidade de desenvolver e
evoluir na modernização tecnológica e na qualificação da força de trabalho de cada país.
Em 1972, McLuhan, em uma conferência sobre os meios de comunicação, propôs a
transição do produto livro para o oferecimento do serviço de informação. Disse o teórico
canadense:
8 (1) A bundle of attributes (features, functions, benefits, and uses) capable of exchange or use; usually a mix of tangible and intangible forms. Thus a product may be an idea, a physical entity (a good), or a service, or any combination of the three. It exists for the purpose of exchange in the satisfaction of individual and organizational objectives. (2) Occasional usage today implies a definition of product as that bundle of attributes for which the exchange or use primarily concerns the physical or tangible form, in contrast to a service, in which the seller, buyer, or user is primarily interested in the intangible. Though to speak of "products" and "services" is convenient, it leaves us without a term to apply to the set of the two combined. The term for tangible products is goods, and it should be used with services to make the tangible/ intangible pair, as subsets of the term product. Disponível em Portal AMA: https://www.ama.org/resources/Pages/Dictionary.aspx?dLetter=P Acesso em: 31 ago. 2014
31
O futuro do livro reside em grande parte na ordem do livro como serviço de informação. Em vez do livro como uma embalagem fixa, de caráter repetível e uniforme, adequada para o mercado de vendas, o livro assume cada vez mais o caráter de serviço, de serviço de informação, e o livro como serviço de informação é feito sob medida e construído para o freguês. (MCLUHAN, 2005, p. 121 apud NOGUEIRA, 2013, p. 101)
Ao invés de um produto pronto, acabado, como é oferecido na maioria das vezes, ele,
o livro, ou melhor, o conteúdo, tenderia a tornar-se uma espécie de serviço prestado pelas
editoras ou por plataformas de comércio a fim de servir ao leitor. No caso das editoras
acadêmicas, estamos falando da comercialização do conhecimento.
Em relação ao “negócio do conhecimento”, parece-nos importante destacar as
definições de Peter Bruke e Manuel Castells. Para Burke, “conhecimento” pode ser entendido
como “o que foi ‘cozido’, processado ou sistematizado pelo pensamento” (2003, p. 19). Já
Castells utiliza a definição de Daniel Bell:
Conhecimento: um conjunto de declarações organizadas sobre fatos ou ideias, apresentando um julgamento ponderado ou resultado experimental que é transmitido a outros por intermédio de algum meio de comunicação, de alguma forma sistemática. Assim, diferencio conhecimento de noticias e entretenimento’. (CASTELLS, 1999, p. 45).
Com isso, podemos reforçar a importância da elaboração e da classificação do
conhecimento; acrescentando a isso o fato de que em todas as culturas ele é pluralizado e
adequado a suas funções e usos na sociedade e nos grupos sociais, além de ser transmitido por
um meio de comunicação.
2.2 LIVROS CIENTÍFICOS, TÉCNICOS E PROFISSIONAIS
A categoria de “livros científicos, técnicos e profissionais” é uma das adotadas pela
Câmera Brasileira do Livro (CBL) para dividir a totalidade da produção do setor livreiro.
Segundo a CBL9, o setor, entre os anos de 2011 e 2012, teve expansão de 15,95% no número
de títulos e de 11,49% no número de exemplares produzidos. Em 2012 esse número
representou 8% do mercado de títulos vendidos. Por esse último relatório não é possível
9 Câmara Brasileira do Livro. Relatório Anual. 2013, São Paulo, p. 69. Disponível em: <http:// http://www.cbl.org.br/upload/Relatorio2014.pdf>. Acesso em: 23 jan. 2015
32
mensurar quanto isso representaria no valor das vendas, mas dados de 200610 apontam para
20% do mercado.
Definido como o setor de livros “universitários e profissionais”, esse mercado está
intimamente ligado ao crescimento ou queda da população estudantil universitária e a
consequente variação do número de profissionais de nível superior. O ensino superior é uma
parte significativa, senão a maior parte do mercado desses livros. São as instituições de
ensino, também as formadoras do mercado consumidor daqueles que já se graduaram.
Conforme comentaremos mais adiante, há uma evolução de matrículas e conclusões de cursos
universitários, o que se viu refletido na expansão no número de títulos e de exemplares
produzidos em 2012.
2.3 CONHECIMENTO COMO GRANDE NEGÓCIO
Em Uma história social do conhecimento v. I, Peter Burke (2003, p. 136-158), aponta
que “a produção e venda de informações contribui de maneira considerável para as economias
desenvolvidas” e que já no século XVIII, a comercialização do conhecimento não tinha nada
de novo na Europa. “O que era novo era que o conhecimento se tornara um grande negócio”
(2003, p. 156), atraindo o interesse de diversas classes comerciais e de profissionais do ramo
da impressão e da publicação, como editores e escritores, comprometidos com algum valor
pessoal ou apenas interessados no lucro pessoal:
Livros impressos não eram simples mercadorias. Eram tanto presenteados como vendidos, e esses presentes, como as dedicatórias dos autores a seus patrocinadores, ajudavam a manter as relações sociais. Ainda assim, como observou mais de um escritor da época, inclusive o autor de um tratado sobre o assunto publicado em Veneza em 1590, as dedicatórias eram às vezes comercializadas. Escritores mercenários seguiam os passos de impressores mercenários. (BURKE, 2003, p. 148)
Ainda citando o autor (BURKE, 2003, p. 156), a “comercialização do lazer” e o
“consumo de cultura” formam parte importante da “revolução do consumo”, do “nascimento
da sociedade de consumo” no século XVIII. Essa revolução, particularmente visível na
Inglaterra e que se estendeu a outras partes da Europa, inclui a popularização de atividades 10 CRAVEIRO, Gisele et al (Coord.). O mercado de livros técnicos e científicos no Brasil: subsídio público e acesso ao conhecimento. São Paulo: Grupo de Pesquisa em Políticas Públicas para o Acesso à Informação – Universidade de São Paulo, 2008, 50 p. Disponível em: HTTP://www.gpopai.usp.br/relatoriolivros.pdf. Acesso em: 22 jan. 2015.
33
culturais consideradas mais nobres, abertas para aqueles que se dispusessem a pagar a entrada,
como associações em clubes, peças, palestras, óperas, exposições diversas.
Para chegar a essas considerações, Burke examina, em seu livro, as mudanças na
organização do conhecimento na Europa moderna, concentrando-se nas formas dominantes de
saber, particularmente aquele possuído pelos intelectuais acadêmicos europeus, grupo que,
segundo seu texto, pôde contribuir para a difusão do conhecimento impresso. O
desenvolvimento e atuação desse grupo acabaram levando a um sistema de conhecimento
mais aberto, fazendo com que o mercado de informações crescesse ao logo desse período. Ou
seja, a transformação tecnológica permitiu o desenvolvimento desse grupo e, inclusive, o
conhecimento “puro” ou acadêmico foi afetado por essa tendência de conhecimento mais
aberto, com uma variedade de produtos/publicações com a publicação de enciclopédias,
compêndios de informações sobre países, tratados médicos, tratados físicos, textos clássicos
etc.
No volume 2 de seu Uma história social do conhecimento, Burke (2012) destaca a
consciência contemporânea do problema agora conhecido como “excesso de informação” e
define o período que segue à Modernidade europeia como o de coexistência e de interação de
correntes em direções opostas, de um equilíbrio de antagonismos que de vez em quando
tendem ao desequilíbrio.
A nacionalização do conhecimento coexiste com sua internacionalização; a secularização, com a contrassecularização; a profissionalização, com a amadorização; a padronização, com a personalização; a especialização, com projetos interdisciplinares; a democratização, com movimentos contrários ou restritivos a ela. Mesmo a acumulação de conhecimento é, em certa medida, contrabalanceada por perdas (...). Apenas a tecnologização parece avançar sem encontrar maiores obstáculos.” (BURKE, 2012, p. 10)
O uso crescente da tecnologia microeletrônica, a crescente complexidade e
volatilidade do consumo, trabalhos rotineiros eliminados pela mudança tecnológica e a
demanda crescente na indústria por uma força de trabalho mais qualificada são mudanças
significativas ocorridas de forma desigual nas economias mundiais nos anos mais recentes do
fim do século XX e início do século XXI. O conhecimento e a informação sempre foram
centrais nas sociedades historicamente conhecidas e, a partir do uso dessa nova tecnologia,
temos novas capacidades para as redes, uma antiga forma de organização social.
O desenvolvimento da Revolução da Tecnologia da Informação, nos anos 1960,
contribuiu para a formação dos meios de inovação onde as descobertas e as aplicações
interagiam e eram testadas em um repetido processo de tentativa e erro, sensíveis aos efeitos
34
dos usos sociais da própria tecnologia. Para que esse processo acontecesse, foram necessários
uma série de acontecimentos, como a concentração espacial de centros de pesquisa, de
instituições de educação superior, de empresas de tecnologia avançada, de uma rede auxiliar
de fornecedores provendo bens e serviços e de redes de empresas com capital de risco para
financiar novos empreendimentos. Uma vez consolidado, uma dinâmica própria de um local é
gerada, atraindo conhecimentos, investimentos e talentos de todas as partes do mundo:
No entanto, logo que se propagaram e foram apropriadas por diferentes países, várias culturas, organizações diversas e diferentes objetivos, as novas tecnologias da informação explodiram em todos os tipos de aplicações e usos que, por sua vez, produziram inovação tecnológica, acelerando a velocidade e ampliando o escopo das transformações tecnológicas, bem como diversificando suas fontes. (CASTELLS, 1999, p. 25)
Mais uma vez, portanto, temos a modificação da forma como as informações são
processadas. Desenvolve-se a
estrutura social baseada em redes operadas por tecnologias de comunicação e informação fundamentadas na microeletrônica e em redes digitais de computadores que geram, processam e distribuem informação a partir de conhecimento acumulado nos nós dessas redes. [...] As redes são estruturas abertas que evoluem acrescentando ou removendo nós de acordo com as mudanças necessárias dos programas que conseguem atingir os objetivos de performance para a rede. Esses programas são decididos socialmente foram da rede mas a partir do momento em que são inscritos na lógica da rede, a rede vai seguir eficientemente essas instruções, acrescentando, apagando e reconfigurando, até que um novo programa substitua ou modifique os códigos que comandam esse sistema operativo.(CASTELLS, 2005, p. 20).
Castells observa que a revolução da tecnologia foi essencial para a reestruturação do
sistema capitalista a partir da década de 1980. As lógicas e interesses do capitalismo avançado
moldaram o desenvolvimento e as manifestações dessa revolução, fazendo com que surgisse
um novo modo de desenvolvimento:
A economia da informação é descrita como uma fase recente (desde a década de 1980) do desenvolvimento econômico, em que a produção de bens e os serviços de informação dominam a criação de riquezas e de empregos, e os computadores e as telecomunicações fornecem potencial tecnológico para a inovação de produtos e processos. A informação aumenta a produtividade de qualquer setor, mas o gerenciamento, a aquisição e a interpretação dessa informação são trabalho-intensivos, ainda que se disponha de tecnologias de processamento de informações. Castells sugere: ‘Por trás da expansão do setor de serviços, diretamente em termos de emprego e indiretamente em termos de seus efeitos sobre o produto, está o desenvolvimento da economia da informação.’. (Castells, 1989, apud KON, 2004, p. 88)
As redes de tecnologias digitais permitem a existência de redes que ultrapassem os
seus limites históricos, que antes eram ocupados por organizações grandes e verticais, como
por exemplo, os Estados, Igrejas e Universidades. A sociedade em rede é baseada em redes
35
globais, capazes de transformar nossas capacidades de comunicação e aumentando nossas
possibilidades de difusão, contato e transformação do conhecimento.
O conhecimento transformado tanto em produto quanto em serviço necessita de uma
curadoria de conteúdo, necessita de um trabalho de desenvolvimento e concepção editorial.
Necessita, enfim, do editor.
2.4 NÚCLEOS DE CONHECIMENTO
2.4.1 Universidades
Nascidas na Idade Média, as universidades no século XVI e início do século XVII
tiveram um aumento considerável no número de estudantes europeus por conta de sua nova
função: tornaram-se instituições de treinamento para que o clero culto levasse a religião às
paróquias e também centro de ensino para estudantes formados em direito, ofício esse
bastante demandado pelos governos. Entretanto, já na metade do século XVII, essa
quantidade de oferta de estudantes extrapolava a de serviços, fazendo com que boa parte dos
graduados se frustrasse (BURKE, 2003, p. 29). Além das transformações na forma de
produção, a prensa tipográfica possibilitou a ampliação de oportunidades de carreira aos
letrados, tanto pelas oportunidades de publicação quanto pelas oportunidades de trabalhar
para os impressores fazendo correção de provas, índices, traduções e também escrevendo
títulos encomendados, como cronologias, cosmografias, obras de referência e guias para o
conhecimento. Ainda no século XVI e início do século XVII, escritores e estudiosos
conseguiam se manter em virtude de um misto de patrocínio (da realeza, principalmente) e
publicações, além do surgimento dos primeiros “jornalistas”, que escreviam em revistas cultas
ou literárias e que no século XVIII “se tornaram cada vez mais influentes, com a proliferação
de periódicos” (BURKE, 2003, p. 34). Nesse período, cada vez mais academias e escolas de
tecnologia eram criadas e frequentadas por artistas e membros da nobreza, servindo como
instituições alternativas de educação superior, ensinando negócios, matemática, filosofia,
história, línguas modernas, engenharia, metalurgia, silvicultura etc., além de organizações de
fomento à pesquisa e suas publicações, o que indica uma preocupação com a necessidade de
“buscas para que o conhecimento fosse sistemático, profissional, útil e cooperativo”
(BURKE, 2003, p. 49).
36
Estabelecendo um paralelo com a atualidade brasileira, dados divulgados em outubro
de 2013 pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep),
indicam que no Brasil há pouco mais de 7 milhões de estudantes universitários, matriculados
em 31.866 cursos oferecidos por 2.416 instituições. Do total, 304 são universidades públicas e
2.112 particulares. Esses dados significam um aumento de 81% no acesso ao ensino superior
entre 2003 e 201211 e representam um grande nicho de publicações e de espaço para o
desenvolvimento de soluções editorias e de ensino para esse grupo.
As disciplinas nas universidades modernas eram organizadas de forma a ordenar os
livros nas bibliotecas, sugerindo “bibliografias” temáticas. A quantidade de livros por conta
da inovação da imprensa chocou alguns estudiosos, provocando uma desorganização que
precisava ser colocada sob controle. Também, enciclopédias eram utilizadas tanto no período
medieval quanto moderno na Europa: o termo “encyclopaedia” significa literalmente em
grego “círculo de aprendizado”, denominando, originalmente, o currículo educacional. O
termo foi empregado em certos livros porque estavam “organizados da mesma maneira que o
sistema educacional, fosse para assistir os estudantes em instituições de ensino superior ou
para oferecer um substituto para essas instituições, um curso para autodidatas” (BURKE,
2003, p. 89).
Dessa forma, vemos que, paralelamente ao desenvolvimento da tecnologia de
impressão e publicação de livros e periódicos a partir da Idade Moderna, temos o
desenvolvimento das academias e instituições de ensino, do desenvolvimento do
conhecimento acadêmico. Essa situação resulta, então, em um mercado bastante interessante e
necessário de livros de apoio nas universidades, livros que servissem de “guia” para conseguir
terminar o curso. Podemos apontar, nesse caso, uma relação de dependência das publicações
com o currículo dos alunos e que pode ser transposta aos dias atuais como uma espécie de
prestação de serviços. Prova disso são os grandes grupos educacionais, como Anhanguera,
Kroton, Universidade Estácio de Sá, entre outros, que surgiram no Brasil nos últimos cinco
anos12 e que estão em busca de conteúdo e materiais para expandir o número de alunos e o
ensino à distância.
11 PEC estabelece Sistema Único de Educação Superior Pública. 2014. Disponível em: <http://www12.senado.gov.br/noticias/materias/2014/09/03/pec-estabelece-sistema-unico-de-educacao-superior-publica>. Acesso em: 4 set. 2014. 12 BEZERRA, 2013.
37
Em uma época como a que seguiu à aplicação da prensa gutenberguiana, em que o
ideal do conhecimento universal parecia possível, eram os professores universitários quem as
compilavam tematicamente e também organizadas em ordem alfabética, encorajando uma
mudança de visão hierárquica e orgânica do mundo para uma visão mais individualista e
igualitária. Um projeto tanto político e intelectual, por conta de seus “conteúdos da forma”,
reforçando a ambição de seus organizadores, que pretendiam subverter a ordem da hierarquia
social, as enciclopédias foram reeditadas inúmeras vezes: a facilidade da impressão
disponibilizou os materiais das enciclopédias de forma mais rápida, ampla e necessária em
virtude da profusão de livros disponíveis. Com o desenvolvimento das casas editoriais, esse
processo ficou por conta dos editores, mão-de-obra especializada, mas as redes horizontais de
comunicação local/global, abrem espaço para a criação de enciclopédias on-line gratuitas, que
cada vez mais ganham profusão e reconhecimento social e que colocam em xeque o modelo
de negócios editorial. Como cobrar pelo conteúdo e como se posicionar nesse novo ambiente
em que o acesso é fácil e, muitas vezes, gratuito?
2.4.2 Bibliotecas
Grandes bibliotecas públicas tornavam-se maiores com a incorporação de bibliotecas
menores: bibliotecas acadêmicas beneficiaram-se com a transferência de acervos de
bibliotecas religiosas. De milhares de livros no início do século XIX, as instituições passaram
a milhões de livros no início do século XXI (BURKE, 2012, p. 44-45). Todo esse acervo e
toda a movimentação que um livro precisava para chegar ao seu destino ocupam e levam uma
boa quantidade de tempo e de espaço e, com a explosão do oferecimento de conteúdo atual,
como ficam essas duas questões? Como pode a rede propiciar possibilidades de acesso a cada
vez mais livros? Veremos que as bibliotecas são os espaços mais “privilegiados” em relação à
adequação e adaptação das tecnologias e modelos de negócio on-line.
2.5 DIREITO AUTORAL, PLÁGIO E PIRATARIA: QUESTÕES SEMPRE ATUAIS
Questões ligadas ao direito autoral, plágio e noções de propriedade intelectual foram
desenvolvendo-se crescentemente a partir do final da Idade Média e especialmente nos
séculos XVII e XVIII, em virtude da exploração do conhecimento para o ganho e da
necessidade de proteger os segredos do ofício. O conhecimento acadêmico tornava-se
38
mercadoria, pois ser pago para ensinar era uma atividade tradicional nas escolas e
universidades. Pensando na contemporaneidade, a proteção aos direitos autorais em um
ambiente em que o polo de emissão é descentralizado, e, de certa forma pelo consenso
popular, sem controle de garantia e de pagamento dos valores relativos à autoria, como a
Internet, é uma das preocupações que rondam as editoras e geram questionamentos por parte
dos autores. A pirataria também é uma temática que preocupa tanto as empresas (o vendedor e
a editora) quanto os detentores dos direitos autorais. Vemos assim, que a questão é bastante
antiga e que parece sem muitas soluções eficazes de controle.
2.6 TRANSFORMAÇÕES EDITORIAIS CONTEMPORÂNEAS
As transformações mais significativas do mundo editorial têm acontecido mais
recentemente, a partir dos anos 1990, com a informatização do processo editorial em relação à
produção dos arquivos que dão origem ao livro impresso e, ainda mais recentemente, ao livro
digital e um universo de possibilidades que vêm surgindo com o desenvolvimento
tecnológico.
Em nossa breve descrição dos processos de evolução da sociedade comercial ao longo
do tempo desde a Idade Moderna, percebemos que o conhecimento estava à disposição para
ser comprado e que formas de disponibilização do conteúdo foram sendo desenvolvidas:
enciclopédias e outras obras de referência, como dicionários, tratados médicos, tecnológicos e
científicos, obras coletivas, além do modelo de publicação (seja livro, revista ou periódico)
por assinaturas, das bibliotecas públicas (ou “quase públicas”) e as encomendas de publicação
de títulos, foram alternativas de desenvolvimento e expansão do “negócio do conhecimento”.
O que temos em pauta na atualidade e que tem mobilizado as pesquisas nesse assunto,
além de preocupado as editoras e os envolvidos no mundo editorial, é como o público-alvo
consumidor de livros vê/lê/utiliza as tecnologias para acessar conteúdo, e, diante de tantas
possibilidades de conteúdos diferentes, como fazer com que o produto de cada casa editorial
seja atrativo e escolhido para leitura ou estudos. Kon afirma que “as tecnologias da
informação e das comunicações têm conduzido à industrialização dos serviços, à inovação
organizacional e as novas formas de comercialização dos serviços, no que se refere aos
relacionamentos entre produtor e consumidor [...]” (KON, 2004, p. 92).
39
2.6.1 A sociedade em rede e o editor/curador
A sociedade em rede promove mudanças na sociabilidade através do individualismo
em rede, fazendo com que as novas tecnologias de comunicação adaptem-se perfeitamente na
forma de construir sociabilidades em redes de comunicação auto-seletivas, ligadas ou
desligadas dependendo das necessidades ou disposições de cada indivíduo. A sociedade em
rede
é constituída simultaneamente por um sistema oligopolista de negócios multimédia, que controlam um cada mais inclusive o hipertexto, e pela explosão de redes horizontais de comunicação local/global. E, também, pela interacção entre os dois sistemas, num padrão complexo de conexões e desconexões em diferentes contextos. (CASTELLS, 2005, p. 24)
Portanto, a sociedade em rede promove transformações da área da comunicação,
incluindo as mídias, em que as sociedades se movimentam cada vez mais para um sistema
multimídia especializado e de nichos, e em que existe a dualidade dos oligopólios de
comunicação e as redes horizontais de comunicação local/global.
Diante desse contexto, o mercado editorial, sem dúvida, está em processo de
mudanças. Por conta da introdução de novas tecnologias, não está havendo uma mera
substituição de formatos e suportes, mas transformações do produtor e das editoras em relação
às suas funções e status sociais. O advento do livro em formato digital é uma dessas
novidades, assim como o impacto desse novo suporte na continuidade do livro impresso e as
formas de como ele pode ser disponibilizado e acessado pelo consumidor. O antigo sistema de
produção geral de produtos, que vinha sendo realizado desde a época da Revolução Industrial,
que era o de conceber, produzir e introduzir o material no mercado de modo a “empurrar a
produção”, vem sendo “substituído pelo conceito de orientar a produção a partir das
necessidades do cliente, e nesse sentido de ‘puxar a produção’.” (KON, 2004, p. 83)
Entendemos, neste ponto, que a atuação do editor é fundamental tanto para a seleção de
conteúdo quanto para a criação e desenvolvimento de novas possibilidades de atuação
editorial.
Para Aníbal Bragança o editor, em sentido pleno, surge em decorrência da invenção da
tipografia por caracteres móveis de metal de Gutenberg, que transforma o original em livros
impressos por “artes e saberes do editor-impressor”. A tecnologia da imprensa permitiu a
transferência do domínio da produção do livro para mãos leigas – o que antes era restrito à
censura de mosteiros e universidades passou a ser reproduzido pela burguesia desejosa “de
sempre mais editar e vender, para obter mais lucros e, ao mesmo tempo, realizar o seu Eros
40
pedagógico, educar e transformar”. (BRAGANÇA, 2001, p. 76 apud BRAGANÇA, p. 225-
226, 2005)
Para compreender o papel do editor no atual contexto, é preciso destacar que a
comunicação na sociedade em rede possibilita a grande proliferação de informação e
conhecimento, muito embora sem critério e refinação, e até mesmo verificabilidade e
veracidade dos dados. A transformação do conhecimento verificável e verossímil ao
conhecimento massificado foi bem descrita por CORRÊA & BERTOCCHI nos seguintes
termos:
Weinberger (2012) identifica neste cenário de information overload uma ‘crise de conhecimento’. Para o autor, as informações permaneciam clara e concretamente localizadas (em livros, bibliotecas, jornais) e permitiam a construção do conhecimento por meio de ‘trabalho duro’ de estudiosos que se tornavam, por consequência, especialistas em assuntos. No contexto digital, vive-se o oposto, segundo o autor: as informações encontram-se espalhadas desordenadamente: são produzidas por amadores, plagiadores e usuários que consideram um bom conteúdo aquele que possui o maior número de polegares indicando ‘curtir’. Ainda assim, reitera, os meios de comunicação, as empresas, os governos e a ciência se beneficiam dos dados disponíveis na rede, sobretudo por conta das contribuições de leitores que, ao colaborar com o processo, tornam os dados muito mais encontráveis e compreensíveis por outros tantos leitores (2012, loc. 126-132) (CORRÊA & BERTOCCHI, 2013, p. 25)
O que temos é um excesso informativo, ou um
“reflexo de um momento em que instituições científicas acadêmicas, escolas, bibliotecas, museus, organizações e corporações de toda espécie – e não somente os meios tradicionais de informação e comunicação – partilham dados digitais na rede, multiplicando a oferta informativa para seus indivíduos” (CORRÊA & BERTOCCHI, 2013, p. 25)
Assim, neste contexto é o editor quem ganha o papel de curatelar conteúdo do que os
meios de comunicação e editoração difundirão. É ele quem garimpará e lapidará o material
que pretende entregar a um público, e convencerá tal público de que a informação entregue
vale a pena ser consumida.
Essa característica de convencimento é igualmente percebida por Daniela Ramos,
quando afirma que:
O curador tem a característica de mediador e essa é uma atividade central na cultura contemporânea. Talvez não se trate mais de produzir novas formas, mas arranjá-las em novos formatos, como os artistas contemporâneos, que reprogramam o fazer artístico [...]. (RAMOS, 2013, p. 19)
Diante da abundância de fontes informativas e participativas dos leitores acerca do
próprio conhecimento e dos acontecimentos factuais do mundo. “o gesto curatorial é uma
importante modelização na cultura e adquire papel central no contexto da sociedade
41
informativa. Por isso, a informação é um bem do patrimônio individual imaterial
contemporâneo.” (RAMOS, 2013, p. 19)
O termo curadoria está, em sua etimologia, vinculado ao ato de zelar, vigiar, curar
algo: conceito originalmente vinculado ao direito romano e ordens monásticas e que, ao longo
do tempo, passou a relacionar-se com o campo das artes. E, agora, percebe-se também a
passagem para o mundo editorial, pois é o papel do editor contemporâneo: zelar pela edição
do conteúdo para que seja apresentado em sua melhor forma consumível ao público desejado.
2.6.2 Possibilidades digitais
O negócio editorial vem se modificando ao longo do tempo e muitas são as
motivações e os acessos do livro que envolvem o digital: ele não está restrito apenas à
categoria e-Book, mas a todas as possibilidades de acesso de conteúdo. Neste trabalho, nosso
escopo é o do mercado do conhecimento, das publicações ligadas às obras de referência e
produção acadêmicas, porém inúmeras são as possibilidades de negócio e de apresentação do
livro.
Se por um lado a versão digital tem alcance maior, as versões impressas continuam
alcançando outros públicos, como livrarias, bibliotecas e também pessoas desconectadas. No
digital, ganha-se uma atualidade surpreendente do “aqui agora”, pois a Internet é
comprometida com isso, porém, em geral, consideramos seus conteúdo transitório; já o
impresso dura o tempo de perenidade do livro, fazendo com que seu conteúdo permaneça o
mesmo e dure mais como registro histórico13. Essa dualidade entre o digital e o impresso, a
permanência de um e a reformulação do outro vem suscitando uma série de debates em fóruns
especializados, blogs, congressos ligados às instituições do livro no Brasil e no mundo etc..
As facilidades proporcionadas pelas novas tecnologias, como a possibilidade de
carregar uma biblioteca inteira em um tablet e ter acesso a um conteúdo quase que
instantaneamente, mobilizam a demanda (ainda incipiente no Brasil, em que 5% dos livros
vendidos são digitais14) por conteúdos eletrônicos e a um preço bem menor que o do livro
impresso convencional. O digital pode se apresentar como uma saída de bibliodiversidade, em
que, eliminados alguns custos financeiros comuns à parte física, a publicação eletrônica
permitiria que uma quantidade muito grande de títulos estivesse disponível ao leitor, 13 SILVEIRA, 2013. 14 LOPES, 2014.
42
possibilitando dar lucro, mesmo que importassem a poucas centenas de leitores15. Muitos
títulos disponibilizados em versão digital pelas editoras são “fundo de catálogo”, mas que
possuem procura constante, ainda que em poucas unidades.
Entretanto, conforme comentado no capítulo anterior, a utilização de um suporte ou
outro tem implicações econômicas e sociais importantes, regidas não apenas pela indústria
editorial. Questões legais, como a isenção tributária da produção editorial e industrial
(impressa) do livro, assim como da fabricação e comercialização do suporte na versão
eletrônica têm sido discutidas nos tribunais, suscitando questionamentos sobre o direito à
educação, à cultura, ao conhecimento e à informação16. Para as editoras, há todos os demais
ônus que recaem sobre a produção no Brasil, como os encargos sociais/trabalhistas, os juros
para investimentos, o preço da distribuição em nosso imenso território com infraestrutura de
transportes e logística deficientes, além de outras despesas ao longo da cadeia produtiva.
Não é tarefa nada fácil, também, definir quanto este novo “produto” efetivamente vale,
pois o mercado está tendendo para o oferecimento, por parte das editoras, de serviços. Sejam
eles de disponibilização e consulta de livros digitais, sejam eles fracionamento de capítulos
para impressão sob demanda nas universidades, sejam eles o oferecimento de sistemas de
ensino em que os livros do catálogo viram base para o currículo de cursos em que tanto digital
quanto impresso estejam envolvidos.
Na percepção do leitor, a eliminação do papel, da impressão, do estoque e da
distribuição justifica essa economia, porém o consumidor não percebe que para o digital
existir, é necessário um desenvolvedor especializado, além de um sistema de repositório e de
pagamentos diferenciados. O digital precisa se estabelecer não como uma cópia da publicação
em papel, mas como um produto que tenha atrativos, que tenha custos próprios, canais de
distribuição próprios, custos diferenciados e valores que levem em consideração variáveis
específicas. A partir desse ponto, podemos pensar no negócio do livro como a possibilidade
de um oferecimento de serviços.
15 SILVEIRA, 2013. 16 Mantida liminar que desobriga recolhimento de ICMS sobre comercialização de leitor de livro digital. 2014. Disponível em: <http://www. http://stf.jusbrasil.com.br/noticias/159371228/mantida-liminar-que-desobriga-recolhimento-de-icms-sobre-comercializacao-de-leitor-de-livro-digital?ref=topic_feed>. Acesso em: 22 jan. 20154.
43
2.6.3 Associações a outras indústrias
Não esgotando o assunto, a associação das editoras com startups parece ser um dos
caminhos para o desenvolvimento dos novos negócios editoriais: Julio Silveira, em sua coluna
no portal de notícias ligado ao mundo dos livros, o Publishnews, atribui às startups as ideias
inovadoras de negócios, indicando também uma barreira de mudança ligada à questão da
cultura e do hábito:
Seja qual for o futuro do livro e de sua indústria, assistir de camarote às destruições criativas que levam o mercado adiante não é uma opção. É a energia, cupidez e insensatez das startups tecnológicas que abrem novos caminhos, justamente porque são eles que não sabem o que é impossível. Infelizmente, os desafios comerciais são por vezes maiores que os desafios tecnológicos, posto que os mercados têm códigos mais complexos, como a cultura e o hábito. Eis o dilema do inovador: ser o melhor a atender ao mercado em suas demandas atuais, ou ser o primeiro a atender suas demandas futuras.17
Maurício Fanganiello, vice-presidente de negócios editoriais do grupo Saraiva, em
entrevista concedida ao jornal O Estado de São Paulo em 5/9/2014, também citou a parceria
com startups para o desenvolvimento de novos negócios editoriais direcionados a plataformas
de conteúdo de ensino:
Fanganiello diz que o objetivo da empresa [Saraiva] é estender os conteúdos individualizados a outros temas. Além do desenvolvimento interno, com adaptação se conteúdos de livros e sistemas de ensino da Saraiva, a companhia também buscará ideias inovadoras formando parcerias com startups de educação. ‘Não vamos desenvolver todos os conteúdos, que muitas vezes são autorais, mas teremos uma boa curadoria (para escolher os materiais)’, diz o executivo.18
***
As características multimídias do livro digital possibilitam mudanças inovadoras nos
modelos de negócios e de disponibilização e interação de conteúdo. Entretanto, essas
possibilidades geradas pela tecnologia, assim como a comercialização do conhecimento, não
são novidades na história da humanidade: tomando como ponto de partida a Idade Moderna,
vimos que o cenário de transformações de negócios gerados em decorrência da invenção de
Gutenberg e da ampliação das universidades e das nações permitiu o desenvolvimento de
novidades nos negócios editoriais, assim como variedade e criação de novos ofícios no mundo
dos livros.
Uma das grandes preocupações das editoras e dos envolvidos no mundo editorial na
contemporaneidade é como o público-alvo consumidor de livros vê/lê/utiliza as tecnologias 17 SILVEIRA, 2014. 18 SCHELLER, 2014.
44
para acessar conteúdo, e, diante de tantas possibilidades de conteúdos diferentes, como fazer
com que o produto desenvolvido seja atrativo e escolhido para leitura ou para estudos, ou
melhor, como possibilitar que o conteúdo seja oferecido na forma de serviços que sejam cada
vez mais atraentes e rentáveis. Ainda que a utilização de determinado suporte (físico ou
digital) tenha influência de características econômicas e sociais, o papel do editor é
fundamental nesse processo para analisar o contexto de sociedade em rede, cada vez mais
dedicado a nichos e contando cada vez mais com a participação interativa de seu público-
leitor.
A migração para o on-line dos conteúdos ligados à educação é reflexo do mercado
acadêmico, que, como vimos, possui algumas facilidades para a digitalização e o
oferecimento de serviços. Ainda que não exista uma solução eletrônica óbvia para a
publicação de estudos acadêmicos, possivelmente a saída para o desenvolvimento desse
mercado seja a convivência de modelos mistos de geração de receita, em que impressos e
digitais atendam a diferentes necessidades dos clientes.
45
3. NOVOS NEGÓCIOS EDITORIAIS
O contexto atual, onde emissores e receptores estão ligados em rede e onde todo
receptor é um emissor em potencial, possibilita uma infinidade de escolhas de consumo. As
pessoas deixam de ser apenas consumidoras e passam também a ser produtores de conteúdo,
protagonizando ações como a publicação e o compartilhamento de textos, imagens e vídeos.
A partir dessa mudança passamos a caminhar de uma cultura gerida pelo produtor em direção
a uma cultura dirigida pelo consumidor.
Em estudo a respeito do acesso de livros por alunos de cursos universitários realizado
pelo Grupo de Pesquisa em Políticas Públicas para o Acesso à Informação (GPOPAI) da
Universidade de São Paulo, demonstra-se a dificuldade na obtenção dos exemplares, seja
mediante compra ou consulta em bibliotecas:
Os dados mostram claramente que a compra dos livros utilizados na universidade (em oposição à cópia reprográfica de capítulos) não está ao alcance dos estudantes. Em todos os cursos, para mais de 3/4 dos estudantes, os custos anuais para a compra de livros está muito próximo da totalidade da renda familiar mensal ou mesmo a ultrapassa. Os dados também contrariam uma recomendação freqüente das editoras de que as bibliotecas universitárias deveriam assumir o ônus dessa incapacidade financeira dos estudantes. Como os gastos para a aquisição do material está muito distante da capacidade de compra das famílias dos estudantes, as bibliotecas não teriam condições orçamentárias de suprir toda a demanda.(CRAVEIRO, 2008, p. 35-36)
Cada vez mais a indústria editorial vem assumindo posicionamento de negócio orientado
pelo mercado, estando sujeita às mesmas condições que regulam outros segmentos. Estudos
como o realizado pelo GPOPAI apontam dificuldades bastante realistas dos principais
consumidores dos livros acadêmicos. O modelo atual de negócios, de venda majoritariamente
a livrarias implica em preços pouco praticáveis aos brasileiros, ainda que a Câmara Brasileira
do Livro reforce os esforços das editoras brasileiras, de modo geral, em aplicar valores mais
acessíveis ao consumidor19. Uma eficiente estratégia competitiva para crescer e competir é
fundamental para a continuidade dos negócios editoriais, daí a necessidade de novas formas
de o conteúdo chegar ao seu público. Neste capítulo, veremos através da breve análise
descritiva de três projetos ligados ao ensino acadêmico de nível superior que atualmente vêm
sendo desenvolvidos e implantados por editoras e empresas do setor de educação,
possibilidades de modelos de negócio propiciados pelo advento da digitalização de conteúdo e
também pela convergência de mídias, de maneira a fazer com que o negócio se expanda. O
19 Câmara Brasileira do Livro. Relatório Anual. 2013, São Paulo, p. 66. Disponível em: <http:// http://www.cbl.org.br/upload/Relatorio2014.pdf>. Acesso em: 23 jan. 2015
46
recorte foi selecionado a partir da diferenciação do modelo de negócios, por terem relação
com universidades, bibliotecas e com a prática “comum” da fotocópia, além por contarem
com a participação de um conjunto de editoras de grande porte junto a sua atuação. O objetivo
é demonstrar alguns modelos de negócio propiciados pelo advento da digitalização de
conteúdo e também pela convergência de mídias e que, em alguns casos, podem sair da
simples transposição do conteúdo impresso para o formato digital. São exemplos: Minha
Biblioteca, Pasta do Professor e Saraiva Ensino à Distância.
3.1 BIBLIOTECAS DIGITAIS: MINHA BIBLIOTECA
Uma das vertentes do negócio do livro é o sistema de assinaturas, em que os e-books
não se comportam como mercadorias de propriedade do seu consumidor, mas como um
serviço em permanente disposição em forma de bibliotecas virtuais: onde e quando e o quê o
cliente desejar. Nesse sistema de assinatura, o cliente lê o quê e quanto quiser por uma tarifa
mensal. Dependendo da prestadora de serviços, as condições de leitura, quantidade de livros
disponíveis e sendo lidos ao mesmo tempo, além do pagamento de direitos autorais e de lucro
para as editoras, varia.
Entretanto, apenas quando o negócio contar com uma base extensa de assinantes
gerando um fluxo constante de receita é que o valor repassado às editoras será considerável:
alguns clientes serão ávidos por leitura e acabarão com o lucro do processo, porém a média
será de leitores que esporadicamente consomem os livros, o que geraria o lucro.20 Uma série
de prestadoras de serviço21 têm nascido e se desenvolvido no País, propondo diversas formas
de distribuição do lucro para as editoras, como, além do pagamento por “livro lido”, um rateio
proporcional à participação da receita geral, calculada pela quantidade de livros em relação ao
catálogo total.22
O projeto da Minha Biblioteca, disponível em www.minhabiblioteca.com.br , partiu
do interesse de um consórcio formado por quatro das principais editoras de livros acadêmicos
do Brasil – Grupo A, Atlas, Grupo GEN e Saraiva. Através do sistema de “cloud computing”
ou seja, disponibilização de conteúdo “na nuvem”, as editoras se propõem a oferecer às 20 SILVEIRA, 2014. 21 Exemplos de prestadoras de serviço são: Árvore de Livros, Biblioteca Xeriph, Nuvem de Livros, que comercializam livros de segmentos variados. Disponível em: https://ebookpress.wordpress.com/tag/pasta-do-professor/ Acesso em 16 set. 2014. 22 SILVEIRA, 2014.
47
instituições de ensino superior uma plataforma de acesso a conteúdo técnico e científico em
diversas áreas de especialização, como direito, ciências sociais aplicadas, saúde,
administração e negócios, entre outras.
A ideia, segundo informações do site, é proporcionar mobilidade e praticidade de
acesso por computadores, smartphones e tablets a 4 mil títulos ao que denominam de “uma
nova geração de acadêmicos”. A consulta e o acesso são feitos diretamente pelo site, sem a
necessidade de instalação de aplicativos. Usuários não cadastrados podem consultar a relação
de títulos disponíveis no negócio.
A Minha Biblioteca procura destacar que representa uma economia de acesso de
acervos às instituições, reforçando a quantidade de títulos a um diferencial educativo, a
praticidade de acesso e também a legalidade do mesmo: o acesso online é visto como uma
solução ética e sustentável para o problema de cópias ilegais de livros, que prejudicam as
editoras e os autores.
O portal oferece também um tutorial aos professores e alunos, disponibilizando
informações sobre a seleção de títulos para montar uma bibliografia de curso ou um plano de
estudos com as obras que estão disponíveis online, além de customização de conteúdo.
Instituições públicas (universidades federais) e particulares utilizam o sistema, conforme
informação exposta no site. Com isso, temos cerca de 45 mil estudantes acessando o conteúdo
online.
Inicialmente os alunos das universidades parceiras recebiam um login para acessar o
acervo digital da instituição do ensino. Esta montava a biblioteca pagando o preço de capa dos
livros escolhidos, que ficavam disponíveis “para sempre”. No modelo de aquisição, cada
usuário da instituição pode acessar o título adquirido desde que este não esteja sendo lido por
outra pessoa. Ou seja, a instituição de ensino deve calcular pelo menos uma média de
exemplares adquiridos de modo a não congestionar o acesso ou fazer filas extensas.
O outro modelo é o de assinaturas, pelo qual a instituição de ensino paga pela
quantidade de logins usados. Nesse caso, não há fila de espera.
Recentemente a Minha Biblioteca abriu outro modelo de negócio. Agora pessoas
físicas, sem intermediação da instituição de ensino, podem adquirir ou alugar livros pelo
sistema. O aluguel varia segundo o tempo e o preço de capa do livro. O aluguel de um livro
por todo o semestre pode chegar a 60% do valor de sua compra.
48
O uso de blog para divulgação de matérias pertinentes à temática digital e de ensino
superior, desenvolvimento de carreira e processos de aprendizagem é atualizado com
frequência; entretanto, A cultura das editoras continua arraigada à possibilidade de consumos
dos exemplares impressos, pois ainda há a possibilidade de compra de exemplares físicos.
3.2 FRACIONAMENTO DE CONTEÚDO DISPONIBILIZADO ON-LINE: PASTA DO PROFESSOR
O projeto Pasta do Professor nasceu dentro da Associação Brasileira de Direitos
Reprográficos, ABDR, reunindo 34 editoras e mais de 70 selos editoriais voltados ao ensino
universitário, para criar uma alternativa legal viável contra a pirataria de livros, em especial
no meio universitário - a famosa xerox da pasta do professor.
Levando em conta a quantidade de bibliografia utilizada pelos alunos durante a
graduação e que, muitas vezes lhes é solicitada a leitura de apenas trechos de livros, e não de
obras completas, a compra de cada exemplar pode onerar bastante o orçamento para os
estudos. Diante dessa realidade, a Pasta do Professor replica o modelo de tirar cópia dos livros
universitários, porém o que temos, na realidade, é a venda fracionada de conteúdo através do
acesso pela internet. Neste modelo de negócios, a atuação do curador é bastante restrita, pois
não se está criando um produto, apenas disponibilizando o conteúdo em uma plataforma e, se
podemos assim dizer, esperando que ele seja acessado e impresso. O trabalho aqui consiste
em fracionar capítulos e aprovar pastas selecionadas por um professor, além de negociar com
autores a venda de suas obras de maneira parcial, ajustando, inclusive a porcentagem de
direito autoral cabível a essa modalidade de negócios. Muitos autores não autorizam o
fracionamento de suas obras por acreditarem que isso desabona o caráter de unidade do livro
completo.
Um enorme acervo de metadados foi criado para viabilizar e tornar acessível o projeto
aos alunos. Pioneira no mundo, a proposta evoluiu ao longo do tempo nos formatos e
tecnologia, começando com o sistema de folhas soltas impressas nas parcerias com
universidades como PUC-Minas, PUC-Rio, Mackenzie e ESPM, para o formato de fascículos
impressos na Universidade Estácio. Atualmente, disponibiliza os conteúdos das editoras
afiliadas em tablets e sistemas de leitura on-line através de browser na internet.
No portal da Pasta do Professor (www.pastadoprofessor.com.br) as editoras
disponibilizam seus conteúdos de forma fracionada (normalmente por capítulos) e com isso os
49
professores podem criar “pastas-do-professor” virtuais com o conteúdo selecionado das
bibliografias de cada disciplina. A atualização do material da pasta é de responsabilidade de
cada casa editorial, porém pode ocorrer das editoras também receberem solicitações de
disponibilização de conteúdo.
Os alunos e leitores podem comprar, de acordo com suas necessidades, os conteúdos
que estão nas pastas incluindo ou não outros conteúdos também disponíveis na plataforma. Os
pagamentos efetuados incluem os direitos autorais e editoriais e os custos de impressão da
seleção de conteúdos, que podem ser adquiridos em qualquer Ponto de Venda filiado e
homologado. Assegura-se a melhor relação custo/benefício para os alunos e leitores e também
o caráter pessoal e intransferível daquilo que é vendido através da plataforma, pois os
conteúdos impressos incluem uma marca d'água que identifica o comprador e o ponto de
venda.
3.3 EDUCAÇÃO À DISTÂNCIA – SOLUÇÕES EDUCACIONAIS SARAIVA
Apoiado no pilar do oferecimento de Metodologia e Conteúdo, Tecnologia e Serviços,
as editoras apresentam soluções para Educação à Distância partindo do seu core business, que
é a mercantilização do conhecimento em diferentes mídias. É a partir do conhecimento, do
conteúdo que já está em seu catálogo e que possui qualidade já reconhecida e atendendo às
demandas do MEC, que as editoras partem para a diversificação e desenvolvimento de
serviços.
Apoiando-nos no panfleto de divulgação das Soluções Educacionais Saraiva para
Educação Superior, pois não temos essa informação em site para consulta, então por isso
mandemos com uma imagem para entendimento, podemos encontrar descrições interessantes
sobre o que se trata essa forma de aprendizagem. Existe flexibilidade de contratação
individual de conteúdo impresso e digital do material e dos recursos oferecidos, para atender
os interesses das Instituições de ensino.
50
Figura 1 - Folder EAD - página par
51
Utilizando-se de um design responsivo e de plataforma customizada para a instituição,
o aluno tem acesso a uma série de recursos, objetos digitais, guias, atividades interativas e
sociais, fóruns, questões teste e feedback de seus processo evolutivo de aprendizado. Também
é oferecido suporte técnico, com tutoriais e dicas. A mesma plataforma dá acesso aos e-books
da editora e que foram selecionados para o pacote de contratação, permitindo que o aluno
navegue pelos livros sem instalação de aplicativos e também os acesse no momento de
apreensão do conteúdo. No folder de divulgação do serviço, especial destaque para o material
de apoio impresso, com livros especialmente desenvolvidos com a curadoria editorial de
tradição da Editora; sendo esse um dos itens que remonta à questão do impresso.
52
Figura 2 - Folder EAD - página ímpar
3.4 NOVAS TECNOLOGIAS E PROVEDORES DE CONTEÚDO
Thompson (2013) afirma que existe variação no impacto das novas tecnologias nos
modos de liberação de conteúdo de acordo com o campo editorial. Há uma série de fatores
envolvidos nesse processo, inclusive da natureza do conteúdo, de como as pessoas o utilizam,
53
de quem está pagando por ele, do tipo de valor que pode ser agregado ao liberá-lo
eletronicamente e do nível em que esse valor agregado é valorizado por usuários.
De acordo com o autor, há pelo menos nove aspectos em que as novas tecnologias
permitem aos provedores de conteúdo adicionar valor real ao que produzem. São elas:
facilidade de acesso, atualização rápida e barata, grande escala de acesso, maior capacidade
de pesquisa, portabilidade, flexibilidade de funcionalidades, preços mais acessíveis,
intertextualidade de referências e agregação de elementos multimídia. Todos esses elementos
representam possibilidades de tornar os produtos mais atrativos, mas dependem da capacidade
das casas editoriais, e principalmente dos editores, em criar produtos que possam satisfazer
necessidades do cliente, do público-alvo consumidor e, ao mesmo tempo, serem rentáveis.
3.4.1 Produtos acadêmicos
Em termos de oferta de conteúdo, editoras de periódicos científicos e acadêmicos
foram as que inicialmente mais se beneficiaram da migração on-line por conta do tipo de
material produzido. Geralmente ligados a bibliotecários, que ajudam na categorização e
catalogação desse material, outros fatores ajudaram na transição para a oferta on-line: o
mercado era majoritariamente institucional, com orçamentos anuais que precisavam ser gastos
na aquisição de conteúdo; o modelo de assinatura já existia, e a adaptação à internet foi fácil;
novas possibilidades de agregar conteúdo ou aumentar a escala pertinente foram bem-vistos
pelos bibliotecários; o conteúdo não é extenso e não existe necessidade de continuação de
sequência de leitura, o que o torna de fácil propagação on-line; seus usuários já estavam
acostumados a ler conteúdo disponível na internet (THOMPSON, 2013).
Por motivos parecidos, as editoras de obras de referência, com versões completas de
enciclopédias e dicionários também tiveram facilidade para a disponibilização on-line: o
formato eletrônico era necessário por conta das possibilidades de consulta, do fracionamento
de buscas; referências cruzadas; grandes abrangências de assunto; atualização facilitada;
agregação de valor pelo uso de multimídia. (THOMPSON, 2013) A questão principal é como
desenvolver um modelo de negócios que lhe permita cobrar pelo conteúdo, porém concorrer
com informações gratuitas na Internet? A resposta parece estar em fazer parcerias através de
licenças, com as instituições (bibliotecas, instituições de ensino etc.), que já estavam
acostumadas, anteriormente, a pagar/adquirir por esse tipo de produto/serviço.
54
Para editoras do segmento de educação superior, parcerias com grupos educacionais
têm se intensificado tendo em vista novas oportunidades de negócio proporcionadas pela
evolução tecnológica e pelas possibilidades de interação social. A relação produtor (editora)-
consumidor (aluno) encontra-se em processo de modificação em virtude da perspectiva de
agregar valor ao conteúdo, proporcionando experiências e soluções de aprendizagem. Editoras
de grande porte, como Abril Educação, Positivo e Saraiva têm investido no desenvolvimento
de plataformas para que universidades e alunos acessem seus conteúdos23. Ou seja, o que
antes era um produto fechado, o livro impresso, transforma-se em oferecimento de serviços,
conteúdo e tecnologia para as instituições.
No campo das publicações acadêmicas, entretanto, não parece haver uma solução
eletrônica óbvia para a questão pura e simples da publicação de estudos acadêmicos. Segundo
Thompson e a movimentação editorial atual, “é provável que se trate mais de um mercado
institucional do que de um mercado individual” (THOMPSON, 2013, p. 379), em que as
bibliotecas de pesquisa sejam as mais bem-sucedidas, com a venda de obras título a título ou
de catálogos inteiros por assinatura, e que o texto impresso continue fazendo parte bastante
considerável das vendas, gerando o desenvolvimento de modelos mistos de geração de
receita, em que coexista a aquisição do impresso e do digital.
Ao aluno/professor é dada a possibilidade de, no meio de tantos conteúdos, fazer uma
seleção do que lhe interessa e por qual caminho deve ser feito o processo de aprendizado.
Conforme tratamos no segundo capítulo deste estudo, para o editor, as possibilidades de
curadoria e de organização do conteúdo são muitas, porém é um papel que deve se reinventar
em relação à figura clássica do mero receptor e organizador de conteúdo. A essa figura são
exigidas novas habilidades de seleção de conteúdo, pois ampliamos sua atuação e vivemos em
um espaço, onde é abundante o conteúdo, porém difícil a atenção: aos alunos e professores
estão disponíveis conteúdos diversificados, é a eles que os editores necessitam conquistar. É
um desafio bastante grande para a profissão, sem dúvida. Novos profissionais vão surgindo no
mercado, como o designer e o editor instrucional, que necessitam conhecer de engenharia
pedagógica para poderem realmente desempenhar bem seus ofícios.
Da seleção de exemplos destacados para compor este trabalho, vemos uma crescente
editorial de convergência, que, utilizando as palavras de Jenkins, “representa uma
23 SCHELLER, 2014.
55
transformação cultural, à medida que consumidores são incentivados a procurar novas
informações e fazer conexões em meio a conteúdos de mídia dispersos” (2009, p. 29-30).
Acreditamos, assim como ele, que as novas mídias não substituirão as antigas, como o
previsto no paradigma da revolução digital, mas que
[...] novas e antigas mídias irão interagir de formas cada vez mais complexas. [...] Como muitas outras coisas no atual ambiente de mídia, a verdade está no meio-termo. Cada vez mais, líderes da indústria midiática estão retornando à convergência como uma forma de encontrar sentido, num momento de confusas transformações. (JENKINS, 2009, p. 32-33)
Para Jenkins, são as tecnologias de distribuição (ferramentas de acesso ao conteúdo)
que evoluem, se alteram, tornam-se obsoletas, e “os meios de comunicação persistem como
camadas dentro de um estrato de entretenimento e informação cada vez mais complicado”
(JENKINS, 2009, p. 41). A circulação de conteúdos depende da participação ativa dos
consumidores e, portanto, a convergência deve ser compreendida como um processo
tecnológico que contribui para a união de diversas funções dentro dos mesmos aparelhos. Ela
também representa uma transformação cultural na qual os consumidores aprendem e se
habilitam a fazer novas buscas de informação e conexões entre conteúdos e mídias dispersas.
Para que o desenvolvimento de novos negócios seja eficiente, os editores atuais
precisam entender o destino final dos conteúdos produzidos ou melhor, quais os possíveis
destinos finais do conteúdo, quais os suportes destinados e como ele pode ser cada vez mais
distribuído. Os catálogos precisam ser otimizados de maneira a criar uma experiência de
leitura em que o objeto livro seja um de seus elementos, mas não o principal. A
universalidade de acessos deve ser também um ponto a se buscar, focando menos em acessos
através de uma plataforma, mas em conteúdo acessível em qualquer suporte.
No segmento de educação superior, o que o estudante e o pesquisar esperam de uma
experiência de leitura? Estão familiarizados com a oferta de conteúdo de maneira
institucionalizada e digital ou ainda bastante acostumados com a leitura física do conteúdo? A
compra de conteúdo é realizada na legalidade ou muito do material utilizado em sala de aula é
disponibilizado virtualmente pelos professores e inclusive pelos próprios alunos em cópias
ilegais, sem o pagamento às editoras pelo trabalho de produção e aos autores, pelos direitos
autorais? As facilidades de acesso da rede propiciam situações que alteram as maneiras como
os profissionais pensam seu ofício e sua fonte de renda, fazendo com necessitem se reinventar
para continuar no mercado.
56
Se em um primeiro momento a questão do não pagamento pelo acesso espanta, em
outro, quando a distribuição gratuita é oficial, até pode alavancar a compra de conteúdo. Por
exemplo, “a forma digital é uma maneira de permitir que o maior número possível de pessoas
tenha uma amostra do livro, na esperança de que algumas delas venham a comprar”
(ANDERSON, 2009, p. 159). O grátis seria a forma de mais baixo custo de atingir o maior
número de pessoas, aumentando as possibilidades de venda de uma versão considerada
“superior”. O digital, então, se tornaria uma maneira de promover o impresso, tirando-o da
obscuridade dentre tantas ofertas no mercado.
57
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A sociedade em rede, onde emissores e receptores estão interconectados e onde todo
receptor é um emissor em potencial, possibilita uma infinidade de escolhas de consumo. As
pessoas deixam de ser apenas consumidoras e passam também a ser produtores de conteúdo,
publicando e compartilhando textos, imagens e vídeos no espaço global/local. Diante de um
contexto de excesso informativo, de possibilidades tecnológicas e de necessidades novas de
consumo, como as editoras estão lidando com o seu principal produto, que remonta a séculos
de existência?
As transformações no formato de apresentação do que conhecemos por livro (ainda
que definições relativamente contemporâneas estejam inseguras quanto à materialidade ou
imaterialidade de sua apresentação) estão intrinsecamente ligadas à evolução tecnológica,
trazendo cada vez mais possibilidades de leitura, produção, interatividade e comercialização,
entre outros aspectos. Atualmente, as possibilidades que a digitalização proporciona -
diferentes formatos, fontes e cores de exibição e acréscimo de multimídias -, não apenas
aumentam a experiência de utilização do livro, mas de emprego e distribuição de seu
conteúdo em múltiplas plataformas, destinado a públicos diversos.
Do volumen feito de papiro, que exigia grande esforço por parte daqueles que o liam,
passando pelos códices manuscritos de manuseio mais prático e de melhor conservação,
chegando aos incunábulos impressos, a “prensa de Gutenberg” foi um marco para a
potencialização da circulação do conhecimento e da produção de livros e periódicos, assim
como todo um novo mundo de possibilidades que se abre com as novas tecnologias de
informação e comunicação a partir da década de 1960. O livro digital, o e-book, surge com
diversas possibilidades de produção, temáticas, conceitos de design e conteúdos. Porém, a
função do livro, a de carregar em si conteúdo, conhecimento, e transmiti-lo a seus leitores,
sempre se manteve. Percebemos o deslocamento do papel central do livro como suporte do
texto escrito para o de resultado de um conjunto mais amplo de processos e de oferecimento
de serviços multimídias, dando início a possibilidades de mudanças inovadoras em modelos
de negócios e de disponibilização e interação de conteúdo.
Uma das grandes preocupações das editoras e dos envolvidos no mundo editorial na
contemporaneidade é como o público-alvo consumidor de livros vê/lê/utiliza as tecnologias
para acessar conteúdo, e, diante de tantas possibilidades de conteúdos diferentes, como fazer
com que o produto desenvolvido seja atrativo e escolhido para leitura ou para estudos, ou
58
melhor, como possibilitar que o conteúdo seja oferecido na forma de serviços que sejam cada
vez mais atraentes e rentáveis. O papel do editor é fundamental nesse processo para analisar o
contexto de sociedade em rede, cada vez mais dedicado a nichos e contando cada vez mais
com a participação interativa de seu público-leitor. Promovendo a curadoria do conteúdo, é o
editor que terá a missão de garimpar, lapidar e entregar conhecimento de forma que este valha
a pena ser consumido tanto pelo público tradicional, mais fiel e acostumado ao livro impresso,
quanto pelo novo público, que está completamente adaptado ao digital.
Uma eficiente estratégia competitiva para crescer e competir é fundamental para a
continuidade dos negócios editoriais. Possibilidades de modelos de negócio propiciados pelo
advento da digitalização de conteúdo e também pela convergência de mídias parecem ser as
saídas para o core business das editoras ligadas à educação, reflexo do mercado acadêmico,
que, como vimos, desde antes do advento da imprensa, com a profusão de universidades,
bibliotecas, possui algumas facilidades para a utilização de inovações tecnológicas e para o
oferecimento de serviços a instituições de ensino e estudiosos.
59
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Portal UNESCO http://portal.unesco.org/en/ev.phpURL_ID=13068&URL_DO=DO_TOPIC&URL_SECTION=201.html Acesso em: 31 ago. 2014