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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE ENGENHARIA DE LORENA EEL/USP GUILHERME ESCARABELIN MOLINERO APLICAÇÃO DE CONCEITOS DE LEAN MANUFACTURING E GESTÃO VISUAL NA MANUFATURA DE SUTURAS CIRÚRGICAS Declaro que esta monografia foi revisada e encontra-se apta para avaliação e apresentação perante a banca avaliadora. Lorena - SP 2014

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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE ENGENHARIA DE LORENA – EEL/USP

GUILHERME ESCARABELIN MOLINERO

APLICAÇÃO DE CONCEITOS DE LEAN MANUFACTURING E GESTÃO

VISUAL NA MANUFATURA DE SUTURAS CIRÚRGICAS

Declaro que esta monografia foi revisada e encontra-se apta para avaliação e

apresentação perante a banca avaliadora.

Lorena - SP

2014

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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE ENGENHARIA DE LORENA – EEL/USP

GUILHERME ESCARABELIN MOLINERO

APLICAÇÃO DE CONCEITOS DE LEAN MANUFACTURING E GESTÃO

VISUAL NA MANUFATURA DE SUTURAS CIRÚRGICAS

Monografia apresentada como requisito parcial para a

conclusão de Graduação do Curso de Engenharia

Industrial Química.

Orientador: Prof. Dr. Marco Antônio Carvalho Pereira

Lorena - SP

2014

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DEDICATÓRIA

Aos meus pais e irmã que me deram

toda a base e possibilitaram concretizar

este sonho; e à Cynthia, o amor que

encontrei no caminho, pelo

companheirismo e paciência.

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EPÍGRAFE

“A vida é uma peça de teatro que não

permite ensaios. Por isso, cante, chore,

dance, ria e viva intensamente, antes

que a cortina se feche e a peça termine

sem aplausos.”

(Charles Chaplin)

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AGRADECIMENTOS

Primeiramente, à Deus e Nossa Senhora Aparecida que guiaram meus

passos e me concederam muitas conquistas em minha trajetória.

Agradeço aos meus pais, pelo esforço e o trabalho em construir uma

família com valores dignos para que eu pudesse, através de apoio e incentivo,

tornar realidade o sonho de me graduar na USP.

À minha irmã, pelo exemplo profissional, o qual admiro e me espelho para

trilhar meus passos.

À minha namorada, pela paciência e conforto em meus momentos

dramáticos, pelo companheirismo nos momentos realmente difíceis e por

acreditar em mim todo o tempo.

Aos meus amigos da república, a segunda família, Caju, Helton, Fi e Kahl,

pelos momentos únicos das nossas vidas, pelas conversas, devaneios,

churrascos, cervejadas, apoio, estudos intensivos, open bares e vagas

lembranças. Enfim, pela amizade e muitas boas recordações que carregarei para

o resto da vida!

Aos amigos brasileiros que fui conhecer somente em Portugal: Camila e

Isnaldi. Agradeço ao apoio, histórias vividas, conversas noite afora e a amizade

que vou carregar para sempre.

Aos amigos da faculdade, Elaine, Thiago, Pudim, Aline, João e todos os

outros. Só nós sabemos o que passamos para chegar até aqui! Já sinto saudades

de alguns que, infelizmente, estarão distantes de mim. Entretanto, torço para que

todos nós sejamos bem sucedidos e possamos ver no passado o quanto este

bom tempo foi significativo.

Aos meus amigos de trabalho da BASF e Johnson & Johnson que, com

paciência, me ajudaram na formação profissional e pessoal para que eu possa

galgar uma carreira.

Ao meu orientador, Marco, pela disponibilidade e assertividade na correção

do meu TCC. Além disto, pelas oportunidades que me concedeu durante a

graduação, as quais foram muito significativas para minha formação.

Por fim, à todos os professores que, de alguma forma, contribuíram na

minha formação profissional.

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RESUMO

Molinero, G. E. Aplicação de conceitos de lean manufacturing e gestão

visual na manufatura de suturas cirúrgicas. 2014. 59f. Projeto de Monografia

(Graduação) – Escola de Engenharia de Lorena, Universidade de São Paulo,

Lorena, 2014.

O objetivo deste estudo foi aplicar conceitos de lean manufacturing e gestão

visual na linha de produção de suturas cirúrgicas. O trabalho foi conduzido

aproveitando-se da implantação de um novo sistema ERP para readequar o

layout e criar um fluxo contínuo de processamento, bem como unificar muitos

parâmetros de tempos mapeados no processo. Neste projeto foi utilizada a

metodologia pesquisa-ação para gerenciamento das fases, juntamente com

conceitos do lean manufacturing para a melhoria do processo e implementação

de indicadores visuais. Ao final, foi obtido melhor visualização dos estoques

intermediários, maior agilidade na entrega dos produtos de uma etapa para outra,

um melhor planejamento da produção e o controle dos recursos pelos

coordenadores de produção. Todas estas atividades tiveram impacto positivo no

tempo de ciclo do processo e na mitigação de problemas de qualidade.

Palavras chave: Manufatura, Gestão visual, Lean Manufacturing, Layout.

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ABSTRACT

Molinero, G. E. Lean manufacturing and visual management concepts

applied in a surgery sutures production. 2014. 59p. Monograph Project

(Undergraduation) – Engineering school of Lorena, University of São Paulo,

Lorena, 2014.

The goal of this study was to apply lean manufacturing and visual management

concepts in the production line of surgery sutures. This work aimed to unify

mapped parameters of the process and create a one-piece-flow using the layout

change during the new ERP system implementation. In this project, the action-

research methodology was used to manage the steps, along with lean

manufacturing concepts to improve the process and implement visual indicators

on the shop floor. In the end, a better intermediate inventories visualization was

attained, resulting in a fastest put away of process steps, improving the cycle time

of the manufacture. All activities had a positive impact on the process cycle time

and to mitigate quality problems.

Keywords: Manufacture, Visual management, Lean Manufacturing, Layout.

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ÍNDICE DE FIGURAS

Figura 1: Pilares do Sistema Toyota de Produção. .............................................. 15

Figura 2: Ilhas isoladas de produção. .................................................................. 16

Figura 3: Fluxo contínuo de produção ................................................................. 17

Figura 4: Alguns dos símbolos para construção de VSM. .................................... 23

Figura 5: Sistema convencional de coleta (à esquerda) e sistema milk run (à

direita). .................................................................................................................. 25

Figura 6: Fluxograma geral do processo produtivo. ............................................. 28

Figura 7: Estruturação para condução de pesquisa-ação. ................................... 30

Figura 8: Fluxo de valor para a fábrica de forma geral. ........................................ 40

Figura 9: Fluxo de valor para uma das famílias de produtos da companhia. ....... 41

Figura 10: Parte da ferramenta de análise de capacidade produtiva para a

manufatura. ........................................................................................................... 45

Figura 11: Parte do quadro visual de capacidade produtiva. ............................... 46

Figura 12: Layout do encastoamento anterior à mudança. .................................. 48

Figura 13: Layout do encastoamento após a modificação. .................................. 49

Figura 14: Operação de transferência antes da modificação de layout. .............. 50

Figura 15: Operação de transferência após a modificação de layout. ................. 51

Figura 16: Caminhada do gerente. ....................................................................... 53

Figura 17: Melhoria no novo layout do encastoamento. ....................................... 55

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

BP Business Plan

ERP Enterprise Resource Planning

EtO Ethylene Oxyde

FIFO First In, First Out

JIT Just in Time

PCP Planejamento e Controle de Produção

PT Produto Terminado

VSM Value Stream Mapping

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SUMÁRIO

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS .................................................................. 7

SUMÁRIO ............................................................................................................... 8

1. INTRODUÇÃO ............................................................................................... 10

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ...................................................................... 12

2.1. O Lean Manufacturing.............................................................................. 12

2.2. A cultura Lean .......................................................................................... 13

2.3. Princípios e pilares da produção Lean ..................................................... 14

2.3.1. Just in time ........................................................................................ 15

2.3.2. Produção puxada e fluxo contínuo .................................................... 16

2.3.3. Jidoka - Autonomação ....................................................................... 17

2.3.4. Heijunka – Nivelamento da produção ................................................ 18

2.3.5. Kaizen ............................................................................................... 18

2.3.6. 6S ...................................................................................................... 19

2.3.7. Métricas Lean .................................................................................... 20

2.3.8. Gestão visual ..................................................................................... 21

2.3.9. Mapa de fluxo de valor (VSM) ........................................................... 22

2.4. Layout do setor produtivo ......................................................................... 23

2.5. Programação de produção ....................................................................... 24

2.6. Sistema Milk run ...................................................................................... 25

3. METODOLOGIA ............................................................................................. 26

3.1. A empresa ................................................................................................ 26

3.2. O processo escolhido............................................................................... 26

3.3. O método de pesquisa ............................................................................. 29

3.4. Estruturação da pesquisa-ação ............................................................... 30

3.4.1. Planejar a pesquisa-ação .................................................................. 30

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3.4.2. Coleta de dados ................................................................................ 31

3.4.3. Analisar os dados e planejar as ações .............................................. 32

3.4.4. Implementar o plano de ação ............................................................ 32

3.4.5. Avaliar resultados e gerar relatório .................................................... 32

3.4.6. Monitoramento................................................................................... 33

3.5. A condução da pesquisa .......................................................................... 33

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO ...................................................................... 35

4.1. Planejar a pesquisa-ação ......................................................................... 35

4.2. Coleta de dados ....................................................................................... 35

4.3. Analisar os dados e planejar as ações..................................................... 36

4.4. Implementar ações................................................................................... 37

4.4.1. Definição de fluxos de processo ........................................................ 37

4.2.2 Análise de capacidade ...................................................................... 38

4.2.3 Quadro visual para gestão da manufatura ........................................ 43

4.2.4 Mudança no layout produtivo ............................................................ 47

4.5. Avaliar resultados .................................................................................... 54

5. CONCLUSÃO ................................................................................................. 56

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................................... 57

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1. INTRODUÇÃO

Com a grande demanda de produtos industrializados de alta qualidade e

elevada concorrência de fornecimento, metodologias de produção enxuta e maior

controle de qualidade são requisitos essenciais para qualquer indústria num

ambiente de altíssima competitividade. Dentro deste meio, o engenheiro tem o

grande desafio de implantar ferramentas que diminuam custos e garantam a

qualidade dos produtos.

Além da implantação destes sistemas, o engenheiro precisa criar controles

para melhor gerenciamento dos processos e garantir que estes sejam integrados

na rotina dos funcionários da empresa. Em empresas altamente automatizadas,

computadores enviam vários sinais quando irregularidades ocorrem. Por outro

lado, numa manufatura, o gerenciamento visual pelos supervisores do processo,

muitas das vezes, é o sinal mais rápido para a tomada de decisões sobre o

processo, evitando assim a parada da produção ou problemas na qualidade.

Normalmente, através da utilização de métricas de controle existentes em

uma indústria, a gerência é capaz de identificar parâmetros para melhor controle

da produção. Uma forma simples de gestão, porém muito relevante, é feita

através de indicadores visuais que permitem um rápido entendimento de

problemas relacionados a fluxos produtivos, inventários parados ou operações

gargalos, dentre outros.

Na indústria que foi objeto de estudo da monografia realizada, existiam

muitos parâmetros de tempos de processo mapeados, entretanto estes valores

não eram devidamente utilizados por serem tratados isoladamente. Além disso,

nesta indústria ocorreu a implantação de um novo sistema ERP1, o qual

demandou de mudanças na sua área produtiva, possibilitando a readequação do

layout para criar um fluxo contínuo de processamento.

O objetivo deste estudo foi aplicar ferramentas de gestão visual para a

linha de produção de suturas cirúrgicas em uma indústria farmacêutica. Para a

realização deste projeto, foram utilizados conceitos do lean manufacturing, o qual

é uma metodologia para diminuição de desperdícios e busca de uma manufatura

1 ERP – Enterprise Resource Planning, sistemas de informação que integram todos os dados e

processos de uma organização em um único sistema (LAUDON, 2004).

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mais enxuta. Desta forma, dentro da indústria buscou-se a criação de

sinalizadores para a gestão visual para orientar os coordenadores sobre o

andamento da produção. Na mudança do layout produtivo foi esperada a

diminuição de movimentação, de inventário e de outros desperdícios descritos

pelo lean.

Neste projeto foi utilizado o método de Pesquisa-Ação para gerenciamento

das fases, de forma que as etapas atendessem um cronograma previsto e o

objetivo proposto. Ao final, foi esperada a diminuição de incidências de problemas

de qualidade, inventários parados e a identificação da localização das ordens de

produção.

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2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1. O Lean Manufacturing

Lean Manufacturing, traduzido do inglês como “Produção Enxuta”, é uma

forma de organizar os negócios para que perdas em processos produtivos sejam

eliminadas ou pelo menos fortemente reduzidas. Existe uma confusão comum do

termo Lean com Seis Sigma, 5S, JIT, entre outros, mas estas são todas

metodologias e ferramentas que podem ser usadas ao implementar uma cultura

Lean (WERKEMA, 2004).

A Toyota Motor Corporation destacou-se mundialmente ao introduzir um

conceito inovador, a produção enxuta, também chamado de Lean Production ou

Lean Manufacturing, que se consolidou como uma alternativa à produção em

massa considerada pela Toyota como desperdiçadora de tempo, matéria prima e

esforços humanos (GHINATO, 1995).

Segundo Liker (2005), o foco do Sistema Toyota de Produção é a

eliminação dos sete desperdícios que causam a maioria das perdas na produção:

Excesso de produção: quando ocorre a produção de itens para os

quais não há demanda, há perda com excesso de pessoal e de estoque

e com os custos de transporte, devido ao estoque excessivo;

Espera (tempo sem trabalho): funcionários com funções que não

agregam valor ao produto, ou que não têm trabalho por falta de

estoque, atrasos no processamento, interrupção do funcionamento de

equipamentos e gargalos de capacidade;

Transporte excessivo: quando ocorre um movimento do estoque em

processo por longos trajetos, ou quando há transporte ineficiente ou

movimentação de materiais, peças ou produtos acabados para dentro

ou fora do estoque, ou entre processos;

Processamento inadequado ou Superprocessamento: São etapas

desnecessárias para processar as peças que não agregam valor ao

produto final;

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Inventário desnecessário ou Excesso de estoque: quando há

excesso de matéria-prima, de estoque em processo ou de produtos

acabados, há um aumento no lead time, obsolência, baixa qualidade,

custos de transporte e de armazenamentos e atrasos. Dessa forma,

outros problemas podem ficar ocultos, como desequilíbrio da produção,

atraso na entrega para os fornecedores, defeitos, equipamentos em

manutenção e longo tempo de setup (preparação);

Movimento Desnecessário: é qualquer movimento inútil que um

funcionário executa durante o trabalho que não agrega valor ao produto

final;

Defeitos: quando há a produção de peças defeituosas ou que

necessitam de retrabalho, o que envolve perdas de manuseio, tempo e

esforço maior do que as peças produzidas conforme a especificação;

Entretanto muitos autores, bem como Liker (2005) apontam um oitavo

desperdício, a não utilização da criatividade dos funcionários, que consiste na

perda de tempo, de ideias, de habilidades, de melhorias e de oportunidades de

aprendizagem, por não envolver ou ouvir os funcionários.

2.2. A cultura Lean

Segundo WERKEMA (2004), existem dois cuidados principais que devem

ser tomados ao transformar sua empresa em Lean:

A iniciativa deve estar ligada às necessidades de seu negócio. Se a

empresa não consegue fazer uma forte associação entre os possíveis

ganhos obtidos com Lean e sua estratégia de negócio, provavelmente

deveria esperar mais;

O Lean se popularizou inicialmente na área de manufatura. No entanto,

é errado pensar que esta iniciativa deve ficar restrita somente à

produção. Lean deve ser aplicado em toda a empresa e ao longo da

cadeia de suprimento.

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Para que seja feita a implantação Lean, é necessária uma mudança de

cultura na organização. Esta mudança está na forma de pensar da equipe que é

certamente o maior desafio na execução desta iniciativa. Portanto, para a

implantação de um sistema enxuto a empresa e seus colaboradores devem

possuir o que é conhecido como “Pensamento Enxuto”.

O “Pensamento Enxuto” consiste numa forma de especificar valor para o

cliente, alinhar na melhor sequência as ações que criam valor, realizar essas

atividades sem interrupção toda vez que alguém as solicita e realizá-las de forma

cada vez mais eficaz. Ele pode ser entendido como a forma de produzir cada vez

mais com cada vez menos recursos e, ao mesmo tempo, aproximar-se dos

clientes e oferecer aquilo que eles realmente almejam, tornando o trabalho mais

satisfatório e oferecendo retorno imediato a partir da transformação do

desperdício em valor (LINDGREN, 2001).

2.3. Princípios e pilares da produção Lean

Em Lean, perda é tudo aquilo em um processo que não agrega valor. Por

exemplo, o tempo que um documento está na mesa de alguém aguardando

alguma ação, estoque acumulado que não será usado no curto prazo, produto

terminado aguardando liberação de saída (WERKEMA, 2004).

Dennis (2008), através da Figura 1, explica os pilares do Lean, usando uma

nomenclatura um pouco diferente, no qual apresenta as ferramentas do Lean que

se encaixam em cada pilar.

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Figura 1: Pilares do Sistema Toyota de Produção.

Fonte: Adaptado de DENNIS (2008).

2.3.1. Just in time

Just in time significa o abastecimento de produtos na hora certa e na

quantidade solicitada. Isto significa que não há produção além do solicitado ou

não há desperdício em estoque. Pode-se aplicar tanto para linha de montagem

quanto em outras atividades como na área de logística (WERKEMA, 2004).

Para Slack et al (2009), a metodologia Just in time aborda diferentes tipos

de gerenciamento das operações, entre elas, fluxo contínuo e sincronizado,

produção sem estoque, tempo de atravessamento rápido (tempo necessário para

que o material saia de sua posição original e chegue nas operações) e operações

com ciclo de tempos reduzidos. O princípio de JIT é entregar o produto de acordo

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com o que o cliente deseja, isto é, entregar o quanto o cliente necessita, no

momento em que ele necessita sem que haja criação de estoque.

2.3.2. Produção puxada e fluxo contínuo

Os requisitos para a produção numa indústria enxuta são: um sistema

puxado baseado na demanda do cliente, com reabastecimento apenas do que a

operação seguinte requisita e em intervalos pequenos; e/ou um modo de pensar

que se concentre em fazer o produto fluir através de processos ininterruptos de

agregação de valor (fluxo unitário de peças). Além disso, é necessário que seja

formada uma cultura em que todos busquem continuamente a melhoria (LIKER,

2005).

As Figuras 2 e 3 descrevem a melhora no processo produtivo puxado e

contínuo:

Figura 2: Ilhas isoladas de produção.

Fonte: ROTHER et al, 2007.

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Figura 3: Fluxo contínuo de produção

Fonte: ROTHER et al (2007).

2.3.3. Jidoka - Autonomação

O Jidoka, também chamado de ‘autonomação’ ou ‘automação inteligente’,

é um dos pilares do Sistema Toyota de Produção, pois foca na separação do

trabalho do homem e da máquina pela automatização de um elemento simultâneo

a baixo custo. A autonomação ou Jidoka é definida, então, como oferecer ao

operador ou à máquina a autonomia de paralisar o processamento sempre que for

detectada qualquer anormalidade. Desta forma o operador poderá cuidar de

várias máquinas ao mesmo tempo. Vale lembrar que se o operador identificar

algo irregular também poderá parar a operação. Isso torna possível reduzir o

número de operadores e aumentar a eficiência da produção (ALVES, 2013).

Como explica Prado (2006), este conceito não está restrito apenas às

máquinas, uma vez que deve ser expandido para os processos manuais, dando-

se ao operador de linha a autonomia de parar a produção quando alguma

anormalidade for detectada. A ideia central é impedir a geração e propagação de

defeitos e eliminar qualquer anormalidade no processamento e fluxo de produção,

buscando a raiz do problema e eliminando-a, consequentemente reduzindo as

paradas de linhas.

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2.3.4. Heijunka – Nivelamento da produção

Na Guerra da Coréia, a crescente venda de caminhões para os EUA teve

problemas na produção que era constantemente interrompida por faltas de

matérias-primas e peças, pois era muito difícil prever quando seriam os pedidos e

consequentemente o que deveria ser comprado. Por esse motivo, a produção só

era efetiva alguns dias do mês, gerando sobrecargas de trabalho. O sistema

heijunka foi desenvolvido sabendo que o sistema produtivo não poderia funcionar

se os níveis de produção aumentassem ainda mais. Se a produção estiver

exatamente de acordo com os pedidos dos clientes, a produção de alguns dias

seria muito alta e alguns dias seria muito baixa (ARAUJO, 2009).

A principal e mais evidente vantagem do nivelamento da produção está no

fluxo estabilizado de produção, conseguindo trabalhar a demanda do cliente no

longo prazo (ARAÚJO, 2009). Desta forma, Furmans (2005) diz que obtém-se

também o benefício de gerar uma demanda constante de partes de fornecedores,

reduzindo ou eliminando a necessidade de manter estoques para conseguir

trabalhar nos picos de produção.

2.3.5. Kaizen

Kaizen é um termo de origem japonesa (KAI = mudar e ZEN = melhorar)

que significa melhoria contínua, seu conceito tem como base o fato de que nada

está bom, apenas ficou melhor. Ou seja, esta ferramenta visa uma melhoria

incremental e continua em uma atividade, eliminando desperdícios e agregando

mais valor ao produto com menos investimento possível (GHINATO, 1995).

Ela pode ser implementada da seguinte forma: as pessoas na organização

desenvolvem suas atividades melhorando-as sempre, por meio de reduções de

custos e alternativas de mudanças inovadoras; o trabalho coletivo prevalece

sobre o individual; o ser humano é visto como um dos bens mais valiosos da

organização e deve ser estimulado a direcionar seu trabalho para as metas

compartilhadas da empresa, atendendo suas necessidades humanas, satisfação

e responsabilidade que são valores coletivos (MENEZES, 2012).

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2.3.6. 6S

O conceito de 5S é derivado de cinco palavras japonesas, explicadas por SILVA

(2003):

I. Seiri - senso de utilização: separar os itens de acordo com a

frequência de utilização e eliminar os itens desnecessários para reduzir

perdas por procura de ferramentas;

II. Seiton - senso de organização: separar e guardar os itens de forma

organizada e em locais definidos para facilitar sua busca;

III. Seiso - senso de limpeza: manter os instrumentos e locais de trabalho

limpos;

IV. Seiketsu - senso de padronização: garantir que os sensos de

limpeza, organização e utilização sejam mantidos, a partir da

padronização de hábitos, normas e procedimentos;

V. Shitsuke - senso de disciplina: manter com disciplina, o

funcionamento dos outros sensos citados, ou seja, manter tudo o que

leva à melhoria do local de trabalho, da qualidade e da segurança do

colaborador.

O programa 5S é uma ferramenta para organização do ambiente de trabalho,

de forma a melhorar a eficiência do trabalhador. É um método de cultura auto

sustentável para manter limpo, organizado e eficiente o local produtivo (ANVARI,

2011).

O programa 6S é baseado nos pilares do 5S, onde é acrescentado mais um

pilar: segurança. Os cinco primeiros foram extraídos do Sistema Toyota de

Produção, enquanto o sexto foi adicionado pela Universal Coordinated Time para

enfatizar a segurança no local de trabalho. O 6S, normalmente, é o primeiro

programa implementado pelas companhias na busca pelo Lean, por servir de

fundação para a cultura de melhoria contínua. Assim, os seis pilares trabalham

juntos, ajudando na redução de defeitos, menor índice de acidentes, redução de

custos e aumento de produtividade (ANVARI, 2011).

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2.3.7. Métricas Lean

O Lean Manufacturing busca eliminar desperdícios, isto é, excluir o que

não tem valor para o cliente e imprimir velocidade à empresa. O programa utiliza,

então, algumas medidas ou métricas para quantificar como os resultados da

organização podem ser classificados, no que diz respeito à velocidade e

eficiência. Essas medidas podem ser utilizadas na identificação de metas a serem

atingidas em projetos de melhoria e na verificação do alcance da meta ao final do

projeto (comparação dos valores assumidos “antes” e “depois”) (WERKEMA,

2011).

Alguns conceitos são importantes ao tratar de medições em Lean

Manufacturing, como explica Werkema (2011):

VI. Tempo de ciclo: É a frequência com que um produto é finalizado em

um processo. O tempo de ciclo deve ser cronometrado incluindo o

tempo de operação, preparo, carregamento e descarregamento de

materiais.

VII. Lead time: Tempo para um produto percorrer todo o fluxo de valor. Por

exemplo, o processo para compra de um produto inclui o número de

dias transcorridos desde que o cliente faz a solicitação até a entrega.

VIII. Tempo Takt: Segundo Liker e Meier (2007), o takt time é uma palavra

alemã para ritmo ou compasso. O takt pode ser usado para determinar

o ritmo de produção e para alertar os funcionários quando sua atividade

estiver atrasada ou adiantada. ROTHER et al (2007) explica que o takt

time é a frequência com que se deve produzir uma peça ou produto,

baseado no ritmo das vendas, para atender a demanda dos clientes. É

calculado dividindo-se o tempo disponível de trabalho por turno (em

segundos) pelo volume da demanda do cliente por turno (em unidades),

como mostra a Equação 1:

(1)

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Produzir abaixo do takt time causa excesso de produção, ou seja, é

produzir maior quantidade ou mais rápido do que é requerido. Portanto, causa

desperdício de operadores e movimentação, estoques e custos de armazenagem

desnecessários (PRADO, 2006).

2.3.8. Gestão visual

Gestão visual é a colocação em local de fácil visualização todas as

ferramentas, peças, atividades de produção e indicadores de desempenho do

sistema de produção, de modo que a situação possa ser entendida rapidamente

por todos os envolvidos. Resulta em:

Melhoria na comunicação entre departamentos e turnos;

Feedback entre operadores, supervisores e gerentes;

Aumento da rapidez de resposta às anomalias;

Melhoria na compreensão do funcionamento da produção

Visualização imediata da meta para a performance diária do processo;

Capacidade de estabelecer prioridades;

Visualização imediata dos procedimentos padrão (WERKEMA, 2011).

De acordo com Galsworth (1997 apud Neves, 2010) o sistema visual

possui quatro tipos de dispositivos:

Indicador visual: possui caráter apenas informativo. Quando não

atendidos ou obedecidos, as consequências negativas normalmente

são mínimas. Exemplo: placas com identificação do nome do setor;

Sinal visual: tem o objetivo de chamar a atenção. Exemplos: luzes

piscantes e sinais sonoros;

Controle visual: impõe um limite, restringindo as opções de escolha.

Não aderir à mensagem pode resultar em algum tipo de perda ou dano.

Faixas pintadas no chão sinalizando locais de armazenamento são

exemplos deste tipo de dispositivo;

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Garantia visual: tem a função de impedir o erro ou a falha. Os poka-

yokes (prevenção de defeitos), que são dispositivos a prova de erros,

são exemplos deste tipo de dispositivos.

2.3.9. Mapa de fluxo de valor (VSM)

Mapeamento de fluxo de valor é o simples processo de observação direta

do fluxo de informação e de materiais conforme eles ocorrem, resumindo-os

visualmente e vislumbrando um estado futuro com melhor desempenho (JONES

et al, 2004).

Este sistema de gerenciamento consiste em um conjunto de ações que

agregam valor, bem como as que não agregam valor, as quais são necessárias

para viabilizar o produto da matéria- prima ao cliente. A ferramenta VSM foi

desenvolvida para auxiliar as empresas na redução ou remoção dos desperdícios

(HINS et al, 1998).

Segundo Maia et al (2006), o mapeamento divide-se basicamente em

quatro etapas:

1. Escolher uma família de produtos, pois mapear todos os produtos é uma

tarefa exaustiva;

2. Mapear o fluxo atual, ou seja, como a empresa rege no momento. O mapa

do estado atual é elaborado para que se obtenha uma visão global do fluxo

de valor e dos desperdícios a ele associados;

3. Mapear o fluxo futuro, uma idealização de como a empresa seria com a

eliminação de desperdícios e;

4. Estabelecer o Plano de Ação, as quais devem ter objetivos e metas

necessários para se atingir ao máximo possível o estado determinado na

etapa anterior.

O mapeamento é uma ferramenta importante porque é de fácil

compreensão e auxilia a representação do fluxo de informações e do processo.

Para Rentes et al (2003), outras vantagens importantes desta ferramenta são:

1. Permite uma visão ampla de todo o fluxo e não dos processos

isoladamente;

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2. Auxilia a identificação dos desperdícios considerados pela produção

enxuta;

3. Mostra simultaneamente a relação entre os fluxos de materiais e

informações;

4. Fornece uma linguagem simples e comum para tratar os processos de

manufatura;

5. Torna as decisões mais visíveis, permitindo uma discussão prévia das

possíveis alternativas de melhoria e;

6. Forma a base de um plano de ação.

Existem símbolos universais para a construção do VSM, como apresentado

na Figura 4:

Figura 4: Alguns dos símbolos para construção de VSM.

Fonte: Adaptado de Werkema (2011).

2.4. Layout do setor produtivo

O arranjo físico ou layout, de uma unidade produtiva diz respeito ao

posicionamento físico dos seus recursos transformadores. Se algo estiver fora do

padrão, pode gerar fluxos longos e confusos, estoque de materiais, filas de

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clientes, tempos de processamento longos, operações inflexíveis e alto custo

(SLACK et al, 2009).

Importante considerar alguns fatores relevantes que fazem um bom arranjo

físico, como, por exemplo: a segurança, pois é importante que todos os riscos

relacionados à mudança que o projeto irá trazer sejam estudados; extensão do

fluxo, de forma que o fluxo de materiais esteja alinhado com o objetivo principal

que é atender a operação; clareza de fluxo, os fluxos de materiais e clientes

devem ser altamente sinalizados; conforto para os funcionários, o ambiente deve

ser favorável ao bem-estar do funcionário; entre outros (SLACK et al, 2009).

Ao iniciar um projeto envolvendo o layout de uma área produtiva é

importante ressaltar que as decisões em cima da disposição de equipamentos e

pessoas na área devem ser reavaliadas ou refeitas quando:

Um novo recurso que ocupa espaço na área operacional é

acrescentado, retirado ou decidiu-se pela modificação da posição;

Há expansão ou redução no espaço físico;

Ocorre uma mudança significativa nos procedimentos ou nos fluxos de

processos;

Ocorre uma mudança na estratégia competitiva da operação;

Ocorre uma mudança na proporção de produtos diferentes formulados

pela empresa (CORRÊA et al, 2012).

2.5. Programação de produção

A programação de produção é realizada no departamento de planejamento

e controle de produção (PCP). Planejamento e controle diz respeito a conciliação

estre o que o mercado requer e o que as operações podem fornecer. O

planejamento é a formalização do que se pretende que aconteça em determinado

momento no futuro, entretanto nem tudo sai como planejado, sendo que o

processo de lidar com as variações entre o que foi planejado e o que foi realizado

é o controle (SLACK et al, 2009).

O programador de produção possui algumas responsabilidades, como

apresenta Russomano (2000):

Definição das quantidades a serem produzidas;

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Gestão de estoques de matéria prima e insumos;

Emissão das ordens de fabricação;

Programação e controle das ordens de fabricação;

Movimentação das ordens de fabricação da produção e;

Controle e acompanhamento.

2.6. Sistema Milk run

Este conceito é normalmente trabalhado dentro da área logística. Segundo

Moura et al (2002), no sistema de coleta programada, milk run, os veículos

utilizados para o transporte das peças deverão maximizar sua capacidade e

otimizar a rota. O intuito, neste ponto do sistema, é minimizar os custos de

transporte da operação, como apresentado na Figura 5:

Figura 5: Sistema convencional de coleta (à esquerda) e sistema milk run (à direita).

Fonte: Moura et al (2002).

O desafio do sistema de coleta programada de peças, Milk Run, é agregar

valor na cadeia de suprimentos, reduzindo estoques e perdas,

consequentemente, há redução do ciclo de produção e programa-se o que

realmente foi planejado para ser executado (SHINGO, 1996).

Neste trabalho, aplicou-se este conceito dentro da manufatura com

algumas modificações do conceito logístico.

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3. METODOLOGIA

A definição do método de pesquisa a ser usado necessita de uma

compreensão prévia do processo, pois seus detalhes auxiliam a entender a

motivação e a razão da escolha a ser feita.

3.1. A empresa

A empresa onde este projeto foi realizado é uma multinacional que engloba

marcas de produtos dos ramos de saúde pessoal, farmacêutico e produtos

médicos.

A empresa iniciou suas atividades em 1886 nos EUA, mas se instalou no

Brasil apenas em 1933 em São Paulo. À época, a companhia tinha como principal

objetivo suprir o mercado brasileiro com produtos de uso hospitalar e doméstico,

como algodão, gaze, esparadrapo, compressas cirúrgicas, entre outros. Hoje é

uma empresa de 5 mil colaboradores; 4 escritórios regionais de vendas; 3 centros

de distribuição; 910 mil m² de parque industrial, sendo 700 mil m² de área verde e

11 fábricas localizadas em São José dos Campos (SP), o maior complexo

industrial da companhia no mundo.

A companhia possui institutos educacionais, centros de inovação, plantas

de manufatura e centros de vendas em mais de cinquenta países, para criar as

soluções e dispositivos médicos.

A unidade de São José dos Campos, onde o projeto foi implantado, é

responsável pela fabricação de suturas cirúrgicas de diversos tipos: agulhadas,

não agulhadas, sintéticas absorvíveis, sintéticas não-absorvíveis e naturais

absorvíveis.

3.2. O processo escolhido

O processo de produção de suturas cirúrgicas consiste de etapas

produtivas comuns à maioria dos tipos deste produto:

I. Encastoamento: Este é o nome dado ao processo de fixação do fio

à agulha cirúrgica através de uma pequena prensa;

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II. Enrolamento: O fio e a agulha devidamente anexados são

enrolados em um suporte de papel ou plástico, assim tanto a agulha

quanto o fio permanecem imobilizados. O processo de enrolamento,

a depender das matérias-primas, pode ser completamente manual

ou semi-automático.

III. Primeiro fechamento: Máquinas semi-automatizadas deste

processo fixarão suportes laminados acima e abaixo dos produtos

enrolados. No caso de esterilização por óxido de etileno, os

laminados contêm uma faixa de material permeável para gases.

Antes de ser enviado para a próxima etapa, os produtos são

passados em uma câmara de secagem, onde um vácuo muito forte

retira a umidade dos fios, garantindo sua conservação.

IV. Esterilização: Existem dois processos de esterilização para serem

utilizados a depender das características e propriedades físico-

químicas dos produtos, já que alguns materiais se degradem em

certas condições. São elas:

a. Óxido de etileno (EtO): Para esta esterilização, o laminado

necessita conter uma faixa semipermeável para gases, o qual

possibilitará a entrada do gás e descontaminação do produto.

Em seguida, a embalagem é selada permanentemente.

b. Radiação gama: Neste processo, raios gama de uma fonte

de cobalto infiltrarão em todas as partes do produto já selado.

A maioria dos produtos utilizam este processo devido a

eficiência e rapidez, entretanto alguns produtos são

incompatíveis devido à degradação do fio.

V. Segundo fechamento: Os produtos que retornam da área do EtO e

os produtos que serão enviados para a radiação, passam por

máquinas que fixam plásticos protetores sobre a primeira

embalagem, em seguida acondicionados dentro de pequenas caixas

com número determinado de produtos.

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VI. Embalagem final: Nesta etapa, as pequenas caixas são inseridas

em caixas grandes para o transporte. Os produtos com esterilização

por radiação são enviados para este processo logo em seguida.

A Figura 6 mostra o fluxograma básico do processo, sem detalhamento dos

tipos de máquinas:

Figura 6: Fluxograma geral do processo produtivo.

Encastoamento

Enrolamento

Primeiro fechamento

Esterilização por EtO?

Esterilização EtO

Segundo fechamento

Esterilização por radiação?

Embalagem

Esterilização por radiação

Depósito de produto acabado

Sim

Não

Sim

Não

Fonte: Próprio autor.

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3.3. O método de pesquisa

O método de pesquisa a ser usado é o de Pesquisa-Ação. Segundo

Thiollent (2007), a pesquisa-ação é um tipo de pesquisa social com base empírica

que é concebida e realizada em estreita associação com uma ação ou com a

resolução de um problema coletivo e no qual os pesquisadores e os participantes

representativos da situação ou do problema estão envolvidos de modo

cooperativo ou participativo.

Entretanto, Thiollent (2007) ressalta que, para uma pesquisa ser qualificada

como pesquisa-ação, é vital a implantação de uma ação por parte das pessoas ou

grupos implicados no problema sob observação. Além disso, é necessário que a

ação não seja trivial, o que quer dizer uma ação problemática, merecendo

investigação para ser elaborada e conduzida. Na pesquisa-ação, os

pesquisadores desempenham um papel ativo no equacionamento dos problemas

encontrados, no acompanhamento e na avaliação das ações desencadeadas em

função dos problemas.

A configuração da pesquisa-ação depende dos seus objetivos e do

contexto no qual é aplicada. Quanto a seus objetivos, a pesquisa-ação é

organizada para realizar os objetivos práticos de um ator social dispondo de

suficiente autonomia para encomendar e controlar a pesquisa. Os pesquisadores

assumem os objetivos definidos e orientam a investigação em função dos meios

disponíveis. Quanto ao contexto, a pesquisa-ação é realizada dentro de uma

organização (empresa ou instituição) na qual existe hierarquia ou grupos cujos

relacionamentos apresentam problemas (THIOLLENT, 2007 apud TURRIONI et

al, 2012).

A pesquisa-ação é apropriada quando a questão de pesquisa relaciona-se

com descrever o desdobramento de uma série de ações ao longo do tempo em

um dado grupo, comunidade ou organização; para explicar como e por que a

ação de um membro de um grupo pode mudar ou melhorar o trabalho de alguns

aspectos do sistema; e para entender o processo de mudança ou de melhoria

para aprender com ele (COUGHLAN e BRANNICK, 2008).

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3.4. Estruturação da pesquisa-ação

A sequência para a condução da pesquisa-ação, baseada no trabalho de

Coughlan e Coughlan (2002) é apresentada na Figura 7:

Figura 7: Estruturação para condução de pesquisa-ação.

Fonte: Adaptado de Coughlan e Coughlan (2002).

3.4.1. Planejar a pesquisa-ação

Essa fase é composta por três etapas: definição do contexto e propósito da

pesquisa, definição da estrutura conceitual-teórica e seleção de análise e técnicas

de coleta de dados (TURRIONI, 2012).

Definir contexto e propósito:

Thiollent (2007) explica que esta etapa consiste em descobrir o campo

de pesquisa e estabelecer um primeiro diagnóstico da situação e, em

seguida, os pesquisadores e participantes estabelecem os objetivos da

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pesquisa. Ainda nesta etapa é definido o tema da pesquisa e a designação

do problema técnico e da área de conhecimento a serem abordados.

Thiollent (2007) ainda explica que nesta etapa é definida a forma como

o problema será resolvido dentro do campo científico e técnico. Por fim, é

definida a equipe de pesquisa, coleta de dados e implementação das ações

para a solução do problema prático identificado.

Definir a estrutura conceitual-teórica

Demo (2000) aponta que a revisão de literatura serve inicialmente para

duas situações: elaborar hipóteses (ou proposições) e fornecer subsídios

para arranjar argumentos que possam sustentar ou refutar as hipóteses

(proposições).

A definição da estrutura conceitual-teórica é realizada após o

diagnóstico e a definição do problema organizacional a ser solucionado.

Assim, o pesquisador realiza a revisão da literatura para contextualizar e

fundamentar os problemas identificados, podendo haver um

redirecionamento ou reformulação desse problema para sua adaptação ao

estado-da-arte sobre o tema. A questão de pesquisa e seus objetivos é

definida com o intuito de propor recomendações para solucionar o

problema e contribuir com a base de conhecimento (TURRIONI, 2012).

Selecionar unidade de análise e técnicas de coleta de dados:

O planejamento da pesquisa-ação envolve a definição das técnicas a

serem empregadas na coleta de dados. A combinação e o uso de

diferentes técnicas favorecem a validade do constructo da pesquisa.

Frequentemente inclui: observação participante do pesquisador no

ambiente da pesquisa, sondagens através de questionamentos dos

participantes por explicações e interpretações dos dados operacionais, e

análises de documentos e dos locais onde se dá o ambiente da análise

estudada (TURRIONI, 2012).

3.4.2. Coleta de dados

Thiollent (2007) afirma que, independente das técnicas utilizadas, os

grupos de observação compostos de pesquisadores e de participantes comuns

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procuram a informação que é julgada necessária para o andamento da pesquisa,

respondendo à solicitação da etapa de monitoramento da pesquisa. Todas as

informações coletadas pelos diversos grupos de observação e pesquisadores de

campos são transferidas para essa metáfase, quando são discutidas, analisadas,

interpretadas etc.

3.4.3. Analisar os dados e planejar as ações

Na pesquisa-ação, como um dos objetivos é resolver um problema técnico,

o final da etapa de análise de dados se dá pela elaboração de um plano de ação.

Esse plano deve incluir todas as recomendações para a solução do problema,

indicando responsáveis pela implantação bem como o prazo para tal. As

recomendações são elaboradas de maneira conjunta com pesquisadores e

participantes da organização. Entretanto, a implantação deve partir dos

participantes da organização, sendo que os pesquisadores podem intervir no

processo como facilitadores de mudanças (TURRIONI, 2012).

3.4.4. Implementar o plano de ação

Segundo Thiollent (2007), a ação corresponde ao que precisa ser feito (ou

transformado) para realizar a solução de um determinado problema. Para

Coughlan e Coughlan (2002), essa tarefa envolve realizar as mudanças

desejadas e seguir os planos de forma colaborativa com os membros-chave da

organização.

3.4.5. Avaliar resultados e gerar relatório

Westbrook (1995) considera que, na pesquisa-ação, o processo de

pesquisa por si só necessita ser proativamente gerenciado. Para ele, a qualidade

dos resultados pode depender tanto da gestão do projeto de pesquisa quanto do

próprio projeto de pesquisa ou análise dos resultados. Portanto, a avaliação dos

resultados deveria ter como base os objetivos da pesquisa (científica e técnica) e

as proposições ou hipóteses estabelecidas no início da pesquisa.

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3.4.6. Monitoramento

De acordo com Coughlan e Coughlan (2002), o monitoramento é uma

metáfase que ocorre em todos os ciclos. Cada ciclo de pesquisa-ação conduz a

um novo ciclo e, então, planejamento, coleta de dados, análise de dados,

planejamento de ações, implementação de ações e avaliação dos resultados

acontecem ao longo do tempo, de forma contínua.

3.5. A condução da pesquisa

Como ocorre em muitos processos industriais, os tempos de cada etapa

não são os mesmos para a produção e liberação do produto, originando assim

gargalos. Para realizar esta melhoria no processo, foi utilizada a metodologia de

pesquisa-ação para orientar no desenvolvimento do projeto.

Inicialmente, na etapa Planejar a pesquisa foi definido o objetivo do projeto

e prevista as formas para a sua realização, sendo realizado um mapeamento da

área produtiva e do processamento de todos os tipos de suturas cirúrgicas. Em

seguida foi realizada a Coleta de dados, através de acompanhamento da

produção em tempo integral; Coleta de dados de históricos da engenharia e

qualidade e; Envolvimento e diálogos com os operadores do processo.

Adicionalmente, foi realizado um acompanhamento junto ao setor de

planejamento para melhor entender o controle existente e as formas de

priorização de produtos.

Na etapa Analisar dados e Planejar ações, foram identificados os

problemas encontrados nas etapas para o não atendimento do tempo de ciclo

padrão de cada tipo de sutura e verificados os motivos que geram estoques

intermediários. Após esta análise, buscou-se na literatura ou em conhecimentos

prévios da equipe, possíveis soluções para os problemas encontrados e também

para a elaboração de um novo layout para a área fabril com conceitos de gestão

visual que diminuíssem as incidências encontradas e os estoques intermediários.

Para isso, foi realizada a análise dos dados obtidos, onde pretendeu-se a

aplicação de ferramentas que permitam atacar os problemas mais comuns e

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urgentes do processo. Por fim, todas as ações identificadas foram priorizadas

pela equipe em ordem de implementação.

Em seguida em Implementar Ações, as ações planejadas foram

implementadas de acordo com a ordem de priorização previamente discutida. A

mudança do layout produtivo foi realizada gradualmente para não interferir na

meta de produção semanal e também para que os novos conceitos pudessem ser

difundidos em pequenas partes para os operadores do processo, não gerando um

grande impacto.

Finalmente em Avaliar Resultados, foi conduzida uma avaliação dos

resultados e teste de eficácia das modificações realizadas anteriormente, bem

como propor correções aos pontos deficientes, através do monitoramento diário

da facilidade de utilização das ferramentas pelos coordenadores e operadores

durante um período estabelecido para cada ação implementada.

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4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

O projeto seguiu o planejamento realizado na metodologia de pesquisa-

ação.

4.1. Planejar a pesquisa-ação

O objetivo foi a otimização da produção, a fim de torna-la mais enxuta e com

menos inventários intermediários, utilizando da gestão visual e de conceitos do

lean manufacturing para criar mecanismos que diminuíssem os principais

problemas que afetavam a produção.

O planejamento foi iniciado com o mapeamento da área produtiva para

identificar os principais problemas em relação ao não atendimento do tempo de

ciclo padrão das ordens de produção e os principais problemas de qualidade

existentes.

4.2. Coleta de dados

Este mapeamento foi realizado através de: Acompanhamento da produção

em tempo integral; Coleta de dados de históricos da engenharia e qualidade e;

Envolvimento e diálogos com os operadores do processo.

Exceto em casos de não conformidades nos produtos, os problemas mais

recorrentes para o não atendimento do tempo de ciclo padrão foram causados

por:

Esquecimento de produto acabado em área de processamento;

Alocação de ordens diferentes muito próximas, causando atraso na

entrega para a próxima etapa;

Gargalos em determinada etapa por falta de capacidade produtiva e;

Falta de operadores no processo.

Já em relação à qualidade, as incidências de misturas eram provocadas

por:

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Estoques intermediários de produto em processo muito próximos

entre duas bancadas e;

Diferentes ordens de produção de responsabilidade do mesmo

operador.

Também foi realizado um acompanhamento junto ao setor de programação

de produção para entender a forma de priorização no processamento das ordens

de produção. Sendo assim, os fatores determinantes foram listados:

Níveis de estoque de segurança no depósito;

Demanda real reportada pelo time de vendas e;

Estudo da demanda dos dois últimos anos, em cada período do ano,

sobre o consumo de cada produto.

4.3. Analisar os dados e planejar as ações

Constatou-se que a produção puxada estava funcionando muito bem, de

forma a não haver superprodução ou estoque excessivo. Entretanto, não havia

nenhuma ferramenta de priorização que envolvesse a análise de capacidade do

maquinário do processo, concluindo-se que esta falta de estudo frequentemente

acarretava uma sobrecarga na capacidade de algumas máquinas e a ociosidade

de outras. Este fator está relacionado aos gargalos produtivos que impedem o

atendimento do tempo de ciclo, juntamente com o gasto em horas extras aos

operadores, necessárias para cumprir com a produção planejada.

Desta forma, foi proposto o estudo de capacidade, utilizando como base:

O valor padrão da velocidade de produção de cada produto em cada

máquina;

A quantidade de horas úteis do operador por turno e;

A quantidade de turnos planejados.

Outra necessidade encontrada foi a de melhor visualização de quantas

máquinas e operadores estavam trabalhando diariamente na manufatura, para

que a alocação destes recursos fosse mais rápida, de forma a responder em

tempo real aos problemas encontrados diariamente e atender à demanda.

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Inicialmente, foi definida a necessidade de mudança do layout produtivo em

vigor da implementação de um novo ERP na companhia. Entretanto, a

necessidade de mudança foi vista como uma oportunidade de melhoria em outros

quesitos do layout, permitindo a aplicação de gerenciadores visuais para o melhor

funcionamento da manufatura no atendimento da métrica de tempo de ciclo e

para atacar a causa raiz da incidência de misturas.

Para a redefinição do layout produtivo, verificou-se a dificuldade de

entender o processo de cada tipo de produto por não haver documentação para

consulta. Neste momento, foi necessário o acompanhamento junto dos

operadores do processo para gerar a documentação dos fluxos produtivos, os

quais auxiliaram no planejamento das mudanças do layout.

Finalmente, foram tabeladas todas as propostas de melhorias e discutidas

sobre a priorização de execução. Primeiramente, decidiu-se mapear os fluxos de

processamento de todos os tipos de produtos para servir como base de análise

para as outras propostas de mudanças. Em seguida, vieram as propostas de

criação de uma ferramenta para analisar a capacidade das máquinas e as

mudanças do layout, por não haverem relação mútua, permitindo assim a

implementação de ambas concomitantemente.

4.4. Implementar ações

4.4.1. Definição de fluxos de processo

A redefinição dos fluxos produtivos foi uma tarefa essencial para a análise

das necessidades de mudança do layout e entendimento dos problemas

referentes à manufatura. Além disso, a ausência deste tipo de documentação

para os processos existentes tornou-a ainda mais urgente.

Foi proposta a criação de fluxos de valor (VSM) baseada na nova definição

do processo que seria implantada devido ao novo ERP, não sendo necessária a

alteração destes documentos em um curto período. Desta forma, a literatura foi

consultada para utilizar os símbolos corretos para a criação destes fluxos,

enquanto que sua criação foi desenvolvida no software Microsoft Visio. Em vista

de atender algumas especificidades da companhia, alguns símbolos não

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existentes na teoria foram utilizados, bem como sinalizações de atenção para

locais que apresentam problemas de qualidade reincidentes.

Em vista de uma determinada família de produtos possuir produtos com

diferentes processos, foram criados fluxos suficientes para atender todos os

caminhos possíveis, somando no total dezesseis fluxos de valor para as famílias

de produtos e um fluxo de valor para uma abordagem geral da manufatura:

a) Fluxo de valor da fábrica: Este mapeamento teve início na

identificação da necessidade de produção devido aos critérios de programação de

produção, como a baixa de estoque de segurança no depósito. Foram sinalizadas

formas de comunicação com as áreas de suportes da fábrica, como o

supermercado kanban alimentado pela gráfica e o depósito intermediário que

transfere matérias-primas para a fábrica. Também foram inseridos os critérios de

seleção de materiais entre as etapas de processamento, como o FIFO. Em função

da definição de novas atividades e as mudanças devido ao novo ERP, foram

explicados em cada quadro as funções dos novos operadores e a forma que a

manufatura iria operar. A Figura 8 exemplifica este fluxo.

b) Fluxo de valor por família de produto: Neste tipo de mapeamento,

além das informações contidas no fluxo de valor da fábrica, foram identificadas as

máquinas que o produto está apto a ser processado, de forma a registrar as

versões de produção. Também foi identificado o tipo de esterilização e o momento

de ação das áreas suporte, como microbiologia que garante a não contaminação

e o PT que realiza ensaios de qualidade. A Figura 9 exemplifica um destes fluxos.

4.2.2 Análise de capacidade

Esta ferramenta foi proposta com o intuito de nivelar a produção, diminuindo

a possibilidade de ocorrer sobrecarga ou ociosidade em máquinas e pessoas.

Sendo assim, os conceitos do heijunka foram utilizados para desenvolvê-la.

No estudo de capacidade, foram utilizados os dados de velocidade produtiva

do produto relativo a cada máquina do processo, em cada uma das etapas. Estes

valores foram retirados do cadastro do sistema de gerenciamento da manufatura

e cruzados com a jornada normal de trabalho dos operadores.

Todo ano, o setor de planejamento da empresa realiza estudos para compor

a meta de produção, chamados de BP e Demanda real. O BP considera os planos

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de produção dos dois últimos anos para planejar a meta do ano vigente, sendo

também utilizado para a projeção de pessoas e máquinas na manufatura para

aquele ano. Já a Demanda real é o plano semanal que o setor de programação

de produção cria com base no BP para que seja possível o atendimento da

fábrica.

Apesar da Demanda real partir de uma análise de capacidade da fábrica para

compor seu plano semanal, este requisito não é realizado de forma criteriosa,

mas sim baseada apenas na experiência do programador de produção. Portanto,

muitas vezes ocorre ociosidade ou sobrecarga em alguns equipamentos.

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40

Figura 8: Fluxo de valor para a fábrica de forma geral.

Fonte: Próprio autor.

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41

Figura 9: Fluxo de valor para uma das famílias de produtos da companhia.

Fonte: Próprio autor.

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Para realizar o nivelamento da produção, foi criada uma ferramenta,

chamada de Matriz de capacidade (Figura 10), utilizando programação em

Microsoft Excel para a realização dos cálculos. Sendo assim, o programador de

produção deve apenas inserir a Demanda real atualizada e todos os dados são

mostrados em uma tabela com a porcentagem de utilização de cada máquina da

fábrica. Ao final, cabe ao programador de produção ajustar o plano da Demanda

real para nivelar as máquinas no máximo de suas capacidades para a semana.

Os parâmetros que necessitam de preenchimento pelo programador de

produção na ferramenta são:

Número de dias úteis no ano vigente;

Quantidade de turnos planejados para o período;

Pré-cadastro de quantidade de máquinas instaladas em cada

tecnologia;

Ajuste do número de operadores disponíveis para cada semana em

cada tecnologia;

Demanda semanal (Peças/Semana) e;

BP (Peças/Ano).

Para o cálculo da utilização das máquinas, a Matriz de capacidade utiliza

um banco de dados preenchido e validado com as velocidades de produção para

cada produto. Desta forma é retornado os seguintes indicadores para o usuário:

Porcentagem de utilização das máquinas em cada tecnologia;

Indicador visual de utilização das máquinas com as cores:

o Vermelha, indica impossibilidade de atendimento para

utilização maior que 100%;

o Amarela, indica ociosidade para utilização menor que 80% e;

o Verde, indica faixa ideal entre 80% e 100%;

Comparativo entre a Demanda real e o BP (Peças/Semana);

Necessidade real de máquinas e operadores para a Demanda real

preenchida e;

Gargalos do processo

É sabido que a etapa de segundo fechamento não tem capacidade

produtiva para atender a demanda empurrada pelas etapas anteriores, entretanto

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estudos anteriores da engenharia demonstram que a existência de estoques

intermediários nesta operação ainda é mais efetiva que a ociosidade causada

pela puxada da produção nas etapas iniciais.

Desta forma, a Matriz de capacidade apresenta uma visão geral de todo o

processo, mas tem como objetivo principal apresentar os indicadores referentes

às etapas iniciais, as quais são manuais. A Figura 10 apresenta parte da Matriz

de capacidade para a primeira etapa do processo.

4.2.3 Quadro visual para gestão da manufatura

Foi identificada a necessidade de melhor gerenciamento visual da

manufatura por parte dos coordenadores de produção, por ser muito complexa e

envolver muitas pessoas. Desta forma, utilizando os mesmos conceitos de

heijunka para o desenvolvimento da Matriz de capacidade, foi desenvolvido um

quadro de gestão visual (Figura 11) para a visualização rápida do número de

máquinas e pessoas envolvidas em cada tecnologia produtiva. Isto permite a

alocação das pessoas, desde que treinadas, para outros processos que estejam

necessitando de maior atenção.

Para isso, foram utilizados alguns cálculos da Matriz de capacidade (Figura

10), através da informação das seguintes informações:

Número real de máquinas instaladas em cada tecnologia;

Comparativo BP e Demanda real (Peças/Dia);

Número de máquinas necessárias para a Demanda real e;

Número real de pessoas disponíveis por turno em cada

tecnologia.

Como cada máquina é operada por um operador, isto permite controlar a

disponibilidade pelo menor número de máquinas ou pessoas disponíveis. Com

isto, a reação dos coordenadores de produção perante aos problemas na

manufatura pode ser mais ágil, evitando maiores gargalos e estoques

intermediários aguardando processamento na manufatura.

Foi inserida uma seção dedicada para anotações referentes às ocorrências

que prejudicaram o cumprimento da Demanda real, fornecendo um histórico para

futuras melhorias. Assim, o coordenador de produção tem a responsabilidade de

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realizar as anotações referentes aos problemas detectados e, se necessário,

realizar a alocação de pessoas de uma etapa para outra.

Em primeira instância, a tabela foi criada em planilha no formato Microsoft

Excel no computador. Em seguida, foi realizado um teste piloto em folhas de

dimensão A3 para verificar a aderência da ferramenta pelos coordenadores e

identificação das possíveis melhorias, para futuramente se juntar aos dashboards2

em um quadro acrílico. A Figura 11 apresenta parte desta ferramenta visual.

2 Dashboard: Quadro de indicadores mais importantes para as metas da manufatura.

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Figura 10: Parte da ferramenta de análise de capacidade produtiva para a manufatura.

Fonte: Próprio autor.

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Figura 11: Parte do quadro visual de capacidade produtiva.

Fonte: Próprio autor.

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4.2.4 Mudança no layout produtivo

A mudança do layout produtivo foi planejada para adequar as necessidades

da implementação do novo ERP na companhia. Entretanto, foram identificadas

outras oportunidades de melhorias em relação aos estoques intermediários e

tempo de ciclo, aplicando conceitos de gestão visual e fluxo contínuo. Importante

notar que devido à composição de alguns fios absorvíveis, o tempo de

processamento é estritamente controlado até a esterilização final devido a sua

degradação, sendo realmente importante obedecer o tempo de ciclo do processo.

A manufatura começa com um operador encarregado de entregar ao

encastoamento3 as caixas da ordem de processo pré-montadas pelo depósito

intermediário. Este mesmo operador, ao final do processo de encastoamento

busca a ordem de processo finalizada e transporta-a até a área de enrolamento.

Neste procedimento algumas vezes ocorre atraso na entrega da ordem de

produção para a próxima etapa devido à falta de comunicação visual, pois o

operador responsável pela entrega não anda entre as mesas de produção, mas

sim nos corredores. Outros problemas relacionados a este procedimento são:

A ocorrência de misturas de agulhas de outras ordens processo finalizadas

ou não, devido à alocação lado-a-lado e;

O envio de caixas erradas para a próxima etapa.

Por fim, os coordenadores e o gerente da área não possuíam um controle

efetivo dos estoques em processo e do que já estava finalizado, devido ao local

de armazenamento ser o mesmo, ocasionando a demora na identificação de

problemas e gargalos. Utilizando o software Microsoft Visio, foram esboçados os

layouts atuais e propostos, sem preocupação com as dimensões reais. A Figura

12 esboça o layout antigo do setor de encastoamento:

3 Encastoamento: Primeira etapa do processo produtivo que visa anexar o fio à agulha através de

prensagem da agulha.

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Figura 12: Layout do encastoamento anterior à mudança.

Armários

Lixos e coletores

Materiais para devolução

Work in process

Não processado e finalizado

Postos de trabalho

Máquinas automáticas

Depósito

Fonte: Próprio autor.

As mudanças foram planejadas para diminuir os pontos listados,

introduzindo conceitos de gestão visual. Através de demarcações no chão,

foram criados pontos específicos para armazenamento de produtos não

processados (amarelo) e outro para produtos finalizados (verde), enquanto

que apenas os produtos em processo (azul) permaneceram próximos aos

encastoadores. Também foi adicionada uma área para as sobras de

agulhas (branca), sob responsabilidade do encastoador alimentar.

Com esta modificação, ao finalizar a ordem de processo o

encastoador deve colocar as caixas no local de produtos finalizados (verde)

e buscar na área de produto não processado (amarela) outra ordem de

processo para iniciar. Durante o processamento da ordem, a mesma deve

permanecer na área de produto em processo (azul). Isto permite ao

encastoador maior autonomia para tomar ação quando do início ou término

de uma ordem de produção. Além disto, retira o local de produtos não

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processados (amarelo) do lado do local de produtos em processo (azul),

sendo esta proximidade identificada como uma das causadoras de

misturas. A Figura 13 esboça a área de encastoamento após as mudanças:

Figura 13: Layout do encastoamento após a modificação.

Armários

Lixos e coletores

Materiais para devolução

Work in processInventário não processadoInventário finalizado

Postos de trabalho

Máquinas automáticas

Depósito

Fonte: Próprio autor.

Para a alimentação da área de produto não processado e a retirada dos

materiais já processados e sobras, foi realizada uma mudança no escopo de

trabalho do operador que já possuía função similar. O conceito de milk run foi

utilizado, no qual o operador fará um caminho pré-determinado na fábrica durante

o seu turno com as seguintes tarefas:

Recolha dos materiais processados em uma etapa para entrega destes à

próxima;

Recebimento dos materiais do depósito intermediário para abastecimento

da área de materiais não processados e;

Retorno das sobras de agulhas para o depósito intermediário.

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Assim este operador não precisa mais levar a ordem de produção até cada

encastoador e nem estar atento a todos para saber quando um destes já finalizou

o processamento, pois as áreas demarcadas são visíveis no trajeto planejado. A

Figura 14 esboça o caminho percorrido por este operador no encastoamento

antes das mudanças e a Figura 15 mostra o caminho percorrido com a mudança:

Figura 14: Operação de transferência antes da modificação de layout.

Armários

Lixos e coletores

Materiais para devolução

Work in process

Inventário não processado

Inventário finalizado

Postos de trabalho

Máquinas automáticas

Depósito

1

2

Fonte: Próprio autor.

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Figura 15: Operação de transferência após a modificação de layout.

Armários

Lixos e coletores

Materiais para devolução

Work in process

Inventário não processado

Inventário finalizado

Postos de trabalho

Máquinas automáticas

Depósito

1

3

2

Fonte: Próprio autor

Estes conceitos foram inicialmente aplicados na área de encastoamento e,

posteriormente, replicados para as áreas de enrolamento. Os estoques de cada

máquina foram centralizados em um único ponto e o milk run tem por

responsabilidade a transferência de produtos entre as áreas.

Para diminuir os estoques de matérias-primas das áreas de enrolamento e

primeiro fechamento, foi criado um armário, chamado de supermercado, onde o

milk run deve pegar os materiais indicados na ordem de produção quando estiver

transportando o produto para a próxima etapa. Desta forma, os materiais ficam

sob controle de um operador e centralizados em um ponto, melhorando o

organização e controle dos materiais. Além disto, o supermercado funciona como

um kanban, ao diminuir o estoque de determinado material, o operador faz a

requisição ao depósito para a reposição.

Após as primeiras mudanças, a área de primeiro fechamento será receberá

as novas redefinições de layout para adequar neste modelo e será a última em

que o milk run terá intervenção. A partir do segundo fechamento, o transporte de

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produtos será realizado pelos próprios operadores da área em transportadores,

devido ao volume de produtos.

Da mesma forma como foi desenhado um caminho para o milk run onde este

possa ver todos os estoques de produtos finalizados e não processados até a

etapa de primeiro fechamento, foi replicado o modelo para as etapas seguintes do

processo. Sendo assim, foi proposto um caminho no qual a gerência da

manufatura possa caminhar em poucos minutos e verificar os níveis de estoque

de produção. Este conceito já existia dentro da manufatura, chamado de

“caminhada do gerente”, no qual é possível verificar a situação em mais ou menos

cinco minutos. Entretanto, o caminho foi redefinido para contemplar as

modificações, como mostra a Figura 16.

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53

Figura 16: Caminhada do gerente.

Fonte: Próprio autor.

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4.5. Avaliar resultados

Após as implementações de melhorias, estas foram monitoradas por um

tempo pré-determinado pelos coordenadores da produção e pelo time de

engenharia para avaliação da eficácia. No geral as mudanças foram bem aceitas

por este time e pela gerência, por ter atendido de forma satisfatórias durante o

período de teste os objetivos pelas quais foram criadas. Entretanto foi tomado um

cuidado especial nas mudanças no layout por impactar mais a área produtiva.

Os fluxos de valor foram validados e catalogados, não necessitando de

melhorias para a finalidade com que foram criados. Tornando-se um material para

treinamentos e apresentações da área produtiva e produtos.

Já na planilha de capacidade produtiva foram identificados alguns produtos

que estavam com tempos obsoletos ou não haviam sido cadastrados. Com a

identificação deste problema, foram validados os tempos novamente com o

cadastro do sistema de gerenciamento da manufatura. Este procedimento

demorou cerca de uma semana para atualização e revalidação.

O quadro visual atendeu o objetivo proposto de fornecer um melhor

gerenciamento das pessoas e máquinas pelos coordenadores, entretanto a

dificuldade de preenchimento em folhas de papel A3 estava atrasando muito o

preenchimento, principalmente quando alguma informação errada era inserida.

Portanto foi requisitada a criação do painel em material acrílico antes do tempo

previsto.

Nas áreas de encastoamento e enrolamento do layout produtivo foram

implementadas as redefinições, enquanto que nas outras áreas serão realizadas

gradualmente. Desta forma, na área de encastoamento, foi identificada uma

oportunidade de melhoria relatada pelo coordenador de produção em relação à

posição dos estoques de produto não processado e produto acabado. Conforme

proposto por este, as posições deveriam ser invertidas para melhorar a

visualização do estoque de produto finalizado pelo milk run, agilizando a entrega à

próxima etapa, conforme a Figura 17. Esta alteração foi aceita pelos membros da

equipe do projeto, pois realmente facilitava a visualização do estoque e mantinha

o fluxo contínuo de processamento.

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Como as alterações foram realizadas gradualmente, o layout de

encastoamento foi o primeiro a ser implementado, servindo de base para

correções às outras etapas. Em seguida, o enrolamento teve sua área modificada

e, então, foi definido que até janeiro de 2015 todas as ações serão monitoradas

nestas áreas, ao passo que as outras implementações ocorressem.

Figura 17: Melhoria no novo layout do encastoamento.

Fonte: Próprio autor.

Após o tempo de avaliação, todas as ações discutidas para corrigir grandes

falhas serão inseridas em um novo projeto regido pela metodologia Pesquisa-

ação e implementados novamente até abril de 2015, quando será o início do novo

ERP.

Importante notar que podem ocorrer tantos ciclos de melhorias quantos os

responsáveis identificarem necessários para corrigir os problemas identificados, a

fim de atingir a total adaptação dos operadores ao novo processo.

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5. CONCLUSÃO

A utilização da metodologia Lean Manufacturing contribuiu para buscar a

diminuição de desperdícios na fábrica sem investimentos expressivos em

recursos. Através destes conceitos, foi possível encontrar um foco para reduzir a

demora na entrega de produtos para os clientes internos, além do melhor

gerenciamento da manufatura.

A gestão visual se mostrou uma ferramenta importantíssima para o

gerenciamento da manufatura pelos coordenadores e gerente, mas ainda mais

importante para os operadores que recebem sinais rápidos para a tomada de

suas ações. Além de ter impactado no conceito de 5S, as demarcações dos

inventários intermediários no chão tiveram uma contribuição significativa na

redução de problemas de altos inventários e/ou inventários obsoletos, os quais

impactam diretamente na qualidade para este tipo de produto.

Juntamente a isto, as ferramentas desenvolvidas para gerenciamento de

recursos integradas à manufatura ofereceram um melhor controle do processo e

rápidas intervenções após o início dos turnos, quando necessários. Por isso, a

análise de capacidade produtiva buscou nivelar todos os processos da fábrica,

diminuindo a necessidade de alocação de pessoas durante o processo.

Desta forma, o conjunto de melhorias realizadas neste trabalho contribuiu

para uma melhor reação aos problemas encontrados. Assim, espera-se que o

cronograma de implementação seja cumprido e que no futuro as ferramentas

sejam mantidas e continuamente melhoradas para garantir o menor tempo e a

maior qualidade.

Por fim, a aceitação e confiança dos operadores no trabalho desenvolvido,

incentivaram a continua busca por melhorias do processo, de forma a atingir a

excelência em produtividade e qualidade. Este trabalho fez parte de uma destas

melhorias, permitindo o grande aprendizado de muitos conceitos através da

associação de teoria e prática, proporcionando a formação complementar do

futuro profissional da indústria, o qual deixa de ver o processo e passa a, de fato,

enxergá-lo.

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