UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ODONTOLOGIA … · time periods using the Attitudes towards...
Transcript of UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ODONTOLOGIA … · time periods using the Attitudes towards...
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ODONTOLOGIA DE BAURU
IVANILDO INACIO DE LIMA
Modelo Transteórico de aconselhamento (MTT) no período de pré-adaptação de Aparelho de Amplificação Sonora Individual (AASI)
BAURU 2011
IVANILDO INACIO DE LIMA
Modelo Transteórico de aconselhamento (MTT) no período de pré-adaptação de Aparelho de Amplificação Sonora Individual (AASI)
Dissertação apresentada a Faculdade de Odontologia de Bauru da Universidade de São Paulo para obtenção do título de Mestre em Ciências no Programa de Fonoaudiologia. Orientador: Profª Drª Dagma Venturini Marques Abramides
Versão corrigida
BAURU 2011
Nota: A versão original desta dissertação/tese encontra-se disponível no Serviço de Biblioteca e Documentação da Faculdade de Odontologia de Bauru – FOB/USP.
Inacio-Lima, Ivanildo Modelo Transteórico de aconselhamento (MTT) no período de pré-adaptação de Aparelho de Amplificação Sonora Individual (AASI) / Ivanildo Inacio de Lima. – Bauru, 2011. 117 p. : il. ; 31cm. Dissertação (Mestrado) – Faculdade de Odontologia de Bauru. Universidade de São Paulo Orientadora: Profª Drª Dagma Venturini Marques Abramides
I1m
Autorizo, exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta dissertação/tese, por processos fotocopiadores e outros meios eletrônicos. Assinatura: Data:
Comitê de Ética da FOB-USP Protocolo nº: 103/2009 Data: 24/06/2009
DEDICATÓRIA
À minha mãe, Luzia, e meus irmãos João Ítalo e Ingrid Luzia por acreditarem
em mim e caminhar passo a passo ao meu lado. Mãe... sua simplicidade e suas
lições de amor seguem comigo e faz parte de toda ação que realizo, estou tentando
ser importante como você gostaria que eu fosse, dando sequência nos seus sonhos.
AGRADECIMENTOS
A Deus que tudo criou, nossa força fundamental, aquele que tudo vê, que se
esqueceu um pouco em nós e por nós, não se importando com o que fazemos de
ruim, mas sim com o bem que ainda vamos fazer. Foi olhando para os seus, Senhor,
que também são meus, pois a mim foram confiados, que fiz esse trabalho. Criaste-
nos a tua imagem e semelhante, assim fomos feitos. Por isso, resolvi olhar para o
meu próximo, para a tua imagem, e buscar a tua semelhança, a força, a vontade de
ir além, o amor de cada dia, a misericórdia. Obrigado meu Senhor pelas noites de
reflexão e pelos dias de recomeço. Cada manhã despertada foi, é e sempre será
uma nova oportunidade de ser melhor, de reinauguração. Perdoai-me, Senhor, pelas
minhas misérias, aumentai a minha sensibilidade e o meu amor por ti no meu
próximo para que, ao final desta caminhada, possa te ver face a face e saber que já
te conhecia.
À minha família que pouco conhece do meu eu pesquisador, porém muito
sabem do meu humano com minhas fragilidades, rispidez, meus medos,
insatisfações, incertezas e inseguranças e mesmo assim acreditam em mim, me
apóiam. Mãe, Ita e Guinguinha, que o meu coração não seja ingrato em nenhum
momento da vida e que vocês estejam sempre dentro dele onde quer que eu vá. Aos
demais familiares, o meu apreço a cada um pelo que cada um representa na minha
vida independente da distância, que eu não os decepcione, ao contrário, que o
orgulho que sentem por mim seja cultivado a cada dia. Muito obrigado pela força,
amor e vida dispensados por mim.
Aos meus amigos, família que eu escolhi e escolho com o decorrer do tempo.
Vocês são fundamentais na minha vida e também responsáveis por este patamar
alcançado. Neste agradecimento, quero incluir todos os que passaram por mim
durante a minha jornada, que estiveram presentes na minha vida, se alegrando com
as minhas vitórias e chorando comigo as minhas quedas. Todos que deixaram algo
bom em mim e que levaram um pouquinho de mim. Depois do nosso encontro não
fomos mais os mesmos. Não vou citar nomes para não esquecer ninguém, todos
são muito importantes para mim e faço questão de dizer, de uma forma ou de outra,
presencialmente. Muito obrigado pela lealdade, cumplicidade e amor.
À XVI Turma de Fonoaudiologia e à II Turma de Mestrado em Fonoaudiologia
da Faculdade de Odontologia de Bauru. Tornei-me fonoaudiólogo com a primeira e
mestre com a segunda. É verdade que poucos foram os que de fato estavam comigo
e é a esses que direciono o meu agradecimento. Alguns se tornaram meus amigos e
outros, colegas. Muito obrigado por caminharem comigo.
Aos professores do departamento de fonoaudiologia da FOB que formaram o
profissional que hoje sou. Em especial aos que me orientaram: Profª Drª Maria Inês
Pegoraro-Krook, Profª Drª Deborah Viviane Ferrari e Profª Drª Dagma Venturini
Marques Abramides. Sendo a Profª Deborah a que deu sentido a fonoaudiologia em
minha vida, me mostrou o que é o amor ao paciente e, com certeza, se tornou o meu
referencial como profissional, além de ter intercedido junto à Profª Dagma quanto à
orientação no meu mestrado. A Profª Dagma, minha orientadora no mestrado, nesse
período foi minha amiga e psicóloga e, em muitos momentos, uma mãe, sabendo
me compreender, me dando limites e me direcionando. Muito obrigado a vocês por
terem tamanha participação na minha vida, por me fazer seguir em frente, por serem
gigantes a me ceder os ombros para que eu possa subir e crescer observando
melhor os novos horizontes.
Aos funcionários da FOB e da Divisão de Saúde Auditiva. Vocês foram
essenciais para que este trabalho ocorresse. Muitos se tornaram meus amigos, os
quais levarei comigo para onde for. Muito obrigado pelo sorriso, gentileza e
cordialidade de todos os dias.
Aos participantes deste estudo que tornaram o mesmo possível. Todos
confiaram em mim e se doaram buscando o bem maior. Muito obrigado por me
entender e permitir o desenvolvimento deste estudo. Jamais esquecerei nossos
encontros.
À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES),
pela bolsa de estudos que possibilitou o meu mestrado.
“(...) Todo mundo ama um dia,
Todo mundo chora
Um dia a gente chega
E no outro vai embora
Cada um de nós compõe a sua história
Cada ser em si
Carrega o dom de ser capaz
E ser feliz
(...) É preciso amor
Pra poder pulsar
É preciso paz pra poder sorrir
É preciso a chuva para florir (...)”
Almir Sater e Renato Teixeira
“(...) A felicidade aparece para aqueles que choram.
Para aqueles que se machucam
Para aqueles que buscam e tentam sempre.
E para aqueles que reconhecem
a importância das pessoas que passaram por suas vidas.”
Clarice Lispector
RESUMO
A deficiência auditiva pode ter impacto negativo na qualidade de vida do
indivíduo interferindo nas esferas das atividades e participação. O Aparelho de
Amplificação Sonora Individual (AASI) é uma alternativa viável de tratamento para
grande parte desta população. Entretanto, a simples aquisição de AASI não garante
a resolução da deficiência. Estudos vêm apontando benefícios do aconselhamento
de ajuste pessoal ao usuário de AASI desde a etapa de diagnóstico audiológico,
favorecendo o processo de adaptação. Neste sentido, o objetivo deste estudo foi
analisar o modelo transteórico de aconselhamento (MTT) que tem permitido uma
abordagem mais ampla do indivíduo de maneira a englobar o sistema de crenças e
aspectos motivacionais em candidatos a uso de AASI. Participaram deste estudo 20
candidatos (10 homens e 10 mulheres), com idades entre 25 e 64 anos (média =
52,95 anos) e deficiência auditiva neurossensorial bilateral de grau variando entre
leve e severa. As estratégias utilizadas para o aconselhamento foram: a Escala de
Prontidão (EP) e a Balança Decisória (BD), ambas propostas pelo Ida Institute, e as
Proposições de Babeu et al. (2004). O aconselhamento foi realizado em três
sessões: após o diagnóstico audiológico; no retorno para o teste com AASI, mas
antes do mesmo; e após, ao menos, uma semana de utilização do AASI. Em cada
sessão eram aplicadas as três ferramentas. As atitudes dos participantes foram
avaliadas nos três momentos por meio do Questionário de Atitudes frente à
Deficiência Auditiva (ALHQ). Como resultado, os participantes de modo geral
mostraram por meio da EP, nos três momentos, que consideravam ser muito
importante a melhora da audição e percebiam-se preparados para o uso do AASI. A
BD indicou os elementos a serem trabalhados e que levaram os participantes a
atribuírem valores na EP e a escolha nas Proposições de Babeu et al. (2004) por
meio de reflexões quanto às vantagens e desvantagens com relação à audição
prejudicada e ao uso de AASI. Tanto a BD quanto as Proposições de Babeu et al.
(2004) possibilitaram a discriminação do estágio de mudança a que cada
participante se encontrava. A maioria dos participantes indicou o estágio de ação
para a sua condição motivacional nos três momentos. Comparando as atitudes dos
participantes nesses três momentos, foram evidenciadas diferenças estatisticamente
significantes somente com a influência da experiência com AASI (subescalas de
“Negação da perda auditiva” e “Estratégias negativas de enfrentamento”). Embora
não tenham sido evidenciadas diferenças estatisticamente significantes sem esta
influência, a diminuição na amplitude do desvio padrão nas subescalas de “Estima
Relacionada à Audição” e “Associações Negativas” sugere uma tendência maior à
disposição para mudanças a qual pode ser atribuída ao aconselhamento uma vez
que nesta etapa o participante ainda não utilizava AASI. Conclui-se que, o MTT
aplicado às etapas iniciais do processo de adaptação do AASI constitui em uma
proposta objetiva e factível para que este processo englobe aspectos importantes
tais como o sistema de crenças, ideias, sentimentos e a condição motivacional do
candidato, permitindo identificar as diferenças individuais bem como organizar as
próximas etapas do processo de adaptação.
Palavras-chave: Perda Auditiva. Auxiliares de Audição. Aconselhamento
ABSTRACT
Transtheoretical Model of counseling (MTT) in the pre-fitting of Hearing Aids
(HA)
Hearing loss can negatively impact the quality of life of individuals, interfering
their activities and participation. Hearing aids (HA) can be a viable treatment
alternative for most of this population. However, the mere acquisition of HA does not
guarantee the resolution of hearing loss. Researchers have emphasized the benefits
of personal adjustment counseling for hearing aid users from audiology diagnostic
step , facilitating the fitting process. This study, in particular, analyzed the
transtheoretical model of counseling (MTT), which allows a broad approach to each
individual, encompassing a system of beliefs and motivational aspects of the
candidates who will begin using HA. This study included 20 volunteers10 men and 10
women) aged between 25 and 64 years (mean = 53 years) with bilateral
sensorineural hearing loss varying between mild and severe. Three strategies were
employed for counseling the volunteers, (1) the Readiness Scale (RS) strategy and
(2) the Decisional Balance (DB) strategy, both from the Ida Institute, and (3) the
Propositions of Babeu et al. (2004) strategy. Counseling was conducted during three
sessions, (1) after the audiological diagnosis, (2) just prior to the first test with HA,
and (3) after at least one week of using HA. During each session, the three strategies
were applied. The attitudes of the participants were also evaluated over these three
time periods using the Attitudes towards Loss of Hearing Questionnaire (ALHQ).
Under the context of the RS strategy, the subjects demonstrated during the three
sessions that was very important to improve one’s hearing and perceived themselves
prepared for hearing aid use. The BD strategy indicated elements to be improved,
allowing participants to assign the values of the RS and chose the propositions of
Babeu et al. (2004) by analyzing the advantages and disadvantages in relation to
impaired hearing and the use of HA. Both the BD strategy and the propositions of
Babeu et al. (2004) strategy allowed the discrimination of the stages of change that
each participant experienced. Most participants indicated the action stage for their
motivational condition during the three sessions. When comparing the attitudes of
participants during these three sessions, significant differences were found only after
using HA (subscales of "denial of hearing loss" and "negative coping strategies").
Although no statistically significant differences without this influence were found, the
decrease in the amplitude of the standard deviation in the subscales of “hearing-
related esteem” and “negative associations” might suggest that patients with out HA
are more willing to change after counseling . It is concluded that when the MTT is
applied to the initial steps of the hearing aid fitting process that an objective and
feasible proposal can incorporate important aspects such as beliefs, ideas, feelings
and motivational conditions of candidates, to identify their individual differences and
organize the next steps of the fitting process, facilitating this process.
Key words: Hearing Loss. Hearing Aids. Counseling.
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO 15
2. REVISÃO DE LITERATURA 23
2.1. BASES DO ACONSELHAMENTO EM PSICOLOGIA 25
2.2. O ACONSELHAMENTO EM AUDIOLOGIA 28
2.2.1.
MODELO TRANSTEÓRICO (MODELO DE ESTÁGIOS DE
MUDANÇA 32
2.2.1.1. ESTÁGIOS DE MUDANÇA 33
2.2.1.2. PROCESSOS DE MUDANÇA 34
2.2.1.3. BALANÇA DECISÓRIA 37
2.2.1.4. AUTO-EFICÁCIA 37
2.3.
ATITUDE FRENTE À DEFICIÊNCIA AUDITIVA E O APARELHO
DE AMPLIFICAÇÃO SONORA INDIVIDUAL 40
3. OBJETIVO 43
3.1 OBJETIVOS ESPECÍFICOS 45
4. MATERIAL E MÉTODOS 47
4.1. PARTICIPANTES 49
4.2. PROCEDIMENTO 53
4.2.1.
APLICAÇÃO DO QUESTIONÁRIO “ATITUDES FRENTE ÀS
PRÓTESES AUDITIVAS” ALHQ v 3.0 54
4.2.2. ACONSELHAMENTO DE AJUSTE PESSOAL 55
4.2.2.1. PRIMEIRA SESSÃO DE ACONSELHAMENTO 58
4.2.2.2. SEGUNDA SESSÃO DE ACONSELHAMENTO 63
4.2.2.3. TERCEIRA SESSÃO DE ACONSELHAMENTO 64
4.2.3.
SELEÇÃO, VERIFICAÇÃO E ADAPTAÇÃO DO APARELHO DE
AMPLIFICAÇÃO SONORA INDIVIDUAL 64
4.3. ANÁLISE DOS DADOS 70
5. RESULTADOS 71
5.1. PRIMEIRA SESSÃO DE ACONSELHAMENTO 73
5.2. SEGUNDA SESSÃO DE ACONSELHAMENTO 78
5.3. TERCEIRA SESSÃO DE ACONSELHAMENTO 82
5.4 QUESTIONÁRIO DE ATITUDES FRENTE À DEFICIÊNCIA 86
AUDITIVA (ALHQ)
6. DISCUSSÃO 89
7. CONCLUSÕES 99
REFERÊNCIAS 103
APÊNDICES 111
ANEXOS 115
1. Introdução
1. Introdução 17
1. INTRODUÇÃO
A deficiência auditiva neurossensorial (DANS) afeta primariamente as
estruturas da orelha interna tendo como conseqüência a diminuição da sensibilidade
auditiva a qual poderá interferir nas esferas das atividades (execução de uma tarefa
ou ação pelo indivíduo) e participação (envolvimento nas situações de vida),
apresentando impacto negativo na qualidade de vida do indivíduo. Este impacto está
presente em todos os grupos etários, no entanto, parece ser um fator de particular
influência na saúde geral e bem estar de adultos e idosos.
Em adultos, faixa etária foco deste estudo, além deste impacto, a DANS
contribui para o atraso do desenvolvimento econômico de uma comunidade por
afetar a habilidade de obter, realizar e manter um trabalho produtivo devido a
problemas psicológicos e de comunicação associados a esta deficiência. Ao longo
da vida, estas pessoas são estigmatizadas e isoladas (WHO, 2001).
Mesmo diante desses problemas, segundo Shelton e Faucette (1999), o
indivíduo com perda auditiva neurossensorial freqüentemente decide procurar
contrariado a ajuda profissional. Geralmente, esta busca é decorrente a cônjuges
incomodados, amigos preocupados, ou circunstâncias desconfortáveis que
comumente instigam o indivíduo quanto ao uso do aparelho de amplificação sonora
individual (AASI).
O AASI é uma alternativa viável de tratamento para grande parte das
DANSs. Desde o ano 2000, estes dispositivos são concedidos gratuitamente no
Brasil por meio do Sistema Único de Saúde (SUS). No entanto, foi a partir de 2004,
com a instituição da Política Nacional de Atenção à Saúde Auditiva (Portaria MS/GM
nº 2.073) que o atendimento integral à pessoa com deficiência auditiva foi
contemplado com ações que visam à promoção, prevenção, tratamento e
reabilitação da deficiência auditiva com atendimento multiprofissional e
interdisciplinar de responsabilidade pública e da sociedade.
O número de dispositivos concedidos pelo SUS tem aumentado ano a
ano - em 2009, de acordo com os dados fornecidos pelo Sistema de Informações
Ambulatoriais do SUS (SIASUS), foram concedidos pouco mais de 157 mil AASIs,
representando um gasto de cerca de R$116 milhões. A simples aquisição de um
AASI, por meio de serviços públicos ou privados, não garante o uso efetivo deste
dispositivo. Dependendo de vários aspectos como o grau, o tipo e a própria
1. Introdução 18
aceitação da deficiência auditiva, há indivíduos que não encontram tanta dificuldade
no processo de seleção e aquisição de AASI, se adaptando e obtendo sucesso com
a amplificação. Porém, há outros casos em que a aquisição não é suficiente,
podendo levar ao abandono do AASI (RUSSO; ALMEIDA; FREIRE, 2003). Esta é
uma das razões pelas quais se tem enfatizado que o aconselhamento não pode ser
dissociado do processo de seleção e aquisição do AASI para que haja a adaptação
satisfatória do indivíduo.
Segundo a visão rogeriana, na teoria de aconselhamento centrado no
cliente, o homem possui a capacidade de conhecimento reflexivo, o que torna
possível a auto-valorização e a auto-correção que são fundamentais para a sua
auto-compreensão e a resolução de problemas de forma a lhe dar a satisfação e a
eficácia necessária para o seu funcionamento adequado. Essa capacidade de
compreensão é suficiente para cada etapa de adaptação e de integração vital.
Porém, o grau em que esta se realiza depende das condições oferecidas pelo
ambiente e requer um contexto de relações humanas favoráveis, despidas de
ameaças psicológicas e de restrições que possam impedir a emergência de atributos
pessoais autênticos e de um conceito relativo à própria maneira de ser e ao próprio
eu (SCHEEFFER, 1979).
O aconselhamento consiste em proporcionar oportunidades para receber
e fornecer informações, ou seja, criar uma atmosfera adequada de modo a facilitar o
entendimento, no caso de candidatos a uso de AASI, sobre e a deficiência auditiva e
o AASI, propiciar ajuste a esta situação e promover a integração sócio-ambiental.
Em audiologia, o aconselhamento pode ser dividido em dois tipos: ajuste pessoal,
que envolve o desenvolvimento de mecanismos e sistemas de suporte emocional
para o indivíduo lidar com a deficiência auditiva; e o informativo ou “orientação”, o
qual aborda a fisiologia da audição, resultados dos exames audiológicos e plano de
tratamento (MARGOLIS, 2004).
Na prática clínica fonoaudiológica é frequentemente adotado o modelo
médico de atendimento, no qual o paciente desempenha um papel passivo e o
profissional foca seu olhar na patologia deixando de considerar o paciente como um
todo. Acrescente-se a essa postura, a falta de capacitação profissional adequada e a
existência de metas (financeiras) a serem alcançadas. Sendo assim, é realizado, na
maior parte dos casos, apenas o aconselhamento no formato informativo, ou seja, a
orientação, o que pode limitar a realização de um atendimento integral ao paciente,
1. Introdução 19
resultando em intervenções insuficientes para que o mesmo faça uso efetivo do
AASI, não melhorando sua audição, comunicação e conseqüentemente a qualidade
de vida.
No entanto, em 2001, a American Speech-Language-Hearing Association
(ASHA) publicou o documento Scope of Practice que inclui a educação e
aconselhamento de indivíduos, famílias, colegas, educadores e outras pessoas da
comunidade com relação à aceitação, adaptação e tomada de decisão sobre a
comunicação ou outras alterações dos sistemas auditivo, linguagem e fala. Neste
documento, o aconselhamento na área dos distúrbios da comunicação foi descrito
como “a construção de relacionamento, fornecendo informações e escuta
diferenciada (ouvido solidário)”. Seguindo estes preceitos, é inadmissível ao
fonoaudiólogo uma postura estrita voltada para sintomas e orientações e o obriga a
ampliar o seu escopo de atuação onde possa ser incluído o aconselhamento de
ajuste pessoal em sua prática.
Em 2002, o termo aconselhamento foi utilizado no documento oficial
“Áreas de Competência do Fonoaudiólogo no Brasil” onde o Conselho Federal de
Fonoaudiologia explica a área de competência “Orientar pacientes, clientes externos
e internos, familiares e educadores”. Esta área de atuação, segundo o mesmo
documento, é constituída por ações que envolvem a escuta profissional, a
explicação, a instrução, a demonstração, a proposição de alternativas e a verificação
da eficácia das ações propostas. Para orientar o paciente ou cliente, o fonoaudiólogo
deve escutá-lo, esclarecer os problemas existentes e suas conseqüências, propor
alternativas de comportamento e realizar aconselhamento fonoaudiológico. Portanto,
tal área de atuação afirmada neste documento de 2002 e reafirmada em 2007 pelo
mesmo conselho, preconiza a atribuição do aconselhamento na prática clínica
fonoaudiológica. Aconselhamento este que pode ser entendido como informativo e
também de ajuste pessoal uma vez que o profissional irá propor mudança de
comportamento.
Pelo Código de Ética da Fonoaudiologia (2004), aprovado pela Resolução
CFFa n. 305/2004, o aconselhamento ainda não é apontado dentre as competências
e atribuições do fonoaudiólogo, porém, no capítulo III, dos direitos gerais, artigo 5º,
parágrafo III, traz a orientação com um sentindo mais amplo, não se restringindo a
fornecimento de informação, porém não atribuindo ainda a postura de escuta e
desenvolvimento de suporte emocional a este profissional. No capítulo V, do
1. Introdução 20
relacionamento, seção I, das responsabilidades do fonoaudiólogo para com o
cliente, no artigo 9º, parágrafo III, diz que o fonoaudiólogo deve orientar o cliente
adequadamente acerca dos propósitos, riscos, custos e alternativas de tratamento e,
complementando este mesmo artigo, no parágrafo IV, esclarecer o cliente
apropriadamente sobre os riscos, as influências sociais e ambientais dos transtornos
fonoaudiológicos e sobre a evolução do quadro clínico, bem como sobre os
prejuízos de uma possível interrupção do tratamento fonoaudiológico. Neste formato,
o fonoaudiólogo se abstém de qualquer responsabilidade sobre a decisão do cliente,
sendo de total responsabilidade do cliente o sucesso ou não no tratamento e
prognóstico. Enquanto que, ao inserir o aconselhamento de ajuste pessoal, o
mesmo assume o papel de coadjuvante na relação cliente e profissional.
Apesar da importância do aconselhamento de ajuste pessoal na busca da
adaptação no processo de saúde e consequentemente da qualidade de vida, o
mesmo, além de não estar inserido pelo código de ética da fonoaudiologia, não
consta também em políticas públicas. Porém, em 2003, o SUS instituiu a Política
Nacional de Humanização da Atenção e Gestão do SUS (HumanizaSUS) que tem
como uma de suas propostas o acolhimento como postura de escuta e compromisso
em dar respostas às necessidades de saúde trazidas pelo usuário, de maneira que
inclua sua cultura, seus saberes e sua capacidade de avaliar riscos, implicando em
uma abordagem do usuário para além da doença e suas queixas, mudando de
objeto (da doença para o sujeito), bem como a construção de vínculo terapêutico
para aumentar o grau de autonomia e de protagonismo dos sujeitos no processo de
produção de saúde (BRASIL, 2010). Esta política tem conduzido questionamentos
muito fortes quanto à necessidade de mudança de postura no atendimento por parte
de todos os profissionais e serviços de saúde.
Este estudo tem o intuito de propor a necessária mudança de atenção e
gestão dos processos de trabalho tendo como foco as necessidades dos cidadãos e
a produção de saúde como publicado pela Política Nacional de Humanização. Além
de ser uma oportunidade para se discutir a reabilitação auditiva inerente a Política
Nacional de Atenção à Saúde Auditiva no tocante a fonoaudiologia clínica. E, para
tanto, traz um novo formato de atendimento incluindo o aconselhamento de ajuste
pessoal desde o momento do diagnóstico audiológico até o início do processo de
reabilitação, sendo este um estudo exploratório. Desta maneira, visa inclusive à
quebra de paradigmas no formato de atendimento e, por conseguinte, anular a visão
1. Introdução 21
cultural tecnicista e assistencialista dos usuários de serviços de saúde quanto ao
profissional, proporcionando um atendimento integral ao cliente e a garantia de
melhora na qualidade de vida do mesmo.
2. Revisão de Literatura
2. Revisão de Literatura 25
2. REVISÃO DE LITERATURA
2.1. BASES DO ACONSELHAMENTO EM PSICOLOGIA
Segundo Scheeffer (1980), historicamente, o aconselhamento surgiu em
uma conexão com os seguintes movimentos:
1) Fundação de Centros de Orientação Infantil e Juvenil (para pais e filhos) no
início do século XX, com finalidade maior de fornecer diagnóstico que de
aconselhamento propriamente dito;
2) Aparecimento da Orientação Profissional inicialmente fornecendo ao cliente
informações relativas ao mundo profissional não havendo preocupação com
as técnicas de relacionamento, posteriormente evoluindo para uma dinâmica
de processo assistindo o indivíduo a encontrar uma profissão adequada às
suas características pessoais onde predominava a aplicação de testes
psicológicos, e por fim, maior importância foi atribuído à relação entre
orientador e orientando na situação de aconselhamento neste processo;
3) A criação de Serviços de Higiene Mental para adultos, inclusive de Centros
de Aconselhamento Pré-Matrimonial e Matrimonial, nos EUA, oferecendo
campo para o desenvolvimento das técnicas de aconselhamento;
4) As instituições de Assistência Social que necessitavam dar aos clientes,
além de assistência médica e financeira, oportunidade de expressão e alívio
de suas cargas emocionais constituindo um outro setor em que floresceu o
aconselhamento psicológico;
5) O desenvolvimento dos serviços de assistência psicológica nas empresas
oferecendo um novo campo de aplicação dos aconselhamento.
A prática do aconselhamento nasceu na área da Psicologia como
intervenção psicológica e emergiu dentro da mesma como uma especialidade após
a 2ª Guerra Mundial, com raízes na abordagem centrada na pessoa como proposto
por Carl Rogers (1942). Esta abordagem enfatiza, sobretudo, as atitudes do
conselheiro (e não a sua ação) como condições necessárias e suficientes para que o
processo de auto-exploração e crescimento ocorra no cliente. Tal condição de
suficiência das atitudes (empatia, congruência e aceitação) do psicoterapeuta
permite distinguir o aconselhamento psicológico centrado na pessoa das terapias
focais, que consideram estas atitudes necessárias, mas não suficientes. Daí o
2. Revisão de Literatura 26
porquê de recorrerem a estratégias mais ativas e diretivas. Nesta perspectiva, o
aconselhamento psicológico se apresenta como modelo clínico (mais amplo que o
psicoterapêutico), aplicável em diferentes situações institucionais (SCHMIDT,1999 ).
No aconselhamento, segundo Steffler e Grant (1960 apud KINRA, 2008),
o objetivo do conselheiro é recolher informações sobre as habilidades, talentos,
interesses e capacidades do cliente, além de recolher informações sobre o seu
ambiente, e auxiliá-lo na modificação do seu comportamento. Para isso, o
conselheiro utiliza-se de variadas técnicas, testes psicológicos, faz perguntas para
clarear o entendimento do comportamento e acelerar o processo de auto-
compreensão; ouve atentamente o cliente e faz sugestões quando necessárias;
fornece informações sobre o cliente ao mesmo relatando traços de personalidade,
valores sociais, ambiente social; o conselheiro pode também agir como um
consultor.
Aconselhar não é dar conselhos, fazer exortações nem encorajar a
disciplina ou prescrever condutas que deveriam ser seguidas. Pelo contrário, trata-
se de ajudar a pessoa a compreender a si própria e a situação em que se encontra e
ajudá-la a utilizar competências específicas para lidar mais eficazmente com a sua
vida (ROWLAND, 1992). Conforme Trindade e Teixeira (2000), a finalidade principal
do aconselhamento é promover o bem-estar psicológico e a autonomia pessoal no
confronto com as dificuldades e os problemas. Difere da psicoterapia, pelo caráter
situacional, a focalização no presente e na resolução de problemas do sujeito, a
duração mais curta e a orientação para a ação voltada a facilitar a mudança de
comportamento e ajudar a mantê-la.
Patterson (1990) analisou as diversas teorias de aconselhamento e
psicoterapia, apontando semelhanças e divergências entre as varias abordagens e
destacou que a questão fundamental é a atitude do conselheiro. Ou seja, faça o que
fizer, o conselheiro deve permanecer no quadro de referência do cliente vendo as
coisas a partir de seu ponto de vista, tentando compreender o que ele está lhe
dizendo; faça o que fizer, ele deve manter seu respeito e seu carinho para com esse
cliente.
O aconselhamento como intervenção psicológica está reservada a
psicólogos, desejavelmente com formação e treino específicos. Entretanto, desde
1998, Altmaier, Johnson e Paulsen sinalizavam quanto à necessidade de que outros
profissionais de saúde desenvolvessem algumas competências de aconselhamento
2. Revisão de Literatura 27
sem que, com isto, substituíssem os psicólogos uma vez que o desenvolvimento do
profissional inclui a intervenção com sujeitos e famílias, o trabalho cooperado em
equipes multidisciplinares de saúde, a investigação e a formação de outros
profissionais de saúde.
Neste sentido, princípios de varias teorias que apóiam o objetivo geral de
ajudar as pessoas a fazer mudanças positivas em suas habilidades comunicativas e
seus comportamentos, podem ser integradas na medida adequada com
estabelecimento de uma relação interpessoal eficaz dentro da qual o crescimento
pessoal e as mudanças são favorecidos (SHIPLEY e ROSEBERRY-MCKIBBIN,
2006).
Vários modelos teóricos de intervenção para o aconselhamento têm sido
propostos ao longo dos últimos anos, tais como o cognitivo-comportamental,
emocional-racional, informativo educacional, sistêmico e o modelo centrado no
cliente ou pessoa.
Para Trindade e Teixeira (2000), a perspectiva cognitivo-comportamental
é a mais adequada aos contextos de saúde e doença, pois, segundo os autores, é a
que melhor se adapta ao contexto e ritmo próprio da prestação dos cuidados de
saúde, quer nos Centros de Saúde quer nos hospitais gerais e especializados. Além
disto, em saúde requer-se intervenções de ajuda limitadas no tempo, diretivas,
práticas e eficientes, que promovam a efetiva mudança de comportamentos e a
obtenção de ganhos de saúde individuais e de grupo. Fazer uso da perspectiva
cognitivo-comportamental, ainda para os mesmos autores, implica em transmitir
informação personalizada; construir a capacidade de auto-ajuda focando nas
competências sociais do sujeito podendo envolver técnicas diversas (competências
de confronto, manejo do stress, relaxamento muscular, treino da assertividade);
acreditar nas capacidades do sujeito para lidar com as dificuldades focalizando na
percepção de controle pessoal e nas expectativas de auto-eficácia; ajudar a resolver
problemas centrando no comportamento, implicando na identificação de problemas,
criação de soluções alternativas possíveis, escolha da solução melhor, planejamento
da sua implementação e revisão do progresso obtido; e facilitar um ambiente
encorajador da mudança, focando no suporte social, tendo em conta que a família é
o grande contexto onde a doença ocorre e a saúde é mantida.
De qualquer maneira, o processo de aconselhamento compreende o uso
de técnicas apropriadas que motivem a adesão à prática preventiva, de promoção
2. Revisão de Literatura 28
da saúde ou como parte de estratégia maior de intervenção (FLASHER e FOGLE,
2004).
2.2. O ACONSELHAMENTO EM AUDIOLOGIA
Segundo Shipley e Roseberry-McKibbin (2006) os fonoaudiólogos, de
maneira consciente ou não, freqüentemente usam uma variedade de métodos que
têm suas raízes em aconselhamento e psicoterapia para atingir suas metas. A
aplicabilidade destas técnicas abrange praticamente todas as classificações de
distúrbios de comunicação, ou seja, podem ser empregadas em todo e qualquer
tratamento fonoaudiológico, independente da alteração a que se refere. Afinal, o
fonoaudiólogo não trata de um distúrbio de comunicação, mas sim trabalha com
pessoas que apresentam um transtorno relacionado à comunicação.
Por conseguinte, embora alguns professem ser desconfortável entrar no
reino dos valores humanos, sentimentos e crenças, não é possível esperar
mudanças duradouras, se ignorarmos os aspectos pessoais de um problema de
comunicação (LUTERMAN, 2001; ENGLISH, 2002; FLASHER E FOGLE, 2004;
SHIPLEY e ROSEBERRY-MCKIBBIN, 2006).
As obras do notável Audiologista americano David Luterman e do
terapeuta de casal e de família Walter Rollin desde a década de 60 até a atualidade,
na área dos distúrbios da comunicação, destacam que para aliviar a preocupação
potencial de alguns fonoaudiólogos sobre a possibilidade de cruzar as fronteiras
profissionais, é útil analisar algumas das características de orientação para esta
área. Primeiro, o aconselhamento nesta área é centrado na pessoa e não na doença
e/ou distúrbio. Ou seja, não se projeta e implementa a intervenção para a
deficiência, mas sim para atender às necessidades de determinada pessoa e família.
Este não é um conceito novo. A recente ênfase no uso de linguagem em primeira
pessoa como, por exemplo, "a pessoa com deficiência auditiva" em vez de
"deficiente auditivo”, reflete a crença na importância fundamental da pessoa sobre a
deficiência.
Assim, o aconselhamento não é empregado para "consertar" a deficiência
auditiva e o distúrbio de comunicação, por si só, mas como um apoio aos clientes a
determinar como eles podem gerir mais eficazmente os desafios pessoais que são
colocados pela deficiência. Assim, o aconselhamento pode elencar o rol de
2. Revisão de Literatura 29
atividades do fonoaudiólogo, mas é importante ressaltar que ele deve resistir à
tentação de firmar-se como o "expert" onipotente e permitir que os clientes
participem ativamente na definição das metas e na escolha de tarefas para trabalhar
com questões difíceis.
Segundo Rollin (2000), as técnicas de aconselhamento que os
fonoaudiólogos empregam são projetadas para promover a independência para que
os clientes e suas famílias possam, eventualmente, ser capazes de funcionar sem
ajuda.
A característica mais importante da natureza das relações de
aconselhamento na intervenção fonoaudiológica é que eles são específicos para o
distúrbio de comunicação. Na medida em que o aconselhamento é o foco principal,
ou complemento, a intervenção depende da pessoa, do problema, e do estágio de
tratamento. No entanto, é sempre focado em assuntos relacionados à comunicação.
Geralmente, se o cliente é funcional em atividades diárias e relacionamentos, os
fonoaudiólogos podem incorporar técnicas de aconselhamento em intervenção para
facilitar um melhor funcionamento. O aconselhamento que aborda questões mais
amplas de vida, como depressão crônica, discórdia conjugal e expressão de
pensamentos suicidas é reservado para os profissionais, como psicólogos,
terapeutas de família, ou psiquiatras que são especificamente treinados para ajudar
as pessoas a trabalhar com esses tipos de problemas.
Assim, psicólogos e fonoaudiólogos podem trabalhar em parceria na
busca de promoção do bem estar da clientela fonoaudiológica e ajustar mútua e
flexivelmente o papel de cada um ao longo do processo de diagnóstico e
reabilitação.
Marques, Kozlowski e Marques (2004), relatam que para minimizar as
reações psicossociais do paciente decorrentes da deficiência auditiva, é necessário
selecionar, indicar e adaptar os AASI, bem como inserir o mesmo em programas de
reabilitação auditiva, que o auxiliem juntamente com seus familiares a lidarem de
forma positiva frente às dificuldades de comunicação. E, por meio destes programas
é possível reduzir a percepção da restrição de participação da população, que irá
refletir na promoção de contatos sociais, diminuindo o isolamento e
conseqüentemente melhorando a qualidade de vida destes indivíduos.
Chartrand (1999) bem como Inacio-Lima, Aiello e Ferrari (2009) apontam
falhas na prática clínica frequentemente baseada em limiares auditivos. O primeiro
2. Revisão de Literatura 30
afirma ainda que, o profissional com a atenção voltada para audiogramas, medidas
reais na orelha e targets na programação, pode deixar de notar os perigos ocultos a
sua frente como um resultado de desmotivação, relações disfuncionais e
expectativas irreais. Para ele, o sucesso na adaptação só pode ocorrer quando o
indivíduo caminha passo a passo com o profissional, não se escondendo em
negações ou excesso de expectativa e nem assumindo o papel de espectador.
O cérebro humano age como um sistema de auto-organização: se prende
em dados e categorias sistematicamente dentro de exemplos maiores ou
descobertas perceptivas. Neste sistema, uma vez que o mesmo associa qualquer
informação com um modelo particular, este modelo pode ser fixado. Muitos
indivíduos caminham para o consultório com um modelo negativo de pensamento
sobre sua perda auditiva e a necessidade de AASI já adotado que pode até mesmo,
inconscientemente, sabotar todo o processo de adaptação. Eles provavelmente
manterão este modelo negativo se o fonoaudiólogo não os ajudar a descobrir
caminhos alternativos de pensamento (SHELTON e FAUCETTE, 1999).
English (2005) aponta que o profissional deve lidar com os seguintes
aspectos dos indivíduos candidatos ao AASI: 1) o desencorajamento frente à
realidade de que eles têm um problema; 2) o fato incômodo de que necessitam pedir
ajuda; 3) a decepcionante notícia de que a ajuda vem na forma de AASIs; 4) as
mudanças na imagem corporal e auto-conceito; 5) a decisão de não se preocupar
com o que os outros pensam sobre estas mudanças e 6) adequação das
expectativas com as inerentes limitações do AASI. A autora refere que o sucesso da
reabilitação não ocorre sem o processo de aconselhamento apropriado.
Segundo Sousa e Wieselberg (2005) o aconselhamento em audiologia é
de extrema importância, pois: ajuda os indivíduos e suas famílias a serem sujeitos
ativos e participantes no processo de reabilitação auditiva, propicia familiarização,
aceitação e uso efetivo do AASI, bem como, ajuda-os a superar as suas dificuldades
de comunicação e tornarem-se sujeitos independentes e integrados socialmente.
Há dois tipos de aconselhamento utilizados na área de Audiologia: o
aconselhamento informativo e o aconselhamento de ajuste pessoal. O
aconselhamento informativo é aquele pelo qual são sanadas as dúvidas do paciente,
fornecidas informações acerca dos resultados dos exames realizados, anatomia da
orelha, uso do AASI, estratégias de comunicação, entre outros. O aconselhamento
de ajuste pessoal é utilizado para ajudar o paciente a expressar, compreender e
2. Revisão de Literatura 31
aceitar suas reações emocionais e psicológicas frente à perda da audição, visando
como resultados que a pessoa se veja separadamente do seu problema, tendo uma
auto-imagem positiva para, desta forma, estar disposto a participar ativamente do
processo de reabilitação (ENGLISH, 2008).
Elkayam e English (2003) realizaram o aconselhamento de ajuste pessoal
em 15 adolescentes usuários de AASI e pessoas mais significativas do seu circulo
de amizades também adolescentes, fazendo uso de um questionário de auto-
avaliação adaptado para esta faixa etária para facilitar neste processo. Os AASIs e
as dificuldades na comunicação foram temas recorrentes durante a discussão com
os participantes do grupo com deficiência auditiva. As respostas dos adolescentes
mascararam as emoções e atitudes que puderam ser descobertas somente por meio
do diálogo. Os adolescentes aparentaram estar lutando, com variados graus de
sucesso, com os efeitos da sua perda auditiva na comunicação, socialização,
identidade e auto-conceito. Eles foram relutantes ou incapazes para discutir sua
perda auditiva e sentimentos associados, mesmo com as pessoas que eles
consideraram suas amigas. Os adolescentes foram unânimes em seu sentimento de
aversão frente a estranhos ou conhecidos casuais que fazem perguntas sobre sua
perda auditiva ou seu AASI. Essas convicções conflitantes provavelmente
contribuem para o sentimento de frustração, ira ou tristeza que foi expresso na
sessão de aconselhamento. Oitenta porcento dos estudantes relataram se beneficiar
da sessão de aconselhamento e apenas 27% indicaram uma mudança de
comportamento em relação à deficiência auditiva. Segundo as autoras, a
implementação de estratégias de aconselhamento pode realmente economizar
tempo focando em questões que são importantes para o paciente. O uso de um
questionário de auto-avaliação como instrumento de aconselhamento pode fornecer
ao paciente e ao fonoaudiólogo um meio relativamente não invasivo de estimular a
conversa, aumentar o interesse em auto-reflexões, maior capacidade para pensar
nas questões que envolvem a perda auditiva e aumentar a habilidade de resolver
problemas.
A constatação da deficiência auditiva em indivíduos adultos bem como a
indicação para uso do AASI implica numa serie de mudanças em suas vidas. Muitas
vezes, precisam aprender novas estratégias de comunicação ao usar a nova
tecnologia assistiva. Os prejuízos na comunicação e as intervenções subsequentes
2. Revisão de Literatura 32
podem afetar o funcionamento psicológico requerendo o ajuste pessoal e da família
(IMIG, 2005).
Importante salientar que a tecnologia de apoio que deve ser aprendida,
mantida, ou reparada implica que o individuo tome a decisão de mudar, opere uma
mudança efetiva de comportamento e mantenha o novo comportamento em longo
prazo o que implica em focalizar também o grupo social da pessoa (BEUKELMAN e
MIRENDA, 2005).
A utilização do aconselhamento convencional como parte do rol de
atividades do fonoaudiólogo, no qual o indivíduo pode revelar sobre como ocorreu a
perda auditiva bem como os seus sentimentos, pensamentos e o que deseja fazer.
Entretanto, é possível que ele não tenha a percepção desta conversa como
ensinamento que o habilite para tomada de decisão e, ao contrário, o mantenha em
um papel passivo neste processo. Ao se utilizarem de um método de
aconselhamento centrado no cliente, segundo Babeu et al. (2004), os profissionais
da saúde podem ajudar o mesmo a tomar decisões para buscar e fazer uso de
cuidados para com a saúde auditiva.
Assim sendo, o aconselhamento na área da Audiologia pode ser utilizado
na adaptação psicológica a alterações do estado de saúde (confronto com a doença
e a deficiência), em tudo o que isto possa envolver de mudança pessoal,
ajustamento a uma nova situação, interação com profissionais de saúde, adesão a
tratamentos e medidas de reabilitação.
2.2.1. MODELO TRANSTEÓRICO (MODELO DE ESTÁGIOS DE MUDANÇA)
O Modelo Transteórico (MTT), também conhecido como modelo de
estágios de mudança, foi desenvolvido no final da década de setenta pelos
pesquisadores Prochaska e DiClemente, a partir de estudos realizados com
tabagistas. Os pesquisadores analisaram as teorias cognitivo-comportamentais,
existencial humanista, psicanálise e gestalt experiencial, verificando que todas as
teorias exibiam limitações sendo que nenhuma delas podia explicar totalmente o
processo de motivação para mudança (PROCHASKA, DICLEMENTE e
NORCROSS, 1992). Desta forma propuseram uma combinação de teorias de
mudança intencional sendo que o foco primário está sobre os estágios de mudança
e os processos envolvidos na mesma (DICLEMENTE, 1993).
2. Revisão de Literatura 33
2.2.1.1. ESTÁGIOS DE MUDANÇA
De acordo com o MTT a mudança comportamental acontece ao longo de
um processo pelos quais as pessoas passam por diferentes níveis de motivação
(estágios) para a mudança (PROCHASKA, DICLEMENTE e NORCROSS, 1992).
Babeu et al. (2004) afirma que cada estágio representa um período de
tempo, bem como um conjunto de tarefas a serem realizadas a fim de avançar para
a próxima fase.
Para Prochaska e DiClemente (1992 apud Babeu et al., 2004), o tempo
em que uma pessoa permanece em um estágio varia, mas as tarefas a serem
realizadas não. A dimensão temporal é bastante dinâmica podendo regredir e
avançar entre os estágios (PROCHASKA e DICLEMENTE, 1982).
Os estágios de mudança estão descritos na tabela 1.
Tabela 1 – Estágios de Mudança
Estágio de Mudança Definição
Pré-Contemplação
Não há intenção de mudança do comportamento em um futuro
previsível neste estágio (PROCHASKA, DICLEMENTE e NORCROSS,
1992). Não há a consciência do problema. No caso da pessoa com
deficiência auditiva, a mesmo pode não acreditar que tem a DA ou
acreditar que tem dificuldades auditivas apenas em algumas situações
não precisando, desta forma, de ajuda profissional (BABEU et al.,
2004). Para Prochaska e DiClemente (1992 apud Babeu et al., 2004),
afim de avançar com relação aos estágios de mudança, o indivíduo
precisa reconhecer o seu problema, tomar posse do mesmo e/ou
aumentar sua consciência dos aspectos negativos advindos pelo
mesmo.
Contemplação
Este é o estágio no qual as pessoas estão conscientes que têm um
problema e estão pensando seriamente em superá-lo, mas ainda não
assumiram o compromisso de tomar medidas (PROCHASKA,
DICLEMENTE e NORCROSS, 1992). A pessoa com deficiência
auditiva estará começando a se preocupar com a sua DA e se
questionando sobre como seria se ele tivesse o AASI, pensando mais
sobre os aspectos negativos e positivos de uma mudança de
comportamento (Babeu et al., 2004).
Preparação O estágio de preparação é o que combina intenção e critérios
comportamentais (PROCHASKA, DICLEMENTE e NORCROSS, 1992).
2. Revisão de Literatura 34
O indivíduo apresenta uma prontidão para a mudança, a qual envolve
atitudes bem como comportamento e busca, por si mesmo, ajuda
profissional, e informações sobre DA, AASI e saúde auditiva (BABEU et
al., 2004). Há pequenas mudanças comportamentais (DICLEMENTE et
al., 1991).
Ação
Neste estágio, o indivíduo modifica o seu comportamento, experiências
ou ambiente, a fim de superar seus problemas. É o estágio que envolve
as mudanças mais evidentes de comportamento e exige um
considerável compromisso de tempo e energia (PROCHASKA,
DICLEMENTE e NORCROSS, 1992). Para Babeu et al. (2004), quanto
à audiologia clínica, indivíduos neste estágio adquirem os AASIs e
devem passar pela reabilitação para receber informações sobre sua
DA, uso do AASI, e como conviver com ambos. Neste estágio, o apoio
do fonoaudiólogo e familiares é fundamental.
Manutenção
As pessoas, neste estágio, trabalham para prevenir recaídas e
consolidar os ganhos obtidos durante a ação. Segundo Babeu et al.
(2004) e Toral (2006), o indivíduo já modificou o seu comportamento e
o manteve há mais de 6 meses. Na audiologia, o indivíduo integrou o
uso do AASI em seu estilo de vida e se sente confortável quanto à sua
DA, utilizando-se de estratégias de comunicação e pedindo ajuda
quando necessário.
Recaída
É um evento que encerra o estágio de ação ou manutenção, solicitando
um movimento cíclico de volta por meio dos estágios iniciais de pré-
contemplação ou contemplação (DICLEMENTE et al., 1991). Na
manutenção, sustentar um novo comportamento intencional é difícil.
Após seis meses o problema pode não ter desaparecido
completamente e também haver recaída.
Término
Neste estágio, a tentação de retornar ao comportamento antigo é nula
e há 100% de auto-eficácia. Não importa a situação que enfrente, o
indivíduo estará confiante de que continuará com seu comportamento
saudável e não alternativas de recaída (PROCHASKA, 2008).
2.2.1.2. PROCESSOS DE MUDANÇA
Para Prochaska, DiClemente e Norcross (1992), os estágios de mudança
representam uma dimensão de tempo que indica quando uma mudança de atitude
em particular ocorreu, enquanto que os processos de mudança descrevem os
mecanismos pelos quais ocorrem as mudanças de atitude.
2. Revisão de Literatura 35
Segundo Babeu et al. (2004), se o profissional tem uma compreensão dos
dez processos de mudança e segue uma intervenção educacional adequada, o
mesmo pode promover a mudança de atitude frente ao comportamento
problemático. De acordo com Bandini (2006), os processos de mudança
compreendem as ações e estratégias, conscientes ou não, que o indivíduo usa para
progredir por entre os estágios. Há duas principais categorias de processos de
mudança: cognitiva e comportamental.
Para Prochaska et al. (1994 apud Babeu et al., 2004), os processos
cognitivos estão focados internamente, no que o indivíduo está pensando e/ou
sentindo sobre o comportamento. Os processos cognitivos que são eficazes
principalmente durante os estágios de pré-contemplação e contemplação são:
conscientização, catarse, avaliação sócio-ambiental, auto-avaliação e liberação
social.
Tabela 2 – Processos Cognitivos de Mudança
Processos Cognitivos Definição
Conscientização
Esforço para aumentar o nível de sensibilização do problema por
meio de observação, confrontação, interpretação, feedback e
material informativo (PROCHASKA, DICLEMENTE e
NORCROSS, 1992). Neste processo o fonoaudiólogo pode
fornecer informações individuais sobre a perda auditiva, seu
impacto na qualidade de vida, bem como as causas da mesma
(BABEU et al., 2004).
Catarse
Neste processo está incluso a experimentação e expressão de
sentimentos sobre os problemas e soluções (PROCHASKA,
DICLEMENTE e NORCROSS, 1992). Por mais ouvir que falar, o
fonoaudiólogo capacitará o indivíduo para articular seu ponto de
vista sobre sua condição auditiva e soluções para o seu problema
(BABEU et al., 2004).
Avaliação sócio-
ambiental
Consiste na avaliação de como um problema afeta um ambiente
físico (PROCHASKA, DICLEMENTE e NORCROSS, 1992). No
caso da DA, avalia-se seus efeitos sobre o ambiente social e
físico, bem como o custo financeiro e emocional da perda auditiva
para a sociedade e para a família (BABEU et al., 2004).
Auto-avaliação
Esta auto-avaliação deve focar sobre como o indivíduo sente e
pensa sobre si mesmo a respeito do seu comportamento,
envolvendo clareza de valores, imagens internas e experiências
2. Revisão de Literatura 36
emocionais a respeito do problema comportamental
(PROCHASKA, DICLEMENTE e NORCROSS, 1992).
Liberação social
A liberação social foca o aumento de alternativas para
comportamentos não problemáticos na sociedade (PROCHASKA,
DICLEMENTE e NORCROSS, 1992). Neste processo o indivíduo
conscientiza-se ou percebe que a sociedade em geral está
começando a ser mais compreensiva e aceitando-o (BABEU et al.,
2004)
Os processos comportamentais incidem diretamente na mudança de
comportamento. São atitudes que o indivíduo pode ter para lidar com o seu
problema. Os processos comportamentais os quais são eficazes principalmente
durante os estágios de preparação, ação e manutenção são: auto-liberação, reforço,
contra-condicionamento, controle de estímulos e apoio social (PROCHASKA et al.
1994 apud Babeu et al., 2004).
Tabela 3 – Processos Comportamentais de Mudança
Processos Comportamentais
Definição
Auto-liberação
O foco deste processo é a escolha e o compromisso de agir ou de
crença na capacidade de mudar (PROCHASKA, DICLEMENTE e
NORCROSS, 1992).
Reforço
Neste processo o indivíduo recompensa-se a si mesmo ou é
recompensado pelos outros devido ao esforço realizado para a
mudança de comportamento (PROCHASKA, DICLEMENTE e
NORCROSS, 1992). O reforço deve ser continuado quanto ao uso
do AASI fornecendo informações sobre a necessidade de
expectativas realistas, estratégias de comunicação para o novo
usuário de AASI e seus amigos, familiares e parceiros (BABEU et
al., 2004).
Contra-
condicionamento
O contra-condicionamento envolve alternativas substituindo
comportamentos problema (PROCHASKA, DICLEMENTE e
NORCROSS, 1992). Por exemplo, quando uma pessoa está
chateada com os problemas de comunicação causados pela
perda auditiva, o uso de técnicas de relaxamento pode ajudar a
reduzir a ansiedade (BABEU et al., 2004).
Controle de estímulos No controle de estímulos o indivíduo evita ou se opõe aos
estímulos que eliciam comportamentos problema (PROCHASKA,
2. Revisão de Literatura 37
DICLEMENTE e NORCROSS, 1992). Compreende a este
processo a reestruturação ambiental para minimizar a exposição
ao problema. Para Prochaska, Prochaska e Levesque (2001),
essa reestruturação será para eliciar um novo comportamento e
inibir o comportamento prévio.
Apoio social
Envolve a formação de relacionamentos de ajuda com pessoas
que compreendem e apóiam o esforço realizado frente à mudança
de comportamento (DICLEMENTE e SCOTT, 1997). Neste
processo há a capacitação do indivíduo com o fornecimento de
mais opções e recursos (PROCHASKA, PROCHASKA e
LEVESQUE, 2001).
2.2.1.3. BALANÇA DECISÓRIA
Prochaska, Prochaska e Levesque (2001) afirma que a balança decisória
deriva de um trabalho de Janis e Mann (1977) que consiste em duas escalas, a de
“prós” e a de “contras” a respeito da mudança de comportamento. Prochaska et al.
(1994) constatou que a balança de “prós e contras” foi sistematicamente
relacionados com o estágio de mudança em todos os comportamentos analisados:
os “contras” superando os “prós” no estágio de pré-contemplação havendo um
cruzamento entre eles nos estágios intermediários (contemplação e preparação) e
os “prós” compensando os “contras” no estágio de ação.
2.2.1.4. AUTO-EFICÁCIA
A auto-eficácia envolve a confiança que o indivíduo tem em si mesmo
para superar situações de desafios em sua mudança comportamental e a habilidade
de enfrentar as tentações contrárias a esta mudança (PROCHASKA, DICLEMENTE
e NORCROSS, 1992). Bandura (1982) propôs a teoria de que a percepção pessoal
de confiança a respeito das habilidades de modificar comportamentos está
relacionada ao sucesso de realmente modificá-los.
Desde a sua criação, muitos estudos têm sido realizados utilizando este
modelo de intervenção em vários âmbitos tais como: uso de drogas, tabagismo,
2. Revisão de Literatura 38
etilismo, prevenção de injúrias, atividade física, alimentação e controle de peso,
sono, gerenciamento do stress e aderência ao uso de anti-hipertensivos.
Na área de Fonoaudiologia a aplicação do modelo transteórico é ainda
recente e os estudos ainda são escassos.
Van Leer, Hapner e Connor (2008) aplicaram o MTT no processo
terapêutico vocal para fornecer um quadro organizado para a compreensão da
mudança de comportamento na terapia de voz, explanar como os problemas de
aderência ao tratamento podem surgir e fornecer estratégias para avaliar
informalmente a prontidão do paciente e facilitar a mudança de comportamento.
Neste estudo, o clínico, por meio de entrevista usando uma abordagem motivacional
centrada no cliente, segue o processo terapêutico no MTT. As autoras concluíram
que o MTT fornece um modelo prático de mudança de comportamento intencional
que pode ter relevância para a terapia de voz. Para elas, o modelo ilustra a busca da
mudança de comportamento em formato de estágios a partir da conceituação inicial
de mudanças internas para a integração a longo prazo de um novo comportamento
visível. Concluíram ainda que os processos de mudança apropriados para os
estágios e o apoio da auto-eficácia ao longo do tratamento podem fornecer
orientações para os fonoaudiólogos que visam melhorar a adesão ao tratamento
bem como a sua eficácia.
Floyd, Zebrowski e Flamme (2007) analisaram a medida a qual as
respostas dadas por 44 adultos com disfluência a um questionário de estágios de
mudança modificado produzem interrelações entre os itens deste questionário que
são compatíveis com a interpretação baseada em estágios. Os achados deste
estudo indicaram que o questionário modificado aplicado foi relativamente bem
adaptado e que, analisando os resultados da correlação entre os estágios, os de
contemplação e ação se correlacionaram positivamente com os seus adjacentes. Os
indivíduos tenderam a se mover em sequência por entre os estágios. Os resultados
sugeriram que um questionário incorporando itens que refletem melhor as variáveis
comportamentais, cognitivas e afetivas que caracterizam a disfluência pode
discriminar melhor os estágios de mudança em pessoas com disfluência, como elas
caminham com a terapia ou estão envolvidos na mudança auto-dirigida.
Raymond e Lusk (2006) investigaram a utilidade do MTT para pesquisa
com operários usuários de protetor auricular focando especialmente no modelo de
suposições relatadas para os constructos da balança decisória e auto-eficácia.
2. Revisão de Literatura 39
Neste estudo participaram 1.245 operários de uma fábrica automotiva que eram
expostos a altos níveis de ruído durante a jornada de trabalho. Todos responderam
a três perguntas sobre o uso do protetor auricular usando uma escala de pontuação
variando de 0 a 100: qual a porcentagem de uso do protetor auricular na semana
anterior quando exposto a altos níveis de ruído; qual a porcentagem de uso do
protetor auricular no mês anterior quando exposto a altos níveis de ruído; e qual a
porcentagem de uso do protetor auricular o indivíduo desejaria alcançar no ano
seguinte quando exposto a altos níveis de ruído. Por meio destas questões foram
levantados os estágios de mudança nos quais cada indivíduo se encontrava. Para o
levantamento de dados para a balança decisória e a auto-eficácia foi utilizado o
Modelo Preditor de Uso de Proteção Auditiva. Os escores encontrados para a auto-
eficácia no estágio de manutenção indicaram maior confiabilidade na habilidade para
o uso regular do protetor auricular, sendo esses escores significativamente maiores
que os encontrados nos estágios anteriores. Quanto à balança decisória, os valores
sugeriram que os participantes perceberam maiores barreiras para o uso de protetor
auricular em estágios anteriores e menores nos posteriores e maiores benefícios nos
estágios posteriores. Os autores concluíram que, como primeira aplicação do MTT
em operários usuários de protetor auricular, houve suporte para a identificação dos
estágios no uso de protetor auricular expressando características distintas
consistente com muitas precedidas pelo MTT. Para eles, outras pesquisas com este
quadro pode oferecer oportunidades para intervenções sob medida. Concluem ainda
que a exposição generalizada das populações de trabalhadores a altos níveis de
ruído e a dificuldade em conseguir que os trabalhadores utilizem o protetor auricular
também apontam para a necessidade de esforços contínuos para aumentar o uso do
protetor auditivo para prevenir a PAIR.
Babeu et al. (2004) a fim de relacionar o MTT na área de reabilitação
audiológica e compreender as mudanças de comportamento dos candidatos ao uso
de AASI, sugerem uma validação na área, pois é possível aumentar a adesão ao
uso deste dispositivo tão importante.
Lesner e Kricos (2003), em seu estudo teórico, analisam o MTT no que se
refere ao reconhecimento e ajuste à perda auditiva. Os autores propõem identificar o
estágio de mudança em que o paciente se encontra para poder ajudá-lo a mover-se
por entre os estágios aplicando também os processos de mudança. Para esses
autores, o profissional deve desempenhar o papel de facilitador e de “expert”. Os
2. Revisão de Literatura 40
mesmos concluem que o MTT facilita esse reconhecimento e ajuste do indivíduo que
com perda auditiva.
2.3. ATITUDE FRENTE À DEFICIÊNCIA AUDITIVA E O APARELHO DE
AMPLIFICAÇÃO SONORA INDIVIDUAL
Atitude, segundo Ajzen (2005), é uma disposição para responder
favoravelmente ou desfavoravelmente para um objeto, pessoa, instituição, ou evento
por meio de respostas mensuráveis. Respostas essas dirigidas ao próximo e
respostas direcionadas a si mesmo, comportamentos realizados em público e
comportamentos realizados consigo mesmo, entre ações e reações.
Essas respostas estão classificadas em três categorias: cognitivas,
afetivas e conativas. A cognitiva reflete a percepção do indivíduo frente à atitude
almejada enquanto que na afetiva, as atitudes podem ser inferidas tendo relação
com a avaliação do sentimento frente a essas atitudes almejadas. As respostas de
natureza conativas são inclinações comportamentais, intenções, compromissos e
ações com respeito à atitude objetivada.
Brooks (1989) conclui que a atitude é um determinante importante de uso
do AASI e também sugere que atitudes aberrantes podem, em muitos indivíduos, ser
modificadas por meio de aconselhamento de forma a melhorar os resultados
alcançados.
Alguns instrumentos vêm sendo desenvolvidos a fim de mensurar as
atitudes das pessoas com deficiência auditiva frente à deficiência ou proposta de
intervenção, como, por exemplo, o uso do AASI. Em geral, os pacientes avaliam sua
dificuldade auditiva em um número de situações específicas por meio de uma escala
numérica ou classificatória, a partir da qual é calculada a pontuação quanto à
restrição de participação e a limitação de atividade. Os questionários são utilizados
freqüentemente para avaliar o benefício do AASI comparando a pontuação pré e
pós-adaptação (SAUNDERS e CIENKOWSKI, 1996).
O questionário “Atitudes Frente à Deficiência Audtiva” (Attitudes Towards
Hearing Loss Questionnaire – ALHQ) é um questionário que foi refinado e validade
estatisticamente por Saunders e Cienkowski (1996). O mesmo, no início desse
estudo, era formado por 39 afirmações, das quais 33 respondidas no formato “sim”
ou “não”, quatro respondidas numa escala de 3 pontos e duas em uma escala de 2
2. Revisão de Literatura 41
pontos. Passando a ser formado, ao término do mesmo, por 24 questões, sendo 23
no formato “sim” ou “não” e uma respondida em uma escala de três pontos. Essas
questões eram divididas em cinco subescalas: 1) impacto social e emocional da
perda auditiva; 2) aceitação e ajuste à perda auditiva; 3) percepção de apoio de
pessoas significativas; 4) estigma do AASI; e 5) consciência da perda auditiva. Os
achados desse estudo mostrou que os dados audiométricos pouco explicaram a
variação na pontuação de atitude, idade e outros dados demográficos não se
correlacionaram com as atitudes também. Além disso, os traços de personalidade de
extroversão, auto-estima e ansiedade desempenhou um maior papel na
determinação da atitude. Os autores concluíram que o ALHQ é psicometricamente
aceitável, além de considerá-lo uma potencial ferramenta de uso clínico. Concluíram
ainda, que o mesmo poderia ser usado como base para o aconselhamento e
acompanhamento de mudanças de atitudes nos pacientes ao longo do tempo.
Em 2000, Cienkowski e Saunders, com o objetivo de revisar o ALHQ a fim
de melhorar a sua confiabilidade estatística e, ao mesmo tempo, investigar a
possibilidade de acrescentar ou substituir subescala, criaram o R-ALHQ (Revised
Attitudes Towards Hearing Loss Questionnaire) passando a ter 25 questões no
formato “sim” ou “não”, “falso” ou “verdadeiro” e “concordo” ou “discordo”, divididas
nas seguintes subescalas: 1) impacto social da perda auditiva; 2) ajuste à perda
auditiva; 3) negação da perda auditiva; 4) destreza; e 5) estigma.
Cinco anos depois, em Saunders et al. (2005) é lançada a versão 3.0
agora composta por 22 questões cujas respostas seguem uma escala de cinco
pontos: “a” discordo totalmente, “b” discordo, “c” não concordo nem discordo, “d”
concordo e “e” concordo totalmente. Essas questões também eram divididas em
cinco subescalas: 1) negação da perda auditiva; 2) associações negativas; 3)
estratégias negativas de enfrentamento; 4) destreza manual e visual; e 5) estima
relacionada a audição. Esta versão apresentou uma boa consistência interna e está
melhor que a última versão e apresenta sensibilidade clínica, alta confiabilidade
teste-reteste e baixa correlação interescala o que mostra que cada escala mede um
diferente constructo. Saunders, Forsline e Jacobs (2007) disponibilizou além do
formato papel e caneta, a versão eletrônica do questionário.
A partir da revisão de literatura conclui-se que até o momento não foram
encontrados estudos sobre a utilização do modelo transteórico em pessoas com
deficiência auditiva que passam pelo processo de seleção e adaptação do AASI.
2. Revisão de Literatura 42
Desta forma este estudo foi delineado de maneira a explorar as possibilidades do
aconselhamento nos moldes deste modelo, na primeira etapa deste processo.
3. Objetivo
3. Proposição 45
3. OBJETIVO
Analisar o MTT aplicado ao aconselhamento para indivíduos com
deficiência auditiva candidatos ao uso de AASI.
3.1. OBJETIVOS ESPECÍFICOS
– Caracterizar as atitudes em relação à deficiência auditiva e uso do
AASI em pessoas com esta deficiência e que são candidatas ao uso da amplificação
antes e após a concessão do AASI;
– Comparar as atitudes de candidatos frente à deficiência auditiva e uso
da amplificação antes e após a sessão de aconselhamento;
– Caracterizar o estágio de mudança em que o paciente se encontra
durante o período de pré e pós concessão do AASI.
4. Material e Métodos
4. Material e Métodos 49
4. MATERIAL E MÉTODOS
Este estudo clínico analítico experimental foi realizado na Clínica de
Fonoaudiologia da Faculdade de Odontologia de Bauru da Universidade de São
Paulo (FOB-USP) e na Divisão de Saúde Auditiva do Hospital de Reabilitação de
Anomalias Craniofaciais da Universidade de São Paulo (HRAC-USP), ambas
credenciadas pelo Ministério da Saúde para oferecer serviços de alta complexidade
em saúde auditiva, gratuitamente, para a população.
O projeto foi, juntamente com um termo de aquiescência da coordenação
da Divisão de Saúde Auditiva autorizando a sua realização naquele
estabelecimento, submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa em Seres Humanos da
FOB-USP, sendo aprovado pelo mesmo (Processo nº 103/2009).
4.1. PARTICIPANTES
Todos os participantes estavam regularmente matriculados ou na Clínica
de Fonoaudiologia da FOB–USP ou na Divisão de Saúde Auditiva do HRAC-USP e
participaram como voluntários recebendo uma carta de informação e assinando o
termo de consentimento livre e esclarecido, de acordo com os preceitos éticos de
realização de pesquisas com seres humanos.
Vinte indivíduos (10 do gênero feminino e 10 do gênero masculino) com
idades variando entre 25 e 64 anos participaram do estudo. Os participantes
apresentavam deficiência auditiva neurossensorial pós-lingual bilateral simétrica (n=
13, 65%) ou assimétrica (n= 7, 35%). Todos os indivíduos não possuíam experiência
prévia com uso do aparelho de amplificação sonora individual, com exceção de um
deles que havia feito teste e recebeu AASI em outro serviço há mais de cinco anos,
mas que abandonou o tratamento em função do AASI “incomodar muito”.
A Tabela 4 mostra os dados demográficos, audiométricos e o aparelho de
amplificação sonora individual dos participantes. Para a classificação do grau da
perda auditiva foi considerada a média dos limiares audiométricos da melhor orelha
nas freqüências de 500, 1k, 2k e 4 kHz (média ISO) e, de acordo com os critérios da
Organização Mundial da Saúde (1991), os participantes apresentaram perda auditiva
leve (n= 9, 45%), moderada (n= 10, 50%) e severa (n= 1, 5%).
4. Material e Métodos 50
Os AASIs adaptados aos participantes eram digitais com compressão de
área dinâmica ampla multicanal sendo o número de canais igual a dois (n= 1, 5%),
três (n= 1, 5%), quatro (n= 8, 40%), cinco (n= 2, 10%), seis (n= 2, 10%), oito (n= 2,
10%) e dezesseis (n= 4, 20%). Todos os dispositivos apresentaram algoritmos de
redução de ruído e de feedback. Os AASIs open fit deste estudo (n= 11, 55%) não
possuíam bobina telefônica, os demais AASI a possuíam.
Para a determinação da duração da deficiência auditiva foi considerado o
relato do indivíduo durante a anamnese. A Classificação Sócio-Econômica (CSE)
(Graciano et al., 1997) bem como a escolaridade foram obtidas nos prontuários dos
participantes.
4. Material e Métodos 51
Participante Idade Gênero Escolaridade Nível Sócio-Econ. Duração DA
Média ISO Limiares
Audiométricos (dB NA) Tipo de AASI
(anos) (meses) OD OE
P1 62 Masc. Fund. Inc. Baixa Superior 624 57,5 57,5 Retroauricular
P2 33 Fem. Médio C. Baixa Superior 48 42,5 40 Open Fit
P3 48 Masc. Fund. C. Baixa Superior 120 36,25 40 Open Fit
P4 63 Masc. Fund. Inc. Baixa Superior 24 45 47,5 Retroauricular
P5 63 Fem. Fund. Inc. Baixa Superior 96 33,75 50 Intra-canal
P6 51 Masc. Fund. Inc. Baixa Superior 8 35 38,75 Open Fit
P7 58 Fem. Fund. Inc. Baixa Superior 9 73,75 57,5 Retroauricular
P8 64 Fem. Fund. Inc. Baixa Superior 240 62,5 52,5 Retroauricular
P9 55 Masc. Fund. Inc. Baixa Superior 612 67,5 57,5 Intra-canal
P10 59 Masc. Médio Inc. Baixa Superior 36 37,5 36,25 Open Fit
P11 58 Fem. Fund. Inc. Baixa Superior 336 73,75 75 Retroauricular
P12 64 Fem. Analfabeto Baixa Superior 120 45 46,25 Open Fit
P13 34 Fem. Médio C. Baixa Superior 12 48,75 52,5 Micro-canal
P14 62 Fem. Fund. C. Baixa Superior 36 51,25 47,5 Open Fit
P15 29 Fem. Sup. C. Baixa Inferior 276 38,75 41,25 Open Fit
P16 50 Masc. Médio Inc. Baixa Superior 120 51,25 50 Open Fit
P17 59 Masc. Fund. C. Baixa Inferior 24 30 26,25 Open Fit
P18 60 Masc. Fund. Inc. Baixa Superior 636 50 46,25 Micro-canal
P19 62 Masc. Fund. C. Baixa Superior 120 42,5 35 Open Fit
P20 25 Fem. Médio C. Baixa Superior 60 35 30 Open Fit
Tabela 4 - Dados demográficos, audiométricos e dos aparelhos de amplificação sonora individuais dos participantes
4. Material e Métodos 52
Legenda:
Masc.= Masculino
Fem. = Feminino
Fund. Inc. = Fundamental Incompleto
Fund. C. = Fundamental Completo
Médio Inc. = Médio Incompleto
Médio C. = Médio Completo
Sup. C. = Superior Completo
Média ± dp 52,95±12,60 177,85±212,66 47,88±13,20 46,38±11,16
4. Material e Métodos 53
Participante Após diagnóstico audiológico
e otoplástica (caso necessário)
ALHQ
2ª Sessão de Aconselhamento
Escala de Prontidão
Babeu et al. (2004)
Balança Decisória
Prim
eiro
Enc
ontr
o
ALHQ
2ª Sessão de Aconselhamento
Escala de Prontidão
Babeu et al. (2004)
Balança Decisória Seg
undo
Enc
ontr
o
Retorno para
teste com AASI
ALHQ
3ª Sessão de Aconselhamento
Escala de Prontidão
Babeu et al. (2004)
Balança Decisória Ter
ceiro
Enc
ontr
o
Retorno após
concessão do AASI
4.2. PROCEDIMENTO
A coleta de dados foi realizada após o pesquisador entrar em contato com
os participantes para obter a autorização para a realização da pesquisa.
A ilustração das principais etapas percorridas nessa fase do trabalho está
na Figura 1, abaixo. A descrição detalhada de cada etapa é apresentada em
seguida.
Figura 1 – Fluxograma do atendimento
4. Material e Métodos 54
4.2.1. APLICAÇÃO DO QUESTIONÁRIO “ATITUDES FRENTE ÀS PRÓTESES
AUDITIVAS” ALHQ v 3.0
Após a avaliação audiológica e antes do início da sessão de
aconselhamento, os participantes responderam ao “Questionário – Atitudes Frente à
Deficiência Auditiva” (ALHQ) versão 3.0 para candidatos, elaborado por Saunders et
al. (2005) traduzido por Bastos et al. (2009). Trata-se de um questionário
desenvolvido para elucidar algumas das questões psicossociais subjacentes à
recusa em adquirir ou utilizar a amplificação e também foi utilizado neste estudo
para auxiliar no aconselhamento neste período de pré-adaptação do AASI. O ALHQ
(Anexo A) é composto por 22 itens divididos em cinco subescalas:
(a) Negação da perda auditiva (itens 1, 2, 3, 7, 13 e 16): aborda questões
relacionadas à aceitação e reconhecimento da perda auditiva. Três questões estão
relacionadas ao reconhecimento das dificuldades auditivas e as outras três se
referem à aceitação da necessidade de uso do AASI;
(b) Associações negativas (itens 4, 9, 11 e 18): avalia se o indivíduo
associa o AASI ao envelhecimento ou considera este dispositivo constrangedor;
(c) Estratégias negativas de enfrentamento (itens 1, 5, 10, 12, 15, 17, 19 e
22): três itens são diretamente relacionados ao impacto da perda auditiva nas
interações sociais, quatro relacionam-se às reações emocionais frente à perda
auditiva e uma se refere à percepção do indivíduo sobre a opinião dos outros acerca
da sua perda auditiva;
(d) Destreza manual e visão (itens 8, 14 e 20): avalia a habilidade do
indivíduo de manipular o AASI;
(e) Estima relacionada à audição (itens 6 e 21): verifica o impacto da
perda auditiva na autoconfiança do indivíduo.
Neste questionário, cada afirmativa é respondida por meio de uma escala
de cinco pontos, onde o participante pode responder desde “a” = Discordo
totalmente até “e” = Concordo totalmente, passando por “b” = Discordo, “c” = Nem
discordo e nem concordo, e “d” = Concordo.
A pontuação do questionário foi realizada manualmente, da seguinte
forma: 1 ponto para a alternativa “a”, 2 pontos para “b”, 3 pontos para “c”, 4 pontos
para “d” e 5 pontos para “e”. Nas subescalas de negação da perda auditiva e estima
relacionada à audição, os itens 1, 2, 6 e 21 foram pontuados de forma reversa, ou
4. Material e Métodos 55
seja, 1 ponto para “e”, 2 pontos para “d”, 3 pontos para “c”, 4 pontos para “b” e 5
pontos para “a”. Deve-se ressaltar que a pontuação reversa para os itens 6 e 21
seguiu a orientação de Bastos et al. (2009).
A pontuação em uma dada subescala é obtida pela média aritmética,
sendo assim a pontuação mínima é igual a “um” e a pontuação máxima é igual a
“cinco”. Pontuações mais próximas de cinco estão relacionadas com uma atitude
mais negativa, por exemplo: negação ao invés de aceitação da perda auditiva,
associações negativas ao AASI, estratégias de enfrentamento ruins, pouca destreza
manual e acuidade visual e baixa estima relacionada à audição (SAUNDERS et al.,
2005).
A aplicação do questionário foi realizada pelo pesquisador, utilizando-se
do formato de entrevista. A administração do ALHQ durou, aproximadamente, 10
minutos. Foi solicitado aos participantes que acompanhassem a leitura do
questionário e assinalassem a letra correspondente à resposta que mais se parecia
com o seu julgamento.
O ALHQ foi aplicado também pelo pesquisador em outros dois momentos:
no retorno do participante para o teste do aparelho de amplificação sonora individual
e pelo menos uma semana após a concessão do AASI. Cabe ressaltar que, para
cada momento, foi utilizado um questionário em branco, ou seja, os participantes
não tiveram contato com o respondido no encontro anterior.
4.2.2. ACONSELHAMENTO DE AJUSTE PESSOAL
As sessões de aconselhamento foram iniciadas logo após a avaliação
audiológica. Todas as sessões, para todos os participantes, foram realizadas pelo
pesquisador. O aconselhamento seguiu pressupostos do MTT e estratégias
propostas por Babeu et al. (2004), além de materiais gerados pelo Ida Institute.
O Ida Institute (www.idainstitute.dk) é uma organização educacional
independente sem fins lucrativos localizada em Copenhague, Dinamarca. Seu
objetivo é proporcionar maior conhecimento e uma compreensão mais holística da
complexa jornada da pessoa com deficiência auditiva de forma a fornecer subsídios
para os profissionais da audiologia, visando melhor assistência ao cliente. Este
instituto tem como compromisso gerar e transmitir conhecimento inovador, prático e
factível organizado em torno de conceito de aprendizagem colaborativa que melhora
4. Material e Métodos 56
e facilita o intercâmbio entre pensamentos, lideranças, profissionais, educadores e
grupos de apoio profissional.
Dentre os materiais gerados pelo Ida Institute estão a “Escala de
Prontidão” e a Balança Decisória as quais foram utilizados neste estudo.
A “Escala de Prontidão” é uma adaptação da proposta de Rollnick et al.
(1999). Ela é utilizada para esclarecer onde o paciente se vê no processo de
mudança e foca a importância da mudança de comportamento desejado, a auto-
confiança do paciente e crença na sua própria capacidade para alcançar esta
mudança. Duas escalas são utilizadas na proposta do Ida Institute (Figura 2):
• Primeira: usada para identificar o objetivo, o quanto é importante para o
paciente melhorar a sua audição naquele momento.
• Segunda: usada para identificar o processo e investigar a crença na auto-
eficácia, como o paciente classifica a sua vontade de chegar a uma
solução específica.
Os pacientes são convidados a responder cada questão em uma escala
de zero a 10 (Bundesen, 2010).
Figura 2 – “Escala de Prontidão”
A Balança Decisória (Figura 3), por sua vez, é uma adaptação de Janis e
Mann (1977). Usada em combinação com a “Escala de Prontidão”, auxiliará o
paciente a tornar-se consciente de suas próprias questões negativas e positivas em
torno da perda auditiva e proporcionar uma melhor imagem do que o motiva e o
apóia para a mudança. Ao preenchê-la, o paciente faz uma imagem clara de si
mesmo de sua ambivalência – indicando seus motivos para a continuação de um
1. O quanto é importante para você melhorar a sua audição agora?
0 10
2. Quanto você acredita estar preparado para usar, por exemplo,
aparelhos auditivos ou estratégias de comunicação?
0 10
4. Material e Métodos 57
comportamento indesejável e seus motivos para querer mudar esse comportamento.
A mesma é projetada para abrir um profundo diálogo com o paciente podendo levá-
lo a convencer-se a mudar o seu comportamento (Bundesen, 2010).
Figura 3 – Balança Decisória
1. Quais as vantagens em continuar
como está? Sem usar aparelhos
auditivos.
2. Quais as desvantagens em continuar
como está? Sem usar aparelhos
auditivos.
3. Quais as desvantagens em usar
aparelhos auditivos?
4. Quais as vantagens em usar
aparelhos auditivos?
Todas as sessões de aconselhamento foram filmadas por meio de uma
câmera Sony Handycam DCR-SR45 com o auxílio de um tripé semi-profissional
Goldship. Exceções ocorreram para um participante (P14) que não foi filmado na
primeira sessão e outro (P9) que se recusou a ser filmado na segunda e terceira
sessão de aconselhamento. O tempo de duração, em minutos, das sessões filmadas
com cada participante pode ser observado na Tabela 5.
Tabela 5 – Tempo de duração, em minutos, de cada sessão de aconselhamento
Participante 1ª sessão 2ª sessão 3ª sessão
P1 41 15 23
P2 34 27 54
P3 46 23 23
P4 29 14 17
P5 22 30 49
P6 35 26 22
P7 35 12 10
P8 48 41 66
4. Material e Métodos 58
P9 15 - -
P10 38 35 30
P11 28 25 51
P12 29 29 20
P13 45 37 73
P14 - 22 17
P15 54 33 43
P16 19 29 27
P17 18 30 51
P18 27 26 32
P19 29 31 15
P20 44 28 28
Maior duração 54 41 73
Menor duração 15 12 10
Média ± dp 33,47 ± 10,98 27,00 ± 7,54 34,26 ± 18,30
4.2.2.1. PRIMEIRA SESSÃO DE ACONSELHAMENTO
A primeira sessão de aconselhamento variou em torno de 15 a 54
minutos. Pelo fato da primeira sessão ocorrer logo após os procedimentos de
diagnóstico audiológico e, na Divisão de Saúde Auditiva, os procedimentos de
otoplástica (quando necessários, apesar de que os mesmos deveriam ser realizados
após a sessão de aconselhamento como ocorreu na Clínica de Fonoaudiologia) e
aplicação do ALHQ, o aconselhamento geralmente se iniciava com o pesquisador
questionando o participante sobre quais informações o mesmo gostaria de receber a
respeito do diagnóstico da deficiência auditiva.
De acordo com a resposta do participante a esta questão era realizado o
aconselhamento informativo a respeito da deficiência auditiva e/ou aparelho de
amplificação sonora individual fazendo uso de uma linguagem simples para melhor
entendimento e com o apoio de informações visuais e animações contidas no
software eCaps (Oticon, 2006 ). Este momento foi direcionado à conscientização do
indivíduo, aumentando o nível de sensibilização do mesmo quanto à sua perda
auditiva e a necessidade do uso do AASI. O participante também foi questionado
4. Material e Métodos 59
quanto à comunicação e convívio social de modo a permitir uma breve auto-
avaliação sócio-ambiental quanto aos efeitos negativos do seu problema de audição.
Pelo fato de todos os participantes apresentarem perda auditiva do tipo
neurossensorial, a alternativa de tratamento indicada pelo otorrinolaringologista era
a utilização do aparelho de amplificação sonora individual. Em virtude de a pesquisa
ser realizada em um serviço de saúde auditiva os participantes puderam observar
nas salas de espera outros indivíduos com deficiência auditiva usuários de AASI,
assim o pesquisador aproveitou-se desta observação para levá-lo a uma reflexão
sobre como a sociedade está reagindo à pessoa com deficiência auditiva e ao uso
do aparelho de amplificação sonora individual, propiciando uma breve reflexão
quanto o processo de liberação social.
Ainda nesta primeira parte da sessão, o pesquisador questionou os
participantes a respeito de seus sentimentos com relação ao diagnóstico recebido,
sua dificuldade de audição e possibilidade do uso do AASI.
Na segunda parte da sessão foi utilizada a “Escala de Prontidão”. Foi
solicitando ao participante indicar de 0 (nem um pouco) a 10 (muito), o quanto era
importante melhorar sua audição e, em seguida, utilizando uma escala idêntica, o
quanto o mesmo acreditava estar preparado para utilizar o AASI ou estratégias de
comunicação.
Nesta ocasião, após o participante responder a cada pergunta, o
pesquisador questionava-o quanto a sua nota. O que o levou a dar determinada
nota. Quando a nota era próxima a nota máxima, o pesquisador questionava “Por
que não 10?” e quando essa nota ficava próxima ao meio da escala, a pergunta era
“Por que não 0?”. Essas informações auxiliavam oportunamente para uma reflexão
quanto à auto-eficácia, a confiança que o indivíduo tinha em si mesmo para superar
o seu problema de audição e enfrentar o desafio da mudança que é o uso do AASI.
O pesquisador questionava o participante se em algum momento, em sua vida, o
mesmo ou alguma pessoa próxima teve que tomar alguma decisão a qual exigisse
persistência, tais como uso de óculos, prótese dentária ou alguma outra parecida e
que após persistir, havia se tornado um hábito e, por meio da resposta, comparava
com o uso do AASI.
Posteriormente o participante foi solicitado a responder qual das
proposições de Babeu et al. (2004), como apontado no Quadro 1, melhor descrevia
4. Material e Métodos 60
a sua situação naquele momento. Cada afirmativa das que se segue reflete um
estágio de mudança o qual o indivíduo, indiretamente, apontou ao pesquisador.
Quadro 1 – Estágios de Mudança (proposições de Babeu et al., 2004)
Estágio de Mudança Proposições
Pré-contemplação No momento não estou preparado para usar aparelhos auditivos.
Contemplação Tenho pensado que eu possa precisar de aparelhos auditivos.
Preparação Comecei a procurar informações sobre aparelho auditivo.
Ação Eu estou pronto para usar aparelhos auditivos se eles forem
recomendados.
Manutenção Eu estou confortável com a idéia de usar aparelhos auditivos.
Colocar todas essas proposições para que o participante optasse por a
que melhor se identificava foi importante para identificar o estágio de mudança em
que o mesmo está para delinear a melhor estratégia para o aconselhamento. Babeu
et al. (2004), como indicado na Tabela 6, põe como marca do estágio de mudança
de ação a aquisição do AASI e o de manutenção o uso do AASI. Propondo uma
adaptação dessas proposições para este estudo, foi classificada proposição que se
refere ao estágio de manutenção como sendo também referente ao estágio de ação
uma vez que, para o estágio de manutenção, o participante teria que, segundo
Babeu et al. (2004), estar usando o AASI e o novo comportamento desejado e
adquirido há pelo menos seis meses.
Tabela 6 – Estágios de mudança e processos envolvidos em cada estágio
Estágio de
mudança
Processos de
mudança Exemplo de atividade
Pré-contemplação e
Contemplação
Conscientização
• Fornecer informações sobre a sua
perda auditiva, o impacto da
mesma na qualidade de vida, bem
como as causas da perda auditiva
que se referirem a este indivíduo;
• Listar as vantagens e desvantagem
4. Material e Métodos 61
em buscar ajuda quanto à perda
auditiva.
Catarse
• Discutir sobre o impacto da falha
de comunicação na vida indivíduo;
• Tentar providenciar os AASIs.
Avaliação sócio-
ambiental
• Devem ser ilustrados os efeitos
negativos que a DA não tratada
pode ter sobre uma pessoa, tais
como ansiedade, sintomas de
depressão, frustração, insegurança
e redução da interação social, além
de afetar negativamente também a
vida familiar.
Liberação social
• Discutir os caminhos que a
sociedade de modo geral está
assistindo os indivíduos com DA.
Auto-avaliação
• Discutir os estigmas, mitos e
crenças a respeito da perda
auditiva e/ou do AASI.
Preparação Auto-liberação
• Discutir sobre o aproveitamento
máximo do AASI;
• Fazer uma escala de balanço
decisório listando os “prós e
contras” quanto ao uso do AASI.
Ação Reforço do
gerenciamento
• Adquirir o AASI;
• Participação do indivíduo e do
outro significante do treino de uso
do AASI;
• Pedir para que o paciente registre,
durante este primeiro mês, as suas
principais experiências com o
AASI.
Contra- • Evidencias experiências de
4. Material e Métodos 62
Manutenção
condicionamento detalhes positivos sobre o uso
diário do AASI;
• Ensinar técnicas de relaxamento
quando experienciado a ansiedade
devido à perda auditiva bem como
ao uso do AASI.
Controle de
estímulos
• Realizar consulta de
acompanhamento na qual serão
fornecidas instruções adicionais
sobre o uso do AASI se
necessário.
Apoio social
• Aproximar ainda mais pessoas
significativas do processo de
reabilitação auditiva o qual o
paciente está passando.
Finalmente, foi solicitado ao participante preencher a balança decisória,
com o objetivo de analisar as crenças do paciente quanto à sua audição e ao uso do
AASI, auxiliando-o no processo de mudança de auto-avaliação, para que o mesmo
pudesse tomar decisões adequadas frente a este novo desafio. Por meio da Balança
Decisória é possível tornar consistente visivelmente os prós e contras da audição
prejudica e do uso do AASI, permitindo a percepção da ambivalência, ou seja, do
querer e não querer a mudança comportamental.
O pesquisador aplicou a balança decisória no formato de entrevista para
que, após refletir sobre cada pergunta, os participantes pudessem preencher a
balança. Dois participantes, P11 e P12, não conseguiram preencher, P11 não era
alfabetizado e P12 alegou não saber mais escrever, sendo necessário que o
pesquisador, após momento de reflexão, peça para que o participante dite suas
respostas para que o profissional possa registrar.
As informações que os participantes escreveram na balança decisória
constituíam uma síntese de suas elocuções. Desta forma, a fim de obter maiores
informações, foi avaliada também a filmagem da sessão de cada participante, ou
seja, do momento da reflexão após cada pergunta o qual foi transcrito. Com exceção
4. Material e Métodos 63
do participante P14 que não tem a filmagem da primeira sessão, neste caso foram
utilizadas as suas respostas escritas na balança decisória. As respostas dadas na
balança decisória proporcionaram também a inferência do estágio de mudança em
que o participante se encontrava por meio de análise das mesmas proposta por
Prochaska et al. (1994) onde “prós e contras” estão sistematicamente relacionados
com o estágio de mudança: os “contras” superando os “prós” no estágio de pré-
contemplação havendo um cruzamento entre eles nos estágios intermediários
(contemplação e preparação) e os “prós” compensando os “contras” no estágio de
ação.
Ao término desta sessão o pesquisador solicitava ao participante que
realizasse uma reflexão sobre os aspectos discutidos e, caso surgissem outras
questões, estas poderiam ser abordadas no próximo encontro.
Além dos processos de mudança cognitivos citados durante a explanação
da primeira sessão de aconselhamento, os outros processos comportamentais
também foram abordados de acordo com as questões levantadas pelo paciente, as
quais o pesquisador se portou seguindo a Tabela 6.
Mesmo tendo participantes que haviam passado pelo processo de
otoplática antes do aconselhamento, o pesquisa perguntou a todos se estavam
dispostos, depois da primeira sessão de aconselhamento, a ir para o teste com o
AASI e todos responderam que sim, que estavam preparados para teste.
4.2.2.2. SEGUNDA SESSÃO DE ACONSELHAMENTO
A segunda sessão de aconselhamento ocorreu no retorno para testes
com AASI havendo uma variação de tempo entre a primeira e a segunda sessão que
pode ser observada na Tabela 7. Porém, antes dos testes e após a segunda
aplicação do questionário ALHQ, com duração variando entre 12 e 41 minutos. O
pesquisador iniciava a sessão perguntando como o participante passou entre a
primeira e a segunda sessão, se havia surgido alguma dúvida e a esclarecia caso
houvesse alguma. Em seguida, pedia para que o participante contasse o que ele
mais se lembrava da conversa anterior e o convidava a retomar o conteúdo discutido
na sessão anterior.
Nessa retomada, eram apresentadas ao participante a Escala de
Prontidão, as Proposições de Babeu et al. (2004) e a Balança Decisória preenchidas
4. Material e Métodos 64
no primeiro encontro para que o mesmo pudesse rever e apontar qualquer mudança
que pudesse ter ocorrido ou apenas confirmar o que havia escrito anteriormente.
4.2.2.3. TERCEIRA SESSÃO DE ACONSELHAMENTO
A terceira sessão de aconselhamento ocorreu ao menos sete dias após a
concessão do AASI, com duração entre 10 e 73 minutos. Inicialmente, o pesquisador
solicitava ao participante que respondesse ao questionário ALHQ v3.0 no formato
“usuário”.
A sessão era iniciada com o pesquisador perguntando ao participante
como foi a sua experiência com o AASI e se havia surgido alguma dúvida decorrente
à sua perda auditiva e/ou ao uso do AASI e, caso houvesse, elas eram esclarecidas
pontualmente pelo pesquisador, ou seja, seria feito o aconselhamento informativo
com uma escuta direcionada aos interesses dos participantes. Em seguida, o
pesquisador convidava o participante a revisar a Escala de Prontidão, as
Proposições de Babeu et al. (2004) e a Balança Decisória respondidas na primeira
sessão e alteradas ou não na segunda.
Porém, agora observando o relato da sua experiência comparado ao
benefício esperado com a mudança. Foram permitidas novas elaborações no
sentido de uso do AASI.
4.2.3. SELEÇÃO, VERIFICAÇÃO E CONCESSÃO DO APARELHO DE
AMPLIFICAÇÃO SONORA INDIVIDUAL
Após o diagnóstico audiológico, os participantes seguiram o protocolo de
atendimento de acordo com o estabelecimento no qual cada um estava matriculado.
Todos passaram pela seleção, verificação e concessão de AASI. Vale ressaltar que,
tanto na Clínica de Fonoaudiologia quanto na Divisão de Saúde Auditiva, os
fonoaudiólogos que realizavam o diagnóstico foram orientados para, na devolutiva
ao participante, se aterem a dar somente o diagnóstico e informá-los que em
seguida teriam um profissional, neste caso o pesquisador, que responderia a todas
as suas dúvidas quanto ao AASI e sua audição.
Na Clínica de Fonoaudiologia, os participantes (n= 7, 35%), após o
diagnóstico, eram encaminhados ao pesquisador para a sessão de aconselhamento.
4. Material e Métodos 65
O pesquisador, juntamente com o fonoaudiólogo que realizou o diagnóstico da
deficiência auditiva, antes da primeira sessão, definia o tipo de AASI apropriado a
cada participante levando em consideração os dados audiométricos e anamnésticos.
E, a partir de então, o aconselhamento era direcionado ao indivíduo enfocando
também o tipo de AASI selecionado e a sua perda auditiva. Após o término desta
primeira sessão, todos aceitaram passar pelo teste de AASI e quatro participantes
foram para a otoplástica com o pesquisador ou o mesmo fonoaudiólogo responsável
pelo diagnóstico.
No retorno para teste de AASI, ainda na Clínica de Fonoaudiologia, com
exceção do participante o qual foi concedido AASI intracanal, o pesquisador fez
testes com três diferentes AASIs para cada participante, porém ambos eram do
mesmo tipo. Por exemplo, se para o participante, foi selecionado um AASI
retroauricular, o mesmo testaria três AASIs diferentes, no entanto, todos
retroauriculares e assim por diante. Cada AASI era programado segundo a perda
auditiva do participante. Após ser programado, o AASI era colocado no participante
que testaria em ambientes diferentes (dentro da clínica e nos seus arredores) e
também conversando com o pesquisador em ambiente clínico e, em seguida, era
realizado o teste de medidas objetivas com o microfone sonda. Durante o teste com
microfone sonda, o pesquisador poderia realizar ajustes finos na programação do
AASI conforme necessidade apontada tanto pelo participante quanto pelo que
demonstravam as medidas. Depois de ter testado os três, o participante julgava o
qual lhe foi melhor, ou seja, com qual se sentiu mais confortável e, com este, seguia
para a audiometria em campo livre para verificação das medidas funcionais ou
subjetivas e teste de percepção de fala (TPF).
O participante que teve como indicação o AASI intracanal veio para o
teste quando seu AASI foi enviado pelo fabricante à clínica com a capsula
personalizada e fez todas as medidas e o TPF com o mesmo, não sendo testado
nenhum outro e saiu com o ele já concedido. Exceto este, os demais participantes
tiveram que retornar à Clínica de Fonoaudiologia para receber seus AASIs quando
os mesmos viessem após solicitação ao SUS. Neste retorno, o AASI era
programado conforme registro do teste e eram realizadas as medidas com microfone
sonda e em campo livre além do TPF e, em seguida, o mesmo era concedido a
participante.
4. Material e Métodos 66
Quanto aos participantes matriculados na Divisão de Saúde Auditiva (n=
13, 65%), após o diagnóstico audiológico, todos eram encaminhados para um
segundo fonoaudiólogo que fez a seleção do AASI. Esta seleção ocorreu com base
nos dados audiométricos e anamnésticos, além da opinião do participante, ou seja, o
profissional mostrava imagens dos tipos de AASI, informava o que mais era
compatível com a DA em questão e o participante opinava sobre qual tipo lhe
agradava. Geralmente, o tipo de AASI adotado para teste foi o indicado pelo
participante, independente de ser ou não o mais apropriado para a perda auditiva.
Dos 13 participantes, cinco precisaram realizar otoplástica a qual foi feita pelo
fonoaudiólogo da seleção. Em seguida, os participantes eram encaminhados ao
pesquisador para a sessão de aconselhamento.
A Divisão de Saúde Auditiva mantém um estoque variado de AASI, o que
viabiliza de forma mais rápida a concessão do AASI. Os participantes, no retorno
para teste, com exceção dos que optaram por intra e micro-canal, o fizeram com três
AASIs igualmente aos da Clínica de Fonoaudiologia, porém receberam o AASI no
mesmo dia. Bem como na Clínica de Fonoaudiologia, os participantes colocaram os
três AASIs e testaram em ambientes diferentes (dentro da clínica e nos seus
arredores) e também conversando, neste caso, não com o pesquisador, mas sim
com um terceiro fonoaudiólogo. E, após os testes, com o AASI que o participante
julgava ser o mais confortável, eram feitas as medidas objetivas com microfone
sonda, as funcionais ou subjetivas por meio da audiometria em campo livre e o TPF.
O profissional, durante a realização das medidas, poderia fazer alguns ajustes finos
quanto à programação do AASI. Como na Clínica de Fonoaudiologia, os
participantes que receberam AASI intra ou micro-canal, testaram somente o seu
personalizado quando o mesmo foi enviado à Divisão de Saúde Auditiva após
confecção da cápsula.
Na Tabela 7, pode-se observar o tempo entre a primeira e segunda
sessão de aconselhamento, teste e concessão de AASI, bem como o período de
experiência de cada participante com a amplificação. É possível notar que há uma
variação consideravel quanto ao tempo entre a primeira e segunda sessão e entre o
teste e a concessão de AASI. Isto se deve a diferença do funcionamento de ambos
os estabelecimentos.
Quando se trata de participantes que receberam AASI intra ou micro-
canal (P5, P9, P13 e P18), em ambos os serviços, o tempo entre a primeira e
4. Material e Métodos 67
segunda sessão de aconselhamento é maior, pois tanto em um quanto no outro há a
dependência das empresas de AASI para a confecção da cápsula. No entanto, os
participantes que receberam retroauricular e open fit, na Divisão de Saúde Auditiva,
precisaram aguardar somente o tempo para vaga e agendamento para teste e
concessão de AASI no mesmo dia, enquanto que os da Clínica de Fonoaudiologia, o
agendamento para o teste foi rápido, porém tiveram que aguardar um longo tempo
para que o AASI solicitado ao SUS fosse providenciado e então concedido ao
mesmo. Isto explica o tempo maior no período entre o teste e a concessão de AASI
para os participantes deste serviço.
4. Material e Métodos 68
Participante Período entre a 1ª e 2ª sessão de
aconselhamento
Período entre teste e
concessão de AASI
Período entre 2ª e 3ª sessão de
aconselhamento
Período de
experiência com
AASI
(dias) (dias) (dias) (dias)
P1 9 127 134 7
P2 8 106 114 8
P3 13 92 99 7
P4 8 76 83 7
P5 98 0 7 7
P6 8 70 77 7
P7 15 51 58 7
P8 27 0 7 7
P9 45 0 7 7
P10 25 0 8 8
P11 36 0 17 17
P12 36 0 12 12
P13 56 0 7 7
P14 35 0 28 28
P15 40 0 7 7
P16 39 0 12 12
P17 39 0 20 20
P18 55 0 7 7
P19 26 0 9 9
Tabela 7 - Período entre as sessões de aconselhamento, teste e adaptação e experiência com de AASI
4. Material e Métodos 69
P20 15 0 7 7
Média ± dp 31,65 ± 21,93 26,10 ± 43,21 36,00 ± 41,84 9,90 ± 5,61
4. Material e Métodos 70
4.3. ANÁLISE DOS DADOS
A análise dos dados resultantes da Escala de Prontidão, Proposições de
Babeu et al. (2004) e da Balança Decisória foi realizada de forma descritiva por meio
do software Pacotico (v. 5.0). Os resultados do ALHQ foram analisados por meio do
teste não paramétrico de Friedman comparando cada subescala nos três momentos.
Para este caso, adotou-se um nível de significância de 5% foi adotado.
5. Resultados
5. Resultados 73
5. REULTADOS
5.1. PRIMEIRA SESSÃO DE ACONSELHAMENTO
As respostas dos participantes para a Escala de Prontidão e Proposições
de Babeu et al. (2004) obtidas na primeira sessão de aconselhamento encontram-se
na Tabela 8.
Tabela 8 – Respostas para Escala de Prontidão e Proposições de Babeu et al.
(2004) na primeira sessão de aconselhamento
Escala de Prontidão
Proposição*
Babeu et al. 2004
Participante Questão 1 Questão 2
P1 9 5 2
P2 10 10 4
P3 10 10 4
P4 10 10 4
P5 9 10 4
P6 10 10 4
P7 10 10 4
P8 10 10 4
P9 10 6 1
P10 10 10 4
P11 10 10 4
P12 10 10 4
P13 8,5 10 4
P14 10 10 4
P15 10 10 4
P16 9 10 4
P17 10 10 4
P18 10 10 4
P19 10 10 4
5. Resultados 74
P20 10 10 4
Máximo 10 10 10
Mínimo 8,5 5 1
Mediana 10 10 4
*1= Pré-contemplação; 2= Contemplação; 3= Preparação; 4= Ação
O Quadro 2 mostra as respostas do grupo de participantes para a balança
decisória.
Quadro 2 – Balança Decisória na primeira aplicação
1. Quais as vantagens em continuar
como está? Sem usar aparelhos
auditivos.
Não vêem benefício (n = 19)
- (...) não vejo vantagem (...);
- (...) não tem vantagem (...);
- (...) não tem benefício (...).
Estética (n= 1)
- (...) o aparelho mostra muito (...).
Comodidade (n= 1)
- (...) é melhor para dormir (...).
2. Quais as desvantagens em continuar
como está? Sem usar aparelhos
auditivos.
Dificuldade auditiva (n = 13)
- (...) desvantagem de não ouvir (...);
- (...) não escuto direito (...);
- (...) não escuto nada (...);
- (...) prejuízo na audição (...);
- (...) porque não escuto (...);
- (...) quero ouvir direito e não ficar
perguntando (...);
- (...) não ouvir (...);
- (...) ter que aumentar o volume (...);
- (...) ter que apelar para recursos para
ouvir (...);
- (...) perda de informação (...);
- (...) necessidade de aumentar o volume
(...);
- (...) ficar perguntando (...);
- (...) não ouvir bem (...);
- (...) dificuldade em ouvir de longe (...);
- (...) sem aparelho se escuta bem pouco
(...);
5. Resultados 75
- (...) não escutar o telefone tocar (...).
Restrição de participação (n = 11)
- (...) desvantagem em conversar (...);
- (...) problemas de comunicação (...);
- (...) desvantagem na comunicação (...);
- (...) difícil conversar com os outros,
escutar o que os outros falam (...);
- (...) dificuldade em se comunicar (...);
- (...) não saber o que os outros estão
falando, ver os outros conversar, olhar e
rir; não escutar o que falam (...);
- (...) não entender o que os outros falam
(...);
- (...) não entender direito (...);
- (...) continuar não podendo conversar
(...);
- (...) não poder se comunicar (...);
- (...) desvantagem no trabalho (...)
Receio de que a DA seja progressiva (n=
3)
- (...) ruim porque vou perdendo mais a
audição (...);
- (...) perdendo ainda mais a audição (...);
- (...) medo da minha perda ser
progressiva”).
Dificuldade no relacionamento (n= 2)
- (...) uma possível até separação (...);
- (...) conversar com meu filho e falar com
meu marido pela manhã (...).
Questões de ordem emocional (n= 2)
- (...) para mim é triste (...);
- (...) não quero mais ser rotulada de surda
(...);
5. Resultados 76
Limitação de atividade (n= 1)
- (...) desvantagem no trabalho; ouvir de
longe no trabalho (...).
3. Quais as desvantagens em usar
aparelhos auditivos?
Não vêem desvantagem (n = 18)
- (...) não vejo desvantagem (...);
- (...) não tem desvantagem (...);
- (...) não tem custo nenhum (...).
Manuseio (n= 1)
- (...) devido à minha visão (...).
Funcionalidade do AASI (n= 1)
- (...) pode aumentar o barulho no meu
serviço e me irritar (...).
4. Benefícios da mudança. De tomar
medidas para melhorar a sua audição.
Melhorar a audição (n= 17)
- (...) vantagem de ouvir (...);
- (...)melhorar a audição (...);
- (...) escutar direito (...);
- (...) ouvir melhor (...);
- (...) ouvir os passarinhos (...);
- (...) ouvir sem precisar de repetições (...);
- (...) melhorar a audição nos sons que
tenho dificuldade e não precisar apelar
para recursos para ouvir (...);
- (...) não vou precisar ficar perguntando
(...);
- (...) ouvir mais; mais rapidez em assimilar
as coisas (...);
- (...) ouvir sem pedir pra repetir (...);
- (...) escutar bem melhor
- (...) escutar melhor” (...)
Melhorar quanto à restrição de
participação (n= 10)
- (...) melhorar a comunicação (...);
- (...) melhorar a minha qualidade no
serviço (...);
- (...) poder me comunicar melhor (...);
- (...) ouvir melhor para me comunicar e
5. Resultados 77
ouvir quando me chamam (...);
- (...) escutar as pessoas me chamarem
(...);
- (...) comunicação maior com as pessoas
(...);
- (...) assistir filmes que não seja apenas
dublado (...);
- (...) atender e entender melhor os
clientes (...);
- (...) se comunicar; conversar mais (...);
- (...) não vou ficar perguntando “ahn?”
(...).
Melhorar no relacionamento (n= 5)
- (...) vantagem na família (...);
- (...) melhorar no relacionamento (...);
- (...) até para ouvir a minha família (...);
- (...) relacionar (...);
- (...) judar na questão do relacionamento
(...).
Melhorar quanto à limitação de atividade
(n= 3)
- (...) melhor para atender o telefone (...);
- (...) melhorar na produção (...);
- (...) vantagem de ensinar (...).
Qualidade de vida (n= 1)
- (...) melhora no bem-estar (...).
Questão de ordem emocional (n= 1)
- (...) não vou ficar irritada por não
entender (...).
5. Resultados 78
5.2. SEGUNDA SESSÃO DE ACONSELHAMENTO
As respostas da Escala de Prontidão e das Proposições de Babeu et al.
(2004) encontram-se na Tabela 9.
Tabela 9 – Escala de Prontidão e Proposições de Babeu et al. (2004) na
segunda sessão de aconselhamento
Escala de Prontidão
Proposição*
Babeu et al. 2004
Participante Questão 1 Questão 2
P1 9 5 2
P2 10 10 4
P3 10 10 4
P4 10 10 4
P5 10 10 4
P6 10 10 4
P7 10 10 4
P8 10 10 4
P9 10 6 4
P10 10 10 4
P11 10 10 4
P12 10 10 4
P13 8,5 10 4
P14 10 10 4
P15 10 10 4
P16 10 10 4
P17 10 10 4
P18 10 10 4
P19 10 10 4
P20 10 10 4
Máxima 10 10 4
Mínima 8,5 5 2
5. Resultados 79
Mediana 10 10 4
*1= Pré-contemplação; 2= Contemplação; 3= Preparação; 4= Ação
O Quadro 3 mostra as respostas do grupo de participantes para a balança
decisória.
Quadro 3 – Balança Decisória na segunda aplicação
1. Quais as vantagens em continuar
como está? Sem usar aparelhos
auditivos.
Não vêem benefício (n = 19)
- (...) não vejo vantagem (...);
- (...) não tem vantagem (...);
- (...) não tem benefício (...).
Estética (n= 1)
- (...) o aparelho mostra muito (...).
Comodidade (n= 1)
- (...) é melhor para dormir (...).
2. Quais as desvantagens em continuar
como está? Sem usar aparelhos
auditivos.
Dificuldade auditiva (n= 10)
- (...) desvantagem de não ouvir (...);
- (...) não escuto direito (...);
- (...) não escuto (...);
- (...) continuar com a audição prejudicada
(...);
- (...) não vou ouvir (...);
- (...) ter que aumentar o volume (...);
- (...) ter que procurar subterfúgio para
ouvir (...);
- (...) questão de não ouvir bem (...);
- (...) perda de informação (...);
- (...) necessidade de aumentar o volume
(...);
- (...) ter que ficar perguntando(...).
Restrição de participação (n= 10)
- (...) desvantagem em conversar (...);
- (...) problemas na comunicação (...);
- (...) desvantagem na comunicação (...);
- (...) desvantagem no emprego (...);
- (...) difícil conversar com os outros e não
entender (...);
- (...) não tem como conversar (...);
5. Resultados 80
- (...) não entender o que estão falando
(...);
- (...) não entender o que os outros falam
(...);
- (...) não entender direito o que falam (...).
Dificuldade no relacionamento (n= 4)
- (...) na questão do relacionamento (...);
- (...) escutar o que os outros falam
inclusive o marido (...);
- (...) não poder se relacionar com as
pessoas (...);
- (...) ao falar com o filho e com o marido
pela manhã (...).
Limitação de atividade (n= 3)
- (...) problema em atender o telefone (...);
- (...) ouvir a TV (...);
- (...) desvantagem ao telefone (...).
3. Quais as desvantagens em usar
aparelhos auditivos?
Não vêem desvantagem (n = 18)
- (...) não vejo desvantagem (...);
- (...) não tem desvantagem (...);
- (...) não tem custo nenhum (...).
Manuseio (n= 1)
- (...) devido à minha visão (...).
Funcionalidade do AASI (n= 1)
- (...) pode aumentar o barulho no meu
serviço e me irritar (...).
4. Benefícios da mudança. De tomar
medidas para melhorar a sua audição.
Melhorar a audição (n= 11)
- (...) vantagem de ouvir (...);
- (...) escuta melhor (...);
- (...) melhorar a audição (...);
- (...) não vou precisar pedir para repetir
(...);
- (...) ouvir meus passarinhos (...);
- (...) assimilar mais rápido as coisas (...);
- (...) ouvir melhor (...);
- (...) escutar bem melhor.
Melhorar quanto à restrição de
participação (n= 9)
- (...) melhorar na comunicação (...);
- (...) melhor comunicação à distância (...);
5. Resultados 81
- (...) melhorar ouvindo as pessoas (...);
- (...) se comunicar melhor (...);
- (...) poder ir no congresso e ouvir bem
onde estiver (...);
- (...) ouvir a palavra na igreja (...);
- (...) ver se alguém está falando alguma
coisa (...);
- (...) entender melhor o que falam (...);
- (...) atender melhor; conversar mais (...).
Melhorar no relacionamento (n= 4)
- (...) qualidade na família (...);
- (...) se relacionar melhor e conviver bem
(...);
- (...) melhorar no relacionamento (...);
- (...) melhorar o convívio familiar (...).
Melhorar quanto à limitação de atividade
(n= 3)
- (...) qualidade no serviço (...);
- (...) poder ouvir bem durante o estudo
que dirijo (...);
- (...) ouvir mais a TV (...).
Qualidade de vida (n= 3)
- (...) sair mais (...);
- (...) vou poder sair (...);
- (...) melhora no bem-estar.
Questão de ordem emocional (n= 2)
- (...) fico irritada quando meu marido me
chama de surda (...);
- (...) não vou ficar mais irritada por causa
da audição (...)
5. Resultados 82
5.3. TERCEIRA SESSÃO DE ACONSELHAMENTO
As respostas da Escala de Prontidão e das Proposições de Babeu et al.
(2004) encontram-se na Tabela 10.
Tabela 10 – Escala de Prontidão e Proposições de Babeu et al. (2004) na
terceira sessão de aconselhamento
Escala de Prontidão
Proposição*
Babeu et al. 2004
Participante Questão 1 Questão 2
P1 10 10 4
P2 10 10 4
P3 10 10 4
P4 10 10 4
P5 10 10 4
P6 10 10 4
P7 10 10 4
P8 10 10 4
P9 10 10 4
P10 10 10 4
P11 10 10 4
P12 10 10 4
P13 8,5 10 4
P14 10 10 4
P15 10 10 4
P16 10 10 4
P17 10 10 4
P18 10 10 4
P19 10 10 4
P20 10 10 4
Máxima 10 10 4
Mínima 8,5 10 4
5. Resultados 83
Mediana 10 10 4
*1= Pré-contemplação; 2= Contemplação; 3= Preparação; 4= Ação
O Quadro 4 mostra as respostas do grupo de participantes para a balança
decisória.
Quadro 4 – Balança Decisória na terceira aplicação
1. Quais as vantagens em continuar
como está? Sem usar aparelhos
auditivos.
Não vêem benefício (n = 19)
- (...) não vejo vantagem (...);
- (...) não tem vantagem (...);
- (...) não tem benefício (...).
Comodidade (n= 1)
- (...) é melhor para dormir (...).
2. Quais as desvantagens em continuar
como está? Sem usar aparelhos
auditivos.
Dificuldade auditiva (n= 11)
- (...) desvantagem em ouvir (...);
- (...) prejuízo na audição (...);
- (...) não ouço a campainha (...);
- (...) não ouço o telefone (...);
- (...) não ouvir (...);
- (...) não ouvir as coisas mínimas (...);
- (...) ter que aumentar o volume (...);
- (...) aumentar o som (...);
- (...) não escutava direito (...);
- (...) perda de informação (...);
- (...) necessidade de aumentar o volume
(...);
- (...) necessidade de pedir para repetir
(...);
- (...) sem o aparelho não escuta bem (...);
- (...) fiquei sem escutar nada (...).
Restrição de participação (n= 10)
- (...) desvantagem de não ouvir a fala (...);
- (...) na comunicação (...);
- (...) desvantagem na comunicação (...);
- (...) desvantagem no emprego (...);
- (...) não escutava direito o que falavam
5. Resultados 84
(...);
- (...) na comunicação (...);
- (...) entender (...);
- (...) realizar os meus trabalhos (...);
- (...) as coisas não rendem (...);
- (...) as pessoas falavam e eu não ouvia e
de costas viradas era pior (...);
- (...) não entender o que falam (...);
- (...) não ser capaz de entender (...).
Dificuldade no relacionamento (n= 4)
- (...) problema no relacionamento (...);
- (...) não poder se relacionar (...);
- (...) entender o meu filho (...).
Limitação de atividade (n= 3)
- (...) ruim para atender o telefone (...);
- (...) não ouvir a televisão (...);
- (...) dificuldade em atender o telefone(...)
3. Quais as desvantagens em usar
aparelhos auditivos?
Não vêem desvantagem (n = 18)
- (...) não vejo desvantagem (...);
- (...) não tem desvantagem (...);
- (...) não tem custo nenhum (...).
Manuseio (n= 1)
- (...) devido à minha visão (...).
Funcionalidade do AASI (n= 1)
- (...) desvantagem em escutar barulho
(...).
4. Benefícios da mudança. De tomar
medidas para melhorar a sua audição.
Melhorar a audição (n= 15)
- (...) vantagem de ouvir (...);
- (...) melhorar a audição (...);
- (...) ouvindo melhor (...);
- (...) ouvir os pássaros (...);
- (...) agora estou ouvindo direito (...);
- (...) não precisar de repetição (...);
- (...) ouvir o vento batendo na porta (...);
- (...) estou escutando tudo (...);
- (...) assimilar mais rápido as coisas (...);
- (...) ouvir melhor (...);
- (...) agora seleciono o que quero ouvir
(...);
- (...) ouvir (...);
5. Resultados 85
- (...) escutar melhor (...);
- (...) escutei muitas coisas que não ouvia
mais (...).
Melhorar quanto à restrição de
participação (n= 11)
- (...) melhorar na comunicação (...);
- (...) na comunicação à longa distância
(...);
- (...) poder conversar no meio do povo
(...);
- (...) melhorou no banco (...);
- (...) ouvir melhor para se comunicar (...);
- (...) me deixou mais ativo e tranqüilo no
trabalho (...);
- (...) ouvir as pessoas (...);
- (...) comunicação com as pessoas (...);
- (...) poder atender melhor os clientes (...);
- (...) entender as conversar (...);
- (...) posso conversar (...);
- (...) trabalhar melhor (...);
- (...) se comunicar mais (...).
Melhorar no relacionamento (n= 4)
- (...) qualidade na família (...);
- (...) se relacionar (...);
- (...) melhorar no relacionamento (...);
- (...) melhorou o convívio familiar (...).
Melhorar quanto à limitação de atividade
(n= 2)
- (...) qualidade no serviço (...);
- (...) ouvir a TV (...).
Questão de ordem emocional (n= 2)
- (...) ficava irritada (...);
- (...) não fiquei mais irritadas (...)
5. Resultados 86
Qualidade de vida (n= 1)
- (...) melhora o bem-estar (...).
Prevenção de acidentes (n= 1)
- (...)ouve o trem e o ônibus evitando
perigo (...).
Melhora nos aspectos vocais (n= 1)
- (...) minha voz ficou mais calma, mais
baixa (...).
5.4. QUESTIONÁRIO DE ATITUDES FRENTE À DEFICIÊNCIA AUDITIVA (ALHQ)
A média e o desvio padrão quanto à pontuação em cada subescala nas
três aplicações do ALHQ encontram-se no Gráfico 1. Os resultados foram
analisados por meio do teste não paramétrico de Friedman comparando cada
subescala nos três momentos.
Houve diferença estatisticamente significante entre as aplicações nas
subescalas “Negação da perda auditiva” e “Estratégias negativas de enfrentamento”.
Na primeira, essa diferença foi constatada entre a 2ª e 3ª aplicação, enquanto que
na segunda, entre a 1ª e 3ª e entre a 2ª e 3ª aplicação. Não houve diferença
estatisticamente significante em nenhuma das subescalas entre a 1ª e 2ª aplicação.
5. Resultados 87
0.0
0.5
1.0
1.5
2.0
2.5
3.0
3.5
4.0
4.5
5.0
Negação Associações Estratégias Destreza Estima
1ª sessão (após diagnóstico) 3ª sessão (pós adaptação)2ª sessão (teste)
Subescalas do ALHQ
Pon
tuaç
ão
*p= 0,01
*p= 0,00
*p= 0,00
Gráfico 1 – Média ± desvio padrão das subescalas do ALHQ nas três
aplicações (n=20)
6. Discussão
6. Discussão 91
6. DISCUSSÃO
Estudos como o de Elkayam e English (2003) mostram os benefícios do
aconselhamento de ajuste pessoal ao usuário de AASI bem como a sua indicação já
no período do diagnóstico audiológico de maneira a preparar o indivíduo para o uso
da amplificação e, assim, favorecer a aderência e sucesso do tratamento (BASTOS
et al. , 2009).
Entretanto, não há pesquisas até a atualidade investigando a utilização do
aconselhamento, nos moldes do MTT, na etapa inicial deste processo de maneira a
explorar os aspectos inerentes a este momento. Este estudo demonstrou que o
modelo adotado para abordagem inicial propiciou que aspectos relacionados a
sentimentos, pensamentos e crenças do usuário de AASI pudessem ser
verbalizados e registrados de maneira a subsidiar o diálogo entre paciente-terapeuta
para os ajustes necessários. Ampliou a investigação quanto à maneira como o
indivíduo trata as informações recebidas. E, além disso, evidenciou a exeqüibilidade
clínica do MTT, uma vez que o mesmo não demanda muito tempo para a sua
aplicação como aponta a Tabela 5, onde a média de duração foi de 33,47 minutos
para a primeira sessão, 27 minutos para a segunda e 34,26 minutos para a terceira
e pode resultar em uma adaptação satisfatória em menor tempo de uso do AASI.
Para melhor compreensão sobre esta contribuição foram analisados os
dados obtidos a partir das estratégias utilizadas nesta pesquisa: Escala de Prontidão
(EP) e Balança Decisória (BD) gerados pelo Ida Institute e as Propostas de Babeu et
al. (2004).
A utilização da Escala de Prontidão, ao atribuir uma nota a determinadas
questões (“Achar importante melhorar a audição” e “Estar muito preparado para usar
AASI”) permitiu ao participante estabelecer um juízo de valor que, imediatamente,
remete o usuário à condição de participante ativo neste processo, devendo exercitar
a auto-percepção nos três diferentes momentos do aconselhamento.
O grupo de participantes apresentou-se, de modo geral, pronto para a
mudança desde o primeiro até o terceiro momento de aconselhamento como pode
ser observado nas Tabelas 7, 8 e 9. A mediana encontrada em ambos os momentos
foi 10. Shelton e Faucette (1999) afirmam que o indivíduo com perda auditiva
neurossensorial freqüentemente decide procurar contrariado a ajuda profissional.
Nessas condições os achados deste estudo parecem contraditórios com a literatura,
6. Discussão 92
porém, vale lembrar que esses participantes são pacientes de um serviço público
gratuito. Cox, Alexander e Gray (2005) afirmam que a configuração da saúde pública
na prestação de serviço é diferente em vários aspectos fundamentais da maioria das
configurações de prestação de serviço privado e que os pacientes de serviço público
são sistematicamente diferentes quanto à auto-percepção quando comparados de
serviço privado. Em seus estudos, os autores concluíram que pacientes do serviço
público tendem a apresentar maiores expectativas antes da concessão do AASI e
maior benefício e satisfação após essa concessão quando comparados com os do
serviço privado. Os autores afirmam ainda que há necessidade de outras pesquisas
para explorar as razões para essa diferença.
Conforme Cox, Alexander e Gray (2005), a alta expectativa dos pacientes
do serviço público pode ocorrer pela ausência de uma relação comercial,
envolvendo a compra e venda para a aquisição do AASI. No presente estudo, outro
fator que também pode ter contribuído para o resultado da EP, refere-se ao
sentimento de gratidão inerente à cultura assistencialista em nosso país, na qual o
usuário do sistema SUS não tem a devida consciência de que custeia, por meio de
taxas de impostos, tanto os serviços de saúde quanto os demais. Outro fator pode
ser atribuído à crença de que o participante tema ser considerado como uma pessoa
não colaboradora, e correr o risco de não ser contemplado com o fornecimento do
AASI, caso expresse sentimentos e criticas negativas em relação ao sistema.
Além disso, dentre as variáveis não controladas neste estudo está a
jornada percorrida pelo indivíduo até tornar-se participante deste. Alguns deles
podem ser procedentes de outros serviços de saúde, em centros de diferentes níveis
de complexidade e com variações de tempo entre a percepção da perda auditiva e a
procura desse centro; ou ainda participantes que tenham procurado pela primeira
vez um serviço de saúde auditiva. Estes dados poderiam ser coletados por meio da
anamnese, porém, em cada um dos dois estabelecimentos onde esta pesquisa foi
realizada tem um protocolo de anamnese padronizado, o qual não traz ênfase
quanto a esta jornada.
Quanto às variáveis controladas neste estudo tais como gênero, idade,
escolaridade, nível sócio-econômico, tempo transcorrido com a perda auditiva,
média dos limiares auditivos e tipo do AASI, não foram realizadas análises
estatísticas inferenciais desses dados em virtude das respostas não terem variado
na maioria dos casos.
6. Discussão 93
Analisando os resultados da EP de forma individualizada, observou-se
que, na primeira questão, a nota mais baixa (8,5) foi a de P13, nota esta que
perdurou durante as três sessões de aconselhamento. Isto se deve ao fato de que
este participante era portador de Retinose Pigmentar, doença genética de caráter
progressivo que afeta tanto a visão quanto à audição; quando questionado sobre o
quanto era importante melhorar a sua audição, a nota dada refletia uma comparação
entre os dois sentidos afetados, sendo para o participante mais importante melhorar
a sua visão, não deixando de ser importante melhorar a sua audição.
Quanto à segunda pergunta da EP, dois participantes (P1 e P9)
divergiram do grupo apresentando as notas 5 e 6, respectivamente, para a mesma a
qual se refere quanto a acreditar estar preparado para o uso do AASI tanto no
primeiro quanto no segundo momento de aconselhamento. Ambos alegaram estar
diante do desconhecido e não saber se estavam preparados para tal mudança.
Cabe ressaltar que o participante P1 advém de outro serviço de saúde auditiva no
qual fez teste e recebeu AASI há mais de cinco anos, mas que não fez uso da
amplificação devido ao fato de, segundo ele, se sentir muito incomodado com “os
barulhos” que o AASI produzia, além de sentir que os sons estavam amplificados em
demasia.
Tanto P1 quanto P9 indicaram alta importância quanto à melhora da
audição, mas apresentaram baixa confiança a respeito do uso do AASI que era
percebido como uma promessa além do seu alcance. Ao verificar a crença e a
expectativa sobres as quais o participante operava mentalmente, o pesquisador
utilizou-se da analise conjunta sobre à auto-eficácia, o que permitiu alcançar uma
pontuação mais elevada como indicado também no estudo de Bundesen (2010).
Esses dois participantes vivenciavam o fenômeno da ambivalência,
apontado pela literatura (Miller e Rollnick, 2002) como uma experiência bastante
comum e uma fase normal no processo de mudança, o que não significa que o
terapeuta deva forçar a resolução em uma direção específica (como por persuasão
ou pela punição direta crescente de uma ação). Na terceira sessão de
aconselhamento, após a experiência com AASI, ambos apresentaram alta
importância quanto à melhora da audição e alta confiança a respeito do uso do
AASI.
A mudança ocorrida na EP destes dois participantes na terceira sessão
de aconselhamento com certeza tem influência do AASI, tendo em vista que a
6. Discussão 94
mudança da nota ocorreu apenas após amplificação. Porém, P1 e P9 responderam
de forma diferente as Proposições de Babeu et al. (2004), o primeiro apontou, tanto
na primeira quanto na segunda sessão de aconselhamento, proposição referente ao
estágio de contemplação enquanto que o segundo, na primeira sessão apontou a de
pré-contemplação e na segunda, avançou para a de ação.
Neste estudo, a EP pode ter contribuído para a reflexão a respeito da
importância da mudança, auto-confiança e crença do participante na sua capacidade
de alcançar a mudança. Ao passo que as Proposições de Babeu et al. (2004)
permitiram ao participante a tomada de consciência quanto ao momento em que se
situava desde a reflexão na EP. De maneira geral, o grupo de participantes indicou o
estágio de ação como compatível à sua condição motivacional, por meio das
referidas proposições, em ambas as sessões de aconselhamento.
Outra ferramenta utilizada foi a Balança Decisória a qual trouxe à tona os
elementos que levaram os participantes a atribuir o valor para o EP e a posição em
Babeu et al. (2004). A BD foi analisada conforme proposto por Prochaska et al.
(1994), sendo que os “prós e contras” foram sistematicamente relacionados com o
estágio de mudança: os “contras” superando os “prós” no estágio de pré-
contemplação havendo um cruzamento entre eles nos estágios intermediários
(contemplação e preparação) e os “prós” compensando os “contras” no estágio de
ação. De modo geral, o grupo de participantes estava, desde o primeiro até o
terceiro momento de aconselhamento, no estágio de ação. O único participante que
indicou uma posição de transição entre o estágio de contemplação e preparação foi
P1, reforçando a vivência da ambivalência.
A utilização da Balança Decisória permitiu que participantes refletissem
sobre os “prós” e “contras” de continuar com a audição prejudicada e o uso de AASI
e elencassem os diferentes elementos referentes à dificuldade auditiva, restrição de
participação, limitação de atividade, relacionamento, questões emocionais,
qualidade de vida, prevenção de acidentes e aspectos vocais. Possibilitou ainda, ao
pesquisador juntamente com cada participante atribuir um peso para essas
vantagens e desvantagens, umas em detrimento das outras, promovendo o
processo de mudança.
O modelo transteórico, como modelo centrado na pessoa, aplicado com
as estratégias nesta pesquisa é uma proposta objetiva e factível para que o
processo de reabilitação contemple, registre e opere com aspectos, por vezes,
6. Discussão 95
considerados subjetivos e, assim, fora do alcance do fonoaudiólogo. Por meio dele
foi possível, ao pesquisador, identificar as diferenças entre os participantes deste
estudo e organizar o raciocínio clínico e o fluxo dos atendimentos posteriores.
Esta abordagem inicial servirá de base, até mesmo comparativa, para as
próximas etapas do processo de adaptação uma vez que este processo deve ser
contínuo tendo em vista que, entre os estágios de mudança, pode haver recaídas
até atingir o estágio de término no qual, segundo Prochaska (2008), não importa a
situação que enfrente, o indivíduo estará confiante de que manterá um
comportamento saudável.
Além disso, esta abordagem vem instituir o momento de escuta durante o
processo de diagnóstico da perda auditiva e adaptação de AASI. Trata-se de uma
escuta diferenciada, mais apurada e que exige uma mudança de postura profissional
no sentido de romper com praticas convencionais arraigadas no modelo médico, o
qual reforça o papel passivo do paciente. Exige também o exercício e treino de
habilidades do terapeuta que promovam atitudes e comportamentos pró-ativos do
usuário que perceber-se então como participante ativo e co-responsável pelo
processo.
Neste estudo, o ALHQ foi utilizado para avaliar as atitudes dos
participantes antes de cada sessão de aconselhamento, ou seja, após o diagnóstico
audiológico, no retorno para teste com AASI e após experiência de, ao menos, sete
dias com o AASI. Esses três momentos foram comparados entre si como pode ser
observado no Gráfico 1. Não houve diferença estatisticamente significante entre a
primeira e segunda aplicação, ou seja, uma única sessão de aconselhamento não
gerou diferença estatisticamente significante quanto às atitudes dos participantes
frente à deficiência auditiva e uso do AASI.
Apesar de não haver diferença estatisticamente significativa entre a
primeira e segunda aplicação do ALHQ, é possível observar, no Gráfico 1, uma
tendência a maior homogeneidade nas subescalas de Associações Negativas e
Estima com relação à audição devido à diminuição do desvio padrão entre uma
aplicação e a outra. Do ponto de vista clínico, esta diminuição permite inferir sobre a
maior disposição do indivíduo para as mudanças que se fazem necessárias no
processo de adaptação do AASI uma vez que a subescala Estima denotou que o
grupo de participantes retomou sua capacidade de autoconfiança para aqueles
níveis prévios antes da detecção da perda, bem como a capacidade de expressão
6. Discussão 96
positiva de pensamentos e idéias, ao passo que a subescala Associasções
Negativas apontou a diminuição na percepção negativa quanto à utilização do AASI
como um sinal de envelhecimento e amenizando os sentimentos de vergonha.
Além disso, Saunders et al. (2005) avaliaram a confiabilidade teste-reteste
do ALHQ por meio do coeficiente de correlação de Pearson obtendo os seguintes
valores para cada subescala: Negação da perda auditiva, r = 0,85; Associações
Negativas, r = 0,84; Estratégias Negativas de Enfrentamento, r = 0,88; Destreza
Manual e Visão, r = 0,79; e Estima relacionada a audição, r = 0,65. Ou seja, a
confiabilidade teste-reteste variou de boa (0,6 até 0,8) a excelente (acima de 0,8).
Aplicando o mesmo coeficiente de correlação de Pearson nos participantes deste
estudo, entre a primeira e segunda aplicação, obteve-se o seguinte resultado:
Negação da perda auditiva, r = 0,29; Associações Negativas, r = 0,49; Estratégias
Negativas de Enfrentamento, r = 0,40; Destreza Manual e Visão, r = 0,33; e Estima
relacionada à audição, r = 0,66. Portanto, a única subescala que obteve o resultado
semelhante ao do estudo de Saunders et al. (2005) foi a de Estima relacionada à
audição. Nas demais subescalas, essa diferença encontrada no valor de “r” pode ser
atribuída ao aconselhamento que possibilitou uma maior variação nas respostas
entre a primeira e segunda aplicação. Porém, vale ressaltar que estes achados do
estudo de Saunders et al. (2005) são da versão do ALHQ em inglês e aplicada na
população norte-americana, não há estudos que comprovem os mesmos resultados
para a versão em português e aplicada no Brasil.
Diferenças estatisticamente significante ocorreram na subescala de
“Negação da perda auditiva”, entre a segunda e terceira aplicação (p= 0,01), e na de
“Estratégias negativas de enfrentamento” entre a primeira e terceira (p= 0,00) e entre
a segunda e terceira (p= 0,00) aplicação, ou seja, houve diferenças estatisticamente
significantes entre a aplicação do ALHQ quando os participantes eram candidatos de
quando eram usuários. No entanto, não há estudos que tenham comparado os
resultados do ALHQ em pacientes antes e depois da concessão do AASI. Na
literatura comparam-se os resultados do ALHQ de indivíduos candidatos a uso de
AASI com indivíduos que fazem uso da amplificação, ou seja, pessoas diferentes
(Bastos et al., 2009; Cienkowski e Saunders, 2000; Saunders et al., 2005). Bastos
et al. (2009) encontrou diferença estatisticamente significante entre candidatos e
usuários na subescala “Estratégia negativas de enfrentamento”, porém na subescala
de “Negação da perda auditiva”, não. Cienkowski e Saunders (2000) e Saunders et
6. Discussão 97
al. (2005) encontraram diferença estatisticamente significante na subescala de
“Negação da perda auditiva” entre candidatos e usuários. Há a necessidade de
estudos com maior número de participantes e que contemple os mesmos nesses
dois momentos, pré e pós concessão, para compará-los e avaliar possíveis
mudanças.
Observando o Gráfico 1, a subescala “Negação da perda auditiva”, mostra
um aumento da pontuação na terceira aplicação (usuário) o que levou a diferença
estatisticamente significante. Em Cienkowski e Saunders (2000) e Saunders et al.
(2005), a pontuação do usuário nesta subescala é menor que a do candidato, o
inverso do que aconteceu neste estudo. Esse aumento pode ser explicado pela
ambigüidade quanto à interpretação de quatro das seis questões que a compõe
quando o participante responde como usuário de AASI:
• “Minha família e amigos provavelmente acham que é um esforço
conversar comigo”: neste caso, a maior parte dos participantes respondeu
discordando, pois com o AASI já não enfrentava tal problemática, no
entanto, respondendo desta forma e tendo uma pontuação reversa,
contribui para o aumento da pontuação. É como se o indivíduo estivesse
negando a perda. Porém, o que de fato acontece é que o mesmo está
reconhecendo o benefício do AASI.
• “Eu estou certo de que necessito de ajuda com minha audição”: sendo
usuário de AASI, o indivíduo pode concordar dizendo que o AASI é essa
ajuda de que ele necessita ou discordar afirmando que, com o AASI, não
precisa mais de ajuda;
• “Minha perda de audição não é um problema sério”: ao usar AASI, houve
participantes que entenderam que, com a ajuda do AASI, a sua DA passa
a não ser mais um problema sério e outros que, agora que fazem uso do
AASI, percebem que sua perda de audição é um problema sério;
• “Minha audição não é um problema”: nesta questão vale a mesma dupla
interpretação da anterior, com o AASI o participante pode não mais
encarar a sua audição como um problema ou encará-la como tal uma vez
que percebe o benefício do AASI.
Quanto à pontuação do ALHQ, vale ressaltar que, embora Saunder et al.
(2005) tenha aumentado a escala de resposta para cinco alternativas buscando um
aumento da sensibilidade, como em Bastos et al. (2009), os participantes
6. Discussão 98
encontraram dificuldade para lidar com esse aumento. Na maioria das vezes,
preenchendo o questionário, o participante limitava-se a responder a alternativa “a”
(discordo totalmente), “c” (não concordo e nem discordo) e “e” (concordo totalmente)
ou ainda, limitava-se a “b” (discordo), “c” (não concordo e nem discordo) e “d”
(concordo). Raramente foram utilizadas as cinco alternativas.
Quanto à subescala de Destreza Manual e Visão, como era esperado,
não houve mudança uma vez que não há como melhorar esse fator com o uso do
AASI. É possível somente prever se o participante terá ou não dificuldade em
manusear o seu AASI.
Assim como em Bastos et al. (2005), de modo geral, os candidatos ao uso
da amplificação apresentaram atitudes mais negativas do que os usuários. Para
essas autoras, esse fato reforça a necessidade de iniciar o aconselhamento de
ajuste pessoal já no momento do diagnóstico audiológico.
Apesar deste estudo não ter demonstrado diferença estatisticamente
significante na pontuação do ALHQ entre a primeira e segunda aplicação, ou seja,
após uma sessão de aconselhamento realizada como seguimento do diagnóstico
audiológico, seria interessante a realização de um estudo futuro longitudinal
incluindo grupo controle (que não recebesse o aconselhamento) para verificar se há
diferença entre os participantes de ambos os grupos no que se refere ao período de
pré-adaptação e um período de seis meses após a concessão do AASI.
Finalizando, todos os participantes deste estudo foram atendidos pelo
serviço do Sistema Único de Saúde. O SUS tem instituído, desde 2003, a Política
Nacional de Humanização da Atenção e Gestão do SUS (HumanizaSUS). A
proposta deste estudo, além do acolhimento proposto pela política de humanização,
sugere a inclusão do aconselhamento como parte da mesma uma vez que o
aconselhamento, como afirma Trindade e Teixeira (2000), além de promover a
autonomia no confronto com as dificuldades e os problemas que é um dos alvos do
acolhimento, promove também o bem-estar psicológico. O aconselhamento ajudará,
segundo Rowland (1992), a pessoa a compreender a si própria e a situação em que
se encontra e ajudá-la a utilizar competências específicas para lidar mais
eficazmente com a sua vida.
7. Conclusões
7 Conclusões 101
7. CONCLUSÕES
Conclui-se que o MTT aplicado às etapas iniciais do processo de
adaptação do AASI, constitui-se uma proposta objetiva e factível para que este
processo englobe aspectos importantes tais como o sistema de crenças, as idéias,
os sentimentos e a condição motivacional do candidato, permitindo identificar as
diferenças individuais bem como organizar as próximas etapas do processo de
adaptação.
Antes e após a concessão do AASI, todos os participantes apresentaram
atitudes positivas com relação à deficiência auditiva e o uso do mesmo, crendo ser
muito importante a melhora da audição e que estavam preparados para o uso do
AASI.
Não houve variação estatisticamente significante quando comparadas as
atitudes dos participantes antes e depois da concessão do AASI com relação ao
aconselhamento. Essa diferença ocorreu com a influência do AASI.
Quanto ao estágio de mudança, a maioria dos participantes chegou ao
serviço público de saúde no estágio de ação, o qual representa uma iniciativa
concreta em relação à busca de uma mudança real.
Referências
Referências 105
REFERÊNCIAS
Altmaier E, Johnson BD, Paulsen JS. Issues in professional identity. In Sari Roth-Roemer, Sharon Robinson Kurpius, & Cheryl Carmin (Eds.), The emerging role of counselling psychology in health care. New York: Norton. 1998; p. 7-29. American Speech-Language-Hearing Association. Scope of practice in speech-language pathology. Rockville, MD: Author. 2001 [cited 2011 jun 14]. Available from: http://www.nslha.org/media/Scope_of_Practice_SLP.pdf. Ajzen I. Attitudes, personality and behavior. 2nd ed. Milton-Keynes, England: Open University Press; 2005. Babeu LA, Kricos PB, Lesner SA. Application of the stages-of-change model in audiology. J Acad Rehabil Audiol [serial on the internet]. 2004 [cited 2011 jan 15];37:41-56. Available from: http://www.clas.ufl.edu/users/pkricos/ApplicationsStagesOfChangeModel.pdf. Bandini M. Impacto de ações de promoção da saúde incluídas no Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional de empresa do ramo alimentício [tese na internet]. São Paulo (SP): Universidade de São Paulo; 2006 [acesso em 2011 jan 15]. Disponível em: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/5/5144/tde-01062007-133255/publico/marciabandini.pdf. Bandura A. Self-efficacy mechanism in human agency. Am Psychol [serial on the internet]. 1982 [cited 2011 jan 15];37(2):122-47. Available from: http://www.des.emory.edu/mfp/Bandura1982AP.pdf. Bastos BG, Amorim RB, Ferrari DV. Atitudes frente às próteses auditivas. Rev CEFAC [revista na internet]. 2009 [acesso em 2011 jan 15];11 Supl 1:116-28. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/rcefac/v11s1/43-08.pdf. Beukelman D, Mirenda P. Augmentative and alternative communication: Supporting children and adults with complex communication needs. 3rd ed. Baltimore: Paul H. Brookes; 2005. Brasil. Ministério da Saúde. Datasus. Sistema de Informações Ambulatoriais do SUS (SIA/SUS) [acesso em 2010 dez 27]. Disponível em: http://tabnet.datasus.gov.br/cgi/tabcgi.exe?sia/cnv/qgbr.def. Brasil. Ministério da Saúde.Portaria MS/GM Nº 2.073 de 28 de setembro de 2004. Institui a Política Nacional de Atenção à Saúde Auditiva [acesso em 2011 jan 17]. Disponível em: http://dtr2001.saude.gov.br/sas/PORTARIAS/Port2004/GM/GM-2073.htm. Brooks DN. The effect of attitude on benefit obtained from hearing aids. Br J Audiol. 1989 Feb;23(1):3-11.
Referências 106
Bundesen LL. Motivate clients with a line, box and circle: simple techniques can give control and ownership to your patients. Advance for Hearing Practice Management. 2010 [cited 2011 jun 14]. Available from: http://audiology.advanceweb.com/Editorial/Content/Editorial.aspx?CC=231258. Chartrand MS. Psychosocial dynamics: preventing failed fittings before they begin. Hear J. 1999;52(9):44-5. Cienkowski KM, Saunders GH. Client-attitude questionnaire provides data that can help shape counseling strategies. Hear J. 2008 Sep;53(9):42-9. Conselho Federal de Fonoaudiologia. Áreas de competência do fonoaudiólogo no Brasil. Documento oficial. 2 ed. mar 2007. p. 1-19 [acesso em 2011 jun 14]. Disponível em: http://www.fonoaudiologia.org.br/publicacoes/epacfbr.pdf. Conselho Federal de Fonoaudiologia. Resolução CFFª nº 305/2004 de 06 de março de 2004. Código de ética da fonoaudiologia [acesso em 2011 jun 14]. Disponível em: http://www.fonoaudiologia.org.br/paginas_internas/pdf/codeport.pdf. Cox RM, Alexander GC, Gray GA. Hearing aid patients in private practice and public health (Veterans Affairs) clinics: are they different? Ear Hear. 2005 Dec;26(6):513-28. DiClemente CC. Changing addictive behaviors: a process perspective. Curr Dir Psychol Sci [serial on the internet]. 1993 [cited 2011 jan 16];2(4):101-6. Available from: http://www.jstor.org/stable/pdfplus/20182215.pdf?acceptTC=true. DiClemente CC, Prochaska JO, Fairhurst SK, Velicer WF, Velasquez MM, Rossi JS. The process of smoking cessation: an analysis of precontemplation, contemplation, and preparation stages of change. J Consult Clin Psychol. 1991 Apr;59(2):295-304. DiClemente CC, Scott CW. Stages of change: interactions with treatment compliance and involvement. NIDA Res Monogr [serial on the internet]. 1997 [cited 2011 jan 16];165:131-56. Available from: http://archives.drugabuse.gov/pdf/monographs/monograph165/131-156_DiClemente.pdf. Elkayam J, English K. Counseling adolescents with hearing loss with the use of self-assessment/significant other questionnaires. J Am Acad Audiol. 2003 Nov;14(9):485-99. English, K. Counseling for diagnosis and management of auditory disorders. In: Valente M, Hosford-Dunn H, Roeser RJ. Audiology treatment. 2nd ed. New York: Thieme; 2008. p. 198-211. English, K. Get ready for the next big thing in audiologic counseling. Hear J [serial on the internet]. 2005 [cited 2011 jan 16];58(7):10-5. Available from: http://journals.lww.com/thehearingjournal/Fulltext/2005/07000/Get_ready_for_the_Next_Big_Thing_in_audiologic.3.aspx.
Referências 107
English K. Psychosocial aspects of hearing impairment and counseling basics. In: Schow R, Nerbonne M. Introduction to aural rehabilitation. 4th ed. p. 226-46). Boston, MA: Allyn & Bacon; 2002. Flasher L, Fogle P. Counseling skills for speech-language pathologists and audiologists. Clifton Park, NY: Thomson; 2004. Floyd J, Zebrowski PM, Flamme GA. Stages of change and stuttering: a preliminary view. J Fluency Disord. 2007;32(2):95-120. Epub 2007 Mar 14. Graciano MIG, Lehfeld NAS, Neves A Filho. Instrumental de classificação sócio-econômica. Serv Social Realid. 1999;5(1):109-28. Imig DR. Family paradigms, interpersonal relationships, and family systems. Venice, CA:ETEXT.net Electronic Textbook Publishing; 2005. Inacio-Lima I, Aiello CP, Ferrari DV. Correlações audiométricas do questionário de handicap auditivo para adultos. Rev CEFAC [acesso em 2011 jan 16]. No prelo 2010. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/rcefac/2010nahead/203-09.pdf. Kinra AK. Guidance and counseling. Dorling Kindersley, India; 2008. Lesner S, Kricos P. Acknowledgement of and adjustment to hearing loss: applications of the Transtheoretical Stages-of-Change Model. Perspectives on Gerontology. 2003;8(1):13-5. Lopes ES. Pacotinho estatístico. Versão 5.0 [software]. Pacotico Luterman D. Counseling persons with communication disorders and their families. 4th ed. Austin, TX: Pro-Ed; 2001. Marques ACO, Kozlowski L, Marques JM. Reabilitação auditiva no idoso. Rev Bras Otorr. 2004; 70(6):806-12. Margolis RH. What Do Your Patients Remember? Hear J [serial on the internet]. 2004[cited 2011 jan 16].57(6):10-7. Available from: http://journals.lww.com/thehearingjournal/Fulltext/2004/06000/What_do_your_patients_remember_.3.aspx. Miller WR, Rollnick S. Motivational interviewing: preparing people for change. 2nd ed. New York: The Guilford Press; 2002. Oticon eCaps. Version 1.4.1 [software in CD-ROM]. Oticon; 2006. Patterson, CH. C. H. Patterson on client-centered career counseling: an interview Suzanne C. Freeman. Career Dev Q. [serial on the internet]. 1990[cited 2011 jun 20].38:291-301. Available from: http://www.sageofasheville.com/pub_downloads/C_H_PATTERSON_ON_CLIENT_CENTERED_CAREER_COUNSELING.pdf.
Referências 108
Prochaska JO. Decision making in the transtheoretical model of behavior change. Med Decis Making. 2008 Nov-Dec;28(6):845-9. Epub 2008 Nov 17. Prochaska JO, DiClemente CC. Stages of change in the modification of problem behaviors. In: Hersen M, Eisler R, Miller PM. Progress in Behavior Modification. Sycamore, IL: Sycamore Publishing Company, 1992. Prochaska JO, DiClemente CC. Transtheoretical therapy: toward a more integrative model of change. Psychol Psychother Theor Res Pract. 1982; 19 (3):276-88. Prochaska JO, Norcross JC, DiClemente CC. Changing for good: A revolutionary six stage program for overcoming bad habits and moving your life positively forward. New York: Avon Books; 1994 apud Babeu LA, Kricos PB, Lesner SA. Application of the stages-of-change model in audiology. J Acad Rehabil Audiol [serial on the internet]. 2004 [cited 2011 jan 15];37:41-56. Available from: http://www.clas.ufl.edu/users/pkricos/ApplicationsStagesOfChangeModel.pdf. Prochaska JO, DiClemente CC, Norcross JC. In search of how people change. Applications to addictive behaviors. Am Psychol [serial on the internet]. 1992 [cited 2011 jan 17];47(9):1102-14. Available from: http://psycnet.apa.org/journals/amp/47/9/1102.pdf. Prochaska JM, Prochaska JO, Levesque DA. A transtheoretical approach to changing organizations. Adm Policy Ment Health [serial on the internet]. 2001 [cited 2011 jan 17];28(4):247-61. Available from: http://www.springerlink.com/content/l461598u104223g8/fulltext.pdf. Prochaska JO, Velicer WF, Rossi JS, Goldstein MG, Marcus BH, Rakowski W, Fiore C, Harlow LL, Redding CA, Rosenbloom D, et al. Stages of change and decisional balance for 12 problem behaviors. Health Psychol. 1994 Jan;13(1):39-46. Raymond DM 3rd, Lusk SL. Testing decisional balance and self-efficacy applied to workers' use of hearing protection. Nurs Res. 2006 Sep-Oct;55(5):328-35. Rogers C. Counseling and psychotherapy. Boston: Houghton Mifflin; 1942. Rollin WJ. Counseling individuals with communication disorders: Psychodynamic and family aspects. 2nd ed. Boston: Butterworth Heinemann; 2000. Rowland N. Counselling and counselling skills. In: Mike, S. Counselling in general practice. London: Royal College of General Practitioners, Clinical Series; 1992. Russo ICP, Almeida KE, Freire KGM. Seleção e adaptação da prótese auditiva para o idoso. In: Almeida KE, Iorio MCM. Próteses auditivas: fundamentos teóricos e aplicações clínicas. 2 ed. São Paulo: Lovise; 2003. p. 385-410. Saunders GH, Cienkowski KM. Refinement and psychometric evaluation of the Attitudes Toward Loss of Hearing Questionnaire. Ear Hear. 1996 Dec;17(6):505-19. Saunders GH, Cienkowski KM, Forsline A, Fausti S. Normative data for the Attitudes towards Loss of Hearing Questionnaire. J Am Acad Audiol. 2005 Oct;16(9):637-52.
Referências 109
Saunders G, Forsline A, Jacobs P. The Attitudes towards Loss of Hearing Questionnaire (ALHQ): a comparison of paper and electronic formats. J Am Acad Audiol. 2007 Jan;18(1):66-77. Scheeffer R. Teorias de aconselhamento. São Paulo, Atlas, 1979. Scheeffer R. Aconselhamento psicológico: teoria e prática. 7 ed. São Paulo, Atlas, 1980. Schmidt MLS. Aconselhamento Psicológico e Instituição: algumas considerações sobre o serviço de Aconselhamento Psicológico do IPUSP. In: MORATO HTP. Aconselhamento Psicológico centrado na pessoa: novos desafios. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1999. Shelton CW, Faucette R. Preparing the Patient for Amplification. In: Sweetow RW. Counseling for Hearing Aid Fittings. United States of America: Thomson Learning, 1999. p. 23-54. Shipley K, Roseberry-McKibbin C. Interviewing and counseling in communicative disorders: Principles and procedures. Austin: TX: Pro-Ed; 2006. Sousa MCF, Wieselberg MB. Aconselhamento em Audiologia. In: Lopes Filho O. C. Tratado de Fonoaudiologia. 2 ed. São Paulo: Rocca; 2005. p. 23-39. Toral N. Estágios de mudança de comportamento e a sua relação com o consumo alimentar de adolescentes [dissertação na internet]. São Paulo (SP): Universidade de São Paulo; 2006 [acesso em 2011 jan 17]. Disponível em: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/6/6133/tde-10052006-160248/publico/dissertoral.PDF. Trindade I, Teixeira JAC. Aconselhamento psicológico em contextos de saúde e doença – Intervenção privilegiada em psicologia da saúde. Análise Psicológica [acessado em 2011 jun 20] 2000, 1 (XVIII): 3-14. Disponível em: http://www.scielo.oces.mctes.pt/pdf/aps/v18n1/v18n1a01.pdf. van Leer E, Hapner ER, Connor NP. Transtheoretical model of health behavior change applied to voice therapy. J Voice. 2008 Nov;22(6):688-98. Epub 2007 Dec 21. World Health Organization. Guidelines for hearing aids and services for developing countries. Geneva: WHO; 2001. World Health Organization. Report of the Informal Working Group of Deafness and Hearing Impairment Programme Planning. Geneva: WHO; 1991.
Apêndices
Apêndices 113
Apêndice A - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
Você está sendo atendido(a) na Clínica de Fonoaudiologia da Faculdade de Odontologia de Bauru da Universidade de São Paulo (FOB – USP) devido à sua queixa auditiva. Neste atendimento foi detectada uma Perda Auditiva em ambas as orelhas. Visando o bem estar e a qualidade de vida, você será encaminhado(a) para a Clínica de Dispositivos Eletrônicos Aplicados a Surdez afim de receber orientações sobre as formas de tratamento.
Os objetivos deste estudo é caracterizar as atitudes em relação à deficiência auditiva (DA) e uso do Aparelho de Amplificação Sonora Individual (AASI) em deficientes auditivos candidatos ao uso da amplificação sonora; comparar as atitudes em relação à DA e uso do AASI de candidatos ao uso da amplificação em indivíduos que receberam e não receberam aconselhamento; e comparar as atitudes de candidatos frente à DA e uso do AASI antes e após a sessão de aconselhamento que consiste em esclarecer sobre os seus sentimentos, crenças e atitudes frente à DA e uso do AASI.
Caso você concorde em participar do mesmo, lhe será solicitado(a) a ler e responder o questionário “Atitudes frente à deficiência auditiva” (Attitudes Toward Hearing Loss Questionnaire - ALHQ) contendo 22 questões de múltipla escolha e, após respondê-lo, você passará por uma sessão de aconselhamento de acordo com o protocolo proposto por Babeu et al. (2004), que será conduzido pelo fonoaudiólogo treinado, autor deste estudo. No próximo retorno, você responderá novamente ao ALHQ e passará por outra sessão de aconselhamento seguindo o mesmo protocolo. Os dados sócio-demográficos, do diagnóstico audiológico e do processo de reabilitação (se existente) serão coletados do seu prontuário.
Os dados de identificação pessoal não serão divulgados sendo que os participantes do estudo serão identificados por meio de um número. Sua participação no estudo é voluntária e pode ser interrompida a qualquer momento, sem lhe trazer algum prejuízo. Também lhe será garantido o direito a respostas a qualquer pergunta ou esclarecimento de qualquer dúvida acerca dos assuntos relacionados com o estudo. Em caso de dúvidas, entre em contato com os responsáveis pela pesquisa: Profª Drª Dagma Venturini Marques Abramides e Fonoaudiólogo Ivanildo Inacio de Lima na Clínica de Fonoaudiologia localizada na Al. Dr. Octavio Pinheiro Brisolla, 9-75 ou pelos telefones: (14) 3235-8332; 32358470; 32237765 ou 9166-8035 ou pelos e-mails: [email protected] ou [email protected]. Caso queira apresentar reclamações em relação a sua participação na pesquisa, você poderá entrar em contato com o Comitê de Ética em Pesquisa em Seres Humanos, da FOB-USP, pelo endereço Al. Dr. Octavio Pinheiro Brisolla, 9-75 (sala do prédio da Biblioteca, FOB/USP) ou pelo telefone (14) 3235-8356.
Pelo presente instrumento que atende às exigências legais, o(a) Sr. (a)______________________________________________________________, portador da cédula de identidade __________________________, após leitura minuciosa das informações constantes neste TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO, devidamente explicada pelos profissionais em seus mínimos detalhes, ciente dos serviços e procedimentos aos quais será submetido, não restando quaisquer dúvidas a respeito do lido e explicado, firma seu CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO concordando em participar da pesquisa proposta.
Fica claro que o sujeito da pesquisa ou seu representante legal, pode a qualquer momento retirar seu CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO e deixar de participar desta pesquisa e ciente de que todas as informações prestadas tornar-se-ão confidenciais e guardadas por força de sigilo profissional (Art. 29o do Código de Ética do Fonoaudiólogo).
Por estarem de acordo assinam o presente termo. Bauru-SP, ________ de ______________________ de ________.
_____________________________ ____________________________ Assinatura do Sujeito da Pesquisa Assinatura do Autor
Anexos
Anexos 117
Anexo A – Questionário de Atitudes frente à Deficiência Auditiva versão 3.0
(ALHQ v3.0)
QUESTÕES Discordo Totalmente
Não Concordo
Nem Discordo
Concordo Totalmente
(1) Minha família e amigos provavelmente acham que é um esforço conversar comigo. a b c d e
(2) Eu estou certo de que necessito de ajuda com minha audição *Eu estou certo de que realmente preciso usar meus aparelhos de auditivos.
a b c d e
(3) Minha perda de audição é muito leve para precisar de aparelhos auditivos. *Minha perda de audição é tão leve que eu consigo me sair muito bem sem meus aparelhos auditivos.
a b c d e
(4) A idéia de usar aparelhos auditivos faz com eu me sinta mais velho. *Usar aparelhos auditivos faz com eu me sinta mais velho.
a b c d e
(5) Se eu estou em uma situação onde várias pessoas estão conversando, eu desisto de tentar acompanhar a conversação. a b c d e
(6) Eu sou tão autoconfiante quanto eu era quando minha audição era normal a b c d e
(7) Eu tenho certeza de que não necessito de aparelhos auditivos *Eu não acho que necessito dos meus aparelhos auditivos
a b c d e
(8) Atualmente eu tenho dificuldade em lidar com pequenas coisas como botões ou zíperes
a b c d e
(9) Eu estou preocupado em ser visto usando aparelhos auditivos *Eu não gosto que as pessoas me vejam usando meus aparelhos auditivos
a b c d e
(10) Eu tenho medo de conhecer novas pessoas desde que minha audição se tornou ruim a b c d e
(11) Aparelhos auditivos fazem as pessoas parecerem mais velhas a b c d e
(12) Minha audição prejudicada me faz sentir inadequado a b c d e
(13) Minha perda de audição não é um problema sério a b c d e
(14) Eu acredito que teria dificuldade em colocar um parafuso pequeno em um buraco a b c d e
(15) Em uma conversação eu geralmente me mantenho calado para evitar dizer algo errado a b c d e
(16) Minha audição não é um problema a b c d e
(17) Eu tento evitar conversas devido à minha dificuldade de audição a b c d e
(18) Eu fico envergonhado só de pensar em ser visto usando um aparelho auditivo *Eu fico envergonhado quando sou visto usando meus aparelhos auditivos
a b c d e
(19) Minha perda de audição é um fardo para mim a b c d e
(20) Eu acho que derrubo pequenos objetos com facilidade a b c d e
(21) Eu sou tão extrovertido e falante como eu era antes de ter dificuldade de audição a b c d e
(22) Eu estou sempre consciente do quão prejudicada é minha audição a b c d e
*itens que compõem a versão para usuários de aparelhos de amplificação sonora individuais.