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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
FACULDADE DE CIÊNCIAS FARMACÊUTICAS
Curso de Graduação em Farmácia-Bioquímica
Influência do etileno e do ácido indol-3-acético na formação de compostos voláteis do aroma em morangos (Fragaria x ananassa Duch.)
Bruna Yumi Saiki Kiyota
Trabalho de Conclusão do Curso de
Farmácia-Bioquímica da Faculdade de
Ciências Farmacêuticas da
Universidade de São Paulo.
Orientador(a):
Prof.(a). Dr(a) Eduardo Purgatto
São Paulo
2018
Dedico este trabalho a todos que
contribuíram direta ou indiretamente em
minha formação acadêmica.
SUMÁRIO
Pág.
Lista de Figuras ..................................................................................................................
Lista de Tabelas .................................................................................................................
Lista de Abreviaturas ..........................................................................................................
1
1
2
RESUMO ............................................................................................................................ 3
1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................... 4
2. OBJETIVOS ................................................................................................................... 6
3. MATERIAIS E MÉTODOS .............................................................................................
3.1 Tratamento dos Frutos .................................................................................................
3.2 Análise de Cor ..............................................................................................................
3.3 Respiração e Produção de Etileno ...............................................................................
3.4 Análise de Perfil de Compostos Voláteis .....................................................................
3.5 Análise Estatística ........................................................................................................
6
6
7
8
9
10
4. RESULTADOS ...............................................................................................................
4.1 Análise de Cor ..............................................................................................................
4.2 Respiração e Produção de Etileno ...............................................................................
4.3 Análise do Perfil de Compostos Voláteis .....................................................................
11
11
14
16
5. DISCUSSÃO .................................................................................................................. 23
6. CONCLUSÃO ................................................................................................................. 26
7. REFERÊNCIAS .............................................................................................................. 27
1
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 – Registro visual dos frutos de morangueiro no dia da colheira (dia zero) e ao
longo do amadurecimento, após os tratamentos com ácido indol-3-acético (AIA) ou
etileno. O grupo controle não foi submetido a tratamento
hormonal......................................................................................................................... 12
Figura 2 – Gráficos da produção de etileno e de gás carbônico comparando os grupos
controle, etileno e AIA. A imagem 2ª corresponde a produção de etileno e a imagem 2b
corresponde a produção de CO2 dos mesmos grupos tratados.................................... 15
Figura 3 – Gráficos ACP biplot construídos através dos dados de compostos voláteis
após normalização. As imagens 2a, 2b, 2c, 2d e 2e correspondem a influência dos
compostos detectados nos dias 1, 2, 3, 4 e 5, após tratamento.................................... 19
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 – Características físicas dos frutos ao decorrer do tempo estudado (quatro
dias para maturação)..................................................................................................... 14
Tabela 2 – Compostos voláteis detectados por SPME-CG-MS em morangos da cultivar
Fragaria x ananassa tratados com AIA.......................................................................... 17
Tabela 3 - Compostos voláteis detectados por SPME-CG-MS em morangos da cultivar
Fragaria x ananassa tratados com etileno..................................................................... 18
Tabela 4 – Legenda de cores dos compostos voláteis detectados................................ 22
2
LISTA DE ABREVIATURAS
ADH
AIA
ANOVA
CG
CP
EM
HPL
NaCl
PCA
SPME
Álcool desidrogenase
Ácido indol-3-acético
Análise de variância
Cromatografia a gás
Componentes principais
Espectrometria de massa
Enzima conversora hidroperóxido liase
Cloreto de sódio
Análise de Componentes Principais
Microextração em Fase Sólida
3
RESUMO
KIYOTA, B. Y. S. Influência do etileno e do ácido indol-3-acético na formação de compostos voláteis do aroma em morangos (Fragaria x ananassa Duch.). 2018. Projeto nº. 772-18-1º, USP 276162. Trabalho de Conclusão de Curso de Farmácia-Bioquímica – Faculdade de Ciências Farmacêuticas – Universidade de São Paulo, São Paulo, 2018. Palavras-chave: Amadurecimento, Compostos Voláteis, Etileno, Frutos não-climatéricos, Hormônios Vegetais
INTRODUÇÃO: O amadurecimento é um processo complexo e coordenado, envolvendo uma rede de hormônios vegetais, que inclui o etileno e o ácido indol-3-acético (AIA). Em morangos, há evidências de que o AIA, um hormônio da classe das auxinas, iniba o amadurecimento do receptáculo, enquanto a ação do etileno neste fruto não foi totalmente elucidada. Atualmente, não há um estudo detalhado sobre a função desses hormônios na produção de compostos voláteis formadores do aroma em frutos não-climatéricos, grupo no qual o morango é classificado.
OBJETIVO: O principal objetivo desse estudo é avaliar os efeitos do etileno e do AIA na produção de compostos voláteis em frutos não-climatéricos, tendo como modelo o morango.
MATERIAIS E MÉTODOS: Morangos foram coletados no ponto de maturação branco e divididos em três grupos, de acordo com seu tratamento: controle, etileno e AIA. Por meio da análise de colorimetria, Microextração em Fase Sólida, cromatografia a gás acoplada a espectrometria de massas e análise multivariada (PCA), parâmetros do amadurecimento, como cor e produção de compostos voláteis, foram analisados durante cinco dias.
RESULTADOS: No primeiro e no segundo dia, o grupo AIA apresentou um aumento de compostos C6, componentes característicos do fruto verde, sugerindo um atraso no desenvolvimento de aroma. No grupo etileno, os níveis de alguns compostos derivados C6 foram negativamente afetados (4-hexen-1-ol, acetato de 3-hexen-1-ila e 1-hexen-3-ol). A análise de cor também contribuiu para verificar a influência de AIA no processo de amadurecimento de morangos, uma vez que o hormônio atrasou o desenvolvimento da cor vermelha característica do fruto maduro.
CONCLUSÃO: O estudo mostra que há uma mudança significativa no perfil de compostos voláteis em frutos tratados com etileno e AIA, indicando que estes dois hormônios podem ser reguladores da formação do aroma no morango.
4
1. INTRODUÇÃO
Frutos carnosos fazem parte integrante da dieta humana e servem como uma
importante fonte de vitaminas, minerais, antioxidantes, açúcares e teor de fibras. Os
atributos de qualidade nutricional dos frutos dependem, em grande parte, do estágio de
maturação e defende-se um amadurecimento ótimo para o consumo (Symons et al.,
2012).
O desenvolvimento de frutos pode ser dividido em três fases fisiológicas:
crescimento, maturação e senescência. A fase final da maturação corresponde ao
amadurecimento de frutos, um processo coordenado metabolicamente, que implica em
modificações fisiológicas e bioquímicas. Estas, por sua vez, levam a alterações
sensoriais relacionadas à aparência, aroma, textura e sabor, notadas em análises
químicas, físicas, bioquímicas ou sensoriais (CAVALINI, 2008). Nesse contexto, o
amadurecimento é determinado como um processo irreversível, tornando o fruto apto
para consumo e atrativo para animais e outros agentes dispersores de suas sementes
(RYALL; LIPTON, 1979).
O amadurecimento é um processo regulado hormonalmente, variando entre
frutos climatéricos e frutos não-climatéricos. Um dos exemplos de frutos não-
climatéricos mais recorrente em estudos é o morango. Este fruto é importante
mundialmente e os potenciais benefícios de seu consumo para prevenção de doenças
cardiovasculares e neurodegerativas, obesidade, câncer e envelhecimento estão sob
investigação (SEERAM, 2008; GIAMPIERI et al., 2012). Mesmo com uma quantidade
de informação significativa sobre o amadurecimento de morangos, pouco se sabe sobre
a regulação desses processos, incluindo o papel desempenhado por diferentes
fitohormônios (MERCHANTE et al., 2013). O morango é usualmente utilizado como
modelo de fruto não-climatérico, pois não exibe um pico na respiração e a aplicação
externa de etileno nesse fruto não afeta a taxa de maturação (GIVEN et al., 1988).
Dentre as alterações sensoriais exercidas durante o amadurecimento, este
estudo enfatiza a síntese de compostos voláteis, a qual é essencial para a
caracterização do aroma do fruto maduro. Os compostos voláteis em plantas derivam
de quatro principais classes precursoras: carboidratos, aminoácidos, ácidos graxos e
5
carotenoides (KADER, A., 2008). No decorrer do processo de maturação, há variação
na composição destes, que levam a alterações na qualidade sensorial do produto
permitindo sua comercialização. Ainda é escasso o conhecimento sobre os
mecanismos que controlam as vias de biossíntese de voláteis, e vários estudos sobre
regulação dessas vias visam a influência direta de sinais hormonais.
A concentração endógena de hormônios varia segundo a espécie do fruto e são
importantes para controle do processo de amadurecimento, existindo uma inter-relação
entre estes biorreguladores, que incluem as giberelinas, auxinas e citocininas etileno e
jasmonatos (KLUGE et al., 2002). Dessa forma, atualmente considera-se a existência
de um efeito cruzado (crosstalk) de diferentes hormônios, que juntos modulam rotas
metabólicas e bioquímicas nos frutos (PECH et al., 2013).
O etileno é um fitormônio regulador do amadurecimento de frutos, atuando
através da modificação de padrões de expressão gênica e sendo responsável por
processos de desenvolvimento vegetal, tais como: mudanças de aparência, sabor,
aroma e textura dos frutos, respiração e síntese autocatalítica de etileno, por exemplo
(KERBAUY, 2008; KLEE, 2002).
Em Fisiologia Pós-colheita, os frutos são classificados em climatéricos, nos quais
apresentam um grande aumento na produção do hormônio etileno, e não-climatéricos,
nos quais não se observa o aumento de etileno nem um papel claro desse hormônio no
desenvolvimento desses frutos. Entre algumas funções identificadas, o hormônio auxilia
a redução da acidez e a síntese de compostos antociânicos (PEREZ et al., 1996;
AHARONI et al.,2000). Além disso, estudos sugerem que o etileno possui pouco ou
nenhum efeito no desenvolvimento do receptáculo do fruto, porém sabe-se que este
hormônio promove o amolecimento de frutos maduros ou na senescência
(CASTILLEJO et al., 2004).
Outro hormônio detectado em frutos, o ácido-indol-3-acético (AIA) é um hormônio
da classe das auxinas, que influencia diversos aspectos do desenvolvimento e
crescimento vegetal, entre eles a divisão celular, expansão e alongamento celular,
diferenciação celular, abscisão foliar, desenvolvimento do eixo caulinar, formações dos
primórdios foliares e filotaxia, desenvolvimento radicular, desenvolvimento de flores e
frutos (KERBAUY, 2008). Estudos em bananas, peras, abacates, morangos, entre
6
outras frutas, sugerem a participação de AIA também no processo de amadurecimento,
através da influência na expressão de genes que codificam enzimas que catalizam
diversos passos relacionados a eventos a síntese de ácidos orgânicos, síntese e
degradação de pigmentos e metabolismo do amido (PURGATTO et al., 2001). Em
morangos, a aspersão de auxina sobre o fruto inibe o amadurecimento do receptáculo,
enquanto a remoção dos aquênios acelera o amadurecimento do mesmo, indicando
serem a fonte de auxina no fruto.
Assim como o etileno, o papel da auxina não é muito bem definido em morangos,
não havendo estudos detalhados sobre a ação do hormônio nas vias metabólicas. Além
dos motivos apontados anteriormente, o morango também é muito utilizado em estudos
de amadurecimento devido a grande quantidade de compostos voláteis produzidos e a
sua importância econômica. A descoberta de fatores influentes na formação de
compostos voláteis nos morangos acarretaria na inovação de técnicas de conservação,
as quais auxiliariam na manutenção de características físicas e química pós-colheita,
aumentando o tempo para consumo do fruto mantendo sua qualidade sensorial.
2. OBJETIVO(S)
Ponderando a influência dos compostos voláteis nos frutos e a carência de
estudos sobre a ação de etileno e AIA nos frutos não-climatéricos, o projeto visa
analisar a produção de compostos voláteis em morangos tratados com hormônios
etileno e AIA, verificando se há efeito significativo no processo de amadurecimento.
3. MATERIAIS E MÉTODOS
3.1 Tratamento dos Frutos
A empresa Mape Frutas de Senador Amaral, Minas Gerais, forneceu os
morangos (Fragaria ananassa) da cv. Albion. Estes foram colhidos no ponto de
maturação branco e devidamente transportados em caixas de isopor com barras de gel
7
térmico até o Laboratório de Química, Bioquímica e Biologia Molecular de Alimentos da
FCF-USP.
Os frutos recém colhidos foram transportados até o laboratório, selecionados e
lavados para serem submetidos ao tratamento hormonal. Para não influenciar no
resultado dos tratamentos empregados, frutos com ferimentos e/ou em estágios de
maturação avançado foram descartados.
Após a secagem, dividiu-se as unidades entre os três grupos de tratamento:
controle, AIA e etileno. A aplicação dos hormônios teve como base protocolos
otimizados e testados anteriormente no laboratório por outros segmentos de pesquisa.
Para o tratamento com AIA, a concentração de hormônio utilizada foi 100 µM em água
em tratamento de 12h/12h por aspersão, enquanto para o tratamento com etileno,
empregou-se a exposição a 100 ppm de etileno gasoso por 12 horas de tratamento por
imersão gasosa. As amostras tratadas com os hormônios foram comparadas com um
grupo controle tratado somente com água por asperção.
Cada grupo foi armazenado em uma caixa de acrílico fechada, a temperatura
ambiente de 20ºC, com controle de luz branca para evitar formação de pigmentos pela
presença de luz, e a alta umidade do ambiente (75%), mantida pela adição de papel-
filtro embebido em água milli-Q. Assim, durante cinco dias, até o completo
amadurecimento dos frutos (estágio vermelho do fruto, correspondente ao fruto
maduro), amostras eram recolhidas em três replicatas biológicas. A partir das amostras,
o acompanhamento do processo de amadurecimento se deu por meio das análises da
taxa de respiração (CO2), dos níveis de produção de etileno e da cor antes do
congelamento. Cada amostra (10 frutos/grupo/dia) foi congelada em N2 líquido e
armazenada a -80ºC para análises de produção e perfil de compostos voláteis.
3.2 Análise de Cor
Para realização da análise de cor, emprega-se um instrumento de medição que
permite a quantificação desse atributo. O colorímetro possibilita a medição da luz
refletida no fruto em faixas específicas ou em cada comprimento de onda e, a partir da
8
quantificação dos dados espectrais, determina as coordenadas no espaço de cor L*a*b
e retorna em valores numéricos.
O colorímetro utilizado no experimento foi um aparelho Minolta Chromameter
410R, no qual as cores são expressas em relação ao valor de matiz (Hue), calculado
pela fórmula:
Onde a é relativo ao grau de variação entre vermelho e verde (define tonalidade
da cor) e b é relativo ao grau de variação entre amarelo e azul (define a intensidade ou
pureza da cor, sendo a saturação). Estes dados são fornecidos pelo aparelho, segundo
o plano de cores descrito no método Hunter.
Para a análise da cor, o colorímetro precisou ser calibrado no “branco total” para
depois ser utilizado na medição das amostras. Além de fornecer valores para a e b, há
a medição de L, referente ao grau de luminosidade das cores medidas. Durante todos
os dias de coleta, retirou-se três frutos de cada tratamento para medição da cor. Por
não se tratar de uma superfície homogênea, a medição foi realizada em três pontos
distintos do fruto.
3.3 Respiração e Produção de Etileno
As taxas de respiração e produção de etileno podem ser relacionados ao
processo de amadurecimento, já que ambas tendem a aumentar com o decorrer do
tempo. Dessa forma, é de extrema importância avaliar os efeitos do processo no fruto
por meio de experimentos baseados na respiração vegetal e produção de etileno.
A medida da respiração foi realizada em amostras de ar do interior de frascos de
200 mL contendo frutos do grupo tratado. Cada grupo tinha quatro frascos e cada
frasco continha cinco frutos, no mínimo. Os frutos permaneceram dentro do frasco
fechado por 30 minutos e o ar do headspace serviu de amostra, sendo retirado com
seringa de 10mL e injetado em um cromatógrafo a gás da Hewlett-Packard modelo GC-
6890 acoplado a um detector de condutividade térmica. O equipamento empregou uma
coluna HP-Plot Q (30 m, D.I. 0,53 mm).
9
Para análise, o equipamento foi programado segundo as seguintes condições
cromatográficas: volume de injeção 1,0 mL; injeção com divisor de amostra (split) em
taxa de 50:1 e temperatura de 250ºC; temperatura do detector em 250ºC utilizando
como referência fluxo de hélio a 7mL/min; corrida isotérmica a 30ºC empregando hélio
como gás carregador em fluxo constante de 4mL/min. Realizou-se a estimativa da
quantidade de CO2 de acordo com a injeção de 1 mL de padrão de CO2 326 μL/L em ar
sintético da Air Liquid.
A produção de etileno empregou as mesmas amostras coletadas nas seringas e
o mesmo aparelho e coluna cromatográfica. Contudo o detector operava por ionização
de chama. Utilizou-se o modo de injeção pulsed splitless, desenvolvido pela Hewlett-
Packard, opcional das válvulas de injeção com EPC utilizadas nos modelos de
cromatógrafo a gás desta empresa.
Para análise, o equipamento foi programado segundo as seguintes condições de
injeção: volume de injeção 1,0 mL; fluxo de ventilação de 5 mL/min após 30 segundos
de injeção; pressão de 138 psi por 3 minutos e temperatura do injetor em 200ºC. Além
disso, adotou-se também as seguintes condições cromatográficas: corrida isotérmica a
30ºC empregando hélio como gás carregador em fluxo constante de 1 mL/min;
temperatura do detector em 250ºC, fluxo de ar e hidrogênio no detector em 400 mL/min
e 40 mL/min, respectivamente. A estimativa da quantidade de etileno produzida pelos
frutos será feita em relação à injeção de um padrão de 0,1 μL/L de etileno em ar
sintético da Air Liquid.
3.4 Análise de Perfil de Compostos Voláteis
O aroma e o sabor característico dos frutos são fornecidos pela presença e
formação de compostos voláteis, uma vez que acionam receptores olfativos nas narinas
(aroma) e são sentidos na cavidade retronasal (sabor) ao serem degustados. A
formação de compostos voláteis específicos está diretamente ligado ao estágio de
amadurecimento em que o fruto se encontra e a partir dessas análises, podemos
caracterizar a fase de maturação de acordo com o perfil de compostos voláteis
produzidos.
10
Com a finalidade de coletar amostras dos cinco dias após tratamento, algumas
unidades de morangos de cada tratamento foram picados e pesados a 5g em vials
âmbar de 20mL com tampa magnetizada e septo de silicone. Ao mesmo vial, adicionou-
se 7mL de solução de NaCl 30% e todos os vials foram congelados a -20ºC para
melhor armazenamento até o momento da análise.
Para análise dos compostos voláteis, empregou-se o método de extração de
voláteis por SPME. Os vials foram descongelados em banho-maria a 30ºC por 1 hora e
permaneceram por mais 15 minutos a temperatura ambiente em agitação. A exposição
da fibra se deu por mais 30 minutos para adsorção e para dessorção, 3 minutos no
injetor do CG-EM. O equipamento utilizado foi um cromatógrafo Hewlett-Packard
modelo 6890 acoplado a um detector seletivo de massas da mesma empresa modelo
5973. O método de extração de voláteis por SPME empregou uma resina de
carboxeno, divinilbenzeno de 50/30 µm de espessura em polidimetilsiloxano da
Supelco® (CAR/DVB/PDMS).
O programa de temperatura utilizado foi: 35ºC por 0,5 minuto, rampa de
temperatura de 5ºC/min até 250ºC, permanecendo por 1 minuto, seguida de nova
rampa a 20ºC/min até 310ºC e permanecendo por 2 minutos. A temperatura da
interface entre o cromatógrafo e o detector seletivo de massas será de 200ºC e a
ionização foi feita por impacto de elétrons (70 eV) com a fonte de íons mantida a 150ºC.
As análises foram realizadas em triplicata para cada uma das amostras. Os espectros
de massas obtidos foram comparados com os da biblioteca NIST versão 2011 e
considerado com identificação aceitável aqueles com índice de similaridade acima de
70%.
3.5 Análise Estatística
Para os resultados derivados das análises de respiração, etileno, cor e níveis de
etileno e AIA foram realizados testes de ANOVA, comparando as médias em cada
ponto e, quando houve diferenças significativas (p<0,05) entre os tratamentos e o grupo
controle, realizou-se o teste de Tukey, ambos utilizando o programa Statistica 6.0. Para
a comparação entre as amostras e os efeitos dos tratamentos sobre os perfis globais de
11
voláteis, empregou-se a Análise de Componentes Principais (PCA), além das de
agrupamento hierárquico e visualizados na forma de Heat-maps, utilizando o programa
Statistica 6.0 e MetaboAnalyst 2.0.
4. RESULTADOS
4.1 Análise de Cor
A fim de melhor acompanhar o amadurecimento dos frutos, amostras de
morangos foram estudadas por meio de um registro visual da aparência dos frutos
(Figura 1). Na Figura 1a, observa-se o ponto de maturação branco em que os
morangos foram colhidos. As demais imagens (Figuras 1b, 1c e 1d) exemplificam o
amadurecimento dos frutos segundo o tratamento empregado em cada grupo: controle,
AIA e etileno, respectivamente.
Avaliando a aparência física, o experimento evidenciou o efeito da auxina (Figura
1c) com o grupo controle (Figura 1b). A aplicação do hormôno AIA nos morangos inibe
o amadurecimento do receptáculo, fazendo com que o processo de maturação seja
retardado. Ao contrário do que se observou para o grupo AIA, o resultado obtido para o
grupo etileno não nos permite concluir o efeito desse hormônio no morango, já que há
semelhança entre o tratamento com etileno (Figura 1d) e o grupo controle tratado
somente com água (Figura 1b).
12
Figura 1: Registro visual dos frutos de morangueiro no dia da colheira (dia zero) e ao longo do amadurecimento, após os tratamentos com ácido indol-3-acético (AIA) ou etileno. O grupo controle não foi submetido a tratamento hormonal.
a) Dia Zero
b) Controle
Dia 1 Dia 2 Dia 3 Dia 4
c) AIA
Dia 1 Dia 2 Dia 3 Dia 4
13
d) Etileno
Dia 1 Dia 2 Dia 3 Dia 4
Além do registro visual, a comparação entre a aparência dos frutos de cada
tratamento foi possível através do plano de cores do método Hunter. Os valores obtidos
de a e b para cada medição foram usados para calcular o Ângulo de Matiz (Hue.ºH)
segundo a fórmula apresentada anteriormente. O ºH está diretamente relacionado com
a cor da superfície dos frutos (Tabela 1).
De um modo geral, houve uma redução nos valores de ºH com o progresso da
maturação, porque os valores fornecidos pelo colorímetro de b se apresentaram
numericamente inferiores aos valores de a. Tal fato indica mais coloração vermelha do
que coloração amarela, evidenciando a mudança de cor do fruto para vermelho (estado
maduro).
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Tabela 1: Características físicas dos frutos ao decorrer do tempo estudado (quatro dias para maturação).
Característica Tratamento Dia
1 2 3 4
Luminosidade
(L)
Controle 81,32±4,95 57,94±9,21 47,81±6,76 37,09±4,03
73,53±6,78 73,29±7,45 51,57±15,68 45,60±5,21
70,77±8,07 68,34±8,11 38,89±11,01 39,51±6,64
AIA 72,27±4,90 76,97±10,58 73,43±26,33 69,70±18,68
61,49±13,30 71,92±16,91 86,93±9,37 50,53±7,26
71,12±13,97 72,87±23,61 93,40±9,85 50,91±10,59
Etileno 83,81±3,89 56,74±16,21 50,06±2,73 45,28±5,64
66,56±21,60 53,53±10,57 59,94±16,15 43,57±9,33
77,64±13,37 79,90±23,77 67,99±15,14 50,37±4,26
Ângulo Hue
(ºH)
Controle 97,53±6,99 26,58±24,27 27,49±5,57 16,64±4,76
92,17±4,89 58,13±14,85 55,05±31,77 15,80±18,65
75,53±20,40 55,21±42,01 29,42±11,20 11,29±15,44
AIA 102,09±4,99 90,51±10,81 60,12±40,87 37,30±20,85
46,08±20,97 49,56±18,75 75,12±27,25 19,68±1,82
61,09±26,29 60,36±36,34 94,48±2,78 24,06±6,68
Etileno 81,51±18,77 32,75±21,22 22,84±2,09 19,36±3,51
50,02±29,23 25,86±9,08 31,51±16,09 20,51±3,86
53,04±25,71 56,84±33,27 43,06±23,51 24,36±6,77
4.2 Respiração e Produção de Etileno
O cromatógrafo a gás detectou as amostras injetadas e, a partir da curva
traçada, as áreas de pico obtidas permitiram o cálculo da respiração e da produção de
etileno. A massa de cada amostra e o tempo de produção de etileno, a área padrão de
etileno e o volume do frasco, são variáveis necessárias para o cálculo desejado.
Para comparar os valores obtidos na produção de etileno e na produção de gás
carbônico entre os cinco dias pós-tratamento, pode-se verificar a mudança hormonal e
a taxa de respiração (Figura 2). A produção de etileno, independente do tratamento
utilizado, foi maior no quarto dia (Figuras 2a), enquanto a respiração dos frutos variou
de acordo com o tratamento empregado (Figuras 2b).
15
Figura 2: Gráficos da produção de etileno e de gás carbônico comparando os grupos controle, etileno e AIA. A imagem 2a corresponde a produção de etileno e a imagem 2b corresponde a produção de CO2 dos mesmos grupos tratados.
2a
2b
16
Nota-se que os valores para produção de etileno e gás carbônico oscilam
durante os dias e a concentração encontrada é alta demais para validar os resultados
obtidos.
4.3 Análise do Perfil de Compostos Voláteis
A partir da técnica SPME, nota-se o efeito dos tratamentos hormonais (AIA e
etileno) na formação dos compostos voláteis formadores de aroma. No tratamento com
auxina, 22 substâncias foram identificadas (Tabela 2) , enquanto no tratamento com
etileno, 25 substâncias (Tabela 3). A classificação dessas substâncias mostra a
diversidade de odores encontrados na composição do aroma do fruto, sendo que a
maioria dos compostos identificados em ambos tratamentos tem como precursores
ácidos graxos (sintetizados pelas vias da lipoxigenase e da beta oxidação).
17
Tabela 2: Compostos voláteis detectados por SPME-CG-MS em morangos da cultivar Fragaria x ananassa tratados com AIA
Nº Substância
Detectada
Descrição
do Odor*
Precursor Nº Substância
Detectada
Descrição
do Odor*
Precursor
1 Ciclohexanol Cânfora Aminoácidos 12 1-Hexen-3-ol Nota verde Ácidos
Graxos
2 Acetato de
hexila
Nota verde,
frutado
Ácidos
Graxos
13 (E) óxido-
linalool
(furanoid)
Floral Isoprenoides
3 Propionato de
2-hexen-1-ila
Nota verde
Ácidos
Graxos
14 Butirato de
metila
Frutado Ácidos
Graxos
4 Propionato de
3-hexen-1-ila
Nota verde,
frutado
Ácidos
Graxos
15 Acetato de 2-
hexen-1-ila
Nota verde Ácidos
Graxos
5 Linalool Cítrico,
floral
Isoprenoides 16 Propionato
de isobutila
Frutado Ácidos
Graxos
6 3-Pentanona Etéreo Ácidos
Graxos
17 2-Etil-1-
hexanol
(furanoid)
Cítrico Ácidos
Graxos
7 Tolueno Adocicado Aminoácidos 18 Benzaldeído Frutado,
amendoado
Isoprenoides
8 2-Hexenal Nota verde Ácidos
Graxos
19 α-terpineol Amadeirado Isoprenoides
9 Heptanoato de
metila
Frutado Ácidos
Graxos
20 Butenoato de
2-metila
- Ácidos
Graxos
10 (Z) óxido-
linalool
(furanoid)
Terroso Isoprenoides 21 Valerato de
4-metila
Frutado Ácidos
Graxos
11 Acetato de 3-
hexen-1-ila
Nota verde Ácidos
Graxos
22 1-Penten-3-
ona
Picante Ácidos
Graxos
* Fonte: http://www.thegoodscentscompany.com/; http://www.flavornet.org/flavornet.html;
http://www.pherobase.com/
18
Tabela 3: Compostos voláteis detectados por SPME-CG-MS em morangos da cultivar Fragaria x ananassa tratados com etileno
Nº Substância
Detectada
Descrição
do Odor*
Precursor Nº Substância
Detectada
Descrição
do Odor*
Precursor
1 Ciclohexanol Cânfora Aminoácidos 14 (E) óxido-
linalool
(furanoid)
Floral Isoprenoides
2 Acetato de
hexila
Nota verde,
frutado
Ácidos
Graxos
15 Butirato de
metila
Frutado Ácidos
Graxos
3 Propionato de
2-hexen-1-ila
Nota verde
Ácidos
Graxos
16 Acetato de 2-
hexen-1-ila
Nota verde Ácidos
Graxos
4 Propionato de
3-hexen-1-ila
Nota verde,
frutado
Ácidos
Graxos
17 Propionato
de isobutila
Frutado Ácidos
Graxos
5 Linalool Cítrico,
floral
Isoprenoides 18 2-Etil-1-
hexanol
(furanoid)
Cítrico Ácidos
Graxos
6 3-Pentanona Etéreo Ácidos
Graxos
19 α-terpineol Amadeirado Isoprenoides
7 Tolueno Adocicado Aminoácidos 20 Hexanoato
de metila
Frutado Ácidos
Graxos
8 Heptanoato de
metila
Frutado Ácidos
Graxos
21 Butirato de
(Z)-3-hexen-
1-ila
Nota verde Ácidos
Graxos
9 Formiato de
linalool
Herbal Isoprenoides 22 Acetato de
benzila
Floral Aminoácidos
10 (Z) óxido-
linalool
(furanoid)
Terroso Isoprenoides 23 γ-
decalactona
Frutado Ácidos
Graxos
11 4-Hexen-1-ol Nota verde Ácidos
Graxos
24 Butenoato de
2-metila
- Ácidos
Graxos
12 Acetato de 3-
hexen-1-ila
Nota verde Ácidos
Graxos
25 Valerato de
4-metila
Frutado Ácidos
Graxos
13 1-Hexen-3-ol Nota verde Ácidos
Graxos
* Fonte: thegoodscentscompany.com; flavornet.org/flavornet.html; pherobase.com
19
Empregando o software XLSTAT, a Análise de Componentes Principais (PCA)
permitiu uma visão geral das influências dos compostos voláteis detectados nas
amostras submetidas em cada tratamento. A PCA é uma técnica de análise
multivariada, que correlaciona variáveis e fornece combinações lineares destas,
nomeadas componentes principais (CPs). A PCA possibilita observar a relação entre
variáveis e diferenças entre as amostras, já que o resultado diverge entre os frutos
tratados com diferentes hormônios.
Tratando cada composto volátil detectado como uma variável, os CPs são
obtidos após a normalização dos dados. No caso, somente dos componentes 1 e 2
foram selecionados, por apresentaram a maior variabilidade entre as amostras ao
decorrer dos cinco dias estudados (Figura 3). A fim de melhor visualizar os compostos
voláteis envolvidos na análise, uma legenda de cores e letras foi criada de acordo com
sua classificação (Tabela 4).
Figura 3: Gráficos ACP biplot construídos através dos dados de compostos voláteis após normalização. As imagens 3a, 3b, 3c, 3d e 3e correspondem a influência dos compostos detectados nos dias 1, 2, 3, 4 e 5, após tratamento.
3a
20
3b
3c
21
3d
3e
22
Tabela 4: Legenda de cores dos compostos voláteis detectados
Letra Substância detectada Via
metabólica Letra Substância detectada Precursor
A Ciclohexanol Aminoácidos P (E) óxido-linalool
(furanoid)
Terpenoides
B Acetato de hexila Lipoxigenase Q Butirato de metila Β-oxidação
C Propionato de 2-hexen-
1-ila
Lipoxigenase R Acetato de 2-hexen-1-ila Lipoxigenase
D Propionato de 3-hexen-
1-ila
Lipoxigenase S Propionato de isobutila Β-oxidação
E (Z) óxido-linalool (furanoid)
Terpenoides T 2-Etil-1-hexanol
(furanoid)
Lipoxigenase
F Linalool Terpenoides U Benzaldeído Terpenoides
G 3-Pentanona Β-oxidação V α-terpineol Terpenoides
H Tolueno Aminoácidos W Hexanoato de metila Lipoxigenase
I 2-Hexenal Lipoxigenase X Butirato de (Z)-3-hexen-
1-ila
Lipoxigenase
J Heptanoato de metila Β-oxidação Y Acetato de benzila Aminoácidos
K Formiato de linalool Terpenoides Z γ-decalactona Β-oxidação
L (Z) óxido-linalool
(furanoid)
Terpenoides A1 Butenoato de 2-metila Β-oxidação
M 4-Hexen-1-ol Lipoxigenase B1 Valerato de 4-metila Β-oxidação
N Acetato de 3-hexen-1-ila Lipoxigenase C1 1-Penten-3-ona Β-oxidação
O 1-Hexen-3-ol Lipoxigenase
A interpretação do gráfico se dá pela observação da distribuição dos vetores no
plano xy, em que x corresponde ao CP1 ou F1, e y ao CP2 ou F2. Quando mais
distante do centro, ou seja, mais negativo ou positivo o vetor, maior a influência deste
na formação do aroma do grupo tratado mais próximo, sendo significativo para
diferenciar os grupos tratados e caracterizá-los.
Para exemplificar a análise realizada para cada grupo tratado, observa-se que no
dia 1 (Figura 3a), as três replicatas biológicas obtidas nos frutos tratados com AIA
encontram-se no primeiro quadrante do gráfico. Consequentemente, os compostos
voláteis (D, F, I) detectados no mesmo quadrante possuem maior influência na
formação do aroma desse grupo no dia 1. Ao mesmo tempo, os compostos voláteis (K,
23
M, N, O) detectados no quarto quadrante do gráfico apresentam menor ou escassa
influência na formação do aroma desse mesmo grupo. Além disso, ressalta-se que
quanto maior o vetor, maior ainda essa influência.
Para verificar a influência dos tratamentos na produção de compostos voláteis,
observa-se a distribuição das variáveis nos gráficos de cada um dos cinco dias. Na
Figura 3a, correspondente ao primeiro dia após tratamento, nota-se que propionato de
3-hexen-1-ila (D), linalool (F) e 2-hexanal (I) são os principais metabólitos que
compreendem a diferenciação do grupo tratado com AIA, enquanto formiato de linalool
(K), 4-hexen-1-ol (M), acetato de 3-hexen-1-ila (N) e 1-hexen-3-ol (O) são os
metabólitos que melhor caracterizam o grupo etileno.
Na Figura 3b, equivalente ao segundo dia, os principais metabólitos encontrados
no tratamento com AIA foram: ciclohexanol (A) e acetato de 3-hexen-1-ila (N), enquanto
no tratamento com etileno foram: acetato de hexila (B) e propionato de 2-hexen-1-ila
(C). Já na Figura 3c, do terceiro dia, temos para o grupo AIA a influência de: 3-
pentanona (G), tolueno (H) e heptanoato de metila (J), enquanto para o grupo etileno:
linalool (F) e acetato de 2-hexen-1-ila (R). No quarto dia (Figura 3d), os compostos mais
influentes no tratamento com AIA foram: ciclohexanol (A), 2-hexenal (I) e acetato de 2-
hexen-1-ila (R), enquanto no tratamento com etileno foram: heptanoato de metila (J),
butirato de metila (Q) e propionato de isobutila (S). Por fim, no quinto e último dia
(Figura 3e), houve grande influência dos compostos propanoato de trans-hex-2-enila
(C), (Z) óxido-linalool furanoid (L) e butanoato de metila (Q) no tratamento com AIA e no
tratamento com etileno não se pode afirmar, visto que as triplicatas biológicas se
encontram em quadrantes diferentes e houve grande variação em relação a CP2 ou F2.
5. DISCUSSÃO
Mesmo que a diferenciação entre frutos climatéricos e não-climatéricos foi
estabelecida há anos, a ciência pós colheita ainda contém pouco conhecimento sobre
os frutos não-climatéricos. O papel de hormônios vegetais nessa classe está sendo
estudada pouco a pouco, a fim de agregar mais conteúdo sobre o processo de
amadurecimento das espécies envolvidas (CHERIAN et al., 2014).
24
Explicitamente, foi demonstrado que as auxinas estimulam a expansão do
receptáculo durante o desenvolvimento do morango e, posteriormente, inibem o
amadurecimento do fruto (GIVEN et al., 1988). À auxina, também vincula-se o papel de
repressor do amadurecimeto, a partir da descoberta de que a aplicação exógena da
auxina diminui a expressão de diversos genes modificadores da parede celular
(FIGUEROA et al., 2009; VILLARREAL et al., 2009).
Ao contrário das auxinas, pouco se sabe sobre o papel do etileno em frutos não-
climatéricos. Apesar de produzirem concentrações baixas desse hormônio, um padrão
característico de produção de etileno foi relatado em diferentes estágios de
amadurecimento de morangos, contendo uma produção elevada em frutos verdes,
diminuida em frutos brancos e novamente elevada em frutos vermelhos (maduros)
(PERKINS-VEAZIE et al., 1996; IANNETTA et al., 2006). Ainda, alguns genes foram
relacionados a sua produção e foram estudados em morangueiros: genes ACO
(FaACO1 e FaACO2), genes ETR do tipo I (FaEtr1 e FaErs1) e tipo II (FaEtr2)
(TRAINOTTI, et al., 2005). Diferentemente dos estudos acima, uma parcela dos poucos
estudos encontrados na literatura sobre o tema buscam justificar ou relacionar a ação
de etileno em frutos não-climatéricos de modo semelhante aos frutos climatéricos. Uma
das descobertas mais recentes sustenta a ideia de que ambas as classes
possivelmente compartilham uma via regulatória comum modulada pelo etileno
(MERCHANTE et al., 2013).
Assim, com base nos resultados, podemos comprovar que, visualmente,
somente o efeito do AIA sobre os frutos é percebido (Figura 1). Há um aparente retardo
no processo de transição entre fruto branco e fruto vermelho nos frutos tratados com
AIA, ou seja, há maior tempo para se atingir o ponto maduro (coloração vermelha) do
fruto. Tal fato também é evidenciado na Tabela 1, uma vez que os valores para Ângulo
Hue (ºH) do tratamento com AIA, em sua maioria, são maiores que os demais,
indicando que a coloração dos frutos é mais distante da coloração vermelha. O
amadurecimento retardado também foi observado por Purgatto et al. ao analisar fatias
de bananas infiltradas com auxina. Por outro lado, ao contrário do grupo AIA,
observando somente a tabela não se pode concluir o efeito do etileno nos frutos, já que
25
os valores encontrados para os parâmetros são próximos aos valores do grupo
controle.
Discorrendo sobre a análise de compostos voláteis, o estudo estatístico para
construção dos gráficos da PCA (Figura 3) foi fundamental para relacionar as
substâncias mais influentes com o tratamento empregado. O retardo no processo de
amadurecimento exercido com a asperção da auxina, além de ser notável na análise de
cor, também pode ser explicado pela emissão de substâncias voláteis formadoras do
aroma.
Ao decorrer dos cinco dias pós-tratamento, percebe-se que há um predomínio na
emissão de compostos C6 no primeiro e no segundo dia (Figuras 3a e 3b) dos frutos do
grupo AIA, implicando na maior atuação de aromas com notas verdes, os quais são
importantes para a caracterização do fruto imaturo. A formação de metabólitos C6
derivados das funções orgânicas aldeído e álcool podem ser melhor caraxterizadas em
cada dia, avaliando as alterações na expressão das enzimas conversoras hidroperóxido
liase (HPL) e álcool desidrogenase (ADH), respectivamente. Assim como o grupo AIA,
percebe-se um comportamento distinto dos frutos do grupo etileno, evidenciado pela
diferente localização em relação ao grupo controle no plano xy dos gráficos da PCA. No
terceiro e no quarto dia (Figuras 3c e 3d), o grupo etileno expressou maiores
concentrações de substâncias derivadas de isoprenoides e ácidos graxos, que podem
estar relacionadas com a resposta ao amadurecimento de modo distinto.
Não foi observado um efeito pronunciado dos tratamentos hormonais sobre os
níveis de etileno e os níveis respiratórios, quando os perfis são comparados aos do
grupo controle. Os resultados estão em acordo com a literatura (KLUGE et al. 2002) e
sugerem que ambos hormônios não influem nestes parâmetros do amadurecimento, o
que pode ser considerado interessante do ponto de vista do uso de ambos os
hormônios para a modulação de outros parâmetros do amadurecimento.
Assim, os resultados mostram claramente que tanto o AIA quanto etileno são
capazes de modular a síntese de compostos voláteis no morango. Como citado
anteriormente, há pouca informação a respeito do papel do etileno no amadurecimento
de frutos não-climatéricos como o morango, tanto que, por muito tempo, este hormônio
26
foi até mesmo reconhecido como pouco relevante para o amadurecimento de frutos
não-climatéricos (KLEE 2002).
6. CONCLUSÃO
As análises realizadas permitem concluir que ambos os hormônios estudados
(AIA e etileno) contribuem para o processo de amadurecimento do morango, seja
influenciando na síntese de compostos voláteis ou na alteração da coloração dos frutos.
Diferentemente do AIA, o etileno não possui um papel muito bem elucidado, porém os
resultados obtidos indicam que o etileno exerce influência na formação do aroma no
morango. Os compostos que foram mais afetados foram os ésteres, particularmente os
derivados da via de lipoxigenase (C6 voláteis). Compostos importantes como o acetato
de hexila, descrito como um composto de impacto no aroma do morango, foram
bastante afetados por ambos os tratamentos.
A fim de complementar e aprofundar o tema do processo de amadurecimento de
frutos não-climatéricos, estudos sobre os níveis de expressão gênica de enzimas
ligadas a formação de compostos voláteis podem auxiliar em uma melhor especificação
dos resultados, assim como estudos que empregam outras ferramentas de alto
rendimento (proteômica, transcriptômica e metabolômica, por exemplo).
27
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