UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO JOÃO OTÁVIO CAFFARENA...
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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
ESCOLA DE ENGENHARIA DE LORENA
JOÃO OTÁVIO CAFFARENA FILIZZOLA
Síntese e caracterização de nanopartículas de Fe3O4, funcionalizadas com
polímeros catiônicos, e sua aplicação em ensaios de separação de microalgas
Chlorella minutissima via magnetoforese
Lorena 2015
JOÃO OTÁVIO CAFFARENA FILIZZOLA !
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Síntese e caracterização de nanopartículas de Fe3O4, funcionalizadas com
polímeros catiônicos, e sua aplicação em ensaios de separação de microalgas
Chlorella minutissima via magnetoforese
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Monografia apresentada à Escola de Engenharia de Lorena da Universidade de São Paulo para obtenção do título de Engenheiro Industrial Químico.
Orientadora: Profa. Dra. Simone de Fátima Medeiros
Versão Original
Lorena 2015
AUTORIZO A REPRODUÇÃO E DIVULGAÇÃO TOTAL OU PARCIAL DESTE TRABALHO, POR QUALQUER MEIOCONVENCIONAL OU ELETRÔNICO, PARA FINS DE ESTUDO E PESQUISA, DESDE QUE CITADA A FONTE
Ficha catalográfica elaborada pelo Sistema Automatizadoda Escola de Engenharia de Lorena,
com os dados fornecidos pelo(a) autor(a)
Filizzola, João Otávio Caffarena Síntese e caracterização de nanopartículas de Fe3O4,funcionalizadas com polímeros catiônicos, e suaaplicação em ensaios de separação de microalgasChlorella minutissima via magnetoforese / JoãoOtávio Caffarena Filizzola; orientadorA Simone deFátima Medeiros. - Lorena, 2015. 80 p.
Monografia apresentada como requisito parcialpara a conclusão de Graduação do Curso de EngenhariaIndustrial Química - Escola de Engenharia de Lorenada Universidade de São Paulo. 2015OrientadorA: Simone de Fátima Medeiros
1. óxido de ferro. 2. Nanopartículas. 3. Polímeros.4. Microalgas. 5. Magnetoforese. I. Título. II.Medeiros, Simone de Fátima, orient.
À Deus que iluminou o meu caminho. À minha família por sempre estar ao meu lado e acreditar em mim.
AGRADECIMENTOS
À Deus, por tudo em minha vida.
À Profa. Dra. Simone de Fátima Medeiros pela orientação e atenção durante este
projeto. Ao Prof. Dr. Amilton Martins dos Santos por sua atenção, pelas
sugestões, apoio a este trabalho e a disponibilização de seu laboratório e
equipamentos que possibilitaram a conclusão deste projeto. Ao Prof. Dr. Messias
Borges Silva pela colaboração e disponibilização de material para este trabalho.
Aos amigos e colegas Rodrigo, Graziele, Thaíssa e Jéssica pela colaboração nos
estudos e disponibilização de seus materiais que possibilitaram o sucesso deste
trabalho. Ao Prof. Dr. Sérgio Paulo Campana Filho e seus alunos também pela
disponibilização de materiais utilizados.
A todos os colegas e amigos membros do Laboratório de Polímeros por seu
apoio, amizade, auxílio e atenção, especialmente à Gizelda pelo carinho, atenção,
amizade e auxílio na realização dos trabalhos de pesquisa do laboratório.
À colega e amiga Carla Loures pelo auxílio e atenção a este projeto, e pela
disponibilidade para reuniões e importantes sugestões que possibilitaram o
sucesso deste trabalho.
A todos os professores que me auxiliaram com a disponibilização de seus
equipamentos. Aos técnicos e professores que me auxiliaram na operação dos
equipamentos.
À minha família, amigos e todos que me apoiaram e me desejaram sucesso nesta
e em todas as etapas de minha vida.
“Se, a princípio, a ideia não é absurda, então não há esperança para ela” Albert Einstein
RESUMO
FILIZZOLA, J. O. C. Síntese e caracterização de nanopartículas de Fe3O4,
funcionalizadas com polímeros catiônicos, e sua aplicação em ensaios de
separação de microalgas Chlorella minutissima via magnetoforese.
Monografia (Trabalho de Conclusão de Curso em Engenharia Industrial Química)
– Escola de Engenharia de Lorena, Universidade de São Paulo, 2015.
Atualmente, as microalgas vêm sendo exploradas como fontes de biomoléculas e
de matérias primas em processos de desenvolvimento de diversos bioprodutos,
como biodiesel, bioetanol, biogás, suplementos nutricionais, entre outros. Estes
micro-organismos apresentam alto acúmulo de biomoléculas em sua estrutura,
alta taxa de crescimento e fácil cultivo em diversos meios. As microalgas do
gênero Chlorella, por exemplo, apresentam elevado acúmulo de lipídeos, o que
tem sido explorado na produção de biodiesel. Apesar disso, o processamento das
microalgas apresenta algumas etapas complexas e demoradas, dificultando a
redução de seu custo a níveis competitivos. A separação da biomassa do meio
representa em média 20-30% do custo do processo, sendo o tempo total de
separação um dos principais responsáveis pelo custo elevado. O tempo longo de
separação representa, portanto, a principal desvantagem das técnicas
convencionais, como centrifugação, filtração e floculação. Dentro desse contexto,
a separação magnética vem ganhando destaque devido à sua alta eficiência e
curto tempo de separação. Neste trabalho, propôs-se a síntese e caracterização
de nanopartículas magnéticas revestidas com polímeros catiônicos e seu uso na
separação de biomassa de microalgas Chlorella minutíssima via magnetoforese.
Inicialmente, nanopartículas de óxido de ferro funcionalizadas com poli(2-
(dimetilamino) metacrilato de etila-co-acrilato de butila)/P(qDMAEMA10-co-BA4)
quaternizado de baixa massa molar foram preparadas e caracterizadas e sua
influência na recuperação das microalgas foi avaliada. Em seguida, um
procedimento semelhante foi adotado para a síntese e caracterização de
nanopartículas de Fe3O4 funcionalizadas com quitosana (grau de desacetilação =
65%) e os resultados referentes à separação das algas foram comparados com
aqueles previamente obtidos com as nanopartículas revestidas com o copolímero
quaternizado. A separação das algas foi avaliada, ainda, na presença de
nanopartículas de Fe3O4 revestidas com poli(N-vinilcaprolactama) (PNVCL) de
baixa massa molar e de nanopartículas de Fe3O4 não funcionalizadas. Os
resultados mostraram que as nanopartículas de óxido de ferro revestidas com
P(qDMAEMA10-co-BA4) apresentaram maior eficiência de separação, chegando a
93%, com uma capacidade de recuperação de até 4,91 g-biomassa seca/g-
nanopartículas, em um intervalo de tempo muito menor do que os relatados na
literatura, empregando-se outras técnicas de separação.
Palavras-chave: polímeros catiônicos; óxido de ferro; nanopartículas; magnetoforese; funcionalização; microalgas; P(qDMAEMA10-co-BA4); quitosana; PNVCL.
ABSTRACT
FILIZZOLA, J. O. C. Synthesis and characterization of cationic polymer-coated magnetic nanoparticles and their application on Chlorella
minutissima harvesting via magnetophoresis. Monograph (Chemical Engineering Final Project) – School of Engineering of Lorena, University of São Paulo, 2015. Nowadays, microalgae have been explored as a source of biomolecules and raw
materials in process to obtain a diverse number of bio-products, such as biodiesel,
bioethanol, biogas, food supplements and others. These microorganisms can
accumulate a high content of biomolecules in their structure, also they present
elevated growth rates and they are easy to cultivate in various media. Chlorella
microalgae, for instance, accumulate high contents of lipids what has been
explored for biodiesel production. Nevertheless, processes involving microalgae
still present some complex and expensive steps, what difficults the production of
biofuels at competitive prices. Biomass harvesting represents 20-30% of the
process costs and the time to harvest the cells one of the main issues that
increases the price. Harvesting long time of processing represents, therefore, the
main disadvantage of the conventional techniques, such as centrifugation,
flocculation and filtration. For that matter, magnetic harvesting has turned up as an
interesting technique since it results in high efficiency harvesting and low
separation times. In the present work, synthesis and characterization of magnetic
cationic polymer-coated nanoparticles is proposed and their further application on
Chlorella minutissima biomass harvesting via magnetophoresis. Firstly, iron oxide
nanoparticles coated with low molar mass quaternized poly(2-dimethylaminoethyl
methacrylate-co-butyl acrylate)/ P(qDMAEMA10-co-BA4) were prepared and
characterized and their influence of the recovery of microalgae cells was
evaluated. Similarly, iron oxide nanoparticles were prepared and functionalized
with chitosan (degree of deacetylation = 65%) and the results of microalgae
harvesting were compared to those previously obtained with the quaternized
copolymer coated nanoparticles. Microalgae harvesting was as well evaluated in
the presence of low molar mass poly(N-vinylcaprolactam)/PNVCL functionalized
iron oxide nanoparticles and in the presence of non-functionalized iron oxide
nanoparticles. Results showed that P(qDMAEMA10-co-BA4)-coated nanoparticles
presented higher harvesting efficiency, reaching 93%, with recovery capacity up to
4,91 g-dry cell weight/g-nanoparticles in a much lower time than found in literature
for other harvesting techniques.
Key-words: cationic polymer; iron oxide; nanoparticles; magnetophoresis; functionalization; microalgae; P(qDMAEMA10-co-BA4); chitosan; PNVCL.
LISTA DE FIGURAS
Figura 3.1 – Caráter anfiprótico do óxido de ferro................................................ 25 Figura 3.2 - Esquema de partículas revestidas por surfatantes: (a) camada simples; (b) camada dupla.................................................................................... 26 Figura 3.3 - Esquema representativo da repulsão estérica entre as partículas revestidas por um surfatante................................................................................. 28 Figura 3.4 – Representação da dupla camada (camada de Stern e camada difusa) na superfície de uma partícula de carga superficial líquida positiva..................... 29 Figura 3.5 - Esquema de repulsão eletrostática entre duas partículas revestidas por moléculas carregadas positivamente.............................................................. 30
Figura 3.6 - Estrutura química da quitosana......................................................... 31
Figura 3.7 - Estrutura química do copolímero P(qDMAEMA10-co-BA4)-CTPPA... 32 Figura 3.8 – Estrutura química do PNVCL com terminação hidroxila proveniente do mercaptoetanol..................................................................... 33 Figura 5.1 – Efeito do pH do meio sobre o diâmetro das nanopartículas magnéticas não funcionalizadas (NP-1) (a) e funcionalizadas com diferentes concentrações de P(qDMAEMA10-co-BA4) (NP-2 – NP-4) (b-d)..................... 49 Figura 5.2 – Efeito da variação do polímero catiônico utilizado sobre o diâmetro das nanopartículas em diferentes valores de pH: NP-4 (a), NP-5 (b) e NP-6 (c)........................................................................................................ 51 Figura 5.3 – Difratogramas de raios X das nanopartículas de óxido de ferro: não funcionalizadas (a), funcionalizadas com P(qDMAEMA10-co-BA4) (b-d), com quitosana (e) e com PNVCL (f).............................................................. 52 Figura 5.4 – Micrografias de MEV do óxido de ferro não funcionalizado (NP-1): magnificação 1000x (a) e 500x (b)................................................................ 53 Figura 5.5 – Micrografias de MEV das nanopartículas funcionalizadas com P(qDMAEMA10-co-BA4), obtidas nas reações NP-2: magnificação 1000x (a) e 3000x (b); NP-3: magnificação 1000x (c) e 3000x (d); NP-4: magnificação 1000x (e) e 3000x (f)..................................................................................... 54 Figura 5.6 – Micrografias de MEV das nanopartículas funcionalizadas com quitosana (reação NP-5): magnificação 1000x (a) e 3000x (b)............................ 55 Figura 5.7 – Micrografias de MEV das nanopartículas funcionalizadas com PNVCL (reação NP-6): magnificação 1000x (a) e 3000x (b)............................................. 56
Figura 5.8 – Relação entre a concentração de biomassa e a absorbância da suspensão das microalgas............................................................................ 57 Figura 5.9 – Efeito da variação do pH sobre a carga superficial das microalgas (potencial zeta)...................................................................................................... 58 Figura 5.10 – Relação entre a dosagem de nanopartículas nos ensaios de separação e a eficiência de separação obtida............................................... 59 Figura 5.11 – Esquema dos ensaios de separação magnética da Chlorella minutissima (a), microscopia ótica das suspensão de microalgas (b) e microscopia ótica da floculação das nanopartículas sobre as células microalgais (c).............................................................................................. 61 Figura 5.12 – Efeito da funcionalização do óxido de ferro e da concentração de copolímero empregada nas sínteses sobre a eficiência de separação das microalgas Chlorella em diferentes pH. NP-1 (a), NP-2 (b), NP-3 (c) e NP-4 (d)................................................................................................................. 62 Figura 5.13 - Efeito da funcionalização do óxido de ferro e da concentração de P(qDMAEMA10-co-BA4) empregada nas sínteses sobre a capacidade de recuperação das microalgas Chlorella em diferentes pHs. NP-1 (a), NP-2 (b), NP-3 (c) e NP-4 (d)..................................................................................................... 64 Figura 5.14 - Efeito da variação do polímero catiônico utilizado sobre a eficiência de separação das microalgas em diferentes valores de pH: NP-4 (a), NP-5 (b) e NP-6 (c)....................................................................................... 67 Figura 5.15 - Efeito da variação do polímero catiônico utilizado sobre a capacidade de recuperação das microalgas em diferentes valores de pH: NP-4 (a), NP-5 (b) e NP-6 (c)................................................................................. 68
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LISTA DE QUADROS E TABELAS
Quadro 3.1. Comparação entre os parâmetros e resultados obtidos por meio das principais rotas sintéticas por via química............................................................. 22 Tabela 3.1. Composição do meio f/2 sem sílica adaptado................................... 36 Tabela 5.1 – Efeito da concentração de copolímero no diâmetro (DP) e índice de polidispersidade (IPD) das nanopartículas revestidas com P(qDMAEMA10-co-BA4)....................................................................................................................... 47 Tabela 5.2 – Efeito da quitosana e da PNVCL no diâmetro (DP) e índice de polidispersidade (IPD) das nanopartículas de Fe3O4............................................ 48 Tabela 5.3 – Comparação dos resultados obtidos quanto ao aumento do volume nos ensaios de separação................................................................ 70
SUMÁRIO
!1.! INTRODUÇÃO!............................................................................................................................................!14!2.! OBJETIVOS!..................................................................................................................................................!17!2.1.!Objetivos!específicos!..............................................................................................................................!17!3.! REVISÃO!BIBLIOGRÁFICA!...................................................................................................................!18!3.1.!Ferrofluidos!...............................................................................................................................................!18!3.1.1.! Óxidos!de!ferro!e!ferritas!..........................................................................................................!20!3.1.2.! Magnetita!e!maghemita!–!estrutura!e!propriedades!magnéticas!............................!20!3.1.3.! Tamanho!de!partículas!e!polidispersidade!.......................................................................!21!3.1.4.! Métodos!de!obtenção!de!nanopartículas!de!óxido!de!ferro!.......................................!22!3.1.4.1.! Co[precipitação!.........................................................................................................................!23!3.1.5.! Modificação!de!superfície!e!estabilidade!coloidal!..........................................................!24!3.1.5.1.! Estabilização!estérica!.............................................................................................................!27!3.1.5.2.! Carga!de!superfície!..................................................................................................................!29!3.1.6.! Quitosana!.........................................................................................................................................!30!3.1.7.! Polímeros!de!massa!molar!controlada!................................................................................!31!3.1.8.! Poli(N[vinilcaprolactama)!........................................................................................................!32!3.2.!Microalgas!...................................................................................................................................................!33!3.2.1.! Métodos!de!cultivo!.......................................................................................................................!36!3.2.2.! Colheita!(separação)!...................................................................................................................!37!3.2.2.1.! Separação!magnética!(magnetoforese)!..........................................................................!37!3.2.3.! Aplicações!da!biomassa!produzida!por!microalgas!.......................................................!38!4.! MATERIAIS!E!MÉTODOS!......................................................................................................................!39!4.1.!Materiais!......................................................................................................................................................!39!4.2.!Síntese!das!nanopartículas!de!Fe3O4!funcionalizadas!com!P(qDMAEMA10[co[BA4)[CTPPA,!quitosana!e!PNVCL!..........................................................................................................................!39!4.3.1.! Espalhamento!dinâmico!de!luz!(DLS)!e!potencial!zeta!................................................!40!4.3.2.! Difratometria!de!raios!X!(DRX)!..............................................................................................!41!4.3.3.! Espectrometria!no!Infravermelho!(FTIR)!..........................................................................!41!4.3.4.! Microscopia!eletrônica!de!varredura!(MEV)!....................................................................!41!4.4.!Caracterização!da!biomassa!microalgal!de!Chlorella*minutissima!.....................................!42!4.4.1.! Análise!espectrofotométrica!de!densidade!ótica!............................................................!42!4.4.2.! Determinação!da!carga!superficial!das!microalgas!.......................................................!42!4.5.!Avaliação!da!eficiência!das!nanopartículas!de!óxido!de!ferro!na!separação!(colheita)!de!microalgas!Chlorella*minutissima!..................................................................................!43!4.5.1.! Determinação!da!concentração!de!nanopartículas!aplicada!nos!ensaios!(dosagem)!...........................................................................................................................................................!43!4.5.2.! Ensaios!de!separação!magnética!das!microalgas!...........................................................!43!4.5.3.! Eficiência!de!separação!e!capacidade!de!separação!......................................................!44!5.! RESULTADOS!E!DISCUSSÃO!...............................................................................................................!46!5.1.!Caracterização!das!nanopartículas!de!Fe3O4!funcionalizadas!com!P(qDMAEMA10[co[BA4),!quitosana,!PNVCL!e!não!funcionalizadas!.............................................................................!46!5.1.1.! Espalhamento!dinâmico!de!luz!(DLS)!das!nanopartículas!.........................................!46!5.1.2.! Efeito!do!pH!no!DP!das!nanopartículas!magnéticas!......................................................!48!5.1.3.! Difratometria!de!raios!X!............................................................................................................!52!5.1.4.! Morfologia!........................................................................................................................................!53!5.2.!Caracterização!da!biomassa!microalgal!de!Chlorella*minutissima!.....................................!56!5.2.1.! Análise!espectrofotométrica!de!densidade!ótica!............................................................!56!
5.2.2.! Carga!superficial!das!microalgas!...........................................................................................!57!5.3.!Ensaios!de!separação!das!algas!Chlorella*minutissima!utilizando!as!nanopartículas!magnéticas!..........................................................................................................................................................!58!5.3.1.! Interação!entre!as!nanopartículas!e!a!superfície!das!microalgas!(mecanismo!de!separação)!.....................................................................................................................................................!59!5.3.2.! Estudo!do!tipo!de!polímero!empregado!e!o!efeito!do!pH!............................................!66!5.3.3.! Efeito!do!volume!na!separação!magnética!........................................................................!69!6.! CONCLUSÃO!...............................................................................................................................................!71!7.! SUGESTÕES!DE!TRABALHOS!FUTUROS!........................................................................................!73!REFERÊNCIAS!....................................................................................................................................................!75!
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1. INTRODUÇÃO
!Ao longo dos últimos anos pesquisadores têm buscado fontes alternativas
aos combustíveis fósseis que sejam mais sustentáveis e, portanto, menos
agressivas ao meio ambiente. A utilização de combustíveis de fontes naturais
renováveis tem se mostrado como a principal alternativa para a redução da
dependência dos combustíveis fósseis. As fontes microbiológicas têm se
mostrado interessantes em diversos setores: químico, energético, farmacêutico,
biomédico, entre outros, devido, principalmente, ao seu potencial promissor como
fonte de biomoléculas e matérias primas substituintes de fontes não renováveis.
Devido à sua alta versatilidade e aplicabilidade, as microalgas vêm sendo
exploradas em pesquisas acadêmicas e na indústria como fontes de
biomoléculas, em destaque, pigmentos, biopolímeros, proteínas e lipídeos.
Algumas destas biomoléculas podem ser utilizadas como matéria prima para a
produção de biodiesel, bioetanol, gás de síntese, entre outros produtos (REIS et
al., 2014). Além disso, as microalgas vêm ganhando destaque devido às suas
vantagens em relação a outras fontes de matéria prima (plantas oleaginosas, por
exemplo) como a versatilidade quanto ao meio de cultivo, podendo ser cultivadas
até em resíduos agroindustriais e chorume, além de biorreatores fechados e
piscinas ou tanques abertos em terras não aráveis. Elas apresentam elevada taxa
de crescimento, sendo que a maior parte das espécies atinge seu máximo
acúmulo de lipídeos em 7-14 dias. Por fim, além de requererem menor quantidade
de água do que as culturas oleaginosas terrestres, elas podem acumular, em
massa, de 15-77% de lipídeos (CHISTI, 2007).
Alguns processos em escala industrial empregam esse tipo de
microorganismo, principalmente nas áreas de bioenergia, biorremediação e
nutrição (humana e animal). Algumas das aplicações de maior destaque das
microalgas e dos produtos gerados a partir delas estão na área energética, devido
a sua versatilidade e o caráter sustentável dos processos. Destacam-se nesta
área a produção de biodiesel, etanol, biogás, bio-hidrogênio, gás de síntese e o
carvão, produzido a partir da pirólise da biomassa microalgal (REIS et al., 2014) .
Os biocombustíveis de terceira geração já se mostram economicamente viáveis,
em alguns casos, e com produção que atinge a escala industrial (RAMARAJ et al.,
2015). Devido ao elevado acúmulo de lipídeos em diversas espécies, como
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Chlorella sp., destaca-se a produção de biodiesel a partir de triacilgliceróis
microalgais. O biodiesel de biomassa microalgal é obtido a partir de reações de
transesterificação dos lipídios extraídos de microalgas, ou seja, esses lipídios são
extraídos e reagidos com alcóois (metanol ou etanol) para a obtenção de ésteres
graxos de cadeia curta e glicerol (principal subproduto do processo).
Entretanto, algumas etapas de processos envolvendo microalgas ainda
tornam seus produtos combustíveis mais onerosos do que aqueles de outras
fontes, o que reduz sua competitividade. As etapas de cultivo e colheita
(separação) representam a maior porção dos custos processuais. Por essa
razão, o uso de microalgas em processos de produção como fonte de
biocombustíveis ainda não é considerado economicamente viável.
Ainda tomando-se a produção de biodiesel como exemplo, o processo
pode ser divido em 4 etapas: cultivo, colheita, extração de lipídios e
esterificação. A etapa de colheita representa pelo menos 20-30% do custo de
toda a produção do biocombustível (BARROS et al., 2015). Os desafios
relacionados a essa etapa são a baixa densidade celular no meio, a elevada
quantidade de água utilizada no processo, o tamanho reduzido das microalgas
e sua estabilidade em solução devido às cargas superficiais (MILLEDGE;
HEAVEN, 2013). Dessa forma, a utilização de técnicas eficientes de colheita
de biomassa torna-se essencial para a redução dos custos de produção de
biodiesel. Algumas das técnicas mais utilizadas ainda impossibilitam um
regime produtivo de biomassa de custo reduzido, seja devido ao gasto
energético para separação ou ao tempo necessário de processamento
(BARROS et al., 2015).
A utilização dos mais diversos tipos de moléculas na floculação, como
polímeros e nanopartículas, bem como de processos eletroquímicos, tem sido
uma das maneiras de aumentar a eficiência da separação celular e reduzir o
custo do processo. Tem-se também aplicado a combinação de técnicas para o
aumento da eficiência. Dentre os processos que têm sido foco de estudos de
separação de microalgas, o uso de partículas magnéticas, como as de óxido
de ferro, para a separação magnética, representa uma alternativa muito
eficiente e com curto tempo de processamento, o que tem tornado-a foco de
estudos recentes (REIS et al., 2014; BARROS et al., 2015).
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Trabalhos recentes revelam que o uso de nanopartículas de óxido de
ferro na separação magnética de biomassa de microalgas, via magnetoforese,
tem mostrado resultados eficientes, em termos de eficiência e tempo de
separação (TOH et al., 2014; HU et al., 2014). No entanto, um fator limitante
das nanopartículas magnéticas de óxido de ferro é a tendência a aglomeração
quando dispersas em um solvente, principalmente água. Tal aglomeração,
prejudica algumas de suas propriedades, como a área superficial das
partículas, por exemplo (MAHMOUDI et al., 2011; HAMLEY, 2003). Assim,
estas são comumente revestidas ou modificadas por agentes ligantes, tais
como surfatantes, quelantes, polímeros, etc (HORÁK et al., 2007; BORLIDO et
al., 2013).
Neste trabalho, propõe-se, portanto, a utilização de nanopartículas
magnéticas, funcionalizadas com um copolímero catiônico, como agentes de
floculação de microalgas do gênero Chlorella e a obtenção de resultados
quantitativos quanto a eficiência destas nanopartículas na separação de
microalgas.
As nanopartículas magnéticas de óxido de ferro revestidas com um
copolímero quaternizado de baixa massa molar de poli(2-(dimetilamino)
metacrilato de etila-co-acrilato de butila)/P(qDMAEMA10-co-BA4) obtido via
polimerização controlada RAFT foram caracterizadas e empregadas em
ensaios de magnetoforese. Para um estudo comparativo, nanopartículas de
óxido de ferro funcionalizadas com outros polímeros catiônicos (quitosana e
poli(N-vinilcaprolactama)) e não funcionalizadas, também foram submetidas a
ensaios de magnetoforese.
Todos as nanopartículas sintetizadas foram caracterizadas em termos
de composição química, cristalinidade, morfologia, diâmetro médio e índice de
polidispersidade – IPD.
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2. OBJETIVOS
O objetivo principal deste trabalho consistiu na avaliação do efeito do
uso de nanopartículas magnéticas de Fe3O4 funcionalizadas com diferentes
polímeros em ensaios de separação magnética de microalgas Chlorella
minutissima. Empregou-se três polímeros diferentes como agentes de
revestimento e funcionalização das nanopartículas magnéticas. Os resultados
foram comparados com aqueles obtidos utilizando-se nanopartículas de Fe3O4
não funcionalizadas.
2.1. Objetivos específicos
Para que o objetivo principal fosse atingido, os objetivos específicos
tiveram que ser alcançados:
• Síntese de nanopartículas magnéticas com os três polímeros propostos
e nanopartículas não funcionalizadas e sua caracterização quanto ao
diâmetro, índice de polidispersidade, cristalinidade e morfologia;
• Emprego das nanopartículas em ensaios de separação magnética de
microalgas Chlorella minutissima;
• Estudo dos mecanismos de interação entre as nanopartículas e as
microalgas;
• Estudo do efeito da funcionalização das nanopartículas em comparação
a não funcionalização; estudo da influência do tipo de polímero
empregado; estudo do efeito do pH do meio no tamanho e também na
separação; estudo do efeito do volume na eficiência de separação e
capacidade de recuperação.
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3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
!3.1. Ferrofluidos
!Colóides magnéticos, também chamados de ferrofluidos, são suspensões
coloidais de nanopartículas magnéticas, com diâmetro aproximado de 10 nm, com
apenas um domínio magnético, em um solvente adequado, que pode ser polar ou
apolar (SCHERER; FIGUEIREDO NETO, 2005).
O uso de ferrofluidos em diversas aplicações vem ganhando destaque,
desde os anos 60, devido, principalmente, aos resultados obtidos por Stephen
Papell na National Aeronautics and Space Administration (NASA). Papell (1965)
utilizou um moinho de bolas para a redução do tamanho das partículas metálicas
e de óxidos, tendo Fe3O4 como a mais satisfatória, com adição de um solvente
(heptano) e um surfatante (ácido oléico) para estabilizar as partículas sub-
micrométricas. A estabilização das nanopartículas no meio, tendo-se a superfície
do óxido de ferro recoberta com ácido oleico, deve-se às fortes interações com o
solvente. Devido à grande área superficial em relação à sua massa, as partículas
atraem moléculas do solvente por tensão superficial ou adsorção, o que faz com
que elas não precipitem (PAPELL, 1965).
Massart (1981) relatou um método para produzir ferrofluidos em meio
alcalino ou ácido. Nanopartículas de magnetita (<20 nm) foram sintetizadas por
meio da adição de uma base em uma solução aquosa de sais férrico (Fe+3) e
ferroso (Fe+2) em proporção estequiométrica (2:1), sob agitação, em atmosfera
livre de oxigênio, e temperatura ambiente, para obter um precipitado constituído
de nanopartículas esféricas (Fe3O4). A estabilidade coloidal foi atingida em pH
extremo. As partículas foram peptizadas (estabilizadas elestrostaticamente por
íons de cargas opostas àquelas na superfície do óxido, formando-se uma camada
difusa) pela adição de hidróxido de tetrametilamônio (a superfície do óxido
apresenta grupos hidroxila desprotonados que atraem os cátions
tetrametilamônio, o que leva a repulsão das cargas superficiais positivas das
partículas, ferrofluido alcalino) ou ácido perclórico (a superfície do óxido apresenta
grupos hidroxila protonados que atraem os ânions perclorato, o que leva a
repulsão entre cargas superficiais negativas das partículas, ferrofluido ácido).
!
!
19
A estabilidade coloidal depende da contribuição térmica e do balanço entre
interações repulsivas (estéricas e eletrostáticas) e atrativas (van der Waals e
dipolo-dipolo) (SCHERER; FIGUEIREDO NETO, 2005). Na ausência de alguma
molécula na superfície, as nanopartículas de óxido de ferro se aglomeram devido
às interações hidrofóbicas de van der Waals, causando a desestabilização do
colóide (GUPTA; GUPTA, 2005). Isso porque elas tendem a diminuir sua
superfície total, ou energia interfacial (MAHMOUDI et al., 2011). Estes
aglomerados exibem forte interação dipólo-dipólo magnético e comportamento
ferromagnético, o que faz com que eles magnetizem partículas vizinhas e
aumentem mais ainda o próprio diâmetro, bem como de outras partículas
(HAMLEY, 2003).
Estas interações e sua contribuição à estabilidade coloidal do sistema
dependem do tipo de molécula empregada na modificação de superfície. Os
ligantes podem ser moléculas carregadas (por exemplo, citratos e sais
quaternários de amônio), surfatantes (por exemplo, ácidos graxos de cadeia
longa) ou polímeros naturais e sintéticos (por exemplo, poli(ácido acrílico) (PAA),
poli(álcool vinílico) (PVA), dextrana e quitosana) (BOURGEAT-LAMI; LANSALOT,
2010).
Associado a esse controle de tamanho, está o tipo de propriedades
magnéticas observadas para o material. Quando as partículas exibem
propriedades superparamagnéticas, observa-se um comportamento magnético
uniforme no fluido, como se houvesse uma única fase, quando um campo
magnético externo é aplicado (BOURGEAT-LAMI; LANSALOT, 2010).
Hu et al. (2013) utilizaram nanopartículas de Fe3O4 sem modificação de
superfície em ensaios de colheita de microalgas Nannochloropsis maritima em
comparação a outras técnicas de separação físicas e químicas, como floculação,
coagulação e associações entre duas técnicas distintas (floculação e
microfiltração). Em seu trabalho, eles demonstram a elevada eficiência de colheita
(97,5%) da separação magnética e o baixo tempo de processamento requerido
por esta técnica, além da possibilidade de reciclo das nanopartículas. Toh et al.
(2014) também realizaram ensaios de colheita de microalgas, utilizando-se
Chlorella sp., e mostraram uma comparação entre nanopartículas de óxido de
ferro sem modificação com aquelas modificadas, separadamente, por dois
polímeros: quitosana e cloreto de poli(dialildimetilamônio) (PDDA). Apenas em pH
!
!
20
bastante ácido (pH 2), as partículas não modificadas apresentaram elevada
eficiência de separação (93.1%), entretanto esta faixa de pH pode levar à lise
celular. Partículas modificadas com PDDA apresentaram maior potencial para
aplicações deste gênero, por apresentarem cargas positivas de superfície
independentes do pH do meio.
3.1.1. Óxidos de ferro e ferritas
Segundo definição, os óxidos de ferro são estruturas de fórmula química
FexOyHz, com z = 0, na maioria dos casos. As ferritas abrangem uma família de
fórmula MO . Fe2O3. Os átomos M podem ser metais de transição como Mn, Co,
Zn, Cu e Ni, que são os mais típicos de estruturas de ferritas. No caso da
magnetita o átomo M é o próprio Fe, na forma de seu cátion bivalente (Fe+2),
sendo esta também da família das ferritas (HORÁK et al., 2007). As ferritas de
Co, Cu, Ni, Zn e Mn, apesar de apresentarem elevada magnetização de
saturação (Ms), não apresentam biocompatibilidade (BORLIDO et al., 2013).
Nas últimas décadas, diferentes tipos de óxidos de ferro vêm sendo
investigados devido a algumas de suas características, como a elevada saturação
de magnetização e a biocompatibilidade. No campo das nanopartículas a
maghemita, γ-Fe2O3, e a magnetita, Fe3O4, são os tipos mais promissores em
suas estruturas de domínio único, em faixas de 5-20 nm de diâmetro
(SCHWERTMANN; CORNELL, 1991). Esses dois tipos são os únicos que
apresentam elevada saturação magnética, estabilidade química em condições
fisiológicas e baixa toxicidade, além de fácil e economicamente viável
reprodutibilidade de síntese (FIGUEROLA et al., 2010). A magnetita e a
maghemita podem apresentar, por exemplo, saturação magnética até duas
ordens mais elevada do que outros óxidos de ferro (80-100 A.m2/kg) (CORNELL;
SCHWERTMANN, 1997).
3.1.2. Magnetita e maghemita – estrutura e propriedades magnéticas
A magnetita, Fe3O4 (FeO.Fe2O3), é um óxido preto ferrimagnético com
estrutura cristalina de espinélio invertido, contendo ambos os íons Fe+3 e Fe+2. A
maghemita, γ-Fe2O3, um óxido de propriedades bastante semelhantes as da
magnetita (proveniente da oxidação da magnetita), é um óxido marrom
!
!
21
avermelhado, também ferrimagnético, porém com zonas de deficiência de cátions
(CORNELL; SCHWERTMANN, 1997; HORÁK et al., 2007).
O arranjo dos átomos na célula unitária é o fator responsável pelas
propriedades magnéticas. Os íons trivalentes (Fe+3) estão situados metade nas
posições octaédricas e metade nas posições tetraédricas, enquanto os bivalentes
(Fe+2) estão todos nas posições octaédricas. Os momentos de spin magnéticos
do Fe+3 estão alinhados, porém dispostos em direções opostas nas duas posições
que ocupam (octaédrica e tetraédrica), por isso seu momento magnético líquido é
zero. Portanto, o momento total dos íons Fe+2, que também estão alinhados na
mesma direção, é responsável pelo magnetismo líquido do material. Por
conseguinte, a saturação magnética de um material ferrimagnético pode ser
calculada pelo produto entre cada momento magnético de spin dos íons Fe+2 pelo
número de íons Fe+2 no material (CALLISTER; RETHWISCH, 2010).
Tanto Fe3O4, quanto γ-Fe2O3, apresentam comportamento
superparamagnético em diâmetros inferiores a 30 nm, tipicamente por volta de 10
nm. Tal comportamento está relacionado à presença de um único domínio
magnético nos aglomerados que se alinha ao campo externo aplicado,
comportando-se similarmente a um material ferromagnético (apresenta elevada
saturação magnética, Ms), porém ao retirar o campo magnético externo a
saturação magnética volta a zero sem apresentar remanência (PAPELL, 1965;
ROSENSWEIG, 1985, 1997). Estes materiais são comumente chamados de
Nanopartículas Superparamagnéticas de Óxido de Ferro (SPIONs -
Superparamagnetic Iron Oxide Nanoparticles). Eles apresentam saturação
magnética inferior (em torno de 20-50%) aos aglomerados de tamanhos
micrométricos (bulk), entretanto as nanopartículas (<30 nm) apresentam
remanência diferente de zero, o que facilita os processos de separação e
transporte (HORÁK et al., 2007). A biocompatibilidade já comprovada das
nanopartículas é revista por Mornet et al. (2004). Ademais, a obtenção de SPIONs
é considerada simples e não onerosa.
!
3.1.3. Tamanho de partículas e polidispersidade
O tamanho e a distribuição de tamanho das partículas de óxido de ferro
são parâmetros muito importantes para estes materiais. A intensidade da
magnetização das partículas, por exemplo, é diretamente proporcional ao seu
!
!
22
tamanho. A distribuição de tamanhos, se estreita, garante propriedades fisico-
químicas e magnéticas mais definidas. A força magnética (Fm) exercida por
um campo externo sobre as partículas é dada pela Equação 1:
!! = !!!.!!
!!! ! ∙ ∇ ! (1)
Sendo !0 a permeabilidade magnética do vácuo (4π x 10-7 N/A2), VP o
volume da partícula (m3), Δχ! a diferença de suscetibilidade magnética entre a
partícula e o meio (adimensional) e B'a indução magnética ou campo magnético
aplicado (T). Duas vantagens no uso das partículas menores que 100 nm são
suas maiores áreas superficiais específicas (maior facilidade na modificação de
superfície e adição de funcionalidades específicas) e menores taxas de
sedimentação (maior estabilidade coloidal).
3.1.4. Métodos de obtenção de nanopartículas de óxido de ferro
Ao longo dos últimos anos, diversos métodos foram desenvolvidos para a
síntese de nanopartículas magnéticas. Estes métodos apresentam diferentes
resultados quanto a forma, tamanho de partículas, polidispersidade e
propriedades magnéticas. Existem vias químicas, físicas e microbiológicas para a
produção deste tipo de nanopartículas. Dentre estes métodos, as rotas químicas
são as mais utilizadas. Essas rotas incluem, entre outras, a co-precipitação,
decomposição térmica de organometálicos, síntese hidrotérmica e
micro/nanoemulsões (HORÁK et al., 2007; BORLIDO et al., 2013). A Tabela 1.1
mostra uma comparação entre algumas condições e parâmetros das quatro rotas
químicas.
Quadro 3.1. Comparação entre os parâmetros e resultados obtidos por meio das principais
rotas sintéticas por via química.
Rota sintética Co-precipitação Decomposição
térmica Microemulsão
Síntese
hidrotérmica
Síntese Muito simples Complicada Complicada Simples
Temperatura de
reação (˚C) 20-90 100-320 20-50 220
Período de
reação Minutos Horas-dias Horas Horas-dias
!
!
23
Distribuição de
tamanho
Relativamente
estreita Muito estreita
Relativamente
estreita Muito estreita
Controle da
morfologia Ruim Muito bom Bom Muito bom
Rendimento Alto Alto Baixo Médio
Fonte: Adaptado de Lu, Salabas e Schuth (2007).
Apesar de não ser o método com melhor controle de tamanho e forma das
partículas, a co-precipitação é o método mais empregado por ser simples e
possibilitar a síntese de elevada quantidade de partículas (BORLIDO et al., 2013).
A decomposição térmica, também uma das rotas mais utilizadas, apresenta
melhor controle morfológico, entretanto demanda experimentos muito mais
complexos (BOURGEAT-LAMI; LANSALOT, 2010). Desta forma, diversos autores
ainda utilizam o método da co-precipitação para a síntese de óxido de ferro
(HAMOUDEH; FESSI, 2006; CASTELLÓ et al., 2015; CHEN et al., 2011; WU et
al., 2012).
3.1.4.1. Co-precipitação
A co-precipitação é um método bastante conveniente para produzir
diversos tipos de ferritas, sejam elas de íons de Fe+2 ou outros íons divalentes
(por exemplo, Co+2, Cu+2, Ni+2, Zn+2, Mn+2). O processo se baseia na co-
precipitação de Fe+3 e íons divalentes em solução aquosa por adição de uma
base. Massart (1981) relatou o método para a síntese de nanopartículas de
magnetita (<20 nm) por meio da adição de uma base em uma solução aquosa de
sais férrico (Fe+3) e ferroso (Fe+2) em proporção estequiométrica (2:1), sob
agitação, em atmosfera livre de oxigênio, e temperatura ambiente, para obter um
precipitado preto de nanopartículas esféricas (Fe3O4). Para atingir a estabilidade
coloidal, as partículas foram peptizadas (estabilizadas elestrostaticamente por
íons de cargas opostas àquelas na superfície do óxido, formando-se uma camada
difusa) pela adição de hidróxido de tetrametilamônio (a superfície do óxido
apresenta grupos hidroxila desprotonados que atraem os cátions
tetrametilamônio, o que leva a repulsão das cargas superficiais positivas das
partículas, ferrofluido alcalino) ou ácido perclórico (a superfície do óxido apresenta
grupos hidroxila protonados que atraem os ânions perclorato, o que leva a
!
!
24
repulsão entre cargas superficiais negativas das partículas, ferrofluido ácido).
Nanopartículas de maghemita podem ser produzidas pelo mesmo método,
adicionando-se um agente oxidante à magnetita sintetizada, tipicamente o nitrato
férrico (BEE; MASSART; NEVEU, 1995).
As características das nanopartículas formadas dependem fortemente dos
parâmetros experimentais empregados. Dentre estes parâmetros, destacam-se:
concentração e tipo de sal e base utilizados, pH, força iônica do meio, taxa e
ordem de adição dos reagentes, presença de quelantes e surfatantes (BORLIDO
et al., 2013; LU et al., 2007; HORÁK et al., 2007; MASSART, 1981). Por exemplo,
o rápido aumento do pH para uma faixa de 8,5-10 é essencial, do contrário haverá
formação de um precipitado marrom não magnético, provavelmente de hidróxidos.
Além disso, faixas de temperatura de 25-80 ˚C são apropriadas para a obtenção
de nanopartículas menores que 10 nm (HORÁK et al., 2007).
Em geral, a síntese pode ser expressa pela Equação 2:
2 Fe+3 + Fe+2 + 8 -OH ! Fe3O4 + 4 H2O (2)
!3.1.5. Modificação de superfície e estabilidade coloidal
Apesar do grande progresso observado, nos últimos anos, em relação à
síntese de nanopartículas magnéticas, mantê-las estáveis por longos períodos de
tempo, sem aglomeração, ainda é considerado um desafio. Sabe-se que durante
a síntese via co-precipitação, são formados grupos hidroxila na superfície das
partículas (Fe-OH) e estes são responsáveis pelo caráter anfotérico das mesmas.
Estes grupos podem assumir cargas positivas (Fe-OH2+) e negativas (Fe-O-)
dependendo do pH e força iônica do meio (BORLIDO et al., 2013). Os valores de
pKa para a magnetita foram relatados por Sun e colaboradores (1998) como
sendo 4,4 (pKa1) e 9,0 (pKa2). As características da superfície do óxido de ferro
são mostradas na figura 3.1.
!
!
25
Figura 3.1 – Caráter anfiprótico do óxido de ferro.
Fonte: próprio autor.
Por este motivo, as nanopartículas magnéticas de óxido de ferro apenas
apresentam estabilidade por repulsão eletrostática em valores de pH extremos e
baixa força iônica. Assim, elas são, geralmente, revestidas ou modificadas por
outras moléculas, como surfatantes, quelantes, polímeros, inorgânicos, entre
outros. A modificação de superfície das nanopartículas magnéticas é necessária
por diversas razões: (a) estabilidade coloidal; (b) estabilidade química; (c)
possibilidade de funcionalização com grupos funcionais específicos (-COOH, -
NH2, -SH, -SO3H e etc); (d) redução ou impedimento da lixiviação de íons
metálicos (Co+2, Ni+2) e redução de sua toxicidade (HORÁK et al., 2007;
BORLIDO et al., 2013). A Figura 3.2. mostra um exemplo de partículas,
estabilizadas por um surfatante por camada simples (a) e camada dupla (b).
A estabilidade coloidal das partículas depende da contribuição térmica e do
balanço entre interações repulsivas (estéricas e eletrostáticas) e atrativas (van der
Waals e dipolo-dipolo) (SCHERER; FIGUEIREDO NETO, 2005). As
nanopartículas magnéticas (NPMs) tendem a aglomerar devido à maturação de
Ostwald, onde os cristais maiores são formados por meio da dissolução de
cristais menores, e também por coalescência, onde cristais maiores são formados
por meio da aglomeração de cristais menores (MAHMOUDI et al., 2011). Ambos
os fenômenos são termodinamicamente favoráveis, de modo que o aumento do
tamanho das partículas diminui a superfície específica total de cada partícula
(reduz-se a razão entre a área superficial e o volume), consequentemente,
reduzindo a energia interfacial. Estes aglomerados, a partir de certo tamanho,
deixam de se comportar como materiais superparamagnéticos e continuam
!
!
26
crescendo, devido às interações magnéticas dipolo-dipolo, tornando-se
magnetizados pelos aglomerados vizinhos (comportamento ferrimagnético). Na
presença de um campo magnético externo, a magnetização destes aglomerados
aumenta, aumentando ainda mais seu tamanho. Tal aglomeração, além de
prejudicar a estabilidade coloidal, também resulta na diminuição da área
superficial específica das partículas constituintes do ferrofluido (MAHMOUDI et
al., 2011; HAMLEY, 2003), o que reduz sua aplicabilidade no transporte e
liberação controlada de princípios ativos (BARDAJEE; HOOSHYAR, 2014), bio-
separação de proteínas e ácidos nucléicos (BORLIDO et al., 2013) e imagem por
ressonância magnética (IRM) (CHATTERJEE et al., 2014), por exemplo.
Figura 3.2 - Esquema de partículas revestidas por surfatantes: (a) camada simples; (b) camada dupla.
Fonte: o próprio autor.
A modificação de superfície pode ocorrer durante (in situ) ou após a
síntese das SPIONs. No intuito de melhorar sua estabilidade, diversos métodos
modificados envolvendo a co-precipitação vêm sendo estudados. A utilização de
polímeros e polieletrólitos tem tornado possível o ajuste de tamanhos bastante
reduzidos, até menores que 10 nm (GUPTA; GUPTA, 2005). Uma das técnicas
que tem apresentado melhor empregabilidade na produção de ferrofluidos
bastante estáveis é a polimerização in situ, utilizando-se técnicas de
polimerização radicalar controlada, como as polimerizações mediadas por
nitróxidos (NMP - Nitroxide-Mediated Polymerization), as polimerizações
!
!
27
radicalares por transferência de átomo (ATRP - Atom Transfer Radical
Polymerization) e as polimerizações mediadas por agentes de transferência de
cadeia, via mecanismo reversível de adição-fragmentação (RAFT - Reversible
Addition Fagmentation Chain Transfer). Jain et al. (2010) foram os primeiros,
segundo os próprios autores, a obter um tipo de ferrofluido, o qual chamaram de
verdadeiro (>1017 partículas/mL) utilizando o macroagente RAFT poli(ácido
acrílico-b-acrilamida) como revestimento de nanopartículas de maghemita. Seus
resultados mostram que uma fina camada de polímero (~1 nm) recobria as
nanopartículas de maghemita, que apresentaram comportamento
superparamagnético. As partículas de tamanho bastante reduzido (7 nm)
apresentaram estabilidade coloidal em uma larga faixa de pH (2-12), elevado
percentual mássico de óxido de ferro nas partículas (65%) e até mesmo
estabilidade em meios de elevada força iônica (soluções aquosas de 0-60 %m/m
de nitrato de amônio).
3.1.5.1. Estabilização estérica
Ferrofluidos estabilizados por surfatantes ou polímeros contam com a
repulsão estérica como um dos fatores para prevenir aglomeração e precipitação
de partículas. Os surfatantes, ou polímeros, têm parte de sua cadeia em contato
com o núcleo magnético e a outra parte em contato com o fluido. Quando duas ou
mais partículas se aproximam, uma força de repulsão é criada à medida que as
cadeias se interpenetram (HAMLEY, 2003), como ilustrado na Figura 3.3. A
repulsão estérica interparticular age como uma barreira física que mantém as
partículas em solução e estabiliza o colóide (CHARLES; POPPLEWELL, 1980).
!
!
28
Figura 3.3. Esquema representativo da repulsão estérica entre as partículas revestidas por um surfatante.
Fonte: o próprio autor.
As moléculas de cadeia longa utilizadas podem estar ligadas às
nanopartículas por quimissorção, no caso de ácidos graxos de cadeia longa, ou
mais comumente por adsorção física (relacionada às interações de van der
Waals) no caso de polímeros (HAMLEY, 2003).
Em relação ao meio em que as partículas estão dispersas, se este for um
meio apolar, uma camada simples de surfatante é necessária para a estabilização
do colóide, visto que a cadeia hidrofóbica estará em contato com o fluido e a
cabeça hidrofílica estará adsorvida na superfície das partículas inorgânicas.
Contudo, quando se trata de um meio polar, como a água, uma segunda camada
de surfatante é formada de modo que as cabeças polares estejam em contato
com o fluido (SCHERER; FIGUEIREDO NETO, 2005). Um esquema
representativo foi mostrado anteriormente na Figura 3.2. As cabeças polares das
moléculas de surfatante podem ser iônicas (catiônicas, aniônicas ou
zwitteriônicas) ou não-iônicas.
!
!
29
3.1.5.2. Carga de superfície
Além das repulsões estéricas, as interações eletrostáticas desempenham
um importante papel na estabilização de certos tipos de colóides. Para partículas
coloidais carregadas em um meio eletrolítico, tanto a repulsão eletrostática quanto
as interações atrativas de van der Waals contribuem para a energia potencial
total. O equilíbrio entre elas pode ser ajustado para que uma barreira à agregação
seja criada (HAMLEY, 2003).
A carga superficial das partículas pode ser medida por potencial zeta, de
acordo com a mobilidade das partículas carregadas num campo elétrico. A
superfície das partículas é composta por uma camada de contra-íons (camada de
Stern) atraidos pelas cargas opostas às da partícula e uma camada difusa
(SCHERER; FIGUEIREDO NETO, 2005; ISRAELACHVILI, 1991). A figura 3.4
representa esta formação da dupla camada na superfície de uma partícula de
carga superficial líquida positiva.
Figura 3.4 – Representação da dupla camada (camada de Stern e camada difusa) na
superfície de uma partícula de carga superficial líquida positiva.
Fonte: próprio autor.
Os cálculos da repulsão eletrostática interparticular levam em conta a
complexa distribuição de contra-íons na superfície das partículas. Todavia, não é
o intuito deste trabalho entrar em conceitos mais aprofundados de potencial
!
!
30
eletrostático de repulsão entre partículas. Um alto valor de potencial zeta (positivo
ou negativo) é uma indicação de que as interações eletrostáticas desempenham
um papel importante na estabilidade da dispersão das nanopartículas magnéticas
(MAHMOUDI et al., 2011). A figura 3.5. mostra um esquema de repulsão
eletrostática entre duas partículas carregadas positivamente.
Figura 3.5 - Esquema de repulsão eletrostática entre duas partículas revestidas por moléculas carregadas positivamente.
Fonte: o próprio autor.
3.1.6. Quitosana
O estudo da quitosana tem sido de grande interesse por vários grupos de
pesquisa, devido à sua disponibilidade e propriedades físico-químicas. A
quitosana é um polissacarídeo de cadeia longa e linear, composto de unidades de
N-acetil-D-glucosamina e D-glucosamina com ligações do tipo β(1→4), como
mostrado na Figura 3.5. (RAVI KUMAR, 2000). A proporção de D-glucosamina e
N-acetil-D-glucosamina determina se o biopolímero é considerado uma quitina ou
quitosana.
Quando a quantidade da primeira unidade (D-glucosamina) supera a
segunda (>50%), o biopolímero é denominado quitosana. Do contrário, denomina-
se quitina (KHOR; LIM, 2003). Este polímero pode ser encontrado na parede
celular de alguns tipos de fungos. Entretanto, a quitosana é mais comumente
obtida a partir da quitina, um composto extraído da carapaça de insetos,
!
!
31
aracnídeos e crustáceos (MERZENDORFER, 2011). Este tipo de quitosana é
proveniente da desacetilação parcial da quitina por via alcalina ou enzimática.
Tanto a fonte quanto o método de preparação da quitosana influenciarão
em suas propriedades físicas e químicas. A massa molar e o grau de
desacetilação são os principais fatores que distinguem a quitosana para cada
aplicação. Ela pode apresentar massa molar entre 50 e 2000 kDa e grau de
desacetilação entre 40 e 98% (RAVI KUMAR, 2000). A figura 3.6 mostra a
estrutura da quitosana.
Figura 3.6 - Estrutura química da quitosana.
Fonte: Adaptado de Ravi Kumar, 2000
3.1.7. Polímeros de massa molar controlada
Durante os últimos anos, o desenvolvimento de técnicas mais avançadas
de polimerização radicalar permitiu superar muitos dos obstáculos e limitações da
polimerização radicalar livre. As chamadas polimerizações radicalares controladas
apresentam a versatilidade das radicalares livres, todavia com um melhor controle
das características do material obtido. Dentre estas técnicas, destacam-se na
literatura: a NMP (Nitroxide-Mediated Polymerization), ATRP (Atom Transfer
Radical Polymerization) e RAFT (Reversible Addition Fagmentation Chain
Transfer).
Os macro-agentes RAFT são polímeros ou copolímeros obtidos por
polimerização radicalar controlada via RAFT (Reversible Addition Fagmentation
Chain Transfer). Estes apresentam um agente de transferência de cadeia em sua
extremidade, como mostrado na Figura 3.7.
!
!
32
Figura 3.7 - Estrutura química do copolímero P(qDMAEMA10-co-BA4)-CTPPA.
Fonte: o próprio autor.
Um grande avanço da polimerização controlada via RAFT é o emprego
desses agentes de transferência de cadeia, que, em geral são ditiocarbamatos,
ditioésteres, tritiocarbonatos e outros. Os polímeros obtidos a partir desse
mecanismo de polimerização mantêm o agente de transferência de cadeia em
suas extremidades permitindo sua reinicialização (FRANCO, 2010).
No presente trabalho, destaca-se a utilização de um copolímero aleatório
quaternizado de 2-(dimetilamino) metacrilato de etila e acrilato de butila (figura
3.7). Este material apresenta em suas cadeias grupos laterais com uma função
amino quaternizada, o que o torna interessante para o objetivo proposto para este
trabalho. A presença da carga positiva torna sua utilização na funcionalização das
nanopartículas de óxido de ferro mais atrativa, uma vez que a atração
eletrostática é o principal mecanismo de interação na separação magnética de
microalgas.
3.1.8. Poli(N-vinilcaprolactama)
A poli(N-vinilcaprolactama) (PNVCL) é um polímero biocompatível com
diversas aplicações in vivo devido a sua sensibilidade a temperatura. Este
polímero é proveniente do monômero N-vinilcaprolactama que apresenta um
grupo amida cíclica (lactama) responsável pela hidrofilicidade das cadeias
formadas na polimerização (MEDEIROS et al., 2011). A figura 3.8 apresenta a
estrutura química do PNVCL utilizado neste trabalho.
!
!
33
Figura 3.8 – Estrutura química do PNVCL com terminação hidroxila proveniente do
mercaptoetanol.
Fonte: o próprio autor.
Neste trabalho, empregou-se PNVCL com terminação hidroxila
proveniente do mercaptoetanol para a obtenção de materiais aplicados na
separação de microalgas. O mercaptoetanol é um agente de transferência de
cadeia utilizado para o controle da massa molar das cadeias devido as altas
taxas de terminação obtidas quando se emprega este composto em
polimerizações.
O homopolímero de PNVCL foi escolhido devido a presença do grupo
lactama passível de protononação. Este grupo é, portanto, responsável pela
interação eletrostática com a superfície das microalgas.
3.2. Microalgas
!Os biocombustíveis de terceira geração têm se mostrado sustentáveis e
com produção que já atinge a escala industrial (CHAUTON et al., 2015). As
microalgas são interessantes fontes de biocombustíveis que podem gerar uma
produção sustentável em larga escala. Elas apresentam elevada concentração
de triacilgliceróis, como reserva energética de seu metabolismo, que podem
ser convertidos em biodiesel, por exemplo (REIS et al., 2014).
Microalgas podem produzir dez vezes mais óleo do que plantas
oleaginosas em um curto período de tempo. Desta forma, a utilização de
cultivos de microalgas como fonte de matéria prima para biocombustíveis tem
se caracterizado como a geração mais recente de pesquisas científicas na
área (CHISTI, 2007). O principal aspecto em relação a elas é seu
!
!
34
metabolismo. Grande parte das microalgas apresenta regime fotoautotrófico,
ou seja, seu crescimento celular se dá em presença de CO2 e luz, utilizados
na fotossíntese, não sendo necessária a adição de carga orgânica ao meio.
Algumas espécies, entretanto, apresentam outros regimes metabólicos (obtêm
energia a partir de outras rotas), como o mixotrófico, no qual elas utilizam
ambos o CO2 (e luz na fotossíntese) e a carga orgânica, fontes de carbono,
como os açúcares, do meio como matérias primas energéticas para
crescimento, apresentando uma maior produtividade do que microalgas de
regime apenas fotoautotrófico. O interesse em microalgas mixotróficas na área
de biocombustíveis está ligado ao cultivo em meios que apresentem carga
orgânica e possuam custo zero, como o lixiviado e outros meios residuais
(REIS et al., 2014).
As microalgas são de fácil cultivo em meio aquoso e necessitam de
menos água do que culturas oleaginosas terrestres. Elas apresentam
versatilidade quanto ao meio de cultivo, além de elevada taxa de crescimento
(CHISTI, 2007). Estudos apontam que as espécies do gênero Chlorella são
consideradas candidatas promissoras para a produção de lipídios devido ao
seu rápido crescimento e fácil cultivo (HUNTLEY; REDALJE, 2007).
Apesar de ser uma alternativa sustentável, o biodiesel ainda é
considerado um biocombustível de alto custo. Seu processo produtivo pode
ser dividido em quatro etapas: cultivo, colheita, extração dos lipídios e
esterificação; sendo que as três últimas etapas equivalem a 60-70% do custo
total de produção (KIM et al., 2013). A produção de outros bio-produtos e
biocombustíveis a partir de microalgas também possui algumas etapas em
comum com esse processo e, portanto, o cultivo e a colheita são alvos de
estudo constante para aumento de eficiência e redução de custo.
A etapa de colheita ainda representa pelo menos 20-30% do custo de
toda a produção do biocombustível (BARROS et al., 2015). Os desafios
relacionados a essa etapa são a baixa densidade celular no meio, a elevada
quantidade de água utilizada no processo, o tamanho reduzido das microalgas
e sua estabilidade em solução devido às cargas superficiais (MILLEDGE;
HEAVEN, 2013). A utilização de técnicas eficientes de colheita de biomassa é
essencial para a redução dos custos de produção de biodiesel. Algumas das
técnicas mais utilizadas ainda impossibilitam um regime produtivo de
!
!
35
biomassa de custo reduzido. A centrifugação possui uma demanda energética
elevada, apesar de apresentar elevada eficiência de separação. A filtração,
que também apresenta elevada eficiência, requer troca de membranas e
utilização de bombas hidráulicas, o que eleva seu custo. A sedimentação,
apesar de ser uma técnica simples e não diretamente onerosa, apresenta um
dispêndio de tempo muito elevado para aplicação em larga escala, o que pode
também ser convertido em alto custo (BARROS et al., 2015).
As limitações industriais para a produção de biomassa microalgal estão
diretamente relacionadas com o regime de cultivo ao qual são submetidas.
Industrialmente, a produção microalgal é feita por regimes fotoautotróficos,
mixotróficos e heterotróficos. O modo de produção utilizando-se apenas de
gás carbônico como fonte de carbono, i.e., autotrófico, reduz drasticamente o
custo de nutrientes no meio; no entanto, para que a fotossíntese seja
eficiente, a difusão luminosa deve ser eficiente no meio, requerendo, pois,
sistemas rasos, que facilitam a penetração luminosa. Além disso, é sabido que
os regimes autotróficos geram concentração celular reduzida, o que traz
esforços adicionais nas etapas de separação e colheita celular. Quanto aos
regimes mixotróficos e heterotróficos, a etapa de colheita pode ser realizada
de maneira mais branda, visto a maior concentração celular em ambos os
casos. No entanto, a necessidade de haver carbono orgânico no meio,
geralmente presente na forma de açúcares simples, amplia a possibilidade de
contaminação microbiana, especialmente por fungos e outras espécies de
microalgas. Tal efeito é mais pronunciado nas microalgas de água doce em
relação as de ambiente marinho (REIS et al., 2014).
Sabe-se que cada espécie de microalga apresenta características
específicas que auxiliam na diferenciação taxonômica, e que, dentre cada
espécie catalogada, as microalgas podem variar de maneira significativa com
devido aos efeitos mutagênicos do meio. Sendo assim, cada estudo com uma
diferente linhagem é uma oportunidade inovadora no meio acadêmico.
Embora algumas macro-características fisio-morfológicas da composição
celular sejam mantidas entre os indivíduos da mesma espécie, a forma com a
qual certa linhagem responderá a algum estímulo, neste caso, a
magnetoforese, é diferenciada, uma vez que certas características celulares,
como a espessura e a composição da parede celular, variam de acordo com
!
!
36
as condições de cultivo e a capacidade de mutação celular (ZHANG et al.,
2014).
!3.2.1. Métodos de cultivo
O cultivo das microalgas tem por objetivo o aumento da biomassa
celular para obter concentrações mais elevadas do produto desejado por
unidade de volume. Diversos estudos são reportados na literatura em relação
aos meios de cultivo de microalgas. De maneira geral, o meio deve ser
composto por macronutrientes (C, H, O, N, P, S, K, Mg, Si e Fe) e
micronutrientes (Mn, Mo, Co, B, V, Zn, Cu, Se, Br e I) (LOBBAN, 1994), assim
como de água e luz. As microalgas podem ser cultivadas tanto em sistemas
abertos quanto em sistemas fechados. Um fator chave para o cultivo é a
iluminação, por se tratarem de seres com regime foto-autotrófico. Em sistemas
abertos elas contam, principalmente, com a luz solar como fonte de energia,
uma vez que em sistemas fechados a iluminação é proveniente de fontes
artificiais (REIS et al., 2014). A Tabela 3.2 mostra a composição de um meio
Guillard f/2 sem sílica adaptado (GUILLARD, 1975).
Tabela 3.1. Composição do meio f/2 sem sílica adaptado
Componentes Concentração Sal marinho 1 g/L
NaNO3 75 g/L NaH2PO4
.H2O 5 g/L FeCl3
.6H2O 3,15 g/L Na2EDTA 4,3 g/L
ZnSO4.7H2O 22,2 mg/L
MnCl2.4H2O 180 mg/L
Na2MoO4.2H2O 6,3 mg/L
CoCl2.6H2O 10 mg/L
CuSO4.5H2O 9,8 mg/L
Tiamina 100 mg/L Cianocobalamina 0,5 mg/L
Biotina 0,5 mg/L Fonte: Guillard, 1975.
Cultivos em sistemas abertos são usualmente conduzidos em piscinas
ou tanques diretamente expostos ao meio ambiente, enquanto cultivos em
sistemas fechados são conduzidos em biorreatores, que podem ser divididos
!
!
37
em algumas categorias, dentre as quais se encaixam biorreatores tubulares e
de tipo coluna, por exemplo (LOURENÇO, 2006).
!3.2.2. Colheita (separação)
Os processos de colheita (separação) de microalgas têm por intuito a
recuperação de sua biomassa. Tais processos consistem em separações de
sólido-líquido, dentre os quais se destacam os processos físicos e químicos. O
processo de separação da biomassa, ou colheita, pode chegar a 30% do custo de
produção de biomassa a partir de microalgas (GRIMA et al., 2003). Dentre estes
processos, os mais utilizados, atualmente, são: coagulação e floculação química,
centrifugação, sedimentação, filtração. Outros processos menos disseminados
são os elétricos (eletroforese e eletro-floculação) e magnéticos (magnetoforese).
Estes processos envolvem a aplicação de campos elétricos e magnéticos,
respectivamente, para separação da biomassa devido à natureza carregada das
células microalgais (BARROS et al., 2015).
3.2.2.1. Separação magnética (magnetoforese)
Uma das técnicas que mais tem recebido atenção de pesquisadores
para a separação de biomassa a partir de microalgas é a magnetoforese (LEE;
LEE; OH, 2014; TOH et al., 2014; HU et al., 2014). Esta técnica se baseia na
interação eletrostática de partículas magnéticas com a superfície das
microalgas e posterior colheita da biomassa sob um campo magnético
externo. Toh et al. (2014) mostraram a utilização de polímeros catiônicos e
sua influência na eficiência de colheita de microalgas Chlorella sp. em
diversos pH. Nesse estudo, eles mostram que o uso de nanopartículas
magnéticas de óxido de ferro puras é mais restrito, devido ao seu ponto
isoelétrico em pH 5,4. Ademais, eles fazem uma comparação entre o óxido de
ferro encapsulado com quitosana (75-85% desacetilada) e com cloreto de
poli(dialildimetilamônio) (PDDA). As partículas com quitosana apresentaram
elevada eficiência até pH próximo de 8, porém, acima deste, elas se
aproximam de seu ponto isoelétrico, observando-se então uma queda
significativa em sua eficiência. As partículas com PDDA mostraram-se
independentes do pH do meio em relação à eficiência de colheita. Este estudo
!
!
38
não menciona a capacidade de colheita (g-célula seca/g-nanocompósito) das
partículas. Hu et al. (2013) utilizaram nanopartículas de Fe3O4 puras em
ensaios de colheita de microalgas Nannochloropsis maritima em comparação
a outras técnicas de separação físicas e químicas, como floculação,
coagulação e associações entre duas técnicas distintas (floculação e
microfiltração). Eles demonstram a elevada eficiência de colheita (97,5%) da
separação magnética e o baixo tempo de processamento requerido por esta
técnica, além da possibilidade de reciclo das nanopartículas. Em outro estudo,
realizado por Hu et al. (2014), utilizou-se um polímero catiônico e microalgas
Chlorella ellipsoidea. Os autores utilizaram a polietilenoimina (PEI) para
modificar a superfície das nanopartículas de óxido de ferro e obtiveram
elevada eficiência (97%) e capacidade de recuperação (32,61 g-célula seca/g-
nanocompósito), utilizando-se concentração reduzida de partículas no meio de
colheita (20 mg/L).
!
3.2.3. Aplicações da biomassa produzida por microalgas
As aplicações mais simples da biomassa produzida por microalgas
consistem na alimentação humana e animal. Algumas outras aplicações são:
utilização em reservas energéticas (lipídios e carboidratos) como matéria prima de
biocombustíveis, extração de produtos específicos para o desenvolvimento de
cosméticos, na indústria farmacêutica, de pigmentos, corantes naturais, etc.
A utilização eficiente de matéria orgânica abre espaço para aplicações
biotecnológicas, como na bioconservação da energia solar (estocagem de
energia), fermentação para a produção de metano ou de etanol, por exemplo
(LOURENÇO, 2006) e também no tratamento de resíduos, como o estrume,
hidrolisados e o lixiviado (REIS et al., 2014).
!
!
!
39
4. MATERIAIS E MÉTODOS
!4.1. Materiais
Cloreto férrico hexahidratado (FeCl3.6H2O, 98%, Sigma-Aldrich), cloreto
ferroso tetrahidratado (FeCl2.4H2O, 99%, Sigma-Aldrich), hidróxido de amônio
P.A. (27%, Synth), ácido acético glacial P.A. (100%, Merck) foram utilizados como
recebidos.! Quitosana (Mn=1.200.000 g/mol e grau de desacetilação = 65%)
(Figura 3.5) foi gentilmente fornecida pelo Prof. Dr. Sérgio Campana Filho do
Instituto De Química de São Carlos (USP). O copolímero aleatório
P(qDMAEMA10-co-BA4)-CTPPA quaternizado (Mn=2460 g/mol) (Figura 3.6) e o
homopolímero poli(N-vinilcaprolactama) (PNVCL) (Mn= 1863 g/mol) (Figura 3.7)
foram previamente sintetizados pelo grupo de pesquisa do Laboratório de
Polímeros da Escola de Engenharia de Lorena (USP). O copolímero
P(qDMAEMA10-co-BA4)-CTPPA contém um ácido 4-ciano-
4(propilsulfaniltiocarbonil)sulfanil pentanóico (CTPPA) na extremidade do
copolímero quaternizado de poli(2-(dimetilamino) metacrilato de etila-co-acrilato
de butila). Os índices subescritos 10 e 4 representam o número de meros
provenientes de seus respectivos monômeros em cada cadeia polimérica. As
microalgas Chlorella minutissima foram cultivadas e gentilmente cedidas pelo
grupo de pesquisa do Laboratório de Microalgas da Escola de Engenharia de
Lorena (USP). Toda a água utilizada foi destilada e deionizada.
4.2. Síntese das nanopartículas de Fe3O4 funcionalizadas com
P(qDMAEMA10-co-BA4)-CTPPA, quitosana e PNVCL
As nanopartículas foram sintetizadas via co-precipitação em meio aquoso
sob sonicação em um processador ultrassônico VCX 750, Sonics Vibra Cell.
Primeiramente, 1,4061 g de FeCl3.6H2O e 0,5175 g de FeCl2.4H2O foram
dissolvidos em 20 mL de água e a solução foi mantida sob agitação magnética
por 10 minutos. A solução dos sais foi misturada a 55 mL de uma solução aquosa
contendo uma quantidade apropriada de P(qDMAEMA10-co-BA4)-CTPPA (10, 20,
45, 60, 80 ou 100 mg). A mistura foi, então, colocada sob agitação magnética
durante 5 minutos e, em seguida, sonicada em um processador ultrassônico.
!
!
40
Logo no início do processo de sonicação, 5 mL de uma solução concentrada de
NH4OH (27%m/m) foram adicionados. A agitação seguiu por 10 minutos sob
potência de 75 W e posteriormente sob 25 W durante mais 10 minutos. A mistura
manteve-se resfriada por um banho de gelo e etanol, com temperatura inferior a 0
°C.
O produto de cada reação foi purificado por decantação das partículas
magnéticas com o auxílio de um imã (NdBFe) e lavagem com água, repetidas
vezes, para a remoção do excesso de copolímero. Finalmente, as nanopartículas
foram redispersas em 80 mL de água sob sonicação (75 W) durante 10 minutos.
A mesma rota sintética foi utilizada para a síntese das nanopartículas de
Fe3O4 funcionalizadas com quitosana, exceto pela solubilização do polímero.
Primeiramente, 1,4061 g de FeCl3.6H2O e 0,5175 g de FeCl2.4H2O foram
dissolvidos em 20 mL de água e a solução foi agitada numa placa de agitação
magnética com auxílio de uma barra magnética. Separadamente, 45 mg de
quitosana foram solubilizados em 55 mL de solução aquosa 1%v/v de ácido
acético e colocados sob forte agitação magnética 24 horas antes da realização da
síntese para garantir a completa solubilização do polímero. Os demais
procedimentos de síntese e purificação foram os mesmos.
Para a síntese das nanopartículas de Fe3O4, funcionalizadas com
PNVCL, utilizou-se 45 mg de homopolímero.
Para realizar um estudo comparativo, nanopartículas de óxido de ferro
não funcionalizadas (puras) também foram preparadas segundo a mesma
metodologia.
4.3. Caracterização das nanopartículas de Fe3O4 funcionalizados com
P(qDMAEMA10-co-BA4), quitosana, PNVCL e não funcionalizadas
4.3.1. Espalhamento dinâmico de luz (DLS) e potencial zeta
O diâmetro das partículas (DP) e o índice de polidispersidade foram
determinados por espalhamento de luz em um equipamento da marca
Malvern, modelo Nano ZS – Zen3601, locado no Laboratório de Polímeros da
EEL/USP. As medidas foram realizadas após lavagem e redispersão das
!
!
41
nanopartículas em água. A estabilidade coloidal e a interação óxido-polímero
foram estudadas através de medidas de DP em função do pH.
4.3.2. Difratometria de raios X (DRX)
Análises de difratometria de raios X foram realizadas para as amostras
secas das nanopartículas (puras e funcionalizadas). Os parâmetros de análise
utilizados foram: passo de 0,02°, 2θ variando entre 20 e 80°, e tempo por passo
de 10 segundos. O difratômetro utilizado foi da marca Panalytical modelo
Empyrean, locado no Laboratório de Difratometria de raios X, do Departamento
de Engenharia de Materiais da EEL/USP.
4.3.3. Espectrometria no Infravermelho (FTIR)
Uma avaliação qualitativa da composição química das nanopartículas
de óxido de ferro foi obtida por meio de análises de FTIR. Nos espectros,
avaliou-se a intensidade dos picos característicos das ligações Fe-O e das
principais ligações presentes nos polímeros. O material foi analisado na forma
sólida (pó) e livre de umidade numa faixa de número de onda compreendida
entre 400 a 4000 cm-1. Utilizou-se pastilhas de KBr em um equipamento da
marca Perkin Elmer modelo Spectrum GX, locado no Departamento de
Biotecnologia da EEL/USP.
4.3.4. Microscopia eletrônica de varredura (MEV)
A morfologia das partículas foi avaliada por microscopia eletrônica de
varredura (MEV) em um equipamento da marca LEO modelo 1450VP, locado
no Departamento de Materiais da EEL/USP. Analisou-se amostras das
nanopartículas de óxido de ferro puras e funcionalizadas.
!
!
42
4.4. Caracterização da biomassa microalgal de Chlorella minutissima
4.4.1. Análise espectrofotométrica de densidade ótica
Utilizando-se um espectrofotômetro de UV/visível realizou-se uma
varredura entre os comprimentos de onda 400 e 850 nm, do cultivo das
microalgas Chlorella minutíssima para a determinação do pico máximo de
absorbância para as medições. A varredura foi realizada com um passo de 2
nm. O pico corresponde a absorção da clorofila-a, que se encontra próximo a
690 nm, segundo Lourenço (2006).
A determinação das concentrações de célula seca por volume (g/L) foi
realizada por medidas de absorbância. Medidas foram obtidas em um
espectrofotômetro UV-Vis Genesis 10UV, localizado no Laboratório de
Polímeros da EEL/USP. Determinou-se a relação da concentração de células
em função da absorbância por meio de uma curva de calibração.
Para determinar a biomassa seca das amostras em relação a sua
densidade ótica, amostras da suspensão de microalgas foram diluídas a
várias concentrações e tiveram suas respectivas absobâncias determinadas.
Feito isso, as amostras foram centrifugadas (8000 rpm e 10 min) e lavadas
com água, repetiu-se o procedimento três vezes. Por fim, as amostras foram
secas a 105 °C durante 24 h e pesadas em balança analítica.
4.4.2. Determinação da carga superficial das microalgas
Medidas de potencial zeta das microalgas foram obtidas na mesma
faixa de pH em que os ensaios de separação foram realizados (pH 4-10). As
medidas foram feitas em um equipamento da marca Malvern, modelo Nano ZS
– Zen3601, locado no Laboratório de Polímeros da EEL/USP.
!
!
43
4.5. Avaliação da eficiência das nanopartículas de óxido de ferro na
separação (colheita) de microalgas Chlorella minutissima
4.5.1. Determinação da concentração de nanopartículas aplicada nos
ensaios (dosagem)
Para determinar a concentração utilizada de nanopartículas nos ensaios
de separação, estudou-se a eficiência de separação em função da
concentração de NPs (dosagem). Primeiramente, adicionou-se 1,5 mL de
suspensão de nanopartículas magnéticas, em diversas concentrações (0-500
mg/L), a 20 mL de suspensão de microalgas para obter a floculação destas
células. Após agitação por 1 minuto, a mistura foi posicionada sobre o imã
para sedimentação dos flocos formados. Amostras foram coletadas após 5
minutos de sedimentação e as absorbâncias do sobrenadante do meio foram
medidas.
Por fim, determinou-se uma curva com os pontos de eficiência de
separação (de acordo com as absorbâncias medidas) em função da
concentração de nanopartículas empregadas nos respectivos ensaios. Deste
modo, pode-se determinar a concentração de nanopartículas utilizadas nas
etapas seguintes do trabalho.
4.5.2. Ensaios de separação magnética das microalgas
Os ensaios de separação foram realizados a partir de uma suspensão
de 20 mL de microalgas cuja absorbância inicial foi medida para determinar a
concentração inicial de biomassa. A esta suspensão, 1,5 mL da suspensão
das nanopartículas foi adicionado, na concentração previamente determinada,
e agitou-se a mistura por cerca de 1 minuto para que ocorresse a floculação
das células. Em seguida, a separação magnética dos flocos formados foi
realizada sob efeito do campo magnético de um imã de NdFeB durante 5
minutos. Dada a separação, amostras do sobrenadante foram coletadas e sua
absorbância foi avaliada. Todos os valores de absorbância foram
determinados em um espectrofotômetro UV/visível. Imagens das células e
bem como das nanopartículas floculadas sobre as células microalgais foram
!
!
44
obtidas em um microscópio ótico da marca Motic, modelo B3-223 numa
magnificação de 40 vezes.
Para cada material sintetizado foram realizados ensaios de separação em
valores de pH 4, 5, 6, 8 e 10, a temperatura ambiente, para determinar o efeito do
pH do meio na eficiência de separação dos mesmos. Para tanto, ajustou-se o pH
do meio com solução de HCl 0,1 mol/L e NH4OH 0,1 mol/L.
4.5.3. Eficiência de separação e capacidade de separação
A eficiência de separação (%) foi determinada a partir da metodologia
adaptada de Toh et al. (2014). A eficiência de separação de microalgas foi
obtida pela relação entre a quantidade de biomassa separada por
magnetoforese e a quantidade de biomassa inicial. A quantidade de
microalgas colhida por separação magnética foi determinada pela diferença
entre a absorbância inicial da suspensão de microalgas e a absorbância do
sobrenadante após ensaio de separação com as nanopartículas. Determinou-
se a eficiência de acordo com a Equação 3:
Eficiência! % = !!!!!!
!!
!x!100 (3)
onde A0 é a absorbância inicial da suspensão de células, A5 a absorbância do
sobrenadante após 5 minutos de separação magnética.
A capacidade de recuperação se refere a massa de células (biomassa
seca) separadas a partir do ensaio de separação magnética em relação à
massa de nanopartículas adicionada ao ensaio. As concentrações foram
determinadas a partir de medidas de absorbância das amostras. Calculou-se
os valores de concentração a partir da curva analítica construída
anteriormente. A equação 4 refere-se ao cálculo da capacidade de separação:
CR =!!!!!!!!!
!!"
(4)
onde CR é a capacidade de recuperação de biomassa (g-biomassa seca/g-
nanopartícula), C0 é a concentração inicial de célula seca (g-biomassa
!
!
45
seca/L), V0 o volume inicial da suspensão de microalgas (L), C5 a
concentração de célula seca após a separação (g-biomassa seca/L), V5 o
volume final do ensaio de separação (L) e mNP a massa de nanopartículas
utilizada no ensaio de separação (g-nanopartícula). A massa de
nanopartículas (mNP) é obtida a partir da dosagem de nanopartículas e do
volume do meio de separação.
!
!
46
5. RESULTADOS E DISCUSSÃO
5.1. Caracterização das nanopartículas de Fe3O4 funcionalizadas com
P(qDMAEMA10-co-BA4), quitosana, PNVCL e não funcionalizadas
A primeira etapa deste trabalho consistiu na síntese e funcionalização de
nanopartículas de óxido de ferro utilizando-se diferentes polímeros como
materiais de revestimento, o que diminuiu sua tendência a aglomeração.
Empregou-se três polímeros diferentes: P(qDMAEMA10-co-BA4), quitosana e
PNVCL, como agentes de revestimento de nanopartículas de Fe3O4 e comparou-
se os resultados com aqueles obtidos para nanopartículas magnéticas puras (não
funcionalizadas), verificando-se que as nanopartículas revestidas apresentaram
estabilidade coloidal e baixa variação de diâmetro de partícula durante alguns
dias.
Esta melhora na estabilidade se deve à presença do copolímero na
superfície do óxido de ferro. A presença de um copolímero de baixa massa molar
pode ter levado à formação de uma camada fina na superfície das nanopartículas,
que contribuiu para a sua estabilização, mantendo-as em suspensão por um
período de tempo mais longo. De maneira geral, o copolímero reduziu o DP das
partículas em suspensão e também contribuiu para a melhoria da estabilidade em
uma larga faixa de pH, como será mostrado.
Além da contribuição do efeito estérico para a estabilização da suspensão,
o P(qDMAEMA10-co-BA4) também contribuiu com a repulsão eletrostática entre as
partículas devido à presença de um grupo amino metilado (quaternizado) em suas
cadeias. A presença de cargas positivas na superfície das nanopartículas foi
crucial nas etapas seguintes deste trabalho.
5.1.1. Espalhamento dinâmico de luz (DLS) das nanopartículas
A tabela 5.1 apresenta o efeito da concentração de P(qDMAEMA10-co-BA4)
no diâmetro (DP) e índice de polidispersidade (IPD) das nanopartículas
magnéticas. Para efeito de comparação, NP-1 representa as nanopartículas de
óxido de ferro sintetizadas na ausência de P(qDMAEMA10-co-BA4). Em geral, os
resultados obtidos não apresentam variação significativa de DP para as
!
!
47
concentrações escolhidas no presente estudo. É provável que o aumento da
concentração de copolímero em solução durante a síntese tenha levado à
formação de camadas mais grossas sobre a superfície do óxido de ferro e
também à formação de pontes entre as cadeias de partículas diferentes. Desta
forma, tem-se uma formação de aglomerados maiores, os quais levam à obtenção
de maiores valores de DP por espalhamento de luz. Os altos valores de IPD
indicam uma larga distribuição de tamanhos de partículas o que implica nas
variações observadas nos diâmetros médios obtidos, de modo que estes não
seguiram um padrão diretamente relacionado à concentração de copolímero na
síntese.
Tabela 5.1 – Efeito da concentração de copolímero no diâmetro (DP) e índice de
polidispersidade (IPD) das nanopartículas revestidas com P(qDMAEMA10-co-BA4).
Fonte: o próprio autor.
Após estes primeiros testes, decidiu-se fixar a concentração de polímero
para as demais sínteses em 0,56 mg/mL. A tabela 5.2 apresenta, os resultados de
DP e IDP obtidos para as nanopartículas funcionalizadas com quitosana e
PNVCL.
Material Concentração de
P(qDMAEMA10-co-
BA4) (mg/mL)
DP (nm) IPD
NP-1 0 345,1 0,249
NP-2 0,125 109,5 0,144
NP-3 0,25 87,95 0,161
NP-4 0,56 101,8 0,15
!
!
48
Tabela 5.2 – Efeito da quitosana e da PNVCL no diâmetro (DP) e índice de
polidispersidade (IPD) das nanopartículas de Fe3O4.
Fonte: o próprio autor.
As nanopartículas funcionalizadas com quitosana (NP-5) apresentaram
diâmetro reduzido, o que pode ser visto como uma característica interessante
para a adsorção na superfície das microalgas devido a elevada área
superficial específica. As nanopartículas funcionalizadas com PNVCL
apresentaram elevado DP e IPD, o que pode estar relacionado não somente
ao tipo de síntese empregada, neste trabalho, mas também a ausência de
cargas no grupo lateral em pH elevado (excesso de base durante a síntese).
O material NP-5 apresentou estabilidade em suspensão apenas por
alguns minutos devido a ausência de cargas. O DP reduzido pode ter
auxiliado nesta estabilidade em um curto período de tempo por efeito estérico.
O material NP-6 não apresentou estabilidade em suspensão após a síntese, o
que também está relacionado a ausência de cargas nas cadeias, entretanto o
DP é mais elevado do que das outras NPs e não foi suficiente para mantê-lo
em suspensão.
5.1.2. Efeito do pH no DP das nanopartículas magnéticas
A figura 5.1, apresenta o efeito do aumento do pH do meio no diâmetro
(DP) das nanopartículas magnéticas não funcionalizadas (NP-1) e
funcionalizadas com diferentes concentrações de P(qDMAEMA10-co-BA4) (NP-
2 – NP-4).
Material Polímero Concentração
de polímero
(mg/mL)
Diâmetro das
partículas
(nm)
IPD
NP-5 Quitosana 0,56 176,6 0,137
NP-6 PNVCL 0,56 894,0 0,334
!
!
49
Figura 5.1 – Efeito do pH do meio sobre o diâmetro das nanopartículas magnéticas
não funcionalizadas (NP-1) (a) e funcionalizadas com diferentes concentrações de
P(qDMAEMA10-co-BA4) (NP-2 – NP-4) (b-d).
Fonte: o próprio autor.
Pode-se observar que a dependência do diâmetro de partículas (DP) do
óxido de ferro não funcionalizado está relacionada a sua característica
anfiprótica. O Fe3O4 pode ser encontrado na forma protonada (OF-OH2+),
neutra (OF-OH) ou desprotonada (OF-O-) dependendo do pH do meio. Sun et
al. (1998) encontraram dois valores de pKa para o Fe3O4 (pKa1 = 4,4 e pKa2 =
9,0). Para tanto, pode-se observar na figura 5.1 que o óxido de ferro não
funcionalizado em pH 4 apresenta uma certa quantidade de cargas
superficiais positivas (protonado) que foram suficientes para fornecer um DP
nanométrico reduzido (314,7 nm) e estabilidade em solução por um certo
tempo devido a repulsão eletrostática entre as nanopartículas. Já em pH 5,0,
o material apresentou uma elevação significativa no DP devido a diminuição
da protonação de sua superfície, o que reduziu a repulsão eletrostática e
levou a formação de aglomerados maiores devidos as interações dipolo-dipolo
do material magnético. Aumentando-se o pH o material apresentou um padrão
de redução de DP que está diretamente relacionado a desprotonação da
superfície (OF-O-) o que reduz a formação de aglomerados devido a repulsão
entre cargas negativas cada vez mais predominantes e aumenta a
!
!
50
estabilidade do material NP-1 em solução chegando a um DP mínimo de 92,3
nm em pH 10.
Como visto na figura 5.1, os materiais que foram funcionalizados com
P(qDMAEMA10-co-BA4) apresentaram baixa dependência de DP em relação
ao pH do meio. Esta característica está relacionada ao recobrimento da
superfície do óxido de ferro com as cadeias copoliméricas e as propriedades
do P(qDMAEMA10-co-BA4).
A funcionalização da superfície do óxido de ferro, além de reduzir a
formação de aglomerados devido ao impedimento estérico entre cadeias
poliméricas e aumentar a estabilidade em suspensão das NPs ainda reduziu a
dependência do tamanho das NPs em relação ao pH do meio, não havendo
variações significativas em DP para os materiais funcionalizados. Ademais,
devido a presença de um grupo amino carregado no P(qDMAEMA10-co-BA4)
as nanopartículas formadas em NP-2, NP-3 e NP-4 apresentaram cargas
positivas que contribuíram para a repulsão eletrostática entre as partículas, o
que reduziu ainda mais a formação de aglomerados.
A figura 5.2 presenta os resultados de DP obtidos por medidas de
espalhamento de luz em diferentes valores de pH do meio. Com relação as
partículas obtidas, pode-se dizer que, utilizando-se a mesma rota sintética e
uma mesma concentração de polímero para os três materiais estudados (0,56
mg/mL), resultados mais promissores foram obtidos no emprego do
copolímero P(qDMAEMA10-co-BA4) (NP-4).
!
!
51
Figura 5.2 – Efeito da variação do polímero catiônico utilizado sobre o diâmetro das
nanopartículas em diferentes valores de pH: NP-4 (a), NP-5 (b) e NP-6 (c).
Fonte: o próprio autor.
As nanopartículas funcionalizadas com quitosana (NP-5) apresentaram
DPs reduzidos e pouca variação destes DPs em função do pH do meio. Esta
característica está mais relacionada a uma baixa presença de grupos amino
nas cadeias devido a grau de desacetilação reduzido (65%). Com isso, as
cadeias em pH ácido (4 e 5), apesar de haver protonação dos grupos amino,
apresentaram DP pouco mais elevado do que em pH mais alto,
diferentemente do que se esperaria. Pode-se considerar que em pH ácido os
grupos amino estão protonados e que causem repulsão na própria casca da
partículas, aumentando o DP. É possível que a alta massa molar das cadeias
e o baixo grau de desacetilação tenham resultado em nanopartículas
estabilizadas quase que exclusivamente por efeito estérico. A redução do DP
em pH básico seria, então, devido ao desaparecimento das cargas
(desprotonação dos grupos amino), o que levaria as cadeias poliméricas a se
aproximarem mais do núcleo da partícula.
O material NP-6 se mostrou dependente do pH do meio para os
diâmetros de partícula. As nanopartículas funcionalizadas com PNVCL
apresentaram redução do DP em pH 4 devido a protonação do grupo lateral
lactama em suas cadeias o que resultou em repulsão eletrostática entre as
!
!
52
partículas diminuindo a formação de aglomerados. A partir dai, com o
aumento do pH, há uma redução de cargas por desprotonação do grupo
lactama que torna mais acentuada a aglomeração por interações físicas entre
as cadeias de polímero na superfície do óxido de ferro. Assim, em pH básico
as cadeias não mais se apresentam carregadas e as NPs passam a
apresentar DP mais elevado.
5.1.3. Difratometria de raios X
A figura 5.3 apresenta os difratogramas de raios X obtidos para o óxido
de ferro não funcionalizado (a) e para as nanopartículas funcionalizadas com
P(qDMAEMA10-co-BA4) (reações NP-2 – NP-4) (b-d), quitosana (reação NP-5)
(e) e PNVCL (reação NP-6) (f).
Figura 5.3 – Difratogramas de raios X das nanopartículas de óxido de ferro: não
funcionalizadas (a), funcionalizadas com P(qDMAEMA10-co-BA4) (b-d), com quitosana (e) e
com PNVCL (f).
Fonte: o próprio autor.
Observa-se que os picos característicos do Fe3O4 também estão
presentes nos difratogramas das nanopartículas magnéticas revestidas com
os polímeros. Os picos próximos de ângulos (2θ) de 30, 35, 43, 53, 57 e 62°
!
!
53
são referentes ao Fe3O4 (RAHMAN et al., 2011). A presença dos picos é
assinalada por seus respectivos índices de Miller (220), (311), (400), (422),
(440) e (511). Os padrões cristalinos dos materiais se apresentam bastante
coincidentes, o que indica que a presença dos polímeros na superfície não
alterou o estado oxidativo do óxido de ferro ou mesmo o padrão de seu
difratograma.
5.1.4. Morfologia
As figuras 5.4-7 apresentam a morfologia das nanopartículas obtidas por meio
de micrografias de MEV.
Figura 5.4 – Micrografias de MEV do óxido de ferro não funcionalizado (NP-1):
magnificação 1000x (a) e 500x (b).
Fonte: o próprio autor.
A figura 5.4 mostra que as nanopartículas de óxido de ferro não
funcionalizadas (NP-1), apresentam grandes aglomerados, como esperado,
devido às interações hidrofóbicas e dipolo-dipolo entre as partículas, que
favorecem a aglomeração dos materiais na ausência de um agente de
revestimento. Alguns aglomerados menores podem ser vistos na micrografia
indicando a presença de algumas partículas em escala nanométrica de
tamanho. Em todas as micrografias, ficam evidentes os altos valores de
índices de polidispersidade (IPD) obtidos por DLS e relatados no início desta
!
!
54
seção. Pode-se observar que, de maneira geral, a magnetita, funcionalizada
ou não, apresenta-se na forma de aglomerados de tamanhos variados. As
figuras 5.5 (a-f), referentes às nanopartículas funcionalizadas com
P(qDMAEMA10-co-BA4), apresentam uma menor quantidade de placas
(aglomerados) de óxido de ferro nas amostras, o que indica uma melhor
funcionalização de suas superfícies. Essa funcionalização se mostrou
responsável pela redução dos tamanhos e aumento da homogeneidade do
material.
Figura 5.5 – Micrografias de MEV das nanopartículas funcionalizadas com
P(qDMAEMA10-co-BA4), obtidas nas reações NP-2: magnificação 1000x (a) e 3000x (b); NP-
3: magnificação 1000x (c) e 3000x (d); NP-4: magnificação 1000x (e) e 3000x (f).
!
!
55
Fonte: o próprio autor.
Os materiais mostrados nas figuras 5.6 e 5.7, referentes às
nanopartículas funcionalizadas com quitosana e PNVCL, apresentaram maior
quantidade de óxido livre, na forma de placas, o que indica uma menor
eficácia na rota sintética para o revestimento do óxido de ferro com estes tipos
de polímeros. Ademais, estes materiais apresentaram maiores DP nos
estudos realizados, o que será mostrado no estudo do efeito do pH sobre o
DP.
Figura 5.6 – Micrografias de MEV das nanopartículas funcionalizadas com quitosana
(reação NP-5): magnificação 1000x (a) e 3000x (b).
Fonte: o próprio autor.
!
!
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Figura 5.7 – Micrografias de MEV das nanopartículas funcionalizadas com PNVCL (reação
NP-6): magnificação 1000x (a) e 3000x (b).
Fonte: o próprio autor.
5.2. Caracterização da biomassa microalgal de Chlorella minutissima
5.2.1. Análise espectrofotométrica de densidade ótica
Observou-se um pico máximo em 685 nm, o que está de acordo com o
esperado (LOURENÇO, 2006). Além disso, uma varredura com o óxido de
ferro diluído na mesma faixa também foi realizada. Não foram observados
picos ou bandas próximos a 685nm. Portanto, as medições neste trabalho
foram realizadas neste valor.
De acordo com o método descrito anteriormente, foi possível obter uma
relação linear entre a concentração de células secas e a absorbância medida
no comprimento de onda determinado (685 nm). A curva analítica é
apresentada na figura 5.8.
!
!
57
Figura 5.8 – Relação entre a concentração de biomassa e a absorbância da suspensão das microalgas.!!!!
!Fonte: próprio autor.
Pode-se observar um bom coeficiente de correlação (R2=0,99975).
Portanto, os valores de concentração determinados nos experimentos
puderam ser calculados a partir desta relação.
.
5.2.2. Carga superficial das microalgas
A figura 5.9 apresenta a variação do potencial zeta das microalgas em
função do pH do meio. Pode-se observar que numa faixa de pH entre 4 e 10 a
carga superficial das microalgas é negativa. Tais resultados corroboram com a
escolha dos polímeros catiônicos empregados neste trabalho, em especial o
P(qDMAEMA10-co-BA4)-CTPPA, considerando-se que a interação eletrostática
entre as nanopartículas e as microalgas é um dos mecanismos de interação entre
elas.
!
!
58
Figura 5.9 – Efeito da variação do pH sobre a carga superficial das microalgas (potencial
zeta).
Fonte: o próprio autor.
De acordo com o esperado, a interação eletrostática se mostrou um
fator muito importante na adsorção das nanopartículas nas células
microalgais, como será demonstrado nos itens seguintes.
5.3. Ensaios de separação das algas Chlorella minutissima utilizando
as nanopartículas magnéticas
A figura 5.10 mostra a variação da eficiência de separação,
determinada conforme descrito no item 3.5.3. Primeiramente, diferentes
concentrações de nanopartículas magnéticas foram utilizadas nos ensaios
para determinar uma concentração ótima de nanopartículas. Assim, essa
concentração foi fixada e outros parâmetros, tais como o pH e concentração
de polímero empregada na síntese, foram posteriormente avaliados em função
da eficiência de separação.
!
!
59
Figura 5.10 – Relação entre a dosagem de nanopartículas nos ensaios de separação
e a eficiência de separação obtida.
Fonte: o próprio autor.
Devido ao comportamento logarítmico da função optou-se por trabalhar
em dosagens próximas de 250 mg/L onde observa-se uma mudança de
tendência da curva e sua aproximação de um platô. Assim sendo, para
concentrações superiores a 250 mg/L não se observam variações
significativas na eficiência de separação. Utilizou-se, portanto, nos ensaios
posteriores dosagens de nanopartículas equivalentes a 230 mg/L.
5.3.1. Interação entre as nanopartículas e a superfície das microalgas
(mecanismo de separação)
A floculação de suspensões está relacionada a diversos mecanismos,
que podem atuar combinados ou isolados, de acordo com o meio e o tipo de
material floculante. No presente trabalho, os mecanismos propostos são a
combinação de neutralização de cargas e a formação de pontes poliméricas
entre as microalgas. O primeiro está relacionado com a atração eletrostática
entre cargas opostas de modo que elas sejam neutralizadas. Neste caso, as
nanopartículas positivas adsorveriam sobre as microalgas negativas
eliminando o efeito de estabilização por repulsão eletrostática em suspensão
!
!
60
das mesmas. Outro mecanismo proposto, atrelado a este, é a formação de
pontes entre as microalgas devido à presença de cadeias poliméricas de
cargas opostas a elas (VANDAMME; FOUBERT; MUYLAERT, 2013). Este
mecanismo é observado devido ao tipo de nanopartículas formadas, ou seja,
núcleo-casca. As partículas estão funcionalizadas por copolímeros catiônicos
que podem adsorver em mais de uma célula, formando pontes e resultando na
obtenção de grandes flocos a partir destas pontes.
Nos ensaios de separação realizados, estudou-se o efeito do pH do
meio sobre a eficiência de separação e capacidade de recuperação das
microalgas, além do tipo de nanopartícula empregada nos ensaios. Diferenças
quantitativas acentuadas foram observadas entre as nanopartículas
funcionalizadas e aquelas que não sofreram modificação de sua superfície
(óxido de ferro puro). Além disso, os resultados também variaram em função
do tipo de polímero utilizado como agente de funcionalização das
nanopartículas magnéticas. A separação magnética é esquematizada por
meio de imagens, como mostrado na figura 5.11a. As figuras 5.11b e 5.11c
apresentam as imagens de microscopia ótica das microalgas em suspensão e
as nanopartículas floculadas sobre as microalgas durante os ensaios,
respectivamente. Como pode ser observado, o meio em que as microalgas
estão (figura 5.11b) é um meio diluído, o que representa uma das dificuldades
em trabalhar com microalgas como fonte de matérias primas, conforme
discutido por Milledge e Heaven (2013).
!
!
61
Figura 5.11 – Esquema dos ensaios de separação magnética da Chlorella
minutissima (a), microscopia ótica das suspensão de microalgas (b) e microscopia ótica da
floculação das nanopartículas sobre as células microalgais (c).
Fonte: o próprio autor.
Entretanto, os resultados obtidos nos ensaios de magnetoforese
mostraram-se eficazes, com rápida floculação e alta taxa de sedimentação.
Como visto, as células de Chlorella minutissima apresentam superfície
negativa em toda a faixa de pH estudada neste trabalho (figura 5.9), enquanto
que o Fe3O4 puro é um composto anfiprótico, cuja carga superficial depende
do pH. Esta característica se mostrou não somente relacionada ao DP, mas
também a eficiência de separação das microalgas.
Assim, as nanopartículas de Fe3O4 apresentaram atração mais
acentuada à superfície das microalgas em pH mais ácido (pH 4) devido à
interação eletrostática mais forte. Com o aumento do pH a intensidade desta
interação diminui até o ponto em que há uma inversão de carga superficial
líquida (pH>PIE), como pode ser observado na figura 5.1 pelo efeito de
variação de DP. Entretanto, acima do valor teórico do PIE ainda existe uma
considerável separação magnética das microalgas, o que indica que o
mecanismo de adsorção das nanopartículas às células não se restringe
apenas à atração eletrostática. A figura 5.12 apresenta o efeito da
!
!
62
funcionalização do óxido de ferro, empregando-se o copolímero quaternizado,
na eficiência de separação em uma faixa de pH entre 4 e 10.
Figura 5.12 – Efeito da funcionalização do óxido de ferro e da concentração de
copolímero empregada nas sínteses sobre a eficiência de separação das microalgas
Chlorella em diferentes pH. NP-1 (a), NP-2 (b), NP-3 (c) e NP-4 (d).
Fonte: o próprio autor.
Devido ao tamanho bastante reduzido das nanopartículas, estas
apresentam uma área e energia superficial específica muito elevada, o que
torna a sua adsorção na superfície das microalgas ainda mais forte. Li et al.
(2009) demonstraram que mesmo aplicando-se óxido de ferro revestido por
uma dupla camada de ácido oleico, onde grupos carboxílicos (protonados ou
desprotonados) estariam em contato com o meio aquoso, existe uma forte
adsorção e separação magnética na separação magnética de células. Eles
consideram que, devido à complexa composição da membrana de uma célula
(proteínas, carboidratos, lipo-polissacarídeos, entre outros), a matriz externa
da membrana pode formar interações hidrofóbicas com as nanopartículas
aplicadas nos ensaios e, portanto, haverá adsorção e separação magnética
das células. Além das interações hidrofóbicas, os autores se referem à grande
diferença de tamanho entre as nanopartículas e as células, o que também
!
!
63
contribui com o mecanismo de adsorção e é chamado de efeito de tamanho
nanométrico.
Assim, considera-se que a interação hidrofóbica e o efeito do tamanho
foram suficientemente fortes, acima (ou próximo) do PIE do óxido de ferro,
para fornecer uma eficiência de separação das microalgas acima de 60%
(figura 5.12). Em pH 5, o DP é muito mais elevado do que em outros valores
de pH, conforme mostrado da figura 5.1 devido à baixa concentração de
cargas na superfície, o que favorece a aglomeração. Entretanto, durante os
ensaios de separação das microalgas, os aglomerados podem ter se desfeito
devido à presença das cargas negativas das microalgas e, portanto, a
eficiência e capacidade de recuperação ainda seguem o padrão esperado.
Em pH básico (8 e 10) observou-se um aumento da eficiência de
separação, em comparação com o pH 6 (figura 5.12). Isto pode estar
relacionado ao efeito da redução do tamanho das partículas devido a
desprotonação da superfície e a autofloculação das microalgas. Na figura 5.1
observa-se um tamanho mais reduzido de partículas para o óxido de ferro
(NP-1) nos valores de pH 8 e 10. Este efeito também pode ser observado na
figura 5.13, onde se observa um aumento da capacidade de recuperação de
células durantes os ensaios nestes mesmos valores de pH. Ademais, este
aumento é devido a auto-floculação das microalgas em meio alcalino, como
demonstrado por Wu et al. (2012). Os autores realizaram experimentos de
auto-floculação de microalgas em função do pH do meio com diversos
gêneros de microalgas, incluindo uma espécie de Chlorella, e obtiveram
resultados quanto à auto-floculação em meios alcalinos. Apesar de cada
espécie ter demonstrado comportamento quantitativo diferente, de maneira
geral, todas apresentaram auto-floculação mais acentuada a partir de pH 8. A
partir de 8, o aumento no pH aumentou ainda mais a auto-floculação.
Com relação às nanopartículas funcionalizadas pelo P(qDMAEMA10-co-
BA4) (reações NP-2, NP-3 e NP-4), pode-se observar uma melhoria tanto no
diâmetro (redução) e estabilidade coloidal, quanto nos resultados dos ensaios
de separação. Estas mudanças estão relacionadas ao recobrimento da
superfície do óxido de ferro com cadeias poliméricas que apresentam carga
oposta àquela observada na superfície das microalgas. Além disso, existe o
efeito de pontes formadas pelos polímeros com a superfície de duas ou mais
!
!
64
células de microalga, o que resulta em grandes flocos, aumentando ainda
mais a floculação (VANDAMME et al., 2013).
Figura 5.13 - Efeito da funcionalização do óxido de ferro e da concentração de
P(qDMAEMA10-co-BA4) empregada nas sínteses sobre a capacidade de recuperação das
microalgas Chlorella em diferentes pHs. NP-1 (a), NP-2 (b), NP-3 (c) e NP-4 (d).
Fonte: o próprio autor.
Uma das diferenças mais acentuadas entre as nanopartículas
funcionalizadas e as não funcionalizadas foi o efeito do pH sobre seu
tamanho. Enquanto o óxido de ferro não modificado (NP-1) apresentou
variações de DP para diferentes valores de pH do meio, as nanopartículas
recobertas pelo P(qDMAEMA10-co-BA4) se mostraram quase que
independentes do efeito do pH. Estas variações de DP devido ao efeito do pH
e à presença do P(qDMAEMA10-co-BA4) se mostraram diretamente
relacionadas à interação com as microalgas.
Pode-se observar na figura 4.1 que para NP-2, NP-3 e NP-4 não houve
variação significativa de DP em função do pH do meio, o que está relacionado
à estabilização, devido a adsorção do copolímero na superfície do óxido de
ferro. O efeito das cadeias na superfície das NPs, como descrito
anteriormente, está relacionado à repulsão estérica entre cadeias poliméricas,
o que evita sua aglomeração e aumenta a sua estabilidade em suspensão.
Além disso, a presença do grupo amino carregado também contribuiu para a
!
!
65
repulsão eletrostática entre as partículas, diminuindo ainda mais a formação
de aglomerados.
A variação da concentração de P(qDMAEMA10-co-BA4) na etapa da
síntese resultou em diferentes tamanhos de partículas e, provavelmente em
diferentes arranjos de partículas, o que afetou o mecanismo de interação
entre as NPs e as microalgas.
Dentre os três materiais obtidos (NP-2/3/4), NP-2 apresentou os
menores valores de DP na faixa de pH estudada, observando-se um DP tão
reduzido quanto 64,8 nm em pH 8, por exemplo. Supõe-se que as
nanopartículas obtidas (NP-2) apresentam uma fina camada de copolímero
em sua superfície e que tenha havido uma menor formação de aglomerados
do tipo cacho (cluster), o que resultaria em uma diminuição de DP. Com isto,
este seria o material com maior superfície específica. Por outro lado, NP-3
apresentou maiores DPs do que NP-4. Isto indica que a concentração de
P(qDMAEMA10-co-BA4) pode ter influenciado na formação de partículas com
um único núcleo de partículas de óxido de ferro com uma casca de polímero
(core-shell) para baixas concentrações (NP-2) e a formação de partículas
maiores na forma de aglomerados com múltiplos núcleos de óxido de ferro
(cluster) para maiores concentrações (BORLIDO et al, 2013). Aparentemente,
existem outros fatores regendo esta formação dos núcleos de óxido de ferro,
ou seja, fatores que influenciaram na nucleação e crescimento de cristais e
também no tipo de revestimento das partículas. Assim sendo, as diferenças no
DP entre NP-3 (137,5-188,9 nm) e NP-4 (90,3-140,3 nm) mostraram-se como
um dos principais fatores a afetar a eficiência de separação das microalgas. O
recobrimento da superfície do óxido de ferro afeta o diâmetro das partículas e,
portanto, pode ser considerado como um importante fator que afeta a
eficiência de separação das microalgas.
Hu et al. (2014) estudaram o efeito da concentração do homopolímero
polietilenoimina (PEI) na funcionalização de óxido de ferro e sugeriram que
variações na separação magnética seriam devido ao recobrimento parcial da
superfície do óxido de ferro, havendo, portanto, uma variação das
características das partículas em função da variação da concentração de
polímero, existindo um limite máximo a partir do qual a concentração de
polímero não influenciaria mais a separação magnética.
!
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66
Portanto, pode-se afirmar que existe um balanço entre os mecanismos
de interação entre as nanopartículas e as microalgas (interação eletrostática,
efeito nanométrico e interações hidrofóbicas). No caso de NP-2, tomando-se o
pH 6 como exemplo (DP = 67 nm), considera-se que o efeito do tamanho
reduzido tenha prevalecido sobre uma maior concentração de copolímero
catiônico (responsável pela interação eletrostática) empregada em NP-3 (DP =
156.3 nm). NP-4, mesmo tendo apresentado maior DP (119,6 nm) que NP-2
(figura 5.1), o que resulta em uma menor área superficial específica,
apresentou os resultados mais relevantes quanto a magnetoforese (figura
5.12). É possível que NP-4 apresente aglomerados com múltiplos núcleos e
uma camada mais grossa de copolímero o que aumentaria a carga e a
quantidade de pontes de polímero entre NPs e células, levando a uma melhor
floculação. Isto fica claro quando se observa a capacidade de recuperação
das microalgas e sua eficiência de separação, apresentada na figura 5.12. Em
pH 8 e 10 pode ter havido auto-floculação das microalgas, o que resultou na
melhoria da separação.
De maneira geral, pode-se dizer que não se obteve 100% de
funcionalização das nanopartículas, como mostrado nas micrografias obtidas
por MEV. Dessa forma, o efeito do pH sobre o DP das nanopartículas obtidas
em NP-2 – NP-4 está atrelado a quaisquer partículas de óxido de ferro não
funcionalizadas que estejam sujeitas ao efeito do pH. Isto fica mais claro em
pH 6 para todos os materiais (figuras 5.12 e 5.13) onde o óxido puro estaria
mais próximo da neutralidade de carga e apresentaria menor interação com as
microalgas.
5.3.2. Estudo do tipo de polímero empregado e o efeito do pH
Além do copolímero P(qDMAEMA10-co-BA4), estudou-se o efeito de
outros polímeros (quitosana e PNVCL) na separação magnética da Chlorella
sp. A escolha dos polímeros, assim como feito com o copolímero, deu-se de
acordo com suas estruturas químicas, objetivando-se a interação eletrostática
entre as nanopartículas e as microalgas, e um tamanho reduzido de
partículas.
!
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67
Um dos polímeros utilizados para a funcionalização do óxido de ferro foi
a quitosana (NP-5), um polímero natural que apresenta grupos amino em suas
cadeias em quantidades variáveis de acordo com seu grau de desacetilação.
A quitosana utilizada apresenta 65% de desacetilação, o que significa que
65% dos grupos acetil foram substituídos por grupos amino, o que torna este
polímero sujeito a protonação e interação com a superfície das microalgas.
O outro polímero empregado na funcionalização para os ensaios de
separação magnética foi um homopolímero de poli(N-vinilcaprolactama)
(PNVCL) (NP-6), devido à presença do heteroátomo nitrogênio na função
lactama no grupo lateral das cadeias.
Apesar das nanopartículas funcionalizadas com quitosana
apresentarem variação de tamanho em função do aumento do pH bastante
similar àquelas funcionalizadas pelo P(qDMAEMA10-co-BA4) (Figura 5.2), sua
eficiência nos ensaios de magnetoforese demonstrou que houve menor
interação com as células, como mostram as figuras 5.14 e 5.15.
Figura 5.14 - Efeito da variação do polímero catiônico utilizado sobre a eficiência de
separação das microalgas em diferentes valores de pH: NP-4 (a), NP-5 (b) e NP-6 (c).
Fonte: o próprio autor.
Os resultados estão relacionados diretamente ao grau de desacetilação
do polímero. Para tal aplicação, um grau de desacetilação de 65% pode não
!
!
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ter sido suficientemente alto, devido à baixa quantidade de grupos amino nas
cadeias. Mesmo em pH ácido, onde os grupos estariam protonados, o grau de
desacetilação limitou a interação eletrostática entre as células e as
nanopartículas. Segundo observado nas figuras 5.14 e 5.15, em pH ácido,
quando os grupos das cadeias de quitosana estariam protonados, a atração
eletrostática com as microalgas seria mais forte. A medida que o pH aumenta,
os grupos –NH3+ são desprotonados e as partículas deixam de apresentar
carga positiva em sua superfície. O ligeiro aumento na separação em pH 8 e
10 pode estar relacionado com a auto-floculação das microalgas em meio
alcalino, como citado.
Figura 5.15 - Efeito da variação do polímero catiônico utilizado sobre a capacidade de
recuperação das microalgas em diferentes valores de pH: NP-4 (a), NP-5 (b) e NP-6 (c).
Fonte: o próprio autor.
Apesar dos experimentos de Wu e colaboradores (2012) terem
considerado um tempo mais longo para a auto-floculação do que o tempo
utilizado nos ensaios de separação deste trabalho, pode-se dizer que houve
influência da alcalinidade do meio nos resultados obtidos. Assim, mesmo que
as nanopartículas tenham apresentado menor, ou nenhuma, carga positiva
superficial, os resultados foram superiores aos obtidos em pH 6, mesmo com
a diminuição de DP para os produtos de NP-4 e NP-5.
!
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69
Em relação às nanopartículas onde empregou-se a PNVCL como
agente de revestimento e funcionalização (reação NP-6), observou-se um DP
muito elevado em comparação aos outros polímeros, bem como baixa
estabilidade coloidal. A princípio, considerou-se que as nanopartículas de
óxido de ferro não teriam sido funcionalizadas e que portanto teriam formado
grandes aglomerados. Entretanto, a figura 5.2 (pg. 47) mostra que a variação
do diâmetro de partículas em função do aumento do pH apresentou o mesmo
comportamento, quando comparado àquele para o óxido de ferro não
funcionalizado. Dessa forma, uma explicação mais cabível seria de que houve
funcionalização da superfície do óxido de ferro, entretanto pode-se ter
formado grandes aglomerados com múltiplos núcleos e uma grande
quantidade de polímero formando pontes. Em pH ácido, supõe-se que o grupo
lactama do homopolímero estaria protonado, levando a menores valores de
DP, devido à repulsão entre as cadeias de polímero e, portanto, maior
eficiência de separação, assim como maior capacidade de recuperação.
Entretanto, em pH básico não se observaria nenhum grupo carregado de
modo que as interações hidrofóbicas entre as cadeias prevaleceriam e as
partículas aglomerariam. Assim, aumentar-se-ia DP e a ausência de cargas,
atrelada a uma menor área superficial, diminuiria a separação das microalgas.
Pode-se afirmar que em pH 10 houve uma certa taxa de auto-floculação das
microalgas e portanto os resultados são superiores àqueles em outros valores
de pH.
5.3.3. Efeito do volume na separação magnética
Visando-se avaliar o efeito do volume sobre a separação das
microalgas, realizou-se um ensaio em um volume dez vezes maior (200 mL)
do que aquele empregado nos demais testes de separação. Ambos os ensaios
foram efetuados com as nanopartículas funcionalizadas com maior
concentração de P(qDMAEMA-co-BA) (NP-4) em pH 4. A tabela 5.3 apresenta
a diferença entre os resultados obtidos em cada um dos ensaios.
!
!
70
Tabela 5.3 – Comparação dos resultados obtidos quanto ao aumento do volume nos
ensaios de separação.
Material Volume do
meio (mL)
Massa de
NP (mg)
Eficiência de
separação (%)
Capacidade de
recuperação (g-
biomassa seca/g-NP)
NP-4 20 5 93,67 4,923
NP-4 200 50 70,06 2,442
Fonte: o próprio autor.
Apesar de ter havido uma redução de mais de 20% na eficiência de
separação e a capacidade de separação ter sido reduzida à metade, não se
pode afirmar que o aumento do volume seria prejudicial ao processo
utilizando-se as nanopartículas NP-4. Seria necessário realizar um estudo de
custos de processo, principalmente em relação ao tempo de separação e ao
volume em função da massa de nanopartículas, para verificar quais seriam os
pontos ótimos no processo. Desta forma, obter-se-ia os valores mais
economicamente viáveis para a separação magnética, que provavelmente não
seriam altos valores de eficiência, ou mesmo volumes pequenos. Além destes
fatores, diversos outros deveriam ser considerados, como o formato e o tipo
de imã empregado no processo, agitação e concentração inicial do meio, entre
outros.
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6. CONCLUSÃO
O objetivo principal deste trabalho consistiu na avaliação do efeito do
uso de nanopartículas magnéticas de Fe3O4 funcionalizadas com diferentes
polímeros em ensaios de separação magnética de microalgas Chlorella
minutissima. Empregou-se três polímeros diferentes como agentes de
revestimento e funcionalização das nanopartículas magnéticas. Os resultados
foram comparados com aqueles obtidos utilizando nanopartículas de Fe3O4
não funcionalizadas.
Primeiramente, as nanopartículas magnéticas sintetizadas foram
caracterizadas quanto ao seu diâmetro e índice de polidispersidade,
cristalinidade e morfologia. Em seguida, a eficiência de separação e a
capacidade de recuperação das microalgas, utilizando-se estas
nanopartículas, foram medidas em ensaios de magnetoforese. A partir dos
resultados obtidos neste trabalho, observou-se que certas características das
nanopartículas de óxido de ferro, como tamanho, por exemplo, influenciaram
na eficiência da separação magnética de microalgas Chlorella minutissima.
Além disso, o pH do meio também exerceu uma influência significativa para as
nanopartículas de óxido de ferro puro e óxido de ferro funcionalizado com
quitosana e PNVCL na eficiência de separação das microalgas. O mesmo não
foi observado para as NPs funcionalizadas com P(qDMAEMA-co-BA).
Os resultados obtidos foram promissores em comparação com
trabalhos encontrados na literatura. Utilizando-se baixa concentração de
copolímero e uma baixa dosagem de nanopartículas nos ensaios pode-se
obter eficiência de separação de até 93%, com apenas cinco minutos de
ensaio, e capacidade de recuperação de 4,91 g-biomassa seca/g-
nanopartícula).
A partir dos resultados obtidos, pode-se concluir, ainda, que:
• As nanopartículas obtidas a partir da funcionalização do óxido de ferro
com diferentes concentrações de P(qDMAEMA10-co-BA4) não
apresentaram variação significativa de diâmetro de partícula. Além
disso, estas nanopartículas apresentaram variação pouco significativa
em relação à variação do pH do meio;
!
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72
• Difratogramas de raios X mostraram a presença de picos característicos
de Fe3O4 em todos os materiais;
•
• Micrografias de MEV mostraram a presença de aglomerados de
nanopartículas;
• As nanopartículas sintetizadas com a maior concentração de
P(qDMAEMA10-co-BA4) (0,56 mg/mL) apresentaram os melhores
resultados nos ensaios de separação devido à interação eletrostática
mais forte com a superfície das microalgas, além da influência dos
outros mecanismos de separação propostos;
• Em relação aos polímeros empregados na funcionalização, as
nanopartículas funcionalizadas pelo copolímero P(qDMAEMA10-co-BA4)
mostraram-se mais eficazes na separação magnética das microalgas,
devido ao seu menor DP, à presença de cargas positivas nas cadeias e
à fraca dependência do pH do meio.
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73
7. SUGESTÕES DE TRABALHOS FUTUROS
De acordo com os resultados obtidos sugere-se os seguintes estudos:
• Efeito da temperatura sobre os ensaios de separação das microalgas,
que seria realizado por meio de isotermas de adsorção utilizando-se as
mesmas nanopartículas obtidas neste trabalho. Além disso, seria muito
interessante o estudo do tipo de adsorção nos ensaios de separação
(camada simples, múltipla, heterogênea ou outro tipo) das microalgas
Chlorella minutissima, especificamente. Os resultados de síntese e
parâmetros dos ensaios de separação são essenciais para este estudo
sugerido;
• Carga superficial das nanopartículas (potencial zeta), de maneira
quantitativa para um melhor entendimento dos mecanismos envolvidos
na separação magnética das microalgas. Além disso, a determinação
da magnetização de saturação das nanopartículas obtidas. Neste
trabalho, estudou-se os efeitos das nanopartículas e os mecanismos de
separação apenas de maneira qualitativa;
• Proporção mássica entre óxido de ferro e polímero nas nanopartículas
e sua composição química. É fundamental manter uma proporção
adequada entre os materiais, de modo que uma baixa quantidade de
óxido de ferro diminua a magnetização de saturação das
nanopartículas, assim como uma baixa quantidade de cadeias
poliméricas na superfície diminuiria a carga de superfície, o que
prejudicaria o mecanismo de separação;
• Recuperação e capacidade de reciclo das nanopartículas nos ensaios
de separação, para avaliar a perda de nanopartículas, no reciclo, a
diminuição da eficiência de separação e a capacidade de recuperação
das microalgas, determinando-se um número máximo de reciclos, que
ainda permita uma separação adequada;
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74
• Custos envolvidos neste processo, assim como o aumento de escala e
otimização da dosagem de nanopartículas envolvidas nos ensaios.
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REFERÊNCIASi
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