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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO INSTITUTO DE PSICOLOGIA EINAT HAUZMAN Estudo comparativo da densidade e topografia de neurônios de retinas de Philodryas olfersii e P. patagoniensis (Serpentes, Colubridae) SÃO PAULO 2009

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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

INSTITUTO DE PSICOLOGIA

EINAT HAUZMAN

Estudo comparativo da densidade e topografia de neurônios de retinas de Philodryas olfersii e P. patagoniensis

(Serpentes, Colubridae)

SÃO PAULO 2009

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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

INSTITUTO DE PSICOLOGIA CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO

Estudo comparativo da densidade e topografia de neurônios de retinas de Philodryas olfersii e P. patagoniensis

(Serpentes, Colubridae)

Einat Hauzman Orientadora: Profa Dra Dora Fix Ventura Dissertação apresentada ao Programa de Neurociências e Comportamento do Insituto de Psicologia da Universidade de São Paulo, como parte dos requisitos para a obtenção do grau de Mestre em Psicologia.

SÃO PAULO

2009

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0BAUTORIZO A REPRODUÇÃO E DIVULGAÇÃO TOTAL OU PARCIAL DESTE TRABALHO, POR QUALQUER MEIO CONVENCIONAL OU ELETRÔNICO, PARA FINS DE ESTUDO E PESQUISA, DESDE QUE CITADA A FONTE.

Catalogação na publicação Serviço de Biblioteca e Documentação

Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo

Hauzman, Einat.

Estudo comparativo da densidade e topografia de neurônios de retinas de Philodryas olfersii e P. patagoniensis (Serpentes, Colubridae) / Einat Hauzman; orientadora Dora Selma Fix Ventura. -- São Paulo, 2009.

108 p. Dissertação (Mestrado – Programa de Pós-Graduação em

Psicologia. Área de Concentração: Neurociências e Comportamento) – Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo.

1. Retina 2. Neurônios 3. Acuidade visual 4. Serpentes I. Título.

QP479

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FOLHA DE APROVAÇÃO

Einat Hauzman “Estudo comparativo da densidade e topografia de neurônios de retinas de Philodryas olfersii e P. patagoniensis (Serpentes, Colubridae)” Dissertação apresentada ao Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo, para obtenção do título de Mestrado. Área de Concentração: Neurociências e Comportamento Dissertação defendida e aprovada em: ______ / ______/ ______

BANCA EXAMINADORA Examinador(a) Assinatura ...................................................................................

Nome ...........................................................................................

Instituição .................................................................................... Examinador(a) Assinatura ...................................................................................

Nome ...........................................................................................

Instituição .................................................................................... Examinador(a) Assinatura ...................................................................................

Nome ...........................................................................................

Instituição ....................................................................................

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Aos meus pais, com carinho, por terem me trazido a este mundo e por tudo o que sempre fizeram por mim. Dedico este trabalho a vocês e agradeço profundamente por todo amor, carinho e apoio que sempre me deram. Muito Obrigada!

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1BAGRADECIMENTOS

Agradeço a minha orientadora, Professora Dra. Dora Fix Ventura, pelos valiosos

ensinamentos, pela orientação e por tornar possível a realização deste estudo, fornecendo todas

as condições necessárias, físicas e intelectuais.

A querida amiga, Daniela Bonci, por todo o incentivo e apoio durante estes anos. Por

trasmitir sua experiência no laboratório, com paciência e dedicação e pelo seu contagiante amor

pela ciência.

A Sonia Grötzner, pela realização dos trabalhos de imunohistoquímica no Laboratório,

que possibilitaram o uso dos materiais e protocolos em trabalhos subsequentes. Agradeço a

importante contribuição na preparação de materiais histológicos e na discussão de metodologias.

A Selma Almeida-Santos, pela orientação e pelo exemplo de dedicação, desde o início de

minha carreira acadêmica e estágio no Butantan. Pela orientação e incentivo inicial neste estudo.

Ao André e Soninha, pela contribuição prática e intelectual neste trabalho.

A Maritana pela preparação de material para a microscopia eletrônica de varredura.

Ao amigo Antonio (Toto), por toda ajuda e pela ótima idéia de iniciar o estudo

comportamental com os filhotes de Philodryas.

Ao Rodrigo Scartozzoni pela ajuda, leitura e correções do projeto inicial.

Aos pesquisadores do Butantan, Otávio, Kiko e Hebert, pelo interesse neste trabalho e

pelas contibuições e sugestões.

Ao Valdir, Antonio Carlos e Joãozinho, pelo fundamental auxílio com os animais, no

Laboratório de Herpetologia.

Ao Laboratório de Herpetologia do Instituto Butantan, por fornecer os animais para este

estudo.

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A Professora Dra. Dânia E. Hamassaki, por permitir o trabalho e o uso de materiais do

Laboratório de Biologia Celular da Retina do ICB I, USP.

A todos os colegas do Laboratório de Psicofisiologia Sensorial e do Laboratório da Visão

e aos colegas do Butantan, pelas ajudas e pelo agradável e bem humorado convívio.

As serpentes Philodryas.

A FAPESP, pela concessão da bolsa de mestrado e pelo apoio financeiro para a

realização desta pesquisa.

A Laura e Tati, pela amizade e pelo carinho de sempre.

Aos meus pais pelo carinho e apoio, e aos meus familiares. Agradeço a tia Fani, por todo

auxílio, desde o início da carreira acadêmica até agora. Muito obrigada!

Ao meu Mestre, Shri Swami Vyaghra Yogi, pelos ensinamentos e por todas as

transformações proporcionadas. Dhanyavad!

Ao meu querido Pandit Kumar, por todo carinho, respeito, companheirismo e apoio!

Dhanyavad!

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“Há uma grandeza simples no fato de

considerar a vida, com as suas capacidades de

desenvolvimento, como se tivesse sido

originalmente insuflada na matéria sob uma ou

poucas formas e no fato de que, enquanto este

planeta girava em órbitas correspondentes a

leis fixas, num ciclo de transformação em água

e terra, foram substituindo-se uma após outra,

através do processo de seleção gradual de

mudanças infinitesimais, até chegarem a uma

quantidade infinita de formas belíssimas e

admiráveis.”

Charles Darwin (A origem das espécies)

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ÍNDICE GERAL 1. Introdução

1.1 Serpentes: Diversidade e Adaptações..........................................................................1 1.1.1. Família Colubridae......................................................................................2

1.1.2. Descrição das espécies Philodryas olfersii e P. patagoniensis...................3 1.2. O Sistema Visual........................................................................................................6

1.2.1. A Retina.......................................................................................................9 1.2.1.1. Fotorreceptores............................................................................11 1.2.1.2. Os Fotopigmentos e o Processamento Visual.............................15 1.2.1.3. Especializações da Retina...........................................................19

1.2.2. Acuidade Visual.........................................................................................21 2. Justificativa..............................................................................................................................24 3. Objetivos..................................................................................................................................26 4. Metodologia.............................................................................................................................25

4.1 Procedimentos com os animais.................................................................................27 4.2. Estudos morfológicos: histologia clássica e microscopia eletrônica de varredura...28 4.3. Imunohistoquímica...................................................................................................29

4.3.1. Procedimentos imunohistoquímicos: retinas planas e cortes histológicos..26 4.3.2. Cortes Histológicos Radiais.........................................................................30 4.3.3. Montagens Planas (preparações íntegras das retinas)................................34 4.4.Marcação de Células da CCG: Técnica de Nissl.......................................................34 4.5. Análise morfológica quantitativa e topográfica........................................................35 4.6. Cálculo da Acuidade Visual.....................................................................................36

5. Resultados.................................................................................................................................37 5.1. Análise morfológica: histologia clássica e microscopia eletrônica de varredura.......37 5.2. Análise dos cortes radiais...........................................................................................39 5.3. Análises topográficas e quantitativas: montagens planas...........................................42

5.3.1 População total de fotorreceptores...............................................................42 5.3.2. População de cones S..................................................................................48 5.3.3. População de cones L/M.............................................................................52 5.3.4. População de células da CCG.....................................................................56

5.4. Estimativa da acuidade visual....................................................................................62 6. Discussão...................................................................................................................................63 6.1. População de Fotorreceptores....................................................................................63 6.2. Densidade e Topografia de Fotorreceptores...............................................................64 6.3. Densidade e Topografia de Células da CCG..............................................................69 6.4. Acuidade Visual.........................................................................................................77 7. Conclusões.................................................................................................................................80 8. Referências Bibliográficas........................................................................................................81 9. Anexos.......................................................................................................................................91

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ÍNDICE DE FIGURAS

Figura 1. Philodryas patagoniensis (cobra parelheira) e Philodryas olfersii (cobra verde, boiubu) (Fotos: Otavio Marques)............................................................................... 3

Figura 2. Corte sagital de olho de serpente (Walls, 1942).............................................................7

Figura 3. Anatomia funcional de olho de lagarto (A) e de serpente (B), ilustrando as principais diferenças entre os dois tipos. C, lagarto foca a imagem na retina contraindo os grandes músculos ciliares (bm, cm) ancorados aos ossículos da esclera (so), aplicando assim uma pressão na superfície lateral do cristalino (ln). D, serpentes focam a imagem na retina movendo o cristalino para frente, pelo aumento da pressão no vítreo (vi) devido a contração de músculos periféricos da íris (im). Abreviações: an, via anterior; bm, músculo ciliar de Brücke; cb, corpo ciliar; ch, coróide; cm, músculo ciliar de Crompton; cn, cônus papilar; co, córnea; el, pálpebra; fv, fóvea; id, músculo dilatador da íris; is, músculo do esfincter da íris; ln, lente; re, retina; sc, cartilagem da esclera; sl, esclera; sp, espectáculo; vi, humo vítreo; zf, fibras zonulares (Caprette, 2004)...........................................................................................8

Figura 4. Diagrama esquemático da retina de vertebrados (http://webvision.med.utah.edu/)......10

Figura 5. Representação de corte transversal de fotorreceptores da tartaruga Trachemys scripta. (A) cone simples, (B) cone duplo, (C) bastonete. Abreviações: se. segmento externo, go. gotícula de óleo, el. elipsóide, pa. parabolóide, ml. membrane limitante, mi. mióide, nu. núcleo, ts. terminal sináptico. A seta indica a direção da passagem da luz pela retina (Caprette, 2005).........................................................................................12

Figura 6. Representaçao da morfológica de fotorreceptores de serpentes: (A) cones duplos, (B) cones simples grandes, (C) cones simples pequenos, (D) cones simples com mióide grande, (E) cones simples pequeno com mióide extremanente longo, (F) cone duplo com mióide extremamente longo, (G) bastonete longo e (H) bastonete curto. Abreviações: se. segmento externo, el. elipsóide, ml, membrana limitante, nu. núcleo, ts. terminal sináptico, mi. mióide. A seta indica a direção que a luz passa pela retina (Caprette, 2005)..........................................................................................................14

Figura 7. Pico de sensibilidade espetral dos três tipos de cones e bastonete da retina de primatas (Dowling, 1987)..........................................................................................................16

Figura 8. Árvore filogenética para os pigmentos de vertebrados (Yokoyama, 1997)..............18

Figura 9. A frequência espacial é a medida do número de ciclos formados por grau de ângulo visual. Cada ciclo é formado por uma barra preta e uma branca e a medida é dada em ciclos por grau (cpg). (a) um ciclo por grau; (b) dois ciclos por grau (imagem: http://webvision.med.utah.edu/)..................................................................................22

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Figura 10. Imagem de corte transversal de olho de serpente (Walls, 1942). A barra vermelha representa a distância posterior nodal (PND), calculada como 50% do tamanho do globo ocular nas serpentes estudadas.........................................................................36

Figura 11. Corte radial de retina da serpente Philodryas olfersii, corado com hematoxilina-eosina (técnica histológica e imagem: Sonia Grötzner).............................................37

Figura 8. Fotografias da camada de fotorreceptores de retina de P. olfersii (A e C) e P. patagoniensis (B e D), obtidas a partir de microscópio de varredura. cg cone simples grande; cp cone simples pequeno; cd cone duplo (técnica e imagens: Maritana Mela)..........................................................................................................................38

Figura 13. Cortes radiais de retinas de P. olfersii (a) e P. patagoniensis (b), imunomarcadas com o anticorpo RbαJH492 e reveladas com gtαrb TRITC. ( ) Marcação de segmentos externos de cones L/M................................................................................................40

Figura 14. Cortes radiais de retinas de P. olfersii (a) e P. patagoniensis (b), imunomarcadas com o anticorpo JH455 e revelado com gtαrb TRITC. ( ) Marcação de segmento externo de cone S. Escala = 20 µm.........................................................................................40

Figura 15. Cortes radiais de retinas de P. olfersii (a) e P. patagoniensis (b), mostrando marcação inespecífica do anticorpo secundário biotinilado (gt α-rb biot), em regiões da retina com biotina endógena: epitélio pigmentado (ep), região do elipsóide do segmento interno dos fotorreceptores (si) e membrana limitante externa (ml). Revelação feita com CY3 acoplado a estreptavidina...........................................................................41

Figura 16. Imagem utilizada para contagem do número total de fotorreceptores, a partir da marcação inespecífica do segmento interno (*), pelo anticorpo secundário (gtαRb).......................................................................................................................42

Figura 17. Mapas topográficos dos fotorreceptores de três retinas de P. olfersii. a) Po 071205 OE; b) Po 071205 OD; c) Po 081106 OD. A representação está em gradiente de cinza. A estria visual estende-se ao longo do eixo rostro-caudal, e nota-se duas areae, com maior densidade celular na região caudal e a região central. O disco branco representa a saída do nervo óptico.............................................................................45

Figura 18. Perfil da variação de densidade de fotorreceptores ao longo do eixo dorso-ventral de três retinas de P. olfersii. (a) Po071205 OE, (b) Po081106 OD, (c) Po071205 OD...46

Figura 19. Mapas topográficos dos fotorreceptores de quatro retinas de P. patagoniensis. a) Pp 071107.02 OE; b) Pp070419 OE; c) 071107.01 OD; d) Pp 071205 OD. A representação está em gradiente de cinza. Nota-se uma maior densidade celular na região ventral da retina, com area visual na região rostro-ventral. O disco branco representa a saída do nervo óptico... .........................................................................47

Figura 20. Imagem de retina plana de P. olfersii, incubada com JH455 e revelada com Cy3 acoplado a estreptavidina, utilizada para contagem do número de cones S e do número total de fotorreceptores. Observa-se os segmentos externos dos

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fotorreceptores imunomarcados ( ) e os segmentos internos apresentando marcação inespecífica pelo Cy3.................................................................................................48

Figura 21. Médias e desvios padrão da densidade de fotorreceptores, dos cones S e dos cones L/M nas retinas de P. olfersii e P. patagoniensis......................................................49

Figura 22. Mapas topográficos dos cones S de uma retina de P. olfersii (a) (retina Po 080221.02 OD) e de uma retina de P. patagoniensis (b) (retina Pp 071107.02 OE). A representação está em gradiente de cinza. Notam-se duas áreas de maior densidade celular, na região central e na região rostro-ventral em P. olfersii (a) e área de maior densidade celular na região ventral em P. patagoniensis (b). O disco branco representa a saída do nervo óptico.............................................................................51

Figura 23. Imagem de retina plana de P. olfersii, incubada com JH492 e revelada com Cy3 acoplado a estreptavidina, utilizada para contagem de cones L/M e do número total de fotorreceptores. Observam-se os segmentos externos dos fotorreceptores imunomarcados ( ) e os segmentos internos apresentando marcação inespecífica pelo Cy3.....................................................................................................................52

Figura 24. Mapas topográficos dos cones L/M de uma retina de P. olfersii (a) (retina Po081106 OD) e uma retina de P. patagoniensis (b) (retina Pp 071205 OD). Em a) observa-se uma faixa visual acompanhando o eixo rostro-caudal, uma area centralis e uma area caudal. Em b) observa-se maior densidade celular na região ventral e uma area rostro-ventral. A representação está em gradiente de cinza. O disco branco representa a saída do nervo óptico...............................................................................................55

Figura 25. Imagem de retina plana de P. olfersii, marcada com Nissl, mostrando os corpos celulares das células ganglionares ( ) da CCG........................................................56

Figura 26. Médias e desvios padrão da densidade de fotorreceptores e células da CCG das retinas de P. olfersii e P. patagoniensis.....................................................................57

Figura 27. Imagens do mesmo campo amostrado de uma retina de P. olfersii (Po081126 OE) marcada com técnica de Nissl. a) Camada de Fotorreceptores; b) Camada de Células Ganglionares (CCG)..................................................................................................58

Figura 28. a) Mapa topográfico das células da CCG de P. olfersii (Po081126 OE); b) Mapa topográfico do total de fotorreceptores de P. olfersii (Po071205 OD). As representações estão em gradiente de cinza. Nota-se uma faixa visual, uma area centralis e uma area caudal em a) e em b). O disco branco representa a saída do nervo óptico................................................................................................................59

Figura 29. a) Mapa topográfico das células da CCG de P. patagoniensis (Pp081023.01 OD), com maior densidade celular na região central e rostral; b) Mapa topográfico do total de fotorreceptores de P. patagoniensis (Pp071205 OD), com maior densidade celular na região ventral e rostral. As representações estão em gradiente de cinza. O disco branco representa a saída do nervo óptico.................................................................60

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Figura 30. Mapas topográficos da variação da proporção de fotorreceptores e de células da CCG em retina de P. olfersii (Po 081126 OE) (a) e retina de P. patagoniensis (Pp081023.01 OE) (b). As representações estão em gradiente de violeta (1:1), onde há maior quantidade de células ganglionares, ao amarelo (1:3), com maior densidade de fotorreceptores e menor densidade de ganglionares. O disco branco representa a saída do nervo óptico..................................................................................................61

Figura 31. Árvore filogenética das opsinas para representantes do grupo dos vertebrados (Jacobs & Rowe, 2004)...........................................................................................................67

Figura 32. Mapas topográficos dos fotorreceptores de P. olfersii (a) e P. patagoniensis (b), mostrando as diferentes regiões de especialização das retinas com aumento da densidade celular.........................................................................................................69

Figura 33. Imagem da camada de células ganglionares (CCG) de retina de P. olfersii (Po081106OE), marcada com Nissl. Abaixo: células contadas marcadas em vermelho; as células com núcleo ovóide e citoplasma denso não foram contadas (possíveis células amácrinas deslocadas)....................................................................71

Figura 34. Foto de cabeça de P. patagoniensis (acima) e P. olfersii............................................76

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ÍNDICE DE TABELAS

Tabela 9. Diferentes anticorpos primários testados nos cortes radiais das retinas de Philodryas olfersii e P. patagoniensis...........................................................................................39

Tabela 1. Densidade média e população total dos fotorreceptores das retinas de P. olfersii e P. patagoniensis..............................................................................................................43

Tabela 2. Medidas de cada serpente e valores de densidade dos fotorreceptores das retinas de Philodryas patagoniensis. CRC = comprimento rostro cloacal; CC = comprimento caudal; m = massa (g).................................................................................................43

Tabela 3. Medidas de cada serpente e valores de densidade dos fotorreceptores das retinas de Philodryas olfersii. CRC = comprimento rostro cloacal; CC = comprimento caudal; m = massa (g).............................................................................................................44

Tabela 4. Densidade média e população total dos cones S de P. olfersii e P. patagoniensis.......50

Tabela 5. Valores de densidade de cones S das retinas de P. olfersii e P. patagoniensis............50

Tabela 6. Densidade média e população total dos cones L/M das retinas de P. olfersii e P. patagoniensis..............................................................................................................53

Tabela 7. Valores de densidade de cones L/M nas retinas de P. olfersii e P. patagoniensis.............................................................................................................53

Tabela 8. Densidade média e população total das células da CCG de P. olfersii e P. patagoniensis.............................................................................................................58

Tabela 9. Valores calculados da Acuidade Visual para cada retina de P. olfersii e P. patagoniensis; PND = distância posterior nodal calculada para cada olho; d = um grau na retina; S = medida de espaçamento intracelular entre as células; v = frequência espacial máxima; cpg = resolução espacial em ciclos/grau......................62

Tabela 10. Cálculos comparativos da acuidade visual. Quando possível, foi incluido para cada espécie tanto a acuidade estimada a partir do tamaho do olho e da densidade de células ganglionares, quanto a acuidade visual determinada comportamentalmente (Pettigrew & Manger, 2008).......................................................................................78

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RESUMO As serpentes são um grupo altamente diversificado, encontradas em praticamente todas as regiões do planeta, ocupando diferentes ambientes. Sua diversidade adaptativa indica a grande variabilidade dos órgãos sensoriais, adaptados ao hábitat e hábitos de cada espécie. Estudos sobre o sistema visual das serpentes são escassos e tem grande importância na compreensão de caracteres ecológicos, comportamentais e filogenéticos. Nos vertebrados as informações visuais são projetadas na retina e inicialmente processadas nessa camada neural, antes do processamento que ocorre no sistema nervoso central. Os tipos de células encontradas na retina, bem como sua densidade e distribuição variam entre as espécies e determinam especializações do sistema visual. Neste trabalho foi feita uma quantificaçao comparativa de fotorreceptores e neurônios da camada de células ganglionares (CCG) de duas espécies de serpentes colubrídeas diurnas, Philodryas olfersii e P. patagoniensis. Para tanto foram utilizadas técnicas de imunohistoquímica de opsinas e de marcação de Nissl. Serpentes adultas obtidas no Instituto Butantan foram anestesiadas com tiopental (30mg/kg) e sacrificadas com CO2. Os olhos foram enucleados e as retinas dissecadas e fixadas em paraformaldeido 4%. Um olho de cada serpente foi utilizado para fazer cortes radiais e testar diferentes tipos e concentrações de anticorpos. Para a preparação das retinas planas foram utilizados o anticorpo JH455, produzido em coelhos contra opsinas sensíveis aos comprimentos de onda curto de humanos (cones S) e o anticorpo JH492, produzido em coelhos contra opsinas sensíveis aos comprimentos de onda médio e longo de humanos (cones L/M). Foi utilizado anticorpo secundário biotinilado (gt α-rb biot) e a revelação feita com estreptavidina acoplada a molécula florescente CY3. Os cortes radiais e as retinas planas foram observadas em microscópio fluorescente equipado com câmara digital conectada a microcomputador dotado de programa para captura de imagens. A partir de imagens da retina obtidas com espaçamento mínimo de 0,5 mm foram feitas as contagens das células e os mapas de isodensidade celular. A densidade média dos fotorreceptores foi semelhante nas duas espécies (11.183,1 ± 1.107,4 células/mm2 em P. olfersii e 11.531,2 ± 1.054,9 células/mm2 em P. patagoniensis), assim como a proporção dos diferentes tipos de cones (3% cones S e 83% cones L/M em P. olfersii, e 5% cones S e 85% cones L/M em P. patagoniensis). As densidades de células da CCG também foram semelhantes (10.117,5 ± 1.026 células/mm2 em P. olfersii e 9.834,9 ± 2.772,2 células/mm2 em P. patagoniensis). Entretanto, os mapas de isodensidade mostraram diferentes regiões de especialização. P. olfersii apresentou uma faixa horizontal e duas areas centralis de maior densidade celular, uma na região central e uma na região caudal, indicando a melhor acuidade visual nos campos de visão frontal e lateral, o que possivelmente auxilia na locomoção e forrageamento no extrato arbóreo. P. patagoniensis apresentou maior densidade celular na região ventral e rostral, indicando a maior acuidade no campo visual superior e posterior, auxiliando na percepção da aproximação de predadores e animais maiores, importante para a sobrevivência de serpentes terrestres e possivelmente para a percepção de presas localizadas em estrato arbustivo.

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ABSTRACT Snakes are a diversified group found in almost all regions of the planet, occupying different habitats, with exception to Polar Regions, a few islands and the deeper ocean waters. Its diversity indicates the high variability of sensory organs, which are adapted to the habits and habitats of each species. Studies about snake’s visual system are scarce and have a great importance for the understanding of their ecology, behavior and phylogeny. In vertebrates the visual information is projected in the retina and initially processed in this neural tissue, before its processing in the central nervous system. The different kinds of cells present, as well as its density and distribution in the retina, vary between species and determinate specializations of the visual system. In this study we compared the density and distribution of photoreceptors and neurons of the ganglion cells layer (GCL) of two diurnal colubridae snakes, the arboreal Philodryas olfersii and the terrestrial P. patagoniensis, with opsins immunohistochemistry and Nissl staining. Adult snakes obtained in Instituto Butantan were anesthetized with thiopental (30mg/Kg) and the euthanasia was done with CO2. The eyes were enucleated and the retinas dissected and fixed in paraformaldeid 4%. One eye of each species was sectioned to test different antibodies and the counting for the determination of topographic distribution of density was made in flattened wholemount retinas. In the wholemounts retinas it was utilized the antibodies JH455 produced in rabbit against human S cone opsins and JH492 produced in rabbit against human L/M cone opsins. The photoreceptors density were similar in the two species (11,1831 ± 1,107.4 cells/mm2 in P. olfersii and 11,531.2 ± 1,054.9 cells/mm2 in P. patagoniensis), as well as the proportion of the different types of cells (3% S cones and 83% L/M cones in P. olfersii, and 5% S cones and 85% L/M cones in P. patagoniensis). The GCL cells density were also similar (10,117.5 ± 1,026 cells/mm2 in P. olfersii and 9,834.9 ± 2,772.2 cells/mm2 in P. patagoniensis). However, the isodensity maps showed different specializations regions. P. olfersii showed a horizontal streak and two areae (area centralis) with higher density, in the central and in the caudal regions, indicating a better visual acuity in the lateral and in the frontal visual field, what is possibly very important for locomotion and searching for preys (foraging) in the arboreal layer. P. patagoniensis showed a higher cell density in the ventral and rostral regions of the retina, indicating a better visual acuity in the superior and posterior visual field, what is important to perceive the approaching of predators and terrestrial animals and preys located in underbushes above the snake.

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1. INTRODUÇÃO

1.1 Serpentes: Diversidades e Adaptações

As serpentes são um grupo altamente diverso encontrado em praticamente todas as

porções da biosfera, com exceção dos pólos, algumas ilhas e fundos oceânicos (Lillywhite &

Henderson, 1993). A grande diversidade do grupo, composto por cerca de 2900 espécies,

distribuídas em 449 gêneros e 18 famílias, pode ser explicada pela ocorrência de uma série de

radiações adaptativas (Cadle, 1987; McDowell, 1987; Ford & Burhard, 1993).

As serpentes atuais podem ser classificadas em dois grandes grupos. O grupo

Scolecophidia, das chamadas cobras-cegas, composto por serpentes pequenas, fossórias e com

olhos reduzidos e o grupo Aletinophidia, composto pelas demais serpentes, com grande número

de famílias e diversidade de adaptações (ver classificação abaixo).

Classificação das serpentes

Reino: Animalia

Filo: Chordata

Classe: Reptilia

Ordem: Squamata

Subordem: Ofidia

Superfamílias: Scholecophidia

Alethinophidia

Noturnas ou diurnas, as serpentes estão presentes em praticamente todos os nichos

ecológicos, podendo ser terrestres, aquáticas ou semi-aquáticas, de água doce ou marinhas. No

hábitat terrestre podem ocupar ambientes fossoriais, criptozóicos (tocas, galerias ou folhiços no

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solo), terrícolas e arborícolas (Greene, 1997). Apresentam dieta variada, empregando diferentes

estratégias de caça para a captura de suas presas, sendo algumas forrageadoras ativas, enquanto

que outras caçam por espreita (Mushinky, 1987).

O sucesso evolutivo deste grupo está certamente relacionado ao alto grau de

desenvolvimento de alguns órgãos sensoriais (Ford & Burghardt, 1993). A variedade de

adaptações anatômicas dos olhos das serpentes demonstra como os fatores ambientais

influenciam na estrutura ocular e sua função (Walls, 1942). Os diferentes hábitats e ambientes

ocupados pelas serpentes diferem na qualidade espectral da luz, o que deve influenciar nos

padrões comportamentais relacionados à demanda pelo sistema visual (Ford & Burghardt, 1993).

1.1.1. Família Colubridae

A família Colubridae é a mais diversa, com cerca de 1690 espécies, representando

aproximadamente 65% das serpentes conhecidas (Underwood, 1967; Kraus & Brown, 1998;

Gravlund, 2001). São encontradas em todos os continentes, com exceção da Nova Zelândia e

regiões polares (Rage, 1987). Com grande diversidade morfológica e adaptativa, estão

incluídas nesta família serpentes de hábitos noturnos e diurnos, fossoriais, aquáticas ou semi-

aquáticas, terrícolas e arborícolas.

As serpentes desta família são consideradas não peçonhentas ou semi-peçonhentas,

dependendo da espécie e do tipo de dentição apresentada, que pode ser áglifa (sem presas

diferenciadas) ou opistóglifa (com dentes diferenciados, localizados no fundo da boca). As

espécies empregam diferentes estratégias de caça, como forrageamento ativo ou caça por

espreita. As formas de subjugação das presas podem ser por mordida ou enrodilhamento em

torno da presa.

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1.1.2. Descrição das espécies Philodryas olfersii e P. patagoniensis

As serpentes colubrídeas Philodryas olfersii e P. patagoniensis são espécies próximas na

filogenia, simpátricas e abundantes em diversas localidades da América do Sul (Thomas, 1976)

(Figura 1). Têm dieta generalista e predam grande variedade de pequenos vertebrados, como

anfíbios anuros, lagartos, outras serpentes, aves e mamíferos (Amaral, 1978; Hartmann &

Marques, 2005; Lopez, 2003; Vanzolini, 1986). Ambas exibem uma seleção do tipo de substrato

utilizado (Hartmann & Marques, 2005). P. olfersii apresenta hábitos semi-arborícolas, enquanto

P. patagoniensis é essencialmente terrícola (Hartmann & Marques, 2005; Sazima & Hadad,

1992, Fowler & Salomão, 1994a, 1994b; Marques et al., 2001).

Figura 1. Philodryas patagoniensis (cobra parelheira) e Philodryas olfersii (cobra verde, boiubu) (Fotos: Otavio Marques, Instituto Butantan).

Diferenças na coloração das duas espécies são indicativos da variação da freqüência de

uso do hábitat e micro-hábitat. Cores de camuflagem são importantes para serpentes de hábitos

diurnos, tanto para a defesa contra predadores visualmente orientados, quanto para a caça. P.

olfersii apresenta coloração verde, se camuflando bem em folhagens verdes, enquanto P.

patagoniensis possui coloração marrom, se camuflando em ambientes terrícolas (Hartmann &

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Marques, 2005). Dentre o gênero Philodryas, serpentes com padrão de coloração verde (P.

aestivus, P. olfersii e P. viridissimus) habitam freqüentemente florestas e parecem ser mais

arborícolas que espécies marrons de áreas mais abertas (P. patagoniensis, P. nattereri e P.

matogrossensis), como indicado pela sua morfologia (Fowler & Salomão 1994b; Marques,

1999).

Diferenças quanto ao tamanho do corpo e comprimento de cauda também reforçam a

idéia de que P. olfersii, mais leve e com cauda mais longa, seja predominantemente arborícola

(Martins et al., 2001; Hartmann & Marques, 2005). A massa corpórea reduzida e a presença de

cauda longa são caracteres morfológicos que apresentam grande vantagem para a locomoção em

extrato arbóreo, facilitando a distribuição de peso, equilíbrio e o deslocamento por entre a

vegetação (Lillywhite & Henderson, 1993; Martins et al., 2001).

Variações na composição taxonômica da dieta e na frequência dos ítens alimentares,

também estão relacionadas ao uso do hábitat e micro-hábitat durante o forrageamento. A alta

incidência de lagartos no trato digestório de P. patagoniensis confirma que esta serpente

forrageia mais em extrato terrestre, onde lagartos são mais abundantes (Hartmann, 2001;

Hartmann & Marques, 2005). Outras presas como anfíbios anuros da família Leptodactylidae e

serpentes associadas ao substrato terrestre e ambientes abertos, são encontradas dentre os itens

alimentares de P. patagoniensis, porém raras em P. olfersii (Kwet & Di-Bernardo, 1999; Lema,

1994; Hartmann & Marques, 2005). Entretanto, a presença de aves na dieta de P. patagoniensis

indica que esta espécie também forrageia ocasionalmente na vegetação (Sazima & Haddad,

1992; Carvalho-Silva & Barros- Filho, 1999; Cechin, 1999; Lopez, 2003; Hartmann & Marques,

2005). As diferenças na dieta destas duas espécies certamente refletem as variações na

disponibilidade de presas associada ao hábitat utilizado. Adicionalmente, os dados referentes à

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massa relativa das presas indicam que P. patagoniensis pode subjugar presas mais pesadas que

P.olfersi, o que deve estar relacionada à sua robustez (Hartmann & Marques, 2005).

As variações quanto ao uso de hábitat e itens alimentares, bem como estratégias de

predação empregadas pelas espécies P. olfersii e P. patagoniensis indicam diferenças na

demanda pelo seu sistema visual. Apesar da proximidade filogenética das duas espécies, as

diferentes condições em cada hábitat ocupado podem apontar para especializações do sistema

visual, adaptado ao estilo de vida de cada uma.

Em estudo comparativo do comportamento alimentar de Philodryas foram observadas

algumas diferenças entre essas duas espécies. O trabalho realizado no Instituto Butantan

comparou as estratégias de busca, subjugação e ingestão de presas por indivíduos juvenis de P.

olfersii e P. patagoniensis. Filhotes nascidos em cativeiro, no Laboratório de Herpetologia do

Instituto eram mantidos em terrários de vidro, e a cada semana recebiam um diferente tipo de

presa (anfíbios anuros, lagartixas, camundongos lactantes e outras serpentes). As metodologias

utilizadas neste estudo foram de “todas as ocorrências” e “amostragem de sequências” (Lehner,

1998), e o comportamento alimentar foi dividido em quatro etapas: localização da presa, bote,

subjugação e ingestão. Durante as observações foram anotadas e cronometradas todas as

atividades: tempo de percepção da presa no terrário, tempo despendido até a captura, forma de

subjugação, forma e tempo de ingestão da presa. As observações revelaram algumas diferenças

entre as duas espécies. Na maior parte das vezes, P. olfersii apresentou um menor tempo de

percepção das presas colocadas no terrário, iniciando o comportamento de busca antes que esta

fizesse algum movimento. P. patagoniensis, por sua vez, levou mais tempo para iniciar o

comportamento de busca, e a percepção e localização da presa geralmente ocorria depois que

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esta fizesse algum movimento. Estas observações apontaram para possíveis diferenças no

sistema visual das duas serpentes, com adaptações ao hábitat ocupado (Costa et al., 2004).

1.2. O Sistema Visual

A grande variedade de informações do ambiente exerce forte pressão seletiva sobre os

organismos, conduzindo-os a diferentes rumos adaptativos no processo evolutivo. Os órgãos

sensoriais se desenvolveram de forma a possibilitar a percepção dos diversos estímulos e

conseqüente interação das espécies com o meio ambiente, indispensável para sua sobrevivência e

adaptação. O sistema visual, responsável pela captação e processamento das informações

luminosas do ambiente, sob seus diversos aspectos, como intensidade, movimento, brilho e

contraste, desenvolveu-se de diferentes formas durante a história evolutiva dos animais, de

acordo com a demanda das espécies por este sistema (Walls, 1942). Dentro do grupo dos

vertebrados é observada uma grande homologia das estruturas visuais, suas características

morfológicas e fisiológicas (Walls, 1942).

O olho dos vertebrados é constituído por três camadas dispostas concentricamente. A

camada externa é formada pela esclera, composta por fibras altamente interconectadas, que

fornece proteção e sustentação ao olho, e pela córnea, lente transparente localizada na região

anterior do olho, que permite a passagem da luz. A camada média, ou úvea, formada pela íris,

corpo ciliar e coróide é altamente vascularizada e provê nutrientes para a terceira e mais interna

camada, a retina. Este tecido laminar, formado por uma rede de células nervosas e gliais é

responsável pela captação e transdução da energia luminosa em energia elétrica, que é conduzida

pelas fibras nervosas do nervo óptico até as porções centrais do sistema nervoso (Ramón y Cajal,

1893; Walls, 1942) (Figura 2).

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Figura 2. Corte sagital de olho de serpente (Walls, 1942)

O olho dos répteis de forma geral tem estrutura bastante similar, sendo que o grupo das

serpentes é uma exceção, uma vez que sua estrutura ocular difere nitidamente dos demais grupos

desta classe (Walls, 1942). Deixando de lado as famílias de cobras cegas (Typhlopidae e

Leptotyphlopidae), com olho praticamente vestigial, o olho das demais serpentes tem estrutura

bastante padronizada. As variações mais importantes observadas entre as espécies estão

relacionadas à estrutura da retina, formato da pupila e o tamanho relativo do cristalino, sendo

estas diferenças a base das mudanças do comportamento visual (Walls, 1942).

As diferenças estruturais e funcionais entre os olhos dos lagartos (Figura 3 A e C) e o das

serpentes (Figura 3 B e D) indicam que os olhos das serpentes sofreram grandes variações

durante sua origem a partir dos ancestrais lagartos (Walls, 1940). As principais diferenças

envolvem estruturas diretamente associadas com a acomodação da imagem na retina. Nas

serpentes a imagem é focada na retina por meio de uma pressão aplicada ao humor vítreo

resultante da contração dos músculos periféricos da íris, forçando assim o cristalino, rígido e

esférico para frente, dentro do globo ocular. O relaxamento destes músculos resulta na retração

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passiva da lente (Caprette, 2004). Este mecanismo difere do encontrado em lagartos, em que os

músculos ciliares cercados pela coróide e ancorados a elementos ósseos fazem uma leve pressão

na esclera, fazendo saltar a lente, flexível e plana (Walls, 1942).

Figura 3. Anatomia funcional de olho de lagarto (A) e de serpente (B), ilustrando as principais diferenças entre os dois tipos. C, lagarto foca a imagem na retina contraindo os grandes músculos ciliares (bm, cm) ancorados aos ossículos da esclera (so), aplicando assim uma pressão na superfície lateral do cristalino (ln). D, serpentes focam a imagem na retina movendo o cristalino para frente, pelo aumento da pressão no vítreo (vi) devido à contração de músculos periféricos da íris (im). Abreviações: an, via anterior; bm, músculo ciliar de Brücke; cb, corpo ciliar; ch, coróide; cm, músculo ciliar de Crompton; cn, cônus papilar; co, córnea; el, pálpebra; fv, fóvea; id, músculo dilatador da íris; is, músculo do esfincter da íris; ln, lente; re, retina; sc, cartilagem da esclera; sl, esclera; sp, espectáculo; vi, humo vítreo; zf, fibras zonulares (Caprette, 2004).

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1.2.1. A Retina

No olho dos vertebrados, as informações visuais são projetadas e processadas na retina,

pequena porção do sistema nervoso central, localizada na região posterior do globo ocular. O

processamento visual se inicia com a interação entre fótons de luz e os fotorreceptores, células

sensíveis, especializadas na captação e transdução da energia luminosa em energia elétrica. Este

sinal é transmitido por uma série de camadas da retina até chegar aos centros visuais superiores,

via nervo óptico. O complexo circuito celular organizado em camadas é formado por pelo menos

seis tipos celulares: fotorreceptores, células bipolares, horizontais, amácrinas, ganglionares e

células de Müller (Kolb et al., 2001).

Santiago Ramón y Cajal (1893) empregando a técnica de Golgi nas retinas de diversos

grupos de vertebrados analisou e descreveu esta complexa estrutura e sua organização laminar

que permite o fluxo das informações visuais. Analisando secções verticais da retina, Cajal

descreveu a seguinte organização das dez camadas paralelas compostas por corpos celulares e

plexos nervosos (Figura 4): 1. Camada do Epitélio Pigmentar (CEP), localizada entre a coróide e

a retina, é constituída por células epiteliais e tem as funções de absorver o excedente de luz,

protegendo os fotorreceptores e fagocitar as porções apicais dos segmentos externos destas

células (Ali & Klyne, 1985); 2. Camada dos Fotorreceptores (CF), formada pelos segmentos

externos e internos destes neurônios de primeira ordem, especializados na captação e transdução

da energia luminosa; 3. Membrana Limitante Externa (MLE), formada por prolongamento das

células de Müller (células da glia), que circundam o segmento interno dos fotorreceptores; 4.

Camada Nuclear Externa (CNE), onde estão localizados os núcleos dos fotorreceptores; 5.

Camada Plexiforme Externa (CPE), local de contato sináptico entre fotorreceptores e dendritos

das células bipolares e células horizontais (neurônios de segunda ordem); 6. Camada Nuclear

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Interna (CNI), com os corpos celulares das células bipolares, amácrinas, horizontais e células de

Müller; 7. Camada Plexiforme Interna (CPI), onde ocorrem as sinapses entre os neurônios de

segunda ordem (células bipolares e amácrinas) e os neurônios de terceira ordem (células

ganglionares); 8. Camada de Células Ganglionares (CCG), constituída pelos núcleos destes

neurônios; 9. Camada das Fibras Nervosas (CFN), formada pelos axônios das células

ganglionares que se reúnem num único ponto, a papila óptica, para formar o nervo óptico; 10.

Membrana Limitante Interna (MLI), formada pelo prolongamento das células de Müller. Os

axônios das células ganglionares formam o nervo óptico, que leva as informações para diferentes

áreas subcorticais, antes do processamento final da informação no córtex visual.

Camada Plexiforme Interna (CPI)

Camada Plexiforme Externa (CPE)

Camada Nuclear Interna (CNI)

Camada Nuclear Externa (CNE)

Figura 4. Diagrama esquemático da retina de vertebrados (http://webvision.med.utah.edu/).

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1.2.1.1. Fotorreceptores

Os fotorreceptores são células nervosas compostas por quatro regiões distintas: segmento

externo, segmento interno, núcleo e terminal sináptico (Figura 5). O segmento externo,

responsável pela absorção de luz é embriologicamente um cílio modificado, constituído por uma

grande quantidade de discos membranosos empilhados, contendo inúmeras moléculas

transmembrânicas de pigmentos fotossensíveis. No segmento interno estão localizadas as

organelas citoplasmáticas e o elipsóide, região próxima a base do segmento externo, com grande

número de mitocôndrias (Bowmaker, 1991). Os segmentos interno e externo são unidos por uma

conexão ciliar. O terminal sináptico é responsável pelas interações dos fotorreceptores, na CPE,

com os neurônios de segunda ordem, localizados na CNI (Ali & Klyne, 1985).

Os fotorreceptores são classificados em dois tipos morfologicamente distintos: os cones,

com o segmento externo cônico e terminal sináptico em forma de pedículo; e os bastonetes, com

segmento externo cilíndrico e terminal sináptico em forma de esférula (Underwood, 1970; Ali &

Klyne, 1985) (Figura 5). O maior número de fotopigmentos nos segmentos externos dos

bastonetes proporciona a estas células uma maior capacidade de absorção de fótons de luz. Por

isso, os bastonetes compõem o sistema de visão escotópico (visão noturna), de alta sensibilidade,

porém baixa acuidade visual. Os cones, por sua vez, estão relacionados ao sistema de visão

fotópico (visão diurna), de menor sensibilidade, porém alta acuidade visual (Bowmaker, 1991;

Dowling, 1987). Na retina da maioria dos vertebrados são encontrados os dois tipos de

fotorreceptores, cones e bastonetes (retinas duplex). Entretanto, animais noturnos geralmente

apresentam retinas com predominância de bastonetes, enquanto animais diurnos possuem maior

quantidade de cones.

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Figura 5. Representação de corte transversal de fotorreceptores da tartaruga Trachemys scripta. (A) cone simples, (B) cone duplo, (C) bastonete. Abreviações: se. segmento externo, go. gotícula de óleo, el. elipsóide, pa. parabolóide, ml. membrana limitante, mi. mióide, nu. núcleo, ts. terminal sináptico. A seta indica a direção da passagem da luz pela retina (Caprette, 2005).

Em diversas espécies de vários grupos de vertebrados, como peixes, anfíbios, aves,

répteis e mamíferos monotremados (ornitorrincos e équidnas) são encontradas gotículas de óleo

nos cones, que podem ser transparentes ou coloridas. Estas estruturas localizadas entre o

segmento interno e o externo servem como filtros bloqueando a luz na faixa espectral de menor

comprimento de onda. Gotículas de óleo coloridas são mais desenvolvidas em aves diurnas e

alguns répteis e têm um papel importante na visão de cores destes animais (Vorobyev, 2003;

Kolb et al, 2001; Hart et al., 2000; Loew et al., 2002). Walls (1942) sugere que a perda das

gotículas de óleo em diversas espécies pode ter sido ocasionada pela mudança de padrões de

atividade diurna para noturna, e uma vez perdida, esta complexa estrutura dificilmente pode ser

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readquirida. Nenhum tipo de cone em serpente possui gotícula de óleo e parabolóide (Walls,

1940, 1942; Underwood, 1970).

Na retina de diversos grupos de animais são encontrados cones duplos, cuja morfologia é

altamente variável. As duas partes destes cones podem ser idênticas e bem fundidas (cones

duplos pareados ou gêmeos) ou podem ter forma significativamente diferente (cones duplos

assimétricos). Neste caso a porção maior do cone duplo é chamado de membro principal e a

menor de membro acessório (Bowmaker, 1991; Underwood, 1970; Walls, 1942).

Dependendo dos hábitos e da filogenia das espécies de serpentes, podem ser encontrados

diferentes padrões de retinas, compostas por apenas cones, por apenas bastonetes, ou ainda, por

cones e bastonetes, nas chamadas retinas duplex (Underwood, 1967, 1970; Walls, 1942; Wong,

1989).

Underwood (1967) denominou como padrão Scholecophidia, para o tipo de retina

encontrada neste grupo das cobras cegas. A retina simples destas serpentes fossoriais (infra-

ordem Scolecophidia) apresenta apenas um tipo de célula visual, do tipo bastonete. Em serpentes

da família Boidae (jibóias, sucuris, pítons), é encontrado o tipo mais simples de retina duplex,

com cones simples e bastonetes, denominado por Underwood (1967) como padrão Boídeo.

Dentre os colubrídeos, família mais diversa, com maior número de espécies e de diversidades

morfológicas, as retinas em sua grande maioria apresentam apenas cones, o que pode ser

associado à condição diurna e maior acuidade visual (Underwood, 1967). Retinas duplex ou

apenas de bastonetes dos colubrídeos noturnos e famílias de serpentes mais avançadas, provém

provavelmente do padrão de apenas cones de colubrídeos diurnos (Figura 6).

A grande família dos colubrídeos apresenta um padrão de retina com apenas três tipos de

cones. O cone tipo A, largo e abundante, o cone tipo C, pequeno e em menor número, e o cone

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duplo, tipo B. Este último tipo celular tem morfologia única no grupo dos ofídios, não sendo

homólogo aos cones duplos das retinas de outros vertebrados (Walls, 1940; 1942). Seu membro

principal é volumoso e idêntico ao cone tipo A simples (Figura 6). O membro acessório é

extremamente delgado e fundido ao cone principal ao longo da extensão do segmento interno.

Algumas diferenças marcantes nos cones duplos das serpentes, com relação aos cones duplos

encontrados nos outros vertebrados, indicam que os primeiros tenham sido originados de novo,

representando assim um segundo surgimento de cones duplos no grupo dos vertebrados (Walls,

1942; Underwood, 1970). Essas diferenças são o tamanho do membro principal e do membro

acessório, a ausência de parabolóide, a extensa fusão dos segmentos internos e, finalmente, a

presença de um “corpo paranuclear”, estrutura identificada por Walls (1942), presente apenas

nos cones duplos de serpentes, constituída por uma segunda agregação de mitocôndrias dentro da

célula periférica (Walls, 1942; Underwood, 1970).

Figura 6. Representação da morfológica de fotorreceptores de serpentes: (A) cones duplos, (B) cones simples grandes, (C) cones simples pequenos, (D) cones simples com mióide grande, (E) cones simples pequenos com mióide extremamente longo, (F) cone duplo com mióide extremamente longo, (G) bastonete longo e (H) bastonete curto. Abreviações: se. segmento externo, el. elipsóide, ml, membrana limitante, nu. núcleo, ts. terminal sináptico, mi. mióide. A seta indica a direção que a luz passa pela retina (Caprette, 2005).

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1.2.1.2. Os Fotopigmentos e o Processamento Visual

Em geral os animais possuem apenas uma classe de bastonetes contendo um tipo de

pigmento visual com valores de absorção máxima (λmax) próximos a 500nm, no caso de

rodopsina. Este tipo de fotorreceptor constitui a base do sistema de visão escotópica, que atua em

baixos níveis de luminosidade do ambiente, mas em geral, não confere discriminação de

comprimentos de onda por ter apenas um tipo de sensibilidade espectral (Bowmaker, 1991). A

possibilidade de visão de cores incluindo bastonetes existe em condições especiais, com

estímulos grandes em baixos níveis de intensidade (Buck et al., 2006; Thomas & Buck, 2006).

Por outro lado, diferentes classes de cones com pigmentos visuais espectralmente

distintos, possibilitam a percepção e discriminação de diferentes comprimentos de onda do

espectro de luz visível (Bowmaker & Hunt, 2006). Estas classes distintas evoluíram a partir de

uma série de duplicações de um único gene de opsina ancestral. A presença de mais de um tipo

de cone na retina da maioria dos animais, em conjunto com um sistema nervoso capaz de

comparar o quantum capturado pelas diferentes classes de cones, permite a discriminação de

comprimentos de onda diferentes (Bowmaker, 1991; Bowmaker & Hunt, 2006). Os cones são

então responsáveis pela visão fotópica, que possibilita a discriminação de cores e uma maior

acuidade visual, porém de menor sensibilidade que o sistema escotópico.

As variações na sensibilidade dos pigmentos visuais dos vertebrados em geral ocorrem

por que seus ancestrais sofreram ao longo do tempo uma série de adaptações aos vários

ambientes fóticos (Lythgoe, 1979). Mudanças nas seqüências de aminoácidos dos pigmentos

visuais levaram a alterações no espectro de absorção de luz e conseqüentemente modificações

nos sistemas visuais das espécies (Yokoyama, 2000). Os valores de absorção máxima (λmax) dos

pigmentos visuais de um animal refletem as características fóticas de seu ambiente, e em

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diversas espécies, a faixa espectral das rodopsinas e/ou opsinas pode estar extremamente

ajustada ao nicho ecológico que ocupam (Lythgoe, 1979; Bowmaker, 1998).

A capacidade de absorção de fótons de luz pelo sistema visual dos animais está contida

dentro de uma faixa espectral de 300 a 850nm. Esta distribuição é limitada por dois fatores.

Primeiro, devido ao efeito de filtração da atmosfera, a maior parte da radiação na superfície

terrestre (80%) é restrita a comprimentos de onda entre 300 e 1100nm. Segundo, a energia

quântica do fóton de luz acima de 850nm é demasiado baixa para causar a fotoisomerização de

moléculas orgânicas, enquanto fótons abaixo de 350nm têm energia suficiente para destruir

proteínas (Knowles & Dartnal, 1977). A presença de diferentes tipos de fotorreceptores com

pigmentos sensíveis a comprimentos de onda distintos na retina de alguns grupos de animais

confere uma grande capacidade de discriminação de cores dentro do espectro de luz visível

(Bowmaker, 1991) (Figura 7).

Figura 7. Pico de sensibilidade espectral dos três tipos de cones e bastonete da retina de primatas (Dowling, 1987).

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A evolução dos genes das opsinas teve um grande número de mudanças nos vários ramos

da árvore filogenética dos vertebrados. Em muitos casos, genes das diferentes famílias foram

perdidos, enquanto em outros a diversidade de opsinas foi readquirida parcialmente por meio de

subseqüentes duplicações. A perda de pigmentos visuais parece seguir a evolução e adaptação

para diferentes nichos ecológicos onde a luz é relativamente escassa (Jacobs & Rowe, 2004).

Estudos comparativos da maioria dos grupos de vertebrados determinaram à existência de

seis grupos evolutivos, com pigmentos visuais espectralmente distintos, codificados por

diferentes genes: 1. Grupo RH1, composto por rodopsinas com valores de λmax em torno de 500

nm; 2. Grupo RH2, onde os pigmentos de rodopsina têm valores de λmax entre 470-510 nm; 3.

Grupo SWS1, com pigmentos visuais sensíveis a comprimentos de onda curtos (cones UV),

com valores de λmax entre 360-430 nm; 4. Grupo SWS2, com pigmentos sensíveis a

comprimentos de onda curtos (cones S), com valores de λmax entre 440-460 nm; 5. Grupo

LWS/MWS, com pigmentos sensíveis a faixa de onda longa a média (cones L/M), com

sensibilidade máxima na região do verde e vermelho, e valores de λmax entre 510-560nm; 6.

Grupo P, composto por pigmentos não retinais exclusivos da glândula pineal, com valores de

λmax entre 470-480 nm (Hisatomi et al., 1996; Yokoyama & Yokoyama, 1996; Yokoyama, 1997)

(Figura 8). As cores percebidas pelos animais são determinadas principalmente pela contribuição

relativa de cada tipo de cone para o sinal na retina (Bowmaker, 1991; Calderone & Jacobs, 1999;

Ventura et al., 1999).

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Figura 8. Árvore filogenética para os pigmentos de vertebrados (Yokoyama, 1997).

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No grupo das serpentes, a presença de diferentes tipos de fotorreceptores proporciona

variações interespecíficas na sensibilidade espectral. Serpentes noturnas da família Boidae

apresentam uma retina com predominância de bastonetes e dois tipos de cones, um com

sensibilidade espectral na faixa do verde/vermelho (551nm) e outro com sensibilidade na faixa

do ultravioleta (360nm) (Sillman et al, 2001; 1999). Serpentes da família Colubridae também

apresentam diferentes tipos de cones, com variações de sensibilidade espectral, fundamental para

a discriminação de cores. Algumas espécies de colubrídeos diurnos apresentam cones com

valores de absorção máxima (λmax) na faixa de 554nm (verde/vermelho), 482nm (azul) e 360nm

(ultravioleta) (Sillman et al., 1997). A sensibilidade à luz ultravioleta pode ter grande

importância ecológica para estes animais, tanto na procura por presas quanto na busca de

indivíduos da mesma espécie para o acasalamento, uma vez que rastros de feromônios emitem

luz UV (Sillman et al, 2001; 1999; 1997).

1.2.1.3. Especializações da Retina

A forma, o posicionamento e o tamanho relativo dos olhos dos animais são algumas das

características morfológicas facilmente observadas, que apontam para a grande diversidade

adaptativa e a variação na demanda pelo sistema visual.

Estudos comparativos entre os vertebrados mostram que os tipos, distribuição e

densidade de células nas retinas de cada espécie apresentam alto grau de variação, estando muito

relacionado à ecologia visual e a filogenia das espécies (Jacobs & Rowe, 2004). Considera-se

que a organização retiniana é responsável por determinar fenótipos comportamentais adaptados

aos ambientes ocupados pelas espécies (Thompson, 1991). A distribuição não homogênea dos

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vários tipos de fotorreceptores na retina é comum e refletem as regiões de maior demanda do

animal por uma boa qualidade da imagem (Walls, 1942; Lythgoe, 1979; Thompson, 1991).

Cajal (1983) em seu pioneiro estudo comparativo da retina de vertebrados verificou uma

maior variação adaptativa e não tanto filogenética das vias visuais. Alguns estudos revelaram que

esta distribuição celular se correlaciona melhor com comportamentos e com o hábitat do que

com a filogenia, sendo que espécies próximas relacionadas podem ter diferentes distribuições e

vice-versa (Hughes, 1977; Stone, 1983; Thompson, 1991). Assim, descrições de vias de

bastonetes e cones transcendem diferentes ordens de vertebrados, e espécies próximas podem ter

diferentes organizações dos elementos neurais.

As especializações da retina são regiões de alta densidade celular que possibilitam uma

maior acuidade visual em áreas específicas e podem ser classificadas como areae, fóveas ou

faixas visuais (Walls, 1942; Brown, 1969; Coimbra et al., 2006). De acordo com a teoria

proposta por Hughes (1977), animais terrestres que habitam campos abertos geralmente possuem

uma faixa ou estria visual horizontal, com alta densidade de fotorreceptores e células

ganglionares. Esta faixa proporciona melhor visão panorâmica do ambiente e a detecção de

objetos no horizonte sem a necessidade de movimentação dos olhos, apropriado para a visão de

extensão de campo e a percepção da aproximação de predadores a longas distâncias (Brown,

1969; Walls, 1942; Granda & Haden, 1970; Thompson, 1991; Coimbra et al., 2006). Espécies

arborícolas ou de mata fechada, por sua vez, apresentam geralmente uma area centralis, com

maior densidade de cones, células ganglionares e bipolares, que aponta para uma melhor

acuidade visual desta região circular. Alguns primatas, répteis e aves apresentam ainda uma

especialização desta area centralis, conhecida como fóvea, onde há um deslocamento lateral das

células ganglionares e células das demais camadas da retina, e geralmente a presença de apenas

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cones, favorecendo assim a alta sensibilidade e maior acuidade nesta região (Brown, 1969;

Walls, 1942; Granda & Haden, 1970).

1.2.2. Acuidade Visual

A acuidade visual (AV) é a capacidade de resolução espacial do sistema visual, ou seja, a

habilidade do olho de distinguir detalhes finos dos objetos. A AV é definida como o menor

ângulo (mínimo ângulo de resolução) formado entre os detalhes de um objeto e sua imagem

projetada na retina (Smith & Atchison, 1997). A AV é limitada pela difração e aberração do olho

e pela densidade de fotorreceptores e de células ganglionares presentes na retina. Além destas

limitações, a AV também é afetada por variáveis como erro de refração, iluminação do ambiente,

contraste e o local em que a retina é estimulada (Smith & Atchison, 1997).

A AV pode ser medida de várias formas, dependendo do tipo de tarefa de acuidade

utilizada. A sua medição depende de fatores relacionados ao estímulo, à sensação (transformação

do estímulo em sinal neural), à transmissão através de vias apropriadas, à percepção

(decodificação dos sinais da sensação e sua transformação numa imagem mental) e à cognição (o

entendimento do significado dessa imagem) (Bicas, 2002). Um tipo de estímulo comumente

usado para medir acuidade visual é uma grade de barras pretas e brancas (Figura 9), cuja

frequência espacial é variada até que as listras deixem de ser visíveis.

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Figura 9. A freqüência espacial é a medida do número de ciclos formados por grau de ângulo visual. Cada ciclo é formado por uma barra preta e uma branca e a medida é dada em ciclos por grau (cpg). (a) um ciclo por grau; (b) dois ciclos por grau (imagem: http://webvision.med.utah.edu/).

Variações no poder de resolução espacial parecem refletir diferenças ecológicas entre as

espécies. Lisney & Collin (2008) analisaram as retinas de diversas espécies de elasmobrânquios

(tubarões e raias) e observaram que espécies com um poder de resolução mais baixo tendem a ser

relativamente menos ativas e se alimentam de invertebrados bentônicos e pequenos peixes,

enquanto espécies mais ativas, predadoras que geralmente se alimentam de presas maiores e mais

ativas, possuem um poder de resolução maior.

Uma vez que a densidade de células ganglionares combinada ao tamanho do olho e do

cristalino pode ser utilizada para determinar a resolução visual, este método tem sido usado em

muitas espécies para determinar a acuidade visual (Hughes, 1975, 1977; Pettigrew et. al., 1988;

Pettigrew & Manger, 2008; Lisney & Collin, 2008).

As células ganglionares transmitem a informação visual da retina para os centros

superiores. Estas células são em média maiores que os outros neurônios da retina e tem axônios

mielinizados, com diâmetros largos, capazes de transmitir o potencial de ação para as áreas

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recipientes do cérebro, a muitos milímetros ou centímetros de distância da retina. O nervo óptico

agrupa todos os axônios das células ganglionares e depois passa a informação para canais de

processamento de informações no cérebro. As células ganglionares transmitem as mensagens

elétricas relacionadas ao sinal visual proveniente dos fotorreceptores e processado na camada

nuclear interna (Ali & Klyne, 1985), e desta forma, a sua densidade e distribuição pela retina são

fatores importantes na determinação do poder de resolução visual do olho. Regiões da retina

onde há aumento da densidade das células ganglionares apontam para especializações e maior

acuidade visual destas áreas específicas.

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2. JUSTIFICATIVA

Estudos dos tipos de fotorreceptores da retina de serpentes e especialmente de sua

densidade e topografia são importantes para a compreensão de padrões comportamentais,

aspectos ecológicos e adaptativos, que se diferenciam de acordo com a demanda pelo sistema

visual. Estes estudos são importantes também para auxiliar na compreensão da história evolutiva

deste grupo e complementar estudos filogenéticos.

Em seu estudo clássico do olho dos vertebrados, Walls (1942) argumenta que o olho das

serpentes merece atenção especial. A grande variedade de adaptações anatômicas do olho das

serpentes modernas reflete o fato de que membros deste grupo tiveram que readquirir muito de

sua capacidade visual quando emergiram de sua vida subterrânea. Desta forma, estes animais

fornecem exemplos de como a pressão ambiental e as oportunidades podem influenciar a

estrutura ocular e sua função.

Na literatura foram descritos uma série de estudos relacionados à morfologia dos

fotorreceptores das retinas de serpentes (Walls, 1942; Underwood, 1967; 1970; 1971). Alguns

trabalhos utilizando técnicas de microespectrofotometria avaliaram o espectro de absorbância de

luz dos fotorreceptores de serpentes da família Boidae, Colubridae e Viperidae (Govardovskii &

Chkheidze, 1989; Sillman et al., 1997; 1999; 2001). Sillman et al. (1997) forneceram a primeira

evidência de sensibilidade a luz ultravioleta em serpentes da família Boidae. Jacobs et al. (1992),

descrevem as distintas classes de fotorreceptores (apenas cones) dos colubrídeos Thamnophis

sirtalis e T. marcianus, com base em registros eletrorretinográficos. Apenas um autor (Wong,

1989) correlaciona a distribuição topográfica de células ganglionares e fotorreceptores da retina

da serpente colubrídae Thamnophis sirtalis. Não foi encontrado na literatura nenhum trabalho

sobre a quantificação e distribuição de fotorreceptores na retina de serpentes, com o uso de

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técnicas de imunohistoquímica e sua comparação com a distribuição de neurônios da camada de

células ganglionares. Apenas um trabalho descreve a acuidade visual de uma espécie da serpente

semi-aquática (Nerodia sipedon), com base em registros de respostas telencefálicas provocadas,

com uso de técnicas eletrofisiológicas (Baker et al., 2007). Entretanto, dados sobre a acuidade

visual com base na densidade de células ganglionares de serpentes são inexistentes, assim como

trabalhos sobre o sistema visual de serpentes do gênero Philodryas.

Com base na sua diversidade ecológica e relação filogenética, serpentes do gênero

Philodryas representam um bom modelo para testar hipóteses de correlação entre especializações

da retina e ecologia comportamental.

Este estudo topográfico das retinas de P. olfersii e P. patagoniensis teve como base

trabalho anterior realizado no Laboratório de Psicofisiologia Sensorial, do Instituto de Psicologia

da Universidade de São Paulo, no qual foram identificados e quantificados, com técnicas de

imunohistoquímica, os diferentes tipos de fotorreceptores da retina da tartaruga Pseudemys

scripta elegans (Grötzner et al., 2004; 2005; Grötzner, 2005).

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3. OBJETIVOS

• Identificar e comparar os diferentes tipos, densidade e distribuição dos fotorreceptores

das retinas de P. olfersii e P. patagoniensis, com uso de técnicas imunohistoquímicas e

elaboração de mapas topográficos;

• Comparar a densidade e distribuição das células da CCG de retinas de P. olfersii e P.

patagoniensis, com uso da técnica de Nissl e elaboração de mapas topográficos;

• Verificar se há correlação entre a distribuição de fotorreceptores e de células da CCG nas

retinas das duas espécies e verificar a presença de especializações (area centralis ou

estria visual), com aumento de densidade em regiões específicas das retinas;

• Calcular e comparar a acuidade visual das duas espécies, com base no número de células

da CCG;

• Correlacionar os resultados de densidade, topografia celular e acuidade visual com

caracteres ecológicos e comportamentais e possíveis adaptações ao uso do hábitat e

micro-hábitat utilizados pelas duas espécies.

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4. METODOLOGIA

4.1 Procedimentos com os animais

Neste estudo foram utilizadas serpentes adultas provenientes de municípios do Estado de

São Paulo. As serpentes foram obtidas junto à Recepção de Serpentes do Laboratório de

Herpetologia do Instituto Butantan, São Paulo, capturadas e entregues por fornecedores. No

Instituto, os animais foram condicionados em caixas plásticas, com água, até o momento da

eutanásia.

Antes do início dos procedimentos de eutanásia os animais foram adaptados ao escuro

por no mínimo duas horas, para que ocorresse a retração dos grânulos de pigmento do epitélio

pigmentado. Este procedimento facilita a remoção do epitélio, sem danificação da camada de

segmentos externos dos fotorreceptores, possibilitando a melhor visualização das células

marcadas. Após este período, as serpentes foram anestesiadas com a droga thionembutal

(princípio ativo tiobarbiturato etil sódico, dosagem 30mg/kg, ou 3 ml por serpente) e a eutanásia

foi feita com CO2, durante duas horas. Durante este período os animais foram ainda mantidos no

escuro.

Em seguida foram tomadas as seguintes medidas: massa (m), comprimento rostro-cloacal

(CRC), comprimento caudal (CC), largura da cabeça (LCa) comprimento da cabeça (CCa) e

diâmetro do olho (DO).

Cuidadosamente foram feitas a enucleação dos olhos e remoção da parte anterior que

compreende a íris, córnea e o cristalino, obtendo-se assim a cuia óptica, com a retina. A

dissecção das retinas (retirada da retina da cuia óptica) foi feita sob lupa estereomicroscópica

(Nikon SMZ800). Estes procedimentos foram realizados no Laboratório de Herpetologia do

Instituto Butantan.

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Os procedimentos com os animais estavam de acordo com os princípios éticos de manejo

e experimentações com animais, estabelecidos pelo Colégio Brasileiro de Experimentação

Animal (COBEA), tendo o aval da Comissão de Ética no Uso de Animais do Instituto Butantan

(CEUAIB) (Anexo 1).

4.2. Estudo morfológico: Histologia Clássica e Microscopia Eletrônica de Varredura

Para uma primeira análise morfológica do tecido estudado, um olho de cada espécie foi

fixado em solução de Alfac (85% de álcool a 80% + 10% de formol a 40% + 5% de ácido

acético glacial), por 16 horas, em temperatura ambiente. Após este período de fixação, o material

foi mantido em álcool 70%, durante 5 dias. Em seguida as retinas passaram por uma etapa de

desidratação em concentrações crescentes de álcool (de 80% a 100%) e depois pela etapa de

diafanização, com uso de xilol. O material foi emblocado em parafina e os cortes feitos em

micrótono. A coloração dos cortes foi feita com hematoxilina e eosina. Estes procedimentos

foram realizados no Laboratório de Biologia Celular da Universidade Federal do Paraná, pela

Profa Dra. Sonia Grötzner.

Para a microscopia eletrônica de varredura, uma retina de cada espécie foi fixada em

solução de Karnovsky (glutaraldeido, 2.5% + paraformaldeido 2% + tampão cacodilato 0,1M) e

depois mantidas em tampão cacodilato 0,1M. Os procedimentos de microscopia foram realizados

no Laboratório de Biologia Celular da Universidade Federal do Paraná, pela doutoranda

Maritana Mela.

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4.3. Imunohistoquímica

A técnica de imunohistoquímica consiste na utilização de anticorpos primários

produzidos em animais contra proteínas específicas de outros organismos. Estes anticorpos são

incubados com os tecidos em estudo para que se liguem às proteínas que se deseja localizar. A

reação é então revelada com o uso de um anticorpo secundário, específico contra o primário,

acoplado a uma molécula fluorescente. Neste trabalho foram utilizados diferentes anticorpos

primários contra opsinas e rodopsinas de cones e bastonetes de diversos vertebrados.

Os procedimentos descritos a seguir foram realizados no Laboratório de Psicofisiologia

Sensorial, do Instituto de Psicologia, Universidade de São Paulo.

4.3.1. Procedimentos imunohistoquímicos: retinas planas e cortes histológicos

As retinas dissecadas foram fixadas em paraformaldeído (PF) 4% diluído em tampão

fosfato (TF) 0,1M, pH7.2, por 2 horas. Posteriormente, o tecido foi transferido para solução de

TF 0,1M e mantido a 4ºC, por no mínimo 9 horas. Após este período, o material histológico

passa por três lavagens de 10 minutos em tampão fosfato (TF) 0,1M + triton 0,3%. O triton atua

como um detergente sobre os lipídios da membrana plasmática das células, perfurando-as e

facilitando a atuação dos anticorpos. Em seguida o material é mantido em solução de soro de

cabra 10% diluído em TF 0,1M + Triton 0,3%, durante uma hora, para o bloqueio dos sítios

inespecíficos (Grötzner, 2005).

O material é depois incubado com o anticorpo primário (Ac1), diluído em TF 0,1M +

triton 0,3%. Nos cortes histológicos radiais a incubação é feita durante 24 horas, enquanto nas

retinas íntegras a incubação é feita por 72 horas.

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Após este período o material passa por mais três lavagens de 10 minutos em TF 0,1M +

triton 0,3% e em seguida é incubado por duas horas com anticorpo secundário, diluído em TF +

triton 0,3% (1:200, Jackson), acoplado a molécula fluorescente, rodamina ou fluoresceína

(TRITC ou FITC). Durante este processo, o material é mantido em câmara úmida e escura. Em

seguida são feitas mais três lavagens de 10 minutos com TF 0,1M.

Nos cortes radiais, para cada anticorpo secundário utilizado, foi realizado um controle

negativo da marcação, com a omissão do anticorpo primário substituído pela solução de TF +

triton 0,3%, a fim de verificar possível marcação inespecífica do anticorpo secundário.

As lâminas foram montadas com parafenilenidiamina (0,001%, Sigma), diluída em

glicerol + TF 0,1M (1:1) a 37º C, para evitar a perda da fluorescência. Esta solução é preparada

no mínimo uma hora antes do uso.

Os cortes radiais e as retinas planas foram observados em microscópio de fluorescência

(Leica), com câmara digital (Axio CamMR, Carl Zeiss) e computador acoplados. As células

imunorreativas e os campos da retina foram fotografados para análises morfológicas dos cortes

transversais e análises quantitativas das montagens planas, com uso de programa para aquisição

de imagens, Axio Vision (Carl Zeiss).

4.3.2. Cortes Histológicos Radiais

Nos cortes radiais das retinas foram feitos testes com diferentes anticorpos anti-opsinas

em variadas concentrações, para identificação dos anticorpos imunorreativos a serem utilizados

nas preparações íntegras das retinas. Para tanto foi ultilizado um olho de cada espécie.

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Após a enucleação e hemisecção do olho (remoção da íris, córnea e cristalino), a cuia

óptica obtida foi fixada em paraformaldeido (PF) 4%, diluído em tampão fosfato (TF) 0,1M, pH

7,4, durante três horas. Em seguida o material foi mantido em TF 0,1M, a 4ºC. A cuia óptica foi

então passada para uma solução de sacarose 30%, com função crioprotetora e mantida a 4oC, por

72 horas.

Após este período o material foi emblocado com Tissue-Tek OCT (Sakura, EUA) em

gelo seco. Os corte radiais, com 12,5µm de espessura, foram obtidos a -24oC, em criostato

(Leica, JUNG CM 3000), pertencente ao Laboratório de Biologia da Retina do Departamento de

Biologia Celular e do Desenvolvimento, do Instituto de Biociências I da USP, sob coordenação

da Profa Dra. Dânia Emi Hamassaki.

Os cortes foram colocados sobre lâminas previamente gelatinizadas, secos em placa

aquecedora a 37oC por 1 hora e posteriormente congelados a -20ºC em caixas para lâminas, até o

momento de uso.

Em cada lâmina histológica foram colocados quatro cortes seriados. Antes da utilização

das lâminas e realização dos testes imunohistoquímicos, cada corte foi isolado com uma barreira

circular feita com esmalte, possibilitando assim os testes com diferentes tipos e concentrações de

anticorpos em uma mesma lâmina.

Testes com anticorpos anti-opsinas

Para identificação de diferentes tipos de fotorreceptores foram testados os seguintes

anticorpos primários (Ac1):

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Ac rb α-ZF Green Opsin: anticorpo produzido em coelho contra opsinas sensíveis ao

comprimento de onda médio dos cones M simples e membro M dos cones duplos, do peixe zebra

fish (Brachidanio rerio);

Ac rb α-ZF Red Opsin: anticorpo produzido em coelho contra opsinas sensíveis ao

comprimento de onda longo dos cones L simples da retina do peixe zebra fish (Brachidanio

rerio);

Ac rb α-ZF Blue Opsin: anticorpo produzido em coelho contra opsinas sensíveis ao

comprimento de onda curto dos cones S simples da retina do peixe zebra fish (Brachidanio

rerio);

Ac rb α-ZF UV Opsin: anticorpo produzido em coelhos contra opsinas sensíveis ao

comprimento de onda curto dos cones UV da retina do peixe zebra fish (Brachidanio rerio);

Os quatro anticorpos citados acima foram produzidos pelo Prof. Dr. Thomas S. Vihtelic,

da Universidade de Notre Dame, Estados Unidos, em 1999 (Vihtelic et al, 1999). Algumas

alíquotas foram cedidas ao Laboratório de Psicofisiologia Sensorial, Instituto de Psicologia,

USP, em 2003.

Ac rb α-JH 492: anticorpo produzido em coelhos, contra opsinas sensíveis ao comprimento de

onda médio e longo dos cones M e L (verde/vermelho) de humanos;

Ac rb α-JH 455: anticorpo produzido em coelho, contra opsinas sensíveis ao comprimento de

onda curto dos cones S (azul) de humanos;

Os dois anticorpos acima foram produzidos pelo laboratório do Prof. Jeremy Nathans da

University School of Medicine, Baltimore, USA, em 1986 (Nathans et al., 1986). Algumas

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alíquotas foram cedidas ao Laboratório de Psicofisiologia Sensorial, Instituto de Psicologia,

USP, em 1998.

Ac rat α-RcVP MS rhodopsin: anticorpos produzidos em ratos, contra rodopsinas sensíveis ao

comprimento de onda médio dos bastonetes de sapo boi.

Este anticorpo foi produzido no laboratório do Prof. Osamu Hisatomi (University, Grad.

Sch. of Sci., Osaka, Japan), em 1999 (Hisatomi et al., 1999). Uma alíquota foi cedida ao

Laboratório de Psicofisiologia Sensorial, Instituto de Psicologia, USP, 2003.

Foram utilizados os seguintes anticorpos secundários (Ac2): gt α-rb e gt α-rat, TRITC ou

FITC: anticorpos produzidos em cabra, contra soro de coelho e de rato, respectivamente,

acoplados a molécula fluorescente (TRITC ou FITC). Também foi utilizado anticorpo secundário

biotinilado (gt α-rb biot) e a revelação feita com CY3 acoplado a estreptavidina, para marcação

inespecífica de regiões da retina com biotina endógena: epitélio pigmentado, região do elipsóide

do segmento interno e externo dos fotorreceptores e membrana limitante externa (Grötzner,

2005).

Com a observação dos cortes radiais foi feita a identificação das células marcadas e

foram determinados os anticorpos anti-opsinas imunorreativos com resultados positivos e as

concentrações adequadas a serem utilizadas nas montagens planas.

49

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4.3.3 Montagens Planas (preparações íntegras das retinas)

Após a obtenção da cuia óptica, as retinas foram cuidadosamente dissecadas sob lupa

estereomicroscópica (Nikon SMZ800), fixadas em PF 4% diluído em TF 0,1M, por 2 horas e

posteriormente mantidas em TF a 4ºC, por no mínimo 9 horas.

Após os procedimentos de imunohistoquímica descritos anteriormente, as retinas foram

então colocadas sobre lâminas histológicas e posicionadas com os fotorreceptores voltados para

cima.

A identificação do posicionamento retiniano foi feita com base no ponto do nervo óptico,

que se localiza no quadrante mais ventral e caudal na retina das serpentes.

4.4. Marcação de Células da CCG: Técnica de Nissl

Para a marcação e contagem de células da camada de células ganglionares (CCG), as

retinas foram aplanadas sobre lâminas histológicas previamente gelatinizadas, com a camada de

células ganglionares voltada para cima. Sobre a retina foi colocado um papel filtro (do tamanho

da lâmina) embebido em solução de etanol (90%) e formaldeído (10%), e sobre o papel filtro foi

colocada outra lâmina (não gelatinizada). O material foi mergulhado nesta mesma solução e

mantido por 24 horas, com um peso de aproximadamente 250g sobre as lâminas. Após este

período de fixação, a lâmina e o papel filtro foram retirados e iniciou-se o processo de

desidratação do material, em banhos com concentrações crescentes de álcool e de xilol (Tabela

Anexo 2). O material foi em seguida colocado em solução aquosa de cresil violeta 0,05% por 10

minutos e depois passou por uma nova série de banhos em concentrações crescentes de álcool

para desidratação, finalizando com xilol puro.

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As lâminas foram em seguidas montadas com DPX e lamínula e os neurônios da CCG

foram observados e fotografados em microscópio de luz (Leica), com câmara digital (Axio

CamMR, Carl Zeiss) e microcomputador acoplados. As imagens dos campos foram obtidas em

aumento de 40x (oil), com auxílio do programa Axio Vision (Carl Zeiss).

4.5. Análise morfológica quantitativa e topográfica

A amostragem das células foi feita por toda a retina, onde manteve-se um distanciamento

mínimo entre os campos amostrados de 0.5mm (Wolken, 1963). O contorno das retinas e os

locais de amostragem foram obtidos com as coordenadas x/y, plotadas diretamente em planilha

de Excel.

A contagem do número de células presentes em cada imagem foi realizada com o

programa NIH Scion Image 2.0 (Scion Image Corporation). A partir do número de neurônios

contados foi calculada a densidade média de células por mm2. Mapas de isodensidade foram

elaborados com uso do programa DeltaGraph 4.0, a partir dos valores de densidade média de

cada campo fotografado.

A densidade média de cada campo amostrado da retina foi calculada dividindo o número

de células contadas (n), pela área do campo (Acampo). Este valor foi multiplicado por 106 para

transformação da unidade de µm2 para mm2, cálculo expresso na fórmula: d.m. = (n/Acampo) x

106. A estimativa da população total de células da retina foi obtida multiplicando a média das

d.m. (D.M.), pela área da retina (Aretina), ou seja, Pop.Total = D.M. x Aretina.

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4.6. Cálculo da acuidade visual

Para a estimativa teórica da acuidade visual foi utilizado o método proposto por Hart

(2002), baseado na densidade de células da CCG de cada retina (fator limitante da acuidade

visual) e no valor da distância posterior nodal (PND) (Figura 10). O valor de PND varia

dependendo do tamanho do olho e do tamanho relativo do cristalino (distância do cristalino à

retina), que foi calculado como 50% do tamanho do olho para estas serpentes. Assim, a distância

d subentendida como um grau na retina pode ser calculada como d = (2piPND)/360. A média de

espaçamento intercelular (S) para as células da CCG pode ser determinada pela fórmula S2 =

2/(D√3), sendo D a densidade celular da CCG em mm2. A frequência espacial máxima (v) de

uma grade senoidal que tem resolução com tal arranjo celular (Snyder & Miller, 1977) é

calculada com a fórmula v = 1/(S√3). Para que o poder de resolução espacial (acuidade visual)

seja expresso em ciclos por grau (cpg), o valor v é multiplicado pelo valor obtido para d.

A estimativa da acuidade visual foi obtida a partir do pico de densidade média de células

da CCG de cada retina. Os valores de PND também foram calculados individualmente, a partir

do tamanho do globo ocular medido de cada serpente.

Figura 10. Imagem de corte transversal de olho de serpente (Walls, 1942). A faixa pontilhada representa a distância posterior nodal (PND), calculada como 50% do tamanho do globo ocular nas serpentes estudadas.

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5. RESULTADOS

5.1. Analise morfológica: Histologia Clássica e Microscopia Eletrônica de Varredura

Os cortes radiais da retina de Philodryas olfersii, corados com hematoxilina e eosina,

mostraram uma retina padrão de vertebrados, com as dez camadas de células e plexos nervosos,

como ilustrado na Figura 11. A camada nuclear externa (CNE) apresentou apenas uma fileira

simples de fotorreceptores, indicando a presença de apenas cones. Não foi possível visualizar os

segmentos externos dos fotorreceptores, devido a presença do epitélio pigmentado. Nenhum

fotorreceptor apresentou gotícula de óleo, como esperado para a retina de serpente.

Camada de Fibras Nervosas Camada de Células Ganglionares

Camada Plexiforme Interna

Camada Nuclear Interna

Camada Plexiforme Externa

Camada Nuclear Externa

FotorreceptoresEpitélio Pigmentado

Figura 11. Corte radial de retina da serpente Philodryas olfersii, corado com hematoxilina-eosina (técnica histológica e imagem: Sonia Grötzner).

As fotomicrografias de varredura mostraram uma distribuição uniforme de

fotorreceptores pela retina, e a presença de três tipos de cones: cones simples grandes, cones

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simples pequenos e cones duplos, como observado na Figura 12. Nas retinas das duas espécies

foi observada uma grande densidade de cones simples grandes, uma quantidade um pouco menor

de cones duplos e uma pequena proporção de cones simples pequenos. Os cones duplos

apresentaram um membro principal grande e um membro acessório pequeno e fundido ao cone

principal (Figura 12).

A. B.

C. D.

cd

cd cp

cp

cg

cg

Figura 12. Fotografias da camada de fotorreceptores de retina de P. olfersii (A e C) e P. patagoniensis (B e D), obtidas a partir de microscópio de varredura. cg cone simples grande; cp cone simples pequeno; cd cone duplo (técnica e imagens: Maritana Mela).

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5.2. Análise dos cortes radiais

O anticorpo primário RbαJH492 apresentou resultado positivo, marcando os segmentos

externos de grande quantidade de cones simples e do membro principal e acessório de cones

duplos, presentes em menor quantidade (Figura 13). O anticorpo RbαJH455 também apresentou

resultado positivo, marcando os segmentos externos de um pequeno número de cones simples

(Figura 14) (Tabela 1).

Os anticorpos RbαZF GreenOpsin, RbαZF RedOpsin, RbαZF BlueOpsin e RbαZF

UVOpsin, não apresentaram imunorreatividade, não marcando nenhuma célula do tecido

estudado. O anticorpo RatαRcVP MS apresentou imunorreatividade inespecífica, marcando os

segmentos externos de todos os fotorrecetores.

A estreptavidina acoplada a molécula fluorescente Cy3 se ligou às moléculas de avidina

incubadas com as retinas, marcando a biotina endógena presente no epitélio pigmentado, na

região do elipsóide do segmento interno dos fotorreceptores e na região da membrana limitante

externa (Figura 15).

Tabela 1. Diferentes anticorpos primários testados nos cortes radiais das retinas de P. olfersii e P. patagoniensis. Anticorpo Animal

produzido Fotorreceptor

(tipo) Opsinas Produtor Resultado

rb α-ZF Green Opsin coelho cones M peixe zebra fish Vihtelic et al, 1999 - rb α-ZF Red Opsin coelho cones L peixe zebra fish Vihtelic et al, 1999 - rb α-ZF Blue Opsin coelho cones S peixe zebra fish Vihtelic et al, 1999 - rb α-ZF UV Opsin coelho cones UV peixe zebra fish Vihtelic et al, 1999 - rb α-JH 492 coelho cones M e L humanos Nathans et al, 1986 + rb α-JH 455 coelho cones S humanos Nathans et al, 1986 + rat α-RcVP MS rhodopsin

ratos bastonetes sapo boi (Bulfrog) Hisatomi et al, 1999 -

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a)

Figura 13. Cortes radiais de retinaRbαJH492 e reveladas com gtαrb TR

a)

Figura 14. Cortes radiais de retinas e revelado com gtαrb TRITC. ( ) M

b)

s de P. olfersii (a) e P. patagoniensis (b), imuITC. ( ) Marcação de segmentos externos de co

b)

de P. olfersii (a) e P. patagoniensis (b), imunomaarcação de segmento externo de cone S. Escala =

nomarcadas com o anticorpo nes L/M.

rcad 20

as com o anticorpo JH455 µm

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a) b)

ep

si ep ml

si ml

Figura 15. Cortes radiais de retinas de P. olfersii (a) e P. patagoniensis (b), mostrando marcação inespecífica do anticorpo secundário biotinilado (gt α-rb biot), em regiões da retina com biotina endógena: epitélio pigmentado (ep), região do elipsóide do segmento interno dos fotorreceptores (si) e membrana limitante externa (ml). Revelação feita com CY3 acoplado a estreptavidina.

O controle negativo realizado para a verificação de imunorreatividade dos anticorpos

secundários utilizados, gtαRb (produzido em cabra contra soro de coelho) e gtαRat (produzido

em cabra, contra soro de rato), demonstrou que não houve marcação inespecífica deste anticorpo

no tecido estudado.

Com base nos resultados obtidos a partir dos testes realizados nos cortes radiais, foi

determinado o uso dos anticorpos RbαJH492 e RbαJH455, nas concentrações de 1:3000,

juntamente com a estreptavidina + Cy3, 1:200, para a marcação e quantificação dos diferentes

tipos de cones (cones L/M e cones S) e quantificação do número total de fotorreceptores nas

retinas planas.

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5.3. Análises topográficas e quantitativas: montagens planas

Para este estudo foram utilizadas ao todo 9 serpentes da espécie P. olfersii (15 retinas

analisadas) e 12 serpentes da espécie P. patagoniensis (20 retinas analisadas).

5.3.1 População Total de Fotorreceptores

A estimativa da densidade celular dos fotorreceptores foi obtida a partir de 10 retinas de

P. olfersii e 13 retinas de P. patagoniensis, utilizadas também para a contagem dos diferentes

tipos de cones. As contagens foram feitas nos locais onde as fotos foram digitalizadas, a partir

dos segmentos internos de todos os fotorreceptores, marcados de forma inespecífica pelo

anticorpo secundário (gtαRb) (Figura 16).

*

Figura 16. Imagem utilizada para contagem do número total de fotorrecesegmento interno (*), pelo anticorpo secundário (gtαRb).

*

ptores, a partir da marcação inespecífica do

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A densidade média de células para cada campo amostrado foi calculada dividindo o

número de células contadas pela área do campo (37.552,55 µm2). O valor de densidade média

do total de fotorreceptores das retinas de P. olfersii foi de 11.183,1 células/mm2 (d.p. 1.107,4),

com variação de 5.432,4 células/mm2 (na região dorsal da retina Po071205OD) a 17.894,9

células/mm2 (na região caudal da retina Po070605OD). Nas retinas de P. patagoniensis a média

das densidades foi de 11.531,2 células/mm2 (d.p. 1.054,9), com variação de 4.713,4 celulas/mm2

(na região dorsal da retina Pp071205OD) a 23.327,3 células/mm2 (na região central da retina

Pp070605OE) (Tabelas 2 - 4).

Tabela 2. Densidade média e população total dos fotorreceptores das retinas de P. olfersii e P. patagoniensis Fotorreceptores

Densidade Média (células/mm2)

Densidade Média min –max (células/mm2)

População Total

P. patagoniensis 11.531,2 ± 1.054,9 4.713,4 – 23.327,3 354.482,8 ± 87.722,2 P. olfersii 11.183,1 ± 1.107,4 5.432,4 – 17.894,9 351.630,5 ± 98.622,0

Tabela 3. Medidas de cada serpente e valores de densidade dos fotorreceptores das retinas de Philodryas patagoniensis. CRC = comprimento rostro cloacal; CC = comprimento caudal; m = massa (g)

SERPENTES P. patagoniensis

CRC CC m(g) sexo Área retina (mm2)

Pop. Total

Dens. Média (células/mm2)

Dens. min - max

Pp 070419 OE 910 185 240 M 23,5 280.562,7 11.954,1 ± 3.195,5 6.870,4 -18.640,5 Pp 070605 OE 790 250 126 F 19,5 265.919,5 13.671,9 ± 4.103,1 7.775,8 -23.327,3 Pp 070605 OD 790 250 126 F 20,2 225.538,9 11.193,0 ± 2.669,0 6.577,5 -16.137,4 Pp 071107.02 OE 885 325 150 F 33 367.513,7 11.143,5 ± 2.551,0 6.870,4 -17.468,8 Pp 071107.02 OD 885 325 150 F 34,6 420.066,5 12.126,6 ± 2.275,1 7.163,3 -16.057,5 Pp 081023.01 OD 795 278 110 F 28 340.949,2 12.176,8 ± 2.671,1 6.524,2 -18.534,0 Pp 071017 OE 855 287 133 F 28,7 338.939,4 11.809,7 ± 3.095,1 6.684,0 -18.187,8 Pp 071107.01 OE 860 297 155 F 25,2 309.965,6 11.958,5 ± 2.115,4 7.935,5 -15.711,3 Pp 071107.01 OD 860 297 155 F 29,7 350.051,8 11.778,3 ± 2.743,9 7.110,0 -17.868,3 Pp 071017 OD 855 287 133 F 30,7 350.040,7 11.420,6 ± 2.763,1 6.710,6 -17.202,6 Pp071010 OD 1180 350 385 F 40,8 465.146,4 11.406,2 ± 3.287,7 6.444,3 – 21.702,9 Pp071010 OE 1180 350 385 F 58,4 561.252,9 9.613,8 ± 3.168,1 5.618,8 -18.640,5 Pp071205 OD 865 354 193 M 34,4 332.329,5 9.652,3 ± 2.920,6 4.713,4 -14.406,5

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Tabela 4. Medidas de cada serpente e valores de densidade dos fotorreceptores das retinas de Philodryas olfersii. CRC = comprimento rostro cloacal; CC = comprimento caudal; m = massa (g)

SERPENTES P. olfersii

CRC CC m(g) sexo Área retina (mm2)

Pop. Total Dens. Média (células/mm2)

Dens. min - max

Po 070216 OD 1040 375 243 F 31,6 342.949,1 10.870,0 ± 2.671,4 6.577,5 -15.178,7 Po 070605 OD 960 325 255 F 26,7 348.241,0 13.047,6 ± 2.365,1 8.707,8 -17.894,9 Po 070605 OE 960 325 255 F 29,3 333.534,1 11.387,3 ± 1.792,7 8.068,7 -15.924,4 Po 070822 OD 880 315 91 F 21,9 284.364,4 13.008,4 ± 2.080,6 8.228,5 -17.175,9 Po 080221.02 OD 643 271 60 M 24,8 281.436,5 11.334,5 ± 2.535,1 5.911,7 -14.965,7 Po 071205 OE 940 350 130 F 28,5 290.632,7 10.204,8 ± 2.088,6 5.432,4 -13.581,0 Po 071205 OD 940 350 130 F 36,1 346.534,5 9.607,3 ± 1.516,1 6.044,9 -12.222,9 Po 080221.01 OD 710 294 64 M 26,8 283.170,5 10.577,9 ± 2.303,9 6.337,8 -14.779,3 Po 080221.01 OE 710 294 64 M 36,9 394.138,6 10.678,4 ± 2.626,0 5.778,6 – 14.193,4 Po 081106 OD 995 350 262 F 43,0 611.303,4 11.114,6 ±1.586,2 8.255,1 – 14.193,4

Os mapas topográficos do total de fotorreceptores mostram uma distribuição heterogênea

nas retinas das duas espécies. Em P. olfersii observa-se uma faixa visual que se estende ao longo

do eixo rostro-caudal, na altura do nervo óptico. Nas retinas desta espécie podem-se observar

duas areae (áreas circulares de maior densidade celular), uma central e uma caudal. O maior pico

de densidade foi de 17.175,9 células/mm2 na região central (retina Po070822OD), sendo o

segundo maior pico de densidade desta mesma retina, de 17.016,1 células/mm2 na região caudal.

Três mapas de isodensidade apresentados na Figura 17 ilustram esta distribuição da população

total de fotorreceptores em P. olfersii. Os gráficos apresentados na Figura 18 mostram a variação

na distribuição de fotorreceptores ao longo do eixo dorso-ventral em três retinas de P. olfersii.

Nos mapas de isodensidade das retinas de P. patagoniensis, não se observa uma faixa

visual como na outra espécie, mas sim uma área de maior densidade celular na região ventral e

rostral das retinas. A região dorsal tem menor densidade que a região ventral. O maior pico de

densidade média foi de 23.327,3 células/mm2 na região central (area centralis) (retina

Pp070605OE), sendo o segundo maior pico de densidade desta mesma retina, de 22.368,6

células/mm2, na região ventral e rostral. Três mapas de isodensidade, apresentados na Figura 19,

ilustram esta distribuição da população total de fotorreceptores em P. patagoniensis.

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a) b)

c)

Figura 17. Mapas topográficos dos fotorreceptores de três retinas de P. olfersii. a) Po 071205 OE; b) Po 071205 OD; c) Po 081106 OD. A representação está em gradiente de cinza. A estria visual estende-se ao longo do eixo rostro-caudal, e notam-se duas areae, com maior densidade celular na região caudal e a região central. O disco branco representa a saída do nervo óptico.

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a)

b)

c)

Figura 18. Perfil da variação de densidade de fotorreceptores ao longo do eixo dorso-ventral de três retinas de P. olfersii. (a) Po071205 OE, (b) Po081106 OD, (c) Po071205 OD.

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a) b)

c) d)

Figura 19. Mapas topográficos dos fotorreceptores de quatro retinas de P. patagoniensis. a) Pp 071107.02 OE; b) Pp070419 OE; c) 071107.01 OD; d) Pp 071205 OD. A representação está em gradiente de cinza. Nota-se uma maior densidade celular na região ventral da retina, com area visual na região rostro-ventral. O disco branco representa a saída do nervo óptico.

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5.3.2. População de Cones S

A densidade de cones S foi estimada a partir de 5 retinas de P. olfersii e 6 retinas de P.

patagoniensis. A contagem foi feita a partir dos segmentos externos imunomarcados com o

anticorpo JH455, nos locais onde as imagens foram digitalizadas (Figura 20). O total de

fotorreceptores destas retinas também foi contado, a partir da marcação inespecífica do segmento

interno, pelo anticorpo secundário. Com os valores de densidade do total de fotorreceptores pode

ser calculada a porcentagem de cones S em cada retina.

Figura 20. Imagem de retina planestreptavidina, utilizada para contagesegmentos externos dos fotorrecepinespecífica pelo Cy3.

a de P. olfersii, incubada com JH455 e revelada com Cy3 acoplado a m do número de cones S e do número total de fotorreceptores. Observa-se os

tores imunomarcados ( ) e os segmentos internos apresentando marcação

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O valor de densidade média do total de cones S em P. olfersii foi de 352,19 células/mm2

(d.p. 104,67), com variação mínima e máxima de 26,6 células/mm2 (na região dorsal da retina

Po070216OD) a 1.091,8 células/mm2 (na região ventral da retina Po080221.02OD). Em P.

patagoniensis, a densidade média foi de 549,72 células/mm2 (d.p. 196,78), com variação mínima

e máxima de 26,6 células/mm2 (na região caudal da retina Pp070605OE) a 1.464,6 células/mm2

(na região ventral da retina Pp070419OE) (Tabelas 5 e 6). A porcentagem média de cones S em

relação a população total de fotorreceptores foi de 3,0% (d.p. 0,9%) em P. olfersii e 4,9% (d.p.

1,8%), em P. patagoniensis (Figura 21).

Figura 21. Médias e desvios padrão da densidade de fotorreceptores, dos cones S e dos cones L/M nas retinas de P. olfersii e P. patagoniensis.

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Tabela 5. Densidade média e população total dos cones S das retinas de P. olfersii e P. patagoniensis. Cones S

Densidade Média (células/mm2)

População Total % Cones S

P. patagoniensis 549,7 ± 196,8 15.405,1 ± 7.955,9 4,9 ± 1,8 P. olfersii 352,2 ± 104,7 9.185,3 ± 1.904,5 3,0 ± 0,9

Tabela 6. Valores de densidade de cones S das retinas de P. olfersii e P. patagoniensis.

SERPENTES População Total Cones S

Densidade Média Cones S

Densidade min – max

% Cones S

Po 070216 OD 7.180,7 227,6 ± 188,5 26,6 -905,4 2,1 Po 070605 OD 9.848,8 369,0 ± 218,8 53,3 - 905,4 2,9 Po 070605 OE 7.886,4 269,3 ± 187,6 719,0 - 26,6 2,4 Po 070822 OD 8.943,4 409,1 ± 225,4 133,1 - 772,3 3,3 Po 080221.02 OD 12.067,0 486,0 ± 235,0 106,5 -1091,8 4,3 MÉDIAS P. olfersii 9.185,27 ± 1.904,5 352,2 ± 104,7 3,0 ± 0,9 Pp 070419 OE 14.665,5 624,9 ± 318,1 213,0 - 1464,6 5,2 Pp 070605 OE 3.755,1 193,1 ± 129,7 26,6 - 479,3 1,5 Pp 070605 OD 9.121,9 452,7 ± 220,6 106,5 - 1065,2 4,3 Pp 071107.02 OE 23.413,0 709,9 ± 207,7 319,6 - 1118,4 6,7 Pp 071107.02 OD 23.878,6 689,3 ± 235,3 292,9 - 1251,6 5,9 Pp 081023.01 OD 17.596,7 628,5 ± 279,5 159,8 -1251,6 5,4 MÉDIAS P. patagoniensis

15.405,1 ± 7.955,9 549,7 ± 196,8 4,9 ± 1,8

Os mapas topográficos do total de cones S mostraram uma distribuição heterogênea nas

retinas das duas espécies. Em P. olfersii foi observada uma distribuição difusa, com duas áreas

de maior densidade, na região central e na região rostro-ventral. Nas retinas de P. patagoniensis

foi observada uma área de maior densidade de cones S, localizada na região ventral. A Figura 22

(a e b) ilustra esta distribuição de cones S em uma retina de P. olfersii e uma retina de P.

patagoniensis.

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a)

b)

Figura 22. Mapas topográficos dos cones S de uma retina de P. olfersii (a) (retina Po 080221.02 OD) e de uma retina de P. patagoniensis (b) (retina Pp 071107.02 OE). A representação está em gradiente de cinza. Notam-se duas áreas de maior densidade celular, na região central e na região rostro-ventral em P. olfersii (a) e área de maior densidade celular na região ventral em P. patagoniensis (b). O disco branco representa a saída do nervo óptico.

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5.3.3. População de Cones L/M

A densidade dos cones L/M foi estimada a partir de 5 retinas de P. olfersii e 7 retinas de

P. patagoniensis. A contagem foi feita a partir dos segmentos externos imunomarcados com o

anticorpo JH492, nos locais onde as imagens foram digitalizadas (Figura 23). O total de

fotorreceptores destas retinas também foi contado, a partir da marcação inespecífica do segmento

interno, pelo anticorpo secundário. Com os valores de densidade do total de fotorreceptores pode

ser calculada a porcentagem de cones L/M em cada retina.

Figura 23. Imagem de estreptavidina, utilizada psegmentos externos dos inespecífica pelo Cy3.

retina plana de P. olfersii, incubada com JH492 e revelada com Cy3 acoplado a ara contagem de cones L/M e do número total de fotorreceptores. Observam-se os fotorreceptores imunomarcados ( ) e os segmentos internos apresentando marcação

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O valor de densidade média do total de cones L/M nas retinas de P. olfersii foi de 8.614,7

células/mm2 (d.p. 1.142,5), com variação mínima e máxima de 932 células/mm2 (na região

dorsal da retina Po071205OE) a 14.193,4 células/mm2 (na região caudal da retina Po081106OD).

Em P. patagoniensis, a densidade média de cones L/M foi de 8.902,4 células/mm2 (d.p. 1.102,4),

e a variação mínima e máxima de 3.701,5 células/mm2 (na região dorsal das retinas Pp071010OE

e Pp071205OD) a 17.122,7 células/mm2 (na região ventral da retina Pp071017OE). As

porcentagens médias de cones L/M em relação a população total de fotorreceptores foram 82,8%

(d.p. 7,5%) em P. olfersii e 85,3% (d.p. 5,1%), em P. patagoniensis (Figura 21) (Tabelas 7 e 8).

Tabela 7. Densidade média e população total dos cones L/M das retinas de P. olfersii e P. patagoniensis. Cones L/M

Densidade Média (células/mm2)

População Total % Cones L/M

P. patagoniensis 8.902,43 ± 1.102,4 307.961,33 ± 62.235,6 85,3 ± 5,1 P. olfersii 8.614,74 ± 1.142,5 317.908,99 ± 13.0111 82,8 ± 7,5

Tabela 8. Valores de densidade de cones L/M nas retinas de P. olfersii e P. patagoniensis.

SERPENTES População Total Cones L/M

Densidade Média Cones L/M

Densidade min – max

% Cones L/M

Po 071205 OE 211.405,1 7.422,9 ± 2.727,8 932,0 - 12116,4 72,7 Po 071205 OD 279.068,2 7.736,9 ± 1.676,7 4873,2 - 11424,0 82,2 Po 080221.01 OD 226.205,1 8.449,9 ± 3.252,4 1251,6 -13634,2 79,9 Po 080221.01 OE 340.625,8 9.228,6 ± 2.193,2 2050,5 - 12249,5 86,4 Po 081106 OD 532.240,8 10.235,4 ± 1.520,9 7509,5 -14193,4 92,9 MÉDIAS P. olfersii 317.909,0 ± 130.111,0 8.614,7 ± 1.142,5 82,8 ± 7,5 Pp 071017 OE 283.650,5 9.883,3 ± 3.388,9 5059,6 - 17122,7 88,1 Pp 071107.01 OE 267.810,3 10.332,2 ± 2.814,8 3.914,5 – 14.033,7 86,4 Pp 071107.01 OD 248.759,0 8.370,1 ± 2.487,2 4873,2 - 13021,8 80,5 Pp 071017 OD 270.974,9 8.840,9 ± 3.246,1 3754,7 - 16643,3 77,4

Pp071010 OD 383.146,9 9.395,5 ± 1.987,0 6124,8 -12169,6 90,8 Pp071010 OE 409.254,1 7.010,2 ± 1.990,9 3701,5 - 11450,6 83,3 Pp071205 OD 292.133,5 8.484,9 ± 2.737,3 3701,5 -12569,1 90,8 MÉDIAS P. patagoniensis

307.961,3 ± 62.235,6 8.902,4 ± 1.102,4 85,3 ± 5,1

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Os mapas topográficos do total de cones L/M mostram uma distribuição heterogênea nas

retinas das duas espécies. Em P. olfersii observa-se uma faixa visual que se estende ao longo do

eixo rostro-caudal, na altura do ponto do nervo óptico, assim como nos mapas da população total

de fotorreceptores. Nas retinas desta espécie pode-se observar também uma area centralis com

maior densidade celular e uma area na região caudal. O maior pico de densidade média foi de

14.193,4 células/mm2 na região caudal (retina Po081106 OD), sendo o segundo maior pico de

densidade desta mesma retina de 13.980,4 células/mm2 na area centralis.

Nos mapas de isodensidade das retinas de P. patagoniensis não se observa a estria

horizontal como na outra espécie, mas sim uma área de maior densidade na região ventral e

rostral das retinas, assim como na distribuição do total de fotorreceptores. O maior pico de

densidade média foi de 17.122,7 células/mm2 na região ventral (retina Pp071017 OE).

Os mapas de isodensidade apresentados na figura 24 ilustram a distribuição de cones L/M

em uma retina de P. olfersii e em uma retina de P. patagoniensis.

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a)

b)

Figura 24. Mapas topográficos dos cones L/M de uma retina de P. olfersii (a) (retina Po081106 OD) e uma retina de P. patagoniensis (b) (retina Pp 071205 OD). Em a) observa-se uma faixa visual acompanhando o eixo rostro-caudal, uma area centralis e uma area caudal. Em b) observa-se maior densidade celular na região ventral e uma area rostro-ventral. A representação está em gradiente de cinza. O disco branco representa a saída do nervo óptico.

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5.3.4. População de Células da CCG

A densidade das células da camada da CCG foi estimada a partir de 5 retinas de P.

olfersii e 7 retinas de P. patagoniensis. A contagem foi feita a partir da marcação dos corpos

celulares da última camada de células da retina, marcados pela técnica de Nissl, nos locais onde

as imagens foram digitalizadas (Figura 25).

Figura 25. Imagem ganglionares ( ) da

de retina plana de P. olfersi CCG.

i, marcada com Nissl, mostrando os corpos celulares das células

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O valor de densidade média do total de células da CCG foi de 10.117,47 células/mm2

(d.p. 1.025,98) em P. olfersii, com variação mínima e máxima de 714,9 células/mm2 (na região

dorsal da retina Po080110 OD) a 22.436,1 células/mm2 (na região caudal da retina Po080110

OD). Em P. patagoniensis a densidade média foi de 9.834,93 células/mm2 (d.p. 2.772,24), com

variação mínima e máxima de 3.519,4 células/mm2 (na região dorsal da retina Pp080221OE) a

20.024,8 células/mm2 (na região central da retina Pp080821OE) (Tabela 9). A média de

densidade de células da CCG foi 9,5% menor que a média de densidade de fotorreceptores em P.

olfersii, e 14,7% menor que a média de densidade de fotorreceptores em P. patagoniensis

(Figura 26).

Figura 26. Médias e desvios padrão da densidade de fotorreceptores e células da CCG das retinas de P. olfersii e P. patagoniensis.

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Tabela 9. Densidade média e população total das células da CCG de P. olfersii e P. patagoniensis.

Células da CCG Densidade Média

(células/mm2) População Total

P. patagoniensis 9.834,9 ± 2.772,2 350.294,2 ± 64756,2 P. olfersii 10.117,5 ± 1.026,0 307.605,3 ± 80.422,1

Os mapas topográficos das células da CCG mostram uma distribuição heterogênea nas

retinas das duas espécies. Em P. olfersii observa-se uma faixa visual ao longo do eixo rostro-

caudal e duas áreas de maior densidade celular (area centralis), uma central e uma na região

caudal. A Figura 28 ilustra esta distribuição em uma retina de P. olfersii e compara com a

distribuição do total de fotorreceptores da mesma espécie.

Em P. patagoniensis observa-se uma maior densidade celular na região central e rostral

da retina, como ilustrado na Figura 29.

Com a marcação de Nissl também foi possível visualizar e quantificar os fotorreceptores,

a partir do contorno dos segmentos internos destas células (Figura 27). Em uma retina de cada

espécie corada com a técnica de Nissl foram obtidas imagens da camada de fotorreceptores e da

camada de células ganglionares, nos mesmos campos amostrados, para quantificação e

comparação do número de células das duas camadas (Figura 30).

a) b) Figura 27. Imagens do mesmo campo amostrado de uma retina de P. olfersii (Po081126 OE) marcada com técnica de Nissl. a) Camada de Fotorreceptores; b) Camada de Células Ganglionares (CCG).

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a)

b) Figura 28. a) Mapa topográfico das células da CCG de P. olfersii (Po081126 OE); b) Mapa topográfico do total de fotorreceptores de P. olfersii (Po071205 OD). As representações estão em gradiente de cinza. Nota-se uma faixa visual, uma area centralis e uma area caudal em a) e em b). O disco branco representa a saída do nervo óptico.

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a)

b) Figura 29. a) Mapa topográfico das células da CCG de P. patagoniensis (Pp081023.01 OD), com maior densidade celular na região central e rostral; b) Mapa topográfico do total de fotorreceptores de P. patagoniensis (Pp071205 OD), com maior densidade celular na região ventral e rostral. As representações estão em gradiente de cinza. O disco branco representa a saída do nervo óptico.

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a)

b)

Figura 30. Mapas topográficos da variação da proporção de fotorreceptores e de células da CCG em retina de P. olfersii (Po 081126 OE) (a) e retina de P. patagoniensis (Pp081023.01 OE) (b). As representações estão em gradiente de violeta (1:1), onde há maior quantidade de células ganglionares, ao amarelo (1:3), com maior densidade de fotorreceptores e menor densidade de ganglionares. O disco branco representa a saída do nervo óptico.

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5.4. Estimativa da acuidade visual

Os valores de acuidade visual de cada serpente foram calculados com base no pico de

densidade de células da CCG de cada retina. O valor da PND (distância posterior nodal) foi

calculado a partir do tamanho do globo ocular e do tamanho do cristalino medido para cada olho.

Em seguida foi calculada a distância focal (d), que corresponde a um grau na retina. A frequência

espacial máxima (v) foi calculada usando o valor do pico de densidade média (D) de cada retina.

Este valor v foi em seguida multiplicado por d, para expressar o poder de resolução espacial em

ciclos por grau (cpg).

A acuidade visual máxima encontrada para P. olfersii foi de 3,0 cpg e a mínima 2,3 cpg.

A média das acuidades das cinco retinas analisadas desta espécie foi de 2,6 cpg (d.p. 0,3). A

acuidade visual máxima encontrada para P. patagoniensis foi de 3,0 cpg e mínima de 2,2 cpg. A

média das acuidades para as sete retinas analisadas desta espécie também foi de 2,6 cpg (d.p. 0,3)

(Tabela 10).

Tabela 10. Valores calculados da Acuidade Visual para cada retina de P. olfersii e P. patagoniensis; PND = distância posterior nodal calculada para cada olho; d = um grau na retina; S = medida de espaçamento intracelular entre as células; v = frequência espacial máxima; cpg = resolução espacial em ciclos/grau.

SERPENTE Densidade Max CCG

Diâmetro do Olho

PND (50%)

d S v cpg

Po 080110 OE 15.287,38 4,3 2,15 0,037525 0,008691 66,43 2,49 Po 080110 OD 22.436,15 4,3 2,15 0,037525 0,007174 80,48 3,02 Po 080221.02 OD 12.565,35 4,3 2,15 0,037525 0,009586 60,22 2,26 Po 081106 OE 17.871,94 4,2 2,1 0,036652 0,008038 71,83 2,63 Po 081126 OE 14984,93 4,2 2,1 0,036652 0,008778 65,77 2,41 MÉDIA P.olfersii 2,6 ± 0,29 Pp 080110 OE 14.737,47 4,5 2,25 0,03927 0,008852 65,22 2,56 Pp 080221 OD 11.465,53 5,8 2,9 0,050615 0,010035 57,53 2,91 Pp 080221 OE 10.833,14 5,8 2,9 0,050615 0,010324 55,92 2,83 Pp 071205 OE 14.558,60 5,4 2,7 0,047124 0,008906 64,83 3,05 Pp 080821 OE 20.024,84 3,7 1,9 0,032289 0,007594 76,03 2,45 Pp 081023.01 OD 12.177,27 4,9 2,5 0,042761 0,009738 59,29 2,53 Pp 081023.01 OE 9485,87 4,9 2,45 0,042761 0,011033 52,33 2,24 MÉDIA P.patagoniensis

2,6 ± 0,3

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6. DISCUSSÃO

6.1. População de Fotorreceptores

Estudos da organização de fotorreceptores sugerem que vertebrados estritamente diurnos,

incluindo lagartos, serpentes, algumas aves e alguns mamíferos (a maior parte da família dos

esquilos) possuem retinas de apenas cones (Walls, 1942). Nas observações das retinas preparadas

para histologia clássica (HE) e nas imagens obtidas da microscopia eletrônica de varredura

(Figuras 11 e 12), não foram observados fotorreceptores do tipo bastonetes, como esperado para

serpentes diurnas da família colubridae (Walls, 1942; Wong, 1989; Jacobs, et al., 1992). Da

mesma forma, com as marcações imunohistoquímicas dos cortes radiais, foram observados

diferentes tipos de cones e ausência de bastonetes (Figuras 13 e 14).

A partir das marcações imunohistoquímicas feitas nos cortes radiais foi possível observar

a presença de três tipos celulares, cones simples pequenos, cones simples grandes e cones

duplos. Cones que podem ser diferenciados em simples ou duplos foram descritos nas retinas de

peixes teleósteos, anfíbios, répteis e aves (Walls, 1942; Crescitelli, 1972). Cones duplos são

comuns e ocorrem em grande número na retina de vertebrados diurnos e frequentemente na de

noturnos (Walls, 1942). Assim como na retina da serpente colubrídea diurna Thamnophis

sirtalis, estudada por Wong (1989), nas retinas de Philodryas os cones duplos incluem um cone

principal simples e grande e um cone acessório mais delgado. Nas imagens das retinas planas

observadas neste trabalho foi difícil identificar os membros acessórios dos cones duplos, devido

ao seu fino segmento externo, e apenas ocasionalmente foi possível localizar sua posição, assim

como descrito por Wong (1989), para as retinas planas de Thamnophis. Dessa forma, os cones

duplos não puderam ser discriminados dos cones simples grandes e assim a distribuição das

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células foi separada em dois grupos, dos cones simples S marcados pelo anticorpo JH455 e dos

cones L/M simples e duplos (membro principal e acessório), marcados pelo anticorpo JH492.

6.2. Densidade e Topografia de Fotorreceptores

A densidade de fotorreceptores totais, bem como a densidade dos dois grupos de cones

quantificados nas retinas estudadas (cones simples S e cones simples e duplos L/M), não diferiu

significativamente entre as duas espécies. Este fato se deve possivelmente à proximidade

filogenética destas serpentes, consideradas espécies irmãs.

Sillman et al. (1997) quantificaram os fotorreceptores de retinas da serpente colubrídea

diurna Thamnophis sirtalis e obtiveram valores de densidade média na area centralis (14.350

células/mm2) semelhantes aos obtidos neste trabalho para os picos de densidade de P. olfersii

(15.011 ± 1.669 células/mm2) e P. patagoniensis (17.991 ± 2.408 células/mm2). Entretanto, em

estudos com retinas de serpentes noturnas da família Boidae, foram encontrados valores de

densidade média de fotorreceptores superiores aos encontradas neste trabalho. Sillman et al.

(1999) obtiveram uma densidade média de 457.000 bastonetes/mm2, e calcularam uma média de

45.000 cones/mm2 em retinas de Python regius. Sillman et al. (2001) quantificaram um valor

menor de 280.000 ± 84.999 bastonetes/mm2 e em torno de 35.000 cones/mm2 em retinas da

serpente boídea Boa constrictor imperator. Os valores de densidade média obtidos para estas

serpentes noturnas condizem com os valores de densidade de outros animais noturnos (Sillman et

al., 2001).

Nas retinas de P. olfersii a densidade de fotorreceptores cai de 15.000 células/mm2 na

região de maior densidade (caudal) para 7.000 células/mm2 na borda da retina, resultando em

uma taxa centro-periférica de 2:1. Nas retinas de P. patagoniensis, a densidade do total de

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fotorreceptores cai de 18.000 células/mm2 na região de maior densidade para 7.000 células/mm2

na região dorsal, de menor densidade, resultando em uma taxa ventral-dorsal de 2,5:1. Valores

semelhantes foram obtidos por Wong (1989) para as retinas de T. sirtalis (taxa centro-periférica

de cones de 2:1).

Os trabalhos de Walls (1942) e Underwood (1966; 1967) descrevem a presença de três

diferentes tipos de cones nas retinas de colubrídeos diurnos: cones simples pequenos, cones

simples grandes e cones duplos. Wong (1989) também encontrou em retinas de Thamnophis

sirtalis (colubrídeo diurno) estes três grupos de cones e ausência de bastonetes. Jacobs et al.

(1992), com registros eletrorretinográficos confirmaram a ausência de bastonetes nas retinas de

serpentes desta mesma espécie e a presença destes três tipos de cones. Neste trabalho, os autores

não obtiveram respostas a estímulos na faixa de luz ultravioleta. Entretanto, Sillman et al. (1997)

utilizando técnicas de imunohistoquímica e mircroespectrofotometria, diferenciaram quatro tipos

de cones em retinas de T. sirtalis. A maioria deles eram cones duplos (45,5%) e cones simples

grandes (40%) que ao todo perfizeram 85,5% do total de fotorreceptores destas retinas. Estes

dois grupos de cones apresentaram pigmento visual com pico de absorbância de 554nm. Nas

retinas de Philodryas, os cones simples grandes e os cones duplos (cones L/M) foram marcados

com o antiorpo JH492 e tiveram proporções semelhantes às das retinas de Thamnophis (83% em

P. olfersii e 85,5% em P. patagoniensis). Sillman et al. (1997) obtiveram uma menor proporção

de cones simples pequenos (14,5%), que foram diferenciados em dois subgrupos. Um subgrupo

com sensibilidade espectral na faixa do azul (482nm) que compreendeu cerca de 9% da

população total de fotorreceptores, e outro subgrupo com sensibilidade espectral na faixa da luz

ultravioleta (360nm) que compreendeu cerca de 5,5% da população total. Nas retinas de

Philodryas, apenas uma classe de cones pequenos simples (cones S) foi identificada com o

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anticorpo JH455. Estes cones perfizeram cerca de 3% da população total nas retinas de P. olfersii

e 5% nas retinas de P. patagoniensis. A partir da soma do total de cones L/M (simples e duplos)

e de cones S foi estimada uma possível proporção de um quarto grupo de cones, possivelmente

os cones UV que não foram marcados com nenhum dos anticorpos testados nos cortes

transversais (10% em P. patagoniensis e 14% em P. olfersii). A soma dos cones S e possíveis

cones UV nas retinas de Philodryas (17% em P. olfersii e 15% em P. patagoniensis) foram

semelhantes ao valor obtido por Sillman et al. (1997) para a proporção de cones simples

pequenos (cones azuis e cones UV) nas retinas de T. sirtalis.

O anticorpo JH455 utilizado para marcar cones simples pequenos (supostamente cones S)

nas retinas das serpentes estudadas foi produzido por Jeremy Nathans (Nathans et al., 1986), a

partir de opsinas de cones S de humanos, sensíveis à faixa espectral de 440nm. Apesar desta

sensibilidade espectral caracterizar o grupo de genes SWS2, os cones S humanos e de outros

primatas são membros do grupo SWS1 (Jacobs & Rowe, 2004) (Figura 31). Na maioria dos

mamíferos placentários, este pigmento sofreu uma alteração para comprimentos de onda mais

longos que dos cones UV dos outros grupos (Jacobs & Rowe, 2004). A sensibilidade a luz UV

era característica da maioria dos ancestrais dos mamíferos (Hunt et al., 2001; Shi & Yokoyama,

2003), mas muitos mamíferos placentários sofreram uma alteração da sensibilidade espectral dos

cones UV, para comprimentos de ondas mais longos (Williams et al., 2005).

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Figura 31. Árvore filogenética das opsinas para representantes do grupo dos vertebrados (Jacobs & Rowe, 2004).

Desta forma, o anticorpo JH455, produzido a partir de opsinas do grupo SWS1, poderia

ter marcado os cones UV nas retinas de Philodryas, e o grupo de cones não quantificados

pertenceriam ao grupo SWS2, com sensibilidade espectral na faixa do azul (cones S). Se esta

suposição estiver correta, os valores obtidos para os dois grupos de cones simples pequenos nas

retinas de P. olfersii (3% cones UV e 14% cones S) e de P. patagoniensis (5% cones UV e 10%

cones S), seriam semelhantes aos valores encontrados por Sillman et al. (1997), nas retinas de T.

sirtalis (9% cones S e 5,5% cones UV).

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Apesar das semelhanças encontradas entre os valores de densidade e populações de cones

de P. olfersii e P. patagoniensis, interessantes diferenças foram observadas nos padrões de

distribuição destas células, evidenciadas nos mapas de isodensidade. Estas diferenças apontam

para possíveis adaptações ao hábitat e estilo de vida das duas espécies. Os mapas do total de

fotorreceptores da serpente arborícola P. olfersii mostram uma estria visual e duas áreas de maior

densidade celular, uma central (area centralis) e uma segunda localizada na região caudal da

retina (Figura 32). Estas especializações apontam para uma melhor resolução da imagem nessas

duas regiões. A faixa horizontal e a area centralis auxiliam na discriminação de objetos

localizados ao horizonte e lateralmente. A area caudal, por sua vez, teria grande importância na

visão frontal, aprimorando a acuidade visual em objetos à frente do animal. Estas duas

especializações são de grande importância para o estilo de vida arborícola, onde o animal precisa

ter uma boa qualidade da imagem para se locomover e forragear por entre galhos e folhagens. Os

mapas de isodensidade dos cones L/M desta espécie acompanham a mesma distribuição da

população total de cones. Entretanto os mapas dos cones S apresentaram uma distribuição difusa

com áreas de maior densidade celular na região rostral e central.

Nos mapas do total de fotorreceptores da serpente terrestre P. patagoniensis não foi

observada faixa visual, mas uma maior densidade celular na região rostro-ventral das retinas, que

deve conferir melhor acuidade do campo visual superior e posterior do animal (Figura 32). Esta

especialização possivelmente auxiliaria na percepção da aproximação de predadores vindos de

cima, como aves. Serpentes terrestres também correm mais riscos de serem pisadas por animais

maiores, especialmente mamíferos. Uma melhor acuidade do campo visual superior é importante

para a fuga e sobrevivência destes animais. A visão no campo superior poderia auxiliar também

na percepção de possíveis presas localizadas em estrato arbustivo, acima da serpente. Nos mapas

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de isodensidade dos cones L/M pode-se observar uma distribuição semelhante, com área de

maior densidade localizada na região ventral e rostral da retina. Mapas dos cones S mostraram

uma area centralis, com maior densidade destas células na região central da retina, favorecendo

a visão lateral.

a) b)

Figura 32. Mapas topográficos dos fotorreceptores de P. olfersii (a) e P. patagoniensis (b), mostrando as diferentes regiões de especialização das retinas com aumento da densidade celular.

6.3. Densidade e Topografia das Células da CCG

A maioria dos estudos de densidade e topografia de células ganglionares foi feita com

material marcado com coloração de Nissl (Stone, 1981), que evidencia todos os neurônios. O

método de marcação de Nissl é baseado na afinidade química específica da substância cromófila,

ou grânulos de Nissl das células nervosas a certos corantes de anilina básicos. Isto permite uma

marcação seletiva dos corpos ou pericária de todas as células nervosas de um dado tecido

nervoso, pela exclusão de outras estruturas, como as expansões das células nervosas, neuroglia e

elementos não nervosos (Polyak, 1941).

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A camada de células ganglionares é composta também por uma população de células

amácrinas deslocadas. Assim, a observação do tecido marcado com Nissl pode levar a uma super

estimação da densidade de células ganglionares, alterando também o valor do poder teórico de

resolução espacial (Bailes et al., 2006). Alguns autores, para distinguir as células ganglionares

das amácrinas deslocadas utilizam a técnica de marcação retrógrada, a partir do nervo óptico.

Estudos comparando os resultados das duas técnicas mostraram que apesar da proporção de

amácrinas na camada de células ganglionares variar consideravelmente entre os vertebrados, na

grande maioria das espécies os picos de densidade e a distribuição topográfica total de células

permanece relativamente igual, apesar da inclusão da população de células amácrinas (Coimbra

et al., 2006; Collin, 1988; 1999; Collin & Pettigrew, 1988c; Collin & Northcutt, 1993; Hart,

2002; Lisney & Collin, 2008; Pettigrew et al., 1988). A marcação retrógrada não marca com

sucesso todas as células ganglionares, então o pico de densidade deve estar entre os valores

calculados usando a coloração de Nissl e a marcação retrógrada (Bailes et al., 2006).

Desta forma, optou-se por utilizar neste estudo apenas a marcação de Nissl, que permitiu

distinguir as grandes células ganglionares preenchidas com Nissl, dos núcleos bem menores das

amácrinas deslocadas. O grande tamanho das ganglionares, seu formato multipolar e a densa

substância de Nissl, comparado com o núcleo ovóide e citoplasma indistinguível das células

amácrinas facilitou esta diferenciação (Pettigrew & Manger, 2008) (Figura 33).

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Figura 33. Imagem da camada de células ganglionares (CCG) de retina de P. olfersii (Po081106OE), marcada com Nissl. Abaixo: células contadas marcadas em vermelho; as células com núcleo ovóide e citoplasma denso não foram contadas (possíveis células amácrinas deslocadas).

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Nas duas espécies de serpentes estudadas neste trabalho as densidades de células da

CCG, bem como os picos de densidade máxima foram bastante semelhantes. Este fato aponta

mais uma vez para a proximidade filogenética de P. olfersii e P. patagoniensis. A média dos

valores de população total obtidos (350.294 ± 64.756 células em P. patagoniensis e 307.605 ±

80.422 células em P. olfersii), foram maiores que os obtidos por Wong (1989) para T. sirtalis

(209.800 ± 1.150 células).

A densidade das células ganglionares é um fator importante no comportamento visual.

Uma ampla variação nos padrões de distribuição destas células foi descrita e correlacionada ao

comportamento de várias espécies. Regiões de alta densidade são associadas a melhor acuidade

visual e assim, mapeamentos de curvas de isodensidade fornecem indícios sobre especializações

do comportamento do animal (Tompson, 1991). Para Hughes (1977) e Stone (1983), a alta

densidade de células ganglionares reflete uma maior capacidade de resolução espacial, associada

a regiões da retina de importância visual.

Em muitas espécies, especializações topográficas da população de células ganglionares

são correlacionadas ao aumento de densidade de fotorreceptores em determinadas regiões da

retina (Mednick et al., 1988; Mednick & Springer, 1988; Hueter, 1991; Bailes et al, 2006). Em

diversos mamíferos a distribuição de fotorreceptores e de células ganglionares se mostra paralela

(Hughes, 1975; Stone, 1978). Apenas um estudo (Wong, 1989) correlaciona a distribuição de

neurônios da CCG com a distribuição de fotorreceptores em retinas de serpentes.

Os mapas de isodensidade das células da CCG mostraram interessantes diferenças entre

as duas espécies de Philodryas. A distribuição destas células, de forma geral, foi semelhante a

distribuição do total de fotorreceptores, apontando para especializações e maior acuidade visual

de determinadas regiões das retinas. Em P. olfersii pode-se observar uma estria visual (faixa

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horizontal) de maior densidade e duas areae, uma na região central e outra na região caudal das

retinas, bem como nos mapas da população total de fotorreceptores. Nos mapas de isodensidade

das células da CCG de P. patagoniensis observou-se uma região central e rostral de maior

densidade celular, também semelhante aos padrões de distribuição da população total de

fotorreceptores.

Em P. olfersii a taxa de convergência de cones para células da CCG nas áreas de maior

densidade (area centralis) foi de 1:1, e de 2,5:1 nas regiões periféricas. Em P. patagoniensis, na

area centralis, localizada na região ventral e rostral das retinas, também foi calculada uma taxa

de cones para células da CCG de 1:1, enquanto no centro da retina foi obtida uma proporção de

3:1, e de 2,5:1 nas regiões periféricas. Na serpente T. sirtalis, o pico de densidade de neurônios

da CCG e de cones coincide na area centralis e a convergência de cones para células

ganglionares ocorre ao menos nesta região (Wong, 1989). A taxa de cones para neurônios da

CCG foi em torno de 2:1 na area centralis e em torno de 3:1 na estria visual de T. sirtalis

(Wong, 1989). Em outro trabalho realizado com duas espécies de serpentes colubrídeas, Caprette

(2005) quantificou uma taxa de fotorreceptores para células ganglionares de aproximadamente

2:1 na serpente diurna Pituophis elanoleucus e uma taxa de fotorreceptores para células

ganglionares de aproximadamente 38:1 na retina da serpente noturna Boiga irregularis.

Variações na topografia de células ganglionares parecem estar relacionadas às demandas

visuais dos diferentes hábitats e estilos de vida dos animais, assim como o posicionamento dos

olhos na cabeça (Lisney & Collin, 2008). Para vertebrados com olho lateralmente posicionado,

uma area ou fóvea quando localizados centralmente podem acrescentar na análise de um objeto

se aproximando no campo de visão monocular. Por outro lado, quando a area ou fóvea está

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localizada na periferia temporal (região caudal), eles podem aumentar a discriminação de objetos

no campo de visão binocular. Uma fóvea ou area ventro-temporal aumenta a acuidade visual no

campo visual superior (Coimbra et al., 2006). Assim como na retina de T. sirtalis, serpente

colubrídea diurna e terrestre, a presença de uma area centralis e estria visual nas retinas de

Philodryas devem refletir a necessidade de uma elevada densidade celular para amostrar o

horizonte (visão lateral monocular) devido ao seu estilo de vida (Hughes, 1977).

Em trabalho realizado com diversas espécies de tubarões, Lisney & Collin (2008)

observaram a distribuição heterogênea das células da CCG. Estas diferenças regionais devem

permitir um aumento do poder de resolução espacial de determinadas áreas do campo visual

(Wagner et al., 1998). A presença de uma topografia retiniana similar em diversas espécies

sugere que esta adaptação visual é conduzida pela demanda de um determinado estilo de vida,

antes da filogenia. Espécies bentônicas, por exemplo, que são relativamente inativas e se

alimentam de invertebrados e pequenos peixes (Compagno, 1984; 1990; Last & Stevens, 1994),

possuem uma estria visual dorsal e dorso-central, com um número de areae (Collin & Pettigrew,

1988c; Bailes et al., 2006; Collin, 1988; Bozzano & Collin, 2000). Este arranjo topográfico em

combinação com os olhos dorsalmente posicionados na cabeça deve ter importância para a visão

panorâmica do horizonte, sem a necessidade de olhos grandes ou movimentos do corpo, que

poderiam revelar a localização do animal (Bozzano & Collin, 2000). Presume-se que a area

dentro da faixa visual permite que regiões específicas do campo visual sejam amostradas com

um maior poder de resolução espacial (Lisney & Collin, 2008). Espécies de tubarões predadoras

ativas bentopelágicas e pelágicas mostraram um padrão concêntrico de aumento da densidade

celular, com uma area centralis e pico de densidade celular localizado próximo ao nervo óptico.

Em peixes ósseos, espécies predadoras ativas frequentemente possuem uma area centralis bem

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desenvolvida e contam com uma maior mobilidade do olho ou dos movimentos da cabeça para a

fixação da visão em alvos (Collin, 1997; 1999). A posição dos olhos na cabeça, assim como a

região de especialização da retina determinam o grau de sobreposição binocular (Collin, 1997).

Os mapas topográficos das retinas de P. olfersii mostraram duas especializações, uma

area centralis e uma area caudal, além da estria visual. A especialização dupla é bem conhecida

na retina de peixes e de aves predadoras diurnas, com duas fóveas (Collin, 2008) e também já foi

descrita na retina de mamíferos terrestres (Pettigrew & Manger, 2008). Entretanto, esta é a

primeira descrição de duas especializações em retinas de serpentes. A presença de uma area

caudal em P. olfersii indica a maior acuidade no campo de visão frontal, apesar de não haver

sobreposição binocular devido a posição dos olhos na cabeça (Pettigrew, 1986; Wathey &

Pettigrew, 1989) (Figura 34). No âmbito comportamental, esta especialização caudal pode ser de

grande importância para a captura de presas que se movem rapidamente, uma tarefa que requer

boa discriminação de profundidade (Coimbra et al., 2006). A locomoção desta serpente

arborícola também exige melhor discriminação de profundidade, mais do que esperado para

serpentes terrestres.

O campo de visão binocular é a região espacial onde ocorre uma sobreposição dos

campos monoculares (Walls, 1942). Para ter uma visão binocular é necessário que o animal

tenha ao menos um grau de sobreposição binocular do campo visual em cada olho. Estratégias

oculomotoras permitem que alguns animais mudem de um processamento visual binocular, para

uma visão panorâmica monocular, conforme a necessidade. Mas possivelmente, mais importante

que a presença de sobreposição óptica para a visão binocular, seja o desenvolvimento de

especializações da retina na sua região temporal. Uma vez que a visão binocular demanda um

grau de acuidade visual suficiente para que as pequenas diferenças entre as duas imagens da

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retina sejam calculadas, uma característica universal dos animais com visão binocular funcional

é a presença de uma especialização com aumento da densidade celular na área da retina que

projeta para frente no campo de visão binocular. Em outras palavras, a presença de uma

especialização na região temporal da retina em cada olho é um forte indício da presença de uma

visão binocular funcional (Pettigrew, 1986). Entretanto, apesar da presença de especialização na

região temporal (area caudal) das retinas de P. olfersii, é pouco provável que haja algum grau de

sobreposição binocular, devido à posição lateral dos olhos das serpentes (Figura 34).

Figura 34. Foto de cabeça de P. patagoniensis (acima) e P. olfersii.

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As diferenças topográficas encontradas nas retinas das duas espécies podem explicar o

menor tempo despendido por P. olfersii para perceber e capturar as presas colocadas nos

terrários, como fora observado nos experimentos comportamentais realizados no Instituto

Butantan (Costa et al., 2004). De acordo com os mapas de isodensidade observados para esta

espécie, a presa localizada a frente do animal seria projetada na parte posterior da retina. Os

mapas de isodensidade de neurônios das retinas de P. patagoniensis que apresentaram maior

densidade na região rostro-ventral podem explicar a maior dificuldade de percepção e

localização da presa, como também fora observado nos experimentos realizados. De acordo com

estes mapas, esta serpente perceber melhor presas localizadas acima de sua cabeça.

6.4. Acuidade Visual

Apesar da densidade de fotorreceptores constituir um primeiro limite ao poder de

resolução espacial do olho é a densidade e distribuição de células ganglionares, com uma

projeção axonal diretamente para o cérebro que limita o poder de resolução visual (Van der

Meer, 1995; Collin, 1999). A densidade de células ganglionares tem sido utilizada para estimar a

resolução visual de uma ampla variedade de vertebrados (Hughes, 1975, 1977, Pettigrew et al.,

1988).

Como descrito anteriormente, a camada de células ganglionares dos vertebrados é

formada por células ganglionares, uma população de células amácrinas deslocadas e população

de células da glia, que ocorrem em proporção variada. A marcação com substância de Nissl, que

evidencia todos os neurônios, pode levar a uma super estimativa do número de células

ganglionares e assim, poderia levar a alterações no valor do poder de resolução espacial teórico

do olho (Wong & Hughes, 1987; Collin & Pettigrew, 1988c; Pettigrew et al., 1988; Bailes et al,

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2006). Entretanto, a inclusão de células não ganglionares na contagem de picos de densidade,

não tem influência significativa na estimativa da acuidade visual. O poder de resolução espacial

é expresso como uma medida linear (e é portanto relacionada a raiz quadrada da densidade

celular) e assim a super estimação de células ganglionares em 30% contribuiria com apenas

aproximadamente 6% para a estimativa final do poder de resolução espacial, que é muito baixo,

considerando que a variação entre os indivíduos pode ser maior que 40% (Pettigrew et al., 1988;

Collin & Pettigrew, 1989). Medidas comportamentais do poder de resolução espacial se

aproximam daquelas calculadas a partir da densidade de células ganglionares de vertebrados

(Hughes, 1977; Pettigrew et al., 1988; Collin & Pettigrew, 1989), o que sugere a validade desta

técnica (Collin & Pettigrew, 1989; Wagner et al., 1998). Na tabela 11 pode-se comparar o poder

de resolução espacial obtido com a quantificação de células da CCG, com estudos

comportamentais de alguns vertebrados.

Tabela 11. Cálculos comparativos da acuidade visual. Quando possível, foi incluído para cada espécie tanto a acuidade estimada a partir do tamanho do olho e da densidade de células ganglionares, quanto a acuidade visual

determinada comportamentalmente (tabela adaptada de Pettigrew & Manger, 2008). Espécie Resolução visual

calculada da retina

(ciclos/grau)

Referência (retina) Medida comportamental

da acuidade visual (ciclos/grau)

Referencia (comportamento)

Águia 147 Reymond, 1985 140 Reymond, 1985 Humano 65 Curcio & Allen, 1990 60 Campbell & Gubisch, 1967 Cavalo 25 Evans & McGreevy, 2007 20 Timney & Keil, 1992 Pavão 20,6 Hart, 2002 - - Pomba - - 12,6 Hahmann & Gunturkun, 1993 Galinha - - 7 Donner, 1951 Pombo 18 Remy & Gunturkun, 1991 12 Hodos et al., 1976 Gato 10 Cleland et al., 1982 9 Hall & Mitchell, 1991 Hiena 8,4 Calderone et al., 2003 - - Cutia 7 Silveira et al., 1989 - - Golfinho 6 Mass & Supin, 1995 3 Pepper & Simmons, 1973 Rinoceronte 6 Pettigrew & Manger, 2008 - - Coelho 6 Vaney & Hughes, 1976 - - Capivara 6 Silveira et al., 1989 - - Polvo - - 4 Muntz & Gwyther, 1989 Paca 3 Silveira et al., 1989 - - Rato 1 Dean, 1981 1 Prusky et al., 2000 Camundongo 0,6 Gianfranceschi et al., 1999 0,6 Gianfranceschi et al., 1999 Serpente Nerodia - - 4,25 Baker et al., 2007 Serpente Philodryas 2,6 (este trabalho) - -

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Apenas um trabalho encontrado em literatura relata a acuidade visual de serpentes (Baker

et al, 2007). Indivíduos da espécie Nerodia sipedon pleuralis (família Colubridae), de hábitos

semi-aquáticos, tiveram a acuidade visual medida com base em registros de potenciais visuais

provocados do telencéfalo, com o uso de técnicas eletrofisiológicas. A acuidade média foi de

4.25 ciclos/grau. Estes resultados indicam que a resolução espacial desta espécie é de cerca de

20/120 em termos humanos (Baker et al, 2007).

Entretanto, não há na literatura trabalhos que descrevem a acuidade visual de serpentes,

com base na densidade de células da CCG. Neste trabalho, os limites superiores do poder de

resolução espacial foram calculados usando o pico de densidade de células da CCG e estimativas

do comprimento focal obtido das medidas dos olhos e dos cristalinos. Os valores obtidos não

diferiram consideravelmente entre as duas espécies estudadas (variação de 2.3 a 3.0 ciclos/grau

em P. olfersii, e de 2.2 e 3.0 ciclos/grau em P. patagoniensis).

Assim, o que difere entre as duas espécies é a localização topográfica na retina da área de

melhor resolução espacial da imagem. P. patagoniensis, tendo apresentado maior densidade de

células da CCG na região ventral e rostral das retinas, deve possuir uma melhor resolução

espacial no campo de visão superior e posterior. P. olfersii apresentou duas áreas de maior

densidade das células da CCG, uma caudal, indicando melhor resolução visual frontal, e uma

area centralis, indicando também uma boa resolução visual lateral.

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7. CONCLUSÕES

• Nos cortes radiais das retinas das duas espécies foram identificados três tipos de

fotorreceptores: cones simples grandes e cones duplos, marcados pelo anticorpo JH492

(para cones L/M), e cones simples pequenos, marcados com anticorpo JH455 (para cones

S).

• Não foram encontradas diferenças significativas na densidade dos fotorreceptores, bem

como nas proporções dos diferentes tipos de cones das retinas de P. olfersii e P.

patagoniensis. Estes dados apontam para a proximidade filogenética das duas espécies.

• Não foram encontradas diferenças significativas da densidade de células da CCG nas

retinas das duas espécies, o que mais uma vez indica sua proximidade na filogenia.

• Nas duas espécies foi observada uma correlação entre a distribuição de células da camada

de fotorreceptores e da CCG e foram observadas especializações em diferentes regiões

das retinas, o que aponta para adaptações ao hábitat e estilo de vida de cada espécie.

• Os valores de acuidade visual das duas espécies foram semelhantes (média de 2,6 cpg),

sendo que as regiões de maior acuidade foram diferentes, apontando mais uma vez para

adaptações aos diferentes hábitats.

• As retinas de P. olfersii apresentaram uma faixa visual, uma area centralis e uma area

caudal, indicando maior capacidade de resolução espacial no campo de visual lateral

monocular e no campo de visão frontal. Estas especializações devem ter grande

importância para a locomoção no extrato arbório, forrrageamento e captura de presas

neste hábitat.

• As retinas de P. patagoniensis apresentaram maior densidade celular na região ventral e

rostral, indicando maior capacidade de resolução espacial no campo visual superior e

posterior. Esta especialização deve ter grande importância para a percepção da

aproximação de animais maiores, fator de relevância para a fuga e sobrevivência de

serpentes terrestres. Esta especialização possivelmente auxilia também na percepção de

presas localizadas acima do extrato terrestre.

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8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Amaral, A. (1978). Serpentes do Brasil: Iconografia Colorida. 2a ed. São Paulo, Editora da

Universidade de São Paulo.

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Anexo 2 Tabela Anexo 2. Etapas do procedimento de Nissl

Etapas Tempo (min) PFA 4% 60

Álcool 95% 6 Álcool 100% 6 Xilol 100% 10

Etanol+Xilol (1:1) 5 Álcool 100% 6 Álcool 95% 9 Álcool 70% 3 Álcool 50% 3

H2O destilada (1 mergulho) Nissl 0,3% 10

H2O destilada (10 mergulhos) Álcool 70% 3

Álcool 95% + 3 gotas Ác. Acético 3 Álcool 95% 3 Álcool 100% 9 Xilol 100% 3