UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA UNEB … · ALDEIR DOURADO LIMA FERREIRA ... Profª Ms. Adelaide...
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UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA – UNEB DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – CAMPUS I
CURSO DE PEDAGOGIA COM HAB. EM EDUCAÇÃO INFANTIL
ALDEIR DOURADO LIMA FERREIRA
PRÁTICAS PEDAGÓGICAS PSICOMOTORAS
NA EDUCAÇÃO INFANTIL
Salvador
2011
ALDEIR DOURADO LIMA FERREIRA
PRÁTICAS PEDAGÓGICAS PSICOMOTORAS
NA EDUCAÇÃO INFANTIL
Monografia apresentada ao Departamento de
Educação Campus I da Universidade do Estado da
Bahia - UNEB, como requisito para a obtenção do
Grau em Pedagogia, com Habilitação em
Educação Infantil.
Orientadora: Profª. Drª. Isnaia Junquilho Freire.
Salvador
2011
ALDEIR DOURADO LIMA FERREIRA
PRÁTICAS PEDAGÓGICAS PSICOMOTORAS
NA EDUCAÇÃO INFANTIL
Monografia apresentada ao Departamento de
Educação Campus I da Universidade do Estado da
Bahia – UNEB, como requisito para a obtenção
do Grau em Pedagogia, com Habilitação em
Educação Infantil.
Aprovado em 24 de março de 2011
BANCA EXAMINADORA
_____________________________________________________
Profª Ms. Adelaide Rocha Badaró
Universidade do Estado da Bahia – UNEB – Campus I Salvador
____________________________________________________
Orientadora: Profª. Drª. Isnaia Junquilho Freire
Universidade do Estado da Bahia – UNEB – Campus I Salvador
AGRADECIMENTOS
Ao bom amigo Deus, meu refúgio e fortaleza nos momentos mais difíceis cuja
presença e amparo pude sentir nos momentos mais críticos por que passei,
sempre me renovando as forças para prosseguir na grande caminhada.
Aos meus queridos filhos Eduardo e Karolina pela compreensão da minha
ausência e por terem me levado a aprender a ensinar.
Aos meus queridos pais, Ademar Carneiro Lima (ausente, mais presente em
meu coração) e Helenita Dourado Lima por terem me ensinado o caminho por
onde andar e agir, pelo amor e por ter acreditado em mim.
Minha estimada Profª Drª e orientadora Isnaia Junquilho Freire que me fez
sentir a necessidade de enfatizar, o aprofundamento do conhecimento de
Psicomotricidade.
Aos Sujeitos Participantes da pesquisa pela preciosa colaboração das
informações e receptividade.
A Universidade do Estado da Bahia – UNEB, ao corpo docente e colegas
colaboradores pela co-participação em minha formação.
(...) ”Adquire a sabedoria, adquire a inteligência e não te esqueças
nem te apartes das palavras da minha boca. Não desampares a
sabedoria, e ela te guardará; ama-a, e ela te conservará. A sabedoria é
a coisa principal; adquire, pois, sabedoria; sim, como tudo o que
possuís, adquire- o conhecimento. Exalta-a, e ela te exaltará; e,
abraçando-o tu, ela te honrará” (Prov. 4, 5-8)
RESUMO
Este trabalho tem como objetivo principal, compreender a importância de utilizar o corpo
através de ações integradas dos elementos psicomotores de forma expressiva e intencional
com objetivos educacionais, a interdisciplinaridade e as brincadeiras, como práticas
pedagógicas psicomotoras auxiliando o processo de desenvolvimento integral da criança.
Além disso, tem a intenção de contribuir para reflexão de professores especialmente os de
educação infantil do lugar da psicomotricidade dentro da escola, levantar discussões
e questionamentos que viabilizem uma prática eficaz em prol da criança de 4-5 anos. A
Educação Psicomotora abrange todas as aprendizagens da criança, e se dirige a todas elas,
seja individualmente ou coletivamente. É a vertente da Psicomotricidade que auxilia os
alunos em atividades escolares, com objetivo de dar base para que as crianças se desenvolvam
intelectualmente a partir de experiências inicialmente motoras. O desenvolvimento de uma
criança é o resultado da interação de seu corpo com os objetos de seu meio, com as pessoas
com quem convivem, com o mundo que os cerca. Entretanto, o sistema educacional insiste em
dissociar corpo ação mente e emoção fragmentando o desenvolvimento da criança,
dificultando a aprendizagem e inibindo suas potencialidades.
Palavras chave: Prática-Psicomotora,; Interdisciplinaridade; Elementos-Psicomotores;
Brincadeiras.
ABSTRACT
The main goal of this work is to comprehend the importance of using the body through
integrated actions of psychomotor elements, in a expressive and intentional way, with
educational goals; the interdisciplinarity and the games as psychomotor pedagogical practices
that assist a child‟s process of development. Besides that, this work also intents to contribute
to the teachers‟ reflexion - specially the ones that deal with preschoolers – on the place of
psychomotricity within the school, raising questions and debates that make possible an
efficient practice on behalf of the 4-5 year old. The psychomotor education covers all kinds of
child‟s apprenticeship and heads to all of them, individually or collectively. The
psychomotricity helps the students in school activities, with the goal to give foundations for a
child‟s intellectual development from experiences that are, initially, motor experiences.
However, the educational system insists in dissociate body-action-mind and emotion,
fragmenting children‟s development, complicating the learning and inhibiting its
potentialities.
Key words: Psychomotor-Practice; Interdisciplinarit; Psychomotor-Elements; Games
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO 09
1.1 PSICOMOTRICIDADE: BREVE HISTÓRICO E CONCEITOS
13
2. PRÁTICAS PSICOMOTORAS NA EDUCAÇÃO INFANTIL 18
2.1 AÇÕES INTEGRADAS DOS ELEMENTOS PSICOMOTORES DE
FORMA EXPRESSIVA E INTENCIONAL COMO PRÁTICA
PEDAGÓGICA
18
2.1.1 Conhecimento Corporal 20
2.1.2 Tônus Postura e Equilíbrio 20
2.1.3 Lateralidade 21
2.1.4 Organização Espacial e Temporal 22
2.1.5 Coordenação Motora Global e Fina 24
2.1.6 Sociedade e Afetividade 26
2.1.7 Percepção 26
2.1.8 Atenção 27
2.1.9 Memória 28
2.2 PRÁTICA PEDAGÓGICA PSICOMOTORA INTERDISCIPLINAR
29
2.2.1 O Processo da Leitura 29
2.2.2 O Processo da Escrita 31
2.2.3 Linguagem Musical e a Psicomotricidade 32
2.2.4 Corpo e a Matemática na Prática Escolar 34
2.2.5 Educação Física e a Psicomotricidade no Processo de Aprendizagem 36
2.3 BRINCADEIRAS COMO PRÁTICA PEDAGÓGICA PSICOMOTORA
39
3 METODOLOGIA DA PESQUISA
45
9
1 INTRODUÇÃO
Esse trabalho tem como objetivo principal, compreender a importância de utilizar o
corpo através de ações integradas dos elementos psicomotores de forma expressiva e
intencional com objetivos educacionais, a interdisciplinaridade e as brincadeiras, como
práticas pedagógicas psicomotoras auxiliando o processo de desenvolvimento integral da
criança. Além disso, tem a intenção de contribuir para reflexão de professores especialmente
os de educação infantil do lugar da psicomotricidade dentro da escola, levantar discussões e
questionamentos que viabilizem uma prática eficaz em prol da criança de 4-5 anos. O tema
proposto neste trabalho surgiu do seguinte questionamento: De que forma as práticas
pedagógicas psicomotoras são trabalhadas pelos professores de educação infantil (4-5 anos)
em diferentes escolas municipais de Salvador?
A escolha desse tema surgiu durante o sexto semestre do meu curso de Pedagogia com
Habilitação em Educação Infantil, com uma disciplina obrigatória denominada,
Psicomotricidade. Essa disciplina chamou-me atenção para um novo olhar sobre a educação
infantil, que até então, eu nunca tinha parado para pensar. Neste privilegiado semestre
comecei a me enamorar pela psicomotricidade, e, a partir daí, ela se tornou a norteadora de
minhas idéias e buscas, acerca da insatisfação diante dos problemas encontrados na Educação
Infantil.
Na educação psicomotora é fundamental associarmos os movimentos corporais aos
objetivos educacionais – criando relações e situações apropriadas ao favorecimento da
aprendizagem. Dessa forma, estabelecemos uma sintonia entre as potencialidades integrais
do sujeito e a construção de seu conhecimento. Os professores de educação infantil e a
escola precisam estar conscientes da interdependência entre as disciplinas, as brincadeiras e
vivências corporais, como prática pedagógica psicomotora se desejam ampliar a colaboração
e o compromisso com a aprendizagem de seus alunos.
O Referencial Nacional para a Educação Infantil - RCNEI (1988), destaca - é comum
que, visando garantir uma atmosfera de ordem e de harmonia, algumas práticas educativas
simplesmente suprime o movimento, impondo às crianças de diferentes idades rígidas
restrições posturais. Como por exemplo, imposição de longos momentos de espera - em fila
10
ou sentada – em que a criança deve ficar quieta, sem se mover. Além do objetivo disciplinar,
apontado, a permanente exigência de contenção motora pode estar baseada na ideia de que o
movimento impede a concentração e a atenção da criança, ou seja, que as manifestações
motoras atrapalham a aprendizagem. Todavia, esse mesmo Referencial, conclui, que ao
contrário, é a impossibilidade de mover-se gesticular que pode dificultar o pensamento e a
manutenção da atenção. Além disso, as práticas educacionais por muitas vezes, negligenciam
a psicomotricidade como prática pedagógica preventiva.
Levando em conta que a aprendizagem da criança, está diretamente ligada ao
desenvolvimento psicomotor, procurei, nesse trabalho, fazer uma reflexão sobre a importância
da psicomotricidade no desenvolvimento integral da criança e as conseqüências dessa relação
em sua vida adulta. O capítulo 1 traz uma breve introdução sobre o objetivo desse trabalho, a
justificativa da escolha do tema, e uma breve definição do estudo da psicomotricidade, sua
evolução histórica e seus principais aspectos.
No capítulo 2 faço algumas considerações sobre aos elementos básicos de atuação
psicomotora fundamentais para a aprendizagem, como: o esquema corporal, a orientação
espacial e temporal, lateralidade, o equilíbrio, atenção, percepção, memória, tônus,
sociabilidade e afetividade, na concepção das fonoaudiologas, Izabel Mieiro e Samantha
Borges sob a organização de Fátima Alves. No segundo momento, ressalto a relação da
psicomotricidade com a prática interdisciplinar, através das seguintes disciplinas: Linguagem/
Processo da Leitura e Escrita, Matemática, Música e Educação Física.
A Professora de educação musical Carla Salles da Associação de Pais e Amigos de
Excepcionais - APAE do Rio de Janeiro, apresenta a Música como uma ferramenta
pedagógica, que, contribui para o desenvolvimento harmonioso da criança. Na matemática
apresento alguns teóricos que atribuí ao corpo, o primeiro espaço que a criança conhece e
reconhece noções de: proximidade, separação, vizinhança, noções de pares como:
Longe/perto, dentro/fora, pequeno/grande etc. Em seguida, faço uma abordagem teórica dos
autores, Michel Kyrillos e Tereza Sanches, ambos voluntários de Psicomotricidade na
Sociedade Pestalozzi do Brasil no Rio de Janeiro sobre a importância da relação e atuação da
Educação Física, com a psicomotricidade no desenvolvimento corporal da criança e como
uma prática enriquecedora que deve ser reconhecida e valorizada por todos os profissionais
da instituição escolar. No terceiro momento, complemento com a prática pedagógica através
11
das brincadeiras, destacando, que esta prática, possibilita a ampliação das potencialidades da
criança, gerando benefícios para seu desenvolvimento cognitivo, afetivo e social.
No capítulo 3 apresento o tipo de pesquisa, os instrumentos utilizados para a coleta de
dados, os sujeitos participantes a conversa mantida com professores, durante o processo da
investigação. No capítulo 4 mantenho um diálogo entre os dados levantados e os fundamentos
teóricos de diferentes autores, fazendo uma reflexão e abrindo uma discussão sobre a prática
psicomotora interdisciplinar, e a associação dos momentos lúdicos e brincadeiras
relacionando essas ações as habilidades motoras, cognitivas, emocionais e sócias do sujeito.
No capítulo faço uma reflexão sobre como os professores de Educação Infantil de Escolas
Municipais de Salvador trabalham as práticas psicomotoras.
A psicomotricidade está diretamente ligada ao desenvolvimento integral do ser, pois
estuda o movimento humano associado ao ambiente, à cognição, à emoção e às significações.
Além disso, relaciona cada movimento com o seu contexto. Por isso, é uma área de estudo
multidisciplinar. Corpo, mente, movimento, expressão e afetividade, são dimensões que
devem ser valorizadas nos ambientes escolares. Cabe ao educador promover a educação
psicomotora (voltada ao movimento contextualizado) para colaborar com o desenvolvimento
integral de seus alunos. Um bom trabalho, nesse sentido, facilitará futuramente a aquisição
das habilidades de leitura, escrita, raciocínio lógico-matemático, e a formação de adultos
socialmente integrados, com boa, auto-estima e auto-imagem.
Na educação das crianças, é preciso associar os movimentos aos objetivos
educacionais, criando relações e situações apropriadas ao favorecimento da aprendizagem.
Dessa forma, estabeleceremos uma sintonia entre as potencialidades integrais do sujeito e a
construção de seus conhecimentos. Esses aspectos tornam-se ainda mais relevantes quando se
trata de crianças, pois o desenvolvimento cognitivo e integral da criança está associado ao seu
corpo e seus movimentos. O professor precisa estar consciente dessa interdependência se
desejam ampliar sua colaboração e seu compromisso com a aprendizagem de seus alunos.
Considerando que o movimento humano só se concretiza por meio do corpo do
homem, esse movimento passa a integrar uma totalidade e não somente o ato motor, mas toda
e qualquer ação humana que vai, desde a expressão até o gesto mecânico. Não é apenas o
corpo que entra em movimento, mas é o homem todo que age e se movimenta.
12
A escola, seja na sala de aula, ou através da educação física juntamente com a
psicomotricidade devem associar o corpo, a emoção, a consciência, a busca do prazer,
fazendo o aluno sentir-se bem com o seu corpo no tempo e no espaço, onde este corpo
conseguirá interferir na ordem estabelecida, a partir do momento em que se apresenta como
expressão de individualidade e, ao mesmo tempo, coletividade, em que se relaciona com o
outro, respeitando-o e sendo respeitado, com espaço de liberdade e possibilidade de
expressão.
O primeiro contato que a criança faz com o mundo é feito pelos movimentos. É por
um verdadeiro diálogo tônico que a criança se introduz na cultura. Nesse sentido, a educação
favorece esse desenvolvimento a partir de um diálogo igual e verdadeiro, compreendido por
ambas as partes, do adulto e da criança, com orientação adequada para a solução das questões
levantadas.
A Psicomotricidade aliada à Educação tem um caráter preventivo, é uma prática eficaz
e necessária na Educação Infantil. É a teoria aplicada à prática, que certamente, irá fazer a
diferença. A Psicomotricidade pode enriquecer a prática na escola com o conhecimento e a
vivência da Expressão Corporal. Na educação a Expressão Corporal é uma atividade
especificamente organizada para aprofundar a linguagem corporal e para enriquecer a
expressividade das crianças por meio do corpo, além de atuar sobre o esquema corporal, a
lateralidade, o equilíbrio, a coordenação motora, a postura, a orientação espaço-corporal e o
tônus. Ou seja, os elementos básicos ou “pré-requisitos”, condições mínimas necessárias para
uma boa aprendizagem, constituem a estrutura da educação psicomotora.
A Psicomotricidade pode enriquecer a prática na escola com o conhecimento e a
vivência da Expressão Corporal. Na educação, a Expressão Corporal é uma atividade
especificamente organizada para aprofundar a linguagem corporal e para enriquecer a
expressividade das crianças por meio do corpo, além de atuar sobre o esquema corporal, a
lateralidade, o equilíbrio, a coordenação motora, a postura, a organização espaço-corporal e o
tônus. Ou seja, os elementos básicos ou pré-requisitos, condições mínimas necessárias para
uma boa aprendizagem, constituem a estrutura da educação psicomotora. No entanto, o
Referencial para educação infantil RCNEI (1988), destaca, que, para a organização dos
conteúdos para o trabalho com os movimentos, deverá respeitar as diferentes capacidades das
13
crianças em cada faixa etária, bem como as diversas culturas corporais presentes nas muitas
regiões do país.
É preciso associar os movimentos aos objetivos educacionais criando relações de
situações apropriadas ao favorecimento da aprendizagem. Dessa forma, estabeleceremos uma
sintonia entre as potencialidades integrais do sujeito e a construção de seu conhecimento. A
Educação Infantil, é o momento favorável para o desenvolvimento psicomotor, o professor e a
escola precisam estar consciente da atuação dessa prática e a sua interdependência entre as
disciplinas, as brincadeiras e vivências lúdicas se desejam ampliar a colaboração e seu
compromisso com a aprendizagem de seus alunos.
1.1 PSICOMOTRICIDADE: BREVE HISTÓRICO E CONCEITOS
O ser humano, ao longo de sua evolução, foi construindo certos conhecimentos ligados
ao uso do corpo e ao seu movimento. Afinal, o que dá sentido ao movimento humano é o
contexto em que ele ocorre, bem como a intencionalidade dos sujeitos envolvidos nessa ação.
A psicomotricidade, antigamente, percebia o corpo em seus aspectos neurofisiológicos,
anatômicos e locomotores, transmitindo e captando sinais através da coordenação e
sincronização do corpo humano nas esferas espaciais e temporais. Em tempos atuais, a
Psicomotricidade passou a ser sinônimo de relacionar-se através da ação, permitindo a união
do ser corpo, o ser mente, o ser espírito, o ser natureza e o ser sociedade.
Em uma primeira fase, os estudos em Psicomotricidade almejavam superar um
paradigma que era a separação entre corpo e mente (dualismo cartesiano), utilizando práticas
reeducativas que expressavam o conceito de uma interligação (paralelismo) da mente e do
corpo. Nessa etapa, a neuropsiquiatria tem uma influencia significativa, com uma atuação
centrada no aspecto motor tendo o corpo como ferramenta de trabalho para o reeducador que
se propõe a tratá-lo. Num segundo momento, a influência maior é da psicologia. Como uma
ciência que se preocupava com a construção da inteligência, a psicologia permitiu que o corpo
humano se tornasse um instrumento para a construção desse conhecimento, passando a
considerar a passagem do motor para corpo como forma de construção.
Para que a Psicomotricidade pudesse ser vista hoje como prática que tem entre seus
objetivos prevenir o aparecimento de distúrbios e cuidar de pessoas que apresentam
14
dificuldades de aprendizagem e de interação social, figuras importantes tornaram a
Psicomotricidade um instrumento imprescindível na vida dos seres humanos. Em 1909 o
médico psiquiatra Dupré, ao identificar o paralelismo entre as manifestações motoras e
psíquicas, usou, pela primeira vez, o termo psicomotricidade. O pesquisador percebeu que
certos fenômenos patológicos ultrapassavam o modelo anátomo-clínico. Havendo uma estrita
relação entre anomalias psíquicas e motoras. A ideia de desenvolver uma linha de abordagem
psicomotora surge na França, dentro da área da educação física, por meio das propostas
defendidas por Le Boulch cujo o objetivo primordial é o desenvolvimento global da criança.
A educação corporal proposta por Le Boulch leva em consideração as noções
interdisciplinares provenientes da Psicologia, da Psicanálise, da Educação, da Neurologia e da
Arte. Segundo Coste (1978), a Psicomotricidade é uma técnica que tem como objetivo
desenvolver as faculdades expressivas do indivíduo, possibilitando-lhe conscientizar-se de
seus gestos e sentir-se bem em relação ao seu corpo.
Em 1925, Wallon, médico psicológico, ocupa-se do movimento humano dando-lhe
uma categoria fundante como um instrumento na construção do psiquismo. Esta diferença
permite a Wallon relacionar o movimento ao afeto, à emoção, ao meio ambiente e aos hábitos
do indivíduo. Em 1935, Guilmain, neurologista, desenvolve um exame psicomotor para fins
de diagnóstico, de indicação da terapêutica e de prognóstico. Em 1947, Ajuriaguerra,
psiquiatra, redefine o conceito de debilidade motora, considerando-a como uma síndrome com
suas próprias particularidades. É ele quem delimita com clareza os transtornos psicomotores
que oscilam entre o neurológico e o psiquiátrico. Com estas novas contribuições, a
Psicomotricidade diferencia-se de outras disciplinas, adquirindo sua própria especificidade e
autonomia. Fonseca, em 1998, defende a ideia de que a Psicomotricidade é o meio pelo
qual a inteligência humana se desenvolve, se materializa, se constrói e se edifica.
A Psicomotricidade estuda as habilidades motoras relacionadas aos fatores
psicológicos e ambientais. Este objeto de estudo passou a ser pesquisado na década de 60,
mas popularizou-se no universo científico ao longo dos anos 70 e 80. Antes disso, o
movimento humano era analisado pelos pesquisadores apenas no âmbito físico e motor. No
Brasil, até os anos 80, a psicomotricidade na escola ocupou-se apenas dos problemas e das
dificuldades ligadas às estruturas psicomotoras de base, como andar, saltar, correr, equilíbrio,
lateralidade, noção de espaço-corporal, entre outros.
15
Atualmente, vêem-se educadores, sejam eles professores, psicomotricistas, psicólogos,
psicopedagógos ou outros profissionais que atuam na escola, buscando especializar-se em
atenderem a demanda que as crianças trazem para o ambiente escolar. Assim testemunham-se
esforços desses profissionais para substituir a exclusão pela inclusão, a incapacidade pelas
possibilidades, transformando o conceito de reeducação para o de educação em sua
definição mais ampla.
Segundo a etimologia, a palavra Psicomotricidade é formada por dois termos de raízes
diferentes, a palavra Psyché, traduzida por “alma”, e a palavra latina motorius, traduzida por
“que tem movimento”. Psicomotricista é o profissional da área de saúde e de educação que
pesquisa, ajuda, previne e cuida do homem na aquisição, no desenvolvimento e nos distúrbios
da integração somapsíquica. Áreas de atuação: Clínica (Reeducação, Terapia), Consultoria e
Supervisão, Clientela em fase de desenvolvimento; bebês de alto risco, crianças com
dificuldades/atrasos no desenvolvimento global; portadores de necessidades especiais:
deficiências sensoriais, motoras, mentais e psíquicas; pessoas que apresentam distúrbios
sensoriais, perceptivos, motores e relacionais em consequência de lesões neurológicas;
terceira idade. Mercado de Trabalho: Creches, escolas, escolas especiais, clínicas
multidisciplinares, consultórios, clínicas geriátricas, postos de saúde, hospitais e empresas. A
Sociedade Brasileira de Psicomotricidade da a seguinte definição para psicomotricidade:
Psicomotricidade é a ciência que tem como objeto de estudo o homem por meio
do seu corpo em movimento e em relação ao seu mundo interno e externo, bem
como suas possibilidades de perceber, atuar, agi r com o outro, com os objetos e
consigo mesmo. Está relacionada ao processo de maturação, onde o corpo é origem
das aquisições cognitivas, afetivas e orgânicas. (S.B.P.1999,apud ALMEIDA, 2008).
A psicomotricidade na educação infantil, é uma prática preventiva. Ela deve ser
entendida como uma educação corporal básica na formação integral da criança, como um
meio de expressão que prioriza dimensão não-verbal e as atividades não-diretivas ou
exploratórias em um período evolutivo concreto, dede os primeiros meses até os 7 ou 8 anos
de idade maturativa. Para Le Boulch:
A educação psicomotora deve ser considerada como uma educação de base na
escola primária. Ela condiciona todos os aprendizados pré-escolares; leva a criança a
tomar consciência de seu corpo, da lateralidade, a situar-se no espaço, a dominar seu
tempo, a adquirir habilmente a coordenação de seus gestos e movimentos. A
educação psicomotora deve ser praticada desde a mais tenra idade; conduzida com
perseverança, permite prevenir inadaptações difíceis de corrigir quando já
estruturadas (LE BOULCH, 1987, P.11).
16
A psicomotricidade segundo Alves (2008), deve contemplar o estudo do
desenvolvimento infantil a partir do corpo e das representações, procurando englobar a fase
não verbal da criança que se caracteriza por um período fundamental na construção do
psiquismo. Por meio de experiências vividas nessa fase, a criança vai interagir com o meio
que a cerca e, de acordo com a qualidade dessa relação, ela vai permitir ou não ter com ele
um transformação dialética.
De acordo com Alves (2008), é tarefa da educação psicomotora na educação básica,
formar desde a infância, o desenvolvimento da capacidade, rendimento de forma eficiente e
adequada aos diferentes níveis de habilidade e mobilidade, levando em consideração a
personalidade e a vontade da criança, bem como sua motivação. Seus objetivos concretos
são: favorecer o desenvolvimento dos gestos e movimentos, a capacidade de percepção;
desenvolver o equilíbrio; aprimorar e desenvolver a percepção do corpo e permitir à criança
adquirir o sentimento de segurança; favorecer e melhorar a coordenação global e fina, e
sobretudo a grafomotricidade por meio da manipulação; revelar e reforçar o predomínio
manual; estimular a confiança em si; atenuar os bloqueios que interferem na aprendizagem
escolar; sensibilizar o ambiente envolvendo, família, escola, em face das dificuldades da
criança.
A corrente neurológica que investigava os aspectos anatomo funcionais da
motricidade e suas relações, a corrente de investigação psicológica da realização e da
significação da motricidade se formaram:
Quadro 1 - CORRENTES DE INVESTIGAÇÃO PSICOLÓGICA PSICOMOTORA
Principais
Correntes
Autores
Objetivos
Principais
Proposta de
Imagem e
Esquema
Corporal
Psicocinética
(1966)
Jean Le Bouluch
Desenvolver o ajustamento
biológicoe relacional e a
diminuição do fracasso
escolar
Contribuir para construção da
imagem, estruturação do corpo
vivido e percebido.
Diálogo Corporal
(1971)
Pierre Vayer Desenvolver estratégias para
organização do eu da criança
diante do mundo e dos
objetos
Contribui no equilíbrio tônico-
relacional, do diálogo corporal
diante de si e do mundo.
17
Quadro 1 - CORRENTES DE INVESTIGAÇÃ PSICOLÓGICA PSICOMOTORA
Da educação
vivenciada ao
abstrato
(1974)
André Lapierre
e Bernard
Aucouturier
Desenvolver a percepção e o
pensamento a estruturação
do Eu, da inteligência,
personalidade, fracassos
escolares, resolução de
problema, cognição,
coordenação global e
manual vinculada às
experiências sensório e
perceptivo-motoras
Articulação do pensamento
abstrato por meio da
motricidade ampliando
possibilidades de expressão
gráfica e simbólica de si
mesmo do outro e do mundo.
A imagem do esquema
corporal é construído sob a
base de um diálogo tônico
construído entre o adulto e a
criança
Quadro esquemático dos paradigmas de ação educativa – Fonte Ferreira, 2008, p. 23-24
18
2 PRÁTICAS PEDAGÓGICAS PSICOMOTORAS:
Nas Práticas Pedagógicas é fundamental associarmos os movimentos corporais aos
objetivos educacionais criando relações e situações apropriadas ao favorecimento da
aprendizagem. Dessa forma, estabeleceremos uma sintonia entre as potencialidades integrais
do sujeito e a construção de seu conhecimento. Neste trabalho, abordaremos três Práticas
Pedagógicas importantes para se trabalhar a Psicomotricidade: Ações Educativas integradas
dos Elementos Psicomotores de forma Expressiva e Intencional; a Interdisciplinaridade e as
Brincadeiras:
2.1 AÇÕES EDUCATIVAS INTEGRADAS DOS ELEMENTOS PSICOMOTORES
DE FORMA EXPRESSIVA E INTENCIONAL COMO PRÁTICA PEDAGÓGICA
De acordo com Alves (2007), o corpo está presente em todas as situações e é
solicitado a agir com destreza em todos os momentos. É por meio do movimento que o
homem participa do mundo e, por meio dele, manifesta a própria intencionalidade. O ato
motor não é somente uma sucessão de impulsos psicológicos, mas sim o modo de o indivíduo
colocar-se em relação com o mundo externo, possibilitando assim a expressão de uma
imagem mental. A psicomotricidade, como toda ciência, corresponde a um objetivo de estudo
próprio, do qual retira sua unidade e especificação, isto è o corpo e a sua expressão dinâmica,
fundamentada em três conhecimentos básicos:
O movimento, que segundo os conhecimentos atuais, ultrapassa o ato mecânico e o
próprio indivíduo, sendo a base das posturas e dos posicionamentos da vida.
O intelectivo, que encerra a gênese e todas as qualidades da inteligência do
pensamento humano, seu desenvolvimento depende do movimento para se estabelecer,
desenvolver e operar.
O afeto, que é a própria pulsão interna do indivíduo, que matiza a movimentação e
envolve todas as relações do sujeito com os outros, com o meio e consigo mesmo.
Para Alves (2008), na educação das crianças, é preciso associar os movimentos aos
objetivos educacionais, criando relações e situações apropriadas ao favorecimento da
aprendizagem. Dessa forma, estabeleceremos uma sintonia entre as potencialidades integrais
19
do sujeito e a construção de seus conhecimentos. Esses aspectos tornam-se ainda mais
relevantes quando se tratam de crianças, pois o desenvolvimento cognitivo e integral da
criança está associado ao seu corpo e seus movimentos. A autora complementa que:
A psicomotricidade favorece a aprendizagem quando reconhece que diferentes
fatores de ordem física, psíquica e sociocultural atuam em conjunto para que se dê
a aprendizagem. Trabalhando no ser humano, cada uma das etapas, possibilitando
trabalhar a consciência corporal, a consciência do mundo que o cerca, o
relacionamento deste com o seu corpo e com o que está ao seu redor. Proporcionar
ao indivíduo a capacidade de ser, ter, aprender a fazer e a fazer, na medida que
se reconhece por inteiro, alcançando a organização e o equilíbrio das relações com
os diferentes meios e a sua distinção. Relacionam-se com o mundo de forma
equilibrada (ALVES, 2008, p. 87)
De acordo com o Referencial para a Educação Infantil, RCNEI, (1988), o movimento é
muito mais do que um ato motor, é uma das formas que a criança possui para expressar
sentimentos, emoções e pensamentos, uma linguagem que possibilita agir atuar sobre o meio
físico, mobilizando o outro por meio de seu teor expressivo. O trabalho com o movimento
contempla a multiplicidade de funções e manifestações do ato motor, proporcionando um
amplo desenvolvimento de aspectos específicos da motricidade das crianças, abrangendo uma
reflexão acerca das posturas corporais implicadas nas atividades cotidianas, bem como as
atividades voltadas para ampliação da cultura corporal de cada criança, de gestos
instrumentais que exigem coordenação de vários segmentos motores e o ajuste a objetos
específicos, como recortar, colar, encaixar pequenas peças entre outros.
Para Meyer (2008), o movimento humano é mais do que simples deslocamento do
corpo no espaço: constitui-se em uma linguagem que permite às crianças agirem sobre o
meio físico e atuarem sobre o ambiente humano, para que possam agir com cada vez mais
intencionalidade. Seguindo as ideias de Piaget, Wallon, Gesell e Pierre Vayer, (1975),
“o movimento é uma significação expressiva e intencional, uma manifestação vital do ser
humano, sendo essencial a sua intencionalidade, pois envolve o ser no mundo.” Pensamos a
psicomotricidade como a relação entre o pensamento a ação , envolvendo a emoção
(BASTOS, 2001,P.36).
20
2.1.1 CONHECIMENTO CORPORAL
É um elemento básico indispensável para a formação da personalidade da criança. É a
representação relativamente global, científica e diferenciada que a criança tem do próprio
corpo. A criança percebe ela mesma, os seres e as coisas que a cercam, em função de sua
pessoa. Sua personalidade será desenvolvida em virtude de uma progressiva tomada de
consciência de seu corpo, do seu ser, de suas possibilidades de agir e de transformar o mundo
à sua volta. A partir deste momento, a criança percebe que seu corpo lhe obedece, ela
consegue fazer com que aja, movimente-se, e passa a conhecê-lo, utilizando-o melhor.
A imagem corporal é a representação mental do corpo e não constitui uma mera
percepção, mas uma integração. Após a percepção global do corpo, vem a tomada de
consciência de cada segmento do corporal. Essa se realiza de forma interna (sentindo cada
parte do corpo) e a externa (vendo cada segmento em um espelho, em uma outra criança ou
em cada figura).
O esquema corporal não é um conceito aprendido, que se possa ensinar. Ele organiza
pela experienciação do corpo da criança. É uma construção mental que a criança realiza
gradualmente, de acordo como uso que faz de seu corpo. É uma síntese de sua experiência
corporal. Para o desenvolvimento do esquema corporal, é necessário identificar, reconhecer,
localizar e conhecer as funções de todas as partes do corpo.
2.1.2 TÔNUS, POSTURA E EQUILIBRIO
Constituem a capacidade da criança de conquistar atitudes habituais cômodas e
suscetíveis de serem mantidas, com um mínimo de fadiga e sem desequilíbrios ou vícios
de postura. Permitem relaxar e dinamizar articulações, bem como possibilitam o equilíbrio
para os deslocamentos em posição ereta, com regulação do tônus muscular necessário. Para
MIEIRO e HERTZ (2007), crianças com problemas na tonicidade muscular e na postura
apresentam, geralmente, impressão de desleixo ou de cansaço. Não conseguem ficar quietas e
estão sempre como que desengonçadas. (ALVES 2007).
21
Para essas autoras, o desenvolvimento do tônus, da postura e do equilíbrio envolve,
dentre outros, exercícios para fortalecimento da tonicidade dos músculos posturais, equilíbrio
estático, flexibilização da coluna vertebral, equilíbrio dinâmico e força muscular.
2.1.3 LATERALIDADE
É a propensão que o ser humano possui ao utilizar preferencialmente mais um lado do
corpo do que o outro, em três níveis: mão, olho e pé. Isto significa que existe um predomínio
motor, ou melhor, uma dominância de um dos lados. O lado dominante apresenta maior
força muscular, mais precisão e mais rapidez. É ele que inicia e executa a ação principal. O
outro lado auxilia esta ação, e é igualmente importante. Na realidade, os dois não funcionam
isoladamente, mas de forma complementar (MIEIRO e HERTZ 2007, org. ALVES).
A dominância ocular pode ser percebida quando se perfura um cartão e se pede à
criança para observar um objeto qualquer à sua frente através do buraco. As autoras chama
atenção para o cuidado que devemos ter ao afirmarmos qual é a dominância ocular, pois, às
vezes, um problema no olho pode mascarar essa percepção. Já a dominância dos membros
inferiores pode ser observada quando a criança brinca de jogos infantis, no qual se exige pular
com um pé só e depois com o outro. Assim, verifica-se qual o lado que teve mais facilidade,
isto é, qual apresentou mais precisão, mais força, mais rapidez e também equilíbrio. Também
pode ser pedido à criança que chute uma bola em um determinado alvo, que faça um desenho
na areia (MIEIRO e HERT 2007).
Para a mesma autora, se uma pessoa tiver a mesma dominância nos três níveis (mão,
olho e pé) do lado direito, diz-se que é destra homogênea; e canhota, ou sinistra homogênea,
se for do lado esquerdo. Se ela possuir dominância espontânea nos dois lados do corpo, isto
é, executar os mesmos movimentos tanto com um lado como com o outro, o que é muito
comum, é chamado ambidestra. São diversos os motivos que ocasionam um desvio da
lateralidade, inclusive por imposição dos pais ou professores, por motivo afetivo, ou qualquer
outra razão.
22
2.1.4 ORGANIZAÇÃO ESPACIAL E TEMPORAL
A organização se divide em organização temporal e espacial, que são importantíssimas
no processo de adaptação do indivíduo ao ambiente. A orientação espaço-temporal
corresponde à organização intelectual do meio e está ligada à consciência, à memória e às
experiências vivenciadas pelo indivíduo.
A organização espacial é essencial para que se viva em sociedade. É por meio do
espaço e das relações espaciais que se situa no meio em que vive, em que se estabelecem
relações entre as coisas, em que se fazem observações, comparando-as, combinando-as, vendo
semelhanças e diferenças entre elas. Por meio de um verdadeiro trabalho mental, são
selecionados, agrupados, classificados os fatores comuns e assim se chega aos conceitos
destes objetos e às categorizações. Kephart (1986, p.123), afirma: “É esta formação de
categorias que leva à generalização e à abstração”.
A aritmética lida com o fenômeno de agrupamento e, para isso, é necessário que tenha
sido desenvolvida a noção espacial, visto que os objetos só existem dentro de um espaço
determinado. A estruturação espacial não nasce com o indivíduo . Ela é uma elaboração e
uma construção mental que se opera pelos seus movimentos em relação aos objetos que estão
em seu meio. A verbalização, que auxiliará na designação dos objetos, constitui um fator
muito importante para a organização da vivência do espaço e, também para um melhor
conhecimento das diferentes partes do corpo e de suas posições. Segundo Le Boulch (1984)
Todo objeto, desde o momento em que ele é nomeado, faz o papel de
organizador do espaço que o rodeia à posição dos objetos familiares
descobertos pela experiência vivida. Para que uma criança perceba a
posição dos objetos no espaço, precisa, primeiramente, ter uma boa
imagem corporal, pois usa seu corpo como ponto de referência. Ela se
organiza quando possui um domínio de seu corpo no espaço. Isto
significa que a criança aprende o espaço pela sua movimentação e, é
a partir de si mesma, que se situa em relação ao mundo circundante,
em uma verdadeira exploração motora inicial. Ela necessita pegar os
objetos, manuseá-los, jogá-los, agarrá-los, lançá-los para frente, para
trás, para dentro e fora de determinado lugar (LE BOULCH,1984, p.
199).
23
No entanto, Le Boulch afirma que para a criança assimilar os conceitos espaciais,
precisa, também, ter uma lateralidade bem definida, o que se dá por volta de seis anos. Ela se
torna capaz de diferenciar os dois lados de seu eixo corporal e consegue verbalizar este
conhecimento, sem o qual fica difícil distinguir as diferentes posições que os objetos ocupam
no espaço. É por meio de uma experimentação pessoal, então que estes conceitos de direita e
esquerda passam a ter um sentido e um valor para ela. Ao assimilá-los, estará preparada para
perceber, comparar e absorver conceitos relacionados com outras posições, como à frente,
atrás, acima, abaixo. Nesse momento, a verbalização é fundamental para vivenciar melhor o
domínio das noções de organização.
Ela aprende também as noções de situação (por meio de conceitos, como dentro, fora,
no alto, longe, perto); de tamanho (por meio dos conceitos de grosso, fino, grande, médio,
pequeno, estrito, largo); de posição ( por meio das noções de pé, deitado, sentado, ajoelhado,
agachado, inclinado); de movimento ( através dos conceitos de cheio, vazio, pouco,
muito, inteiro, metade); de superfícies e de volumes. Para a criança ao aprender esses
conceitos, diz-se que ela atingiu a etapa da orientação espacial. Isto significa que a criança
tem acesso a um espaço orientado a partir de seu próprio corpo multiplicando suas
possiblidades de ações eficazes (LE BOULCH, 1984).
De acordo com Mieiro e Hertz (2007), não podemos conceber a ideia de espaço sem
abordarmos a noção de tempo. Pois, elas são indissociáveis. A este respeito as autoras citam
uma declaração de Piaget:
O tempo é a coordenação dos movimentos: quer se trate físicos ou movimentos no
espaço, quer se trate dos deslocamentos destes movimentos internos que
são as ações simplesmente esboçadas, antecipadas ou reconstituídas pela
memória, mas cujo desfecho objetivo final é também espacial...(PIAGET,
1981, apud, ALVES, 2007, p. 94).
Da mesma forma que a palavra escrita exige que se tenha uma orientação no papel,
por meio das linhas e do espaço próprio, uma atrás da outra, obedecendo a um certo ritmo e
dentro de um tempo determinado, a leitura exige uma percepção temporal e um simbolismo
que Defontaine, explica:
À literatura exige, também, a passagem para um simbolismo, isto é,
para a visão das formas associadas a um som, e, enfim, a
24
sincronização da leitura com os movimentos dos olhos e uma
linguagem interior (mental) em coordenação com a respiração para a
leitura em voz alta. Tudo isto pede, pois, um outro número de
atividades ao nível de percepção temporal (DEFONTAINE 1980, p.
144).
Para uma criança aprender a ler, é necessário que possua domínio do ritmo, uma
sucessão dos sons no tempo, uma memorização auditiva, uma diferenciação de sons, um
reconhecimento das frequências e das durações dos sons das palavras. Um individuo deve ter
capacidade extrapolar suas ações para o passado ou o futuro. O seu presente é o que está
vivenciando. Os acontecimentos passados normalmente se encontram enevoados e
entrelaçados com as noções de presente. Ela não percebe as consequências dos
acontecimentos. É a orientação temporal que lhe garantirá uma experiência de localização
dos acontecimentos passados, e uma capacidade de projetar-se para o futuro, fazendo planos e
decidindo sobre sua vida.
De início, a criança vivencia seu corpo, tentando conseguir harmonia em seus
movimentos, mas este corpo não existe isolado no espaço e no tempo, e a criança vai, pouco
a pouco, capitando essas noções. Esta etapa é caracterizada pela aquisição dos elementos
básicos. Seus gestos e seus movimentos vão se ajustando ao tempo e aos espaços exteriores.
Depois desta fase, vai assimilando também os conceitos que lhe permitirão se movimentar
livremente neste espaço-tempo. Assimilará noções de velocidade e duração próprias no seu
dia-a-dia. Em uma etapa posterior, ela passa a tomar consciência das relações no tempo. Irá
trabalhar as noções e as relações de ordem, sucessão, duração e alternância entre objetos e
ações. Irá perceber as noções dos momentos do tempo, por exemplo, o instante, o momento
exato, a simultaneidade e a sucessão. A partir desta fase, então, ela começa a organizar e
coordenar as relações temporais, adquirindo assim condições de realizar as associações e as
transposições necessárias aos ensinamentos escolares, principalmente em relação à leitura e à
matemática.
2.1.5 COORDENAÇÃO MOTORA GLOBAL E FINA
Para uma pessoa manipular os objetos, precisa ter certas habilidades que são
essenciais, precisa saber se movimentar no espaço com desenvoltura, habilidade e equilíbrio,
e ter o domínio do gesto e do instrumento (coordenação fina). “Esses movimentos, desde os
mais simples ao mais complexo, são determinados pelas contrações musculares e controladas
25
pelo sistema nervoso”. A coordenação do movimento depende portanto, da maturação do
sistema nervoso.
A coordenação motora global diz respeito à atividade dos grandes músculos.
Depende da capacidade de equilíbrio postural proprioceptivas cinestésicas e labirínticas. Por
meio da movimentação e da experimentação, o indivíduo procura seu eixo corporal, vai se
adaptando e buscando um equilíbrio cada vez melhor. Consequentemente, vai coordenando
seus movimentos, vai se conscientizando de seu equilíbrio, mas econômica será a atividade
da criança e mais coordenadas serão suas ações.
A coordenação global e a experimentação levam a criança a adquirir a dissociação de
movimentos. Isto significa que ela deve ter condições de realizar múltiplos movimentos ao
mesmo tempo, cada membro realizando uma atividade diferente, havendo uma conservação
de unidade do gesto. Quando uma pessoa toca piano, por exemplo, a mão direita executa a
melodia, a esquerda o acompanha, o pé direito lhe dá sustentação. São três movimentos
diferentes que trabalham juntos para conseguir uma mesma tarefa.
A coordenação motora fina diz respeito à habilidade e à destreza manual e constitui
um aspecto particular da coordenação global. É preciso ter condições de desenvolver formas
diversas de pegar os diferentes objetos. Uma coordenação elaborada dos dedos das mãos
facilita a aquisição de novos conhecimentos. É por meio do ato de preensão que uma criança
vai descobrindo, pouco a pouco, os objetos de seu meio ambiente. Só possuir uma
coordenação fina não é suficiente. É necessário que haja também controle ocular, isto é, a
visão acompanhando os gestos da mão. Chama-se a isto de coordenação óculo-manual ou
viso-motora. A coordenação óculo-manual se efetua com precisão sobre a base de um
domínio visual previamente estabelecido, ligados aos gestos executados, facilitando, assim,
uma maior harmonia do movimento.
Um dos aspectos que a experimentação de todo o corpo favorece é a independência do
braço em relação ao ombro, e a independência da mão e dos dedos, fatores decisivos de
precisão da coordenação viso-motora. A escrita necessita desta independência dos membros
para se processar de maneira econômica, sem cansaço, e para que a criança consiga controlar
a pressão sobre os dedos (tônus muscular). Experiências dinâmicas de lançar e pegar também
são muito importantes para a escrita, pois facilitam a fixação da atividade entre o campo
26
visual e a motricidade fina da mão e dos dedos, provocando uma maior coordenação óculo-
manual.
O ensino da escrita exige também uma certa coordenação global do ato de sentar. A
criança precisa adquirir mais uma postura correta a fim de torná-la mais cômoda, mais
relaxada, para realizar os movimentos gráficos. Além disso, necessita adquirir uma
dissociação e controle dos movimentos. É fundamental que consiga, também, controlar a
pressão gráfica exercida sobre o lápis e o papel, para alcançar maior destreza e,
consequentemente, maior velocidade no movimento. Isto é facilitado quando possui uma
lateralidade bem definida.
2.1.6 SOCIABILIDADE E AFETIVIDADE
Uma criança cujo desenvolvimento psicomotor ocorre harmoniosamente estará
equipada para uma vida social próspera. A medida que ela domina melhor seu corpo e
sentimentos, gradativamente, ela irá se conduzir com mais segurança no seu meio. A
coordenação psicomotora é uma qualidade diretamente ligada à expressão do corpo, porque
todo movimento tem conotação de sensações. Nos movimentos, serão expressos sentimentos
de frustração, desagrado, prazer e euforia, como dimensão de um estado emocional. A
criança que realiza com precisão deslocamentos, corridas, jogos de bola, trabalho manuais
etc., sente-se à vontade em participar de atividades com outras crianças.
Logo que essa criança for estimulada a participar de atividades que precisem respeitar
regras, como no jogo de bola, onde ela aguardará a sua vez de jogar, ou que precise do outro
para vencer, como corridas de revezamento, ela aceitará com mais facilidade as regras da vida
social, pois jogos coletivos ensinam a viver em sociedade, além de mostrarem que altos e
baixos fazem parte da vida.
2.1.7 PERCEPÇÃO
Entende-se por percepção o ato ou o efeito de conhecer os objetos em suas qualidades
ou relações. O fenômeno perceptivo implica a integração de estímulos e a atribuição de
significados aos mesmos, ou seja, as interpretações pessoais acerca dos diferentes objetos. A
percepção é um fenômeno dinâmico. Seu desenvolvimento pressupõe exercícios de
27
discriminação visual, auditiva, gustativa, olfativa e tátil. A percepção visual requer
intervenção, particularmente em: Mmtilidade ocular ( seguir trajetória de objetos, por
exemplo); discriminação de cores, formas, tamanhos, quantidades, direções, semelhanças e
diferenças; relações entre figura e fundo; organização perceptiva (espacial e temporal); análise
e síntese captar semelhanças, comparar, discriminar; categorização de estímulos visuais e
outros.
Para desenvolver a percepção gustativa, sugere-se: reconhecer sabores doces, amargos,
azedos, salgados; discriminar diferentes sabores e temperaturas de alimentos. A percepção
olfativa pode ser estimulada com atividades que facilitem: o reconhecimento e a
discriminação de odores; a comparação de cheiros. A percepção tátil, propõe-se: o
desenvolvimento da sensibilidade das mãos e dos dedos, por meio de manipulação e do tato
de objetos, explorando suas formas, tamanhos, posições, volumes, quantidades, temperaturas,
texturas.; análise e síntese (pela manipulação, captação de semelhanças e diferenças,
comparação, discriminação e reorganização de estímulos táteis); relação entre figura e fundo.
2.1.8 ATENÇÃO
A atenção é um fenômeno não manifesto e subjetivo. É difícil de conceituar e
constitui-se no modo como a mente seleciona e fixa determinados estímulos por um período
de tempo variável, segundo a motivação e a fadiga da criança. A atenção revela-se muito
ligada à percepção e se exprime pela seleção de alguns estímulos, dentre os inúmeros que
envolvem a criança. Os autores, de modo geral, ao se referirem à atenção, limitam-se aos
aspectos seletivos e à vigilância.
O desenvolvimento da atenção pressupõe atividades que se desencadeiam por força da
motivação (motivo de ação) e que despertam o interesse das crianças. Sugere-se não
sobrecarregá-las com muitos estímulos, evitando-se o oposto à atenção seletiva, que é a
distração. Igualmente importante, é o grau de complexibilidade das situações estimuladoras.
Tanto as muito simples como as muito complexas podem ocasionar redução na capacidade
atentiva que, por desinteresse ou ansiedade, tornam a atenção baixa e dispersa. Os jogos em
geral, costumam estimular a atenção alta e concentrada em qualquer criança. Recomenda-se,
porém, não se exceder naqueles que exacerbam o clima competitivo, gerador de ansiedades,
particularmente quando se trata de crianças com dificuldades de aprendizagem.
28
2.1.9 MEMÓRIA
Memória é a capacidade de registrar, fixar e recordar estímulos visuais, auditivos e
táteis, sejam estáticos ou cinéticos. A memória desempenha importante papel em relação ao
armazenamento do conhecimento, bem como em sua evocação. Tipos de memória:
a) Memória Visual - A memória visual consiste na capacidade de reter e recordar, com
precisão, experiências visuais anteriores. Devem-se desenvolver a retenção e a evocação
visuais, a fim de assegurar o sucesso da leitura e em outras atividades que requeiram
abstração de estímulos óticos. Exemplo: a compreensão de estímulos visuais; a retenção e a
evocação de nomes de lugares, de pessoas, de objetos, de figuras, de frases, de números; a
reprodução de situações ocorridas em filmes ou desenhos animados; jogos de mímica; a
reprodução de desenhos apresentados por um tempo e depois retirados.
b) Memória Auditiva - É a capacidade de reter e recordar informações captadas
auditivamente. É essa capacidade que vai permitir à criança fixar e reproduzir, oralmente ou
por escrito, as informações recebidas auditivamente, bem como fazê-la lembrar quais os sons
correspondentes aos símbolos gráficos visualizados. Dentre as atividades que podem auxiliar
a criança no desenvolvimento auditivo estão: retenção e evocação dos sons (onomatopaicos),
ordens verbais, letras de músicas, de poesias, notícias, histórias; repetição de idéias principais
de uma história, trecho lido, frases entre outros.
c) Memória Viso-motora - Pode-se definir a memória viso-motora como sendo a capacidade de
reproduzir, com movimentos dos segmentos corporais, experiências visuais anteriores. Ela é
responsável pela eficiência da escrita e da caligrafia. Exercícios como: reprodução de
memória, de desenhos ou de dobraduras, segundo modelos apresentados anteriormente à
execução; reprodução de movimentos com os segmentos corporais, concomitantemente à
apresentação de um modelo ou após demonstração; reconstrução de memória, de situações da
vida diária, como ir às compras, ao trabalho, à escola, a festas, à praia.
29
2.2 PRÁTICA PSICOMOTORA INTERDISCIPLINAR
Ao longo da história, a escola tradicional enfatizou em sua prática um sistema de
valores no qual a educação fragmentada é privilegiada, o ser humano é educado por partes.
Hoje, a criança precisa ser educada de forma globalizada, não podemos deixar de lado os
aspectos psicomotores e o aspecto afetivo, em favor dos aspectos cognitivo, pois se uma área
estiver sendo mais desenvolvida em detrimento de outra, certamente esse desequilíbrio
acarretará uma desorganização do indivíduo, em sua dimensão global. O novo contexto
educacional para a educação infantil, requer estruturas curriculares abertas e flexíveis , isso
envolve novas concepções de currículo, em vez de um método único de ensino, baseado em
um processo cognitivo, propomos o encorajamento da familiaridade das crianças com novas
situações, a legitimação, para elas, de um espaço de participação amplo e diversificado nas
atividades propostas, a psicomotricidade é uma porque favorece essa participação.
De acordo com Vinicius e Ricardo (2007), a educação Psicomotora abrange todas as
aprendizagens da criança e se dirige a todas elas, seja individual ou coletivamente. É as
vertentes da psicomotricidade que auxilia os alunos em suas atividades escolares, com
objetivo de dar base para que a criança se desenvolva intelectualmente a partir de
experiências inicialmente motoras, mas que requerem uma descarga de suas funções
cognitivas para sua realização. A Psicomotricidade é o meio pelo qual a inteligência humana
se desenvolve, se materializa, se constrói e se edifica.
De acordo com Fonseca (2004), em termos de matriz teórica, a psicomotricidade
compreende, em síntese, um ramo interdisciplinar de conhecimentos, no qual se cruzam
várias contribuições cientificas. A influência da psicomotricidade e das linguagens na
educação infantil: linguagem em seu processo da leitura e da escrita; linguagem musical;
linguagem lógico-matemática; linguagem da educação física.
2.2.1 O PROCESSO DA LEITURA
O trabalho com a linguagem se constitui um dos eixos básicos na educação infantil,
dada sua importância para a formação do sujeito, para a interação com as outras pessoas, na
orientação das ações das crianças, na construção de muitos conhecimentos e no
30
desenvolvimento do pensamento. A educação infantil, ao promover experiências
significativas de aprendizagem da língua, por meio de um trabalho com a linguagem oral e
escrita, se constitui em um dos espaços de ampliação das capacidades de comunicação e
expressão e de aceso ao mundo letrado pelas crianças. Além da linguagem falada, a
comunicação acontece por meio de gestos, de sinais e da linguagem corporal (RCNEI, 1988).
Para Alves a aquisição da linguagem desempenha um papel decisivo na compreensão
do mundo e na transmissão de valores pessoais, sociais e culturais. A criança utiliza o código
da linguagem para formular seus sentimentos e pensamentos a fim de transmitir e receber
informações. A qualidade deste aprendizado vai depender do meio em que está inserida, de
seus contatos sociais, de sua exercitação e treino. A autora ressalta também, que a linguagem
permite a afirmação do eu em relação ao outro. Possibilita a formação da consciência social,
assegurando aos membros da comunidade sua adaptação à realidade exterior, particularmente
pelo meio da língua. Quando a linguagem utiliza palavras faladas ou escritas como o seu
sistema de signos, para a expressão do pensamento, é chamada de língua. (ALVES, 2007).
O ser humano apresenta três sistemas verbais: auditivo (palavra falada), visual
(palavra lida) e escrita. O primeiro que ele adquiriu foi o auditivo, porque é o mais fácil de
aprender e também o que exige menos maturidade psiconeurológica. O mesmo não ocorre
com a palavra lida e escrita (ALVES, 2008).
De acordo com Fonseca (1980), ler não é uma aprendizagem de novos sinais. Trata-se
apenas de lidar com o material já adquirido auditivamente, mas agora sobrepondo o sinal
visual (grafema) sobre o sinal anterior (fonema). Para o autor a diferença está na modalidade
sensorial e na função neurológica. Na linguagem escrita, a modalidade é visual, passando pela
auditiva através de processos neurológicos pré-estruturados e de equivalência significativa,
que constituem o domínio integrado do código. No processo inicial da leitura, ocorre o que
chamamos de decodificação, ou seja, o envolvimento da discriminação visual dos símbolos
impressos e a associação entre a palavra impressa e o som (ALVES, 2008) .
Alves afirma também, que a visão, o tato, a audição, o olfato e o gosto são referenciais
elementares na aquisição dos símbolos gráficos, pois a essa leitura do universo adulto que nos
cerca quando ainda somos bebês e continuamos essa leitura por toda nossa vida, afirma. A
autora, destaca também a leitura emocional, em que contam os sentimentos, as emoções com
31
as quais o leitor se vê envolvido, até inconscientemente. Trata-se de um processo de
identificação, no qual o leitor, às vezes, tende a justificar ou negar seu envolvimento com o
que leu. Nesse sentido a criança é capaz de se envolver muito mais emocionalmente com um
livro do que o adulto.
De acordo com o RCNEI (1998), nas atividades de ensino de letras, uma das
sequências, por exemplo, pode ser: primeiro uma atividade com o corpo (andar sobre
linhas, fazer o contorno das letras na areia ou na lixa entre outros).
2.2.2 O PROCESSO DA ESCRITA
A escrita , segundo Alves, é uma das formas superiores da linguagem, requer que a
pessoa seja capaz de conservar a ideia que tem em mente, ordenando-a numa determinada
sequência e relação. Para a autora, Escrever significa relacionar o signo verbal, que já é um
significado, a um significado gráfico. É planejar e esquematizar a colocação correta de
palavras ou idéias no papel. O ato de escrever envolve, portanto, um duplo aspecto: o
mecanismo e a expressão do conteúdo ideativo. Para a mesma autora, se estabelece uma
relação entre audição (palavra falada), o significado (vivência da escrita) e a palavra escrita.
Quando a criança já tem o significado do objeto interiorizado, seu processo de escrita fica
mais fácil.
Segundo Alves (2007), a criança ao copiar uma palavra deverá: fazer uma
discriminação visual de cada detalhe da palavra; relacionar os símbolos impressos aos sons e
aos movimentos fonoarticulatórios; observar o traçado gráfico de cada letra da palavra;
reduzir graficamente a palavra no papel; ter um desenvolvimento gráfico: a escrita como
representação da linguagem oral passa por diferentes estágios de desenvolvimento, que
acabam sendo caracterizados pela atividade gráfica. Sendo assim, a evolução gráfica da
criança é resultado de uma tendência natural, expressiva, representativa, que revela seu modo
particular; a evolução do grafismo se faz em ritmo pessoal, com um sentido que lhe é próprio.
Entretanto, Alves (2007), destaca, que características comuns aparecem nas
representações gráficas de todas as crianças, dando origem a diversas classificações, por
diferentes autores, dos estágios do desenvolvimento gráfico. Como existe sempre relação
32
entre a palavra impressa e o som, a criança precisa primeiro aprender a ler para depois
escrever. O processo é o mesmo com as palavras ditadas.
Além disso, Alves considera alguns aspectos importantes que devem ser considerados
no desenvolvimento gráfico: desenvolvimento da linguagem oral: a criança precisa falar
corretamente os sons das palavras para vir a escrever; desenvolvimento das habilidades e
orientação espacial e temporal: ao escrever, a criança deve respeitar a sequência dos sons e
sua estruturação no espaço; desenvolvimento da coordenação visomotora: a criança deve ter
movimentos coordenados dos olhos, braços, mãos e também uma preensão perfeita do lápis;
memória visual e auditiva: problemas de discriminação auditiva podem ter reflexos tanto na
escrita quanto na leitura e na fala; motivação para aprender: a criança precisa se sentir
estimulada pelos pais, professores e colegas para escrever.
2.2.3 LINGUAGEM MUSICAL E A PSICOMOTRICIDADE
De acordo com o RCNEI (1988), a música é a linguagem que se traduz em formas
sonoras capazes de expressar e comunicar sensações, sentimentos e pensamentos, por meio de
organização e relacionamento expressivo entre o som e o silêncio. A música está presente em
todas as culturas, nas mais diversas situações: festas e comemorações, rituais religiosos,
manifestações cívicas, políticas etc. A integração entre os aspectos sensíveis, afetivos e
cognitivos, assim como promoção de interação e comunicação social, conferem caráter
significativo à linguagem musical. O trabalho com a música deve considerar, portanto, que ela
é uma meio de expressão e forma de conhecimento acessível aos bebês e crianças, inclusive
aqueles que apresentam necessidades especiais. A linguagem musical é excelente meio para o
desenvolvimento da expressão, do equilíbrio, da auto-estima e auto conhecimento, além de
poderoso meio de integração social.
O gesto e o movimento corporal estão intimamente ligados e conectados ao trabalho
musical. A realização musical implica tanto em gesto como em movimento, porque o som é,
também, gesto e movimento vibratório, e o corpo traduz em movimento os diferentes sons
que percebe. Os movimentos de flexão, balanceio, torção, estiramento etc., e os de locomoção
como andar, saltar, correr, saltitar, galopar entre outros. Estabelecem relações diretas com os
diferentes gestos sonoros.
33
Para Salles (2007), a música desenvolve a escuta sensível e ativa, a escuta crítica, para
a autora é interessante gravar o trabalho da criança para que ela o escute posteriormente. É
ouvindo analiticamente sua própria música e a dos outros compositores que a criança constrói
seu espírito crítico, além disso, representa uma importante fonte de estímulos, equilíbrio e
felicidade para a criança.
Para Alves (2007), a psicomotricidade e a educação musical na educação infantil,
devem possibilitar vivências e descobertas, constituindo-se em uma experiência concreta.
Nesta fase, toda situação que desafie a curiosidade, a imaginação e a iniciativa própria da
criança torna-se adequada à aplicação do jogo com metodologia. A vivência musical dinâmica
e lúdica, por meio do jogo, é a única maneira de se atingir o aluno.
De acordo com Salles (2007), a educação musical possui o valor educativo das
experiências musicais na educação infantil, com uma enorme contribuição para o
desenvolvimento harmonioso da criança e, com isso, facilita na educação psicomotora,
trabalhando a criança, fazendo-a tomar consciência do seu corpo, na lateralidade, situar-se no
espaço, ter domínio no tempo, coordenar gestos e movimentos, sendo praticadas desde as
mais tenras idades, sempre adaptadas ao nível do grupo porque é por meio dessas
experimentações e relações com o outro que o ser humano se descobre e vai se formando
pouco a pouca.
Considerada em todos os seus processo ativos, a música globaliza naturalmente os
diversos aspectos a serem ativados no desenvolvimento infantil, representando um
inestimável benefício para a formação e o equilíbrio da personalidade da criança e do
adolescente. Através dos jogos sensórios motores a criança constrói conhecimentos a respeito
das formas, dos sons, dos movimentos, do tempo e do espaço. A própria criança abre a porta
para o mundo exterior, a riqueza de estímulos contribui para o desenvolvimento intelectual da
criança (SALLES, 2007).
As vivências musicais e rítmicas favorecem o desenvolvimento dos sentidos, exercita
a compreensão e o seu raciocínio. Ao imitar o canto dos pássaros, os ruídos dos animais ou
outros sons existentes na natureza, a criança descobre seus próprios poderes e a sua relação
com o ambiente em que vive. Já o vocabulário musical propicia o desenvolvimento da
34
linguagem, e consequentemente a memória, a imaginação e a criatividade (SALLES, org.
ALVES, 2007).
Além disso, a educação musical, segundo Salles (2007), oferece inúmeras
oportunidades para a criança aprimorar sua habilidade motora, controlar seus músculos e
mover-se com desenvoltura. Toda expressão musical ativa age sobre a mente, favorecendo a
descarga emocional e a reação e aliviando as tensões. O desenvolvimento do senso rítmico dá
maior agilidade e precisão aos movimentos da criança. As explorações do corpo e do espaço
levam a criança a se desenvolver. A ação psicomotora é uma precursora do pensamento
representativo e do desenvolvimento cognitivo, e a interação da criança em ações motoras,
visuais, táteis e auditivas sobre os objetos do seu meio é essencial para o desenvolvimento
integral.
2.2.4 CORPO E A MATEMÁTICA NA PRÁTICA ESCOLAR
De acordo com Smole (1996), pensar o corpo como formar de manifestação da
inteligência pode soar estranho, uma vez que nossa tradição cultural recente tratou de separar
as atividades de raciocínio de um lado e as atividades de manifestação corporal de outro.
Segundo Gardner, (1994) o divórcio entre o “o mental” e o “físico” não raro esteve aliado à
noção de que o que fazemos com o nosso corpo é um tanto menos privilegiado, menos
especial do que as rotinas de resolução de problemas desempenhadas principalmente através
do uso da linguagem, da lógica ou de algum sistema simbólico relativamente abstrato.
Freire (1994), em seu livro Educação de corpo inteiro, afirma que quase não se atenta para o
fato de que a inteligência não é um elemento exclusivamente racional, pois antes que surjam
no indivíduo as primeiras representações mentais, já se manifesta nele um nível elevado de
inteligência corporal, que prossegue mesmo após estruturar-se o pensamento (SMOLE,
1996).
Nas escolas Waldorf, por exemplo, a criança é pensada como um organismo inteiro,
no qual o corpo desempenha um papel fundamental na construção do conhecimento.
Idealizador dessa pedagogia, Steiner afirma que toda educação é no caso da criança, educação
física. Para ele, não se pode educar o aspecto físico em separado do intelectual e do espiritual
(SMOLE, 1996).
35
Freinet, na sua Pedagogia da Livre-Expressão, incluiu os aspectos corporais em seus
trabalhos com alunos através das chamadas “aulas-passeio”. O autor considerava produtivo
fazer caminhadas diárias com os alunos para que eles observassem o espaço que os cerca e, na
volta de cada “passeio”, a classe trabalhava na discussão do que havia observado e produzia
materiais – textos, desenhos, pinturas , maquetes – sobre as suas experiências (SMOLE,
1996).
Wallon (1996), considerava que o pensamento da criança se constitui em paralelo à
organização de seu esquema corporal e que na criança pequena o pensamento só existe na
interação de suas ações físicas com o ambiente. Segundo o mesmo autor, antes do
aparecimento da fala, a criança se comunica com o ambiente através de uma linguagem
corporal e utiliza o corpo como uma ferramenta operacional e relacional, seja qual for o nível
evolutivo ou o domínio linguístico em que se encontre. O movimento, para Wallon, (1996),
não depende de circunstâncias espaciais nem de capacidades motoras do indivíduo, ele traduz
um simbolismo e se refere ao plano da representação e do conhecimento. Para o autor, essa
condição de movimento só pertence ao homem e é uma das características principais que o
diferenciam do animal, ao mesmo tempo que lhe produz uma maturação de atitudes de grande
significado para o seu desenvolvimento psicológico. (SMOLE, 1996).
Piaget (1981), também apresentou uma análise da questão entre corpo e aprendizagem
e estudou amplamente as inter-relações entre a motricidade e a percepção. Para o autor, o
movimento constrói um sistema de esquemas de assimilação, e organiza o real a partir de
estruturas espaço-temporais.
Em Piaget (1981), encontramos que as percepções e os movimentos, ao estabelecerem
relação com o meio exterior, elaboram a função simbólica que a linguagem, e esta se dá
origem à representação e ao pensamento. O autor realça ainda a importância dos aspectos
corporais na formação da imagem mental e na representação imagética. Segundo Piaget,
(1981), o vivido, integrado pelo movimento e, portanto, introjetado no corpo do indivíduo,
reflete todo um cinético com o meio, que valorizando as representações psicológicas do
mundo, dá lugar à linguagem (SMOLE, 1996).
Smole (1996), faz referência também a Gardner, quando ele diz que a inteligência
corporal-cinestésica forma com a inteligência lógico-matemática e a espacial um trio de
inteligências relacionadas a objetos, sendo que a primeira focaliza o exercício do próprio
36
corpo e acarreta ações físicas sobre os objetos do mundo e a terceira focaliza a capacidade de
transformar objetos do mundo e orientar-se no mundo.
O corpo para Smole (1996), é o primeiro espaço que a criança conhece e reconhece.
Noções como proximidade, separação, vizinhança, continuidade estão numa serie de
qualidades que se organizam numa relação de pares de oposição, tais como
parecido/diferente; parte/todo; dentro/fora; pequeno/grande. O espaço para a criança,
segundo a autora, vai conformando-se e sendo elaborado de acordo com as explorações táteis
e cinéstesicas e a partir de uma percepção topológica do mundo. A geometria, num primeiro
momento, pode ser vista como imagens que se percebem através dos movimentos; portanto, a
primeira geometria é constituída pelo corpo. A criança assim, organiza a relação coro-
espaço, verbaliza-a e chega assim a um corpo orientado que lhe servirá de padrão para situar
os objetos colocados no espaço circundante.
Le Boulch (1988), afirma que a orientação dos objetos faz-se , então, em função da
posição atual do corpo da criança. Essa primeira estabilização perceptiva é o trampolim
indispensável sem o qual a estruturação do espaço não pode efetuar-se. O autor considera
ainda que a ampliação da noção de espaço faz com que a orientação corporal da criança
evolua e a possibilidade de estabelecer uma coerência entre os objetos e de poder efetuar
operação com eles – movimentar, situar, percebê-los espacialmente – passa pela orientação do
próprio corpo, continuando por um sistema de eixos, vertical e horizontal.
De acordo com Le Boulch, esses eixos servem de base para a constituição de um
universo estável e exterior, no qual o sujeito se situa como um termo especial entre todos os
outros objetos. Nesse sentido, poderíamos afirmar que não há espaço que se configure sem o
envolvimento do esquema corporal, assim como o corpo que não seja espaço e que não ocupe
um espaço. O espaço é o meio pelo qual o corpo pode mover-se. O corpo é o ponto em torno
do qual se organiza o espaço (SMOLE, 1996).
2.2.5 EDUCAÇÃO FÍSICA E A PSICOMOTRICIDADE NO PROCESSO DE
APRENDIZAGEM
A educação física é a disciplina da grade curricular que permite diretamente aos alunos
a possibilidade de se movimentar com fins pedagógicos e educacionais. Esse movimento,
37
presente desde a educação infantil, proporciona ao aluno vivências que o auxiliarão em todo o
seu desenvolvimento, não só no aspecto motor mas também nos aspectos cognitivo e afetivo,
pois qualquer atividade realizada por uma pessoa envolve os três aspectos citados. A
Educação Física, para Molinardi (2003), é uma disciplina importante devido à sua
contribuição, não só para aprendizagem como também para a formação do sujeito.
Para Vinicius e Morreira (2010), a Psicomotricidade sendo uma ciência que estuda o
homem através de seu corpo em movimento não pode ser desprezada como conteúdo nas
aulas de Educação Física. Vinicius e Morreira define a educação fisica como:
Ação psicomotora exercida pela cultura sobre a natureza e o comportamento do
ser humano. Com a educação psicomotora, a educação física passa a ter como
objetivo principal incentivar a prática do movimento em todas as etapas da vida de
uma criança (VINICIUS E MORREIRA, 2010, p. 38-39)
Para Furtado (2008), em seu artigo corpo e mente em busca do (auto) conhecimento,
na Revista Aprendizagem Ano 2 nº 7 – Julho/Agosto, 2008, p. 15, com a Educação Física a
criança aprende: a se frustrar sem achar que “não vai aguentar”. Vivenciando saudavelmente a
frustração, a criança aprende a encarar desafios, a desenvolver ousadia; a respeitar regaras e a
submeter às punições advindas dos desrespeito a elas; com os esportes coletivos, aprende a
ser parte integrante de uma equipe e, como tal, a colaborar, fazendo sua parte no todo; a
receber críticas e aprender a lidar com elas; a desenvolver um objetivo e se esforçar para
atingi-lo; a se auto-avaliar; auxilia na construção de um sujeito com auto-estima mais
saudável.
O desenvolvimento corporal da criança para Sanches e Kyrillos, se dá em conjunto
com o desenvolvimento cognitivo e afetivo/emocional, sendo esta uma divisão didática. Na
prática, o indivíduo apresenta estes desenvolvimentos entrelaçados. Por isso, as atividades
psicomotoras ou de educação física são sempre resultados de um planejamento em equipe,
integrando às demais áreas. Para a autora a descoberta do corpo, de suas sensações de seus
limites e movimentos é de fundamental importância para a criança da educação infantil, pois
nesta fase, ela está construindo sua imagem corporal. Para isso, ela precisa descobrir seu
corpo e também o corpo do outro. As atividades psicomotoras são essenciais nesta construção,
porque brincando e explorando o espaço, ela se organiza tanto nos aspectos motor e sensorial
38
como no emocional, ampliando assim, seus conhecimentos de mundo. Neste momento, a
linguagem corporal é a forma de comunicação mais utilizada pela criança (ALVES 2007).
De acordo com Sanches e Kyrillos, (2007), a criança desenvolve-se e matura-se no
contato com o mundo, vivenciando e experimentando as relações com o corpo, que é, no
início, o seu único meio de comunicação. Todas as suas inaugurações são corporais e estão
intimamente ligadas à emoção e ao prazer. A corporeidade é a linguagem mais primitiva
desse indivíduo desde sua fase uterina. A escola pode utilizar o corpo como fonte primária:
aquela na qual a criança pode observar e engajar-se em padrões de atividades conjuntas,
progressivamente mais complexas com ou sob a orientação direta de pessoa ou de pessoas que
já possuam conhecimentos e habilidades ainda não adquiridos pela criança e com quem ela
desenvolveu um relacionamento emocional positivo.
O corpo também pode utilizado como fonte secundária: aquela na qual são dadas
oportunidades, recursos e encorajamento para a criança engajar-se em atividades que ela tenha
aprendido no contexto de desenvolvimento primário, mas então sem envolvimento ativo ou
orientação direta de outra pessoa que possua conhecimentos e habilidades além dos níveis
adquiridos pela criança. (ALVES, 2007).
Segundo Sanches e Kyrillos (2007), o sistema educacional persiste em dissociar
corpo-mente, em fragmentar a criança em cognitivo, afetivo e motor, esquecendo-se do
psíquico. Esquece que o movimento é a chave da vida e existe em todas as formas com que
esta se apresenta. Quando o homem desempenha movimentos intencionais, ele está
coordenando os domínios cognitivo, psicomotor e afetivo. O movimento está em ligação
direta com a criança, pois é parte dela que se comunica com o mundo e também é parte dela
que a criança irá organizar-se enquanto sujeito pensante e atuante, para dar conta da sua
participação na sociedade. Fazer um elo da Educação Física com a Psicomotricidade no
cotidiano escolar, atenderá às exigências de um corpo que pertence a uma cultura, a uma
momento histórico, político e socioeconômico, que está em constante desenvolvimento.
Trabalhar essa prática no cotidiano escolar visam também melhorar e oportunizar o
sujeito ao movimento, conscientizando-o do seu próprio corpo, da consciência do esquema
corporal, domínio do equilíbrio, construção e controle da coordenação global e parcial,
organização das estruturas espaço-temporal, melhoria das possibilidades de adaptação ao
39
mundo externo, estruturação das percepções. Os benefícios será notados ao longo da vida
desse sujeito, pois será, seja na dança, na ginástica, nos jogos, nos esportes, na família ou na
escola, um ser bem resolvido em suas questões internas, podendo a cada dia se libertar para
as questões externas (SANCHES E KYRILLOS, 2007).
2.3 BRINCADEIRAS COMO PRÁTICA PEDAGÓGICA PSICOMOTORA
O ato de brincar está intimamente ligado ao processo de aprendizagem, e
consequentemente , ao processo de desenvolvimento infantil. O brincar envolve a
imaginação, a emoção e, consequentemente, a construção do pensamento abstrato. A
brincadeira é conceituada como: passatempos, entretenimentos, divertimentos, jogos etc.
Brincar é coisa séria, não só para as crianças, e os professores devem pensar sobre esse
recurso com bastante critério. A brincadeira facilita o desenvolvimento motor, social,
cognitivo e afetivo das crianças. Por meio da brincadeira, a criança constrói o mundo à sua
maneira, dá novos significados ao universo ao seu redor. A brincadeira é um espaço
onde quem brinca pode expressar, de modo simbólico, usando imaginação, suas
fantasias, seus desejos, medos e os saberes que vai adquirindo, a partir de
experiências que vive, (FURTADO, 2010).
Para a mesma autora, a brincadeira assume especial importância na infância, pois é o
modo predominante que a criança utiliza para se relacionar-se e para compreender o mundo,
os outros e a si mesma. Enquanto brinca ela cresce, aprende e se desenvolve, inclusive no
ponto de vista neurológico, pois mais conexões sinápticas são formadas, estimulando
diferentes funções cerebrais.
A Educação Infantil é o espaço responsável para promover a integração dos aspectos
físicos, afetivos, cognitivos e sociais da criança. As instituições infantis têm como objetivo
desenvolver a individualidade e a cidadania de cada criança mediante as atividade
pedagógicas, brincadeiras e cuidados necessários para o seu bem estar. De acordo com o
Referencial para a Educação Infantil:
Educar significa, portanto, propiciar situações de cuidados, brincadeiras e
aprendizagens, orientadas de forma integrada e que possam contribuir para o
desenvolvimento das capacidades infantis de relação interpessoal, de ser e estar com
os outros em uma atividade básica de aceitação, respeito e confiança, e o acesso,
pelas crianças, aos conhecimentos mais amplos da realidade social e cultural. Neste
40
processo, a educação poderá auxiliar o desenvolvimento das capacidades de
apropriação e conhecimento das potencialidades corporais, afetivas, emocionais,
estéticas, na perspectiva de contribuir para a formação de crianças felizes e
saudáveis. (RCNEI, 1988).
O mesmo Referencial, destaca a importância de compreender o caráter lúdico e
expressivo das manifestações da motricidade infantil. As brincadeiras que compõe o
repertório infantil e que variam conforme a cultura regional apresentam-se como
oportunidades privilegiadas para desenvolver habilidades no plano motor, como empinar
pipas, jogar, bolinhas de gude, atirar com estilingue, pular amarelinha etc. Na faixa etária de
quatro a seis anos constata-se uma ampliação do repertório.
Para Oliveira (2008), ao brincar, afeto, motricidade, linguagem, percepção,
representação, memória e outras funções cognitivas estão profundamente interligados. A
brincadeira favorece o equilíbrio afetivo da criança e contribui para a apropriação dos signos
sociais. Cria condições para uma transformação significativa da consciência infantil, por
exigir das crianças formas mais complexas de relacionamento com o mundo. Isso ocorre em
virtude das características da brincadeira: a comunicação interpessoal que ela envolve não
pode ser considerada “ao pé da letra”, sua indução a uma constante negociação de regras e à
transformação dos papéis assumidos pelos participantes faz com que seu enredo seja sempre
imprevisível.
De acordo com Piaget (1971), o crescimento cognitivo da criança até os dois anos, se
baseia principalmente, em experiências sensoriais motoras, e ações motoras. As ações
sensoriais e motoras são utilizadas para atingir uma meta. Sua inteligência se manifesta em
ações. Através dos reflexos, o bebe se relaciona com o mundo. Neste momento, suas mãos
são um brinquedo para ele e a generalização do ato de sugar com a capacidade de coordenar
seus movimentos poderão levá-lo a colocar objetos na boca e dessa forma brincar com eles de
maneira significativa, uma vez que estará sucessivamente construindo novos esquemas. Seu
corpo é o primeiro brinquedo utilizado pela criança; desde os primeiros meses de vida ela
explora seu corpo e a partir dele começa a conhecer os estímulos externos, provocando assim,
a adaptação do seu corpo com o meio. Conforme esses autores, na fase dos quatro aos sete
anos, aproximadamente, os jogos assumem papel definitivo; passam ater mais Seriedade ,
ficando muito mais importante na vida das crianças. Elas passam a gostar de participar de
brincadeiras com o próprio corpo, movimentando-se.
41
Dessa forma, elas desenvolvem cada vez mais os músculos, correndo, brincando,
pulando. Os músculos responsáveis pela coordenação motora fina, aquela responsável pelos
movimentos da escrita, serão desenvolvidas através das brincadeiras, onde se faça necessário
rasgar, picar papel, costurar, amassar entre outros. A autora, ressalta a importância da
Educação Infantil nesta fase, como excelente fonte de desenvolvimento cognitivo para
nossas crianças (MARANHÃO, 2007).
Salles, (2007), a maioria das brincadeiras acompanhadas de música apresenta
movimentos em sentidos variados: para trás, para frente, para direita, para a esquerda, para
cima e para baixo. Quando brincamos, estamos na realidade “treinando” o nosso corpo e a
nossa mente para enfrentar o mundo que nos espera. Os jogos, os brinquedos e as brincadeiras
folclóricos e psicomotores são momentos de nossas vidas que, se bem aproveitados, podem
contribuir para que sejamos adultos física e emocionalmente equilibrados, capazes de viver de
bem com a vida. As brincadeiras psicomotoras e globais contribuem para reforçar todas as
áreas do desenvolvimento infantil, representando um inestimável benefício para a formação
e o equilíbrio da personalidade da criança.
O jogo como recreação, desde os tempos passados, aparece como relaxamento
necessário às atividades que exigem esforço físico, intelectual e escolar, tendo como
representante Sócrates, Aristóteles, Sêneca e Tomás de Aquino. Na Idade Média, é
considerado „não sério”, por sua associação ao jogo de azar, bastante praticado na época.
Serve, também, para divulgar princípios de moral, ética e conteúdos de História, Geografia e
outros, a partir do renascimento, o período de compulsão lúdica. Rousseau faz a seguinte
afirmação sobre os jogos:
Amai a infância; favorecei seus jogos, seus prazeres ,seu amável instinto. Quem de
vós não se sentiu saudoso, às vezes, dessa idade em que o riso está sempre nos
lábios e a alma sempre em paz. Por que arrancar destes pequenos inocentes o gozo
de um tempo tão curto que lhes escapa, de um bem tão precioso de que não se
podem abusar? (ROUSSEAU, 1992, P. 61, apud, DOHME, 2003, p. 15).
O jogo, para Piaget (1978), são fundamentais e estão diretamente ligados aos fatores
cognitivos, sociais e afetivos. Para o autor, existe três grandes tipos de estrutura que
caracterizam os jogos infantis : o exercício, o símbolo e a regra. Essas estruturas vão sendo
caracterizados como parte da construção da inteligência, nos diferentes estágios, nas diversas
42
faixas de idade. Cada um dos estágios do desenvolvimento, apresenta um predomínio de
uma das estruturas do jogo. No estágio pré-operatório, compreende a faixa etária de dois a
sete ano, a presença dos jogos, simbólicos, por intermédio do faz de conta, é marcante. Por
meio desses jogos vai se estabelecendo a capacidade da criança de realizar abstrações e iniciar
as interiorizações das situações vividas.
Nesse sentido, observamos a importância das ações educacionais voltadas aos jogos e
brincadeiras, pois elas funcionam como facilitadores do desenvolvimento da inteligência. A
partir da perspectiva de Piaget; Haetinger (2005), destaca os tipos de atividades a serem
usadas pelos educadores infantis para facilitar a aprendizagem de seus educandos, através de
algumas práticas que promovem as vivências corporais e motoras, descritas por (SEBER,
2002):
Brincadeira simbólica – são atividades que usam objetos como suporte para o diálogo
da criança. Acontecem quando a criança brinca livremente, dramatiza histórias, constrói
narrativas para depois expressá-las, conversa com seus colegas; Imitação de sons e gestos
imitar significa expressar um modelo visualizado ou interiorizado. As atividades de imitação
expressamente em brincadeiras como “estátua”, caminhadas imitando animais e seus sons,
mímica, coreografias, rodas cantadas, entre outras; Imitação de arranjos feitos com objetos – é
a imitação de composições de objetos. Estas imitações incluem atividades como reproduzir
composições de objetos com o corpo, ou criar e representar movimentos para objetos
estáticos; brincadeira sensória-motora – este tipo de brincadeira ajuda na formação dos
modelos necessários à fase sensóro-motor do desenvolvimento da inteligência. São atividades
como bater, pular, acertar em alvos, assoprar, pegar e soltar objetos; fazer recortes, pinturas,
desenhos, e trabalhos com sucatas, massa de modelar e colagem; brincar com cordas e bolas,
amassar papéis, entre outras; Classificação e seriação – é a capacidade de classificar, ordenar
e seriar diferentes objetos e ações em função de suas características comuns.
As atividades motoras que colaboram com este aspecto da inteligência são: o
desporto, os jogos que trabalham movimentos em grupos distintos, e todo tipo de atividades
que requer a inter-relação de gestos, falas, grupos ou objetos, em função de suas diferenças ou
semelhanças; Quantificação – expressa a relação entre elementos, quantidades e/ou
proporções. Entre as atividades psicomotoras que destacam esta capacidade, indicamos os
jogos e brincadeiras com contagem, atividades em circuitos (pois preveem fases inter-
43
relacionadas), dança, ritmo e coreografias; organização espacial – relações existentes no
deslocamento espacial de pessoas e objetos.
Atividades como as caminhadas com ritmo, os circuitos com obstáculos físicos (neles,
as crianças devem desviar de objetos, assim como subir, descer e equilibrar-se), as
brincadeiras de roda e as danças figurativas, exploram a noção de deslocamento espacial;
Definição de medidas – diferenciação de tamanho, altura, peso e distância. Neste sentido, as
atividades motoras podem ressaltar os parâmetros alto X baixo, encima X embaixo, leve X
pesado, grande X pequeno. Através dessa classificação, podemos perceber que as ações
corporais motoras são muito importantes para o desenvolvimento da inteligência da criança.
Na educação de um trabalho pedagógico que integre desenvolvimento cognitivo, psicomotor e
afetivo.
Considera-se interessante apresentar neste trabalho, o resultado parcial de uma
pesquisa que se está realizando em 113 escolas públicas, de várias cidades dos Estados do
Paraná e do Ceará, realizada, por meio do Estágio supervisionado do curso de Formação
Especializada em Psicomotricidade Relacional em Convênio com a Faculdade de Artes do
Paraná- FAP e do Ceará. Foram atendidas 113 escolas públicas, resultando em um total de
3.660 crianças, entre sete e treze anos. Para Coleta de Dados, foram utilizados: aplicação de
questionário; registro das sessões em vídeos e fichas de acompanhamento. Os resultados
foram analisados e classificados em categorias, tais como: excelente, ótimo, regular,
insuficiente e não contribuiu.
Quadro 2 – Resultado da Pesquisa Realizada em Escolas do Paraná e do Ceará
EFICÁCIA DA
PSICOMOTRICIDADE
EXCELENTE
ÓTIMO
BOM
Regular
INSUFICIENTE
NÃO CONTRIBUI
MELHORIA NOS
NÍVEIS DE COMUNICAÇÃO
E DESEMPENHO
ESCOLAR
43%
29,10%
17,9%
4,10%
2,0%
3,10%
REDUÇÃO DOS
ÍNDICES DE
COMPORTAMENTO
DESTRUTIVO
48,00%
28,10%
8,20%
5,10%
1,50%
3,10%
FAVORECEU A ACEITAÇÃO
DE LIMITES
51,00%
26,00%
14,8%
4,10%
1,00%
-2,00%
44
Quadro 2 – Resultado da Pesquisa Realizada em Escolas do Paraná e do Ceará
CONTRIBUIU PARA A AUTO-
ESTIMA E AUTO-
CONFIANÇA
52,60%
29,60%
11,7%
3,10%
1,00%
1,00%
MELHOROU A RELAÇÃO
PROFESSOR- ALUNO
54,60%
8,60%
12,8%
1,50%
0,00%
-2,00%
MELHOROU A RELAÇÃO
ALUNO-ALUNO
45,40%
28,60%
19,4%
3,60%
0,00%
-3,10%
DESPERTOU O DESEJO
PARA APRENDER
48,00%
28,10%
8,20%
5,10%
1,50%
-3,10%
FONTE:VIEIRA, apud, FERREIRA; BARROS E MATOS 2008, p.58-61
Pelos resultados obtidos, verificou-se a eficiência e a eficácia da Psicomotricidade
Relacional na escola como prática pedagógica e como forma de prevenção e estímulo ao
desenvolvimento da criança, confirmando a afirmação de Lapierre (1998), de que “o desejo
de aprender é um componente secundário do desejo de agir, do desejo de SER”. Acreditando
nesses aspectos, e diante dos benefícios obtidos sentiu-se a necessidade de implementar a
Psicomotricidade Relacional nas Escolas Municipais do Paraná, Rio Grande do Sul e Ceará, a
iniciativa de realizarem Fóruns de Educação e Psicomotricidade Relacional, apresentando aos
seus docentes esta ferramenta de apoio no despertar do desejo de aprender. A cidade de
Curitiba, no Paraná, saiu do discurso verbal, entrou em ação ao aprovar juntamente com a
Câmara dos Vereadores o Projeto de Lei nª 12.205/07 em 3 de maio de 2007: “Fica autorizado o
Poder Público a Instituir na Rede Municipal de Ensino atividades de Psicomotricidade Relacioanl”.
A CÂMARA MUNICIPAL DE CURITIBA, CAPITAL DO ESTADO DO PARANÁ,
aprovou e eu, Prefeito Municipal, sanciono a seguinte Lei:
Art. 1º Fica autorizado o Poder Executivo a instituir na rede Pública Municipal de
ensino, nos níveis de Educação Infantil e das séries Iniciais do Ensino
Fundamental, atividades de Psicomotricidade Relacional.
Art. 2º As atividades de Psicomotricidade Relacional visarão: I estimular a
capacidade relacional entre os alunos e professores; II proporcionar um espaço para
expressão corporal da criança e do adulto, na manifestação dos impulsos
inconscientes que os levam à busca do conhecimento, à afirmação da própria
identidade e a superação de conflitos normais do desenvolvimento, potencializando
o desejo para a aprendizagem; III trabalhar como uma atividade sistemática e com
fins preventivo e profiláticos.
45
3 METODOLOGIA DA PESQUISA
Esta pesquisa foi orientada segundo Bodgan e Biklem citados por Ludke e André
(1986) onde eles mostram que a abordagem qualitativa da pesquisa apresenta como
característica envolver a obtenção de dados descritivos. Obtidos no contato direto e
prolongado do observador e a situação estudada, enfatizando mais o processo do que o
produto e se preocupando em retratar a perspectiva dos participantes.
Campo de Observação: Esta pesquisa foi realizada em três escolas municipais de Educação
Infantil de Salvador. Os instrumentos utilizados para a coleta de dados foram: entrevistas e
observações.
Entrevistas - foi outro instrumento utilizado. Como registro das respostas foi usado um
gravador na escola A e nas escolas B e C utilizei anotações das resposta. Procurei
estabelecer um uma conversa amistosa com o entrevistado, explicando a finalidade da
pesquisa ,seu objeto, relevância, e ressaltei a necessidade da sua colaboração. E assim,
mantive uma relação de confiança, assegurando-lhe o caráter confidencial de suas
informações
Observações – para as observações foram usados como recursos, formulários com
anotações, onde foram destacados os principais aspectos motores, como forma de orientação,
tomando como referência os conteúdos disciplinar e as atividades realizadas em sala de aula e
em situações que as crianças participaram nas brincadeiras na hora do recreio, pátio, sala de
vídeo e parque. Do recreio observei momentos de brincadeiras livres no pátio.
Sujeitos de Investigação - professores, coordenadores, vice diretora, auxiliares e crianças de
4-5 anos. Visitei seis escolas, em três delas fiz uma visita de um dia com duração de duas
horas. Durante esse período conheci a escola, entrevistei, coordenadoras e professoras,
Devido a greve de dois meses em algumas creches-escolas e escolas de educação infantil e ao
curto espaço de tempo para acabar o ano letivo, a observação ficou limitada a três escolas ,
em cinco visitas com duração de horas 3 a 3 e:3:30 em cada instituição.
Na escola A foi observado o Grupo IV com a participação de 12, 15 e 16 crianças,
uma professora e uma auxiliar na hora do recreio e em alguns momentos quando solicitada,
pois a escola só dispõe de três auxiliares. Na escola B, foram observados, os Grupos IV e V,
com 11, 12, 13, e 14 crianças, uma professora e uma auxiliar quando solicitada e na hora do
46
recreio. A escola C, devido o longo período de greve, o número de crianças frequentando a
sala de aula ficou muito reduzido, o Grupo V, com 7, 8 e 9 crianças, uma professora e uma
auxiliar. Durante as visitas em conversa com professores e coordenadores, surgiram vários
questionamentos. Um deles foi a metodologia trabalhada nas atividades realizadas, onde, os
aspectos motores eram melhor trabalhados de forma interdisciplinar. Um das professoras da
escola B relatou do projeto que elas estavam concluindo que trabalhou aspectos motores
quando recortaram matérias de sucata e fizeram colagem, trabalhando dessa forma a
coordenação motora grossa e fina.
Durante o processo de investigação, alguns questionamentos foram levantados, como
forma de seleção e estruturação de dados, com o objetivo de construir redes de significação
que orientasse e desse sentido e atendesse a curiosidade e compreensão de como os
professores dessas escolas, trabalham a psicomotricidade interdisciplinar. O primeiro passo
foi, a seleção das escolas a serem observadas. Na escolha das escolas foi considerado a
diferença: política, social, cultural e econômica da sociedade local.
A primeira escola, está localizada na periferia de Salvador, a segunda escola foi
considerado a grande influência musical que o bairro oferece, e na terceira escola, escolhi um
bairro nobre da cidade com crianças com diferentes situações sociais, com crianças provinda
de favelas e de outras localidades com pais com dificuldades econômicas mas, residem em
bairros nobres. Ao selecionar as instituições a ser pesquisadas, considerei fatores que pudesse
influenciar professores e alunos devido a diferença social, cultural, econômico e politico
dessas localidades, nas atividades escolares, tendo como base a interdisciplinaridade
psicomotora no processo de ensino-aprendizagem. A seguir, foi elaborado um quadro com um
relatório de observação nas escolas: A; B e C:
Escola A
Na escola A, observei o Grupo IV. No primeiro dia, a professora deu continuidade a
atividade do Projeto: Literatura de Cordel – O boi encantado no Cordel será louvado com os
seguintes objetivos: Conhecer a literatura de Cordel (estrutura textual, onde surgiu e
conhecer autores nordestinos); aumentar o vocabulário; conhecer a poesia e rima; valorizar
a expressão oral. Na hora do recreio, assistiram a um filme da galinha na sala de vídeo,
enquanto aguardaram a hora do lanche . Depois subiram para a sala para arrumarem a sala e
guardaram o material que estava fora de lugar e aguardaram a lista de chamada conforme
acontece todos os dias na hora de irem embora.
47
No segundo dia, a atividade foi outra literatura de cordel com a história do Bumba-
meu-boi, onde destacou as personagens e as falas da história. Em seguida, as crianças fizeram
um reconto da história. Depois, desceram para a hora do recreio. As crianças brincaram
livremente, com bolas, bambolês, escorrego. Depois foram tomar uma sopa e subiram para
pegar seus matérias para irem embora. No terceiro, a atividade foi conhecer os meios de
transportes antigos e atuais através de fotos, identificando as diferenças entre os meios de
transportes antigos e atual, onde eles andam, na terra, na água e no ar, como são movidos, sua
utilidade etc. Logo em seguida, as crianças desenvolveram uma atividade com sucata.
(construíram um meio de transporte).
A hora do recreio, as crianças assistiram a uma peça infantil sobre a amizade
realizada pelas professoras e alguns alunos. A peça falava sobre a importância de vivermos
bem com o próximo, do respeito, da solidariedade. As crianças adoraram. No final as
professoras perguntaram o que eles mais gostaram da história. Em seguida, foram lanchar e
foram para casa.
No quarto dia, a atividade foi conhecer as formas geométricas, depois as crianças
construíram um carro usando dois quadrados, um triangulo e dois circulo. Em seguida foram
brincar no parque, estouraram os balões que restaram da apresentação do teatro do dia anterior
e foram tomar mingau e pegar sua mochila para ir embora. No quinto dia, a atividade foi uma
leitura do livro da literatura de cordel que fala sobre o sertão, como objetivo de conhecer o
sertão, o clima, a vegetação, o mandacaru. A professora levou um pé de mandacaru, para eles
conhecerem, explicou sobre as suas características e plantaram individualmente um pé de
feijão em um pedaço de algodão dentro de um recipiente, onde iam acompanhar seu
crescimento.
A professora distribuiu uma atividade para eles selecionarem e colarem sementes de
feijão em um espaço determinado. Nesse dia as crianças lancharam na sala de aula, pois o
pátio estava ocupado para o ensaio das turmas que iam participar da formatura. Em seguida se
preparam para ir embora.
Aspectos Psicomotores trabalhados nas atividades realizadas durante os cincos dias de
observação: Na linguagem oral e escrita, trabalhou a discriminação visual, a percepção
auditiva, tátil e a coordenação motora fina quando eles fizeram a seleção das sementes e a sua
colagem, trabalhou a lateralidade, quando colaram os feijões da esquerda para direita.
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Trabalhou também a orientação temporal quando falou dos meios de transportes antigos e
atuais, o local, sertão, quando citou atividade de ontem, hoje, amanhã e quando pediu as
crianças para fazerem o reconto da história fazendo uma sequência dos fatos. Trabalhou com
a interação, as relações interpessoais, a cooperação, participação, a memória - a atenção e
concentração .
Escola B
A escolha desta escola, não foi aleatoriamente. A minha intenção era saber se a escola
sofria influência local da música e da arte por ser um bairro que vem revelando grandes
nomes da música Baiana. No primeiro dia, entrevistei duas professoras uma do Grupo IV e
outra do Grupo V, a coordenadora e vice diretora. Elas estavam fazendo o planejamento
semanal. As professoras me relataram que estavam trabalhando com o Projeto de reciclagem,
devido a um grande número de familiares que vivem dessa profissão na localidade. Eles iam
trabalhar outra temática, mais devido aos problemas que vinham acontecendo com os
moradores que acumulavam lixo em locais inapropriados causando doenças e outros perigos
para a comunidade.
As duas professoras do grupo IV e a do Grupo V, não tinham cursado a disciplina de
psicomotricidade em sua formação, no entanto, uma delas a do grupo V trabalhou com
reeducação psicomotora em uma instituição para portadores de necessidades especiais
localizada em Brotas. Essa professora mostrou muito interesse em aprofundar seus
conhecimentos sobre a psicomotricidade.
Durante a entrevista, as professoras me falaram que no projeto trabalharam os aspectos
motores como recorte e colagem. Eu perguntei se existia na escola um planejamento
interdisciplinar para se trabalhar a psicomotricidade. Elas me responderam que não, que havia
uma professora de dança, que trabalhava os aspectos psicomotores interdisciplinarmente, e me
sugeriram, observar as aulas de dança, pois era uma experiência que uma professora estava
realizando em 4 escolas diferentes de Salvador, com o apoio da Secretária de Educação. Logo
fiquei interessada em saber como aconteciam essas aulas. E assim aconteceu. Marquei uma
hora com a professora que acabava de chegar, para a próxima quarta feira. Em conversa com
a professora de dança relatou que, as crianças adoram esse momento, as aulas servem de
estímulo para as crianças realizarem suas atividades. A professora trabalha com crianças de 2
a 5 anos.
49
Na quarta feira, ao chegar, a professora vai buscar e levar as crianças em suas salas
de aulas. A sala onde acontece as atividades de dança, é ampla, com um espaço mais ou
menos de 25 a 30 metros, tem boa ventilação, uma televisão e um vídeo, grandes janelas, e,
as paredes, são decoradas com imagens de brinquedos om formas geométricas, balões, notas e
instrumentos musicais, com cores e formas bem harmoniosa. A sala tem um grande espaço
livre para as brincadeiras, só tem umas poucas cadeiras encostadas na parede, e a mesa
da televisão e um cadeira com o som, o restante é livre para as brincadeiras das
crianças. A sala é bem propicio para se trabalhar a psicomotricidade. O primeiro grupo a
ser observado, foi do grupo IV. Logo que chegaram sentaram no chão em forma de circulo.
A professora começou perguntando como foi o fim de semana deles. Logo em
seguida, introduziu uma música que deseja as boas vindas, e todos repetiam os gestos e
cantavam olhando para mim, depois cantaram a música do bom dia, dos dedos que se
saúdam , em seguida, uma do tempo, e sobre a higienização bucal, fazendo movimentos
circulares como se estivessem escovando os dentes. As músicas são acompanhadas com os
gestos e ritmos. Depois a professora perguntou se eles queria uma música em especial, e eles
escolherem uma sobre os meios de transportes.
Nessa atividade a professora trabalhou, a coordenação motora ampla, os membros
inferiores e superiores, o equilíbrio, a atenção, a concentração, a interação, a participação,
dentro da música o ritmo, diferentes sons, natureza e sociedade com os meios de transportes, a
higiene, aa qualidade, o movimento, a matemática quando contou os dedos, noções espaciais
dentro, fora, em cima, do lado, a lateralidade, o esquema corporal, com o reconhecimento do
seu próprio corpo e do outro, a orientação temporal o amanhã, ontem, o fim de semana. Em
seguida houve um momento de relaxamento e a professora foi levar esse grupo em sua sala e
trouxe o grupo V. O grupo V participou das mesmas atividades, só diferenciou na escolha da
música. Com Um destaque especial para os movimentos, que esse grupo realizou de forma
bem mais ciclonizada.
No segundo dia, a professora deu continuidade a dança figurativa, com música de bom
dia, dias da semana, os órgãos do sentido, relaxamento e troca de turma. A professora trabalha
bem a questão de cumprimento do horário, limite e afeto, além de seu tom de voz e gestos ser
bem harmoniosos. No terceiro dia, as crianças além de cantar música do bom dia, as crianças ,
brincaram de rodas cantadas, um dos tipos de dança figurativa. O grupo V com movimentos
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mais bem coordenados. Hora do relaxamento e troca de turma. No quarto e quinto dia, as
crianças fizeram ensaio de coral para o natal.
A escola vai fazer uma apresentação de natal, para familiares e comunidade. A
professora escolheu duas músicas para ensaiarem: Papai Noel deixou meu presente de Natal
e uma música super fantástico do balão mágico. As crianças cantavam e gesticulavam de
forma bem coordenada. Nessas atividades a professora desenvolveu a percepção auditiva, a
coordenação motora ampla, a discriminação visual, as relações inter e intra pessoal, a
interação, comunicação, a memória- atenção e concentração, a comunicação a afetividade, o
limite, o equilíbrio, a lateralidade e o esquema corporal. Logo em seguida momento de
relaxamento e a troca de turma. Na semana seguinte, as crianças iam participar dos ensaios
com outros grupos.
Escola C
Na escola C, observei o grupo V. Logo que as crianças chegaram foram trocar a
farda por uma roupa trazida por elas e em seguida foram tomar o café da manhã no refeitório.
Detalhe que me chamou a atenção, pois, até então, nenhuma das escolas visitadas tinha um
local só para as refeições, normalmente, fazem as refeições na própria sala, ou no pátio.
Ao retornarem a sala de aula sentaram em circulo no chão para o momento de
acolhimento. Cantaram uma música de bom dia! Uma música para os sete dias da semana,
usando os dedos para contar, depois cantaram a música do tempo, a professora perguntou
como está o tempo hoje? Uma criança foi até uma varanda que tem na própria sala e disse que
estava com sol, a professora pediu para ela colocar o sol em uma quadro na parede. Logo em
seguida perguntou quantos somos hoje? 3 meninas uma menina anotou em uma ficha o
numero 3 colocou em baixo de uma imagem de menina que tinha na parede, depois
perguntou quantos meninos tem hoje? Um menino respondeu 4, em seguida fez o mesmo
procedimento, escreveu o número 4 e levantou para colocar em baixo na imagem do menino
na parede. Esse procedimento é uma atividade permanente.
Nas segundas feiras a professora abre um momento de conversa sobre o final de
semana deles. Como era uma segunda feira a professora perguntou um a um como tinha sido
seu fim de semana. Uns disseram que tinha visto muito televisão, e a professora interferiu
dizendo que precisava falar com o responsável da criança sobre os pontos negativos de ficar
muito tempo estático, precisamos brincar, movimentar o corpo, jogar bola, correr entre outros.
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Logo em seguida, sentaram em suas carteiras, para começarem a atividade da manhã.
A professora falou da campanha que a escola estava realizando sobre o uso correto dos
banheiros. Começou falando dos problemas existentes e pedindo as crianças que sugerisse
algumas atitudes corretas que colaborasse para o uso correto dos banheiros. A professora ia
anotando a sugestão de cada criança numa folha com a atividade que cada uma ia receber para
ilustrar. No final as atividades iam ser expostas em uma folha grande e fixada nas paredes
do banheiro para que todos lessem seus avisos.
Em seguida, as crianças saíram para o recreio. Cada criança pegou seu brinquedo
atrás de um armário. Para minha surpresa, o brinquedo era artesanal, chamado por uns de pé
de pau e em algumas regiões sapato de pau, esse brinquedo é feito com um pedaço de
madeira, com uma corda presa dos dois lados, pode ser feito também com latas de leite ,
funcionam bem também. As crianças brincaram andando por todo pátio. Em duplas, em
competição para ver que chegava primeiro. (No final desse trabalho vocês poderão ver as
imagens desse brinquedo). As crianças com essa brincadeira trabalha bem os membros
inferiores, e superiores, o equilíbrio, a concentração, a interação, o respeito as regras, a
tolerância.
No segundo dia, houve o momento de acolhimento, depois sentaram em suas carteiras
e a professora falou do projeto que eles iam realizar sobre a jovem guarda, que por motivo da
greve, não podia mais ser cumprido. Nós vamos continuar falando sobre o natal. Hoje vamos
trabalhar um dos símbolos do natal, á árvore. Vamos elaborar uma árvore linda. Atividade:
Produção coletiva – a professora distribuiu pedaços de esponja, colocou tinta guache em um
recipiente, e colocou uma folha branca grande no chão com cerca de 2 metros e 1/2.
Pediu que cada criança pintasse livremente todo o espaço em branco.
Assim que secou a tinta, a professora colocou um molde vazado de uma árvore sobre o
papel pintado e recortaram o papel em forma de uma árvore. Logo em seguida, foram tomar
banho para irem almoçar. Não houve hora do recreio nesse dia, pois, logo que chegaram a
escola, houve uma reunião de professores, por isso, a rotina desse dia foi modificada. No
terceiro dia, depois do momento de acolhimento, as crianças realizaram a atividade: Dê nomes
aos objetos, onde aparecia vários objetos, com um espaço ao lado para colocarem o nome de
cada objeto. Momento do intervalo – brincadeiras livre no pátio da escola .
Ao retornarem a sala, a professora deu continuidade a elaboração da árvore, com a
construção de bolas com diferentes matérias e texturas, para as crianças colarem em um
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circulo e depois recortarem para colarem na árvore. Foram produzidas duas bolas por cada
criança. Uma individual e a outra em dupla. Depois as crianças decoraram toda árvore e
afixaram na área externa da escola,, para que todos apreciassem. N as atividades realizadas,
foram trabalhados a coordenação motora fina e grossa, a atenção, discriminação visual, o
equilíbrio, a interação, cooperação, o esquema corporal, a estruturação espacial e temporal.
O quarto dia, logo depois do momento do acolhimento, as crianças sentaram em suas
carteiras em forma de circulo para a atividade do dia: Literatura do livro: A magia do lixo de
Jonas e Kátia Rocha. O livro fala da natureza, dos cuidados que devemos ter com a natureza,
e sobre a importância da reciclagem do lixo e do reaproveitamentos dos matérias como
tecidos, botões etc. O livro vem com muitas atividades para serem realizadas em muitas aulas.
Uma das atividades já realizadas por eles, foi o aproveitamento de tecido, onde eles vestiram
uma menina com pedaços de tecidos reaproveitado. Em seguida as crianças foram brincar
com um brinquedo artesanal chamado sossega menino, feito com garrafas pet e bolas de gude.
Fotos do brinquedo em anexo no final desse trabalho. As atividades do dia trabalharam os
aspectos motores: Coordenação motora ampla, a atenção, concentração, a percepção auditiva,
a discriminação visual, a percepção espacial e a lateralidade.
No quinto dia, houve o momento de acolhimento, depois, a professora, falou da
proposta para a atividade do dia. Vamos hoje elaborar uma carta, onde vamos expor aspectos
importantes da natureza. A professora começou perguntando a cada aluno, o que eles tinham
para escrever sobre a natureza. Ao mesmo, tempo ia anotando o que cada uma ia dizendo.
Depois leu o que cada um tinha dito sobre a natureza. No final ela reestruturou o texto e
escreveu em letra em bastão no quadro, todos os procedimentos para fazer uma carta,
chamando a atenção, para o cabeçalho, a data, a quem ia se dirigir a carta, a escrita da
esquerda para a direita etc. A professora explicou que na aula seguinte, nós vamos aprender a
preencher um envelope e colocaremos a carta dentro, para depois colarmos no livro a magia
do lixo, ao lado da página correspondente. Para melhor entendimento, apresentamos em forma
de quadros, as aulas e os elementos psicomotores trabalhados nessas aulas:
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Quadro 3 – Aulas da Escola A
Aulas Projeto: O boi encantado ao cordel será louvado
1 Atividade: conhecer estrutura textual, onde surgiu, autores
Objetivo: Aumentar o vocabulário, conhecer a poesia e rima, valorizar a expressão oral
2 Atividade: História do bumba-meu-boi
Objetivo: conhecer os personagens; as falas; a sequência da história;
Realização de uma dramatização da história pelas crianças
3 Atividade: Leitura de cordel que fala sobre o carro de boi
Objetivo: Identificar as diferenças entre os meios de transportes antigos e atual. Conhecer
os meios de transportes antigos e novos (através de fotos)
Construção de um meio de transporte com sucata
4
Atividade: Conhecer as formas geométricas e a construção de um meio de transporte usando
as formas geométricas. Construção de um meio de transporte usando as formas geométricas.
5 Atividade: Leitura de cordel que fala sobre o sertão
Objetivo: Conhecer o sertão, o clima, vegetação, conhecer o mandacaru, conhecer plantas e
os cuidados que devemos ter com elas, plantar e observar o crescimento de um pé de feijão.
Hora do
recreio e
vivências
lúdicas
A hora do recreio é alternada por turma devido ao tamanho do espaço. Enquanto uma turma
tem recreação no pátio outras assistem vídeos e aguardam a hora do lanche. Os momentos
de recreação no pátio e sala de vídeo as crianças são observadas pelas auxiliares e às vezes
professores quando tem comemorações , teatro e apresentações.
Este espaço tem um escorrego, cavalinhos e bambolês e bolas que são guardados e usados
quando solicitados pelas crianças.
Nas atividades observadas, não há uma postura padrão para garantir a atenção das
crianças, em toda e qualquer atividade, é preciso romper com a visão tradicional de disciplina,
e trabalhar o conteúdo disciplinar de forma integrada de acordo com os objetivos
pedagógicos. O espaço físico da sala é de três por quatro metros com quatro mesas com
quatro cadeiras cada, um armário grande, um pequeno, mais a mesa e cadeira da professora.
Além disso, a porta da sala fica em frente ao banheiro, dificultando a concentração. A sala
tem pouca ventilação, não contribui para a locomoção das crianças.
A hora do recreio, não é planejada, o professor não participa desse momento. O espaço
onde as crianças é pequeno, quando as crianças começam a brincar, são interrompidas
para arrumação de mesas para a hora do lanche e/ou refeições. Quando as crianças descem
para o pátio disputam o espaço e os brinquedo de maneira desordenada criando ansiedade e
brigas.
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Quadro 4- Aulas da Escola B
Nestas práticas trabalharam bem a coordenação motora geral, o ritmo, diferentes
sons, a interação, comunicação, a disciplina, a orientação corporal etc. No entanto, essas
aulas não são associadas a outras disciplinas de forma integrada, professora faz um belo
trabalho auxiliando a atenção, a concentração das crianças, mas não existe uma
intencionalidade nos objetivos que contribua para o desenvolvimento integral da criança . A
hora do recreio, as brincadeiras são livres, não existe uma intencionalidade e nem
acompanhamento planejado.
Aulas Sequências Didática
1 Atividade: Reciclagem de lixo
Objetivo: Conscientização da importância da coleta seletiva e os cuidados que deem
ter em armazenar o lixo
Identificar os perigos do lixo e a importância de selecionar os diferentes tipos de lixo
Elaboração de brinquedo com sucata
2 Atividade: Dança Figurativa
Objetivo: Desenvolver habilidades motoras, noções de higiene, socialização
Trabalhar os movimentos através de estímulos musicais, aspectos sensoriais, a
interação, as regras, a tolerância e o respeito
3 Atividade: Dança Figurativa
Objetivo; trabalhar a imaginação, a criatividade, a atenção, concentração
O esquema corporal, a estruturação espacial e temporal
4 Atividade: Dança Figurativa
Objetivo: Trabalhar aspectos culturais e regionais, através de cantigas de roda
Desenvolver movimentos coletivos associados às imagens musicais
Promover as relações entre movimento, ritmo e imagens
Favorecer a coordenação, a lateralidade, o equilíbrio , a dicção, a fluência verbal e
vocalização
5 Atividade: Dança Figurativa
Objetivo: Ensaio d coral para apresentação de músicas de natal
Trabalhar o tempo, o ritmo, a harmonia, as relações interpessoais
Proporcionar momentos de alegria e prazer
Desenvolver a oralidade, a comunicação, a cooperação, o respeito,
Trabalhar a atenção, concentração o equilíbrio a afetividade, emoções e
coordenação motora, e expressão corporal
Hora do recreio e
vivências lúdicas
Brincadeiras livre, no parque, com jogos , bambolês, bola, pega-pega, corda,
brinquedos artesanais, pé de pau e gangorra.
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Quadro 5 – Aulas da Escola C
1 Atividade: campanha do uso correto do uso de banheiros
Objetivo: Identificar os problemas existentes e consequências do mal uso do
banheiro; apontar solução e pintar imagens com objetos de um banheiro
Afixar nos banheiros os avisos elaborado e sugerido por eles.
2 Atividade: Produção de um dos símbolos de Natal – uma árvore
Objetivo: Desenvolver a imaginação, a criatividade, a coordenação motora grossa e
fina, a cooperação, a integração, o expressão corporal, a comunicação;
Desenvolver a linguagem de artes, a expressão e comunicação, sensações,
sentimentos, trabalhar com cores, pintura e texturas diferentes.
3 Atividade: Nomear objetos
Objetivo: trabalhar a escrita, a coordenação motora fina
Num segundo momento: foi trabalhado a continuação da elaboração da árvore
construindo bolas com diferentes texturas e materiais
4 Atividade: Literatura do livro Magia do Lixo de Jonas e Kátia Rocha
Objetivo: desenvolver a oralidade, a conscientização da importância de cuidar da
natureza; destacar diferentes matérias reciclados e a importância de seu
aproveitamento.
5 Atividade: Construção de uma carta e o preenchimento de um envelope
Objetivo: Trabalhar a oralidade e a escrita, a socialização e a comunicação;
Identificar aspectos importantes para se construir uma carta passo –a - passo.
Hora do recreio
e vivências
lúdicas
Brincadeiras com pernas de pau, sossega menino (brinquedos artesanais)
Brincadeiras livres, em parque e pátio em contato com terra, plantas, água, sol e ar.
Nas atividades realizadas pelas crianças desse grupo foram trabalhados os
aspectos: sócio-afetivos, cognitivos, emocionais, motores . A professora V em todas as
atividades procurou a dimensão psicomotora estabelecendo uma relação com o ambiente
e com as outras crianças. Os movimentos realizados pelas crianças foram associados aos
objetivos educacionais.
A escola tem uma boa estruturação arquitetônica, um rico espaço na área externa,
onde, as crianças brincam livremente em contato com a natureza, plantas, água, terra e ar.
Encontrei nessa escola brinquedos artesanais muito interessante, para o desenvolvimento da
coordenação motora global, a concentração, percepção ( com o brinquedo perna de
pau e o vai e vem) . Na hora do recreio, as crianças são assistidas por uma auxiliar com a
orientação da professora.
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Quadro 6 – Elementos Psicomotores trabalhados pela Professora da Escola A
Durante a realização das atividades onde as crianças fizeram colagem de sementes
com as pontas dos dedos, recorte, a professora não praticou a interdisciplinaridade, em sua
prática, não demonstrou expressividade e intencionalidade psicomotora, mas uma execução
mecânica. Os alunos demonstraram um certo egoísmo, agressividade, inquietação, falta de
atenção, equilíbrio, dificuldade de se relacionaras, demonstraram também falta de equilíbrio e
coordenação. Vale ressaltar que a sala de aula desse grupo mede somente, 3 por 4 metros
quadrados, isso dificulta a estruturação espacial e o trabalho em equipe.
Quadro - 7 Elementos Psicomotores trabalhados pela Professora da Escola B
Coordenação
Motora Grossa e
|Fina
Coordenação motora grossa e fina; Movimentos dos membros inferiores e superiores,
trabalhos com as pontas dos dedos, colagem, recortes
Percepção
Espacial; gustativa;
Visual e Tátil
Percepção auditiva, espacial, tátil, visual
Estruturação
Espacial/Temporal
Datas comemorativas, dias da semana, ontem, hoje, amanhã
Esquema Corporal
Reconhecimento corporal, uso de mímicas, imitação, trabalhos sensoriais
Relação Inter e
Intra-pessoal
Trabalho coletivo a cooperação,
Equilibração
Equilíbrio nos movimentos ritmados, nos movimentos , na voz e na verbalização.
Atenção e
Concentração
Atenção concentração, através dos ritmos, dos sons
Coordenação
Motora Grossa
|Fina
Trabalhou a coordenação motora fina quando usaram seleção e colagem de sementes com
as pontas dos dedos , recorte, coordenação motora ampla usando os membros inferiores e
superiores.
Percepção
Espacial;
gustativa;
Visual;
Tátil
Percepção auditiva, visual, quando ouviram histórias, fotos, a percepção
Tátil quando usou as pontas dos dedos e o manuseio de diferentes texturas, quando plantou
o feijão no algodão e trabalhou com sucatas, discriminação visual das fotos, dos personagens
das histórias, dos matérias reciclados e das formas geométricas.
Estruturação
Espacial e
Temporal
A cima, abaixo, de lado, perto, longe, um objeto em relação a outros e relação temporal,
antigo, atual, antes, depois, hoje, amanhã, ontem, fim de semana. Noção de velocidade
Esquema
Corporal
O esquema corporal usando mímicas
Relação Inter e
Intra-pessoal
Interação, cooperação, respeito,
Equilibração
Ao preencher espaços vazios com sementes trabalhou o equilíbrio
Atenção e
Concentração
A atenção quando ouviram as histórias e distinguiram as personagens através dos recontos
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As aulas de dança trabalha bem o lado emocional das crianças, a disciplina, a
coordenação motora desses grupos tem uma boa expressividade, boa relação com os
colegas a professora. Segundo relato da professora, houve um grande avanço no desenvol-
vimento dessas crianças desde que começou o projeto das aulas de dança nas quatros escolas
onde existe este projeto, tanto em termos cognitivos, emocionais, afetivos disciplinar.
Participar das aulas de dança para essas crianças, são momentos de alegria e prazer.
Quadro 8 – Elementos Psicomotores trabalhados pela Professora da Escola C
A professora da escola C trabalhou bem os aspectos motores, no entanto, não
demonstrou intencionalidade durante a sua prática. A hora do recreio, não conta com a
participação da professora, muito embora, relatou que esses momentos é importante para o
desenvolvimento da criança. Os alunos dessa professora, demonstraram: uma boa
concentração e atenção, participação, cooperação, respeito, comunicação, percepção e
coordenação.
Coordenação
Motora Grossa
|Fina
Trabalhou a coordenação motora fina quando usaram seleção e colagem de sementes com as
pontas dos dedos , recorte, coordenação motora ampla usando os membros inferiores e
superiores.
Percepção
Espacial;
gustativa;
Visual;
Tátil
Percepção auditiva, visual, quando ouviram histórias, fotos, a percepção
Tátil quando usou as pontas dos dedos e o manuseio de diferentes texturas, quando plantou
o feijão no algodão e trabalhou com sucatas, discriminação visual das fotos, dos personagens
das histórias, dos matérias reciclados e das formas geométricas.
Lateralidade
Esquerda direita,
Estruturação
Espacial e
Temporal
A cima, abaixo, de lado, perto, longe, um objeto em relação a outros e relação temporal,
antigo, atual, antes, depois, hoje, amanhã, ontem, fim de semana. Noção de velocidade.
Relação Inter e
Intra-pessoal
Interação, cooperação, respeito,
Equilibração
Ao preencher espaços vazios com sementes trabalhou o equilíbrio
Esquema
Corporal
O esquema corporal usando mímicas
Relação Inter
e Intra-pessoal
Interação, cooperação, respeito,
Equilibração
Ao preencher espaços vazios com sementes trabalhou o equilíbrio
Atenção e
Concentração
A atenção quando ouviram as histórias e distinguiram as personagens através dos recontos.
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Para coleta de dados, foi utilizado também, uma entrevista com os professores, onde
as escolas foram classificadas em escolas: A;B; C.
Quadro 9- Entrevista com a professora – Escola A
Definição de Psicomotricidade
É o trabalho com movimento dirigido ou não, onde a criança
desenvolve a coordenação motora grossa e fina.
Teve formação
Psicomotora?
Considero muito importante. Pois, ele pode avaliar a participação das
crianças nas brincadeiras.
Trabalha a Psicomotricidade de
forma interdisciplinar
A Psicomotricidade não é trabalhada com intencionalidade com outras
áreas do conhecimento
Pontos que considera importantes
para se trabalhar a Psicomotricidade
O trabalho com a música, teatro, artes e dança são fundamentais para o
desenvolvimento Psicomotor das crianças.
Como o professor avalia o momento
da recreação e vivências lúdicas?
São momentos importantes que possibilita as crianças. O contato com
brincadeiras, jogos, cantigas de roda, o que melhora a relação com o
outro.
Acha importante a participação do
professor na hora do recreio?
Considero muito importante. Pois ele pode avaliar a participação das
crianças nas brincadeiras.
Benefícios dos jogos e brincadeiras
para o desenvolvimento das crianças
de 4-5 anos
Melhora gradativamente a sua desenvoltura corporal, intensifica a sua
relação com o outro e seu desempenho nas atividades desenvolvidas,
etc.
A professor da escola A não teve formação psicomotora, a educadora define
psicomotricidade de forma simplificada limitando a ciência aos aspectos motores da
coordenação motora grosa e fina. Além disso, não trabalha a psicomotricidade de forma
interdisciplinar de maneira intencional. Considera importante trabalhar a psicomotricidade
nas aulas de música, arte, teatro e dança. A professora, não relaciona o corpo como origem
das aquisições cognitivas, e sócio-afetivas. Acha importante a participação de professores na
hora do recreio, no entanto não participa desses momentos.
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Quadro 10- Entrevista com a professora – Escola B
Definição de Psicomotricidade
É a relação existente a abordagem entre a motricidade, a mente e
afetividade de forma a facilitar a abordagem global da criança por
meio de uma técnica.
Teve formação Psicomotora?
Não
Trabalha a Psicomotricidade de
forma interdisciplinar?
Sim. Através da dança (conscientização corporal, noções espacial e
temporal , forma corporal e estímulo musical).
Pontos que considera importantes para
se trabalhar a Psicomotricidade
Através de exercícios: motores, sensórios mentores e
perceptomotores.
Como o professor avalia o momento
da recreação e vivências lúdicas?
Fundamental para a criança perceber a se e perceber os seres e as
coisas que a cercam, em função de sua pessoa, Sua personalidade se
desenvolverá graças a uma progressiva tomada de consciência do
seu corpo, de seu ser e de suas possibilidades de agir.
Acha importante a participação do
professor na hora do recreio?
Não. Este é o momento que a criança tem de explorar sua
criatividade, imaginação de forma livre, possibilitando que a mesma
expresse suas vivências.
Benefícios dos jogos e brincadeiras
para o desenvolvimento das crianças
de 4-5 ano
Domínio e conhecimento corporal. A criança se sentirá bem na
medida em que seu corpo lhe obedece, em que pode utilizá-lo não
somente para movimentar-se mas também para agir.
A professora da escola B, não teve formação Psicomotora, no entanto, definiu bem a
psicomotricidade, apontou elementos importantes par serem trabalhados na psicomotricidade.
Demonstrou bem os benefícios dos jogos e brincadeiras par o desenvolvimento da criança.
A educadora diz que trabalha a psicomotricidade de forma interdisciplinar através da
dança. No entanto, não existe uma colaboração entre as disciplinas, com a finalidade de
promover algum nível de integração.
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Quadro 11- Entrevista com a professora – Escola C
Definição de Psicomotricidade
É uma ciência que estuda o desenvolvimento corporal dos indivíduos :
o andar, a coordenação motora, seu tônus muscular, equilíbrio,
orientação espacial e temporal, esquema corporal, lateralidade..., ou
seja, é mais uma ferramenta para auxiliar no desenvolvimento da
aprendizagem dos sujeitos.
Teve formação
Psicomotora?
Na Universidade, quando estudei a disciplina Corporeidade e
Educação e quando fiz a Pós em Psicopedagogia em ambos os cursos
tive noções de Psicomotricidade.
Trabalha a Psicomotricidade de
forma interdisciplinar?
Creio que aqui na escola sim, pois privilegiamos o brincar com o
corpo, com o espaço físico, com materiais diversos e procuramos
entrelaçar esses momentos com as diversas áreas do conhecimento.
Pontos que considera importantes
para se trabalhar a Psicomotricidade
Como disse anteriormente acho que a psicomotricida-de É mais um
importante instrumento que chega à nós Pedagogas para nos ajudar a
realizar intervenções que possibilitem o bom desenvolvimento da
aprendizagem dos nossos pequenos aprendizes . Considero pontos
importantes para trabalharmos a psicomotricidade na Educação
Infantil: o toque, a orientação espacial e temporal, lateralidade,
coordenação motora e esquema corporal.
Como o professor avalia o momento
da recreação e vivências lúdicas?
Observando como ocorre a participação, atenção e interesse nas
brincadeiras, a criatividade, a relação com os membros do grupo, se
corre, se consegue equlibrar-se, diante de obstáculos como reage –
solicita ajuda ou não, etc. Não esquecendo de levar em conta também
a maturidade das criança
Acha importante a participação do
professor na hora do recreio?
Só de vez em quando, o professor já faz um árduo trabalho na sala,
creio que essa participação no recreio seja um espaço para o professor
recreador e acredito que as crianças também precisam de um momento
livre de intervenções dos educadores. Elas precisam criar suas
brincadeiras, suas regras, tentar resolver seus conflitos, pensar no que
deu certo ou no que deu errado, vivenciar momentos lúdicos próprios.
Tudo isso sob a observação do professor auxiliar de desenvolvimento
infantil.
Benefícios dos jogos e brincadeiras
para o desenvolvimento das crianças
de 4-5 anos
Elas estarão desenvolvendo sua autonomia, poder de argumentação,
criando vínculos, exercitando sua criatividade, liberdade, resolvendo
conflitos, expressando-se através de movimentos corporais,
aprendendo, etc.
A professora da escola C, em sua formação estudou a psicomotricidade, definiu
bem a psicomotricidade, seus benefícios para o desenvolvimento global da criança.
Em suas aulas demonstrou fazer uma articulação das atividades motoras com as diferentes
disciplinas. No entanto, na hora do recreio não participa desse momento, porém, delega
a uma auxiliar algumas orientações importantes quanto os brinquedos e as brincadeiras
realizadas pelas crianças. Nessa escola, o espaço físico da área externa colabora bastante
para que as crianças desenvolva bem suas brincadeiras e criatividade.
61
4 ANÁLISE DOS DADOS
No estudo de campo, foram priorizadas algumas questões consideradas fundamentais
para a discussão, como o grau de conhecimento, intencionalidade e aplicação da
psicomotricidade como prática interdisciplinar no processo de ensino-aprendizagem de
crianças de 4-5 anos por professores de escolas Municipais de Educação Infantil da cidade
de Salvador. O quadro 12 traz uma análise baseada nas respostas dos professores durante a
realização das entrevistas
Quadro – 12 Análise baseadas no resultado das respostas dadas pelos professores durante as
Entrevistas.
Percentagem Professores na Prática
66% Dos professores de educação infantil entrevistados disseram que não teve
nenhuma formação psicomotora.
33%
Em sua Graduação cursou uma disciplina chamada Corporeidade e Educação.
66%
Dos professores afirmaram que a dança e a música são importantes para o
desenvolvimento corporal, orientação espacial e temporal e psicomotor das crianças.
33%
Considera uma instrumento importantes para os pedagogos para ajudar a realização
de intervenções que possibilitem o bom desenvolvimento da aprendizagem das crianças.
Acha importante trabalhar o emocional, o afetivo, a coordenação motora, o esquema
corporal, a orientação espacial e temporal e a lateralidade.
66%
Acham importantes as brincadeiras, os jogos para que a criança se perceber e
perceber o outro e as coisas que o cerca.
33% Considerar um momento para se observar, ter atenção ao interesse das crianças
nas brincadeiras, e como mediadora quando for solicitada.
Os alunos da professora que cursou uma disciplina de Corporeidade e Educação em
sua Graduação, demonstraram: melhor autonomia, equilíbrio, atenção, concentração,
expressividade, interação, cooperação além disso, esses alunos apresentaram um melhor
desenvolvimento em seu processo de aprendizagem.
62
Vale ressaltar também, o desenvolvimento dos alunos da professora de dança e
música, revelando uma melhor expressividade, comunicação, reconhecimento corporal,
organização espacial e temporal, além de demonstrarem desejo de aprender. De acordo com
Salles, (2007), a maioria das brincadeiras acompanhadas de música apresenta movimentos em
sentidos variados: para trás, para frente, para direita, para a esquerda, para cima e para baixo.
Quando brincamos , estamos na realidade “treinando” o nosso corpo e a nossa mente para
enfrentar o mundo que nos espera.
Na escola A – o problemas enfrentados foram condizentes com as falhas detectada
durante a observação e relacionados com o tema proposto. Por exemplo: situações que
envolviam contato corporal entre os alunos geravam desentendimentos, ansiedade, e
agressividade. Outro aspecto a ressaltar é a falta de atenção, concentração e equilíbrio durante
as atividades desenvolvidas. Com relação a escola B, os alunos demonstraram uma grande
facilidade de se relacionar e expressar com os outros colegas , revelaram uma boa
concentração, atenção, equilíbrio, uma boa auto-estima, auto-conhecimento e integração
social.
Os alunos da escola C apresentaram um bom desenvolvimento em todos os
componentes descritos dos aspectos psicomotores, tendo no equilíbrio, atenção e
concentração, na organização espacial e temporal, e relacionamento inter e intra-pessoal os
aspectos mais desenvolvidos. O resultado positivo dos alunos das escolas B e C foram
evidenciados nos momentos de satisfação, prazer. Os alunos tem uma melhor participação,
atenção, equilíbrio, concentração em sala de aula, exercem um boa expressividade corporal.
Segundo relato da professora, a aula de dança é usada pelos professores como estímulo para
que os alunos cumpram com suas atividades de sala de aula e como forma disciplinar das
crianças participantes.
A professora da escola C demonstrou conhecimento da prática psicomotora, da sua
importância para o desenvolvimento da criança, no entanto, não participa da hora do recreio,
das atividades diárias. Durante as atividades realizadas em sala de aula, procurou ressaltar os
aspectos psicomotores, embora não explorou todos os aspectos motores, pois, sua
preocupação maior era os aspectos cognitivos.
No contexto da escola, os problemas levantados, não são apenas físicos, emocionais,
ou cognitivos, e a solução não se encontra apenas em sala de aula, nem nas práticas
63
pedagógicas, nem no trabalho individual do professor, mas em todas as instâncias da vida
escolar. Na escola A por exemplo: no grupo observado, a sala é pequena demais, três por
quatro metros, as crianças ficam sem opção para locomover, o pátio além de ser pequeno, os
brinquedos são poucos e não ficam acessível as crianças, além disso não tem quem
administre os brinquedos para as crianças, criando assim disputa e desentendimentos
constantes; o tempo é curto na hora do recreio, pois esse mesmo espaço serve de refeitório.
Uma das razões do insucesso de muitas experiências educacionais nas práticas
psicomotora é a falta de formação psicomotora, outra é a dificuldade de a escola construir
ambientes educativos. Para Almeida, um bom trabalho psicomotor na educação infantil,
precisa de uma junção dos seguintes fatores: planejamento, compromisso, comportamento,
materiais e espaços. Outro fator importante que a psicomotricidade tem na Educação Infantil é
o movimento, por ser fundamental para o desenvolvimento harmonioso da criança nas áreas
social, cultural, expressiva, cognitiva, motora, afetiva, perceptiva e artística.
Le Boulch defende que a educação psicomotora deve ser considerada como uma
educação de base da escola primária. Ela condiciona todos aprendizados pré-escolares e
escolares, leva a criança a tomar consciência de seu corpo, da lateralidade, a situar-se no
espaço, a dominar o tempo, a adquirir habilmente a coordenação de seus gestos e
movimentos. Para o autor, a educação Psicomotora deve ser praticada desde a mais tenra
idade; conduzida com perseverança, permite inadaptações, difíceis de corrigir quando já
estruturadas.
Para Vinicíus e Ricardo (2207) a educação Psicomotora abrange todas as
aprendizagens da criança e se dirige todas elas, seja individual ou coletivamente. É as
vertente da psicomotricidade que auxilia os alunos em suas atividades escolares, com objetivo
de dar base para que a criança se desenvolva intelectualmente a partir de experiências
inicialmente motoras, mas que requerem uma descarga de suas funções cognitivas para sua
realização.
O Referencial Nacional para Educação Infantil RCNEI (2208), destaca a importância
de compreender o caráter lúdico e expressivo das manifestações da motricidade infantil. As
brincadeiras que compõe o repertório infantil e que variam conforme a cultura regional
apresentam-se como oportunidades privilegiadas para desenvolver habilidades no plano
64
motor, como empinar pipas, jogar, bolinhas de gude, atirar com estilingue, pular amarelinha
etc. Na faixa etária de quatro a seis anos constata-se uma ampliação do repertório de gestos
instrumentais que exigem coordenação de vários segmentos motores e o ajuste a objetos
específicos, como recortar, colar, encaixar pequenas peças entre outros.
Froebel, (1991), entende que, nas brincadeiras, a criança tenta compreende seu mundo
ao reproduzir situações da vida. Pelo uso do brinquedo, a criança aprende a agir de forma
cognitiva; os objetos têm um aspecto motivador para as ações da criança, desde a mais tenra
idade. A brincadeira é o modo predominante que a criança utiliza para se relacionar e para
compreender o mundo os outros e a si mesmo. Enquanto a criança brinca o professor pode
observar e avaliar como ela se expressa corporal e verbalmente, qual o prazer que ela sente,
ou não ao realizar os desafios propostos, que noções de idéias ela está formando enquanto age
e interage com outros e com a tarefa a ser executada no jogo.
Para Smole, (1996), esse recurso de interpretação das expressões corporais pode
servir como indicador dos processo de avaliação do desenvolvimento cognitivo da criança na
educação infantil. A autora considera também que o brincar é raciocinar, descobrir, persistir e
perseverar; aprender a perder percebendo que haverá novas oportunidades para ganhar;
esforçar-se, ter paciência, não desistindo facilmente. E complemente, quando brinca a criança
é colocada diante de desafios e problemas, devendo, constantemente buscar soluções para as
situações a ela colocadas. Portanto, brincar também é uma forma de resolver problemas e o
instrumentos utilizada é o corpo. Para perceber como a criança soluciona, ou vence, o
desafio, é preciso lembrar que há uma linguagem que se expressa nos gestos, é fundamental
observar a manifestação corporal da criança e tentar “ler” o que a criança está expressando
com seus gestos.
De acordo com Smole (1996), a criança desenvolve-se e matura-se no contato com o
mundo, vivenciando e experimentando as relações com o corpo, que é, no início, o seu único
meio de comunicação. Todas as suas inaugurações são corporais e estão intimamente ligadas
à emoção e ao prazer. A corporeidade é a linguagem mais primitiva desse indivíduo desde sua
fase uterina. A escola pode utilizar o corpo como fonte primária: aquela na qual a criança
pode observar e engajar-se em padrões de atividades conjuntas, progressivamente mais
complexas com ou sob a orientação direta de pessoa ou de pessoas que já possuam
65
conhecimentos e habilidades ainda não adquiridos pela criança e com quem ela desenvolveu
um relacionamento emocional positivo.
No entanto, a escola vem privilegiado ao longo dos anos as chamadas atividades
intelectuais afirma e, em geral, apela somente ao cérebro e age como se as crianças devessem
permanecer com braços cruzados e atados a si mesmas. No caso da matemática, a proposta de
olhar o corpo como elemento de manifestação da inteligência foi praticamente expurgada
das ações docentes e a imagem mais frequente é a de crianças presas aos bancos escolares a
quem não é permitido expandir-se, incluir todos os aspectos corporais nas novas
aprendizagens, deixando apenas o cérebro em funcionamento.
Dissociar corpo – mente no processo de aprendizagem na educação de crianças de 4-5
anos , é fragmentar a criança em cognitivo, afetivo e motor. Quando a criança desempenha
movimentos intencionais, ela está coordenando os domínios cognitivos, psicomotores e
afetivo. A Educação Infantil é o espaço ideal e responsável para promover a integração dos
aspectos físicos, afetivos, cognitivos e sociais da criança. As instituições infantis têm como
objetivo desenvolver a individualidade e a cidadania de cada criança mediante as atividade
pedagógicas, brincadeiras e cuidados necessários para o seu bem estar.
66
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os resultados apresentados neste trabalho, demonstraram, que existe uma lacuna
no que diz respeito a formação em psicomotricidade desses profissionais de educação
infantil. A falta de conhecimento, dificulta as ações educativas e consequentemente, as
crianças perdem a oportunidade de ampliar suas vivências corporais, de beneficiar a
intencionalidade do movimento e uma melhor internalização e assimilação das aquisições
cognitivas.
A hora do recreio, é um momento, para a criança brincar esse momento deve ser
valorizado, vivenciado pelas crianças, em grupos ou individualmente. Através do brincar a
criança experimenta, organiza-se, regula-se, constrói normas para si e para o outro.
Existe uma valorização do cognitivo em detrimento do motor, do afetivo, do
emocional e social. Dessa forma, o conhecimento é fragmentado, tirando a visão holística
que a psicomotricidade exerce.
Sabemos que hoje, a criança precisa ser educada de forma globalizada, não podemos
deixar de lado os aspectos psicomotores e o aspecto afetivo, em favor dos aspectos cognitivo,
pois se uma área estiver sendo mais desenvolvida em detrimento de outra, certamente esse
desequilíbrio acarretará uma desorganização do indivíduo, em sua dimensão global. Como
mediadores do processo ensino-aprendizagem precisamos promover práticas psicomotoras,
voltada ao movimento, as brincadeiras, jogos, vivências, à socialização e à afetividade,
sempre adequada às necessidades específicas de cada aluno para que ele sinta a segurança
emocional necessária ao seu desenvolvimento.
O novo contexto educacional para a educação infantil, requer estruturas curriculares
abertas e flexíveis , isso envolve novas concepções de currículo, em vez de um método
único de ensino, baseado em um processo cognitivo, propomos o encorajamento da
familiaridade das crianças com novas situações, a legitimação, para elas, de um espaço de
participação amplo e diversificado nas atividades propostas, a psicomotricidade é uma prática
que favorece essa participação.
67
Portanto a educação Psicomotora deve ser uma formação de base indispensável para
toda criança, pois esta oferece uma melhor capacitação ao aluno para maior assimilação das
aprendizagens escolares . O profissional da educação infantil deve proporcionar que as
crianças tenham experiências com o próprio corpo, com o corpo do outro e com objetos.
Esses exercícios devem ser muito ricos, compostos de jogos e brincadeiras, principalmente os
que pertence a sua cultura. Quando o professor, conscientizar-se de que, a educação pelo
movimento é uma peça mestra da área pedagógico, que permite á criança resolver mais
facilmente os problemas atuais de sua escolaridade e a preparar, por outro lado, para a sua
existência futura de adulto, essa atividade não ficará mais para segundo plano.
68
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REFERENCIAL CURRICULAR NACIONAL PARA A EDUCAÇÃO INFANTIL; Volume 3; Brasilia, 1988.
APÊNDICE
72
APÊNDICES
Quadro 1 – Elementos Psicomotores trabalhados pela Professora da Escola A;B;C
Coordenação
Motora Grossa
|Fina
Percepção
Espacial;
gustativa;
Visual;
Tátil
Estruturação
Espacial e
Temporal
Esquema
Corporal
Relação Inter e
Intra-pessoal
Equilibração
Atenção e
Concentração
73
APÊNDICES
Quadro 2 - Entrevista com a professora – Escola A;B; C
Definição de Psicomotricidade
Teve formação
Psicomotora?
Pontos que considera importantes para se
trabalhar a Psicomotricidade
Como o professor avalia o momento da
recreação e vivências lúdicas?
Acha importante a participação do
professor na hora do recreio?
Benefícios dos jogos e brincadeiras para o
desenvolvimento das crianças de 4-5 anos.