UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA · Um estudo sobre as estratégias utilizadas pelas...

57
PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE SÃO JOSÉ CENTRO UNIVERSITÁRIO MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ CURSO DE PEDAGOGIA TATIANE CATARINA DOS SANTOS EDUCAR CRIANÇAS PEQUENAS COM LIMITES E AFETIVIDADE: Um estudo sobre as estratégias utilizadas pelas professoras de Educação Infantil São José 2011

Transcript of UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA · Um estudo sobre as estratégias utilizadas pelas...

PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ

FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE SÃO JOSÉ

CENTRO UNIVERSITÁRIO MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ

CURSO DE PEDAGOGIA

TATIANE CATARINA DOS SANTOS

EDUCAR CRIANÇAS PEQUENAS COM LIMITES E AFETIVIDADE:

Um estudo sobre as estratégias utilizadas pelas professoras de Educação

Infantil

São José

2011

PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ

FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE SÃO JOSÉ

CENTRO UNIVERSITÁRIO MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ

CURSO DE PEDAGOGIA

TATIANE CATARINA DOS SANTOS

EDUCAR CRIANÇAS PEQUENAS COM LIMITES E AFETIVIDADE:

Um estudo sobre as estratégias utilizadas pelas professoras de Educação

Infantil

Trabalho elaborado para a disciplina de Conclusão de Curso (TCCII) do Curso de Pedagogia, como requisito parcial para aprovação no curso de graduação em Pedagogia do Centro Universitário Municipal de São José- USJ. Orientadora: Profa. MSc. Arlete de Costa Pereira

São José

2011

TATTIANE CATARINA DOS SANTOS

EDUCAR CRIANÇAS PEQUENAS COM LIMITES E AFETIVIDADE:

Um estudo sobre as estratégias utilizadas pelas professoras de Educação

Infantil

Trabalho de Conclusão de Curso elaborado como requisito parcial para obtenção do grau de licenciado em Pedagogia do Centro Universitário Municipal de São José – USJ avaliado pela seguinte banca examinadora:

BANCA EXAMINADORA

________________________________________________________ Profª. Msc. Arlete de Costa Pereira

Orientadora- USJ

_________________________________________________________ Profª. Msc. Moema Helena Koche de Albuquerque Kiehn

Examinadora - FAED/UDESC

____________________________________________________

Profª. Msc. Alexsandra de Souza Münich Membro Examinadora - USJ

São José, 21 de Novembro de 2011

Dedico este trabalho ao meu pai, Valdori e minha mãe Catarina, que durante estes

quatro anos, foram essenciais para minha formação, dando força e me acompanhando em cada momento vivenciado dentro e fora

da Universidade.

AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus, por te me proporcionado a vida, pelo ar que respiro

todos os dias, pela família que me encaminhou e a força dada em cada instante da

minha vida.

Ao meu pai Valdori e minha mãe Catarina, pela dedicação, carinho e paciência em

todos os momentos. Amo vocês.

À minha irmã Thais, por ter me suportado durante estes quatro anos, pelas tantas

noites de incomodo e mal dormidas por minha causa. Amo você.

Ao meu amado namorado Ronaldo, que me respeitou em seus momentos de

estresses, aflição, insegurança e alegria. Pois, sempre com seu jeitinho sorridente

me passou confiança e segurança, fazendo-me acreditar em mim mesma e me

dando força para correr atrás dos meus objetivos. Amo você amor.

Às minhas amigas acadêmicas Camila e Laiana, que foram peças fundamentais

para durante este período, onde dividimos angústias, insegurança, alegria e

descontração em momentos de muitas risadas, vocês estarão eternamente

guardadas em meu coração, meninas. Adoro vocês.

Aos demais amigos da turma, que de modo geral, me deram força e consolo quando

me sentia desamparada e sozinha. Obrigada galera.

E aos meus familiares que a todo o momento perguntavam como estavam os

estudos, agradeço minhas madrinhas Maria Rosa e Geni, meu padrinho Valdemiro,

minhas tias, tios, primos e amigos pela preocupação e admiração sentida por mim.

Obrigada e amo vocês.

Agradeço a instituição pela atenção, dedicação, confiança e liberdade de possibilitar

fazer meu trabalho. Agradeço a direção, as professoras, e principalmente as

crianças, que contribuíram para que cada encontro fosse um novo encontro, onde

aprendia muito com elas. Obrigada a todas.

Agradeço as professoras Alexsandra e Moema que gentilmente aceitaram participar

da minha banca e contribuíram para a minha formação acadêmica.

E agradeço de coração, uma pessoa muito especial, minha orientadora Arlete, que a

cada encontro de orientação me enchia de confiança e segurança, com seu jeitinho

meigo e carinhoso comigo. Obrigada professora, você foi uma peça essencial nesse

processo tão delicado, és uma pessoa muito especial não só para mim, mas para

todos nós. Adoro você!

Maria Teresa de Calcutá deu-me muita inspiração com seu poema e oração, que li através do livro Padre Marcelo Rossi, Ágape (2010, p. 20 e 21).

O dia mais belo?

Hoje

A coisa mais fácil?

Equivocar-se

O obstáculo maior?

O medo

O erro maior?

Abandonar-se

A raiz de todos os males?

O egoísmo

A distração mais bela?

O trabalho

A pior derrota?

O desalento

Os melhores professores?

As crianças

A primeira necessidade?

Comunicar-se

O que mais faz feliz?

Ser útil aos demais

O mistério maior?

A morte

O pior defeito?

O mau humor

A coisa mais perigosa?

A mentira

O sentimento pior?

O rancor

O presente mais belo?

O perdão

O mais imprescindível?

O lar

A estrada mais rápida?

O caminho correto

A sensação mais grata?

A paz interior

O resguardo mais eficaz?

O sorriso

O melhor remédio?

O otimismo

A maior satisfação?

O dever cumprido

A força mais potente do mundo?

A fé

As pessoas mais necessárias?

Os pais

A coisa mais bela de todas?

O amor

RESUMO

O presente trabalho foi realizado em uma instituição filantrópica do Município de São José. Tem como objetivo observar as estratégias que as professoras da educação infantil utilizam para estabelecer limites com as crianças. O trabalho iniciou com as observações participativas, juntamente com os registros e algumas fotografias, seguidas de um questionário. Os públicos alvos inicialmente foram as professoras que trabalham com crianças de quatro a cinco anos, mas, no decorrer da pesquisa fui ampliando as observações para todas as faixas etárias possíveis. Diante das observações, foi possível perceber que muitas professoras da instituição seguem modelos muito parecidos, não buscando novas estratégias de estabelecer limites, e não valorizando a criança que tem na sala. A partir das análises ficou claro que muitas vezes as crianças fazem birras, ou se apresentam sem limites, para chamar a atenção do adulto, buscando desta forma uma orientação mais clara e afetuosa sobre o que pode ou não pode ser feito dentro da instituição. Palavras-Chave: Professoras. Limites. Estratégias. Afetividade.

LISTAS DE ILUSTRAÇÕES

FIGURAS

Foto 1 – Os combinados da turma I Período....................................................28

Foto 2 – Os combinados da turma II Período...................................................31

Foto 3 – Ajudante do dia...................................................................................33

Foto 4 – Os combinados da turma Maternal III.................................................34

LISTAS DE ABREVIATURAS

ANPED - Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação ECA- Estatuto da Criança e do Adolescente

CAPES - Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior

NUPEIN - Núcleo de Estudos e Pesquisas da Educação na Pequena Infância. SCIELO – Online - Scientific Electronic Library USJ – Centro Universitário Municipal de São José

UFSC - Universidade Federal de Santa Catarina

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 12

2 PERFIL DA INSTITUIÇÃO ..................................................................................... 17

3 PERCURSO METODOLÓGICO ............................................................................ 19

3.1 DOS REGISTROS PARA UM OLHAR MAIS ATENTO .............................. 19

4 LIMITES NA EDUCAÇÃO INFANTIL: O QUE DIZEM AS PRODUÇÕES

TEÓRICAS ACERCA DISTO? ................................................................................. 25

5 COMO OS LIMITES APARECEM NA EDUCAÇÃO DAS CRIANÇAS

PEQUENAS/OU NAS SALAS DE EDUCAÇÃO INFANTIL ..................................... 28

5.1 OS COMBINADOS DA TURMA, O QUE PODE E O QUE NÃO PODE, O

QUE É LEGAL E O QUE NÃO É LEGAL, OU AS REGRAS DE CONVIVÊNCIA ..... 28

5.2 E QUANDO AS CRIANÇAS NÃO CUMPREM OS COMBINADOS? .......... 30

5.3 A CADEIRA DO PENSAMENTO: “PARA NÃO COMEÇAR A SEMANA

AGITADO OU AGITANDO...” .................................................................................... 35

5.4 TROCAR DE SALA: “SE VOCÊ NÃO PARAR AGORA VOU TE LEVAR EM

OUTRA SALA. A CRIANÇA BALANÇOU O OMBRO E DISSE: - E DAÍ!” ................ 43

6 A AFETIVIDADE COM AS CRIANÇAS PEQUENAS ............................................ 47

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................... 51

REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 53

12

1 INTRODUÇÃO

Falar sobre crianças pequenas e a necessidade de colocar limites, nos dias

atuais, é uma questão delicada. A ideia de que muitas crianças não têm limites é

quase consensual. A „falta de limites‟, encontrada nas crianças pequenas vem

chamando a atenção e se tornando uma preocupação para as professoras e

professores que atuam nas instituições educativas, nos dias de hoje. Refletindo

sobre este fato, percebe-se que as crianças pequenas, ao chegarem às creches, já

trazem consigo uma gama de costumes e modos de agir que, muitas vezes,

interpretamos como „rebeldias e birras‟. Elas constroem essas posturas em casa, no

meio em que convivem e também a partir do que observam na televisão, uma vez

que muitas das famílias passam a maior parte do dia no trabalho, fora de casa e

longe delas. Então, ao final do dia, quando mães e pais retornam para seus lares,

para junto de suas crianças, às vezes, deixa suas crianças fazerem tudo o que

querem, seja para compensar o tempo ausente ou mesmo para evitar conflitos.

Outra característica da atualidade é que as crianças estão frequentando as

instituições de Educação Infantil cada vez mais cedo. Muitas já vão para as

instituições desde os primeiros meses de vida, transferindo para a instituição de

educação e cuidados coletivos, muitas das responsabilidades que antes eram das

famílias.

O objetivo da pesquisa é conhecer as diferentes estratégias que professoras

e professores de Educação Infantil utilizam para construir limites com as crianças e

as possibilidades de estabelecer esses limites sem deixar de lado a afetividade.

Parto do pressuposto de que em muitos momentos não se trata de construção, mas

de imposição de limites, considerando os desafios sociais que estão postos na

atualidade.

Outro ponto destacado na pesquisa é a questão da afetividade, refletindo

sobre as possibilidades de construir limites com as crianças pequenas sem deixar de

lado o afetivo, de forma que as professoras respeitem seus direitos garantidos em lei

e, ao mesmo tempo, fazendo-as entender que os limites são essenciais para garantir

esses direitos a todas as crianças e viver coletivamente em sociedade.

A pesquisa foi embasada principalmente nas ideias de Yves de La Taille

(2002), Augusto Cury (2008), Içami Tiba (2006), e também em estudos e pesquisas

elencadas no levantamento bibliográfico.

13

A pesquisa de campo foi realizada em uma instituição filantrópica, localizada

no Município de São José, tendo como público alvo, um grupo de crianças que

frequentam o II período, e com idade entre quatro e cinco anos.

O trabalho de campo contou com observações participantes junto às crianças

e professoras e, ao término das observações, foi encaminhado às professoras um

questionário acerca da temática, para fazer o cruzamento dos dados observados

com as respostas das profissionais à luz das teorias elencadas.

O interesse pelo objeto de estudo foi se constituindo, na minha trajetória

acadêmica e profissional, nas últimas fases do curso de Pedagogia.

A partir da 5° fase, comecei a sentir o desejo e a necessidade de trabalhar na

área da educação, com crianças pequenas. Até então, não tinha nenhuma

experiência profissional na educação, trabalhava em uma empresa de informática,

no setor financeiro. Ao terminar o Ensino Médio, fiquei dois anos sem estudar,

estava ainda na dúvida em qual curso me aperfeiçoar. Foi quando pessoas muito

próximas (minha cunhada e meu namorado) me aconselharam a fazer o vestibular

para Pedagogia, pois acreditavam que eu levava jeito para trabalhar com crianças,

uma vez que eu era uma pessoa calma, serena e afetiva com os pequenos. Mesmo

não sabendo bem o que significava Pedagogia, fiz o vestibular e para minha

surpresa passei, sendo o primeiro vestibular prestado.

Durante as aulas sempre ouvia minhas amigas, acadêmicas, relatarem suas

experiências vivenciadas com suas turmas de crianças, nas instituições em que

trabalhavam e fui percebendo que eu não tinha experiências parecidas e que fossem

tão ricas, intensas, desafiadoras quanto as minhas colegas e com isto, fui ficando

cada vez mais desejosa de trabalhar com crianças pequenas.

Paralelo a isso, nas aulas do Curso de Pedagogia, com a leitura dos textos,

debates e seminários, percebi como o papel da professora é essencial para o

processo de aprendizagem das crianças, desde a Educação Infantil. Com isso,

minha curiosidade e desejo, diante das conversas, dos relatos que surgiam na sala,

foram se intensificando.

Então, saí da empresa que atuava no final de abril de 2010 e soube na

semana seguinte que estavam precisando de auxiliares em uma instituição de

Educação Infantil filantrópica, onde minha tia trabalha há mais de vinte anos e foi

quem me orientou sobre as vagas. Então, me dirigi até a instituição para deixar meu

currículo, na mesma hora já me atenderam, realizando a entrevista e me

14

contrataram para trabalhar com um grupo do Maternal III, crianças de dois a três

anos de idade, e iniciei ali uma nova etapa em minha vida.

Neste novo espaço de trabalho, comecei a prestar a atenção nas conversas

durante os almoços, reuniões, paradas pedagógicas e ouvia muito as professoras se

queixando que suas turmas estavam „sem limites‟, que não estavam „dando conta‟

das crianças e, além disso, não poderiam contar com as famílias, pois as mesmas

vinham pedir “socorro” para as professoras, uma vez que também não sabiam como

por limites em seus filhos.

Durante estas conversas, as professoras partilhavam angústias e também

alternativas, que, por ventura, tivesse funcionado com seu grupo. Era comum ouvir

uma professora aconselhando a outra sobre como agir, como deixar sentado sem

brincar com os amigos, tirar da brincadeira ou até trocar de sala, quando estivessem

aprontando demais.

Essas atitudes me intrigavam, eu não considerava correto agir assim, e

quando eu dava minha opinião sugerindo outras formas de limites, as professoras

falavam que eu pensava diferente porque estava iniciando minha carreira agora,

mas, depois de alguns anos, eu iria mudar meus conceitos.

Tempos depois, eu mesma me encontrava diante de situações limites, com

crianças ainda muito pequenas. Eu não estava „pronta‟1 para lidar com situações de

enfrentamento diário. Um episódio que marcou significativamente minha trajetória e

que foi determinante em minha escolha do objeto de pesquisa foi quando trabalhava

com um grupo de crianças, com idade entre dois anos e meio a três anos. E, certo

dia, um menino, que chamarei de Felipe, chegou à sala, um pouco estranho.

Durante as brincadeiras, se apresentava agressivo com seus amigos e muito

agitado. Dentro da sala, havia umas dez revistas velhas, eu mesma levei para dar às

crianças para brincarem, recortarem, fazerem atividades. Uma das meninas estava

sentada na mesa olhando uma revista, quando chegou o Felipe e puxou da mão da

criança e saiu correndo. A menina veio correndo e chorando reclamar do ocorrido.

Neste momento, eu me encontrava sozinha na sala, pois a professora estava no seu

horário de café, então chamei Felipe para conversar e perguntei por que ele havia

puxado da mão da sua amiga a revista. O mesmo me respondeu que queria ver a

1 Ao me referir em estar pronta, não estou falando em acabada, pois, FREIRE, fala do “incabamento

do ser ou sua inconclusão é próprio da experiência vital” (1996, p. 50). Mas, talvez, com um pouco mais de consistência teórica e maturidade psicológica para lidar com tais situações.

15

revista, então fez aquilo. Olhei para ele, bem séria e disse: - Então, eu vou fazer a

mesma coisa que fizestes com sua amiga, vou puxar da sua mão a revista e vou

devolver para sua amiguinha! E fiz o que havia falado. Ao tirar a revista de sua mão,

o mesmo saiu de perto de mim para pegar novamente a revista. Para que isso não

acontecesse, segurei-o firmemente pelo braço, pensando assim evitar mais um

conflito. Mas, ao segurar sua mão, aconteceu o inesperado, como eu segurava uma

das mãos, ele usou a outra e me deu um tapa no rosto, que foi tão forte que meu

brinco, na hora, saltou longe da minha orelha. No mesmo instante, segurei seu braço

com força, mas quando me dei conta do acontecido, me derramei em lágrimas, eu e

a criança estávamos chorando juntas.

E, neste ano de 2011, trabalhando com uma turma de crianças um pouco

maiores, com idade entre quatro a cinco anos, imaginei que seria diferente, pois

sendo maiores as crianças compreenderiam mais, porém, novamente, me

decepcionei um pouco, pois nessa faixa etária, por demonstrar entenderem mais,

elas acabam enfrentando as professoras com maior intensidade. Novos desafios se

colocaram em meus caminhos e o desejo de compreender melhor as possibilidades

de trabalhar essas questões só foi se intensificando.

Havia, na turma, uma criança de apenas quatro anos, que de tanto

transgredir toda e qualquer norma que eu tentasse estabelecer no grupo, me levou

ao ponto de sentir vontade de desistir. Eu estava diante das mesmas angústias

partilhadas pelas colegas de profissão, sem saber exatamente o que fazer. Como

lidar com uma criança que não acata nenhuma regra, não aceita sugestão e nem

mesmo ordem que venha da professora? Como estabelecer limites? Quais os tipos

de limites podem ser dados às crianças, em casos como este? Não acredito que as

crianças tenham medo das professoras, quero que as crianças aprendam a respeitar

suas professoras, será que esta é apenas uma ideia romântica da educação? Como

conseguir estabelecer limites sem deixar de lado a afetividade?

A inquietação gerada pelas situações vividas, somada aos anseios

partilhados pelas colegas de trabalho, também professoras de crianças pequenas,

me motivou a escolher como temática da pesquisa de Conclusão de Curso, fazer

uma investigação sobre as estratégias utilizadas pelas professoras para trabalhar as

questões dos limites ou a falta de limites, que as crianças pequenas apresentam nos

contextos de Educação Infantil.

Meu objetivo da pesquisa é que venha contribuir para que as professoras

16

possam refletir suas práticas e talvez encontrar alternativas plausíveis para construir

limites e regras de convivência com suas crianças. Para isso, pretendo aprofundar a

questão buscando um aporte teórico consistente que possa me auxiliar a

compreender as ações práticas vigentes nesses espaços de educação e cuidado de

crianças de educação infantil. Realizei a pesquisa empírica, com um grupo de

crianças com idade entre quatro e cinco anos de idade, em uma instituição de

educação infantil.

Diante disto, algumas questões que foram norteadoras da pesquisa: Que

estratégias são utilizadas pelas professoras de Educação Infantil, para

construir limites com as crianças pequenas? Como as/os professores lidam,

no dia a dia, com as questões referentes à transgressão?

Estas questões foram determinantes para focar meu olhar nas observações e

relacionar o observado com os demais dados coletados, possibilitando a análise do

material.

Foi realizada a pesquisa de campo, que aconteceu por meio de observações

participativas durante um período de atividades dirigidas e no parque, descrição da

realidade e registros em diário de campo. O período de observações teve a duração

de duas semanas, com foco nas estratégias utilizadas pelas professoras para

construção de regras e limites com as crianças em contextos de educação infantil.

Na sequência entreguei para as professoras um questionário sobre a temática.

A relevância desse estudo situa-se na possibilidade de dar visibilidade às

questões delicadas, muitas vezes veladas, que estão muito presentes nos dias

atuais, trazendo elementos que possam contribuir para as professoras refletirem,

reconstruírem suas práticas, estabelecendo relações mais respeitosas entre

professoras e crianças e entre as próprias crianças.

17

2 PERFIL DA INSTITUIÇÃO

A instituição localiza-se no Município de São José, é uma instituição

filantrópica, sem fins lucrativos, buscando a colaboração da família com projetos,

com festa, que acontece uma vez ao ano, com o propósito de arrecadar fundos,

além de parcerias de algumas empresas e de doações de alimentos, roupas, entre

outros.

A instituição, onde realizei as observações para o trabalho de conclusão do

curso, atua há mais de dez anos com crianças pequenas, atendendo crianças de

três meses a seis anos, em período integral.

A instituição atende 540 crianças, desde os três meses de vida até 11 anos

de idade. Estas faixas etárias são divididas em três segmentos: primeiro, segundo e

terceiro.

O primeiro segmento atende 115 crianças com idade entre três meses a dois

anos e os grupos são formados por seis salas, do Berçário I ao Maternal II2,

contando com seis professoras e 13 auxiliares, sendo entre duas e três auxiliares em

cada sala e uma professora. Tendo uma coordenadora pedagógica e uma auxiliar de

coordenação. Possui espaços apropriados para o desfralde e para os bebês

engatinhar e dar os primeiros passos. Sendo que há bastante procura de vagas

pelas as famílias.

O segundo segmento atende 325 crianças com idade de dois anos e meio a

seis anos de idade. O grupo é dividido em onze turmas, que vai do Maternal III ao III

Período, tendo uma professora e uma auxiliar por sala, sendo que, uma turma do III

período não tem auxiliar e a outra turma do III período tem uma auxiliar, isto porque

nesta sala encontra-se uma criança autista3.

A estrutura deste segmento é diferente do primeiro, sendo um espaço, mas

aberto, tendo contato com crianças maiores, e é organizada de acordo com as

necessidades das crianças. Neste espaço há uma coordenadora pedagógica, uma

auxiliar de coordenação e uma enfermeira. A procura de vagas pelas famílias é

2 As nomenclaturas e idades correspondentes: Berçário I - Crianças de três meses a onze meses;

Maternal I – crianças de doze meses a um ano e meio; Maternal II – crianças de um ano e meio a dois anos; Maternal III – crianças de dois anos a três anos; I Período – crianças de três anos a quatro anos; II Período – crianças de quatro anos a cinco anos e II Período – crianças de cinco anos a seis anos. 3 Nos grupos em que têm crianças com deficiências, é garantido uma auxiliar para fazer um trabalho

de atenção individual atendendo as necessidades específicas.

18

maior para as turmas do maternal III e do I período.

Já o terceiro segmento, que começou a funcionar em 2003, atendendo

crianças de sete a onze anos no contra turno, ou seja, as crianças ficam um período

na escola, que se localiza ao lado da instituição, e outro período fazem atividades

pedagógicas com as professoras, ou ao contrário, ficam primeiro na instituição, se

arrumam e se dirigem para a escola, sempre seguidas pelas professoras, que levam

e buscam as crianças.

A princípio eram duas turmas, uma no período matutino e outra no período

vespertino, com trinta crianças em cada sala. Com o crescimento da demanda, hoje

o projeto é composto por quatro turmas. No período em que estão no projeto, às

crianças participam, além do reforço escolar, de atividades e oficinas como: música,

dança, capoeira, culinária, escola bíblica, entre outros. Cada turma é acompanhada

por uma professora na sala, não tendo auxiliar. O projeto conta também com uma

coordenadora pedagógica.

A equipe da instituição é composta por oitenta e dois funcionários. Sendo

aproximadamente: vinte professoras, catorze auxiliares, quatro professores de aulas

extras, sete cozinheiras, seis auxiliares de serviços gerais e lavandeira, e para os

serviços braçais, quatro homens, um motorista; dois assistentes sociais, uma

coordenadora geral (diretora), três coordenadoras pedagógicas, uma coordenadora

de serviços gerais, duas auxiliares coordenadoras, um responsável pelo setor

financeiro, um auxiliar administrativo, uma enfermeira e um dentista.

O Projeto Político Pedagógico ressalta, ainda, que o pessoal da direção,

professores e demais funcionários formam uma equipe comprometida com a missão

da instituição e mantém uma relação pedagógica com sintonia e coesão,

empenhando-se em atingir as metas de trabalho, dispostos à troca de

conhecimentos. (PROJETO..., 2010).

Há preocupação por parte da coordenação geral na busca de alternativas que

motivem a autoestima dos profissionais, valorizando não só o trabalho pedagógico

realizado no dia a dia, mas também o lado humano e afetivo de todos os membros

que atuam direta ou indiretamente com as crianças. Assim, mensalmente acontecem

as Reuniões Pedagógicas, em que um período, destina-se à execução dessas

alternativas, o que se pode afirmar, vem fortalecendo o grupo, resultando numa

melhor qualidade do trabalho realizado com as crianças.

19

3 PERCURSO METODOLÓGICO

3.1 DOS REGISTROS PARA UM OLHAR MAIS ATENTO

Em razão de eu ter passado por algumas vivências nada agradáveis, em

turmas de Educação Infantil que atuei, somando isto às minhas angústias e

necessidades de lidar com situações limites, senti o desejo de me aprofundar nas

leituras, procurando compreender um pouco mais acerca da construção dos limites

junto às crianças, buscando novas estratégias e possibilidades de entender minhas

próprias ações, bem como das colegas de trabalho, quando tomavam determinadas

posições nas práticas cotidianas.

Além de buscar novas estratégias, procuro refletir e compreender sobre o que

leva algumas professoras a desistirem de fazer uma prática mais respeitosa com as

crianças, posto que, quando buscava outros jeitos de lidar com a questão, outras

soluções, pensamentos diferentes, muitas professoras vinham até minha pessoa

com um „sermão‟, dizendo que penso diferente porque estou iniciando minha carreira

profissional na educação e com o passar do tempo vou mudar meus conceitos.

Diante destas falas intrigantes e significativas, fico imaginando ou me

questionando se o trabalho na Educação Infantil, com o passar do tempo, vai

mesmo perdendo o gosto de fazer a diferença? Na Educação Infantil, somente a

professora tem vez e voz? As crianças não devem ser respeitadas ou ouvidas? São

estas e outras atitudes observadas que me angustiavam intensamente.

A primeira etapa deste trabalho se iniciou com a elaboração do Projeto do

TCC, realizado no semestre passado, 2011.1, seguido do levantamento bibliográfico

acerca da temática, na tentativa de melhor compreender o objeto a ser pesquisado.

O levantamento bibliográfico foi realizado inicialmente na biblioteca da

Universidade Municipal de São José - USJ, em seguida, na biblioteca da

Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC, e também na internet, em sites

como da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - CAPES,

Scientific Electronic Library Online - SCIELO, Associação Nacional de Pós-

Graduação e Pesquisa em Educação - ANPED, Google Acadêmico e no Núcleo de

Estudos e Pesquisas da Educação na Pequena Infância – NUPEIN, da UFSC.

No segundo semestre foi realizada a pesquisa de campo, que aconteceu por

meio de observações participativas junto às crianças e professoras, durante um

período de atividades dirigidas e atividades livres no parque. Cada momento da

20

realidade foi documentado por meio de registros em diário de campo.

A observação participativa teve como mérito a interação criança/pesquisadora

e professora/pesquisadora, mostrando o interesse em vivenciar com as crianças as

propostas dirigidas pela a professora. Segundo Gil (2007, p. 113):

A observação participativa consiste na participação do conhecimento na vida da comunidade, do grupo ou de uma situação determinada. O observador assume, pelo menos até certo ponto, o papel de um membro do grupo.

O período de observações participantes aconteceu durante as duas primeiras

semanas de agosto de 2011. Teve como foco as estratégias utilizadas pelas

professoras, em contextos da Educação Infantil, para construir regras e limites com

as crianças.

Durante as observações procurei fazer os registros de campo, tendo como

objetivo, relatar cada momento vivenciado e explorar cada olhar e fala das crianças

e professoras e a relação existente entre ambas.

Como ressalta Ostetto (2008, p. 21):

[...] registrar o cotidiano vivido com um grupo de crianças é uma aprendizagem e um desafio, principalmente por que o educador, para tanto, precisa necessariamente observar ações, reações, interações, proposições não só das crianças, mas suas também.

Foi de suma importância ir ao campo com a responsabilidade de construir

bons registros, captando o cotidiano das crianças, para isso, fiquei atenta a cada fala

e gesto das crianças e das professoras, para não deixar passar nenhum momento. E

ao registrar as observações, foi como se estivesse vivenciando novamente aquele

dia, além das sensações boas, pode-se comparar um dia com o outro, percebendo o

que as crianças realmente querem e esperam das professoras.

A escolha da instituição de campo foi uma opção minha, por conhecer e ter

trabalhado na mesma durante algum tempo, já existindo um vínculo com a direção,

com as crianças e as professoras, o que por um lado facilitou, mas por outro

dificultou, pois às vezes, esqueciam o motivo da minha presença na sala e me

solicitavam ajuda, ou seja, a pesquisadora era confundida com a antiga professora.

21

Minha decisão por fazer a pesquisa neste campo se deu a partir das minhas

inquietações surgidas em relação às atitudes de determinadas professoras, onde eu

discordava das suas estratégias, tais como, tirar da sala, deixar na cadeira do

pensamento, onde as crianças se encontravam sentadas por muito tempo e quando

eram tiradas da cadeira não havia uma conversa ou nem era realizado um acordo

entre professora e criança. Enfim, foi considerando estes sentimentos e angústias

que decidi realizar minha pesquisa ali, naquela instituição, buscando entender

melhor estas estratégias usadas pelas profissionais e pesquisar acerca do que

alguns teóricos dizem sobre essas situações, para que pudéssemos refletir estas

posturas e talvez encontrar outras estratégias de estabelecer limites junto às

crianças.

Para a realização da pesquisa, fui conversar com a coordenadora

pedagógica, que achou muito interessante o tema, pois ela mesma disse que

algumas professoras deveriam rever suas posturas diante das crianças, e que se

precisasse de alguma coisa, ela estaria disposta a me ajudar. A coordenadora

mencionou não haver necessidade de levar nenhum tipo de documento para a

pesquisa, pois ela estava ciente dos fatos.

Enquanto eu estava fazendo as observações participantes, a coordenadora

pediu para eu dar um apoio à professora, pois a mesma se encontrava sozinha na

turma, sem auxiliar. Sabendo que a observação era participativa, ela solicitou que eu

tivesse um olhar mais atento nas atividades e na hora do parque. E nas refeições,

que eu pudesse interagir também com as crianças, não só com a turma de sujeitos

da pesquisa, mas com as demais turmas também.

Esta participação foi de grande importância e enriquecimento da pesquisa,

pois assim, me encontrava com várias turmas ao mesmo tempo, podendo observar

as diferentes posturas das professoras diante das crianças, em momentos e

situações do cotidiano, em espaços externos - o parque- sem que elas percebessem

que estavam sendo observadas, portanto, não havia ali uma alteração das posturas

por conta da pesquisa.

Houve uma ampliação do campo de observação, se antes pensava em fazer

apenas com um grupo, este olhar foi ampliado para outros grupos e trouxe novos

elementos para refletir a questão dos limites.

22

Se no princípio havia planejado permanecer observando somente uma turma

do II Período, esta alteração no decorrer das observações veio ao encontro da

necessidade de observar mais sujeitos, não ficar focada somente em uma

professora e em uma só faixa etária. Então, observei outras turmas com idades

diferentes, tendo características diferentes e professoras com temáticas

diferenciadas, percebendo como cada uma trabalha, com sua turma, as regras que

foram estabelecidas no grupo.

Essas observações ocorreram nas salas, nas atividades, nos parques e nas

refeições como já mencionado.

Por esta temática abordar questões delicadas e polêmicas, preferi não usar

imagens em minhas observações. Mas, ao começar a fazer a análise da pesquisa,

surgiu um novo elemento que me fez voltar à instituição e desta vez, com a máquina

fotográfica. Ao olhar para o material registrado, apareceram, em vários momentos,

as regras de convivência construídas por cada grupo, e isto causou uma

curiosidade em conhecer mais os conteúdos destas regras, pois vi ali uma nova

categoria a ser desenvolvida, percebi que uma das estratégias das professoras

trabalhadas em sala é a das „regrinhas‟ construídas. Desta vez, haveria a

possibilidade de fazer registros fotográficos das regras, por se tratar de material

exposto em sala. Então, depois de um mês, voltei à instituição para registrar as

imagens, e ao chegar, fui muito bem recebida pelas professoras e crianças. Dirigi-

me até a sala da coordenadora para pedir sua autorização para fotografar as regras

de convivência dos grupos e expliquei meu objetivo com as imagens e a mesma,

novamente, apoiou minhas colocações e ideias e me liberou para fotografar as

imagens.

Passei de sala em sala para tirar as fotos das regrinhas, onde explicava para

cada professora meu objetivo com as imagens registradas. Infelizmente não são

todas as salas que possuem as regrinhas, mas a maioria considera importante essa

alternativa, além de ser essencial para construir o processo de limites e respeito com

o outro.

Enquanto tirava as fotos das regrinhas, as crianças vinham até mim para

mostrar qual desenho havia pintando, apontando o que podia e o que não podia, e

em uma turma do maternal (dois a três anos), uma criança me chamou, com a mão

23

na cintura e fazendo bico de brava e disse: Pof°, tu veio aqui na sala pa (pra) tira

foto da palede (parede) e não di mim? Dei uma risada, e tirei uma foto dela. A

criança ao ver que eu ia tirar uma foto dela, abriu um sorriso para a foto e disse:

“Agola (agora) deu de foto!”4

Mesmo sendo um material meramente conhecido, as crianças adoram ver

uma máquina fotográfica nas salas, onde fazem poses, com mão na cintura e

sorriem para serem fotografadas e ainda pedem para ver suas imagens na câmera.

As imagens ajudam a professora, na hora de fazer o registro, a perceber a

evolução que a criança apresenta em seu desenvolvimento, em cada atividade

realizada, nas ações cotidianas, nas relações que vivencia no grupo e com seus

pares.

A fotografia é uma forma de registrar um espaço ou um momento, como

afirma Oliveira (2001, p. 37): “O registro fotográfico, outro meio de apreender a

realidade investigada e apresentá-la através de imagens. Imagens que expressam

um espaço/tempo e as situações ali vividas, de forma diferente da palavra escrita.”

Outro ponto relevante a ser considerado na hora de fazer a pesquisa é em

relação aos nomes das crianças. Devido à temática abordar situações delicadas

existentes no cotidiano infantil, decidi não revelar os nomes verdadeiros das crianças

e nem mencionar o nome da instituição e trabalhar com as crianças utilizando nomes

fictícios.

Kramer (2002, p. 47) salienta que em pesquisas que abordam situações

delicadas ou que possam constranger os sujeitos, justifica-se a importância dos

nomes fictícios, trazendo um exemplo:

[...] não revelar a identidade das crianças, seja porque estudavam na única escola da região e seus depoimentos traziam muitas criticas a escola e às professoras, seja por que denunciam problemas graves vividos por elas mesmas e por suas famílias e, nesse caso, a revelação dos nomes se constituía em risco real, tornou-se necessário, em muitas situações, usar nomes fictícios.

Diante da decisão tomada de utilizar nomes fictícios, propus às crianças que

4 A foto tirada não poderá ser publicada na pesquisa, pois não houve tempo suficiente para conversar

com a família e solicitar a autorização. Posteriormente, a foto foi entregue para a professora para que ela pudesse socializar com a criança.

24

escolhessem um nome „artístico‟ para serem chamadas, foi um momento muito

prazeroso e de boas risadas com as crianças durante a escolha dos nomes. Estiquei

no chão um tapete e convidei todos a fazerem uma roda e expliquei o que eu estava

fazendo ali, que eu iria colocar no meu trabalho da faculdade algumas situações

ocorridas na sala, ou no parque, só que não poderia ser colocado no trabalho os

nomes verdadeiros, então as convidei para imaginarem nomes diferentes, ou que

achassem bonitos, ou que gostariam de ser chamadas. Foi muito divertido, pois

algumas crianças escolheram nomes de artistas de filmes, de propaganda de

televisão, nomes de cantores e pronunciaram nomes de seus próprios colegas de

sala e de seus pais. Os nomes escolhidos por eles foram: Gabriel, Manu, Nicole,

Rop Pop, Fúria Rosa, Lucas, Jéssica, Leite Kate, Barbie, Luan Santana, Pedro,

Rebeca, Everton, Harry Poter, Léo, Gabriele, Kauã, Ícaro e Tubarão.

Mesmo depois da nossa conversa sobre os nomes, as crianças ficaram tão

entusiasmadas com os “novos” nomes, que ficaram brincando com suas escolhas e

que não poderia chamar com o nome verdadeiro.

Seguida das observações, foi entregue um questionário para todas as

professoras da instituição pesquisada, fazendo uma leitura mais ampla das

estratégias utilizadas por essa equipe de profissionais, no que se refere à

construção de limites com as crianças. Foram entregues aproximadamente vinte

questionários, não focando somente as professoras, mas também as auxiliares,

tendo um retorno de quinze questionários respondidos.

Essa pesquisa se inseriu no campo das pesquisas qualitativas, uma vez que

busquei no campo, por meio das observações participativas, registros e descrição da

realidade, dados para compreender e aprofundar a pesquisa.

A pesquisa qualitativa tem como mérito exploratório, onde a pesquisadora

pensa livremente sobre sua proposta, tema e seus objetivos perante as

observações, entrevistas e registra por meio de fotos ou diário de campo. Pois, a

coleta de dados na pesquisa qualitativa não tem o interesse em desenvolver

números para comprovar sua pesquisa.

25

4 LIMITES NA EDUCAÇÃO INFANTIL: O QUE DIZEM AS PRODUÇÕES

TEÓRICAS ACERCA DISTO?

A partir da Constituição Federal de 1988, as crianças pequenas começaram a

ter conquistas e espaços garantidos nos documentos legais. Ganharam também o

estatuto de sujeito de direitos. Esses direitos foram reafirmados na Lei de Diretrizes

e Bases da Educação Nacional de 1996, que vai além, proclamando o direito e a

importância de todas as crianças pequenas à Educação Infantil definindo como

primeira etapa da educação básica.

Em 1990, o Estatuto da Criança e Adolescente - ECA foi aprovado no Brasil e

gerou uma conquista explícita para os direitos das crianças e adolescentes

relacionada a questões como educação de qualidade, direito no setor de saúde,

esporte, lazer e alimentação. O ECA coloca como absoluta prioridade a efetivação

destes direitos:

Art. 4° É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do Poder Público assegurar, com absoluta prioridade, à efetivação dos direitos referentes à vida, saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade, e à convivência familiar e comunitária. (ECA, 1999, p.11).

A Educação Infantil é a primeira etapa da educação básica, segundo a Lei

de Diretrizes e Bases da Educação Nacional- LDB, Lei n° 9.394 de 1996, pois

afirmou a importância e o direito de todas as crianças à Educação Infantil, sendo o

primeiro passo para a criança se envolver com o coletivo, desenvolvendo sua

cognição física, motora e intelectual.

A partir da garantia dos direitos legais, as crianças começaram a ter

visibilidade (voz e vez), as pessoas começaram a perceber que as crianças têm

suas próprias vontades e necessidades, além de tudo, ser respeitadas. Isto é uma

mudança de concepção, pois tempos atrás, o assunto não era nem discutido. Como

afirma Zagury (2002, p. 13) “Criança não sabia e, portanto, precisava aprender. E

nós adultos, tínhamos de ensinar.” Ou seja, além de não serem respeitadas, não

tinham espaço para expressarem seus sentimentos e conhecimentos. Como se só

os adultos (pai, mãe e professora) tivessem total conhecimento e autoridade sobre

as crianças.

Com as mudanças ocorridas durante o século XX, relacionadas com a

26

legislação e também com os modos de vida em sociedade, as professoras estão

sentindo grandes dificuldades em envolver as crianças nas atividades educativas

nas salas, pois as crianças pequenas estão cheias de vontades, exigências, com

isso estão se apresentando sem limites, indisciplinados com seus próprios amigos e

professoras.

Segundo o Dicionário de Língua Portuguesa (o nome do dicionário Aurélio,

Houaiss, Michaelis) a palavra limite é definida como: “[...] a linha real ou imaginária

que separa dois terrenos ou territórios contíguos, extrema, baliza, divisa, fronteira.”

(2004, p.1209).

Para La Taille (2002, p.12) “Limite se remete a ideia de fronteira, de linha

que separa territórios. Se existe um limite, é por que pelo menos dois continentes,

concretos ou abstratos, separados por essas fronteiras.” Essas fronteiras podem ser

entendidas como o que é aceitável e o que não é aceitável, pois, sabemos que hoje,

para estarmos inseridos na sociedade, temos que seguir algumas regras, sendo que

essa construção de limite se inicia a partir do nascimento, para que mais tarde essa

ideia de limite não vire um problema na vida do indivíduo.

Muitas vezes, as próprias famílias vêm pedir auxílio aos professores, pois não

sabem mais o que fazer para mudar o comportamento de seus filhos quando se trata

de falta de limites.

Meleke (2009, s/p) afirma que:

O pai/mãe que impõe limite a seu filho transmite a ele segurança, proteção, estabelecendo assim um vínculo de respeito, por outro lado, a criança que não recebe esse estímulo, tem atitudes negativas, como exemplo, a birra, que é gerada num momento de desejo, de impulso da criança e não é atendida pelos pais, ela se joga no chão, bate o pé, grita, chora [...]

Cabe ressaltar que a professora constrói o processo de respeito junto com as

crianças e tenta colocar em prática na instituição, mas não basta esse processo ficar

só na instituição, tem que ter um acompanhamento em casa, para possibilitar que a

escola e a família construam uma parceria, buscando encontrar uma solução para as

falhas apresentadas e resolver o problema em questão, que é a falta de limites que

as crianças pequenas apresentam na educação infantil, sendo um grande desafio

para os atuais professores.

27

As famílias têm que priorizar esse momento de parceria com a escola,

auxiliando-a de diversos modos como, por exemplo, envolver-se mais nas atividades

com os filhos, brincar, conversar, sorrir, ou seja, praticando ações que revelam uma

maneira positiva de mostrar os limites existentes e necessários para o dia a dia dos

filhos. Elas não devem permitir que os métodos utilizados no passado façam parte

dessa experiência, como os castigos rigorosos e as palmatórias, que eram utilizados

tanto em casa com as famílias quanto nas escolas com os/as professores/as. Esse

tipo de comportamento autoritário reafirma que a família, além de não ter o respeito

com a criança, também perdeu completamente o controle da situação, partindo

assim para as palmadas, que muitas vezes são desnecessárias.

Cury (2008, p. 65) salienta que: “Os limites devem ser colocados, mas não

impostos.” Alguns pais e mães, por não saberem mais como fazer, começam a bater

em seus filhos, alegando que as crianças de hoje precisam de algumas palmadas

para aprender a obedecer aos mais velhos, ou seja, tendo o autoritarismo como

referência de educação. Em relação às palmadas, Lima (2004, s/p) afirma que:

O ato de bater reforça, sem dúvida, o autoritarismo e sadismo do mais forte sobre o mais fraco, no caso, a criança termina ficando ressentida e com raiva. Existe suspeita de que o ato de bater pode levar o agressor a uma compulsão à repetição, isto é, a adquirir prazer e gozo sádico em bater.

A criança, vítima de palmadas, acaba se sentindo com raiva do adulto ou

rejeitada pela própria família, e com este sentimento de rejeição vem à vontade de

bater também. Com isso, surgem as briguinhas nas salas, pois essas crianças

acham que têm o direito de bater no amigo quando este não seguiu as regras

combinadas, ou quando não quer dividir o brinquedo, ou ainda quando começa

batendo de brincadeira e acaba virando uma briga de verdade.

Daí a importância de conversar com as crianças antes de tomar alguma

atitude mais agressiva, mostrando a elas o erro e o desagrado que causou para as

pessoas que estão a sua volta. Como afirma La Taille (2002, p.15) “[...] educar uma

criança, longe de ser apenas impor-lhe limites é, antes de mais nada ajudá-la

cognitiva e emocionalmente a transpô-los, ir além deles, pois a criança não deseja

nada além do que não ser mais criança.”

28

5 COMO OS LIMITES APARECEM NA EDUCAÇÃO DAS CRIANÇAS

PEQUENAS/OU NAS SALAS DE EDUCAÇÃO INFANTIL

5.1 OS COMBINADOS DA TURMA, O QUE PODE E O QUE NÃO PODE, O QUE É

LEGAL E O QUE NÃO É LEGAL, OU AS REGRAS DE CONVIVÊNCIA

Durante as observações, percebi que na maioria das salas as professoras

trabalham com cartazes construídos com as crianças, nomeados como os

„combinados‟ da turma, onde são mostrados o que pode e o que não pode ser feito,

o que é legal ou o que não é legal e assim por diante. Os „combinados‟ nas turmas

têm um significado muito relevante para as professoras e as crianças, pois é uma

das estratégias que as professoras mais utilizam nas salas. Esse processo de

construir os cartazes com os „combinados‟ da sala se inicia no começo do ano letivo,

com o intuito de conhecer melhor a turma e suas personalidades.

São construídos com cola colorida, com papel recortado, onde as crianças

pintam as figuras, apresentando-se mais interessadas pela atividade.

Como exemplo do cartaz de uma turma do I Período (crianças entre três a

quatro anos).

Foto 1: DIÁRIO DE CAMPO, FOTOS TIRADAS DIA 16/09/2011

Acadêmica: Tatiane

29

Enquanto estava tirando a foto, em conversa com a professora, ela relatou

que foram as crianças que pediram para ter as regrinhas nas salas. No começo do

ano, esta professora não tinha como proposta trabalhar as regrinhas, pois iria focar

mais no diálogo, mas, durante uma briga entre duas crianças, onde uma havia

pegado o brinquedo da outra e uma das crianças pega e bate na outra, uma terceira

criança vendo a situação chega perto das duas e fala: - Não pode bater no amigo,

isso não é legal! E a que deu um tapa, respondeu: - pode bater sim, porque na sala

não tem as regrinhas! A professora, que estava de longe observando a situação,

ficou surpresa com as falas das crianças e na mesma semana, iniciou o processo de

construção das regrinhas.

É por meio do diagnóstico da turma que devemos planejar nossas

propostas de trabalho. Foi o que aconteceu com essa professora. Ela percebeu

somente depois do ocorrido que além do diálogo, deveria trabalhar também com as

regras em sala.

Veronese e Vieira (2006, p. 115) salientam que: [...] “na construção do

regramento disciplinar da escola, a participação dos alunos deve se dar conforme a

fase de desenvolvimento em que se encontram.”

Então, a professora trouxe várias figuras em diversas situações, fez uma

pré-seleção com as crianças, distribuiu as figuras para elas pintarem e pendurou na

sala, em um lugar bem visível. A professora comentou que foram as crianças que

quiseram nomear o cartaz de regrinha. A mesma professora ao responder o

questionário afirma que:

"Trabalhar com as regrinhas ou combinados é uma boa estratégias.

Onde os pequenos possam lidar com as situações novas e

desconhecidas.” (Professora A).

Às vezes, deixamos as crianças fazerem tudo o que querem para não entrar

em conflito com elas, sendo uma fórmula muito utilizada, principalmente pelas

famílias. É importante deixar bem claro para a criança que há momento para

acordar, comer, ir para a creche, brincar, fazer atividade, passear e dormir, tanto na

creche como em seus lares.

30

Segundo Tiba (2006, p. 113): “A criança tem que ser educada para saber o

que deve e pode comer, como e quando; a que horas deve dormir e acordar etc. O

mesmo deve ocorrer com as demais atividades.”

O autor indica que é importante sabermos colocar os limites na hora certa,

com clareza. Sobre isso, uma professora ao responder o questionário ressalta:

“As estratégias são regras claras, objetivas, colocadas com

segurança e na hora certa.” (Professora B).

A construção das regras em sala tem como mérito, criar um ambiente de

interação, respeito e participação de todos. Veronese e Vieira (2006, p. 118) afirmam

que: “[...] a disciplina escolar pode ser entendida como o conjunto de regras que

deve ser respeitado para que o processo de ensino aprendizagem alcance

adequadamente seus objetivos.”

Ressaltando que o respeito às regras mencionado acima, não se refere

somente para as crianças, mas também para a professora da sala, pois é sabido que

os adultos são espelhos para as crianças, e nesse caso a professora não respeitar

as regras construídas na sala, as crianças entenderão como algo não significativo

para seu dia a dia.

5.2 E QUANDO AS CRIANÇAS NÃO CUMPREM OS COMBINADOS?

Quando as crianças não querem seguir as regrinhas da sala, algumas

professoras tomam outras atitudes, um exemplo é tirar da atividade ou da

brincadeira, como afirma uma professora ao responder o questionário:

“Diariamente conversamos com o grupo em relação às atividades da

semana. Nossas regras e combinados. O que pode e o que não

pode (por que e para que, explicar-se para o grupo). Às vezes a

criança é retirada/afastada da brincadeira ou atividade, por não

querer estar ali naquele momento. Após, ela retorna a interagir.”

(Professora C).

31

Outra professora, ao responder o questionário, toma a mesma atitude de tirar

da brincadeira quando não segue os combinados, afirmando ser uma estratégia:

“Converso, tento explicar o que é certo ou errado, depois se não

resolve tem o cantinho da disciplina para pensar no que foi feito de

errado.” (Professora D).

As crianças, além de limites, precisam de atenção, carinho, alguém que possa

compartilhar suas emoções, pois muitas famílias não têm „tempo‟ para a criança, e

ela sente isso, cabe à professora estimulá-la, envolvê-la, ao invés de ficar tirando-a

da brincadeira ou das atividades. Pois a criança, ao ser tirado do grupo ou da

atividade, poderá se considerar como incapaz, sentindo-se rejeitada, como se

ninguém gostasse ou se importasse com ela, e com isto, às vezes, faz coisas

indesejáveis para chamar a atenção. La Taille (2002, p. 42) ressalta que:

[...] uma boa educação deve estimular a criança a transpor limites, seja aqueles próprios de sua idade, para se tornar adulto, seja aqueles de seu desempenho, para aperfeiçoá-los e dar o melhor de si. Toda criança precisa que um adulto lhe diga, com afeição e sinceridade: “Você pode!”

Na turma do II Período, a primeira proposta da professora no início do ano

letivo foi trabalhar com as regrinhas, pois a turma já tinha o estereótipo de ser bem

agitada e a professora, embora não conhecesse as crianças, conhecia a „fama‟.

A professora relatou que foi um processo bem tranquilo, houve participação

de todos dando suas ideias e sugestões. Para a construção, a professora levou

livros e revistas velhas para as crianças procurarem figuras que representassem o

que para elas era legal ou o que não era legal.

Ao terminarem de recortar, fizeram uma seleção das imagens e colaram em

duas cartolinas, colocando „o que me deixa feliz e o que me deixa triste‟, vale

ressaltar que foram as crianças que nomearam desta forma.

Como se apresenta na foto abaixo:

32

Foto 2: DIÁRIO DE CAMPO, FOTOS TIRADAS DIA 16/09/2011

Acadêmica: Tatiane

Neste dia, conversei com as crianças sobre o cartaz, perguntei se estavam

seguindo as regrinhas que eles mesmos haviam ajudado a professora a construir,

todos responderam que estavam obedecendo à professora, só que uma criança

acrescentou que também deveria ser tirado foto do ajudante do dia, então perguntei

por quê e ela respondeu: - “Prô, a criança que não obedece não fica como ajudante

do dia, ele não se comportou e daí não merece ajudar na sala.”

A professora confirma, afirmando que também é uma estratégia dela perante

o comportamento da turma, que vem tendo um resultado bastante significativo, ela

relembrou que numa dessas semanas, a criança Harry Poter estava muito agitada,

porém quando foi escolhido para ser o ajudante do dia seu comportamento mudou,

ajudou-a nos afazeres, na hora das atividades, das refeições e a guardar os

brinquedos. Isto nos dá indicativos de que, em algumas situações, esta agitação por

parte de algumas crianças significa uma estratégia para participar, sentir-se

importante para a professora e seu grupo.

Várias outras turmas trabalham com o ajudante do dia, alegando ser uma

33

estratégia bem aceita pelas crianças, o que é feito a partir do II Período. Um

exemplo de um cartaz com o ajudante do dia, ressaltando que cada professora tem

forma diferente de definir a escolha.

Foto 3: DIÁRIO DE CAMPO, FOTOS TIRADAS DIA 16/09/2011

Acadêmica: Tatiane

Em uma turma do Maternal III (crianças de dois anos e meio a três anos), a

professora além de trabalhar com o cartaz dos combinados, foca bastante no diálogo

com as crianças, usando exemplos entre ela e a auxiliar. Segue abaixo seus

argumentos ao responder o questionário:

“Utilizo muito a conversa, sempre usando exemplos, principalmente

das professoras que geralmente são referência. Ex: a Prof° F. bate

na J.? E assim debato com eles. Nessa faixa etária (2 a 3) é um

pouco mais fácil, já com os maiores, às vezes é necessário outras

estratégias.” (Professora E).

O cartaz foi construído com as crianças, onde a professora também trouxe as

figuras para elas mesmas pintarem, selecionou algumas e colaram em papel pardo,

ao terminarem a professora pendurou na parede, na altura das crianças.

34

No dia que fui tirar fotos das regrinhas, a professora colocou fitas em volta do

cartaz, pois estava se rasgando, ela até brincou dizendo para eu não tirar a foto tão

de perto, já que o cartaz estava em más condições, uma vez que as crianças

adoram brincar com as regrinhas, onde chamam atenção uma da outra, apontando

para o desenho e dizendo que é feio bater no amigo e assim por diante.

As crianças fazendo parte da construção das regras, elas próprias se cobram,

se denunciam, por estarem e se sentirem inseridas, responsáveis pela construção

das regras.

Foto 4: DIÁRIO DE CAMPO, FOTOS TIRADAS DIA 16/09/2011

Acadêmica: Tatiane

Portanto, a construção dos combinados nas salas é utilizada como

estratégia pelas professoras. Muitas afirmaram ser uma estratégia muito importante

para terem um convívio amigável na turma. Uma professora esclarece seu ponto de

vista ao responder o questionário:

“Eu trabalho os limites de acordo com a faixa etária da criança.

Colocando cartazes com eles, ou melhor, construir juntos, assim

35

quando um comete alguma coisa errada o outro já cobra, olha não é

assim. Só que o educador tem que ficar atento, porque cada família

tem seus valores e costumes, cada um tem uma forma diferente de

educar os filhos. É preciso que pais e educadoras trabalhem juntos

para não haver mal-entendidos, nos limites de seus filhos.”

(Professora C).

Tiba (2006, p. 189) ressalta que: “As regras existem para o benefício de

todos, e a disciplina faz parte da educação de uma sociedade”. Para se criar um

ambiente harmônico e alegre, sem atritos no convívio entre criança/professor, tem

que existir respeito entre ambos.

Mas, quando algumas regras não são cumpridas pelo grupo, são tomadas

atitudes desagradáveis para as crianças, onde a professora conversa uma, duas

vezes, ameaça tirar da brincadeira, ficar sentado sem brincar com os amigos ou

trocar a criança de sala.

5.3 A CADEIRA DO PENSAMENTO: “PARA NÃO COMEÇAR A SEMANA AGITADO

OU AGITANDO...”

Limite é um assunto que, além de delicado, é também uma realidade que

está se tornando polêmica nas discussões e reuniões entre professoras/professores

e professoras/famílias, dentro das instituições de Educação Infantil.

As famílias, por estarem ausentes na vida das crianças por longos períodos,

acabam fazendo suas vontades para compensar o tempo “perdido”, deixando para

as professoras o assunto limite. Segundo Tiba (2006, p.14): “Nesta última década,

vejo uma grande mudança: as crianças têm tido mais autoridade que seus pais,

apesar de ainda dependerem deles biopsicossocialmente.”

Sabemos que as crianças são uma caixa de surpresas, pois elas estão a

todo o momento nos testando e nos observando, elas sabem até onde podem ir e

aonde querem e podem chegar.

As famílias estão errando por deixarem seus filhos fazerem o que querem

como já foi acima mencionado, e acabam dificultando o trabalho das professoras,

não sabendo qual decisão tomar diante de tais situações vivenciadas. Às vezes

acabam criando rótulos em determinadas crianças, como se não houvesse mais o

36

que fazer com elas, além disso, sabem perfeitamente que não podem contar com a

família.

Durante uma observação ouço a professora relatar para sua auxiliar que:

“O Harry Poter é uma criança bem agitada, não tem nenhum tipo de

limite, e não se pode contar com os pais e se não fosse a criança na

sala, a turma seria bem mais tranqüila e obediente. (DIÁRIO DE

CAMPO, 08/08/2011).” (Professora A).

Diante dessa colocação da professora, é possível perceber que a criança é

vista como “a criança problema”, fica visível que não há interação da criança com a

professora, a criança e a família e muito menos a professora com a família. A

mesma professora ressalta ainda na resposta de seu questionário que limites na

Educação Infantil é:

“Trabalhar em conjunto harmonicamente na base do respeito, com

muito diálogo, chegando a um acordo e combinados com as

crianças. É importante também ter bastante contato com a família,

para conhecer melhor a criança e poder ajudá-la.” (Professora B)

Percebe-se que a professora sente falta da presença da família no âmbito

escolar do filho, desde participação deles na instituição e na vida familiar/social da

criança. Como ressalta Castro (2011, p. 19): “A educação se dá como um processo

de construção que começa bem cedo, na família”.

E acrescenta, ainda, que (2011, p. 64): “[...] a educação é um processo

construído em parceria, cabe a família e a escola buscar uma direção única para

“olhar” e ter laços e estratégias que visam a um fim em comum: o ser integral, como

cidadão ético, instrumentalizado para “ser”.

Diante da falta de participação da família no âmbito da instituição, e o

desinteresse pelo processo de aprendizagem de seu próprio filho,

algumas professoras utilizam como estratégias de construção de limites ou para

fazer cumprir as regras quando desrespeitadas, a ação de tirar a criança da

brincadeira ou da atividade, colocá-la sentada em uma cadeira, longe dos amigos,

onde a criança fica ali sozinha, olhando os amigos brincarem ou fazendo as

37

atividades. Pensando! É possível perceber que o que menos esta criança faz

quando está sentada na cadeira „do pensamento‟ é pensar. A seguir, apresento uma

situação vivenciada durante a observação:

“Durante uma brincadeira a criança Barbie, vem perto da professora

chorando, dizendo que seu amiguinho Harry Poter, havia quebrado

seu arco que estava na cabeça. A professora chama Harry Poter

para conversar perguntando o que houve e diz: “- Para não começar

a semana agitado ou agitando a turma, você vai sentar aqui e vai

ficar sem brincar!”(Colocando-o em uma cadeira no canto da sala).

(DIÁRIO DE CAMPO, 08/08/2011)”. (Professora C)

Essa atitude de colocar a criança sentada na cadeira, longe dos amigos, vem

sendo uma das estratégias de limites utilizadas pela maioria das professoras desta

instituição, no entanto, o resultado não tem sido tão bom quanto o esperado.

E durante as observações, em conversa com as professoras, questionei-as,

perguntando se quando ocorre de uma criança não querer ficar sentada na cadeira

do pensamento, qual atitude é tomada? A maioria das professoras respondeu que

“fica sentada ao lado da criança, até a mesma se acalmar e quando isso acontece,

sai de perto e deixa a criança sentada sozinha.” Acalmar-se ou conformar-se?

Diante das minhas observações, as professoras frisam na questão de que a criança

está mais calma e assim pode ficar sozinha, pois ela está lhe obedecendo e

seguindo a regra estabelecida. Mas, em minhas percepções, a criança se conformou

com a questão, pois a mesma já entendeu que não há alternativas, a não ser ficar

sentada até o momento em que a professora vai deixá-la brincar novamente com os

amigos.

Sparremberger e Fontana5 (2011) concordam com o ato de deixar a criança

sentada quando não segue as regras estabelecidas pelo grupo, e ainda defendem

que o tempo que a criança deve ficar sentada, varia conforme a idade da mesma.

Por exemplo, se a criança tem quatro anos, o correto é deixá-la sentada quatro

minutos. Como Sparremberger e Fontana nos relataram em uma coluna do Diário de

5 Fabiana Sparremberger editora-executiva do Diário de Santa Maria, Ticiana Fontana repórter/editora

da RBS TV Santa Maria, compartilham experiências para ajudar e dar orientação à familiares que precisam de um rumo para ensinar seus filhos o caminho certo a ser seguido perante a atual realidade que as crianças pequenas estão vivendo.

38

Santa Maria (2011): O castigo deve durar 1 minuto por ano. Se a criança tem dois

anos, a criança deve ficar 2 minutos no castigo. Tem-se três anos, 3 minutos, e

assim até os seis anos. Se o erro for muito grave, aumente para o máximo de 10

minutos.

Terminado o tempo estabelecido, a professora deve se apresentar em frente

à criança e conversar, explicando porque ficou ali sentado sem brincar, não ficar

enfatizando o que fez de errado, mas sim falar o que poderia fazer de bom para seu

amigo naquela determinada situação. Ressaltando que a professora tem que está

segura com suas palavras ao conversar com a criança, como afirma Castro (2011, p.

80):

Os professores precisam estar seguros de seu papel e não ficar hesitantes para tomar decisões. Tem de se responsabilizar por aquilo que decidem e não temer impor limite para as ações dos alunos e de suas famílias, pois o ambiente escolar é diferente daquele do familiar que deve decidir.

Após a conversa com a criança, por ter ficado por algum instante sentada

sem brincar, cumprindo com o combinado, a professora libera a criança para voltar a

brincar. O que não pode acontecer é a professora perder o controle da situação e

largar de mão os fatos ocorridos. Durante uma das observações vivenciei esta

situação.

Ao retornamos do café, a professora tenta fazer a chamada, mas as

crianças não estavam dando importância para ela, então a

professora diz para as crianças: “- Se vocês não colaborarem não

vou deixar vocês brincarem na rua com seus brinquedos.” Mas

não houve colaboração, a professora começa a falar mais alto, mas

algumas crianças não estavam dando importância para ela. Por

conta disso a professora larga de mão e deixa as crianças

brincarem, pois a mesma afirmava que: “- Com as crianças hoje

não vai da pra fazer nada!” (DIÁRIO DE CAMPO, 05/08/2011).

(Professora D).

39

Quando a professora toma uma decisão como esta, ela está afirmando que

não sabe o que fazer naquele determinado momento. A criança ao perceber suas

angústias e fragilidades, acaba extrapolando nos limites colocados e fugindo das

regras. Mesmo sendo cansativo para a professora lidar com tanta rejeição das

crianças perante a rotina do dia, ela não pode largar de mão, pois como já foi

mencionado em outro momento, as crianças estão a todo instante testando quem

está a sua volta, e se a criança fizer uma vez o que quer e na hora que quer, e não

ser chamada atenção, com certeza irá desobedecer cada vez mais.

E algumas professoras pensam que, se não fizermos o que as crianças

querem estarão quebrando sua “infância”, desrespeitando seu momento de

brincadeira, criatividade e de convívio com o grupo. Mesmo a criança não querendo

fazer determinada atividade no momento, cabe a professora conversar com a

criança e trazê-la para se envolver com sua proposta e em seguida deixá-los brincar

conforme o combinado. Ou então, planejar atividades paralelas para que as crianças

possam escolher aquela que mais lhes agrada. Tiba (2006, p. 51) salienta que:

Educar uma criança é também ensiná-la a administrar o seu tempo para cada

atividade. Fazer algo, mesmo de que não goste, ou seja, fazer por obrigação, por

dever, é algo que a criança precisa também que aprender.

Ressaltando que a criança é um sujeito de direitos e devem ser respeitadas

suas vontades, sentimentos e emoções, neste sentido, é fundamental as professoras

respeitarem quando uma criança não quer participar de uma determinada atividade,

e isto se faz com as propostas simultâneas.

Só que a criança não tem o direito de ferir ou atrapalhar o outro perante as

atividades, pois da mesma forma que o sujeito quer respeito, ele tem que respeitar o

próximo. Veronese e Vieira (2006, p. 163) acrescentam ainda que: “A compreensão

de que existem limites auxilia a formação da consciência de alteridade, ou seja, de

percepção de que cada um deve respeitar a pessoa do outro para que este respeite

sua própria condição.”

Se a professora respeitou sua escolha de não fazer a atividade, entende-se

que o dever da criança é o direito de seu amigo fazer e compartilhar com os amigos

seu desenvolvimento.

Pois, para estarmos inseridos na sociedade, acabamos fazendo muitas coisas

que não são do nosso agrado, mas temos que seguir algumas regras, não adianta

fazer tudo que a criança quer, pois um dia ela irá passar por momento de

40

contradição/enfrentamento e talvez não saiba como lidar com a ocasião, uma vez

que lhe foi dada tanta proteção e falta de limites na hora errada, que ela vai demorar

a entender este processo de fazer o que não gosta também.

Por conta de tantas birras e rebeldias, hoje está cada fez mais difícil para as

professoras fazerem com que estas regras sejam respeitadas. Uma professora do

maternal III, (dois anos e meio a três) ao responder seu questionário relata que:

“Sempre converso, tento explicar o que é certo ou errado, depois, se

não resolve, tem o cantinho da disciplina para pensar no que foi feito

de errado. Educação sem limites não tem condições de fazer uma

atividade com bons resultados, para eles crescerem sabendo que

nem tudo na vida é permitido que tenha regras e nós mesmos

conseguirmos trabalhar melhor.” (Professora E).

Durante minhas observações, ao passar nas salas e conversar um pouco com

as professoras sobre suas estratégias de limites, uma professora do III Período

(crianças entre cinco a seis anos), esclarece seu ponto de vista:

“Resolvo tudo na roda, conversamos muito sobre as atitudes

negativas e positivas da turma, elogio bastante também e procuro

não alterar minha voz em momento algum. Quando quero chamar a

atenção de alguma criança, eu só falo “atenção” e todos olham para

mim. Acredito que quando estamos gritando estamos perdendo o

controle da situação. Não estou dizendo que nunca falei, já falei sim

alto, pelo contrário, quando faço isso, peço desculpa as crianças,

alegando que está difícil de parar para me ouvir e tomo muito

cuidado para que isso não aconteça novamente”. (DIÁRIO DE

CAMPO, 09/08/2011) (Professora F).

Esta professora, por ter trabalhado de forma clara seus objetivos referente

aos limites com as crianças, conseguiu construir uma relação agradável com o grupo

e também uns com os outros, respeitarem os limites e escolhas de seu amigo ou da

própria professora em sala, diante de qualquer situação, brincadeiras, atividades e

as refeições.

41

A professora declarou que não foi uma conquista realizada de um dia para o

outro, foi um processo que caminhou em pequenos passos, por meio de muitas

conversas, com as regrinhas da turma, mas, a mesma se sente vitoriosa em ver sua

turma, mas parceira e respeitosas um com o outro.

Durante em conversa com a professora, presenciei uma briga de duas

crianças ao estarem realizando uma atividade na sala:

Durante a atividade, duas crianças começaram a se brigar por

causa de uma canetinha de cor rosa, a professora somente diz: “-

Não estou gostando dessa atitude de vocês!” As crianças param de

brigar e dizem uma para outra: “-Tá bom, você usa primeiro e depois

me empresta tá”? (DIARIO DE CAMPO, 09/08/2011). (Professora G)

Portanto, para que cada professora possa atingir seus objetivos com suas

crianças têm-se dois caminhos a percorrer, no primeiro momento é importante trazer

os familiares para dentro das instituições, mostrando o quanto eles são essenciais

para o desenvolvimento de seu filho e, no segundo, mostrar às crianças o quanto

elas são especiais para nós, pois por meio desta percepção elas se sentirão mais

seguras, protegidas e amadas por todos aqueles que estão a sua volta. De acordo

com Castro:

A família e a escola, em parceria, poderão obter êxito na formação das nossas crianças e dos adolescentes, especialmente por meio do exemplo no dia a dia. É necessário entender que precisamos vivenciar valores, como amor, fraternidade, autonomia, liberdade, civilidade, compreensão, confiança, disciplina, empatia, entusiasmo, esperança, estima, fidelidade, honestidade, espiritualidade, humildade, ternura, justiça, criatividade, lealdade, sabedoria, temperança, dentre outros. (2011, p. 15 -16).

Já em outra turma do III Período a professora tomou uma postura diferente

com as crianças. A mesma comentou:

“Esse dia aconteceu um acordo não cumprido da parte delas e

tomei a decisão aceita pelo grupo. A mesma relata o acontecido: se

vocês (turma) colaborar na hora das atividades, vamos ao parque,

mas se não houver colaboração não irão brincar ao terminar a

atividade. A turma estava bem agitada neste dia, mas aceitaram o

42

acordo, sendo que, não houve colaboração na hora da chamada, na

atividade e nem no almoço, a mesma não deixa ninguém brincar

depois do soninho, ficaram todos sentados nas mesas

esperando à hora passar.” (DIARIO DE CAMPO, 11/08/2011)

(Professora H).

E intercedeu ainda:

“Fiquei triste da forma como aconteceram as coisas naquele

momento, mas se não cumprir com minhas palavras as crianças não

iriam mais respeitar as colocações, pois eu mesma estarei

quebrando um acordo, ou combinado feito com eles. Mesmo sendo

bastante pulso firme com as crianças, sua frase final foi

fundamental: não posso deixar de cumprir com minhas palavras.”

(DIÁRIO DE CAMPO, 11/08/2011). (Professora H).

Mesmo a professora buscando uma forma de trazer tranquilidade e harmonia

à turma durante as atividades, ela mesma acaba caindo no autoritarismo. Sendo

que é um desafio para todas as professoras como afirma Castro (2011, p. 30): “O

grande desafio hoje é achar o equilíbrio entre exercer autoridade sem ser autoritário.

É saber impor os limites necessários quando crianças e negociar os limites quando

adolescentes e jovens.”

Portanto, o desafio é grande, mas não impossível basta as professoras

tomarem novas posturas nos momentos de estabelecer os limites perante as rotinas

diárias de cada criança. Veronese e Vieira (2006, p.175) acreditam que: “O trabalho

docente é fundamental para que as crianças se sintam atraídas a superar limites.”

Por isso se faz necessário as professoras refletirem muito sobre suas

posturas, partilhar com o grupo de profissionais, estudarem profundamente as

questões, buscar alternativas e não desistir nunca.

43

5.4 TROCAR DE SALA: “SE VOCÊ NÃO PARAR AGORA VOU TE LEVAR EM

OUTRA SALA. A CRIANÇA BALANÇOU O OMBRO E DISSE: - E DAÍ!”

A atitude de trocar a criança de sala causa um constrangimento, e fica para a

criança como uma forma de ameaça. Pois, a mesma estará sendo obrigada a ficar

em um espaço onde não está habituada, com crianças e professoras diferentes,

longe de seus amigos e da sua própria professora.

Durante as observações presenciei varias episódios de ameaças, quando a

criança extrapolava nas brincadeiras ou nas atividades, por diversas vezes as

professoras falavam: “- Se você não parar agora vou te levar lá na outra sala.” A

criança, às vezes, começava a chorar dizendo que não iria mais fazer aquilo,

prometia que iria se comportar e assim por diante.

Quando era feito a troca de sala, geralmente as professoras colocavam em

uma turma onde as crianças eram menores ou maiores que sua faixa etária,

causando assim mais desconforto para a criança. Já observei momentos em que a

criança não ficava somente algum tempo, mais a manhã ou a tarde inteira em outra

sala, ao chegar à sala ficava chorando, mas com o passar do tempo brincava com o

que estava a sua volta ou com algumas crianças. Em outras situações, a professora

utilizava tanto dessa estratégia de tirar da sala, que a criança já estava acostumada

a sair da sala, já não se importando mais com a decisão da professora, e acabava

escolhendo em qual sala gostaria de ser levada.

Será que com essas atitudes as professoras conquistarão o respeito das

crianças? Será que é suficiente conversar com as crianças uma ou duas vezes para

a mesma entender o que está de acordo e o que não está de acordo?

Castro (2011, p. 90) destaca que:

O educador precisa ter atitudes que gerem um clima de segurança, organização psíquica, estabeleça rotinas coerentes e acima de tudo, ofereça à criança a segurança de ser amado, aceito e valorizado, em que as atitudes de defesa, fuga ou conformismo sejam minimizadas.

Em outro momento, estava ajudando a professora do Maternal III (crianças de

dois anos e meio a três anos) nas atividades, uma criança estava batendo na

cabeça de seu amigo do lado com um pincel, a professora chamou sua atenção por

44

diversas vezes, mas a criança continuava a bater em seu amigo, a professora se

ajoelhou na sua frente e disse: “- Se você não parar agora vou te levar em outra

sala!” A criança balançou o ombro e disse: “- E daí?” A professora pegou a criança

pela mão e levou-a para outra sala. Depois de alguns minutos, vejo a professora

conversando com a criança em um canto da sala e em seguida, deu um abraço na

mesma.

Depois a professora veio até mim e disse: “- Nunca tinha feito isso de tirar da

sala, mas ele me tirou do sério, porém quando o deixei na outra sala me deu um

aperto no peito, na verdade me arrependi de tê-lo levado, por isso fui obrigada a

buscar na mesma hora e dar um abraço, como se eu tivesse me desculpando do

que tinha feito.”

Castro (2011, p. 14) afirma que “Precisamos entender as nossas motivações,

as nossas emoções e decidir colocar em prática atitudes que levem às

transformações verdadeiras”.

E muitas vezes agimos por impulso, tomamos decisões na hora do

nervosismo e depois nos arrependemos de nossas atitudes, e as crianças acabam

se sentindo desprezadas, desrespeitadas e inseguras no espaço educativo.

Em uma das observações, a professora do III Período em conversa falou:

“Harry Poter incomodou tanto que o mesmo me tirou do sério, o

peguei pelo braço e levei para outro dormitório, uma turma do

Maternal III, pois já estou saturada do seu temperamento de

rebeldia, poxa, não obedece em nenhum momento. No primeiro

momento, a criança fez birra e chorou para ficar no dormitório dos

pequenos, mas aos poucos foi se acalmando. Outra professora

havia se sentado ao seu lado dando carinho e passando a mão na

cabeça e foi conversando com ele, buscando entender tanta

rebeldia com o Harry Poter, mas ele não estava com vontade de

conversar e virou-se de costa para a professora e pegou no sono.”

(DIARIO DE CAMPO, 02/08/2011).

Percebe-se que muitas professoras tomam algumas atitudes e agem de um

jeito que elas mesmas não gostariam de ter agido. E mais uma vez, é interessante

frisar que a mudança de comportamento das crianças não acontece de um dia para

45

outro, as crianças para se sentirem seguranças e confiantes de si e do outro,

precisam ser conquistadas, e este é um processo lento, mas a partir do momento

que a criança se sente protegida pela professora, ela se entrega e vivencia cada

momento com sua turma, buscando ser elogiada e reconhecida pelo seu

comportamento.

De acordo com Castro (2011, p. 90):

A reconstrução de conceitos e sentimentos leva tempo, muito tempo, e os objetivos devem ser bem definidos. Muitos educadores começam a ter uma atitude equilibrada, depois de um longo tempo de indiferença ou rejeição, e esperam que, em dias ou semanas, as respostas positivas dos educandos venham automaticamente. Há um caminho a ser construído ou reconstruído. A educação exige tempo e perseverança!

Por conta de tanta rejeição, a proposta das professoras deveria ser no

primeiro momento conquistar sua turma, buscando entender as características de

cada criança e as razões que as levam às atitudes de rebeldia e, em seguida,

conquistar as famílias das crianças, pois a partir do momento que escola e família

caminharem no mesmo lado, em parceria, o processo de ensino, incluindo a

construção dos limites e da afetividade, desenvolverá nas crianças outros

comportamentos e um novo olhar mais atento diante do que está a sua volta. Castro

(2011, p. 110) declara que “Educação com limites e afetividade é um desafio que só

será alcançado na parceria entre a família e a escola.”

Portanto, o desafio está lançado, basta as instituições quererem ir em busca

do conhecimento para lidar com as diferenças, procurando sempre o melhor para as

crianças. Uma condição necessária para que isto se realize é o investimento na

formação continuada das/os profissionais, por meio de cursos, seminários, grupos

de estudos, programas de Pós - Graduação, além de reuniões periódicas para

refletir sobre as questões específicas da Instituição.

A formação continuada tem como objetivo trazer novas ideias, estratégias e

propostas para serem trabalhadas nas salas com as crianças de Educação Infantil.

Pois é sabido que somente a licenciatura de Pedagogia não atende a todas as

questões que a professora enfrenta no seu dia a dia, pois a cada dia, cada instante,

surgem novas situações que muitas vezes não encontramos respostas para mediar

essas vivências.

46

Brzezinski (1996, p. 194) salienta que: [...] “o curso de Pedagogia tem entre

suas funções a de propiciar a atualização e o aperfeiçoamento dos profissionais

atuantes nas escolas, ou seja, cabe-lhe também a educação continuada.”

A partir do momento em que a professora se permitir ter novos

conhecimentos, ampliará seu campo de trabalho, sendo que não estará somente

trazendo benefícios para si mesmo, mas para aquele que está a sua volta,

principalmente para as crianças, que muitas vezes precisam de um/a “novo/a”

professor/a, que apresente novas estratégias, propostas e novas atitudes, sendo

este um dos fatores essenciais para termos um ambiente agradável.

De acordo com Veronese e Vieira (2006, p. 107):

Não se pode negar que o processo pedagógico necessita, para se desenvolver com condições de possibilitar a formação integral do educando, de um conjunto de regras que seja capaz de, respeitando o aluno, resguardar a harmonia nas relações que se estabeleçam na escola.

Muitas vezes os/as professores/as, principalmente os que já atuam há muito

tempo na educação, não gostam de participar dos cursos oferecidos pela a

instituição, por outro lado, não sabem como lidar com suas crianças em sala por não

conseguirem perceber que o mundo está mudando e as crianças também, as

crianças vêm para a sala com muita curiosidade, querem descobrir, participar, ter

autonomia.

Estes professores, já cansados dos momentos difíceis que vivem

cotidianamente nas salas com as crianças, não percebem a importância da

formação contínua e o quanto poderiam se beneficiar e transformar os trabalhos que

realizam com as crianças em momentos de aprendizagens mais significativas.

47

6 A AFETIVIDADE COM AS CRIANÇAS PEQUENAS

Atualmente muitas professoras estão deixando de lado a afetividade e se

preocupando mais com o comportamento das crianças desobedientes e

transgressoras, procurando impor ordem e limites nas suas rotinas. No entanto,

vivenciar momentos de afetividade nas creches é fundamental para a formação

afetiva, social, emocional de cada criança e, também, para a construção de sua

autoestima.

Uma professora ao responder o questionário declarou que é possível colocar

limite e ser afetiva ao mesmo tempo, ela acredita que:

“Ter respeito por eles e eles pelos educadores, mostrando que o

limite não impede de ter o amor entre todos, ensinar e mostrar

limites com conversas, atividades lúdicas e a afetividade de estar no

meio. A criança sabe o professor que coloca o limite e que ama ao

mesmo tempo dando um olhar ou um gesto de carinho sempre”.

O Dicionário de Língua Portuguesa, Aurélio (2002, p. 61) apresenta a

palavra afetividade como: qualidade ou caráter de afetivo que “[...] manifestam sob

forma de emoção, sentimentos e paixões, acompanhado sempre da satisfação ou

insatisfação, agrado e desagrado, alegria ou tristeza.”

Ou seja, a afetividade envolve um conjunto de sentimentos. As crianças

começam a vivenciar relações de afetividade em casa, desde o nascimento, pois

seus familiares já demonstram em forma de carinho e acolhimento esta afetividade.

A família é o âmbito onde as crianças vivem suas descobertas de sensações, tais

como: alegria, felicidade, amor, emoção, prazer e outras experiências como a

tristeza, o medo, ciúmes e brigas. Conforme Krueger (s.a, p.6),

A criança extrai suas vivências principalmente do contato com outras pessoas, adultos ou crianças. Se os que a rodeiam a tratam com carinho, reconhecem seus direitos e se mostram atenciosos, a criança experimenta um bem-estar emocional, um sentimento de segurança, de estar protegida.

48

A partir do entendimento desses sentimentos, as crianças pequenas

começam a identificar seus gostos, desejos e frustrações, seguidas de suas birras e

desobediências.

Uma professora que trabalha com crianças de dois a três anos, ao responder

o questionário aponta que:

“Na faixa etária que estou é possível dar carinho, conversar, beijar,

pegar no colo e ao mesmo tempo falar firme na mesma altura e

olhando nos olhos. Porém, infelizmente com os maiores até me sinto

angustiada, pois geralmente o maior período do dia, precisamos

chamar a atenção e se mostrarmos muito sorriso, as crianças

desrespeitam.”

Diante deste relato, percebe-se que as instituições de Educação infantil têm

um papel fundamental na formação do sujeito, nos primeiro anos de vida, por isso, é

importante que a família e as creches trabalhem em parceria nesse processo, pois a

relação carinhosa que as famílias demonstram ter com suas crianças, é de grande

relevância para a construção da inteligência, e isto não se dá sem a afetividade.

Assim, a criança vai perceber o quanto é importante tanto no âmbito familiar,

quanto nas creches. Desse modo, a instituição educativa também se torna

responsável pela construção do conhecimento afetivo, pois a professora é para as

crianças uma referência, um espelho, e suas atitudes, posturas e ações são

observadas e imitadas em todos os momentos.

Referente ao fato das crianças imitarem suas professoras, Vygotsky (apud

CRAIDY; KAERCHER, 2001, p. 30) afirma que “[...] a imitação é uma situação muito

utilizada pelas crianças, porém não deve ser entendida como mera cópia de um

modelo, mas uma reconstrução individual daquilo que é observada pelos outros.”

Por isso a relevância das famílias e das instituições terem um envolvimento

maior, para que possam juntas construir um futuro melhor para nossas crianças.

Sabemos que muitas famílias não conhecem a importância desse processo de

afetividade, sendo que para as famílias o que basta é dar limites e acabam não

respeitando seus direitos de expressarem suas ideias e pensamentos.

Craidy e Kaercher afirmam que os adultos não respeitam as crianças, pois,

(2001, p. 31) “[...] os adultos, na tentativa de fazer com que as crianças lhes sejam

49

obedientes, deflagram nelas sentimentos de insegurança e desamparo, fazendo-as

se sentirem temerosas de perder o afeto, a proteção e a confiança dos adultos.

Com isso, Craidy e Kaercher (201, p. 34) descrevem o papel da escola, “[...]

cabe à escola infantil conquistar a confiança e o respeito dos pais, através de um

trabalho competente e bem fundamentado pedagogicamente.”

Outra professora ao responder o questionário aponta esta questão de

respeitar o próximo, onde a afetividade é um processo de construção:

“Você conquista a criança com carinho, e ao mesmo tempo mostra a

ela alguns caminhos que ela deve seguir em nossa rotina diária,

para obter respeito e interação entre todos.”

A professora ressalta um aspecto muito importante, conquistar a criança, pois

quando a criança se sente segura, protegida e amada, criando assim um vínculo

afetivo verdadeiro e respeitoso entre professora e criança, a construção dos limites

ou combinados será realizado de uma forma prazerosa, onde ninguém irá se sentir

constrangido e sufocado, diante das situações vivenciadas.

A professora que trabalha com crianças de três a quatro anos, ressalta a

importância dos limites e afetividade:

“A criança necessita dos dois, limites e carinho, onde se respeita na

medida em que for respeitada. E a afetividade na Educação Infantil

é essencial.”

Em outro relato, a professora frisa a importância dos combinados trabalhos

em sala:

“Temos que ser afetivas sempre, pois eles passam a maior parte do

tempo conosco. Mas sempre que for necessário lembrá-los que

temos os combinados que devem ser cumpridos.”

Portanto, acredito muito na afetividade e no respeito entre as pessoas.

Quando tratamos bem as pessoas e principalmente as crianças, a educação estará

dando o primeiro passo para começar uma mudança de comportamentos e posturas.

50

Essas mudanças de comportamentos têm que iniciar com as professoras, ser

discutida com as famílias e buscar fazer o melhor no dia a dia com as crianças, pois

as crianças, muitas vezes, entendem mais por gestos e atitudes do que com

conversas. Os adultos são espelhos para as crianças.

Por isso, ouve-se falar que é difícil colocar alguns limites nas crianças, pois as

estratégias têm que ser renovadas, saindo assim da rotina. No entanto, as

mudanças de posturas ou comportamento têm que começar por nós, os adultos.

Talvez, se nós pessoas adultas que somos conseguirmos viver relações mais

respeitosas e afetivas, será mais fácil construir regras e limites junto as crianças,

estabelecendo relações de respeito e alteridade entre todos os sujeitos.

51

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante das observações e com os questionários respondidos, percebi que a

educação é muito mais que meras palavras bonitas, de apresentar boa impressão

aos familiares, coordenadoras, direção ou querer apenas agradar aos adultos. O

foco maior são as crianças, pois são elas que proporcionam momentos prazerosos,

e que cada dia é um novo dia, onde ensinamos e aprendemos com as crianças

pequenas.

Os limites, quando colocados de forma clara e com firmeza, aos poucos as

crianças vão compreendendo esse processo de construção, que não acontece de

um dia para o outro, são longos períodos (dias, meses, anos) de conversas e

discussões.

Muitas das professoras da instituição pesquisada acreditam e lutam para essa

mudança de atitude em relação às crianças, se preocupam com a garantia dos

direitos plenos das crianças, agora, no presente, e buscam o melhor de si enquanto

estão fazendo partes da vida dos pequenos.

Mas, esse processo de limite terá um resultado muito mais rápido, quando for

feito com mais afetividade, quando as crianças se sentirem mais seguras, amadas e

protegidas por sua professora ou professor e também por seus familiares, assim sua

aceitação referente às regras, comportamentos e atitudes acontecerá de uma forma

mais simples e harmônica.

Na instituição pesquisada, foi visível perceber que muitos desistiram das

crianças, alegando que o perfil da criança é desse modo e não há o que fazer, cabe

a família tomar alguma atitude e suas devidas providências. Contudo, a pesquisa

mostrou que é possível que a criança se comporte dessa forma, somente para

chamar a atenção, pois realmente o que ela espera é receber um forte abraço e um

elogio da pessoa com quem ela convive todos os dias, ficando mais de nove horas

diárias, com sua professora.

Quando minhas colegas de trabalho me disseram que penso deste modo, de

fazer a diferença, por que estou iniciando minha carreira de professora agora,

acredito que elas estejam equivocadas, pois durante o trabalho de pesquisa, por

52

meio das leituras feitas, percebi que muitas vezes colocamos problemas onde não

tem, aprendi que a educação não acontece de um dia para outro, e se for preciso

falar firme, nunca se esquecer de ser afetiva e, antes de utilizar o cantinho da

disciplina como estratégias, é importante conversar por diversas vezes com a

criança, buscando resolver o conflito, esclarecer, tomar consciência sobre suas

atitudes, mostrando que o que fez não foi legal, causou um mal estar para alguém

do grupo, mas, sempre fazer isso de uma forma carinhosa e afetiva. O que não se

pode é perder a postura de professora, o equilíbrio diante das situações, pois a

professora tem esse papel de mediar qualitativamente tudo o que surge nas rotinas

da instituição. Também é importante ter a humildade de pedir ajuda para as outras

profissionais, sempre que perceber que não está conseguindo resolver sozinha,

afinal, o trabalho coletivo é uma das possibilidades de uma educação

transformadora.

Aprendi que se deve parar para ouvir a criança, respeitar seu momento, e ela

respeitar meu momento, mas tudo só pode ocorrer com muito diálogo e afetividade.

E a partir do momento em que a criança se sentir respeitada, amada, protegida e

segura de si, ela começará a ter outras posturas.

Também é fundamental a participação das famílias neste processo, elas

devem praticar essas posturas também, de parar para ouvir seus filhos e até mesmo

sentar no chão para brincar com eles, pois estas são as principais necessidades das

crianças: atenção, afeto, carinho, respeito, segurança e amor.

Portanto, é essencial a parceria entre as famílias e as profissionais da

Educação Infantil. Outro aspecto fundamental é a formação continuada, como

espaços para que professoras e demais profissionais possam continuamente refletir

sobre as questões que surgem no dia a dia e buscar soluções conjuntas, tendo

sempre como foco a garantia dos direitos das crianças.

53

REFERÊNCIAS

AQUINO, Julio Groppa. Indisciplina na escola: alternativas teóricas e práticas. São Paulo: Summus, 1996. BRZEZINSKI, Iria. Pedagogia, pedagogos e formação de professores: Busca e movimento / Iria Brazezinski. Campinas, SP: Papirus, 1996. CASTRO, Edileide. Afetividade e limites: uma parceria entre família e escola. 3. Ed. – Rio de Janeiro: Wak Editora, 2011. CURY, Augusto. Pais brilhantes, professores fascinantes/Augusto Cury. Rio de Janeiro: Sextante, 2008. CRAIDY, Maria; KAERCHER, Gládis Elise P. da Silva. Educação Infantil: pra que te quero? Porto Alegre: Artmed, 2001. FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo dicionário Aurélio da língua portuguesa / Aurélio Buarque de Holanda Ferreira. 3. ed.- Curitiba: Positivo, 2004. FONTANA, Ticiana; SPARREMBERGER, Fabiana. Em nome do filho, 2011. Disponível em: < http://wp.clicrbs.com.br/meufilho/2011/09/05/voce-sabe-dar-castigo/?topo=52,2,18,,165,77 > Acesso em: 05/09/2011 às 23h43min. FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa / Paulo Freire. São Paulo: Paz e Terra, 1996. GIL, Antônio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. 5. ed. São Paulo: Atlas, 1999. OLIVEIRA, Alessandra Rotta de Oliveira: A infância sob o olhar das crianças no interior da creche. Florianópolis. Dissertação de Mestrado. UFSC, 2001. KRUEGER, Magrit Froehlich. Relevância da afetividade da Educação Infantil. Disponível em: <www.icpg.com.br>. Acessado dia 17/06/2011 às 22h42min. LIMA, Raymundo. Palmada educa? Revista Espaço Acadêmico - N°42 –

54

Novembro de 2004 – Mensal INSS.

MELEKE, Camila G. Limites na Educação Infantil.

Disponível: < www.webartigos.com>. Acessado dia 27/04/2011 às 15h32min.

OSTETTO, Luciana Esmeralda. Observação, Registro, Documentação: nomear e significar as experiências. In: _____. (Org.). Educação Infantil: Saberes e Fazeres da Formação de Professores. Campinas-SP: Papirus, 2008, p. 13-32.

ROSSI, Marcelo. Ágape / Marcelo Rossi. - São Paulo: Globo, 2010. SANTA CATARINA. Governo do Estado. Secretaria de Estado da Educação e do desporto. A Educação e o estatuto da criança e do Adolescente. – Florianópolis, 1999. KRAMER, Sonia. Autoria e autorização: questões éticas na pesquisa com crianças. Cadernos de Pesquisa, Departamento de Educação da PUC – Rio, 2002. TAILLE, Yves de La. Limites: três dimensões educacionais. 3. ed. São Paulo: Ática, 2002. TIBA, Içami. Disciplina: limite na medida certa. Novos paradigmas/Içami Tiba. Ed. Ver. Atual. E ampl. São Paulo: Integrare Editora, 2006. VERONESE, Josiane Rose Petry. VIEIRA, Cleverton Elias. Limites na educação: Sob a perspectiva da Doutrina da Proteção Integral, do Estatuto da Criança e do Adolescente e da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Florianópolis: OAB / SC Editora, 2006. ZAGURY, Tânia. Limites sem trauma./Tânia Zagury. 37 ed. Rio de Janeiro. Record 2002.

SITES CONSULTADOS http://www.scielo.br/

http://www.anped.com/

www.capes.gov.br

55

http://www.usfsc.com.br/ e www.ced.ufsc.br/nupein

ANEXOS

Questionário para análise de dados para construção do TCC II, tendo como

temática: Educar crianças pequenas com limites e afetividade: Um estudo sobre

as estratégias utilizadas pelas professoras de Educação Infantil.

Acadêmica: Tatiane Catarina dos Santos

1- Sexo:

( ) Masculino ( ) Feminino

2- Nome?

_________________________________________________________

3- Idade?

_________________________________________________________

4- Período que trabalha na área da educação infantil?

_________________________________________________________

5- Formada em qual instituição?

_________________________________________________________

6- Grupo de crianças/idade que atua no momento?

_________________________________________________________

7- Como você define sua turma?

( ) Muito agitada ( ) Agitada ( ) Calma

8- Participação das famílias na instituição?

( ) Ótima ( ) Regular ( ) Ruim

9- Para você, a ideia de limites remete a:

( ) Ouvir e obedecer.

56

( ) Impor os limites.

( ) Colocar os limites.

10-As regras da turma são trabalhadas diariamente?

( ) Frequentemente ( ) Às vezes ( ) Raramente

11-Em relação criança/criança à afetividade?

( ) Frequentemente ( ) Às vezes ( ) Raramente

12 -Relação professor/criança à afetividade?

( ) Frequentemente ( ) Às vezes ( ) Raramente

13- O que você entende por limites na Educação Infantil?

_________________________________________________________________

_________________________________________________________________

_________________________________________________________________

_________________________________________________________________

_____________________________________________

12- Quais as estratégias de limite você utiliza para colocar limites em seu grupo de

crianças?

_________________________________________________________________

_________________________________________________________________

_________________________________________________________________

_________________________________________________________________

_________________________________________________________________

_________________________________________________________________

_____________________________________

13- É possível colocar limites e ser afetiva ao mesmo tempo? Como?

______________________________________________________________

______________________________________________________________

______________________________________________________________

______________________________________________________________