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1 INCLUSÃO DA EDUCAÇÃO FÍSICA NO EXAME NACIONAL DO ENSINO MÉDIO: ANÁLISE DA PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO Antonio Carlos Pontes Brandão Barbosa Eliane do Socorro de Sousa Aguiar RESUMO O presente estudo teve como objetivo principal, fazer uma análise da produção do conhecimento em pesquisas com a temática sobre a inclusão da Educação Física enquanto componente curricular em exames pré-vestibulares, mais especificamente no Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM), os métodos adotados nesta pesquisa foram a abordagem qualitativa, seguindo o tipo de estudo exploratório; o tipo de pesquisa é bibliográfico, com seus materiais coletados em sites de pesquisa e banco de dissertações e teses. O resultado deste estudo foi alcançado através da analise de conteúdo, obtendo assim apenas quatro pesquisas sobre a temática pertinente, concluindo que esse campo de estudo ainda carece de materiais que sirvam para o embasamento teórico, mas todos os autores entram em consenso em suas pesquisas, enfatizando que essa inclusão se torna de suma importância na luta pela modificação dos atuais modelos de ensino da educação Física na escola. Palavras-chave: Educação Física; Ensino Médio; ENEM. INTRODUÇÃO A seguinte pesquisa tem sua temática voltada para a Educação Física Escolar, com atuação, mais precisamente no ensino médio, onde assim como no ensino fundamental também é palco de diversas discussões e debates envolvendo prática de ensino dos professores, conteúdos trabalhados na escola e etc. Segundo Souza (2009), a disciplina vem sofrendo com o preconceito por parte dos professores das demais disciplinas e os alunos da escola, por considerá-la descontextualizada e sem contribuição para a formação social dos alunos. Outro ponto levantado por Paim (2002) é que os atuais conhecimentos tratados pela Educação Física na escola não estão colaborando para a alteração da ordem social atuante, cooperando na manutenção da escola conservadora, com alunos posicionados de forma acrítica perante a sociedade. Discente do Curso de Licenciatura Plena em Educação Física da Universidade do Estado do Pará. E- mail: [email protected] Professora orientadora, Mestre em Educação pela Universidade do Estado do Pará (UEPA), membro da linha de Pesquisa Ressignificar: Experiências Inovadoras na Formação de Professores de Educação Física. Professora do Curso de Educação da UEPA. E-mail: [email protected]

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INCLUSÃO DA EDUCAÇÃO FÍSICA NO EXAME NACIONAL DO ENSINO

MÉDIO: ANÁLISE DA PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO

Antonio Carlos Pontes Brandão Barbosa

Eliane do Socorro de Sousa Aguiar

RESUMO

O presente estudo teve como objetivo principal, fazer uma análise da produção do

conhecimento em pesquisas com a temática sobre a inclusão da Educação Física

enquanto componente curricular em exames pré-vestibulares, mais especificamente no

Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM), os métodos adotados nesta pesquisa foram

a abordagem qualitativa, seguindo o tipo de estudo exploratório; o tipo de pesquisa é

bibliográfico, com seus materiais coletados em sites de pesquisa e banco de dissertações

e teses. O resultado deste estudo foi alcançado através da analise de conteúdo, obtendo

assim apenas quatro pesquisas sobre a temática pertinente, concluindo que esse campo

de estudo ainda carece de materiais que sirvam para o embasamento teórico, mas todos

os autores entram em consenso em suas pesquisas, enfatizando que essa inclusão se

torna de suma importância na luta pela modificação dos atuais modelos de ensino da

educação Física na escola.

Palavras-chave: Educação Física; Ensino Médio; ENEM.

INTRODUÇÃO

A seguinte pesquisa tem sua temática voltada para a Educação Física Escolar, com

atuação, mais precisamente no ensino médio, onde assim como no ensino fundamental

também é palco de diversas discussões e debates envolvendo prática de ensino dos

professores, conteúdos trabalhados na escola e etc. Segundo Souza (2009), a disciplina

vem sofrendo com o preconceito por parte dos professores das demais disciplinas e os

alunos da escola, por considerá-la descontextualizada e sem contribuição para a

formação social dos alunos. Outro ponto levantado por Paim (2002) é que os atuais

conhecimentos tratados pela Educação Física na escola não estão colaborando para a

alteração da ordem social atuante, cooperando na manutenção da escola conservadora,

com alunos posicionados de forma acrítica perante a sociedade.

Discente do Curso de Licenciatura Plena em Educação Física da Universidade do Estado do Pará. E-

mail: [email protected]

Professora orientadora, Mestre em Educação pela Universidade do Estado do Pará (UEPA), membro da

linha de Pesquisa Ressignificar: Experiências Inovadoras na Formação de Professores de Educação

Física. Professora do Curso de Educação da UEPA. E-mail: [email protected]

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As preocupações relativas à Educação Física no ensino médio se deram desde

minha vida enquanto estudante. Nesta etapa de estudo, a maioria das vezes fomos

moldados em preparação para futura vida profissional e/ou universitária (DARIDO,

1999). Ao chegar à universidade e vivenciar o estágio não-obrigatório em uma escola

particular, pude perceber de que forma a Educação Física Escolar era tratada. Nesse

local, a Educação Física, no ensino fundamental, tem aulas regulares semanalmente,

com dois tempos de 45 minutos em todas as séries. No entanto, ao me deparar com a

sua atuação no ensino médio, percebi que a estrutura montada era de forma

diferenciada, pois as turmas de 1º e 2º ano possuíam apenas um tempo semanal em cada

uma, a turma de Convênio (3º ano) também aos sábados, porém ao se aproximar de

exames vestibulares, esse único encontro era extinguido. Ao questionar esse modelo

com a diretora e proprietária, ela alegou que pela Educação Física não existir nesses

processos seletivos, seria necessário o afastamento desse encontro da disciplina com os

alunos, cedendo espaço assim para as outras que tem sua exigência garantida nessas

provas. Mesmo tentando informá-la que desde o ano de 2009 a Educação Física está

sendo cobrada no Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM), ela disse que os outros

componentes disciplinares possuem uma exigência maior na prova.

A Educação Física, apesar de ser obrigatória no currículo básico, é considerada

pelos alunos como disciplina extra e seus contra-turnos e dispensas segundo Santin

(1987 apud BARNI; SCHNEIDER, 2008, p.02) colaboram para uma disciplina excluída

do processo pedagógico, na qual professores e alunos a consideram dispensável,

deixando-a a margem de uma real educação humana, oferecendo suporte apenas para

atividades desportivas.

Questões como essa colocam em debate a importância da educação física escolar,

e se ela é realmente importante na vida dos alunos, porém com a nova proposta

curricular do ENEM, devemos observar se a Educação Física poderá mostrar uma nova

(re) significação para formação social dos alunos, deixando de super valorizar

conteúdos esportivizados e de recreação. Esse atual contexto curricular da Educação

Física encontra-se em estudos como o de Reis (2008), em que ele afirma que as aulas de

Educação Física na escola sempre estiveram desenvolvidas com esses intuitos, apesar de

ser disciplina regular integrante do projeto político pedagógico da escola. Estas

finalidades recreacionistas e esportivistas continuam sendo realizadas por alunos e

professores.

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A partir desse quadro problemático é que surgiu uma inquietação pessoal que me

motivou a delinear o seguinte objeto de estudo: Analise dos debates teóricos referentes a

inclusão do componente curricular Educação Física no ENEM referente aos anos de

2006 a 2010.

Para tanto, nosso problema de pesquisa busca saber: Quais são os principais

debates teóricos que emergiram como consequência da inclusão da Educação Física

enquanto área de conhecimento no ENEM no período de 2006 a 2010?1 Como objetivo

geral da pesquisa, almejamos: Compreender, a partir da análise da produção do

conhecimento, os principais debates que emergiram com a inclusão da Educação Física

no ENEM. E como objetivos específicos: identificar os estudos que tratam da relação

Educação Física e ENEM; Verificar os principais debates pertencentes a inclusão da

Educação Física no ENEM; Analisar os debates que emergiram dessa inclusão para

perceber os limites e possibilidades.

Considerando que o debate da inclusão da Educação Física no ENEM é recente e

que por conta disso existem poucos trabalhos sobre esta temática, objetivamos com a

elaboração desse estudo trazer uma grande contribuição para a comunidade acadêmica e

científica, no sentido de possibilitar o acúmulo teórico para a área da Educação Física.

Para melhor compreensão do tema, o artigo encontra-se organizado da seguinte forma:

Em primeiro lugar, discutimos como se deu a inclusão da Educação Física nos

currículos escolares no Brasil, aprofundando melhor na questão do ensino médio. Em

um segundo momento, buscamos entender como se deu a inserção da Educação Física

no ENEM. Em seguida, explicitamos os procedimentos metodológicos adotados na

pesquisa. Depois, apresentamos a análise dos dados coletados. E por fim, trazemos a

conclusão do artigo e traçamos novas possibilidades de pesquisas.

1 A INCLUSÃO DA EDUCAÇÃO FÍSICA NOS CURRÍCULOS ESCOLARES

BRASILEIROS: O ENSINO MÉDIO EM QUESTÃO

1.1 A HISTORICIDADE DA EDUCAÇÃO FÍSICA BRASILEIRA

Para entendermos a história da Educação Física no Brasil, precisamos retroceder

um pouco no tempo, precisamente na Europa do século XIX, momento que vemos

1 Esse recorte temporal justifica-se pelo fato de que a primeira pesquisa relacionada com uma

possibilidade de inclusão do componente curricular Educação Física em exames pré-vestibulares, foi

datada do ano de 2006, tendo seu fechando em 2010, com a última e mais recente pesquisa envolvendo a

inclusão da mesma no ENEM.

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significativas alterações no cenário social, político e econômico, sendo nesse cenário

que emerge a Educação Física. Historicamente, a mesma veio sendo inserida na escola

com intuitos de preparação física por meio das conhecidas escolas de ginástica, dentre

elas, destacaram-se as escolas Sueca, Alemã e Francesa (SOARES, 2007). Segundo

Soares (2007), no continente Europeu as intenções dessas escolas eram: intervir para a

regeneração da raça humana (visto a grande quantidade de mortes e doenças na época);

a promoção da saúde (não alterando as condições de vida da população); fazer crescer

nas pessoas à vontade, os sentimentos de coragem, a força e a energia de viver

(desenvolvendo na população o patriotismo útil para as guerras e a indústria); por fim

estimular o lado moral (intervindo assim nos costumes e tradições dos povos).

A partir dessa breve compreensão do desenvolvimento da Educação Física na

Europa no século XIX, prosseguiremos historicamente para sua atuação no Brasil a

partir do século XX.

Em 1930, percebemos que a Educação Física veio sendo inserida no contexto

escolar, através das instituições médicas e militares, com pressupostos higienistas.

Soares (2007) coloca que os pensadores pedagógicos brasileiros como Rui Barbosa e

Fernando de Azevedo influenciaram de maneira bem expressiva essa concepção, por

meio de publicações, discursos e conferências. Nessa época, vinculou-se também a

preocupação com uma possível segunda grande guerra mundial, então o governo e

determinados grupos da sociedade formados por médicos e militares voltaram os olhos

para a Educação Física Escolar, como um instrumento de preparação e treinamento dos

homens para o combate, estimulando nas pessoas o espírito patriota.

Ainda no século XX, no Brasil, era interessante perceber qual era a formação dos

profissionais que naquela época atuavam na escola com a disciplina, desta forma,

Soares et al. (1992) afirma que nesse período, as aulas de Educação Física na escola

eram ministradas por instrutores do exército que traziam para essa instituição os rígidos

métodos militares de disciplina e de hierarquia. Assim sendo, a construção da

identidade da educação física na escola foi calcada nas bases, normas e valores próprios

do exército. Isso perdurou até a década de 1960, quando havia sido instaurado

oficialmente o método militar nas escolas brasileira, tornando, desta forma, uma

“atividade”, pois era assim que a Educação Física era tratada, excludente, valorizando

assim os mais “aptos” e “fortes” fisicamente.

De acordo com Betti (1991 apud ZAGHI, 2010, p.10), a partir da portaria do

Ministério da Educação (MEC) 168 e 148, instaurada em 1956 e 1967 respectivamente,

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assemelhou a Educação Física com a prática de esporte, substituindo assim as chamadas

“sessões” de Educação Física na escola. Na década de 1980, esse caráter esportivo que a

disciplina possuía na escola, passou a ser ferrenhamente criticado, através de estudos

científicos que surgiam com grande força no Brasil. Segundo Caparroz (2007) esse

fenômeno ocorreu devido às intensas manifestações políticas desencadeadas pela

redemocratização da sociedade brasileira:

Nesse período iniciam-se os cursos de pós-graduação em educação física no

Brasil e estão voltando vários professores que realizaram seus estudos pós-

graduados no exterior. Já no inicio dos anos de 1980, a área passa a sofrer

uma cobrança interna e externa quanto a sua legitimação enquanto área

acadêmica, e nesse sentido há necessidade de se produzir teoricamente

(CAPARROZ, 2007, p.11).

Ainda segundo Caparroz (2007), outro fenômeno que foi de vital importância para

marcar esse período refere-se ao surgimento de novas concepções para a área da

Educação Física como a crítico superadora, desenvolvimentista, construtivista, entre

outras. Nesse estudo não iremos aprofundar nas discussões referentes ao movimento

renovador da educação física e, consequentemente, na elaboração de abordagens,

entretanto, destacamos que dentre as literaturas que explicitam esse assunto estão:

Metodologia do ensino da Educação Física (SOARES et al.,1992), Educação Física

Escolar: uma abordagem desenvolvimentista (TANI et al.,1988), Educação Física e

Sociedade (BETTI, 1991).

Na seção seguinte, aprofundaremos melhor as leis que regem a inclusão e

participação da Educação Física nos currículos escolares brasileiros.

1.2 AS DIRETRIZES LEGAIS QUE EMBASARAM A HISTORIA DA EDUCAÇÃO

FÍSICA BRASILEIRA

Podemos perceber legalmente de que forma a Educação Física configurava-se no

Ensino Médio (EM), na primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – Lei

nº 4024 de 20 de dezembro de 1961, a Educação Física é contemplada no artigo 22, em

que a literatura fora redigida na seguinte forma “Será obrigatória à prática da educação

física nos cursos primário e médio até idade de 18 anos” BRASIL (1961 apud SOUZA

JÚNIOR; FERREIRA, 2009, p.3).

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De acordo com BRASIL (1971 apud SOUZA JÚNIOR; FERREIRA, 2009, p. 04)

a LDB passou pela sua primeira reformulação, deixando de estabelecer um limite de

idade e promovendo facultatividades, isentando a participação de determinados grupos

de alunos nas aulas: Possuir idade superior a 30 anos; prestadores de serviço militar;

possuir jornada de trabalho superior a 6 horas diárias; possuir algum tipo de deficiência

física; estudar em período noturno. Ficam claras as intenções governamentais da época

quanto a real finalidade da Educação Física que é preparar fisicamente o trabalhador.

Considerando-a ainda como uma atividade extra-curricular, a disciplina não era vista

enquanto um elemento do sistema educacional brasileiro que colaborava na formação

dos educandos.

Em 1996, com promulgação da nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação

Nacional – Lei 9.394/96, a Educação Física teve seus “status” modificado sendo

concebida como componente curricular obrigatório no ensino básico. Na legislação, em

seu art. 26 - § 3.º ela é entendida da seguinte forma “A educação física, integrada a

proposta pedagógica da escola, é componente curricular da educação básica, ajustando-

se às faixas etárias e às condições da população, sendo facultativa nos cursos noturnos”

(BRASIL,1996).

Apesar da Educação Física ser considerada, a partir deste momento, como um

elemento da educação brasileira, sendo introduzida a proposta pedagógica da escola, ela

ainda não atingiu determinadas conquistas, pois seu artigo ainda era inconsistente,

abrindo “brechas” como a formação dos indivíduos que desempenhariam a função de

educadores físicos na escola. Tentando efetivar a presença da Educação Física em toda a

educação básica, uma nova alteração no § 3.º do art. 26 da LDB no ano de 2001,

incluindo assim o termo “obrigatório” seguido da expressão “componente curricular” a

sua leitura. É inegável que isso trouxe um avanço significativo, pois com isso a mesma

se inseriu no projeto político pedagógico da escola como elemento obrigatório, porém

entraves a sua atuação ainda se perpetuaram, como a facultatividade do oferecimento

aos alunos do período noturno, impossibilitando-os de ter acesso aos conteúdos da

Educação Física que, segundo Soares et al. (1992), são pertencentes a cultura corporal:

os jogos, a dança, as lutas, a ginástica e o esporte.

Com o intuito de modificar essa realidade, facultando a presença desse público

nas aulas, em 01 de dezembro de 2003, através da alteração da lei n. º 10.793

determinou-se agora que as aulas de Educação Física fossem facultadas aos estudantes

que, independentemente do período de estudo, encaixem-se nas condições seguintes:

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trabalhadores, militares, mulheres com prole e pessoas com mais de 30 anos (BRASIL,

2003).

Agora que compreendemos como a disciplina veio sendo introduzida na escola e

seu embasamento legal, na próxima seção, entenderemos como ela foi sendo inserida na

etapa de estudos do ensino básico compreendida como Ensino Médio.

1.3 O CONTEXTO DA EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR NO ENSINO MÉDIO

Essa etapa de estudos é considerada a última no ensino básico, segundo a LDB nº

9.394 de 20 de dezembro de 1996 – Seção IV – Art. 35, o ensino médio prevê a

consolidação e aprofundamento dos conhecimentos adquiridos no ensino fundamental,

de acordo com Frey (2007), a mesma lei evidencia outras finalidades dadas a ele como,

aprimoramento da educação humana, formação ética, cultivar o pensamento crítico, a

autonomia intelectual e etc. Quanto ao conhecimento trabalhado pela Educação Física,

nessa fase não deve, ou pelo menos não deveria ser diferente, mas infelizmente ainda

nos estudos de Frey (2007, s/ p.) há o relato de que “[...] se analisarmos bem a Educação

Física, podemos observar que essa continuidade no Ensino Médio em relação às

experiências vividas pelo educando no Ensino Fundamental não ocorre”. Para visualizar

concretamente essa questão, a seguir destacamos alguns estudos que descrevem os

problemas que historicamente vem assolando a atuação da disciplina na escola.

Neste sentido, Lorenz e Tibeau (2003) evidenciam que há a falta de uma possível

sistematização dos conteúdos trabalhados pela Educação Física no Ensino Médio,

fazendo com que os alunos nessa etapa de ensino não compreendam a disciplina como

uma área de conhecimento, como um objeto de estudo próprio, e sim como uma

atividade oferecida pela escola, para fins esportivos e recreativos. Outro ponto que acho

relevante a ser mencionado nesse estudo é a questão da facultatividade dedicada a

determinados grupos de alunos, legalmente estabelecida pela LDB, pois de acordo com

Darido e Souza Júnior (2009) mesmo com a alteração na Lei 10.793 de 2003, tentando

suprimir a facultatividade nos cursos noturnos, a mesma ainda representa um retrocesso

de mais de 30 anos, onde se considerava a Educação Física como uma atividade extra-

curricular e não como possuidora de um corpo de conhecimentos relevantes para a vida.

No ensino médio a valorização das capacidades físicas, em que existe o processo

de seleção dos mais habilidosos, dos chamados “atletas”, é freqüente nas aulas de

Educação Física, essa seleção dos mais aptos, por parte dos professores, destacam

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apenas aqueles alunos que possuem melhor habilidade técnica nos esportes, fazendo

com que aconteça com a disciplina o que Barni e Schneider (2008, p. 2) apontam em

sua pesquisa “A Educação Física acaba assumindo um caráter de treinamento ou

adestramento do movimento corporal, onde a principal função é formar o atleta capaz de

realizar o gesto desportivo com máximo rendimento”. Isso pode ser considerado um

equívoco para atuação do educador em suas aulas, visto que, de acordo com Reis (2008)

o que se percebe hoje é uma grande heterogeneidade nas turmas escolares, levando em

consideração os aspectos cognitivos, afetivos antropométricos, motores e físico dos

alunos, sem falar na grande quantidade de alunos, encontrada hoje em dia nas turmas

escolares.

A partir do exposto, podemos perceber que mesmo enfrentando todos esses

problemas, a Educação Física desde o ano de 2009, ingressou no processo seletivo do

ENEM, debate que iremos explicitar melhor na próxima seção.

2 EXAME NACIONAL DO ENSINO MÉDIO: A INCLUSÃO DA EDUCAÇÃO

FÍSICA

Para iniciar esta seção, cabe-nos primeiramente entender melhor o que é o

chamado ENEM. Criado em 1998, pelo MEC, tinha inicialmente como objetivo

principal avaliar o desempenho que os estudantes egressos do Ensino Médio possuíam.

Outra possibilidade oferecida pelo exame era de ser utilizado para complementação de

vestibulares em todo o país. Em 2003 o ENEM teve seu status consolidado ao ser

utilizado como processo de seleção para estudantes que pleiteavam uma vaga no

Programa Universidade Para Todos (PROUNI). Segundo Souza Junior e Ferreira

(2009), ao acessarem o Relatório Pedagógico do ENEM de 2005, identificaram que a

proposta desse exame pautou-se na LDB de 1996 e assim evidenciam que:

[...] à educação tecnológica básica, a compressão da ciência, das letras, das

artes, do processo histórico de transformação da sociedade e da cultura.

Propõe promover o domínio das formas contemporâneas de linguagem, dos

princípios tecnológicos, da produção moderna e dos conhecimentos

filosóficos e sociológicos para o exercício da cidadania, conduzindo-se este

ensino e sua avaliação de forma a estimular a iniciativa dos estudantes

(BRASIL, 2007 apud SOUZA JUNIOR; FERREIRA, 2009, p. 8).

Seguindo esta perspectiva, a avaliação por este exame deixaria de ser através de

componentes curriculares isolados, mas sim de uma matriz pedagógica que visa a

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interdisciplinaridade com áreas constituídas: Ciências da Natureza e suas Tecnologias,

Ciências Humanas e suas Tecnologias, Linguagens e Códigos e Suas Tecnologias,

Matemática e suas Tecnologias. Tudo isso seguindo a fundamentação teórica -

metodológica do ENEM pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais

“Anisio Teixeira” (INEP) em 2006. A prova avalia as chamadas “competências” dos

estudantes que por sua vez, testa suas “habilidades” em cada uma das grandes áreas de

conhecimento explicitadas anteriormente.

No ano de 2009, o ENEM passou a funcionar como processo de seleção para a

entrada de alunos em universidades e institutos federais. Segundo o então ministro da

educação Fernando Haddad, a sugestão seria que o ENEM adquire-se o papel de

vestibular unificado nacionalmente, sendo assim, as instituições de ensino superior

poderiam utilizar a nota da prova para seleção de seus universitários. Basicamente o

exame continuava com as cinco grandes áreas de conhecimento, porém no novo formato

criado pelo INEP, a prova possuirá 180 questões objetivas, divididas em 4 partes, sendo

assim 45 questões para cada área de conhecimento (GUIA DO ESTUDANTE, 2009).

Em relação a participação da Educação Física no ENEM, a disciplina encontra-se

vinculada a área de Linguagens Códigos e suas Tecnologias, de acordo com Brasil

(2009, p. 02) a disciplina exige dos alunos a seguinte competência com suas respectivas

habilidades:

Competência de área 3 - Compreender e usar a linguagem corporal como

relevante para a própria vida, integradora social e formadora da identidade,

com três habilidades descritas abaixo:

H9 - Reconhecer as manifestações corporais de movimento como originárias

de necessidades cotidianas de um grupo social.

H10 - Reconhecer a necessidade de transformação de hábitos corporais em

função das necessidades cinestésicas.

H11 - Reconhecer a linguagem corporal como meio de interação social,

considerando os limites de desempenho e as alternativas de adaptação para

diferentes indivíduos.

São discriminados os assuntos relacionados com a competência de área referente à

Educação Física, intitulado de Estudo das Práticas Corporais, os seguintes assuntos

segundo Brasil (2009, p.16):

[...] Performance corporal e identidades juvenis; possibilidades de vivência

crítica e emancipada do lazer; mitos e verdades sobre os corpos masculino e

feminino na sociedade atual; exercício físico e saúde; o corpo e a expressão

artística e cultural; o corpo no mundo dos símbolos e como produção da

cultura; práticas corporais e autonomia; condicionamentos e esforços físicos;

o esporte; a dança; as lutas; os jogos; as brincadeiras.

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Finalizando assim a compreensão da inclusão da Educação Física no ENEM,

passaremos para o entendimento do percurso e os procedimentos metodológicos que

nortearam esta pesquisa.

3 MATERIAL E MÉTODO

A pesquisa sem dúvida é o principal meio para descoberta de novos horizontes

para todas as áreas do conhecimento, para Marconi e Lakatos (2007, p. 157) “a

pesquisa, é um procedimento formal, com método de pensamento reflexivo, que requer

um tratamento cientifico e se constitui ao caminho para descobrir verdades parciais”.

Considerando todos os fatores necessários para a elaboração de uma pesquisa

cientifica, buscamos compreender através da fala de Gil (2007, p.17) que “a pesquisa é

desenvolvida mediante o concurso dos conhecimentos disponíveis e a utilização

cuidadosa de métodos, técnicas e outros procedimentos científicos”. Neste sentido,

preocupados com a apreensão e explicação rigorosa de nosso objeto de estudo é que

anunciamos a seguir nossas escolhas teórico-metodológicas.

Visto ser uma linha de estudos com poucas literaturas pertinentes ao assunto

abordado, optamos por fazer um levantamento e posteriormente uma análise

bibliográfica de periódicos, artigos e livros que abordem a temática da Educação Física

no Ensino Médio e sua relação com o ENEM no período compreendido entre 2006 a

2010.

Tais estudos, foram coletados em sites de pesquisa como google, bancos de teses,

dissertações e artigos2 que tratassem da inclusão da educação física em exames

vestibulares e no ENEM.

Segundo Marconi e Lakatos (2007), a pesquisa bibliográfica ou de fontes

secundárias possibilita ao autor da pesquisa utilizar literatura já exposta ao público

relacionada ao tema de estudo, desde publicações escritas como jornais até monografias

2 Fizemos um levantamento sobre a inclusão da Educação Física no ENEM nos seguintes sites: 1)

Bolet im de Educação Fís ica : ht tp: / /bo let imef .org/bib lio teca ; 2) Banco de teses da

CAPES : ht tp: / /capesdw.capes.gov.br /capesdw ; 3) Bibl ioteca Digita l de Teses e

Dissertações (BDTD) : ht tp: / /bd td. ibic t .br / ; 4) Núcleo Brasi leiro de Dissertações e

Teses em Educação , Educação Física e Educação Especial (NUTESES) ht tp: / /www.nuteses. temp.ufu.br / tde_busca /index. php ; 5) Dominio Público :

ht tp: / /www.dominiopubl ico.gov.br /pesquisa /pesquis aperiod icoform. jsp ; 6) Lecturas,

Educación Física y Deportes: www.efdeportes.com; 8) Revista Brasileira de Ciências do

Esporte: www.rbceonline.org.br.

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e revistas. Para Manzo (1971 apud MARCONI; LAKATOS, 2007, p.185), a

bibliografia pertinente oferece meios para definir e resolver, não somente problemas já

conhecidos, como também explorar novas áreas nas quais os problemas não se

cristalizaram suficientemente.

Esse estudo caracteriza-se por ser uma pesquisa qualitativa, seguindo a concepção

de Minayo (1999) ao tentar compreender a ação lógica dos fenômenos, não podendo

assim, quantificá-los. Ainda tentando compreender a aplicabilidade da abordagem

qualitativa nessa pesquisa, buscamos as considerações de Neves (1996, p. 5) ao afirmar

que ela “Compreende um conjunto de diferentes técnicas interpretativas que visam a

descrever e a decodificar os componentes de um sistema complexo de significados”.

Considerando que a presente pesquisa visa um aprofundamento maior sobre os

estudos já elaborados referentes à relação entre Educação Física, ENEM e Ensino

Médio, optamos por um estudo de caráter exploratório, reportando-nos a fala de Gil

(2007, p.41) quando afirma que:

[...] estas pesquisas têm como objetivo principal o aprimoramento de ideias

ou a descoberta de intuições. Seu planejamento é portanto, bastante flexível,

de modo que possibilite a consideração dos mais variados aspectos relativos

ao fato estudado.

Como abordagem epistemológica desta pesquisa, optamos por fazer um estudo

crítico-dialético, já que estamos analisando a relação entre o sujeito e o objeto, de forma

a compreendê-los. Lakatos (2007) ao explicar de forma mais concisa menciona que o

método dialético considera que nenhum fenômeno da natureza pode ser compreendido

de forma isolada, sem possuir uma relação com os acontecimentos norteadores daquele

fato.

Para análise dos dados optamos pela análise do conteúdo, que de acordo com

Trivinõs (1987, p.161), divide-se da seguinte forma: pré-análise (organização do

material), descrição analítica dos dados (codificação, classificação, categorização) e

interpretação referencial (tratamento e reflexão).

A partir das etapas explicitadas, elaboramos os seguintes passos da pesquisa: 1)

Levantamento dos estudos referentes a inclusão da Educação Física no ENEM; 2)

Leitura do material e seleção dos textos de interesse; 3) Leitura do material selecionado

e analise do conteúdo; 4) Organização dos dados coletados.

Sendo assim, torna-se importante utilizar-se desta modalidade de pesquisa para o

embasamento teórico sobre o assunto, facilitando assim a apropriação sobre a temática e

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contribuindo para futuras pesquisas como monografias de graduação e pós-graduação,

dissertações de mestrado e teses de doutorado.

4 RESULTADO E DISCUSSÃO

Para iniciar esta pesquisa, demarcamos o recorte histórico que compreende entre o

ano de 2006, em que foi encontrado o primeiro estudo referente à possível inserção do

componente Educação Física em exames vestibulares, até o ano de 2012. Entretanto, o

último estudo elaborado sobre a inclusão da Educação Física no ENEM foi datado no

ano de 2010, assim como apresentado no quadro abaixo:

Nº ANO TITULO AUTOR (es)

01 2006

A possibilidade da inserção de conteúdos específicos

da educação física em provas de vestibulares

Rodrigo Sentini Fernandez

Glauco Nunes Souto Ramos

02 2009

A educação física frente ao novo Exame Nacional do

Ensino Médio

Osmar Moreira de Souza Júnior –

DEFMH/UFSCar

Sérgio Daniel Ferreira –

PPGE/UFSCar

03

2009

ENEM e Educação física, a reversibilidade como

conceito relevante ao cotidiano: um relato de

experiência sobre a intervenção conceitual em aulas

do ensino médio

Prof. Me. Fabiano Filier Cazetto

Prof. Dr. Pablo Christiano Lollo

Prof. Dr. Paulo Cesar Montagner

04 2010

Conteúdos da educação física escolar e a prova do

ENEM: o olhar dos alunos do curso de graduação em

educação física

Flávio Henrique Lara da Silveira

Zaghi

Através do quadro acima, podemos identificar explicitamente o primeiro estudo

sobre a inclusão da Educação Física em exames de vestibulares no ano de 2006. Logo

após a inclusão desse componente no ENEM em 2009, as pesquisas com essa temática

se iniciaram, tendo uma estagnação no ano de 2010.

4.1 OS DEBATES ABORDADOS NAS PESQUISAS

A partir da leitura dos textos selecionados, percebemos regularidades referentes

aos principais debates sobre a inclusão da Educação Física no ENEM. Neste sentido, o

quadro abaixo representa essas informações:

Nº ANO TITULO DEBATES

01

2006

A possibilidade da inserção de conteúdos

- Reestruturação e Sistematização dos

conteúdos da Educação Física;

- Dimensão de Conteúdo;

- Prática Pedagógica;

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específicos da educação física em provas de

vestibulares

- Exercício Físico e Saúde;

- Colaboração Positiva para a Educação

Física a Inclusão dela como

Componente;

02

2009 A educação física frente ao novo Exame

Nacional do Ensino Médio

- Reestruturação e Sistematização dos

Conteúdos da Educação Física;

- Dimensão de Conteúdo;

- Formação de Professores;

- Analise das Questões de Ed. Física na

Prova do ENEM;

- Colaboração Positiva para a Educação

Física a Inclusão dela como

Componente;

03

2009

ENEM e Educação física, a reversibilidade

como conceito relevante ao cotidiano: um

relato de experiência sobre a intervenção

conceitual em aulas do ensino médio

- Reestruturação e Sistematização dos

Conteúdos da Educação Física;

- Dimensão de Conteúdo;

- Exercício Físico e Saúde;

- Colaboração Positiva para a Educação

Física a Inclusão dela como

Componente;

04

2010 Conteúdos da educação física escolar e a

prova do ENEM: o olhar dos alunos do curso

de graduação em educação física

- Reestruturação e Sistematização dos

Conteúdos da Educação Física;

- Dimensão de Conteúdo;

- Prática Pedagógica;

- Formação de Professores;

- Colaboração Positiva para a Educação

Física a Inclusão dela como

Componente;

Conforme a visualizaçao do quadro, percebemos que os debates perpassam desde

a preocupação com conteúdos a serem privilegiados no ensino médio, formação de

professores, até mesmo o fato da Educação Fisica ser reconhecida como componente

curricular da escola. Entretanto, para aprofundar melhor as informaçoes coletadas sobre

os debates da inclusão da Educação Fisica no ENEM, na proxima sub seção faremos

uma análise do que foi encontrado no material coletado.

4.3 ANÁLISE DOS PRINCIPAIS DEBATES QUE EMERGIRAM DESSA

INCLUSÃO

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Para ilustrar quantitativamente o grau de regularidade dos debates incidentes nas

pesquisas analisadas, utilizamos como recurso o gráfico abaixo:

A partir da demonstração gráfica, percebemos que das 04 pesquisas levantadas

sobre a Educação Física no ENEM, todas debatem sobre os anseios da disciplina em

uma reestruturação e sistematização dos conteúdos presentes nas aulas. Segundo Souza

Júnior e Darido (2009 apud SOUZA JUNIOR; FERREIRA, 2009, p.06)

[...] a identificação, seleção e organização de um conjunto de temas da

cultura corporal de movimento é de fundamental importância para a

construção de uma identidade da Educação Física escolar enquanto área

responsável por um conjunto de conhecimentos. [...] Um ponto de destaque

nessa nova significação atribuída à Educação Física é que a área ultrapassa a

idéia de estar voltada apenas para o ensino do gesto motor correto. Muito

mais que isso, cabe ao professor de Educação Física problematizar,

interpretar, relacionar, compreender com seus alunos as amplas

manifestações da cultura corporal, de tal forma que os alunos compreendam

os sentidos e significados impregnados nas práticas corporais.

Outro ponto levantado por eles é a dimensão dos conteúdos trabalhados pela

disciplina, seja em caráter conceitual e/ou procedimental, demonstrando uma total

preocupação da maneira como vem sendo trabalhado os assuntos, pois de acordo com

Souza Junior e Ferreira (2009) a práxis da Educação Física priorizou historicamente

100%

100%

50%

50%

25%

25%

100%

DEBATES

Reestruturação e Sistematização

dos Conteúdos da Educação

Física;

Dimensão de conteúdo

Prática Pedagógica

Formação de Professores

Exercicio Físico

Analise das Questões de Ed. Física

na Prova do ENEM

Colaboração Positiva para a

Educação Física a Inclusão dela

como Componente

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uma dimensão de conteúdo em caráter procedimental, preocupando com o saber fazer

em detrimento do saber sobre a cultura corporal, totalizando um percentual de 100%.

Questões como a formação dos professores de Educação Física e sua prática

pedagógica vem representando um quantitativo de 50% nas pesquisas, manifestando

assim um crescimento na preocupação desses debates. O estudo de Zaghi (2010) aponta

que em uma das entrevistas feitas com os alunos de um curso de graduação em

Educação Física, durante suas aulas no ensino básico, seus professores de Educação

Física tinham sua formação e prática pedagógica voltadas para a perspectiva tecnicista e

esportivista, impedindo assim o acesso a outras manifestações da cultura de movimento

pelos alunos.

Sobre as questões da participação de exercícios físicos nas aulas, seja em uma

dimensão conceitual ou procedimental foi encontrado apenas em 01 pesquisa,

representando um percentual de 25%, juntamente com a questão de análise sobre as

questões do componente Educação Física surgidas na prova do ENEM. Isso demonstra

pouca representatividade desses aspectos em pesquisas com essa temática.

Por fim, todos os estudos revelam um consenso entre seus autores ao

apontar que, mesmo a Educação Física passando por inúmeras dificuldades como sua

representação por parte de seus atores sociais, alunos e professores, dentre outros

aspectos, a inclusão da disciplina no ENEM, trouxe uma grande contribuição para a

área, por estimular uma reconfiguração enquanto componente curricular do ensino

básico.

CONCLUSÃO

Esta pesquisa teve como propósito fazer um levantamento e análise das literaturas

que trazem como temática a inclusão da Educação Física como componente em exames

com caráter de seleção como os vestibulares, mais especificamente no ENEM.

Acreditamos ter alcançado as respostas para o problema de pesquisa ao identificar os

principais debates que emergiram após essa inclusão.

É notável que as pesquisas sobre a inclusão da Educação Física no ENEM ainda

não estão caminhando a “passos largos”, com certeza um dos fatores para essa situação

é o fato dela ser uma temática nova e a referida inclusão, como já foi explicitado

anteriormente, se deu em 2009, com a reformulação dos conteúdos exigidos pelo

exame.

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Sem dúvida alguma, foi um grande desafio pesquisar uma temática nova, com

poucos estudos disponíveis, mas foi isso que nos impulsionou a desenvolver essa

pesquisa acadêmica. Acreditamos que vencer as barreiras colocadas à frente, contribui

de forma direta para o crescimento e evolução na formação de qualquer acadêmico e

pesquisador.

Esses estudos são extremamente importantes para a área, pois além de levantar os

já conhecidos debates como: formação de professores, prática pedagógica,

reestruturação e sistematização dos conteúdos, dimensão de conteúdo, entre outros,

amplia novos horizontes e possibilidades para a produção do conhecimento.

Outro apontamento que fazemos é que as pesquisas que foram feitas até agora,

ainda não adentraram de forma direta na escola, pois os estudos feitos até o presente

momento foram entrevistas dentro da universidade sobre essa temática. Neste sentido é

de suma importância a realização de pesquisas mais críticas sobre a inclusão da

Educação Física no ENEM, buscando entender o real sentido dessa ação, já que esta

parte de políticas públicas educacionais mais abrangentes, sendo assim orientadas por

distintos interesses, desta forma, tendo que ser alvo de estudos de pesquisadores a

posteriori.

Finalizando assim esta conclusão, evidenciamos o que os autores das pesquisas

ratificaram: a inclusão da Educação Física no ENEM não mudará a situação atual dela

em locus, mas será de grande contribuição para a luta a favor da modificação dos atuais

modelos existentes de ensino da disciplina na escola.

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INCLUSION OF PHYSICAL EDUCATION IN REVIEW NATIONAL HIGH

SCHOOL: ANALYSIS OF THE PRODUCTION OF KNOWLEDGE

Abstract

The present study had as main objective, to analyze the production of knowledge in

research on the topic on the inclusion of physical education curriculum as part of pre-

university exams, but specifically in the National Secondary Education Examination

(ENEM), the methods adopted this study were the qualitative approach, following the

type of exploratory study, the type of research is the literature, with its materials

collected from research sites and databases of dissertations and theses. The result of this

study was achieved through content analysis, obtaining only four relevant studies on the

subject, concluding that this field of study still needs materials which are used for the

theoretical background, but all authors come into agreement on their research,

emphasizing that inclusion becomes of paramount importance in the struggle to change

the current models of teaching physical education at school.

Keywords: Physical Education; High School; ENEM.

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