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UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE TECNOLOGIA E CIÊNCIAS INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO- MESTRADO EM GEOGRAFIA O CAMPO TÉRMICO NA ZONA OESTE DO RIO DE JANEIRO/RJ: UMA CONTRIBUIÇÃO AO ESTUDO DO CLIMA URBANO ANDREWS JOSÉ DE LUCENA Rio de Janeiro

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UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE TECNOLOGIA E CIÊNCIAS

INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO- MESTRADO EM GEOGRAFIA

O CAMPO TÉRMICO NA ZONA OESTE DO RIO DE JANEIRO/RJ: UMA CONTRIBUIÇÃO AO ESTUDO DO CLIMA URBANO

ANDREWS JOSÉ DE LUCENA

Rio de Janeiro

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ANDREWS JOSÉ DE LUCENA

O CAMPO TÉRMICO NA ZONA OESTE DO RIO DE JANEIRO/RJ: UMA CONTRIBUIÇÃO AO ESTUDO DO CLIMA URBANO

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação

em Geografia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro como requisito para obtenção do título de Mestre em Geografia

Orientador: Professor Dr. Jorge Soares Marques

Rio de Janeiro Setembro de 2005

iii

Lucena, Andrews José de. O campo térmico na Zona Oeste do Rio de Janeiro/RJ: uma contribuição ao estudo do clima urbano Andrews José de Lucena. - 2005.

154 f.: il. Orientador: Jorge Soares Marques.

Dissertação (Mestrado em Geografia) – Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Instituto de Geociências, Departamento de Geografia. Rio de Janeiro, 2005.

Bibliografia: f. 147-154.

1. Clima urbano. 2. Zona Oeste/RJ 3.Dissertação. 4. Climatologia Geográfica – Rio de Janeiro – Dissertação. I. Marques, Jorge Soares. II. Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Instituto de Geociências. III. Título.

iv

ANDREWS JOSÉ DE LUCENA

O CAMPO TÉRMICO NA ZONA OESTE DO RIO DE JANEIRO/RJ: UMA

CONTRIBUIÇÃO AO ESTUDO DO CLIMA URBANO Dissertação apresentada ao Instituto de Geociências

da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, como requisito parcial para obtenção

do grau de mestre em Geografia Aprovado em: ______________________

BANCA EXAMINADORA

______________________________________________________________ Profº. Drº. Jorge Soares Marques – Orientador

Universidade do Estado do Rio de Janeiro

_______________________________________________________________ Profª. Dra. Ana Maria de Paiva Macedo Brandão

Universidade Federal do Rio de Janeiro

________________________________________________________________ Profº. Drº. Ricardo Miranda

Universidade do Estado do Rio de Janeiro

________________________________________________________________ Profª. Drª. Ana Valéria Freire Allemão Bertolino

Universidade do Estado do Rio de Janeiro

v

Dedico este trabalho a Deus que por intermédio de Jesus Cristo

tem me sustentado até aqui com a sua graça.

vi

AGRADECIMENTOS

Não sei como consegui entrar para o mestrado e sobreviver aos primeiros meses do curso,

pois neste período atravessei os momentos mais tenebrosos de toda a minha vida Se não fosse

Deus eu não estaria aqui. Posso me lembrar das palavras do salmista Davi no Salmos 124: 2,

3a, 4a e 8: “Se não fora o Senhor, que esteve ao nosso lado, quando os homens se levantaram

contra nós, eles nos teriam tragado vivos,... as águas nos teriam submergido,... O nosso

socorro está no nome do Senhor que fez os céus e a terra”. Graças a Deus que me deu a

vitória por meio de Jesus Cristo e que nada pode me separar do amor de Deus, que está em

Cristo Jesus meu Senhor (I Coríntios 15:57; Romanos 8:39).

Tive apoio de um grupo de pessoas especiais que me ajudaram durante minha jornada e estão

comigo até hoje.

Em muito particular minha amiga Andréia Faé, sempre presente em todos os momentos. Sua

presença e carinho foram fundamentais para que eu não desistisse e acreditasse no amor e na

graça de Deus e para que os laços conspícuos da nossa amizade fossem fortalecidos e

“recheados” em amor e segurança.

Ao meu pastor Nite e ao Cidrini. Palavras certas nas horas incertas. Doação e carinho!

À família Cavachini nas pessoas do José Carlos, Lúcia e Crícia. Senti o amor de vocês muito

de perto.

Aos meus amigos Jorge, Fabiana, Carol, Waltinho e Priscila.

À irmã Marli, Rose, Marivan e Angélica.

Ao amigo Pedro Melo.

Ao Marcus Silva, junto a mim desde o inicio da minha jornada cristã.

À amiga Daniela França.

Ao Pastor Renato, irmã Helenice, Cristina, Fábio Ferreira e Josué Melo. Ao irmão Ocnair

Macedo, tia Leni, irmã Darci e Wagner Frascino.

vii

A minha querida Igreja Batista do Rio da Prata (IBRP), em Bangu/RJ.

A todos os pastores por mim convidados para o “Culto Jovem”, enquanto estive na direção

desta programação.

Aos meus alunos de 5 e 6 anos da Escola Bíblica Dominical (EBD) de todas as manhãs de

domingo na IBRP.

Ao Alex, Rosane e Júnior.

À Juliana Fae, que conquistou meu coração.

Ao Dr. Wanderley e a Drª. Cristiane.

À Adriana Dallier, minha “mãe adotiva”.

A minha mamãe Darci, sempre dedicada a mim. Um manancial refrescante de amor.

Ao meu pai Laé.

Aos meus irmãos Anderson e Andrey e a minha cunhada Cláudia.

Ao meu primo William.

A minha vovó Vitória.

A minha Tia Dalma e tio Rosir. As minhas tias Dalva e Neia.

Os meus agradecimentos, agora, são às pessoas e instituições que me auxiliaram de alguma

maneira na elaboração da dissertação.

Ao Edson Fialho, do início ao fim comigo, orientando, corrigindo e abrindo novas janelas

para o meu conhecimento.

Ao programa de pós-graduação em Geografia da UERJ e aos professores deste programa.

Ao Instituto Nacional de Meteorologia (INMET) e ao Serviço Regional de Proteção ao vôo

(SRPV) do Ministério da Aeronáutica pela disponibilidade dos dados térmicos das séries

temporais de Bangu, Praça XV, Campo dos Afonsos e Santa Cruz.

Ao meu professor e orientador Jorge Marques pela paciência e sugestões no decorrer de toda a

dissertação.

viii

Ao professor Ricardo da Meteorologia/UERJ que se doou em me ajudar e a me capacitar.

À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) que me concedeu

a bolsa de mestrado durante grande parte do curso de mestrado.

À professora e amiga Ana Brandão pelo estímulo e carinho e pela disponibilidade dos

instrumentos para a realização dos trabalhos de campo.

Ao grupo CLIMAGEO/UFRJ, em especial ao Jorge, Leilane e Tiago que se “despencaram”

para as “terras longínquas” da Zona Oeste e me ajudaram nas medições dos transetos fixos.

Ao grupo ESPAÇO de Sensoriamento Remoto da UFRJ nas pessoas da Stella e “Vini” que

construíram grande parte dos mapas da dissertação.

Ao meu amigo e engenheiro cartográfico Junior que elaborou uma outra parte dos mapas e

figuras, calculou suas escalas e refez a legenda.

Ao Carlos, Vagner, Alessandro, Cássio e Jamerson pela ajuda nos transetos fixos e móveis.

Ao meu primo William, Leonardo e ao meu primo “paulistano” Sthephan pela dedicação em

aprender e a me ajudar nos transetos móveis e fixos.

À colega Anny de Sepetiba, a Raquel e ao João da UERJ, aos meus alunos Alan e Cristian de

Climatologia/UFRJ do 1º período de 2004 e a colega Tereza da UFRJ que se prontificaram

em me ajudar nas medidas dos transetos fixos.

ix

“Os justos clamam e o Senhor os ouve, e os livra de todas as suas angústias.

Muitas são as aflições do justo, mas de todas elas o Senhor o livra.

Portanto, agora nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus.

Porque a lei do Espírito da vida, em Cristo Jesus, me livrou da lei do pecado e da morte”.

Salmos 34:17,19. Romanos 8:1,2.

x

RESUMO

Este trabalho teve por objetivo conhecer o clima urbano da Zona Oeste do Rio de Janeiro/RJ (Área de Planejamento 5) focado na análise do seu campo térmico, tendo como base os postulados metodológicos do Sistema Clima Urbano. Apoiado nas hipóteses “evolução urbana e aumento das médias térmicas” e a “provável disposição da Zona Oeste em gerar ilhas de calor” foram realizadas análises da evolução da temperatura das séries temporais das estações meteorológicas da Praça XV, Campo dos Afonsos, Bangu e Santa Cruz e medidas episódicas, em campo, no verão e inverno, através de transetos fixos e móveis. Os resultados gerais indicam um aumento nas médias térmicas das estações, em até 1ºC, principalmente na Praça XV e Bangu, estações com série temporal mais longa. Nas medidas por transetos fixos, a ilha de calor com intensidade máxima ultrapassou os 6ºC e se espacializou no bairro de Campo Grande, enquanto a ilha de frescor permaneceu no bairro praiano de Barra de Guaratiba. Nas medidas móveis foram identificados núcleos mais quentes da ilha de calor na baixada de Bangu em oposição à baixada de Santa Cruz. Com os resultados conclui-se que os produtos do espaço urbano e os atributos do sítio foram responsáveis pela evolução e tendência das médias térmicas e pela configuração das ilhas de calor e frescor. Na perspectiva em contribuir com as diretrizes de planejamento para a Zona Oeste foi elaborado um mapa de síntese climática denominado como “unidades topoclimáticas urbanas da Zona Oeste”, tendo como base os dados climáticos gerados em campo e os mais diversos elementos do uso do solo urbano (densidade demográfica e construída, tipologia do uso do solo e cobertura vegetal). As unidades definem a baixada de Bangu como a área mais quente de toda a área de estudo, com principal destaque ao bairro de Campo Grande, classificado como unidade D (temperatura superior a 28ºC). Em um outro extremo define-se o bairro de Barra de Guaratiba como a área mais amena da Zona Oeste, classificado como unidade A (temperatura inferior a 25ºC). Palavras chave: Zona Oeste/RJ; Clima urbano; Climatologia Geográfica

xi

ABSTRACT

The aim of this work was to analyze the urban climate of Rio de Janeiro/ RJ West Zone (Planning Area 5) focused on the analysis of its termic field, supported on methodological reference of Urban Climate System. Supported on the hypotheses “urban evolution and increase of termic averages” and the “probable disposition of West Zone in making heat islands” were make analyses of temperature evolution of meteorological station data in Praça XV, Campo dos Afonsos, Bangu and Santa Cruz degrees made in field, in summer and winter using fixed and movables transects. The results more general point to a increase in station termic averages, up to 1ºC, mainly in Praça XV and Bangu, stations with quantity of data more expressive. In degrees made using fixed and movable, the heat island with maximum intensity exceeded 6ºC and was located transects in Campo Grande neighborhood, while the cold island remained in shore Barra de Guaratiba neighborhood. In movable degrees were identified in Bangu lowland heat island nuclei hotter than in Santa Cruz lowland. With the results conclude that the urban space products and the attributes of place were responsible for evolution and tendency of termic averages and for configurations of heat and cold islands. In perspective of contributing to the planning guidelines to West Zone was made a climatic synthesis called “urban topoclimatic units of West Zone” based on climatic data produced in field and a great number of elements of the use of the urban soil (demographic density and constructed density, tipology of the use of the soil and vegetal cover). The units define the Bangu lowland like the hotest area in all study area, with main prominence to neighborhood of Campo Grande, classified like D unit (temperature higher than 28ºC). In the other extreme, the neighborhood of Barra de Guaratiba is defined like the most amenable area in West Zone, classified like A unit (temperature lower than 25ºC). Keywords: West Zone/RJ; Urban Climate; Climatology geographic.

xii

LISTA DE FIGURAS

Figura 2.1 - Esquema representativo dos setores com modificações nos elementos do

clima urbano na horizontal e vertical

6

Figura 3.1 - Localização da AP-5 no município do Rio de Janeiro 27

Figura 3.2 - Disposição das baixadas e maciços na cidade do Rio de Janeiro 29

Figura 3.3 - Baixada de Bangu 30

Figura 3.4 - Baixada de Guaratiba 31

Figura 3.5 - Centros de ação atmosférica atuante no Brasil

Figura 3.6 – Massas de ar que atuam no Brasil

Figura 3.7 – Os tipos climáticos do Brasil

Figura 3.8 – Os tipos climáticos no estado do Rio de Janeiro

31

33

34

36

Figura 3.9 - Sistema de ventos predominantes na cidade do Rio de Janeiro 37

Figura 3.10 – Sistema de circulação atmosférica local na baixada de Bangu 39

Figura 3.11– Uso do solo na Baixada de Bangu 45

Figura 3.12 – Uso do solo na Baixada de Santa Cruz e Guaratiba 46

Figura 3.13 - Centro comercial de Campo Grande (nas imediações da rodoviária) 48

Figura 3.14 - Centro comercial de Santa Cruz (nas imediações da rua Senador

Camará)

49

Figura 3.15 - Remanescente agrícola nas encostas da Serra de Bangu (Maciço da

Pedra Branca)

49

Figura 3.16- Remanescente agrícola no “bairro” Rio da Prata em Campo Grande 50

Figura 4.1 - Rede de estações meteorológicas na cidade do Rio de Janeiro 52

Figura 4.2 - Distribuição das estações meteorológicas da Praça XV, Campo dos

Afonsos, Bangu e Santa Cruz na cidade do Rio de Janeiro

53

Figura 4.3 - Distribuição dos transetos fixos e móveis na Zona Oeste da cidade do Rio

de Janeiro

59

Figura 4.4 - Transeto fixo em Realengo e Bangu 60

Figura 4.4.1 – Localização do transeto fixo em Bangu 61

Figura 4.4.2 – Localização do transeto fixo em Realengo 62

Figura 4.5 - Transeto fixo em Campo Grande 63

Figura 4.5.1 – Localização do transeto fixo em Campo Grande 64

Figura 4.6 - Transeto fixo em Barra de Guaratiba 65

Figura 4.6.1 – Localização do transeto fixo em Barra de Guaratiba 66

xiii

Figura 4.7 - Transeto fixo em Santa Cruz 67

Figura 4.7.1 – Localização do transeto fixo em Santa Cruz 68

Figura 4.8 - Transeto fixo em Sepetiba 69

Figura 4.8.1 – Localização do transeto fixo em Sepetiba 70

Figura 4.9 - Psicrômetro de funda e acessórios utilizados durante as medidas fixas 71

Figura 4.10 - Transeto móvel I (Bangu-Av. Brasil) e II (Bangu-Realengo) 73

Figura 4.10.1 – Localização do transeto móvel I (Bangu-Av. Brasil) 74

Figura 4.10.2 – Localização do transeto móvel II (Bangu-Realengo) 76

Figura 4.11 - Transeto móvel III (Santa Cruz-Sepetiba) e II (Santa Cruz-Av. Brasil) 78

Figura 4.11.1 – Localização do transeto móvel III (Santa Cruz-Sepetiba) 79

Figura 4.11.2 – Localização do transeto móvel IV (Santa Cruz-Av. Brasil) 81

Figura 4.12. Termohigrômetro digital utilizado nos transetos móveis 83

Figura 5.1: Vista aérea da baixada de Bangu em 1907 102

Figura 5.2: Vista aérea da baixada de Bangu em 2005 102

Figura 5.3 - Carta sinótica de superfície da América do Sul (12:00 GMT – 26/01/04) 105

Figura 5.4 - Carta sinótica de superfície da América do Sul (00:00 GMT - 27/01/04) 106

Figura 5.5 - Imagem de satélite da América do Sul vapor d´água (09:39 GMT –

26/01/04)

106

Figura 5.6 - Imagem de satélite da América do Sul vapor d´água (15:09 GMT –

26/01/04)

107

Figura 5.7 - Imagem de satélite da América do Sul vapor d´água (21:09 GMT –

26/01/04)

107

Figura 5.8 - Variação horária e intensidade da ilha de calor no transeto Realengo-

Sepetiba no dia 26/01/2004

110

Figura 5.9- Carta sinótica de superfície da América do Sul (00:00 GMT – 29/07/04) 118

Figura 5.10 - Carta sinótica de superfície da América do Sul (12:00 GMT – 29/07/04) 118

Figura 5.11 - Carta sinótica de superfície da América do Sul (00:00 GMT – 30/07/04) 119

Figura 5.12 - Imagem de satélite da América do Sul – vapor d`água (08:09 GMT –

29/07/04)

119

Figura 5.13 - Imagem de satélite da América do Sul – vapor d`água (16:09 GMT –

29/07/04)

120

Figura 5.14 - Imagem de satélite da América do Sul – vapor d`água (21:09 GMT –

29/07/04)

120

xiv

Figura 5.15 - Variação horária e intensidade da ilha de calor no transeto Realengo-

Sepetiba no dia 29/07/2004

122

Figura 5.14 - Unidades topoclimáticas urbanas na Zona Oeste/RJ 134

Figura 5.15: Bairro “Rio da Prata” em Campo Grande 139

Figura 5.16 - Unidades climáticas urbanas da cidade do Rio de Janeiro 140

Figura 5.17 - Unidades topoclimáticas da Ilha do Governador/RJ 141

xv

LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 3.1: Normal climatológica da estação principal da cidade (Praça XV) no

período entre 1961-1990

37

Gráfico 3.2 - População residente nas APs entre 1970 e 2020 e projeção para 2010

e 2020

43

Gráfico 5.1 - Variação e tendência da temperatura média anual na Praça XV/RJ

no período entre 1921-1990

89

Gráfico 5.2 - Evolução anual da temperatura média compensada na estação

meteorológica da Praça XV/RJ no período entre 1851-1990

90

Gráfico 5.3 - Variação e tendência da temperatura média decenal na Praça XV/RJ

no período entre 1921-1990

91

Gráfico 5.4 - Variação e tendência da temperatura média anual em Campo dos Afonsos

/RJ no período entre 1973-2000

92

Gráfico 5.5 - Variação e tendência da temperatura média anual em Bangu/RJ no

período entre 1922-2000

93

Gráfico 5.6 - Variação e tendência da temperatura média decenal em Bangu/RJ no

período entre 1922-2000

94

Gráfico 5.7 - Variação e tendência da temperatura média anual em Santa Cruz/RJ no

período entre 1971-2000

95

Gráfico 5.8 - Variação e tendência da temperatura máxima anual na Praça XV,

Campo dos Afonsos, Bangu e Santa Cruz/RJ no período entre 1921-2000

96

Gráfico 5.9 - Variação e tendência da temperatura mínima anual na Praça XV,

Campo dos Afonsos, Bangu e Santa Cruz/RJ no período entre 1921-2000

97

Gráfico 5.10 - Variação e tendência da temperatura média compensada anual na

Praça XV, Bangu e Santa Cruz/RJ no período entre 1921-1990

98

Gráfico 5.11 - Variação da temperatura máxima decenal na Praça XV, Campo dos

Afonsos, Bangu e Santa Cruz/RJ no período entre 1921-2000

100

Gráfico 5.12 - Variação da temperatura mínima decenal na Praça XV, Campo dos

Afonsos, Bangu e Santa Cruz/RJ no período entre 1921-2000

100

Gráfico 5.13 - Variação da temperatura média compensada decenal na Praça XV e

Bangu /RJ no período entre 1921-1980

103

Gráfico 5.14 - Distribuição diária da temperatura e da pluviosidade nas estações

meteorológicas de Santos Dumont, Campo dos Afonsos, Bangu e Santa Cruz no mês

xvi

de janeiro de 2004 108

Gráfico 5.15 - Variação horária (7h, 14h e 21h.) da ilha de calor entre os transetos I, III

e IV no dia 26/01/04

113

Gráfico 5.16 - Distribuição diária da temperatura e da pluviosidade nas estações

meteorológicas de Santos Dumont, Campo dos Afonsos e Santa Cruz no mês de julho

de 2004

121

Gráfico 5.17 - Variação horária (6h, 13h e 20h.) da ilha de calor entre os transetos I, III

e IV no dia 29/07/04

127

xvii

LISTA DE QUADROS

Quadro 2.1 - Alterações locais nos elementos climáticos produzidas pela urbanização 8

Quadro 2.2 - Articulações dos sistemas segundo os canais de percepção do Sistema

Clima Urbano (SCU)

10

Quadro 2.3 - Categorias taxonômicas da organização geográfica do clima e suas

articulações com o Clima urbano

12

Quadro 2.4 - Estudos em clima urbano em cidades brasileiras, segundo os canais de

percepção

16

Quadro 3.1 - População residente e taxa de crescimento demográfico das freguesias

do Rio de Janeiro

41

Quadro 3.2 - População residente na cidade do Rio de Janeiro em 1940, 1950 e 1960 e

taxa de crescimento por circunscrição censitária

Quadro 3.3 – Área territorial, uso do solo (área natural e urbanizada) e densidade

construída nas Regiões Administrativas da AP-5

42

44

Quadro 4.1 - Série temporal dos dados de temperatura das estações meteorológicas da

Praça XV, Campo dos Afonsos, Bangu e Santa Cruz

54

Quadro 4.2 - Kilometragem e tempo de percurso dos transetos móveis 83

Quadro 4.3 - Magnitudes da ilha de calor 86

Quadro 5.1 - Quadro-síntese das médias diárias no transeto Realengo-Sepetiba no dia

26/01/04

111

Quadro 5.2 - Taxas de aquecimento e resfriamento ao longo dos transetos móveis no

dia 26/01/04

116

Quadro 5.2 - Quadro-síntese das médias diárias no transeto Realengo-Sepetiba no dia

29/07/04

125

Quadro 5.4 - Taxas de aquecimento e resfriamento ao longo dos transetos móveis no

dia 29/07/04

130

Quadro 5.5 - Feições topoclimáticas (de acordo com os elementos do clima e os

padrões de uso do solo)

134

xviii

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO 1

1.2. JUSTIFICATIVA E OBJETIVOS 2

2. FUNDAMENTOS TEÓRICOS E CONCEITUAIS 6

2.1. O CLIMA URBANO E SUAS MODIFICAÇÕES NA CIDADE 6

2.2. O ENFOQUE GEOGRÁFICO DO CLIMA, O SISTEMA CLIMA URBANO

(SCU) E AS ESCALAS TAXONÔMICAS DO CLIMA

9

2.3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 13

3. ÁREA DE ESTUDO 27

3.1. POSIÇÃO GEOGRÁFICA E SITUAÇÃO ADMINISTRATIVA 27

3.2. ASPECTOS FÍSICO-AMBIENTAIS 28

3.2.1 O CLIMA DO RIO DE JANEIRO 31

3.3. DINÂMICA URBANA E ASPECTOS SÓCIO-DEMOGRÁFICOS 40

3.3.1. UM BREVE HISTÓRICO SOBRE A OCUPAÇÃO DAS “TERRAS” DA

ZONA OESTE

40

3.3.2. O USO DO SOLO URBANO 44

4. METODOLOGIA DE ANÁLISE 51

4.1. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS E TÉCNICAS EMPREGADAS 51

4.1.1. A ANÁLISE TÊMPORO-ESPACIAL 51

4.1.1.1. A ESCOLHA DAS ESTAÇÕES METEOROLÓGICAS E O PERÍODO DE

ANÁLISE; FONTE E SELEÇÃO DOS DADOS

51

4.1.1.2. A PROBLEMÁTICA E O TRATAMENTO DOS DADOS 54

4.1.2. A ANÁLISE ESPACIAL DO CAMPO TÉRMICO: OS EXPERIMENTOS DE

CAMPO

57

4.1.2.1. DOS INSTRUMENTOS: AFERIÇÃO E CORREÇÃO DOS DADOS 85

4.1.2.2. A MANIPULAÇÃO DOS DADOS E OS RECURSOS TÉCNICOS 86

4.1.3. AS UNIDADES TOPOCLIMÁTICAS 87

5. ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS 89

5.1. A EVOLUÇÃO DA TEMPERATURA DO AR NA PRAÇA XV/RJ 79

5.2. A EVOLUÇÃO DA TEMPERATURA DO AR EM CAMPO DOS

AFONSOS/RJ

89

5.3. A EVOLUÇÃO DA TEMPERATURA DO AR EM BANGU/RJ 93

5.4. A EVOLUÇÃO DA TEMPERATURA DO AR EM SANTA CRUZ/RJ 94

xix

5.5. CORRELAÇÃO DA EVOLUÇÃO DA TEMPERATURA DO AR ENTRE A

PRAÇA XV, CAMPO DOS AFONSOS, BANGU E SANTA CRUZ/RJ

95

5.5.1. A EVOLUÇÃO DAS MÉDIAS ANUAIS 95

5.5.2. A EVOLUÇÃO DAS MÉDIAS DECENAIS 99

5.6. OS EXPERIMENTOS DE CAMPO 104

5.6.1. O EPISÓDIO DE VERÃO (26/01/2004) 104

5.6.1.1. A ATUAÇÃO DOS SISTEMAS ATMOSFÉRICOS NO MÊS DE JANEIRO

NA REGIÃO SUDESTE E AS CONDIÇÕES CLIMÁTICAS NA CIDADE DO RIO

DE JANEIRO

104

5.6.1.2. A ANÁLISE DOS PONTOS FIXOS 109

5.6.1.3. A ANÁLISE DOS TRANSETOS MÓVEIS 112

5.6.2. O EPISÓDIO DE INVERNO (29/07/2004) 117

5.6.2.1. A ATUAÇÃO DOS SISTEMAS ATMOSFÉRICOS NO MÊS DE JULHO

NA REGIÃO SUDESTE E AS CONDIÇÕES CLIMÁTICAS NA CIDADE DO RIO

DE JANEIRO

117

5.6.2.2. A ANÁLISE DOS PONTOS FIXOS 122

5.6.2.3. A ANÁLISE DOS TRANSETOS MÓVEIS 127

5.7. AS UNIDADES TOPOCLIMÁTICAS URBANAS DA ZONA OESTE/RJ 132

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS 143

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 147

ANEXOS

1

1. INTRODUÇÃO:

A consciência de uma crise ambiental internacional eclode após a 2ª Guerra Mundial

quando temas como a explosão demográfica, seca, fome, pobreza, desertificação e os

movimentos sociais mundiais (Mendonça, 1994) despertam o interesse pelas questões

ambientais. A conferência mundial sobre meio ambiente e desenvolvimento realizado em

Estocolmo, em 1972, é o marco que estabelece novos posicionamentos da relação do homem

com o meio ambiente.

Neste limiar surge uma preocupação com o “clima” quando se discute “mudanças

climáticas globais”, tendo como tema central uma possível “ameaça do efeito estufa” que

seria responsável por um cenário de “aquecimento global”. Esta ameaça se dá a partir do

aumento na concentração de gases-estufa, os quais contribuem para o aumento da

temperatura da Terra (Seiler e Hahn, 2001).

Todas as discussões e conflitos relacionados ao meio ambiente, entre elas o clima, terá

destaque no espaço da cidade, pois é onde a interação homem, espaço e natureza são

conspícuas, palco de conflitos e mudanças sócio-ambientais. É no espaço urbano da cidade

que as ações introduzidas pelo homem são delimitadas e podem resultar em alterações, tais

como: processos erosivos nas encostas, desmatamento, poluição térmica, hídrica, atmosférica

e sonora, enchentes, inundações etc. Sob esta perspectiva, Souza (2000, p.115) afirma:

a cidade é um ambiente construído extremamente artificial, implicando impactos formidáveis sobre o espaço natural, o assim chamado “meio ambiente” – e quanto maior e mais complexa é a urbe, maiores são esses impactos. A presença dos fatores e condicionantes naturais não desaparece na grande metrópole, contudo; na realidade, os impactos da sociedade sobre o ambiente natural... acabam muitas vezes retornando sobre a sociedade sob a forma de problemas e catástrofes

Portanto, na escala da cidade as mudanças do clima são palpáveis e se percebe nelas a

participação antrópica, pois imprime ali seus insumos o que deriva em “efeitos colaterais” no

clima.

2

As mudanças impostas pelo processo de urbanização acabam por produzir condições

atmosféricas locais bem distintas daquelas que são encontradas em seus arredores. A cidade

"cria" um clima próprio (clima urbano), fruto da interferência do capeamento do solo,

geometria e rugosidade da cidade, material empregado nas construções, emissão de aerossóis,

produção artificial de calor (Danni,1987), entre outros. Assim, como a cidade não é um todo

homogêneo, mas sim um mosaico de paisagens intra-urbanas integradas e interdependentes

entre si, as características de uso e ocupação do solo destas paisagens resultam em

diferenciações espaciais de seus aspectos climáticos locais. (Danni Oliveira, 2000).

1.2. JUSTIFICATIVA E OBJETIVOS:

As cidades metropolitanas abrigam uma população bastante numerosa1 e comportam,

conforme sugere Santos (1981), “várias cidades”. O surgimento de “mais de uma cidade”

dentro da “CIDADE” deve-se a um conjunto de fatores em sua organização espacial, como a

forma de ocupação do sítio, as atividades humanas engendradas neste espaço e a criação de

diferentes ambientes.

Neste ambiente complexo que é o espaço urbano, o estudo do clima urbano é

emergencial, haja vista que os diferentes espaços intra-urbanos oferecem respostas distintas

aos elementos do clima. Conforme aponta Monteiro (1990:11) “é preciso penetrar na cidade,

no seu interior e compreendê-la como fator social produtor de uma acentuada gama de

derivações progressivas”.

Os diferentes momentos de ocupação da cidade do Rio de Janeiro, associado à sua

estrutura física (espreitada entre o mar, a floresta, a montanha e a baixada), condicionaram a

configuração de diferentes espaços intra-urbanos, os quais representam um desafio ao

planejamento e gestão da metrópole.

1 Tendo como exemplo a cidade do Rio de Janeiro, a segunda maior cidade do país, sua população segundo o IBGE (2002) era de 5.857.904.

3

A Zona Oeste da cidade é, atualmente, a principal área de expansão da mancha urbana,

com os mais elevados índices no aumento no número de habitantes e domicílios, se

identificando como uma área de relevante importância urbano-ambiental no contexto

geográfico da cidade do Rio de Janeiro.

Conta com importantes sub-centros comerciais, Realengo, Bangu, Campo Grande e

Santa Cruz, os quais abrigam uma expressiva rede de serviços, transporte e estabelecimentos

comerciais, bancários, educacionais e de saúde. Campo Grande é o principal pólo de atração

da Zona Oeste e que também exerce grande influencia em outras áreas da Região

Metropolitana, como a Baixada e o Sul Fluminense.

Levando em consideração estes aspectos demográficos e funcionais, a Zona Oeste

apresenta um uso diversificado do seu solo, com os mais diferentes padrões nas formas

urbanas (variando das casas residenciais e ruas não pavimentadas dos loteamentos mais

distantes até a concentração das construções, edifícios, ruas asfaltadas, baixo índice de área

verde, intenso fluxo de veículos nas áreas mais próximas do centro dos bairros).

Tendo em vista as particularidades de climas da cidade são identificados na Zona

Oeste, pelo menos, três tipos locais de clima: o “clima de vale”, situado na baixada de Bangu;

o “litorâneo”, identificado nas baixadas de Guaratiba e Santa Cruz e o “clima de altitude”,

encontrado nas áreas mais íngrimes dos maciços.

Em articulação aos aspectos de ocupação do sítio com suas variáveis topográficas e

climáticas a Zona Oeste está vulnerável às mais variadas disfunções e catástrofes ambientais,

dentre as quais a sua disponibilidade a enchentes, poluição atmosférica e a formação de áreas

mais aquecidas que outras (“ilhas de calor”).

Todos estes aspectos que caracterizam a Zona Oeste da cidade do Rio de Janeiro

justificam um estudo mais abrangente e detalhado do seu clima na expectativa de responder as

seguintes hipóteses: “A evolução urbana na Zona Oeste influenciou no comportamento das

4

suas médias de temperatura?” “A Zona Oeste apresenta atributos (seja de ordem natural ou

antrópico) capazes de gerar produtos típicos do clima urbano, como a ilha de calor?”

Baseado nestas hipóteses, o objetivo geral deste trabalho busca:

analisar o processo de expansão urbana durante o século XX e sua possível relação

na “elevação” das temperaturas, com base nos dados de estações meteorológicas;

analisar a variabilidade espaço-temporal do campo térmico através de medições

fixas e móveis, relacionando-os aos mais diferentes padrões de uso do solo.

Implica, portanto, o estudo do clima sob duas perspectivas: a temporal, com base em

estações meteorológicas padrão, e a espacial tendo como base uma rede complementar de

“estações fixas e móveis” de monitoramento através do método dos transetos fixos e móveis,

visando revelar o clima urbano, aquele comprometido com as atividades antrópicas e à

morfologia urbana.

Para se alcançar estes objetivos gerais se faz necessário a aplicação de algumas metas,

as quais correspondem aos objetivos mais específicos, que são:

analisar os dados térmicos das estações meteorológicas de Campo dos Afonsos,

Bangu e Santa Cruz e compará-las com a estação padrão do Centro da cidade (Praça

XV), visando diagnosticar a evolução de suas médias térmicas e identificar suas

tendências, na tentativa de correlacioná-las às diferentes fases de crescimento

urbano;

“instalar” uma rede de monitoramento climático, fixa e móvel, em pontos

selecionados, na tentativa de identificar “ilhas de calor” e/ou “ilhas de frescor”,

associadas ao sítio, aos diferentes padrões de uso do solo urbano e às situações

sinóticas dominantes nas estações de verão e inverno;

elaborar uma proposta de unidades climáticas urbanas para a Zona Oeste.

5

O trabalho se estruturou em seis capítulos:

este capítulo com a introdução, justificativa e objetivos;

o capítulo 2 estabelece os fundamentos do clima urbano e a revisão da literatura

quanto ao estudo do clima urbano;

o capítulo 3 descreve a área de estudo;

o capítulo 4 trata da metodologia de análise, os métodos e técnicas empregadas;

o capítulo 5 apresenta a análise dos dados e a discussão dos resultados;

o capítulo 6 abrange as conclusões do trabalho.

6

2. FUNDAMENTOS TEÓRICOS E CONCEITUAIS

2.1. O CLIMA URBANO E SUAS MODIFICAÇÕES NA CIDADE

Desde a 2ª Guerra Mundial os estudos sobre qualidade de vida urbana tomaram maior

importância, incluindo nestes estudos o enfoque climático, e em particular os estudos sobre o

clima nas cidades, ou simplesmente, “clima urbano”. Para Mendonça (2000, p.167, 168):

o clima constitui-se numa das dimensões do ambiente urbano e seu estudo tem oferecido importantes contribuições ao equacionamento da questão ambiental das cidades. O clima dessas áreas, ou clima urbano, é derivado da alteração da paisagem natural e da sua substituição por um ambiente construído, palco de intensas atividades humanas.

A cidade passa a ser considerada como um “ecossistema1”, obviamente diferente dos

ecossistemas naturais, pois se trata de um meio tecnificado adaptado às necessidades da

espécie humana, e não as espécies vegetais ou animais (García, 1999). A atmosfera urbana

sofre sérias modificações tanto em sua estrutura vertical, quanto horizontal (Figura 2.1).

Figura 2.1: Esquema representativo dos setores com modificações nos elementos do clima urbano na horizontal

e vertical

Fonte: Adaptado de García, 1999 (apud Oke, 1976)

1 O ecossistema urbano pode ser considerado como um conjunto de elementos, processos e inter-relações de tipo físico, químico e biológico característico do meio urbano. O clima, os fluxos de energia, o ciclo de nutrientes e sua estrutura espacial e biológica diferem sensivelmente dos ecossistemas naturais (García, op cit).

7

No esquema da figura 2.1 a camada da baixa troposfera é controlada pela natureza da

geomorfologia urbana tendo como “alicerce” o nível das coberturas das edificações,

denominada de urban boundary layer – camada limite urbana2, podendo influenciar até o seu

entorno (a área rural) através da “nuvem” urbana3. Abaixo da linha de cobertura das

edificações, se compõe um conjunto ainda mais diversificado de combinações entre as feições

topográficas e de uso do solo urbano, denominada como urban canopy layer - camada do

“telhado” urbano4. A cidade opera um metabolismo único que dá origem às modificações

ambientais da cidade e de forma singular sobre os elementos climáticos, resumidas no quadro

2.1.

A superfície “natural” é substituída e recoberta por diversas construções, de casas a

edifícios, que formam um conjunto denso e compacto, modificando o movimento do ar (reduz

a velocidade do vento em superfície e aumenta sua turbulência). Há uma redução do sky view

factor (visibilidade do céu) provocada pelos edifícios que resultam em menores perdas por

radiação de ondas longas nas ruas e canyons urbanos (corredores de prédios).

A substituição do “solo natural” por outros tipos de pavimentos, assim como os

sistemas de drenagens que permitem uma drenagem mais rápida , provocam uma redução da

evaporação e da umidade da superfície e do ar, dando maior possibilidade aos episódios de

enchentes. A redução no fluxo de calor latente e o aumento do calor sensível em função da

reduzida superfície líquida e de áreas verdes também contribuem para a redução da umidade e

de menor evaporação (Brandão, 2001).

2 A camada limite urbana pode ser definida como uma porção da camada limite planetária onde suas características climáticas estão modificadas pela presença da superfície urbana. Estende-se desde os telhados dos edifícios até o nível abaixo do qual os fenômenos locais e mesoclimáticos estão organizados pela natureza da superfície urbana. Durante o dia sua espessura varia entre 1 e 2Km e à noite é reduzida entre 100 e 300m (García, op cit). 3 A nuvem urbana é uma prolongação da camada limite urbana, a sotavento da cidade, sobre a área rural e sua camada limite (García, op cit). 4 Trata-se daquele setor abaixo da camada limite urbana na altura dos telhados dos edifícios que se comporta como uma cúpula. Caracteriza-se por uma intensa complexidade climática, resultado dos diferentes materiais de

8

Quadro 2.1. Alterações locais nos elementos climáticos produzidas pela urbanização

ElementosRadiação

totalultravioleta (verão)ultravioleta (inverno)

Visibilidade (< 10Km)Contaminantesnúcleos de condensaçãopartículas em suspensãosubstâncias gasosas

Nebulosidadenuvensnevoeiro (inverno)nevoeiro (verão)

Precipitaçãototaldias com < 5mmneve

Temperaturamédia anualmédias mínimas no inverno

Umidade relativamédia anualinvernoverão

Velocidade do ventomédia anualvento máximocalmariaFonte: Adaptado de García, 1999 (apud Landsberg, 1981)

10-20% menos5-20%mais

6% menos2% menos8% menos

20-30% menos

10% mais5-10% menos

0,5-1,0ºC mais1,0-2,0ºC mais

5-10% mais100% mais

20-30% mais

5-10% mais

5-15% mais

10-100 vezes mais10-50 vezes mais5-25 vezes mais

Comparação com o ambiente rural

10-20% menos30% menos5% menos

Os materiais de construção possuem propriedades físicas distintas, com taxas mais

baixas de albedo, maior capacidade de reter calor e baixa condutividade térmica (García, op

cit), o que modifica o balanço de radiação e influencia no aumento das médias térmicas.

Associados a estes fatores incluem-se a produção artificial de calor (por uso de aquecedores

e/ou refrigeradores), os processos industriais e a circulação de veículos automotores

(Brandão, op cit), que além de elevar a temperatura, aumenta a convecção, eleva a proporção

de partículas sólidas no ar a qual provoca um incremento na nebulosidade e

conseqüentemente possibilita o aumento da precipitação.

construção urbanos empregados, assim como pelas diversas alturas dos edifícios e a orientação e altura das casas. É lócus da articulação entre o nível topo e microclimático (García, op cit).

9

2.2. O ENFOQUE GEOGRÁFICO DO CLIMA, O SISTEMA CLIMA URBANO (SCU) E

AS ESCALAS TAXONÔMICAS DO CLIMA

Monteiro (1976) ao publicar a obra “Teoria e clima urbano” tem o cuidado de tratar o

clima sob um enfoque geográfico, diferenciando-se do propósito meteorológico. Para o autor,

a abordagem meteorológica trata o clima de forma estática e descritiva, remetendo-se ao

seguinte conceito de clima: “a dos estados médios dos elementos atmosféricos sobre o dado

lugar” (Monteiro, 2003:11). O objetivo da medição em Meteorologia é registrar o “ar livre”

na cidade, pois esta era vista como produtora de uma “anomalia” na atmosfera sobre ela.

Sobre isto Monteiro (2003, p.12) discorre:

O clima da cidade, sob essa perspectiva meteorológica, seria algo que se alcança através da observação do air over city. Para o geógrafo, contudo, na sua visão da cidade como o lugar mais conspícuo da morada do homem, o objetivo será aquele de atingir o air within the city.

Sob esta perspectiva, não basta apenas obter informações do posto meteorológico

padrão da cidade que segue normas rígidas de instalação, interessando-se apenas pelo ar

“descomprometido” “da influência dos artefatos e atividade humana” – o ar livre (Monteiro,

1990, p.68). É necessário adentrar a cidade e tomar-lhe a temperatura revelando toda a

situação de comprometimento do ar urbano com o seu espaço. Aí reside o diferencial nos

objetivos de mensuração entre a Meteorologia e a Geografia, que Monteiro (2003, p.12)

sintetiza:

Na premissa básica da mensuração meteorológica em registrar o ar livre, assegurada por meio das normas técnicas estabelecidas para o funcionamento dos postos meteorológicos padrão, as medidas na cidade devem revelar a série de alterações ou mudanças que contrastam com o campo circundante.

O enfoque geográfico do clima o define como o “ritmo de sucessão habitual dos

estados atmosféricos sobre os lugares” (Monteiro, 2003, p.12) e oferece um conhecimento

evolutivo do sítio urbano, prendendo-se a características do uso do solo e do relevo,

relacionados à configuração dos diferentes climas urbanos da cidade (o air within the city).

10

Monteiro (1976) trata a cidade como sistema, baseado na Teoria Geral dos Sistemas e

lança o modelo do “Sistema Clima Urbano” (SCU). Este modelo subdividido em subsistemas

procura distinguir os fatores de controle, o núcleo do sistema, os níveis de resolução, os

efeitos paralelos e a ação planejada que, simultaneamente, tratam dos processos de insumo,

transformação, produção, percepção e auto-regulação. É um ambiente complexo, singular,

aberto, adaptativo, cuja organização funcional é passível de auto-regulação, isto é, a ação de

planejamento para corrigir suas disfunções, expressos em três canais de percepção humana:

termodinâmico, físico-químico e hidrometeórico (Quadro 2.2).

Quadro 2.2: Articulações dos sistemas segundo os canais de percepção do Sistema Clima Urbano (SCU)

Subsistemas e Canais/

Caracterização

I Termodinâmico

Conforto Térmico

II Físico-Químico Qualidade do ar

III Hidrometeórico

Impacto meteórico

Fonte

Atmosfera Radiação

Circulação horizontal

Atividade urbana Veículos automotores

Indústrias Obras-limpeza

Atmosfera Estados especiais (desvios rítmicos)

Trânsito no Sistema

Intercâmbio de operador e operando

De operando ao operador Do operador ao operando

Mecanismo de ação

Transformação no sistema

Difusão através do sistema

Concentração no sistema

Projeção Interação Núcleo Ambiente

Do núcleo ao ambiente Do ambiente ao núcleo

Desenvolvimento Contínuo (permanente) Cumulativo (renovável) Episódico (eventual)

Observação Meteorológica especial

(trabalho de campo) Sanitária e meteorológica

especial Meteorológica

Hidrológica Trabalho de campo

Correlações disciplinares e tecnológicas

Bioclimatologia Arquitetura Urbanismo

Engenharia sanitária

Engenharia sanitária e infra-estrutura urbana

Produtos

“Ilha de calor” Ventilação

Aumento de precipitação

Poluição do ar

Ataques à integridade urbana

Efeitos diretos

Desconforto e redução do desempenho humano

Problemas sanitários Doenças respiratórias,

oftalmológicas etc.

Problemas de circulação e comunicação urbana

Reciclagem adaptativa

Controle do uso do solo Tecnologia de conforto

habitacional

Vigilância e controle dos agentes de poluição

Aperfeiçoamento da infra-estrutura urbana e

regularização fluvial Uso do solo

Responsabilidade Natureza e homem Homem Natureza Fonte: Monteiro, 2003.

11

O canal termodinâmico engloba os componentes termodinâmicos (calor, umidade e

vento) cujo produto são as “ilhas de calor” que influi diretamente no conforto humano. O

segundo canal, o físico-químico, trata da qualidade do ar e sua relação com a saúde humana.

E, finalmente, o canal hidrometeórico aplica-se à análise dos impactos meteóricos (os

aguaceiros, tempestades, furacões etc) sobre o ambiente urbano alterado, como é o caso das

enchentes e das inundações, provocando um caos urbano.

Os estudos têm-se utilizado dados de estações meteorológicos para a análise de séries

temporais; mensurações episódicas, a 1,5m. da superfície, pela cidade, ao longo de transetos

fixos e móveis; técnicas de sensoriamento remoto, cuja importância reside na quantificação e

espacialização do fenômeno da ilha de calor (Lombardo, 1985; Mendonça, 1994). Munidos

de uma técnica mais avançada, alguns trabalhos têm recorrido a modelos matemáticos (Lozan

et. al., 2001).

Uma vez que os estudos de clima urbanos têm se voltado ao planejamento das cidades,

o seu estudo requer uma precisão capaz de contribuir de maneira eficaz para a elaboração e

implantação de planos que visem à melhoria da vida nas cidades (Mendonça, op cit).

O estudo do clima urbano privilegia as escalas inferiores - a escala do local - sem desassociar

suas articulações com as escalas superiores. Os climas urbanos exercem importante influência

na organização dos conjuntos climáticos, estabelecendo-se uma “nova” hierarquização na

indução do comportamento atmosférico, conforme explica Monteiro (2001: 20):

O fundamental a compreensão das relações entre clima e a sociedade deve emanar do reconhecimento de que: a. o comportamento atmosférico integrado às demais esferas e processos naturais, “organizam” espaços climáticos a partir das escalas superiores em direção às inferiores; b. a ação antrópica em derivar ou “alterar” essas organização ocorre no sentido inverso, ou seja, das escalas inferiores para as superiores. Em verdade o homem tem capacidade de “criar” microclimas e alterar substancialmente os climas locais (como os “urbanos”) projetando sua ação direta até os espaços sub-regionais.

12

Sobre a diversidade de escalas em que a Climatologia se subdivide e a interface entre

elas, Monteiro (1976; 2003) propôs uma leitura das escalas do clima e suas correlações com o

clima urbano (Quadro 2.2). O clima urbano (escala local) se articula com as escalas

superiores (zonal, regional e sub-regional ou fácies regional), e se subdivide em três sub-

unidades escalares a partir de sua escala local: a mesoclimática, a topoclimática e a

microclimática. Esta proposta metodológica esclarece o escalonamento (hierarquia) das

unidades do clima entre si e possibilita relacionar, também de modo escalonado, “as unidades

de urbanização desde a habitação até a região urbana” (Monteiro 2003, p.30).

Quadro 2.3: Categorias taxonômicas da organização geográfica do clima e suas articulações com o Clima

urbano

Ordens de grandeza (Cailleux

& Tricart)

Unidades de

superfície

Escalas cartográficas de tratamento

Espaços climáticos

Espaços urbanos

Meios de observação

Fatores de organização

Técnicas de análise

II milhões de Km

1:45.000.000 1:10.000.000

Zonal -

Satélites Nefanálises

Latitude Centros de ação

atmosférica

Caracterização geral

comparativa III milhões de

Km 1:5000.000 1:2000.000

Regional - Cartas sinóticas,

Sondagens aerológicas

Sistemas meteorológicos

(circulação secundária)

Redes de transetos

IV centenas de Km

1:1.000.000 1:5.000.000

Sub-regional (fácies)

Megalópole Grande área metropolitana

Rede meteorológica de superfície

Fatores geográficos

Mapeamento sistemático

V dezenas de Km

1:250.000 1:1000.000

Local Área metropolitana

Metrópole

Posto meteorológico,

Rede complementar

Integração geológica e

ação antrópica

Análise espacial

VI centenas de Km

1:50.000 1:25.000

Mesoclima Cidade grande, bairro ou

subúrbio de metrópole

Registros móveis

(episódicos)

Urbanismo

Especiais VII dezenas

de metros 1:10.000 1:5.000

Topoclima Pequena cidade, fácies

de bairro/subúrbio

de cidade

Detalhe Arquitetura

VIII metros 1:2.000 Microclima Grande edificação, Habitação, Setor de

habitação

Instrumentos especiais

Habitação

Fonte: Adaptado de Monteiro (2003).

13

Para a cidade do Rio de Janeiro, Brandão (1996) considerou o espaço urbano da

cidade como a escala local e a subdividiu em unidades mesoclimáticas, que por sua vez estão

subdivididas em topoclimas. Para a Ilha do Governador/RJ Fialho (2002) elaborou um mapa

de unidades topoclimáticas que no contexto da cidade do Rio de Janeiro é uma unidade

mesoclimática, segundo a hierarquia proposta por Brandão (op cit).

2.3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

Observações que remontam do século XVII e XVIII a partir de estudos prévios na

cidade de Londres, na Inglaterra, e de Munich, na Alemanha, constatavam que o clima é um

elemento profundamente alterado na cidade. Com a publicação do livro “O clima de Londres

derivado de observações meteorológicas” de Howard, em 1818, as pesquisas em clima

urbano tomaram importância com o desenvolvimento de estudos. Na obra de Howard, o autor

traz a atenção de que pela primeira vez, com a produção de combustão, a temperatura noturna

da cidade elevou-se 2,2ºC comparada ao campo (Gomes, 1993).

As pesquisas sobre clima urbano tornam-se mais comuns, com estudos voltados à

identificação de alterações dos elementos do clima entre o campo e a cidade, e assim diversos

trabalhos passam a ser publicados nas cidades da Europa, América do Norte e Japão.

Os estudos iniciais de Landsberg (1956) e Chandler (1965) para a cidade de Londres

são obras clássicas para o estudo do clima urbano. Landsberg (op cit) comparando o centro

urbano de Londres e imediações, concluiu que as médias térmicas anuais são superiores na

cidade, principalmente a temperatura mínima, bem como as chuvas e o nevoeiro. Em relação

à umidade relativa e a velocidade do vento foi observado um decréscimo de 6% e 25%,

respectivamente.

Chandler (op cit) utilizando os diversos elementos do clima encontrou grandes

disparidades entre a área central da cidade (CBD) e a sua circunvizinhança, com temperaturas

14

mais altas na cidade. A ilha de calor desenvolveu-se mais no verão que no inverno, e as

diferenças foram de até 1,9ºC para as temperaturas mínimas e de 0,9º para as máximas.

Kuttler (2001) investigou as derivações do clima urbano nas cidades e seu suposto

incremento de 2ºC de temperatura na atmosfera terrestre até o final do século XXI. Com base

em um modelo matemático e tomando como referência a Europa Central, o autor conclui que

se espera que o nº de dias com mais calor no verão serão acrescentados e haverá um

decréscimo no nº de dias mais frios no inverno.

Goldreich (1995) sumariza os trabalhos sobre clima urbano em Israel de três décadas.

A maioria dos estudos contempla o canal termodinâmico e hidrometeórico do clima urbano.

Na cidade de Seoul (Coréia do Sul) e suas cidades satélites, Park (1986) investigou sobre a

diferença da intensidade da ilha de calor entre estes centros. A intensidade da ilha térmica, em

dias claros, foi maior que nos dias nublados e foi maior à noite que pela manhã. O core

máximo da ilha de calor apareceu em noites claras cujo core ultrapassou os 7ºC. Este maior

gradiente esteve localizado na grande Seoul.

Ripley et al (1996) estudaram a variação temporal e espacial da temperatura na

pequena cidade de Saskatoon (Canadá). Através de 13 transetos móveis, os pesquisadores

identificaram o core da ilha térmica numa variação entre 4 e 8ºC, ocorrendo em condições

atmosféricas de céu claro e, vento, de lento a moderado.

Os autores sinalizam duas observações importantes acerca da cidade. A primeira é que

Saskatoon aparece notificado como uma cidade mais quente que arredores. Isto acarreta

impactos no conforto humano e residencial, no crescimento e desenvolvimento das plantas e a

sobrevivência de pequenos animais e pássaros. O crescimento continuado da cidade,

provavelmente, poderá acentuar esses efeitos. A segunda constatação é que os resultados

alcançados indicam que a cidade se comporta com um padrão não mais de cidade de pequeno

porte, o que parece preocupante.

15

Ackerman (1985) analisou a variação diurna e sazonal da ilha de calor em Chicago

(EUA) em 20 anos de levantamento de dados. Ocorreu uma elevação, em média de 1,8ºC, na

temperatura. Os núcleos mais quentes foram caracterizados por ciclos diurnos e sazonais, de

acordo com as condições sinóticas e de fatores geográficos do clima, como a influência do

lago Michigan.

Peña (1980) em discussão sobre clima e planejamento urbano na América Latina

adverte para a incompatibilidade dos laços de ação entre os estudos em clima urbano e as

estratégias de planejamento. O autor afirma que este desencontro de diálogo e ação é tanto

mais grave porque o clima urbano e o planejamento são temas centrais da visão una e

integrada de uma mesma equipe de profissionais: os geógrafos, os quais apresentam atributos

consistentes para a elaboração dos projetos de planejamento para as cidades.

Peña (et al), ainda, apresenta em seu artigo as bases conceituais do Sistema Clima

Urbano, as técnicas de investigação mais empregadas (os transetos fixos e móveis e

Sensoriamento Remoto) e tece comentários sobre trabalhos desenvolvidos nos países mais

avançados em clima urbano: Chile, Brasil e México.

A título de exemplo, menciona-se o trabalho de Steffens et. al. (2001) para a cidade de

Temuco, no Chile e de Jaregui (1993) para a cidade do México. Nesta, o autor realiza um

estudo de tendência da temperatura, onde se verifica ao longo do período de análise (1896-

1980) um incremento térmico de 6ºC, que para o autor deve-se ao efeito da urbanização.

Os estudos de clima urbano no Brasil tiveram como base teórica e metodológica a

contribuição do professor Carlos Augusto Figueiredo Monteiro com a publicação de sua obra

“Teoria e Clima Urbano”, na década de 1970. As décadas de 1980, 1990 e inicio da atual

consagram uma produção numerosa, reunidas em publicação de artigos em revistas e em

anais de congressos, monografias, dissertações de mestrado, teses de doutorado e livros. Nos

16

três últimos Simpósios de Climatologia Geográfica (SBCG)5, os trabalhos na linha de clima

urbano ultrapassam 50% da produção, inclusos no sub-eixo “estudos destinados ao

planejamento urbano”.

Estão reunidos no quadro 2.4, baseados nos últimos três SBCG e referenciado por

Mendonça (1994), Fialho (2002) e Zavatini (2003), um montante com alguns estudos em

clima urbano nas cidades brasileiras, tendo o critério de reuni-los segundo os canais de

percepção do clima urbano.

Quadro 2.4: Estudos em clima urbano em cidades brasileiras, segundo os canais de percepção:

Cidades Canal Termodinâmico Canal Físico-químico

Campo hidrometeórico

São Paulo Junot, 1942; Moraes et. Al., 1977; Lombardo et. Al., 1981; Lombardo e Tarifa, 1982; Lombardo et. Al., 1983; Lombardo, 1985; Monteiro, 1986; Ribeiro, 1996; Cabral, 1997; Tomás, 2000; Tarifa e Armani, 2001.

Agata, 1978; Zanatt et. Al, 1979; Setzer et. Al, 1979; Orsini, 1982; Oliveira et. Al., 1983; Tarifa, 1991; Oliveira, 1991; Castro, 2001; Silva, 2001; Ribeiro, 2001; Heiber & Zavattini, 2004.

Junot, 1943; Monteiro, 1978, 1980, 1984; Paschoal, 1981; Tarifa, 1982; Filho, 2001; Cabral, 2002.

Rio de Janeiro Brandão, 1987, 1996; Brandão et al, 2004; José et. al, 2004.

Gallego, 1972; Brandão, 1992; Cunha, 1997; Russo, 2002; Russo e Brandão, 2002.

Brandão, 1992; Fialho, 1996.

Belo Horizonte Assis, 2001, 2002; Pereira & Assis, 2004.

Curitiba Schimidt, 1982; Danni, 1992; Danni-Oliveira et. Al, 2000; Danni-Oliveira e Mendonça, 2000; Rossi & Kruger, 2004.

Danni-Oliveira, 1999.

Porto Alegre Danni-Oliveira, 1980 e 1987; Hasenack et. Al., 1982

Florianópolis Sezerino e Monteiro, 1990.

Salvador Sampaio, 1981. Gonçalves, 1992. Recife Freitas, 2004. São Luiz Araújo et. Al., 2000;

Araújo e Sant´anna Neto, 2000 e 2002.

Tarifa, et. Al, 1980; Tarifa e Vasconselos, 1982.

.

Fortaleza Santana e Lombardo, 2000.

Aracaju/SE Pinto, 2002.

5 IV SBCG, realizado no Rio de Janeiro em nov/dez/2000; V SBCG realizado em Curitiba/PR em dez/2002 e VI SBCG realizado em Aracaju/SE em out/2004.

17

Goiânia Luiz & Mesquita, 2004. Cuiabá Maitelli, 1994. Campo Grande Anunciação, 1999. Manaus Aguiar, 1995 Campinas/SP Tavares, 1974; Roncato e

Santos, 2002.

São José dos Campos/SP

Tarifa, 1977

Presidente Prudente/SP

Fonzar, 1981; Camargo et. Al., 2000; Amorim, 2000; Amorin, 2004; Vicente e Sant´anna Neto, 2002.

Rio Claro/SP Pitton., 1991. Penápolis/SP Silva et. Al, 2000. Cubatão/SP Orsini, 1982. Piracicaba/SP Maia e Zavattini,

2004. Sorocaba/SP Tavares, 2002. Tavares, 2002. Nova Friburgo/RJ Hack, 2000 Petrópolis/RJ Hack et. Al, 2000;

Hack e Vicente, 2002.

Volta Redonda/RJ Hack, et al., 2002. Juiz de Fora/MG Martins, 1996. Sales & Martins, 2004; Torres

et. al, 2004. Martins e Souza, 2000.

Uberlândia/MG Silva & Lima, 2004. Londrina/PR Mendonça, 1994 Francisco Beltrão/PR

Santis e Mendonça, 2000

Blumenau/SC Silva et. Al, 1987. Santa Maria/RS Sartori, 1979; Patussi et al,

2004.

Rondonópolis/MT Sette, 1996 Marabá/PA Monteiro e Tarifa, 1977. Campina Grande/PB

Silva, 1998.

Jataí/GO Silva et al, 2004. Fonte: IV, V e VI SBCG; Mendonça, 1994; Zavatini, 2003; Fialho, 2002. Elaborado por Andrews J. Lucena.

Dos trabalhos reunidos no quadro acima, o canal “termodinâmico” é o mais apreciado

nos estudos em clima urbano pelo Brasil, concentrados nas cidades da região Sul e Sudeste.

Observa-se, ainda, que estes trabalhos não estão restritos às grandes cidades e capitais, mas

tem tomado espaço nas cidades de pequeno e médio porte.

Sobre os métodos de análise tem se utilizado, com freqüência, a análise tendencial

temporal da série de dados das estações meteorológicas padrão (Conti, 1978 e 1979; Cabral,

18

1997 e 2002; Brandão, 1987); a elaboração de transetos fixos e móveis (Brandão, 1996); e a

técnica com Sensoriamento Remoto (Lombardo, op cit; Mendonça, op cit).

Tarifa e Armani (2001) classificaram a cidade de São Paulo em quatro unidades

urbanas numa tentativa de contribuir para as políticas públicas. As unidades são: urbana

central (compreendendo o núcleo central, verticalização densa e as principais marginais de

expansão do núcleo urbano); urbana na periferia (compreendendo os bairros operários,

insalubres, as favelas e os casebres); urbano fragmentado (compreendendo a área transição

urbano/rural) e a não-urbana (compreende a unidade “natural” onde a ocupação urbana é

praticamente inexistente).

Na cidade do Rio de Janeiro, Brandão (op cit) analisou uma série de 140 anos de

dados (temperatura) na estação principal da cidade, e constatou a presença de dois grandes

ciclos quentes, intercalados por uma fase mais amena que considerou ser uma “tendência

secular” do clima regido por fenômenos naturais de grande escala. No entanto, a autora

apontou uma tendência de aquecimento para o segundo ciclo quente (iniciado a partir de

1940), que teve o processo de urbanização como fator atuante aumentando e acelerando este

ciclo mais quente.

Brandão (op cit), com o objetivo de analisar o clima urbano da cidade do Rio de

Janeiro, selecionou 34 bairros da cidade com diferentes características de uso do solo, sob os

aspectos geoecológicos e geourbanos. Em três transetos fixos, todos partindo da Área Central

da cidade em direção a Zona Oeste, à Zona Sul e a Zona da Leopoldina, respectivamente, a

autora mapeou o campo térmico na cidade nos anos de 1994 e 1995 nas estações de outono e

de inverno. A autora identificou diversas magnitudes da ilha de calor, cuja intensidade

máxima (5ºC) ocorreu no inverno as 15 e 21h. sob a ação do Anticiclone Polar.

No horário das 15h. as características do sítio (distância do mar, presença de corpos

líquidos, orientação e gradiente dos maciços) tiveram maior peso no core da ilha térmica,

19

configurada em Bangu, Zona Oeste do município. Já às 21h. os ambientes mais edificados (de

maior concentração de poluentes) as características urbanas sobrepujaram os atributos

geoecologicos, o que contribuiu para que se registrasse em Copacabana e Maracanã a ilha de

calor noturna. A importância de áreas verdes ficou demonstrada pela persistência da ilha de

frescor localizada, em quase todas as situações, no Parque Jardim Botânico, embora que Santa

Cruz, no extremo oeste da cidade e, o próprio Centro, pelo menos uma vez revelaram-se como

áreas mais frescas da cidade.

Em Belo Horizonte/MG Assis (2001) traçou dois transetos, um percorrendo diversos

bairros de diferentes características morfo-urbanas, com 16 pontos de coleta; o segundo

contemplou a área central da cidade, distribuídos por 7 pontos. A opção por estes dois

transetos esteve numa perspectiva de comparar o centro da cidade - palco de uma variada

composição de formas e funções urbanas em um único espaço - com outros espaços variados

pela cidade. O resultado revelou que no 1º transeto o core da ilha térmica alcançou quase 5ºC

(no horário matutino), enquanto no 2º a intensidade máxima da ilha térmica foi de 3,2ºC (final

da tarde).

Danni (1987) analisando o comportamento da ilha térmica e da umidade em um

episódio de verão na cidade de Porto Alegre, constatou a presença da ilha de calor com

nítidos contrastes térmicos entre os espaços com ocupação urbana acentuada e aqueles

residenciais de periferia (diferenças de até 5ºC), bem como a existência de ilhas frescas. Os

pontos mais urbanizados do experimento apresentaram-se mais aquecidos à noite. Quanto à

umidade, a maioria das vezes o seu comportamento seguiu de perto da temperatura

coincidindo a localização de ilhas secas com as de calor e a das ilhas úmidas com as frias.

Em Florianópolis, Sezerino e Monteiro (1990) analisaram o campo térmico da cidade.

Os autores organizaram três experimentos, utilizando mini-abrigos meteorológicos. No

primeiro foi adotado um transeto fixo com medições a cada 3 horas com duração de 24h (das

20

12 às 12h do dia seguinte), espalhados por 10 pontos amostrais ao longo de um segmento

transversal que corta várias localidades da “caprichosa complexidade litorânea” do sítio,

investigando as condições de variação térmica ao longo do transeto.

O segundo experimento considerou o corpo principal da cidade (um espaço de cerca

de 4,5 Km2) guiando-se pela análise da morfologia urbana e a massa edificada, distribuída por

20 postos de observação, em mini-abrigos, com medidas em três horários (9, 15 e 21h),

segundo a da estação meteorológica principal. Este experimento enfatizou as variações

espaciais, sem esquecer da variação no decorrer das 24h do dia.

Finalmente, o terceiro experimento deteve-se a área central da cidade, com o mesmo

nº de pontos e intervalos de medida da medição anterior, procurando não apenas traçar um

perfil horizontal do campo térmico, mas ainda um perfil vertical, apoiando-se, para a

localização dos pontos de observação, na verticalidade dos prédios da cidade.

Para a cidade de Londrina/PR Mendonça (op cit) elaborou uma proposta metodológica

para estudo e aplicação ao planejamento urbano. A metodologia de análise partiu de um

detalhamento cartográfico dos aspectos geoecologicos da cidade (relevo, direção e velocidade

de ventos locais predominantes, e uso do solo atual) a partir da correlação entre estes aspectos

e os do fato urbano (morfologia, estrutura e função), dividiu-se a área urbana em ambientes

mais ou menos homogêneos (notadamente o uso do solo) e estabeleceram-se os pontos para

os levantamentos dos dados.

O mapeamento esteve correlacionado ao embasamento cartográfico e às características

do fato urbano com vistas ao planejamento da cidade. Os resultados encontrados

identificaram ilhas térmicas de forte magnitude (superior à 10ºC) e de quinze diferentes

ambientes climáticos no seu interior e com o emprego do sensoriamento remoto constatou-se

a forte influência do entorno rural (notadamente solos nus) na formação do clima urbano

londrinense.

21

Maitelli (1994) analisou os efeitos do ambiente urbano sobre os parâmetros térmicos e

hígricos de Campo Grande/MT. A partir da análise da série de dados meteorológicos do

período entre 1920-1992, foi identificado um aumento próximo a 1ºC para a temperatura

mínima. A autora também considerou os experimentos de campo com transetos em pontos

fixo e móveis, distribuídos em vários pontos da cidade, e detectou ilhas térmicas de até 5ºC à

noite.

Em Campo Grande/MS, Anunciação (2001) setorizou a cidade para a instalação de

mini-abrigos meteorológicos com o intuito de fazer o levantamento dos dados climáticos da

malha urbana em dois episódios sazonais (um no verão e um no inverno), buscando

identificar e compreender as relações dos fatos termodinâmicos dentro da cidade.

Foram detectadas ilhas calor tanto no verão quanto no inverno, que dependeu do

sistema atmosférico atuante, e suas variações espaciais associadas ao tipo de ocupação do

solo, exposição de vertentes, presença de vegetação, altitude e radiação. O maior gradiente

térmico e menores taxas de umidade relativa foram reveladas nas áreas fortemente ocupadas,

de elevada densidade e baixa taxa de arborização, enquanto foram identificadas ilhas de

frescor em áreas com vegetação densa e edificação mais esparsa.

Aguiar (1995) analisou o clima de Manaus/AM sob dois aspectos. O primeiro,

analisando a tendência temporal da umidade, precipitação e temperatura entre 1901 até 1994

o que significa três Normais Climatológicas. Em relação a precipitação houve um acréscimo

de 29,7% nos totais pluviométricos; a umidade relativa aumentou em cerca de 83% e a

temperatura apresentou queda na média compensada (0,4ºC) e na média das máximas

(0,3ºC), não havendo variação na média das mínimas.

O segundo aspecto refere-se à análise espacial, avaliando as relações entre

urbanização e seus efeitos no clima. Foram consideradas 14 estações meteorológicas (7 já

existentes - três intra-urbano e 4 no entorno da cidade; e 7 instaladas na cidade). Escolheu-se

22

o mês de agosto/1994 e março/1995 para o monitoramento da umidade, precipitação e

temperatura, por se tratar de serem o mês mais seco e o mês mais chuvoso, respectivamente.

Para a temperatura, em agosto houve uma tendência gradual de diminuição da temperatura, da

parte central da cidade para seu entorno e em março houve queda, nos três horários, nas

estações localizadas na cidade comparadas com os dados das outras de fora da área urbana.

A cidade do Rio de Janeiro pode ser considerada um laboratório para os estudos em

clima urbano, quando iniciados por Brandão na década de 1990. É bem verdade que o

trabalho de Gallego (1972) é um marco inicial ao tratar do clima urbano, quando mapeou a

poluição atmosférica na cidade do Rio de Janeiro, mas é a partir de Brandão que a produção

em clima urbano definitivamente se estabelece na cidade do Rio de Janeiro, ao inaugurar

várias linhas de pesquisa6 na cidade e a orientar diversos trabalhos de monografia de

graduação e dissertação de mestrado, nos últimos 15 anos, no Laboratório de Climatologia e

Análise Ambiental (CLIMAGEO) do Departamento de Geografia da UFRJ.

Os trabalhos desenvolvidos no CLIMAGEO contemplaram todos os canais de

percepção7 do clima urbano, mas nossa revisão está focada naqueles que privilegiaram o

canal termodinâmico, base de investigação deste atual trabalho.

Na área central da cidade, Brandão e Lucena (2000) realizaram uma comparação entre

os experimentos móveis de primavera em 1997 e 1998. Em ambos os experimentos, das 9 às

18h, foram selecionados 17 locais, sendo 8 em ambientes edificados (em torno dos prédios

mais altos da cidade) e em 9 ambientes abertos, de praças e parques. Em 1997 a ilha de calor

variou entre 1,4ºC e 3,3ºC, cujo core mais intenso situou-se na Praça Cruz Vermelha e na

Candelária. Entretanto, foi em 1998 que a ilha de calor atingiu sua intensidade máxima - de

6 Uma linha de pesquisa que se iniciou nos últimos anos da década de 1990 e se desenvolveu até os anos iniciais do século atual foi “A ilha de calor na Área Central de negócios da cidade do Rio de Janeiro – Avaliar e educar”. 7 Para o canal “físico-químico” podem ser citados os trabalhos de Barbosa (1997), Cunha (1997) e Russo (2002) e para o canal “hidrometeórico” os trabalhos de Fialho (1998) e Bezerra (1997 e 1999).

23

9,5ºC na Cidade Nova (atual sede da Prefeitura do Rio). Além das condições morfológicas e

funcionais da cidade, as condições de estabilidade foram fundamentais para a configuração

deste núcleo de calor. Também foi possível detectar a manifestação de uma ilha de frescor,

localizada, nos dois episódios, na Praça Salgado Filho e no Parque Passeio Público.

O estudo de Fialho (op cit) para a Ilha do Governador abordou as observações móveis

e fixas e analisou o comportamento térmico da Ilha ao longo de 24 horas. As coletas foram

realizadas às 6, 13 e 21h, sob condições de massa tropical atlântica (verão) e massa polar

atlântica (inverno). Utilizou-se um total de 4 transetos móveis, contendo 63 pontos, e cada

percurso variou entre 9 e 12,5Km. Quanto aos pontos fixos esses foram num total de 9, com

leituras horárias entre às 8 e 20h.

Nas medidas itinerantes foram encontradas temperaturas mais amenas nas localidades

da vertente sul, voltadas para a brisa marítima, e temperaturas mais altas nas colinas centrais e

nos fundos de vale, mais protegidos da ação dos ventos, onde também se encontram os sub-

centros comerciais. As maiores diferenças térmicas ocorreram no horário da tarde, cerca de

6ºC, enquanto pela manhã a variação não alcançou nem 1ºC e à noite chegou até 2ºC. Para os

pontos fixos, a intensidade máxima do gradiente térmico registrado no verão foi de 4,9ºC

(forte), enquanto no inverno 6,1º (muito forte), ambas registradas às 11h.

Quanto à análise do comportamento térmico em 24h. entre a estação do AIRJ e da

Ribeira, neste último observou-se um desvio padrão menor que a estação do AIRJ no inverno,

o que mostra que a relação entre uso e o armazenamento de energia é pertinente, ou seja,

inércia térmica na Ribeira, mesmo estando situada próxima a um corpo líquido.

França (2002) analisou o campo térmico do Méier. Para a análise foi traçado um

transeto móvel em um episódio de inverno/2000 e verão/2001, distribuído por 16 pontos pelo

bairro. Nesta análise foi constatada que a ilha de calor apresentou expressiva mobilidade

espacial, associada a fatores do sítio, uso do solo e dinâmica urbana. A intensidade máxima

24

alcançou 8,9ºC (muito forte) no episódio de inverno/2001. Para as medições do ponto fixo foi

constatado que o horário das 6h. correspondeu ao de maior resfriamento, o oposto das 21h.,

devido ao calor ainda retido pela superfície urbana.

Em Copacabana, Malheiros (2002) mapeou o campo térmico do bairro. Foram

selecionados 16 pontos de medida, 8 distribuídos ao longo da orla e 8 ao longo da Av. Nossa

Senhora de Copacabana - logradouro interiorano do bairro - em episódios sazonais de verão e

inverno/2000 e 2001. Por se tratar de um bairro praiano constituído de três “zonas” bem

definidas (praia, “asfalto” e morro) a dinâmica térmica apresentou, em termos gerais, a

seguinte característica nos episódios: às 6h as médias térmicas foram mais altas na direção da

orla para o interior, revelando um maior aquecimento na franja praiana enquanto o interior

mais sombreado protegido da radiação. As 13 e 21h o padrão são invertidos. No horário de

maior aquecimento diurno o calor é absorvido e à noite as propriedades do solo urbano

proporciona maior retenção do calor, liberando-o mais lentamente, instalando-se aí a ilha de

calor noturna.

Para os bairros do Maracanã e do Jardim Botânico, Brandão et al. (2004)

desenvolveram um estudo do clima urbano dos dois bairros. O bairro Maracanã está

localizado na vertente norte do maciço da Tijuca, com predominância de calmaria e/ou ventos

secos e quente, caracterizado por um diversificado uso do solo, tendo 88% de sua área total

construída e com baixo índice de área verde. O Jardim Botânico situa-se na vertente sul do

Maciço da Tijuca contanto com uma imensa área verde de floresta e do principal parque do

bairro: “o parque Jardim Botânico”.

Na análise da série de 12 anos de dados térmicos (1991-2002) foi constatado que as

médias térmicas na estação do bairro Maracanã mantiveram-se mais elevadas do que as

registradas no Parque Jardim Botânico (entre 1 e 7º C mais elevadas). As maiores diferenças

foram encontradas nos anos mais recentes (entre 1998 e 2002), que segundo os autores deve-

25

se pela “possibilidade de indução de calor no bairro Maracanã por conta do acelerado

processo de urbanização e das taxas de densidade de construção que tem apresentados

aumentos significativos nos últimos anos” (Brandão et al, 2044: 10). Quanto à análise do

campo térmico a intensidade de ilhas de calor também se revelaram superiores no Maracanã,

cujo core da ilha térmica alcançou intensidade superior a 3ºC.

Em Bangu, Lucena & Brandão (2000) investigaram o campo térmico do bairro em

duas situações sazonais: uma de verão e outra de outono (em 2000), sob condições sinóticas

de céu claro e estabilidade. Em três horários diários (6h. 14h. e 21h.) um transeto móvel, com

14 pontos, de características distintas do uso do solo, apresentou os seguintes resultados: a

ilha de calor configurou-se nas duas situações, sobretudo no verão cuja condição de

estabilidade apresentou-se favorável à manifestação mais intensa do fenômeno, alcançando

4,0º C às 14h na rua da Infantaria.

Enquanto no episódio de verão a ilha térmica apresentou mobilidade espacial que

alternou durante os três horários o seu núcleo mais quente entre a Av. Brasil, Rua da

Infantaria e “Campo do Rala Coco”, no episódio de outono o core mais intenso da ilha de

calor concentrou-se na Av. Ministro Ary Franco nos três horários, cujo core mais intenso de

3,7º ocorreu às 21h. Os resultados encontrados em Bangu indicam que os núcleos mais

quentes situaram-se nos ambientes de maior fluxo de veículos e atividades e com pouca

arborização. Por outro lado, os núcleos mais frescos localizaram-se nos arredores da Fazenda

do Viegas e na estrada do Viegas, que constituem os espaços mais arborizados do transeto.

Em trabalho mais recente que resultou em monografia de graduação, Lucena (2002)

aprofundou os estudos de clima urbano em Bangu a partir de uma leitura têmporo-espacial da

temperatura no bairro num período de 70 anos de dados (1931-2000) e de medições

episódicas sazonais em 2001. A temperatura em Bangu apontou uma tendência ao

aquecimento, vislumbrada a partir da década de 70 quando as médias térmicas aumentaram

26

significativamente, adentrando-se pelas décadas de 80 e 90 que foram as mais quentes de todo

o período analisado, acrescendo em até 1,0ºC.

A tendência acompanhou, provavelmente, o processo de urbanização do bairro que

teve um "boom" de crescimento na década de 60 e perdurou nos anos 90. Este aumento

favoreceu a uma diversidade no uso do solo urbano, criando neste ambiente uma

"complexidade" das formas e funções urbanas, sendo responsável pela criação de diferentes

ambientes microclimáticos intra-bairro resultando configuração de ilhas quentes de até 5,0º C

espacializado naqueles ambientes de maior densidade de formas e funções urbanas - área

comercial do bairro – (conforme detectado nos estudos de 2001), favorecido por condições

sinóticas favoráveis, isto é, condições de estabilidade atmosférica.

27

3. ÁREA DE ESTUDO

3.1. POSIÇÃO GEOGRÁFICA E SITUAÇÃO ADMINISTRATIVA

Considera-se como Zona Oeste para este trabalho a Área de Planejamento1 5 (AP-5),

que conta com uma área territorial de 609,50 Km2 o que corresponde a 48,5% da área total do

município do Rio de Janeiro2 (Figura 3.1).

Figura 3.1: Localização da AP-5 no município do Rio de Janeiro

A AP-5 está situada na porção noro-sudoeste do município do Rio de Janeiro e

comumente é denominada de “Zona Oeste” (Geiger, 2004). Ao norte faz limite com quatro

1 A “regionalização” da cidade do Rio de Janeiro em Área de Planejamento (AP) é uma tentativa da prefeitura em direcionar e executar as diretrizes de planejamento de acordo com as necessidades de cada AP. 2 A área total territorial do município é de 1.255 Km2.

28

municípios da Baixada Fluminense: Itaguaí, Seropédica, Nova Iguaçu e Nilópolis. Ao sul,

limita-se com a Área de Planejamento 4 (composta das Regiões Administrativas de

Jacarepaguá, Barra da Tijuca e Cidade de Deus). A leste limita-se com a Área de

Planejamento 3 (que compreende a “Zona Norte” da cidade) e no extremo oeste o limite é a

Baía de Sepetiba.

É composta por 5 Regiões Administrativas (Realengo, Bangu, Campo Grande, Santa

Cruz e Guaratiba) com seus respectivos 21 bairros, os quais são: XXXIII RA Realengo:

Deodoro, Vila Militar, Campo dos Afonsos, Jardim Sulacap, Magalhães Bastos, Realengo;

XVII RA Bangu: Padre Miguel, Bangu, Gericinó e Senador Camará; XVIII RA Campo

Grande: Santíssimo, Campo Grande, Senador Vasconselos, Inhoaíba, Cosmos; XIX RA Santa

Cruz: Paciência, Santa Cruz, Sepetiba; XXVI RA Guaratiba: Guaratiba, Barra de Guaratiba e

Pedra de Guaratiba.

A AP-5 tem como principais ligações para a Área Central da cidade a estrada de ferro

Central do Brasil e a avenida Brasil, ambas a atravessam no sentido leste-oeste.

3.2. ASPECTOS FÍSICO-AMBIENTAIS

O município do Rio de Janeiro é morfologicamente dividido em dois domínios: os

maciços residuais, formados por rochas cristalinas e metamórficas, e as baixadas,

predominando rochas sedimentares recentes, produto da ação dos agentes marinhos e fluviais.

Três são os maciços da cidade: Tijuca, Pedra Branca e Gericinó. Entre as baixadas destacam-

se: a da Guanabara, Jacarepaguá, Bangu, Santa Cruz e Guaratiba (Figura 3.2).

Os maciços da Pedra Branca e do Gericinó e as baixadas de Bangu, Santa Cruz e

Guaratiba se destacam na paisagem fisiográfica da AP-5. O maciço da Pedra Branca está

localizado na porção “centro-sul” do município do Rio de Janeiro e separa a baixada de

Jacarepaguá, da baixada de Bangu e Guaratiba. Com uma topografia bastante movimentada,

29

com serras (a maioria dispostas no sentido oeste-leste, separadas por profundos vales, com

exceção da serra Geral de Guaratiba, disposta na direção NNE-SSO), morros e picos, exercem

grande influência na esculturação dos principais vales. Suas encostas são escarpadas, com

feições do tipo “pães de açúcar” em suas bordas, esculpidas em terrenos gnáissicos (Costa,

1986). É um grande centro dispersor de águas do município, localizando-se aí os rios que

descem para as baixadas da Guanabara, Jacarepaguá e Santa Cruz, como o Sarapuí, o Fundo e

o Cabuçu.

Figura 3.2: Disposição das baixadas e maciços na cidade do Rio de Janeiro

O maciço do Gericinó, disposto na direção leste-oeste, é dividido pelo vale do Guandu

do Sapê em duas principais serras, a do Mendanha (alinhamento elevado que forma a vertente

meridional do Maciço) e de Madureira. Suas rochas predominantes são as gnaisse-graníticas e

as eruptivas alcalinas. O ponto culminante do maciço é o Pico do Guandu (964m.), situado na

serra do Mendanha.

30

Quanto ao domínio das baixadas, estas constituem aspectos contrastantes no interior

da AP-5, tanto no que se refere à configuração fisiográfica como a ocupação urbana. A

baixada de Bangu (Figura 3.3), onde se situam os bairros da RA de Bangu e alguns bairros

das RA de Realengo e Campo Grande, é estrangulada entre o Maciço da Pedra Branca a sul e

o maciço do Gericinó a norte. Este “corredor” foi fundamental na instalação urbana da Zona

Oeste, marcando o primeiro momento de sua ocupação. Os dois maciços alimentam os rios da

baixada e que durante as chuvas torrenciais alimentam esses rios com grande carga de

sedimentos, contribuindo para um palco de enchentes e inundações.

Figura 3.3: Baixada de Bangu

Foto tirada por Andrews J. Lucena, tomada da Serra de Bangu, em Bangu.

Ao extremo oeste da AP-5 surgem as baixadas de Santa Cruz e Guaratiba (Figura 3.4),

formadas por planícies aluvionar e litorânea. Costa (2002: 8,9) analisa esses dois tipos de

planícies:

A planície aluvionar é caracterizada por áreas aplainadas, de baixa declividade, ocorrendo na área entre o sopé dos maciços e a planície litorânea. Estas foram formadas por sedimentos depositados, provenientes principalmente, dos maciços da

31

Pedra Branca e do Gericinó-Mendanha, carreados pelos principais rios... A planície litorânea tem origem flúvio-marinha e apresenta uma suave inclinação para o mar, sendo, formada na sua parte mais extrema, por sedimentos arenosos da restinga da Marambaia... que atua como quebra mar das ondas oceânicas e possibilita que as águas da baía de Sepetiba sejam tranqüilas, facilitando a deposição, em seu fundo, do material carreado pelos rios e pelo mar.

Figura 3.4: Baixada de Guaratiba

Foto tirada por Andrews J. Lucena, tomada do Morro de Guaratiba, em Guaratiba.

Pelo seu íntimo contato com o mar, essas duas baixadas abrigam um clima mais

ameno com grande influência da brisa marítima. Estão sujeitas a enchentes e inundações,

principalmente no período de maré alta. Distinto da baixada de Bangu, o alojamento da

população é mais recente sinalizando o segundo momento da expansão urbana da Zona Oeste.

3.2.1 O CLIMA DO RIO DE JANEIRO

A cidade do Rio de Janeiro está situada na região sudeste do Brasil, no setor oeste do

Oceano Atlântico e nas proximidades do trópico de capricórnio (lat. 22º 54`; long. 43º 10`),

estando, portanto, na faixa intertropical do Globo. Por sua posição geográfica, a cidade recebe

influência dos sistemas tropicais e extratropicais da América do Sul, e aliado à

“irregularidade” de sua topografia (baixadas e maciços) alterna períodos com temperaturas,

32

umidade e pluviosidade bastante elevadas e períodos de frio intenso, proporcionado pelas

constantes invasões de ar frio oriundo das latitudes mais altas.

Dos sistemas atmosféricos atuantes na América do Sul (Figura 3.5) o Anticiclone do

Atlântico Sul e o Anticiclone migratório polar são os responsáveis pelo clima da região

sudeste e especialmente da cidade do Rio de Janeiro. A depressão do Chaco e a região dos

“doldruns” exercem relativa influência: a primeira alimenta a massa tropical continental (Mtc)

no verão com ar quente e baixa umidade; a região dos “doldruns” favorece a formação da

massa equatorial continental (Mec), que no verão se expande para a região sudeste, injetando

ar quente e úmido.

O Anticiclone do Pacífico e dos Açores não exercem influência direta sobre a região

sudeste, pois o primeiro limita-se ao setor leste do Pacífico impedido de atuar sobre a

América do Sul pela barreira orográfica da cordilheira andina, e o segundo restringe sua ação

ao Nordeste do Brasil.

Figura 3.5: Centros de ação atmosférica atuante no Brasil

Fonte: Adaptado de Monteiro, 1973

33

Estes sistemas atmosféricos associados aos fatores geográficos do continente sul-

americano proporcionam a formação de inúmeras massas de ar (Figura 3.6) com diferentes

propriedades térmicas e hígricas, que configuram os tipos climáticos do território brasileiro

(Figura 3.7).

Figura 3.6: Massas de ar que atuam no Brasil

Ea – Equatorial atlântica; Ec – Equatorial continental; Ep – Equatorial pacífica; Tc – Tropical continental; Tp – Tropical pacífica; Ta – Tropical atlântica; Pp – Polar pacífica; Pa – Polar atlântica

Fonte: Adaptado de Monteiro, 1973

O Anticiclone do Atlântico Sul é o responsável pela formação da massa tropical

atlântica (Mta), que durante o verão alimenta a cidade com temperatura e umidade elevadas.

No inverno, a massa tropical enfraquece mas o Anticiclone avança sobre o continente,

causador de maior estabilidade atmosférica com predomínio dos ventos de NE a NW.

O Anticiclone Migratório polar atua com maior freqüência no inverno, e

esporadicamente no verão, quando se desloca em direção à região sudeste, trazendo consigo a

massa polar atlântica (fria e úmida). Além de abaixar as temperaturas, esta massa em contato

com massas mais quentes forma as “frentes frias” que podem gerar chuvas frontais

34

ocasionando fortes aguaceiros ou tempestades. Com a entrada das frentes os ventos de NE e

NW tendem a ser substituídos pelos polares de S a SE ou SW, e apenas retorna à circulação

dominante (de NE e NW) com o enfraquecimento do sistema frontal sobre a cidade.

Figura 3.7: Os tipos climáticos do Brasil

Fonte: IBGE.

35

A cidade pode ser classificada com um tipo climático quente (média acima de 18ºC

em todos os meses) e úmido (de 1 a 3 meses secos), conforme ilustra a figura 3.8. A

temperatura média anual é de 23,2ºC, sendo o mês de fevereiro o mais quente e o de julho o

mais frio. A média anual no índice pluviométrico é superior a 1100mm e a sua estação

chuvosa ocorre entre os meses de outubro a março oriundo, sobretudo, da instabilidade local,

enquanto o período de estiagem ocorre de maio a agosto (Gráfico 3.1).

No verão, estação do ano mais quente e chuvosa, a temperatura máxima, em muitos

bairros, ultrapassa os 40ºC e as chuvas ocorrem com freqüência ao final da tarde, proveniente

do aquecimento basal durante o dia que resulta em grande atividade convectiva, formando

nuvens do tipo cumulo-nimbus, acarretando em chuvas intensas e concentradas.

O verão e o inverno são as duas estações com características mais díspares, enquanto a

primavera e o outono se apresentam como estações de “caráter transitório” para aquelas

estações. Levando em consideração a singularidade dos “climas de verão” e “de inverno”

podemos classificar as características mais gerais dessas duas estações, conforme a descrição

de Serra e Ratisbonna (1956).

Serra e Ratisbonna (1956) baseados nos valores médios anuais, classificaram o verão

como a época de maior insolação, temperaturas mais elevadas, maior evaporação, máxima

altura da chuva e maior número de trovoadas. É nessa ocasião que a amplitude da

temperatura, a velocidade do vento, a umidade relativa e a nebulosidade mais se aproxima dos

seus valores médios anuais. No inverno a insolação é ainda elevada com forte evaporação, a

temperatura, a nebulosidade, a precipitação e a umidade relativa apresentam valores mais

baixos. A velocidade do vento é fraca, e é elevada a freqüência de nevoeiros.

36

Figura 3.8: Os tipos climáticos do estado do Rio de Janeiro

Fonte: Adaptado do IBGE.

37

Gráfico 3.1: Normal climatológica da estação principal da cidade (Praça XV) no período entre 1961-1990

1819202122232425262728293031

Jan Fev Mar Abr Maio Jun Jul Ago Set Out Nov Dezmês

ºC

5060708090100110120130140150160170

mm

Pluviodidade Média das máximas Média compensada Média das mínimas

Fonte: INMET 1961-1990

Os ventos também desempenham papel importante na dinâmica climática da cidade.

Além dos ventos anticiclonais de Norte e de Sul, as brisas de terra/mar e os ventos de

vale/montanha executam uma influência ainda mais significativa sobre os ambientes da

cidade, tendo como causa a distribuição do relevo e a proximidade marítima (Figura 3.9).

Figura 3.9: Sistema de ventos predominantes na cidade do Rio de Janeiro

38

As brisas do mar, formadas pelo grande aquecimento do continente, se intensificam

nas épocas de circulação normal, principalmente nos meses quentes de setembro a abril, com

direção geral de SSE (su-sudeste). Principia às 13h, cessando às 18h. O terral, dado o intenso

resfriamento noturno da superfície, somente atinge maior freqüência no inverno. Sua direção

predominante é a NNW (nor-nordeste), com velocidade bem inferior à da brisa marítima e,

geralmente, sopra das 20h. até às 9h. da manhã (Serra e Ratisbonna, 1956; Serra, 1970).

O sistema de ventos de montanha e de vale é comum dos ambientes circundados pelos

maciços, e se originam exclusivamente por variações no aquecimento solar, sendo assim de

origem térmica. Os ventos de vale ou anabáticos ocorrem durante o dia, quando a insolação é

intensa e a vertente montanhosa exposta tem maior aquecimento que no fundo de vale. Um

gradiente de pressão se desenvolve, com ventos leves que se movimentam vertentes acima. À

noite, o gradiente de pressão é invertido, pois o cume resfria-se rapidamente devido às altas

taxas de perdas de radiação terrestre, formando um ar frio e denso que se desloca vertente

abaixo, os quais são conhecidos como ventos de montanha ou ventos catabáticos (Ayoade,

1998; Ahrens, 1994).

Um segundo sistema de ventos ocorre freqüentemente e exclusivamente no vale da

baixada de Bangu (confinada entre os maciços da Pedra Branca a sul e do Gericinó a norte),

podendo ser denominado como “Efeito Fohn” (figura 3.10). Sobre este sistema de ventos

Ayoade (1998:96) faz a seguinte descrição:

... geralmente locais, e, portanto de importância restrita,... causados pela topografia, com ou sem variações no aquecimento solar. Estes incluem o Fohn ou Chinook... O Fohn ou Chinook é um forte vento seco e quente que se desenvolve a sotavento de uma cadeia montanhosa, quando o ar estável foi forçado a passar por sobre a barreira montanhosa.

39

Figura 3.10: Sistema de circulação atmosférica local na baixada de Bangu

Fonte: Adaptado de Barbosa, 2002.

A particularidade do efeito Fonh na baixada de Bangu tem relação com os ventos da

baixada de Jacarepaguá. Os ventos úmidos, a barlavento, proveniente da baixada litorânea de

Jacarepaguá, sopram em direção à vertente meridional do maciço da Pedra Branca. Após a

ascendência dos ventos, estes são forçados a descerem a sotavento, na baixada, aquecidos e

seco, com baixa mobilidade gerando um “bolsão de calor” (Lucena, 2002).

Esta paisagem diversificada da cidade, permeada entre o mar, a floresta, a baixada e a

montanha, configura um mosaico de “climas locais” para a cidade do Rio de Janeiro. Os

bairros situados a sotavento do Maciço da Tijuca (na baixada da Guanabara) e do Maciço da

Pedra Branca (na baixada de Bangu) impedidos do efeito ameno da brisa marítima e

desprovidos de mata mais densa, experimentam as temperaturas mais elevadas da cidade e os

mais baixos totais pluviométricos. Por um outro lado, os bairros da orla da zona sul, da

baixada de Jacarepaguá, da baixada de Santa Cruz e Guaratiba ou até mesmo junto ao maciço

40

da Tijuca (como o Jardim Botânico e Gávea) experimentam temperaturas mais amenas e

índices pluviométricos mais elevados.

Portanto, a Zona Oeste abriga pelo menos “dois climas” de origem bastante singular.

Na baixada de Bangu uma dinâmica dupla no sistema de ventos locais proporciona aos bairros

um clima quente e seco. No outro extremo da Zona Oeste, nas baixadas de Santa Cruz e

Guaratiba, com suas extensas planícies espraiadas pelo litoral WSW (oeste-sudoeste), ausente

de barreiras orográficas que dificultem a penetração dos ventos, a brisa marítima varre

livremente a baixada proporcionando um clima mais ameno, com temperaturas mais baixas.

3.3. DINÂMICA URBANA E ASPECTOS SÓCIO-DEMOGRÁFICOS

3.3.1. UM BREVE HISTÓRICO SOBRE A OCUPAÇÃO DAS “TERRAS” DA

ZONA OESTE

O histórico de ocupação das terras da Zona Oeste remonta do final do século XVI,

quando Salvador Correia de Sá doa a seus filhos as terras existentes entre a restinga da Tijuca

(atual Jacarepaguá) e Guaratiba. Mas apenas no século seguinte é que se institui uma “política

de povoamento” para a região, um estímulo para resistir à invasão dos franceses que tentavam

dominar o território do Rio de Janeiro por Guaratiba.

A ocupação se dá primeiramente com a introdução da cana-de-açúcar e com os

pequenos latifúndios. No século XVIII é o momento do café, explorado nas encostas dos

maciços; em seguida é introduzida a cultura de frutas, como laranja e banana, e a criação de

gado leiteiro, que ainda em meados do século XX são encontradas nas baixadas e encostas

(Geiger, 2004).

O desenvolvimento de uma aglomeração urbana, que irá aos poucos se integrar ao

espaço urbano da cidade, se dá a partir da instalação de ramais ferroviários da Estrada de

Ferro Central do Brasil, como Deodoro (em 1859), Realengo e Campo Grande (em 1878) e

41

Bangu (em 1890). Inicialmente, de forma linear, os aglomerados urbanos serão estabelecidos

em torno dos ramais; aos poucos, em ruas perpendiculares à estação ferroviária, inaugurada

por proprietários de terra ou pequenas empresas loteadoras, inicia-se uma ocupação

descontínua, radial e tentacular por toda a imensa área rural ou “sertão do oeste” (Abreu,

1997).

Os censos do século XIX e do início do século XX apresentam o crescimento das

“freguesias” rurais (incluindo as áreas que hoje comportam a AP-5) na cidade do Rio de

Janeiro, favorecida pela ampliação dos ramais ferroviários, conforme segue no quadro 3.1.

Quadro 3.1: População residente e taxa de crescimento demográfico das freguesias do Rio de Janeiro

Ano Freguesias urbanas*

Taxa de crescimento (%)

Freguesias rurais**

Taxa de crescimento (%)

1821 72.319 40.376

1838 85.677 1838-1821: 22 51.401 1838-1821: 20

1870 191.002 1870-1838: 97 44.289 1870-1838: 11

1890 429.745 1890-1870: 88 92.906 1890-1870: 101

1906 619.648 1906-1890: 44 185.687 1906-1890: 100

1920*** 790.823 1920-1906: 28 356.776 1920-1906: 92

*Inclui as atuais Regiões administrativas da AP-1 (como o Centro e São Cristóvão) e da AP-2 (como a Lagoa e a Gávea).

** Inclui as atuais Regiões administrativas da AP-3 (como Irajá, Ilha do Governador e Inhaúma), da AP-4 (como Jacarepaguá) e da AP-5 (Guaratiba, Campo Grande e Santa Cruz). A Ilha de Paquetá e outras ilhas, atuais AP-1, também faz parte das freguesias rurais.

*** Neste ano as freguesias rurais são denominadas como Freguesias suburbanas

Fonte: Recenseamento de 1890, 1906 e 1920 do IBGE; Abreu, 1997. Organizado por Andrews J. Lucena.

O trem foi um “divisor de águas” na ocupação da cidade, que representa não apenas a

apropriação das áreas rurais da Zona Oeste como também um componente basilar da

estratificação das camadas sociais. Sobre este assunto, Abreu (1997: 140; 141) sintetiza:

... no fim do século XIX estavam, pois, lançadas as bases ideológicas da ocupação da cidade no século XX. As áreas da zona sul, servidas por carris, passaram a ser sinônimo de estilo de vida “moderno”, ideologia intensamente capitalizada pelas companhias imobiliárias que aí atuavam. As áreas abertas por ferrovias... (grifo nosso), por sua vez, deveriam se destinar aos mais pobres, que para lá já se deslocavam voluntária ou involuntariamente.

42

Desde então as áreas mais distantes da Área Central vão sendo ocupadas. A Zona Sul

e boa parte da Zona Norte são ocupadas pela classe média alta carioca, enquanto as áreas

mais suburbanas, seja em direção a oeste da baixada da Guanabara ou em direção a baixada

fluminense, maior a presença da população de baixa renda. Assim, a Zona Oeste é

consolidada como uma das principais áreas de expansão urbana da cidade, destinada para as

camadas populares e de classe média baixa, em sua maioria.

Nos censos após 1920, a Zona Oeste confirma seu status no crescimento populacional,

alcançando, em 1960, a maior taxa de acréscimo populacional da cidade (quadro 3.2).

Quadro 3.23: População residente na cidade do Rio de Janeiro em 1940, 1950 e 1960 e taxa de crescimento por

circunscrição censitária:

Circunscrições censitárias

1940

1950

1960

Crescimento 1940-1950 %

Crescimento 1950-1960 %

Centro* 49.852 37.809 25.196 - 24 - 33 Área Periférica Central** 196.381 181.392 177.740 - 8 - 2

São Cristóvão 70.984 76.604 78.002 8 2 Santa Tereza 61.476 71.733 83.215 17 16 Zona Sul*** 246.445 359.681 556.145 46 55

Zona norte**** 197.961 237.912 291.925 20 23 Zona Suburbana I***** 588.532 826.361 1.057,869 40 28

Jacarepaguá 71.425 107.093 193.792 50 81 Zona Suburbana II****** 182.461 324.906 564.425 78 74

Zona Rural******* 70.825 111.832 203.479 58 82 Ilhas 22.935 39.957 68.643 74 72

* Candelária, São José, Santa Rita, São Domingos, Sacramento, Ajuda; ** Santana, Gamboa, Espírito Santo, Rio Comprido, Santo Antônio; ***Glória, Lagoa, Gávea, Copacabana; **** Engenho Velho, Tijuca, Andaraí; ***** Engenho Novo, Méier, Inhaúma, Piedade, Irajá, Madureira, Penha; ****** Pavuna, Anchieta, Realengo; ******* Campo Grande, Guaratiba, Santa Cruz. Fonte: Censos demográficos (IBGE) de 1940, 1950 e 1960. Organizado por Andrews J. Lucena.

A Zona Oeste se torna um palco estratégico para as ações conjuntas das diversas

instâncias do governo federal, estadual e municipal. A União utilizou a presença de amplos

espaços para a instalação de bases militares (como a Vila Militar, Deodoro e Marechal

Hermes), as bases aéreas de Campo dos Afonsos e Santa Cruz, e de áreas de treinamento e

3 Apesar da dificuldade na elaboração deste quadro, o resultado final ficou o mais próxima da realidade possível, na tentativa de enquadrar os bairros da atual AP-5 nas décadas passadas, quando não havia esta denominação de “AP” (que passou a vigorar a partir da década de 1980). A elaboração deste quadro esteve baseada em tabelas construídas pelo Instituto Pereira Passos (IPP).

43

experimentação, como o campo do Gericinó onde foram construídos conjuntos habitacionais

para militares e para setores populares civis.

Uma outra componente para a expansão da mancha urbana em direção a Zona Oeste,

se dá através da indução da favelização, “patrocinada” pelo poder estadual dos anos da década

de 1960. Neste período se generalizou o processo de erradicação de favelas, proveniente da

Avenida Brasil (visando ceder lugar para estabelecimentos fabris) e notadamente daquelas

situadas na Zona Sul.

Com a criação dos distritos industriais de Campo Grande e Santa Cruz, nos anos da

década de 1960, onde se instalaram a Cosigua/Gerdau, a Michelin, a Vale Sul entre outras

(Geiger, 2004), a Zona Oeste aparece definitivamente como área de expansão urbana.

Considerando as últimas três décadas e a simulação de projeção de população para os

anos de 2010 e 2020, conforme organizado pela prefeitura da cidade (gráfico 3.2), é notável

uma consolidação definitiva de difusão da urbanização em direção a Zona Oeste (incluindo-se

aqui a AP-4) e estagnação ou regressão nas demais APs.

Gráfico 3.2: População residente nas APs entre 1970 e 2000 e projeção para 2010 e 2020

693.912

1.015.595,001.292.179,001.390.505,00

1.556.505,001.787.855,00

2.064.233,00

0

400.000

800.000

1.200.000

1.600.000

000.000

2.400.000

1970 1980 1991 1996 2000 2010 2020

Anos

nº d

e ha

bita

ntes

2.AP-1AP-2AP-3AP-4AP-5

Elaborado por Andrew s J. Lucena.Fonte: Censos demográficos, 1970,

1980, 1990, 2000; IPP, 1998.

44

Conclui-se que nos últimos 30 anos a oferta de bens e serviços urbanos, propiciado,

ainda que mínimos, pelos investimentos públicos e privados no sistema viário, em

loteamentos e edificações residenciais e comerciais, facilitando o acesso por moradia própria

e barata, são os fatores principais que tem impulsionado a apropriação das terras da Zona

Oeste. Sua população residente atual é de 1.556.505 (IBGE, 2001), o que equivale a 26,57%

da população total do município (5.587, 904), tendo em Campo Grande, Bangu e Santa Cruz,

respectivamente, os bairros que comportam o maior nº de habitantes da cidade.

3.3.2. O USO DO SOLO URBANO

O uso do solo4 na AP-5 comparada com as outras APs, revela quanto à sua área

urbanizada, um uso predominantemente residencial e, quanto à sua área natural prevalece uma

área expressiva em cobertura vegetal e em área vazia/ocupação rarefeita. Entre as baixadas de

Bangu, Guaratiba e Santa Cruz o uso do solo é bastante diferenciado, com uma maior

densidade urbana na primeira e uma densidade mais reduzida em Guaratiba e Santa Cruz

(quadro 3.3).

Quadro 3.3: Área territorial, uso do solo (área natural e urbanizada) e densidade construída nas Regiões

Administrativas da AP-5:

Região Área territorial Áreas urbanizadas e/ou Administrativa Km2 Área total Floresta alteradas (%) Total residencial

Realengo 54,55 24,48 18,56 75,5 527,74 435,13Bangu 67,81 24,48 18,56 75,5 527,74 435,13Campo Grande 153,44 21,51 13,17 78,49 321,45 236,95Santa Cruz 164,05 10,02 0,5 89,98 179,97 129,6Guaratiba 152,48 50,02 7,2 49,98 50,99 35,52Fonte: IPP, 2000 e 2003.

Áreas naturais (%) Densidade contruída (hab/m2)

4 A prefeitura da cidade classifica o uso do solo em dois grupos: área urbanizada e área natural. A área urbanizada divide-se em cinco categorias de uso: predominância residencial (área urbanizada com predominância residencial, favelas e ocupação rarefeita em loteamentos); serviços e comércio (área central de negócios, área com predominância comercial ou de serviços, aeroportos e cemitério); Área industrial; Área institucional (instituições públicas, incluídas as instalações militares e seus aeroportos) e Lazer (área de grandes parques e das praias). A área natural divide-se em quatro categorias: Lagoas e represas; Cobertura vegetal (floresta, mata secundária, mangue e macega); Agrícola e Área vazia ou ocupação rarefeita (áreas desocupadas, como pasto e capim, área desmatada, pedreira, terreno rochoso, área inundável, área úmida e pequenas ilhas).

45

De acordo com o quadro 3.3 a RA de Santa Cruz apresenta o menor índice de

porcentagem em área total e de floresta de sua área natural e o maior índice em área

urbanizada, enquanto as RAs de Realengo, Bangu e Campo Grande apresentam valores

opostos. Estes dados demonstram que toda (ou grande parte) da área territorial da RA de Santa

Cruz está situada em uma ampla área de baixada, o que favoreceu (e ainda favorece) a

ocupação de quase toda a sua área; enquanto que os bairros da baixada de Bangu apresentam

parte de suas áreas territoriais em ambiente de maciço, o que dificulta a ocupação total da

área. A RA de Guaratiba mesmo em baixada apresenta um padrão de ocupação bem mais

baixa que a de Santa Cruz, levando em conta que a área atravessa atualmente o seu grande

momento de expansão.

Os dados de densidade construída revelam a disparidade entre as baixadas e reforçam

a ocupação mais densa na baixada de Bangu, com uma maior concentração de população e de

domicílios. As figuras 3.11 e 3.12 destacam, visualmente, esta maior densidade nos bairros da

baixada de Bangu.

Figura 3.11: Uso do solo na Baixada de Bangu

46

Figura 3.12: Uso do solo na Baixada de Santa Cruz e Guaratiba

A ocupação residencial concentra-se em torno das estações ferroviárias (como as de

Bangu, Campo Grande e Santa Cruz), à margem das principais vias de circulação viária e nas

encostas das serras e morros isolados. Nas proximidades do centro dos bairros encontram-se

as residências com melhor porte imobiliário, enquanto para o “interior” estabelecem-se as

casas com menos pavimentos5 e os aglomerados subnormais (as favelas).

A favelização é uma realidade no processo de ocupação. Tomando como exemplo a

RA de Bangu, de acordo com o Instituto Municipal de Urbanismo Pereira Passos (IPP) em

1991 havia um total de 37 favelas cadastradas com mais de 18000 domicílios; em 1996 esse

número alcançou 46, com pouco mais de 22.000 domicílios (IPP, 1998). No atual ranking

com relação às pessoas residentes em favelas, das 33 regiões administrativas da cidade Bangu

5 É muito comum a construção de habitações pelo sistema de autoconstrução,que são casas que dificilmente apresentam um acabamento final, estando quase sempre em “reforma”.

47

aparece em 3º lugar, com 74.925 pessoas (e 27.232 domicílios), estando atrás da RA de

Jacarepaguá e da Penha. As RA de Realengo, Campo Grande, Guaratiba e Santa Cruz

aparecem em 19º, 13º, 29º e 11º lugar, respectivamente (IPP, 2004).

A forma predominante de ocupação do solo é horizontal, prevalecendo o casario baixo,

porém os indicadores de densidade predial e verticalização confirmam não apenas a expansão

horizontal da AP-5, tendo em Bangu um estágio mais acelerado de ocupação, como também

um aumento no índice de verticalização (IPLANRIO, 1993/1994). Os bairros de Bangu,

Campo Grande e Santa Cruz concentram os maiores números no índice de verticalização,

estando situados no centro desses bairros.

O uso comercial e de serviços restringe-se ao centro dos bairros (figuras 3.13 e 3.14),

com amplo sistema de lojas, escolas, supermercados e bancos, servidos por “calçadões”, ruas

e avenidas urbanizadas6. A utilização do solo para o uso industrial localiza-se nas imediações

da avenida Brasil, em torno de Bangu, Campo Grande e Santa Cruz, abrigando os distritos

industriais e servindo como portal de escoamento da produção.

Com uma expressiva cobertura vegetal existente, principalmente, nas baixadas e nos

maciços da Pedra Branca e do Gericinó, a AP-5 tem perdido em seus últimos 30 anos parcelas

significativas desta cobertura, estimulada pela expansão da ocupação nas encostas.

A Zona Oeste que sempre foi reconhecida por abrigar a zona agrícola da cidade7, vem

perdendo nas últimas décadas, principalmente a partir de 1960 (Bicalho, 1992), o seu “celeiro

agrícola”. A diminuição se deve pela utilização de suas terras para a ocupação urbana

(principalmente as áreas planas de baixada), ao “lazer” (antigas propriedades agrícolas tem se

6 Os principais bairros da AP-5 (Realengo, Bangu, Campo Grande e Santa Cruz) tiveram nos últimos 15 anos melhorias em seus imobiliários urbanos, favorecidas pelas obras de revitalização urbana da prefeitura, conhecido como Rio Cidade. 7 Além de Santa Cruz, quando em 1930 foi criada a Colônia Agrícola de Santa Cruz com um assentamento de agricultores para o abastecimento da cidade em produtos de horticultura, outras áreas da Zona Oeste também se destacaram com vocação agrícola, como Palmares, Mendanha, Rio da Prata, Mato Alto e Engenho Novo, em Campo Grande, e Sepetiba (Bicallho, 1992).

48

transformado em sítios, por exemplo) ou simplesmente são abandonadas sem utilidade

aparente, se “preservando” para uma futura especulação imobiliária. Restam apenas alguns

“enclaves agrícolas” nas antigas zonas agrícolas8, como em Campo Grande e até mesmo

Bangu (figuras 3.15 e 3.16).

Figura 3.13: Centro comercial de Campo Grande (nas imediações da rodoviária)

Foto tirada por Andrews J. Lucena, tomada da Estação Ferroviária de Campo Grande.

8 Atualmente, Santa Cruz é a área da Zona Oeste que ainda sobrevive e persiste com uma “área agrícola”, porém não se destaca como uma zona de abastecimento da cidade. As transformações do uso agrícola na Zona Oeste também se devem a mudanças na conjuntura agrícola do estado do Rio, pois as cidades da região serrana são atualmente as principais zonas agrícolas do estado, o que torna a atividade agrícola pouco rentável para a Zona Oeste da cidade do Rio de Janeiro.

49

Figura 3.14: Centro comercial de Santa Cruz (nas imediações da rua Senador Camará)

Foto tirada por Andrews J. Lucena, tomada da Estação Ferroviária de Santa Cruz.

Figura 3.15: Remanescente agrícola nas encostas da Serra de Bangu (Maciço da Pedra Branca)

Foto tirada por Andrews J. Lucena, tomada da Estrada do Viegas em Senador Camará.

50

Figura 3.16: Remanescente agrícola no “bairro” Rio da Prata em Campo Grande

Foto tirada por Andrews J. Lucena, tomada da Estrada do Viegas em Senador Camará.

51

4. METODOLOGIA

A metodologia deste trabalho está fundamentada em Monteiro (1976) e Brandão

(1996) que tratam do estudo do clima no interior dos ambientes urbanos. Monteiro estruturou

as bases do Sistema Clima Urbano (SCU) no Brasil e desde então disseminou diversos

trabalhos sobre o tema (Monteiro, 1991; 2003). Brandão (1996) fundamentada na proposta

metodológica de Monteiro aplicou as bases do SCU à cidade do Rio de Janeiro.

O método adotado para atingir os objetivos estabelecidos, teve como base o arcabouço

teórico do SCU e se dividiu em três partes:

Coleta de dados de temperatura (máxima, mínima e média compensada) das

estações meteorológicas da Praça XV, Campo dos Afonsos, Bangu e Santa Cruz;

tratamento estatístico e representação gráfica;

Experimento de campo sazonal (verão e inverno) por meio da abordagem de

transetos fixos e móveis; correção dos dados do experimento e representação

temática em tabelas, gráficos e mapas;

Classificação de Unidades Climáticas Urbanas da Zona Oeste.

4.1. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS E TÉCNICAS EMPREGADAS

4.1.1. A ANÁLISE TÊMPORO-ESPACIAL

4.1.1.1. A ESCOLHA DAS ESTAÇÕES METEOROLÓGICAS E O PERÍODO DE

ANÁLISE; FONTE E SELEÇÃO DOS DADOS

Quatro estações meteorológicas foram selecionadas: Praça XV, Campo dos Afonsos,

Bangu e Santa Cruz. A escolha destas estações deve-se pela disponibilidade de acesso aos

dados de temperatura de suas séries (disponível pelos órgãos responsáveis pela geração e

manutenção dos dados: INMET e SRPV1) e pela situação geográfica das mesmas.

1 INMET (Instituto Nacional de Meteorologia); SRPV (Serviço Regional de Proteção ao Vôo da INFRAERO)

52

A cidade do Rio de Janeiro dispõe de 21 estações meteorológicas, sendo que quatro

não estão em funcionamento e há previsão de instalação de mais sete estações (Figura 4.1).

Figura 4.1. Rede de estações meteorológicas na cidade do Rio de Janeiro2

Fonte: Jornal O Globo 11/12/04 (adaptado).

Até o momento a Zona Oeste possui seis estações meteorológicas, duas controladas

pelo INMET (Realengo e Santa Cruz), duas pelo Ministério da Aeronáutica (Campo dos

Afonsos e Santa Cruz), uma pela UFRJ (Bangu) e uma pela GEO-RIO (Guaratiba). Para este

trabalho, foram escolhidas as estações da Praça XV, Bangu3 e Santa Cruz, controladas pelo

INMET e a estação de Campo dos Afonsos. Campo dos Afonsos, Bangu e Santa Cruz são as

2 Das cinco estações controladas pelo INMET, a da Marambaia também está desativada. Acrescenta-se à rede de estações do INMET, a estação da Saúde (estação Rio de Janeiro). 3 Atualmente a estação de Bangu, antes controlada pelo INMET, está desativada.

53

estações principais da Zona Oeste e a Praça XV4 é a estação principal da cidade do Rio de

Janeiro.

A localização geográfica dos bairros onde se encontram as estações é bastante

estratégica no cenário urbano da cidade e em particular da Zona Oeste (Figura 4.2). A estação

da Praça XV está situada na área central da cidade “às margens” da Baía de Guanabara. O

bairro de Campo dos Afonsos está situado no centro geográfico do município e é o limite a

leste da Zona Oeste com a Zona Norte (Área de Planejamento 3). Bangu está localizado na

baixada de Bangu em um fundo de vale, entre os Maciços da Pedra Branca e do Gericinó-

Mendanha e Santa Cruz tem seu posto meteorológico alocado na baixada de Santa Cruz,

extremo oeste da cidade.

Figura 4.2: Distribuição das estações meteorológicas da Praça XV, Campo dos Afonsos, Bangu e Santa Cruz na

cidade do Rio de Janeiro

4 Atualmente a estação da Praça XV não é a principal da cidade, pois foi desativada pelo INMET. A “nova” estação principal da cidade tem sua sede no bairro da Saúde, também no Centro da cidade.

54

O período de dados selecionados para a análise, corresponde ao período disponível

pelo INMET e SRPV de suas séries temporais, conforme visualizado no quadro 4.1.

Quadro 4.1. Série temporal dos dados de temperatura5 das estações meteorológicas da Praça XV, Campo dos

Afonsos, Bangu e Santa Cruz

temp. máxima temp. mínima temp. média compensadaPeríodo 1921-1990 1921-1990 1921-1990

temp. máxima temp. mínima temp. média do bulbo secoPeríodo 1973-2000 1973-2000 1973-2000

temp. máxima temp. mínima temp. média compensadaPeríodo 1922-2000 1922-2000 1922-1987

temp. máxima temp. mínima temp. média compensadaPeríodo 1971-2000 1971-2000 1971-1987

Organizado por Andrews J. Lucena.

Praça XV

Campo dos Afonsos

Bangu

Santa Cruz

4.1.1.2. A PROBLEMÁTICA E O TRATAMENTO DOS DADOS

Sobre os dados das estações vale destacar o aspecto da descontinuidade da série

histórica, isto é, a ausência de dados em alguns meses e anos.

Na estação da Praça XV, apenas o mês de outubro de 1989 e os meses de julho e

dezembro de 1990 não contem dados das três variáveis térmicas (anexo A). A estação

meteorológica de Bangu conta com uma grande interrupção na série. As décadas de 20, 40 e

50 são as mais prejudicadas com ausência de dados em alguns meses e anos, como por

exemplo, os anos de 1927, 1929, 1930 e 1944 (sem dados das três variáveis), 1950 (sem

dados de temperatura máxima) e 1969 (sem dados de temperatura média compensada). A

5 A média da temperatura máxima e mínima corresponde às médias mensais e anuais dos valores diários.A temperatura média compensada é tomada a partir da seguinte fórmula: T=(T12 + 2T00 + TMax. + TMin.)/5, que indicam as horas das observações: 12:00, 18:00 e 00:00 TMG (Tempo Médio de Greenwich), de acordo com padrão da OMM (Organização Meteorológica Mundial) divulgados pelo DNMET (Departamento Nacional de Meteorologia). A temperatura média do bulbo seco é a média aritmética de todas as leituras horárias diárias. A média do mês é a média aritmética das médias diárias.

55

temperatura média compensada é a que apresenta os períodos mais incompletos, além de

conter dados só até 1987, pois desde então não há mais registro de temperatura média

compensada na estação do bairro. Em geral, os meses com lacunas mais vazias na série são

setembro, novembro e dezembro (anexo B).

Na estação de Campo dos Afonsos os anos de 1973, 1974, 1976, 1992 e 1993

aparecem com a maior ausência de dados (anexo C). A estação de Santa Cruz apresenta uma

considerável interrupção na série, para as três variáveis da temperatura nas três décadas. A

temperatura máxima e mínima sofre uma interrupção a partir de 1994 e a temperatura média

compensada tem o período mais incompleto, pois dispõe de dados só até 1987 (anexo D).

Para não perder um considerável número de anos das estações e nem estimar uma

média anual com a ausência de alguns meses (o que poderia estimar médias anuais com

temperaturas muito altas ou muito baixas, dependendo dos meses – meses de verão ou de

inverno), na ausência dos dados foi utilizado o método da interpolação6 .

No método da interpolação a lacuna vazia é preenchida com a média aritmética do ano

anterior e posterior ao ano incompleto, ou seja, se o mês de janeiro de 1980 não contém o

dado, este mês foi preenchido com a média aritmética do mês de janeiro de 1979 e 1981.

Apenas adotamos este procedimento para os anos que tinham de um a cinco meses faltosos,

procurando ao máximo diminuir o erro da estimativa calculada pela média aritmética, sendo

cinco meses (e até seis) um número representativo para isto. Entretanto, quando se tratava de

todo um ano com ausência de dados, o ano foi desconsiderado para análise, como aconteceu

com os anos de 1927, 1929, 1930, 1944 e 1950 em Bangu. 6 Muitos são os métodos para a estimativa do dado faltoso. Em Climatologia dois fatores são os mais importantes para estimar o dado faltoso: a correlação da rede de estações e as variações sazonais das relações entre as estações (Xia et al, 1999). Um método bastante empregado é o Simple arithmetic avering - AA (Média aritmética) que corresponde à média aritmética dos dados climatológicos de 5 estações meteorológicas ao redor da estação que falta o dado. Um segundo método, o Inverse distance interpolation – ID (Interpolação inversa da distância), tem a seguinte fórmula: Vo=1(Vi/di)/1(1/di), onde: Vo é o valor estimado do dado faltoso; Vi é o dado da estação meteorológica mais próxima; di é o valor da distância entre a estação do dado faltoso com a estação mais próxima (Xia et al, 1999).

56

Para a estação de Santa Cruz (entre os anos de 1982 e 2000), tanto na ausência de

alguns meses como de todo um ano, o método adotado foi o preenchimento destas lacunas

com os valores da estação meteorológica da base aérea de Santa Cruz (SRPV), que se localiza

no mesmo bairro. Apenas para a temperatura média compensada o procedimento não foi

utilizado, pois a estação do SRPV não se utiliza desta variável, e sim, da temperatura média

do bulbo seco (que é a temperatura média do ar). Nos anos anteriores a 1982 o método

utilizado foi o mesmo utilizado nas outras estações (a interpolação), seguindo os mesmos

critérios.

Contíguo ao método da interpolação, foi utilizado o desvio padrão7 (do programa

Excel) para calcular o nível de erro do valor estimado pela média aritmética. O desvio padrão

encontrado nas médias anuais das quatro estações variou de 0,2ºC a 1Cº (representados em

gráficos nos anexos E, F, G, H), o que equivale a uma variação bastante baixa, em se tratando

de “temperatura do ar”.

As maiores variações do desvio padrão ocorreram na estação de Bangu, seguido por

Campo dos Afonsos, Praça XV e, finalmente, Santa Cruz. Em um primeiro instante pode-se

interpretar que pelo “perfil” de Bangu, isto é, possui uma das maiores séries de dados e tem

alguns anos e meses com a ausência deles, contribuiu para uma maior variação no desvio

padrão. No entanto, em Santa Cruz, com uma série de dados (relativamente) pequena, mas

também com muitos dados faltosos, a variação foi mais baixa. Logo, a utilização do recurso

estatístico do desvio padrão só vem ratificar a exploração, com segurança, dos dados das

quatro estações.

Com as séries das estações “completas” foi calculada a média anual e decenal e em

seguida foram elaborados gráficos (no programa Excel) das médias anuais e decenais de cada

7 O desvio padrão é uma faixa de dispersão dos dados ao redor da média, abrangendo a maior parte dos valores que se aproxima da média. Assim, se a média de um determinado ano é de 26ºC, com um desvio padrão de + ou - 1ºC, tem-se que grande parte da temperatura varia entre 25 e 27ºC.

57

estação meteorológica, buscando analisar a série temporal. Foi aplicada, ainda, a técnica da

média móvel (do programa Excel) para cinco anos, visando a análise da tendência da

temperatura, conforme empregada por Brandão (1987) para a cidade do Rio de Janeiro e por

Lucena (2004) para o bairro de Bangu/RJ.

4.1.2. A ANÁLISE ESPACIAL DO CAMPO TÉRMICO: OS EXPERIMENTOS DE

CAMPO

Os experimentos de campo surgem como uma estratégia elementar de “adentrar” a

cidade para “sondar-lhe” o clima, revelando as derivações do ar no interior do “organismo”

urbano (Monteiro, 1990).

Os experimentos consistiram na utilização de transetos8 em diferentes pontos

amostrais da Zona Oeste. Estes experimentos procuraram contextualizar o campo térmico da

Zona Oeste em escala topo e microclimática, buscando identificar as diferentes configurações

e intensidades da ilha de calor, considerando os sistemas atmosféricos atuantes e suas

interações com os componentes do clima, do ambiente e a morfologia e funções urbanas.

Antes da espacialização dos transetos, buscou-se a compatibilização de informações

sobre os aspectos do uso do solo urbano no intuito de caracterizar a área de estudo, que serviu

de base para a seleção dos pontos amostrais aos experimentos de campo.

Para a seleção de cada ponto amostral foi necessária a compartimentação dos atributos

naturais do sítio (vegetação) e de seus componentes antrópicos (uso do solo, pavimentação,

densidade construída etc). Para isso, realizou-se uma análise detalhada do mapa de uso do

solo da cidade do Rio de Janeiro (IPP, 1998), do Mapa de Zoneamento (SMU, 1988) na escala

1:10.000 e do Mapa de Gabarito (SMU, 1988), também na escala 1:10.000. E, por fim, foi

aplicada uma pesquisa de campo para observar as características de cada ponto selecionado,

8 Segmento horizontal com diversos pontos de medida dos elementos climatológicos (temperatura, umidade, vento) ao longo do espaço urbano delimitado.

58

onde na ocasião foram fotografados e devidamente referenciados em GPS (Global Position

Systen) para a posterior plotagem em mapa.

Buscando obter a maior quantidade de áreas, de diferentes características físicas e de

uso do solo, foram selecionados 64 pontos amostrais, dos quais 18 correspondem aos pontos

de medida fixa (transeto fixo) e 46 aos pontos de medida móvel (transeto móvel).

A técnica de medidas fixas consiste na seleção de pontos amostrais que durante um

período diário (das 8 às 20h.) uma equipe realiza medições e observações horárias dos

elementos do clima (temperatura, umidade, vento). O método foi utilizado por Brandão

(1996) na cidade do Rio de Janeiro, seguido posteriormente por outros autores, como Fialho

(2002) quanto adaptou o método para o bairro da Ilha do Governador/RJ.

Para o transeto fixo foram selecionados três pontos amostrais de medida (Ponto A, B e

C) em cada bairro (Realengo, Bangu, Campo Grande, Barra de Guaratiba, Santa Cruz e

Sepetiba), totalizando 18 pontos (Figura 4.3). Dos três pontos, o ponto “A” equivale a um

“ambiente aberto” (de pouca ou nenhuma densidade construída e/ou baixo fluxo de atividades

e veículos) e/ou “arborizado” (como uma praça); e os outros pontos (“B” e “C”)9 equivalem à

rua ou avenida com maior movimento (intenso fluxo de atividades) e de maior densidade

construída (Figuras 4.4, 4.5, 4.6, 4.7, 4.8).

9 Em Barra de Guaratiba os três pontos corresponderam a três ruas (“estradas”), devido aos poucos espaços de praças no bairro, porém estas ruas apresentam usos diferentes ao longo de suas extensões. Em Santa Cruz o ponto B também foi enquadrado em uma praça, devido ao bom nº de praças que há neste setor do bairro, e pelo fato das praças “A” e “B” apresentarem dinâmicas urbanas bem distintas.

59

Figura 4.3: Distribuição dos transetos fixos e móveis na Zona Oeste da cidade do Rio de Janeiro

60

Figura 4.4: Transeto fixo em Realengo e Bangu

61

Figura 4.4.1: Localização do transeto fixo em Bangu

Escala aproximada 1.20.000 Fonte: IPP, 2001.

Ponto A: Praça da Fé

Ponto B: Rua Francisco Real

Ponto C: Av. Cônego de Vasconselos/Rua Profº Clemente Ferreira

Legenda:

62

Legenda:

Figura 4.4.2: Localização do transeto fixo em Realengo

Escala aproximada 1.20.000 Fonte: IPP, 2001.

Ponto A: Praça Padre Miguel

Ponto B: Rua General Sezefredo

Ponto C: Rua Oliveira Braga

63

Figura 4.5: Transeto fixo em Campo Grande

64

Figura 4.5.1.: Localização do transeto fixo Campo Grande

Figura 4.5.1: Localização do transeto fixo em Campo Grande

Escala aproximada 1.20.000 Fonte: IPP, 2001.

Ponto A: Praça Drº Raul Boaventura

Ponto B: Rua Ferreira Borges (em frente a PIB de Campo Grande)

Ponto C: Rua Aurélio Figueiredo (rodoviária de Campo Grande)

Legenda:

65

Figura 4.6: Transeto fixo em Barra de Guaratiba

Figura 4.6.1: Localização do transeto fixo em Barra de Guaratiba

66

Legenda:

Figura 4.6.1: Localização do transeto fixo em Barra de Guaratiba

Escala aproximada 1.20.000 Fonte: IPP, 2001.

Ponto A: Estrada

Roberto Burle Marx

Ponto B: Estrada

Roberto Burle Marx

Ponto C: Estrada da

Barra de Guaratiba

67

Figura 4.7: Transeto fixo em Santa Cruz

68

Figura 4.7.1: Localização do transeto fixo em Santa Cruz

Escala aproximada 1.20.000 Fonte: IPP, 2001.

Ponto A: Praça Dom Romualdo

Ponto B: Praça Marques de Herval

Ponto C: Rua Felipe Cardoso/Rua Visconde de Sepetiba

Legenda:

69

Figura 4.8: Transeto fixo em Sepetiba

70

Figura 4.8.1: Localização do transeto fixo em Santa Cruz

Escala aproximada 1.20.000 Fonte: IPP, 2001.

Ponto A: Praça Oscar Rossini

Ponto B: Rua da Floresta

Ponto C: Praia de Sepetiba

Legenda:

71

Em cada bairro, das 8h. às 20h. duas pessoas realizaram observações horárias da

temperatura e umidade do ar, através do Psicrômetro de Funda10 (figura 4.9), cobertura do

céu, direção e intensidade do vento, fluxo de veículos e a situação do tempo presente (detalhes

das medições e os recursos materiais utilizados durante os transetos, vide anexo I, J, L).

Figura 4.9. Psicrômetro de funda e acessórios utilizados durante as medidas fixas

Fonte: Climageo, 2004.

Empregado pela primeira vez na Europa por Schmidt e Pepler, a técnica de medida de

temperatura por transetos móveis vem sendo aperfeiçoada nos últimos anos (Hasenack &

Beck, 1985). Esta técnica surge com o fim de abranger uma área espacial maior e tornar as

medições de temperatura mais rápida para os trabalhos de climatologia urbana (Hasenack &

Beck, 1986), não necessitando de uma equipe de voluntários que fique “presa” para as

10 Aparelho que apresenta dois termômetros com coluna de mercúrio, um com o bulbo seco e outro coberto por uma musselina que quando umedecido se estabelece como o bulbo úmido.

72

medições fixas durante várias horas do dia (conforme ocorre com os transetos fixos) o que

requer antes de tudo, disponibilidade e preparação técnica da equipe.

O transeto móvel equivale ao percurso das áreas amostrais em automóvel, equipado

com sensor térmico protegido por um material isolante. O sensor protegido, situado a uma

altura relativa do solo (que varia entre 1,0 e 2,0 metros.) mensura a temperatura interna e

externa ao veículo a cada ponto de medida que pode ocorrer com o veículo em movimento

(medição móvel intermitente) ou com uma parada em cada ponto (medição móvel contínua).

De acordo com levantamento realizado por Hasenack e Beck (1985) para a cidade de

Porto Alegre, a variação horária entre os dois tipos de medições é de cerca de 2 minutos e a

diferença não ultrapassa 0,4ºC, sendo na medição intermitente onde ocorrem valores maiores.

Os autores apresentam concluem “Embora a medição intermitente pareça ser mais exata, a

medição contínua apresenta a vantagem de cobrir uma área maior no mesmo período ou

numa mesma área um maior número de pontos de observação” (Hasenack e Beck, 1985:407).

O transeto móvel leva em consideração o tempo do trajeto percorrido pelo veículo (do

primeiro ao último ponto de medição), a quilometragem do percurso e a velocidade do

veículo. O tempo do percurso pode variar de 30 a 150 minutos, a quilometragem pode oscilar

de 3 a 20Km e a velocidade vacila entre 20 e 60 Km/h (Hasenack et al., 1982; Hasenack e

Beck, 1985 e 1986; Lucena e Brandão, 2000; Malheiros e Brandão, 2000; França e Brandão,

2000; Lucena, 2002 e 2004; Fialho, 2002).

Para este trabalho foram realizados 4 transetos móveis (figuras 4.3, 4.10 e 4.11) e o

método utilizado foi o da medição móvel contínua, em que o automóvel se locomoveu em

velocidade média de 50 Km/h e o tempo e a kilometragem do percurso flutuou entre 18 e 40

minutos e 6 e 9,2Km, respectivamente (Quadro 4.2).

Figura 4.10: Transeto móvel I (Bangu-Av. Brasil) e II (Bangu-Realengo)

Transeto I: Bangu - Av. Brasil: partindo da

Fazenda do Viegas – em Bangu - até a Av.

Brasil (na altura de Padre Miguel) no sentido

sul-nordeste, o transeto contemplou 13 pontos

percorrendo a área residencial e comercial de

Bangu, e a sua área de ocupação mais

rarefeita, como a Av. Brasil.

Transeto II: Bangu – Realengo: em um

sentido oeste-leste, este transeto abrangeu

10 pontos, os quais determinam uma das

áreas mais densamente ocupada da baixada

de Bangu, que são os bairros de Bangu,

Padre Miguel e Realengo.

73

74

Figura 4.10.1: Localização do transeto móvel I (Bangu-Av. Brasil)

1. Rua Marmiari/Fazenda do Viegas

2. Praça Francisco Dias

3. Rua Rio da Prata (Mercado Guanabara)

4. Rua Boiobi/Rua da Feira

5. Praça Raimundo Paz

6. Rua Silva Cardoso/Rua Profº Clemente

Ferreira

7. Av. Santa Cruz (estação ferroviária de

Bangu)

8. Rua Coronel Tamarindo

9. Rua Sul América

10. Av. Ministro Ary Franco/Rua Sainá

11. Estrada da Água Branca (Igreja Batista)

12. Estrada da Cancela Preta

13. Av. Brasil Escala aproximada 1.40.000

Fonte: IPP, 2001

Legenda da figura 4.10.1:

75 7

76

Figura 4.10.2: Localização do transeto móvel II (Bangu-Realengo)

Escala aproximada 1.38.000

Fonte: IPP, 2001

1. Rua Engenheiro Paula Lopes 6. Praça Luis Pereira

2. Rua Engenheiro Pires Rabelo 7. Praça dos Abrolhos

3. Praça Lealdina Muniz 8. Rua Ibitiúva

4. Praça Miguel Pedro/Rua da Usina 9. Praça Padre Miguel

5. Rua Paris Viana 10. Campo de Marte (“Praça do Canhão”)

Legenda da figura 4.10.2:

77 7

78

Figura 4.11: Transeto móvel III (Santa Cruz-Sepetiba) e II (Santa Cruz-Av. Brasil)

Transeto III: Santa Cruz - Sepetiba:

num total de 11 pontos seguindo o

sentido leste-sudoeste, o transeto

abarcou todo o bairro de Sepetiba

percorrendo sua área residencial e

principais ruas, permeada entre a orla e

o seu interior

Transeto IV: Santa Cruz - Av.

Brasil: em 12 pontos percorridos no

sentido sul-norte, este transeto

privilegiou todo o bairro de Santa

Cruz. O percurso considerou as

principais ruas e avenidas da área

comercial, residencial e a Av. Brasil.

79

Figura 4.11.1: Localização do transeto móvel III (Santa Cruz-Sepetiba)

1. Estrada de Sepetiba/ Estrada Cruz das

Almas

2. Estrada de Sepetiba/Largo do Arão

3. Estrada de Sepetiba – Conjunto Nova

Sepetiba

4. Estrada do Piaí/Rua Pedro Leitão

5. Rua da Floresta

6. Praia de Sepetiba

7.Rua do Iate

8. Rua Aristides Gouveia

9. Praça 6

10. Praia do Reconcavo

11. Praia do Cardo

Fonte: IPP, 2001

Escala aproximada 1..000

Legenda da figura 4.11.1:

80

81

Figura 4.11.2: Localização do transeto móvel IV(Santa Cruz-Av. Brasil)

Fonte: IPP, 2001

1. Rua Felipe Cardoso – Praça Oswald de Andrade

2. Rua Felipe Cardoso/Av. Engenheiro Gastão Rangel

3. Rua Felipe Cardoso/ Av. Antares

4. Rua Felipe Cardoso/Rua General Olímpio

5. Rua Felipe Cardoso/Av. Isabel

6. Rua Senador Camará

7. Praça da Superintendência

8. Rua Senador Camará - Hospital Pedro II

9. Estrada Morro do Ar/ Rua Horto Florestal

10. Estrada Morro do Ar (rio cação vermelho)

11. Estrada Morro do Ar/Rua Sales

12. Av. Brasil

82

Legenda da figura 4.11.2:

83

Quadro 4.2. Kilometragem e tempo de percurso dos transetos móveis

Horários 6 13 21 6 13 21 6 13 21 6 13 21Kilometragem (Km) 9,2 9,2 9,2 7 7 7 9,2 9,2 9,2 6 6 6tempo de percurso (min.) 29 33 29 31 28 28 40 33 37 19 18 23Organizado por Andrews J. Lucena.

Transeto III Transeto IVTranseto I Transeto II

Cada automóvel estava equipado com um termohigrômetro11 digital (da marca

TEMPTEC – figura 4.12) a 1,5 metro do solo, acoplado a um duplo tubo de PVC12 (situado

no sentido transversal do automóvel) mantido ao lado do carona. Simultaneamente às

medições digitais de temperatura e umidade, os equipantes do automóvel observaram a

cobertura do céu e a intensidade do vento (detalhes dos recursos materiais utilizados, vide

anexo N).

Figura 4.12. Termohigrômetro digital utilizado nos transetos móveis

Fonte: Climageo, 2004.

11 Termômetro que registra os valores de temperatura dentro (“in”) e fora do ambiente (“out”) - o automóvel - e da umidade relativa do ar. Para o trabalho os valores utilizados são os da temperatura externa (“out”). 12 O tubo é composto por um cano de PVC de ¾ com 1metro de comprimento. Um T de 100 x 50, conexões de redução como rosca de 11/4 e ¾. O fio do termohigrômetro com 1,5 de comprimento é inserido pelo cano até alcançar sua parte superior, onde em contato com o T de 100 x 50 é fixado com fita adesiva. O tubo tem como função proteger o sensor da radiação solar direta de ondas curtas e longas.

84

A escolha dos transetos foi estratégica quanto à localização geográfica dos bairros na

Zona Oeste. Os transetos I e II estão distribuídos no fundo de vale da baixada de Bangu,

enquanto os transetos III e IV estão distribuídos na baixada de Santa Cruz, duas áreas bastante

contrastante, tanto sob o aspecto físico-ambiental, como o urbano-demográfico.

Três horários padrões foram selecionados para a realização dos transetos móveis: 6, 13

e 20h. O horário das 6h caracteriza a fase final do processo de resfriamento noturno, quando

por volta deste horário se estabelece a temperatura mínima do dia; às 13h se configura,

geralmente, o pico do aquecimento diurno estando próximo da temperatura máxima diária; às

20h se dá o período da radiação terrestre, quando ocorre a “transferência” da radiação de

ondas longas para a atmosfera, decorrendo, portanto, o processo de resfriamento noturno. Tais

variações no aquecimento diurno e resfriamento noturno são fundamentais e influentes na

configuração do campo térmico.

Notadamente, levando em consideração esses fatores no aquecimento e resfriamento

do ambiente, cogitou-se a possibilidade da realização de medições térmicas antes das 6h da

manhã e/ou após as 20h, mas lamentavelmente o fator “segurança pública” limitou esta

tentativa.

Os transetos fixos e móveis foram realizados nos dias 26 de janeiro de 2004 (episódio

de verão13) e 29 de julho de 2004 (episódio de inverno), sendo fundamental o

acompanhamento e a descrição do tempo atmosférico nos dias de medições, que se deu

através da leitura de cartas sinóticas e imagens de satélite14.

4.1.2.1. DOS INSTRUMENTOS: AFERIÇÃO E CORREÇÃO DOS DADOS

13 Em função do horário brasileiro de verão, onde os relógios são adiantados em 1 hora, as medições móveis foram efetuadas as 7, 14 e 21h., o que não foi considerado para as medições fixas. 14 As cartas sinóticas são mapas do continente sul-americano que representam os sistemas produtores do tempo e os centros de pressão atmosférica em superfície. As imagens de satélite são mapas do continente sul-americano que representam o teor de vapor d´água na atmosfera. As cartas sinóticas são disponibilizadas pelo Departamento de Hidrografia e Navegação (DHN) da Marinha do Brasil através do site: www.mar.mil.br As imagens de satélite estão disponíveis pelo Centro de Previsão do Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC) no site: www.cptec.inpe.br.

85

Oito psicrômetros de funda (1 para cada transeto fixo e 2 de reserva) e cinco

termohigrômetros (1 para cada transeto móvel e 1 de reserva) foram utilizados durante os

experimentos.

Dos métodos utilizados para a aferição dos dados dos psicrômetros e

termohigrômetros, optou-se em adotar o método de correção de dados elaborado por Danni-

Oliveira (2002) cuja aplicação tem uma proposta bastante específica para os trabalhos de

campo em Climatologia.

Segundo o método, a aferição possibilita corrigir os “erros” dos termômetros com

diferenças de leitura entre si não havendo a necessidade da aferição dos instrumentos com a

estação meteorológica padrão. São procedimentos de simples execução e que permite que os

dados registrados por meio da leitura dos termômetros não sejam distorcidos ou mascarados

por estarem desregulados (Danni-Oliveira, 2000) (todo o procedimento deste método está

demonstrado no anexo P).

Neste método, a média geral dos “desvios das médias” da temperatura para os

psicrômetros ficou em torno de -0,1ºC, enquanto para os termohigrômetros em torno de 1,2ºC,

revelando a maior sensibilidade destes últimos instrumentos. Para a umidade relativa os

valores oscilaram, em média, 2% para ambos instrumentos.

Um segundo método foi utilizado para comparação, que tem como procedimento a

comparação dos termômetros preparados para o trabalho de campo ao de uma estação

meteorológica-padrão, de acordo com Fialho (2002) demonstrado no anexo Q.

Na comparação do dois métodos o indicado por Danni-Oliveira (2000) apresentou

resultados mais satisfatórios, pois a variação da temperatura entre os instrumentos pouco

alcançou 1,0ºC, enquanto que para o 2º método a variação dos dados corrigidos para os

valores brutos chegou a quase 5ºC ou mais.

86

Com um nível de erro bastante expressivo do termohigrômetro nº 5, operado para o

transeto II (Bangu-Realengo) nos dois episódios sazonais, este transeto foi descartado da

análise, por apresentar uma grande discrepância entre os dados brutos e corrigidos para os

demais três transetos. A discrepância foi evidente tanto para o método de Danni-Oliveira

(2000) como para o método de comparação entre os termômetros utilizados em campo com o

da estação meteorológica padrão (anexo R).

4.1.2.2. A MANIPULAÇÃO DOS DADOS E OS RECURSOS TÉCNICOS

Todos os métodos adotados tiveram como base os procedimentos metodológicos

utilizados por Brandão, 1996; Brandão e Lucena, 2000; Fialho, 2002 e Lucena, 2002 em seus

estudos em clima urbano na cidade do Rio de Janeiro.

Uma “ilha de calor” foi considerada como a diferença entre o ponto de maior com o de

menor temperatura, para o mesmo horário. A menor temperatura foi tomada como a

“temperatura zero”, identificando-se como a “ilha de frescor” e a maior temperatura foi

tomada como a intensidade máxima da ilha de calor (exemplo representado no anexo S).

Além da identificação da ilha de calor, também foi considerada a sua intensidade, conforme

visualizado no quadro 4.3.

Quadro 4.3: Magnitudes da ilha de calor:

Intensidade Categoria0,0 - 2,0ºC Fraca2,1 - 4,0ºC Moderada4,1 - 6,0ºC Forte> 6,0ºC Muito forteOrganizado por Andrews J. Lucena

Para os pontos do transeto fixo cada ponto de medida (A, B e C) representa o

microclima. A soma e média aritmética dos três valores dos pontos, foi definida como o nível

87

topoclimático do bairro15. Os topoclimas dos bairros foram mapeados a partir do programa

Surfer16. As medidas móveis, que representam o nível microclimático, incluíram as

diversidades topográficas associadas à configuração do campo térmico na Zona Oeste. Seu

mapeamento foi dado através da construção de gráficos para cada horário (6, 13 e 20h.),

elaborados no Excel.

Tanto para o mapeamento dos pontos fixos como para os móveis, os valores utilizados

foram os relativos, isto é, a diferença entre os dados térmicos (as “ilhas de calor”).

Ainda na perspectiva de analisar o campo térmico foi utilizada a metodologia das taxas

de aquecimento e resfriamento que procura identificar as áreas mais expostas ao aquecimento

e/ou resfriamento. Este método foi abordado inicialmente por Oke e Maxwell (1974) para as

cidades de Quebec e Montreal no Canadá e por Oke (1978; 1981) para algumas cidades dos

EUA e da Europa. No Brasil, em especial na cidade do Rio de Janeiro, foi empregado

inicialmente no trabalho de Brandão (1996) e de Fialho (2002) para a Ilha do Governador/RJ.

Para os pontos fixos o cálculo da taxa de aquecimento estipulado foi o período das 8 às

12h e o de resfriamento das 13 às 20h., indicados no anexo T. Para as medidas móveis, o

cálculo das taxas de aquecimento e resfriamento obedeceu ao mesmo critério para os pontos

fixos, distinguindo-se apenas o intervalo de horas, haja vista que o transeto móvel opera em

apenas três horários diários (anexo T).

4.1.3. AS UNIDADES TOPOCLIMÁTICAS

O mapeamento em unidades é uma tentativa de representar, na escala topoclimática,

um modelo de classificação de síntese climática urbana. Este modelo baseia-se na proposta

15 Tomando como exemplo o horário das 8h. da manhã para o transeto fixo de Bangu no episódio de inverno, temos os seguintes valores: Ponto A (18,1ºC); Ponto B (19,1ºC); Ponto C (19,9ºC). Assim, o topoclima às 8h. é de 19,0ºC. 16 Neste programa em sua versão 8.0 com a utilização do modelo GrsascII, este importa o arquivo de pontos (os pontos referem-se aos valores térmicos) e no módulo Grid/Data desenvolve uma superfície dos pontos de valor (denominado como método da krigagem).

88

metodológica adotada por Brandão (1996) para a cidade do Rio de Janeiro17, Tarifa e Armani

(2001) para a cidade de São Paulo e Fialho (2002) para a Ilha do Governador/RJ.

A delimitação das unidades espaciais teve como base os elementos do clima (urbano),

obtidos durante a realização dos transetos fixos (temperatura, umidade, vento e taxas de

aquecimento-resfriamento), os componentes físicos (sítio, maciços, baixadas, vales,

vegetação) e antrópicos (uso do solo, corpos verdes, fluxo de atividades e aspectos

demográficos), que representam os atributos do ambiente urbano.

Na delimitação destas unidades foi utilizado o Sistema de Informação Geográfica

(SIG) ARCGIS. O mapa da Zona Oeste na escala 1:50.000 foi escaneado (em um scanner de

rolo) e transferido para o SIG, onde foi georeferenciado, vetorizado e dividido em polígonos,

os quais foram preenchidos com uma tonalidade de cor que representa uma unidade e/ou sub-

unidade topoclimática.

17 O trabalho de Brandão (1996) é bastante representativo por considerar cinco unidades mesoclimáticas para a cidade do Rio de Janeiro, sendo a Zona Oeste permeada pelas cinco unidades, ou seja, concentra as temperaturas mais altas, como também as mais amenas.

89

5. ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

5.1. A EVOLUÇÃO DA TEMPERATURA DO AR NA PRAÇA XV/RJ

O período 1921-1990 revelou as seguintes médias para as variáveis de temperatura:

máxima (26,9ºC); mínima (20,5ºC) e média compensada (23,4ºC). Nos anos 50 a curva da

temperatura mostra evidências de uma tendência das médias anuais ultrapassarem o valor da

média do período para cada variável térmica (gráfico 5.1).

Gráfico 5.1: Variação e tendência da temperatura média anual na Praça XV/RJ no período entre 1921-1990:

19,0

20,0

21,0

22,0

23,0

24,0

25,0

26,0

27,0

28,0

1921 1925 1929 1933 1937 1941 1945 1949 1953 1957 1961 1965 1969 1973 1977 1981 1985 1989anos

ºC

Média das máximas Média das mínimasMédia compensada 5 por. Méd. Móv. (Média das máximas)5 por. Méd. Móv. (Média compensada) 5 por. Méd. Móv. (Média das mínimas)

F o nte: IN M ET Elabo rado po r A ndrews J. Lucena

A linha de tendência da média móvel configura, a partir dos anos 50, uma ascendência

mais significativa das médias térmicas estabelecendo esta tendência de aumento para os anos

seguintes, quando as médias ultrapassaram 0,5ºC da média do período, ou até mesmo, acima

de 0,5ºC (sendo este mais comum com a temperatura mínima).

Por se tratar da estação meteorológica principal da cidade, localizada no Centro, o

aumento de temperatura pode estar comprometido ao uso do solo urbano, quando intensas

alterações físicas foram imputadas à paisagem original que por sua vez modifica

substancialmente o balanço térmico, disponibilizando mais calor na atmosfera urbana

absorvido pelas “formas urbanas”.

90

Em um estudo mais aprofundado sobre a evolução da temperatura na estação da Praça

XV, Brandão (1987; 1992; 2001) analisou o período de 1851-1990 e constatou a presença de

dois ciclos quentes (cerca de 100 anos) intercalados por um mais frio (40 anos) (gráfico 5.2).

Gráfico 5.2: Evolução anual da temperatura média compensada na estação meteorológica da Praça XV/RJ no

período entre 1851-1990

Como referência a temperatura média compensada, indicada na figura acima, o

primeiro ciclo quente é identificado nos primeiros vinte anos (entre 1851-1870), com médias

térmicas anuais bem acima da média dos 140 anos (23,2ºC), com uma variação interanual

bastante acentuada, alternando em desvios positivos e negativos intercalados. Na fase amena

que se segue (entre 1871-1940), as médias estão bem abaixo da média dos 140 anos,

oscilando entre 22,5ºC e 22,8ºC. O segundo ciclo quente tem seu início na década de 40 e se

estende adiante. Um diferencial deste segundo ciclo quente é que as temperaturas

mantiveram-se em patamares elevados acima dos 23,0ºC com desvios positivos contínuos,

91

diferente do primeiro ciclo quente, quando as médias da temperatura, embora superiores a

média dos 140 anos, oscilaram ora com desvios positivos, ora com desvios negativos.

A autora considera o comportamento da temperatura como sendo uma “tendência

secular” do clima, regido por fenômenos naturais de grande escala, como o ciclo das manchas

solares. Mas o aumento contínuo da temperatura no segundo ciclo mais quente, sem

evidências reais de retorno a uma fase mais fria, não exclui a possibilidade de que a tendência

de aumento está correlacionada ao grande momento de expansão urbana que se deflagrou

mais rapidamente na década de 40, na cidade do Rio de Janeiro.

O aumento contínuo da temperatura a partir da década de 40 é mais evidente ainda

quando se observa a evolução da temperatura através das médias decenais (Gráfico 5.3).

Gráfico 5.3: Variação e tendência da temperatura média decenal na Praça XV/RJ no período entre 1921-1990:

26,3 26,4 26,727,2 27,1 27,2 27,4

19,820,2 20,1

20,7 20,9 20,9 21,1

22,8 22,8 23,123,7 23,7 23,7 23,9

19

20

21

22

23

24

25

26

27

28

21-30 31-40 41-49 51-60 61-70 71-80 81-90

décadas

ºC

Média das máximas Média das mínimasMédia compensada 5 por. Méd. Móv. (Média das máximas)5 por. Méd. Móv. (Média das mínimas) 5 por. Méd. Móv. (Média compensada)Fonte: INM ET

Elaborado por Andrews J. Lucena

A linha de tendência da média móvel revela, a partir da década de 60, uma tendência

absoluta de ascendência térmica, quando na década de 80 alcança as médias mais altas de

todo o período (1921-1990), sendo a década mais quente de todo o século na cidade, de

acordo com Brandão (2001).

92

5.2. A EVOLUÇÃO DA TEMPERATURA DO AR EM CAMPO DOS AFONSOS/RJ

Em Campo dos Afonsos o período para análise é bem mais restrito, limitando-se a

pouco menos que 30 anos (1973-2000). A média das variáveis de temperatura foi: 29,4ºC para

a temperatura máxima, 20,6ºC para a mínima e 25,9ºC para a média do bulbo seco.

Nos primeiros 17 anos o comportamento da temperatura aparenta se manter constante, com

pouca variação, e somente nos últimos 10 anos é que a temperatura ascende

consideravelmente (Gráfico 5.4).

Gráfico 5.4: Variação e tendência da temperatura média anual em Campo dos Afonsos/RJ no período entre 1973-

2000:

19,020,021,022,023,024,025,026,027,028,029,030,031,032,0

1973 1975 1977 1979 1981 1983 1985 1987 1989 1991 1993 1995 1997 1999anos

ºC

Média das máximas Média das mínimasmédia 5 por. Méd. Móv. (Média das máximas)5 por. Méd. Móv. (média ) 5 por. Méd. Móv. (Média das mínimas)Fonte: SRPV

Elaborado por Andrews J. Lucena

Em uma análise detalhada, o gráfico revela um leve aumento das médias térmicas até o

início da década de 90, quando nesta, sim, ocorre uma abrupta variação de ascendência da

curva térmica. Em alguns anos da década de 80 valores bem acima da média do período já são

verificados, principalmente para a temperatura média, porém é nos anos 90 que as médias

térmicas superam definitivamente a média do período.

93

5.3. A EVOLUÇÃO DA TEMPERATURA DO AR EM BANGU/RJ

Em Bangu o período 1922-2000 registra as seguintes médias: temperatura máxima

(29,6ºC), temperatura mínima (19,7ºC) e temperatura média compensada (23,6ºC).

Nestes aproximadamente 80 anos de registros térmicos, a evolução da temperatura

descreve uma tênue subida da curva térmica, sendo mais evidente a partir dos anos 60 quando

definitivamente as médias anuais ultrapassam a média do período (Gráfico 5.5).

Gráfico 5.5: Variação e tendência da temperatura média anual em Bangu/RJ no período entre 1922-2000:

17,018,019,020,021,022,023,024,025,026,027,028,029,030,031,032,0

1922 1926 1933 1937 1941 1946 1950 1954 1958 1962 1966 1970 1974 1978 1982 1986 1990 1994 1998anos

ºC

Média das máximas Média das mínimasMédia compensada 5 por. Méd. Móv. (Média das máximas)5 por. Méd. Móv. (Média compensada) 5 por. Méd. Móv. (Média das mínimas)

Fonte: INM ETElaborado por Andrews J. Lucena

A linha de tendência da média móvel define muito bem a ascensão da temperatura a

partir dos anos 60, principalmente para a temperatura máxima e média compensada. Um

detalhe a se destacar é para a evolução da temperatura média compensada, que com registros

até 1987, a tendência da média móvel revela um aumento contínuo da temperatura.

Tomando a evolução das médias decenais (Gráfico 5.6) as três últimas décadas são as

mais quentes, quando as médias são superiores a média do período. Para a temperatura

máxima e média compensada a década de 80 é a mais quente, com média superior a 1,0ºC,

enquanto para a temperatura mínima a década de 90 é a mais quente, também com médias

acima de 1,0ºC.

94

Gráfico 5.6: Variação e tendência da temperatura média decenal em Bangu/RJ no período entre 1922-2000:

29 29,028,4

29 29,330,1

30,9 30,6

18,5 18,9 18,919,8 19,6 20,1 20,5 20,6

22,7 23,1 23 23,5 23,624,2

24,9

1819202122232425262728293031

22-28 31-40 41-49 51-60 61-70 71-80 81-90 91-00décadas

ºC

média das máximas média das mínimasmédia compensada 5 por. Méd. Móv. (média das máximas)5 por. Méd. Móv. (média das mínimas) 5 por. Méd. Móv. (média compensada)

Fonte: INM ETElaborado por Andrews J. Lucena

Lucena (2002) havia chamado a atenção para o aumento da temperatura a partir da

década de 60 em Bangu, quando associou esta ascensão da temperatura ao “boom” de

crescimento ocorrido no bairro. Apesar de não ter utilizado os anos entre 1922 e 1928 e os

anos entre 1978 e 1987 para a temperatura média compensada, o autor considera as décadas

de 80 e 90 como as mais quentes do século, com aumento superior a 1,0ºC.

5.4. A EVOLUÇÃO DA TEMPERATURA DO AR EM SANTA CRUZ/RJ

Em 30 anos de dados (1971-2000) a temperatura apresentou pouca variação interanual,

apenas na década de 90 se assiste a uma suave elevação das médias térmicas, em particular

para a temperatura mínima (Gráfico 5.7).

A média do período para a temperatura máxima é de 29,7ºC e somente nos anos 90 é

que as temperaturas ultrapassam a média, contudo não define uma tendência de ascensão

contínua, haja vista que os valores oscilam, ora abaixo e ora acima da média de 29,7ºC. Para a

temperatura mínima, a linha de tendência da média móvel já revela uma outra situação,

quando nos anos da década de 90 tende a um aumento contínuo da temperatura, com elevação

bem superior à média do período (20,3ºC). Quanto à média compensada, o espaço temporal

95

de dados é bastante limitado (inferior a 15 anos), porém nestes poucos anos a temperatura se

distribui de forma linear, com características semelhantes à curva da temperatura máxima.

Gráfico 5.7: Variação e tendência da temperatura média anual em Santa Cruz/RJ no período entre 1971-2000:

19,020,0

21,022,0

23,024,0

25,026,0

27,028,0

29,030,0

31,0

1971 1973 1975 1977 1979 1981 1983 1985 1987 1989 1991 1993 1995 1997 1999anos

ºC

Média das máximas Média das mínimasMédia compensada 5 por. Méd. Móv. (Média das máximas)5 por. Méd. Móv. (Média das mínimas) 5 por. Méd. Móv. (Média compensada)

F o nte: IN M ET e SR P VElabo rado po r A ndrews J. Lucena

5.5. CORRELAÇÃO DA EVOLUÇÃO DA TEMPERATURA DO AR ENTRE A PRAÇA

XV, CAMPO DOS AFONSOS, BANGU E SANTA CRUZ/RJ

5.5.1. A EVOLUÇÃO DAS MÉDIAS ANUAIS

No comportamento das temperaturas máximas anuais (Gráfico 5.8) a distribuição das

curvas é seqüencial indicando um aumento contínuo das médias térmicas. Na Praça XV é

bastante evidente este aumento, tendo na linha de tendência da média móvel sua evolução em

direção aos anos da década de 90 (quando não dispõe de dados), mas que nas outras estações

tem-se uma ascendência significativa. Mesmo as estações de Campo dos Afonsos e Santa

Cruz que se limitam às últimas três décadas do século XX a sucessão das curvas apresenta

uma similaridade com as estações da Praça XV e Bangu.

96

Gráfico 5.8: Variação e tendência da temperatura máxima anual na Praça XV, Campo dos Afonsos, Bangu e

Santa Cruz/RJ no período entre 1921-2000:

25,0

26,0

27,0

28,0

29,0

30,0

31,0

32,0

1921 1925 1929 1933 1937 1941 1945 1949 1953 1957 1961 1965 1969 1973 1977 1981 1985 1989 1993 1997anos

ºC

Praça XV Campo dos AfonsosBangu Santa Cruz5 por. Méd. Móv. (Bangu) 5 por. Méd. Móv. (Praça XV)5 por. Méd. Móv. (Santa Cruz) 5 por. Méd. Móv. (Campo dos Afonsos)

Fonte: INMET e SRPVElaborado por Andrews J. Lucena

Um dado interessante, demonstrado no gráfico, é a comprovação da Zona Oeste como

área com as temperaturas máximas mais elevadas. Das quatro estações, a Praça XV é a que

apresenta temperaturas mais baixas, enquanto Bangu, seguido por Santa Cruz e Campo dos

Afonsos dispõem de valores mais altos. Bangu conformada em um vale e Santa Cruz situada

no extremo oeste, possuem condições físicas naturais de abrigarem as temperaturas máximas

mais elevadas da cidade. Em Campo dos Afonsos, bairro situado no centro geográfico do

município com características físicas bem distintas de Bangu e Santa Cruz, abriga

temperaturas máximas não tão elevadas, porém os anos 90 se destacam com temperaturas

acima de Bangu e Santa Cruz, razão que pode ser explicada pelo uso do solo (como a

crescente valorização imobiliária nos últimos 20 anos).

Para o caso específico de Campo dos Afonsos, onde a curva de ascensão térmica é

bastante acentuada e ocorre tão bruscamente de uma década (80) para a outra (90), não se

deve descartar a possibilidade de equívocos técnicos na manipulação dos instrumentos

97

meteorológicos, como por exemplo, o erro na leitura dos termômetros ou até mesmo defeito

nos termômetros. Porém, não nos cabe aqui discutir esta possibilidade.

Para a temperatura mínima (Gráfico 5.9) a evolução das médias anuais indica um

comportamento bastante semelhante ao observado para a temperatura máxima, mas com uma

tendência ao aumento um pouco mais acentuado.

Gráfico 5.9: Variação e tendência da temperatura mínima anual na Praça XV, Campo dos Afonsos, Bangu e

Santa Cruz/RJ no período entre 1921-2000:

17,5

18,0

18,5

19,0

19,5

20,0

20,5

21,0

21,5

22,0

22,5

1921 1926 1931 1936 1941 1946 1951 1956 1961 1966 1971 1976 1981 1986 1991 1996anos

ºC

Praça XV Campo dos AfonsosBangu Santa Cruz5 por. Méd. Móv. (Praça XV) 5 por. Méd. Móv. (Bangu)5 por. Méd. Móv. (Campo dos Afonsos) 5 por. Méd. Móv. (Santa Cruz)

Fonte: INM ET e SRPVElaborado por Andrews J. Lucena

A distribuição das curvas da Praça XV e Bangu é bem idêntica o que leva a inferir a

possibilidade da ocorrência de um ciclo natural na cidade do Rio de Janeiro, conforme já

defendido por Brandão (op. Cit.), porém com médias mais elevadas a partir dos anos 50-60

que persistiu e se acentuou até os anos 90, podendo estar associado ao processo de

urbanização da cidade. Essa possibilidade é comprovada com a tendência das temperaturas

em Campo dos Afonsos e Santa Cruz, que revelam uma progressão tão semelhante ou

superior daquelas reveladas na Praça XV e em Bangu.

Um retrato inverso daquele observado com o gráfico das temperaturas máximas, é que

as temperaturas mínimas são mais elevadas na Praça XV. Campo dos Afonsos, Bangu e Santa

98

Cruz se “revezam” com as temperaturas mínimas mais baixas, o que salienta, mais uma vez,

os fatores do sítio na determinação da temperatura na Zona Oeste, em que as condições

naturais (efeito fonh; brisa marítima; ventos de vale e de montanha; grandes áreas abertas)

favorecem o aquecimento diurno e o resfriamento noturno mais intenso (gerando temperaturas

máximas bastante elevadas e temperaturas mínimas mais baixas). Em Campo dos Afonsos,

conforme já mencionado, a ascensão abrupta da curva térmica nos anos 90 pode ser efeito do

uso do solo ou equívocos técnicos.

Para a temperatura média compensada (Gráfico 5.10) Praça XV e Bangu apresentam

comportamento semelhante nos primeiros quarenta anos, oscilando muito pouco entre 0,1ºC e

0,5ºC as temperaturas mais altas, dividindo-se em dois momentos: até meados dos anos 40 as

médias são superiores em Bangu e de meados dos anos 40 até o final dos anos 60 a Praça XV

detém as temperaturas mais elevadas. Do início dos anos 70, Bangu supera consideravelmente

a curva térmica da Praça XV em uma elevação mais ascendente, com diferenças térmicas

superior a 0,5ºC e até mesmo acima de 1,0ºC.

Gráfico 5.10: Variação e tendência da temperatura média compensada anual na Praça XV, Bangu e Santa

Cruz/RJ no período entre 1921-1990:

21,5

22,0

22,5

23,0

23,5

24,0

24,5

25,0

25,5

26,0

1921 1925 1929 1933 1937 1941 1945 1949 1953 1957 1961 1965 1969 1973 1977 1981 1985 1989anos

ºC

Praça XV BanguSanta Cruz 5 por. Méd. Móv. (Bangu)5 por. Méd. Móv. (Praça XV) 5 por. Méd. Móv. (Santa Cruz)

Fonte: INM ET Elaborado por Andrews J. Lucena

99

Em Santa Cruz, em apenas 16 anos de registros, sua curva térmica representa um ritmo

similar a Praça XV, enquanto que a estação de Campo dos Afonsos não está incluída a análise

da temperatura média compensada.

5.5.2. A EVOLUÇÃO DAS MÉDIAS DECENAIS

Tomando a análise de evolução por meio das médias por décadas, na representação

gráfica fica ainda mais claro o aspecto da tendência ao aquecimento verificado nas quatro

estações meteorológicas, principalmente na Praça XV e Bangu por possuírem uma série

temporal bem mais longa. A década de 40 é, sem dúvida, o “ponto de partida” que configura o

deslanche de aumento das médias.

A temperatura máxima (gráfico 5.11), em Bangu, nas duas primeiras décadas são bem

mais quente que na década de 40, quando nesta a curva da temperatura ascende subitamente

até a década de 80. Na década seguinte há uma leve inflexão para baixo interrompendo a

seqüência de ascendência, porém com média bem superior as décadas anteriores. Na Praça

XV, desde a década de 20, a temperatura segue um ritmo seqüencial de ascendência até a

década de 80, mas o aumento de suas médias é bem mais inferior que o identificado em

Bangu.

Em Campo dos Afonsos é ainda mais evidente o aumento contínuo e ascendente da

temperatura, como já se demonstrava nos gráficos das médias anuais. Em Santa Cruz se

observa um comportamento bem semelhante à Bangu, quando na década de 90 ocorre uma

inflexão de 0,5ºC para baixo.

Na variável das temperaturas mínimas (gráfico 5.12) a tendência de aumento das

temperaturas não é muito diferente da temperatura máxima. Um elemento diferencial é o

aumento mais contínuo em direção as últimas décadas, não havendo qualquer interrupção no

que se refere a uma inflexão negativa das médias decenais. Apenas em Bangu, ocorre um leve

100

declínio da média da década de 50 para a década de 60 (de 0,2ºC), mas que desta década até

90 a temperatura retorna ao ritmo de aumento. A década de 90 é a mais quente de todo o

período (com exceção da Praça XV, com dados até a década de 80).

Gráfico 5.11: Variação da temperatura máxima decenal na Praça XV, Campo dos Afonsos, Bangu e Santa

Cruz/RJ no período entre 1921-2000:

26,3 26,4 26,727,2 27,1 27,2 27,4

28,629,2

30,8

29 29,028,4

29 29,3

30,130,9 30,6

29,530

29,5

24

25

26

27

28

29

30

31

32

21-30 31-40 41-49 51-60 61-70 71-80 81-90 91-2000décadas

ºC

Praça XV Campo dos Afonsos Bangu Santa Cruz

Fonte: INM ET e SRPVElaborado por Andrews J. Lucena

Gráfico 5.12: Variação da temperatura mínima decenal na Praça XV, Campo dos Afonsos, Bangu e Santa

Cruz/RJ no período entre 1921-2000:

19,820,2 20,1

20,720,9 20,9

21,1

20,120,4

21,7

18,518,9 18,9

19,819,6

20,120,5 20,6

2020,2

20,5

18

18,5

19

19,5

20

20,5

21

21,5

22

21-30 31-40 41-49 51-60 61-70 71-80 81-90 91-2000décadas

ºC

Praça XV Campo dos Afonsos Bangu Santa CruzFonte: INM ET e SRPVElaborado por Andrews J. Lucena

101

Os anos da década de 1990 foram os mais quentes do período de registro desde 1860,

segundo o último relatório do IPCC1. Os indicadores climáticos dos últimos 400 anos (anéis

de árvores, mostras de gelo de geleiras, série históricas) mostram que os anos da década de

1990 foram os mais quentes do milênio (1998 o mais quente de todo o milênio) e que o século

XX foi o mais quente (CPTEC). Este quadro pode refletir uma tendência mundial, que varia

por região, e pode está atrelada a mudanças de ordem natural do clima global, conforme

mencionou Brandão (op. Cit.) ao tratar a década de 80 como a mais quente do século XX na

cidade do Rio de Janeiro.

Muito embora, o IPCC2 associa a celeridade e a intensidade do aumento da

temperatura à emissão de gases estufa (vapor d`água, monóxido e dióxido de carbono,

metano, óxido nitroso e outros) que “tende a reduzir a eficiência com que a Terra se resfria”

(CPTEC), sem dúvida, as cidades são fonte de emissão dos gases estufa, como ainda

comprometem a entrada e saída de energia de ondas curtas e longas, tendo em vista que as

temperaturas noturnas e as temperaturas mínimas tendem a ser mais elevada que o comum.

As quatro estações meteorológicas da cidade do Rio de Janeiro, analisadas até aqui,

situam-se na área central e comercial dos respectivos bairros, onde o uso do solo e as

atividades humanas transformadoras modificaram, em um curto espaço de tempo, a paisagem

original (testificando como exemplo a baixada de Bangu – figuras 5.1 e 5.2) acelerando, em

tese, a velocidade e a intensidade do aumento da temperatura.

1 Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática, criado em 1988 por duas agências das Nações Unidas: o PNUMA (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente) e a OMM (Organização Meteorológica Mundial). 2 Segundo o IPCC a concentração de CO2 passou de 280ppm, no período pré-industrial (1000-1750), para 368 ppm no ano 2000; a concentração de CH4 passou de 700 ppb, no período pré-industrial, para 1750 ppb no ano 2000; a concentração de N2O passou de 270 ppb, no período pré-industrial, para 316 ppb no ano 2000. Registra ainda o aumento de 0,6ºC na temperatura média global da superfície terrestre no decorrer do século 20 e que a maior parte do aquecimento observado nos últimos 50 anos é atribuível à atividade humana (Paciornik, 2003).

102

Figura 5.1: Vista aérea da baixada de Bangu em 1907

Fonte: Centro Cultural da Região de Bangu

Figura 5.2: Vista aérea da baixada de Bangu em 2005

Foto tirada por Andrews J. Lucena, tomada da Serra de Bangu.

Finalmente, a média decenal da temperatura média compensada (gráfico 5.13) vem

comprovar a evolução do aumento da temperatura em direção as décadas mais recentes.

Restrita às estações da Praça XV e Bangu, as médias dão evidência de ascensão a partir da

década de 40, quando as curvas visualizam um aumento mais rápido e intenso, principalmente

103

em Bangu. A década de 80 é a mais quente e em Bangu sua média ultrapassa em 1,0ºC a

média de todo o período de 1922-1987 (23,6ºC).

Gráfico 5.13: Variação da temperatura média compensada decenal na Praça XV e Bangu /RJ no período entre

1921-1980:

22,8 22,8

23,1

23,7 23,7 23,723,9

22,7

23,1 23

23,5 23,6

24,2

24,9

22,5

23

23,5

24

24,5

25

21-30 31-40 41-49 51-60 61-70 71-80 81-90

décadas

ºC

Praça XV BanguFonte: INM ETElaborado por Andrews J. Lucena

104

5.6. OS EXPERIMENTOS DE CAMPO

5.6.1. O EPISÓDIO DE VERÃO (26/01/2004)

5.6.1.1. A ATUAÇÃO DOS SISTEMAS ATMOSFÉRICOS NO MÊS DE JANEIRO NA

REGIÃO SUDESTE E AS CONDIÇÕES CLIMÁTICAS NA CIDADE DO RIO DE

JANEIRO

Na primeira quinzena de janeiro, a atuação dos sistemas frontais, das ZCAS3 e o

desenvolvimento de áreas de instabilidade favoreceram chuvas em grande parte da região

Sudeste.

No mês de janeiro três sistemas frontais atuaram na região. Os dois primeiros foram

mais intensos, responsáveis na caracterização dos episódios de ZCAS que se configuraram

sobre a Região Sudeste e sul do Nordeste. Entre os dias 09 e 10 o primeiro sistema

configurou-se na altura do litoral norte de São Paulo e do Rio de Janeiro, e dos dias 11 a 20, o

sistema permaneceu semi-estacionário entre o litoral da Região Sudeste e o litoral da Bahia,

causando muitas chuvas nos estados de Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro e Espírito

Santo. No dia 22, a segunda frente fria atingiu o litoral sul do Rio Grande do Sul, e logo se

deslocou para o oceano. A terceira frente fria se encontrava na região Sul, no dia 26, que

interagiu com uma frente fria vinda da Argentina e se deslocou pelo litoral do Brasil até Porto

Alegre, desviando-se para o oceano sem interferir na climatologia da região Sudeste.

Três episódios de ZCAS foram observados no mês de janeiro. O primeiro ocorreu

entre os dias 02 e 06 de janeiro e os outros dois ocorreram entre os dias 10 a 20 e 25 a 29. O

primeiro episódio cobriu grande parte da região Sudeste e gerou chuvas de pequena

magnitude e o segundo apesar de apresentar maior duração não influenciou em muito a

precipitação na região Sudeste. Finalmente, no terceiro episódio, sua banda de nebulosidade

3 Zona de Convergência do Atlântico Sul. Pelas imagens de satélite este sistema é identificado como uma banda de nebulosidade de orientação NW/SE, estendendo-se desde o sul da região amazônica até a região central da América do Sul, ou ainda em padrões de distribuição de onda longa (Rocha e Gandu, 1996).

105

apresentou uma configuração bastante meridional e proporcionou significativo aumento das

chuvas no sudeste do Brasil, em particular no estado de São Paulo.

No dia 26 de janeiro uma isóbara que variou entre 1014 e 1016 mb estabeleceu um

sistema de baixa pressão sobre a costa fluminense (Figuras 5.3 e 5.4) sendo a responsável pelo

alto índice de nebulosidade observado neste dia na cidade do Rio de Janeiro. A nebulosidade

está associada as ZCAS, bem ilustrada pela banda de nebulosidade que aparece nas imagens

de satélite (Figuras 5.5, 5.6 e 5.7). Ventos de nordeste, de muito fraca intensidade, e alto teor

de umidade, proveniente do Atlântico Sul, também foram constantes durante o dia.

Figura 5.3. Carta sinótica de superfície da América do Sul (12:00 GMT – 26/01/04)

106

Figura 5.4. Carta sinótica de superfície da América do Sul (00:00 GMT - 27/01/04)

Figura 5.5. Imagem de satélite da América do Sul vapor d´água (09:39 GMT – 26/01/04)

107

Figura 5.6. Imagem de satélite da América do Sul vapor d´água (15:09 GMT – 26/01/04)

Figura 5.7. Imagem de satélite da América do Sul vapor d´água (21:09 GMT – 26/01/04)

108

Na cidade do Rio de Janeiro a estação meteorológica do Aeroporto Santos Dumont e

as três estações da Zona Oeste (Campo dos Afonsos, Bangu e Santa Cruz) revelam que nos

dias com o maior registro de chuva ocasionou com as temperaturas mais baixas do mês e,

vice-versa (Gráfico 5.14).

Gráfico 5.14: Distribuição diária da temperatura4 e da pluviosidade nas estações meteorológicas de Santos

Dumont, Campo dos Afonsos, Bangu e Santa Cruz no mês de janeiro de 2004:

18,0

20,0

22,0

24,0

26,0

28,0

30,0

32,0

34,0

36,0

38,0

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31dias

ºC

0,0

10,0

20,0

30,0

40,0

50,0

60,0

70,0

mm

S. Dumont C. Afonsos Bangu Santa Cruz S. DumontC. Afonsos Bangu (t max) Bangu (t min) Santa Cruz

Fonte: INMET e SRPVElaborado por Andrews J. Lucena

O gráfico em linhas representa a temperatura e o gráfico em barras representa a pluviosidade

Os dias chuvosos estão concentrados nos primeiros 18 dias, e desta data até o final do

mês se prolongam os dias secos do mês de janeiro. Nos primeiros cinco dias do mês, a chuva

está associada às células de convecção originadas do intenso aquecimento basal diurno,

ocasionando em chuvas convectivas, comumente conhecidas como “chuvas de verão”. Entre

os dias 8 e 17 as chuvas foram não só de origem convectiva, muito comum do verão, mas

também estiveram associadas à entrada de sistemas frontais que geraram as “chuvas frontais”.

Os maiores índices pluviométricos foram observados nas duas principais estações da Zona

4 A estação de Bangu até o mês de janeiro era, então, coordenada pelo INMET e só disponibiliza dados de máxima e mínima da temperatura. As demais estações são controladas pelo Ministério da Aeronáutica e disponibiliza os dados médios diários da temperatura do bulbo seco.

109

Oeste (Bangu e Santa Cruz, respectivamente), seguido por Campo dos Afonsos e Santos

Dumont.

As temperaturas mais altas estão presentes nos últimos 10 dias do mês de janeiro. Em

Bangu, a temperatura máxima ultrapassa os 37ºC nos dias 25, 27,29,30 e 31. Nas outras três

estações, Campo dos Afonsos possui as médias mais altas, seguidas por Santos Dumont e

Santa Cruz, respectivamente. Em Campo dos Afonsos, nos dias 25, 27, 30 e 31 a média

ultrapassa os 30,0ºC e em Santa Cruz que se situa em grande parte do mês sempre abaixo das

médias de Santos Dumont, nos últimos dias de janeiro conseguiu ultrapassar as médias da

estação de Santos Dumont.

O dia 26 de janeiro não registra a temperatura mais elevada do mês, mas se insere

entre os 10 dias mais quentes do mês. Provavelmente a temperatura esteve mascarada pela

alta nebulosidade que se estendeu por todo o dia. A temperatura média diária neste dia em

Santos Dumont foi 28,2ºC, em Campo dos Afonsos 29,2ºC e em Santa Cruz 28,2ºC. Em

Bangu a temperatura máxima alcançou os 31,8ºC e a mínima 26,7ºC.

5.6.1.2. A ANÁLISE DOS PONTOS FIXOS

A intensidade da ilha de calor variou durante o dia pelas quatro magnitudes: fraca,

moderada, forte e muito forte. Até o meio dia a intensidade máxima (“core”) não ultrapassou

a magnitude “moderada” enquanto à tarde e à noite oscilou entre “forte” e “muito forte”. O

core da ilha de calor praticamente não apresentou mobilidade espacial, mantendo-se

estacionária, quase que diariamente, em Campo Grande (Figura 5.8).

Na figura 5.8 se observa uma mancha mais escura espacializada em Campo Grande.

Em poucos momentos Bangu (às 13h e 14h) e Sepetiba (às 17h.) se aproximam de Campo

Grande, mas com intensidade que varia de moderada a forte. Quanto à ilha de frescor ela se

individualizou em Barra de Guaratiba, dividindo-se em alguns horários com Santa Cruz (às

110

11, 12 e 13h.) e Realengo (às 10, 11 e 12h), este último que nos primeiros dois horários da

manhã concentrou a ilha de frescor matutina.

Figura 5.8. Variação horária e intensidade da ilha de calor no transeto Realengo-Sepetiba no dia 26/01/2004

8.00

10.00

12.00

14.00

16.00

18.00

20.00

0.0

1.0

2.0

3.0

4.0

5.0

6.0

8.009.00

10.0011.0012.0013.0014.0015.0016.0017.0018.0019.0020.00HORAS

ºC

Sepetiba Santa Cruz Barra de Guaratiba

Campo Grande Bangu Realengo

O eixo Realengo, Bangu e Campo Grande além de “encaixado” no vale da baixada de

Bangu possuem os maiores índices de urbanização, tanto no que se refere à densidade

demográfica quanto à utilização do uso do solo. Estes fatores conjugados são determinantes

para a elevação e persistência de temperaturas mais altas, contribuindo para o incremento na

intensidade da ilha de calor. Surpreende é a “hegemonia” de Campo Grande sendo, de longe,

o bairro mais quente, haja vista que Campo Grande não sustenta um histórico com

temperaturas tão altas.

Em Realengo sua ilha de calor não foi tão intensa, como poderia se esperar. Esta

“expectativa” se justifica pelo fato de que a temperatura coletada na estação meteorológica do

bairro, ao longo de seus registros, em muitos momentos ultrapassava a temperatura coletada

na estação meteorológica de Bangu, já que Realengo também se insere no domínio da baixada

de Bangu.

111

Barra de Guaratiba, localizado na baixada de Guaratiba e Santa Cruz e Sepetiba

localizados na baixada de Santa Cruz, por suas situações geográficas e pelos índices de

urbanização mais baixos que da baixada de Bangu, configuraram intensidades da ilha de calor

bem inferiores, sendo em Barra de Guaratiba o lócus permanente da ilha de frescor diurna e

noturna. Em Sepetiba a ilha de calor diferencia-se bastante (em intensidade) de Santa Cruz e

Barra de Guaratiba, estando em grande parte do dia com intensidades superiores a Realengo.

Estas variações além de inferir “novos conceitos” acerca da espacialização da

temperatura na Zona Oeste (como, por exemplo, de que o bolsão de calor não é exclusivo de

Bangu, mas também de Campo Grande – que parece até bem mais superior), ressalta a

interferência de fatores atuantes no dia do evento que podem ter afetado na configuração da

ilha de calor. O quadro 5.1 sumariza os parâmetros do dia do experimento.

Quadro 5.1: Quadro-síntese das médias diárias no transeto Realengo-Sepetiba no dia 26/01/04

Dados/Bairros Realengo Bangu Campo Grande B. de Guaratiba Santa Cruz SepetibaTemperatura (em ºC) 29,8 31 33 28,3 29,9 31,1UR% 58 67 60 76 73 87Direção do vento S/L N/O L S/SE N/L N/LIntensidade do vento 1 2 2 1 3 2Nebulosidade 8 6 8 8 8 8Fluxo de veículos 13 17 23 4 8 4Taxa de Aquecimento (em ºC) 1,1 0,9 0,8 0,7 0,4 0,4Taxa de Resfriamento (em ºC) 0,8 0,9 0,4 0,7 0,4 0,3Fonte: Dados do campo (26/01/04). Elaborado por Andrews J. Lucena.

A média da temperatura foi bastante elevada em Campo Grande, seguida por Sepetiba

e Bangu. Santa Cruz e Realengo aparecem em seguida e por fim Barra de Guaratiba. Não há

uma diferença muito grande entre os bairros da baixada de Bangu (Realengo e Bangu) com os

da baixada de Santa Cruz (Santa Cruz e Sepetiba), sob o ponto de vista da temperatura, uma

hipótese sempre suscitada a respeito dessas duas áreas da Zona Oeste em abrigarem

temperaturas bem opostas (as mais altas na baixada de Bangu e as mais baixas na baixada de

Santa Cruz).

Quanto à umidade relativa as médias hígricas são mais altas em Barra de Guaratiba,

Santa Cruz e Sepetiba, por influência do ar úmido da baía de Sepetiba e do mar em Guaratiba.

112

A nebulosidade e o vento tiveram pouca variação entre os bairros, predominando céu

encoberto e vento fraco. A direção do vento predominante não esteve definida, mas as médias

indicam vento de leste, o que ressalta a atuação do vento mais continental, isto é, mais seco.

O maior fluxo de atividades é identificado no eixo Realengo, Bangu e Campo Grande,

indicado pelo maior fluxo de veículos nestes bairros. Estes bairros (principalmente Bangu e

Campo Grande) são subcentros importantes na Zona Oeste, sustentando uma gama diversa de

serviços. Barra de Guaratiba, Santa Cruz e Sepetiba comportam um fluxo de veículos mais

reduzido revelando um fluxo de atividades menos intenso. O bairro de Santa Cruz se distingue

um pouco mais dos outros dois bairros, por se tratar de um “pólo” comercial bastante

importante para a baixada de Santa Cruz.

A utilização das taxas de aquecimento e resfriamento serve para indicar como as

propriedades do solo e as características do entorno do ambiente influenciam na entrada e na

saída da energia. Os dados do quadro 5.1 apontam um descompasso, apenas para Realengo e

Campo Grande, quando a taxa de resfriamento é inferior à taxa de aquecimento, revelando

que a capacidade de reter calor é maior que a de liberar. Nos outros bairros, basicamente, toda

a energia que atingiu o solo foi suficiente para se dissipar na mesma proporção.

5.6.1.3. A ANÁLISE DOS TRANSETOS MÓVEIS

Quatro transetos (dois na baixada de Bangu e dois na Baixada de Santa Cruz) foram

realizados com o fim de verificar as diferenças espaciais da temperatura nestes dois sítios da

Zona Oeste. Por razões de ordem técnica, o transeto II (Bangu-Realengo) foi descartado, em

função dos problemas no termohigrômetro digital.

O gráfico 5.15 representa a distribuição espacial da ilha de calor entre os 36 pontos

dos três transetos. A coordenada das abscissas considera os transetos da seguinte forma: 1-13

(Transeto I Bangu-Av. Brasil), 1-11 (Transeto III Santa Cruz-Sepetiba) e 1-12 (Transeto IV

113

Santa Cruz-Av. Brasil). A coordenada das ordenadas considera a variação da ilha de calor.

Em síntese, o gráfico demonstra que nos três horários os valores mais elevados da ilha de

calor se espacializou no transeto I.

Gráfico 5.15: Variação horária (7h, 14h e 21h.) da ilha de calor entre os transetos I, III e IV no dia 26/01/04

0

1

2

3

4

5

6

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12

Pontos amostrais

ºC

7h.14h.21h.

Fonte: Dados do campo (2601/04)Elaborado por Andrews J. Lucena

Transeto III Transeto IV Transeto I

Às 7h. a intensidade da ilha de calor variou de fraca a moderada, atingindo o core de

3ºC na Estrada de Sepetiba (ponto 3 do transeto III), em oposição, a ilha de frescor se

manifestou na Rua Marmiari – Fazenda do Viegas (ponto 1 do transeto I). Neste horário os

núcleos mais intensos da ilha de calor oscilaram entre o transeto I e III, estando um pouco

mais concentrado no transeto III.

No transeto I os núcleos mais amenos, inclusive a ilha de frescor, se concentraram nos

primeiros cinco pontos, que correspondem à área residencial de Bangu situado bem próximo a

encosta do maciço da Pedra Branca, e na Estrada da Cancela Preta e Av. Brasil (ponto 12 e

13), situados às proximidades do Maciço do Mendanha.

No transeto III os núcleos mais quentes da ilha térmica se desenvolveram nas vias de

maior circulação, como na Estrada de Sepetiba, na Estrada do Piaí e na Praça 6 (pontos de 1 a

4 e 11). No setor praiano e mais interiorizado, área residencial do bairro, se concentrou o

núcleo mais ameno da ilha de calor.

114

No transeto IV os núcleos mais elevados da ilha de calor se concentraram nas

principais vias de circulação, como a Rua Felipe Cardoso e Senador Camará (pontos 1-6),

mas com intensidades, em média, abaixo de 1ºC o que revela que os núcleos foram bem

amenos, quando comparados aos outros dois transetos.

Às 14h. o transeto I concentra todos os núcleos mais quentes da ilha de calor, que

variou de fraca, moderada a forte intensidade. O core da ilha térmica (5,3ºC) ocorreu na Av.

Santa Cruz (em frente a Estação ferroviária de Bangu). Neste horário as variações da

intensidade da ilha de calor não são muito díspares, pois todos os pontos recebem quantidade

de energia semelhante5, assumindo temperaturas bem elevadas. Soma-se a este fato a

contribuição dos ventos seco e quente oriundo do efeito foenh. Ainda assim, os pontos

distribuídos pela área comercial (5 a 11) concentram os núcleos mais quentes da ilha térmica.

Segue-se o transeto III com os núcleos mais quentes da ilha térmica, variando sua

intensidade de fraca a moderada. Os pontos mais quentes do transeto foram os localizados no

início do percurso (entre os pontos 1-6). Os quatro primeiros pontos correspondem às vias de

grande circulação, o ponto 5 (Rua da Floresta) representa uma rua da área residencial, sendo

aí inclusive o ponto mais quente do horário (2,7ºC) e o ponto 6 está localizado na praia de

Sepetiba, que também secciona um ambiente da área residencial.

O transeto IV concentra núcleos bem amenos da ilha de calor, de fraca intensidade,

pouco ultrapassando 1,0ºC. O ponto 8 (Rua Senador Camará, em frente ao Hospital Pedro II)

registra a média mais alta do horário (1,5ºC). É neste transeto que se localiza a ilha de frescor

diurna, individualizada no último ponto (12) - Av. Brasil, que neste trecho final da via

expressa tem o seu grau de ocupação e de densidade construída mais reduzida.

As 21h. o transeto I abriga os núcleos mais quentes, de intensidade variando de fraca a

moderada, mas que em geral não ultrapassou 3ºC. Entre os pontos a variação é muito ínfima, 5 Neste horário o sol está bem próximo do seu zênite, isto é, do ponto mais elevado na esfera celeste quando a radiação atinge uma área maior. No caso específico do transeto, a área alcançada é relativamente pequena o que sugere que todos os pontos do transeto recebam uma parcela “igual” de radiação liquida.

115

não havendo muita diferença entre os pontos da área comercial com a área residencial (0,3ºC).

No transeto III os núcleos são ainda mais amenos, cuja intensidade da ilha de calor variou na

categoria “fraca”, isto é, até 2ºC. Contudo a intensidade máxima da ilha de calor noturna,

situou-se no ponto 1 (4,8ºC) e a ilha de frescor se situou ainda neste transeto, um pouco mais

à frente no ponto 3. Os pontos 1, 2 e 3 estão alocados na Estrada de Sepetiba, o que sugere

que as diferenças de uso do solo ao longo da via foram decisivas ao processo de resfriamento

noturno, que pode ser comprovado com a análise das taxas de aquecimento e resfriamento que

se dará adiante.

O transeto IV seguiu um comportamento semelhante ao do transeto III, com núcleos

intercalados até 2ºC, ou seja, de fraca intensidade. Os valores mais quentes (acima de 1ºC)

estiveram situados nos primeiros cinco pontos (distribuídos ao longo da rua Felipe Cardoso –

principal rua do bairro) e os valores mais amenos (abaixo de 1ºC) oscilaram entre as vias

secundárias que cortam o setor residencial e a Av. Brasil.

Na comparação entre os dois sítios da Zona Oeste (baixada de Bangu e baixada de

Santa Cruz) é evidente a diferença entre estes dois sítios, observado pelas taxas de

aquecimento e resfriamento dos transetos móveis, conforme ilustrado no quadro 5.2.

No transeto I, as taxas de aquecimento são mais elevadas (de 0,1 a 0,4ºC) que as de

resfriamento. Nos demais transetos, ocorre o inverso, as taxas de resfriamento são superiores,

salvo o ponto 1 do transeto III e os pontos 1, 3 e 4 do transeto IV. Isto revela que os fatores do

uso do solo, conjugados aos físico-naturais, determinam núcleos mais quentes na baixada de

Bangu, enquanto a baixada de Santa Cruz abriga condições de maior amenidade.

As taxas de aquecimento e resfriamento são processos importantes na configuração da

ilha de calor e frescor, como é exemplificado nos pontos 1-3 do transeto III, localizados na

Estrada de Sepetiba. O ponto 1 que abrigou a ilha de calor noturna, tem sua taxa de

aquecimento superior a de resfriamento; no ponto 3 (local da ilha de frescor noturna) a

116

situação é inversa. Provavelmente, a variação ao longo da via revela a diversificação

microclimática do interior urbano, atribuída à especialização do uso do solo.

Quadro 5.2: Taxas de aquecimento e resfriamento ao longo dos transetos móveis no dia 26/01/04

T I: Bangu-Av. Brasil. TA ºC TR ºC Diferença (TA - TR)1. Rua Marmiari - Fazenda do Viegas 1,2 0,8 0,42. Praça Francisco Dias - Ponto final do 393 1,0 0,7 0,33. R. Rio da Prata - Mercado Guanabara 1,1 0,9 0,24. R. Boiobi/Rua da Feira 1,1 0,7 0,45. Praça Raimundo Paz - Casino Bangu 1,2 1,0 0,26. R. Silva Cardoso/R. Profº Clemente Ferreira 1,1 1,0 0,17. Av. Santa Cruz - Estação ferroviária de Bangu 1,1 1,0 0,18. R. Coronel Tamarindo - ponto de ônibus 0,8 0,7 0,19. R. Sul América 1,0 0,8 0,210. Av. Ministro Ari Franco/R. Sainá 0,9 0,8 0,111. Est. da Água Branca - I. B. Água Branca 1,0 0,9 0,112. Estr. da Cancela Perta 1,0 0,9 0,113. Av. Brasil 1,0 0,9 0,1T III: Santa Cruz-Sepetiba TA ºC TR ºC Diferença (TA - TR)1. Estr. de Sepetiba/Estr. Cruz das Almas 0,6 0,2 0,42. Estr. de Sepetiba-Largo do Arão 0,6 0,7 -0,13. Estr. de Sepetiba-Conj. Nova Sepetiba 0,5 0,9 -0,44. Estr. do Piaí/R. Pedro Leitão 0,8 0,9 -0,15. Rua da Floresta 0,8 0,9 -0,16. Praia de Sepetiba 0,6 0,9 -0,37. Rua do Iate 0,5 0,8 -0,38. R. Aristides Gouveia (Hotel Chave de Ouro) 0,6 0,7 -0,19. Praça 6 (ponto final do 870) 0,6 0,7 -0,110. Praia do Recôncavo 0,6 0,7 -0,111. Praia do Cardo 0,5 0,7 -0,2T IV: Santa Cruz-Av. Brasil TA ºC TR ºC Diferença (TA - TR)1. R. Felipe Cardoso 0,7 0,6 0,12. R. Felipe Cardoso/Av. Eng. Gastão Rangel 0,7 0,7 0,03. R. Felipe cardoso/Av. Antares 0,7 0,6 0,14. R. Felipe Cardoso/Av. General Olímpio 0,6 0,5 0,15. R. Felipe Cardoso/Av. Isabel 0,6 0,7 -0,16. R. Senador Camará 0,6 0,7 -0,17. Praça Ruão 0,6 0,6 0,08. R. Senador Camará (Hospital Pedro II) 0,6 0,7 -0,19. Est. Morro do Ar/R. Horto Florestal 0,7 0,7 0,010. Est. Morro do Ar - Canal Cação Vermelho 0,7 0,7 0,011. Est. Do Morro do Ar - R. Sales 0,6 0,6 0,012. Av. Brasil - Extra 0,6 0,6 0,0Elaborado por Andrews J. Lucena.

117

5.6.2. O EPISÓDIO DE INVERNO (29/07/2004)

5.6.2.1. A ATUAÇÃO DOS SISTEMAS ATMOSFÉRICOS NO MÊS DE JULHO NA

REGIÃO SUDESTE E AS CONDIÇÕES CLIMÁTICAS NA CIDADE DO RIO DE

JANEIRO

O mês de julho, como é de se esperar, foi marcado por baixo índice pluviométrico,

mas mesmo assim as chuvas ultrapassaram a média do período em todo o Sudeste (CPTEC,

2005). As chuvas estiveram associadas à ação das frentes frias, que em sua maioria

apresentaram trajetória continental. A massa de ar frio, posicionada na retaguarda da frente

fria, foi responsável pelas baixas temperaturas do inverno e pela ocorrência de geadas na

região Sul e nas regiões serranas do Sudeste e Centro-Oeste.

Seis foram os sistemas frontais que influíram no país. O primeiro ingressou no sul do

país no dia 01, com pouca atuação, deslocando-se para o oceano no dia seguinte. No dia 03, o

segundo sistema frontal atuou no interior e litoral do Rio Grande do Sul. Este sistema ficou

semi-estacionário no litoral paulista por dois dias e depois se deslocou até Vitória/ES,

dissipando-se para o oceano no dia 07. Neste mesmo dia um terceiro sistema frontal penetrou

pelo Rio Grande do Sul, deslocou-se pelo litoral de São Paulo, onde enfraqueceu.

No dia 10, uma nova frente fria ingressou no sul do País. Pelo interior, esta frente

atuou na Região Sul e em Campo Grande-MS e, pelo litoral, deslocou-se até Ilhéus-BA, onde

enfraqueceu e foi para o oceano.

O quinto sistema frontal atuou entre os dias 14 e 15 no Rio Grande do Sul. Entre os

dias 14 a 21 percorreu a faixa litorânea do Brasil e atingiu parte da região Nordeste, por onde

atuou até o dia 27. No dia 29, o sexto e último sistema frontal atuou no interior das Regiões

Sul, Sudeste e Centro-Oeste e, pelo litoral, deslocou-se até o litoral do estado de São Paulo.

Este último sistema frontal não atingiu o estado do Rio de Janeiro no dia 29 (Figuras 5.9,

5.10, 5.11, 5.2, 5.13, 5.14) tempo bom, com céu claro e leve calmaria.

118

Figura 5.9. Carta sinótica de superfície da América do Sul (00:00 GMT – 29/07/04)

Figura 5.10. Carta sinótica de superfície da América do Sul (12:00 GMT – 29/07/04)

119

Figura 5.11 Carta sinótica de superfície da América do Sul (00:00 GMT – 30/07/04)

Figura 5.12. Imagem de satélite da América do Sul – vapor d`água (08:09 GMT – 29/07/04)

120

Figura 5.13. Imagem de satélite da América do Sul – vapor d`água (16:09 GMT – 29/07/04)

Figura 5.14. Imagem de satélite da América do Sul – vapor d`água (21:09 GMT – 29/07/04)

121

Nas imagens de satélite verifica-se que há ausência de nuvens sobre o estado do Rio de

Janeiro, favorecido pela extensão do anticiclone do Atlântico Sul, conforme visualizado nas

cartas de pressão em superfície. O Anticiclone está situado entre duas frentes frias e em seu

centro há uma isóbara de 1040mb. Sobre o estado do Rio de Janeiro a pressão média variou

entre 1028 e 1024mb e a orientação do vento foi de nordeste com fraca intensidade.

Na cidade do Rio de Janeiro a temperatura média no mês de julho variou entre 15 e

26ºC e o total pluviométrico diário não ultrapassou os 30mm (Gráfico 5.16). As temperaturas

mais baixas (inferior a 19ºC) estiveram associadas aos dias de ocorrência de chuva, provocada

por incursões da frente polar atlântica na cidade. Este período mais chuvoso e com

temperaturas mais baixas se situaram entre os dias 9 e 11 e, principalmente, entre os dias 17 e

23. O período mais seco e de temperaturas mais altas se situaram nos primeiros cinco dias,

entre os dias 12 e 16 e, especialmente, entre os dias 25 e 31.

Gráfico 5.16: Distribuição diária da temperatura e da pluviosidade nas estações meteorológicas de Santos

Dumont, Campo dos Afonsos e Santa Cruz no mês de julho de 2004

15,0

16,0

17,0

18,0

19,0

20,0

21,0

22,0

23,0

24,0

25,0

26,0

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31dias

ºC

0,0

5,0

10,0

15,0

20,0

25,0

30,0

mm

S. Dumont C. Afonsos Santa Cruz S. Dumont C. Afonsos Santa CruzFonte: SRPVElaborado por Andrews J. Lucena

O gráfico em linhas representa a temperatura eo gráfico em barras representa a pluviosidade

Entre as três estações a temperatura pouco variou. Apenas no início e no fim do mês é

que ocorre uma oscilação maior entre as estações, ainda assim, a diferença não ultrapassa 2ºC.

122

A temperatura média mais alta do mês foi registrada em Santos Dumont no dia 8 (25,8ºC);

seguida por Santa Cruz, no dia 15 (25,6ºC), e Campo dos Afonsos, também no dia 15

(24,1ºC). No dia 29 a temperatura variou em torno dos 20ºC em Santos Dumont (20,3ºC) e

Campo dos Afonsos (20,6ºC), enquanto em Santa Cruz a média diária foi um pouco mais

baixa (18,4ºC). Quanto à chuva, Santos Dumont e Santa Cruz apresentaram total mensal

acima de 100mm (148,6 e 124,9mm, respectivamente) e Campo dos Afonsos apenas 45,4mm.

5.6.2.2. A ANÁLISE DOS PONTOS FIXOS

O campo térmico apresenta semelhanças ao identificado no episódio de verão, tanto

em relação à espacialização da ilha de calor como também a sua intensidade. Os núcleos mais

quentes estão localizados em Campo Grande, com intensidade que varia de fraca a muito

forte, e a ilha de frescor é exclusividade de Barra de Guaratiba (Figura 5.15).

Figura 5.15. Variação horária e intensidade da ilha de calor no transeto Realengo-Sepetiba no dia 29/07/2004

8.00

10.00

12.00

14.00

16.00

18.00

20.00

0.0

1.0

2.0

3.0

4.0

5.0

6.0

8.009.00

10.0011.0012.0013.0014.0015.0016.0017.0018.0019.0020.00Horas

ºC

Sepetiba Santa Cruz Barra de Guaratiba

Campo Grande Bangu Realengo

Campo Grande concentra o core da ilha de calor matutina, diurna e noturna, mas é no

período entre as 12 e 15h. (salvo às 8h. da manhã) que a intensidade oscila entre a magnitude

forte e muito forte. Bangu e Realengo tem seus cores mais intensos no período diurno, mas

123

sem dúvida Realengo sobressai com os núcleos mais quentes. Enquanto em Bangu o core

máximo da ilha térmica é de 2,7ºC (intensidade moderada) às 14h e ainda abriga uma ilha de

frescor às 10h, Realengo dispõe de núcleos, também de magnitude moderada , mas acima dos

3ºC entre as 13 e 16h. e concentra a intensidade máxima da ilha de calor às 20h, no valor de

1,8ºC, ao lado de Campo Grande.

No extremo oeste, Santa Cruz desenvolve os núcleos mais quentes. Se embora, em

dois horários do período matutino (8 e 10h.), Sepetiba tem núcleos bem acima, em Santa Cruz

no período diurno e noturno prevalece a ilha de calor com maior intensidade. Das 11 às 16h. a

ilha de calor é de moderada intensidade, porém às 13h. o núcleo é de forte intensidade

(4,7ºC), tornando-se o segundo maior do horário (estando abaixo de Campo Grande).

Em Barra de Guaratiba, com exceção apenas das 10h. da manhã que seu núcleo foi de

0,7ºC, em todos os demais horários foi identificada a ilha de frescor, revelando a situação de

amenidade desta área da Zona Oeste.

Uma característica marcante dos dois episódios (verão e inverno) é a concentração dos

núcleos mais quentes da ilha de calor no período de maior aquecimento (entre 11 e 15h.). No

mapeamento do campo térmico na cidade do Rio de Janeiro, realizado por Brandão (1996), o

core da ilha de calor (5ºC) às 15h. se concentrou na Zona Oeste, em particular em Bangu. A

autora leva em consideração as características do sítio (distância do mar, ausência de corpos

líquidos, orientação e gradiente dos maciços) como o fator principal para a concentração da

ilha térmica configurada em Bangu, enquanto às 21h. os ambientes de maior densidade

construída, como Copacabana e Maracanã, sobrepujaram os atributos geoecologicos,

registrando-se nestes bairros a ilha de calor noturna.

Na Ilha do Governador/RJ Fialho (2002) também encontrou na análise dos pontos

fixos, no verão e no inverno, os núcleos mais intensos da ilha térmica entre as 11 e 14h, mais

especificamente às 11h, com um gradiente térmico de 4,9ºC no verão e de 6,1ºC no inverno.

124

Para a cidade de São Paulo, Lombardo (1985) munida de transetos fixos e móveis,

detectou ilhas mais quentes (de até 10ºC) à tarde (no inverno e no verão), que coincidiu as

áreas com maior índice de poluição atmosférica e com as áreas de maior concentração de

edifícios e indústrias, mostrando uma estreita relação entre ilha de calor e uso do solo.

Lee (1992) analisou a configuração da ilha de calor em Londres durante 1962-1989 e

concluiu que a ilha de calor diurna tem sido menos intensa, enquanto à noite tem sido

acrescida. Para a cidade de Porto Alegre, Danni (1987) constatou núcleos mais quentes da ilha

térmica à noite, seguida do horário diurno e matutino, concentrados sobre as áreas mais

edificadas e de uso industrial e em Campo Grande/MS Maitelli (1994) também constatou o

core da ilha térmica à noite, com intensidade de 5ºC. No bairro Méier/RJ, França (2002)

detectou no horário noturno os núcleos mais intensos da ilha de calor e associou à retenção de

calor da superfície urbana.

Estas diferenças horárias encontradas na manifestação das ilhas térmicas, comparadas

entre as cidades, chamam atenção sobre um fato comentado por Sezerino e Monteiro (1990)

quando mapearam o campo térmico da cidade de Florianópolis. De acordo com os autores

embora seja o efeito “ilha de calor” um dos atributos dos climas urbanos, isto não significa

que este efeito se manifeste de forma semelhante em todas as cidades, prevalecendo nelas

diversos fatores, sejam os de ordem natural (sítio, topografia, orientação das vertentes) ou de

ordem do uso do solo urbano.

Os resultados conferidos neste episódio de inverno na Zona Oeste confirmam algumas

considerações já apontadas no episódio de verão. Duas delas são: a comprovação de Campo

Grande como o principal bolsão de calor da Zona Oeste e Barra de Guaratiba como o lócus

das temperaturas mais amenas. Certamente, estes resultados estão relacionados à localização

geográfica destes dois bairros e pelo uso do solo urbano. Por um outro lado, os bairros

adjacentes a Campo Grande, tanto os do lado leste (Realengo e Bangu) como oeste (Santa

125

Cruz e Sepetiba), não apresentam variação muita expressiva sob o aspecto térmico, onde o

diferencial entre estes bairros é a densidade demográfica e de ocupação.

Um elemento climático que não provocou uma variação mais brusca na intensidade

máxima da ilha de calor entre verão e inverno, foi o fator nebulosidade. Normalmente, espera-

se em situações de céu claro (como o ocorrido no inverno) núcleos mais intensos, enquanto

que nos dois episódios sazonais o core foi muito semelhante (em torno dos 6ºC). Na Área

Central da cidade do Rio de Janeiro, Brandão e Lucena (2000) ao compararem os episódios de

primavera entre 1997 e 1998, concluíram que em 1998 a ilha de calor atingiu sua intensidade

máxima (de 9,5ºC “contra” 3,3ºC em 1997), e esteve associada às condições de céu claro e ar

calmo. Situação semelhante foi encontrada por Park (1986) para a cidade de Seoul, na Coréia,

Lopez et. al. (1995) para Madrid na Espanha, por Alcoforado (1998) para Lisboa, em Portugal

e por Ripley et al (1996) para a pequena cidade de Saskatoon (Canadá).

No quadro 5.2 se observa que a diferença de temperatura entre Campo Grande e Barra

de Guaratiba são os mais extremos (4ºC). Realengo, Bangu, Santa Cruz e Sepetiba encontram-

se intercalados entre Campo Grande e Barra de Guaratiba, com a diferença de temperatura

entre eles inferior a 1ºC. Para a umidade, sua porcentagem é mais expressiva em Barra de

Guaratiba, Santa Cruz e Sepetiba, sempre superior a 80%. Quanto ao vento, não há uma

direção predominante, porém a direção de Norte foi a mais detectada, e a intensidade foi de

fraca intensidade. A cobertura do céu apresentou poucas nuvens e pode ter sido um elemento

importante para que a ilha de calor sobressaísse nos bairros de Santa Cruz e Sepetiba.

Quadro 5.2: Quadro-síntese das médias diárias no transeto Realengo-Sepetiba no dia 29/07/04

Dados/Bairros Realengo Bangu Campo Grande B. de Guaratiba Santa Cruz SepetibaTemperatura (em ºC) 23,4 22,5 25,1 21,1 23,1 22,8UR% 76 69 68 83 80 86Direção do vento SE/NE/L N/NO L/SE NO/S/SO O/NE N/SIntensidade do vento 2 2 1 1 3 2Nebulosidade 3 3 3 1 2 2Fluxo de veículos 15 16 20 1 16 2Taxa de Aquecimento (em ºC) 1 0,9 1,2 2,1 1,6 0,8Taxa de Resfriamento (em ºC) 1 0,6 1,2 0,6 0,8 0,8Fonte: Dados do campo (29/07/04). Elaborado por Andrews J. Lucena.

126

Na média diária do fluxo de veículos os bairros da baixada de Bangu e o bairro de

Santa Cruz concentram os maiores fluxos. Quanto às taxas de aquecimento e resfriamento, em

Realengo, Campo Grande e Sepetiba suas taxas de resfriamento foram proporcionais às de

aquecimento, enquanto Bangu e Santa Cruz obtiveram taxas de resfriamento inferiores a de

aquecimento, o mesmo verificado em Barra de Guaratiba, porém neste quase quatro vezes

mais baixa que a taxa de aquecimento

A variação acentuada nas taxas de aquecimento e resfriamento em Barra de Guaratiba,

pode ser explicada pela presença do mar, que acumula mais energia térmica no inverno e a

libera mais vagarosamente; como também pela alta umidade (83%), favorecendo a uma taxa

de resfriamento mais reduzida, pois a umidade ameniza a perda de energia (o mesmo pode ter

ocorrido em Santa Cruz, com 86% de umidade relativa do ar); a ação da brisa é uma terceira

possibilidade, pois estimula a maior mistura do ar, dificultando a liberação de energia. Estes

apontamentos são fundamentais, porque as condições do uso do solo urbano no bairro não são

ainda determinantes para o acúmulo de calor e assim refletir na baixa taxa de resfriamento.

Na Ilha do Governador/RJ Fialho (op cit) detectou, no verão e no inverno, taxas de

resfriamento mais baixas nos bairros situados na posição leste, sul e sudeste que recebem

grande influência das brisas, atuando como atenuante térmico. Os bairros da posição nordeste

e noroeste, mais resguardados da brisa, acumularam taxas de resfriamento bem mais elevadas.

Contudo, nas áreas de maior adensamento e serviços urbanos é comum a diminuição

das taxas de resfriamento noturnas, em função do uso do solo. Para a cidade de Birmingham

(Inglaterra), Johnson (1985) no estudo da ilha de calor urbana utilizou a metodologia de Oke e

Maxwell (1974) das taxas de aquecimento e resfriamento. A intensidade da ilha de calor foi

mais alta à tarde, mantendo-se constante à noite, que aliada às características do uso do solo

urbano limitou em muito as taxas de resfriamento à noite, tudo em função da difusão da

superfície térmica acumulando a retenção de calor no período noturno.

127

5.6.2.3. A ANÁLISE DOS TRANSETOS MÓVEIS

O transeto I é, de longe, o que agrega os núcleos da ilha de calor mais intenso nos três

horários diários (Gráfico 5.17), embora às 6h. o transeto III apresenta alguns núcleos de

mesma intensidade ou superior. Esta configuração é bastante semelhante à ocorrida no

episódio de verão, diferenciando-se um pouco na intensidade da ilha térmica, que no inverno

foi mais intenso. Um outro ponto a se destacar na comparação verão-inverno é em relação a

espacialização da ilha de calor entre os transetos III e IV, que se configurou mais intensa no

transeto IV no episódio de inverno.

Gráfico 5.17: Variação horária (6h, 13h e 20h.) da ilha de calor entre os transetos I, III e IV no dia 29/07/04

0

1

2

3

4

5

6

7

8

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12

Pontos amostrais

ºC

6h.13h.20h.

Fonte: Dados do campo (29/07/04)Elaborado por Andrews J. Lucena

Transeto III Transeto IV Transeto I

Às 6h. os núcleos mais quentes foram de intensidade moderada e se intercalaram entre

o transeto I e III, mas o core da ilha de calor matutina (4ºC) se espacializou no ponto 5 (Praça

Raimundo Paz, em frente ao Casino Bangu) do transeto I. Os núcleos mais amenos da ilha de

calor, com fraca intensidade, se espacializaram no transeto IV com valores em média abaixo

de 1ºC, sendo inclusive no ponto 12 (Av. Brasil) o núcleo da ilha de frescor.

No horário das 6h. já se reflete a interferência do fluxo de veículos no corredor central

dos bairros, onde foram registrados os núcleos mais quentes da ilha de calor. Entre estes estão

a Praça Raimundo Paz, rua Silva Cardoso, av. Santa Cruz, rua Sul América e av. Ministro Ari

128

Franco no transeto I; Estrada do Piaí no transeto III e rua Felipe Cardoso e Senador Camará

no transeto IV.

Às 13h. os núcleos da ilha térmica se intensificam ainda mais no transeto I variando a

intensidade de forte a muito forte, configurando-se no ponto 1 (Rua Marmiari, na Fazenda do

Viegas) o núcleo mais intenso do horário (7,2ºC). O ponto 1 por se tratar do principal corpo

verde do transeto se justifica o maior consumo de calor, tendo em vista que a vegetação

absorve grande parte da energia de ondas curtas e longas neste horário de maior aquecimento

diurno. Pelos demais pontos, tanto da área comercial como residencial os núcleos de

intensidade registraram valores bastante semelhantes.

Ainda no horário das 13h. há uma migração dos núcleos mais quentes da ilha de calor

do transeto III para o IV. Esta configuração do campo térmico entre os dois transetos se

destoa daquele configurado no episódio de verão, quando seguido do transeto I aparecia o

transeto III com os núcleos mais quentes. O transeto III, ainda, abriga a ilha de frescor diurna,

localizada na Praia do Cardo (ponto 11).

Às 20h. a configuração do campo térmico é semelhante a das 13h. A intensidade da

ilha térmica foi bem mais inferior, variando entre 4 e 5ºC no transeto I, 1 e 3ºC no transeto IV

e 0,5 e 1,5ºC no transeto III. A ilha de frescor migrou do transeto III para o IV se situando,

outra vez, na Av. Brasil (ponto 12).

A Av. Brasil, “ponto final” dos transetos I e IV, apresenta aspectos térmicos bem

distintos, tanto no verão como no inverno: no transeto IV abrigou as “ilhas de frescor” em

cinco dos seis horários; no transeto I apenas abrigou a ilha de frescor noturna. Os dois pontos

da avenida são áreas abertas, de baixa densidade construída e com um fluxo de veículos

elevado, mas em Santa Cruz a ocupação é ainda mais rarefeita, o espaço é mais aberto e o

fluxo de veículos diminui ainda mais, pois é o fim da avenida Brasil na cidade. Estes

129

elementos podem explicar as diferenças contidas entre estes dois pontos da avenida Brasil, em

Bangu e Santa Cruz.

A prática dos transetos móveis tem sido recorrente entre os pesquisadores do clima

urbano. Lopez et al. (1995) estudaram o clima urbano de Madrid (Espanha) a partir de dois

transetos móveis, um com 63 pontos (31 Km) e outro de 87 pontos (17,2Km) num total de 79

trajetos atravessando diversas localidades da cidade. Ripley et al (1996) estudaram a variação

temporal e espacial da temperatura na pequena cidade de Saskatoon Canadá através de 13

transetos móveis e identificaram núcleos da ilha de calor que variaram entre 4 e 8ºC.

Assis (2001) para a cidade de Belo Horizonte/MG traçou dois transetos, um

percorrendo diversos bairros, com 16 pontos de coleta e o segundo exclusivo para a área

central da cidade, distribuídos por 7 pontos. O resultado revelou que no 1º transeto o core da

ilha térmica alcançou quase 5ºC (no horário matutino), enquanto no 2º a intensidade máxima

da ilha térmica foi de 3,2ºC (final da tarde).

Fialho (op cit), em episódios de verão e inverno, para a Ilha do Governador/RJ traçou

quatro transetos móveis às 6, 13 e 21h, num total de 63 pontos, onde foram encontradas

temperaturas mais amenas nas localidades da vertente sul, voltadas para a brisa marítima, e

temperaturas mais altas nas colinas centrais e nos fundos de vale, mais protegidos da ação dos

ventos, onde também se encontram os centros de maior atividade comercial.

França (op cit) analisou o campo térmico do Méier/RJ traçando um transeto móvel em

um episódio de verão e inverno, distribuído por 16 pontos pelo bairro e detectou intensidade

máxima de 8,9ºC no episódio de inverno/2001.

Oke e Maxwell (1974) mapearam o campo térmico nas cidades de Montreal e

Vancouver, utilizando a técnica por transetos móveis. Apoiados no método de taxas de

aquecimento e resfriamento “rural-urbano”, os autores identificaram o core máximo da ilha

de calor à noite, tanto no verão como no inverno, na área mais central das cidades; enquanto

130

nas áreas periféricas a ilha de calor decresceu mais rapidamente ao final da tarde e início da

noite devido às altas taxas de resfriamento.

As taxas de aquecimento e resfriamento foram fatores influentes na intensidade da ilha

de calor neste episódio de inverno. Nos três transetos as taxas de resfriamento foram

inferiores às taxas de aquecimento, verificado principalmente nos transetos I e IV, com

diferenças que variaram entre 0,6 e 0,9ºC (Quadro 5.4).

Quadro 5.4: Taxas de aquecimento e resfriamento ao longo dos transetos móveis no dia 29/07/04

T I: Bangu-Av. Brasil. TA ºC TR ºC Diferença (TA - TR)1. Rua Marmiari - Fazenda do Viegas 1,9 1,2 0,72. Praça Francisco Dias - Ponto final do 393 1,7 0,8 0,93. R. Rio da Prata - Mercado Guanabara 1,6 0,9 0,74. R. Boiobi/Rua da Feira 1,6 0,9 0,75. Praça Raimundo Paz - Casino Bangu 1,5 0,9 0,66. R. Silva Cardoso/R. Profº Clemente Ferreira 1,6 0,9 0,77. Av. Santa Cruz - Estação ferroviária de Bangu 1,7 0,9 0,88. R. Coronel Tamarindo - ponto de ônibus 1,8 0,9 0,99. R. Sul América 1,7 0,9 0,810. Av. Ministro Ari Franco/R. Sainá 1,8 1,0 0,811. Est. da Água Branca - I. B. Água Branca 1,8 1,0 0,812. Estr. da Cancela Perta 1,8 1,0 0,813. Av. Brasil 1,8 1,1 0,7T III: Santa Cruz-Sepetiba TA ºC TR ºC Diferença (TA - TR)1. Estr. de Sepetiba/Estr. Cruz das Almas 1,6 1,1 0,52. Estr. de Sepetiba-Largo do Arão 1,5 1,1 0,43. Estr. de Sepetiba-Conj. Nova Sepetiba 1,4 1,1 0,34. Estr. do Piaí/R. Pedro Leitão 1,4 1,1 0,35. Rua da Floresta 1,2 1,0 0,26. Praia de Sepetiba 1,4 1,1 0,37. Rua do Iate 1,3 0,9 0,48. R. Aristides Gouveia (Hotel Chave de Ouro) 1,4 1,1 0,39. Praça 6 (ponto final do 870) 1,2 1,0 0,210. Praia do Recôncavo 1,2 0,9 0,311. Praia do Cardo 0,9 0,7 0,2T IV: Santa Cruz-Av. Brasil TA ºC TR ºC Diferença (TA - TR)1. R. Felipe Cardoso 1,6 1,0 0,62. R. Felipe Cardoso/Av. Eng. Gastão Rangel 1,6 0,9 0,73. R. Felipe cardoso/Av. Antares 1,7 0,9 0,84. R. Felipe Cardoso/Av. General Olímpio 1,7 0,9 0,85. R. Felipe Cardoso/Av. Isabel 1,9 1,0 0,96. R. Senador Camará 1,8 0,9 0,97. Praça Ruão 1,8 1,0 0,88. R. Senador Camará (Hospital Pedro II) 1,7 0,9 0,89. Est. Morro do Ar/R. Horto Florestal 1,7 0,9 0,810. Est. Morro do Ar - Canal Cação Vermelho 1,8 1,0 0,811. Est. Do Morro do Ar - R. Sales 1,8 1,1 0,712. Av. Brasil - Extra 1,8 1,2 0,6Elaborado por Andrews J. Lucena.

131

As taxas de resfriamento refletiram na configuração da ilha de calor entre os três

transetos. O transeto I apresentou os núcleos mais quentes da ilha de calor nos três horários,

seguido pelo transeto IV, que apenas no horário das 6h espacializou núcleos mais amenos que

o transeto III.

No verão, além das diferenças entre taxas de aquecimento e resfriamento estarem bem

mais inferiores (entre 0,1 e 0,4ºC) que a deste episódio de inverno (entre 0,6 e 0,9ºC), em

alguns pontos amostrais daquele episódio as taxas de aquecimento foram equivalentes ou

estiveram abaixo das taxas de resfriamento, logo não comprometendo inteiramente na

intensidade da ilha de calor.

No inverno, todas as taxas de resfriamento são inferiores às taxas de aquecimento, um

fato relevante para o “fortalecimento” da ilha de calor. O inverno, em média, comparado ao

verão, concentrou os núcleos mais quentes da ilha de calor nos três transetos. Também

concentrou o core da ilha de calor às 6h (3,7ºC) e às 13h (7,2ºC), enquanto no verão, nos

mesmos horários, a intensidade foi de 2,7ºC e 5,3ºC, respectivamente. As 20h., apesar de uma

diferença mínima, o core se situou no episódio de verão (4,8ºC); no inverno a intensidade foi

de 4,7ºC.

132

5.7. AS UNIDADES TOPOCLIMÁTICAS URBANAS DA ZONA OESTE/RJ

As unidades climáticas são uma proposta de gerar áreas semelhantes, tendo como base

os elementos do clima urbano e do ambiente. A classificação não é uma tarefa simples, pois

se trata muito mais de uma delimitação artificial (gerada pelo homem) do que “divisões

naturais do clima”, sendo a classificação climática uma espacialização de complexa

subjetividade.

Ayoade (1998) discute duas abordagens na classificação climática: a genética e a

empírica. A primeira está baseada nos controles climáticos que correspondem aos padrões de

circulação geral da atmosfera, de radiação líquida e os fluxos de umidade. A segunda

abordagem, usualmente mais utilizada nas classificações climáticas, está baseada nos

elementos climáticos (temperatura e pluviosidade) e em seus efeitos sobre outros fenômenos,

normalmente a vegetação ou o homem.

Os controles climáticos, ao contrário dos elementos climáticos, são muito mais difíceis

de serem medidos, portanto, a maioria das classificações está fundamentada na abordagem

empírica. Dos atuais 169 esquemas de classificação climática, 148 utilizam a abordagem

empírica e apenas 21 a abordagem genética. Dos modelos de classificação empírica o mais

conhecido e utilizado é o de Koppen6, que define as regiões climáticas associadas aos grandes

biomas da Terra (Ayoade, 1998).

Para a delimitação das unidades climáticas da Zona Oeste, a escala de classificação é

bem menor e os elementos utilizados, tanto do clima como do ambiente, são bem mais

específicos. Tendo como base teórico-metodológica a proposta de Brandão (1996), Tarifa e

Armani (2001) e Fialho (2002) as unidades climáticas respeitaram a escala local do clima e

suas diferenciações topo e microclimáticas.

6 “No modelo de Koppen existem cinco grupos climáticos principais, reconhecidos principalmente com base nas características da temperatura. Estes cinco grupos são subdivididos com base na distribuição sazonal da precipitação e nas características adicionais de temperatura, a fim de fornecerem um total de 24 tipos climáticos” (Ayoade, 1998: 231)

133

De acordo com Brandão (1996) a cidade do Rio de Janeiro se insere na escala do local,

subdividindo-se em unidades mesoclimáticas. Suas unidades foram identificadas a partir da

conjunção dos fatores naturais (orientação e localização dos maciços da cidade, influência da

direção do vento como a brisa marítima) e antrópicos (a diversidade no uso do solo urbano).

Fialho (op cit) considerou a classificação sugerida por Brandão e ao compor as

unidades climáticas da Ilha do Governador/RJ a classificou como uma unidade

mesoclimática, a qual subdividiu em unidades topoclimáticas, levando em conta aspectos de

ordem natural e antrópica para a classificação.

Para o objetivo deste trabalho, a Zona Oeste é considerada como uma unidade

mesoclimática da cidade e se subdivide em unidades topoclimáticas como realizada por

Fialho (op cit) para a Ilha do Governador/RJ.

As unidades topoclimáticas da Zona Oeste são definidas a partir dos dados médios dos

experimentos de campo de medida fixa7 (temperatura e umidade relativa; direção e

intensidade do vento; taxas de aquecimento e resfriamento) realizados nos episódios de verão

e inverno, associado aos elementos do uso do solo (densidade demográfica e construída e

tipologia do uso do solo) e a partir das observações dedutivas realizadas em campo, isto é, o

conhecimento e o envolvimento que o autor tem da (com a) área de estudo.

Estas unidades são de cunho especificamente “urbano” pois levam em conta os

elementos climáticos tomados em campo relacionado-os à conjuntura espacial do uso do solo

urbano, sem considerar medidas nos maciços e na restinga da Marambaia. Ainda assim, no

mapeamento, estes ambientes foram considerados (e para os maciços foi respeitado suas cotas

altimétricas) e logo se tornando em “zonas especiais”, não classificadas.

7 As medidas fixas embora englobam um menor número de pontos espacializa uma área bem maior na Zona Oeste, sendo os experimentos fixos a média topoclimática. Quanto às medidas móveis, apesar de incorporarem um número maior de pontos sua área de abrangência é menor, limitando-se à baixada de Bangu e Santa Cruz, haja vista que o objetivo das medidas móveis é o mapeamento microclimático entre estas duas áreas da Zona Oeste, conferindo suas diferenças de sítio e dinâmica urbana.

134

As unidades topoclimáticas urbanas da Zona Oeste estão representadas na figura 5.14

e são determinadas pela temperatura colhida em campo. As diferenciações entre as unidades e

sub-unidades são dadas a partir da temperatura e dos demais elementos do clima, também

colhidos em campo (umidade, vento e taxas de aquecimento e resfriamento) e do uso do solo

(densidade demográfica e construída, tipologia do uso do solo e cobertura vegetal), que se

individualizam em feições topoclimáticas (quadro 5.5).

Figura 5.14. Unidades topoclimáticas urbanas na Zona Oeste/RJ

C1

D

A

Quadro 5.5. Feições topoclimáticas (de acordo com os elementos do clima e os padrões de uso do solo)

Unidades Topoclimáticas Sub-unidades topoclimáticasA

c;Ta3; Tr2; S; 1d; 1c; Us1; Cp;MB B1 (c; Ta3; Tr2; S; 1d; 1c; Us1; Cp)

B2 (b; Ta2; Tr1; L`; 1d; 1c; Us2; Ac; Cp)B3 (b; Ta2; Tr3; L`; 3d; 3c; Us2)

C C1 (b; Ta2; Tr3; L`; 3d; 3c; Us2)C2 (c; Ta1; Tr1; L; 1d; 1c; Us2)

Da; Ta2; Tr3; L`; 3d; 3c; Us2

135

Legenda8:

A - < 25ºC 1d - até 2000 hab/Km2B - entre 25 e 26,5ºC 2d - entre 2001 e 4000 hab/Km2C - entre 26,5 e 28ºC 3d - entre 4001 e 6000 hab/Km2D - > 28ºC

a - 60-69% 1c - até 200 hab/Km2b - 70-79% 2c - entre 201 e 400 hab/Km2c - 80-89% 3c - entre 401 e 600 hab/Km2

Uso do solo (tipologia)Ta1 - 0,51-0,8ºC Us1 - predominante casa/sobrado com até 2 pavimentosTa2 - 0,81-1,1ºC Us2 - predominante casa/sobrado, seguido por favelaTa3 - 1,11 - 1,4ºC Ac - área de cultivo

Tr1 - 0,6-0,69ºC Cp - campoTr2 - 0,7-0,79ºC M - mangueTr3 - 0,8-0,9ºC

S - direção predominante do quadrante Sul, com intensidade entre 0 e 2 (Escala Beaufort)N - direção predominante do quadrante Norte, comintensidade entre 0 e 2 (Escala Beaufort)L - direção predominante do quadrante Leste, com intensidade entre 0 e 2 (Escala Beaufort)L`- direção predominante do quadrante Leste, com intensidade entre 2 e 4 (Escala Beaufort)Fonte: Dados do campo (26/01 e 29/07/04); Anuário estatístico da cidade do Rio de Janeiro, 2000. Elaborado por Andrews J. Lucena

Temperatura do ar: Densidade demográfica:

Direção e velocidade do vento:

Cobertura vegetal:Taxas de resfriamento

Taxas de aquecimento:

Densidade construída:Umidade relativa do ar

Quatro são as unidades topoclimáticas identificadas pelas letras A, B, C e D, que

variam 1,5ºC entre elas. A unidade A compreende as temperaturas mais amenas, com valores

abaixo de 25ºC, as letras B e C são unidades intermediárias, com valores entre 25 e 26,5ºC e

26,5 e 28ºC, respectivamente e a unidade D assume as temperaturas mais elevadas, acima de

28ºC. As unidades B e C se subdividem em sub-unidades (B1, B2 e B3; C1 e C2).

Os maciços e a restinga são zonas especiais (não classificadas), pois não foram

realizados quaisquer tipos de medição. Os maciços contemplados são o da Pedra Branca e

Gericinó-Mendanha, com cotas altimétricas acima de 100m. podendo chegar até 1000m e são

áreas com vegetação de floresta intacta ou alterada. O ambiente de restinga9 contempla toda a

restinga da Marambaia (sob domínio do Exército Brasileiro) e suas ilhas.

8 A densidade demográfica foi calculada tomando como referência a população absoluta da região administrativa dividida por sua área total. Para a densidade construída foi dividida o total da população absoluta da região administrativa por sua área construída residencial. 9 Esta área está inserida na Área de Proteção Ambiental (APA) da Orla da Baía de Sepetiba representada pela restinga da Marambaia e parte da Reserva Ecológica e Arqueológica de Guaratiba representada pelo complexo de ilhas da restinga (Ilha do Bom Jardim, Ilha das Baleias, Ilha do Capão, Ilhas Suruquaí, Ilha Nova e Ilha do Cavado), ambas identificadas no mapa como os dois setores desligados do continente.

136

A unidade A está situada na pequena faixa estreita oeste de Barra de Guaratiba que

abriga as temperaturas mais baixas e a umidade relativa mais elevada. Sua taxa de

aquecimento é a mais elevada e a de resfriamento se enquadra em situação intermediária,

sendo bem inferior a sua taxa de aquecimento. O vento tem direção predominante do

quadrante Sul, com intensidade variando até 2. Os aspectos concernentes à dinâmica urbana

são bastante relevantes na diferenciação desta sub-unidade, pois possui a mais baixa

densidade demográfica e construída e a tipologia do uso do solo é constituída exclusivamente

de casa/sobrado, além ainda de comportar uma densa cobertura vegetal (de campo e mangue).

Certamente os aspectos do sítio (brisa marítima) e do uso do solo são os fatores determinantes

na delimitação da unidade A1.

A sub-unidade B1 abrange o limite administrativo das regiões administrativas de Santa

Cruz e Sepetiba e se estende por toda a baixada de Guaratiba até as encostas do maciço da

Pedra Branca, abrangendo os bairros da região administrativa de Guaratiba e Campo Grande.

Esta sub-unidade apresenta características semelhantes à da unidade A quanto aos aspectos

hígricos e de circulação do ar, às taxas de aquecimento e resfriamento e aos padrões

demográficos e de uso do solo, no entanto, apresentam contraste térmico um pouco mais

acentuado, sendo este o principal diferencial.

As sub-unidades B2 e B3 apresentam contraste sob os aspectos demográficos e de uso

do solo urbano. Possuem porcentagem intermediária na umidade relativa (entre 70 e 79%),

taxas de resfriamento, em média, proporcionais às suas taxas de aquecimento e predomina a

direção de leste do vento, com intensidade variando entre 2 e 4.

A sub-unidade B2 está situada no extremo oeste da Zona Oeste, tomando a maior parte

do bairro de Santa Cruz, onde predomina uma densidade demográfica abaixo de 2.000

hab/Km2 e a densidade construída de até 200 hab/Km2, prevalecendo os casarios baixos,

137

seguidos por proletariado (ou favelas). Esta área ainda abriga uma relativa e extensa área de

campo e sustenta uma remanescente área de cultivo, sendo praticamente a única da cidade.

A sub-unidade B3 se localiza no extremo leste da Zona Oeste, cruzando semelhanças

do uso da terra com as das regiões administrativas da área de Planejamento 3 (AP-3). Sua

densidade demográfica se situa entre 4.001 e 6.000 hab/Km2, com uma densidade construída

entre 4001 e 6000 hab/Km2, predominando a habitação em casas, seguido por favelas.

As sub-unidades C1 e C2 são as que apresentam as maiores diferenças dentro da

mesma unidade topoclimática. A sub-unidade C1 se espraia por grande parte da baixada de

Bangu e Santa Cruz e abarca os bairros de Realengo, Padre Miguel, Bangu, Santíssimo,

Inhoaíba, Cosmos e parte dos bairros de Campo Grande e Santa Cruz. Nesta sub-unidade a

umidade relativa varia entre 70 e 79%, a direção predominante do vento é de leste variando

sua intensidade entre 2 e 4. Sua taxa de resfriamento corresponde, em média, a mesma taxa de

aquecimento. A urbanização se consolidando aos poucos nestes bairros da sub-unidade C1

reflete nos maiores índices na densidade demográfica e construída (entre 4001 e 6000

hab/Km2 e entre 401 e 600 hab/Km2, respectivamente). O uso do solo predominante são os

casarios baixos, seguidos por favelas. A cobertura vegetal está praticamente desconfigurada,

devendo-se às invasões e assentamento de aglomerações subnormais nas margens de rios e

encostas, restando alguns enclaves de vegetação nas áreas mais elevadas dos morros.

A sub-unidade C2 abrange todo o bairro de Sepetiba. A densidade demográfica e a

densidade construída são da categoria 1d e 1c, respectivamente, e a tipologia do seu uso do

solo predomina a casa/sobrado, seguido por aglomerações subnormais. Sepetiba apresenta

características de um bairro puramente residencial, mesmo na sua porção inicial próximo a

Santa Cruz que apresenta as principais vias de acesso ao bairro e onde o comércio é um pouco

mais dinâmico. A presença da praia traz um “ar bucólico” ao bairro, porém toda a sua orla se

encontra assoreada sem qualquer tratamento paisagístico ou ambiental, denegrindo todas as

138

praias da região (Sepetiba, Cardo e Recôncavo). Os resquícios de manguezais atolados em

lama também denotam a ausência de tratamento de sua orla.

A umidade relativa do bairro é bem elevada (acima de 80%) e a direção predominante

do vento é de leste, revelando uma ação bem maior do ar continental, do que do ar oceânico,

de intensidade bastante fraca (entre 0 e 2). A taxa de aquecimento e resfriamento é da

categoria Ta1 e Tr1, respectivamente, o que demonstra ser taxas bastante homogêneas, isto é,

a taxa de resfriamento é quase igual à de aquecimento.

Finalmente, a última unidade é a D que contempla toda a área central de Campo

Grande. Além das temperaturas mais altas entre todas as outras unidades, esta unidade

apresenta a porcentagem de umidade mais baixa (entre 60 e 69%). A direção predominante do

vento é do quadrante leste, com intensidade entre 0 e 2 e sua densidade demográfica e

construída é da categoria 2d e 2c, respectivamente, representando um nível intermediário de

ocupação. A tipologia do uso do solo é o padrão observado em grande parte das outras

unidades (us2).

O bairro de Campo Grande encontra-se subdividido entre três (sub) unidades (B1, C1

e D), revelando os diversos usos do bairro. As áreas de ocupação mais rarefeita e com um

certo predomínio de vegetação dando um “ar bucólico” (figura 5.15) se concentraram na sub-

unidade B1, enquanto as áreas de ocupação um pouco mais densa, com uma maior

diversidade nos serviços se espacializaram na sub-unidade C1. A área mais dinâmica do

bairro, com uma maior concentração de serviços, diversidade no uso do solo e ausência de

vegetação teve seu núcleo na unidade D. Certamente, a distribuição dessas unidades tem

íntima relação com o uso do solo urbano, mas não se pode excluir o papel do sítio nesta

baixada que provavelmente foi um diferenciador na acentuação das médias térmicas.

139

Figura 5.15: “Bairro” Rio da Prata em Campo Grande

Foto tirada por Andrews J. Lucena, tomada da Estrada do Viegas em Senador Camará (mar/2005).

Toda a extensão das baixadas de Bangu e Santa Cruz se enquadram nas unidades das

temperaturas mais altas. O valor bem mais elevado deste “corredor” está relacionado ao papel

do seu sítio e associado aos padrões demográficos e do uso do solo. A unidade topoclimática

D é um enclave mais quente situado entre as duas baixadas e denota o papel do bairro Campo

Grande como um bolsão de calor da Zona Oeste, antes apenas notificado para Bangu.

Provavelmente, isto se deve a ausência de uma estação meteorológica em Campo Grande, que

se houvesse no bairro estaria dispondo de registros térmicos diários dentro de uma série

histórica e, portanto, poderia apresentar as semelhanças e diferenças entre os dois bairros,

inclusive revelando temperaturas máximas tão elevadas (ou até mais elevadas) quanto em

Bangu.

Na classificação das unidades climáticas da cidade do Rio de Janeiro, definidas por

Brandão (op cit), na baixada de Bangu se concentravam as temperaturas mais elevadas da

cidade, liderado pelo bairro Bangu e seguido por Campo Grande. Em Santa Cruz e Sepetiba

se concentravam as temperaturas mais amenas, seguidas pelos maciços (Figura 5.16).

140

Figura 5.16: Unidades climáticas urbanas da cidade do Rio de Janeiro

Na comparação das unidades climáticas da cidade do Rio de Janeiro (figura 5.16) com

o das unidades topoclimáticas urbanas da Zona Oeste (Figura 5.14) alguns resultados de

Brandão para a Zona Oeste são equivalentes aos deste trabalho atual, tal como a concentração

das temperaturas mais altas em Bangu e as mais amenas em Santa Cruz. Contudo, com o

maior número de medições e a análise mais detalhada sobre a Zona Oeste resultados mais

significativos, além de “novas revelações”, são encontrados no mapeamento térmico na Zona

Oeste, dentre os quais: a migração das temperaturas mais altas de Bangu para Campo Grande;

Barra de Guaratiba “surge” como “o centro de amenidade” da Zona Oeste e a área central de

Santa Cruz abriga temperaturas bem mais elevadas que o seu extremo oeste.

Para a Ilha do Governador/RJ, Fialho (op cit) identificou três unidades topoclimáticas

representadas pelas letras A, B e C (Figura 5.17). A unidade A foi definida como a localidade

com temperaturas mais amenas e se restringiu ao alto das colinas centrais (nos bairros de

Jardim Guanabara e Jardim Carioca) e na extremidade nordeste da Ilha do Governador

141

(comportando grande parte do bairro da Freguesia). Esta unidade se assemelha à unidade

topoclimática A da Zona Oeste, que se individualizou na faixa sudoeste.

Figura 5.17: Unidades topoclimáticas da Ilha do Governador/RJ

Legenda:

Temperatura do ar A - 23.0ºC - 23.9ºC B - 24.0ºC - 24.9ºC C - 25.0ºC - 25.9ºC

Taxa de resfriamento a - 0.51 - 0.60 ºC-h b - 0.61 - 0.70ºC-h c - 0.71 - 0.80ºC-h

Densidade demográfica 1 - > 5.000 hab/km2 2 - 5.001 - 10.000 hab/km2 3 - < 10.001 hab/km2

Uso do solo (predominante) r1 - residencial com 1 andar r2 - residencial entre 2e 3 andares. m1 - misto (comercial e residencial, entre 1 e 2 andares). m2 - misto (comercial e residencial, entre 2 e 3 andares).

Direção e velocidade do n - direção predominante s' - direção predominante s - direção predominante

Vento do quadrante norte, com intensidade entre 0 e 2 (Escala Beaufort). do quadrante sul, com intensidade entre 0 e 2 (Escala Beaufort). do quadrante sul, com intensidade entre 2 e 4 (Escala Beaufort).

A segunda unidade topoclimática da Ilha do Governador (com temperaturas entre 24 e

24,9ºC) se configurou ao longo do litoral meridional e setentrional (influenciado pelas brisas

marítimas) e na porção central, esta sendo mais resguardada da brisa do mar. A unidade B da

Zona Oeste apresenta características similares a esta unidade.

142

A unidade topoclimática C da Ilha do Governador apresenta os valores térmicos mais

elevados e se situa em sua porção central (corredor das vias de trânsito com o maior tráfego

de veículos) e meridional (área de intenso fluxo de atividades comerciais e de serviços local

com prédios residenciais de três pavimentos). Esta unidade C é a que apresenta características

mais parecidas com as unidades topoclimáticas C e D da Zona Oeste, localizada na baixada de

Bangu e na porção central e sudoeste da baixada de Santa Cruz .

A comparação com a classificação de Fialho (op cit) revela uma identificação com a

natureza do método adotado, porém adaptado ao espaço e as particularidades da Zona Oeste.

Para a Zona Oeste a quantidade e categorias de informações foram bem maiores, tanto para os

elementos do clima (taxa de resfriamento, umidade e vento) quanto para os dados do ambiente

construído (densidade construída, tipologia do uso do solo e cobertura vegetal). Além disso, o

espaço territorial da Zona Oeste é amplamente maior e o uso do solo, em muitas áreas, é

misto, ou seja, urbano, “rural” e mata.

As unidades topoclimáticas urbanas da Zona Oeste representam a interação espacial

dos atributos do clima, do ambiente construído e do ambiente natural e definem uma

classificação (urbana) do clima para a Zona Oeste, sendo esta classificação uma sugestão de

operação para a gestão e o planejamento.

143

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS:

A primeira hipótese destacada na parte inicial deste trabalho foi comprovada, isto é, a

ocupação urbana da Zona Oeste, vivenciada no século XX, estabeleceu uma estreita

influência na evolução da temperatura, que acresceu em torno de 1ºC, tendo nos últimos 30

anos as médias mais elevadas, período de acentuada ocupação e diversificação do uso do solo

urbano. Mesmo nas estações com um período bem menor de dados (Campo dos Afonsos e

Santa Cruz) a seqüência da evolução da temperatura foi semelhante a das estações de Bangu e

da Praça XV, que comportam uma série de dados muito mais expressiva.

Tomar a estação meteorológica como uma referência inicial para os estudos em clima

urbano é de suma importância, pois ao longo da série climatológica pode-se verificar e

apontar tendências de como os aspectos da morfologia urbana podem ter contribuído nas

alterações dos elementos do clima.

Para a Zona Oeste (como também para a cidade do Rio de Janeiro) muitas estações

meteorológicas estão sem manutenção ou simplesmente desativadas, como a da Marambaia e

Bangu o que mostra um descaso por parte das autoridades responsáveis para o estudo do

clima das próximas décadas, já que a comunidade científica internacional anuncia que as

maiores alterações no clima estão para acontecer no século atual (o aumento na temperatura,

superior a 4ºC até o ano de 2100 – Paciornik, 2003) e os efeitos da urbanização aparecem

como os principais responsáveis.

A segunda hipótese deste trabalho foi comprovada, quando observada a

disponibilidade da Zona Oeste em gerar ilhas de calor da mais alta magnitude (acima de 6ºC).

Estudos anteriores realizados por Brandão (1996), Brandão e Lucena (2000) e Lucena (2004)

já apresentavam a Zona Oeste como uma área propícia à configuração de ilhas térmicas,

especialmente em Bangu, mas neste trabalho outros bairros da Zona Oeste (Santa Cruz,

Sepetiba e Campo Grande) se manifestaram como centros condicionadores da ilha de calor.

144

As ilhas de calor, produto do clima urbano, é uma realidade na Zona Oeste e precisam,

pelo menos, serem amenizadas ou controladas (de maneira que se configurem em intensidades

mais amenas). Portanto, esta área da cidade que desenvolve temperaturas bastante elevadas,

em função das condições naturais do sítio, comporta a maior dimensão territorial da cidade,

como também abriga a maior população absoluta e os maiores índices de crescimento,

necessita de um tratamento que inspire cuidados na distribuição e alocação da população.

O método por transetos fixos e móveis adotado demonstrou resultados satisfatórios e

importantes para o campo térmico da Zona Oeste. Este método se destaca como o principal

procedimento para os trabalhos de campo em clima urbano e em se tratando da Zona Oeste a

distribuição dos transetos abrangeu diferentes espaços de uso do solo onde foram

desenvolvidas as medições.

Apesar da praticidade e validade na utilização do transeto fixo e móvel, o método

apresenta limitações e precisa ser aperfeiçoado, principalmente no que se refere à qualidade

dos instrumentos e a incorporação de outros, como a de um anemômetro. Para o transeto

móvel é necessário adotar um termômetro com maior precisão, haja vista que os

termohigrômetros são de extrema sensibilidade, o que requer uma manipulação destes

aparelhos cada vez mais criteriosa. A apropriação de estações automáticas pode gerar

resultados mais satisfatórios, pois dispõem de medidas contínuas em tempo real (vinte e

quatro por dia), sem o auxílio de um “leitor”, o que garante um maior número de medidas

horárias e diárias.

Considerando toda a extensão territorial da Zona Oeste e que o número de estações

meteorológicas é cada vez mais reduzida, a espacialização de um número considerável de

pontos fixos e móveis (64), delimitados neste trabalho, são inferiores ao ideal. A rede de

monitoramento em campo deve ser expandida para as extensas baixadas de Guaratiba e Santa

Cruz, aos “sub-bairros” de Campo Grande e da faixa leste (Deodoro, Vila Militar, Campo dos

145

Afonsos, Jardim Sulacap e Magalhães Bastos) com a perspectiva de ratificar os resultados

atuais ou buscar novas revelações e tendências sobre o campo térmico da Zona Oeste.

Sem dúvida, o número de experimentos episódicos também precisa ser ampliado para

o acompanhamento mais sistemático dos tipos de tempo e sua relação na configuração da ilha

de calor. Contudo, a escolha de “apenas” dois episódios sazonais para este trabalho não pode

ser desconsiderada e tida como insuficientes, pois vale ressaltar a noção de ritmo para a

definição de clima1 e a idéia de espaço imputada a este trabalho. Deste modo, todo

experimento revelou a configuração do campo térmico, e a variação na intensidade da ilha de

calor esteve relacionada ao tipo de tempo atuante nos experimentos.

No verão e no inverno o core da ilha de calor se concentrou em Campo Grande com

intensidades em torno dos 6ºC. No episódio de verão o tempo predominante esteve sob ação

das ZCAS o que favoreceu um alto índice de nebulosidade durante todo o dia, enquanto que

no inverno o Anticiclone do Atlântico Sul foi predominante proporcionando estabilidade

atmosférica, isto é, céu claro e ar calmo. É sugerida a repetição de novos experimentos, em

maior quantidade e em situações sinóticas diversas, para investigar mais sistematicamente a

ação dos tipos de tempo sobre o campo térmico.

Este é um trabalho pioneiro sobre o tema na Zona Oeste da cidade do Rio de Janeiro e

merece a atenção por parte do poder público, entidades ambientais e instituições privadas que

almejam investir na área. A proposta de síntese climática a partir da definição de unidades

topoclimáticas urbanas é uma pretensão de mapeamento do espaço urbano tendo o clima

como suporte ambiental.

Consciente de que as unidades topoclimáticas não são unidades fechadas, a

classificação em unidades é uma importante ferramenta para estabelecer diretrizes ao

planejamento da Zona Oeste. Seguem abaixo algumas sugestões:

1 “a sucessão habitual dos tipos de tempo em um determinado lugar” Monteiro (2003, p. 12).

146

padronizar o limite de gabarito nas áreas mais quentes e incentivar a arborização nos

logradouros;

reflorestar as áreas ocupadas de encostas e próxima às margens de rios;

criar programas de recuperação e educação ambiental de ambientes degradados, como

da orla de Sepetiba;

manter os enclaves preservados de floresta dos maciços.

Como pioneiro, o estudo do campo térmico na Zona Oeste oferece uma contribuição

ao estudo do clima urbano e estimula dar continuidade deste estudo específico para a Zona

Oeste. A utilização dos dados das estações meteorológicas e dos dados gerados em campo,

aplicados ao zoneamento do conforto térmico humano na Zona Oeste é uma possibilidade

para estudos futuros, o que se aproxima ainda mais do canal termodinâmico do Sistema Clima

Urbano que se interessa pela relação entre o conforto térmico e o desempenho humano.

E, finalmente, este trabalho abre um leque para a investigação de novos e/ou

interessantes temas diversos na Zona Oeste. Dentre os temas, citamos:

a exploração de trilhas ecológicas dos maciços e das praias “selvagens” de Guaratiba

para o turismo;

a dinamização do Porto de Sepetiba como pólo econômico;

a abertura de novos empreendimentos comerciais e industriais, como shopping

centers, universidades e empresas, em geral, ao longo da Av. Brasil e dos principais

centros comerciais;

a discussão e conflitos em torno dos dilemas ambientais, como a construção do novo

aterro sanitário da cidade no bairro de Paciência;

a especulação imobiliária em Campo Grande e baixada de Guaratiba; entre outros

temas.

São temas atuais e cruciais a ser explorado, visando o desenvolvimento da Zona Oeste.

147

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UFS 2004;

ANEXOS

Anexo A:

Anexo B:

Anexo C:

Anexo D:

Anexo E - Gráficos com o desvio padrão para a temperatura máxima, mínima e média compensada na Praça XV

24,5

25,0

25,5

26,0

26,5

27,0

27,5

28,0

28,5

29,0

1921 1925 1929 1933 1937 1941 1945 1949 1953 1957 1961 1965 1969 1973 1977 1981 1985 1989

anos

ºC

Desvio Padrão (+ 0,6ºC) Desvio padrão (- 0,6ºC) Média das máximas

18,5

19,0

19,5

20,0

20,5

21,0

21,5

22,0

22,5

1921 1925 1929 1933 1937 1941 1945 1949 1953 1957 1961 1965 1969 1973 1977 1981 1985 1989

anos

ºC

Desvio Padrão (+0,6ºC) Desvio Padrão (- 0,6ºC) Média das mínimas

21,0

21,5

22,0

22,5

23,0

23,5

24,0

24,5

25,0

25,5

1921 1925 1929 1933 1937 1941 1945 1949 1953 1957 1961 1965 1969 1973 1977 1981 1985 1989

anos

ºC

Desvio Padrão (+ 0,6ºC) Desvio Padrão (-0,6ºC) Média compensada

Anexo F - Gráficos com o desvio padrão para a temperatura máxima, mínima e média compensada em Bangu

26,0

27,0

28,0

29,0

30,0

31,0

32,0

33,0

1922 1926 1933 1937 1941 1946 1951 1955 1959 1963 1967 1971 1975 1979 1983 1987 1991 1995 1999

anos

ºC

Desvio Padrão (+ 1ºC) Desvio Padrão (-1ºC) Média das máximas

16,0

17,0

18,0

19,0

20,0

21,0

22,0

1922 1926 1933 1937 1941 1946 1950 1954 1958 1962 1966 1970 1974 1978 1982 1986 1990 1994 1998

anos

ºC

Desvio Padrão (+ 0,8ºC) Desvio Padrão (- 0,8ºC) Média das mínimas

21,0

22,0

23,0

24,0

25,0

26,0

27,0

1922 1925 1931 1934 1937 1940 1943 1947 1950 1953 1956 1959 1962 1965 1968 1973 1976 1979 1982 1985

anos

ºC

Desvio Padrão (+ 0,8ºC) Desvio Padrão (- 0,8ºC) Média compensada

Anexo G - Gráficos com o desvio padrão para a temperatura máxima, mínima e média do bulbo seco em Campo dos Afonsos

27,0

28,0

29,0

30,0

31,0

32,0

33,0

1973 1975 1977 1979 1981 1983 1985 1987 1989 1991 1993 1995 1997 1999

anos

ºC

Desvio Padrão (+ 1ºC) Desvio Padrão(-1ºC) Média das máximas

18,0

19,0

20,0

21,0

22,0

23,0

1973 1975 1977 1979 1981 1983 1985 1987 1989 1991 1993 1995 1997 1999

anos

ºC

Desvio Padrão (+ 0,8ºC) Desvio Padrão(- 0,8ºC) Média das mínimas

24,5

25,0

25,5

26,0

26,5

27,0

27,5

1973 1975 1977 1979 1981 1983 1985 1987 1989 1991 1993 1995 1997 1999

anos

ºC

Desvio Padrão (+ 0,2ºC) Desvio Padrão (- 0,2ºC) Média

Anexo H - Gráficos com o desvio padrão para a temperatura máxima, mínima e média compensada em Santa Cruz

27,5

28,0

28,5

29,0

29,5

30,0

30,5

31,0

31,5

1971 1973 1975 1977 1979 1981 1983 1985 1987 1989 1991 1993 1995 1997 1999

anos

ºC

Desvio Padrão (+ 0,6ºC) Desvio Padrão (- 0,6ºC) Média das máximas

19,0

19,5

20,0

20,5

21,0

21,5

22,0

1971 1973 1975 1977 1979 1981 1983 1985 1987 1989 1991 1993 1995 1997 1999

anos

ºC

Desvio Padrão (+ 0,5ºC) Desvio Padrão (- 0,5ºC) Média das mínimas

22,5

23,0

23,5

24,0

24,5

25,0

1971 1973 1975 1977 1979 1981 1983 1985 1987

anos

ºC

Desvio Padrão (+ 0,3ºC) Desvio Padrão (- 0,3ºC) Média Compensada

Anexo I:

Passo a passo das medições nos transeto fixos:

Uma dupla selecionada para cada bairro, totalizando seis, estavam munidas de um “Kit

de Campo” o qual continha uma prancheta, planilha para o registro dos dados, lápis, borracha,

um psicrômetro de funda, recipiente plástico para armazenar água e fita de cetim. Entre os três

pontos (A, B e C), num total de 10 minutos a cada hora, cada dupla operava:

o registro das medições de temperatura do bulbo seco e do bulbo úmido através do

Psicrômetro de funda. O registro se dava após o umedecimento do bulbo seco e o giro

do instrumento em torno de 15 a 20 giros1. Em seguida eram tomadas as umidades

relativas através da correlação entre os dois bulbos com o auxílio da tabela

psicrométrica (anexo J);

a direção e intensidade do vento. Obtida de forma bastante subjetiva utilizando-se da

fita de cetim posta ao vento na direção norte2 e a sua intensidade a partir do método de

comparação dos objetos, segundo a escala de Beaufort (anexo L);

a disposição espacial da nebulosidade. Esta foi catalogada por intermédio de

observações da disposição das nuvens no campo visual do espaço local, medida em

oitavos (8), que consiste na divisão visual do céu em oito partes e na posterior análise

de quantas dessas partes apresenta nebulosidade. Logo, a porção do céu é indicada de

0 a 8/8, onde 0 indica que não há nebulosidade e 8/8 indica que o céu está todo

coberto;

o fluxo de veículos. Obtido através da contagem durante 1 minuto, feita

simultaneamente com a coleta dos outros dados, tendo como campo visual o

cruzamento entre as duas ruas mais próximas;

o estado do tempo presente. Verificado e anotado através da observação do estado

presente da atmosfera (céu claro ou nublado). Uma outra categoria utilizada foi se no

instante3 da medição o momento era de “sombra” ou “insolação”.

O anexo M disponibiliza o modelo da planilha de registro dos dados em campo.

1 O giro do aparelho é fundamental, pois obriga o bulbo úmido a liberar calor latente de evaporação, o que resfria o ambiente. Logo, a temperatura do bulbo úmido normalmente será mais baixa que a do bulbo seco. 2 Na Zona Oeste, a orientação norte corresponde a direção ao maciço do Gericinó-Mendanha. 3 Para as medições tomamos o cuidado em orientar os equipantes para não realizarem os registros em baixo de árvores, marquise ou qualquer outra cobertura, apenas em área livre.

Anexo J

Tabela Psicrométrica

Anexo L

Escala de Beaufort1

0 Calmaria. Fumaça eleva-se verticalmente

1 Direção do vento mostrada por inclinação da fumaça, mas não por cata-

vento.

2 Brisa ligeira. Vento sentido no rosto. Folhas das árvores agitadas. Cata-

vento comum movido pelo vento. Velocidade do vento entre 7 a 12Km/h.

3 Brisa suave. Folhas e pequenos galhos em movimento constante. O vento

desfralda a bandeira levemente. Velocidade do vento entre 13 e 18Km/h

4

Vento moderado. Vento levanta poeira e papéis soltos. Pequenos galhos

são movidos. Velocidade do vento entre 19 e 26Km/h

5 Vento fresco. Pequenas árvores com folhas começam sendo sacudidas.

Pequenas ondas com cristais formados em agulhas no interior. Velocidade

do vento entre 27 e 35Km/h

6

Vento forte. Grandes ramos de árvore em movimento. Assobio escutado

nos fios de telégrafo. Guarda-chuvas abertos com dificuldade. Velocidade

do vento entre 36 e 44Km/h

7 Tempestade moderada. Grandes árvores sacudidas. Inconveniência sentida

quando se caminha contra o vento. Velocidade do vento entre 45 e 55Km/h

8

Tempestade. Ramos de árvores quebrados. Geralmente, impede o caminhar

na rua. Velocidade do vento entre 56 e 66Km/h Adaptado de Forsdyke, 1978.

1 A escala de Beaufort tem sua intensidade até 12, mas adaptada só até 8 para este trabalho de campo.

Anexo M:

Modelo de planilha utilizado nos transetos fixos (Transeto Bangu Pontos A, B e C)

UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIROTrabalho de campo: 29/07/04Bairro: Bangu Ponto A: Praça da Fé - Igreja de Santa CecíliaPsicrômetro nº 35

Horário U. Relativa Nebulosidade Fluxo de Insolação/ Tempo B. seco B. úmido do ar (%) Direção Intensidade Oitavos veículos Sombra presente

08:0009:0010:0011:0012:0013:0014:0015:0016:0017:0018:0019:0020:00

Temperatura Vento

Ponto B: Rua Francisco Real - Caixa eletrônico do Itaú (estacionamento da Sendas)

Horário U. Relativa Nebulosidade Fluxo de Insolação/ Tempo B. seco B. úmido do ar (%) Direção Intensidade Oitavos veículos Sombra presente

08:0009:0010:0011:0012:0013:0014:0015:0016:0017:0018:0019:0020:00

Temperatura Vento

Ponto C: Av. Cônego de Vaconselos/R. Profº Clemente Ferreira (Magal)

Horário U. Relativa Nebulosidade Fluxo de Insolação/ Tempo B. seco B. úmido do ar (%) Direção Intensidade Oitavos veículos Sombra presente

08:0009:0010:0011:0012:0013:0014:0015:0016:0017:0018:0019:0020:00

Temperatura Vento

Anexo N:

Passo a passo das medições nos transetos móveis:

Uma dupla escalada para cada transeto, totalizando 4 duplas, estava munida de um

“Kit de Campo” o qual continha uma prancheta, planilha para o registro dos dados, lápis,

borracha e o termohigrômetro acoplado ao tubo de PVC. Dentro do limite de 40 minutos por

transeto, o automóvel percorria o seu trajeto de “ponto” em “ponto”, até chegar ao último

ponto amostral, num tempo estimado de 1 a 5 minutos, dependendo do horário do transeto (6,

13 ou 20h.).

O motorista e o carona, revezando nas observações dos elementos, anotavam:

a kilometragem. Através do uso do velocímetro o motorista marcava o momento da

kilometragem em cada ponto amostral de medição;

o registro das medições da temperatura “OUT” e “IN” e da umidade relativa do ar;

a intensidade do vento. Obtida a partir do método de comparação dos objetos, segundo

a escala de Beaufort (anexo L);

a nebulosidade. Catalogada por intermédio de observações da disposição das nuvens

no campo visual do espaço local, medida em oitavos, que consiste na divisão visual do

céu em oito partes e na posterior análise de quantas dessas partes apresenta

nebulosidade.

No anexo O está disponível o modelo da planilha de registro dos dados em campo.

Anexo O:

Modelo de planilha utilizado nos transetos móveis (Transeto Bangu Av.Brasil – às 6h.)

UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIROTrabalho de campo: 29/07/04Transeto móvel: Bangu-Av. BrasilHorário: 06h.Termohigrômetro: S/N

Pontos Amostrais Km Hora OUT IN U.R. (%) NebulosidVento1. Rua Marmiari - Fazenda do Viegas2. Praça Francisco Dias - Ponto final do 3933. R. Rio da Prata - Mercado Guanabara4. R. Boiobi/Rua da Feira5. Praça Raimundo Paz - Casino Bangu6. R. Silva Cardoso/R. Profº Clemente Ferreira7. Av. Santa Cruz - Estação de Bangu8. R. Coronel Tamarindo - ponto de ônibus9. R. Sul América10. Av. Ministro Ari Franco/R. Sainá11. Est. da Água Branca - I. B. Água Branca12. Estr. da Cancela Perta13. Av. Brasil

Temperatura (ºC)

1

ANEXO P

Procedimento de aferição de instrumentos para trabalhos de campo em Climatologia (Danni-

Oliveira, 2002)

O primeiro passo foi a etiquetação ou numeração dos aparelhos e em seguida dispostos

lado a lado (para facilitar a leitura dos mesmos), localizados em ambiente ventilado, abrigado

da insolação, chuva e de qualquer outra fonte de calor. Foram efetuadas sete leituras

simultâneas a cada 10 minutos, tendo iniciado a primeira leitura após os aparelhos estarem

todos posicionados e terem ficado em repouso por volta de 10 minutos (Quadro 1).

Quadro 1: Média horária das leituras (24/01/04):

Horário das medidas T-1Hora T UR T UR T UR T UR T UR

16:15h 33,1 48 33,3 47 36,4 44 33,9 46 34,2 4616:25h 33 51 32,9 51 37,6 47 33,9 49 34,3 5016:35h 33,1 51 33,4 51 37,6 46 34,1 48 34,5 4916:45h 32,9 50 32,9 50 36 46 33,8 48 33,9 4816:55h 32,9 50 32,8 50 37,6 46 33,6 48 34,2 4817:05h 32,6 50 32,6 50 37,4 46 33,4 48 34 4817:15h 32,6 51 32,6 52 35,4 48 33,1 50 33,4 50

T= Temperatura; UR= Umidade relativa

TermohigrômetrosT- s/n T-5 T-8 Média horária

Realizadas as anotações das temperaturas foi calculada a média das leituras efetuadas

em cada horário, considerado todos os aparelhos monitorados. Em seguida, foi calculado o

desvio da média horária apresentada por cada aparelho, conforme a expressão abaixo:

DA = LA - M1, onde:

DA é o desvio da temperatura registrada no aparelho A para o primeiro horário;

LA é a temperatura do aparelho A registrada no primeiro horário;

M1 é a média aritmética das temperaturas registradas em todos os termômetros no

primeiro horário de observação.

Para a correção dos dados obtidos em campo, foi somado o desvio médio encontrado

no respectivo aparelho às leituras do mesmo, caso o resultado deste desvio médio tenha sido

negativo, assinala que o aparelho está com temperaturas abaixo da média tomada como

referencia opera-se, então, a soma. Caso o desvio tenha sido positivo, opera-se o oposto, isto

2

é, subtrai-se o valor referente ao desvio médio em cada leitura efetuada em campo no

respectivo aparelho (Quadro 2)

Quadro 2: Desvios das médias dos termohigrômetros (24/01/04):

Horário das medidas T-1Hora T UR T UR T UR T UR

16:15h 1,1 -2 0,9 -1 -2,2 2 0,3 016:25h 1,3 -1 1,4 -1 -3,3 3 0,4 -116:35h 1,1 -2 0,8 -2 -3,1 3 0,4 -116:45h 1 -2 1 -2 -2,1 2 0,1 016:55h 1,3 -2 1,4 -2 -3,4 2 0,6 017:05h 1,4 -2 1,4 -2 -3,4 2 0,6 017:15h 0,8 -1 0,8 -2 -2 2 0,3 0

Média dos desvios 1,1 -2 1,1 -2 -2,8 2 0,4 0

T- s/n T-5 T-8Termohigrômetros

Concluído os desvios das médias, foi subtraído ou somado do valor “bruto” gerado em

campo, pela média dos desvios. Para ilustração foi tomando como exemplo o

termohigrômetro T – s/n que operou no transeto I (Bangu Av. Brasil), conforme quadro

abaixo:

Quadro 3: Correção dos dados brutos do T – s/n no Transeto I (Bangu-Av. Brasil) no episódio de

verão às 7h. da manhã:

Pontos Amostrais Km Hora "OUT" bruto "OUT" corrigido bruto corrigido1. Rua Marmiari - Fazenda do Viegas 0 07:00 27,1 26 70 722. Praça Francisco Dias - Ponto final do 393 0,8 3 27,9 26,8 68 703. R. Rio da Prata - Mercado Guanabara 1,3 5 28,4 27,3 67 694. R. Boiobi/Rua da Feira 2,3 8 28,1 27 66 685. Praça Raimundo Paz - Casino Bangu 3,1 11 28,8 27,7 66 686. R. Silva Cardoso/R. Profº Clemente Ferreira 3,6 13 29,1 28 66 687. Av. Santa Cruz - Estação de Bangu 4 15 29,4 28,3 66 688. R. Coronel Tamarindo - ponto de ônibus 5,7 18 28,9 27,8 64 669. R. Sul América 6,1 20 28,8 27,7 64 6610. Av. Ministro Ari Franco/R. Sainá 6,5 22 28,9 27,8 64 6611. Est. da Água Branca - I. B. Água Branca 7,1 25 28,9 27,8 65 6712. Estr. da Cancela Perta 8,5 29 28,4 27,3 64 6613. Av. Brasil 9,1 31 28,4 27,3 64 66

Temp. (ºC) Umidade Relativa (%)

1

ANEXO Q

Procedimento de aferição de instrumentos tomando como referência o termômetro padrão de

uma Estação Meteorológica (Fialho, 2002)

O primeiro passo foi tomar como referência um outro termômetro que se encontre

aferido, como o de uma estação meteorológica. A Estação meteorológica da UERJ (na cidade

de São Gonçalo/RJ) foi tomada como padrão e assim iniciado o procedimento para a

calibração dos instrumentos.

Leituras simultâneas, a cada 5 minutos em um espaço de tempo de 2 horas, foram

realizadas com o termômetro da estação na semana de cada transeto (vide simulação no

quadro 1). Foi estimado um espaço de 2 horas para se ter uma margem maior de variação das

temperaturas.

Quadro 1: Pares de medidas dos dois termômetros

hora 15:05 15:10 15:15 15:20 15:30 15:35 15:40 15:45 15:50 15:55 16:00 16:05termômetro da Estação 33 33 33,2 33 33 32,8 32,8 32,6 32,6 32,8 32,8 32,6Termohigrômetro 33,9 34,1 34,1 33,5 32,1 32,1 32,6 31,9 32,1 32,3 32,4 32,1

Com as leituras foi elaborado um gráfico com a dispersão linear dos registros entre os

dois termômetros (Gráfico 1) com o objetivo de corrigi-los, diminuindo a disparidade entre

os termômetros. Conforme é observado no gráfico os pontos encontram-se dispostos

linearmente, sugerindo uma relação linear entre as medidas.

Na equação da reta:

Y = 1,7902x – 26,089,

y representa a temperatura corrigida;

x é a temperatura registrada em campo;

2

R2 é o grau de “confiabilidade” da equação entre os dois termômetros, em que quanto mais

próximo ao valor 1, menor a discrepância entre os dados do termômetro da estação padrão e o

termômetro utilizado em campo.

Gráfico 1: Dispersão linear entre o termômetro da estação meteorológica de São Gonçalo (RJ) e o

termohigrômetro S/N

y = 1,7902x - 26,089R2 = 0,8263

29,5

30,0

30,5

31,0

31,5

32,0

32,5

33,0

33,5

34,0

34,5

31,0 31,5 32,0 32,5 33,0 33,5Termohigrômetro ºC

Term

omêt

ro d

a es

taçã

o ºC

Ts/n Linear (Ts/n)

Portanto, se a temperatura registrada em campo foi de 33,9ºC, quando aplicada à

fórmula, temos:

Y =1,7902 x 33,9 – 26,089 = 33,3ºC, sendo este o valor corrigido.

Apesar da precisão deste método, o valor corrigido demonstrou uma variância muito

grande em relação ao valor gerado em campo.

ANEXO R

Quadro com os dados brutos e corrigidos pelos dois métodos de correção para os quatros

transetos do episódio de inverno às 6h. da manhã:

Transeto I: Bangu-Av. Brasil T S/NPontos Amostrais OUT bruto OUT corrigido segundo Danni-Oliveira (2002) OUT corrigido segundo Fialho (2002)1. Rua Marmiari - Fazenda do Viegas 17,6 16,3 5,42. Praça Francisco Dias - Ponto final do 393 16,9 15,6 4,23. R. Rio da Prata - Mercado Guanabara 17,3 16 4,94. R. Boiobi/Rua da Feira 17,1 15,8 4,55. Praça Raimundo Paz - Casino Bangu 17,9 16,6 66. R. Silva Cardoso/R. Profº Clemente Ferreira 17,8 16,5 5,87. Av. Santa Cruz - Estação de Bangu 17,4 16,1 5,18. R. Coronel Tamarindo - ponto de ônibus 16,6 15,3 3,69. R. Sul América 16,9 15,6 4,210. Av. Ministro Ari Franco/R. Sainá 16,9 15,6 4,211. Est. da Água Branca - I. B. Água Branca 16,6 15,3 3,612. Estr. da Cancela Perta 16,4 15,1 3,313. Av. Brasil 16,8 15,5 4Transeto I: Bangu-Realengo T 05Pontos Amostrais OUT bruto OUT corrigido segundo Danni-Oliveira (2002) OUT corrigido segundo Fialho (2002)1. Rua Engenheiro Paula Lopes 23,9 28,6 19,72. Rua Engenheiro Pires Rebelo 23,9 28,6 19,73. Praça Lealdina Muniz 23,5 28,2 18,94. Praça Miguel Pedro/Rua da Usina 23,6 28,3 19,15. Rua Paris Viana 23,4 28,1 18,76. Praça Luis Pereira 23,6 28,3 19,17. Praça dos Abrolhos 22,9 27,6 17,78. Rua Ibitúva (Telemar) 22,9 27,6 17,79. Praça Padre Miguel 23 27,7 17,910. Praça do Canhão (Campo de Marte) 23,4 28,1 18,7Transeto III: Santa Cruz-Sepetiba T-08Pontos Amostrais OUT bruto OUT corrigido segundo Danni-Oliveira (2002) OUT corrigido segundo Fialho (2002)1. Estr. de Sepetiba/Estr. Cruz das Almas 17 15,4 7,82. Estr. de Sepetiba-Largo do Arão 17,1 15,5 7,93. Estr. de Sepetiba-Conj. Nova Sepetiba 17,1 15,5 7,94. Estr. do Piaí/R. Pedro Leitão 17,9 16,3 9,25. Rua da Floresta 17,9 16,3 9,26. Praia de Sepetiba 17,3 15,7 8,27. Rua do Iate 16,8 15,2 7,48. R. Aristides Gouveia (Hotel Chave de Ouro) 16,9 15,3 7,69. Praça 6 (ponto final do 870) 17,4 15,8 8,410. Praia do Recôncavo 17,4 15,8 8,411. Praia do Cardo 17,6 16 8,7Transeto IV: Santa Cruz-Av. Brasil T-07Pontos Amostrais OUT bruto OUT corrigido segundo Danni-Oliveira (2002) OUT corrigido segundo Fialho (2002)1. R. Felipe Cardoso 16,3 14,8 -7,32. R. Felipe Cardoso/Av. Eng. Gastão Rangel 15,3 13,8 -9,83. R. Felipe cardoso/Av. Antares 14,9 13,4 -10,74. R. Felipe Cardoso/Av. General Olímpio 15,3 13,8 -9,85. R. Felipe Cardoso/Av. Isabel 15,4 13,9 -9,56. R. Senador Camará 15,4 13,9 -9,57. Praça Ruão 15 13,5 -10,58. R. Senador Camará (Hospital Pedro II) 14,5 13 -11,79. Est. Morro do Ar/R. Horto Florestal 14,4 12,9 -1210. Est. Morro do Ar - Canal Cação Vermelho 14,3 12,8 -12,211. Est. do Morro do Ar - R. Sales 14,4 12,9 -1212. Av. Brasil - Extra 14,1 12,6 -12,7

Temperatura (ºC)

Temperatura (ºC)

Temperatura (ºC)

Temperatura (ºC)

Nota-se que tanto para os valores brutos quanto para os corrigidos pelos dois métodos,

o transeto II apresenta ampla diferença entre os valores de temperatura em relação aos outros

três transetos, chegando a ultrapassar os 10ºC. Embora a tabela exemplifique o episódio de

inverno, o mesmo se verificou no episódio de verão, o que conclui ser um defeito do

termohigrômetro 5.

ANEXO S

Tabela ilustrando a relação temperatura e intensidade da ilha de calor às 7h. da manhã no

Transeto I (Bangu-Av. Brasil) no episódio de verão:

Transeto I: Bangu-Av. Brasil Temperatura Ilha de calor

1. Rua Marmiari/Fazenda do Viegas 27,1 0

2. Praça Francisco Dias 27,9 0,8

3. Rua Rio da Prata 28,4 1,3

4. Rua Boiobi/Rua da Feira 28,1 1

5. Praça Raimundo Paz 28,8 1,7

6. Rua Silva Cardoso/Rua Profº Clemente Ferreira 29,1 2

7. Av. Santa Cruz 29,4 2,3

8. Rua Coronel Tamarindo 28,9 1,8

9. Rua Sul América 28,8 1,7

10. Av. Ministro Ary Franco/Rua Sainá 28,9 1,8

11. Estrada da Água Branca 28,9 1,8

12. Estrada da Cancela Preta 28,4 1,3

13. Av. Brasil 28,4 1,3

O exemplo acima indica que a menor temperatura foi espacializado no ponto 1, sendo

este o ponto “zero” (a “ilha de frescor”) e nos demais pontos oscilaram a intensidade da ilha

de calor, que espacializou a sua intensidade máxima no ponto 7 (2,3ºC).

1

ANEXO T

Cálculo da taxa de aquecimento e resfriamento para os pontos fixos

Os cálculos das taxas são apresentados com as seguintes fórmulas:

Taxa de aquecimento (TA): T(ma) – T(mb)/ih: h(ma) – h(mb);

Taxa de resfriamento (TR): T(ma) – T (h(um))/ih: h(um) – h(ma), onde:

T é a temperatura;

ma é temperatura mais alta;

mb é a temperatura mais baixa;

Ih é o intervalo de hora;

h é a hora, e

h(um) é a hora da última medição.

Tomando como exemplo o ponto A de Bangu no episódio de inverno, tem-se os

resultados, expostos no quadro abaixo:

Quadro 1: Ponto A – Bangu (episódio de inverno)

Horário Temnperatura08:00 18,109:00 19,710:00 21,711:00 24,312:00 23,313:00 23,714:00 25,115:00 25,116:00 24,117:00 23,118:00 20,319:00 20,120:00 21,1

Taxa de aquecimento: 25,1-18,1/14-8 = 7/6 = 1,2

Taxa de resfriamento: 25,1-21,1/20-14 = 4/6 = 0,7

2

Cálculo da taxa de aquecimento e resfriamento para os pontos móveis

A obtenção da taxa de aquecimento se dá pela subtração da temperatura da segunda

medida (13h.) pela primeira (6h.), dividido pelo intervalo de horas (7 horas). As taxas de

resfriamento são obtidas pela subtração entre a temperatura da segunda media (13h.) pela

terceira (20h.), dividido pelo intervalo de horas (7 horas). Assim, se tem as seguintes

fórmulas:

Taxa de aquecimento (TA): T(2) – T(1)/ih: h(2) – h(1);

Taxa de resfriamento (TR): T(2) – T(3)/ih: h(3) – h(2), onde:

T (1, 2 e 3) é a temperatura do primeiro (6h.), segundo (13h.) e terceiro horário (20h.),

respectivamente;

Ih é o intervalo de hora, e

h (1, 2 e 3) é o primeiro (6h.), segundo (13h.) e terceiro horário (20h.), respectivamente.

Tomamos como exemplo, o ponto 1 do transeto I (Bangu-Av. Brasil) no episódio de

inverno, indicado abaixo (no quadro 2).

Quadro 2: Ponto 1 (Rua Marmiari - Fazenda do Viegas) – Transeto I (Bangu Av. Brasil) no

episódio de inverno:

Horário Temnperatura06:00 16,313:00 29,720:00 21,5

Taxa de aquecimento: 29,7-16,3/13-6 = 13,4/7 = 1,9

Taxa de resfriamento: 29,7-21,5/20-13 = 8,2/7 = 1,2

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