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11 Universidade do Minho Instituto de Ciências Sociais Andreia Isabel Teixeira Freitas (Re)apresentações do jornalismo na era digital: o caso do V Digital Relatório de estágio Mestrado em Ciências da Comunicação Informação e Jornalismo Trabalho realizado sob a orientação da Professora Doutora Sandra Marinho outubro de 2019

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Universidade do Minho

Instituto de Ciências Sociais

Andreia Isabel Teixeira Freitas

(Re)apresentações do jornalismo na era

digital: o caso do V Digital

Relatório de estágio

Mestrado em Ciências da Comunicação

Informação e Jornalismo

Trabalho realizado sob a orientação da

Professora Doutora Sandra Marinho

outubro de 2019

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DIREITOS DE AUTOR E CONDIÇÕES DE UTILIZAÇÃO DO TRABALHO POR TERCEIROS

Este é um trabalho académico que pode ser utilizado por terceiros desde que respeitadas as regras

e boas práticas internacionalmente aceites, no que concerne aos direitos de autor e direitos

conexos.

Assim, o presente trabalho pode ser utilizado nos termos previstos na licença abaixo indicada.

Caso o utilizador necessite de permissão para poder fazer um uso do trabalho em condições não

previstas no licenciamento indicado, deverá contactar o autor, através do RepositóriUM da

Universidade do Minho.

Atribuição-NãoComercial-CompartilhaIgual CC BY-NC-SA

https://creativecommons.org/licenses/by-nc-sa/4.0/

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Agradecimentos

Foi uma caminhada longa e difícil. Um ano de acontecimentos inesperados que fizeram mudar

prioridades. A ti, mãe, obrigada por não teres desistido de lutar pela tua vida. Deste-me força

para terminar esta tese, até porque, que moral tinha eu em desistir deste pequeno desafio,

depois de tudo o que enfrentaste? Nenhuma! A força de uma filha vê-se pela coragem de uma

mãe.

Mas também seria impossível estas duas mulheres terem conseguido enfrentar estas

intempéries sem um grande homem. O pilar da minha vida, o sábio das palavras. E se vim até à

Universidade do Minho fazer este mestrado, na esperança de um bom emprego, a ti o devo.

Porque sempre me apoiaste e incentivaste a lutar por um bom futuro e a não ficar parada, tal

como tu fizeste por nós. A garra que tenho é tua e espero um dia vir a orgulhar-te como eu de ti.

Obrigada Joana, por teres sido das poucas pessoas que tirou um pouco do seu tempo, mesmo

perante a azáfama diária, para ler este relatório. Soubeste dar os conselhos certos, o carinho

necessário. Mas não esperava outra coisa pois uma irmã, na pura essência da palavra, fá-lo

assim mesmo. E tu honras bem esta palavra. Obrigada também por me dares, juntamente com

o Bruno, um afilhado, capaz de me fazer soltar sorrisos, mesmo quando não tinha vontade de o

fazer.

A ti, Carlos, pela compreensão das longas ausências, das palavras tensas e incapacidade em

lidar com todas as etapas (longas) deste relatório. Permitiste que o “nós” ficasse em segundo

lugar para que eu cumprisse um sonho que espero que venha a ser-nos útil.

Á minha orientadora, Sandra Marinho, por ter feito a orientação que precisei, e que foi muita.

Estou grata pelo voto de confiança, pelas opiniões, pelo cuidado ao proferir as críticas

construtivas e pela grande experiência que me proporcionou. Até porque, sem o seu

acompanhamento, nada disto teria sido possível.

Por fim, a toda a equipa do V Digital. Foi a melhor equipa de trabalho por onde passei até hoje.

Uma equipa jovem, que se respeitava, que sabia ser amiga, companheira e acolhedora também.

Ensinaram-me que o online pode ser muito bonito quando bem trabalhado em equipa, e foi

nesta casa que aprendi o verdadeiro significado desta tão bonita palavra. Estou-vos eternamente

grata e vou levar comigo, seja eu jornalista, ou até funcionária de outro ramo, os vossos

ensinamentos.

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DECLARAÇÃO DE INTEGRIDADE

Declaro ter atuado com integridade na elaboração do presente trabalho académico e confirmo que

não recorri à prática de plágio nem a qualquer forma de utilização indevida ou falsificação de

informações ou resultados em nenhuma das etapas conducente à sua elaboração.

Mais declaro que conheço e que respeitei o Código de Conduta Ética da Universidade do Minho.

Também declaro aqui que tive o consentimento para a recolha de dados e identificação de todos

os que se encontram citados neste documento.

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(Re)apresentações do jornalismo na era digital: o caso do V Digital

Resumo:

Entender a evolução tecnológica implica olhar para as suas implicações na sociedade. O

jornalismo é parte integrante da comunidade humana já que não só se baseia naquilo que

acontece no quotidiano, como também influencia o dia a dia dos que o integram. Com o crescente

conhecimento e domínio das potencialidades do meio online, o jornalismo mudou. Por um lado,

alterou-se no que concerne à forma, deixando de ser apenas um meio para o leitor aceder àquilo

que já tinha visto na versão impressa, nas televisões ou ouvido nas rádios. Alteraram-se também

as formas de alcançar a informação, com o emergir de novas fontes de informação, que chegam

de todo o lado, desde os motores de busca e redes sociais. E um deles poderá estar associado à

necessidade dos média de publicar primeiro o que, muitas vezes, faz com que veiculem

informação pouco rigorosa e verificada, e tem desencadeado a crescente proliferação do trabalho

de agências nas notícias. No meio deste turbilhão de mudanças desencadeadas pelo online,

emergem novos projetos. Num grupo onde já existia um pouco de tudo, a Global Media Group,

sentiu necessidade de mais vídeo e de ter um canal dedicado às notícias morosas e explicativas,

longe da atualidade. Em 2018 chegou o V Digital. É toda esta necessidade de criação de um novo

meio, assim como a sua viabilidade no mercado, que tentaremos compreender neste relatório.

Este órgão de comunicação foi cedendo às preferências de um leitor habituado ao imediato e ao

valor-notícia do entretenimento. Com ele, mudaram-se as rotinas dos jornalistas e, assim, muitos

deles despediram-se e, no fim, muitos foram despedidos, num projeto que terminou, pelo menos,

naquilo que foi a sua essência: explicar os fenómenos aos leitores através de conteúdos híbridos

e novas formas de comunicar. Para perceber até que ponto o online está a mudar o jornalismo e

as rotinas dos jornalistas, foi levado a cabo um estudo de caso, tendo por base o V Digital, local

de estágio, através da observação participante.

Palavras-Chave: Online; Rotinas de produção de notícias; V Digital; Webjornalismo;

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Abstract

Re(presentations) of journalism in the digital age: the case of the Digital V

Understanding technological evolution means looking at its implications for society. Journalism is

as integral part of the human community because it is not only based on what happens in everyday

life, but it also influences the daily lives of its members. Along with the growing knowledge and the

dominium of the online world potentialities, journalism has changed. On one hand, the form has

changed, being no more just a way to reach what the reader had already seen on the printed

version, on televisions or heard on the radio. The ways to reach information have also changed,

along with the emergence of new sources of information, that come from everywhere, from the

internet search engine and social networks. Along with consummate knowledge of online

capabilities, risk awareness increases. These may be associated with the need for media

publishing, which often causes publication of bit of strictly and verified information, as well as a

growing proliferation of news agency work. In the midst of this spate of changes triggered by online,

new projects emerge. In a group where there was a little bit of everything, a Global Media Group

felt the need for more video and for a channel dedicated to time-consuming and explanatory news,

far from the present time. In 2018 the V digital arrives. It’s the need to create a new means, as

well as its market viability, that we will try to understand in this report. This media has been giving

in to the preferences of a reader accustomed to the immediate consumption and news value of

entertainment. Along with it, the journalists routines have also changed and so, many of them

quited their jobs and, in the end, many others were fired, in a project that ended, at least, in what

was its essence: to explain the phenomena to readers through hybrid contents and new ways of

communicating. To understand the extent to which online is changing journalism and journalists'

routines, a case study was conducted, based on the digital V, place of internship, through

participant observation.

Key words: online; news production routines; V Digital; Webjournalism

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Índice

Índice de figuras ....................................................................................................................... ix

Introdução .............................................................................................................................. 11

Capítulo 1 – A experiência de estágio ...................................................................................... 15

1.1. Apresentação da empresa V Digital .......................................................................... 16

1.2. Uma reestruturação em três meses ......................................................................... 18

1.3. A mudança na “forma de ver o mundo” após três meses ......................................... 19

1.4. O estágio como uma realidade impactante .............................................................. 23

1.5. A adaptação à linguagem V Digital ........................................................................... 25

1.6. A primeira aventura: a alavanca para o jornalismo no terreno................................... 32

1.7. O dia a dia no V Digital ............................................................................................ 35

1.8. As reportagens no terreno ....................................................................................... 37

1.8.1. As dificuldades na adaptação à linguagem/ caraterísticas online .............................. 37

1.8.2. As potencialidades e riscos das entrevistas .............................................................. 38

1.8.3. Quem decide o que é notícia: jornal, jornalista ou entrevistado? ............................... 40

1.9. A produção de notícias pré-fabricadas e a decadência do trabalho autónomo do jornalista

42

1.10. As notícias de agenda… que saltam da agenda ........................................................ 44

1.11. A procura por um jornalismo multitasking como consequência da quebra de receitas46

1.12 Em Síntese ..................................................................................................................... 50

Capítulo 2- Enquadramento Teórico ........................................................................................ 53

2.1. Caraterísticas do meio online ................................................................................... 53

2.1.1 A hipertextualidade ....................................................................................................... 55

2.1.2 A multimedialidade ....................................................................................................... 57

2.1.3 A interatividade ............................................................................................................. 58

2.1.4. A instantaneidade ......................................................................................................... 62

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2.1.5 A personalização ........................................................................................................... 64

2.1.6 A ubiquidade ................................................................................................................. 68

2.2. O online como potenciador do fenómeno da hibridez ............................................... 70

2.3. O jornalismo multitasking ........................................................................................ 75

2.4. Rotinas de produção de informação ......................................................................... 78

2.5. Tipologia das fontes de informação .......................................................................... 82

2.6. Valores-notícia no online .......................................................................................... 86

2.7. Consumo dos média e modelos de negócio ............................................................. 89

3.2. Opções epistemológicas .................................................................................................. 98

3.4. Observação como técnica .............................................................................................. 103

3.5. A entrevista ................................................................................................................... 105

4. Análise dos dados ............................................................................................................ 109

4.1. Os dados da observação participante ............................................................................. 109

4.1.1. De que modo é organizada a produção jornalística? .................................................... 109

4.1.2. Quais as fontes de informação valorizadas? ........................................................... 114

4.1.3. Qual a predominância de conteúdos pré-fabricados? .............................................. 122

4.1.4. Qual a interatividade entre o cidadão e os jornalistas no V Digital? .......................... 124

4.1.5. Quais as características do webjornalismo presentes nos conteúdos do V Digital? ... 125

a) Hipertextualidade .................................................................................................. 125

b) Personalização ...................................................................................................... 127

c) Multimedialidade ................................................................................................... 128

d) Instantaneidade ..................................................................................................... 129

e) Simultaneidade/ubiquidade ................................................................................... 130

f) Interatividade..................................................................................................................... 131

4.1.6. Qual o valor-notícia mais valorizado? ...................................................................... 133

4.1.7. Qual o papel do jornalista nas rotinas de produção jornalística? .............................. 139

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Conclusões ........................................................................................................................... 141

Referências Bibliográficas: .................................................................................................... 146

Índice de figuras

Figura 1: Comparação entre interação do conteúdo em V Digital e Jornal de Notícias .............. 20

Figura 2: Estatísticas de site V Digital acedidas no dia 13 de setembro de 2018. Fonte: NewsGenX

.............................................................................................................................................. 21

Figura 3: Comparação entre interação do conteúdo em V Digital e Jornal de Notícias, em 11 de

setembro Fonte: NewsGenX .................................................................................................... 21

Figura 4: Os 10 mandamentos do V Digital ............................................................................. 27

Figura 5: A hibridez das linguagens na televisão ...................................................................... 29

Figura 6: Hibridez das linguagens no V Digital ......................................................................... 30

Figura 7: Comparação do olhar do entrevistado entre reportagens da TVI e V Digital ................ 31

Figura 8: Processo de criação de conteúdos com hipertexto .................................................... 56

Figura 9: Notícias publicadas em jornais tendo por base o trabalho das Relações Públicas (Fonte:

Lewis, Williams & Franklin, 2008, p. 7). .................................................................................. 80

Figura 10: Valores notícia, segundo Nelson Traquina, 2005) ................................................... 88

Figura 11: Infográfico sobre o uso regular da Internet .............................................................. 90

Figura 12: Infográfico dos conteúdos mais vistos em Portugal ................................................. 92

Figura 13: Notícias publicadas através da fonte Lusa sem hiperligações ................................ 126

Figura 14: Ausência de hipertexto nos conteúdos V Digital ..................................................... 127

Figura 15: Personalização nos conteúdos do V Digital ........................................................... 128

Figura 16: Exemplo de conteúdo para análise de caraterísticas online ................................... 131

Figura 17: Audiências de três dias diferentes no V Digital ...................................................... 132

Figura 18: Um dos conteúdos com mais interação no V Digital .............................................. 134

Figura 19: Relatório de visualizações de “O desafio deste verão? Virar o biquíni ao contrário” 135

Figura 20: Exemplo de notícia publicada oriunda da agência Lusa ......................................... 138

Figura 21: Exemplo de hibridez das linguagens ..................................................................... 139

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x

Índice de gráficos

Gráfico 1: Análise quantitativa às reuniões de planeamento de 27 de julho a 21 de setembro de

2018 .................................................................................................................................... 110

Gráfico 2: Tipologia das fontes de informação ....................................................................... 115

Gráfico 3: Predominância de agências de notícias como fontes de informação ....................... 117

Gráfico 4 Número de fontes consultadas por notícia .............................................................. 123

Gráfico 5: Número de visualizações de: "O desafio deste verão? Virar o biquíni ao contrário" . 134

Índice de tabelas

Tabela 1: Percentagem de acessos por meio em Portugal, segundo dados de Digital News Report,

2019 ...................................................................................................................................... 91

Tabela 2: Guião de observação ............................................................................................. 103

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Introdução

Em julho de 2018, surgiu a oportunidade de integrar a equipa do canal da Global Media Group

(GMG) mais recente: o V Digital. Embora soubesse que um novo meio de comunicação poderia

acarretar instabilidade para a realização de um estágio, arrisquei. E fi-lo precisamente por acreditar

nas oportunidades de um meio totalmente online, em que o vídeo era a forma de comunicação

mais frequente, aliado ao facto de estar ainda numa fase ainda embrionária. E assim foi. A 2 de

julho de 2018, entrei com o pé direito na sede do Porto da GMG. Esse foi o passo que determinou

três meses ricos em experiências.

Se, por um lado, estar neste recém-criado órgão de comunicação social proporcionou grandes

experiências laborais – tendo em conta a falta de mão-de-obra e recursos, naturais num novo

projeto – também motivou reflexões acerca do paradigma da comunicação e dos modelos de

negócio atuais. No momento em que iniciei o meu estágio, a equipa era constituída por mais de

20 profissionais. Em abril de 2019, a maioria dos contratos foi rescindida, sendo a grande parte

de jornalistas com quem trabalhei. Em menos de um ano, o canal de vídeo da GMG estava a

alterar-se de tal forma que não só se mudou a grelha de programação, como também a equipa.

Ora, tais mudanças significavam que alguma coisa não estava a correr de acordo com as

expetativas da direção. Assisti a essas transformações e vivi mergulhada nelas. Os momentos de

instabilidade que a equipa atravessou foram imensos e isso afetou o meu estágio. Não que tenha

sido uma estagiária sem trabalho, mas fui levada a refletir sobre várias questões em torno da

profissão que tinha escolhido.

Porquê tanta mudança em tão pouco tempo? Esta foi a minha pergunta durante o estágio, e que

persistiu também durante a redação deste relatório, até porque foram aparecendo respostas até

ao último dia em que o mesmo foi escrito. Perceber o que, aparentemente, motivou alterações

editoriais era uma ambição. Desde julho de 2018 que comecei a observar a linha editorial que

tinha sido delineada, acompanhando todo o caminho até ao resultado que em abril de 2019 já se

via nos ecrãs. Muitas foram as horas a observar, a escutar, a escrever, para além das tarefas

diárias que me calhavam. Essas mostraram-se o fator motivador para dar o meu melhor durante

o estágio. Isto porque as reportagens do V Digital eram distintas daquilo que estava habituada a

ver e a produzir. O conceito de hibridez das linguagens que aprendera durante o mestrado em

Informação e Jornalismo na Universidade do Minho aplicava-se, a meu ver, na perfeição. Assim

como o de construção de narrativas que tanto foi discutido nas aulas de Narrativas Jornalísticas.

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Mas as peças jornalísticas que foram por mim produzidas espoletaram igualmente curiosidades

que considerei serem merecedoras de um olhar atento. Refiro-me ao facto de a maioria do trabalho

por mim desenvolvido ser baseado em conteúdos que já chegavam à redação “pré-fabricados”,

isto é, quase prontos a publicar. A maior parte dos dias era passada dentro da redação, em frente

ao computador, a trabalhar sobre esses conteúdos que nos iam chegando através de agências.

Nesses, era-me pedido que efetuasse a verificação da veracidade da informação – ainda que pouco

frequente – e que fizesse a tradução dos textos que, muitas vezes, chegavam em outras línguas.

Produzir informação para um canal que vive sobretudo de imagem requer conhecimentos sobre o

manuseamento de vídeos e imagens, mas não só. Também emergiu a necessidade de saber como

aliar a linguagem sonora e textual à visual. Ou seja, era necessário conseguir articular as várias

linguagens, para que as debilidades de cada uma fossem colmatadas. O V Digital vivia, assim,

desta hibridez. E isso viu-se ainda mais nos trabalhos em que saí para o terreno. Foram muitas as

reportagens que produzi em que senti necessidade de ter uma maior sensibilidade para a

construção de uma narrativa em vídeo. Embora não tivesse de filmar – até porque o conceito de

multitasking não se aplicou no meu estágio – era eu quem delineava como contar a história. Em

alguns programas do V Digital em que fui o rosto, colocaram-me em mãos autênticos desafios,

tais como idealizar os grafismos que iriam animar a reportagem. Isso significava, por exemplo,

que, enquanto fazia o pivô, teria de imaginar uns bonecos a saltar do lado direito. Toda esta

experiência foi enriquecedora, pois, além de perceber o muito que ainda tinha para aprender,

ganhei mais sensibilidade para o mundo do vídeo.

Ainda que considerasse que o V Digital tinha efetivamente qualidade na informação que partilhava

com os seus leitores, o certo é que a audiência se manifestava pequena tendo em conta as

expetativas da direção. Os conteúdos eram gratuitos e percebia-se que a fonte de receita do canal

advinha da publicidade que era feita. Os editores de vídeo eram os que mais contribuíam para tal,

isto porque nenhum dos jornalistas que trabalhava diariamente no canal fazia programas

publicitários. Nesses, havia sempre um apresentador convidado.

Tendo em conta toda esta conjuntura, considerou-se pertinente analisar, neste relatório de estágio,

a forma como o jornalismo online tem vindo a mudar as rotinas de produção jornalística e o

jornalismo. Para tal, observou-se, de forma sistemática, as rotinas de produção jornalística, desde

o surgimento dos factos, a todo o processo de apuramento dos mesmos, até à fase em que tais

chegavam aos leitores através da plataforma online. Para tal, considerou-se importante tentar

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descobrir qual o papel do jornalista em todo este processo de produção jornalística online, perante

todas as atuais potencialidades do meio, mas também exigências, tendo sempre por base todo o

estudo de caso do V Digital.

Com isto, espera-se contribuir para um maior conhecimento das atuais rotinas de produção do

jornalismo, dos problemas subjacentes e equacionar possíveis soluções, tendo em conta o

panorama nacional dos meios de comunicação social.

Num primeiro momento, este relatório de estágio dá conta da realidade da empresa, aquando da

sua fundação, cruzando-a com as mudanças de que foi alvo. Tendo em conta que este relatório

se baseia num estágio curricular, relatar-se-á as vivências mais marcantes, os desafios, as

dificuldades e aprendizagens. Em toda esta descrição, tentou-se verificar o que a teoria tem vindo

a dizer sobre alguns aspetos que foram vivenciados na minha experiência de estágio, com o

objetivo de retirar reflexões.

De seguida, há um enquadramento teórico mais aprofundado que abordou temas que se

evidenciaram pertinentes durante a experiência de estágio. Além disso, este enquadramento serviu

de base à grelha aplicada no período de observação do estágio. Neste ponto, tentou-se entender

quais as caraterísticas do jornalismo online, as estratégias da comunicação neste meio, assim

como práticas de recolha e tratamento da informação. Perante a conjuntura que o V Digital

atravessou nos primeiros meses de 2019, houve ainda espaço para averiguar o que dizem os

teóricos sobre os modelos de negócio dos jornais atuais, nomeadamente online.

Depois desse enquadramento, define-se a metodologia adotada para um estudo empírico. Nesse

capítulo, será abordada a discussão dos dados que foram recolhidos durante os três meses de

estágio, através de observação contínua e participante. Assim, foi levado a cabo um estudo de

caso a fim de compreender as rotinas de produção do V Digital, comprovado com dados concretos

aquilo que foi falado ao longo do relatório de estágio, cruzando esses mesmos dados com o já

comprovado com a teoria existente sobre os componentes analisados.

Depois de, no capítulo 1, se descrever toda a experiência de estágio; no capítulo 2, fazer-se o

levantamento da teoria existente sobre as questões a investigar; de se mostrar o caminho da

investigação, no capítulo 3, e implementar-se o trabalho empírico no capítulo 4, espera-se

conseguir: a) analisar a produção noticiosa no V Digital; b) compreender de que modo estão

patentes as características do webjornalismo neste canal; c) analisar a predominância de

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conteúdos pré-fabricados num meio de comunicação que se propôs a explicar os fenómenos com

rigor e verificação de informação; d) verificar as linguagens predominantes no canal online; e)

percecionar o papel do jornalista no processo de produção das notícias.

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Capítulo 1 – A experiência de estágio

A primeira fase deste relatório é dedicada a explicar o que era o V Digital no momento em que

entrei na redação, em julho de 2018. Mas tendo em conta as alterações que o canal da GMG

atravessou três meses após a sua fundação, com a mudança de diretor, foi feito um contraponto

entre o que era e no que se transformou este meio de comunicação.

Seguidamente, faz-se um relato detalhado da minha experiência enquanto estagiária. Com este

relato, espera-se conseguir mostrar o que era o V digital enquanto permaneci dentro daquela

redação. A adaptação a um órgão de comunicação é sempre difícil, mas neste caso foi mais do

que o esperado. Isto porque o canal tinha acabado de entrar no ar e isso fazia com que faltasse

tempo à redação para me explicar quais as tarefas a desenvolver durante o estágio. Com tempo e

persistência, a situação foi ficando mais fácil e até fui colocada no terreno a fazer entrevistas dois

dias, após ter entrado naquela redação. Mas nem sempre as reportagens aconteciam no terreno.

Esse trabalho integrou uma pequena parte dos três meses. Embora fosse mais fácil ficar sentada

na redação a trabalhar os conteúdos pré-fabricados, o certo é que foi nas produções em que saí

da secretária que estiveram as maiores aprendizagens e também dificuldades. Esta decadência

do trabalho autónomo do jornalista, bem como a dependência das agências, será um dos pontos

de reflexão. Também a linguagem do V Digital era distinta dos meios de comunicação onde já

tinha estado, o que consequentemente exigiu grande preparação para ir para o terreno e,

posteriormente, tratar os dados recolhidos. Por esse motivo, será explicada a dificuldade em torno

desta nova linguagem, assim como as suas potencialidades. Todas as sextas-feiras decorria uma

reunião de planeamento que delineava o trabalho semanal da redação. Era definida a publicação

de conteúdo exclusivo do canal – ou seja, feito totalmente a partir do trabalho da redação e longe

dos press release. Mas constatou-se, através da observação assistemática, que a maioria dos

planeamentos não eram cumpridos. Por fim, e porque esse incumprimento poderia estar

relacionado com a falta de recursos humanos, procurou-se perceber se neste canal havia a prática

do jornalismo multitasking como consequência da quebra de receitas.

Deste modo, além de se procurar neste capítulo explicar a experiência de estágio, pretende-se

também lançar um olhar crítico sobre o que foi desenvolvido e uma consequente reflexão acerca

de cada situação vivenciada.

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1.1. Apresentação da empresa V Digital

O V Digital foi o “novo bebé” da Global Media Group (GMG), a empresa que detém meios de

comunicação, como o Jornal de Notícias, o Diário de Notícias, TSF e O Jogo. Mas o V Digital era

“uma nova forma de ver esse mundo”, tendo em conta que o objetivo passava por, mais do que

informar os leitores sobre o que se passa no mundo, explicar os fenómenos 1.

Entrou no ar a 26 de maio e era um canal digital de vídeo que estava disponível através do

telemóvel ou do computador e que pretendia um dia chegar à televisão. A ideia emergiu da

ausência de uma televisão neste grupo de comunicação social e da perceção de que teria grande

potencialidade. Em contrapartida, mais do que uma televisão, decidiram criar um canal de vídeo

online, devido às preferências do público no que concerne ao consumo de notícias online (Cardoso,

2018).

David Pontes, o primeiro diretor do órgão de comunicação, projetou as suas ideias e criou um

grupo de “visionários”. A equipa era constituída por 20 pessoas e contava ainda com o contributo

de 14 marcas do grupo. Estas marcas contribuíram para que o V Digital partilhasse nas

plataformas online destas 14 marcas os seus conteúdos, de modo a conseguir alcançar mais

visibilidade no mercado. Há também o processo inverso em que, sempre que os conteúdos dos

outros meios do grupo cumpriam os critérios de noticiabilidade do V Digital, eram partilhados por

este meio de comunicação. No site era possível aceder a reportagens, programas, documentários,

podcasts, alertas ou “à simples espuma dos dias” (Cardoso, 2018, §2). Ou seja, o novo projeto

tinha conteúdos de produção autónoma ou desenvolvidos em parceria com as marcas GMG. O

canal contemplava uma oferta variada de conteúdos, pensados para o consumo móvel e para as

plataformas digitais. Afirma ainda ter conteúdos para todos os públicos, desde os mais jovens aos

mais velhos, “com fontes fidedignas e de referência”2.

“A informação passará por aqui, com uma leitura inédita e pertinente das notícias”, afirmava a

jornalista Ana Sofia Pinto, no vídeo de apresentação do canal digital. A editoria do canal pretendia,

mais do que mostrar o que está a acontecer (tal como os outros meios de comunicação do grupo),

explicar o que estava a acontecer no país e no mundo. Os vídeos seriam levados até ao leitor

através das redes sociais, YouTube, site e aplicação albergam produções, quer exclusivas do V

Digital, quer os vídeos produzidos pelo restante grupo.

1 Informação retirada do site: https://www.voltaaomundo.pt/2018/05/26/global-media-group-lanca-novo-casal-de-video/noticias/351546/ 2 Informações retiradas da notícia disponível em: https://www.dinheirovivo.pt/empresas/v-um-projeto-de-video-no-digital-para-respirar-mais-fundo/

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“No V, promete-se ver a atualidade que marca a ordem dos dias, de forma alheia às grelhas e

programações, sem compromisso, mas com a garantia da linguagem usada no mundo digital”: é

assim que o canal se apresentava no comunicado do grupo de comunicação 3. David Pontes

defendia a existência de “um cansaço das pessoas quer em relação às marcas digitais, ao

clickbait, quer em relação à informação constantemente atualizada”, como se pode ler na notícia

publicada online no jornal Dinheiro Vivo. “Temos uma variedade de conteúdos que vão desde a

informação ao entretenimento, que se calhar, de outra maneira, as pessoas tinham de pescar de

plataforma em plataforma ou de rede social em rede social”, explicou.

A equipa pretendia criar a sua própria forma de “contar o mundo”, criando uma personalidade,

de modo a não serem vistos como um canal “agregador de vídeos”. Em entrevista ao Dinheiro

Vivo, David Pontes, que manteve as suas funções como diretor até julho de 2018, disse que o

projeto pretendia “fazer diferente do processo de televisão: diretos em cima de diretos, e muitas

peças construídas com talking heads e planos de corte”, algo que não é o desejado pelo

consumidor do online, garantia. O objetivo inicial do projeto passava pela tentativa de equilibrar o

volume de produção de vídeos ligados à atualidade, mas também daqueles que vão para além

dela, como o entretenimento. David Pontes rejeitava a ideia de que o V Digital fosse um agregador

de vídeos, à semelhança do YouTube, mas não rejeitava “ir buscar público a essas plataformas”,

até porque considerava que o canal daria conteúdos de borla a quem “roubou receitas

publicitárias”. O novo projeto assinala também a ambição do GMG no vídeo digital: “Há quatro

anos iniciámos a liderança no digital e agora estamos a iniciar a liderança no vídeo, é essa nossa

ambição, em todas as plataformas de vídeo”, dizia Luís Ferreira, diretor-geral comercial do GMG.

A ideia era retirar o que de melhor produziam as outras marcas do grupo e construir conteúdos

novos a partir desses. O objetivo era, também, levar o V Digital para plataformas Over the Top

(OTT) e smartTV 4.

3 Citação retirada de comunicado interno enviado pela Global Media Group, a 10 de julho de 2018, aquando da mudança oficial de direção do V Digital 4 Citação retirada de comunicado interno enviado pela Global Media Group, a 17 de setembro de 2018, aquando da mudança oficial de direção do V Digital

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1.2. Uma reestruturação em três meses

Três meses após a sua primeira exibição, a direção do V Digital sofreu alterações. A 11 de julho,

a redação recebeu a notícia de que David Pontes tinha deixado a direção do canal para assumir o

cargo de diretor-adjunto do Público.5 Os meses que se seguiram foram de remodelações na

redação do V. Também o editor de redação de Lisboa, Pedro Rios, aceitou uma proposta de

trabalho no Público e um mês depois, outra das jornalistas, Teresa Abecasis, saiu igualmente do

V Digital, juntando-se à equipa de David Pontes. Em setembro, juntou-se ao V Digital José Machado,

ex-assessor da direção na empresa Produções Fictícias, com o objetivo de fomentar a

internacionalização da marca.

Depois disto, os meses seguintes foram de grande instabilidade. No entanto, trouxeram uma nova

visão para o futuro do canal. Se o local para onde fui estagiar foi criado para explicar os fenómenos

descritos pelos outros meios de informação do grupo, com esta mudança passou a estar ligado

ao entretenimento e a desprender-se da informação.

A esta equipa, mais reduzida, juntaram-se dois novos rostos: Daniel Deusdado, antigo diretor de

programação da RTP, e Sérgio Sousa, animador da Rádio Nova e colaborador em vários programas

da RTP.. A direção continuou a contar com os membros de direção Pedro Tadeu, diretor adjunto,

da Global Media Play, e Hugo Correia, subdiretor do V Digital. A comissão executiva informou

oficialmente o grupo, no dia 17 de setembro, de que Daniel Deusdado seria o novo responsável

pela área vídeo da Global Media Play, unidade de produção de vídeo da GMG. “A estratégia passa

por gerir entre o acesso básico e acesso premium e, em consequência, produzir conteúdos que

elevem a fasquia do que habitualmente se faz na Internet”, defendia Daniel Deusdado, via

comunicado de imprensa.

A Global Media Play foi criada em Janeiro de 2018 dentro da Direção de Novos Negócios e

Internacionalização – liderada por João Moraes Palmeiro -, sendo o braço operacional deste

subgrupo da GMG para os conteúdos vídeo de internet e televisão. Com o intercâmbio de

conteúdos entre as marcas do grupo (nas quais o V Digitais estava incluído) conseguiu-se alcançar

um público maior, por força do número de leitores que plataformas como o JN possuíam, ao

contrário do V Digital que estava no mercado há três meses.

5 As informações referentes a esta mudança patentes neste ponto foram baseadas na experiência de estágio, bem como no comunicado de imprensa enviado pela Global Media Group, a 27 de setembro de 2018

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1.3. A mudança na “forma de ver o mundo” após três meses

Com a nova direção, o V passou a ter novas práticas. Começou por diminuir o número de notícias

que eram construídas a partir do Wibbitz, uma plataforma que disponibiliza conteúdos aos

assinantes do seu serviço. Afastou-se gradualmente daquilo que era atualidade e passou-se a

produzir maioritariamente entretenimento. A direção informou durante vários meses sobre a

implementação de uma nova grelha de programação que, até março de 2019, nunca foi

apresentada. Ao mesmo tempo, os jornalistas começaram a ver os seus contratos terminados com

o V Digital e obrigados a procurar emprego noutro lugar. A incerteza do que viria a ser o V Digital

era constante, principalmente pelo facto de dispensarem os jornalistas.

O V Digital era um projeto recente que, apesar de ter nascido no seio de um grande grupo, arrancou

de forma lenta e isso observava-se pelos números baixos de leitores que manteve durante, pelo

menos, um ano. Segundo a gestora das redes sociais, Sara Ribeiro, “uma marca nova deve ser

bem comunicada, seguindo um plano definido - especialmente quando há a possibilidade de

utilizar outras marcas do grupo como meios de divulgação” (entrevista pessoal, 11 de outubro de

2018). Mas quem acompanhou o início do V Digital, bem como quem chegou posteriormente,

como no meu caso, percebe que não foi o que aconteceu com este órgão de comunicação.

Quando se nasce no digital e com uma aplicação própria, não é benéfico para a marca que a

aplicação não funcione corretamente e era isso que estava a acontecer: desde vídeos que não

abriam, desde à morosidade de outros até que começassem a reproduzir. A imagem que passava

aos curiosos que iam, pela primeira vez, ver os conteúdos (e não conseguiam) não era, de todo,

positiva. Os números do V Digital “eram muito baixos, reflexo da quase inexistência do V, que não

foi comunicado e, por isso, parece que não existe”, salienta a gestora das redes sociais (entrevista

pessoal, 11 de outubro de 2018).

Os acessos diários rondavam os 15 mil por dia em outubro, valores baixos em comparação com

os demais órgãos de comunicação do grupo. Estes números foram consequência dos múltiplos

altos e baixos por que passou a empresa, principalmente pela saída de David Pontes.

Mesmo com as reformulações que o projeto atravessou, o número de leitores continuava a não

crescer. Não creio, por isso, que tais mudanças tenham sido positivas para o crescimento do

canal, visto que os leitores estavam a habituar-se a um determinado tipo e estilo de notícias, que

foi modificado. Criaram-se hábitos de leitura nos seguidores que foram alterados ainda numa fase

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“embrionária” do projeto. Esta situação poderá ser vista de dois prismas. Se, por um lado, a

mudança de conteúdos poderá ter quebrado os laços que os leitores criaram com o V Digital até

ao período de viragem, por outro, os novos conteúdos poderiam ser mais apropriados às

caraterísticas da Web, aumentando o nível de interesse dos antigos e até de novos leitores.

No que concerne ao padrão dos leitores do V Digital, importa perceber por que plataformas mais

acediam aos conteúdos. A maioria do tráfego era proveniente das redes sociais (essencialmente

do Facebook), mas, tal como referido anteriormente, não houve investimento no lançamento da

marca e os seguidores que tinham sido conquistados aos poucos, (apesar de se mostrarem “fiéis”

nas visitas à página) pareciam “estagnados” nos 8.500. Estes números, comparados com os do

JN que tem mais de 2.2 milhões de seguidores só nesta rede social, denotam o distanciamento

da plataforma face aos demais meios de comunicação da GMG6.

Uma das medidas que parece ter obtido melhores resultados foi a possibilidade de publicar nas

páginas de Facebook das outras marcas da GMG: com uma estimativa de duas publicações diárias

em cada uma das 13 marcas, incluindo “gigantes” como o Jornal de Notícias, a escolha dos

conteúdos a publicar, de acordo com o perfil dos diferentes públicos, foi uma das ações com maior

impacto.

Figura 1: Comparação entre interação do conteúdo em V Digital e Jornal de Notícias

6 Informação obtida através da visualização da página de Facebook do Jornal de Notícias a 19/11/2018, acedido em: https://www.facebook.com/jornalnoticias/

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Na publicação anteriormente apresentada pela jornalista Joana Ascensão, conseguimos perceber

que há mais interação na publicação feita na rede social do Jornal de Notícias do que do V Digital.

Se na primeira figura verificamos que o V alcançou 19 gostos, o JN alcançou 66. Ao mesmo tempo,

a interação através de comentários é também contrastante: o V não reúne nenhum comentário ao

contrário do JN, que obteve 21. No site, o mesmo conteúdo conseguiu obter 587 visualizações,

sendo assim o segundo mais visto do dia 13 de setembro. O mesmo acontece com muitos outros

exemplos pesquisados.

Figura 2: Estatísticas de site V Digital acedidas no dia 13 de setembro de 2018. Fonte: NewsGenX

Figura 3: Comparação entre interação do conteúdo em V Digital e Jornal de Notícias, em 11 de setembro Fonte: NewsGenX

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Os números voltam a multiplicar-se neste exemplo, de 11 gostos para 44, com a publicação do

JN a superar.

O facto de a maioria dos seguidores se encontrar no Facebook fez com que se observasse uma

aposta maior nesta rede social. No entanto, os primeiros meses de existência do V Digital não

permitiram alcançar o número de leitores que a direção desejava, como era afirmado pela redação.

O objetivo principal do V Digital nas redes sociais prendia-se com a criação de interação com os

leitores. Com poucos seguidores, esta tornou-se uma realidade difícil de alcançar. Além disso, as

poucas publicações que foram promovidas (pelo departamento de Marketing do grupo) não faziam

uso do conceito do projeto, isto é, de “mostrar um novo olhar sobre o mundo”. Isto porque a

maioria dos conteúdos publicados vinha de agências de notícias e era partilhado em várias partes

do mundo. A equipa que fazia a gestão das redes sociais do V, constituída por Sara Ribeiro e Elsa

Rodrigues, dizia muitas vezes que não era consultada sobre o planeamento das publicações a

promover, para evitar que artigos “menos trabalhados” se tornassem “cartões-de-visita” do V

(entrevista pessoal, 11 de outubro de 2018).

Apesar de a interação ter aumentado até setembro de 2018, tal como revelam os números

consultados por mim através do Google Analytics, a quantidade de “gostos”, partilhas e

comentários nas publicações do Facebook é pouco significativa e aumentava apenas nas horas de

maior tráfego - entre as 12h e as 14h. No entanto, os vídeos publicados diretamente no Facebook

tinham maior alcance.

Todos estes fatores levaram a concluir que as metas não foram alcançadas. O mesmo acontece

com os conteúdos aos quais os poucos seguidores reagem mais. Durante o período de estágio,

foi possível observar que, no topo dos mais vistos, estavam, na maioria das vezes, conteúdos

oriundos da ferramenta mais utilizada para os produzir, como o Wibbitz. A plataforma fazia chegar

ao jornalista já conteúdos pré-fabricados, como veremos mais adiante. São, na maioria,

informações ligadas à sexualidade, com imagens de figuras femininas com elevada exposição

corporal, como foi o caso da notícia publicada pelo V Digital intitulada “O desafio deste verão? Virar

o biquíni ao contrário”.

O Wibbitz era uma ferramenta bastante útil na produção em quantidade. No entanto, se o V

seguisse a estratégia inicial de produção de conteúdos próprios que acrescentassem “um novo

olhar sobre o mundo”, o Wibbitz deixaria de ser um recurso, pois muitas outras marcas, um pouco

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por todo o mundo, contam exatamente as mesmas histórias “pré-fabricadas” da plataforma.

Ironicamente, dos conteúdos mais vistos até à data de fim de estágio foram Wibbitz sobre temas

relacionados com Life style, por exemplo, temas como a sexualidade, amor, moda, lar, entre

outros. Isto poderá revelar as tendências dos leitores que se interessam mais por assuntos mais

ligados ao entretenimento do que a informação. E, talvez por isso, no último mês de estágio assisti

a sinais de mudança da programação que ligavam o V Digital ao entretenimento ao invés da

informação. Dos formatos próprios, o “Quebra-Mitos” era o formato que mais visualizações

alcançava. Tal formato procurava desmistificar questões cujas respostas tendem a ser (mal dadas)

pelo senso comum, o que também se prende com a categoria de Life style.

1.4. O estágio como uma realidade impactante

Situado na Rua Gonçalo Cristóvão, na Trindade, na cidade do Porto, estava o V Digital, o canal

onde permaneci durante três meses para realizar o meu estágio curricular.

O anseio de ser uma “visionária”, termo que a equipa utilizava, nasceu aquando da apresentação

do projeto por parte do docente da unidade curricular de Oficina de Jornalismo, Hugo Correia, que

lecionou, no segundo semestre do primeiro ano de mestrado, a área da televisão. Este é subdiretor

do órgão de comunicação e, entusiasmado com o projeto que vira nascer, apresentou-o a todos

os alunos da turma. A recetividade a um estágio curricular foi enorme, pelo que não pensei duas

vezes em deixar-me levar pela aventura de ver um novo meio de comunicação nascer, embora

temesse que a instabilidade que um novo média pudesse atravessar, afetasse o meu percurso

enquanto estagiária. A minha ambição em juntar-me aos “visionários” tornou-se uma realidade.

Mas, o sonho realizado foi tão grande que, no dia 2 de julho, primeiro dia de estágio, nem queria

acreditar no que estava a acontecer. Entrar no prédio do JN foi logo uma grande emoção, tendo

em conta que tinha estagiado neste mesmo local um ano antes e tinha sido a melhor experiência

académica da minha vida. A forma como fui recebida por todos os meus antigos colegas de

trabalho superou qualquer expetativa que tinha deste dia. Estava, portanto, a começar com o pé

direito, muito embora temesse que o desfecho deste estágio não fosse tão animador como o

primeiro dia.

Foi Miguel Coutinho, jornalista do JN, quem me acompanhou à secção do V Digital. O espaço não

era estranho, pois era o local onde estava a Global Imagens, que frequentava quando estive a

estagiar na licenciatura e onde estavam os repórteres de imagem. Rapidamente conheci a equipa

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do V Digital que me proporcionou uma boa receção. Não eram tantos como na redação do JN.

Eram apenas dez pessoas que pareciam ter um nível de cumplicidade muito grande com o projeto.

O ambiente foi das primeiras coisas de que gostei no V Digital. O facto de ser uma redação

constituída por pessoas com idades compreendidas entre os 23 e 40 anos fez com que me

sentisse um pouco mais confortável. Havia, entre estes dez colaboradores do V, dois estagiários

que, rapidamente, me acolheram e me mostraram “os cantos à casa”. Sabiam, portanto, aquilo

que eu estava a sentir.

Toda a redação fez-me lembrar rapidamente o conceito de conceito de webjornalismo, adotado

neste relatório de estágio. Segundo Canavilhas (2003), o jornalismo feito na web deve ter uma

linguagem específica, ou seja, ser pensado perante as potencialidades do meio e segundo as

plataformas onde os conteúdos vão estar disponíveis ao leitor. O meio por onde a informação se

propaga e o tipo de informação propagada alteraram a forma de produção noticiosa, bem como a

forma como o leitor lê/vê o mundo (Canavilhas, 2003). Foi a partir deste conceito de

webjornalismo que o meu estágio se desenrolou.

No V Digital nada se revelou semelhante às redações dos demais órgãos de comunicação por onde

já tinha passado. Ali, havia uma direção muito próxima dos seus colaboradores e princípios de

cordialidade incomuns, como o cumprimentar com beijinhos sempre que alguém chegasse à

redação. Ao mesmo tempo, havia um ambiente de trabalho silencioso, calmo, que dava condições

aos jornalistas e demais constituintes da equipa para desempenharem as suas funções longe do

ambiente frenético que, geralmente, envolve as redações. Não havia telemóveis a tocarem

constantemente, nem jornais a voarem entre jornalistas. Este foi um dos pontos que considerei

mais vantajoso. O facto de a redação do V digital estar longe da redação do JN – embora

permaneça no mesmo andar do prédio situado na Trindade – resulta num ambiente calmo que

dá a possibilidade aos jornalistas de se concentrarem. Um princípio para um bom rendimento

laboral, bem como para um jornalismo realizado longe da desconcentração que,

consequentemente, resultou num trabalho sem grandes lapsos, verificado ao longo dos três

meses, da minha parte.

Em contrapartida, embora o V Digital tenha chegado aos leitores apenas a 26 de maio de 2018,

o certo é que já existia um elevado volume de trabalho. Isto porque o V Digital, além de tratar de

assuntos da atualidade, tinha igualmente programas semanais e, ainda, parcerias com empresas

a quem fornecia anúncios publicitários. Por esse motivo, as exigências do webjornalismo aliadas

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a uma redação pequena proporcionaram um estágio repleto de experiências, longe da mera tarefa

de leitura de jornais. E felizmente percorrer os jornais tornou-se uma constante, não como a única

atividade que me ocupava o dia, mas antes como forma de perceber o que de interessante

integrava a imprensa, que pudesse vir a tornar-se num conteúdo V Digital.

Tal como defende Macedo (2012), um jornalista tem de “conhecer e manejar formas culturais

que o tempo amadureceu e a vida continua a usar” (Macedo, 2012, p.12). Essas formas são,

também, a informação que circula entre o cidadão através de diferentes linguagens e meios de

comunicação (Macedo, 2012). Foi esse o princípio que tentei seguir enquanto estagiária, tentando

posicionar-me como profissional de informação que está predisposto a verificar os factos, assim

como aprofundá-los (Macedo, 2012).

1.5. A adaptação à linguagem V Digital

Falar em V Digital implica falar em “ver o mundo”, dizia quem por lá trabalhava, justificando com

o facto de a informação ser contada, essencialmente, através de elementos visuais (julgava eu).

Por esse motivo, o trabalho jornalístico no V Digital mostrou-se completamente novo face aos meus

conhecimentos. Embora já haja uma forte aposta por parte das universidades em preparar os seus

alunos para o webjornalismo, o certo é que, mesmo assim, não me considerava preparada para

a nova experiência. Senti que não estava num local confortável em termos de conhecimento.

Esperava que o meu orientador me explicasse um pouco mais do que iria fazer e como deveria

fazer. Mas isso não aconteceu. Rapidamente foi possível perceber que a direção deste órgão

informativo ainda estava a definir o caminho iria seguir. Por isso, o tempo escasseava para

qualquer esclarecimento.

No entanto, a falta de tempo dos jornalistas para me ensinarem a trabalhar segundo as normas V

não foi encarada como um ponto negativo do meu estágio. Pelo contrário. Foi o fator que mais

espoletou a vontade de descobrir mais sobre o canal e aprender sozinha através da observação e

imitação. Portanto, nem sempre a ajuda é um bom aliado. Por vezes, a iniciativa tem de partir de

nós. E foi esse o caminho que marcou os três meses de jornalismo “à V Digital”. Porém, é de

ressalvar que houve um sentimento de “não pertença” e de “inadaptação” no início do estágio,

mas que talvez tenha sido normal, tendo em conta a minha posição dentro do V.

O estágio é uma unidade curricular do mestrado, com um peso de 60 créditos, o que denota a

sua importância enquanto escola prática de aprendizagem. Nesse sentido, considero que a equipa

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V Digital não adaptou o seu comportamento para comigo, embora entenda que a falta de atenção

nos primeiros tempos se tenha devido às sucessivas alterações no meio. Ao contrário da

experiência de estágio anterior, no JN, não houve uma orientação inicial e senti que toda a redação

me tratou, durante os três meses de estágio, como jornalista e não estagiária, o que, de certa

forma, demonstrou que consegui desempenhar o papel de jornalista dentro do órgão de

comunicação. Era frequente ouvir: “até me esqueço que não estás mesmo cá a trabalhar”.

Palavras que serviram de motivação para fazer mais e melhor, mas que se traduziram numa

inadequação do canal ao meu verdadeiro papel dentro dele – estagiária.

A procura pelo esclarecimento sobre o papel que iria desempenhar dentro deste órgão de

comunicação começou com o olhar ao meu redor. Na redação do V Digital havia papéis colados

nas paredes que comunicavam e muito! O primeiro papel dizia “KISMIF: Keep it simple make is

fast”. Não percebi muito bem o que era aquilo, pelo que decidi perguntar à editora Ana Isabel

Pereira. A mesma mandou-me um documento que se mostrou muito útil, o livro de estilo do V

Digital.

“KISMIF” é o mandamento explícito numa das paredes da redação do V Digital, como já referi. A

ideia inicial dos membros fundadores do canal assentava na simplificação do trabalho, que deveria

ser feito de forma rigorosa mas rápida. Porém, observei o resultado contrário: quando não havia

tempo e o conteúdo tinha de ser produzido, a informação não era rigorosa, muito embora

considere que o V Digital não seguia a política de “fazer pressão” sobre os seus colaboradores.

Porém, os jornalistas sabem que os conteúdos têm de ser produzidos e fazem-no com recurso a

notícias que chegam até eles já pré-fabricadas e que são reescritas, muitas vezes, sem a sua

confirmação. Quando os conteúdos passam por questões de escrutínio jornalístico, tornam-se

trabalhos morosos, o que nem sempre é bem visto. Não aconteceu comigo, mas observei várias

situações destas. Um jornalista estagiário profissional foi pressionado a editar brutos de uma

reportagem gravada há vários meses, em 24 horas. O resultado foi simples – o incumprimento do

prazo estabelecido. O mesmo foi alvo de críticas devido ao seu atraso, o que o deixou de tal modo

pressionado que o resultado foram erros patentes no vídeo. O facto de haver várias pessoas, para

além da editora, a corrigirem um trabalho, criava muitas vezes situações confusas. Isso complicava

o trabalho do editor e do jornalista que, muitas vezes, tinha de alterar mais de duas vezes os

vídeos, consoante duas ou mais opiniões sobre o mesmo. Isto resultava em atrasos na entrega

dos trabalhos. Este processo aconteceu aquando da minha segunda reportagem como pivô, em

que o editor de vídeo e câmara projetou na sua mente uma reportagem em que eu era o guia da

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mesma. O diretor foi o primeiro a ver e disse que deveria ser alterado apenas o fecho, porque

assemelhava-se demasiado ao trabalho desenvolvido pelas televisões e um dos mandamentos do

canal era “A internet não é TV”. Depois, a editora Ana Isabel Silva viu e considerou que a

reportagem em nada cumpria o estilo do V Digital. Também os planos do operador de câmara

foram alvo de críticas distintas: para uns, as belas filmagens dos produtos podiam gerar a ideia

de que se tratava de uma publireportagem; para outros, espelhava a qualidade do operador de

câmara. É sabido que o consenso é difícil de alcançar mas, no caso desta produção informativa e

de outras, até jornalistas opinavam sobre as reportagens uns dos outros. Porém, esse é o papel

da editora, que se confundia diariamente face às sucessivas tentativas de desempenho do seu

papel.

Mas à parte destes princípios, noutra das paredes encontravam-se os dez mandamentos deste

órgão de comunicação social:

Figura 4: Os 10 mandamentos do V Digital

Relativamente a estes mandamentos, percebi, ao longo do período de estágio, que alguns eram

efetivamente aplicados, mas que outros não. De facto, a rotina de produção de conteúdos

distinguia-se da televisão. O pensamento dos jornalistas era distinto e atendiam a caraterísticas da

web e não da TV. Deste estudo autónomo para entender o meio onde estava, percebi que “a

internet não é TV”, tal como o primeiro “mandamento do V Digital afirma. Esta primeira regra do

enquadrava-se na perspetiva de Canavilhas (2003) que considera um desperdício apresentar os

mesmos conteúdos, bem como os mesmos formatos tradicionais, na esfera online. Isto porque o

meio potencializa outras formas de observar o que se passa no mundo e a forma como o

transmitimos aos leitores. Embora esta teoria de Canavilhas (2003) tenha sido defendida há 15

anos, o certo é que continua atual e parece que os meios de comunicação atentam cada vez mais

às diferenças de conteúdo consoante os meios onde os mesmos são divulgados.

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No que concerne ao mandamento “Não serás aborrecido”, pode afirmar-se que, em meu entender,

foi respeitado. Ao longo do estágio fui-me apercebendo de que não ser aborrecido significava,

principalmente, não ultrapassar os dois minutos de reportagem. O tempo era outro dos

mandamentos: “Não ultrapassarás os dois minutos na tua peça”. Este cruzava-se com o segundo,

tendo em conta que defendiam ambos que os vídeos longos devem ser evitados. Porém, este

mandamento nem sempre era cumprido. Em alguns dos meus trabalhos cheguei a realizar

conteúdos que tinham cerca de três a quatro minutos. Porém, para que a questão do tempo fosse

minorada, era necessário tornar a peça atrativa o suficiente (com grafismos, vários entrevistados

dentro da narrativa, entre outros elementos). Assim, considero que o mandamento número dois e

o mandamento cinco estão intimamente ligados, ou seja, para os conteúdos poderem ultrapassar

os dois minutos, têm de ser atrativos, mostrar ritmo e fluidez da narrativa, para que o leitor não o

ache aborrecido e desista de ver antes do fim.

A questão da voz-off 7 levanta várias dúvidas, no que respeita à sua pertinência na integração das

regras de produção noticiosa. Embora nunca tenha realizado peças com voz-off, o certo é que

verifiquei que outros colegas recorriam à narração do texto, a fim de complementarem a

informação adquirida através das entrevistas. Por exemplo, a explicação de fenómenos sociais ou

astronómicos foi várias vezes conseguida através de grafismos aliados à voz-off. Nas últimas

semanas em que estive a estagiar, foi dito à redação, pelo novo diretor, que a questão da voz-off

deixaria de integrar os mandamentos. Isto porque, além de ser uma regra que não estava a ser

cumprida, era uma regra “que nem sempre faz sentido”. Ou seja, chegou-se à conclusão de que

a voz-off acarreta vantagens e pode até simplificar o trabalho do jornalista, caso sejam cumpridos

outros mandamentos do V, como a realização do trabalho, de forma simples e rápida, questão

que explorarei mais adiante neste relatório de estágio.

No que respeita ao mandamento número sete, isto é, “deves legendar sempre os teus vídeos”,

considero que este é um dos mais importantes para o meio. Esta advém das exigências da web,

como a hibridez, caraterística cada vez mais visível nos órgãos de comunicação social online, em

que diferentes linguagens se aliam, de modo a criarem uma nova, combatendo as debilidades que

cada uma, na sua individualidade (Santaella, 2012). Por esse motivo, a web é, só por si, um meio

com uma linguagem própria. Esta é “baseada nas potencialidades do hipertexto e construída em

torno de alguns dos conteúdos utilizados nos meios existentes” (Canavilhas, 2003, p. 64). Durante

7 Corresponde à narração de texto em que o jornalista se dirige diretamente ao telespetador sem estar visível na peça. O jornalista narra informações que explicam aquilo que é visionado nas narrativas (Silva, 2013)

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a minha experiência de estágio, o V Digital foi-se adaptando-se ao meio online. Inicialmente, os

conteúdos da imprensa escrita eram transportados para o site do V e apresentados ao leitor,

através de uma fotografia do acontecimento e do texto que noticiava os factos. Mas, tal como

Canavilhas (2003) dizia há 15 anos, os média têm de se adaptar às caraterísticas do meio onde

se inserem, e foi isso que o V Digital foi fazendo, de forma progressiva. Com o passar do tempo e,

principalmente, com a entrada do novo diretor para o canal online, foi solicitado aos jornalistas

que não produzissem conteúdos semelhantes à televisão, como forma de alcançarem a distinção

entre os inúmeros meios de comunicação nacionais. Se analisarmos os conteúdos de televisão,

percebemos o esquema da sua linguagem, tal como ilustra a figura 5.

Figura 5: A hibridez das linguagens na televisão

Quando comparado este género de produção noticiosa com os conteúdos do V Digital, percebemos

que a linguagem se altera face à da televisão. O V Digital dava especial destaque à linguagem

visual. A linguagem sonora não estava presente através de voz-off, porque um dos mandamentos

do V o proibia. Isso fez com que aquilo que estava a ser transmitido através das imagens tivesse

de ser suficientemente claro e alusivo às informações escritas para se perceber a informação. Ou

seja, essas legendas - elemento textual - ganham também um maior poder nos vídeos do V, quando

comparados com a televisão. Neste último existe a voz-off que conta a história e o elemento textual

dá apenas apontamentos sobre a informação dita. Já no meio de comunicação em análise toda a

informação é comunicada pelo vídeo e texto, sendo que a componente sonora serve apenas para

criar emoção ou transmitir sons ambientes.

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Considero que a legendagem dos vídeos é muito pertinente. Isto porque nem sempre os leitores

acedem à informação em locais onde podem escutar o som das peças jornalísticas. Ora, se aquilo

que estiver a ser comunicado pela linguagem sonora for transmitido pela linguagem textual, o leitor

consegue entender a informação da narrativa jornalística na sua totalidade. Este é um exemplo

claro da potencialidade da hibridez das linguagens que, aliadas, cumprem a sua função

representativa. “As imagens não produzem o mesmo mecanismo de transformação, de maneira

que as palavras, ao serem lidas, criam imagens. Na leitura há um esforço criativo e intelectual que

quase é eliminado com o visual” (Llosa, 2015, §3).

Mas a audição e a visão são “sentidos da distância”, ao contrário do paladar, o olfato e o tato, que

são “sentidos da proximidade” (Menezes, 2016, p.22). Isto significa que estes “sentidos da

distância” são fundamentais no processo de comunicação mediada. Talvez, por isso, os conteúdos

do V Digital possuíssem sempre um fluxo contínuo do som aliados a elementos visuais, como

imagem e texto, como ilustra a figura 3.

Figura 6: Hibridez das linguagens no V Digital

No caso ilustrado anteriormente, há uma associação entre as experiências traumáticas e os sons.

A música varia consoante os sentimentos que o jornalista pretende transmitir. Por esse motivo, o

V Digital deixou que houvesse momentos em que a música se tornava na linguagem predominante,

no que concerne à significação que gera na mente do leitor. Nesses momentos, introduzia apenas

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legendas que resumiam informação concordante com o sentimento transmitido pela musicalidade

que envolvia a peça jornalística. Portanto, há efetivamente uma complementaridade entre as

linguagens e a exploração das potencialidades de cada uma. Este é o lado em que o V se mostra

mais original. Uma novidade. Pelo menos para mim. Se escrever sucintamente foi a maior

dificuldade que senti durante o meu estágio, escrever a partir de frases curtas, como legenda que

completa o visível das imagens, tornou-se ainda mais complexo.

Nas primeiras duas semanas considerei que tinha vindo para o sítio menos apropriado para mim,

enquanto estagiária. A ausência de voz-off, aliada ao facto de a sua linguagem assentar em vídeos

com uma extensão máxima de dois minutos, fez com que passasse demasiados minutos à volta

de um vídeo. Achei que estava a desiludir a redação com esta lentidão. Isto porque existia em mim

uma extrema dificuldade em adaptar-me à nova forma de construir narrativas.

Mas o que mais me espantou foi o facto de o entrevistado ter que estar a olhar para a câmara.

Recordo-me daquilo que me foi ensinado, quer na licenciatura quer no mestrado: deve “dar-se ar”

na imagem consoante o olhar do entrevistado. A forma como vemos e lemos as imagens

cinematográficas é, em grande medida – e para além da cultura e rotinas visuais do espetador –

“o resultado das opções do realizador no que respeita à escolha e organização dos planos8

(Nogueira, 2010, p.13).

8 Unidade mínima da linguagem cinematográfica, isto é, um segmento ininterrupto de tempo e espaço fílmico, ou seja, uma imagem contínua entre dois cortes ou duas transições (Nogueira, 2010)

Plano Womens HealthPlano V Digital

Figura 7: Comparação do olhar do entrevistado entre reportagens da TVI e V Digital

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Se atendermos à citação anterior de Nogueira (2010), podemos afirmar que o V Digital adotou

uma nova forma de fazer os planos em situação de entrevista. E, no meu ponto de vista, esta

forma é a melhor em várias perspetivas: primeiro, porque dá a ilusão de que o entrevistado está

a falar diretamente com o leitor, logo é também uma forma de gerar mais proximidade com o

público; por outro lado, torna-se mais fácil, no que concerne à captação de imagem, pois basta o

entrevistador colocar-se junto do operador de câmara, diminuindo o risco de maus planos e,

consequentemente, más interpretações da imagem. No entanto, colocar o entrevistado a olhar

diretamente para a câmara transmite a ideia de que está a falar diretamente com o leitor. Com

isso, o papel do jornalista, enquanto mediador, parece desaparecer. Este é um dos aspetos que

faz questionar qual o papel do jornalista no V Digital, pergunta à qual tentar-se-á dar resposta neste

relatório de estágio. É sabido que o tipo de planos que é usado gera significação diferente na

mente do leitor. Os planos têm força e capacidade de significação distintos entre si. Por exemplo,

os planos próximos permitem conhecer melhor a pessoa que está a falar, assim como o plano

picado, que gera uma ideia de grandeza/ enaltecimento da pessoa entrevistada (Oliveira, 2007).

Ao longo do estágio não consegui entender o antepenúltimo mandamento: “o entrevistado não se

senta, não o queremos confortável”. Porque é que o entrevistado não pode estar confortável? O

leitor deve perceber que o entrevistado está constrangido ou nervoso durante a entrevista? Não

obtive resposta para estas questões mas o certo é que me apercebi de que há riscos para a adoção

destes planos. Por exemplo, na reportagem intitulada “Gaivotas a mais? Este investigador diz ter

solução para o problema”, realizada por mim, o entrevistado colocou as mãos nos bolsos,

parecendo que estava muito tenso. Por causa da má qualidade sonora, a entrevista teve de ser

repetida, mas, antes de sair para a rua, a minha editora pediu-me que, de forma delicada, pedisse

ao entrevistado que não colocasse as mãos nos bolsos. Com isto pretendo dizer que tive melhores

resultados, quando os entrevistados estavam sentados do que em pé e, por isso, não considero

que este deva ser um mandamento, mas antes uma opção a tomar, consoante o entrevistado que

tenhamos. Por outras palavras, penso que se deve atender ao ambiente que se tem no momento,

em vez de se cumprir um mandamento.

1.6. A primeira aventura: a alavanca para o jornalismo no terreno

No primeiro dia de estágio, a editora pediu-me que escrevesse uma notícia do género das que

estava habituada a fazer na imprensa online. A partir de um conteúdo vindo da Agência Lusa,

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escrevi um texto e publiquei-o juntamente com uma fotografia. Neste primeiro contacto com o V

Digital questionei-me sobre a utilização deste formato de apresentação das notícias – exibidas ao

público apenas com texto e uma imagem - uma vez que o canal se apresentava como sendo de

vídeo. No entanto, associei a opção da jornalista Ana Isabel Pereira ao facto de ser o meu primeiro

trabalho na redação. E, de facto, esta foi a única vez em que produzi conteúdos desta tipologia.

Logo no primeiro dia, foi-me feito outro pedido: pesquisar sobre uma exposição intitulada "100

Dollar Bills Y'All", a fim de agendar uma reportagem no local da exposição. Fiquei surpreendida,

contente até, mas ao mesmo tempo com medo deste desafio. Isto porque, por mais que tivesse

feito um trabalho de pesquisa sobre o género de conteúdos pretendidos no V antes de iniciar o

estágio, sentia falta de uma explicação sobre as minhas funções. O meu trabalho autónomo

permitiu perceber o que os meus colegas costumavam fazer, tal como explanado anteriormente.

Parti do conhecimento que me foi transmitido durante o meu percurso académico, no que

concerne às etapas de produção de uma narrativa. Levei a cabo uma pesquisa online sobre a

marca organizadora da exposição e percebi o que ia encontrar no local. Depois, contactei a minha

fonte de informação, sendo que a mesma me explicou que poderia falar, quer com ela, quer com

o seu companheiro, também mentor do projeto. Após saber quem seriam os meus entrevistados,

decidi delinear as perguntas que fariam parte da entrevista.

Em todo o caso, existiam algumas questões que me deixavam inquieta: sabia que seria o meu

primeiro contacto com a produção de vídeo. Mas, não sabia ao certo quais as etapas da produção

audiovisual que regiam a atividade do V Digital. Foi-me apresentado o meu colega de trabalho, o

editor de vídeo e câmara, César Sousa, um dos melhores profissionais e colegas com quem tive

oportunidade de trabalhar. Embora já tivesse mais de 20 anos de experiência, percebeu que eu

era estagiária, mas, nem por isso, me fez sentir como tal. Pelo contrário. Tomou a iniciativa de vir

conversar comigo e explicar-me o que tinha em mente para o trabalho que tínhamos em mãos.

Valorizei esta atitude, pois, embora saiba bem ser tratada como jornalista, o certo é que ainda não

o era, sinal de que ainda tinha muito para aprender. Considero que o editor de vídeo foi dos poucos

que agiu comigo como estagiária, ensinando-me muito daquilo que ele sabia. Os seus

ensinamentos foram muito importantes para o meu percurso enquanto principiante. A sua vasta

experiência fez com que me sentisse um pouco mais segura. No entanto, tentou colocar-me à

prova, fazendo-me aparecer, logo no primeiro dia, num vivo. Foram os cinco segundos de pivô

mais sofridos de toda a minha vida.

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Após a primeira experiência na produção de conteúdo híbrido para o online, os trabalhos seguintes

não tardaram a aparecer. Um dia, depois dessa experiência, a editora considerou que eu e o César

Sousa conseguíamos formar uma boa equipa. Por isso, a segunda reportagem voltou a ser com

ele. Após um dia de pesquisa e contactos, fui até à sede de uma empresa de sabão que estava a

celebrar o seu centenário: a Ach Brito. A experiência foi ainda mais complicada. A primeira

dificuldade do trabalho teve a ver com a assessora de comunicação da empresa, que colocou

vários entraves à execução da reportagem. Tinha planeado conversar não só com o bisneto dos

fundadores da marca, como com dois funcionários: um dos mais antigos e outro dos mais

recentes. Mas, a assessora disse-me redondamente que não, que os funcionários não tinham

capacidade para falarem para as câmaras. A atitude soou a desprezo, o que me deixou

incomodada. Sabia que tinha de esquecer essa atitude, para conseguir levar a cabo a minha tarefa:

criar uma narrativa. Pedi-lhe para falar com alguém que estivesse envolvido na campanha do

centenário, a fim de ter mais do que uma voz na peça. Mas, a resposta foi igualmente negativa.

Eu e o meu colega decidimos optar por outro formato: eu, através de um vivo, explicar os produtos

e dar a contextualização do centenário. Esta tarefa de aparecer à frente da câmara deixava-me

insegura, mas, com a ajuda e palavras de confiança do meu colega de trabalho, consegui fazê-lo.

Foi uma experiência incrível e que me fez pensar que tinha vindo para o local certo, para uma

experiência que me tornaria mais polivalente, uma das exigências cada vez mais frequente na

contratação de um profissional de trabalho (Canavilhas, 2003). Esse era o meu objetivo. Ainda

assim, penso que a nossa insistência em levar um trabalho feito para a redação foi imensa.

Sabíamos que este trabalho seria o vídeo original do V Digital no dia seguinte e, por isso, temíamos

a não concretização da reportagem. Não concluir um dos meus primeiros trabalhos era uma

frustração e poderia transmitir incapacidade de reagir ao imprevistos da profissão. Seria mais fácil

desistir, mas não o fizemos. Embora tivesse sido a própria fonte a ditar o que deveríamos fazer –

o que muito nos desagradou e deu vontade de ir embora –, o certo é que tentamos contornar as

adversidades. O resultado final foi diferente do planeado, mas não se cingiu àquilo que a fonte

queria. Não considero que tenha sido por autonomia minha, nem pela capacidade de improviso,

mas antes do meu colega. Ele permitiu que não fôssemos “pés de microfone” perante o

entrevistado, o que exigiu uma grande capacidade de improvisação, para que conseguíssemos

material para um conteúdo informativo distinto dos Wibbitz que marcavam a maioria da produção.

Penso que ser jornalista também é ter capacidade de contornar os “espinhos” que vão sendo

colocados no processo de produção da informação e, para tal, também é necessário ter

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capacidade comunicativa e argumentativa, para conseguir levar o entrevistado para o caminho

que convém ao jornalista.

O repórter César Sousa foi quem editou o vídeo, desde a escolha à montagem do vídeo. A minha

tarefa, para além de todo o trabalho de preparação e implementação da entrevista, era apenas a

de escolher as partes da mesma que queria utilizar na peça. O demais trabalho – que é muito –

foi todo ele realizado pelo editor de vídeo. Isto provocou duas perguntas que me acompanharam

quase até ao final do estágio: Qual o papel do jornalista dentro de um canal de vídeo? É no jornalista

que assenta o papel primordial para o entendimento da informação e obtenção de audiências?

1.7. O dia a dia no V Digital

Na sequência das minhas primeiras reportagens como estagiária, considerei que o papel do

jornalista do V Digital era, assim, diferente daquele que é o papel do jornalista de imprensa, tendo

em conta a experiência anteriormente relatada. Ao longo do tempo de estágio foram-me pedidos,

essencialmente, dois tipos de produção noticiosa: os conteúdos pré-fabricados e as reportagens

no terreno. Mas, falar em experiência de estágio é, obrigatoriamente, falar das reportagens em

que saí da redação em busca de uma história. Ao todo, realizei 12 reportagens em que necessitei

de sair da redação e entrevistar pessoas. Foram diversos os temas que me passaram pelas mãos.

Desde o festejo de centenários, a histórias tão inspiradores que se tornaram verdadeiros exemplos

de vida, que me deram ainda mais motivação para desempenhar, da melhor forma possível, as

minhas funções no V Digital. Nessas, as minhas vivências manifestaram-se intensas, assim como

o trabalho.

Embora tivesse a ambição de incluir na minha rotina tarefas como editar vídeo, filmar e divulgar

conteúdos nas redes, o certo é que o meu papel dentro do canal passou, na maioria das vezes,

ao lado dessas experiências. Aqui, o objetivo era aprender a ser jornalista de um canal de vídeo.

E, de facto, essa tarefa que me parecia, em primeira instância, uma renovação do conhecimento,

acabou por ser uma tarefa que teve tanto de difícil como de surpreendente. A dificuldade adveio

da adequação à linguagem. Isto, porque senti que, durante estes três meses de estágio, a redação

alterou a sua linguagem e programação.

O lado surpreendente centrou-se na perceção que fui tendo do papel do jornalista e da sua

importância. As minhas tarefas diárias assentavam em: 1) pesquisar sobre a temática; 2) entrar

em contacto com as fontes; 3) agendar as entrevistas; 4) delinear as perguntas da entrevista e 4)

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implementá-la. Mas, em vídeo, a produção do conteúdo não se fica por aqui. De todo este processo

resultam vários vídeos: os que dizem respeito à gravação da entrevista que, por vezes, engloba

mais que um plano de vídeo da mesma e, ainda, os planos de corte. No entanto, estes são os

“ingredientes” que, juntos, vão criar um “bolo”. Esta é a metáfora que considero que mais bem

espelha o trabalho que está por detrás dos vídeos, que duram entre dois e três minutos. É neste

processo que se mostrou surpreendente a minha perceção do trabalho do jornalista. Isto porque,

no início, achava que a qualidade do vídeo era proveniente do trabalho do câmara e do editor de

vídeo, visto que eram eles quem “misturavam todos os ingredientes”. Porém, essa minha

perceção foi mudando coma minha adaptação ao meio e a consequente confiança em mim

depositada, que foi aumentando de forma gradual.

Se na minha primeira reportagem no terreno, sobre notas de um dólar, o meu papel foi

desempenhar os quatro pontos anteriormente mencionados, no meu último “Suplemento de

Alma”, intitulado “Artesanato que dá a volta ao mundo, com amor e sentido de missão”, o meu

papel foi muito mais além. Ou seja, é o jornalista que decide que ingredientes quer utilizar e como

se vão misturando. Isto é, o jornalista escolhe o ângulo pelo qual vai ser contada a narrativa. O

primeiro passo é ver a entrevista toda e, dela, escolher qual a parte que melhor conta a história.

Depois disso, é necessário legendar as entrevistas, já que esta era uma caraterística da linguagem

do V Digital.

À medida que o jornalista vai aumentado as suas capacidades, tal como no meu caso, vai tendo

outras tarefas, ao ponto de editar o seu próprio vídeo. Fi-lo com o Suplemento de Alma sobre o

artesanato. Foi nesta experiência que me apercebi do referido em aulas de Narrativas Jornalísticas:

as pessoas gostam de estórias e é o jornalista quem tem o poder de relatar os factos num formato

que prenda o leitor ao conteúdo da mesma (Worth, 2005). A forma como a narrativa está

construída influencia o sucesso de uma notícia. Uma boa narrativa prende o leitor, de tal forma

que deixa de ser uma mera notícia transmitida por meio de comunicação e passa a ser parte da

informação verdadeiramente retida na mente do leitor. É nesse sentido que considerei sempre o

programa “Suplemento de Alma” um dos mais ricos, no que concerne ao exercício de construção

da narrativa, pois a história de vida da pessoa entrevistada não pode parecer mais uma. Precisa

de ser “familiar” ao leitor, para que o mesmo se lembre dela mais tarde. Todos gostamos de

histórias, sejam elas verídicas, sejam fictícias. Segundo Worth (2005), é a similaridade com o que

nos rodeia que faz com que gostemos de ouvir histórias. Essa perceção daquilo que é uma

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narrativa e do poder que tem quando bem construída interferiu na delicadeza, esforço e dedicação

depositada em cada uma das tarefas realizadas.

1.8. As reportagens no terreno

Foi com as reportagens no terreno que senti a minha evolução na área do online, bem como no

à-vontade com que lidava, não só com os entrevistados, como também com a câmara. Foram

estas reportagens que me permitiram criar contactos com as fontes e conhecer aquilo que

realmente gosto de fazer, dentro da imensidão de possibilidades que o jornalismo oferece.

De todas as narrativas que criei, as que mais marcaram o meu percurso foram os programas

como o “Quebra-Mitos”, “O Explicador” e os muitos “Suplemento de Alma”, que fiz ao longo de

três meses. Todas estas reportagens, que requereram trabalho autónomo da minha parte, foram

sugeridas por mim em situação de reunião de planeamento. Estas reuniões tornaram-se

importantes, para fomentar a minha autonomia, no que concerne ao “faro jornalístico”. Durante

o meu percurso académico (nomeadamente no JN em estágio curricular) e profissional (no Jornal

do Centro, Jornal do Paiva/Cinfães e Jornal Terras de Gaia) foram-me proporcionadas poucas

oportunidades de sugerir temáticas. Mas, no V Digital, a liberdade pautava os dias, bem como a

compreensão e partilha de conhecimento entre os vários membros da equipa.

1.8.1. As dificuldades na adaptação à linguagem/ caraterísticas online

Raramente as minhas ideias não passavam da minha mente para a execução. A dificuldade

assentava em encontrar a perspetiva de abordagem ao tema, que mais se aproximasse da

linguagem do V, o que era aliciante e motivador. Planear mentalmente a história que queríamos

levar até ao nosso leitor foi das experiências mais enriquecedoras do estágio, mas, também, das

maiores barreiras. Passei horas a planear alguns dos trabalhos, em que pensar, desenhar e

escrever eram etapas que antecediam a execução de cada peça.

A primeira vez que passei por isso foi na produção do meu primeiro programa: O “Quebra-Mitos”.

A partir de uma experiência enquanto jornalista no jornal Terras de Gaia, com quem estabeleci

colaboração até à data do estágio no V Digital, descobri a importância da dádiva de sangue.

Conheci alguns mitos que impediam muita gente de dar sangue. Pensei em sugerir um programa

sobre o assunto. A reação da editora foi totalmente positiva. Quando fiz a sugestão, pensei que a

minha tarefa no processo de execução passaria apenas por colocar a jornalista Joana Ascensão –

habitual rosto do programa – em contacto com a minha fonte de informação. Mas não. A editora

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depositou confiança em mim e disse que, desta vez, o rosto do “Quebra-Mitos” era o meu. O

entusiasmo foi grande, mas o medo conseguia ultrapassá-lo. Foram horas a escolher os mitos e a

delinear a entrevista. Mas esta etapa mostrou-se a mais simples. Depois de entrevistar o médico

que desmistificou a questão, a jornalista disse-me que, além de ter de criar uma espécie de guião

que delineava o que seria a peça, enquanto produto final, teria também de pensar nos grafismos

que iriam complementar o meu pivô e a entrevista.

Depois de escrever aquilo que iria dizer em frente à câmara, encadeando esses On9 com a

entrevista ao médico, tive de idealizar mentalmente como ficaria o produto final. Entrei em pânico.

Não conseguia ter essa capacidade e o stresse apoderou-se de mim. Pensei que gravar a minha

parte fosse “dar asas à minha imaginação”. Mas o editor César Sousa disse-me que esse não era

um processo válido, uma vez que poderia necessitar de espaço do lado direito ou esquerdo do

ecrã para entrarem os grafismos. Perante essa resposta, o meu mundo parecia ter desabado. Por

mais que quisesse honrar a oportunidade que a equipa do V Digital me estava a proporcionar, o

medo de errar estava a tomar conta de mim e o falhanço parecia uma realidade bem próxima.

Decidi ser honesta e conversar com a editora, que me deu algumas sugestões. A partir daí, a

minha mente começou a conseguir idealizar alguma coisa. Decidimos partir para a fase de

gravação do pivot. Um estúdio, eu e a câmara: “em 3, 2,1… Ação”. Não, isto não foi assim tão

simples. O V Digital não possuía um estúdio fechado. Era um espaço, no meio da redação, com

barulho e com a pressão dos colegas, onde tudo se gravava. Percebi que o maior aliado nestas

circunstâncias era a concentração. Foi neste momento que tive de “dar asas à minha imaginação”,

para que pensasse que estava sozinha a falar para a câmara. O texto teve de ser decorado, porque

não existia um teleponto. As frases não saíam à primeira, mas, com um elevado esforço de

concentração, consegui gravar tudo em pouco tempo, disse o meu colega de trabalho, após

terminarmos.

1.8.2. As potencialidades e riscos das entrevistas

O “Quebra-Mitos” foi só um, mas foi esta experiência a alavanca para alcançar outros trabalhos

igualmente motivadores. O “Suplemento de Alma” passou a ser quase só “meu”, enquanto estive

a estagiar. Sempre gostei de contar histórias de vida e este era, sem dúvida, o formato que melhor

o permitia. De todas as experiências no âmbito deste programa, destaco dois suplementos que

9 O termo ON é a terminologia utilizada na linguagem comum entre jornalistas para aludir aos discursos da pessoa entrevistada que são utilizados nas narrativas jornalísticas.

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considerei altamente inspiradores: “C Feliz” e “Surf Adaptado”. Ambas as histórias tinham pontos

em comum – a força de vontade.

Eram pessoas que lutaram, após o aparecimento de um obstáculo. Os meus, enquanto estagiária,

foram muitos, mas muito mais pequenos do que os deles. Mas, nem por isso eu conseguia

entendê-los como produtivos, antes de conhecer estes entrevistados. Foi com eles que consegui

pensar numa nova forma de encarar as pedras, que se iam colocando no meu caminho. É que

todas elas só me proporcionaram aprendizagens únicas.

Entrevistar uma jovem que deixou de conseguir sentir as suas próprias pernas e criou um blogue

para ajudar outras pessoas com as mesmas dificuldades quotidianas, ou passar dois dias sobre

as ondas do mar, ao lado de jovens com vários níveis de deficiências, foram experiências que me

mostraram o lado belo da profissão. Delinear estas entrevistas foi pensar minuciosamente no

poder das mesmas, enquanto geradoras de significado nas mentes dos entrevistados.

A polissemia das palavras, bem como o contexto em que elas iam sendo pronunciadas, deixava-

me ansiosa. Queria ser cordial com os entrevistados, mas, perante as circunstâncias das suas

vidas, a entrevista poderia ser encarada como negativa. Em ambos os casos, criou-se uma empatia

tão grande entre entrevistado e entrevistador que as conversas fluíram sem qualquer problema. A

proximidade que é estabelecida com o outro pode trazer vantagens, como conseguirmos

informações detalhadas sobre os factos. Mas, o jornalista pode, igualmente, deixar-se contagiar

pela proximidade e emoção e, com isso, não recolher os factos com exatidão e rigor. Por esse

motivo, levei comigo um guião, mas não me deixei prender demasiado a ele. Esse é um dos

conselhos de Gradim (2000), ou seja, preparar cuidadosamente as entrevistas, antes de o

jornalista estar frente-a-frente com o entrevistado. Esta é uma forma de evitar que o entrevistador

seja manipulado pela sua fonte ou que se deixe interferir pela emoção e proximidade com a

mesma.

Segundo Campos (2009), é na boa interação com a fonte que está a chave para o sucesso de

uma entrevista. Ninguém abre o seu coração, expõe a sua intimidade, sem confiar na pessoa que

tem à sua frente. É, assim, necessário estabelecer uma boa interação com a fonte de informação.

Para tal, o jornalista deve ser “honesto, transparente, amigo companheiro” (Campos, 2009).

Considero que consegui fazer com que a minha entrevistada sentisse essa confiança de que este

autor nos fala. Ao mesmo tempo, não se deve interromper as respostas que recebemos nem

pactos estabelecidos na entrevista. A credibilidade ficará manchada e pode impedir que essa fonte

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esteja disponível, quando o jornalista precisar dela. Tentei respeitar o espaço, as pausas e os

silêncios existentes ao longo da nossa conversa (Gradim, 2000). Sabia que o tema não era fácil –

nem para ela, nem para mim – e um silêncio poderia dar o tempo necessário para pensar na

próxima pergunta, ao mesmo tempo que também a ausência de palavra comunica.

Considero que, ao longo do estágio, fui aprendendo a “ler” os entrevistados, a partir da atenção

depositada, no momento das entrevistas, aos comportamentos que acompanham as emoções.

Torna-se, assim, evidente a necessidade de existir um equilíbrio, por parte do jornalista, neste

processo de entrevista, para que não se misturem opiniões do mesmo, quando a redige. A recolha

de informação é um passo fundamental para a elaboração de qualquer notícia. Por mais talento e

prática de escrita que o jornalista tenha, a falha da recolha de dados coloca em perigo todo o

trabalho, simplesmente, porque sem informação cuidadosa e sistematicamente recolhida, não

possuímos matéria-prima para trabalhar.

1.8.3. Quem decide o que é notícia: jornal, jornalista ou entrevistado?

A palavra “correto” tem uma grande carga de subjetividade. O que, para uma pessoa o é, para

outra pode não o ser. Ainda assim, há alguns passos e regras jornalísticas, que pretendem guiar

os profissionais a praticarem um jornalismo “correto”. Ou seja, que definem as formas de

apuramento de informação e o seu tratamento. No meu ponto de vista, fundamentado nas

aprendizagens durante o período de formação académica, há várias etapas dentro desse processo.

Uma delas é a perceção daquilo que poderá ser a nossa notícia. Por vezes (e cada vez mais, como

vamos constatar ao longo deste relatório), esta primeira fase de pesquisa é colocada de parte, a

favor do trabalho das assessorias e relações públicas que enviam constantemente informação

para os meios de comunicação. Mas, outras vezes, é o próprio “faro” jornalístico que guia o

jornalista até ao cerne da questão, que vai tratar na sua notícia. É certo que é importante haver a

constante capacidade de encontrar e distinguir aquilo que será notícia. Percebermos que uma

simples fotografia que alguém publica nas redes sociais pode evidenciar um conteúdo jornalístico,

assim como uma conversa que ouvimos no café. Tudo depende da nossa sensibilidade e de

olharmos para os conteúdos como potenciais narrativas e, posteriormente, averiguar a sua

veracidade e decidir se publicamos ou não a informação. No entanto, nem tudo se prende com

esta versão “romântica” do jornalismo. Até porque, segundo a experiência de estágio, nem sempre

há tempo para se estar nas redes sociais, em cafés, ou noutro meio que nos possibilite entrar em

contacto com realidade de interesse jornalístico.

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Em jeito de resposta àquilo que o jornalista deve considerar notícia e como deve chegar até ela,

Schultz (2007) diz-nos que, além da sensibilidade do jornalista e do seu olhar atento à realidade

envolvente, há outros fatores decisivos, como os valores de cada um, os hábitos de leitura – que

enriquecem o conhecimento geral do jornalista e permitem que o mesmo esteja sensível a mais

questões do foro jornalístico – e ainda aspetos exteriores ao jornalista, como questões editoriais.

Tudo isto influencia aquilo que é e aquilo que não é notícia (Schultz, 2007). Ao mesmo tempo, os

valores-notícia e o conhecimento geral de cada jornalista, juntos, funcionam como gatekeepers ou

seja, uma espécie de “portões” que filtram aquilo que é daquilo que não é notícia (Schultz, 2007).

Mas, para além destas questões da sensibilidade e capacidade de encontrar e filtrar o que é

informação, há outro fator muito importante. Nem sempre a orientação editorial vai ao encontro

da orientação do jornalista. Segundo Schultz (2007), há estudos que nos mostram que há um

grande peso dos “requisitos organizacionais e a influência da política de notícias e orçamentos na

produção” (Schultz, 2007,p.191).

Embora todas as minhas sugestões de notícias tenham sido aceites pela editoria do V Digital, o

certo é que me apercebi que o canal tinha uma linha editorial que fazia com que certos temas não

integrassem a agenda diária. Assisti, já nos últimos dias de estágio, ao conflito entre aquilo que

uma jornalista considerou pertinente, tendo em conta a atualidade mundial, e a oposição da

direção. Tratou-se de uma proposta para o V Digital estar presente num colóquio internacional que

falaria sobre questões relacionadas com as barragens. A jornalista considerou que seria um

pretexto interessante, para se obter informação para um trabalho jornalístico sobre as barragens.

Até porque, do conhecimento geral que a jornalista obteve sobre o assunto, que estava na ordem

do dia em termos nacionais e internacionais, o tema evidenciava ir ao encontro de diversos valores-

notícia que a redação levava em consideração. Porém, o diretor do V Digital não aceitou a ida em

reportagem sugerida, referindo que a sugestão da jornalista não era “um tema V Digital”. Com

isto, pretende-se dizer que, nem sempre, a simples vontade do jornalista em fazer notícias é sinal

de que elas serão feitas. Neste caso, não bastou o trabalho da jornalista em descobrir o tema e

um ponto de vista para o trabalhar. As direções, muitas vezes, por serem dominantes, tomam

decisões que invalidam a concretização de trabalhos (Schultz, 2007).

Além destas questões editoriais, ao longo da minha experiência de estágio, observei outra questão

que considerei fulcral para determinar a qualidade das narrativas contruídas. Isto é, o facto de o

jornalista ser dotado de capacidades comunicativas e de cordialidade (tal como em muitas outras

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situações/profissões) para conseguir uma entrevista. O que nem sempre é fácil. Quando falei com

a bloguer do canal de YouTube “C Feliz”, que se encontrava numa cadeira de rodas, mostrou-se

logo muito interessada, porque estava habituada a lidar com a sua nova imagem e com câmaras.

Mas nem sempre foi assim. Os meninos entrevistados no “Suplemento de Alma” sobre o surf

adaptado revelaram-se reticentes com o facto de terem um objeto que captava a sua imagem.

Embora estivessem avisados de que estaríamos presentes e que tínhamos as devidas

autorizações, decidimos dar-lhes espaço. O facto de serem meninos – alguns adultos – tão

especiais, fez com que eu e a minha colega nos envolvêssemos com eles. Consideramos

eticamente correto respeitar o espaço deles, mas, para nosso espanto, estes acabaram por

pedirem para serem entrevistados. Outros colocavam-se em frente à câmara, para que

filmássemos o quão felizes estavam. Esta é das maiores magias do jornalismo.

1.9. A produção de notícias pré-fabricadas e a decadência do trabalho

autónomo do jornalista

Devido ao alargamento do número de páginas dos jornais nacionais nas duas últimas décadas, a

produtividade dos jornalistas aumentou, ao contrário do número de jornalistas nas redações, que

tem vindo a diminuir. Em 2005, já se constatava tal facto, mas, nos últimos anos, o panorama

não se alterou (Bastos, 2014; Fidalgo, 2005).

Num mercado jornalístico de pequenas dimensões, a quebra acentuada de receitas publicitárias

e a perda de audiências, sobretudo na imprensa, faz com que alguns autores (Leal et al, 2013;

Wolf & Hohlfeld, 2012) afirmem que o jornalismo está a atravessar um período de crise. Além da

vertente económica, há também uma crise associada à forma como as notícias são atualmente

construídas.

Muitos dos jornalistas que foram contratados para trabalhar no V Digital tinham experiência

profissional em imprensa e rádio. Isto, porque, alguns deles tinham passado pela fase de

emagrecimento das redações, por exemplo, do Diário de Notícias, aquando da sua passagem de

jornal diário a semanário. Por consequência, verificou-se que os jornalistas estavam presos à

linguagem que regeu a sua profissão durante vários anos. Por isso, sentiam dificuldades em se

adaptarem à linguagem do V Digital, mais híbrida, onde a imagem assumia um papel dominante

face às demais linguagens que compunham as peças.

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Cada jornalista deste órgão de comunicação social era o mote para a construção das narrativas,

tal como fui mostrando a partir da minha experiência de estágio no ponto 1.4. Mas, o seu papel

variava consoante o formato em se estava a produzir o conteúdo. No V, existiam dois géneros de

produção que se mostravam predominantes, ou seja, conteúdos da Lusa (construídos apenas com

texto e uma imagem) e conteúdos Wibbitz (vídeos produzidos pela plataforma informativa

internacional).

A maioria das notícias produzidas, tanto por mim, como pelos meus colegas, partiu de conteúdos

pré-fabricados de Wibbitz. Esta é uma agência de notícias online de produção noticiosa, com o

qual o V Digital possui um contrato, de modo a ter acesso a esses conteúdos. Essa informação já

pronta a ser utilizada está disponível em diferentes línguas: inglês, espanhol e francês. Os temas

são vários, como, por exemplo, o estilo de vida, política e atualidade. O conteúdo Wibbitz necessita

apenas de ser traduzido. Caso o jornalista queira alterar ou acrescentar informação, pode fazê-lo.

Já possui fotografias e legendas dos vídeos, semelhante ao estilo de vídeo do V Digital. A plataforma

permitia editar, no momento, os vídeos e transformá-los, quer no que concerne à informação (que

pode ser modificada e completada), mas também no que respeita ao estilo do vídeo (como as

fotografias usadas – já que o Wibbitz possui um banco de imagens – a música e tipo de letra).

Verificou-se que uma grande das notícias publicadas por dia no V Digital era proveniente desta

agência, como será mostrado no capítulo 4 deste trabalho com a investigação empírica e

levantamento de dados sobre o assunto.

No entanto, na minha experiência de estágio verifiquei que, como esta plataforma já nos fazia

chegar tudo pronto, várias fases de produção eram avançadas, nomeadamente a seleção de

temas, a procura pelos factos da atualidade e, por vezes, até a averiguação dos dados noticiados.

Muitas vezes, o jornalista limitava-se a traduzir o que chegava já pré-feiro pelo Wibbitz e publicava.

No caso das notícias em que a fonte é a Lusa, o trabalho do jornalista assemelha-se ao dos outros

meios de comunicação: selecionar a informação e apresentá-la, de forma o mais diferente possível

dos outros meios de informação. Na criação de conteúdos para o canal V Digital a partir da Lusa,

observava que se ultrapassa uma das fases de produção jornalística: a de recolha de informação,

porque ela já chega recolhida ao jornalista. Da minha experiência, os jornalistas faziam alterações

aos textos oriundos desta agência. Quando necessário, complementava-se a informação através

da pesquisa autónoma do jornalista. Mas, a Lusa era utilizada principalmente para alimentar as

redes, enquanto os jornalistas não entravam ao serviço. No horário das 8h00, apenas uma

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jornalista se encontrava a trabalhar. Essa era a principal utilizadora de conteúdos vindos da Lusa.

Escolhiam os temas que mais se apropriavam ao V Digital e esses eram trabalhados. No entanto,

estas notícias continham uma imagem alusiva aos factos e o respetivo texto. O formato de vídeo

era esquecido até que a redação estivesse completa. Essa foi uma das mudanças implementadas

mal entrou a nova direção. Os conteúdos que aliavam apenas duas linguagens – textual e visual

– foram lentamente desaparecendo. “Isso é o que já todos os outros meios do grupo fazem, não

é o nosso estilo e tem de deixar de existir”, salientou membro da direção.

No entanto, avanços tecnológicos aumentaram o nível de competição entre os órgãos de

comunicação, que passaram a trabalhar a um ritmo de minuto-a-minuto do ciberespaço (Bastos,

2014). Esta conjuntura veio aumentar os constrangimentos dos jornalistas, visto que passaram a

sentir necessidade de chegar o mais cedo possível aos locais, aumentar a velocidade de escrita,

de modo a serem os primeiros a publicar conteúdos no ciberespaço, o que evidencia a

competitividade entre os meios. Toda esta conjuntura levou à preponderância do trabalho realizado

por agências e Relações Públicas (Lewis, Williams & Franklin, 2008). O tempo para a realização

de um número acrescido de notícias é o mesmo, o que, consequentemente, tem aumentado o

impacto e a dependência do trabalho dos RP e do trabalho de assessoria de imprensa, face aos

jornalistas (Lewis et al, 2008). Todo este fenómeno parece adequar-se à realidade encontrada no

V Digital. Basta observar que a maioria do trabalho por mim desenvolvido era oriundo de agências.

Não se pode descurar os efeitos que esta produção noticiosa feita, na maioria, por conteúdos pré-

fabricados poderá representar para a notoriedade da marca. Dahlgren, (citado em Leal, 2013,

p.5), considera que alguns desses efeitos se prendem com o enfraquecimento e desmoralização

pelos quais o jornalismo tem vindo a passar. E isso pode estar relacionado com a perceção dos

leitores de que a maioria das notícias é praticamente igual em todos os meios, consequência da

dependência para com as agências de notícias. A meu ver, o V Digital é um desses casos e, pela

posição que a direção de Sérgio Sousa marcou, quando chegou à liderança do canal, corrobora a

minha perceção de que, depender de agências e publicar notícias no site semelhantes às demais

produzidas pelos outros meios de comunicação, afasta os leitores.

1.10. As notícias de agenda… que saltam da agenda

Mas havia um esforço para fazer conteúdos fora da agenda mediática, longe do trabalho pré-

fabricado, e isso via-se nas reuniões de planeamento. Todas as sextas-feiras, os jornalistas eram

chamados a reunir para darem as suas ideias. Essas constituíam a grelha de trabalho para as

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próximas semanas. Eram atribuídas aos jornalistas e delineada uma data de publicação. Tal facto

dava, no meu ponto de vista, autonomia aos jornalistas, no que concerne àquilo que é produzido,

aumentando, consequentemente, o seu nível de motivação. A mim fez-me ser ativa, procurar

informação, estar atenta à atualidade e puxar pela criatividade para enquadrar os temas naquilo

que eram os programas do canal, pois era destas reuniões de planeamento que saíam a maioria

deles.

No entanto, verifiquei no decorrer do estágio que a maioria das reuniões de planeamento, das

quais saíam imensas ideias, tinham também muitas supostas notícias que nunca chegavam a

acontecer e outras publicadas depois do prazo, falhando o planeamento. Fui-me apercebendo que

eram mais os prazos que não eram cumpridos do que aquelas notícias que, efetivamente, saíam

na data prevista.

Com a entrada de uma direção para o canal, foi aumentando quer o número de notícias que não

eram cumpridas, quer decrescendo o número de notícias publicadas por mês. Tais dados serão

alvo de análise no quarto capítulo deste relatório, para uma posterior discussão sobre este assunto.

Também eu falhei com as notícias do planeamento. Em causa estavam, muitas vezes, fatores

alheios à redação. Por exemplo, nem sempre era possível agendar as entrevistas quando se queria.

Também a minha falta de rapidez a montar a linha da reportagem, no início, fez atrasar algumas

das minhas entregas. Em outros casos, o facto de ser verão e muitas das fontes estarem de férias,

impossibilitava o contacto direto com a fonte na data idealizada. Ou seja, não se pode descurar

que nem sempre os jornalistas conseguem controlar as datas das entrevistas.

A falta de cumprimento dos prazos estabelecidos provocava alguns constrangimentos. O V Digital

tinha datas específicas para saírem certos programas, tais como o “Suplemento de Alma”. Numa

das vezes em que esse programa me estava atribuído, surgiu um imprevisto e os entrevistados –

que estavam em viagem – falharam a data planeada. Foram momentos de aflição, porque a editora

disse-me que não tinha outro programa para substituir o meu, caso não conseguisse obter a

entrevista. A pressão foi enorme, pois, sem entrevista não havia programa. Foi necessário passar

o trabalho a outro colega que estava de serviço no fim-de-semana, para se conseguir cumprir com

o planeamento. Embora este tenha sido um caso de sucesso, reflete a impotência dos jornalistas

face a algumas destas situações.

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Porém, considero que, através do diálogo entre os colaboradores, algumas situações poderiam

ser precavidas. Fui-me apercebendo do desejo, quer dos jornalistas, quer da direção e editores,

em criar-se notícias intemporais que ficassem guardadas para utilizar-se sempre que imprevistos

acontecessem. No entanto, até à data de conclusão de estágio, tal ideia não tinha sido

implementada.

Tendo em conta que as notícias e reportagens do V Digital não privilegiavam o fator “atualidade”,

penso que não haveria problema em não se cumprir escrupulosamente o planeamento. Mas o

facto de haver, à data do estágio, reportagens com data de publicação fixa, fez-me considerar

importante esse cumprimento. Não publicar um conteúdo significava quebrar um hábito do leitor

que sabia que, à segunda-feira, por exemplo, havia “Suplemento de Alma”. Mas, para que isso

não acontecesse, era comum verificar o stress da redação sempre que havia esses programas,

pois, se alguma coisa falhasse, nada seria publicado. Essa falha de planeamento pode ser ainda

mais grave, se atendermos ao facto de que o V Digital publicava um conteúdo original – isto é,

longe do trabalho das agências de notícias. Isto porque a ausência dessa publicação significaria

um dia inteiro dependente do trabalho “pré-fabricado”.

1.11. A procura por um jornalismo multitasking como consequência da quebra

de receitas

Nas primeiras reportagens que fiz, como, por exemplo, “Estas notas de um dólar são obras de

arte”, não era eu quem legendava os vídeos. Ou seja, o editor de vídeo ouvia todas as falas e

transcrevia aquilo que diziam. No entanto, senti que poderia evoluir mais se me tornasse mais

autónoma. Legendar os vídeos era uma das minhas ambições pois tinha a certeza de que, se

perguntasse, alguém me ensinaria. Até porque, no V Digital, nenhuma aprendizagem me foi

negada.

Aprender a lidar com ferramentas de edição de vídeo é cada vez mais uma necessidade para os

jornalistas. O jornalismo faz-se valer cada vez mais da imagem e, por isso, saber filmar e editar

tornam-se competências importantes, a meu ver, para o profissional. Com a evolução tecnológica,

alteraram-se os meios por onde a informação é disseminada, assim como os métodos de recolha

e tratamento dos factos (Lewis et al, 2008). Ao mesmo tempo, assiste-se a uma diminuição no

que respeita às fontes de receita dos média que, em muito, se deveu à crise económica portuguesa

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(Bastos, 2014). Menos dinheiro a entrar nos jornais significou um número crescente de

despedimentos nas redações. O volume de trabalho aumentou para os jornalista que passaram a

ter que realizar múltiplas funções em simultâneo: entrevistar, filmar, editar fotografar e escrever.

“A pressão, sublinha, é ao mesmo tempo laboral (despedimentos, instabilidade de emprego,

precariedade, diminuição dos salários reais, desrespeito pela contratação coletiva, emagrecimento

das redações, imposição da polivalência funcional), profissional, ética, empresarial, político-

ideológica e de autonomia” (Bastos, 2014, p.45).

Até 2001, assistiu-se a aumento de jornalistas. Este boom deu-se com o aparecimento do mercado

televisivo privado, tendo triplicado de 1990 a 2001 “passando de 2.347 para 6.230 profissionais

(Fidalgo, 2005, p.10). Mas, se confrontarmos os dados de 2005 com as estatísticas

disponibilizadas no site da Comissão da Carteira Profissional de Jornalista10 (CCPJ), a 6 de março

de 2019, verificamos que houve um decréscimo no número de profissionais no ativo (CCPJ, 2018).

Em março de 2019 havia 5.549 jornalistas a exercerem a profissão. Mas Fidalgo (2005) afirmava

que havia uma tendência para a heterogeneidade na classe profissional, com uma tendência

ascendente do número de mulheres e com formação académica. Já os dados consultados,

referentes a março de 2019, mostram que ainda há um longo caminho a percorrer no que

concerne à igualdade de género no jornalismo: a maioria dos jornalistas é do sexo masculino

(3.303 face a 2.278 mulheres) e há 1.253 a exercerem com o ensino secundário, face aos 1.115

licenciados e 150 mestres (ERC, 2018). Este contexto inicial serve para ilustrar que há muitos

fatores que influenciam alterações à prática jornalística e um deles diz respeito à gestão dos

recursos humanos (Lewis et al, 2008).

As receitas dos média advêm, essencialmente, da venda de publicidade. Um dos administradores

da GMG, em visita à redação do V Digital, informou a equipa da importância da produção do vídeo

por parte do grupo. Isto porque, frisou, tinha havido uma quebra inesperada de investimento

publicitário no verão de 2018. Ao mesmo tempo, referiu que a venda dos jornais dos demais

órgãos do grupo, como o JN e DN, continuavam a ser a segunda principal fonte de receita que

alimentava o grupo. Porém, as vendas continuavam a decrescer. Nesse sentido, a pessoa salientou

a importância do vídeo como forma de mostrar a qualidade da produção do grupo nesta linguagem

e de captar a publicidade. “O importante é que, quando uma marca como a BMW quiser um

10 Dados retirados das últimas estatística disponibilizadas pela Comissão da Carteira Profissional do Jornalista a 26 de março de 2019, disponíveis em: https://www.ccpj.pt/media/1227/cp.pdf

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anúncio publicitário venha até nós, porque sabe a qualidade que a nossa produtora de vídeo tem.

E o V Digital acaba por ser também uma montra desse trabalho”, disse. No entanto, parece-me

que ter esta conversa com os jornalistas denota alguma promiscuidade, tendo em conta que

jornalismo e publicidade são áreas incompatíveis. É certo que, hoje em dia, se verifica a

emancipação de publireportagens, algumas assinaladas como tal e outras “mascaradas” de

jornalismo (Veríssimo, 2017).

Com a crise emergente no jornalismo e com as fontes de receita a diminuírem, tem-se verificado

uma crescente aposta em conteúdos híbridos, não em relação às linguagens, mas no que

concerne à mistura entre duas áreas distintas da comunicação: o jornalismo e a publicidade

(Veríssimo, 2017). As marcas pagam aos jornais para fazerem delas notícia, com o objetivo puro

de divulgar e fazer crescer as vendas e as marcas. Outras são “mascaradas” em press releases

e, como referido anteriormente, o cariz publicitário nem sempre é filtrado pelos jornalistas

(Veríssimo, 2017).Mas, a verdade, é que fazer jornalismo é defender o seu princípio: informar. E,

por isso, parece-me que misturar estas duas áreas que possuem objetivos nitidamente distintos é

errar enquanto profissionais do jornalismo e violar os princípios éticos. Principalmente, quando se

trata de conteúdos jornalísticos que escondem a publicidade que nutrem. Durante a experiência

de estágio não estive envolvida em publireportagens. No entanto, observei alguns comportamentos

que me fizeram pensar no “porquê” de os jornalistas aceitarem compactuar com estes conteúdos.

Não me parece que seja uma questão de escolha do jornalista e isso deve-se, na minha opinião,

à falta de emprego e às condições de trabalho no mercado. As redações são hierarquizadas, o

que condiciona o poder de recusa em situações como a realização de publireportagens.

Suponhamos que estaria a lutar por um lugar de trabalho. O meu chefe de redação atribui-me

uma reportagem que pouco tem de informação e muito tem de publicidade. Dizer que não a este

trabalho é legítimo, e está no código deontológico do jornalista a possibilidade de recusa quando

a tarefa vai contra os seus princípios éticos. Este caso é tanto antiético como contrário à legislação

de compatibilidade de profissões. Porém, dizer que “não” pode significar um despedimento.

A situação laboral dos jornalistas não é, segundo o que observei da realidade dos meus colegas,

estável. As redações “emagrecem” e com elas aumenta a disputa por um lugar de trabalho. Com

isto, defendo efetivamente que é um dever do jornalista escusar-se a fazer trabalhos que misturem

jornalismo e publicidade. Porém, há que atender ao novo paradigma que o jornalismo enfrenta e

que vem sendo debatido ao longo deste relatório de estágio. Embora não se tenha de aceitar, os

constrangimentos podem influenciar a decisão final do jornalista.

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Além desta questão, há outra que se foi evidenciando: o aparecimento do jornalismo multitasking.

Esta designação diz respeito à realização, por parte de um indivíduo, de várias tarefas. Este

conceito pode ser encarado de forma positiva, mas também negativa. Por um lado, o saber não

ocupa lugar, já diz o ditado. Os cursos superiores são cada vez mais multitasking. Ensinam-nos

várias valências que se manifestam úteis, quando se procura trabalho. Quando procurei emprego,

foi-me sempre perguntado se sabia editar, tirar fotografias, mexer em múltiplos programas, como

o Première, o Audition, entre outros. Mas, por outro lado, saber tudo pode significar não saber

fazer nada bem e isso poderá resultar em erros jornalísticos. Estar a filmar ao mesmo tempo que

são colocadas perguntas ao entrevistado pode resultar em maus enquadramentos, planos

esteticamente maus ou a perda de oportunidade de perguntas pertinentes por falta de atenção ao

que o entrevistado está a dizer. Ou seja, o jornalista deixa de estar focado numa só coisa e passa

a controlar várias ao mesmo tempo.

Um dos meus objetivos com o estágio no V Digital passava pela melhoria das competências de

edição em Première. Já sabia editar (mas de uma forma muito simples), sabia filmar (mas apenas

com a minha máquina fotográfica) e pouco mais. Tendo em conta os excelentes profissionais que

integravam a equipa, julguei que esta seria uma oportunidade de aprender com os melhores.

Comecei por observar tudo o que o editor César Sousa fazia na captação dos planos de corte.

Tentei ganhar alguma sensibilidade para a filmagem e aprender, através da observação, a editar

melhor. Não porque seja defensora deste conceito de multitasking, mas porque sei as exigências

que nos fazem, recém-licenciados e recém-mestrados, de dominarmos todos os setores que

envolvem a produção de conteúdo. No entanto, no V Digital , há distinção entre o trabalho de editor

e câmara face ao jornalista. Este último, por vezes, edita parte da sua reportagem, mas no sentido

de ser o responsável pela construção da narrativa. Os editores atuam como forma de limar arestas.

Além disso, só filmei num trabalho e porque surgiu, no terreno, a necessidade de filmar em

múltiplas dimensões. Ainda assim, filmei apenas, quando não me encontrava em período de

entrevista, para que não perdesse o foco. Considero que esta é a melhor prática. Ainda que possa

parecer contraditório, confesso que o facto de ter editado e filmado pouco me entristeceu. Não

consegui enriquecer muito as minhas habilidades noutras áreas que fogem um pouco daquilo que

eram as minhas tarefas habituais de jornalista. Esta oportunidade não me foi dada, mas fui em

busca dela através dos pedidos que ia fazendo aos meus colegas da área da fotografia e do vídeo.

Mas, essas aprendizagens deram-se, sobretudo, fora do horário e do ritmo de trabalho. Penso que

o facto de não me terem permitido fazer um jornalismo multitasking se prende com o

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profissionalismo que os membros da equipa pretendem que as peças tenham. Defendem que

cada um tem a sua tarefa em específico e isso ajuda a que cada pessoa se foque na sua tarefa e

a faça com eficácia e rapidez.

1.12 Em Síntese

Discutidas todas estas experiências decorrentes do estágio, é tempo de refletir sobre algumas das

problemáticas que mais se evidenciaram nestes três meses.

A primeira questão que se salienta é o novo papel do jornalista, bem como o novo paradigma que

a profissão enfrenta numa era cada vez mais voltada para o mundo online, numa comunicação

que passou a ser de todos, para todos. Falar em jornalista num meio como o V Digital é falar na

capacidade de adaptação às caraterísticas ao online, como a rapidez de produção e a capacidade

de atualização da informação ao minuto. Tais especificidades do meio obrigam o profissional de

comunicação a ser cada vez mais rápido e sucinto. Por outro lado, o jornalista passou a ser um

profissional sedentário, que procura fontes que colocam ao seu dispor conteúdos praticamente

prontos a serem publicados, em vez de ir à procura, no terreno ou até por via telefónica (entre

outras formas), de contacto direto com a sua fonte de informação, muito derivado da falta de

tempo para trabalhos morosos, assim como de recursos económicos.

Esta é a questão que mais se mostrou alarmante: comprovar que toda a teoria existente sobre a

prática do jornalismo de investigação, género jornalístico que exige espírito de curiosidade, “faro”

jornalístico, persistência, coragem e até paciência – devido ao tempo dispensado em busca da

informação completa e rigorosa que explique os fenómenos – tem vindo a decrescer. E o V Digital

mostrou isso mesmo. O meu trabalho, enquanto estagiária, muito pouco permitiu demonstrar e

fomentar as caraterísticas de um jornalista ativo. Apenas precisei de colocar em prática algumas

delas, nos casos que disseram respeito a conteúdos independentes de fontes de informação como

o Wibbitz, Lusa e Reuters. É de ressalvar que tais trabalhos representavam uma pequena

percentagem do elaborado em três meses de estágio. Não considero justificação o facto de ser

estagiária, pois a editora sempre me tratou como aos outros jornalistas, o que, de certo modo,

não deveria acontecer, como anteriormente explicado. Daquilo que observei a partir dos emails

diários que davam conta dos temas a abordar durante o dia, todos os jornalistas faziam a maioria

do seu trabalho a partir de Wibbitz, ou seja, conteúdos pré-elaborados. Se assim é, caminhamos

para um jornalismo cada vez mais indiferenciado entre meios, porque a informação oriunda de

veículos informativos que fabricam e partilham informação com os órgãos de comunicação social

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é acessível a todos. Isso foi comprovado com a reação da nova direção face ao caminho que o

local onde estagiei estaria a seguir, uma vez que mudou a grelha de programação excluindo, quase

na sua totalidade, conteúdos provenientes de agências noticiosas. Depender exclusivamente de

notícias oriundas de agências é uma prática com riscos associados. Se, por um lado, o leitor exige

cada vez mais conteúdos online, obrigando a uma grande produção de informação, por outro lado

as redações estão “emagrecidas” pela debilidade económica que as organizações atravessam.

Disto tem resultado a procura crescente por fontes como agências noticiosas e as atividades de

relações públicas. Desta dependência exclusiva dos jornalistas das estas fontes, podem resultar

notícias com pouco rigor informativo, tal como discutido anteriormente, e pode reduzir-se a

diversidade de temas e ângulos de abordagem.

Além desta questão da decadência do jornalismo de investigação e autónomo nas redações online,

assiste-se a um novo paradigma no que concerne à forma como os conteúdos são apresentados

aos leitores. As caraterísticas do online têm feito com que os conteúdos sejam cada vez mais

híbridos, com complementaridade entre as linguagens. A linguagem sonora torna-se crucial, na

medida em que cria emoções e ajuda a contar a história. Ao mesmo tempo que o visual conta a

maioria da narrativa, comprova o real e o proferido pelos elementos textuais.

Torna-se assim pertinente analisar o que de novo acarretou o aparecimento do V Digital para a

informação pública. Ao mesmo tempo, importa perceber quais as rotinas de produção jornalística

num canal online de vídeo informativo, como o V Digital se autoapresenta. No que concerne a esta

análise, todo este panorama suscitou a curiosidade em registar como é organizado o trabalho

diário e com que linguagens as notícias são construídas, como forma verificar se o jornalismo

neste local segue os princípios do online e se evoluiu diante dos mesmos. A fim de se perceber a

dependência do meio face aos conteúdos pré-fabricados, tornou-se fulcral analisar as fontes de

informação mais utilizadas pelos jornalistas, bem como a tipologia de ciberjornalismo exercida no

V Digital.

Ao longo do relato do estágio, foi possível percecionar a pouca aproximação do meio aos leitores

nos seus primeiros meses de vida, o que não era o desejado e espectável pela GMG. Os números

baixos foram justificados pela falta de conteúdos originais e pela falta de investimento na área do

marketing e publicidade. Foi daqui que surgiu a vontade de perceber quais os valores-notícia que

foram mais valorizados pelo canal, a fim de entender se há ou não uma preocupação em filtrar as

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informações que chegam à redação. A par disso, é importante perceber se os valores-notícia são

aqueles que mais atraem ou não os leitores.

Ainda referente à questão dos leitores, há a forma como o V Digital apresenta os conteúdos online.

As linguagens utilizadas são híbridas, no entanto, produzir para o online requer que os conteúdos

possuam caraterísticas da Web, como a hipertextualidade, a personalização da informação, a

interatividade, entre outros, e é necessário entender se a dita falta de leitores era proveniente do

não cumprimento destas características.

Mas o que mais me preocupou ao longo do período de estágio foram os despedimentos dos

jornalistas. De um em um, poucos foram os que ficaram e, estranhamente, nenhum dos que saiu

foi reposto. Embora fosse um novo órgão, o V Digital inseria-se num grupo de comunicação com

poder, credibilidade e mediatismo, a GMG.

É, assim, objetivo deste trabalho, responder à seguinte questão de partida: Em que medida é que

as exigências que o ambiente online coloca ao jornalismo e aos jornalistas estão a mudar a rotina

de produção jornalística? Para tal, procurarei: a) analisar a produção noticiosa no V Digital; b)

compreender de que modo estão patentes as caraterísticas do webjornalismo presentes; c)

analisar a predominância de conteúdos pré-fabricados; d) verificar as linguagens predominantes

no canal online; e) percecionar o papel do jornalista no processo de produção das notícias. Desta

forma, espera-se compreender em que medida as exigências do meio online estão a mudar o

paradigma da informação, no que concerne ao trabalho do jornalista.

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Capítulo 2- Enquadramento Teórico

Descrita a experiência de estágio e as questões que dela surgiram, importa perceber quais são,

efetivamente, as caraterísticas do webjornalismo, a fim de confrontar, no próximo capítulo, as

perspetivas teóricas com aquilo que observei durante a experiência de estágio.

Constatou-se nesta revisão teórica que o jornalismo vive um novo paradigma, impulsionado pela

World Wide Web, isto é, a web. A informação passou a integrar uma nova plataforma, alterando

as rotinas e a produção das notícias. Inicialmente, aquilo que chamamos de webjornalismo

(conceito utilizado em todo este relatório de estágio, que consiste no exercício da profissão no

meio online e para o meio online) apareceu como a transposição daquilo que era feito nos meios

tradicionais para a web (Canavilhas, 2014). Porém, com o passar dos anos, tem-se vindo a assistir

a um novo fenómeno: o meio online integrou conteúdos pensados consoante as especificidades e

potencialidades do meio. A web passou a ser assim um meio potencializador de publicações

nativas (Canavilhas, 2014).

E é nesse sentido que se torna pertinente analisar esses conteúdos nativos, à luz das perspetivas

dos investigadores da área, pensados e produzidos para o online.

2.1. Caraterísticas do meio online

Até ao início do ano 2000, a imprensa limitava-se a transportar para o meio online aquilo que era

publicado nos jornais. Esta foi a primeira fase do jornalismo na Internet, descrita por Santos (2018)

como jornalismo 1.0. Mas esta realidade alterou-se: “com o aparecimento da Internet verificou-se

uma rápida migração dos mass media existentes para o novo meio sem que, no entanto, se tenha

verificado qualquer alteração na linguagem” (Canavilhas, 2003, p. 63). Devido à proliferação das

tecnologias, da comercialização e do fenómeno da globalização da informação, os jornais

aperceberam-se das potencialidades do online e passaram a realizar trabalhos jornalísticos

adequados às caraterísticas deste meio (Santos, 2018). Mas se, em 2003, uma webnotícia já era

considerada um conteúdo apropriado a este meio, já que integrava elementos multimédia,

“alterando o processo e a forma de ler” (Canavilhas, 2003, p.64), com o avançar do conhecimento

acerca das potencialidades da web, os conteúdos noticiosos, distribuídos através da Internet,

começaram a ter outras caraterísticas, apropriadas à linguagem específica do online. Estamos,

assim, perante uma modificação, onde a Internet se tem vindo a afirmar. Exemplo disso é o

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aumento do número de utilizadores nos últimos anos (Digital News Report, 201911). Mas, produzir-

se informação para a web significou, e continua a significar, uma reestruturação, não só daquilo

que eram as práticas do jornalismo, mas também das novas formas de negócio, de consumo e

de distribuição da informação (Santos,2018). Com isto, evoluiu-se para o jornalismo 2.0, aquele

em que o jornalismo era de e para a rede. Atualmente, o público vive mergulhado no jornalismo

3.0, que é aquele que “socializa esses conteúdos [de e para a web] e os próprios meios” (Santos,

2018, p.2).

O jornalismo online passou, assim, a ter novas formas de contar histórias através das novas

ferramentas que o meio disponibilizou. O jornalista tem ao seu dispor várias linguagens, como a

textual, a sonora e a visual, para criar um só conteúdo, ao contrário daquilo que vinha a acontecer

noutros meios de proliferação de informação até então (Santaella, 2012). O jornalismo 3.0 passou

a dotar o leitor de um maior poder, alterando-se a forma tradicional de interação, deixando de ser

passiva por parte de quem pegava num jornal e o lia no café. O consumidor de notícias começou

a ter liberdade para interagir com os conteúdos (Ganiyu & Akinreti, 2015). É por causa destas

transformações que se torna fulcral estudar o novo paradigma do jornalismo, pelas grandes

mudanças que está a produzir no negócio da informação, assim como nas rotinas dos jornalistas

que trabalham para o online. De forma resumida, a tecnologia artificial veio permitir aos jornalistas

fazer análises de dados, articular com várias fontes com maior rapidez, ver coisas que, a “olho

nu”, seriam impossíveis de ver, assim como transformar dados em palavras, palavras em dados,

texto em áudio, e muito mais (Marconi, Siegman & Journalist, 2017). No entanto, há riscos

associados ao paradigma do jornalismo, após imergir no mundo da tecnologia da informação, tais

como a falta de verificação da informação, assim como o facto de os algoritmos serem propícios

a preconceitos, tal como os seres humanos (Doherty, 2018), questões que serão abordadas mais

profundamente neste capítulo.

Antes de analisarmos as caraterísticas dos conteúdos do V Digital (embora o tenhamos feito ao

longo do relato da experiência de estágio), importa recordarmos o que a teoria diz acerca deste

tópico, para que, depois, possa inferir de que modo o atual estado do jornalismo online interferiu

na rotina de produção dos jornalistas do V Digital, ao ponto de ter havido uma restruturação tal

11 Estes dados são possíveis de consultar através do site http://www.digitalnewsreport.org/survey/2019/portugal-2019/. Tendo em conta que não havia, à data da redação deste capítulo, os dados disponível em documento redigido por autor e que os dados ainda estavam a ser atualizados, não irá constar nas referências bibliográficas, como indicam as normas do CECS.

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neste órgão que a maioria da redação foi dispensada, um ano depois da formação deste, que era

o único canal de vídeo com tais especificidades do online, como veremos posteriormente.

2.1.1 A hipertextualidade

Canavilhas (2014) fala na hipertextualidade como uma das principais caraterísticas espoletadas

pelo meio online nos conteúdos jornalísticos. Para o autor, o texto é a linguagem mais utilizada no

webjornalismo, “uma realidade explicada por fatores de ordem histórica, técnica e económica”

(Canavilhas, 2014, p.3). Esta ligação histórica ao texto remete à imprensa escrita, a primeira forma

de apresentação do conteúdo noticioso à população. Mas a ligação da imprensa ao meio online

também foi pioneira. Tendo em conta que se usava, já na década de 80, da tecnologia e da

linguagem HTML para paginar, de forma mais rápida e mais económica, a imprensa descobriu

que o online poderia ser uma forma diferente de comunicar (Canavilhas, 2014). Desta forma, os

jornais foram os primeiros a fazerem a transposição dos conteúdos da sua versão impressa para

as suas edições na web, “tornando o seu conteúdo mais caraterístico – o texto – no elemento

mais utilizado das online” (Canavilhas, 2014, p.3). A opção pela linguagem textual tornou-se clara,

quando se percebeu o tempo que o leitor demorava a abrir um conteúdo com uma fotografia, que

era muito. Com a evolução da Internet, a rapidez aumentou e, por isso, observamos cada vez mais

fotografias nos meios de comunicação (Canavilhas, 2014), como é o caso do V Digital. Usam o

texto como forma de conduzir o leitor na linha informativa dos vídeos, mas toda a narrativa conta-

se sobre um plano de fundo construído através de imagens estáticas e/ou em movimento.

A primeira definição de hipertextualidade surgiu nos anos 60 por Theodor Nelson (citado em

Canavilhas, 2014, p.4), que definiu o conceito como o texto que permite ao leitor aceder a

diferentes opções de leituras, estando a escolha na posse do leitor. A definição foi evoluindo,

consoante as potencialidades da web se iam aprimorando. A hipertextualidade foi definida, depois,

por Nielsen (1995) como “a possibilidade de usar uma hiperligação para ligar dois nós

informativos, normalmente o nó âncora ao nó de destino” (Nielsen, 1995, citado em Canavilhas,

2014, p.5). No entanto, a adaptação às novas tecnologias, por parte dos jornalistas, tem sido uma

constante, o que faz com que a definição se altere ao longo dos anos. Mais recentemente,

Canavilhas (2014) indicou os caminhos a percorrer para alcançar, através da hipertextualidade, o

sucesso da transmissão da informação na web, tal como se pode ver na figura 8 apresentada

seguidamente.

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Figura 8: Processo de criação de conteúdos com hipertexto

A hipertextualidade conta com a ajuda de ferramentas de distribuição online, tais como os

mecanismos de pesquisa, que dão oportunidade de encontrar mais informações e atualizações e

permitem que o jornalista consiga aprofundar o tema e dá-lo ao leitor de forma mais

pormenorizada. São as ferramentas de pesquisa que dão também oportunidade de, num único

texto, conseguirmos, através de hiperligações, viajar pelo mundo online e arrecadar mais

conhecimentos (Marconi, Siegman & Journalist, 2017). Um jornalismo de rede é uma dose

concentrada de notícias com participação de cidadãos, interativas e conectadas pelas mãos dos

profissionais (Marconi, Siegman & Journalist, 2017).

Pela minha experiência de estágio, definiria o hipertexto como a construção de sentidos através

da ligação a outros conteúdos, pela utilização de hiperligações. Verificou-se a utilização de

hipertextualidade no V digital em duas situações distintas: primeiro, quando o elemento dominante

era o texto e algumas palavras continuavam ligações que encaminhavam para outras informações.

Tal acontecia nos textos em que a informação era veiculada através da linguagem textual. Além

disso, era comum verificar frases com ligações na frase que acompanhava a publicação da notícia

nas redes sociais, como o Facebook. Desta forma, oferecia-se ao leitor mais informação,

possibilidade que estava nas suas mãos.

Em todo o caso, Doherty (2018) afirma que a hipertextualidade é uma tentativa de adaptação do

jornalismo às ferramentas de que a web dispõe. O hipertexto, assim como a adaptação ao

multimédia, ao jornalismo de dados e a outras potencialidades do meio não representam inovação,

mas antes uma adaptação da prática jornalística ao meio. As tecnologias da web foram impostas

aos jornalistas, acarretando mudanças significativas. Isto porque emergiu a necessidade de

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encontrar novas formas de oferecer novos produtos à audiência, de modo a envolver o público e,

nesse sentido, o hipertexto torna-se uma componente de envolvência. A hipertextualidade leva as

histórias para outros lugares, assim como traz nova informação para as histórias. Há, deste modo,

uma forma de fornecer imediatismo em movimento (Doherty, 2018).

No entanto a hipertextualidade pode deixar de ser benéfica, caso não haja uma composição interna

que relacione a informação de forma organizada e coerente com o conteúdo principal. Há ainda a

necessidade de contextualizar primeiro o leitor sobre aquilo de que se fala, antes de lhe ser

proposta uma nova viagem por conteúdos ligados entre si através da hipertextualidade (Canavilhas,

2014). Isto porque “a própria natureza do jornalismo implica a existência de algum tipo de marca

que indique ao leitor qual o ponto focal do trabalho” (Canavilhas, 2014, p. 7).

2.1.2 A multimedialidade

Salaverría (2014) afirma que o ser humano é multimédia. Não compara o ser humano a máquinas,

mas antes à sua capacidade de reagir e de se exprimir de várias maneiras e através de diversos

sentidos. Quando o jornalista está no terreno – e vivi isso durante várias situações de estágio –

capta a informação por diversas vias: visão, olfato, tato, entre outros. Ou seja, comunicamos de

forma multissensorial e recebemos a informação dessa forma (Salaverría, 2014). Por exemplo,

como descrevi anteriormente, o olhar dos entrevistados comunicou comigo em diversas situações,

tanto ou mais do que as suas palavras. Assim como os gestos, que, por exemplo, espelhavam o

sistema nervoso naquele momento. Por esse motivo, Salaverría (2014) considera insuficiente que

se considere um conteúdo multimédia aquele que alia texto, som e imagem. O autor defende que

a definição de multimédia vai muito para além disso. Diz antes que é aquele que possui: a)

multiplataforma; b) polivalência e c) combina diversas linguagens, tornando-se num meio híbrido.

É a multimedialidade que permite contar histórias “de uma forma inovadora, diversificada e,

consequentemente, atrativa” (Marques & Peixinho, 2016, p.4). Isto porque a Internet permite ao

jornalista contar os factos através da combinação de diversos suportes, que devem ser feitos

consoante aquilo que se quer expressar. A multimedialidade significa, portanto, recorrer a

diferentes formatos, colocar o conteúdo em diferentes plataformas, que podem estar ligadas

através de hiperligações, de modo a criar um mundo diegético (Marques & Peixinho, 2016). Tal

caraterística faz o leitor imergir na história, de modo a que a retenha de forma mais eficaz e

profunda.

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Perante este conceito que Salaverría (2014) nos apresenta, podemos afirmar que, em parte, os

conteúdos produzidos durante o estágio foram multimédia. Isto porque eram feitos a pensar nas

multiplataformas onde seriam publicados, como o Facebook, o Instagram e o próprio site. Por

causa disso, foi surgindo a necessidade de se produzir teasers dos vídeos, ou seja, um vídeo com

máximo de 30 segundos, apropriado à rapidez que as plataformas exigem. Era uma estratégia

para despertar o interesse do leitor para o vídeo completo. O mesmo aconteceu com o ficheiro

para o Instagram. A exportação de cada reportagem era feita em 4:4, ao contrário das que se

destinavam a outras plataformas. A combinação das linguagens é outra caraterística que se foi

comprovando que o V Digital apresentava na web, visto que combinava o texto, a imagem e o som

de modo a colmatar as debilidades de cada linguagem e produzir um conteúdo mais pensado para

as caraterísticas das multiplataformas em que se apresentava. Tocar os cinco sentidos do leitor

pode ser o fator diferenciador no meio de inúmeros veículos de informação que contam, muitas

vezes, a mesma história (Marques & Peixinho, 2016). É precisamente pelas novas exigências,

quer do cidadão (que muitas vezes também recolhe e dissemina informação), quer da

concorrência entre meios de comunicação, que é cada vez mais importante a forma como o

conteúdo é transmitido ao leitor. É necessário ser-se multimédia, de modo a ser-se diferente da

demais informação, por mais que os factos sejam os mesmos. A noção de que o trabalho do

jornalista perderia relevância com a chegada da interatividade (caraterística que será

seguidamente explorada) e com os novos produtores de informação, tem vindo a dissipar-se. O

papel do jornalista torna-se mais relevante, no sentido em que é ele o conhecedor das formas de

tratamento da informação, assim como o seu enquadramento (Marinho, 2011).

Constatei, assim, que o V Digital possuía esta caraterística potencializada pelo meio, embora esta

questão seja abordada posteriormente a partir de dados da investigação empírica.

2.1.3 A interatividade

Rost (2014) defende que é no conceito de interatividade que assenta o pilar mais importante do

webjornalismo. O mesmo está implícito no processo jornalístico, bem como nas próprias

produções jornalísticas. Ou seja, é o processo de interação com o outro, isto é, entre o jornalista,

o meio e os leitores (que, por vezes, também são as suas fontes de informação). É cada vez mais

uma necessidade do leitor ser ativo nos conteúdos que consome. Já não lhe chega apenas ler, ele

quer também pesquisar, e que, com um clique, lhe seja mostrada uma nova página, com novos

dados. Se gostar do conteúdo, o leitor sente necessidade de partilhar com a sua rede de amigos,

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de recomendar ou até de comentar (que é uma forma de interagirem também com o conteúdo)

(Deuze, 2017).

Há, assim, diversas formas de interação com as notícias. Uma delas é a partir de um conteúdo

estabelecer-se ligação com outros, através de hiperligações e dar a possibilidade ao leitor visualizar

conteúdos multimédia (Russel, 2017). Esta é uma forma de dotarmos o navegador de liberdade,

que pode também fazer transitar os conteúdos entre plataformas, através de um simples clique,

partilhando-o.

Este conceito de interatividade é entendido como positivo por Ksiazek, Peer e Lessard (2014), por

permitir aos jornalistas estarem mais próximos do seu público. Com o jornal impresso, os leitores

apenas conseguem ler a informação, de forma passiva, sem interação com o conteúdo ou com o

jornalista. Já com a publicação no online, a comunicação passou a permitir ao leitor comentar,

escolher o caminho a fazer dentro do conteúdo através das hiperligações, e relacionar-se, através

de chat de comunicação ou via email, com os profissionais de comunicação (Ksiazek et al, 2014).

Há, desta forma, um fluxo multidirecional da informação, no qual o leitor possui um papel mais

ativo, consciente e participativo face ao conteúdo.

Mas existe vários níveis de participação do cidadão. Por um lado, aquilo que chamamos

ciberjornalismo participativo: “São vistas como possíveis criadoras de seus próprios referentes e

não apenas recriadoras simbólicas de significados ou interpretações dos referentes produzidos e

emitidos por outros através dessas telas” (Gómez, 2009, citado por Palácios, 2014, p.92). É a

interatividade que permite abordar a relação entre o emissor e o recetor, ao mesmo tempo que

analisa o nível de seleção, intervenção e participação nas produções jornalísticas. Essa interação

tem aumentado conforme se toma conhecimento das potencialidades da web, consequentes da

evolução tecnológica (Santos, 2018). Mas é esta evolução tecnológica (a par de outros fatores,

como os económicos) que tem feito com que haja uma constante definição do conceito de

jornalista. Recolher informação e publicá-la diante de um grupo de pessoas está cada vez mais

acessível a todos. Através de um telemóvel, regista-se a fotografia que comprova o facto que é

descrito pelo texto, que vai integrar uma publicação numa rede social, por exemplo.

Não podemos, contudo, esquecer que os grandes - combates que são hoje travados na fronteira do

que é Jornalismo e de quem é jornalista são outros e dizem respeito, como referimos no ponto

anterior, a embates com quem reclama o estatuto de jornalista, como é o caso dos bloggers.

(Marinho, 2011, p.110)

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Mas, por outro lado, a era da convergência – originada pelos avanços tecnológicos – permitiu que

uma notícia fosse construída por um vasto ecossistema de fontes de informação (jornalismo de

ecossistema) que envolve não só o jornalista, como também vários outros agentes, como uma

abordagem em rede, com a participação de grupos, em diferentes lugares, em constante evolução

(Jorgensen, 2014).

Esta proliferação de informação arrecadada pelo cidadão e partilhada pelo mesmo deu o boom

com a emancipação do Facebook, em 2004. No entanto, o cidadão fornece precisamente a

informação e, com ela, o jornalista pode ou não decidir fazer jornalismo. Mais tarde apareceram

novas redes sociais que foram/ vão ganhando terreno, como o Twitter. Por jornalismo participativo

entende-se a colaboração do cidadão, coletivamente com a redação e não de forma paralela. A

população não escreve notícias, mas passa informação ao jornalista. Processo esse que veio a ser

mais facilitado com as redes sociais. Mas, perante estas formas atuar, torna-se importante

assegurar o lugar do jornalista, para que não se confundam os papéis de cada um na sociedade.

Para tal, é necessário manter a lealdade para com os cidadãos, mantendo a sua ética profissional

e a conduta da profissão, respeitando os direitos e os deveres do cidadão participativo como fonte

(Machado, 2001), verificar a informação veiculada e, principalmente, manter a sua independência

face ao cidadão (Canavilhas & Rodrigues, 2012).

Esta participação do cidadão torna-se importante e favorável ao jornalista, caso ele seja capaz de

não descurar as suas tarefas e responsabilidades. Devem, portanto, selecionar e interpretar os

dados, assim como fazer a contextualização dos mesmos e fazer o contraditório (Canavilhas &

Rodrigues, 2012; Santos, 2015; McGregor & Molyneux, 2018; Marín et al., 2017).

Para esta convergência ao nível da produção contribuiu também o aparecimento dos agentes

agregadores, encarados como espaços de convergência, dos quais são exemplo a Google, a Sapo,

o Facebook, entre outras plataformas, que permitem ao leitor comunicar com os jornalistas.

Embora Russel (2017) e Deuze (2017) defendam que há efetivamente uma maior participação

dos cidadãos nas notícias, também reconhecem que os jornalistas mantêm a sua autoridade, no

sentido de manterem o seu papel de “guardiões” das decisões daquilo que é e não é notícia,

assim como de todo o processo que a origina (Russel, 2017; Deuze, 2017). Os jornalistas deram

as boas-vindas aos trabalhos dos cidadãos naquilo que consideram as notícias mais leves, mas

em temas mais complexos, como a política, resistem à interatividade do cidadão. Se, outrora, a

presença nas redes sociais por parte dos profissionais dos órgãos de comunicação se devia à

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necessidade de partilha dos links nas redes, agora prende-se mais com a interação com o público

do que com a autopromoção.

Mas Peixinho e Marques (2015) afirmam que há uma interatividade ilusória. Embora a Internet

permita uma comunicação bidirecional, chamar o jornalismo atual de interativo era, para as

autoras, “sobretudo de alguns sites e empresas de media, um abuso na utilização do termo”

(Peixinho e Marques, 2015, p.123). Defendem, portanto, que o cidadão comum não interfere

“assim tanto” no resultado final do jornalista, embora a tentativa de interferência tenha vindo a

alterar as rotinas de produção dos profissionais de comunicação:

O facto de existirem diversos instrumentos tecnológicos à disposição dos leitores chat, email, fóruns,

redes sociais com linkagem nas páginas online dos meios de comunicação social por si não nos

parece ser suficiente para se afirmar que a interatividade é hoje uma realidade concreta do

jornalismo (Peixinho e Marques, 2015, p.123).

É certo que a maior interatividade do cidadão, nomeadamente no que respeita à sua presença nas

redes sociais e nos sites de notícias, através dos seus comentários, não passa despercebida no

dia a dia do jornalista. No entanto, há rotinas e regras estabelecidas que fazem com que esta

interatividade nem sempre seja levada em consideração pelo jornalista. As redes sociais, por

exemplo, podem fazer parte da rotina dos jornalistas. Uma partilha de um cidadão pode ser o

alerta para um facto que desencadeie uma notícia. Mas nem sempre será assim. As organizações

podem, por exemplo, estabelecer o uso que cada profissional deve dar à rede social (Russel,

2017).

Desta forma, as organizações vão mantendo as práticas oriundas dos meios tradicionais e

adaptando-se às modernas. Ou seja, não se pode descurar que o leitor não é mais um ser passivo,

que espera simplesmente pela receção dos conteúdos. Ele assume hoje mais possibilidades de

interação com os conteúdos, não só pela liberdade de navegação nos mesmos (através do

hipertexto, por exemplo) como também em fazer chegar informação às redações dos jornais e

partilhar as suas opiniões sobre os conteúdos que lê. No entanto, nem sempre a sua interação

com os conteúdos deixa marcas nos mesmos. “Contudo, parece-nos francamente excessivo

considerar que estas peças conferem ao leitor o poder de controlo e menos ainda a possibilidade

de se situar num patamar comunicacional similar ao do emissor” (Peixinho e Marques, 2015,

p.125).

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2.1.4. A instantaneidade

Da correria desesperada pelas audiências, num ambiente em que, quase todos, falam sobre os

mesmos temas, emerge a necessidade de ser o primeiro a noticiar, para mostrar que se é o mais

atento e original. Com isso, os média tentam captar a atenção do leitor para melhorarem as

audiências.

Em 1985, Aurélio Cunha levou anos a escrever uma reportagem, sobre casos de sangue

contaminado, ao serviço do Jornal de Notícias (Cunha, 2015). O caso terminou cinco anos depois

do início das investigações. Aurélio Cunha conta que em 1985 chegou-lhe, via telefone, uma

denúncia, por parte de uma fonte sua, Gina. Anunciava que via diariamente vários homens que

iam até ao pátio do prédio onde morava para “espreitar as pernas das senhoras visto que, como

o elevador estava avariado, tinham de ir pelas escadas” (Cunha, 2015, p. 121). Naquela altura,

aparentemente nada havia ali de notícia, mas Aurélio Cunha decidiu investigar o caso. Soube que

os homens iam todos os dias até ao segundo andar do prédio de Gina. A pesquisa revelou-se muito

morosa, comparativamente às investigações que se levam a cabo atualmente. Para obter

informação, o jornalista teve de ir até ao local.

Esta prática, atualmente, é muito descurada, tendo em conta que as tecnologias permitem aceder

à informação sem a deslocação do jornalista, já que é possível fazer-se trabalho de investigação

através das ferramentas que a tecnologia colocou à disposição do mesmo.

Ainda assim, no caso de Aurélio Cunha, infiltrou-se e fingiu ser um daqueles homens que iam até

ao segundo andar do prédio: fez-se passar por um mendigo que dava sangue para obter uma

esmola.

Começou a minha inquietação. Em dias de folga comecei a frequentar tabernas e, também, as filas

da sopa dos pobres, na ordem da Trindade e na Casa de Saúde da Boavista, a fim de me infiltrar

junto daqueles que vendiam o sangue. (Cunha, 2015, p. 122)

Descobriu que o sangue das transfusões não era controlado e que muitos dos homens estavam

infetados com o vírus da Sida. Fruto desta situação, aumentaram os casos de infetados com essa

doença (Cunha, 2015).

Agora, com as novas tecnologias e a ânsia de publicação primeiro do que os concorrentes, o tempo

dedicado a cada investigação tornou-se, tendencialmente, menor. Também os públicos exigem

que a informação seja veiculada ao segundo. Os jornais já não estão presos aos tempos de

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impressão que condicionava a informação. Por isso, parece não haver condicionantes à

proliferação da informação no imediato com o webjornalismo. “Os repórteres tinham de recolher

informação para a estória, escrevê-la ou editá-la em algum tipo de unidade de produção e, então,

passá-la para outros que a reeditavam, diagramavam, programavam, imprimiam e distribuíam”

(Bradshaw, 2014, 115). O momento de acesso à informação, por parte dos leitores, dependia da

velocidade com que cada etapa fosse realizada. Atualmente, o ritmo de produção é distinto e tem

possibilitado a alimentação das redes com publicação de meia em meia hora, por exemplo.

Ao mesmo tempo, há um jornalismo sem fronteiras. Saber quem é o leitor de um determinado

jornal torna-se difícil. Mas com o webjornalismo chegamos a um estado em que até um jornal local

é global. Quando uma notícia é publicada no meio online, o seu autor deixa de conseguir controlar

quando e onde vai ler a sua notícia. Há, assim, um espaço de convergência e universalidade

(Bradshaw, 2014).

Mas o facto de o jornalista já não estar limitado a questões físicas para recolher informação gera

“um outro lado da moeda”. Também o cidadão comum pode fazê-lo e, por vezes, de forma mais

rápida do que o próprio jornalista que está mergulhado em múltiplas tarefas. O leitor poderá estar

com total disponibilidade, estar no local da ocorrência, com ferramentas de captação de

informação. Tal facto tem originado uma crescente pressão para simplificar as rotinas jornalísticas,

algumas das quais determinantes na qualidade do conteúdo jornalístico, até porque os jornais têm

optado pelo imediatismo em detrimento dos trabalhos morosos. Para que o jornalista consiga

publicar primeiro que o próprio “repórter cidadão”, muitas vezes o trabalho não é revisto nem

supervisionado pelo editor (Bradshaw, 2014). Com todas estas mudanças, começou a ser

recorrente criar notícias constituídas por duas linhas – jornalista e leitor – em que a exatidão pode

ser descurada em detrimento da publicação no imediato.

Há também outro fenómeno: incentivar os leitores a colaborarem gratuitamente. Vai contando ao

jornalista, que está na sua secretária, aquilo que está a acontecer no local, evitando o envio de

uma equipa para realizar a cobertura que o cidadão repórter está a fazer (Bradshaw, 2014). Há

quem diga que o jornalista ainda é, e deve ser, cético ao uso da informação que lhe chega, por

exemplo, por parte de um leitor via Facebook, já que o jornalista não sabe sequer se quem está a

falar é quem vê na fotografia de perfil. Mas Bradshaw (2014) defende que aquilo que os jornalistas

estão a sentir agora é o mesmo que sentiam quando os telefones surgiram. O problema não é a

utilização daquilo que chega pelo online, mas antes da falta de conhecimento de formas de

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verificação de informação neste meio. Na minha primeira semana de estágio, a GMG ofereceu

uma sessão formativa aos colaboradores – na qual estive presente – que teve por objetivo dotar

os profissionais de técnicas de verificação de informação. A intenção era dotar-nos da capacidade

de detetar, através de ferramentas online, notícias falsas. Esta é também uma das vantagens do

online: se, por um lado, permite a disseminação em massa de notícias falsas, permite também

mecanismos para as detetar.

Assim, esta sessão tornou bastante útil, pois consciencializou os ouvintes para os perigos da

instantaneidade. A memória, caraterística anteriormente mencionada, auxilia os jornalistas a

verificarem se há registo da informação que lhe chega. Existem outras técnicas de verificação da

informação, como a utilização do frame-freeze, para vídeos (verificar, por exemplo, se as condições

meteorológicas condizem com data e local), verificar o contexto da comunicação, dados do perfil

de quem comunica (quanto tempo é que existe aquele usuário, a sua rede de amigos, entre

outros). Também o código que é subjacente à comunicação online encaminha para a origem do

vídeo e concede informação sobre quando foi gravado e publicado. Há, também, softwares que

permitem verificar se o vídeo ou o áudio do mesmo foi manipulado (Bradshaw, 2014).

2.1.5 A personalização

Com todas estas mudanças, percebe-se que há um processo facilitado em várias frentes no

webjornalismo: a publicação já não precisa de uma grande máquina para imprimir os conteúdos,

os jornalistas já não têm de se mover sempre até ao local e o processo de escrita alterou-se. A

maior dificuldade deixou de centrar-se em “como publicar a informação” e passou a focar-se em

manter esse conteúdo como o mais relevante para a audiência (Lorenz, 2014).

Na Internet há muito mais formas de comunicar para além dos média e, por isso, importa marcar

a diferença diante dos demais canais de informação. O caminho da personalização é entendido

como o percurso a seguir para conseguir não só captar a atenção dos leitores, como também os

prender para sempre. Mas falar em personalização é fazer alusão à capacidade dos média

responderem às necessidades individuais do público. Este foi um caminho que o V Digital tentou

traçar. A própria segmentação dos programas visou dar resposta a algumas das necessidades.

Exemplo disso era o programa “Quebra-Mitos”, nascido da curiosidade da população em saber se

algumas situações em que acreditamos são verdade, à luz da ciência.

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Também o facto de a população poder escolher o que quer ver, consoante aquilo em que tem

interesse, é uma das potencialidades do online. Há várias opções de oferta baseadas nas

preferências e necessidades do público-alvo (Lorenz, 2014). Ao passo que, ao assistir ao noticiário

da televisão, por exemplo, o telespetador é obrigado a ver as notícias que são escolhidas pelo

canal como essenciais, perante critérios de noticiabilidade, mas que o leitor em nada pode intervir,

no online isso muda. Se uma pessoa mostra mais interesse por conteúdos nacionais, não tem

como fugir aos conteúdos de índole internacional num noticiário televisivo. Já no online, como a

escolha parte da interação do leitor, ele vê aquilo que lhe interessa. Também com os algoritmos

das plataformas informativas, os conteúdos principais que observamos, por exemplo, no destaque

do Facebook, chegam ao leitor pela preferência que já manifestaram e que ficou registada. No

entanto, isto levanta alguns problemas. O utilizador passou a ver apenas aquilo que é fruto de

combinações de sinais que são levados em conta através de algoritmos, que incluem apenas

aquilo que vemos com frequência e excluem aquilo que menos vemos (Poell & Dijck, 2014). Isto

dá ao leitor uma nova lógica de conhecimento, que não depende da sua escolha autónoma, mas

da combinação feita através de uma máquina que julga dar-nos aquilo que queremos ver. Os

algoritmos recolhem dados sociais e oferecem informação personalizada (Poell & Dijck, 2014).

Com esta personalização, acontece que, embora, por exemplo, o V Digital produzisse em média

13 conteúdos12 por dia, nem todas as pessoas que seguiam o meio de comunicação nas redes

sociais teriam esses conteúdos no seu feed de notícias das redes sociais. Ou seja, cada rede social

mostra ao seu leitor o conteúdo que, perante o algoritmo (que analisou vários aspetos relativos ao

seu gosto) ele quererá ver, de forma a que a informação seja personalizada (Borgesius et al, 2016).

Mas com a personalização crescem as preocupações com estas “filter bubble”, que podem limitar

a diversidade de conteúdo com que as pessoas estão em contacto.

Essa personalização levou a preocupações com bolhas de filtro e exposição seletiva: conteúdos e

serviços personalizados podem limitar a diversidade dos conteúdos dos média aos quais as pessoas

estão expostas e, desta forma, ter um efeito adverso no discurso democrático, na mente aberta e

num público saudável. (Borgesius et al, 2016, p.2)

Estes filtros podem fazer com que haja a proliferação de correntes de pensamento extremistas e

conservadoras, por exemplo. Se o algoritmo perceber que o leitor lê artigos “de esquerda”, vai

oferecer-lhe apenas mais artigos “de esquerda”, reforçando apenas a sua ideologia e não lhe

12 Consultar anexo 1

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permitindo fazer leituras de outras correntes de pensamento (Borgesius et al, 2016). Este pode

ser um dos perigos da personalização. Ainda sobre esta questão do algoritmo, Lorenz (2014) alerta

também que medir audiências através de algoritmos pode ser perigoso, assim como tentar chegar

a massas ao invés de públicos mais pequenos. O autor defende que é nos grupos mais restritos

que se encontram públicos mais interessantes. Torna-se importante para os média saberem com

que público lidam, para lhes oferecerem o que eles querem e não apenas entreter multidões.

Desta forma, combatem os filtros e conseguem evitar os padrões gerados pelas máquinas (os

algoritmos e as “bolhas”). No entanto, alerta que entender tal coisa, em milhões de pessoas, só

é possível com a ajuda da inteligência artificial. Já nos grupos pequenos, é possível observar-se

interesses comuns, os seus hábitos e preferências de leituras, e dar-lhes o que mais gostam. A

essa capacidade de perceção o autor chamou de “grau de resposta”. Esta é a capacidade dos

meios se adaptarem “aos diferentes tamanhos de ecrãs, como a um monitor de computador ou

aos tablets e smartphones (ecrãs muito menores)” (Lorenz, 2014, p.142). É igualmente pertinente

perceber-se o dispositivo pelo qual obtêm os conteúdos e o tempo que têm para dedicar a cada

um deles. Este é um ponto que o V Digital não deixou passar ao lado aquando da sua fundação.

Ou seja, estudaram, primeiramente, os meios de propagação de informação, e adequaram

gradualmente as suas produções a cada um deles (Lorenz, 2014).

Depois dessa adequação aos ecrãs, deve-se publicar mediante a hora do dia. O conteúdo deve ser

ajustado às necessidades e ao tempo do leitor. A tarde é o momento em que há uma grande

procura por atualizações de informações que o público viu de manhã, sendo um bom horário para

dar novas informações e recontar narrativas. A pesquisa efetuada durante a tarde tende a ser mais

focalizada do que no horário da manhã. Mas é à noite que os leitores têm mais tempo para ver

vídeos com som, pois cada pessoa já se encontra no seu lar (Lorenz, 2014). Também os horários

de publicação foram tidos em conta no V Digital, que republicava durante o dia as notícias noutros

meios de comunicação do grupo. Ajustaram-se igualmente à questão da indisponibilidade para

escutar, combatendo a debilidade desta linguagem – que de dia poucos fazem uso – com a

colocação de legendas nos vídeos.

O terceiro princípio para a personalização, segundo o mesmo autor, é apresentar o conteúdo de

novas formas e permitir ao leitor deixar comentários. Depois de permitir essa interação, o passo

seguinte é ajudar o leitor no ato de tomar decisões no dia a dia. Ou seja, desprender-se dos

conteúdos apenas da atualidade e aprofundar conteúdos que sirvam para esclarecer dúvidas, que

ocorrem todos os dias nas vidas de cada um de nós (Lorenz, 2014).

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Este é apenas um exemplo, que espero que seja compreensível, de personalização da informação.

Mas, além da possibilidade de comprar uma casa, temos muitas mais situações como esta: o que

é melhor – comprar um carro novo ou um usado com um ou dois anos? E seguros? Investimentos

na bolsa? Educação para as crianças? Explorar carreiras diferentes e profissões, perguntar até

quando tem de andar na escola, quanto podes fazer por mês num nível mais baixo ou no mais alto

possível nessa profissão? A lista poderia continuar a crescer e, por isso, podemos dizer que há muito

espaço para melhorar no campo do apoio à decisão, em todos os níveis da vida, tanto privada como

nos negócios. Estranhamente, a oferta de aplicações de apoio é considerada. (Lorenz, 2014, p.148)

Outra contribuição dos algoritmos é perceber qual é o público-alvo dos média, através de métricas

que avaliam o desempenho dos sites, contabilizando as visitas e o perfil dos visitantes. Ainda que

seja útil, essas são apenas métricas que avaliam os acessos e não a relevância daquilo que cada

meio faz (Lorenz, 2014). Durante várias conversas com as gestoras das redes do V Digital, as

queixas das baixas audiências eram formalizadas a partir do baixo número de seguidores e

reações. Os próprios jornalistas comentavam que havia jornais regionais com maior alcance. No

entanto, não se estava a medir a qualidade que os trabalhos transpareciam para esse público –

mesmo que pequeno –, que poderia ser mais importante para o canal. Os números tornaram-se

de tal modo relevantes, para avaliar o trabalho desenvolvido, que foi um dos motivos pelos quais

a grelha de programação se alterou.

Lorenz defende que as preocupações atuais devem centrar-se em perguntas como: “Com que

frequência os utilizadores voltam para nós? Porquê? Como poderíamos fornecer uma ida ao site

ou uma única oferta sendo muito relevante todos os dias, uma vez por ano ou apenas numa

ocasião? A maior parte dos gestores seria pressionado para obter essa informação”. Para obter

estas respostas, Lorenz (2014) sugere que se entendam primeiramente as métricas, para que se

obtenha algo mais amigo do utilizador.

Tudo isto resultará num sexto grau, isto é, a mudança, proporcionada pela capacidade de

reconfigurar, realinhar e reavaliar os fatores que evidenciam tal mudança. Para uma marca de

sucesso, o autor sugere que se pense no modelo de personalização em massa versus

personalização individual. Os dados recolhidos sobre o padrão de consumo ajudam a evidenciar

tendências, mas não respondem de forma definitiva, pois hoje pode-se preferir ver notícias de

gastronomia e amanhã sobre política, porque a situação profissional ou social mudou. A vida é

uma constante mudança e o comportamento humano adapta-se a ela. “Para isso devemos afastar-

nos da economia da atenção, onde as ideias, produtos ou serviços com maior visibilidade

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obtiveram sucesso, para a economia da confiança, onde esta mesma confiança é o elemento mais

procurado”, (Lorenz, 2014, p.152). Talvez neste sentido o V Digital tenha conseguido fazer a

diferença, mas, como as métricas do mercado se focam na quantidade de visualizações, poderá

criar-se a ideia de que o canal foi lançado e fracassou. Embora tal situação possa não ser verdade.

2.1.6 A ubiquidade

Pavlik (2014) aborda a “ubiquidade” como um dos princípios fundamentais para a criação de

conteúdos online. O termo significa que algo está em todo o lado, ao mesmo tempo.

Jornalisticamente falando, a Internet acarretou consigo a possibilidade de um conteúdo circular

rapidamente por várias pessoas, em várias partes do país e no mundo.

No que concerne aos meios de comunicação, os mesmos são ubíquos, porque quaisquer pessoas,

em qualquer lugar, conseguem aceder à informação numa rede interativa que decorre em tempo

real. Neste sentido, o leitor pode, não só aceder à informação, como também participar nela.

Esta caraterística explana a interação entre a informação produzida amadoramente, pelo cidadão,

e profissionalmente, pelo jornalista (Pavlik, 2014).

Eric Schmidt e Jared Cohen, da Google, fornecem evidência de que 5 bilhões de pessoas passarão

a estar online durante a próxima década, especialmente por meio da mídia móvel, elevando o total

de indivíduos conectados em todo o mundo para 7 bilhões. (Pavlik, 2014, p.160)

É toda esta emancipação da Internet que faz prever uma mudança ainda mais acentuada do que

aquela que o jornalismo já atravessa. Pavlik (2014) defende que haverá tendência de, tanto o

poder político como os próprios media, se deslocarem em direção ao cidadão. Mas este mundo

em que tudo é acessível em qualquer lado acarreta a diminuição do preço por cada nova obtenção

de conhecimento. Ao mesmo tempo, haverá cada vez mais velocidade de navegação, o que

aumentará a possibilidade de ver vídeos com qualidade e sem interrupções, bem como suportar

novas aplicações (Pavlik, 2014).

Mas, se, atualmente, este cenário ainda é imprevisível em alguns lugares do planeta, a intenção é

que a Internet deixe de ter barreiras físicas. É nesse sentido que verifica a intenção de levar a

tecnologia a todos os países, mesmo aqueles em que a mesma chega de forma mais lenta. Até

porque continuam a haver diferenças a este nível entre os países desenvolvidos e em

desenvolvimento.

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No V Digital, muitos dos temas sugeridos por mim, vieram de pistas que fui observando da minha

rede de “amigos” online, ou seja, consequência, não só da interatividade, mas também desta

ubiquidade, em que a informação passou a estar em todo lado porque há cada vez mais meios

de recolha e partilha de informação. Angústias, experiências, conquistas eram partilhadas em

redes sociais, por exemplo. Davam pistas para reportagens e, depois de um longo trabalho até ser

publicado, nesta última instância, o cidadão interferia novamente no conteúdo publicado pelo V

Digital – ajudava no processo de partilha. As redes podem ser benéficas, quando há, por parte do

jornalista, todo o processo de verificação da informação, a devida recolha de dados e o seu

tratamento.

Atualmente há uma maior rede de contactos, mais formas de contar histórias, mas maiores

desafios colocados nas mãos dos jornalistas, no que concerne ao seu papel de filtros daquilo que

é ou não informação. Isto requer uma melhor preparação académica dos profissionais de

comunicação e mais pesquisa.

Há estudos que analisam o jornalismo como uma rede que envolve o jornalismo cidadão como parte

integrante da rotina global e do diálogo nas produções de notícias, incluindo a análise ecológica

global e local. Assim como outros estudos empíricos mostram que, no entanto, muitas organizações

de média não integram a participação do cidadão nas suas rotinas de produção de notícias em rede.

(Gagnon & Anderson, 2015, p.6)

As redes sociais auxiliam na partilha com a rede daquilo que o repórter cidadão captou. Esta forma

de partilha de conhecimento tem-se evidenciado benéfica, na medida em que são dadas pistas,

informação vivenciada, muitas vezes na primeira pessoa, transformando-se em fontes de

informação acessíveis através da Internet. Mas se não são necessários tantos jornalistas no

terreno, então isso poderá ser um fator impulsionador de despedimentos que já se tem vindo a

manifestar nas redações (Lorenz, 2014). Em todo o caso, se analisarmos pela perspetiva de Russel

(2017), em que os jornalistas continuam a ser os detentores do papel de produzir notícias a partir

da informação recebida (realizando o trabalho de verificação e tratamento de informação), esses

despedimentos podem estar acautelados. No entanto, para Lorenz (2014), a ubiquidade acarreta

outro problema: a rapidez com que a informação chega às redações e delas parte para as

plataformas online, que são igualmente meios de propagação de informação de forma veloz. A

Internet veio trazer a oportunidade de o leitor não ter de esperar pelo dia seguinte, para saber o

que estava a acontecer na atualidade, e isso provocou o imediatismo da circulação de notícias

(Greenberg,2012; Deuze, 2012) Assim, os erros das notícias também se espalham mais

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rapidamente. As informações pouco verificadas, uma consequência da rápida publicação e falta

de verificação, podem provocar danos significativos na sociedade. Foi por isso que o jornalista e

professor catedrático de Jornalismo na Universidade do Oregon, Laufer, criou um movimento

intitulado “slow news”.Este seria um esforço de apelar à apuração da informação e à sua reflexão

rigorosa. O professor explica que é tão importante dar informação exata para a sobrevivência

humana como o ato de comer (Lorenz, 2014).

As “slow news” vão vistas por vários teóricos (Deuze, 2012; Drok & Hermans, 2016; Greenberg,

2012; Lorenz, 2014; Santos, 2018) como as produções jornalísticas pelas quais os consumidores

pagarão, como ensaios e reportagens, e outras formas que oferecem alternativas às “fast news”,

ou seja, que vão além da informação veiculada no imediato e que se dedicam à explanação

rigorosa e aprofundada dos factos. “É investindo mais tempo nas produções e consumação da

obra, que descobrimos coisas que, de outra forma, não saberíamos, e noticiamos coisas que

ficaram perdidas, e comunicamos na mais elevada arte de contar histórias” (Greenberg,2012,

382).

Tendo em conta a revisão de literatura, foi possível perceber que o jornalismo enfrentou, sobretudo

a partir do ano 2000, várias mudanças, que o colocaram e ao jornalista perante um novo

paradigma. Este trouxe-lhe novas exigências, mas, com elas, surgiram oportunidades de se

reinventarem. Os estudos da comunicação, nomeadamente sobre as caraterísticas do jornalismo

online, intensificaram-se em Portugal e no mundo. Todas as particularidades explanadas

anteriormente fazem do jornalismo digital um jornalismo mais híbrido, conjugando a

hipertextualidade, interatividade, multimedialidade, ubiquidade, memória e personalidade (Deuze,

2017). Neste relatório, foi feito o levantamento de alguma da literatura existente nesta área. O

objetivo foi que, com isso, seja possível percecionar, no próximo capítulo (aquando da análise dos

dados recolhidos no V Digital) se o meio de comunicação, que se autoapresentou como de

inovação online, cumpriu as caraterísticas que a teoria afirma serem necessárias, para que os

conteúdos sobrevivam neste meio. Desta forma, tentar-se-á retirar conclusões sobre quais as

particularidades que mais contribuíram para o sucesso do V Digital.

2.2. O online como potenciador do fenómeno da hibridez

Comunicar é um ato caraterístico do Homem que envolve signos e códigos, transmitindo

mensagens e gerando significações na mente do recetor da informação (Fiske, 1998). Mas essas

mensagens são transmitidas por um canal de informação, que as encaminha até ao recetor. Esses

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meios de propagação de informação foram variando ao longo dos séculos, e hoje existe uma

panóplia de meios que direcionam os factos até ao leitor. Acredita-se que a comunicação se

formalizou numa tentativa de estabelecer contacto com outros seres vivos da mesma espécie,

muito antes de a linguagem ser uma forma de originar pensamento (Harrub, Thompson & Miller,

2003). O avanço tecnológico acarretou novas formas de comunicar e alterou as linguagens pela

qual a troca de signos e códigos acontece. Apareceram as rádios, mais tarde a televisão e, ainda

mais recente, a Internet. Para cada meio existe uma linguagem, como a radiofónica e a televisiva.

Ou seja, os média alcançaram novos desafios, como consequência das novas potencialidades dos

meios de comunicação. Mas o online também criou uma nova linguagem. Se, inicialmente, os

conteúdos na web eram transpostos diretamente para os sites de notícias, agora assiste-se a uma

exploração das potencialidades que o meio permite, criando-se notícias específicas para a web.

Caminha-se, assim, para narrativas com som, texto e imagem, encadeadas com lógica a partir de

hiperligações, isto é, híbridas. São, assim, notícias distintas de meio para meio, consequentes da

consciencialização e domínio das ferramentas online (Santaella, 2012).

Quando falamos de hibridez das linguagens, referimo-nos ao cruzamento das mesmas, ou seja, à

mistura de várias linguagens, como a sonora, textual, visual, entre outras. Este cruzamento permite

uma criação original de apresentação dos conteúdos ao leitor. Tal como Lorenz (2014) refere, a

mudança permite aos meios a sua reconfiguração, realinhamento e revalidação, e a hibridez das

linguagens encaminha o jornalismo para estas situações. As pessoas têm cada vez menos tempo

para a leitura e a Internet é cada vez mais visual. As linguagens ganham, assim, um novo papel,

e são exploradas novas potencialidades (Santaella, 2012).

Os média tiveram de se adaptar às novas ferramentas de acesso à informação. O telemóvel passou

a ser a tecnologia mais utilizada para aceder a conteúdos jornalísticos, pela sua facilidade de

acesso (ERC, 2015). As legendas, daquilo que os entrevistados dizem na narrativa em vídeo,

auxiliam o leitor a consumir o conteúdo em qualquer lugar, a qualquer hora, mesmo quando, por

exemplo, é impossível escutar a componente sonora. Essa é uma das possibilidades que a hibridez

acarretou para o jornalismo, em consequência das novas potencialidades do meio online. As

ferramentas disponíveis para criar narrativas vieram mudar o paradigma da comunicação,

especialmente com o aparecimento do Facebook, Instagram, e demais redes sociais. Segundo o

Digital News Report, em setembro de 2019, a Internet já tinha chegado a 78% da população

portuguesa.

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A população portuguesa mostrou ser, nesse mesmo ano, a que mais confiança tem nas notícias,

face aos demais países analisados pelo Digital News Report (2019). Se a informação é mediada

pelo computador ou telemóvel, comprova-se o papel relevante do visual nas narrativas que

marcam a atualidade (Bianco, 2004). Com estas ferramentas, o jornalismo enveredou pela

convergência, termo que se aplica à nova era do jornalismo em diferentes sentidos: entre o emissor

e o recetor da informação; das linguagens perante um só meio, o online; de notícias e informações

vindas de várias plataformas (multiplataforma) (Doudaki & Spyridou, 2014; Santos, 2018). Ou

seja, a convergência assume-se como um construtor multidimensional que envolve componentes

tecnológicas, de negócios, de culturais e editoriais que afetam os conteúdos jornalísticos (Doudaki

& Spyridou, 2014).Um estudo analisou a forma como os conteúdos passaram a ser apresentados

pelos meios rádio, imprensa e televisão no online, à luz da hibridez. Nesse estudo, analisou-se a

TSF, a TVI24 e o Jornal de Notícias e contabilizou-se, durante trinta dias, a primeira notícia

publicada nos sites de cada meio, entre o dia 10 de maio e o dia 10 de abril de 2018 (Freitas &

Rodrigues, 2018). Depois de se reunir 90 notícias, todas foram sujeitas a uma grelha de análise,

a fim de se proceder à análise estatística dos resultados. Procedeu-se ao cruzamento dos dados

com um inquérito à população, a partir de uma amostra de 126 respostas. A maioria da amostra

afirmou consultar notícias através do online (59%). Mas, da análise às notícias publicadas nos

média analisados, foi possível perceber-se que todos os meios de comunicação apresentavam as

notícias de forma diferente do que é veiculado na linguagem mãe, isto é, na rádio (TSF) imprensa

(JN) e televisão (TVI). O jornal estudado apresentava no online notícias construídas através de texto

e imagem estática (67%). A componente visual servia de âncora ao texto, ou seja, espelhava a

realidade retratada pelas palavras. A imagem assumia-se capaz de retirar o lado subjetivo das

palavras. Mas estas duas linguagens não atuavam em separado, elas completavam-se e supriam

as suas debilidades. A amostra do estudo referiu a sua preferência pela consulta de jornais online,

em relação às rádios ou televisões para a consulta de informação. Os inquiridos justificam a

preferência pelo acesso facilitado, em qualquer momento do dia, e em qualquer lugar, por essa

associação de ambos os elementos (Freitas & Rodrigues, 2018). Este comportamento observava-

se nas notícias do V Digital. A rádio aparece como o meio que mais carece de integrar a

componente sonora nos seus conteúdos online. Talvez pela sua ligação à linguagem mãe – o som.

No caso do V Digital, verificou-se o cruzamento de linguagens num só conteúdo – ou seja, num

vídeo, observa-se a linguagem sonora, escrita e visual. A rádio, assim como a TV e os jornais

online, utilizam cada vez mais a hibridez. No entanto, as linguagens não se cruzam na produção

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em bloco, mas interligam-se. Torna-se interessante verificar que a linguagem sonora está incutida

nas narrativas em forma de discursos das fontes de informação. Ao invés de passarem para

palavras aquilo que têm em som, colocam-nos em bruto, para atestar credibilidade à peça (Freitas

& Rodrigues, 2018).

Já a televisão online foi a que mais conseguiu desprender-se da sua forma de apresentação, face

àquilo que assistimos através do televisor da nossa casa (Freitas & Rodrigues, 2018). Deixam de

parte, na maioria dos conteúdos analisados no estudo, o vídeo e produzem conteúdos adequados

à web. O texto descrevia os fenómenos e a imagem servia de âncora ao que as palavras escritas

dizem. Mas quando apresentavam vídeo, em nenhum deles foi observada a colocação de legendas

–uma prática do V Digital – para colmatar a debilidade da componente sonora, podendo afastar

o leitor de aceder à informação por não poder escutá-la. O mesmo acontece no JN Online, quando

produz os seus vídeos. Além dos oráculos que sintetizam ideias chave, toda a demais informação

veiculada pela linguagem sonora requer que se ouça. E o leitor mostra cada vez menos

predisposição para escutar (Freitas & Rodrigues, 2018).

Numa entrevista realizada por Madalena Oliveira, docente da Universidade do Minho, no Dia

Mundial da Rádio, a Fernández Sande 13, professor e investigador da Universidade Complutense

de Madrid, foi dada ênfase a este fenómeno decorrente da era digital. Refere que é difícil definir

se há menos predisposição para escutar, mas afirma que há mais ruído na comunicação digital.

Embora Manuel Fernández Sande se tenha mostrado concordante com o facto de haver uma forte

cultura da imagem no online, não descura o papel do sonoro. As pessoas gravam mais sons,

sabem mais facilmente editá-los. “Penso que não se escute mais do que antes. Ouve-se mais,

mas escuta-se menos”, frisou. Há, assim, a adição de camadas de significado através da inserção

de várias linguagens num só conteúdo, que auxiliam na captação da informação de forma eficaz

(Deuze, 2017). Essas camadas de significação são cada vez mais amplas e o visual ganha um

poder crescente, no sentido de clarificar aquilo que as palavras e o som transmitem. Embora as

imagens possam também ser realidades construídas, o certo é que estabelecem a ponte do

subjetivo das palavras, com o objetivo daquilo que os olhos observam. É por isso que, deste estudo,

sobressai também o predomínio de fotogalerias e de infografias. Estas últimas aparecem

essencialmente nos assuntos com maior quantidade de dados que, por palavras, poderão ser de

difícil compreensão (Quatter & Gouveia, 2009). Além disso, é através da linguagem visual que a

13 Entrevista disponível em: http://www.media.cecs.uminho.pt/video/1kg/entrevista-a-manuel-fernandez-sande/

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população portuguesa mais acede à informação. Segundo um estudo da ERC, levado a cabo em

2015, o vídeo foi a modalidade pela qual os leitores portugueses mais acederam à informação

(55%), assim como a imagem (28%). Mas é na questão mais estética que se defende a existência

do papel preponderante da linguagem visual, perante elementos sonoros ou textuais. No meio

televisão, o visual é, claramente, a linguagem mais poderosa, isto porque o telespetador prende-

se às imagens que são guiadas pela componente textual e narração jornalística. Com isto, é

possível superar as limitações de uma certa linguagem. Esta mistura aproxima-se da definição de

Storytelling, isto é, da narrativa literária (Kress, 2010). A mistura das linguagens visa combater as

debilidades das outras linguagens, completando-se. A componente visual colmate o vazio das

palavras escritas que aparecem nos jornais, a ausência da visualização de cenários e personagens

de uma reportagem radiofónica, entre outros (Kress, 2010).

“Ler, assistir, ouvir pesquisar, monitorizar, clicar, linkar, partilhar, gostar, recomendar, comentar”

são algumas das palavras que descrevem o novo comportamento do consumidor face à nova

forma de comunicar na web (Deuze, 2017, p.20). Se há esta possibilidade de interação do leitor

com os conteúdos, os jornalistas têm que possuir ferramentas que ofereçam essa interatividade.

E isso vê-se também pelo fenómeno da hibridez, não das linguagens, mas antes da pluralidade de

plataformas onde as notícias estão. Ao mesmo tempo, a mesma produção noticiosa pode assumir

caraterísticas que permitem a interação diferente de consumidor para consumidor, tornando-se,

assim, multimédia (Deuze, 2017). Todas estas caraterísticas, ou fenómenos de hibridez

consequentes da hibridez, têm gerado mudanças no paradigma da comunicação, onde as notícias

permitem a hipertextualidade, interatividade, multimedialidade, ubiquidade, memória, e

personalidade (Deuze, 2017). Cada leitor passou a conseguir escolher o seu próprio caminho, tal

como comprovado com a caraterística do webjornalismo, a interatividade. Mas esse atributo

implica maior responsabilidade para os órgãos de comunicação. Estes passaram a assumir uma

postura diferente perante o online. Ao mesmo tempo, o novo público do jornalismo procura por

conteúdos que evoquem as emoções e, para tal, a hibridez das linguagens tem encaminhado o

jornalismo para o despertar de múltiplas sensações – auditivas e visuais – cada vez mais intenso

(Deuze, 2017; Santos, 2018). Embora a hibridez se tenha evidenciado com a digitalização da

comunicação, o certo é que não criou processos inéditos, mas antes aprimorou-se face a outros

suportes. Na web, um conteúdo integra múltiplos formatos e linguagens, que antes só existiam

em separado (Barretos, 2016).

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Com isto, pode-se inferir que a digitalização melhorou os processos de captação e tratamento de

som e imagem, assim como da informação, que passou a ser trabalhada através de novos olhares.

As tecnologias online foram os motores desta transformação, fazendo emergir novos autores,

empresas e até ideias que têm encaminhado o jornalismo para a evolução e maior criatividade

(Canavilhas, 2015). A integração de vários conteúdos num só produto informativo fomentou o

aparecimento de novos formatos, que pautam as diferenças entre os meios tradicionais e os

digitais. “Pela sua visibilidade, a convergência de conteúdos é, por assim dizer, o resultado final

de todas as restantes formas de convergência, sendo igualmente a mais visível para os

consumidores” (Canavilhas, 2015, p.33).

2.3. O jornalismo multitasking

O papel do jornalista tem vindo a alterar-se ao longo dos anos. Este é um fenómeno que adveio

de outras mudanças nos média, nomeadamente os modelos de negócio. É neste contexto que há

autores que defendem que o jornalismo está em crise, não no sentido pejorativo da palavra, mas

antes como um período de mudança pela qual a profissão está a passar (Lewis, Williams &

Franklin, 2008). Autores mais atuais, como Doudaki e Spyridou (2014), afirmam que as múltiplas

mudanças a que o jornalismo tem sido alvo, fazem com que seja um fenómeno ainda em aberto,

sujeito a uma realidade emergente e convergente, fruto de todas as caraterísticas do online. Mas

há quem diga que se atravessa também uma crise, no sentido financeiro da palavra. Isto porque,

no que concerne ao jornalismo online, este continua a não conseguir fazer com que os leitores

paguem pelos conteúdos. Segundo o Digital News Report (2019), quase todas as agências de

notícias digitais (94%), nos sete países analisados, num artigo publicado em 2019, oferecem

acesso gratuito às notícias.

Estamos numa era de “Martini Media”, expressão que surgiu por Highfield (citado por Deuze,

2014, p.3), após uma campanha publicitária, em que a bebida Martini estava em todo o lado,

quando e como o consumidor queria. É assim que o jornalismo se tem apresentado: disponível

quando e onde o consumidor quer, com os conteúdos a circularem livremente entre diferentes

dispositivos e plataformas (Deuze, 2014). Isto significa que cada notícia tem de se adaptar aos

desafios decorrentes da Internet, mas, também, usufruir das potencialidades que estão ao dispor

do jornalista. Ao mesmo tempo, os conteúdos na web podem ser acedidos em diferentes

plataformas, como o telemóvel e o computador, ecrãs que possuem caraterísticas diferentes e que

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têm obrigado os meios de comunicação a adaptarem as suas linguagens a cada um (Santos,

2018).

Mas, para dar resposta a estas necessidades e produzir conteúdos cada vez mais híbridos, foi

necessária uma adaptação do jornalista a estras transformações. A sua capacidade de adaptação

às linguagens das narrativas online definem a viabilidade das organizações mediáticas (Rodrigues,

2017). Os jornalistas passaram a adquirir novas competências, para além de saberem produzir

para a linguagem mãe do meio – um jornalista de imprensa já não sabe apenas escrever, sabe

também editar vídeo e até fotografar, por exemplo (Coelho, 2015).

No entanto, já em 2005, Joaquim Fidalgo defendia que o jornalismo estava a ser alvo de pressões

relacionadas com a crise, que diminuíam o número de jornalistas por cada redação (Fidalgo,

2005). O panorama atual mostra-se idêntico. Em novembro de 2017, o Dinheiro Vivo 14 noticiava

o facto de o Sindicato dos Jornalistas se opor ao despedimento de cerca de uma dezena de

fotojornalistas do grupo Impresa. Além destes, o Sindicato dos Jornalistas pedia ainda

esclarecimentos sobre o processo de rescisão de contratos previstos aos jornalistas do Expresso.

Estes são alguns dos casos de grandes despedimentos em órgãos de comunicação social

nacionais, devido a dificuldades económicas dos grupos bem como a reformulações das funções

e papéis dos mesmos.

É neste sentido que se defende que os profissionais, para sobreviverem a este novo ecossistema,

devem reivindicar as suas funções e manter a qualidade de produção, assumindo o compromisso

de verificar e contextualizar os acontecimentos. O problema é que, com as múltiplas funções do

jornalista dentro da sua redação (escrever, editar, fotografar, entre outros), na produção da sua

narrativa, começam a aparecer alguns entraves a etapas fundamentais para manter essa

qualidade. E talvez seja a qualidade que será o fator que levará aos leitores a pagarem por

conteúdos que estejam online (Marín, Vanz & Vázquez, 2017). Além disso, as múltiplas funções

do jornalista, aliadas às novas formas de produzir notícias fizeram com que muitos empregos

fossem eliminados da indústria (Ganiyu & Akinreti, 2015).

Mas, torna-se difícil, com a exigência de produção, com a atualização de notícias ao minuto e com

as redações cada vez mais reduzidas, conseguir-se tal proeza. A carga de trabalho dos profissionais

14 Ver https://www.dinheirovivo.pt/empresas/sindicato-dos-jornalistas-opoe-se-a-intencao-de-despedimentos-no-grupo-impresa/

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está a aumentar, e o jornalista está cada vez mais híbrido. Isto porque tem de desempenhar

múltiplas funções: aliar múltiplas linguagens, ao passo que lhes exigem o imediatismo, gerando

um aumento do stress e dificuldade em desempenhar todas as funções corretamente. Quando o

vídeo está envolvido na produção da narrativa, estas questões intensificam-se, o que,

consequentemente, desequilibra modelos multidisciplinares que dependem de um único repórter

e que antes eram desempenhados por vários, cada um na sua especialização (Marín et al., 2017).

Os jornalistas deixaram de ter apenas uma função, como ser redator, fotógrafo, repórter de

imagem, editor entre outros. Deixou de estar num só meio, como a imprensa, a rádio ou a

televisão. O jornalista, atualmente, produz para vários meios, conjuga diversas funções e alia

diversas linguagens num só conteúdo. Há a emancipação de duas particularidades que passaram

a definir o jornalista: multitarefa e multiplataforma. Hoje em dia, é natural vermos um jornalista

redator a fotografar, a filmar, entre outros. “Embora esta seja a faceta mais visível, a convergência

profissional originou ainda duas outras situações: a extinção de algumas atividades e a emergência

de novos perfis” (Canavilhas, 2015). Na perspetiva de Coelho (2015), o mercado exige a

polivalência dos jovens, em que, além de escrever, narrar ou aparecer em frente ao ecrã, têm de

saber lidar com outros afazeres e plataformas. “Adaptar” passou a ser a palavra de ordem aos

novos colabores. E é na contratação que isso se evidencia. A maioria dos novos empregados em

jornalismo online é jovem. Tal facto impõe novos desafios à formação académica, que não pode

ignorar que a convergência e adaptabilidade dos novos formandos vai determinar o seu percurso

no mercado de trabalho (Granado, 2015).

Mas estas caraterísticas de um profissional multitasking têm “colocado os jornalistas a acorrerem,

em simultâneo, aos ritmos e necessidades dos diferentes meios de grupos multimédia. A formação

académica deve refletir “sobre estas questões” (Coelho, 2015, p.50). Por este motivo, é um perigo

enveredar pelo jornalismo multitasking, visto que, na maioria das vezes, todas as realidades que

encaminham para esta prática levam a que o jornalista avance etapas da produção noticiosa, de

forma rigorosa e eficaz (Marín et al., 2017). Isto, porque os sites jornalísticos para gerarem lucro,

necessitam de obter um elevado número de visitas, que espelhe a notoriedade e o alcance do

órgão, de modo a que as marcas queiram pagar para terem ali as suas publicidades (Veríssimo,

2017). A verificação continua a ser a essência do jornalismo e o que o distingue, perante blogues

e outras plataformas que divulgam informação (Ganiyu & Akinreti, 2015).

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2.4. Rotinas de produção de informação

Toda esta conjuntura que nos encaminha para uma proliferação do jornalista multitasking tem

alterado as rotinas jornalísticas e, com elas, as rotinas de recolha de informação. Procurar

informação, recolher dados, verificá-los, tratá-los e, depois publicá-los, é a rotina de produção

jornalística de muitos jornalistas e em vários meios, seja na imprensa, na televisão, seja num meio

puramente online (McGregor & Molyneux, 2018). No entanto, se atendermos às considerações

acerca do jornalismo multitasking, percebemos que o jornalista passou a ter ao seu encargo várias

tarefas, para além destas: também faz registo de vídeo, fotográfico, muitas vezes até edita todos

este material e o organiza, a fim de produzir um conteúdo (Marín et al., 2017). Ou seja, os

repórteres passaram a ter menos tempo para se dedicarem a trabalhos morosos, assim como

para investigar e verificar informações (McGregor & Molyneux, 2018). Com tudo isto, há quem

afirme que algumas etapas da rotina de produção estão a ser ultrapassadas ou, pelo menos,

menos intensificadas (Marín et al., 2017). É por isso que emerge a necessidade de existirem fontes

em segunda mão que sejam confiáveis, e essas chegam de novos canais de informação, como as

redes sociais, agências de comunicação, assessores de imprensa, entre outros (McGregor &

Molyneux, 2018).

Tem-se vindo a verificar uma cumplicidade grande no que concerne ao trabalho entre os RP, que

fornecem os press release (com conteúdos pré-fabricados aos jornalistas) e as redações. Uma

grande quantidade de textos vindos de agências chega diariamente às redações e cabe aos

jornalistas (Santos, 2018), os chamados gatekeepings, ou seja, os decisores daquilo que será ou

não notícia, selecionar o que interessa ou não. (McGregor & Molyneux, 2018). E é esta capacidade

dos jornalistas (que é cada vez mais associada aos jornalistas mais experientes) que permite filtrar

aquilo que é a informação mais importante e tornar o trabalho dos jornalistas distinto, perante um

mercado de trabalho cada vez mais competitivo e que trabalha a maioria dele sobre informações

pré-fabricadas (McGregor & Molyneux, 2018). As redes sociais, por exemplo, são uma fonte de

informação que passou a integrar a rotina de produção jornalística de muitos jornalistas. McGregor

e Molyneux (2018) dão o exemplo da importância crescente que o Twitter tem vindo a alcançar

na rotina dos jornalistas. Algumas redações abrem, logo pela manhã, o Twitter, na esperança que

seja a sua fonte de informação daquilo que é a atualidade. Tal deve-se à atual situação económica

da profissão assim como à aceleração do ciclo de notícias que veicula na internet. Tornou-se

importante que, na impossibilidade de ter jornalistas no terreno, atentos a tudo o que acontece ao

minuto, e outros tantos capazes de escrever e publicar, de modo a serem os primeiros, houvesse

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a colaboração das redes sociais e do repórter cidadão, das agências de notícias, e das RP

(McGregor & Molyneux, 2018). É quem está no terreno que publica nas suas redes sociais o que

está a ver e dá informação de primeira instância. No entanto, isso não invalida que o jornalista se

fique por essa informação superficial que adveio do cidadão. O fator distintivo está, precisamente,

na rotina do jornalista, e dessa fazem parte duas fases importantes: por um lado, a de gatekeeping,

que vai permitir ao jornalista perceber se a informação que recolheu de uma fonte (rede social,

press release ou outro meio) é passível de tratamento jornalístico ou não (McGregor & Molyneux,

2018); se o for, o mesmo deve apurar os factos, verificar a sua veracidade e tratá-los, até serem

publicados no seu órgão de comunicação (Canavilhas & Rodrigues, 2012; McGregor & Molyneux,

2018; Marín et al., 2017; Santos, 2018). Desta forma, toda esta rotina de produção pode dar

origem a conteúdos jornalísticos de qualidade.

Tal pode não acontecer, se o jornalista avançar estados desta rotina de produção, como já foi dito

antes. Dá-se conta de casos em que o repórter fica preso à informação pré-fabricada, e isso

acontece sobretudo nos press release. O jornalista, muitas vezes, não vai além do que lhe chega,

publicando conteúdos parecidos ou até mesmo iguais aos que saem em outros órgãos de

comunicação social. Mas, tal pode acarretar problemas mais graves do que simplesmente textos

parecidos em dois órgãos diferentes. Atendendo ao facto de que muitos dos textos produzidos por

relações públicas dizem respeito a empresas, órgãos políticos, entre outros, os conteúdos muitas

vezes mascaram publicidade, e caraterísticas inapropriadas para o jornalismo, como o uso de

adjetivos. Se o jornalista não verificar o texto e não confirmar as informações, pode incorrer no

risco de se deixar levar por essa publicidade inerente aos press release que chegam às redações

(Santos, 2018).

A falta de verificação das informações tem gerado uma descredibilização da profissão pela pouca

originalidade e novidade que as narrativas apresentam (Santos, 2018). Estamos assim na era do

jornalismo de secretária, em que tudo se faz sem se sair da redação, o que, por um lado, tem

acarretado inúmeras vantagens (como a de poupança de recursos humanos e financeiros para as

empresas e facilidade de contacto com fontes através da evolução tecnológica), mas que, em

demasia, poderá ser um problema (Santos, 2018). No entanto, para Santos (2018) ser jornalista

é diferente de ser aquilo que chama de agregador de conteúdos. Este define-se pelo trabalho de

“pós-produção, de gerir e selecionar as notícias que lhe parecem mais adequadas ao interesse da

audiência” (Santos, 2018, p.11). Já o jornalista é entendido como aquele que produz a

informação, que a vai buscar, tratar, verificar e, só depois, publicá-la.

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Para comprovar esta dependência dos jornalistas face ao trabalho dos RP, apresenta-se aqui um

primeiro estudo que comprova esta ligação que remete a 2008, isto é, há 11 anos. O mesmo vem

comprovar que esta dependência dos jornalistas face ao trabalho dos RP já é antiga. O estudo

analisou as fontes das notícias dos jornais:The Guardian, The Times,The Independent, The Daily

Telegraph and The Mid-Market, Daily Mail. Deste estudo, concluiu-se que 60% das eram produzidas

através daquilo que chegava às redações, através de conteúdos pré-fabricados e apenas 12%

diziam respeito a trabalho autónomo do meio de comunicação (Lewis, Williams & Franklin, 2008).

Figura 9: Notícias publicadas em jornais tendo por base o trabalho das Relações Públicas (Fonte: Lewis, Williams & Franklin, 2008, p. 7).

Também Schmitz (2011) indica que 60% do trabalho advém de canais de rotina, isto é, de outros

jornais, de press release ou outras agências. Mais recentemente, em 2015, Macnamara indica

que 50% a 75% dos conteúdos média são fornecidos ou influenciados por RP, denotando um

crescimento do trabalho da influência do trabalho das RP no jornalismo. Em 2017, num trabalho

levado a cabo para a SOPCOM, pela autora deste relatório, em parceria com duas outras

investigadoras, foi aplicada uma entrevista a 10 jornalistas do JN, e após ser realizada uma análise

de conteúdo às mesmas, traçou-se um padrão do papel do jornalista na atualidade e das suas

rotinas de produção (Freitas, Amante & Silva, 2019). A maioria dos inquiridos apontava que havia

um decréscimo do trabalho autónomo dos jornalistas e do jornalismo de investigação, tendo em

conta que se manifesta moroso para o jornalista. Com as pressões que afirmaram sentir

diariamente para publicar os conteúdos, optavam por informações oriundas de press release. A

corroborar esta situação, Jerónimo (2015) afirma que os jornalistas possuem uma “excessiva

dependência dos comunicados que chegam por email” (Jerónimo, 2015, p.89). Mas esta

dependência não é provocada pela mera “preguiça” ou vontade de ficar sentado na secretária à

espera que os RP mandem os conteúdos (e, muito embora, na secretária se possam fazer bons

trabalhos jornalísticos). Mas, refere ainda que aquilo que é partilhado nas redes sociais também

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é levado em conta para a construção das notícias. Tal facto tem gerado a queda de um dos géneros

tidos pelo autor como um dos mais nobres, isto é, a reportagem.

Para Coelho (2015), toda esta crise que assola o jornalismo, e que, ciclicamente, coloca a questão

“qual será o futuro do jornalismo?” em cima da mesa, pode estar acautelada, se os profissionais

da comunicação estiverem preparados para estas alterações. E isso, afirma, deve-se, em boa

parte, ao trabalho desempenhado pela formação académica dos jornalistas. Perante a explosão

de mensagens oriundas de diversas fontes, muitas delas com interesses associados (como

propagandas políticas infiltradas e mascaradas, para que sejam disseminadas nos jornais) podem

ser detetadas, se os jornalistas estiveram treinados para tal. Trata-se de uma questão de

competência associada ao profissional, assim como aos seus valores éticos e morais que regem

a sua conduta profissional, que lhe permitirão estar “habilitados a descodificarem os efeitos dos

fatores exteriores ao jornalismo, que ameaçam a perenidade da sua essência” (Coelho, 2015,

p.51).A voracidade da informação assim como a falta de recursos têm contribuído para a

decadência do trabalho autónomo do jornalista (Jerónimo, 2015). Desde o aparecimento do

conceito de imediatismo, “a informação na hora, em cima do acontecimento (uma exigência até

do leitor/ouvinte/telespetador) que não proporciona trabalhos a longo prazo”, como afirmou um

dos jornalistas no âmbito deste estudo. Quanto mais pressionados estiverem os jornalistas, e

quanto mais caraterísticas do meio online tiverem os conteúdos pré-fabricados, oriundos das

agências noticiosas ou dos RP, mais probabilidades têm de ser aceites pelos jornalistas e

publicados (Harcup & O'Neill, 2016). Mas, conteúdos vindos destas fontes têm sido observados

em média descritos como de qualidade, assim como em organizações que sofrem de pressões e

menos recursos (Harcup & O'Neill, 2016). Esta era uma realidade que assisti de perto no V Digital,

em que a maioria das produções por mim realizadas baseava-se em conteúdos oriundos de

agências, como o Wibbitz. No caso do trabalho de campo, verificava um aumento do tempo

necessário para fazer os conteúdos. Era necessário preparar cada etapa de produção, desde o

alinhamento da narrativa até ao ato da entrevista. E é na entrevista que se centrava uma das

técnicas de recolha de informação importante, já que é uma etapa que determina a qualidade dos

dados adquiridos, para a produção dos conteúdos (Jerónimo, 2015). Para além dos press

releases, há outras formas de obtenção de informação. Por um lado, as agências de notícias e

meios concorrentes e, por outro lado, o próprio cidadão. Assiste-se a um jornalismo cada vez mais

individualizado, em que o consumidor passou a ser parte integrante de todo o processo jornalístico

(Santos, 2018). Deuze (2017) afirma que é necessário entender-se o novo público que está diante

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dos meios de comunicação. Isto porque são pessoas que “participam e colaboram em encontrar,

produzir, partilhar, curar e até mesmo pesquisar conteúdo” (Deuze, 2017, p.20). É nesta

perspetiva que o autor frisa que há uma crescente necessidade em se perceber que os média e o

quotidiano da sociedade andam de mãos dadas. Pois, o quotidiano não se separa do papel

informativo dos meios de comunicação, assim como as pessoas são tão criadoras tanto quanto

aquilo que consomem. Ainda assim, da minha experiência de estágio, penso que a interatividade

do cidadão acontece apenas, quando o jornalista está predisposto a ela, apenas e só no sentido

de pesquisar informação que o cidadão deixou nas redes. Ainda assim, cabe sempre ao jornalista

filtrar o que vai ao encontro dos interesses editoriais da redação e recolher informação com essa

fonte. Nesse sentido, considero que a Internet é uma grande vantagem. Cheguei a encontrar temas

que se adequaram a programas do V Digital. Ainda assim, de que seriam as “pistas” deixadas nas

redes sociais por um cidadão sem o trabalho de pesquisa, averiguação, verificação e apuramento

dos factos? Talvez pouco ou nada.

Há, assim, um intercâmbio de influências constantes entre o leitor e o jornalista. Por um lado,

aquilo a que chamamos de jornalismo cívico, jornalismo participativo e jornalismo de ecossistema.

O primeiro conceito diz respeito à informação recolhida e partilhada por não jornalistas, mas que

alcança mediatismo no online. Por vezes, o jornalista avista esses conteúdos e faz desse repórter

cidadão parte/fonte da sua narrativa (Canavilhas, 2012; Jerónimo, 2015).

2.5. Tipologia das fontes de informação

Encontrar a fonte mais apropriada e confiável é um dos processos mais importantes e decisivos

no processo de produção de um trabalho jornalístico. É, por isso, que, ao longo dos anos, vários

foram os teóricos que se dedicaram ao estudo das fontes de notícias, de modo a categorizá-las,

fornecendo assim ao jornalista uma espécie de “guia” na escolha da sua fonte. Porém, a Internet

tem vindo a alterar também a tipologia das fontes, como iremos explanar neste ponto do relatório

(Leuven, Kruikemeier, Lecheler & Hermans, 2018). As fontes de informação alteraram-se com o

aparecimento da Internet, arrecadando várias classificações consoante a sua tipologia. Pinto

(2000), citado por Canavilhas & Rodrigues (2012), faz a sua classificação segundo “a natureza, a

origem, a duração, o âmbito geográfico, o grau de envolvimento nos factos, a atitude face ao

jornalista, a identificação, a estratégia de atuação” (Canavilhas & Rodrigues, 2012, p.272).

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Primeiramente, o jornalismo opta por fontes oficiais, ou seja, por personalidades reconhecidas

pela sua função pública (Schmitz, 2011). De entre eles destaca-se o papel do Presidente da

República, do Primeiro-Ministro, membros do governo, membros partidários e de associações, ou

seja, “mantidas pelo Estado, por empresas e organizações como sindicatos ou associações”

(Machado, 2001,p. 5). A preferência advém da credibilidade e do nível de confiabilidade que os

jornalistas têm neste tipo de fontes (Schmitz, 2011). No entanto, esta preferência pode incorrer

em riscos, visto que muitos dos discursos destas fontes oficiais podem ofuscar interesses, para

manter a sua posição social intocável (Ribeiro, 2006). Já por fontes populares considera-se

aquelas que não estabelecem vínculos com o caso que está a ser tratado e podem ser

testemunhas de casos ou cidadãos comuns (Schmitz, 2011). As fontes de informação

especializadas são os peritos, especialistas, intelectuais que, pela sua experiência ou profissão,

revelam conhecimento importante na área (Schmitz, 2011). O mesmo autor define ainda as fontes

empresariais, que são empresas que revelam informações, mas que, por vezes, revelam

interesses nas informações veiculadas aos jornalistas (Schmitz, 2011). Já as institucionais são

organizações ou grupos de pessoas que são as fontes. Por fontes documentais, entendem-se as

informações que chegam através de comunicados, relatórios, decretos-lei, orçamentos de estado

e estudos (Ribeiro, 2006). As fontes anónimas são aquelas em que os jornalistas confiam na sua

fonte, ao ponto de se comprometerem com o silêncio quanto à sua origem.

Neste sentido, com a mudança do paradigma da informação, torna-se importante até para

distinguir o papel do jornalista face ao papel do cidadão, manter os meios e as fontes tradicionais,

tais como:

• Entrevistas;

• Documentos;

• Observações pessoais ou investigações;

• Projetos especiais e visitas às instalações;

• Press Releases;

• Telefonemas;

• Emails;

• Blogues;

• Newswires;

• Monitorização de outra organização de média.

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Mas, há outras classificações das fontes, como a sua divisão no que concerne a fontes internas

ou externas. As internas dizem respeito a jornalistas, que investigam e observam diretamente,

assim como os correspondentes e o arquivo. Por fontes externas, entendem-se as agências de

notícias, órgãos de comunicação social ou ainda entidades oficiais, como o Governo e a

Assembleia da República. As entidades não oficiais são empresas, coletividades, sindicatos,

associações culturais, clubes desportivos, os contactos pessoais e o público, etc (Canavilhas &

Rodrigues, 2012, p.272).

As agências criam os textos nos moldes ideais, para que o jornalista publique. Elas, juntamente

com as fontes políticas e as organizações são quem determina a agenda do dia dos meios de

comunicação (Schmitz, 2011). Mas, recorde-se que Schmitz (2011) define todas as produções de

agências de notícias, que colocam ao dispor dos jornalistas conteúdos pré-fabricados, não como

fonte, mas antes como a ponte entre os interesses/ opiniões/conhecimentos ou relatos de quem

assessoram. Ou seja, é a pessoa autorizada a transmitir a informação ao jornalista e, por isso, é

denominado de fonte oficiosa (Schmitz, 2011).

Chama-se de informante “autorizado” ou “não autorizado” (também denominado de “fonte

oficiosa”) quem substitui o porta-voz ou a própria fonte quando esta não pode - ou não

deseja, ou ainda, desconhece, no caso de “não autorizado” - formalizar a informação ou a

sua opinião, pessoalmente. (Schmitz, 2011, p.25)

Há, assim, uma complementaridade entre as duas partes e que resultam numa influência a longo

prazo sobre a sociedade, na medida em que criam significados na sociedade, quando as

informações são veiculadas (Berkowitz, 2009). Muitas vezes, os assessores veiculam informações

com intenções publicitárias inerentes ao conteúdo. Cabe ao jornalista filtrar o que é e o que não é

propaganda.

No início do ponto 2.5 foi referido que, com a emancipação da Internet, surgiram novas fontes de

informação. Motores de busca, como a Google, Wikipédia, sites são considerados fontes de

informação no mundo digital. As redes sociais são também tidas como fontes de informação e há

quem já as inclua na sua rotina diária, para procurar notícias (McGregor & Molyneux, 2018). O

Twitter, por exemplo, é uma rede já entendida como uma fonte de informação e como parte da

rotina de produção jornalística em vários jornais dos Estados Unidos da América (McGregor &

Molyneux, 2018). A rápida ascensão do Twitter como uma fonte de informação, a par de outras

redes sociais, que tem vindo a mudar as rotinas de produção, é resultado da familiarização dos

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jornalistas com os médias sociais, que fazem com que os repórteres não tenham que sair da

redação à procura da informação, o que vem complementar as formas tradicionais de recolha de

informação (Broersma & Graham, 2013).

Com o aparecimento destas fontes de informação, surgiu a necessidade de fornecer técnicas aos

jornalistas para verificarem a informação, assim como para coletarem os dados para as suas

notícias. Se, por um lado, essas fontes online são rápidas de recolher, são mais difíceis de verificar.

“Hoje, o público noticioso é mais crítico do que nunca foi nos média convencional, e os jornalistas

devem estar cientes de seu dever de fornecer notícias confiáveis e verificar as informações”

(Leuven, Kruikemeier, Lecheler & Hermans, 2018, p.799). Há vários autores, como se tem vindo

a constatar até então, que verificam a crescente participação do cidadão na proliferação da

informação (embora nem sempre no jornalismo, como já comprovado anteriormente) e as redes

sociais ajudam nesse sentido. Mas, há duas distinções no que concerne à participação do cidadão

nas redações do meio online, sendo elas o jornalismo participativo, como playground, e jornalismo

participativo, como fonte (Canavilhas & Rodrigues, 2012). No primeiro caso, há uma moderação

da participação por parte do profissional da comunicação que delimita a participação da audiência

na rotina. Ou seja, são os jornalistas quem define o processo de construção noticiosa e, por isso,

a participação dá-se em playground. Os jornalistas têm ainda dificuldade em deixarem que o

cidadão seja o fornecedor da informação, papel que outrora era obrigatoriamente feito pelos

jornalistas. No entanto, o cidadão como fonte deve passar sempre pela delimitação da participação

por parte do jornalista. Isto porque é a ele que cabe a função de zelar, para que a informação seja

verificada em prol da sociedade (Canavilhas & Rodrigues, 2012).

Além disso, a participação do cidadão está ainda limitada pelo acesso a certos locais, que ainda

são de autorização exclusiva de profissionais. O direito a acesso a fontes não é dado ao cidadão

e, por isso, poderão estar em desvantagem no processo de recolha da informação. As conferências

de imprensa são um desses casos (Canavilhas & Rodrigues, 2012, p.272). Tal facto faz com que

haja diferenças entre os textos partilhados pelo cidadão repórter e pelo jornalista. Este repórter

cidadão elabora aquilo a que se chama de jornalismo cívico, em que o cidadão produz conteúdo

como se fosse jornalístico, mas não se trata de um profissional da área (Canavilhas & Rodrigues,

2012, Jerónimo, 2015). Neste, não há variedade de fontes nem a existência do contraditório que

está patente nos textos dos profissionais de jornalismo. Não há, assim, existência de confirmação

da informação feita pelo cidadão repórter, nem dependência dos temas tratados, limitando-se

apenas a publicar a sua versão do acontecimento (Canavilhas & Rodrigues, 2012).

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Nesse sentido, há uma necessidade de não chamar de jornalismo aos conteúdos publicados pelo

cidadão repórter, mas podem servir de fonte de informação que contribua para a criação de um

conteúdo escrito por um jornalista, cumprindo os critérios necessários para o ser (Canavilhas &

Rodrigues, 2012, p.272). Deixa-se de precisar de intermediários entre os utilizadores das redes e

os profissionais, pois os usuários passam a ser fontes de informação não menos importantes

(Jerónimo, 2015; Machado, 2001). A este tipo de participação denomina-se de ciberjornalismo

participativo, pois envolve a participação da audiência, através da utilização dos telemóveis e das

redes sociais.

Todavia, a tipologia das fontes interfere com o conteúdo que será partilhado nos meios de

comunicação, tendo em conta que cada indivíduo possui diferentes interesses que,

consequentemente, vão resultar em relevâncias motivacionais diferentes consoante as suas

perspetivas dos mesmos acontecimentos (Silva & Jeronymo, 2017). Ao passo que os média não

são passivos da sociedade, funcionando como holofotes móveis e cada notícia adota um

determinado enquadramento que “rejeita ou minimiza o material que é discrepante” (Silva &

Jeronymo, 2017). É por esse motivo que se torna essencial escolher adequadamente a fonte

utilizada.

Segundo Lopes (2016), importa também, para além do tipo de fonte que é usada para sustentar

cada conteúdo – visto que o jornalista não constitui, em si mesmo, uma fonte – o número de

fontes utilizadas na produção noticiosa. “Esta classificação permite perceber se o jornalista

respeita o princípio do contraditório e procura ouvir várias versões/explicações do assunto em

causa ou se, pelo contrário, apresenta um relato minimalista daquilo que acontece, ou seja, se

relata os factos de forma parcial” (Lopes, 2016, p.184).

2.6. Valores-notícia no online

Os valores-notícia guiam o trabalho dos jornalistas e, assim como as fontes jornalísticas foram

alterando com o passar dos anos e com o avanço tecnológico, também os valores-notícia

assistiram ao mesmo fenómeno. São eles quem define aquilo que é ou não noticiado consoante

os critérios mais valorizados por cada redação (Harcup & O’Neill, 2016). Esta é também uma

forma de as decisões editoriais – do que é e o que não é notícia – ser melhor compreendidas,

pois oferecem maior grau de objetividade às escolhas dos jornalistas, embora Harcup e O’Neill

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(2016) afirmem que as escolhas possuem também uma certa subjetividade adjacente. Porém, os

valores-notícia não podem ser encarados como regras estáticas que guiam o trabalho nas

redações, pois são critérios que vão-se alterando com o tempo, sensibilidades, padrões de

consumo e até da localidade (Harcup & O’Neill, 2016; Silva & Jeronymo, 2017). Mas há valores-

notícia que parecem intemporais. Há 50 anos, Johan Galtung e Mari Ruge (1965) citados por

Harcup & O’Neill (2016) consideravam que os principais seriam: poder, celebridade,

entretenimento, surpresa, catástrofe; magnitude (número de pessoas envolvidas); relevância

(factos sobre grupos considerados relevantes para o público); acompanhamento e agenda.

Critérios como novidade, inesperado, catástrofe, proeminência, atualidade e instantaneidade

continuam a ser valores-notícia, patentes em vários meios de comunicação online, 50 anos depois,

e considerados por autores, como Nelson Traquina. Também a universalidade e a atualidade são

alguns dos fatores que distinguem os conteúdos produzidos pelos jornais atualmente, assim como

a sua periodicidade (Canavilhas & Rodrigues, 2012). Um dos valores-notícia muito valorizados

pelos média são os conflitos e as notícias incomuns, que saltam do padrão da normalidade social

(Ganiyu & Akinreti, 2015). Nem tudo o que é novo deve ser considerado notícia, pelo instinto

humano em querer saber aquilo que acontece com os outros e na sua zona de interação. Mas,

isso torna-se notícia dependendo dos intervenientes nos acontecimentos, assim como quem diz o

que se passa, assim como pelo que foi dito, quando, onde e como (Ganiyu & Akinreti, 2015).

No entanto, devem ser tidos em conta dois grandes grupos em que os conteúdos jornalísticos

devem estar inseridos. Por um lado, devem ter critérios substantivos, ou seja, que avaliem

diretamente a importância do tema. Por outro, torna-se essencial analisar o contexto de produção

da notícia, para decidir se deve ou não ser publicada (Silva & Jeronymo, 2017). Para Nelson

Traquina (2005), devem ser levados em conta os seguintes valores-notícia:

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Figura 10: Valores notícia, segundo Nelson Traquina, 2005)

Schaudt e Carpenter (2009) analisaram as preferências dos leitores de notícias e, dessa análise,

perceberam que 63% preferiram notícias ditas “soft news”, que é como quem diz, as notícias mais

leves, em detrimento das “hard news” (37%). A corroborar com estes autores está Bastos (2015).

A instantaneidade é um dos valores-notícia mais valorizado no webjornalismo, devido à exigência

do leitor pela publicação da informação ao segundo. Para alguns autores, a verdade deve ser

encarada como o mais importante, assim como a significância do tema, a sua exclusividade e

profundidade de interesse público, aliado à responsabilidade social e a educação (Bastos, 2015).

Também temas do inesperado e da atualidade, mas, a passar esta percentagem, estiveram as

notícias cujo valor-notícia foi a proximidade (76%), seguido do conflito (31%). O certo é que, quanto

mais valores-notícia o conteúdo jornalístico apresentar, mais visualizações tem tendência a ter

(Schaudt & Carpenter, 2009). Atualmente, parece que valores notícia, como a celebridade têm

dominado, não só em jornais tidos como tabloides, como as revistas, mas também na imprensa

considerada de qualidade. Já valores-notícia, como conflitos e exclusividade parecem ser cada vez

mais valorizados (Schultz, 2007; Harcup & O’Neill, 2016). A novidade que Harcup e O’Neill (2016)

obtiveram com um estudo realizado, cujo objetivo era detetar os valores-noticia mais valorizados

na atualidade, é que o facto de ser ou não passível de “partilhado” assume-se já como um valor-

notícia relevante. “Por último, mas não menos importante, as novas investigações apontam para

a importância de um conceito que chamamos de "partilhável", embora definir aquilo que é seja

difícil” (Harcup & O’Neill, 2016, p.13).

Em contrapartida, Daniela Real Santos (2018) defende que o valor-audiência se deve sobrepor ao

valor-notícia, isto porque a notícia é cada vez mais determinada com a audiência, mais do que

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pela agenda. No entanto, Harcup e O’Neill (2016) dizem o contrário: por vezes, questões editoriais

sobrepõem-se àquilo que o leitor prefere ver e, até mesmo, às decisões do jornalista. Ou seja, há

mais fatores a contribuírem para estas decisões editoriais, como económicos, organizacionais e

culturais. Uma dessas questões é o acesso e cumprimento de prazos, tendo em conta que os

jornalistas estão sujeitos a rotinas diárias. Também o contacto com as fontes pode tornar o

processo moroso e fazer com que um tema salte da agenda, por incumprimento do prazo

estabelecido. Há ainda influências externas, incluindo o papel dos profissionais de relações

públicas, de crenças dos profissionais e de interferências dos colegas. “Os valores notícia podem

ser vistos menos como o tipo de informação que os cidadãos querem, e mais como o reflexo

daquilo que são as organizações, sociológica e culturalmente, combinadas com fatores

económicos (Harcup & O’Neill, 2016, p.4).

A seleção de notícias também está sujeita à influência das rotinas jornalísticas, como questões de

acesso e cumprimento de prazos.

2.7. Consumo dos média e modelos de negócio

Uma das maiores potencialidades do webjornalismo é a capacidade de apresentar conteúdos

híbridos, interativos e multimédia, já que “o consumo dos leitores é cada vez mais

multiplataforma” (Almeida, 2015, p.37). Esta é uma caraterística daquilo que Daniela Real Santos

(2018) diz ser o jornalismo 3.0. Antes deste estádio do jornalismo, o mesmo passou por outras

fases, como explanado anteriormente. Dos conteúdos analógicos para o online em bruto

(jornalismo 1.0) ao jornalismo criado de e para a rede (jornalismo 2.0), entramos numa nova era,

a do 3.0, em que há a socialização dos conteúdos com os próprios meios (Santos, 2018). Neste

último, evidenciam-se novos hábitos de consumo e, em jeito de consequência, evidenciam-se

mudanças no paradigma da comunicação e dos modelos de mercado. Um estudo de 2016, levado

a cabo pela Entidade Reguladora da Comunicação Social (ERC, 2016), sobre as Novas Dinâmicas

do Consumo Audiovisual, constatava que 39,5% da população portuguesa não acedia com

frequência à Internet. Tais dados colocavam o país na cauda da Europa. No entanto, dados novos

surgiram por parte da Digital News Report, que englobam até 2019. Desses, é possível

percecionar, em comparação com os dados da ERC (2016), que há uma linha ascendente do uso

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da Internet. Isto porque 78% são usuários, o que significa que só 22% é que ainda não acede com

frequência à Internet.

Segundo os dados da ERC (2016) foi feito um

levantamento por região, em que se percebeu

que há uma diferença entre o norte e o sul do

país. O norte do país registou cerca de 53% de

acessos regulares à Internet, percentagem que

é a antítese do sul do país, onde o Algarve

regista 72% (ERC, 2016). Destes acessos, a

ERC anunciava que era no público mais jovem

que se centravam os acessos regulares,

registando 96% entre os jovens. Já os adultos,

com mais de 65 anos, têm uma percentagem

de acesso de 11%.

Figura 11: Infográfico sobre o uso regular da Internet

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Tabela 1: Percentagem de acessos por meio em Portugal, segundo dados de Digital News Report, 2019

Da leitura tabela 1 apresentada, percebe-se que a televisão assume-se como o meio onde os

portugueses têm vindo, desde 2015, a mostrar a sua preferência, à semelhança do meio online.

Em 2016, a televisão assistiu a um decréscimo relativamente ao dispositivo utilizado para assistir

a notícias, a contrapor com o online, que teve o fenómeno inverso: mais 2% face ao ano anterior.

Ambos os meios têm sido a preferência, mas o online, em 2019, denunciava (à data da análise

dos dados) o maior decréscimo desde 2015 (Digital News Report , 2019).

Em 2019, houve menos 5% de acessos a notícias por parte da população. Também as redes

sociais reduziram o seu número de visualizações de notícias (menos 6%) e a imprensa segue a

tendência com menos 5%. Ou seja, só a televisão mantinha, aquando a análise dos dados, a sua

percentagem, liderando a preferência enquanto dispositivo de acesso a notícias. No que toca às

redes sociais, o Facebook continua a ser a rede mais utilizada (53%), mas o WhatsApp tem vindo

a ganhar poder na amostra analisada pelo Digital News Report e o Instagram tem adquirido cada

vez mais utilizadores jovens.

O número de acessos por telemóvel está a aumentar (62%) em 2019, face ao uso do computador

(57%) que tem vindo a decrescer ao longo dos últimos anos. O acesso a notícias por tablete é

pouco frequente, comparado com estes dois dispositivos (em 2019, representava apenas 17% dos

acessos).

A confiança em notícias que circulam nas redes sociais é menor (27%) face às notícias que são

pesquisadas pelos utilizadores (43%). No geral, Portugal é dos países onde há mais confiança nas

notícias online, segundo o Digital News Report. No que respeita aos géneros (tendo em conta que

a ERC possui esses dados e o Digital News Report não) torna-se importante referir que, no caso

dos homens, é a informação, seguida das séries, documentários, filmes, desporto e música. As

mulheres preferem as telenovelas, o entretenimento e desenhos animados (associado ao

acompanhamento que dão aos seus filhos) (ERC, 2016). As preferências de consumo perante o

indicador “faixa etária” são distintos, mas, ainda assim, a informação continua a ter uma adesão

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de mais de 80%. Nos jovens entre os 15-24 anos são as séries a liderar, com 80%. Já na população

que tem entre os 25 e os 54 anos são os filmes (70%). Já depois dos 55 anos, todos os demais

afirmaram aceder a telenovelas (ERC, 2016). Assim, a “informação” qualificou-se em primeiro

lugar com 89,5 %, seguindo-se os produtos destock, isto é, “telenovelas”, “filmes” e “séries” com

uma média de 56,3 %. Assim, pode-se concluir que a faixa etária mais jovem prefere consumir

conteúdos audiovisuais e através da Internet, enquanto acima dos 54 anos preferem as linguagens

mãe, isto é, televisão e jornais em papel. Já os meios para este acesso online variam consoante

as linguagens. O computador é mais acedido para ver documentários e filmes, já para consumir

informação dos jornais, o telemóvel lidera. A

maioria da população afirma aceder à internet

em casa (97%), seguida de locais públicos (54%)

e no local de trabalho/ escola com cerca de

51% (ERC, 2016).

O terceiro e quarto ecrã está a emancipar-se e,

com isto, surgem novas formas de comunicar e

novas estratégias de distribuição dos

conteúdos. Lançaram-se novos formatos

jornalísticos “mais apelativos e adaptados a

utilizadores cada vez mais exigentes”

(Canavilhas, 2012, p.7). É cada vez menos o

consumidor quem procura o que quer ver no

online, passando a ser os conteúdos quem

procuram o consumidor (Canavilhas, 2012).

Há, portanto, uma individualização do consumo

e este conceito que permite aos média

personalizar os seus conteúdos, desenvolvendo

uma relação de maior proximidade e intimidade

com órgão de comunicação. Ao mesmo tempo,

há a disseminação da informação a um ritmo

mais acelerado (Santos, 2018).

As notícias de última hora são exemplo dessa personalização, já que é através do número de

telefone ou pelos alertas que aparecem no nosso computador, que se dão conta destas

Figura 12: Infográfico dos conteúdos mais vistos em Portugal

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informações ligadas ao imediato (Canavilhas, 2012). Embora sejam muitas as semelhanças entre

os dispositivos móveis, o certo é que cada meio possui caraterísticas únicas e distintivas entre si,

obrigando a uma adequação de cada conteúdo a cada meio por onde vai ser circulado (Canavilhas,

2012). Perante esta nova realidade com que se depara o mundo informativo, há uma

preponderância de autonomia relativa para os jornalistas, visto que se encontram numa atividade

altamente condicionada. “O trabalho jornalístico realiza-se em condições difíceis, marcadas por

múltiplas incertezas, como a pressão das horas de fecho, as hierarquias da própria empresa, os

imperativos do jornalismo como negócio” (Bastos, 2015, p.94).

Mas, há uma contradição que o jornalismo enfrenta, tendo em conta aquilo que é o sistema de

média corporativo, que se orienta para o lucro, que é proveniente da publicidade, aliado às

exigências da sociedade face aos média. Os meios de comunicação atuais estão longe de serem

uma força baseada na liberdade e democracia. Isto porque os principais beneficiadores daquela

que é a era da informação são os anunciantes e os investidores, o que direciona o jornalismo para

um controlo corporativo centrado, que se advinha ser desastroso numa democracia participativa

(Bastos, 2015) e isso vê-se pelos despedimentos e a precarização dos vínculos laborais.

A redução de efetivos, a precariedade profissional e o desinvestimento nas redações podem

parecer uma solução a curto prazo, mas não vão garantir a sobrevivência das empresas

jornalísticas. Conduzem, pelo contrário, a uma perda de rigor, de qualidade e de fiabilidade, que

terá como consequência, numa espiral recessiva de cidadania, a desinformação da sociedade, a

falta de exigência cívica e um enfraquecimento da democracia, como se pode ver na Petição Pelo

jornalismo, pela democracia 15.

Os autores de tal petição afirmam que este mercado dos média tem gerado – e continuará a gerar

– a perda de rigor, qualidade e fiabilidade da informação, que, consequentemente, levará à

desinformação da sociedade e ao enfraquecimento da democracia (Jerónimo, 2015). Perante esta

conjuntura do jornalismo, das redações, dos padrões de consumo, torna-se importante perceber

para onde caminham os modelos de negócio. Os telemóveis e tabletes podem revelar-se novas

fontes de receitas pela sua capacidade de oferecer conteúdos personalizados, informação

atualizada e contextualizada. “Constitui [estes meios], por isso, uma oportunidade para que as

empresas possam cobrar o acesso às notícias”, até porque estes dispositivos permitem uma

aproximação com o leitor e o telemóvel é quase uma extensão humana que a sociedade já não

15 Ver https://peticaopublica.com/pview.aspx?pi=P2012N30627

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dispensa. É, assim, o dispositivo que permite receber apenas a informação que o leitor quer

através do sistema de push (Canavilhas, 2012, p.16). É cada vez mais importante que cada meio

saiba distinguir o seu próprio público já que se vive numa época de personalização de informação

(Santos, 2018).

Aliada a esta questão da personalização dos conteúdos, chega-se a uma fragmentação das

audiências. Neste seguimento, surgiram os agregadores das notícias, como a Sapo ou a Google

que processam as notícias, disponibilizando esses conteúdos que são propriedade de outra fonte.

Forma-se assim um “liquid journalism” tendo em conta que o jornalismo vive num espaço ao

serviço da sociedade atual (Santos, 2018). Mas, o modelo de negócio está a ser afetado com esta

convergência. Há um declínio das receitas oriundas das publicidades no papel, em detrimento das

publicidades online, por um lado. Mas, era no papel que estava a maior fonte de lucro dos média.

Do outro lado da mudança está a descredibilização do jornalismo (como explanado anteriormente,

pela decadência do rigor e investigação) e o aumento de pressões comerciais que geram uma

depreciação do modelo de negócio. Além disso, é cada vez mais difícil fazer alguém pagar num

meio onde quase tudo circula gratuitamente (Santos, 2018).

Há igualmente uma cultura de entretenimento que tem vindo a aumentar, onde a emoção e a

proximidade aumentam a audiência. Os públicos querem saber de tudo ao minuto, mas a aposta

apenas por notícias ditas “leves” – sem trabalho de campo, com pouca informação e pouco

precisa – podem levar a uma perda de seguidores. Mas, esta perda é geralmente irrecuperável,

visto que criar hábitos de consumo pode demorar anos, assim como reconquistar quem se perdeu

(Santos, 2018). É assim necessário “segmentar, selecionar e filtrar o conteúdo” consoante o

público-alvo de cada meio de comunicação, para haver o processo de conquista e gerar hábitos

de consumo. Isto porque a adaptação aos novos meios digitais tem sido um processo lento e

marcado pelo receio e falta de confiança. Mas, a adaptação às novas potencialidades não pode

ser encarada com resistência por parte dos média que, a cada passo que não dão, outro poderá

dá-lo num mercado pautado pela sobreabundância de ofertas. É a sofisticação dos conteúdos

produzidos que faz com que um meio se destaque de entre os demais existentes, ao passo que

se têm de adequar aos meios e às plataformas de divulgação das narrativas (Santos, 2018).

Estes dados acerca do consumo dos média tornam-se pertinentes, para se percecionar a

necessidade que o V Digital tinha em adequar cada conteúdo que produzia a cada ecrã em que

estava presente. Esta era uma preocupação que se tornou cada vez mais presente, nos três meses

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que estive neste órgão de comunicação social. Além disso, foi mencionado que o V Digital foi um

projeto que iniciou em 2017 e, em 2019, já tinha terminado. Para se tentar entender os motivos

(ou pelo menos alguns) que contribuíram para o insucesso do órgão de comunicação, pretende-

se perceber se os conteúdos eram adequados ao público-alvo do meio online.

Todos estes tópicos abordados no capítulo 2 serviram de base à construção do guião de

observação, dando origem, não só aos componentes de análise, como também aos indicadores.

Ou seja, deram origem aos dados recolhidos através da observação participantes (como será

explicado no próximo capítulo). Foi também a partir destas leituras e, claro, a par da experiência

de estágio, que emergiram questões que foram tidas em conta na investigação patente neste

relatório de estágio. Pretendeu-se entender a forma como o online – meio que está a ser analisado

tendo em conta o canal onde fui estagiar – veio alterar, ou não, as rotinas de produção dos

jornalistas. Mas para isso foi preciso, primeiramente, entender se os conteúdos do V Digital

obedeciam às caraterísticas que os teóricos anteriormente referenciados no ponto 2.1. O caminho

analítico dos dados teve por base as várias características que se constatou, com a revisão teórica,

que os conteúdos online deveriam ser portadores, nomeadamente o hipertexto, a interatividade, a

instantaneidade, a personalização e a ubiquidade.

Depois de percebidas todas estas características foi mais simples partir para uma análise no que

concerne às linguagens utilizadas pelo V Digital para comunicar a sua informação. Para tal, teve-

se por base o conceito explanado neste capítulo de hibridez das linguagens, segundo Santaella

(2012). Mas se os conteúdos são cada vez mais híbridos, ou seja, constituídos por texto, imagem

e som, numa complementaridade dos elementos capazes de criar conteúdos únicos e menos

débeis na sua comunicação, tentou-se perceber qual era o papel do jornalista na obtenção de cada

um destes elementos. Tendo em conta que estamos, como constatado neste capítulo 2, num

contexto jornalístico cada vez mais propenso ao jornalismo multitasking, tentou-se perceber se

cabia ao jornalista recolher todos estes elementos que integravam as narrativas e se era ele

também quem os interligava.

Mas se não há jornalismo sem fontes de informação, e se essa é parte essencial da rotina de um

jornalista, como constatamos no ponto 2.4, sentiu-se necessidade de analisar o tipo de fontes de

informação utilizadas. Esta foi uma forma de perceber se o V Digital seguiu a tendência nacional

e internacional de dependência de agências de comunicação, como vimos anteriormente. Mas

perante a imensidão de informação que chega às redações vindas desses canais de rotina, cabe

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aos jornalistas exercerem a sua função de “portões” face àquilo que será ou não notícia. A auxiliar

esta tarefa estão, como vimos, os valores-notícia. Foi então analisado que valores de noticiabilidade

era mais ou menos valorizados pela redação a par daquilo que gerava maior interatividade nos

leitores. Até porque todas as redações precisam de gerar lucros e esses vêm ou da publicidade –

que tem vindo a decrescer – ou dos cliques na Internet. É nesse sentido que se tornou importante

explicar neste capítulo, não só os hábitos de consumo dos média, como também os novos modelos

de negócio.

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Capítulo 3- Metodologia

Investigar deriva do termo procurar, termo com sentido transversal a todas as línguas: research

(em Inglês) recherche (em Francês), ricerca (Italiano). No caso das investigações nas ciências

sociais e humanas, a investigação é pautada pela multiplicidade e pelo contexto em que se insere.

Pela multiplicidade, porque poderá englobar vários métodos e paradigmas e, pelo contexto, pois

as ciências sociais não se podem dissociar do contexto sociocultural em que se insere (Coutinho,

2014). Este terceiro capítulo pretende isso mesmo: investigar.

A intenção deste relatório passa, não só mas também, pela melhor compreensão de fenómenos

sociais, nomeadamente de práticas jornalísticas. Tendo em conta o relato feito da experiência

vivenciada durante o estágio e delineadas as problemáticas que sobressaíram desse mesmo

período, torna-se pertinente analisar os dados recolhidos durante essa experiência. Para isso, este

terceiro capítulo será construído na perspetiva de explicar o modelo de análise que orienta a

recolha e discussão dos dados. Todo este procedimento empírico terá por base o método de

observação participante.

3.1. Pergunta de partida

Para iniciar a investigação empírica, procedeu-se à elaboração de uma pergunta de partida que é,

segundo Quivy e Campenhoudt (1992), o primeiro passo. Esta pergunta permite aos

investigadores orientarem a sua pesquisa, regendo-se pelos seus objetivos, para que consigam

expor de forma clara o fenómeno social que querem compreender. Para tal, os autores defendem

que uma pergunta de partida deve respeitar os seguintes critérios: ser “precisa”, “concisa”,

“realista” no que concerne áquilo que o investigador é capaz de fazer tendo em conta as limitações

que lhe são impostas, e ainda mediante a “pertinência” científica que o tema apresenta. A

pergunta de partida foi é a seguinte:

• Em que medida é que as exigências que o ambiente online coloca ao jornalismo e aos

jornalistas estão a mudar as rotinas de produção jornalística?

Através desta pergunta de procurou-se: a) analisar a produção noticiosa no V Digital; b)

compreender de que modo estão patentes as características do webjornalismo ; c) analisar a

predominância de conteúdos pré-fabricados; d) verificar as linguagens predominantes no canal

online; e) percecionar o papel do jornalista no processo de produção das notícias.

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3.2. Opções epistemológicas

Ao longo deste trabalho, houve a necessidade de cruzar duas metodologias: a qualitativa e

quantitativa. No que concerne à introdução da metodologia qualitativa, esta esteve presente com

o objetivo de compreender as experiências humanas, dos acontecimentos e interações entre os

que laboravam no V Digital aquando do estágio (Coutinho, 2014, p.20). Mas considerou-se

também importante optar-se por um enfoque quantitativo para contabilizar alguns dos indicadores,

a fim de dotar a investigação de maior rigor, sustentabilidade e precisão analítica (Coutinho, 2014).

Na análise qualitativa não se delineou uma amostra, tendo em conta que os dados analisados

foram oriundos da observação contínua durante o estágio e alvo de um registo diário aberto ao

inesperado. Já no que concerne à análise quantitativa, esta recaiu apenas sobre a minha rotina

de produção durante o estágio. Recorde-se que, durante a experiência de estágio, tive de

desempenhar tarefas diariamente, o que não permitiu registar dados quantitativos rigorosos

acerca do trabalho dos meus colegas no que respeita, por exemplo, às fontes consultadas. Para

evitar extrapolações indevidas, optou-se por centrar a análise quantitativa apenas nas notícias

produzidas por mim e cruzar esta informação com a recolha feita a partir da observação

participante, de modo a haver uma complementaridade entre metodologias e, assim, resultados

mais sustentados. De notar que, no quarto capítulo, será explicado o percurso até chegar às

conclusões. A intenção é que os resultados sejam articulados relativamente ao campo teórico

comum, mas com diferentes perspetivas perante o mesmo fenómeno que, neste caso, são as

rotinas de produção jornalística num meio online, o V Digital.

“Analisar problemas sociais exige abordagens diversificadas que combinem o que de melhor tem

para dar cada um dos paradigmas litigantes: combinar a ‘precisão’ analítica do paradigma

quantitativo, com a ‘autenticidade’ das abordagens sistemáticas de cariz interpretativo é – e

tomando as palavras de Salomon – ‘…uma combinação que está longe de ser um luxo; é antes uma

necessidade (…)”. (Coutinho, 2014, p. 35)

Ao fazer-se uso destas duas metodologias (quantitativa e qualitativa) é importante ressalvar que

houve consciência de que há posições epistemológicas em torno desta opção metodológica nas

ciências sociais, nomeadamente o facto de que os paradigmas são diferentes e isso poder

acarretar dificuldades para o investigador na implementação da metodologia. Isto porque, como

há várias perspetivas de análise, torna-se mais difícil ter uma única perspetiva preliminar

(Coutinho, 2014).

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Importa também referir que se trata de um método de estudo de caso. Segundo Zainal (2007)

este método é aplicado em casos em que se pretende um estudo aprofundado dentro de um

contexto específico, sendo que o foco do estudo reside sobre um número limitado de sujeitos

estudados. Posto isto, o grupo em estudo nesta investigação foi constituído pelos jornalistas que

trabalharam noV Digital entre o dia 2 de julho de 2018 e 28 de setembro de 2018. Estudou-se os

indivíduos e os seus comportamentos, ações e interações no contexto de trabalho. “No estudo de

caso, tal como a expressão indica, examina-se o caso (ou um pequeno número de casos) em

detalhe, em profundidade, no seu contexto natural, reconhecendo-se a sua complexidade e

recorrendo-se, para isso, a todos os métodos que se revelem apropriados” (Coutinho & Chaves,

2002, p.223). Ou seja, este método permite observar fenómenos naturais através da recolha de

dados, mas, a fim de serem examinados com precisão e detalhe, estes estudos centram-se num

número limitado de indivíduos ou selecionam uma área geográfica a estudar (Zainal, 2007). As

críticas a este método surgem pela sua falta de robustez, no que concerne à capacidade de

generalização dos resultados, tendo em conta que alguns se baseiam em casos únicos (Zainal,

2007).

No entanto, Flyvbjerg (2006) afirma que estudos referentes ao comportamento humano raramente

podem ser entendidos como universais, pois dependem sempre de cada indivíduo analisado e do

contexto em que cada caso acontece. Mas acredita que isso torna os estudos de caso mais valiosos

do que aqueles que buscam incessantemente generalizações, tendo em conta o nível de precisão

e especificidade do caso estudado (Flyvbjerg, 2006).

3.2. O modelo de análise

Para obter as respostas à questão de partida indicada anteriormente, elaborou-se um modelo de

análise que permitiu verificar algumas das práticas dos jornalistas no V Digital. Embora cada

investigação possua o seu próprio caminho devido à sua especificidade, o certo é que é necessário

delinear o percurso que será capaz de encaminhar o investigador aos melhores resultados

possíveis (Quivy & Campenhoudt, 1992).

Analisar as rotinas de produção jornalística num canal online implicou rever algumas das

características do webjornalismo de Canavilhas (2003). Mas houve necessidade de ter em conta

outros conceitos. Primeiramente, importou definir de forma precisa, “rotina de produção”, dentro

de um órgão de comunicação online. Os indicadores considerados visam descrever todo o

processo de trabalho do jornalista, desde que entra na redação até que publica a informação no

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site e o conteúdo fica disponível ao leitor. A intenção é descrever toda a rotina do jornalista, a fim

de se perceber em que medida o meio online ajuda ou não o profissional no sucesso da sua tarefa:

informar o cidadão.

Numa primeira fase, procedeu-se à observação assistemática prévia, ou seja, observação que não

obedeceu a um guião previamente definido (Coutinho, 2014), para que fosse possível entender o

meio (online) em que iria decorrer a investigação e permitiu levantar alguns indicadores. Depois

destas duas semanas, criou-se um guião de observação (que será revelado mais à frente). Deve

dizer-se que foi construído nas duas primeiras semanas de estágio, tendo por base perspetivas

teóricas e a observação assistemática. Ambas contribuíram para a construção de um modelo de

análise, cujos indicadores permitiram criar o guião de observação.

Para o conceito de rotinas de produção num meio online, foram consideradas as seguintes

dimensões: primeiro, a “Organização de trabalho”, que contempla os agendamentos (as notícias

que advêm das reuniões de planeamento e têm data para serem publicadas) e as notícias da

atualidade, que surgem no dia a dia, entendidas como as “fast news” (Lorenz, 2014).

Considerou-se a dimensão “Construção noticiosa: As linguagem”, que teve duas componentes:

por um lado, a visual e textual (as notícias que integravam imagens estáticas e texto para contar

os factos); e por outro a hibridez das três linguagens (textual, sonora e visual), com o objetivo de

colmatar as debilidades de cada uma e criar uma nova linguagem (Santaella, 2012).

Para a dimensão “Construção noticiosa: Agências de notícias”, onde foi feito um estudo às fontes

utilizadas. Para tal, onde foi feita a categorização das mesmas perante a categorização pré-

existente dos autores, como por exemplo: fontes oficiais (Machado, 2001), individuais (Ribeiro,

2006), documentais (Ribeiro, 2006), institucionais, oficiosas/agências de notícias (Schmitz,

2011), e ainda feito o levantamento isolado de quando houve o contacto direto com fontes de

informação (Ribeiro, 2006). Com aparecimento das redes sociais os jornalistas passaram a incutir

na sua rotina a consulta de fontes digitais, como as redes sociais, Google, entre outros (McGregor

& Molyneux, 2018) e essas também foram tidas em conta nesta investigação.

Para tentar perceber o que influenciava as decisões dos jornalistas sobre aquilo que era ou não

considerado notícia para o V Digital, tornou-se pertinente verificar a dimensão “Valores-notícia”,

tendo por base as seguintes componentes: novidade, inesperado, proeminência, atualidade,

instantaneidade (Traquina, 2005) e catástrofe (Traquina, 2005; Harcup & O’Neill, 2016).

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Como o V Digital se apresentou como um meio online, e como me proponho estudar a rotina de

produção dos jornalistas, as “Características do webjornalismo” foram alvo de estudo, tendo em

conta a hipertextualidade dos conteúdos - conjunto de texto, escrito em blocos, ligado entre si,

através de hiperligações, em que é o leitor que decide como lê a notícia (Canavilhas, 2014); a

personalização/memória - contextualização dos fenómenos descritos através da ligação aos

antecedentes descritos (Lorenz, 2014); a interatividade - possibilidade de interação direta com o

produtor da notícia, através de comentários, assim como a participação, com passagem de

informação para o jornalista (Deuze, 2017); a multimedialidade - combinação de várias linguagens

e plataformas (Salaverría, 2014); e a ubiquidade - estar em todo o lado, em simultâneo (Pavlik,

2014).

Por fim, mas não menos importante, foi tida em conta a componente da “Participação das fontes

nas notícias”, nomeadamente através do jornalismo cívico, ou seja, o cidadão produz conteúdo

como se fosse jornalístico, mas não se trata de um profissional da área (Canavilhas, 2012;

Jerónimo, 2015); do ciberjornalismo participativo, que é aquele que envolve a participação da

audiência através de utilização das redes sociais (Machado, 2001; Jerónimo, 2015); do jornalismo

de ecossistema, isto é, o que envolve vários agentes, grupos e plataformas, que fazem com que o

conteúdo esteja em constante evolução (Jorgensen, 2014).

Conceito Dimensões Componentes Indicadores

Organização do trabalho

Agendamento Notícias que advêm das reuniões de

planeamento e que possuem data marcada

para a sua realização

Notícias de atualidade Notícias que surgem no dia, como Breaking

News.

Construção noticiosa:

a linguagem

Linguagem escrita e

visual

Notícias que integram imagem estática e

texto como forma de contar a notícia

Hibridez das três

linguagens: textual,

visual e sonora

Mestiçagem de várias linguagens, com o

objetivo de colmatar as debilidades de cada

uma e criar uma nova linguagem.

Tipo de contacto: direto

ou indireto com fonte

Quando o jornalista contacta com fontes de

informação a fim de obter a informação que

lhe permite construir a narrativa.

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102

Rotinas

de

produção

num

canal

online de

vídeo

Tipologia fontes de

informação

Oficiosas/agências de

notícias

Chama-se de informante “autorizado” ou

“não autorizado” (também denominado de

“fonte oficiosa”) quem substitui o porta-voz

ou a própria fonte quando esta não pode -

ou não deseja, ou ainda, desconhece, no

caso de “não autorizado” - formalizar a

informação ou a sua opinião,

pessoalmente.

Oficial Presidente da República, primeiro-Ministro,

membros do governo, membros

partidários.

Populares Não estabelecem vínculos com o caso que

está a ser tratado, mas podem ser

testemunhas de casos, cidadãos comuns.

Documental Relatórios; comunicados; decretos-lei;

Orçamento de Estado; estudos.

Institucionais Membros de instituições, Igreja, empresas,

jornais, (…).

Empresariais Empresas que revelam informações.

Especializadas São os peritos, especialistas, intelectuais

que, pela sua experiência ou profissão,

revelam conhecimento importante na área.

Redes sociais/ Motores

de busca

Facebook; Twitter, Instagram, entre outras,

Google.

Valor- notícia

Novidade Factos pouco recorrentes na sociedade.

Inesperado/ Surpresa Notícias que causem surpresa nas pessoas.

Catástrofe Notícias relacionadas com catástrofes

naturais e humanas.

Proeminência Referente à pessoa de destaque ou

personagem público.

Atualidade Acontecimentos referentes àquilo que está

a acontecer no dia.

Instantaneidade Notícia do que acontece no momento;

recurso ao direto.

Características do

Ciberjornalismo

Hipertextualidade Conjunto de texto, escrito em blocos, ligado

entre si através de hiperligações. É o leitor

que decide como lê a notícia.

Personalização/

Memória

A possibilidade de ligar uma nova notícia

aos seus antecedentes permite o

enriquecimento do jornalismo graças à

contextualização dos fenómenos.

Interatividade Possibilidade de interação direta com o

produtor de notícias ou opiniões. Reação

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pode ser imediata e contínua: Comentários;

Fórum; contacto direto com o jornalista.

Multimedialidade Combina várias linguagens que se

completam, está em múltiplas plataformas.

Jornalista tem polivalência de temática,

mediática e funcional.

Ubiquidade Estar em todo o lado, em simultâneo.

Instantaneidade Necessidade de dar a notícia em primeiro

lugar.

Interatividade/participação

dos cidadãos nas notícias

Jornalismo cívico O cidadão produz conteúdo como se fosse

jornalístico, mas não se trata de um

profissional da área.

Ciberjornalismo

participativo

Envolve a participação da audiência,

através da utilização dos smartphones e

redes sociais.

Jornalismo ecossistema

Envolve variadas organizações, indivíduos,

grupos, em lugares e plataformas variadas.

Jornalismo em constante evolução.

Tabela 2: Guião de observação

3.4. Observação como técnica

Para analisar todos estes indicadores, recorreu-se à técnica de observação participante, que é

aquela em que o investigador se insere no grupo no qual está investigar e participa nas atividades

que o mesmo desempenha, de forma o mais natural possível, “durante um período variável que

pode ir de alguns meses a alguns anos” (Santos, 2015, p. 31). O investigador observa e descreve,

desde eventos, comportamentos, artefactos diante do espaço que escolheu para observar

(Kawulich, 2005). Ou seja, nesta técnica quem investiga está em contacto direto com quem está

a ser investigado. E é por isso que Kawulich (2005) alerta para que os investigadores mantenham

a objetividade e alguma distância em relação a quem observam, para evitarem distúrbios e

interferências pessoais naquilo que registam no seu dia a dia. No caso apresentado no próximo

capítulo, a observação participante durou cerca de três meses, quase o mesmo tempo de estágio.

Durante esse período tentei agir de forma natural e, ao mesmo tempo, desempenhar as funções

na comunidade, de modo a que não afetasse o curso normal de funcionamento do grupo.

No entanto, nem sempre isso acontece (Kawulich, 2005). Ao falar-se desta técnica, importa referir

que a posição do investigado face ao grupo introduz condicionantes no processo investigativo. Por

vezes, verifica-se que há investigadores que não revelam logo de início os seus objetivos no grupo,

de modo a não colocarem em risco a sua integridade ou até mesmo para evitarem que a rotina

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do grupo possa sofrer alterações (Kawulich, 2005). Com isto, levantam-se problemas éticos, já

que é dever do investigador manter-se leal e respeitar a comunidade a que pertence (Coutinho,

2014). O investigador deve ser um bom ouvinte e estar aberto ao inesperado e, para recolher as

informações, pode fazer-se valer de conversas, meras observações, entrevistas e métodos

discretos (Kawulich, 2005). Há ainda outras limitações da observação. Por exemplo, o facto de –

em determinados contextos - homens e mulheres poderem não ter acesso ao mesmo tipo de

informação, assim como a sua cor, etnia, e crenças. Ou seja, estas características podem

condicionar a aceitação do investigador na comunidade (Kawulich, 2005). No meu caso, considero

ter sido aceite. Também o facto de estar alguém de fora do grupo a observar o desempenho pode

representar um perigo para a investigação, alterando os dados recolhidos (Kawulich, 2005). O

facto de toda a redação ter entrado recentemente, fez com que a minha entrada para lá não fosse

estranhada.

Mas a observação participante acarreta uma grande vantagem, isto é, a possibilidade de

proximidade com a realidade que, para quem é externo, poderia ser difícil de obter determinadas

informações importantes para a investigação (Santos, 2015; Jensen, 2007). É precisamente por

isso que, por vezes, os investigadores envolvem-se de tal maneira no grupo observado que deixam

que as suas relações e impressões interfiram com aquilo que observam, retirando objetividade ao

observado (Kawulich, 2005).

Com isto, pretende-se explicar os fenómenos observados, para refletir sobre eles e se retirar uma

profunda conclusão (Jensen, 2007). Geralmente, após cada sessão de observação, o investigador

deve proceder a descrições qualitativas dos fenómenos observados, e isso foi feito por mim. As

descrições foram até minuciosas, com registo de reações, emoções reparadas, de modo a facilitar

o trabalho de análise dos dados. Recorreu-se a instrumentos de recolha como a grelha de

observação, que foi construída tendo por base as os indicadores e a teoria explanatória sobre o

tema a investigar (como conceitos observados, escalas, de modo a facilitar a observação) como

explano anteriormente no modelo de análise (Mónico, Alferes, Castro & Parreira, 2017).

Dentro da redação do V Digital houve três núcleos de trabalho observados: por um lado, os editores

de vídeo; por outro, os jornalistas; e ainda a direção. Fizeram parte da amostra quatro editores de

vídeo, um grafista, e onze jornalistas. A direção era constituída por três elementos. Houve mais

membros na direção do canal. No entanto, estes foram aqueles que estiveram presentes nas

reunião de planeamento de trabalho e, por isso, integraram a observação, ao contrário dos demais.

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De referir que não foram definidos limites temporais ou períodos, tendo em conta que a observação

foi contínua durante o estágio. Até porque o registo da observação participante foi diário e isso fez-

se da seguinte forma: a) a partir dos indicadores do modelo de análise, foi construída uma grelha,

onde foi feito o registo das tarefas desenvolvidas por mim até à publicação do artigo.; b) a partir

do documento disponibilizado após as reuniões foi feito um levantamento diário do trabalho

cumprido, perante aquilo que estava previamente delineado. A partir das dinâmicas da redação,

foi preenchido sistematicamente o guião de observação atendendo às rotinas dos meus colegas

de trabalho. Permitiu perceber a forma como atuavam os jornalistas, qual a sua rotina dentro de

um órgão de comunicação digital, a sua importância nas construções das narrativas e a sua visão

perante aquilo que estava a acontecer no V Digital. Para isso, foi aponte, de forma o mais

minuciosa possível, as suas rotinas, comportamentos, reações e até partes dos seus discursos

para que, depois de tratados, resultassem em interpretações e conclusões (Coutinho, 2014).

Recorde-se que serão cruzados dados que dizem apenas respeito à minha rotina, mas isso serve

apenas para comprovar, mais rigorosamente, aquilo que a observação participante permitiu

apurar.

3.5. A entrevista

Sentiu-se ainda necessidade de recorrer à realização de uma entrevista à gestora de redes sociais

no norte. Isto porque, se a observação participante deu oportunidade de percecionar o trabalho

dos intervenientes (jornalistas, editores, grafista, e editores de vídeo), o mesmo não se pode dizer

no que respeita à gestão das redes. O facto de não ter contacto direto com esta tarefa não me

permitiu percecionar o seu impacto. Tendo em conta as questões que me propus responder, houve

necessidade de percecionar melhor como era desenvolvido este trabalho, bem como ter acesso à

opinião e dados relativos à gestão de redes. Para tal, optou-se por implementar, na última semana

se estágio (por ser o momento em que já tinha as questões formuladas e o caminho a desenvolver

neste relatório definido) uma entrevista. Consistiu no desenvolvimento de “precisão, focalização,

fidedignidade e validade de um certo ato social comum à conversação” (Goode & Hatt, 1973,

p.237). Partiu-se de um guião previamente estruturado – mas aberto a novas questões que

surgiram no momento da sua implementação -, que permitiu aprofundar o tema abordado, isto é,

a interação dos conteúdos partilhados, e a respetiva opinião da entrevistada sobre o sucesso dos

mesmos nos leitores. A preparação da entrevista e a formulação de um guião permitem guiar a

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conversa, ao mesmo tempo que auxiliam o entrevistador a recolocar-se no seu papel quando se

aproxima demasiado do entrevistado. Porém, esta solução de “padronização” das entrevistas

poderá colocar em causa a sua “profundidade” (Goode & Hatt, 1973, p.239).

Torna-se igualmente importante atender, em momentos de entrevista, a aspetos subliminares,

referentes à comunicação não verbal, isto é, aos “pequenos comportamentos que acompanham

as emoções” (Goode & Hatt, 1973, p.240). Isto porque é através deste tipo de linguagem que,

por vezes, se comunica tanto ou mais do que a partir da linguagem verbal. No entanto, o

investigador deve ser capaz de implementar as entrevistas de forma consciente, de modo a não

se deixar envolver nas emoções e tornar-se parcial. Caso isso aconteça, estará a influenciar os

resultados finais da entrevista (Goode & Hatt, 1973).

O entrevistador não deve se tornar num amigo (…) devem ser mantidos elementos adicionais de

respeito, de competência profissional (…) além disso ele [o entrevistado] verificará que sua própria

confiança diminuiu, se o objetivo passa a ser manter a amizade. (Goode & Hatt, 1973, pp.248- 249)

É certo que “quanto maior quantidade de liberdade de ação permitida ao entrevistado, mais

necessário é um alto nível de competência” do entrevistador (Goode & Hatt, 1973, p.239) e, para

tal, é necessário, por exemplo, conseguir-se manter o distanciamento para com o entrevistado. A

entrevista foi uma técnica de recolha de informação que é “fundamentalmente um processo de

interação social” (Goode & Hatt, 1973, p.239) e que se tornou fulcral para perceber para onde

estavam a ser canalizados recursos financeiros para gerar interação nos conteúdos, assim como

a estratégia de comunicação do V Digital, que, somente com a observação participante, poderia

tornar-se insuficiente.

3.6. Análise de conteúdo

Para analisar os dados da observação, foi aplicada a técnica de análise de conteúdo para proceder

à codificação e categorização dos dados recolhidos (Santos, 2015). Por análise de conteúdo

entende-se o “conjunto de técnicas de análise das comunicações, que utiliza procedimentos

sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens” (Bardin, 2004, p.38). Com

esta técnica teve-se a intenção de inferir conhecimentos a partir dos dados observados atendendo

às suas “condições de produção”, de modo a “ultrapassar a incerteza” e, através de uma leitura

atenta aos dados recolhidos, enriquecer o conhecimento acerca do tema escolhido (Bardin,2004,

p.29). Ou seja, na análise de dados ter-se-á em conta o contexto em que os mesmos foram

desencadeados. Este será o momento em que se colocará em confrontação aquilo que foi

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apurado, a partir de uma análise descritiva dos dados, com a análise interpretativa do investigador

(Guerra, 2014). Além disso, nesta técnica, o investigador deve-se usar construções analíticas para

que, a partir dos dados, obtenha respostas às suas perguntas de partida. Esta técnica permite o

uso de elementos qualitativos e quantitativos na análise (White & Marsh, 2006), tal como será

feito e poderá ser verificado ao longo deste capítulo.

Por um lado, partiu-se de uma análise quantitativa aos dados tendo por base a categorização pré-

existente, que decorreu do modelo de análise e que integrou o guião de observação, de modo a

obter dados objetivos e sistemáticos do conteúdo observado, e que foram “submetidos a testes e

técnicas independentes para julgar a sua viabilidade e confiabilidade” (White & Marsh, 2006,

p.27).

Por outro lado, foi aplicada uma análise de conteúdo qualitativa perante os dados resultantes da

observação sistemática. “As conclusões podem ser retiradas acerca do comunicador, da

mensagem ou do texto (…) incluindo o contexto sociocultural da comunicação, e/ou os efeitos da

mensagem” (White & Marsh, 2006, p.27). Do material recolhido, procurar-se-á chegar a

descrições sistemáticas do significado (Santos & Dalto, 2012). Para tal, é intenção identificar no

conteúdo tendências, estilos e intenções de modo a que sejam agrupados e, depois, analisadas

as conclusões dos dados.

Vai-se proceder à comparação intra-conteúdo (White & Marsh, 2006), ou seja, à relação existente

entre os diferentes conteúdos dentro do mesmo corpus de análise, face aos objetivos previamente

definidos, através de categorias pré-existentes oriundas da revisão literária e da experiência de

estágio, que integraram o guião de observação. É importante dizer que, em muitos dos

componentes, a partir da análise qualitativa da comunicação – que foi registada a partir do

preenchimento do guião de observação – foram agrupadas quantitativamente para uma melhor

perceção da informação (Santos & Dalto, 2012). Houve apenas um momento de análise

quantitativa que teve por base uma categoria emergente, no ponto de análise 4.1.6, que deu

origem ao gráfico 6, onde serão levadas em conta duas categorias, isto é, o número de

visualizações de página e o número de visualizações de página únicas, segundo a definição do

Google Analytics. Houve necessidade de analisar estes dados a fim de comprovar o que foi

explicado na análise descritiva dos dados. Depois do processo de categorização da informação e,

como já explicado, foram feitas inferências de modo a atribuir, “por meio de deduções lógicas e

justificadas, significado ao discurso” (Santos & Dalto, p.3). Tentou-se recolher, com a observação

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participante, dados minuciosos, com o máximo de anotações, nomeadamente de emoções,

reações, padrões de comportamento, entre outros. Visa-se fazer uma análise dos dados mais

precisos e aprofundada. Isto porque sabia que poderiam passar-se vários meses desde a recolha

até à interpretação de dados (o que aconteceu). Ou seja, foram tidas em conta as formas de

comunicação verbal e não verbal, através do processo de descrição, de modo a desconstruir os

significados de tais comunicações perante os componentes de análise propostos (Santos & Dalto).

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4. Análise dos dados

Definido o modelo de análise e fundamentadas as técnicas de recolha e análise dos dados, este

quarto capítulo servirá para descrever e interpretar os dados recolhidos durante os três meses de

estágio no V Digital, através da observação participante.

Recordemos, agora, a questão sobre a qual todo o quarto capítulo se desenrolará: “Em que medida

é que as exigências que o ambiente online coloca ao jornalismo e aos jornalistas estão a mudar a

rotina de produção jornalística?”. Esta é a grande questão da investigação. No entanto, muitas

outras interrogações foram levantadas ao longo da experiência de estágio que, respondidas, no

seu todo, pensa-se que darão a resposta à questão principal. São elas: a) De que modo é

organizada a produção jornalística? b) Quais as fontes de informação valorizadas? c) Qual a

predominância de conteúdos pré-fabricados? d) Qual a interatividade entre o cidadão e os

jornalistas no V Digital ? e) Qual o valor-notícia mais valorizado? f) Quais as características do

webjornalismo presentes nos conteúdos do V Digital?; g) O fenómeno da hibridez das linguagens

verifica-se no V Digital? h) Qual o papel do jornalista nas rotinas de produção jornalística?

4.1. Os dados da observação participante

Como referido anteriormente, a explanação dos dados vai ser feita a partir das perguntas

levantadas ao longo da experiência de estágio.

4.1.1. De que modo é organizada a produção jornalística?

Esta será a primeira questão que se tentará responder neste capítulo. Para tal, foi considerada a

dimensão “organização de trabalho”, nos quais se consideraram duas componentes, sendo elas

o “agendamento” e as “notícias da atualidade”: artigos feitos a partir da atualidade e outros que

já estavam predefinidas através das reuniões de planeamento.

No que concerne a esta última, semanalmente, todos os jornalistas eram chamados à sala de

reuniões que existia no edifício do JN. Ligava-se o Skype e, em videoconferência, estabelecia-se

ligação com os colegas de trabalho que estavam em Lisboa. Dava-se assim início à reunião de

planeamento. Era aqui que se davam ideias para temas que poderiam ser abordados no V Digital

durante a semana seguinte ou até mais à frente. Discutia-se entre jornalistas, editores e diretor e,

no fim, se a ideia fosse validada, era registada no Google Docs, um documento a que todos os

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jornalistas tinham acesso, em tempo real. Foi precisamente através desse documento que eu –

observadora participante – fui semanalmente retirando todos os temas que eram registados como

“de agenda”. O documento tinha não só o título provisório, como uma atribuição da tarefa e a

data prevista de publicação. A partir daí, foi possível aperceber se a agenda era ou não cumprida

pelos jornalistas, através de uma análise quantitativa dos dados. De ressalvar que não tive acesso

a este documento nas primeiras semanas de estágio, embora já assistisse às reuniões e tomasse

algumas notas (consideradas na análise qualitativa e não quantitativa dos dados). O documento

foi partilhado comigo no dia 23 de julho de 2018. A observação participante permitiu ter acesso a

um total de 130 ideias oriundas das reuniões de agendamento. Esse é o número total da amostra

considerada na análise deste indicador.

Gráfico 1: Análise quantitativa às reuniões de planeamento de 27 de julho a 21 de setembro de 2018

Da análise quantitativa dos dados, resultou o gráfico 1. Pode-se apurar que o primeiro planeamento

foi o menos cumprido. Houve sete notícias que foram publicadas na data prevista face às 20

notícias que não foram cumpridas. Duas notícias foram publicadas antes da data prevista e, em

sete temas, verificou-se a desistência do seu tratamento jornalístico.

Tentou-se perceber o porquê do não cumprimento do planeamento. No caso do meu trabalho,

consigo oferecer as explicações. Mas o mesmo não se pode dizer no que concerne às notícias

atribuídas aos meus colegas, pois nem sempre foi possível perceber o que desencadeava a falha

do planeamento, tendo em conta que eu nem sempre estava na redação e, outras vezes,

encontrava-me a desempenhar tarefas.

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No que se refere ao primeiro planeamento, verificou-se que houve vários casos de “não

cumprimento” apenas no que respeita à data prevista de publicação das reportagens. Foi o caso

da reportagem “100 anos da Poças”, prevista para dia 22, e que só acabou por sair no site no dia

29 de julho. Na reunião seguinte, era comum fazer-se um balanço daquilo que tinha sido cumprido

e era discutido muitas vezes se seria viável continuar a apostar em certos conteúdos. O meu

estágio desenvolveu-se numa época em que muita gente define como “difícil” para conseguir

contactar com as fontes, tendo em conta que era um período de férias (julho a setembro). Era

comum ouvir nas reuniões que não conseguiam contactar com fontes, especialmente as fontes

oficiais. E isso verificou-se numa reportagem sobre a “Direita do Observador” e, que a jornalista

não conseguiu estabelecer os contactos que desejava com as fontes. Mas o facto de serem meses

de verão influenciou também noutros casos. Exemplo disso foi a notícia que me foi atribuída sobre

as novidades nos parques aquáticos. Embora não se tratasse de fontes oficiais, o certo é que, pela

afluência que os parques estavam a ter nesta época do ano, a informação teimava a não chegar.

Mas mais do que aquilo que foi adiado, importa olhar para aquilo que acabou efetivamente por

sair do planeamento. Um destes casos dizia respeito ao caos num dos aeroportos do país, no

verão. A ideia dos jornalistas era fazer um apelo nas redes sociais para que os cidadãos enviassem

o seu contributo e contassem as suas piores experiências. A interação entre o cidadão e o jornalista

foi tão pouca que acabou por ser alvo de desistência.

Outro tema que acabou por não ser concretizado foi atribuído a mim, e era sobre um projeto “Por

um Porto Ciclável”. Entrar em contacto com a fonte pioneira do projeto não foi fácil, sendo que o

mesmo foi sendo adiado. Acabou por ser tratado pelo Jornal de Notícias. Era frequente ouvir-se

que o V Digital não devia tratar assuntos que os outros meios de comunicação da GMG já

noticiavam, mesmo que lhe dessem um tratamento diferente através das linguagens adotadas

(como o audiovisual) ou aprofundassem o tema. Assisti a isso várias vezes – em que jornalistas

de outros grupos reclamavam de estarmos a abordar os mesmos temas.

Na segunda semana de setembro a reunião foi “muito produtiva”, registava eu na grelha de

observação. Isto porque membro da direção explicou a todos um pouco daquilo que seria o futuro

do V Digital. Foi aqui dito que o futuro se desprendia das notícias produzidas apenas por texto e

imagem logo pela manhã, uma prática corrente, que derivava da informação que chegava cedo à

redação por parte da fonte Lusa. Acabar com estes conteúdos era pretensão do novo diretor do

canal, assim como diminuir a quantidade de conteúdos produzidos através do Wibbitz, ferramenta

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que continha informação pré-fabricada e que constituída a maioria da produção do canal (como

veremos seguidamente). Por todas as novidades proliferadas nesta reunião, e pela agitação que

causou em todos os jornalistas, poucas foram as notícias que foram sugeridas neste planeamento.

A maioria foi surgindo durante a semana e, por isso, admite-se aqui uma margem de erro na

análise quantitativa a esta reunião de planeamento e, por isso, não foi incluída no gráfico.

No que concerne ao planeamento referente ao dia 17 de agosto, pode dizer-se que voltou a ser

um mês em que se verificou um elevado número de notícias que estavam planeadas mas que não

foram cumpridas na data prevista. Um dos conteúdos não cumpridos foi meu. Chegou a ser

publicado mas não na data prevista. Era sobre as caves de vinho do Porto que se apresentavam

remodeladas neste verão. O tema não era, para mim, fácil, visto ter poucas fontes de informação

a consultar sobre o tema. A editora ajudou, até porque era um tema que ela dominava. No entanto,

sentiu que eu precisava de mais tempo para tratar a informação e solicitar conteúdo multimédia,

nomeadamente fotografias, a fim de ser construído um conteúdo Wibbitz, mas com informação

própria oriunda do contacto direto com as fontes. Isto denota que muitos conteúdos eram adiados,

porque não importava somente o tempo que cada pessoa precisava para produzir, importava mais

a qualidade do conteúdo que era publicado. E essa realidade foi observada várias vezes. Não era

comum verificar-se pressão excessiva nos jornalistas, talvez porque muitos dos conteúdos não se

prendiam com o valor-notícia atualidade, mas de aprofundamento de temas que dela sobressaiam

e que necessitavam de escrutínio. Por isso, tornavam-se morosos no processo de produção

jornalístico.

Na reunião de planeamento de 24 de agosto houve poucas sugestões. Havia várias pessoas de

férias entre redações de Porto e Lisboa. Também estava um clima de, por um lado, instabilidade

e, por outro, de mudança. Se o diretor já tinha anunciado novidades no dia 10 de agosto, a

incógnita continuava no ar sobre o futuro do V Digital. Ainda assim, a maioria dos conteúdos não

foram cumpridos (oito), tendência que se manteve até ao fim do estágio. Em jeito de balanço,

pode dizer-se que, dos sete planeamentos analisados, o de 17 de agosto foi o mais cumprido,

embora não se tenha conseguido produzir uma explicação para tal. O certo é que se verificou

também um decréscimo das ideias que saíam das reuniões de planeamento. Até ao dia 17 de

agosto, verificou-se uma média de 33,5 notícias por reunião de planeamento. Já de 24 de agosto

até 21 de setembro, a média de notícias passou a ser de 16,5 notícias.

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Da observação efetuada, penso que a partir de 17 de agosto a redação passou por uma grande

mudança no que concerne à sua grelha de programação. O novo diretor eliminou vários programas

e trouxe novas ideias, às quais a redação sentiu alguma dificuldade em adaptar-se.

Em suma, as reuniões de planeamento tornaram-se de extrema importância no que concerne à

rotina de produção dos jornalistas. Por um lado, permitiam que, todos juntos, tivessem mais ideias

e contribuíssem para o sucesso da empresa. Recorde-se que, da minha anterior experiência de

estágio, no JN, só os editores eram convidados a participar nas reuniões de planeamento. Os

jornalistas eram apenas notificados do trabalho que tinham a fazer. As ideias eram passadas

diretamente ao editor, não havendo momentos de reunião entre equipa e chefias. No meu

entender, estes momentos permitiam a coesão entre o grupo e fomentavam o diálogo e a

criatividade da equipa. Verificamos com os casos analisados que, das ideias partilhadas, muitas

delas não foram cumpridas, pelo menos no prazo estipulado. Mas da observação participante foi

possível percecionar alguns dos motivos que estiveram na origem desses casos. Por um lado, a

dificuldade de contacto com as fontes, que em muito se deveu ao período do ano em que

estávamos (verão).

Por outro lado, um crescente emagrecimento da redação. O número de jornalistas revelava-se

insuficiente para produzir o necessário para aumentar o tráfego de cliques no site. Isto, aliado a

outros fatores, conduziu o V Digital a uma crescente falta de cumprimento do planeamento. Tal

observa-se, por exemplo, pelas vezes em que os editores mexeram nas datas de entrega dos

trabalhos dos seus subordinados. Com o emagrecimento das redações, emerge a dificuldade de

fazer-se jornalismo com qualidade, que passe por todas as fases de produção, principalmente pela

averiguação dos factos. Se as redações começam a ficar com menos jornalistas, como foi o caso

do V Digital, parece contraditório que se aposte cada vez mais em conteúdos morosos, como os

programas. E isso era o que o diretor queria fazer e ficou declarado em várias reuniões de

planeamento. Até porque vários autores (Drok & Hermans,2016; Deuze,2017, Santos, 2017;

Lorenz, 2014) indicam que são precisamente as “Slow News” pelos quais os cidadãos vão pagar

no futuro e não as notícias da atualidade (que muitas vezes se confundem com o trabalho do

repórter cidadão), por considerarem que esta é a informação que confere rigor e qualidade,

diferente de toda a demais agenda mediática.

Mas com menos pessoas a trabalhar, a carga de trabalho aumenta e os jornalistas acabam por

ser cada vez mais híbridos no que concerne às suas funções. Mas todo este contexto poderia ter

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encaminhado a rotina de produção para um jornalismo cada vez mais multitasking (Deuze, 2017),

algo que não se verificou. É certo que os jornalistas tinham capacidades de edição de vídeo e de

conjugar nas suas produções diversas linguagens – necessidade esta desencadeada pela era do

“Martini Media” (Highfield, citado por Deuze, 2014, p.3), em que os conteúdos passam a estar

disponíveis quando e onde o consumidor quer, e em diversas plataformas (Deuze, 2017). Mas o

certo é que, como o emagrecimento da redação não se deu no núcleo de editores de vídeo, tarefas

como captação de imagem e sua edição continuaram a ser, em grande parte, desempenhadas

por eles e não pelos jornalistas.

Mas há ainda outro um “lado da moeda”: a opção por programas e o desprender das informações

oriundas de agências noticiosas, a par de uma redação com cada vez menos jornalistas, tende a

originar o aumento do stress e dificuldade em desempenhar todas as tarefas corretamente (Marín

et al, 2017). Tal verificou-se neste contexto de trabalho. A situação laboral desencadeou

descontentamento, stress e desmotivação dos jornalistas para com o órgão e isso verificou-se

pouco tempo após a saída do primeiro diretor. A falta de comunicação entre a direção e os

jornalistas piorava a situação, bem como os rumores de que o V passaria por uma mudança tal

que se desprenderia da atualidade e informação e ficaria cada vez mais com conteúdos ligados

ao entretenimento.

4.1.2. Quais as fontes de informação valorizadas?

Recorde-se que era precisamente sobre a atualidade que se debruçava muito do trabalho diário

dos jornalistas. Muita da produção não era definida nas reuniões de planeamento. Vinha antes da

atualidade. Na rotina de produção dos jornalistas estavam práticas como a de ler, pela manhã,

notícias dos outros jornais. Via-se as que mais se assemelhavam ao estilo do V Digital. Os

jornalistas sugeriam os temas à editora, que dava o parecer.

Da observação participante, chegou-se à conclusão que, a maioria dos meus colegas, produzia

mais conteúdos que partiam de fontes como agências de notícias (em especial o Wibbitz), do que

contactava diretamente com a fonte de informação. Com a troca de emails que se dava logo pela

manhã, que serviam para colocar a par a redação da agenda de trabalho do dia, era possível

observar-se tal facto. Também era a partir destes emails que se faziam sugestões de temas para

a rotina de produção diária e, a maior parte, prendia-se com temas que os jornalistas viam noutros

jornais ou, então, em canais de rotina. Eram trabalhos pouco morosos – porque a informação

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chegava já quase pronta à redação – e acarretavam poucos custos de produções, pois não

alocavam deslocações nem editores de imagem.

Também na minha rotina de produção se verificou tal predominância de fontes oficiosas/agências

de notícias. Para se provar, quantitativamente, o verificado a partir da observação participante,

considerou-se pertinente fazer uma categorização das fontes – segundo as denominações

previamente existentes no guião de análise. A intenção era, a partir dos dados qualitativos e

quantitativos averiguar: a) qual a fonte de informação mais utilizada na rotina de produção; b) se

há mais conteúdos publicado, por dia, no V Digital, oriundos da atualidade ou de agenda.

Desde o dia 5 de julho até ao dia 28 de setembro, foram analisadas 81 notícias, produzidas por

mim em três meses, categorizadas em função das fontes de informação utilizadas ao longo do

período de análise quantitativa dos dados. Algumas das notícias foram consideradas em mais do

que uma tipologia de fontes, nos casos em que, na produção da notícia, se consultou várias fontes

de informação em simultâneo.

Dentro das agências de notícias/oficiosas, foram incluídas as fontes Wibbitz, Agência Lusa e

Reuturs. Considerou-se nesta análise também indicadores como motores de busca e redes sociais;

fontes institucionais, empresariais, especializadas, populares, oficiais, documentais e anónimas.

Gráfico 2: Tipologia das fontes de informação

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Para Machado (2001) e Schmitz (2011), os jornalistas têm preferência por fontes de informação

oficiais, por serem aquelas que, pelo seu grau de conhecimento sobre os casos e pelo seu grau

de notoriedade na sociedade, davam relevo e sustentabilidade às notícias. Mas isso não se

verificou no V Digital. Só houve um caso em que foi consultada esta tipologia de fonte, mais

precisamente na reportagem intitulada “O Douro ganhou um novo percurso pedestre”, publicada

a 3 de agosto. Neste caso ouviu-se o vice-presidente da câmara municipal de Castelo de Paiva

que, por ter o pelouro do turismo, foi considerado a pessoa com mais conhecimento sobre o caso.

Daquilo que se observou nesta análise quantitativa às 81 reportagens, bem como ao trabalho dos

meus colegas durante três meses, estas fontes não eram recorrentes. Se atendermos ao

constatado através da observação, pode-se dizer que houve alguns temas em que se sugeriu

explorar questões políticas. Mas por fatores como serem meses de verão em que muitos se

encontram de férias fez com que não fosse possível concretizá-los. Por outro lado, penso que a

pouca opção por estas fontes se prende com os valores-notícia do canal, que veremos mais à

frente, cujo tipo de notícias em que as fontes oficiais entram, como a política, não era comum.

Schmitz (2011) no que concerne às fontes oficiosas/agências de notícias, defende que são estas

fontes a ponte entre os interesses, opiniões e relatos de quem assessoram e os jornalistas. E

refere que são quem determina a agenda do dia. Nas 81 notícias analisadas, foi possível perceber

que, efetivamente, as agências de notícias definiam a agenda do dia do V Digital, com uma

frequência de 44%. Nesta categorização das fontes de informação, foram consideradas a Lusa, a

Reuters, e o Wibbitz (nos casos em que se utilizou conteúdos pré-fabricados que disponibilizavam).

Assim, percebe-se novamente que houve uma forte procura por conteúdos “pré-fabricados”, que

já chegavam prontos a publicar à redação, embora não fosse isso o esperado. É desejado que,

embora chegue informação, essa seja devidamente tratada e verificada.

Dentro dos canais de rotina, deu para perceber, da observação participante, que havia dois meios

de propagação de informação mais valorizados pelo canal. Por um lado, a agência Lusa, por outro,

o Wibbitz. A primeira, para alimentar o site durante a manhã, enquanto não se produziam os

conteúdos de vídeo. A segunda, para cerca de 12 dos 13 conteúdos publicados, em média, pelo

canal. Também alguns eram provenientes da Reuters. Para tentar comprovar, com dados

concretos, este facto oriundo da observação à rotina da redação, utilizei como exemplo os meus

trabalhos, que integraram, durante três meses, a programação do dia.

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Gráfico 3: Predominância de agências de notícias como fontes de informação

O gráfico anteriormente apresentado ilustra a percentagem de notícias produzidas (e publicadas)

por mim. No que respeita à utilização da agência Lusa, como fonte de informação, pode dizer-se

que foi utilizada uma vez. Em todo o caso, fazia parte da rotina de uma das jornalistas (a do turno

das 7h) mas, do que observei, os restantes colegas não recorriam a esta fonte com frequência.

Do que mais sobressai do gráfico, o Wibbitz era a agência de notícias mais utilizada, a representar

75% das minhas fontes de informação. Também foi a fonte mais utilizada nas produções dos meus

colegas e isso constava-se na agenda do dia, com a listagem de atribuição dos temas aos colegas.

Neste aspeto, deve-se aqui recordar que a plataforma era, mais que uma fonte, uma ferramenta

de montagem de vídeo que integrava fortemente a rotina de produção dos jornalistas do meu local

de estágio. O meu caso não foi exceção. O Wibbitz permitia criar conteúdos novos a partir dos

seus templates, mas também possuía várias notícias prontas a serem publicadas nos sites de

notícias da GMG. Destes conteúdos pré-fabricados não constavam produções em português e raros

eram os factos sobre Portugal. Havia três idiomas que as produções nesta agência de notícias

assumiam automaticamente: francês, inglês e espanhol. A maioria dos casos que retratavam as

notícias que já estavam prontas eram sobre factos referentes à agenda mediática internacional.

Alguns deles eram aproveitados. Aliás, de manhã, os jornalistas sugeriam, via email partilhado

com a rede de colaboradores, que temas do Wibbitz daquele dia poderiam ser interessantes para

o V Digital. Mas, antes publicados, todos sofriam alterações. Os jornalistas verificavam os factos,

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por exemplo, cruzando a informação com a se era veiculada noutros meios (no caso de temas

internacionais que não permitiam o contacto direto com as fontes), ou, sempre que possível,

verificava-se diretamente com a fonte de informação (mas estes casos foram raros, pelo menos

no que concerne à minha rotina de produção jornalística).

A maioria dos autores, como Jerónimo (2015), diz que a voracidade da informação, que

consequentemente origina notícias atualizadas de minuto a minuto e notícias de última hora

(breaking news) são a causa para a dependência cada vez maior de agências de notícias, como a

Lusa, a Reuters e, neste caso, o Wibbitz. Mas a verdade é que o V Digital propôs-se a ser, recorde-

se, “(…) mais do que mostrar o que está a acontecer (tal como os outros meios de comunicação

do grupo), explicar o que acontece no país e no mundo”, como se pode ler na sua página principal.

Por isso, esta não deveria ser a justificação para a dependência de conteúdos pré-fabricados, até

porque estima-se que só um conteúdo por dia era um destes programas, ou seja, morosos, de

maior explicação dos fenómenos e aprofundamentos dos factos e maior hibridez das linguagens.

Mas a verdade é que a atualidade é uma exigência dos leitores, segundo Jerónimo (2015). Essa

poderá ter sido a causa para que a linha inicial do V Digital ter-se alterado, numa primeira fase,

numa perspetiva de alcançar maior notoriedade de marca junto dos leitores, aumentando o

número de visualizações das notícias e, consequentemente, solidificar o seu modelo de negócio.

Ou seja, manter a sua essência de conteúdos de explicassem fenómenos ao invés de os noticiarem

tal como todos os órgãos de comunicação – e isso faziam-no através dos seus programas, como

“Quebra-Mitos”, “O Explicador”, “Suplemento de Alma”, entre outros –, mas também mantendo

os conteúdos de atualidade. Nestes, auxiliando-se com as informações que lhes chegavam das

agências. Recorde-se que as redações cada vez mais pequenas e um elevado volume de trabalho

para alimentar um site todo o dia é outro dos fatores que Harcup e O'Neill (2016) consideram

estar na origem desta dependência do material pré-fabricado.

Mas é sabido que muito do que as agências e assessores de comunicação transmitem para os

órgãos de comunicação vem carregado de intenções publicitárias e, nesse sentido, cabe ao

jornalista ser capaz de filtrar os conteúdos e “limá-los”, de modo a retirar apenas os factos e deixar

de lado a publicidade (Berkowitz, 2009).

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Recorde-se que, na contabilização de notícias tidas em conta nas fontes de informação Wibbitz,

não foram consideradas as produções de jornalistas em que a plataforma serviu para criação de

um vídeo de raiz, onde houve contacto direto com as fontes.

Esses casos entraram diretamente para a segunda maior percentagem obtida no que respeita à

consulta de fontes de informação nos três meses de produção de conteúdos, isto é, as fontes

originais. Nestas, considerou-se todos os contactos diretos com as fontes, seja via telefone, Skype,

ou pessoalmente. Desses 20%, a maioria foi contacto pessoal com a fonte. O V Digital é uma

plataforma de vídeo, logo carece de conteúdo multimédia. Embora bons trabalhos também se

possam fazer por telefone, até porque o fator que mais distingue atualmente os bons e os maus

trabalhos jornalísticos é o quão verificada é a informação (McGregor & Molyneux, 2018; Marín et

al., 2017; Santos, 2015; Canavilhas & Rodrigues, 2012), o certo é que a redação, sempre que

possível, escalava um jornalista e um videógrafo para o terreno. Assim se faziam as entrevistas,

os planos de corte e recolhiam-se os sons de fundo. Estes eram outros dos conteúdos publicados

por dia no órgão de informação. Depois, houve ainda recurso à Reuters (2%) e a outros jornais

(2%), mas esta não era uma prática muito comum na minha rotina de produção. Salvaguarda-se

aqui que, embora não tenha feito parte da minha rotina, poderia integrar a dos meus colegas.

Depois desta análise às agências de notícias, que eram a principal fonte de informação deste canal

de vídeo online, importa analisar-mos os restantes. A segunda fonte mais utilizada foi,

precisamente, os motores de busca, representando 22% da sua opção. A verificação das

informações é o momento mais importante de toda a rotina de um jornalista. É precisamente este

o fator capaz de distinguir um bom de um mau conteúdo jornalístico e permite detetar informações

falsas, por exemplo, aos press release, assim como a presença de conteúdos publicitários. É

também através da verificação e apuramento dos factos que se consegue encontrar informações

distintivas (Santos, 2018), sem sair da secretária (através do envio de emails, telefonemas,

consultas de redes sociais, motores de busca, entre outros) mesmo que a notícia “mãe” tenha

chegado de um press release enviado para todas as redações (Canavilhas & Rodrigues, 2012).

Isso poderá fazer com que o conteúdo seja diferente dos demais da agenda mediática (Santos,

2018). E era isso que o V Digital tentava fazer, muito através de motores de busca. Na minha

rotina de produção, foi-me pedido muitas vezes que trabalhasse os conteúdos Wibbitz do dia.

Umas vezes não encontrava mais informação do que aquela que já constava e a editora indicava-

me apenas que “traduzisse” a linguagem do conteúdo. Outras vezes, através de pesquisas em

motores de busca, como na Google e em redes sociais, como o Twitter (principalmente quando

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dizia respeito a temas internacionais) e Facebook, conseguia-se enriquecer os conteúdos com

novas informações. Além de serem uma forma de encontrar factos novos e enriquecedores, os

motores de busca eram ainda utilizados com outro fim: verificar a informação que chegava. A

Internet é uma forma de prolongar a memória humana, capaz de auxiliar os jornalistas a verificar

muita da informação que lhes chega (Bradshaw, 2014). Isso aconteceu várias vezes na minha

rotina de produção. Era frequente ter temas em mãos que remontavam a anos em que eu nem

existia ainda. É certo que outrora, com o recurso a uma biblioteca, era possível consultar livros

que ajudavam a avivar a memória e a evitar erros por falta dela. Mas esse era um processo

moroso. Agora, com uma pesquisa, é possível aceder à informação num curto prazo de tempo,

aumentando a rapidez de produção. Por outro lado, era frequente utilizar as redes sociais como

forma de estabelecer um primeiro contacto com as fontes de informação antes de partir para a

entrevista presencial. Por vezes, através do nome da pessoa, enviava uma mensagem via

conversação de Facebook e conseguia o contacto telefónico para que fosse feita uma primeira

abordagem ao tema. Esta era uma prática que se verificava no meu trabalho, mas também no

dos meus colegas.

As fontes institucionais, como jornais, foram a terceira fonte de informação mais utilizada (18%).

Aqui, incluiu-se quer os jornais impressos, quer os digitais. Como já foi referido, fazia parte da

rotina de produção consultá-los, logo pela manhã. Depois de uma leitura detalhada, via-se se havia

temas que eram tratados, principalmente ao nível da linguagem. A par disso, dava-se à informação

o tratamento que fosse necessário. Esta leitura fazia-se não só aos jornais impressos, como

também aos digitais. Constatou-se que os jornais Público e JN eram os mais consultados não só

por mim, como também pela restante redação. Além de servirem de ponto de partida para

conteúdos, os jornais serviam também para confirmação dos factos. Por vezes, era através deles

que se verificava a veracidade de informações proliferadas em press release, vendo, por exemplo,

o que diziam os jornais no passado sobre determinados factos ou o que estavam a dizer naquele

momento.

No que concerne às fontes empresariais, ou seja, casos em que as fontes das notícias foram

corporações, indústrias, comércios, serviços ou agronegócio (Schmitz, 2011), foram consultadas

9% das vezes, principalmente em casos de conteúdos ditos originais, ou seja, para a criação de

programas, com contacto direto às fontes. Optou-se em casos relacionados com negócios como a

Ach Brito, quando festejou 100 anos, e em micronegócios como o World You Need Is Love. Em

todo o caso, era sempre frisado pelos editores a necessidade de focar nos factos e afastar da

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publicidade. Embora, a meu ver, só o facto de mencionar o nome de uma das empresas e todo o

trabalho ser em torno delas, já fosse uma forma de fazer publicidade. Também no que respeita

ao trabalho desenvolvido pelos meus colegas reparei que aconteceu realizarem trabalhos

destinados aos programas sobre empresas. Um dos casos recaiu sobre a empresa Fruit, que

serviu de fonte de informação na reportagem do Francisco Graça sobre a tendência alimentar

subordinada a fruta desidratada. A empresa foi escolhida pelo conhecimento comportamental do

consumidor, bem como daquilo que é a fruta desidratada sendo, por isso, considerada uma

entidade especialista mas que, ao veicular o seu conhecimento e ao serem feitas as filmagens

neste local, considero que foi feita publicidade ao espaço. Era antes trabalho da Global Media Play

e não específico do V Digital, embora se partilhasse, em ambos os canais, certos elementos de

trabalho. Porém em todos estes casos, não se verificada (pelo menos que se tivesse

conhecimento) de interesses comerciais pelo meio. O segundo caso foi sugerido por mim à editora,

porque tinha visto numa rede social e achei que daria um programa interessante. No caso do meu

colega, observei que foi também sugestão dele utilizar aquela empresa em específico. Ou seja,

não parecia haver, tal como se prevê na conduta do jornalismo, interferências entre publicidade e

informação, nem vindas das chefias nem dos jornalistas.

Foram também consultados especialistas (3%), como o investigador Rui Brito, que explicou o seu

projeto para combater a praga das gaivotas nos centros urbanos, ou o “Quebra-Mitos”, intitulado

“Especial Dar Sangue”, em que fomos ouvir o diretor do serviço de sangue e medicina

transfusional do CHVNG/E, Miguel Figueiredo. Pelo seu elevado nível de conhecimento, foram

chamados a intervir nas reportagens. Reparei que, embora não tenha sido uma fonte muito

utilizada por mim, era um tipo de fonte privilegiada no trabalho dos meus colegas para programas

como “Quebra-Mitos” e “O Explicador”.

As fontes populares, aquelas que dão voz ao cidadão comum, foram pouco utilizadas na minha

rotina de produção. Estas fontes eram privilegiadas em trabalhos como os Suplementos de Alma.

Isto porque se baseava em relatos inspiradores, que poderiam ser histórias de vida de um cidadão

comum. Muitas delas era “apanhadas” nas redes sociais cuja partilha partia do cidadão comum.

Por exemplo, um outro colega realizou um trabalho sobre fibromialgia, em que escutou o relato

de várias pessoas portadoras da doença.

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Já no que respeita às fontes documentais, incluiu-se os relatórios que chegavam via email ao

jornal, comunicados oficiais, decretos-lei; orçamentos de estado e estudos, constituiu 1% das

fontes. Por último, não foi verificado, neste estudo de caso, a utilização de fontes anónimas.

4.1.3. Qual a predominância de conteúdos pré-fabricados?

Vimos vários exemplos que denotam a crescente dependência dos órgãos de comunicação face

ao trabalho dos assessores e RP: Um estudo de 2008 dava conta que 60% do trabalho

desenvolvido por jornais como The Guardian, The Times, The Independent, The Daily Telegraph

and The Mid-Market e Daily Mail era proveniente de materiais “pré-fabricados” e apenas 12% de

trabalho autónomo do jornalista (Lewis et al, 2008); Schmitz (2011) afirmava que 60% do trabalho

publicado pelas redações advinha de canais de rotina; um estudo de 2017 questionou dez

jornalistas do JN e a maioria salientava que, na sua rotina de produção, havia um decréscimo do

trabalho autónomo dos jornalistas (Freitas, Amante & Silva, 2019). No caso do V Digital, viemos a

comprovar que 75% do trabalho dependia de agências de notícias.

Mas é denotar a forma como as agências entravam na rotina de produção dos jornalistas: fazia-se

uma filtragem daquilo que deveria ou não ser notícia. Era aqui que os jornalistas atuavam enquanto

gatekeepers perante a imensidão de informação de notícias que chegavam à redação (McGregor

& Molyneux, 2018). Também para tal serviam de orientação os valores-notícia privilegiados pelo

V. Os jornalistas contavam com a ajuda dos seus editores para decidir o que iria integrar a agenda

do dia. Caso se avançasse com um determinado conteúdo, passava-se para a fase seguinte:

escolher a plataforma onde se criava os vídeos. Isso, como já se pôde comprovar, a maior parte

das vezes era feito com recurso à plataforma Wibbitz, não só porque tinha um repositório

multimédia disponível para auxiliar a criar conteúdos híbridos (como veremos posteriormente)

como era a principal fonte de informação. Os jornalistas devem apurar os factos, verificar a sua

veracidade e tratá-los, até serem publicados no seu órgão de comunicação (Canavilhas &

Rodrigues, 2012; Santos, 2015; McGregor & Molyneux, 2018; Marín et al., 2017), tal como

proferido na revisão teórica. É assim que conteúdos vindos de agências de notícias se podem

revelar de qualidade também, mesmo sem se sair da secretária, defendem os autores.

Se é verdade que autores como Marín et al (2017) afirmam que é o jornalismo de qualidade que

gera receitas online e também audiência, o certo é que poucos destes conteúdos estavam a ter

este efeito. Talvez por isso, o diretor, informou que passaria a haver uma redução da dependência

face a esta plataforma e cada vez mais a implementação de programas (ou seja, conteúdos

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morosos, aquilo que chamamos anteriormente, segundo Lorenz (2014) de “slow news”) oriundos

do contacto direto com as fontes e do trabalho autónomo do jornalista, livre do trabalho pré-

fabricado que lhe chegava às mãos. O mesmo se aplicou com a fonte Lusa.

Verificamos também que em várias notícias houve a utilização de mais do que uma fonte. Segundo

Lopes (2016), quanto mais fontes de informação são usadas na produção de um conteúdo

jornalístico mais sustentada estará a notícia, tendo em conta que o jornalista não pode ser, em si

próprio, uma fonte. Vejamos o seguinte gráfico:

Gráfico 4 Número de fontes consultadas por notícia

Contudo, com a contabilização das fontes de informação utilizadas na construção de cada notícia,

percebeu-se que, na maioria dos casos, só se consultou uma fonte de informação (na maioria das

vezes, quando eram fontes especializadas, populares e empresariais e ainda se verificou vários

casos de agências de notícias). Os muitos casos em que só houve a consulta de uma fonte pode

denunciar um problema: a falta verificação da informação. Há efetivamente vantagens neste

aproveitamento do trabalho que já chega pré-fabricado, como o pouco tempo que se dispensa em

cada conteúdo, ou os poucos recursos financeiros que requerem (Santos, 2018). Mas quando o

jornalista se limita a ser um agregador de conteúdos e não o produtor dos mesmos, sem dar a

devida verificação à informação, poderá ser o início do fracasso das organizações. Mas verifica-se

muitos casos (31 de 81) em que foram consultadas duas fontes, o que permitiu cruzar

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conhecimentos e aprofundar informação à medida que era averiguada a sua veracidade (Lopes,

2016).

4.1.4. Qual a interatividade entre o cidadão e os jornalistas no V Digital?

Estivemos até aqui a falar nas fontes de informação utilizadas na produção de informação do V

Digital, ao longo de três meses. Os números revelam aquilo que foi a minha rotina de produção e

a análise descritiva daquilo que foi observado da rotina dos meus colegas e denotam que a minha

rotina não saiu do padrão dos demais jornalistas.

Mas se falamos até aqui em fontes de informação, importa referir que, com o maior conhecimento

das potencialidades do online, tanto por parte do jornalista como do leitor, passou a haver uma

maior interatividade entre ambas as partes (Santos, 2018). Tentou-se perceber se, no caso de um

órgão de informação puramente online, em 2018, se verificava interação entre as fontes e os

jornalistas e, se sim, que tipo de interação. Recorde-se que o guião de observação tinha na

dimensão “Conteúdos para a Web” os seguintes indicadores: “Ciberjornalismo cívico”;

“Ciberjornalismo participativo” e ainda “jornalismo de ecossistema”.

É certo que os leitores passaram a deixar de ser passivos em relação à informação e a poder

interagir com o jornalista: comentar as notícias, reagir às mesmas, enviar email aos produtores da

informação. Mas sobretudo com as caraterísticas do online (hipertexto, interatividade,

multimedialidade, instantaneidade, personalização e ubiquidade), conseguem escolher o que

querem e quando querem ver. Em alguns casos, até qual o caminho a seguir dentro da própria

notícia (Rost, 2014).

No que concerne ao ciberjornalismo cívico – aquele em que o cidadão regista, com as suas

próprias ferramentas, os acontecimentos e partilha nas suas redes de comunicação online –,

considero que esta é de facto uma prática cada vez mais recorrente na sociedade atual. No

entanto, não constatei partilhas de acontecimentos, por parte dos cidadãos, que tenham sido

reportadas depois pelo V Digital.

No que concerne ao segundo conceito, mais precisamente de ciberjornalismo participativo –

aquele em que o cidadão partilha conteúdos na Internet, dos quais o jornalista faz uso como fonte

da sua notícia (Santos, 2018) – pode-se afirmar que tal nunca aconteceu. Tanto no que respeita

ao meu trabalho, como àquilo que foi observado nas produções dos meus colegas, nunca se

constatou este tipo de interação entre fonte e jornalista. Mesmo nos casos em que se verificou a

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recolha de fotografias de redes sociais, estas diziam respeito a figuras públicas, cujo autor foi

sempre atribuído. Não foi considerado, por isso, um jornalismo feito por cidadãos amadores. Aliás,

ouve até um caso em que se apelou à partilha de más experiências no aeroporto de Lisboa em

época de verão, mas a interação foi tão insignificante que não deu para fazer notícia.

Já o jornalismo de ecossistema, que não envolve só o jornalista mas também grupos, redes, em

diversos lugares e em constante evolução (Jorgensen, 2014), não se constatou que fosse uma

prática integrante na rotina de produção dos jornalistas. As notícias eram elaboradas pelo

profissional de comunicação, com a envolvência de fontes consultadas num determinado tempo

e espaço. A narrativa, que era construída num determinado dia e lugar, não sofria alterações de

terceiros depois de estar publicada.

Havia interação entre cidadãos e jornalistas quando os leitores comentavam nas redes sociais e

nas notícias publicadas. Embora o V Digital possuísse uma política de não comentar as opiniões

dos leitores partilhadas nas redes sociais, o certo é que todas as mensagens privadas são

respondidas pelas gestoras de redes sociais, embora não tenha percebido esta opção. Por esse

motivo, a comunicação não conseguia ser imediata e contínua, pelo menos com o jornalista autor

da peça.

Os únicos emails acessíveis ao leitor – e só quando clicado no site na categoria “contactos” –

eram da direção comercial, o email geral do V Digital, da direção de marketing, da redação do

Porto e de Lisboa, não havendo contactos dos jornalistas, tal como acontece no JN.

Por outro lado, havia interação quando o leitor escolhia o percurso a fazer dentro do site. Mas

veremos, no ponto seguinte, o grau de interatividade que as notícias permitiam.

4.1.5. Quais as características do webjornalismo presentes nos conteúdos do

V Digital?

Ao analisarmos o V Digital e as rotinas de produção do jornalista, importa perceber que

características apresentavam os conteúdos e em que nível é que os jornalistas interferiam na

criação de conteúdos específicos para a web.

a) Hipertextualidade

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O texto é, historicamente, uma forma de comunicar no jornalismo que transitou para o online.

Neste espaço, muitos são os conteúdos que passaram, não só a ter texto, como hipertexto. Isto é,

através de hiperligações, dois ou mais conteúdos ficam ligados entre si, à distância de um clique

(Canavilhas, 2014). O hipertextualidade estava patente nos conteúdos do V digital que partiram

de textos da Lusa, ou seja, sempre que não estava em vídeo. Mas mesmo em conteúdos oriundos

desta agência, havia casos em que isso não acontecia e o texto era colocado sem qualquer

hiperligação.

Figura 13: Notícias publicadas através da fonte Lusa sem hiperligações

No caso das notícias da Lusa, ou outras fontes que apenas permitiam uma notícia que aliasse

texto em blocos com fotografia, era utilizada a técnica do embed, ou seja, com o post de Facebook,

Twitter ou outras redes sociais no meio do texto, como forma de encaminhar o leitor para o

conteúdo, dando-lhe a liberdade de definir o percurso que sente necessidade de seguir aquando

da leitura do conteúdo.

Tendo em conta as decisões da nova direção do V Digital em reduzir, até erradicar, os conteúdos

neste formato – texto e imagem – substituindo-os por vídeos, a característica da hipertextualidade

foi decrescendo ao longo do período em análise, pois nos conteúdos de vídeo não existia hipertexto.

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Figura 14: Ausência de hipertexto nos conteúdos V Digital

O bloco textual que acompanhava as notícias poderá ajudar o leitor a contextualizar o tema sobre

o qual a reportagem se debruça. Em todo o caso, nunca foi visualizada a colocação de hipertexto.

Se muitos dos vídeos (como os programas) se dedicavam a explicar fenómenos da atualidade que

outros órgãos do grupo já tinham antes noticiado, poderia haver uma articulação com a colocação

de hipertexto nos blocos que serviam de legenda para o vídeo, como forma de ajudar o leitor a

perceber o que já tinha sido dito sobre o tema. Esta talvez fosse também uma forma de criar

deambulação de conteúdos entre o grupo, aumentando a interação, quer dos conteúdos V Digital,

quer de notícias do JN, Notícias Maganize, Revista Evasões, entre outros. Com isto, talvez o canal

de vídeo em estudo se tornasse num jornalismo de rede, com uma dose concentrada de notícias

participativas e mais interativas (Marconi et al, 2017).

b) Personalização

Blogues, sites, redes sociais. São tantos os meios onde há informação a veicular, mesmo na

Internet, que se torna difícil até ao cidadão escolher por qual deles vai consultar a informação.

Tanto mais numa época em que muito do que vemos num meio de comunicação é o mesmo que

está publicado nos demais, pois a sua fonte é a mesma: um press release. A grande questão que

se coloca hoje em dia nem é tanto o que se publica, mas antes a forma como se apresentam os

conteúdos jornalísticos aos leitores, que deve ser da forma mais relevante e atrativa possível

(Lorenz, 2014). Depois, é a possibilidade de o próprio jornalista escolher o que quer ver: a

personalização dos conteúdos. O V Digital colocava ao dispor do cidadão uma média de 13 notícias

por dia. Ao contrário do que acontece quando assistimos ao noticiário do telejornal, aqui não era

necessário ver todos os conteúdos. Cada leitor tinha liberdade para escolher o que queria ver e

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quando queria ver. Aliás, atualmente é possível procurar no site do V Digital artigos publicados em

2018. Ou seja, é uma escolha do leitor (Lorenz, 2014). Logo, o V obedecia à caraterística online

de personalização.

Figura 15: Personalização nos conteúdos do V Digital

Embora esta seja entendida como uma vantagem do webjornalismo, o certo é que têm emergido

problemas com a personalização. Repare-se que o site do V Digital, quando colocamos a reproduzir

um conteúdo, tem a capacidade de nos recomendar muitos outros. Esses são combinações feitas

através dos algoritmos que, ao analisarem os nossos hábitos de consumo no site, vão sugerir

aquilo que acham que queremos ver. Ou seja, se ultimamente tenho dedicado mais tempo a

explorar no site conteúdos começados por “A escorregar para o verão. As novidades dos parques

aquáticos” será de esperar que a lógica desta máquina sugira temas relacionados com água e

verão, dando informação personalizada, que limita a diversidade de conteúdo (Borgesius et al,

2016).

Há ainda outra questão relevante na personalização. Repare-se que a Internet é já acedida por

78% da população e o telemóvel é o meio por onde a maioria consulta as notícias (embora

saibamos que a população portuguesa continua a dar primazia às televisões) (Digital News Report,

2019). Autores como Canavilhas (2012) defendem que os telemóveis podem ser o meio para

oferecer conteúdos personalizados aos leitores, e é por essas informações – atualizadas e

personalizadas – que os cidadãos mais afirmam ser capazes de pagar no online (Deuze, 2018).

c) Multimedialidade

Um conteúdo para ser multimédia tem de combinar, em si mesmo, polivalência, várias linguagens,

e múltiplas plataformas (Salaverría, 2014). É assim que se consegue contar histórias de forma

efetivamente atrativa e captar a atenção do leitor (Marques & Peixinho, 2016).

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As produções do V Digital eram publicadas em várias plataformas ao mesmo tempo: site, redes

sociais e, dentro destes, não se ficavam apenas pelas redes criadas por si. Iam também até às

páginas dos meios de comunicação do grupo, como o JN, Notícias Magazine, TSF, Revista

Evasões, e partilhavam lá também os conteúdos. Comprova-se assim que a primeira condição

para que o conteúdo seja multimédia era cumprida na plenitude pelo V Digital. Mas vejamos as

restantes.

Verificamos que o hipertexto não era uma característica tida em conta nas produções jornalísticas.

Ora, para se alcançar a multimedialidade é necessário que, dentro de uma só narrativa, haja um

mundo diegético (Salaverría, 2014), onde as ideias sejam encadeadas com hiperligações que

ajudem o leitor a contactar com a informação disponível na Internet, a fim de sair mais clarificado

ainda sobre o tema. Mas isso não se verificou em nenhum momento.

Houve sempre a preocupação de despertar o máximo de sentidos possíveis no leitor (Salaverría,

2014), em especial a visão, a audição e o tato. E isso fez-se através da exploração das três

linguagens nas suas produções: textual, visual e sonora. Elas existiam de forma a completarem-

se e a criarem um conteúdo capaz de ser visto em qualquer lugar, a qualquer hora, a partir de

qualquer meio (Salaverría, 2014). E era precisamente por isso que, não só saía enriquecido o

leitor, como também o jornalista. Com estas produções é cada vez mais relevante ter jornalistas

dotados de capacidades e conhecedores de formas de tratamento da informação, capazes de

encadear todo o material recolhido: texto, som e imagem. Embora não se tenha verificado um

jornalismo multitasking, pois o jornalista não tinha de desempenhar todas estas funções sozinho,

era preciso projetar como é que cada elemento se cruzava para criar um conteúdo sólido e claro

para o leitor. Para tal, a redação tinha uma equipa coesa e dotada de elevados conhecimentos no

que concerne ao tratamento de som e de vídeo, e ainda de criação de elementos multimédia.

d) Instantaneidade

Característica que advém da necessidade de publicar primeiro que os outros para que se alcance

o maior número de visualizações possíveis, pois a população quer saber dos factos no momento

em que estes ocorrem (Bradshaw, 2014). Já não se espera pelo dia seguinte para ler no jornal o

que aconteceu ontem. Isso já se leu no online. O imediato tem, em muitos órgãos de comunicação,

ditado a agenda do dia. Mas isso não foi o caso do V Digital. Tentaram sempre dar aos conteúdos

mais informação, afastar-se de diretos e notícias atualizadas ao minuto. Explicar os factos do dia

a dia era um dos seus princípios e havia vários programas dedicados a isso, como foi comprovado

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ao longo deste trabalho. O imediato nunca foi preocupação nesta redação. Para isso existiam

outros meios de comunicação no grupo, como o JN. Por isso, esta característica não se verificou,

mas poderá ser positivo. Se autores como Sky Schaudt e Serena Carpenter (2009), assim como

Mark Deuze (2017) dizem que as notícias com mais rigor, verificação e explicação dos factos (que

mais se afastam das notícias atualizadas ao minuto) vão ser a preferência dos leitores e as únicas

no online pelas quais os cidadãos pagarão, então poderá ser esse o caminho a seguir.

e) Simultaneidade/ubiquidade

Estar em todo o lado, ao mesmo tempo. Esta talvez seja a característica que melhor define os

conteúdos online. O facto de um conteúdo ser partilhado em várias plataformas ao mesmo tempo

aumenta a possibilidade de chegar a um maior número de pessoas (Pavlik, 2014). Além a aceder

às notícias, o leitor pode ainda interagir com elas.

Mas se tudo é acessível em todo o lado, significa que os conteúdos necessitam de ter

características que permitam a sua adaptabilidade aos diferentes ecrãs. E isso acontecia nos

conteúdos produzidos pelo V Digital. Aquando da entrada do novo diretor, passou-se a ter uma

maior atenção a esta questão. Criou-se teasers, ou seja, um pequeno vídeo de apresentação de

cerca de 30 segundos, com as dimensões adequadas ao Instagram, para atrair visualizações para

o conteúdo no site; os vídeos para a plataforma, além de híbridos (como veremos de seguida),

tinham as dimensões indicadas para tal meio; assim como para as demais redes sociais. No que

concerne à qualidade dos vídeos, estes eram gravados em grande resolução pois a direção

considerava a qualidade do vídeo como um fator distintivo no mercado, a par da linguagem

utilizada. De destacar que estamos numa era em que há cada vez mais velocidade de navegação,

o que aumenta a capacidade de a Internet albergar vídeos de qualidade sem interrupções (Pavlik,

2014). No entanto, constatou-se que, quando se acedia aos conteúdos via aplicação de telemóvel,

era frequente que houvesse interrupções no vídeo.

Esta adaptabilidade torna-se muito importante pois 78% da população portuguesa, em 2019, já é

usuária da Internet, mas, ainda assim, a população consulta as notícias na internet por diversos

dispositivos. A maioria fá-lo por telemóvel (62%), seguido do computador (57%) e o tablet (17%)

(Digital News Report, 2019).

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Os conteúdos produzidos pelo V Digital são partilhados no seu site, Facebook, YouTube, Instagram

e Twitter. A partilha em várias plataformas aumenta a probabilidade de o conteúdo chegar ao

leitor. No entanto, a análise revelou poucas visualizações, mesmo com este engajamento dos

conteúdos por múltiplas plataformas e até canais com milhões de seguidores.

f) Interatividade

A interação do leitor com o conteúdo pode ser feita de diversas maneiras (Rost, 2014) desde logo

escolhendo o percurso que deseja fazer pelo conteúdo. Mas isso também só era permitido fazer

em certas notícias constituídas através de duas linguagens: texto e imagem (as tais vindas da

agência Lusa) e, mesmo nesses, como o hipertexto era característica pouco comum, esta

interação não era conseguida.

Figura 16: Exemplo de conteúdo para análise de caraterísticas online

Repare-se no caso da figura 17. É possível observar que o leitor pode aqui interagir com o

conteúdo. Não através da hipertextualidade que ele apresenta – pois essa característica é ausente

– mas antes porque pode marcá-lo como favorito, partilhando-o, ou comentando-o. Criam-se fóruns

de discussão através da partilha dos conteúdos nas redes sociais, principalmente no Facebook,

rede social mais utilizada em Portugal. Porém, esses fóruns são comuns no caso de outros meios

de comunicação da GMG, como o JN. Na página de Facebook do V, por exemplo, são poucos os

comentários que existem às publicações. Fora isso, o vídeo corre simplesmente. Como não há

construção por blocos ou hipertexto, não dá possibilidade ao leitor navegar para outras páginas.

Foi referido anteriormente que, como os conteúdos são ubíquos, acarretam interação em múltiplas

plataformas, e podem ser acedidos através de diferentes meios. Para compreender melhor de

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onde vinha a maioria das interações dos leitores – e para que tipo de conteúdos –, sentiu-se

necessidade de entrevistar quem lidava diariamente com a gestão de redes. Até porque o meu

trabalho diário não englobava a gestão de conteúdos e a sua partilha nas plataformas nem tinha

acesso aos números. Foi explicado pela entrevistada que a presença do canal nas redes não estava

a ser feita em sintonia com os conhecimentos e devida consulta de ambas as pessoas contratadas

para tal efeito: as gestoras de redes. Havia publicações que eram promovidas e, essas, não eram

dadas a conhecer, na maioria das vezes, às gestoras. “Deveríamos ser consultadas sobre o

planeamento das publicações a promover para evitar que artigos “menos trabalhados” se

tornassem “cartão-de-visita” do V - mas não tem sido assim”, disse a entrevistada. E isso verificava-

se em termos de visualizações. Muitos dos conteúdos mais populares não eram os mais

trabalhosos, morosos e alvo de maior investimento financeiro e laboral, e isso passava, segundo

a gestora, uma imagem contrária àquela a que o V Digital inicialmente se propôs a ser (explicar

fenómenos com qualidade, através do vídeo, afastando-se assim da atualidade e, como vimos

anteriormente, 75% do trabalho era feito através do Wibbitz). Por outro lado, observava-se

desmotivação dos jornalistas sempre que isso acontecia. Repare-se nos seguintes gráficos:

Figura 17: Audiências de três dias diferentes no V Digital

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Se atendermos aos três casos anteriormente apresentados, percebemos que todos eles são

conteúdos vindos de agências de notícias, mais especificamente o Wibbitz, e todos eles lideraram

as audiências do dia, ficando à frente dos conteúdos originais do V Digital. O primeiro caso,

referente ao dia 8 de setembro de 2019, teve 3.321 visualizações na página; o segundo caso

ilustrado na figura 16, foi visto 2.400 vezes a partir do site; e, o último, publicado a 16 de setembro

de 2019, reuniu 3.324 visualizações.

“O Wibbitz tem sido uma ferramenta bastante útil na produção em quantidade. No entanto, se o V

continuar a querer manter a estratégia inicial de produção de conteúdos próprios que ‘acrescentam

um novo olhar sobre o mundo’, o Wibbitz deixará de ser um recurso (muitas outras marcas, um

pouco por todo o mundo, contam exatamente as mesmas histórias ‘pré feitas’ na plataforma)”.

(entrevista pessoal, 11 de outubro de 2018)

Mas o objetivo principal da publicação destes conteúdos mais relacionados com lifestyle é criar

interação. “Com poucos seguidores é difícil ‘gerir’ essa relação com o público e, além disso, as

poucas publicações que têm sido promovidas (pelo departamento de Marketing do grupo) não

fazem jus ao conceito do projeto (de “mostrar um novo olhar sobre o mundo)”, foi salientado pela

entrevistada. Mas a predominância destes temas, e o investimento por parte do grupo neles, pode

estar diretamente relacionado com os valores-notícia, e com a preferência do público, pois nem

sempre o que os jornalistas querem fornecer aos leitores é por eles consumido.

Todo o projeto do V Digital foi sempre encarado como uma experiência. O plano inicial para a

divulgação dos conteúdos nas redes foi “pensado de forma faseada e segundo objetivos” que,

segundo divulgou a entrevistada, não estavam a conseguir alcançar. Prova disso era a falta de

interação dos leitores. Por esse motivo, no fim de setembro, a gestora de redes sociais na redação

do Porto salientava que estava na hora de “de afirmar uma posição no mercado da comunicação”.

4.1.6. Qual o valor-notícia mais valorizado?

Como vimos, os conteúdos que mais interação provocaram não se prendiam com os programas

do V Digital, aqueles cuja rotina de produção jornalística era mais exigente, requerendo várias

horas de produção. Pelo contrário. E isso era desmotivante para os jornalistas verem que, quanto

mais davam de si para as suas produções, menos leitores tinham a vê-las. Uma das situações que

mais despertou este sentimento foi o conteúdo intitulado “O desafio deste verão? Virar o biquíni

ao contrário”.

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Figura 18: Um dos conteúdos com mais interação no V Digital

Solicitados os dados deste dia à gestora de redes Sara Ribeiro, sobre o quão rentável, em termos

de visualizações, foi fazer esta publicação, a mesma informou que nada melhor do que observar

os números. Das tabelas a que tive acesso, foi construído o seguinte gráfico:

Gráfico 5: Número de visualizações de: "O desafio deste verão? Virar o biquíni ao contrário"

Os números revelam que, por um lado, há um maior alcance da publicação a partir da publicação

da notícia "O desafio deste verão? Virar o biquíni ao contrário" no JN, com uma diferença, no caso

das visualizações de página, de 4.380 visualizações face ao V Digital, criador do conteúdo. No que

respeita às visualizações de páginas únicas, ou seja, o número de sessões que a página foi

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visualizada pelo menos uma vez (segundo a Google Analytics16), a diferença foi menor (4.050

visualizações).

Constatados estes dados – que servem apenas para exemplificar o quão importante é a partilha

dos conteúdos nos demais canais de informação do grupo – verifica-se que, se somados ambos

os valores, dá um total de acessos ao conteúdo Wibbitz de 28.366, sendo o conteúdo mais visto

do dia, segundo o relatório da Google Analytics. Este conteúdo manteve-se no topo das

visualizações durante vários dias. De 1 de maio a 17 de julho, segundo a mesma ferramenta de

monitoramento de tráfego online de sites, a reportagem foi líder de visualizações no site em análise

neste relatório, representando, só por esta via, 45.301 visualizações de página.

Figura 19: Relatório de visualizações de “O desafio deste verão? Virar o biquíni ao contrário”

Nesse mesmo relatório é possível ver que programas como Quebra-Mitos, que se dedicam a

explicar crenças da sociedade e a derrubar mitos existentes na mesma através da consulta de

especialistas em determinadas áreas, estavam apenas com 13.423 visualizações de página, cerca

de metade dos acessos.

Isto tudo denota preferências dos consumidores por aquilo que é chamado de “Soft news”

(Schaudt & Carpenter, 2009) face às “hard news” ou também denominadas de “slow news”. E

parece que o V Digital alcançou esse público, o que prefere notícias da atualidade, de conteúdo

leve, relacionado com o life style, com curiosidades e também celebridades.

Recorde-se que, na dimensão de “valor-notícia”, para esta análise, foram tidos em conta os

componentes: “novidade”, “inesperado”, “catástrofe”, “proeminência”, “atualidade” e

“instantaneidade”. No que respeita ao indicador “novidade”, se atendermos até ao exemplo dado

anteriormente (“O desafio deste verão? Virar o biquíni ao contrário”), verificamos que este valor-

16 Informação consultada no manual da Google Analytics, em https://support.google.com/analytics/answer/1257084#pageviews_vs_unique_views)

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notícia era tido em conta na rotina de produção dos jornalistas deste órgão de comunicação. Ao

longo do meu dia a dia apercebi-me de que tudo o que apresentava este valor-notícia tornava-se

alvo de atenção por parte da redação. Perante a imensidão de conteúdos pré-fabricados que

chegavam às nossas mãos, eram os valores-notícia que nos ajudavam a decidir o que era e o que

não era notícia (Harcup & O’Neil, 2016). Considero que este era um dos critérios mais valorizados

pelo V Digital. Novas tendências culturais, de moda, de música e até de arte eram, geralmente,

temas deste canal. Também tudo o que evidenciava novidade era alvo de notícia. Caso disso foi,

por exemplo, a mochila Tetris que, por ter um material diferente, foi notícia. Tal como os cadernos

reciclados, ou a nova coleção de roupa da H&M para cães.

Outro dos critérios de noticiabilidade que mais determinava a agenda do dia era o

inesperado/surpresa. O V Digital dava atenção a conteúdos que outros órgãos de comunicação

raramente atendiam no meio da sua agenda mediática. E um dos valores-notícia que guiava os

jornalistas nesse sentido era precisamente este. Um desfile de moda em que as modelos são de

diversas etnias, cores e tamanhos causou estranheza nas redes sociais. Esse comportamento, de

surpresa por fugir de um desfile de moda comum, determinou que era motivo de notícia. Ou um

homem que trepa paredes e é um caso quase único no mundo, ou ainda a exposição sobre

imitações humanas de sons de baleias. Apercebi-me de que era um valor-notícia valorizado, não

só pela capacidade de atrair leitores, mas porque marcava a diferença perante aquilo que estava

a ser produzido pelos demais órgãos de comunicação do país. Ou seja, o canal não estava a fazer

aquilo a que se propôs: as “Slow News”. Essa é uma tendência dos média perante um mercado

cada vez mais sobrecarregado (Ganiyu & Akinreti, 2015). Nestes casos, deve-se avaliar também

quem são os intervenientes nas notícias para perceber se há ou não razão para ser noticiado (Silva

& Jerónymo, 2017). Muitas vezes, determinava-se que era notícia pela pessoa a quem remetiam

os factos. Exemplo disso foi falar-se das parecenças entre Cristina Ferreira e a Princesa Diana.

Estávamos perante duas pessoas influentes na sociedade portuguesa e, por isso, determinou-se

que seria um dos conteúdos do dia. Aqui entra também o critério de proeminência, ou seja, o grau

de conhecimento e celebridade.

Os escândalos também faziam parte da rotina de produção. Sempre que se encontrava casos

desses na atualidade, passavam a integrar a agenda do dia. O escândalo é algo que se torna

relevante quando relacionado com temáticas que dizem respeito à vida do cidadão, mas muito

mais quando envolvem pessoas reconhecidas na sociedade, como celebridades, políticos, figuras

públicas. Isto porque ajudam a captar audiências (Silva & Jerónymo, 2017). Exemplo disso foi ter-

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se noticiado o caso Robles, e escândalos relacionados com questões sexuais, como o movimento

#Metoo, ou com figuras públicas, como Cristiano Ronaldo.

O critério de noticiabilidade “catástrofe” foi pouco determinante na rotina de produção do V Digital,

neste período. Houve alguns casos, como o resgate na cave de Tham Luang, na Tailândia, a

explosão em Bolonha, assim como a explosão de botijas de gás que obrigou a evacuar ilha da

Estátua da Liberdade. Estes foram os três casos em 81 notícias por mim publicadas em que este

critério se evidenciou.

No que concerne ao critério de noticiabilidade “instantaneidade”, relacionado com notícias da

atualidade, atualizadas de minuto a minuto, pode-se afirmar que tal valor-notícia não foi tido em

conta na rotina dos jornalistas. Embora o V Digital tenha passado por muitas reformulações em

apenas três meses, o certo é que nunca passou por uma grelha de programação que incluísse

diretos ou breaking news. Isso era trabalho para meios de comunicação como o JN. Procurava-se

sempre uma nova abordagem, mesmo que essa não estivesse na informação, mas antes na forma

como os factos eram comunicados ao leitor (por exemplo, através da hibridez das linguagens).

f) O fenómeno da hibridez das linguagens verifica-se no V Digital?

Poderá ser na hibridez das linguagens que estará o futuro da comunicação online. Repare-se que

a maior potencialidade da web é a capacidade que tem de albergar conteúdos híbridos, interativos

e multimédia (Santos, 2018).

Cada vez mais, ter um conteúdo diferente é difícil. Isto porque, por um lado, a informação é

veiculada em massa para os órgãos de comunicação. Depois, existem dezenas de meios de

propagação de informação. Deste modo, o cidadão prefere ler a informação que lhe é mais fácil

de ler, acessível em qualquer lugar e a qualquer hora. Para tal, passou a haver a necessidade de

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convergir, num só conteúdo, as

várias linguagens. Só as notícias da

agência Lusa que eram publicadas

logo pela manhã, entre as 7h e as

10h, enquanto os restantes

jornalistas não chegavam – e que

serviam para alimentar o site – é

que aliavam duas linguagens, ou

seja, a textual e a visual. Eram,

assim, construídas sempre através

de imagem seguida de texto.

Nestas, o elemento visual servia de

âncora para aquilo que o texto

comunicava. No exemplo da figura

21 a notícia refere-se ao incêndio de Vinhais. A imagem ilustra precisamente um fogo, mas que

não é o referido na imagem. Há uma componente textual que ajuda a clarificar isso mesmo:

“Incêndio em São Vicente Pereira”. Assim, a imagem é meramente ilustrativa, mas ajuda a

entender, mesmo antes de ler, que o conteúdo está relacionado com incêndios. Isso é positivo,

até porque a Internet é cada vez mais visual (Santaella, 2012). Depois, o texto clarifica todos os

factos.

Considero que a verdadeira convergência das linguagens assentava na produção que vinha a partir

das 10h00, isto é, nos vídeos. Isto porque não eram apenas imagens em movimento, nem apenas

som, nem somente texto. Era antes a convergência de todos estes elementos num só conteúdo.

Figura 20: Exemplo de notícia publicada oriunda da agência Lusa

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Figura 21: Exemplo de hibridez das linguagens

Além do vídeo, como elemento visual, havia também o recurso a elementos gráficos em

movimento, desenhados pelo grafista, para ajudar a explicar a comunicação do jornalista. A par

daquilo que se vê, existia também aquilo que se ouvia. O áudio era cuidadosamente trabalho. Se

havia música, os editores tinham o cuidado de fazer os cortes da música a bater com os cortes

dos planos. Transmitia assim mais rigor e emoção, iam-me explicando. Mas é sabido que, no meio

do trabalho, no autocarro a caminho de casa, entre outras situações do dia a dia, nem sempre é

pertinente ouvir o som das reportagens. Então aliou-se a linguagem textual que veio assim colmatar

esta debilidade da linguagem sonora. Através das legendas de tudo o que era dito, passava a ser

possível, na ausência de som, perceber-se a totalidade da informação. Havia, assim, a

complementaridade entre as linguagens, criando conteúdos completos e eficazes na sua

comunicação. Tudo isto só era possível graças às potencialidades da digitalização da comunicação

que deu origem a conteúdos híbridos, com linguagens que antes só víamos em separado, com

narrativas mais aprimoradas (Barretos, 2016).

4.1.7. Qual o papel do jornalista nas rotinas de produção jornalística?

O papel do jornalista neste processo de construção de narrativas híbridas era vasto. Primeiro,

eram eles quem decidiam o que era e o que não era notícia, fazendo todo o processo de

gatekeeping face à imensidão de informação que lhes caía em mãos. Depois de decidirem qual

seria a agenda do dia, e de distribuídos os conteúdos, havia dois processos diferentes de produção.

Uns, dedicavam-se a conteúdos vindos das reuniões de planeamento – que geralmente eram os

programas e, por isso, requeriam tempo e saídas para o terreno – e outros passavam o dia na

redação a produzir a partir da plataforma Wibbitz.

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Vejamos o primeiro caso: o jornalista era o responsável por quase todo o processo. O primeiro

passo era contactar com a fonte de informação, para agendar a reportagem no local. Aí, por

norma, era feita uma primeira abordagem ao tema. No dia da entrevista, se houvesse um pivô,

havia toda uma produção. Maquilhagem, penteado, enfim, era o momento em que as colegas de

trabalho se uniam em prol dos que iam em reportagem. Aí, estabeleciam-se laços e fortaleciam-

se relacionamentos importantes para um saudável ambiente de trabalho. Depois, malas às costas,

chave do carro na mão e colocar “os pés ao caminho” com o colega da filmagem, que era o

mesmo da edição. Todo o papel à frente da câmara, a maioria das vezes baseado no improviso,

era feito pelo jornalista, assim como as entrevistas às fontes de informação. Os vídeos que

sustentariam as narrativas eram todos (ou quase todos) feitos pelo câmara. Chegados à redação,

era hora de o jornalista escolher os momentos da entrevista que queria usar, montando ali a

estrutura da reportagem que era comunicada ao editor de vídeo que compõe e completa, com os

demais planos, o vídeo. As legendas eram também trabalho normalmente feito pelo jornalista. No

final, o editor da redação dava a sua opinião, aprovando ou refutando o conteúdo. Este era o

processo de produção jornalística do V, que deu origem às 81 reportagens e a uma experiência

de estágio que nunca irei esquecer. Dela, trouxe na bagagem ensinamentos que já valeram uma

oportunidade de trabalho pela visibilidade que acarretou e pela evolução que tive, enquanto

profissional. Até porque todo este processo anteriormente descrito não foi apenas a rotina de

produção dos meus colegas, mas antes a minha também, o que me ajudou, não só a recolher

material para este relatório de estágio, como também de trazer na bagagem de uma estagiária a

vontade ser uma profissional com a qualidade dos meus colegas, profissionalismo como a dos

meus editores, e humildade como a de toda a equipa com quem, felizmente, e gratamente, tive

oportunidade de estagiar.

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Conclusões

De um meio digital rico, sobressaíram experiências de estágio igualmente valiosas. É sabido que

o webjornalismo tem vindo tornar-se tão mais interessante quanto mais é conhecido. Aquilo que

permite fazer acontecer e até onde é capaz de fazer chegar uma informação são realidades que

tem tanto de fantásticas, como de perigosas. O V Digital , enquanto um canal de vídeo criado como

uma experiência dentro de um grupo já bem completo em termos de variedade informativa, tornou-

se no local ideal para perceber o atual estado da comunicação online. Por um lado, porque investiu

na inovação no que concerne à forma como fazia chegar a informação à casa dos leitores e, por

outro, porque toda a rotina de produção dos jornalistas se movia em torno na tendência do online

(que foi-se alterando num curto espaço de tempo).

Ora, todo este ponto de situação do meio de comunicação serve precisamente para tentarmos

responder à grande pergunta de partida: em que medida é que as exigências que o ambiente

online coloca aos jornalismo e aos jornalistas estão as mudar as rotinas de produção jornalística?

Poucas semanas depois de entrar com o pé direito nesta redação e de contactar com o

wejornalismo, percebi que havia muito sobre esta forma de comunicar que estava por descobrir.

Até porque o próprio V Digital estava à procura de um caminho dentro da imensidão das

potencialidades que o online oferece. Foi por isso que parti para uma observação, primeiro,

assistemática, para perceber as rotinas de produção de uma redação num canal online. Percebi,

assim, que a problemática da minha investigação estaria aí mesmo: na forma como o meio online

estava a interferir com a produção jornalística e na rotina dos profissionais de comunicação. Na

mudança de paradigma de comunicação no online e no problema que os meios hoje enfrentam:

a sustentabilidade. Mas ao mesmo tempo, percebi que a web é multimédia, ubíqua, personalizável,

interativa e instantânea, e que isso tem mudado a forma como as notícias chegam aos leitores.

Também, com todas estas alterações, o cidadão passou a ser mais interativo para com o jornalista,

não só na forma como consegue agora comentar e partilhar os conteúdos, como também enviar

informação até aos meios de comunicação. Mas os leitores continuam a dar primazia áquilo que

é publicado ao minuto, assim como ao valor-notícia “entretenimento”.

Um ano se passou após a minha saída e conclusão – feliz – deste estágio. E muito mudou. Já não

há programas como o “Quebra-Mitos” ou o “Suplemento de Alma”, nem os demais conteúdos

morosos e alvo de rigor de informação que explicavam o que acontecia na sociedade. Os

jornalistas, esses, a maioria viu os seus contratos não serem renovados. A sensação de tristeza

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ao ver desmoronar o projeto inicialmente projetado foi comum a todos. O V Digital, pelo menos

como foi relatado neste relatório, deixou de existir. Agora, se fizermos o exercício de navegar pelo

site, que continua ativo, percebemos que é uma espécie de “montra” para os conteúdos dos

outros canais de informação do GMG. A maioria da informação chega-nos através de texto e

imagem.

Antes, os conteúdos morosos e rigorosos (os programas) eram um em cerca de 13 conteúdos

publicados por dia. Eram eles que mantinham a essência do V Digital, mas, como eram

dispendiosos em termos de recursos financeiros e humanos, eram menos frequentes do que os

produzidos através das agências. Havia, por isso, uma forte dependência de agências de notícias,

como o Wibbitz, que era também utilizado como plataforma para produzir vídeos, além de fonte

de informação. Outras, como a Lusa, eram também recorrentes. O material pré-fabricado que

chegava à redação ajudava a produzir com maior rapidez. Mas verificou-se também que, na

maioria dos casos, os jornalistas só consultavam uma a duas fontes para construírem os seus

conteúdos. Ora, toda esta conjuntura dava conta da pouca verificação da informação e a crescente

dependência de fontes oficiosas. Agora, os conteúdos Wibbitz já não são produzidos, até porque

quase já não há jornalistas para os fazer. Quem produz os vídeos continua a ser a Global Media

Play, e não V Digital, que é, precisamente, a equipa de vídeo que suportava os jornalistas outrora

nos conteúdos que serviram de exemplo neste artigo. Essa equipa parte para reportagens sobre

empresas, para, por exemplo, serem publicadas no Dinheiro Vivo.

Mas nem por isso, neste órgão de informação, os jornalistas deixavam que o cidadão interagisse

com o conteúdo, pelo menos de forma direta, devido à falta de tempo que tinham. Podiam

comentar ou partilhar, mas poucas vezes optavam por utilizar factos publicados em redes sociais

por cidadãos nas suas produções noticiosas.

Recorde-se, já no seu lançamento, todo o projeto do V Digital foi uma tentativa de inovação no

online. Essa inovação tentou ser feita de várias formas. Por um lado, pelo cumprimento de diversas

características que o meio exige (como a multimedialidade, ubiquidade, personalização) mas

também romper com outras, como com a colocação do hipertexto. Mas o canal foi mais longe.

Deixou de lado práticas, como a de fazer planos para televisão, porque se queria afastar deste

meio, e colocava os entrevistados centrados no plano. Inovou-se também, comparativamente ao

trabalho desenvolvido no grupo, no que concerne à hibridez das linguagens. Apresentavam os

conteúdos de forma diferente, com o som, imagem e texto encadeados, de modo a poderem ser

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vistos quando e onde o leitor quisesse, de modo a serem personalizados. Tudo isto foi uma

consequência, por um lado, dos vastos meios de comunicação que a GMG já detinha e, por outro,

das exigências do online.

A maioria dos conteúdos que o V teve, aquando do seu lançamento, prendiam-se com valores-

notícia como a novidade, inesperado e proeminência. Já a atualidade integrava a rotina de

produção dos jornalistas mas numa tentativa de explicar os fenómenos e não noticiar os factos de

minuto a minuto, como se vê em muitos dos média online. Verificou-se que a valorização destes

critérios de noticiabilidade deveu-se, em parte, ao consumo dos leitores, que recaia, na maioria

das vezes, por conteúdos produzidos através de agências como o Wibbitz, em detrimento dos

programas morosos. Há, assim, uma preferência do espectador em assistir a notícias ligadas ao

entretenimento e, a nova direção do V Digital quis mudar a sua grelha nesse sentido para tentar

arrecadar mais lucros para empresa. Os baixos números de audiências, mesmo com a partilha

em rede, persistiam. Sabe-se que o dinheiro oriundo da publicidade é cada vez menor e, sem

notoriedade da marca, tendem a ser piores. Também os leitores ainda não pagam pelas notícias.

A administração decidiu assim que tinha de mudar a grelha de programação do V Digital, mais

uma vez, pois não estava a ser rentável

Mas se o webjornalismo vive, cada vez mais, de notícias atualizadas de minuto a minuto, ou seja,

da atualidade, é precisamente aqui que está o centro da questão. Vejamos que o V Digital

apresentou-se a toda a comunidade como o meio que vinha explicar os fenómenos, mais do que

noticiá-los. Até porque, isso, já faziam outros meios de comunicação do grupo, como o JN.

Queriam, assim, fazer valer um site com conteúdos afastados da atualidade, ditos de “Slow News”.

Mas se, no princípio, isto aconteceu, no final, o resultado foi o inverso. Estas produções

jornalísticas eram morosas, requeriam recursos humanos e tecnológicos grandes. Por vezes, uma

reportagem demorava mais de dois dias a ser produzida. Uma produção por dia destes conteúdos

explicativos e longínquos da atualidade foi conseguido, todo o resto não. Conceito este que não

era o idealizado por David Pontes, primeiro diretor, e demais direção. Mas eram também estas

produções menos demoradas e que requeriam menos investimento dos jornalistas que estavam

as maiores audiências, e isso estava diretamente relacionado, por um lado, com os hábitos de

leitura da população portuguesa, que continua a dar primazia à atualidade e ao entretenimento e

também ao próprio investimento publicitário da administração que, segundo o apurado junto da

gestora de redes, pouco recaia sobre as produções mais morosas e defensoras do conceito do V

Digital. Talvez por isso, toda a grelha de programas se foi alterando, ao ponto de não precisarem

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quase dos jornalistas, mas antes de bons videógrafos e de captar a atenção, através deles, de

bons investidores, para que o canal deixasse de ser uma fonte de informação e passasse a ser

uma fonte de rendimento para o grupo, tendo em conta que o investimento na publicidade é

menor. Todo o demais site é hoje diferente, sem hibridez das linguagens, sem conteúdos próprios

do V, sem os seus programas.

Depois de todas as mudanças, no seu emagrecimento progressivo da redação, ficaram os

produtores de vídeo, que continuam a ser encarados como uma mais-valia para captar lucro para

organização, tendo em conta os trabalhos de qualidade visual que produzem. A rotina de muitos

dos que foram jornalistas na redação do V Digital mudou entretanto: uns, estão no fundo de

desemprego, outros, em novos locais de trabalho.

Ou seja, o online está a mudar as rotinas tradicionais do jornalismo. Se até há pouco tempo se

apontava a atualidade como o caminho a seguir para o sucesso neste meio, denota-se com este

estudo a necessidade dos grupos de média em explorarem as “slow news”. No entanto, os

constrangimentos que o online traz economicamente para as organizações tem levado, cada vez

mais, à diminuição do número de jornalistas nas redações o que não permite implementar as

notícias rigorosas, morosas, e que reúnam em si todas as potencialidades do meio.

Com este estudo percebeu-se, assim, que o jornalismo está em constante mudança e que, a

provoca-la, está o online. Esta é a resposta concreta à pergunta de partida. Penso que com este

estudo de caso se alerta para alguns problemas atuais, como os despedimentos coletivos fruto da

falta de rentabilidade online e da rápida desistência de conteúdos ricos no que concerne às suas

características por não serem geradores de audiências. Verifica-se que ainda há um longo caminho

a fazer até que as “slow news” ganhem espaço na esfera online.

Mas, considero que generalizar tal facto a partir deste estudo de caso se torna insuficiente. Essa

é, por um lado, uma limitação deste trabalho mas, por outro, faz sugerir caminhos investigativos

futuros, como o da sua confrontação com outro meio de comunicação nacional ou internacional,

que tenha sido criado somente online, com o objetivo de explicar os fenómenos. Com isso, poderá

chegar-se a conclusões mais sustentadas. Seria também pertinente debruçar um estudo mais

aprofundado sobre o modelo de negócio dos média digitais pois, atendendo aos despedimentos e

à atual grelha de programa deste estudo em específico, parece que o digital está a ser mais

rentável e utilizado para a divulgação de publicidade do que de informação jornalística, por parte

dos média.

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Considero que a grande limitação deste estudo centrou-se no acumular de duas funções: por um

lado, a de estagiária que estava sempre a produzir para o V Digital e, por outro, a de observadora

participante. Isto porque poderiam ter sido recolhidos dados quantitativos referentes ao trabalho

dos meus colegas e não foi possível concretizar esta minha pretensão. Fazer esse levantamento

de dados no futuro poderá ser um caminho a seguir posteriormente, cruzando, até, com o estado

atual do V Digital, que continua a existir, depois de uma grande reformulação.

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Anexos

Anexo 1- Conteúdos publicados no V Digital por dia

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Anexo 2 - consentimento de exposição de fotografia em relatório de estágio de Joana

Ascensão

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Anexo 3- consentimento de exposição de fotografia em relatório de estágio de

Catarina Oliveira

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Anexo 4- Guião de entrevista

1. Quantas pessoas acedem, em média, por dia, no site?

2. Os números são diferentes nas redes sociais?

3. Qual a representatividade do V nas mesmas?

4. Como funciona a estratégia o V digital dentro das redes?

5. Qual a interação do V para com as pessoas?

6. Como interagem as pessoas com o V dentro das redes? A interação tem-se mantido

constante ou a aumentar?

7. Quais os conteúdos mais vistos? Qual o "estilo" que apresentam? (tema, se é conteúdo

meramente escrito ou em vídeo, se são wibbitz ou produção original do V)

8. Que estratégias achas que deveria o V implementar para que tivesse um maior poder

dentro das redes?

9. Em que se distingue dos demais órgãos de comunicação social?

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Anexo 5- declaração de consentimento para aplicação e divulgação de entrevista

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Anexo 6- Declaração de consentimento observação participante

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