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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ
MESTRADO PROFISSIONAL EM SAÚDE E GESTÃO DO TRABALHO
MAYARA CRISTINA DA CONCEIÇÃO
DA DUALÍSTICA À CONSTRUÇÃO SENSÍVEL DO HOMEM: UMA ABORDAGEM
ANTROPOSÓFICA NA FORMAÇÃO DO TERAPEUTA
Itajaí
2018
MAYARA CRISTINA DA CONCEIÇÃO
DA DUALÍSTICA À CONSTRUÇÃO SENSÍVEL DO HOMEM: UMA ABORDAGEM
ANTROPOSÓFICA NA FORMAÇÃO DO TERAPEUTA
Itajaí
2018
Projeto final de Dissertação para obtenção do
título de Mestre em Saúde e Gestão do Trabalho
pela Universidade do Vale do Itajaí, Escola de
Ciências da Saúde – ECS.
Orientador: Prof. Dr. Leo Lynce Valle de Lacerda
FICHA CATALOGRÁFICA
C744d
Conceição, Mayara Cristina da, 1992-
Da dualística à construção sensível do homem [manuscrito]: Uma abordagem antroposófica na formação do terapeuta / Mayara Cristina da Conceição. – 2018.
144 f. : il. Color.
Cópia de computador (Printout(s)).
Dissertação (mestrado) – Universidade do Vale do Itajaí, Programa de Mestrado Profissionalizante em Saúde e Gestão do Trabalho, 2018.
“Orientador: Prof. Dr. Leo Lynce Valle de Lacerda. ”.
Bibliografia: f. 115-116.
1. Antroposofia. 2. Formação profissional. 3. Terapia. 4. Educação. I.
Lacerda, Leo Lynce Valle de. II. Título.
CDU: 141.333
Claudia Bittencourt Berlim – CRB 14/964
DEDICATÓRIA
Dedico esta obra a minha Mãe, que me ensinou a alegria de viver a vida,
enfrentando os obstáculos que ela possa nos apresentar de cabeça erguida, uma
verdadeira guerreira do coração. E a minha Bisa, que me mostra a cada dia o
quanto o amor é fruto da simplicidade, da doação, da abnegação e da incondicional
entrega. Juntos delas dedico a todas as mulheres que me ensinam o grande amor
feminino e a coragem de eras e eras.
Ao meu Pai, que em poucas palavras marca a busca do sonho a se alcançar
e motiva a buscá-los. A minha família, desejo que mantenham sempre viva a chama
da união pelo amor. Em especial, dedico aos meus irmãos, para que inspirados
nesse trilhar, busquem a realização de todos os seus sonhos, na certeza de que são
merecedores das mais belas vitórias, e que inspirados por nosso anjo materno e
pelo amor universal que vos é bendito, possam reconhecer suas verdadeiras
motivações e trilhar seus próprios caminhos.
Aos meus colegas de mestrado, aos meus colegas de profissão, aos meus
pacientes que trazem alegria aos meus dias, aos leais amigos, que mesmo longe ou
perto se fazem presente, na luta e nos sonhos que almejamos construir de um
mundo melhor, sei que reconhecem o seu significado para mim. Desejo que a cada
passo dado, mais e mais corações sejam despertos pelo imenso amor que
construíram dentro de si, em ponte com o mundo.
Aos meus irmãos de alma, para que continuem a se dedicar e a crescer a
cada dia em seus trabalhos de ordem social e espiritual, Céu Nossa Senhora da
Conceição e todos os Céus irmãos da obra, Fraternidade Universal Filhos de Órion e
Reiki Despertar, Cia Téspis. A todos os coletivos que me acolhem de braços
abertos, por reconhecerem os valores e a dimensão do amor que trago em meu
peito;minha dedicação e vontade de ser melhor a cada dia acima de quaisquer
limitações humanas, minha eterna gratidão e honra por cada caminhar.
Dedico esta obra ao Cordeiro, que me mostrou o poder da chama trina, e me
fez reconhecer a dimensão do incondicional amor que trago em meu peito. E em
especial, ao Padrinho Gideon dos Lakotas, que me mostrou a força da luz que incide
no coração dos seres despertos ao amor, que com coragem, verdade, justiça e
responsabilidade se faz um caminhar. Minha imensa gratidão pelo transbordante
amor, ensinamentos e pela mão firme e estendida a todo o momento.
Dedico esta obra a humanidade, a todos os meus irmãos que ainda sofrem
pela injustiça, pela desigualdade, pela carência de recursos, aos oprimidos e
marginalizados que eles encontrem a força necessária no coletivo, que reconheçam
sua divindade e que o valor da união seja fortalecido. Aos meus irmãos de boa
vontade e bom coração, mãos à obra para que todos sejamos livres e encontremos
a felicidade! Que o amor, a sabedoria e o poder de nossos ancestrais se façam
presentes.
AGRADECIMENTOS
Agradeço a todos que direta e indiretamente fizeram parte desta obra
criacional de amor. Agradeço imensamente pela confiança e generosidade de cada
coração que acreditou que mais esse sonho seria possível. Sabe aquela vaquinha
em que muitos professores fizeram para ajudar a pagar a primeira mensalidade?
Pois bem, deu certo! Cheguei ao fim de mais um processo de descoberta e
construção com muito esforço, tropeços, mas, sobretudo, coragem, firme propósito,
vontade e amor.
Meu agradecimento inicial vai ao Marcão, um paizão que a vida me trouxe, e
me mostrou o quanto de vigor um homem traz no peito por levantar a bandeira da
igualdade, da justiça, da solidariedade e ecoar em seus ensinamentos a voz da
humanidade inteira. Agradeço o exemplo de luta, ideais e sonhos coletivos, pois em
ti, vibra o “coração de tuas obras” e essas são eternas. Enquanto houver
desigualdades e injustiças, haverá corações destemidos como o seu, a honrar todas
as batalhas que forem necessárias para cumprir com o bem verdadeiro de
coletividade, dignidade e união.
Agradeço ao meu orientador, companheiro amigo, e leal instrutor, Leo. Quem
diria que serias meu orientador, hein? Acredito que somente Rudolf Steiner poderia
responder isso (risos). Meu querido, te agradeço por ser a base da qual precisei
pousar, e me aquecer de afeto, compreensão e sabedoria. Agradeço a tua coragem,
ousadia e firmeza em cada passo ao meu lado, nos momentos de glória e desafios.
E te agradeço acima de tudo, por confiar em meu coração, pois o Ser Terapeuta,
inicialmente passou por sermos, eu e você, faces de um mesmo criacional amor.
Agradeço a Stella, minha professora desde muito antes do mestrado, pelo
exemplo de acolhimento, serenidade, sabedoria e simplicidade, divina maestria. Que
ligada a mim por um ‘mundo’ de afetos e ideais, seguimos juntas novamente. E em
seu nome, agradeço a todos os professores que tive a oportunidade de crescer e me
desenvolver nesses dois anos de formação, eu os reconheço e os admiro.
Aos meus amigos Terapeutas da Alegria, agradeço imensamente por serem
tão generosos e compartilharem momentos tão preciosos junto de mim. Desejo que
lhes seja abundante a alegria do cantar e voar de um passarinho, livre e liberto para
a verdadeira vida, felicidade e amor. Que a cada dia reconheçam suas bases e
ganhem voz, cor, som, força! Em especial, a minha terapeuta e amiga Susana, que
amorosamente me acompanhou e fortaleceu este caminhar.
Agradecendo a todos, agradeço a mim mesma, ao meu Eu infinito que me
permitiu amar além do medo, e trilhar este caminho de sabedoria em direção ao
incondicional amor. E Ele, o amor, fala em meu coração em alto e bom som: Sou
gratidão!
“É no coração que acontecem as verdadeiras batalhas e somente dele provêm ás
verdadeiras vitórias”
Xamã Gideon dos Lakotas
RESUMO
Trata-se de uma investigação sobre um método ativo de ensino-aprendizagem que possa auxiliar na sensibilização, criticidade e liberdade de pensamento na construção humana e na formação profissional do terapeuta. Trazemos como perspectiva a abordagem antroposófica de Rudolf Steiner e a observação do pensar, sentir e querer, como possibilidade de desconstruir o que nos condicionamos no decorrer da evolução da sociedade e encontrarmos novas bases que possibilitem uma verdadeira compreensão do pensar, sentir e agir no mundo. Para isso, buscou-se estabelecer um percurso de formação de “novos terapeutas” e encontrar um caminho reflexivo, prático e dinâmico que amplie as capacidades suprassensíveis do terapeuta em encontro com ele mesmo, com o outro e com o mundo em si. Entendemos que somente quando criarmos espaços internos advindos da liberdade é que teremos a possibilidade de acionarmos a nossa sensibilidade, a construção sensível e crítica de pensamento que perpassa tanto a dimensão individual quanto coletiva.Para Rudolf Steiner, no pensar a liberdade é conhecida, no sentir ela é experienciada e no querer ela é praticada. Assim a práxis humana poderia então ser solucionada quando começarmos a observar a origem do pensar, pois nela estaria implícito o problema do agir humano, até que o homem encontre uma justa medida entre o pensar e operar intuitivo, sensibilidade e razão caminhando concomitantemente, integrando a inteligência e a sensibilidade humana.Como resultado desta pesquisa, percebemos ampliações significativas na compreensão sobre o “Ser Terapeuta”, trazidas pela observação de si mesmo, do outro e do mundo em si, em interação dinâmica com as suas capacidades suprassensíveis de pensamento, sentimento e vontade, tendo sido vivenciada a compreensão do conceito de liberdade de tríplice maneira. Entendemos que oterapeuta, em sua formação, pode chegarem camadas mais profundas se compreende a Essência Trina do homem:seu corpo, alma e espírito, integrados pelo pensar intuitivo, descobrindo assim o “Ser Curador”.
Palavras-chave: Antroposofia; Formação Profissional; Terapia; Educação
ABSTRACT
This research focuses on the active teaching-learning method that can promote increased sensitivity, criticality and freedom of thought in human construction and in the professional training of the therapist. We present the perspective of Rudolf Steiner's anthroposophical approach, and the observation of thinking, feeling and willing as a possibility for deconstructing what we have conditioned to in the evolution of society, seeking to find new bases that will allow a true understanding of thinking, feeling and acting in the world. To this end, we sought to establish a training course for "new therapists" and to find a reflective, practical and dynamic path that would amplify the therapist's capacities for increased awareness in relation to himself, the other, and the world itself. We believe that it is only when we create inner spaces derived from freedom that we have the possibility of triggering our sensitivity, and a sensitive and critical construction of thought that permeates both the individual and collective dimensions. For Rudolf Steiner, in thinking, freedom is known; in feeling, it is experienced, and in wanting, it is practiced. Thus human praxis could then be resolved when we begin to observe the origin of thought, for herein lies the problem of human action, until man finds a just measure between intuitive thinking and operating, with sensibility and reason moving concomitantly, integrating intelligence and human sensibility. As a result of this research, we perceive significant expansions in the understanding of "Being a Therapist", brought about by observation of oneself, the other and the world itself, in dynamic interaction with their suprasensitive capacities of thought, feeling and will, having experienced the understanding of the concept of freedom in a threefold way. We understand that the therapist, in his training, can reach in deeper layers if he understands the Triuneessence of man: body, soul and spirit, integrated by intuitive thinking, thus discovering the "Healing Being."
Keywords: Anthroposophy; Professional qualification; Therapy; Education
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 1 – Síntese do método de ensino-aprendizagem “Essência Trina” ..................... 35
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO .......................................................................................................................................................... 11
2.PROBLEMA DE PESQUISA ............................................................................................................................... 16
3.OBJETIVOS ................................................................................................................................................................. 16
3.1 Objetivo geral...................................................................................................................................................... 16
3.2 Objetivos específicos ...................................................................................................................................... 16
4.REVISÃO DA LITERATURA ............................................................................................................................... 17
4.1 Compreensão histórica e transformações do pensamento humano ...................................... 17
4.2 A dualidade busca a integração ................................................................................................................ 21
4.3 O caminho para a liberdade ........................................................................................................................ 22
4.4 A educação como mediadora da práxis humana ............................................................................. 25
4.5 A integralidade na formação do terapeuta........................................................................................... 30
5.METODOLOGIA ........................................................................................................................................................ 32
6. RESULTADOS E DISCUSSÕES ..................................................................................................................... 36
6.1 Resultado prévio às análises: “História de vida das estrelas” ................................................... 36
6.2 Descrição e análise anímica das oficinas ............................................................................................ 58
7.CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................................................................. 114
8. REFERÊNCIAS...................................................................................................................................................... 117
9 APÊNDICES ............................................................................................................................................................. 119
9.1 Apêndice A: Entrevista semiestruturada ............................................................................................ 119
9.2 Apêndice B: Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE).................................... 120
9.3 Apêndice C: Comprovante de submissão de artigo em periódico........................................ 123
9.4 Apêndice D: Método de Ensino-Aprendizagem para o despertar do Eu: “Essência
Trina” ............................................................................................................................................................................ 124
11
1. INTRODUÇÃO
No decorrer da história da humanidade e na busca incansável do homem em
descobrir a finitude ou infinitude da sua existência, uma das frases de
direcionamento durante todos os séculos foi: “conhece-te a ti mesmo”, utilizada por
filósofos para conhecer os mistérios da existência, escrituras sagradas, mestres
espiritualistas, psicólogos no desbravar do inconsciente, e tantos outros. Análogo a
este, procura-se dentro de todas as ciências um “modo de conhecer” do homem
sobre o homem, sobre a vida e sobre o mundo e suas relações estabelecidas nele
(STEINER, 2011). Todavia não somente buscamos um modo de conhecer, mas
também de ser, transformar-nos e integrarmo-nos tanto internamente como
externamente.
Em tempos modernos e de aparente crise na formação humana de sentidos,
sentimentos, sonhos e valores coletivos, é chegado o momento de trabalharmos o
que de mais precioso está em nós, e assim descobrirmos as bases nas quais
possam emergir uma nova época. Neste momento histórico em que o homem foi
dessensibilizado, o tempo urge para que possamos desenvolver a dimensão que
está em nós, concedendo cidadania à nossa capacidade de sentir o outro, de ter
compaixão com humanos e não humanos, buscando a lógica que vem do coração e
não lógica que desfaz sentidos humanos em busca de conquista e utilização das
coisas (BOFF, 2001).
A educação acaba sendo a mediadora do conhecimento do mundo, de si e do
outro, assim como o descortinar de um novo mundo, em si e no outro. Para Alves
(2013), o processo educativo exige conexão à uma compreensão relacionada a
complexidade social, econômica, política, cultural e espiritual, não podendo mais
estar desconectado das conjunções subjetivas, pois estas se constituem
mutuamente na intersubjetividade de relações dialógicas.
Para percebermos o homem como um sujeito integrado, devemos olhá-lo também a partir de sua relação consigo: sua afetividade, seu egocentrismo, sua subjetividade, sua intersubjetividade e seu altruísmo (ALVES, 2013; p. 176)
Educar para o fazer saúde e educar para a vida partem de um mesmo
pressuposto, o conhecimento da realidade coletiva e também individual, refletida na
sociedade, mas também refletida na individualidade que se constrói com a
12
subjetividade.Trataremos, pois, da subjetividade compreendida por termos
antroposóficoscomo mundo anímico e alma, contudo, ainda buscamos algo a mais,
buscamos encontrar a base concreta que nos liga a vida, um espaço permanente,
real e transbordante dentro de nós, do qual chamaremos aqui de espírito.
Diante do exposto, caberão os dois questionamentos que serão abordados ao
longo desta dissertação. Lança-se, por primeiro, o de refletir quais as possibilidades
que temos de construirmos em nós a base para aprofundarmos a descoberta do Eu,
da vida e do mundo em uma dimensão individual e coletiva. E ainda, mais adiante,
baseado neste questionamento, como criamos espaços internos e externos que
possibilitem a construção sensível humana e crítica de pensamento na formação
profissional que, por consequência, vislumbre uma transformação em ambas as
dimensões.
Dentre as possibilidades de métodos e autores para aprofundarmos os
nossos questionamentos, optamos pela Ciência Antroposófica de Rudolf Steiner
(1861-1925) e sua contribuição para com a ciência, a educação, a saúde, filosofia e
a espiritualidade. Dada a profundidade das teses observacionais e experienciais do
referido autor sobre a espiritualidade (sua principal área de concentração), faremos
aqui um corte referencial e utilizaremos de conceitos chaves para chegarmos ao
cerne de nossas questões fundantes. Este corte dar-se-á na compreensão das três
manifestações anímicas: Pensar, Sentir e Querer, propostas por Steiner como uma
possibilidade de refletir aspectos da dimensão individual e coletiva para uma maior
liberdade e compreensão de pensamento, sentimento e agir no mundo. Também se
justifica a escolha deste autor por remontar “o sentimento” junto da “ ciência da
razão”, tendo como base para o aprendizado a natureza sensível do homem, que
supera a dualidade do Eu e Mundo.Cabe ressaltar que no decorrer do referencial
teórico, abraçaremos outros autores para complemento e respaldo da tese, em
busca de “uma nova visão” de mundo, na educação-saúde-ciência-espiritualidade.
A antroposofia, concebida entre os séculos XIX e XX, apresenta-se como:
“uma abordagem filosófica, que propõe a integração entre aspectos objetivos e
subjetivos do processo cognitivo, quanto como modelo de estudo empírico da
natureza e do ser humano” (LUZet al., 2012). Embasando-se em perguntas
recorrentes do ser humano: Quem sou eu?- De onde vim? – Aonde vou? – Qual o
sentido da minha existência? Rudolf Steiner abre um campo de investigação já
13
buscado por outros autores originários das antigas correntes de pensamento e
aprofunda questões relacionada à liberdade(MUTARELLI, 2014).
Para abordar a presente pesquisa, buscou-se fazer um levantamento
bibliográfico relacionado ao tema, formação do homem, com vistas na educação de
ampla maneira, e as reflexões propostas por Steiner sobre o Pensar-sentir e querer
pela antroposofia. Diante destes dois aspectos, buscou-se aprofundar no que se
refere a: construção e transformação de pensamento; a busca pela integralidade no
homem; a observação sensível como um caminho para a liberdade; a educação
como uma mediadora dapráxis humana; e por fim, a integralidade na formação
profissional do terapeuta. Cabe ressaltar que nenhuma produção foi encontrada até
o momento que aborde dentro desta perspectiva o tema proposto e o referencial
adotado. Porém, encontra-se na literatura diálogos já elaborados entre alguns
autores: como Rudolf Steiner e Paulo Freire; Rudolf Steiner e Leonardo Boff, dentre
outros, que apesar das diferenças epistemológicas, trazem pontos em comum para
o trabalho com os dados a posteriori. Como a base de nossa investigação será o
pensar, o sentir, e o querer propostos pela antroposofia, buscaremosentrelaçar
conceitos de outros autores para a compreensão dos “processos” de transformação.
Introduz-se que, Da Dualística à Construção Sensível do Homem, buscará
refletir sobre o incessante caminho do homem em busca de si mesmo, e sua ânsia e
motivação por reconhecer-se, integrar-se e humanizar-se. Partindo do pressuposto
do conceito de dualística, dos opostos, dos conflitos, das polaridades entre o “Eu e o
Mundo” e caminhando em direção a uma construção sensível do homem, sua real
natureza. A liberdade entra nesta pesquisa como o processo de percepção da
trimembração humana entre: pensar-sentir-querer, corpo-alma-espírito e o
desenvolvimento do caminho que integra a consciência destas três manifestações
em sua natureza sensível.
O termo terapeuta adotado nesta pesquisa, faz referência ao “ser
pesquisador” de si e do mundo em si. Todo terapeuta é um pesquisador de si
quando lida com a natureza do corpo; é um pesquisador de seu entorno, quando lida
com as interpretações de suas experiências refletidas pelo anímico, em sua alma; e
é um pesquisador do espírito, quando deixa-se perceber além de seus sentidos
naturais de corpo e alma, sensações e interpretações, e passa a perceber o
fenômeno tal qual ocorre, por sua natureza suprassensível. E por consequência de
14
uma clareza obtida pela observação e vivência refletida sobre o corpo, alma e
espírito, o homem teria a possibilidade de encontrar sua essência (STEINER, 1966).
Com o intuito de fomentar a atenção e a investigação a temas reflexivos nos
métodos de ensino enrijecidos pelos antigos modelos de pensamento, o presente
trabalho justifica-se pela necessidade de fomentar práticas terapêuticas em todos os
âmbitos sociais e um possível método ativo de ensino-aprendizagem que possa
auxiliar na sensibilização, criticidade e liberdade de pensamento e construção
humana no “fazer”e “ser” terapeuta e, que, utilizando de atividades que trabalhem
com as três manifestações anímicas do ser humano, reflita sobre um possível
suporte terapêutico de ensino para aplicação, descobrimento e desenvolvimento de
tais processos junto do mesmo.
Minha motivação para o presente estudo nasce pela participação de um
projeto de extensão universitária intitulado: Terapeutas da Alegria, projeto do qual
faço parte hásete anos. Desde minha entrada no projeto, busquei “ocupar” o espaço
das formações ou, melhor diria de “transformações”.Pois durante algum tempo
observei que os momentos de união e reflexão sobre o nosso trabalho era
necessário, percebi que na medida em que realizávamos as trocas; observávamos
as necessidades e buscávamos as soluções juntos;estávamos desenvolvendo
tambémas nossas capacidades humanas sensíveis ao pensar, sentir e querer que
nos direcionava a vida e ao melhor de nós e do mundo. Nesses encontros vivíamos
momentos de pura integração, aprendizado e alegria, bem como, de muita reflexão e
observação criticaacerca da realidade. A grande parte do grupo era composta por
acadêmicos da área da saúde, porém, também estavam ali acadêmicos de
engenharia, jornalismo, profissionais formados e membros da comunidade, e o que
podíamos perceber em comum, era a grande dificuldade em lidar com o mundo
tecnicista, opressor e predatório e ainda sim, sermos sensíveis ao ponto de
expandirmos nossos pensamentos, sentimentos e vontades em busca da felicidade,
e da realização pessoal, profissional e social.
A presente pesquisa nasce também das minhas inquietações enquanto
mestranda, observadora e defensora de um ideal coletivo, do qual pude me
questionar como poderia um maior número de alunos se dar conta em seu processo
de formação o quão significante poderia ser compreender e refletir sua dimensão
humana, sua prática profissional, sua relação com o outro e com a sociedade, e com
15
isso, sustentar a construção de um novo homem em sociedade, onde a liberdade, a
criticidade, a sensibilidade e o autoconhecimento, fornecem a base para um novo
modelo de pensamento e consequentemente de“ser”e “estar”no mundo. Descobrir
quem somos além dos véus, e ancorar quem somos, por dentro e por fora, na
presente e translúcida realidade interior do amor.
Diante de todo o exposto, encontrei na antroposofia uma base científica e
espiritual, capaz de me trazer subsídios investigativos para a materialização desta
pesquisa. Juntamente com o meu orientador, um guia construtor deste caminhar,
fomos trilhando-o com toda a sabedoria que nossa bagagem empírica, intelectual e
espiritual pode nos oferecer nesta existência, e assim, juntos construímos essa obra
dissertação.
Conhecendo o mundo, o ser humano encontra a si próprio. E conhecendo a si próprio, o mundo se lhe revela. Rudolf Steiner
16
2.PROBLEMA DE PESQUISA
Como criar espaços internos e externos que possibilitem a construção
sensível e crítica de pensamento na formação do terapeuta, e que ampliando as
suas percepções humanas, vislumbre uma transformação individual e coletiva?
3.OBJETIVOS
3.1 Objetivo geral
Refletir a autopercepção do terapeuta no processo por ele conduzido e se
esta percepção na sua formação pode ser ampliada em sua dimensão humana, sua
prática profissional, sua relação com o outro e com a sociedade por meio das três
manifestações anímicas do ser humano: o pensar o sentir e o querer, proposta pela
antroposofia.
3.2 Objetivos específicos
Analisar a vivência de Terapeutas em um processo formativo, baseado no
referencial antroposófico.
Refletir princípios de base antroposófica na formação do terapeuta
Estimular um pensamento crítico e reflexivo do terapeuta em sua dimensão
humana, prática profissional e sua relação com o outro e a sociedade.
Identificar princípios norteadores para uma maior liberdade na construção de
pensamento e concepção de mundo.
17
4.REVISÃO DA LITERATURA
4.1 Compreensão histórica etransformações do pensamento humano
Da complexidade do pensamento à complexidade da revolução. Esquecendo-se que era homem, tornou-se máquina para suportar o tempo.
É certo que estamos em tempos, como diria Bauman, de modernidade
líquida. Como consequência, vivemos em tempos de incertezas, verdades
transitórias em todas as áreas do conhecimento (até mesmo na família, sociedade e
educação). Temos um afrouxar de sentimentos, frutos de uma sociedade capitalista
capaz de transformar sentimentos em mercadoria, chegando a liquidez dos elos de
ligação e valores, trazendo como sequela a falta de envolvimento humano, falta da
alegria e partilha generosa, vínculos sábios e sadios (ALVES, 2013).
Historicamente não há outra época em que o homem esteja tão submetido ao
tempo como está atualmente (CONFORTI, 2001). Atribui-se ao fato da introdução da
Era Tecnicista1, em que o mundo se apresentou cada vez mais mecanizado, onde a
autonomia do ser humano, seu Eu e subjetividade, suas ideias e seu fazer no mundo
são abafados por uma alienação ligada ao cotidiano, as mídias e a uma vida sem
um sentido elaborado e refletido, apenas um agir automático, sem saber o porquê e
para quê, em que todos os sentidos já estão prontos.
Com isso, passou a se estabelecer um tempo para tudo, tanto para as
atividades físicas e psicológicas, um chamado “relógio interno”:
[...]que nos remete a conceitos fixos, saberes congelados, tão a gosto da tradição positivista, a um pensar mecânico sobre fenômenos vivos, conceitos mecanicistas empregados das ciências físico-naturais, perfeito para elas, mas inadequado ao analisar fenômenos vivos (CONFORTI, 2001 p. 92).
Conforti (2001) traz algumas teorias e conceitos que correspondem a este
período histórico, tais como: zero afetivo de Sartre, desamparo ou desesperança
aprendida de Seligman, servidão voluntária de La Boétie, alienação de Marx, senso
crítico de Carraher, e conceitos como portadores de doença dos nervos e depressão
advindos do senso comum (CONFORTI, 2001). Tais conceitos-chave nascidos neste
período demonstram o conflito psíquico desta transição do homem ao mundo
1Era tecnicista: termo adotado para remeter ao período de industrialização, em específico entre os séculos XIX e XX.
18
moderno, do qual se mantém até os dias atuais, em que o choque de eras2ainda não
superou as rupturas anteriores, ou possivelmente as sustenta, visto que nos dias
atuais, século XXI o homem moderno enfrenta as mesmas dificuldades descritas
como as do século anterior.
O avanço tecnológico e científico trouxe ao homem perdas em sua relação
com o mundo e com a construção de sua subjetividade. Quando se iniciou uma nova
forma de criação e produção, modificando-se a forma colaborativa, a quantidade e a
velocidade do que era produzido, o homem modificou sua relação com o mundo,
culminando no atuar individualista, materialista e imediatista. A construção subjetiva
foi prejudicada na medida em que o homem se distanciava de sua natureza, de sua
sensibilidade e possivelmente, da própria vontade, uma vez que a máquina, produto
da técnica, realizava todo o trabalho que antes exigia tempo e vontade até o produto
final.
A evolução do pensamento científico e a utilização deste para a técnica
trouxe-nos valores como a eficiência, determinada pela binômio produto-tempo, e
consequente aceleração dos processos, gerando uma violação do psiquismo,
manifesta pela ausência de assimilação emocional das coisas, a falta de um ritmo
compatível com o ser humano, passa a um ser reativo, entre o pensar e o agir no
mundo. Sem esse ritmo humano e psíquico vivo e dinâmico, o homem age sem ter
consciência do porquê age, do porquê pensa e do porquê sente: “não isto depois
daquilo, mas isto e aquilo, acontecendo concomitantemente, onde sentimentos,
ideias, objetivos e ações nem sempre estão claros para o indivíduo” (CONFORTI,
2001, p. 93). Pois uma vez em desequilíbrio, seu pensamento, sentimentos e
vontades estariam confusos em meio a tensões geradas externamente e
concomitantemente internamente para dar conta de seu Eu e do mundo.
Neste mesmo contexto histórico, trazemos uma citação de Goethe em
Wilhelm Meister (apud HILLER, 1973) relacionada ao período de industrialização: “A
avassalante maquinaria atormenta-me e angustia-me. Pouco a pouco, cresce como
uma tempestade. Mas, uma vez posta em marcha, há de seguir seu caminho e
atingir um ponto” (HILLER, 1973 p.1). Abre-se assim, uma transição da qual em sua
2 Termo próprio adotado por nós para referir à transição de pensamento e prática humana, no período de
mudanças de um determinado modo de vida para outro modo. Há vestígios do tempo passado desaparecendo e
novas interferências reestruturando o velho modelo. Adotamos a palavra “choque”, pois geralmente, resulta em
um período confuso e conflituoso, onde o homem se adapta as mudanças que ele mesmo criou. Adotamos a
palavra “era” para categorizar o tempo marcado por grandes mudanças na humanidade.
19
grande parte revela inquietações subjacentes ao período de transição de uma Era a
outra, de certo “estado de pensamento coletivo” em sociedade, do qual se colocará
em marcha após um “novo modelo” apresentado.
Apesar de ser um autor distante do referencial adotado por Rudolf Steiner,
LudwickFleck (1935-2010) nos impulsiona a compreensão de como o modo de
organização social, direciona a um determinado jeito de ver as coisas no mundo. Ele
traz o termo “estilo de pensamento”, para embasar sua investigação na gênese do
desenvolvimento cientifico, buscando compreender o ponto de encontro e de
choque, percebido no processo de transição do pensamento entre diferentes
períodos históricos. Para este autor, que buscou trazer investigações sobre
diferentes jeitos de pensar e embasar as práticas no fazer científico, o estilo de
pensamento não existe individualmente; é elaborado por um coletivo de pensamento
que é a própria estrutura. Em síntese, a individualidade para Fleck é percebida por
seus diferentes pontos de vista, considerando a complexidade das muitas
compreensões sobre um determinado fenômeno, que quando compartilhadas, criam
um corpo estrutural de pensamento, e dessa estrutura uma unidade social de
cientistas, profissionais e comunidade de um determinado campo do saber (SILVA-
ARIOLI et al, 2013). Só será estilo de pensamento quando já estruturado e
organizado coletivamente, ou seja, estabelece-se a percepção do homem em
relação ao mundo, que por meio das percepções subjetivas, compreende o que está
posto e por meio do compartilhar com outros externamente, cria-o e estrutura-o tanto
teórico intelectualmente quanto praticamente pela vontade e ação.
Apesar da distinção epistemológica, estas discussões aproximam-se da
compreensão de Rudolf Steiner referente à natureza anímica do homem e ao próprio
percurso da Antroposofia como ciência. Em relação a natureza anímica, o homem
constrói seu próprio mundo de acordo com as suas percepções entre o Eu e o
Mundo. Ocorre que externamente, recebe o estímulo que pode ser de maneira igual
para todos, porém internamente, por meio das percepções individuais cria seu
próprio mundo, e ao se relacionar externamente, compartilha-o por meio de suas
reflexões, que uníssona a outras, adentra a uma unidade social. Como apontado por
Fleck, consolida-se um “estilo de pensamento” por um corpo estrutural coletivo e não
somente individual. Na ciência Antroposófica cria-se um campo de pensamento e
compreensão construtivista, para compreender os inúmeros aspectos da
individualidade humana em sua existência, quando no modo de operar em
20
sociedade e compreender os processos da vida. Deste modo Steiner e Fleck se
relacionam pela compreensão construtivista3 de um fenômeno, seja ele de origem
somente material (como nos traz Fleck), quanto da relação material e imaterial
(como nos traz Steiner na identificação entre o Eu e o Mundo), base construtivista
que alicerça o conhecimento de um jeito de pensar que nasce, se estrutura e se
desenvolve no campo do saber.
No que o estilo de pensamento estaria relacionado a esta investigação?
Partimos do pressuposto de que não se trata de formar homens que se encaixem
em esquemas de pensamentos prontos e elaborados a partir de uma referência
histórica vivenciada mecanicamente e irrefletidamente por uma grande massa, mas
sim, fomentar justamente a elaboração aprofundada das percepções, a capacidade
de refletir, analisar e vivenciar novas possibilidades diante do que é, ou não,
verdadeiro para si. Diante da compreensão histórica e transformação do
pensamento, o homem iniciaria a descoberta da interrelação de sua individualidade
com a coletividade em um histórico continuo, tanto seu, quanto do coletivo do qual
se insere. Neste processo de formação pessoal e profissional, estaria o homem a
desenvolver criticamente a compreensão de uma realidade história coletiva, à uma
realidade individual subjetiva, tanto no campo do pensamento, quanto do sentimento
e do agir humano. Surgindo assim, uma das hipóteses para responder a primeira
pergunta, relacionada ao aprofundamento humano em sua descoberta na dimensão
individual e coletiva, sendo solucionada por meio da observação histórica e crítica da
realidade. Todavia, não é somente pela observação meramente mental que o
homem é capaz de transcender a dualidade do Eu e Mundo, tidos aqui por individual
(subjetivo) e coletivo (processo histórico) e abre-se o segundo questionamento
mediante a apresentação do primeiro. O que de fato os liga para que uma
transformação individual e coletiva possa manifestar-se em ação?
3Teoria Construtivista: formulada em meados do século XX, tendo como precursores Piaget e Vygotsky pela
psicologia cognitiva contemporânea. É a ideia que sustenta as relações de aprendizado do ser humano com o
mundo, tanto nos aspectos cognitivos, sociais e afetivos com o meio.
21
4.2 A dualidade busca a integração
A dualidade Eu e Mundo sendo transcendida pela relação dialógica de observação da natureza sensível do homem, um possível encontro, aprofundamento e integração.
Ainda na relação das percepções do homem, observando o mundo o homem
traça as suas explicações sobre ele, não se contentando apenas com o que recebe
pelos sentidos. Neste momento divide-se, segundo Rudolf Steiner, o ser em duas
partes: o Eu e o Mundo, pois torna-se consciente da diferença entre ambos.
Contudo, o homem tem um sentimento que tem algo entre Ele e o Mundo que os
liga, os une e aproxima, que ele não está fora, mas integrado ao universo do mundo.
Assim inicia-se a relação do homem com o mundo e o processo de criação, que
perpassa cultura, política, religião, arte e etc. O artista busca criar com as
percepções de seu Eu, seu mundo externo. Começa a aparecer o que chamamos de
dualismo, a teoria dos dois mundos:
O dualismo se fixa na divisão entre o eu e o mundo, cuja causa se encontra, como vimos, na consciência do homem. Todo o seu empenho é uma luta constante, mas impotente, para conciliar os opostos, que ora denomina de espírito e matéria, ora sujeito e objeto, ora pensamento e fenômeno. Ele nutre o sentimento de que deve existir uma ponte entre os dois mundos, mas não é capaz de encontrá-la (STEINER, 1918, p.9).
Do lado oposto ao dualismo está o monismo, que dirige seu olhar para a
unidade, porém esquece da dualidade, negando e apagando os opostos, se
sustentando em três diferentes maneiras extremas de pensamento: ou ele nega o
espírito e torna-se materialismo do qual coloca a origem de todos os fenômenos e
pensamentos como próprias de um mundo material; ou ele nega a matéria para se
render ao espiritualismo e não raramente chega a um idealismo extremado que
corresponde apenas a um mundo de ideias sem articular-se com o real do mundo
material ou, afinal, afirma que a matéria e o espírito já estão unificados, “razão pela
qual não é preciso se surpreender com o fato de essas duas instâncias se
manifestarem também no homem, haja vista que em nenhum lugar existem
separadamente” e justificam tal afirmação com os átomos e as moléculas. Porém
nem mesmo este consegue explicar porque o próprio núcleo divide-se para
materializar-se, não conseguindo assim sustentar tal compreensão da unidade
(STEINER, 1918, p.10).
22
Para superar tais dualidades, Steiner diz que somente quando o homem
conseguir fazer do conteúdo do mundo o conteúdo do seu próprio pensar
reencontrará a unidade da qual se desligou, sendo pela investigação do próprio ser
um meio que pode nos fornecer um encontro entre Eu e Mundo, ao ponto de
constatar algo além do Eu que o transcende e o unifica a natureza (STEINER,
1918).Para ele, a transcendência da relação Eu e Mundo, se dá de maneira muito
mais profunda e complexa ao que considera:
Somente podemos achar a natureza externa, conhecendo- a em nós. O que é igual a ela em nosso interior nos guiará. Assim está traçada a nossa trajetória. Não pretendemos especular sobre a atuação recíproca entre a matéria e o espírito. Mas queremos descer às profundezas de nosso próprio ser para lá encontrarmos aqueles elementos que levamos conosco quando nos separamos da natureza(STEINER 1918, p. 10).
Com a compreensão da individualização do homem, Steiner adentra o que
ele chama de natureza do homem, correspondente a corpo, alma e espírito. Por
corpo entende como elemento pelo qual o homem se apresenta materialmente; por
alma como o elemento pelo qual o homem associa as coisas com suas percepções,
cria seu próprio mundo; e por espírito ele unifica as coisas, pois as revela em sua
natureza e as integra. Sendo assim, cidadão de três mundos: com seu corpo
pertence ao mundo, com sua alma edifica para si seu próprio mundo através de
suas percepções e construções de sentidos, e por meio de seu espírito se manifesta
na integração dos outros dois. E somente terá clareza a seu respeito mediante a três
tipos de observação onde o pensar, o sentir e o querer estariam intrinsecamente
ligados e consequentemente refletiriam a liberdade (STEINER, 1962).
4.3 O caminho para a liberdade
Conhecimento a respeito do pensar, sentir e querer transformando-se em integração e liberdade interna e externa.
Partindo do referencial de Steiner, cria-se em 1918 as obras“A Filosofia da
Liberdade” e “A Arte da Educação I”, nos quais iniciam-se os primeiros estudos em
relação ao pensar, sentir e querer, questionando e comparando formas educativas
voltadas ao raciocínio e ao artístico, muito presente em seu método Pedagogia
Waldorf. Para Steiner, no pensar a liberdade é conhecida, no sentir ela é
experenciada e no querer ela é praticada, sendo a liberdade fruto das três
manifestações anímicas do ser humano (MUTARELLI, 2014). Segundo o autor,
23
pensar em liberdade “é uma das mais importantes questões da vida, da religião, da
práxis e da ciência” (STEINER, 1918). Diante desta afirmação, inicio sob o ponto de
questionamentos levantados a partir da Filosofia da Liberdade, pelo autor, para
perceber o aporte teórico em sua reflexão e construção de sentidos sobre liberdade
e a ligação desta ao pensar-sentir e querer, a considerar: como encontrar no homem
um ponto de apoio para tudo o que chega em seu conhecimento e que diante de
dúvidas e juízos críticos, o levariam a incerteza e a falta de segurança? E por
segundo questionamento, poderia o homem atribuir-se a liberdade por ser dotado de
vontade, ou esta é apenas determinada por uma série de condicionamentos e
mecanismos que geram uma “falsa” ideia de liberdade, sendo verdadeiramente
conduzida pelo “determinismo da vontade”(STEINER, 1918).
Diante destes questionamentos sobre a liberdade, Steiner busca um método
de observação do ser humano que leve de fato a liberdade da vontade, ou pelo
menos uma base firme, capaz de dar suporte e segurança em relação aos
conhecimentos. Partiria ela de uma observação que levaria o homem a uma
descoberta no âmbito mental, em que o livre querer, já desfeito dos determinismos,
é trazido à compreensão. Cita um exemplo de uma pedra que recebe um impulso
externo e após o impacto gera movimento. Supondo que a pedra ao se mover
desenvolva consciência, a ideia do movimento faria pensar que seria livre e que
estaria se movimentando apenas porque quer. O homem por sua vez considera-se
livre por ser consciente de seus desejos, quando mais profundamente não sabem
das verdadeiras causas que são movidos. O homem geraria suas ações por um
impulso qualquer e somente compreendendo as causas que o impelem chegaria a
uma clareza sobre a ideia de liberdade.
Ninguém duvidará de que a criança não é livre quando exige o leite, e tampouco o bêbado ao pronunciar coisas das quais mais tarde se arrepende. Ambos não sabem nada das causas que atuam nas profundezas de seus organismos e da coerção irresistível que elas exercem sobre eles (STEINER, 1918. p.5).
Mas para que importa conhecer o cerne do nosso agir? Entra então o
conceito de liberdade baseado na percepção da capacidade racional do homem, em
que ele é livre por direcionar sua vida e seu agir conforme decisões racionais. Mas
diante disto, a liberdade também é algo questionável, pois não estaria o homem
coagido a cumprir algo por uma determinação racional? “Se uma decisão racional se
24
impuser igual à fome e à sede, ou seja, sem a minha participação ativa, então só me
resta segui-la coagidamente, e a minha liberdade é uma ilusão”. Sim, pois qual seria
a abertura para compreender com clareza um processo ou uma palavra-
pensamento e ação sem espaço para reflexão aprofundada sobre tal participação? A
minha decisão é minha, ou é determinada?
Se um motivo me influenciar a ponto de eu ser coagido a segui-lo porque é «o mais forte» dentre os demais, então o conceito da liberdade perde o sentido. [...] O que importa não é, pois, se posso ou não realizar uma decisão, mas unicamente como a decisão surge em mim (STEINER, 1918. p.6).
A liberdade foi cerceada sem que pudéssemos ter a decisão de escolher
sobre o nosso pensar e agir; neste incessante ritmo de produção e reprodução,
homens e máquinas se interagem em um processo no qual o homem torna-se
reativo às demandas externas, sem impulso para investigar sua própria vontade.
Como resgatar esse humano perdido durante nosso percurso histórico?
O que nossa civilização precisa é superar a ditadura do modo-de-ser-trabalho-produção-dominação. Ela nos mantém reféns de uma lógica que hoje se mostra destrutiva da Terra e de seus recursos, das relações entre os povos, das interações entre capital e trabalho, de espiritualidade e de nosso sentido de pertença a um destino comum (BOFF, 2001. p. 3).
A liberdade seria fruto das três manifestações anímicas do Ser humano em
diferentes relações. No pensar o homem por meio de suas observações, conceitos e
interpretações compreende o mundo e conhece o que poderia chamar-se de
liberdade. No sentir a própria manifestação do que conceituou e observou, ou seja,
importou para dentro, vivendo e observando seus próprios sentimentos e
significados em si, experimenta a liberdade. E somente no querer, como ato de ação
e vontade, a liberdade é praticada. E, quanto mais idealistas e profundas forem as
imagens elaboradas pelas representações mentais do pensar, tanto mais
substancial e profundo será o sentimento gerado pelo pensamento. Chega-se a uma
compreensão de que: “o pensamento é o pai do sentimento. O caminho para o
coração passa pela cabeça. Nem o amor faz uma exceção” (MUTARELLI, 2014).
O homem não é um espectador em relação à evolução, meramente repetindo em fotografias mentais eventos cósmicos acontecendo sem sua participação. Ele é o co-criador ativo do processo do mundo, e a percepção é a mais perfeita ligação do organismo com o universo. Steiner afirmou que este insight tem a mais significante consequência para as leis que subjazem nossas ações, que são nossos ideais morais. Estes, também, não devem ser considerados como cópias de alguma coisa que existe fora de nós, mas
25
como estando exclusivamente presentes dentro de nós (MUTARELLI, 2014 p. 41).
Novamente nos remetemos às nossas premissas: ao aprofundamento
humano em sua descoberta na dimensão individual e coletiva, por meio da
observação histórica e crítica da realidade, porém, não somente a ela, mas ao si
mesmo que sustenta a compreensão unificada das coisas. Para isso, a observação
do pensar, sentir e querer humano é fundamental. Compreendemos que somente
quando criamos espaços internos e externos advindos da liberdade é que temos a
possibilidade de acionarmos a nossa sensibilidade, a construção sensível e crítica
de pensamento que perpassa tanto a dimensão individual quanto coletiva. Por meio
da observação das três manifestações anímicas do ser humano e da liberdade
advinda de um encontro psíquico com o sentimento e a criticidade humana
(intelecto), o homem tem em suas mãos a sensibilidade de suas ações e vontades,
vivendo-as.
Nossas ações sob o mundo, quando vindas de uma estrutura de
compreensão da realidade, sentimento e pensamento, nos oferece a oportunidade
de avançarmos na descoberta do mundo presente em nós, do qual Steiner nos traz
como autopercepção ou autocognição4. Desta maneira, a educação permearia a
práxis humana tanto na elaboração de um pensamento crítico e direcionamento de
sua ação no mundo; quanto nas construções subjetivas, refletidas em significados,
sentimentos e espaços vazios de silêncio e descobertas.
4.4 A educação como mediadora da práxis humana
Observando a cerne do pensar e do agir, o homem é livre para sentir e manifestar-se no mundo. Em sua dimensão sensível percebe a si mesmo e ao outro.
Segundo Cancian (2011) práxis estaria relacionada à atividade humana
prático-crítica, onde o homem por sua relação com a natureza, adquire sentido
quando em ação e transformação, tendo sua origem em Aristóteles e sendo
difundida por Marx. Para Cancian, segundo Marx, na medida em que o homem
transforma seu ambiente externo, compreende a materialidade das coisas e se
apropria de um conhecimento, todavia, ela somente será uma atividade humana
4Autocognição: expressão utilizada por Steiner para denominar o autoconhecimento, o conhecimento de si, a autopercepção, a cognição de si. Refere a este termo que o homem mediante a observação de si, chega à cognição superior e a liberdade.
26
prático-critica mediante a atividade sensível subjetiva. Entendemos que a atividade
sensível é justamente a internalização do homem em seus sentimentos,
pensamentos e vontades, do qual atribuem em relação com o mundo,
suasinterpretações, significados e valores, o sentido pelo qual o homem atribui a sua
existência. Sendo assim, a educação torna-se mediadora da práxis quando em
interação entre as construções objetivas e subjetivas de elaboração de mundo,
sendo um espaço diretamente ligado, a compreensão do indivíduo e suas
interrelações.
Paulo Freire e Rudolf Steiner, cada qual em épocas com contextos distintos,
preconizaram uma educação inovadora, integralizada e libertária. A motivação de
ambos fez com que nascesse um possível diálogo por um ideal educacional comum.
Enquanto Steiner defende que a liberdade de pensamento virá com o espírito liberto
para seus próprios questionamentos sobre o Eu e o Mundo, seus atos de vontade
percebidos no agir, no pensar e no sentir, descobertas estas evidenciadas no plano
individual advindas da relação entre a subjetividade humana como uma
possibilidade de integração ao coletivo; Freire defende que essa mesma liberdade
dar-se-á de maneira coletiva, pela leitura da realidade entre opressores e oprimidos,
e em um engajamento político:
[...] entre os pensamentos de Freire e Steiner, que se convergem na necessidade de haver um professor com uma postura, um pensamento, uma atitude diferente em relação ao ensinar e ao aprender, em relação a uma formação integral do educando, entre outros aspectos, haja vista ambos os autores acreditarem e defenderem uma educação que atenda à realidade vivida na sociedade, onde se espera que a prática pedagógica não se detenha a apenas trabalhar questões cognitivas, relativas ao pensar e ao saber, mas sim com a integralidade do ser para assim o indivíduo alcançar a liberdade. (ARAUJO, 2014 p. 10)
Portanto, a quebra do paradigma tradicional baseado na transmissão de
conteúdo, dá lugar a uma nova vivência e construção de conhecimento a partir de
uma forma ativa e autônoma, rompendo com o passado e dando base ao futuro,
possibilitando uma formação diferente:
[...] não mais baseada no estímulo ao desenvolvimento de habilidades cognitivas, mas de múltiplas habilidades, múltiplas inteligências, favorecendo assim uma formação integral dos indivíduos, em que consente o desenvolvimento de habilidades até então deixadas em segundo plano como o pensar criticamente, agir com autonomia, ser criativo, ser capaz de lidar com a mudança,
27
promover e absorver essas mudanças, relacionar-se e conviver com o diferente, buscar a solução para problemas, ser autor e ator social, tudo isso de forma contínua e permanente. Todas essas habilidades além de serem desenvolvidas por meio das práticas educacionais devem ser encorajadas através de situações que são criadas para o exercício das mesmas. (ARAUJO, 2014 p. 12)
Paulo Freire e Rudolf Steiner diferem em seus fundamentos teóricos. Steiner
defende um pensamento hologramático da sociedade, do qual entender a sociedade
requer a compreensão da individualidade, ou seja, para compreender o todo é
preciso compreender as partes havendo uma reciprocidade entre partes e o todo
(JUNIORet al., 2012). Freire defende a transformação da sociedade pelo embate de
classes, enquanto Steiner busca o desenvolvimento de um modo de pensar e operar
intuitivo que integra o intelecto e a sensibilidade humana. Mas a liberdade individual
de Steiner e a liberdade social de Freire estão intrinsecamente ligadas.
Apesar das diferenças ambos buscaram introduzir um pensamento vindo de
uma reflexão libertadora e ampla em relação ao ensino e aprendizagem. Uma
educação pautada no respeito ao indivíduo, na responsabilidade social, na
autonomia de uma vida em sociedade e de escolhas, e numa pedagogia não
somente cognitiva, contudo ética, política, social e afetiva, um ato de amor
aprendendo a ser (ARAUJO, 2014). O que ambos buscam resgatar de certa forma é
o legado da liberdade, suas rupturas causadas pelas mudanças na forma de pensar
e agir em sociedade, e consequentemente um pensar coletivo e sensível
contraposto ao pensar mecânico e individual. Torna-se um desafio na formação
profissional pensar na liberdade tanto na interação entre o pensar-sentir e querer,
quanto na conquista pela liberdade social em sua complexidade. Não há luta por
liberdade externa sem antes termos clareza da liberdade interna e de nossa própria
identificação ou desagrado ao mundo, assim como não haveria a liberdade de fato
se esta fosse somente individual, pois uma vez refletiva e vivenciada, integra-se com
o coletivo e nele e por ele caminha. Acolher a integração da homem frente às suas
subjetividades, as relações profissionais e pessoais e ao mundo.
Segundo Steiner, o ato de educar estaria relacionado diretamente ao
sentimento, sendo que neste se encontrariam as chaves para se conhecer os atos
da vontade de cada homem, para auxiliar no desenvolvimento da vida, das
esperanças, das inquietações e dos desejos e expectativas da vida (MUTARELLI,
2014). O sentimento seria a base do educar,
28
Daí se evidencia que o dado originário não é o logos, a razão e as estruturas de compreensão, mas o pathos, o sentimento, a capacidade de simpatia e empatia, a dedicação, o cuidado e a comunhão com o diferente. Tudo começa com o sentimento. É o sentimento que nos faz sensíveis ao que está à nossa volta, que nos faz desgostar. É o sentimento que nos une às coisas e nos envolve com as pessoas. É o sentimento que produz encantamento face à grandeza dos céus, suscita veneração diante da complexidade da Mãe-Terra e alimenta enternecimento face à fragilidade de um recém-nascido (BOFF, 2001. p. 2).
Sendo assim, a elaboração e desenvolvimento do expandir de sentimentos e
clareza na construção de um estilo de pensamento; de um pensar, sentir e querer
livre estaria diretamente ligado a formação profissional. Contudo, uma formação que
considerasse os sentimentos, os afetos, a individualidade, a construção humana de
cada pessoa e pela reflexão desta construção se fortaleceria a sensibilidade humana
(sua natureza) e consequentemente, o social.
Pensamentos mecanizados são limitadores da potencialidade humana, são redutores das capacidades latentes que há em cada ser humano. Para evitar essa fragmentação da amplitude humana, a Pedagogia Waldorf dá importância a um ensino vinculado à sensibilidade (JUNIOR et al, 2014. p. 232).
Não entende-se aqui sensibilidade como uma mera expressão emocional, e
sim, vincula-se esse termo a uma “expressão laboriosa de pensamento” que por
vivência reflexiva com o intelecto e os sentimentos, nos aproximam a compreensão
de sua complexidade, o despertar do absoluto, o suprassensível5 no ser humano.
É por meio dos sentimentos refletidos também que a ética é construída. Pois
o ser humano possui relações ilimitadas e se constitui mediante turnos dialógicos
entre Eu e Tu. Este outro considerado como “parteiro do eu”, tem um rosto, um olhar
e fisionomia do qual fazem com que quando percebido, o eu não consiga se tornar
indiferente. O enxergar do rosto, obriga a tomar posição, provoca, evoca e convoca,
estabelecendo o nascimento da ética diante da responsabilidade com o outro,
especialmente o empobrecido e o marginalizado
[...] cuidar do outro é zelar para que esta dialogação, esta ação de diálogo eu-tu, seja libertadora, sinergética e construtora de aliança perene de paz e de amortização [...]O rosto e o olhar lançam sempre uma proposta em busca de uma resposta. (BOFF, 2001 p.9).
5 Sensibilidade/ Suprassensível: são as capacidades latentes do ser humano, além dos sentidos comuns do corpo (sensações) e da alma (interpretações), mais próximo a natureza real, compreendida como o olhar espiritual. A capacidade sensível que integra sentimento, inteligência e vontade.
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Como diz Maturana e Rezepka (2000, p. 16 apud Alves, 2013):
Não se deve ensinar valores, é preciso vivê-los a partir do viver na biologia do amor. Não se deve ensinar a cooperação, é preciso vivê-la desde o respeito por si mesmo que surge no conviver, no respeito mútuo [...] Intuição, afetos, sonhos pensamos voam para além das disciplinas engaioladas, para além do pensar fragmentado. São saberes e sabores que trazem sentido à vida a partir de diferentes olhares...(ALVES, 2013. p.180).
Muito mais que a articulação entre setores, disciplinas e profissões, torna-se
necessária para uma tessitura educacional e social, humildade diante do saber do
outro e coerência entre o que digo e sinto, penso e faço. É necessário o respeito por
si mesmo e pelo outro, o desapego de valores cristalizados em nossas mentes;
amorosidade, respeito e dialogo para romper com velhos pensamentos e libertarmo-
nos para uma nova “semente-pensamento”. Para Alves (2013) são nos encontros
que: “seguimos unindo-nos na e pela compreensão dos diferentes modos de ensinar
e aprender, vinculando-os aos princípios interdisciplinares da espera, da humildade,
da coerência, do respeito e do desapego” (ALVES, 2013. p. 181).
Os sentimentos auxiliam na transformação dos processos mentais. Por isso a
arte e a criatividade são meios favoráveis para a construção de uma liberdade, tanto
de pensamento, quando de percepção do mundo, uma vez que ultrapassam apenas
os sentidos racionais integrando ambas as partes do cérebro humano, o lado
racional e o intuitivo, emotivo e criativo. É a interação entre intelecto e emoção,
pensamento e sentimento, que proporciona um espaço vazio reflexivo que está para
além das subjetividades: a intuição.
Chega-se então aopensar intuitivo6: um pensamento unificado ao sentimento
e ao cerne do agir. Que em segunda estância, estaria ligado a construção sensível
humana, transcendendo os estados mentais do intelecto e integrando-os aos
sentimentos. O pensar intuitivo abre a percepção da gênese cognitiva operante na
essência do indivíduo (JUNIOR 2015, p. 134). Considerada como uma ação
fenomenológica meditativa, quando a auto-observação do pensar se eleva a
camadas profundas da sensibilidade humana. Neste momento, não há lutas,
resistências ou submissão de qualquer natureza externa, pois este pensar se vivifica
6Pensar intuitivo: termo utilizado por Steiner. Refere-se a uma abordagem fenomenológica de observação do pensamento, transcendendo a racionalidade e materialidade e unificando-se a uma percepção imaterial e sensível das coisas, porém, integrando-a ao pensamento vivenciado e material.
30
além das percepções subjetivas; todavia: as modifica, transforma e utiliza como um
veículo operante para sua materialidade e manifestação.
A condição primordial do ser livre está na ausência de qualquer coação determinante do conteúdo pensado. A experiência do pensar intuitivo é também vivência de um vácuo, não há nada que oriente o valor de um objeto a não ser a própria essência do eu que mantém sob seu domínio a consciência. A experiência da consciência intuitiva influi na consciência natural e filosófica, revelando o que subjaz ao processo de defrontar-se com a realidade (JUNIOR, 2015 p. 138).
4.5 A integralidade na formação do terapeuta
Não basta compreender as partes. É preciso que diante da reflexão da própria vida o terapeuta consolide o seu saber, fazendo-o emergir de seu próprio mundo.O curador de si, uma vez no mundo em si, encontrará caminhos para chegar ao curador do outro, que se desvela de igual maneira. O curador é o mesmo, só muda o veículo.
Neste ponto, chegamos ao que compreendemos de o porquê escolher
“terapeutas” como profissionais para a esta pesquisa e relacionar a necessidade de
uma formação profissional que envolva as capacidades sensíveis humanas.
Terapia segundo suas raízes linguísticas, vem do grego “therapeia” que
significa acolhimento, servir, ser caloroso, sendo o terapeuta a pessoa que exerce o
papel de acolher e cuidar de outros (Barreto, 2008). Para cuidar do outro é
necessário que o próprio homem disponha de um saber que auxilie outros, e de
certa forma, todos nós independente da profissão que escolhemos, ou condições
externas em que nos mantemos, possuímos esse saber. A função de um terapeuta
está ligada a leitura de mundo, a compreensão de uma realidade física, psíquica,
social, cultural e espiritual. A integralidade de um saber que ultrapassa de um âmbito
tecnicista, para uma compreensão complexa de um organismo vivo que é o homem
e o mundo.
Neste contexto, a procura pela compreensão sobre a dualidade das coisas e
sua unidade, a construção histórica que nos formou como homens e a justa medida
entre a observação do pensar, sentir e querer para a elevação da sensibilidade
humana até ao vazio do qual nos refere Steiner, como o pensar intuitivo nos levaria
ao verdadeiro significado de “SerTerapeuta”.
31
Steiner adentra o conceito de terapeuta dividindo-os em três atribuições: o
terapeuta do corpo (profissionais da área da saúde) responsável por trabalhar
diretamente no organismo-físico material; o terapeuta da alma (educadores)
responsável pelas teias de significados e aprendizados do “eu” no mundo; e o
terapeuta do espírito (sacerdotes), responsável em auxiliar o homem a estruturar um
pensamento espiritual que se eleva da matéria e a compreende como parte
manifestada do todo. Compreende que todas as três “manifestações” do terapeuta
interferem diretamente no fazer saúde, educação e sociedade. Um terapeuta seria o
“mediador” que tece a teia de significados, necessitando assim elaborar a sua
própria concepção de mundo, para assim, ocupar o lugar de mediador junto a
outros, tanto com criticidade construída pela sua própria leitura de mundo e prática,
quanto em sensibilidade advinda das suas investigações sobre si mesmo e suas
mobilizações internas para o agir.
Compreender onde estamos neste espaço e tempo, bem como onde
estivemos em outros tempos, nos oferece um substrato capaz de refletirmos o Eu
em nós, desde as dimensões mais objetivas da realidade às mais subjetivas dos
sentimentos e entendimentos, podendo ainda, nos lançar a unificação do que ainda
nos é dual e a evolução da sensibilidade ao ponto de manifestarmos o pensamento
intuitivo e vivenciarmos a liberdade que tem sido buscada.
Propomos que, mediante a observação do pensar, do sentir e do querer no
mundo, o homem tem a possibilidade de descobrir aspectos de sua individualidade e
reflexos de uma dimensão coletiva, histórica e cultural que o envolvem. Compreende
a si mesmo, e o coletivo que o cerca em seu processo de construção humana,
adquiriu maior liberdade de pensamento, advindo da observação crítica, para novas
construções. E, mediante ao aprofundamento dos sentimentos/sensibilidade
humana, ele abre espaços internos decorrentes da construção de sentidos e afetos,
que caminham a integração onde o coletivo e a própria natureza que emerge pelo
pensar intuitivo.
Refletimos aqui um caminho de pensamento que possa sustentar a
sensibilização, criticidade e liberdade de pensamento na construção humana e em
específico na formação profissional do terapeuta, como aporte para subsidiar
professores e terapeutas nas mais diferentes áreas do saber em suas práticas.
32
5.METODOLOGIA
Esta pesquisa teve como abordagem a perspectiva qualitativa. Nesta
abordagem interligam-se questões de valores, crenças, atitudes e representações,
em que a singularidade expressa por meio dos sujeitos envolvidos é considerada um
nível legítimo de produção de conhecimento (MINAYO E SANCHES, 1993).
Segundo Minayo (2012) compreender é o principal intuito de uma abordagem
qualitativa, sendo que para compreender é preciso observar a singularidade do
indivíduo, pois seu viver total manifesta-se por meio de sua subjetividade.
Correspondente aos nossos objetivos, esta abordagem nos pressupõe a reflexão da
autopercepção do terapeuta considerando a sua dimensão humana, sua prática
profissional, sua relação com o outro e com a sociedade, sua subjetividade, sendo
legitimado pela observação das manifestações anímicas: seu pensamento, seu
sentimento e seu querer refletidos em sua fala.
A pesquisa foi realizada na Universidade do Vale do Itajaí (campus Itajaí) com
um grupo de voluntários de um Projeto de Extensão Universitária intitulado
Terapeutas da Alegria, sendo autorizada pelo respectivo coordenador do projeto de
extensão. Este projeto tem como objetivo auxiliar na humanização dos serviços de
saúde e no âmbito social, utilizando a figura do Doutor Palhaço para estabelecer
suas práticas. Este projeto, subsidiado pela Universidade e desenvolvido em Itajaí e
região há 15 anos, auxilia na formação de profissionais preocupados com o ser
humano, sua saúde, educação e qualidade de vida, capazes de abordá-lo de forma
integral e interdisciplinar, colaborando para a melhoria do atendimento nos
estabelecimentos de saúde e nos diversos setores de âmbito social. O grupo é
variado, conta com a participação de diversos acadêmicos de diferentes áreas
(Engenharia, Direito, Medicina, Fonoaudiologia, Jornalismo), profissionais formados
e pessoas da comunidade.
É importante considerar que uma das diferenças marcantes nesse projeto é o
protagonismo estudantil, pois é coordenado diretamente por acadêmicos da
universidade, e vem abrindo e transformando realidades duras e frias, em
acolhimento e amorosidade ao longo de todos esses anos. Realizam suas
formações semanalmente na Universidade sobre diferentes temas, com o objetivo
de auxiliar em sua prática profissional, sua formação humana e sua compreensão de
mundo. Desta forma, esta pesquisa subsidiaria a continuidade de formação de
33
novos membros do projeto. Contamos com a participação de 25 a 35 integrantes
semanalmente, dos quais selecionamos apenas 29 para análises de fala. O critério
de exclusão dos demais participantes foi por falta de participação em duas ou mais
oficinas.
Caracterizada por uma Pesquisa-ação, em que há uma participação direta do
pesquisador como membro do grupo e, relaciona-se segundo BARBIER (2002) á
três níveis de envolvimento entre pesquisador e objeto: nível psicoafetivo (questiona
os fundamentos da personalidade), nível histórico existencial (questiona a existência
do pesquisador), nível estrutural profissional (refere-se ao pesquisador em sua
dimensão socioeconômica). Indo ao encontro de nossos questionamentos de
pesquisa, e buscando solucioná-lo por meio da reflexão coletiva em seus diferentes
âmbitos. Caracterizou-se por uma pesquisa-ação por gerar um movimento vivencial,
e sendo legitimado pelas considerações de todos os envolvidos e o trabalho de
reflexão dialética.
Objetivou-se cinco encontros para serem trabalhados os conteúdos
programados, que poderiam ser modificados e/ou acrescentados dias na formação a
depender das condições de tempo/espaço/disponibilidade e discussão do grupo.
Porém, não necessitamos de dias extras, visto a profundidade de discussões nos
encontros previstos.
Foram cinco dias de vivência, com duração aproximada de quatro horas cada,
totalizando um histórico de 20horas de formação. Cabe ressaltar que as atividades
interligam-se em cada encontro com as três manifestações anímicas de maneiras
distintas a depender do processo da atividade, entre pensar-sentir e querer. Sendo
que as categorias refletidas para as vivências pertencem a antroposofia, todavia, os
métodos de aplicação das atividades, as dinâmicas e o direcionamento delas no
decorrer do trabalho são ocupados por uma bagagem vivencial, em minha formação
artística e terapêutica em diferentes vertentes.
Os encontros buscaram o aprofundamento nas três atividades anímicas do
ser humano: pensar-sentir e querer. As atividades do sentir buscaram mobilizar o
homem internamente pelo que eleentende como sentimentos. As atividades do
pensar buscaram a elaboração das representações mentais da realidade. E as
atividades do querer buscaram a manifestação da vontade individual e coletiva
refletida por meio das práticas vivenciais reflexivas entre pensar e sentir.
34
Nestes encontros,buscamos pelo Despertar do Corpo a ampliação das
percepções sensíveis; adentramos a esfera de compreensão do Despertar da Alma
em três níveis: alma das sensações, alma do intelecto e alma da consciência; e de
igual maneira, a complexidade do pensamento em uma esfera interrelacional com o
corpo e a alma pelo Despertar do Espírito, onde elucidamos o pensar intuitivo, a
consciência do eu coletivo, e a Essência Trina do homem sobre a sua unidade,
autocognição.
Como descrição da organização dos encontros e das atividades
desenvolvidas, elaboramos a partir dos objetivos dessa dissertação e do contato
com o grupo no processo de formação ométodo de ensino-aprendizagem para o
Despertar do Eu: “Essência Trina” (detalhado no apêndice 9.4)criado como um
aporte tecnológico capaz de subsidiar professores e terapeutas nas mais diferentes
áreas do saber em suas práticas.
A coleta de dados foi realizada por meio de gravação em áudio e vídeo e
posterior transcrição, sendo iniciada após a aprovação do Comitê de Ética da
Universidade do Vale do Itajaí. Para a realização da coleta de dados, no primeiro dia
de encontro com o grupo, foi apresentado de forma oral e escrita a proposta da
pesquisa e do projeto de formações com o grupo e, para quem decidiu participar, o
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, elucidando de forma clara os
procedimentos a serem utilizados para a obtenção e análise dos dados da pesquisa.
Portanto, os participantes foram informados sobre os cuidados a serem tomados
envolvendo esta pesquisa e a liberdade de retirada do consentimento em qualquer
período da pesquisa, bem como a garantia de confidencialidade dos dados. Os
sujeitos que aceitaram participar como membros da pesquisa receberam uma das
duas cópias do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) que foi
assinado pelos mesmos, sendo outra anexada ao projeto.
A Figura 1 sintetiza o processo adotado pelo método.
Após cada encontro o material gravado foi transcrito para posterior análise.
Ao final dos cinco encontros foram selecionadasas falas dos 29 participantes
parainvestigação e escolha das categorias de análise que foram adotadas na
pesquisa.
35
Figura 1 – Síntese do método de ensino-aprendizagem “Essência Trina”
PENSAR REFLEXIVO
PENSAR VIVENCIADO
QUERER
ALMA DA CONSCIÊNCIA
A
PENSAR SENTIR
ESPÍRITO
ALMA
CORPO
ALMA DO INTELECTO
ALMA DA SENSAÇÃO
EU ESPÍRITO PENSAR INTUITIVO
36
6. RESULTADOS E DISCUSSÕES
Os resultados, análises e discussões foram divididos em três campos:
resultado prévio às análises, descrição e análiseanímica das oficinas, e síntese da
abordagem antroposófica, descritos a seguir.
O resultado prévio às análises corresponde à entrevista semiestruturada
inicial, exposta aqui, em forma de história de vida dos participantes. Optamos por
expô-laspor considerarmosimportante a trajetória de vida subsidiando todo o campo
empírico observado posteriormente.
A descrição e análise anímica das oficinas trataramsobre aspectos
observacionais referentes ao desenvolvimento das oficinas, descritos e analisados
pelo conteúdo evidenciado nas falas dos participantes, de maneira em que
possamos perceber a crescente de atividades e seus respectivos impactos no grupo.
A análise se desenvolveumediante a evidência dos sentimentos, falas e posturas, e
a correlação com os âmbitos do pensar-sentir e querer.
E por último, a síntese da análise antroposófica, como aporte principal do
trabalho, adentrando em um campo conceitual, científico e empírico espiritual.
Espera-se que a estruturação sistemática das análises auxilie na
compreensão da tessitura que nos fará chegar aos objetivos deste trabalho,
percorrendo dentro de nós, o caminho da Essência Trina que é o que
compreendemos como corpo- alma e espírito, pensar- sentir e querer em busca da
unidade sensível do homem, o Eu Espiritual.
6.1 Resultado prévio às análises: “História de vida das estrelas”
Escolhemos as estrelas como identidade dos sujeitos envolvidos, por
considerar o mistério presente na singularidade de cada ser humano:respeitando,
percebendo e contemplando as diferenças.
Podemos demarcar um período de identificação do homem com os céus, e
observamos que desde os povos babilônicos e sumérios (3.000 e 4.000 a.C), e até
mesmo antes deles, a relação estabelecida do homem com as estrelas sempre fora
em partes por questionamentos e deslumbramentos dos mistérios do homem e
37
Universo, bem como de necessidade para orientação e localização, do tempo e
espaço. Suas práticas de caça eram orientadas pelas estrelas e seu retorno a casa
era demarcado pelas constelações. Assim entaleceu-se sempre um paralelo do
homem com as estrelas como “reencontro, contemplação e descoberta das coisas”,
e também de “orientação para o retorno a casa”.
A casa a ser reencontrada por nós nesse trabalho representa simbolicamente
a incessante busca do homem ao seu contato verdadeiro consigo mesmo (sua
estrela original), com as relações estabelecidas no mundo (constelações e laços de
afinidade e fraternidade), e com o meio do qual está inserido (universo, sua morada).
Com o mais profundo sentimento de amor e esperança, desejamos que cada
estrela encontre seu lugar de origem e volte a brilhar com toda a intensidade e força
original de sua grandeza interna. Que o caminho de volta para a casa, morada do
coração, seja reconectado aos sentidos primordiais do Pensar, Sentir e Querer, a
forma viva e pulsante de nosso Corpo, Alma e Espirito em uníssono.
1. AZHA
Azha tem 19 anos e é estudante dos primeiros períodos do curso de Fonoaudiologia.
Nasceu em Pitanga no Paraná e viveu em sua cidade natal por anos; então sua
família se mudou para Santa Catarina, em Joinville. Morou ali por três anos e
acabaram retornando para Pitanga pela gravidez de sua mãe do irmão caçula. Além
deste irmão do qual tem por referência, traz mais dois irmãos, um adotivo de 23
anos e outro de 18 anos. Sua estrutura familiar no que diz respeito a seus pais é de
muito amor, sendo sua base maior, pois foi assim que viveram e assim que vivem.
Sua história de vida durante 19 anos é longa, viveu e sentiu muito; foram perdas e
alegrias até chegar aqui. Muito choro de alegria e tristeza também. Por isso hoje
mora em Luiz Alves, uma cidade simples e do interior, faz a faculdade com muito
esforço e mesmo diante de todas as dificuldades que a vida lhe trouxe, tem apenas
uma palavra a dizer: gratidão.
“Minha história é esse papel que você está lendo, é um papel que estava em branco e eu continuei escrevendo e estou fazendo isso até não haver mais páginas”.
- Terapeuta é...
38
Terapeuta na sua concepção de mundo é uma pessoa que veio ao mundo destinada
a fazer o bem, custe o que custar, pois para ela, após ver o outro sorrir, todo o
esforço vale a pena. E em específico, Terapeuta da Alegria é aquele que tenta tirar
um sorriso, transmitir amor, carinho, colo. Para ela, Terapeuta da Alegria é um
escape do mundo lá fora, uma maneira de ver a vida e mostrar que tudo passa e
uma hora, tudo ficará bem novamente. Nunca participou de projetos de extensão ou
trabalhos voluntários anteriores a este.
2. RIGEL
Rigel tem 25 anos e cursava Ciências Contábeis, estando no momento com a
graduação trancada. Nasceu em Santos (SP) e mora em Itajaí há 12 anos. Veio
embora junto com sua família, seu pai, sua mãe e dois irmãos. Com o passar de
alguns anos, houve mudanças familiares marcantes em sua vida. Sua mãe voltou
para São Paulo com sua irmã caçula e seu irmão mais velho casou. Após essas
mudanças, ficou morando com o seu pai aqui, pois o mesmo sofria de problemas
renais e fazia tratamento de hemodiálise. Faltando um mês para completar seus 18
anos, seu pai veio a falecer, e com isso a vida a obrigou a ser forte e a encarar a
realidade. Não foi fácil, mas aprendeu a lidar com a sua dor. Hoje, aos 25 anos, sua
vida se reconfigurou. É casada, reiniciou a graduação em Ciências Contábeis (mas
viu que não era o que queria, então resolveu trancar); sua mãe teve um outro
relacionamento, onde desse amor nasceu mais uma irmãzinha com síndrome de
Down que é a sua paixão. E foi desta irmã que nasceu a vontade e curiosidade
pelos Terapeutas da Alegria. Seu pai, antes de falecer, conseguiu realizar o
transplante e se livrar de todo aquele sofrimento. Guarda consigo a lembrança de
todos os momentos e aprendizados do caminho, e o forte desejo de contribuir com
outros com o melhor que pode dar.
“No processo pós cirúrgico, eu o acompanhei e fiquei todos os dias no hospital com ele. Vi sofrimento de alguns, morte de outros e recuperação também. Por isso, hoje, o meu desejo é de poder levar a alguns, o pouco que posso oferecer. Sou feliz pela vida que tenho e grata por tudo”.
Terapeuta é...
Para ela, Terapeuta é alguém que nos ajuda a melhorar como pessoa, seja em
nossas atitudes, formas de falar e agir. Alguém que nos ajuda a trabalhar o nosso
Eu, a nossa identidade. Em específico, Terapeuta da alegria são aqueles que
39
proporcionam aos que necessitam, um pouco de alegria e amor através da
descontração, da brincadeira, mostrando ao outro de que não estão sós. Trabalha
em uma empresa de contabilidade e nunca participou de um projeto de extensão ou
trabalho voluntário, sendo este, o seu primeiro contato.
3. ANTARES
Antares tem 24 anos e é estudante de Medicina. Além disso, é uma bailarina
aposentada e tem famílias em todos os lugares, perdeu um irmão que faz muita falta
a ela e está rodeada de pessoas que ama e oferece o seu melhor por elas e para
elas. Tem um namorado e não vive sem amor. Escolheu cursar medicina por um
motivo que ainda não sabe, mas acredita não precisar definir aquilo que se sente,
pois se muito explicar, deixa de ser sentido pelo coração e passa a ser medido com
a mente/números. É bondosa, carismática e gosta de se permitir viver experiências.
Se afeta com tudo e todos que passam por ela e seu grande desejo, ou diria, sonho,
é deixar seu melhor para o outro, assim como todos que passam em seu caminho,
deixam a ela. Sua maior base é sua família.
“Minha história está sempre mudando, evoluindo eu diria. Mas o mais importante sobre mim, é que sou um eterno VIR A SER e amanhã eu não sei”.
Terapeuta é...
Para ela o que se entende por terapeuta é aquele que trata, que leva o bem-estar,
porém, questiona o condicionamento da ciência e o esquecimento do humano.
Neste caso, traz sua preocupação para aquele que ocupa essa posição de
terapeuta, que busque não tornar-se aquele que fala para alguém e sim “com”
alguém. Terapeutas da Alegria para ela, é como Paulo Freire refere em sua
dimensão humana, é o ser que estando ligado ao seu EU, pode ser também o outro
e assim poder ajudar com a alma. Não é preciso nem dizer que uma de suas
referências é este autor da área da educação que conduziu pessoas do mundo
inteiro a pensar sobre formas de enxergar a educação de maneira diferente. Traz
consigo, diante de sua história, um pouco deste saber, dizendo que devemos saber
a diferença entre falar para alguém e com alguém. Terapeutas da Alegria neste
contexto, traz o COM, no sentido de mistura do EU e TU, que não apenas dá, mas
40
que também recebe. É um ser que sempre preza pelo falar COM o outro e assim se
deixar afetar pelo próximo e afastar de qualquer tipo de distância ou diferença.
Nunca participou de um projeto de extensão ou trabalho voluntário, sendo este o
primeiro.
4. ALTAIR
Altair tem 20 anos, completou o Ensino Médio e trabalha como recepcionista em
uma academia, mora em Balneário Camboriú. Em sua história de vida, é filha única
de mãe solteira. É muito feliz com tudo o que tem, com sua casa, seu serviço e
todas as pessoas que a cercam. Tem também muitos sonhos e objetivos de vida a
realizar ainda, sendo que um deles já está acontecendo, o de fazer parte do projeto
dos Terapeutas da Alegria, pois dentro de si sente que sua missão de vida aqui na
Terra, tem ligação com este trabalho e tudo o que pode viver nele. É uma pessoa
sensitiva e que faz amizades com facilidade.
“Minha mãe é a minha base em todos os sentidos da vida”.
Terapeuta é...
É aquela pessoa que de alguma forma ajuda o próximo, seja física ou
emocionalmente. E para ela, terapeuta da Alegria é aquele que tira sorrisos,
felicidade e emoções do próximo, das pessoas que por vezes não tem mais nenhum
estímulo ou motivação para acreditar em uma melhora e se recuperar de um
momento difícil. Nunca participou de um projeto de extensão ou trabalho voluntário.
5. CANOPUS
Canopus tem 22 anos e é acadêmico de Fisioterapia e filho de uma mulher da qual
tem muito orgulho. É do interior de São João Batista, Tigipió. Lá estudou, cresceu,
viveu e foi feliz, muito feliz....lá se descobriu homossexual, algo que demarcou a sua
vida e seu entendimento sobre si. Após isso, teve seus desentendimentos com seu
pai e acredita que sua relação não foi mais a mesma, apesar de amá-lo
incondicionalmente e admirá-lo muito. Também tem dois irmãos e os ama muito.
Apesar de não deixar transparecer suas fragilidades, abre-se ao fato de que busca
41
por maior segurança e fortaleza, que muitas vezes não demonstra algo para se
proteger. Ao longo dessa jornada, conheceu um amigo que fez com que esse
encontro de amor transbordasse, e é como se as coisas fossem melhor com ele.
Tem como exemplo de base profissional uma professora, da qual o ensinou como
demonstrar o amor ao próximo sem medo, o ensinou como “estar aqui” para o outro.
E também, não poderia deixar de dizer que sua base na vida é sua mãe e não se
imagina sem ela, bem como todas as pessoas que de certa forma o tornaram
alguém melhor.
Ser terapeuta é...
Ser terapeuta em sua percepção de mundo é cuidar, entender o próximo como a si
mesmo e não julgar. Resumindo em uma só palavra, é “ser compreensão”. Já ser
um Terapeuta da Alegria, em sua visão, é ser luz, aquela que ilumina, que conforta,
que é um lugar onde se pode ser quem “se É” e expressar todo o amor e
sentimentos que tem dentro de si, rompendo com as limitações de não conseguir
exteriorizar, e abrindo espaços para poder mostrar o EU de verdade e ver também a
verdade do outro.
“É mostrar o quanto é bom amar e ser amado. É ser sentimento sem preocupação, é ser calor, ser amor, ser eu mesmo”.
Já é um integrante antigo do projeto e participa de um grupo de apoio aos
profissionais que compõem a rede de atenção a pessoa com deficiência.
6. CAPH
Caph tem 22 anos, é fisioterapeuta e residente da Residência Multiprofissional em
Saúde da Família. Tem um amplo histórico de projetos de extensão universitária e
de trabalhos voluntários dos quais realiza com muito afinco. Entre estes estão:
Projeto Educar e Humanizar em Saúde, Projeto Rondon (ministério), Projeto Rondon
(UDESC), Projeto Sergio Arouca, Projeto Amazônia: Barco hospital, missão ao vale
do Jequitinhonha, entre outros. Já é uma membra antiga do projeto. Caph é uma
pessoa que sonha muito, que ama de verdade, sem metades, ama por inteiro. É
sonhadora de justiça social, de viver em um mundo com mais amorosidade e valores
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refletidos das ações individuais e coletivas para um futuro melhor. Gosta de gente,
porque acredita que pra ser gente, precisa de gente. Traz consigo a palavra
UBUNTU, uma palavra ancestral que reverência a humildade, e a unidade coletiva.
Por ser determinada em suas ações de transformação contínua e profundamente,
busca torna-se a cada dia uma pessoa melhor em sua eterna construção. Ama
dançar e o faz livremente, esquecendo de tudo. Sua maior base é o amor, o amor à
vida e as pessoas, bem como sua fé, família, namorado e tudo o que acredita.
Ser Terapeuta é...
É resgatar a essência, é ser quem você é de verdade, sem ter medo do mundo, ou
do que os outros vão pensar. É ser livre, fortalecer o “EU” interior. Refere que ser
terapeuta da Alegria é algo forte, há uma troca intensa, não é uma caridade, é muito
mais, é solidariedade, é proximidade, entrega. É dar valor a vida, as pessoas, aos
pequenos detalhes.
“A Dra. Flor está em mim, em todos os momentos, não sei mais o que sou, sem a Dra. Flor”.
7. ALDEBARAN
Aldebaran tem 26 anos, é bacharel em Ciências Contábeis, especialista em gestão
de atributos financeiro e analista fiscal; iniciou os estudos em psicologia, mas no
momento trancou. Traz consigo o nome de seus pais, é Itajaiense, foi estudante de
escola pública, é filho, irmão, sobrinho, tio, terapeuta da alegria...alguém que ajuda e
é ajudado. Contador, trabalhador, incentivador e espírita. São palavras soltas, mas
demonstram um pouco do “quem sou” de Aldebaran e sua trajetória. Durante
períodos de mudanças e decisões, trabalhou em diversos lugares e conheceu
muitas pessoas. Algumas já não lembra o nome... amores e desamores. Considera
que teve uma vida plena, mas que o permitiu saber quem É somente agora. Suas
bases pessoais são sua família e seus amigos, muito do que leu e viu no mundo,
dos quais o trouxeram princípios morais e principalmente valores, tendo como maior
recebimento o de se colocar à disposição do próximo. Em sua base profissional,
teve muitos professores que compartilharam seus conhecimentos, suas experiências
e o mostraram que o trabalho é algo que nos fortalece.
Ser terapeuta é...
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“Ser terapeuta é ser, ser eu mesmo e estar, estar onde se precisa”.
No que pode compreender em sua vida, envolve o conhecimento de si, saber onde
se está, para assim poder se colocar à disposição das pessoas, ouvindo-as. Dentro
disso, a Alegria de ser um Terapeuta da Alegria é acima de tudo se doar, colocando
em prática o seu íntimo.
8. PLEIONE
Pleione tem 25 anos e está cursando psicologia, realizando um de seus maiores
sonhos. Acha que é como a maior parte das pessoas, às vezes se considerando
feliz e outras vezes nem tanto, porém, vivendo a cada dia seu momento de
construção e desconstrução. Muito do que sabia de si, acabou deixando para trás
para reconstruir-se de maneira diferente, mantendo apenas os sonhos que a
fortalecem. Atualmente trabalha como auxiliar de finanças e não está sentindo-se
realizada, mas acredita que tendo como profissão a psicologia e o atendimento
clinico (que é uma das suas paixões), será mais feliz. Sua base de vida é ela
mesma, com toda a sua história, sua mãe e alguns amigos, pois considera que não
dá para sermos sempre só, pois tudo é uma troca de relações. É seu primeiro
projeto de extensão.
Ser Terapeuta é...
Acha que ser terapeuta tem como objetivo ajudar um outro alguém a refletir, se
reconhecer, se construir e desconstruir através da escuta e da reflexão, tendo como
base a ciência. Ser terapeuta da alegria seria alguém que escuta a pessoa além da
patologia que ela apresenta, pois a reconhece como alguém e busca lembrar esse
alguém das coisas mais importantes da vida, como a alegria de um sorriso e uma
brincadeira, buscando se libertar e não desaminar diante do momento do qual está
vivendo, de muitas vezes angustia, e focar no que faz bem e na história que quer
construir.
“[...] é lembrar-se que o mais importante de tudo é a sua vida, que por traz daquela doença existe alguém, uma vida, uma história, um futuro”.
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9. BELLATRIX
Bella tem 20 anos e é filha de duas pessoas incríveis, das quais batalharam para lhe
ensinar valores, um deles o da doação ao próximo. É estudante dos primeiros
períodos do curso de Fonoaudiologia, sendo este o seu primeiro trabalho voluntário.
Considera-se uma jovem sonhadora, não tem irmãos e tem poucos amigos. Bella
observando-se, diz ter dificuldade para confiar nas pessoas pelas histórias de vida
que viveu até o momento e que a marcaram de algum modo, porém não perde a
esperança nas pessoas e acha que tudo um dia vai melhorar. Tem lembranças de
uma infância muito feliz com seus pais sempre por perto e chegou a conhecer seus
avôs. Um de seus sonhos é ser a melhor profissional possível, dando atenção,
carinho e cuidado aos seus futuros pacientes, e com muita dedicação, trazer um
pouquinho do que seus pais lhe ensinaram na educação de seus filhos.
Ser terapeuta é...
“ser terapeuta da alegria não é par qualquer um, é preciso se descobrir, se reconhecer...”
É ter um olhar diferenciado, é poder ter tempo para conhecer o que o outro precisa,
conhecer todo o ambiente entorno e aproveitar as oportunidades que podem se abrir
com isso. É cuidar e se preocupar. Em específico, ser terapeuta da alegria é mostrar
que tudo vai ficar bem, nem que seja apenas com um sorriso. É dar atenção ao
próximo, olhar com carinho e tentar aliviar por um momento que seja a tristeza que
se sente.
10. LUCIDA
Lucida tem 18 anos e é estudante de enfermagem. Realiza concomitante a este
projeto, outro projeto de extensão intitulado Mãos de Vida da qual se sente realizada
e encantada com tudo o que vem aprendendo com os mesmos. É uma menina, uma
das mais novas do grupo, muito esforçada e que sempre luta pelo que quer, e
segundo ela seu defeito é se irritar facilmente, apesar da docilidade que apresenta.
É muito ligada a sua família e procura estar perto de todos, principalmente dos seus
sete primos que sempre a ajudam e saem para passear juntos. Seu sonho sempre
foi seguir uma profissão na área da saúde, e como gosta da parte do cuidado com o
paciente, resolveu fazer enfermagem, escolha essa da qual está completamente
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apaixonada. Sua base profissional são seus professores e sua base pessoal, a
família e amigos. É muito grata a Deus por ajudá-la a alcançar tudo aquilo que
sonhou, reconhecendo que tudo o que conquistou até hoje foi pelo seu esforço.
Ser terapeuta é...
“É um profissional da saúde que ajuda as pessoas a resolverem seus problemas, encarar as dificuldade e superar traumas, através de conversas e reflexões”.
Ser terapeuta da alegria em sua concepção de mundo é levar alegria a todos e
despertar sorrisos, auxiliando as pessoas a deixarem de lado, por um momento que
seja, seus problemas, e transformando um ambiente de clima pesado em um lugar
animado, onde a brincadeira e a doação ao próximo estão presentes.
11. ARNEB
Arneb tem 19 e é acadêmico do curso de Fonoaudiologia nos períodos iniciais. Em
sua resposta em dizer quem é e sua história de vida, deixou em branco,
respondendo apenas que sua base pessoal mais importante é a sua mãe, não tendo
nenhum exemplo externo ainda a se espelhar profissionalmente. É curto e breve em
suas respostas, dentre elas a de que:
Terapeuta é...
Uma pessoa que contribui positivamente para melhorar a saúde, tanto física, quanto
emocional de uma pessoa. E em especifico, terapeuta da alegria são aqueles que se
ligam a um denominador comum em buscar fazer o melhor as pessoas, sendo o
conforto que elas precisam.
“São pessoas com um pensamento comum, doar um pouco do seu tempo e rotina para fazer a diferença e contribuir para melhorar, e até mesmo alegrar as pessoas que mais precisam desse conforto”.
12. THUBAN
Thuban tem 21 anos e cursa a graduação em Direito. Tenta resumir sua história em
algumas linhas, destacando o que considera mais importante pra esse
reconhecimento. Em sua idade, uma jovem garota, com mil sonhos para a vida e
que devido a estes sonhos, deixou a sua família em Mato Grosso, vindo com toda
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sua fé e vontade para Santa Catarina em 2014, local em que buscou conquistar este
sonho e a cada dia a materialização desta realização. Entre estudos, trabalhos
voluntários dos mais diversos, vida social com os amigos, e agora como Terapeuta
da Alegria, tem como principal objetivo de vida, desde muito nova, o fazer a
diferença na sociedade, lutando pelo bem comum e vivendo de verdade, não apenas
existindo. Tem como base e exemplo de vida seus pais, e tudo o que apresenta
como pessoa e sonho vem dessa base, dessa coisa de se doar e fazer a diferença,
por menor que seja, lutar pelo direito como um todo e o bem comum das pessoas.
Aprendeu ao longo de sua trajetória vendo eles serem assim sempre, seus maiores
exemplos e a base sólida de seu caráter, formação e buscas.
Ser terapeuta é...
“É se esquecer por um momento de seus problemas, para ajudar a resolver ou pelo menos auxiliar o próximo acerca dos seus, das suas dificuldades e tristezas...”
Para Thuban Terapeuta é um ser que em seu trabalho de doação, em sua vontade e
escolha, espalha seu amor, sua luz e se dedica de alguma forma ao bem comum de
uma sociedade. É aquele que olha para o próximo com o olhar do afeto,
compreende o outro como parte sua e se importa em desejar o bem, acima de todos
os problemas da sociedade e de um sistema tão individualista, tão do mal, tão cheio
de problemas... É buscar fazer diferente no meio do indiferente, trazendo sentido à
vida, pôr um sorriso no rosto e continuar caminhando com coragem para enfrentar o
que surgir. Atualmente realiza um estágio na Previdência Social e já participou de
outros projetos voluntários em lar de idosos, com arrecadações para entidades do
terceiro setor e também participou de visitas solidárias.
13. SHAM
Sham tem 21 anos, nasceu na cidade de Volta Redonda- RJ, ao terceiro dia do mês
de novembro e é do signo de escorpião. Foi criado pelos seus pais e avós e tendo
uma infância tranquila, apesar de trazer em sua história um conflito entre seu
reconhecimento individual e seu reconhecimento coletivo. Por muitos momentos
ouviu coisas pejorativas a seu respeito, sofreu bullying por sua aparência física (por
ser “gordinho”) e por ter uma voz fina, porém, sempre manteve sua fé firme em Deus
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e prosseguiu sua caminhada, até que no ensino fundamental para o ensino médio,
decidiu ser farmacêutico. Neste período, em que a motivação para alcançar a tão
sonhada graduação era importante para ele, a resposta foi o contrário do que
esperava, ouviu de seus professores de que ele não tinha o perfil para tal profissão,
motivo pelo qual se fechou durante um bom tempo. Até que, para a surpresa de
muitos, conseguiu passar em 1º lugar no vestibular para o curso de Farmácia. Um
grande passo, e uma merecida vitória.
Com toda certeza, Sham nos mostra uma história de superação, persistência e
reconhecimento. Ele já é um membro de períodos anteriores do projeto e refere que
no começo se importava muito com que os outros pensavam a seu respeito e isso
era um constante erro, pois atribuía mais valor ao pensamento do outro do que a si
mesmo, buscava corresponder ao outro e se frustrava por não conseguir. Ao longo
de sua jornada na vida, pela universidade e nas formações do projeto Terapeutas da
Alegria, traz consigo uma forte lição espalhada em suas ações e palavras:
“[...] venho compreendendo que ninguém é melhor que ninguém, nem que um está adiantado ou atrasado do outro, mas sim, que cada pessoa tem seu tempo e que quando deixamos o tempo nos guiar, as coisas vão fluindo de forma natural”.
Ser terapeuta é...
Em sua concepção de mundo, o terapeuta é uma pessoa com importante papel na
sociedade, ele que tem como função formar diálogo, realizar aconselhamentos e
amenizar traumas, dores e sofrimentos, atuando nos mais diversos seguimentos, no
viver em comunidade e sociedade. Em específico, Terapeuta da Alegria é aquele
voltado para humanização, ele cumpre o papel de amenizar o sofrimento das
pessoas e utiliza a figura do clown para atingir esse objetivo. Trabalha como monitor
na Universidade e já realizou diversos projetos de extensão universitária, tais como:
Projeto Escolhas, VER-SUS, Reduzir e reciclar, Mãos de Vida.
14. GIRTAB
Girtab tem 19 anos é a acadêmica dos primeiros períodos do curso de
Fonoaudiologia, sendo este o seu primeiro projeto de extensão universitária. Sua
base pessoal são seus pais, sem eles ela não estaria onde está, tendo sua mãe
como inspiração profissional de grande importante. Não tem muito o que dizer sobre
sua história de vida, pois ainda não viveu o que quer viver.
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Ser terapeuta é...
“Poder ajudar próximo”
Ser terapeuta da alegria para ela é poder levar alegria para as pessoas que estão
passando por um momento difícil.
15. MERAK
Meak tem 27 anos e é estudante de psicologia. Gosta da vida e das novidades que
ela apresenta. Tem sonhos e objetivos e um deles é cuidar de sua família, não tendo
limites para eles, pois os ama muito. É assim, feliz... mas sabe chorar muito
também. Gostaria de mudar muitas coisas, mas não pode, e por reconhecer-se
diante da impotência frente a algumas situações da vida, compartilha essa dor e faz
a sua parte, pois tem dentro de si uma imensa força que a motiva a acreditar em
dias melhores e felizes.
Ser terapeuta é...
“Uma luz. Um olhar carinhoso. Aquele que sente o seu momento”.
Ser terapeuta é uma pessoa que ajuda a encontrar a sua paz interior e auxilia a
concentrar todos os seus objetivos a este mesmo fim. Merak possui formação em
Logística e já trabalhou em diferentes setores como: administrativo, financeiro,
faturamento, foi gerente de loja e restaurante, auxiliar de marketing e atualmente
trabalha em uma editora, sendo este o seu primeiro projeto de extensão
universitária.
16. MIMOSA
Mimosa tem 20 anos e é estudante do curso de Fonoaudiologia. Filha do meio de
uma família com defeitos, porém, mais do que perfeita e digna família, da qual
coloca acima de tudo na sua vida. Escolheu a fonoaudiologia por amar o cuidado e o
acompanhamento do crescimento do outro no que se refere a sua maturação
psicológica e biológica, por compreender a importância e significado da
comunicação na vida do ser humano. Tem muita fé em Deus e se considera uma
menina muito sonhadora e exigente para consigo mesma. Se culpa pelos seus erros
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e tem medo de cometer novos, tem medo de fazer escolhas e não ser feliz como
espera, tem medo de não corresponder às expectativas de quem ama e de quem irá
amar um dia. Como toda menina, sonha pelo príncipe encantado, em construir um
lar e uma família, com direito a filhos e cachorros. Deseja ser a mulher imponderada
e a mulher amável e cuidadosa do lar. Sua base é sua família da qual a ensinaram o
princípio valor e exemplo da humildade. Se exige em seus estudos, pois acredita
que para ter uma vida feliz no seu projeto interno precisa ter uma profissão que se
realize.
Ser terapeuta é...
“É alguém que se ocupa em cuidar do outro, por amar fazer isso, por amar o outro além de si”.
Para ela é dar o seu melhor em prol da alegria de terceiros, trazendo alegria para as
tristezas da vida, e amenizando a dor. Participa de outro projeto de extensão além
deste, do PET-Saúde/Gradua-SUS de Terapia Assistida por Animais.
17. ACUBENS
Acubens tem 24 anos é graduado em história e atualmente trabalha como mediador
de um museu oceanógrafo. Veio de uma família desestruturada, visto assim pelo
tradicional, e não sente em falar de sua história de vida, pois o passado hoje é seu
aliado de vida. Sua identidade anterior, da qual todos identificam-no pelo nome e
idade pouco diz a seu respeito, pois hoje, por intermédio de suas buscas, considera-
se ter transcendido o Eu para tornar-se o Todo, o interdisciplinar, universal, e amor,
qualidades estas que não consegue descrever, apenas sentir...Vê importância na
interligação entre os setores: saúde, educação, beleza, arte... E considera-se o
outro, assim como a própria natureza das coisas: a vida, o sentir, o momento, o ser.
Ser terapeuta é:
“É aquele que leva o amor universal a todos os lugares que caminha”.
Para ele o terapeuta é aquele que detém em si a percepção de que tudo é ligado ao
todo, e para isso, irá utilizar o máximo de sentidos possíveis em seu
desenvolvimento no auxiliar do outro, em direção ao amor universal.
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18. CHELEB
Cheleb tem 33 anos, nasceu em Paranaguá, no Estado do Paraná, e veio para
Santa Catarina estudar Engenharia Civil. Logo que iniciou seus estudos, viu que sua
escolha não correspondia as suas identificações pessoais, e buscando referências
em um momento de mudanças, encontrou um grupo de dança e iniciando suas
aulas em um novo percurso profissional. Se encontrando como artista, há 13 anos
utiliza dessa forma de se expressar com grande paixão no mundo. Em 2012,
formou-se em Publicidade e Propaganda e trabalha como publicitário e dançarino e
coreógrafo em um grupo de dança. Entre seus estudos é especialista em Design
gráfico, estudando atualmente sobre física quântica, e considera-se livre de crenças
religiosas.
Ser terapeuta é...
“é alguém que utiliza de habilidades para ajudar o próximo, buscando a auto cura”.
Além disso, terapeuta da alegria trabalha em busca de levar a alegria para outros
em momentos difíceis, trazendo um conforto, mesmo que seja por alguns minutos.
19. CASTOR
Castor tem 33 anos, é estudante de Turismo e Hotelaria, sendo este seu primeiro
projeto de extensão. É uma mulher realista, autêntica e com um enorme coração.
Ama a liberdade e junto dela, a alegria e o bom humor da vida, apesar de ter
passado por momentos em que precisou amadurecer precocemente. Sua base
profissional são seus pais, que lhe ensinaram o valor do trabalho e sua base pessoal
é ela mesma, com toda a sua bagagem de vida e experiências.
Ser terapeuta é...
Ser um bom ouvinte, ter paciência e leveza para auxiliar na condução de resultados
positivos. Em especifico, terapeuta da alegria tem a função de:
“deixar você leve, alimentar mais a alegria que ali se esconde em você, despertando toda essa alegria e felicidade”.
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20. POLARIS
Polaris tem 18 anos, cursa psicologia e já teve experiência em outro projeto de
extensão relacionado ao acolhimento- PEAG. É uma pessoa feliz, mas sente-se
sozinho e angustiado nesse mundo enorme. Tem o pensamento de que seguindo
tudo o que foi dito e orientado desde pequeno, viverá como alguém e será alguém.
Ser terapeuta é...
Em sua concepção, uma pessoa com luz e energia própria, capaz de ser sensível e
se conectar com todos, principalmente com os que mais precisam. Os terapeutas da
alegria são:
“Pessoas especiais”
21. CAPELLA
Capella tem 21 anos, é nascida e crescida na cidade de Itajaí. Conta que aos 12
anos decidiu que queria seguir na carreira de justiça, e hoje cursa a graduação de
Direito e realiza um estágio na justiça federal, profissão que escolheu por amor.
Teve uma infância feliz, muito feliz. Seus pais sempre passaram todos os momentos
ao seu lado junto de duas irmãs. Nessa trajetória, perdeu sua irmã mais nova há
alguns anos, mas permaneceram sendo uma família feliz, e preservando a base da
união. É uma pessoa determinada, em todas ás áreas da vida. Luta todos os meses
pra pagar a faculdade, e o faz sozinha, pois segundo os ensinamentos de seu pai,
deve lutar para conquistar seus sonhos por um mérito exclusivo seu. Em busca de
seus sonhos e sua independência, já trabalhou em muitos lugares, entre eles no
fórum, com vendas de roupa, vendedora de havaianas, auxiliar administrativa, e
atendente do caixa de um restaurante. Tem muito orgulho de Ser quem É, sendo
muito feliz com a vida. Mas nem sempre foi assim, quando adolescente teve
aprendizados que a fizeram perceber seu lado rebelde e arrogante, faces de sua
imaturidade. Hoje percebe que foi apenas uma fase de sua vida, da qual a
transformou no que é hoje, madura, feliz e determinada. Suas bases são espelhadas
em todo amor recebido em casa.
“Como base pessoal, tenho minha família. Família sólida. Me representa em todo o amor que as vezes não mereço”.
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Ser terapeuta é:
Um terapeuta é aquele que cuida de outra pessoa, utilizando-se de amor, compaixão
e a técnica aprendida em sua profissão. Em específico, Terapeuta da alegria é
aquele que, além de cuidar, ajuda a outra pessoa com sua alegria, paz espiritual,
harmonia e felicidade. Faz muitas vezes o papel que uma pessoa próxima não
consegue desenvolver por medo, por vergonha, ou por estar sofrendo junto do
paciente.
22. MIRA
Mira tem 33 anos, é formada em jornalismo e fotografia, nascida na ilha de
Florianópolis em 1984, filha de seu pai (em memória) e de sua mãe que tem nome
de sereia. Tem uma irmã e hoje, é mãe de duas meninas. Sempre conviveu com
médicos, seus pais são médicos, seus tios e primos... no total são nove pessoas da
família com as quais teve uma ligação intima e contato direto. No seu caso, nunca
se imaginou lidando com sangue, no entanto, sempre teve o incentivo e vontade de
amar, cuidar e ver o próximo bem, principalmente os de condição menos favoráveis
que a sua. Sente-se feliz por ter encontrado seu caminho no jornalismo, sendo
apaixonada por fotografia. Diante das suas escolhas de vida, em meio a dúvidas e
incertezas de por onde caminhar, estudar, crescer como profissional foi necessário
que buscar auxilio para identificar quem era. Hoje, depois de um belo caminho
percorrido, vê que esta é ela.
“na verdade encontrei um caminho que já me pertencia, eu apenas trilhei [...] as dúvidas me trouxeram a certeza de quem eu sempre fui”.
Sente-se realizada por ter “redescoberto” o sonho de fazer parte de um projeto
humanitário. Sente-se preparada para as mudanças que virão e tem certeza de que
são para acrescentar algo em sua vida como ser humano.
Ser terapeuta é...
Doação, compartilhar, alegria e emoções. Alguém com quem você possa de doar, se
abrir e ser você mesmo.
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23. MEROPE
Merope tem 18 anos e está nos primeiros períodos do curso de enfermagem.
Nasceu em Camboriú, mas mora na cidade vizinha, Itajaí. Vive com seus pais e
irmãos, tem um amor por séries de televisão, não gosta de ambientes mal
humorados e ama oferecer seu amor às pessoas. Este é seu primeiro projeto de
extensão e trabalha em uma gerência de saúde.
Ser terapeuta é...
Em sua concepção ser terapeuta é tratar não só o físico, mas o eu psicológico do
paciente em momentos de dificuldade, enxerga-lo por completo. Terapeuta é aquele
que se doa inteiramente a dar amor, carinho e levar alegria as outras pessoas, é
aquele que zela pelo outro sem medir esforços, que o respeita inteiramente em suas
singularidades (seja ele branco, negro, católico, evangélico ou de qualquer outra
religião) e o trata com equidade.
“Ser terapeuta é ver o amor diante da dor. Ser terapeuta da alegria é ver paz e amor diante daquele dia ruim, é calar o sofrimento com sorriso, é fazer daquele paciente resiliente todos os dias a cada visita”.
24. SKAT
Skat tem 18 anos, é uma das mais novas do grupo, está no primeiro período do
curso de Psicologia. Nasceu em São Paulo, capital, mas se mudou para o Paraná
quando tinha dois anos. Tem mais um irmão que mora na Itália desde os seus sete
anos. Neste percurso, aos oito anos vivenciou um momento marcante em sua vida,
a separação de seus pais. Seu pai logo casou-se e hoje tem uma irmãzinha que está
com cinco anos. Mudou-se para Itajaí há dois anos e mora com a sua mãe, o Thor
(seu cachorro), a Queenie (sua gatinha) e o Zen (seu gato calminho). Outro fato que
compartilha generosamente e corajosamente é que aos 13 anos teve uma
depressão, na época sua mãe procurava um emprego na sua cidade, mas não
conseguiu, e por dificuldades financeiras teve de morar com seu pai. Nesta mesma
época e ainda hoje, está em processo de reconhecimento do seu corpo e do seu
peso, buscando quebrar as barreiras do padrão ideal e percebendo que está tudo
bem ser do jeitinho que se é. Começou a fazer terapia e acabou se apaixonando
pela profissão. É apaixonada por artes cênicas e quer conciliar as duas formações,
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bem como o trabalho voluntário como Terapeuta da alegria. Tem por exemplo
profissional e pessoal, sua psicóloga, da qual a ajudou muito.
Ser terapeuta é...
“Terapeuta pra mim é ajudar o outro a se ver de outra forma e principalmente, a ver o mundo de outra forma. O terapeuta faz você se conhecer e se aceitar, independentemente de qualquer coisa”.
Em específico, um terapeuta da alegria vai além da modificação de sua visão sobre
si, levam a simplicidade e fazem todos irem além dos problemas. Eles fazem as
pessoas esquecerem um pouquinho da dor e do sofrimento, seja ele qual for.
25. MIRFAK
Mirfak tem 20 anos e é estudante de fonoaudiologia. É alguém que desde sempre te
sentiu especial. Não por privilégios, berço de ouro ou algo parecido, mas sim por
saber que veio a este mundo fazer parte de algo maior. Apesar de sempre acreditar
e sentir desde criança um propósito maior guiando sua caminhada, é hoje, no
presente, que luta e dedica-se diariamente a se conhecer melhor. Ou pelo menos,
tentar... Nasceu e cresceu numa pequena cidade do interior de Santa Catarina, com
seus pais que a amavam muito, porém que lhe mostraram desde cedo de que
deveria ser o seu próprio “herói”. Tem um irmão mais novo que o vê como um
presente enviado dos céus para iluminar e ajudar a ela e sua família, onde muitas
vezes se deparou com problemas familiares e necessitou mudar-se algumas vezes
de cidade. Mas ainda assim, dentro de si, havia uma certeza de que algo havia
reservado para o seu caminho, e ainda há. Com o que viveu nesses 20 anos, pode
se descobrir em alguns aspectos de quem é hoje, somente mais tarde, depois de
tantas experiências, mas sente-se grata por poder compreender que muitas das
coisas que a marcaram no passado, moldou seu ser de hoje. Mirfak refere perceber
que questões de sua personalidade tem ligação com sua trajetória de vida e tudo o
que aconteceu no passado. Recentemente fez um intercâmbio em Portugal e essa
experiência foi exatamente o que precisava para confirmar o que seus sentidos mais
profundos diziam:
“a vida pode ser linda... e eu tenho ainda muito a viver e sentir”.
Ser terapeuta é:
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É uma pessoa que diante de tudo o que poderia estar fazendo no mundo, está ali,
servindo de pilar, sendo um mediador de caminhos, de direção para alguém em um
momento de necessidade.
“Para mim terapeuta é ser, sentir e estar imerso num oceano infindável de almas carentes daquilo que a vida trouxe como faltante, para lhe acrescentar”.
Em específico, ser terapeuta da alegria em sua concepção é conectar-se
empaticamente ao que o outro está sentindo, e a partir disso, buscar acender a
mínima luz possível de uma alma que necessita ser vista e auxiliada. Sua base
profissional são suas professoras, elas refletem o ensinamento de uma vida que
admira e traz como exemplo. E como base pessoal principal, Deus.
26. MIAPLACIDUS
Miaplacidus tem 21 anos e é acadêmica de fonoaudiologia, aquariana por regência
solar e tem a lua em peixes (astrologia é uma de suas paixões). Gaúcha
Uruguaianense, sempre gostou de transmitir o seu melhor para as pessoas, até
mesmo nos seus dias ruins. Tem 21 anos, mas se sente mais velha pelas
responsabilidades que precisou assumir desde muito nova. Sempre morou na casa
de seus pais em Uruguaiana, dos 5 aos 12 anos foi escoteira, começando a
trabalhar com 16 anos como jovem aprendiz. Veio morar em Itajaí no ano de 2015
para cursar fonoaudiologia, uma cidade da qual não conhecia, mas traz consigo que
sua razão maior para estar aqui hoje é por seu irmão mais novo, que foi
diagnosticado com autismo. Por estar longe de casa e da família, ocupa todos o
tempo que tem livre realizando estágios voluntários e cursos para amenizar a
saudade dos seus e se sentir menos só. É estagiária do SASA (Serviço de Atenção
à Saúde Auditiva) e sente-se orgulhosa por cada passo dado no caminho, sempre
com a motivação de querer aprender mais e mais.
Terapeuta da Alegria é...
“É transmitir tudo de melhor que você tem para alguém que esteja precisando. Não só com expressões, mas com energias boas. É fazer com o coração.”
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Atribui o terapeuta a alguém que está disponível em auxiliar com tudo o que sabe,
que aprendeu, transmitindo o seu conhecimento e também recebendo, é aquele que
aprendeu a escutar também.
27. GUIEDI
Guiedi tem 20 anos, nascida ao terceiro dia do mês de novembro, na cidade de
Balneário Camboriú, local onde passou toda a infância. Morou em Itajaí com seus
avós quando pequena, perdendo seu pai e avô quando tinha apenas 13 anos. Sua
base desde então, sempre foi e sempre será sua mãe. É uma pessoa tímida, que
acaba se soltando aos poucos, após ter conquistado confiança a sua volta. Gosta de
ver o lado bom das coisas e pensar positivo, que no final tudo vai dar certo. Não se
considera uma pessoa autoconfiante em si, mas tem bom humor pra lidar com isso,
às vezes. É sincera e ainda não sabe dizer se isso é bom ou ruim. Escolheu cursar
direito porque é uma profissão que admira e consegue se visualizar atuando, ainda
que tenha dentro de si um misto de amor e ódio por esta profissão.
Ser Terapeuta é...
Terapeuta é um profissional que busca ajudar as pessoas em momentos difíceis,
muitas vezes sem esperanças e expectativa de vida. Traz consigo o intuito de
passar o melhor de si e de alegrar.
“Terapeuta da Alegria é um grupo que busca se conectar com seu próprio Eu.”
28. MEGREZ
Megrez tem 20 anos, gaúcha e acadêmica de direito. Metade de sua vida passou no
Rio Grande do Sul e outra metade em Santa Catarina. É apaixonada pelo seu curso
e tem uma vida bem feliz e realizada. Não gosto de expor problemas pessoais para
todos, mas gosta muito de conversar e contar novidades. Para ela a natureza é uma
das melhores coisas da vida, vai à praia e se sente bem em estar pertinho dela.
Percebe suas mudanças internas e externas diariamente, percebe sua flexibilidade,
o Eu de ontem é diferente do Eu de hoje e tenta estar aberta para se ouvir mais e se
conhecer mais. Já passou por fases de timidez e outras fases de ser extrovertida,
mas hoje busca perceber as nuances e viver o equilíbrio. Sua maior base é Deus,
sua fé em uma organização maior, bem como as pessoas que a ajudam a ser uma
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pessoa melhor, não cita “nomes”, mas poderia dizer que seus familiares e amigos
ajudam a compor essa base. As referências, gostaria de transformar em apenas
uma base, capaz de gerar um impulso de motivação para a caminhada.
Ser terapeuta é...
Em sua concepção, alguém que propicia a paz, ajudando a descontrair em
momentos delicados e auxiliando a solucionar problemas internos de cada pessoa.
“É alguém que ajuda a solucionar os problemas de forma divertida, alegre!”
29. NAVI
Navi tem 18 anos, e é estudante de fonoaudiologia. É ela mesma e mais ninguém.
Teve complicações durante a vida e superações, porém sempre com felicidade no
coração. É segura de si, justamente por ter enfrentado grandes batalhas com muita
dedicação e focando na luz. Diz isso, pois conseguiu superar um momento
complicado de sua vida, do qual usava drogas. Hoje, seu maior orgulho e amparo é
estar “livre” há dois anos. Se considera uma pessoa iluminada pelo fato de ter um
bom estudo e uma boa família. Mantém a ação de cada vez mais agradecer, para
que assim a vida a agradeça de volta, como uma troca. Se considera sua própria
base, em constante evolução, constante humildade e sempre procurando o melhor
em si.
Ser terapeuta é...
Para ela, ser um terapeuta é trazer luz, força, fé a quem necessita de alguma ajuda.
É trazer amor, carinho e amparo, sendo paz, sendo o bem, sendo a própria terapia
de si e do outro. Em específico, Terapeuta da alegria é ser felicidade em meio as
dificuldades, é ajudar em momentos difíceis, dando risadas em meio de algumas
tristezas.
“É ser feliz acima de tudo, pois apesar das dificuldades, a alegria é uma das nossas maiores joias”.
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6.2Descrição e análise anímica das oficinas7
1. Primeiro encontro (19/08/2017): “Ser Terapeuta: conhecendo o Eu que se
apresenta”
Iniciamos a esta oficina com a minha apresentação como pesquisadora e
mediadora do grupo; o problema da pesquisa e a sua importância cientifica e após, a
leitura do termo de consentimento livre esclarecido – TCLE.
Quando todos aceitaram participar das oficinas e permitiram o uso de seus
relatos pessoais, foi entregue o questionário inicial (Apêndice A) para
preenchimento, o qual durou aproximadamente 45 minutos.
Antes de iniciar as atividades de cunho corporal, foi realizada a leitura prévia
das orientações aos participantes (pg. 36 e 37 da metodologia) para o
desenvolvimento do trabalho com maior confiança e entrega.
Após, iniciamos as atividades a qual nomeio de Despertar Corpóreo
Meditativo, que consiste em uma série de exercícios corporais cujo objetivo está em
explorar possibilidades de aprendizado com o corpo e após um período de
experiência, refletir sobre elas ou direcionar a energia alcançada para a realização
de algo.
Depois das atividades de cunho corporal, foi realizado um relaxamento e
mantivemos o foco na respiração. As músicas selecionadas ajudaram na
concentração desta segunda atividade, que teve por objetivo o Despertar Anímico.
A concentração estava na música e na minha voz, que dirigia as perguntas do
questionário semiestruturado: Quem é você? Sua história de vida? Suas bases
pessoais e profissionais? Em silêncio e de olhos fechados, tinham que repensar
suas respostas escritas e após, perceber se gostariam de acrescentar algo.
Selecionamos o processo de: escrita para o despertar corpóreo e despertar
anímico, justamente para que pudéssemos perceber o contraponto entre uma
atividade de cunho mental (do pensar), para uma atividade de cunho corporal,
sensível e reflexiva (do sentir). Queríamos saber se a vivência mental (pela resposta
do questionário) era aprofundada pelo Despertar Corpóreo Meditativo e pelo
7 As falas sem identificação são da autora.
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Despertar Anímico, manifestando-se de maneira aprofundada e reflexiva em sua
vida e em sua formação como terapeuta nos três âmbitos: pensar, sentir e querer.
Desta forma, buscamos perceber o grupo, se eles estavam mais agitados,
mais calmos, mais fechados ou mais receptivos, percebendo sua sensibilidade para
o desenvolver dos próximos encontros.
Como mediadora do grupo, pude perceber que para muitos esta foi a primeira
experiência de um trabalho coletivo, com atividades que envolviam o corpo, o
movimento e a meditação. Porém haviam integrantes mais antigos no grupo, que
participaram ativamente e auxiliaram-me a perceber as demandas individuais dos
novos integrantes.
Observando o decorrer das atividades e a resposta emocional dada por cada
estímulo corporal, pude perceber que para este grupo era preciso muita atenção e
cuidado na seleção das propostas, visto que apresentavam uma sensibilidade
aflorada e receptivos a todas as atividades, porém, com nenhuma bagagem anterior
de atividades relacionadas ao autoconhecimento, algo frequente em universitários,
pois há poucas oportunidades dentro e fora da Universidade para trabalhar
(exercitar, vivenciar) a sensibilidade humana e o pensar reflexivo de forma
simultânea.
O trabalho corporal foi de extrema importância para que tivéssemos nessa
oficina, um aprofundamento da sensibilidade e um intimo contato com a bagagem de
vida dos participantes. Da qual descreve-se a seguir com o relato e reflexões
trazidas pelas vivências desse dia, juntamente com as impressões para reflexão do
método. Apesar das falas serem longas, busco trazê-las com toda profundidade da
qual foram ditas cada palavra, aproveitando-as da maneira mais completa possível.
Desenvolvimento:
Chamamos esse momento de Conhecendo o Eu que se apresenta, por este
ser o primeiro passo de reflexões acerca do nosso eu. Passos dados com seriedade
e respeito diante de cada história de vida e da sensibilização dos participantes em
relembrar momentos de sua trajetória. Abrimos esse momento de recortes,
significados e sentimentos individuais, com a fala de Cheleb, sobre os
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questionamentos levantados na parte escrita e posteriormente reforçados no
despertar anímico.
[...] é legal relembrar os propósitos porque tu veio aqui? Porque tu mudou teus objetivos? Que quando eu vim pra cá eu fazia engenharia civil, e não tinha nada a ver com o que eu faço hoje, eu me encontrei com dança e publicidade, então assim...dá pra dar voltas por cima, recomeçar, se encontrar, não importa o tempo, a idade que você tem, que você possa tá sempre crescendo, acho que isso é muito importante, eu achei isso legal que também, eu tô me descobrindo como terapeuta eu acho. CHELEB
Cheleb inicia sua fala trazendo as reflexões do pensamento sobre as
escolhas de sua vida, os encontros e desencontros com as suas vontades e o real
propósito de suas necessidades, resgatando sua história, para conseguir ver mais
claramente seu Eu, diretamente ligado aquele sentir profundo que o fez mudar de
percurso, recomeçar e se descobrir como terapeuta.
Na continuidade deste diálogo, Caph, uma participante antiga do projeto,
recorda de sua trajetória e da descoberta de seu Eu, com grande entusiasmo.
Demonstra também em sua fala e em seus sentimentos a tristeza da aproximação
de uma despedida.
Eu me emocionei muito na escrita...ó...já me emociono (chora), pra mim é muito forte né? Vê tudo, assim... como tudo começou... Porque eu já estou a uns 3 anos e meio no projeto. E o projeto ele é muito forte, ele é mais...muito mais do que se imagina... Eu acho que eu me descobri, eu acho que não sei quem eu seria hoje se eu não tivesse passado por tudo isso que eu passei, se eu não tivesse conhecido as pessoas que eu conheci, então assim... (chorando) me dói pensar que um dia eu tenho que sair, nossa...é muito forte pra mim. E quando fez a pergunta ali, eu me fiz um resgate de como foi a minha entrada, percebendo inúmeros defeitos por ser tímida, e hoje eu vejo que...Meu! É uma qualidade muito legal num quarto! Então...o projeto pra mim ele mudou realmente a minha vida, não sei, eu não me vejo sem, não... não sei. CAPH
Caph, por estar/participar do grupo há mais tempo, passou por muitas
vivências coletivas e individuais que a fizeram se reconhecer como pessoa e como
terapeuta, demonstra em sua fala a incerteza e o vazio que a remete, por pensar em
futuramente não estar mais nesse lugar de descoberta. Ela passa por um momento
diferente dos demais, pois enquanto muitos chegam e estão em um processo de
olhar para dentro, ela já o fez, e nesse momento, olha para fora e se depara com a
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beleza do percurso e a saudade futura. De igual maneira, Pollux se emociona ao
trazer sua bagagem como terapeuta e observar o percurso dos seus novos colegas.
Eu estou só a um ano e meio no projeto mas... gente...vê a primeira formação de quem tá chegando, e vê que eles são sementinha como nós já fomos. Me vejo como se fosse mais velha, mas não tão mais velha de idade, mas tendo conhecimento do que eles passarão. Eu me emocionei por eles, por ver eles. Não me emocionei tanto por conhecer meu Eu hoje, mas por me ver no coração do outro. POLLUX
Pollux abre com uma fala profunda de autoconhecimento, remetendo-se ao
outro como uma parte sua. Ela nos faz refletir de que de certa forma, o
conhecimento do outro, passa primeiro pelo conhecimento do Eu. Se ver no coração
do outro, requer, se ver primeiro, descobrir a sua essência, repensar a sua trajetória
e aprender com ela, para assim, considerar a inteireza da experiência do outro.
As formações são muito fortes pra mim, aprendo muito. Eu nunca esqueço de uma vez que ela falou que: - é um resgate de essência, é você se aproximar da essência, é entender que nós somos repolhos (risos). É como se você tirasse as cascas do repolho e sobrasse um miolinho, e é isso que a gente resgata quando a gente trabalha o nosso eu, quando a gente se conhece, quando a gente resgata. Porque às vezes a gente na correria da vida, perde um pouco isso, e a gente tem que sempre tá buscando, sempre tá buscando... pra ir para aquele miolinho de novo. CAPH
O exemplo que Caph traz é de uma fala minha de muitos anos atrás, em que
um professor de primeiro ano do ensino médio me fez refletir sobre filosofia e
sociedade apenas com o exemplo da casca de repolho. E com o mesmo exemplo,
costumo trazer esse pensamento de que para crescermos enquanto pessoas,
precisamos reconhecer aos poucos, as cascas que nós colocamos em nossa
individualidade. Caph relembrou este aprendizado de suas formações anteriores e o
compartilhou com o novo grupo, após observar as falas de seus colegas. O assunto
se afinou, e refletimos sobre a profundidade em que olhamos para nós mesmos e
reconhecemos que estamos aprendendo a descobrir quem somos, e como podemos
nos ajudar coletivamente.
[...] acho que todo o processo tá sendo muito... no momento certo. Porque essa questão do autoconhecimento, acho que tem pouca gente praticando isso né? Tipo...infelizmente não dá pra ter todos os dias, quatro horas por dia refletindo sobre o que tu vai fazer, como você é, como pode ajudar o próximo. Então esses momentos a agente precisa aproveitar. Que é o que a gente tá fazendo, pra tá escutando realmente essa parte e tentar aplicar todo dia né... Não
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adianta você só vir aqui e amanhã já esquecer tudo o que pensou, refletiu, e que se autoconheceu. E é uma questão, assim... que não adianta...(estufa o peito), é uma questão de tempo. Não importa quantos anos você tem, você sempre tem alguma coisa pra evoluir, pra crescer e isso vai ser eterno. CHELEB
Nesta fala, Cheleb traz a sua inquietação frente a tudo o que percebeu neste
encontro, e sua vontade de agir com constância todos os dias para buscar meios de
se autoconhecer e aplicar em suas ações o melhor do que aprendeu. Mas
demonstra uma demanda de tempo que o inquieta. Nisso, nos remetemos a relação
do homem com o tempo, e como as relações tornaram-se superficiais frente às
novas demandas. É como se perdêssemos a referência do momento presente, para
viver apenas de maneira automática. Em complemento, Polaris nos diz:
Eu acho que a palavra que mais define isso tudo é autoconhecimento, porque a gente vai acabar participando da vida de outras pessoas no projeto, pra gente participar da vida de outros pessoas a gente tem que participar da nossa própria vida, a gente tem que se conhecer, a gente tem que ver o que está acontecendo. Muitas vezes a gente não faz isso, porque a gente vive no automático, a gente vem para a faculdade pelo mesmo caminho, a gente vai pra casa pelo mesmo caminho, a gente anda pelo mesmo lado da rua, a gente vai no mesmo mercado, a gente vai na mesma loja, e a gente está sempre no automático, a gente conversa com as mesmas pessoas, vive coisas muito parecidas naquele aspecto e se a gente sair disso, olhar pro nosso interior e começar a ver quem está ao redor da gente, o que essas pessoas tem, o que essas pessoas estão sentindo, Eu acho que vai melhorar e só assim vamos poder melhorar os outros, porque a gente vive o tempo todo pensando no futuro e sentindo o passado, mas a gente nunca tá no agora, e precisamos permitir viver esse agora, presenciar o agora e não pensar no futuro ou sentir o que já aconteceu, porque o que aconteceu já foi, e o que vai vir só Deus sabe.POLARIS
A fala de Polaris nos faz refletir sobre todos os véus que nos condicionamos
em nossos pensamentos e ações diárias, pouco sentidas e refletidas. A sociedade
nos coloca um pensamento e aceitamos, o trabalho nos impõe um condicionamento
e aceitamos, a família nos molda com suas tradições e aceitamos
inconscientemente a todos os padrões impostos em sociedade sem que paremos
para pensar e essencialmente sentir, se queremos ou não aquele condicionamento a
nós, demonstrando que nossos pensamentos, sentimentos e ações são reflexos de
uma total desconexão com o Eu. E quando começamos a retirar as cascas,
percebemos que algumas são mais difíceis de soltar, e mais doloridas, exigindo um
enfrentamento muito maior de nossa parte. Porém, quando conseguimos um contato
verdadeiro manifestado pelo sentir, pelo compreender da realidade e pela liberdade
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de escolher criticamente o nosso caminho, ou seja, as nossas ações no mundo,
encontramos uma base firme que nos motiva a seguir em frente e estarmos mais
próximos de nosso Eu.
É... três anos atrás eu era atendida por uma psicóloga, por um problema pessoal, e daí ela me trouxe a palavra resiliência, e daí eu sempre ouvia a palavra, todos os jeitos que falam sobre ela eu me identifico e a tatuei no meu corpo. Não tenho o que falar! (chora) Hoje eu me senti uma pessoa resiliente, uma pessoa forte e isso foi o que me emocionou! MEROPE
O que Merope descreve em sua fala é o reconhecimento de sua força interior
presente na integração do nosso corpo, alma e espírito. Ouvir a palavra resiliência,
não é o mesmo que sentir-se resiliente. Sentir como Merope nos trouxe, significa
reconhecer verdadeiramente sua natureza, e isso a emocionou pois passou de uma
compreensão mental, para uma vivência sentida de sua própria natureza forte e
resiliente. Perceber o que de fato importa dentro e fora de nós, para dar sentido à
vida.
O tempo não é nada, você aprende a cada dia com o outro, com as pessoas...e eu sempre...eu gosto muito daquela frase do Cortela que ele diz: que a vida é muito curta para ser pequena. Então é você valorizar as pequenas coisas, de um olhar...nossa como eu tinha dificuldade pra olhar... e eu aprendi isso contigo, e como isso é importante né? Um olhar, um abraço, quantas vezes a gente passa pelas pessoas e não olha, não dá oi...passa pela faculdade e as vezes é do mesmo curso e nem sabe, nem dá oi. Então é parar e ...gente pra ser gente precisa de gente, precisa de contato né? Então, acho que é um eterno aprendizado e eu sou muito grata. CAPH
Caph traz o contato com o outro como uma oportunidade de aprendizado.
Valorizar a forma de lidar com as pessoas e de enxergar o mundo de uma maneira
mais amorosa, compreendendo que precisamos do outro para dar sentido à
existência e nos direcionarmos em nossas ações. Nessa mesma perspectiva de
parar para perceber o outro, realizamos uma atividade de contato visual no decorrer
do Despertar Corpóreo, que marcou muito os integrantes do grupo, pois olhar para
seu espelho interno, e após isso, refleti-lo olhando ao outro, olho no olho, foi uma
dinâmica desafiadora ao grupo, da qual nos reverberou reflexões e diálogos.
Acho que foi o contato visual, manter o olho no olhar do outro, qualquer um conversar tu já dá uma desviada. Agora, é muito difícil porque é uma prática que tu não tem diariamente, entendeu? Conversar tu conversa, agora ficar ali, olhando no olho um do outro,
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tentando sentir o que a pessoa está tentando te passar pelo olhar, acho que muita gente deve ter penado, porque é uma coisa que a gente não faz, tu conversar com a pessoa olhando no olho da pessoa isso é muito raro, muito raro... tu falas com a pessoa olhando no celular né... agora no olho no olho, acho que hoje em dia não tem tanto como devia ter antes, assim.ZANIAH
É que eu acho que o olhar revela muito sobre a pessoa. SHAM
Engraçado, porque isso pra mim foi um momento muito intenso, pra mim foi muito f... (procurando palavras) natural, gostoso, um momento muito bom. Porque, como a CAPH disse, a gente tá muito acostumado a buscar, a ficar na superfície das pessoas assim, e quando eu tava olhando no olho da pessoa, e a pessoa olhando no meu olho, primeira coisa que eu pensei foi: - Essa pessoa tá olhando pra mim, ela não tá olhando em mim. Ela não está olhando a roupa que eu estou vestindo, ela não está olhando meu cabelo, que curso que eu faço, ela está olhando pra mim, quem eu sou, o que eu sou, e se sentir importante num universo desse tamanho (referência com as mãos para grande), pra uma pessoa que seja por cinco minutos, é lindo...é um momento que não tem explicação. CANOPUS
Zaniah reflete bem a situação atual que nos deparamos, uma ação e
pensamento desconecto do sentir e da compreensão do valor das relações. Sham
nos abre uma brecha para compreendermos que é pelo olhar do qual adentramos o
mundo interno do outro. E Canopus em sua fala, nos traz o objetivo da atividade e a
compreensão deste sentir profundo do Eu, sem interferências mentais, sem
interferências de negações, bloqueios e julgamentos, apenas olhar e perceber quem
está a sua frente. Relembrando a atividade proposta, pude como mediadora
presenciar o momento do qual Canopus descreve, e sem dúvida alguma, o olhar de
ambos (Canopus e sua dupla) refletiu esse momento, foi como uma parada no
tempo, olho no olho. Ao final da atividade, os dois se abraçaram e se emocionaram
juntos. E...eu também.
Eu nunca me senti tão em casa, com pessoas que assim, eu nunca vi na minha vida antes, sabe? E a única coisa que eu estou sentindo é tanto amor... sabe? Uma acolhida em casa, e eu só consigo sentir gratidão por tudo o que você fez a gente sentir sabe? Essa conexão. E eu tô com medo de ir embora e essa conexão, não tá mais comigo sabe? (risos coletivos).AZHA
Azha por sua vez, nos traz o sentimento de amor e gratidão que sentiu por
viver as atividades com o grupo. Talvez, não tenha compreendido a razão pela qual
sentiu tanto amor, mas o sentir foi acionado pelo sentimento de estar em casa. Este
sentimento pode estar ligado a ter vivenciado “relances” de sua própria natureza
anímica, que é amor e coletividade. Seu medo de perder o que foi acionado é
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natural, pois estamos todos aprendendo a lidar com esse “estado de amor” e
compreensão das coisas. E quando lidamos com polaridades, ou seja, a dualidade e
conflito entre o pensar, o sentir e querer, o contrário do amor não é o ódio, e sim o
medo. Azha sentiu medo em contraponto ao amor.
Ao final, realizamos uma roda de mãos dadas e soltamos palavras e
expressões que fizeram sentido para cada um nesse primeiro encontro. Sendo elas:
amor, gratidão, plenitude, paz, conhecimento, beleza, emoção, felicidade, luz e
energia pura, resiliência, leveza, luz, carinho, ser e estar, transcendência, verdade,
vida, prazer, liberdade, sintonia, força, pensamento, sentimento e vontade,
conectividade porque isso está maravilhoso, equilíbrio, descoberta. A palavra que
deixei ao grupo foi doação e entrega.
2. Segundo encontro (02/09/2017)
Sentir para Ser: aprofundando a descoberta do Eu
Iniciamos essa oficina com uma conversa inicial sobre acontecimentos da
última semana que abalaram todos os envolvidos em nossa Universidade e bairro.
No dia anterior, houve um confronto entre bandidos e policiais próximo a nossa
universidade, um ônibus de estudantes foi queimado, alguns feridos, e houve pânico
nos corredores, confusão e muita agitação. Vans cancelaram a ida para a
Universidade no sábado de manhã (dia de nossa oficina), por medo de novas ações
de bandidos. E como nossa formação permaneceu neste dia, houve uma diminuição
do número de terapeutas presentes, pois muitos moram em outras cidades e
necessitavam de transporte para chegar ao local.
Iniciei conversando um pouco sobre o que estávamos vivendo. Que aquele
dia era um dia de “pós trauma”, de “pós guerra”, um dia de resistência e coragem.
Reafirmei dizendo que todo dia na verdade é dia de coragem, resistência, de força e
união, dia de escolher o amor. Mas naquele dia, parecia que estávamos mais
conectados a esse ensinamento... mesmo com toda a tensão do estresse e medo
vividos... estávamos em um grupo de mais ou menos 15 pessoas. Relembrei de uma
imagem da internet, em que uma criança entrega uma flor aos soldados armados em
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meio a uma guerra. Estávamos vivendo isso, entregando essa florzinha para nós
mesmos diante do medo, nos permitindo amar além do medo.
Novamente realizei a leitura prévia das orientações aos participantes, por
considerar que a cada leitura novos níveis de compreensão são acessados, pois as
experiências vivenciadas na oficina anterior abrem espaços mentais para novas
compreensões e o entrelaçamento é feito. O que antes era apenas um conteúdo
mental, agora passa por um conteúdo vivenciado, e após uma nova leitura, abre-se
brechas para a reflexão e novos jeitos de ver.
Realizamos o Despertar Corpóreo Meditativo. E após iniciamos o Despertar
Anímico aprofundado em três níveis: o da concentração, da reflexão e do sentir. Na
concentração anímica, trabalhamos com um exercício de pedras, onde realizamos
uma atividade de 30 minutos apenas mexendo com estas de maneira ordenada, se
atendo a organização da atividade para seu posicionamento de maneira correta e a
audição das músicas que estavam sendo tocadas. Na reflexão anímica, por meio da
identificação das polaridades do corpo das sensações, quais os bloqueios, as
resistências, dificuldades e potencialidades das atividades vividas anteriormente e
seus aprendizados. E no sentir anímico, buscamos trazer a identificação com a
imagem verdadeira, a força potencial individual de cada participante. Ao final, o
compartilhamento e o encerramento.
Desenvolvimento:
Tudo o que está sendo feito nesse momento, eu prefiro que não seja explicado, tudo tem uma razão e terá fundamentação, mas eu quero que vocês cheguem no entendimento sem que eu fale, justamente para que tenha um entrelaçamento. Mas algumas coisas que eu precisar dizer por agora, no momento, eu irei dizer. Porque assim gente, o mental ele é muito engraçado, ele sempre...você pode estar pronto para viver a experiência mais incrível da sua vida, mas ele sempre vai querer saber o que vem depois, você nem viveu aquilo, nem se permitiu viver aquilo, mas já está questionando como será depois, se nem viveu ainda. E se eu trago respostas, o porquê de cada coisa, ele já vai conduzir a um resultado mental de interpretação de um fenômeno, igual para todo mundo. E NÃO É, cada um vai vivenciar aquilo da sua maneira, e é aí que todos, o grupo, vai criando aos poucos uma acolhida ao aprendizado, mas o que cada um traz pra si é diferente. E se eu dou a resposta: essa atividade é para isso, e vocês vão acessar isso. De que adiantou vivenciar a atividade se vocês já sabem onde vão chegar, pois o mental já fechou o caminho dizendo: Eu sei. Quando na verdade, nem mesmo a minha compreensão de onde vocês podem chegar,
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não está nem perto de onde vocês podem chegar por conta própria, chegando muito mais longe do que eu posso prever numa atividade que eu posso fazer. Apesar... de que tudo o que eu irei passar pra vocês já foi vivenciado por mim. Tudo o que eu falo e o que eu faço eu já vivenciei, então eu não vou chegar aqui somente com teorias que eu não tenha comprovado por experiência. Só que eu não quero que vocês acreditem, eu quero que vocês vivam! - A tá, é por aqui...quando eu corro eu acesso isso.
Iniciei conversando um pouco com eles sobre as atividades propostas e
porque eu não estava explicando para que serviam, diferente de uma aula
explicativa ou de uma oficina com resultados prontos a serem alcançados. Também
busco trazer minha bagagem como terapeuta, para que eles tenham segurança no
caminho e busquem as próprias experiências, sem corresponder a “ideia” da
atividade, apenas “vivendo-a” livremente.
Abrimos a primeira e a segunda oficina com frases de ancoragem e abertura
pessoal: Eu estou aqui. Eu Permito me conhecer. Eu permito te conhecer. Após
iniciamos as atividades do despertar corpóreo meditativo e o despertar da alma da
consciência, com as pedrinhas.
As atividades do despertar corpóreo meditativo foram trabalhadas como no
primeiro encontro, porém, com uma variação de exercícios que mobilizavam o
quadril e membros inferiores, visto a necessidade de ancoramento (estabilidade
mental e emocional) para as vivências consecutivas. Como dito anteriormente,
percebeu-se que este grupo havia uma demanda sensível perceptível, e para que
trabalhássemos de maneira mais eficaz em todos os âmbitos, precisamos pensar
em atividades que pudessem equilibrar os ciclos da vivência, de seu início ao seu
fim.
As atividades do despertar corpóreo foram “bem puxadas” neste dia,
trabalhamos com exercícios de contração e expansão corpórea à exaustão. Como
mediadora do grupo, precisava ter certeza de que estavam bem ancorados para
conseguirmos adentrar as outras atividades do despertar da alma de maneira que
chegassem a uma profundidade de seu contato interior, com maior clareza e
domínio de si. Desta forma, crescemos em vibração (pois ativamos todas as partes
do nosso corpo físico) e após percebemos os pontos de desequilíbrio e dificuldade.
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Após iniciamos o Despertar da alma pela reflexão, identificando assim o corpo
das sensações, por um direcionamento guiado de perguntas como: Percebam os
pontos de tensão dos quais tiveram, quais os pontos que te fizeram ficar
desconfortáveis, os momentos que te fizeram sentir dificuldade. Perceba qual
dificuldade apareceu, e em que momento apareceu e se questione, qual é a raiz
dessa dificuldade. Esqueçam nesse momento julgamento, do gostei ou não gostei.
Relembrem as atividades vividas, relembrem o ponto de tensão, qual era e qual a
raiz desse ponto de tensão... lidar com a irritação, com a dificuldade, com algo novo
que nunca se tenha vivenciado, ultrapassar, compreender. Reafirmei de que
identificar a raiz da resistência ofereceria possibilidades de criar uma maior
resiliência e autoconhecimento.
Depois de crescer em energia (Despertar Corpóreo) e identificar as
dificuldades (Despertar da alma das sensações), adentramos a atividade do
Despertar da alma da consciência pela concentração, que exigiu dos participantes
uma disposição interna pouco acessada em atividades comuns. Eram movimentos
repetitivos e necessitavam de um controle motor e controle mental para aquietar a
mente e manter o foco na atividade, observando, porém, os pensamentos e
sentimentos presentes durante a ação. Canopus e Cheleb fazem referência ao
movimento:
Eu entendi que as coisas ao meu redor se movimentam de acordo com o que eu quero, de acordo com o meu movimento. Se eu me movimentar rápido nem sempre será com a mesma qualidade, mas as coisas ao meu redor se movimentarão com a minha condução. Se eu me movimentar lento, as coisas ao meu redor estarão do ritmo que eu estiver. CANOPUS
Eu imaginava que a cada movimento que você faz é diferente do outro, então nunca se repete, uma hora você mudava a pedrinha e a trocava de lugar, mas elas não estavam posicionadas da mesma maneira. Esse é um momento nosso também. Cada vez vai ser diferente, então tem que ser vivenciado de forma diferente. CHELEB
A noção de movimento é acessada pelo impulso da ação, e da observação de
processos de vida. A cada dia as coisas se modificam e escolhemos em qual fluxo
seguir na medida em que percebemos os impulsos e seus ritmos.
[...] eu fui buscando um sentido. Vários sentidos na verdade, além da paciência, concentração, comecei a dinamizar, daí fui buscando um ritmo e fui tentando me encaixar. CHELEB
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Eu achei difícil começar a entender que eu preciso seguir o meu ritmo, achar o meu ritmo e seguir nele. CANOPUS
Quando se encontra um ritmo do qual se é confortável, abre-se brechas para
o próximo passo, o silêncio. Primeiro se explica tudo pelo mental, buscam-se
sentidos e significados para compreender o que se está fazendo e porque está
fazendo. Já no silêncio, abre-se brechas para viver a experiência pelo sentir.
Completando o ciclo de vivências neste dia, realizamos uma meditação
guiada com o objetivo de identificar a imagem verdadeira, a força potencial individual
de toda a bagagem acessada no primeiro e segundo encontro, para que assim,
pudesse haver um fechamento e uma maior compreensão de processos anímicos
vivenciados.
Após, o compartilhamento, do qual iniciei agradecendo todas as histórias de
vida compartilhadas e do quanto eu estava feliz por estarmos vivendo esse processo
de descoberta juntos. Que cada um conseguiu expressar em palavras a sua história,
e que as histórias são lindas como são.
[...]Umas de dor, outras de amor, mas foi por meio dela que te trouxe aqui. Foi a tua vida, a vida que é pra ser vivida com as diferentes experiências. E estar aqui hoje é a questão da resiliência. É ser resiliente diante de várias coisas que passaram no caminho. E ser resiliente é reconhecer essa força, que as vezes a gente coloca no outro sabe? O que foi aberto na semana anterior, provavelmente mexeu muito com cada um, não aqui nesse momento. Abriram portas pra ser trabalhadas depois, mas ficou vestígios do passado pra ser trabalho, que ainda não tenha sido compreendido e significado. Então, coloquem um significado a todo o passado, atribuam a ele a força que foi gerada, que você vivenciou, o impulso que ele gerou. Tudo bem a raiva, a revolta...mas hoje se permitam transformar isso em outra coisa, nesse poder criativo que nós somos, a gente pode, a gente consegue. E eu gostaria de que cada um falasse agora, individualmente como foi hoje.
E assim, iniciamos o compartilhamento.
Semana passada por alguns motivos eu não pude vir, mas eu gostei muito da formação de hoje. É legal esse negócio de tu trazer a nossa memória das coisas que tu já passaste, que tu já viveu até aqui. Eu por exemplo nesses últimos seis anos eu tô dentro da faculdade, já foram milhões de altos, milhões de baixos, é... entra felicidade, passou, conseguiu bolsa, legal; perdeu bolsa; conseguiu bolsa de novo, show de bola; termina com a namorada que já tava quase casando; fica um tempo sozinho, um bom tempo sozinho... faz novos amigos, reencontra velhos amigos, mantém bons amigos...e tudo coisas que ajudaram. Sim, família ajuda muito, amigos ajuda muito.
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Mas se não tiver a minha força de vontade, o meu querer, eu não iria conseguir tá aqui hoje, fazer tudo o que eu fiz e ter as conquistas apesar das últimas semanas... É... Um turbilhão de coisas de emoções, longe de família, a mãe tem um ano que não vejo (chora), a saudade bate bem forte... e é isso, eu sou muito feliz por tá participando tanto tempo nesse projeto, trouxe pra mim coisas maravilhosas, aprendizados que eu desde lá do começo me fizeram me conhecer, transformou, modificou. É isso, eu só tenho a agradecer.DENEB
Deneb nos traz a percepção sobre a impermanência, sobre as
transformações de sua vida que o impactaram, mas que o fizeram reconhecer, frente
as dificuldades, o valor da ajuda do outro, como amigos e família, mas em
específico, o reconhecimento da sua própria força de vontade, o seu querer que
sobrepõem as dificuldades em direção as conquistas que almeja e que o trazem
felicidade e esse sentir profundo de “valer a pena” cada aprendizado. No qual
Aldebaran complementa:
As vezes a gente acha que nossa vida está estagnada e nada tá em transito, mas a gente percebe que quando a gente tira uma coisa de um lugar e coloca em outro, pode permanecer na mesma linha, mas as coisas já não são mais as mesmas. Na mesma hora que você acha que está na mesma linha, parado e estagnado, você está em constante evolução. Na última semana que a gente fez, ainda percebe que a gente ainda se esconde, tem os nossos medos, nossas inseguranças e precisa se mostrar um pouco mais. Mesmo assim, a gente tem que valorizar as cargas dessa história tudo que a gente passou nos permitiu estar aqui hoje, nos modificou e nos deixou prontos para esse momento.ALDEBARAN
Mesmo o sentido de permanecer em um mesmo lugar por medo ou
insegurança, ou por trazer marcas profundas de sua história ainda em construção e
liberação, o fato de se “ausentar/esconder”, te coloca na posição de observador das
coisas. E nesse observar, compreendesse que tudo o que se modifica a nossa volta,
nos traz o aprendizado necessário para o momento do agora, em constante
evolução.
A mudança de ritmo, o passo acelerado do nosso dia a dia, faz com que
percamos o compasso de nosso ritmo interno. Retemos os nossos sentimentos, e
não paramos para perceber as coisas a nossa volta e a dinâmica que elas nos
oferecem em nossa história.
Essa semana eu senti que eu consegui me reconhecer um pouquinho mais. Na semana passada aquela emoção em que eu senti ...me dava vontade de chorar. Daí hoje eu consegui ampliar o
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meu olhar, perceber mais os outros e também na minha história, e esse negócio da mudança que ele falou eu também percebi bastante. As coisas ao nosso redor estão acontecendo e isso faz com que a gente saia do nosso ritmo. Acho que é isso. Penso mais algumas coisas, mas acho que eu não consigo colocar (chora).MIRA
Evidenciamos que esse “reter” de sentimentos, fez com que o grupo fosse
mais sensível as atividades propostas, pois haviam acúmulos de sentimentos e
vivências guardadas em si para serem reconhecidas, e que pouca ou nenhuma vez
foram acessadas ao ponto de serem sentidas, refletidas e compreendidas, ou seja,
de forma resiliente a ser ressignificada.
Pra mim semana passada foi muito forte porque eu não imaginava o que iria acontecer e pra mim lidar com tanto sentimento que eu acabei lidando, então foi muito, muito forte mesmo. Hoje, acredito que não foi tanto com essa intensidade, porque eu já imaginava que eu iria trabalhar com isso novamente. Semana passada foi um choque assim, ficar de frente comigo mesma, sabe? E eu também tive a sensação de que era pra eu tá aqui, eu tava no lugar certo, na hora certa, no momento certo pra mim, foi muito intenso. Hoje senti que foi mais do pensar, tive que refletir bastante, semana passada foi muito sentimento, muito, muito, muito sentir assim. E eu também tô muito feliz, muito feliz, e eu tô ansiosa para as próximas, parar pra refletir, parar para me ver, porque eu nunca parei, então tá tudo sendo uma grande descoberta assim. MIRFAK
Mirfaknos refere ao sentimento de susto e felicidade por se ver frente a frente
consigo. Nos traz ao final de sua fala o sentimento de pertencimento, de estar no
“lugar certo” com todas as circunstâncias favoráveis a sua descoberta de si. (...)
também nos traz em sua fala o sentimento de pertencimento:
Semana passada eu vim sem expectativa nenhuma, saber como é que era, mas quando eu cheguei aqui eu sabia que aqui era meu lugar. E eu não e considero uma pessoa emotiva, mas quando eu cheguei aqui foi uma explosão de sentimentos que eu não tinha como segurar, como controlar, e parece que veio tudo aflorando. E hoje, na de hoje eu me sinto leve, foi tudo muito leve, parece que eu aceitei o sentimento que eu não mostrava e eu me libertei assim, que aqui é o meu lugar, me sinto conectada com as pessoas mesmo sem conhecer, mesmo sem ter conversado, hoje eu me sinto livre, leve. MIAPLACIDUS
Ambas demonstram que após a “explosão de sentimentos”, após conseguir
se “ver”, perceber o que guardava dentro de si sem muitas vezes compreender,
abriram-se para o pensamento de liberdade, advindo pelo sentimento de
pertencimento e pelo profundo sentir e conectar com a liberdade interior.
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Eu tô muito feliz, porque eu não via a hora de chegar a formação, e eu sabia que ia ser incrível e eu não me enganei. A gente acorda cedo pra chegar aqui 08:00h da manhã de um sábado, mas sabia que quando eu chegasse já ia tudo mudar, e foi isso que aconteceu. Eu não sei se a gente vai fazer a brincadeirinha da palavra no final, mas a palavra que eu escolho pra hoje é libertador. Porque foi a formação mais libertadora que eu já tive, de não me importar se tinha gente olhando, não importar se o amigo estava girando, fazendo isso ou aquilo, tava eu lá girando sem me importar com nada...hulllll (uma comemoração). E eu nem aí, foi assim, eu nunca me senti tão livre no meio de tanta gente. E eu adorei, e eu espero que só melhore. BELLATRIX
Como as atividades são justamente de quebra de paradigmas, para que
saindo de nossa zona de conforto, ou do lugar em que nos colocamos de “ausência”
de nós, possamos novamente nos perceber nesse espaço, de maneira diferente,
uma das coisas é observar a si mesmo e concentrar a sua observação em si, para
que assim, o aprofundamento do caminho interior solucione as demandas internas
da melhor maneira possível. Diante de uma segurança interna, de uma escuta
qualificada a nós mesmos, ocuparmos a posição e terapeutas uns dos outros. Pois é
necessário um intimo contato interno, para a responsabilidade de entrar no outro e
auxiliá-lo.
Relembrar das escolhas em um momento de “lucidez”, e buscar o sentido
pelo qual se está onde está, traz a força e segurança no caminho para seguir. Seguir
a história, muitas vezes não é fácil diante do que é preciso se enfrentar e
reconhecer...lembranças, marcas de incompreensão... eCheleb nos traz o
ressignificar de sua história que, buscando compreender algumas situações,
compreende o aprendizado vivido, e agradecendo pelas coisas boas que ficaram.
Primeiro eu gostaria de falar que eu tô muito feliz de estar vivenciando tudo isso né? Eu acho que é algo bem verdadeiro e tem um propósito bem legal e eu acho que é uma evolução, e você tem que se desafiar a cada sábado de formação e cada sábado ser melhor. Pelo menos eu, sábado retrasado eu sai pensando que cada coisa da minha história teve o momento certo, tanto as coisas ruins, quanto as coisas boas, hoje eu consigo olhar pra trás e ver, que as coisas ruins eu tive que passar por aquilo, agora já foi, até pra que não cometa os mesmos erros e futuramente, e as coisas boas a gente só tem que agradecer. Hoje eu me senti mais à vontade assim, se enturmar, me soltar, achei leve, não que seja leve de fácil, mas leve de mais vontade. CHELEB
E quanto mais profundo o mergulho para dentro de si, mas dentro do passado
estamos e mais próximos do presente permanecemos.
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Semana passada pra essa semana, eu não sei vocês assim, mas eu percebi quanta coisa a gente varre pra debaixo do tapete pra varrer depois e a gente só se dá conta que tá muito sujo quando a gente levanta o tapete e vê: gente do céu, tá tudo aí! (risos coletivos) foi bem assim semana passada, foi, foi a semana de olhar pra debaixo do tapete e pensar: o que que eu vou fazer com isso? [...]E semana passada quando eu olhei para o meu passado, eu olhava para os momentos muito felizes, mas os momentos tristes que eu tinha deixado debaixo do tapete era como se eu tivesse vivido todos eles de novo. E eles estavam ali, estavam doendo, estavam me machucando, era só um band-aid em cima pra disfarçar. E hoje quando eu olhei pra eles, eles só estavam lá sabe? Ah, tá...eu vivi...legal... foi difícil mais eu aprendi com isso, aprendi com grande parte deles, claro que não leva duas semanas, mas eu consigo olhar pra eles hoje com muito mais leveza e muito menos culpa e dor do que eu olhei semana retrasada por exemplo. CANOPUS
Olhar para o passado, no grupo, remeteu este aprendizado, o de enxergar
onde estamos em nosso interior, quais as marcas que carregamos de nosso
passado e quais os sonhos que levamos em nosso peito por amor ao nosso
presente e futuro. Parte desta descoberta, conseguimos fazer sozinhos e parte dela,
fizemos em conjunto. Compreender o que se consegue fazer sozinho e o que é
preciso da ajuda externa para resolver é um passo que requer autoconhecimento,
confiança e entrega. A busca pelo equilíbrio do pensar-sentir e querer é uma
constante.
Hoje foi bem mais fácil pra mim, eu consegui me concentrar bem mais, aproveitei muito no outro sábado também, mas não sei, parece que foi como tu falou, ah... fecha o olho! Eu fechava o outro e ficava meio assim (de olho aberto! Risos coletivos). E hoje, a minha maior vontade era de ficar de olho fechado, não dava vontade de abrir, porque parecia muito mais fácil eu conectar comigo mesma, e eu acho que vai ficar ainda mais fácil. Eu acho. ANTARES
O que Antares nos traz é o sentimento de pertencimento a si, o de entrega a
si mesmo, a esse espelho interior. Na medida em que conseguiu parar de analisar
tanto fora, e começou a perceber o interno, se conectou consigo e acalmou-se. Mas
nem sempre é assim... muitos apresentavam resistências a atividade, por demandas
internas variadas. Mas mesmo esses, obtiveram os resultados que puderam
perceber mediante a sua entrega. Antes de chegarmos a observar de fato, nos
colocamos normalmente numa condição de luta ou fuga, isso está em nossos
mecanismos de defesa e proteção.
Eu pude me soltar mais hoje, porque eu sou muito tímida, e tenho dificuldades. Mas eu vejo que eu pude me conhecer mais hoje, me soltar um pouco mais. Hoje foi leve.GIEDI
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Eu gostei tanto do sábado passado quanto de hoje, mas eu...um pouco menos de hoje, porque eu tenho uma dificuldade de ficar parada, eu sou meio ligada no 220, aí ficar ali mexendo as pedrinhas ali foi chato.ALTAIR
Eu só encontrei uma dificuldade hoje, no momento da dança, foi bem melhor da semana passada. Eu vou confessar que eu tive julgamentos, e hoje eu já não tive, eu olhei assim e tinha vontade de rir da pessoa, de debochar, e hoje já não tava assim (risos coletivos). E hoje já não teve isso, eu trabalhei mais a minha entrega, e eu trabalhei essas duas semanas isso. Cheleb, você não precisa avaliar os outros, ninguém precisa saber fazer pirueta, ninguém precisa saber dançar como você, eles não sabem disso, entendeu? E hoje eu não tive nenhum momento disso. E isso é legal, você está evoluindo, vai crescendo, se desafiando, acho que esse é um grande desafio meu. CHELEB
O entendimento da experiência ocorreu na medida necessária para cada um,
para o que precisava naquele momento. Alguns ficaram mais na alma das
sensações, outros na alma do intelecto e outros chegaram na integração de ambos
pela alma da consciência, como nos traz Polaris:
Bom, hoje acho que hoje se caracteriza mais por eu ter experiência e entendimento, porque semana passada foi mais autoconhecimento, conhecer a si mesmo e as pessoas que estão aqui. E hoje já foi a conclusão daquilo, porque quando a gente se conhece a gente pode vivenciar uma coisa, e a gente pode fazer uma associação e fazer um atendimento daquilo que tá acontecendo, dos pensamentos, das atitudes, das coisas e tudo mais, associando isso com aquilo que tu viveu na outra formação.POLARIS
Ao final, uma música para o encerramento e todos, de mãos dadas, vão ao
centro da sala. Este é o momento final do grupo de agradecimento e conexão
coletiva. Momento de muita emoção em que são ditas palavras chaves do que foi
aprendido, e objetivos enviados em emanações a todos que queremos bem, família,
amigos, sociedade. Depois, trazendo tudo pra si. Eu me amo, e eu sou...
3. Terceiro encontro (16/09/2017)
A corporificação do Eu: a integração anímica da Trina Essência.
Iniciamos com uma conversa sobre como foi a semana e como estavam
naquele dia. Pode-se perceber pela fisionomia e corpo do grupo, que grande parte
estava exausta com a rotina daquela semana, e em conversa, citaram terem
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realizado muitas provas e trabalhos de diferentes matérias, gerando tensão,
estresse, ansiedade e medo. Desta forma, iniciei com a leitura das orientações e
após o início do Despertar Corpóreo Meditativo com o objetivo de externar os
sentimentos desagradáveis da semana, retirando de si, todo o acumulo de tensão
pela liberação do corpo.
Ao perceberem o corpo mais leve, iniciamos um exercício respiratório de
conexão e alinhamento, onde todos os participantes deitaram no chão e imaginaram
individualmente, uma luz com a cor de sua preferência, passando por cada parte do
corpo e reconhecendo o movimento.
Em continuação, realizamos nesse dia o Despertar da Alma da consciência
pela concentração, do qual trabalhamos com o exercício das pedrinhas,
aproximadamente 30 minutos, as movimentando de maneira ordenada, se atendo a
audição das músicas. Porém, por ser o segundo dia de aplicação, consideramos que
esse exercício, por si só, é um aprofundamento do Despertar da Alma nos três
níveis, visto que necessita de concentração, é um disparador de reflexão, e quando
em silêncio (objetivo principal do exercício); traz o sentimento profundo de si.
Ao final, realizamos a Ancoragem do Eu pela Ativação do Corpo de Luz
Ígnea, que consiste em um exercício de entrega, coragem e reconhecimento de sua
força interior e após, a ativação do Corpo Solar pelas afirmações.
Desenvolvimento
Por ser o terceiro encontro, no grupo já havia uma afinidade. Os participantes
já estavam integrados, e os que ainda tinham dificuldades para essa integração, já
observavam e demonstravam de maneira discreta, o sorriso e a satisfação de
conhecer novas pessoas.
Após perceber que a semana havia sido “pesada” para a grande parte dos
participantes, iniciamos com os exercícios do Despertar Corpóreo Meditativo,
buscando liberar as tensões. Trabalhamos de maneira mais consistente os
exercícios de contração e expansão, força e relaxamento. Quando o corpo já estava
mais “solto” (percepção vinda pelos participantes) colocamos em prática o exercício
de conexão e alinhamento, finalizando com uma música de integração coletiva
chamada Somos Um – do Rei Leão, em que dávamos um abraço.
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Pode-se perceber emoção em alguns participantes no momento do exercício
de conexão e alinhamento, e em maior número de pessoas no momento do abraço e
da música. Tais percepções foram expressas pelas palavras no grande grupo: Amor,
gratidão, paz, compaixão, regeneração, liberdade, alivio, sossego, tranquilidade,
sintonia, leveza, afeto, alivio, felicidade, verdade, preenchimento, sinceridade.
Diante dessas palavras, pode-se observar a abertura e o movimento anímico
gerado pelos exercícios do Despertar Corpóreo. Pois todas as palavras acionadas
foram geradas por um impulso de reconhecimento. Nenhuma palavra é em vão, e
cada palavra traz consigo o reconhecimento individual e coletivo do significado
atribuído a ela. De certa forma houve uma criação interna e psíquica para que essas
palavras fossem liberadas naquele momento.
Mencionei ao grupo que retornaríamos a atividade do encontro anterior
relacionada às pedrinhas, mas que por já reconhecerem a atividade, poderiam se
dedicar um pouco mais. Diante de todas as palavras, seus significados e o lugar
dentro de si acessado, solicitei:
[...] então com muita calma, ocupem esse lugar de sinceridade, de tranquilidade, porque ele já é seu por direito, sabe? Ocupem esse lugar nesse momento, peguem as pedrinhas e sentem em círculo aqui nesse espaço.
Com as pedrinhas, pude observar que alguns demonstravam dificuldade em
permanecerem na atividade, sendo que alguns estavam realizando o exercício pela
primeira vez.
Eu não sei se sou louca, mas eu pensei em um monte de coisa, nada a ver. Eu vi que essas duas pedrinhas [referindo-se a segunda e a quarta] não interagiam com as outras e isso me deixou bem irritada, porque todas se mexiam, mas essas não se permitiam em interagir com as outras. Eu não tava ouvindo a música, eu não tava prestando atenção em nada, mas meu DEUS, essas duas só fazem isso, elas não interagem umas com as outras, daí eu ouvi uma frase de uma música: - interagem entre si. Claro, elas só interagem entre si, mas elas não querem ir com as outras. CAPELLA
Capella nos mostra que a mesma atividade de concentração, também
acionou nela a reflexão. Trouxe as sensações de agrado e desagrado da alma das
sensações, porém, analisando minuciosamente os movimentos, para buscar o
sentido real da vivência interna para ela.
77
Eu nunca fui no hospital, mas eu imagino que possa ser o paciente e a pessoa que está acompanhando, e elas não querem, e dá agonia, porque do começo ao fim elas permaneceram iguais. E eu vi também que eu não conseguia deixar elas retas. Depois todas elas em conjunto elas se alinhavam novamente. E eu vi isso nessa semana assim, que foi bem complicada [voz tremula de choro] e eu vi que dá pra alinhar, dá pra alinhar. CAPELLA
Capellatraz sua reflexão e aprendizado de uma vivência individual. Muitos do
grupo assim o fizeram, porém, nem tudo foi compartilhado no grande grupo. Alguns
se revelaram individualmente comigo, expondo suas vivências e sentimentos, porém
não puderam ser descritos por uma condução ética.
Nesta mesma atividade em continuação, a integração da alma da consciência
foi vivenciada pelo silêncio, despertando o principal objetivo da atividade, segundo
Antares.
Eu não fechei o olho pra me motivar ou pra tentar ver se eu conseguia fazer de um jeito diferente. Na semana passada eu achava que a atividade da pedrinha era pra trabalhar a concentração, o foco, e todas essas coisas a gente precisa treinar ou não pra conseguir. Mas não sei, acho que essa semana eu tava tão desligada, e daqui a pouco comecei a perceber na atividade o pensar, o sentir e o agir. O Ser humano é o pensar, o sentir e o agir. E de repente eu estava na atividade, e eu pensava na pedra e não pensava em agir, eu agia sem pensar e aquilo começava a se confundir. Mas o movimento assim eu fazia certo, mas não sei se estava organizado na mesma sequência. Mas...é que eu...pensando no mundo em que a gente vive, é uma grande dificuldade assim, tipo eu: é um feriado, eu moro longe dos meus pais e meu namorado mora aqui, então eu penso em ficar com meu namorado, eu quero ficar com meu namorado, eu vou pra casa ver meus pais. Porque que a gente faz as coisas se elas deveriam estar alinhadas, porque que a gente faz segmentada, sabe? Então, foi isso que me veio com as pedrinhas. Que quando eu fechava os olhos eu conseguia pensar, agir e sentir uma coisa só, e quando eu tava de olho aberto eu não sei...eu pensava que eu ia mexer mais eu não tinha mexido ainda, daí eu já tava pensando no próximo resultado... então foi por isso que eu fechei os olhos. ANTARES
Finalizamos com a Ancoragem do Eu, pela ativação do corpo de Luz ígnea,
em que pudemos observar um dos momentos mais marcantes do grupo. Essa
atividade mexeu com a coragem e força do grupo. Em uma breve descrição, eram
selecionados cinco participantes para fazerem a atividade, que se posicionavam no
extremo central da sala, e os demais nas extremidades laterais. Desta forma,
formava-se um caminho com pessoas dos dois lados, em que os 5 participantes
deveriam percorrer até chegar ao outro extremo da sala. Essa vivência foi realizada
78
de olhos fechados e trabalhando o ponto de equilíbrio entre o calcanhar e as pontas
dos pés em movimento ondulado de oito. Somente poderia se deslocar no espaço
quando em desequilíbrio e entrega se deixava conduzir para a frente. Enquanto a
pessoa se concentrava para a realização dessa atividade, os integrantes do grupo
das extremidades laterais enviavam palavras de força aos que estavam de olhos
fechados.
Vamos...vocês conseguem. Vocês são vitoriosos. Vocês são fortes. Vocês são Lindos. Vocês são grandes. Vocês podem. Coragem. O amor vive dentro de ti. Ânimo. Alegria.
Nesta atividade, muitos medos apareceram. Medo de cair, medo de não
conseguir, timidez...todos os “monstros” internos de crenças limitantes que
impediam a manifestação livre do Eu em sua verdade.
Houve um momento em que uma integrante do grupo não quis participar do
exercício. Nesse momento todo o grupo começou a dizer: “força, você consegue, vai
Pleione”. Mas ela disse que não iria conseguir, não queria ir. Insistimos mais um
pouco, mas compreendemos que por mais vontade interna que ela tivesse de
realizar aquele exercício, naquele momento, seu mental ou emocional estavam em
outra direção, não sendo seu momento. Então como mediadora do grupo, eu disse
que estava tudo bem! Ela não estaria na atividade da caminhada, mas que todas as
palavras ditas no grupo, eram para ela, e pedi que ela se visse em cada integrante
que realizasse a atividade. A força foi acionada pelo espelhamento do outro em
reconhecimento de si.
Muitas palavras foram ditas, mas neste encontro o que permaneceu foi o
silêncio e o sentir profundo diante do reconhecimento de si, e da força que temos
quando em união.
4. Quarto encontro (26/09/2017)
Do individual ao coletivo: o despertar do Espírito de União
Deu-se início a atividade deste dia com a conversa sobre a semana. Após, o
Despertar Corpóreo Meditativo. A mesma dinâmica realizada nos dias anteriores.
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Fazendo com que o grupo pudesse soltar as amarras semanais de tensão, estresse
e preocupações para estar presente de corpo, alma e espírito.
Ancoramos o Eu com o trazer da consciência para o momento presente,
juntamente com o auxílio do corpo. E então, iniciamos a atividade do Despertar da
alma pelas imagens. A Ativação do Corpo de Luz ígnea foi realizada novamente em
um segundo momento, com desafios ainda maiores que o encontro anterior. Ao final,
a Ativação do Corpo Solar Manifesto e o envio de emanações a todos de nosso
meio.
Desenvolvimento
Todos os encontros tiveram a conversa inicial de como estavam, porém, nem
todos utilizamos das transcrições. Escolhemos a deste dia, por haver um número
conciso de falas e abarcar o que de maneira geral, todos expressaram no início das
formações sobre fatos ocorridos durante a semana. Compreendemos que o grupo já
havia estabelecido um paralelo terapêutico com as formações, então, esse momento
era o de desabafo entre os participantes. E na medida em que um ou mais falavam,
outros se identificavam, e assim, a liberação das emoções e preocupações que
alimentaram durante toda a semana, davam espaços para novos olhares e
compreensões pela vivência coletiva de autoconhecimento.
Meu nome é Mira, eu tô bem, essa semana foi tranquila. Só aconteceu alguma coisa na faculdade, mas já tô bem.MIRA
Hoje eu tô bem. Essa semana eu me estressei bastante, mas tô aí.GUIRTAB
Eu tô sonolenta. Essa semana eu me estressei muito, com muita dificuldade pra... (expressão de deixar passar), mas tô bem. AZHA
Essa semana eu estou bem porque minha mãe tá aqui veio me visitar e eu tô um pouco querendo ir embora, porque ela queria que eu ficasse em casa, então estou com a cabeça dividida, mas tô remela também ficou com a minha irmãzinha, como eu comentei com alguns que ela tem um aninho e pouco e ela é especial. Então ela me motivou bastante a participar do projeto, e aí como ela mora em São Paulo, não é sempre que ela vem, então matei um pouco da saudade dela e daqui a pouco ela vai embora. RIGEL
Eu tô animada, tô extremamente cansada, e a minha semana foi na medida do possível boa.PLEIONE
Eu tô bem, mas estou muito cansada, a minha semana na faculdade foi muito puxada, prova essas coisas, mas hoje estou bem.LUCIDA
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A semana não foi muito fácil pra mim, mas hoje eu estou bem melhor. MIRFAK
Eu tô com um pouco de sono, tive a semana um pouco turbulenta, mas estou disposta.MIAPLÁCIDUS
A semana foi ocupada, a gente estressa mais do que nunca. Hoje eu tô com sono, tô cansada pra caramba, mas tamo aí.BELLATRIX
A minha semana foi difícil porque a minha mãe tá viajando então virei dona de casa. Na faculdade foi bem tranquilo assim, tive umas notícias muito boas, mas hoje eu acordei 06:00h da manhã já pensando que tinha que vir. MERAK
Pensei muito em vir hoje, e eu vim. A minha semana foi boa, só que eu fui atropelada (risadas coletivas- só isso? Só foi atropelada) Mas foi isso, levantei e segui, eu estava de bicicleta e foi um carro. Mas tô bem.ALTAIR
Minha semana foi tranquila até. Só uns clientes, mas já estou acostumado a lidar com eles, e é isso, foi bem boa. Mas eu poderia ter aproveitado melhor. CHELLEB
Estou bem e plena. Ontem à tarde eu não tive aula então eu dormi do meio dia as cinco (risos coletivos). Nossa, eu simplesmente apaguei a semana, se aconteceu alguma coisa de ruim eu simplesmente apaguei.ANTARES
A semana foi como a semana de todo mundo, com altos e baixos. E hoje eu acordei sabendo que eu viria.CANOPUS
Como podemos perceber, grande parte das falas nos evidencia uma semana
de muitos acontecimentos, mas uma disposição em participar das oficinas mesmo
assim.
Por estarmos em menor número, a energia do grupo poderia ir muito além,
pois quando o grupo é reduzido a expansão pode ser maior, dependendo da entrega
e solicitude de cada um. Por isso, comentei ao grupo de que precisavam expor seus
sentimentos durante a atividade, buscar se expressar ao seu máximo, para que
assim, pudéssemos crescer em um mesmo “corpo coletivo de compreensão”.
Porque, as atividades exigiriam essa expressão, por tratar de assuntos sociais e de
envolvimento comum a todos.
Até o momento havíamos trabalhado a consciência individual, a história de
vida, os sentimentos, as dificuldades e aprendizados. E agora era chegado o
momento de dar um passinho em direção ao coletivo pela observação. Assim como
a gente olha pra dentro da gente e enxerga tanto coisas que gosta, como coisas que
não gosta, e percebe a real e a verdadeira força do nosso Eu, o segundo movimento
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é olhar para fora e realizar o observar o mesmo mecanismo em busca de
compreensão.
Começamos com o Despertar Corpóreo Meditativo, acrescentando a dança
individual e dança coletiva. Como o objetivo principal deste dia era nos ligarmos ao
coletivo, o Eu individual precisava estar ancorado com toda a sua potência e
disposição. Escolheu-semúsicas e exercícios corporais que trabalhavam a batida
dos pés e o movimento integrado com as mãos, acionados por músicas indígenas e
africanas.
As palavras ancoradas nessa vivência foram: reconfortante, adaptar-se,
emocionante, acordei, liberdade, energizante, divertido, libertador, cansativo,
energia, legal, libertação, calor humano, contato, entrega.
Após o grupo crescer em energia, finalizamos esse momento pelo exercício
de conexão e alinhamento conduzido na respiração e por uma meditação guiada,
levando-os a um estado de concentração anímica para realizar a reflexão das
imagens e senti-las pela Despertar da Alma.
Canopus, um dos integrantes do grupo, demorou para sair do estado
meditativo, e realizamos juntos o som e o gesto de soltar dos braços e bater de pés
em RÁ (lembrando um pulo).
As imagens foram colocadas no centro da sala e uma música com uma prece
indígena de fundo estava sendo tocada. Cada um, no seu tempo, pegava uma
imagem e a observava.
Eu peguei uma imagem de um senhor deitado na rua com um cachorro do lado [...] o que eu sinto com essa imagem é o medo, o sofrimento, os sonhos que essa pessoa não conseguiu realizar. Hoje eu tenho a minha casa, hoje eu tenho a minha família, hoje eu tenho meu emprego, tenho meus sonhos, meus objetivos, desejos. E como está essa pessoa? O que passa na cabeça dessa pessoa? O que é essa dor que ela sente. As vezes a gente se machuca, perde alguma coisa. Mas e a dor dela? Como tá essa dor? É ruim, eu vejo que é ruim, se eu pudesse eu queria acolher todos, mas eu sei que não é assim. Me dói muito a desigualdade, a fome, a solidão e o melhor do meu sentimento é pensar que isso um dia possa acabar. E essa tristeza, essa solidão, essa fome, esse sentimento de: eu não sei o que vai ser amanhã, e as vezes tem pessoas que passam e nem percebem. Quem me conhece, acha que eu sou seca, mas o meu sentimento perante a isso é muito grande. Eu sou aquela que ajuda, que olha e que presta a atenção nas desigualdades (choro).MERAK
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Merak reflete as condições internas e externas daquela pessoa espelhada
pela imagem, compreendendo a condição de desigualdade, trazendo o sentimento
de esperança, mas muito mais de tristeza diante da situação. Compreende sua
vontade e disposição interna em ajudar. Nesta mesma reflexão, Rigel nos traz sua
imagem.
Eu peguei uma imagem que não gostaria de ter pegado. Uma criança em estado de miséria, de pobreza, pedindo um futuro. O que as vezes a gente fecha os olhos pra coisas assim. Muitos falam , mas poucos ajudam e é uma situação, porque muitos acabam até morrendo. E eles não precisam de muito, eles precisam de pouco... as vezes um estudo, um alimento que falta, a família, a sociedade que não pensa em ajudar. Eu não consigo falar muito sobre essa imagem porque ela me deixa bem mexida. Porque a situação de miséria da população me revolta. É triste saber que hoje em dia existe isso e o país as vezes não faz muito pelos outros, são seres humanos assim como nós (Chora).RIGEL
O sentimento de revolta e indignação frente a realidade social é vivenciado,
por compreender que evoluímos em tantas coisas, mas na ajuda ao ser humano,
ainda estamos caminhando como uma estrutura social frágil. E cada imagem trazida,
falas com um teor profundo de entendimento é revelado no grupo:
Tá, eu peguei uma imagem de uma menina chorando na frente de um lixão, eu acho que isso aqui é um lixão. O sentimento que me passa, se eu pensar somente na criança, me passa medo. Medo porque eu acho que uma criança não tem tanto discernimento pra saber o que é desesperança as vezes, então, ela primeiro sente medo, e depois que ela vê algumas coisas na vida, que a gente vai percebendo o que é esperança, e eu acho que a ausência de esperança é um dos piores sentimentos que pode ter no ser humano. A ausência de esperança, a falta de fé, de crer na vida, de que a vida possa ser algo e não, isso, só... o medo. E essas aqui são pessoas como muitos outros já falaram, e essa foto minha, remete a invisibilidade. A gente se treinou a ser cego (Voz trêmula- com emoção). A não olhar pro outro na rua, a não ver as pessoas sofrendo, e é triste (chora). As pessoas perderam a sensibilidade. Esses dias a gente tava numa aula comparando lixo e arte. Lixo e arte são coisas que podem ser descartadas, o lixo e a arte podem ser uma coisa inútil, dependendo da visão do que que é a arte, o lixo também. O lixo pode ser reciclado, a arte também. Então, o que que é o lixo cara? O lixo é o que ninguém teve sensibilidade suficiente pra transformar. E a gente não tem sensibilidade suficiente pra transformar essa criança. Então, é só uma criança, e tem um monte por aí. É lindo ver o começo da novela da Carminha e depois achar que não existe mais. É fácil fechar os olhos. É mais fácil dizer que a culpa não é minha, que é do governo, que é disso, que é daquilo. Se é adulto é porque é vagabundo, mas como se explica isso pra uma criança? É uma criança que as pessoas não tem sensibilidade o suficiente pra transformar e passam e fecham os olhos, e... é uma
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vida sozinha (chora). E acho que é triste uma vida sozinha.ANTARES
Antares nos traz a reflexão da desesperança e da solidão, associada a falta
de sensibilidade humana em perceber a desigualdade e buscar transformar a
realidade. Nesta mesma discussão, Pleione nos traz:
A minha imagem é desse senhor com a mão na cabeça. E quando eu vi ela eu senti nela uma pessoa sem perspectiva, abandonada, embora tenha muita sabedoria (referenciando a idade), parece que foi esquecido pela sociedade. E eu não sei, eu fiz uma analogia que passa umas notícias na televisão e mostra pobreza ou fome, e eu vejo ele sentado na beira de uma casa, de uma porta olhando para o além. E as vezes a gente vê muito disso. Ah...eu queria fazer, eu queria fazer...e não faz nada. Estender a mão, ou ouvir o que aquela pessoa tem pra dizer, perguntar o que ela precisa e as vezes a gente não faz. Eu pensei nisso.PLEIONE
Eu peguei a imagem de uma senhora deitada e pensei que os idosos hoje em dia são tratados como segundo plano. Eles cuidam muitas vezes dos filhos e dos netos e muitas vezes são largados no asilo, sozinhos. E o que passa também é que eu olho pra essa senhora e eu quero cuidar dela.GUIEDI
Pleione nos traz a dificuldade em estender a mão e ouvir o que o outro
precisa realmente e Guiedi o sentimento de responsabilidade diante de uma vida.
Ligado ao sentimento de solidão e vazio de ajuda, Lucida nos traz em sua fala:
Eu peguei essa imagem com várias mãos. E apesar de elas estarem bem próximas, elas não estão unidas. Elas também estão bem abertas, como se elas fossem receber alguma coisa e cada um quer receber essa coisa individualmente, eu acho que reflete muito a sociedade de hoje. Cada um quer pensar em si, quer pensar só nos valores e nas coisas que vai agregar pra si, e também me passa a mensagem de que apesar de terem várias mãos juntas, e uma sensação de solidão. Porque muitas vezes a gente convive com tanta gente, mas ainda se sente sozinho, porque tem medo de contar alguma coisa e ser julgado, e a pessoa não olhar mais na sua cara. Então eu acho que a gente tá muito individualista e sozinho. Foi essa mensagem que a imagem me passou.LUCIDA
O sentimento de Lucida está associado ao conviver com muitos, mas se
expressar com poucos, por medo de julgamentos ou da falta de compreensão
alheia, percebendo que cada um tem um mundo individual e isolado, trazendo a ela
o sentimento de solidão. Expressão da qual Guirtab também sente falta.
Eu peguei essa imagem com uma cabeça cheia de expressões e
sentimentos, e eu acho que a gente tá vivendo um mundo que a
gente não tem liberdade de expressão. Por exemplo, se tu não vive
numa “panelinha”, tu não tem o direito de se expressar. É...ficar
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vivendo num mundo muito individual, é cada um por si e Deus por
todos. E hoje tu não vê mais uma pessoa, tipo, chega pra ti e
desabafa sem ela ficar pensando que vão te julgar. Eu por exemplo
guardo muita coisa porque eu não consigo ser julgada. Então eu
acho que a gente deveria ter mais liberdade de expressão pro que a
gente tá sentindo.GIRTAB
O sentimento de solidão e a ânsia por ter com quem compartilhar seus
pensamentos e sentimentos sem ser julgada na fala de Lucida e a liberdade
expressada na fala de Girtab nos traz a reflexão de ouvir o outro e também a nós
mesmos, de perceber a expressão do outro, mas também buscarmos nos expressar
livremente, sem medos e preocupações com o julgamento externo, começando por
quebrar padrões destrutivos a sociedade e a psique humana. Como nos traz
Bellatrix.
A minha imagem é essa aqui (mostra a imagem) mãos acorrentadas, e...o que eu vejo nessa imagem foi que todo mundo tem seus desejos, seus sonhos, suas vontades e as vezes a gente deixa isso de lado com medo do que os outros vão pensar pelo que a gente ta fazendo. A barreira é o que a gente põe pelo que o outro vai pensar, e isso a gente põe...porque não é legal a gente deixar de fazer uma coisa que a gente quer fazer só porque o outro vai rir ou vai te achar bobo, ou não te respeitar mais ou algo do tipo. E eu acho que a gente precisa tirar essa corrente. Não colocar na gente e não deixar que outros coloquem, e poder fazer o que quiser sem ter medo do que os outros pensam.BELLATRIX
Bellatrix nos traz a reflexão de que podemos compreender a realidade do qual
se está inserido e assim perceber os mecanismos de controle que nos mantém
acorrentados em padrões destrutivos de pensamentos, sentimentos e ações, dos
quais não correspondem com os valores que trazemos por referência. Como nos
traz Azha:
Eu peguei a imagem de um casal se abraçando no meio da multidão.
E eu achei muito uma crítica social bem forte hoje em dia. Porque as
vezes a gente vive conectado via wi-fi e não vive conectado com
pessoas, via sentimental assim, e eu me vejo nessa imagem,
certamente eu sou essa menina aqui ó, abraçada. Eu me conectei
com essa imagem, eu sou muito sentimental, demais eu sou uma
manteiga derretida. E eu me sinto até meio bobinha sabe, porque o
mundo que a gente tá...um monte de gente que não liga pra nada, e
eu tô assim sabe (abraçada no outro). Essa sou eu, e eu me senti
muito frágil, muito frágil sabe...essa imagem me passou assim, que o
outro parece não ligar sabe? Que a gente tá tentando amar,
enquanto a gente tá tentando passar carinho e importância, o outro
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tá ali sabe? É isso que me passou. E...não deveria ser assim, jamais,
jamais. Eu sempre tô me policiando com isso, até pelo meu pai.
Estar no ambiente, estar... não estar num ambiente e pensando em
outras coisas. A gente precisa estar, querer estar, e... é isso que
esse casal me passou sabe. É querer estar ali e sentir perto, e não
deixar que ela se afaste por objeto em si. Sabe? Aproveitar o
momento.AZHA
Azha nos traz a importância de estarmos presentes e nos conectarmos com
as pessoas, referenciando o valor que seu pai lhe ensinou, buscando mantê-lo. Azha
nos traz por sua imagem a dualidade do mundo tecnológico e das relações
humanas, o pensar e o agir desconectados do sentir. Altair, em uma mesma relação
de dualidade, nos traz a expressão do mundo de paz e de guerra em relação à
desigualdade social, descrito a seguir:
A minha imagem é um cenário de guerra e eu acho que a gente está
um pouco longe de acabar com isso, porque a gente tá um julgando
o outro ou não olhando o jeito que deveria para o outro e enquanto
houver essa desigualdade social a gente vai continuar, vai ter dois
mundos brigando assim. Eu me sinto bem incomodada. ALTAIR
Neste mesmo contexto de dualidade, Alrischa nos fala sobre os conceitos de
vida e morte, junto ao sentimento da perda.
Eu peguei a imagem de dois pássaros. Um está morto e o outro está tentando acordá-lo, erguê-lo. E essa imagem me faz refletir sobre o pensamento de perca, porque a gente nunca tá pronto para perder alguma coisa.. Eu acho bem complicado a morte, a gente tem medo de morrer porque não sabe viver. Porque a gente chega no dia da morte, a gente não sabe, mas a gente pensa, será que eu vivi aquilo realmente, será que eu tô pronto pra ir para outro plano. E eu acho que é isso, a gente tem que aproveitar cada momento, amar as pessoas com todo nosso amor, tem que viver sempre né? E é isso. E que a gente não pode viver pelo que a gente não fez, e a gente também não está vivendo o amanhã, e dói pra quem fica eu acho. É isso.ALRISCHA
Pensar em morte remete a Alrischaa insegurança e o questionamento de ter
aproveitado a vida. No pensamento aciona o questionamento, no sentir aciona a
insegurança e no querer, a vontade de viver melhor e aproveitar cada momento. Já
Aldebaran nos traz a reflexão sobre a educação e a liberdade, questionamento
importante para a antroposofia.
Eu peguei uma imagem que pode nos levar a duas realidades
distintas, mas que são uma só. São dois pássaros em um galho, um
com as asas abertas e outro com as asas fechadas. A impressão
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que dá é que um esta pousando naquele momento, mas o pássaro
de asas abertas nos traz uma sensação de liberdade pra gente,
como diz na sociologia, liberdade é aquilo que você precisa fazer e
alcançar. Você precisa aos 18 anos ter entrado na faculdade, aos 22
você precisa estar formado, aos 23 você precisa estar namorando,
aos 27 você precisa ter filho, aos 40 você já tem seus netos...e aí
você tem uma vida que foi montada pra você, mas em que momento
você parou e pensou: quem sou eu? O que eu quero da minha vida?
Será realmente que eu quero ter essa liberdade? E algumas coisas
que eu estudei recentemente pautadas na educação, diz sobre você
aprender para ser feliz para ser livre. Mas até que ponto você dentro
das universidades se torna independente pra isso? Você aprende
uma profissão, você encontra um trabalho, você monta um negócio,
mas você volta para o capitalismo, você não se importa com o que
acontece na sociedade. Você não é preparado pra pensar naquela
pessoa que tá na rua e que não teve as mesmas oportunidades que
você. Acredito que o senso crítico que hoje é gerado é muito voltado
para o capitalismo, e passa muito longe do que realmente é dever de
uma faculdade e educação em si. Tudo volta-se para a educação. Se
você tem uma educação voltada para o senso crítico voltado a
sociedade, o que a sociedade precisa, o que posso fazer para mudar
a sociedade? Então eu acredito que a verdadeira liberdade vem da
educação, e pela educação do que realmente importa. Que é o que
vem da sociedade.ALDEBARAN
A fala de Aldebaran coloca em perspectiva este trabalho de dissertação na
interação ao modelo educacional vigente. E o quanto, momentos de troca como este
propiciam ao acadêmico a oportunidade de repensar suas escolhas, perceber sua
vida, perceber a história da humanidade, e refazer caminhos quando se fizer
necessário para uma verdadeira liberdade, refletida em seu interior. Umas das vias
que aos poucos vem sendo aberta para isso é a educação.
Neste momento de troca, Mirfak expõem um compartilhamento importante de
sua jornada, abrindo generosamente ao grande grupo, sendo acolhida pelos que
estavam ao seu redor (descrito na síntese da análise antroposófica).
Como muitos pontos ficaram abertos para reflexão e precisando de soluções,
discutimos que temos inúmeros outros jeitos de ver o mundo desvelado em imagem
dependendo de como ele se apresenta, mas esse é um deles, e não tem como
ignorar. Não tem como ignorar o sofrimento humano. Não tem como ignorar a vida, a
dignidade das pessoas, a escassez de recursos. Não tem como ignorar isso, mas se
questionar porque existe? Percebemos que frente as diversas realidades, sentimos
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a impotência diante do caos, mas...de onde vem? Em uma imagem figurativa,
imaginamos vários nós, sendo que a gente só consegue desamarrar, soltar essa
corda se desata o primeiro nó.
O primeiro nó a ser desatado e reconhecido pelo grupo está em nós mesmos,
e por isso o autoconhecimento. Porque tudo o que tá fora também tá refletido dentro
de nós. Nós somos como aqueles peixinhos, indo numa mesma corrente (exemplo
da fala de Mirfak), ou sendo arrastado pela mesma corrente. Se não
estivermosconscientes de nossos pensamentos, sentimentos e vontades, estamos
sendo arrastados. Depende de nós também dar o salto, para um contraponto do que
está posto e nos incomoda... oda igualdade, da solidariedade, do respeito,
dignidade. É um salto de consciência, um salto de conhecimento, que a educação
pode nos trazer, vindo pela compreensãoda liberdade de estar saindo daquele fluxo
que está nos levando a desigualdade, ao fracasso, ao individualismo, para aquele
modo de pensar que exclui os demais, capital que só pensar no dinheiro. Mas como
nos trouxe Mirfak:
A pressão às vezes é tanta, que você acha que ainda está “indo para
o lado errado”. Tenta sair e acha que tá sozinho, mas se parar para
observar a corrente te direciona a outras pessoas, que também
perceberam as ondas da mudança. O primeiro nó está em perceber
em si toda essa interação. “Tá, eu tô aqui e tá acontecendo tudo
isso”, mas eu preciso ter a minha vontade, eu preciso ter a minha
motivação, eu preciso saber o que eu quero, eu preciso sair dessa
realidade, eu preciso estar mais livre de tanta tarefa sem dar conta,
como na faculdade, como na pressão da faculdade. Eu preciso sair
disso, porque que isso é assim? Porque que o sistema universitário
me deixa com tanta pressão ao invés de me trazer
sensibilidade?MIRFAK
Então, neste ponto em diante, abre-se brechas para desatar o segundo nó, o
meio. O meio poderia ser considerado um meio pequeno e um meio grande.
Começar a observar os pensamentos desse meio, pra onde esse coletivo de
pessoas está indo, mas firmando a identidade do Eu. Você está ali, está junto, mas
você está ali, ainda que seja confortável estar nesse coletivo, você precisa observar
o que está acontecendo, e dentro da sua conduta e visão de mundo, saber o que te
serve e o que não te serve, ter o discernimento e se posicionar nele.
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E após compreender a si, compreender o meio e se posicionar como
identidade, com sensibilidade e um olhar crítico, abre-se brechas para o terceiro nó:
os mecanismos da sociedade. Como que essa sociedade se forma? Quem são os
detentores de poder dessa sociedade? Pra onde estamos sendo conduzidos? Eras e
eras vivendo a mesma degradação, dando os mesmos passos falhos a humanidade.
Para que lugar queremos ir? O caminho do medo e da degradação, ou o do amor e
da solidariedade e liberdade? Para onde estamos sendo conduzidos? Neste
momento, compreender os processos históricos da humanidade nos traz sentido na
atualidade, visto que somos reflexo de tudo o que nossos antepassados viveram e
construíram antes de nós e também, somos nós as bases de um novo amanhã.
Chegamos a compreensão também de que tudo o que nos trouxe um
acorrentamento, pode de certa maneira, nos trazer a liberdade. Se justamente, nós
somos aquele peixinho que quer ir contra a corrente, de alguma forma o primeiro nó
que é o de reconhecer a si precisa estar tão desatado, ao ponto de conseguirmos ir
além do sofrimento, do qual nos prende ao mecanismo de medo, e nos conectarmos
de outra forma a toda realidade, baseado nos princípios que escolhermos para nós.
Um caminho mais seguro, com amorosidade e respeito a vida humana. A Conexão
vem de outro lugar, porque se nos conectarmos do jeito que o sistema nos manipula
pelo medo, somos arrastados pelo sentimento de sofrimento e o sentimento de
impotência é fortalecido. Perceber o que é, como a sociedade está estruturada, nos
dá base para que lancemos a nossa pedrinha em meio a um imenso lago, causando
reverberações. Dentro ou fora do sistema, há lugares que podemos ocupar para
transformação na medida em que tomamos conhecimento com criticidade e
sensibilidade de uma causa. Mas pra isso, é preciso que reconheçamos qual a base
que temos para trabalharmos, fortalecermos e ocuparmos dentro de nós?
Pra mim a base é Deus. Tá dentro de mim por inteiro. Na mente, no coração e nas minhas atitudes também.ALTAIR
Pra mim eu vejo o amor e Deus ao mesmo tempo. A partir do momento que você tem amor, que você consegue fazer o que Jesus disse que é amar o teu próximo como a ti mesmo, tu consegue fazer tudo. Tu deixou todos os teus preconceitos de lado e pronto. Porque se tu não consegue também amar a ti mesmo, como que vai amar o teu próximo. A partir do momento que você se reconhecer, reconhecer o amor, você consegue ter uma vida muito mais leve.SHAM
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Eu tenho fé, esperança... o sentimento de que tudo vai ficar bem, vai melhorar, é isso que me dá força, simplesmente isso. É eu acreditar que vai ficar tudo bem, isso é minha base. Mesmo que tudo desmorone, é o momento e depois vai ficar tudo bem. É isso.AZHA
Acho que a vontade. Desejo pela mudança.ANTARES
Acho que resultados de ações nossas, que tem tudo a ver com a mudança né? Se a gente quiser que vai ser bom, vai dar certo, vai ser melhor, nos ajuda a seguir. Ser melhor...RIGEL
Se permitir...ANTARES
Você estar aberto para o novo é uma base. Porque estar aberto ao novo é flexibilidade, ser flexível. As arvores mais cumpridas, mais altas, quando bate o vento elas são flexíveis, e as que são mais grossas, as raízes são mais curtas, quando bate um vento arranca ela do chão. E olhando a árvore cumprida e fina a gente acha que ela é frágil, comparada aquela árvore com o troncão. Mas não...é aquela que diante do vento, se mantém de pé.
Por exemplo o bambu né. Ele leva cinco anos para se enraizar e só depois ele passa a crescer pra cima novamente. Então ele parece frágil, porque ele é maleável, mas não é derrubado com facilidade. Por exemplo a resiliência, ter as bases fortes, ter as raízes, para depois conseguir suportar.ALDEBARAN
Compreendemos que o que estávamos fazendo ali era um desatar nós, pois
cada um o fez de maneira individual e coletiva juntamente, na medida em que
compartilhamos, estando no lugar ideal de ocupação para este movimento, a
Universidade.
Iniciamos o segundo momento novamente com as imagens, porém outras
imagens em contraponto as anteriores. A música “PrecipitaiElohim” estava sendo
tocada.
Elohim seria uma expressão para anjo, um anjo da criação que dá forma as coisas. Precipitai quer dizer, precipitai a criação, de tudo o que a gente quer criar. Então, podem pegar no centro as suas imagens. Se concentrem nessa imagem e vejam o que ela está pedindo, o que ela está falando e o que está oferendo. De força, de base, de vida. E tudo que vocês verem nas imagens tragam para a terra (fazendo movimento de impulso com os pés para baixo). Encontrem a realidade já transformada e tragam para aqui e agora.
Após, foi solicitado que todos ficassem de frente uns para os outros com as
suas imagens e que cada um olhasse a força da imagem que o outro trazia em
complemento a sua. Neste momento a música tocada era: Mariposas Sagradas. As
palavras acionadas no grupo foram: liberdade, compaixão, união, poder de escrever
sua própria história, alegria, sonhar, imaginar, a inocência, ser feliz com tão pouco,
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crescimento, vida, inocência, família, amparo, paz, transformação, coragem,
mudança, não ter medo de perder, amor verdadeiro, companheirismo, lealdade,
solidariedade, confiança.
Finalizamos como no encontro anterior, com a Ancoragem do Eu, ativação do
corpo de Luz ígnea. Essa atividade mexeu com a coragem e força do grupo, uma
vez que precisavam andar de olhos fechados e em desequilíbrio de um extremo ao
outro da sala. Se deslocavam na medida de seu desequilíbrio, imaginando-se em
uma bolha de luz (exercício de conexão e alinhamento), enquanto os demais
integrantes do grupo enviavam palavras de força aos que estavam de olhos
fechados.
Busquei incentivá-los a falar, pois muitos no encontro anterior apresentaram
timidez ao elogiar o outro, trazer suas qualidades, ou adjetivos de força.
Força, vocês conseguem, acreditem em vocês, mais pensem em todas aquelas imagens e tragam essa voz entende? Porque às vezes a gente tem vergonha de incentivar o outro também, daí tu fica... Força (gesto de timidez) mas você está ali todo retraído [risos]. Não!! Tem que dizer: FORÇAA!! Se não for por você é pelo outro, força, coragem, vocês conseguem, vocês são lindos, digam tudo o que vocês quiserem, pra sair essa voz de incentivo pra eles.
As palavras e frases trazidas pelos participantes para incentivo dos demais
foram:
Força, vocês conseguem, força, tem muitos aqui contando com vocês, vocês são beleza, vocês são vitória, alegria, é só preciso coragem, amor, alegria, vocês conseguem, vocês já têm tudo isso, vocês conseguem, você é um leão, você consegue, força, vamos, se permitam vocês conseguem, isso!!!força, a vitória está aqui, vocês conseguem, vaiii, força, vocês conseguem, você é amor.
Cada integrante que chegava ao final recebia palmas e um abraço. Um dos
momentos de maior beleza, foi já estávamos no final do exercício e os últimos cinco
integrantes, foram ao extremo da sala iniciar a atividade. Na medida em que
caminhavam, as palavras de incentivo eram pronunciadas.
Força, vocês conseguem, força, vem, acredita, vai, eu acredito em vocês, eu acredito, vai, vai, tu é única, vence, vem, vem, vai, força, vocês conseguem.
Na medida em que vão chegando ao outro extremo da sala, recebem um
caloroso abraço do grupo. Nesse momento, fica apenas Guirtab com dificuldade de
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caminhar. Observa-se o corpo trêmulo e sem senso de direção por estar de olhos
fechados. As palavras do grupo foram direcionadas para ela:
Vai Guirtab, você consegue, você consegue, você é amor, você é coragem, você é beleza, você é linda, coragem, o medo não ocupa mais você, você é amor, força, toda a tua alegria pode ser aqui, todo o teu amor pode ser aqui, não tenha medo, vem, vamos, força, ninguém pode te impedir de ser quem você é, você é grande, grande, grande, acredita em você, acredita, coragem, segurança, estamos aqui, vem, vem, vem. Chegou!
Todos a recebem com uma salva de palmas e muita emoção. Quando abre os
olhos, quase cai com o corpo trêmulo e é acolhida pelo grupo em um abraço.
Guirtab pode reconhecer sua força, fazendo todos do grupo se emocionarem em
reconhecimento a grande força interna dessa estrela guerreira, mas também em
espelhamento a força de cada um presente, que naquele momento, sentiu-se mais
livre para ser quem é com determinação, vontade, coragem e amor.
Finalização com um abraço coletivo e fechamento interno do grupo.
5. Quinto encontro (21/10/2017): “Essência Trina: a Unidade Sensível do
Homem”
Iniciamos com a conversa sobre como foi a semana, seguido pelo trazer da
consciência para o momento presente com as frases de ancoramento. Fomos para a
dinâmica do grupo realizando o Despertar Corpóreo Meditativo, acrescentando
apenas a realização de danças individuais e coletivas, para uma maior “abertura” do
grupo, leveza e brincadeira.
O Despertar da Alma das sensações, Alma do Intelecto e da Alma da
consciência ocorreu por uma atividade de conceituação de extremos em busca de
uma unidade comum, em que os temas: Individualismo & Coletividade; saúde &
doença; Vida & Morte foram refletidos pelos participantes.
Formamos seis grupos de trabalho, e cada grupo precisou conceituar o
significado dessas palavras para si. Primeiramente escrever na cartolina e em
segundo momento trazer exemplos em forma de desenho, esquemas ou
dramatizações para explicitar sua compreensão do tema. Após, a conceituação dos
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extremos, foi solicitado que encontrassem um “meio termo” para cada categoria e
que, compreendendo os conceitos buscassem pôr em palavras um elo de ligação
entre eles.
A ancoragem do Eu foi realizada por meio da atividade: da expressão anímica
das vogais de maneira individual e com a ajuda do outro.
O último processo vivenciado no grupo foi o que chamamos de: a gratidão
revelada em espírito. Realizamos após a ancoragem do Eu, um encontro frente a
frente com a sua autoimagem, refletida nas mãos do outro. E após a Ativação do
corpo solar manifesto.
Desenvolvimento
O encontro transcorreu de maneira sensível do começo ao fim, todavia,
houve um momento de maior atividade mental (alma do intelecto) na
conceituação de extremos. Descrita a seguir na conceituação de individualismo e
coletividade, vida e morte, saúde e doença:
A gente colocou individualismo como pensamentos e ações voltadas
para si e como coletividade, pensamentos e ações voltadas ao
próximo. Como desenho a gente colocou nosso bonequinho dentro
de uma bola, simbolizando o individualismo onde a gente não passa
essa barreira de que o próximo existe e acaba pensando só em si.
Nas coisas voltadas a sua vontade, e a coletividade pensamentos e
ações voltadas as próximo, a gente se coloca no lugar do outro,
começa a perceber o que o outro precisa, ou a ouvir essas questões.
ALDEBARAN
A gente tratou o individualismo como eles colocaram, que antes de
trabalhar o coletivo a gente precisa trabalhar com o nosso individual.
E o individualismo não é uma coisa totalmente ruim né? Porque... a
gente precisa fazer as coisas sem depender das outras pessoas
também, um exemplo disso é nossa felicidade, e a nossa felicidade
só depende de nós mesmo e de mais ninguém. E a coletividade a
gente colocou que é transformar as mesmas idealizações em um
único objetivo, e aí a gente colocou o “terapeutas”, que são vários
ideais juntos para levar os ideais a todas as pessoas. ARNEB
Acho interessante a gente dizer que nós colocamos em um lado
coletividade, saúde e vida e no outro lado, individualismo, doença e
morte. Porque são termos que para nós faz mais sentido estarem
juntos, quando você está na coletividade, você ganha vida. MIMOSA
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Podemos perceber diante dessas falas que a compreensão entre individual e
coletivo foi refletida pelo grupo como uma complementariedade, que necessita de
um equilíbrio para fazer valer o “bom” da compreensão. Estando esse “bom”
diretamente ligado ao alinhamento das experiências individuais, com as coletivas em
busca de ideais comuns e sonhos, sendo no equilíbrio de ambas que encontramos
as chaves para as transformações.
Refletindo sobre saúde e doença, o grupo traz:
Como doença a gente colocou o desequilíbrio do bem estar causado
por fatores diversos e saúde como o equilíbrio e o bem estar do
físico, mental, social e espiritual. Como exemplo nós colocamos uma
balança onde tem o equilíbrio entre todas as questões. Questões
financeiras, questões de alimentação, de saneamento por exemplo,
questões de comunidade, a fé das pessoas, família, as questões
emocionais e o desequilíbrio é quando você pende muito para outro
lado, fica muito preocupado com as condições financeiras, não se
preocupa tanto com as questões emocionais e vai baixando a
imunidade, ficando vulnerável as doenças. ALDEBARAN
E em saúde a gente colocou o bem estar físico, mental e emocional,
que os outros falaram também, como exemplo uma pessoa feliz. E
doença, a desordem corporal. ARNEB
E daí saúde e doença. Em saúde a gente colocou, cuidado,
responsabilidade, própria vida. E doença, insegurança, medo...a
gente colocou bastante doença no sentido de insegurança, de
incerteza e medo. MENKA
Saúde e doença é compreendido aqui como um conjunto de situações que
nos direcionam a um ou a outro. Saúde estaria mais próximo do conceito de
felicidade e coletividade, e doença mais próximo aos sentimento de insegurança,
incerteza, medo, ligado a situações adversas sociais como as condições financeiras,
de moradia e alimentação que oferecem alguma preocupação.
Já no conceito de vida e morte, evidenciamos um grande esforço em cada um
dizer o que significa para si:
Vida e morte acabamos debatendo um pouco mais porque a vida a
gente considera tudo a todo momento, a vida é tudo o que acontece
a todo momento, o que tá ao nosso controle e o que não tá ao nosso
controle, os nossos sonhos, as nossas frustrações que acontece no
meio do caminho, os medos, as conquistas, é...então, tudo o que
acontece a todo momento. A gente tá aqui, mas tem algo
acontecendo lá fora, e levando pra coletividade, a gente tá pensando
no que tá acontecendo lá fora, então a vida é tudo que está
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acontecendo agora, aqui e lá fora, e isso influencia todos. A morte, a
gente talvez possa considerar como um fim, mas nós consideramos
como o fim de um ciclo, tem vários pontos que liga isso, ah... então
você está vivendo, talvez você continue vivendo e acontece a morte
de uma história, de algo que aconteceu com você e você tem um
novo início. A morte então seria um fechamento de ciclo, não
necessariamente a morte da vida. Mas sim algo que encerra um ciclo
e abre um novo para próximas experiências. ALDEBARAN
Agora na morte e na vida, a gente começou a conversar assim e
tiramos uma ideia. Não trouxemos conceitos fechados e sim palavras
que representam elas, então na vida trouxemos alegria, vida e
renovação, paz, amanhecer. E o que que a gente trouxe por
exemplo: quando nasce um bebê, quando a gente acorda de manhã
e respira, nossa, acordei mais um dia. Ou quando acontece algo de
terrível e eu digo: nossa, ainda bem que eu tô vivo, porque a vida é
só uma e não volta. E na morte é sensação de vazio, perda,
desesperança, desapego de certa forma, porque você vai ter que
aprender a conviver com aquilo, sem aquela pessoa, sem algo. A
morte pra mim não é só uma morte física, é quando a gente faz os
nossos sonhos, os nossos planos pararem. E é isso. SHAM
Vida um início incerto e mudança constante. A vida é uma caixinha
de surpresa (desenho) – [risos]. Morte a gente colocou que é um fim
de um ciclo, não que seja a morte corporal. E o desenho nós
colocamos uma frigideira e um ovo [risos]. A gente vai trabalhar com
criança, então tem que ser mais lúdico [risos coletivos]. ARNEB
Em relação a vida e a morte. Nos dois a gente pensou assim, a
morte não é ruim, a morte pode ser um fim de um ciclo. Será que é
um fim mesmo? Ou é apenas um recomeço. Acho que no geral foi
assim. Tem coisas boas e ruins em cada tema. Não é uma coisa
fechada. MENKA
Todas as conceituações se complementaram e fizeram com que todos
refletissem após a categorização de cada um. Por mais que tivessem falas muito
parecidas, pode-se observar contrapontos que abriram para discussões e novos
entendimentos:“Será que é um fim mesmo? Ou é apenas um recomeço”(MENKA),
quando referenciando a morte.
Abriu-se pela percepção da alma do intelecto (pela conceituação), e a
percepção dos sentimentos. Dentro de cada fala, continham o encaixe e ajuste entre
Eu e Mundo, abstrato e concreto advindos da autocognição de si. Pois o exercício
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de conceituação lançava o desafio de compreender os extremos e achar a justa
medida entre os conceitos duais.
Chegando as atividades de Despertar do Eu, trabalhamos com a expressão
das vogais de maneira individual e com a ajuda do outro. Nesta atividade, cada um
falou as vogais do seu nome realizando os gestos eurrítmicos concomitantemente.
As duplas já estavam mais alinhadas, o que proporcionou uma maior abertura e
contato corporal no momento de auxílio do outro. Simbolicamente, esta atividade
nos remete ao amparo do outro frente a nossa existência, o quanto podemos crescer
juntos, um apoiando o outro no expressar da sua “identidade”.
No momento da Gratidão revelada em Espírito, realizamos a atividade do “Eu
desvelado em imagem: encontro da Essência Trina a unidade sensível do homem”,
essa atividade fez com que por uma foto individual, cada um olhasse para si e
percebe-se novamente sua história, porém agora olhando a sua autoimagem. Até
esse momento, o grupo manteve atento e inexpressivo, realizando passo a passo
com aparente concentração.
No último exercício, denominado: “Eu Sou Você, você sou Eu”, havia a troca
de autoimagem entre as duplas, o companheiro de dupla agora segurava a
autoimagem do colega. Nesta atividade, a aparente inexpressividade deu lugar a
uma explosão de sentimentos. O que antes não estavam conseguindo perceber
sozinhos olhando para si mesmo, quando o “outro” em questão segura o seu reflexo,
a percepção de seu Eu pode ser ampliada. Com isso, houve no grupo a
compreensão da liberdade pelo perceber da gratidão... Depois de descobrir-se em si
e junto do outro, “tudo fez sentido”. O Espírito lhe revela sua face.
Por fim, chega-se àconclusão neste encontro que o outro é reflexo do Eu. O
que há no outro, também há dentro de si. E somente identificando a força vital de
amor e compartilhamentos que nos faz identificarmos uns com os outros, é que
teremos a compreensão do Eu Espírito, e quando em espírito enxergarmos com o
olhar sensível humano, compreenderemos que todos os nossos esforços nos levam
a um mesmo caminho.
“Quando você está na coletividade, você ganha vida”
MIMOSA
96
6.3Síntese da abordagem antroposófica
Iniciamos dizendo que as observações dos processos espirituais na vida
humana e no Universo é denominada “ciência espiritual”, como nos refere Rudolf
Steiner, no livro Teosofia (1966). Contudo, ver com os olhos espirituais nos lança um
desafio: o de compreender a natureza sensível do homem além do racional e
físico/material, para o observar do mundo suprassensível. Sabendo que, há vários
graus de entendimento sobre um mesmo fenômeno, assim como existe a dualidade
em tudo o que conseguimos compreender como manifestado no homem atual
(concreto/abstrato; individual/coletivo), todavia, há o elo de ligação que faz da
compreensão e do sentimento um caminho para a verdade do que é o absoluto no
ser humano. Assim manifesta-se a relação do homem com a dualidade em direção
ao pensamento intuitivo, que está acima do que é dual, porém relaciona-se
diretamente.
Esse despertar do absoluto, segundo Steiner acontece de maneira natural,
por uma evolução das forças cognitivas do homem, o colocando frente a frente ao
ilimitado, porém, concebível diante de outros sentidos. O suprassensível, seria o
despertar das capacidades latentes no ser humano que o liga a unidade do que é
real, vivo e liberto. Compreender e sentir as nossas capacidades latentes, nos
ofereceria a condição de acendermos em nós, a chama da liberdade, advinda da
sensibilidade e humana (sentimento, inteligência e vontade), sua real natureza.
Por assim dizer, a natureza do homem compreende-se de tríplice maneira:
corpo, alma e espírito. Por corpo, o homem vivencia o contato com o mundo e a
relação com as coisas (sente, ouve, vê, toca). Pela alma, o homem associa as
coisas a sua própria existência, atribuindo impressões de agrado e desagrado,
prazer e desprazer, alegria e dor nesta relação. E pelo espírito, compreende as
coisas como são, observa o que as coisas conservam em si, percebendo-se além
dos outros dois.
Ou, de igual maneira destaca-se em pensamento (pensar), sentimento (sentir)
e vontade (querer). Entende-se o pensar como atividade cognitiva de representação
mental,podendo ser o pensamento meramente cotidiano, referindo-se “tão somente
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às coisas de utilidade prática”; ou o pensar sob “olhar do espirito”na medida em que
desenvolve suas capacidades cognitivas e transpõe a barreira do próprio
pensamento racional e físico/material, conduzindo assim, a regiões superiores de
existência, “o pensar intuitivo”. Entende-se o sentimento como uma extensão direta
do mundo anímico, pois o homem o constitui por emoções e impressões de sua vida
interior, sendo ele, o mediador entre o pensamento e a vontade. Segundo Steiner:
“os sentimentos mais elevados são, justamente, não os que se instalam ‘por si’, mas
o que são conquistados num energético labor de pensamento”. E entende-se por
vontade, a força interior mais profunda no ser humano, o impulso latente do querer
que movimenta o homem de dentro para fora (STEINER, 1966. p. 33).
O pesquisador da natureza lida com o corpo, o pesquisador do anímico (psicólogo) com a alma e o pesquisador do espiritual com o espírito. Obter clareza sobre a diferença entre corpo, alma e espírito refletindo a respeito de si é uma exigência a quem queira esclarecer-se, de modo pensante, sobre a essência do homem (STEINER, 1966. p. 32).
Todo terapeuta, é um pesquisador de maneira direta e indireta aos processos
empíricos do homem em busca de sua essência. De maneira direta, lida com o
corpo pelas experiências físicas a que lhe chegam por meio da doença ou bem estar
físico; lida com a alma pelas interpretações que o outro atribui em relação ao
processo que está sendo vivenciado, de dor ou de alegria, agrado e desagrado; e
acaba por lidar com o espirito, no momento em que necessita, junto do outro,
ressignificar sua história de vida e compreender o sentido que está além da
situação, além das coisas materiais e impressões, percebendo o imagético e real
aos mundos suprassensíveis.
Ser terapeuta é ser, ser eu mesmo e estar, estar onde se precisa ALDEBARAN
É alguém que utiliza de habilidades para ajudar o próximo, buscando a auto cura. CHELEB
Da mesma forma que trabalha com o outro, antes, deve perceber-se como o
Ser que conhece seu próprio corpo, compreendendo suas demandas
físico/materiais; que reconhece sua alma e o mundo interno do qual construiu com
suas teias de sentidos e interpretações, gostos e desgostos; e reconhece o espírito
frente à manifestação da vida e da grandiosidade do que ainda lhe é imperceptível
aos olhos, mas que pelo sentir e penetrar sua complexidade cognitiva, pode
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contemplar profundamente dentro de si, bem como identificar a força propulsora que
o motiva em busca de respostas ainda maiores.
Eu acho que a palavra que mais define isso tudo é autoconhecimento, porque a gente vai acabar participando da vida de outras pessoas no projeto. Pra gente participar da vida de outras pessoas a gente tem que participar da nossa própria vida, a gente tem que se conhecer, a gente tem que ver o que está acontecendo. POLARIS
[...] é legal relembrar os propósitos porque tu veio aqui? Porque tu mudou teus objetivos? [...] então assim...dá pra dar voltas por cima, recomeçar, se encontrar, não importa o tempo, a idade que você tem, que você possa tá sempre crescendo, acho que isso é muito importante, eu achei isso legal que também, eu tô me descobrindo como terapeuta eu acho. CHELEB
[...] Eu acho que eu me descobri, eu acho que não sei quem eu seria hoje se eu não tivesse passado por tudo isso que eu passei, se eu não tivesse conhecido as pessoas que eu conheci. CAPH
Não importa quantos anos você tem, você sempre tem alguma coisa pra evoluir, pra crescer e isso vai ser eterno. CHELEB
Todas essas falas evidenciam o olhar de que o terapeuta é por si, um
pesquisador de si próprio, antes mesmo de ser um pesquisador do outro. Nele e por
ele passam-lhe as vivências do corpo, as vivências da alma e as vivências do
espirito, mesmo que ainda não o perceba conscientemente.
É... três anos atrás eu era atendida por uma psicóloga, por um problema pessoal, e daí ela me trouxe a palavra resiliência, e daí eu sempre ouvia a palavra, todos os jeitos que falam sobre ela eu me identifico e a tatuei no meu corpo. Não tenho o que falar! (chora) Hoje eu me senti uma pessoa resiliente, uma pessoa forte e isso foi o que me emocionou! MEROPE
Merope em seu corpo, em sua alma e em seu espírito vivenciou o sentido da
palavra resiliência. Em seu corpo, vivenciou a depressão e todas as desordens
físicas ligadas a ela. Em sua alma, buscou sentidos e interpretações para
compreender o que viveu e transformar as situações dolorosas em aprendizado. E
em seu espírito, ao realizar a atividade, acionou a força propulsora da qual a
manteve de pé e a fez seguir em frente. Com isso, se emocionou, pois fechou um
ciclo de compreensão da qual lhe faltava: compreender que é a própria força, o eu
ilimitado além das experiências de alegria e dor, “o espírito”:
Eu por exemplo nesses últimos seis anos eu tô dentro da faculdade, já foram milhões de altos, milhões de baixos [...] Sim, família ajuda muito, amigos ajuda muito. Mas se não tiver a minha força de
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vontade, o meu querer, eu não iria conseguir tá aqui hoje, fazer tudo o que eu fiz e ter as conquistas apesar das últimas semanas... É... Um turbilhão de coisas de emoções, longe de família, a mãe tem um ano que não vejo (chora), a saudade bate bem forte... e é isso, eu sou muito feliz por tá participando tanto tempo nesse projeto, trouxe pra mim coisas maravilhosas, aprendizados que eu desde lá do começo me fizeram me conhecer, transformou, modificou. É isso, eu só tenho a agradecer. DENEB
Deneb, em uma vivência muito parecida com a de Merope, evidencia o
espírito presente na própria força e vontade, pois compreendeu que dentro dele está
a fonte ilimitada, reconhece a ajuda do outro, mas ancora em si o seu potencial
divino enquanto “Eu Espiritual” [Alma da consciência]. Refere que as relações o
ajudam muito, e em específico, o projeto e os aprendizados que teve desde o
começo como terapeuta, o fazendo reconhecer-se e o transformando, refletido pelo
sentimento de gratidão.
Após ter consciência de que dentro de si estão as chaves da base concreta
que pode conceber, como a força e a vontade, é preenchido pelo sentimento de
gratidão, sendo este uma das manifestações do espírito, frente a grandiosidade da
vida e do que é belo no aprendizado, pois atribuí a ele uma nobre causa que o
engrandece, independente das situações e sensações que venha a passar.
Reconhece o que permanece em si, além do que é impermanente. Sendo que para
Steiner, toda pessoa sabe o que dentro dela é verdadeiro e vale os seus
sentimentos, valores e emoções, pois vem das firmes bases do espírito, ancorada
na vontade que está em seu íntimo, aguardando ser descoberta: “só permanece
aquela verdade que se desprendeu de todo e qualquer resquício de tais simpatias e
antipatias das emoções e assim por diante”(STEINER, 1966. p. 41).
“Minha história é esse papel que você está lendo, é um papel que estava em branco e eu continuei escrevendo e estou fazendo isso até não haver mais páginas”. AZHA
Tomar consciência de si é tomar as rédeas de sua vida, é fazer com que o Eu
mais próximo ao espirito, assuma a compreensão das coisas, a partir de um “labor
de pensamento”. A experiência adquirida através do autoconhecimento/
autocognição: “permite uma comparação, para discernir entre o que é efêmero e o
que é permanente e se baseia em si mesmo”(STEINER, 2000, p. 162). Reafirmado
na fala de Deneb, Canopus e Mira, sobre suas descobertas baseadas em si:
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“Mas se não tiver a minha força de vontade, o meu querer, eu não iria conseguir tá aqui hoje” DENEB
“É ser sentimento sem preocupação, é ser calor, ser amor, ser eu mesmo” CANOPUS
“Na verdade encontrei um caminho que já me pertencia, eu apenas trilhei [...] as dúvidas me trouxeram a certeza de quem eu sempre fui” MIRA
“O eu, como genuína entidade do homem, permanece invisível”, sendo o
próprio homem a identidade de pertencimento a esse Eu. Não há outro que possa
assumir o “eu”, sem ser a si próprio. Com essa plena consciência, percebe a
responsabilidade diante da vida, pois não pode atribuir ao outro este fato. Portanto,
segundo Steiner, podemos chamar nosso corpo e nossa alma “de ‘invólucros’ dentro
dos quais vive, podendo designá-los como condições corpóreas para seu agir”.
(STEINER, 1966. p. 42).
[...] é um resgate de essência, é você se aproximar da essência, é entender que nós somos repolhos (risos). É como se você tirasse as cascas do repolho e sobrasse um miolinho, e é isso que a gente resgata quando a gente trabalha o nosso eu, quando a gente se conhece, quando a gente resgata. Porque às vezes a gente na correria da vida, perde um pouco isso, e a gente tem que sempre tá buscando, sempre tá buscando...pra ir para aquele miolinho de novo. CAPH
Caph evidencia em sua fala a consciência do Eu espiritual [alma da
consciência] como a essência escondida por detrás de todas as cascas do mundo
corpóreo e sensorial. Porém, Caph, nesta e em outras falas, nos aponta a devida
importância aos processos anteriores, as “cascas”, lhe trazendo à consciência e
compreensão das coisas como são e com isso, enxergar o que é do mundo e o que
é do eu, ou o mundo no eu.
Neste ponto, observamos o que Steiner nos traz sob o olhar de Goethe da
dualidade “eu e mundo”.
O excedente que procuramos nas coisas, em virtude de nosso descontentamento com o que é oferecido imediatamente aos sentidos, divide o nosso ser em duas partes. Tornamo-nos conscientes da diferença entre nós e o mundo, posicionando-nos como um ente distinto diante do mundo. O universo apresenta-se assim na contraposição Eu e Mundo (STEINER, 2000. p. 8).
Ainda na relação “eu e mundo”, Guirtab e Azha nos mostram o
descontentamento frente a realidade da qual observam, demonstrando sua
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insatisfação e fragilidade emocional, diante do distanciamento do homem a sua
natureza interior. Seus pensamentos e sentimentos estão intimamente ligados a
compreensão interior presente no âmbito de sua vontade, do impulso vivo de seu
espírito em prol da liberdade. Porém, a dualidade é imperante uma vez que abala
sua individualidade e liberdade, os colocando em desequilíbrio frente a dualidade e
se colocando como distintas do mundo, em contraposição:
E eu acho que a gente tá vivendo um mundo que a gente não tem liberdade de expressão. Por exemplo, se tu não vive numa “panelinha”, tu não tem o direito de se expressar. É...ficar vivendo num mundo muito individual, é cada um por si e Deus por todos. GIRTAB
Eu peguei a imagem de um casal se abraçando no meio da multidão. E eu achei muito uma crítica social bem forte hoje em dia. Porque as vezes a gente vive conectado via wi-fi e não vive conectado com pessoas, via sentimental assim, e eu me vejo nessa imagem, certamente eu sou essa menina aqui ó, abraçada. Essa sou eu, e eu me senti muito frágil, muito frágil sabe...essa imagem me passou assim, que o outro parece não ligar sabe? Que a gente tá tentando amar, enquanto a gente tá tentando passar carinho e importância, o outro tá ali sabe? AZHA
O descontentamento com o embate individual/coletivo, concreto/abstrato é
evidenciado. Observa-se a ação de “conexão via WiFi” como uma maneira de
permanecer com a sua individualidade intocada. Não referenciamos aqui a
individualidade do homem como o egoísmo, esse faz parte apenas de uma parcela
desse exemplo do qual Azha nos traz. Referenciamos a individualidade como o
processo de individualização, de autoconhecer-se e reconhecer-se como Eu. Em
que os mecanismos de fuga do homem são tanto quanto podemos perceber nos
dias atuais, para que permaneçamos “iludidos” ou “entretecidos”.
É mais fácil perceber a dualidade Eu e Mundo em interferências mentais, cujo
teor é expresso pela dualidade de conceitos e múltiplas compreensões.
Agora na morte e na vida, a gente começou a conversar assim e
tiramos uma ideia. Não trouxemos conceitos fechados e sim palavras
que representam elas, então na vida trouxemos alegria, vida e
renovação, paz, amanhecer. E o que a gente trouxe por exemplo:
quando nasce um bebê, quando a gente acorda de manhã e respira,
nossa: acordei mais um dia! Ou quando acontece algo de terrível e
eu digo:- nossa, ainda bem que eu tô vivo, porque a vida é só uma e
não volta. E na morte é sensação de vazio, perda, desesperança,
desapego de certa forma, porque você vai ter que aprender a
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conviver com aquilo, sem aquela pessoa, sem algo. A morte pra mim
não é só uma morte física, é quando a gente faz os nossos sonhos,
os nossos planos pararem. E é isso. SHAM
Em relação a vida e a morte. Nos dois a gente pensou assim, a
morte não é ruim, a morte pode ser um fim de um ciclo. Será que é
um fim mesmo? Ou é apenas um recomeço. MENKA
A gente tratou o individualismo como eles colocaram, que antes de
trabalhar o coletivo a gente precisa trabalhar com o nosso individual.
E o individualismo não é uma coisa totalmente ruim né? Porque... a
gente precisa fazer as coisas sem depender das outras pessoas
também, um exemplo disso é nossa felicidade, e a nossa felicidade
só depende de nós mesmos e de mais ninguém. E a coletividade a
gente colocou que é transformar as mesmas idealizações em um
único objetivo. ARNEB
Acho interessante a gente dizer que nós colocamos em um lado
coletividade, saúde e vida e no outro lado, individualismo, doença e
morte. Porque são termos que para nós faz mais sentido estarem
juntos, quando você está na coletividade, você ganha vida. MIMOSA
Contudo, as múltiplas compreensões nos chegam para que possamos nos
ligar ao conteúdo principal, que está para além da própria análise mental e
observação da realidade, e é influenciado pela experiência do que é do mundo em
si. Os terapeutas descritos chegam a uma complexidade de pensamento sobre os
temas e justificam-se em suas escolhas, mediante as suas experiências internas
vivenciadas em cada conceito.
Entretanto, somente será superado o modo operante de contraposição Eu e
Mundo quando encontrarmos o caminho que nos leva a natureza perdida dentro de
nós, da qual nos desligamos e, pelos vestígios dessa natureza, nos aproximarmos
do elo de ligação “eu e mundo”. Porém, constantemente podemos empreender
nessa jornada de que esse elo é um acoplar do eu a natureza, todavia, nos falta
compreender que não somos seres alheios a natureza, e só podemos achar a
natureza externa dentro de nós mesmos.
O que é igual a ela em nosso interior nos guiará. Assim está traçada a nossa trajetória. Não pretendemos especular sobre a atuação recíproca entre a matéria e o espírito. Mas queremos descer às profundezas de nosso próprio ser para lá encontrarmos aqueles elementos que levamos conosco quando nos separamos da natureza (STEINER, 2000. p. 13)
103
Iniciar esta senda enigmática da qual nos faz reconhecermos como a
natureza viva e operante do espírito, muitas vezes é impulsionada pelo desequilíbrio
dual da relação entre o “eu e mundo”, começa por nos questionarmos como
operamos as nossas próprias vidas, a forma como nos manifestamos nela e que ela
se manifesta em nós. Não somente analisar o exterior do mundo, mas o intimo
contato com as nossas dinâmicas interiores de vida, presentes no mundo.
Eu achei difícil começar a entender que eu preciso seguir o meu ritmo, achar o meu ritmo e seguir nele. CANOPUS
As coisas ao nosso redor estão acontecendo e isso faz com que a gente saia do nosso ritmo. MIRA
As vezes a gente acha que nossa vida está estagnada e nada tá em transito, mas a gente percebe que quando a gente tira uma coisa de um lugar e coloca em outro, pode permanecer na mesma linha, mas as coisas já não são mais as mesmas. Na mesma hora que você acha que está na mesma linha, parado e estagnado, você está em constante evolução. ALDEBARAN
[...] eu fui buscando um sentido. Vários sentidos na verdade, além da paciência, concentração, comecei a dinamizar, daí fui buscando um ritmo e fui tentando me encaixar. CHELEB
Quando minha mente parava de falar eu conseguia fluir melhor, mas quando ela falava eu me perdia. E eu vejo na vida, que quando a nossa mente começa a falar demais, a gente se perde. IZAR
O ritmo é um dos meios pelos quais o homem liga-se ao etérico espiritual
(concepção, nascimento, crescimento, maturação, fenecimento e morte), pois
compreende o pulso da vida, que cada coisa tem seu ritmo e que existe uma fluidez
em tudo o que se diz respeito à natureza presente no mundo, interna e
externamente. Assim como o ritmo estrutura a vida, trazendo a constância e o
modular necessário para os fenômenos vivos de aprendizado, o etérico/espírito
ganha vitalidade e força pela compreensão, adaptação e flexibilidade para continuar
sua senda investigativa.
Como nos refere Rudolf Steiner em seu livro “Teosofia”:
É certo que a alma imprime no corpo, como que com um sinal, o processo pelo qual deve realizar essa impressão e, mais tarde, perceber essa impressão como algo exterior. Assim, ela é depositária da lembrança. (STEINER, 1966. p. 55)
Nossa alma, por ser dotada de sensibilidade, índole e vontade (alma das
sensações, alma do intelecto e alma da consciência) é a responsável em nos trazer
104
as lembranças das quais imprimimos ao mundo e como por um espelho, as
lembranças que o mundo imprime em nós. Os aprendizados vindos dessa memória
são individuais, uma vez que cada homem constrói seu próprio mundo em interação
com o mundo presente. Diante dessa impressão interna, cada homem trará um
significado para a sua vivência. Mesmo que vivam as mesmas experiências
físico/corpóreas, cada qual trará seu significado, pois apesar de terem realizado a
mesma ação, desencadeada pelo externo, o interno de interpretação e “lembranças”
é único e individual sobre o mundo. Um exemplo disso é a resposta a uma atividade
do Despertar Corpóreo de olhar nos olhos do outro.
É muito difícil porque é uma prática que tu não tem diariamente, entendeu? Conversar tu conversa, agora ficar ali, olhando no olho um do outro, tentando sentir o que a pessoa está tentando te passar pelo olhar, acho que muita gente deve ter penado, porque é uma coisa que agente não faz, tu conversar com a pessoa olhando no olho da pessoa isso é muito raro, muito raro... ZANIAH
Engraçado, porque isso pra mim foi um momento muito intenso, pra mim foi muito f... (procurando palavras) natural, gostoso, um momento muito bom. Porque, como a CAPH disse, a gente tá muito acostumado a buscar, a ficar na superfície das pessoas assim, e quando eu tava olhando no olho da pessoa, e a pessoa olhando no meu olho, primeira coisa que eu pensei foi: - Essa pessoa tá olhando pra mim, ela não tá olhando em mim. CANOPUS
Na fala de Zaniah observa-se uma dificuldade em lidar com a expressão
físico/corpórea e anímica de uma mesma atividade em que Canopus observou com
naturalidade. Zaniah atribui ao fato de estarmos, de uma maneira geral,
“destreinados” das nossas capacidades latentes enquanto ser humano em nosso
perceber anímico/empático e espiritual. Canopus, nos traz a referência ao olhar a
outro como ele é, com os olhos da alma da consciência, quando o outro se
apresenta.
Ela não tá olhando a roupa que eu estou vestindo, ela não está olhando meu cabelo, que curso que eu faço, ela tá olhando pra mim, quem eu sou, o que eu sou, e se sentir importante num universo desse tamanho (referência com as mãos para grande), pra uma pessoa que seja por cinco minutos, é lindo...é um momento que não tem explicação. CANOPUS
Cabe considerar, que se deixar fluir em uma entrega ao outro de maneira em
que todas as impressões sejam deixadas de lado, para enxergá-lo tal qual se
apresenta, exige do terapeuta, humano, e pesquisador, ser um homem com um
autoconhecimento de si, do mundo em si e do perceber mais diretamente das coisas
105
como são. Para isso, Steiner nos refere na fenomenologia de Goethe de que é
preciso: “não tocar nem a beleza nem a utilidade das plantas [...] deve contemplá-las
e abrangê-las todas com um olhar sereno e imparcial, extraindo a norma para o
conhecimento, os dados para julgamento não de si mesmo, mas do âmbito das
coisas que observa” (apud Steiner; 1966. p. 27). Só assim, despido de impressões, é
capaz de observar o outro com os olhos do conhecimento.
Essa semana eu senti que eu consegui me reconhecer um pouquinho mais. Na semana passada aquela emoção em que eu senti ...me dava vontade de chorar. Daí hoje eu consegui ampliar o meu olhar, perceber mais os outros e também na minha história, e esse negócio da mudança que ele falou eu também percebi bastante. MIRA
Quando nos atemos apenas a um âmbito em específico, podemos considerar
que falta-nos o equilíbrio. Somente no âmbito do pensar, o homem viveria “no
mundo da lua” para conseguir conceber todo o conteúdo humano e espiritual, pois
lidaria apenas com o abstrato morto e imagens estáticas. Somente no sentir, seria
deslocado pela alma das sensações, caminhando por extremos de emoção e
alegria, tristeza e desânimo. E somente no querer, realizaria suas ações no mundo
sem deter em refleti-las. É no entrelaçar dos três âmbitos, que o homem desenvolve
o mais consciente de si.
Porém, são as nossas capacidades latentes que irão reestruturar o corpo e a
alma para a consciência do Eu espirito, fazendo com que o ilimitado e potente
interno, cresça ao ponto de ser percebido e externalizado de maneira a não impor
dúvidas ou juízo de valor. Quando desperta para o Eu espirito, vivencia o sentir
profundo que é a totalidade, já pouco lhe importa as impressões de agrado e
desagrado, apenas sente o que é real (pois dentro de si reconhece o que é
permanente e impermanente), sabe que é real (pois compreende pelo pensar
intuitivo, o caminho do correto, bom, belo e justo) e vivencia o que é real (quando em
ação reconhece a sã vontade, liberta dos pesos do vício, medo e da culpa). Quando
assim o homem reconhece esse caminho, é como se estivesse voltando para a casa
depois de uma longa viagem. O emergir do sentimento e transbordar de emoção
pelo pertencimento de si, é o ancorar de todo o trajeto, fazendo com que a
compreensão viva da liberdade apareça.
Eu nunca me senti tão em casa, com pessoas que assim, eu nunca vi na minha vida antes, sabe? E a única coisa que eu estou sentindo
106
é tanto amor... sabe? Uma acolhida em casa, e eu só consigo sentir gratidão por tudo o que você fez a gente sentir sabe? Essa conexão. AZHA
Eu tô muito feliz, porque eu não via a hora de chegar a formação, e eu sabia que ia ser incrível e eu não me enganei. A gente acorda cedo pra chegar aqui 08:00h da manhã de um sábado, mas sabia que quando eu chegasse já ia tudo mudar, e foi isso que aconteceu. Eu não sei se a gente vai fazer a brincadeirinha da palavra no final, mas a palavra que eu escolho pra hoje é “libertador”. Porque foi a formação mais libertadora que eu já tive, de não me importar se tinha gente olhando, não importar se o amigo estava girando, fazendo isso ou aquilo, tava eu lá girando sem me importar com nada...huhu (uma comemoração). E eu nem aí, foi assim, eu nunca me senti tão livre no meio de tanta gente. E eu adorei, e eu espero que só melhore. BELLATRIX
Hoje, a minha maior vontade era de ficar de olho fechado, não dava vontade de abrir, porque parecia muito mais fácil eu conectar comigo mesma. ANTARES
Indo ao encontro da visão antroposófica, Rudolf Steiner nos traz de que, no
momento que a individualidade foi conquistada, o ser humano deve buscar ter
discernimento por suas escolhas, pois tem total liberdade perante elas, e por assim
dizer, tem total liberdade de escolher compartilhar sua missão na Terra com os que
forem de sua afinidade. Se antes era a hereditariedade que nos unia, hoje temos a
possibilidade de nos unirmos por objetivos em comum: “O que são os Terapeutas?
“São pessoas com um pensamento comum, doar um pouco do seu tempo e rotina
para fazer a diferença e contribuir para melhorar, e até mesmo alegrar as pessoas
que mais precisam desse conforto”(ARNEB).
Pra mim semana passada foi muito forte porque eu não imaginava o que iria acontecer e pra mim lidar com tanto sentimento que eu acabei lidando, então foi muito, muito forte mesmo. Hoje, acredito que não foi tanto com essa intensidade, porque eu já imaginava que eu iria trabalhar com isso novamente. Semana passada foi um choque assim, ficar de frente comigo mesma, sabe? E eu também tive a sensação de que era pra eu tá aqui, eu tava no lugar certo, na hora certa, no momento certo pra mim, foi muito intenso. Hoje senti que foi mais do pensar, tive que refletir bastante, semana passada foi muito sentimento, muito, muito, muito sentir assim. E eu também tô muito feliz, muito feliz, e eu tô ansiosa para as próximas, parar pra refletir, parar para me ver, porque eu nunca parei, então tá tudo sendo uma grande descoberta assim. MIRFAK
O que é ser terapeuta? “Para mim terapeuta é ser, sentir e estar imerso num oceano infindável de almas carentes daquilo que a vida trouxe como faltante, para lhe acrescentar”. MIRFAK
107
Semana passada eu vim sem expectativa nenhuma, saber como é que era, mas quando eu cheguei aqui eu sabia que aqui era meu lugar. E eu não e considero uma pessoa emotiva, mas quando eu cheguei aqui foi uma explosão de sentimentos que eu não tinha como segurar, como controlar, e parece que veio tudo aflorando. E hoje, na de hoje eu me sinto leve, foi tudo muito leve, parece que eu aceitei o sentimento que eu não mostrava e eu me libertei assim, que aqui é o meu lugar, me sinto conectada com as pessoas mesmo sem conhecer, mesmo sem ter conversado, hoje eu me sinto livre, leve. MIAPLACIDUS.
Terapeuta da alegria: “É transmitir tudo de melhor que você tem para alguém que esteja precisando. Não só com expressões, mas com energias boas. É fazer com o coração.” MIAPLACIDUS
Nesses enlaces de vivências e desvelar do sensível em nossa natureza
humana e espiritual, o terapeuta desenhou-se no “ser do pensar”, evidenciado na
fala de Cheleb como uma aproximação do pensamento comum que nos une em
missão; manifestou-se no “ser do sentir”, pela fala de Mirfak nos trazendo a alma da
consciência, que compreende o que ainda lhe falta e o busca na direção do espirito.
E no “ser querer”, trazido por Miaplacidus como a vontade de transmitir tudo o que
temos e somos a alguém que precise. Em complementar análise, ambas as falas de
Mirfak e Miaplacidus sobre os processos de identificações e transformações
ocorridas no despertar do terapeuta em si.
Despertar o terapeuta requer uma incessante busca para dentro de si mesmo,
uma jornada cujas engrenagens precisamos reconhecer peça a peça, e coloca-las
em funcionamento pela autoconsciência. Mediante a observação do pensar-sentir e
querer, o homem teria a possibilidade de unificação de sua essência para a
liberdade e consciência do Eu Espiritual, de vivenciar o que ultrapassa o sensível e
torna-se o “suprassensível” humano, de transpor as barreiras do racionalismo, pelo
pensar vivenciado, um novo desdobramento do pensamento. Desta forma:
O pensar intuitivo é a vivência da própria atividade, não é um patamar onde o ser humano chega em sua evolução mental e ali se estabelece. Ele não é o ponto de chegada, é o ponto de partida para uma inédita ampliação da realidade para o homem” (BACH, 2015. p. 134).
Enquanto o racionalismo utiliza de uma maneira para explorar a realidade, o
pensar vivenciado não utiliza de normas fixas, ele permite a ampliação da
consciência do sujeito em observação de seu estado mental e o leva a gênese de
sua atividade. Está além do racional, sem retroceder ao irracional (BACH, 2015).
108
O pensar vivenciado é: [...] uma nova perspectiva no desdobramento do pensamento, diferente do intelecto analítico que incorreu na racionalidade quantificadora. Esta forma de pensar, pelo fato de não se fixar em objetivações, mas despertar para a observação de processos plasmadores subjacentes às mesmas é a intuição consciente que integra o homem de modo individual, como ser acional na dinâmica de uma realidade sempre emergente e em transformação. O pensar intuitivo consciente abre o horizonte para uma nova dimensão da produção filosófica, que ultrapassa a perspectiva da mera interpretação de textos e da destruição crítica de posições alheias e se incorpora à vida do indivíduo como prática meditativa. O pensamento intuitivo, que brota do silêncio meditativo, é capaz de superar o materialismo e convertê-lo em passo intermediário necessário na busca pela realização da autonomia espiritual plena do ser humano. (BACH, 2015 apud VEIGA, 1998, p. 91).
Para Steiner, o pensar intuitivo é um exercício inicial da liberdade humana,
abrindo “à percepção da gênese cognitiva operante na essência do indivíduo”
(BACH, 2015,p. 134). Compreendendo mais claramente o que Steiner nos traz em
sua exposição sobre o pensar vivenciado ao encontro do intuitivo, trazemos uma fala
de Antares, quando percebeu-se diante de sua inadequação entre pensar-sentir e
agir, aproximou-se da liberdade:
Na semana passada eu achava que a atividade da pedrinha era pra trabalhar a concentração, o foco, e todas essas coisas a gente precisa treinar ou não pra conseguir. Mas não sei, acho que essa semana eu tava tão desligada, e daqui a pouco comecei a perceber na atividade o pensar, o sentir e o agir. O Ser humano é o pensar, o sentir e o agir. E de repente eu estava na atividade, e eu pensava na pedra e não pensava em agir, eu agia sem pensar e aquilo começava a se confundir. Mas o movimento assim eu fazia certo, mas não sei se estava organizado na mesma sequência. Mas...é que eu...pensando no mundo em que a gente vive, é uma grande dificuldade assim, tipo eu: é um feriado, eu moro longe dos meus pais e meu namorado mora aqui, então eu penso em ficar com meu namorado, eu quero ficar com meu namorado, eu vou pra casa ver meus pais. Porque que a gente faz as coisas se elas deveriam estar alinhadas, porque que a gente faz segmentada, sabe? Então, foi isso que me veio com as pedrinhas. Que quando eu fechava os olhos eu conseguia pensar, agir e sentir uma coisa só, e quando eu tava de olho aberto eu não sei...eu pensava que eu ia mexer mais eu não tinha mexido ainda, daí eu já tava pensando no próximo resultado... então foi por isso que eu fechei os olhos. ANTARES
Steiner nos faz refletir de que o ser humano pode fazer o que quer, mas não
pode querer o que quer, sem compreender a determinação dos motivos. Se o fazer
é coagido por fatores externos, sem “querê-lo” o “motivo” advindo da percepção de
si não é acessado, e seu agir é coagido por um querer que não é livre. Somente pela
109
cognição de si, quando o “fundamento se tornou-se membro de Si Mesmo[...] o
querer não é mais determinado; ele determina a si mesmo”. Assim sendo, todo agir
que não é sentido pela luz da percepção cognitiva de si, não é considerado uma
vontade livre e, “iluminar as leis do seu agir com a luz da auto-observação significa
superar toda coação dos motivos. E com isso o querer se desloca para o campo da
liberdade.” (STEINER, 1960. p. 41).
Pela atividade de integração do pensar-sentir e querer, Antares pode refletir
sobre esses três âmbitos e compreender onde se colocava internamente em
desequilíbrio.A plena consciência [alma da consciência] da dificuldade de
integração, fazendo deste pensamento operante, um pensamento vivenciado e
intuitivo, uma vez que conseguiu integrá-los dentro de si pelo fechar de olhos e
compreender dessa tríplice relação. Para Steiner: “quando eu vejo uma coisa, ela
permanece fora de mim; quando eu me percebo, então eu mesmo me recolho para
dentro da minha percepção” (STEINER, 1960. p. 21). O sentido está em buscar algo
além das coisas exteriores e percebê-lo à luz de si mesmo, revelando o seu
verdadeiro conteúdo.
O homem é livre, quando reconhece dentro de si o real do que é a liberdade.
É muito mais do que um conceito concreto ou abstrato, permeia o imutável e
acrescenta-lhe o mundo inteiro, não deixando espaços vazios, e somente a si
mesmo, e dentro de si, o todo universal. Quando pela luz da autocognição encontra-
se o intuitivo, manifesta-se o espírito. O agir por assim dizer, é a manifestação
primordial da essencialidade: “Não sobra nenhum resto de mim fora da minha
percepção” (STEINER, 1960. p. 22).
Estamos chegando ao fim do nossa análise, e traremos o fechamento com
duas falas principais: a de Mirfak e Antares. Com isso, nos aproximamos do principal
objetivo do trabalho: a construção sensível do homem. Poderíamos expor mais e
mais os conteúdos e trabalhá-los minuciosamente para que o “não visível” tornar-se
“visível” aos sentidos. Porém compreendemos que esse processo leva tempo e
também exige de nós a busca pelas experiências suprassensíveis, e a busca por um
conhecimento que está além do racional, mas integra-o ao pensar vivenciado e
intuitivo. Contudo, deixamos aqui, nosso legado e o legado de todos os corações
que junto de nós realizaram esse trabalho. Trazemos novamente a fala de
110
Mirfakconsiderando toda a sua valentia, coragem e grandeza em expor a senda do
homem que caminha em busca da liberdade de ser quem éseguindo a voz da
intuição.
Primeiro eu fechei o olho e eu não quis olhar, queria que eu fosse
escolhida pela minha imagem, e foi muito forte assim quando eu
recebi ela. Porque ela simboliza muito forte o que eu estou passando
no momento (começa a chorar) e... (pausa seguida de silêncio e
choro) [a imagem é de um peixe saindo de um aquário cheio para
outro vazio] Que as vezes na vida a gente precisa tomar certas
decisões, que podem trazer uma coisa boa ou não, a gente nunca
vai saber. E cada escolha é uma renúncia, mas certas escolhas
fazem com que a gente se sinta assim, faça parecer que a gente tá
se perdendo do caminho ou seguindo sozinho, não tendo com quem
contar. E não por culpa das pessoas, mas pelo caminho que a gente
escolheu pra nós, e eu acho que a sociedade é assim, porque tudo é
imposto sobre nós, com tal idade você começa a faculdade, com tal
idade você vai se formar, com tal idade você tem que comprar uma
casa e quando a gente quer romper com esse mundo é assim que a
gente se sente (chora). Sente que tá todo mundo nadando em uma
direção, e nós, indo cada vez mais longe disso. Mas isso é confuso.
Quem não gosta de andar em bando? Quem não gosta de se sentir
amparado...isso faz bem pra gente. Mas no momento em que nós
decididos sair desse conforto, sair dessas modulações e tomar o
nosso rumo sozinho, não é fácil. Não digo que não seja
recompensador, ainda estou pagando pra ver, mas...eu relacionei
muito a mim, e eu pensei que ela veio exatamente pra mim em um
momento muito forte. Porque é exatamente assim que eu me sinto, e
eu não acho que isso seja ruim, no geral, mas isso traz muito
crescimento e você sai totalmente da sua zona de conforto e você
começa a ver que certas coisas que antes você tinha vergonha,
agora não é mais. Por exemplo...ah...todos com tantos anos fazem
isso, ah...tantas pessoas com tantos anos estão formadas, ah...eu
não vou me formar, eu não vou fazer desse jeito, eu vou ser
diferente. Isso me causava uma situação de constrangimento,
porque era um padrão imposto, todas as pessoas estavam dentro
desse padrão, mas certas coisas começam a se tornar tão pequenas
perto disso, que isso já não é mais um constrangimento, é o teu
caminho, é a tua vida, nem todo mundo vai entender, nem todo
mundo vai compreender o que tá acontecendo. Só você sabe, só
você sente e só você vai poder decidir. O mais importante de tudo é
ter coragem, é ter coragem. Porque ninguém disse que isso seria
tranquilo, que essas decisões seriam fáceis. Não...você pode
quebrar a cara, pode acontecer muita coisa errada, mas é a sua vida.
Vão criar suposições, vão querer compreender e você talvez nem
queira explicar, mas é o seu mundo, você não pode se sentir inferior
111
ou seguir todo mundo. Você precisa seguir você mesmo e ninguém
mais. MIRFAK
Diante dessa fala, cujo teor é inigualável e incalculável, sua liberdade fala por
si, e nos toca em todos os sentidos conhecidos e desconhecidos em nós. Vem como
um abraço, uma identificação, uma emoção, um pensamento, uma imagem, uma
lembrança, um cheiro, uma vontade e, talvez a lembrança de que somos “um” e o
que há de igual em nosso interior nos aproximará. É preciso que busquemos ouvir
as transformações que soam a partir de nós mesmos, pois“a mesma linguagem que
chega das coisas até nós, nós a percebemos vinda de nós mesmos. Neste caso,
porém somos nós, também que falamos” (STEINER, 1960. p. 21).
Dentre todas as atividades que fizemos durante as formações, a que eu mais gostei foi um dia em que paramos frente a frente com um colega aleatório que ainda não conhecíamos direito e ficamos “apenas” nos olhando, sem trocar palavras ou gestos e depois nos abraçamos. Acredito que essa dinâmica tenha me tocado profundamente porque, com a correria do dia a dia, acabamos por deixar de lado o significado puro de um simples gesto, o olhar. Não apenas direcionar nossos olhos e ver aquilo que queremos ver e excluir o que não nos interessa, mas o olhar de quem transmite um sentimento sem dizer uma palavra sequer, de quem entende uma dor sem a necessidade de trocar gestos ou histórias de dores parecidas. Quando aprendemos a olhar para o outro, aprendemos sobre empatia, aprendemos a nos doar e, o mais importante, aprendemos sobre nós mesmos, afinal, como diz o dito popular, “os olhos são o espelho da alma”. O que talvez ninguém pare para refletir é que os olhos do outro podem ser o reflexo da nossa alma, os olhos dos outros também nos ensinam o que sentimos por dentro. Acho que no momento em que fixei meu olhar naquele ser desconhecido até então, eu pude aprender sobre mim da forma mais genuína que pude sentir e talvez entendi que o ser desconhecido sou eu mesma, pois estou o tempo todo em transição. Parei para pensar no EU+EU, EU+MUNDO, EU+OUTRO e acabei chegando ao sentimento EU=OUTRO, foi uma viagem inversa em que parei para observar o outro, mas acabei por observar a mim mesma e assim consegui me colocar no lugar do outro. No final, eu e minha colega nos abraçamos e eu já sabia que ela iria chorar, porque havia um sentimento inexplicável naquele espaço, como se todos tivessem encontrado algo seu no olhar do outro. Essa foi minha descoberta pessoal que me fez acreditar ainda mais no poder do projeto, pois eu sempre dizia que na medicina as pessoas tendem a dizer que escolheram ser médicas para poder ajudar o outro e porque tem muito para dar aos pacientes e eu sempre pensei que escolhi medicina porque deixo o outro me tocar facilmente e acredito que o outro tem muito mais a me ensinar sobre mim, sobre ele e sobre a nossa relação. ANTARES
112
Neste ponto chegamos à cognição de si, em encontro com a cognição do
mundo em si. Após um pensar vivenciado, o interior do homem se esclarece não
somente sobre si mesmo, mas também o interior de todas as coisas, que são, para
ele, um infinito conhecer do conhecer. Sendo que, “no interior brilha uma luz cuja
força de iluminação não se restringe a esse interior; trata-se de um sol que ilumina
ao mesmo tempo a realidade ‘toda’. Em nós surge algo que nos conecta com o
mundo inteiro” (STEINER, 1960. p. 29).
A percepção de si é o despertar de Si Mesmo, e em si mesmo, o mundo
habita. Em nosso conhecer, ligamos a vida de cada coisa em nossa própria vida,
nosso próprio Ser Essencial. As comunicações e interrelações tornam-se membros
de nossa individualidade, que uma vez reconhecido o conteúdo externo dentro de si,
não mais se difere de si. “Aquela parte dela que eu posso acolher incorpora-se como
membro ao meu próprio Ser”. Não há mais separação que possa distanciar o que
em nosso interior está ligado, sendo o coletivo e o individual uma e a mesma esfera
de existência.Pois quando compreendemos que“se eu, agora, despertar minha
própria individualidade, tendo [com isso] percepção do conteúdo do meu interior,
então eu despertarei para um existir superior aquilo que, trazido de fora, eu
incorporei ao meu Ser”(STEINER, 1960. p. 23).
“Ser terapeuta, tem uma forte influência em nosso dia-a-dia, mesmo que não percebamos. Passar por um processo de observação de si mesmo, já é um grande processo terapêutico, e após este alicerce estar construído, passamos a observar o mundo com outros olhos”. ALDEBARAN
Olhar ao outro e perceber o outro dentro de si mesmo, é o Despertar mais
profundo e sensível de um Terapeuta. Não é meramente um conceito mental de
“empatia” ao outro, mas advindo de uma cognição superior de si e de um exercício
de liberdade para cada vez mais reconhecer o que é permanente e verdadeiro em
seu interior, iluminando-o a si mesmo e ao outro: “A luz que, no meu despertar,
incide sobre mim mesmo, incide também sobre aquilo de que eu me apropriei, das
coisas do mundo. Uma luz relampeja em mim e ilumina a mim e, junto comigo, a
tudo aquilo que eu reconheço do mundo” (STEINER, 1960. p. 23).
As dinâmicas apresentadas durante o processo me levaram a reflexões profundas do meu verdadeiro eu, das cicatrizes que possuo, a perceber quantas coisas passei por cima simplesmente para não sofrer. Observar o mundo com outros olhos, é observá-lo
113
sem tantos julgamentos, sem tanta concorrência, diferente do que nos é apresentado pelo mundo capitalista, pelas carteiras escolares, onde temos que ser melhores que todos, mas em nenhum momento nos é permitido deixar que o outro esteja ao nosso lado. E o quanto é preciso estar presente, para realmente ser um terapeuta. ALDEBARAN
As formações me ensinaram muito sobre autoconhecimento e me fizeram refletir mais sobre os sentimentos que sinto por mim e pelo próximo. Me fizeram perceber que muitas vezes economizamos nossos afetos por medo de nos transbordar e por medo de nos reconhecermos de outra forma. Acredito que o fato de ter me conhecido melhor fez com que eu acreditasse mais em mim e começasse a olhar o mundo com outros olhos, olhos de mais amor. ANTARES
E o fim começa em seu ponto de partida, “conheça-te a ti mesmo”. Na luz da
compreensão do espírito incide o Terapeuta, o curador, o Cristo interno de cada
homem, que em todas as manifestações são“Um” com o todo. E somente em nosso
interior, podemos encontrar as chavesdo curador que somos, e vivenciarmos a
liberdade da qual nos mostrará “o caminho, a verdade e a vida”segundo o “Ser
Amor” que em nós aguarda para ser reconhecido e desperto.
Doce é sentir
Em meu coração
Humildemente Vai
nascendo amor
Doce é saber Não estou sozinho
Sou uma parte De uma imensa vida
Que generosa
Reluz em torno a mim Imenso dom
Do Teu amor sem fim
O céu nos deste E as estrelas claras
Nosso irmão sol Nossa irmã lua
Nossa mãe terra
Com frutos, campos, flores O fogo e o vento
O ar, a água pura
Fonte de vida De Tua criatura
São Francisco de Assis
114
7.CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nosso objetivo geral foi alcançado, pois conseguimos refletir a autopercepção
do terapeuta no processo por ele conduzido, e compreendemos que essa percepção
pode ser ampliada em seus diferentes âmbitos: em sua dimensão humana, em sua
prática profissional e na relação com o outro, descritos a seguir:
Em sua dimensão humana, a percepção do terapeuta é ampliada quando se
reconhece como Eu e busca compreender sua história trazendo as suas
capacidades sensíveis para a observação, reflexão, e concretização de suas
principais aspirações e sonhos, despertando em si os pensamentos, sentimentos e
vontades que engrandecem o homem e a vida humana em seu primordial. Tais
considerações são evidenciadas pelas manifestaçõesdos sentimentos de gratidão,
pertencimento, amor, força, liberdade...entre outros identificados ao longo do
trabalho. O terapeuta neste espaço terapêutico de formação, se apresentou como
um homem disposto a se autoconhecer, enfrentar-se e reestruturar-se. O Eu que se
apresenta, humanizou-se no momento em que se permitiu ver-se ao espelho; vendo-
se, iluminou a si e ao outro em si, encontrando seu curador interior, e suas
motivações internas para a vida, em um pensar-sentir e querer livre.
Em sua prática profissional, é ampliado quando em percepção dos próprios
processos de vida e de resolução as suas demandas, percebe o verdadeiro e trilha
os caminhos seguros diante da natureza sensível do homem, encontrada dentro de
si. Assim, uma vez que sabe o caminho de um processo, pois o refletiu
profundamente, bem como, reconhece a sua natureza interior e toda a força
presente nela, buscará auxiliar o outro a encontra-la também. Tal afirmação foi
refletida em todos os momentos em que um do grupo, acrescentou a fala de outro,
por um movimento de empatia (alma da consciência), de reflexão (alma do
intelecto), e de toque, abraço e interpretação (alma da sensação).
Em sua relação com o outro e com a sociedade, ao reconhecer a si mesmo
pela autocognição, reconhece o outro e o mundo como conteúdos pertencentes a si
mesmo, pois percebe o que de seu interior o liga as pessoas e ao mundo, fazendo
renascer uma nova visão, a do Ser Espiritual e intuitivo.
115
Chegamos a compreensão de que um caminho possível para alcançarmos os
objetivos da pesquisa foi o olhar para a história de vida. Areferência de nossa
históriaindividual e coletiva é um substrato de espaço e tempo capaz de nos trazer
reflexões acerca do Eu em nós, desde as dimensões mais objetivas da realidade às
mais subjetivas dos sentimentos e entendimentos, podendo ainda, nos lançar a
unificação do que ainda nos é dual e a evolução da sensibilidade ao ponto de
manifestarmos o pensamento intuitivo e vivenciarmos a liberdade em sua integra
sensibilidade.
Identificamos que mediante a observação do pensar, do sentir e do querer no
mundo, o homem tem a possibilidade de descobrir aspectos de sua individualidade e
da dimensão coletiva, histórica e cultural que o envolvem, pois abarca dentro de si o
coletivo que o cerca em seu processo de construção humana e compreende a si
mesmo neste caminhar, onde está e porque está. E, concluímos que mediante ao
aprofundamento das capacidades sensíveis humanas de integração do pensamento
e sentimento,refletidas aqui pelo suprassensível, o homem abre espaços internos
para descobrir a vontade advinda da liberdade do espírito, em busca de integração
com o coletivo, que é por si e em si, a sua própria natureza.
Compreender isso, nos faz refletir um caminho de pensamento que possa
sustentar a sensibilização, criticidade e liberdade de pensamento na construção
humana e em específico na formação profissional do terapeuta. E com isso, como
aporte para subsidiar professores e terapeutas nas mais diferentes áreas do saber
em suas práticas, chegamos a criação do Método de Ensino e Aprendizagem para o
Despertar do Eu: “Essência Trina”.
Ser terapeuta em nossa concepção é o “Ser” que pela justa medida entre a
observação do pensar, sentir e querer, reencontra a natureza unificada das coisas, e
por uma elevação sensível e cognitiva reconhece pelo vazio intuitivo a mediação que
ocupa junto de outros. Ocupando sua posição de terapeuta tanto com a criticidade
construída pela sua própria leitura de mundo e prática, quanto em sensibilidade
advinda das suas investigações sobre si mesmo e suas mobilizações internas para o
agir.
Assim sendo, identificamos princípios e conceitos de base antroposófica na
formação do terapeuta que abrangeram as três manifestações anímicas do pensar-
116
sentir e querer, bem como corpo-alma e espírito para que integrados a uma busca
por si mesmo, a autocognição, chegássemos a compreender o Sensível do homeme
o intuitivo vindo do Espírito.Todavia, concebemos que esta dissertação é apenas um
exercício de aproximação à ciência antroposófica, diante de um conhecimento cujo
teor deve ser aprofundado, pois o ilimitado é ilimitado. Porém, a tentativa e firme
propósito de aproximações nos trouxeram grandes aprendizados, dos quais ficam
registrados não somente nas linhas dessa obra escrita, mas nas linhas da vida e da
consciência de cada um que esteve presente nesse “redescobrir terapêutico”.
117
8. REFERÊNCIAS
ARAUJO, A. C. N. Currículo e Formação de Professores na Perspectiva de Paulo Freire e de Rudolf Steiner: um diálogo possível. ¹UMA – Universidade da Madeira/PT; Mestrado em Ciências da Educação; [email protected]. 2014.
ALVES, M. D. F. O ser e o fazer-se professor: Ressignificando valores, tecendo a teia da vida. Pontifícia Universidade Católica, São Paulo, Brazil. Revista Internacional de Educación y Aprendizaje.Volumen 1, 2013. Disponível em: http://sobrelaeducacion.com/revistas/coleccion/ ISSN 2255-453X
BARRETO, A.P. Terapia Comunitária: passo a passo. 4. Ed. Revista ampliada. Fortaleza: Gráfica LCR, 2008.
BOFF, L. Saber Cuidar: Ética do Humano.7 .ed. Petrópolis: Vozes, 2001.
CANCIAN, R. Natureza e luta de classes. Pedagogia e Comunicação. v. 19, p. 12, 2011. Disponível em: <http://educacao.uol.com.br/sociologia/praxis-marx-e-gramsci.jhtm>, Acesso em: 25/05/2017.
CONFORTI, M. Senso Crítico e o Estudante Universitário. Em Tempo, v.3. Agosto de 2001.
HILLER, E. Humanismo e técnica. Editora Pedagógica e Universitária Ltda. São Paulo, 1973.
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JUNIOR, J,B. O pensar intuitivo como fundamento de uma educação para a liberdade. Educar em Revista, Curitiba, Brasil, n. 56, p. 131-145, abr./jun. 2015. Editora UFPR
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MINAYO, M. C. S. Análise qualitativa: teoria, passos e fidedignidade. Ciênc. saúde coletiva [online]. 2012, v.17, n.3, pp. 621-626. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413- 1232012000300007>, Acesso em: 15 de outubro de 2013
MINAYO, M. C. S.; SANCHES, O. Quantitativo-Qualitativo: Oposição ou Complementaridade?Caderno Saúde Pública, Rio de Janeiro, p. 239-262, jul-set, 1993.
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MUTARELLI, S.R.K. O querer, o sentir e o pensar de Rudolf Steiner na literatura para crianças e jovens: os atos da vontade. 301p. Tese (Doutorado). Faculdade
118
de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2014.
SILVA-ARIOLI, I, G;SCHNEIDER, D.R; BARBOSA, T.M; DA ROS, M.A. Promoção e Educação em Saúde: Uma Análise Epistemológica. Psicologia: ciência e profissão, v. 33, n. 3, p. 672-687, 2013.
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STEINER, R.A Filosofia Mística nos Séculos XIII a XVII e sua relação com a concepção-de-mundo moderna. 5. ed. São Paulo: Antroposófica, 2011.
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WENCESLAU, L.D; RÖHR, F; TESSER, C.D. Contribuições da medicina antroposófica à integralidade na educação médica: uma aproximação hermenêutica. Interface. Comunicação-Saúde-Educação, Botucatu, v.18, n.48, p. 127-38, 2014.
119
9 APÊNDICES
9.1 Apêndice A: Entrevista semiestruturada
Nome:
__________________________________________________________________
Idade:
___________________________________________________________________
Formação:
__________________________________________________________________
Trabalho:
___________________________________________________________________
Participa ou já participou de outros projetos voluntários e de extensão Universitária?
( )sim ( )não
Quais_______________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
Observação: Se atenha ao questionário de
maneira crescente. Responda as perguntas
nesta mesma ordem. Não é necessário se
preocupar com o tempo de resposta, nem
com a quantidade de linhas.
1. Pra você, o que é um terapeuta?
2. Para você, o que é um terapeuta da alegria?
3. Quem é você? Sua história de vida.
4. Quais são as tuas bases profissionais e pessoais?
Agradecemos a sua participação!
120
9.2 Apêndice B:Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE)
Você está sendo convidado(a) para participar, como voluntário, em uma
pesquisa. Após ser esclarecido(a) sobre as informações a seguir, no caso de aceitar
fazer parte do estudo, rubrique todas as folhas e assine ao final deste documento,
com as folhas rubricadas pelo pesquisador, e assinadas pelo mesmo, na última
página. Este documento está em duas vias. Uma delas é sua e a outra é do
pesquisador responsável. Em caso de recusa você não será penalizado(a) de forma
alguma.
A pesquisa intitula-se DA DUALÍSTICA À CONSTRUÇÃO SENSÍVEL DO
HOMEM, UMA ABORDAGEM ANTROPOSÓFICA NA FORMAÇÃO DO
TERAPEUTA que tem por objetivo refletir a auto percepção do terapeuta no
processo por ele conduzido e se esta percepção na sua formação pode ser ampliada
por meio das três manifestações anímicas do ser humano: o pensar, o sentir e o
querer, proposta pela antroposofia.
Esta pesquisa está sob a responsabilidade e orientação do Prof. Dr. Leo
Lynce Valle de Lacerda, tendo como pesquisadora a Mestranda Mayara Cristina da
Conceição, regularmente matriculada no Mestrado Profissional de Saúde e Gestão
do Trabalho, sendo a pesquisa autorizada pela coordenação de extensão da
universidade e do projeto. O contato com orientador pode ser realizada através do e-
mail [email protected]. E o contato com a Mestranda Mayara pode ser realizado
por meio do telefone (47)997401877 e pelo e-mail
Como técnica de coleta de dados será utilizada uma entrevista
semiestruturada relacionada ao tema proposto e cinco encontros. Todo o material
levantado durante a pesquisa será gravado em áudio e vídeo e posteriormente
transcrito se tudo estiver em pleno acordo. Cada oficina terá a duração de
aproximadamente 4 horas e será realizada em um auditório da Universidade do Vale
do Itajaí cedido ao Projeto de Extensão Terapeutas da Alegria para a realização de
suas formações e reuniões, podendo a pesquisa ser interrompida a qualquer
momento que se fizer necessário. Você terá a garantia absoluta de sigilo sobre sua
identificação na dissertação. Salientamos também que tem a liberdade de retirar o
seu consentimento a qualquer tempo, sem que haja nenhum prejuízo. Esta pesquisa
121
é de cunho voluntário não havendo remuneração, mas é garantido a você o direito à
indenização, nos termos da lei e ao ressarcimento de despesas, caso necessário.
Informamos que os possíveis riscos ou desconfortos eventualmente gerados
pela pesquisa, como, por exemplo, o constrangimento frente a alguma atividade, a
sensibilização relacionada aos seus pensamentos presentes em sua história de vida
e elaboração de mundo, serão minimizados pela possibilidade de um local acolhedor
e de aprendizado do qual auxiliará na elaboração e no enfrentamento das demandas
apresentadas como um meio de aprendizado e troca fraterna de reflexões, vidas e
sonhos. Será garantido também o respeito à sua disponibilidade interna para
permanecer ou não no decorrer da atividade proposta, podendo se retirar a qualquer
momento do processo. Asseguramos sigilo absoluto sobre as informações
coletadas. Além disso, colocamo-nos à disposição para os esclarecimentos que se
fizerem necessários durante e após a pesquisa.
Os resultados da pesquisa poderão contribuir para a formação profissional,
tanto sua, quanto de outras pessoas que possam serem beneficiadas com o
processo de reflexão e vivência do qual propõem-se a pesquisa. Bem como
auxiliando na formação de novos Terapeutas da Alegria, projeto que você faz parte e
no desenvolvimento continuo de formação deste projeto.
A pesquisa poderá também potencializar ações tanto educacionais, quanto de
saúde que auxiliem novos jeitos de pensar, sentir e agir no mundo, individualmente e
coletivamente, relacionadas ao reconhecimento dos sentimentos e da reflexão como
base para a construção de uma nova sociedade e mundo.
Concluída a pesquisa, será realizada uma devolutiva a todos os membros do
Projeto de Extensão Terapeutas da Alegria, bem como a universidade, como
possibilidade de refletir suas práticas.
Esta pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da
Universidade do vale do Itajaí – UNIVALI, caso persistam dúvidas, sugestões e/ou
denúncias após os esclarecimentos do pesquisador o Comitê de Ética está
disponível para atender.
CEP/UNIVALI - Rua Uruguai, n. 458 Centro Itajaí. Bloco F6, andar térreo.
Horário de atendimento: Das 8:00 às 12:00 e das 13:30 às 17:30
Telefone: 47- 33417738. E-mail: [email protected]
122
CONSENTIMENTO DE PARTICIPAÇÃO
Eu, _____________________________________, abaixo assinado, concordo em
participar do presente estudo como participante. Fui devidamente informado e
esclarecido sobre a pesquisa, os procedimentos nela envolvidos, assim como os
possíveis riscos e benefícios decorrentes de minha participação. Foi-me garantido
que posso retirar meu consentimento a qualquer momento, sem que isto leve à
qualquer penalidade ou interrupção de meu
acompanhamento/assistência/tratamento.
Local e data:
_____________________________________________________________
Nome:
__________________________________________________________________
Assinatura do Participante ou Responsável:
________________________________________
Telefone para contato:
_____________________________________________________
_____________________________
Assinatura do Orientador – Prof. Dr. Leo Lynce Valle de Lacerda
_____________________________
Assinatura da Mestranda – Mayara Cristina da Conceição
(47) 9 97401877
123
9.3 Apêndice C: Comprovante de submissão de artigo em periódico
17-Apr-2018 Prezado(a) Dr. Lacerda: Seu artigo intitulado "A CONSTRUÇAO SENSÍVEL DO HOMEM: UMA ABORDAGEM EDUCACIONAL ANTROPOSÓFICA NA FORMAÇAO DO TERAPEUTA" foi enviado com sucesso e aguarda avaliação na Saúde e Sociedade. Sua manuscript ID é SAUSOC-2018-0373. Por favor mencione sua ID em quaisquer futuras correspondências para facilitar a identificação. O status do seu manuscrito também pode ser verificado a qualquer momento no seu Author Center após fazer login em https://mc04.manuscriptcentral.com/sausoc-scielo. Agradecemos a submissão. Cordialmente, Saúde e Sociedade Editorial Office
124
9.4 Apêndice D: Método de Ensino-Aprendizagem para odespertar do Eu: “Essência Trina”
Este é oprimeiro registro do método de Ensino-Aprendizagem construído no
decorrer do processo de formação das oficinas desta pesquisa. Este está em
processo de aperfeiçoamento, para futuramente ser publicado como um “guia” para
demais terapeutas que desejem aplicá-lo em sua vida profissional.
Este método foi elaborado a partir do processo de formação de novos
terapeutas e pelo aprofundar dos objetivos desta dissertação. Baseia-se em minha
bagagem de formações anteriores como terapeuta: em estudos transpessoais em
diferentes vertentes, no contato com dinâmicas de trabalho das quais trago como
referência para adentrar o olhar empírico e espiritual e pela bagagem atual
apreendida com a Antroposofia, ciência pela qual consegui por um campo científico
embasar minhas práticas com mais consistência teórica, conceitual e ampliada de
análise no campo humano.
No decorrer da descrição deste método, há referências adotadas por mim, a
fim de delinear a bagagem apreendida em uma jornada de descoberta pessoal,
considerada importante nesta pesquisa por compreendermos que o Terapeuta é um
pesquisador de si, do outro e do mundo em si, e esse fazer vem de um longo
percurso de descobertas, referências e vivências. Considera-las é considerar todo o
coletivo estruturante do qual embasa-nos como seres humanos na senda da vida e
na descoberta do “Ser Terapeuta” dentro e fora de nós. Sou uma terapeuta, por me
construir terapeuta, sendo reconstruída a cada experiência que me serve como
referência base.
Desenvolvido a partir das vivências de formação o método de ensino-
aprendizagem para o Despertar do Eu: “Essência Trina” tem por objetivo sustentar a
sensibilização, criticidade e liberdade de pensamento na construção humana e
Essência Trina
125
profissional, em específico na formação profissional do terapeuta, como aporte para
subsidiar professores e terapeutas nas mais diferentes áreas do saber em suas
práticas.
O método consistiu em cinco encontros presenciais que trabalham com as
três manifestações anímicas do ser humano: o pensar; o sentir e o querer. Cada
encontro desenvolveu de maneira direta uma manifestação primordial, mas todos
estiveram ligados com as três manifestações, visto a inseparabilidade de tais
conteúdos no desenvolvimento humano; apenas foi concentrado em dias diferentes
maiores atividades do sentir, em outros momentos maiores atividades do pensar e
em outros, predominantemente, atividades do querer. Nestes encontros,
trabalhamos na compreensão antroposófica de tríplice forma: Despertar do Corpo,
Despertar da Alma e Despertar do Espírito, bem como no preparo anímico em três
níveis: Alma das Sensações, Alma do Intelecto, Alma da Consciência. Descritos a
seguir:
1. Estrutura e dinâmica dos encontros
I. Primeiro Encontro: “Ser Terapeuta: conhecendo o Eu que se apresenta”
Objetivo:Primeira abertura de alma. Contatar com o significado do terapeuta interior
e a abertura da história de vida individual, para assim, despertar o olhar inicial ao
curador de si mesmo, ampliando suas capacidades sensíveis de corpo, alma e
espírito.
Desenvolvimento:
a. O Despertar Corpóreo Meditativo
b. O Despertar da Alma do Intelecto
c. O Despertar da Alma das Sensações
d. O Despertar da Alma da Consciência
e. Compartilhamento
Predominância do Despertar: Corpóreo, Alma das Sensações e Alma do Intelecto.
II. Segundo Encontro: “Sentir para Ser: aprofundando a descoberta do Eu”
126
Objetivo: Segunda abertura de alma. Aprofundar o autoconhecimento do Eu e
fortalecer as capacidades latentes no ser humano, percebidas em maior clareza e
inteireza pela meditação e silêncio.
Desenvolvimento:
a. O Despertar Corpóreo Meditativo
b. O Despertar da Alma do Intelecto- Concentração (atividade de concentração
com as pedrinhas)
c. O Despertar da Alma das Sensações – Reflexão (identificando as polaridades do
corpo das sensações)
d. O Despertar da Alma da Consciência- Sentir unificado a compreensão da Alma
das sensações e da Alma do intelecto (identificando a imagem verdadeira, a
força potencial individual).
Predominância do Despertar: Alma das sensações, Alma do intelecto e Alma da
consciência.
III. Terceiro Encontro: “A corporificação do Eu: a integraçãoanímica da Essência
Trina”
Objetivo: Ancoragem da alma e abertura para o espírito. Aprofundar a autocognição
e as capacidades suprassensíveis para contemplar e fortalecer a unidade e imagem
verdadeira de si.
Desenvolvimento:
a. O Despertar Corpóreo Meditativo (Conexão e alinhamento)
b. O Despertar da Alma do intelecto- Concentração e reflexão (atividade de
concentração com as pedrinhas)
c. O Despertar da Alma das sensações – Reflexão e sentimentos (identificando as
polaridades do corpo das sensações)
d. O Despertar da Alma da consciência- Sentir unificado a compreensão da Alma
das sensações e da Alma do intelecto (identificando a imagem verdadeira, a
força potencial individual)
e. A ancoragem do Eu
Ativação do corpo de Luz ígnea.
127
Ativação do corpo solar manifestado
Predominância do Despertar: Corpóreo, Alma da Consciência, Pensar reflexivo,
vivenciado e Intuitivo, Eu Espírito.
IV. Quarto Encontro: “Do individual ao coletivo: o despertar do Espírito de União”
Objetivo: Ancoragem da alma e abertura para o espírito. Encontrar a si mesmo e ao
outro dentro de si. Compreender o Mundo e elevá-lo ao Eu, para reconhecer a força
presente no mundo pela autocognição de si.
Desenvolvimento:
a. O Despertar Corpóreo Meditativo
Reconexão e alinhamento
Trazendo a consciência para o presente
b. O Despertar da Alma das sensações e Alma do Intelecto – concentração e
reflexão (O mundo desvelado em imagem- primeiro momento).
c. O Despertar da Alma da consciência- Sentir unificado (O mundo desvelado em
imagem - segundo momento)
d. A ancoragem do Eu
Ativação do corpo de Luz ígnea.
Ativação do corpo solar manifestado
Predominância do Despertar: Alma das sensações, Alma da consciência, Pensar
reflexivo, vivenciado e intuitivo, Eu Espírito.
V. Quinto Encontro: “Essência Trina: a unidade sensível do homem”
Objetivo: Alinhamento trina essência e ancoragem do Espírito. Vivenciar o encontro
de corpo-alma e espírito ao curador presente em si, reconhecendo o que é dual,
mas ancorando o Ser Real em unidade e coletividade. Vivenciar o mais profundo
entendimento do Ser Terapeuta.
Desenvolvimento:
a. O Despertar Corpóreo Meditativo
128
Trazendo a consciência para o presente
Caminhada consciente
Dança individual e dança circular
b. O Despertar da Alma das sensações e Alma do Intelecto – concentração e
reflexão (A dualidade de conceitos).
c. O Despertar da Alma da consciência- Sentir unificado (a unidade de conceitos)
d. A ancoragem do Eu
A expressão das vogais de maneira individual
A expressão das vogais com a ajuda do outro
Ativação do corpo solar manifesto.
e. Gratidão revelada em Espírito
O Eu desvelado em imagem: encontro da Essência Trina a unidade sensível do
homem, o Espirito.
Eu Sou Você, você sou Eu.
Predominância do Despertar: Alma do intelecto, Alma das sensações, alma da
consciência, pensar reflexivo, vivenciado e intuitivo, Eu Espírito.
2. Descrição sumária dos Exercícios de Ativação
Em cada um dos encontros foram trabalhados exercícios que ativaram
sequencialmente três âmbitos: ativação do Corpo Manifestado, ativação da Alma e
ativação do Espírito; cada ativação contém uma ou mais atividades de Despertar.
1.1 Orientações gerais
- Haverá momentos em que exigirão maior concentração outros maior
interação. É necessário prestar atenção na condução para que o objetivo final da
atividade seja alcançado.
- É importante em momento de silêncio, extremo silêncio. Num momento de
movimentação e possível cansaço; ânimo, energia e motivação para a finalização do
exercício. Em momentos de descontração, apenas curtir o momento como assim
sentir.
129
- Se em algum momento você se sentir desconfortável e precisar se retirar da
sala, assim poderá fazê-lo, contudo, orienta-se que busque permanecer o máximo
possível na atividade proposta, pois compreendemos que cada enfrentamento é
importante no processo de autoconhecimento.
- As atividades de cunho corporal, orienta-se que se entregue ao máximo
possível. Todos estamos em um processo de descobrir algo que não conhecemos,
experimentar algo que talvez nunca tenhamos vivenciado, então, a abertura para
uma atividade é extremamente importante para que o processo flua com
naturalidade e profundidade.
- Como são atividades que podem mexer com as emoções, é importante
dizer que este é um ambiente favorável para que você libere antigos sentimentos,
pensamentos e crenças limitantes. Estamos entre parceiros de aprendizado, entre
um grupo que busca ter um objetivo comum, um sonho comum, e neste sonho
estamos juntos e nos fortaleceremos juntos.
- Cada um alcançará nestes encontros o que assim se permitir vivenciar,
então viva cada momento no presente. Viva cada encontro e cada proposta como se
mais nada importasse, apenas, estar aqui e agora fazendo isso, ou aquilo.
- Busque perceber o ambiente, a energia que percorre o desenvolver da
atividade e se deixe fluir nela. O que não pertencer a este momento, ou “atrapalhar”
o desenvolvimento: descarte! (ex. conversas paralelas).
- Haverá momentos extremamente individuais (de você com você mesmo) e
coletivos (de você com o grupo), busque a flexibilidade desta atividade, a conexão
com a abertura a si mesmo pelo autoconhecimento, e a abertura ao outro pela
coragem em expressar-se junto do outro.
- Seja verdadeiro ao se expressar, seja sincero consigo mesmo. Somente
você saberá o seu limite. Somente você saberá as suas potencialidades e as suas
fragilidades, a exata medida de sua entrega, ninguém mais. Então permita-se sentir
quem é você nestes encontros a descobrir onde está e porque está.
1.2 Ativação do corpo manifestado
Trazendo a compreensão do corpo como uma estrutura que se movimenta, se
desloca pelo espaço, é viva e nos permite tocar; andar; alongar e contrair; com toda
a riqueza de detalhes dos ossos; dos músculos; das terminações nervosas, tudo em
130
suas múltiplas funções perfeitas e interativas, buscamos atividades que
estimulassem o conhecimento deste corpo, aumentando ao máximo o intimo contato
com cada movimento deste meio físico.
Quando movimentamos nosso corpo de maneira consciente, ou seja, quando
voltamos nossa atenção para aquele movimento e nos conscientizamos de senti-lo
tal qual ele se apresenta, reconhecendo as tensões de nossa musculatura, as
limitações de nossos movimentos, e até mesmo, o prazer de sentirmos a liberação
muscular e a amplitude de movimento imediata após isso, nos apropriamos de uma
parte desse Eu, que é o corpo.
Reconhecemos que podemos e conseguimos nos ver por meio dele. Muitas
vezes, há partes de nosso corpo que não movimentos normalmente, justamente por
termos ao longo da história processos que nos fizeram afastar do contato com o
corpo.
Além disso, nosso corpo por uma sabedoria natural, nos mostra com
antecedência tensões atuais que futuramente podem ser evitadas em um problema
mais sério, se estivermos atentos as nossas demandas corporais.
Para ativação do Corpo, buscamos realizar exercícios dos quais intitulamos
inicialmente de Despertar, por considerar que estamos acordando uma parte nossa
adormecida durante muito tempo, e com o despertar, vamos acordando nossa
consciência e sensibilidade para aquele ponto, ampliando nossas percepções.
O Despertar Corpóreo Meditativo, é o exercício principal para a ativação do
corpo manifestado, pois consiste em uma série de exercícios corporais cujo objetivo
está em explorar possibilidades de aprendizado com o corpo e após um período de
experiência, refletir sobre elas ou direcionar a energia alcançada para a realização
de algo.
Entre os exercícios corporais, está a caminhada consciente, cujo foco está em
trazer a consciência para o momento presente, elevar a frequência vibratória do
grupo e concentrar a energia. Na abertura dos centros de força, trabalha-se a
expansão e contração, vibração e rotação seu foco está em ativar áreas pouco
conscientes do corpo, das quais não costumamos observar e realizar um movimento
pulsante, ritmado e coordenado para mobilizá-las. Nesta atividade concentramos a
atenção em sete pontos principais: cabeça, peito, abdômen, quadril, pernas, braços
e por último, corpo inteiro.
131
Os exercícios do Despertar Corpóreo são reflexos das minhas experiências
teatrais com a Cia Téspis de teatro fundada em 1993, na cidade de Itajaí (SC),
companhia da qual trago como referência no contato e exploração do corpo como
um veículo vivo, sensível e artístico. A companhia é dirigida por Denise da Luz e
Max Reinert, sendo referência na região por conseguir realizar um trabalho crítico,
sensível e contemporâneo que dialoga com o mundo e o faz refletir sobre as formas
de ver, agir e pensar na sociedade. Tem como base em seus trabalhos os
ensinamentos da Períplo Companhia de teatral da Argentina e em linhas de estudos
de Grotowysk eStanislavski.
Muitos dos exercícios do Despertar Corpóreo baseiam-se nas experiências
anteriores, porém todas são modificadas, adaptadas e reestruturadas, com a
proposta terapêutica de intervenção, indo ao encontro dos princípios da
bioenergética, física quântica e visão antroposófica. Sendo os termos adotados um
direcionamento aos objetivos de cada exercício.
Procedimento:
Abertura dos centros de força: Inicia-se com uma série e alongamentos e após a
concentração de expansão e contração, vibração e rotação nos sete pontos
principais: cabeça, peito, abdômen, quadril, pernas, braços e por último, corpo
inteiro.
Vibração:[com o apoio de uma música que tenha um estímulo contínuo] inicia-se a
vibração do quadril, contagem de um a dez em ordem crescente, até que todo o
corpo esteja em uma única vibração, se debatendo por completo e pegando todas
as partes do corpo. Quando chega no dez (expressão máxima de vibração), retorna
ao um (expressão mínima de vibração). Realiza-se essa sequência de três a cinco
vezes no grupo, até que se observe mudança de presença, reações perceptíveis.
Caminhada Consciente: Após a abertura dos centros de força é solicitado que todos
caminhem pela sala. [Enquanto músicas são tocadas para auxiliar na concentração
e mobilidade do corpo]. No decorrer da atividade, orienta-se que acelerem o ritmo e
diminuam, fazendo com que a energia expanda e contraia, havendo momentos de
caminhadas rápidas e paradas bruscas. Após pequenas ações, como: olhar na linha
do horizonte e caminhar em direção, não esbarrar em ninguém, caminhar com a
132
mobilidade do quadril etc. Por último, são escolhidas músicas com o ritmo acelerado,
com o objetivo de liberação total das musculaturas e consciência corporal.
Eu Sou você, você Sou Eu: consiste em permanecer olhando nos olhos de outra
pessoa fixamente, um de frente para o outro, ou durante a caminhada. Pode ser
realizada em total silêncio e sem nenhuma ação, ou pode-se pedir para que depois
de um tempo olhando no olho do outro, faça algum movimento em direção a ele, um
abraço; um aperto de mão.
Conexão e alinhamento: Este relaxamento consiste apenas em aquietar o corpo,
uma vez que a movimentação é cessada. É solicitado que todos deitem no chão, ou
sentem em uma cadeira com as mãos sobrepostas aos joelhos e busquem equilibrar
a respiração. Inspirar contanto dez e soltar contando dez.
Consciência do quadril: Sozinho, realizar movimentos de lançamento (imaginar que
lança uma bola de diferentes tamanhos) com as mãos, e perceber o ponto de apoio
do quadril. E em dupla, encostar as costas na de outro companheiro e agachar um
pouco, como sentados em um banquinho, apenas empurrando o outro corpo com o
quadril, tendo como base a parte das costas encostadas uma na outra.
Consciência corporal: consiste em aquietar o corpo, e movimentar cada parte dele
de maneira isolada, iniciando nos pés em direção a cabeça. É solicitado que todos
deitem no chão, e visualizem uma luz que cresce pela respiração. Essa luz passa
em cada parte do corpo direcionada pelo terapeuta condutor e mobiliza aquela
região.
ORIENTAÇÕES:
Abaixo, uma fala modelo para exemplificar a dinâmica:
Caminhando pelo espaço. Mais rápido, aumentando o ritmo, aumentando o ritmo, aumentando o ritmo... Tracem uma linha com o olhar na linha do horizonte e sigam até o ponto em que vocês determinaram, depois tracem outro e sigam naquele ponto. Se você chegar lá, você vai passar por pessoas e então tente não se esbarrar, se precisar parar, pare. Se precisar movimentar o corpo diferente, parar, andar mais rápido, faça. Ande. Chegou, traçou outro ponto e vai. Visualize a linha do horizonte. Solte os braços na caminhada, abra o peito. Caminhe com a força do quadril, não somente com o movimento das pernas, pesem o quadril no chão. Joelho semi flexionados, passos largos e firmes. Mais rápido, mais rápido, vai crescendo, crescendo, crescendo, cresce na agilidade de
133
em uma corrida, com flexibilidade para não esbarrar em ninguém. Observe o grupo e dinamizem. Mais rápido, continuem o foco, olho aberto, peito aberto, força do quadril, força da caminhada, passos largos, vontade. Isso...parou! (todos pausam onde estavam). Continuem olhando o ponto fixo na linha do horizonte. Nesse momento começa novamente a nascer uma força, o corpo ele continua com a intenção de chegar, não é uma parada de descanso, é uma parada de tempo, a intenção continua, a vontade de chegar no ponto focado cresce, mas vocês estão parados. Então, retém essa informação, eu quero chegar lá, eu quero chegar lá, eu quero chegar lá. Começa a nascer essa intenção do quadril, então a respiração ela ajuda, o foco de chegar ajuda e na próxima palma vocês vão se direcionar a esse ponto em velocidade. Continuem no mesmo ritmo. Diminuindo agora, diminuindo... em círculo [novo momento do grupo].
Se no grupo for observada uma sensibilidade emocional muito aflorada, é
necessário que o despertar corpóreo trabalhe de maneira mais focada a força do
quadril e movimentos com as pernas e pés.
Então a gente vai saber o que é a força do quadril. Vamos fazer exercícios simples pra saber o que é isso. Lançar. Nesse lançar a força vem sempre de baixo. Eu não vou lançar um objeto e ir junto com ele, eu firmo meus pés no chão, pela base do quadril e seguro meu corpo. Sempre quando eu lanço a minha base está no chão, aqui é a minha base (região do quadril e abdômen). Vamos só lançar, inspira...
Pela consciência do quadril espera-se que o grupo dinamize a caminhada e a
sustente com mais firmeza; que o grupo possa manter-se em concentração,
presença e flexibilidade, o ritmo começa a adequar-se; o olhar a se fixar em um
ponto, já não há mais tantas pessoas olhando para o chão, ou distraídas olhando
para outras coisas.
Se o grupo estiver muito no campo do pensamento e for mais resistente a
atividades que desenvolvam o afeto e contato com a sensibilidade, é necessário
focar nas atividades de mobilização de braços e peito, juntamente com movimentos
rotatórios. E se ainda assim, o grupo se mantiver resistente, exercícios que
trabalhem mais claramente o contraste...rápido e lento, contração e expansão,
vibração.
Uma boa seleção de música auxilia na dinâmica do grupo para o movimento.
No primeiro exemplo, para trabalhar a força do quadril, pernas e pés, músicas
africanas que trabalham o ritmo, e todas que utilizam da batida de tambores ou
chocalhos. No segundo exemplo, músicas com instrumentos com sonoridade mais
134
sutil: violino, piano, flauta, arpa. Dê preferência a músicas não conhecidas, para que
o estímulo seja o mais limpo possível, pois quando temos a memória de uma música
na cabeça, ela já carrega uma série de linguagens e lembranças individuais nossas,
quando escutamos uma música pela primeira vez em um trabalho como esse,
abrimos a escuta para algo novo, que ainda não elaboramos e estruturamos
mentalmente, e isso favorece novas experiências.
Algo importante a considerar é sobre o exercício de vibração. Nota-se que
para muitos a exploração do máximo e mínimo de vibração é uma atividade intensa
e difícil, porém ela é capaz de liberar até mesmo o campo vibracional do que está
mais resistente. É muito natural que quando a força do corpo é sentida, os braços e
pernas estejam trêmulos ou os pés e as mãos quentes, e muitas vezes até mesmo
inchados e formigando. Pois trabalhamos um campo de energia corporal que está
além do corpo, e que o estrutura, o que chamamos de etérico. É interessante após a
atividade de vibração e repetição, do qual chega-se a um ponto de “ebulição”
interna, trazer uma sonoridade que seja leve e que remeta a fluidez natural da vida.
Em nossa escolha, selecionamos as músicas: vai florescer e voo do beija flor (Elisa
Cristal):
“Vai florescer, o ser divino que está dentro de você, vai florescer, vai florescer...”
“Voo silencioso do mistério do amor. Fecho os olhos para ver aonde vou. Voar pelo infinito daquilo que eu sou. (Desvendar/mergulhar) o oceano interior. Beija-flor me leva. Beija-flor desperta (em mim). Me leva nas águas deste rio encantador. Vale dourado do meu lindo beija-flor. Voar neste azul, o sol a se pôr. Vento suave me traz o frescor”.
Neste momento de troca (entre tensão e leveza, firmeza e suavidade) pode-
se abrir brechas para o emocional ser liberado, então é comum também que haja
choro, pois muitas vezes é compreendido o sentir profundo de si.
A seleção das músicas é importante por compreendermos o princípio de
contração e expansão, atingindo o mecanismo de frequências cerebrais. Então, uma
música pode nos levar a uma zona de tensão, onde algo está guardado ali para ser
percebido, ou uma zona de relaxamento, prazer e proteção. Quanto maior a fluidez
de um ponto ao outro, maior o estado de presença (concentração e consciência)
para o aprendizado. Assim sendo, após alcançar um patamar vibracional individual e
135
coletivo, as atividades consecutivas são realizadas com maior foco e
direcionamento, diminuindo as resistências internas e sendo mais penetráveis pela
sensibilidade aflorada.
A percepção da liberdade começa inicialmente pela sensação de liberdade do
corpo, domínio de si e exploração criativa de seus recursos.
1.3Ativação da alma
Trazendo uma compreensão da alma como um corpo do qual estruturamos
com as nossas interpretações e sensações do mundo, entendemos que por meio da
elaboração interna, evidenciamos o nosso mundo individual e o transformamos em
alma. Buscamos com as atividades de ativação da alma, perceber o que
construímos dentro de nós em ponte com o mundo externo.
Essas percepções são trazidas por nossas histórias de vida; pela observação
dos nossos pensamentos, sentimentos e vontades; pelas coisas que gostamos e
que não gostamos; sentimos agrado e desagrado; por uma experiência que olhamos
com as lentes do “certo” e “errado”; ou pelas experiências que trazemos significados
diversos pelos conceitos e estruturas mentais, emocionais e de comportamento do
qual nos condicionamos; e com isso elaboramos em nosso mundo interno da alma,
a mediação entre o Eu Espírito em uma experiência corpórea. Segundo Steiner, a
alma é a mediação entre o céu e a terra.
Os exercícios da Ativação do Corpo Manifestado pelo Despertar Corpóreo
Meditativo, são o “abre alas” para o contato inicial com a alma. Quando todo o corpo
é ativado sensivelmente, a energia acumulada e concentrada faz com que o foco da
atividade conseguinte se torne muito mais apurada. Assim, camadas e mais
camadas podem ser adentradas para o autoconhecimento/percepção exata de si.
Pensemos na estrutura de um corpo físico e na densidade material; ele é
palpável, ele é perceptível a todos os nossos sentidos (visão, tato, paladar, olfato,
audição). Agora pensemos em uma estrutura que já não é mais palpável, que são os
pensamentos, os sentimentos e as vontades; conseguimos ver via mental, sentir e
perceber o impulso da ação, antes mesmo de agirmos. De igual maneira, ambos os
exemplos dos sentidos materiais e imateriais são perceptíveis, pois vivemos
136
intensamente a interpretação que nos oferece os sentidos. A alma seria um corpo de
compreensão mais sensível ao imaterial, pois o movimento para acessá-la é interno.
Porém, lidamos com o mundo suprassensível apenas por reflexo, assim como
lidamos com o nosso corpo pelo movimento de ação e reação. Sem percepção
sobre os nossos pensamentos, sentimentos e vontades, a alma não tem domínio de
si, o que dificulta a compreensão da ideia de liberdade em uma camada mais
profunda de vivência. Para vivenciar a liberdade então, teríamos que reconhecer a
base de nossas vontades (alma da consciência), de nossos pensamentos (alma do
intelecto), de nosso sentir (alma das sensações), acima dos condicionamentos do
mundo, colocando a prova nossas referências, crenças, modos de pensar, dogmas e
tudo o que construímos até o presente momento.
Para trabalhar a Ativação da Alma, buscamos realizar atividades das quais
intitulamos: Despertar da Alma do Intelecto, Despertar da Alma das sensações,
Despertar da Alma da consciência, justamente por compreendermos que conceber a
ideia de liberdade virá pela manifestação nos três âmbitos (pensar-sentir-querer) em
dinâmica com as três almas. Utilizamos uma série de meditações guiadas,
exercícios de concentração, silenciamento mental, e exercícios reflexivos capazes
de nos fazer olhar para dentro e perceber o mundo interior. Bem como, servir como
base para o passo seguinte, que é perceber além dos sentidos do corpo e da alma,
em encontro ao espírito.
Os exercícios utilizados para o Despertar da Alma e do Espírito, foram
trazidos pelaminha bagagem de despertar e reconhecer profundo de mim mesma
em contato com a espiritualidade. Nesse caminho de questionamento individual e
consolidação de novas bases, referencio neste trabalho as obras que me mostraram
um caminho de luz, autoconhecimento, amor profundo por mim e pela humanidade,
e o reconhecer de minha maestria e potencial força criacional de amor, pelos seus
exemplos e conduções.
Inicialmente referencio as práticas meditativas conduzidas por José Cordeiro
Sambalyadê, em sua Obra de referência espiritual, Fraternidade Universal Filhos de
Órion (Balneário Camboriú -SC). A Fraternidade é uma obra sem cunho religioso
dentro de uma linha filosófica, que busca auxiliar na expansão da consciência,
autoconhecimento e desenvolvimento humano, sendo uma Associação sem fins
137
lucrativos, dedicada à Pesquisa, Estudos e Práticas que visam o aprimoramento,
encaminhamento do Ser e o desenvolvimento da consciência da Unidade.
Como exemplo base para o presente estudo, trago a orientação e os
ensinamentos do Xamã Gideon dos Lakotas, um amado professor, escritor e ativista
social espiritual. Sua obra de referência espiritual se intitula, Céu Nossa Senhora da
Conceição (Cananéia, SP), do qual nos traz como ensinamento dois pilares
principais: a prática da meditação e a prática da oração. É uma obra sem cunho
religioso que divulga o xamanismo e a observação da natureza como um caminho
para o Universalismo. Auxilia a humanidade a libertar-se das crenças limitantes
impostas pelas religiões e cultiva uma visão livre de dogmas e fé cega, oferecendo
subsídios espirituais para o desenvolvimento humano, em suavidadecrítica e
sensível sobre a realidade do mundo. Nos oferecendo o suporte para olharmos ao
eu interior, tanto para enxergar das mazelas da alma e crenças limitantes em
direção à mudança, quando para enxergar as grandezas do espírito, auxiliando no
fortalecimento humano e expansão da consciência. Para Gideon, o homem é dotado
de inteligência, sensibilidade e vontade, sendo a chave de sua liberdade para Ser
quem É: um ser livre e uno com Deus. Destaco aqui que o exercício das pedrinhas e
a ancoragem do Eu é embasado nas práticas meditativas para o desenvolvimento
da sensibilidade, oferecidos na respectiva obra.
Ambas as bases sustentaram minha bagagem como mestranda para
aprofundar os estudos na ciência e espiritualidade em direção à liberdade de espírito
e ao desenvolver do pensamento intuitivo, juntamente com a bagagem apreendida
nas aulas de Bases antroposóficas na atenção integral a saúde e no grupo de
estudos em teosofia, por condução de meu orientador e companheiro caminhante
desta dissertação.
Procedimento:
Trazer a consciência para o momento presente: Em uma roda, todos pronunciarem
juntos olhando nos olhos de todos: Eu me permito estar aqui, eu permito me
conhecer, eu permito te conhecer. Após, individualmente, realizar um movimento de
levantar o corpo nas pontas dos pés e soltar batendo com a sola dos pés no chão,
anunciando: Eu estou aqui. Eu Sou (Nome)...
138
[Despertar da Alma das sensações: Atividades que propiciam a observação das
polaridades; gosto e não gosto, certo e errado, os sentimentos..etc].
A dualidade do mundo desvelada em imagem: Em primeiro momento são oferecidas
imagens da realidade mundial em forma de dificuldade, com uma perspectiva
negativa e é solicitado para que se comente a respeito. E em segundo momento,
imagens com uma realidade positiva, com possibilidades e enfrentamentos positivos.
Meditação Guiada- Identificando a raiz das justificativas (fragilidades): Esta
meditação é orientada quando for observado no grupo algum ponto de tensão e
desconforto frente a alguma atividade.
“É importante relembrar a vivência anterior. Fechem os olhos e reprisem como foi
cada momento. Relembrando, perceba os pontos de tensão, que o fizeram ficar
desconfortável, os momentos que você tenha sentido dificuldade, ou momento de
descontração, ou exaustão, concentração ou relaxamento. Perceba qual a
dificuldade apareceu e em que momento, se questione qual é a raiz dela (pausa).
Ex. Não me senti bem com a música. Em que momento? No momento da vibração.
Qual música? A que ficava falando a mesma coisa o tempo todo (pausa). Quem em
você se incomoda com isso? O que você sente quando se incomoda. Que situações
te lembram essa mesma sensação. Lidar com essa irritação em uma atividade como
essa, te auxilia a criar resistência por uma expansão de consciência sobre você e
suas dificuldades? Manter-se focado no objetivo a alcançar mesmo com as
dificuldades, não é um treino constante? Quem em você acha que isso é maior do
que sua capacidade de lidar com isso naturalmente? (pausa, seguida de reflexão) A
raiz de nosso “gostar” ou “ não gostar” muitas vezes é mais profunda do que
podemos imaginar. E é lá onde se encontram as maiores crenças limitantes sobre
nós mesmos e sobre o mundo a nossa volta. É nas crenças limitantes que se
encontram a raiz do preconceito, da intolerância, da fé cega, do medo irracional, do
sentimento de frustração, raiva e ira, bem como a nossa crença limitante sobre nós
mesmos, sobre nossas capacidades de sermos melhores sempre, de nos
superarmos sempre, uma verdadeira prova de fogo”.
[Despertar da Alma do Intelecto: Atividades que estimulam a concentração e
reflexão].
139
A dualidade de conceitos: Conceituar os extremos e encontrar um termo
intermediário. Tais temas referem-se a: Individualismo & Coletividade; Saúde &
Doença; Vida & Morte. Formam-se grupos de três ou mais pessoas e solicita-se que
cada um conceitue o significado dessas palavras no contexto histórico atual.
Primeiramente escreve-se na cartolina e em segundo momento traz-se exemplos em
forma de desenho, esquemas ou dramatizações para explanar sua compreensão do
tema. Após, a conceituação dos extremos duais, solicitar que encontrem o meio
termo para cada categoria.
[Despertar da Alma da consciência: Atividades que estimulam a compreensão vinda
do intelecto e do sentimento].
A caminhada resiliente do Eu (Potencialidades): é uma meditação guiada para
conduzir fechamentos internos trazidos pelas lembranças do passado, auxiliando na
compreensão da experiência vivida, fechamentos de ciclos e reestruturação interna
de fortalecimento do Eu.
“Na semana anterior tivemos momentos de grande aprendizado. É importante
ressaltar que em cada um de nós há um universo único contido, pronto para ser
explorado, percebido e expandido. Imaginem que aqui, nessa sala somos muitos
universos, compartilhando um mesmo espaço, ainda que nos reconheçamos, o
nosso universo é único e na medida que o conhecemos, conseguimos perceber
outros universos, pois os outros, também seguem o mesmo caminho e o mesmo
fluxo de aprendizado. Somos humanos e como humano, temos os mesmos
aprendizados uns dos outros, alguns mais parecidos com certos amigos, outros com
outros. Cada um com a sua história de vida, cada um com a sua bagagem, suas
felicidades e tristezas do caminho. Convido-os a relembrarem as suas histórias, mas
não para carregarem mais pesos, e sim, retirarem os pesos que por tempos vem
carregando. De velhos hábitos que não servem mais e que dificultam a expressão
da tua verdade, do teu amor. Convido-os a perceberem a força que sua história te
trouxe no aprendizado de cada dia, e acolher a dor do que já passou pelo amor que
ficou. Onde perceber o amor? Por mais difícil que tenha sido a experiência vivida,
algo em você teve uma tamanha força de se deslocar no Universo e caminhar até
aqui. O que em você lhe fez estar aqui hoje? Que força é essa que te fez caminhar?
Perceba que por mais difícil que tenha sido algum caminho traçado e percorrido, por
140
mais sozinho que tenha se sentido, sempre teve alguém que por alguma palavra ou
gesto, lhe mostrou que você não esteve sozinho e nunca estará, que você é
importante, que tua vida é importante. Uma mão estendida, um apoio, uma amizade,
um conselho no momento certo, ou apenas...uma sincronia de uma música que por
dentro soa dizendo: Está tudo certo. Tudo ficará bem. Mas novamente te pergunto: o
que em você lhe fez estar aqui hoje? Que força é essa que te fez caminhar? A
primeira resposta na maior parte das vezes vem com um nome chamado Deus, e
em segundo momento vem com as pessoas que te ajudaram no percurso. Mas
pergunte a você, o que em você lhe fez caminhar até aqui? Foi sua coragem? Sua
lealdade ao amor? Seus sonhos? Sua esperança? Sua vontade? Sua sabedoria?
Seu discernimento? Sua reflexão posta em ação? Sua generosidade? Sua alegria
em ver a vida? Sua mansidão? Sua confiança? Sua postura firme e decidida. Porque
uma vez identificado isso, percebemos o quanto o outro apenas nos serviu como
reflexo de um espelho humano e também divino que somos nós, em ajuda uns aos
outros. Simples assim!”
Atividade da pedrinha: Organizar uma sequência de 5 pedrinhas e trocá-las de
posições apenas com os dedos. O exercício é feito com o Dedo mínimo e anelar,
dedo médio e indicador. Troca de posição a primeira pedra com a última (pega a
primeira com o dedo mínimo e anelar e pega a segunda com o dedo médio e
indicador. As duas pedrinhas precisam estar na mão), após é realizada a troca, a
primeira pedra é colocada no lugar da última e a última no lugar da primeira.
Consecutivamente, a segunda com a penúltima. E a do meio com a última
novamente.
[Ancoragem do EU seria o reconhecimento das três almas em unificação]
O corpo de Luz ígnea: consiste em um exercício de entrega, coragem e
reconhecimento de sua força interior. Todos ficam na lateralidade da sala, enquanto
quem está no meio realiza movimentos com os pés de “frente e trás”, “ponta do pé e
sola do pé” em desequilíbrio, de olhos fechados. É solicitado que visualizem
mentalmente uma bola de luz que se expande até alcançar o corpo e fazer
caminhar. A caminhada sai do exercício de equilíbrio e desequilíbrio. Todos os
demais integrantes do grupo se posicionam na lateralidade da sala, fazendo o
formato de um corredor. Quem está no corredor lateral, envia palavras de força e
141
encorajamento para os estão no centro. Na chegada de cada integrante ao final do
corredor, um integrante do grupo o recebe com um abraço.
Ativação do Corpo Solar Manifesto: Consiste na integração de todas as forças que
reconhecemos em nós. Em círculo, ao final de uma atividade, cada um irá falar seu
nome e dizer todas as suas potencialidades. Eu Sou... Eu Sou forte, Eu Sou
Vitorioso, Eu Sou Amor, Eu Sou Alegria, Eu Sou a Liberdade. Caso o grupo tenha
dificuldades, a atividade é realizada com todos soltando ao mesmo tempo as
afirmações.
A expressão anímica das vogais de maneira individual vocalizar as vogais A, E, I, O,
U com os gestos anímicos correspondentes, [A] braços abertos para o alto; [E]
braços cruzados sobre o peito; [I] braço direito acima e braço esquerdo abaixo; [O]
braços em circunferência na altura do abdômen; [U] braços esticados para frente.
Após, identificar as vogais do seu nome e pronunciá-las, com os gestos anímicos.
Realizar sozinho e com a ajuda do colega de dupla. A dupla fará o apoio para o
pronunciamento de suas vogais, pode dar o apoio segurando o ombro do outro, os
pés, realizar o movimento dos braços e das mãos junto com o outro em
complemento. Sendo necessário que seu gesto represente apoio, para o outro
pronunciar com mais intensidade as suas vogais.
Orientações:
Como observado na dinâmica do grupo, primeiro vem a Ativação do Corpo
Manifestado com as atividades de despertar corpóreo, seguidas da Ativação da
Alma e do Despertar das três almas: Alma da sensação, alma do intelecto e alma da
consciência.
Para iniciar essa abertura, consideramos que ter um objetivo em mente é
importante para direcionar o que conseguimos “crescer” em consciência corpórea no
grupo. Por isso, a importância de trazer a consciência para o momento presente, ou
seja, realizar a “chamada” para abertura do seu Eu Interno (eu me permito estar
aqui, eu sou...). Desta forma, cada um traz para si, em linguagem, a
responsabilidade de se manter ativo e dinâmico, disposto ao aprendizado no
decorrer das atividades.
142
A atividade do Despertar da alma das sensações é feita para que o grupo
possa perceber a dualidade presente em si e no mundo. É natural que sentimentos
com teor de raiva, tristeza, impotência, inadequação entre outros, apareçam, pois o
exercício de olhar para uma imagem que corresponde com a realidade do mundo
em desigualdade, nos causa o desconforto. Ela vem para nos conscientizar sobre o
papel de sentirmos agrado e desagrado das coisas, utilizando-o como um impulso
para nos motivar a compreensão dos padrões a que estamos condicionados, nos
conectando com o sentimento de empatia. É importante deixar que as falas ocorram
livremente neste momento, que todos possam colocar para fora o que sentem em
relação a realidade das imagens. No segundo momento, são trabalhadas imagens
com realidades positivas, oferendo chaves para a compreensão da dualidade. É
importante nesse momento que todos possam sentir as imagens e acalmar as
reações acionadas nas imagens anteriores. A música pode ajudar na transição de
um estado de tristeza para o de felicidade e esperança. Uma das músicas
selecionadas foi Mariposas Sagradas (Gideon dos Lakotas)
“Persista, amigo, guerreiro do coração. Teus pensamentos, palavras e atos tem significado, fazem diferença, a Terra conta contigo bom soldado! Alma nobre e bondosa, teu suor e batalhas não são em vão”.
Utilizamos da alma das sensações como um meio do qual acessamos a alma
do intelecto pelo pensamento crítico e reflexivo, e a alma da consciência pelo
compreender da realidade e sentir conscientemente do Eu. Espera-se que ao
perceber a realidade positiva, possamos escolher qual visão de mundo queremos e
buscaremos construir, pois existem múltiplas realidades. Ou buscamos reconstruir a
casa (simbolicamente) desde os nossos pensamentos, sentimentos e vontades para
a casa que queremos habitar, ou ficamos apenas olhando para ela em ruínas.
Primeiro compreendemos a dualidade via emocional, e percebemos o quanto
ela nos afeta, precisando que tenhamos recursos internos disponíveis para
ultrapassarmos as barreiras que nos impedem de perceber, idealizar e criar um
mundo melhor em nós mesmos e a nossa volta. Depois trabalhamos pela
compreensão da dualidade via mental, pelo Desertar da alma do intelecto, do qual
nos mostra a dificuldade de limitarmos os conceitos e segmentarmos compreensões,
nos oferecendo a possibilidade de criação e ressignificação de estruturas
conceituais como partes de uma mesma coisa. E por último, a percepção da unidade
143
pela presente força contida dentro de nós podendo ser observada pelo
silenciamento dos pensamentos e dos sentimentos. Pois pelo silêncio há a
integração da emoção e da razão, chegando a alma da consciência, que percebe as
coisas do mundo e as compreende por detrás dos sentidos aparentes e
contraditórios.
A atividade de ancoramento“O corpo de Luz ígnea” deve ser trabalhada com
cautela, pois é natural que haja sentimentos, pensamentos e vontades contrários a
essa manifestação. Pois como trabalhamos nela pelo desequilíbrio, há o medo da
queda; por estar de olhos fechados; há o medo de não saber por onde caminhar; e
por perceber outros em sua volta falando frases de incentivo a você, é necessário
que interiormente cada palavra seja reconhecida e haja uma confiança e segurança
interior da sua verdade. Por isso, requer coragem de se expor e ultrapassar as
barreiras do medo, da ideia de não merecimento, e de sentimentos presentes na
“desconfigurarão” de si, caminhando em direção a imagem verdadeira.
Visualize a luz inicial, veja ela se expandindo na dentro de você, na sua frente, em suas costas, em cima em baixo, lado esquerdo, lado direito, deixa ela crescer, crescer, crescer e começa a brincar com o desequilíbrio, pesar para frente e para trás. Essa luz é você, o seu Eu ilimitado, quando você sentir segurança, solte e caminhe. Coragem.
Força- vocês conseguem- força- tem muitos aqui contanto com vocês- vocês são beleza- vocês são vitória – alegria- é só preciso de coragem, amor, alegria, vocês conseguem. vocês já tem tudo isso, vocês conseguem, você é um leão, você consegue. força, vamos, se permitam vocês conseguem, isso!!! força, a vitória está aqui, vocês conseguem, vaiii, força, vocês conseguem, você é amor.
A ancoragem do Eu, é o momento em que o grupo está mais sensível, pois na
dinâmica, quando a expansão da consciência é acionada, o que chamamos de
espírito, e de pensar intuitivo é mobilizado. Com isso, o grupo pode demonstrar
muita agitação, ânimo e felicidade, evidenciada por uma compreensão de liberdade
em uma camada profunda de si, ou por um rompante de emoção seguido de choro,
por relembrar da sua força interior manifestada pela vivencia de liberdade e
reencontrar de sua essência, calorosa e amorosa. É necessário e produtivo que
cada integrante possa manifestar-se tal qual acionou dentro de si, sendo acolhido
pelo grupo.
144
As atividades de ancoramento do corpo de Luz ígnea e ativação do corpo
solar manifesto são as atividades de fechamento do grupo, nasquais percebe-se um
desenvolvimento crescente da autocognição. Torna-se importante que sejam
expostas palavras individualmente no grupo representando a vivência do dia ao final
da oficina.
1.4 Ativação do espírito
Entende-se por espírito o corpo emancipado de nosso veículo físico e de
nosso corpo sensível de percepção e interpretação (alma). Ele está acima dos dois,
corpo e alma, e conduz a perfeita compreensão das coisas como são, além da
materialidade, e além das interpretações, o suprassensível. Ele é o condutor que
direciona a intrínseca e incessante vontade do homem em ser feliz, ser amor e fazer
o bem.
Evidenciamos a manifestação do espírito em todos os pensamentos,
sentimentos e vontades que conduzem o ser humano ao caminho da felicidade e da
vida na terra. Tudo o que condiz com a vida, o amor, a beleza, as virtudes e a
sapiência humana é um exemplo espiritual. A consciência do homem sobre si e as
escolhas de como conduzir-se para seu bem-estar e o bem estar coletivo é o que
nos evidencia o mais próximo que podemos chegar a compreensão da regência do
espírito sob a alma e o corpo.
O espírito deixa as coisas falarem sobre si, e não apenas fala por ela, por
isso, sua percepção é acionada apenas no silenciamento. Quanto maior for o
silêncio, a ausência de pensamentos e sentimentos, maior será o contato meditativo
com a suprema força espiritual.
Quanto maior for o reconhecimento da alma sobre sua história de vida, sobre
as suas forças e aprendizados, suas vontades, motivações, ações e pensamentos,
mais próximo estará de vivenciar a plenitude do Ser Espiritual, a autocognição de si.
Quanto mais o homem conseguir romper com as contradições internas e externas e
conseguir enxergar com mais clareza por um constante exercício de observação
interna em direção a um pensar-sentir e querer livre, mais próximo do espírito
estará.
145
Os exercícios deste item buscam o encontro da alma da consciência com o
Eu Espiritual mais próximo do homem.
Procedimento:
O Eu que se desvela em imagem (fotos individuais): Consiste em um relembrar de
sua história de vida e de sua essência. Essa atividade por ser uma das últimas, faz a
finalização do ciclo de compreensão sobre si. Por isso é considerada o encontro da
Essência Trina a unidade sensível do homem, o Espírito. Cada integrante deverá
trazer uma foto individual e realizar a atividade em dupla. Primeiramente, cada um
olha para a sua foto individualmente e se faz o questionamento: Quem está ali?
Quem é essa pessoa? O que ela tem pra me mostrar? Em segundo momento, a
atividade é realizada em dupla, um de frente para o outro, cada qual segurando a
sua frente à imagem do colega.
Eu Sou você, você sou eu: Após a atividade do Eu desvelado em imagem, a dupla
realiza uma troca de olhares e permanece em silêncio. O exercício consiste em
permanecer olhando nos olhos da outra pessoa fixamente, um de frente para o
outro. Esse mesmo exercício é realizado em outros momentos, porém, junto desta
crescente de atividades e tomada de consciência, a intensidade dele é maior.
Somos Eu Sou: O Eu se integrando ao coletivo. Um abraço coletivo e envio de
palavras, sentimentos, frases, intenções ao planeta.
Procedimento:
Como viemos em uma crescente de corpo, alma e espírito, este é o momento
final de formações e o momento em que a maior compreensão sobre todo o
percurso vivenciado é acessada. Desta forma, espera-se que o grupo esteja
envolvido e sensibilizado ao objetivo final deste estudo.
Esse é o momento oportuno de reconhecimento do Eu ilimitado e da força
integrativa da Essência Trina. Pois o exercício do Eu que se desvela em imagem é o
desenrolar de todo o percurso de autoconhecimento vivenciado desde o primeiro dia
pela resposta da entrevista semiestruturada, vinda do incessante “labor de
pensamento” e vivências anteriores. Sendo assim, a abertura para o suprassensível
146
depois de um trabalho interior de observação e liberdade nos aproxima do “quem é
você” em questão.
Consequentemente a abertura desse dia fará com que o grupo demonstre
maior agitação e emoção, acompanhada de união, amor, e os sentimentos-
pensamentos e vontades mais nobres de cada ser humano na Terra. Deixar que os
sentimentos floresçam, é dar espaço para a contemplação e o agradecer da vida. O
calor humano vindo de abraços ajudará nesse dia.
Finalização do encontro