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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ
CENTRO DE EDUCAÇÃO BIGUAÇU
CURSO DE PSICOLOGIA
ELIZA GERALDO RODRIGUES
CARACTERÍSTICAS PSICOLÓGICAS DA CRIANÇA PORTADORA
DE CARDIOPATIA CONGÊNITA NO HOSPITAL INFANTIL JOANA
DE GUSMÃO – FLORIANÓPOLIS / SC
BIGUAÇU
2006
2
ELIZA GERALDO RODRIGUES
CARACTERÍSTICAS PSICOLÓGICAS DA CRIANÇA PORTADORA
DE CARDIOPATIA CONGÊNITA NO HOSPITAL INFANTIL JOANA
DE GUSMÃO – FLORIANÓPOLIS / SC
Trabalho de Conclusão de Curso no Curso de Psicologia da Universidade do Vale do Itajaí. Orientador: Henry Dario Cunha
BIGUAÇU 2006
3
IDENTIFICAÇÃO
ÁREA DE PESQUISA: Psicologia Clínica e da Saúde TEMA: Aspectos psicológicos em crianças portadora de cardiopatia congênita. TÍTULO DA MONOGRAFIA: Características psicológicas da criança portadora de cardiopatia congênita no Hospital Joana de Gusmão – Florianópolis/ SC ALUNO Nome: Eliza Geraldo Rodrigues Código de Matrícula: 04.1.4218 Centro: Biguaçu Curso Psicologia Semestre: 7º ORIENTADOR (A) Nome: Henry Dario Cunha Categoria Profissional: Professor/Psicólogo Titulação: Mestre Curso: Psicologia Centro: CE Biguaçu
Nome: Luciana M. Saraiva Categoria Profissional: Professora/Psicóloga Titulação: Doutora Curso: Psicologia Centro: CE Biguaçu
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Dedico esta pesquisa as crianças portadoras de cardiopatia
congênita que fazem tratamento no HIJG, bem como seus familiares
que me possibilitaram este aprendizado, além disso, aos meus
orientadores Henry Dario Cunha e Luciana Martins Saraiva que me
ensinaram a pesquisar.
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AGRADECIMENTOS
Agradeço à Professora Luciana Martins Saraiva, que foi uma orientadora muito
presente na primeira fase da minha pesquisa, me oferecendo aprendizado devido seu
enorme conhecimento teórico e prático, além de sua dedicação durante todo o processo.
Agradeço ao Professor Henry Dario Cunha, por ter acolhido minha pesquisa com
grande interesse, e se dedicado à mesma até sua conclusão com empenho, paciência e
esperança, quando obstáculos nos impediam de caminhar.
Agradeço a Professora Cristianne Machado Gick e Professora Luciana Martins
Saraiva por terem aceitado o convite de participar da banca, disponibilizando seu tempo e
conhecimento para com esta pesquisa.
À minha família, meus amigos, Rafael, Zulma e Juliana, em especial meu
namorado, que contribuíram para a finalização desta pesquisa, me transmitindo calma,
paciência e perseverança quando mais precisei.
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SIGLAS ABREVIADAS
HIJG- Hospital Infantil Joana de Gusmão
Mãe 1- Mãe entrevistada número 01(um)
Mãe 2- Mãe entrevistada número 02 (dois)
Z- Sujeito pesquisado número 01 (um)
L- Sujeito pesquisado número 02 (dois)
TCC- Trabalho de Conclusão de Curso
7
RESUMO
Rodrigues, Eliza Geraldo - Características psicológicas da criança portadora de
cardiopatia congênita no Hospital Joana de Gusmão – Florianópolis/ SC.
A cardiopatia congênita é uma malformação anatômica do coração, podendo ser
identificada logo no nascimento da criança, ou na primeira infância. Devido à doença, a
criança e sua família se deparam com uma nova realidade, onde a culpa e a superproteção
são alguns dos aspectos presentes no processo e que se manifestam nas atitudes regressivas,
ansiedade, dificuldades interpessoais, baixa auto estima, entre outras. Neste sentido a
pesquisa objetivou identificar os aspectos psicológicos presentes na criança portadora de
Cardiopatia Congênita, além de compreender sua história de vida familiar. Trata-se de uma
pesquisa qualitativa que utilizo como métodos à aplicação do teste projetivo Rorschach em
crianças que fazem tratamento regularmente no Hospital Infantil Joana de Gusmão em
Florianópolis-SC e entrevista com suas duas (02) mães. Como resultado obtiveram-se 2
tabelas, divididas em 8 e 5 categorias, respectivamente, que foram analisadas segundo a
análise de conteúdo. Os resultados mostraram a necessidade de intervenção psicológica
junto à família e a criança portadora de Cardiopatia Congênita, uma vez que a percepção da
mãe em relação ao filho pode influir na capacidade que a criança terá para elaborar e aceitar
a condição de estar doente, além da maneira como ela enfrenta suas frustrações e culpa com
relação ao fato de ter um filho doente. Observa-se que oferecer a esta família um apoio
psicológico, bem como um apoio à equipe de saúde que lhe prestará os serviços se faz
indispensável, interferindo assim positivamente no processo de recuperação do familiar
doente, para que a qualidade de vida da família e da criança seja favorecida.
PALAVRAS-CHAVE: Cardiopatia Congênita, Aspectos psicológicos, Criança
portadora de Cardiopatia Congênita, Superproteção.
8
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO.................................................................................................9
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA........................................................................11
2.1 O CONCEITO DA CARDIOPATIA CONGÊNITA...................................... ..................11 2.2 CARACTERÍSTICAS PSICOLÓGICAS DA CRIANÇA COM CARDIOPATIA
CONGÊNITA ............................................................................................................................13
2.3 HOSPITALIZAÇÃO............................................................................................................17
2.4 RELAÇÕES INTERPESSOAIS COM PESSOAS SIGNIFICATIVAS..............................19
2.5 ATUAÇÃO DO PSICÓLOGO............................................................................................ 20
2.6 PSICODIAGNÓSTICO....................................................................................................... 22
5 METODOLOGIA DA PESQUISA...........................................................................23 3.1 CARACTERIZAÇÃO DA PESQUISA...............................................................................23
3.2 DESCRIÇÃO DO CONTEXTO E PROCESSO DE SELEÇÃO DOS SUJEITOS............23
3.3 COLETA DE DADOS.........................................................................................................24
3.4 TÉCNICAS DE ANÁLISE DE DADOS.............................................................................25
4 RESULTADOS..........................................................................................................26
4.1 CATEGORIAS DESENVOLVIDAS .................................................................................26
4.2 ANÁLISE QUALITATIVA DO RORSCHACH...............................................................30
4.3 DISCUÇÃO DOS RESULTADOS....................................................................................32
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS..................................................................................37
5.1 PRINCIPAIS RESULTADOS E CONTRIBUIÇÕES .......................................................37
5.2 RECOMENDAÇÕES PARA TRABALHO FUTUROS....................................40
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.............................................................41
APÊNDICES.......................................................................................................42
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1 INTRODUÇÃO
A cardiopatia congênita é uma má formação do coração, que pode atingir todas as
suas estruturas, sendo originária no período da gestação e identificada geralmente na
infância. O desenvolvimento da personalidade de uma criança com cardiopatia congênita se
faz diferente das outras, em função desta especificidade da doença, onde o conjunto de
circunstâncias biológicas, psicológicas bem como a relação familiar pode influenciar
negativamente neste processo de desenvolvimento.
Após o diagnóstico, suscita nos pais um sentimento de culpa por ter gerado um filho
doente e pela a perda do filho idealizado. Este sentimento está intrinsecamente ligado ao
comportamento superprotetor dos pais, pois visando compensar a culpa, exageram na
proteção dos filhos, maximizando os efeitos que a doença causa.
A atitude parental, segundo Giannotti (1996) traz conseqüências para o
desenvolvimento emocional da criança como, os comportamentos regressivos, pois os pais
tendem por medo a restringir a criança desde as suas atividades físicas a seus
relacionamentos interpessoais, bem como a dependência emocional, porque devido a
superproteção a criança acaba somente se sentindo segura no convívio com os pais, além de
outros efeitos psicopatogênicos, como problemas de adaptação.
Após o diagnóstico, a criança precisa realizar uma cirurgia para a correção da má
formação, necessitando de acompanhamento médico em todo o processo. Estes
procedimentos provocam na criança muita ansiedade, se mantendo até o pós-cirúrgico,
influenciando assim negativamente este período, pois elas podem sentir com a
hospitalização e a separação da família medo da morte, rejeição ou abandono, fantasias
com relação a esse abandono, percebendo que estão sendo punidas por algo que fizeram,
gerando por conseqüência um ressentimento para com os pais. Além de ser um período
extremamente invasivo para a criança, podendo ser traumático para a mesma.
A família após o diagnóstico tem a percepção da criança como sendo alguém frágil, que
necessita de cuidados especiais. Influenciados por comportamentos superprotetores passa a
lhe dar um status especial, causando conseqüências para a criança, como dificuldades de
10
relacionamento com irmãos, podendo também reagir com excessiva angústia, hostilidade
ou ressentimento quando insatisfeitos. Estes comportamentos dificultam a criança ser mais
confiante e possuir controle diante situações de frustrações.
Compreender o comportamento da criança com cardiopatia congênita e a forma que a
mesma está se desenvolvendo desde o inicio do diagnóstico da doença torna-se relevante,
pois é necessário conhecer os aspectos emocionais envolvidos na vida desta criança doente
objetivando atenuar os efeitos da doença e do tratamento. É preciso também, compreender
como a doença se insere no contexto familiar, o papel que a família desempenha para a
criança, e como se organiza a partir de tal evento.
Com a compreensão dos aspectos psicológicos da criança portadora de cardiopatia
congênita, e a relação mãe-filho após o diagnóstico, a pesquisa permitirá promover
diretrizes para auxiliar profissional da área da saúde que trabalham com crianças portadoras
de Cardiopatia Congênita no Hospital Infantil Joana de Gusmão – Florianópolis/SC,
enfrentando juntos a doença com a família, inferindo assim positivamente no tratamento do
doente.
Considerando os itens expostos, esta pesquisa propôs identificar os aspectos
psicológicos presentes na criança portadora de Cardiopatia Congênita que realizam
tratamento no Hospital Infantil Joana de Gusmão-Florianópolis-SC e compreender a
história de vida da criança e da família após o diagnóstico da cardiopatia congênita.
É uma pesquisa que utiliza o método qualitativo, utilizando como instrumentos para a
compreensão a aplicação do teste projetivo Rorschach nas crianças portadoras de
cardiopatia congênita e entrevistas semi-estruturadas em suas mães.
Após os dados coletados, utilizou-se a técnica da análise de conteúdo, com o objetivo
de aprender com os participantes, na avaliação e compreensão das informações adquiridas.
Através de suas falas realizamos a categorização das mesmas, obtendo o verdadeiro
sentido, implícito ou explicito da resposta dada, sendo então confrontada com a literatura,
acrescentando assim a cientificidade dos dados.
11
2. REVISÃO BIBLIOGRAFICA
2.1 O CONCEITO DA CARDIOPATIA CONGÊNITA
O coração tem um simbolismo sócio-cultural muito próprio. Este é supervalorizado
como sendo “a máquina que abriga vida”. Mexer no coração, principalmente quando
falamos de cirurgia, tem uma conotação diferente do que o tratamento realizado em outros
órgãos, e conseqüentemente atemoriza muito mais. Levando-se em consideração as
dificuldades que os pais enfrentam ao entrar em contato com a realidade de ter um filho
portador de uma cardiopatia congênita, e sabendo-se que o vinculo estabelecido com essa
criança muitas vezes não é o ideal, ou seja, não dão um suporte emocional para que este
vinculo se concretize, conclui-se que, com grande freqüência, essas crianças cardiopatas
congênitas apresentam dificuldades na esfera emocional (CAMON, 1996 e FAVARATO,
1990).A cardiopatia congênita é uma malformação anatômica e conseqüentemente
funcional do coração originária no período da gestação, durante a formação do feto, que
pode ser identificada logo no nascimento da criança, ou na primeira infância. É, além disso,
praticamente as únicas entre as cardiopatias, que podem ser corrigidas pela cirurgia, sendo
na maioria dos casos a única solução para se assegurar uma expectativa de uma vida
normal. (GIANNOTTI, 1996).
Freqüentemente a etiologia é inteiramente desconhecida. Há, no entanto, casos de
risco conhecido de uma criança nascer com cardiopatia congênita. Segundo Favarato
(1990) em cerca de 60% dos casos, as causas são desconhecidas. Pouco mais de 30%
incluem-se no conjunto das anomalias genéticas (aberrações cromossômicas, gene mutante
isolado e presença de herança multifatorial). Os 6% restantes mostram-se ligados a fatores
extrínsecos, como: doenças maternas (rubéola, toxoplasmose, diabetes mellitus,
fenilcetonúria); hábitos maternos (abuso de álcool); uso materno de medicamentos
(anticonvulsivantes, sais de lítio, altas doses de vitaminas) e exposição materna a fatores
nocivos (irradiação). Quando existem antecedentes na família, é possível que a criança
também venha a nascer com a enfermidade (GIANNOTTI,1996).
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Esta malformação congênita pode também ocasionar insuficiências circulatórias
crônicas ou agudas, com crise de hipóxia, nos casos mais graves. Pode envolver ainda
insuficiências respiratórias em diferentes graus, severas limitações, com restrições de
atividade física e inibições motoras. Essas contingências podem atingir as crianças em fases
muito precoces e críticas de seu desenvolvimento emocional e cognitivo
(GIANNOTTI,1996).
Nas cardiopatias congênitas, a correção cirúrgica deve ser precoce, envolvendo a
utilização de técnicas evasivas de diagnóstico e tratamento médico, tais como cateterismo, a
operação e a experiência de hospitalização, já na infância, às vezes nos primeiros dias de
vida da criança, envolvendo assim procedimentos agressivos e de difícil compreensão para
a criança, se tornando um momento traumático para a mesma (GIANNOTTI, 1996 e
ROMANO,1994).
A realização de cirurgia deve ser precoce, para não ocasionar outros
comprometimentos orgânicos irreversíveis ou mesmo inviabilizá-la. Ocorre que no período
entre a indicação de cirurgia e sua aceitação ou recusa, os mecanismos defensivos de
negação, ou seja, a negação de uma realidade desagradável como uma defesa, em relação à
cardiopatia aparecem, associados com a supervalorização dos riscos da operação. O medo
excessivo da cirurgia os leva a fugir para o mundo da fantasia, acreditando que a
cardiopatia de fato não existe, sendo assim um erro médico. Isto ocorre, pois a proposta de
cirurgia leva as pessoas a refletirem sobre a vida e a morte e aceitá-la significa elaborar a
angustia de morte mobilizada pelos riscos que envolvem a operação (GIANNOTTI,1996).
Quando ocorre o abandono do tratamento médico, e, por conseguinte a recusa da cirurgia,
ao retomarem o tratamento, o período possível para a realização de cirurgia se passou, não
podendo mais ser curados quando antes poderiam.
Este tipo de cardiopatia, em geral, não produz dores, mas limitações físicas,
exercendo alguma influência no comportamento da família e do paciente, em relação à
assistência médica. Os problemas emocionais e a pouca informação sobre a espécie de
atendimento que os pacientes estão recebendo são fatores relevantes para o abandono do
tratamento. Por este motivo o momento do diagnóstico é importante, pois o paciente e sua
família acabam supervalorizando os riscos da operação, não vislumbrando qualquer tipo de
benefícios em relação à melhora do quadro físico (GIANNOTTI,1996 e ROMANO, 1994).
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Se o abandono do tratamento médico pode implicar num significativo agravamento
do quadro orgânico, de modo a inviabilizar um tratamento efetivo, como a cirurgia, isto
sugere a necessidade de uma intervenção psicoterápica preventiva nos momentos críticos,
em que o comportamento do paciente e da família pode modificar a história da cardiopatia
congênita e piorar consideravelmente seus prognósticos (GIANNOTTI,1996).
2.2 CARACTERÍSTICAS PSICOLÓGICAS DA CRIANÇA COM CARDIOPATIA
CONGÊNITA
A representação que cada pessoa tem de si mesma está vinculada a sua imagem
corporal. Como a identidade constrói-se a partir de um corpo integro e completo, a situação
de uma doença cardíaca ameaça o senso de sentir-se integro, constituindo-se em algo que
põe em risco a existência da pessoa. Quando o corpo se modifica significa modificações na
identidade pessoal e conseqüentemente são situações que geram conflitos emocionais
(ROMANO,1994).
Quando existe uma limitação clínica, com reflexos na atividade da criança pelos
sintomas, essa limitação acarreta conseqüentemente uma outra limitação no seu campo de
experiências, salientando-se na área motora, visto que a criança cardiopata geralmente é
mais limitada do ponto de vista físico, cansa-se muito facilmente, é uma criança menor que
as outras e de menor peso. Essas características resultam também numa limitação
emocional de sua auto estima, sendo freqüente entre os pacientes com cardiopatia congênita
possuírem intensos sentimentos de inferioridade e inadequação, por serem portadores da
doença. Estes a encaram com excessiva frustração e revolta a ponto de sentirem pena de si
e inveja dos que possuem saúde. O prejuízo será maior ou menor dependendo das
condições psicológicas desta criança e o suporte emocional que o meio lhe oferece
(GIANNOTTI,1996).
Além da interferência de fatores da própria cardiopatia no desenvolvimento dessas
crianças, a superproteção contribui muitas vezes para esse atraso, pois as atitudes
superprotetoras ameaçam as relações mãe-filho, independentemente do grau da cardiopatia.
Ao tomar conhecimento da doença, as mães acabam adotando um comportamento
superprotetor, mesmo que seus filhos se apresentem aparentemente sadios. A superproteção
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dos filhos não é de fato, um amor genuíno, mas um disfarce, uma forma de compensar o
sentimento de hostilidade e culpa. Este comportamento mascara a rejeição inconsciente da
criança, que frustrou suas expectativas de possuir um filho saudável e compensa o
sentimento de culpa pela rejeição da criança e o sentimento de ser responsável pelo
aparecimento da cardiopatia no filho. A rejeição encoberta pela superproteção, acarreta a
não identificação com imagens que lhes ofereçam segurança e auto-estima
(GIANNOTTI,1996).
Os pais, ao interferirem na formação de personalidade e crescimento psíquico da
criança com cardiopatia congênita, fazem com que eles não se desenvolvam de forma
plena, confiante, tendendo a fixar-se em padrões emocionais regressivos. As crianças com
cardiopatia congênita possuem dificuldades em se desligar da proteção que o ambiente
familiar representa, pois são ligados e dependentes dos pais e principalmente das mães, que
acabam além de limitarem sua independência, acabam não tendo expectativa em relação ao
seu crescimento emocional, encarando que incentivá-los a adotarem comportamentos mais
progressivos seria uma crueldade. (GIANNOTTI,1996).
As crianças cardiopatas possuem uma dificuldade em se separar de suas mães para
irem à escola, ou brincar com outras crianças, sem que suas mães estivessem por perto. Esta
dificuldade não se relaciona especificamente ao grau de gravidade da cardiopatia e
continuam ocorrendo após a correção cirúrgica, tendendo a permanecerem fixados
emocionalmente no ambiente familiar infantil. Quando adultos a minoria adota um modo
de vida mais independente, pois nesta idade estes cardiopatas se tornam tão despreparados
para enfrentar a vida e tão dependentes de seus pais que não podem mais se individualizar
como pessoas autônomas (GIANNOTTI,1996).
O ganho secundário pela condição cardíaca se faz presente nos cardiopatas, pois
estes acreditam que sua condição é um modo de vida e de relação com o outro. Assim, além
de evitarem enfrentar obstáculos e situações difíceis da vida cotidiana, essas atitudes
serviam para mascarar a origem de suas perturbações psíquicas. Quando crianças logo
aprendem a manipular o ambiente familiar, expondo-se a situações que causavam
apreensão nas mães, para obter o que pretendiam. É freqüente os cardiopatas não dividirem
brinquedos com os irmãos ou amigos. Em geral, são tratados com várias regalias,
destacando-se dentre da família suas necessidades e desejos. O prejuízo desta dinâmica
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família é evidente para o cardiopata, sem falar nos outros membros. A formação de sua
personalidade sofre sérias interferências (ROMANO,1994 e GIANNOTTI,1996).
Não basta a correção cirúrgica da cardiopatia para que os pacientes passem a adotar
comportamentos mais adaptativos e dispense os ganhos obtidos previamente pela condição
cardíaca, como a superproteção. Com a súbita cura da cardiopatia, eles possuem
dificuldades de renunciar ao status especial e não conseguem experimentar as angustias e
fracassos que vivenciavam a maioria das pessoas. Deste modo, eles apóiam-se no
diagnóstico de cardiopatia, para escamotear a origem de suas perturbações psíquicas
(GIANNOTTI,1996).
A evolução natural destas pessoas é sofrerem interferências bastante sérias na
formação de suas personalidades. As seqüelas emocionais poderão ser mínimas quando
existirem condições ideais e um ambiente familiar extremamente sadio que estimula esta
criança aceitar-se como é e desenvolver suas potencialidade sem excessos dos cuidados
citados. Percebe-se assim, a importância e responsabilidade destes em proporcionarem um
ambiente favorável a sua recuperação. O estimulo necessário ao paciente para ir assumindo,
dentro de suas condições de saúde, as responsabilidades que lhe são adequadas também
possui extrema importância (ROMANO, 1994).
O sistema familiar, assim como a criança com cardiopatia congênita, também é
afetado. Geralmente eles escapam da realidade ameaçadora de ter gerado um filho com
cardiopatia congênita, através de mecanismos maníacos, vivendo na fantasia e se
comportando como se a moléstia não existisse. Esta realidade gera muita culpa na maioria
das mães, ou então muitas procuram livrar-se dela atribuindo a responsabilidade aos
aborrecimentos causados pela doença do filho as pessoas de seu convívio, e aqui
particularmente o cônjuge, ou fatores acidentais e inteiramente involuntários. As mães
possuem fantasias ligadas ao aparecimento da cardiopatia em seu filho, como colocar a
responsabilidade no pai em outrem, ou em eventos involuntários, em algo relacionado à
gestação e nas adversidades ocorridas no parto. Muitas fantasiam também que a gravidez
indesejada tem a ver com a causa da cardiopatia, sendo este um fator de grande angústia
para a mãe durante a gestação (GIANNOTTI, 1996).
A experiência de ter um filho com risco de vida por uma doença com a qual foi
gerado é uma situação que acaba ameaçando o casal, pois estes podem agora perder esta
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criança que há pouco nasceu. Esta ameaça faz reviver perigos internos relacionados aos
seus instintos de vida e de morte (ROMANO.1994).
O diagnóstico é para a família um período muito difícil, saber que seus filhos eram
cardiopatas significa uma grande frustração por não ter gerado um filho perfeito. Estas
sofrem um grande impacto emocional levando-as ao pânico, ao desespero e ao sentimento
de total desorientação. A principal razão pela qual elas se “espantarem” era a de que o
diagnóstico significava a sentença de morte de seu filho sobrepondo-se à realidade da
informação médica sobre a cardiopatia, de que este poderia ser tratado e curado pela
cirurgia(GIANNOTTI,1996).
A frustração também é um aspecto importante a ser citado, pois a família terá
condições de fornecer uma base emocional mais sólida para esta criança, dependendo da
forma como está enfrentando as frustrações de ter um filho com cardiopatia congênita. É
bastante natural que ao se depararem com a criança doente, que não satisfaz suas
expectativas de ter um filho saudável, os pais a rejeite num primeiro momento. Esta
vivência justifica a superproteção futura do filho. Este filho é uma deformação da criança
sonhada. Os pais precisam elaborar a perda de um filho ideal, para poderem estabelecer o
vinculo afetivo com o real. Todo este processo é acompanhado de uma grande carga de
culpa por terem gerado uma criança defeituosa, sendo que esse sentimento de culpa aparece
de formas diferentes (ROMANO,1994 e FAVARATO,1990).
A dificuldade dos pais está no fato de possuir um filho com defeito congênito
cardíaco em si, independente do grau da cardiopatia, pois estes continuam não admitindo
ou tolerando o fato de possuírem um filho com defeito congênito mesmo após a cirurgia.
Para os pais, seus filhos cardiopatas são portadores de amplas deficiências,
independentemente da realidade do quadro orgânico, são também indivíduos amplamente
limitados, logo que souberam da cardiopatia, acreditando que seus filhos eram
inferiorizados e não poderiam levar uma vida normal e tenderiam a permanecer sem se
modificar com o avançar da idade do paciente até a vida adulta (GIANNOTTI,1996).
A impossibilidade de resolver adequadamente esses sentimentos conflituosos pode
determinar atitudes de superproteção ou de franca rejeição. Punir-se por não ter permitido o
desenvolvimento de um corpo perfeito, obrigando-se a renunciar a sua própria vida por
amor à criança ou puni-la por ver frustrados seus próprios sonhos, fazendo com que ela
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tenha o sentimento de ter fracassado enquanto objeto de amor e investimento dos pais
Embora as reações dos pais frente à doença sejam parecidas, nem todos passam por todas as
etapas e nem todos conseguem chegar a uma adaptação adequada. Muitas vezes os pais
passam por esse processo em uma velocidade diferente, o que gera dificuldades e conflitos
entre o casal (FAVARATO,1990).
2.3 HOSPITALIZAÇÃO
A preparação da criança com cardiopatia congênita e de sua família durante o
período de hospitalização é importante porque a situação que se configura com a
hospitalização traz uma realidade nova para quem cuida da criança, de forma que estas
pessoas geralmente desconhecem as maneiras mais adequadas de lidar com a mesma.
Pouca atenção tem sido dada às conseqüências da hospitalização para as famílias. A vida
em casa se torna caótica, os irmãos são afetados por fantasias de diversas ordens. Para os
pais a doença é uma forma de comprometer o desenvolvimento da criança, pois este será
interrompido pela hospitalização, afetando também a formação de sua auto-imagem. As
implicações para eles evidenciam que, de alguma forma, faltaram, quer seja por
negligência, ignorância ou hereditariedade. Esse sentimento parece se avantajar à medida
que têm que deixar que outros cuidem da criança (CREPALDI, 1989 e LAMOSA, 1994).
O stress provocado pela hospitalização se expressa de várias maneiras. A criança
chora, queixa-se e grita, come e dorme mal. Opõem-se as intervenções médicas e ao
tratamento, está sempre tensa e temerosa, torna-se triste, silenciosa e afastada da realidade.
Pode ainda, por outro lado, tornar-se destrutiva para si própria e para com o ambiente. A
hospitalização é um período de stress, porque entre outras coisas os pais têm que lidar com
a situação nova. Isto requer a aprendizagem de novos papéis sendo esta a chave da
ansiedade (CREPALDI, 1989).
O impacto emocional de hospitalização de crianças se configura como uma situação
ansiogênica que pode provocar inapetência, inquietação e choro intenso em crianças
menores, além de insegurança e retraimento nas crianças maiores. A ruptura do ambiente
que cerca a criança passando o hospital implica numa separação parcial dos pais. Com isso,
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além do medo e da ansiedade que são gerados pelo ambiente novo e pelos procedimentos
terapêuticos desconhecidos e desagradáveis que ela terá que enfrentar, a criança apresenta
freqüentemente sentimentos de abandono e desamparo. Muitas vezes surge o sentimento de
culpa: a doença é um castigo por algo errado que fez. Fica difícil para a criança
compreender a necessidade de receber tratamentos agressivos, principalmente porque sua
doença, a cardiopatia, não é visível, palpável e algumas vezes a sintomatologia é pequena.
Nesses casos é possível que a criança passe a culpar a família ou a equipe por estarem lhe
impondo tal sofrimento (CREPALDI, 1989 e ROMANO 1994).
A doença principalmente quando em estado grave, suscita tensões ansiedades e
culpa que muitas vezes provoca conflitos entre familiares e equipe. Os pais vêem
exacerbados seus sentimentos de ter falhado diante da equipe e também por possuírem
poucas informações relacionadas à doença e o tratamento, prejudicando a relação equipe-
família. Pais desinformados tornam-se “difíceis”, desconfiados, críticos e agressivos. Esta
falta de informação ocorre, pois muitas vezes a linguagem médica é geralmente
ininteligível para o paciente e sua família. O encontro médico-paciente é na realidade um
encontro do médico com seu próprio discurso (CREPALDI,1989).
2.4 RELACIONAMENTOS INTERPESSOAIS COM PESSOAS SIGNIFICATIVAS
A comunidade é fundamental para o tratamento global do paciente. É ela que vai
receber de volta o paciente e é quem dá os subsídios para a reabilitação. Quase a totalidade
dos cardiopatas congênita evidencia excessiva insegurança causada pela cardiopatia, não
tendo confiança em si, nos demais e na estabilidade dos relacionamentos interpessoais.
Estes cardiopatas consideram-se diferentes das demais pessoas e a cardiopatia, na
percepção deles, conferia-lhes um caráter estigmatizante. Diante do próximo, sentem-se
“complexados”, constrangidos, humilhados, não aceitos, indignos de serem amados e
respeitados. Em geral, procuravam ocultar, ao máximo, a cardiopatia, advertindo a família,
não querendo que seus amigos ou namorados soubessem, vivendo apreensivos, temendo
sua revelação (GIANNOTTI, 1996 e CAMON 1996).
19
A falta de confiança em si e na estabilidade dos relacionamentos interpessoais
independem da severidade do defeito congênito, saber do diagnóstico já é motivo para os
pacientes se prevenirem diante do próximo. A correção cirúrgica da cardiopatia, por si só,
não contribui para aumentar a confiança destes pacientes em si e nos demais, pois existem
outros elementos que lhe assegure isto. Os pacientes, mesmo após a cirurgia percebem-se
estigmatizados pela cardiopatia, pois existe a tendência de permanecerem inseguros pela
cardiopatia, apesar de avanços na idade (GIANNOTTI, 1996).
Ao retornar ao lar, mudanças nos hábitos e no estilo de vida devem ser revistas,
avaliadas e finalmente incorporadas no próprio sistema de valores do paciente assim, uma
mudança comportamental efetiva. Este contexto tem a finalidade de diminuir os
sentimentos de dependência do paciente, para ajudar a restituir a auto-estima, para
aumentar a confiança do paciente nos empreendimentos futuros e habitua-lo em lidar com
os problemas da doença. Por fatores muito provavelmente ligados à cardiopatia, estes
pacientes não encontraram condições propícias, desde as fases mais precoces, até a mais
avançada do desenvolvimento da personalidade, para um intercambio saudável com o
próximo. No conjunto, os cardiopatas congênitos são inseguros, retraídos, e desconfiados,
chegando a não travar novos conhecimentos e amizades, evitando os relacionamentos
interpessoais e o envolvimento emocional, temendo a rejeição pelo defeito cardíaco
congênito. Embora se revelem inseguros e desconfiem da capacidade de ser aceito e amado
pelos demais, a gravidade da cardiopatia, os sinais, sintomas e limitações contribuiriam
para intensificar o temor à rejeição nas relações amorosas, fazendo com que eles se
percebam impossibilitados de casar, negando a necessidade de afeto ter antecipando o
fracasso (GIANNOTTI, 1996 e CAMON, 1996).
As formas de lidar com a rejeição variam, uns procuram ser mais sedutores,
pretendendo agradar as pessoas, na tentativa de serem amados por todo mundo. Outros
chegam ao absoluto retraimento, a ponto de evitar contato com os demais. Esta queixa de
excessiva timidez e retraimento é mais freqüente entre os adolescentes e adultos, relatando
que se sentem embaraçados, ansiosos e em pânico diante das pessoas. Mas também
crianças possuem uma atitude predominantemente de prevenção diante do próximo,
sentindo-se confusas e atemorizadas, por exemplo, diante das colegas na escola e não se
dirigiam à professora para solucionar suas duvidas (GIANNOTTI, 1996).
20
2.5 ATUAÇÃO DO PSICÓLOGO
Segundo Romano (1994) a Psicologia tem como objetivo o acompanhamento do
paciente cardíaco, conhecer e tratar os aspectos emocionais, considerando as
particularidades de cada caso, visando proporcionar-lhe uma melhor qualidade de vida.
Um momento propício para a entrada de o profissional psicólogo começar uma intervenção
seria com a equipe, salientado pontos que às vezes passam despercebidos ou preparar
emocionalmente os pais para entender e assimilar as informações, pois no momento que os
pais recebem a notícia do diagnóstico e do tipo de tratamento que será empregado, essas
informações devem ser transmitidas pelo médico de forma clara e precisa evitando fantasias
futuras em relação à doença (FAVARATO,1990 e LAMOSA 1990).
Proporcionar uma adaptação saudável da criança ao hospital é função de toda a
equipe multiprofissional, isto é, de todo o pessoal que tenha relação com a criança.
Portanto, deve haver grande integração entre esses elementos, para que se discutam as
formas de se lidar adequadamente com crianças e familiares no seu ingresso e durante o
período de hospitalização, bem como com aqueles casos que requerem atenção especial
(FAVARATO,1990).
O papel do psicólogo também se faz relevante junto à criança intervindo com
técnicas ludoterápicas, pois o jogo é imaginativo, mas, ao mesmo tempo, se relaciona com a
realidade da criança. Através dele a criança pode expressar seus sentimentos, fantasias,
medos e conflitos. O jogo durante a hospitalização desenvolve, em parte, aspectos normais
da vida da criança e previne maiores perturbações. Também proporciona a oportunidade de
reorganizar sua vida, diminuindo a ansiedade e dando a oportunidade de perspectiva. Além
disso, possui um papel diagnóstico, pois pode nos alertar sobre pontos mal entendidos pela
criança que convém esclarecer, para que as experiências possam se integrar ao seu
desenvolvimento. Conhecendo o conceito que a criança tem da enfermidade podemos
ajudá-la a resolver sua ansiedade, permitindo-lhe expressar seus temores e dúvidas,
aspectos que os pais geralmente reprimem (FAVARATO,1990 e ROMANO 1994).
Com a família, o profissional psicólogo deve iniciar o trabalho antes do ingresso
da criança ao hospital, pois os pais devem conhecer os sentimentos, medos, e fantasias que
21
eles possuem em relação à doença do filho, esclarece-los e orientá-lo a respeito da realidade
e principalmente dar informações suficientes que possam preparar adequadamente os filhos
para a internação. A ansiedade criada nos pais pela hospitalização é grande e,
freqüentemente, encontramos pais com dificuldade para lidar adequadamente com essa
situação e apresentando sentimentos de negação, agressividade ou apatia. O trabalho deve
visar também a dar condições para que esses pais possam lida bem com a criança em alta.
Em determinados casos, os pais devem ser orientados a procurar atendimento psicológico
após a alta hospitalar (CAMON, 1996).
A realização de grupos de atendimento aos familiares de pacientes internados são
um grupo de suporte em que o papel ativo do coordenador visa minimizar o conflito e
salientar o apoio interpessoal. Resume os benefícios dos grupos de apoio do ponto de vista
da família: percebem que não estão sós, compartilham sentimentos com pessoas na mesma
situação, aprendem que os problemas dos outros são freqüentemente piores que os seus,
reduzem a ansiedade, aprendem novos métodos de adaptação e conseguem uma melhor
compreensão da doença e dos cuidados dispensados ao doente (ROMANO, 1994).
2.6 PSICODIAGNÓSTICO
O trabalho ludoterápico pode ser realizado em grupo ou individualmente, conforme
as características da enfermaria na qual se atua. Esse trabalho tem três objetivos, conhecer
mais profundamente a criança; permitir que ela expresse seus sentimentos, medos e
fantasias e orienta-la em relação à realidade que esta vivendo (FAVARATO,1990).
O psicodiagnóstico é uma avaliação psicológica que tem por objetivo conhecer as
características das estruturas psicológicas do indivíduo e identificar forças e fraquezas no
seu funcionamento, com um foco na existência ou não de psicopatologia (CUNHA, 2000).
No psicodiagnóstico infantil são utilizados jogos lúdicos, desenhos e ainda
aplicação de teste escolhido pelo psicólogo. Entre os tipos de testes psicológicos, existem
os projetivos, que constituem um dos instrumentos essenciais à psicologia clínica e apóiam-
se numa concepção psicodinâmica da personalidade (ADRADOS,1982).
22
Para um psicodiagnóstico infantil é fundamental a entrevista com a família, através da qual,
o psicólogo coleta informações sobre a história de vida do paciente: como foi a gestação e o
desenvolvimento da criança, assim como observar o relacionamento dos pais entre si e o
relacionamento dos pais com a criança. Em alguns casos faz-se importante também
conhecer a história de vida dos pais.
O Psicólogo utiliza testes e entrevistas como técnica para conhecer a natureza
estrutural da personalidade do sujeito de uma forma sistemática e científica. A
personalidade não é um fenômeno estático, mas sim um processo dinâmico, por isso, é
importante a escolha do teste a ser utilizado. O teste escolhido deve refletir as modificações
produzidas ao longo do tempo. A escolha do teste adequado é de fundamental importância
para o resultado do psicodiagnóstico. O psicólogo precisa conhecer e saber utilizar com
exatidão o teste escolhido (CUNHA, 2000).
23
3 METODOLOGIA DA PESQUISA
3.1 CARACTERIZAÇÃO DA PESQUISA
Para a realização desta pesquisa foi utilizado o método qualitativo, como a forma de se
obter o legítimo conhecimento da contradição dinâmica do fato observado e a atividade
criadora do sujeito que observa, onde o pesquisador é um ativo descobridor do significado
das ações e das relações que se ocultam nas estruturas sociais (CHIZZOTTI, 2005).
Este método é apropriado porque conseguimos compreender sobre os vínculos entre as
pessoas e os objetos, no caso, os aspectos psicológicos da criança e sua história de vida,
bem como a de sua família, e os significados que são construídos pelos sujeitos. Procura-se
compreender suas experiências, as representações que formam e os conceitos que elaboram.
Esses conceitos manifestos, as experiências relatadas, ocupam o centro de referência das
análises e interpretações.
3.2 DESCRIÇÃO DO CONTEXTO E PROCESSO DE SELEÇÃO DOS SUJEITOS
A pesquisa foi realizada com duas (02) crianças com idade acima de oito (8) anos,
portadoras de Cardiopatia Congênita e suas respectivas mães, que são atendidas no
ambulatório de cardiologia do HIJG-SC.
A médica responsável pelo tratamento da criança selecionou duas (02) crianças,
ocorrendo de maneira aleatória, tendo como pré-requisito apenas a doença e a idade da
criança. Não foi utilizado como critério de seleção o fato das crianças terem realizado
cirurgia, sendo então selecionadas uma (01) criança (sujeito 2, L) que já tinha realizado a
cirurgia e outra (sujeito 1, Z) que ainda estava na lista de espera para a realização da
mesma.
24
A partir da solicitação da médica, fez-se a apresentação da proposta da pesquisa e o
convite para participação na mesma.
3.3 COLETA DE DADOS
A coleta de dados ocorreu através da aplicação do teste projetivo Rorschach em duas
(02) crianças portadoras de Cardiopatia Congênita que realizam tratamento no HIJG-SC.
O Rorschach é um teste projetivo, empregado por profissionais da Psicologia, com a
finalidade de avaliar aspectos da personalidade do indivíduo (SCHWARZ, 2002). É uma
das técnicas mais utilizadas nos processos psicodiagnósticos, pelo fato desta possibilitar a
apresentação sistemática e controlada dos dados obtidos de forma que possam ser
manipulados estatisticamente, bem como pela mensuração e quantificação de diferentes
variáveis da personalidade, informando acerca de aspectos da dinâmica de personalidade
dos sujeitos investigados (ADRADOS,1982).
O Rorschach é um teste de grande utilidade em virtude de fornecer dados clínicos sobre
três (03) aspectos fundamentais; os aspectos Cognitivos - Intelectuais, os aspectos Afetivos
Emocionais, e também o nível de ansiedade básica e situacional, fornecendo condições para
vermos como está a pessoa quanto ao controle geral, quanto à capacidade para suportar
frustrações e conflitos, quanto à adaptação ao trabalho, ao ajustamento e integração
humana.
Foi necessária a elaboração de um questionário, aplicado nas entrevistas semi-
estruturadas, que foram transcritas de forma dialogada, com as duas (02) respectivas mães.
As entrevistas e a aplicação do Rorschach foram realizadas nas dependências do HIJG-SC,
mais precisamente na sala do setor de Psicologia do HIJG.
A criança e a família somente participaram da pesquisa após a apresentação do termo de
consentimento livre e esclarecido, estando cientes de todos os passos da pesquisa.
25
3.4 TÉCNICAS DE ANÁLISE DE DADOS
Após a realização das entrevistas, cujas informações foram obtidas através de um
questionário, e também da aplicação do teste projetivo Rorschach, os dados foram
analisados segundo a técnica de análise de conteúdo, cujo objetivo permitiu identificar a
relação entre os aspectos da personalidade da criança cardiopata obtidas através dos
resultados do teste Rorschach com a história de vida de crianças portadoras de cardiopatia
congênita.
A relevância da utilização da análise de conteúdo é justificada, pois é através dela
que os conteúdos das mensagens dos participantes nos ensinam, mostrando-nos indicadores
que permitam inferir conhecimentos relativos as condições de produção/recepção dessas
mensagens (GIL,1999).
Foi realizada uma classificação em oito (08) categorias dos diferentes elementos da
história de vida da família com relação a terem em casa uma criança portadora de
Cardiopatia congênita, e também uma classificação em cinco (05) categorias dos resultados
do teste projetivo Rorschach, visando entender os aspectos psicológicos existentes nesta
relação criança-família.
Após a categorização, realizou-se a análise dos dados obtidos. Esta análise de
categoria consiste em "tomar em consideração a totalidade de um texto, passando-o pelo
crivo da classificação e do recenseamento, segundo a freqüência de presença (ou de
ausência) de itens de sentido" (BARDIN, 1991, p.36). Com esta análise foi possível obter
como resultado e identificação dos aspectos psicológicos presentes na criança portadora de
Cardiopatia Congênita no HIJG-SC.
26
4 RESULTADOS
4.1 CATEGORIAS DESENVOLVIDAS
Foram desenvolvidas, após análise de conteúdo, duas (02) tabelas contendo as
categorias desenvolvidas. Uma delas, Tabela 1, surge dos relatos das entrevistas, contendo
oito (08) categorias, e a outra, Tabela 2, obtida através da correção do teste projetivo
Rorschach, onde foram desenvolvidas cinco (05) categorias obtidas pelo autor Cícero Vaz
(1997).
TABELA 1: Categorias desenvolvidas a partir das verbalizações das mães.
1-REAÇÕES EMOCIONAIS AO CONHECIMENTO DO DIAGNÓSTICO
MÃE 1- “Senti pavor, não conhecia sobre a doença”; “fiquei mau”; “fiquei muito angustiada”. MÃE 2- “achei que ia cair o mundo”; “fiquei apavorada”; “quando a médica falou que ia abrir comecei a chorar”; “Ficamos ansiosos com a doença”.
2- PERCEPÇÃO QUE A MÃE TEM DO FILHO
MÃE 1- “é tranqüila, na escola ela também é”, “acho que ela se sente inútil, porque não pode ajudar, não pode fazer nada”; “ela não é fácil”; “ela é uma criança muita agitada, agressiva e nervosa, sempre está agitada, ou nervosa por alguma coisa”. MÃE 2- “Ela é obediente”; “ela é muito sozinha”.
3-ATITUDES DOS PAIS EM RELAÇÃO A DOENCA
MÃE 1- “fico mau, porque queria ajudar”; “gostaria de poder dar tudo para ela”; “dou muito carinho, tudo é para ela” “ela é meio agressiva, mas deixo”; “vivo para os filhos, principalmente para a Z.”. MÃE 2- “A rotina agora é para ela, ela quer atenção, esta sempre comigo, agora ela pode tudo”; “estou 100% em casa para ela”.
4-RELAÇÃO MÃE E FILHO
MÃE 1- “Faço tudo por ela, por ela ser meio agressiva, mas eu deixo, porque ela pode ficar muito nervosa e acontecer alguma coisa”; “é tranqüila”; “gosta muito de ajudar, mas acho que ela se sente inútil,
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porque não pode ajudar, não pode fazer nada”; “nossa relação é muito boa, a gente conversa, ela é carinhosa comigo”; “ela dorme todos os dias comigo, porque ela tem um sono muito agitado”. MÃE 2- “Somos muito grudadas, conversamos bastante”.”A rotina agora é para ela, ela quer atenção”; “está sempre comigo, agora ela pode tudo”.
5-LIMITAÇÕES QUE A DOENÇA TRAZ À CRIANÇA
MÃE 1- “às vezes ela corre, anda de bicicleta”; “ela não é fácil, uma vez ela pegou a bicicleta e foi andar”; “fico mau, porque queria ajudar”. Z. - “fico olhando as crianças na Ed. Física, queria fazer também”; “queria andar de bicicleta, correr, mas não da”. MÃE 2- “Não poder fazer atividade física, pois ela sempre foi ativa”.
6-ADESÃO AO TRATAMENTO
MÃE 1- “Ela anda de bicicleta, vive correndo, ela não é fácil”. MÃE 2- “Ela é obediente, entende que não pode”.
7-HOSPITALIZAÇÃO
MÃE 1- “A Z. já foi internada para fazer a cirurgia do coração, mas teve uma crise de ansiedade e não pode fazer a cirurgia”; “Estou muito preocupada, angustiada, porque minha filha já esta ficando velha para a cirurgia”. MÃE 2- “Achava que a cirurgia ia ser feita pela veia”; “quando a médica falou que ia abrir comecei a chorar”; “ficamos muito ansiosos antes da cirurgia”;”A L já foi internada mas não fez a cirurgia porque tomou ASS infantil, que impediu a coagulação do sangue”; “foi um período muito angustiante”; “Ela era furada o tempo todo, até de madrugada, porque não sabiam o que ela tinha e não lembrávamos que tínhamos dado o ASS”; “Quando vi minha filha na UTI cheia de canos sai correndo”.
8-RELACIONAMENTO INTERPESSOAL DA CRIANÇA
Z. - tenho uma relação mais ou menos com minhas irmãs” ; “ a mais velha é muito egoísta”; O vô e a vó são legais”. MÃE 2- “Ela é muito sozinha, não tem amigos”. L. - “a família está mais ou menos”.
* Tabela desenvolvida pela acadêmica
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TABELA 2: Categorias desenvolvidas a partir da correção do teste Rorschach
Caso 1: Sujeito 1 (Z)
Idade: 12 anos
* Na lista de espera para a realização da cirurgia.
1-Condições Intelectuais: Dificuldades para sintetizar as suas experiências de vida.
Quando há sinais de um pensamento mais criativo, ele não se sustenta na realidade
perdendo dessa forma precisão. Baixa criatividade, baixa condições intelectuais e poder
de empatia. Existem limites à capacidade intelectual e potencial. Imaturidade
2-Capacidade de adaptação e de relacionamento humano: Baixa produtividade,
dificuldade para se adaptar a situações. Indicadores de mau prognóstico, poucas
condições de reagir emocionalmente de forma adequada, frente a situações que exijam
respostas afetivas. Aparecem dificuldades no vinculo que exigem um tempo maior para
sentir-se mais segura. Leve tensão em relação à figura paterna. Capacidade de se
relacionar com o mundo externo.
3- Controle de reações impulsivas e emocionais: Possui capacidade de aceitar e expor
as suas necessidades pulsionais. Existe capacidade de se repor de tensão e ajustar-se à
realidade. Estresse; dificuldades no vínculo materno. Frente à mobilização dos afetos,
há possibilidade de controle, mas afeta o principio de realidade.Tentativas de lidar com
os conflitos e tensões de uma forma concreta, mas aparecem sinais de ambivalência.
4- Capacidade para suportar conflitos e tensão: Estresse, dificuldades de vínculo
maternal. Leve tensão em relação à figura paterna.Tentativa de lidar com os conflitos e
tensões de uma forma concreta, aparecem sinais de ambivalência em relação à figura
materna. Sem maiores dificuldades quanto à sexualidade. Conflito, tensão.
5- Capacidade de autocrítica e poder de reparação: Possui dificuldades, aparecem
sinais de conflito e tensão.
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Caso 2: Sujeito 2 (L)
Idade: 9 anos
* Realizou a cirurgia no dia 26/04/2006
1-Condições Intelectuais: Possui boas condições intelectuais, bem como capacidade de
resgatar suas experiências de vida, boa capacidade de síntese e abstração, mas nem
sempre está baseada na realidade. Existe interesse pelo concreto e imediato, implicando
uma capacidade de adaptação, mas há um predomínio do interesse pelo abstrato. Boa
correspondência entre o nível de aspirações e a sua capacidade potencial. Capacidade
de se ligar a pequenas coisas, sensibilidade ao simples e ao quotidiano, embora o
percentual no limite do limite sugere excentricidade e obsessão. Pensamento
relativamente lógico embora sob a influência da fantasia sem maiores
comprometimentos considerando a idade da criança. Aparecem sentimentos de cuidado,
como manifestação de se sentir protegida pela figura materna, embora apareçam a partir
da resposta contaminada < “dois anjos encima de uma borboleta” > aspectos de
indiscriminação e/ou dependência ainda não bem integrados que dificultam a precisão
no contato com a realidade.
2-Capacidade de adaptação e de relacionamento humano: Teve condições de
adaptação ao teste apesar de certa inibição, mas sem que esta prejudicasse seu
desempenho. Os tempos de reação e duração não mostram diferenças que evidenciem
dificuldades em relação à afetividade ou aspectos depressivos. Tendência á introversão,
onde os afetos são processados priorizando a fantasia e não a ação. Adequado
relacionamento com as pessoas, embora existam restrições e a necessidade de controlá-
los. Boa adaptação, boa disponibilidade ao vínculo com a figura materna. Indicadores
de bom prognóstico, boas condições de reagir emocionalmente de forma adequada,
frente a situações que exijam respostas afetivas. Bom relacionamento interpessoal. Os
relacionamentos sociais são vistos de forma positiva.
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3- Controle de reações impulsivas e emocionais: Há subordinação das reações
instintivas e impulsivas ao sistema de valores e crenças. Tendência á introversão, onde
os afetos são processados priorizando a fantasia e não a ação. Dificuldades com as
figuras de autoridade, promovendo ameaça, como resultado há manifestação de
ansiedade persecutória. Frente à mobilização dos afetos, aparecem fantasias de
descontrole ou destrutivas.
4- Capacidade para suportar conflitos e tensão: O fato de não ter conseguido dar a
popular na Lâmina V pode ser explicado por dois elementos, o primeiro priorizar a
fantasia e segundo de maior peso talvez esteja relacionado à mobilização promovida
pela lâmina anterior onde o afeto mobilizado, ansiedade persecutória, vivência de
ameaça, < “pessoa má e que dá medo para as crianças” > dificultam a possibilidade de
ver a realidade tal qual ela é. Dificuldades frente à sexualidade. Tentativa em certa
forma efetiva de resolver os conflitos, tensões e angústias existenciais no nível da
fantasia.
5- Capacidade de autocrítica e poder de reparação: Aparecem sentimentos de
cuidado, como manifestação de se sentir protegida pela figura materna, embora
apareçam a partir da resposta contaminada < “dois anjos encima de uma borboleta” >
aspectos de indiscriminação e/ou dependência ainda não bem integrados que dificultam
a precisão no contato com a realidade. Isto pode ser claramente compreendido se
consideramos a própria situação da criança que se encontra comprometida pelos
cuidados excessivos da família, devido à doença.
4.3 ANÁLISE QUALITATIVA DO RORSCHACH:
31
Com relação as resultados do teste Rorschach, observa-se que frente à capacidade
de elaborar as tensões e angústias, os dois sujeitos priorizam a fantasia, possuindo
dificuldades para ajustar-se à realidade. Isto pode estar vinculado à própria situação de
tratamento e também através da influencia de outras às figuras de autoridade, talvez a mãe e
o pai. Os sujeitos possuem dificuldade com a figura de autoridade, dificultando o vínculo
com a figura paterna. É importante entender que figuras de autoridade também podem ser a
equipe de saúde.
A respeito ao vinculo da figura materna, observa-se diferenças entre os sujeitos, onde L
apresenta uma boa disponibilidade ao vínculo e Z dificuldades. Precisamos entender o
contexto onde esta criança está inserida para analisarmos as mensagens que o teste nos
mostra. O sujeito 1 (Z) possui uma relação muito conturbada com a mãe porque sempre foi
criada pelos avós. Somente há dois (02) anos a mãe voltou para o convívio familiar
retomando a educação dos filhos. Isto gera na criança conflito e estresse, mesmo possuindo
diferenças no vinculo, observa-se que a maneira como este se constrói implica em
dificuldades a respeito à mobilização dos afetos, onde os mesmos são elaborados
priorizando a fantasia em detrimento da expressão no mundo exterior.
Observou-se que a introversão e a imaturidade se fazem presentes como característica
da personalidade dos sujeitos pesquisados, evidenciando influencias da relação familiar no
desenvolvimento da personalidade dos sujeitos.
Podemos concluir que os sujeitos pesquisados possuem boas condições de controle
geral, mas tendem a priorizar a fantasia como uma maneira compensatória por terem
dificuldades em lidar com suas frustrações. Frente à situação de tratamento a criança se
defende priorizando a fantasia como forma de controlar a angústia. Possuem também
dificuldades de ajustamento, onde se verificou estresse e tensão, sendo justificado pela
condição que a doença proporciona e também vínculo maternal que acontecem de maneira
conflitiva ou dependente.
4.3 DISCUÇÃO DOS RESULTADOS
32
Através da correção do teste projetivo Rorschach aplicado nas crianças portadoras
de Cardiopatia Congênita e da categorização das falas obtidas nas entrevistas feitas com as
mães poderemos obter um maior entendimento sobre o sentido das comunicações, além de
fundamentar com a literatura as informações adquiridas ao longo da presente pesquisa,
resultando em uma inter-relação entre os dados coletados, objetivos da referida pesquisa,
bem como os autores que elucidam tais questões.
As mães das crianças portadoras de cardiopatia congênita ao se depararem com o
diagnóstico, relatam um momento de grande angústia provocado pela ferida narcisista e
pavor frente à nova realidade que a doença do filho apresenta. O fato de ter gerado um filho
com cardiopatia congênita e do diagnóstico trazer a tona fantasias de morte, se sobrepõe à
perspectiva de cura, fazendo do momento do diagnóstico um período de muita angústia e
sofrimento, como demonstra a fala da Mãe 1 “fiquei muito angustiada” e Mãe 2 “achei
que ia cair o mundo”. Conforme Giannotti (1996) a revelação do diagnóstico da doença
causa um forte impacto emocional, levando-as ao pânico, ao desespero e ao sentimento de
total desorientação.
É importante citar que existe uma reprodução ideológica de um modelo no qual se
deposita na figura materna o papel de principal cuidadora, ou seja, a família se organiza
frente ao tratamento da doença do filho de uma forma bastante estereotipada onde os
cuidados estão projetados na figura feminina. Segundo Giannotti (1996), a mãe e o
ambiente familiar da infância são influências predominantes na vida da criança, possuindo
uma participação muito mais ativa na educação dos filhos, em nosso meio social. Este
aspecto se torna mais um desencadeador de ansiedade nas mães, por terem a
responsabilidade do tratamento da criança, somada com a culpa por ter gerado um filho
doente.
Após o diagnóstico, a culpa e a hostilidade pela doença do filho vêm à tona,
podendo a mãe utilizar mecanismos defensivos para aliviar a tensão causada, compensando
estes sentimentos através da superproteção. A percepção do filho, para as mães, é
considerada boa, mas também se observou demonstrações de rejeição e de percepção do
filho como sendo inferiorizado e “frágeis” emocionalmente, como relata a Mãe 1 “se sente
inútil” e a Mãe 2 “Sozinha”. É preciso deixar como hipótese que no caso da Mãe 1, por ela
ter voltado para o convívio familiar a somente dois (02) anos, existe uma história no
33
vínculo que tem maior incidência do que a própria doença da filha. A rejeição da mãe vem
de uma rejeição da filha, que a rejeita como uma forma de se proteger, já que foi
abandonada e esse abandono gerou frustração.
Conforme Giannotti (1996), o fato de saber que é portadora de Cardiopatia
Congênita é um fator relevante para o seu ajustamento psicológico. Percebe-se a evidência
de certos traços, como instabilidade e agressividade na correção do teste projetivo
Rorschach do sujeito 1 (Z), onde se observa estresse e dificuldades de vínculo com a mãe
(possui sinais de conflito e tensão). Novamente vale ressaltar a ferida narcisista da criança,
por ser criada pelos avós. Este abandono da mãe gerou frustrações na criança provocando
um problema no nível da auto estima.
A percepção da mãe em relação ao filho pode influir na capacidade que a criança
terá para elaborar a condição de estar doente, além da maneira como ela enfrenta suas
frustrações com relação ao fato de não conseguir adiar as gratificações dos desejos do filho.
A respeito das atitudes em relação à doença, as mães demonstram efetivamente o
sentimento de culpa e a superproteção. Giannotti (1996) comenta que a superproteção é
uma forma de compensar, de um lado, o sentimento de culpa pela rejeição da criança e, de
outro, o sentimento de ser responsável pelo aparecimento da cardiopatia no filho. A falas da
Mãe 1 “gostaria de poder dar tudo para ela” e Mãe 2 “agora ela pode tudo” demonstram
claramente esta dinâmica. Para Giannotti (1996) os pais reprimem a própria hostilidade e
jamais repreendem os filhos cardiopatas. Através da abnegação externa, os pais sacrificam
necessidades pessoais para satisfazer seus filhos. O impulso de satisfazer totalmente os
filhos acontece por não conseguirem lidar com a frustração e a culpa.
Na correção do teste projetivo Rorschach podemos perceber a influência da
superproteção nos aspectos emocionais da criança portadora de cardiopatia congênita,
referente ao sujeito 2 (L), onde aparecem sentimentos de cuidado, como manifestação de se
sentir protegida pela figura materna, embora apareçam a partir da resposta contaminada <
“dois anjos em cima de uma borboleta” > aspectos de indiscriminação e/ou dependência
ainda não bem integrados que dificultam a precisão no contato com a realidade.
Segundo Giannotti (1996), a causa mais provável do apego excessivo dos
cardiopatas aos seus pais está na maneira como estes familiares passam a se comportar, ao
saberem da existência da cardiopatia. Se os pais limitam o crescimento emocional deles,
34
acabam impedindo-os de se desenvolverem de forma mais autônoma. Estes familiares, os
percebem, não como um ser singular, mas através de uma imagem fixa, alimentada pela
descrença na capacidade deles de fazerem as coisas sozinhas, tendo como conseqüência à
excessiva e prolongada dependência emocional dos pais.
Este apego excessivo pode acarretar para a criança dificuldades em enfrentar
situações difíceis, não lhe possibilitando o desenvolvimento da capacidade de tolerar
frustrações, como percebemos na correção do teste Rorschach do sujeito 1 (L), que
apresentou poucas condições de reagir emocionalmente de forma adequada, frente a
situações que exijam respostas afetivas, além de possuir tentativas de lidar com os conflitos
e tensões de uma forma concreta, mas aparecendo sinais de ambivalência. O mesmo foi
observado na correção do teste do sujeito 2 (Z) , que apresenta dificuldades de tolerar suas
frustrações, existindo a tentativa de certa forma efetiva de resolver os conflitos, tensões e
angústias existenciais no nível da fantasia. Conforme Giannotti (1996), quando a criança
ocupa um lugar privilegiado dentro de casa, possui o pensamento mágico e onipotente
constantemente alimentado, acarretando muitas dificuldades, não só na socialização, como
também na apreensão da realidade.
Impor limites tem a função de ensinar a realidade contrariando os desejos
mostrando assim que não se pode controlar o que acontece. Os pais, sem saber,
satisfazendo os pedidos da criança, impossibilitam que seus filhos cardiopatas aprendam a
reagir de modo mais adaptativo as situações em que a realidade não correspondesse aos
seus desejos. Assim, qualquer frustração, torna-se algo muito difícil de ser suportado. Essa
dificuldade de limites, como se percebe na fala da Mãe 1 “Faço tudo por ela, por ela ser
meio agressiva, mas eu deixo, porque ela pode ficar muito nervosa e acontecer alguma
coisa” é uma constatação do que Giannotti (1996) comenta, onde os pais acham que o
estado emocional do paciente interfere em suas condições clínicas e que eles poderiam
piorar caso se angustiassem.
A superproteção está relacionada ao conhecimento do diagnóstico e não é de fato,
um amor genuíno, mas um disfarce, uma forma de compensar o sentimento de hostilidade e
culpa. Este comportamento mascara a rejeição inconsciente da criança, que frustrou suas
expectativas de possuir um filho saudável e compensa o sentimento de culpa pela rejeição
da criança e o sentimento de ser responsável pelo aparecimento da cardiopatia no filho. A
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rejeição encoberta pela superproteção, acarreta a não identificação com imagens que lhes
ofereçam segurança e auto-estima (GIANNOTTI,1996).
A doença traz algumas limitações para a criança, onde a própria sintomatologia é
que se encarrega de estabelecer os seus limites. A imposição de um controle das atividades
devido à doença é uma situação causadora de sofrimento para a criança como relata Z
“queria andar de bicicleta, correr, mas não da”, pois fica restrita de práticas de esportes,
ou de qualquer exercício que envolva esforço em demasia. Conforme Giannotti (1996), as
mães possuem dificuldades em dosar a atividade física de seus filhos e também em apoiar
seus filhos na efetivação do tratamento médico. Uma explicação para esta dificuldade está
novamente na superproteção, onde a mãe se sente culpada por não poder dar ao filho o que
ele gostaria de ter ou fazer.
A justificativa racional para não frustrar os filhos é a presença da cardiopatia e
agradá-los sempre é uma forma de compensa-los pela adversidade ou sofrimento e aliviar a
culpa por ter um filho doente. Os pais não se dão conta de que a dificuldade em frustrá-los
está em si e projetam nos filhos suas angústias, achando que estes são desobedientes, como
relata a Mãe 1 “vive correndo, ela não é fácil”. Uma outra maneira de onde os pais
colaboram na adesão ao tratamento seria obtendo obediência e disciplina, utilizando as
complicações oriundas da doença para manter um certo controle.
A respeito do período de hospitalização, ou da espera da cirurgia, observa-se ser
uma fase de muito angústia para os pais, pois, esta é a fase, onde a proposta da cirurgia leva
a família a pensar sobre a vida e a morte e aceitá-la significa elaborar convenientemente a
angústia de morte mobilizada pelos riscos que envolvem a operação.
Para um melhor entendimento do caso, vale ressaltar que as duas crianças
pesquisadas já tiveram a experiência da hospitalização, mas que não se efetuaram. No caso
do sujeito 1 (Z) , a mãe relata que devido uma crise se ansiedade a filha não pode realizar a
cirurgia, pois “ a Z queria que eu ficasse por perto”. No caso do sujeito 2 (L), a Mãe 2
relata um episódio onde o marido dois dias antes da cirurgia, dá a criança o remédio “ASS
Infantil”, impossibilitando a cirurgia devido seu efeito farmacológico, a não coagulação do
sangue.
A respeito dos efeitos da hospitalização para a criança observamos que a ansiedade
no período da cirurgia também é um fator relevante para a criança portadora de cardiopatia
36
congênita, como se percebe no relato da Mãe 1 “a Z. já foi internada, mas teve uma crise
de ansiedade e não pode fazer a cirurgia”. Conforme Crepaldi (1989), o impacto
emocional da hospitalização se mostra como uma situação ansiógena, podendo provocar,
inquietação, além de insegurança e retraimento nas crianças maiores. E mais, a criança é
vitima da sensação de abandono, uma vez que está ausente seu familiar, medo do
desconhecido, pois o hospital lhe é uma realidade nova e ameaçadora, sensação de punição
e culpa.
As lacunas na comunicação do relacionamento com o médico, causado pela pouca
informação sobre a cardiopatia, são preenchidas com fantasias, como relata a Mãe 2
“Achava que a cirurgia ia ser feita pela veia”. A indicação de cirurgia mobiliza angústias
persecutórias e o paciente e sua família necessita preparar-se emocionalmente para
enfrentá-las. Quando a Mãe 2 relata “Quando vi minha filha na UTI cheia de canos sai
correndo”, observa-se o comportamento de fuga, de uma situação que para mãe é
mobilizadora de grande sofrimento. É fundamental salientar que o comportamento da
família e do paciente pode modificar a história da cardiopatia congênita e piorar
consideravelmente seu prognóstico, sendo necessário um apoio psicológico para a família,
evitando consideravelmente a não adesão ao tratamento e também o sofrimento da família e
paciente.
A respeito dos relacionamentos interpessoais das crianças cardiopatas, percebe-se
uma instabilidade, relatada por Z “tenho uma relação mais ou menos com minhas irmãs” e
L “a família está mais ou menos”. Esta dificuldade gera também uma limitação emocional
de sua auto estima, sendo freqüente entre os portadores de cardiopatia congênita possuírem
intensos sentimentos de inferioridade e inadequação, por terem a doença. Conforme
Giannotti (1996), estes a encaram com excessiva frustração e revolta a ponto de sentirem
pena de si e inveja dos que possuem saúde. O prejuízo será maior ou menor dependendo
das condições psicológicas desta criança e o suporte emocional que o meio lhe oferece.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
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Este TCC apresentou uma revisão da literatura sobre os aspectos psicológicos da
criança com Cardiopatia Congênita e sua história de vida bem como de sua família após o
diagnóstico da doença. A seguir, foram descritos os resultados da pesquisa a partir do
método análise de conteúdo e a correção do teste projetivo Rorschach.
Na conclusão desta pesquisa são apresentados os principais resultados e
contribuições da pesquisa além de recomendações para trabalho futuro, considerando várias
questões de pesquisa e desenvolvimento suscitadas a partir dos resultados.
5.1 PRINCIPAIS RESULTADOS E CONTRIBUIÇÕES
O principal objetivo deste TCC foi identificar as características psicológicas
presentes nas crianças portadoras de cardiopatia congênita que realizam tratamento no
Hospital Infantil Joana de Gusmão -Florianópolis/SC. Neste sentido, pode-se dizer que o
objetivo de pesquisa foi alcançado, uma vez que pudemos perceber através da junção dos
dados obtidos da correção do teste projetivo Rorschach e os dados das entrevistas
realizadas com as mães que esta relação se torna disfuncional após o diagnóstico da doença,
demonstrando que isto influencia diretamente no desenvolvimento psicológico da criança
portadora de cardiopatia congênita.
Os objetivos específicos também foram atingidos, pois conseguimos perceber as
características psicológicas de crianças portadoras de cardiopatia congênita, através da
aplicação do teste projetivo Rorschach nas crianças cardiopatas e do questionário aplicado
em suas mãe onde foram identificados que a superproteção dos pais acabam influenciando
seu desenvolvimento emocional, dificultando seu crescimento, além da capacidade que a
criança possui em superar frustrações. Observou-se também que a hospitalização influencia
diretamente no curso de seu tratamento, pois gera ansiedade, insegurança, frustração e
culpa para a criança e também sua família. Outro objetivo foi compreender a história de
vida da criança com cardiopatia congênita, que foi conseguido através da compreensão dos
dados obtidos após a correção do teste projetivo Rorschach, que demonstraram
efetivamente como a relação familiar disfuncional pode contribuir negativamente para o
desenvolvimento da personalidade do cardiopata, como dificuldades a respeito à
mobilização dos afetos, em lidar com frustrações, e principalmente observar como a doença
38
mobiliza na criança uma tendência a priorizar a fantasia, dificultando sua capacidade de
abstração e aprendizado com suas experiências de vida. Finalmente foi objetivo da pesquisa
compreender a história de vida da família da criança portadora de cardiopatia congênita
onde através da análise dos dados obtidos na entrevista realizada com as mães, traduzimos
a dificuldade que a família passa após o diagnóstico da doença, com a perda de um filho
idealizado.
A principal contribuição deste TCC vem através da identificação dos aspectos
psicológicos da criança cardiopata, pois assim poderemos auxiliar a equipe de saúde a
promover diretrizes para um melhor atendimento da criança e sua família, aumento de sua
qualidade de vida e a adesão ao tratamento.
Os experimentos deste trabalho se propuseram a estudar as características
psicológicas da criança cardiopata, utilizando para esta identificação o método qualitativo,
para uma melhor compreensão das ações e das relações que se ocultam nas estruturas
sociais. Através do discurso das mães estão os resultados, que possibilitam dar subsídios
para a compreensão da história de vida da família após o diagnóstico da doença. Estes
resultados foram estabelecidos após análise de conteúdo, em oito (08) categorias que são:
Categoria 1 “Reações emocionais ao conhecimento do diagnóstico”, nesta categoria
percebe-se que o momento do diagnóstico é mobilizadora de sentimentos como angústia e
pavor para a família. Observamos através do relato da Mãe dois (2) “achei que ia cair o
mundo” as implicações do diagnóstico na relação familiar, onde precisarão elaborar o luto
do filho idealizado.
Na Categoria 2 “Percepção que a mãe tem do filho”, percebe-se após o
diagnóstico, a mãe passa a ver o filho como sendo alguém frágil, e até mesmo como no
relato da Mãe um (1) “acho que ela se sente inútil ”, rebaixando o filho para aliviar seu
sentimento de culpa e investir na compensação deste sentimento através da superproteção.
Na Categoria 3 “Atitudes dos pais em relação à doença”, consegue-se nitidamente
perceber os atitudes superprotetoras dos pais na relação com o filho cardiopata, como na
fala da Mãe dois (02) , “agora ela pode tudo”, onde acabam suprimindo seus desejos para
a realização dos desejos dos filhos.
Na Categoria 4 “Relação mãe e filho”, novamente percebe-se que esta relação é
disfuncional, pois está contaminada pelos cuidados excessivos para com a criança.
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Podemos fazer da fala da Mãe dois (02) “Somos muito grudadas”, uma simbologia da
superproteção.
Por sua vez na Categoria 5 “Limitações que a doença traz à criança”, observamos
o sentimento de frustração da criança com relação de parar de praticar as atividades
rotineiras, como andar de bicicleta, praticar atividades físicas, obtendo um efeito muito
ansiogênico para a criança. Percebe-se também a dificuldade da mãe em impor limites as
restrições que a doença acarreta, bem como observamos na a Categoria 6 “Adesão ao
tratamento”, percebemos novamente a não imposição de limites dos pais no tratamento da
criança
Na Categoria 7 “Hospitalização”, fica claro que este período desencadeia tanto nos
pais como na criança sentimentos de ansiedade e angústia, precisando através da equipe de
saúde uma maior atenção para com as mesmas, pois podem gerar conseqüências negativas e
até mesmo a desistência da realização da cirurgia.
Por sua vez, na Categoria 8 “Relacionamento interpessoal da criança”, percebeu-
se que o diagnóstico e o enfrentamento da doença provoca dificuldades na relação familiar,
devido a culpa, as atitudes superprotetoras, que acaba agravando os relacionamentos
interpessoais da criança cardiopata, que acredita possuir um status especial na relação,
gerando conflitos.
A correção do teste projetivo Rorschach possibilitou através dos seus dados uma
visão de como o diagnóstico influencia a criança cardiopata no desenvolvimento de sua
personalidade, sendo que com estes resultados foram estabelecidas cinco categorias (05)
obtidas através do autor Cícero Vaz (1997), que são: Condições Intelectuais, Capacidade
de adaptação e de relacionamento humano, Controle de reações impulsivas e
emocionais, Controle de reações impulsivas e emocionais e Capacidade de autocrítica
e poder de reparação. Com estas categorias foi feita uma análise qualitativa dos dados,
onde se observou como a criança é afetada no que diz respeito ao desenvolvimento de sua
personalidade , pela maneira como os pais agem após o diagnóstico, Fica claro as atitudes
superprotetoras dos pais geram na criança uma dificuldade de enfrentar suas frustrações.
Percebemos também que o diagnóstico afeta o principio de realidade, onde estas utilizam a
fantasia para suportar a tensão que a doença lhe proporciona.
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É possível então, após estas observações, inferir que é primordial a compreensão do
funcionamento desenvolvido pelos familiares no enfrentamento da doença, bem como os
aspectos psicológicos da criança cardiopata, para que com esses dados seja efetivado um
melhor ajustamento da relação familiar e, por conseguinte um melhor desenvolvimento
emocional da criança cardiopata.
5.2 RECOMENDAÇÕES PARA TRABALHO FUTUROS
Após estas reflexões é pertinente recomendar pesquisas futuras no sentido de
compreender melhor a relação hospitalização e criança cardiopata, devido à importância
deste período para a criança e a família, bem como um maior entendimento da relação
equipe de saúde e cardiopatia congênita, no sentido de pesquisar novas estratégias de
atuação junto a equipe multidisciplinar onde poderiam ser adotadas para uma promoção de
qualidade de vida da criança portadora de cardiopatia congênita e de sua família .
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
41
CREPALDI, M.A. HOSPITALIZAÇÃO INFANTIL: estudo das interações família-equipe hospitalar. Rio de Janeiro-Rio de janeiro, 1989. Dissertação de mestrado. Departamento de Psicologia da Pontífica Universidade Católica do Rio de Janeiro. CAMON, V. A.A. O doente, a psicologia e o hospital. São Paulo: Pioneira , 1996. GIANOTTI, A. Efeitos Psicológicos das Cardiopatias Congênitas. São Paulo: lemos, 1996. LAMOSA, Bellkiss W. Romano. Psicologia Aplicada à Cardiologia. São Paulo: Fundo editorial BYK, 1990. LAMOSA, Bellkiss W. Romano. A prática da psicologia nos hospitais. São Paulo: Pioneira, 1994. MELLO FILHO, J.; BURD, M.;. Doença e Família. São Paulo. Casa do Psicólogo, 2004. BARDIN, L. Análise de Conteúdo. Lisboa: Edições 70, 1991. CHIZZOTTI, A. Pesquisas em ciências humanas e sociais. São Paulo: Cortez, 1998. GIL, A. C. Métodos e Técnicas de Pesquisa Social. São Paulo: Atlas, 1999. MINAYO, M. C. de S. Pesquisa Social: Teoria, Método e Criatividade. Petrópolis: Vozes, 2003. ADRADOS, Isabel. Entrevistas Clinicas. In: Manual de psicodiagnostico e diagnostico diferencial. Petrópolis: Vozes, 1982. CRUZ NETO, Otávio. O trabalho de campo como descoberta e criação. IN: MINAYO, Maria Cecília de Souza (org.) Pesquisa Social: teoria, método e criatividade. 13.ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 1999. SCHWARZ, L. R. Introdução ao estudo do método de Rorschach. São Paulo: Vetor, 2002.
43
Viemos através deste termo de compromisso, formalizar os compromissos éticos segundo
o qual, este projeto de pesquisa, “Características Psicológicas da criança com cardiopatia congênita
no Hospital Infantil Joana de Gusmão – Florianópolis/ SC”, está sendo realizado pela professora
Doutora Luciana Martins Saraiva, e pela acadêmica ELIZA GERALDO RODRIGUES, ambas
vinculadas ao Curso de Psicologia da Universidade do Vale do Itajaí / Centro de Educação Biguaçu
/ SC.
O presente projeto tem como objetivo geral: identificar as características psicológicas
presentes na criança portadora de cardiopatia congênita que realiza tratamento no Hospital Infantil
Joana de Gusmão – Florianópolis/SC.
A coleta de dados será realizada segundo os princípios éticos de pesquisa com seres
humanos e utilizando como base à resolução normativa número 01/1997 e número
001/CEP/UNIVALI/2002, sendo que todos os sujeitos envolvidos nesta pesquisa assumem o
compromisso de manter o anonimato dos sujeitos.
Não estão previstos riscos e desconfortos durante a realização da entrevista. Os
pesquisadores estarão disponíveis para qualquer informação e esclarecimento que o Sr. (a) tiver
necessidade, antes e durante a realização da pesquisa. Pelo fato desta pesquisa ter única e
exclusivamente interesse científico, a mesma foi aceita espontaneamente pelo Sr. (a), que, no
entanto poderá desistir a qualquer momento da mesma, inclusive sem nenhum motivo, bastando
para isso, informar da maneira que achar mais conveniente, a sua desistência. Por ser voluntária e
sem interesse financeiro, o Sr. (a) não terá direito a nenhuma remuneração. Os dados referentes ao
Sr. (a) serão sigilosos e privados, e a divulgação do resultado visará apenas mostrar os possíveis
benefícios obtidos pela pesquisa em questão, sendo que o Sr (a). poderá solicitar informações
durante todas as fases desta pesquisa, inclusive após a publicação da mesma.
Contatos com as pesquisadoras poderão ser feitos no Curso de Psicologia da UNIVALI
pelo telefone (048) 3279-9714.
Eu, __________________________________________________, consinto em participar
voluntariamente neste projeto de pesquisa.
Florianópolis, _______ /_______ /________.
APÊNDICE 2
ROTEIRO PARA ENTREVISTA SEMI-ESTRUTURADA
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- O que aconteceu com o teu filho (a) (irmão, neto, sobrinho)?
- Como é a doença dele (a)?
- Qual é o estado atual dele (a)?
- Você lembra do momento do diagnóstico? Como foi? Como você se sentiu?
- E hoje, como você se sente?
- E porque você acha que isto aconteceu?
- Quais os cuidados necessários para o tratamento?
- Ele (a) consegue seguir este tratamento?
- Como é a sua rotina considerando que em sua casa tem um parente com cardiopatia?
- Quais as facilidades que você encontra em lidar com a doença dele (a)?
- Quais as dificuldades que você encontra em lidar com a doença dele (a)?
- O que poderia melhorar ou ser diferente?
- Como é a relação de vocês? Vocês conversam?
- Como você acha que ele (a) (doente) te percebe?
- Qual o impacto da doença na vida familiar?
- Como os demais membros da família reagem com a doença dele (a)?
- Como é a sua relação com cada um dos outros membros da família?
- Como você acha que ele (a) percebe a família? Como ele se comporta na família?
- Além de cuidar dele (a), qual são suas outras ocupações? (trabalho, estudo, lazer).
- O que você gostaria de fazer e que não consegue em função da doença dele (a)?