UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE...

62
UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE EDUCAÇÃO DA UNIVALI – BIGUAÇU CURSO DE PSICOLOGIA SAMIA CHEREM VIOLÊNCIA CONTRA IDOSOS: UM ESTUDO SOBRE OS SERVIÇOS DE ASSISTÊNCIA PSICOSSOCIAL ARTICULADOS COM O ESTATUTO DO IDOSO, NO MUNICÍPIO DE FLORIANÓPOLIS BIGUAÇU, 2007

Transcript of UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE...

UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE EDUCAÇÃO DA UNIVALI – BIGUAÇU

CURSO DE PSICOLOGIA

SAMIA CHEREM

VIOLÊNCIA CONTRA IDOSOS: UM ESTUDO SOBRE OS SERVIÇOS DE ASSISTÊNCIA PSICOSSOCIAL

ARTICULADOS COM O ESTATUTO DO IDOSO, NO MUNICÍPIO DE FLORIANÓPOLIS

BIGUAÇU, 2007

SAMIA CHEREM

VIOLÊNCIA CONTRA IDOSOS: UM ESTUDO SOBRE OS SERVIÇOS DE ASSISTÊNCIA PSICOSSOCIAL

ARTICULADOS COM O ESTATUTO DO IDOSO, NO MUNICÍPIO DE FLORIANÓPOLIS

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como requisito para obtenção do grau de Bacharel em Psicologia ao Curso de Psicologia da Universidade do Vale do Itajaí.

BIGUAÇU, 2007

SAMIA CHEREM

VIOLÊNCIA CONTRA IDOSOS: UM ESTUDO SOBRE OS SERVIÇOS DE ASSISTÊNCIA PSICOSSOCIAL

ARTICULADOS COM O ESTATUTO DO IDOSO, NO MUNICÍPIO DE FLORIANÓPOLIS

Este Trabalho de Conclusão de Curso foi considerado aprovado, atendendo os requisitos parciais para obter o grau de Bacharel em Psicologia na Universidade do Vale do Itajaí no curso de psicologia.

Biguaçu, 2007

Banca Examinadora

Prof. ____________________________________ Prof. Msc. Mirella Alves de Brito – Orientador.

Prof._____________________________________ Prof. Msc. Almir Pedro Sais – Membro.

Prof._____________________________________ Prof. Msc. Hebe Cristina Bastos Régis – Membro.

Dedico a presente monografia a pessoas muito

especiais que participaram do meu crescimento

profissional e pessoal ao longo de minha vida.

À meu pai José; minha irmã Josy; minha tia Teresa;

a minha querida amiga Viviam e ao meu namorado

André que me ajudaram nesta etapa contribuindo,

mesmo que de forma singela, porém significativa, na

construção desta pesquisa, mas, principalmente, na

concretização dos meus sonhos, no amparo dos

momentos difíceis e, sobretudo, participando da

dialética de minha vida.

AGRADECIMENTOS

À Universidade do Vale do Itajaí por fazer parte da minha formação acadêmica.

À orientadora Mirella Alves de Brito por compartilhar seus conhecimentos, apoiar nas

dificuldades, auxiliar na elaboração e execução desta pesquisa sempre com pontualidade,

compreensão, competência e companheirismo.

Aos sujeitos da pesquisa que foram primordiais na realização da mesma.

À banca examinadora, Almir Pedro Sais e Hebe Cristina Bastos Régis, pela presença e

colaboração, contribuindo com seus conhecimentos e experiências.

Aos colegas de turma pela amizade e companheirismo ao longo desta formação. Em

especial, a Viviam Agatti, que fez parte desta caminhada, dando o apoio, carinho e incentivo

que somente um amigo verdadeiro poderia dar.

A todos que direta ou indiretamente contribuíram para essa pesquisa.

"...Mire, veja: o mais importante e bonito, do mundo, é isto: que as pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram terminadas - mas que elas vão sempre mudando.

Afinam ou desafinam. Verdade maior. É o que a vida me ensinou..."

João Guimarães Rosa

RESUMO Este trabalho consiste numa pesquisa qualitativa que se utilizou da entrevista semi-estruturada para investigar como se dá a articulação entre o atendimento psicossocial ao idoso vítima de violência e o Estatuto do Idoso no Município de Florianópolis. Para isso, foi necessário levantar as contribuições teóricas da psicologia do envelhecimento acerca dos idosos vítimas de violência; descrever os serviços oferecidos pela Rede Pública de Atendimento Social a esta parcela da população; identificar quais as políticas dos Conselhos de Assistência Social voltados para idosos vítimas de violência; e, identificar se existe trabalho multidisciplinar no atendimento a idosos vítimas de violência envolvendo a Psicologia, o Direito e a Assistência Social. A amostra contou com o Conselho Municipal do Idoso, Conselho Municipal de Assistência Social e a Gerência de Atenção ao Idoso do Município. No total, foram entrevistados quatro sujeitos que estavam a par do funcionamento do órgão em que atuam. Constatou-se que os atendimentos psicossociais que concernem a idosos em situação de violência estão pautados nas leis garantidas pelo Estatuto do Idoso, pois as políticas de atendimento são construídas a partir deste, sendo esta a forma como ambos articulam entre si.

Palavras-chave: idosos, envelhecimento, violência, conselhos paritários e políticas públicas.

ABSTRACT This work consists of a qualitative research that was used from the semi-structured interview as to investigate whether the relationship between psychosocial care to the elderly victim of violence and the Statute of the Aged in the city of Florianopolis. Therefore, it was necessary to raise the contributions of theoretical psychology of aging on the elderly victims of violence; describe the services offered by the Network of Public Social Care to this portion of the population; identify what are the policies of the Councils of Social Welfare facing elderly victims and of violence; identify whether there is work in multidisciplinary care to elderly victims of violence involving the Psychology, Law and Social Welfare. The sample received the City Council's Elderly, City Council of Social Welfare and Management of Service to the Elderly Township. In all four subjects who were interviewed were aware of the functioning of the strurure in that act. It appeared that the psychosocial care concern that elderly in situation of violence are based on the laws guaranteed by the Statute of the Elderly, because the policies of care are built from this, and this is the way both articulated between them. Keywords: elderly, aging, violence, joint councils and public policies.

LISTA DE ABREVEATURAS

ANVISA – Agência Nacional de Vigilância Sanitária

CMAS – Conselho Municipal de Assistência Social

CMI – Conselho Municipal do Idoso

CNAS – Conselho Nacional de Assistência Social

GAI – Gerência de Atenção ao Idoso do Município

ILPI – Instituição de Longa Permanência para Idoso

LOAS – Lei Orgânica de Assistência Social

OG – Órgão Governamental

ONG – Órgão Não-Governamental

PMAS – Política Municipal de Assistência Social

PNAS – Política Nacional de Assistência Social

RDC – Resolução da Diretoria Colegiada

SEMAS – Secretaria Municipal de Assistência Social

SUAS – Sistema Único de Assistência Social

SUS – Sistema Único de Saúde

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ........................................................................................... 10

2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ................................................................... 12 2.1 A PSICOLOGIA DO ENVELHECIMENTO: PERSPECTIVA HISTÓRICA E A CONSTRUÇÃO DE UM NOVO “OLHAR” SOBRE A VELHICE ..................................... 12 2.2 A VISÃO SOCIAL DA VELHICE – ESTIGMA E ESTEREÓTIPO .............................. 14 2.3 SISTEMA DE GARANTIA DE DIREITOS DO IDOSO. .............................................. 17 2.3.1 Conselhos Paritários: A participação social e democrática como garantia dos direitos. ............................................................................................................................... 17 2.3.2 Políticas Públicas – A reinserção social do idoso como prática da Psicologia Social ............................................................................................................................................ 20 2.3.3 Violência Contra Idosos ............................................................................................ 23

3 METODOLOGIA ....................................................................................... 27 3.1 TIPO DE PESQUISA..................................................................................................... 27 3.2 AMOSTRA .................................................................................................................... 28 3.3 INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS ................................................................ 28 3.4 PROCEDIMENTOS ...................................................................................................... 29 3.5 TÉCNICA DE ANÁLISE DE DADOS .......................................................................... 29 3.6 ÉTICA E PESQUISA..................................................................................................... 31

4 RESULTADOS ............................................................................................ 33 4.1 CARACTERIZAÇÃO DO CAMPO .............................................................................. 33 4.2 FLUXOGRAMA ........................................................................................................... 34 4.3 TABELA DE CATEGORIAS ........................................................................................ 35

5 ANÁLISE DOS RESULTADOS ................................................................ 43

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................... 53

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................... 55

BIBLIOGRAFIAS.......................................................................................... 58

APÊNDICE 1 .................................................................................................. 59

APÊNDICE 2 .................................................................................................. 60

ANEXO ........................................................................................................... 61

10

1 INTRODUÇÃO

O aumento da população idosa no Brasil1 e as condições atuais dessa parcela da

população nos leva a refletir sobre como estes estão vivendo no que diz respeito à saúde,

segurança pública, previdência, etc. principalmente, quando se sabe que a estimativa para

2020 será de 25 milhões de idosos no Brasil, o que representará 11,4% da população (IBGE,

2004). De acordo com o IBGE (2003) a proporção de pessoas de 60 anos ou mais passou de

7,9% em 1992, para 9,1% em 2001, sendo que a previsão para 2050 é que a população idosa

mundial chegue a um bilhão e novecentos milhões, representando 1/5 da população mundial.

O crescimento desenfreado da população idosa traz a preocupação da exclusão social e

da eficácia ou da elaboração de políticas públicas de assistência aos idosos. A exclusão social

do idoso deve-se, principalmente, à visão que a sociedade criou em torno do processo de

envelhecimento. Envelhecer remete-nos à idéia de não ser mais capaz de produzir

economicamente e que, segundo Loureiro (1998), esta é a capacidade necessária no mundo

capitalista de hoje. O idoso, então, passa a ser visto como inútil, aquele que só proporciona

despesas e não contribui em nada para a sociedade. É como se fosse um “peso nas costas” dos

trabalhadores do país. É a partir disso que os contextos de violência podem se concretizar.

Portanto, trazer discussões sobre temas ligados ao envelhecimento, como violência

contra idosos, é de suma importância para que se possa otimizar a ação de combate contra tais

abusos, melhorando assim a qualidade de vida na velhice, passando da sobrevivência física

para uma eficaz vivência individual e coletiva.

A violência contra a pessoa idosa é um tema que ainda se mostra com pouco

investimento científico, o que preocupa, pois as mortes de idosos por violência somam 42,6%

(IBGE, 2003) do total de falecimentos por causas externas2, sem contarmos com as outras

formas de violência, como negligências e abusos psicológicos.

Para a sociedade em geral, as produções científicas sobre este tema, constituem-se

uma oportunidade para se entender e conhecer sobre abusos e maus-tratos contra idosos,

assunto ainda muito negligenciado e esquecido por todos. Tomar consciência do que acontece

com a população idosa e o que se tem feito em relação à violência é importante para que se

possa construir os procedimentos a serem tomados, em caso de abusos e maus-tratos, e exija

1 Atualmente considera-se o senso de 2004 com 14.536.029 idosos. 2 “Causas externas” é uma categoria estabelecida pela Organização Mundial de Saúde (OMS) para se fazer menção às conseqüências de agressões, acidentes, traumas e lesões.

11

das instâncias competentes uma atitude visando a melhoria da qualidade de vida dessa

população, o respeito ao atendimento público, ao cuidado na saúde, à segurança pública e às

noções de cidadania. Para isso, a questão que se propõe é: como são articulados, no Município

de Florianópolis, os serviços de assistência psicossocial ao idoso vítima de violência com os

preceitos do Estatuto do Idoso?

Esta pesquisa teve como objetivo investigar as articulações dos serviços de assistência

psicossocial ao idoso com os preceitos do Estatuto do Idoso, no Município de Florianópolis.

Para isso, foi necessário levantar as articulações teóricas da psicologia do envelhecimento

acerca dos idosos vítimas de violência, também descrever os serviços oferecidos pela rede

pública de atendimento social a eles, identificar não só as políticas dos conselhos de

assistência social voltados para a violência contra o idoso, como também se existe trabalho

multidisciplinar no atendimento a idosos vítimas de violência envolvendo a Psicologia, o

Direito e a Assistência Social.

Considerando o contexto da pesquisa, foi essencial o levantamento teórico sobre a

perspectiva histórica da Psicologia do Envelhecimento, a visão da sociedade em relação a

velhice, investigando estigmas e estereótipos e, por último, o sistema de garantia de direitos

que inclui os conselhos paritários, as políticas públicas, abordando o Estatuto do Idoso, bem

como aspectos da violência contra idosos.

A pesquisa contou com a amostra de três órgãos governamentais responsáveis pela

gestão de políticas públicas, como o Conselho Municipal do Idoso, Conselho de Assistência

Social e a Gerência de Atenção ao Idoso, todos localizados no Município do Florianópolis.

12

2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1 A PSICOLOGIA DO ENVELHECIMENTO: PERSPECTIVA HISTÓRICA E A

CONSTRUÇÃO DE UM NOVO “OLHAR” SOBRE A VELHICE.

O estudo sobre o envelhecimento surgiu no final dos anos 50, quando a pesquisa sobre

o desenvolvimento infantil já tinha quase meio século de estudo. Porém, as concepções sobre

o envelhecimento aparecem muito antes. Segundo Neri (1995) até, o início do século XIX

havia três visões acerca do conceito de velhice: a primeira dizia respeito à religião, onde o

pecado original trouxe o castigo para a raça humana, a morte; a segunda afirmava que, em

algum lugar do mundo, existiam pessoas que tinham conhecimento sobre o segredo da

imortalidade; a terceira era a de que existia algum lugar onde as águas teriam o poder de

prolongar a vida, revivendo a juventude e o seu vigor. Estes três conceitos giravam em torno

da religiosidade, magia e misticismo, o que era muito conveniente para a época, já que a

ciência ainda estava no início de seu desenvolvimento, e a Igreja, como uma grande potência

dominante, a negava e a considerava heresia, já que contrariava as leis divinas.

A partir dos processos de envelhecimento, seu pecado original e a busca pela

juventude eterna, surgiu a necessidade das ciências naturais explicarem tais processos. Em

1835, Quetelet dá um grande passo para a constituição da Psicologia do Envelhecimento,

estudando os fenômenos estatísticos sobre nascimento, mortalidade, etc. Galton, em 1853,

defendeu a idéia de que há relações entre o tempo da juventude e a diferenciação da

personalidade, assim como as mudanças no organismo ao longo da idade avançada,

relacionando-as com a psicomotricidade. (NERI, 1995).

No século XX, dois cientistas propuseram a criação de disciplinas, que estudariam o

envelhecimento. Metchnioff, no ano de 1903, propôs a gerontologia e Nascher, em 1909,

introduziu a geriatria, ambas com o intuito de estudar aspectos do envelhecimento humano.

Porém, foi Stanley Hall quem criticou a visão negativa que estava se construindo sobre a

velhice no estourar da Primeira Guerra Mundial (1914 – 1918), concepção esta que surgiu

pela construção e aplicação de testes psicológicos, os quais afirmavam que “os indivíduos

13

tendiam a apresentar desempenhos piores, à medida que ficavam mais velhos” (NERI, 1995,

p. 18). Hall, também postulou sobre a variabilidade individual, destacando a relação entre

sabedoria e velhice e criticando a visão da adolescência como reverso da velhice.

Em 1928 ocorreram as primeiras pesquisas experimentais sobre a velhice,

investigando a aprendizagem, memória e tempo de reação. Contudo, tais resultados

contribuíram ainda mais para a visão que se criou na Primeira Guerra Mundial a respeito da

velhice. As conclusões dos experimentos ficaram em torno da incapacidade comportamental,

atribuída a fatores biológicos.

Charlotte Bühler se aprofundou nas investigações clínicas. Em 1935, deu um grande

passo para a Psicologia do Envelhecimento ao considerar que o desenvolvimento humano

acontece ao longo de toda a vida. Tal pensamento deu início a perspectiva de curso de vida.

Com a Segunda Guerra Mundial (1939 – 1945), o interesse pelo estudo do

envelhecimento aumenta na medida em que os adultos em idade produtiva foram dizimados

na Segunda Guerra Mundial; dessa forma, o recrutamento de soldados se deu com homens

mais velhos. Com isso, esta parcela da população tornou-se alvo de pesquisas por psicólogos

e sociólogos, assim como as mulheres idosas que também se tornaram maioria na época.

Em conjunto com esses acontecimentos, houve um significativo aumento na

população idosa em países, como Estados Unidos, França, Inglaterra e Alemanha devido,

entre outros motivos, à diminuição das taxas de natalidade e aos avanços da medicina em

relação à qualidade de vida da população.

Logo, houve uma intensificação nas pesquisas sobre o envelhecimento, enquanto que a

sociedade começou a procurar soluções para a velhice acerca da saúde, educação e segurança

social e os estudiosos aumentaram sua curiosidade a respeito do potencial do

desenvolvimento da velhice, com o avanço na boa qualidade de vida da população idosa.

A partir da Guerra Fria (1964 – 1991), os pesquisadores que estudavam a infância e

adolescência perceberam que a Psicologia do Desenvolvimento não dava respostas aos

fenômenos do envelhecimento acerca de seus aspectos sociais e de sua realidade subjetiva.

Pode-se pensar que, talvez, esses próprios estudiosos, que pesquisaram e escreveram sobre a

infância e adolescência, perceberam-se, também, em processo de envelhecimento, e que a

partir daí a questão do envelhecimento começou a despertar o interesse neles.

É nesse momento que surgem estudos empíricos sobre a velhice e que se formam

grupos de pesquisa longitudinal objetivando a vida adulta e a velhice, cujos temas giravam em

torno de questões femininas (climatério, saída dos filhos de casa, depressão, aposentadoria do

cônjuge), de bem-estar, satisfação na velhice, relações familiares, identidade, auto-estima,

14

autoconceito, senso de controle, entre outros. Dessa forma, estes pesquisadores foram

formando uma nova perspectiva do envelhecimento, a life-span.

Nos anos 90, surge, junto às pesquisas longitudinais e à criação da perspectiva life-

span, os primeiros manuais sobre a Psicologia do Envelhecimento e várias publicações

científicas sobre a vida adulta. Nesta mesma década, a área do envelhecimento vai se

caracterizar pela diversidade de temas, métodos e dados acrescidos da Psicologia, Sociologia

e Biologia.

Hoje, podemos afirmar que a Psicologia do Envelhecimento ainda é uma área

emergente que está em desenvolvimento. Ela se utiliza ainda de algumas idéias do século

passado, porém a perspectiva mais aceita, hoje, pelos psicólogos, antropólogos, sociólogos e

outros pensadores é a life-span ou a perspectiva do curso de vida. De acordo com Neri (1995),

essa perspectiva, repensa o envelhecimento como um processo em que os organismos vivos

sofrem através da transformação deles mesmos, após a maturidade sexual. Para os seres

humanos, esse processo ocorre em épocas diferentes para partes e funções do organismo,

sendo seu rítmo e velocidade variáveis de acordo com cada indivíduo. Tal processo “implica

na diminuição gradual da probabilidade de sobrevivência” (NERI, 1995, p. 27), e dessa

forma, provoca alterações na aparência, no comportamento, na experiência individual e nos

papéis sociais.

Ao longo da história dos estudos sobre o desenvolvimento, o envelhecimento foi

percebido de várias formas pelos estudiosos. Hoje, pode-se pensar que a visão que se tem do

processo de envelhecimento está mudando e muitos autores propõem essa mudança, no

sentido de considerar a velhice como pertencente ao desenvolvimento humano e não somente

pensada como um período de perdas e incapacidades.

2.2 A VISÃO SOCIAL DA VELHICE – ESTIGMA E ESTEREÓTIPO.

O estudo sobre a velhice há pouco tempo vem sendo investigado e muito pouco tem se

contribuído a respeito dos processos ocorridos nela e ao seu desenvolvimento. A discussão

sobre o que é velhice e o que se pensa sobre a velhice, ainda é precária e poucos autores se

15

propõem a enfatizá-la. Para discutir sobre a estereotipia da velhice, é necessário,

primeiramente, entender os conceitos de estereótipo e estigma.

De acordo com Goffman (1988, p. 13), estigma é “um tipo especial de relação entre

atributo e estereótipo (...)”. O estigma pode ser entendido como uma marca do sujeito que é

utilizada pelos outros, como forma de depreciá-lo. O estigmatizado é aquele que foge de um

padrão social determinante e que os outros “normais” da sociedade o estigmatizam por meio

de uma “linguagem de relações” (p. 13), de características que os normatizam e

desnormatizam.

O estigma, necessariamente, nos remete a um conjunto de características relacionadas

a essa marca do sujeito. A esse conjunto de características chamamos de estereótipo, o qual

nos diz sobre o indivíduo. Pode-se pensar que o estereótipo, geralmente desqualifica o seu

alvo, pois é carregado por uma série de “pré-conceitos” (conceitos concebidos a priori).

De acordo com Veloz, Schulze e Camargo (1999, p. 3) os estereótipos “são produzidos

pelas interações e comunicações no interior dos grupos sociais, refletindo a situação dos

indivíduos no que diz respeito aos assuntos que são objeto do seu cotidiano”.

Assim, estereótipo se caracteriza por um conjunto de opiniões, sentimentos, atitudes e

reações de determinados indivíduos de um mesmo grupo, mostrando rigidez e

homogeneidade. É produto das relações sociais, sendo uma supergeneralização em que nem

sempre é verdadeira para todos os sujeitos do mesmo grupo.

Simone de Beauvoir (1970 apud LOUREIRO, 1998, p. 19-20), afirma que velhice é

“um fenômeno biológico com reflexos profundos na psique do homem, perceptíveis pelas

atitudes típicas da idade não mais jovem nem adulta, da idade avançada”. Admitir a chegada

da velhice sempre foi, na sociedade, uma tarefa muito árdua. É comum surpreender-se com a

chegada dela, quando se percebe o passar do tempo e das experiências. É comum, também,

não aceitá-la, já que, para muitos a velhice está ligada à idéia do fim da vida, da proximidade

da morte, do sentimento de inutilidade.

Os conceitos de envelhecimento, em sua maioria, constituíram-se a partir de um

significado de velhice, o qual está ligado a esta mesma idéia do fim da vida, da sensação de

inutilidade, e talvez mais do que isso, a impossibilidade de se planejar um futuro distante. A

proximidade da morte, muitas vezes, traz insegurança ao idoso e junto com isso ele acaba

elaborado crenças equivocadas sobre o envelhecimento e o seu papel na sociedade, sem

refletir na possibilidade de otimizar esse tempo que lhe resta, ficando paralisado frente ao

medo e a incerteza.

16

As idéias que rodeiam o processo de envelhecimento foram construídas ao longo das

últimas décadas e foram transformadas em fundamentos e verdades absolutas. Ser velho nos

remete a vários significados. Hoje, em nossa sociedade ocidental, as representações em torno

da velhice se associam a experiência de finitude, o que para alguns indivíduos causa medo,

uma vez que a noção de morte coloca-os frente ao inesperado, ao incerto, do qual a própria

sociedade procura desviar-se, fundamentalmente, através das ciências. Com isso, o medo e a

insegurança que se construíram em torno da morte, podem dar base ao estereótipo da velhice.

Pode-se pensar também, na valorização que nossa sociedade atribui a vida, a qual tem

um significado muito importante para os indivíduos. A valorização excessiva do corpo jovem

e saudável, do viver bem e intensamente são reflexos dessa crença, do olhar sobre a vida e a

morte.

De acordo com Barros (2004), a velhice é entendida ou percebida com os olhos da

juventude. Ela é vista como um declínio, não é valorizada pela sociedade, já que representa o

ponto máximo do ciclo da vida. As capacidades físicas, mentais, do controle corporal e a de

produção como trabalhador, vão, em alguns casos, se perdendo com a idade. A aposentadoria,

como marco do envelhecimento, está associada à idéia de pobreza e, hoje, sabe-se que a

exclusão social se dá nas camadas mais pobres da população.

Sendo assim, podemos considerar que a velhice é estigmatizada; o ser velho é a marca

que ninguém quer ter; é a marca que foge da normalidade, do padrão social de saudável, belo,

bom, etc. Ser velho é ser um problema para a sociedade, um gasto a mais, uma preocupação

desnecessária.

Sais (1995, p. 9) afirma sobre esses estigmas criados a partir de crenças e opiniões que

realçam aspectos negativos nos idosos e que contribuíram para a construção de uma

concepção de envelhecimento, percebendo-o como problema a ser evitado ou ainda, preparar-

se para este, como alguns estudiosos afirmam sobre o “envelhecer bem”. O autor entende que

a questão a ser pensada não é a de se preparar para a velhice, mas sim para se enfrentar “o

mundo em direção ao futuro”.

Apesar de existirem tais estereótipos sobre a velhice, muitos autores propõem um

novo olhar sobre o processo de envelhecimento, uma nova visão do que pode ou, até mesmo,

deva ser a velhice. Debert (2004) propõe a reprivatização do que é “ser velho”.

Como mostra Debert (2004), a visão de que a velhice é um processo caracterizado por

perdas e dependências contribuiu na formação da imagem negativa do processo de

envelhecimento; porém, este estigma legitimou os direitos sociais como, hoje, é a

17

aposentadoria, o qual todos têm direito. A reprivatização se insere nesse momento incluindo a

velhice como, também, objeto da responsabilidade social.

A idéia sobre a velhice como um processo de perdas e todos os demais estereótipos

criados, tendem, hoje, a serem revistos pela sociedade e substituídos pela concepção de que

ser velho representa um momento de busca por novas conquistas gerenciadas pelo prazer e

satisfação pessoal. Essa reprivatização da velhice não dá subsídios para enfrentar a decadência

das habilidades cognitivas e dos controles físicos e emocionais. Entretanto as conquistas

através das experiências inovadoras e bem-sucedidas proporcionam o desaparecimento das

situações de abandono e dependência, contribuindo para esse novo olhar sobre a velhice.

2.3 SISTEMA DE GARANTIA DE DIREITOS DO IDOSO.

2.3.1 Conselhos Paritários: A participação social e democrática como garantia dos

direitos.

Os Conselhos Paritários surgem na década de 80 em função do fim da ditadura no

Brasil e com os protestos das “diretas já”. Tais conselhos propunham a participação da

sociedade civil na política do País. Legalizado pela Constituição de 1988 e regulamentado

pela Lei Orgânica de Assistência Social de 1993, os Conselhos Paritários têm a intenção ou

propósito de se constituir uma via de acesso à participação cidadã para o exercício da gestão

democrática das políticas de assistência social. Os Conselhos Paritários são órgãos de caráter

deliberativo, normativo e fiscalizador que visam uma sociedade mais inclusiva e justa, onde a

própria sociedade civil possa reivindicar, fiscalizar e contribuir, por meio de preceitos

constitucionais, seus direitos e também participando na criação e na implantação de políticas

públicas.

Os conselhos contribuem para o estabelecimento de novos fóruns de participação e

também se concretizam como órgãos que possibilitam uma nova mediação entre o Estado e a

sociedade civil. Para que isso ocorra da melhor forma possível, é necessário que se repense a

18

questão da participação social. Campos (1995) propõe esta reflexão quando afirma que a

participação deve ser compreendida como um processo histórico, a qual se realiza em um contexto sócio-econômico político e cultural complexo, constituído de subjetividades e estruturas solidificadas, construídas a partir da correlação de forças que atuam na sociedade. (CAMPOS, 1995, p. 9).

Pode-se pensar, então, a participação não só da classe marginalizada, mas também

refletida em todas as camadas sociais, sendo vista como uma questão social e não só política,

possibilitando a todos os cidadãos o direito à decisão e ao usufruto dos bens sociais

produzidos. Para, além disso, perceber a participação como um meio de mobilizar e dinamizar

os recursos e as situações.

Para que a proposta do Conselho Paritário funcione em nossa sociedade, vê-se

necessário um novo fazer político democrático, envolvendo uma participação deliberativa

social, excluindo as práticas políticas voltadas para a elite. A democracia elitista, como afirma

Schumpeter (1984 apud SELL, 2005), caracteriza-se por um acordo institucional, em que os

indivíduos adquirem o direito de decidir, na luta pelo voto. Porém, acredita-se que esta visão

simplista da democracia proporciona as elites liderar a sociedade, pelo direito ao voto que os

cidadãos possuem. Dessa forma, exclui-se o cidadão comum das práticas sociais do meio em

que vivem. Pensa-se que tal proposta política choca-se com a idéia funcional dos Conselhos

Paritários, que é o da participação cidadã.

Uma democracia participativa deliberativa social cabe muito mais com as

competências propostas pelos conselhos. Tal forma democrática do fazer político envolve a

participação dos indivíduos e das instituições, as quais são criados mecanismos para a

discussão e participação da sociedade civil, como conceitua Sell (2005). Portanto, concorda-

se com Campos (1995) quando afirma que cabe ao conselho o papel de mediador entre

sociedade civil e Estado. Porém, a participação da sociedade civil não deve ser apenas a de

fiscalizar e reivindicar, mas também a de contribuir com as praticas das políticas públicas e da

responsabilidade social, aplicando-se como o papel do cidadão.

O Conselho Municipal do Idoso de Florianópolis é um órgão colegiado, permanente e

de composição paritária entre Governo e sociedade civil. Foi criado pela Lei Municipal nº

5.371 de 1998 e amparado pelo Estatuto do Idoso, Lei nº 10.741 de 2003. Tem por

responsabilidade a deliberação da Política Municipal do Idoso de Florianópolis e controle das

ações na referida área.

O Conselho Municipal do Idoso de Florianópolis tem por objetivo, primeiramente,

como órgão deliberativo, decidir e definir diretrizes e outras questões relacionadas à política

19

de atendimento e defesa dos direitos do idoso; como órgão normativo, estabelecer normas que

oficializem decisões e disciplinem a política de atendimento e defesa dos direitos do idoso; e,

por último, como órgão fiscalizador, controlar a execução da política de atendimento ao idoso

dos OG’s e ONG’s que constituem e disponibilizam a rede de serviços e recursos destinados à

área ou segmento populacional.

Constituído por representantes de órgãos governamentais e não-governamentais, o

Conselho Municipal do Idoso de Florianópolis é composto por oito representantes de OG’s e

oito representantes de ONG’s, somando um total de dezesseis membros.

Hermany, Reck e Stein (2005) afirmam que os conselhos paritários têm a incumbência

de solucionar uma série de problemáticas, tais como:

1. fazer a mediação entre a coletividade e a “vontade ou poder que a unifica” (p. 121);

2. exprimir a duração desse poder acima das considerações de mudanças dos indivíduos

nele investidos;

3. explicar a transformação das vontades individuais dos governantes e outros do poder

político em vontades políticas;

4. auxiliar a compreensão do fenômeno da divisão do poder político, por meio de órgãos

com suas determinadas competências;

5. permitir resolver problemas da ordem da responsabilidade.

Porém, os conselhos também trazem uma série de problemas a serem discutidos.

Primeiramente, pode-se considerar que a separação entre atos de soberania e atos

administrativos fica cada vez mais tênue. Segundo, mostra-se o mito do desligamento das

pessoas e dos argumentos de base (comunicações, leis e atos administrativos) que aos poucos

envelhecem, ou seja, a problemática dos Conselhos gira em torno da questão subjetiva, dos

interesses e opiniões pessoais dos representantes que, muitas vezes, se confundem com as

questões da realidade social. Até que ponto esses interesses, postos em discursos que

prometem ajuda assistencialista, estão pautados na verdadeira necessidade e carência da

população? Até onde esses interesses são da ordem das políticas públicas?

Os conselhos paritários, mais do que promoverem projetos e programas, mostrando-se

como provedores de algo que já é de direito da sociedade em geral, devem trabalhar pela

garantia desses direitos que são de todos os cidadãos, não importando a classe, etnia, gênero,

idade, etc. e oportunizando o acesso a outros tipos de benefícios e serviços, além do que já é

de direito do cidadão.

20

2.3.2 Políticas Públicas – A reinserção social do idoso como prática da Psicologia Social.

De acordo com Ritt (2005), de nada adianta elaborar análises e reflexões acerca da

dignidade do idoso, do Estatuto do Idoso como um micro-sistema de garantia de direitos, se

não construirmos políticas públicas para a promoção da inclusão social do idoso.

Contudo, pensa-se que o trabalho das políticas públicas na promoção da inclusão

social do idoso deve passar pelo processo de interação com as outras “camadas sociais”

(crianças, adolescentes, adultos, homens e mulheres), no sentido de promover a todos uma

resignificação do que é “ser velho”, do processo de envelhecimento, com o intuito de

desestigmatizar a visão pré-concebida da velhice.

O que ocorre atualmente com os projetos e programas de assistência psicossocial,

sócio-educativos, de desenvolvimento de atividades físicas e recreativas, e de defesa e

proteção dos direitos, voltados para idosos, é que acabam dando continuidade e

proporcionando a segregação dessa camada da população, aumentando os estigmas,

estereótipos e pré-conceitos sobre a velhice.

É nesse espaço que o psicólogo se insere como promotor do bem-estar social,

utilizando-se de seu instrumentário nas políticas públicas, auxiliando na construção de um

novo pensamento, uma nova visão na sociedade a respeito do envelhecimento e não

segregando as diversas camadas sociais. Produzindo conhecimentos e intervenções que

beneficiem a mesma.

Segundo Souza (2006), as práticas das políticas públicas envolvem uma série de

elementos, como:

1. distinção entre o que o Estado propõe-se a fazer e o que realmente faz;

2. existência de um envolvimento de atores e níveis de decisão, porém sendo

materializada pelo do Estado e não se restringindo somente aos participantes formais;

3. abrangência, não se limitando a leis e regras;

4. ação dotada de intencionalidade, que deve alcançar objetivos;

5. política de longo prazo, embora tenha impactos a curto prazo;

6. implementação, execução e avaliação, e não somente decisão e proposição.

As políticas públicas são, vistas, na maioria das vezes, de várias formas: mecanismos

de manutenção da força, conquista dos trabalhadores, arranjo no bloco do poder, doação das

elites, instrumento que garante o aumento de riquezas ou direitos do cidadão. (FALEIROS,

21

1986). Porém, nunca são vistos como um direito, o qual os cidadãos possuem, mas sim como

um auxílio a mais do que já é de direito.

O que vemos nos programas ou projetos elaborados para os cidadãos é que se dirigem

a favor de um benefício (no sentido de doação) ou um serviço. “O benefício consiste num auxílio dado em certos casos específicos de perda ou diminuição da capacidade de trabalho a fim de garantir um mínimo de subsistência ao trabalhador ou ao pobre desempregado. O serviço é uma relação entre uma instituição e uma clientela para atender problemas sociais”. (FALEIROS, 1986, p. 10).

Com isso, pode-se entender que tais práticas são baseadas no assistencialismo, a

serviço da doação, benefício de forma a cessar a necessidade imediata (a curto prazo) da

sociedade.

Porém, muitas vezes, a prática da assistência está introduzida nas políticas públicas

como uma forma para resolver ou dar solução aos problemas sociais. (SPOSATI et. al., 1998).

Sposati (1998, p. 29) também afirma que o assistencial acaba favorecendo a exclusão social

na medida que “mantém o trabalhador na condição de assistido, beneficiário ou favorecido

pelo Estado e não usuário, consumidor e possível gestor de um serviço a que tem direito”.

Porém, a mesma autora mostra um paradoxo nesse processo que ao excluir a prática social

acaba incluindo também, no sentido de atender as necessidades sociais. Dessa forma, a autora

considera essa inclusão como sendo dos interesses da força de trabalho. Entendendo que esta

acaba por beneficiar tanto a classe dominante – a qual adquiri a força de trabalho – quanto a

classe subalternada – a qual consegue o acesso a benefícios e serviços que lhes são negados

por outros meios – já que atende os interesses e reivindicações de ambos.

Nesse sentido, acredita-se que as políticas públicas devem promover auxílios e

serviços voltados para a educação, orientação social, saúde, ajuda jurídica, assistência, etc.

As práticas das políticas públicas devem, além de auxiliar, beneficiar e dar assistência,

promover o crescimento social a longo prazo, abranger todas as camadas sociais, garantir os

direitos e o bem-estar social.

O Estatuto do Idoso é um meio de garantia de direitos que auxilia na assistência

psicossocial (prática da política pública) ao idoso e que está destinado aos direitos

assegurados às pessoas com idade igual ou superior a sessenta anos. Compreende, ainda,

cinco tópicos relacionados aos Direitos Fundamentais, às Medidas de Proteção, à Política de

Atendimento, o Acesso a Justiça e aos Crimes em Espécies.

Os Direitos Fundamentais do Idoso garantem:

- direito à vida: envelhecer saudavelmente, protegido pelo Estado, por meio de políticas

sociais e públicas;

22

- liberdade, respeito e dignidade: liberdade de locomoção, participação na família e na

comunidade, opinião e expressão, crença religiosa e busca de refúgio ou orientação;

- alimentos: direito à alimentação como obrigação solidária dos familiares ou sendo

obrigação do Estado, quando a mesma não puder provê-los;

- saúde: atenção integral pelo SUS, incluindo tratamento, prevenção, reabilitação,

fornecimento de medicamentos gratuitamente, atendimento geriátrico, gerontológico e

domiciliar (para idosos impossibilitados de locomoção), tendo direito a acompanhante,

sendo proibida a discriminação, entre outros;

- educação, Cultura, Esporte e Lazer: acesso à educação (Ensino Primário,

Fundamental, Médio e Superior), acesso ao esporte, à cultura e ao lazer (50% de

desconto), entre outros;

- profissionalismo e trabalho: vedada a discriminação quanto à idade, respeito as

condições físicas e psíquicas, entre outros;

- Previdência Social: direito à aposentadoria por idade, com benefício mínimo de um

salário;

- Assistência Social: benefício do LOAS, a partir dos 65 anos, entre outros;

- habitação: moradia digna, em que as instituições devem cumprir o padrão mínimo de

moradia, entre outros;

- transporte: transporte coletivo urbano e semi-urbano gratuito para maiores de 65 anos,

o transporte interestadual deve garantir duas vagas gratuitas para idosos por veículo e

o desconto de 50% na passagem para idosos com renda de até dois salários mínimos,

entre outros;

As Medidas de Proteção têm como intuito a defesa do idoso na violação de seus

direitos pela ação ou omissão da sociedade ou do Estado, cabendo ao Ministério Público a

intervenção imediata para proteção do idoso em estado de risco.

A Política de Atendimento ao Idoso visa a garantia das políticas sociais básicas, assim

como o atendimento às vítimas de negligência, violência, maus-tratos, exploração, abuso,

crueldade e opressão, cabendo à União, ao Estado, ao Distrito Federal, aos Municípios e às

ONG’s articularem entre si ações garantindo tais medidas.

O Acesso à Justiça deve ser garantido na tramitação de processos e procedimentos, no

qual o idoso faz parte ou é interventor, sendo também prevista a criação de varas

especializadas e exclusivas para o idoso.

Nos Crimes em Espécie são tipificadas as condutas lesivas aos direitos do idoso,

variando a pena entre seis meses a um ano de detenção ou reclusão e multa. Em alguns casos

23

mais graves, onde ocorre lesão corporal grave, a reclusão é de um a quatro anos; no caso de

morte, a reclusão passa a ser de quatro a doze anos. Outros crimes como: desvio de bens,

negação de acolhimento, retenção de cartão magnético de conta bancária, exibição de

informações ou imagens depreciativas, indução ou outorga de procuração para administração

ou disposição de bens, coação do idoso a doar, contratar, testar ou outorgar procuração, lavra

de ato notorial que envolva idoso sem discernimento, impedimento ou embaraço de ato do

Ministério Público ou de outros agentes fiscalizadores, a pena fica entre multa ou reclusão de

seis meses a cinco anos.

Para uma discussão clara dos objetivos desta pesquisa, o artigo 4º da Lei nº

10.741/2005 (Estatuto do Idoso, p. 10) afirma que “Nenhum idoso será objeto de qualquer

tipo de negligência, discriminação, violência, crueldade ou opressão, e todo atentado aos seus

direitos, por ação ou omissão, será punido na forma da lei”.

Considerando a elaboração de um Estatuto que protege o idoso, pode-se entender que

tal criação surgiu da necessidade ou demanda de uma lei mais rígida em defesa do idoso.

Entende-se, também, por dados estatísticos, que a violência, negligencia e todos os atos

cometidos contra o idoso aumentam e aparecem cada vez mais, hoje, em nosso País,

necessitando de um melhor entendimento sobre o processo que se tem tomado acerca das

práticas do atendimento psicossocial dessa camada da população.

2.3.3 Violência Contra Idosos

Na língua Portuguesa, a palavra violência significa constranger físico ou moralmente,

usar a força, a coação, contrapor a justiça, negar o direito do outro de se manifestar

livremente, etc.

A violência é “um elemento estrutural, intrínseco ao fato social e não o resto

anacrônico de uma ordem bárbara em vias de extinção”. (GAUER, 2005, p. 13). Ela é

considerada um fenômeno social, parte de todas as civilizações.

De acordo com Minayo (1994), hoje, sabe-se que a violência não é da natureza

humana, nem tem raízes biológicas. Ela se caracteriza como um fenômeno biopsicossocial,

criada e desenvolvida no próprio meio social. Assim, a violência está ligada direta e

24

indiretamente aos problemas políticos, econômicos, morais, do Direito, da Psicologia, das

relações humanas e institucionais, e individuais.

Acredita-se que a violência também se constitui a partir das relações de poder, sendo

uma forma de relação. Para Foucault (1994, p. 709), as relações de poder “têm uma extensão

extremamente ampla nas relações humanas”, ou seja, as relações humanas podem se

estabelecer através do poder, da dominação; e a violência se constitui como uma forma de

poder, dominação sobre o outro. Porém, este outro “dominado” não está passivo nesta relação,

pois a violência não se dá somente por esta via (sujeito-sujeitado), mas sim pelos jogos de

verdade que são estratégias e táticas de poder que estão nas diferentes práticas sociais,

validando tais práticas, ações e discursos como verdades absolutas.

Minayo (1994) afirma que, hoje, a violência pode ser classificada em três tipos:

1. a violência estrutural - corresponde à violência do comportamento, aplicando-se a

estruturas organizadas e institucionalizadas da família, dos sistemas econômicos,

culturais e políticos, caracterizada pela opressão;

2. a violência de resistência - maneira como os grupos, classes, nações e indivíduos

oprimidos, pela violência estrutural, respondem a ela;

3. a violência da delinqüência - ações não reconhecidas pela lei, confrontando os

indivíduos uns com os outros e, também, os corrompe e os incita ao delito.

No Brasil e no mundo, a violência contra o idoso aparece nas relações entre ricos e

pobres, entre gêneros, raças e grupos de idade; nas esferas do poder político, institucional e

familiar. O tratamento contraditório em relação à velhice – visão negativa do envelhecimento,

sendo o velho aquele que não produz, e a visão positiva que considera o idoso como um

indivíduo dotado do saber devido a sua longa história e experiência, o qual tem a contribuir

nas famílias e na sociedade – acaba criando mitos e segregando mais ainda esse grupo etário.

(MINAYO, 2003).

Segundo a autora a violência contra o idoso pode se manifestar de três formas.

A violência estrutural ocorre pela desigualdade social, naturalizada nas

manifestações da pobreza, da miséria e da discriminação. Pode-se, também, considerar os

idosos, junto com as crianças, os grupos mais vulneráveis pelas suas limitações, pelas

injunções das histórias de perdas e por problemas de saúde e de dependência. Também,

podemos considerar como fazendo parte da violência estrutural, as questões da vida urbana e

os riscos presentes na atualidade face a circulação dos idosos pela cidade, desde o design dos

ônibus aos comportamentos desrespeitosos e insensíveis do restante da população.

25

A violência interpessoal está ligada às relações e interações cotidianas. É mais

aparente nas famílias que cuidam de seus idosos, onde surgem os abusos e as negligências,

muitas vezes, cometidos por filhos, netos ou cônjuges.

A violência institucional ocorre na aplicação ou omissão na gestão de políticas

sociais pelas instituições de assistência. Muitas vezes, os serviços prestados são executados de

forma impessoal e discriminatória, o que causa sofrimento aos idosos. Este tipo de violência

também aparece nas entidades (asilos e clínicas), onde os idosos são maltratados,

despersonalizados e destituídos de qualquer poder e vontade.

De acordo com a Rede Internacional de Prevenção contra os Maus-Tratos em Idosos

(INPEA, 1998 apud MACHADO; QUEIROZ, 2003), as categorias e tipos de violência contra

idosos são:

1. Maus-tratos:

a) físicos: uso da força física, produzindo lesões, feridas, dores ou incapacidades;

b) psicológicos: causar dor, angústia, humilhação e privação social por expressões

verbais e não-verbais, e gestuais.

2. Abusos:

a) financeiro ou material: exploração imprópria ou ilegal e/ou não-consentido dos

recursos financeiros do idoso;

b) sexual: ato ou jogo sexual de caráter homo ou hetero-relacional não-consentido

pela pessoa idosa.

3. Negligência: recusa ou omissão dos cuidados devidos e necessários ao idoso por

familiares ou instituições.

4. Abandono: ausência ou deserção por parte dos responsáveis (Governo, instituição ou

família) a prestarem socorro ao idoso em risco.

5. Auto-abandono ou auto-negligência: ato cometido pelo idoso de ameaça a própria

saúde e/ou segurança.

Segundo Machado e Queiroz (2003) e reafirmando o que Minayo (1994) se refere, a

violência cometida em todas as classes, faixas etárias, etnias, etc. está relacionada a uma série

de fatores, como os problemas macroestruturais, institucionais, relacionais, políticos e de

classes, o que ocasiona sentimentos fortes de inseguranças, trazendo à tona o individualismo,

promovendo a exclusão social e dificultando a cidadania.

Tais autores criticam, em relação à violência contra o idoso, a pequena atuação e

presença das políticas públicas de assistência social e saúde, que se encarregam de atender às

necessidades dessa camada da população que cresce e vive cada vez mais. A partir disso, os

26

idosos, consequentemente, passam a ser um “peso” para as famílias que, muitas vezes,

possuem dificuldades financeiras e sociais, assim como, na maioria dos casos, o despreparo

dos profissionais da área da saúde e do social que não sabem lidar com a situação de violência

contra o idoso.

Acredita-se ser necessária uma reflexão acerca das violências cometidas contra os

idosos. Esta reflexão se dá também pela não vitimização destes, já que pensa-se a violência

como uma forma da relação de poder que está constituída pela interação interpessoal e pelos

jogos de verdade. A prática discursiva valida a velhice como um período em que o sujeito se

mantém passivo, o que corrobora com as situações de violência.

Também se faz necessário uma reflexão quanto às práticas das políticas sociais e

públicas existentes em nosso país, que, cada vez mais, se pautam na prática do

assistencialismo, se perdendo no real propósito de tais políticas e, consequentemente

vitimizando o idoso e colocando-o numa postura passiva.

Percebe-se que a prática da psicologia voltada ao social vem muito em função da

desmistificação e reflexão a respeito das políticas sociais e públicas. Pensar o agir e pensar o

pensar, como afirma Santos (2001), mostra-se necessário para que possamos compreender e

intervir sobre a violência, pondo em prática através de pequenos atos e ações que contribuam

para um processo de mudança e aprendizado da sociedade em geral.

27

3 METODOLOGIA

3.1 TIPO DE PESQUISA

Esta pesquisa se caracterizou por qualitativa do tipo exploratória. “A abordagem

qualitativa aprofunda-se no mundo dos significados das ações e relações humanas, um lado

não perceptível e não captável em equações, médias e estatísticas” (MINAYO, 2004, p. 22),

ou seja, responsabilizou-se pelo que não pôde ser quantificado pelos processos e fenômenos

(crenças, valores, atitudes, aspirações, motivos, entre outros) incapazes de serem reduzidos

em meras operacionalizações de variáveis. Dando um enfoque dialético, esta pesquisa, de caráter qualitativo, investigou os

sistemas de relações construídas, à maneira como se dá o conhecimento exterior ao sujeito e

às representações sociais que mostram a rede de significados estabelecidos. Dessa forma,

conseguiu-se compreender o fenômeno e desvendar sua relação com o todo, assim como a

interioridade e exterioridade como partes constituintes dos fenômenos. Logo, o fenômeno

social pôde ser compreendido “nas suas determinações e transformações dadas pelo sujeito”

(MINAYO, 2004, p. 25).

De acordo com Rey (2002, p. 1), o método qualitativo “constitui via de acesso a

dimensões do objeto inacessíveis ao uso que em nossa ciência se tem feito do quantitativo”. O

qualitativo deu base ao contato com o indivíduo e proporcionou a elaboração de reflexões

parciais sobre o objeto pesquisado, assim como teve capacidade de sustentar novas visões

acerca do conhecimento nas ciências sociais, o que auxiliou o pesquisador a ter acesso a

novas percepções sobre o pesquisado.

O grau da participação no ambiente pesquisado foi de uma interação no sentido de se

trocar informações a respeito das práticas de políticas públicas, planejamento e implantação

de projetos, fiscalização das entidades e órgãos, processo de denúncia da violência e

articulação com a Psicologia. Foi revelado aos participantes da pesquisa a identidade do

pesquisador, como também os objetivos deste estudo, o que facilitou, dessa forma, o acesso às

informações e disponibilizou uma gama mais variada e enriquecida destas.

28

3.2 AMOSTRA

A amostra abrangeu alguns órgãos e instituições governamentais que atendem idosos

no Município de Florianópolis. Nesta amostra estão incluídos o Conselho Municipal do Idoso,

a Gerência de Atenção ao Idoso e o Conselho Municipal de Assistência Social, todos

localizados na Secretaria Municipal de Assistência Social. Em cada órgão e/ou instituição foi

entrevistado um representante do local que estava a par de todo o funcionamento do mesmo

(atendimento, projetos, políticas, serviços, fiscalização e profissionais).

3.3 INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS

O instrumento para a pesquisa foi a entrevista semi-estruturada que consistiu em um

esquema básico de questões, porém não aplicado rigidamente. Assim, permitiu ao pesquisador

fazer ajustes necessários, acrescentando ou retirando questões de acordo com a demanda da

entrevista. Com a entrevista semi-estruturada teve-se a vantagem das informações serem

captadas imediatamente, o qual se pôde, na medida do possível, serem abordados assuntos

estritamente pessoais, delicados, complexos e aprofundado pontos relevantes, que os

questionários não permitem. Também foi utilizado um diário de campo, o qual contemplou

observações do campo, teóricas, metodológicas, genéricas e notas.

Foram estabelecidos dois roteiros que continham de seis a sete questões norteadoras

do tema, o qual pôde constar perguntas incluídas, excluídas ou modificadas, variando de

acordo com o processo da entrevista. O Roteiro A destinou-se a órgãos e/ou instituições

fiscalizadoras (CMI e CMAS). O Roteiro B destinou-se aos demais órgãos e/ou instituições

definidos (GAI).

29

3.4 PROCEDIMENTOS

Primeiramente, fez-se contato com o responsável de cada órgão e instituição definida

na amostra, em que o pesquisador foi diretamente no local, identificou-se, explicou o

propósito do projeto e verificou a disponibilidade de algum representante para entrevista que

estivesse a par de todo o funcionamento do local e, então, marcou-se data e hora para realizá-

la. A entrevista foi realizada individualmente com este representante do órgão e/ou

instituição, em espaço reservado no próprio local (com exceção da GAI que, a pedido do

próprio órgão, duas responsáveis participaram da entrevista), em que foi utilizado gravador,

com a autorização dos entrevistados e com os devidos procedimentos éticos, para melhor

captar o conteúdo das entrevistas. Como procedimento obrigatório, antes da entrevista, o

sujeito assinou o termo de consentimento, em que se propôs a participar desta, aceitando o uso

de gravador e ainda que ele poderia, a qualquer momento, desistir da entrevista, deixando

claro que suas informações não mais seriam utilizadas no projeto.

3.5 TÉCNICA DE ANÁLISE DE DADOS

Primeiramente, foi realizado um fluxograma que expressou as relações entre os órgãos

e as instituições pesquisados, o que garantiu uma melhor visualização das dinâmicas entre

órgãos e instituições e da funcionalidade das mesmas. O fluxograma é um tipo de diagrama, e

pode ser entendido como uma representação esquemática de um processo, muitas vezes feito

por gráficos que ilustram de forma descomplicada a transição de informações entre os

elementos que o compõem. Podemos entendê-lo, na prática, como a documentação dos passos

necessários para a execução de um processo qualquer, neste caso, o processo de articulação

entre órgãos e instituições envolvidas com a operacionalização do Estatuto do Idoso em

situações vigentes em suas realidades práticas.

A análise de conteúdo das entrevistas auxiliou na compreensão deste fluxograma na

medida em que, de acordo com Minayo (2004), a análise de conteúdo passa a ser um conjunto

30

de instrumentos metodológicos que se aplicam a “discursos” extremamente diversificados.

Como objetivo, consistiu na manipulação de mensagens (conteúdo e expressão desse

conteúdo), para evidenciar os indicadores que permitiram inferir sobre uma outra realidade

que não a da mensagem proferida durante a entrevista.

Como Minayo (2004) propõe, a análise de conteúdo desta pesquisa passou por duas

funções na aplicação desta técnica. Primeiro, verificou-se hipóteses e/ou questões – que pôde

respondê-las, confirmando ou não tais hipóteses – e segundo, o que estava por trás do

conteúdo manifesto – o que possibilitou descobrir o conteúdo latente.

Para a análise de conteúdo, assim como Minayo (2004) propõe, foi definido as

unidades de registro – elementos adquiridos por meio da decomposição do conjunto da

mensagem, o qual, nesta pesquisa, constituiu-se por meio da oração -; e as unidades de

contexto, que pôde definir o contexto em que a mensagem fez parte. Após isso, partiu-se para

a elaboração das categorias.

Categoria “se refere a um conceito que abrange elementos ou aspectos com

características comuns ou que se relacionam entre si”. (MINAYO, 2004, p. 70). Utilizou-se as

categorias quando estabeleceu-se classificações, agrupando elementos, idéias ou expressões a

respeito de um conceito que seja capaz de abranger tais agrupamentos. Nesta pesquisa as

categorias foram estabelecidas a partir da coleta de dados, pois considerou-se que estas

passariam a ser mais específicas e concretas.

Para se estabelecer as categorias, foram utilizados, como Minayo (2004) descreve, três

regras para a classificação. A primeira foi estabelecer as categorias de acordo com um único

princípio de classificação. A segunda considerou que o conjunto de categorias teve que

permitir a inclusão de qualquer outra resposta a uma das categorias. A terceira estabeleceu

que as categorias deveriam ser mutuamente exclusivas, sendo que uma resposta não pode

caber em mais de uma categoria.

Baseado em Minayo (2004), a análise de conteúdo deste projeto foi realizada em três

fases.

A primeira fase, denominada de pré-análise, se caracterizou pela organização do

material a ser analisado, neste caso, as entrevistas realizadas. É nesse momento que foram

definidos a unidade de registro, a unidade de contexto, trechos significativos da entrevista e as

categorias. Na segunda fase, exploração do material, aplicou-se o que foi definido

anteriormente (na primeira fase). A terceira fase, tratamento dos resultados obtidos e

interpretação, caracterizou-se pelo trabalho em relação ao deciframento do conteúdo

subjacente ao que foi manifesto nas entrevistas.

31

Nesta pesquisa foi utilizado, também, o método hermenêutico-dialético que Minayo

(2004) cita. Assim, no processo da análise de conteúdo das entrevistas, a fala dos atores

sociais (entrevistados) foi situada no contexto em que tais atores estão inseridos para que se

possa melhor compreendê-los.

Ao final desta pesquisa, nenhum resultado foi considerado como uma verdade absoluta

da realidade que, aqui, propôs-se investigar. É posto que tais resultados foram vistos como

contribuições para futuros estudos e aplicação das práticas de atendimento psicossocial à

idosos vítimas de violência, já que, no campo da ciência, as afirmações estabelecidas podem

ser superadas ou aperfeiçoadas por outras afirmações futuras.

3.6 ÉTICA E PESQUISA

Acerca da ética e pesquisa, Gontijo (1997) traz uma interessante reflexão a respeito

das ciências que podem ser vistas como partes de um todo (universo, mundo), o qual tenta

explicar este todo de forma absoluta.

O autor traz a problemática do “conflito de mentalidades” em que se contrapõem

técnica e ética, onde existe a confusão metodológica causada por variadas espécies de

imperialismo de critérios de verdade, as quais tentam aplicar a todas as situações da vida

aquilo que se caracteriza como empiricamente verificável, ou de sínteses demasiado

apressadas, sendo uma tendência das ciências em assumirem-se como visões de mundo,

considerando o todo a sua ordem particular de verdade. (GONTIJO, 1997).

Desse ponto de vista, a crítica é feita em relação ao equívoco de alguns pesquisadores,

quando, apressadamente, tentam explicar o todo (universo, fenômeno, etc.) com verdades

consideradas absolutas, porém a parte (ciências) ainda não tem a capacidade de trazer à tona

uma verdade absoluta sobre o todo, mas pode contemplar uma verdade ou várias sobre este.

Pode-se considerar, então, que cada parte possui uma perspectiva, um modo de “olhar” sobre

as coisas; querendo ou não, é um “olhar” subjetivo que pode cair no equívoco de se considerar

absoluto, excluindo outros “olhares”, outras perspectivas.

Dessa forma, esta pesquisa, seguindo princípios do discurso ético, não buscou uma

verdade absoluta e, sim, uma das verdades possíveis, de acordo com uma perspectiva, com

uma forma de “olhar” o fenômeno dentre as demais existentes. Porém, tem-se claro que tal

32

verdade a ser desvendada ou reafirmada está inteiramente capacitada para se articular com

outras possíveis verdades referentes a outros modos de perspectiva, outros modos de “olhar” o

mesmo fenômeno.

Sobre os cuidados éticos com seres humanos, esta pesquisa baseou-se na Resolução do

Conselho Nacional de Ética em pesquisa (CONEP), que esclarece normas acerca do cuidado

ético na pesquisa com seres humanos.

Esta pesquisa somente foi realizada com o livre e esclarecido consentimento dos

sujeitos, de acordo com o Termo de Consentimento (em anexo), tratados sempre com

dignidade e respeito, de modo a garantir proteção aos indivíduos vulneráveis; comprometeu-

se com o máximo benefício e o mínimo risco; evitou-se danos e colocando-os sempre a par

dos objetivos da pesquisa. Suas identidades foram preservadas e, a qualquer momento, o

sujeito podia desistir da participação.

Como devolutiva, será elaborado uma relatório para os órgãos que participaram da

pesquisa, informando os aspectos importantes encontrados nesta e considerações relevantes

sobre os dados encontrados. Este relatório será entregue “em mãos” a cada participante da

entrevista, após a banca examinadora ter aprovado a pesquisa e ter feito as devidas alterações

propostas pela mesma.

33

4 RESULTADOS

4.1 CARACTERIZAÇÃO DO CAMPO

A ida ao campo iniciou-se com uma visita aos locais estabelecidos anteriormente para

conhecimento e apresentação aos responsáveis por cada órgão. Primeiramente, foi informado

sobre o projeto e a proposta de pesquisa e pedido autorização para a entrevista, sendo

marcados data e horário para a realização desta.

O CMI foi o primeiro órgão a participar da entrevista e aceitou o uso do gravador se

prontificando em fornecer materiais de acordo com a necessidade do pesquisador. O CMI é

um órgão governamental de composição paritária entre sociedade civil e Estado, deliberativo,

normativo, fiscalizador e consultivo, responsável, de acordo com o Estatuto do Idoso, pela

formulação, acompanhamento, inscrição, fiscalização, proposição, aprovação de políticas

públicas e a execução das mesmas; zelar a descentralização político-administrativa e

incentivar a participação do idoso e das instituições na formulação de políticas, planos,

programas e projetos de atendimento ao idoso; dentre outras competências.

O CMAS também aceitou participar da entrevista e permitindo, da mesma forma, o

uso de gravador. O CMAS é um órgão governamental de composição paritária entre

sociedade civil e Estado, caracterizando-se como deliberativo, normativo, fiscalizador e

consultor, sendo responsável pela aprovação, acompanhamento e controle da execução da

PMAS; zelo pela efetivação do SUAS; regulação dos serviços, tanto público como privado,

voltados para a assistência social; inscrição e fiscalização das instituições de assistência

social.

A GAI, também outro participando da pesquisa, autorizou o uso de gravador na

entrevista. Este órgão se constitui como órgão governamental criado a partir da estruturação

da SEMAS. Tem por função viabilizar a inserção e/ou permanência do idoso na vida familiar

e comunitária e o envelhecimento saudável, por meio da elaboração e execução de política,

projetos e programas que atendam ao idoso.

34

4.2 FLUXOGRAMA

O fluxograma abaixo representa a dinâmica e a relação entre os órgãos que

participaram da pesquisa. Todos eles interagem entre si acerca da gestão de políticas públicas

e da fiscalização das instituições. Todos os programas, projetos e instituições que atendem ao

idoso devem estar inscritos no CMI, assim como, os que prestam serviço de assistência social

devem estar inscritos no CMAS. Dessa forma, os programas e projetos da GAI (inclusive a

própria Gerência) estão inscritos no CMI e alguns outros que são voltados à assistência social,

no CMAS. O CMI, órgão obrigatório, previsto pelo Estatuto do Idoso, auxilia a GAI a

formular projetos voltados à atenção do idoso. A relação do CMI e do CMAS se dá por meio

do financiamento das políticas públicas pelo Fundo de Assistência Social. Para isso, o CMI

deve enviar tais políticas para aprovação do CMAS.

35

4.3 QUADROS DE CATEGORIAS

O quadro abaixo apresenta oito categorias que foram estabelecidas a partir das

entrevistas realizadas nos três órgãos. Cada quadro mostra a categoria analisada e os trechos

dos relatos gravados nas entrevistas, separados por órgãos. Tais relatos, posteriormente, foram

utilizados para a análise de cada categoria, relembrando que não foram citados, pelos devidos

fins éticos, nesta pesquisa, os nomes dos entrevistados, nem o cargo que possuem no

respectivo órgão em que atuam.

36

4.2.1 Quanto à existência de projetos para idosos vítimas de violência.

CMI

Nós não temos os projetos, mas o Conselho tem comissões, tem a Comissão

de Norma de Fiscalização, Comissão de Políticas Públicas e Comissão de

Acompanhamento Assistencial.

GAI

Programa de Apoio Psicossocial ao Idoso e a Família. (...) vem da

necessidade de a gente dar suporte ao serviço do Disque Idoso que também

parece ver a questão da violência, a questão do núcleo de violência contra

o idoso e a demanda que vem pra Gerência que traz a questão da

violência.

CMAS

Como eu disse pra ti ele não é um órgão executor, ele também tem que ser

um órgão propositivo, formulador de política e com certeza devem ter

saído algumas propostas aqui do Conselho, embora não saiba te dizer

quais, mas ele também é um órgão propositivo. (...)a gente procura

também trabalhar nesse sentido, fazer uma reunião familiar, discutir com

os familiares qual é a melhor forma, que eles pensem e construam uma

forma de auxiliar o idoso na sua necessidade, descobrir uma forma de não

sobrecarregar só um (...).

37

4.2.2 Quanto à forma como ocorre a fiscalização das instituições que atendem ao idoso.

CMI

Geralmente a denúncia chega para nós de duas formas, ou a demanda é

espontânea, ela vem direto pro Conselho, ou pro Disque Idoso. O Disque

Idoso recebe e se for uma denúncia institucional, (...) ele notifica o

Conselho de que recebeu uma denúncia e coloca ali mais ou menos como é

e solicita providências. Então, a partir dessa notificação é levada para

essa reunião Comissão de Normas que (...) analisa essa denúncia e verifica

qual vai ser o encaminhamento, a forma de abordagem, quem são os

Conselheiros que vão fazer, e aí vai-se no local (...). Quando se trata de

instituição asilar, conforme o tipo de denúncia, a gente pede que a

Vigilância Sanitária vá com a gente (...). E também, conforme o que a

gente verifica nessa fiscalização o relatório é encaminhado para o

Ministério Público (...).

GAI

Quando vem uma denúncia de uma Instituição de longa permanência(...)

nós fizemos uma notificação para o Conselho e aí eles vão fazer a

averiguação da denúncia, o que, muitas vezes, somos nós mesmas que

vamos porque somos conselheiras. (risos) A gente participa do Conselho,

fazemos parte da comissão de normas de fiscalização (...).

CMAS

O Conselho tem a função de inscrever as entidades e essas entidades são

fiscalizadas através de visitas que são feitas periodicamente, através de

solicitações de documentações, principalmente o balanço financeiro, as

atas das reuniões, o Estatuto Social, relatório de atividade, plano de

trabalho. Então, essas entidades são visitadas pelo Conselho e nessa visita

é feita a fiscalização, os conselheiros vão analisar para ver se a entidade

está realizando seu trabalho de acordo com o que preconiza a Lei

Orgânica de Assistência Social, a nova Política de Assistência Social.

38

4.2.3 Quanto aos trabalhos realizados pelo órgão.

CMI

“A gente faz esse processo de inscrição e nessa Resolução tem todos os

critérios do Conselho para que esta instituição possa receber esse

certificado, então ela tem que estar dentro dos nossos critérios (...) isso

tudo está na RDC da ANVISA.

GAI

A gente tem o serviço Disque Idoso é um serviço de informação e

acolhimento de denúncia, nós temos o projeto de apoio as práticas

culturais e de lazer (...). (...) promoção de encontros regionais, com grupos

de convivência, festival de talentos, comemoração de datas festivas (...).

Uma outra atividade que nós temos e que este ano está sendo modificada é

a visita monitorada ao parque Ecológico do Córrego Grande (...). O

programa de apoio e dinamização dos grupos de convivência do município

(...), onde é oferecido pela prefeitura o kit lanche para desenvolver

atividades semanais, com os grupos que se reúnem na própria comunidade

(...). Nesse trabalho também tem o apoio para viagens, tem apoio para

convecção de trabalhos manuais, para expor em feiras, enfim... temos um

outro trabalho (...) que é o Viver Ativo que são atividades físicas e

recreativas na comunidade pro idoso (...). Um outro programa (...) Renda

Extra, é fornecido um benefício, um salário mínimo mensal para o idoso

que tenha uma doença incapacitante e que a renda familiar seja inferior a

3 salários mínimos (...). Outra ação dentro desse programa de apoio

psicossocial é o idoso em situação de abrigamento, onde a gente

encaminha aqueles que, em últimos casos, tem a necessidade de serem

abrigados (...). O cartão passe-rápido do idoso é um outro aspecto que é

viabilizado através da gerência com o núcleo de transporte coletivo (...). A

concessão de benefícios (...) pode ser contemplado se necessitar com cesta

básica, óculos, enfim (...).

CMAS

(...) fiscalizar a política pública, tudo o que diz respeito à assistência social

no município tem que passar pela deliberação do Conselho, todos os

projetos, programas (...), toda a política pública que diz respeito ao idoso,

também passa pela assistência social, pelo Conselho (...), depois das

discussões que os conselheiros travam sobre o assunto, saí um parecer e aí

esse parecer vai para a aprovação na planária no Conselho. Então, o

39

Conselho é basicamente um órgão de fiscalização, controle e deliberação,

ele não é um órgão executor, ele é um órgão formulador de políticas.

4.2.4 Quanto à existência de articulação com outros órgãos.

CMI

Nesse programa de apoio psicossocial ao Idoso a maioria dos psicólogos

e assistentes sociais que trabalham ali atuam como conselheiros (...),

então já existe essa articulação porque elas conhecem o trabalho do

Conselho porque são Conselheiras, mas ta sempre trabalhando em

articulação, eles recebem a denuncia passam pra gente, a gente faz a

visita (...), o que o Conselho vai fiscalizar, a Gerência já tomou

conhecimento porque veio pelo Disque Idoso (...). Então existe e quando

necessário a gente faz essa articulação com a Secretaria Municipal de

Saúde e o Conselho de Assistência também, principalmente nas

instituições de assistência social que são conveniadas. (...) o Conselho de

Assistência só inscreve instituição de atendimento ao idoso no conselho

deles se estiver inscrito no conselho do idoso.

GAI

Com o conselho do idoso, nós interagimos e muito, porque nós somos

conselheiras. (...) A gente participa do Conselho, fazemos parte da

comissão de normas de fiscalização, então é muito próximo e

acompanhamos (...). Então, isso a gente fala muito tranqüila, tem muito

envolvimento. O Conselho de Assistência Social, inclusive tem até uma

resolução nos projetos e programa para a área da assistência social que

estão relacionados com o idoso e também passam pelo Conselho do Idoso

que tem o parecer do Conselho, então a gente tem essa articulação.

CMAS

Não existe uma boa articulação ainda. Na realidade isso não é daqui do

Município, não é de Florianópolis. Em todo o Brasil, hoje, não existe uma

articulação verdadeira entre os Conselhos. O que existe é uma troca de

informações, às vezes. Agora uma articulação mesmo, como eu vou te

dizer. Porque assim... o público alvo da assistência social, aliás, as

questões sociais perpassam por várias políticas, assistência social,

educação, saúde, habitação, a criança e o adolescente, o idoso, então

existe a questão social com suas múltiplas (...). Essas questões perpassam

por todas as instâncias, por todas as políticas públicas e não existe, hoje,

uma interface entre essas políticas, o que a gente vê é que as políticas são

40

fragmentadas e pulverizadas, não existe uma política única. (...) E por

causa dessa pulverização, dessa falta de interligação entre as políticas,

elas ficam fragmentadas, não se tem uma política eficaz.

4.2.5 Quanto à existência de políticas para idosos vítimas de violência relacionadas ao estatuto do idoso.

CMI O Conselho não tem políticas, é só fiscalização.

GAI

É, na verdade isso aqui já ta dentro de uma política de atendimento, agora,

nós contamos com o suporte da rede que também é uma rede fragilizada,

mas nós contamos com o apoio do Ministério Público (...) precisa

melhorar? Precisa, mas dentro da estrutura da Gerência está dentro de

uma política de atendimento, precisam de outros suportes? Precisam,

precisamos do centro dia, até de uma estrutura de cuidado do idoso com

espaço para outros eventos, para oficinas, treinamentos, capacitação de

cuidador, para ter outras formas, está se buscando, não temos isso ainda o

ideal, estamos buscando, há um esforço.

CMAS Não há políticas voltadas para idosos vítimas de violência que se

relacionam com o Estatuto do Idoso.

4.2.6 Quanto à presença de serviços psicológicos prestados pelo órgão. CMI Aqui não temos serviços de Psicologia.

GAI Atendimento clínico não, individual, psicoterapêutico, não.

CMAS

Não apresenta demanda de Psicologia aqui, por ser um trabalho mais

burocrático, não é um trabalho de execução, de atendimento. Porque os

atendimentos que a gente faz aqui são os das entidades, a entidade que

vem para se inscrever, que vêm solicitar alguma informação, sobre as

normas e outros processos, as entidades que já são inscritas e que vão

renovar. Então, não existe demanda da Psicologia aqui.

41

4.2.7 Quanto à presença de um trabalho multidisciplinar envolvendo psicologia, assistência social e o direito.

CMI

Eu sinto que tem a necessidade de uma acessória jurídica para a

comissão de normas, até pro caso de quando tenha uma situação que

precisa ser mais estudada, como nós já tivemos, foram situações que

apareceram na parte jurídica.

GAI

A ajuda do Direito é esporádica, às vezes é alguma situação que a gente

vai procurar ou encaminha pra própria justiça gratuita no fórum, a

vara da família. A gente precisa constituir um advogado mesmo que

encaminhe e que oriente. (...) até o centro de referência está previsto,

porque é muito comum ter uma complicação jurídica. Até o que uma

situação pode vir a acarretar na área jurídica, pra gente ter esse

conhecimento até para poder informar a família. É bem importante.

Mas também não é qualquer advogado (risos). O advogado que vier

trabalhar com a gente, porque isso é delicado, porque tem que ter uma

formação um pouco mais humanista, entender essa questão do sujeito.

Vai ter que ter um diálogo com a gente; e acho que vai ser muito bom. E

aqui acaba que... como a gente trabalha muito junto aí como psicóloga

também ajuda aqui, a equipe aqui sofre as angustias. Porque essa

questão da violência, às vezes a gente sai daqui muito “pesada”.

A gente tem esse privilégio, de trabalhar juntas a muito tempo e ter

desenvolvido uma forma de avaliar que a gente acha que tem dado

resultados positivos, e em ralação ao jeito de cada uma, a questão

pessoal, a gente entrosa bem e isso tudo foi o trabalho também

crescendo.

CMAS

Não tem psicologia, e o direito é uma estagiária. Na realidade o

trabalho aqui interdisciplinar é bom, ele existe realmente, a gente tem

uma interligação, cada um faz a sua parte, mas, claro, um sabendo o

que o outro está fazendo.

42

4.2.8 Quanto à forma do atendimento psicossocial com idosos vítimas de violência pelo profissional na psicologia no órgão.

CMI Aqui não tem atendimento psicossocial para idosos vítimas de

violência.

GAI

o acolhimento da família também, o do idoso. (...) posso fazer um

acompanhamento de algumas visitas ou de alguns atendimentos, mas

isso vai ser um encaminhamento a partir do estudo de caso (...). As

reuniões familiares para conciliação. (...) Visitas domiciliares

também que geralmente vai uma psicóloga e uma assistente social

que já é uma possibilidade de ter dois olhares.

CMAS Não há atendimento psicossocial para idosos vítimas de violência.

43

5 ANÁLISE DOS RESULTADOS

No que diz respeito à existência de projetos voltados a idosos vítimas de violência, o

CMI, assim como o CMAS, não apresentam nenhum programa ou projeto relacionado à

velhice, muito menos focalizados na questão da violência, já que, de acordo com a

Constituição Federal de 1988 e com a Lei Orgânica de Assistência Social (1993), o conselho

de caráter paritário, como é o caso dos órgãos em questão, se constitui como fiscalizador,

normativo e deliberativo que tem por objetivo efetivar a participação cidadã no exercício da

gestão de políticas públicas. Porém, os conselhos paritários têm como um dos objetivos,

universalizar os direitos e instituir relações de cidadania, o que, conseqüentemente,

revoluciona as relações sociais políticas e culturais instituídas. (CAMPOS, 1995). Acerca da

cidadania, Teixeira (1986 apud CAMPOS, 1995) acredita que esta implica na criação de

direitos e deveres, entre a sociedade civil (cidadão) e o Estado, reconhecendo a igualdade

básica e buscando uma participação total do indivíduo na comunidade.

Nas entrevistas com o CMI e CMAS percebeu-se que a questão da universalização dos

direitos é discutida e, considerando as limitações dos conselhos, é posta em prática. Já na

instituição das relações de cidadania verificou-se que ainda falta mais atuação nesse sentido.

Existem poucos trabalhos de conscientização da sociedade civil acerca da violência contra o

idoso e de como estes podem contribuir para, pelo menos, minimizá-la. Também se percebeu

que, por conta da falta de projetos que divulguem os trabalhos dos conselhos e suas formas de

atuação, a população em geral desconhece as funções de cada um, e, muitas vezes, não sabem

para onde devem se dirigir em caso de violência institucional, estrutural e/ou familiar.

As entrevistadas afirmaram que, a respeito das práticas dos conselhos: As pessoas não

sabem fazer essa distinção, tanto é que quando nos ligam ou vêm direto aqui e a gente vê que

é questão de filho que agride, a gente já encaminha para a Gerência3; agora, as pessoas não

sabem distinguir, não sabem, só quem está na área mesmo é quem sabe a diferença e que

existe até os tipos de violência (...) (CMI). Há um desconhecimento da população em relação

aos conselhos, com certeza. (...) Se confunde muito os Conselhos Gestores, os Conselhos

Municipais (Conselho Municipal da Criança e do Adolescente, Conselho Municipal de

Assistência Social) com o Conselho Tutelar. Até as próprias pessoas que trabalham nesse

3 Refere-se a Gerência de Atenção ao Idoso.

44

prédio não sabem a diferença desse conselho que gere a política (...) E a população mesmo

desconhece o Conselho, até mesmo por uma falta de divulgação dos próprios conselhos. Uma

falta de divulgação e uma falta também de outra interface, Samia, que existe que é a interface

dos Conselhos com a população, dos Conselhos com as entidades, então são vários tipos de

interface, não é só a interface entre os conselhos. (CMAS).

Como foi relatado pela entrevistada do CMI: nós não temos os projetos, mas o

Conselho tem comissões, tem a Comissão de Normas de Fiscalização, a Comissão de

Políticas Públicas e a Comissão de Acompanhamento Assistencial. E pela assistente social do

CMAS: Então, o Conselho é basicamente um órgão de fiscalização, controle e deliberação,

ele não é um órgão executor, ele é um órgão formulador de políticas. Existem quatro

comissões de trabalho hoje no Conselho: Comissão de Políticas, Comissão de Finanças,

Comissão de Inscrição e Registro e Comissão de Divulgação e Comunicação. Então, essas

comissões são formadas, também, pelos conselheiros, porque o Conselho é um órgão

paritário, ele é metade sociedade civil e metade governamental, então são 14 conselheiros.

A LOAS e o Estatuto do Idoso regulamentam as especificidades de seus respectivos

conselhos. Ambos colocam como competência do órgão, além de fiscalizar, aprovar políticas

e projetos, auxiliar na elaboração destes, propondo e formulando políticas de atendimento.

Neste caso, em ambos os conselhos, percebe-se a falta de debate, e mais do que isso, de

proposição de políticas que atendam ao idoso, que contribuam para estabelecer as relações de

cidadania. O conselho paritário é o órgão que possibilitará o exercício da gestão democrática

das políticas públicas. Este consiste em uma via de acesso da sociedade civil e deve

proporcionar (aproximar) a relação deste com o Estado. Para isso, discute-se a participação

como fundamental “mecanismo mobilizador e dinamizador de recursos e situações”

(CAMPOS, 1995, p. 9).

Percebeu-se nas entrevistas que, em ambos os conselhos e também na GAI, a

participação da sociedade civil é escassa e, inclusive, muitos cidadãos desconhecem a atuação

dos três órgãos pesquisados, como relatam os entrevistados: Ah sim! As pessoas não sabem

fazer essa distinção, tanto é que quando nos ligam ou vem direto aqui e a gente vê que é

questão de filho que agride, a gente já encaminha para a Gerência 4, agora as pessoas não

sabem distinguir, só quem está na área mesmo é que sabe a diferença (CMI) (fala sobre o

desconhecimento da população sobre as competências do CMI e da GAI). Há um

desconhecimento da população em relação aos conselhos, com certeza (CMAS).

4 Refere-se à Gerência de Atenção ao Idoso.

45

No caso da GAI, a informante afirma que no órgão existe o Programa de Apoio

Psicossocial ao Idoso e à Família que engloba a questão da violência contra idoso, o qual tem

por objetivo atender ao idoso e sua família de maneira a acolher e averiguar denúncias,

realizar visitas domiciliares, proporcionar uma articulação inter-institucional e setorial, bem

como encaminhar processos à Promotoria Pública, orientações e reuniões familiares. Este

programa, como afirma a assistente social: (...) vem da necessidade de a gente dar suporte ao

serviço do Disque Idoso que também parece ver a questão da violência, a questão do núcleo

de violência contra o idoso (...). O Serviço Disque Idoso também se mostra como um

programa voltado à violência contra o idoso, já que se caracteriza como uma via de acesso a

denúncia e, posteriormente, seu enfrentamento. Este serviço tem por objetivo orientar e

informar os cidadãos acerca dos direitos do idoso, além de prestar serviços de acolhimento e

encaminhamento de denúncias.

O Programa de Apoio Psicossocial ao idoso e à Família pode ser considerado como

uma política pública que auxilia na desmistificação do papel do idoso na sociedade e, mais

especificamente, na família. As reuniões familiares, realizadas pela psicóloga e pela assistente

social, propõem mediar uma discussão, entre familiares, sobre os cuidados com o idoso, bem

como resignificar o papel do idoso na família e a visão que esta tem da velhice.

Quanto à categoria, fiscalização das instituições que atendem ao idoso, o CMI recebe a

denúncia pelo Disque Idoso ou via o próprio conselho. Quando é o Disque Idoso que recebe,

caso seja uma violência institucional, é encaminhado para o CMI por meio de uma

notificação. A partir disso, a Comissão de Normas do conselho analisa a denúncia e verifica

qual será o encaminhamento dado ao caso, como esta instituição será abordada e quem são os

conselheiros que farão a visita à instituição. Conforme o tipo de denúncia a Vigilância

Sanitária faz a vistoria junto com os conselheiros.

Nestas visitas são verificadas, de acordo com a documentação fornecida pelo próprio

CMI, o cumprimento do Estatuto do Idoso, observando, principalmente, os artigos 48 a 515;

adequação física de acordo com a RDC nº 2836 da ANVISA; situação do quadro funcional;

5 O Artigo 48 refere-se à manutenção das entidades de acordo com a Política Nacional do Idoso, regulamenta as inscrições das mesmas junto à Vigilância Sanitária e ao Conselho Municipal do Idoso e cita alguns requisitos a serem respeitados. O Artigo 49 regulamenta alguns princípios a serem seguidos pelas instituições de longa permanência para idosos (ILPI). O Artigo 50 estabelece as obrigações das entidades de atendimento ao idoso. E, por último, o Artigo 51 refere-se ao direito que as entidades filantrópicas ou sem fins lucrativos que atendem ao idoso têm de ter assistência jurídica gratuita. 6 A RDC (Resolução da Diretoria Colegiada) nº 283 da ANVISA regulamenta os cuidados devidos das ILPI’s no intuito de garantir os direitos da pessoa idosa; prevenir e reduzir os riscos à saúde do idoso; definir critérios mínimos para o funcionamento, avaliação e mecanismos de monitoramentos das ILPI’s e; qualificar a prestação de serviços públicos e privados das ILPI’s.

46

documentação da entidade; segurança e condições sanitárias; contrato de prestação de serviço

com o residente; contrato de trabalho com os funcionários; quantidade e qualidade dos

serviços fornecidos aos residentes (Fisioterapia, Psicologia, Assistência Social, Nutrição,

atividades laborais/ocupacionais e recreação); valor da mensalidade compatível com os

serviços prestados; alimentação fornecida, manipulação e armazenamentos dos alimentos;

controle, distribuição e segurança no armazenamento de medicamentos; relação, interação

entre funcionários, dirigentes, residentes e familiares dos idosos; e, respeito à individualidade,

especificidade e necessidade do residente.

O CMI tem como norma (estabelecido pelo próprio Estatuto do Idoso) inscrever as

instituições e os programas que atendem ao idoso. Este procedimento garante que as mesmas

regulamentem-se, de acordo com a RDC nº 283, e que prestem seus serviços de forma

adequada garantindo a saúde, o lazer, bem-estar da pessoa idosa, enfim os direitos postos pelo

Estatuto do Idoso. Esta atividade do CMI também se constitui como uma forma de fiscalizar

tais instituições e programas, já que, quando se é encaminhado um pedido de inscrição, seja

para um programa ou para uma instituição, o CMI verifica a atuação do programa ou, no

segundo caso, faz uma vistoria no local para averiguar se as condições das mesmas condizem

com as normas.

Caso seja verificada alguma irregularidade na instituição ou com o programa

fiscalizado, estes têm um prazo para se regulamentarem. Há casos em que o conselho tem que

encaminhar um relatório da visita (no caso da instituição) ao Ministério Público solicitando a

intervenção do mesmo para abrir processo ou, até mesmo, interditar o local.

No CMAS a fiscalização ocorre a partir da inscrição das instituições que são visitadas

periodicamente, por meio de solicitações de documentos, principalmente, o balanço

financeiro, atas de reuniões, o Estatuto Social, relatório de atividades e plano de trabalho. A

Comissão de Inscrição e Registro fica encarregada de receber as solicitações de inscrição das

instituições e também, é esta comissão que valida a mesma. Também é realizada a

fiscalização a partir de denúncias que chegam ao próprio conselho, cujos conselheiros

realizam uma visita à instituição. O CMAS, assim como o CMI, segue uma regulamentação

para fiscalização, como a LOAS que preconiza a organização da assistência social e outras

providências, a Resolução 191/05 do CNAS7 e PNAS que regulamenta o SUAS e preconiza

as práticas da assistência social.

7 A Resolução 191/05 do CNAS institui orientação para regulamentação das LOAS sobre as entidades e organizações de assistência social mediante a indicação de suas características fundamentais.

47

A fiscalização deve garantir que as instituições que prestam serviços para idosos o

façam como garante a Lei, porém, no caso do CMAS, afirma a entrevistada, o Conselho de

Assistência está um pouco aquém da forma como ele deveria funcionar. Eu acredito que não

só o Conselho de Assistência, todos os Conselhos, eu acho. Porque, os conselheiros, além de

serem conselheiros eles têm suas outras funções, trabalham nas suas entidades e representam

as suas entidades aqui, a sociedade civil aqui no Conselho. Então, não existe muito tempo

para fazer a fiscalização como deveria ser feita.

A GAI não atua como órgão fiscalizador, sua proposta é criar, gerenciar e executar

programas que atendem aos idosos. Porém, foi relatado pela entrevistada que a gerência tem

conhecimento e participa ativamente das ações do CMI, já que as secretárias atuam, também,

como conselheiras no conselho.

Quanto aos trabalhos realizados, o CMI e CMAS atuam fazendo a fiscalização e

inscrição das instituições; auxiliam na formulação de programas, controlam e deliberam as

políticas públicas.

Já a GAI atua com programas e projetos que atendem aos idosos do município. Os

programas realizados por este órgão são voltados para o desenvolvimento sócio-educativo

(Apoio às Práticas Culturais e de Lazer/Integração Social; Idoso e Natureza; Programa de

Apoio à Organização e Dinamização aos Grupos de Convivência), atividades físicas e

recreação (Projeto Mexa-se pela Saúde da 3ª Idade) e a defesa e proteção dos direitos (Apoio

Psicossocial ao Idoso e sua Família, Disque Idoso, Renda Extra, Apoio ao Idoso em Situação

de Abrigamento, Cartão Passe Rápido Idoso e Concessão e Benefícios).

Verificou-se que a maioria dos programas e projetos estão voltados para o lazer que

também se configura como um direito aos idosos, estabelecido pelo Estatuto do Idoso.

Segundo o relato da entrevista, (...) é um trabalho importante e que a gente vê muitas pessoas

falarem “ah mais porque grupo de convivência, porque só faz isso, só passeia”, mas é um

direito que ele tem, nós temos que ter políticas que tenham esses espaços pro idoso também

se divertir (...). E tem o conceito atual de saúde, do saudável, a questão do lazer também

conta, embora ainda se tenha preconceito, o lazer faz parte da vida saudável de uma pessoa,

não só do idoso, do ser humano de forma geral.

O que chama atenção nesse discurso é que, de fato, a questão do lazer é importante

para a qualidade de vida do ser humano e os projetos voltados para o lazer do idoso são

necessários. Porém, percebe-se que falta incluir o idoso como cidadão ativamente participante

das questões do CMI interagindo com a instância maior (Estado), tendo consciência plena do

papel do conselho na sociedade, auxiliando na construção de políticas que desmistifiquem o

48

papel do idoso. Colocá-lo como participante ativo no contexto seria dar outro significado à

velhice que não aquele da inutilidade, do declínio, da finitude, do “coitado”. A maneira como

se trabalha com a questão da velhice não parece condizer com o discurso tomado pelas

entrevistadas. É considerado como uma criança de novo que não tem vontade própria (fala

sobre a visão que se tem do idoso).

A crítica não se faz em relação aos projetos de lazer em si, mas sim, como esses idosos

são percebidos no contexto das políticas públicas. São sim, de certa forma, por mais que o

discurso procure mostrar o contrário, imbecilizados. É necessário, além de trabalhar a

autonomia e o lazer, torná-los sujeitos críticos, participantes, que é, realmente, o que propõe o

conselho de caráter paritário.

Os programas e projetos voltados para idosos vêm se caracterizando como

assistencialistas, o que, como afirma Sposati (1998), acaba favorecendo a exclusão no sentido

de manter o sujeito na condição de assistido, beneficiário ou favorecido pelo Poder Público e

não usuário, consumidor e, até mesmo, gestor dos serviços que lhes são de direito.

Quando se investigou sobre a articulação entre os órgãos que prestam atendimento ao

idoso, percebeu-se algumas diferenças de “olhares”. No CMI foi relatado que: Nesse

programa de apoio psicossocial ao Idoso a maioria dos psicólogos e assistentes sociais que

trabalham ali atuam como conselheiros, então atuam como funcionários, como técnicos da

gerência e como Conselheiros, então já existe essa articulação porque elas conhecem o

trabalho do Conselho porque são Conselheiras, mas está sempre trabalhando em

articulação, eles recebem a denuncia passam pra gente, a gente faz a visita, o que o Conselho

está fazendo o programa deles está sabendo. Geralmente, o que o Conselho vai fiscalizar, a

Gerência já tomou conhecimento porque veio pelo Disque Idoso, a gente recebe denúncia

muito mais pelo Disque Idoso do que por aqui, às vezes até o que a gente recebe aqui eles já

fizeram pelo Disque Idoso, mas como eles têm uma demanda muito grande as vezes demora

um pouco para ir fazer a visita (...) mas geralmente as denúncias todo mundo conhece, é uma

trabalho bem articulado, se troca relatórios (fala sobre a articulação com a GAI). Em relação

aos demais órgãos a entrevistada diz que: existe e quando necessário a gente faz essa

articulação com a Secretaria Municipal de Saúde e o Conselho de Assistência também,

principalmente nas instituições de assistência social que são conveniadas. Então, existe essa

articulação, a gente dá um parecer e o Conselho de Assistência só inscreve instituição de

atendimento ao idoso no conselho deles se estiver inscrito no conselho do idoso.

Na GAI o relato sobre a articulação entre os órgãos foi: Quando vem uma denúncia

(...) se é estrutural, institucional ou é de longa permanência, nós fizemos uma notificação

49

para o Conselho e aí eles vão fazer a averiguação da denúncia, o que, muitas vezes, somos

nós mesmas que vamos porque somos conselheiras. (risos) A gente participa do Conselho,

fazemos parte da comissão de normas de fiscalização, então é muito próximo e

acompanhamos. O Conselho de Assistência Social, inclusive tem até uma resolução nos

projetos e programa para a área da assistência social que estão relacionados com o idoso e

também passam pelo Conselho do Idoso que tem o parecer do Conselho, então a gente tem

essa articulação. Quando temos capacitação no Conselho de Assistência e no Conselho do

Idoso, a gente também participa com as questões relacionadas ao idoso, então se faz essa

articulação.

No CMAS o relato foi diferente: Não existe uma boa articulação ainda. Na realidade

isso não é daqui do Município, não é de Florianópolis. Em todo o Brasil, hoje, não existe

uma articulação verdadeira entre os Conselhos. O que existe é uma troca de informações, às

vezes. Agora uma articulação mesmo, como eu vou te dizer. Porque assim... o público alvo da

assistência social, aliás, as questões sociais perpassam por várias políticas, assistência

social, educação, saúde, habitação, a criança e o adolescente, o idoso, então existe a questão

social com suas múltiplas expressões que tudo isso que eu te falei, a criança e o adolescente,

o idoso, o desemprego, a violência, são múltiplas expressões da questão social. Essas

questões perpassam por todas as instâncias, por todas as políticas públicas e não existe, hoje,

uma interface entre essas políticas, o que a gente vê é que as políticas são fragmentadas e

pulverizadas, não existe uma política única.

Segundo a Lei Municipal nº 5.371/98, o artigo 8º afirma sobre as competências do

CMI. Uma delas diz respeito à promoção da articulação entre conselhos para garantir e

defender os direitos do idoso. O fato de existirem opiniões diferentes entre o CMI, CMAS e

GAI pode ser conseqüência de visões políticas divergentes e, também, pelo tipo de

representação que tem no órgão (sociedade civil ou Poder Público). Acredita-se que a

articulação eficiente não passa só pela troca de informações, mas também, na discussão e

reflexão das políticas existentes contribuindo para uma efetiva melhoria, tanto nas questões

burocráticas e jurídicas de cada conselho, quanto na questão da violência contra o idoso.

Quanto à existência de políticas voltadas para idosos vítimas de violência que se

sustentam no Estatuto do Idoso, ambos os conselhos investigados (CMI e CMAS) não

apresentam políticas em relação a essa questão. De acordo com ao artigo 8º da Lei Municipal

nº 5.371/98, o CMI deve formular, acompanhar e fiscalizar a política municipal do idoso;

propor e aprovar projetos, entre outros. Acredita-se que o conselho deve criar suas políticas

que repensem sua prática, que discutam sua ação, pois é ele que faz o elo do Estado com a

50

sociedade civil. Portanto, de acordo com Campos (1995), o conselho paritário é o lugar do

fazer político, a política é sua prerrogativa substantiva. Dessa forma, não pode pensar em

política reaplicando práticas elitistas ou precariamente democráticas.

No que concerne às políticas da GAI, foi citado pelas entrevistadas que o Projeto de

Apoio Psicossocial ao Idoso e à Família se constitui como uma política de atendimento. Na

verdade isso aqui já ta dentro de uma política de atendimento, agora, nós contamos com o

suporte da rede que também é uma rede fragilizada, mas nós contamos com o apoio do

Ministério Público (...). Assim, a política de atendimento, as quais se referem, constitui em

acolher o idoso, verificar as denúncias, auxiliar e/ou mediar a situação familiar (conflito

familiar) e realizar encaminhamentos devidos. De acordo com Neto e Moreira (1999, p. 51),

as políticas públicas devem adotar “um conjunto de ações concretas e reais para atacar as

raízes da desigualdade, da exclusão e dos conflitos sociais, que sejam submetidas a um

intermitente processo de avaliação capaz de fornecer os subsídios e indicadores necessários

para a sua continuidade, revisão crítica e revigoração”.

As políticas públicas devem contribuir para que a sociedade consiga contemplar a vida

em suas possibilidades e multiplicidades de ser, pensar e repensar as múltiplas formas de

existência e, voltando-se para a velhice, como afirma Sais (1995, p. 12), localizando-se “as

técnicas e os dispositivos de poder (...), denunciados ali mesmo onde ele se efetua em sua

força produtiva (...)”. Dessa forma, como conclui o mesmo autor, não se pensaria numa

preparação para a velhice ou, muito menos, estar-se-ia evitando-a, mas sim, compreendendo-a

como uma forma de existir na sociedade.

Quando investigado a respeito da presença de serviços de Psicologia nos órgãos,

juntamente com a forma do atendimento psicossocial com idosos vítimas de violência pelo

profissional de psicologia, o CMI e o CMAS relataram não prestar tais serviços, afirmando

que tais órgãos não apresentam demanda para o serviço de Psicologia. Foi constatado no

discurso das representantes dos órgãos em questão, a idéia de que o trabalho da psicologia é

apenas terapêutico para aliviar e curar sintomas. (...) e também eu acho que de um psicólogo

porque o que a gente mais vê nessas instituições é pessoas com problemas psicológicos, com

problemas mentais, com depressão, sem ter o que fazer (...) (CMI: Falando sobre a não

obrigatoriedade dos serviços de Psicologia nas instituições que atendem idosos). Não. Não

porque a gente tenha algo contra psicólogo. O trabalho na secretaria executiva, eu sou

secretária executiva, aqui é a secretaria do Conselho, as atividades aqui são mais

burocráticas e todas relacionadas à assistência social, então especificamente teria que ser

mesmo uma assistente social para fazer esse trabalho, por causa da especificidade do tema.

51

Não apresenta demanda de Psicologia aqui, na área da Psicologia, por ser um trabalho mais

burocrático, não é um trabalho de execução, de atendimento. Porque o que a gente atende

aqui é, os atendimentos que a gente faz aqui são os das entidades, a entidade que vem para se

inscrever, que vêm solicitar alguma informação, sobre as normas e outros processos, as

entidades que já são inscritas e que vão renovar (CMAS).

Em contrapartida, a GAI presta serviços de Psicologia, pelo auxílio em reuniões

familiares, participação nas visitas domiciliares, acolhimento ao idoso e a família e trabalho

de forma interdisciplinar com a Assistência Social. Atendimento clínico não, individual,

psicoterapêutico, não. Mais nas reuniões familiares, participo também. o acolhimento da

família também, o do idoso. E é um trabalho interdisciplinar que a gente faz, embora as

disciplinas sejam duas. Mas aquele entendimento da psicologia clínica de atender o cliente

isoladamente, individualmente não. De uma forma sistemática não, posso fazer um

acompanhamento de algumas visitas ou de alguns atendimentos, mas isso vai ser um

encaminhamento a partir do estudo de caso.

A Psicologia tem muito a contribuir na execução de políticas públicas voltadas para

idosos, principalmente na questão da violência, em que deve auxiliar na resignificação do

papel do idoso na sociedade e como esta o percebe como sujeito, considerando aquilo que

Sais (1995) afirma, em construir uma sociedade que contemple a múltiplas formas de

existência. O profissional da psicologia deve ter uma “bagagem” teórico-prática que dê conta

de discutir as questões relacionadas à velhice, propor e auxiliar em mudanças que possam

trazer melhorias à vida do idoso considerando seu contexto, suas crenças, valores, sem julgá-

lo ou estigmatizá-lo.

Como última categoria a ser analisada, a presença do trabalho multidisciplinar

envolvendo Psicologia, Assistência Social e Direito foi encontrada em parte. O CMI apenas

apresenta profissionais da Assistência Social que devem dar conta de todo o serviço realizado

pelo órgão. Eu sinto que tem a necessidade de uma acessoria jurídica para a Comissão de

Normas, até para o caso de quando tenha uma situação que precisa ser mais estudada, como

nós já tivemos, foram situações que apareceram na parte jurídica. No CMAS existe um

trabalho multidisciplinar entre Assistência Social e Direito, porém a entrevistada não vê a

necessidade do profissional da Psicologia estar atuando, pois não há demanda para isso.

Talvez esse discurso venha da crença de que a Psicologia apenas presta atendimento clínico

voltado para o modelo médico tradicional. Na realidade o trabalho aqui interdisciplinar é

bom, ele existe realmente, a gente tem uma interligação, cada um faz a sua parte, mas, claro,

um sabendo o que o outro está fazendo.

52

Na GAI há o trabalho multidisciplinar entre Assistência Social e Psicologia, no qual as

entrevistadas acreditam ser muito eficiente na medida em que há discussões articuladas entre

as duas áreas sobre todo o trabalho realizado.

Todos os três órgãos mostraram a necessidade de um suporte jurídico para melhor

interagir com as Leis e fazer um trabalho mais eficiente. A gente precisa constituir um

advogado mesmo que encaminhe e que oriente. Até o que uma situação pode vir a acarretar

na área jurídica, pra gente ter esse conhecimento até para poder informar a família. É bem

importante (GAI).

O trabalho multidisciplinar vem da necessidade de poder se trabalhar o sujeito em

todos os aspectos. No caso das políticas públicas voltadas a idosos vítimas de violência, o

enfoque multidisciplinar entre Psicologia, Direito e Assistência Social oferece sustentação

para o enfrentamento da violência em seu aspecto jurídico, interferindo com as leis que

defendem o idoso, no aspecto psicológico, dando um suporte psíquico, acolhendo o idoso e o

percebendo em seu contexto social, e o aspecto da assistência social, intervindo nas

necessidades sociais desta camada da população.

Pode-se pensar também num trabalho multidisciplinar na gestão de políticas públicas

em que o Direito auxiliaria nos aspectos jurídicos que devem ser considerados na elaboração e

execução das políticas; a Psicologia, no amparo da perspectiva social colaborando para uma

política que entenda o sujeito em suas múltiplas relações, modos de existir e no contexto

social em que cada sujeito está inserido; a Assistência Social, na construção de políticas que

levem em consideração os modos variados de assistir, amparar o sujeito nos seus aspectos

sociais.

53

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

No intuito de contribuir para a elaboração e intervenção psicossocial junto ao idoso

vítima de violência, esta pesquisa tentou compreender como são articulados tais atendimentos,

no Município de Florianópolis, com os preceitos do Estatuto do Idoso. Para responder a esta

questão, buscou-se compreender o funcionamentos de órgãos que atuam, ou pelo menos,

deveriam atuar com esse atendimento. Constatou-se que os atendimentos psicossociais

voltados para idosos em situação de violência estão pautados nas leis garantidas pelo Estatuto

do Idoso, pois as políticas de atendimento são construídas a partir desse olhar (o que o

Estatuto do Idoso garante como lei). Porém, isso não significou que tais órgãos apresentassem

um trabalho eficiente, que atenda ao idoso de forma a percebê-lo como cidadão que deveria

participar ativamente nas questões que o atingem, principalmente a violência em suas variadas

formas de constituição (física, psicológica, urbana, institucional, negligência, entre outras).

É claro que, quando se pensa aqui em participação ativa do idoso na gestão de

políticas públicas, leva-se em consideração, e não se deve deixar de pensar nesse fator, as

condições biopsicossociais que colocam muitos idosos dependentes de cuidados de terceiros

ou de membros da parentela, os quais também devem ser chamados a participar.

Deve-se ter consciência também que, para se efetivar a participação cidadã nas

questões sociais, existem outras problemáticas a serem consideradas. Não se pode pensar

numa total participação cidadã se ainda falta saneamento básico, alimentação, saúde, moradia,

entre outros; questões que são de primeira necessidade à sociedade. Porém, deve-se, por parte

dos órgãos e do Estado, incentivar tal participação o quanto antes, pois ela também é uma via

que pode possibilitar a melhoria de tais problemáticas. Considera-se que a questão das

condições básicas de vida e da participação cidadã se dinamizam num efeito “bola de neve”,

ambas dependentes entre si. Para tanto, é necessário que se divulguem os trabalhos realizados

pelos órgãos e que se incentive tal participação da sociedade civil, mostrando a esta que é um

direito e, também dever seu, auxiliar na gestão das políticas públicas.

Poder-se-ia pensar em outras pesquisas nessa área, como, por exemplo, investigar

como são elaboradas as políticas públicas para idosos. Outra investigação seria, o que os

responsáveis pelos órgãos que atendem aos idosos acreditam que deveria ser uma efetiva

política pública de atendimento ao idoso e como este pensamento se relaciona com o que

preconiza o Estatuto do Idoso e a LOAS. O (des)conhecimento da população idosa acerca do

54

CMI e da GAI e como eles percebem as políticas públicas voltadas ao seu próprio

atendimento, também se constitui uma considerável problemática para pesquisa.

55

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BARROS, M. M. L. Velhice na Contemporaneidade. In: PEIXOTO, C. E. Família e Envelhecimento. Rio de Janeiro: FGV, 2004.

BRASÍLIA, Senado Federal. Lei nº 10.741: Estatuto do Idoso. Ed. 3ª. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, 2005.

CAMPOS, E. Conselhos Paritários: O Enigma da Participação e da Construção Democrática. Bahia, 1995.

DAVID, E. M. G. F. de. Estatuto do Idoso: pontos fundamentais. Brasília: Câmara dos Deputados, 2003.

DEBERT, G. G. A Reinvenção da Velhice: Socialização e processos de reprivatização do envelhecimento. São Paulo: FEPESP, 2004.

FALEIROS, V. P. de. O que é Política Social? São Paulo: Brasiliense, 1986.

FOUCAULT, M. A Ética do cuidado de si como prática da liberdade. In: Dits et écrits. vol. IV, Paris: Gallimard, 1994, p. 708-729. (Tradução Provisória de Nei Antônio Nunes).

GAUER, R. M. C. Alguns Aspectos da Fenomenologia da Violência. In: GAUER, G. J. C. ; GAUER, R. M. C. A Fenomenologia da Violência. Curitiba: Juruá, 2005.

GOFFMAN, E. Estigma: Notas sobre a Manipulação da Identidade Deteriorada. Rio de Janeiro: LTC, 1988.

GONTIJO, E. D. Ética e Pesquisa. Cadernos de Psicologia. Revista do Departamento de Psicologia da UFMG, Belo Horizonte, v. 7, n. 1, p. 85-97, Dez, 1997.

HERMANY, R.; RECK, J. R.; STEIN L. K. A Gestão locas/compartida do meio ambiente por meio dos Conselhos: fundamentação, explicitação e questões pontuais. In: RODRIGUES, H. T. Direito Constitucional e Políticas Públicas. Porto Alegre: Imprensa Livre, 2005.

56

LOUREIRO, A. M. L. A velhice, o tempo e a morte - Subsídio para possíveis avanços do estudo. Brasília: Unb, 1998.

MACHADO, L.; QUEIROZ, Z. V. Negligência e Maus-tratos. In: FREITAS, E. V. Tratado de Geriatria e Gerontologia. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2003.

MINAYO, M. C. S. de. Pesquisa Social: Teoria, método e criatividade. 23ª Ed. Rio de Janeiro: Vozes, 2004.

__________ Violência contra idosos: relevância para um velho problema. Cadernos de Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 19, n. 3, p. 783-791, Mai./Jun., 2003.

__________ Violência Social sob a perspectiva da saúde pública. Caderno de Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 10, 1994.

NERI, A. L. Psicologia do Envelhecimento. Campinas: Papirus, 1995.

__________ Teorias Psicológicas do Envelhecimento. In: FREITAS, E. V. de. Tratado de Geriatria e Gerontologia. Rio de Janeiro: Koogan, 2002.

NETO, O. C.; MOREIRA, M. R. A concretização de políticas públicas em direção à prevenção da violência estrutural. Ciência & saúde coletiva, v. 4, n. 1, p. 33-52, 1999.

PEIXOTO, C. E. Processos Diferenciais de Envelhecimento. In: PEIXOTO, C. E. Família e Envelhecimento. Rio de Janeiro: FGV, 2004.

REY, F. L. G. Pesquisa Qualitativa em Psicologia: Caminhos e Desafios. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2002.

RITT, C. F. Políticas públicas a serviço da dignidade do idoso. In: RODRIGUES, H. T. Direito Constitucional e Políticas Públicas. Porto Alegre: Imprensa Livre, 2005.

SAIS, A. P. Coisas de velho: coisas de vida. Dissertação de mestrado, São Paulo: PUC, 1995.

SANTOS, B. S. de. Seis razões para pensar. Revista Lua Nova, São Paulo, n. 54, p. 13-23, 2001.

57

SELL, C. E. Democracia e Políticas Públicas: Diversidade Temática dos Estudos Contemporâneos. Itajaí: Universidade do Vale do Itajaí, 2005.

SOUZA, C. Políticas Públicas: uma revisão da literatura. Sociologias, Porto Alegre, n. 16, Jul/Dez, 2006.

SPOSATI, A. O. de. (et.al.). Assistência na trajetória das políticas sócias brasileiras: Uma questão em análise. 6ª Ed. São Paulo: Cortez, 1998.

VELOZ, M. C. T.; SCHULZE, C. M. N; CAMARGO, B. V. Representações Sociais do Envelhecimento. Psicologia: Reflexão e Crítica, Porto Alegre, v. 12, n. 2, 1999.

58

BIBLIOGRAFIAS

ALVES, A. M. A Construção Social da Violência Contra os Idosos. Textos sobre Envelhecimento, Rio de Janeiro, v. 3, n. 6, 2001.

COSTA, P. L.; CHAVES P. G. S. A Vivência Afetiva e a Violência Doméstica Contra os Idosos. Belo Horizonte, Jan. 2003.

FONSECA, M. M. da. ; GONÇALVES, H. S. Violência contra o Idoso: Suportes legais para a intervenção. Interação em Psicologia, Rio de Janeiro, v. 7, n. 2, p. 121-128, 2003.

MINAYO, M. C. S. de. Antropologia, Saúde e Envelhecimento. Rio de Janeiro: FIOCRUZ, 2002.

__________Violência sob o Olhar da Saúde: a infrapolítica da contemporaneidade brasileira. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2003.

NERI, A. L. Velhice bem-sucedida: Aspectos afetivos e cognitivos. Campinas: Papirus, 2004.

SUBSECRETARIA DOS DIREITOS HUMANOS. Plano de Ação para o Enfrentamento da Violência contra a Pessoa Idosa. Brasília, 2005.

59

APÊNDICE 1

ROTEIRO A – Destinado aos órgãos fiscalizadores.

1. Serviços e/ou projetos voltados a idosos vítimas de violência.

2. Como é realizada a fiscalização das instituições voltadas para o atendimento e

cuidado do idoso?

3. Descreva os trabalhos realizados por este órgão.

4. Há alguma articulação, envolvimento entre o Conselho Municipal do Idoso de

Florianópolis e a Gerência de Atenção ao Idoso? Como ocorre esta relação?

5. Existem políticas voltadas para os idosos vítimas de violência que se sustentam no

trabalho deste órgão/instituição? Como estão relacionadas com o Estatuto do Idoso?

6. Há serviços psicológicos ligados a este órgão/instituição? Como são realizados?

7. Há algum tipo de trabalho multidisciplinar, neste órgão/instituição, envolvendo a

Psicologia, a Assistência Social e o Direito?

60

APÊNDICE 2

ROTEIRO B – Destinado aos demais órgãos e instituições da amostra.

1. Serviços e/ou projetos voltados à idosos vítimas de violência.

2. Existem políticas voltadas para idosos vítimas de violência que sustentem o trabalho

neste órgão/instituição? Como estão relacionadas com o Estatuto do Idoso?

3. Descreva o trabalho realizado por este órgão/instituição.

4. Há serviços psicológicos ligados a este órgão/instituição?

5. Como se dá o atendimento psicossocial, com idosos vítimas de violência, pelo

profissional de psicologia neste órgão/instituição?

6. Há algum outro tipo de trabalho multidisciplinar, neste órgão/instituição, envolvendo a

Psicologia, a Assistência Social e o Direito?

61

ANEXO

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Você está sendo convidado(a) para participar, como voluntário, em uma pesquisa. Após ser esclarecido(a) sobre as informações a seguir, no caso de aceitar fazer parte do estudo, assine ao final deste documento, que está em duas vias. Uma delas é sua e a outra é do pesquisador responsável. Em caso de recusa você não será penalizado(a) de forma alguma.

INFORMAÇÕES SOBRE A PESQUISA: Título do Projeto: Violência contra o idoso: um estudo sobre os serviços de assistência psico-social articulados com o Estatuto do Idoso. Pesquisadoras Responsáveis: Mirella Alves de Brito (9997-7263) e Samia Cherem (9156-5545).

A pesquisa tem como objetivo explicitar as articulações entre a assistência psicossocial voltadas para idosos vítimas de violência e os preceitos do Estatuto do Idoso. Irá se realizar na forma de pesquisa exploratória através de entrevistas a órgãos e instituições ligados à defesa, controle e promoção de políticas voltadas à atenção ao idoso. Será utilizado, com o consentimento do entrevistado, gravador nas entrevistas. Estas terão seu tempo de duração em torno de 50 minutos. Após o término da pesquisa será passado uma devolutiva por meio de relatório acerca dos conteúdos analisados na entrevista. Fica esclarecido que o entrevistado permanecerá em anonimato, não sendo identificado no processo e finalização desta pesquisa, sendo de livre escolha a retirada do consentimento, pelo entrevistado, a qualquer tempo. - Nomes dos Pesquisadores: Mirella Alves de Brito e Samia Cherem - Assinatura do Pesquisador: CONSENTIMENTO DE PARTICIPAÇÃO DO SUJEITO Eu, _____________________________________, RG_____________, CPF ____________ abaixo assinado, concordo em participar do presente estudo como sujeito. Fui devidamente informado e esclarecido sobre a pesquisa, os procedimentos nela envolvidos, assim como os possíveis riscos e benefícios decorrentes de minha participação. Foi-me garantido que posso retirar meu consentimento a qualquer momento, sem que isto leve à qualquer penalidade ou interrupção de meu acompanhamento/assistência/tratamento. Local e data: _______________________________________________________________ Nome: ____________________________________________________________________ Assinatura do Sujeito ou Responsável: __________________________________________ Telefone para contato: _______________________________________________________