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Universidade Estadual de Feira de Santana Departamento de Tecnologia RODRIGO FREIRE BAHIA LAVAGNA COMPARATIVO ENTRE AS PROPRIEDADES DAS ARGAMASSAS DE REVESTIMENTO, RECICLADAS E PRODUZIDAS EM OBRAS DE FEIRA DE SANTANA Feira de Santana 2010

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Universidade Estadual de Feira de Santana

Departamento de Tecnologia

RODRIGO FREIRE BAHIA LAVAGNA

COMPARATIVO ENTRE AS PROPRIEDADES DAS ARGAMASSAS DE

REVESTIMENTO, RECICLADAS E PRODUZIDAS EM OBRAS DE

FEIRA DE SANTANA

Feira de Santana

2010

RODRIGO FREIRE BAHIA LAVAGNA

COMPARATIVO ENTRE AS PROPRIEDADES DAS ARGAMASSAS DE

REVESTIMENTO, RECICLADAS E PRODUZIDAS EM OBRAS DE

FEIRA DE SANTANA

Projeto Final II apresentado ao Curso de Engenharia Civil da Universidade Estadual de Feira de Santana como parte dos requisitos para obtenção do título de Bacharel em Engenharia Civil.

Orientação: Profª. Dra. Cintia Maria Ariani Fontes

Co-orientador: Prof. Dr. Paulo Roberto Lopes Lima

Feira de Santana

2010

Universidade Estadual de Feira de Santana

Departamento de Tecnologia

Este Trabalho Final de Curso foi apresentado como avaliação final da Disciplina

Projeto Final II e julgado adequado para cumprimento de parte dos requisitos para

obtenção do título de Engenheiro Civil e aprovado em sua forma final pela Banca

Examinadora.

__________________________________________

Profª. Dra. Cintia Maria Ariani Fontes (UEFS) Orientadora

_______________________________________ Profº. Dr. Paulo Roberto Lopes Lima (UEFS)

Co-orientador

______________________________________ Profª. Dra. Mônica Batista Leite (UEFS)

Feira de Santana, 28 de Janeiro de 2010.

Dedico este trabalho a toda minha família, em especial,

aos meus pais Romano e Wanda (em memória),

à minha irmã Maria Eugênia,

aos meus afilhados Iago e Amanda,

ao meu padrinho Geraldo, que me deram forças e me

apoiaram, principalmente nos momentos difíceis e

decisivos.

(...)

Hoje o tempo voa amor

Escorre pelas mãos

Mesmo sem se sentir

Não há tempo

Que volte amor

Vamos viver tudo

Que há pra viver

Vamos nos permitir

(...)

(Lulu Santos)

AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus, o principal responsável por toda a minha força e

coragem para chegar até aqui;

Agradeço a minha mãe, a maior torcedora por meu sucesso e a pessoa que esteve

sempre ao meu lado;

Agradeço ao meu pai, um exemplo de sabedoria, honestidade, carinho;

Agradeço à minha irmã, simplesmente por existir e fazer parte de minha vida;

Agradeço ao meu padrinho Geraldo, homem que sempre me apoiou e esteve

presente ao longo desta caminhada;

Agradeço aos meus amigos/irmãos Leandro, Cesar, Felipe, Diego, Nelson, Rogério,

Fabricio, Sandro e José Maurício, sem nossos encontros e comemorações não teria

suportado chegar até aqui;

Agradeço aos meus tios e primos, que mesmo distantes, torceram por mim e por

meu sucesso;

Agradeço à professora Cíntia Fontes, por toda sua atenção, bom humor e ajuda

nessa empreitada que parecia não ter fim;

Agradeço ao amigo Rafael que esteve presente nesta etapa final e que foi um

grande companheiro e apoio para conclusão deste trabalho;

Agradeço ao professor Paulo Roberto, pelo apoio e ensinamentos trazidos;

Agradeço aos integrantes da casa dos 7 Engenheiros, Felipe, Marcos, Geovan,

Leonardo, Diogo e Neives pela convivência pautada no respeito e na confiança;

Agradeço aos engenheiros Franklin Rios, Matheus Rios e Francisco Menezes, por

toda confiança depositada e pelas oportunidades profissionais que me concederam.

Agradeço, por fim a todos que de alguma forma contribuíram e torceram por mim.

RESUMO

O grande número de edificações e empreendimentos que vem sendo lançados,

devido ao aquecimento da economia, e em especial do setor da indústria da

construção civil, concatenaram para o aprofundamento de estudos sobre

argamassas de revestimento, bem como a busca por soluções para distintos

problemas das mesmas, como a disponibilidade de agregados naturais. A utilização

de resíduos de construção e demolição (RCD) vem sendo uma possibilidade para

redução de custo, e resolução destes problemas, além de minimizar o passivo da

construção civil em relação ao meio ambiente. Este trabalho se propôs a fazer um

comparativo entre as argamassas comerciais utilizadas na cidade de Feira de

Santana e as produzidas com agregados miúdos reciclados provenientes de RCD,

verificando o quanto da parcela das patologias comumente presentes (fissuração, pé

de parede, descolamento...) estão diretamente ligadas à presença de materiais

finos. Para isso foram produzidas seis argamassas, no traço 1:6, sendo quatro delas

com agregado miúdo natural proveniente de obras distintas existentes na cidade de

Feira de Santana e duas com agregado miúdo de RCD, variando o teor de finos

(parcela < 0,15mm). Neste caso utilizou-se para uma mistura o teor total de finos

presentes no RCD e para a outra mistura, a fração máxima prevista em norma que é

de 5%. O desempenho das argamassas foi avaliado através de ensaios de

resistência à compressão, massa específica, absorção de água, índice de vazios e

retração por secagem. Os resultados indicaram que as argamassas recicladas

apresentaram menor resistência e maior absorção, sem, contudo, este

comportamento implicar na sua não utilização como revestimento.

Palavras-chaves: propriedades, argamassas, agregados reciclados

ABSTRACT

The large number of buildings and developments that have been released due to

heating of the economy, particularly the sector of the construction industry,

concatenated for further studies on mortar coating, and the search for solutions to

various problems of same as the availability of natural aggregates. The use of mixed

construction and demolition (RCD) has been an opportunity for cost reduction, and

resolution of these problems and minimize the liabilities of construction in relation to

the environment. This study proposes to make a comparison between the mortar

used in the commercial city of Feira de Santana and produced with recycled fine

aggregate from RCD, checking how much the plot of diseases usually present

(cracking, foot wall, detachment ... ) are directly linked to the presence of fines. For

that six mortars were produced in 1:6 mapping, four of them with kid natural

aggregate from different works in the city of Feira de Santana and two with aggregate

kid RCD, varying the content of fines (share <0.15 mm ). In this case we used a

mixture to the total content of fines present in the RCD and the other mixture, the

fraction of maximum design standard which is 5%. The performance of mortars was

evaluated by testing the compressive strength, density, water absorption, voids and

shrinkage on drying. The results indicated that the recycled mortar had lower

resistance and higher absorption, without, however, this behavior does not imply its

use as a coating.

Keywords: properties, mortar, recycled aggregates

SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO .................................................................................................... 1

1.1 JUSTIFICATIVA ............................................................................................ 3

1.2 OBJETIVOS .................................................................................................. 4

1.2.1 Objetivo Geral ......................................................................................... 4

1.2.2 Objetivos Específicos .............................................................................. 4

1.3 ESTRUTURA DA MONOGRAFIA ................................................................. 5

2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ................................................................................ 6

2.1 RCD ............................................................................................................... 6

2.1.1 Agregado Miúdo de RCD ...................................................................... 12

2.1.1.1 Granulometria, forma e textura ....................................................... 13

2.1.1.2 Massa específica e unitária ............................................................ 15

2.1.1.3 Absorção de água .......................................................................... 16

2.1.1.4 Desgaste por abrasão .................................................................... 17

2.1.1.5 Matéria orgânica e material pulverulento ........................................ 18

2.2 ARGAMASSAS ........................................................................................... 19

2.2.1 PROPRIEDADES ................................................................................. 19

2.2.1.1 Trabalhabilidade ............................................................................. 19

2.2.1.2 Propriedades Mecânicas ................................................................ 20

2.2.1.3 Retração por Secagem ................................................................... 20

2.2.1.4 Durabilidade ................................................................................... 23

3. PROGRAMA EXPERIMENTAL ......................................................................... 24

3.1 MATERIAIS ................................................................................................. 24

3.1.1 Cimento Portland .................................................................................. 24

3.1.2 Agregados Naturais .............................................................................. 24

3.1.3 Agregados Reciclados .......................................................................... 25

3.1.4 Água ..................................................................................................... 25

3.2 DOSAGEM DAS ARGAMASSAS ................................................................ 25

3.3 PRODUÇÃO DAS ARGAMASSAS ............................................................. 27

3.4 MOLDAGEM, ADENSAMENTO E CURA DOS CORPOS DE PROVAS .... 28

3.5 PROPRIEDADES AVALIADAS ................................................................... 29

4. APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS .................................. 33

4.1 COMPARAÇÃO DAS AREIAS COMERCIAIS E RECICLADAS ................. 33

4.1.1 Agregado Natural e RCD ...................................................................... 33

4.2 ENSAIO DE RESISTÊNCIA À COMPRESSÃO AXIAL ............................... 34

4.3 ENSAIO DE ABSORÇÃO DE ÁGUA, ÍNDICE DE VAZIOS E MASSA

ESPECÍFICA ......................................................................................................... 36

4.4 RETRAÇÃO POR SECAGEM EM PRISMAS DE ARGAMASSA ................ 38

5. CONCLUSÃO .................................................................................................... 40

REFERÊNCIAS ........................................................................................................ 42

LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Distribuição da composição média de resíduos de construção coletados em

São Carlos (PINTO, 1986 citado por LEITE, 2001) .................................................... 8

Figura 2: Composição do resíduo de construção e demolição da cidade de Salvador

(CARNEIRO et al., 2000) ............................................................................................ 9

Figura 3: Forma e textura dos grãos. (a): agregado proveniente de RCD; (b)

agregado natural. (Fonte: SANTOS, 2008.) ............................................................. 15

Figura 4: Ensaio de índice de consistência .............................................................. 26

Figura 5: Produção das argamassas ........................................................................ 28

Figura 6: Ruptura de corpo de prova – ensaio de compressão axial aos 28 dias de

idade ......................................................................................................................... 30

Figura 7: Ensaio de absorção, massa específica e índice de vazios ........................ 31

Figura 8: Ensaio de retração por secagem ............................................................... 32

Figura 9: Composição granulométrica dos agregados naturais. ............................... 34

Figura 10: Resistência à compressão axial x índice de vazios ................................. 37

Figura 11: Retração por secagem x idade ................................................................ 38

Figura 12: Perda de massa x idade .......................................................................... 39

LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Composição granulométrica do agregado miúdo reciclado (Fonte: LEITE,

2001) ........................................................................................................................ 14

Tabela 2: Massas específicas e unitárias dos agregados reciclados. ...................... 16

Tabela 3: Absorção de agregados provenientes RCD.............................................. 17

Tabela 4: Consumo de materiais para realização do ensaio e moldagem dos corpos

de provas .................................................................................................................. 26

Tabela 5: Características físicas dos agregados naturais ........................................ 33

Tabela 6: Resistência à compressão axial ............................................................... 35

Tabela 7: Relação absorção de água do agregado x resistência da argamassa ..... 35

Tabela 8: Resultados absorção, índice de vazios e massa específica. .................... 36

1

1. INTRODUÇÃO

Feira de Santana é uma cidade que vem desenvolvendo-se rapidamente e suas

construções seguem o mesmo vertiginoso crescimento, o que acarreta em

problemas à qualidade da obra, face ao baixo controle tecnológico dos serviços ou

materiais. Com isso as argamassas de revestimentos atualmente empregadas vêm

apresentando manifestações patológicas (fissurações, manchas por capilaridade,

descolamento...), que precisam ser resolvidas, seja com novas técnicas e/ou

utilização de novos materiais. Tanto as novas tecnologias quantos os novos

materiais devem gerar um produto confiável, seguro e que atenda as demais

questões técnicas, como fissurações e descolamento do revestimento. Tais

problemas, em sua maioria, estão relacionados, inicialmente a pequenas fissuras

provenientes da retração. Este fenômeno está diretamente ligado ao tipo de

agregado utilizado na cidade, uma areia siltosa e com grandes quantidades de finos.

Uma vez que a areia é um material natural, não renovável, há sempre a necessidade

de se buscar outras jazidas cada vez que a última é esgotada. Com isso, o custo de

transporte e logística de retirada e distribuição deste material, fica cada vez mais

elevado, refletindo no custo direto do revestimento de argamassa. Esses fatores

levam a busca de técnicas construtivas para garantirem a sustentabilidade e

competitividade da indústria da construção civil.

O revestimento de argamassa tem por finalidade de utilização, a impermeabilização

de paredes, além de homogeneizar, dar aspecto estético e prevenir doenças

causadas por insetos e outros agentes epidemiológicos. Apesar da extrema

necessidade de utilização do revestimento de argamassa, no atual modelo sócio e

econômico, a sua utilização não se faz contínua junto às comunidades de baixa

renda devido ao seu alto custo.

2

A redução no custo do revestimento pode ser feita através da otimização das

quantidades dos materiais, ou utilização de materiais que possam responder bem as

mesmas características técnicas, com um custo menor que o usado como

referência. Uma das alternativas possíveis e que vem sendo proposta é a de se

estudar a viabilidade de uso do RCD em substituição parcial e total do agregado

natural (areia).

Tal fato pode vir a contribuir em diversos aspectos importantes como redução no

custo do revestimento, redução no consumo de recursos não renováveis, redução

na quantidade de RCD a ser disposto nos aterros sanitários e minimização do

impacto ambiental, através do reaproveitamento adequado do RCD, ao invés de,

apenas, continuar acumulando lixo e com isso, agravando uma problemática, já

atual, no que diz respeito aos impactos ambientais gerados pela construção civil.

Demonstrando a problemática dos RCD, Miranda (2000) diz que muitas cidades já

vêm apresentando problemas na disposição desses resíduos. Estes vão desde a

falta de espaços até o acumulo em locais impróprios, levando a problemas como

obstrução de vias, cursos d’água, entupimento de bueiros e ainda, servindo de foco

de proliferação de agentes transmissores de doenças.

As argamassas de revestimento têm como foco a segurança do usuário e a

qualidade do produto final. Para que o RCD seja utilizado na produção dessas

argamassas torna-se necessário que o agregado gerado seja caracterizado, a fim de

aperfeiçoar a produção da argamassa quanto à caracterização físico-mecânica do

produto final (argamassa de revestimento).

A caracterização física do agregado reciclado é necessária para se ter o

conhecimento do material no que diz respeito à dosagem e propriedades das

argamassas, visto que este possui grande escala de heterogeneidade de produção e

de características, sendo esta obtida através da sua granulometria, massa

específica e unitária, absorção de água, módulo de finura, diâmetro máximo dos

grãos, dentre outros, como nas areias naturais. O RCD diferencia-se do agregado

3

natural por ter massa específica e unitária menores e elevada absorção de água que

influenciam diretamente nas propriedades físico-mecânicas da argamassa.

Resultados apresentados por Marins (2008) demonstraram que a presença do RCD

nas argamassas reduziu os valores de resistência à compressão quando

comparados à referência. No que diz respeito à retração por secagem, o referido

autor, encontrou resultados maiores para as misturas com RCD quando comparados

à referência. Como o agregado reciclado apresenta em sua composição um elevado

teor de finos (fração < 0,15mm), acredita-se que a presença deste material é o fator

preponderante para a maximização do fenômeno da retração por secagem nas

argamassas recicladas. Por esse motivo, o presente trabalho fará uso do agregado

miúdo de RCD variando o teor de finos. Serão utilizados os seguintes teores de

finos: (1) agregado miúdo de RCD com o teor total de finos presentes no mesmo que

é de 10%; (2) agregado miúdo de RCD com a fração máxima de finos previsto na

norma NBR 7211, (ABNT, 2009), que é de 5%.

1.1 JUSTIFICATIVA

O estudo de novas tecnologias na produção de argamassa de revestimento é de

fundamental importância para o crescimento da utilização do mesmo, com

alternativas sustentáveis, promovendo nas edificações maior conforto e beleza

estética, além de criar uma alternativa para a problemática da escassez de recursos

não renováveis são dois dos principais fatores de impulso ao desenvolvimento deste

trabalho.

Levando em consideração a grande utilização dos revestimentos de argamassa à

base de cimento torna-se necessário a utilização de novas tecnologias a fim de

reduzir o seu custo. A substituição de agregados naturais por agregados reciclados

pode ser uma alternativa viável do ponto de vista técnico, econômico e ambiental.

Porém, estudos realizados por Marins (2008), demonstraram que a retração por

4

secagem em argamassas recicladas (cimento + areia + RCD) foi maior quando

comparada com a argamassa de referência (cimento + areia). Sabe-se que o

aparecimento de fissuras, devido a este mecanismo, causa uma sensação de

desconforto ao usuário, além de ocasionar a perda da funcionalidade das

argamassas no que diz respeito à impermeabilização. Na tentativa de minimizar este

efeito, o presente trabalho pretende utilizar agregado miúdo de RCD variando o teor

de finos (< 0,15mm) presente no material, a fim de avaliar a influência destes.

1.2 OBJETIVOS

1.2.1 Objetivo Geral

Comparar as propriedades físico-mecânicas de argamassas utilizando areias

recicladas e comerciais existentes em Feira de Santana.

1.2.2 Objetivos Específicos

a) Avaliar as propriedades das argamassas e comparar a influência do agregado

miúdo reciclado com o agregado natural;

b) Avaliar a propriedade mecânica de resistência à compressão e as

propriedades físicas de absorção de água por imersão, índice de vazios e

massa específica nas argamassas;

c) Avaliar a retração por secagem das argamassas e a perda de massa no

tempo comparando estes resultados para as argamassas com agregado

natural e agregado reciclado.

5

1.3 ESTRUTURA DA MONOGRAFIA

Cinco capítulos organizam este trabalho final de curso.

O capítulo I apresenta a introdução, a justificativa, os objetivos: geral e específicos,

deste trabalho.

O Capítulo II apresenta a definição de resíduo da construção, sua composição, além

da caracterização das propriedades dos materiais componentes da argamassa.

O Capítulo III apresenta o programa experimental para avaliação das propriedades

dos agregados miúdos reciclados e naturais, e para a avaliação da retração em

argamassas recicladas.

O Capítulo IV apresenta e discute os resultados.

O Capítulo V apresenta conclusão do comparativo e viabilidade de utilização técnica

entre as argamassas recicladas e aquelas normalmente encontradas na cidade de

Feira de Santana.

6

2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

O presente capítulo aborda as principais características do RCD, através de um

comparativo com agregado natural. Em seguida, revisa o comportamento físico-

mecânico entre as argamassas contendo RCD e a argamassa de referência.

2.1 RCD

O RCD é considerado todo e qualquer resíduo originário da construção civil, seja de

novas construções, reformas, demolições, seja de limpezas de terrenos com

presença de solos ou vegetação. Nele são encontrados diferentes tipos de materiais,

tais como diversos tipos de plásticos, isolantes, papel, materiais betuminosos,

madeiras, metais, concretos, argamassas, blocos, tijolos, telhas, solo e gesso,

dentre outros (ÂNGULO, 2000).

De acordo com Miranda (2000), o resíduo de construção e demolição pode ser

dividido em três tipos de frações:

a) a fração reutilizada: fração correspondente aos elementos de construção que

podem ser transformados diretamente em sua forma original e usados novamente

conforme sua função. Exemplos: janelas, grades de sacadas, etc.;

b) a fração reciclada: fração correspondente a materiais que não retêm nem a sua

forma nem a sua função original. Exemplo: componentes minerais (conglomerados

de cimentos e agregados minerais);

c) a fração descartada: fração correspondente a componentes indesejados na

reciclagem dentro do canteiro de obras. Exemplo: aço, gesso, plásticos, madeiras e

outros que possam inviabilizar a reciclagem.

7

A construção civil é vista como o principal medidor da produção econômica do país,

refletindo o crescimento e desenvolvimento, além disso, a indústria da construção

civil é uma grande usuária de recursos naturais e, sendo assim, grande geradora de

resíduos. Segundo Aragão et al. (2009), ela é, sem dúvida a maior fonte geradora de

resíduos de toda a sociedade, variando esta geração entre 0,7 e 1,0 toneladas por

habitante/ano. Foi estimado que em cidades brasileiras de médio e grande porte, a

massa de resíduos gerados varia entre 41 a 70% da massa total de resíduos sólidos

urbanos (PINTO, 1999).

A geração de resíduos na indústria da construção civil está ligada diretamente a

duas principais variáveis: primeiro ao grande consumo de insumos, e segundo, mas

não menos importante, ao desperdício destes insumos, geralmente, possíveis de

serem minorados por uma padronização dos serviços e sistemas de gestão de

qualidade. Essas perdas partem desde o projeto, com poucas especificações e

detalhamentos, passando pela qualidade insuficiente de muitos materiais à

disposição no mercado, findando-se na execução propriamente dita, causando, na

maioria das vezes, retrabalho.

O RCD se origina em diferentes fases dos empreendimentos: planejamento, projeto

e construção (ARAGÃO et al. 2009). Para reduzir a geração deste passivo, o

empreendimento deve estabelecer um objetivo bem definido, seguido por um

planejamento estratégico de execução e controle. Verificando que a geração do

RCD está ligada a diversas áreas das construções, reformas e demolições, se faz

necessário aperfeiçoar estes procedimentos, a fim de reduzir - lá. A maior parte da

geração, contudo, está localizada junto à fase de execução. Segundo Aragão et al.

(2009), a intensidade da perda em construções encontra-se entre 20 e 30% da

massa total de materiais, e está diretamente ligada à tecnologia aplicada, à

intensidade da atividade de construção de cada país, taxas de desperdícios e

manutenção.

Na construção civil, diversas atividades são executadas simultaneamente com

diversos tipos de materiais. Desta forma, a composição do RCD é extremamente

8

heterogênea nas diferentes obras e nas diferentes localidades, tendo em vista as

técnicas aplicadas e ao material disponível. Vislumbrando a heterogeneidade dos

RCD é preciso conhecer a composição desde resíduo, ao qual se pretende fazer o

beneficiamento para transformá-los em agregados reciclados.

A composição do resíduo de construção proveniente de canteiros de obras da

cidade de São Carlos/SP,foi analisada por Pinto (1986), citado por Leite, (2001).

Deste estudo 33 amostras de diferentes pontos foram analisadas, verificando-se que

cerca de 64% da composição do resíduo era de argamassas, 30 % de componentes

cerâmicos e o restante de outros materiais. A composição do resíduo estudado por

este pesquisador está apresentada na Figura 1.

Figura 1: Distribuição da composição média de resíduos de construção coletados em São

Carlos (PINTO, 1986 citado por LEITE, 2001)

Carneiro et al.(2000) verificaram a distribuição da composição para o município de

Salvador/BA. Foi constatado que cerca de 53 % da composição é proveniente de

concretos e argamassas e 14 % de resíduos cerâmicos (Figura 2). Esta diferença da

caracterização de Carneiro e Pinto mostram a heterogeneidade dos RCD.

9

Figura 2: Composição do resíduo de construção e demolição da cidade de Salvador

(CARNEIRO et al., 2000)

Face a heterogeneidade do RCD, visto que o mesmo pode ser oriundo dos diversos

materiais, como apresentado anteriormente na Figura 1 e Figura 2, faz-se

necessário uma classificação dos resíduos com o intuito de destiná-los de forma

correta e com menor impacto sócio-ambiental possível. Em seu trabalho, Lima

(1999), propôs uma classificação para o RCD em que os fatores considerados

foram: as diferenças tipológicas dos RCD disponíveis para a reciclagem; as

especificações para os agregados reciclados em seus usos atuais e potenciais; os

sistemas de classificação nacionais e internacionais; o modelo de operação das

usinas de reciclagem; as experiências estrangeiras onde o processo de

aproveitamento dos RCD já estão consolidados a mais tempo; a necessidade de

consumir quantidades significativas de resíduos.

A RESOLUÇÃO CONAMA Nº 307, de 5 de JULHO de 2002 onde os resíduos de

construção e demolição são classificados da seguinte maneira:

• Classe A - são os resíduos reutilizáveis ou recicláveis como agregados, tais como:

a) de construção, demolição, reformas e reparos de pavimentação e de outras obras

de infra-estrutura, inclusive solos provenientes de terraplanagem; b) de construção,

demolição, reformas e reparos de edificações: componentes cerâmicos (tijolos,

10

blocos, telhas, placas de revestimento etc.), argamassa e concreto; c) de processo

de fabricação e/ou demolição de peças pré-moldadas em concreto (blocos, tubos,

meios-fios etc.) produzidas nos canteiros de obras;

• Classe B - são os resíduos recicláveis para outras destinações, tais como:

plásticos, papel/papelão, metais, vidros, madeiras e outros;

• Classe C - são os resíduos para os quais não foram desenvolvidas tecnologias ou

aplicações economicamente viáveis que permitam a sua reciclagem/recuperação,

tais como os produtos oriundos do gesso;

• Classe D - são os resíduos perigosos oriundos do processo de construção, tais

como: tintas, solventes, óleos e outros, ou aqueles contaminados oriundos de

demolições, reformas e reparos de clínicas radiológicas, instalações industriais e

outros.

Vale ressaltar que esta resolução também trata sobre a destinação dos resíduos de

construção e demolição. Tal fato tornou-se necessário no frenético e avassalador

crescimento urbano surgem duas questões: (1) de que forma e para onde serão

levados os resíduos gerados. Em contrapartida, ainda existe parte deste resíduo que

não pode, ou não existe tecnologia para o seu reaproveitamento (2) de que forma o

RCD que não pode ser reaproveitado poderá ser adequadamente descartado,

porém para que o mesmo, não sirva como proliferação de doenças, aglomeração de

agentes epidemiológicos e de poluição.

Partindo deste pressuposto a RESOLUÇÃO CONAMA Nº 307, de 5 de JULHO de

2002 trata sobre a destinação dos resíduos da construção civil dividindo-os nas

seguintes classes:

Classe A: deverão ser reutilizados ou reciclados na forma de agregados, ou

encaminhados a áreas de aterro de resíduos da construção civil, sendo dispostos de

modo a permitir a sua utilização ou reciclagem futura;

11

Classe B: deverão ser reutilizados, reciclados ou encaminhados a áreas de

armazenamento temporário, sendo dispostos de modo a permitir a sua utilização ou

reciclagem futura;

Classe C: deverão ser armazenados, transportados e destinados em conformidade

com as normas técnicas específicas.

Classe D: deverão ser armazenados, transportados, reutilizados e destinados em

conformidade com as normas técnicas específicas.

Com a intenção de reduzir a disposição destes resíduos na natureza, vem sendo

estudado diversas formas de reaproveitá-los, principalmente os resíduos de classe

A, que são os de maior volume na construção civil. Hoje em dia, partes destes

resíduos estão se transformando em agregados para a produção de concretos e

argamassas e demais elementos utilizados na indústria da construção civil. Segundo

Flores (2009), o RCD pode ser adicionado a outros materiais, de forma a produzir

um concreto, por exemplo, que poderá ser aplicado na fabricação de várias

estruturas pré-moldadas tais como: blocos, lajotas, tijolos para pavimentos

intertravados e outras peças. Para Lima (1999) o agregado obtido a partir da

reciclagem de resíduo de construção possui diferentes aplicabilidades em diversos

serviços como pavimentação, argamassas de assentamento e revestimento,

concretos, fabricação de pré-moldados. Podem-se melhorar características de

argamassas, com a aplicação do agregado reciclado em substituição total ou parcial

à areia natural. O uso em pavimentação é de grande utilização e altamente

praticados nos municípios que reciclam rejeitos de construção, obtendo-se ótimos

resultados e consumindo-se quantidades significativas de resíduos. Outras

aplicações simplificadas como cobertura de aterros, controle de erosão, camadas

drenantes, rip-rap etc..

12

2.1.1 Agregado Miúdo de RCD

Segundo Miranda (2005), o termo agregado miúdo tem origem na tecnologia de

concreto, pois justamente conduz ao controle granulométrico até a dimensão de

partícula de 75 µm.

Quando empregados em argamassas, os agregados miúdos desempenham função

econômica e técnica. A função econômica é porque os agregados são consumidos

em grande quantidade nas argamassas de revestimento, reduzindo o custo da

mistura já que os aglomerantes hidráulicos usuais (cimento e cal hidratada)

apresentam maior custo. A função técnica é que os agregados atuam como

esqueleto rígido da argamassa, minimizando a sua retração por secagem e as

demais perdas graduais e cíclicas Os agregados proferem também, aumento da

resistência superficial e da resistência à abrasão dos revestimentos de argamassa,

conforme as suas propriedades geo-mecânicas e físicas, bem como a sua dosagem.

Segundo Miranda (2005), “O agregado miúdo para a produção de argamassas devia

ser, preferencialmente, de areia natural lavada de rio ou de cava, com formato o

mais esférico possível e com a predominância de grãos minerais entre 4,8 mm e 75

µm”. Contudo, são cada vez mais usadas areias recicladas que têm a vantagem de

serem produzidas com controle de qualidade específico sendo isto extremamente

favorável à produção de argamassas, além de minimizar o despejo de entulho para

o meio ambiente.

O agregado reciclado pode ser definido como um material granular, resultante de um

processo industrial envolvendo o processamento de materiais inorgânicos,

previamente e exclusivamente utilizados na construção, e aplicados novamente na

construção (KOPPEN citado por LEITE, 2001). A resolução 307 CONAMA, de 5 de

JULHO de 2002, define agregado reciclado como material granular proveniente do

beneficiamento de resíduos de construção que apresentem características técnicas

13

para a aplicação em obras de edificação, de infra-estrutura, em aterros sanitários ou

outras obras de engenharia.

Face à heterogeneidade dos RCD e os diferentes tipos de beneficiamento

empregado, os agregados reciclados por si só ou quando utilizados na produção de

argamassa apresentam características peculiares. A maior heterogeneidade, maior

porosidade, massa específica, absorção são consideradas as principais diferenças

entre o agregado reciclado e o agregado natural (BARRA, 1997, citado por LEITE,

2001). Estas características podem ser generalizadas para todos os tipos de

agregados reciclados de construção e demolição disponíveis, pois todos os

componentes do resíduo de construção, passíveis de reutilização, apresentam tais

propriedades em menores ou maiores proporções (LEITE, 2001).

A princípio, os estudos para utilização dos agregados reciclados baseavam-se em

dois fatores principais: a economia e o aspecto ambiental. Porém, os agregados

reciclados se tornam, a cada dia, uma realidade em contínuo crescimento.

Juntamente com esta crescente utilização destes agregados surge à necessidade de

obtenção de se conhecer profundamente suas características físicas, mecânicas e

de durabilidade. Das características mais importantes a serem estudadas para

utilização de agregados reciclados estão a granulometria, a absorção de água, a

forma e a textura, a resistência à compressão, o módulo de elasticidade e os tipos

de substâncias deletérias presentes nos materiais (MEHTA e MONTEIRO, 1994). A

seguir estão apresentadas algumas características dos agregados de RCD.

2.1.1.1 Granulometria, forma e textura

A granulometria característica de um material está associada a alguns fatores, entre

os mais importantes está a natureza mineralógica do material e o tipo de

equipamento utilizado para realização da britagem (MIRANDA, 2005).

14

Para os agregados reciclados a granulometria depende do tipo de resíduo

processado, das características dos britadores e do sistema de peneiramento

empregados na usina. Geralmente, os agregados reciclados apresentam alguns

parâmetros semelhantes a dos agregados convencionais. Dados de Leite (2001),

apresentados na Tabela 1, mostram essa semelhança para os valores de módulo de

finura e diâmetro máximo dos grãos.

Tabela 1: Composição granulométrica do agregado miúdo reciclado (Fonte: LEITE, 2001)

Quando se insere em argamassas e concretos a granulometria dos agregados

possui influência direta no que diz respeito à trabalhabilidade dos concretos no seu

estado fresco, sendo ainda um importante parâmetro para confecção das dosagens

das misturas. (BARRA, 1996, citado por LEITE, 2001).

No que diz respeito à textura e forma dos grãos, estas influenciam mais as

propriedades no estado fresco, como a trabalhabilidade. Comparando com as

partículas lisas e arredondadas, as partículas de textura ásperas, angulosas e

alongadas (caso do RCD) requerem mais pasta de cimento para produzir misturas

trabalháveis e, portanto, aumentam o custo da argamassa (MEHTA & MONTEIRO,

1994). Na Figura 3 pode ser observada a diferença de forma e textura dos grãos de

RCD e areias naturais.

(a)

Figura 3: Forma e textura dos grãos. (a): agregado proveniente de RCD; (b

2.1.1.2 Massa específica e

Os agregados oriundos do

unitárias menores que os agregados naturais. A

existentes nos agregados reciclados é um

o mesmo adquire maior leveza

respeito a esses agregados

O conhecimento das massa

que diz respeito ao estudo de

conhecimento desta propriedade

pelos reciclados de forma segura tecnicamente.

Na Tabela 2 estão apresentados valores de massas específicas e unitárias

disponíveis na literatura, para agregados reciclados

(b)

: Forma e textura dos grãos. (a): agregado proveniente de RCD; (b) agregado natural. (Fonte: SANTOS, 2008.)

e unitária

oriundos dos RCD, na maioria, apresentam massas específicas e

unitárias menores que os agregados naturais. A grande quantidade de poros

existentes nos agregados reciclados é um dos fatores para essa diferença,

maior leveza, concatenando para minimização destas

agregados (MARINS, 2008).

massas específicas e unitárias dos agregados

o estudo de dosagem dos concretos e argamassas

conhecimento desta propriedade permite a substituição dos agregados naturais

pelos reciclados de forma segura tecnicamente.

estão apresentados valores de massas específicas e unitárias

, para agregados reciclados.

15

agregado natural.

maioria, apresentam massas específicas e

quantidade de poros

sa diferença, visto que

destas no que diz

é relevante no

e argamassas. O

dos agregados naturais

estão apresentados valores de massas específicas e unitárias

16

Tabela 2: Massas específicas e unitárias dos agregados reciclados.

FONTE Massa específica (g/cm³) Massa unitária (g/cm³)

EXATA (2007) 2,70 1,44

SELMO (2001) 2,64 1,13

LINTZ (2006) 2,34 1,33

A Tabela 2 apresenta massas específicas e unitárias para agregados reciclados,

sendo estas muito distintas, verificando a heterogeneidade destas. Neste caso

alguns agregados apresentam massas específicas e unitárias, muito próximas de

areias naturais, salvo para Lintz, (2006).

2.1.1.3 Absorção de água

Em geral os agregados naturais apresentam baixa absorção, cerca de 2%, de água

e por isso essa característica que não exerce grande influência na produção de

concretos e argamassas. Em contrapartida os agregados reciclados apresentam

elevados valores de absorção de água. Isto acontece, devido a sua elevada

porosidade. Estudos revelam que amostras de diferentes composições

apresentaram saturação máxima em 15 minutos e que em apenas 5 minutos de

imersão as amostras atingiram pelo menos 95% da absorção total, que é de cerca

de 15% (I&T, 1995, citado por MARINS, 2008).

Segundo Quebaud e Buyle-bodin (1999), citados por Marins, (2008), os agregados

miúdos reciclados de RCD apresentam uma taxa de absorção de 12%, para Silva &

Arnosti (2005) a taxa é de 6,12% e Carrijo & Figueredo (2005) falam sobre cerca de

9%. Segue na Tabela 3, valores de absorção de agregados provenientes de RCD.

17

Tabela 3: Absorção de agregados provenientes RCD.

FONTE ABSORÇÃO(%)

QUEBAUD E BUYLE-BODIN (1999) 12,0

HANSEN (1992) 11,0

I&T (1990) 3,0 à 8,0

O estudo da absorção dos agregados possui inúmeras importâncias, é a partir deste

que se pode pré definir relações de água/cimento (a/c), para que a resistência não

seja tão afetada pela substituição do agregado natural pelo reciclado.

2.1.1.4 Desgaste por abrasão

O ensaio de desgaste por abrasão dos agregados é importante, pois oferece um

indicativo da qualidade do material a ser utilizado na produção dos concretos e

argamassas

Segundo Leite (2001) os agregados reciclados apresentam menor resistência ao

impacto, bem como menor resistência ao desgaste por abrasão que os agregados

naturais. A resistência à abrasão dos agregados reciclados esta associada

diretamente ao material ao qual deu origem, sendo tão mais resistente quanto o

RCD beneficiado para sua fabricação. Hansen e Narud (1983), citados por Leite

(2001) relatam valores de perda por abrasão Los Angeles para agregados reciclados

20 a 50 % maiores que para os agregados naturais.

Agregados que apresentem perda de massa superior a 50% são considerados, pela

NBR NM 51 (ABNT, 2003), como inapropriados e inadequados. Os estudos sobre tal

tema demonstram que os agregados produzidos a partir de RCD atendem as

condições de norma.

18

2.1.1.5 Matéria orgânica e material pulverulento

O húmus é o principal constituinte da matéria orgânica que pode estar presente nos

agregados e sua existência é muito mais prejudicial no agregado miúdo que no

graúdo, no qual pode ser retirado com maior facilidade, além do mesmo possuir uma

superfície específica inferior (COUTINHO, 1997, citado por LEITE, 2000).

A presença de matéria orgânica gera um aumento do tempo de início de pega, além

de diminuição da resistência inicial dos concretos e argamassas, devido à formação

de bolhas que prendem ar na mistura. Ainda existe o perigo de reações químicas

entre a pasta e o material orgânico, diminuindo o pH da solução, influenciando ainda

na hidratação do cimento. Além disso, pode ocorrer instabilidade dimensional dos

concretos submetidos a ciclos de gelo-degelo devido à presença deste tipo de

impureza (DESSY et al., 1998, citado por LEITE, 2000).

No que diz respeito aos materiais pulverulentos, os agregados reciclados de RCD

geralmente apresentam elevados teores de material fino, estando este entre 18 –

32%, (MIRANDA e SELMA, 2003).

A quantidade de fino em uma argamassa gera principalmente o efeito de retração

por secagem, objeto deste estudo, visto que a grande quantidade de micro poros

permite a saída da água antes do tempo, aumentando as tensões localizadas,

fazendo com que as argamassas sofram fissuras posteriores.

19

2.2 ARGAMASSAS

2.2.1 PROPRIEDADES

A preocupação com estudo das propriedades das argamassas recicladas se torna

importante, pois através destas é possível o entendimento e a compreensão dos

comportamentos físico-mecânico dos materiais. A partir daí, são definidas

potencialidades para o uso de um novo material (técnica e economicamente)

Silva et al. (1997), citados por Carneiro et al., (2001), estudaram diversos traços

experimentais de argamassa com adição de agregado reciclado. As amostras

estudadas apresentaram resultados satisfatórios, tendo como benefício secundário a

redução do consumo de cimento.

2.2.1.1 Trabalhabilidade

Segundo Carasek (1996), citado por Marins (2008), a trabalhabilidade das

argamassas pode ser definida como a capacidade de uma mistura fluir ou espalhar-

se numa superfície de um substrato vencendo suas saliências, protuberâncias e

reentrâncias.

A trabalhabilidade é uma propriedade que passa por um conceito extremamente

subjetivo do laboratorista, operário que está trabalhando com a argamassa. Devido a

este fato é necessário mensurar a trabalhabilidade das argamassas a partir de

parâmetros físicos. O método utilizado é o ensaio de consistência, prescrito pela

NBR 13276 (ABNT, 1995), que avalia o espalhamento da argamassa sobre uma

mesa de consistência.

20

As argamassas contendo material reciclado apresentam uma consistência muito boa

logo após o processo de mistura. Porém há uma significativa perda de água, para o

meio, ao longo do tempo, devido a alta porosidade, diminuindo a trabalhabilidade

durante o processo de aplicação e acabamento. (CARNEIRO et al., 2001)

2.2.1.2 Propriedades Mecânicas

As argamassas com RCD apresentam grande heterogeneidade em relação as suas

propriedades, comparando com as argamassas produzidas com agregado natural,

este fenômeno acontece, justamente pela grande variação de propriedade dos

agregados reciclados, visto que estes são produzidos de diversas matrizes. Em

pesquisa realizada por Levy (1997), as argamassas produzidas com RCD possuem

redução de cerca de 50% de resistência à compressão, porém há um acréscimo de

mesma ordem de grandeza para a resistência à aderência. Já em estudo realizado

por Pinto (1989), citado por Leite, (2001), foram produzidas argamassas com

agregados de RCD e com agregado natural e as suas resistências à compressão

foram praticamente iguais.

Para uma análise mais completa da qualidade das argamassas recicladas deve-se

ser avaliadas outras propriedades, tais como retração por secagem que segundo

Lima (1999) aumenta, causando maior número de fissuras na mesma.

2.2.1.3 Retração por Secagem

Retração é a redução de volume que ocorre nas argamassas e concretos, durante e

após o fim de pega da pasta de cimento, com exposição ao meio ambiente. A

retração total é a junção de outros tipos de retrações conhecidas: retração térmica,

21

retração plástica, retração hidráulica, retração por carbonatação e retração autógena

(AÏTCIN, 2000, citado por SCHMIDT et al., 2003).

A principal causadora da retração por secagem é a água livre existente nas misturas

de argamassas e concretos. Quando expostas a ambientes com umidade

relativamente baixa, a água livre presente nos poros tende a migrar para o meio

externo gerando tensões internas que ocasionam o fenômeno da retração por

secagem

Existe dificuldade no entendimento do fenômeno da retração em razão da

complexidade dos diferentes mecanismos atuantes e de fatores que podem

influenciar o fenômeno. Com base nas descrições dos mecanismos associados à

perda de água, pode-se resumir que no decorrer da secagem do material ocorre:

‘• Perda da água capilar contida nos poros de maior diâmetro (macro poros), porém

sem atingir valores significativos de tensão capilar;

• Início da formação de meniscos na faixa de mesoporos e do conseqüente aumento

da tensão capilar. Ao mesmo tempo, a difusão da água contida em poros com

diâmetro menor, porém conectados, também provoca uma variação da pressão de

separação;

• Em ambientes com umidade relativa baixa, os diâmetros de poros pequenos (40%

de umidade relativa e 2,5 nm), atingem um estágio onde não é possível existir o

menisco. A partir desse instante, a variação dimensional se dá em razão da variação

de tensão superficial da água adsorvida na superfície sólida e da variação da

pressão de desligamento da água interlamelar do C-S-H.

As retrações em materiais cimentícios podem ser classificadas nos seguintes tipos,

segundo Neto (2002):

• Retração plástica: ocorre antes do fim de pega, ainda no estado fresco através da

evaporação rápida inicial da água de amassamento, pela superfície exposta da

mistura cimentícia, resultando em fissuração superficial, facilmente observável.

22

• Retração por secagem: acontece depois do fim da pega do cimento e ocorre

devido à redução dimensional causada pela evaporação da água de poro da mistura

cimentícia. Em um ambiente com umidade abaixo de 100%, na pasta de cimento dá-

se à perda de água e a conseqüente retração (POWERS, 1968, citado por NETO

2002).

• Retração autógena: definida como a mudança de volume sob temperatura

constante, e sem perda de umidade da mistura cimentícia para o meio ambiente, é

causada pela redução da umidade relativa no interior dos poros em decorrência da

evolução da hidratação do cimento. (POWERS, 1968, citado por NETO 2002). Neste

tipo de retração, ocorre o consumo da água dos capilares em razão das reações de

hidratação resultando na retração do material. Este mecanismo também é conhecido

como auto-secagem. Tazawa et al. (2000), citado por Neto (2002) sugere que o

resultado macroscópico da retração autógena é soma da retração química mais o

efeito físico da auto-secagens, que seria a retração por depressão capilar.

• Retração ou contração térmica: A reação entre o cimento e a água é exotérmica,

gerando calor, liberado para o ambiente, sendo parte deste calor liberado nas idades

iniciais quando a mistura cimentícia ainda é suscetível a deformações; em grandes

volumes parte deste calor é acumulada ocasionando uma expansão térmica.

Quando a taxa de hidratação diminui, a temperatura diminui e, como conseqüência,

tem-se a retração térmica ou contração térmica, que pode causar sérios danos a

determinadas estruturas (WITTMANN, 1982, citado por NETO 2002).

A retração por secagem e a retração autógena são causadas, principalmente, pelo

mesmo mecanismo de tensão capilar. A causa da retração por secagem é a perda

da umidade para o ambiente, pela ação do vento e da temperatura e a retração

autógena para as reações de hidratação.

Parte da retração pode ser considerada reversível, retornando a valores mais

próximos das dimensões originais (MEHTA e MONTEIRO, 1994). Geralmente, esta

recuperação se dá através de um molhamento da peça. Porém, a maior parte da

23

retração não é recuperada com o molhamento, sendo esta parte denominada de

retração irreversível, provavelmente em razão de mudanças na estrutura do C-S-H

durante o período de secagem. (MEHTA, MONTEIRO, 1994)

Lima (1999) mostra que as argamassas recicladas apresentaram retração bem

maior que as argamassas convencionais, e isso se explica, pela taxa de absorção

dos resíduos reciclado, devido ao maior teor de finos.

As mudanças dimensionais e a tendência à fissuração de uma argamassa

dependem além das condições de exposição (temperatura, umidade e velocidade do

ar circundante), das características intrínsecas do material, dos seus constituintes

(capacidade de retenção de água em função da finura, da forma e da textura

superficial dos grãos), bem como da geometria da peça estrutural, expressa pela

área exposta ao ar por unidade de volume do material moldado.

2.2.1.4 Durabilidade

As argamassas recicladas devem atender como as argamassas naturais, padrões

mínimos de resistência à compressão, e à aderências, bem como resistir

minimamente à agressão de agentes e do tempo. O tempo é um fator extremamente

implacável, danificando o desempenho das argamassas, fazendo a mesma

perderem suas características iniciais. Algumas intervenções e cuidados se fazem

necessário para aumentar a durabilidade, como a execução de manutenções

freqüentes, necessárias para assegurar o bom desempenho das estruturas,

minimizando o surgimento de danos patológicos.

Segundo Lima (1999), “muito dos usos indicados para o reciclado ainda não foram

objeto de pesquisa científica suficiente, principalmente quanto à durabilidade”. Como

a utilização de agregados reciclados é relativamente recente, os aspectos de

durabilidade não se fazem, ainda, representativos para afirmações.

24

3. PROGRAMA EXPERIMENTAL

O programa experimental realizado no presente estudo foi elaborado com o objetivo

de comparar propriedades físicas e mecânicas de argamassas produzidas com

agregado miúdo natural e proveniente de RCD.

3.1 MATERIAIS

3.1.1 Cimento Portland

O cimento utilizado no trabalho foi o CPII-Z-32 (Cimento Portland Composto com

Pozolana) que atende as especificações da NBR 11578 (ABNT, 1991), cuja

resistência é de 32 MPa e massa específica de 3150 kg/m³.

3.1.2 Agregados Naturais

Os agregados miúdos utilizados foram coletados em quatro obras, que estão em

andamento, na cidade de Feira de Santana. São de empresas distintas e tem como

intuito avaliar o agregado que está sendo utilizado na cidade.

Para caracterização dos agregados, foram realizados os ensaios de: composição

granulométrica, NBR NM 248 (ABNT 2001), teor de material pulverulento NBR NM

49 (ABNT, 2003) e massa específica NBR NM 52 (ABNT, 2003).

25

3.1.3 Agregados Reciclados

O agregado reciclado utilizado neste trabalho já se encontrava caracterizado e

disponível no Laboratório de Materiais de construção da Universidade Estadual de

Feira de Santana (SANTIAGO, 2008). A partir deste agregado, foram dosadas duas

amostras do mesmo, uma contendo 10% de material pulverulento (quantidade real

de finos do material), e a outra com apenas 5% dos finos como previsto em norma

NBR 7211 (ABNT, 2009).

3.1.4 Água

Para a produção das argamassas foi utilizado água direto do sistema de

abastecimento público – EMBASA.

3.2 DOSAGEM DAS ARGAMASSAS

Foi utilizado o traço 1:6 (cimento : areia), sendo este comumente utilizado para

produzir argamassas de revestimento.

O fator água-cimento das argamassas com diversos agregados foi obtido a partir da

fixação da trabalhabilidade, neste trabalho medida pelo índice de consistência em

mesa de consistência, conforme NBR 7215 (ABNT, 1996). Nesse intuito foi definido

um espalhamento, ou índice de consistência de 280±10 mm para todas as mistura,

de modo a obter argamassas com fácil aplicabilidade e boa aderência ao chapisco,

porém com diferentes relações água/cimento. Este ensaio foi executado conforme

prescrição NBR 7215 (ABNT, 1996), e está apresentado na Figura 4.

26

Na Tabela 4 estão apresentados o traço, o consumo de matéria e o fator

água/cimento para cada mistura.

Figura 4: Ensaio de índice de consistência

Tabela 4: Consumo de materiais para realização do ensaio e moldagem dos corpos de provas

MISTURA TRAÇO a/c CONSISTÊNCIA

(mm)

CONSUMO DE MATERIAIS

CIMENTO (kg/m³)

AGREGADO (kg/m³)

ÁGUA (kg/m³)

AREIA 01 1:6 1,00 284,00 265,50 1593,00 75402,00

AREIA 02 1:6 0,93 280,00 263,86 1583,16 73880,80

AREIA 03 1:6 1,00 283,00 264,09 1584,54 74737,47

AREIA 04 1:6 0,97 281,00 269,77 1618,62 75805,37

RCD 10% 1:6 1,55 280,00 230,05 1380,30 64414,00

RCD 5% 1:6 1,50 281,00 232,73 1396,38 65397,13

*RCD10% - Agregado reciclado com 10% de material pulverulento; RCD5% - Agregado reciclado com

5% de material pulverulento.

27

3.3 PRODUÇÃO DAS ARGAMASSAS

Para a comparação foi utilizado seis amostras, sendo quatro de agregado natural e

duas de agregado reciclado, sendo que uma amostra continha a quantidade de finos

total do RCD, 10%, e a outra apenas a quantidade prevista em norma (NBR 7211

ABNT 2005), que é de 5%.

As misturas foram executadas em argamassadeiras de 5 litros de capacidade, de

acordo sequência estabelecida pela norma NBR 7215 (ABNT, 1996), sendo

apresentadas a seguir e ilustrado na Figura 5.

Inicialmente colocou-se a água, cerca de 70%, adicionou-se o cimento e mistura em

velocidade baixa (30 segundos), em seguida adicionou-se o agregado com a

argamassadeira em movimento (30 segundos), adicionou-se o restante da água

(30%) e mistura-se (30 segundos) a velocidade alta. Limpou-se as paredes da

argamassadeira, com o intuito de toda a argamassa ficar misturada

homogeneamente (15 segundos). Cobriu-se a mistura com pano úmido (1 minuto e

15 segundos). Por fim misturou-se tudo em alta velocidade (1 minuto). O tempo total

de mistura foi de 4 minutos.

(a) Mistura água + cimento

(b) Adição do agregado

28

(c) Mistura água + cimento + agregado

(d) Limpeza das paredes

(e) Descanso

(f) Mistura água + cimento + agregado (final)

Figura 5: Produção das argamassas

3.4 MOLDAGEM, ADENSAMENTO E CURA DOS CORPOS DE PROVAS

Após homogeneização da mistura, foram moldados, por mistura, 09 (nove) corpos

de prova (CP) cilíndricos, medindo 50 x 100 mm (diâmetro x altura), 06 (seis) CP

29

para ensaio de compressão axial e 03 (três) CP’s para absorção de água. A

moldagem foi realizada em duas camadas, sendo cada camada adensada em mesa

vibratória por 5 segundos. Além desses, foram moldados 03 (três) corpos de prova

prismáticos, medindo 2,5 x 2,5 x 28,5 cm, utilizados no ensaio de retração por

secagem. A moldagem foi feita em três camadas, sendo cada camada adensada

manualmente, devido ao tamanho das peças. Em seguida todos os CP’s foram

cobertos com placas de vidro e plásticos por um período de 24 horas. Após esse

tempo foram desmoldados e encaminhados à câmara úmida, onde permaneceram

submersos em água com cal, até a idade do ensaio (28 dias).

3.5 PROPRIEDADES AVALIADAS

As propriedades avaliadas foram resistência à compressão, massa específica,

absorção de água, índice de vazios e retração por secagem.

Para a determinação da resistência à compressão (Figura 6) foram utilizados seis

corpos de prova (CP’s) por mistura. Os corpos de prova foram rompidos de acordo

com procedimentos estabelecidos pela NBR 7215 (ABNT, 1996), em uma prensa

hidráulica (HD – 200T), servo controlada.

30

(a) (b)

Figura 6: Ruptura de corpo de prova – ensaio de compressão axial aos 28 dias de idade

Os ensaios para determinação da massa específica, absorção de água e índice de

vazios foram realizados segundo critérios da NBR 9778 (ABNT, 2005). Foram

moldados três corpos de prova para cada mistura, totalizando 18 corpos de prova,

que foram retirados da cura aos 28 dias para início dos ensaios. Posterior a retirada

da cura, aos 28 dias, os CP’s foram levados até estufa, com temperatura de 105ºC,

para secagem com duração de 72 horas, ou até constância de massa. Após este

período os CP’s são pesados, para determinação de sua massa seca. Em seguida

os CP’s são saturados e pesados, determinado a massa saturada. As etapas do

ensaio estão apresentadas na Figura 7

31

Figura 7: Ensaio de absorção, massa específica e índice de vazios

O ensaio de retração por secagem foi executado em corpos de provas prismáticos

2,5 x 2,5 x 28,5 cm, de acordo cm a ASTM C 157. Para cada amostra foram

moldados três prismas, totalizando 18 unidades. Após a cura os prismas foram

retirados e secos com um pano úmido, a fim de se retirar o excesso de água

superficial. Foram realizadas as leituras iniciais de comprimento e massa.

Posteriormente os prismas ficaram expostos a secagem em ambiente laboratorial,

com temperatura e umidade controlada (T = 23 ± 2ºC; UR = 50 ± 4%). Os cálculos

de retração foram realizados através da Equação 01. A Figura 8 ilustra o ensaio.

32

� � ���

�� ��

(Equação 01)

Onde:

é retração por secagem (µε); �� corresponde a variação de comprimento (Lj-L), sendo Lj o comprimento a j dias de secagem, em mm; L corresponde ao comprimento inicial, após 28 dias de cura, em mm.

(a) Barra de Invar

(b) Termohigrômetro digital

(c) Equipamentos de leitura

(d) Medições

Figura 8: Ensaio de retração por secagem

33

4. APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

4.1 COMPARAÇÃO DAS AREIAS COMERCIAIS E RECICLADAS

4.1.1 Agregado Natural e RCD

As características físicas e composição granulométrica dos agregados miúdosestão

apresentadas na Tabela 5 e na Figura 9, respectivamente. Para efeito de

nomenclatura, as areias 01, 02, 03 e 04 são agregados naturais.

Tabela 5: Características físicas dos agregados naturais

Comparando os dados da Tabela 5, verifica-se que os agregados naturais,

apresentam características muito semelhantes, salvo sobre a quantidade de material

pulverulento, que variou de 9,00% a 17,20%. O RCD, por sua vez apresenta

absorção muito maior que as areias naturais, cerca de 10 vezes, tal fato se deve

pela a porosidade, além de apresentar maior módulo de finura.

ENSAIO RESULTADOS

AREIA 01 AREIA 02 AREIA 03 AREIA 04 RCD 10%

ABSORÇÃO (%) 2,01 1,73 2,02 2,12 18,80

MASSA ESPECÍFICA APARENTE (g / cm³)

2,33 2,27 2,32 2,35 2,18

MASSA SATURADA SUPERFÍCIE SECA ESPECÍFICA (g / cm³)

2,38 2,31 2,36 2,40 2,28

MASSA ESPECÍFICA (g / cm³) 2,45 2,36 2,43 2,48 2,42

MATERIAL PULVERULENTO (%) 17,20 9,00 12,10 13,50 10,00

MÓDULO DE FINURA 2,03 1,93 1,69 1,74 2,46

34

Figura 9: Composição granulométrica dos agregados naturais.

Com relação à granulometria, as areias naturais, conforme figura acima,

apresentaram curvas granulométricas muito próximas. Isto ocorreu pelo fato que as

mesmas, apesar de terem sido recolhidas de obras distintas, estão situadas dentro

de uma mesma região (Feira de Santana).

4.2 ENSAIO DE RESISTÊNCIA À COMPRESSÃO AXIAL

Os resultados do ensaio de resistência à compressão axial estão apresentados na

Tabela 6.

0,0

10,0

20,0

30,0

40,0

50,0

60,0

70,0

80,0

90,0

100,0

4,8 2,4 1,2 0,6 0,3 0,15

Pas

san

te a

cum

ula

do

em

%

Diâmetro em mm

Curva Granulométrica Agregados Naturais

AMOSTRA 01

AMOSTRA 02

AMOSTRA 04

AMOSTRA 03

35

Tabela 6: Resistência à compressão axial

TRAÇO 1:6

MSTURA AREIA 01 AREIA 02 AREIA 03 AREIA 04 RCD 10% RCD 5%

RESISTÊNCIA MÉDIA (MPa) 16,17 18,87 16,54 17,54 10,64 14,02

DESVIO PADRÃO (MPa) 0,722 1,085 0,874 0,995 0,353 0,721

COEFICIENTE DE VARIAÇÃO (C.V.)(%)

4,47 5,75 5,28 5,67 3,32 5,14

As argamassas com agregado natural apresentaram maiores valores de fc quando

comparadas às argamassas de agregados provenientes de RCD. A argamassa RCD

10% apresentou redução de resistência à compressão em relação às argamassas

com areia natural, na faixa de 50 a 70%, e para as argamassas com RCD 5%, a

redução foi de 15 a 35%. Isto ocorreu pelo fato das argamassas à base de RCD

utilizarem maior quantidade de água, ou seja, maior relação a/c, para mesma

trabalhabilidade, devido à grande absorção dos agregados, como mostra a Tabela 7.

Tabela 7: Relação absorção de água do agregado x resistência da argamassa

MISTURA FATOR a/c ABSORÇÃO DO AGREGADO (%)

RESISTÊNCIA MÉDIA (MPa)

AREIA 01 1,00 2,01 16,17

AREIA 02 0,93 1,73 18,87

AREIA 03 1,00 2,02 16,54

AREIA 04 0,97 2,12 17,54

RCD 10% 1,55 18,8 10,64

RCD 5% 1,50 - 14,02

Entre as argamassas com agregado reciclado (RCD 10% e RCD 5%), também são

apresentadas diferenças expressivas no que diz respeito à resistência à

compressão, sendo esta em torno de 40%. Este fenômeno pode estar associado à

quantidade de material pulverulento existente no resíduo, que contribuiu para o

aumento do fator a/c para manter a mesma trabalhabilidade, reduzindo assim, a

resistência à compressão da argamassa RCD 10% quando comparada a RCD 5%.

36

Mesmo assim, pode-se dizer que os resultados referentes à resistência à

compressão das argamassas são extremamente satisfatórios, tanto das argamassas

com agregado natural, quanto daquelas com agregados reciclados para serem

empregadas como argamassas de revestimento.

4.3 ENSAIO DE ABSORÇÃO DE ÁGUA, ÍNDICE DE VAZIOS E MASSA

ESPECÍFICA

Os resultados de determinação da massa específica, absorção de água e índice de

vazios das argamassas estudadas estão apresentados na Tabela 8.

Tabela 8: Resultados absorção, índice de vazios e massa específica.

Propriedades físicas das argamassas endurecidas (NBR 9778/2005)

Traço 1:6

AREIA 01

AREIA 02

AREIA 03

AREIA 04

RCD 10%

RCD 5%

Absorção de água (%) MÉDIA 11,17 10,56 10,84 10,99 19,30 17,81

C.V. 1,20 0,29 4,39 3,98 0,25 2,80

Índice de vazios (%) MÉDIA 21,29 20,65 21,12 21,54 33,16 31,69

C.V. 1,43 0,27 4,30 3,89 0,13 1,72

Massa específica da amostra seca (g/cm³)

MÉDIA 1,92 1,95 1,92 1,97 1,72 1,76

C.V. 1,18 0,02 0,88 0,26 0,37 1,39

Massa esp. da amostra saturada (g/cm³)

MÉDIA 2,13 2,16 2,14 2,18 2,05 2,07

C.V. 1,16 0,01 0,93 0,37 0,33 1,06

Massa específica real (g/cm³)

MÉDIA 2,43 2,46 2,46 2,50 2,57 2,55

C.V. 1,45 0,05 1,48 1,00 0,44 1,17

Os resultados de absorção, apresentados na Tabela 8, indicam que as argamassas

com agregado reciclado possuem maiores índices de absorção, faixa entre 70 a

37

90%, que as argamassas com agregado natural. Isso se deve pelo alto índice de

absorção dos agregados, bem como a forma irregular dos grãos de RCD.

Entre as argamassas moldadas com agregado oriundo do RCD, a mistura RCD 10%

apresentou maior absorção de água em função da maior quantidade de material

pulverulento.

Entre as argamassas provenientes de agregados naturais, a absorção de água

diferenciou minimamente, sendo o maior índice para a mistura com maior teor de

material pulverulento (Areia 01), confirmando que o teor de finos influencia

diretamente na absorção de água.

Com relação ao índice de vazios, na Figura 10, encontra-se a correlação entre este

parâmetro e a resistência à compressão axial das argamassas.

Figura 10: Resistência à compressão axial x índice de vazios

Verificou-se que quão maior foi o índice de vazios, menores foram às resistências à

compressão das argamassas. O aumento do índice de vazios alcançou cerca de

60%, enquanto a tensão foi reduzida em cerca de 43%, isto considerando a

10

12

14

16

18

20

20 22 24 26 28 30 32 34

RES

ISTÊ

NC

IA (

MP

a)

ÍNDICE DE VAZIOS (%)

AREIA 01

AREIA 02

AREIA 03

AREIA 04

RCD 10%

RCD 5%

38

condição mais favorável das argamassas com agregado natural e a pior condição do

agregado reciclado.

Os valores, tanto para a absorção quanto para o índice de vazios, convergiram junto

com os valores de resistência à compressão axial, visto que as argamassas que

absorveram mais água foram também as que possuíram maiores índice de vazios, e

menores valores de resistência à compressão.

4.4 RETRAÇÃO POR SECAGEM EM PRISMAS DE ARGAMASSA

Os dados de retração por secagem e perda de massa dos prismas de argamassas

estão apresentados nas Figura 11 e Figura 12, respectivamente.

Figura 11: Retração por secagem x idade

-1600,0

-1400,0

-1200,0

-1000,0

-800,0

-600,0

-400,0

-200,0

0,0

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9

Ret

raçã

o p

or

seca

gem

ε)

Idade (dias)

AREIA 01

AREIA 02

AREIA 03

AREIA 04

RDC 10%

RCD 5%

39

Para as primeiras idades os valores de retração por secagem e perda de massa não

são dados conclusivos, visto que as argamassas com agregados reciclados e

naturais, ainda não liberaram toda a quantidade de água possível. Para tanto, pode-

se dizer que nas idades iniciais (8 dias) verificou-se que todas as misturas, com

exceção da argamassa com areia 01, apresentaram valores de retração próximos.

Figura 12: Perda de massa x idade

A respeito das perdas de massa, as argamassas fabricadas com areias naturais

apresentaram perdas semelhantes, e inicialmente maiores que as fabricadas com

RCD. Isso se deve pela forma regular dos grãos das areias naturais, promovendo

liberação de água mais rápida, já os RCD por apresentar forma e textura mais

irregulares e maior porosidade, dificultam a liberação total da água para o meio.

Vale ressaltar que conclusões ainda não podem ser feitas com relação a este

ensaio, visto que o mesmo ainda está em andamento, e precisa de uma faixa maior

de dias para expressar dados conclusivos.

0

10

20

30

40

50

60

70

80

0 2 4 6 8 10 12

Pe

rda

de

mas

sa (

g)

Idade (dias)

AREIA 01

AREIA 02

AREIA 03

AREIA 04

AREIA 10%

AREIA 5%

40

5. CONCLUSÃO

O meio ambiente vem sendo uma das novas preocupações da sociedade moderna e

junto com ela, novos conceitos de sustentabilidade. A utilização de agregados

miúdos reciclados surge como uma alternativa para a crescente escassez de

agregados naturais, além de ser uma alternativa para minimizar o passivo da

construção civil junto ao meio ambiente.

Com o intuito de avaliar e comparar a possibilidade da utilização de agregados

reciclados na fabricação de argamassas para revestimentos, este trabalho avaliou

propriedades físicas e mecânicas de argamassas naturais e recicladas. É importante

salientar que as conclusões apresentadas a seguir, dizem respeito à utilização de

materiais com características peculiares. A partir do programa experimental foi

possível obter as seguintes conclusões:

As propriedades físicas das argamassas recicladas são menos favoráveis, em

comparação com as argamassas fabricadas com agregado natural, sem, contudo

torná-las inviáveis para a utilização como revestimentos a base de cimento.

No ensaio de compressão axial as argamassas recicladas apresentaram menor

resistência que as argamassas naturais, porém estas resistências ainda se

encontravam com valores elevados para utilização destas como argamassas de

revestimento e outros fins.

No ensaio de absorção de água das argamassa, as com agregados reciclados

apresentam maiores valores de absorção.

De maneira geral conclui-se que o uso agregado reciclado é perfeitamente viável

para fabricação de argamassas de revestimento, do ponto de vista técnico e do

ponto de vista ambiental, sendo necessário observar alguns fatores que possam

garantir a qualidade do produto. Além de observar a melhor aplicabilidade para o

mesmo.

41

Por fim, frisa-se que a utilização de RCD na construção civil, passa primeiramente

pela mudança cultural e em seguida ao incentivo à pesquisa aliada à produção. Para

que novas tecnologias sejam realmente viáveis a teoria deve-se aproximar da

prática e vice e versa.

42

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