UNIVERSIDADE ESTADUAL DE PONTA GROSSA SETOR DE … · 1.3 O discurso político e sua relação com...
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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE PONTA GROSSA SETOR DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS
DEPARTAMENTO DE COMUNICAÇÃO
CAMILLA QUESADA TAVARES
DISCURSO POLÍTICO NO HGPE:
UM ESTUDO COMPARATIVO SOBRE AS ESTRATÉGIAS JORNALÍSTICAS UTILIZADAS NAS CAMPANHAS MUNICIPAIS DE 2008 EM CURITIBA E PONTA
GROSSA
PONTA GROSSA 2010
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CAMILLA QUESADA TAVARES
DISCURSO POLÍTICO NO HGPE: UM ESTUDO COMPARATIVO SOBRE AS ESTRATÉGIAS JORNALÍSTICAS
UTILIZADAS NAS CAMPANHAS MUNICIPAIS DE 2008 EM CURITIBA E PONTA GROSSA
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado para obtenção do título de bacharel em Jornalismo na Universidade Estadual de Ponta Grossa, Área de Ciências Sociais Aplicadas.
Orientador: Prof. Dr. Emerson Urizzi Cervi
PONTA GROSSA
2010
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TERMO DE RESPONSABILIDADE
DECLARAÇÃO DE COMPROMISSO ÉTICO COM A ORIGINALIDADE CIENTÍFICO-INTELECTUAL
Responsabilizo-me pela redação do trabalho de Projeto Experimental em Jornalismo
sob o título DISCURSO POLÍTICO NO HGPE: UM ESTUDO COMPARATIVO
SOBRE AS ESTRATÉGIAS JORNALÍSTICAS UTILIZADAS NAS CAMPANHAS
MUNICIPAIS DE 2008 EM CURITIBA E PONTA GROSSA, atestando que todos os
trechos que tenham sido transcritos de outros documentos (publicados ou não) e
que não sejam de minha exclusiva autoria estão citados entre aspas e está
identificada a fonte e a página de que foram extraídos (se transcrito literalmente) ou
somente indicados fonte e ano (se utilizada a idéia do autor citado), conforme
normas e padrões da ABNT vigentes. Declaro, ainda, ter pleno conhecimento de que
posso ser responsabilizado legalmente caso infrinja tais disposições.
Ponta Grossa, 03 de novembro de 2010.
____________________________________________________
Assinatura do estudante
Nome: Camilla Quesada Tavares
Número do RA: 071042267
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CAMILLA QUESADA TAVARES
DISCURSO POLÍTICO NO HGPE: UM ESTUDO COMPARATIVO SOBRE AS ESTRATÉGIAS JORNALÍSTICAS
UTILIZADAS NAS CAMPANHAS MUNICIPAIS DE 2008 EM CURITIBA E PONTA GROSSA
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado para obtenção do título de bacharel em Jornalismo na Universidade Estadual de Ponta Grossa, Área de Ciências Sociais Aplicadas.
Ponta Grossa, ____ de ________________ de 2010.
Prof. Dr. Emerson Urizzi Cervi – Orientador
Doutor em Ciências Políticas
Universidade Estadual de Ponta Grossa
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AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente a Deus , que sempre me guiou e me deu forças quando eu
pensei que estas já não existiam mais em mim.
Aos meus amados pais, Robson e Rita de Cássia , pelo incentivo e investimento
que dedicaram a mim ao longo destes quatro anos. Obrigada por acreditarem na
minha competência e na profissão que escolhi.
Às minhas pequenas, Amanda e Ana Paula , que sempre fizeram da minha vida
uma alegria sem fim.
Aos meus avôs, Antônio e Marlene , e à minha bisavó, Nena, por todo o carinho e
atenção que nunca deixaram faltar.
Ao Italo , por todo o amor, carinho, atenção, paciência, cumplicidade e
companheirismo que demonstrou ao longo de todo este ano, não só devido à
produção deste trabalho.
À Laís , que esteve ao meu lado desde o início da universidade, ouvindo minhas
teorias absurdas e minhas paranóias sem fim.
Ao Emerson U. Cervi , orientador desta monografia, por ter aceitado estar comigo
nesta pesquisa, sempre contribuindo de forma significativa com o trabalho e com
minha formação.
A todos que, direta ou indiretamente, estiveram envolvidos na realização deste
estudo.
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RESUMO
O trabalho tem como tema as eleições municipais de Ponta Grossa e Curitiba, enfocando as estratégias discursivas dos candidatos a prefeito apresentados nos programas veiculados no Horário Gratuito Político Eleitoral (HGPE) de 2008. Busca-se, pela análise, identificar as estratégias de discurso mais utilizadas pelos prefeituráveis de dois partidos, comparando os resultados das duas cidades. Os dados coletados foram dos programas do primeiro turno das eleições de ambas as cidades. A análise realizada foi a de conteúdo, empregando o método quantitativo, que possibilitou fazer a comparação entre as duas disputas. Os candidatos foram escolhidos de acordo com sua posição dentro da disputa (situação ou oposição). Sendo que tanto em Curitiba quanto em Ponta Grossa haviam candidatos do mesmo partido (PSDB) disputando à reeleição, os outros dois candidatos que constituem o estudo são os de oposição. Sendo assim, a hipótese inicial deste trabalho é saber se o partido político em questão utilizou as mesmas estratégias jornalísticas em ambas às disputas, ou se manteve a similaridade de discursos.
Palavras-chaves: Discurso Político; Campanha Eleitoral; HGPE, Curitiba, Ponta
Grossa.
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO..........................................................................................................10
CAPÍTULO 1 - MÍDIA E POLÍTICA...................... ....................................................16
1.1 Política nos tempos atuais..................................................................................19
1.2 O discurso político midiatizado...........................................................................24
1.3 O discurso político e sua relação com a mídia...................................................38
1.4 Definição do conceito de Espaço Público proposto por Habermas....................43
CAPÍTULO 2 - DEMOCRACIA, ELEIÇÕES E COMUNICAÇÃO.... ........................47
2.1 Sistemas Eleitorais.............................................................................................51
2.1.1 A campanha e o voto no Brasil........................................................................55
2.2 Campanhas Eleitorais.........................................................................................59
2.3 Campanhas na TV..............................................................................................67
2.4 Horário Gratuito de Propaganda Eleitoral, o HGPE............................................73
2.4.1 O HGPE televisivo de Curitiba e Ponta Grossa...............................................78
CAPÍTULO 3 - ANÁLISE DOS RESULTADOS................ .......................................81
3.1 Comparação geral dos conteúdos do HGPE de Curitiba e Ponta Grossa.........86
3.2 Comparação dos elementos jornalísticos presentes nos programas.................98
CONCLUSÃO.......................................... ...............................................................123
REFERÊNCIAS BLIOGRÁFICAS........................... ...............................................128
ANEXO A – RELATÓRIO ANALÍTICO...................... ............................................130
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INTRODUÇÃO
O Horário Gratuito de Propaganda Eleitoral (HGPE) é um mecanismo
utilizado pela elite política para difundir suas idéias, ou seja, um espaço assegurado
por lei que os candidatos têm direito para apresentar as propostas e estratégias.
Como a finalidade dos partidos é ganhar poder político, se faz necessário buscar
meios de persuadir o eleitor, ou seja, persuadi-lo a votar em determinada pessoa.
Assim, o discurso é marcado pela retórica ficcional. “Visando convencer os eleitores,
todos constroem um mundo atual possível, igual ou um pouco diferente do mundo
atual real, e com base nele projetam um novo e bom mundo futuro possível”.
(FIGUEIREDO et al., 2004. p.152).
Além disso, o candidato tem liberdade de conteúdo e pode lançar mão de
suas próprias estratégias (o marketing é a mais utilizada) para seduzir o eleitor. Para
conseguir identificar os jogos político-ideológicos que perpassam a fala dos
candidatos é preciso analisar o conteúdo e a forma de apresentação de cada
político.
Esta pesquisa tem como tema a relação dos meios de comunicação, mais
especificamente, do jornalismo, com as eleições municipais de 2008 de Curitiba e
Ponta Grossa. No mundo moderno, com o advento da tecnologia e o aumento da
abrangência geográfica, o candidato que quer desenvolver uma campanha eficaz
deve usar os meios de comunicação de massa. Eles têm uma grande área de
cobertura e chegam a quase 100% do território nacional.
A abrangência do HGPE é importante tanto numa disputa de âmbito nacional
quanto na municipal. As eleições para prefeito têm maior proximidade com os
eleitores do que uma disputa para a presidência da República, por isso pode-se
pensar que o HGPE não teria tantos efeitos no contexto local do que no contexto
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nacional. Entretanto, não é isso o que se verifica. Sendo assim, esta pesquisa se
propõe a estudar as estratégias discursivas jornalísticas utilizadas nos programa dos
candidatos à prefeitura de Curitiba e de Ponta Grossa, a partir do Horário Gratuito de
Propaganda Eleitoral (HGPE) de 2008.
Os estudos sobre mídia e política no Brasil ainda são recentes – os
primeiros começam a surgir na década de 80, e tem como objeto de pesquisa a
relação entre os veículos de comunicação e o regime ditatorial (ALBUQUERQUE,
1999; RUBIM e AZEVEDO, 1998). A análise do processo de articulação entre mídia
e política ganha força com a primeira eleição direta para presidente após a ditadura,
em 1989. Segundo Albuquerque (1999), o HGPE - apesar de ser regulamentado
desde 1962, só conseguir um poder efetivo em 1985 – passou a contribuir de forma
significativa com o jogo político e a disputa pelo poder. Até então, a campanha pré-
eleitoral consistia nos comícios e na campanha chamada ‘corpo-a-corpo’. (RUBIM,
2007). Na televisão, a visibilidade dos políticos, das propostas e da campanha é
maior. Talvez isso explique a grande dedicação dos profissionais da área de
Marketing para produzir um programa eleitoral convincente.
O conteúdo analisado é de âmbito local porque se entende que “as disputas
eleitorais nos municípios representam o ponto de partida para se atingir os cargos
de maior destaque na carreira política” (TEIXEIRA, 2000. p. 99). Podemos pensar
que o prefeito é o cargo político mais fácil de ser cobrado e o que está sujeito a
vários tipos de pressão, por ser o mais próximo da população.
A identificação das estratégias discursivas ajuda a entender o resultado
incomum da eleição majoritária de Curitiba, onde o atual prefeito Beto Richa (PSDB)
conseguiu se reeleger com uma grande diferença de porcentagem da segunda
colocada, a candidata do PT, Gleisi Hoffmann. Richa venceu o pleito com 77,27%
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dos votos válidos, contra 18,17% da segunda colocada e principal oponente. Em
número de votos, o prefeito reeleito de Curitiba convenceu 778.514 eleitores a
prorrogar sua gestão por mais quatro anos, enquanto que a candidata do PT
conseguiu apenas 183.027 votos. Tirando o terceiro colocado na disputa, o Reitor
Moreira – que conseguiu 1,9% de eleitores, os outros cinco candidatos que
disputaram o cargo para assumir a prefeitura da capital do Paraná não chegaram a
fazer nem 1% de votos. Já em Ponta Grossa um dos principais candidatos
esperados para o segundo turno ficou de fora da disputa. Jocelito Canto (PTB),
principal oponente do candidato à reeleição pelo PSDB, Pedro Wosgrau Filho, foi
desbancado pelo radialista Sandro Alex (PPS), que nunca havia disputado uma
eleição antes. Pedro Wosgrau Filho passou para o segundo turno com a aprovação
de 39,44% dos eleitores. Sandro Alex conseguiu 28,5% dos votos - apenas 0,35% a
mais que Jocelito Canto, que teve um total de 28,15% dos votos válidos, ficando de
fora da disputa no segundo turno.
Observando os números gerais da eleição de Curitiba é inevitável se pensar
como que um candidato conseguiu tanta aprovação do eleitorado a ponto de
conseguir se reeleger sem ao menos precisar disputar o segundo turno? Em Ponta
Grossa a situação foi tão incomum quanto em Curitiba. Entretanto, na cidade
interiorana houve uma modificação de intenção de voto bastante significativa no
decorrer da campanha, principalmente através da campanha na televisão, o que fez
com que o desfecho do pleito tomasse caminhos diferentes. Estes fatos refletem a
diferença que o HGPE faz dentro de uma corrida eleitoral. Contudo, apesar de ele
ser um espaço publicitário, o Jornalismo aparece presente entre as ferramentas que
são utilizadas para ganhar legitimidade e credibilidade perante o público.
Dispositivos jornalísticos, como o formato do programa sendo o de um telejornal, a
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apresentação do programa pelo âncora e etc., leva a crer que, apesar de ser um
espaço de propaganda, existe algum tipo de informação presente nos programas.
Sendo assim, a pergunta que guia esta pesquisa é: será que existem semelhanças
entre os discursos jornalísticos utilizados pelos candidatos dos mesmos partidos,
mesmo sendo oposição x situação?
Esta monografia tem como objetivo geral identificar as estratégias discursivas
jornalísticas adotadas pelos candidatos a prefeito de Curitiba e Ponta Grossa, a
partir do Horário Gratuito de Propaganda Eleitoral (HGPE) televisivo de 2008. Os
objetivos específicos que constituem a pesquisa são analisar a linguagem utilizada
nos programas eleitorais e verificar como é construída a imagem do candidato a
partir das estratégias jornalísticas presentes no HGPE, sempre fazendo uma análise
comparativa entre os dois pleitos.
O trabalho contribui cientificamente por focar em uma segmentação da
política ainda pouco estudada pela Comunicação, mais especificamente pelo
Jornalismo – o HGPE e os elementos jornalísticos contidos nele. A pesquisa de
campanha eleitoral se justifica por interferir diretamente no cotidiano social. É
necessário preencher a lacuna existente nesse âmbito de estudos da Comunicação,
pois pesquisar campanha política possibilita entender certos aspectos da sociedade
que antes não eram percebidos. Como já se sabe, a articulação entre mídia e
política no Brasil é recente, mas se tratando do HGPE, a demanda é ainda inferior,
pois se observa a visível a carência de artigos científicos na área de propaganda
eleitoral.
A maioria dos estudos existentes sobre eleições se dá pela análise da
cobertura da mídia sobre determinada disputa. O estudo é puramente jornalístico.
No caso da análise de programas eleitorais, o objeto de estudo perpassa o
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Jornalismo e envolve também a Propaganda, visto que é um espaço reservado à
elite política para apresentar suas propostas e argumentos. O Jornalismo neste caso
está implícito, visto que é partir dele que os candidatos constroem os temas que
serão apresentados nos programas.
A comparação entre os pleitos de Curitiba e Ponta Grossa se justifica
justamente por haver candidatos do mesmo partido disputando o mesmo cargo nas
eleições. Teoricamente, eles demandaram dos mesmos mecanismos de mídia para
se apresentar ao público, no entanto, o resultado final mostra que no caso de
Curitiba o candidato Beto Richa (PSDB) já tinha mais da metade das intenções de
voto. Enquanto que em Ponta Grossa, o tucano Pedro Wosgrau era um dos
favoritos, mas não tinha a preferência de grande parte da população. Desta maneira,
é interessante estudar como a campanha influenciou na decisão dos votos dos
eleitores.
A forma de abordagem proposta e a metodologia utilizada – a análise
quantitativa dos dados dos programas - permitem traçar um panorama acerca das
estratégias discursivas adotadas pelos candidatos nos pleitos de duas cidades
distintas. Como é visível a pouca quantidade de estudos na área, o trabalho ajudará
na constituição de pesquisas posteriores a esta.
O texto está dividido em três capítulos, dois de fundamentação teórica e um
de análise dos dados. No primeiro capítulo será discutido o conceito de Discurso
Político, um dos eixos centrais deste trabalho. A abordagem será feita a partir do
universo amplo envolvendo comunicação política, sendo direcionada ao longo do
capítulo para pontos mais específicos que realmente interessam a esta monografia,
como a aplicabilidade dos conceitos no HGPE.
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O segundo capítulo aborda democracia, campanha eleitoral e HGPE. É
importante explorar o conceito de democracia neste contexto porque a sociedade ao
qual este estudo se designa é a democrática. Seguindo esta linha, a campanha
eleitoral é uma conseqüência deste Estado democrático, e é onde todas as
estratégias de ação e persuasão do eleitor se desenvolvem, entre elas o HGPE. O
debate sobre o HGPE encerra este capítulo, que vai dar base para a análise dos
dados obtidos e apresentados no capítulo três.
O último capítulo consiste na apresentação dos resultados. A análise foi
possível através de uma coleta quantitativa de dados, a qual possibilitará também
comparar os resultados dos pleitos de Curitiba e Ponta Grossa. Para isso, quatro
variáveis foram analisadas: Apelo, Formato, Linguagem e Orador Dominante. O
‘apelo’ revela o tipo de conteúdo da mensagem veiculada, se possui conteúdos
informativos ou não. Complementarmente, tem-se a variável ‘linguagem’ que vai
mostrar em qual linguagem o candidato se comunica com o público. O formato dos
segmentos e o orador dominante finalizam a relação entre estas variáveis,
mostrando em qual formato o conteúdo é passado ao eleitor e quem é que transmite
as mensagens.
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CAPÍTULO 1
Mídia e Política
O estudo sobre Mídia e Política, mais especificamente Discurso Político, é
pertinente para que as pessoas possam descobrir o que há por trás das mensagens
das campanhas eleitorais que nos são apresentadas. O jogo pela disputa do poder
fica bastante evidente no período de campanha eleitoral, onde os eleitores são tão
visados como em nenhum outro período.
De maneira complementar, como coloca Susana Salgado, o estudo sobre
campanha eleitoral é pertinente porque existe um “interesse de perceber a forma
como os partidos se apresentam ao eleitorado, procurando captar o seu voto” (2007,
p. 41). Além disso, Segundo Gerstlé (1992 apud SALGADO, 2007), esta vontade em
realizar estudos sobre as campanhas aumentou com a modernização do espaço
público. Pode-se pensar na modernização do espaço público a partir do avanço da
tecnologia, como rádio, televisão, internet. Eles possibilitaram a amplitude do espaço
de discussão. Além disso, o espaço público existe também num âmbito localizado,
ou seja, o conceito aplica-se em uma sociedade local.
O Horário Gratuito de Propaganda Eleitoral (HGPE) é um programa
privilegiado da elite política brasileira que demanda de mecanismos para atrair o
público, e o principal deles é a linguagem. O horário político, como é chamado
cotidianamente, é um direito de todos os partidos registrados no Tribunal Superior
Eleitoral (TSE) e que tem um espaço reservado por lei dentro da grade de
programação tanto do rádio como da televisão. No Brasil, o espaço destinado à
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propaganda é gratuito e, conseqüentemente, mais democrático. Ao contrário, nos
EUA, os partidos compram um espaço na grade de programação – não havendo
limite de tempo nem horário exclusivo para tal. Desta forma, o impacto econômico é
maior e a concorrência chega a ser desleal. Para exemplificar é só lembrar a
campanha de Barack Obama, que comprou um dos horários mais caros da televisão
americana para transmitir seu programa eleitoral – o intervalo do SuperBall.
A campanha eleitoral acontece no sistema social e no político, ou seja, é um
produto da elite política que tem como alvo a sociedade. Ela é entendida como uma
forma organizada de persuadir e informar os eleitores (SALGADO, 2007). Toda
campanha eleitoral deve ter quatro elementos fundamentais:
• ambiente contextual: regulações legais e estrutura dos mass media (diferente de país para país); • os objectivos estratégicos que os organizadores de campanha procuram comunicar; • os canais de comunicação directos e/ou mediados utilizados para passar as mensagens dos organizadores de campanha; • o impacto das mensagens na audiência-alvo. (SALGADO, 2007, p. 42).
Esses elementos divergem para dois objetivos centrais: informar e persuadir
o eleitor. O primeiro caso dirige para o debate, gerando discussão sobre temas e
assuntos apresentados. Já o segundo tenta convencer, e não informar. O primeiro
caso pode ser ilustrado com um programa eleitoral que apresenta propostas e meios
de execução, informando a população que tal ação é possível devido a
determinados fatores; ou então quando mostra, em números, os gastos públicos,
taxa de desemprego, etc. Já a persuasão é identificada em programas onde o
político se apresenta como se fosse a melhor opção dentre os concorrentes,
mostrando-se a partir de apelos emocionais.
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O HGPE faz parte da campanha eleitoral, mas é apenas um dos
mecanismos utilizados para chamar a atenção do eleitor. Tanto o HGPE como a
campanha em sua totalidade devem ter objetivos estabelecidos para serem
cumpridos (SALGADO, 2007). A autora cita os três tipos mais utilizados:
1. Difusão das idéias do candidato ou do partido, que acontece com maior probabilidade se o partido não tem hipóteses de ganhar as eleições nem de obter um bom resultado. Neste caso, o partido e/ou candidato podem utilizar a campanha com outros objectivos: aumentar a sua popularidade, melhorar a sua imagem, bem como promover e difundir as suas idéias. 2. Um outro tipo de objectivo é a obtenção de um bom resultado. Um bom resultado é normalmente uma boa votação, maior do que a obtida nas eleições anteriores, o que dará ao partido maior influência política. 3. Por fim, vencer as eleições. A obtenção de maioria absoluta ou relativa pode será outro objectivo a fixar. (SALGADO, 2007. p. 43).
Entende-se neste trabalho que estes objetivos definidos por Susana Salgado
representam o básico que uma campanha eleitoral estabelece. Ao se observar
qualquer corrida eleitoral é fácil identificar os objetivos presentes dentro da mesma,
pois eles acabam se tornando, muitas vezes, uma ferramenta de identificação com o
eleitor. Para exemplificar é só se lembrar de uma inserção, tanto como propaganda,
quanto como HGPE, do Partido Verde (PV). Se não em todas, mas na maioria delas,
o PV opta por divulgar a posição ideológica do partido – neste caso, com a ampla
preocupação com o meio ambiente. Como é um partido pequeno frente aos outros
(como PSDB, PT e PMDB), também se pode considerar um de seus objetivos
divulgar políticos e candidatos para conquistar a vitórias nas urnas. Este exemplo é
pensado em proporção nacional, mas se nota que vale também para âmbitos
regionais e locais. O PV, ao contrário da maioria, coloca a ideologia do partido acima
de qualquer tema, o que, por um lado, pode prejudicá-lo na disputa, pois ele pode
deixar de lado abordagens que são relevantes para determinada localidade. Em
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contra partida, verifica-se que os outros partidos se posicionam melhores frente aos
temas.
As estratégias utilizadas também são definidas antes do início do período
eleitoral. Salgado alega que a campanha é o resultado de todo o trabalho de
elaboração da mensagem política que deverá ser passada ao público. Ela afirma
que essa mensagem deve condizer com os objetivos do partido político para tal
pleito. Por fim, a autora defende a importância da articulação entre mídia e política,
defendendo que os meios de comunicação são a melhor ferramenta para que o
cidadão tenha acesso às diferentes campanhas dos partidos políticos.
Até aqui, observou-se a razão pela qual os estudos sobre campanhas vêm
ganhando importância. O primeiro tópico deste capítulo conceitua política e abre
caminhos para a discussão sobre a dependência da política para o discurso, e a
relação de ambos dentro do campo social e midiático.
1.1 Política nos tempos atuais
O que é política, afinal? Na conceituação moderna, a palavra “política”
significa “a atividade ou conjunto de atividades, que, de alguma maneira, têm como
termo de referência a pólis, ou seja, o Estado” (BOBBIO, 1998, 954). Porém,
acredita-se, que o foco destas atividades está mais voltado ao Público do que ao
Estado, visto que é onde as ações políticas são desenvolvidas.
Então, como se sabe, tudo o que envolve o Estado, e a manutenção deste,
diz respeito à política. Existem formas para que ela se articule dentro do campo
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social, como as ações políticas. Patrick Charaudeau (2008) afirma que a política “se
concretiza mediante várias atividades de regulamentação social [...]” (2008, p. 27).
Esta regulamentação social significa ações que permeiam a sociedade, como ser
responsável por manter a ordem, governar para o bem estar social – levando
sempre em conta os interesses coletivos, formular e regulamentar leis, aplicar
punições, dentre outros. O político, junto com sua equipe de governo, é o
responsável por manter essa regulamentação. Através do HGPE ele pode mostrar à
sociedade como pretende proceder frente a estas ações essenciais para o bem
estar coletivo.
A articulação entre mídia e política acontece através da interação dos
campos político e midiático. De acordo com Bourdieu, campo político é “una
<<arena>> que se da como tal y en la cual hay combates, enfrentamientos
declarados” (1990). O campo político e midiático muitas vezes se confunde. A
política encontrou na mídia – rádio, televisão, impresso e internet – uma forma de
levar sua mensagem a um grande número de pessoas de uma só vez. Quando se
trata de eleições, esta dependência é ainda mais visível. Isso porque no período
eleitoral os partidos políticos querem atingir um grande número de pessoas para
então tentar converter em votos a seu favor. Como os Meios de Comunicação de
Massa (MCM) são bastante eficazes quanto ao seu alcance, a mídia acaba se
tornando uma forte ferramenta para a execução da campanha eleitoral. Wolton
(1995), de acordo com Charaudeau (2008), admite que a “publicização, por
intermédio das mídias, tem a vantagem de facilitar a circulação dos problemas e
discursos em um espaço público: tudo se torna passível de discussão” (WOLTON,
1995 apud CHARAUDEAU, 2008, p. 26).
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As ações só são possíveis porque existe um espaço para que se possa
desenvolvê-las. Dentro do campo social, mais especificamente, na ação social, está
a ação política. É a ação política que permite que a vida social seja organizada, e
que a sociedade possa tomar decisões coletivas, sempre pensando no bem
universal (CHARAUDEAU, 2008). Precisa-se entender que a sociedade é complexa
e possui grupos fragmentados, que, por sua vez, emitem opiniões divergentes.
A política, por si só, já compreende, desde a Grécia antiga, um espaço
destinado a discussões pertinentes ao meio em que se vive. É um campo de disputa
pelo poder. Hannah Arendt (1972) define “poder político como o poder dos cidadãos,
princípio de determinação da comunidade que encontra aqui sua própria justificação,
seu próprio fim” (ARENDT, 1972 apud CHARAUDEAU, 2008). Esse poder se
democratiza na sociedade de massa devido ao debate que é realizado através dos
meios de comunicação de massa.
Em regimes democráticos, o cidadão tem o direito de escolher quem ele
quer que governe. Ele elege pessoas, no caso, os políticos, para ser o seu
representante dentro do governo. Nisso identificamos uma ação coletiva, onde os
indivíduos estão em busca de um objetivo comum. Entretanto, para que essa
“decisão coletiva” aconteça, é preciso que eles exprimam opinião e compartilhem
uns com os outros.
Uma organização da ação política que compreende um espaço de discussão dos objetivos a definir (tanto nos partidos, sindicatos e outros grupos associativos quanto nas mídias), um modo de acesso à representação do poder (eleições) e modalidades de controle (no interior das diversas instituições e no exterior, por movimentos reivindicativos diversos). Vê-se que a linguagem não está ausente do desenrolar da ação política, já que esse espaço depende de um espaço de discussão (CHARAUDEAU, 2008, p. 18).
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Percebe-se que temos a linguagem sob duas diferentes instâncias: de um
lado, ela se manifesta através do discurso político; do outro, através dos
comentários e opiniões dos atores sociais. Neste ponto já começamos a perceber o
entrelaçamento entre três campos sociais, partir da linguagem: o campo político
(discurso), o campo social (opinião) e o campo midiático (comentários)¹. O campo
midiático aparece aqui primeiro como espaço hábil para o campo social apresentar
suas propostas, mas também é o responsável por fazer comentários e levantar
questões por vezes não abordadas nas propagandas eleitorais 1.
Esta forma de comunicação presente nas propagandas eleitorais faz parte
do que se chama comunicação política. Alguns teóricos entendem a comunicação
política como sendo um universo anterior ao espaço de discussão. Para Hannah
Arendt [2001, (1958)], por exemplo, a política é, por si só, comunicação, já que ela
entende como política a articulação entre palavra e persuasão. (apud SALGADO,
2007). Já para Eulau, Eldersveld e Janowitz (1956), a comunicação política integra
um dos três processos de intervenção (junto com a liderança e estruturas de grupo)
que mobilizam e transmitem as influências políticas entre instituições
governamentais formais e o comportamento eleitoral (apud SALGADO, 2007).
A definição de De Sola Pool se aproxima da anterior citada, porém, ela
acredita que a comunicação política é “a actividade de certas instituições
encarregues de difundir informações, idéias e atitudes relativas aos assuntos
governamentais” (DE SOLA POOL, 1968 apud SALGADO, 2007, p. 17).
1 No caso da comunicação política pela televisão é possível identificar de forma clara essa articulação. O HGPE, que é o campo político, utiliza o espaço do campo midiático para tornar público o discurso. Este discurso vai então adentrar o campo social e, teoricamente, vira discussão entre os cidadãos.
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Como se pode perceber, este segmento da comunicação permite várias
definições. Susana Salgado defende que esta forma de comunicação é constituída
pelo político, pela mídia e pelo público. Além disso, pensando de uma forma ideal,
deveria ser o mediador entre quem governa e quem é governado, utilizando a mídia
como suporte.
Numa abordagem mais específica, Dominique Wolton chama de
comunicação política o espaço onde se desenvolve a discussão dentro da esfera
pública2 pelos cidadãos.
O espaço onde se trocam os discursos contraditórios dos três atores que têm a legitimidade para se exprimir publicamente sobre a política: os políticos, os jornalistas e a opinião pública conhecida por meio de pesquisas3 (CHARAUDEAU, 2008, p. 24).
O espaço público é onde as pessoas discutem assuntos importantes a elas e
emitem opinião pessoal. As pessoas saem da esfera privada, ou da esfera estatal,
para discutir, teoricamente, assuntos que são de interesse coletivo. Como afirma
Cucurella (2001), fazendo uma leitura sobre o pensamento habermasiano,
La publicidad relacionada com la opinión de um público constituido como conjunto de personas privadas que proyectan su racionalidad em diversos aspectos sociales y se afirman como jueces de las decisiones políticas (Cucurella, 2001, p. 59).
A configuração deste espaço proporcionou aos cidadãos debaterem
assuntos que lhes são pertinentes tanto fora da esfera política como também fora da
esfera privada. A discussão destes temas socialmente pertinentes gerou o que
Habermas chama de opinião pública. Entretanto, Habermas defende uma opinião
2 O conceito de esfera pública, proposto por Habermas, será amplamente discutido nos próximos
tópicos deste capítulo. 3 “Communication politique: construction d’um modele” e “Communication politique: les médias, amillon faible de la communication politique, Hermèsnº4, Paris, CNRS Éditions, julho de 1989. Citado por Patrick Charaudeau (2008).
24
pública crítica, que permite discutir os conflitos sociais. “Sólo uma publicidad crítica
permitirá la expresión de los conflictos reales y la superación de los mismos por la
generación de consensos, de voluntad común” (CUCURELLA, 2001, p. 62). Para
ele, só existirá democracia a partir da publicidade crítica e suas formas de
organização.
A mídia pode ser um agente regulador de assuntos discutidos dentro da
sociedade. Porém, sabemos que não é tudo o que é vinculado na mídia que gera
debate, discussão. De acordo com Charaudeau (2008), as pessoas só discutem o
que querem, e ainda assim as opiniões alheias não mudam o posicionamento do
indivíduo, na maioria dos casos.
Mesmo assim, os meios de comunicação ainda são as grandes ferramentas
para a elite política. Neles, o discurso político se mostra explicitamente com todas as
suas estratégias de persuasão e sedução, mesmo que não percebida pelo
espectador. Antes de começar a discussão da relação de discurso de mídia,
precisamos entender como o discurso se representa dentro do campo político.
1.2 O discurso político midiatizado
A palavra, ou a língua propriamente dita, integra de forma indispensável
todos os campos sociais. Obviamente que ela não é tudo dentro da política, ou seja,
existem outros mecanismos que também têm seu mérito. Entretanto, não há política
sem palavras.
A palavra intervém no espaço de discussão para que sejam definidos o ideal dos fins e dos meios da ação política; a palavra intervém no espaço de ação para que sejam organizadas e coordenadas a distribuição das tarefas e a promulgação das leis, regras e decisões de todas as ordens; a palavra
25
intervém no espaço de persuasão para que a instância política possa convencer a instância cidadã dos fundamentos de seu programa e das decisões que ela toma ao gerir os conflitos de opinião em seu proveito (CHARAUDEAU, 2008, p. 21).
A política nada mais é também do que um lugar de “luta discursiva”. Partindo
da definição moderna de política, ela tem que voltar suas atividades ao bem Público,
com o objetivo de manutenção da sociedade. Contudo, sabemos que a sociedade
não é homogênea, e que existem muitos grupos fragmentados passíveis de opinião
diferenciada uns dos outros (Charaudeau, 2008). Para a manutenção da ordem e
até mesmo para a aprovação das ações do governo por parte dos cidadãos é que o
discurso político se faz necessário. Como explica Charaudeau, o discurso “circula
nesses meandros metamorfoseando-se ao sabor das influências que sofre de cada
um deles” (2008, p. 31).
Além disso, a política utiliza o discurso, para fazer promessas, ameaçar,
manipular, entre outros, o cidadão. O que Charaudeau (2008) chama aqui de
discurso é uma forma de organização de idéias e estratégias através de palavras
que rodeiam o mundo social e causam “efeitos psicológicos e sociais”. Por trás do
discurso político existem muitas armadilhas, estratégias e posicionamentos
implícitos.
A palavra política deve e debater entre uma verdade do dizer e uma verdade do fazer, uma verdade da ação que se manifesta por meio de uma palavra de decisão e uma verdade de discussão que se manifesta mediante uma palavra de persuasão (ordem da razão) e/ou sedução (ordem da paixão) (CHARAUDEAU, 2008, p. 23).
A formulação deste discurso depende do estudo do contexto social. A
análise dele compreende também a explicação do universo além do próprio
discurso. Anterior à construção da narrativa em si se precisa estudar o cenário onde
26
se desenvolve a comunicação política. O HGPE é uma das ferramentas utilizadas na
campanha eleitoral, mais especificamente, uma forma de discurso político. Nele, os
candidatos constroem sua imagem para o público a partir de atributos que lhe são
mais convenientes, abordam temas que interessam a população, dentre outros.
Dentro do HGPE o discurso é elaborado a partir das estratégias com a finalidade de
ajudar o político a ganhar a simpatia do eleitor. Entretanto, estes mecanismos de
ação acontecem também fora do HGPE, como em comícios e entrevistas.
De acordo com Charaudeau (2008), a estratégia discursiva política se
constitui em três lugares de fabricação: o discurso político como sistema de
pensamento, como ato de comunicação e como comentário. No primeiro caso, é
montado “um ideal político em função de certos princípios que devem servir de
referência para a construção das opiniões e dos posicionamentos” (CHARAUDEAU,
2008, p. 40). No HGPE este espaço encontra-se na etapa de preparação do
programa, discutindo o que interessa abordar ou não. No discurso como ato de
comunicação, espera-se conseguir influenciar a opinião do indivíduo a fim de
conseguir adesões, rejeições ou consensos. É neste momento que se utiliza os
“procedimentos retóricos” para tentar seduzir e/ou persuadir o indivíduo. Este lugar é
o de comunicação direta com o público, o HGPE em si. O discurso como comentário
“não está necessariamente voltado para um fim político” (CHARAUDEAU, 2008, p.
40). Ele se trata aqui do político em si, mas não de suas propostas ou benfeitorias.
Aqui o discurso diz respeito a apenas fazer comentários a respeito da pessoa
política, e não de seus atos.
Quando construímos nossas falas, obedecemos a normas e convenções da
linguagem e partilhamos delas junto com o restante da sociedade. Mas quando
27
vamos construir um discurso, podemos demandar características exclusivas que nos
diferenciam das demais pessoas (Charaudeau, 2008). É neste ponto que se encaixa
o discurso político, pois ele busca meios de se distinguir perante aos demais. Ele é
utilizado pela elite política porque ela tem como objetivo chamar a atenção do eleitor.
Este por sua vez, está interessado no debate, que é promovido pela elite política
dentro da sociedade.
Como toda comunicação, esse discurso deve estar inserido em algum
segmento da sociedade. Assim, de acordo com Charaudeau, ele encontra-se no
“contrato de comunicação”.
Todo discurso se constrói na intersecção entre um campo de ação, lugar de trocas simbólicas organizado segundo relações de força (Bourdieu), e um campo de enunciação, lugar dos mecanismos de encenação da linguagem. O resultado é o que chamamos de “contrato de comunicação” (CHARAUDEAU, 2008, p. 52).
Neste ponto comum que se forma entre o campo de ação e o campo de
enunciação está o discurso político e suas significações. O entendimento, captação
da mensagem e os seus efeitos são resultados de um complexo jogo de “circulação
e de entrecruzamento dos saberes e das crenças que são construídos por uns e
reconstruídos por outros” (Charaudeau, 2008, p. 52). Estas significações fabricadas
e refabricadas são produzidas pelo pelos dispositivos de comunicação e interação. A
significação de dada mensagem depende do contexto social do qual o indivíduo faz
parte, e das crenças das quais compartilha. Os dispositivos de interação estruturam
“a situação na qual se desenvolvem as trocas linguageiras ao organizá-las de
acordo com os lugares ocupados pelos parceiros de troca". Portanto, “o dispositivo é
aquilo que garante uma parte da significação do discurso político ao fazer com que
28
todo enunciado produzido em seu interior seja interpretado e a ele relacionado”
(Charaudeau, 2008, p. 54).
Os dispositivos são destinados ao público, e ele faz parte do “contrato de
comunicação”. Contudo, quem são os parceiros deste contrato? Charaudeau (2008)
defende que são as entidades humanas, ou, como ele mesmo define, as instâncias.
As instâncias do dispositivo são “categorias abstratas, desencarnadas e
destemporalizadas, definidas pela posição que elas ocupam no dispositivo e às
quais os indivíduos são remetidos” (CHARAUDEAU, 2008, p 55). É basicamente o
conhecimento das pessoas de determinado contexto social e, principalmente, da
interpretação do que elas estão falando.
Ela evita que se caia em dois extremos: o que consiste em reduzir as explicações dos fatos políticos apenas à personalidade psicológica e social dos atores reais da vida política [...]; e o que consiste em interessar-se apenas pelas idéias veiculadas pelos discursos (a ideologia), em levar em conta a natureza das instâncias do dispositivo (CHARAUDEAU, 2008, p. 55).
Dada a complexidade do campo político, não podemos considerar que a
identificação do político se dê apenas em duas instâncias: a política e a cidadã. O
discurso político é fabricado em três lugares diferentes: um lugar de governança
(onde se encontra a instância política e adversária), um lugar de opinião (onde se
encontra a instância cidadã) e um lugar de mediação (onde se encontra a instância
midiática) (CHARAUDEAU, 2008). O lugar que mais interessa para o
desenvolvimento deste trabalho é o de mediação.
No centro do lugar de governança estão os políticos e governantes. Ao seu
redor, os partidos, as instâncias jurídicas, financeiras, científicas e técnicas e, por
29
fim, os organismos supranacionais, internacionais e não governamentais. Destes,
apenas as últimas instituições não são dependentes das instâncias governamentais.
“A instância política encontra-se no lugar em que os atores têm um ‘poder de
fazer’ – isto é, de decisão e de ação – e um ‘poder de fazer pensar’ – isto é, de
manipulação” (CHARAUDEAU, 2008, p. 56). Neste primeiro lugar de ação, o
discurso
Pode apenas se dedicar a propor programas políticos quando se trata de candidatar-se aos sufrágios eleitorais, a justificar decisões ou ações para defender sua legitimidade, a criticar as idéias dos partidos adversários para melhor reforçar sua posição e a conclamar o consenso social para obter o apoio dos cidadãos, tudo com a ajuda de diversas estratégias de persuasão e sedução (CHARAUDEAU, 2008. p. 56).
O teórico argumenta que o principal parceiro da instância política é a
instância cidadã. Ela é vista sob várias óticas, o que facilita a permeabilidade do
discurso político dentro dela. A instância cidadã suporta relações diversas, seja
como “público heterogêneo”, quando se precisa utilizar a mídia como forma de
mediação; como “público-cidadão que tem uma opinião”, quando diz respeito a
promessas eleitorais; ou ainda como “público-militante que já tem uma orientação
política”, quando se precisam convocar os aliados do partido. Neste estudo sobre
estratégias discursivas a partir do HGPE é possível observar de forma mais clara
essas posições da instância cidadã. Ela é tratada como público heterogêneo quando
as mensagens são enviadas a partir de um veículo de comunicação de massa, ou
seja, para um público geral, não específico, como no HGPE; quando se fazem
propostas eleitorais, a instância cidadã é vista como aquela que tem opinião, pois vai
questionar as possibilidades de determinadas propostas – assim o político não utiliza
qualquer promessa para atrair o cidadão; e por fim, pode-se convocar aliados
30
político quando se enxerga o público como militante. No HGPE é possível identificar
essa chamada quando ouvimos discursos como, por exemplo: Se você se importa
com o futuro do nosso planeta, vote em tal candidato.
Foi visto, anteriormente, que nesse lugar de governança também está
estabelecida a instância adversária. Ela é concomitante à instância política,
apresenta os mesmos objetivos e as mesmas estratégias discursivas. Porém, ela
não detém o poder, o que leva a produção de um discurso crítico ao poder vigente.
O segundo lugar de formação do discurso político é o de opinião fora do
governo, onde está localizada a instância cidadã. Pode-se associar a instância
cidadã com a esfera pública de Habermas. Ambos são espaços de discussão e
formação de opinião da sociedade, ao que diz respeito às ações de governo e seus
governantes. “O discurso da instância cidadã dedica-se essencialmente a interpelar
o poder governante” (CHARAUDEAU, 2008, p. 59).
Por uma questão de heterogeneidade e grande fragmentação em muitas
comunidades, Charaudeau propõe subdividir esta instância entre sociedade civil e
sociedade cidadã. A sociedade civil é o lugar de pura opinião individualizada, onde
os indivíduos agem autonomamente ou em pequenos grupos. Aqui se pode ter uma
opinião, sem ter necessariamente uma consciência cidadã. Já a sociedade cidadã é
uma sociedade construída que reúne pessoas “que têm consciência de um papel a
desempenhar na organização política da vida social” (CHARAUDEAU, 2008, p 60).
É composta por “indivíduos de direitos e não de pessoas físicas concretas, o que a
distingue da sociedade civil” (CHARAUDEAU, 2008, p 60). A sociedade cidadã
“tende a estabelecer um elo social entre os indivíduos em torno de valores abstratos
e de ordem racional [...]” (CHARAUDEAU, 2008, p. 62). Na campanha eleitoral a
31
sociedade cidadã apenas é vislumbrada enquanto público e alvo dos discursos e
das propostas. Por outro lado, na prática, verifica-se a campanha mais voltada para
a sociedade civil do que para a cidadã. Isso porque, na maioria das vezes, busca-se
cumprir interesses privados, individuais. A sociedade cidadã pode ser pensada a
partir de propostas que envolva o bem estar coletivo. Estes são temas que
abrangem a sociedade como um todo, pois é dever básico do Estado oferecer a todo
cidadão boas condições de saúde, educação, segurança, etc. Desta forma, quando
as propostas apresentadas não interessam a maioria do eleitorado, ou então não
interferem diretamente na vida dele, é possível identificar o centro da campanha
sendo a sociedade civil.
Por fim, existe a instância midiática. Segundo Charaudeau, este é o ponto
intermediário entre a instância política e a cidadã. Busca-se cumprir o papel de
informante, e ao mesmo tempo ter a confiança e credibilidade por parte do público e
do político. Para se fazer a comunicação, a instância midiática aprendeu a formular
discursos para alvos abstratos, e não mais direcionados a um determinado grupo. O
exemplo da televisão como meio de comunicação de massa ilustra bem este alvo
abstrato. Ela fala para todo mundo e, conseqüentemente, não fala pra ninguém em
específico. O mesmo acontece no HGPE, já que ele é veiculado nos meios de
comunicação de massa. O discurso nesta instância faz parte de dois dispositivos: o
de exibição, que é a busca pela credibilidade; e o de espetáculo, que é a busca por
cooptação.
O discurso da instância midiática encontra-se, portanto, como já discutimos, entre um enfoque de cooptação, que o leva a dramatizar a narrativa dos acontecimentos para ganhar a fidelidade de seu público, e um enfoque de credibilidade, que o leva a capturar o que está escondido sob as declarações dos políticos, a denunciar as malversações, a interpelar e mesmo a acusar os poderes públicos para justificar seu lugar na construção da opinião pública (CHARAUDEAU, 2008, p. 63).
32
Para este estudo, os dois dispositivos são de fundamental importância. O de
exibição tem como um de seus objetivos expor as entrelinhas da fala do adversário,
tornando público àquilo que está camuflado. O dispositivo de cooptação coloca o
político na cena pública, buscando conquistar o público e ganhar credibilidade junto
a ele. Isso garante a aceitação de tal candidato perante a sociedade, o que
influencia o resultado das eleições. A tabela abaixo resume o papel de cada
instância no processo.
Instâncias Função
A sociedade civil é o lugar de pura opinião individualizada, onde os indivíduos agem autonomamente ou em pequenos grupos. Aqui se pode ter uma opinião, sem ter necessariamente uma consciência cidadã.
A sociedade cidadã é uma sociedade construída que reúne pessoas com consciência de que possuem um papel a desempenhar na organização política da vida social. Ela é composta por “indivíduos de direitos”, o que a diferencia da sociedade civil. Ela tende a estabelecer um elo entre valores abstratos.
Política É o lugar onde os atores têm o poder de fazer (executar alguma ação) e de fazer pensar, ou seja, de manipular. A principal aliada desta instância é a instância cidadã.
Cidadã Pode-se associar a instância cidadã com a esfera pública de Habermas. Ambos são espaços de discussão e formação de opinião da sociedade, ao que diz respeito às ações de governo e seus governantes. É dividida entre sociedade civil e sociedade cidadã.
Midiática Ponto intermediário entre a instância política e a cidadã. Busca-se cumprir o papel de informante, e ao mesmo tempo ter a confiança e credibilidade por parte do público e do político. Para se fazer a comunicação, a instância midiática aprendeu a formular discursos para alvos abstratos, e não mais direcionados a um determinado grupo.
QUADRO 1 – Funções das instâncias definidas por Cha raudeau (2008)
O dispositivo do contrato de comunicação se apresenta como uma forma de
forjar imagens de lealdade, quando tratado da instância política; de protesto, quando
se refere à instância cidadã; e de denúncia para a instância midiática. A imagem de
lealdade é construída a partir do reforço da legitimidade do poder, enquanto que a
de protesto diz respeito à “legitimidade do ato de tomar a palavra”, e por fim, a de
33
denúncia que “mascara a lógica comercial pela lógica democrática” (CHARAUDEAU,
2008). No HGPE, o político constrói para si uma imagem legal, leal e legitimada, por
mais que se saiba que não seja assim fora do horário eleitoral. Como se sabe, é
muito jogo de interesses e disputa pelo poder, o que leva a lógica comercial ser
escondida pelo discurso democrático (CHARAUDEAU, 2008).
Charaudeau afirma que o político deve construir uma dupla identidade
discursiva: uma que diz respeito ao conceito, e outra que corresponde à prática. A
primeira está associada ao "posicionamento ideológico" e a segunda, à "posição do
sujeito no processo comunicativo" (CHARAUDEAU, 2008, p. 79 e 80). No processo
comunicativo, a voz do político corresponde a três vozes, na realidade: a voz do Eu,
a voz do Tu e a voz Terceira. Como diz Charaudeau, "ele é a voz de todos na sua
voz, ao mesmo tempo em que se dirige a todos como se fosse apenas o porta-voz
de um Terceiro, enunciador de um ideal social" (2008, p. 80). É por isso que nos
deparamos com os discursos sempre enaltecendo o "nós". Tantos nos programas do
HGPE, quanto em aparições propagandísticas, o político sempre constrói a frase da
seguinte forma: "Nós não podemos deixar..." ou "Nós somos os responsáveis..." e
assim por diante.
Tudo isso porque o político precisa inspirar confiança aos cidadãos, ou seja,
saber "aderir à imagem ideal do chefe que se encontra no imaginário coletivo dos
sentimentos e das emoções" (CHARAUDEAU, 2008, p. 80 e 81). Charaudeau
compartilha da idéia de que a influência política é exercida tanto no terreno da
paixão quanto na do pensamento. Em outras palavras, as paixões integram o
processo comunicativo, pois não há como "descartar os sentimentos em nenhum
processo linguageiro que tenda a influenciar o interlocutor". (CHARAUDEAU, 2008,
34
p. 81). No HGPE, mesmo se o candidato tenta tornar seu programa imparcial, ele
acaba recorrendo às emoções, mesmo que de forma implícita.
Assim, nesta interação entre convicção e persuasão dentro do discurso
político, as estratégias pensadas e utilizadas dependem de vários fatores. Ele fala
tanto para a elite política, quanto para as massas. Logo, deve abordar em sua fala
ações que interessem tanto a uma quanto a outra.
As estratégias discursivas empregadas pelo político para atrair a simpatia do público dependem de vários fatores: de sua própria identidade social, da maneira como ele percebe a opinião pública e do caminho que ele faz para chegar até ela, da disposição dos outros atores políticos, quer sejam parceiros ou adversários, enfim, do que ele julgar necessário defender ou atacar: as pessoas, as idéias ou as ações (CHARAUDEAU, 2008, p. 82).
A forma como o discurso é proferido também demanda de estratégia. Ele
não pode apenas falar, sem nenhuma convicção naquilo, o político precisa de
dramaturgia para conquistar o público. Neste caso, a dramaturgia nada mais é do
que "uma guerra de imagens para conquistar imaginários sociais" (CHARAUDEAU,
2008, p. 85).
Para o político, é uma questão de estratégia a ser adotada na construção de sua imagem (ethos) para fins de credibilidade e de sedução, da dramatização do ato de tomar a palavra (pathos) para fins de persuasão, da escolha e da apresentação dos valores para fins de fundamento do projeto político (CHARAUDEAU, 2008, p. 84).
O efeito emocional não é atingido de forma satisfatória somente através da
dramaturgia. Charaudeau (2008) apresenta outros fatores que ajudam na produção
de tal efeito: 1) Natureza da crença ao qual o discurso remete (vida/morte, acidente,
etc); 2) A encenação discursiva; e o 3) Posicionamento do interlocutor ou do público
em relação às crenças e ao estado de espírito em que se encontra. Em outras
35
palavras, é preciso montar o discurso a partir de um remetente, precisa-se fazer o
bom uso da encenação do discurso, já imaginando como o público vai incorporar
essa mensagem e qual o efeito que se espera produzir nele. No Horário Gratuito de
Propaganda Eleitoral é possível observar na prática a utilização desses três fatores.
A encenação do discurso político se dá de forma clássica: apresentando o
bem e o mal. Desta forma, ele é baseado na desqualificação do adversário, ou seja,
na apresentação de argumentos que mostrem o lado "mal" do adversário e como
ele, o lado do bem, vai apresentar uma "solução salvadora".
A solução salvadora consiste em propor medidas que deveriam reparar o mal existente. De repente, o defensor dessas medidas aparece crível, persuasivo e tenderá a construir para si uma imagem mais ou menos forte de salvador da pátria, dado que o objetivo é fazer o público encontrar o libertador de seus males e voltar-se totalmente para ele. Isso mostra a que ponto a construção da imagem de si (ethos) é importante no discurso político (CHARAUDEAU, 2008, p. 91).
Dentro do HGPE observa-se muito dessa tentativa de colocar o candidato
como salvador da pátria. Principalmente em programas de candidatos à reeleição, é
comum verificar situações onde o político argumenta que fez melhorias na saúde,
educação, ilustrando a fala com imagens que nem sempre demonstram realmente a
realidade. Para exemplificar, pode-se pensar num programa onde o candidato
mostra que em seu governo acabaram-se as filas de espera nos postos de saúde,
que a desigualdade social diminuiu, que o número de empregos aumentou, que a
segurança melhorou e que o tráfico de drogas foi amenizado. Junto a isso, somam-
se as falas onde atacam, de forma indireta, os outros candidatos ou até mesmo as
outras gestões.
As estratégias de desqualificação são muitas, e entre elas está: manipular a
ironia, revelar as contradições do adversário, projetar indícios de manipulação da
parte do adversário ou ir à denúncias de conseqüências nefastas à população
36
(CHARAUDEAU, 2008). Resumindo: a argumentação política se reduz a ataques
entre os políticos. Todas essas estratégias de persuasão utilizadas nos discursos
relacionam-se com a paixão, razão e com a imagem do político. Como coloca
Charaudeau (2008), relaciona-se com a paixão porque é a base das relações de
poder e de submissão; com a razão porque os que "procuram comandar devem se
tornar legítimos e fidedignos"; e por último, relaciona-se com a imagem quando não
há adesão a idéias que não passe pelos homens. A imagem política se sobressai
quando os cidadãos compartilham da idéia de um determinado político somente
porque gosta ou se identifica com a pessoa em si.
Outro ponto que pesa bastante no discurso político é quanto à questão dos
valores adotados. Não basta apenas escolher aqueles que compartilham a grande
maioria dos cidadãos, mas sim "adequar-se aos valores da maioria – ao menos, aos
que ele imagina que sejam – sem se contradizer por causa disso" (CHARAUDEAU,
2008, p. 96). A apresentação desses valores precisa satisfazer as condições de
simplicidade e argumentação. Quanto à simplicidade, precisa-se reduzir ao máximo
as questões complexas à sua expressão mais simplificada, mas sem cair numa
"falsa verdade; a uma verdade não provada ou mesmo a uma contraverdade"
(CHARAUDEAU, 2008, p.98).
Quanto aos argumentos, eles são de diversas espécies, e devem mostrar a
força da razão. Nem todos podem ser empregados no discurso político, por isso
Charaudeau apresenta apenas aqueles que interessam para a comunicação política.
Existem os de força das crenças partilhadas (o respeito pelo país em que se vive,
direto à vida); os de peso das circunstâncias (globalização econômica, por exemplo);
os pela vontade de agir do sujeito que argumenta (quando se dispõe a executar
37
ações por si próprio); pelos argumentos do risco de não fazer a escolha certa ou de
um dilema (quando incita as conseqüências de um acontecimento, por exemplo "Se
deixarmos passar essa oportunidade de tirar as armas de fogo da casa dos
cidadãos", ou então "O cuidado ou a segurança"). Existem também aqueles relativos
à autoridade de si, que se funda em sua legitimidade ou credibilidade, ou à
autoridade de um outro ("Se eu for eleito, vou acabar com os pedágios de nossas
estradas, e para isso tenho o apoio do nosso presidente da República"); pela
desqualificação do adversário (quando insulta o adversário dizendo que ele não tem
moral, por exemplo); e por fim, os argumentos por analogia, tanto com fatos que já
aconteceram, quanto com os acontecimentos do passado que representam um
papel de referência (quando utilizam, por exemplo, greves ocorridas para justificar
alguma atitude política ou relacionam determinados acontecimentos com as guerras
de outrora). "Todos esses procedimentos concorrem para dar ao discurso político
uma aura de racionalidade, produzindo um efeito dramatizante" (CHARAUDEAU,
2008, p. 104).
As ações políticas se desenvolvem num plano em que o político apresenta
suas propostas sem muitas vezes saber como vai dispor de mecanismos para
realizar tais promessas. No caso da ação política eleitoral, mais especificamente no
HGPE, subentende-se que essas ações devam ser mais bem elaboradas, para não
comprometer o conteúdo do programa e nem deixar o discurso inconsistente. Para
isso, é preciso demandar estratégias discursivas para que essas promessas não
sejam muito explícitas e nem pareçam muito vagas, e nem que façam o político
perder sua credibilidade mediante ao povo (CHARAUDEAU, 2008). Existem as
estratégias da imprecisão, estratégia do silêncio, estratégia de ação suprema e
estratégia de denegação, como define Charaudeau (2008). A primeira estratégia
38
"consiste em fazer declarações suficientemente gerais, sutis e, às vezes, ambíguas,
para que seja difícil surpreendê-lo em erro ou recriminá-lo por ter mentido
conscientemente" (p. 106). A estratégia do silencio é a ausência de declarações –
medidas são tomadas, mas não são anunciadas, visando o bem da sociedade. A
estratégia da razão suprema é a "razão do Estado", ou seja, "a mentira pública é
então justificada por se tratar de salvar o que constitui a identidade de um povo, indo
de encontro à opinião pública ou mesmo à vontade dos próprios cidadãos"
(CHARAUDEAU, 2008, p. 107). A última estratégia é a de denegação, "quando o
político, surpreendido em negócios que são objeto de uma ação da justiça nega sua
implicação ou a de um de seus colaboradores" (p. CHARAUDEAU, 2008, 108). No
próximo tópico será abordada esta dependência da política com a mídia e como ela
pode colaborar com a campanha eleitoral.
1.3 O discurso político e sua relação com a mídia
O discurso político faz parte da comunicação política. Um tipo do discurso
político é o eleitoral. Ele é uma das ferramentas utilizadas pelos partidos para
persuadir o eleitor. Para que este mecanismo seja eficaz é preciso que atinja a um
grande número de pessoas, por isso a dependência dos meios de comunicação de
massa.
Desta forma, a mídia se tornou uma grande aliada ao jogo de disputa pelo
poder da elite política. No mundo moderno, com o desenvolvimento da tecnologia, o
cidadão de qualquer canto do país – desde pequena cidade do interior até o meio
rural – pode ter acesso, pelo menos, ao rádio e à televisão. Os chamados Meios de
39
Comunicação de Massa (MCM) atingem a quase cem por cento do território
nacional. Isso significa que chegam a um grande número de pessoas e eleitores.
O mundo político acostumou-se a servir dos modernos meios de difusão da palavra política (imprensa escrita, rádio, televisão), cuja principal característica é dirigir-se a uma opinião que é, ao mesmo tempo, informe e múltipla e que deve ser mantida a seu favor. Segue-se uma grande prudência na escolha das palavras, uma estratégia de emprego de fórmulas inanes, suscetíveis de agradar a maioria, ou uma estratégia de banalização do vocabulário, certamente, do emprego do vocabulário da parte adversa (CHARAUDEAU, 2008, p. 35).
O que temos explicitado no trecho acima nada mais é do que as estratégias
de marketing e persuasão para seduzir o eleitor. De acordo com Mauro Wolf,
Persuadir os destinatários é um objectivo possível, se a forma e a organização da mensagem forem adequadas aos factores pessoais que o destinatário activa quando interpreta a própria mensagem. Por outras palavras, as mensagens dos meios de comunicação contêm características particulares do estímulo que interagem de maneira diferente com os traços específicos da personalidade dos elementos que constituem o público. (WOLF, 1995. p. 31).
Interpretando Wolf, entende-se que a mensagem, para ter seu efeito
esperado, deve ser bem construída, englobando elementos que fazem com o que o
indivíduo se identifique e consiga compreender o significado do conteúdo. Com a
articulação entre meio de comunicação de massa e comunicação política, a
mensagem é desenvolvida para atingir ao maior número de pessoas possíveis, sem
ter um alvo específico. Essa difusão da mensagem através dos meios de
comunicação de massa proporciona a ela sofrer algumas influências.
A interação entre a comunicação política e a mídia proporciona a mediação
da mensagem e a mediatização da mesma. (SALGADO, 2007). No primeiro caso, a
mídia serve como um mediador entre a política e os cidadãos. Já no segundo, de
acordo com Philippe Breton (1995) “é o canal de difusão de informação, sendo um
40
caso particular da função mais vasta que é assegurada pela mediação” (apud
SALGADO, 2007, p. 26). Já a mediação se aproxima mais da propaganda, que é
vista como uma forma de combate político mais do que uma ferramenta de
socialização política.
A propaganda pode ser considerada como uma modalidade da comunicação persuasiva que, de uma maneira geral, não implica o diálogo entre a fonte e o alvo. Desta forma, é algo imposto, o que leva a que o receptor crie um maior número de barreiras no momento de percepção da mensagem. Além disso, a propaganda, para além do suporte físico que usa, não prevê mais qualquer tipo de mediação, seja realizada por um jornalista ou outra. (SALGADO, 2007, p. 28).
A partir disso, vê-se que a mídia, de certa forma, modifica a mensagem que
chega até o cidadão. Isso porque ela “influencia sobre as condições em que se
exerce a argumentação política e sobre as modalidades de formação das idéias
políticas” (SALGADO, 2007, p. 27). O discurso passa por diversos filtros, o que leva
a pensar em até que ponto a mensagem que chega ao público é a mesma proposta
no início do processo?
Segundo Salgado, os veículos de comunicação cumprem três funções que
também fazem parte da intervenção na mensagem: primeiro, a mídia transmite a
mensagem sem ser exatamente um mero transmissor. Ela se torna produto de uma
seleção e de uma hierarquização dos fatos (o que nos remete à hipótese do Agenda
Setting4. A transmissão desse fato ajuda a transformar o discurso político em
“acontecimento”. A segunda função desempenhada pela mídia enquanto
midiatização é quanto à encenação da mensagem. “Toda e qualquer apresentação
implica escolha de citações, cortes e montagens de texto e imagens, o que
4 A hipótese do Agenda Setting diz que a mídia pauta a sociedade, e que seu poder não é limitado no que se refere à formação da agenda para o debate público, pois é a mídia que determina o que será discutido na esfera pública.
41
transforma a mensagem inicial” (SALGADO, 2007, p. 27). Isso possibilita a
manipulação da informação. Por fim, a terceira função diz respeito ao comentário do
discurso, geralmente atribuído aos especialistas da área. Este comentário deve ser
pedagógico, para ajudar na compreensão do que o político quer dizer, e
contextualizado para determinar em qual cenário tal declaração foi dada.
Os meios de comunicação procuram acontecimentos para preencherem os
noticiários. Existem dois conceitos que se aplicam a esta situação: o Media Events,
proposta por Elihu Katz e Daniel Dayan (1995); e os “pseudo- acontecimentos”,
proposto por Daniel Boorstin (déc. 1960). O primeiro caso se refere a
acontecimentos que não são suscitados pela mídia, ou seja, acontecem
independentes dela. Porém, eles são preparados pensando numa cobertura
midiática, como é o caso dos comícios. Diferentemente, o segundo conceito diz
respeito a fatos criados ou provocados pelos meios de comunicação. Um exemplo
disso são as conferências de imprensa.
No HGPE não acontece essa excessiva perda de significado, uma vez que
neste formato a mídia, mais especificamente a televisão, cumpre o papel de
mediadora. Murray Edelman (1988) defende que a mídia mostra um espetáculo, ou
seja, uma construção narrativa e não uma série de fatos. Assim, ele (re)nomeia a
propaganda como um “espetáculo político” contemporâneo, onde um conjunto de
símbolos e significantes determina as concepções da realidade (apud SALGADO,
2007)
Percebe-se que essas midiatizações surtiram efeitos dentro do processo de
comunicação política. O sentido e a forma como ela é entendida pelo cidadão é
questionada devido a esta midiatização, já que se introduziram no processo o
42
marketing político, consultores de imagens e sondagens. Isso se torna claro quando
pega-se a televisão como exemplo.
A participação política tem diminuído, passando a manifestar-se através de vias menos formais e mais variadas do que a ação partidária, enquanto que os media confiscaram o lugar dos partidos políticos como ‘canais de comunicação’ privilegiados entre as elites políticas e a população” (SALGADO, 2007, p. 29).
Os partidos perderam espaço para as mídias - mais a televisão do que
outras - porque elas são mais eficientes quanto aos objetivos propostos nas
campanhas. As mensagens são mais entendidas pelos cidadãos quando veiculadas
na televisão devido a utilização de quatro ferramentas, de acordo com Gianfranco
Pasquino: personalização, dramatização, fragmentação e a normalização.
Segundo Pasquino (apud DIAMANDOUROS e GUNTHER, 2001, apud
SALGADO, 2007), a personalização garante um caráter de individualização dos
problemas sociais o que pode gerar a apatia dos cidadãos. Ele afirma ainda que a
personalização é a base da escolha do voto, principalmente devido à semelhança
dos programas eleitorais de diferentes partidos (apud SALGADO, 2007). Ou seja, é
a causa de qualquer campanha eleitoral. A dramatização caracteriza uma amostra
exagerada da vida política pela comunicação e se desenvolve sob várias formas:
“assimilando a política a um jogo ou espetáculo, o ganha/perde, a utilização de
emoções entre outros”. (SALGADO, 2007, p. 30). Estes dois mecanismos são
bastante visíveis nos HGPEs, pois por mais que a propaganda política seja boa,
existem pessoas que votam apenas por simpatia ao candidato; a dramatização
também pode ser observada em vários aspectos, mas um exemplo é quando o
candidato apela para as emoções, pedindo votos em função de alguma crença.
[...] O uso de símbolos, a importância da imagem, a utilização de uma linguagem algo teatral e de frases curtas, assim como a exploração de
43
emoções têm como objectivo chamar a atenção de forma espetacular ou dramática. Balandier (1999) sublinha que a teatralidade própria da política nunca foi tão potenciada como hoje pelos media, a ponto de ele falar numa “teatrocacia” que assenta numa inversão que faz do poder quase vítima, senão mesmo sujeito submetido à tirania da sua representação mediática (SALGADO, 2007, p. 31).
As mensagens políticas também passam pela fragmentação e normalização.
A televisão forçou um ritmo mais rápido à atualidade política. O tempo de reação
após o recebimento da mensagem diminuiu devido justamente a este imediatismo.
Desta forma, incorporou ao destinatário um papel ativo depois da midiatização da
comunicação política.
Os receptores da palavra do político têm de ser tornar decifradores, estando aí uma parte do prazer do jogo. Procuram o texto escondido no interior do discurso convencional, empobrecido pela repetição: a palavra que produz efeito de surpresa ou de choque, a “pequena frase” à qual se reduz a mensagem, o desfazamento entre a formulação aparente e aquela que ela mascara segundo a lógica da dupla linguagem (BALANDIER, 1999, p. 126 apud SALGADO, 2007, p. 32).
Simplificar a mensagem é uma forma de se aproximar do eleitorado,
facilitando o contato. Otto Kirchheimer (1966) sugere que a simplificação da
linguagem da mensagem se dá pela catch-all syndrome, ou, numa tradução
simplista, síndrome de atingir a todos. No HGPE isso se aplica no objetivo de atingir
ao maior número de pessoas possíveis, sem ter exatamente um alvo definido, ou
seja, o público é heterogêneo. Isso transformou o modo de construir o discurso para
atingir ao maior número de pessoas possível: foram verificadas mudanças como
redução de bagagem ideológica dos partidos, importância da figura do líder em
detrimento do membro partidário anônimo. A seguir retoma-se a discussão sobre
esfera pública, conceituando a idéia a partir de alguns autores, sendo o principal
deles Jürgen Habermas.
1.4 Definição de esfera pública por Habermas
44
Como foi apresentada, a comunicação política é vista de forma diferente por
diversos autores. Para Hannah Arendt (1958) e Dominique Wolton (1995), ela é
também um espaço de discussão política. Esse entendimento do ponto de vista dos
dois teóricos leva a aproximação de outro conceito proposto por Jürgen Harbermas
(1981) o da esfera pública.
Está claro que a política atua no espaço estatal, que aqui está sendo
chamado também de espaço político. Já os cidadãos pertencem ao espaço privado.
Segundo Habermas, existe ainda um terceiro espaço: o público. Ele está entre o
espaço político e o privado. Muitas vezes o espaço político e o espaço público são
confundidos. O espaço público é onde as pessoas discutem assuntos importantes a
elas e emitem opinião pessoal. As pessoas saem da esfera privada, ou da esfera
estatal, para discutir, teoricamente, assuntos que são de interesse coletivo. Como
afirma Cucurella, fazendo uma leitura sobre o pensamento habermasiano,
La publicidad relacionada com la opinión de um público constituido como conjunto de personas privadas que proyectan su racionalidad em diversos aspectos sociales y se afirman como jueces de las decisiones políticas (CUCURELLA, 2001, p 59).
A configuração deste espaço proporcionou a discussão de assuntos
socialmente pertinentes, além de gerar o que Habermas chama de opinião pública.
A opinião pública nada mais é do que a posição dominante da sociedade acerca de
determinado assunto. Entretanto, a esfera pública e a opinião pública não existiriam
se não houvesse de um lado, os profissionais da mídia, e do outro, os políticos. De
acordo com Habermas, só é possível a formação de uma opinião pública porque os
meios de comunicação proporcionam assuntos ao público para entrar em discussão.
Ele parte do pressuposto de que os debates na esfera pública são, na grande parte,
45
de cunho político, por isso nomeia a esfera pública também de esfera pública política
(HABERMAS, 2006).
Entretanto, Habermas defende uma opinião pública crítica, que permite
discutir os conflitos sociais. “Sólo uma publicidad crítica permitirá la expresión de los
conflictos reales y la superación de los mismos por la generación de consensos, de
voluntad común” (CUCURELLA, 2001, p 62). Para ele, só existirá democracia a
partir da publicidade crítica e suas formas de organização.
Dominique Wolton (1995) concorda com Habermas sobre a opinião pública
crítica. Ele faz uma releitura do autor e defende um espaço dentro da esfera pública
chamada de comunicação política.
O espaço onde se trocam os discursos contraditórios dos três atores que têm a legitimidade para se exprimir publicamente sobre a política: os políticos, os jornalistas e a opinião pública conhecida por meio de pesquisas (apud CHARAUDEAU, 2009, p 24).
Além dos jornalistas e dos políticos – fundamentais para a constituição da
esfera pública, existem cinco outros atores que aparecem dentro da discussão: os
lobistas (defendem interesses específicos), os advogados (defendem interesses
gerais), os especialistas (que têm conhecimentos profissionais ou científicos), os
empreendedores morais (chamam a atenção pública para assuntos marginalizados)
e os intelectuais (que têm conhecimento em uma área específica) (HABERMAS,
2006). Todos contribuem para formar a opinião pública.
Neste capítulo foram discutidos os conceitos centrais que permeiam este
trabalho. O principal deles diz respeito ao discurso político, mais especificamente, o
eleitoral, presente no HGPE. Verificou-se que, antes do discurso, é preciso pensar
na campanha eleitoral como um todo, demandando seus objetivos, para depois
46
pensar no desenvolvimento do discurso utilizado. Quando se formula o discurso,
procura-se demandar de estratégias que seduzam o público e façam com que ele dê
credibilidade e legitimidade ao candidato. Além disso, é preciso pensar numa
sociedade heterogênea e bastante fragmentada, que não vai receber a mensagem
de forma igualitária. A interação e a dependência dos meios de comunicação são
baseadas nesse pressuposto de público grande, mas não segmentado. Desta forma,
não tem um alvo determinado e também não há como conhecer as características
das pessoas para com quem está falando. Logo, o discurso demanda de muitas
ferramentas e pesquisas para conseguir atingir o seu objetivo: se fazer entender
para o maior número de pessoas, além de convencê-las de que as propostas
apresentadas em determinado programa são melhores do que as dos adversários.
Tudo o que foi discutido, desde a formulação do discurso, os elementos que
demandam a construção de um bom discurso político, até a forma como este se
apresenta nas campanhas eleitorais - depois de sofrer várias interferências da mídia
e passar por vários filtros até chegar ao público – será de bastante importância para
analisar os resultados encontrados a partir da pesquisa de campo. No próximo
capítulo, democracia e eleição serão os eixos centrais de discussão, já que a base
do HGPE é de uma sociedade democrática, e ele faz parte das eleições e integra,
de forma bastante significativa, a campanha eleitoral de todos os partidos políticos.
47
Capítulo 2
Democracia, Eleições e Comunicação
Democracia e eleição estão interligadas. A eleição direta de representantes
políticos não existe se não num regime democrático, onde o povo tem o poder de
escolhê-los. Neusa Gomes (2001) diz que “a campanha eleitoral é o mais importante
elemento para o processo eleitoral democrático” (p. 13). A partir do significado
formal, Norberto Bobbio (1998) entende democracia como um
Método ou um conjunto de regras de procedimento para a constituição de Governo e para a formação das decisões políticas (ou seja das decisões que abrangem a toda a comunidade) mais do que uma determinada ideologia (BOBBIO, 1998, p. 326).
Ou seja, a democracia é um sistema de governo que prima pela vontade da
maioria, obedecendo sempre o princípio do bem estar social e coletivo, onde o povo
tem voz ativa dentro do governo ao qual pertence. Segundo Bobbio (1998) para
chegar nesta denominação a Teoria Contemporânea da Democracia passou a
englobar alguns princípios de três correntes políticas: 1) da Teoria Clássica; 2) da
Teoria Medieval e 3) da Teoria Moderna da Democracia.
A Teoria Clássica se baseia nos estudos de Aristóteles e Platão. Para
Aristóteles, de acordo com Bobbio (1998), havia três formas de governo
consideradas pura e outras três consideradas corruptas. Desta forma, a Democracia
se enquadrava nas formas corruptas, porque era atribuída ao “’Governo de
vantagem para o pobre’” (BOBBIO, 1998, p. 320) que se opunha ao “’Governo de
48
vantagem para o monarca’ (tirano) e ao ‘Governo de vantagem para os ricos’
(oligarquia)” (BOBBIO, 1998, p. 320)5. É bom frisar que nesta teoria a democracia
era vista como algo negativo para a sociedade, justamente por entender que o povo
não tem competência para governar o Estado.
Já a segunda linha de pensamento político, com a Teoria Medieval, defende
que, apesar das formas de governo absolutistas, o povo nunca transferiu todo o seu
poder para as mãos do imperador, e sim o designou como seu procurador. Bobbio
cita a obra de Marsílio de Pádua para legitimar esta idéia do pensamento medieval.
[Pádua] se afirma e demonstra abertamente, com vários argumentos, o princípio de que o poder de fazer leis, em que se apóia o poder soberano, diz respeito unicamente ao povo, ou à sua parte mais poderosa (valentior pars), o qual atribui a outros não mais que o poder executivo, isto é, o poder de governar no âmbito das leis. De um lado, portanto "o poder efetivo de instituir ou eleger um Governo diz respeito ao legislador ou a todo o corpo dos cidadãos, assim como lhe diz respeito o poder de fazer leis... (BOBBIO, 1998, p. 321).
Em outras palavras, para Pádua não há como existir um governo sem a
intervenção do povo de alguma forma, mesmo que seja mínima, implícita, ou
indireta. Seguindo este pensamento, conclui-se que todos os sistemas são
democráticos, já que existe essa participação - mesmo que mínima - da população.
No Brasil, por exemplo, pode-se dizer que existe esta forma mínima de participação
popular no processo democrático. Um exemplo claro disso são as eleições
5 Seguindo o pensamento de Aristóteles, Bobbio explica que Platão não defendia a democracia por compartilhar da idéia de que os cidadãos não sabem governar. Ambos os filósofos acreditavam que nem todas as pessoas tinham aptidão para governar, e que apenas um pequeno grupo saberia qual rumo tomar. Para Platão, a única forma boa de governo era a aristocracia (onde caberia aos melhores cidadãos de cada sociedade - neste caso, os filósofos - dirigir o Estado).
49
acontecerem a cada quatro anos, ou seja, o cidadão interfere, de fato, nas escolhas
políticas sociais uma vez a cada dois anos6.
Avançando o pensamento da Teoria Medieval, a Teoria Moderna compreende
a Democracia como um “regime policrático oposto ao regime monocrático” (BOBBIO,
1998, p. 322), ou então todo sistema de governo que se opõe às formas de
despotismo. Nesta teoria se encaixa a obra O Contrato Social, de Jean-Jacques
Rousseau (1748) onde ele estabelece regras para o bom funcionamento da
sociedade. Dentro deste livro, ele também fala sobre a democracia, a partir de um
governo absolutista, e apesar de defender a divisão do poder e participação do
povo, não acredita que um dia irá existir uma democracia, pois “se houvesse um
governo de deuses, ele se governaria democraticamente. Tão perfeito governo não
convém aos homens” (ROUSSEAU, 1762, p. 96).
É a partir desta última teoria que a democracia é entendida hoje e,
conseqüentemente, a que mais importa para este estudo. Entre as três
apresentadas, é a única que entende a democracia de forma positiva, como ainda é
vista hoje. Contudo, a participação do povo sempre vai ficar restrita ao um seleto
grupo de pessoas, que, de acordo com Bobbio (1998) Mosca (1992) chama de
“classe política”, aquela que realmente detém o poder. Assim, para ele, todo governo
seria oligárquico (controlado por pequenos grupos), mas se diferenciaria na maneira
como forma esta classe política, ou, como é chamada neste trabalho, a elite política.
O HGPE é um espaço exclusivo desta elite política. O intuito é apresentar ao povo
as propostas para tentar convencê-lo a votar neste ou naquele candidato. Ilustrando
a teoria contemporânea, o HGPE representa àqueles que detém o poder de
6 A cada dois anos devido à intercalação dos períodos eleitorais. As eleições presidenciais sempre acontecem dois anos depois das eleições municipais e vice-versa.
50
governar, que tentam seduzir o eleitor para ganhar o seu voto. O eleitor, então, faz
parte da sociedade que tem a participação assegurada na decisão de uma
campanha. Em outras palavras, o HGPE não existiria se não em uma sociedade
democrática, onde a democracia é entendida a partir desta última teoria.
Completando este pensamento, Bobbio apresenta a definição de Schumpeter (1942)
para Democracia - sendo a que mais se aproxima da praticada no Brasil. É preciso
existir uma participação mínima dos cidadãos para que haja um consenso. No caso
das eleições, o consenso da maioria da população culmina na vitória de um
candidato.
A Democracia para Schumpeter (1942) só é possível onde existem vários
grupos concorrendo entre si pela conquista do poder através do voto popular.
Uma definição deste tipo leva em conta a importância primária, não desprezível, da liderança em qualquer formação política e ao mesmo tempo permite distinguir um regime do outro na base do modo como as diferentes lideranças disputam o poder, especificando, na Democracia, aquela forma de regime em que a contenda pela conquista do poder é resolvida em favor de quem conseguir obter, numa disputa livre, o maior número de votos. (BOBBIO, 1998, p. 326).
O conceito de democracia entendida por Mosca (1992) é elitista, pois ele
defende que existe apenas uma parcela da sociedade hábil para tomar decisões
pela maioria. Assim, o cidadão precisa votar somente para escolher essa elite que
vai governar. Já Schumpeter (1942) é minimalista e complementa o pensamento de
Mosca porque acredita que se todos decidissem tudo, haveria um constante conflito
na sociedade. A forma proposta pelos autores simplifica o processo democrático,
onde todos têm o direito de escolha – mesmo que seja para eleger quem vai
governar em nome do povo. Estas duas visões democráticas são importantes para
este trabalho porque sistematizam a forma adotada no Brasil. Visto que o povo não
é capaz de governar por si só, e que sempre deverá haver uma elite política que
51
seja apta para tal função, a campanha eleitoral é uma ferramenta de fundamental
importância para apresentar ao povo informações que sejam úteis na hora da
escolha – principalmente pelo voto ser obrigatório.
Desta forma fica claro o conceito de Democracia dentro de uma sociedade
como a brasileira. A classe política é definida a partir dos candidatos com maior
número de votos. O cidadão tem pleno poder e liberdade para escolher em quem
votar em uma eleição. Mas para escolher entre tantos candidatos, é preciso recorrer
aos mecanismos existentes para se informar sobre cada um, e o HGPE é um destes
mecanismos. O HGPE representa a democracia na prática, onde todos os
candidatos têm direito a apresentar um programa ao público, lançando de todas as
suas ferramentas para seduzi-lo; e, ao mesmo tempo, o público tem onde recorrer
para conhecer melhor o candidato, para então usar de seu poder democrático para
escolher o seu melhor representante. No próximo tópico deste capítulo serão
discutidas as eleições. Neste ponto ficará mais clara a visualização do conceito de
democracia, colocado em prática.
2.1 Sistemas Eleitorais
Os sistemas eleitorais variam entre os países. Jairo Nicolau (2001)
sistematiza três tipos deles: os sistemas majoritários, proporcionais e mistos. O
primeiro é possível aplicar tanto em eleições majoritárias (presidente, governador,
prefeito) quanto nas proporcionais (deputado federal, deputado estadual e vereador).
No entanto, os sistemas proporcionais e mistos são possíveis apenas em eleições
proporcionais7.
7 O Brasil utiliza o sistema de voto proporcional nas eleições para deputado federal, deputado
estadual e governador.
52
O Brasil adota o sistema majoritário para os cargos de prefeito, governador,
presidente e senador, onde, segundo Nicolau (2001), ganha o pleito o candidato que
obtiver o maior contingente de votos dos eleitores – geralmente a porcentagem
mínima é de 50%, mas pode ser diferente dependendo do país. Assim, dois
caminhos são possíveis para decidir a eleição: o sistema de maioria simples ou o de
dois turnos.
A principal variação na “família” dos sistemas eleitorais majoritários é o estabelecimento ou não de um contingente mínimo de votos – geralmente 50% - para que um candidato seja eleito. O sistema de maioria simples não garante que o mais votado receba pelo menos o apoio da metade dos eleitores, condição que é assegurada pelo sistema de dois turnos (com apenas dois candidatos disputando o segundo turno) [...] (NICOLAU, 2001, p. 15).
O sistema de maioria simples garante que o candidato que tiver o maior
número de votos, vença a eleição (NICOLAU, 2001). Neste caso não é preciso
atingir um determinado número de votos para se considerar vencedor. Para
entender melhor, pode-se pensar em uma eleição onde existam três candidatos. O
candidato A alcançou 35% dos votos válidos; o candidato B, 30%; e o C teve apenas
25%. Votos brancos e nulos somaram 10%. Mesmo que o candidato A não tenha
conseguido pelo menos metade dos votos da população, ele seria o eleito.
Associando ao conceito de democracia, o voto de maioria simples não seria o
melhor exemplo de uma eleição democrática, visto que a vontade da maioria
(totalizando os alcançados pelo candidato A e B, 55%) não foi realmente feita.
Os defensores dos sistemas eleitorais de dois turnos [...] enfatizam dois outros aspectos. O primeiro é a maior representatividade dos eleitos. Como vimos, no sistema de maioria simples, um parlamentar pode se eleger com menos da metade dos votos dos eleitores de um distrito. Os sistemas de dois turnos garantem representantes eleitos com pelo menos 50% dos votos nos casos em que apenas dois candidatos concorrem a um segundo turno, ou com votação mais adensada nos modelos que permitem mais de dois representantes concorrendo no segundo turno, como é o caso da França (NICOLAU, 2001, p. 22 e 23).
53
Jairo Nicolau utiliza o exemplo das eleições para a Câmara de Deputados,
mas o conceito pode se aplicar em eleições presidenciais, estaduais e municipais.
Contudo, este exemplo não se aplica ao Brasil, pois aqui a eleição proporcional para
deputado acontece em um único turno.
De acordo com o autor, o sistema de dois turnos é o mais utilizado dentre os
países democráticos, porque garante maior representatividade aos eleitos. Cada
partido ou legenda apresenta um único candidato nas eleições. Se nenhum
conseguir mais de 50% dos votos, o pleito vai para o segundo turno com os dois
candidatos mais votados. Assim, “quando apenas dois candidatos participam do
segundo turno, é que o presidente é sempre eleito com mais da metade dos
eleitores que foram às urnas” (NICOLAU, 2001, p. 28). Como no Brasil o voto é
obrigatório, é certo de que a grande maioria compareça para votar. Mas para fazer
com que o eleitor não anule o voto ou vote em branco é preciso que ele esteja
informado sobre os candidatos concorrentes. Além do HGPE existem diferentes
técnicas para que o cidadão comum escolha votar em determinado candidato, como
os panfletos informativos, inserções na televisão fora do HGPE, debates e etc.
Quando se trata de eleição municipal a campanha feita fora dos meios de
comunicação de massa também tem grande peso. Como o público para quem se
fala é mais restrito, é comum observar-se outdoors, pessoas segurando faixas e
banners dos candidatos nas ruas, entre outros. Em Curitiba e Ponta Grossa os
candidatos utilizaram bastante esses meios para atingir o eleitor, já que eram
colocados em lugares de grande circulação de pessoas.
Contudo, as eleições no Brasil nem sempre adotaram o modelo de dois
turnos. Entre 1945 e 1964, os chefes do poder executivo foram escolhidos com o
voto de maioria simples. Eurico Gaspar Dutra foi o único que obteve mais da metade
54
dos votos, com 55,3%; ao contrário, enquanto que Juscelino Kubitschek teve a
menor porcentagem dos votos – apenas 35,6%. Nicolau explica que apenas com a
Constituição de 1988 foram implantadas duas regras eleitorais diferentes: nas
cidades com mais de 200 mil eleitores é realizado o sistema de dois turnos,
enquanto que nas cidades com menos de 200 mil eleitores o sistema adotado é o de
maioria simples. No entanto, o voto de maioria simples ainda é possível caso o
candidato seja eleito com, pelo menos, 50% + 1 dos votos da população. Dois
exemplos podem exemplificar bem este sistema eleitoral: as eleições de 1994 e
1998, onde Fernando Henrique Cardoso ganhou as eleições logo no primeiro turno,
com 54,3% e 53,1% dos votos, respectivamente. Caso isso não ocorra, os dois
candidatos mais votados vão para a disputa do segundo turno. Nas eleições de
1989, Fernando Collor de Mello foi para o segundo turno com 30,5% dos votos, e
acabou ganhando o pleito com 53% dos votos válidos. É bom lembrar que o HGPE
começou a ser utilizado efetivamente na campanha presidencial de 1989. No
primeiro turno, o tempo do candidato variava de acordo com o “número de
parlamentares de cada partido ou coligação no Congresso Nacional”
(ALBUQUERQUE, 1999, p. 50). Já no segundo turno, os dois candidatos teriam
direito ao mesmo tempo no HGPE: vinte minutos diários – dez para cada candidato
(ALBUQUERQUE, 1999).
A regra dos dois turnos possibilita que candidatos que chegam em segundo lugar com uma votação muito inferior ao primeiro colocado acabem ganhando as eleições. Nas eleições presidenciais de Portugal de 1986, o candidato Diogo Freitas do Amaral foi o mais votado no primeiro turno, com 46,3%, e o segundo colocado, Mário Soares, obteve 25,4%. No segundo turno, Mário Soares acabou eleito com 51,3% dos votos (Mackie & Rose, 1991, p. 376 apud NICOLAU, 2001, p. 29).
O resultado inesperado pode acontecer devido ao fato das novas bases
aliadas que se formam no segundo turno das eleições. Os partidos dos candidatos
55
que ficaram de fora refazem alianças e apóiam um dos candidatos que disputarão o
segundo turno. Nicolau (2001) afirma que “candidatos com índice de rejeição muito
grande e partidos muito marcados ideologicamente tendem a ter dificuldades no
segundo pleito” (p. 29).
Este tópico serviu para se entender como funciona o sistema eleitoral no
Brasil e perceber como o HGPE pode agir na campanha política. A cada pesquisa
de opinião e a cada turno disputado, o candidato deve produzir um programa que
atenda à necessidade de ganhar votos. O próximo tópico vai abordar a campanha
eleitoral brasileira.
2.1.1 A campanha e o voto no Brasil
Em um estudo sobre estratégias discursivas jornalísticas utilizadas nas
campanhas eleitorais é preciso também entender como o voto se dá no Brasil. Pelo
voto ser obrigatório, a campanha eleitoral cumpre um papel diferente de países onde
o voto é facultativo. Neusa Gomes (2001) explica que em países democráticos mais
desenvolvidos o voto é um direito adquirido, e não uma obrigação. Desta forma a
campanha vem com a função de convencer o eleitor a ir votar. Já no Brasil, ela vai
além e tenta induzir o eleitor a votar em determinado candidato.
O Brasil adota o regime Presidencialista, com eleições diretas. Ele é um
regime próprio das repúblicas, onde o líder (presidente) é escolhido pelo povo.
Porém, durante a ditadura, existiam apenas eleições para os cargos de deputado
federal, estadual e vereador, e existiam também apenas dois partidos: a ARENA e a
MDB (NICOLAU, 2002). O presidente, governadores, prefeitos e senadores eram
escolhidos sem a intervenção da população. Os três primeiro presidentes militares –
56
Castello Branco, Costa e Silva, e Garrastazu Médici foram eleitos pelo Congresso,
em sessão pública, com votação nominal. Ernesto Geisel, João Baptista Figueiredo
(últimos presidentes militares) e Tancredo Neves “foram eleitos pelo Colégio
Eleitoral, que era composto pelos deputados federais, senadores e delegados
escolhidos pelas assembléias legislativas dos estados” (NICOLAU, 2002, p.56).
Observa-se aqui que, mesmo com a ditadura, o povo ainda conseguiu participar, de
forma indireta, da escolha de cargos públicos. Se hoje se tem uma participação
mínima, naquela época tinha-se uma participação indireta dos eleitores na escolha
da elite política. Da mesma forma como hoje os candidatos tentam convencer os
eleitores através da campanha – e, mais especificamente, do HGPE, os eleitores
tinham que se convencer de que tal candidato é o melhor para assumir determinada
posição – visto que era aquele voto que ia desencadear a escolha do presidente8.
Com a volta da eleição para governador9, apareceram também novas regras
na legislação eleitoral. O multipartidarismo foi então permitido, mas os dispositivos
impostos pela lei os prejudicavam. Todos os novos partidos (PMDB, PDS, PTB, PDT
e PT) tiveram que apresentar chapas completas para todos os cargos eletivos de
âmbito estadual e municipal.
Além de favorecer os partidos com mais diretórios organizados (PDS e PMDB), tal dispositivo obrigou os novos partidos a deslocarem os nomes dos principais líderes para as eleições majoritárias, nas quais a chance de vitória era mínima. O eleitor foi obrigado a votar em candidatos do mesmo partido para todos os cargos (voto vinculado), as coligações entre os partidos continuaram proibidas e, pela primeira vez desde 1962, foi negada ao eleitor a possibilidade de votar na legenda (NICOLAU, 2002, p. 59).
Com o fim do Regime Militar, em 1985, o presidente José Sarney aprovou
uma série de medidas que modificaram a dinâmica do sistema eleitoral brasileiro,
8 As eleições para presidente e vice foram suspensas em 1965, e somente em 1989 teve-se a primeira eleição direta para presidente. A suspensão da eleição para governador de vice-governador ocorreu em 1966, juntamente com a interrupção da para prefeitos e vice-prefeitos da capital. 9 As eleições diretas para governador voltaram a ser permitidas em 1982, e para prefeito somente três anos depois, em 1985 (NICOLAU, 2002).
57
entre eles estava o estabelecimento de eleições diretas para presidente (mas nesta
época ainda não havia definida as datas para o pleito), pelo sistema de maioria
absoluta em dois turnos. As eleições para deputados federal e estadual,
assembléias legislativas e câmaras municipais são realizadas a partir do sistema de
voto proporcional, onde um partido precisa obter um número mínimo de votos para
obter representação. Em 1985, a práticas das coligações para estes pleitos foram
novamente permitidas (elas tinham sido suspensas no regime militar).
A possibilidade de fazer coligação entre os partidos permite ampliar o
universo de eleitores. Por exemplo, nas eleições de 2008 para prefeito em Curitiba,
dois dos três primeiros colocados optaram por fazer alianças com outros partidos. O
candidato do PSDB, Beto Richa, fazia parte da coligação entre onze partidos, entre
eles o DEM, PDT, PSB, PPS. A candidata da oposição, Gleisi Hoffmann, do PT,
também teve sua candidatura coligada com outros cinco partidos. Entretanto,
nenhum desses partidos era tão expressivo como os partidos que apoiavam o
tucano Beto Richa. O único partido que não realizou alianças para o pleito foi o
PMDB, do candidato Reitor Moreira (que coincidentemente ficou em terceiro entre
estes). Em Ponta Grossa, o partido do candidato Jocelito Canto (PTB) firmou
alianças com outros seis partidos na cidade: PDT, PMDB, PRP, PHS, PMN e PSB.
Já o candidato Sandro Alex, do PPS, foi apoiado apenas pelo PP. Por outro lado, o
tucano Pedro Wosgrau foi o candidato que mais fez coligações nas eleições de
Ponta Grossa. Ao todo, dez partidos apoiaram a candidatura de Wosgrau, do PSDB:
PSL, PTN, PRB, PSC, PR, DEM, PSDC, PRTB, PTC e PT do B. Nota-se que em
ambas as cidades, o PSDB foi o partido que mais conseguiu formar alianças
políticas para seus candidatos.
58
Outra medida importante foi a autorização do voto à pessoas analfabetas,
mesmo com a não-obrigatoriedade do mesmo. Além deles, hoje o voto é facultativo
também para adolescentes com 16 e 17 anos e para pessoas acima de 70 anos.
Para o restante da população o voto é obrigatório (em vigor desde a Constituição de
1934), estando a pessoa sujeita a sanções pelo não comparecimento no dia do
pleito.
A punição para os eleitores faltosos que não justificarem a ausência é o pagamento de uma multa, cujo valor, definido pelo juiz eleitoral, pode variar entre 3% e 10% do valor de 33 UFIR (entre R$ 1,00 e R$ 3,00); em virtude da situação econômica do infrator, o juiz pode aumentar em até 10 vezes o valor da multa. Caso o eleitor não demonstre que votou, justificou o voto ou pagou a multa, ele não pode, entre outras coisas, inscrever-se em concurso público, receber salários, caso seja funcionário público, e obter passaporte e identidade. O eleitor que não votar em três eleições sucessivas (ou não justificar ou pagar multa) tem seu nome retirado do cadastro dos eleitores (NICOLAU, 2002, p. 62 e 63).
Antes de instaurar uma legislação única, a campanha eleitoral variava de
eleição para eleição. O HGPE, por exemplo, foi restringido devido ao medo da
oposição. Em 1990 foram aprovadas duas emendas para a Constituição de 1988. A
primeira, sancionada em 1994 reduziu o tempo de mandato para quatro anos. A
segunda, sancionada em 1997, permitiu que o presidente “se recandidatasse por
mais um mandato consecutivo” (NICOLAU, 2002, p. 66). Também em 1997 foi
aprovada uma lei (nº 9.504) definitiva para regulamentar as eleições (antes havia
uma legislação específica para cada pleito, como explica Nicolau. Isso causava
grande discrepância entre os pleitos, como número de candidatos, distribuição do
tempo nos HGPEs, gastos das campanhas, entre outros).
Entre outros tópicos, a lei nº9.504 definiu prazo de um ano para domicilio e filiação em um partido para ser candidato; normas rigorosas para prestação de gastos de campanha; uma nova data na qual a eleição seria realizada, primeiro e último (no caso de segundo turno) domingo de outubro; número de candidatos que um partido pode apresentar nas eleições proporcionais; e critérios para realização do debate, propaganda eleitoral e distribuição de tempo no rádio e televisão (NICOLAU, 2002, p. 66).
59
Assim, a definição de uma lei específica para as eleições garantiu a
legitimidade do pleito.
2.2. A Campanha Eleitoral
Atenção dada às campanhas eleitorais e o reconhecimento de que elas
interferem diretamente nas eleições veio somente a partir dos anos de 1980. Até
então, os estudiosos da área acreditavam que ela não tinha uma força significativa
dentro de uma disputa política.
Um destes estudiosos foi Paul Lazarsfeld. De acordo com Antonio Lavareda
(2009), o austríaco, que era um teórico da comunicação, foi um dos fundadores da
Escola Sociológica de explicação do voto, da Universidade de Colúmbia. Ele e sua
equipe esperavam descobrir o efeito dos meios de comunicação na escolha dos
candidatos. Entretanto, eles observaram que a mídia só conseguia informar e
influenciar uma parcela da população – que foi batizada de “líderes de opinião”.
Esses, por sua vez, tinham o poder de disseminar sua posição para o restante das
pessoas, “através dos contatos pessoais com seus ‘seguidores’” (LAVAREDA, 2009,
p. 133). Devido a isso, concluíram que os meios de comunicação pouco interferiam
sobre a predisposição política das pessoas, assim como as campanhas eleitorais.
O que as campanhas podiam fazer era, apenas, reforçar as preferências políticas existentes, para os indivíduos que já haviam se decidido, ou, no caso dos indecisos, ativar os vínculos latentes (LAVAREDA, 2009, p. 133).
Lavareda acredita que Lazarsfeld e sua equipe estavam meios certos. Ele faz
duas observações sobre as conclusões chegadas por eles.
A primeira, óbvia, é que em contextos fortemente bipolares, em que o padrão das urnas seja o de resultados apertados – as eleições sendo decididas por pequenas margens -, o trabalho das campanhas para
60
conquistar essa pequena fatia de eleitores é, a um só tempo, muito importante e mais difícil (LAVAREDA, 2009, p. 134).
Ao que tudo indica, a campanha desempenha um forte papel em casos como
este, onde se precisa persuadir um pequeno grupo de eleitores. Tomando por
exemplo uma situação onde os 40% dos eleitores estejam decididos a votar no
candidato A e 40% no candidato B. A campanha neste caso não interfere, pois essa
parcela da população já escolheu o candidato mesmo antes do período eleitoral
começar. Entretanto, existem 20% das pessoas que estão indecisas. Neste caso a
campanha influi de forma determinante, pois é através dela que o eleitor vai optar
votar em determinado candidato. No caso das eleições de 2008 em Ponta Grossa
verifica-se que a campanha mudou o desenrolar do pleito. Comparando a pesquisa
de intenção de voto anterior ao começo da campanha e o resultado do primeiro
turno é possível identificar uma mudança estrutural. O candidato Jocelito Canto
(PDT) era o principal oponente de Pedro Wosgrau Filho (PSDB), e até o início da
campanha era nome certo no segundo turno junto com o tucano. Porém, ao longo da
corrida eleitoral, o inexperiente candidato do PPS, Sandro Alex, ultrapassou Jocelito
Canto e conseguiu chegar ao segundo turno das eleições municipais daquele ano. A
primeira pesquisa realizada antes da campanha começar oficialmente, realizada
pela Ibope entre os dias 29 e 30 de junho de 2008, mostra que o candidato Jocelito
Canto liderava as intenções de voto, com 50%. Em segundo lugar aparecia o então
candidato à reeleição, o tucano Pedro Wosgrau Filho, com 27,91%, seguido do
inexperiente Sandro Alex, com 18,6%. A última pesquisa, datada dos dias 21 e 22
de setembro, revela a modificação da preferência dos eleitores. O candidato Pedro
Wosgrau Filho assumiu a liderança da pesquisa, com 41,57%; em segundo lugar
estava Jocelito Canto, com 33,71%, e em terceiro aparecia Sandro Alex, com
61
21,35%. Aqui já é possível verificar a influencia que a campanha desempenha ao
longo da corrida eleitoral. Como se sabe, os candidatos Pedro Wosgrau Filho
(39,44%) e Sandro Alex (28,5%) foram para a disputa no segundo turno. Entretanto,
a diferença de votos entre o segundo e terceiro colocados foi mínima. Enquanto que
Sandro Alex seguia na disputa com 28,5%, Jocelito Canto encerrava sua
participação com 28,15% da preferência dos eleitores. Nota-se que esse resultado é
conseqüência dos efeitos da campanha eleitoral em candidatos indecisos.
A segunda observação feita por Lavareda “diz que mesmo com o processo de
decisão do voto sociologicamente condicionado não é de pouca relevância mobilizar
os eleitores potenciais” (2009, p. 134). Neste caso a campanha tem menor
relevância, visto que grande parte dos cidadãos já decidiu o voto. O que aconteceu
nas eleições de Curitiba em 2008 ilustra bem este caso. Desde antes do início da
campanha, como quando durante, a porcentagem de pessoas que diziam votar no
candidato à reeleição, Beto Richa (PSDB), não sofreu grandes alterações. A
primeira pesquisa de opinião feita pouco antes de a campanha eleitoral começar foi
realizada pela Datafolha, nos dias 23 e 24 de julho de 2008. Nesta época, o tucano
Beto Richa aparecia com 80,9% das intenções de votos, seguido por Gleisi
Hoffmann, 12,77% e Reitor Moreira, com 6,34%. Observa-se que ao longo da
campanha a porcentagem dos votos não oscilou consideravelmente – mesmo em
outras agências de pesquisa. Seguido à Datafolha, a VoxPopuli e o Ibope realizaram
a pesquisa de opinião entre os dias oito a 11 de agosto, e oito a dez de agosto de
2008, respectivamente. Mais uma vez o candidato peemedebista apareceu em
primeiro lugar das intenções de votos dos curitibanos, com mais de 80% em ambos.
Pela pesquisa realizada pela VoxPopuli, Beto Richa tinha 86,05% de preferência,
62
enquanto que pelo Ibope ele atingiu os 80,9% - mesmo resultado obtido pela
pesquisa da Datafolha.
A última pesquisa realizada pelas agências citadas aconteceu entre os dias
23 e 25 de setembro (VoxPopuli), 29 e 30 de setembro (Datafolha), e no último dia
antes das eleições, dia 4 de outubro, pelo Ibope. Mais uma vez, em todas as
pesquisas o candidato Beto Richa ficou em primeiro lugar com mais de 70% das
intenções de voto. A Vox Populi identificou 79,78% dos votos para o tucano,
enquanto que o Datafolha obteve 73,12% e o Ibope, 79,35%. Neste caso as
pesquisas estavam certas. O tucano tinha a preferência de mais da metade do
eleitorado desde o início da campanha, e isso ficou claro com a vitória nas urnas
logo no primeiro turno, com 77,27% dos votos válidos.
0 20 40 60 80 100
23 a 25/set
29 a 30/set
4/out
Ibope
Datafolha
Vox Populi
GRÁFICO 1 – Intenções de voto do candidato à reele ição Beto Richa (PSDB/Curitiba)
Essa grande aceitação do candidato Beto Richa leva ao estudo realizado por
Martin Wattenberg (1998) sobre “o declínio dos partidos e a emergência das
eleições centradas na figura do candidato” (apud LAVAREDA, 2009, p. 136). Essa
tese defende que “os cidadãos agem racionalmente na eleição e se preocupam em
63
reduzir seus custos de informação, cada um votando em quem lhe parece que trará
mais benefícios” (LAVAREDA, 2009, p. 136)10. Desta forma, a escolha eleitoral é
entendida como um reflexo dos acontecimentos passados.
A partir desta tese foram formuladas duas vertentes. Na primeira delas, “o
voto expressa simplesmente punição ou recompensa pelo desempenho
governamental” (LAVAREDA, 2009, p. 136). A escolha é feita basicamente nas
ações realizadas pelo candidato que interferiram de maneira positiva na vida
daquele cidadão.
Nada de comparar propostas ou posicionamentos. A eleição é um referendo sobre o partido que está no comando. Governo avaliado de forma positiva recebe o voto, seja no incumbente (o governante que disputa a reeleição), seja no seu candidato. De outro modo, governo avaliado negativamente, quem ganha é a oposição. Campanhas não fazem diferença. O que importa é o desempenho do partido que está no poder (LAVAREDA, 2009, p. 137).
A segunda vertente é mais elaborada e leva em conta outro aspecto. No
chamado voto retrospectivo-prospectivo, o eleitor compara as realizações do atual
governo com as propostas da oposição. Ele não vota simplesmente pra punir ou
recompensar o político, neste caso o cidadão vota baseado em ações e propostas.
O eleitor, preocupado com o futuro, economiza custos de informação, e em vez de se investir em análises comparativas complexas dos programas dos candidatos, coteja o desempenho dos governantes com as propostas da oposição, como melhor caminho para antecipar o que poderá a vir ser o próximo governo (LAVAREDA, 2009, p. 137).
Como se pode perceber, os resultados obtidos não eram tidos como
conseqüências das mensagens políticas veiculadas durante o período do pleito.
Antonio Lavareda (2009) atribui à Thomas Holbrook (1996) o início da argumentação
sobre a importância das campanhas eleitorais. Nesta obra, segundo Lavareda,
Holbrook reúne informações que justifiquem o estudo.
10
Cf. Key, 1996, op. cit.
64
São eles: a) o fato de que há um número significativo de pessoas que decidem seu voto durante a campanha; b) que a identificação partidária é menor do que costumava ser; c) que há uma significativa flutuação nas intenções de voto durante as campanhas; d) e que, à medida que as eleições são mais orientadas para a mídia, elas geram uma massa de informações que pode ser usada pelos eleitores para decidir como votar (HOLBROOK, 1996, apud LAVAREDA, 2009, p.140)11.
Em época de eleição, os cidadãos são bombardeados por todos os lados com
informações sobre os candidatos que disputarão o pleito. Além das mídias
convencionais – como televisão e rádio, o avanço da internet proporcionou mais
uma tentativa de chamar a atenção do eleitor. A divulgação de material através dos
sites de relacionamento, miniblogs e email cresceu bastante nos últimos anos.
Lavareda apresenta também alguns fatores que Holbrook acredita que sirvam
como previsões sobre o resultado das eleições. São eles: “a) a aprovação
presidencial; b) contexto econômico; c) a incumbência; d) o tempo de permanência
no poder; e) e a identificação partidária” (HOLBROOK, 1996, apud LAVAREDA,
2009. p. 140). De acordo com Lavareda, Holbrook entende que se o candidato tiver
grande popularidade, se a situação econômica do país for estável, se o eleitor se
identificar com o partido do candidato e se ele (ou o partido) não estiver há muito
tempo no poder, as chances de ele se eleger são grandes. Assim, Holbrook chega à
seguinte conclusão:
A combinação das condições nacionais – popularidade do governante e
satisfação com a economia – com os esforços das campanhas produz efetivamente
flutuações nas curvas de intenção de voto e influencia os resultados eleitorais. Para
ele, ‘as condições nacionais são mais influentes que os eventos das campanhas,
embora as campanhas tenham o potencial para alterar os resultados da eleição’. O
contexto nacional estabelece os parâmetros. As campanhas podem mover os
11
Cf. Holbrook, 1996, op. cit.
65
eleitores para uma ou outra direção” (HOLBROOK, 1996, apud LAVAREDA, 2009, p.
141). Para Neusa Gomes (2001),
A campanha eleitoral deve ser, no seu sentido estrito, o conjunto de atividades que facilitariam uma parte importante de tal informação, difundindo as posições e respectivas qualidades dos partidos e candidatos (GOMES, 2001, p. 16).
Apesar do grande espaço de divulgação, as campanhas brasileiras ainda têm
um caráter de espetáculo. Lavareda acredita que elas precisam melhorar e defende
a idéia de torná-las “menos espetaculares e mais informativas” (2009, p. 15).
No Brasil, em especial, as campanhas sempre foram palco de disputas apaixonadas, e como a propaganda já usava beber na fonte das nossas principais características culturais – aí incluída a tradição de forte musicalidade -, elementos como jingles, trilha sonoras e metáforas esportivas o tempo todo estiveram presentes na nossa comunicação política (LAVAREDA, 2009, p. 142).
Os jingles são realmente o grande trunfo das campanhas, pois uma música
bem elaborada, com rimas fáceis garante ao eleitor a lembrança de determinado
candidato. Quem não se lembra dos jingles utilizados na campanha de reeleição do
presidente Lula, em 2006 - “Eu quero o Lula lá. Deixa o homem trabalhar” - ou então
- “É Lula de novo com a força do povo”?
Esse é um claro exemplo de estratégia eleitoral. Segundo Lavareda, uma boa
estratégia muitas vezes leva à vitória na eleição. O autor coloca que o candidato não
precisa ser amado pelo povo, nem ser considerado como um salvador da pátria para
conseguir o maior número de votos, basta apenas saber utilizar dos mecanismos
existentes. De acordo com o autor, existem várias estratégias adotadas pelos
candidatos para conseguir produzir uma campanha eficaz – como a estratégia
organizacional, estratégia jurídica -, mas nenhuma é tão importante quanto à de
comunicação.
66
Para que uma campanha seja eficaz, segundo Lavareda, é preciso montar um
plano com todos os aspectos e estratégias a serem adotadas e, além disso, é
preciso ter a certeza de que poucas pessoas têm acesso a ele. Comentar sobre os
mecanismos utilizados colabora com o adversário – que ficará sabendo das armas
de determinado candidato.
Na maioria das vezes, assim que o político vitorioso assume o cargo, os
responsáveis pela campanha eleitoral já começam a planejar qual será a próxima
campanha, a de reeleição. Durante o mandato são realizadas pesquisas sobre o
candidato, observando se a repercussão é positiva ou negativa – já pensando na
próxima eleição. A propaganda governamental também tem um peso grande na
campanha (LAVAREDA, 2009). Particularmente no Brasil, elas ajudam bastante o
político que está no poder a divulgar as ações que realizou durante o governo. Para
quem está no poder e vai tentar se reeleger é uma estratégia bastante importante.
Essas propagandas ficam mais freqüentes perto do término do mandato, onde é
recorrente também o aumento do número de inaugurações e anúncio/início de
novas obras – principalmente em cidades e estados onde quem governa é a
oposição (LAVAREDA, 2009). Basta um esforço para lembrar que essa estratégia é
bastante visível perto de época eleitoral, mas às vezes não é feita a ligação entre
propaganda e campanha.
Lavareda (2009) explica que com a abertura oficial da época de período
eleitoral, os meios de comunicação aumentam o espaço na grade de programação
dedicado à eleição. Os debates são liberados e começa também a veiculação do
HGPE por um período de 45 dias. É durante esse tempo que parte dos eleitores
decide em quem vão votar. Isso significa que o HGPE influi bastante na campanha,
pois lança ao eleitor muita informação e o HGPE permite utilizar a principal arma
67
existente: a mensagem política que cada candidato adota, ou seja, o discurso
político.
Além de demandar estratégias de persuasão para atrair o eleitor, Neusa
Gomes (2001) defende que a campanha deve desempenhar seis funções, que são:
1) função de conversão;
2) funções de comunicação política
2.1) as campanhas como meio de legitimação política
2.2) as campanhas como meio de fixação dos temas de interesse
político;
3) as campanhas como difusão dos símbolos políticos;
4) as campanhas como meio de educação cívica;
5) a campanha moderna como meio de seleção e recrutamento de pessoal
político;
6) as campanhas como meios de transparência da ação política dos
candidatos e partidos. No caso da função de comunicação política, deveria existir
uma dupla via de comunicação entre políticos e eleitores, principalmente em casos
de campanhas municipais – já que o candidato se encontra bem mais próximo ao
eleitor.
Até aqui foi discutido campanha eleitoral de forma geral. Como se viu ela
pode ser pensada sob vários meios de divulgação, mas para este trabalho o
principal veículo de difusão das campanhas é a televisão. O próximo tópico vai tratar
da campanha eleitoral dentro dos meios de comunicação de massa, mais
especificamente dentro da televisão.
2.3 Campanha Eleitoral na Televisão
68
Como já se sabe, um dos objetivos de uma campanha é conseguir atingir ao
maior número de pessoas para que se possa apresentar as idéias e posições do
candidato em questão. Os meios de comunicação de massa são os principais
aliados desta luta discursiva, pois são eficazes quanto a sua abrangência. Até
poucos anos atrás as campanhas consistiam basicamente em comícios, mas agora
os meios de comunicação de massa incorporaram essa essência (GOMES, 2001).
“Esse papel foi absorvido pela imprensa, pelo rádio e, principalmente, pela televisão”
(GOMES, 2001, p. 18).
A campanha feita na televisão e no rádio é voltada para a superprodução dos
programas, ou seja, é pensada a partir de todos os mecanismos comunicativos
possíveis. Apesar de a legislação brasileira reservar um período na grade de
programação dedicada exclusivamente à campanha eleitoral, muitos eleitores ainda
não conseguem se interessar pelas campanhas. Neusa Gomes (2001) afirma que “o
eleitorado não gosta das propagandas eleitorais” (p. 10), baseada numa pesquisa
realizada em Porto Alegre, onde 56% dos entrevistados considerarem o HGPE de
Regular a Muito Ruim. De acordo com ela, os programas são mal feitos, não
conseguindo atrair a atenção da população. Gomes (2001) acredita que a campanha
eleitoral deve desempenhar também uma função educativa, ou seja, contribuir com o
crescimento do eleitor enquanto cidadão, e não apenas garantir alguns votos para
determinado candidato.
Segundo Neusa Gomes, desde o início o eixo central das campanhas é a
informação. Isso se perdeu com o passar dos anos, culminando na crescente
utilização do mecanismo de persuasão, sendo a informação apenas um degrau
dentro do processo.
69
Há um acúmulo de informações que o cidadão recebeu, por meio das campanhas eleitorais, durante toda sua vida. A campanha deve administrar essa informação acumulada, numa ação educacional e socializadora do conhecimento político. Num país como o Brasil, as campanhas deveriam contribuir mais para a educação política do que simplesmente para a seleção política (GOMES, 2001, p. 22).
Isso quer dizer que as campanhas deveriam se voltar também para educar a
população. Tratando-se da televisão, essa função parece mais latente ainda. Como
é considerada um meio de maior alcance, a campanha televisiva ajudaria na
conscientização política das pessoas que não tem acesso a outros meios de
informação. A campanha política deveria desempenhar o mesmo papel do
jornalismo, socialmente falando: a de formar e informar o cidadão.
A campanha publicitária eleitoral, como designa Neusa Gomes (2001), faz
parte do processo comunicativo gerado pelo período eleitoral. Ela nada mais é do
que
O conjunto de ações comunicativas, desenvolvidas durante um período de tempo previamente estabelecido, geralmente sob a direção estratégica de um comando único e com a intenção de atingir a determinados objetivos eleitorais em favor de uma organização política, representada por seus candidatos (GOMES, 2001, p. 59).
Na televisão, as campanhas se convertem em distribuição massiva de
informação gratuita ao eleitor (GOMES, 2001). Elas integram um processo
comunicativo imprescindível para as eleições, e em um resumo simplista, pode-se
dizer que consiste em fazer a comunicação entre o partido e o cidadão. Mendelsohn
(1973 apud GOMES, 2001) situa cinco princípios das mensagens de uma campanha
para obter uma boa comunicação entre ambos:
1) Valorização adequada das necessidades, desejos e capacidades do eleitorado;
2) Sistematização e planificação da campanha; 3) Avaliação contínua do desenvolvimento da mesma; 4) Complementação constante com ações de comunicação pessoal, da
comunicação aparecida nos meios, e 5) Seleção cuidadosa dos meios apropriados para difundir as mensagens entre
os segmentos do eleitorado escolhido (MENDELSOHN, 1973 apud GOMES, 2001, p. 61).
70
Além disso, a mensagem da campanha também deve ser apresentada com
uma linguagem objetiva e de fácil compreensão, pois será consumida por pessoas
de todas as classes sociais e níveis de alfabetização. Este é mais um ponto onde se
identificam as estratégias jornalísticas adotadas pelas campanhas eleitorais.
Já foi dito que a informação foi por muito tempo o conceito de origem do
processo eleitoral. Hoje, porém, integra-se à informação o conceito de persuasão.
Neusa Gomes (2001) defende que o eleitor, tendo que escolher entre tantos nomes
disputando um cargo público, precisa de um incentivo a mais para definir o seu voto.
Ele precisa de algo a mais do que mera informação – e esse isso seria a persuasão.
A informação transmitida, pelo candidato ou pelo partido, ao eleitor, através dos meios de comunicação de massa, só ajuda a cumprir o objetivo maior da comunicação publicitária, que é exercer uma influência sobre o cidadão, para que este assuma uma determinada posição frente à mensagem que recebe. Esta posição deve significar uma mudança positiva em seu comportamento: a adesão a este ou aquele partido ou a este ou aquele candidato (GOMES, 2001, p. 66 e 67).
Assim, a passagem da informação para a persuasão deveria ser sutil, mas
não é o que acontece. Com a utilização da persuasão chega-se também a
linguagem demagógica – que já não tem mais a intenção de informar, e sim apenas
manipular o eleitor (GOMES, 2001). Antes era possível identificar essa demagogia
principalmente em comícios, mas com a televisão isso ficou ainda mais evidente –
sobretudo nos programas do HGPE.
Como se sabe, antes de uma campanha começar é preciso que se defina um
eixo central, um enfoque a seguir. Neusa Gomes (2001) diz que o enfoque deve
partir das necessidades básicas de cada eleitorado, e divide os temas centrais em
quatro grandes enfoques:
1) estabelecer-se em grandes princípios ideológicos;
71
2) os eixos podem ser selecionados de acordo com os interesses temporais e
contingentes do eleitorado;
3) os eixos podem fixar-se em redor da personalidade do candidato;
4) eixo que se centra no líder dos partidos adversários, com a campanha
preocupada em desprestigiar o concorrente.
Na divisão dos eixos centrais presume-se a interligação entre campanha e
jornalismo nos itens dois e quatro, porque no segundo é preciso fazer um
levantamento das necessidades reais do eleitorado – o que pode ser encontrado nas
notícias diárias, sob qualquer âmbito; e no último caso onde a mídia pode ajudar a
investigar e até contribuir para a desqualificação de determinado candidato. Claro
que os meios de comunicação deveriam ser imparciais quando se diz respeito às
eleições, pois o jornalismo tem o compromisso de narrar os fatos, sem se posicionar
a favor ou contra – mas às vezes não é isso o que acontece.
A partir da escolha do eixo de campanha é que se vai montar a campanha, e
também aquela voltada para os meios de comunicação de massa, entre eles, a
televisão.
Todos os informes prévios à criação deverão ser transformados em textos com títulos, argumentos concretos, slogans, imagens formadas por fotografias e composição, logotipos, cores, etc. que deverão motivar o eleitor. [...] Ao entrar em contato com o eleitorado alvo, por meio da sugestão, informação e persuasão, este material deve ser capaz de prender sua atenção e levá-los a uma atitude positiva em favor do partido ou candidato (GOMES, 2001, p. 92).
Nota-se aqui que os formatos jornalísticos ficam bastante evidentes quando a
campanha é pensada já em uma forma prática: textos, imagens, linguagem, etc. O
conteúdo disso tudo é o que vai garantir a eficácia ou não da campanha – mais
especificamente, do programa. Gomes (2001) explica que o conteúdo deve levar em
conta dois tipos de atenção do votante: a espontânea e a voluntária. A primeira é
72
conseqüência da atração que o anúncio ou programa (no caso da televisão) exerce.
Ela é independente da vontade do eleitor e seus efeitos são poucos efetivos. Ao
contrário, a atenção voluntária é produto da razão. O programa da campanha
desperta aqui o interesse pela mensagem enviada. “Para alcançar esta etapa, é o
que deve ser feito tanto na forma (linguagem atraente e vocabulário inteligível em
todos os níveis) como no fundo (conteúdo afetivo, exposição de vantagens e
positivismo em geral) (GOMES, 2001, p. 94). A forma, dita aqui, é o formato
jornalístico que se observa adotado pelas campanhas. No entanto, o conteúdo tem
causado repulsa no eleitorado em geral.
Nas campanhas municipais, em geral a televisão e o rádio, se for analisado o produto que oferecem ao eleitorado, têm sido mais desestimulante do que persuasivo. Isto é observado porque o longo tempo que a legislação proporciona; a periodicidade saturativa, principalmente dos pequenos partidos que não variam os candidatos expostos; e a pouca criatividade na confecção das peças têm um efeito irritador, logo, desmotivador sobre o eleitorado em geral (GOMES, 2001, p. 97).
Além disso, observa-se uma padronização da produção dos programas dos
candidatos a cargos municipais, isto é, o formato, a linguagem e até mesmo os
temas abordados são semelhantes.
A campanha municipal “se caracteriza como uma campanha local, porque é o
primeiro degrau na carreira política” (GOMES, 2001, p. 109). Nela, o candidato tem
uma comunicação mais restrita, apenas com os eleitores de determinada cidade.
Quando se trata de campanha municipal, o candidato segue basicamente duas
linhas de conduta no que diz respeito à comunicação: 1) precisa mostrar sua
posição com respeito aos interesses e características locais, bem como com o cargo
que se pretende disputar; 2) conhecer os problemas nacionais e entender que
existem problemas locais que não poderão ser resolvidos devido à ligação com o
contexto nacional (GOMES, 2001).
73
Para as eleições municipais, o candidato deverá ater-se muito mais aos fatores locais que aos demais, mas sem deixar de levar em conta o programa global do partido nos níveis estadual e nacional, e sua campanha deve conter elementos que o relacionem diretamente com o programa e com a campanha publicitária majoritária do partido a que pertence (GOMES, 2001, p. 109).
Os problemas que vão ser transformados em plataforma eleitoral podem ser
detectados por duas vias: 1) Buscar problemas práticos de alguns setores do
município, como em associação de moradores, sindicatos e etc. onde o problema
vem a público através de seus líderes; e 2) problemas mais urgentes da população
– aqueles que são identificados através do estudo do contexto de determinada
sociedade.
Após entender a campanha eleitoral na televisão e seus mecanismos de
ação, o último tópico deste capítulo se resume a apresentar a discussão sobre o
Horário Gratuito de Propaganda Eleitoral, o HGPE - principal foco de estudo desta
monografia.
2.4 Horário Gratuito de Propaganda Eleitoral
Desde o início da discussão deste trabalho, fala-se sobre o HGPE e sua
importância dentro do contexto eleitoral. Conhecido popularmente como
“propaganda política”, ele é uma forma de discurso político utilizado pelos
candidatos, reservado por lei a todos aqueles que se candidataram e estão inscritos
no Tribunal Superior Eleitoral.
A propaganda eleitoral surgiu em 1962, mas só foi regulamentada por lei em
1982, após a ditadura militar (FIGUEIREDO et al., 2000). Porém, os estudos sobre
74
mídia e política, a partir do HGPE, começaram a surgir no Brasil somente a partir
das eleições presidenciais de 1989.
Figueiredo et. al. (2000) explicam que essa forma diferente de fazer
campanha eleitoral começou em 1952, nos EUA, com a campanha de Eisenhower
para a presidência da República dos Estados Unidos. Os assessores do candidato
resolveram gravar comerciais para veicular no rádio e, desta forma, chegar à maioria
dos eleitores.
Dias depois, esses assessores aproveitaram a presença de vários
‘americanos típicos’ que esperavam para ver um show na Rádio City Music Hall e
gravaram, em estúdio, perguntas por eles dirigidas ao candidato Eisenhower. Da
fusão desses dois conjuntos de gravações em uma série de spot12, dominados
Eisenhower answers America13, nascia uma ‘nova era de campanha de mídia’”
(DIAMOND e BATES, 1988 apud FIGUEIREDO et. al. 2000). Desta forma, começou-
se a pensar em campanhas eleitorais voltadas para veículos de comunicação de
massa que, além de chegarem à basicamente todo o território, também
proporcionariam a interação entre candidatos e eleitores.
Entretanto, com o aprimoramento das propagandas tudo ficou mais bem
produzido e melhor pensado. As campanhas sempre foram pensadas para
convencer o eleitorado, mas depois do surgimento das propagandas e, no caso do
Brasil, dos HGPEs, a maioria do discurso passou a ser ficcional (FIGUEIREDO et.
al.,2000).
No debate eleitoral, os candidatos empregam uma retórica cuja argumentação é de natureza ficcional. Visando convencer os eleitores, todos controem um mundo atual possível, igual ou um pouco diferente do mundo atual real, e com base nele projetam um novo e bom mundo futuro possível (FIGUEIREDO et. al., 2000).
12 Spot são pequenos comerciais de geralmente 30 segundos veiculados ao longo da programação. 13 A tradução para o nome do programa de Eisenhower é Eisenhower responde a América.
75
Isso significa que através da propaganda eleitoral os candidatos tentam
convencer o eleitor por meio da construção de um mundo atual possível. Se o
candidato é da oposição, ele vai basear o seu discurso na melhoria desse mundo
possível. Se o candidato é da situação, vai fazer o eleitor acreditar que a sociedade
em que ele vive é boa, mas que pode melhorar ainda mais, caso ele seja eleito
(FIGUEIREDO et. al., 2000).
Observa-se, a partir disso, que os programas – tanto do HGPE quanto os
spots – tentam construir um mundo ideal para apresentar ao eleitor. Ou seja, tentam
fazer uma construção social da realidade. Essa é uma teoria bastante estudada
dentro do Jornalismo, pois afirma que o Jornalismo recorta parte da realidade
cotidiana e transforma em noticias apresentadas ao cidadão. Ampliando este
pensamento, pode-se trazer para a discussão dos programas do HGPE, onde os
candidatos também constroem essa realidade a partir de pontos de vista diferentes
e, sobretudo, públicos diferentes.
O formato utilizado nesses programas é puramente jornalístico. A maneira
como o candidato se comunica com o eleitor varia, mas as mais utilizadas
jornalisticamente são telejornal, documentário, entrevistas, debates e depoimentos
(FIGUEIREDO et. al., 2000). Além dos recursos verbais, Kathleen Jamieson (1993
apud FIGUEIREDO et. al., 2000) considera a utilização de recursos visuais e
sonoros bastante importantes porque influenciam na forma como a mensagem vai
chegar ao eleitor.
Para Jamieson, o modo como a televisão tem sido usada produz uma gramática do sentimento. No que se refere aos comerciais políticos, a autora relaciona o uso de recursos como o áudio, edição, mudança de luz e câmera, vozes diversas e outros à possibilidade de manipulação da mensagem e reconfiguração da realidade com a intenção de induzir sentimentos que podem afetar o julgamento do receptor. Além disso, a
76
conjugação de recursos diversos pode facilitar a memorização de informações complexas (FIGUEIREDO et. al., 2000).
Mais uma vez ficam claras as ferramentas jornalísticas utilizadas nos
programas televisivos de campanha. Além dos recursos de produção, identifica-se a
preocupação de tornar a campanha plural no que diz respeito a quem fala dentro do
programa. O recurso “Fala Povo”, empregado nos programas do HGPE, tenta
garantir a pluralidade de fontes para legitimar tal candidato (mesmo que seja algo
meramente ilustrativo, previamente esquematizado, não revelando a verdadeira
posição do eleitor, na maioria dos casos).
O programa do HGPE é privilegiado por deter legalmente o direito de ser
transmitido em todas as emissoras de canal aberto, em horário fixo determinado pro
TSE. Porém, é sabido que a maioria das pessoas não gosta do HGPE. Segundo
pesquisa realizada pela Gallup/Imprensa (revista Imprensa, ao. 1996 apud
FIGUEIREDO et. al., 2000), apenas 32% dos eleitores de São Paulo aprovam a
veiculação dos programas com duração de meia hora, enquanto que 53% preferem
a extinção desse tipo de propaganda. De acordo com Figueiredo et. al. (2000), os
eleitores preferem os comerciais inseridos no meio da programação, que tem em
média, a duração de 30 segundos. Apesar dessa constatação, o HGPE ainda tem
sua importância por permitir discussões mais aprofundadas.
O horário eleitoral brasileiro, fornecendo espaço de mídia gratuito para todos os partidos e candidatos, independentemente de seu poder econômico, abre espaço para os atores políticos, oferecendo-lhes ‘a possibilidade de apresentar sua própria versão da campanha e da realidade política’ (ALBUQUERQUE, 1996:267 apud FIGUEIREDO et. al., 2000, p. 167 e 168).
77
Neste trecho de Albuquerque fica ainda mais evidente o poder que os
candidatos possuem em seus programas do HGPE. Porém, segundo Albuquerque, o
HGPE geralmente tem como objetivo cumprir umas destas funções: “apontar
problemas sociais e apresentar sugestões para o seu solucionamento; promover a
imagem do candidato, seu partido e seus aliados em termos atraentes para o eleitor;
atacar adversários, candidatos ou não” (ALBUQUERQUE, 1999, p. 69). Além disso,
Albuquerque classificou as mensagens veiculadas nos programas em três
categorias principais: “mensagens de campanha, de metacampanha e ‘auxiliares’”
(1999, p. 69). As mensagens da campanha dizem respeito às propostas e problemas
políticos, e também estão encarregadas de construir a imagem do candidato.
A discussão dos problemas políticos, em especial, tem sido considerada por muitos como a tarefa nobre do HGPE, e a sua principal razão de existir. Quanto à construção de uma imagem favorável do candidato e seus aliados e o ataque aos adversários, embora não sejam considerados necessariamente como desejáveis no HGPE, eles são normalmente encaradas como elementos inerentes ao jogo político e, como tais, inevitáveis” (ALBUQUERQUE, 1999, p. 70).
Para ilustrar essa categoria basta lembrar-se das propostas apresentadas, de como
o candidato se mostra ao público e como constrói a narrativa do programa. A
segunda categoria diz respeito à metacampanha. Isso quer dizer que as mensagens
veiculadas se constituem de informações sobre a campanha em si – ente elas estão
as pesquisas de opinião. De acordo com Albuquerque (1999), devido à semelhança
dos programas com o telejornal, esse caráter periódico exige material novo com
certa freqüência para que o eleitor se sinta motivado a assistir aos programas.
Tal como os telejornais, os programas do HGPE têm a necessidade de preencher com material audiovisual um período de tempo pré-determinado. Mais do que isso, a forte concorrência que se estabelece entre os programas dos diversos partidos – tanto mais evidente no HGPE na medida em que os programas adversários são apresentados, nele, em conseqüência, um após o outro – os incita a renovarem constantemente o material que levam ao ar a fim de atrair para si a atenção dos telespectadores. O noticiamento e o comentário de assuntos do momento –
78
em especial aqueles relativos à própria campanha eleitoral – fornece, a este respeito, uma solução prática para os programas do HGPE (ALBUQUERQUE, 1999, p. 84).
Por fim, existem as mensagens auxiliares. Elas desempenham a função de
garantir ao HGPE uma estrutura mais agradável aos olhos do telespectador, mais
parecido como um programa de televisão (um telejornal, geralmente). Para isso,
utiliza dois recursos: os clipes políticos (também conhecidos como jingles) e as
vinhetas (ALBUQUERQUE, 1999).
Essas categorias se referem ao conteúdo dos programas. Entretanto, existe
ainda um elemento fundamental para a produção de qualquer programa do HGPE: o
personagem. Ele nada mais é do que o próprio candidato. Albuquerque deposita no
candidato grande importância dentro dos programas. Como ele é a figura central,
existe a preocupação de como se dará esta apresentação ao público.
O HGPE é, para o candidato, muito mais do que um mero veículo para a transmissão de conteúdos políticos, um instrumento por meio do qual ele busca sugerir aos eleitores a existência de um laço profundo entre ele e os eleitores, um relacionamento especial, dotado de características muito particulares. Mais do que isso, o HGPE permite ao candidato grande versatilidade no trato com os telespectadores, na medida em que possibilita introduzir – através do uso de convenções do discurso verbal e da narrativa televisiva – novos significados e interlocutores virtuais na relação com os telespectadores (ALBUQUERQUE, 1999, p. 95).
A respeito disso existem várias ferramentas dentro do HGPE que são
utilizadas para construir essa imagem ao público. No terceiro capítulo deste trabalho
serão apresentadas essas ferramentas que ajudam a construir tanto de imagem do
candidato, quanto o conteúdo das mensagens – que neste estudo serão chamadas
de variáveis.
2.4.1 O HGPE televisivo de Curitiba e Ponta Grossa
79
Como já se sabe as eleições de tanto de Curitiba quanto de Ponta Grossa
foram atípicas. Isso porque em Curitiba, de acordo com o Tribunal Regional Eleitoral
(TRE), o candidato à reeleição conseguiu se eleger no primeiro turno, com mais de
77% dos votos válidos, e em Ponta Grossa porque um dos principais candidatos do
pleito foi desbancado por um inexperiente político – que disputava sua primeira
eleição. Em Curitiba já se imaginava a vitória esmagadora do candidato Beto Richa
(PSDB), que sempre teve uma grande aceitação por parte dos eleitores. Só não se
imaginava uma vitória com tanta discrepância entre a porcentagem do primeiro e
segundo colocado. Gleisi Hoffmann (PT), a segunda colocada do pleito, obteve
míseros 18,17%14 dos votos. Em se tratando de programa eleitoral, vê-se que ela
não teve valor significativo neste caso, porque antes mesmo de o período eleitoral
começar o candidato eleito já tinha a preferência disparada entre os eleitores.
Ao contrário, em Ponta Grossa, é visível a importância da campanha - mais
especificamente, do HGPE - no resultado final do pleito. O candidato Pedro Wosgrau
Filho (PSDB) chegou para disputar o segundo turno com o radialista Sandro Alex
(PPS), que desbancou o então favorito Jocelito Canto (PTB) nas urnas. Para um
favorito, que até antes da campanha tinha a preferência de 50%15 da população, não
conseguir chegar ao segundo turno por uma diferença de apenas 0,35%16 dos votos
é algo que somente um estudo aprofundado sobre HGPE pode explicar.
A partir daqui a campanha eleitoral será deixada de lado e o estudo vai se
voltar somente à análise sobre o HGPE. Isso se deve ao fato de que o HGPE é
objeto de estudo deste trabalho, onde se pretende estudar as ferramentas
jornalísticas utilizadas neste tipo de programa eleitoral.
14 Fonte: TRE. 15 Fonte: Ibope. 16 Fonte: TRE.
80
No próximo capítulo serão apresentadas as variáveis dos programas a
serem analisadas, para posteriormente traçar uma linha comparativa entre os
programas de Curitiba e Ponta Grossa, a fim de tentar explicar o resultado das
eleições de ambas as cidades.
81
CAPÍTULO 3
HGPE 2008: O estudo da disputa em Curitiba e Ponta Grossa
O período de coleta se deu do dia 19 de agosto a 2 de outubro de 2008 –
referente ao primeiro turno da disputa, e de 14 a 24 de outubro de 2008 – relativo ao
segundo turno das eleições17. O estudo é feito a partir da análise de conteúdo
quantitativa dos resultados obtidos através da coleta dos dados dos programas do
horário nobre.
Para que seja possível, utilizar-se-á a metodologia de análise de conteúdo.
Os resultados são gerados a partir do método quantitativo, o qual possibilita o uso
da técnica estatística e comparativa, pois se busca confrontar os resultados obtidos
em Curitiba e em Ponta Grossa. Os dados coletados se apresentam através de
porcentagens e estatísticas, onde é possível aplicar a teoria da probabilidade e
generalizar os resultados obtidos.
Os programas coletados foram divididos em segmentos18. Cada um destes
segmentos coletados diz respeito a uma única unidade de análise e, a partir disso,
foi classificado de acordo com as variáveis previamente definidas e desenvolvidas
pelo grupo de pesquisa Mídia, Política e Atores Sociais, da Universidade Estadual
de Ponta Grossa19. Devido ao grande número de variáveis, serão apresentadas aqui
apenas as quatro categorias que interessam ao trabalho: Apelo, Formato,
17 Em Curitiba as eleições foram decididas logo no primeiro turno. Desta forma, a coleta dos dados referente ao segundo turno será realizada apenas em Ponta Grossa. 18 O segmento corresponde a uma unidade de análise independente quanto ao formato e ao conteúdo. O segmento é definido como um trecho do programa onde não se alteram o locutor, o tema, nem o cenário. Quando algum destes elementos sofre alteração, termina um segmento e se começa outro. 19 A autora agradece ao grupo de pesquisa por proporcionar os dados para a realização desta monografia.
82
Linguagem e Orador Dominante20. Estas variáveis foram escolhidas porque
possuem ligação com o Jornalismo. A variável ‘apelo’ mostra o tipo de conteúdo da
mensagem veiculada, se possui conteúdos informativos ou não.
Complementarmente, tem-se a variável ‘linguagem’ que vai mostrar em qual
linguagem o candidato se comunica com o público – se é informativa ou não. O
formato dos segmentos e o orador dominante finalizam a relação entre estas
variáveis, mostrando em qual formato o conteúdo é passado ao eleitor e quem é que
transmite as mensagens. Para isto, existem categorias jornalísticas dentro destas
variáveis que possibilitam ao partido utilizá-las para ganhar credibilidade perante o
público.
A variável ‘Apelo’ diz respeito ao conteúdo das mensagens, ou seja, o que
está inserido dentro daquilo que o candidato está falando em seu programa. Esta
variável apresenta cinco tipos de apelo: o pragmático, ideológico, político, emocional
e documental ou credibilidade da fonte. De acordo com Figueiredo, Aldé, Dias e
Jorge (2000), o apelo pragmático se dá quando o programa instiga o eleitor a pensar
e a pesar prós e contras antes de votar em algum candidato. O apelo ideológico
acontece quando “o candidato faz uso de seu posicionamento em relação a modelos
de Estado, regimes de governo, formas de promover a justiça social etc. [...]”
(FIGUEIREDO et al., 2000, p. 162). O apelo político está presente em mensagens
onde o candidato referencia o partido ou grupo político ao qual faz parte; o apelo
emocional é aquele em que a mensagem é desprovida de qualquer outro conteúdo, 20 Ao todo existem 23 variáveis no livro de códigos desenvolvido pelo Grupo de Pesquisa Mídia e Política. São elas: tempo de duração do segmento; uso do cargo; postura acima da briga; associação à administração em curso em disputa/ênfase em realizações; associação à administração de outra esfera; endosso de lideranças políticas; endosso de lideranças da sociedade civil organizada; endosso do patrono; menção ao partido ou coligação; apelo a mudanças; ofensiva quanto a temas; ataques à administração em curso; ataques aos adversários; objeto/tema; formato; orador dominante; apelo; retórica; linguagem; dimensão temporal; valência da dimensão temporal; atributo do candidato ou adversário; valência do atributo.
83
superestimando apenas o lado emocional. E a última categoria desta variável é o
apelo documental ou de credibilidade da fonte. Este é o que mais interessa ao
estudo, visto que nele predomina o argumento de autoridade, ou seja, de uma fonte,
de um documento, de alguém confiável e que seja reconhecido como alguém
legitimado para falar sobre determinado assunto. Aqui é possível identificar uma
característica puramente jornalística: a dependência da fonte para que a informação
seja reconhecida e acreditada por parte do público. No primeiro programa do
candidato do PPS à prefeitura de Ponta Grossa, Sandro Alex, observa-se, logo no
segundo segmento, a ausência de conteúdo na seguinte frase: “Está começando um
novo jeito de governar: simples, mais humano e ao lado do povo”. Nota-se que neste
caso o apelo desta mensagem não instiga o eleitor a pensar nos prós e contras do
candidato, nem apresenta ideologias e propostas. Ela simplesmente pende para o
lado emocional, ou seja, tenta ganhar o eleitor pela comoção. Já no primeiro
programa do candidato do PTB, Jocelito Canto, também de Ponta Grossa, é
apresentado um gráfico com as intenções de votos da população até o início do
HGPE. Este tipo de mensagem se enquadra naquela onde o apelo é documental ou
de credibilidade da fonte, pois apresenta dados de pesquisas realizadas pelos
institutos publicitários.
A segunda variável é o Formato. Existem onze formatos de programas.
Contudo, apenas cinco farão parte da análise justamente por serem as que têm
ligação com o Jornalismo: o documentário, o telejornal, a entrevista, a
dramatização/ficção, chamada e o ‘povo fala’. Esta última se caracteriza por uma
seqüência de pronunciamentos de pessoas (quase) anônimas, que geralmente
aparecem falando bem do candidato em questão. O documentário, o telejornal e a
entrevista são os formatos puramente jornalísticos presentes nas categorias de
84
análise, que são importados para o HGPE como uma forma de conseguir
legitimidade de tal informação perante o público. O documentário, por exemplo, é
uma produção onde a retratação da realidade é o objetivo central. Já o telejornal se
caracteriza por um apresentador, geralmente sentado em uma bancada, passando
suas propostas através de textos estruturados como notícias. Da mesma forma, a
entrevista complementa esta “notícia”, pois se apresenta como uma fonte confiável
que transmite a “informação” ao público. As outras categorias de formato não farão
parte do estudo por estarem muito distante do Jornalismo, ou seja, partilham de
outro campo que não o jornalístico21.
A Linguagem é a terceira variável discutida, composta por três categorias:
didática, panfletária e informativa. A linguagem didática caracteriza um texto onde
existe a apresentação detalhada dos fatos e a interpretação dos mesmos. Ao
contrário, a linguagem panfletária defende ou ataca determinado tema sem
aprofundá-lo com interpretação ou com informação. Já a linguagem informativa é
aquela onde o único objetivo é transmitir a informação.
A última variável a ser analisada é quanto ao Orador Dominante. Esta é
outra que apresenta várias categorias22, mas as únicas que interessam são o âncora
e o off do locutor, por serem os que integram o meio jornalístico. Isso porque o
âncora é aquele que apresenta o telejornal, ou seja, um jornalista. Além dele, existe
o off do locutor, que é a pessoa que narra as matérias que vão ao ar. Estes dois
oradores remetem à credibilidade daquilo que está sendo transmitido, porque se
21 As outras categorias de formato são: pronunciamento do candidato; pronunciamento do candidato a vice; vídeo clipe/jingle; ilustração/animação. 22 Os outros oradores dominantes são: candidato; candidato à vice; patrono político; garoto propaganda; líder partidário; off (cantor); popular; personagem/ficção; personalidade; instrumental.
85
acredita que o jornalista narra os acontecimentos do dia-a-dia sem tomar posição
em nenhum momento.
Agora que já se conhece o que vai ser estudado dentro dos programas de
Beto Richa (PSDB), Gleisi Hoffmann (PT), Reitor Moreira (PMDB), em Curitiba, e
Pedro Wograu Filho (PSDB), Jocelito Canto (PTB) e Sandro Alex (PPS), em Ponta
Grossa, pode-se partir para a análise das variáveis do HGPE de 2008. Estes
candidatos foram escolhidos por serem os três que tiveram o número de votos mais
expressivos. Em Curitiba, por exemplo, o restante dos candidatos (ao todo foram
oito que disputaram o pleito) somaram menos de 1% dos votos válidos. Em Ponta
Grossa, a escolha dos três candidatos se deu pelo fato de que antes da campanha,
o candidato do PTB, Jocelito Canto, era o principal oponente de Pedro Wosgrau,m
do PSDB. Ao longo da campanha, mais precisamente do HGPE, Jocelito Canto foi
perdendo votos para o inexperiente político Sandro Alex, que o desbancou nas
urnas e chegou ao segundo turno contra o tucano à reeleição. Os programas
analisados foram os do horário da noite e dizem respeito ao primeiro turno da
disputa em Curitiba e aos dois turnos na disputa em Ponta Grossa.
3.1 Comparação geral dos conteúdos do HGPE de Curitiba e Ponta Grossa
Os dados a seguir são mostrados seguindo a ordem das variáveis que foram
anteriormente apresentadas. Além disso, o resultado da análise de Curitiba e Ponta
Grossa será exposto comparativamente. Neste primeiro momento serão analisadas
apenas as freqüências simples das variáveis. O cruzamento dos dados será
realizado no próximo tópico deste capítulo.
86
A primeira variável é quanto ao Apelo utilizado nas mensagens dos
candidatos a prefeito. Como já foi dito, ele está dividido em cinco categorias:
pragmático, ideológico, político, emocional e documental ou credibilidade da fonte.
Na tabela 1 pode-se observar o percentual dos resultados, que mostram o tipo de
apelo que predominou na campanha de Curitiba:
TABELA 1 – Apelo das mensagens dos programas do HGP E de Curitiba - 2008
Apelo % Gleisi Hoffmann (PT)
% Reitor Moreira (PMDB)
% Beto Richa (PSDB)
Pragmático 15,7 26,6 17,1 Ideológico 0,7 0,5 0 Político 1,0 0,5 0,2 Emocional 82,6 72,4 82,5 Documental ou Credibilidade da Fonte 0 0 0,2 Total 100 100 100
Fonte: Grupo de Pesquisa Mídia, Política e Atores Sociais
De acordo com a tabela 1, observa-se que houve uma regularidade do tipo
de apelo empregado pelos candidatos de Curitiba. Nos três concorrentes estudados,
o apelo emocional (que é aquele quando não se identifica nenhum conteúdo
presente nas mensagens) foi o que mais apareceu entre as mensagens dos
programas do HGPE. O candidato à reeleição Beto Richa (PSDB) e sua principal
oponente, Gleisi Hoffmann (PT), obtiveram basicamente o mesmo percentual nesta
variável: 82,5% e 82,6%, respectivamente. O candidato Reitor Moreira utilizou
menos o tipo de formato emocional em seus programas, mas ainda sim foi o que
mais apareceu, em 72,4%. Já o segundo tipo de apelo mais utilizado foi o
pragmático. Entretanto, a porcentagem desta categoria ficou bem abaixa da primeira
colocada. O Reitor Moreira (PMDB) foi o que mais empregou o apelo pragmático, em
26,6% dos programas. Beto Richa e Gleisi Hoffmann tiveram outra vez um
percentual aproximado. O apelo pragmático apareceu em 17,1% dos programas do
87
peemedebista, enquanto que nos da petista ele foi identificado em 15,7%. Como se
pode observar, nenhum dos três candidatos fez uso dos cinco tipos de apelo
categorizados. Enquanto que Gleisi Hoffmann e Reitor Moreira deixaram de lado o
apelo documental ou de credibilidade da fonte, Beto Richa não usou o apelo
ideológico.
Neste aspecto acredita-se que houve uma similaridade no discurso dos
candidatos de Curitiba quanto ao apelo. Nos programas dos três concorrentes ficou
clara a opção pelo apelo emocional, o que revela que mesmo partidos conhecidos
por sua forte ideologia e pragmatismo - como o PT – deixam de lado este tipo de
discurso no programa do horário eleitoral. Mesmo aparecendo em segundo lugar
entre todos os candidatos, a porcentagem das mensagens com apelo pragmático
veiculadas nos programas do PT fica em último lugar quando se olha para os
resultados do PMDB e do PSDB. Nota-se também que é quase inexistente o apelo
político e ideológico em ambos os partidos. Estes resultados permitem concluir,
parcialmente, que os partidos políticos não adotam no HGPE o discurso conhecido
pela grande maioria da população: o PT, por exemplo, conhecido pela sua forte
postura ideológica, isenta-se desta posição e iguala o seu discurso ao PSDB, sua
grande frente opositora.
Em Ponta Grossa, o resultado encontrado foi diferente do de Curitiba,
embora existissem candidatos do mesmo partido disputando o mesmo cargo nesta
eleição. A seguir a tabela 2, que mostra os dados referentes ao Apelo em Ponta
Grossa.
88
TABELA 2 – Apelo das mensagens dos programas do HGP E de Ponta Grossa - 2008
Apelo % Jocelito Canto (PTB)
% Sandro Alex (PPS)
% Pedro Wosgrau (PSDB)
Pragmático 37,8 29,0 40,0 Ideológico 26,8 35,5 23,0 Político 1,2 3,2 3,0 Emocional 32,9 31,2 29,8 Documental ou Credibilidade da Fonte 1,2 1,1 4,2 Total 100 100 100
Fonte: Grupo de Pesquisa Mídia, Política e Atores Sociais
A tabela 2 mostra que o apelo pragmático foi o que embalou a campanha em
Ponta Grossa. O candidato Pedro Wosgrau veiculou mensagens com este tipo de
apelo em 40% dos seus programas, seguido do Apelo Emocional. O segundo
candidato a empregar o Apelo Pragmático foi Jocelito Canto, em 37,8% de seus
programas, e por último aparece Sandro Alex, com 29%. O segundo apelo que mais
apareceu nos programas dos dois últimos também foi o emocional, com 32,9% e
31,2%, respectivamente.
Os resultados presentes na tabela 2 revelam que em Ponta Grossa houve
uma melhor divisão no tipo de apelo presente nas mensagens dos programas. O
apelo pragmático foi o mais identificado, variando entre 29% e 40%. O emocional e
ideológico também obtiveram porcentagens significativas nos programas dos
candidatos dos Campos Gerais. O apelo emocional apareceu entre 29% e 32% dos
programas e o ideológico entre 23% e 35,5%. Uma possível interpretação deste fato
se dá na questão de que os partidos políticos mantém uma proximidade de discurso
em eleições de mesmo âmbito e prova, mais uma vez, que a ideologia partidária não
é tão forte no HGPE como se imaginava.
Nota-se que houve uma inversão dos resultados quando se compara
Curitiba e Ponta Grossa. Na capital o apelo emocional apareceu em primeiro lugar
nos programas dos três candidatos estudados, seguido pelo apelo pragmático. Já
89
em Ponta Grossa, o apelo pragmático apareceu em primeiro lugar, desbancando o
apelo emocional. Outra diferença encontrada observando os dados das duas
cidades é que enquanto em Curitiba os candidatos não faziam questão de utilizar
todos os tipos de apelo, em Ponta Grossa todos foram, mesmo que de forma
mínima, encontrados. O apelo documental ou de credibilidade da fonte apareceu
somente no programa do tucano Beto Richa (0,2%), no pleito de Curitiba. Ao
contrário, em Ponta Grossa, esta categoria foi identificada nos programas dos três
candidatos. Porém, os programas do também tucano Pedro Wosgrau foram os que
deram mais atenção a esta categoria (4,2%). Por fim, é bom ressaltar que os
candidatos de Ponta Grossa optaram por dividir melhor o espaço destinado a cada
tipo de apelo em suas mensagens. Enquanto que em Curitiba quase 80% dos
programas foram focados no apelo emocional, em Ponta Grossa obteve-se uma
divisão aproximada entre o percentual do apelo pragmático e do apelo emocional.
A segunda variável a ser analisada é o Formato. Ele está dividido em onze
categorias, mas nenhum candidato utilizou as onze ao longo de seus programas. A
tabela 3 apresenta os formatos que foram empregados nos programas dos
candidatos a prefeito de Curitiba.
90
TABELA 3 – Formato das mensagens dos programas do H GPE de Curitiba - 2008
Formatos % Gleisi Hoffmann (PT)
% Reitor Moreira (PMDB)
% Beto Richa (PSDB)
Pronunciamento do candidato 22,4 19,6 7,6 Pronunciamento do candidato a vice 0,3 1,0 0 Documentário 0 0 0 Telejornal 8,7 11,1 19,7 Entrevista 0,7 10,6 0,5 Video Clipe/jingle 33,4 12,1 29,3 Ilustração/animação 7,0 7,5 5,0 Dramatização/ficção 0 1,0 0,1 “Povo Fala” 6,7 7,0 17,5 Depoimentos 6,0 10,6 1,9 Chamada 14,7 19,6 18,5 Total 100 100 100
Fonte: Grupo de Pesquisa Mídia, Política e Atores Sociais
A tabela 3 mostra que os formatos mais utilizados de orador dominante nos
programas de Gelisi Hoffmann, Reitor Moreira e Beto Richa foram o videoclipe/jingle,
telejornalismo, chamada e pronunciamento do candidato. A candidata do PT, Gleisi
Hoffmann, assim como o tucano Beto Richa, em 33,4% e 29,3% dos programas
respectivamente, utilizaram o formato do videoclipe/jingle. Esta categoria é aquela
em que aparece no programa um clipe de imagens com fundo musical, geralmente
mostrando o político nas ruas, com os eleitores. Em segundo lugar, nos programas
petistas apareceu o pronunciamento do candidato (22,4%), seguido do formato
chamada (14,7%). O pronunciamento do candidato acontece quando o próprio
político é o que mais apresenta os programas, não demandando de outras
estratégias para se mostrar ao público. Já a chamada é mais uma categoria
proveniente do Jornalismo, e se caracteriza por justamente chamar, contar aos
eleitores, os próximos assuntos que serão discutidos dentro do programa. O
segundo formato dos programas de Beto Richa foi o telejornal (19,7%) e em terceiro
apareceu também o formato ‘chamada’, em 18,5%. Os programas do Reitor Moreira
91
foram divididos entre chamada e pronunciamento do candidato (19,6% cada),
videoclipe/jingle (12,1%) e telejornalismo (11,2%). É interessante ressaltar que em
nenhum programa dos candidatos de Curitiba foi identificado o formato
documentário. Ainda assim, os programas de Gleisi Hoffmann também não
exploraram o formato dramatização/ficção, e os de Beto Richa deixaram de fora o
pronunciamento do candidato a vice.
Os resultados apresentam semelhança nas categorias de formato mais
identificadas - videoclipe/jingle, telejornalismo, chamada e pronunciamento do
candidato. O videoclipe/jingle, por exemplo, é um forte aliado dos partidos por
proporcionar ao público assimilar de forma rápida e marcante a música presente na
campanha de determinado candidato. Isso faz com que o político seja lembrado
assim que o eleitor ouvir o jingle de sua campanha – mesmo sem nem saber de
imediato a qual candidato aquela música remete. O telejornalismo e o
pronunciamento do candidato também são formatos bastante fortes nos programas
do HGPE. O telejornalismo porque passa a idéia de credibilidade e o próprio
candidato porque o público deve conhecê-lo, identificá-lo e também identificar-se
com ele.
Em Ponta Grossa o resultado não foi muito diferente do da capital, como
mostra a tabela 4. Jocelito Canto preferiu ser o orador dominante em metade de
seus programas (50%), enquanto que Sandro Alex e Pedro Wosgrau optaram pelo
videoclipe/jingle como carro chefe dos HGPEs em 28,7% e 24,2%.
92
TABELA 4 – Formato das mensagens dos programas do H GPE de Ponta Grossa - 2008
Formatos % Jocelito Canto (PTB)
% Sandro Alex (PPS)
% Pedro Wosgrau (PSDB)
Pronunciamento do candidato 50,0 23,3 19,2 Pronunciamento do candidato a vice 0 0,4 0,4 Documentário 6,1 5,0 2,6 Telejornal 4,9 9,0 10,2 Entrevista 2,4 1,8 7,9 Vídeo Clipe/jingle 20,7 28,7 24,2 Ilustração/animação 2,4 4,7 0 Dramatização/ficção 0 0 5,7 “Povo Fala” 4,9 14,0 15,8 Depoimentos 7,3 5,0 10,2 Chamada 1,2 8,2 3,8 Total 100 100 100
Fonte: Grupo de Pesquisa Mídia, Política e Atores Sociais
O segundo formato que mais apareceu foi o videoclipe/jingle nos programas
de Jocelito Canto (20,7%), e o pronunciamento do candidato nos de Sandro Alex
(23,3%) e Pedro Wosgrau (19,2%). Os depoimentos apareceram em 7,3% dos
programas de Jocelito Canto, ficando em terceiro lugar. Já nos programas do
radialista Sandro Alex e do tucano Pedro Wosgrau, o terceiro lugar ficou com o
“povo fala”, aparecendo em 14% e 15,8%. Observa-se que houve diferença nos
formatos mais utilizados quando comparado Curitiba e Ponta Grossa. Enquanto que
na capital a chamada foi a única que apareceu entre os três primeiros formatos mais
usados nos programas dos três candidatos, e o telejornalismo também apareceu
entre os três primeiros nos programas de Reitor Moreira e Beto Richa, estes
formatos ficaram de fora do top 3 dos programas dos Campos Gerais.
O formato chamada apareceu em último colocado nos programas de Jocelito
Canto, sendo utilizada apenas em 1,2% dos programas. Nos programas de Sandro
Alex ela ficou em 5º lugar, aparecendo em 8,2%; e nos programas de Pedro
Wosgrau ela ocupa a 7ª posição, com 3,8% de aparição. Apesar dessa diferença de
resultados, os candidatos de Ponta Grossa também não demandaram de todos os
93
tipos de formatos em seus programas. O candidato do PTB, Jocelito Canto, não deu
voz a seu vice em nenhum dos programas, e também não recorreu ao recurso de
dramatização/ficção, assim como Sandro Alex, do PPS. Já Pedro Wosgrau, do
PSDB, deixou de fora apenas o formato ilustração. Talvez essa diferença de
recursos utilizados nos programas de Curitiba e Ponta Grossa represente a não
padronização da campanha dos partidos, ou seja, as estratégias adotadas podem
variar de acordo com a cidade do pleito. Isso faz com que a campanha ganhe um
caráter local.
Agora que já se sabe qual formato foi o mais utilizado em cada programa,
precisa-se conhecer a linguagem adotada para mostrar as propostas dos candidatos
ao público. Na tabela 5 pode-se verificar a porcentagem de cada tipo de linguagem
empregada pelos candidatos à prefeitura de Curitiba. Ela está dividida em três tipos:
didática, panfletária e informativa.
TABELA 5 – Linguagem utilizada nas nos programas do HGPE de Curitiba - 2008
Linguagem % Gleisi Hoffmann (PT)
% Reitor Moreira (PMDB)
% Beto Richa (PSDB)
Didática 0,7 0,5 0,1 Panfletária 21,7 29,6 22,8 Informativa 77,6 69,8 77,2 Total 100 100 100
Fonte: Grupo de Pesquisa Mídia, Política e Atores Sociais
Esta é a variável mais fácil de ser entendida. Como já foi explicado
anteriormente, o tipo de linguagem possibilita entender como o candidato quis
passar sua mensagem ao público, se foi de forma superficial, aprofundada ou
apenas um repasse de informação. Olhando para a tabela vê-se que todos os
candidatos de Curitiba optaram pela linguagem informativa. Gleisi Hoffmann e Beto
Richa ficaram, mais uma vez, com o percentual muito aproximado (77,6% e 77,2%
94
respectivamente). Já Reitor Moreira utilizou menos a linguagem informativa quando
comparado aos concorrentes (69,8%). A linguagem panfletária ficou em segundo
lugar entre todos os candidatos e a linguagem didática foi quase que inexistente.
Entende-se que os candidatos da capital optaram por transmitir ao público suas
propostas através da informação, ao invés de ficar apenas bombardeando com
idéias superficiais. Talvez essa seja uma estratégia de campanha que tenta não
superestimar o eleitor, apresentando-lhe um conteúdo mais explicativo.
Em contrapartida, em Ponta Grossa houve, mais uma vez, a inversão de
papéis. A linguagem predominante nas mensagens dos candidatos foi a panfletária,
enquanto que a informativa apareceu em segundo lugar.
TABELA 6 – Linguagem utilizada nas nos programas do HGPE de Ponta Grossa - 2008
Linguagem % Jocelito Canto (PTB)
% Sandro Alex (PPS)
% Pedro Wosgrau (PSDB)
Didática 9,8 11,8 8,7 Panfletária 64,6 63,1 64,2 Informativa 25,6 25,1 27,2 Total 100 100 100
Fonte: Grupo de Pesquisa Mídia, Política e Atores Sociais
A maior utilização da linguagem panfletária indica que os candidatos de
Ponta Grossa preferiram apenas tratar os assuntos de forma superficial, ao contrário
de Curitiba. Porém, nota-se que houve um considerável uso da linguagem didática,
quando se compara com o percentual encontrado na Capital. Dentre este tipo de
linguagem, Sandro Alex foi o que mais tentou aprofundar os temas, em 11,8% dos
programas, seguido de Jocelito Canto (9,8%) e Pedro Wosgrau (8,7%).
Agora que já se sabe o apelo contido nas mensagens, o formato de
programa adotado e a linguagem empregada para transmitir o conteúdo ao público,
95
resta saber quem foi que mais falou nos programas do candidato, ou seja,
quem/qual foi o orador dominante.
A última variável está representada nas tabelas 7 e 8, referentes a Curitiba e
Ponta Grossa. Observa-se a seguir que esta variável foi a que mais houve
disparidade na escolha dos candidatos.
TABELA 7 – Orador dominante dos programas do HGPE d e Curitiba - 2008
Orador Dominante % Gleisi Hoffmann (PT)
% Reitor Moreira (PMDB)
% Beto Richa (PSDB)
Candidato 29,1 31,7 10,1 Candidato a vice 0,3 1,5 0 Patrono político 2,0 1,0 0 Garoto propaganda 0,3 1,5 0,5 Âncora 2,7 3,0 16,8 Lider partidário 0 0 0 Off/locutor 39,8 22,1 29,3 Off/cantor 13,0 5,5 9,7 Popular 7,0 10,6 20,0 Personagem/ficção 0 1,0 0,1 Personalidade 3,7 12,6 1,9 Instrumental 2,0 9,5 11,7 Total 100 100 100
Fonte: Grupo de Pesquisa Mídia, Política e Atores Sociais
A petista Gleisi Hoffmann e o tucano Beto Richa mais uma vez obtiveram o
mesmo resultado na categoria mais empregada nos programas. O orador dominante
tanto do programa de Gleisi quanto de Richa foi o off/locutor, enquanto que nos
programas do Reitor Moreira foi ele próprio. A partir da segunda categoria houve
muitas diferenças. Em segundo lugar nos programas da petista ficou a fala do
candidato (29,1%), seguido pelo off/cantor (13%). O Reitor Moreira optou pelo
off/locutor (22,1%) e pela fala de uma personalidade em 12,6% de seus programas.
Por fim, pode-s dizer que Beto Richa foi o único a adotar duas categorias
jornalísticas entre os três primeiros colocadas. Já se sabe que o off/locutor foi o
96
orador dominante na maioria dos programas, seguido pela fala popular (20%) e pelo
âncora (16%) – que é o outro recurso jornalístico empregado. Esta categoria
apareceu em apenas 2,7% dos programas de Gleisi Hoffmann e 3% nos programas
do Reitor Moreira.
Os resultados de Ponta Grossa não diferem muito dos de Curitiba quanto ao
tipo de orador dominante empregado. Porém, a utilização dos elementos
jornalísticos foi diferenciada.
TABELA 8 – Orador dominante dos programas do HGPE d e Ponta Grossa - 2008
Orador dominante % Jocelito Canto (PTB)
% Sandro Alex (PPS)
% Pedro Wosgrau (PSDB)
Candidato 56,1 25,1 24,2 Candidato a vice 0 0,7 0,4 Patrono político 0 0,4 0,8 Garoto propaganda 1,2 4,3 5,7 Âncora 2,4 3,2 4,5 Lider partidário 2,4 1,4 2,3 Off/locutor 6,1 15,4 18,9 Off/cantor 15,9 16,5 15,5 Popular 6,1 15,4 18,9 Personagem/ficção 1,2 0 7,2 Personalidade 7,3 5,4 8,7 Instrumental 1,2 0,4 0,8 Total 100 100 100
Fonte: Grupo de Pesquisa Mídia, Política e Atores Sociais
Apesar de Jocelito Canto e Pedro Wosgrau optarem pelo mesmo orador
dominante na maioria de seus programas, o próprio candidato, o concorrente pelo
PTB o fez em mais da metade, em 56,1%. Este resultado é mais do que o dobro do
percentual encontrado nos programas de Pedro Wosgrau, que foi o próprio orador
em apenas 24,2%. Isso mostra que Wosgrau investiu em mais estratégias do que
Jocelito Canto. O candidato Sandro Alex também diversificou o orador dominante de
sua campanha, colocando o off/locutor em primeiro lugar, com 27,2%, seguido pela
fala dele próprio (25,1%) e pelo off/cantor (16,5). O off/cantor também apareceu
97
entre as três categorias mais utilizadas nos programas de Jocelito Canto (15,9%) e
Pedro Wosgrau (15,5%). O outro tipo de orador dominante presente nos programas
dos dois últimos candidatos citados foi a personalidade (Jocelito – 7,3%) e o popular
(Wosgrau – 18,9%). Observa-se que as categorias jornalísticas, como o off/locutor e
âncora, foram deixadas de lado. O off/locutor apareceu entre os primeiros somente
nos programas de Sandro Alex. Por outro lado, apesar do orador dominante âncora
não ter aparecido entre os mais empregados, ele esteve mais presente nos
programas de Ponta Grossa do que nos de Curitiba. Este tipo de orador apareceu
em 4,5% dos programas de Wosgrau; 3,2% nos de Sandro Alex e em 2,4% nos de
Jocelito Canto.
Até aqui, verificou-se como os principais candidatos à prefeitura de Curitiba
e de Ponta Grossa desenvolveram sua campanha a partir de quatro variáveis: apelo,
formato, linguagem e orador dominante. Em Curitiba ficou claro que eles não se
preocuparam em preencher o discurso com conteúdos políticos, pois mais de 80%
das mensagens dos programas do PT e do PSDB tiveram um apelo emocional. Em
contrapartida, a linguagem adotada pelos programas foi a informativa. Aqui se
observa uma das contradições da campanha: mensagens informativas tiveram o
apelo emocional presente em sua grande maioria. Além disso, o discurso, no pleito
de Curitiba, foi transmitido ao público, na maioria das vezes, através do formato
videoclipe/jingle, seguido pelo telejornalismo.
Em Ponta Grossa o videoclipe/jingle também foi um dos formatos mais
empregados, seguido pelo pronunciamento do candidato e do “povo fala” – nota-se
que houve diferença nos formatos seguintes, quando comparado à Curitiba. A
linguagem e o apelo também não foram os mesmos. A mensagem dos programas
98
do HGPE em Ponta Grossa foi transmitida através da linguagem panfletária, com
apelo pragmático. Isso quer dizer que o discurso apresentou conjecturas de políticas
públicas, entretanto, estas proposições foram discutidas superficialmente pelos
candidatos, sem demonstrar formas de aplicá-las.
Quando se faz este breve levantamento dos dados da campanha das duas
cidades, conclui-se que, apesar de existirem candidatos do mesmo partido,
ocupando a mesma posição na eleição (candidatos à reeleição, como o caso dos
dois do PSDB), as estratégias discursivas utilizadas pelos partidos mudam de
acordo com cada cidade. Existe sim uma similaridade de discurso, mas apenas
quando olhamos para os outros candidatos da mesma cidade. Até agora o que se
pode perceber é que a campanha em Curitiba, no HGPE televisivo, foi bastante
diferente da de Ponta Grossa.
Agora que já se tem um parâmetro geral dos resultados de Curitiba e Ponta
Grossa, o próximo passo é analisar somente os elementos jornalísticos presente nos
programas dos prefeituráveis. Este será o foco de estudo do próximo tópico.
3.2 Comparação dos elementos jornalísticos utilizados no HGPE
O HGPE, apesar de ser um espaço exclusivo dedicado à elite política, é
também um espaço onde o Jornalismo está presente. Apesar de muitas vezes não
se perceber, muitos elementos do programa eleitoral são ‘emprestados’ do campo
jornalístico. Nesta segunda parte, a análise se dará através do cruzamento das
variáveis apresentadas no item 3.1. Ao todo, cinco combinações foram realizadas:
formato x linguagem; orador dominante x linguagem; apelo x linguagem; dimensão
99
temporal x linguagem e orador dominante x formato. O cruzamento destes dados vai
proporcionar uma visão mais específica sobre como os elementos jornalísticos foram
empregados durante a campanha na televisão.
A tabela 9 apresenta o tipo de linguagem utilizada em cada formato do
segmento dos programas do candidato à reeleição do PSDB, Beto Richa.
TABELA 9 – Formato x Linguagem – Beto Richa (PSDB) – 2008
Candidato Formatos % Linguagem Didática Panfletária Informativa
Beto Richa (PSDB)
Pronunciamento do candidato 0 18,9 4,3 Pronunciamento do candidato a vice 0 0 0 Documentário 0 0 0 Telejornal 0 24,4 18,3 Entrevista 0 0,4 0,5 Vídeo Clipe/jingle 0 23,1 31,1 Ilustração/animação 0 20,6 0,4 Dramatização/ficção 0 0 0,1 “Povo Fala” 0 1,7 22,2 Depoimentos 100 3,8 1,2 Chamada 0 7,1 21,8
Total 100 100 100 Fonte: Grupo de Pesquisa Mídia, Política e Atores Sociais
Como se observa, a linguagem informativa esteve presente em 31,1% dos
programas no formato videoclipe/jingle, seguido pelo ‘povo fala’ (22,2%) e pela
chamada (21,8%). A linguagem didática mais uma vez apareceu exclusivamente em
apenas um formato: neste caso, sob forma de depoimentos. Por fim, a linguagem
que mais esteve presente nas mensagens da campanha de Curitiba, a panfletária,
apareceu em forma de telejornal (24,4%), videoclipe (23,1%) e ilustração (20,6%).
Isso mostra que mesmo o telejornal sendo um formato proveniente do Jornalismo,
no HGPE ele assume outra conotação quanto ao tipo de discursos veiculado, já que
nem mesmo a linguagem informativa aparece entre as mais utilizadas nos formatos
jornalísticos. A entrevista, por exemplo, foi informativa apenas em 0,4% de suas
100
aparições. O ‘povo fala’ também o percentual informativo muito baixo – 1,2%. A
chamada foi o formato jornalístico que mais empregou a linguagem informativa
(21,8%), seguido do telejornal, em 18,3%. Nos programas do candidato do PSDB, o
telejornal aparece mais com linguagem panfletária (24,4%) do que informativa.
Já a tabela 10 traz os resultados do cruzamento dos dados encontrado nos
programas da candidata da oposição, Gleisi Hoffmann (PT).
TABELA 10 – Formato x Linguagem – Gleisi Hoffmann ( PT) – 2008
Candidato Formatos % Linguagem Didática Panfletária Informativa
Gleisi Hoffmann (PT)
Pronunciamento do candidato 0 29,2 20,7 Pronunciamento do candidato a vice 0 1,5 0 Documentário 0 0 0 Telejornal 0 7,7 9,1 Entrevista 0 1,5 0,4 Vídeo Clipe/jingle 0 32,3 34,1 Ilustração/animação 0 12,3 5,6 Dramatização/ficção 0 0 0 “Povo Fala” 50,0 0 8,2 Depoimentos 50,0 3,1 6,5 Chamada 0 12,3 15,5 Total 100 100 100
Fonte: Grupo de Pesquisa Mídia, Política e Atores Sociais
Nos programas da candidata do PT, a linguagem informativa – a mais
identificada nas mensagens em geral - apareceu no formato de videoclipe/jingle em
34,1%. Em seguida vem o pronunciamento do candidato, com 20,7%, e a chamada,
em 15,5% dos programas. A linguagem panfletária, a segunda que mais foi
empregada no discurso dos candidatos de Curitiba, também foi veiculada através do
videoclipe/jingle na maioria das vezes (32,3%), seguida pelo pronunciamento do
candidato (29,2%). Já em terceiro lugar, o formato ilustração e chamada ficam
empatados, veiculando mensagens panfletárias em 12,3% das suas aparições. Já a
linguagem didática ficou apareceu apenas nos formatos ‘povo fala’ e depoimentos,
101
com 50% cada. Nas categorias puramente jornalísticas, como telejornal, entrevista e
‘povo fala’, a linguagem informativa apareceu muito pouco. O formato telejornal
apresentou a linguagem informativa em apenas 9,1%; já na entrevista este tipo de
linguagem foi praticamente inexistente (0,4%), voltando a um percentual um pouco
mais representativo no formato ‘povo fala’ (8,2%). O terceiro candidato que aparece
é o Reitor Moreira. A tabela 11 apresenta os percentuais obtidos a partir de seus
programas.
TABELA 11 – Formato x Linguagem – Reitor Moreira (P MDB) – 2008
Candidato Formatos % Linguagem Didática Panfletária Informativa
Reitor Moreira (PMDB)
Pronunciamento do candidato 0 18,6 20,1 Pronunciamento do candidato a vice 0 1,7 0,7 Documentário 0 0 0 Telejornal 0 18,6 7,9 Entrevista 100 15,3 7,9 Vídeo Clipe/jingle 0 1,7 16,5 Ilustração/animação 0 15,3 4,3 Dramatização/ficção 0 1,7 0,7 “Povo Fala” 0 0 10,1 Depoimentos 0 11,9 10,1 Chamada 0 15,3 21,6 Total 100 100 100
Fonte: Grupo de Pesquisa Mídia, Política e Atores Sociais
Nos programas do candidato do PMDB a linguagem informativa é
empregada, na maioria das vezes, no formato chamada (21,6%). O pronunciamento
do candidato é o segundo formato que em que a linguagem informativa mais
aparece, assim como nos programas da candidata do PT. Nos programas do Reitor
Moreira, o formato videoclipe/jingle é o terceiro em que a linguagem informativa está
mais presente. A segunda categoria de linguagem, a panfletária, aparece bastante
dividida entre os formatos. Em primeiro lugar, ela se faz presente tanto no
pronunciamento do candidato, quanto no telejornal (18,6%). De acordo com a tabela
102
9, os formatos de entrevista, ilustração e chamada foram os segundos a utilizarem a
linguagem panfletária (15,3%), seguido pelos depoimentos, com 11,9%. Já a
linguagem didática foi identificada exclusivamente no formato de entrevista. Quando
se olha apenas para as categorias próximas ao jornalismo, percebe-se que mais
uma vez a linguagem informativa não está presente, na maioria das vezes. O
formato telejornal, por exemplo, teve mais mensagens veiculadas na linguagem
panfletária (18,6%) do que informativa (7,9%). O mesmo aconteceu com a
entrevista. Enquanto que a informativa ocupou apenas 7,9% das entrevistas, a
panfletária se fez presente em 15,3%, e a didática em 100%. O ‘povo fala’ foi o
formato, entre estes três, em que a linguagem informativa foi mais identificada
(10,1%).
A análise do cruzamento destas duas variáveis, formato e linguagem, abrem
um leque de conclusões a que se pode chegar. Primeiro que todos os candidatos
utilizaram basicamente os mesmos formatos e os mesmos tipos de linguagem para
cada um. Além disso, apesar de muitas vezes formatos jornalísticos estarem
presentes entre os mais utilizados, nenhum teve a linguagem informativa como a
mais presente – na maioria das vezes foi a panfletária. O telejornal é o formato onde
a linguagem panfletária apareceu em primeiro lugar, sendo que, teoricamente,
deveria ser a informativa, já que um telejornal pressupõe a veiculação de
informação.
Já em Ponta Grossa, a linguagem panfletária foi a que mais esteve presente.
Entretanto, a informativa apareceu bastante entre os formatos jornalísticos, como
mostra as tabelas seguintes.
103
TABELA 12 – Formato x Linguagem – Pedro Wosgrau (PS DB) – 2008
Candidato Formatos % Linguagem Didática Panfletária Informativa
Pedro Wosgrau (PSDB)
Pronunciamento do candidato 39,1 18,2 15,3 Pronunciamento do candidato a vice 0 0,6 0 Documentário 4,3 2,4 2,8 Telejornal 8,7 10,0 11,1 Entrevista 4,3 8,2 8,3 Vídeo Clipe/jingle 8,7 25,3 26,4 Ilustração/animação 0 0 0 Dramatização/ficção 8,7 4,7 6,9 “Povo Fala” 13,0 18,8 9,7 Depoimentos 13,0 8,2 13,9 Chamada 0 3,5 5,6 Total 100 100 100
Fonte: Grupo de Pesquisa Mídia, Política e Atores Sociais
A linguagem informativa nos programas do candidato do PSDB apareceu em
primeiro lugar no formato videoclipe/jingle, em 26,4% dos programas seguidos pelo
pronunciamento do candidato (15,3%) e por depoimentos (13,9%). A linguagem
panfletária apareceu mais em forma de videoclipe/jingle (25,3%), em 18,8% no
formato ‘povo fala’ e em 18,2% pelo pronunciamento do candidato. Contudo, mais
uma vez a linguagem panfletária apareceu dividida entre vários formatos. Na maioria
deles, o pronunciamento do candidato foi o que mais utilizou a linguagem didática
(39,1%), seguido pelo ‘povo fala’ e depoimentos (13% cada um) e pelo telejornal,
videoclipe e dramatização, em 8,7% cada. Os formatos de telejornalismo (15,7%) e
do ‘povo fala’ (11,4%) foram os que a linguagem informativa esteve mais presentes,
ao contrário da campanha em Curitiba, onde nenhum candidato primou pela
linguagem informativa nos formatos jornalísticos. Já a tabela 13 apresenta os dados
do candidato do PTB, Jocelito Canto.
104
TABELA 13 – Formato x Linguagem – Jocelito Canto (P TB) – 2008
Candidato Formatos % Linguagem Didática Panfletária Informativa
Jocelito Canto (PTB)
Pronunciamento do candidato 50,0 49,1 52,4 Pronunciamento do candidato a vice 0 0 0 Documentário 0 9,4 0 Telejornal 12,5 1,9 9,5 Entrevista 12,5 1,9 0 Vídeo Clipe/jingle 0 20,8 28,6 Ilustração/animação 12,5 1,9 0 Dramatização/ficção 0 0 0 “Povo Fala” 12,5 3,8 4,8 Depoimentos 0 9,4 4,8 Chamada 0 1,9 0 Total 100 100 100
Fonte: Grupo de Pesquisa Mídia, Política e Atores Sociais
O candidato do PTB adotou o formato pronunciamento do candidato na
maior parte de sua campanha. Sendo assim, este é o formato onde os três tipos de
linguagem estiveram mais presentes: a informativa apareceu em 52,4% dos
programas, a panfletária em 49,1% e a didática em 50%.O videoclipe/jingle
apareceu em segundo lugar tanto na linguagem informativa, quanto na panfletária –
28,6% e 20,8% respectivamente. No caso dos programas do PTB para prefeito de
Ponta Grossa, os formatos jornalísticos estiveram presentes entre os mais
identificados na campanha quanto à linguagem. O telejornal aparece com a
linguagem informativa em 9,5% dos programas, o documentário em 9,4% em
linguagem panfletária e a linguagem didática se dividiu em 12,5% dos programas em
telejornal, entrevista, ilustração e ‘povo fala’. Percebe-se que nos programas do
Jocelito a linguagem informativa e didática esteve mais presente nos formatos
jornalísticos do que a panfletária.
Por outro lado, o candidato do PPS, Sandro Alex, construiu o discurso
informativo em forma de ilustração em 37,1% dos programas seguidos pelo
105
pronunciamento do candidato (21,4%) e pelo telejornalismo (15,7%), como mostra a
tabela 14.
TABELA 14 – Formato x Linguagem – Sandro Alex – 200 8
Candidato Formato s % Linguagem Didática Panfletária Informativa
Sandro Alex (PPS)
Pronunciamento do candidato 18,2 25,0 21,4 Pronunciamento do candidato a vice 0 0 1,4 Documentário 0 6,8 2,9 Telejornal 15,2 5,1 15,7 Entrevista 3,0 1,1 2,9 Vídeo Clipe/jingle 18,2 27,3 37,1 Ilustração/animação 0 5,7 4,3 Dramatização/ficção 0 0 0 “Povo Fala” 18,2 14,2 11,4 Depoimentos 3,0 6,8 1,4 Chamada 24,2 8,0 1,4 Total 100 100 100
Fonte: Grupo de Pesquisa Mídia, Política e Atores Sociais
A linguagem panfletária, nos programas do PPS, se mostrou presente no
formato videoclipe/jingle (27,3%), em segundo lugar também no pronunciamento do
candidato (25%) e no ‘povo fala’ (14,2%). Já a linguagem didática esteve bem divida
entre os formatos. Em primeiro lugar ela aparece em forma de chamada (24,2%),
seguida pelo ‘povo fala’, videoclipe/jingle e pronunciamento do candidato (18,2%) e
em terceiro, no formato de telejornalismo (15,2%).
Quando se olha apenas para os formatos jornalísticos, percebe-se que os
programas do PSDB em Ponta Grossa também não optaram por fazer uso da
linguagem informativa na maior parte deles. Entre estes formatos, a linguagem
informativa apareceu mais sob forma de telejornalismo (11,1%), seguido pelo ‘povo
fala’ (9,7%) e entrevista (8,3%).
106
O formato e o tipo de linguagem utilizada para transmitir a mensagem ao
público variam bastante entre candidatos e entre pleitos. Em Curitiba observa-se que
houve ainda certa similaridade em alguns aspectos, como na linguagem panfletária
e formatos jornalísticos. Ela esteve presente em grande parte nestes formatos, ao
contrário de Ponta Grossa. Mesmo a linguagem informativa não atingindo grande
percentual nos formatos jornalísticos, ela esteve mais presente do que a panfletária.
As tabelas seguintes nos mostram o cruzamento dos dados do orador
dominante com a linguagem. Se antes foi apresentada qual a linguagem utilizada em
determinado formato de segmento, agora saber-se-á o jeito que determinado
assunto foi falado e por quem foi falado.
TABELA 15 – Orador dominante x Linguagem – Beto Ric ha (PSDB) – 2008
Candidato Orador dominante % Linguagem
Beto Richa (PSDB)
Didática Panfletária Informativa Candidato 0 26,1 5,5 Candidato a vice 0 0 0 Patrono político 0 0 0 Garoto propaganda 0 1,7 0,1 Âncora 0 16,8 16,9 Lider partidário 0 0 0 Off/locutor 0 43,3 25,2 Off/cantor 0 2,5 11,8 Popular 100 2,1 25,2 Personagem/ficção 0 0 0,1 Personalidade 0 4,2 1,2 Instrumental 0 3,4 14,1
Total 100 100 100 Fonte: Grupo de Pesquisa Mídia, Política e Atores Sociais
Observando a tabela 15 é possível observar que o candidato tucano à
prefeitura de Curitiba utilizou bem pouco a linguagem informativa. Ela foi
identificada, na maioria das vezes, no off/locutor e na fala do popular, em 25,2% dos
107
programas cada. A candidata do PT também optou pela utilização da linguagem
informativa no formato off/locutor, como mostra a tabela 16.
TABELA 16 – Orador dominante x Linguagem – Gleisi H offmann (PT) – 2008
Candidato Orador dominante % Linguagem
Gleisi Hoffmann (PT)
Didática Panfletária Informativa Candidato 0 36,9 27,2 Candidato a vice 0 1,5 0 Patrono político 0 1,5 2,2 Garoto propaganda 0 0 0,4 Âncora 0 1,5 3,0 Lider partidário 0 0 0 Off/locutor 0 56,9 35,3 Off/cantor 0 0 16,8 Popular 100 0 8,2 Personagem/ficção 0 0 0 Personalidade 0 1,5 4,3 Instrumental 0 0 2,6 Total 100 100 100
Fonte: Grupo de Pesquisa Mídia, Política e Atores Sociais
Como se pode verificar, a candidata Gleisi Hoffmann utilizou a maior parte
da linguagem informativa na fala do off/locutor (35,3%). Já o candidato do PMDB,
Reitor Moreira, preferiu empregar a linguagem informativa em sua própria fala, em
25,9% dos programas.
108
TABELA 17 – Orador dominante x Linguagem – Reitor M oreira (PMDB) – 2008
Candidato Orador dominante % Linguagem
Reitor Moreira (PMDB)
Didática Panfletária Informativa Candidato 0 45,8 25,9 Candidato a vice 0 1,7 1,4 Patrono político 0 0 1,4 Garoto propaganda 0 0 2,2 Âncora 0 0 4,3 Lider partidário 0 0 0 Off/locutor 0 23,7 21,6 Off/cantor 0 0 7,9 Popular 0 0 15,1 Personagem/ficção 0 1,7 0,7 Personalidade 100 20,3 8,6 Instrumental 0 6,8 10,8 Total 100 100 100
Fonte: Grupo de Pesquisa Mídia, Política e Atores Sociais
A linguagem informativa também apareceu na fala do candidato (27,2%) nos
programas de Gleisi Hoffmann, no off/locutor (21,6%) nos programas do Reitor
Moreira e no orador dominante âncora (16,9%) nos programas de Beto Richa. Entre
os formatos jornalísticos, o off/locutor foi o orador dominante onde este tipo de
linguagem mais apareceu nos programas dos três candidatos: em 35,5% nos
programas petistas; 21,6% nos programas do peemedebista; e 25,2% nos
programas do tucano, juntamente com a fala do popular. Entretanto, isto não
representa um bom percentual do ponto de vista jornalístico, sendo que a linguagem
panfletária foi mais recorrente neste orador dominante do que a linguagem
informativa. A linguagem panfletária foi a mais utilizada entre os três candidatos no
orador dominante off/locutor. Assim como se pode verificar na tabela, esta
linguagem apareceu em 56,9% das aparições do off/locutor nos programas da
candidata Gleisi Hoffmann; em 23,7% nos programas do Reitor Moreira e em 43,3%
nos programas do tucano Beto Richa. Isso representa, mais uma vez, a ausência de
preocupação em empregar ao orador dominante jornalístico a linguagem adequada
109
a isso, ou seja, a informativa. O resultado destes dados mostra que o locutor não
transmite informação na maioria dos casos, e sim fala sobre temas diversos
superficialmente, quando não está fazendo algum ataque ao adversário.
Quando se olha especificamente para o resultado dos programas do PT e do
PSDB dá para perceber que a proximidade de estratégia neste ponto é grande. O
PSDB, como era governo nesta eleição, poderia ter trabalho de forma mais
informativa sobre ações realizadas durante o governo. Entretanto, não o fez, e nem
mesmo o PT, por exemplo, se preocupou em informar a população sobre outras
ações que seriam possíveis, mas que não foram realizadas. Ou seja, a estratégia foi
a mesma para os três partidos estudados, mesmo tendo duas oposições neste
pleito.
Em Ponta Grossa, por outro lado, já se identifica mais linguagem informativa
presente em formatos jornalísticos, embora a panfletária não tenha desaparecido. A
tabela 18, 19 e 20 trazem os percentuais.
TABELA 18 – Orador dominante x Linguagem – Pedro Wo sgrau (PSDB) – 2008
Candidato Orador dominante % Linguagem
Pedro Wosgrau (PSDB)
Didática Panfletária Informativa Candidato 43,5 22,9 20,8 Candidato a vice 0 0,6 0 Patrono político 4,3 0,6 0 Garoto propaganda 4,3 5,9 5,6 Âncora 4,3 4,1 5,6 Lider partidário 0 0,6 6,9 Off/locutor 0 12,9 11,1 Off/cantor 8,7 15,3 18,1 Popular 13,0 23,5 9,7 Personagem/ficção 8,7 5,3 11,1 Personalidade 8,7 7,6 11,1 Instrumental 4,3 0,6 0
Total 100 100 100 Fonte: Grupo de Pesquisa Mídia, Política e Atores Sociais
110
Nos programas do tucano Pedro Wosgrau, em 5,6% deles, o orador âncora
apresentou linguagem informativa, como se pode verificar na porcentagem presente
na tabela acima. Já Jocelito Canto, do PTB, foi o candidato que mais fez uso da
linguagem informativa na fala do orador dominante âncora, como é possível
observar na tabela 19.
TABELA 19 – Orador dominante x Linguagem – Jocelito Canto (PTB) – 2008
Candidato Orador dominante % Linguagem
Jocelito Canto
(PTB)
Didática Panfletária Informativa Candidato 62,5 56,6 52,4 Candidato a vice 0 0 0 Patrono político 0 0 0 Garoto propaganda 0 1,9 0 Âncora 0 0 9,5 Lider partidário 0 3,8 0 Off/locutor 0 3,8 14,3 Off/cantor 0 18,9 14,3 Popular 12,5 5,7 4,8 Personagem/ficção 0 1,9 0 Personalidade 12,5 7,5 4,8 Instrumental 12,5 26,1 22,9 Total 100 100 100
Fonte: Grupo de Pesquisa Mídia, Política e Atores Sociais
O orador dominante âncora apresentou linguagem informativa em 9,5% dos
programas do candidato Jocelito Canto e em 5,7% nos programas do candidato do
PPS, Sandro Alex.
111
TABELA 20 – Orador dominante x Linguagem – Sandro A lex (PPS) – 2008
Candidato Orador dominante % Linguagem
Sandro Alex
(PPS)
Didática Panfletária Informativa Candidato 24,2 26,1 22,9 Candidato a vice 0 0,6 1,4 Patrono político 0 0 1,4 Garoto propaganda 3,0 5,7 1,4 Âncora 9,1 1,1 5,7 Lider partidário 0 0,6 4,3 Off/locutor 30,3 24,4 32,9 Off/cantor 9,1 19,3 12,9 Popular 18,2 15,3 14,3 Personagem/ficção 0 0 0 Personalidade 6,1 6,6 1,4 Instrumental 0 0 1,4 Total 100 100 100
Fonte: Grupo de Pesquisa Mídia, Política e Atores Sociais
Por outro lado, o off/locutor não superou o percentual de Curitiba. Em Ponta
Grossa o único candidato que superou a margem dos 30% foi Sandro Alex, do PPS,
apresentando linguagem informativa em 32,9% dos segmentos. Nos programas de
Jocelito Canto (PTB), a linguagem informativa esteve mais presente na fala do
próprio candidato (52,4%), seguido pelo off/locutor (14,3%) e pelo âncora (9,5%). Já
Sandro Alex (PPS) enfatizou o uso informativo no off/locutor (32,9%), na fala do
candidato (22,9%) e na fala do popular, em 14,3% dos programas. Por fim, Pedro
Wosgrau (PSDB) também adotou a maior parte da linguagem informativa em sua
própria fala, porém o percentual foi bem menor do que seus concorrentes: este
orador dominante representa apenas 20,8% das aparições da linguagem informativa
ao longo dos programas. Em segundo lugar, tem-se o off/cantor, com 18,1% e em
seguida aparece o off/locutor, personagem/ficção e personalidade, com 11,1% cada
um.
O estudo mostra que os candidatos preferiram utilizar a maior parte da
linguagem informativa em formatos não jornalísticos, como o pronunciamento do
112
candidato. Apesar dos formatos como off/locutor e âncora terem aparecido entre os
quais a linguagem informativa esteve mais presente, o percentual pode ser
considerado baixo. Ou seja, os candidatos de Ponta Grossa também não se
preocuparam em adequar a linguagem ao formato. Isso mostra, mais uma vez, que
os formatos jornalísticos tomam outra conotação quando empregados no HGPE.
Já a linguagem panfletária aparece mais concentrada em poucos oradores.
O candidato do PTB priorizou esta linguagem em sua própria fala em 56,6% dos
programas. Sandro Alex, do PPS e Pedro Wosgrau, do PSDB, apresentaram
porcentagens muito próximas nesta categoria: enquanto que Sandro Alex empregou
a linguagem panfletária em seu próprio discurso em 26,1% dos programas, Wosgrau
optou pelo orador popular em 23,5% das vezes.
Ao contrário da linguagem panfletária, a didática apareceu bem dividida
entre as categorias de orador nos programas dos três candidatos. Nos de Jocelito
Canto, ela apareceu no candidato enquanto orador (62,5%), popular, personalidade
e instrumental (12,5% cada categoria). Assim como seu oponente, Pedro Wosgrau
concentrou a utilização da linguagem didática na fala do candidato (43,5%), seguido
pelo popular (13%) e off/cantor, personagem/ficção e personalidade em 8,7% das
aparições cada um. Nos programas de Sandro Alex, a linguagem didática foi
identificada no off/locutor (30,3%), na fala do candidato (24,2%) e na fala popular
(18,2%).
A análise do cruzamento destas variáveis mostra que, mesmo a linguagem
informativa não sendo utilizada em sua maioria em formatos jornalísticos, ela ainda é
mais recorrente nestes formatos do que os outros tipos de linguagem, salvo
exceções.
113
Quando se compara a análise de Curitiba e Ponta Grossa verifica-se que em
Ponta Grossa ainda se teve mais linguagem informativa presente em formatos
jornalísticos do que na capital do Estado. Na realidade, em Curitiba a presença de
linguagem informativa nestes formatos não foi tão expressiva, pelo contrário. No
caso do off/locutor, por exemplo, em Ponta Grossa ele veiculou mensagens
informativas na maioria das vezes que foi exibido. Já nos programas dos candidatos
de Curitiba, todas as inserções de off/locutor nos HGPEs tiveram mais o uso da
linguagem panfletária. A linguagem didática também é outra que aparece bastante
diferente nas duas cidades. Em Curitiba, ela geralmente aparece concentrada em
apenas um formato, o que não acontece em Ponta Grossa. Isso representa, talvez, a
intenção do partido de fazer o público entender melhor as suas propostas através de
vários formatos.
A próxima tabela traz o cruzamento das variáveis apelo e linguagem. Já se
sabe que o tipo de apelo que embalou a campanha na capital paranaense foi o
emocional, enquanto que a linguagem empregada nas mensagens foi a informativa.
Quando as freqüências se cruzam, pode-se verificar a linguagem presente em cada
categoria de apelo. A tabela 21 apresenta o percentual da campanha de Curitiba.
114
TABELA 21 – Apelo x Linguagem - Curitiba – 2008
Candidato Orador dominante % Linguagem
Gleisi Hoffmann (PT)
Didática Panfletária Informativa Pragmático 100 66,2 0,9 Ideológico 0 0 0,9 Político 0 4,6 0 Emocional 0 29,2 98,3 Documental ou Credibilidade da Fonte 0 0 0 Total 100 100 100
Reitor Moreira (PMDB)
Pragmático 100 83,1 2,2 Ideológico 0 0 0,7 Político 0 1,7 0 Emocional 0 15,3 97,1 Documental ou Credibilidade da Fonte 0 0 0 Total 100 100 100
Beto Richa
(PSDB)
Pragmático 100 71,8 0,9 Ideológico 0 0 0 Político 0 0,4 0,1 Emocional 0 27,7 98,8 Documental ou Credibilidade da Fonte 0 0 0,2 Total 100 100 100
Fonte: Grupo de Pesquisa Mídia, Política e Atores Sociais
Como se pode perceber, nos programas da candidata do PT, Gleisi
Hoffmann, a linguagem informativa esteve mais presente quando o apelo da
mensagem era emocional (98,3%). Por outro lado, a linguagem panfletária esteve
divida entre o apelo pragmático (66,2%) e emocional (29,2%), e a didática aparece,
mais uma vez, concentrada em uma única categoria, que neste caso foi no apelo
pragmático.
Seguindo com a análise, observa-se que os resultados não variam muito na
campanha dos outros candidatos. O candidato do PMDB, Reitor Moreira, também
utilizou a linguagem informativa nas mensagens com apelo emocional em quase
100% dos programas (97,1%). A linguagem panfletária esteve presente tanto no
apelo pragmático (83,1%) quanto no emocional (15,3%), e a didática aparece outra
115
vez concentrada no apelo pragmático - o que se observa também nos programas do
candidato à reeleição, Beto Richa.
O tucano manteve a estratégia de seus oponentes, alcançando resultados
muito próximos. Na campanha do candidato do PSDB, o apelo emocional esteve
presente na forma da linguagem informativa na maioria de suas aparições (98,8%);
a linguagem panfletária também apareceu entre o apelo pragmático (71,8%) e o
apelo emocional (27,7%); e a didática se fez presente através do apelo pragmático.
Os resultados levam a acreditar que, mesmo com a linguagem informativa
tomando conta da campanha, ela esteve presente sob forma do apelo emocional,
que também foi o que mais apareceu nas mensagens da campanha dos principais
candidatos à prefeitura de Curitiba. Isso significa que apesar do conteúdo ser
informativo, ele não apresentou propostas e informação referente à assuntos de
campanha que realmente interessam ao eleitor como, por exemplo, discussão de
temas importantes para o bem estar social (como saúde, educação, segurança).
Entretanto, a linguagem panfletária – que é aquela onde os temas até podem ser
apresentados, mas de forma superficial - foi identificada, em sua grande maioria, nos
segmentos com apelo pragmático (aquele que apresenta alguma proposição de
política pública). Isso leva a crer que o tipo de linguagem empregada condiz com o
tipo de apelo do segmento. Entretanto, o mesmo não ocorre quando se olha para a
linguagem informativa. O apelo onde ela mais se adequaria é o apelo documental ou
credibilidade da fonte, porém ele sequer foi utilizado na campanha dos candidatos a
prefeito de Curitiba.
Ao contrário de Curitiba, em Ponta Grossa a linguagem panfletária foi a mais
identificada dentre os segmentos coletados. Porém, com o cruzamento dos
116
resultados verifica-se que os três tipos de linguagem estiveram bastante distribuídos
entre as cinco categorias de apelo entre os candidatos do PSDB e do PTB, como
mostra a tabela 22.
TABELA 22 – Apelo x Linguagem – Ponta Grossa – 2008
Candidato Orador dominante % Linguagem
Jocelito Canto (PTB)
Didática Panfletária Informativa Pragmático 25,0 41,5 33,3 Ideológico 50,0 24,5 23,8 Político 0 1,9 0 Emocional 12,5 32,1 42,9 Documental ou Credibilidade da Fonte 12,5 0 0 Total 100 100 100
Sandro Alex (PPS)
Pragmático 27,3 24,4 41,4 Ideológico 54,5 44,3 4,3 Político 6,1 4,0 0 Emocional 12,1 25,6 54,3 Documental ou Credibilidade da Fonte 0 1,7 0 Total 100 100 100
Pedro Wosgrau
(PSDB)
Pragmático 52,2 42,9 29,2 Ideológico 30,4 28,2 8,3 Político 8,7 3,5 0 Emocional 4,3 21,8 56,9 Documental ou Credibilidade da Fonte 4,3 3,5 5,6 Total 100 100 100
Fonte: Grupo de Pesquisa Mídia, Política e Atores Sociais
Apesar de as estatísticas mostrarem a similaridade de discurso neste ponto
da pesquisa, quando se analisa mais precisamente, verifica-se que cada tipo de
linguagem esteve presente em vários segmentos com diferentes tipos de apelo. Nos
programas de Jocelito Canto, do PTB, por exemplo, a linguagem informativa
apareceu mais entre o apelo emocional em 42,9% dos programas, em 33,3% no
apelo pragmático e em 23,8% nos de apelo ideológico. Já a linguagem panfletária
apareceu nos segmentos com apelo pragmático (41,5%), emocional (32,1%) e
ideológico (24,5%). Talvez o resultado da linguagem didática tenha sido a que mais
117
diferiu do resultado de Curitiba. Na campanha televisiva de Jocelito Canto, ela
apareceu entre quatro categorias de apelo: no ideológico (50%), pragmático (25%),
emocional (12,5%) e documental ou credibilidade da fonte (12,5%). Isso também é
verificado nos programas dos outros candidatos de Ponta Grossa.
O candidato Sandro Alex, do PPS, veiculou mensagens em linguagem
informativa e apelo emocional em 54,3% dos HGPEs; e com apelo pragmático em
41,4%. Já a linguagem panfletária apareceu entre o apelo ideológico (44,3%),
emocional (25,6%) e pragmático (24,4%). Percebe-se, até aqui, mais uma vez a
proximidade de resultados quando comparado ao pleito de Curitiba. Nos programas
do progressista, a linguagem didática também foi identificada entre quatro tipos de
apelos, assim como nos de Jocelito Canto. Ela apareceu mais quando o segmento
tinha o apelo ideológico (54,5%), seguido pelo pragmático (27,3%), emocional
(12,1%) e político (12,1%).
O último concorrente analisado em Ponta Grossa é o então candidato à
reeleição Pedro Wosgrau, do PSDB. Em seus programas, a linguagem informativa
também esteve mais presente nos segmentos com apelo emocional (56,9%) e
pragmático (29,2%). A linguagem panfletária apareceu junto com o apelo pragmático
em 42,9% dos programas, com apelo ideológico em 28,2% e com apelo emocional
em 21,8%. A linguagem didática, entretanto, esteve concentrada basicamente no
apelo pragmático (52,2%) e no ideológico (30,4%).
Um número novo que aparece em Ponta Grossa e não está presente em
Curitiba é quanto à utilização do apelo documental ou de credibilidade da fonte. Na
cidade dos Campos Gerais este apelo esteve presente em 12,5% nos programas de
Jocelito Canto, construído a partir da linguagem didática; nos programas de Sandro
118
Alex ele aparece em 1,7% das mensagens panfletárias. Nos programas de Pedro
Wosgrau, o apelo emocional apareceu entre as três linguagens existentes: em 4,3%
na linguagem didática; 3,5% na panfletária e em 5,6% na informativa. O apelo
documental, enquanto linguagem informativa, representa que o conteúdo informativo
veiculou mensagens com fontes de credibilidade, mesmo que em pequena escala.
Os resultados analisados permitem visualizar que a abordagem dada ao
apelo e linguagem em Curitiba foi diferente da de Ponta Grossa. Em Curitiba, tanto
nos programas do PSDB, quanto do PT e do PMDB, a linguagem informativa
apareceu quase em 100% das vezes ligada ao apelo emocional, o que não
aconteceu nos programas dos partidos em Ponta Grossa. Ainda que o apelo
emocional em linguagem informativa tenha alcançado uma porcentagem alta (mais
de 40% nos programas do PSDB, PTB e PPS), não comprometeu a utilização em
outros tipos de apelo. Isto significa que o apelo pragmático e ideológico, por
exemplo, também apresentaram conteúdos informativos.
As próximas tabelas vão mostrar qual a dimensão temporal em que cada
linguagem aparece, ou seja, se ela se refere ao passado/presente, futuro ou é
indefinido. A tabela 23 traz as estatísticas dos candidatos de Curitiba.
119
TABELA 23 – Dimensão temporal x Linguagem - Curitib a – 2008
Candid ato Dimensão temporal % Linguagem Gleisi Hoffmann
(PT)
Didática Panfletária Informativa Passado/presente 50,0 35,4 97,4 Futuro 0 64,6 2,2 Indefinido 50,0 0 0,4 Total 100 100 100
Reitor Moreira (PMDB)
Passado/presente 100 23,7 84,9 Futuro 0 76,3 14,4 Indefinido 0 0 0,7 Total 100 100 100
Beto Richa (PSDB)
Passado/presente 100 59,2 97,1 Futuro 0 40,8 2,6 Indefinido 0 0 0,2 Total 100 100 100
Fonte: Grupo de Pesquisa Mídia, Política e Atores Sociais
A candidata do PT, Gleisi Hoffmann, informou mais assuntos relacionados
ao passado e presente, em 97,4% dos programas. A linguagem panfletária trouxe
mensagens voltadas ao futuro na maioria dos programas (64,6%), mas também
falou sobre o passado/presente em 35,4% das vezes. Já as mensagens que foram
veiculadas em linguagem didática apresentaram-se falando do passado/presente e
em dimensão temporal indefinida (50% cada um). O candidato do PMDB, Reitor
Moreira, falou menos que Gleisi Hoffmann no passado/presente em linguagem
informativa (84,9%), porém ele optou por dedicar mais espaço falando sobre o
futuro, em linguagem panfletária (76,3%) do que a candidata do PT. Em linguagem
informativa, o candidato do PMDB também falou sobre o futuro em 14,4% dos
programas, e em linguagem panfletária, falou sobre o passado/presente em 23,7%.
Nos programas do peemedebista, a dimensão temporal da linguagem didática foi
100% passado/presente.
Já o candidato Beto Richa, do PSDB, teve os percentuais do seu programa
muito parecidos com os de sua principal oponente, Gleisi Hoffmann. Richa também
120
utilizou a linguagem informativa, na grande maioria das vezes, (97,1%) para falar no
passado/presente. A linguagem panfletária veiculou mensagens se referindo ao
passado/presente em 59,2% e se referindo ao futuro em 40,8%. Aqui a linguagem
didática também foi utilizada em mensagens que falavam sobre o passado/presente,
assim como nos programas do Reitor Moreira.
O que se verifica é que tanto Gleisi Hoffmann (PT) quanto Beto Richa
(PSDB) optaram por informar os eleitores no que se refere a ações passadas e
acontecimentos do presente, assim como o Reitor Moreira também fez, só que em
menos segmentos. Já a linguagem panfletária apareceu em maior escala nos
programas do tucano falando sobre o futuro. Os resultados indicam que os
candidatos ficaram presos a comentar sobre o passado e o presente, sem se
preocupar em apresentar propostas para melhorar o futuro dos cidadãos. Quando a
dimensão temporal ‘futuro’ apareceu nos programas dos candidatos de Curitiba, ele
esteve atrelado à mensagens com linguagem panfletária, ou seja, as propostas de
governo que diziam respeito ao futuro, como a implantação de um novo programa de
assistência, foi demonstrado de forma superficial.
Em Ponta Grossa, mais uma vez, pode-se perceber que as mensagens
estiveram bastante segmentadas do ponto de vista da dimensão
temporal/linguagem, como mostra a tabela 24.
121
TABELA 24 – Dimensão temporal x Linguagem – Ponta G rossa – 2008
Candidato Dimensão temporal % Linguagem
Jocelito Canto (PTB)
Didática Panfletária Informativa Passado/presente 37,5 56,6 28,6 Futuro 37,5 39,6 42,9 Indefinido 25,0 3,8 28,6 Total 100 100 100
Sandro Alex (PPS)
Passado/presente 54,5 76,1 31,4 Futuro 33,3 10,8 24,3 Indefinido 12,1 13,1 44,3 Total 100 100 100
Pedro Wosgrau
(PSDB)
Passado/presente 69,6 88,2 40,3 Futuro 17,4 5,3 16,7 Indefinido 13,0 6,5 43,1 Total 100 100 100
Fonte: Grupo de Pesquisa Mídia, Política e Atores Sociais
Através da tabela 24 consegue-se observar que as mensagens com
linguagem informativa estiveram bem divididas entre passado/presente (28,6%),
futuro (42,9%) e indefinido (28,6%) nos programas do candidato do PTB, Jocelito
Canto. A linguagem panfletária se apresentou, na maioria das vezes, falando sobre
o passado/presente (56,6%), seguido pelo futuro (39,6%). Já a linguagem didática
foi identificada em 37,5% mencionando o passado/presente e futuro, e em 25% dos
programas não foi identificada a dimensão temporal do conteúdo.
O candidato Sandro Alex, PPS, utilizou a linguagem informativa sem fazer
menção à temporalidade em 44,3% dos programas, seguida pelo passado/presente
31,4%, e pela dimensão temporal ‘futuro’ (24,3%). A linguagem panfletária se referiu
ao passado/presente em 76,1% dos programas, e apareceu em segundo lugar não
citando o tempo de ação (13,1%), mas falou sobre o futuro em 10,8%. Por fim, a
linguagem didática fez referência ao passado/presente em mais da metade de sua
aparição (54,5%) e ao futuro em 33,3% dos programas.
122
Por fim, o candidato Pedro Wosgrau utilizou a linguagem informativa para
falar sobre ações sem mencionar a dimensão temporal em 43,1%, e informou sobre
ações do passado/presente em 40,3% dos programas. A linguagem panfletária
abordou assuntos do passado/presente em 88,2% dos programas, e a linguagem
didática também foi mais empregada nesta dimensão temporal (69,6%).
Estes dados permitem entender que a campanha de Ponta Grossa esteve
mais voltada para os acontecimentos futuros do que em Curitiba. Porém, a
discussão acerca de propostas para o futuro foi quase inexistente nos programas de
Pedro Wosgrau, candidato à reeleição pelo PSDB, em Ponta Grossa. Aqui é
possível identificar que tanto nos programas de Curitiba, quanto nos de Ponta
Grossa, a campanha dos candidatos à reeleição não esteve preocupada em discutir
propostas para o futuro, mas sim focar no passado/presente e mostrar, talvez, tudo o
que foi realizado durante seus governos.
Depois de se conhecer e estudar detalhadamente todos os resultados
obtidos nesta pesquisa é necessário abordar pontualmente as conclusões a que se
pode chegar com a análise.
123
Conclusão
Ao longo da pesquisa foi possível conhecer o conteúdo existente nas
mensagens do HGPE dos principais candidatos a prefeito de Curitiba e Ponta
Grossa em 2008. Desta forma, pode-se chegar a pelo menos quatro conclusões
significativas e que respondem a pergunta inicial que direcionou esta pesquisa:
existem semelhanças entre os discursos jornalísticos utilizados pelos candidatos de
mesmos partidos, sendo ‘situação’ em ambas as disputas? O que se pode concluir é
que, na maioria dos casos, não há.
A primeira conclusão a que se chega é que o PSDB não se comportou como
partido com mesmas estratégias nessas eleições considerando os dois municípios,
ou seja, não manteve uma regularidade de estratégias nos pleitos. Isso significa que
a estratégia de campanha do partido varia de acordo com os interesses locais, das
elites locais. Ou seja, mesmo quando o partido está na mesma posição – candidato
à reeleição, as necessidades locais são mais importantes do que o posicionamento
partidário.
O PSDB esteve presente nas duas campanhas com candidatos disputando à
reeleição. Isso quer dizer que em ambas as cidades o partido tucano estava fazendo
campanha para se manter no poder – e para isso utilizou estratégias que, claro, se
convergiram em alguns pontos, mas que na maioria foram diferentes. Tomando por
base o apelo, em Curitiba o PSDB optou por levar a campanha baseando-se no
apelo emocional do público, enquanto que em Ponta Grossa as mensagens tiveram
um apelo maior no aspecto pragmático. Talvez isso se explique pelo fato de que em
Curitiba o candidato à reeleição não necessitava persuadir tanto o público quanto o
candidato de Ponta Grossa, pois a maioria dos eleitores simpatizava e aprovava o
124
governo feito pelo tucano Beto Richa. Ao contrário, em Ponta Grossa, a população
não se mostrava tão satisfeita com as realizações de Wosgrau frente à prefeitura da
cidade, o que levou o partido a adotar outra categoria de apelo. A linguagem e o
formato dos programas também foram outras variáveis que apresentaram resultados
diferentes. A linguagem presente nos programas do PSDB em Curitiba foi
predominantemente informativa – mesmo que em menor porcentagem quando
comparado aos demais, enquanto que em Ponta Grossa se adequou mais à
categoria panfletária. Isso mostra, mais uma vez, que na cidade dos Campos Gerais
o partido teve que fazer um esforço maior em convencer a população a continuar
votando no candidato tucano. Ou seja, nada melhor do que tentar convencer pelo
número de propostas e idéias, o que explica as diferenças.
Outra questão é que em Curitiba o candidato Beto Richa tem a simpatia da
população, como mostraram as pesquisas de opinião antes de a campanha
começar. Uma das pesquisas, que foi realizada pelo Instituto Datafolha nos dias 23
e 24 de julho de 2008, aponta que o tucano Beto Richa aparecia com 80,9% das
intenções de votos. Isso justifica o fato de Richa quase não ter aparecido nos seus
programas do HGPE (ver tabela 7 sobre orador dominante, na página 87), sempre
dando voz a outras pessoas para contarem sobre seus feitos durante o governo. Já
Pedro Wosgrau investiu em sua própria aparição nos programas para tentar ganhar
o afeto do eleitorado (ver tabela 8 sobre orador dominante, na página 88), já que não
é tão bem aceito quanto o colega de partido. Para isso, Wosgrau fez uso de
formatos de programas onde ele próprio falava com o público (ver tabela 4 sobre o
formato dos programas, na página 84), tentando passar a idéia de que é simpático e
acessível ao eleitorado.
125
Já os candidatos adversários, em ambos os pleitos, não se comportaram
como opositores. O que se entende por oposição aqui são os candidatos de partidos
adversários aos que estavam tentando a reeleição, e que precisam ter uma postura
crítica permanente. Desta forma, em Curitiba a oposição seria composta pela
candidata do PT, Gleisi Hoffmann, e pelo candidato do PMDB, Reitor Moreira. Já em
Ponta Grossa tivemos como principal oponente de Pedro Wosgrau, o candidato do
PTB, Jocelito Canto, e no segundo turno o candidato do PPS, Sandro Alex. Em
muitos casos é possível identificar a semelhança de estratégias empregadas nos
programas dos candidatos da oposição com o candidato da situação. Para isso,
basta olhar para os programas da candidata do PT em Curitiba, Gleisi Hoffmann, e
para os de seu oponente, o candidato do PSDB. Salvos alguns casos, ambos
obtiveram quase sempre os mesmos resultados. A diferença é que empregar as
mesmas ações que seu oponente, principalmente se ele tem grande aprovação do
eleitorado, não é muito seguro quando se pretende convencer o eleitor de que a
candidata do PT é melhor do que o candidato e atual prefeito do PSDB. Beto Richa
só fez aumentar o carisma do público com seus programas do HGPE; também
conseguiu valorizar as suas ações enquanto governante da cidade de Curitiba,
informando sobre assuntos variados e mostrando suas principais obras. Em Ponta
Grossa os concorrentes de Pedro Wosgrau se opuseram um pouco mais do que os
concorrentes de Beto Richa, em Curitiba, mas mesmo assim ainda existem
bastantes pontos onde se encontram semelhanças.
Outra conclusão a que se chega é que apesar de existirem várias categorias
provenientes do Jornalismo, que possibilitam ao partido levar ao eleitor informações
de interesse público, elas não possuem a mesma função quando utilizadas na
propaganda eleitoral. Em outras palavras, o HGPE, que deveria ser também um
126
espaço de discussão e apresentação de propostas viáveis ao público, informando-o
e garantindo o bom entendimento acerca de assuntos realmente pertinentes para tal
sociedade, torna-se um espaço puramente publicitário.
Este estudo permite concluir, ainda, que se o eleitor busca no HGPE
informação, ele não vai encontrá-la pura. Isso quer dizer que a informação, na
maioria das vezes, estará misturada com outros elementos que ajudam na tentativa
de convencimento. Pior ainda, o público vai encontrar no HGPE vários discursos que
não trazem informação, mas sim um cardápio de propostas e de benfeitorias, e que
são transmitidas ao público em formatos e através de oradores que são originais do
Jornalismo (como o formato de telejornal e o orador dominante entrevista, por
exemplo).
Estes apontamentos remetem ao referencial teórico utilizado neste estudo,
onde Patrick Charaudeau (2008) defende que o discurso político tem como
finalidade seduzir o eleitor, ou seja, é um jogo pela disputa do poder, e para isso não
interessa se ele vai utilizar informação ou mensagens puramente emotivas. Além
disso, Charaudeau (2008) coloca que o eleitor vota em determinado candidato como
forma de gratificação ou punição. No caso do candidato Beto Richa, do PSDB de
Curitiba, é possível identificar a recompensa dada a ele através do público, afinal,
não é qualquer candidato que consegue se reeleger com 77% dos votos no primeiro
turno. O caso de punição é observado em Ponta Grossa, onde a população deixou
de fora do segundo turno o candidato Jocelito Canto, do PTB, que, até antes da
campanha começar oficialmente, era um dos favoritos ao cargo. Com o início do
HGPE e a aparição de um novo político no cenário (Sandro Alex/PPS), a população
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preferiu apostar em um candidato que ainda não tinha um passado político para
enfrentar o candidato à reeleição.
Susana Salgado (2007) afirma que é importante estudar a mensagem
política para observar o que realmente se tem por trás daquilo que é passado ao
público. Foi isto que este estudo se propôs a fazer através não propriamente do
Jornalismo, mas sim de suas estratégias utilizadas no HGPE. Por fim, conclui-se que
o HGPE é um espaço da elite política onde o eleitor é visto como inofensivo do
ponto de vista da informação, ou seja, a elite política pressupõe que ele não exige
mensagens informativas para escolher seu candidato, mas sim que ele precisa se
identificar com aquele conteúdo e vislumbrar o seu mundo melhor a partir daquilo
que está lhe sendo passado.
As conclusões aqui apresentadas dizem respeito a um ponto específico do
HGPE, que são as estratégias jornalísticas presente nos programas. Isso significa
que existem outros aspectos a serem explorados nesta ferramenta tão poderosa na
campanha eleitoral. Espera-se que este trabalho e estas conclusões abram
caminhos para futuros estudos na área de comunicação e política.
128
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Quando entrei na universidade, lá em 2007, adorava as matérias do primeiro ano.
Enquanto todos reclamavam porque só tínhamos matérias teóricas, eu me realizava
lendo inúmeros textos e tendo que comparecer a todas as aulas. Achava o máximo.
No segundo semestre daquele ano, resolvi participar de um projeto de pesquisa
oferecido pelo curso: Mídia, Política e Atores Sociais, coordenado pelo professor
Emerson Cervi.
Desde então, integro este projeto de pesquisa que me proporcionou uma das mais
importantes experiências (em questões acadêmicas) enquanto estudante da
graduação: ser pesquisadora bolsista pelo Programa de Iniciação Científica,
financiado pelo CNPq. A IC foi desenvolvida entre agosto de 2008 a julho de 2009,
sob a orientação de Sérgio Luiz Gadini.
Foi na pesquisa que me encontrei, e foi então que comecei a perceber por que
gostava tanto das matérias teóricas do primeiro ano. A idéia de fazer esta pesquisa
como trabalho de conclusão de curso surgiu a partir do projeto de iniciação
científica, que também era sobre o Horário Gratuito de Propaganda Eleitoral.
Particularmente, eu tive certa facilidade em desenvolver a pesquisa. Muito se deve
ao fato de eu ter realizado estudos anteriores na área, e por isso já possuía um
pouco de conhecimento sobre a literatura acerca do tema. Contudo, acho que não
conseguiria me virar tão bem sem a ajuda do meu orientador: o Emerson.
No final de 2009 eu já estava meio desesperada pra saber quem seria o meu
orientador, já que existem poucos professores no Departamento de Comunicação
que estudam mídia e política. Lembro que cheguei um dia e falei para o Emerson
que queria que ele fosse o orientador do meu trabalho, e ele disse: “Camilla, ainda é
muito cedo para pensarmos nisso”. Esse negócio de gostar de respostas curtas e
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“mini-saias” de vez em quando não soa legal. Porém, no começo deste ano veio a
notícia que eu esperava ouvir, e cá estamos nós hoje.
O Emerson sempre foi muito organizado – coisa que dá inveja em qualquer pessoa,
e por isso logo no começo de março eu já estava tendo minhas primeiras
orientações. Enquanto todos da minha sala ainda estavam naquela empolgação do
“uhul é último ano, vamos aproveitar”, eu já estava lá lendo e escrevendo – toda
sexta-feira eu tinha que mandar uma parte do texto. Confesso que no começo foi
meio chato, até pegar o ritmo. Porém, quando eu via o quanto estava adiantada
quando comparado aos outros, eu ficava aliviada e bem sossegada. Sentia-me
orgulhosa, sabe. E assim foi semana após semana até o final de agosto, quando eu
terminei a pesquisa.
O trabalho foi bem planejado e é tudo mérito do Emerson, que me obrigava a
escrever toda semana. E eu, como uma boa aluna (quase um exemplo, eu diria),
cumpria com minhas obrigações. Não foram poucas as vezes que eu tive que trocar
o bar numa sexta à tarde, de calor e sol, por uma linda tarde enfurnada no quarto
lendo e escrevendo. Mas, como todo esforço, valeu à pena: em quatro meses eu
tinha a parte teórica do trabalho pronta, só faltava escrever a análise.
Falando em análise, eu tive sorte com a obtenção dos dados da minha pesquisa,
pois eles já estavam todos coletados. Devo um agradecimento especial para todos
aqueles que trabalharam coletando dados do HGPE, que, modéstia a parte, é
chatinho. Então quando eu terminei de escrever a parte teórica, me sobrou tempo
para a parte prática – que era coleta e análise. Em uma semana analisei todas as
variáveis e já comecei a escrever a última parte da pesquisa. Quando terminei a
análise, eu estava toda empolgada para terminar logo, mas quando comecei a fazer
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aquelas inúmeras tabelas, eu desanimei total. Primeiro que eu resolvi fazer todas as
tabelas de uma única vez, aí quando terminei percebi que poderia ter feito de um
jeito mais simples. E o que aconteceu: Lá foi a Camilla refazer as 20 e poucas
tabelas que existiam na época (porque depois eu separei algumas e resultou no
número de tabelas que existem nesta versão final).
Entre textos e tabelas, a pressão de ter que escrever um tanto de páginas a cada
semana me desesperou em alguns momentos. A gastrite atacou, a tendinite
ressurgiu e a dor de cabeça não me largava. Por alguns momentos achei que não
seria capaz de terminar a pesquisa, porque tinha medo da minha concentração
nunca mais voltar (eu sou desesperada mesmo, ok?). Mas quem tem Emerson como
orientador, tem tudo. Apesar das cobranças, ele dava folga vez ou outra, quando via
que a gente merecia (a gente = eu e Aline Pavezi, a outra orientanda dele). E no
final que deu tudo certo.
O melhor de tudo foi terminar o TCC dentro do nosso prazo, que era antes do
restante da minha turma. Mas por um motivo em especial: eu quero começar a fazer
mestrado logo no ano que vem em 2011. Visto que as provas para seleção são
sempre no segundo semestre, perto da entrega do TCC, o Emerson montou o
cronograma de trabalho pensando nisso. Desta forma, eu tive bastante tempo para
me dedicar aos estudos para a prova e para a elaboração do projeto. No dia 15 de
outubro eu fiz a prova de seleção para o mestrado em Ciências Sociais Aplicadas,
aqui na UEPG mesmo. No dia 12 de novembro sai o resultado da primeira fase.
Caso eu passe, farei a entrevista dia 18, mas eu só vou poder contar para vocês se
eu passei ou não na banca final, porque precisei protocolar o TCC no dia 3 de
novembro.
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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE PONTA GROSSA
SETOR DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS
Departamento de Comunicação
Coordenação de Projeto Experimental em Jornalismo
INDICAÇÃO DE COMPOSIÇÃO DE BANCA DE PROJETO EXPERIMENTAL
EM JORNALISMO
Acadêmico(s):________________________________________________________
Título:______________________________________________________________
Tema:______________________________________________________________
Banca:
1)_______________________________________________________
2)_______________________________________________________
3)_______________________________________________________
Justificativa:
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
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