UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ - uesc.br · colaboração na realização da coleta de dados...

156
i UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ – UESC UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA – UFBA GUSTAVO AVEIRO DE ARAUJO TURISMO E INTERPRETAÇÃO DO PATRIMÔNIO NATURAL E CULTURAL NA REGIÃO DO MUSEU ABERTO DO DESCOBRIMENTO ILHÉUS – BAHIA 2008

Transcript of UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ - uesc.br · colaboração na realização da coleta de dados...

i

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ – UESC

UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA – UFBA

GUSTAVO AVEIRO DE ARAUJO

TURISMO E INTERPRETAÇÃO DO PATRIMÔNIO NATURAL E CULTURAL NA REGIÃO DO MUSEU ABERTO DO DESCOBRIMENTO

ILHÉUS – BAHIA

2008

i

GUSTAVO AVEIRO DE ARAUJO

TURISMO E INTERPRETAÇÃO DO PATRIMÔNIO NATURAL E CULTURAL

NA REGIÃO DO MUSEU ABERTO DO DESCOBRIMENTO

Dissertação apresentada à Universidade Estadual de Santa Cruz – UESC e à Universidade Federal da Bahia – UFBA, como requisito à obtenção do título de Mestre em Cultura e Turismo.

Área de concentração: Ciências sociais aplicadas.

Orientador: Prof. Dr. Natanael dos Reis Bomfim.

ILHÉUS – BAHIA

2008

ii

GUSTAVO AVEIRO DE ARAUJO

TURISMO E INTERPRETAÇÃO DO PATRIMÔNIO NATURAL E CULTURAL

NA REGIÃO DO MUSEU ABERTO DO DESCOBRIMENTO

Ilhéus (BA), 29 de setembro de 2008.

________________________________

Natanael dos Reis Bomfim - Prof. Dr.

UESC – BA

(Orientador)

__________________________

Marco Aurélio Ávila – Prof. Dr.

UESC – BA

__________________________

Stella Maris Murta – Profª. Drª.

UFMG – MG

iii

DEDICATÓRIA

Aos meus eternos pais, Olimpio Pereira de Araujo (in memorian) e Cleone

Aveiro de Araujo (in memorian), exemplos de vida, souberam guiar-me com

sabedoria pelos melhores caminhos, e também por outros caminhos difíceis por

onde passei triunfante para que eu chegasse até esta etapa de minha vida, dedico.

iv

AGRADECIMENTO

A Deus, energia suprema presente em todos os momentos, força que ilumina

e nos fornece uma razão para amar e viver este mundo.

À minha esposa, Natália de Tartler, por ter me acompanhado nesta

caminhada, me amando, apoiando-me e me fazendo feliz.

Ao meu filho Davi Tartler de Araujo que, ao ser gerado e nascer durante o

período deste mestrado, confirmou-me que as necessidades são perfeitamente

saciáveis e contribuiu para tornar-me mais feliz, mais forte e a ter mais amor à vida.

Ao meu professor e orientador, Dr. Natanael dos Reis Bomfim, pela

competência, dedicação e preocupação presentes em todo o processo de orientação

e, por sua incansável paciência e perseverança, fundamentais ao processo de

amadurecimento acadêmico.

A todos os professores(as) do Mestrado em Cultura e Turismo da

UESC/UFBA, pelo aprendizado e contribuição para a realização desta Dissertação,

porém em especial ao Prof. Dr. Sócrates Jacob Moquette Guzmán, por ter

orientado, com vasto conhecimento e sabedoria, os primeiros passos da concepção

desta pesquisa, e ao Prof. Vice-Coordenador e posteriormente Coordenador do

Curso Dr. Marco Aurélio Ávila pela competência e dedicação com que vem

conduzindo para uma elevação do Curso em muitos aspectos.

A todos os amigos, pelo incentivo, em especial às amigas, Profª. e

Pesquisadora Mestra Ana Paula de Matos, pela colaboração e interesse em

contribuir com este estudo, e Profª e Pesquisadora Mestra Maria Bernadete Pereira

Bezerra do Departamento de Economia da UESC, por ter apoiado e contribuído para

a realização desta pesquisa.

Aos colegas alunos e estagiários Luciano Espíndola e Fábio Isaac,

acadêmicos do Curso de Bacharelado em Turismo da UNEB, pelo interesse e

colaboração na realização da coleta de dados da pesquisa de campo.

Ao Professor, Poeta e amigo Willbett de Oliveira, pela revisão do texto e

auxílio nas questões ortográficas, gramaticais e metodológicas.

v

Ao colega, Professor Roberto Carlos de Melo Fonseca da Faculdade Teixeira

de Freitas, FACTEF, pela contribuição em elaborar o mapa do MADE.

À Fundação de amparo à pesquisa do Estado da Bahia – FAPESB, pela bolsa

concedida durante os primeiros doze meses de trabalhos.

Aos colaboradores da UESC/UFBA, pela sua dedicação no cumprimento da

missão da Universidade na sociedade e no bom andamento do Curso realizado.

À Fundação Francisco de Assis, em especial à Faculdade do Sul da Bahia –

FASB, por ter acreditado em mim ao apoiar-me durante a Pós-Graduação.

Ao Instituto do patrimônio histórico e artístico Nacional – IPHAN, em especial

à Chefe do escritório regional de Porto Seguro, Sra. Cássia Maria Silva Boaventura

pela atenção e apoio ao contribuir possibilitando o acesso a documentos

imprescindíveis para a realização deste estudo.

Às comunidades do entorno e aos visitantes dos atrativos turísticos histórico-

culturais de Porto Seguro e Santa Cruz Cabrália, bem como aos representantes de

Entidades membro da Câmara de Turismo da Costa do Descobrimento, pelo

interesse e preocupação em participar desta pesquisa.

E a todos aqueles (as) que, apesar de não terem sido citados aqui, de alguma

forma contribuíram direta ou indiretamente para a realização deste trabalho.

vi

“Através da interpretação, a compreensão. Através da compreensão, a

apreciação, e através da apreciação, a proteção”.

Freeman Tilden

viii

TURISMO E INTERPRETAÇÃO DO PATRIMÔNIO NATURAL E CULTURAL NA REGIÃO DO MUSEU ABERTO DO DESCOBRIMENTO

RESUMO

O objeto deste estudo é a interpretação do patrimônio natural e cultural realizada na região do Museu Aberto do Descobrimento, extremo sul da Bahia, onde objetivamos realizar uma avaliação do Plano interpretativo ali implementado. Neste estudo, nos aprofundamos na análise dos atrativos turísticos e dos conteúdos interpretativos nestes disponibilizados. O referencial teórico foi construído a partir de uma pesquisa bibliográfica em fontes secundárias como livros, teses, dissertações e artigos que tratam de discussões envolvendo os conceitos turismo, planejamento turístico, interpretação do patrimônio natural e cultural e planejamento interpretativo. Metodologicamente, esta pesquisa, do ponto de vista dos seus objetivos é do tipo qualitativa e interpretativa, de caráter hermenêutico que aborda métodos qualitativos e quantitativos de análise de dados, de maneira sistêmica, buscando melhor compreender o fenômeno turístico. A coleta de dados primários foi realizada em três localidades do município de Porto Seguro-BA e, em duas localidades do município de Santa Cruz Cabrália, respectivamente: nas Cidades Históricas de Porto Seguro e Arraial d’Ajuda, no Embarcadouro de Caraíva, na Cidade Histórica de Santa Cruz Cabrália e no Centro Comercial de Coroa Vermelha. Avalia-se, através da opinião dos atores sociais do turismo, o grau de desenvolvimento das atividades de interpretação do patrimônio. Foram aplicados 293 formulários aos visitantes, 270 à comunidade e 17 aos membros da Câmara Turística da Costa do Descobrimento. Os resultados apontam para uma descrição das potencialidades, das perspectivas e da viabilidade do desenvolvimento de atividades de interpretação do patrimônio na região do extremo sul da Bahia, propondo diretrizes para o seu desenvolvimento integrado ao turismo. Verifica-se também que o Plano interpretativo implementado foi de base comunitária, porém foi esquecido pelos gestores e pela comunidade. Finalmente, foi detectada necessidade de diversificação dos temas e re-direcionamento dos meios e técnicas interpretativas.

Palavras-chave: Educação; Interpretação do patrimônio natural e cultural; Plano interpretativo; Planejamento do turismo; Turismo.

ix

TOURISM AND HERITAGE INTERPRETATION OF NATURE AND CULTURE IN THE ÁREA OF THE MUSEU ABERTO DO DESCOBRIMENTO

ABSTRACT

The object of this study is the interpretation of natural and cultural heritage activities achieved at The Open Museum of Discovery, extreme south of Bahia state. The objective was to value the interpretative plan that has been previously implemented. In this study, we deepened the analysis of tourist attractions and their interpretive contents. The theoretical reference was constructed from a literature search on secondary sources as books, theses, dissertations and articles that approached the concepts of tourism, tourism planning, interpretation of natural and cultural heritage and interpretive planning. Methodologically, this research, in terms of its objectives is a qualitative and interpretative study of hermeneutic character which addresses qualitative and quantitative systemic methods of data analysis, seeking to better understand the phenomenon tourism. The data collection was performed at five different locations in the municipality of Porto Seguro ans Santa Cruz Cabrália, Bahia, respectively: at the historic sites of Porto Seguro, Santa Cruz Cabrália and Arraial d´Ajuda, at the Pier of Caraíva, and at The Coroa Vermelha Mall. The degree of development of heritage interpretation activities in the area is assessed, from the opinion of the tourism social actors. To the visitor, 293 forms have been applied and to community, 270 forms have been applied, and also 17 forms have been applied to the members of the Tourist Board of Discovery Coast. The results point to a description of the potentialities, the perspectives and the viability for development of heritage interpretation activities in the extreme south of Bahia, so that guidelines are proposed for their development integrated to the tourism. It was also verified that the interpretive implemented Plan was community-based, but it has been forgotten by the local tourism managers. Finally it was detected need for diversification of subjects and re-direction of resources and interpretative techniques.

Keywords: Education; Natural and cultural heritage interpretation; Interpretive plan; Tourism; Tourism planning;

x

LISTA DE FIGURAS

1 Mapa da região do Museu Aberto o Descobrimento................................... 14

2 Um dos maiores exemplares de Pau-Brasil (caesalpinia echinata) ainda vivente, Parque Nacional do Pau Brasil, Porto Seguro (BA)........................

21

3 Como as questões se conectam no planejamento interpretativo................. 50

4 Modelo teórico da comunicação................................................................... 58

5 Placa interpretativa na Cidade histórica de Santa Cruz Cabrália (BA)........ 90

6 Origens dos visitantes dos atrativos do MADE, por UF e região brasileira.......................................................................................................

93

7 Freqüências das faixas etárias dos visitantes dos atrativos do MADE...........................................................................................................

95

8 Renda familiar dos visitantes dos atrativos do MADE, em número de salários mínimos..........................................................................................

96

9 Nível de escolaridade dos visitantes dos atrativos do MADE...........................................................................................................

96

10 Formas de viajar dos visitantes dos atrativos do MADE...........................................................................................................

97

11 Distribuição dos visitantes dos atrativos do MADE conforme a operadora contratada....................................................................................................

98

12 Meio de transporte utilizado pelos visitantes para chegar aos atrativos do MADE...........................................................................................................

98

13 Opinião dos visitantes sobre aspectos qualitativos da interpretação no MADE, em escalas numéricas de 0 a 5......................................................

100

14 Opinião dos visitantes sobre a qualidade da experiência nos atrativos do MADE, em escalas numéricas de 0 a 5.......................................................

101

15 Opinião da comunidade sobre aspectos qualitativos da interpretação no MADE, em escalas numéricas de 0 a 5.......................................................

102

16 Nível de escolaridade dos gestores do turismo da região do MADE...........................................................................................................

104

17 Opinião dos gestores do turismo sobre aspectos qualitativos da Interpretação no MADE, em escalas numéricas de 0 a 5............................

106

18 Comparação das preferências culturais entre os gestores e a comunidade, em escalas numéricas de 0 a 5..............................................

111

19 Preferências culturais dos visitantes dos atrativos do MADE...........................................................................................................

112

xi

LISTA DE TABELAS

1 Localidade e respectivo número de respondentes, MADE, Bahia, 2008...................................................................................................................

75

2 Atrativo turístico e respectivo número de respondentes, Museu Aberto do Descobrimento, Bahia, 2008.............................................................................

76

3 Distribuição temática das placas interpretativas do Museu Aberto do Descobrimento conforme a localidade..............................................................

91

4 Distribuição percentual do número de visitantes do Museu Aberto do Descobrimento por UF, com relação à origem interna......................................

94

xii

LISTA DE QUADROS

1 Síntese dos grupos temáticos, principais temas abordados e grupos de trabalho do Seminário impactos e desenvolvimento sustentável na região do MADE......................................................................................................

12

2 Etapas do planejamento do turismo............................................................. 31

3 Componentes e elementos do sistema turístico.......................................... 33

4 Princípios da interpretação de Tilden (1977) e seus equivalentes atuais............................................................................................................

40

5 Classificação dos planos interpretativos...................................................... 52

6 Relação entre níveis de inserção e abrangência com os planos interpretativos...............................................................................................

53

7 Integração do planejamento interpretativo e interpretação com outras iniciativas e suas contribuições....................................................................

54

8 Objetivos normalmente elaborados para interpretação do patrimônio......... 55

9 Orientação para elaboração de temas interpretativos................................. 56

10 Relação entre tópicos e temas interpretativos............................................. 57

11 Princípios ativos da comunicação interpretativa.......................................... 59

12 Como deve ser a atuação dos intérpretes do patrimônio............................. 61

13 Vantagens e desvantagens da interpretação pessoal................................. 62

14 Benefícios promovidos pela utilização de publicações em planos interpretativos...............................................................................................

64

15 Vantagens e desvantagens das publicações em interpretação................... 65

16 Vantagens e desvantagens da multimídia em interpretação....................... 66

17 Metodologias de avaliação da interpretação................................................ 67

18 Adequação das fases da avaliação às técnicas........................................... 67

19 Etapas do planejamento interpretativo de Murta e Goodey (2002).............. 68

20 Etapas do planejamento interpretativo de Sharpe (1982)............................ 69

21 Objetivos do Plano interpretativo do MADE................................................. 84

22 Temas interpretativos do Plano de interpretação do Museu Aberto do Descobrimento.............................................................................................

85

23 Estratégias de comunicação interpretativa do Plano de interpretação do MADE...........................................................................................................

87

xiii

SUMÁRIO

Resumo................................................................................................... viii

Abstract................................................................................................... ix

Lista de Figuras...................................................................................... x

Lista de Tabelas..................................................................................... xi

Lista de Quadros.................................................................................... xii

1 INTRODUÇÃO ........................................................................................ 1

2 A REGIÃO DO MUSEU ABERTO DO DESCOBRIMENTO E SUA RELAÇÃO COM O PLANEJAMENTO SUSTENTÁVEL DO TURISMO.................................................................................................

6

2.1 A experiência brasileira em Interpretação e a proposta de investigação no MADE..................................................................................................

8

2.2 Aspectos históricos e geográficos do MADE.......................................... 11

2.2.1 A essência do Patrimônio natural e cultural da região do MADE: biodiversidade e historicidade aos extremos, porém ameaçados...........

16

3 TURISMO E PATRIMÔNIO NUMA CONCEPÇÃO DE PLANEJAMENTO E INTERPRETAÇÃO................................................

26

3.1 O conceito de turismo e sua relação com o planejamento............................................................................................

27

3.2 Turismo e interpretação do patrimônio.................................................... 35

4 PLANEJAMENTO E PLANO INTERPRETATIVO.................................. 46

4.1 A importância do plano interpretativo no planejamento .......................... 49

4.1.1 Etapas do planejamento interpretativo..................................................... 68

5 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS PARA AVALIAR O PLANO INTERPRETATIVO DA REGIÃO DO MADE..........................................

71

5.1 Concepção epistemológica de pesquisa em turismo............................... 71

5.2 Desenho metodológico do estudo............................................................ 73

5.2.1 Local de estudo........................................................................................ 73

5.2.2 Constituição e características da amostra .............................................. 74

5.2.3 Instrumentos de coletas de dados........................................................... 77

5.2.4 Métodos de coleta, análise e sistematização dos dados......................... 79

6 ANÁLISES, RESULTADOS E DISCUSSÕES DOS DADOS................. 81

6.1 Análises do Plano interpretativo do MADE.............................................. 81

xiv

6.2 Perfil sócio-econômico e comportamentos de consumo dos visitantes do MADE..................................................................................................

92

6.3 Opinião dos atores sociais do turismo sobre aspectos qualitativos da interpretação no MADE............................................................................

99

6.3.1 Opinião dos visitantes sobre a interpretação do patrimônio no MADE.... 99

6.3.2 Opinião da comunidade sobre a interpretação do patrimônio no MADE. 102

6.3.3 Opinião dos gestores sobre a interpretação do patrimônio no MADE..... 104

6.3.4 Síntese comparativa das opiniões dos atores sobre interpretação no MADE.......................................................................................................

107

6.4 Preferências culturais dos atores sociais do turismo no MADE............... 110

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS..................................................................... 114

7.1 Recomendações...................................................................................... 119

REFERÊNCIAS....................................................................................... 122

ANEXO A - Baiana da igreja Nossa Senhora d´Ajuda, Arraial d´Ajuda, Bahia........................................................................................................

130

ANEXO B - “Cabral” do Quadrado de Trancoso, Bahia......................... 131

ANEXO C - Índios Pataxós da Reserva indígena da Jaqueira, Porto Seguro, Bahia..........................................................................................

132

ANEXO D - Criança indígena no Museu indígena de Coroa Vermelha, Santa Cruz Cabrália, Bahia......................................................................

133

APÊNDICE A – Formulário sobre a opinião das comunidades locais em sítios de relevância histórica e cultural..............................................

134

APÊNDICE B – Formulário sobre a opinião dos visitantes de localidades de relevância histórica e cultural...........................................

137

APÊNDICE C – Formulário sobre a opinião dos gestores turísticos de localidades de relevância histórica e cultural...........................................

140

APÊNDICE D - Formulário de entrevista semi-dirigida sobre a opinião dos gestores turísticos de localidades de relevância histórica e cultural.

142

1

1 INTRODUÇÃO

O planejamento interpretativo é uma ferramenta estratégica necessária para o

desenvolvimento do turismo cultural e do ecoturismo em localidades de relevância

histórica, cultural e natural como a região do Museu Aberto do Descobrimento

(MADE), no extremo sul da Bahia. Essa região possui significativo potencial turístico,

traduzido pela exuberância natural constatada na região pela biodiversidade em

seus mais altos índices, pela historicidade que lhe é peculiar e, principalmente, pelo

patrimônio cultural. No entanto, sofre pressões constantes e degradações.

Assim, a interpretação do patrimônio natural e cultural, a qual investigamos

nos espaços turísticos em questão, trata da comunicação e revelação de valores e

significados que estimulam a conservação desse patrimônio. Essa atividade

poderia ser utilizada para fins de lazer educativo e pode se integrar às atividades

turísticas de baixo impacto, gerar empregos e renda e, simultaneamente, contribuir

para a preservação do patrimônio natural e cultural, ou seja, promovendo a

sustentabilidade do desenvolvimento do turismo na região do MADE.

Normalmente, as ações voltadas ao desenvolvimento turístico de uma região

visam, essencialmente, a aperfeiçoar serviços de transporte, hospedagem,

alimentação e entretenimentos (BARRETO, 1991). Uma das questões que se coloca

é o fato de que pouca e, em alguns casos, nenhuma atenção é dada à qualidade da

interpretação por meio da experiência dos visitantes de uma localidade, quanto às

informações que eles terão sobre o local visitado, com foco na cultura local. Isso se

aplica à região do MADE.

A preocupação em estudar o patrimônio natural e cultural da região do litoral

2

do extremo sul da Bahia, sob o ponto de vista da sua exploração pelo lazer

educativo e pelo turismo, surgiu a partir do interesse em argumentar que o

desenvolvimento de técnicas de Interpretação aplicadas a esse patrimônio constitui

uma importante ferramenta viável de ser contemplada nas ações de planejamento

turístico da região de estudo e, de outras regiões de relevância histórica, natural e

cultural, contribui para a preservação do meio ambiente. Um exemplo concreto que

fundamenta este argumento é a própria interpretação patrimonial desenvolvida na

região em questão, sobre a qual nos ativemos para desenvolver este estudo.

A qualidade da experiência de um visitante em um local de elevado interesse

histórico e cultural poderia ser ampliada, não só em função do nível e da qualidade

das informações recebidas, mas, sobretudo, a partir de revelações e significados

adquiridos por meio da visita. Sobre essa busca por qualidade da experiência por

parte dos visitantes, Wearing e Nail (2000, p. 93) afirmam que o foco sobre as

dimensões da experiência do visitante revela que ele não está preocupado apenas

com a pura observação de um cenário ou objeto, mas, sobretudo com a sensação e

a percepção de algo relacionado ao seu valor e se sujeita a assimilar valores que

não são seus propriamente, ou pelo menos seriam incomuns ao seu cotidiano.

Nessa perspectiva, a visitação a sítios de interesse cultural torna-se difusora de

atividades de lazer educativas e turísticas imprimindo maior responsabilidade com o

ambiente, na medida em que aquelas informações assimiladas sobre o local são

disseminadas em outras localidades.

Dessa forma, a interpretação do patrimônio, integrada à atividade turística,

converge para com os esforços de preservação desse patrimônio, ao mesmo tempo

em que é capaz de beneficiar economicamente e socialmente as comunidades

locais. A partir desta argumentação, o problema central desta pesquisa traz um

questionamento sobre a integração das atividades interpretativas ao planejamento

turístico da região do MADE.

Entendendo que o processo de planejamento é influenciado pelo poder de

decisões que incidem variavelmente em um conjunto de pessoas, Cintra (1978,

apud Dias, 2003, p. 89) afirma que “a técnica do planejamento legitima um poder,

pois aquele que a utiliza impõe sua vontade ao inferir na vida das pessoas e

direcionar suas atividades”. Nesse sentido, aufere-se a necessidade de políticas

públicas de turismo democraticamente elaboradas e executadas, bem

3

fundamentadas, para legitimar as tomadas de decisão e dar a credibilidade e a

segurança necessárias à sociedade. E, por outro lado, é implícita a necessidade de

responder a essas políticas, com implementação de planos interpretativos eficientes,

que correspondam com as necessidades da oferta e demanda turística de uma

localidade.

Partindo do pressuposto de que interpretação e turismo devem funcionar

como aliados a um tipo de turismo considerado menos degradante e, em

contrapartida educativo, este estudo busca discutir a viabilidade do

desenvolvimento das atividades de interpretação na região de estudo e, com relação

à interpretação do patrimônio na Costa do Descobrimento, busca analisar as

estratégias interpretativas implementadas até então, com foco na integração ao

planejamento turístico local e regional.

O fato de serem raros os estudos aprofundados sobre o tema “Turismo e

Interpretação”, mostra que ambos conceitos são de relevância relativamente

recente nas discussões acadêmicas e, em se tratando dos conceitos de patrimônio

cultural e natural, esses possuem uma relação intrínseca, tanto quanto ao turismo

quanto ao conceito de interpretação do patrimônio.

Este estudo trata da intervenção interpretativa que se tem feito na região em

questão, mais especificamente na análise do Plano interpretativo implementado no

MADE no âmbito das comemorações dos 500 anos de descobrimento do Brasil.

Tivemos, o objetivo geral de avaliá-lo sob o ponto de vista da sua integração ao

planejamento turístico da região como um todo, e de suas potencialidades,

perspectivas e viabilidade para o desenvolvimento da interpretação patrimonial, de

forma integrada ao planejamento turístico regional.

Como desdobramentos do objetivo geral apresentado, apresentemos os

objetivos específicos desta investigação sobre a região do MADE: 1) caracterizar

seus atrativos turísticos; 2) identificar e analisar os conteúdos interpretativos

disponibilizados na região Museu; 3) avaliar o grau de desenvolvimento das

atividades de interpretação do patrimônio; 4) identificar e analisar a opinião dos

atores sociais do turismo sobre as atividades de interpretação do patrimônio; 5)

descrever as potencialidades, as perspectivas e a viabilidade do desenvolvimento de

atividades de interpretação do patrimônio na região do extremo sul da Bahia e,

4

finalmente; 6) propor diretrizes para o desenvolvimento de políticas de interpretação

do patrimônio.

A partir da contextualização apresentada, esta dissertação se desenvolve da

seguinte forma: a seção 1 tem caráter introdutório, são apresentados: objeto,

problema e os objetivos do estudo, bem como sua contextualização e justificativas.

Na seção 2 são abordadas algumas experiências brasileiras em

interpretação, dando ênfase à intervenção interpretativa realizada no Museu Aberto

do Descobrimento e buscando estabelecer uma relação com planejamento

sustentável do turismo na região. Nesta seção, expõe-se a visão de interpretação do

Ministério do Turismo e são relatados, ainda que superficialmente, alguns planos

interpretativos realizados. Complementarmente é traçado um pequeno histórico do

projeto MADE e de suas ações realizadas em prol do planejamento sustentável do

turismo na Região. Ainda nesta seção, os atrativos turísticos do MADE são

caracterizados e contextualizados, momento em que apresentamos sua essência,

cuja compreensão permitiu-nos dar prosseguimento a este estudo.

Na seção 3, apresentamos os conceitos de Turismo, Planejamento e

Interpretação do patrimônio, de maneira integrada, visando reunir subsídios teóricos

para sustentar esta investigação no sentido de avaliar o Plano interpretativo do

MADE, considerando-o como uma ferramenta necessária ao planejamento

sustentável do turismo. Ao conceituarmos turismo de forma holística, apresentamos

uma visão sistêmica desse fenômeno, e analisamos sua relação com o patrimônio e,

entendendo-o como um conceito em expansão. Também nesta seção,

apresentamos o estado da arte da filosofia interpretativa, a partir das idéias de

autores consagrados no assunto.

Na seção 4, tratamos de aprofundar o entendimento sobre planejamento e

plano interpretativo por meio de revisão de literatura. É ressaltada a importância do

plano para o planejamento, são discutidas as principais questões que envolvem o

planejamento interpretativo como tipos e níveis de planos, objetivos e temas,

estratégias e técnicas interpretativas. A seguir apresentamos as etapas do

planejamento interpretativo.

Em seguida, na seção 5 - após discutirmos os aspectos teórico-conceituais

relacionados aos já citados conceitos envolvidos neste estudo, - em uma seção à

5

parte, apresentamos uma concepção epistemológica de pesquisa em turismo e o

desenho metodológico do estudo, abordando cada um de seus aspectos.

Descrevemos a metodologia de investigação, apontando métodos e técnicas de

análise e interpretação de dados que foram apreendidos sobre o plano interpretativo

do MADE.

Na seção 6, tratamos de analisar os dados coletados, interpretar os

resultados e discutir alguns aspectos pertinentes aos objetivos desta pesquisa. O

Plano interpretativo do Museu Aberto do descobrimento é investigado e analisado, é

levantado e analisado o perfil socioeconômico dos visitantes do MADE, é identificada

a analisada a opinião dos atores sociais do turismo sobre diversos aspectos

qualitativos da interpretação no MADE. São identificadas as preferências culturais

dos atores sociais do turismo no MADE e é levantado o nível de escolaridade dos

gestores do turismo na região, e analisadas as suas opiniões sobre as atividades de

interpretação do patrimônio.

Já na seção conclusiva, número 7, apresentamos nossas considerações

finais acerca das características dos atrativos turísticos que compõem o MADE, da

avaliação do grau de desenvolvimento das atividades de interpretação do patrimônio

e sua integração ao planejamento do turismo na região, da opinião dos atores sócias

do turismo sobre interpretação, dos conteúdos interpretativos avaliados, das

potencialidades, perspectivas e viabilidade do desenvolvimento de atividades de

interpretação na Região. Finalmente, tecemos recomendações através da proposta

de algumas diretrizes para o desenvolvimento de políticas públicas de interpretação

do patrimônio na área de estudo, na medida em que sugerimos o planejamento e

integração dessas atividades ao planejamento turístico, pontuando perspectivas,

possibilidades e limites relacionados a possíveis estudos futuros.

6

2 A REGIÃO DO MUSEU ABERTO DO DESCOBRIMENTO E SUA RELAÇÃO

COM O PLANEJAMENTO SUSTENTÁVEL DO TURISMO

Esta seção tem como objetivo abordar algumas experiências interpretativas

realizadas no Brasil, particularmente no Museu Aberto do Descobrimento (MADE), e

sua relação com o planejamento sustentável do turismo.

Pode-se afirmar que o Ministério do Turismo está atento à importância e à

necessidade de desenvolvimento da interpretação em atividades turísticas no Brasil,

em especial no que se refere aos segmentos ecoturismo e turismo cultural, o que se

evidencia pela própria definição oficial utilizada no país, que define ecoturismo

como:

[...] um segmento da atividade turística que utiliza, de forma sustentável, o patrimônio natural e cultural, incentiva sua conservação e busca a formação de uma consciência ambientalista através da interpretação do ambiente, promovendo o bem estar das populações envolvidas (BRASIL, 1994, p.19, grifo nosso).

Essa definição menciona o termo interpretação do ambiente como uma

atividade indutora da sustentabilidade, incentivadora da conservação patrimonial e

promotora da conscientização ambientalista. O termo interpretação do ambiente tem

sua origem na definição de Tilden (1977), quando afirma que interpretação do

patrimônio é revelar significados e inter-relações de forma educativa, utilizando-se

para isso o contato direto com objetos originais através de experiências práticas e

ilustrativas. Assim, infere-se que, o uso da interpretação é condição essencial para

o desenvolvimento do segmento ecoturismo no Brasil.

7

Da mesma forma, outras publicações do Ministério do Turismo, como as

orientações básicas para desenvolvimento do turismo de aventura (BRASIL, 2006a)

e as diretrizes para visitação em unidades de conservação (BRASIL, 2006b) fazem

referência às atividades de interpretação ambiental como forma de agregar valor aos

atrativos, e sugerem seu planejamento.

As discussões sobre o poder de educação e conscientização que exerce o

ecoturismo em suas variações vão além da educação ambiental direcionada ao meio

natural e passam a ganhar maior destaque no âmbito cultural. E a educação pelo

turismo, de um modo geral, não se encontra restrita a questões que envolvem

apenas o ambiente físico, mas, sobretudo, o patrimônio cultural de uma localidade,

seja ele material ou imaterial. Tal como o ecoturismo, o segmento turismo cultural

pressupõe, também, a utilização da interpretação.

Diante do desafio de desenvolver o segmento turismo cultural e tendo em

vista a necessidade de orientar o desenvolvimento desse segmento no país, em

2006, o Ministério do Turismo publicou o documento intitulado Turismo cultural:

orientações básicas (BRASIL, 2008), com intuito de servir de subsídio a gestores

públicos e privados, visando a favorecer a diversificação e caracterização do produto

turístico nacional. Esse documento conceitua interpretação, fornece noções básicas

sobre planejamento interpretativo e menciona a atividade interpretativa como uma

estratégia básica para ao desenvolvimento do turismo cultural no Brasil. Sugere,

ainda, o estabelecimento de equipes multidisciplinares das áreas afins à relação

cultura e turismo, para “[...] a elaboração e implementação de projetos de

interpretação e educação patrimonial [...]” (BRASIL, 2008, p. 31). Como aspectos

básicos, necessários à estruturação do segmento - no que diz respeito à adequação

da estrutura física dos equipamentos e atrativos turístico-culturais - recomenda “[...]

providenciar a sinalização turística e interpretativa do patrimônio cultural [...]”

(BRASIL, 2008, p. 35) e, para a estruturação dos serviços e atividades recomenda

“[...] capacitar guias e monitores de museus e espaços culturais para a interpretação

patrimonial e atualizá-los constantemente em relação às informações sobre o local

[...]” (BRASIL, 2008, p.37).

Em resumo, o Ministério do Turismo reconhece que a interpretação é

imprescindível para o desenvolvimento dos segmentos ecoturismo e turismo cultural.

Desta forma, entendemos que a idéia de interpretação deve ser estendida a outros

8

segmentos do turismo, considerados derivados aos dois mencionados inicialmente,

quais sejam, turismo rural, turismo de aventura, turismo étnico, turismo religioso,

turismo místico esotérico, entre outros.

2.1 A experiência brasileira em Interpretação e a proposta de investigação no

MADE

No Brasil, a integração entre interpretação do patrimônio e planejamento

sustentável do turismo, bem como a literatura pertinente, se apresentam de forma

tímida e pouco aprofundada, embora haja registros de algumas iniciativas de

implementação de atividades de interpretação, a exemplo dos planos interpretativos

das “cidades do ouro”, no Estado de Minas Gerais (ALBANO, 2002), do Sítio

Arqueológico de São Miguel da Missões, no Rio Grande do Sul (BIESEK, 2004), da

Bahia, As Histórias da Praia do Forte Contadas pela Comunidade (FARIAS, 2007)

e, particularmente, como objeto desta pesquisa, do Museu Aberto do Descobrimento

(GOODEY, 2003; MURTA, 2002b).

Segundo Albano (2002), o plano interpretativo das “cidades do ouro”,

Mariana, Ouro Preto, São João Del Rei, Tiradentes, Diamantina e Serro é resultado

de um esforço que se iniciou com o tombamento dessas cidades, em 1938, pelo

Serviço Nacional do Patrimônio Histórico e Artístico, em Minas Gerais, e a partir daí,

explica essa autora, deflagrou-se o interesse coletivo em desenvolver cuidados com

a preservação da memória e afirmação das identidades culturais do país. Essas

identidades são consagradas pela forte herança colonialista do período de

exploração de ouro e diamantes que resultou na construção de toda riqueza

arquitetônica que caracteriza o estilo barroco.

A autora afirma ainda que, nessas localidades, os objetivos a serem

alcançados pelos projetos interpretativos foram elaborados tendo como base as

idéias de Murta e Goodey, ou seja, visando sempre a “estimular o olhar do visitante,

diversificar o produto turístico e despertar o orgulho e interesse da comunidade pelo

significado de seu patrimônio, incentivando práticas preservacionistas” (ALBANO,

2002, p. 275).

9

A evolução urbana de seus núcleos históricos, registrada pela arquitetura, as

manifestações artísticas e religiosas, hábitos e costumes, além dos fatos e

personagens da história local são temas desenvolvidos em S. J. Del Rei e

Tiradentes.

Uma equipe multidisciplinar foi responsável pelo design dos principais roteiros

e de toda sinalização interpretativa composta por painéis e placas, que contêm

mensagens com conteúdo interpretativo variado. Sobre essa experiência, a líder da

equipe citada enfatiza, inicialmente, a fundamental importância da participação de

representantes dos diversos setores públicos e privados da comunidade durante o

processo como um todo, o que inclui a definição dos roteiros, dos conteúdos

interpretativos a serem utilizados, dos textos e a revelação de histórias curiosas.

Para essa autora, “este processo participativo é, no entanto, bastante delicado

porque envolve diferentes percepções, idéias, valores e interesses” (ALBANO, 2002,

p. 275), que tendem a ser naturalmente complexos como ocorre com a história de

qualquer lugar, na medida em que envolve informações conflitantes sobre seus

personagens, fatos e datas que permitem diferentes opiniões. Nesse sentido,

ressalta-se a importância da imparcialidade de especialistas responsáveis pelos

projetos de interpretação, bem como do conhecimento e familiaridade da equipe

multidisciplinar com os objetos da localidade, na medida em que serão divulgadas

informações, muitas vezes imprecisas que possam causar divergências de opiniões

entre os diferentes segmentos sociais.

No sítio arqueológico de São Miguel das Missões (RS), como atestou Biesek

(2004), houve implementação de interpretação temática de base histórica, seguindo

o modelo sugerido por Murta e Goodey. Entretanto, essa experiência não

contemplou um plano interpretativo que inserisse a comunidade, ocorrendo apenas

ações isoladas. Os planos interpretativos nessa localidade se resumem unicamente

a placas de sinalização interpretativa, há limitação na gestão do sítio pela escassa

disponibilidade de mão-de-obra capacitada. Os recursos, que não são suficientes,

provêm unicamente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN),

com uma pequena participação do município, o que limita também a estrutura de

apoio e os atrativos turísticos. O turismo Cultural na região apresenta potencial

expressivo, principalmente, por se tratar de uma região também pertencente ao

10

patrimônio mundial da UNESCO. No entanto, a exploração turística é tímida e pouco

profissionalizada (BIESEK, 2004).

Em ambas as experiências relatadas acima se observa tendência em focalizar

o plano em si, com seus métodos e técnicas utilizados, à luz das teorias sobre

planejamento da interpretação do patrimônio. No entanto, de acordo com o que foi

apresentado, infere-se que a experiência brasileira em interpretação ainda está

muito aquém do seu potencial, do ponto de vista de seu desenvolvimento integrado

ao planejamento sustentável do turismo.

No caso do Museu Aberto do Descobrimento, no extremo sul da Bahia, houve

uma iniciativa interpretativa, no âmbito das comemorações dos 500 anos do

descobrimento do Brasil, tendo sido elaborado e implementado um plano

interpretativo na região. No entanto, observa-se, de maneira informal, que o

desenvolvimento das atividades de interpretação tem ocorrido sem a integração com

o planejamento turístico.

Ocorre que, conforme afirmamos na introdução, em geral, as ações de

desenvolvimento do turismo estão voltadas ao aperfeiçoamento dos serviços de

transporte, hospedagem, alimentação e entretenimentos que são normalmente

limitados às atividades de lazer. O fato é que há pouca ou nenhuma preocupação

com a qualidade da interpretação que um visitante faz em uma localidade através da

sua experiência, no que se refere às informações que o mesmo obtém durante a

sua visita ao local, essencialmente com relação à cultura local.

Nesse contexto, especificamente na região do MADE, propõe-se avaliar o

plano interpretativo ora implementado, considerando as potencialidades, as

perspectivas e a viabilidade do desenvolvimento de atividades de interpretação do

patrimônio, a fim de subsidiar ações estratégicas que favoreçam o planejamento do

turismo na região do extremo sul da Bahia.

Estudar a relação entre plano Interpretativo e planejamento turístico pode

contribuir como uma ferramenta estratégica para o desenvolvimento dos segmentos

turísticos Ecoturismo e Turismo Cultural na região, na medida em que, possa ser

utilizada para fins de lazer educativo integrado às atividades turísticas de baixo

impacto, gerando empregos e renda e, simultaneamente contribuindo para a

preservação do patrimônio natural e cultural de forma sustentável.

11

2.2 Aspectos históricos e geográficos do MADE

A idéia de se criar um projeto para o MADE ganhou força a partir da

publicação do livro “Museu Aberto do Descobrimento: o Brasil renasce onde nasce”,

editado em 1994, pela ONG Fundação Quadrilátero do Descobrimento, com sede

em Trancoso, Porto Seguro, BA. Nesse mesmo ano, o Ministério da Cultura recebeu

pedido de recursos para a criação do MADE, mas o projeto não foi contemplado com

recursos financeiros. Porém, em 1996 - tendo em vista a necessidade de se realizar

comemorações do qüingentésimo ano desde o descobrimento do Brasil - foi

aprovado pelo governo federal através do Decreto Presidencial 1.874/96 (BRASIL,

1996), que define e delimita a área do Museu abrangendo localidades dos

municípios baianos de Porto Seguro, Prado e Santa Cruz Cabrália, incluindo o

Parque Nacional de Monte Pascoal, em Porto Seguro. Esse documento também

designa como coordenadores das ações à criação do MADE as seguintes

instituições: Ministério da Cultura, Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico

Nacional (IPHAN), Ministério do Meio Ambiente, Instituto Brasileiro do Meio

Ambiente e dos Recursos Renováveis (IBAMA), Ministério da Justiça, Fundação

Nacional do Índio (FUNAI) e a Fundação Quadrilátero do Descobrimento. Tal

Decreto delibera que caberá ao Ministério da Cultura convidar para participar da

coordenação o governo do Estado da Bahia e os Prefeitos de Prado, Porto Seguro e

Santa Cruz Cabrália, bem como o Serviço de documentação da Marinha, a

Universidade Federal da Bahia, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE),

a EMBRATUR, a Reserva da Biosfera da Mata Atlântica, o Jardim Botânico do Rio

de Janeiro e organizações não-governamentais. Assim, o Decreto sinaliza o

compromisso de elaborar e implementar outros projetos que integrarão àquele da

criação do Museu.

Em setembro de 1998, foi realizado um seminário local com o objetivo de

ampliar as informações sobre o MADE, levantar a opinião da comunidade local sobre

o Museu e cumprir uma agenda de discussões sobre temas relacionados ao

desenvolvimento sustentável da região. Participaram desse evento representantes

das Entidades dos três municípios envolvidos, tais como Instituições educacionais,

ONGs e órgãos oficiais públicos que discutiram e elaboraram propostas relacionadas

12

ao desenvolvimento regional e ao meio ambiente, conforme sintetizamos a seguir,

no Quadro 1.

Quadro 1 - Síntese dos grupos temáticos, principais temas abordados e grupos de Trabalho do Seminário Impactos e desenvolvimento sustentável na

região do MADE

GRUPOS TEMÁTICOS ABORDADOS

1) Conservação dos recursos naturais; 2) Uso sustentável dos recursos naturais; 3) Desenvolvimento e tecnologia; 4) Políticas públicas.

PRINCIPAIS TEMAS ABORDADOS

1) Reserva da Biosfera: história, conservação e preservação; Diversidade florestal da Mata Atlântica do sudeste da Bahia; A cacauicultura e a sustentabilidade dos recursos naturais na Biosfera do Descobrimento; Riqueza da fauna silvestre da Reserva da Biosfera do Descobrimento.

2) Lixo, um problema que não dá para jogar fora; monitoramento Costeiro; importância ecológica e econômica do manguezal; florestas homogêneas e o desenvolvimento sustentável; bacia hidrográfica do rio Cachoeira; bacia hidrográfica do rio Almada;

3) Geração de energia alternativa; materiais alternativos na construção: modelo construtivo à base de vasilhames PET; desenvolvimento sustentável no MADE – diversos projetos: a) alfabetização solidária, b) Plantas ornamentais da Mata Atlântica, c) PRONERA, d) Ecoturismo; e) As formigas no sul da Bahia; planejamento e sistema de manejo da zona costeira; os manguezais do sul da Bahia; fibras vegetais na arquitetura;

4) Legislação ambiental; educação ambiental. fontes de financiamento.

GRUPOS DE TRABALHO

GT1 – Recursos Naturais: estratégias e políticas para o uso e conservação.

GT2 – Desenvolvimento Eco-Tecnológico.

Fonte: Elaborado a partir de UnB; UESC; MinC; MMA; IBAMA; CEPLAC (1998), grifo nosso.

Em síntese, como resultados das atividades, o GT1 concluiu que seria

impossível definir objetivamente as estratégias e políticas públicas para as questões

discutidas, apenas a partir das discussões preliminares que se realizaram. Contudo,

as ações sugeridas através dos projetos dependeriam de parcerias e linhas de

financiamentos externas ao projeto MADE. Não havia nada definido, apenas uma

quantidade significativa de dados coletados e seus possíveis encaminhamentos,

conforme consta do relatório produzido pelo grupo.

Os relatores deste GT atestaram ter havido durante os encontros “[...] uma

pulverização de abordagens, com a apresentação de problemas e reivindicações

13

particularizados por parte dos grupos representados [...]” (UnB; UESC; MinC; MMA;

IBAMA; CEPLAC, 1998, p. 14). Ou seja, sem possuir uma visão global dos

acontecimentos relacionados ao desenvolvimento sustentável da região, pautaram-

se em discussões pontuais, geradas a partir do ponto de vista isolado de cada

grupo. Assim, tratou-se de legislação ambiental, participação da comunidade no

processo de gestão ambiental e os aspectos ambientais relacionados ao MADE.

O GT2 apresentou um levantamento dos principais aspectos dos diversos

materiais disponíveis na região, tais como piaçava e cipó, coco, cascas de

crustáceos, conchas, lixo e entulhos. E apresentou também uma lista de ações

elaboradas, tendo como “objetivo de contribuir para uma mudança de

comportamento e “a maneira de pensar, integrando o homem nesse processo,

valorizando seu papel através da educação ambiental” e como segundo objetivo

“criar opções alternativas para obtenção de renda”. Entre essas ações destacamos a

capacitação de guias para a visitação dos manguezais, o resgate do folclore regional

(lambada, forró, danças e capoeira), das manifestações culturais tradicionais

(bumba-meu-boi, Marujada, Boi Duro, Mouros e Cristãos, Puxada do Mastro de São

Sebastião, Terno de Reis, Pastorinhas e festa do Divino) (UnB; UESC; MinC; MMA;

IBAMA; CEPLAC, 1998, p. 14).

Um fato diretamente relacionado ao Plano Interpretativo que se implementaria

posteriormente no ano 2000 foi encontrado nas considerações finais do relatório

apresentado pelo GT2, onde entre ações lê-se “[...]recuperar o relatório da Oficina

de Interpretação Ambiental no MADE, que aconteceu recentemente em Porto

Seguro: foi vista uma cópia no IPHAN/Porto Seguro [...]” (UnB; UESC; MinC; MMA;

IBAMA; CEPLAC, 1998, p.19).

Esse trecho do relatório demonstra que o Plano de Interpretação do MADE

ainda não havia sido discutido oficialmente no Seminário, a isto, relaciona-se o fato

de não haver nenhuma menção de atividades de interpretação em tal relatório.

Assim, o Projeto MADE, inicialmente elaborado pela Fundação Quadrilátero

do Descobrimento, foi preterido, dando lugar a um novo projeto MADE, dessa vez

elaborado com a “chancela da comunidade regional” (UnB; UESC; MinC; MMA;

IBAMA; CEPLAC, 1998).

14

Conforme o Decreto citado, a área geográfica do MADE abrange um território

que se estende ao longo de 78 km, na costa da região do extremo sul da Bahia,

compreendendo áreas de três municípios que totalizam 1.200 Km², Porto Seguro,

incluídas neste município as localidades de Arraial d’Ajuda, Trancoso e Caraíva;

Santa Cruz Cabrália, incluindo Coroa Vermelha, e, finalmente, o extremo norte do

município de Prado. A Figura 1 traz um mapa da região do MADE com as principais

localidades, fornecendo uma visão geral de nossa área de estudo.

Figura 1 – Mapa da região do Museu Aberto do Descobrimento, extremo sul da Bahia.

Fonte: Elaborada por Roberto Carlos de Melo Fonseca. Sistema de Projeção UTM. Datum: SAD-69. Origem: Equador e Meridiano 39º W.Gr. Acrescidas as constantes 10.000.000m e 500.000m respectivamente.

Os limites geográficos do MADE se orientam a partir de rios, córregos,

cidades, vilas, o Monte Pascoal e o mar. Sua região é constituída pelos principais

marcos avistados e descritos na Carta de Pero Vaz de Caminha ao Rei de Portugal,

em 1500, entre o quais destacam-se, o Monte Pascoal, as falésias multicoloridas, a

Baía de Cabrália, Coroa Vermelha e os rios Caí, Mutarí, Buranhem e João de Tiba.

15

Para finalizar este capítulo, abordaremos de forma breve, as características e

a composição do acervo do MADE, com intuito de melhor compreender o objeto

deste estudo.

O acervo do MADE reúne valioso patrimônio que inclui bens de natureza

material e imaterial, como acidentes geográficos, aldeias indígenas, núcleos urbanos

históricos e manifestações culturais tradicionais (ARANTES, 2001; MURTA, 2002b).

Este conteúdo é uma mescla singular de história, natureza e cultura, que

pode ter sua importância e significado compreendidos através da visitação in loco,

ou mesmo a partir da leitura do Guia Cultural. O guia elaborado por Arantes (2001)

torna pública as informações mapeadas a partir da realização de um minucioso

inventário de referências culturais de grande importância, entre as quais destacam-

se festas, lugares, paisagens e edificações, ofícios e modos de fazer, artes e formas

de expressão que caracterizam e transformam a região num dos destinos turísticos

mais visitados do país.

Nesse cenário, o MADE é considerado lugar turístico complexo. Nele,

inserem-se Unidades de Conservação (UCs), tanto federais como estaduais,

municipais, públicas e particulares, terras indígenas, sítios de relevância histórica,

cultural, arqueológica e turística, sendo algumas delas tombadas pelo IPHAN e

UNESCO. Logo, segundo Arantes (2001), o contato com esse acervo possibilita a

reinterpretação de alguns sentidos importantes que a memória e a literatura

inscreveram no extremo sul da Bahia.

Essa importante porção do território brasileiro reúne vasta biodiversidade

natural e cultural capaz de materializar a identidade cultural e a memória brasileiras.

No entanto, historicamente é uma região marcada por conflitos e tensões sócio-

territoriais evidenciados entre indígenas e fazendeiros, entidades governamentais e

não-governamentais através de jogo de interesses econômicos que envolvem

setores diversificados como empresários da cadeia produtiva da indústria de papel e

celulose, pequenos produtores rurais, comunidades tradicionais e não tradicionais e,

também, várias empresas que integram o complexo conjunto da organização

estrutural do sistema turístico. Isto posto, fica clara a necessidade de integração

entre a preservação, valorização e interpretação do patrimônio através do

planejamento e plano interpretativo.

16

2.2.1 A essência do Patrimônio natural e cultural da região do MADE: biodiversidade

e historicidade aos extremos, porém ameaçados

Com intuito de melhor compreender esse cenário turístico complexo de

diversidades da região, objeto deste estudo, buscaremos revelar alguns aspectos da

essência do patrimônio em questão com o objetivo de caracterizar os atrativos

turísticos que compõe a região turística do MADE.

Em termos de natureza a região do MADE é marcada fortemente pela

exuberância, traduzida não só pela beleza natural, mas pelos mais altos índices de

variabilidade genética de fauna e flora.

Toda a região costeira do MADE encontra-se conjugada à região coralínea

“Banco de Abrolhos”. Essa complexa conjugação de ecossistemas abriga a mais

elevada taxa de biodiversidade marinha já conhecida do Atlântico sul e tem

importância estratégica para o equilíbrio ambiental do planeta. O Banco dos

Abrolhos é um alargamento da plataforma continental que começa à foz do rio Doce,

no Espírito Santo, e segue até a foz do rio Jequitinhonha, na Bahia, perpassando por

toda a costa do extremo sul da Bahia. Com cerca de 46.000 Km², compreende um

mosaico de ambientes marinhos e costeiros margeados por remanescentes da Mata

Atlântica, abrangendo recifes de coral, bancos de algas, manguezais, praias e

restingas. Com altíssimos índices de biodiversidade, esta região costeira abriga

várias espécies endêmicas, como o coral-cérebro, e espécies ameaçadas de

extinção. Berçário das baleias-jubarte, a região dos abrolhos foi declarada, em 2002,

área de Extrema Importância Biológica pelo Ministério do Meio Ambiente

(CONSERVAÇÃO INTERNATIONAL, 2008; FRANCINI-FILHO et al, 2008).

Para se ter uma idéia da importância biológica da região, basta citar a criação

de várias unidades de conservação na região. Todas apresentam deficiências de

recursos financeiros e humanos que prejudicam seus processos de implementação

(CONSERVAÇÃO INTERNATIONAL, 2008; FRANCINI-FILHO et al 2008).

17

A região do MADE, em várias áreas se sobrepõe à região da “Reserva da

Biosfera da Mata Atlântica brasileira, RBMA1, considerada hotspot2 de

biodiversidade no planeta devido ao seu alto grau de variabilidade genética e

endemismo3 de espécies de fauna e flora. A RBMA foi primeira reconhecida pela

UNESCO, no Brasil, em outubro de 1991, abrangendo aproximadamente uma área

de 29 milhões de hectares, desde o Ceará ao Rio Grande do Sul.

A região sul da Bahia está inserida na área denominada de “Corredor Central

da Mata Atlântica” que abrange também quase todo estado do Espírito Santo e

partes da região leste do estado de Minas Gerais. Essa região compreende os

maiores remanescentes florestais de Mata Atlântica do nordeste e, pelo menos, dois

centros de endemismo da Mata Atlântica, possui elevada biodiversidade de

espécies, uma das maiores diversidades de aves do Brasil. Algumas espécies de

fauna ainda encontradas na região estão classificadas como ameaçadas de extinção

tais como o mico-leão-da-cara-dourada (Leonthopithecus chrysomelas), o macaco-

prego-do-peito-amarelo (Cebus xanthosternos), o balaça-rabo-canela (Glaucis

dhrnii), o bigodudo-baiano (Merulaxis stresemanni) e a saíra-apunhalada (Nemosia

rourei) (MESQUITA, 2004).

Para ilustrar o elevado índice de biodiversidade da Mata Atlântica do sul da

Bahia, nos estudos de Tomas e Carvalho, citados por Mesquita (2004), foram

detectadas 458 espécies de árvores em um único hectare de floresta, no município

de Uruçuca, ao norte de Ilhéus (BA). Esse número é considerado recorde mundial de

riqueza de plantas lenhosas. Nos mesmos moldes anteriores, Tomaz e Monteiro

citados por Mesquita (2004) registraram a presença de 443 espécies de árvores

também em um hectare em Santa Lúcia, município da região norte do Espírito

Santo.

1Um modelo de gestão com objetivos preservacionistas. A Reserva da Biosfera da Mata Atlântica foi a primeira reconhecida pela UNESCO no Brasil, em outubro de 1991, abrangendo aproximadamente uma área de 29 milhões de hectares, desde o Ceará ao Rio Grande do Sul, cf. CONSELHO NACIONAL DA RESERVA DA BIOSFERA DA MATA ATLÂNTICA et al (1996). 2 Uma região biogeográfica que apresenta elevado índice de biodiversidade, grande número de espécies exclusivas (endêmicas) e que já perderam mais de 70% de sua formação original. Os hotspots de biodiversidade estão identificados pela Conservação Internacional (CI), uma ONG americana, que se refere a 34 áreas de grande riqueza biológica em todo o mundo, gravemente ameaçadas de destruição MESQUITA (2004). 3 Caráter restritivo da distribuição geográfica de determinada espécie ou grupo de espécies que vive limitada a uma área ou região. [ ] Estas espécies ocorrem portanto, com exclusividade no local, cf. IBGE, 2004, p.116.

18

Atualmente, na região delimitada pelo MADE encontram-se 10 UCs, que

juntas somam 93.414 hectares. Essas UCs estão territorialmente conectadas a

outras 16 UCs ao longo da região sul da Bahia, o que caracteriza um mosaico de

áreas naturais protegidas.

O Parque Municipal Marinho do Recife de Fora, localizado a 5 milhas náuticas

a nordeste de Porto Seguro, em uma área de preservação permanente de 1750

hectares, foi o primeiro Parque Municipal Marinho criado no Brasil, através da lei

municipal n° 260/97. Nessa área, a diversidade biológica segue as características

da região, sendo encontradas 16 das 18 espécies de corais existentes no mundo,

como o octoral, coral-cérebro, coral-de-fogo e peixes tais como paru, peixe-frade,

moréia, arraia, budião-papagaio, além de moluscos e quelônios (tartaruga-verde e a

tartaruga-de-pente) (SECRETARIA DE TURISMO DE PORTO SEGURO, 2008).

A Área de Proteção Ambiental (APA) Santo Antônio abrange 23.000 hectares

divididos entre os municípios de Santa Cruz Cabrália e Belmonte. Nela, encontram-

se importantes remanescentes de mata atlântica associados a restingas,

manguezais, várzeas e importantes rios como o Rio João de Tiba, o Rio Santo

Antônio e o Rio Jequitinhonha. No que se refere à flora característica de Mata

Atlântica, destaca-se a presença da jurema (Macrosamanea pedicellaris), uma

árvore de grande porte muito encontrada na região. Na vegetação de restingas, é

comum a presença de espécies como a piaçava (Attalea funijera) e o feijão-de-praia

(Canavalia). A fauna é muito diversa, além de variadas espécies de invertebrados,

apresenta espécies de vertebrados de grande importância, como a preguiça-de-

coleira (Bradypus torquatus), espécie ameaçada de extinção, répteis como a jibóia

(Boa constrictus) e grande variedade de aves e anfíbios (SEI, 2007).

A pesca artesanal, a coleta de moluscos e crustáceos, o extrativismo da

piaçava (Attalea funijera) e o artesanato são muito importantes na região, pois

associam a economia à cultura tradicional da região (SEI, 2007).

A Área de Proteção Ambiental (APA) Coroa Vermelha estende-se por 4.100

hectares que abrangem partes dos municípios de Porto Seguro e Santa Cruz

Cabrália. Nela, encontram-se importantes remanescentes de mata atlântica

associados a restingas, manguezais, várzeas e brejos. Sua área está compreendida

por extensas barreiras de corais que abrigam diversas e raras espécies marinhas e

também uma extensa faixa de falésias. Em termos de flora, destaca-se a presença

19

do Pau-Brasil (Caesalpina echinata), árvore símbolo do Brasil, infelizmente

ameaçada de extinção. A fauna de vertebrados da APA está representada por 261

espécies distribuídas entre anfíbios, répteis, aves e mamíferos. Várias espécies

ameaçadas de extinção são encontradas na área, tais como a preguiça-de-coleira

(Bradypus torquatus), espécie endêmica da Mata Atlântica, e a onça pintada

(Panthera onca), entre outras espécies de felinos. As espécies de aves são bastante

representativas, a exemplo do sabiá-laranjeira (Turdus rufiventris) e do mutum-do-

sudoeste (Crax blumenbachii), esta última ameaçada de extinção (SEI, 2007).

A Área de Proteção Ambiental (APA) Caraíva/Trancoso estende-se por

31.900 hectares que abrangem parte do município de Porto Seguro. A criação

fundamentou-se na exploração turística da região. Essa UC encontra-se permeada

por remanescentes de mata atlântica, associados a restingas, manguezais e os

estuários dos rios Trancoso e Caraíva. Em seus limites, encontra-se a Reserva

indígena Pataxó de Coroa Vermelha (SEI, 2007).

No que se refere à flora, é possível encontrar espécies utilizadas na Medicina

popular como o assa-peixe (Vernonia sp) e espécies ameaçadas de extinção como a

gonçalo-alves (Astronium macrocalix). Em termos de fauna, destaca-se a presença

de espécies ameaçadas de extinção como o macuco (Tinamus solitarius),

pertencentes à família das codornas e perdizes. Todas as outras classes de

vertebrados são encontradas na região, com muita freqüência de primatas (SEI,

2007).

No extremo Sul da Bahia há 4 parques nacionais: o Parque Nacional do Pau

Brasil (PNPB), localizado no município de Porto Seguro, o Parque Nacional do

Monte Pascoal (PNMP), também localizado em Porto Seguro, o Parque Nacional do

Descobrimento (PND), localizado em Prado e o Parque Nacional Marinho dos

Abrolhos (PARNAM dos Abrolhos), localizado no município de Caravelas. Apenas o

PNMP e o PARNAM dos Abrolhos são abertos para visitação. Dentre estes dois,

somente no PNMP são oferecidas aos visitantes – ainda que de forma incipiente -

atividades de interpretação do patrimônio. Nos outros Parques Nacionais da região

não são desenvolvidas atividades de interpretação do patrimônio, apesar de essas

atividades constarem como objetivos dessas UCs, prescritos pela lei n° 9.985 de 18

de julho de 2000, que instituiu o Sistema Nacional de Unidades de Conservação,

20

segundo o art. 11, os Parques Nacionais são Unidades de Conservação de proteção

integral que

têm como objetivo básico a preservação de ecossistemas naturais de grande relevância ecológica e beleza cênica, possibilitando a realização de pesquisas cientificas e o desenvolvimento de atividades de educação e interpretação ambiental de recreação em contato com a natureza e de turismo ecológico (SNUC, 2000, p.08, grifo nosso).

Vale ressaltar a importância do papel do PNPB para a formação de

corredores de biodiversidade, juntamente com o PNMP e PND. Estes três parques

nacionais representam os principais fragmentos remanescentes de Mata Atlântica do

sul da Bahia, importantes para o Corredor Central da Mata Atlântica, onde, conforme

já dissemos, foram registrados os mais elevados índices de biodiversidade de

espécies arbóreas no planeta, de acordo com Tomas e Monteiro citados por

Mesquita (2004).

O Parque Nacional do Pau Brasil, criado em 1999, possui extensão de 11.538

hectares e 70 quilômetros de perímetro, porém está em processo de ampliação e

terá aproximadamente 22.000 hectares ao final do processo (informação verbal).4

Está totalmente localizado no município de Porto Seguro entre o vale do rio

Buranhém e o vale do rio dos Frades distante cerca de 17 quilômetros a oeste do

litoral deste município (PNUD, 2007). Sua flora é muito diversa, destaca-se a

presença de espécies como a Juerana, o Paraju, a Braúna, a Sapucaia, o Pequi, a

Inhaíba, o Aderno e o próprio Pau-Brasil que tem no parque uma das maiores

quantidades do país e, o maior exemplar vivente da espécie, como se observa na

Figura 2:

4 Informação fornecida pelo Sr. Fernando G. Brutto, Analista Ambiental do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBIO) durante a reunião do Conselho Consultivo do Parque Nacional do Pau Brasil em 31/08/2007, na sede da OAB, em Porto Seguro.

21

Figura 2 – Um dos maiores exemplares de Pau-brasil (caesalpinia echinata), ainda vivente, Parque Nacional do Pau Brasil, Porto Seguro (BA).

Fonte: PNUD (2007).

Existem também diversas bromélias e orquídeas. Sua fauna (animais)

também é rica. Podem ser encontradas vivendo no Parque diversas espécies

endêmicas de aves, algumas delas ameaçadas de extinção como: o papagaio-

chauá, o balança-rabo-canela e o mutum. Na área também já foi visto o gavião-real,

conhecido também como harpia. Muitos mamíferos vivem no Parque, entre eles

estão, a suçuarana, a jaguatirica, o macaco guigó, o queixada, a lontra e a anta

(PNUD, 2007).

Existem ainda muitas nascentes na mata do Parque Nacional do Pau Brasil e

alguns dos rios mais conhecidos que correm dentro do Parque são: o Jacuba, o rio

da Barra, o Trancoso, além de braços do rio Taípe, entre outros (PNUD, 2007).

O Parque possui uma queda d’água no córrego do Jacuba. Devido ao relevo

da região ocorrências de quedas d’água não são muito comuns, tornando assim a

visitação ao Parque um interessante diferencial para a região de Porto Seguro

(PNUD, 2007).

22

Já o Parque Nacional do Monte Pascoal teve sua área reduzida de 22.383

hectares a aproximadamente 15.000 hectares - abriga um dos últimos

remanescentes da mata atlântica e apresenta vegetação densa e exuberante, onde

verificam-se a presença de espécies vegetais como o visgueiro, a farinha-seca e a

anda-açu. Em termos de fauna, o Parque possui grande diversidade. Entre os

mamíferos destacam-se: veado-campeiro e a ariranha, ambos ameaçados de

extinção. Ainda conta com alguns raros, como: ouriço preto, preguiça de coleira e o

guariba. Já os carnívoros podem-se citar a suçuarana e a tradicional onça-pintada.

As aves ameaçadas de extinção: urubu-rei, macuco e mutum (IBAMA, 2006).

A implantação pela União, em 1961, do Parque Nacional de Monte Pascoal

gerou um fato trágico: expropriar uma população indígena, em nome da defesa do

patrimônio natural que, até então, ela própria havia se encarregado de preservá-lo; e

ainda, fazer também em nome da preservação de um importante sítio histórico

nacional – o Monte Pascoal – signo relevo de um alardeadamente feliz encontro

entre portugueses e ameríndios que fundaria esta “pacífica” nação. Esse ato,

contudo seria apenas um momento destacável de uma longa série de desmandos

governamentais sobre a população indígena do extremo sul baiano, iniciada mais de

quatrocentos anos antes e continuada, após 1961, em outra seqüência de episódios

de descaso e negligência para com a população pataxó da aldeia de Barra Velha, e

para com a sua diáspora após aquele ano (SAMPAIO, 2000).

De um lado as comunidades tradicionais pataxó lutam pela demarcação de

suas terras, alegando pertencerem aos seus antepassados, de outro lado, governo e

ambientalistas buscam soluções para os problemas de atividades degradantes como

incêndios florestais, ação predatória sobre fauna e flora e a descaracterização dos

ecossistemas lá existentes.

Atualmente, o PNMP se encontra ocupado por comunidades indígenas

pataxó, estes, têm sua economia baseada na pequena agricultura e no extrativismo,

principalmente para a produção de artesanato. O Instituto Chico Mendes de

Conservação da Biodiversidade - órgão vinculado ao Ministério do meio ambiente - é

responsável pela administração do parque, realizada através de sistema de gestão

participativa.

Algumas iniciativas demonstram o interesse dos gestores em desenvolver

atividades de ecoturismo, a exemplo da construção do centro de visitantes e

23

iniciativas de capacitação da comunidade local. Recentemente foi executado um

projeto de capacitação dos Pataxós para o desenvolvimento de atividades de

ecoturismo e interpretação do patrimônio.5

No entanto, apesar de todo potencial, tanto o ecoturismo como as atividades

de interpretação são realizadas de forma incipiente, pouco profissionalizadas, e os

poucos projetos econômicos existentes decorrem de parcerias entre os Pataxós e

organizações não-governamentais.

Até o momento não foram desenvolvidas políticas que apresentem

alternativas eficazes, e que garantam a sustentabilidade dos Pataxós. Nesse

contexto, as atividades ecoturísticas e interpretativas surgem como uma alternativa

de geração de emprego e renda para a população local, e pode ser considerada

alternativa estratégica de conservação da biodiversidade.

Quanto aos povos indígenas Pataxós, as políticas não têm conseguido

garantir que essas comunidades indígenas se mantenham, levando-as à indigência.

Tais políticas ameaçam a integridade desses povos, favorecendo sua adesão a

atividades predatórias, que, além de promover a degradação dos recursos naturais

em suas terras, comprometem sua sobrevivência cultural.

Na região do MADE encontram-se 03 UCs do tipo Reserva Particular do

Patrimônio Natural (RPPN). Com 6.069 hectares, a RPPN Veracel é considerada a

maior da mata atlântica. De propriedade da empresa Veracel de Papel e Celulose

S.A., seu plano inicial foi estruturado em programas voltados à proteção física da

vegetação, estudos de fauna e flora, educação ambiental e ecoturismo. O

empreendimento pretendia compatibilizar seu desempenho com o desenvolvimento

sustentável (UnB; UFBA; UESC; MinC; MMA; IBAMA, 1998).

Atualmente a empresa recebe apenas os visitantes que são previamente

agendados conforme a disponibilidade da empresa. Não foi verificado o

desenvolvimento do ecoturismo propriamente dito, visto que as visitas são realizadas

por grupos provenientes das comunidades do entorno e aquelas com as quais a

empresa tem algum interesse. No entanto, verifica-se o desenvolvimento de

interpretação do patrimônio nessa UC particular.

5 Iniciativa do projeto Corredores Ecológicos, realizada com recursos do programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, em parceria com o Ministério do meio ambiente, concluída em abril de 2008.

24

A área da RPPN Veracel está incluída na área tombada pela UNESCO, em

1999 como Sítio do Patrimônio Mundial Natural. A área foi identificada pelo G7

Programa Piloto para Florestas Tropicais (PP-G7) como zona prioritária da Reserva

da Biosfera da Mata Atlântica. As outras duas RPPNs, Manona e Portal do Curupira,

somam juntas 57 hectares, não tendo sido encontrado nenhum indício do

desenvolvimento de atividades de ecoturismo, nem interpretação do patrimônio.

É importante destacar que, basicamente no entorno de cada uma das UCs

citadas habitam comunidades indígenas e pesqueiras, com expressivas

características culturais. Essas comunidades, aliadas ao apelo ecológico que

caracteriza a região, representam grande potencial para o desenvolvimento do

ecoturismo e da interpretação do patrimônio nas áreas naturais do MADE.

Com relação aos aspectos históricos e culturais, estes vêm realçar toda

importância e exuberância dos aspectos naturais citados. Além de testemunharem o

início da colonização do Brasil, o legado cultural da região do MADE traz

manifestações culturais autênticas como festas e celebrações, artes, ofícios e

formas de expressão singulares que “[...] guardam um patrimônio cultural

inestimável [...]” (ARANTES, 2001, p. 20).

Nos núcleos urbanos históricos de Porto Seguro (sede), Arraial d’Ajuda,

Trancoso, Santa Cruz Cabrália e Vale Verde, destacam-se conjuntos arquitetônicos

que preservam muitas edificações dos séculos XVI ao XX. São construções,

monumentos e ruínas que contam a história do período colonial e do império.

O núcleo arquitetônico e paisagístico de Arraial d’Ajuda, por exemplo, está

tomado desde 1973. Em Porto Seguro, o Marco de Posse e o Sítio Arqueológico da

Igreja de São Francisco de Assis, de 1504, situado no Outeiro da Glória, assinalam o

início da colonização, destacando-se também nessas condições as Igrejas Nossa

Senhora da Penha, de São Benedito e da Misericórdia. Em Arraial d’Ajuda, a Igreja

Nossa Senhora d’Ajuda e a fonte milagrosa, considerada o santuário católico mais

antigo do Brasil. As Casas de Câmara e Cadeia de Porto e Seguro e Santa Cruz

Cabrália ainda conservam seus edifícios, que na época colonial sediavam o poder

político e de justiças nessas vilas (ARANTES, 2001).

As celebrações católicas, como as festas em louvor aos santos padroeiros

predominam na região e, muitas delas conservam a tradição da puxada do mastro,

25

sobre o qual se hasteia a bandeira do santo. As missas, novenas, procissões e

queima de fogos são constantes e normalmente precedem as celebrações com

músicas, danças, comes e bebes. O ciclo de festas juninas é bastante comemorado

em quase todas as localidades.

Em menor escala surgem as manifestações do Candomblé, com homenagens

a Iemanjá e Santa Bárbara. Da religiosidade tradicional dos Pataxós foram

preservados vários rituais como o de reverência aos espíritos da natureza e o de

fortalecimento e preparo de guerreiros. Entre estes, destacam-se o Perexó, o

Mucará, o Muká Mukau e o Kamunguerê (ARANTES, 2001).

Entre as formas de expressão populares, danças e brincadeiras ainda

ocorrem entre as quais se destacam: a Bicharada (tipo de bumba-meu-boi), a

Guerra dos Mouros e Cristãos, a Chegança e o terno de Reis, o Samba de couro, o

forró, a capoeira e a Lambada.

Uma variedade de ofícios desempenhados pelos habitantes da região do

MADE completa o arcabouço do seu patrimônio cultural. Entre esses ofícios

destacam-se: a pesca artesanal, tradição secular passada de pai para filho, a

carpintaria, também tradição secular que se ramifica nas vertentes tradicional,

artística e naval, os ofícios dos canoeiros e dos carroceiros (Caraíva), as parteiras,

os benzedeiros e os rezadores. Esses últimos, “[...] são exímios conhecedores de

plantas e ervas medicinais, oferecem conforto físico e espiritual aos moradores e

visitantes, além de transmitir às próximas gerações os conhecimentos da flora nativa

[...]“ (ARANTES, 2001, p. 23).

Em síntese, os atrativos turísticos da região do MADE, em sua essência, se

caracterizam, de maneira geral, pela exuberância do patrimônio natural e pela

importância singular do seu patrimônio histórico cultural. No entanto, conforme

salientado, toda essa riqueza se vê ameaçada de destruição. Assim, o planejamento

sustentável do turismo, em muito se relaciona com os já citados aspectos

geográficos da região do MADE.

Para complementar a caracterização dos atrativos turísticos do MADE, no

item 6.2, desenvolvemos uma análise do perfil socioeconômico dos visitantes desses

locais, bem como de alguns aspectos relacionados aos seus comportamentos de

consumo do turismo.

26

3 TURISMO E PATRIMÔNIO NUMA CONCEPÇÃO DE PLANEJAMENTO E

INTERPRETAÇÃO

O presente capítulo visa abordar os conceitos de turismo, planejamento e

interpretação do patrimônio de maneira integrada a fim de sustentar teoricamente

esta investigação na perspectiva de avaliação do plano interpretativo do MADE

como ferramenta imprescindível para o planejamento sustentável do turismo.

O turismo é um fenômeno mundial de transformação social, capaz de corrigir

desigualdades regionais e gerar benefícios sociais e econômicos. Atualmente, entre

os benefícios sociais, atenção especial tem sido observada no sentido de fortalecer

as relações entre cultura, turismo e meio ambiente, para gerar certa

sustentabilidade. Esse termo, segundo Oliveira (2002), é entendido como a relação

racional do uso dos bens materiais e imateriais através da atividade turística, ou

seja, para preservar para as gerações futuras o patrimônio cultural e natural e,

simultaneamente promover a reafirmação e aproximação cultural entre os diversos

habitantes deste planeta, tanto em nível local como regional e global.

A afirmação de que as atividades de lazer - entre elas o turismo - são capazes

de educar culturalmente e despertar para uma consciência ambientalista é apenas

um paradigma alternativo do turismo, que as sociedades atuais já perceberam a

importância.

Entretanto, tanto o turismo como a interpretação requerem planejamento

adequado, e que precisam estar integrados, a partir de uma visão abrangente e

27

integral, proporcionada pela abordagem sistêmica do fenômeno turístico,

apresentada por Beni (2004), Molina (1991) e Jimenéz Martinez (2005).

O planejamento turístico é intensamente discutido nos estudos de Barreto

(1991), Beni (2004), Dias (2003), Petrocchi (2002) e Ruschmann (2001). Já os

estudos sobre o planejamento interpretativo têm sido aprofundados por

pesquisadores como Carter (2001), Morales (1998) e Murta e Goodey (2002).

Neste contexto, a interpretação de que tratamos neste estudo, se estabeleceu

como uma forma sistematizada de valorização da visita daquele que chega em

busca de informações sobre o lugar, sua história, os hábitos e costumes de seus

habitantes com suas várias manifestações culturais e artísticas, ou seja, ampliando

seu conhecimento acerca do patrimônio cultural e natural de uma localidade.

A preocupação em transmitir o real significado de um local ao visitante é

intensamente discutida e sistematizada nos estudos em interpretação do patrimônio

realizados por Beck e Cable (2002); Carter (2001); Goodey (2002), Ham (1992);

Morales (1998); Moscardo (1996b); Murta (2002a); Murta e Goodey (2002); Sharpe

(1982), entre muitos outros pesquisadores que se dedicam ao desenvolvimento da

interpretação, acreditando ser uma forma viável de exploração sustentável do

patrimônio e do turismo.

3.1 O conceito de turismo e sua relação com o planejamento

Não existe uma definição única para o termo Turismo. A ausência de

definições aceitas universalmente tem contribuído para as dificuldades de entender-

se com clareza as características do fenômeno, o que causa grande impacto no

modo como o turismo é abordado e compreendido (JIMENÉZ MARTINEZ, 2005).

Para Boullón (2002), essa imprecisão conceitual gera confusões semânticas que

envolvem vários conceitos relacionados ao fenômeno turístico.

A mais antiga das definições de turismo ainda utilizada tem sua origem na

ciência econômica, e pertence ao economista austríaco Herman Von Schullard que,

em 1910, conceituou turismo “como a soma das operações, especialmente as de

natureza econômica, diretamente relacionadas com a entrada, permanência e

28

deslocamento de estrangeiros para dentro e para fora de um país, cidade ou região”

(OLIVEIRA, 2002, p.35; BENI, 2004, p. 34).

O fato de haver a necessidade de mensurar a atividade turística através do

uso de dados estatísticos contribuiu para que surgissem definições técnicas de

turismo. Visando atingir objetivos estatísticos de mensuração da atividade, a

Organização Mundial do Turismo define Turismo como

o fenômeno que ocorre quando um ou mais indivíduos se trasladam a um ou mais locais diferentes de sua residência habitual, por um período maior que 24 horas e menor que 180 dias, sem participar dos mercados de trabalho e de capital dos locais visitados (OMT, 2001, p. 19).

Tradicionalmente, nos referimos ao turismo como uma “indústria” - se é que

assim podemos chamar este importante fenômeno social ou atividade econômica o

qual, para Boullón (2002, p.34) “[...] pertence ao setor terciário, e não ao secundário,

como deveria ser para que pudesse ser catalogado como pertencente à indústria

[...]” - compreendida por empresas de transporte, hospedagem, alimentação,

entretenimento e atrativos turísticos. No entanto, o fenômeno turístico, é altamente

abrangente e, segundo IBGE (2006), interage com aproximadamente 50 setores da

economia.

Estas tendências de definição de turismo se fundamentam prioritariamente

sob a égide economicista, visando atender apenas as necessidades

mercadológicas. Elas ignoram os aspectos interdisciplinares desse fenômeno, os

quais Beni (2004); Boullón (2002); Dencker (1998); Moesch (2002), consideram

imprescindíveis à sua compreensão. É importante ressaltar que o turismo é uma

atividade multifacetada que envolve aspectos econômicos, sociais e culturais inter-

relacionados, logo, a conceituação de turismo até aqui apresentada é limitada, na

medida em que se reconhecem apenas suas implicações econômicas ou

empresariais.

Percebe-se assim, a necessidade de incorporar nos estudos em turismo,

teorias e conceitos originários de várias disciplinas: antropologia, geografia,

sociologia, economia, psicologia, administração, entre outras, que possuem

29

interfaces com a atividade turística (DENCKER, 1998) e, que de certa forma

compõem o arcabouço teórico multidisciplinar que fundamenta esses estudos.

Jafar Jafari, citado por Beni (2004), define Turismo de forma holística,

buscando abranger a totalidade essencial desta atividade interdisciplinar. Assim,

para ele, turismo é:

[...] o estudo do homem longe do seu local de residência, da indústria que satisfaz suas necessidades, e dos impactos que ambos, ele e a indústria, geram sobre os ambientes físico, econômico e sociocultural da área receptora (JAFAR JAFARI citado por BENI, 2004, p. 36).

O entendimento da complexidade conceitual e da característica

interdisciplinar do turismo forma, portanto, as bases que fundamentarão seu

processo de planejamento e organização. Para tanto, faz-se necessária uma visão

integral do fenômeno turístico, visão esta proporcionada a partir da concepção de

sistema turístico (BENI, 2004; JIMENÉZ MARTINEZ, 2005; MOLINA, 1991).

Nesse sentido, buscamos desenvolver neste estudo, uma visão integral do

fenômeno turístico, que permite identificar os seus componentes e descrever os

seus elementos dispostos em um sistema, sob relação de interdependência.

Tal como o conceito de turismo, há várias definições para o termo

“planejamento”. As definições refletem diferentes abordagens, a depender da origem

dos planejadores e do destino que se dará a proposta de planificação. Assim, de

maneira simplista planejamento pode ser definido a organização de algo futuro, a

partir de algo a ser decidido no presente (DIAS, 2003). Para Petrocchi (2002),

planejamento é a “definição de um futuro desejado e de todas as providências

necessárias à sua materialização”. Mas, Santos (1988, p. 13) apresenta um conceito

amplo quando afirma que

o processo de planejamento constitui-se na definição de um modelo que compreenda o levantamento de informações relevantes, sua análise e interpretação, no ambiente e realidade instaurados, a formulação de objetivos e o conseqüente avanço em direção ao que se propôs.

30

De acordo com esta definição, originada na sociologia e na geografia, o

planejamento tem as funções de levantar, analisar e interpretar informações para a

formulação e alcance de objetivos. É um conceito de caráter geral e descritivo, que

exprime a noção de planejamento como um processo e ressalta a questão de

continuidade no processo uma vez que menciona a análise da realidade instaurada

como elemento fundamental para a conquista do que se estabelece como objetivos.

Do ponto de vista da administração pública, Rattner, citado por Dias (2003, p.

88), define planejamento como “a técnica de tomada de decisão que dá importância

para escolha de objetivos bem determinados e indica os meios mais apropriados

para atingi-los”. Neste caso, suas principais funções são tomar decisões, eleger

objetivos e indicar meios para atingi-los. É importante ressaltar que, todo

planejamento requer a definição clara de objetivos, conforme assinalam Dias (2003);

Petrocchi (2002); Santos (1988). Esses objetivos, na visão de Ruschmann (2001),

buscam modificar uma realidade presente com intuito de alcançar uma situação

futura prevista no decorrer do processo.

A partir dessas colocações, é possível concluir que o planejamento

propriamente dito, não pode ser fundamentado em empirismos. Cabe aqui

mencionar que o planejamento tem seus princípios, dimensões e níveis próprios que

orientam o processo como um todo. Segundo Barreto (1991, p.15), os principais

princípios que orientam o planejamento são:

o da inerência – o planejamento é indispensável; da universalidade – o planejamento tenta prever todas as variáveis e todas as conseqüências, [...] levando em conta todas as opiniões [...]; da unidade – o planejamento abrange múltiplas facetas que devem ser integradas num conjunto coerente; da previsão – [...]; e da participação – o planejamento requer participação de todos os níveis e setores da administração [...].

No que tange às dimensões do planejamento, Barretto (1991) classifica-as

como: racional; política (ou institucional) que diz respeito às decisões; técnico-

administrativa e, se evidencia no estabelecimento de um sistema de trabalho, com

definição de função e delegação de autoridade; e valorativa sendo a dimensão que

pesa os impactos positivos e negativos que podem decorrer em função do

planejamento.

31

Com relação aos níveis de planejamento, estes dependerão da sua

abordagem e, segundo Ruschmann (2001) são definidos com base em critérios

geográficos, temporais e setoriais. Em nível geográfico, o planejamento poderá ser

local, regional, nacional ou internacional. Com relação ao nível temporal, esse

variará em função do tempo de duração das diretrizes de ação e do período de

espera para que resultados do planejamento ocorram, podendo ser: de curto prazo,

num período que varia de um e dois anos; de médio prazo, contendo diretrizes de

ação entre dois e cinco anos; e, de longo prazo, com diretrizes de ação estruturadas

que serão viabilizadas após cinco anos. Em nível setorial, o planejamento poderá ser

público ou privado.

Além dos objetivos, princípios, dimensões e níveis, existe no planejamento

uma seqüência lógica de ações que compõem o seu processo. Tal seqüência,

segundo Ruschmann (2002), está dividida em quatro etapas, conforme demonstra

quadro 2:

Quadro 2 – Etapas do planejamento do turismo

ETAPA AÇÕES

1 Descrição da situação atual

Levantamento de todas as informações disponíveis sobre oferta (inventário), demanda e comunidade da área de estudo.

2 Elaboração do diagnóstico

Análise e avaliação das informações sobre a área de estudo.

3 Elaboração do prognóstico

Realizar projeções e determinar tendências.

4 Elaboração de diretrizes de ação

Propor medidas para evitar impactos negativos e otimizar benefícios do turismo buscando o desenvolvimento sustentado da atividade.

Fonte: Adaptado de Ruschmann (2002).

Em linhas gerais, a etapa 1, consiste em retratar a realidade de forma

detalhada. Assim, consideram-se três fatores essenciais: inventário da oferta6,

6 A inventariação da oferta turística compreende o levantamento, identificação e registro dos atrativos turísticos, dos serviços e equipamentos turísticos e da infra-estrutura de apoio ao turismo como

32

caracterização da demanda e investigação da comunidade. Na etapa 2, faz-se

necessária a sistematização das informações para se estabelecer o diagnóstico.

Logo, a situação do turismo pode ser avaliada, tendo como base as informações

sobre a oferta, demanda e comunidade. Nesta etapa são relacionados pontos fortes

e fracos, oportunidades e ameaças. Em seguida, fazem-se as projeções e

descrevem-se as tendências, ou seja, a imagem que se deseja do turismo é

projetada, com objetivo de definir o que se almeja alcançar, considerando-se as

possíveis tendências contextualizadas. Finalmente, na etapa 4, são elaboradas

diretrizes que orientarão o desenvolvimento do turismo de forma a evitar possíveis

impactos negativos e a otimizar os benefícios gerados por essa atividade.

No decorrer destas quatro etapas, é necessário que se tenha bem clara a

composição e o funcionamento do fenômeno turístico, a partir de uma visão integral

básica. Nesse sentido, segundo Jimenéz Martinez (2005), para se compreender o

planejamento turístico faz-se necessário identificar e descrever a estrutura e os

processos que caracterizam o turismo, onde as perguntas chave são: quais as

características gerais da estrutura do turismo e quais são seus atores principais?

Quais são os âmbitos de ação no turismo e quais são seus processos operacionais?

Que implicações têm para o estudo das regiões emissoras e receptoras?

A partir das indagações apresentadas por Martinez, tem-se como ponto de

partida para a criação de uma visão integral do fenômeno turístico, a Teoria Geral

dos Sistemas - TGS7, uma importante ferramenta para conceituar fenômenos

complexos, a qual um de seus mais importantes representantes é Ludwig von

Bertalanffy (BENI, 2004; JIMENÉZ MARTINEZ, 2005).

Segundo Beni (2004), o turismo, a partir da teoria geral dos sistemas, deve

ser considerado um sistema aberto, independente, mas não auto-suficiente, que

realiza trocas com o meio que o circunda. A abordagem sistêmica do turismo,

conforme definido na estrutura dos sistemas, permite a caracterização dos

elementos que o compõem, permite estudos multidisciplinares de aspectos

instrumento base de informações para fins de planejamento e gestão da atividade turística (BRASIL, 2006, p. 3).

7 Jimenéz Martinez, 2005, p. 111. A Teoria Geral de Sistemas descreve em nível de construção teórica de modelos situados entre a matemática pura e as teorias específicas de disciplinas especializadas, que requerem um “corpo sistemático de construções teóricas que possa discutir, analisar e explicar as relações gerais do mundo empírico”.

33

particulares do Turismo e possibilita a realização de análises interdisciplinares a

partir de várias perspectivas com ponto de vista em comum.

A partir da teoria geral de sistemas, esse autor construiu o Sistema de turismo

(Sistur), com objetivo de proporcionar o conhecimento da estrutura desta atividade,

permitindo identificar os seus componentes e descrever os seus elementos,

conforme apresentado no Quadro 3:

Quadro 3 - Componentes e elementos do sistema turístico

Estudo do espaço turístico, abrangendo o levantamento de:

• delimitação e descrição física da área receptora; • recursos naturais e culturais e análise do diferencial turístico; • equipamentos receptivos: de alojamento hoteleiro, extra-hoteleiro e complementares de • alimentação e recreação; • infra-estrutura de apoio à atividade turístico-recreativa.

Perfil socioeconômico da área receptora, compreendendo o levantamento de:

• ocupação do território e densidade demográfica; • composição étnica da população e organização social; • indicadores macroeconômicos tais como: renda, investimentos de capital, consumo,

importação e exportação; • indicadores dos setores da atividade econômica, com ênfase no setor terciário.

Estudo da ordenação geopolítica e administrativa da área receptora, compreendendo a necessidade do levantamento de:

• organização institucional legal; • grau de intervenção do estado; • políticas básicas.

Estudo e previsões do comportamento do mercado de turismo na área receptora, compreendendo a análise de clusters e o levantamento de:

• oferta – indicadores de ocupação dos equipamentos receptivos e medidas de ocupação dos espaços de recreação;

• demanda – quantificação e qualificação do tráfego turístico para caracterização e classificação dos fluxos em função da permanência, , solicitações de equipamentos e outras variáveis de consumo, e medidas de intensidade de participação nas várias atividades de recreação e entretenimento.

Diagnóstico do turismo na área receptora, analisando-se seu potencial de influência no processo de desenvolvimento econômico. Para tanto, conhecidos em profundidade os elementos constitutivos das relações do sistema, pode-se partir para a elaboração do prognóstico da situação da área receptora, que necessariamente exigirá eventuais ajustes para atingir o equilíbrio do mercado. Este será alcançado otimizando-se as áreas vocacionadas para o processo de ocupação turístico-recreativa, aumentando o volume de novos investimentos, o nível de emprego e a quantidade de equipamentos, instalações e serviços oferecidos.

Fonte: Adaptado de Beni (2004).

34

A partir do Quadro 3 apresentado, tem-se uma visão integral do fenômeno

turístico, onde os diversos componentes e elementos se integram numa relação de

inter dependência. Logo, neste estudo, esses elementos teóricos poderão nos

permitir uma análise das relações entre turismo, planejamento, patrimônio e

interpretação do patrimônio.

Do ponto de vista estrutural, o planejamento e a gestão estratégica do turismo

tem se mostrado ser um fator determinante do sucesso desta atividade como um

todo. Neste contexto, é fundamentalmente essencial compreender o conceito de

turismo numa perspectiva abrangente, a partir das inter-relações existentes.

Portanto, faz-se necessário compreender a concepção de turismo em suas múltiplas

interfaces, para então poder pensar seu planejamento sob a mesma perspectiva

conceitual, ou seja, a interdisciplinar. Especificamente pode-se definir planejamento

turístico como:

o processo de ordenar ações do homem sobre o território e visando direcionar a construção de equipamentos e facilidades de forma adequada evitando, dessa forma, os efeitos negativos sobre os recursos, que os destroem ou reduzem sua atratividade (RUSCHMANN; WIDMER, 2000, p.12 ; RUSCHMANN, 2001, p. 09).

Ao conceituar planejamento turístico, Ruschmann (2001) realiza uma idéia de

planejamento que se relaciona em primeiro lugar com o espaço turístico (BOULLÓN,

2002), aqui entendido como a alma do turismo, em seguida com o sistema turístico

(BENI, 2004), que seria o corpo dessa engrenagem onde os turistas e demais

viajantes se deslocam no espaço (SANTOS, 1988) habitado, ou seja, o ambiente

onde ocorrem todas estas inter-relações dinâmicas que se propagam em múltiplas

dimensões que caracterizam o fenômeno turístico.

Desta forma, segundo Ruschmann e Widmer (2000); Ruschmann (2001), os

objetivos mais comuns do planejamento turístico são: criar e estabelecer políticas e

processos de implementação de equipamentos e atividades e seus respectivos

prazos; disponibilizar os incentivos necessários ao estímulo da implantação de

equipamentos e serviços turísticos; maximizar os benefícios socioeconômicos e

minimizar os impactos negativos; estruturar e capacitar os diversos serviços

turísticos públicos; regulamentar e fazer-se cumprir os padrões exigidos da iniciativa

35

privada; e, de maneira geral, promover a sustentabilidade e a qualidade dos serviços

prestados pelos diversos elos da cadeia turística.

Comparando com as definições gerais de planejamento e a definição de

planejamento turístico conclui-se que, especificamente no turismo, há uma clara

preocupação com os recursos, que compreendem toda a oferta turística: atrativos de

todos os tipos, equipamentos e infra-estrutura básica e turística. Isto significa que o

planejamento turístico visa ordenar e orientar todas as ações correlatas ao

desenvolvimento turístico de uma localidade ou mesmo, em uma escala menor, um

recurso, com objetivos específicos de evitar o desenvolvimento desordenado do

turismo. Um exemplo disso tem-se a interpretação do patrimônio, uma ferramenta

importante capaz de contribuir muito com o desenvolvimento, em escalas local,

regional e global através do turismo.

3.2 Turismo e interpretação do patrimônio

O caráter patrimonial de objetos e lugares é uma característica dos destinos

turísticos, quase sempre valorizada pelos visitantes ao longo da evolução histórica

do turismo. Atualmente, o patrimônio, em suas diversas manifestações, vem sendo

cada vez mais objeto de interesse da prática turística. Esta vinculação entre turismo

e patrimônio se encontra permeada por diversas vantagens: o turismo é uma

atividade que possibilita o acesso e o conhecimento dos elementos patrimoniais

valorizados; se atribui como uma função de possível protetor do patrimônio; pode

gerar recursos econômicos para a gestão patrimonial; e por último, é percebido

como uma ferramenta útil à revitalização do patrimônio que favoreça a

sustentabilidade.

Nessa perspectiva, antes de discutirmos a relação entre turismo e

interpretação do patrimônio, faz-se necessária uma breve abordagem sobre alguns

conceitos de patrimônio.

A noção de patrimônio tem sido atrelada à idéia de herança paterna, ou bens

de família materiais ou morais (BUENO, 2001). Por outro lado, o termo apresenta

várias acepções e significados que, segundo Norrild (2005), incorpora palavras

como tradição, passado, identidade, cultura e nostalgia. Para Prats, citado por

36

Norrild (2005), o fator determinante que define ao patrimônio é seu caráter simbólico,

sua capacidade de representar uma identidade coletiva.

Devido a esse papel de propagador intertemporal de valores históricos do

passado, o patrimônio é hoje visto como parte da tradição cultural de uma

sociedade, que o torna capaz de representar uma identidade intrínseca a um bem

patrimonial material ou imaterial. Isto significa dizer que, o passado histórico na

memória dos povos passa a compor o conjunto de símbolos que representam uma

determinada cultura e, por isso, são legitimados pela coletividade e pelo sentimento

de identidade e formam o patrimônio das nações.

Segundo Rodrigues (2001), a criação de patrimônios nacionais intensificou-se

no século XIX e, serviu para criar referenciais comuns a todos que habitavam o

mesmo território, unificá-los em torno de interesses voltados de uma pretensão

específica e tradições comuns, o que resultou na imposição de uma língua nacional,

de “costumes nacionais”, de uma história nacional que se sobrepôs memórias

particulares e regionais, passando a construir socialmente uma coleção simbólica

unificadora, que procurava dar base cultural idêntica a todos, embora os grupos

sociais e étnicos presentes em um mesmo território fossem diversos. Essas idéias

são corroboradas por Gonçalves, citado por Bo (2003, p. 27), quando afirma que

“uma nação torna-se o que ela é na medida em que se apropria de seu patrimônio”.

Daí, a importância social e política do patrimônio.

Na metade do século XX, o conceito de patrimônio cultural resumia-se aos

monumentos, às obras de arte e às propriedades de luxo associadas à classe

dominante (BARRETO, 2000). Até então, não se observa a consideração dos bens

patrimoniais de natureza imaterial tais como os saberes e fazeres populares.

De acordo com Bo (2003), o conceito de patrimônio tem evoluído e diversos

estudos têm sido feitos com objetivo de lhe fundamentar e lhe dar significação sob o

ponto de vista transdisciplinar, incorporando conteúdos de dimensões provenientes

da estética, história e sociologia política.

Essa concepção amplia a noção de patrimônio, incluindo bens materiais e

imateriais, de todas as classes sociais e, não apenas da classe dominante

(BARRETO, 2000; CANCLINI, 2000). Para tal, Bomfim (2006) propõe um enfoque

multidisciplinar para o conceito de patrimônio, amparado nas diversas disciplinas das

37

ciências humanas, buscando entendê-lo numa perspectiva que vai dos aspectos

históricos, passando pelos culturais, até os naturais. A partir destas colocações

conclui-se que há a necessidade de buscar, a partir do enfoque multidisciplinar

proposto por Bomfim (2006), um conceito que evidencie o espaço como valor

simbólico, onde outros elementos como a natureza, a técnica, a sabedoria e a

cultura se inter-relacionam, formando aquilo que realmente constitui o patrimônio

cultural e natural de uma localidade.

Assim, no âmbito da Organização das Nações Unidas para a Educação, a

Ciência e a Cultura – UNESCO, a noção de patrimônio vem sendo construída desde

a fundação dessa Instituição, em 1948 que, em textos oficias, define amplamente tal

termo incluindo monumentos históricos, conjuntos arquitetônicos, obras-de-arte,

sítios sagrados, ecossistemas e diversidade biológica, áreas naturais protegidas,

paisagens artificiais, tesouros subaquáticos, objetos arqueológicos e manifestações

culturais de tradições orais e imateriais da cultura popular (BO, 2003).

Essa mesma amplitude e complexidade conceitual é verificada no próprio

termo cultura, definido por Edward Tylor em 1871, citado por Laraia (1999, p. 7),

como sendo “todo complexo que inclui conhecimentos, crenças, arte, moral, leis,

costumes ou qualquer outra capacidade ou hábitos adquiridos pelo homem como

membro de uma sociedade”.

O conceito de cultura se confunde com aquele de patrimônio (LARAIA, 1999),

uma vez que ambos apresentam uma complexidade. De acordo com Santos (1996),

existem duas concepções básicas de cultura: a primeira, que se refere a todos os

elementos que caracterizam as práticas sociais de um povo, nação ou grupo social e

todos os aspectos envolvidos que caracterizam uma realidade social. E a segunda,

diz respeito aos conhecimentos, idéias e crenças, bem como às formas como elas

se configuram na vida social. Cultura é, portanto, “uma dimensão do processo social,

da vida de uma sociedade, uma construção histórica” (SANTOS, 1996, p. 44).

Desta forma, a interpretação não apenas informa, mas possibilita aos

visitantes, melhor conhecimento e apreciação dos sítios visitados, melhorando a

qualidade da experiência dos mesmos, além de contribuir para o prolongamento de

sua permanência no local, e, também servindo de estímulo à realização de novas

visitas. A interpretação se tornou um componente importante e essencial para o

produto turístico, em especial aos produtos que têm como base os recursos e

38

atrativos turísticos culturais e naturais paisagísticos (CARTER, 2001; MURTA;

GOODEY, 2002; WEARING; NAIL, 2001).

A origem do termo “interpretação do patrimônio” está intimamente associada

à história dos parques nacionais americanos. A partir do final do século XIX, as

visitas às áreas naturais protegidas americanas ganharam mais adeptos, ávidos pela

aventura e em busca da aproximação com a natureza, eram guiados por pessoas

experientes, normalmente naturalistas que conheciam os percursos, verdadeiros

“guias” da natureza, que, além de mostrar o melhor trajeto, evitando obstáculos que

pudessem por em risco a caminhada dos visitantes, proporcionavam-lhes uma

maneira diferente de enxergar as “coisas” que encontravam pelo caminho. Esta

forma de olhar, sentir e interpretar a natureza deu origem ao que hoje entendemos

como Interpretação do patrimônio (VASCONCELLOS, 1998; WWF, 2003).

Em 1920, Enos Mills definiu intérprete como “um naturalista capaz de guiar as

pessoas apresentando-lhes os segredos da natureza”. Ele publicou “Aventuras de

um guia da natureza e ensaios em Interpretação”, apresentando uma interpretação

poética dos fatos da natureza, ressaltando a importância da experiência prática e

real para o aprendizado e, a partir da sua experiência profissional como guia,

desenvolveu alguns princípios que serviram de subsídios para a fundamentação

filosófica da efetiva interpretação (BECK; CABLE, 2002).

Segundo Beck e Cable (2002), apesar de Mills ter feito a primeira publicação

sobre interpretação, os créditos pela primeira formulação da filosofia interpretativa

são freqüentemente atribuídos a Tilden (1977), devido à publicação de

“Interpretando nosso patrimônio”, em 1957, considerado um clássico dessa

disciplina, onde esse autor consolida uma nova acepção ao termo interpretação,

àquele que envolve atividade educativa, uso de objetos originais para revelar

significados e inter-relações a partir de experiências práticas e ilustrativas ao invés

de simplesmente transmitir informações factuais. Para esse autor, se as pessoas

apreciarem, elas se esforçarão para conservar ou proteger o lugar, pois a

interpretação não só diz às pessoas o que há de interessante no local, mas objetiva

convencer as pessoas sobre o valor do patrimônio, incentivando-as a conservá-lo.

A partir da análise do surgimento dessa nova acepção ao termo interpretação,

conclui-se que, o ato de interpretar áreas naturais surgiu como uma forma de

estimulação à criação de valores e entendimentos sobre ecologia, como

39

conseqüência da experimentação prática do ambiente, principalmente os parques

nacionais americanos onde os intérpretes desenvolviam tais técnicas.

Sobre o uso do termo “atividade educativa” na definição de Tilden (1977), o

próprio autor desta definição declarou mais tarde, já no final de sua vida, que se

tivesse que realizar nova revisão de seu livro começaria sua definição por: “é uma

atividade recreativa”. A utilização do termo educativa teria causado muitas confusões

que geraram polêmicas durante décadas, pois o conceito de atividade educativa

estaria mais relacionado à estrutura curricular do sistema educacional norte-

americano de meados do século XX, o que não era o caso das atividades de

interpretação, de acordo com a Asociación para La Interpretacion de Patrimônio

(2006).

Além de definir e conceituar o termo e, com intuito de fornecer subsídios que

orientassem o desenvolvimento de atividades interpretativas, Freeman Tilden

estabeleceu os seis princípios filosóficos básicos da interpretação do patrimônio

(Quadro 4), os quais permanecem válidos até hoje, e portanto continuam a orientar

os estudos atuais sobre interpretação (BECK; CABLE, 2002; CARTER, 2001;

MORALES, 2006; MOSCARDO, 1996b; MURTA ; GOODEY, 2002).

40

Quadro 4 - Princípios da Interpretação de Tilden (1977) e seus equivalentes atuais

TILDEN (1977) BECK E CABLE (2002) MURTA E GOODEY (2002)

Qualquer interpretação que, de alguma forma , não relaciona o que está sendo mostrado ou descrito, com algo inerente à personalidade ou experiência do visitante será estéril.

Para gerar interesse, intérpretes devem relacionar o conteúdo de suas mensagens com a vida das pessoas que visitam esses lugares.

Sempre focalizar os sentidos do visitante, de forma a estabelecer a conscientização pessoal sobre determinadas características do ambiente.

A informação como tal, não é interpretação. Interpretação é revelação de significados, valores e inter-relações baseadas em informação. São coisas completamente diferentes, no entanto, toda interpretação inclui informação.

O propósito da interpretação vai além da prestação de informações, para revelar significados mais profundos e a verdade.

Revelar sentidos com base na informação e não apenas informar.

Interpretação é uma arte, formada pela combinação de muitas artes utilizadas para explicar temas científicos, históricos ou arquitetônicos. Assim como toda arte é, de alguma forma, possível de ser ensinada

A apresentação da interpretação - como uma obra de arte – deve ter seu design em forma de estória que informa, entretém, e instrui

Utilizar muitas artes visuais e de animação, seja o material apresentado científico, histórico ou arquitetônico

O objetivo fundamental da interpretação não é a instrução, mas sim a provocação que aviva a curiosidade e o interesse por algo aparentemente insignificante

A finalidade da estória interpretativa é inspirar e provocar as pessoas a alargarem seus horizontes

Não apenas instruir, mas provocar, estimulando a curiosidade do visitante, encorajando a exploração mais aprofundada do que está sendo interpretado

A interpretação deve objetivar apresentar os fenômenos na sua totalidade, tratando o todo em conjunto, e nunca em partes isoladas.

A interpretação deve apresentar um item ou uma abordagem global, e deve ser endereçado ao indivíduo como um todo

Apresentar a história completa, em vez de parte desta; dirigir-se à pessoa inteira.

A interpretação deve ser diferenciada e dirigida a audiências específicas, de acordo com as faixas etárias, interesses e formações

A interpretação para crianças, adolescentes e idosos – quando esses constituírem grupos uniformes - devem seguir fundamentalmente diferentes abordagens.

Ser acessível a um público o mais amplo possível, levando em consideração portadores de necessidades especiais.

Fontes: Elaborado a partir de Tilden (1977); Beck e Cable (2002); Murta e Goodey (2002).

41

O primeiro princípio enfatiza a necessidade da incorporação de valores

identitários que visem compatibilizar o que está sendo mostrado, com algo que seja

comum ao visitante, para que possa proporcionar a criação de novos valores a partir

da “comunhão” de valores. Segundo Carter (2001), “fazer relacionar” com algo

próprio do visitante faz parte dos princípios da comunicação.

O segundo princípio estabelece que a interpretação esteja mais relacionada à

revelação, que por sua vez provoca a compreensão de algo, e não exatamente no

conhecimento aprofundado de algo. Na visão de Carter (2001), a idéia e o conceito

de “revelar algo”, são as bases que diferenciam a interpretação de outras formas de

comunicação. “A essência da boa interpretação reside no fato de que ela revela uma

nova inspiração sobre o valor de um local, fornecendo aos visitantes um novo

entendimento” (p. 06). Para que ocorra a revelação de um significado ou valor

cultural identitário por meio das técnicas de interpretação, faz-se necessária a

“transformação” de informações em algo provocante, conforme verificaremos no 4º

princípio.

O terceiro princípio estabelece que a interpretação é uma arte que informa,

entretém e instrui. Porém a instrução por si só não é garantia de significação.

O quarto princípio, busca enfatizar a necessidade de realizar uma provocação

sobre o que seja o valor de algum aspecto cultural ou natural de determinada

sociedade. Para Carter (2001), “provocar” tem haver com fazer as pessoas

prestarem atenção de antemão, e significa também incitar uma reflexão. Também

para esse autor, essas idéias e o conceito de “revelar algo” formam as bases da

interpretação, onde “a informação só fornece fatos, mas a interpretação provoca

idéias” (CARTER, 2001, p. 6).

No quinto princípio observa-se, o caráter holístico da interpretação, onde os

fenômenos devem ser apresentados em sua totalidade e nunca fragmentados.

E por último, no sexto princípio o autor afirma que a interpretação para

crianças não pode ser a diluição da apresentação para adultos e deve ter uma

abordagem fundamentalmente diferente.

Outras definições surgiram para o termo interpretação do patrimônio,

elencamos aqui, apenas aquelas definições que, particularmente consideramos

pertinentes ao nosso estudo.

42

Para Don Aldridge, citados pelo Projeto Doces Matas; Grupo temático de

interpretação ambiental (2002, p. 14), “a interpretação é a arte de explicar o lugar do

homem em seu meio, com a finalidade de incrementar a consciência do visitante

acerca da importância desta interação, e despertar nele um desejo de contribuir para

a conservação do ambiente”. Morales (2002), afirma que Aldridge é considerado o

pioneiro da interpretação no Reino Unido e no resto da Europa. Observa-se nesta

definição o caráter conservacionista e ecológico desta importante atividade.

Inspirada na definição de Don Aldridge, a Countryside Commission da

Inglaterra define interpretação como “o processo de desenvolver o interesse, o

aproveitamento e a compreensão de uma área por parte do visitante, mediante a

explicação das suas características e suas inter-relações” (MORALES, 2006, p.09).

Esta definição, ao mencionar o termo “área” como objeto de interpretação, deixa

claro tratar-se de qualquer ambiente, seja ele urbano, rural, natural ou artificial,

desde que seja algo interessante de ser aproveitado e compreendido. Tal como a

definição de Tilden (1977), essa enfatiza o objetivo geral da interpretação, ou seja,

esclarecer, revelar ou explicar um significado, considerando suas inter-relações.

Para a Associação Espanhola para Interpretação do Patrimônio, AIP, “a

interpretação do patrimônio é a arte de revelar in situ o significado do legado natural,

cultural ou histórico, ao público que visita esses lugares em seu tempo livre

(MORALES, 1998, p.04, tradução nossa). Nesta definição, observa-se o caráter

recreativo da atividade, e esclarece a possibilidade de aplicação a qualquer sítio de

relevância histórica, cultural ou natural.

Numa perspectiva cultural, Murta e Goodey (2002, p. 13) afirmam que

“Interpretar é um ato de comunicação, uma arte de comunicar mensagens e

emoções a partir de um texto, de uma partitura musical, de uma obra de arte, de um

ambiente ou de uma expressão cultural” e, com intuito de colaborar com a

construção da filosofia interpretativa, sugerem a incorporação de outros quatro

princípios àqueles sugeridos por Tilden:

1.iniciar a interpretação em parceria com a comunidade, estimulando a troca de conhecimentos e recursos. 2. adotar uma abordagem abrangente, ligando os temas ao passado, do presente e do futuro, ligando os temas ao passado, do presente e do futuro, realçando a dimensão socioeconômica, ao lado das dimensões histórica, ecológica e arquitetônica; 3. Não tentar vender uma verdade universal, mas destacar a diversidade e a pluralidade

43

culturais. Sua interpretação deve fomentar a aceitação e a tolerância como valores democráticos; 4. Levar sempre em consideração o atendimento ao cliente, indicando ou promovendo instalações básicas, como sanitários, segurança, pontos de descanso e estacionamento, elementos essenciais a uma experiência prazerosa do lugar (MURTA ; GOODEY, 2002, p. 18, grifo nosso).

Nos novos princípios apresentados, é implícita a necessidade de participação

das comunidades, tanto durante a elaboração do plano interpretativo, como na

execução do mesmo. No que se refere à abordagem abrangente, esta deve estar

associada aos aspectos históricos e culturais mais relevantes para a sociedade na

qual se insere. É importante incentivar a compreensão das diversidades, através do

espírito de tolerância como valor democrático acima de qualquer necessidade de

imposição cultural que constituem no grande desafio de nosso tempo. A

necessidade de orientar-se pelo atendimento ao cliente, facilitando-lhe serviços

essenciais a uma experiência de qualidade é uma exigência própria da atual

economia globalizada, onde a qualidade torna-se um fator imprescindível à

competitividade. Assim, os serviços turísticos como um todo, se tornaram altamente

competidores entre si.

Com o mesmo intuito, ou seja, o de contribuir para uma evolução filosófica da

interpretação, Beck e Cable (2002) construíram um quadro contendo quinze

princípios da interpretação do patrimônio natural e cultural. Em sua obra, os autores

reafirmam e reformulam os seis princípios da interpretação do patrimônio elaborados

por Tilden (1977), conforme já apresentamos no Quadro 4, incorporando outros nove

princípios. Estes nove princípios complementares a Tilden são os seguintes: 1) Cada

local tem a sua própria história. Intérpretes podem reviver o passado para tornar o

presente mais agradável e conferir mais importância ao futuro; 2) Tecnologia pode

revelar o mundo em novas e excitantes maneiras. Contudo, a adoção destas

tecnologias nos programas de interpretação deve ser feita com cuidado e prudência.

3) Aqueles que se dedicam à interpretação devem garantir a quantidade e a

qualidade da informação a apresentar (em termos de seleção e precisão). Bem

sintetizado e com base em pareceres de investigação, a interpretação vai ter mais

poder do que um grande discurso. 4) Antes de aplicar as artes à interpretação, os

profissionais da interpretação devem estar familiarizados com técnicas básicas de

comunicação. Uma interpretação da qualidade baseia-se na habilidade e

44

conhecimento de quem está a executá-la, e deve ser continuamente desenvolvida

ao longo do tempo. 5) Os textos interpretativos devem transmitir aquilo que os

leitores gostariam de saber, com a autoridade do conhecimento e da humildade e

responsabilidade que isso implica. 6) Um programa de interpretação deve ser capaz

de construir apoio político, financeiro, administrativo, voluntários , e de conseguir

qualquer assistência necessária para o programa ter sucesso. 7) A interpretação

deve reforçar as capacidades das pessoas e inculcar um desejo de sentir a beleza

das suas imediações, a elevar o espírito e incentivar a conservação do que é

interpretado. 8) Os intérpretes podem promover a otimização interpretativa através

de programas e serviços bem concebidos intencionalmente. 9) A paixão é o

ingrediente indispensável para uma poderosa e eficaz interpretação; paixão pela

característica que é interpretada e por aqueles que vêm a ele para inspirar-se

(BECK; CABLE, 2002, p. 8, tradução nossa).

Dessa forma, complementando aqueles princípios formulados por Tilden

(1977), tanto Beck e Cable (2002) como Murta e Goodey (2002) fornecem subsídios

para uma filosofia interpretativa melhor elaborada e mais aprofundada.

Assim, neste estudo entendemos a interpretação do patrimônio como uma

atividade de aprendizado que ocorre através da comunicação de significados sociais

e culturais por meio da recreação que promove a educação. Esse aprendizado

ocorre por meio do uso de técnicas específicas, baseadas em experiências práticas

e ilustrativas em sítios de relevância histórica e cultural. Esses sítios consistem em

todos os tipos de museus e áreas naturais protegidas, ou mesmo lugares do

cotidiano onde ocorra a experimentação do patrimônio imaterial de uma cultura,

proporcionada por profissionais experientes no assunto.

Nesse contexto, o conceito de interpretação do patrimônio ganhou espaço

dentro do planejamento sustentável da atividade turística, construindo estreitos laços

com a educação e com a conservação do patrimônio histórico-cultural e natural, e

vem ganhando a atenção de educadores e profissionais ligados às atividades

turísticas. Embora tenham surgido a partir de experiências do homem no meio

natural, as técnicas de interpretação são perfeitamente adaptáveis tanto em

ambientes naturais como em sítios históricos e culturais. Sobre a evolução e difusão

do conceito de interpretação, Fontes (2003) afirma que devido ao sucesso, o

planejamento de atividades interpretativas se disseminou pelo mundo todo e

45

continua a se desenvolver ultrapassando os limites das áreas naturais protegidas,

superando a dicotomia homem versus natureza.

Entendido o significado do conceito de interpretação do patrimônio, pensemos

a sistematização desta atividade, no âmbito do seu planejamento.

46

4 PLANEJAMENTO E PLANO INTERPRETATIVO

De modo geral, em um planejamento interpretativo deve existir um plano

interpretativo, que segundo Carter (2001, p. 09) “é uma declaração objetivamente

escrita, que serve de referência para orientar as ações pretendidas”. Para esse autor

o processo de planejamento interpretativo envolve reflexões que giram em torno dos

seguintes questionamentos: O que se pretende comunicar aos visitantes? Quem são

os visitantes? Qual a imagem do lugar e o que o mesmo tem a oferecer? O que mais

acontece no entorno? O que se quer dizer sobre o local? Como e onde será dito?

Estas questões serão respondidas durante a discussão com outros autores.

Para Goodey citado por Murta e Goodey (2002, p. 20), tal plano, ao incorporar

os anseios dos mais variados grupos que representam uma comunidade, “visa

estabelecer no espaço uma rede de descobertas e de desfrute para residentes,

visitantes e turistas” que ampliam as possibilidades de desenvolvimento de projetos

turísticos e culturais.

Para se conseguir a qualidade, efetividade e excelência interpretativas e,

principalmente, antes de qualquer intervenção, faz-se necessário encetar o

planejamento interpretativo, aqui entendido como um processo multidisciplinar onde

podem atuar profissionais de diversas áreas afins tais como arquitetura, história,

sociologia, biologia, e principalmente artistas diversos (MORALES, 1998). Neste

processo, o principal fator de sucesso é o engajamento e participação da maioria

dos representantes da comunidade local, possuidora dos recursos interpretativos

(CARTER, 2001; GOODEY, 2002; MURTA; GOODEY, 2002).

47

A relevância do papel da comunidade local no processo de planejamento

interpretativo justifica-se pelo fato de que esta é a possuidora e a conhecedora dos

objetos a serem interpretados, ou seja, o patrimônio.

Para entendermos o papel da comunidade no planejamento interpretativo é

importante indagar-se sobre que mensagem deve ser comunicada? E, quem serão

seus intérpretes? Segundo Goodey (2002), as respostas para estas questões

consistem em entender que o processo deste planejamento deve ser

eminentemente participativo, pois, segundo esse autor:

a interpretação vem sendo cada vez mais reconhecida como um processo que se baseia na comunidade. Há uma lógica evidente nisto. Quem tem o conhecimento mais enraizado, profundo e rico sobre o lugar ? São aquelas pessoas que lá cresceram, ou aquelas que lá se estabeleceram como moradores e/ou profissionais. [...][portanto] a interpretação é um processo que deve se basear nos conhecimentos e valores da comunidade, sendo uma atividade cultural básica que envolve a disseminação de seus conhecimentos, valores, pesquisa, design, localmente específicos (GOODEY, 2002, p. 47).

Sobre a importância do envolvimento comunitário no processo de

planejamento interpretativo Carter (2001) afirma haver dois princípios vitais nos

trabalhos comunitários: convidar o maior número de grupos ou indivíduos a participar

e certificar-se de que as pessoas perceberam a importância do seu papel para o

sucesso da interpretação, pois “[...] se o envolvimento da comunidade local for

apenas um gesto vazio, serão gerados ressentimento e apatia [...]” (p.17, tradução

nossa).

Ao enfatizar que a participação de todos os grupos comunitários é essencial,

Carter (2001, p.17) complementa afirmando que:

Todas as entidades públicas e privadas interessadas na interpretação têm de fazer parte do processo de planejamento interpretativo. Se qualquer uma das partes ignora ou não se envolve surgirão problemas futuros. Envolver o máximo possível dos atores chave é imprescindível. Para isso, faz-se necessário convencer as pessoas sobre os benefícios e vantagens do exercício de planejamento. Ainda assim, apesar dos esforços, haverá situações em que grupos ou indivíduos que aparentemente deveriam estar envolvidos, se omitirão. Faz parte da natureza de qualquer comunidade. Isto geralmente não tem relação com o plano, ou com o processo em si, mas com o passado ou outras agendas (tradução nossa).

48

A atual política nacional de turismo8 tem como diretriz básica a

descentralização do planejamento turístico no país e incentiva o planejamento com

base local, numa perspectiva mais sustentável. Portanto, há necessidade de se

pensar no engajamento da comunidade no processo de planejamento da

interpretação para o turismo, uma vez que a comunidade deverá estabelecer

claramente o que quer exatamente que seja interpretado e como e quem realizará a

gestão de tudo. Para Goodey (2002, p. 48) “com o passar do tempo, temos nos

tornado cada vez mais conscientes de que um planejamento com base local é um

dos fundamentos de um futuro sustentável”.

Ainda sobre a participação comunitária no processo de planejamento da

interpretação, Goodey (2002, p. 53) completa concluindo que, “em resumo, aquilo

que a comunidade valoriza para si própria e, o que ela deseja preservar é,

possivelmente o que ela vai querer compartilhar com os outros”, e para isso, terá

que desenvolver um plano interpretativo.

Lembramos que, a definição geral de planejamento apresentada por Santos

(1988) , compreende o levantamento, a análise e a interpretação de informações

relevantes. Na definição de planejamento interpretativo sugerida por Morales (2006),

essas ações gerais de planejamento, especificamente no planejamento interpretativo

consistem em analisar diversas necessidades e oportunidades interpretativas. Ele

acrescenta que a interpretação como disciplina oferece as técnicas necessárias para

aproximar o patrimônio ao público visitante, e para sua aplicação é preciso realizar

um processo de planejamento, de forma que a oferta de serviços interpretativos seja

ordenada e racional. Isto nos conduzirá à previsão de intra-estruturas e meios de

comunicação in situ que transmitam a mensagem do lugar ao visitante, de forma

organizada e coerente. Esse mesmo autor sugere que a ênfase seja dada

aos visitantes, no caso de demandas excessiva ou de públicos ávidos por conhecimentos (em entornos naturais ou monumentais); no recurso, no caso de sítios com um valor superlativo ou muito singular (e por isso merecedores de serem interpretados ao visitante), ou no desenvolvimento local, como pode ser o caso de localidades com necessidades de potencializar seus recursos patrimoniais ou ordená-los a partir de uma nova perspectiva. Também podemos considerar que o fundamento do planejamento interpretativo é dado por vários de estes aspectos, ou todos ao mesmo tempo (MORALES, 2006, p.19, grifo nosso; tradução nossa)

8 O documento que estabelece e descreve a atual Política Nacional de Turismo é o Plano Nacional de Turismo - PNT

49

Já, na visão de Murta e Goodey (2002, p. 20), estas ações correspondem à

primeira etapa da elaboração de um plano interpretativo, na qual, segundo tais

autores, deve ser realizado um “Inventário e registro de recursos, temas e

mercados”. Ao passo em que, na concepção de planejamento turístico de

Ruschmann (2001), estas ações correspondem à investigação da situação atual, a

qual baseia-se nos aspectos da oferta e demanda turísticas e da comunidade.

Em síntese, planejamento, planejamento turístico e interpretativo permitem

analisar e tomar decisões, porém, este último tem como objetivo específico favorecer

a interpretação do patrimônio visitado, ou seja permitir que o público visitante

perceba o significado do local, ou daquilo que esteja sendo apresentado,

apreciando-o e desfrutando-o.

4.1 A importância do plano interpretativo no planejamento

Para entendermos a importância do plano interpretativo no planejamento, faz-

se necessário apresentar a sua definição, bem como os elementos que o

caracterizam, tais como classificação; níveis de inserção e abrangência; integração

dos objetivos interpretativos e turísticos; temas e tópicos interpretativos; estratégias,

meios e técnicas interpretativas; métodos de avaliação da interpretação e

finalizando, integração do plano interpretativo ao planejamento e outras iniciativas.

O plano interpretativo é uma referência para a implementação dos serviços interpretativos. Porém não deve ser contemplado como um documento estático, e deve estar submetido a permanente revisão e atualização. Portanto, as decisões sobre gestão e operação serão definidas permanentemente à luz das avaliações contínuas do cumprimento dos objetivos e o funcionamento dos serviços executados segundo o plano (MORALES, 2006, p. 12, grifo nosso; tradução nossa).

A Figura 3 apresenta um diagrama que mostra como as questões que

envolvem planejamento interpretativo se conectam, numa relação de funcionamento

de uma engrenagem sistêmica, onde “se pode iniciar o processo em qualquer um

dos pontos, contanto que se tenha certeza que as decisões tomadas em uma caixa

estão consistentes com as outras questões abordadas nas outras caixas de texto”

(CARTER, 2001, p.10).

50

Figura 3 - Como as questões se conectam no planejamento interpretativo.

Fonte: Carter (2001, p. 10, tradução nossa).

O que você interpretará ? Você precisará pensar em: a) Características que os visitantes podem ver; b) História peculiar que seu local tem a dizer; c) Locais que você precisa controlar o acesso; d) O que já está sendo interpretado em noutros lugares; e) Os temas que você usará.

A quem se destina? Você precisará pensar no seu

visitante, com relação a:

a) Características; b) Números; c) Interesses e expectativas; d) Tempo de estada.

Porque você está fazendo isso ? Seus objetivos devem ter a ver com:

a) aumentar o entendimento; b) gerenciamento de visitantes; c) gerenciamento de um local.

Como você o fará?

a) Escolha do tipo de mídia; b) Localização e escolha dos momentos de inserção das mídias; c) Alocação de diferentes temas em diferentes lugares; d) Objetivos interpretativos; e) Estilo.

Como você o gerenciará?

� Equipe; � Know How; � Manutenção;

Monitorando e avaliando

� Está funcionando ? � Está correto seu direcionamento ? � Como você pode melhorá-lo?

d) Materiais; e) Imóveis; f) Dinheiro.

51

Em síntese, não existe uma forma estanque de estrutura e funcionamento de

um plano interpretativo, estando este condicionado ao contexto ao qual está

inserido, conforme as questões contidas no diagrama da Figura 3, acima. Segundo

Carter (2001) o plano interpretativo, se classifica em dois tipos: plano interpretativo

estratégico e detalhado. Ao discorrer sobre esta classificação, ele explica que a

estrutura dos planos interpretativos varia basicamente em função dos objetivos, do

grau de detalhamento - podendo ser a produção de uma “declaração estratégica de

interpretação (plano estratégico)” ou um “plano interpretativo detalhado”, que

orientarão o trabalho prático - e da área de abrangência dos mesmos, cobrindo um

local específico ou uma área mais ampla (Quadro 5).

52

Quadro 5 – Classificação dos planos interpretativos

PRINCIPAIS DIRECIONAMENTOS

PLANO INTERPRETATIVO ESTRATÉGICO

PLANO INTERPRETATIVO DETALHADO

a) guiar e coordenar esforços de todos aqueles que desejam contribuir;

b) assegurar cobertura abrangente de uma área extensa;

c) estabelecer orientações para o planejamento detalhado;

d) evitar trabalho dobrado;

e) estimular a formação de redes;

f) servir como um revestimento estratégico e não com foco detalhado.

a) fornecer objetivos e metas claramente descritas;

b) especificar temas, conteúdos, métodos e mídias interpretativas precisas (estratégias interpretativas);

c) estimar todos os recursos financeiros, investimentos, custos, receitas, bem como as fontes mantenedoras;

d) estabelecer cronograma de ações em ordem de prioridades definidas;

e) determinar responsabilidades para implementação, gerenciamento e colaboração;

f) decidir métodos de avaliação dos recursos.

PRINCIPAIS ELEMENTOS

a) missão;

b) objetivos;

c) proposta de mecanismos;

d) orçamentos e provisões sobre os recursos;

e) prioridades e prazos;

f) know how para gestão e desenvolvimento.

a) missão;

b) objetivos;

c) público alvo;

d) recursos interpretativos;

e) objetivos interpretativos e temas;

f) métodos interpretativos;

g) atores envolvidos;

h) estrutura organizacional com definição de responsabilidades;

i) custos fixos e variáveis.

Fonte: Elaborada a partir de Carter (2001).

53

Os planos estratégicos dispõem claramente os direcionamentos e os

objetivos, porém são limitados em detalhes específicos. Através destes tipos de

plano realiza-se a angariação de fundos de parceria, a organização do orçamento,

das prioridades e prazos gerais, na medida em que se descreve as

responsabilidades da sua gestão. Isto demanda visão clara e evita muitos

imprevistos. Na realidade, os planos estratégicos “são declarações de intenções

capazes de ganhar apoio para o direcionamento de uma ação. Não são programas

de trabalho com custos detalhados.

Já os planos detalhados, estes sim são utilizados para se estabelecer

programas de trabalho voltados para esquemas ou sítios interpretativos menos

extensos, com custos detalhados. São aplicáveis em locais únicos ou em projetos

individuais inseridos em um plano estratégico. Esses tipos de planos, para que

possam ser postos em prática, devem fornecer informações suficientes sobre a

proposta geral da interpretação que se pretende realizar no local. Considerando

essas variáveis, o autor considera fundamentalmente importante decidir se o plano

terá um ou dois níveis de ação. Considerando os níveis de inserção e abrangência

e os tipos de planos interpretativos possíveis, o Quadro 6 oferece uma visão em

escala espacial que varia de sítios específicos, cidades, local e região, a fim de

possibilitar uma adequação do pano ao espaço em que se insere.

Quadro 6 – Relação entre níveis de inserção e abrangência com os planos interpretativos

NÍVEIS DE INSERÇÃO E ABRANGÊNCIA E OS TIPOS PLANOS INTERPRETATIVOS

Plano regional: mais propenso a ser estratégico. Tem como subsídio uma região reconhecida pelos visitantes e pela comunidade. Conceito de região geográfica funciona melhor que a jurisdição administrativa, porém estas podem coincidir;

Plano local: trata-se de uma área facilmente identificada por visitantes e residentes, na qual se usa planejamento (plano) detalhado. Uma comunidade ou uma área que inclua vários povoados;

Plano de sítio específico: será um documento detalhado para um atrativo ou sítio já consolidado ou um novo;

Plano de cidades: poderia ser estratégico, com planos detalhados para os distritos.

Fonte: Adaptada de CARTER (2001, p.12-13).

54

Para cada tipo de plano adequado ao nível espacial, faz-se necessário a

integração do plano interpretativo com outras iniciativas, integrando objetivos

interpretativos com objetivos turísticos. Conforme orienta Carter (2001, p. 15) “a

interpretação é um meio para um fim, que pode contribuir para a gestão da visitação,

conservação, economia local, educação, auto-estima da comunidade”. Na medida do

possível, portanto, um plano interpretativo deve integrar-se com outras iniciativas

para atingir sucesso. O Quadro 7 fornece uma visão da integração do planejamento

interpretativo e da interpretação em si com outras iniciativas.

Quadro 7 – Integração do planejamento interpretativo e interpretação com outras iniciativas e suas contribuições

Orientações para integração do planejamento interpretativo e interpretação com outras iniciativas

• Compartilhar objetivos, mercados, temas e mecanismos com o plano de marketing de um sítio, área ou região, para enfatizar a consistência da mensagem;

• Ser uma parte integral do desenvolvimento estratégico do turismo e iniciativas de promoção;

• Estar associado ao planejamento e desenvolvimento de sítios patrimoniais;

Contribuições:

• Atividades curriculares nas escolas, e ampliar a educação para todos estágios da vida; • Desenvolver amplamente a recreação e as artes localmente ou mais amplamente; • Desenvolvimento econômico através do fomento ao turismo, mais empregos, melhor

qualidade ambiental; • Planejamento estratégico das políticas locais, ampliando as percepções e introduzindo

uma aproximação temática;

Fonte: Adaptada de Carter (2001, p. 15-16).

Segundo Carter (2001), para uma integração dos objetivos interpretativos a

outras iniciativas, é imprescindível, tanto ao planejamento interpretativo como à

interpretação, serem partes integrantes do planejamento turístico de uma localidade.

Isto significa que objetivos do planejamento estratégico, tanto de um como do outro,

devem convergir para um objetivo maior, comum a ambos.

Conforme já salientado, ao conceituarmos planejamento e planejamento

turístico é fundamental para o bom planejamento, a definição clara de objetivos,

conforme assinalam Dias (2003), Petrocchi (2002), Santos (1988).

Conseqüentemente e inevitavelmente, em planejamento interpretativo isto se aplica

55

tal como no turismo e no planejamento em geral, conforme vimos também na visão

conceitual e definição de Santos (1988), sobre planejamento.

Em se tratando do tema interpretação do patrimônio, os objetivos podem ser

da interpretação propriamente dita, ou do planejamento interpretativo que se

pretende realizar em uma área. Segundo Carter (2001), os objetivos da interpretação

devem ser: provocar, relacionar e revelar algo, por meio da comunicação

interpretativa. Ao passo em que, os objetivos do planejamento interpretativos variam

em função de uma série de variáveis (Figura 3), que incidirão sobre as

características do plano que se pretende construir, dando-lhe um aspecto peculiar a

partir da definição de objetivos específicos que devem estar de acordo às

potencialidades e necessidades daquilo que se tem para desenvolver em termos

interpretativos, analisadas todas as questões que se conectam (Figura 3).

Para Carter (2001), é essencial que as pessoas envolvidas entendam estes

objetivos da melhor maneira possível, para que todos concordem com os objetivos

propostos.

Segundo Morales (2002), do ponto de vista hierárquico, há vários níveis de

objetivos, sendo que na interpretação, tais objetivos comumente são (Quadro 8):

Quadro 8 – Objetivos normalmente elaborados em interpretação do patrimônio

OBJETIVOS NORMALMENTE ELABORADOS PARA INTERPRETAÇÃO DO PATRIMÔNIO

a) Gerais: políticas de gestão ou metas (por exemplo, “contribuir para uma ótima utilização do espaço no jardim botânico”);

b) Secundários: identificam ou conduzem a temas e conceitos (por exemplo, “mostrar os aspectos mais significativos dos cursos de água no parque nacional”);

c) Específicos: ou seja, o efeito que queremos produzir no público. Estes são os que mais devemos nos interessar (“que os visitantes atravessem a ponte em silêncio”, por exemplo).

Fonte: Adaptada de Morales (2002, p. 97).

56

A elaboração de temas interpretativos é um procedimento que vai de encontro

aos objetivos propostos. Para Ham (1992) o tema interpretativo é uma mensagem

que está relacionada a uma idéia geral sobre a qual se deseja discorrer, o tópico

interpretativo. Sendo que o mesmo tópico pode estar relacionado a diferentes temas.

Os tópicos referem-se ao objeto que está sendo apresentado, por exemplo:

cultura indígena, música popular brasileira, história do Brasil, elementos da fauna, a

floresta, sucessão natural, recursos hídricos, biodiversidade. Como se observa, o

tópico é mais abrangente que o tema interpretativo. Pode-se afirmar que o tópico

trata do “assunto” que vamos apresentar. Segundo o mesmo autor, o problema da

Interpretação é quando ela fica restrita apenas ao tópico. Logo, os temas devem ser

elaborados em formas de frases completas. O Quadro 9 fornece idéias que podem

orientar a elaboração de temas interpretativos.

Quadro 9 – Orientação para elaboração de temas interpretativos

a) Ser estabelecidos com uma frase completa;

b) Conter uma idéia principal;

• Revelar o significado da interpretação;

• Ser o mais interessante possível;

• Ser o mais específico possível;

Fonte: Adaptada de Carter (2001).

O Quadro 10 fornece exemplos práticos que podem ser úteis para se

compreender a relação entre tópicos e temas.

57

Quadro 10 - Relação entre tópicos e temas interpretativos

EXEMPLO DE TÓPICO

EXEMPLOS DE TEMAS QUE PODEM ESTAR RELACIONADOS

CULTURAS INDÍGENAS

• Os indígenas perderam muito de suas culturas desde a descoberta das

Américas; • Houve muitos conflitos entre índios e portugueses; • Diferentemente do homem branco, os indígenas se consideram parte da

natureza; • Os indígenas detêm muitos conhecimentos sobre plantas medicinais; • No Brasil, há muitos conflitos territoriais que envolvem indígenas no

interior das UCs; • Normalmente os indígenas não se utilizam da tortura para educar seus

filhos (não dão palmadas nas crianças).

BIODIVERSIDADE

• A Mata Atlântica apresenta os mais elevados índices de variabilidade

genética do planeta; • A variabilidade cultural também pode ser considerada parte da

biodiversidade; • Muitas espécies de fauna e flora serão extintas, antes de serem

conhecidas pela ciência; • Na flora da Mata Atlântica pode haver a cura para muitas doenças; • No extremo sul da Bahia existem espécies de fauna e flora que não

ocorrem em nenhum outro lugar do planeta; • Os corais vivem em ambientes marinhos que concentram os mais

elevados índices de biodiversidade do planeta.

Fonte: Elaborado pelo autor, 2008.

58

Uma vez estabelecido um tema, faz-se necessário pontuar as principais

informações que derivarão do tema. Estas informações são organizadas em uma

seqüência lógica de apresentação. Carter (2001) adverte que é importante evitar a

sobrecarga de temas e informações, ao se escolher os pontos interpretativos. Para

este autor, os temas expressam o que se quer dizer do lugar, portanto devem estar

conectados a fatos que sejam considerados especiais para a região.

As estratégias, meios e técnicas interpretativas, como elementos do plano

Interpretativo, são necessários para uma boa comunicação (CARTER, 2001. Na

visão de Morales (2006), entender a interpretação do patrimônio cultural ou natural

como um conjunto de técnicas de comunicação, é uma condição inicial.

Lembramos que a interpretação é um processo comunicativo (TILDEN, 1977),

e como tal, podemos recorrer ao modelo técnico da comunicação, apresentado no

diagrama da Figura 4, para definir o design de sua aplicação no planejamento:

MEIO

EMISSOR MENSAGEM RECEPTOR

RESPOSTA

Figura 4 – Modelo teórico de comunicação.

Fonte: Morales (2006, p.03, tradução nossa).

Como emissor temos, por exemplo, as instituições através de um planejador,

com seus propósitos interpretativos, estes escolhem e codificam uma mensagem,

por exemplo “neste território habitaram neandertais e ainda verifica-se seus

vestígios”. Esta mensagem será transmitida por algum meio como por exemplo

algum recurso interpretativo, a exemplo dos painéis, placas e letreiros

interpretativos, inventariados na primeira etapa do plano interpretativo conforme

ensinam Murta e Goodey (2002), ou recursos tecnológicos tais como vídeos,

hologramas, informações geográficas, exibições interativas computadorizadas, de

59

acordo com Beck e Cable (2002). Na outra extremidade está o receptor, este pode

ser um residente local ou um turista que capta e decodifica a mensagem, e estará

apto a emitir uma resposta ao emissor. Este último terá que estar apto a captar

comentários e atitudes a respeito. Associando-se o modelo teórico da comunicação

à interpretação têm-se os princípios ativos da comunicação interpretativa (QUADRO

11), que podem ser atingidos através da implementação de estratégias.

Quadro 11 – Princípios ativos da comunicação interpretativa

a) Obter a atenção do visitante;

b) Transformar a mensagem em algo apreciável ao visitante;

c) Transformar a interpretação em algo relevante para sua audiência;

d) Construir uma estrutura mental no visitante.

Fonte: Carter (2001, p. 39, tradução nossa).

As estratégias interpretativas a serem adotadas dependem das características

culturais e ambientais do lugar, dos recursos humanos e financeiros disponíveis e do

perfil do público alvo que ser quer atingir. Para estes autores, como estratégias

interpretativas têm-se: trilhas interpretativas sinalizadas, urbanas e rurais,

capacitação de intérpretes e mão-de-obra de obra especializada, centro de visitantes

e informações impressas e apresentações culturais, onde o papel de mediadores da

valorização do patrimônio pelos visitante deverá ser exercido, pessoalmente pelos

profissionais intérpretes, ou impessoalmente pelos diferentes meios de

interpretação (MURTA; GOODEY, 2002).

No plano interpretativo, as estratégias interpretativas, sugerem pressupostos

estratégicos que orientem para uma boa comunicação (CARTER, 2001). Este autor

esclarece, dizendo que as “regras do jogo (interpretativo)” são: ser seletivo e conciso

com relação ao material interpretativo e aos temas, logo os textos devem ser

reduzidos, mas sem perder a sua clareza para receptor da mensagem. Uma vez

que crianças locais lerão uma publicação diferentemente de turistas e adultos, pois o

material estará no mesmo local para todos os tipos de visitantes; usar linguagem do

60

cotidiano, que seja inteligível para todos os níveis de desenvolvimento humano

(crianças, jovens, adultos e idosos), evitando assim gírias regionais; usar também

histórias e citações de pessoas célebres para dar vida e reiterar o sentido e a

característica cultural de um local; usar ainda, metáforas relacionadas às

experiências cotidianas; buscar um estilo próprio que envolva todos aspectos do

projeto, como cores, materiais e demais características; estabelecer roteiros,

orientações de direção, instruções e avisos de forma clara e convidativa; e,

finalmente testar as idéias sobre as temáticas interpretativas com freqüência,

utilizando para isso, de maquetes ou seus folhetos e de painéis a fim de verificar se

estão funcionando.

Os meios e as técnicas de interpretação se dividem basicamente em

interpretação guiada por pessoas e interpretação produzida por informações em

painéis, folders, mapas ilustrados, placas e letreiros (MURTA; GOODEY, 2002).

Tudo deve ser planejado adequadamente conforme o plano interpretativo. Dentre os

meios animados de exibição, destacam-se o uso do som, da luz e imagem

relacionadas ou não com a apresentação guiada por pessoas. Segundo Beck e

Cable (2002), uma série de recursos tecnológicos tais como vídeos, hologramas,

informações geográficas, exibições interativas computadorizadas entre outros,

funcionam como modernas ferramentas de interpretação utilizadas por profissionais

experientes no assunto.

A interpretação ao vivo, também chamada de interpretação pessoal,

pressupõe um ator, um guia ou expert contando casos, atuando cantando,

conversando, demonstrando, ilustrando e explicando temas e processo aos

visitantes. Pode ser apresentada numa variedade de formas e contextos, incluindo

demonstrações, representações e performances, excursões a pé, de bicicleta ou

motorizadas. Esse tipo de interpretação ressalta a eficácia desse meio interpretativo,

afirmando que o mesmo permite comunicar a essência do lugar, ao passo em que é

capaz de vitalizar e transformar um objeto interpretativo em um atrativo turístico de

sucesso (MURTA; GOODEY, 2002, p. 24).

Para Carter (2001, p. 42, tradução nossa), “a condução da visita e o

entretenimento realizados por um gentil anfitrião é freqüentemente a forma mais bem

sucedida de interpretação”. Sobre a importância desse “anfitrião” intérprete para a

interpretação, Blaya-Estrada (2006) afirma que o intérprete do patrimônio é o

61

mediador entre o lugar e o visitante, o qual revela os significados necessários a uma

melhor compreensão desse lugar, ao passo em que favorece à conversão da visita

em uma experiência que propiciará o encontro entre sociedade e patrimônio.

Com intuito de reunir as idéias de alguns autores, os quais têm discorrido

sobre o perfil profissional do intérprete do patrimônio, construímos o Quadro 12, que

fornece uma visão de como devem atuar este profissionais, baseada em tais

autores.

Quadro 12 – Como deve ser a atuação dos intérpretes do patrimônio

CARTER (2001) MURTA E GOODEY (2002) PROJETO DOCES MATAS (2002)

a) Os guias ou intérpretes devem ter habilidade de falar para grandes grupos em ambientes fechados ou ao ar livre, em um tom audível, porém sem gritar;

b) Devem estruturar sua performance de acordo com a necessidade e o tempo disponível para cada tópico ou tema envolvidos em um objeto;

c) Devem saber lidar com pessoas que interrompem freqüentemente e, com questões freqüentes que surgem;

d) Preocupar-se com o conforto de pessoas com deficiências e de pessoas com dificuldades de comunicação pelo idioma utilizado.

a) O intérprete deve conseguir o respeito por parte dos visitantes. Para isso será necessário treinamento e pesquisas;

b) O intérprete deve aceitar o papel de guia;

c) Deve desempenhar o papel de guarda ou especialista em segurança direcionados aos visitantes e ao local onde atuar;

d) Deve buscar consonância entre sua performance interpretativa com a interpretação geral do lugar.

a) O intérprete deve cativar e ganhar a admiração do visitante, com intuito de torná-lo um aliado da conservação;

b) Deve conduzir o visitante através de diferentes experiências, com intuito de favorecer a percepção do mundo sob uma nova perspectiva;

c) Aplicar o princípio de que a interpretação deve ser prazerosa, significativa, organizada, temática, diferenciada e provocante;

d) Perceber as expectativas dos visitantes e ir de encontro às mesmas;

e) Perceber a desmotivação ou motivação que pode ocorrer durante uma caminhada e, diminuir ou aumentar o número de paradas respectivamente;

f) Favorecer a reflexão através de perguntas intrigantes, estimulando a curiosidade;

Fontes: Elaborada a partir da adaptação das idéias de Carter (2001); Murta e Goodey (2002); Projeto Doces Matas (2002).

A partir da compreensão da importância da interpretação realizada por

pessoas e, da idéia de intérprete do patrimônio, conclui-se que o sucesso desse

profissional dependerá de suas habilidades e competências comunicativas de forma

geral e, especificamente de sua performance oral. Apesar de ser considerado um

dos meios interpretativos mais eficazes, a interpretação pessoal, na opinião de

62

Carter (2001), apresenta algumas vantagens e desvantagens, conforme se verifica

no Quadro 13.

Quadro 13 – Vantagens e desvantagens da interpretação pessoal

VANTAGENS DA INTERPRETAÇÃO PESSOAL

a) É capaz de interpretar processos complicados e ajudar pessoas a compreenderem questões e atividades incomuns ao seu cotidiano;

b) Proporciona grande flexibilidade. São quase infinitas as possibilidades de experiências e respostas para os ouvintes e suas necessidades;

c) Representam uma possibilidade viável que requer investimentos pequenos;

d) É capaz de gerar empregos;

e) Oferece possibilidades de celebrar, compartilhar e realçar aspectos vitais da comunidade;

DESVANTAGENS DA INTERPRETAÇÃO PESSOAL

a) Normalmente requer muita organização;

b) Envolve equipes de trabalho que requerem suporte e aperfeiçoamento;

c) Nunca terminam, dado que existe uma necessidade de flexibilidade para atender as demandas;

d) Requer compromisso contínuo por parte de todos envolvidos a fim de se manter a qualidade. Isso pode ser também uma grande vantagem, na medida em que representa um caminho para a satisfação e deleite tanto do provedor com do visitante.

Fonte: Carter (2001, p. 42, tradução nossa).

O trabalho dos intérpretes em muito se assemelha com o trabalho

desempenhado por guias de turismo, porém, estes últimos têm sua profissão

reconhecida. De acordo com o art. 2º da Lei 8.623/93:

é considerado Guia de Turismo o profissional que, devidamente cadastrado no Instituto Brasileiro de Turismo - EMBRATUR, exerça atividades de acompanhar, orientar e transmitir informações a pessoas ou grupos, em visitas, excursões urbanas, municipais, estaduais, interestaduais, internacionais ou especializadas (BRASIL, 1993).

De uma maneira simplista, a diferença, é que na interpretação utiliza-se uma

forma que lhe é peculiar de transmitir informação aos visitantes e, não se supõe que

o intérprete vá acompanhar pessoas ou grupos em viagens desde sua origem até o

destino e vice-versa.

63

No entanto, os guias de turismo lhes têm assegurado por Lei um direito que

consideram exclusivamente seus e isso pode representar um possível conflito entre

os mesmos e os intérpretes, na medida em que estes últimos, bem como qualquer

condutor de visitantes, realizam atividades consideradas por Lei restritas aos guias

de turismo.

Considerando as placas, painéis e letreiros, estas são as formas mais

comuns de interpretação existente, pois trazem informações e ilustrações sobre o

local visitado. Ao fazer esta afirmação Goodey (2002, p. 181) adverte que “apesar de

ser a forma mais comum de interpretação, ela costuma ser muito mal utilizada”, uma

vez que, segundo o autor, erroneamente supõe-se que um texto bem escrito por um

especialista para ser impresso em uma placa, será a garantia de que esta

comunicação será um meio eficaz de interpretação. Isso acontece raramente,

porque a informação é apenas o ponto de partida para o processo de desenho e

edição, tendo sempre em vista o usuário.

As placas, painéis e letreiros são meios estáticos de interpretação que

utilizam amplamente o design como base de sua elaboração. Existem alguns

princípios estabelecidos que orientam a qualidade e o conteúdo de placas e painéis.

Por exemplo: o texto deve ser breve e conter mapas e ilustrações que facilitem a

compreensão dos visitantes. Uma atenção especial deve ser dada à estrutura e os

materiais utilizados para confeccionar as placas e painéis. Os materiais devem ter

qualidade e resistência suficientes para resistir às intempéries do clima e ao

vandalismo. A altura deve ser compatível com a possibilidade do acesso de crianças

e deficientes físicos (MURTA; GOODEY, 2002).

Segundo Carter (2001), inicialmente, é importante discutir a confecção dos

painéis com os profissionais responsáveis que atuarão na sua produção, no que diz

respeito à gama de materiais a serem utilizados e às técnicas de manufatura e

impressão. Placas, painéis, letreiros e documentos fixos e protegidos também são

muito úteis em trilhas interpretativas, não com o objetivo de proporcionar a

interpretação propriamente dita, mas também indicar alguns elementos importantes,

como extensão, grau de dificuldade, percurso a ser realizado, com seus principais

pontos de parada interpretativos.

Outros meios interpretativos, como objetos e documentos fixos e protegidos,

publicações e multimídias são também utilizados em planos interpretativos. Os

64

objetos e documentos fixos e protegidos referem-se àqueles gabinetes de vidro

muito utilizados em museus de artes plásticas. Outro exemplo deste tipo de

interpretação são as reproduções de ambientes. Segundo Murta e Goodey (2002) há

uma tendência em curso dos museus recriarem ambientes de época, com intuito de

enriquecer a disposição dos seus acervos.

As publicações, tais como folhetos, folders e encartes em geral sobre um

lugar podem ser bons aliados não só da interpretação do patrimônio, mas também

do planejamento do marketing do local como um todo, e podem ser muito úteis para

uma série de benefícios gerados a partir da veiculação de material publicitário. O

Quadro 14 fornece uma idéia da gama desses benefícios que antecipam algumas

necessidades importantes tanto à interpretação quanto ao turismo.

Quadro 14 – Benefícios promovidos pela utilização de publicações em planos Interpretativos a) Promove o lugar;

b) Explica o que o lugar oferece em termos de atrativos turísticos;

c) Guia os visitantes de um roteiro ou trilha, fornecendo informações sobre o que interpretar em cada ponto de parada;

d) Oferece informações históricas, estimula e explica o que está sendo visto. Serve tanto de guia informativo como souvenir.

Fonte: Carter (2001, p. 45, tradução nossa).

Aos benefícios citados poderíamos acrescentar que todo material impresso

sobre um lugar serve às ferramentas do marketing como a publicidade e a

propaganda dos destinos de maneira geral, e podem, portanto, contribuir para o

planejamento estratégico do marketing turístico de uma localidade ou

empreendimento.

Apesar dos benefícios evidentes, para Carter (2001), existem vantagens e

desvantagens no uso dos meios mencionados em interpretação, conforme ilustrado

no Quadro 15, a seguir:

65

Quadro 15 – Vantagens e desvantagens das publicações em interpretação

VANTAGENS DAS PUBLICAÇÕES PARA A INTERPRETAÇÃO DO PATRIMÔNIO

• Provêm uma gama de informação. Se eles forem bem desenhados e organizados o visitante não precisará lê-lo por completo para encontrar a informação no momento que a necessite;

• Oferecem interpretação que poderá ser realizada em outros momentos após a visita; • Interpretam áreas extensas simultaneamente, na medida em que são capazes de enfocar

detalhes; • Mostra o que o lugar oferece em diferentes épocas do ano, anunciando os eventos que

serão realizados e portanto estimulando o retorno ao lugar.

DESVANTAGENS DAS PUBLICAÇÕES PARA A INTERPRETAÇÃO DO PATRIMÔNIO

• Muitas pessoas não gostam de ler, portanto poderia se sentir incomodadas; • Estar disponível quando dele necessitarem. Isso implica na localização de estabelecimentos

comerciais que possam fazer parte do sistema de distribuição desse material, considerado necessário para o sucesso dessa ferramenta. Implica também no estabelecimento de uma margem de contribuição que cubra tais custos.

Fonte: Carter (2001, p. 45, tradução nossa).

Com relação à utilização de multimídias, tais como recursos audiovisuais,

programas de vídeo, sons e luzes ou computadores interativos com CD-ROM

(Quadro 16) que podem servir para transmitir informações em massa, interagir com

os visitantes ao tocar a tela de um computador por exemplo, ao mostrar diferentes

aspectos de uma região. Também podem ser úteis em programas tão sofisticados

quanto os documentários de televisão, com seus efeitos (CARTER, 2001).

66

Quadro 16 – Vantagens e desvantagens da multimídia em interpretação

VANTAGENS DO USO DE MULTIMÍDIA EM INTERPRETAÇÃO DO PATRIMÔNIO

a) Contar histórias com emoção e drama, efeitos e música, fumaça e odores;

b) Acelerar ou desacelerar eventos de forma a envolver a audiência na história;

c) Fornece uma constante performance de alta qualidade;

d) Fornece acesso multilíngüe.

DESVANTAGENS DO USO DE MULTIMÍDIA EM INTERPRETAÇÃO DO PATRIMÔNIO

a) Pode produzir uma interpretação mais espetacular do que o lugar propriamente; b) É sofisticada e requer materiais profissionais de qualidade. Imagens pobres e sons incoerentes

não serão tolerados; c) Estão sujeitos aos caprichos da moda. A coisa mais emocionante hoje, amanhã poderá

parecer muito enfadonho; d) Pode precisar de manutenção regular; e) Pode causar desapontamentos, quando quebrar e você tiver que esperar a ajuda de

especialistas de fora.

Fonte: Carter (2001, p. 47, tradução nossa).

Sobre métodos de avaliação da interpretação, Carter (2001); Morales, (1998);

Sharpe (1982), consideram como parte imprescindível ao processo de planejamento

interpretativo. Segundo Carter (2001, p. 33, tradução nossa), “as principais razões

para se avaliar interpretação são determinar o seu sucesso e melhorá-la”. Para ele,

o procedimento de avaliação da interpretação dependerá da precisão e clareza dos

objetivos interpretativos em questão, ao passo em que se tornará difícil avaliá-la se

os objetivos não forem suficientemente claros, ou se os mesmos forem vagos e

imprecisos. Para o mesmo autor, a avaliação deve ser iniciada no início do processo

de planejamento, e não ao final, quando o projeto já tiver sido implementado. No

entanto, a técnica de avaliação dependerá do estágio de implementação em que se

encontra tal planejamento. O modo de realizar a avaliação dependerá das questões

que precisam de respostas, do tipo de interpretação que se está avaliando e dos

recursos disponíveis. O Quadro 17 fornece uma visão das metodologias de

avaliação utilizadas em interpretação.

67

Quadro 17 – Metodologias de avaliação da interpretação

a) Métodos indiretos – consiste em observar o comportamento dos visitantes de forma inobstante, sem o conhecimento dos mesmos;

b) Métodos diretos - os visitantes participam de entrevistas ou respondem a questionários de pesquisa;

c) Métodos quantitativos – fornecem dados numéricas em forma de volume de visitantes, tempo gasto, questionários com informações codificadas, etc. Tais dados permitem análises estatísticas e são coletados a partir de perguntas formuladas com respostas em escalas numéricas que varias de 1 a 5;

d) Métodos qualitativos - fornecem dados em forma de opiniões, atitudes, percepções e sentimentos, ou descrições de comportamentos.

Fonte: Carter (2001, p. 35, tradução nossa).

Com relação à adequação do método avaliativo em relação à fase do

planejamento, o Quadro 18 fornece algumas diretrizes sobre quais métodos são

mais úteis em cada estágio, bem como uma noção de tempo necessário para a

realização de cada procedimento avaliativo.

Quadro 18 – Adequação das fases de avaliação às técnicas

FASE TÉCNICA TEMPO NECESSÁRIO

Antes de iniciar o desenvolvimento da interpretação

Enfocar grupos; Questionários de pesquisas;

3 pessoas / dias;

8 pessoas / dias ou mais;

Durante a preparação da interpretação;

Observações e entrevistas simplificadas com aplicação de questionários de pesquisas;

2 pessoas / dias por item de interpretação;

Após a implementação do projeto de interpretação,

Todos os métodos, com ênfase nas observações e nos questionários de pesquisas.

7 pessoas / dias ou mais

Fonte: Carter (2001, p. 37, tradução nossa).

68

4.1.1 Etapas do planejamento interpretativo

Considerados todos os aspectos que envolvem a concepção, elaboração e

implementação de um plano interpretativo, parte-se então para a parte prática das

ações deste processo de planejamento. Ações estas, que podem ser organizadas

por etapas de trabalho. Para Murta e Goodey (2002), um plano interpretativo se

realiza normalmente em três etapas, conforme ilustra o Quadro 19.

Quadro 19 – Etapas do plano interpretativo de Murta e Goodey (2002)

ETAPA AÇÕES A SEREM REALIZADAS

Inventário e registro de recursos, temas e

mercados.

Recursos: culturais, naturais, técnicos e financeiros. Envolve entendimentos políticos entre setores de Planejamento, Educação, Meio Ambiente, Turismo e Lazer. Envolve a participação de todos os interessados na interpretação. Temas: elementos significativos que definem o caráter único do lugar – sua história e topografia, seus personagens e lendas, seus sítios e edificações. Mercados: definição do público alvo e os mercados específicos. Levantamento do número de visitantes, características, distribuição e necessidades. Influenciará no desenho da interpretação.

Desenho e montagem – escolha de meios e

técnicas.

Adequação dos objetos a ser interpretados aos meios e técnicas de interpretação, bem como ao público-alvo. Depende fundamentalmente dos recursos e do mercado inventariados anteriormente. Dependerá também dos recursos disponíveis.

Gestão e promoção

Preservação e atualização das instalações onde ocorre a interpretação. Programar as necessidades de monitoramento, manutenção e avaliação permanentes, capacitação e treinamento da equipe. Desenvolver planos de divulgação e promoção.

Fonte: Adaptado de Murta e Goodey (2002).

Em uma abordagem mais detalhada do plano interpretativo, Morales (2006),

afirma que seu processo seqüencial, sugerido pelos norte-americanos Badaracco e

Scull - citados pelo mesmo autor - ainda seguem vigentes. Quais sejam: reunir e

analisar a informação sobre o lugar a interpretar; analisar e definir quais serão os

destinatários dos serviços interpretativos, ou seja, a quem se destina o produto

elaborado; e, finalmente, selecionar e o desenvolver meios interpretativos e

estratégias comunicativas que melhor transmitam a mensagem do lugar a esse

69

público concreto.Um outro importante esquema seqüencial do plano interpretativo é

sugerido por Sharpe (1982), conforme ilustra o Quadro 20:

Quadro 20 - Etapas do planejamento interpretativo de Sharpe (1982)

ETAPA AÇÕES A SEREM REALIZADAS

Situação inicial

Reconhecimento do espaço, sua problemática e todo tipo de recursos disponíveis. Envolve fatores de ordem administrativa, política e técnica.

Formulação dos objetivos

do planejamento

Definir objetivos que indicarão o direcionamento que se quer dar à interpretação no local, no que se refere à gestão, aos serviços prestados e à comunicação que se quer realizar.

Recopilação de

informação

Levantamento detalhado de todo tipo de informação que possa ser útil ao planejamento interpretativo, tais como recursos culturais e naturais, atrativos turísticos, legislação, aspectos administrativos, documentação e dados geográficos.

Análises

Analisar os dados copilados sobre recursos disponíveis, perfil do público-alvo, possíveis objetivos da interpretação e seus possíveis conteúdos interpretativos a serem desenvolvidos, e os meios para sua comunicação.

Sínteses

Decidir questões relacionadas à fase de análises. Esclarecer todos os pontos cruciais do futuro plano de interpretação tais como objetivos, conteúdos, a estrutura dos serviços interpretativos e as recomendações para se desenhar os meios interpretativos.

O plano

Servir de referência para implementação dos serviços interpretativos. Revisar e atualizar permanentemente. Deve conter: descrição da equipe técnica; introdução ao plano; descrição dos recursos; Público-alvo; Objetivos da interpretação; Mensagens; Serviços interpretativos; Continuação e avaliação; Apontar necessidades de investigações complementares; Recomendações para execução dos serviços; referências e anexos.

Execução Executar os serviços técnicos de desenho e montagem da interpretação

Avaliação Avaliar permanentemente se os objetivos estão sendo alcançados.

Fonte: Adaptado de Sharpe (1982).

Em síntese, os principais aspectos envolvidos no processo de planejamento

interpretativo giram em torno da elaboração e implementação de um plano

interpretativo que, por sua vez, incorpora os preceitos gerais do planejamento,

porém com foco nas suas necessidades específicas, visando promover a

interpretação do patrimônio. No decorrer deste processo, ao cumprirem-se as etapas

previstas no plano interpretativo, abordando os questionamentos chave que

orientarão as tomadas de decisão e, ao desenvolverem-se as tecnologias de gestão

existentes de forma pontual, será possível atingir àqueles objetivos intrínsecos à

70

idéia de interpretação do patrimônio (CARTER, 2001), ou seja, provocar, relacionar

e revelar algo, por meio da comunicação interpretativa. Ao passo em que também

será possível integrar o planejamento interpretativo e a interpretação em geral a

outras iniciativas, entre elas, estrategicamente, ao planejamento sustentável do

turismo, conseqüentemente, contribuindo para o desenvolvimento socioeconômico

de um local ou região.

71

5 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS PARA AVALIAR O PLANO

INTERPRETATIVO DA REGIÃO DO MADE

Nas seções anteriores, discutimos os aspectos teórico-conceituais sobre os

termos Turismo, planejamento e interpretação do patrimônio.

Nesta seção, descreveremos a metodologia de investigação deste estudo

apontando métodos e técnicas de análise e interpretação de dados que foram

apreendidos sobre o plano interpretativo do MADE, a fim de subsidiar, como

ferramenta, o planejamento sustentável do turismo. Primeiramente abordaremos,

numa concepção epistemológica, diversos tipos de pesquisa em turismo e, sob a

égide interdisciplinar, trataremos o conteúdo da nossa pesquisa. Em seguida,

apresentaremos o nosso desenho metodológico, no que se refere à escolha e

caracterização do local de estudo, do tipo de amostragem, dos tipos de

instrumentos e procedimentos de coleta, sistematização, análise e interpretação dos

dados.

5.1 Concepção epistemológica de pesquisa em turismo

Um trabalho de pesquisa científica consiste no planejamento e

desenvolvimento de uma investigação orientada por procedimentos metodológicos

sistematicamente organizados com a finalidade de produzir conhecimentos. Para

Ruiz (1991, p. 48), “pesquisa científica é a realização concreta de uma investigação

72

planejada, desenvolvida e redigida de acordo com as normas da metodologia

consagradas pela ciência”. Segundo Richardson (2000, p. 16) “como ferramenta

para adquirir conhecimento, a pesquisa pode ter os seguintes objetivos: resolver

problemas específicos, gerar ou avaliar teorias existentes”, sendo os objetivos

mencionados relativamente arbitrários e não excludentes.

Segundo Dencker (1998, p. 28) “o turismo não é uma ciência social entendida

como corpo de doutrina metodicamente ordenado” e “constitui uma disciplina em

desenvolvimento que emprega métodos e conceitos originários da maioria das

ciências sociais já consolidadas”, como a administração, a economia, a sociologia, a

geografia, entre outras. Então, o fenômeno turístico, do ponto de vista

epistemológico, não dispõe de corpo teórico próprio e metodologicamente

estruturado. Assim, o turismo como objeto de estudo não permite o tratamento

teórico-metodológico monodisciplinar, porque impõe, por si mesmo, a perspectiva

multi, inter ou mesmo transdisciplinar.

Desta forma, a presente pesquisa traz no seu bojo uma inspiração

interdisciplinar9 pois, busca elementos teóricos das ciências humanas, sociais e

econômicas entre outras, para melhor compreender a relação entre o plano

interpretativo do MADE e o planejamento sustentável do turismo no extremo sul da

Bahia. Entende-se aqui que, uma integração teórica conceitual que extrapola a

estrutura disciplinar até constituir um conjunto axiomático peculiar a este estudo,

estabelece uma relação comum entre as várias disciplinas envolvidas.

Do ponto de vista dos objetivos esta pesquisa é do tipo

qualitativa/interpretativa, de caráter hermenêutico (PIRES, 1997), que aborda

métodos qualitativos e quantitativos de análise de dados, de maneira sistêmica

(BENI, 2004), buscando melhor compreender o fenômeno turístico em questão.

Sobre a metodologia sistêmica Buckley, citado por Demo (1987, p. 109), afirma que

a mesma “alimenta-se da teoria dos sistemas e também das concepções

funcionalistas da sociedade como fenômeno organizacional, como partes

concatenadas, capazes de manter e recobrar o equilíbrio da persistência histórica”.

9 A multidisciplinaridade é uma justaposição de diferentes disciplinas sem a necessária correlação entre elas (DENCKER, 1998, p. 32). Já a interdisciplinaridade é uma inter-relação orgânica dos conceitos das diferentes disciplinas até o ponto de construir uma nova unidade com as proposições de cada uma das disciplinas particulares (PIAGET citado por DENCKER, 1998, p. 32).

73

A pesquisa é também do tipo documental que utiliza levantamentos

bibliográficos, fotográficos, cartográficos entre outros para compor um corpus de

análise. E, exploratória, pois, os dados preliminares serviram de arcabouço para a

construção teórica e factual do estudo (RUIZ, 1991).

5.2 Desenho metodológico do estudo

Os objetivos deste estudo, conforme apresentados na introdução, associados

aos aspectos teórico-conceituais discutidos, nos permitiram traçar o desenho

metodológico que guiou a nossa investigação.

5.2.1 Local de estudo

A escolha da região do Museu Aberto do Descobrimento como local deste

estudo se deu pelo fato da importância histórica e cultural e ambiental reconhecida

pelo IPHAN e UNESCO. Considerando a mencionada relevância da região e, tendo

em vista as comemorações dos 500 anos do descobrimento do Brasil, o governo

federal criou, através de Decreto presidencial, o Museu Aberto do Descobrimento

(MADE). Esta proposta de museu foi uma iniciativa nacional pela conservação e pelo

desenvolvimento dos bens do Patrimônio Cultural brasileiro e previa ter um acervo

inovador e diversificado composto basicamente de sítios de valor histórico,

paisagístico, arqueológico, antropológico e ambiental.

Dentre as ações empreendidas na implantação do MADE, houve a

implementação de um Plano de interpretação do patrimônio na área, em 1999, com

intuito de proporcionar um nível de informações condizente com a relevância do

patrimônio natural e cultural da região.

74

5.2.2 Constituição e características da amostra

Para a realização desta pesquisa utilizamos dois tipos de amostragem. A

primeira, do tipo probabilística simples para o grupo das comunidades locais e, a

segunda, não probabilística intencional por exaustão para o grupos de visitantes e

gestores.

A técnica de amostragem probabilística simples, segundo Samara e Barros

(1997), é mais adequada para se obter a representatividade do universo em estudo.

Como critério de participação dos membros das comunidades, determinou-se

que os mesmos tivessem idade mínima de 18 anos e morassem ou trabalhassem no

entorno dos atrativos pesquisados.

O primeiro critério justifica-se pela necessidade do respondente ter

maturidade suficiente para compreender as perguntas feitas. O segundo critério

justifica-se pelo fato do respondente estar ao menos relativamente familiarizado com

alguns dos aspectos da realidade dos atrativos como sinalização, informações

disponíveis, trabalho dos guias, entre outros.

O cálculo da amostra foi efetuado através da soma dos tamanhos das

populações em Idade Ativa – PIA dos municípios de Porto Seguro e Santa Cruz

Cabrália, da ordem de 72.294 e 17.978 indivíduos respectivamente (SEI, 2007),

totalizando 90.272 indivíduos. O nível de confiança foi estabelecido em 90%

(equivalendo a um t = 1,645) para uma distribuição normal (curva assimétrica em

relação à média - µ), com margem de erro para os parâmetros de 5% (p ± e). As

proporções de p e q foram definidas em 50% (0,5), onde q = 1 – p. Calculou-se a

amostra através da seguinte fórmula:

n �Z� . p . q . N

e� �N � 1� � Z� . p . q

75

Como valores para a fórmula apresentada, têm-se: N = soma dos tamanhos

das populações (PIA = 90272); n = tamanho da amostra; p e q = proporções de

ocorrência dos parâmetros (50% = 0,5); e = erro para os parâmetros (5% = 0,05).

A partir da fórmula apresentada tem-se a equação solucionada conforme

demonstrada a seguir, onde resultou na amostra de 270 indivíduos visitantes dos

principais atrativos turísticos histórico culturais do MADE.

n � �1,645��. �0,5�. �0,5�. �90272�

�0,05��. �90272 � 1� � �1,645��. �0,5�. �0,5�� ���

A Tabela 1 apresenta a proporcionalidade do número de respondentes com

relação a cada ponto de coleta de dados sobre a opinião da comunidade.

Tabela 1 – Localidade e respectivo número de respondentes da comunidade, MADE, Bahia, 2008

Atrativo turístico Número de respondentes

Porto Seguro (cidade histórica e centro) 100

Arraial d’Ájuda (cidade histórica e centro) 69

Sta.Cruz Cabrália (cidade histórica e centro) 61

Centro comercial de Coroa Vermelha 40

Total 270

Fonte: Dados da pesquisa de campo, 2008.

A técnica de amostragem não probabilística intencional por exaustão visa

recrutar os participantes em potencial selecionados segundo um critério de

julgamento do pesquisador (PIRES, 1997). Utilizada para recrutar visitantes, esta

técnica se justifica pelo fato de não haver a possibilidade de se calcular o número de

pessoas deste grupo na área de estudo, que envolve diversas localidades dispostas

nos três municípios, onde não existem informações suficientes sobre a demanda

turística. Portanto, com intuito de selecionar indivíduos que representassem esse

76

universo desconhecido, a amostra ficou distribuída de acordo com cada localidade,

totalizando 293 respondentes, conforme a Tabela 2:

Tabela 2 – Atrativo turístico e respectivo número de visitantes respondentes, MADE, Bahia, 2008

Atrativo turístico Número de respondentes

Cidade histórica de Porto Seguro 100

Cidade histórica de Arraial d’Ajuda 55

Embarcadouro de Caraíva 37

Centro comercial de Coroa Vermelha 50

Cidade histórica de Santa Cruz Cabrália 50

Total 293

Fonte: Dados da pesquisa de campo, 2008.

Para a obtenção da representatividade dos gestores do turismo da região de

estudo, optou-se por investigar os 21 membros da Câmara de Turismo da Costa do

Descobrimento. É pertinente esclarecer que esta instância de governança é

composta por membros do Conselho do Pólo do Descobrimento e tem a função

propor, elaborar e avaliar projetos de turismo na região. Para tal, foi utilizada,

também, a técnica de amostragem do tipo não probabilística intencional por

exaustão, ou seja, buscou-se coletar dados da totalidade de indivíduos

representantes das Instituições membro deste órgão. No entanto, dos 21 membros

conseguiu-se obter informações de 17 representantes, uma vez que dois indivíduos

se encontravam em férias no período de coleta de dados e, dois indivíduos não se

encontraram disponíveis para a entrevista.

Assim participaram um representante de cada uma das seguintes Entidades:

SEBRAE; SENAC; Banco do Nordeste do Brasil (BNB); Faculdades do

Descobrimento (FACDESCO); Universidade do Estado da Bahia (UNEB); Porto

Seguro Convention & Visitors Bureau; Secretaria Municipal de Turismo de Santa

Cruz Cabrália; Secretaria Municipal de Cultura de Santa Cruz Cabrália; Instituto

Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade; Associação Comercial de Porto

77

Seguro; Área de Proteção Ambiental Santo Antônio; Área de Proteção Ambiental

Coroa Vermelha; Associação de guias de turismo da Costa do Descobrimento;

Secretaria Municipal de Turismo de Porto Seguro; ONG Cidadania e Transparência

Terra Mãe e; Associação Brasileira da indústria de Hotéis (ABIH).

5.2.3 Instrumentos de coletas de dados

Os instrumentos para a coleta de dados deste estudo foram utilizados de

acordo com os objetivos específicos e grupos de participantes citados anteriormente.

Citamos aqui: documentos, registros fotográficos, observações in loco, formulários e

entrevistas semi-dirigidas:

a) documentos, registros fotográficos e observações in loco: esses instrumentos

permitiram recolher informações sobre o objeto de estudo, cujos conteúdos dos

discursos contidos nos documentos, nas imagens, nas fotografias e nos registros

das observações in loco nos levaram a operacionalizar os seguintes objetivos:

caracterizar seus atrativos turísticos; identificar e analisar os conteúdos

interpretativos disponibilizados na região Museu; avaliar o grau de desenvolvimento

das atividades de interpretação do patrimônio;

b) Formulários: o formulário é utilizado quando se pretende obter respostas mais

amplas com maior número de informações. Ele pode ser aplicado para qualquer tipo

de informante, alfabetizado ou não, uma vez que pode ser preenchido pelo

pesquisador (DENCKER, 1998). Este instrumento foi aplicado aos três grupos –

comunidade (APÊNDICE A), visitantes (APÊNDICE B) e gestores (APÊNDICE C) -

a fim de operacionalizar os seguintes objetivos: avaliar o grau de desenvolvimento

das atividades de interpretação do patrimônio; identificar e analisar a opinião dos

atores sociais do turismo.

Para obter a opinião dos visitantes, esse instrumento foi estruturado em 10

questões fechadas. As três últimas questões subdividem-se em outros três grupos

contendo 12, 09 e 04 questões cada grupo respectivamente, com escalas

itemizadas, cujas opções de respostas variaram de 0 a 5, que correspondem ao

conceito de péssimo a excelente respectivamente. As categorias analisadas foram:

perfil do visitante; opinião sobre qualidade com relação aos aspectos interpretativos

78

no local; opinião sobre importância de alguns aspectos artísticos culturais locais e;

opinião sobre a qualidade da experiência no local.

Sobre a opinião das comunidades locais onde se inserem os atrativos do

MADE, o formulário foi estruturado em 06 questões fechadas. As três últimas

questões deste formulário se subdividem em outros três grupos contendo 09, 09 e

12 questões cada grupo respectivamente, com escalas e opções de respostas

idênticas ao formulário dos visitantes. As categorias analisadas foram: perfil do

residente; opinião sobre a importância pessoal atribuída a alguns aspectos artísticos

culturais locais; opinião relativa à importância que os visitantes, supostamente

atribuem a alguns aspectos artísticos culturais locais e; opinião sobre a qualidade

com relação aos aspectos interpretativos nos locais de relevância histórica e cultural

da região em questão.

Para buscar a opinião dos gestores do turismo, o formulário foi estruturado

em 05 questões fechadas. As 03 últimas questões deste formulário se subdividem

em outros três grupos contendo 09, 09 e 12 questões cada grupo respectivamente,

com escalas e opções de respostas idênticas às anteriores. As categorias

analisadas foram: perfil do gestor; opinião sobre a importância pessoal atribuída a

alguns aspectos artísticos culturais locais; opinião relativa à importância que,

supostamente, os visitantes atribuem a alguns aspectos artísticos culturais locais e;

opinião sobre a qualidade com relação aos aspectos interpretativos nos locais de

relevância histórica e cultural da região do MADE.

c) entrevistas (APÊNDICE D): através do discurso, a entrevista nos permitiu recolher

dados de interação entre os gestores do turismo da região de estudo e o objeto da

pesquisa. Este tipo de entrevista é pertinente à pesquisa qualitativa, pois, ela

permite uma investigação aprofundada do fenômeno turístico.

Adicionalmente, aos gestores foi aplicado este instrumento. Para tanto, foi

elaborado um guia de entrevista contendo 05 questões abertas e 01 questão

fechada, sendo nesta última, utilizadas escala e opções de respostas idênticas aos

formulários. As categorias analisadas foram: avaliação do aproveitamento do

patrimônio cultural e natural da região; compreensão do significado do termo

Interpretação do Patrimônio; conhecimento sobre o desenvolvimento das atividades

interpretativas na região; interesse em debater o tema Interpretação; conhecimento

79

sobre os projetos de turismo na região; auto-avaliação sobre a efetividade da

participação nos conselhos e/ou câmaras técnicas de turismo da região.

5.2.4 Métodos de coleta, análise e sistematização dos dados

Os dados coletados através dos formulários e entrevistas foram codificados e

lançados num banco de dados que serviu de fonte para geração dos relatórios com

as freqüências estatísticas. Para a tabulação e tratamento dos dados, utilizou-se do

programa estatístico Statistics Package for Social Sciences, SPSS (Pacote

Estatístico para Ciências Sociais). Esses dados estatísticos recolhidos dos três

grupos de informantes serviram de fonte para geração dos resultados com

freqüências estatísticas.

Os dados obtidos através das entrevistas foram gravados com a utilização de

um dispositivo de armazenamento de dados (pen drive) e, posteriormente tabulados

e analisados.

A análise qualitativa teve como objetivo atribuir um significado ao corpus da

pesquisa acerca das seguintes categorias de análise: preferências artísticas e

culturais; aspectos diversos relacionados à organização e à disposição das

atividades de interpretação nas localidades de relevância histórica e cultural da área

de estudo; perfil socioeconômico dos participantes. Tudo isso, reuniu subsídios para

avaliação do plano interpretativo do MADE.

A investigação ocorreu em duas etapas a fim de atender os objetivos

propostos. Na primeira etapa, foi realizado amplo levantamento bibliográfico e

documental, acompanhado de visitas “in loco” e registros fotográficos, com intuito de

observar e registrar dados sobre o desenvolvimento de atividades de interpretação

do patrimônio na região do extremo sul da Bahia e, caracterizar o MADE como

atrativo turístico, bem como subsidiar avaliação do seu potencial e plano

interpretativo.

Na segunda etapa, foram aplicados formulários aos visitantes, aos integrantes

das comunidades locais e aos gestores do turismo, nas localidades onde houve

ações do plano interpretativo nos municípios de Porto Seguro e Santa Cruz Cabrália.

80

A coleta de dados desta etapa foi realizada durante os meses de fevereiro e

março de 2008. Preferiu-se estes meses devido ao fato de incluir o período de

carnaval (de 03 a 06 de fevereiro de 2008), com intuito de facilitar a coleta de dados

sobre os visitantes, uma vez que o fluxo turístico é maior nesta época. Para ajudar

na aplicação dos formulários de visitantes e comunidades foram contratados e

treinados 02 estagiários graduandos do curso de Bacharelado em Turismo da

Universidade do Estado da Bahia, UNEB, Campus XVIII, de Eunápolis, BA, e uma

pesquisadora Mestra experiente, oriunda da Universidade Estadual de Santa Cruz,

UESC, Ilhéus-Ba. Estes estiveram sob a supervisão do pesquisador em todos os

momentos, com intuito de evitar possíveis falhas na aplicação dos formulários.

Antes da aplicação dos formulários e da realização das entrevistas, estes

foram testados utilizando-se de amostras simbólicas, compostas de 10 visitantes, 10

integrantes das comunidades locais e 03 gestores. Estes testes permitiram identificar

e corrigir algumas falhas existentes nos instrumentos.

81

6 ANÁLISES, RESULTADOS E DISCUSSÕES DOS DADOS

Nesta seção, desenvolveremos algumas análises dos dados coletados,

apresentando resultados e discussões da realidade empírica posta à luz das idéias

dos autores que abordamos nas seções 3 e 4. Estas análises consistem no exame

minucioso dos conteúdos e recursos interpretativos identificados no Plano

interpretativo do Museu Aberto do Descobrimento (PIMADE) e, na análise da opinião

dos atores sociais do turismo sobre as atividades de interpretação do patrimônio na

região de estudo.

No decorrer das discussões sobre os resultados, buscaremos avaliar o grau

de desenvolvimento das atividades de interpretação na região de estudo, na medida

em que discutimos as potencialidades, as perspectivas e a viabilidade do

desenvolvimento dessas atividades integradas ao turismo da região do extremo sul

da Bahia.

Ainda, nesta seção, avaliaremos de forma pontual, a atual contribuição da

interpretação do patrimônio para o turismo cultural da região de estudo,

considerando suas potencialidades turístico-interpretativas.

6.1 Análises do Plano interpretativo do Museu aberto do descobrimento

Pode-se afirmar que a única iniciativa concreta de planejamento interpretativo

– nos termos teórico-conceituais aqui apresentados - existente na região do extremo

82

sul da Bahia, foi a elaboração e implementação do PIMADE, sob a coordenação da

Empresa de consultoria especializada em interpretação do patrimônio no Brasil, a

Território Brasilis. Este plano pode ser considerado um plano interpretativo

estratégico de nível de inserção e abrangência regional, agregado a uma série de

planos do tipo detalhados, inseridos no plano principal, porém com níveis de

abrangência restritos a sítios específicos, de acordo com a classificação dos planos

interpretativos e nível de abrangência, sugeridos por Carter (2001). Essa

classificação se justifica pelos direcionamentos tomados pelo PIMADE tais como:

assegurar a cobertura abrangente de uma área extensa, ou seja, os 1.200 Km² do

MADE, que envolvem áreas de três municípios; estabelecer orientações para planos

detalhados, em se tratando dos sítios específicos como os Centros históricos de

Arraial d´Ajuda, Porto Seguro, Santa Cruz Cabrália, Trancoso e Vale Verde, entre

outros sítios específicos; evitar trabalho dobrado; estimular a formação de redes e;

servir como um revestimento estratégico e não com foco detalhado.

O PIMADE desenvolveu-se em duas etapas. A primeira etapa foi dedicada à

apresentação e discussão de idéias e intenções de alguns projetos que haviam sido

previamente selecionados pelo Ministério da Cultura e pela comunidade local, com

objetivo de incorporá-los ao plano interpretativo propriamente dito. Na primeira

etapa, realizada em agosto de 1998 – dois anos antes das comemorações do

qüingentésimo ano do descobrimento - houve a realização de duas oficinas de

interpretação e desenho do patrimônio, que ocorreram durante duas semanas de

trabalhos. Essas oficinas tiveram como objetivo principal apresentar à comunidade

as intenções, projetos e traçar diretrizes gerais de um plano interpretativo para o

MADE. Houve a participação de 25 representantes de instituições relacionadas ao

patrimônio. O patrocinador dos eventos foi o Ministério da Cultura.

A segunda etapa do plano foi destinada ao desenvolvimento e a implantação

da interpretação e sinalização dos sítios históricos do Museu Aberto do

descobrimento. Esta etapa foi realizada durante os quatro primeiros meses do ano

2000, ou seja, às vésperas das comemorações dos 500 anos do descobrimento.

Conforme podemos verificar, houve um ínterim de aproximadamente dois

anos entre a primeira e a segunda fase do plano. Esse atraso entre a elaboração do

plano enquanto documento, e a realização de qualquer investimento ou trabalho na

área em questão - aqui considerado como um aspecto negativo que possa ter

83

prejudicado o plano como um todo, na medida em que houve interrupção entre a

etapa de elaboração do plano em si e a etapa seguinte, ou seja, sua execução, de

acordo com o que já apresentamos – conforme justifica Goodey (2002), esse atraso

se deu devido ao fato de que os recursos financeiros só foram liberados no ano de

2000, ou seja, durante os quatro meses, quando ocorreu a segunda fase do plano.

Com relação ao cumprimento da última etapa do planejamento interpretativo

sugerida por Carter (2001); Murta e Goodey, (2002); - ou seja, a sistematização do

monitoramento, da manutenção e avaliação do plano interpretativo enquanto

realidade empírica - verificou-se a inexistência desta etapa no plano em questão, o

que denota a incapacidade gerencial dos gestores e dos atores do turismo de forma

geral, em desenvolver a interpretação do patrimônio natural e cultural na região em

questão.

Quanto aos objetivos, tanto a interpretação propriamente dita, como o plano

interpretativo do MADE foram elaborados de acordo com o que sugere Carter

(2001), ou seja, eles consistem em provocar o visitante, estabelecendo relações

entre aspectos culturais e naturais para revelar algo importante sobre o lugar. O

Quadro 21 foi construído com intuito de facilitar a visualização dos objetivos gerais e

específicos da interpretação e do PIMADE.

84

Quadro 21 – Objetivos do Plano interpretativo do MADE

Objetivos gerais

a) Valorizar o patrimônio histórico, cultural e ambiental do MADE aos olhos de moradores e visitantes;

b) Enriquecer a experiência do visitante, fomentando atitudes preservacionistas;

c) Contribuir para o desenvolvimento do turismo histórico cultural na região;

Objetivos específicos

a) Produzir mensagens facilmente absorvíveis por pessoas com conhecimento médio de segundo grau;

b) Transmitir as mensagens de forma atraente, através de ilustrações e textos;

c) Entreter, provocar a curiosidade do público e informar.

Fonte: Elaborado a partir das informações contidas em Murta (2002b, p. 243).

Observa-se o caráter incentivador da valorização cultural e ambiental e da

conservação do patrimônio, apoiado na perspectiva de contribuição para o

desenvolvimento do turismo cultural, em consonância ao que a já citada política

nacional de desenvolvimento deste segmento turístico prescreve (BRASIL, 2008).

Apesar de os objetivos do PIMADE terem sido aqui considerados bem

elaborados, não se observa a integração desses objetivos interpretativos com os

objetivos turísticos da região do MADE. Essa argumentação é justificada pelo fato de

que não há compartilhamento dos objetivos, dos mercados de atuação e dos

mecanismos relacionados à interpretação na região com os segmento turísticos

explorados na região e, um exemplo disso são os próprios produtos turísticos

atualmente comercializados pelas operadoras de turismo que atuam na região. Na

sua maioria, esses produtos estão voltados para o turismo de lazer (BRUNELLI,

2007). Percebe-se que se buscou justamente através do PIMADE a diversificação

do produto turístico. Esta diversificação desejada teria sido acordada em 1998, mas

posteriormente boicotada, em 2000.

Com relação ao aspecto participativo, tão desejável, tanto ao planejamento

turístico (DIAS, 2003), como ao planejamento interpretativo (CARTER, 2001;

GOODEY, 2002; MURTA; GOODEY, 2002), O PIMADE pode ser considerado um

plano interpretativo realizado de forma participativa, com base na comunidade, tal

como sugere Carter (2001). No entanto, quase uma década depois, esse espírito

comunitário e participativo se enfraqueceu desde a implementação do plano, não

85

havendo continuidade nos trabalhos, mas sim a estagnação seguida de declínio dos

mesmos. Esse caráter participativo do PIMADE foi relatado nos próprios documentos

produzidos no âmbito do Projeto MADE, bem como em textos científicos produzidos

posteriormente por integrantes de sua Equipe Técnica (GOODEY, 2002; MURTA,

2002a; MURTA, 2002b). Houve participação de diferentes instituições nas oficinas

de interpretação que se realizaram em 1998, subsidiando o desenho do patrimônio

que se pretendeu com o plano implementado. Esta estrutura participativa articulada

permitiu a definição dos temas interpretativos a partir da idéias do grupo.

A estratégia metodológica do PIMADE era trabalhar em duas escalas: a

regional e a local. Assim, foram estruturados temas interpretativos centrais para a

região e temas particulares para cada sítio histórico (MURTA, 2002b).

Em escala regional, inicialmente os temas centrais foram a chegada das naus

portuguesas, os índios e a nova terra, mas no decorrer dos trabalhos optou-se pelo

tema do descobrimento. Em escala local, especificamente nos sítios históricos de

Arraial d´Ajuda, Trancoso, Porto Seguro, Vale Verde, Barra do Caí, Coroa Vermelha

e Santa Cruz Cabrália, os principais temas foram os que constam no Quadro 22:

Quadro 22 - Temas interpretativos do Plano de interpretação do MADE

TEMA INTERPRETATIVO EM ESCALA REGIONAL

Descobrimento

TEMAS INTERPRETATIVOS EM ESCALA LOCAL

a) Os indígenas ontem e hoje;

b) A estratégia da ocupação portuguesa: “ cidades de dois andares” ;

c) A ação dos jesuítas como suporte da estratégia colonial;

d) Os conflitos entre índios e portugueses;

e) A arquitetura religiosa e oficial, usos ao longo do tempo;

f) Ruínas e arqueologia;

g) Meio ambiente natural, espécies e culturas;

h) Evolução urbana, acelerada pelo turismo;

i) Santos, festas e devoções populares;

j) Manifestações culturais atuais.

Fonte: Murta (2002b, p. 244-245).

86

Analisando os conteúdos dos temas interpretativos elegidos pelos grupos de

trabalho coordenados por Murta, observa-se e centralização no tema descobrimento,

ou seja, em consonância com a proposta de criação do Museu, porém, em

detrimento de uma gama de outras possibilidades culturais, paisagísticas e

ecológicas conforme caracterizado no decorrer do trabalho ao descrevermos os

atrativos.

No entanto, em Salvador a cultura baiana é uma coisa, em Porto Seguro pode

haver muita diferença, e aquilo que para um é significativo, para o outro pode não

ser, e vice-versa. Por exemplo, o sincretismo religioso baiano que busca identificar

santos católicos com entidades do candomblé, em Salvador é muito comum mas em

Porto Seguro preferiu-se omitir esse importante aspecto da cultural, conforme relatou

a responsável pela coordenação dos trabalhos.

A participação comunitária que se fez no âmbito do projeto MADE foi a

responsável por esse direcionamento que se deu na escolha dos temas

interpretativos a serem desenvolvidos. E o apelo que se faz aqui, é no sentido de

atentar-se para as potencialidades culturais, turísticas e ecológica, até então

subaproveitadas conforme descrevemos neste estudo, que se traduzem em florestas

de Mata Atlântica, em saberes populares indígenas e tradicionais em geral, em

biodiversidade, tanto terrestre quanto marinha, em importantes manifestações

culturais como a puxada do mastro e a festa do divino. No entanto, apenas o

significado histórico de local de descoberta prevaleceu nos temas, em detrimento de

uma serie de aspectos culturais e naturais igualmente relevantes.

Analisando as estratégias utilizadas no MADE (Quadro 23), verifica-se que as

mesmas estão de acordo aos princípios ativos da comunicação apresentados por

Carter (2001), conforme discutimos na seção 4.

As estratégias de comunicação utilizadas do PIMADE variaram de acordo à

localização das placas interpretativas e a perspectiva de observação visando: nos

locais de entradas dos sítios históricos de Porto Seguro e Sta. Cruz Cabrália, a

estratégia foi orientar os visitantes e criar um clima de curiosidade e respeito; nas

praças públicas dos sítios históricos de Arraial, Trancoso, Porto Seguro e Cabrália, a

estratégia foi sensibilizar para o passado e para o presente; junto à Casa de Câmara

de Sta. Cruz Cabrália, a estratégia era apresentar a utilização desse monumento

feita ao longo da história e fazer um apelo preservacionista; nos locais onde se

87

encontram ruínas, a estratégia foi induzir à reflexão através de provocações gráficas

(reconstituições) e perguntas; nos locais de entrada de antigos caminhos e trilhas,

especificamente na escadaria para o porto de Cabrália e escadaria de acesso à

cidade baixa de Porto Seguro a estratégia foi orientar e convidar à descoberta do

entorno e de seus aspectos naturais e culturais; na reserva indígena de Coroa

Vermelha a estratégia foi valorizar as manifestações culturais indígenas; ao redor de

paisagens especiais, especificamente na Trilha do cacau e do Rio da Vila, a

estratégia foi despertar a curiosidade sobre o ambiente (MURTA, 2002b, p. 249).

Ainda como uma estratégia de comunicação efetiva com os visitantes,

buscou-se compatibilizar o conteúdo das mensagens com os princípios da

interpretação. O Quadro 23, ilustra essas estratégias da sinalização interpretativa

utilizadas nos sítios históricos do MADE.

Quadro 23 – Estratégias de comunicação interpretativa do PIMADE

a) Criar uma atmosfera emocional apropriada à visita;

b) Estimular os sentidos e levar o visitante a usar sua imaginação;

c) Relacionar o lugar com temas e paisagens familiares ao visitante;

d) Enfatizar a história humana e valorizar a diversidade cultural;

e) Apoiar o roteiro em temas e marcos estruturantes;

f) Estimular a descoberta do entorno e de seus aspectos naturais e culturais;

g) Servir como catalisador de revitalização de ambientes;

h) Valorizar os diferentes tempos da história;

i) Combinar a orientação com a interpretação nas placas;

j) Evitar a poluição visual;

Fonte: Adaptada de Murta (2002b, p. 250-255).

Na maioria dos atrativos do MADE registrou-se a atuação de profissionais

conduzindo grupos de visitantes, a exemplo dos sítios históricos, onde se verificou a

atuação de monitores credenciados pelas prefeituras locais e, em alguns casos

isolados apenas, verificou-se também a atuação de guias turísticos credenciados

pelo Ministério do Turismo. Em alguns casos específicos registrou-se o

desenvolvimento da interpretação realizada por pessoas, porém de forma tímida e

88

desarticulada a qualquer plano e pouco relacionada com os preceitos sugeridos

interpretativos por Carter (2001); Morales (1998) ; Murta e Goodey (2002).

Com relação ao trabalho de interpretação realizado por pessoas na região do

MADE, este pode ser considerado extremamente incipiente, pouco profissionalizado

e realizado indiretamente ou mesmo “ inconscientemente” por parte de alguns

profissionais que atuam nesses atrativos, a exemplo da “ baiana” da Igreja de Nossa

Senhora d’Ajuda (ANEXO A) no sítio histórico de Arraial d´Ajuda, o “Cabral” do

Quadrado de Trancoso (ANEXO B), e os índios Pataxós da Reserva da Jaqueira

(ANEXO C) e do interior do Museu indígena em Coroa Vermelha (ANEXO D). Todas,

formas de interpretação ao vivo realizadas, ainda que timidamente e

inconscientemente.

Sem dúvida, o mais interessante de todos os exemplos de interpretação ao

vivo foi encontrado no já citado Quadrado de Trancoso (ANEXO B). Um indivíduo

que, ao abordar, de forma amistosa e prestativa, os visitantes que chegam à Igreja

de São João Batista, se intitula “Cabral” e realiza performances teatrais, onde

interpreta o tema descobrimento, ora recitando trechos da Carta de Caminha, ora

referindo-se a aspectos da história do local. O mais intrigante de tudo, é o fato de

que este indivíduo realiza interpretação do patrimônio - nos moldes de Tilden (1977),

ou seja, comunicando valores de forma temática, provocante e reveladora,

utilizando-se para isso técnicas comunicativas e teatrais – mesmo sem saber o real

significado do termo interpretação e, sem nenhum incentivo por parte dos gestores

do turismo.

Conclui-se que a interpretação ao vivo é praticamente nula na região do

MADE, portanto, considerando a idéia de Carter (2001) que considera a

interpretação ao vivo a forma mais bem sucedida de interpretação, cabe aqui

ressaltar o quanto ela é necessária para o desenvolvimento das potencialidades

interpretativas da região como um todo, até então sub-aproveitadas. Urge despertar

aos olhos dos responsáveis pela gestão do turismo e da cultura na região, no

sentido de diversificar os meios e as técnicas interpretativas utilizadas na região, até

então consideradas limitadas aos meios estáticos, a exemplo das placas

interpretativas.

As placas e painéis foram os recursos interpretativos mais utilizados no

PIMADE. Em escala regional foram produzidos e colocados 16 painéis junto aos

89

principais atrativos do MADE, como os núcleos urbanos e os sítios históricos. Cada

um desses painéis continha um mapa ilustrado do território constitutivo do MADE,

com os nomes dos acidentes geográficos e dos principais sítios históricos gravados

através de computação gráfica. Agregado ao mapa havia um texto interpretativo com

informações sobre a chegada da expedição de Cabral e a descrição que fez

Caminha da natureza e dos indígenas, e também o trajeto das naus portuguesas

pontilhados. Comparando com o que apresenta Murta (2002, p. 247), o mapa

ilustrado do MADE “é a peça crucial do sistema de comunicação visual para o

conjunto do Museu Aberto do descobrimento”. Tinha como objetivo principal informar

e orientar os visitantes, na medida em que interpretava e revelava o Patrimônio

Natural e Cultural existente no acervo do Museu, com a finalidade de provocar e

estimular a realização de outras visitas.

Com objetivo de verificar in loco a denúncia de Goodey sobre o vandalismo

ocorrido contra os painéis/mapas do MADE, o presente autor se deslocou até cada

um dos locais onde haviam sido colocados os painéis, conforme as indicações de

Murta (1998). Para o nosso desespero, não encontramos nenhum painel nos locais

indicados, foram todos destruídos. Logramos encontrar apenas um, talvez o único

que restou, porém, estava exposto em um local fora da delimitação do MADE, mais

precisamente no interior de uma agência do Banco do Brasil, na sede do município

de Prado.

Em escala local, foram produzidas e colocadas placas interpretativas - todas

nos moldes da placa contida na Figura 5, - junto a monumentos, ruínas e

paisagens, distribuídas espacialmente conforme os temas que haviam sido elegidos

pelos grupos de trabalho da oficina de interpretação (Quadro 22).

90

Figura 5 – Placa interpretativa na Cidade histórica de Sta Cruz Cabrália (BA).

Fonte: Dados da pesquisa de campo 2007.

Ao analisarmos os conteúdos de interpretação contidos nas placas

interpretativas do MADE, verificamos que a distribuição temática se apresenta

conforme a Tabela 3, construída com intuito de possibilitar uma visão conjunta dos

conteúdos interpretativos utilizados.

91

Tabela 3 – Distribuição temática das placas interpretativas do MADE conforme a localidade

NÚMERO DE OCORRÊNCIAS DO TEMA INTERPRETATIVO ABORDADO CONFORME A LOCALIZAÇÃO DAS PLACAS INTERPRETATIVAS

TEMA INTERPRETATIVO ABORDADO

Centro Histórico de Porto Seguro

Centro histórico de Santa Cruz Cabrália

Coroa Vermelha

Centro Histórico de Arraial d’Ajuda

Demais locais

TOTAL

A arquitetura religiosa e oficial, usos ao longo do tempo;

8

4

-

3

2

17

A estratégia da ocupação portuguesa: idades de dois andares ;

7

3

-

2

2

14

A ação dos jesuítas como suporte da estratégia colonial;

8

-

-

2

2

12

Santos, festas e devoções populares;

3

2

-

3

1

09

Manifestações culturais atuais.

3

2

2

-

2

09

Os conflitos entre índios e portugueses;

3

2

-

2

-

07

Meio ambiente natural, espécies e culturas;

3

1

-

1

2

07

Ruínas e arqueologia;

4

2

-

-

-

06

Os indígenas ontem e hoje;

2

-

2

-

1

05

Evolução urbana acelerada pelo turismo.

2

-

-

-

-

02

Fonte: Elaborada pelo autor a partir dos dados da pesquisa de campo, 2008.

92

Ppercebe-se que a ênfase maior foi dada aos temas: “arquitetura religiosa e oficial,

usos ao longo do tempo”, tendo sido verificadas 17 ocorrências; “estratégias de

ocupação portuguesa, cidades de dois andares”, tendo sido verificadas 14

ocorrências; “a ação jesuítica como suporte da ação colonial”, sendo verificadas 12

ocorrências; “santos festas e devoções populares” e “manifestações culturais”,

verificadas 09 ocorrências.

Com menor ênfase foram abordados os temas: “conflitos entre índios e

portugueses” e “meio ambiente natural, espécies e culturas”, tendo sido verificadas

07 ocorrências; “Ruínas e arqueologia”, verificaram-se 06 ocorrências; “os indígenas

ontem e hoje”, sendo verificadas 05 ocorrências; “evolução urbana acelerada pelo

turismo”, verificadas apenas 02 ocorrências.

6.2 Perfil socioeconômico e comportamentos de consumo dos visitantes do

MADE

Neste item, apresentaremos e discutiremos a caracterização do perfil

socioeconômico e alguns comportamentos de consumo dos turistas de tais atrativos

turísticos, com o objetivo de complementar a caracterização dos atrativos turísticos

no MADE, iniciada na seção 2 e, sobretudo porque entendemos conforme Carter

(2001), ou seja, que as características dos visitantes é uma questão extremamente

importante para o plano interpretativo e deve ser estudada considerando as outras

questões que a ela se conectam.

Do total de 293 indivíduos abordados nos quatro pontos de coleta de dados,

138 eram do gênero feminino e representam 47.1% da amostragem e 155 eram do

gênero masculino que configuram 52.9%.

Com relação à origem dos visitantes, os dados da Figura 6 mostram que a

maioria dos visitantes 55%, é proveniente da região sudeste, seguida da região

nordeste 24%, Centro Oeste 10.65%, sul 8.58%, e norte 1.37%, onde também

verifica-se que 78.08% dos visitantes provêm das seguintes Unidades da Federação,

em ordem decrescente: MG, BA, SP, RJ, ES e DF. Entre estas, a principal emissora

de visitantes para a região do MADE é Minas Gerais, que configura 23.2% do dotal

de visitantes entrevistados. Em seguida, os Estados da Bahia e de São Paulo

revelaram-se importantes pólos emisso

respectivamente.

0 5

PA

CE

AL

MT

SC

RN

TO

GO

PE

SE

PR

RS

PB

DF

ES

RJ

SP

BA

MG

0,34

0,34

0,34

0,68

0,68

0,68

1,03

2,4

2,4

2,4

3,42

4,45

4,79

Figura 6 – Origem dos visitantes Descobrimento Fonte: Dados da pesquisa de campo, 2008.

Com relação à origem dos visitantes, os dados da Figura 6 mostram que a

maioria dos visitantes 55%, é proveniente da região sudeste, seguida da região

nordeste 24%, Centro Oeste 10.65%, sul 8.58%, e norte 1.37%, onde também

se que 78.08% dos visitantes provêm das seguintes Unidades da Federação,

: MG, BA, SP, RJ, ES e DF. Entre estas, a principal emissora

de visitantes para a região do MADE é Minas Gerais, que configura 23.2% do dotal

de visitantes entrevistados. Em seguida, os Estados da Bahia e de São Paulo

se importantes pólos emissores com 15.4% e 14.3% dos visitantes

10 15 20

4,45

4,79

7,53

7,88

9,59

14,38

15,41

(%)

55%24%

11%9% 1%

Origem dos visitantes dos atrativos histórico-culturais do Museu Aberto doDescobrimento por UF e região brasileira, em porcentagem.

Fonte: Dados da pesquisa de campo, 2008.

93

Com relação à origem dos visitantes, os dados da Figura 6 mostram que a

maioria dos visitantes 55%, é proveniente da região sudeste, seguida da região

nordeste 24%, Centro Oeste 10.65%, sul 8.58%, e norte 1.37%, onde também

se que 78.08% dos visitantes provêm das seguintes Unidades da Federação,

: MG, BA, SP, RJ, ES e DF. Entre estas, a principal emissora

de visitantes para a região do MADE é Minas Gerais, que configura 23.2% do dotal

de visitantes entrevistados. Em seguida, os Estados da Bahia e de São Paulo

res com 15.4% e 14.3% dos visitantes

20 25

23,29

SUDESTE 55%

NORDESTE 24%

C. OESTE 10,65%

SUL 8,58%

NORTE 1,37%

culturais do Museu Aberto do , em porcentagem.

94

Tabela 4 – Distribuição percentual do número de visitantes do MADE, por UF em relação à origem interna.

UF Capital % Interior % Total %

MG 28 41,18 40 58,82 68 23,29

BA 2 4,55 42 95,45 44 15,41

SP 29 69,05 13 30,95 42 14,38

RJ 24 85,71 4 14,29 28 9,59

ES 9 39,13 14 60,87 23 7,88

DF 22 100 0 0 22 7,53

PB 14 100 0 0 14 4,79

RS 9 69,23 4 30,77 13 4,45

PR 6 60 4 40 10 3,42

GO 5 71,43 2 28,57 7 2,4

PE 0 0 4 100 4 2,4

SE 4 100 0 0 4 2,4

TO 0 100 3 100 3 1,03

MT 2 100 0 0 2 0,68

SC 0 0 2 100 2 0,68

RN 1 50 1 50 2 0,68

PA 1 100 0 0 1 0,34

CE 1 100 0 0 1 0,34

AL 0 0 1 100 1 0,34

TOTAL 157 53,95 134 46,05 291 100

Fonte: Dados da pesquisa de campo, 2008.

Interpretando a Tabela 4, tem-se que 41.1% dos visitantes provenientes do

Estado de Minas Gerais residem na capital e 58.8% residem no interior daquele

Estado. Analisando esta mesma Tabela, verifica-se que dentre os visitantes

originários da Bahia apenas 4.55% residem em Salvador e 95.4% residem no interior

deste Estado. Esse resultado aponta para a necessidade de se realizarem esforços

de marketing com objetivo de incrementar o fluxo turístico proveniente de Salvador.

Verificou-se que, ao contrário da Bahia, dentre os visitantes provenientes do Estado

de São Paulo, 69% residem na capital e 30.9% no interior daquele Estado.

Figura 7 - Freqüência das faixas etárias dos visitantes Aberto do Descobrimento

Fonte: Dados da pesquisa de campo, 2008.

No que se refere às faixas etárias dos visitantes do MADE, a Figura 7 traz

informações que demonstram os seguintes valores: 57.09% para os visitantes que

situaram-se na faixa de etária de 25 a 44 anos; 21% na faixa de 15 a 24 anos;

17.30% na faixa de 45 a 65 anos e; apenas 4.5% na faixa acima de 65 anos. Com

esse resultado conclui-se que o público de idade maior de 45 anos representa

apenas 21.8% do total de visitant

de se desenvolver políticas públicas de turismo que incentivem uma maior

participação dessa importante parcela da população em atividades turísticas

desenvolvidas nesta região.

50

45-65

Freqüência das faixas etárias dos visitantes dos atrativos do MuseuAberto do Descobrimento.

Fonte: Dados da pesquisa de campo, 2008.

No que se refere às faixas etárias dos visitantes do MADE, a Figura 7 traz

informações que demonstram os seguintes valores: 57.09% para os visitantes que

faixa de etária de 25 a 44 anos; 21% na faixa de 15 a 24 anos;

17.30% na faixa de 45 a 65 anos e; apenas 4.5% na faixa acima de 65 anos. Com

se que o público de idade maior de 45 anos representa

apenas 21.8% do total de visitantes do MADE. Esse fato demonstra a necessidade

de se desenvolver políticas públicas de turismo que incentivem uma maior

a importante parcela da população em atividades turísticas

desenvolvidas nesta região.

61

15-24

165

25-44

13

Acima 65

15-24 21,11%

25-44 57,09%

45-65 17,30%

Acima 65 4,5%

95

dos atrativos do Museu

No que se refere às faixas etárias dos visitantes do MADE, a Figura 7 traz

informações que demonstram os seguintes valores: 57.09% para os visitantes que

faixa de etária de 25 a 44 anos; 21% na faixa de 15 a 24 anos;

17.30% na faixa de 45 a 65 anos e; apenas 4.5% na faixa acima de 65 anos. Com

se que o público de idade maior de 45 anos representa

es do MADE. Esse fato demonstra a necessidade

de se desenvolver políticas públicas de turismo que incentivem uma maior

a importante parcela da população em atividades turísticas

Figura 8 - Renda familiar dos visitantes salários mínimos. Fonte: Dados da pesquisa de campo, 2008.

Com relação às rendas familiares dos visitantes do MADE, 28.01%

respondentes situaram-se na faixa de até 04 salári

salários mínimos, 15.6% entre 06 e 08 salários mínimos, 14.89% entre 10 e 20

salários mínimos, 12.06% entre 08 e 10 salários mínimos e 9.93% acima de 20

salários mínimos (Figura

a mesma varia entre 06 e10 salários mínimos entre os visitantes do MADE.

Figura 9 - Nível de escolaridade dos visitantes Descobrimento

Fonte: Dados da pesquisa de campo,

0

10

20

30

Até 4 SM 4-6 SM

28,01

19,5

(%)

33,56%

23,29%

0

5

10

15

20

25

30

35

40

Superior

Completo

Médio

Completo

familiar dos visitantes dos atrativos do MADE, em número desalários mínimos.

Fonte: Dados da pesquisa de campo, 2008.

Com relação às rendas familiares dos visitantes do MADE, 28.01%

se na faixa de até 04 salários mínimos, 19.5% entre 04 e 06

salários mínimos, 15.6% entre 06 e 08 salários mínimos, 14.89% entre 10 e 20

salários mínimos, 12.06% entre 08 e 10 salários mínimos e 9.93% acima de 20

igura 8). Calculando-se a média de renda familiar, c

a mesma varia entre 06 e10 salários mínimos entre os visitantes do MADE.

Nível de escolaridade dos visitantes dos atrativos do Museu Aberto doDescobrimento.

ados da pesquisa de campo, 2008.

6 SM 6-8 SM 10-20 SM 8-10 SMAcima 20 SM

19,5

15,6 14,8912,06

9,93

23,29%

17,47%15,41%

5,48%2,4%

Médio

Completo

Superior

incompleto

Pós

graduação

Fundamental

incompleto

Fundamental

completo

96

em número de

Com relação às rendas familiares dos visitantes do MADE, 28.01% dos

os mínimos, 19.5% entre 04 e 06

salários mínimos, 15.6% entre 06 e 08 salários mínimos, 14.89% entre 10 e 20

salários mínimos, 12.06% entre 08 e 10 salários mínimos e 9.93% acima de 20

se a média de renda familiar, conclui-se que

a mesma varia entre 06 e10 salários mínimos entre os visitantes do MADE.

dos atrativos do Museu Aberto do

2,4% 2%

Fundamental

completo

Médio

Incompleto

Sobre o nível de escolaridade dos visitantes do MADE, as respostas aos

formulários aplicados permitem concluir que 33.56% possuem nível superior

completo, 23.29% ensino médio completo, 17.47% ensino de nível superior

incompleto, 15.41% pós

fundamental completo e 2% ensino médio completo (F

média de escolaridade dos visitantes da região de estudo é de ensino superior

incompleto.

Figura 10 - Forma de viaj

Fonte: Dados da pesquisa de campo, 2008.

Com relação às formas de viajar dos visitantes do MADE, os resultados da

pesquisa permitem concluir que 68.6% dos entrevistados viajaram sem a

contratação de serviços de oper

serviços de operadoras (F

necessidade de se desenvolver políticas públicas e planejamento turístico que

estimulem e favoreçam o turismo cultural pratic

Sobre o nível de escolaridade dos visitantes do MADE, as respostas aos

formulários aplicados permitem concluir que 33.56% possuem nível superior

completo, 23.29% ensino médio completo, 17.47% ensino de nível superior

incompleto, 15.41% pós-graduação, 5.48% ensino fundamental incompleto, 2.4%

fundamental completo e 2% ensino médio completo (Figura 9). Conclui

média de escolaridade dos visitantes da região de estudo é de ensino superior

Forma de viajar dos visitantes dos atrativos do MADE

Fonte: Dados da pesquisa de campo, 2008.

Com relação às formas de viajar dos visitantes do MADE, os resultados da

pesquisa permitem concluir que 68.6% dos entrevistados viajaram sem a

contratação de serviços de operadoras de turismo e, 31.4% viajaram utilizando

serviços de operadoras (Figura 10). Esse resultado nos chama a atenção para a

necessidade de se desenvolver políticas públicas e planejamento turístico que

estimulem e favoreçam o turismo cultural praticado de forma individual.

31,4%

68,6%

Viagens organizadas por operadoras 31,4%

Sem operadora 68,6%

97

Sobre o nível de escolaridade dos visitantes do MADE, as respostas aos

formulários aplicados permitem concluir que 33.56% possuem nível superior

completo, 23.29% ensino médio completo, 17.47% ensino de nível superior

5.48% ensino fundamental incompleto, 2.4%

9). Conclui-se que a

média de escolaridade dos visitantes da região de estudo é de ensino superior

dos atrativos do MADE

Com relação às formas de viajar dos visitantes do MADE, os resultados da

pesquisa permitem concluir que 68.6% dos entrevistados viajaram sem a

adoras de turismo e, 31.4% viajaram utilizando-se de

nos chama a atenção para a

necessidade de se desenvolver políticas públicas e planejamento turístico que

ado de forma individual.

Figura 11 - Distribuição dos visitantes Descobrimento

Fonte: Dados da pesquisa de campo, 2008.

Do total de visitantes que viajaram at

operadoras, 79.1% correspondem à empresa CVC Viagens (F

operadoras em conjunto correspondem a 15.9% das operações e, 5.4%

correspondem às demais operadoras envolvidas nos programas de viagens dos

visitantes do MADE (Figura

CVC sobre as demais empresas, no que se refere à exploração dos programas de

viagens organizadas por operadoras de turismo na região de estudo.

Figura 12 - Meio de transporte utilizado pelos visitantes Museu Aberto do Descobrimento

Fonte: Dados da pesquisa de campo, 2008.

3,2%

3,2%3,2%

2,1%

2,1%

11%

7%

Distribuição dos visitantes dos atrativos do Museu Aberto doDescobrimento conforme a operadora contratada.

Fonte: Dados da pesquisa de campo, 2008.

Do total de visitantes que viajaram através da contratação de serviços de

operadoras, 79.1% correspondem à empresa CVC Viagens (Figura

operadoras em conjunto correspondem a 15.9% das operações e, 5.4%

correspondem às demais operadoras envolvidas nos programas de viagens dos

igura 11). Esse resultado caracteriza monopólio da empresa

CVC sobre as demais empresas, no que se refere à exploração dos programas de

viagens organizadas por operadoras de turismo na região de estudo.

Meio de transporte utilizado pelos visitantes para chegar aoMuseu Aberto do Descobrimento.

Fonte: Dados da pesquisa de campo, 2008.

79,1%

2,1% 2,1%

5,4%CVC 79,1%

Tia Eliza 3,2%

Bessitour 3,2%

São Jose 3,2%

Free Time 2,1%

São Remo 2,1%

Visual 2,1%

Outras 5,4%

47%

24%

7%

4%7%

Veículo próprio

47%

Veículo de

operadora 24%

Carro alugado 11%

Coletivo 7%

Taxi4%

Outro 7%

98

dos atrativos do Museu Aberto do

ravés da contratação de serviços de

igura 11). Outras 07

operadoras em conjunto correspondem a 15.9% das operações e, 5.4%

correspondem às demais operadoras envolvidas nos programas de viagens dos

11). Esse resultado caracteriza monopólio da empresa

CVC sobre as demais empresas, no que se refere à exploração dos programas de

viagens organizadas por operadoras de turismo na região de estudo.

para chegar aos atrativos do

São Remo 2,1%

Veículo próprio

Carro alugado 11%

99

Entre o transporte utilizado pelos visitantes para chegar aos atrativos do

MADE, a interpretação da Figura 12 nos permite revelar a predominância dos

veículos próprios, que configuram 47% do total, seguidos da utilização de veículos

de operadoras 24%, carros alugados 11%, transporte coletivo 7%, taxi 4% e outros

4%. Dentro da categoria “outros”, a maioria dos respondentes, 89% afirmaram que

chegaram caminhando aos atrativos e dentre os demais entrevistados desta mesma

categoria, 11% afirmaram que utilizaram carona de amigos ou bicicleta.

6.3 Opinião dos atores sociais do turismo sobre aspectos qualitativos da

interpretação no MADE

Em escalas numéricas variando de 0 a 5, levantaram-se dados sobre as

opiniões dos visitantes, da comunidade e dos gestores sobre aspectos qualitativos

da interpretação no MADE. Calcularam-se as médias aritméticas de cada item por

grupo de entrevistados. Em seguida foram realizados cruzamentos dos dados

obtidos dos três grupos, com intuito de verificar possíveis discrepâncias entre as

opiniões desses atores sociais sobre a interpretação nos atrativos da região de

estudo.

6.3.1 Opinião dos visitantes sobre a interpretação do patrimônio no MADE

Iniciaremos a análise pelos visitantes, entendendo que os dados deste grupo

de atores são fundamentais para o entendimento das inter-relações entre as

questões que se conectam, de acordo ao que estudamos em Carter (2001), no

âmbito do planejamento interpretativo. Neste estudo em específico, as informações

levantadas junto aos visitantes foram determinantes para a avaliação do plano

interpretativo, e suscitam muitas discussões dentre as quais destacamos algumas no

decorrer desta seção.

Figura 13 - Opinião dos visitantes sobre aspectos qualitativos da interpretação no MADE, em escalas numéricas de 0 a 5.

Fonte: Dados da pesquisa de campo, 2008.

Entre os itens melhor avaliados pelos visitantes destacaram

entorno dos atrativos 4.84, o trabalho dos guias e monitores 4.7 e as informações

passadas pelos guias 4.68 (

Os itens que tiveram as piores

informações sobre a natureza 3.1, informações sobre a cultura 3.41 e informações

sobre a história 3.53. A forma como é passada a informação foi avaliada em 3.58 e

sinalização geral 3.61 (Figura

qualidade das informações que são transmitidas aos visitantes sobre aspectos

históricos, culturais e naturais não é suficiente para os visitantes e,

conseqüentemente comprometem uma interpretação de qualidade, havendo a

necessidade de se repensar as técnicas e meios com intuito de adquirir mais eficácia

interpretativa, uma vez que a informação é a mensagem do processo de

comunicação entre o emissor e o receptor, portanto a interpretação depende da

qualidade desta, conforme vimos em M

Informações sobre a natureza

Informações sobre a cultura

Informações sobre a História

Forma como é passada a informação

Informações das placas Interpretativas

Conservação dos monumentos

Patrimônio histórico arquitetônico

Informações passadas pelo guia/monitor

Qualidade do trabalho do guia/monitor

Opinião dos visitantes sobre aspectos qualitativos da interpretação no em escalas numéricas de 0 a 5.

pesquisa de campo, 2008.

Entre os itens melhor avaliados pelos visitantes destacaram

entorno dos atrativos 4.84, o trabalho dos guias e monitores 4.7 e as informações

passadas pelos guias 4.68 (Figura 13).

Os itens que tiveram as piores avaliações entre os visitantes foram

informações sobre a natureza 3.1, informações sobre a cultura 3.41 e informações

sobre a história 3.53. A forma como é passada a informação foi avaliada em 3.58 e

sinalização geral 3.61 (Figura 13). Os números obtidos permitem afirmar que a

qualidade das informações que são transmitidas aos visitantes sobre aspectos

históricos, culturais e naturais não é suficiente para os visitantes e,

conseqüentemente comprometem uma interpretação de qualidade, havendo a

de se repensar as técnicas e meios com intuito de adquirir mais eficácia

interpretativa, uma vez que a informação é a mensagem do processo de

comunicação entre o emissor e o receptor, portanto a interpretação depende da

qualidade desta, conforme vimos em Morales (2006).

0 1 2 3

Informações sobre a natureza

Informações sobre a cultura

Informações sobre a História

Forma como é passada a informação

Sinalização geral

Conservação da natureza

Informações das placas Interpretativas

Conservação dos monumentos

Patrimônio histórico arquitetônico

Informações passadas pelo guia/monitor

Qualidade do trabalho do guia/monitor

Paisagem do entorno

100

Opinião dos visitantes sobre aspectos qualitativos da interpretação no

Entre os itens melhor avaliados pelos visitantes destacaram-se a paisagem do

entorno dos atrativos 4.84, o trabalho dos guias e monitores 4.7 e as informações

avaliações entre os visitantes foram

informações sobre a natureza 3.1, informações sobre a cultura 3.41 e informações

sobre a história 3.53. A forma como é passada a informação foi avaliada em 3.58 e a

permitem afirmar que a

qualidade das informações que são transmitidas aos visitantes sobre aspectos

históricos, culturais e naturais não é suficiente para os visitantes e,

conseqüentemente comprometem uma interpretação de qualidade, havendo a

de se repensar as técnicas e meios com intuito de adquirir mais eficácia

interpretativa, uma vez que a informação é a mensagem do processo de

comunicação entre o emissor e o receptor, portanto a interpretação depende da

4 5

3,1

3,41

3,53

3,58

3,61

3,85

3,92

4,08

4,1

4,68

4,7

4,84

Há indícios suficientes para afirmarmos que as informações sobre a natureza,

sobre a história e sobre a cultura, relacionadas à região do MADE, comprometem o

desenvolvimentos dos segmentos turísticos ecoturismo e turismo cultural, ou seja

aqueles que consideramos mais próximos das atividades de interpretação. Há

portanto a necessidade implícita de re

MADE, nos moldes de Carter (2001), ou seja, considerando a forma sistêmica como

as questões que envolvem o planejamento interpretativo se conectam, para então

conceber um novo plano interpretativo para a região, orientado pela integração com

o turismo.

Por outro lado, as informações das placas interpretativas tiveram uma

avaliação alta (3,92), comp

precisão da intervenção interpretativa realizada no âmbito do PIMADE e a eficácia

produzida pelas informaç

só a qualidade das mensagens que são

MADE, de maneira geral.

Figura 14 - Opinião dos visitantes sobre a qualidade da experiência atrativos do MADE

Fonte: Dados da pesquisa de ca

Qualidade da informação recebida

Objetos e fatos interessantes

apresentados durante a visita

Grau de interesse em saber mais sobre o

Há indícios suficientes para afirmarmos que as informações sobre a natureza,

sobre a história e sobre a cultura, relacionadas à região do MADE, comprometem o

desenvolvimentos dos segmentos turísticos ecoturismo e turismo cultural, ou seja

aqueles que consideramos mais próximos das atividades de interpretação. Há

portanto a necessidade implícita de re-planejamento interpretativo na região do

MADE, nos moldes de Carter (2001), ou seja, considerando a forma sistêmica como

olvem o planejamento interpretativo se conectam, para então

conceber um novo plano interpretativo para a região, orientado pela integração com

Por outro lado, as informações das placas interpretativas tiveram uma

avaliação alta (3,92), comparando-se aos demais itens avaliados o que demonstra a

precisão da intervenção interpretativa realizada no âmbito do PIMADE e a eficácia

produzida pelas informações contidas nestes meios. No entanto não garantem por si

só a qualidade das mensagens que são comunicadas nos atrativos turísticos do

MADE, de maneira geral.

Opinião dos visitantes sobre a qualidade da experiênciaatrativos do MADE, em escalas numéricas de 0 a 5.

Fonte: Dados da pesquisa de campo, 2008.

0 1 2 3

Qualidade da informação recebida

Objetos e fatos interessantes

apresentados durante a visita

Grau de interesse em saber mais sobre o

local

Valor que possui o local

101

Há indícios suficientes para afirmarmos que as informações sobre a natureza,

sobre a história e sobre a cultura, relacionadas à região do MADE, comprometem o

desenvolvimentos dos segmentos turísticos ecoturismo e turismo cultural, ou seja,

aqueles que consideramos mais próximos das atividades de interpretação. Há

planejamento interpretativo na região do

MADE, nos moldes de Carter (2001), ou seja, considerando a forma sistêmica como

olvem o planejamento interpretativo se conectam, para então

conceber um novo plano interpretativo para a região, orientado pela integração com

Por outro lado, as informações das placas interpretativas tiveram uma

se aos demais itens avaliados o que demonstra a

precisão da intervenção interpretativa realizada no âmbito do PIMADE e a eficácia

o entanto não garantem por si

comunicadas nos atrativos turísticos do

Opinião dos visitantes sobre a qualidade da experiência obtida nos

4 5

3,86

4,06

4,52

4,84

Sobre a qualidade da experiência obtida no local, os dados da pesquisa

demonstraram que o item pior avaliado pelos visitantes foi qualidade da informação

recebida no local, 3.86 (Figura

(Figura 13), onde se verificaram as menores médias aritméticas nos itens

informações sobre a cultura, informações sobre a natureza, informações sobre

história, forma como é passada a informação e sinalização geral. Ou seja, os itens

relacionados à informação f

Reafirma-se a necessidade de se repensar as formas de transmissão das

informações aos visitantes, ou seja, o planejamento interpretativo local.

6.3.2 Opinião da comunidade sobre a interpretação do p

Dando seqüência nas análises dos resultados e nas discussões acerca das

opiniões dos atores sociais do turismo sobre aspectos qualitativos da interpretação

no MADE, partimos para o grupo das comunidades dos entornos dos atrativos

turísticos da região do MADE.

Figura 15 - Opinião das comunidades sobre aspectos qualitativos da interpretação

no MADE em escalas numéricas de 0 a 5.

Fonte: Dados da pesquisa de campo, 2008.

Informações das placas Interpretativas

Informações sobre a natureza

Conservação dos monumentos

Forma como é passada a informação

Informações sobre a cultura

Informações passa pelo guia/monitor

Informações sobre a História

Patrimônio histórico arquitetônico

Qualidade do trabalho do guia/monitor

Sobre a qualidade da experiência obtida no local, os dados da pesquisa

demonstraram que o item pior avaliado pelos visitantes foi qualidade da informação

recebida no local, 3.86 (Figura 14). Esse resultado reafirma os resultados anteriores

13), onde se verificaram as menores médias aritméticas nos itens

informações sobre a cultura, informações sobre a natureza, informações sobre

história, forma como é passada a informação e sinalização geral. Ou seja, os itens

relacionados à informação foram os piores avaliados na opinião dos visitantes.

se a necessidade de se repensar as formas de transmissão das

informações aos visitantes, ou seja, o planejamento interpretativo local.

6.3.2 Opinião da comunidade sobre a interpretação do patrimônio no MADE

Dando seqüência nas análises dos resultados e nas discussões acerca das

opiniões dos atores sociais do turismo sobre aspectos qualitativos da interpretação

no MADE, partimos para o grupo das comunidades dos entornos dos atrativos

icos da região do MADE.

Opinião das comunidades sobre aspectos qualitativos da interpretação no MADE em escalas numéricas de 0 a 5.

Fonte: Dados da pesquisa de campo, 2008.

0 1 2 3

Sinalização geral

Informações das placas Interpretativas

Conservação da natureza

Informações sobre a natureza

Conservação dos monumentos

Forma como é passada a informação

Informações sobre a cultura

Informações passa pelo guia/monitor

Informações sobre a História

Patrimônio histórico arquitetônico

Qualidade do trabalho do guia/monitor

Paisagem do entorno

1,63

2,13

2,14

2,17

2,29

2,56

2,57

2,64

2,81

102

Sobre a qualidade da experiência obtida no local, os dados da pesquisa

demonstraram que o item pior avaliado pelos visitantes foi qualidade da informação

14). Esse resultado reafirma os resultados anteriores

13), onde se verificaram as menores médias aritméticas nos itens

informações sobre a cultura, informações sobre a natureza, informações sobre

história, forma como é passada a informação e sinalização geral. Ou seja, os itens

oram os piores avaliados na opinião dos visitantes.

se a necessidade de se repensar as formas de transmissão das

informações aos visitantes, ou seja, o planejamento interpretativo local.

atrimônio no MADE

Dando seqüência nas análises dos resultados e nas discussões acerca das

opiniões dos atores sociais do turismo sobre aspectos qualitativos da interpretação

no MADE, partimos para o grupo das comunidades dos entornos dos atrativos

Opinião das comunidades sobre aspectos qualitativos da interpretação

4 5

2,56

2,57

2,64

2,81

3

3,04

4,13

103

Com relação às opiniões da comunidade sobre os aspectos qualitativos da

interpretação no MADE, conforme apresentado na Figura 15, os itens que obtiveram

melhores níveis na escala avaliativa, foram a paisagem do entorno 4.13, a

qualidade do trabalho do guia 3.04 e o patrimônio histórico arquitetônico 3.0.

Neste grupo, conforme se verifica na Figura 15, a sinalização das áreas foi o

item que obteve a pior avaliação, 1.63. Esse resultado demonstra que esse aspecto

geral da infra-estrutura de atrativos turísticos interpretativos – considerado essencial

para as intenções interpretativas, de acordo com Carter (2001); Morales (1998) e;

Murta e Goodey (2002) – deixa a desejar e, portanto, requer que sejam realizadas

intervenções no sentido de corrigir as falhas existentes, uma vez que, conforme

verificamos no item 6.2, o transporte mais utilizado para se chegar aos atrativos é o

veículo próprio e, sendo assim a sinalização, de uma maneira geral, requer

intervenções no sentido de adequá-la às necessidades destes visitantes. Esta

observação, apenas demonstra a necessidade de intervenções, porém é importante

salientar que outros estudos mais específicos sobre a sinalização geral das áreas

devem ser feitos, observando a lógica do planejamento turístico (BARRETO, 1991;

DIAS, 2003; PETROCCHI, 2002; RUSCHMANN, 2001;) visando a integração entre

turismo e interpretação.

O segundo item pior avaliado pela comunidade, conforme se observa na

Figura 15, foi aquele das informações das placas interpretativas 2.13. Esse resultado

demonstra que a comunidade não esta satisfeita com as informações das placas

interpretativas. A comunidade pensa diferente dos visitantes com relação às

informações das placas interpretativas, uma vez que a média de avaliação deste

item por parte dos visitantes foi de 3,92, ao passo em que por parte da comunidade

esse valor foi pouco acima da metade do primeiro. Neste caso prevalece a opinião

da comunidade, uma vez que esta é a detentora e possuidora dos recursos

interpretativos. Cabe aqui, ressaltar a necessidade de reavaliação dos conteúdos

interpretativos, com intuito de implementar novas ações de interpretação, que

possibilitem o engajamento e participação da maioria dos representantes da

comunidade, possuidora dos recursos interpretativos, uma vez que esse é o principal

fator de sucesso da interpretação de maneira geral, de acordo com o que

apreendemos anteriormente a partir das idéias de Carter (2001); Goodey (2002);

Murta e Goodey (2002),

planejamento interpretativo.

O terceiro item pior avaliado pela comunidade foi a conservação da natureza

2.14, conforme apresenta a Figura 15. Esse resultado nos chama atenção para a

necessidade de corrigir esse problema, uma vez que a qualidade e conservação da

paisagem do entorno é um aspecto que Carter (2001) coloca como essencial para a

se ter interpretação de qualidade.

6.3.3 Opinião dos gestores sobre a interpretação do patrimônio no MADE

Inicialmente apresentaremos um resumo do perfil dos gestores, componentes

da Câmara Turística da Costa do Descobrimento, com intuito de fornecer subsídios

que servirão para aprofundar a caracterização dos atrativos turísticos da região do

MADE, agora do ponto de vista de sua gestão.

Figura 16 - Nível de escolaridade dos gestores

Fonte: Dados da pesquisa de campo, 2008.

18%

18%

sobre a relevância do papel da comunidade no processo de

planejamento interpretativo.

O terceiro item pior avaliado pela comunidade foi a conservação da natureza

2.14, conforme apresenta a Figura 15. Esse resultado nos chama atenção para a

e corrigir esse problema, uma vez que a qualidade e conservação da

paisagem do entorno é um aspecto que Carter (2001) coloca como essencial para a

se ter interpretação de qualidade.

6.3.3 Opinião dos gestores sobre a interpretação do patrimônio no MADE

nicialmente apresentaremos um resumo do perfil dos gestores, componentes

da Câmara Turística da Costa do Descobrimento, com intuito de fornecer subsídios

que servirão para aprofundar a caracterização dos atrativos turísticos da região do

to de vista de sua gestão.

Nível de escolaridade dos gestores do turismo da região do MADE.

Fonte: Dados da pesquisa de campo, 2008.

35%

23%

6% Pós graduação 35,29%

Superior incompleto

23,53

Superior completo 18%

Médio completo 17,65%

Fundamental completo

5,88%

104

sobre a relevância do papel da comunidade no processo de

O terceiro item pior avaliado pela comunidade foi a conservação da natureza

2.14, conforme apresenta a Figura 15. Esse resultado nos chama atenção para a

e corrigir esse problema, uma vez que a qualidade e conservação da

paisagem do entorno é um aspecto que Carter (2001) coloca como essencial para a

6.3.3 Opinião dos gestores sobre a interpretação do patrimônio no MADE

nicialmente apresentaremos um resumo do perfil dos gestores, componentes

da Câmara Turística da Costa do Descobrimento, com intuito de fornecer subsídios

que servirão para aprofundar a caracterização dos atrativos turísticos da região do

do turismo da região do MADE.

Pós graduação 35,29%

Superior incompleto

Superior completo 18%

Médio completo 17,65%

Fundamental completo

105

A análise da Figura 16 revela que 35% dos indivíduos - que representam

Instituições membro da Câmara turística da Costa do Descobrimento, - considerados

neste estudo como sendo os responsáveis pela gestão do turismo na região do

MADE, situam-se no nível de escolaridade pós-graduação, 23% no nível superior

incompleto, 18% no nível superior completo, 17.65% no nível médio completo e 5.88

no nível fundamental completo. Esse resultado demonstra que a maioria dos

gestores, 76% situa-se em uma escolaridade que varia entre superior incompleto e

pós-graduação. Portanto o nível de escolaridade dos gestores do turismo da região

do MADE foi considerado satisfatório.

Dando continuidade à investigação desse grupo, ao analisarmos os

resultados das entrevistas semi-dirigidas, registramos que o aproveitamento turístico

do patrimônio cultural e natural da região do MADE foi considerado insuficiente por

97% dos representantes de Organizações Governamentais e Não Governamentais

que compõem a Câmara Turística da Costa do Descobrimento. As respostas obtidas

freqüentemente traziam expressões como “pouco aproveitado”, “sub-aproveitado”

ou até mesmo “mal aproveitado”.

Com relação ao significado dos termos “interpretação do patrimônio” e

“interpretação ambiental”, apenas 01 indivíduo (5,8%), entre os 17 respondentes das

entrevistas semi dirigidas, logrou apresentar uma definição que se aproxima da

definição de Tilden (1977). Os demais respondentes demonstraram

desconhecimento total do significado do termo interpretação do patrimônio. Esse

resultado mostra que os gestores do turismo na região do MADE ainda não estão

preparados para pensar na integração entre Turismo e Interpretação na região, pois

desconhecem o conceito de interpretação do patrimônio. Portanto é evidente a

necessidade de se debater o assunto nas reuniões das Câmaras Técnicas, no

sentido de revelar o significado das atividades de interpretação do patrimônio para a

região em questão e possibilitar a compreensão da necessidade de integração

dessas atividades ao planejamento turístico regional, com foco nas políticas públicas

de turismo, educação, cultura e meio ambiente integradas.

Indagados sobre a existência de qualquer iniciativa que envolvesse

interpretação do patrimônio na região, surpreendentemente 100% dos gestores

entrevistados ignora qualquer iniciativa neste sentido. Estes dados demonstram que

o PIMADE foi “esquecido” pelos gestores do turismo na região, uma vez que sequer

foi mencionado. No entanto, apesar de desconhecerem o termo interpretação do

patrimônio, bem como ignorarem o PIMADE, 94% dos respondentes afirmaram

terem interesse em conhecer mais e debater o assunto “interpretação”, o que reve

a abertura dos gestores para futuros debates envolvendo o tema.

Os dados coletados revelam que a média aritmética das auto

17 gestores entrevistados foi de 3.18, com relação à efetiva participação em

conselhos e câmaras turísticas da reg

que a efetividade da participação dos gestores nas reuniões sobre planejamento

turístico na região é apenas razoavelmente satisfatória. Lembramos que esse

aspecto - a participação e articulação dos gestores nas r

governança - , na visão de Dias (2003), é essencial para o planejamento turístico,

portanto chamamos a atenção no sentido de criar

dessas Instâncias de governança que favoreçam a integração entre int

patrimônio e turismo.

A opinião dos gestores do turismo sobre aspectos qualitativos da

interpretação que se desenvolve na região do MADE vem completar o levantamento

da opinião dos atores sociais do turismo sobre a interpretação na região

questão.

Figura 17 - Opinião dos gestores sobre aspectos qualitativos

em escalas numéricas de 0 a 5.

Fonte: Dados da pesquisa de campo, 2008.

Informações sobre a natureza

Qualidade do trabalho do guia/monitor

Forma como é passada a informação

Conservação dos monumentos

Informações das placas interpretativas

Patrimônio histórico arquitetônico

No entanto, apesar de desconhecerem o termo interpretação do

patrimônio, bem como ignorarem o PIMADE, 94% dos respondentes afirmaram

terem interesse em conhecer mais e debater o assunto “interpretação”, o que reve

a abertura dos gestores para futuros debates envolvendo o tema.

Os dados coletados revelam que a média aritmética das auto

17 gestores entrevistados foi de 3.18, com relação à efetiva participação em

conselhos e câmaras turísticas da região do MADE. Esse resultado permite afirmar

que a efetividade da participação dos gestores nas reuniões sobre planejamento

turístico na região é apenas razoavelmente satisfatória. Lembramos que esse

a participação e articulação dos gestores nas reuniões de Instâncias de

, na visão de Dias (2003), é essencial para o planejamento turístico,

portanto chamamos a atenção no sentido de criar-se mecanismos de fortalecimento

dessas Instâncias de governança que favoreçam a integração entre int

A opinião dos gestores do turismo sobre aspectos qualitativos da

interpretação que se desenvolve na região do MADE vem completar o levantamento

da opinião dos atores sociais do turismo sobre a interpretação na região

Opinião dos gestores sobre aspectos qualitativos em escalas numéricas de 0 a 5.

Fonte: Dados da pesquisa de campo, 2008.

0 1 2

Informações sobre a cultura

Informações passadas pelo …

Informações sobre a natureza

Qualidade do trabalho do guia/monitor

Forma como é passada a informação

Conservação dos monumentos

Informações sobre a história

Sinalização geral

Conservação da natureza

Informações das placas interpretativas

Patrimônio histórico arquitetônico

Paisagem do entorno

2

2,07

2,18

2,53

106

No entanto, apesar de desconhecerem o termo interpretação do

patrimônio, bem como ignorarem o PIMADE, 94% dos respondentes afirmaram

terem interesse em conhecer mais e debater o assunto “interpretação”, o que revela

a abertura dos gestores para futuros debates envolvendo o tema.

Os dados coletados revelam que a média aritmética das auto-avaliações dos

17 gestores entrevistados foi de 3.18, com relação à efetiva participação em

ião do MADE. Esse resultado permite afirmar

que a efetividade da participação dos gestores nas reuniões sobre planejamento

turístico na região é apenas razoavelmente satisfatória. Lembramos que esse

euniões de Instâncias de

, na visão de Dias (2003), é essencial para o planejamento turístico,

se mecanismos de fortalecimento

dessas Instâncias de governança que favoreçam a integração entre interpretação do

A opinião dos gestores do turismo sobre aspectos qualitativos da

interpretação que se desenvolve na região do MADE vem completar o levantamento

da opinião dos atores sociais do turismo sobre a interpretação na região em

Opinião dos gestores sobre aspectos qualitativos da interpretação,

3 4 5

2,07

2,18

2,53

2,65

2,71

2,71

2,94

3

3,59

3,94

4,59

107

Neste grupo, os itens melhor avaliados foram paisagem do entorno 4.59,

patrimônio histórico arquitetônico 3.94, seguidos das informações das placas

interpretativas, 3.59, conforme demonstrado na Figura 17, onde observa-se

considerável divergência entre a s opiniões da comunidade (2,13) (Figura 15),

comparando-se com a opinião dos gestores (3.59) (Figura 17), acerca das

informações das placas interpretativas. Esse resultado demonstra haver a

necessidade de um diálogo mais freqüente entre os dois grupos, com intuito de

favorecer novas iniciativas de interpretação, de modo a aproximar comunidade e

gestores em torno de um consenso sobre o uso das placas interpretativas na região,

lembrando que esse consenso, segundo Carter (2001) é condição sine qua non para

sucesso de um plano interpretativo. Assim, especificamente, estes atores citados

deverão re-pensar aquelas questões que se conectam no planejamento

interpretativo (Figura 3), conforme orienta Carter (2001), dentre as quais

destacamos: as características que os visitantes podem ver; re-alocação de

diferentes temas, em diferentes lugares; objetivos interpretativos; manutenção e;

monitoramento e avaliação do funcionamento e do direcionamento de um plano

interpretativo, com intuito de melhorá-lo constantemente.

Em oposição, os itens que tiveram as piores avaliações foram informações

sobre a cultura 2.0, informações passadas pelos guias e monitores 2.7, seguidos das

informações sobre a natureza 2,18, conforme se observa na Figura 17. Novamente a

qualidade das informações se apresenta como um fator que compromete a

qualidade da interpretação do patrimônio no MADE.

6.3.4 Síntese comparativa das opiniões dos atores sobre interpretação no MADE

Neste item, destacamos apenas os resultados mais relevantes para os

objetivos da pesquisa, ou seja, aqueles relacionados à opinião dos atores sociais do

turismo sobre interpretação do patrimônio na região do MADE.

Comparadas as opiniões de visitantes, comunidade e gestores, os itens que

apresentaram maiores divergências entre as opiniões dos três grupos de

pesquisados foram os seguintes:

108

Com relação às opiniões acerca da qualidade das informações que são

passadas pelos guias e monitores, a média aritmética da opinião dos visitantes foi

de 4.68 (Figura 13), enquanto que por parte da comunidade essa média foi de 2.64

(Figura 15) e dos gestores 2.07 (Figura 17). Essa divergência de opiniões pode ser

explicada devido ao fato de que os visitantes, geralmente não têm conhecimento

prévio abrangente sobre as informações que são comunicadas pelos guias e

monitores e se contentaram com as informações que lhes foram passadas,

mostrando estarem satisfeitos com os serviços prestados por esses profissionais. Ao

contrário, a comunidade e os gestores, estes estão mais conscientes das

informações, pois, na sua maioria têm amplo conhecimento sobre as principais

informações que julgam ser importantes durante as apresentações dos guias e

monitores e, portanto, se mostraram insatisfeitos.

Esse resultado demonstra haver a necessidade de melhor monitoramento e

avaliação das informações que são veiculadas por esses profissionais, uma vez que

a interpretação depende essencialmente da informação de qualidade para ter

sucesso (CARTER, 2001; TILDEN, 1977), e conforme já verificamos ao analisarmos

as Figuras 13, 14 e 15, os itens relacionados às informações sobre natureza, cultura

e história obtiveram avaliação comprometedora por parte dos três grupos de

respondentes. Esses dois fatos provavelmente estão relacionados, carecendo,

portanto, de maior aprofundamento nesta análise em estudos futuros.

Sobre a qualidade do trabalho desempenhado por guias e monitores de forma

geral, enquanto a média aritmética das opiniões dos visitantes foi de 4.7 (Figura 13),

por parte da comunidade essa média foi de 3.04 (Figura 15) e dos gestores foi de

2.53 (Figura 17). Corroborando com os resultados das opiniões sobre a qualidade

das informações passadas pelos guias (item anterior), o trabalho dos guias e

monitores obteve médias de avaliações similares às médias obtidas no item anterior,

por parte dos três grupos de atores sociais. Novamente o resultado demonstra haver

a necessidade de melhor monitoramento e avaliação dos serviços prestados pelos

guias e monitores.

Com relação às opiniões sobre a qualidade do patrimônio histórico

arquitetônico dos atrativos do MADE , verificou-se nas opiniões dos visitantes

(Figura13) e dos gestores (Figura 17), médias aritméticas de 4.91 e 3.94

109

respectivamente, enquanto que na opinião da comunidade essa média foi 3 (Figura

15). Novamente verifica-se divergência entre a opinião dos visitantes - que por sua

vez demonstraram maior valorização do patrimônio histórico arquitetônico local. Um

fato interessante, pois podemos afirmar que os visitantes da região do MADE

qualificam melhor o patrimônio histórico e arquitetônico, do que sua própria

comunidade detentora e possuidora desses recursos.

Acerca da qualidade da conservação dos monumentos, igualmente houve

discrepância entre a média aritmética da opinião dos visitantes, 4.08 (Figura 13), e

as médias das opiniões dos gestores (Figura 17) e da comunidade (Figura 15), 2.71

e 2.29 respectivamente. Verifica-se que os habitantes do local percebem melhor que

os visitantes, os aspectos negativos relacionados à conservação dos monumentos,

devido ao fato dos visitantes não estarem familiarizados com as demandas e

necessidades de manutenção do local. Em contrapartida, percebe-se uma certa

satisfação dos visitantes a este respeito.

Sobre a qualidade das informações que são passadas sobre a história,

novamente a média aritmética das opiniões dos visitantes (Figura 13), 3.53, foi

superior à média verificada nos gestores (Figura 17) e comunidade (Figura 15), 2.71

e 2.81 respectivamente. Ou seja, corroborou com os resultados dos itens anteriores,

qualidade das informações passadas pelos guias e monitores, qualidade do trabalho

desempenhado pelos guias e monitores e qualidade do patrimônio histórico

arquitetônico. Novamente o resultado demonstra haver a necessidade de se

trabalhar melhor as informações sobre o patrimônio, que são transmitidas no local.

Entenda-se aí, desenvolver melhor as atividades de interpretação do patrimônio

histórico.

Em todos os demais itens - ou seja, qualidade da paisagem do entorno,

qualidade das informações sobre a cultura, forma como são passadas as

informações, informações sobre a natureza, conservação da natureza, informações

das placas interpretativas e sinalização geral – verifica-se que as médias aritméticas

das opiniões por parte dos visitantes sempre superam as médias das opiniões dos

gestores e da comunidade. Tal resultado, conforme já argumentado, explica-se pelo

fato de que os gestores e a comunidade conhecem melhor o seu entorno habitual.

Ao passo em que os visitantes avaliam somente a partir da imagem momentânea

que lhes é apresentada, pois “não conhecem” os mesmos aspectos.

110

Ao comparar as opiniões dos gestores e da comunidade, verifica-se

divergência considerável no que se refere à qualidade das informações das placas

interpretativas, qualidade da sinalização geral, qualidade do patrimônio histórico

arquitetônico e conservação da natureza. Estes itens respectivamente, na opinião

dos gestores (Figura 17) verificaram-se as médias aritméticas de 3.59, 2.54, 3.94 e

3.0, ao passo que os mesmos itens, na opinião da comunidade (Figura 15)

verificaram-se respectivamente as médias de 2.13, 1.63, 3.0 e 2.14. Essas

divergências de opiniões permitem concluir que a comunidade possui um senso

crítico mais aguçado que os gestores no que se refere aos aspectos mencionados.

6.4 Preferências culturais dos atores sociais do turismo no MADE

A análise dos dados sobre as preferências culturais dos atores sociais do

turismo na região do MADE - ou seja, dos três grupos de participantes desta

pesquisa, visitantes, comunidade e gestores – serviu de subsídio para avaliação do

PIMADE, especificamente com relação a adequação dos temas interpretativos às

preferências culturais dos atores, conforme discorremos na seqüência.

Figura 18 - Comparação das preferências culturais entre os gestores e a comunidade

Fonte: Dados da pesquisa de campo, 2008.

Comparando-se as preferências culturais dos gestores e da comunidade a

partir da interpretação da Figura 18, verifica

comunidades como na opinião dos gestores o

conhecimentos populares tradicionais sobre fauna

Atlântica (4,47 e 4,56), MPB (4,2

Percebe-se que tanto a comunidade em geral como os gestores,

grande interesse em temas relacionados

resultados demonstram que os habitantes dos locais

turísticos da região do

temas relacionados ao “Meio ambiente natural, espécies e culturas” nos sítios de

Arquitetura local, prédios e monumentos

Matas, florestas e trilhas

Conhecimentos sobre fauna, flora, remédios, M.

Atlântica

P

r

e

f

e

r

ê

n

c

i

a

s

c

u

l

t

u

r

a

i

s

Comparação das preferências culturais entre os gestores e a omunidade, em escalas numéricas de 0 a 5.

Fonte: Dados da pesquisa de campo, 2008.

se as preferências culturais dos gestores e da comunidade a

da interpretação da Figura 18, verifica-se que tanto na opinião das

comunidades como na opinião dos gestores os três aspectos de maior valor são os

conhecimentos populares tradicionais sobre fauna, flora e remédios

(4,47 e 4,56), MPB (4,2 e 4,83), e a cultura indígena (4,13 e 4,72).

se que tanto a comunidade em geral como os gestores,

grande interesse em temas relacionados `a biodiversidade natural e cultural.

resultados demonstram que os habitantes dos locais de entorno dos atrativos

do MADE desejam que seja dada maior

relacionados ao “Meio ambiente natural, espécies e culturas” nos sítios de

0 0,5 1 1,5 2 2,5

Artes Plasticas

Artesanato local

História local

Arquitetura local, prédios e monumentos

Matas, florestas e trilhas

Praias locais

Cultura Indígena

MPB

Conhecimentos sobre fauna, flora, remédios, M.

Atlântica

Gestores Comuniaddes

111

Comparação das preferências culturais entre os gestores e a

se as preferências culturais dos gestores e da comunidade a

se que tanto na opinião das

de maior valor são os

e remédios da Mata

e 4,83), e a cultura indígena (4,13 e 4,72).

se que tanto a comunidade em geral como os gestores, apresentaram

biodiversidade natural e cultural. Esses

de entorno dos atrativos

maior ênfase aos

relacionados ao “Meio ambiente natural, espécies e culturas” nos sítios de

3 3,5 4 4,5 5

3,54

3,57

3,72

3,77

3,94

4,04

4,13

4,2

4,47

4,44

3,72

4,17

4,5

4,33

3,94

4,72

4,83

4,56

relevância histórica e cultural, em especial aos conhecimentos po

plantas, animais e sobre os medicamentos

Tais resultados evidenciam contradição entre a ênfase temática dada aos

conteúdos das placas interpretativas (

habitantes do local, agora incluindo gestores. Percebe

religiosa e oficial, usos ao longo do tempo; estratégias de ocupação portuguesa,

cidades de dois andares;

festas e devoções populares e; manifestações culturais atuais, não estão de acordo

às preferências culturais dos habitantes locais, nos quais verificamos preferência por

temas relacionados ao ambiente natural. Está implícita a necessidade de

diversificação dos temas abordado

uma vez que isso é um desejo da comunidade e dos gestores do turismo na região.

E, uma vez sendo o desejo dos habitantes locais, vai

planejamento com base na participação das comu

Carter (2001); Goodey (2002)

Figura 19 – Preferências culturais dos visitantes

Fonte: Dados da pesquisa de campo, 2008.

local, prédios e monumentos

Matas, florestas e trilhas

Conhecimentos populares sobre fauna e flora

relevância histórica e cultural, em especial aos conhecimentos po

sobre os medicamentos que são extraídos da Mata Atlântica.

Tais resultados evidenciam contradição entre a ênfase temática dada aos

conteúdos das placas interpretativas (Tabela 3), e as preferências culturais dos

s do local, agora incluindo gestores. Percebe-se que os temas: arquitetura

religiosa e oficial, usos ao longo do tempo; estratégias de ocupação portuguesa,

cidades de dois andares; a ação jesuítica como suporte da ação colonial; santos

opulares e; manifestações culturais atuais, não estão de acordo

às preferências culturais dos habitantes locais, nos quais verificamos preferência por

temas relacionados ao ambiente natural. Está implícita a necessidade de

diversificação dos temas abordados na interpretação realizada na região do MADE,

uma vez que isso é um desejo da comunidade e dos gestores do turismo na região.

E, uma vez sendo o desejo dos habitantes locais, vai ao encontro

planejamento com base na participação das comunidades locais, sugeridos por

Carter (2001); Goodey (2002).

Preferências culturais dos visitantes dos atrativos do MADE

Fonte: Dados da pesquisa de campo, 2008.

0 1 2 3

Artes Plasticas

Artesanato local

História local

local, prédios e monumentos

Matas, florestas e trilhas

Praias locais

Cultura Indígena

MPB

Conhecimentos populares sobre fauna e flora …

Visitantes

112

relevância histórica e cultural, em especial aos conhecimentos populares sobre

que são extraídos da Mata Atlântica.

Tais resultados evidenciam contradição entre a ênfase temática dada aos

), e as preferências culturais dos

se que os temas: arquitetura

religiosa e oficial, usos ao longo do tempo; estratégias de ocupação portuguesa,

a ação jesuítica como suporte da ação colonial; santos

opulares e; manifestações culturais atuais, não estão de acordo

às preferências culturais dos habitantes locais, nos quais verificamos preferência por

temas relacionados ao ambiente natural. Está implícita a necessidade de

s na interpretação realizada na região do MADE,

uma vez que isso é um desejo da comunidade e dos gestores do turismo na região.

encontro dos preceitos do

nidades locais, sugeridos por

dos atrativos do MADE.

3 4 5

3,89

3,97

4,22

4,36

4,38

4,49

4,52

4,59

4,79

113

Convergindo com as preferências dos habitantes do local, os visitantes

também demonstraram grande interesse por conhceimento populares sobre a fauna

e a flora da Mata Atlântica, designando a média mais alta de todos os demais itens,

4,79 (Figura 19). Em seguida, igualmente aos outros atores, a Música popular

brasileira ocupa a segunda posição, com a média de 4.59 e, a cultura indígena na

terceira posição com média de 4,52, conforme verifica-se na Figura 19. Esses

resultados, confirmam a necessidade detectada de direcionar a interpretação do

patrimônio da região para temas relacionados ao ambiente natural, em especial à

Mata Atlântica.

Obviamente, é muito mais fácil e mais conveniente trabalhar esses temas nas

Unidades de Conservação da região que, conforme descrevemos na seção 2,

reúnem grande potencial interpretativo. Contudo, é pertinente observar que, apesar

dos atrativos turísticos históricos e culturais pesquisados - a exemplo das Cidades

históricas de Porto Seguro, Arraial d’Ajuda e Santa Cruz Cabrália – não oferecerem,

diretamente, objetos que possam relacionar-se ao patrimônio natural, é desejável

que os temas interpretativos desenvolvidos nesses locais, de alguma forma incluam

o patrimônio natural, em especial os conhecimentos populares sobre fauna e flora da

Mata Atlântica e a cultura indígena.

114

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O suporte teórico e analítico desta investigação possibilitou a reflexão sobre a

relação entre turismo e interpretação do patrimônio em que se percebe a

necessidade de se pensar o planejamento, com intuito de favorecer a integração

entre os objetivos conservacionistas e os objetivos turísticos em localidades de

relevância histórica cultural e natural, onde a participação efetiva dos atores sociais

do turismo será determinante para a perseguição desses objetivos.

As características geográficas da região do MADE lhe configuram uma

condição espetacular, que conjuga a exuberância típica que caracteriza o patrimônio

natural brasileiro, com a relevância histórica e cultural da região onde se iniciou a

formação desta nação.

Os atrativos turísticos que compõem a região do extremo sul da Bahia

apresentam enorme potencial para o desenvolvimento de segmentos turísticos

relacionados ao turismo cultural e ao ecoturismo, considerados estratégicos para a

sustentabilidade do turismo no país.

As Unidades de Conservação da região sul da Bahia como um todo, em

especial aquelas no MADE, representam o potencial para o desenvolvimento do

ecoturismo e suas variações, tanto em áreas terrestres como em áreas marinhas.

Estas áreas, mesmo antes de serem consolidadas para a exploração ecoturísticas,

já apresentam um importante diferencial mercadológico que é o seu alto índice de

biodiversidade. No entanto, estas áreas naturais têm sofrido constantes pressões

115

por parte de interesses econômicos variados e ameaças de degradação que

dificultam o desenvolvimento sustentável do turismo.

A política nacional de desenvolvimento do turismo orienta que as atividades

de interpretação do patrimônio natural e cultural devem ser desenvolvidas junto às

Unidades de Conservação, às áreas rurais em geral e aos diversos sítios de

relevância histórica e cultural, dando apoio instrumental e favorecendo a

sustentabilidade da atividade turística. No entanto, a exploração turística que se tem

realizado nos principais atrativos do MADE não contempla efetivamente a

interpretação do patrimônio na região. Os programas organizados por operadoras

não incluem atividades interpretativas em seus roteiros elaborados.

A integração entre os planejamentos do turismo e da interpretação, no Brasil,

ainda se apresenta de forma incipiente, bem como os estudos que envolvem estes

temas, embora haja vários registros de experiências bem sucedidas de planos

interpretativos em localidades turísticas diversas. Nesse sentido, o binômio “Turismo

e Interpretação do Patrimônio Natural e Cultural”, na região do MADE ainda

permanece “adormecido”, sem qualquer integração ou articulação, apesar de muitos

esforços já terem sido empreendidos com intuito de favorecer o desenvolvimento

das atividades de interpretação.

O histórico do Projeto MADE é marcado por muitas controvérsias e tensões

entre as diversas Organizações que compuseram o arranjo institucional responsável

pelas discussões dos seus encaminhamentos, seus subprojetos e demais demandas

existentes. Tal contexto desfavoreceu uma série de iniciativas que deveriam ter

ocorrido para que este projeto atingisse seus objetivos de forma satisfatória.

A relação entre o MADE e o planejamento sustentável do turismo na região

do extremo sul da Bahia ainda não foi compreendida pelos elementos chave do

processo de planejamento turístico, ou seja, pelo poder público apoiado pelos

interesses econômicos das empresas de turismo da região, respaldados pelos

interesses coletivos da comunidade.

A integração entre Turismo, planejamento e interpretação do patrimônio é

ferramenta imprescindível para o planejamento sustentável do turismo. No entanto

estes conceitos são de difícil compreensão, uma vez que suscitam interpretações

variadas, além do fato de estar intrínseca a necessidade de integração

116

interdisciplinar dos estudos que subsidiam essas ações de integração e, que

proporciona uma visão abrangente do fenômeno turístico.

O processo de planejamento esta sujeito ao cumprimento de algumas etapas

que se complementam e que determinam os direcionamentos que se pretende tomar

com intuito de atingir objetivos previamente estabelecidos.

O turismo deve ser considerado como um sistema de componentes e

elementos que interagem em várias dimensões formando o espaço turístico. O

planejamento deste espaço está condicionado à criação e desenvolvimento de

políticas públicas e ao aperfeiçoamento dos processos produtivos através da

implementação de equipamentos e realização de incentivos que visem maximizar

benefícios e minimizar impactos negativos.

Especificamente em planejamento turístico, deve haver uma certa

preocupação com os recursos que compões a oferta turística, no sentido de evitar o

desenvolvimento desordenado do turismo.

Historicamente o turismo está associado ao patrimônio, podendo gerar

benefícios econômicos que contribuem para a manutenção e conservação dos locais

de relevância histórica, cultural e natural. No entanto, a noção de patrimônio tem

sido cada vez mais ampliada nas últimas décadas, o que possibilita uma gama de

oportunidades de articulação entre interpretação do patrimônio e turismo.

A interpretação do patrimônio, enquanto disciplina, já dispõe de um arcabouço

de técnicas e teorias relacionadas que se fundamentam em uma filosofia

interpretativa bem consolidada. Nesse contexto, a interpretação vem ganhando cada

vez mais espaço dentro do planejamento sustentável da atividade turística,

associadamente à educação e à conservação patrimonial.

O planejamento interpretativo é essencial para o desenvolvimento das

atividades de interpretação. Neste processo está implícita a necessidade de

engajamento e participação comunitária, considerada como fator decisivo de

sucesso. Portanto, a elaboração e execução de um plano interpretativo depende da

articulação dos gestores do turismo, em consonância com os anseios da

comunidade no sentido de deliberarem sobre os direcionamentos que se pretende

dar à interpretação em uma localidade.

117

Por sua vez, a elaboração e implementação do plano interpretativo envolve

estudos e análises de diversos aspectos interdependentes que configuram uma

série de variáveis. A disposição lógica destas variáveis e aspectos possibilita a

visualização de uma situação interpretativa própria que se caracteriza em níveis

variados de abrangência e inserção, bem como em níveis de integração com outras

iniciativas. Assim, uma especial atenção deve ser dada à integração do plano

interpretativo ao planejamento turístico de uma localidade, como na elaboração dos

roteiros e rotas turísticas de uma região turística.

O Plano interpretativo do Museu Aberto do Descobrimento logrou alcançar os

objetivos propostos por seus idealizadores, ou seja, de forma geral, valoriza o

patrimônio histórico, cultural e ambiental da região do MADE aos olhos do visitante e

enriquece a experiência do visitante, incentiva atitudes preservacionistas e contribui

com o desenvolvimento do turismo cultural na região.

A participação comunitária nas oficinas de interpretação que houve no âmbito

do PIMADE foi decisiva para a escolha e desenvolvimento dos temas

interpretativos, o que lhe confere um caráter participativo pois alicerça-se em uma

base comunitária. No entanto o tema interpretativo “descobrimento”, elegido para

ocupar a escala regional, bem como os temas selecionados localmente enfatizam

prioritariamente a arquitetura religiosa e as ações de portugueses e jesuítas sob a

“nova terra” em detrimento da essência do patrimônio cultural e natural da região do

MADE, aqui considerada a biodiversidade de espécies e culturas tradicionais.

As estratégias de comunicação interpretativa do PIMADE, bem como os

meios e técnicas desenhados estão bem adequados, porém não houve continuidade

de algumas ações, como a produção dos folders impressos sobre o MADE.

Entretanto, a interpretação pessoal representa uma oportunidade para o

desenvolvimento de novos meios e técnicas interpretativas que favorecendo a

diversificação desses instrumentos e o aperfeiçoamento dos já existentes.

As placas interpretativas foram os recursos mais utilizados no Plano em

questão e a análise de seus conteúdos interpretativos associada aos relatos de seus

idealizadores nos permite afirmar que a temática gira em torno da ocupação

portuguesa e jesuítica a partir de sua arquitetura, da sua organização social e

política, de seus conflitos com os indígenas e das suas manifestações culturais em

geral.

118

Os principais centros emissores de visitantes para os atrativos do MADE

estão localizados respectivamente nos Estados de Minas Gerais, Bahia e São Paulo.

Sendo que na Bahia uma atenção especial deve ser dada à Capital que tem

contribuído com apenas 4,55% do fluxo total de visitantes proveniente deste Estado.

A faixa de renda dos visitantes dos atrativos do MADE, bem como seu nível

de escolaridade são altos e, a sua maioria viaja sem a contratação de serviços de

operadoras.

Foi caracterizado monopólio da exploração de viagens organizadas por

operadoras, tendo sido identificada uma Agência de Turismo de integração vertical

oriunda do estado de São Paulo.

Os visitantes dos atrativos do MADE consideram as placas interpretativas um

aspecto muito positivo em relação às demais formas de comunicação nestas áreas,

tendo sido verificada a necessidade de trabalhar melhor a informação como um todo.

Embora os visitantes aprovem o trabalho e as informações transmitidas pelos

guias e monitores, comunidades e gestores, consideram insuficientes tanto as

informações como os serviços prestados de forma geral, por estes profissionais, o

que requer maior atenção por parte dos planejadores tanto da interpretação como do

turismo, no sentido de lhes proporcionar capacitação com intuito de resolver este

problema.

Tanto a comunidade como os gestores do turismo na região do MADE

valorizam menos a qualidade do patrimônio histórico e arquitetônico do que os

visitantes destes locais. Faz-se então necessária uma reeducação para

sensibilização e mobilização com relação ao patrimônio na área de estudo, que deva

estar associada a qualquer intervenção interpretativa que se pretenda realizar.

Alguns aspectos qualitativos, como as formas como estão sendo passadas as

informações sobre a natureza, a cultura e a história, precisam ser revistas e

consideradas no planejamento turístico da região no sentido de legitimar uma

possível intervenção interpretativa na área de estudo. Uma vez que a qualidade da

informação de uma maneira geral, foi o item pior avaliado pelos visitantes.

Tanto a comunidade como os gestores dão prioridade em suas opiniões sobre

a importância dos conhecimentos populares sobra a fauna e a flora da Mata

Atlântica, portanto este elementos requerem maior atenção no sentido de inventariar

119

e organizar a informações a esta importante dimensão do patrimônio imaterial que

caracteriza a região de estudo.

Apesar de possuir bom nível de escolaridade os gestores do turismo da

região do MADE desconhecem o significado do termo interpretação do patrimônio,

mas têm interesse e estão dispostos a debater o assunto, ao que requer a

sensibilização e mobilização das partes interessadas no assunto, no sentido de

viabilizar estas discussões com intuito de incorporá-las às diretrizes do planejamento

turístico regional e subsidiar ações de interpretação da região.

Os gestores do turismo estão cientes das potencialidades sub-aproveitadas

do patrimônio natural e cultural da região do MADE e consideram positiva sua

participação em instâncias de governança do turismo como os Conselhos e as

Câmaras técnicas, no entanto não se observou direcionamento de ações que

tivessem o sentido de desenvolver os segmentos turismo cultural e ecoturismo, mas

apenas esforços isolados. O que requer o re-planejamento dessas ações, visando

integrar o planejamento turístico ao desenvolvimento da interpretação do patrimônio.

Pensamos que este caminho possa conduzir a níveis mais elevados de

sustentabilidade do turismo.

7.1 Recomendações

Este item tem como objetivo elaborar uma proposta de linha de diretrizes para

o desenvolvimento de políticas públicas de interpretação do patrimônio na área de

estudo e da integração dessas ao planejamento turístico regional.

Como se pode observar, a região do MADE possui características naturais e

culturais que lhe conferem certa singularidade que se traduz numa oportunidade

mercadológica a partir de uma vantagem que lhe é implícita. No entanto esse

potencial precisa ser concebido no planejamento turístico regional, com intuito de

desenvolver os segmentos turismo cultural e ecoturismo e suas variações.

Assim a Política municipal de turismo nos municípios da região do MADE

deverá considerar como objetivos específicos: 1) Contribuir para a proteção do

patrimônio natural e cultural, em sua manutenção e conservação, incentivando sua

120

exploração sustentável e, promovendo sua valorização e a construção de uma

consciência ambientalista; 2) Propiciar ao visitante uma experiência vivencial

educativa, por meio da interpretação do patrimônio e da interação sociocultural

harmônica, bem como sua satisfação pelos serviços consumidos; 3) Fortalecer as

instâncias de governança por meio da articulação entre os organismos oficiais de

turismo e os diversos parceiros institucionais, ordenando e orientado estas relações

e, priorizando a participação comunitária no processo de desenvolvimento; 4)

Trabalhar no sentido de construir uma nova imagem do destino Costa do

Descobrimento no mercado turístico, através do marketing responsável, fomentando

a atividade e, realçando seu diferencial de atrativos como imagem prioritária a ser

difundida.

Com base nesses objetivos apresentados, as diretrizes que devem ser

implementadas para o desenvolvimento de atividades de interpretação seriam as

seguintes: 1) Servir de instrumento de colaboração com a proteção ambiental, na

medida em que poderiam ser desenvolvidos tópicos e temas de cunho ecológicos; 2)

Implantar e adequar infra-estruturas interpretativas como trilhas interpretativas,

painéis e placas; 3) Incentivar o desenvolvimento da atividades de interpretação em

todos os aspectos; 4) Fortalecer e favorecer a interação institucional, por meio de da

sensibilização e mobilização das partes interessadas; 5) Promover o uso sustentável

dos atrativos, através do estudo e monitoramento de impactos ambientais; 6)

Estabelecer controle de qualidade do produto interpretação do patrimônio, através

da pesquisa e monitoramento de intervenções interpretativas; 7) Promover a

conscientização dos visitantes com relação à importância do papel deste para a

conservação do patrimônio; 8) Capacitar profissionais para exercerem atividades

relacionadas à interpretação ao vivo; 9) Enfocar melhor nas campanhas de

marketing o público-alvo dos segmentos turismo cultural e ecoturismo,

considerando suas necessidades e desejos e orientando-se para esse mercado.

Assim, a criação de um espaço temático centrado no Patrimônio natural e

cultural da região do MADE, deve considerar tanto a interpretação desses

elementos, quanto a participação da população local na sua exploração. A

singularidade destes bens patrimoniais e sua relevância para construção de uma

consciência ambientalista, indicam o grande potencial interpretativo da região do

MADE, o que lhe viabiliza a inserção aos produtos turísticos regionais e lhe garantirá

121

a configuração de uma oferta turística diferencial com alto grau de competitividade

mercadológica, uma vez observadas as recomendações aqui apresentadas.

Ao finalizar esta dissertação sobre um tema tão inovador e tão instigante, e ao

mesmo tempo tão diverso pela abrangência e complexidade e ele inerente, surgem

muitas perspectivas e possibilidades de estudos futuros sobre a relação entre

turismo e interpretação do patrimônio natural e cultural na região do Museu Aberto

do Descobrimento, bem como em outras localidades.

Se espera, que os futuros estudos sobre o binômio turismo e interpretação na

região do MADE venham complementar, com inovações, as idéias aqui expostas, a

fim de possibilitar a reafirmação da interpretação do patrimônio como uma

ferramenta estratégica necessária ao desenvolvimento dos segmentos relacionados

ao ecoturismo e ao turismo cultural. Neste sentido, pontualmente espera-se que

sejam desenvolvidos estudos que possam subsidiar a re-alocação de diferentes

temas, em diferentes lugares; o re-ordenamento dos objetivos interpretativos e; a

manutenção, o monitoramento e a avaliação do funcionamento e do direcionamento

do plano interpretativo implementado, com intuito de melhorá-lo constantemente.

E por fim, recomenda-se uma re-avaliação das informações sobre a história,

cultura e natureza, veiculadas nos atrativos da região do MADE, conforme

demonstraram os resultados desta pesquisa, uma vez que tais informações

constituem a essência do patrimônio cultural e natural de uma localidade.

122

REFERÊNCIAS

ALBANO, Celina. O Sentido da Interpretação nas Cidades do Ouro: São João del Rei e Tiradentes. In: MURTA, S. M.; ALBANO, C. (Orgs.) Interpretar o Patrimônio: um exercício do olhar. Belo Horizonte: Ed. UFMG; Território Brasilis, 2002. ARANTES, Antonio Augusto de. Museu Aberto do Descobrimento: guia cultural. Campinas: Andrade e Arantes Ltda, 2001. ______. Um guia diferente. Com Ciência: revista eletrônica de estudos avançados em jornalismo científico. SBPC/Labjor, 10 mar. 2002. Disponível em: <http://www.comciência.br/entrevistas/cidades/arantes.htm.> Acesso em: 14 jun. 2007. Asociación para La Interpretacion de Patrimônio. Definiciones. 2006. Disponível em: <http://interpretaciondelpatrimonio.com>. Acesso em: 14 abr. 2007. BARRETO, Margarita. Planejamento e organização do turismo. Campinas-SP: Papirus, 1991. ______ . Manual de Iniciação ao estudo do turismo. Campinas-SP: Papirus, 1995. ______ . Turismo e legado cultural: as possibilidades do planejamento. Campinas- SP: Papirus, 2000. BECK, Lary; CABLE, Ted. Interpretation for the 21st Century: Fifteen Guiding Principles for Interpreting Nature and Culture. USA: Sagamore Publishing, 2002. BENI, Mário Carlos. Análise estrutural do turismo, 10ª ed. São Paulo: Senac, 2004. ______ . Como certificar o turismo sustentável. Revista Espaço Acadêmico, nº 37. Editor: Antonio Ozaí da Silva, 2004. Disponível em: <www.espacoacademico.com.br> Acesso em: 22 de jul. 2006. BIESEK, Ana Solange. Turismo e Interpretação do Patrimônio Cultural: São Miguel da Missões, Rio Grande do Sul Brasil. 2004. 205 f. Dissertação (Mestrado em Turismo) – Universidade de Caxias do Sul, Caxias do Sul-RS, 2004.

123

BLAYA-ESTRADA, Nuria. Turismo e interpretacion del patrimônio: uma reflexión acerca de la necesidad de formar y ubicar profesionales. Disponível em: http://www.interpretaciondelpatrimonio.com/docs/pdf/Nuria.pdf Acesso em 05 ago. 2006. BO, João B. L. Proteção do Patrimônio na UNESCO: ações e significados. Brasília: UNESCO, 2003. BOULLÓN, Roberto C. Planejamento do espaço turístico. Bauru, SP: EDUSP, 2002. BOMFIM, Natanael Reis. O conceito de patrimônio numa perspectiva multidisciplinar: contribuições para uma mudança de enfoque. Revista Turismo e Desenvolvimento. Vol. 5, n. 1. 2006. Pgs. 27-35. BRASIL. Grupo de Trabalho Interministerial. Ministério da Indústria, do Comércio e do Turismo; Ministério do Meio Ambiente, dos Recursos hídricos e da Amazônia legal. Diretrizes para uma política nacional de ecoturismo. Brasília: [s.n], 1994. ______. Ministério do Turismo. Lei no 8.623/93, de 28 de janeiro de 1993. Disponível em: <http://www.turismo.gov.br> . Acesso em 08 abr. 2008. ______ . Presidência da República. Casa Civil. Subchefia para assuntos jurídicos. Decreto no 1.874, de 22 de abril de 1996.Disponível em: <HTTP://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto/1996/D1874.htm.> Acesso em 28 mai. 2008. ______ . Ministério do Turismo. Turismo cultural: orientações básicas. / Ministério do Turismo, Secretaria Nacional de Políticas de Turismo, Departamento de Estruturação, Articulação e Ordenamento Turístico, Coordenação Geral de Segmentação. – 2. ed. – Brasília: Ministério do Turismo, 2008. ______ . Ministério do Turismo. Turismo de aventura: orientações básicas. / Ministério do Turismo, Secretaria Nacional de Políticas de Turismo, Departamento de Estruturação, Articulação e Ordenamento Turístico, Coordenação Geral de Segmentação. Brasília: Ministério do Turismo, 2006a. ______ . Ministério do Meio Ambiente. Diretrizes para visitação em Unidades de Conservação. Ministério do Meio Ambiente, Secretaria de Bioviversidade e Florestas. Diretoria de áreas protegidas. Brasília: Ministério do Meio Ambiente, 2006b

124

______ . Projeto inventário da oferta turística. Brasília: Ministério do Turismo, 2006c. BRUNELLI, Luis Henrique. Caracterização e análise do produto turístico Costa do descobrimento: uma abordagem acerca do patrimônio cultural. Ilhéus-BA, 2007. 240 fls. Dissertação (Mestrado em cultura e Turismo) - Universidade Estadual de Santa Cruz, Ilhéus-BA, 2007. BUENO, Silveira. Minidicionário da língua portuguesa. São Paulo: FTD, 2001. CANCLINI, Néstor G. Culturas Híbridas: estratégias para entrar e sair da modernidade. 3. ed. São Paulo: Edusp, 2000. CAMARGO, Haroldo L. Patrimônio Histórico e Cultural. São Paulo: Aleph, 2002. CARTER, James. A Sense of a Place: An Interpretive Planning Handbook. 2. ed. Scottish Interpretation Network, 2001. Disponível em: <http:/www.scotinterpnet.org.uk>. Acesso em 21 jun. 2006. CONSELHO NACIONAL DA RESERVA DA BIOSFERA DA MATA ATLÂNTICA et al. Recursos Florestais da Mata Atlântica: Manejo Sustentável e Certificação. São Paulo, 2003. COSERVAÇÃO INTERNACIONAL. Estudo revela ambientes desconhecidos em Abrolhos. Notícia do dia 08 de jul. 2008. Disponível em <http:/www.conservation.org.br/notícias> Acesso em 12 jul. 2008. CUNHA, Conceição. O recurso natural como produto turístico. Bahia Análise & Dados, vol. 11, n. 2, p. 112-117. Salvador: SEI, 2001. MESQUITA, Carlos A. B. RPPN da Mata Atlântica: um olhar sobre as reservas particulares dos corredores de biodiversidade Central e Serra do Mar. Belo Horizonte: Conservação Internacional, 2004. DENCKER, Ada de Freitas Maneti. Métodos e técnicas de pesquisa em Turismo. São Paulo: Futura, 1998. DEMO. Pedro. Introdução à metodologia da ciência. 2 ed. São Paulo: Atlas, 1987.

125

DIAS, Reinaldo. Planejamento do turismo: política e desenvolvimento do turismo no Brasil. São Paulo: Atlas, 2003. 226 p. FARIAS, Eny Kleyde Vasconcelos. Interpretação do Patrimônio: histórias da Praia do Forte contadas pela comunidade. Salvador: Associação Nacional de Interpretação do Patrimônio, 2007. FONTES, Marco Aurélio Leite. Ecoturismo e Interpretações. Lavras: UFLA/FAEPE, 2003. 73p. FRANCINI-FILHO, Ronaldo B.; MOURA, Rodrigo L.; THOMPSON, Fabiano L.; REIS, Rodrigo M.; Diseases leading to accelerated decline of reef corals in the largest South Atlantic reef complex (Abrolhos Bank, eastern Brazil). Marine pollution Bulletin, Vol. 56, Issue 5, May 2008. Pgs. 1008-1014. GOODEY, Brian. Interpretive planning in a historic urban context; the case of Porto Seguro, Brazil. Urban Design International, v. 8, p. 85-94. Oxford, UK: Palgrave Macmillan, 2003. ______ . Interpretação e Comunidade local. In: MURTA, S. M.; ALBANO, C. (Orgs.) Interpretar o Patrimônio: um exercício do olhar. Belo Horizonte: Ed. UFMG; Território Brasilis, 2002. 288 p. HAM, S.H. Environmental Interpretation: a practical guide for people with big ideas and small budgets. Colorado (Estados Unidos): North American Press. 1992. 456 p. IBAMA - Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos renováveis. Disponível em http://www.ibama.gov.br/siucweb/mostraUc.php?seqUc=14. Acesso em 30/06/2006 IBGE, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Vocabulário Básico de Recursos Naturais e Meio Ambiente. 2ª ed. Rio de Janeiro, 2004.1 CD-ROM. ______ . Brasil em síntese. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br.> Acesso em 22 out. 2006. JIMENÉZ MARTINEZ, Alfonso de Jesus. Aproximação à Conceituação do Turismo a Partir da Teoria Geral de Sistemas. In: TRIGO, Luiz Gonzaga Godoi (org.). Análises Regionais e Globais do Turismo Brasileiro. São Paulo: Roca, 2005.

126

LARAIA, Roque de Barros. Cultura: um conceito antropológico. 18 ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1999. MOESCH, M. M. A produção do saber turístico. São Paulo: Contexto, 2002. MESQUITA, Carlos Alberto Bernardo. RPPN da Mata Atlântica: um olhar sobre as reservas particulares dos corredores de biodiversidade Central e da Serra do Mar. Belo Horizonte: Conservação Internacional, 2004. MOLINA, S. Conceptualización del Turismo. México: LIMUSA, 1991. MORALES, J. Guia prática para la interpretación del patrimônio. Andalucía (Espanha): Junta de Consejería de Cultura, 1998. ______ . La planificación interpretativa asegura la excelencia en interpretación. Asociación para La Interpretación del Patrimônio, 2006. Disponível em: <http://www.interpretaciondelpatrimonio.com/docs/pdf/Planificacioninterpretativa.pdf> Acesso em 23 nov. 2006. ______ . O proceso de comunicação na interpretação. In: MURTA, S. M.; ALBANO, C. (Orgs.) Interpretar o Patrimônio: um exercício do olhar. Belo Horizonte: Ed. UFMG; Território Brasilis, 2002. MOSCARDO, Gianna. Mindful Visitors : Heritage and Tourism. Annals of Tourism Research, Inglaterra, vol. 23, n. 2, p. 376-397, 1996a ______.Using tourism research to develop new tourism products : Creating sustainable tourism experiences for the Great Barrier Reef. Travel and Tourism Reasearch Association Conference. Las Vegas, June,1996b. MURTA, Srela Maris. Relatório Final: Oficinas de Interpretação e Desenho do Patrimônio – Museu Aberto do Dscobrimento, Centro Histórico de Porto Seguro. Belo Horizonte: Território Brasilis, 1998. ______ .Turismo Histórico-Cultural: Parques Temáticos, Roteiros e Atrações Ancoras. In: MURTA, S. M.; ALBANO, C. (Orgs.) Interpretar o Patrimônio: um exercício do olhar. Belo Horizonte: Ed. UFMG; Território Brasilis, 2002a. ______ .Descobrindo a história: a interpretação do Museu Aberto do Descobrimento. In: MURTA, S. M.; ALBANO, C. (Orgs.) Interpretar o Patrimônio: um exercício do olhar. Belo Horizonte: Ed. UFMG; Território Brasilis, 2002b.

127

______ ; ALBANO, C. Interpretação preservação e Turismo: uma introdução. In: MURTA, S. M.; ALBANO, C. (Orgs.) Interpretar o Patrimônio: um exercício do olhar. Belo Horizonte: Ed. UFMG; Território Brasilis, 2002. ______ ; GOODEY, B. Interpretação do patrimônio para visitantes: um quadro conceitual. In: MURTA, S. M.; ALBANO, C. (Orgs.) Interpretar o Patrimônio: um exercício do olhar. Belo Horizonte: Ed. UFMG; Território Brasilis, 2002. NORRILD, Juana. Patrimônio: características y usos. In: SCHLÜTER, R.; NORRILD, J. (Orgs.). Turismo y patrimônio en el siglo XXI. Buenos Aires: Centro de Investigaciones y Estúdios Turísticos, 2005. p. 11-26. OLIVEIRA, Antônio Pereira. Turismo e desenvolvimento: planejamento e organização. 4. Ed. São Paulo: Atlas, 2002. OMT – ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DO TURISMO. Introdução ao Turismo. São Paulo: Roca, 2001. PETROCCHI, M. Planejamento e gestão do turismo. São Paulo: Futura, 2002. PIRES, A. L’échantillonnage. In: J. Poupart et al (dir.). La recherche qualitative: enjeux épistémologiques et méthodologiques. Rapport présenté au Conseil Québécois de la Recherche Sociale (p. 137-194). Québec, 1997. PNUD – PROGRAMA DAS NAÇÕES UNIDAS PARA O DESENVOLVIMENTO. Ministério do Meio Ambiente. Manual técnico de desenvolvimento de produtos e roteiros de ecoturismo em Unidades de Conservação. Porto Seguro-Ba: [s.n], 2007. PROJETO DOCES MATAS; GRUPO TEMÁTICO DE INTERPRETAÇÃO AMBIENTAL. Manual de introdução à interpretação ambiental. Belo Horizonte: [s.n], 2002. RICHARDSON, Roberto J. Pesquisa Social: métodos e técnicas. 4ª ed. São Paulo: Atlas, 2000. RODRIGUES, Adyr Balastreri. Turismo e espaço: rumo a um conhecimento transdisciplinar. 3ª ed. São Paulo: Hucitec, 2002.

128

RODRIGUES, M. Preservar e consumir o patrimônio histórico e o turismo. In: FUNARI, P. P e PINSKY J. (Orgs.) Turismo e Patrimônio cultural. São Paulo: Contexto, 2001. RUIZ, João Álvaro. Metodologia científica: guia para eficiência de estudos. 3ª ed. São Paulo: Atlas, 1991. RUSCHMANN, Doris. Turismo e planejamento sustentável. 11ª ed. Campinas: Papirus, 2001. ______ ; WIDMER, G. Planejamento turístico. In: ANSARAH, M. Turismo: como aprender como ensinar. Vol 2. São Paulo: Senac, 2000. ______ ; Apostila de planejamento turístico. Brasília: Universidade Católica de Brasília, 2002. SANTOS, Jose Luiz. O que é cultura. 14ª Ed. São Paulo: Brasiliense, 1994. SANTOS, Milton. Espaço e Método. São Paulo: Nobel, 1985. ________. Metamorfoses do espaço habitado. São Paulo: Hucitec, 1988. SAMARA, Beatriz Santos; BARROS, Jose Carlos de. Pesquisa de Marketing: conceitos e metodologia. 2. ed. São Paulo: Makron Books, 1997. SAMPAIO, José Augusto Laranjeiras. Breve história da presença indígena no extremo sul baiano e a questão do território pataxó do Monte Pascoal. Brasília/DF: XXII Reunião Brasileira de Antropologia. Fórum de Pesquisa 3: “Conflitos Socioambientais e Unidades de Conservação”, 2000. SECRETARIA DE TURISMO DE PORTO SEGURO. Disponível em: <http://www.portosegurotur.com.br/>. Acesso em 30 nov. 2007 SEI – SUPERINTENDÊNCIA DE ESTUDOS ECONÔMICOS E SOCIAIS DA BAHIA. Informações geográficas. Disponível em: <http://sei.ba.gov.br/sei/resposta.wsp?tmp.cbmum=2913606>. Acesso em 12 jun. 2007.

129

SNUC - Sistema Nacional de Unidades de conservação: texto da Lei 9.985 de 18 de julho de 2000 e vetos da presidência da República aprovado pelo congresso Nacional. São Paulo: Conselho Nacional da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica, 2000. 2ª ed. Ampliada. SHARPE, Grant W. Interpreting the Environment. 2a ed. London,Inglaterra: Jhon Wiley & Sons, 1982. TILDEN, Freeman. Interpreting our heritage. 3ª Ed. Capell Hill: The University of North Caroline Press, 1977. TRIGO, Luiz Gonzaga Godoi. Turismo e qualidade: tendências contemporâneas. 9ª Ed. Campinas: Papirus, 2001. UnB; UFBA; UESC; MinC; MMA; IBAMA. Relatório Final. Seminário: impactos e desenvolvimento sustentável na região do MADE. 1ª etapa, 1998, Porto Seguro. Brasília: [s.n], 1998. UnB; UESC; MinC; MMA; IBAMA; CEPLAC. Relatório Final. Seminário: impactos e desenvolvimento sustentável na região do MADE. 2ª etapa, 1998, Porto Seguro. Brasília: [s.n], 1998. VASCONCELLOS, Jane Maria de Oliveira. Avaliação da visitação pública e eficiência de diferentes tipos de trilhas interpretativas do Parque Estadual Pico do Marumbi e Reserva Natural Salto Morato – PR. Curitiba, 1998. 141 fls. Tese (Doutorado em Ciências Florestais) – Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 1998. WEARING, Stephen; NAIL, John. Ecoturismo. Impactos, Potencialidades e Possibilidades. Brasileira. Barueri: Manole, 2001. WWF BRASIL. Manual de Ecoturismo de Base Comunitária: ferramentas para um planejamento responsável. Brasília: WWF Brasil, 2003.

130

ANEXO A – Baiana da igreja Nossa Senhora d´Ajuda, Arraial d´Ajuda, Bahia

Fonte: Dados da pesquisa de campo, 2007.

131

ANEXO B – “Cabral” do Quadrado de Trancoso, Bahia.

Fonte: Dados da pesquisa de campo, 2007.

132

ANEXO C - Índios Pataxós da Reserva indígena da Jaqueira, Porto Seguro, Bahia

Fonte: Dados da pesquisa de campo, 2007.

133

ANEXO D – Criança Pataxó no Museu indígena de Coroa Vermelha, Santa Cruz

Cabrália, Bahia

Fonte: Dados da pesquisa de campo, 2007.

134

APÊNDICE A – Formulário sobre a opinião das comunidades locais em sítios de

relevância histórica e cultural

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ - UESC

PESQUISA DE MESTRADO EM CULTURA E TURISMO

TURISMO E INTERPRETAÇÃO DO PATRIMÔNIO NATURAL E CULTURAL NA

REGIÃO DO MUSEU ABERTO DO DESCOBRIMENTO, EXTREMO SUL DA BAHIA

Sujeito No. [ ]

Local:_________________________ Data:_________________

1. Qual a sua faixa etária?:

[ ]15-24 [ ]25-44 [ ]45-65 [ ]Acima de 65

2. Qual o seu nível de renda familiar?

[ ] até 4 SM; [ ]de 4 a 6 SM; [ ]de 6 a 8 SM; [ ]de 8 a 10 SM; [ ]de 10 a 12 SM;

[ ] de 12 a 15 SM; [ ]de 15 a 20 SM; [ ]de 20 a 25 SM; [ ]de 25 a 30 SM;

[ ]de 30 a 40 SM; [ ]de 40 a 50 SM; [ ]acima 50 SM

3. Qual é seu grau de escolaridade ?

[ ]Fundamental completo; [ ]Fundamental incompleto; [ ]Ensino médio completo

[ ]Ensino médio incompleto; [ ]Superior completo; [ ]Superior Incompleto

[ ]Pós-graduado

135

4. Pontue os itens abaixo, relacionando à importância dos mesmos para você:

Artes plásticas 0 1 2 3 4 5 Artesanato local 0 1 2 3 4 5 História local 0 1 2 3 4 5 Arquitetura local, prédios e monumentos

0 1 2 3 4 5

Matas, florestas e trilhas 0 1 2 3 4 5 Praias 0 1 2 3 4 5 Cultura indígena 0 1 2 3 4 5 Musica popular brasileira 0 1 2 3 4 5 Conhecimentos populares sobre plantas e animais da Mata Atlântica

0 1 2 3 4 5

5. Pontue os itens abaixo, relacionando à importância que os mesmos teriam (segundo a sua opinião) para os visitantes:

Artes plásticas 0 1 2 3 4 5

Artesanato local 0 1 2 3 4 5

História local 0 1 2 3 4 5

Arquitetura local, prédios e monumentos

0 1 2 3 4 5

Matas, florestas e trilhas 0 1 2 3 4 5

Praias 0 1 2 3 4 5

Cultura indígena 0 1 2 3 4 5

Musica popular brasileira 0 1 2 3 4 5

Conhecimentos populares sobre plantas e animais da Mata Atlântica

0 1 2 3 4 5

0 = Péssimo

1 = Ruim

2 = Regular

3 = Bom

4 = Muito bom

0 = Péssimo

1 = Ruim

2 = Regular

3 = Bom

4 = Muito bom

136

6. A partir da qualidade dos aspectos da visitação dos sítios históricos e culturais locais, pontue os itens abaixo:

Sinalização (geral) 0 1 2 3 4 5

Informações das placas interpretativas

0 1 2 3 4 5

Forma como é passada informação

0 1 2 3 4 5

Conservação dos monumentos 0 1 2 3 4 5

Conservação da natureza 0 1 2 3 4 5

Informações sobre a história local

0 1 2 3 4 5

Informações sobre a cultura local

0 1 2 3 4 5

Informações sobre a natureza 0 1 2 3 4 5

Informações passadas pelo guia/monitor (caso se aplique)

0 1 2 3 4 5

Patrimônio Histórico arquitetônico

0 1 2 3 4 5

Paisagem 0 1 2 3 4 5

Trabalho do guia/monitor (caso se aplique)

0 1 2 3 4 5

Obrigado!

0 = Péssimo

1 = Ruim

2 = Regular

3 = Bom

4 = Muito bom

137

APÊNDICE B – Formulário sobre a opinião dos visitantes de localidades de

relevância histórica e cultural.

Universidade Estadual de Santa Cruz - UESC

Pesquisa de Mestrado em Cultura e Turismo Turismo e Interpretação do patrimônio natural e cultural na região do Museu

Aberto do Descobrimento, extremo sul da Bahia.

Sujeito No. [ ]

Local:_________________________ Data:_________________

7. Qual a sua faixa etária?:

[ ]15-24 [ ]25-44 [ ]45-65 [ ] Acima de 65

8. Origem da viagem à destinação turística

Onde você reside ?_________________________________________

Principal(is) centro(s) emissores da região______________________

Municípios da região_______________________________________

Outros Estados____________________________________________

Outros Países______________________________________________

4. Qual o seu nível de renda familiar?

[ ] até 4 SM; [ ]de 4 a 6 SM; [ ]de 6 a 8 SM; [ ]de 8 a 10 SM; [ ]de 10 a 12 SM;

[ ]de 12 a 15 SM; [ ]de 15 a 20 SM; [ ]de 20 a 25 SM; [ ]de 25 a 30 SM; [ ]de 30 a

40 SM; [ ]de 40 a 50 SM; [ ]acima 50 SM.

5. Qual é seu grau de escolaridade?

[ ]Fundamental completo; [ ]Fundamental incompleto; [ ]Ensino médio completo

[ ]Ensino médio incompleto; [ ]Superior completo; [ ]Superior Incompleto

[ ]Pós-graduado.

138

6. Com quem viaja ?

[ ] sozinho [ ]amigos [ ]família [ ] em excursão organizada

por______________________

7. Como chegou até o atrativo ?

[ ]Van/ônibus de Operadora [ ]taxi [ ]carro próprio [ ]carro alugado

[ ]transporte público (coletivo) Outro:___________________________

8. Pontue os itens abaixo, relacionado com sua satisfação neste local com relação a:

Sinalização (geral) 0 1 2 3 4 5

Informações das placas

interpretativas

0 1 2 3 4 5

Forma como é passada informação 0 1 2 3 4 5

Conservação dos monumentos 0 1 2 3 4 5

Conservação da natureza 0 1 2 3 4 5

Informações sobre a história local 0 1 2 3 4 5

Informações sobre a cultura local 0 1 2 3 4 5

Informações sobre a natureza 0 1 2 3 4 5

Informações passadas pelo

guia/monitor (caso se aplique)

0 1 2 3 4 5

Patrimônio Histórico arquitetônico 0 1 2 3 4 5

Paisagem 0 1 2 3 4 5

Trabalho do guia/monitor 0 1 2 3 4 5

0 = Péssimo

1 = Ruim

2 = Regular

3 = Bom

4 = Muito bom

139

9. Pontue os itens abaixo, relacionando com a importância que os mesmos têm para você:

Artes plásticas 0 1 2 3 4 5

Artesanato local 0 1 2 3 4 5

História local 0 1 2 3 4 5

Arquitetura local, prédios e monumentos

0 1 2 3 4 5

Matas, florestas e trilhas 0 1 2 3 4 5

Praias 0 1 2 3 4 5

Cultura indígena 0 1 2 3 4 5

Musica popular brasileira 0 1 2 3 4 5

Conhecimentos populares sobre plantas e animais da Mata Atlântica

0 1 2 3 4 5

10. Pontue os itens abaixo, relacionando com a avaliação que você faz da qualidade de sua experiência neste local:

0 = Péssimo

1 = Ruim

2 = Regular

3 = Bom

4 = Muito bom

Obrigado!

Grau de interesse em saber sobre o local 0 1 2 3 4 5

Objetos e fatos interessantes apresentados durante a visita

0 1 2 3 4 5

Valor que tem este local 0 1 2 3 4 5

Qualidade da informação recebida durante a visita

0 1 2 3 4 5

0 = Péssimo

1 = Ruim

2 = Regular

3 = Bom

4 = Muito bom

140

APÊNDICE C – Formulário sobre a opinião dos gestores turísticos de localidades

de relevância histórica e cultural

Universidade Estadual de Santa Cruz - UESC

Pesquisa de Mestrado em Cultura e Turismo Turismo e Interpretação do patrimônio natural e cultural na região do Museu

Aberto do Descobrimento, extremo sul da Bahia. Local:_________________________ Data:_________________

Nome:____________________________________

Cargo:_________________________________________

9. Qual a sua faixa etária?:

[ ] 15-24 [ ]25-44 [ ]45-65 [ ] Acima de 65

10. Qual é seu grau de escolaridade ?

[ ]Fundamental completo; [ ]Fundamental incompleto; [ ]Ensino médio completo

[ ]Ensino médio incompleto; [ ]Superior completo; [ ]Superior Incompleto

[ ]Pós-graduado

11. Pontue os itens abaixo, relacionando à importância dos mesmos para você:

Artes plásticas 0 1 2 3 4 5

Artesanato local 0 1 2 3 4 5

História local 0 1 2 3 4 5

Arquitetura local, prédios e monumentos

0 1 2 3 4 5

Matas, florestas e trilhas 0 1 2 3 4 5

Praias 0 1 2 3 4 5

Cultura indígena 0 1 2 3 4 5

Musica popular brasileira 0 1 2 3 4 5

Conhecimentos populares sobre plantas e animais da Mata Atlântica

0 1 2 3 4 5

0 = Péssimo

1 = Ruim

2 = Regular

3 = Bom

4 = Muito bom

141

4. Pontue os itens abaixo, relacionando à importância que os mesmos têm para os visitantes:

Artes plásticas 0 1 2 3 4 5

Artesanato local 0 1 2 3 4 5

História local 0 1 2 3 4 5

Arquitetura local, prédios e monumentos

0 1 2 3 4 5

Matas, florestas e trilhas 0 1 2 3 4 5

Praias 0 1 2 3 4 5

Cultura indígena 0 1 2 3 4 5

Musica popular brasileira 0 1 2 3 4 5

Conhecimentos populares sobre plantas e animais da Mata Atlântica

0 1 2 3 4 5

5. A partir da qualidade dos aspectos da visitação dos sítios históricos e culturais locais, pontue os itens abaixo:

Sinalização 0 1 2 3 4 5

Informações das placas interpretativas

0 1 2 3 4 5

Forma como é passada informação

0 1 2 3 4 5

Conservação dos monumentos 0 1 2 3 4 5

Conservação da natureza 0 1 2 3 4 5

Informações sobre a história local

0 1 2 3 4 5

Informações sobre a cultura local

0 1 2 3 4 5

Informações sobre a natureza 0 1 2 3 4 5

Informações passadas pelo guia/monitor (caso se aplique)

0 1 2 3 4 5

Patrimônio Histórico arquitetônico

0 1 2 3 4 5

Paisagem 0 1 2 3 4 5

Trabalho do guia/monitor 0 1 2 3 4 5

Obrigado!

0 = Péssimo

1 = Ruim

2 = Regular

3 = Bom

4 = Muito bom

0 = Péssimo

1 = Ruim

2 = Regular

3 = Bom

4 = Muito bom

142

APÊNDICE D - Formulário de entrevista semi-dirigida sobre a opinião dos

gestores turísticos de localidades de relevância histórica e cultural

Universidade Estadual de Santa Cruz - UESC

Pesquisa de Mestrado em Cultura e Turismo

Turismo e Interpretação do patrimônio natural e cultural na região do Museu

Aberto do Descobrimento, extremo sul da Bahia.

1. Como você avalia o aproveitamento do patrimônio cultural e natural na região ?

2. Você sabe o que significa o termo Interpretação ambiental ou Interpretação do patrimônio?

3. Tem conhecimento do desenvolvimento dessas atividades na região ?

4. Se interessaria em conhecer mais e debater o tema ?

5. Tem conhecimento dos projetos de turismo da região ?

6. Pontue a efetividade de sua participação em conselhos ou câmaras técnicas de turismo da região.

Grau de participação 0 1 2 3 4 5

Péssimo Ruim Regular Bom Muito bom Excelente

Obrigado!