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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ UECE CENTRO DE CIÊNCIAS E TECNOLOGIA CCT PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA PROPGPQ PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA DA UECE PROPGEO MESTRADO ACADÊMICO EM GEOGRAFIA MAG LILIANA MARIA MOTA DE OLIVEIRA ANÁLISE DA OCUPAÇÃO DAS ÁREAS DE APICUM E SALGADO PELA CARCINICULTURA, NA PLANÍCIE FLUVIOMARINHA DO RIO COREAÚ-CE À LUZ DO NOVO CÓDIGO FLORESTAL Fortaleza 2017

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ – UECE

CENTRO DE CIÊNCIAS E TECNOLOGIA – CCT

PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA – PROPGPQ

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA DA UECE – PROPGEO

MESTRADO ACADÊMICO EM GEOGRAFIA – MAG

LILIANA MARIA MOTA DE OLIVEIRA

ANÁLISE DA OCUPAÇÃO DAS ÁREAS DE APICUM E SALGADO PELA

CARCINICULTURA, NA PLANÍCIE FLUVIOMARINHA DO RIO COREAÚ-CE À LUZ

DO NOVO CÓDIGO FLORESTAL

Fortaleza

2017

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LILIANA MARIA MOTA DE OLIVEIRA

ANÁLISE DA OCUPAÇÃO DAS ÁREAS DE APICUM E SALGADO PELA

CARCINICULTURA, NA PLANÍCIE FLUVIOMARINHA DO RIO COREAÚ-CE À LUZ

DO NOVO CÓDIGO FLORESTAL

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Estadual do Ceará como requisito para a obtenção do título de Mestre em Geografia. Área de Concentração: Análise Geoambiental e Ordenamento de Territórios de Regiões Semiáridas e Litorâneas. Orientador: Prof. Dr. Manuel Rodrigues Freitas Filho

Fortaleza

2017

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Dedico este trabalho ao bom sentimento

de persistência, que sempre move

homens e mulheres para frente.

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AGRADECIMENTOS

A toda energia positiva do universo.

Ao Professor Dr. Manuel Rodrigues Freitas Filho por ter aceitado o desafio dessa

orientação, pela calma, paciência e pelos conhecimentos somados.

À Professora Drª. Maria Lucia Brito da Cruz por ter acompanhado e ajudado no meu

caminhar pela universidade e pela vida, e por ter aceitado participar da banca.

À Drª. Carolina Braga Dias, querida colega de trabalho, por suas observações,

sugestões, críticas e por ter aceitado participar da banca.

À SEMACE, especificamente ao Tiago Bessa e ao Ricardo Araújo, por

proporcionarem meu comparecimento a todas as atividades do mestrado, apoiando

meu desenvolvimento acadêmico.

À minha mãe Marilene pelo apoio incondicional.

Ao meu irmão Halley e minha irmã Juliana, pelo carinho e por terem compreendido

minha ausência no período do curso.

Ao Rodrigo Lucena pelo amor, ombro amigo e pelo incentivo em superar meus

desafios e pela disposição em superá-los ao meu lado.

Às caminhantes do Pathwork por me darem força para que mais essa etapa do meu

caminho fosse concluída.

Às minhas amigas e amigos, por estarem presentes nas horas de descontração e

onde o bicho pegou! Agradeço a todos e em especial à Kelly Gurgel que realizou de

forma competentíssima a correção dessa dissertação.

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RESUMO

O Novo Código Florestal Brasileiro, de 2012, trouxe como novidade um capítulo para

tratar do uso ecologicamente sustentável dos apicuns e salgados, atribuindo

percentuais passíveis de uso desses ambientes sucessionais do ambiente de

mangue por carciniculturas e salinas. O Estado do Ceará está em lugar de destaque

quando se fala da criação de camarão no cenário nacional, pois atualmente é o

maior produtor em cativeiro do país. Na planície fluviomarinha do rio Coreaú, estão

instalados tanques de carciniculturas desde o ano de 2001. O novo parâmetro

legislativo estabelece que, no Estado do Ceará, a atividade de carcinicultura pode

ocupar 35% dos ambientes de apicum e salgado. Verificou-se a necessidade de

realizar o mapeamento desses ambientes, sendo este o objetivo geral da pesquisa.

Para o alcance desse objetivo, realizaram-se análises multitemporais imbuídas com

os conceitos da metodologia sistêmica, na escala de 1:60.000, utilizando imagens de

satélite Landsat 5 e 8, para o ano 2000, que representa a área de estudos antes da

implantação da primeira carcinicultura, para o ano 2008, que representa o marco

legal da pesquisa, pois as carciniculturas implantadas até este ano, em áreas de

apicum e salgado, têm sua regularização junto ao órgão ambiental garantida, e para

o ano 2016, que representa a área atualmente. Técnicas de sensoriamento remoto,

Sistema de Informação Geográfica e a interpretação visual de imagens foram

usadas na obtenção do material cartográfico resultado deste trabalho. Quantificou-se

cada ambiente de interesse, quais sejam: mangue, salgado, apicum, carcinicultura e

salinas, além do total de área ocupado por água, para cada ano. Após esses

mapeamentos iniciais observou-se que o percentual passível de ocupação por

carciniculturas no ambiente de apicum é de 439,07ha e de salgado é de 203,38ha.

No mapeamento de 2016 conclui-se que 112,03ha (25,7%) de apicum já estão

ocupados com tanques de carcinicultura, e do salgado ainda nenhum percentual fora

ocupado com esta atividade. Devido à relevância do tema para a preservação

ambiental, recomendamos que o órgão ambiental proceda com levantamentos

similares a este nas planícies fluviomarinhas do estado, como preconiza a legislação

ambiental.

Palavras-chave: Apicum e Salgado, Interpretação Visual de imagens, Planície

fluviomarinha, Código Florestal, Carcinocultura.

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ABSTRACT

The New Brazilian Forestry Code of 2012 brought a chapter that talks about the

ecologically sustainable use of apicuns and salgados, attributing percentages of area

that could be used in these sectors by shrimp farming and salt production. These

sectors are part of the mangrove sector. Ceará State is in the spotlight when it comes

to shrimp farming on the national scene, as it is currently the largest producer of

shrimp in the country. In the fluvial-marine plain of Coreaú River, tanks of shrimp

cultivations have been installed since 2001. The new legislative parameter

establishes that in the Ceará State, shrimp farming activity can occupy 35% of

apicuns and salgado sectors. The need to map these sectors was verified, being this

the main objective of the research. To attain this objective, multi-temporal analyzes

were carried out with the concepts of the Systems Approach, in the scale of

1:60.000, using Landsat 5 and 8 satellite images, to the year 2000, which represents

the area of studies before the first shrimp farming, to the year 2008, which represents

the legal framework of the research, because the tanks of shrimp implanted until this

year in apicum and salgado areas, have their regularization with the environmental

agency guaranteed, and to the year 2016, which represents the currently area.

Remote sensing techniques, Geographic Information System and visual

interpretation of images were used to obtain the cartographic material resulting from

this work. Each area of interest was quantified, and they are: mangrove, salgado,

apicum, shrimp farming and salt production, besides the total area occupied by

water, for each year mentioned. After the initial mapping, we could observe that, in

2016, shrimp farming has already occupied 112,03ha (25,7%) of the occupable area

of apicum sector, which is 439,07ha. On the other hand, in the salgado sector, that

has 203.38ha of occupable area, there have been no occupations by shrimp tanks

yet. Due to the relevance of this subject for the preservation of the environment, we

recommend that the environmental agency proceed with similar mapping to this in all

fluvial-marine plains of the Ceará State, as the environmental legislation determines.

Keywords: Apicum and Salgado sectors, Visual Imagens Interpretation, Fluvial-

marine plain, Brazilian Forest Act, Shrimp Farming

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 - Mapa de Localização da área de estudo .................................................. 19

Figura 2 - Distribuição da vegetação de mangue pelo mundo .................................. 29

Figura 3 - Rhizophora mangle (mangue vermelho ou verdadeiro) ............................ 30

Figura 4 - Avicennia schaueriana (mangue preto, siriúba ou canoé) ......................... 31

Figura 5 - Laguncularia racemosa (mangue branco ou tinteiro) ................................ 32

Figura 6 - Detalhe do excesso de sal nas folhas ....................................................... 32

Figura 7- Área de salgado no município de Camocim (vegetação rasteira) .............. 34

Figura 8 - Área de apicum no município de Camocim (área desprovida de vegetação)

.................................................................................................................................. 35

Figura 9 - Arquitetura de Sistema de Informações Geográficas ................................ 42

Figura 10 - Comparação entre as curvas de reflectância da água, vegetação sadia,

solo e areia ................................................................................................................ 43

Figura 11 - Assinatura espectral (média) da folha verde ........................................... 44

Figura 12 - Características dos Satélites da série Landsat ....................................... 45

Figura 13 - Quadro resumo do sensor MSS - Landsat 5 ........................................... 46

Figura 14 - Quadro resumo sensor TM - Landsat 5 .................................................. 47

Figura 15 - Quadro resumo do sensor TIRS - Landsat 8........................................... 48

Figura 16 - Quadro resumo do sensor OLI – Landsat 8 ............................................ 48

Figura 17 - Comparativo entre as bandas dos sensores OLI e TIRS do Landsat8 com

as bandas do sensor ETM+ do Landsat7 .................................................................. 49

Figura 18 - Recorte da ortofotocarta 556-W, a sede de Camocim está em cima e a

esquerda. .................................................................................................................. 54

Figura 19 - Percurso de barco pelo rio Coreaú ......................................................... 55

Figura 20 - Bomba de captação de água instalada em carcinicultura no rio

Coreaú/Ce ................................................................................................................. 57

Figura 21 - Detalhe da bomba de captação de água, equipamento que realiza a

sucção da água ......................................................................................................... 57

Figura 22 - Salina visitada em julho de 2016, operando regularmente ..................... 58

Figura 23 – Carta-imagem da localização da área de estudos ................................. 61

Figura 24 - Elementos de Interpretação de Imagem: Ordem e Métodos de Pesquisa

.................................................................................................................................. 64

Figura 25 - Chave de interpretação ........................................................................... 65

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Figura 26 - Áreas ocupadas originalmente por apicum e salgado (mapeamento ano

2000), que no mapeamento de 2008 estão ocupadas por tanques de carcinicultura 74

Figura 27 - Áreas ocupadas originalmente por mangue (mapeamento ano 2000), que

no mapeamento de 2008 estão ocupadas por tanques de carcinicultura ................. 75

Figura 28 - Áreas ocupadas por apicum no mapeamento ano 2008 (marco legal),

que no mapeamento de 2016 estão ocupadas por tanques de carcinicultura ........... 83

Figura 29 - Áreas ocupadas por mangue no mapeamento ano 2008 (marco legal),

que no mapeamento de 2016 estão ocupados por tanques de carcinicultura ........... 86

Figura 30 - Esquema explicando como foram obtidas as áreas de acréscimo e

decréscimo dos ambientes de interesse ................................................................... 87

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LISTA DE MAPAS

Mapa 1 - Mapeamento das áreas de mangue, salgado, apicum e salina da planície

fluviomarinha do rio Coreaú com o uso de imagem Landsat5 datada de 21/08/2000

.................................................................................................................................. 69

Mapa 2 - Mapeamento das áreas de mangue, salgado, apicum, carcinicultura e

salina da planície fluviomarinha do rio Coreaú com o uso de imagem Landsat5

datada de 10/07/2008 ............................................................................................... 72

Mapa 3 - Mapeamento das áreas de mangue, salgado, apicum, carcinicultura e

salina da planície fluviomarinha do rio Coreaú com o uso de imagem Landsat8

datada de 10/08/2016 ............................................................................................... 78

Mapa 4 - Comparação entre as delimitações de mangue, salgado, apicum, salinas e

carciniculturas nos anos de 2000, 2008 e 2016 respectivamente ............................. 80

Mapa 5 - Comparativo (acréscimo e decréscimo de área) para o ambiente de

mangue, nos intervalos entre os anos 2000-2008 (A) e 2008-2016 (B) .................... 90

Mapa 6 - Comparativo (acréscimo e decréscimo de área) para o ambiente de

salgado, nos intervalos entre os anos 2000-2008 (A) e 2008-2016 (B) .................... 92

Mapa 7 - Comparativo (acréscimo e decréscimo de área) para o ambiente de

apicum, nos intervalos entre os anos 2000-2008 (A) e 2008-2016 (B) ..................... 95

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Pontos-chave percorridos no percurso de barco ...................................... 56

Tabela 2 - Quantificação dos dados relacionados às diferentes classes temáticas

mapeadas na planície fluviomarinha do rio Coreaú em 2000 ................................... 67

Tabela 3 - Quantificação dos dados relacionados às diferentes classes temáticas

mapeadas na planície fluviomarinha do rio Coreaú em 2008 ................................... 71

Tabela 4 - Áreas que no ano 2000 eram originalmente ocupadas por apicum, salgado

e mangue e que em 2008 passam a ser ocupadas por carciniculturas ..................... 73

Tabela 5 - Quantificação dos dados relacionados às diferentes classes temáticas

mapeadas na planície fluviomarinha do rio Coreaú em 2016 ................................... 77

Tabela 6 - Quadro resumo das áreas de cada classe mapeada para os anos de

2000, 2008 e 2016, em hectare ................................................................................. 79

Tabela 7 - Área de apicum e salgado no ano de 2008 e a área equivalente aos 35%

que podem ser ocupados pela carcinicultura e salinas ............................................. 81

Tabela 8 - Análise dos 35% de apicum que podem ser ocupados por carcinicultura de

salinas ....................................................................................................................... 82

Tabela 9 - Análise dos 35% de salgado que podem ser ocupados por carcinicultura

de salinas .................................................................................................................. 84

Tabela 10 - Comparativo (acréscimo e decréscimo de área) para o ambiente de

mangue, nos intervalos entre os anos 2000-2008 e 2008-2016................................ 88

Tabela 11 - Comparativo (acréscimo e decréscimo de área) para o ambiente de

salgado, nos intervalos entre os anos 2000-2008 e 2008-2016 ................................ 91

Tabela 12 - Comparativo (acréscimo e decréscimo de área) para o ambiente de

apicum, nos intervalos entre os anos 2000-2008 e 2008-2016 ................................. 93

Tabela 13 - Comparativo entre acréscimo e decréscimo de área, em hectare, para os

três ambientes entre 2000-2008 ................................................................................ 96

Tabela 14 - Comparativo entre acréscimo e decréscimo de área, em hectare, para os

três ambientes entre 2008-2016 ................................................................................ 97

Tabela 15 - Resultados das análises, demonstrando quanto houve de acréscimo e de

decréscimo nos mapeamentos realizados ................................................................ 98

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 - Quantificação dos dados relacionados às diferentes classes temáticas

mapeadas na planície fluviomarinha do rio Coreaú em 2000 ................................... 68

Gráfico 2 - Quantificação dos dados relacionados às diferentes classes temáticas

mapeadas na planície fluviomarinha do rio Coreaú em 2008 ................................... 71

Gráfico 3 - Quantificação dos dados relacionados às diferentes classes temáticas

mapeadas na planície fluviomarinha do rio Coreaú em 2016 ................................... 77

Gráfico 4 - Área total de apicum em 2008, destacada a área de 35% que pode ser

ocupada por carcinicultura e salinas ......................................................................... 82

Gráfico 5 - Destaque para a área de apicum que ainda pode ser ocupada por

carcinicultura e salinas, de acordo com a imagem Landsat8 de 2016 ...................... 82

Gráfico 6 - Área total de salgado em 2008, destacada a área de 35% que pode ser

ocupada por carcinicultura e salinas ......................................................................... 84

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LISTA DE SIGLAS E ABREVIAÇÕES

ABCC Associação Brasileira dos Criadores de Camarão

APP Área de Preservação Permanente

COEMA Conselho Estadual do Meio Ambiente do Ceará

COGERH Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos

CONAMA Conselho Nacional do Meio Ambiente

DER Departamento Estadual de Rodovias

E Leste

EMBRAPA Empresa Brasileira de Pesquisas Agropecuárias

ESSE És-sudeste

ETM Enhanced Thematic Mapper

FUNCEME Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos

GPS Global Positioning System

IBAMA Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IMNV Mionecrose Infecciosa Muscular

IPECE Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará

INPE Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais

Landsat Land Remote Sensing Satellite

LDCM Landsat Data Continuity Mission

MSS Multispectral Scanner System

NASA National Aeronautics and Space Administration

OLI Operational Lander Imager

PDI Processamento Digital de Imagens

PI Plano de Informação

PPD Potencial Poluidor Degradador

RGB Red Green Blue

SE Sudeste

SEMACE Superintendência Estadual do Meio Ambiente

SGBD Sistema de Gerenciamento de Banco de Dados

SIG Sistema de Informações Geográficas

SIRGAS Sistema de Referência Geocêntrico para as Américas

SPRING Sistema para Processamento de Informações Georreferenciadas

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SSA Aliança Sulista de Pescadores de Camarão

TIRS Thermal Infrared Sensor

TM Thematic Mapper

USGS Serviço de Pesquisa Geológica dos Estados Unidos

UTM Universal Transversa de Mercator

ZEEZOC Zoneamento Ecológico-Econômico da Zona Costeira

WSSV Síndrome da Mancha Branca

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 18

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA .......................................................................... 22

2.1 TEORIA GERAL DOS SISTEMAS ...................................................................... 22

2.2 PLANÍCIE LITORÂNEA ...................................................................................... 25

2.3 PLANÍCIE FLUVIOMARINHA ............................................................................. 27

2.3.1 Área de mangue .............................................................................................. 29

2.3.2 Área de salgado .............................................................................................. 33

2.3.3 Área de apicum ............................................................................................... 34

2.4 LEGISLAÇÃO AMBIENTAL APLICADA AO MANGUEZAL ................................. 36

2.5 ASPECTOS SOBRE A CARCINICULTURA – PRÁTICAS E VIVÊNCIAS ........... 38

2.6 GEOTECNOLOGIAS – CONCEITOS APLICADOS À PESQUISA ..................... 41

3. FUNDAMENTAÇÃO OPERACIONAL ................................................................ 51

3.1 LEVANTAMENTO CARTOGRÁFICO E AJUSTAMENTO DA ESCALA DE

ESTUDOS ................................................................................................................. 51

3.2 LEVANTAMENTO DE CAMPO E CONFERÊNCIA DA VERDADE

TERRESTRE............... .............................................................................................. 54

3.3 INTEGRAÇÃO DAS BASES CARTOGRÁFICAS ............................................... 58

4. LOCALIZAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE PESQUISA ................. 60

5. MAPEAMENTO E QUANTIFICAÇÃO DOS AMBIENTES DA PLANÍCIE

FLUVIOMARINHA DO RIO COREAÚ ...................................................................... 63

5.1 A PLANÍCIE FLUVIOMARINHA DO RIO COREAÚ NO ANO 2000 – ANTES DA

CARCINICULTURA ................................................................................................... 66

5.2 A PLANÍCIE FLUVIOMARINHA DO RIO COREAÚ NO ANO 2008 – MARCO

LEGAL DA PESQUISA .............................................................................................. 70

5.3 A PLANÍCIE FLUVIOMARINHA DO RIO COREAÚ NO ANO 2016 .................... 76

5.4 ANÁLISE EVOLUTIVA DAS CLASSES MAPEADAS.......................................... 79

5.4.1 Análise do percentual passível de ocupação por carciniculturas e salinas

nos ambientes de apicum, salgado e mangue ..................................................... 81

5.4.2 Análise comparativa dos levantamentos de áreas de mangue................... 87

5.4.3 Análise comparativa dos levantamentos de áreas de salgado ................... 91

5.4.4 Análise comparativa dos levantamentos de áreas de apicum .................... 93

5.4.5 Resumo das comparações dos mapeamentos elaborados ........................ 96

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6. CONCLUSÕES ................................................................................................... 98

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ....................................................................... 102

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INTRODUÇÃO

O meio ambiente está em lugar de destaque nas mesas de discussões

nas últimas décadas. Maior atenção ele vem recebendo dada a preocupação com a

qualidade de vida e com a quantidade dos recursos energéticos que teremos à

disposição da nossa e das futuras gerações, o que incentiva a existência de

pesquisas voltadas tanto para alternativas de recursos a serem utilizados quanto

para maneiras menos impactantes de uso dos recursos atualmente disponíveis.

Nos últimos anos, registrou-se o aumento da ocupação humana nas

planícies fluviomarinha, com a observância de maior utilização dos recursos naturais

ali disponíveis, pondo em risco sua estrutura e funcionamento a partir da existência

de ocupações irregulares e do manejo inadequado dos componentes da paisagem,

tendo em vista que as planícies fluviomarinhas são ambientes extremamente

vulneráveis onde qualquer alteração na dinâmica dos processos naturais, seja no

meio aquático, terrestre ou atmosférico, é percebida rapidamente. A pressão que a

população exerce sobre o espaço e sobre os recursos naturais é fator determinante

da escassez destes e está diretamente ligada à ocupação de novos lugares em

busca de fontes de energia e de bens naturais.

Nesse contexto, Meireles (2002) aponta que os desmatamentos e aterros

dos manguezais para a construção de equipamentos urbanos, residenciais, hotéis,

salinas e tanques para a criação de camarões, alteram o equilíbrio dos processos

morfológicos, resultando na descaracterização da paisagem, constituindo, portanto,

uma ameaça à biodiversidade, além de constituírem desrespeito à legislação

ambiental. Como indicadores de degradação ambiental devem ser levados em conta

fatores ambientais, sociais e econômicos, além do próprio desrespeito à legislação

ambiental.

O Estado do Ceará possui um histórico de degradação ambiental

originado/provocado por vários ciclos econômicos, alguns dos quais foram

predominantes ou ainda fazem parte da nossa cultura, como exemplo: as salinas, o

desmatamento, as queimadas, a criação extensiva de animais, a ocupação irregular

em áreas de preservação permanentes – APPs, e ainda atividades introduzidas mais

recentemente no contexto econômico do estado, tais como a carcinicultura e a

industrialização em larga escala.

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Dentre as atividades econômicas que ocupam a Zona Costeira e a

pressionam das mais diversas formas tem-se a carcinicultura como atividade de

destaque. No mundo, o cultivo do camarão marinho se concentra basicamente em

países asiáticos, sendo estes também os maiores importadores de camarão, dado o

seu pujante mercado consumidor. Observa-se ainda o cultivo em países latino-

americanos como Equador, México e Brasil, que, em companhia dos asiáticos,

despontam como os grandes produtores, conforme afirma Itamar Rocha, presidente

da ABCC, em artigo publicado na edição de janeiro de 2011 da revista da

associação.

O Estado do Ceará desenvolve muitas atividades econômicas no litoral e

uma das mais impactantes é a carcinicultura que, de acordo com a Resolução

COEMA n. 10 de 11 de junho de 2015, possui Potencial Poluidor Degradador – PPD

médio. Em tempo, PPD é o risco que um estabelecimento ou atividade possui, sem a

prática do controle ambiental, de causar dano ao ambiente. Para o Conselho

Estadual do Meio Ambiente do Ceará-COEMA, esse potencial pode variar entre

baixo, médio e alto (CEARÁ, 2015).

Fonte: Elaborado pela autora, 2016

Figura 1 - Mapa de Localização da área de estudo

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Observa-se que na área da pesquisa, a área que engloba a planície

fluviomarinha do Rio Coreaú (figura 1), a ocupação antrópica é historicamente

exercida. Meireles (2002) nos esclarece que as nascentes do rio Coreaú se

localizam no sopé do Planalto da Ibiapaba e seu curso percorre parte da depressão

periférica do Ceará até chegar ao litoral onde se encontra seu baixo curso. Os rios

São Mateus, do Meio, Imburana e Fortuna são seus afluentes principais, além de se

registrarem duas grandes ilhas no estuário, a do Amor e a de Trindade. Possui uma

grande extensão de praia à direita de sua desembocadura e à esquerda um conjunto

de falésias vivas e a cidade de Camocim.

De acordo com Araújo et al (2007), a criação de camarões em cativeiro

esteve na pauta nacional por diversas vezes, primeiro quando foi objeto de uma

ação antidumping, liderada pelos Estados Unidos, para proteger seus produtores de

pescado, onde os carcinicultores americanos litigaram contra os seis maiores

produtores mundiais de camarão em meados de 2003 (Brasil, China, Índia, Tailândia,

Vietnã e Equador) com o intuito de sobretaxar o camarão desses países produtores

para compensar o suposto dumping, já que os preços de seus concorrentes eram

mais atraentes. Depois, entre 2007 e 2008, quando ocorreram enchentes em

diversas partes do Brasil, que prejudicaram a produção nacional, levando a uma

queda na atividade, e, mais recentemente, em 2012, quando houve significativa

mudança na legislação ambiental, que deu origem ao Novo Código Florestal, Lei

Federal n. 12.651 (BRASIL, 2012).

Essa mudança fora o centro de muitas discussões entre ambientalistas e

o setor privado, encabeçada pela bancada do agronegócio no Congresso Nacional.

Os primeiros resultados dessas discussões foram inclusive objetos de vetos

presidenciais quando do andamento do texto até sua aprovação final, em 25 de maio

de 2012. Observou-se na sequência a retomada no volume de solicitações de

licenciamento ambiental, junto aos órgãos competentes, para as atividades de

aquicultura, dentre elas a criação de camarão, nas diversas regiões do litoral

cearense, fato observado quando se compara os anos de 2004 com 2013, onde no

primeiro existiam 191 produtores de camarão no estado, no segundo registrou-se a

existência de 556, conferido em ABCC, 2013.

Diante desse panorama torna-se de extrema importância o conhecimento

dos ambientes de apicum e salgado, para garantir o seu controle, monitoramento e

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proteção ambiental, haja vista a fragilidade e a importância ecológica das planícies

fluviomarinhas, de uma forma geral.

Em Thiers (2013) são citados os estudos realizados por Miranda, Martins,

Soares (1988) e por Herz (1991) que se debruçaram sobre a dinâmica evolutiva do

manguezal nos estuários da costa cearense, incluindo o do rio Coreaú, cada um

desses autores fez uso de metodologias e materiais distintos em seus

levantamentos.

Miranda, Martins, Soares (1988), realizaram seus estudos com o uso de

técnicas de sensoriamento remoto e análise visual de imagens do satélite Landsat5,

com composição colorida com as bandas 5, 4 e 3, para os anos de 1984, 1985 e

1986, obtendo como resultado para a planície fluviomarinha do rio Coreaú uma área

de 3.137,50ha de bosque de mangues.

Herz (1991) observou um quantitativo de 2.618,75ha de bosques de

mangue na planície fluviomarinha do rio Coreaú, cujo estudo fora realizado com o

uso de fotocartas geradas a partir de imagens de radar, do Projeto RADAMBRASIL,

do ano de 1978, projeto que se iniciou com levantamentos na Amazônia (RADAM) e,

por seus ótimos resultados, fora expandido para todo o Brasil, na escala de

1:250.000.

Já Thiers (2013) realizou levantamentos dos quantitativos das áreas de

bosques de mangue para os anos de 1985, 2000 e 2008, utilizando imagens de

satélite Landsat5, do sensor TM, e a técnica de classificação orientada a objeto,

alcançando como resultado para o ano de 1998 uma área de 3.155,38ha, no ano

2000 obteve uma área de 3.329,37ha e, finalmente para o ano 2008, o autor

detectou uma área de 3.255,46ha de bosque de mangue na área do presente

estudo.

Deve-se ter em mente que os autores citados acima contabilizaram como

bosque de mangue a soma das áreas dos ambientes de mangue e de salgado que

estão sendo abordados neste trabalho, ou seja, não se contabilizou em nenhum

deles as áreas de apicum.

E é como objetivo geral dessa pesquisa que se propõe a realização de

mapeamento, na escala de 1:60.000, dos apicuns e salgados na planície

fluviomarinha do rio Coreaú, aferindo o percentual de ocupação das atividades de

carcinicultura nesses ambientes, tendo em vista o disposto no artigo 11-A, §1º do

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Novo Código Florestal. Para tanto, será necessário quantificar e localizar os

empreendimentos de carcinicultura implantados ou em implantação na área da

pesquisa em diferentes períodos, bem como avaliar a adequação desses

empreendimentos à legislação ambiental vigente, e ainda analisar os resultados

desses levantamentos nos ambientes citados, para, com isso, subsidiar a avaliação

dos impactos ambientais causados pela atividade de carcinicultura por parte do

gestor público, bem como o planejamento ambiental da área.

É neste sentido que a pesquisa aqui desenvolvida pretende contribuir,

com as instituições de controle e comando em nível municipal e estadual, visando

uma gestão ambiental mais coerente e consciente.

Em tempo, no artigo do Novo Código Florestal mencionado acima está

dito explicitamente que a ocupação das áreas de interesse desta pesquisa deverá

respeitar o Zoneamento Ecológico-Econômico da Zona Costeira-ZEEZOC, com a

individualização das áreas ainda passíveis de uso, em escala mínima de 1:10.000.

Entretanto, a escala do ZEEZOC existente (1:25:000) não condiz com a mencionada

na lei, bem como os órgãos de pesquisa ou de fomento à pesquisa não dispõem de

imagens compatíveis com essa escala de trabalho até a presente data, fato este que

nos fez optar por imagens Landsat e que será explicado no segundo capítulo desta

dissertação, Fundamentação Teórica, no item onde serão abordadas as

geotecnologias.

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 TEORIA GERAL DOS SISTEMAS

O levantamento de questões que possam levar à compreensão das

características do espaço e de sua dinâmica é necessário para o entendimento do

contexto em que a área de estudo se insere. Buscando-se um modelo que subsidie

essa compreensão a presente pesquisa tem como suporte os estudos integrados da

paisagem, que possuem suas raízes na Teoria Geral dos Sistemas.

Para Ludwig Von Bertalanffy (1973), formulador da Teoria Geral dos

Sistemas, a reflexão sobre o papel da ciência resultou na necessidade de entender

que as diversas disciplinas do conhecimento humano devem se inter-relacionar, para

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que métodos e conceitos de uma passem a outra, para seu próprio desenvolvimento,

admitindo, portanto, que são complementares, chamando esse processo de

interdisciplinaridade.

Neste sentido, Bertrand (1969) propõe a ideia de hierarquia das

paisagens, representada por unidades variáveis de acordo com a escala de estudos.

As unidades descritas por Bertrand são: zona, domínio, região, geossistema,

geofácies e geótopo, divididas entre unidades superiores, as três primeiras, e

unidades inferiores, as três últimas. Associando-se com a presente pesquisa tem-se

que o geossistema seria a planície litorânea, a planície fluviomarinha seria a

geofácie e apicuns, salgados e mangue seriam geótopos.

Bertrand (ibid.) ainda afirma que a dinâmica e complexidade do

geossistema nos leva a análise do mesmo num curto espaço-tempo, remetendo-nos

a um sistema instável e variante, não apresentando necessariamente uma

homogeneidade fisionômica, tendo por característica ser formado por diferentes

paisagens e, por sua vez, o define como um tipo de sistema aberto,

hierarquicamente organizado, formado pela combinação dinâmica e dialética, dos

fatores abióticos, bióticos e antrópicos. Assim, o geossistema seria o resultado da

combinação dinâmica de um potencial ecológico (geomorfologia, clima, hidrografia),

de uma condição de exploração biológica natural, (vegetação, solo, fauna) e de

atividades antrópicas.

Com a noção que o sistema é maior que a soma de suas partes, faz-se

necessário a identificação de cada parte componente do mesmo. E o estudo de

qualquer das partes desse sistema sempre deve ser realizado em relação ao todo. A

divisão de um sistema em subsistemas, sistemas menores, é intrínseca à própria

ideia de sistema.

Como resultado, tem-se a expressão da planície fluviomarinha, que abriga

o sistema manguezal, onde cada espécie ali existente vai responder de forma

particular às condições naturais desse ambiente, seja na diferença de umidade, no

constante estresse de salinidade, claramente visível na variação do porte da

vegetação, onde sua morfologia se diferencia ao longo dos gradientes ambientais.

Tricart (1977) define um sistema como um conjunto de fenômenos que se

processam mediante fluxos de matéria e energia, onde há relação de dependência

mútua entre esses fenômenos. Para o autor, com a análise de um sistema

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reconhecem-se suas partes interativas, tornando a captação da rede de relações

desse sistema possível, sem separá-las e estabelece o sistema como o melhor

instrumento lógico de que dispomos para estudar os problemas do meio ambiente.

Institui o conceito de Ecodinâmica, para o estudo dos fenômenos (atmosféricos,

biológicos, pedológico, geomorfológico) que explicam as correlações identificadas,

foco essencial do estudo de paisagens estuarinas.

Ocupando e implantando atividades, o homem, para Christofoletti (1998),

insere-se no ambiente como agente modificador das características visuais, dos

fluxos de energia e matéria, modificando o equilíbrio natural dos sistemas, podendo

essas alterações, resultarem em impactos ambientais, que têm origem e são

resultados das atividades socioeconômicas.

Ainda segundo Christofoletti (ibid.), os impactos antropogênicos diretos

geralmente são planejados, e os seus efeitos são percebidos logo após as

modificações no ambiente serem promovidas. Já as consequências indiretas não

são planejadas nem imediatamente percebidas, dependendo da vulnerabilidade do

sistema ambiental e do possível desencadeamento de efeitos colaterais como a

degradação ambiental.

O enfoque sistêmico, de acordo com Souza (2006), constitui instrumento

indispensável na análise das inter-relações de causa e efeito, definindo a

sensibilidade e resistência dos ambientes em face do processo de uso e ocupação,

viabilizando a seleção de manejos que se adequem às condições de exploração,

preservação, conservação e/ou recuperação dos recursos naturais, pois sabemos

que qualquer alteração em um dos elementos do sistema provocará mudança nos

outros elementos, bem como em sua totalidade.

Souza (2000) sintetiza a importância da Geografia para o desempenho

prático do desenvolvimento sustentável:

O conhecimento e a análise dos sistemas naturais compõem a base da planificação do desenvolvimento que visa a criar melhores condições e bem-estar para os homens. A compatibilização das políticas de desenvolvimento econômico e as defesas e controle do ambiente constituem o caminho adequado para a promoção do desenvolvimento integrado e sustentado em longo prazo. Nessa perspectiva, a utilização racional do meio natural maximiza os impactos positivos oriundos de um meio organizado e minimiza a ação dos impactos negativos sobre os geossistemas (p. 7).

Acredita-se que a abordagem sistêmica é a mais adequada à realização

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da pesquisa proposta, levando-se em conta que a mesma pretende analisar as inter-

relações dos fatores ambientais e socioeconômicos pertencentes a um mesmo todo

complexo onde se insere a atividade de carcinicultura na planície fluviomarinha do

rio Coreaú.

2.2 PLANÍCIE LITORÂNEA

A maior parte da população mundial se concentra ao longo das planícies

litorâneas, distribuídas nas bordas dos continentes ao redor do globo. E para

entender a origem dessas planícies é fundamental estudar as oscilações do nível do

mar e as mudanças climáticas, responsáveis pelos avanços e recuos da linha de

costa ao longo do Quaternário, associadas às ações dos agentes morfológicos, e

ainda à tectônica de placas, vulcanismos, através da verificação de algumas formas

de relevo existentes nas planícies costeiras: falésias mortas, plataformas de

abrasão, planícies fluviomarinhas, terraços marinhos, paleomangues, arenitos de

praia, restos de antigos corais e gerações de dunas (MEIRELES, 2012).

A planície litorânea é o geossistema que está sob a influência direta da

dinâmica costeira, responsável principal pelos processos de transporte e deposição,

que modificam constantemente essas áreas e no Ceará dão origem a feições

geomorfológicas características: faixas de praia, campos de dunas, falésias e

planícies fluviomarinhas.

As praias são depósitos de material arenoso quartzoso inconsolidado,

associados à Formação Barreiras, mas que também podem ser formados por

sedimentos de origem marinha, ambos retrabalhados por processos atuais (ondas,

marés e ventos). Esses sedimentos podem variar de areia fina à areia muito fina ou

ainda, quando sob efeito dos promontórios, textura mais grossa. Os agentes

morfológicos citados agem transportando e depositando os sedimentos

componentes da planície litorânea, proporcionando perda ou ganho de sedimentos,

cuja dinâmica é responsável pelo balanço sedimentar da área, de acordo com Souza

(2005).

No município de Camocim, a faixa de praia se dispõe orientada de leste

para oeste, de forma retificada, sendo interrompida por promontórios rochosos

(pontas) e por rochas de praia (beach rocks). A faixa de praia apresenta ligeira

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inclinação em direção ao mar, possui vegetação típica pioneira, do tipo gramíneo e

arbustivo, adaptada a ambiente de salinidade elevada e baixa oferta de nutrientes no

solo (MEIRELES, 2002).

As dunas existentes no litoral cearense são classificadas como móveis,

semifixas e fixas, dada a existência ou não de vegetação. As móveis são geralmente

mais recentes, predominantemente desprovidas de recobrimento vegetal, são

compostas por areias quartzosas continentais e marinhas, alimentadas, portanto,

pelos sedimentos da faixa de praia e da plataforma continental, a depender do

volume de areia e da capacidade dos ventos, pois se encontram dispostas

imediatamente após a praia e ainda não apresentam pedogênese. As dunas

semifixas não apresentam morfologia bem definida, estando em processo de

fixação. As dunas fixas possuem suas areias em tons vermelho-amarelados

classificadas como areias quartzosas distróficas, são normalmente mais baixas que

as citadas anteriormente e se encontram fixadas pela vegetação existente, de porte

herbáceo-arbustivo, que impede que seu sedimento seja mobilização pela ação

eólica (SOUZA, 2000).

No município de Camocim, existem grandes campos de dunas móveis,

em sua maioria do tipo barcanas, que migram de nordeste para sudoeste,

encobrindo dunas fixas ali existentes, avançando continente adentro, encobrindo

também parte da drenagem costeira, cujo barramento dos cursos d’água de menor

vazão resulta na formação de lagoas dispostas perpendicularmente à linha de costa.

Em se tratando do canal principal do rio Coreaú, quando esses sedimentos o

alcançam, formam ali bancos de areia, e, dependendo do aporte fluvial, conseguem

chegar até o oceano, onde, pela ação da deriva litorânea, são transportados para a

faixa de praia, contribuindo, portanto, para a dinâmica sedimentar. Esse processo de

migração das dunas é regido principalmente pela direção e velocidade dos ventos e

pelas variações pluviométricas, variações estas que são perceptíveis ao longo do

ano para a área da pesquisa.

Até o momento, neste tópico, abordaram-se conceitos auxiliares na

compreensão do objeto de estudo da presente pesquisa. Nos dois próximos tópicos,

ainda dentro da Fundamentação Teórica, serão abordados os conceitos de planície

fluviomarinha, que como se demonstrou acima, faz parte da planície litorânea e,

mais especificamente de mangue, salgado e apicum, que são os ambientes

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existentes na planície fluviomarinha.

2.3 PLANÍCIE FLUVIOMARINHA

O sistema fluviomarinho está situado no domínio morfoestrutural da

planície costeira e é caracterizado por ser uma zona de convergência entre as

energias geradas pela vazão fluvial, pelo fluxo e refluxo das marés e pelas ondas e

ventos. Normalmente são áreas baixas, apresentam solos orgânicos e salinos, mal

drenados, de teor ácido, e se encontram normalmente parcialmente submersos

(SOUZA, 2000, p. 46).

O contato constante entre águas fluviais e marinhas, resultado das

oscilações diárias da maré, proporciona a deposição de sedimentos finos e matéria

orgânica, que resulta em extensas vasas lamosas e apresenta grande diversidade

faunística, sendo área de reprodução de importantes espécies animais.

A origem desses depósitos possui relação direta com o afogamento da

região costeira ocorrido no último evento transgressivo. Em Morais (1998), observa-

se que a hidrologia de superfície dessa unidade está representada por estuário e

drenagem com padrão anastomótico, além de fluxo lento do escoamento fluvial,

fortemente influenciado pela preamar.

Seu solo é geralmente quente, pobre em cálcio, com elevada

concentração de enxofre e de sais de sódio, acentuada deficiência de oxigênio no

substrato, rico em matéria orgânica. Apresenta-se constantemente úmido, devido às

regulares inundações pelas marés, proporcionando a regulação do ciclo hidrológico

de superfície, bem como escoamento superficial. Este solo age como fixador de

carbono e nutrientes e como agente na produção biológica, apresentando-se desta

forma como impróprio para o uso agrícola.

O manguezal constitui a cobertura vegetal natural da área de estudos aqui

apresentada, e contribui sobremaneira com a bioestabilização do seu sistema

estuarino, pois, como afirma Souza (2000), onde as espécies típicas de mangue se

fixam significa dizer que ali as correntes fluviais não possuem mais capacidade de

entalhe, sobressaindo, portanto, a capacidade de colmatagem ou de sedimentação,

frente às manifestações erosivas do sistema, ou seja, desempenha papel

fundamental na estabilidade geomorfológica costeira e na conservação da

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biodiversidade.

Ab’Saber (2003) menciona que os manguezais estão presentes na costa

atlântica tropical brasileira e estendem-se do extremo norte, no Oiapoque (4°30’N),

estado do Amapá até a Praia do Sonho, no estado de Santa Catarina (28°53’S).

Para Schaeffer-Novelli (1995), manguezal é uma zona úmida, definida como

ecossistema costeiro, de transição entre os ambientes terrestre e marinho,

característico de regiões tropicais e subtropicais, sujeito ao regime das marés, e

para a autora fazem parte do manguezal os salgados, os apicuns e a vegetação

exuberante de mangue, com suas espécies arbóreas típicas: Rhizophora mangle

(mangue vermelho), Laguncularia racemosa (mangue branco), Avicennia

schaueriana e a Avicennia germinans (mangue preto ou siriúba) e Conocarpus

erecta (mangue botão), com suas raízes aéreas, plenamente adaptadas ao solo

encharcado e com alta salinidade.

A planície fluviomarinha, objeto deste estudo, refere-se ao rio Coreaú, e

se estende por aproximadamente 18 km (percurso do rio), partindo do município de

Camocim, indo até o município de Granja, ambos situados no Estado do Ceará,

Nordeste do Brasil. Na planície em questão, são desenvolvidas algumas atividades

econômicas que tipicamente ocupam essas áreas ao longo do estado como a pesca

e a carcinicultura. Dentre alguns impactos causados especificamente pela atividade

de carcinicultura tem-se o desmatamento do manguezal, ecossistema típico desta

geofácie, a extinção de setores de apicum ocupados com os tanques para a criação

dos camarões, o soterramento de gamboas e canais de maré e a contaminação da

água, além da salinização do aqüífero ali existente.

Diante das considerações gerais aqui mencionadas entendemos a

planície fluviomarinha como um ambiente extremamente vulnerável, onde se

percebe rapidamente qualquer alteração na dinâmica dos processos naturais, seja

no meio aquático ou terrestre. Nos últimos anos, observou-se o aumento da

ocupação humana nessas áreas, resultando numa maior utilização dos recursos

naturais, pondo em risco a estrutura e o funcionamento desses ambientes a partir da

existência de ocupações irregulares e do manejo inadequado dos componentes da

paisagem.

Meireles (2012) alerta que talvez a principal importância do manguezal

para a qualidade do sistema em que está inserido seja sua relação direta com a

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soberania alimentar das comunidades litorâneas, pois proporcionam suporte para a

produtividade biológica desses sistemas marinhos e costeiros.

2.3.1 Área de mangue

O termo mangue é atribuído à flora característica da planície

fluviomarinha, típica de regiões tropicais e subtropicais do planeta. Em Vannucci

(2003), menciona-se que a origem da palavra mangue é africana, onde em algumas

tribos registraram-se os verbetes mangle e mangue, cuja primeira pronuncia foi

aderida pelos espanhóis e a segunda pelos portugueses.

Antes do século XIX, os manguezais eram tidos como áreas de pouco

valor, chegando-se a registrar uma publicação intitulada “Manual para conversão das

terras inúteis”, na década de 1870, que tratava da provável maior área de manguezal

ininterrupto do mundo, os Sunderbans, localizado entre os rios Ganges e

Bramaputra, em Bangladesh.

A vegetação de mangue possui certas características que tornam esse

ambiente estrutural e funcionalmente único, como a capacidade de estabilizar a linha

de costa, e complementa Meireles (2002)

[...] protegendo as margens e terraços das ações erosivas, favorecendo os processos de sedimentação e formação de solos, mantendo o nível do lençol freático e reduzindo o impacto das marés e das cheias fluviais, além de equilibrar o balanço sedimentar entre erosão e deposição.

Fonte: National Geografic, 2007.

Figura 2 - Distribuição da vegetação de mangue pelo mundo

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Sua existência é limitada globalmente pela isoterma 20°C de temperatura

da água do mar, mas há exceções pelo mundo como no sul da Austrália, na Nova

Zelândia e na costa sul da África, como se pode observar na figura 2.

Nos manguezais do Brasil registram-se as espécies Rhizophora e

Avicennia, que representam gêneros que ocorrem exclusivamente no manguezal, e

ainda as espécies dos gêneros Laguncularia e Conocarpus, que também podem

ocorrer em outros ambientes do litoral. Localmente a ocorrência de diferentes

espécies é controlada pela salinidade e pela topografia, que são variáveis sensíveis

e diferentes de uma região para outra (MAIA, 2006).

A Rhizophora mangle (mangue vermelho ou verdadeiro), observada na

figura 3 abaixo, apresenta árvores que podem atingir até 19 metros de altura, é

comumente observada nas áreas próximas ao leito do rio, parte que fica inundada

por mais tempo, e sua principal característica são as raízes aéreas (rizóforos), que

partem do tronco em forma de arcos fixando-se ao solo, proporcionando maior

estabilidade à planta nesse solo pouco consolidado. O formato desses rizóforos é a

razão da importância dessa espécie vegetal para a existência da planície

fluviomarinha, uma vez que atua na contenção dos sedimentos finos em suspensão,

que se depositam nas margens dessa planície, onde existe o mangue vermelho

naturalmente (ibid.).

Fonte: Acervo da autora, Camocim/julho, 2016.

Figura 3 - Rhizophora mangle (mangue vermelho ou verdadeiro)

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A Avicennia schaueriana e a Avicennia germinans (mangue preto, siriúba

ou canoé), vista na figura 4 abaixo, pode atingir uma altura média de 11 metros,

apresenta-se como árvores e arbustos localizados normalmente na posição média a

alta do perfil intermarés, suas raízes são horizontais e radiais, com prolongamentos

verticais que crescem de baixo para cima (pneumatóforos), surgindo como “palitos”

para fora do solo, é um mecanismo que auxilia no processo de trocas gasosas,

através das lenticelas, verdadeiros poros existentes nos corpos dos pneumatóforos.

Suportam bem elevadas taxas de salinidade quando comparadas com as outras

espécies que habitam os manguezais (MAIA, 2006).

Fonte: Acervo da autora, Camocim/julho, 2016.

Figura 4 - Avicennia schaueriana (mangue preto, siriúba ou canoé)

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Laguncularia racemosa (mangue branco ou tinteiro), observada na figura

5 abaixo, pode atingir 12 metros de altura, apresentando-se como árvore de

pequeno porte ou arbusto, localizada na posição média a alta do perfil intermarés.

Também como o mangue preto, essa espécie possui as raízes respiratórias, os

pneumatóforos, que brotam do solo de maneira vertical, apresentando geotropismo

negativo. Suas folhas possuem glândulas que secretam o excesso de sal (figura 6)

ora absorvido pela planta, e chegam às vezes a cair para garantir a eliminação

desse sal (MAIA, 2006). Destaca-se por ser a única espécie típica de mangue

encontrada no arquipélago de Fernando de Noronha.

Fonte: Acervo da autora, Camocim/julho, 2016.

Fonte: Acervo da autora, julho, 2016.

Figura 5 - Laguncularia racemosa (mangue branco ou tinteiro)

Figura 6 - Detalhe do excesso de sal nas folhas

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As espécies de Conocarpus erecta (mangue botão ou ratinho), habitam

nas porções mais altas, nas bordas externas dos manguezais, em áreas arenosas,

longe das marés, talvez por isso tenha sua madeira bastante utilizada de diversas

formas pelo homem (MAIA, 2006). Sua característica visual são seus frutos,

arredondados aglomerados em cachos, fazendo jus ao nome popular de mangue

botão.

De uma forma geral, quando comparado a outras regiões do Brasil, as

áreas de manguezal do Ceará apresentam um menor desenvolvimento das

espécies, no que diz respeito ao porte dos indivíduos, devido à falta de aporte de

água doce, por conta do padrão pluviométrico irregular, que se caracteriza por ser

concentrado em determinado período do ano, associado a altas taxas de

evaporação.

2.3.2 Área de salgado

O Novo Código Florestal define as áreas de salgado ou marisma como

áreas situadas em regiões com frequências de inundações intermediárias entre

marés de sizígias (cheia e nova) e de quadratura (quarto crescente e minguante),

com solos cuja salinidade varia entre 100 e 150 partes por 1.000, onde pode ocorrer

a presença de vegetação herbácea específica (BRASIL, 2012). Tecnicamente são

classificados como marismas tropicais hipersalinos, que tendem a se localizar nas

áreas internas do manguezal ou na faixa de transição do manguezal com o tabuleiro

pré-litonâneo.

Até pouco tempo, sua nomenclatura era confundida com a de apicum.

Esses termos foram por vezes tidos como sinônimos, conceitualmente falando,

entretanto, com o advento do Novo Código Florestal, o legislador pontuou

exatamente como descrito acima, a diferenciação entre esses dois ambientes, que

diz respeito às marés a que estão sujeitos e à variação de salinidade do solo, que irá

proporcionar ou não a existência de indivíduos adaptados a essa condição,

expressando-se na ocorrência ou não de vegetação, bem como em seu tipo/porte.

O ambiente de salgado é totalmente associado à existência da vegetação

de mangue, funcionando como áreas naturais de expansão e de retração desse

ambiente. As espécies vegetacionais de mangue, apesar de adaptadas a um

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ambiente de salinidade elevada no solo, possuem limite de tolerância dessa

condição, e quando ocorrem mudanças nesses níveis de salinidade, seja por

sucessivas variações no nível do mar, culminando com seu aumento, ou por

períodos de pluviometria elevada, passa, no primeiro caso, a não mais ocupar esses

locais onde há constância da salinidade num nível maior que o antes tolerado,

abrindo espaço para as espécies resistentes, de menor porte, típicas de salgado

(figura 7), ou, no segundo caso, com os solos lavados pela forte influência fluvial,

resultante de períodos de chuva, verifica-se o avanço do mangue nessas áreas onde

antes só havia salgado e apicum, tendo em vista a diminuição da salinidade do solo.

Fonte: Acervo da autora, Camocim/julho, 2016.

2.3.3 Área de apicum

Os apicuns se caracterizam grosso modo por serem áreas do manguezal

onde não há presença de vegetação arbórea ou arbustiva do bosque, são de fato um

estágio sucessional natural do ecossistema. A palavra apicum vem do Tupi-guarani

Ape’kü, que significa brejo de água salgada localizada à borda do mar, ou coroa de

areia feita pelo mar. Também são chamados de planícies hipersalinas, por estarem

nas áreas de maior presença de sedimentos arenosos, onde se registra a mais

elevada quantidade de sal dentro desse ecossistema, bem como ocupam os

terrenos mais elevados na planície fluviomarinha, quando se compara com os

terrenos ocupados naturalmente pelo mangue.

O Novo Código Florestal define apicum como sendo áreas de solos

Figura 7- Área de salgado no município de Camocim (vegetação rasteira)

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hipersalinos situadas nas regiões entremarés superiores, inundadas apenas pelas

marés de sizígias (marés de lua nova e lua cheia), que apresentam salinidade

superior a 150 partes por 1.000, desprovida de vegetação vascular, figura 8

(BRASIL, 2012).

Fonte: Acervo da autora, Camocim/julho, 2016.

Os setores de apicum são unidades fundamentais para o manguezal, pois

atuam na regulação, no processamento e na distribuição de nutrientes. Nessas

áreas é possível fazer mariscagem, coleta e utilizá-lo como meio de acesso aos

outros setores do manguezal. Está diretamente ligado à expansão do manguezal.

De acordo com Meireles (2007, pg. 89), os apicuns, quando da inundação

de suas áreas, são submetidos a “reações ambientais vinculadas com processos

sedimentares (decantação dos sedimentos finos e produção de biodetritos),

morfológicos (dinâmica dos canais de maré associados) e ecológicos (produção e

distribuição de nutrientes)”. Nos momentos em que é exposto ao sol e ao vento, ou

seja, na maré baixa, observa-se em sua superfície imediata um verdadeiro tapete de

micro-organismos (algas e bactérias), base da cadeira alimentar para a fauna, que

ali encontra lugar de pouso, alimentação e reprodução (ibid.).

Figura 8 - Área de apicum no município de Camocim (área desprovida de vegetação)

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2.4 LEGISLAÇÃO AMBIENTAL APLICADA AO MANGUEZAL

O disciplinamento do uso dos recursos naturais e das formas de

ocupação do território consta no âmago de toda legislação ambiental e fazem

dessas normas instrumentos legais imprescindíveis ao trabalho de planejamento e

gestão dos espaços territoriais. Consoante a isso, as leis ambientais têm como

intuito, como bem resume o artigo 225 da Constituição Federal, o dever de defender

e de preservar o meio ambiente para as presentes e futuras gerações.

Antes da promulgação da Constituição Federal, o antigo Código Florestal

Brasileiro, Lei Federal n. 4.771 de 15 de Setembro de 1965, não definia manguezal,

nem tampouco o protegia textualmente. A menção a esse sistema constava apenas

em seu artigo 2º, na alínea “f” onde se lê que: “Art. 2° Consideram-se de

preservação permanente, pelo só efeito desta Lei, as florestas e demais formas de

vegetação natural situadas: f) nas restingas, como fixadoras de dunas ou

estabilizadoras de mangues”, ou seja, a vegetação aqui protegida seria a restinga,

caso atuasse como estabilizadora do manguezal, do contrário a restinga poderia não

ser considerada Área de Preservação Permanente-APP.

Entretanto, a Resolução aprovada e publicada pelo Conselho Nacional do

Meio Ambiente-CONAMA n. 303 de 20 de março de 2002, vem justamente suprir

nacionalmente a lacuna existente no antigo código florestal, no que diz respeito à

preservação do manguezal, pois o estabelece como Área de Preservação

Permanente, de acordo com seu artigo 3°, inciso X, textualmente informando que o

manguezal, em toda sua extensão deve ser preservado.

Atualmente a Lei n. 12.651 de 2012, o Novo Código Florestal, incorpora

esse mesmo conceito de preservação do manguezal, em toda sua extensão,

elevando-o em sua completude ao status de APP, como descrito em seu artigo 4°,

inciso VII, e traz ainda sua definição como sendo

[...] ecossistema litorâneo que ocorre em terrenos baixos, sujeitos à ação das marés, formado por vasas lodosas recentes ou arenosas, às quais se associa, predominantemente, a vegetação natural conhecida como mangue, com influência fluviomarinha, típica de solos limosos de regiões estuarinas e com dispersão descontínua ao longo da costa brasileira, entre os Estados do Amapá e de Santa Catarina (BRASIL, 2012).

Outros corpos normativos trouxeram definições de manguezal como a

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Resolução CONAMA n. 10 de 1 de outubro de 1993, que em seu artigo 5°, inciso I,

traduz manguezal como sendo vegetação com influência fluviomarinha, típica de

solos limosos de regiões estuarinas e dispersão descontínua ao longo da costa

brasileira, entre os Estados do Amapá e Santa Catarina.

No ano de 2002, fora aprovada e publicada pelo Conselho Estadual de

Meio Ambiente do Ceará-COEMA a Resolução n. 02 de 27 de março de 2002, que

traz como conceitos em seu artigo 1°

IX- Manguezal: é o ecossistema litorâneo, com influência fluviomarinha, que ocorre em terrenos sujeitos à ação das marés, formado por vasas lodosas ou arenosas recentes, às quais se associa, predominantemente, a vegetação natural conhecida como mangue, e cuja importância ecológica concentra-se na exportação significativa de matéria orgânica particulada e dissolvida para os ecossistemas estuarino e marinho e na proteção contra a erosão da linha de costa. X- Salgado: é o ecossistema desprovido de vegetação vascular desenvolvendo-se entre o nível médio das preamares de quadratura e o nível das preamares de sizígia equinociais, em faixa de terra hipersalina com valores da água intersticial acima de 100 ppm (partes por milhar), normalmente situado em médio-litoral superior. XI- Apicum: é o ecossistema de estágio sucessional tanto do manguezal como do salgado, onde predomina solo arenoso e relevo elevado que impede a cobertura dos solos pelas marés, sendo colonizado por espécies vegetais de caatinga e/ou mata de tabuleiro.

E ainda esta mesma resolução impunha, de acordo com seu artigo 6º,

que os empreendimentos de carcinicultura a serem implantados tanto em apicuns

quanto em salgados, os quais chama de ecossistemas, deveriam preservar no

mínimo 20% dessas áreas, cuja localização seria definida pela SEMACE e que no

caso de empreendimentos circunvizinhos, as áreas definidas para preservação

deveriam ser preferencialmente contíguas, além de que este percentual de 20% não

poderia ser incorporado ao de Reserva Legal da propriedade.

Já na Resolução CONAMA n. 312, em 10 de outubro do mesmo ano, que

dispunha sobre licenciamento ambiental dos empreendimentos de carcinicultura na

zona costeira, visando à necessidade de um sistema ordenado de planejamento e

controle para preservar os ambientes costeiros, é vedada a atividade de

carcinicultura em manguezal.

O conceito relativo ao uso autorizado dos apicuns e salgados presente na

Resolução COEMA n. 02/2002, citada acima, provavelmente serviu de referência

para a incorporação de um novo capítulo, no Novo Código Florestal, o Capítulo III-A,

que versa sobre o uso ecologicamente sustentável da Zona Costeira, em especial,

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das áreas de apicuns e salgados, onde se menciona que esses ambientes podem

ser utilizados em atividades de carcinicultura e salinas, desde que respeitados

alguns requisitos.

O principal requisito a ser atendido quando da ocupação legalizada dos

apicuns e salgados versa sobre o percentual máximo de ocupação dessas áreas

pelas atividades de carcinicultura e salinas, cujo percentual não pode ser superior a

35% dessa modalidade de fitofisionomia, no Ceará, excluídas as ocupações já

consolidadas, sendo garantida às atividades e empreendimentos, cuja ocupação,

com comprovação obrigatória do empreendedor, ocorrera antes de 22 de Julho de

2008, sua regularização junto ao órgão ambiental estadual.

E é em virtude dessa limitação de ocupação que o poder público deve

estar cada vez mais atento a como essas áreas estão sendo ocupadas, uma vez que

esse novo momento foi estabelecido pela legislação e a atividade de carcinicultura

está em um novo ciclo de expansão.

2.5 ASPECTOS SOBRE A CARCINICULTURA – PRÁTICAS E VIVÊNCIAS

O início da criação de camarão em cativeiro no Brasil remonta os anos de

1970, porém só se consolida no final da década de 90, quando o camarão da

espécie Litopenaeus vannamei, exótica, já consolidado em outros países produtores

como Equador e Panamá, é introduzido e encontra aqui condições ambientais ideais

e de tecnologia para sua produção em escala comercial (IBAMA, 2005).

Além do domínio dessa espécie exótica, ocorreram no mesmo período

situações econômicas que favoreceram a exportação do camarão produzido no

Brasil, principalmente para Europa e Estados Unidos, como a flexibilização da taxa

de câmbio com a desvalorização do Real, em 1999, refletindo na aplicação de

investimentos públicos e privados, bem como o aumento do preço internacional do

produto, por conta de uma crise ocorrida no Equador, nesse mesmo ano, que era o

maior produtor da América Latina. Com o ambiente favorável, surgiram no cenário

vários criadores, sendo a maioria deles, cerca de 70% no ano de 2004, pequenos

empreendimentos, abaixo de 10 hectares, com área media de 4ha, a grande maioria

sem licenciamento ambiental (ARAÚJO, et al, 2007, pg. 14).

Houve avanço tecnológico nesse período nos processos reprodutivos, de

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criação das pós-larvas, de engorda e no desenvolvimento de rações, resultando na

regularização da oferta e maior cuidado com relação à qualidade do produto final.

Todas essas condições favoreceram uma projeção no mercado externo, que oferecia

preços convidativos. Entretanto, com os preços balizados em Dólar, e com a queda

no valor da moeda norte-americana, houve aumento nos custos da produção, que

tinham a maior parte de seus insumos importados.

A esse cenário econômico negativo, somou-se a atitude protecionista dos

Estados Unidos, que através da Aliança Sulista de Pescadores de Camarão (SSA)

promoveram uma ação antidumping contra o Brasil e os outros cinco maiores

produtores de camarão na época (China, Tailândia, Índia, Vietnã e Equador), que

consistia na sobretaxação dos produtos exportados para garantir o preço dos

produtos nacionais deles. A taxa inicialmente afixada foi de 23,6% sobre o valor do

produto, o que tornou inviável continuar exportando para a América do Norte

(ARAÚJO, et al, 2007).

Além disso, no mesmo período, surgiram doenças virais - Mionecrose

Infecciosa Muscular (IMNV), na região Nordeste, e o vírus da Síndrome da Mancha

Branca (WSSV), na região Sul - que acometeram a maioria das fazendas de

camarão brasileiras, derrubando cerca de 80% da produção, contribuindo

sobremaneira para o declínio da produção a partir de 2004 (OSTRENSKY, 2008, pg.

137 e 138)

O nosso país hoje tem a maior parte de sua produção voltada para o

mercado interno, de acordo com a Associação Brasileira dos Criadores de Camarão

(2013), e essa demanda é crescente. O setor se mostra num processo de retomada,

com a instalação de novos empreendimentos, conseguindo superar alguns dos

problemas que comprometeram a produção por uma década.

Comparando os cenários, em 2004 a área no Brasil destinada a

carcinicultura era de 16.598ha, em 2011 essa área já era de 22.343ha, e esse dado

não para de crescer, demonstrando de fato que a atividade vem se recuperando

(ABCC, 2013). De acordo com o presidente da ABCC, em entrevista à Revista Feed

& Food, edição de maio de 2016, ressalta-se a crescente produção nacional de

camarão, onde o Nordeste aparece sendo responsável por 99,7% da produção

nacional, contando com a participação de 2.500 produtores em 25.000 hectares de

fazendas de camarão, resultando numa produção de 76.000 toneladas em 2015.

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O Ceará desponta atualmente como o maior produtor de camarão do

Brasil, sendo responsável no ano de 2011 por 45,9% da produção nacional, que

equivale a um total de mais de 31 mil toneladas do crustáceo, ficando, a partir desse

momento, de vez à frente do Rio Grande do Norte, antigo líder na produção.

Possuía, em 2011, 325 unidades produtoras que ocupavam uma área de 6.580ha, e

no ano de 2013 fechou com 556 unidades (ABCC, 2013).

As áreas em que se registram as maiores quantidade de produtores no

estado estão no litoral oeste, nas proximidades dos rios Acaraú, Coreaú e Curu, e no

litoral leste, nas proximidades do Pirangi, Baixo e Médio Jaguaribe. O Baixo Coreaú

é uma área onde a aquicultura tem grande influência na economia. Até o ano de

2005 já se registravam dez empreendimentos no rio Coreaú, de acordo com dados

da Superintendência Estadual do Meio Ambiente - SEMACE.

Essa atividade busca se instalar em áreas sujeitas às oscilações diárias

de maré, ou seja, em áreas de bosques de manguezal de uma forma geral. Isso foi

constatado tanto nas inspeções técnicas realizadas pelo Grupo de Trabalho sobre a

Carcinicultura, da Comissão de Meio Ambiente e Minorias da Câmara Federal, bem

como por técnicos do IBAMA, ambos em meados de 2004, onde dos 245

empreendimentos de cultivo de camarão visitados pelo IBAMA, mais da metade

estavam interferindo no ecossistema manguezal, e quando se fala especificamente

dos empreendimentos localizados no Litoral Oeste do Ceará, onde a área da

pesquisa está inserida, esse percentual ultrapassa de 70% dos empreendimentos ali

existentes com interferência em área de salgado ou apicum e 55% em área de

mangue (IBAMA, 2005, pg. 137 e 142).

Os maiores impactos registrados pela implantação de fazendas para o

cultivo de camarão em área de manguezal são: desmatamento do manguezal,

desmatamento da mata ciliar e do carnaubal, extinção de setores de apicum e

salgado, soterramento de gamboas e canais de maré, bloqueio do fluxo das marés,

contaminação da água por efluentes dos viveiros, salinização do aquífero,

impermeabilização do solo associado ao ecossistema manguezal, ao carnaubal e à

mata ciliar, erosão dos taludes, dos diques e dos canais de abastecimento e de

deságue, alterações da qualidade d´água, disseminação de camarão exótico para

ambientes fluviais e fluviomarinhos, redução e extinção de habitats de numerosas

espécies, extinção de áreas de mariscagem, pesca e captura de caranguejos,

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ameaça à biodiversidade, conflitos sociais com a expulsão de marisqueiras,

pescadores e catadores de caranguejo de suas áreas de trabalho, dificultar e/ou

impedir acesso ao estuário e ao manguezal.

2.6 GEOTECNOLOGIAS – CONCEITOS APLICADOS À PESQUISA

A necessidade do gerenciamento de informações ambientais é uma

realidade da nossa atualidade e uma das principais ferramentas para a gestão

ambiental são as geotecnologias. Seu universo é amplo e, como alguns de seus

componentes, podemos citar os Sistemas de Informações Geográficas-SIG, o

Sensoriamento Remoto, associado ao Processamento Digital de Imagens-PDI, e o

Sistema de Posicionamento Global-GPS, temas esses que serão abordados neste

tópico.

Os Sistemas de Informações Geográficas-SIG dispõem de tecnologias

capazes de realizar análises com dados espaciais que auxiliam no entendimento da

ocupação e utilização do meio físico.

O dado espacial é o elemento fundamental dos SIGs e denota qualquer

tipo de dado que descreve fenômenos aos quais esteja associada alguma dimensão

espacial, segundo Câmara et al (1996). Os autores citam ainda que os dados

utilizados em ambiente SIG pertencem a uma classe particular de dados espaciais,

intitulados dados georreferenciados ou simplesmente dados geográficos. Os dados

geográficos especificam-se em cinco classes: mapas temáticos, mapas cadastrais,

redes, modelos numéricos de terreno e imagens.

Para Silva (2003), os dados espaciais correspondem a uma generalização

ou aproximação da realidade, eles contêm incertezas e imprecisões. Sendo assim,

atentar-se às incertezas dos dados espaciais, suas medidas, modelamento e a

análise da propagação dos erros, através da manipulação de dados espaciais, é

extremamente necessário e deve estar presente nas pesquisas atuais dentro do

ambiente SIG.

O termo sistemas de informação geográfica (SIG) é aplicado para sistemas que realizam o tratamento computacional de dados geográficos. A principal diferença de um SIG para um sistema de informação convencional é sua capacidade de armazenar tanto os atributos descritivos como as geometrias dos diferentes tipos de dados geográficos. (CÂMARA, 2001, p. 1 e 4)

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O esquema da figura 9 explicita bem as relações entre os componentes

de um SIG. Cada sistema implementa esses componentes de forma distinta em

função de seus objetivos e necessidades, mas todos os componentes citados devem

estar presentes num SIG (ASSAD, 1998, p. 8).

Dentre as relações demonstradas na figura citada, verifica-se que a

existência de um banco de dados geográfico é o lastro dessas relações, sendo

assim, os Sistemas Gerenciadores de Bancos de Dados-SGBD surgem da

necessidade de gerenciar um grande volume e diferentes tipos de dados.

Fonte: ASSAD, 1998, adaptado pela autora, 2016.

Tem-se que bancos de dados são um conjunto de arquivos estruturados

de forma a facilitar o acesso a conjuntos de informações que descrevem

determinadas entidades no mundo (ASSAD, 1998, p. 31).

É importante frisar que os bancos de dados geográficos distinguem-se

dos bancos de dados convencionais, pois além de armazenarem dados comuns,

alfanuméricos, armazenam dados de localização das entidades, o que proporciona

realizar determinadas operações com esses dados, que aos comuns não é possível.

Sensoriamento Remoto é uma das mais bem sucedidas tecnologias de

coleta automática de dados para o levantamento e monitoração dos recursos

terrestres em escala global, e pode ser definido como técnica de obtenção de

imagens dos objetos da superfície terrestre sem que haja contato físico de qualquer

Figura 9 - Arquitetura de Sistema de Informações Geográficas

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espécie entre o sensor e o objeto (MENESES, 2012, p. 1).

A captura dessas imagens é feita por sistema sensor lançado de forma

acoplada a um satélite. Sensores são equipamentos que captam a energia

proveniente do objeto imageado, energia esta denominada radiação

eletromagnética, convertendo-a em um sinal passível de ser registrado,

apresentando ao final do processo de captura um produto apto a ter suas

informações extraídas (INPE, 2008).

Cada objeto possui uma assinatura denominada assinatura espectral,

significa dizer que os diferentes objetos imageados ocuparão determinada faixa do

espectro eletromagnético, por terem composições diferentes, podendo assim

diferenciá-los por essa resposta espectral, que chamamos de resolução espectral,

figura 10.

Fonte: IBGE, 2001.

Nesse trabalho, particularmente, será abordado o comportamento

espectral da vegetação, de mangue e o salgado, figura 11, cujas folhas são os

elementos que mais contribuem para o sinal detectado, e de solo exposto,

caracterizando o apicum. As propriedades espectrais de uma folha são função de

sua composição química, morfologia e estrutura interna (IBGE, 2001, p. 35).

Figura 10 - Comparação entre as curvas de reflectância da água, vegetação sadia, solo e areia

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Fonte: IBGE, 2001.

É notória a evolução tecnológica na aquisição de imagens de forma

remota, sendo possível traçar uma escala de evolução onde consta a fotografia

como tecnologia pioneira em imageamento. Tem-se no filme fotográfico, o primeiro

material capaz de registrar a radiação eletromagnética e transformá-la na imagem do

objeto fotografado, chegando aos dias de hoje, onde há, em circulação no espaço,

dezenas de sensores orbitais de várias nacionalidades e com objetivos diferentes

imageando a superfície da Terra.

Dentre os satélites existentes em órbita, chama-se a atenção para os da

família Landsat, cuja série teve seu primeiro satélite colocado em órbita em 1972

pelos Estados Unidos.

É o programa de aquisição de imagens de satélite que apresenta maior

continuidade nas observações da Terra, sendo ótima ferramenta no monitoramento

de mudanças na cobertura do planeta, possibilitando uma avaliação dos recursos

terrestres, bem como monitoramento ambiental (ARAÚJO, 2010, p. 10). As

características dos satélites da série Landsat estão demonstradas na figura 12.

Figura 11 - Assinatura espectral (média) da folha verde

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Fonte: EMBRAPA, 2013

As imagens utilizadas na presente pesquisa são provenientes da série de

satélites Landsat, especificamente dos satélites Landsat 5 e Landsat 8, tendo em

vista o período temporal que se pretende representar, anos 2000, 2008 e 2016. O

critério de escolha se deu por estas apresentarem significativos resultados na

caracterização da paisagem agrícola e florestal, e na análise da dinâmica de

ocupação da terra, de uma forma geral, por terem resolução espacial adequada aos

objetos e ainda por apresentarem periodicidade contínua, que possibilita a

realização de análises temporais. Além disso, sua aquisição ocorre de forma

gratuita, através do sítio do INPE ou diretamente do sítio do Serviço de Pesquisa

Figura 12 - Características dos Satélites da série Landsat

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Geológica dos Estados Unidos - USGS, entidade vinculada ao Serviço Nacional de

Aeronáutica e Administração do Espaço -NASA e responsável pelo projeto.

O Landsat 5 foi lançado em 1984, contava com dois sistemas sensores,

um denominado Multispectral Scanner System (MSS) e um outro denominado

Thematic Mapper (TM), projetado para dar suporte às pesquisas temáticas,

especializado em recursos naturais.

Fonte: EMBRAPA, 2013

O sensor MSS, figura 13, apresentava quatro bandas espectrais (banda 4

verde, banda 5 vermelho, bandas 6 e 7 infravermelho próximo), essa configuração

do sensor MSS se apresenta desde o Landsat 1, com exceção do Landsat 3, que

além dessas bandas foi projetado com a banda 8 termal, além de resolução espacial

de 80 metros, essa resolução é o tamanho mínimo de um objeto que será distinguido

na imagem.

Como melhorias em relação aos satélites anteriores, apresentava

resolução temporal de 16 dias, que é a frequência de reimageamento de uma

mesma área pelo satélite, e aumento na acurácia no armazenamento dos dados de

6 para 8 bits (EMBRAPA, 2013).

Já o sensor TM do mesmo satélite, figura 14, apresentava sete bandas,

sendo seis multiespectrais (bandas 1 a 5 e 7), ambas com resolução espacial de 30

metros, e uma banda termal (banda 6), com resolução espacial de 120 metros.

Possuía tamanho de cena de 185 km, período de imageamento de 16 dias e

resolução radiométrica de 8 bits (ibid.).

Figura 13 - Quadro resumo do sensor MSS - Landsat 5

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Fonte, EMBRAPA, 2013

Em 1992, as aquisições de imagens dos Estados Unidos pelo sensor

MSS cessaram, e em 1999 as aquisições globais. Em 2005, o sensor TM,

apresentou problemas com a recarga das baterias, o que provocou interrupção no

envio de imagens. Esse problema foi resolvido em 2006, porém esse sensor entrou

em inatividade em 2011. Em 2012 o sensor MSS voltou a funcionar, coletando

imagens até janeiro de 2013, quando o satélite foi plenamente desativado (USGS,

2013).

Feito para orbitar por três anos, o Landsat 5 o fez durante 29 anos, e

durante todo esse tempo de imageamento da Terra registrou os principais eventos

ocorridos na superfície desde março de 1984 como: secas, inundações, erupções

vulcânicas, desmatamento, usos agrícolas, crescimento urbano, tudo isso através da

geração de mais de 2,5 milhões de imagens.

O programa Landsat teve continuidade com o lançamento do satélite 6,

porém sem sucesso, mas em seguida veio o Landsat 7, lançado em 1999. Não

foram escolhidas imagens deste satélite, pois para os períodos pretendidos na

pesquisa não haviam cenas com baixo índice de cobertura de nuvens na área da

planície fluviomarinha do rio Coreaú.

Atualmente, o programa Landsat encontra-se em sua oitava versão

denominada “Landsat Data Continuity Mission” (LDCM), ou seja, Missão de

Figura 14 - Quadro resumo sensor TM - Landsat 5

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Continuidade dos Dados Landsat, e deve continuar o legado dos satélites anteriores,

com a mesma qualidade, ampliando, melhorando e avançando no registro de

imagens multiespectrais.

O Landsat 8 foi lançado em 2013 e conta com dois sensores, o primeiro

espectral denominado Operational Lander Imager (OLI) e o segundo, um sensor

térmico, o Thermal Infrared Sensor (TIRS) (ARIZA, 2013, p. 7). Nas figuras 15 e 16,

pode-se observar as características de cada satélite, de forma resumida e, na figura

17, pode-se observar as características de cada banda espectral gerada em cada

sensor.

Fonte: EMBRAPA, 2013.

Fonte: EMBRAPA, 2013.

Figura 15 - Quadro resumo do sensor TIRS - Landsat 8

Figura 16 - Quadro resumo do sensor OLI – Landsat 8

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49

Fonte: NASA, 2016.

Em comparação com o Landsat 7, o satélite imediatamente anterior,

observa-se o ganho de mais 3 (três) bandas. O Landsat 7 apresentava apenas 8

(oito) bandas, o Landsat 8 hoje conta com 11 (onze) bandas, sendo as novas

adicionadas: 2 (duas) bandas termais do novo sensor TIRS (bandas 10 e 11) e um

novo canal de infravermelho (banda 9), para a detecção de nuvens cirros. A banda 1,

já existente no Landsat 7, no Landsat 8 apresenta-se em diferente faixa do espectro

eletromagnético, projetada especificamente para os recursos hídricos e investigação

da zona costeira, denominada de banda Coastal aerosol.

Observou-se a continuidade da banda pancromática (banda 8), com

resolução espacial de 15 metros, presente a partir do Landsat 7. No download dos

produtos, além das bandas citadas, registra-se a presença de uma nova banda,

chamada de banda de Garantia de Qualidade (Banda QA), que fornece informações

sobre a presença de nuvens, água e neve.

Os quadros-resumo (figuras 15 e 16) da imagem Landsat 8 trazem as

principais características dessa imagem que abaixo se explicitam (USGS, 2013):

- resolução espacial de 15 metros para a banda 8 pancromática, de 30

metros para as bandas de 1 a 7 e banda 9 e de 100 metros para as

bandas termais, bandas 10 e 11;

- resolução temporal de 16 dias;

- resolução radiométrica de 12 bits, escalonada depois para 16 bits, o que

Figura 17 - Comparativo entre as bandas dos sensores OLI e TIRS do Landsat8 com as bandas do

sensor ETM+ do Landsat7

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resulta no final a capacidade de discriminar até 65.536 valores de

radiância por banda espectral, proporcionando uma maior caracterização

dos alvos da imagem;

- apresenta melhor resolução espectral que os satélites antecessores pela

adição de novas bandas, observou-se mudança nos intervalos dentro do

espectro dos canais de todas as bandas, além do fato da criação de duas

bandas termais (sensor TIRS) para o comprimento de onda antes coberto

por uma única banda nos sensores TM e ETM (Landsat 7), e ainda

algumas bandas apresentam largura menor no espectro, principalmente

as do infravermelho.

Dando sequência aos conceitos utilizados na presente pesquisa temos

que, de acordo com INPE (2008), Processamento Digital de Imagens-PDI refere-se a

um conjunto de técnicas e operações aplicadas sobre uma imagem digital, com o

objetivo de facilitar a identificação e extração de informações a partir dela e sua

posterior interpretação, onde são observadas características importantes como:

tonalidade/cor, textura, forma, tamanho, sombra e padrão (JENSEN, 2009).

Sabe-se que as cenas captadas pelos sensores apresentam erros de

diversas origens, que interferem na identificação de elementos presentes na área

imageada pelo satélite, dificultando, portanto, a interpretação da cobertura do solo.

Então, para diminuir a influência desses erros na cena coletada, são realizados

procedimentos de manipulação nas características das imagens, que chamamos de

Processamento Digital de Imagens. Alguns desses procedimentos são realizados

antes mesmo da distribuição das imagens, porém alguns outros cabem ao usuário

decidir fazê-lo.

Os procedimentos realizados, antes da distribuição da imagem, são

chamados de pré-processamento, que passa pela eliminação de ruído, pela

correção atmosférica e pela correção das distorções radiométricas, não havendo

ordem a ser seguida nesses procedimentos (MENESES, 2012, p. 85). Após o pré-

processamento, executa-se o processamento da imagem propriamente dito, onde

são aplicadas técnicas de realce.

Os passos a serem seguidos no PDI, genericamente, dependem dos

objetivos que se pretende alcançar com o mapeamento, e uma etapa chave é a de

manipulação do contraste da imagem, chamada de técnica de realce, com a

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finalidade de melhorar a qualidade visual de alguns critérios subjetivos ao olho

humano, para que se obtenha uma melhor capacidade tanto do software quanto do

intérprete de diferenciar entre si os alvos. O PDI engloba ainda técnicas de

classificação de imagens definida de acordo com o INPE (2008) como:

[...] o processo de extração de informação em imagens para reconhecer padrões e objetos homogêneos. O resultado final de um processo de classificação é uma imagem onde cada pixel contém a informação de uma classe, ou tema, associada ao ponto da cena correspondente. Esses diferentes valores de classes são representados por símbolos gráficos ou cores.

Uma ferramenta que auxilia aos estudos em que se propõe realização de

mapeamentos é o Sistema de Posicionamento Global, para o qual se utiliza a sigla

GPS (Global Positioning System). Foi desenvolvido para uso militar nos Estados

Unidos na década de 1970, tornando-se operacional para a comunidade em geral

em 1995. Para Câmara et al (1996, pg. 19), esse sistema é baseado em satélites,

uma constelação, que tornam possível a medição de latitude, longitude e altura em

qualquer ponto da Terra, a qualquer momento, a partir do conhecimento da distância

entre um satélite e o receptor GPS, cujo cálculo é realizado tomando-se por base os

sinais enviados e a velocidade desse satélite. Para maior precisão na localização de

um ponto, fazem-se necessários pelo menos quatro satélites, e essa localização é

dada em tempo real. Atualmente possui várias aplicações, desde a simples

navegação à coleta de dados para SIGs.

3. FUNDAMENTAÇÃO OPERACIONAL

3.1 LEVANTAMENTO CARTOGRÁFICO E AJUSTAMENTO DA ESCALA DE

ESTUDOS

No mapeamento e quantificação das áreas ocupadas com mangue,

salgado e apicum na planície fluviomarinha do rio Coreaú, realizado em períodos

distintos, foram utilizadas imagens da série de satélites Landsat, datadas de 2000,

2008 e 2016. De acordo com Pinheiro, Carlos e Farias (2014) e com observações

realizadas em imagens de satélites datadas entre os anos de 1980 e 2016, verifica-

se que a primeira atividade de carcinicultura implantada na região pesquisada data

de 2001. Justifica-se, assim, a análise temporal proposta nesta pesquisa ser

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realizada com uma imagem do ano 2000, outra datada de 2008, por ser o marco

legal da pesquisa de acordo com o Novo Código Florestal, e uma imagem obtida em

2016, para apresentar a situação da área nos dias atuais.

Com essas três imagens foi possível realizar o comparativo entre os anos

de 2000 e 2008, obtendo-se a informação de como estava a área de estudos antes

da implantação das carciniculturas na região, e entre os anos de 2008 e 2016, onde

se traçou o quantitativo dos ambientes de mangue, salgado e apicum que a

atividade de carcinicultura já ocupa, verificando-se se está próximo ou não de atingir

o percentual máximo que passou a ser permitido pela legislação em 2012 para a

ocupação desses ambientes pelas atividades de carcinicultura e salinas.

Entre os principais critérios adotados na escolha das imagens Landsat

para o mapeamento em questão está o fato de serem disponibilizadas

gratuitamente, terem uma boa resolução espectral e uma resolução espacial de 30

metros que atende os níveis de detalhes compatíveis para escala de mapeamento

adotado na pesquisa, no caso 1:60.000. Além disso, como outro critério para a

escolha, tem-se que as imagens necessitam ser prioritariamente obtidas no segundo

semestre do ano, pois nesse período há menor incidência de nuvens na área, dada

a menor pluviosidade registrada, fator que deverá proporcionar que as imagens da

planície fluviomarinha ora em estudos apresentem, probabilisticamente, boa

visibilidade.

As duas primeiras imagens utilizadas foram as imagens Landsat 5, ambas

com órbita/ponto 218/062, a primeira com data de passagem em 21/08/2000 e a

segunda com data de passagem em 10/07/2008, georreferenciadas, com resolução

espacial de 30 metros, adquiridas do banco de imagens do Serviço de Pesquisa

Geológica dos Estados Unidos - USGS.

Para ambas as imagens mencionadas, foram utilizadas as bandas 3, 2 e

1, para a geração de uma composição colorida com cor natural (RGB321).

Normalmente, para estudos que envolvem classificação de imagens Landsat, utiliza-

se a composição colorida em falsa cor que, para o satélite Landsat 5, seria a

composição RGB432, no entanto, a composição com cor natural demonstra, neste

caso, melhor diferenciação entre os alvos, peculiaridade esta indispensável para o

alcance dos objetivos do presente trabalho.

As cenas em questão foram escolhidas por apresentarem, dentre as

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cenas disponíveis para a área, o menor índice de cobertura de nuvens. No intervalo

que varia de 0% a 100%, as cenas mencionadas acima possuem respectivamente

2,57% e 8,52% de cobertura de nuvens, e também por possuírem qualidade de

aquisição 91, que para imagens Landsat é considerada ótima (USGS, 2015).

Além das duas imagens citadas, fora utilizada no mapeamento do ano

2016 a imagem Landsat 8, com órbita/ponto 218/062 e com data de passagem em

01/08/2016, também adquirida do banco de imagens do Serviço de Pesquisa

Geológica dos Estados Unidos – USGS. Desta imagem, que também apresenta

resolução espacial de 30 metros, foram utilizadas as bandas 4, 3 e 2 para a geração

de uma composição colorida com cor natural, além da banda 8, banda pancromática,

que apresenta resolução espacial de 15 metros, por se tratar este mapeamento do

mais atual e que apresentará ao final desta dissertação o indicativo da ocupação

atual dos ambientes pela atividade de carcinicultura.

A cena também teve como critérios de escolha os mesmos parâmetros

das imagens mencionadas anteriormente, apresentando qualidade de aquisição 9 e

0,01% de cobertura de nuvens.

Como verdade de campo para o ano de 2008, foram utilizadas as

ortofotocartas (detalhe na figura 18), com escala de mapeamento de 1:20.000, que o

Instituto de Pesquisas do Ceará-IPECE possui e disponibilizou para vários órgãos,

obtidas junto ao banco de imagens da SEMACE. Os voos deste levantamento foram

realizados em 2007 e o mapeamento finalizado em 2008, coincidindo com o período

referente ao marco legal da pesquisa. As ortofotocartas utilizadas foram as

seguintes: 556-R, 556-S, 556-W, 556-X, 617-B e 617-C.

Por fim, fora elaborada uma base cartográfica planimétrica, a partir de

informações espaciais disponíveis nas Instituições públicas, tais como: IBGE,

COGERH, DER, SEMACE, FUNCEME, dentre outras. A imagem de satélite Landsat

datada de 2016 fora utilizada para atualizar algumas informações espaciais

relacionadas a essa base cartográfica.

1 Qualidade de aquisição é um valor, expresso em um número de um dígito, que se baseia em erros

encontrados durante o processamento da imagem e/ou visíveis durante inspeção manual. Para os seguintes valores tem-se que: 9 é excelente, ou seja, sem problemas de qualidade ou erros detectados e 7 a 8 é bom, ou seja, apresenta pequenos problemas de qualidade e / ou erros detectados. https://lta.cr.usgs.gov/landsat_dictionary.html

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Fonte: Ortofotocarta IPECE, 2007, obtida junto ao banco de imagens da SEMACE.

3.2 LEVANTAMENTO DE CAMPO E CONFERÊNCIA DA VERDADE TERRESTRE

O levantamento de campo tem, de forma geral, o intuito de verificar,

confirmar ou corrigir informações, sejam elas colhidas na literatura ou geradas pelo

autor do estudo. No presente caso, consistiu em visita aos municípios de Camocim e

Granja, no litoral oeste do Ceará, onde está inserida a área de estudos. Objetivou-se

o complemento das informações obtidas no mapeamento preliminar (imagem do ano

2008), descrito no item anterior, alinhado com a legislação ambiental.

Na ida a campo, entre os dias 13 a 15 de julho de 2016, realizaram-se

visitas a 06 (seis) carciniculturas e a uma salina. Essas visitas foram por meio

terrestre, utilizando-se veículo próprio, observando o entorno desses locais, bem

como se percorreu o limite externo da área, onde foi possível o acesso, obtendo-se

Figura 18 - Recorte da ortofotocarta 556-W, a sede de Camocim está em cima e a esquerda.

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fotografias que deram origem a chave de interpretação utilizada quando da

classificação das imagens.

O rio Coreaú foi percorrido por meio aquático (figura19 e tabela 1), a

bordo de um barco do tipo voadeira de um pescador do município, onde foi possível

fazer o reconhecimento da vegetação existente nas margens do rio, com a finalidade

de caracterizá-la.

Fonte: Elaborado pela autora, julho, 2016.

Tivemos ainda a nossa disposição um notebook que foi acoplado a um

receptor GPS Garmin 60CSx, cedido pela SEMACE, para realização dos

caminhamentos mencionados acima pela área, para que estes pudessem ocorrer

com o menor erro possível. Além disso, fez parte dos aparelhos levados a campo

uma câmera fotográfica KODAK EasyShre Z915, com zoom óptico de 10x.

Figura 19 - Percurso de barco pelo rio Coreaú

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Tabela 1 - Pontos-chave percorridos no percurso de barco

N E

9680473 294945 9680231 296059 9679584 296903 9680276 298026 9679768 298883 9680016 298413 9679774 297517 9679800 296165 9678212 296603 9678860 296012 9679203 295727 9679889 295276

Fonte: Elaborada pela autora, julho, 2016.

De modo geral, as empresas visitadas funcionam em média com quatro

funcionários, realizando mais contratações no período da despesca, que ocorre

normalmente a cada quadrimestre, pois o ciclo do camarão ali cultivado é de

aproximadamente 120 dias. Um dado levantado pelo IBAMA (2005), para as

carciniculturas, que ocupam a planície fluviomarinha do rio Coreaú, demonstra que

10 empreendimentos em funcionamento quando do levantamento feito por este

órgão, ocupavam a época cerca de 620ha e geravam 189 empregos, o que resultou

numa relação de 0,3 empregos por hectare, fato este explicado, pois as fazendas ali

implantadas ocupam grandes áreas, diferente de outras regiões produtoras do

Ceará, cujo perfil do empreendimento é de um porte bem menor, mas se destacam

no mercado pela densidade de empreendimentos numa mesma planície

fluviomarinha.

Todos os empreendimentos visitados realizam a captação de água

diretamente do rio Coreaú, através de bombas de sucção flutuantes (figuras 20 e

21). Uma das fazendas mantém a medição do ph da água de forma frequente,

destinando inclusive um funcionário para este trabalho. Duas das fazendas visitas

possuem bacias de sedimentação para o tratamento dos efluentes e, uma faz reuso

do efluente, utilizando-se da recirculação entre os tranques, sendo evitado o despejo

diretamente no rio, porém existem empreendimentos que não fazem reuso da água,

lançando-o indiscriminadamente no curso hídrico.

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Fonte: Acervo da autora, Granja/julho, 2016.

Fonte: Acervo da autora, Granja/julho, 2016.

Visitou-se ainda uma empresa salineira, no município de Camocim, que

ocupa uma área de aproximadamente 108ha (figura 22).

Figura 21 - Detalhe da bomba de captação de água, equipamento que realiza a sucção da água

Figura 20 - Bomba de captação de água instalada em carcinicultura no rio Coreaú/Ce

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Fonte: Acervo da autora, Camocim/julho, 2016.

Relata-se aqui a dificuldade que se teve em ter acesso ao rio por terra,

pois os empreendimentos de carcinicultura ocupam grandes áreas individualmente,

o que os difere dos demais do estado, criando assim um verdadeiro bloqueio de

acesso e a maioria das estradas/vias de acesso existentes na área levava somente

até a entrada desses empreendimentos, e para se chegar ao rio tinha-se que pedir

permissão de entrada nas propriedades, o que certamente dificulta as atividades

tradicionais como a pesca artesanal, coleta de mariscos e crustáceos.

3.3 INTEGRAÇÃO DAS BASES CARTOGRÁFICAS

A presente pesquisa apresenta como resultado três mapas, onde é

possível quantificar o que existe de mangue, salgado e apicum na planície

fluviomarinha do rio Coreaú, além do que atualmente é ocupado pela carcinicultura.

E por terem como base para esses três mapas três imagens Landsat com a mesma

resolução espacial, os procedimentos executados, em termos de correção de

imagem, tratamento e mapeamento propriamente dito, foram os mesmos

basicamente.

Inicialmente executou-se a reprojeção da imagem Landsat 8, composição

colorida RB432, no software ArcGIS, versão 10, disponibilizado o acesso na sede da

Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos-FUNCEME, e apesar

dessa imagem ser obtida do sítio do USGS georreferenciada, a mesma possui

Figura 22 - Salina visitada em julho de 2016, operando regularmente

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orientação ao norte, devendo ser reprojetada para o hemisfério sul, para com isso

servir de base para o georreferenciamento das duas imagens Landsat 5. Após esse

passo realizou-se a fusão das bandas coloridas do Landsat 8 com a banda 8

pancromática, resultando numa imagem com melhor resolução espacial.

Continuando o pré-processamento das imagens, utilizou-se o software

SPRING 5.3, desenvolvido pelo INPE, cujo download pode ser feito em sítio próprio,

http://www.dpi.inpe.br/spring/portugues/download.php, de forma gratuita, em versões

para ambientes Linux e Windows e nos idiomas inglês, espanhol e francês, além do

português. Esse pré-processamento consistiu basicamente em georreferenciar as

imagens do Landsat 5, ambas na composição colorida RGB 321, cujo procedimento

consiste na escolha de pontos de controle, ou seja, locais de fácil identificação na

imagem, tais como intersecção de estradas, de rios, represas, tanques de

carcinicultura. Além disso, criou-se um banco de dados no SPRING, contendo o

Plano de Informação (PI) referente à categoria “Imagem” para alocar as três cenas,

trabalhadas em momentos distintos.

Prosseguindo com o PDI, processou-se a correção radiométrica em cada

canal, através da opção Contraste, no menu Imagem do SPRING, nos valores

máximos e mínimos, empregando-se técnicas de manipulação do histograma das

bandas das imagens, possibilitando melhor contraste dos elementos pertinentes a

cada classe de mapeamento, que para este trabalho são: mangue, salgado e

apicum, carciniculturas e salinas, além da área ocupada por água.

Utilizando novamente do software ArcGIS, realizou-se o recorte de cada

imagem, em sua composição colorida, para a área do retângulo envolvente da área

de estudos, que abrange as coordenadas do canto inferior esquerdo

9657510N/291200E, e canto superior direito 9683972N/304741E.

Os mapeamentos, objetivo específico da pesquisa, também foram

realizados com o uso do software ArcGIS, procedendo-se com a vetorização dos

ambientes de interesse em cada uma das três imagens já pré-processadas. Para

isso, utilizaram-se os elementos básicos de interpretação de imagem como textura,

tonalidade/cor, tamanho, forma e padrão, para a extração de informações, com base

na chave de interpretação contida na figura 25, apresentada nos resultados da

presente pesquisa, que resultam na diferenciação dos ambientes em polígonos, que

tiveram suas áreas calculadas, a fim de sabermos a evolução da atividade de

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carcinicultura na área de estudos, bem como o percentual de cada ambiente que

poderá ser utilizado pelas atividades de carcinicultura e salinas, ou ainda se não

houver mais essa possibilidade, em que percentual essa ocupação já superou os

35% permitidos para cada ambiente na planície fluviomarinha ora em pauta.

Para o presente trabalho, adotou-se o sistema de projeção cartográfica

Universal Transversa de Mercator-UTM, referenciado ao Datum SIRGAS 2000, ou

seja, Sistema de Referência Geocêntrico para as Américas. Os mapas elaborados o

foram em escala de mapeamento de 1:60.000 e escala de apresentação de

1:65.000.

4. LOCALIZAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE PESQUISA

A área da pesquisa se trata da área onde está inserida a planície

fluviomarinha do rio Coreaú, que está localizada na bacia hidrográfica deste rio, e

esta bacia corresponde a 7% do território cearense, ocupando uma área de

10.633,66 km², possuindo uma linha de costa de aproximadamente 130 km,

drenando o rio Coreaú e seus tributários (CEARÁ, 2009). A planície fluviomarinha

aqui descrita está inserida, em sua maior porção, no município de Camocim e, em

menor porção, no município de Granja, ambos na costa oeste do litoral do Ceará,

estado pertencente à região Nordeste do Brasil. Além dos municípios de Camocim e

Granja, outros 8 são abrangidos integralmente pela área da bacia e, parcialmente,

outros 14 municípios.

A área de estudo é compreendida pela área ocupada pela planície

fluviomarinha do rio Coreaú e por seu entorno mais próximo (figura 23), tendo seu

retângulo envolvente delimitado ao Norte pelas coordenadas 9683972N e 304741E e

ao Sul pelas coordenadas 9657510N e 291200E, cuja área total é de

aproximadamente 35.829 hectares, distando cerca de 360 km da capital do Ceará,

Fortaleza, através da BR-222 e CE-085.

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Fonte: Elaborado pela autora, 2016.

Figura 23 – Carta-imagem da localização da área de estudos

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Autores como Souza (1981), Meireles (2002), Fuck Júnior (2008),

Farrapeira Neto (2013), Miola (2013), Rodrigues (2014), Colares (2015) e Dias

(2015) caracterizaram a bacia hidrográfica do rio Coreaú como sendo uma região

hidrográfica composta por 12 sub-bacias, onde o principal coletor é o rio Coreaú, que

corta praticamente ao meio o município de Camocim, correndo perpendicularmente

à linha de costa, ao encontro do mar. Apresenta, em suas nascentes localizadas no

Planalto da Ibiapaba, altitudes de quase 900 m, variando até 0m, no nível litorâneo.

De acordo com Souza (1981), a presente bacia possui depósitos da Era

Pré-Cambriana, do Paleozoico e da Era Cenozoica, que é representada pelos

depósitos Plio-Pleistocênicos do Grupo Barreiras e pelas ocorrências Holocênicas

de paleodunas, sedimentos de praia e aluviões. Os aluviões que ocorrem no

continente, especificamente dispostos ao longo do curso d’água do rio Coreaú, se

constituem por areias cinza claras, além de argilas e siltes, e próximo à foz do rio,

com a associação do fluxo das marés a sedimentos fluviomarinhos. De modo geral,

esses aluviões apresentam relevo plano, cores escuras, textura argilosa, com

significativa concentração de matéria orgânica, expresso morfologicamente pela

planície fluviomarinha. E o estuário desta bacia se caracteriza como misto, de

acordo com Rodrigues (2014), sendo dominado por ondas e marés.

O fluxo hídrico se apresenta como intermitente diretamente influenciado

pelo regime de chuvas da região, que se concentra principalmente no primeiro

semestre do ano, e é no baixo curso onde se verificam maiores médias

pluviométricas que no alto e médio curso da bacia, mas de uma forma geral a média

normal para a bacia é de 1061,9mm, de acordo com o calendário de chuvas da

FUNCEME (2014).

Os ventos também participam da formatação da planície fluviomarinha,

uma vez que, segundo Meireles (2002), em período de menor aporte de chuvas,

eles assumem o papel de principal agente da dinâmica morfogênica, tendo por

velocidade média a variação entre 4 e 4,5m/s, entre setembro e dezembro, atuando

na deposição de sedimentos, tendo como direções predominantes SE, ESE e E.

Como característica pedológica verifica-se a presença de Solos

Indiscriminados de Mangue, compreendendo os Gleissolos Sálicos e os Gleissolos

Tiomórficos. Estes solos não são indicados para a atividade agrícola ou pecuária,

pois se apresentam como halomórficos, ou seja, com altas taxas de salinidade, mal

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drenados, de textura argilo-arenosa, com baixa porosidade, deficiência de oxigênio

no substrato, excesso de umidade e de matéria orgânica e pelo caráter tiomórfico

(EMBRAPA, 2013).

Associada a esse tipo de solo de características peculiares, temos uma

vegetação também ímpar, que de fato é a verdadeira expressão da planície

fluviomarinha, o manguezal, ou Vegetação Perenifólia Paludosa Marítima de

Mangue. Normalmente adensada, se dispõe longitudinalmente nas calhas do rio

Coreaú, principalmente próximo à sua desembocadura e em ilhas ao longo de seu

baixo curso.

Para Suguio et al (2005) a vegetação de mangue cuida para que o

material carreado pelos fluxos das marés e do rio assoreiem “mediante o

aprisionamento de sedimentos dentríticos e o acúmulo de matéria orgânica”. E

Meireles (2002) aprofunda dizendo que essa vegetação contribui para o equilíbrio

geomorfogênico, pedogênico e hídrico da planície fluviomarinha, pois atua

proporcionando equilíbrio do balanço sedimentar entre erosão e deposição, e ainda

protegendo as margens e os terraços de ações erosivas, favorecendo assim os

processos de sedimentação e de formação de solo, que resulta diretamente na

manutenção do nível do lençol freático e na redução do impacto das marés e cheias

fluviais (ibid.).

E como principais espécies que ocorrem na área podemos citar

Rhizophora mangle (mangue vermelho), Laguncularia racemosa (mangue branco),

Avicennia schaueriana e Avicennia germinans (mangue preto), e Conocarpus

erectus (mangue botão).

5. MAPEAMENTO E QUANTIFICAÇÃO DOS AMBIENTES DA PLANÍCIE

FLUVIOMARINHA DO RIO COREAÚ

Para compreender o crescimento ou a retração dos ambientes na planície

fluviomarinha do rio Coreaú (apicum, salgado e mangue), e ainda para avaliar o

avanço da atividade da carcinicultura, realizou-se a quantificação de cada um

destes, utilizando-se, além da cartografia, do levantamento de campo e do raciocínio

lógico, a técnica de interpretação visual de imagens de produtos de sensoriamento

remoto, que possui largo uso em estudos temporais, sendo possível a comparação

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do objeto em momentos diferentes e, com isso, o entendimento das mudanças e dos

processos que atuaram e atuam na paisagem.

A interpretação visual de imagens exige certo treinamento e prática do

intérprete, com o intuito de diminuir seu caráter aparentemente subjetivo,

particularizando os objetos registrados na imagem, dando significado a eles. Os

elementos de interpretação de imagem utilizados foram organizados com base na

figura 24 abaixo, disponível em Jensen (2009), resultando na chave de interpretação

observada na figura 25, onde aparecem os elementos localização, tonalidade/cor

(elementos primários), textura, forma, tamanho, sombra, padrão, altura, volume,

aspecto, (elementos secundários).

Fonte: Jensen, 2009.

Sobre alguns dos parâmetros podemos dizer que a cor do objeto

imageado se verifica de acordo com a combinação das bandas da imagem escolhida

para o mapeamento. No presente estudo, optou-se pela composição de três bandas

do Landsat que têm como resultado visível a cor natural dos objetos, pois somente

assim se conseguiu de fato verificar a diferenciação do porte da vegetação do

manguezal, caracterizando mangue e salgado como dois ambientes onde existem

vegetações de porte, cor e textura distintos entre eles.

Figura 24 - Elementos de Interpretação de Imagem: Ordem e Métodos de Pesquisa

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65

Fonte: Elaborado pela autora, 2016.

Ainda descrevendo os parâmetros considerados, tem-se que a textura dos

objetos imageados, de acordo com Jensen (2009), pode ser lisa (uniforme,

homogênea), intermediária ou rugosa (grosseira, heterogênea), enfatizando que

esse aspecto, também em Jensen (ibid), “é função da escala do imageamento e da

habilidade do intérprete de percebê-la e de descrevê-la”, ou seja, numa escala

pequena um objeto pode apresentar textura lisa, uniforme, porém se imageado com

Figura 25 - Chave de interpretação

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uma melhor resolução espacial, resultando numa escala de mapeamento maior,

pode se apresentar com textura intermediária, já que se poderia perceber o objeto

com melhor detalhe, aprofundando sua descrição, devendo o intérprete atentar-se

para esta diferença.

Já o padrão trata da organização dos objetos na imagem, podendo ser

diferenciado em: aleatório, sistemático, circular, centrípeto, oval, curvilinear, radial,

retangular, hexagonal, etc. A forma ou geometria do objeto é outro elemento

importante que, em análise aos tanques de carcinicultura, com uma forma retilínea

bem particular, facilmente o intérprete os diferencia dos demais objetos da imagem.

Uma vez definidos os ambientes objetos da presente pesquisa, foram

realizados três mapeamentos, um para cada ano (2000, 2008 e 2016), produzindo-

se inicialmente informações quantitativas como quantos polígonos de cada

ambiente, em cada ano, foram diferenciados pelo intérprete, qual a área de cada um

desses polígonos, além de qual a área total de cada ambiente mapeado e quanto

representa o percentual de apicum e salgado ocupado pela carcinicultura em 2008 e

atualmente, em hectares.

Com essas informações trabalhadas em ambiente SIG, obtiveram-se

informações como onde houve acréscimo ou decréscimo de área ocupada em cada

ambiente, além de quanto, originalmente identificado como mangue, salgado ou

apicum, hoje se apresenta ocupado por fazendas de carcinicultura, respondendo aos

objetivos geral e específicos propostos nesta pesquisa.

5.1 A PLANÍCIE FLUVIOMARINHA DO RIO COREAÚ NO ANO 2000 – ANTES DA

CARCINICULTURA

O estudo da imagem Landsat 5, do ano de 2000, serviu de base para os

mapeamentos dos anos 2008 e 2016. Os ambientes mapeados neste ano foram:

mangue, salgado, apicum e salinas, além de dados complementares como: a área

ocupada por água e a área total desse mapeamento, tratando-se este levantamento

do elaborado antes do início da atividade de carcinicultura na planície fluviomarinha

do rio Coreaú, tendo em vista que o primeiro empreendimento deste tipo implantado

entre os municípios de Camocim e Granja o fora no ano de 2001 (PINHEIRO,

CARLOS e FARIAS, 2014).

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Analisando-se então os dados obtidos partir da imagem do satélite

Landsat 5, datada de 21/08/2000, levando-se em consideração que a área total da

pesquisa é de 35.828.98ha (área do retângulo envolvente) e que a área total

mapeada para este ano é de 8.188,80ha, constata-se que neste período a

vegetação de mangue ocupa uma área aproximada de 2.818,68ha, equivalente a

34,42% da área mapeada. As áreas de salgado totalizam 591,49ha e as de apicum

1.281,90ha, correspondentes a 7,22% e 15,66%, respectivamente, da planície

fluviomarinha estudada. Verificou-se ainda 247,57ha (3,02%) referentes a uma

salina remanescente existente no município de Camocim, que pode ser observada

desde o levantamento do Projeto RADAM, de 1969. Além desses ambientes

levantou-se o total de área ocupado por água, onde se somaram as áreas do rio

Coreaú e das lagoas existentes no retângulo envolvente da área da pesquisa, que

resultaram num total de 3.249,16ha, equivalendo a 39,68% da área. Os referidos

dados encontram-se espacializados no mapa 1 e a quantificação das classes

mapeadas são apresentadas na tabela 2 e no gráfico 1.

Fonte: Elaborado pela autora, 2016.

Classe Área (ha)

% em relação a área mapeada

Ano 2000

Água 3.249,16 39,68%

Mangue 2.818,68 34,42%

Salgado 591,49 7,22%

Apicum 1.281,90 15,66%

Salinas 247,57 3,02%

Área total mapeada 8.188,80

Tabela 2 - Quantificação dos dados relacionados às diferentes classes temáticas mapeadas na planície fluviomarinha do rio Coreaú em 2000

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Fonte: Elaborado pela autora, 2016.

Gráfico 1 - Quantificação dos dados relacionados às diferentes classes temáticas mapeadas na planície fluviomarinha do rio Coreaú em 2000

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Fonte: Elaborado pela autora, 2016.

Mapa 1 - Mapeamento das áreas de mangue, salgado, apicum e salina da planície fluviomarinha do rio Coreaú com o uso de imagem Landsat5 datada de 21/08/2000

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5.2 A PLANÍCIE FLUVIOMARINHA DO RIO COREAÚ NO ANO 2008 – MARCO

LEGAL DA PESQUISA

O mapeamento do ano de 2008, realizado com o uso da imagem

Landsat5, datada de 10 de julho de 2008, trata-se do que convencionamos chamar

de marco legal da pesquisa, pois, de acordo com o mencionado na Lei n. 12.651 de

25 de maio de 2012, o Novo Código Florestal, em seu capítulo III-A, artigo 11-A, no

parágrafo § 1o

[...] Os apicuns e salgados podem ser utilizados em atividades de carcinicultura e salinas, desde que observados os seguintes requisitos: I - área total ocupada em cada Estado não superior a 10% (dez por cento) dessa modalidade de fitofisionomia no bioma amazônico e a 35% (trinta e cinco por cento) no restante do País, excluídas as ocupações consolidadas

que atendam ao disposto no § 6o deste artigo; II - salvaguarda da absoluta integridade dos manguezais arbustivos e dos processos ecológicos essenciais a eles associados, bem como da sua produtividade biológica e condição de berçário de recursos pesqueiros; III - licenciamento da atividade e das instalações pelo órgão ambiental estadual, cientificado o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis - IBAMA e, no caso de uso de terrenos de marinha ou outros bens da União, realizada regularização prévia da titulação perante a União; IV - recolhimento, tratamento e disposição adequados dos efluentes e resíduos; V - garantia da manutenção da qualidade da água e do solo, respeitadas as Áreas de Preservação Permanente; e VI - respeito às atividades tradicionais de sobrevivência das comunidades locais. ... § 5o A ampliação da ocupação de apicuns e salgados respeitará o Zoneamento Ecológico-Econômico da Zona Costeira - ZEEZOC, com a individualização das áreas ainda passíveis de uso, em escala mínima de 1:10.000, que deverá ser concluído por cada Estado no prazo máximo de 1 (um) ano a partir da data da publicação desta Lei (BRASIL, 2012).

E de acordo, com o § 6° do mesmo artigo, está assegurada

[...] a regularização das atividades e empreendimentos de carcinicultura e salinas cuja ocupação e implantação tenham ocorrido antes de 22 de julho de 2008, desde que o empreendedor, pessoa física ou jurídica, comprove sua localização em apicum ou salgado e se obrigue, por termo de compromisso, a proteger a integridade dos manguezais arbustivos adjacentes (ibid.).

Tendo em vista estes dispositivos legais, procedeu-se inicialmente com o

levantamento dos objetos de interesse na imagem do ano 2008, quais sejam:

mangue, salgado, apicum, salinas e tanques de carcinicultura, além de dados

complementares como: a área ocupada por água e a área total do mapeamento para

o ano de 2008.

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Obteve-se o total de 8.788,99ha de área mapeada, onde cada classe de

interesse teve suas respectivas áreas descritas como: 2.806,65ha de mangue, que

equivale ao total de 31,93% da área mapeada, 581,11ha de salgado e 1.254,49ha de

apicum, referentes a 6,61% e 14,27%, respectivamente, 177,42ha de área da salina

remanescente já mencionada, que equivale a 2,02%, e ainda 596,96ha ocupados

por tanques de carcinicultura (6,80%), além de 3.372,36ha de água, referindo-se a

38,37% da área total mapeada. Os dados citados acima se encontram

espacializados no mapa 2 e a quantificação das classes mapeadas são

apresentadas na tabela 3 e no gráfico 2 abaixo.

Fonte: Elaborado pela autora, 2016.

Fonte: Elaborado pela autora, 2016

Classe Área (ha) % em relação a área mapeada

Ano 2008

Água 3.372,36 38,37% Mangue 2.806,65 31,93% Salgado 581,11 6,61% Apicum 1.254,49 14,27% Salinas 177,42 2,02%

Carcinicultura 596,96 6,80%

Área total mapeada 8.788,99

Tabela 3 - Quantificação dos dados relacionados às diferentes classes temáticas mapeadas na planície fluviomarinha do rio Coreaú em 2008

Gráfico 2 - Quantificação dos dados relacionados às diferentes classes temáticas mapeadas na planície fluviomarinha do rio Coreaú em 2008

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Fonte: Elaborado pela autora, 2016.

Mapa 2 - Mapeamento das áreas de mangue, salgado, apicum, carcinicultura e salina da planície fluviomarinha do rio Coreaú com o uso de imagem Landsat5 datada de 10/07/2008

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Ainda analisando a imagem Landsat5 de 2008, para atender ao descrito

anteriormente e mencionado pelo legislador no artigo 11-A, § 6° do Código Florestal,

realizou-se o levantamento do quantitativo das áreas das carciniculturas implantadas

que o foram em áreas originalmente de salgado ou de apicum, até a data da imagem

utilizada nesse mapeamento, para desta forma conhecer quanto, em área, os

empreendimentos implantados nesses ambientes, teriam sua regularização

garantida.

Como resultado da comparação entre o mapeamento do ano 2000 e do

ano 2008, observado na tabela 4, tem-se que de uma área total de 1.281,90ha de

apicum mapeada em 2000, 114,02ha estão ocupados por carcinicultura, de acordo

com os setores em laranja na figura 26. Dos 591,49ha de área de salgado

encontrados também no mapeamento do ano 2000, 4,41ha estão ocupados por

carcinicultura, como observado em verde claro também na figura 26, que traz a

sobreposição do ambientes originais de apicum e salgado referente ao trecho onde

se verificou a ocupação exercida por tanques de carcinicultura. As empresas que se

encontram nessa situação, de acordo com a citação do Código Florestal feita acima,

têm sua regularização garantida junto ao órgão ambiental.

Além desses dados, também demonstrados na tabela 4, verificou-se que

do total de 2.818,68ha de mangue levantados no mapeamento do ano 2000, 5,24ha

no mapeamento de 2008 estão ocupados por tanques de carcinicultura, como pode

ser observado na figura 27 na área destacada em verde-escuro, o que nesse caso

não é permitido de modo algum pela legislação, ou seja, esses empreendimentos

erigidos nessas áreas o foram em área de preservação permanente de mangue, em

desacordo com a legislação ambiental.

Fonte: Elaborado pela autora, 2016.

Classe Área no ano

2000 (ha)

Área ocupada por carcinicultura no

ano 2008 (ha)

Apicum 1.281,90 114,02

Salgado 591,49 4,41

Mangue 2.818,68 5,24

Tabela 4 - Áreas que no ano 2000 eram originalmente ocupadas por apicum, salgado e mangue e que em 2008 passam a ser ocupadas por carciniculturas

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Obteve-se, ao final desse comparativo, um total de 123,67ha ocupados

por carcinicultura, no mapeamento de 2008, que em 2000 eram originalmente

ocupados por mangue, salgado e apicum, equivalendo a 20,72% do total da área de

carcinicultura encontrada em 2008 (596,96ha).

Fonte: Elaborado pela autora, 2016.

Figura 26 - Áreas ocupadas originalmente por apicum e salgado (mapeamento ano 2000), que no mapeamento de 2008 estão ocupadas por tanques de carcinicultura

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Fonte: Elaborado pela autora, 2016.

Figura 27 - Áreas ocupadas originalmente por mangue (mapeamento ano 2000), que no mapeamento de 2008 estão ocupadas por tanques de carcinicultura

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5.3 A PLANÍCIE FLUVIOMARINHA DO RIO COREAÚ NO ANO 2016

O mapeamento do ano de 2016 fora realizado com o uso da imagem

Landsat8, datada de 01 de agosto de 2016, especificamente com as bandas

R4G3B2, além da banda 8, banda pancromática, que melhorou a resolução espacial

da imagem sensivelmente, possibilitando-se, como se trata do mapeamento mais

recente, realizar o presente levantamento com maior precisão e maior poder de

distinção entre os alvos, que foram: mangue, salgado, apicum, salinas e tanques de

carcinicultura, além de dados complementares como: a área ocupada por água e a

área total do mapeamento para o ano de 2016.

Analisando-se então os dados obtidos partir da imagem do satélite

Landsat 8, levando-se em consideração que o total da área mapeada obtido para

este ano é 9.017,16ha, onde cada classe de interesse teve suas respectivas áreas

descritas como: 2.958,98ha de mangue, equivalente a 32,82% da área mapeada. As

áreas de salgado totalizam 511,29ha e as de apicum 947,09ha, correspondentes a

5,67% e 10,50%, respectivamente, da planície fluviomarinha estudada. Verificou-se

ainda 177,42ha (1,97%) referentes à salina remanescente, cuja área não se verificou

alteração entre os anos 2008 e 2016, e ainda 1.101,02ha ocupados por tanques de

carcinicultura, que representam 12,21% da área mapeada, registrando um

crescimento de quase o dobro da área ocupada por essa atividade comparando-se o

quantitativo de 2008 com o atual em 2016.

Além dessas classes, levantou-se o total da área ocupado por água,

resultando em 3.321,36ha, que equivalem a 36,83% da área mapeada. Os dados

citados se encontram espacializados no mapa 3 e a quantificação das classes

mapeadas são apresentadas na tabela 5 e no gráfico 3.

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Fonte: Elaborado pela autora, 2016.

Fonte: Elaborado pela autora, 2016.

Classe Área (ha)

% em relação a área mapeada

Ano 2016

Água 3.321,36 36,83%

Mangue 2.958,98 32,82%

Salgado 511,29 5,67%

Apicum 947,09 10,50%

Salinas 177,42 1,97%

Carcinicultura 1.101,02 12,21%

Área total mapeada 9.017,16

Tabela 5 - Quantificação dos dados relacionados às diferentes classes temáticas mapeadas na planície fluviomarinha do rio Coreaú em 2016

Gráfico 3 - Quantificação dos dados relacionados às diferentes classes temáticas mapeadas na planície fluviomarinha do rio Coreaú em 2016

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Fonte: Elaborado pela autora, 2016.

Mapa 3 - Mapeamento das áreas de mangue, salgado, apicum, carcinicultura e salina da planície fluviomarinha do rio Coreaú com o uso de imagem Landsat8 datada de 10/08/2016

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5.4 ANÁLISE EVOLUTIVA DAS CLASSES MAPEADAS

O sistema configurado como planície fluviomarinha tem sua dinâmica

própria, que o caracteriza como um sistema complexo e, por isso, além de

modificações naturais em sua paisagem, sobre ele também é exercida

historicamente interferência antrópica.

O uso do sensoriamento remoto e da análise de imagens de satélite

contribui sobremaneira para o estudo da evolução desse sistema e de seus

ambientes. Nesta etapa da pesquisa, para dar continuidade às análises dos

levantamentos realizados, abordou-se a evolução de cada um dos três ambientes

em dois intervalos de tempo, entre 2000-2008 e entre 2008-2016, desta forma, essa

evolução fora analisada tendo como base os levantamentos realizados no ano 2000,

comparando-se com o que houve em 2008. Na sequência, comparou-se o

levantamento realizado para o ano 2008 com o encontrado em 2016 e identificou-se

onde houve acréscimo e onde houve decréscimo naquele mesmo ambiente. O ponto

de partida foram os dados gerados nos mapeamentos de cada ano, apresentados de

forma resumida na tabela 6 e no mapa 4.

Fonte: Elaborado pela autora, 2016.

Classe Área em hectare

Ano 2000 Ano 2008 Ano 2016

Água 3.249,16 3.372,36 3.321,36

Mangue 2.818,68 2.806,65 2.958,98

Salgado 591,49 581,11 511,29

Apicum 1.281,90 1.254,49 947,09

Salinas 247,57 177,42 177,42

Carcinicultura - 596,96 1.101,02

Área total mapeada 8.188,80 8.788,99 9.017,16

Tabela 6 - Quadro resumo das áreas de cada classe mapeada para os anos de 2000, 2008 e 2016, em hectare

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Fonte: Elaborado pela autora, 2016.

Mapa 4 - Comparação entre as delimitações de mangue, salgado, apicum, salinas e carciniculturas nos anos de 2000, 2008 e 2016 respectivamente

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81

5.4.1 Análise do percentual passível de ocupação por carciniculturas e salinas

nos ambientes de apicum, salgado e mangue

O legislador assegura, no §1º, inciso I, do artigo 11-A, do Novo Código

Florestal, que os apicuns e salgados podem ser utilizados em atividades de

carcinicultura e salinas, desde que a área total ocupada em cada estado não seja

superior a 10% para o bioma amazônico e de 35% para o restante do país (BRASIL,

2012). Como estamos tratando apenas de uma das planícies fluviomarinha do

Estado do Ceará, acredita-se que a realização do levantamento desses quantitativos

de forma individualizada é a maneira capaz de trazer resultados particulares, tendo

em vista que não há continuidade entre as planícies fluviomarinhas, tratando-se

cada uma delas de verdadeiras áreas-ilha, no sentido de se encontrarem isoladas.

Procedeu-se então com o levantamento do quantitativo, em área, que

representa os 35% que podem ser ocupados por atividade de carcinicultura e

salinas, nos ambientes de apicum e salgado, na planície fluviomarinha do rio

Coreaú. De posse da informação obtida neste trabalho, no levantamento do ano

2008, marco legal da pesquisa, verificou-se, de acordo com a tabela 7, que da área

de apicum total do ano e 2008, 1.254,49ha, 35% equivalem a 439,07ha e de

salgado, cujo total é de 581,11ha, os 35% equivalem a 203,39ha, ou seja, esses

quantitativos seriam o máximo de área que as atividades de carcinicultura e salinas

poderiam ocupar, a partir da data de 22 de julho de 2008, cujo mapeamento

realizado para esse ano faz referência.

Fonte: Elaborado pela autora, 2016.

Comparando-se o levantamento de 2008 com o realizado em 2016, tem-

2008

Classe Área (ha) 35%

equivalente em área (ha)

Apicum 1.254,49 439,07 Salgado 581,11 203,39

Tabela 7 - Área de apicum e salgado no ano de 2008 e a área equivalente aos 35% que podem ser ocupados pela carcinicultura e

salinas

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se que, da área máxima permitida para ser ocupada em ambiente de apicum pelas

atividades de carcinicultura e salinas na planície fluviomarinha estudada, de um total

de 439,07ha, já estavam ocupados 112,95ha, que equivalem a 25,7% da área

passível de ocupação, restando um total de 74,3% da área de apicum onde ainda

pode haver a implantação desses empreendimentos, de acordo com o Novo Código

Florestal Brasileiro, como pode ser observado nos gráficos 4 e 5 e na tabela 8.

Fonte: Elaborado pela autora, 2016.

Fonte: Elaborado pela autora, 2016.

Fonte: Elaborado pela autora, 2016.

Análise dos 35% de apicum que podem ser ocupados com carcinicultura e salina

(ha) (%)

Área que ainda pode ser ocupada

326,12 74,3

Área já ocupada 112,95 25,7

35% de apicum 439,07 100

Gráfico 4 - Área total de apicum em 2008, destacada a área de 35% que pode ser ocupada por carcinicultura e salinas

Gráfico 5 - Destaque para a área de apicum que ainda pode ser ocupada por carcinicultura e salinas, de acordo com a imagem

Landsat8 de 2016

Tabela 8 - Análise dos 35% de apicum que podem ser ocupados por carcinicultura de salinas

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83

Pode-se observar a distribuição espacial desse levantamento na figura 28

que explicita os 112,95ha de áreas de apicum obtidos em 2008 nos setores

destacados em laranja, que representam os 25,7% de área de apicum já atualmente

ocupados por empreendimentos de carcinicultura, de acordo com o levantamento

realizado do ano 2016.

Fonte: Elaborado pela autora, 2016.

Figura 28 - Áreas ocupadas por apicum no mapeamento ano 2008 (marco legal), que no mapeamento de 2016 estão ocupadas por tanques de carcinicultura

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Dando continuidade, comparando-se, dessa vez, o levantamento para o

ambiente de salgado realizado em 2008 com o mapeamento de 2016, tem-se que,

do total de 581,11ha de salgado, 203,38ha (35%) possíveis de serem ocupados por

atividades de salinas e carcinicultura, no levantamento elaborado com a imagem de

2016, não se encontrou nenhum quantitativo referente a carciniculturas ou salinas

implantadas nessa área, concluindo-se que ainda é possível a ocupação de todo

esse percentual referente ao ambiente de salgado especificamente, como verificado

na tabela 9 e no gráfico 6.

Fonte: Elaborado pela autora, 2016.

Fonte: Elaborado pela autora, 2016.

A não ocupação dos salgados pelas atividades de carcinicultura e salinas

na região se justifica tendo em vista que essas áreas, em sua maioria, estão

concentradas em partes interiores da planície fluviomarinha, sendo, portanto, de

difícil acesso, e sendo necessário o desmatamento de mangue para a chegada até

Análise dos 35% de salgado que podem ser ocupados com carcinicultura e salina

(ha) (%)

Área que ainda pode ser ocupada

203,39 100

Área já ocupada 0 0

35% de salgado 203,39 100

Gráfico 6 - Área total de salgado em 2008, destacada a área de 35% que pode ser ocupada por carcinicultura e salinas

Tabela 9 - Análise dos 35% de salgado que podem ser ocupados por carcinicultura de salinas

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essas áreas de salgado, o que iria de total encontro à legislação ambiental vigente.

Por fim, realizou-se o mesmo levantamento para as áreas de mangue,

apesar de não haver percentual passível de ocupação para este ambiente, pois toda

a sua área é de APP. O quantitativo de carcinicultura implantada atualmente

(levantamento de 2016) em área originalmente de mangue (levantamento de 2008) é

de 2,45ha, ou seja, as empresas instaladas nessas áreas estão em desacordo com

a legislação ambiental, como pode ser observado na figura 29.

Infelizmente, como esta informação foi gerada em 2016, oito anos, no

mínimo, após a instalação e operação desses tanques de carcinicultura, está,

portanto, prescrito o poder punitivo que o Estado teria sobre essas empresas, no

sentido de responsabilizá-las pela infração ambiental cometida. Entretanto, o dever

de reparar o dano ambiental provocado ao meio ambiente ainda existe e pode ser

cobrado dos responsáveis.

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Fonte: Elaborado pela autora, 2016.

Figura 29 - Áreas ocupadas por mangue no mapeamento ano 2008 (marco legal), que no mapeamento de 2016 estão ocupados por tanques de carcinicultura

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5.4.2 Análise comparativa dos levantamentos de áreas de mangue

As comparações que se seguem tratam-se, além da análise das

subtrações de áreas entre um mapeamento de outro, da verificação de onde houve

acréscimo e de onde houve decréscimo de área para os três ambientes de principal

interesse desta pesquisa, apicum, salgado e mangue, contrapondo-se um ano ao

outro, como explicitado no esquema da figura 30.

Fonte: Elaborado pela autora, 2016.

Figura 30 - Esquema explicando como foram obtidas as áreas de acréscimo e decréscimo dos ambientes de interesse

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Realizou-se a comparação sobrepondo um arquivo shape ao outro, como

na figura 34 quadro A, onde o shape do ano 2008 está sobreposto ao shape do ano

2000, verificando-se uma área de interseção em cinza, exposta no quadro B da

figura 30. O que aparece fora da interseção e pertence ao shape do ano 2000,

denominamos de decréscimo de área, representado em vermelho no quadro C

também da figura 30, demonstrando a evolução temporal dos ambientes, pontuando

o que deixou de ser mangue no caso demonstrado no esquema e o que, por sua

vez, aparece fora da interseção e pertence ao shape do ano 2008 denominamos de

acréscimo de área, representado em azul no quadro C da mesma figura. Desta

forma, o shape em destaque, o do ano 2008, trata-se da área de interseção além da

área de acréscimo do ambiente analisado. Este raciocínio fora utilizado nas duas

comparações (2000 com 2008 e 2008 com 2016) elaboradas para os três ambientes.

Analisando inicialmente o ambiente de mangue, na primeira comparação,

verificou-se que houve o decréscimo de 496,40ha de área entre o ano 2000 e o ano

2008, como pode ser observada no mapa 5, no mapeamento A, destacado em

vermelho. Ainda comparando esses dois anos observou-se um acréscimo de

484,37ha de área de mangue, bem visualizado em azul no mesmo mapa, ainda no

mapeamento A, resultando numa diferença negativa de 12,03ha.

Na segunda comparação, ainda analisando o ambiente de mangue,

constatou-se o decréscimo de 375,90ha de área entre o ano 2008 e o ano 2016,

como pode ser observado em vermelho também no mapa 5, desta vez no

mapeamento B. Continuando a comparação entre 2008 e 2016 verificou-se o

acréscimo de 528,39ha de área de mangue, destacado em azul no mesmo mapa, no

mapeamento B, que teve como resultado uma diferença positiva de 152,49ha.

Comparativo para o ambiente de mangue

Períodos decréscimo (ha) acréscimo (ha) resultado (ha)

2000-2008 496,40 484,37 -12,03

2008-2016 375,90 528,39 152,49

Resultado acumulado em todo o intervalo 140,46 Fonte: Elaborado pela autora, 2016.

Tabela 10 - Comparativo (acréscimo e decréscimo de área) para o ambiente de mangue, nos intervalos entre os anos 2000-2008 e 2008-2016

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Todos esses comparativos estão expostos de forma resumida na tabela

10, onde, para o primeiro período, o resultado é negativo e para o segundo período,

o resultado é positivo, ficando claro que como resultado acumulado desse

comparativo, para o ambiente de mangue, o saldo da planície fluviomarinha do rio

Coreaú é positivo em 140,46ha.

Analisando-se onde houve acréscimo e decréscimo de área, conclui-se

que o ambiente de mangue apresenta indícios de recuperação, fato este visualizado

com clareza no mapa 5, comparando-se os quadros A1 e B1, que destacam a área

da Ilha de Trindade, historicamente ocupada por salinas. Desde o primeiro

levantamento desta pesquisa constatou-se o abandono desta atividade na ilha,

tendo o mangue, dentro da sua resiliência, passado a ocupar a área com o tempo.

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Fonte: Elaborado pela autora, 2016

Mapa 5 - Comparativo (acréscimo e decréscimo de área) para o ambiente de mangue, nos intervalos entre os anos 2000-2008 (A) e 2008-2016 (B)

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5.4.3 Análise comparativa dos levantamentos de áreas de salgado

Realizando o comparativo entre os mapeamentos dos anos 2000 e 2008,

feitos para o ambiente de salgado, verificou-se que houve o decréscimo de 212,50ha

de área entre esses anos, como pode ser observado no mapa 6, no mapeamento A,

destacado em vermelho. E ainda comparando os dois mapeamentos iniciais para o

ambiente de salgado observou-se o acréscimo de 202,12ha de área, bem destacado

de azul no mesmo mapa, no mapeamento A, resultando numa diferença negativa de

10,38ha.

Na segunda comparação entre os mapeamentos do ambiente de salgado,

constatou-se o decréscimo de 291,47ha de área entre o ano 2008 e o ano 2016,

como pode ser observado em vermelho também no mapa 6, no mapeamento B.

Continuando a comparação entre 2008 e 2016 verificou-se o acréscimo de 221,65ha

de área de salgado, destacado em azul no mesmo mapa, no mapeamento B, que

teve como resultado uma diferença também negativa de 69,82ha.

Todos esses comparativos estão expostos de forma resumida na tabela

11, onde os resultados tanto para o primeiro quanto para o segundo períodos de

análise foram negativos, tendo-se obtido como resultado acumulado desse

comparativo, para o ambiente de salgado da planície fluviomarinha do rio Coreaú,

um saldo negativo de 80,20ha.

Comparativo para o ambiente de salgado

Períodos decréscimo (ha) acréscimo (ha) resultado (ha)

2000-2008 212,50 202,12 -10,38

2008-2016 291,47 221,65 -69,82

Resultado acumulado em todo o intervalo -80,20 Fonte: Elaborado pela autora, 2016.

Tabela 11 - Comparativo (acréscimo e decréscimo de área) para o ambiente de salgado, nos intervalos entre os anos 2000-2008 e 2008-2016

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Fonte: Elaborado pela autora, 2016

Mapa 6 - Comparativo (acréscimo e decréscimo de área) para o ambiente de salgado, nos intervalos entre os anos 2000-2008 (A) e 2008-2016 (B)

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Analisando-se onde houve decréscimo de área, conclui-se que o

ambiente de salgado está intrinsecamente ligado ao mangue, tendo em vista que, na

maioria dos polígonos analisados, onde este ambiente deu lugar a outro, a maior

parte fora substituída pelo ambiente de mangue, fato este verificado no mapa 6,

observando-se os quadros A2, B1 e B2, que apresentam áreas em vermelho, que

atualmente fazem parte do ambiente de mangue.

5.4.4 Análise comparativa dos levantamentos de áreas de apicum

Comparando-se desta vez o mapeamento do ano 2000 com o do ano

2008 para o ambiente de apicum, verificou-se que houve o decréscimo de 341,70ha

de área, como pode ser observado no mapa 7, no mapeamento A, destacado em

vermelho. E ainda confrontando esses dois mapeamentos para o ambiente de

apicum, observou-se um acréscimo de 314,29ha de área, bem destacado de azul no

mesmo mapa, também no mapeamento A, resultando numa diferença negativa de

27,41ha, como pode ser observado na tabela 12.

Comparativo para o ambiente de apicum

Períodos decréscimo (ha) acréscimo (ha) resultado (ha)

2000-2008 341,70 314,29 -27,41

2008-2016 459,64 152,24 -307,40

Resultado acumulado em todo o intervalo -334,81 Fonte: Elaborado pela autora, 2016.

Na segunda comparação dos mapeamentos do ambiente de apicum entre

os anos de 2008 e 2016, observou-se o decréscimo de 459,64ha de área, como

pode ser visto em vermelho no mapa 7, agora no mapeamento B. E finalizando as

comparações entre 2008 e 2016 verificou-se o acréscimo de apenas 152,42ha de

área de apicum, destacado em azul no mesmo mapa, ainda no mapeamento B, que

teve como resultado uma diferença de negativa de 307,40ha.

Tabela 12 - Comparativo (acréscimo e decréscimo de área) para o ambiente de apicum, nos intervalos entre os anos 2000-2008 e 2008-2016

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As comparações estão expostas de forma resumida na tabela 12, onde os

resultados tanto para o primeiro quanto para o segundo períodos de análise foram

negativos, tendo-se obtido como resultado acumulado desse comparativo, para o

ambiente de apicum da planície fluviomarinha do rio Coreaú, um saldo negativo de

334,81ha.

Analisando-se onde houve decréscimo de área, sugere-se que o

ambiente de apicum está, assim como ambiente de salgado, intimamente ligado ao

mangue, tendo em vista que se verificou em algumas áreas e entre um mapeamento

e outro, a substituição do apicum pelo mangue, fato este verificado no mapa 7,

observando-se os quadros A1 e B1, em atenção às áreas em vermelho, que

atualmente fazem parte do ambiente de mangue.

O decréscimo de área do ambiente de apicum também remete à

implantação de fazendas de criação de camarão, pois na planície fluviomarinha do

rio Coreaú, é nas zonas marginais onde se concentra a maior parte dos apicuns, de

acordo com os mapeamentos realizados. Existem também apicuns internos ao

mangue, que em maior proporção ocupação a área da planície mais próxima da foz

do rio Coreaú, onde existem os campos de dunas que atuam como barreiras na

expansão de atividades como a carcinicultura, por exemplo.

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Fonte: Elaborado pela autora, 2016

Mapa 7 - Comparativo (acréscimo e decréscimo de área) para o ambiente de apicum, nos intervalos entre os anos 2000-2008 (A) e 2008-2016 (B)

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5.4.5 Resumo das comparações dos mapeamentos elaborados

Em análise às comparações explicitadas acima se tem que, entre os

mapeamentos dos anos 2000 e 2008 o resultado final, para os três ambientes foi de

decréscimo de área, ou seja, ao longo dos oito primeiros anos da pesquisa,

registrou-se como saldo desse comparativo uma perda de 12,03ha no ambiente de

mangue, de 10,38ha no ambiente de salgado e de 27,41ha no ambiente de apicum,

como bem pode ser observado na tabela 13.

Análise dos anos 2000-2008

Ambiente decréscimo

(ha) acréscimo

(ha) resultado

(ha)

mangue 496,40 484,37 -12,03

salgado 212,50 202,12 -10,38

apicum 341,70 314,29 -27,41 Fonte: Elaborado pela autora, 2016.

É provável que este resultado seja em decorrência de uma alternância

natural entre os ambientes, que tanto pode ocorrer pela elevação do nível do mar

associada a uma alta taxa de evaporação da água e a uma baixa precipitação

pluvial, fazendo com que a salinidade aumente em alguns terrenos que antes não

eram banhados com frequência, proporcionando o avanço dos apicuns e a

diminuição dos mangues e salgados, como pode ocorrer pelo aumento da

pluviosidade, que favorece a lixiviação dos sais nos apicuns, reduzindo assim a

salinidade nesses terrenos, ensejando a instalação do mangue e/ou do salgado,

tendo em vista a atenuação desse fator natural limitante ao crescimento dessas

áreas (HADLICH, UCHA, 2009).

Outro fator que influenciou sobremaneira a dinâmica entre os ambientes

mapeados foi o início da atividade de carcinicultura, em meados do ano 2001, na

planície fluviomarinha do rio Coreaú, que ocupou, em sua maioria, suas áreas mais

externas, como demonstrado nos mapas 2 e 3, além de áreas já do ambiente de

tabuleiro.

Tabela 13 - Comparativo entre acréscimo e decréscimo de área, em hectare, para os três ambientes entre 2000-2008

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97

Num segundo momento, na análise feita sobre os mapeamentos dos anos

2008 e 2016, o resultado final, para os ambientes de salgado e apicum registrou um

decréscimo de área, ou seja, ao longo dos oito últimos anos da pesquisa obteve-se

como saldo desse comparativo uma perda de 69,82ha no ambiente de salgado e de

307,40ha no ambiente de apicum, como bem pode ser observado na tabela 14.

Análise dos anos 2008-2016

Ambiente decréscimo

(ha) acréscimo

(ha)

resultado (ha)

mangue 375,9 528,39 152,49

salgado 291,47 221,65 -69,82

apicum 459,64 152,24 -307,40 Fonte: Elaborado pela autora, 2016.

A consolidação da atividade de carcinicultura na planície fluviomarinha

aqui estudada pode ajudar a entender esse grande déficit mensurado nas áreas de

apicum, pois, como dito anteriormente, parte do ambiente de apicum foi objeto de

exploração por essa atividade, registrando-se que 25,7% (tabela 8 e gráfico 5) da

área de apicum que pode ser ocupada pelas atividades de carcinicultura e salinas,

como preceitua o Novo Código Florestal, assim já se encontram no último

mapeamento.

Além disso, verificou-se como resultado um acréscimo para área de

mangue de 152,49ha (tabela 14), e um dos motivos para esse acréscimo é o avanço

do mangue sobre áreas que antes eram apicum e que, em tempos passados, foram

áreas de salina, onde o fluxo fluvial e das marés tem conseguido romper os diques

ora instalados e lavar o ambiente, proporcionando a redução gradual da salinidade,

ao ponto do mangue conseguir ali se instalar, como visto na Ilha de Trindade, no

mapa 5, em destaque nos quadros A1 e B1.

Os resultados dos ambientes mapeados nas análises temporais

elaboradas evidenciam que o ambiente de apicum foi o ambiente que mais perdeu

área, principalmente por sua ocupação pela atividade de carcinicultura na área de

estudos, pois soma um decréscimo de 334,81ha, enquanto que o ambiente de

salgado soma um decréscimo de 80,20ha e o ambiente de mangue, por sua vez,

Tabela 14 - Comparativo entre acréscimo e decréscimo de área, em hectare, para os três ambientes entre 2008-2016

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soma um acréscimo de 140,46ha de área, como observado no resultado acumulado

explicitado na tabela 15.

Ambiente resultado resultado resultado

acumulado (ha)

2000-2008 (ha)

2008-2016 (ha)

mangue -12,03 152,49 140,46

salgado -10,38 -69,82 -80,20

apicum -27,41 -307,40 -334,81 Fonte: Elaborado pela autora, 2016.

A salinidade foi um dos critérios para identificação dos ambientes que

compõem a planície fluviomarinha do rio Coreaú que não foi considerado no

presente estudo, focou-se na interpretação visual das imagens de satélite e no

levantamento de campo, no que diz respeito ao porte das árvores ou a ausência

destas, indicando, sem dúvidas, que as informações até aqui levantas podem ser

aprimoradas.

6. CONCLUSÕES

A planície fluviomarinha do rio Coreaú configura-se como uma das

planícies fluviomarinhas do Estado do Ceará mais preservadas quando se fala em

quantitativo de manguezal existente, perdendo apenas, em área de mangue, para a

do rio Timonha/Ubatuba, no município de Barroquinha, na divisa do Estado do Ceará

com estado do Piauí. A planície em estudos trata-se de uma área onde

historicamente a pujança da economia esteve sempre ligada à pesca, à atividade

salineira e, mais recentemente, à carcinicultura.

E para acompanhar a evolução temporal da ocupação dessa área pela

atividade de carcinicultura elaboraram-se mapeamentos em três momentos distintos,

para os anos 2000, 2008 e 2016. Dessas análises realizadas de forma integrada

resultaram mapas temporais, desenvolvidos com o uso de técnicas de

sensoriamento remoto e interpretação visual de imagens Landsat, na escala de

mapeamento de 1:60.000, que serviram de base para todas as outras informações

Tabela 15 - Resultados das análises, demonstrando quanto houve de acréscimo e de decréscimo nos mapeamentos realizados

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99

ambientais aqui expostas.

Na área da planície fluviomarinha do rio Coreaú, até o ano 2000, não

existia nenhum empreendimento de carcinicultura, a área de interesse mapeada

para este ano foi de 8.188,80ha, destacando-se 2.818,68ha de mangue, 591,49ha

de salgado e 1.281,90ha de apicum.

Já o levantamento da área de interesse no ano 2008, denominado o

marco legal da pesquisa, fora de 8.788,99ha, sendo obtidos 2.806,65ha de mangue,

581,11ha de salgado e 1.254,49ha de apicum, além de 596,96ha ocupados com

carcinicultura, que a esta época, já estava consolidada na área da pesquisa. Com

essa informação, pode-se extrair as áreas de apicum e salgado, em hectare, que

representariam os 35%, para cada um desses ambientes, que o Novo Código

Florestal menciona, que poderiam ser ocupados com atividades de carcinicultura e

salinas na planície fluviomarinha. Esse percentual de apicum equivale a 439,07ha e

de salgado equivale a 203,39ha.

No último levantamento feito, o do ano 2016, obteve-se como área de

interesse um total de 9.017,16ha, sendo 2.958,98ha de mangue, 511,29ha de

salgado e 947,09ha de apicum, além de 1.101,02ha ocupados pela atividade de

carcinicultura. Pode-se concluir ainda que, do percentual de 35% passível de

ocupação pela carcinicultura no ambiente de apicum, nesse mapeamento já estavam

ocupados 112,95ha, dizendo respeito a 25,7% do total que o Novo Código Florestal

autoriza que seja ocupado desse ambiente com essa atividade. De salgado, dos

35% passíveis de ocupação por essa atividade, ainda pode ser ocupado o

equivalente a 100% do permitido.

Constatou-se que 2,45ha, que em 2008 eram originalmente ambiente de

mangue, em 2016 estavam ocupados com empreendimentos de carcinicultura

lembrando que esse ambiente é totalmente considerado como área de preservação

permanente, onde, ressalvadas as exceções, não é possível a implantação de

empreendimentos deste tipo, fato este passível de sanção administrativa e penal.

Em decorrência do lapso temporal entre a ocupação e o levantamento dessa

informação, houve a prescrição da capacidade punitiva do Estado, mas, de toda

forma, é cabível ainda exigir do responsável pelo empreendimento a recuperação do

dano causado à área.

Atualmente, de acordo com dados obtidos junto à Superintendência

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100

Estadual do Meio Ambiente-SEMACE, existem onze empreendimentos de criação de

camarão em cativeiro que pertencem a onze empresas distintas e todas possuem

licença ambiental de operação válida para a atividade na área da pesquisa, sendo

04 (quatro) dessas licenças válidas até 2017, 06 (seis) válidas até 2018 e 01 (uma)

válida até 2019.

Um desses empreendimentos ocupa 650ha, e equivale a mais da metade

da área ocupada pela atividade na planície fluviomarinha do rio Coreaú, que é de

1.101,02ha atualmente, e esta mesma empresa desenvolve outras atividades na

área além da atividade de criação de camarão operando um resort de alto padrão,

com vista para o rio e para os tanques de camarão.

Apesar de se constatar que ainda há possibilidades da implantação de

novos empreendimentos de carcinicultura nos apicuns e salgados da planície

fluviomarinha do rio Coreaú, de acordo com o percentual permitido pelo Novo

Código Florestal, seguem algumas recomendações:

1. Incluir nas análises na SEMACE, que é o órgão licenciador da atividade

de carcinicultura no Estado do Ceará, além da verificação se o

empreendimento ocupa áreas de mangue ou outra APP, a verificação se a

área a ser licenciada ocupa ou não parcelas dos ambientes apicum e

salgado, realizando na sequência o acréscimo da área licenciada nesses

ambientes ao total levantado que já se encontra ocupado pela atividade

de carcinicultura, com o intuito de respeitar o percentual máximo permitido

de ocupação desses ambientes na planície fluviomarinha em questão;

2. Cumprir com a recomendação descrita no Código Florestal Brasileiro,

publicado em 2012, que apregoa que os estados tm o prazo máximo de

um ano, após sua publicação, para elaborar o Zoneamento Ecológico-

Econômico da Zona Costeira-ZEEZOC, em escala de 1:10.000, para

auxiliar no ordenamento da atividade de carcinicultura na área da planície

fluviomarinha do rio Coreaú;

3. Realizar mapeamentos similares a este para todas as planícies

fluviomarinhas do estado, com a individualização das áreas ainda

passíveis de uso, uma vez que a atividade de carcinicultura é amplamente

difundida em todo o território do Ceará.

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