UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ CENTRO DE EDUCAÇÃO … · Por fim, meu agradecimento para lá de...

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ CENTRO DE EDUCAÇÃO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO MESTRADO ACADÊMICO EM EDUCAÇÃO ADELAIDE MARIA DE SOUSA COSTA O ENSINO A DISTÂNCIA NA UNIVERSIDADE ABERTA DO PIAUÍ: IMPLICAÇÕES DO CURSO DE PEDAGOGIA PARA A FORMAÇÃO HUMANA CRÍTICA FORTALEZA - CEARÁ 2017

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEAR

CENTRO DE EDUCAO

PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM EDUCAO

MESTRADO ACADMICO EM EDUCAO

ADELAIDE MARIA DE SOUSA COSTA

O ENSINO A DISTNCIA NA UNIVERSIDADE ABERTA DO PIAU:

IMPLICAES DO CURSO DE PEDAGOGIA PARA A FORMAO HUMANA

CRTICA

FORTALEZA - CEAR

2017

1

ADELAIDE MARIA DE SOUSA COSTA

ENSINO A DISTNCIA NA UNIVERSIDADE

DE ABERTA DO PIAU-UAPI: IMPLICAES DO CURSO DE PEDAGOGIA PARA A

FORMAO HUMANA CRTICA

Dissertao apresentada ao Curso de Mestrado

Acadmico em Educao do Programa de Ps-

Graduao em Educao do Centro de

Educao da Universidade Estadual do Cear,

como requisito parcial para obteno do ttulo

de Mestre em Educao. rea de Concentrao:

Formao de Professores

Orientador: Prof. Dr. Osterne Nonato Maia

Filho

FORTALEZA - CEAR

2017

2

3

4

A professores e alunos de lugares diversos e de

difcil acesso, que diante de adversidades, e,

principalmente diante da precariedade do

ensino a distncia, acreditam que podem lutar

contra as desigualdades deste pas, ainda que de

forma lenta e possivelmente individual!

5

AGRADECIMENTOS

Difcil iniciar agradecimentos sem reporta-se a ELE! Esse habitus eu aceito! Obrigada ao

senhor Deus que sabe exatamente das minhas necessidades.

A meus pais, (Jos Antnio e Francisca) meus eternos professores, fonte de sabedoria e

inspirao, expresso aqui minha eterna gratido!

A meus irmos (Neta, Pimba, Cruz, Louro, Mauro, Helena, Preto e Lulu), obrigada pelo amor

fraterno e apoio durante toda minha vida.

Ao amor, Adaildo Filho, companheiro de uma vida, obrigada pela pacincia e por compartilhar

sonhos comigo, apoiando, compreendendo e sempre me ajudando na busca de solues para os

momentos difceis!!!

s cunhadas (Ana Maria, Sula, Larissa, Sandrinha e Glria), pelo apoio quando precisei.

Aos tios e tias e, em especial, a tia Caula e a prima Brbara, que acompanharam bem de perto

meu esforo e dedicao para plantar essa pequena semente de conhecimento.

Ao meu querido orientador, professor Osterne, expresso de sabedoria e gentileza, muito

obrigada pelos ensinamentos e por passar tanta tranquilidade durante essa caminhada!

Aos professores Maurivan (Mrio), Hamilton e Maria das Dores, obrigada por aceitarem o

convite para participar da banca de defesa e por contriburem com ensinamentos durante a

qualificao.

Universidade Estadual do Cear UECE e a todos os professores do Programa de Ps-

graduao, em especial, professora Isabel Sabino e s secretrias Jonelma e Elisngela:

obrigada pela dedicao ao PPGE e por fazerem desse espao um lugar especial, de aconchego

e, claro, de muita troca de experincia e crescimento intelectual.

Aos amigos da turma de 2015, que tive o prazer de conhecer e conviver durante essa jornada,

tendo oportunidade de receber deles contribuies para o difcil caminho de me tornar um ser

humano melhor e quem sabe emancipado.

s eternas amigas: Adriana, Antonia, Telma, Snia, Lena, Delmira, Juliana, Maz de Timon e

Maz G sempre torcendo, ainda que de longe, para meu sucesso!

amiga do corao D. Mrcia, que num momento de deciso quis o melhor para mim, ainda

que no fosse o melhor para ela! Eterna gratido!

Universidade Federal do Piau UFPI, representada aqui pela professora Mirtes Honrio,

coordenadora do Currculo, professora Socorro Leal, Pr- Reitora de Ensino de Graduao, que

concederam meu afastamento para concluso desta pesquisa.

6

Aos companheiros de trabalho da UFPI: Darkiana, Juclia e Izaac, agradeo a imensa

colaborao!

Aos tutores, professores formadores, coordenadores e alunos do Centro de Universidade

Aberta-UFPI, que aceitaram participar do meu trabalho, partilhando algumas de suas vivncias

em relao ao ensino a distncia.

Aos amigos e ex-companheiros de trabalho do Instituto Federal do Cear IFCE - Campos

Maracana: Denise Penha, Isabel Said, Roseane, Magda, Andria, Teresa, Fernanda, Gislane

Linik, Mrcia, Keyla e Olvio .

Por fim, meu agradecimento para l de ESPECIAL a amiga Renata. Se no fosse essa pessoa,

certamente no teria realizado minha matrcula no mestrado. Meu eterno agradecimento, amiga!

7

A estrada

Voc no sabe o quanto eu caminhei

Pra chegar at aqui

Percorri milhas e milhas antes de dormir

Eu no cochilei

Os mais belos montes escalei

Nas noites escuras de frio chorei, ei, ei,

Ei, ei ei ...uu

A vida ensina e o tempo traz o tom

Pra nascer uma cano

Com a f no dia-a-dia

Encontro a soluo

Encontro a soluo[...]

(Cidade Negra)

8

RESUMO

A Educao a distncia - EaD disseminada no contexto da sociedade capitalista

contempornea como alternativa para contribuir com a qualificao da fora do trabalhador e

sua adequao s novas demandas da sociedade capitalista. O ajustamento de perfis que

atendam as exigncias mercadolgicas do capital reflete diretamente na educao, havendo

nesse cenrio a exigncia de professores cada vez mais adaptados s exigncias de mercado. A

EaD aplicada como estratgia de atendimento aos discursos oficiais, inclusive suposta

demanda do Banco Mundial da to sonhada ampliao do acesso educao superior nos pases

emergentes. Aps mais vinte anos da LDB/96, h um nmero significativo de professores

atuando na educao infantil e nas sries iniciais do ensino fundamental que ainda esto

cursando a primeira licenciatura, sendo que esta realizada atravs da modalidade a distncia.

Nossa investigao sobre as implicaes da formao no Ensino a Distncia para uma

formao humana crtica. Os sujeitos de nossa pesquisa esto situados na Universidade Aberta

do Piau UAPI, sendo alunos egressos do curso de pedagogia e profissionais que fazem parte

do ensino distncia. A pesquisa contou com uma abordagem metodolgica de natureza

qualitativa numa perspectiva crtica e reflexiva, sendo descritiva, exploratria e de campo,

quanto aos seus objetivos e documental e bibliogrfica, quanto s fontes. A anlise dos dados

partiu da abordagem terico-metodolgica de natureza materialista, dialtica e ontolgica que

lastreia a viso marxista de cincia. Nossa pesquisa, a partir da aproximao da realidade dos

polos e dos sujeitos investigados, evidenciou-se que a formao de professores atravs do

ensino a distncia enfrenta problemas de natureza tcnica e estrutural, que dificultam a ao

pedaggica e, consequentemente, a aprendizagem dos alunos. O curso no d conta dos

contedos especficos de pedagogia e os sujeitos se autoresponsabilizam ou responsabilizam

seus pares pela busca de conhecimentos. Ademais, longe ser uma formao que amplie o

repertrio de conhecimentos terico-prtico, a formao na modalidade a distncia concebida

pelos sujeitos como uma possibilidade de ter o ensino superior de maneira fcil e rpida, tendo

em vista, principalmente o aumento salarial. Nessa lgica, a formao humana crtica to

propagada em nossa sociedade fica apenas no plano dos discursos oficiais, das possibilidades.

Palavras-chaves: Ensino a distncia. Formao em pedagogia. Formao humana crtica.

9

ABSTRACT

Distance Learning - DL is disseminated in the context of contemporary capitalist society as an

alternative to contribute to the qualification of the worker's strength and its adaptation to the

new demands of capitalist society. The adjustment of profiles that meet the marketing

requirements of capital reflects directly in education, and in this scenario the demand of teachers

increasingly adapted to the market demands. DL is applied as a strategy for attending official

speeches, including the supposed demand of the World Bank for the long-awaited expansion of

access to higher education in emerging countries. After a further twenty years of LDB/96, there

are a significant number of teachers working in early childhood education and in the initial

grades of elementary school who are still attending the first degree, and this is done through the

distance modality. Our research is about the implications of Distance Learning training for

critical human training. The subjects of our research are located at the Open University of Piau

- UAPI, being students graduated from the pedagogy course and professionals who are parts of

distance learning. The research had a methodological approach of a qualitative nature in a

critical and reflective perspective, being descriptive, exploratory and field, as to its objectives

and documentary and bibliographical, as to the sources. The analysis of the data was based on

the theoretical-methodological approach of materialistic, dialectical and ontological nature that

supports the Marxist view of science. Our research, based on the approximation of the reality

of the poles and the investigated subjects, showed that the formation of teachers through

distance learning faces problems of a technical and structural nature, which hamper pedagogical

action and, consequently, students' learning. The course does not account for the specific

content of pedagogy and the subjects themselves are responsible or responsible for their peers

for the search of knowledge. Furthermore, far from being a training that extends the repertoire

of theoretical-practical knowledge, training in the distance modality is conceived by the

subjects as a possibility to have higher education in an easy and fast way, especially in view of

the salary increase. In this logic, the critical human formation so propagated in our society is

only on the level of official discourses, possibilities.

Keywords: Distance Learning. Education in Pedagogy. Critical Human Education.

10

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ABED Associao Brasileira de Educao a Distncia

ABT Associao Brasileira de Tecnologia Educativa

ANDIFES Associao Nacional dos Dirigentes das Instituies Federais do Ensino

Superior

CAPES Coordenao de Pessoal de Aperfeioamento de Nvel Superior

CEAD Centro de Educao a Distncia

CEB/CNE Cmara de Educao Bsica do Conselho Nacional de Educao

CGFC Coordenao Geral de Superviso e Fomento

CGIE Coordenao Geral de Inovao em Ensino a Distncia

CGPC Coordenao Geral de Programas e Cursos a Distncia

CNED Coordenao Nacional de Educao a Distncia

CPDE Centro de Pesquisa e Desenvolvimento Educacional

EaD Ensino a Distncia

FIESPI Federao das Indstrias do Estado de So Paulo

FUNDEF Instituto de Manuteno e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de

Valorizao do Magistrio

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica

IDEB ndice de Desenvolvimento da Educao Bsica

IDHM ndice de Desenvolvimento Humano Municipal

IES Instituies de Ensino Superior

INED Instituto Nacional de Educao a Distncia

INEP Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Ansio Teixeira

IRDEB Instituto Radiofuso Educativa da Bahia

LDBEN Lei de Diretrizes e Bases da Educao

MEC Ministrio da Educao

MULTIRIO Empresa de Multimeios do Rio de Janeiro

NEAD Ncleo de Educao a Distncia

OEA Organizao dos Estudos Americanos

OIT Organizao Internacional do Trabalho

PDI Plano de Desenvolvimento Institucional

PIB Produto Interno Bruto

PNAD Programa Nacional de Administrao Pblica

11

PNE Plano Nacional de Educao

PPC Projeto pedaggico do Curso

PPI Projeto Pedaggico Institucional

SENAC Servio Nacional de Aprendizagem Comercial

SENAI Servio Nacional da Indstria

SINAES Sistema Nacional de Avaliao do Ensino Superior

TCC Trabalho de Concluso de Curso

TVE TV Educativa

UAB Universidade Aberta do Brasil

UAPI Universidade Aberta do Piau

UFPI Universidade Federal do Piau

UNB Universidade de Braslia

UNESCO United Nation Educational, Scientific and Cultural Organization (Organizao

das Naes Unidas para a Educao, a Cincia e a Cultura)

12

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Nmero de Professores da Educao Bsica com Escolaridade de

Nvel Mdio (Sem Normal/Magistrio) por Localizao, segundo a

Regio Geogrfica 2007.......................................................................

20

Tabela 2 - Marcos precursores do ensino a distncia no mundo.......................... 28

Tabela 3 - Marcos precursores do ensino a distncia no Brasil............................ 30

Tabela 4 - Perfil do professor da Educao Bsica Censo 2007......................... 52

Tabela 5- Sujeitos da pesquisa distribudos por polos.......................................... 92

Tabela 6 - Curso ofertados pela CEAD- UFPI....................................................... 96

Tabela 7 Curso de licenciatura em pedagogia da UAPI distribudos por polos

- 2016.........................................................................................................

98

Tabela 8 Nmero de professores por nvel x Alunos matriculados x Nmeros

de escolas IBGE 2015...........................................................................

107

13

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 - Marcos legais da EaD nos anos 90....................................................... 36

Quadro 2 - Caractersticas principais das geraes da EaD................................ 37

Quadro 3 - Disciplinas com crditos prticos no curso de pedagogia na

modalidade a distncia - UAPI...........................................................

77

Quadro 4 - Sntese do processo de ensino e de aprendizagem do curso de

pedagogia na modalidade a distncia - UAPI...................................

82

Quadro 5 - Dados da Cidade de gua Branca Censo de 2010-2015................. 101

14

LISTA DE GRFICOS

Grfico 1 - Nmero de matricula em graduao, por modalidade de ensino

Brasil 2003-2014...................................................................................

44

Grfico 2 - Nmero de ingressantes em cursos de graduao, por modalidade

de ensino- Brasil 2003-2014................................................................

45

Grfico 3 - Percentual do nmero de docentes da Educao Bsica

matriculados em cursos de Graduao Brasil 2014.......................

45

Grfico 4 Distribuio do nmero de matrculas em cursos de licenciatura

por modalidade ensino, segundo a categoria Administrativa

Brasil.....................................................................................................

53

Grfico 5 ndice de desenvolvimento da Educao Bsica gua Branca -

2007-2013..............................................................................................

103

Grfico 6 Populao rural X Populao urbana - gua Branca...................... 103

Grfico 7 Pessoal ocupado X pessoal assalariado- gua Branca.................... 104

Grfico 8 Populao por sexo- gua Branca.................................................... 105

Grfico 9 Populao ocupada X populao assalariada -Monsenhor Gil....... 106

Grfico 10 - Populao Rural X Urbana do Municpio de Monsenhor Gil......... 108

Grfico 11 Populao por sexo Monsenhor Gil................................................ 108

15

LISTA DE MAPAS

Mapa 1 Mapa ilustrativo da localizao de polos da Educao a Distncia no

Piau............................................................................................................

99

Mapa 2 Localizao dos polos de concludentes do curso de pedagogia no ano

de 2016.......................................................................................................

100

Mapa 3 Sntese de localizao do Municpio de gua Branca.......................... 101

Mapa 4 Sntese do mapa de localizao da cidade Monsenhor Gil.................... 105

16

SUMRIO

1 INTRODUO.................................................................................................. 17

2 A HISTRIA DA EAD: ELEMENTOS HISTRICOS............................... 24

2.1 BREVE HISTRICO DA EAD NO MUNDO E NO BRASIL.......................... 24

2.2 A EAD NO CONTEXTO DO CAPITALISMO CONTEMPORNEO............. 42

2.3 A EAD COMO ESTRATGIA DE FORMAO DE PROFESSORES NA

ATUALIDADE....................................................................................................

46

3 A EAD E A FORMAO HUMANA CRTICA........................................... 55

3.1 FORMAO HUMANA E A FORMAO DE PROFESSORES NA

SOCIEDADE CAPITALISTA CONTEMPORNEA.......................................

54

3.2 FORMAO DE PROFESSORES: DISCUSSO DE ALGUMAS

CONCEPES QUE LASTREIAM A EAD.....................................................

59

3.3 A FORMAO HUMANA CRTICA NA PERSPECTIVA MARXISTA:

CAMINHOS E POSSIBILIDADES....................................................................

66

4 O CURSO DE PEDAGOGIA DA UNIVERSIDADE ABERTA DO PIAU

UAPI.................................................................................................................

74

4.1 ESTRUTURA CURRICULAR: CONCEPES, DIRETRIZES E

PRINCPIOS........................................................................................................

74

4.2 ESTUDO A DISTNCIA................................................................................... 76

4.3 O PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM: O TRABALHO DO

PROFESSOR TUTOR.........................................................................................

79

5 O PERSURSO METODOLGICO................................................................ 86

5.1 OS CAMINHOS DA PESQUISA....................................................................... 86

5.2 AMBIENTE DA PESQUISA E OS SUJEITOS................................................. 93

5.2.1 a UAB na universidade federal do Piau UAPI............................................ 93

5.3 CONTEXTO HISTRICO, GEOGRFICO, POLTICO E ECONMICOS

DOS POLOS PESQUISADOS............................................................................

100

5.3.1 gua Branca....................................................................................................... 100

5.3.2 Monsenhor Gil.................................................................................................... 105

6 O OLHAR DOS SUJEITOS ENVOLVIDOS NO ENSINO A

DISTNCIA.......................................................................................................

110

6.1 ANLISE DA ENTREVISTA............................................................................ 110

6.2 O PROCESSO FORMATIVO: A VOZ DOS ALUNOS, TUTORES,

PROFESSORES FORMADORES E COORDENADORES DO ENSINO A

DISTNCIA DA UAPI.......................................................................................

110

6.3 A RELAO TEORIA E PRTICA: A EAD E AS POSSIBILIDADES DE

UMA FORMAO HUMANA CRTICA.........................................................

122

7 CONSIDERAES FINAIS............................................................................ 130

REFERNCIAS................................................................................................. 135

ANEXOS............................................................................................................. 140

ANEXO A FOTOGRAFIA DOS POLOS........................................................ 141

APNDICES....................................................................................................... 142

APNDICE A ROTEIRO DE ENTREVISTA ALUNOS............................... 143

APNDICE B ROTEIRO DE ENTREVISTA COM PROFESSORES

FORMADORES E TUTORES............................................................................

144

APNDICE C ROTEIRO DE ENTREVISTA COM COORDENADORES

DO CURSO DE PEDAGOGIA NA MODALIDADE EAD CEAD UFPI...

145

APNDICE D QUESTIONRIO DE PESQUISA.......................................... 146

17

1 INTRODUO

Vivemos na contemporaneidade em uma sociedade capitalista, concebida por

muitos como sociedade da informao e do conhecimento1. Segundo essa leitura, cada vez mais

somos inseridos num universo que tende a exigir, especialmente no mbito de nossas atividades

laborais, perfis que se adequam aos requisitos desse tipo de sociedade. Nessa perspectiva, os

profissionais devem saber lidar com contextos incertos e complexos que podem vir a surgir no

mbito de suas profisses. Na educao isso no diferente, uma vez que ela no autnoma

em relao sociedade, sendo que, desta forma, todo movimento de transformao da

sociedade reflete diretamente nela.

Nesse contexto, a educao passaria a ser debatida por diversos tericos e passa

tambm a ser alvo de reformulaes para sua adequao s necessidades dessa sociedade do

conhecimento e da informao. Essa reconfigurao da sociedade exigiria uma educao que

preparasse um indivduo autnomo e flexvel e, nesse mbito, seria mister a integrao das

novas tecnologias a servio desse indivduo (Silva, 2008). Ora, se a LDB de 20 de dezembro

de 1996, anuncia que a educao um direito de todos, dever da famlia e do Estado e tem

como finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exerccio da

cidadania e sua qualificao para o trabalho (BRASIL, 1996, p.01, grifo nosso), que

transformaes deveriam ocorrer na educao para atender essas supostas mudanas decorrida

da sociedade do conhecimento e da informao? Nesse sentido, a formao de professores

passa a ser tambm foco de discusses, com o intuito, a priori, de responder as exigncias desse

contexto da sociedade do conhecimento e da informao.

O fenmeno da universalizao da educao proclamado pelo Plano Nacional de

Educao (PNE), Lei n 10.172, de 09 de janeiro de 2001, surge tambm como resposta

suposta necessidade de adaptao da educao s exigncias da sociedade contempornea.

Nesse sentido, trata-se de equacionar antigas demandas da sociedade brasileira, conforme

prope o PNE:

1 Para sociedade do conhecimento compartilhamos com a acepo de Duarte 2004, quando critica os empregos

epistemolgicos que so comumente utilizados para caracterizar a nosso sociedade: [...] se for o olhar cultural

devemos falar em sociedade ps-moderna ou sociedade do conhecimento ou sociedade multicultural ou sei l mais

quantas outras denominaes. Esta uma atitude idealista, subjetivista, bem ao gosto do ambiente ideolgico ps-

moderno. (p.13)

18

a elevao global do nvel de escolaridade da populao; a melhoria da qualidade de

ensino em todos os nveis; a reduo das desigualdades sociais e regionais no tocante

ao acesso e permanncia com sucesso na educao pblica. (BRASIL, 2001, p.06)

Nesse novo cenrio, parece inevitvel a exigncia de um professor que se aproprie

de novas formas de aprender e de ensinar. No PNE de 2014 a 2024, Lei n 13.005, de 25 de

junho de 2014, h a reiterao da meta de erradicao do analfabetismo, da necessidade de

melhorar a qualidade da educao e da universalizao do atendimento escolar, dentre outros

objetivos.

Nesse sentido, impretervel desvelar esse discurso, produzindo uma reflexo sobre

como dever ser a formao de professores dentro da lgica e exigncia dessa nova

sociabilidade, buscando desvelar criticamente seus fundamentos.

O contexto da sociedade do conhecimento e da informao se constitui num solo

frtil para o surgimento de ambientes de aprendizagem para alm das salas de aulas presenciais:

o ensino a distncia. As estratgias do ensino a distncia surgem como resposta s necessidades

de formao dos professores, ou seja, a EaD uma alternativa para a qualificao dos

professores frente a essas novas demandas da sociedade. Saviani (2007) constata que no

contexto de grandes transformaes sociais, culturais, polticas e econmicas ocorridas a partir

dos anos 90, so ofertados em diversas instituies de ensino cursos de capacitao de carga

horria variada e tambm cursos de graduao na modalidade de Educao a Distncia (EaD).

Para tal "capacitao/formao" so utilizados meios informacionais que, paulatinamente,

transmitiriam os conhecimentos, as competncias e as habilidades que tornariam o professor

apto a atender as demandas da sociedade contempornea. Nesse cenrio de mudanas em

funo do desenvolvimento tecnolgico da sociedade torna-se uma necessidade adaptar os

sujeitos ao sistema, a partir uma formao que d respostas a essa nova conjuntura. mister

que os professores sejam formados tendo em vista um cenrio complexo no qual as tecnologias

esto cada vez mais presentes. Rumo a uma formao adaptvel as necessidade dos professores,

surgem os Programas de Formao Inicial e Continuada, ofertados na modalidade a distncia

como as Universidades Aberta do Brasil (UAB) em diferentes instituies pblicas (Costa

Pinto, 2008). Essa estratgia, ainda de acordo com Saviani (2007), foi utilizada para a

formao/capacitao de professores, especialmente da educao bsica, a partir da LDB que

normatizou uma exigncia de formao mnima para atuar na Educao Bsica, o curso de nvel

superior. Mantendo, entretanto, a modalidade normal de nvel mdio como uma espcie de

exceo a ser superada:

A formao de docentes para atuar na educao bsica far-se- em nvel superior, em

curso de licenciatura, de graduao plena, em universidades e institutos superiores de

19

educao, admitida, como formao mnima para o exerccio do magistrio na

educao infantil e nos 5 (cinco) primeiros anos do ensino fundamental, a oferecida

em nvel mdio na modalidade normal. (BRASIL, 1996, art. 62)

Tal cenrio, de certa forma, desenhou a necessidade de uma formao mais

qualificada para o exerccio do magistrio, uma vez que para atuar na docncia na Educao

Bsica exigida formao em nvel superior. Por outro lado, perpetuou-se a desvalorizao da

formao para atuao na Educao Infantil e nas sries iniciais do Ensino Fundamental, pois

se admite para atuar nesses nveis a formao mnima na modalidade normal de nvel mdio.

Reconhecemos a importncia das polticas pblicas a partir do PNE para o acesso das camadas

populares educao. Entretanto, questionamos sobre a qualidade do tipo de educao ofertada,

fato que nos remete a indagar, prioritariamente, sobre o tipo de formao dada aos professores,

uma vez que os mesmos devero receber uma nova formao, devendo inclusive ter mais acesso

a outros mtodos e tecnologias, tendo em vista uma reconfigurao das suas prticas

pedaggicas.

Aps mais de vinte anos da LDB de 1996, mesmo com a possibilidade de se ampliar

a formao de professores, especialmente atravs da EaD, segundo o Censo de 20072, ainda h

professores que no tm a formao mnima para esse exerccio. Esses professores que no

possuem a escolaridade mnima, exigida pela LDB/9394/96, so denominados professores

leigos3. Segundo o Estudo Exploratrio Sobre o Professor Brasileiro, realizado pelo Instituto

Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Ansio Teixeira (INEP), com base nos resultados

do Censo Escolar 2007, at o momento foi o ltimo a ser publicado, o nmero de professores

que no possuem formao mnima para atuao na educao bsica, a partir de pesquisa de

um total de 1.882.961 docentes, varia entre 10 a 30% do corpo de professores em exerccio,

fato que indica a necessidade da formao desses professores, conforme assevera o estudo [...]

a persistncia da presena de professores leigos atuando nas escolas brasileiras, em propores

que variam entre 10% e quase 30%, indica a necessidade de um olhar diferenciado para o tema

especfico da formao desses professores. (BRASIL, p. 49)

2 Os resultados do Censo Escolar de 2007, ao mesmo tempo em que oferecem dados sobre o perfil dos profissionais

da educao, ampliam o conhecimento sobre a formao com o fornecimento de dados que melhor caracterizam a

sua escolaridade (reas de formao, disciplinas ministradas, entre outras). ( Brasil, 2007, p. 25)

3 Os professores que ainda necessitam completar a formao mnima para exercer a docncia a educao bsica

so aqueles que concluram o ensino fundamental ou o ensino mdio, mas no tm a habilitao para o exerccio

do magistrio. Os denominados professores leigos formam um contingente de 119.323 docentes (6,3%),

distribudos em todo o Pas, tanto nas zonas urbanas quanto nas rurais, atendendo a alunos de todas as redes de

ensino. (Brasil, 2007, p. 26)

20

Esse fato nos faz inferir ainda que h uma proporo considervel de professores

que no tiveram acesso formao superior ou ainda esto cursando sua primeira licenciatura.

Atualmente, de acordo com o censo da educao bsica do ano de 2016, dos docentes que atuam

na educao bsica,143.125 (6,5%) ainda esto como o nvel superior em andamento. Fato esse

que revela tambm a precariedade da formao de nossos professores, especialmente das sries

iniciais. Isso concorre para o agravamento da situao do ensino no Brasil e a necessidade de

polticas educacionais rumo ampliao da oferta de vagas para os professores. De acordo

ainda com o estudo na Educao Bsica que se encontra o maior nmero de professores sem

habilitao mnima para atuao, sendo na regio Nordeste a maior incidncia de professores

leigos: no total de 103.341 docentes, 36.677 trabalham na regio nordeste, correspondendo a

uma porcentagem de 35,46% do total de professores, conforme evidencia a tabela que segue:

Tabela 1 - Nmero de Professores da Educao Bsica com Escolaridade de Nvel

Mdio (Sem Normal/Magistrio) por Localizao, segundo a Regio Geogrfica 20074

PROFESSORES

EDUCAO BSICA

Regio

Geogrfica

Professores por Localizao

Total Somente Urbana Somente Rural Urbana e Rural

N % N % N % N %

Brasil 103.341 100% 75.777 73,3% 25.726 24,9% 1.838 1,8%

Norte 12.158 100% 7.417 61,0% 4.441 36,5% 300 2,5%

Nordeste 36.677 100% 21.581 58,8% 14.550 39,7% 546 1,5%

Sudeste 33.706 100% 30.162 89,5% 3.115 9,2% 429 1,3%

Sul 12.561 100% 10.320 82,2% 1.775 14,1% 466 3,7%

Centro-

Oeste 8.239 100% 6.297 76,4% 1.845 22,4% 97 1,2%

Fonte: MEC/Inep/Deed

De acordo com dados mais recentes do censo escolar, no ano de 2016, na Educao

Bsica, 20% de professores que atuam em creches possuem apenas com o curso

normal/magistrio. H ainda a presena de professores leigos, pois 6,2% dos professores que

4 Dados com base nos resultados do Censo Escolar da Educao Bsica 2007.

Disponvel em Acesso em 16/09/2016

21

atuam tm o nvel mdio completo e 0,5% tem apenas o nvel fundamental. Nas sries iniciais

do Ensino fundamental ainda h 14% que possuem o normal/magistrio, 4,4% o nvel mdio

completo e 0,2% apenas o nvel fundamental. (BRASIL, 2016, p. 26)

Outro dado que nos chama a ateno o nmero crescente de matrculas em cursos

de graduao, na modalidade a distncia. De acordo com o Censo escolar de 2003-2014 o

nmero de matriculados representa 1,34 milho no ano de 2014, representando 17,1% dos

matriculados no ensino superior. Ainda de acordo com esse censo, nos ltimos cinco anos houve

um crescimento de matrculas nos cursos de licenciatura na modalidade a distncia,

representando um quantitativo de 6,7 entre os anos de 2013 e 2014. Fato esse que nos faz

indagar acerca dos fatores que explicam esse crescimento e sobre os impactos na formao em

licenciatura, especificamente no curso de pedagogia.

Nossa pesquisa se reporta ao curso de pedagogia na modalidade distncia

ofertado pela Universidade Aberta do Piau UAPI, investigando sobre as implicaes dessa

formao para prtica pedaggica do professor das sries iniciais da educao bsica, numa

perspectiva de formao humana crtica. Constituem o universo de nossa pesquisa, anlise de

documentos relacionados nossa temtica; entrevistas com alunos egressos do curso de

pedagogia, que j tinham experincia como professor, atuando como professor leigo nas sries

iniciais da educao bsica. Delimitamos o perfil desses sujeitos, porque partimos do princpio

de que, sendo parte desse universo, poderiam comparar sua formao antes e depois do curso

de pedagogia. Alm desses sujeitos, entrevistamos alguns profissionais que fazem parte do

curso educao a distncia como tutores, professores-formadores e coordenadores do curso de

pedagogia e dos polos. Partimos da hiptese de que a formao dada aos professores, mesmo

com a ampliao de acesso ao ensino superior atravs da EaD, duplamente negada quando

em primeira instncia o professor no tem acesso ao ensino superior e, num segundo momento,

quando tendo acesso, recebe uma formao aligeirada, apresentando, inclusive, um

esvaziamento de contedo, em funo, principalmente, do tempo de formao e do

empobrecimento da proposta pedaggica desses cursos.

Alguns trabalhos j apontam para essa problemtica, a exemplo de Silva (2011),

que em sua tese Educao a Distncia e a Universidade Aberta do Brasil Quando a

Mercantilizao do Ensino e a precarizao da docncia alcanam um nove pice? Analisa a

mercantilizao do ensino superior, evidenciando a EaD como uma das medidas paliativas para

fazer frente ao cenrio da crise estrutural do capital. Arajo Filho (2015) em sua dissertao A

EaD e a mercantilizao da universidade brasileira em Fortaleza, tambm analisa a

mercantilizao do ensino superior, via EaD. A nossa investigao, assim como as pesquisas

22

citadas, se remeteu educao a distncia e, certamente, abordou questes relacionadas

mercantilizao do ensino. Entretanto, como forma de ampliao dessas discusses, buscou

revelar questes relacionadas formao humana crtica, possivelmente, prejudicada por esse

aligeiramento. Esse tipo de formao extensivamente disseminada nos processos educativos

e nos documentos oficiais, como uma democratizao do ensino s camadas populares numa

perspectiva humana ampla.

Desse modo, nossa pesquisa diz respeito formao de professores na modalidade

EaD, verificando suas implicaes para a formao em uma perspectiva humana crtica. Vale

ressaltar que boa parte de nossos sujeitos, embora sejam concludentes da primeira licenciatura

em Pedagogia, na modalidade EaD, na UAB- UFPI, j possuem experincia prtica, uma vez

que em algum momento antes de ingressar no curso de pedagogia atuaram como professores

das sries iniciais da educao bsica. Esse fato, como mencionado anteriormente, relevante

para nossa pesquisa, pelo fato deles serem sujeitos que falam sobre as implicaes da formao

que esto recebendo em suas prticas pedaggicas. Essa especificidade de nossos sujeitos

contribuiu tambm para algumas reflexes sobre sua atuao, como por exemplo, a dicotomia

entre teoria e prtica. Muitos desses sujeitos supostamente j exerciam uma prtica pedaggica,

no entanto no possuam formao acadmica que certificasse esses saberes. Ento, a partir da

formao recebida na modalidade a distncia houve uma reconfigurao em suas prticas

pedaggicas, inclusive numa perspectiva humana crtica? Eis nossa pergunta de partida.

A investigao dessa pesquisa parte do aporte terico marxista, que concebe a

educao articulada com a dimenso econmica, cultural e poltica, sendo o homem o motor

das relaes sociais e o trabalho sua atividade vital. Acreditamos que o mtodo de pesquisa em

Marx, o materialismo histrico-dialtico, nos possibilita uma abordagem crtica de nosso objeto

de investigao, nos dando suporte para a elucidao ou desvelamento de dados que possam

promover o falseamento da realidade. Dessa forma, partiu-se da premissa de que os dados

investigados so articulados com o processo histrico e social, e respondem a determinados

interesses sociais.

A partir de exigncias da LDB, de 1996, fica evidenciada a obrigatoriedade da

formao inicial e continuada do professor. No artigo 62 da referida lei ficou estabelecido que

at o final daquela dcada s fossem admitidos professores com formao em nvel superior ou

formados atravs de treinamentos em servio (Saviani, 2007). Foi tambm a partir dela que

nasceu a possibilidade de oferta da modalidade do ensino a distncia (EaD) em todos os nveis

de ensino. nessa conjuntura que vrios professores recorreram formao em pedagogia em

23

busca, inclusive, de sua primeira graduao, cenrio em que esto inseridos os sujeitos da

pesquisa em questo.

No cenrio da necessidade da expanso do ensino superior, surgem os sistemas

Universidade Aberta (UAB), criados pelo Ministrio da Educao e implantados em 2005, em

parceria com a Associao Nacional dos Dirigentes das Instituies Federais do Ensino

Superior (ANDIFES) e empresas estatais como o Banco do Brasil, com foco no

desenvolvimento da poltica e gesto da educao superior. Esse Sistema integrado por

Universidades pblicas, tendo dentre outros objetivos, expandir a educao superior, atravs da

metodologia de EaD, visando o atendimento a populao que tem dificuldade de acesso ao

ensino superior. Os professores que atuam na Educao Bsica da esfera pblica estadual e

municipal tm prioridade de formao atravs desse Sistema.

A Universidade Federal do Piau (UFPI) criou, em 2006, o Centro de Educao a

Distncia CEAD. Esse Centro oferta atualmente dez cursos de graduao distribudos em

trinta e seis polos, incluindo Teresina e outros municpios do Estado. Dentre objetivos do CEAD

esto: ofertar cursos gratuitos e de qualidade que atendam as necessidades socioeconmicas das

regies em que ocorrem.

Nesse cenrio, sentimos a necessidade de que fosse realizado um estudo da

formao continuada na modalidade EaD, ofertada pela UAPI, para analisar em que medida o

Sistema UAPI/EaD proporciona uma formao humana crtica dos professores da Educao

Bsica. Concebemos nesse estudo a formao humana, numa perspectiva marxista, que visa

no somente os conhecimentos e habilidades necessrios s aes pragmticas desenvolvidas

na sala de aula, mas tambm compreenso do contexto histrico, poltico e social aos quais

essas aes esto interligadas. Acreditamos, ento, em uma formao que conceba o aluno

como resultado concreto de um determinado contexto real. Sendo o professor fruto dessa

concretude, ele tem suas aes motivadas pelo conhecimento acadmico, pelas suas crenas,

valores, viso poltica, ou seja, ele tem uma prtica movida por aes inerentes ao exerccio da

docncia, que permeiam e condicionam a sua prtica pedaggica.

Acreditamos que o estudo possibilitar a continuidade de debates a respeito da

formao atravs da modalidade a distncia, tendo em vista a avaliao que se pretende realizar

desta modalidade na perspectiva da formao humana crtica. A pesquisa tambm contribuir

para a crtica radical formao dos professores dentro da lgica do sistema capitalista e da

crise estrutural a qual est submetido. De acordo com as necessidade observadas, a pesquisa

pretende vislumbrar novos caminhos para a formao de professores na modalidade EaD,

apontando elementos para uma perspectiva humana crtica nessa formao.

24

2 A HISTRIA DA EAD: ELEMENTOS HISTRICOS

2.1 BREVE HISTRICO DA EAD NO MUNDO E NO BRASIL

Para uma maior aproximao com nosso objeto de estudo houve a necessidade de

pesquisarmos sobre como a EaD se constituiu ao longo da histria no mundo e no Brasil, quais

as relaes desse fato com a consolidao do sistema capitalista de produo e suas polticas

educacionais para a formao de professores. Esse estudo nos favoreceu ter uma melhor

compreenso da realidade atual, pois buscou desvelar fatores considerados intrnsecos ao

crescimento da EaD, seus desdobramentos e concepes a respeito da formao de professores

na sociedade capitalista contempornea. No tivemos a pretenso de esgotar todos os estudos

sobre a EaD, uma vez que esse assunto amplo e objeto do conhecimento de vrios estudiosos,

alm disso, o tempo que dispnhamos no nos permitia. Entretanto pretendeu-se fazer uma

crtica radical5 da formao superior em pedagogia nesta modalidade.

Primeiramente importante definir, de acordo com alguns autores relevantes, o

ensino/educao a distncia e quais seus primeiros indcios no mundo para, posteriormente, nos

determos sobre como ele se materializou, estabelecendo as relaes da consolidao dessa

modalidade ensino como a poltica econmica e cultural de cada poca.

Apresentaremos ainda as concepes sobre como essa modalidade de ensino vem

se constituindo ao longo da histria e em diferentes contextos sociais, objetivando desvelar as

ideologias que cercam o conceito de EaD, analisando a relao desse conceito com o cenrio

poltico e econmico de cada poca. Para tanto, consideramos interessante tambm

conceituarmos o ensino a distncia: O que ? A quem serve? Quais seus fundamentos e

pressupostos? Como se deu a sua materializao ao longo da histria? Vale ressaltar que

importante frisar o enorme contingente de autores que estudam essa temtica e, pelo tempo que

dispomos, apresentaremos de forma geral, mas no superficial, a concepo de alguns

estudiosos, conceitos e evoluo da EaD ao longo da histria.

5 Compartilhamos da definio de crtica radical dada por Tonet, no livro Mtodo cientfico: uma abordagem

Ontolgica, que diz: Por crtica radical entendemos uma compreenso de qualquer fenmeno social que tenha

como ponto de partida ou pressuposto a raiz da realidade social, vale dizer, as relaes que os homens estabelecem

entre si na produo dos bens materiais necessrios sua existncia. Isso implica a compreenso do processo

histrico e social, com todas as suas mediaes, que resultou naquele determinado fenmeno. Constatar o carter

histrico e social de todos os fenmenos sociais significa, por sua vez, fundamentar a possibilidade de uma

transformao tambm, radical do mundo. (p.66)

25

Na perspectiva epistemolgica, o termo educao a distncia vem da palavra grega

tele, que significa ao longe. No geral, alguns autores concordam que o surgimento da EAD teve

origem na Alemanha no sculo XV, a partir do surgimento da imprensa. Outros, entretanto,

consideram que o seu surgimento vem desde as civilizaes antigas, isso se for considerado o

conceito de educao a distncia como aquela modalidade educacional em que no h contato

face a face, a exemplo dos relatos escritos para difuso do cristianismo (Faria e Salvadori,

2010). Para Saraiva (1996), na antiguidade que se encontra a origem da comunicao

educativa entre pessoas distantes fisicamente. Isso se deu atravs de mensagens escritas, num

primeiro momento na Grcia e depois em Roma. Havia cartas com histrias cotidianas, outras

com informaes cientficas e outras destinadas instruo propriamente dita. Para a

pesquisadora esse epistolrio greco-romano vai se manifestar no Cristianismo nascente e,

atravessando os sculos, adquire especial desenvolvimento nos perodos do humanismo e do

iluminismo. (Saraiva, 1996. p.18)

No Brasil, de acordo ainda com Saraiva (1996) foi a partir da dcada de 20 que a

histria da EaD se constituiu, mas foi na a dcada de 70 que o pas aumentou a oferta de

programas teleducativos e na virada do sculo XX para o sculo XXI foi ntida a preocupao

e consequente unio de esforos das instncias governamentais e educacionais pela utilizao

da EaD como alternativa para a educao presencial e garantia da formao continuada. Para

Faria e Salvadori (2010), a EaD historicamente marcada no Brasil em dois perodos distintos:

dcada de 60 e dcada de 90, tendo como premissa a queda do modelo fordista e a integrao

de redes de conferncias por computador e estao de trabalho multimdia.

Em nossos estudos sobre o conceito e fundamentos da EaD, sobre como a ela se

constituiu ao longo da histria, constatamos que muitos tericos concebem que a educao a

distncia uma modalidade de ensino que tem se expandido globalmente. Ela utiliza

intensamente os recursos tecnolgicos para a comunicao/interao e h a separao fsica

entre alunos e professores no espao e/ou no tempo. Nesta modalidade, imprescindvel a

autonomia dos alunos e a flexibilidade dos programas para sua adaptao s necessidades deles.

H quase um consenso de que o ensino a distncia uma forma de democratizao do ensino e

do conhecimento e, crescente, ao longo da histria (pelo menos nos discursos disseminados

por estudiosos da EaD), certa preocupao sobre os recursos apropriados para a diminuio da

distncia entre alunos e professores, a partir de metodologias adequadas para a efetivao do

ensino:

A Educao a Distncia (EaD) no se refere apenas ao distanciamento fsico entre

aluno e professor, mas a infraestrutura e processos interativos que os coloquem

pedagogicamente prximos. (Aboud, 2008 p. 15)

26

Outro elemento relacionado EaD a autonomia proporcionada ao estudante, uma

vez que o mesmo pode administrar por conta prpria o espao-tempo para seus

estudos. (Rodrigues, 2008 p.40)

[...] a importncia dessa modalidade de educao est crescendo globalmente e tem

se tornado um instrumento fundamental de promoo de oportunidades para muitos

indivduos. (Alves, 2011 p.83)

Uma proposta de ensino/educao a distncia necessariamente ultrapassa o simples

colocar materiais instrucionais a disposio do aluno distante. Exige atendimento

pedaggico, superador da distncia e que promova a essencial relao professor-

aluno, por meio e estratgias institucionalmente garantidos. (Saraiva, 1996. p 17)

Observamos que vrios estudiosos percebem a EaD com muito entusiasmo,

atribuindo a ela a tarefa da democratizao da informao e do conhecimento, que propicie uma

formao humana, evidenciando excessivamente o lado otimista do uso das tecnologias digitais

na educao d a impresso de haver uma propenso em avaliar apenas os benefcios que essas

tecnologias, sob o gnero de informao e comunicao, propiciam formao humana e aos

processos de ensino e de aprendizagem. (Chaves e Maia Filho, 2016. p.72)

Nessa mesma direo, outros estudiosos no percebem a EaD com tanto

entusiasmo, reconhecendo que ela por si s no responsvel pelo sucesso do acesso indistinto

do conhecimento e da informao. Medeiros (2007), por exemplo, enftica ao afirmar que o

advento das tecnologias digitais, por si s, no garante a democratizao da informao:

necessrio destacar que o advento das mdias digitais em si, no capaz de garantir

a democratizao da informao. O acesso a equipamentos em rede, o domnio

mnimo das linguagens miditicas no capaz de garantir a democratizao da

informao. (Coordenao Central de Educao a Distncia (Organizao). - Rio de

Janeiro: Ed. PUC-Rio, 2007; p.25)

Outros estudiosos fazem uma crtica radical da EaD, considerando que esta

modalidade pode contribuir para a manuteno das desigualdades na sociedade, uma vez que,

ao ser uma alternativa para a adaptao do sistema de produo, apenas mais uma forma de

manuteno de desigualdades. Vilches (2003), Apud Medeiros 2007, por exemplo, destaca o

lado pessimista decorrente do advento das tecnologias digitais:

Do ponto de vista pessimista, o movimento da digitalizao das mdias constituiria

apenas mais uma face de adaptao do capitalismo, desenvolvendo novos mecanismos

de manuteno das desigualdades e de novas formas de submisso virtual. (Educao

a distncia e formao de professores: relatos e experincias/Coordenao Central de

Educao a Distncia (Organizao). - Rio de Janeiro: Ed. PUC-Rio, 2007; p.26)

Para Medeiros (2007), o acesso s tecnologias, especialmente no que diz respeito

aos pases pobres, se constitui um desafio no que se refere contribuio desse acesso para a

melhoria de vida da populao. Em se tratando do desenvolvimento tecnolgico aliado

27

comunicao e informao, a agilidade dos meios de transportes e o desenvolvimento dos

servios dos correios influenciaram de maneira preponderante no desenvolvimento da educao

a distncia. Num dado momento, de acordo com Saraiva (1996), esse desenvolvimento se deu

de maneira quantitativa, pois foi notvel o crescimento da oferta da educao a distncia em

vrios pases, alm do aumento de instituies de ensino a distncia e o nmero de alunos que

utilizavam essa modalidade de ensino. Depois houve um aumento qualitativo, ocasio em que

foram pensadas novas metodologias, cursos mais complexos e novos horizonte para o uso da

educao a distncia. A tele-educao, nas dcadas de 60 e 70, passa a utilizar de modo

integrado, alm dos materiais escritos, o udio e o videocassete, rdio, televiso e tecnologia de

multimeios com combinao de sons e imagens. Esses meios combinados so utilizados,

tambm, para a aprendizagem com feedback em tempo real. Foi dessa forma, que o

International Council for Correspondence Education, criado no Canad, passa a ser

denominado, no ano de 1982 de International Council for Distance Educative. Para Saraiva

esse fato representou o reconhecimento histrico da contribuio da tecnologia para a

universalizao e democratizao do conhecimento:

Muito mais do que uma simples mudana de nome, a se reflete o reconhecimento de

um processo histrico que apesar da enorme e marcante influncia da

correspondncia, absorveu as contribuies da tecnologia, produzindo uma

modalidade de educao capaz de contribuir para a universalizao e a

democratizao do acesso ao saber do contnuo aperfeioamento do fazer da

ampliao da capacidade do transformar e criar- uma modalidade que pode ajudar a

resolver as questes de demanda, tempo, espao, qualidade, eficincia, eficcia.

(Saraiva, 1996. p 19)

Para Faria e Salvadori (2010), o avano do conceito da EaD est ligado aos

processos de comunicao que ampliam as possibilidades de interao entre professor e aluno.

, portanto, na evoluo da tecnologia que se alicera a evoluo da EaD. No podemos

afirmar, entretanto, que a evoluo pedaggica ocorre proporcionalmente evoluo das

tecnologias sempre possvel usar a tecnologia mais avanada para continuarmos fazendo as

mesmas velharias, em particular o velho instrucionismo. (DEMO 2007, apud FARIA, A.A. E

SALVADORI, A. 2010)

Nessa mesma direo, Saraiva (1996), menciona que a educao, ainda que

institucionalizada, no pode ter xito quando tratada apenas como um processo de transmisso

desvinculado do contexto social, da prtica social. Segundo a pesquisadora, a viso reducionista

da educao leva uma concepo igualmente limitada da educao a distncia, considerando

que apenas a veiculao da informao por diferentes meios de comunicao sejam suficientes

para a denominao de ensino/educao a distncia:

28

Mesmo quando se fala da educao institucionalizada, a prtica tem demonstrado a

impossibilidade de xito de abordagens limitadas fora do contexto da prtica social da

educao como puro processo e transmisso e ensino, da educao como

aprendizagem de contedo sem apropriao transformadora da realidade. So estas

vises reducionistas que levam a concepes tambm distorcidas da educao a

distncia. (p.17)

Nessa perspectiva, de acordo com Saraiva (1996), a educao a distncia somente

oferece garantia de qualidade, quando d oportunidade de uma comunicao bilateral educativa.

Ou seja, um projeto de educao a distncia deve ter um tratamento pedaggico capaz de

oferecer a comunicao entre aluno e professor, superando a distncia fsica entre os mesmos

no processo de ensino e aprendizagem. Para tanto, necessrio que o planejamento da educao

a distncia tenha como eixo norteador do ensino e aprendizagem, critrios de escolha dos meios

da produo de materiais; da organizao e da seleo dos meios de veiculao das

informaes, objetivando responder s necessidades educacionais dos alunos.

Independentemente do meio que ir levar a informao aos alunos (correspondncia, material

impresso, jornal, tv, etc.) essa escolha dever ser feita com critrios baseados em respostas que

promovam interao pedaggica. Essa interao pedaggica de acordo com a autora passa por

critrios de viabilidade, convenincia e custo-benefcio. (1996, p.17)

Para uma melhor visualizao e compreenso de como se deu o itinerrio da

educao a distncia na histria e no mundo, optamos por elaborar uma tabela com informaes

de alguns marcos importantes da histria da educao a distncia. Sabemos que os marcos no

aconteceram de maneira isolada, nem to pouco de forma linear, no entanto, destacamos alguns

acontecimentos, que segundo Saraiva (1996), so considerados precursores do ensino a

distncia ao longo da histria.

Tabela 2 Marcos precursores do ensino a distncia no mundo (Continua)

ANO ITINERRIO DA EDUCAO A DISTNCIA

1728 Publicao de anncio na GAZETA DE BOSTON, pelo professor

de taquigrafia Cauleb Phillips.

1833 Publicao na Sucia de anncio que se referia ao ensino por

correspondncia.

1840 Isac Pitman sintetiza os princpios da Taquigrafia em cartes

postais que trocava com seus alunos.

29

(Continuao)

SEGUNDA

METADE DO

SCULO XIX

Desenvolvimento de uma ao institucionalizada de educao a

distncia.

1856 Em Berlim criada a primeira escola de lnguas por correspondncia,

por iniciativa de Charles Toussanint e Gustav Langenscheidt.

1983 fundada em Boston por Anna Eliot Ticcknor a Society to

Encourage Study at home.

1891

Thomas J. Foster inicia curso sobre medidas de segurana no

trabalho de minerao na Pensylvania (Intenacional Correspondence

Institute).

A Universidade de Wisconsin aprova proposta de organizao de

cursos por correspondncia nos servios de extenso universitria.

1892

Na Universidade de Chicago criada uma Diviso de Ensino por

Correspondncia para a preparao de docentes de escolas

dominicais.

1894/1895

Em Oxford, Joseph W. Knipe prepara incialmente seis (6) e depois

trinta (30) estudantes por correspondncia para o Certificated

Teacher Examinantion ( Cursos Wolsey Hall).

1898 Na Sucia foi publicado o primeiro curso por correspondncia,

iniciando o famoso Instituto Hermod.

Sculo XX Contnuo movimento de consolidao da educao a distncia. Fonte: Elaborada pela autora, a partir de Saraiva, (1996)

A evoluo da educao a distncia no Brasil, igualmente, como ocorreu no mundo

foi alicerada pelo desenvolvimento tecnolgico dos meios de comunicao. O ensino a

distncia inicia-se atravs de correspondncia, seguida pela transmisso radiofnica, televisiva,

utilizao da informtica e, atualmente, com o uso combinado da temtica e multimdia. Com

a utilizao das novas tecnologias h uma diversificao de programas que permitem uma

interao quase presencial entre professor e aluno. Entretanto, independentemente da

tecnologia utilizada, a educao a distncia dever ter sempre uma finalidade educativa

(Saraiva, 96).

Na direo do desenvolvimento da EaD, Aboud (2008), retrata esse

desenvolvimento de acordo com mudanas sociais e avanos tecnolgicos, enfatizando que a

trajetria dessa modalidade foi constituda ao longo da histria por diversas geraes. Os

critrios para classificao dessas geraes, segundo Aboud (2008) so os recursos

tecnolgicos utilizados, bem como a interao entre professores e alunos. Essas geraes

variam, nem sempre coincidindo em relao quantidade e a tipos, mas a gerao por

correspondncia, onde a instruo dada atravs de cartas, quase sempre se constituiu como

marco inicial da educao a distncia.

30

Igualmente como apresentamos os marcos da Educao a distncia no mundo,

faremos com a Educao a distncia no Brasil, lembrando, entretanto, de que isso se faz

necessrio somente para uma melhor visualizao desses marcos sem, no entanto,

considerarmos que os mesmos aconteceram de maneira linear, nem to pouco isolada.

Apresentaremos tambm experincias consideradas exitosas no campo da educao distncia,

consideradas tambm como precursoras da consolidao do ensino a distncia.

Tabela 3 Marcos precursores e algumas experincias do ensino a distncia no Brasil (Continua)

MARCOS CRONOLGICOS ITINERRIO/INSTITUIAO

1922/1925 Criao por Roquete Pinto, da Rdio

Sociedade do Rio de Janeiro e de um plano

sistemtico da radiodifuso como forma de

acesso a educao.

1922 Criao no MEC, da coordenadoria Nacional

de Educao a Distncia;

A partir da dcada de 1960 Registro de programa da EAD;

Criao na estrutura do Ministrio da

Educao e Cultura, o Programa Nacional de

Teleeduao (Prontel, responsvel pelo apoio

e coordenao da teleducao no Brasil.

Posteriormente foi substituda pela Secretaria

de aplicao tecnolgica (Seat), atualmente

extinta.

EXPERINCIAS COM EDUCAO A

DISTNCIA

PROGRAMAS/PROJETOS/INSTITUIES

Ensino a distncia 1939 A Marinha utiliza o ensino a distncia

Preparao dos oficiais com utilizao de

material impresso e alguns multimdia Exrcito

Oferta de cursos por correspondncia Instituto Universal Brasileiro, entidade de

ensino livre com sede em So Paulo e filiais no

Rio de Janeiro e Braslia (considerado um dos

primeiros no Brasil)

Desenvolvimento em todo o Brasil de

cursos por correspondncia para pessoas

predominantemente do setor tercirio e de

servios desde a dcada de 1970

Oferta de estudo bsico a milhares de

pessoas, atravs de material impresso e

transmisso via rdio.

Projeto Minerva, transmitido pela rdio do

MEC

31

(Continuao)

Concebido em carter experimental nos anos

de 1967 a 1974 estabelecia uma sistema

teleducao via satlite;

Atinge vrias escolas no Brasil atravs de

programas de rdio e televiso alm de

materiais impressos;

A habilitao era para as quatros primeiras

sries e para habilitao de leigos;

Oferecia feedbacks aos alunos atravs de

instruo programada;

Tinha fins lucrativos;

No ano de 1974 foi absorvido pelo Estado

do Rio Grande Norte;

Em 1975 510 escolas de 71 municpios do

Rio Grande Do Norte recebiam sinal via

satlite

Sistema avanado de Comunicaes

Interdisciplinares - Projeto Saci

Destinado a alunos das trs primeiras sries

inicias do Ensino Fundamental e a

treinamento de professores

Experimento Educacional do Rio Grande do

Norte (EXEM)

Iniciou em 1969 no Maranho e oferta at

hoje estudos da 65 a 8 srie, para tanto,

conta com o apoio de orientadores de

aprendizagem;

Utiliza programas de televiso e materiais

impressos para o aprofundamento de estudos

e pesquisas pelos alunos;

Tem recepo nas escolas oficiais do

Maranho, sendo administrado pelo Centro

Regional de Televiso Educativa do

Nordeste;

Em 1995 foram atendidos 41.573 alunos em

1.104 telessalas;

Sistema de TV Educativa (TVE) do

Maranho

6 Atualmente a expresso 5 a 8 srie do Ensino Fundamental com o aumento dos anos de escolaridade do ensino

fundamental de 8 anos para 9 anos tem como nomenclatura 6 ao 9 ano.

32

(Continuao)

Teve incio em 1974 e oferta estudos de 5 a

8 srie, especialmente no interior do Cear;

Presta servios as Secretaria de Educao

estaduais e municipais do Estado do Cear

atravs de convnios;

A logstica administrativa, tais como salas

de aulas, produo e impresso de materiais,

professores, coordenada pelas secretarias

estaduais e municipais;

Em 1995 havia sido atendidos 195.559

alunos de 5 a 8 srie em 7.322 telessalas

localizadas em 161 municpios.

Sistema de TV Educativa (TVE) do Cear

Programa de apoio a alunos das ltimas

sries do 1 grau7

Fundao Padre Anchieta

Considerado um grande marco na educao a

distncia, o criador do Centro Brasileiro de

Televiso, Gilson Amado, foi pioneiro em

utilizar a televiso como um meio para a

aprendizagem;

Os alunos so assistidos com programas

educativos e materiais impressos;

Utilizava as sries Joo da Silva e

Conquistas como novela didtica, que at

hoje so utilizadas em programas que

compem tvs educativas

Centro Brasileiro de Televiso Educativa

Gilson Amado, a partir dos anos 90

denominada de Fundao Roque-Pinto.

Rdio MEC

Apoia a educao atravs de programas Rdio MEC da Fundao Roque Pinto

Criou o Sistema Nacional de Teleeducao

em 1976, ofertando material instrucional;

Criou o Centro Educacional de Ensino a

Distncia;

Em 1995 atendeu cerca de 2 milhes de

alunos na modalidade a distncia.

Servio Nacional de Aprendizagem

Comercial (SENAC)

Oferta cursos para o aperfeioamento de

recursos humanos, utilizando material

instrucional e tutoria;

Foram atendidas cerca de 30 mil pessoas

Associao Brasileira de Tecnologia

Educacional (ABT)

7 1 grau atualmente equivale s quatros sries do Ensino Fundamental maior, ou seja, equivale ao 1 ao 9 ano.

33

(Continuao)

Iniciado em 1979, oferta cursos de extenso

na modalidade a distncia;

Os cursos e os fascculos eram divulgados

em tv, rdio e jornal escrito e da revista da

UNB. Dessa forma, participavam os alunos

inscritos e ou pessoas de outras capitais.

Mais de 50 mil tiveram inscrio nos cursos

ofertados na modalidade a distncia;

Em 1988 criado pela UNB o Centro de

Educao Aberta Continuada a Distncia

(CEAD);

Em 1992, a CEAD ofertou dez cursos e teve

tem a primeira experincia em Software;

Em 1994, em parceria com a Unesco E O

Instituto Nacional de Educao a Distncia

(INED), criado Frum de Educao a

Distncia do Distrito Federal;

Em 1994, lanada a Revista Educao a

Distncia- INED

Em 1995 ocorre a primeira Conferncia

Interamericana de Educao a Distncia, no

Distrito Federal;

Universidade de Braslia UNB

Interiorizou as oportunidades educacionais,

atravs de expressiva programao

educativa, via rdio e televiso;

Fundao Padre Landell de Moura (RS)

Produo e veiculao de inmeros

programas educativos;

Instituto Radiodifuso Educativa da

Bahia(IRDEB)

Produziu programas a preparao de jovens e

adultos para exames supletivos (Telecursos 82 grau e supletivo do 1 grau);

Produziu a srie Telecurso 2000 para 1 e 2

graus conveniado com a FIESPI, SENAI E

SESI de So Paulo, que ofereciam as

telessalas para o atendimento de milhes de

jovens e adultos;

Ofertou tambm, cursos profissionalizantes,

sendo mecnica, o primeiro curso oferecido;

Fundao Roberto Marinho (FRM)

Em 1979 oferta vrios cursos a distncia,

com mdulos instrucionais e com tutoria. Em

1995 atendeu cerca de 20 mil pessoas em

cursos de 1 e 2 graus, qualificao de

tcnicos, atualizao de professores do 1

grau, cursos na rea de contabilidade,

secretariado e da segurana do trabalho.

Centro Educacional de Niteri

8 2 grau atualmente equivale ao Ensino Mdio

34

(Continuao)

Oferta cursos por correspondncia com

tutoria em nvel de 1 e 2 graus para

brasileiros, temporariamente, fora do pas.

Colgio Anglo-Americano, sede no Rio de

Janeiro.

Desenvolveu em parceria com a Secretaria

de Educao Mdia e Tecnolgica do

MEC, o cursos de especializao em

didtica aplicada educao Tecnolgica,

na modalidade a distncia. O objetivo foi

ampliara a oferta de cursos de ps-

graduao latu sensu.

Centro Federal de Educao Tecnolgica do

Rio de Janeiro

Criou o Centro de Educao a distncia

ofertando materiais impressos aos seus

alunos e provendo encontros presenciais

SENAI (Servio Nacional da Indstria) -

Rio de Janeiro

Faz parte da histria da EAD no Brasil,

concebe e produza materiais impressos e

televisivos para a professores e alunos de 5

a 8 srie, sendo que a utilizao pedaggica

desses materiais de responsabilidade da

Secretaria municipal do Rio de Janeiro

MULTIRIO (Empresa de Multimeios) Rio

de Janeiro

Implantao da Universidade da Fora

Area para atualizao dos oficiais,

utilizando programa de educao a

distncia.

AERONUTICA

Produzido e criado pela Fundao Roque-

Pinto destinado a formao de professores

com utilizao de multimeios;

Criou a Coordenadoria Nacional de EAD,

junto ao MEC

Programa Um salto para o Futuro

Programa concebido e produzido pelo MEC,

tem como objetivo a valorizao dos

professores da rede pblica e a melhoria da

qualidade do ensino

TV Escola

Fonte: Elaborada pela autora, a partir de Saraiva ( 1996)

Os programas Um salto para o Futuro e o TV Escola merecem destaque

enquanto marcos referenciais da histria da educao a distncia. A partir das experincias

35

desses programas com EaD, observou-se uma unio de esforos, inclusive pelo governo federal,

para a implantao de aes no que diz respeito consolidao do ensino a distncia,

proporcionando, a partir disso, espaos para debates (Congressos, Seminrios) e novos olhares

para essa modalidade de ensino que passou a ser, especialmente a partir dos anos 90, uma

temtica indispensvel para discusso na agenda dos educadores. (Saraiva,1996).

O programa Um salto para o futuro, da Fundao Roque-Pinto, era utilizado para

o aperfeioamento da formao de professores, que atuavam em sries iniciais do Ensino

Fundamental, utilizando a tv, rdio, telefone para a interao com os alunos. Isso se tornou

possvel devido a sua estrutura ser por via satlite, que abria possibilidade aos alunos-

professores, reunidos num posto de atendimento, para tirar dvidas com a equipe de professores

especialistas presentes no estdio, ao vivo, usando telefone ou fax. Ao final de cada programa

expedido um boletim que tinha por objetivo aprofundar o que foi trabalhado no programa. Ele

avaliado nacionalmente desde 1991 e no ano de 1995 passou a integrar a grade da

programao da TV Escola.

Para a autora, a abrangncia nacional e o formato do programa Um Salto para o

Futuro que permitia a interatividade, atravs do uso de multimeios tecnolgicos, fez com que

o mesmo se tornasse um importante marco na histria da educao a distncia no Brasil,

contribuindo, dessa forma, para aes concretas de desenvolvimento da educao a distncia,

exemplos a citar: a criao da Coordenadoria Nacional de EaD, no MEC, e a criao de uma

Coordenadoria de Educao a Distncia vinculadas s secretarias Estaduais de Educao,

responsveis pela utilizao de programa de EaD; a Resoluo N 15, de 6 de junho de 1995,

que criou o programa de apoio tecnolgico s escolas do Ensino Fundamental e a Resoluo

n 26, que criou o Plano de Complementao e Expanso do Programa de Apoio Tecnolgico

Escola. Segundo a autora, o Salto para o futuro, conseguiu integrar aes junto a vrios

rgos, tornando-se dessa forma, um instrumento para as metas das polticas educacionais,

dentre algumas, a garantia da qualidade em educao. O programa contribuiu, tambm, para a

abertura de novas perspectivas para a educao a distncia, proporcionando aos professores o

conhecimento da realidade e solues diversas, superando a distncia atravs do uso

pedaggico das tecnologias de comunicao.

A TV Escola, atravs de um canal exclusivo para a educao, concebido pelo MEC,

tambm destina-se a contribuir com a formao de professores. Os programas so gravados

para posterior distribuio para alunos, professores e diretores do Brasil inteiro. So trs horas

de programao, sendo reprisadas quatro vezes ao dia, para oportunizar a gravao dos

36

programas pelas escolas. As sries didticas, paradidticas, documentrias, entre outras

produzidas, tm como finalidade a de complementar/aprofundar contedos pedaggicos.

Para fecharmos nosso olhar a respeito do panormico legal que se constituiu ao

longo da histria da EaD no Brasil sintetizamos, alguns marcos legais evidenciados nos anos

90:

Quadro 1 - Marcos legais da EaD nos anos 90

Protocolo de Cooperao n 1.237, de 6/9/94: criao de um Sistema Nacional da Educao

a Distncia;

Acordo de Cooperao Tcnica 4/93: para dar suporte cientfico e tcnico para a educao

bsica, utilizando os recursos da Educao a Distncia;

Convnio n 6/93 MEC/EMBRATEL: garantia da viabilizao do Ensino a Distncia;

Criao da Coordenadoria Nacional de EAD no MEC;

Criao pelo governo Federal, em 1995 de uma subsecretaria de Comunicao da Presidncia

da repblica responsvel pelo Programa Nacional de EAD;

Resoluo n 15 de 6 de junho de 1995: criao de Apoio Tecnolgico Escola;

Resoluo n 26 de 19 de maro de 1996: criou o Plano de Complementao e Expanso do

Programa Tecnolgico de Apoio Escola.

Fonte: Elaborada pela autora, a partir de Saraiva (1996)

Foi na virada do sculo XX para o sculo XXI que o mundo testemunhou uma

enorme necessidade de formao continuada e isso se constituiu num desafio para os sistemas

educacionais. nesse cenrio que a Educao a Distncia emerge com mais fora e alternativa

do futuro, utilizando os meios tecnolgicos para a interao e a superao das barreiras

ocasionadas pela distncia. De acordo ainda com Saraiva (1996) a EaD ao utilizar a tecnologia

da informao nos sistemas educacionais, promove maior oferta educativa a partir de seus

mtodos, muitas vezes inovadores, de aprendizagem. A EaD alcana, nesse cenrio, jovens e

adultos em seus locais de trabalho e domiclio, contribuindo em grande escala com aqueles que

necessitam conciliar trabalho com estudo. A ideologia circundante nesse cenrio que a EaD

contribuiria para a ampliao de oportunidades de acesso educao, cultura e ao

desenvolvimento pessoal e profissional.

Gomes 2005 (apud Aboud, 2008) analisa o que prope as geraes de Garrison

(correspondncia, telecomunicao, computador), Nipper (correspondncia, multimdia;

comunicao), Bates (correspondncia, multimdia com tutor; interao/comunicao).

37

A partir da prope um quadro caracterizando a trajetria das geraes da

modalidade de ensino em educao a distncia:

Quadro 2 Caractersticas principais das geraes da EaD

TIPO

1 GERAO

Ensino por

correspondncia

2

GERAO

Tele-ensino

3 GERAO

Multimdia

4 GERAO

Aprendizagem em

rede

CRONOLOGIA 1833... 1970s 1980s 1994...

REPRESENTA

O DE CONTEDO Monomdia

Mltipla

mdias

Multimda

interativo

Multimdia

Colaborativo

COMUNICAO

PROFESSOR-

ALUNO

Muito rara Pouco

frequente Frequente Muito Frequente

COMUNICAO

ALUNO- ALUNO Inexistente Inexistente

Existente mas

pouco

significativa

Existente e

significativa

MODALIDADES

DE

COMUNICAO

DISPONVEIS

Assncrona com

elevado tempo

de retorno

Sncrona,

fortemente

defasada no

tempo e

transitiva

Assncrona com

pequena

defasagem

temporal e

sncrona de

carter

permanente

Assncrona

individual ou de

grupo, pequena

defasagem e

sncrona de

carter

permanente

TECNOLOGIAS

DE SUPORTE Correio postal Telefone

Telefone e

correio

eletrnico

Correio eletrnico

e conferncia por

computador Fonte: Gomes, 2005. Por uma Educao Sem Distncia: recortes da realidade brasileira. Captulo I, pgina 17.

De acordo com Gomes (2005), a mudana entre uma gerao e outra aconteceu de

acordo com o contexto econmica e social e em diferentes locais no mundo, sendo que todas

elas contriburam significadamente para a consolidao da EaD.

Aboud 2008 discorre sobre o panorama terico da educao a distncia,

classificando-o em: Teoria da Industrializao de Peters, Teoria Transacional de Moore, Teoria

da Conversao Dirigida de Holmberg e Teoria da Comunicao e Controle de Garrison.

A teoria da industrializao de Otto Perters foi desenvolvida em 1970, contexto em

que a industrializao era regida pelos preceitos da Administrao Clssica: diviso do trabalho,

coordenao e controle:

Peters desenvolveu sua teoria no contexto da dcada de 1970, quando os princpios da

industrializao e os conceitos da Administrao Clssica estavam fortemente

difundidos e implementados nos sistemas produtivos, principalmente sobre a estrutura

organizacional- que entendida por SCOTT (1998) como a combinao de fatores da

diviso do trabalho (diferenciao, especializao, departamentalizao) e de

coordenao e controle (formalizao, centralizao, hierarquia, fluxo de

informao). (Aboud, 2008, p.20)

38

A educao a distncia, ento, adqua-se aos princpios industriais, utilizando

mtodos presentes no sistema capitalista industrial, tais como: diviso do trabalho,

planejamento, racionalizao, padronizao, controle de custos, resultados predeterminados.

Nesse panorama o objetivo primordial da educao a distncia alcanar o maior nmero de

pessoas, a um custo baixo e com qualidade. Ou seja, a educao a distncia utiliza o mtodo da

administrao cientfica: racionalizao e objetivos especficos para conseguir a mxima

produtividade. Pauta-se nesse cenrio, no ensino tradicional tecnicista, no rigor cientfico na

seleo de contedos considerados relevantes e na mxima aprendizagem dos alunos.

Uma das grandes vantagens do ensino a distncia foi realmente alcanar um grande

nmeros de pessoas a um custo baixo. No entanto, a grande crtica a essa modalidade de ensino,

de acordo com Aboud (2008), foi a padronizao dos cursos (contedos), fato que impediu o

surgimento de novas formas de aprendizagem. Alm disso, a falta de interao entre aluno e

professor (dilogo/estudo isolado) dificultavam o processo de ensino-aprendizagem. Segundo

Alves (2001), a nfase que Peters (1973, p.85) deu metodologia da Educao a Distncia deu

lugar a valorosas discusses quando ele afirmou que a Educao a Distncia uma forma

industrializada de ensinar e aprender.

De acordo com Aboud (2008), Perters ajusta a sua teoria ao ps-industrialismo,

adequando-a s inovaes tecnolgicas e s necessidades dos consumidores. Dessa forma, as

experincias e perspectivas dos alunos so postas em evidncia, o currculo passa a ter

autonomia e maior flexibilidade em funo das necessidades dos alunos.

A teoria transacional de Michael Moore tambm conhecida como Teoria da

Interao a Distncia: baseada na interao entre aluno/contedo, aluno/professor e

aluno/aluno. Moore considera a distncia entre alunos e professores um fenmeno

pedaggico e no apenas uma questo de distncia geogrfica. Nessa perspectiva, o dilogo

associado aos suportes tecnolgicos o centro da interao entre o professor e o aluno (Aboud,

2008). Em 1973, Moore enfatiza a necessidade da comunicao entre alunos e professores,

atravs de meios impressos, eletrnicos, mecnicos, etc. (Alves, 2011)

Os tipos de interao, segundo ainda essa teoria e de acordo com Aboud, (2008)

so: aluno/contedo, em que h pouco dilogo e muita estrutura; aluno/professor, em que h

mais dilogo e mdia estrutura e a interao aluno/aluno, onde h muito dilogo e pouca

estrutura. Segundo essa teoria, a distncia pode ocasionar no apenas barreiras geogrficas, mas

tambm barreiras psicolgicas que podem afetar a aprendizagem dos alunos, bem como a

interao entre os participantes. Nesse sentido os cursos devem ser pensados levando em

considerao no apenas os suportes tecnolgicos de informao e comunicao, mas tambm,

39

uma forma que vise superar as barreiras, inclusive psicolgicas, entre os participantes. Veja

abaixo:

Assim, um programa da EaD no simplesmente disponibilizar um curso presencial

com tecnologias de informao e comunicao, tem que ser pensado de forma especial

para superar as barreiras psicolgicas que afetam o comportamento dos participantes.

O objetivo dessa teoria diminuir a distncia entre professor e aluno por meio de

simulao. Por conseguinte, a combinao entre dilogo e estrutura do curso vai medir

a intensidade da interao a distncia. (Aboud,2011, p.22)

Quanto possibilidade de interao na educao na modalidade a distncia, Belloni

(2002), citado por Costa e Pinto (2008), afirma que interao a partir suportes das novas

tecnologias, no garante a formao de uma conscincia livre daquilo que produzido pelas

mdias. Nessa lgica necessrio que o professor esteja preparado para atuar nesse cenrio

complexo em que as tecnologias audiovisuais esto cada vez mais presentes.

Os suportes para a aprendizagem de acordo com a Teoria da Conversao dirigida

de Borje Holmberg advm algumas reas como gesto, didtica e grupos de avaliao. Nessa

teoria, a aprendizagem de suma importncia e h uma valorizao da interao e comunicao

como forma de superao da distncia entre professor e aluno. O dilogo e a autonomia so

dimenses que, associadas a outros elementos, com a exemplo da estruturao do currculo do

curso e dos elementos tecnolgicos, propiciam a interao entre os participantes. Kensey;

Dsouza, (2004), apud Aboud (2008), enumera os pressupostos da Teoria da Conversao

Dirigida em : 1) O sentimento de um relacionamento pessoal entre professor e aluno para

promover motivao e prazer no estudo; 2) Este sentimento pode ser fomentado por materiais

instrucionais bem desenvolvidos e comunicao bidirecional; 3) A motivao do estudo

importante para o alcance dos objetivos traados; 4) O clima de conversao amigvel favorece

o sentimento de relacionamento pessoal; 5) Comunicao dentro de uma conversao natural

facilmente compreendida e rememorvel; 6) O conceito de conversao pode ser traduzido com

sucesso para uso de mdias disponveis para alunos distantes; e 7) planejamento e

direcionamento do currculo so necessrios para a organizar o estudo a distncia. Alves (2001)

menciona que o conceito de Holmberg evidencia a diversidade das formas de estudo,

identificando que nessa diversidade de estudo, os tutores nem sempre supervisionam seus

alunos, fato que abre espao para a necessidade de planejamento, direo e instruo da

organizao do ensino.

De acordo com a Teoria da Comunicao e controle de Randy Garisson, a

comunicao contnua entre os participantes da educao a distncia pressuposto para que

haja qualidade de ensino. No havendo isso, o ensino pode constituir-se com as mesmas

40

caractersticas do ensino por correspondncia em que o estudante torna-se autnomo e isolado

e, finalmente, abandona o curso (Aboud,2008 p. 24). Nesse sentido, a educao a distncia

aponta para a importncia da estrutura do curso para o acompanhamento do aluno a partir de

dilogos bidirecionais, tendo em vista a qualidade do ensino-aprendizagem. Hiemstra (1994),

citado por Aboud (2008), afirma que de acordo com Garrison h critrios para caracterizao

da educao a distncia: interao no contnua entre aluno e professor; comunicao

bidirecional entre professor e alunos e o uso de tecnologia para mediar a comunicao. Segundo

Aboud 2008, nessa teoria da comunicao e controle h um resgate do conceito de proficincia

na perspectiva da construo de significados pelos alunos necessrios para a persistncia na

aprendizagem. Moore (2007), citado por Aboud (2008), afirma que Garrison define seis tipos

de interao, que colaboraram para a aprendizagem: aluno/contedo; aluno/professor;

aluno/aluno; professor/professor; professor/contedo e contedo/contedo.

Aboud (2008), a partir das definies de educao a distncia de Peters, Moore,

Holmberg e Garrison, identifica os princpios gerais dessa modalidade de ensino. a partir dos

avanos tecnolgicos da sociedade que a Educao a Distncia vai se constituindo como um

meio de adaptao dos sujeitos s variadas demandas, inclusive de mercado, que vo surgindo

e ao mesmo tempo exigindo perfis que se adequem a essa nova configurao da sociedade.

Segundo essa autora, a EaD se constitui no cenrio do desenvolvimento tecnolgico da

sociedade como um meio de acessibilidade educao, sendo ligada ao princpio da igualdade

de acesso, de planejamento e organizao, mediao tecnolgica, da interao e da adaptao

ao contexto social do aluno. nessa lgica que h a necessidade do desenvolvimento de

suportes tecnolgicos que faam a mediao e o controle da interao/comunicao entre os

sujeitos participantes do processo de ensino-aprendizagem. O princpio da adaptao ao

contexto social do aluno, embora no perceptvel facilmente nas definies de EaD,

considerado muito importante, pois segundo Aboud (2008) ligado no somente ao meio onde

o aluno vive, mas tambm, s necessidades individuais deles, sejam pelas preferncias

profissionais ou por questes de valores, perspectivas. Peters (1967) citado por Aboud (2008)

considerou a adaptao ao contexto social fundamental para a definio da estrutura dos cursos

em EAD. A autora utiliza Paulo Freire (1996) em defesa da necessidade da adaptao do aluno

ao contexto social e Paulo Freire (1996) complementa o entendimento ao afirmar que para

ensinar preciso considerar os saberes dos estudantes, suas experincias e respeitar sua

identidade cultural (Aboud, 2008, p.25).

41

fato que as primeiras propostas da EaD so explicitamente ligadas

democratizao do conhecimento, aos princpios de acessibilidade, uma vez que tende a

ofertar/disponibilizar conhecimento para as diferentes pessoas em lugares, espaos e em tempos

diferentes (Aboud,2008). As expresses tempo e espao so comumente encontradas nas

definies da Educao a Distncia e so relacionadas a segunda proposta da EaD: superao

da distncia temporal e espacial. Os princpios que se relacionam com a democratizao do

conhecimento e com a superao da distncia temporal e espacial a interao e a comunicao

bidirecional. A comunicao ao ser estabelecida juntamente com as interaes entre alunos e

professores e contedos podem tambm estabelecer um elo de aproximao entre os sujeitos

do processo de ensino-aprendizagem na modalidade do ensino a distncia.

Para Aboud (2008), o ensino a distncia malevel, sendo a adaptao s

necessidades instrucionais da sociedade, a terceira proposio. A estrutura dos cursos auxiliada

pela organizao e planejamento estruturada tendo em vista a adaptao das necessidades dos

diferentes contextos sociais. Peters (2001), citado por Aboud (2008), afirma que temos

necessidade permanente de educao, inclusive de formao complementar, cabendo a

Educao a Distncia adaptar-se a essas necessidades, atendendo nossas expectativas. Para a

autora, as proposies de aprendizagem colaborativa e a promoo de autoaprendizagem

utilizam o princpio da interao, da mediao tecnolgica e da comunicao bidirecional.

Mendona (2007), apud Aboud (2080), destaca a necessidade de o aluno ir alm do aprender e

contribuir para aprendizagem do grupo. E a autoaprendizagem relacionada s questes de

autonomia requer comunicao bidirecional, fato que possibilita o dilogo entre os sujeitos

envolvidos no processo.

De acordo com Aboud (2008), a Educao a Distncia tem reconhecimento na rea

social, uma vez que tem como princpio a incluso e a democratizao do conhecimento com

sua metodologia integradora e inclusiva. Sua consolidao relacionada aos diferentes modelos

de aprendizagem, tendo carter flexvel adaptada s inovaes tecnolgicas sem, no entanto,

perder a essncia de suas caractersticas. Ainda de acordo com a autora consenso entre tericos

que a educao a distncia tende a tornar-se uma convergncia entre o presencial e o virtual

(modalidade a distncia e o ensino presencial), perspectiva em que haver flexibilidade do

currculo no sentido de o conhecimento realmente chegar a todos, independentemente da

modalidade, tempo e espao onde acontecer. Assim, ela realmente contribuir para o

desenvolvimento social. Nessa mesma perspectiva da EaD como modalidade de incluso e

democratizao do conhecimento, Alves (2008) concebe esta modalidade de ensino como

42

crescente no mundo todo e como fundamental na promoo de novas oportunidades

educacionais.

2.2. A EAD NO CONTEXTO DO CAPITALISMO CONTEMPORNEO

A crise econmica nas dcadas de 70 e 80 teve como consequncias o desemprego,

alm da diminuio dos gastos nas reas sociais, especialmente na sade e na educao.

Atualmente a crise econmica ainda se faz presente tanto nos pases perifricos como naqueles

considerados de primeiro mundo (PRETI, 2009). Sobre esse aspecto, Gentilli e Frigotto (2001)

mencionam que nos anos 70, como resposta crise do capitalismo, ocorrem diversas

transformaes nos meios de produo a