UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ FACULDADE DE …§ão.pdf · mieloproliferativos e...

94
UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ FACULDADE DE VETERINÁRIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS VETERINÁRIAS MESTRADO ACADÊMICO DE CIÊNCIAS VETERINÁRIAS TALLES MONTE DE ALMEIDA ALTERAÇÕES CITOLÓGICAS DA MEDULA ÓSSEA E SANGUE PERIFÉRICO DE GATOS (Felis catus) ANÊMICOS NATURALMENTE INFECTADOS PELO VÍRUS DA LEUCEMIA FELINA FORTALEZA CEARÁ 2017

Transcript of UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ FACULDADE DE …§ão.pdf · mieloproliferativos e...

Page 1: UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ FACULDADE DE …§ão.pdf · mieloproliferativos e diseritropoieses. Assim, em gatos anêmicos com sinais clínicos, os referidos exames hematológicos

UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ

FACULDADE DE VETERINÁRIA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS VETERINÁRIAS

MESTRADO ACADÊMICO DE CIÊNCIAS VETERINÁRIAS

TALLES MONTE DE ALMEIDA

ALTERAÇÕES CITOLÓGICAS DA MEDULA ÓSSEA E SANGUE

PERIFÉRICO DE GATOS (Felis catus) ANÊMICOS NATURALMENTE

INFECTADOS PELO VÍRUS DA LEUCEMIA FELINA

FORTALEZA – CEARÁ

2017

Page 2: UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ FACULDADE DE …§ão.pdf · mieloproliferativos e diseritropoieses. Assim, em gatos anêmicos com sinais clínicos, os referidos exames hematológicos

TALLES MONTE DE ALMEIDA

Alterações citológicas da medula óssea e sangue periférico de gatos (Felis catus)

anêmicos naturalmente infectados pelo vírus da leucemia felina

FORTALEZA – CEARÁ

2017

Dissertação apresentada ao Curso de

Mestrado Acadêmico em Ciências

Veterinárias do Programa de Pós-Graduação

em Ciências Veterinárias da Faculdade de

Veterinária da Universidade Estadual do

Ceará, como requisito parcial à obtenção do

título de mestre em Ciências Veterinárias.

Área de Concentração: Reprodução e

Sanidade Animal.

Orientador: Profa. Dra. Ana Paula Ribeiro

Rodrigues.

Page 3: UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ FACULDADE DE …§ão.pdf · mieloproliferativos e diseritropoieses. Assim, em gatos anêmicos com sinais clínicos, os referidos exames hematológicos
Page 4: UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ FACULDADE DE …§ão.pdf · mieloproliferativos e diseritropoieses. Assim, em gatos anêmicos com sinais clínicos, os referidos exames hematológicos
Page 5: UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ FACULDADE DE …§ão.pdf · mieloproliferativos e diseritropoieses. Assim, em gatos anêmicos com sinais clínicos, os referidos exames hematológicos

AGRADECIMENTOS

A Deus, pela iluminação constante, força diária e livramentos concedidos. O Grande

Mestre amoroso que nos reergue nas batalhas de cada dia. O responsável por todo o

transcorrer dos fatos de nossas vidas e guia supremo nos passos executados, inclusive

nas escolhas da medicina veterinária e a área de patologia clínica que norteiam o meu

profissionalismo.

Aos meus pais por tudo e mais um pouco. Os responsáveis pela minha moldura como

pessoa e pelos valores de caráter transmitidos. Grato eternamente por todo o amor

incondicional e paixão imensurável. Os pais são uma obra divina. Eu vos amo.

Ao meu irmão Talyson pela convivência e contribuição mais do que marcada no

caminhar da vida. Lembranças que remetem a tenra infância e que se multiplicam com o

caminhar dos nossos passos, sendo você o amigo mais antigo e persistente de todos.

As vovós Climene e Teresa e ao vovô Elias. Aos tios e tias Flávio, Beth, Roberto,

Gláucia, Willians, Delane, Araken, Ângela, Deco, Conceição, Ivanete, Luiz, Ieuda,

Ivanildo, Ribamar, Kátia, Vilma, Fidalgo. Aos primos Anderson, Douglas, Jefferson,

Gleiciane, Beatriz, Roberta, Matheus, Daniel. Expressando esses o amor familiar.

A minha namorada Belle, por todo o amor, companheirismo e ajuda fornecidos

integralmente e naturalmente nesses quatro anos. Uma pessoa indescritivelmente

especial para mim.

Aos amigos e amigas que margeiam todo o curso das nossas vidas, desde a infância em

Natal; a vida, a faculdade, o mestrado e os primeiros passos em Fortaleza; a residência

em Patos e a atual vida profissional em Garanhuns. A verdadeira amizade é algo único e

especial, uma das relações mais completas que podemos usufruir (Jefferson, Sávio,

Eveliny, Rodrigo, Ismael, Dudu, Henrique, Maiara Pinheiro, Claudinha, Henrique,

Cacá, Carlos, Ríbrio, Alê, Karlly, Suely, Ray, Victor Hugo, Dra. Iana, Marília, Bárbara

Uchôa, Bárbara Leal, Samuel, Henrique, Wanamarck, Rose, Ívila, Fábio, Dr. Rinaldo,

Dr. Rodrigo, Dr. Breno, Dr. Rômulo, Aldísio, Professor Almir, Elis, Nilson, Léo,

Renato, Bruno de Três Lagoas, Fabão, Erika da UFRN, Gustavo Pontes...).

À minha cadelinha Branca pelo amor e momentos de distração que sempre proporciona,

expositora da aguçada sensibilidade canina. Companheira fiel que nesses seus 12 anos

de vida nos ensina ainda que as pequenas coisas são o que importa.

Page 6: UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ FACULDADE DE …§ão.pdf · mieloproliferativos e diseritropoieses. Assim, em gatos anêmicos com sinais clínicos, os referidos exames hematológicos

A Universidade Estadual do Ceará e aos funcionários e professores da FAVET e do

PPGCV pelo espaço físico e pelo tempo dedicado ao meu aprendizado.

A Universidade Federal de Campina Grande/Campus de Patos e a Universidade Federal

Rural de Pernambuco/UAG pela complementação profissional e pessoal, além das

oportunidades fornecidas para o prosseguimento da minha atuação como médico

veterinário.

Ao professor Fernando Vaz pela imensa consideração, ajuda e amizade prestados. Uma

pessoa de um caráter impecável.

A minha orientadora professora Ana Paula pela disponibilidade e prontidão em aceitar o

desafio desse trabalho, permitindo os seus passos iniciais e efetivação da minha

matrícula no mestrado acadêmico.

Ao meu amigo Prof. Dr. Isaac Neto por toda dedicação, ajuda e importância na

iniciação e continuidade do meu aprendizado na veterinária. Por todo o carinho que

sempre demonstrou por mim, sendo ele uma pessoa realmente singular com uma

bondade exuberante.

Ao Dr. Reginaldo por toda a associação prestada, confiança pelo trabalho e

fornecimento de todas as bases necessárias para o desenvolvimento da pesquisa. É um

profissional de referência e gabarito incontestável.

Aos Laboratórios de Patologia Clínica Veterinária da UECE, UFCG e UFRPE por me

permitirem o desenvolvimento e suporte para minha formação técnica.

Aos doutores Daniel, Nina e Paulo por terem aceitado participar da banca de

dissertação, contribuindo para a melhoria e consolidação dessa pesquisa.

Extremamente grato a todos!

Deus abençoe a cada um.

Page 7: UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ FACULDADE DE …§ão.pdf · mieloproliferativos e diseritropoieses. Assim, em gatos anêmicos com sinais clínicos, os referidos exames hematológicos

“Ainda que eu andasse pelo vale da

sombra da morte, não temeria mal

algum, porque tu estás comigo...”

Salmo 23:4

Page 8: UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ FACULDADE DE …§ão.pdf · mieloproliferativos e diseritropoieses. Assim, em gatos anêmicos com sinais clínicos, os referidos exames hematológicos

RESUMO

O Vírus da Leucemia Felina (FeLV) é um dos agentes mais patogênicos nessa espécie,

correlacionando-se estreitamente com o tecido sanguíneo, já que afeta de maneira direta

órgãos hematopoiéticos e linfóides, gerando anemia, pancitopenia, síndromes

mielodisplásicas e neoplasias. Sabe-se que a patologia clínica é o estudo das

enfermidades no ambiente clínico, utilizando para isso os exames laboratoriais. Dessa

forma, a hematologia clínica apresenta-se como uma importante ferramenta diária de

auxílio diagnóstico, constituída por exames como o mielograma, hemograma completo

e contagem de reticulócitos. Infelizmente, na abordagem clínico-laboratorial do FeLV,

estudos hematológicos completos, incluindo citomorfologia de medula óssea e sangue

periférico são escassos atualmente na literatura. Nesse sentido, o presente trabalho teve

por objetivo avaliar as alterações citológicas da medula óssea e sangue periférico de

gatos anêmicos naturalmente infectados pelo FeLV, correlacionando-as a presença do

agente infeccioso, caracterizando seus impactos hematopatológicos. Em vista disso,

foram acompanhadas consultas clínicas de pacientes felinos, no qual, ao final, foram

inclusos no estudo e distribuídos em três grupos, representados por animais retrovírus

negativos e anêmicos positivos. O diagnóstico foi realizado por técnica

imunocromatográfica de Ensaio de Imunoabsorção Enzimática (ELISA), além de

Imunofluorescência Indireta (IFA) para antígeno p27 do envelope viral. Para tanto,

foram conduzidos exames sanguíneos periféricos e mielograma simultaneamente, com

os dados gerados analisados por estatística descritiva e análise de componentes

principais, considerando coeficiente de correlação > 0,65 ou < -0,65, com posterior

representação em gráfico de dispersão. Em vista do exposto, evidenciou-se que gatos

FeLV positivos têm mais chances de desenvolver citopenias, mais especificamente em

valores de massa eritrocitária, concentração de neutrófilos e seus precursores, além da

contagem plaquetária. Além disso, são animais propensos a distúrbios

mieloproliferativos e diseritropoieses. Assim, em gatos anêmicos com sinais clínicos, os

referidos exames hematológicos associados, podem predizer possíveis pacientes

infectados pelo FeLV, direcionando de modo mais crítico e seletivo testes diagnósticos

conclusivos, oferecendo melhores auxílios terapêuticos e prognósticos.

Palavras chaves: Gatos. FeLV. Hematologia clínica. Hemograma. Mielograma.

Page 9: UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ FACULDADE DE …§ão.pdf · mieloproliferativos e diseritropoieses. Assim, em gatos anêmicos com sinais clínicos, os referidos exames hematológicos

ABSTRACT

Feline leukemia virus (FeLV) is one of the most pathogenic agents in this species,

closely correlating with blood tissue. This virus affects hematopoietic and lymphoid

organs, generating anemia, pancytopenia, myelodysplastic syndromes and neoplasms.

Clinical pathology is the study of the diseases in the clinical environment, using for this

the laboratory exams. Clinical hematology presents an important daily diagnostic tool,

consisting of bone marrow evaluation, complete blood count and reticulocyte count.

Unfortunately, in the clinical pathology of FeLV complete hematological studies

including cytomorphology of bone marrow and peripheral blood are few in the

literature. The present study aimed to evaluate the cytological alterations of the bone

marrow and peripheral blood of anemic cats naturally infected by FeLV, correlating

them with the presence of the infectious agent characterizing its hematopathological

disorders. Specialized clinical consultations of cats were followed and the patients

included in the study were divided into three groups, represented by retrovirus negative

animals and positive anemic patients. The diagnosis was made by Enzyme

Immunoassay (ELISA) and Indirect Immunofluorescence (IFA) for p27 antigen of viral

envelope. Peripheral blood tests and bone marrow evaluation were performed at the

same time, with the data generated analyzed by descriptive statistics and analysis of

main components considering a correlation coefficient> 0.65 or <-0.65 with a graphical

representation of dispersal. The FeLV-positive cats are more likely to develop

cytopenias in erythroid series, neutrophil concentration and platelet count. These

animals may have myeloproliferative disorders and dyseritropoieses. Thus, anemic cats

with clinical signs associated with hematological exams can predict FeLV-infected

patients, directing a more critical and selective conclusive diagnostic tests offering

better therapeutic and prognostic approach.

Keywords: Cats. FeLV. Clinical hematology. Blood count. Bone marrow evaluation.

Page 10: UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ FACULDADE DE …§ão.pdf · mieloproliferativos e diseritropoieses. Assim, em gatos anêmicos com sinais clínicos, os referidos exames hematológicos

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Corte transversal do canal medular em osso

longo...................................................................................................................

Figura 2 – Precursores hematopoiéticos com destaque para as origens

primárias mieloide e linfoide.............................................................................

Figura 3 – Citoarquitetura medular de felino, evidenciando-se

precursores granulocíticos neutrofílicos (exemplificados nas setas)

(Panótico Rápido, 1000x)...................................................................................

Figura 4 – Dois megacariócitos em destaque, correspondentes às células

de grande volume, citoplasma basofílico granular e multinucleação em

morfologia lobular (Panótico Rápido, 1000x)..................................................

Figura 5 – Plasmócitos em medula óssea de felino (setas) (Panótico

Rápido, 1000x).....................................................................................................

Figura 6 – Macrófago contendo leucofagocitose (seta) (Panótico Rápido,

1000x)...................................................................................................................

Figura 7 – Obtenção de material medular para mielograma. Após a

colheita, esse é depositado em placa de Petri para evidenciação das

unidades morfofuncionais correspondentes as espículas hematopiéticas

(setas)...................................................................................................................

CAPÍTULO 1

Figura 1 - Amostras medulares felinas do Grupo

3............................................................................................................................

Figura 2 - Gráfico de dispersão da componente 1 com a componente 2

considerando apenas as variáveis fortemente correlacionadas. Destaque

para a evidente separação entre os dois grupos, quando se considera a

primeira componente. A linha tracejada representa o ponto de corte de

18

33

24

23

21

19

20

63

Page 11: UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ FACULDADE DE …§ão.pdf · mieloproliferativos e diseritropoieses. Assim, em gatos anêmicos com sinais clínicos, os referidos exames hematológicos

−0,75 (média entre o valor mais alto do Grupo 1 e o valor mais baixo do

Grupo 3), determinando-se que um valor maior que o referido está

altamente associado aos animais anêmicos

infectados...........................................................................................................

CAPÍTULO 2

Figura 1. Amostras de medula óssea com linfoma

leucemizado.........................................................................................................

Figura 2. Amostra citológica renal, evidenciando população linfoblástica

em monotonia, com acentuada fragilidade celular demonstrada pela

presença de “núcleos nus” (setas) (obj. 40x, Panótico Rápido -

LABORCLIN®)..................................................................................................

67

75

76

Page 12: UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ FACULDADE DE …§ão.pdf · mieloproliferativos e diseritropoieses. Assim, em gatos anêmicos com sinais clínicos, os referidos exames hematológicos

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Precursores hematopoiéticos com correspondente descrição

citológica.............................................................................................................

Tabela 2 – Subclassificações das leucemias mieloides e linfoides agudas e

crônicas...............................................................................................................

CAPÍTULO 1

Tabela 1- Grupos com os respectivos pacientes, relacionados com os testes

diagnósticos realizados, para confirmação da infecção pelo

FeLV....................................................................................................................

Tabela 2 - Variáveis que possuem correlação forte com a componente 1,

demonstrando os parâmetros com diferença estatística entre os Grupos 1

e 3.........................................................................................................................

CAPÍTULO 2

Tabela 1. Resultados dos hemogramas seriados de felino com linfoma

leucemizado........................................................................................................

22

30

65

66

74

Page 13: UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ FACULDADE DE …§ão.pdf · mieloproliferativos e diseritropoieses. Assim, em gatos anêmicos com sinais clínicos, os referidos exames hematológicos

LISTA DE ABREVIATURAS

AHIM

CEUA

DNA

EDTA

ELISA

FeLV

FIV

G

Anemia Hemolítica Imunomediada

Comissão de Ética para o Uso de Animais

Ácido desoxirribonucléico

Ácido Etilenodiaminotetracético

Ensaio de Imunoabsorção Enzimática

Vírus da Leucemia Felina

Vírus da Imunodeficiência Felina

Galge

GM-CSF

Hb

Ht

IFA

LPCV

mg/dL

mg/kg

obj.

PCR

PPT

RNA

SMDs

TIM

UFCG

VCM

Fator Estimulante de Colônia de Granulócitos e Monócitos

Concentração de hemoglobina

Hematócrito

Imunofluorescência Indireta

Laboratório de Patologia Clínica Veterinária

Miligrama por decilitro

Miligrama por quilograma

Objetiva

Reação em Cadeia da Polimerase

Proteínas Plasmáticas Totais

Ácido Ribonucléico

Síndromes Mielodisplásicas

Trombocitopenia Imunomediada

Universidade Federal de Campina Grande

Volume Corpuscular Médio

Page 14: UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ FACULDADE DE …§ão.pdf · mieloproliferativos e diseritropoieses. Assim, em gatos anêmicos com sinais clínicos, os referidos exames hematológicos

SU M Á R I O

1 INTRODUÇÃO.................................................................................. 16

2 REVISÃO DE LITERATURA......................................................... 17

2.1 TECIDO SANGUÍNEO E SISTEMA HEMATOPOIÉTICO

MEDULAR FELINO...........................................................................

17

2.1.1 A medula óssea e seu arcabouço tecidual............................................ 17

2.1.2. Série eritroide....................................................................................... 19

2.1.3. Série granulocítica................................................................................ 20

2.1.4. Séries megacariocítica, monocítica e linfocítica.................................. 20

2.1.5 Células não hematopiéticas.................................................................. 23

2.2 HEMATOPATOLOGIA DA MEDULA ÓSSEA FELINA................ 24

2.2.1 Hiperplasia medular............................................................................. 24

2.2.2 Hipoplasia/aplasia medular.................................................................. 26

2.2.3 Outros processos.................................................................................. 26

2.2.4 Síndromes Mielodisplásicas (SMDs)................................................... 27

2.2.5 Neoplasias............................................................................................ 28

2.3 EXAMES HEMATOLÓGICOS NO PACIENTE FELINO................ 31

2.3.1 Hemograma e contagem de reticulócitos............................................. 31

2.3.2 Mielograma.......................................................................................... 31

2.4 ASPECTOS RELACIONADOS AO VÍRUS DA LEUCEMIA

FELINA (FeLV)...................................................................................

34

2.4.1 Agente etiológico................................................................................. 34

2.4.2 Sinais clínicos....................................................................................... 35

2.4.3 Imunologia e patologia clínica............................................................. 35

2.4.4 Diagnóstico........................................................................................... 36

3 JUSTIFICATIVA............................................................................... 38

4 HIPÓTESE CIENTÍFICA................................................................ 39

5 OBJETIVOS....................................................................................... 40

5.1. Geral..................................................................................................... 40

5.2 Específicos........................................................................................... 40

6 CAPÍTULO 1...................................................................................... 41

7 CAPÍTULO 2...................................................................................... 68

Page 15: UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ FACULDADE DE …§ão.pdf · mieloproliferativos e diseritropoieses. Assim, em gatos anêmicos com sinais clínicos, os referidos exames hematológicos

8 CONCLUSÕES.................................................................................. 80

9 PERSPECTIVAS............................................................................... 81

10 REFERÊNCIAS................................................................................. 82

11 APÊNDICE......................................................................................... 90

12 ANEXO............................................................................................... 93

Page 16: UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ FACULDADE DE …§ão.pdf · mieloproliferativos e diseritropoieses. Assim, em gatos anêmicos com sinais clínicos, os referidos exames hematológicos

16

1. INTRODUÇÃO

O Vírus da Leucemia Felina (FeLV) é um dos agentes mais patogênicos nessa

espécie, correlacionando-se estreitamente com o tecido sanguíneo, já que afeta de

maneira direta órgãos hematopoiéticos e linfoides (HARTMANN, 2012). Usar a

hematologia como ferramenta diagnóstica torna-se indispensável ao exercício da prática

clínica médico-veterinária (STOCKHAM; SCOTT, 2011). Desse modo, alterações

hematológicas quantitativas e citomorfológicas, adequadamente caracterizadas,

relacionadas ao histórico e sinais clínicos, poderiam predizer e caracterizar de modo

seguro e acessível, possíveis infecções por retrovírus, já que o FeLV pode gerar

distúrbios que ocasionam deficiência hematopoiética, refletindo em quadros de anemias

arregenerativas e regenerativas; bicitopenias e pancitopenias; hipoplasias e aplasias

medulares; síndromes mielodisplásicas (SMDs) e neoplasias, principalmente linfoides e

leucêmicas (STÜTZER et al., 2011; SOUTHARD et al., 2016; SWANN et al., 2016).

Considerando o caráter fluido e semi-sólido do tecido sanguíneo e do sistema

hematopoiético medular, os exames hematoscópicos periféricos em conjunto com a

citologia de medula óssea, corroboram de modo prático e efetivo para uma correta

análise e direcionamento inicial das alterações virais nesses tecidos-alvo (HARVEY,

2001). As análises medulares associadas às informações de sangue periférico ampliam

de modo significativo a abordagem diagnóstica dos pacientes FeLV-positivos, por

explorar etiologicamente os distúrbios hematopatológicos (FIGHERA, 2014). Contudo,

a frequência de realização de exames como o mielograma e a sua meticulosa

interpretação ainda são relativamente escassas quando comparados com outras espécies,

como a canina (BYERS, 2017).

Salienta-se que melhorias profiláticas contribuíram para um decréscimo na

prevalência de infecções pelo FeLV a partir dos anos 1990, tornando-se mais difícil a

geração de informações do tema, apesar da importância clínica desse agente continuar

em foco na prática médica felina (MEICHNER; BOMHARD, 2014).

Dessa maneira, as corretas caracterizações das alterações hematológicas, em

consonância com os dados clínicos, funcionam como ferramentas de incitação para a

utilização das técnicas hematológicas descritas em casos de FeLV, dado o ganho de

informações geradas para entendimento da fisiopatologia da infecção. Destaca-se ainda

que é imprescindível a necessidade de profissionais especializados e habilitados para a

realização dos exames citados, objetivando a maior complexidade e abordagem dos

Page 17: UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ FACULDADE DE …§ão.pdf · mieloproliferativos e diseritropoieses. Assim, em gatos anêmicos com sinais clínicos, os referidos exames hematológicos

17

mesmos, tendo a disposição fontes de pesquisas prévias que auxiliem nas abordagens

analíticas e interpretativas dos casos.

2. REVISÃO DE LITERATURA

2.1 TECIDO SANGUÍNEO E SISTEMA HEMATOPOIÉTICO MEDULAR FELINO

O sangue é um tecido fluido constituído por uma parte sólida, composta por

estruturas celulares e plaquetas, além de uma parcela líquida, denominada de plasma,

formada por sólidos orgânicos e inorgânicos (LOPES et al., 2007).

O tecido sanguíneo desempenha diversas funções metabólicas e homeostáticas,

tais como transporte de oxigênio, eletrólitos, hormônios e proteínas; nutrição tecidual;

remoção de catabólitos; ações imunológicas e hemostáticas, interagindo, desse modo,

com todos os sítios orgânicos de um indivíduo (STEPHENSON, 2004).

Nesse contexto, correlaciona-se o sistema hematopoiético-lítico, na qual a

medula óssea mantém estreita relação funcional e morfológica com órgãos como o baço,

linfonodos, fígado, rins, tecido ósseo, através da intercomunicação realizada pelo

sistema cardiovascular pela circulação periférica e por complexos mecanismos

regulatórios de bases endócrinas, moleculares e celulares (KAUR et al., 2017).

Destaca-se que a relação existente entre medula óssea e circulação periférica é

dinâmica, contínua e indissociável (TAICHMAN, 2005), promovida por um

microambiente bioquímico e de fatores de crescimento inter-relacionados, no qual as

células progenitoras hematopoiéticas possuem uma destacada função na modulação

dessa homeostasia (SÁNCHEZ-AGUILERA; MÉNDEZ-FERRER, 2017).

2.1.1 A medula óssea e seu arcabouço tecidual

A medula óssea corresponde ao maior e mais importante órgão hematopoiético

nos animais adultos, sendo também um órgão linfoide primário (HARVEY, 2001; LIN;

OUYANG; KANEKAR, 2016). É constituída por tecidos hematopoiético, adiposo e de

sustentação, com a interação desses componentes em um complexo microambiente

multicelular (KAUR et al., 2017; SÁNCHEZ-AGUILERA; MÉNDEZ-FERRER, 2017).

É encontrada, em animais adultos, no interior de ossos do esqueleto axial, tais como

crista ilíaca, manúbrio esternal, costelas e vértebras; bem como nas extremidades de

ossos longos como o úmero e fêmur (STOCKHAM; SCOTT, 2011).

Page 18: UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ FACULDADE DE …§ão.pdf · mieloproliferativos e diseritropoieses. Assim, em gatos anêmicos com sinais clínicos, os referidos exames hematológicos

18

O espaço medular é revestido pela cortical óssea e é alimentado pelos sinusóides

medulares que convergem para uma veia central, no qual espaços trabeculares

invaginam para o tecido hematopoiético, fornecendo suporte mecânico e metabólico

(figura 1) (SHARKEY; HILL, 2010). No interior do espaço da medula óssea ativa,

encontra-se uma matriz extracelular constituída por um estroma de reticulina, laminina,

fibronectina e colágenos tipo I e II, com funções de sustentação e suporte bioquímico

(SHIOZAWA et al., 2008; RASKIN; MESSICK, 2012). Nesse cenário, diferenciam-se

as medulas amarela e vermelha.

Figura 1 – Corte transversal do canal medular em osso longo.

Fonte: SHARKEY; HILL (2010) adaptado.

A medula óssea amarela é composta por adipócitos e pode representar de 25 –

75% da medula, dependendo da idade do animal, isto é, animais mais idosos possuem

proporções maiores desse componente e mais jovens quantidades inferiores (THRALL

et al., 2007). Os adipócitos possuem importância na manutenção do microambiente

medular, constituindo, inclusive, um tecido metabolicamente distinto (HARDOUIN et

al., 2016), com indícios de que a partir desses são derivadas células capazes de atuar na

diferenciação de tecido hematopoiético in vitro, bem como produzirem adipocinas que

atuam inclusive em respostas imunes (CAR, 2010).

A medula óssea vermelha consiste na medula ativa produtora das células

sanguíneas (REAGAN et al., 2011). É composta pelos diversos precursores

hematopoiéticos (figura 2), abrangidos em compartimentos de proliferação e maturação,

Page 19: UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ FACULDADE DE …§ão.pdf · mieloproliferativos e diseritropoieses. Assim, em gatos anêmicos com sinais clínicos, os referidos exames hematológicos

19

correspondentes às espículas medulares (HARVEY, 2001). Compreende as séries

eritroide, granulocítica, monocítica, linfoide, megacariocítica, além de componentes

celulares não hematopoiéticos.

Figura 2 – Precursores hematopoiéticos com destaque para as origens primárias

mieloide e linfoide.

Fonte: https://www.studyblue.com/notes/note/n/normal-hematopoiesis/deck/11714026 adaptado.

2.1.2 Série eritroide

A citomorfologia do componente eritroide em felinos é similar ao de outras

espécies domésticas relatadas (tabela 1). O precursor mais imaturo reconhecível na

medula óssea é o rubriblasto, maturando e gerando os estágios seguintes de pró-

rubricito, rubrícito basofílico, rubrícito policromatofílico, rubrícito ortocromático,

metarrubrícito, reticulócito e, por fim, a hemácia madura (RIZZI; CLINKENBEARD;

MEINKOTH, 2010).

O núcleo permanece até a fase de metarrubrícito, sendo o potencial proliferativo

verificado até rubrícito basofílico, por vezes, ainda presente no rubrícito

policromatofílico (GRINDEM; TYLER; COWELL, 2009). O componente eritroide

nucleado corresponde aproximadamente de 11 a 42% de todas as células contabilizadas

no mielograma felino (HARVEY, 2001).

Page 20: UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ FACULDADE DE …§ão.pdf · mieloproliferativos e diseritropoieses. Assim, em gatos anêmicos com sinais clínicos, os referidos exames hematológicos

20

2.1.3 Série granulocítica

Os aspectos citológicos das linhagens granulocíticas também são coincidentes

em relação a outras espécies (tabela 1). A ordem de maturação da célula mais imatura

para a mais madura consiste no mieloblasto, pró-granulócito ou pró-mielócito, mielócito,

metamielócito, bastão e granulócitos maduros (figura 3) (RIZZI; CLINKENBEARD;

MEINKOTH, 2010). A partir do estágio de mielócito tem-se o surgimento de grânulos

secundários levando a composição dos três tipos celulares correspondentes aos

neutrófilos, eosinófilos e basófilos, sendo esse também o último estágio com potencial

proliferativo (GRINDEM; TYLER; COWELL, 2009). A referida série representa 25 a

67% da celularidade nucleada identificada na espécie felina (HARVEY, 2001).

Figura 3 - Citoarquitetura medular de gato, evidenciando-se precursores

granulocíticos neutrofílicos (exemplificados nas setas) (Panótico Rápido, 1000x).

Fonte: arquivo do autor – LPCV/UECE.

2.1.4 Séries megacariocítica, monocítica e linfocítica

A linhagem megacariocítica (tabela 1) tem como seu primeiro precursor

identificável o megacarioblasto, seguido pelo pró-megacariócito, megacariócito

basofílico e megacariócito maduro (figura 4), sendo que essas células não ultrapassam

uma média de 10/campo em objetiva de pequeno aumento (10x) (HARVEY, 2001).

Page 21: UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ FACULDADE DE …§ão.pdf · mieloproliferativos e diseritropoieses. Assim, em gatos anêmicos com sinais clínicos, os referidos exames hematológicos

21

Figura 4 - Dois megacariócitos em destaque, correspondentes às células de grande

volume, citoplasma basofílico granular e multinucleação em morfologia lobular

(Panótico Rápido, 1000x).

Fonte: arquivo do autor – LPCV/UECE.

Em relação às células monocíticas (tabela 1), tem-se a sequência de maturação

iniciada pelo monoblasto, maturando em pró-monócito e monócito, no qual esse

compartimento pode representar de 0,2 a 1,6% da celularidade contabilizada (HARVEY,

2001).

Quanto à série linfocítica (tabela 1), identificam-se os linfoblastos, pró-linfócitos

e linfócitos, podendo atingir até pouco mais de 20% da celularidade da medula óssea

felina (HARVEY, 2001), tendo essa o predomínio de pequenos linfócitos (GRINDEM;

TYLER; COWELL, 2009).

Page 22: UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ FACULDADE DE …§ão.pdf · mieloproliferativos e diseritropoieses. Assim, em gatos anêmicos com sinais clínicos, os referidos exames hematológicos

22

Tabela 1 – Precursores hematopoiéticos com correspondente descrição citológica.

Estágio celular Descrição citológica

Série eritroide

Rubriblasto

Célula grande, com alta relação núcleo:citoplasma. Citoplasma escasso e homogêneo de coloração acentuadamente basofílica. Núcleo grande, arredondado, um ou dois nucléolos

evidentes e cromatina de padrão finamente granular.

Pró-rubrícito Célula de tamanho médio a grande, com alta relação núcleo:citoplasma, entretanto, inferior ao do rubriblasto. Citoplasma escasso e homogêneo com basofilia moderada a elevada. Núcleo

grande, arredondado, geralmente sem nucléolos evidentes e cromatina de padrão frouxo.

Rubrícito Possuem vários estágios determinados pelas suas aparências morfológicas em relação à coloração do citoplasma, sendo determinados rubrícitos basofílico, policromatofílico e

ortocromático. Relação núcleo citoplasma menor em relação aos estágios anteriores, cromatina

mais condensada com áreas nucleares não preenchidas. Ausência de nucléolos evidentes.

Metarrubrícito Célula relativamente pequena, com baixa relação núcleo:citoplasma, coloração citoplasmática basofílica a alaranjada-avermelhada. Cromatina densamente condensada, sem espaços brancos.

Ausência de nucléolos evidentes.

Reticulócito Determinado apenas em colorações supravitais. Constituídos por agregados de RNA

ribossômico e mitocondrial dispersos no citoplasma, após a extrusão nuclear. Em colorações do tipo Romanowsky, aparecem como hemácias grandes e com coloração azulada-arroxeada,

denominados de policromatófilos.

Série granulocítica

Mieloblasto Célula grande, com alta relação núcleo:citoplasma. Citoplasma escasso e basofílico com

grânulos ausentes (Mieloblasto tipo I) ou raros azurofílicos (Mieloblasto tipo II). Núcleo grande, arredondado, nucléolo evidente e cromatina de padrão frouxo.

Pró-granulócito Célula de tamanho médio a grande. Citoplasma relativamente escasso, discretamente

basofílico, com grânulos primários azurofílicos. Núcleo grande, ovalado, nucléolos não evidentes e cromatina com início de condensação.

Mielócito Célula de tamanho médio. Citoplasma mais abundante em relação ao pró-mielócito, com

grânulos secundários incolores, eosinofílicos ou basofílicos, dependendo da linhagem granulocítica. Núcleo ovalado a discretamente indentado (até 1/3 do diâmetro nuclear) com

nucléolos indistintos e cromatina de padrão levemente condensado.

Metamielócito Célula de tamanho médio. Relação núcleo:citoplasma moderada. Citoplasma com grânulos

secundários incolores, eosinofílicos ou basofílicos, dependendo da linhagem granulocítica. Núcleo reniforme, nucléolos ausentes e cromatina de padrão condensada com pontos de

agregação.

Bastão/Bastonete Célula de tamanho pequeno. Relação núcleo:citoplasma moderada. Citoplasma com grânulos secundários incolores, eosinofílicos ou basofílicos, dependendo da linhagem granulocítica.

Núcleo em forma de “ferradura” ou “s” com lados opostos paralelos, nucléolos ausentes e

cromatina de padrão condensada com pontos de agregação.

Série monocítica

Monoblasto Célula grande, com alta relação núcleo:citoplasma. Citoplasma escasso e homogêneo de

coloração acentuadamente basofílica. Núcleo grande, arredondado a indentado, nucléolos evidentes e cromatina de padrão frouxo.

Pró-monócito Célula média a grande, com alta relação núcleo:citoplasma. Citoplasma mais amplo que o

monoblasto, homogêneo e moderadamente basofílico. Núcleo grande, pleomórfico, nucléolos ausentes e cromatina de padrão frouxo.

Série linfocítica

Linfoblato Célula grande, com alta relação núcleo:citoplasma. Citoplasma escasso, homogêneo (variável presença de grânulos azurofílicos podem ser vistos em células Natural Killers) e coloração

acentuadamente basofílica. Núcleo grande, redondo ou oval, nucléolos evidentes e cromatina

de padrão frouxo.

Pró-linfócito Célula média a grande apresentando alta relação núcleo:citoplasma. Citoplasma escasso, homogêneo (variável presença de grânulos azurofílicos podem ser vistos em células Natural

Killers) e coloração acentuadamente basofílica. Núcleo grande, ovalado, nucléolos não

evidentes e cromatina discretamente condensada.

Série megacariocítica

Megacarioblasto Célula grande, mas de tamanho inferior aos estágios subsequentes. Alta relação núcleo:citoplasma. Citoplasma escasso, agranular e acentuadamente basofílico. Núcleo

ovalado, nucléolos evidentes e cromatina de padrão frouxo.

Pró-megacariócito Célula grande. Volume citoplasmático moderado de coloração acentuadamente basofílica a incolor, agranular. Núcleos múltiplos (até 5 unidades) e contínuos em forma de lóbulos, com

nucléolos evidentes e cromatina levemente condensada.

Megacariócito Célula de tamanho destacado (maior que os seus precursores). Moderada a baixa relação núcleo:citoplasma. Citoplasma incolor a discretamente basofílico, podendo ser granular

(megacariócito granular). Núcleo irregular e multilobulado (> 5 unidades) e nucléolos não

evidentes.

Fonte: HARVEY (2001), GRINDEM; TYLER; COWELL (2009), RIZZI; CLINKENBEARD;

MEINKOTH(2010) e FIGHERA (2014) adaptado.

Page 23: UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ FACULDADE DE …§ão.pdf · mieloproliferativos e diseritropoieses. Assim, em gatos anêmicos com sinais clínicos, os referidos exames hematológicos

23

2.1.5 Células não hematopiéticas

Nesse grupo estão presentes células que normalmente estão em baixas

concentrações. Mastócitos ocasionalmente podem ser vistos, sendo seus precursores

originários da medula óssea (STOCKHAM; SCOTT, 2011). Plasmócitos (figura 5) se

originam de linfócitos B e podem estar circundados por uma inclusão citoplasmática de

glicogênio (células flamejantes/em chama); ou então podem conter acentuada

quantidade de imunoglobulinas (IgM) em retículos citoplasmáticos chamadas de

Corpúsculos de Russell, sendo denominados, nesse caso, de células de Mott (MELO;

SILVEIRA, 2013). Osteoblastos, osteoclastos, macrófagos (figura 6),

fibrócitos/fibroblastos e células endoteliais são outros tipos celulares descritos. Os

histiócitos medulares, por exemplo, são fundamentais para a manutenção da homeostase

local, através da participação em complexos mecanismos osteoimunogênicos, que

mantém o estroma medular e os nichos hematopoiéticos (KAUR et al., 2017).

Figura 5 - Plasmócitos em medula óssea de gato (setas) (Panótico Rápido, 1000x).

Fonte: arquivo do autor – LPCV/UECE.

Page 24: UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ FACULDADE DE …§ão.pdf · mieloproliferativos e diseritropoieses. Assim, em gatos anêmicos com sinais clínicos, os referidos exames hematológicos

24

Figura 6 - Macrófago contendo leucofagocitose (seta) (Panótico Rápido, 1000x).

Fonte: arquivo do autor – LPCV/UECE.

2.2 HEMATOPATOLOGIA DA MEDULA ÓSSEA FELINA

2.2.1 Hiperplasia medular

Consiste no aumento numérico de comportamento não neoplásico de células

hematopoiéticas com potenciais proliferativos e de maturação. Pode ser generalizada ou

acometer linhagens específicas, sendo acompanhada por hematopoieses eficientes ou

ineficientes (STOCKHAM; SCOTT, 2011; FIGHERA, 2014).

Nesse sentido, na hiperplasia eritroide com eritropoiese eficiente, há anemia

macrocítica hipocrômica com reticulocitose, rubricitose, corpúsculos de Howell-Jolly,

entre outros sinais regenerativos, ocorrendo responsividade a um quadro hemorrágico

e/ou hemolítico (JAVINSKY, 2016), como ocorre na babesiose, micoplasmose e

cytauxzoonose felinas (MAIA et al., 2013; WEINGART; TASKER; KOHN, 2015;

JAVINSKY, 2016), ou ainda secundária a distúrbios de anemia hemolítica

imunomediada primária, no qual autoanticorpos causam o quadro de crise hemolítica,

na maioria das vezes sem origem específica determinada (SWANN; SZLADOVITS;

GLANEMANN, 2016). A anemia hemolítica pode ser secundária também a distúrbios

eritrocitários apropriados como hipóxia persistente ou fatores que demandem mais

oxigênio tecidual como doença pulmonar crônica e hipertireoidismo (THRALL et al.,

2007), ou também conseqüência de anormalidades eritrocitárias inapropriadas quando

há aumento da produção de eritropoietina sem deficiência na oxigenação como em

neoplasias e cistos renais (KLAINBART et al., 2008).

Na eritropoiese ineficiente, a hiperplasia eritroide ocorre coincidentemente com

uma anemia arregenerativa ou levemente regenerativa. Essa geralmente tem base

imunomediada, podendo ocorrer destruição seletiva de precursores eritroides (WEISS,

Page 25: UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ FACULDADE DE …§ão.pdf · mieloproliferativos e diseritropoieses. Assim, em gatos anêmicos com sinais clínicos, os referidos exames hematológicos

25

2008; STOCKHAM; SCOTT, 2011). Nesses casos, podem ser observados nos aspirados

medulares respostas histiocíticas locais, inclusive com eritrofagocitose e geração de

produtos de degradação eritrocitária como precipitados de hemossiderina e cristais de

hematoidina (HARVEY, 2001; GRINDEM; TYLER; COWELL, 2009; BLACK et al.,

2016)

No que se refere à série granulocítica, a hiperplasia granulocítica neutrofílica

corresponde ao aumento do número de precursores de neutrófilos, seguindo a mesma

subdivisão da eritroide. Desse modo, na granulopoiese eficiente há neutrofilia com ou

sem desvio à esquerda. Pode ser inflamatória associada ou não a infecções, decorrente

de anemia hemolítica imunomediada, processos sépticos, endotoxêmicos e necróticos,

neutrofilia paraneoplásica, processos de intoxicação como a por estrógeno (inicialmente)

e doenças genéticas neutrofílicas (STOCKHAM; SCOTT, 2011; JAVINSKY, 2016).

Em relação à granulopoiese ineficiente, essa ocorre quando há neutropenia,

geralmente associada à depleção dos estoques de armazenamentos granulocíticos

medulares, associados à hiperplasia blástica (STOCKHAM; SCOTT, 2011). Possui

geralmente base imunomediada com anticorpos antigranulócitos, podendo também ter

etiologia tóxica como intoxicação por difenilidantoína e fenilbutazona, além de causas

idiopáticas crônicas resultantes da deficiência do Fator Estimulante de Colônias de

Granulócitos e Monócitos (GM-CSF) (STACY; HARVEY, 2016).

A hiperplasia granulocítica eosinofílica está relacionada a processos que

ocasionem aumento de interleucina 5 e GM-CSF, podendo se correlacionar, raramente,

com síndromes hipereosinofílicas (WILSON; THOMSON-KERR; HOUSTON, 1996).

A hiperplasia basofílica é raramente observada, estando geralmente acompanhada de

basofilia (STOCKHAM; SCOTT, 2011). A hiperplasia monocítica geralmente

acompanha a hiperplasia granulocítica neutrofílica, sendo notada também em processos

histiocíticos locais (GRINDEM; TYLER; COWELL, 2009). Quanto à hiperplasia

megacariocítica, essa pode ocorrer em recuperação de quadros trombocitopênicos

(hiperplasia megacariocítica de rebote), bem como em processos reativos inflamatórios,

podendo ser de base infecciosa ou não (RASKIN; MESSICK, 2012), como em quadros

responsivos de trombocitopenia imunomediada primária periférica, com autoanticorpos

direcionados contra a própria concentração plaquetária do indivíduo (BIANCO;

ARMSTRONG; WASHABAU, 2008).

Page 26: UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ FACULDADE DE …§ão.pdf · mieloproliferativos e diseritropoieses. Assim, em gatos anêmicos com sinais clínicos, os referidos exames hematológicos

26

2.2.2 Hipoplasia/aplasia medular

Correspondem à diminuição (hipoplasia) ou ausência (nesse caso se refere como

aplasia, sendo esse termo também utilizado em diminuições severas) do compartimento

proliferativo e de maturação das células hematopoiéticas ativas, podendo ser

generalizada ou específica para cada linhagem, assim como na hiperplasia

(STOCKHAM; SCOTT, 2011).

A hipoplasia generalizada comumente está associada à pancitopenia

hipoplásica/aplásica e pode ser decorrente de processos inflamatórios infecciosos

(MARCOS et al., 2009; STÜTZER et al., 2011), intoxicações, necrose medular ou

qualquer condição de substituição do tecido medular normal (BLACK et al., 2016).

A hipoplasia eritroide seletiva caracteriza-se por anemia normocítica

normocrômica, geralmente tem base imunomediada, podendo ser primária ou

secundária. (VIVIANO; WEBB, 2011). Nesse último, cita-se como causas a

administração de eritropoietina humana recombinante; processos inflamatórios

associados a infecções como as causadas pelo FeLV e pelo Vírus da Imunodeficiência

Felina (FIV) (HARTMANN, 2012; SOUTHARD et al., 2016); distúrbios endócrinos

(hipotireoidismo, hipoadrenocorticismo, hipoandrogenismo) e condições de

hiperestrogenismo (administração de estrógeno exógeno, sertolioma) (THRALL et al.,

2007); além da administração de fármacos como o cloranfenicol e agentes

quimioterápicos (MELO; SILVEIRA, 2013).

A hipoplasia granulocítica seletiva está relacionada à linhagem neutrofílica e

pode ter bases infecciosas como o FeLV e a toxoplasmose, bem como tóxicas (WEISS,

2008; STACY; HARVEY, 2016). A Hipoplasia megacariocítica geralmente possui base

imunomediada ou tóxica (JAVINSKY, 2016).

2.2.3 Outros processos

A linfocitose medular corresponde à hiperplasia de células de origem linfoide na

medula óssea, predominantemente constituída por pequenos linfócitos (RASKIN;

MESSICK, 2012). Nesse sentido, citam-se quadros imunomediados como os

ocasionados por anemia hemolítica imunomediada, além de intoxicações

medicamentosas (BLACK et al., 2016; STACY; HARVEY, 2016).

A mastocitose medular pode ser inflamatória ou neoplásica. No caso da

hiperplasia de mastócitos, essa é pouco descrita em gatos, sendo relatada em cães em

condições patológicas variadas, tais como em anemias aplásicas e mielossupressões

Page 27: UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ FACULDADE DE …§ão.pdf · mieloproliferativos e diseritropoieses. Assim, em gatos anêmicos com sinais clínicos, os referidos exames hematológicos

27

generalizadas (WALKER et al., 1997; MYLONAKIS; KOUTINAS; LEONTIDES,

2006), anemias por deficiência de ferro e em neoplasias como o linfoma (HARVEY,

2009).

A síndrome hemofagocítica é rara em gatos, caracterizando-se pela proliferação

desordenada de histiócitos medulares, resultando em citopenias de pelo menos duas

linhagens celulares, podendo ser secundária nesses animais a infecções pelo calicivírus

e lipidose hepática, apesar de ainda não haver uma patogenia esclarecida (WALTON et

al., 1996).

A mielofibrose corresponde à substituição de tecido hematopoiético ativo em

tecido conjuntivo fibroso e colágeno, sendo que as causas geralmente não são bem

conhecidas, sendo rara na espécie felina (STOCKHAM; SCOTT, 2011). Em gatos,

existe um relato de mielofibrose associada à eritropoiese extramedular, resultando em

uma rubricitose anormal, com infiltração de células eritroides em diversos sítios

orgânicos (IWANAGA et al., 2012).

A mielite é o processo inflamatório da medula óssea, podendo ter causas

inflamatórias infecciosas, tóxicas, traumáticas, entre outras etiologias, seguindo as

mesmas classificações utilizadas em outros tecidos, tais como mielites supurativas,

piogranulomatosas, granulomatosas, linfocíticas/plasmocíticas e eosinofílicas (WEISS,

1992; GRINDEM; TYLER; COWELL, 2009).

O processo de necrose medular é um quadro reacionário, debilitante e

progressivo de curso hiperagudo, agudo ou crônico, podendo ter causas infecciosas,

imunomediadas e neoplásicas como os linfomas (HARVEY, 2001).

A mieloftise refere-se à substituição e/ou deslocamento da medula óssea

hematopoiética ativa por um tecido anormal, acarretando sua perda de função. Nesse

sentido, qualquer proliferação ou infiltração gradativa generalizada pode gerar esse

quadro, incluindo tanto neoplasias como, por exemplo, mielofibrose (STACY;

HARVEY, 2016).

2.2.4 Síndromes Mielodisplásicas (SMDs)

Correspondem a um conjunto de distúrbios clonais acompanhados por alterações

morfológicas relacionadas à maturação celular hematopoiética, resultando em

displasias/disematopoieses, gerando uma ampla variação de distúrbios clínicos e

patológicos (VASSALLO; MAGALHÃES, 2009). Dependendo da linhagem acometida,

recebem as denominações de dismielopoiese, diseritropoiese e

Page 28: UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ FACULDADE DE …§ão.pdf · mieloproliferativos e diseritropoieses. Assim, em gatos anêmicos com sinais clínicos, os referidos exames hematológicos

28

dismegacariopoiese/distrombopoiese (STOCKHAM; SCOTT, 2011; MELO;

SILVEIRA, 2013).

Nas SMDs, as células blásticas devem corresponder a 20 – 30% no máximo do

total de células medulares nucleadas (excluindo-se mastócitos, plasmócitos, macrófagos

e estruturas celulares relacionadas), pois acima disso caracterizam-se as leucemias

(VASSALLO; MAGALHÃES, 2009; STOCKHAM; SCOTT, 2011). Entretanto, por

vezes, a identificação das SMDs e diferenciação dessas dos quadros leucêmicos podem

ser difíceis de serem realizadas, já que essas patologias podem estar associadas a

estágios pré-leucêmicos, já existindo relatos em gatos que atestam essa dificuldade

analítica (GELAIN et al., 2003).

Torna-se importante ainda diferenciar uma condição de SMDs primárias de um

quadro de disematopoiese congênito, bem como de condições de SMDs secundárias

adquiridas a substâncias tóxicas (chumbo, drogas quimioterápicas, estrógeno,

cefalosporinas, cloranfenicol, fenobarbital, colchicina); deficiências nutricionais;

doenças imunomediadas (AHIM e TIM); processos inflamatórios de base infecciosa ou

não; mielofibrose e quadros neoplásicos tais como linfoma, mieloma múltiplo e

policitemia vera (HARVEY, 2001; WEISS, 2001; STOCKHAM; SCOTT, 2011).

2.2.5 Neoplasias

Essa seção engloba tanto processos leucêmicos quanto outras neoplasias

primárias ou metastáticas, infiltrativas na medula óssea. As leucemias consistem na

proliferação neoplásica de células hematopoiéticas residentes do sangue, originadas na

medula óssea ou, algumas vezes, no baço (STACY; HARVEY, 2016). As leucemias

agudas correspondem a uma proliferação de células hematopoiéticas blásticas de

evolução geralmente rápida, já as leucemias crônicas caracterizam-se pela proliferação

gradativa de células hematopoiéticas relativamente bem diferenciadas de aparência

semelhante as das células maduras (RASKIN; MESSICK, 2011).

As classificações específicas leucêmicas (tabela 2), de modo geral, seguem as

diretrizes da medicina humana associadas aos critérios veterinários já propostos em

caninos em felinos, por exemplo, pelo Grupo de Estudos de Leucemia Animal (JAIN et

al., 1991). Esses processos neoplásicos são relativamente raros em gatos, existindo

relatos de mielose eritrêmica (MARTINS et al., 2011); leucemia linfoide aguda

(GELAIN et al., 2003); leucemia linfoide crônica (CAMPBELL; HESS; WILLIAMS,

2013); leucemia mieloide aguda, incluindo diferenciação basofílica (BOUNOUS et al.,

Page 29: UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ FACULDADE DE …§ão.pdf · mieloproliferativos e diseritropoieses. Assim, em gatos anêmicos com sinais clínicos, os referidos exames hematológicos

29

1994) e leucemia megacarioblástica aguda (BURTON et al., 1996); leucemia mieloide

crônica, inclusive de caráter eosinofílico (GELAIN et al., 2006) e leucemia aguda

indiferenciada (GELAIN et al., 2003), sendo os processos linfoides os mais prevalentes,

podendo estar ou não associados a retroviroses (WEEDEN et al., 2016). Metodologias

envolvendo imunofenotipagem e técnicas citoquímicas muitas vezes são requeridas para

diferenciar células blásticas bastante imaturas e caracterizar corretamente a leucemia,

sendo essas já utilizadas na espécie felina (GRINDEM; STEVENS; PERMAN, 1985).

O mieloma múltiplo é caracterizado pelo crescimento desordenado de

plasmócitos maduros e imaturos com substituição medular (PATEL et al., 2005). Pode

ser observado um aumento de osteoclastos em conjunto, produzindo diversas lesões de

caráter lítico (HARVEY, 2001). Nesses casos, geralmente ocorre uma gamopatia

monoclonal de IgG ou IgA, inclusive levando a hiperproteinemia, hiperviscosidade

sanguínea, proteinúria de Bence Jones, hipoalbuminemia e azotemia (MELO;

SILVEIRA, 2013). Mielomas múltiplos concomitantes com outros processos

neoplásicos são raros em felinos, mas já existe relato da associação desse processo

plasmocítico com mastocitoma (BAGWELL et al., 2017), além de mieloma múltiplo

eritrofagocítico, no qual os plasmócitos neoplásicos exibem essa capacidade fagocítica

(WEBB et al., 2008).

As neoplasias histiocíticas originam-se de células macrofágicas como o sarcoma

histiocítico hemofagocítico e o sarcoma histiocítico maligno, relacionando-se ainda o

sarcoma osteogênico, no qual osteoblastos exibem diversos graus de atipia, além do

condrossarcoma de medula óssea que é um tipo mais raro (STACY; HARVEY, 2016).

Avaliação de infiltrados de linfoma, mastocitoma e carcinomas a nível medular é

fundamental para o diagnóstico e estadiamento neoplásico, estabelecimento de

terapêuticas e prognósticos adequados (HENSON et al., 1998; STOCKHAM; SCOTT,

2011). Nesse contexto, o linfoma é a neoplasia linfoide mais comum em gatos

(MEICHNER; BOMHARD, 2014) podendo adquirir uma forma leucemizada,

caracterizada pela metástase a nível sanguíneo e linfático, infiltrando, inclusive, a

medula óssea (GRINDEM; TYLER; COWELL, 2009; STÜTZER et al., 2011).

Page 30: UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ FACULDADE DE …§ão.pdf · mieloproliferativos e diseritropoieses. Assim, em gatos anêmicos com sinais clínicos, os referidos exames hematológicos

30

Tabela 2 – Subclassificações das leucemias mieloides e linfoides agudas e crônicas.

Leucemia Descrição citológica

Mieloide Aguda – Indiferenciada (LMA-M0)

Possui diferenciação mínima, correspondendo por mais de 20% de células blásticas. Os blastos normalmente são pequenos, apresentando citoplasma agranular, cromatina frouxa e

nucléolos evidentes.

Mieloide Aguda – Mieloblástica (LMA – M1)

Os blastos podem conter granulações e bastonetes de Auer (compostos lisossomais), porém, por vezes, também podem lembrar linfoblastos. Podem estar presentes outras células como

promielócitos hipogranulares.

Mieloblástica com Maturação (LMA-M2)

A quantidade de blastos situa-se entre 20 – 90% das células nucleadas e porcentagem de células monocíticas inferior a 20%. O mieloblasto pode ter ou não bastonetes de Auer.

Mieloide Aguda – Mieloblástica

com Maturação Variante (LMA-M2v):

Os blastos são grandes com granulações azurofílicas destacadas, além de bastonetes de Auer.

É comum promielócitos, mielócitos e granulócitos maduros com dismielopoiese.

Mieloide aguda – Promielocítica Hipergranular (LMA-M3)

Corresponde a promielócitos com dismielopoiese, exibindo núcleo excêntrico, citoplasma com abundante granulação e alguns blastos possuem bastonetes de Auer.

Mieloide Aguda – Promielocítica Hipogranular (LMA-M3v)

Os promielócitos possuem raras granulações citoplasmáticas, bem como bastonetes de Auer, contendo ainda núcleos anômalos.

Mieloide Aguda – Mielomonocítica (LMA-M4)

Consiste em duas linhagens de células neoplásicas, a granulocítica e monocítica. Destaca-se que os precursores de monócitos correspondem a 20 – 80% das células blásticas.

Mieloide Aguda – Mielomonocítica com Eosinofilia

(LMA-M4eo)

Possui blastos mieloides, componente monocítico e pelo menos 5% de eosinófilos anômalos com hipossegmentação e grandes grânulos basófilos anormais em conjunto com grânulos

eosinofílicos normais.

Mieloide Aguda – Monoblástica

sem Maturação (LMA-M5a)

Caracterizada pela ocorrência de monoblastos, promonócitos e monócitos em mais de 80%

das células não eritroides na medula óssea. Sem presença de bastonetes de Auer.

Mieloide Aguda – Monocítica com

Maturação (LMA-M5b)

Ocorrência de células monocíticas anômalas, sendo que os monoblastos estão em menor

número comparando ao subtipo anterior, sendo o componente monoblástico inferior a 80% das células não eritroides.

Eritroleucemia (LMA-M6) Consiste na presença de mais de 50% de eritroblastos entre as células nucleadas da medula óssea, sendo que 30% ou mais do componente não eritroide é composto por mieloblasto. Há

acentuada diseritropoiese.

Megacarioblástica (LMA-M7) Presença de blastos das linhagens megacariocítica e mieloide. Megacariócitos em amadurecimento podem estar presentes em grande quantidade.

Linfoide Aguda – Subtipo I (LLA-L1)

Os blastos são pequenos, possuem alta relação núcleo:citoplasma, discreta basofilia citoplasmática e raras vacuolizações, cromatina de padrão homogêneo, núcleo

acentuadamente regular e nucléolo inconspícuo.

Leucemia Linfoide Aguda –

Subtipo II (LLA-L2)

As características são variáveis, sendo o núcleo irregular, podendo apresentar-se clivado, além

de nucléolos que podem ser múltiplos e evidentes.

Linfoide Aguda – Subtipo III

(LLA-L3)

Predominância de grandes blastos com baixa relação núcleo:citoplasma, elevada basofilia e

frequentes vacuolizações citoplasmáticas, núcleo geralmente ovalado com nucléolos

múltiplos e evidentes.

Mista ou Bifenotípica Aguda Presença de antígenos de superfície citoplasmática ou nuclear tanto da linhagem mieloide

quanto da linfoide, com blastos das duas linhagens no sangue periférico.

Leucemia neutrofílica crônica Número elevado de neutrófilos maduros no sangue periférico sem acompanhamento blástico

na medula óssea. Podem exibir granulações tóxicas, corpúsculos de Döhle, além de núcleos

em anel. Leucemia eosinofílica crônica Eosinofilia persistente com precursores presentes, inclusive blastos no sangue. É frequente

disgranulopoiese com hipogranulação e vacuolização citoplasmática, além de hipolobulação.

Leucemia basofílica crônica Elevado número de basófilos, podendo praticamente todos os leucócitos na circulação serem

basófilos. Disgranulopoiese pode ocorrer como a presença de grânulos eosinofílicos e basofílicos na mesma célula.

Leucemia monocítica crônica Caracterizada por notável aumento de monócitos, além de outras alterações leucocitárias

observadas em casos de LMC.

Leucemia Mielomonocítica

Crônica (LMMC)

A contagem de blastos encontra-se entre 5 e 20%, sendo que a contagem diferencial pode

chegar a mais de 80% de células monocíticas. Displasias podem ser verificadas.

Leucemia Linfoide Crônica (LLC) Origem nos linfócitos B. Pode ser típica ou clássica com linfócitos maduros em maioria; prolinfocítica, caracterizada pela presença de 11 a 54% de prolinfócitos no sangue periférico e

mista com até 10% de prolinfócitos e frequentemente linfócitos atípicos.

Fonte: HARVEY (2001), STOCKHAM & SCOTT (2011) e MELO & SILVEIRA (2013) adaptado.

Page 31: UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ FACULDADE DE …§ão.pdf · mieloproliferativos e diseritropoieses. Assim, em gatos anêmicos com sinais clínicos, os referidos exames hematológicos

31

2.3 EXAMES HEMATOLÓGICOS NO PACIENTE FELINO

2.3.1 Hemograma e contagem de reticulócitos

O exame do hemograma fornece informações referentes ao tecido sanguíneo

periférico e é constituído pelo eritrograma, leucograma e plaquetograma (BUSH, 2004),

podendo também, ser incluída como informação adicional, a concentração de proteínas

plasmáticas totais (PPT), em consequência da facilidade de obtenção desse valor nas

técnicas analíticas rotineiras para confecção do hemograma.

O referido exame pode fornecer informações hematopatológicas primárias ou os

efeitos secundários nesse tecido de doenças multissistêmicas ou que possuem outros

sítios orgânicos alvos, sendo utilizado majoritariamente como um exame rotineiro para

o estabelecimento de triagens iniciais e averiguação geral do estado dos pacientes

(TAMURA, 2015).

A contagem de reticulócitos determina se um processo anêmico é regenerativo

ou arregenerativo, se fundamentando na contagem dos precursores imediatamente

anteriores as hemácias maduras ainda com resquícios de RNA ribossômico e

mitocondrial, sendo essas células denominadas de reticulócitos (PATULLO et al.,

2014). Nos gatos, devido a maturação eritrocitária mais lenta, comumente se observam

dois tipos de reticulócitos: o agregado, sendo esse o estágio mais imaturo; e o ponteado,

a fase mais madura (STOCKHAM; SCOTT, 2011). Destaca-se ainda que a metodologia

de contagem pode variar conforme o laboratório de referência utilizado, mas torna-se

obrigatória a contagem dos reticulócitos agregados, haja vista a correspondência linear a

um estado de aceleração no processo de eritropoiese em resposta a um quadro anêmico

regenerativo (STOCKHAM; SCOTT, 2011).

2.3.2 Mielograma

Consiste na análise citomorfológica completa dos aspirados de medula óssea

(D´ONOFRIO; ZINI, 2015), sendo um valioso exame para o estabelecimento de

diagnósticos, prognósticos, terapêuticas e monitoramento de diversas condições

patológicas (BOLLINGER, 2004).

As indicações para o exame do mielograma são amplas, devendo esse ser

ambientado como um exame de rotina da prática clínica, mas de caráter específico,

sendo as contraindicações restritas e, de modo geral, irrisórias (HONSE, 2014). Desse

modo, relatam-se como propósitos da análise citológica medular (GRINDEM; TYLER;

COWELL; 2009; RASKIN; MESSICK, 2012; STACY; HARVEY, 2016; BYERS,

Page 32: UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ FACULDADE DE …§ão.pdf · mieloproliferativos e diseritropoieses. Assim, em gatos anêmicos com sinais clínicos, os referidos exames hematológicos

32

2017): quadros de bicitopenias, pancitopenias e hiperproteinemias persistentes;

eritrocitose, reação leucemoide e policitemias absolutas constantes; células na corrente

sanguínea com morfologia alterada sem elucidação inicial; investigação de alterações

hematológicas não esclarecidas pelo hemograma; análise de processos neoplásicos

originados na medula óssea; estadiamento de neoplasias que se originam em outros

sítios orgânicos, como linfomas e mastocitomas; pesquisa de parasitas (Leishmania spp.,

Histoplasma spp., Cytauxzoon spp., etc.); auxílio na determinação de processos como

mielofibrose e mielites; além de investigação de febre persistente e de origem

desconhecida.

Em relação à colheita da medula óssea, utilizam-se agulhas próprias para

colheita, do tipo Illinois ou Rosenthal, ou mesmo agulhas convencionais (calibre de 21

G 0,8 mm para felinos); seringas de 10 – 20 mL; ácido etilenodiaminotetracético

(EDTA) 2%, 3%, 4% ou mesmo a 10%; algodões com álcool iodado; tricótomo; placas

de Petri; capilares para microhematócrito ou pipeta e lâminas para microscopia

(HARVEY; 2001; THRALL et al., 2007; STOCKHAM; SCOTT, 2011; STACY;

HARVEY, 2016).

É fundamental a realização da anestesia para colheita medular (MÜLLER et al.,

2009; RASKIN; MESSICK, 2012). Assim, existem determinados sítios de acesso, entre

eles a tuberosidade proximal do úmero, fossa trocantérica femural, crista ilíaca e

manúbrio esternal (DEFARGES et al., 2013). Na hematologia felina, indica-se o úmero

como um sítio de grande viabilidade rotineira para a punção medular (HARVEY, 2001;

REAGAN et al., 2011).

O procedimento padrão é apresentado a seguir baseado na literatura

especializada (HARVEY, 2001; THRALL et al., 2007; GRINDEM; TYLER; COWELL,

2009; MÜLLER et al., 2009; RASKIN; MESSICK, 2012; STACY; HARVEY, 2016;

BYERS, 2017): 1. A região a ser puncionada é preparada realizando-se tricotomia e

assepsia local com álcool iodado. 2. A agulha é inserida até o periósteo, sendo

introduzida na cortical em movimentos rotacionais em sentido horário e anti-horário até

ser fixada, atingindo o espaço medular. 3. Após a fixação da agulha, acopla-se a seringa

contendo EDTA, realizando-se pressão negativa em movimento único até ¾ da seringa.

4. O material começará a ser aspirado, sendo a pressão negativa cessada após o

aparecimento desse no canhão da seringa. 5. O sistema é retirado do córtex ósseo. 6. O

material é homogeneizado no interior da seringa.

Page 33: UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ FACULDADE DE …§ão.pdf · mieloproliferativos e diseritropoieses. Assim, em gatos anêmicos com sinais clínicos, os referidos exames hematológicos

33

A medula óssea deverá ser depositada em uma placa de Petri para identificação e

maximização das espículas (figura 7) por meio de capilares para microhematócrito ou

pipetas (HARVEY, 2001; BYERS, 2017). Essas unidades morfofuncionais são

“pescadas” e em seguida dispostas em lâminas para posterior extensão por intermédio

da técnica do squash (MARCOS et al., 2011).

Figura 7 - Obtenção de material medular para mielograma. Após a colheita, esse é

depositado em placa de Petri para evidenciação das unidades morfofuncionais

correspondentes as espículas hematopiéticas (setas).

Fonte: arquivo do autor – LPCV/UECE.

Posteriormente, após a secagem da lâmina, realiza-se a coloração do material.

Nesse caso, destacam-se corantes do tipo Romanowsky (Giemsa, Wright, Panótico

Rápido, entre outras) como os mais utilizados para as avaliações rotineiras e/ou de

triagem (GRINDEM; TYLER; COWELL, 2009). Caso haja necessidade, podem ser

utilizadas colorações bacteriológicas como as de Gram e Ziehl-Neelsen (RASKIN,

2011); bem como corantes tricômicos, como o Papanicolau para destaque das estruturas

nucleares (MARCOS et al., 2011). Ressalta-se também que técnicas citoquímicas como

a do P.A.S. e Sudan Black são bastante empregadas para auxílio diagnóstico, na

determinação da origem das leucemias (THRALL et al., 2007).

Nesse contexto, segue-se a avaliação microscópica medular. Essa deverá ser

iniciada com inspeção do material em objetivas de pequeno aumento (4 – 40x) visando

a verificação da celularidade medular; contabilidade e análise morfológica dos

Page 34: UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ FACULDADE DE …§ão.pdf · mieloproliferativos e diseritropoieses. Assim, em gatos anêmicos com sinais clínicos, os referidos exames hematológicos

34

megacariócitos e seus precursores; além de pesquisa inicial de infiltrações celulares

medulares patológicas (FIGHERA, 2014). Em seguida, utilizando-se a objetiva de 100x,

deve-se proceder com as análises citológicas quantitativas e qualitativas, contando-se

um mínimo de 500 células, agrupando-as de acordo com seus tipos específicos e grupos

celulares (PETTERINO; CAPURRO; CASTAGNARO, 2011; FIGUERA, 2014).

Qualquer alteração morfológica deverá ser identificada e graduada, sendo fundamental a

notificação da relação mieloide:eritroide, ocorrência de parasitas e tecidos fibroso,

colagenoso e gorduroso em excesso (STACY; HARVEY, 2016).

2.4 ASPECTOS RELACIONADOS AO VÍRUS DA LEUCEMIA FELINA (FeLV)

2.4.1 Agente etiológico

O FeLV foi descoberto a partir de trabalhos desenvolvidos pelo grupo do

cientista Willian Jarret em 1964 na Escócia estudando gatos com neoplasia linfoide

(JARRET et al., 1964). Pertence à família Retroviridae e subfamília Oncovirinae, sendo

envelopado e constituído por RNA de fita simples, possuindo a enzima transcriptase

reversa para geração de DNA viral (NELSON; COUTO, 2010). Atualmente,

dependendo da sequência genética do envelope proteico são identificados quatro

subgrupos: FeLV-A, FeLV-B, FeLV-C e FeLV-T (ARJONA et al., 2006;

HARTMANN, 2012).

A nível mundial relata-se que a ocorrência desse agente viral está gradualmente

diminuindo, com dados de prevalência em torno de 2,9% a 7,5%, em decorrência da

implementação de rígidas medidas profiláticas, associadas à educação continuada dos

tutores (YILMAZ; ILGAZ, 2000; GLEICH; HARTMANN, 2009; MEICHNER;

BOMHARD, 2014). No Brasil, os dados epidemiológicos concentram-se nas regiões

sudeste e sul, exemplificando-se prevalências que variam de 0,36% em São Paulo

(SANTOS, 2012) a 38,3 % no Rio Grande do Sul (MEINERZ et al., 2010),

necessitando-se ainda de novos estudos em outras localidades do país.

A transmissão viral ocorre principalmente por via horizontal através de fluidos

corporais como saliva, sangue, secreção nasal, lágrimas, fezes e leite, incluindo a

importância de fômites como comedouros e bebedouros compartilhados (HARTMANN,

2012). A via vertical é secundariamente relacionada (KIM et al., 2013) através de

mecanismos transplacentários e perinatais, mas resultando geralmente em aborto e

morte precoce dos neonatos (TEIXEIRA, 2010).

Page 35: UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ FACULDADE DE …§ão.pdf · mieloproliferativos e diseritropoieses. Assim, em gatos anêmicos com sinais clínicos, os referidos exames hematológicos

35

2.4.2 Sinais clínicos

Doenças comuns primariamente associadas ao FeLV incluem uma variedade de

distúrbios hematológicos, tai como anemia, leucopenia e trombocitopenia

(HARTMANN, 2012). Além disso, esse retrovírus possui caráter oncogênico primário,

sendo que os linfomas e leucemias são as neoplasias mais comuns, representando

aproximadamente 30% de todos os tumores descritos nessa espécie (STÜTZER et al.,

2011). Relacionam-se ainda, nas enfermidades frequentes, disfunções neurológicas,

exemplificando-se anisocoria, midríase, síndrome de Horner, hiperestesia, paresia,

paralisia, vocalizações e comportamentos anormais (KENNEDY; LITTLE, 2017).

Nesse contexto, podem ocorrer ainda diversas patologias relacionadas à

imunossupressão resultante da infecção, possuindo caráter secundário, tais como:

gengivite estomatite felina; enterites por giárdia, coccídios e criptosporídios;

dermatopatias como demodicose, dermatofitose e malasseziose; hemólise extravascular

associada à micoplasmose; pneumonias; doenças hepatobiliares; insuficiência renal,

pielonefrite e cistite; propensão para outras infecções virais como a Peritonite Infecciosa

Felina, complexo respiratório por herpes-vírus e outros retrovírus como o FIV; doenças

oftálmicas como uveíte, coriorretinite e síndrome da pupila espástica; enfermidades

fúngicas como a criptococose; protozooses multissistêmicas, citando-se a toxoplasmose

e leishmaniose; e até mesmo infertilidade e aborto em algumas fêmeas (SANTOS, 2012;

HARTMANN, 2012; KIPAR et al., 2015; ROLIM et al., 2016).

2.4.3 Imunologia e patologia clínica

Segundo HARTMANN (2012), atualmente são reconhecidas quatro estágios de

infecção pelo FeLV:

- Infecção abortiva: após a infecção, o vírus inicia a replicação no tecido linfoide,

infectando linfócitos B da orofaringe. Nesse caso, em animais imunocompetentes,

respostas imunogênicas humorais e celulares são geradas, fazendo com que não ocorra

viremia. Esse tipo de estágio é caracterizado pela exposição a pequenas quantidades de

antígeno.

- Infecção regressiva: nesse caso, há a instalação de um quadro virêmico, porém, a

replicação viral é contida antes da infecção da medula óssea.

- Infecção progressiva: o agente dissemina-se por todo o organismo por via hematógena,

primeiramente nos tecidos linfoides, atingindo a medula óssea e os diversos tecidos,

podendo ocasionar diminuição da massa eritrocitária, queda da concentração plaquetária

Page 36: UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ FACULDADE DE …§ão.pdf · mieloproliferativos e diseritropoieses. Assim, em gatos anêmicos com sinais clínicos, os referidos exames hematológicos

36

e predisposição de quadros neutropênicos, além de estímulo imunogênico constante

resultando em linfocitose (GLEICH; HARTMANN, 2009).

- Infecção focal ou atípica: caracterização mais rara, consistindo na infecção local de

glândulas mamárias, olhos, bexiga urinária, entre outros órgãos, com replicação

persistente, podendo ocorrer de modo intermitente.

Especificamente em se tratando de mielopatias, pode gerar aplasia eritroide pura

que é caracterizada por menos de 5% de precursores eritroides na medula óssea e por

uma severa anemia arregenerativa, sugerindo-se uma patogênese imunomediada, sendo

que o subgrupo C do FeLV pode ocasionar uma aplasia eritroide pura fatal

(SOUTHARD et al., 2016). Nesse contexto, anemias moderadas a acentuadas

arregenerativas acompanham às hipoplasias e aplasias eritroides, apesar da existência

também de quadros hiperplásicos nesses processos, que podem vir ainda acompanhados

por hipoplasias mieloides e linfocitose medular com preservação da série

megacariocítica (BLACK et al., 2016).

Síndromes mielodisplásicas e quadros leucêmicos também ocorrem, tendo os

animais FeLV-positivos 62 vezes mais chances de desenvolver neoplasias linfoides que

felinos não infectados (HARTMANN, 2012).

Desse modo, dependendo das infecções secundárias, uma série de alterações

patológicas podem se desenvolver (CARMICHAEL et al., 2002), sendo essas

extremamente relacionadas à virulência da cepa, aos sinais específicos desenvolvidos e

a própria competência imunológica do paciente (KENNEDY; LITTLE, 2017).

2.4.4 Diagnóstico

As metodologias diagnósticas conclusivas in vivo para o FeLV consistem nas

seguintes técnicas historicamente relacionadas (JARRET et al., 1982; HAWKS et al.,

1991; HARTMANN, 2012): testes de biologia molecular exemplificados pela reação

em cadeia da polimerase (PCR) (ARJONA et al., 2006); detecção do antígeno do

envelope viral p27 por ensaio de imunoabsorção enzimática (ELISA), com a utilização

de kits rápidos imunocromatográficos (BLACK et al., 2016); antigenemia com detecção

de antígeno intracelular por imunofluorescência indireta (IFA) utilizando amostras de

sangue periférico e medula óssea (STÜTZER et al., 2011); além de isolamento do

agente em cultivo celular (HARTMANN et al., 2007).

Nesse sentido, destaca-se que os kits rápidos, por sua praticidade e rapidez, estão

cada vez mais disseminados na prática clínica, existindo trabalhos de validação dos

Page 37: UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ FACULDADE DE …§ão.pdf · mieloproliferativos e diseritropoieses. Assim, em gatos anêmicos com sinais clínicos, os referidos exames hematológicos

37

mesmos que indicam sensibilidade de 95,2% e especificidade de 98,5% tendo como

parâmetro confirmatório o PCR convencional (KIM et al., 2013).

Page 38: UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ FACULDADE DE …§ão.pdf · mieloproliferativos e diseritropoieses. Assim, em gatos anêmicos com sinais clínicos, os referidos exames hematológicos

38

3. JUSTIFICATIVA

O FeLV afeta diretamente os tecidos linfoide e sanguíneo, além de ter sido

considerado o principal responsável por óbitos em gatos. As associações citológicas da

medula óssea com o sangue periférico em gatos anêmicos naturalmente infectados pelo

vírus da leucemia felina são fortemente escassas na literatura veterinária. Desse modo,

estudar essas correlações contribui para ampliar e aprofundar os indicadores

hematológicos nesses animais, visando o auxílio no direcionamento diagnóstico,

terapêutico e prognóstico, ampliando a sanidade e bem-estar dos pacientes.

Page 39: UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ FACULDADE DE …§ão.pdf · mieloproliferativos e diseritropoieses. Assim, em gatos anêmicos com sinais clínicos, os referidos exames hematológicos

39

4. HIPÓTESE CIENTÍFICA

Existem diferenças hematológicas quantitativas e qualitativas do sangue

periférico e medula óssea em gatos anêmicos naturalmente infectados pelo vírus da

leucemia felina, sendo esse responsável diretamente por alterações bem caracterizadas e

preditivas, direcionando de modo mais crítico e seletivo o estabelecimento de testes

diagnósticos conclusivos.

Page 40: UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ FACULDADE DE …§ão.pdf · mieloproliferativos e diseritropoieses. Assim, em gatos anêmicos com sinais clínicos, os referidos exames hematológicos

40

5. OBJETIVOS

5.1 Geral

Caracterizar as alterações citológicas da medula óssea e sangue periférico de

gatos anêmicos naturalmente infectados pelo vírus da leucemia felina,

correlacionando-as a presença do agente infeccioso, avaliando seus impactos

hematopatológicos.

5.2 Específicos

Identificar os pacientes anêmicos positivos para o vírus da leucemia felina,

mediante testes hematológicos, sorológicos e de imunofluorescência indireta.

Diferenciar alterações periféricas quantitativas e qualitativas nas séries

eritrocitárias, leucocitária e plaquetária entre gatos negativos e infectados pelo

vírus da leucemia felina.

Determinar alterações hiperplásicas, hipoplásicas, síndromes mielodisplásicas e

neoplasias em gatos anêmicos com o vírus da leucemia felina.

Demonstrar a importância da utilização integrada do hemograma completo,

contagem de reticulócitos e mielograma no diagnóstico infeccioso preditivo.

Page 41: UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ FACULDADE DE …§ão.pdf · mieloproliferativos e diseritropoieses. Assim, em gatos anêmicos com sinais clínicos, os referidos exames hematológicos

41

6. CAPÍTULO 1

Alterações citológicas da medula óssea e sangue periférico de felinos anêmicos

naturalmente infectados pelo vírus da leucemia felina

Cytological changes in bone marrow and peripheral blood of feline leukemia virus-

infected anemic felines

Periódico: Ciência Rural

(Submetido em Novembro de 2017)

Qualis: B1

Page 42: UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ FACULDADE DE …§ão.pdf · mieloproliferativos e diseritropoieses. Assim, em gatos anêmicos com sinais clínicos, os referidos exames hematológicos

42

Alterações citológicas da medula óssea e sangue periférico de gatos (Felis catus)

anêmicos naturalmente infectados pelo vírus da leucemia felina

Cytological changes in bone marrow and peripheral blood of feline leukemia virus-

infected anemic cats (Felis catus)

Talles Monte de AlmeidaI* Reginaldo Pereira de Sousa Filho

II Márcio Eduardo de Melo

BenvenuttiIII

Jefferson da Silva FerreiraIV

Isabelle Lima Rodrigues V

Rosane de Oliveira

CruzV Erika Rayanne Fernandes da Silva

VI Antonio Fernando de Melo Vaz

VII Isaac

Neto Goes da SilvaV

(I) Laboratório de Patologia Clínica Veterinária, Hospital Veterinário Universitário,

Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), Avenida Bom Pastor, S/N, CEP

55292-270, Garanhuns, Pernambuco, Brasil. E-mail: [email protected]. *Autor

para correspondência.

(II) CATUS – Medicina Felina, Av. Pontes Vieira, 638. São João do Tauape, 60130-240,

Fortaleza, Ceará, Brasil.

(III) Laboratório de Patologia Clínica Veterinária, Hospital Veterinário Universitário,

Universidade Federal do Piauí (UFPI), BR 135, Km 01, S/N, CEP 64900-000, Bom

Jesus, Piauí, Brasil.

(IV) Laboratório de Patologia Animal, Hospital Veterinário, Universidade Federal de

Campina Grande (UFCG), Avenida Universitária, S/N, CEP 58708-110, Patos, Paraíba,

Brasil.

(V) Laboratório de Patologia Clínica Veterinária, Faculdade de Veterinária, Universidade

Estadual do Ceará (UECE), Avenida Dr. Silas Muguba, n.1700, CEP 60740-000,

Fortaleza, Ceará, Brasil.

(VI) Laboratório de Estatística Aplicada, Universidade Federal do Rio Grande do Norte

(UFRN), Avenida Senador Salgado Filho, 3000, CEP 59064-741, Natal, Rio Grande do

Norte, Brasil.

(VII) Laboratório de Patologia Clínica Veterinária, Hospital Veterinário, Universidade

Federal de Campina Grande (UFCG), Avenida Universitária, S/N, CEP 58708-110,

Patos, Paraíba, Brasil.

Page 43: UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ FACULDADE DE …§ão.pdf · mieloproliferativos e diseritropoieses. Assim, em gatos anêmicos com sinais clínicos, os referidos exames hematológicos

43

RESUMO

O vírus da leucemia felina (FeLV) pode afetar diretamente os sistemas

hematopoiéticos e linfoides. Desse modo, o presente trabalho teve por objetivo

caracterizar as alterações citológicas da medula óssea e sangue periférico de gatos

anêmicos naturalmente infectados pelo FeLV, correlacionando-as a presença do agente

infeccioso, avaliando seus impactos hematopatológicos. Em vista disso, foram

acompanhadas consultas clínicas especializadas de gatos, no qual, ao final, os pacientes

inclusos no estudo foram distribuídos em três grupos, dois representados por animais

retrovírus negativos e um por pacientes anêmicos positivos. Para tanto, foram

conduzidos exames de hemograma, contagem de reticulócitos e mielograma em um

mesmo momento, com os dados gerados analisados por estatística descritiva e análise

de componentes principais, considerando coeficiente de correlação > 0,65 ou < -0,65,

com posterior representação em gráfico de dispersão. Em vista do exposto, evidenciou-

se que gatos FeLV positivos têm mais chances de desenvolverem citopenias, mais

especificamente em valores de massa eritrocitária, concentração de neutrófilos e seus

precursores, além da contagem plaquetária, sendo animais propensos a distúrbios

mieloproliferativos e diseritropoieses. Em vista disso, em gatos anêmicos com sinais

clínicos, os referidos exames hematológicos associados, podem predizer possíveis

pacientes infectados pelo FeLV, direcionando de modo mais crítico e seletivo o

estabelecimento de testes diagnósticos conclusivos, oferecendo melhores auxílios

terapêuticos e prognósticos.

Palavras-chave: gatos, FeLV, hematologia clínica, mielograma.

Page 44: UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ FACULDADE DE …§ão.pdf · mieloproliferativos e diseritropoieses. Assim, em gatos anêmicos com sinais clínicos, os referidos exames hematológicos

44

ABSTRACT

Feline leukemia virus (FeLV) can directly affect the hematopoietic and

lymphoid systems. The objective of this study was to characterize the cytologic

alterations of the bone marrow and peripheral blood of anemic cats naturally infected by

FeLV, correlating them with the presence of the infectious agent, assessing the

hematopathological diseases. Specialized clinical consultations of cats were followed.

Patients included in the study were divided into three groups, two by retrovirus negative

animals and one by positive anemic patients. Hemogram, reticulocyte count and bone

marrow evaluation were performed at the same time, with the data generated analyzed

by descriptive statistics and analysis of main components, considering correlation

coefficient > 0.65 or < -0.65, with representation on a scatter plot. FeLV cats are more

likely to develop cytopenias, more specifically erythrocyte mass, neutrophil

concentration and final precursors, as well as platelet counts and these animals may also

have myeloproliferative disorders and dyseritropoiesis. Thus in anemic cats with

clinical signs, hematologic exams can predict possible FeLV-infected patients,

establishing in a more critical and selective way conclusive diagnostic tests and better

therapeutic and prognostic.

Key words: cats, FeLV, clinical hematology, bone marrow evaluation.

INTRODUÇÃO

O vírus da leucemia felina (FeLV) foi descoberto pelo grupo do cientista

William Jarret em 1964, a partir de felinos com neoplasia linfoide, caracterizando esse

como um retrovírus envelopado. Dependendo da sequência genética do envelope

proteico desse agente são identificados quatro subgrupos: FeLV-A, FeLV-B, FeLV-C e

FeLV-T (ARJONA et al., 2006; HARTMANN, 2012), constituídos por RNA de fita

simples associado a enzima transcriptase reversa para geração de DNA viral (JARRET

Page 45: UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ FACULDADE DE …§ão.pdf · mieloproliferativos e diseritropoieses. Assim, em gatos anêmicos com sinais clínicos, os referidos exames hematológicos

45

et al., 1964; WON-SHIK et al., 2013; KENNEDY & LITTLE, 2017). É um agente

altamente patogênico, responsável por síndromes clínicas variadas, correlacionando-se

estreitamente com o tecido sanguíneo, pois afeta diretamente os órgãos hematopoiético

e linfoide (GLEICH & HARTMANN, 2009; HARTMANN, 2012).

Nesse contexto, a nível hematológico, o FeLV é responsável principalmente por

quadros de anemias arregenerativas, bicitopenias, pancitopenias, hipoplasias medulares,

síndromes mielodisplásicas e neoplasias, geralmente de caráter linfoide e leucêmico

(STÜTZER et al., 2011; IWANAGA et al., 2011; SOUTHARD et al., 2016; SWANN et

al., 2016). Desse modo, exames rotineiros como o hemograma, contagem de

reticulócitos e mielograma, realizados simultaneamente e interpretados de modo

associado e dinâmico, ampliam significativamente a abordagem dos pacientes clínicos

FeLV-positivos, por explorarem etiologicamente os distúrbios hematopatológicos

(GELAIN et al., 2003; FIGHERA, 2014).

Entretanto, a frequência de utilização dos recursos hematológicos completos na

espécie felina, incluindo o mielograma e a sua meticulosa interpretação ainda é

relativamente escassa quando comparada a outros animais como os cães (HARVEY,

2001; BYERS, 2017). Em vista disso, o presente trabalho teve por objetivo caracterizar

as alterações citológicas da medula óssea e sangue periférico de gatos anêmicos

naturalmente infectados pelo FeLV, correlacionando-as a presença do agente infeccioso,

avaliando seus impactos hematopatológicos, fornecendo aplicabilidade dessas

ferramentas diagnósticas na prática diária da medicina felina.

MATERIAL E MÉTODOS

O trabalho foi realizado em um período de 8 meses, consistindo no

acompanhamento da rotina clínica da Unidade Hospitalar Veterinária de Pequenos

Animais (UHV) da UECE, bem como da Clínica Especializada em Medicina Felina

Page 46: UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ FACULDADE DE …§ão.pdf · mieloproliferativos e diseritropoieses. Assim, em gatos anêmicos com sinais clínicos, os referidos exames hematológicos

46

CATUS. Os critérios de inclusão dos animais no referido trabalho foram,

obrigatoriamente, estarem anêmicos, sintomáticos, possuírem hemograma com

proteínas plasmáticas totais (PPT), contagem de reticulócitos e mielograma de um

mesmo momento, além de positivos em dois testes diagnósticos para o FeLV, ou então

negativos na triagem, mas positivos na metodologia confirmatória. Caso o animal

apresentasse anemia e demais alterações hematológicas associadas a sinais clínicos,

mesmo com o teste de triagem negativo, foi realizado o confirmatório para completa

elucidação da infecção ativa. Contudo, se o paciente estivesse sem distúrbios

patológicos no hemograma e ausência de sinais clínicos, com o teste de triagem

negativo, esse foi considerado negativo.

Em relação à primeira condição, a anemia foi diagnosticada a partir da

diminuição da massa eritrocitária, representada por valores da quantidade de hemácias

e/ou concentração de hemoglobina e/ou hematócrito abaixo do limite inferior para a

espécie (HARVEY, 2001; TVEDTEN 2010). De outro modo, a anemia também foi

considerada caso o animal apresentasse valores dentro do intervalo, mas pelo menos

dois dos parâmetros listados até 10% do limite inferior, adicionado a alterações

hematoscópicas de anemia e com sinais clínicos desse processo, em virtude de efeitos

de hemoconcentrações, tais como desidratação e hiperepinefria resultante em

eritrocitose fisiológica, que podem mascarar a verdadeira concentração eritrocitária de

um animal (THRALL et al., 2007).

Quanto aos testes diagnósticos, utilizou-se como triagem inicial a técnica de

Ensaio de Imunoabsorção Enzimática (ELISA) imunocromatográfica (SNAP COMBO

anticorpo-FIV/antígeno-FeLV, Laboratório IDEXX®, Westbrook, Maine, EUA), com o

uso de amostras de sangue total ou soro, sendo que essa também realiza

simultaneamente pesquisa de anticorpos para o vírus da imunodeficiência felina (FIV).

Em relação à metodologia confirmatória, essa se deu pela imunofluorescência indireta

Page 47: UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ FACULDADE DE …§ão.pdf · mieloproliferativos e diseritropoieses. Assim, em gatos anêmicos com sinais clínicos, os referidos exames hematológicos

47

(IFA) para antígeno p27 do FeLV em esfregaços de medula óssea, utilizando-se

anticorpos anti-VLF (Primary Reagent for FeLV IFA, VRMD, Inc.) e o conjugado anti-

IgG FITC (Secondary Reagent for IFA, VRMD, Inc.).

Dessa maneira, as colheitas de sangue total procederam-se segundo métodos

preconizados por LOPES (2009), com a venopunção realizada preferencialmente na

jugular direita ou esquerda, recorrendo-se as veias cefálicas ou femorais como sítios

secundários, sendo a amostra depositada em tubo contendo ácido

etilenodiaminotetracético (EDTA) a 10%, respeitando-se a proporção de 10 µL do

anticoagulante para 0,5 mL de sangue, submetida a 15 a 20 inversões manuais pós-

colheita para adequada homogeneização.

A amostra sanguínea foi utilizada para hemograma segundo as técnicas de

impedância elétrica (BC-2800 VET, Mindray®, Shenzhen, China) para contagens totais

de hemácias, leucócitos, plaquetas, concentração de hemoglobina (Hb) e hematócrito

(Ht) (MORITZ & BECKER, 2010). No que diz respeito à contagem diferencial de

leucócitos, avaliação morfológica dos componentes sanguíneos e revisão em lâmina dos

valores totais obtidos, foi realizada a análise hematoscópica em microscopia óptica

(HARVEY, 2017). Quanto às alterações registradas no hemograma, essas foram

determinadas em intensidade de ocorrência (adaptado de WEISS et al., 1999;

TVEDTEN, 2010; STOCKHAM & SCOTT, 2011). Desse modo, as seguintes

classificações foram realizadas segundo os valores obtidos: anemia discreta (Ht = 20 –

24%), moderada (Ht = 14 – 19%) e acentuada (< 14%); leucopenia discreta (leucócitos

totais = 3.500 – 5.500/µL), moderada (leucócitos totais = 1.500 – 3.500/µL) e acentuada

(leucócitos totais< 1.500/µL); trombocitopenia discreta (plaquetas = 200.000 –

300.000/µL), moderada (plaquetas = 100.000 – 200.000/µL) e acentuada (plaquetas <

100.000/µL); além de leucocitose discreta (leucócitos totais = 19.500 – 25.000/µL),

moderada (leucócitos totais = 25.000 – 40.000) e acentuada (leucócitos totais > 40.000).

Page 48: UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ FACULDADE DE …§ão.pdf · mieloproliferativos e diseritropoieses. Assim, em gatos anêmicos com sinais clínicos, os referidos exames hematológicos

48

Adicionalmente, a partir da obtenção da amostra de plasma do sangue total, a

PPT foi obtida por refratometria (STOCKHAM; SCOTT, 2011). Nesse sentido,

utilizando-se ainda o sangue total, a contagem de reticulócitos agregados e ponteados

foi obtida pelo método supravital do azul cresil brilhante, diluindo-se uma parte do

sangue com três partes do corante, seguido por incubação em banho-maria a 37º durante

15 minutos. A contabilidade desses estágios imaturos deu-se em objetiva de 100x em

1000 hemácias, obtendo-se assim a porcentagem de reticulócitos existentes, corrigindo-

se esse valor para adequação ao hematócrito do animal (% reticulócitos corrigida = %

reticulócitos contados x Ht do animal/Ht médio da espécie felina correspondente a 37%)

e, em seguida, obtendo-se o valor absoluto (TVEDTEN & MORITZ, 2010).

Em relação à interpretação da contagem de reticulócitos, essa poderia ser

expressa em anemia arregenerativa (reticulócitos agregados < 15.000/µL e ponteados <

200.000), regenerativa discreta (reticulócitos agregados > 15.000 – 50.000/µL e

ponteados > 200.000 – 500.000/ µL), regenerativa moderada (reticulócitos agregados >

50.000/µL – 100.000/µL e ponteados > 500.000 – 1.000.000/ µL) e regenerativa

acentuada (reticulócitos agregados > 100.000/µL e ponteados 1.000.000/ µL)

(TVEDTEN, 2010).

No que diz respeito à colheita de medula óssea, ressalta-se que os animais foram

submetidos previamente à anestesia geral. Em todos os animais anêmicos e/ou com

sinais clínicos de apatia, anorexia, emagrecimento progressivo e prostração, foram

utilizados midazolan (0,5 mg/Kg via IM), tramadol (2 mg/Kg via IM), indução com

propofol (5 mg/kg via IV), seguido de intubação endotraqueal e manutenção em sistema

Baraka com isoflurano a 2%. Quanto aos animais sem anemia e em boa condição

clínica, que necessitaram de triagem para o FeLV e amostra de medula óssea, recorreu-

se a anestesia dissociativa constituída por zolazepam associado à tiletamina (5 mg/kg

via IM), precedentemente a administração de atropina (0,022 – 0,044 mg/Kg via SC).

Page 49: UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ FACULDADE DE …§ão.pdf · mieloproliferativos e diseritropoieses. Assim, em gatos anêmicos com sinais clínicos, os referidos exames hematológicos

49

Em seguida, o local de punção medular utilizada foi a tuberosidade proximal do

úmero direita ou esquerda, com prévia anti-sepsia, segundo procedimento padrão,

seguida pela homogeneização do material medular com EDTA e deposição do mesmo

em uma placa de Petri para identificação e obtenção das espículas (figura 1) por meio de

capilares para microhematócrito, com a subsequente realização dos squashs medulares e

coloração da amostra com Romanowsky (Panótico Rápido) (HARVEY, 2001;

GRINDEM et al., 2009; MÜLLER et al., 2009; RASKIN & MESSICK, 2012;

DEFARGES et al., 2013; STACY & HARVEY, 2016; BYERS, 2017).

A avaliação microscópica medular foi iniciada com inspeção do material em

objetivas de pequeno aumento (4 – 40x), com o propósito de verificar a celularidade

medular, bem como disposição dessa sobre a lâmina; averiguação subjetiva da

proporção de medula hematopoiética ativa e material gorduroso; contabilidade e análise

morfológica dos megacariócitos e seus precursores, além de avaliação inicial de

possíveis infiltrações celulares medulares patológicas, inclusive de características

neoplásicas (FIGHERA, 2014). Em seguida, utilizando a objetiva de 100x, procedeu-se

com as análises citológicas quantitativas e qualitativas, com a contabilidade de no

mínimo 500 células, sendo as mesmas agrupadas de acordo com seus tipos específicos e

grupos celulares (HARVEY, 2001; RASKIN & MESSICK, 2012; STACY &

HARVEY, 2016; BYERS, 2017).

As estatísticas utilizadas foram descritiva e análise de componentes principais. A

partir das variáveis originais, foram calculados os componentes 1 e 2. Desse modo,

foram realizadas as avaliações para determinação das variáveis fortemente

correlacionadas, considerando coeficiente de correlação > 0,65 ou < -0,65, com

posterior representação em gráfico de dispersão. As avaliações foram executadas com o

auxílio do programa R Core Team (2015).

Page 50: UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ FACULDADE DE …§ão.pdf · mieloproliferativos e diseritropoieses. Assim, em gatos anêmicos com sinais clínicos, os referidos exames hematológicos

50

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Em vista do exposto, após o período de acompanhamento das referidas rotinas

clínicas, foram formulados três grupos de estudo: Grupo 1 (retrovírus negativo com

ausências de alterações patológicas no hemograma e sinais clínicos associados)

constituído por 5 gatos negativos no ELISA; Grupo 2 (retrovírus negativo, com anemia

e demais alterações no hemograma, associadas a sinais clínicos de mucosas hipocoradas

e hiporexia), constituído por 1 animal negativo no ELISA e na IFA; e Grupo 3 (FeLV

positivo, com anemia e demais alterações no hemograma, associadas a sinais clínicos

comuns de apatia, emagrecimento progressivo, mucosas hipocoradas e anorexia),

constituído por 5 gatos positivos no ELISA e IFA, ou somente na IFA (Tabela 1).

Desse modo, relata-se que no Grupo 3, 60% dos animais foram positivos para os

dois testes efetuados, e que 1 animal (20%) foi positivo também para o FIV no ELISA,

demonstrando sugestiva coinfecção. No presente contexto, KIM et al. (2014)

demonstraram sensibilidade de 95,2% e especificidade de 98,5% para o referido teste

ELISA imunocromatográfico, quando comparado ao PCR, tornando-o adequado para

diagnóstico rápido de gatos infectados pelo FeLV. Contudo, JUNQUEIRA-JORGE

(2005) e KENNEDY & LITTLE (2017) relatam que resultados negativos para

retrovírus pelo ELISA são muito mais confiáveis do que resultados positivos, sendo

fundamental confirmar os positivos, pelo teste confirmatório recomendado, a IFA.

Em relação ao número de animais estudados, ressalta-se que as prevalências de

infecções pelo FeLV têm decrescido mundialmente a partir dos anos 1990, dada a maior

consolidação e ampliação de medidas profiláticas e conscientização de tutores

relacionados as boas práticas de criação, apesar da importância clínica desse agente

continuar em foco na prática médica felina (YILMAZ; ILGAZ, 2000; GLEICH;

HARTAMANN, 2009; HARTMANN, 2012; MEICHNER & BOMHARD, 2014;

KENNEDY & LITTLE, 2017). A nível nacional, por exemplo, relaciona-se que

Page 51: UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ FACULDADE DE …§ão.pdf · mieloproliferativos e diseritropoieses. Assim, em gatos anêmicos com sinais clínicos, os referidos exames hematológicos

51

COELHO (2003) encontrou uma taxa de infecção de 63,36% em gatos de abrigos no

munícipio de Belo Horizonte, entretanto, um estudo realizado por TEIXEIRA et al.

(2007) na mesma localidade e considerando a mesma condição de manejo dos gatos, já

teve uma redução de animais positivos para 32,5%, coincidindo com MEINERZ et al.

(2010), com taxa de 38,3% no Rio Grande do Sul. No Nordeste, não foram registrados

dados epidemiológicos. Não obstante, o subgrupo FeLV-C mais relacionado a anemias

arregenerativas, é mais raro em gatos naturalmente infectados (HARTMANN, 2012),

sendo que o quadro anêmico foi um dos fatores de inclusão dos animais no presente

estudo.

Assim, relacionando as alterações hematológicas de cada grupo, constatou-se

que o Grupo 1 não apresentou nenhuma alteração predominante de circulação periférica.

Nenhum indício de quadro anêmico e inflamatório infeccioso de reflexo hematológico

sistêmico foi abordado. Comenta-se que 20% apresentou leucocitose moderada por

neutrofilia e discreta eosinofilia com ausência de desvio à esquerda e sem toxicidade

neutrofílica, com hiperproteinemia discreta e rouleaux eritrocitário, possivelmente por

causas transitórias como hipercortisolemia por estresse, desidratação e possível

helmintose acompanhada de lesão de mucosa gastroentérica, já que esse não possuía

histórico de desverminação (STOCKHAM; SCOTT, 2011). Outro animal também

exibiu discreta eosinofilia (perfazendo 40%), possivelmente pela mesma causa relatada

anteriormente.

No quesito à avaliação medular, a alteração patológica majoritária foi a

hiperplasia granulocítica eosinofílica em 60% dos pacientes, denotando eosinopoiese

eficiente nos dois casos acima relatados e ineficiente no terceiro gato. Essa constatação

sinaliza resposta de granulopoiese eosinofílica acelerada, principalmente mediada por

IL-5, dependente das necessidades eosinofílicas orgânicas (STOCKHAM & SCOTT,

2011; RASKIN & MESSICK, 2012; STACY & HARVEY, 2016). Ressalta-se que

Page 52: UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ FACULDADE DE …§ão.pdf · mieloproliferativos e diseritropoieses. Assim, em gatos anêmicos com sinais clínicos, os referidos exames hematológicos

52

nenhum quadro blástico displásico ou neoplásico foi observado, incluindo

disematopoieses e síndromes mielodisplásicas.

Desse modo, enumerando-se o animal do Grupo 2, esse apresentou acentuada

anemia normocítica normocrômica arregenerativa, além de moderada anisocitose,

discreta policromasia e corpúsculos de Howell-Jolly. Foi observada ainda relação

invertida, com neutropenia e linfocitose. A contagem plaquetária exibiu agregação.

Conforme a análise medular, constatou-se hiperplasia eritroide com eritropoiese

ineficiente e diseritropoiese, menor concentração dos estágios granulocíticos

neutrofílicos finais de maturação exibindo sinais de toxicidade (metamielócito e

bastonete), relação mieloide:eritroide diminuída e hipoplasias megacariocítica e

linfoide.

Em vista do relatado no animal acima, corroboram-se WEISS (2008) e BLACK

et al. (2016), que estudaram gatos FeLV-negativos apresentando quadros de anemia

hemolítica imunomediada arregenerativa, associada a hiperplasia eritroide com

neutropenia e trombocitopenia, com etiologia de base imunogênica primária, com

destruição seletiva de precursores eritroides, mediada por aloanticorpos, gerando

hiperplasia dos estágios blásticos anteriores. BIANCO et al. (2008) estudando

trombocitopenia imunomediada presumivelmente primária em gatos retrovírus

negativos, também destaca esse papel imunogênico, entretanto em eventos

hematopatológicos que não são tão bem caracterizados. Desse modo, as alterações

verificadas podem ser consequência de um distúrbio crônico autoimune.

É válido salientar ainda, que a condição relatada no animal do Grupo 2, poderia

vir a gerar uma aplasia pura de células vermelhas, que segundo SOUTHARD et al.

(2016) é uma desordem hematológica caracterizada por menos que 5% de células

progenitoras na medula óssea, acompanhada por grave anemia arregenerativa, também

Page 53: UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ FACULDADE DE …§ão.pdf · mieloproliferativos e diseritropoieses. Assim, em gatos anêmicos com sinais clínicos, os referidos exames hematológicos

53

possuindo uma sugestiva patogênese imunomediada, na maioria das vezes, afetando

animais FeLV-negativos.

Seguindo-se as análises, o Grupo 3 demonstrou 60% de anemia moderada, além

de anemias discreta e acentuada, 20% cada. Em relação à classificação morfológica,

essas foram 40% macrocítica normocrômica, com tendência hipocrômica; sendo 20%

normocítica normocrômica com tendência macrocítica hipocrômica; 20% macrocítica

normocrômica e 20% normocítica hipocrômica, sendo assim, a macrocitose uma

observação predominante. Somente três animais do grupo tiveram contagem de

reticulócitos viabilizada, sendo essas anemias arregenerativas. Relatou-se ainda

anisocitoses acentuada e discreta em 40% dos gatos, respectivamente, e 20% com

moderada anisocitose. Enumerou-se ainda 20% com policromasia e corpúsculos de

Howell-Jolly. Dessa maneira, a diminuição da eritropoiese com anemias

arregenerativas, é um dos problemas clínicos mais associados ao FeLV, com Ht que

podem ser inferiores a 15%, possuindo base imunomediada secundária aliada a anemia

inflamatória, já que citocinas cronicamente inibem a hematopoiese (STOCKHAM &

SCOTT; KENNEDY & LITTLE, 2017; HARTMANN, 2012).

Nesse sentido, relacionando-se o leucograma, plaquetograma e proteínas

plasmáticas totais, destacam-se discreta leucopenia (40%), relação invertida entre

neutrófilos e linfócitos (20%), trombocitopenia verdadeira sem agregação (40%),

plaquetas gigantes (80%), hiperproteinemia (40%) e plasma ictérico (40%).

Relacionando-se todas as sérias do hemograma, 40% dos animais exibiram

pancitopenia. Em vista disso, sabe-se que infecções virais como a do FeLV podem

causar linfocitose e estados imunorreativos consequentes, secundários a um processo de

inflamação crônica (STOCKHAM & SCOTT). Enumera-se ainda que os reflexos são

multissistêmicos com extensões de lesões a órgãos como o fígado, baço e rins, sendo

Page 54: UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ FACULDADE DE …§ão.pdf · mieloproliferativos e diseritropoieses. Assim, em gatos anêmicos com sinais clínicos, os referidos exames hematológicos

54

que GLEICH & HARTMANN (2009) destacaram que gatos com FeLV têm maior risco

de desenvolverem citopenias e também estados de imunossupressão.

Quanto ao mielograma do Grupo 3, 80% dos animais exibiram hiperplasia

eritroide (figura 1), 60% com diminuição dos compartimentos granulocíticos

neutrofílicos finais, 20% com hipoplasia granulocítica, 40% com granulócitos imaturos

tóxicos, 100% com relação mieloide:eritroide diminuída, 20% com hipoplasia

megacariocítica, 60% com histiocitose medular, além de leucofagocitose (figura 1) e

eritrofagocitose em 20% dos casos, respectivamente.

Nesse contexto, relata-se que 40% dos animais exibiram distúrbios

mieloproliferativos com consequente mieloftise. Desse modo, um gato, que também foi

positivo para o FIV, apresentou 68,4% de linfoblastos médios a grandes, acompanhados

por corpúsculos linfoglandulares, compatível com linfoma leucemizado ou

metastatizado (figura 1) (GRINDEM et al., 2009), tendo o referido animal linfoma

extranodal de origem renal. Nesse sentido, MEICHNER & BOMHARD (2014)

afirmaram que devido às características de monotonia linfoblástica das células e a

discreta a moderada anisocitose visualizada, o diagnóstico de um linfoma já pode ser

estabelecido no exame morfológico, sendo essa a neoplasia hematopoiética mais

comum no gato (JARRET et al., 1964; HARTMANN, 2012). O outro animal referido

exibiu 41,8% de células blásticas morfologicamente não definidas, acompanhadas por

diseritropoiese (figura 1). Segundo STOCKHAM & SCOTT (2011), o FeLV pode lesar

seletivamente células eritroides, transformando ainda uma célula em uma linhagem

neoplásica ou ocasionando diseritropoieses.

Quanto aos resultados estatísticos, os grupos avaliados foram 1 e o 3, devido a

quantidade de animais presentes. Assim, foi obtido um conjunto de dados constituído

por 33 variáveis analisadas, sendo 13 referentes ao hemograma, 19 ao mielograma e 1

associada a classificação nos grupos. O componente 1 foi o mais adequado para

Page 55: UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ FACULDADE DE …§ão.pdf · mieloproliferativos e diseritropoieses. Assim, em gatos anêmicos com sinais clínicos, os referidos exames hematológicos

55

visualização da separação dos grupos. Nesse sentido, enumera-se a tabela 2

demonstrando os valores fortemente correlacionados, resultantes de diferenças

estatísticas entre os grupos avaliados.

Em vista disso, os três valores de massa eritrocitária foram os parâmetros que

apresentaram as maiores correlações, estando de acordo com a influência direta que o

FeLV provoca a nível hematológico, particularmente nos efeitos mais expostos em série

eritroide (GELAIN et al., 2003; WEISS, 2008; STOCKHAM; SCOTT, 2011;

HARTMANN, 2012). Em todo o panorama verificado, ressaltam-se resultados

coincidentes com os descritos por GLEICH & HARTAMANN (2009) e STÜTZER et

al. (2011), que analisaram alterações hematopatológicas em gatos com FeLV, exibindo

o maior risco de desenvolvimento de citopenias nesses pacientes, principalmente na

concentração de hemácias, Hb, Ht, contagens de plaquetas e neutrófilos. Assim,

segundo HARTMANN (2012), o FeLV possui capacidade primária de lesar as stem

cells hematopoiéticas e estromais medulares, levando a hipoplasias, aplasias e

pancitopenias.

Através da figura 2 foi possível definir um ponto de separação no componente 1

que destaca os dois grupos. Dessa maneira, considerando o ponto de corte de −0,75

(média entre o valor mais alto do Grupo 1 e o valor mais baixo do Grupo 3), determina-

se que um valor maior que o referido, está altamente associado aos animais anêmicos

infectados. Na prática clínica, esse panorama pode indicar a realização de testes

diagnósticos para o vírus.

CONCLUSÃO

Como exposto, em gatos anêmicos com sinais clínicos, os exames

hematológicos de sangue periférico e citologia medular, quando correlacionados em um

mesmo momento, podem predizer pacientes infectados pelo FeLV, direcionando de

Page 56: UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ FACULDADE DE …§ão.pdf · mieloproliferativos e diseritropoieses. Assim, em gatos anêmicos com sinais clínicos, os referidos exames hematológicos

56

modo mais crítico e seletivo, o estabelecimento de testes diagnósticos conclusivos.

Além do mais, são fundamentais para o estabelecimento de prognósticos e terapêutica

adequada. Entretanto, torna-se imprescindível a correta interpretação dos mesmos,

principalmente do mielograma. Ressalta-se também a necessidade de pesquisas futuras

com ênfase na ampliação de informações sobre hematopatologia medular em gatos.

COMITÊ DE ÉTICA E BIOSSEGURANÇA

Este trabalho foi realizado sob aprovação da Comissão de Ética para o Uso de

Animais (CEUA) da Universidade Estadual do Ceará – UECE, registrado sob o número

6203319/2016, com respeito a todos os preceitos éticos de proteção aos animais.

REFERÊNCIAS

ARJONA, A. et al. Evaluation of a novel nested PCR for the routine diagnosis of feline

leukemia virus (FeLV) and feline immunodeficiency virus (FIV). Journal of Feline

Medicine and Surgery, v.9, n.1, p.14-22, 2006. Disponível em:

<https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/16863698>. Acesso em: 03 out. 2017. doi:

10.1016/j.jfms.2006.05.009.

BIANCO, D.; ARMSTRONG, P.J.; WASHABAU, R.J. Presumed primary immune-

mediated thrombocytopenia in four cats. Journal of Feline Medicine and Surgery,

v.10, n.5, p. 495 – 500, 2008. Disponível em:

<https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/18339567>. Acesso em: 08 out. 2017. doi:

10.1016/j.jfms.2008.01.003.

BLACK, V. et al. Feline non-regenerative immune-mediated anaemia: features and

outcomes in 15 cases. Journal of Feline Medicine and Surgery, v.18, n.8, p. 597 –

602, 2016. Disponível em: <http://jfm.sagepub.com/content/18/8/597.full.pdf+html>.

Acesso em: 02 nov. 2016. doi: 10.1177/1098612X15588800.

Page 57: UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ FACULDADE DE …§ão.pdf · mieloproliferativos e diseritropoieses. Assim, em gatos anêmicos com sinais clínicos, os referidos exames hematológicos

57

BYERS, C.G. Diagnostic bone marrow sampling in cats: currently accepted best

practices. Journal of Feline Medicine and Surgery, v.19, n.7, p.759-767, 2017.

Disponível em: <https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/28592225>. Acesso em: 08 jul.

2017. doi: 10.1177/1098612x17714356.

COELHO, F.M. Ocorrência do DNA proviral do vírus da leucemia felina em Felis

catus detectado por Nested – PCR. 2003. 99f. Dissertação (Mestrado em

Microbiologia) – Instituto de Ciências Biológicas, Universidade Federal de Minas

Gerais.

DEFARGES, A. et al. Comparison of sternal, iliac, and humeral bone marrow aspiration

in Beagle dogs. Veterinary Clinical Pathology, v.42, n.2, p.170-176, 2013. Disponível

em: <https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/23577956>. Acesso em: 02 jan. 2016. doi:

10.1111/vcp.12036.

FIGHERA, R.A. Mielograma. In: GRANDI, F.; BESERRA, H.E.O.; COSTA, L.D.

Citopatologia veterinária diagnóstica. 1.ed. São Paulo: MedVet, 2014. Cap.13, p.120-

145.

GELAIN, M.E. et al. Disordini ematopoietici nella specie felina: aspetti classificativi ed

associazione com le principali malattie retrovirali. Veterinaria, v.17, n.4, p.59-67, 2003.

Disponível em: <https://veterinaria.scivac.org/2016/veterinaria/disordini-ematopoietici-

nella-specie-felina-aspetti-classificativi-ed-associazione-con-le-principali-malattie-

retrovirali.html>. Acesso em: 05 out. 2017.

GLEICH, S.; HARTMANN, K. Hematology and serum biochemistry of feline

immunodeficiency virus-infected and feline leukemia virus-infected cats. Journal of

Veterinary Internal Medicine, v.23, n.3, p.552-558, 2009. Disponível em:

<https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/19645840>. Acesso em: 03 out. 2017. doi:

10.1111/j.1939-1676.2009.0303.x.

Page 58: UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ FACULDADE DE …§ão.pdf · mieloproliferativos e diseritropoieses. Assim, em gatos anêmicos com sinais clínicos, os referidos exames hematológicos

58

GRINDEM, C.B. et al. A medula óssea. In: COWELL, R.L. et al. Diagnóstico

citológico e hematologia de cães e gatos. 3ª ed. São Paulo: MedVet, 2009. Cap.27,

p.423 – 451.

HARTMANN, K. Clinical aspects of feline retroviruses: a review. Viruses, v.4, n.11,

p.2684-2710, 2012. Disponível em:

<https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3509668/>. Acesso em: 17 out. 2016.

doi: 10.3390/v4112684.

HARVEY, J.W. The feline blood film: 2. Leukocyte and platelet morphology. Journal

of Feline Medicine and Surgery, v.19, n.7, p.747-757, 2017. Disponível em:

<http://journals.sagepub.com/doi/abs/10.1177/1098612X17706471?journalCode=jfma>.

Acesso em: 08 jul. 2017. doi: 10.1177/1098612X17706471.

HARVEY, J.W. Bone marrow examination. In:______. Atlas of veterinary

hematology: blood and bone marrow of domestic animals. 1ª ed. Philadelphia: W.B.

Saunders Company, 2001. Cap.7, p.92 – 123.

IWANAGA, T. et al. Abnormal erythroid cell proliferation and myelofibrosis in a cat.

Internal Medicine, v.74, n.7, p.909-912, 2012. Disponível em:

<https://www.jstage.jst.go.jp/article/jvms/74/7/74_11-0268/_article>. Acesso em: 03

out. 2017. doi: http://doi.org/10.1292/jvms.11-0268.

JARRETT, W.F. et al. A virus-like particle associated with leukaemia (lymphosarcoma).

Nature, v.202,p.567-568, 1964. Disponível em:

<https://www.nature.com/nature/journal/v202/n4932/abs/202567a0.html>. Acesso em:

03 out. 2017. doi: 10.1038/202567a0.

JUNQUEIRA-JORGE, J. Estudos dos fatores de risco da leucemia viral felina no

município de São Paulo. 2005. 43f. Dissertação (Mestrado em Clínica Veterinária) -

Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, Universidade de São Paulo.

Page 59: UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ FACULDADE DE …§ão.pdf · mieloproliferativos e diseritropoieses. Assim, em gatos anêmicos com sinais clínicos, os referidos exames hematológicos

59

KENNEDY, M.; LITTLE, S.E. Doenças virais. In: LITTLE, S.E. O gato medicina

interna. 1.ed. Rio de Janeiro: Roca, 2017. Cap. 33, p. 978-1046.

KIM, W. et al. Development and clinical evaluation of a rapid diagnostic kit for feline

leukemia virus infection. Journal of Veterinary Science, v.15, n.1, p.91-97, 2013.

Disponível em: <https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/24136209>. Acesso em: 08 out.

2017. doi: https://doi.org/10.4142/jvs.2014.15.1.91.

LOPES, R.D. Manual para coleta de sangue venoso em caninos e felinos. 2009. 71f.

Monografia (Especialização em Patologia Clínica) – Faculdade de Medicina Veterinária

e Zootecnia, Universidade de São Paulo.

MEICHNER, K.; BOMHARD, W.V. Patient characteristics, histopathological findings

and outcome in 97 cats with extranodal subcutaneous lymphoma (2007-2011).

Veterinary and Comparative Oncology, v.14, n.s1, p.8-20, 2014. Disponível em:

<http://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1111/vco.12081/abstract>. Acesso em: 08 out.

2017. doi: 10.1111/vco.12081.

MEINERZ, A.R.M. et al. Frequência do vírus da leucemia felina (VLFe) em felinos

domésticos (Felis catus) semidomiciliados nos municípios de Pelotas e Rio Grande.

Ciência Animal Brasileira, v.11, n.1, p. 90-93, 2010. Disponível em:

<https://www.revistas.ufg.br/vet/article/view/438/8063>. Acesso em: 23 out. 2017. doi:

10.5216/cab.v11i1.438.

MORITZ, A.; BECKER, M. Automated hematology systems. In: WEISS, D.J.;

WARDROP, K.J. Schalm's veterinary hematology. 6.ed. Ames: Blackwell Publishing

Ltd, 2010. Cap.135, p.1054-1066.

MÜLLER, D.C.M. et al. Técnicas e sítios de coleta de medula óssea em cães e gatos.

Ciência Rural, v.39, n.7, p.2243-2251, 2009. Disponível em:

<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-84782009000700048>.

Acesso em: 02 jan. 2016. doi: http://dx.doi.org/10.1590/S0103-84782009005000153.

Page 60: UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ FACULDADE DE …§ão.pdf · mieloproliferativos e diseritropoieses. Assim, em gatos anêmicos com sinais clínicos, os referidos exames hematológicos

60

RASKIN, R.E.; MESSICK, J.B. Bone marrow cytologic and histologic biopsies:

indications, technique, and evaluation. Veterinary Clinical Small Animal, v.42, n.1,

p.23-42, 2012. Disponível em:

<https://www.researchgate.net/publication/221784737_Bone_Marrow_Cytologic_and_

Histologic_Biopsies_Indications_Technique_and_Evaluation>. Acesso em: 01 jan.

2017. doi: 10.1016/j.cvsm.2011.10.001.

SOUTHARD, T.L. et al. Holoprosencephaly and pure red cell aplasia in a feline

leukaemia virus-positive kitten. Journal of Comparative Pathology, v.154, n.2-3, p.

239-242, 2016. Disponível em:

<http://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0021997516000074>. Acesso em:

17 out. 2016. doi: 10.1016/j.jcpa.2016.01.006.

STACY, N.I.; HARVEY, J.W. Bone marrow aspirate Evaluation. Veterinary Clinical

Small Animal, v.47, n.1, p.31-52, 2016. Disponível em:

<http://www.vetsmall.theclinics.com/article/S0195-5616(16)30066-3/abstract>. Acesso

em: 02 jan. 2017. doi: http://dx.doi.org/10.1016/j.cvsm.2016.07.003.

STOCKHAM, S.L.; SCOTT, M.A. Medula óssea e linfonodo. In:______.

Fundamentos de patologia clínica veterinária. 2ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara

Koogan, 2011. Cap.6, p.263-302.

STÜTZER, B. et al. Role of latent feline leukemia virus infection in nonregenerative

cytopenias of cats. Journal of Veterinary Internal Medicine, v.24, n.1, p.192-197,

2011. Disponível em: <https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/19925574>. Acesso em:

17 out. 2016. doi: 10.1111/j.1939-1676.2009.0417.x.

SWANN, J.W.; SZLADOVITS, B.; GLANEMANN, B. Demographic characteristics,

survival and prognostic factors for mortality in cats with primary immune-mediated

hemolytic anemia. Journal of Veterinary Internal Medicine, v.30, n.1, p.147-156,

Page 61: UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ FACULDADE DE …§ão.pdf · mieloproliferativos e diseritropoieses. Assim, em gatos anêmicos com sinais clínicos, os referidos exames hematológicos

61

2016. Disponível em: <https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/26645865>. Acesso em:

03 out. 2017. doi: 10.1111/jvim.13658.

TEIXEIRA, B.M. et al. Ocorrência do vírus da imunodeficiência felina e do vírus da

leucemia felina em gatos domésticos mantidos em abrigos no município de Belo

Horizonte. Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia, v.59, n.4,

p.939-942, 2007. Disponível em:

<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-09352007000400019>.

Acesso em: 08 out. 2017. ISSN: 1678-4162.

THRALL, M.A. et al. Avaliação laboratorial da medula óssea. In:______. Hematologia

e bioquímica clínica veterinária. 1.ed. São Paulo: Roca, 2007. Cap.13, p.141-169.

TVEDTEN. H.; MORITZ,A. Reticulocyte and Heinz Body Staining and Enumeration.

In: WEISS, D.J.; WARDROP, K.J. Schalm's veterinary hematology. 6.ed. Ames:

Blackwell Publishing Ltd, 2010. Cap.136, p.1067-1073.

TVEDTEN, H. Laboratory and clinical diagnosis of anemia. In: WEISS, D.J.;

WARDROP, K.J. Schalm's veterinary hematology. 6.ed. Ames: Blackwell Publishing

Ltd, 2010. Cap.24, p.152-161.

WEISS, D.J. Bone marrow Pathology in dogs and cats with non-regenerative immune-

mediated haemolytic anaemia and pure red cell aplasia. Journal of Comparative

Pathology, v.138, n.1, p.46-53, 2008. Disponível em:

<http://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0021997507001430>. Acesso em:

05 jan. 2016. doi: http://dx.doi.org/10.1016/j.jcpa.2007.10.001.

WEISS, D.J.; EVANSON, O.A.; SYKES, J. A retrospective study of canine

pancytopenia. Veterinary Clinical Pathology, v.28, n.3, p.83-88, 1999. Disponível em:

<https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/12075515>. Acesso em: 08 out. 2017. doi:

10.1111/j.1939-165X.1999.tb01053.x.

Page 62: UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ FACULDADE DE …§ão.pdf · mieloproliferativos e diseritropoieses. Assim, em gatos anêmicos com sinais clínicos, os referidos exames hematológicos

62

WON-SHIK, K. et al. Development and clinical evaluation of a rapid diagnostic kit for

feline leukemia virus infection. Journal of Veterinary Science, v.15, n.1, p.91-97,

2014. Disponível em:

<http://www.vetsci.org/journal/view.html?volume=15&number=1&spage=91>. Acesso

em: 03 out. 2017. doi: https://doi.org/10.4142/jvs.2014.15.1.91.

YILMAZ, H.; ILGAZ, A. Prevalence of FIV and FeLV infections in cats in Istanbul.

Journal of Feline Medicine and Surgery, v.2, n.1, p.69-70, 2000. Disponível em:

<https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/11716594>. Acesso em: 08 out. 2017. doi:

10.1053/jfms.2000.0066.

Page 63: UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ FACULDADE DE …§ão.pdf · mieloproliferativos e diseritropoieses. Assim, em gatos anêmicos com sinais clínicos, os referidos exames hematológicos

63

A B

C D

A B

C D

E F

Page 64: UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ FACULDADE DE …§ão.pdf · mieloproliferativos e diseritropoieses. Assim, em gatos anêmicos com sinais clínicos, os referidos exames hematológicos

64

Figura 1 – Amostras medulares felinas do Grupo 3. A. Material medular para

mielograma depositado em placa de Petri. Destaque para as unidades morfofuncionais

da medula óssea representadas pelas espículas hematopiéticas (seta). B. Hiperplasia

eritroide com eritropoiese ineficiente, na qual se observam rubrícitos em destaque (setas

pretas). Essa alteração foi constatada em 80% dos animais do grupo, evidenciando-se

uma figura de mitose típica (seta vermelha), demonstrando a eritropoiese acelerada

(Panótico Rápido, 1000x). C. Histiocitose medular com imagem de leucofagocitose

(Panótico Rápido, 1000x). D. Processo linfoide medular compatível com linfoma

leucemizado de origem renal, presente em um animal do grupo. Destaque para a

ocorrência de corpúsculos linfoglandulares (setas pretas) e uma figura de mitose atípica

(seta vermelha) (Panótico Rápido, 1000x). E. Mesmo distúrbio descrito em D, com

maior evidenciação de linfoblastos de tamanho médio, exibindo anisocitose,

anisocariose, cromatina de padrão grosseiro, nucléolos evidentes e anisonucleólise

(Panótico Rápido, 1000x). F. Distúrbio mieloproliferativo descrito em outro paciente do

grupo, com blastos neoplásicos de origem indeterminada morfologicamente, com

nucléolos evidentes (setas pretas). Nesse sentido, a fragilidade celular é acentuada,

levando a formação de frequentes Sombras de Gumprecht (seta vermelha) (Panótico

Rápido, 1000x).

Page 65: UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ FACULDADE DE …§ão.pdf · mieloproliferativos e diseritropoieses. Assim, em gatos anêmicos com sinais clínicos, os referidos exames hematológicos

65

Tabela 1 – Grupos com os respectivos pacientes, relacionados com os testes

diagnósticos realizados, para confirmação da infecção pelo FeLV.

Grupo Número de

pacientes

ELISA

Imunocromatográfico

Imunofluorescência

Indireta (IFA)

Grupo 1 5 animais Negativo Sem efetivação

Grupo 2 1 animal Negativo Negativo

Grupo 3 3 animais

2 animais

Positivo

Negativo

Positivo

Positivo

Page 66: UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ FACULDADE DE …§ão.pdf · mieloproliferativos e diseritropoieses. Assim, em gatos anêmicos com sinais clínicos, os referidos exames hematológicos

66

Tabela 2 – Variáveis que possuem correlação forte com a componente 1, demonstrando

os parâmetros com diferença estatística entre os Grupos 1 e 3.

Amostra Variável Correlação

Sangue periférico Hemácias (/µL) 0,93478

Hemoglobina (g/dL) 0,92205

Hematócrito (%) 0,92133

VCM (fL) -0,75673

Eosinófilos (/µL) 0,77998

Plaquetas (/µL) 0,81303

Medula óssea Promielócito (%) 0,71786

Metamielócito neutrofílico (%) 0,68003

Bastonete neutrofílico (%) 0,83152

Neutrófilo (%) 0,70631

Relação Mieloide:Eritroide 0,67507

Page 67: UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ FACULDADE DE …§ão.pdf · mieloproliferativos e diseritropoieses. Assim, em gatos anêmicos com sinais clínicos, os referidos exames hematológicos

67

Figura 2 – Gráfico de dispersão da componente 1 com a componente 2 considerando

apenas as variáveis fortemente correlacionadas. Destaque para a evidente separação

entre os dois grupos, quando se considera a primeira componente. A linha tracejada

representa o ponto de corte de −0,75 (média entre o valor mais alto do Grupo 1 e o

valor mais baixo do Grupo 3), determinando-se que um valor maior que o referido está

altamente associado aos animais anêmicos infectados.

Page 68: UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ FACULDADE DE …§ão.pdf · mieloproliferativos e diseritropoieses. Assim, em gatos anêmicos com sinais clínicos, os referidos exames hematológicos

68

7. CAPÍTULO 2

Linfoma leucemizado em gato (Felis catus) coinfectado com os vírus da

imunodeficiência felina e da leucemia felina: relato de caso

Lymphoma in leukemic phase in cat (Felis catus) coinfected with feline

immunodeficiency virus and feline leukemia virus: case report

Periódico: Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia

(Submetido em Novembro de 2017)

Qualis: B1

Page 69: UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ FACULDADE DE …§ão.pdf · mieloproliferativos e diseritropoieses. Assim, em gatos anêmicos com sinais clínicos, os referidos exames hematológicos

69

Linfoma leucemizado em gato (Felis catus) coinfectado com os vírus da

imunodeficiência felina e da leucemia felina: relato de caso

[Lymphoma in leukemic phase in cat (Felis catus) coinfected with feline immunodeficiency virus and

feline leukemia virus: case report]

T. M. Almeida1*

, R. P. Sousa Filho2,I. L. Rodrigues

3, A.P.R. Rodrigues

3,I. N. G. Silva

3

1Hospital Veterinário Universitário - Universidade Federal Rural de Pernambuco – UFRPE- Garanhuns,

Pernambuco. *Autor para correspondência (corresponding author). E-mail: [email protected].

2CATUS – Medicina Felina - Fortaleza, Ceará.

3Faculdade de Veterinária – Universidade Estadual do Ceará - UECE – Fortaleza, Ceará.

RESUMO

O presente trabalho teve por objetivo relatar um caso de linfoma leucemizado em um

gato coinfectado com o vírus da imunodeficiência felina (FIV) e vírus da leucemia

felina (FeLV). Foram realizados exames de hemograma, contagem de reticulócitos,

mielograma, bioquímica, sorologia imunocromatográfica para FIV e FELV,

imunofluorescência indireta (IFA) para FELV, radiografia torácica e citologia renal.

Esse último exame revelou um linfoma extranodal. A associação dos sinais clínicos

corroborados com a infiltração de elevada quantidade de células linfoblásticas na

medula óssea, exibindo critérios citomorfológicos de malignidade como mitoses

atípicas, relacionadas a presença de corpúsculos linfoglandulares e material

hematopoiético inter-relacionado, foram determinantes para a conclusão diagnóstica. O

linfoma é uma neoplasia relativamente comum em gato, entretanto, a apresentação

leucemizada é rara, podendo representar um desafio diagnóstico clínico, tornando

fundamental a inclusão da citologia medular na prática clínica dessa espécie.

Palavras-chave: gatos, hematologia clínica, medula óssea, neoplasia linfoproliferativa

Page 70: UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ FACULDADE DE …§ão.pdf · mieloproliferativos e diseritropoieses. Assim, em gatos anêmicos com sinais clínicos, os referidos exames hematológicos

70

ABSTRACT

The present study aimed to report a case of lymphoma in leukemic phase in cat

coinfected with feline immunodeficiency virus (FIV) and feline leukemia virus (FeLV).

Blood counts, reticulocyte counts, bone marrow avaluation, biochemistry,

immunochromatographic serology for FIV and FELV, indirect immunofluorescence

(IFA) for FELV, thoracic radiography and renal citology were performed. This last

examination revealed extranodal lymphoma. The association of the clinical signs with

the infiltration of a high amount of lymphoblastic cells in the bone marrow with

cytomorphological criteria of malignancy, atypical mitoses, lymphoglandular

corpuscles and hematopoietic material were determinant for the diagnostic conclusion.

Lymphoma is a relatively common neoplasm in cats, however the leukemic phase is rare

and may represent a clinical diagnostic challenge, making it essential to include bone

marrow citology in the clinical practice of this species.

Key words: cats, clinical hematology, bone marrow, lymphoproliferative disorder

INTRODUÇÃO

O linfoma é uma neoplasia de origem linfoide que se origina em tecidos sólidos e

apresenta comportamento biológico maligno (Stockham e Scott, 2011). É o processo

neoplásico hematopoiética mais comum no gato (Stützer et al., 2011). Quanto a

classificação morfológica, ressaltam-se que as apresentações mediastínicas e

multicêntricas são as mais comuns, entretanto, as formas intestinais e extranodais

também são relatadas (Meichner e Bomhard, 2014). A linfoadenomegalia generalizada

pode estar presente, mas não é um achado tão consistente nessa espécie, principalmente

na conformação extranodal, na qual o envolvimento ocorre em estruturas não linfoides,

apresentando-se de modo focal em órgãos como sistema nervoso central, estruturas

sensoriais como olhos, fígado e rins (Kennedy e Little, 2017). Os sinais clínicos podem

Page 71: UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ FACULDADE DE …§ão.pdf · mieloproliferativos e diseritropoieses. Assim, em gatos anêmicos com sinais clínicos, os referidos exames hematológicos

71

ser amplos e específicos, secundários ao tipo específico da patologia. O termo linfoma

leucemizado se refere à metastatização da neoplasia por via hematógena, infiltrando a

corrente sanguínea e a medula óssea (Grindem et al., 2011). Retroviroses, mais

especificamente o FeLV, que afeta diretamente o tecido hematopoiético, é um fator de

predisposição ao linfoma, no qual, um animal infectado por esse vírus pode ter até

sessenta e duas vezes mais chances de desenvolver essa neoplasia (Hartmann, 2012). O

tratamento se baseia em quimioterapia sistêmica multifármaco, com a utilização de

ciclofosfamida, vincristina e prednisona, ou até mesmo a utilização individual de

corticoterapia (Kennedy e Little, 2017).

Objetivou-se, com o presente relato, descrever um caso de linfoma leucemizado em um

gato coinfectado com FIV e FeLV.

CASUÍSTICA

Um gato, macho, sem raça definida, com seis anos de idade, foi atendido na Clínica

Especializada em Medicina Felina CATUS, apresentando sialorréia sanguinolenta há

alguns meses, normorexia, disfagia e emagrecimento progressivo, sendo um animal com

vários gatos contactantes, mas domiciliado. Ao exame físico, o animal mostrou-se ativo,

mucosas orais acentuadamente eritematosas e hemorrágicas, halitose, quadro de

gengivite-estomatite e renomegalia bilateral à palpação. Os demais parâmetros

fisiológicos encontravam-se dentro da normalidade. Foram realizados, nesse primeiro

momento, hemograma, bioquímica sérica com os analitos creatinina e fosfatase alcalina

(FA), proteínas plasmáticas totais (PPT), radiografia torácica e sorologia

imunocromatográfica para FIV e FelV (SNAP COMBO anticorpo-FIV/antígeno-FeLV,

Laboratório IDEXX®, Westbrook, Maine, EUA).

No hemograma (Tab. 1) constatou-se bicitopenia, com moderada anemia macrocítica

normocrômica, além da presença de moderados policromatófilos, leucopenia com

Page 72: UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ FACULDADE DE …§ão.pdf · mieloproliferativos e diseritropoieses. Assim, em gatos anêmicos com sinais clínicos, os referidos exames hematológicos

72

neutropenia e linfopenia, monocitose relativa e acentuada trombocitopenia, mas

associada a elevada quantidade de agregados plaquetários. A imunocromatografia para

FIV e FelV revelou-se positiva para ambas as retroviroses. A creatinina encontrava-se

elevada com valor de 3,3 mg/dL. Os demais resultados dos exames complementares

encontraram-se dentro dos valores de referência para a espécie.

Em vista do exposto acima, relacionando-se a coinfecção viral, iniciou-se terapêutica

com prednisolona (2 mg/Kg) a cada 24 horas. No retorno, dez dias após a abordagem

clínica inicial, o quadro do paciente permaneceu inalterado, com melhoras não

constatadas ao exame físico. Nesse momento, novo hemograma foi solicitado, além de

contagem de reticulócitos e amostra medular para mielograma e IFA para detecção de

antígeno p27 do FeLV nas células hematopoiéticas, utilizando-se anticorpos anti-VLF

(Primary Reagent for FeLV IFA, VRMD, Inc.) e o conjugado anti-IgG FITC

(Secondary Reagent for IFA, VRMD, Inc.).

Diante disso, o segundo hemograma (Tab. 1) revelou pancitopenia, com acentuada

anemia macrocítica e tendência hipocrômica, com moderados policromatófilos, discreta

hipocromia e ocasionais corpúsculos de Howell-Jolly, leucopenia com neutropenia e

tendência linfopênica, monocitose relativa, apresentando 5% de linfócitos reativos e

60% de monócitos ativados, além de acentuada trombocitopenia com plaquetas

gigantes. A contagem de reticulócitos confirmou anemia arregenerativa. O mielograma

(Fig. 1) constatou frequentes células de origem linfoide de característica linfoblástica,

de tamanho médio a grande, exibindo anisocitose, alta relação núcleo:citoplasma,

discreta a acentuada basofilia citoplasmática, anisocariose, cromatina de padrão

finamente granular, nucléolos múltiplos e evidentes, anisonucleólise, figuras de mitose

atípicas, além da presença de corpúsculos linfoglandulares, elevada ativação

macrofágica com leucofagocitose e eritrofagocitose, e redução dos compartimentos

Page 73: UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ FACULDADE DE …§ão.pdf · mieloproliferativos e diseritropoieses. Assim, em gatos anêmicos com sinais clínicos, os referidos exames hematológicos

73

proliferativos granulocítico neutrofílico, eritroide e megacariocítico. A IFA foi positiva

para o FeLV.

Nesse contexto, foi confirmada mieloftise por neoplasia de origem linfoide,

especificamente linfoma leucemizado, associado a acentuado processo histiocítico local

e hipoplasia medular generalizada.

Nesse sentido, foi continuada a terapêutica com prednisolona (2 mg/kg) a cada 24 horas,

mas agora associada a marbofloxacina (2,2 mg/kg) a cada 24 horas e clorambucil (2,0

mg/animal) a cada 48 horas.

O terceiro retorno se realizou dez dias após o segundo, com o animal em uma condição

clínica sem melhora significativa. Novo hemograma e bioquímica foram realizados,

acrescentando, a esse último exame, dosagens de albumina, cálcio total e alanina

aminotransferase (ALT). Nesse momento, a renomegalia tornou-se mais evidente,

viabilizando punção citológica por agulha fina.

Assim, o terceiro hemograma (Tab. 1) revelou ainda bicitopenia, com anemia

macrocítica normocrômica, leucócitos no intervalo, mas tendência leucopênica com

neutropenia e monocitose, além de 90% de neutrófilos tóxicos, 30% de linfócitos

reativos e 80% de monócitos ativados, com presença também de acentuada

trombocitopenia sem plaquetas gigantes.

O exame citológico confirmou linfoma extranodal de origem renal (Fig. 2).

Aproximadamente 20 dias depois do último retorno o animal veio a óbito. A referida

informação só foi divulgada pela tutora em um momento posterior, não permitindo a

realização de necropsia e exame histopatológico.

Page 74: UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ FACULDADE DE …§ão.pdf · mieloproliferativos e diseritropoieses. Assim, em gatos anêmicos com sinais clínicos, os referidos exames hematológicos

74

Tabela 1. Resultados dos hemogramas seriados de felino com linfoma leucemizado

* RIZZI, T.E.; CLINKENBEARD, K.D.; MEINKOTH, J.H (2010).

1ª Hemograma 2ª Hemograma 3ª Hemograma Valores de Referência*

Hemácias (/µL) 3.500.000 2.500.000 2.140.000 5.000.000 – 10.000.000

Hemoglobina (g/dL) 7,1 4,3 3.9 8,0 – 15,0

Hematócrito (%) 21 14 12 24 – 45

VCM (µm3) 60,0 56,0 56,1 39 – 55

CHCM (%) 33,8 30,7 32,5 30 – 36

Leucócitos totais 3.700 4.100 5.800 5.500 – 19.500

Metamielócitos (% /µL) 0 0 0 0 4 232 0 0

Bastões (% /µL) 0 0 0 0 5 296 0 – 3 0 – 300

Segmentados (% /µL) 46 1.702 40 1.640 17 986 35 – 75 2.500 – 12.500

Linfócitos (% /µL) 41 1.517 44 1.804 51 2.958 20 – 55 1.500 – 7.000

Eosinófilos (% /µL) 1 37 6 246 0 0 2 – 12 0 – 1.500

Monócitos (% /µL) 12 444 10 410 23 1.334 1 – 4 0 – 850

Plaquetas totais (/µL) 50.000 20.000 8.000 300.000 – 800.000

Observações Anisocitose (++-), Macrócitos (++-),

Hipocromia (+--),

Policromasia (++-). Agregação

plaquetária.

Anisocitose (++-), Macrócitos (++-),

Micrócitos (+--),

Policromasia (++-), Hipocromia (+--),

Corpúsculos de

Howell-Jolly (+--), Linfócitos reativos

5%. Monócitos

ativados 60%. Plaquetas gigantes.

Anisocitose (+--), Macrócitos (++-),

Micrócitos (+--),

Neutrófilos tóxicos 90%, Linfócitos

reativos 30%,

Monócitos ativados 80%.

Sem alterações morfológicas.

Page 75: UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ FACULDADE DE …§ão.pdf · mieloproliferativos e diseritropoieses. Assim, em gatos anêmicos com sinais clínicos, os referidos exames hematológicos

75

Figura 1. Amostras de medula óssea com linfoma leucemizado. A. Destaque para

linfoblastos de tamanho médio a grande (setas pretas) e figura de mitose atípica (seta

vermelha). (obj. 100x, Panótico Rápido - LABORCLIN®). B. Linfoblastos com

nucléolos evidentes (setas pretas) e binucleados (seta vermelha) (obj. 100x, Panótico

Rápido - LABORCLIN®

). C. Corpúsculos linfoglandulares (setas) (obj. 100x, Panótico

Rápido - LABORCLIN®). D. Eritrofagocitose relacionada a reação histiocítica local

(seta). (obj. 100x, Panótico Rápido - LABORCLIN®).

A B

C D

Page 76: UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ FACULDADE DE …§ão.pdf · mieloproliferativos e diseritropoieses. Assim, em gatos anêmicos com sinais clínicos, os referidos exames hematológicos

76

Figura 2. Amostra citológica renal, evidenciando população linfoblástica em monotonia,

com acentuada fragilidade celular demonstrada pela presença de “núcleos nús” (setas)

(obj. 40x, Panótico Rápido - LABORCLIN®

).

DISCUSSÃO

Os sinais clínicos do linfoma dependem da disfunção dos sistemas orgânicos afetados,

principalmente em casos extranodais, no qual a localização pode ser bastante variada,

não atingindo diretamente um componente linfoide específico (Meichner e Bomhard,

2014). No presente caso, os órgãos primários acometidos foram os rins.

Quanto a infecção pelas retroviroses, é determinado que o FeLV é um dos agentes mais

patogênicos nessa espécie, sendo correlacionado fortemente com o tecido sanguíneo,

pois afeta de modo direto órgãos hematopoiético e linfoide (Hartmann, 2012), causando

quadros de anemias arregenerativas, bicitopenias, pancitopenias, hipoplasias medulares,

síndromes mielodisplásicas e neoplasias principalmente linfoides e leucêmicas (Gelain

et al., 2003; Hartmann, 2012). O FIV causa imunossupressão sistêmica e pode favorecer

a instalação de quadros hematopatológicos (Gleich e Hartmann, 2009). Dessa maneira,

o paciente em questão se enquadrava em um grupo de risco para o desenvolvimento de

linfoma e processos hematopoiéticos gerais.

Page 77: UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ FACULDADE DE …§ão.pdf · mieloproliferativos e diseritropoieses. Assim, em gatos anêmicos com sinais clínicos, os referidos exames hematológicos

77

Em relação ao linfoma leucemizado, esse implica obrigatoriamente na análise de

medula óssea e deve ser minunciosamente distinguido de quadros leucêmicos linfoides.

Essa diferenciação pode ser difícil de realizar, entretanto, as análises de características

particulares de caráter clínico e patológico auxiliam nesse propósito, como a ocorrência

de corpúsculos linfoglandulares e a infiltração neoplásica parcial, não envolvendo

monotonia generalizada (Grindem et al., 2009).

As alterações hematológicas periféricas apresentadas pelo paciente são decorrentes de

bicitopenias e pancitopenias por produção, em vista da mieloftise neoplásica (Weiss,

2008; Stützer et al., 2011). Adicionalmente, processos inflamatórios secundários

favorecidos pela imunodepressão, também maximizaram o quadro hematológico, visto

que citocinas e quimiocinas inibem hematopoiese (Stacy e Harvey, 2016). As alterações

hematoscópicas ilustradas em neutrófilos tóxicos, linfócitos reativos e monócitos

ativados confirmam essa última conotação, expressando um processo imunogênico

ativo, progressivo e debilitante (Stockham e Scott, 2011). Destaca-se ainda que a

anemia macrocítica constante, apesar da presença de policromatófilos, tem caráter

arregenerativo, visto na contagem de reticulócitos. Essa possivelmente está sendo

potencializada pela presença dos macrócitos não policromáticos, que pode estar

relacionada a uma alteração eritroide megalobástica promovida pela infecção pelo

FeLV, ilustrando assim uma disematopoiese (Gelain et al., 2003, Stockham e Scott,

2011, Hartmann, 2012).

Em relação ao tratamento, não existe ainda consenso geral de protocolo, sendo esse um

desafio terapêutico, apresentando prognóstico reservado. A utilização inclusive de um

único fármaco, a prednisolona (2 mg/Kg) a cada 24 horas por duas semanas, reduzindo-

se a dose para 1 mg/Kg posteriormente, e assim por diante, é indicada e pode promover

resultados satisfatórios (Kennedy e Little, 2017). A timomodulina pode ser utilizada

para aumento da resposta imunogênica e a antibioticoterapia para controle de infecções

Page 78: UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ FACULDADE DE …§ão.pdf · mieloproliferativos e diseritropoieses. Assim, em gatos anêmicos com sinais clínicos, os referidos exames hematológicos

78

secundárias (Kennedy e Little, 2017). Após a constatação do quadro linfoide, a

clorambucila foi instituída, por ser um princípio ativo eficaz para essa origem celular

específica (Kennedy e Little, 2017).

Assim, reporta-se um achado incomum de linfoma leucemizado em gato. As evidências

clínicas e laboratoriais conduziram ao diagnóstico definitivo. Dessa maneira, apesar de

ser um processo raro, deve ser incluída como diagnóstico diferencial na medicina felina,

principalmente em animais coinfectados com FIV e FeLV.

REFERÊNCIAS

GELAIN, M.E. et al. Disordini ematopoietici nella specie felina: aspetti classificativi ed

associazione com le principali malattie e retrovirali. Veterinaria, v.17, n.4, p.59-67,

2003.

GLEICH, S.; HARTMANN, K. Hematology and serum biochemistry of feline

immunodeficiency virus-infected and feline leukemia virus-infected cats. Journal of

Veterinary Internal Medicine, v.23, n.3, p.552-558, 2009.

GRINDEM, C.B.; TY.LER, R.D.; COWELL, R.L. A medula óssea. In: COWELL, R.L.

et al. Diagnóstico citológico e hematologia de cães e gatos. 3ª ed. São Paulo: MedVet,

2009. Cap.27, p.423 – 451.

HARTMANN, K. Clinical aspects of feline retroviruses: a review. Viruses, v.4, n.11,

p.2684-2710, 2012.

KENNEDY, M.; LITTLE, S.E. Doenças virais. In: LITTLE, S.E. O gato medicina

interna. 1.ed. Rio de Janeiro: Roca, 2017. Cap. 33, p. 978-1046.

MEICHNER, K.; BOMHARD, W.V. Patient characteristics, histopathological findings

and outcome in 97 cats with extranodal subcutaneous lymphoma (2007-2011).

Veterinary and Comparative Oncology, v.14, n.s1, p.8-20, 2016.

RIZZI, T.E.; CLINKENBEARD, K.D.; MEINKOTH, J.H. Normal hematology of the

cat. In: WEISS, D.J.; WARDROP, K.J. Schalm's veterinary hematology. 6. ed. Ames:

Blackwell Publishing Ltd, 2010. Cap.105, p. 811-820.

Page 79: UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ FACULDADE DE …§ão.pdf · mieloproliferativos e diseritropoieses. Assim, em gatos anêmicos com sinais clínicos, os referidos exames hematológicos

79

STACY, N.I.; HARVEY, J.W. Bone marrow aspirate Evaluation. Veterinary Clinical

Small Animal, v.47, n.1, p.31-52, 2016.

STOCKHAM, S.L.; SCOTT, M.A. Medula óssea e linfonodo. In:______. Fundamentos

de patologia clínica veterinária. 2ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2011. Cap.6,

p.263-302.

STÜTZER, B. et al. Role of latent feline leukemia virus infection in nonregenerative

cytopenias of cats. Journal of Veterinary Internal Medicine, v.24, n.1, p.192-197, 2010.

WEISS, D.J. Bone marrow Pathology in dogs and cats with non-regenerative immune-

mediated haemolytic anaemia and pure red cell aplasia. Journal of Comparative

Pathology, v.138, n.1, p.46-53, 2008.

Page 80: UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ FACULDADE DE …§ão.pdf · mieloproliferativos e diseritropoieses. Assim, em gatos anêmicos com sinais clínicos, os referidos exames hematológicos

80

8. CONCLUSÕES

Em vista do exposto, conclui-se que em felinos anêmicos com sinais clínicos, os

exames hematológicos de sangue periférico e citologia medular, quando correlacionados

em um mesmo momento, podem predizer pacientes infectados pelo vírus da leucemia

felina, direcionando de modo mais crítico e seletivo, o estabelecimento de testes

diagnósticos definitivos.

Page 81: UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ FACULDADE DE …§ão.pdf · mieloproliferativos e diseritropoieses. Assim, em gatos anêmicos com sinais clínicos, os referidos exames hematológicos

81

9. PERSPECTIVAS

Os resultados deste trabalho demonstraram que os exames do hemograma,

contagem de reticulócitos e mielograma são fundamentais para o direcionamento

diagnóstico, exercendo também importância em aspectos prognósticos e terapêuticos.

Entretanto, torna-se imprescindível a correta interpretação dos mesmos, principalmente

do mielograma. Ressalta-se também a necessidade de pesquisas futuras com ênfase na

ampliação de informações sobre hematopatologia medular em felinos.

Page 82: UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ FACULDADE DE …§ão.pdf · mieloproliferativos e diseritropoieses. Assim, em gatos anêmicos com sinais clínicos, os referidos exames hematológicos

82

REFERÊNCIAS

ARJONA, A.; BARQUEO, N.; DOMÉNECH, A.; TEJERIZO, G.; COLLADO, V.M.;

TOURAL, C.; MARTÍNS, D.; GOMEZ-LUCIA, E. Evaluation of a novel nested PCR

for the routine diagnosis of Feline leukemia vírus (FELV) and feline immunodeficiency

virus (FIV). Journal of Feline Medicine and Surgery, v.9, n.1, p.14 – 22,

2007.10.1016/j.jfms.2006.05.009

BAGWELL, J.M.; HERD, H.R.; BRESHEARS, M.A.; HODGES, S.; RIZZI, T.E.

Concurrent multiple myeloma and mast cell neoplasia in a 13-year-old castrated male

Maine Coon cat. Veterinary Clinical Pathology, v.46, n.1, p.151-157, 2017. doi:

10.1111/vcp.12436.

BIANCO, D.; ARMSTRONG, P.J.; WASHABAU, R.J. Presumed primary immune-

mediated thrombocytopenia in four cats. Journal of Feline Medicine and Surgery,

v.10, n.5, p.495-500, 2008. doi: 10.1016/j.jfms.2008.01.003.

BLACK, V.; ADAMANTOS, S.; BARFIELD, D.; TASKER, S. Feline non-

regenerative immune-mediated anaemia: features and outcomes in 15 cases. Journal of

Feline Medicine and Surgery, v.18, n.8, p. 597-602, 2016. doi:

10.1177/1098612X15588800.

BOLLINGER, A.P. Cytologic evaluation of bone marrow in rats: indications, methods,

and normal morphology. Veterinary Clinical Pathology, v.33, n.2, p.58-67, 2004. doi:

10.1111/j.1939-165X.2004.tb00351.x.

BOUNOUS, D.I.; LATIMER, K.S.; CAMPAGNOLI, R.P.; HYNES, P.F. Acute

Myeloid Leukemia With Basophilic Differentiation (AML, M-2B) in a Cat. Veterinary

Clinical Pathology, v.23, n.1, p.15-18, 1994. doi: 10.1111/j.1939-165X.1994.tb01010.x.

BURTON, S.; MILLER, L.; HORNEY, B.; MARKS, C.; SHAW, D. Acute

Megakaryoblastic Leukemia in a Cat. Veterinary Clinical Pathology, v.25, n.1, p.6-9,

1996. doi: 10.1111/j.1939-165X.1996.tb00958.x.

BUSH, B.M. Hematologia. In:______. Interpretação de resultados laboratoriais

para o clínico de pequenos animais. 1ª edição. São Paulo: Roca, 2004. p. 25 - 27.

BYERS, C.G. Diagnostic bone marrow sampling in cats: currently accepted best

practices. Journal of Feline Medicine and Surgery, v.19, n.7, p.759-767, 2017.doi:

10.1177/1098612x17714356.

CAMPBELL, M.W.; HESS, P.R.; WILLIAMS, L.E. Chronic lymphocytic leukaemia in

the cat. Veterinary and Comparative Oncology, v.11, n.4, p.256-264, 2013. doi:

10.1111/j.1476-5829.2011.00315.x.

CAR, B.D. The hematopietic system. In: WEISS, D.J.; WARDROP, K.J. Schalm's

veterinary hematology. 6. ed. Ames: Blackwell Publishing Ltd, 2010. Cap.5, p.27-35.

CARMICHAEL, K.P.; BIENZLE, D.; MCDONNELL, J.J. Feline leukemia virus-

associated myelopathy in cats. Veterinary Pathology, v.39, n.5, p.536 – 545, 2002. doi:

10.1354/vp.39-5-536

Page 83: UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ FACULDADE DE …§ão.pdf · mieloproliferativos e diseritropoieses. Assim, em gatos anêmicos com sinais clínicos, os referidos exames hematológicos

83

DEFARGES, A.; ABRAMS-OGG, A.; FOSTER, R.A.; BIENZLE, D. Comparison of

sternal, iliac, and humeral bone marrow aspiration in Beagle dogs. Veterinary Clinical

Pathology, v.42, n.2, p.170-176, 2013. doi: 10.1111/vcp.12036.

D´ONOFRIO, G.; ZINI, G. Analysis of bone marrow aspiration fluid using automated

blood cell counters. Clinics in Laboratory Medicine, v.35, n.1, p. 25 – 42, 2015. doi:

10.1016/j.cll.2014.10.001.

FIGHERA, R.A. Mielograma. In: GRANDI, F.; BESERRA, H.E.O.; COSTA, L.D.

Citopatologia veterinária diagnóstica. 1.ed. São Paulo: MedVet, 2014. Cap.13, p.120-

145.

GELAIN, M.E.; ANTONIAZZI, E., BERTAZZOLO, W.; ZACCOLO, M.; COMAZZI,

S. Chronic eosinophilic leukemia in a cat: cytochemical and immunophenotypical

features. Veterinary Clinical Pathology, v.35, n.4, p.454-459, 2006. doi:

10.1111/j.1939-165X.2006.tb00164.x.

GELAIN, M.E.; GIORDANO, A.; MASSERDOTTI, C.; COMAZZI, S. Disordini

ematopoietici nella specie felina: aspetti classificativi ed associazione com le principali

malattie retrovirali. Veterinaria, v.17, n.4, p.59-67, 2003.

GLEICH, S.; HARTMANN, K. Hematology and serum biochemistry of feline

immunodeficiency virus-infected and feline leukemia virus-infected cats. Journal of

Veterinary Internal Medicine, v.23, n.3, p.552-558, 2009. doi: 10.1111/j.1939-

1676.2009.0303.x.

GRINDEM, C.B.; TYLER, R.D.; COWELL, R.L. A medula óssea. In: COWELL, R.L.;

TYLER, R.D.; MEINKOTH, J.H.; DENICOLA, D.B. Diagnóstico citológico e

hematologia de cães e gatos. 3. ed. São Paulo: MedVet, 2009. Cap.27, p.423-451.

GRINDEM, C.B.; STEVENS, J.B.; PERMAN, V. Cytochemical Reactions in Cells

from Leukemic Cats. Veterinary Clinical Pathology, v.14, n.3, p.6-12, 1985. doi:

10.1111/j.1939-165X.1985.tb00855.x.

HARDOUIN, P.; RHARASS, T.; LUCAS, S. Bone marrow adipose tissue: to be or not

to be a typical adipose tissue? Frontiers in Endocrinology, v.7, n.85, p.1-11, 2016. doi:

10.3389/fendo.2016.00085.

HARTMANN, K. Clinical aspects of feline retroviruses: a review. Viruses, v.4, n.11,

p.2684-2710, 2012. doi: 10.3390/v4112684.

HARTMANN, K.; GRIESSMAYR, P.; SCHULZ, B.; GREENE, C.;

VIDYASHANKAR, A.N.; JARRET, O.; EGBERINK, H.F. Quality of different in-

clinic test systems for feline immunodeficiency virus and feline leukaemia virus

infection. Journal of Feline Medicine and Surgery, v.9, n.6, p. 439 – 445, 2007.

10.1016/j.jfms.2007.04.003.

HARVEY, J.W. Bone marrow examination. In:______. Atlas of veterinary

hematology: blood and bone marrow of domestic animals. 1ª ed. Philadelphia: W.B.

Saunders Company, 2001. Cap.7, p.92 – 123.

Page 84: UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ FACULDADE DE …§ão.pdf · mieloproliferativos e diseritropoieses. Assim, em gatos anêmicos com sinais clínicos, os referidos exames hematológicos

84

HAWKS, D.M.; LEGENDRE, A.M.; ROHRBACK,B.W. Comparison of four test kits

for feline leukemia virus antigen. Journal of the American Veterinary Medical

Association, v.199, p.1070 – 1377, 1991. PMID: 166608.

HENSON, K.L.; ALLEMAN, A.R.; FOX, L.E.; RICHEY, L.J.; CASTLEMAN, W.L.

Diagnosis of disseminated adenocarcinoma by bone marrow aspiration in a dog with

leukoerythroblastosis and fever of unknown origin. Veterinary Clinical Pathology,

v.27, n.3, p.80-84, 1998. doi: 10.1111/j.1939-165X.1998.tb01024.x.

HONSE, C.O. Avaliação citopatológica da medula óssea e perfil hematológico de

cães naturalmente infectados por Leishmania (Leishmania) chagasi. 2014. 98f.

Tese (Doutorado em pesquisa clínica em doenças infecciosas) – Instituto de Pesquisa

Clínica Evandro Chagas , Fundação Oswaldo Crus, Rio de Janeiro. 2014.

IWANAGA, T.; MIURA, N.; MIYOSHI, N.; ENDO, Y.; MOMOI, Y. Abnormal

erythroid cell proliferation and myelofibrosis in a cat. The Journal of Medical

Veterinary Science, v.74, n.7, p.909-912. doi: 10.1292/jvms.11-0268.

JAIN, N.C.; BLUE, J.T.; GRINDEM, C.B.; HARVEY, J.W.; KOCIBA, G.J.;

KREHBIEL, J.D.; LATIMER, K.S.; RASKIN, R.E.; THRALL, M.A.; ZINKI, J.G.

Proposed Criteria for Classification of Acute Myeloid Leukemia in Dogs and Cats.

Veterinary Clinical Pathology, v.20, n.3, p.63-82, 1991. doi: 10.1111/j.1939-

165X.1991.tb00571.x.

JARRET, O.; GOLDER, M.C.; WEIJER, K. A comparison of three methods of feline

leukaemia virus diagnosis. The Veterinary Record, v.110, n.14, p. 325 – 328,

1982.PMID: 6281960.

JARRET, W.F.H.; CRAWFORD, E.M.; MARTIN, W.B.; DAVIE, F. A virus-like

particle associated with leukemia (lymphosarcoma). Nature, v. 202, p.567-569, 1964.

PMID: 14195054.

JAVINSKY, E. Hematologia e distúrbios imunorrelacionados. In: LITTLE, S.E. O gato:

medicina interna. 1. ed. Rio de Janeiro: Roca, 2016. Cap. 25, p.619-677.

KAUR, S.; RAGGATT, L.J.; BATOON, L.; HUME, D.A.; LEVESQUE, J.; PETTIT,

A.R. Role of bone marrow macrophages in controlling homeostasis and repair in bone

and bone marrow niches. Seminars in Cells & Developmental Biology, v.61, n.12-61,

2017. doi: 10.1016/j.semcdb.2016.08.009.

KIM, W. et al. Development and clinical evaluation of a rapid diagnostic kit for feline

leukemia virus infection. Journal of Veterinary Science, v.15, n.1, p.91-97, 2013. doi:

https://doi.org/10.4142/jvs.2014.15.1.91.

KIPAR, A.; KREMENDAHL, J.; JACKSON, M.L.; REINACHER, M. Comparative

examination of cats with feline leukemia virus-associated enteritis and other relevant

forms of feline enteritis. Veterinary Pathology, v.38, p.359 – 371, 2001. doi:

10.1354/vp.38-4-359.

Page 85: UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ FACULDADE DE …§ão.pdf · mieloproliferativos e diseritropoieses. Assim, em gatos anêmicos com sinais clínicos, os referidos exames hematológicos

85

KLAINBART, S.; SEGEV, G.; LOEB, E.; MELAMED, D.; AROCH, I. Resolution of

renal adenocarcinoma-induced secondary inappropriate polycythaemia after

nephrectomy in two cats. Journal of Feline Medicine and Surgery, v.10, n.3, p.264-

268, 2008. doi: http://dx.doi.org/10.1016/j.jfms.2007.11.006.

LIN, S.; OUYANG, T.; KANEKAR, S. Imaging of bone marrow.

Hematology/Oncology Clinics of North America, v. 30, n.4, p.945 – 971, 2016. doi:

http://dx.doi.org/10.1016/j.hoc.2016.03.012.

LOPES, S.T.A.; BIONDO, A.W.; SANTOS, A.P. Introdução. In:______. Manual de

Patologia Clínica Veterinária. 3ªed. Santa Maria: UFSM/Departamento de Clínica de

Pequenos Animais., 2007. p.1 – 3.

MAIA, L.M.P.; CERQUEIRA, A.M.F.; MACIEIRA, D.B.; SOUZA, A.M.; MOREIRA,

N.S.; SILVA, A.V.; MESSICK, J.B.; FERREIRA, R.F.; ALMOSNY, N.R.P.

Cytauxzoon felis and ´Candidatus Mycoplasma haemominutum´ coinfection in a

Brazilian domestic cat (Felis catus). Revista Brasileira de Parasitologia Veterinária,

v.22, n.2, p.289-291, 2013. doi: http://dx.doi.org/10.1590/S1984-29612013000200049.

MARCOS, R.; SANTOS, M. Técnicas de colheita e coloração de esfregaços. In:

PELETEIRO, M.C.; MARCOS, R.; SANTOS, M.; CORREIA, J.; PISSARRA, H.;

CARVALHO, T. Atlas de citologia veterinária. 1. ed. Lisboa: Lidel, 2011. Cap.2,

p.29-43.

MARCOS, R.; SANTOS, M.; MALHÃO, F.; PEREIRA, R.; FERNANDES, A.C.;

MONTENEGRO, L.; ROCCABIANCA, P. Pancytopenia in a cat with visceral

leishmaniasis. Veterinary Clinical Pathology, v.38, n.2, p.201-205, 2009. doi:

10.1111/j.1939-165X.2009.00111.x.

MARTINS, D.B.; CUNHA, M.G.C.M.; MASUDA, E.K.; LOPES, S.T.A.; MAZZANTI,

C.M.; PIPPI, N.L.; FIGHERA, R.A. Mielose eritrêmica em um gato. Ciência Rural,

v.41, n.1, p.149-153, 2011. ISSN: 0103-8478.

MEICHNER, K.; BOMHARD, W.V. Patient characteristics, histopathological findings

and outcome in 97 cats with extranodal subcutaneous lymphoma (2007-2011).

Veterinary and Comparative Oncology, v.14, n.s1, p.8-20, 2014. doi:

10.1111/vco.12081.

MEINERZ, A.R.M.; ANTUNES, T.A.; SOUZA, L.L.; NASCENTE, OS.; FARIA, R.O.;

CLEFF, M.B.; GOMES, F.R.; NOBRE, M.O; REISCHAK, D.; SCHUCH, L.F.D.;

MEIRELES, M.C.A. Frequência do vírus da leucemia felina (VLFe) em felinos

domésticos (Felis catus) semidomiciliados nos municípios de Pelotas e Rio Grande.

Ciência Animal Brasileira, v.11, n.1, p. 90-93, 2010.doi: 10.5216/cab.v11i1.438.

MELO, M.; SILVEIRA, C. Citologia das inclusões leucocitárias. In:______.

Leucemias e linfomas: atlas do sangue periférico. 2. ed. Rio de Janeiro: Rubio, 2013.

Cap. 10, p.259-288.

MÜLLER, D.C.M.; PIPPI, N.L.; BASSO, P.C.; OLSSON, D.C.; SANTOS JUNIOR,

E.B.; GUERRA, A.C.O. Técnicas e sítios de coleta de medula óssea em cães e gatos.

Page 86: UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ FACULDADE DE …§ão.pdf · mieloproliferativos e diseritropoieses. Assim, em gatos anêmicos com sinais clínicos, os referidos exames hematológicos

86

Ciência Rural, v.39, n.7, p.2243-2251, 2009. doi: http://dx.doi.org/10.1590/S0103-

84782009005000153.

MYLONAKIS, M.E.; KOUTINAS, A.F.; LEONTIDES, L.S. Bone marrow

mastocytosis in dogs with myelosuppressive monocytic ehrlichiosis (Ehrlichia canis): a

retrospective study. Veterinary Clinical Pathology, v.35, n.3, p.311-314, 2006. doi:

10.1111/j.1939-165X.2006.tb00137.x.

NELSON, R. W.; COUTO, C. G. Doenças virais polissistêmicas. In:______. Medicina

interna de pequenos animais. 3ª edição. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2010. p.

1336 – 1350.

PATEL, R.T.; CACERES, A.; FRENCH, A.F.; MCMANUS, P.M. Multiple myeloma

in 16 cats: a retrospective study. Veterinary Clinical Pathology, v.34, n. 4, p. 341-352,

2005. doi: 10.1111/j.1939-165X.2005.tb00059.x.

PATULLO, K.M.; KIDNEY, B.A.; TAYLOR, S.M.; JACKSON, M.L. Reticulocytosis

in noanemic dogs: increasing prevalence and potencial etiologies. Veterinary Clinical

Pathology, v.44, n.1, p.26-36, 2014.doi: 10.1111/vcp.12215.

PETTERINO, C.; CAPURRO, C.; CASTAGNARO, M. Fisiologia, identificazione

citomorfologica e criteri valutativi dele cellule ematopoietiche del midollo ósseo.

Veterinaria, v.15, n.3, p.45-58, 2001.

RASKIN, R.E.; MESSICK, J.B. Bone marrow cytologic and histologic biopsies:

indications, technique, and evaluation. Veterinary Clinical Small Animal, v.42, n.1,

p.23-42, 2012. doi: 10.1016/j.cvsm.2011.10.001.

REAGAN, W.J.; IRIZARRY-ROVIRA, A.; POITOUT-BELISSENT, F.; BOLLIGER,

A.P.; RAMAIAH, S.K.; TRAVLOS, G.; WALKER, D.; BOUNOUS, D.; WALTER, G.

Best practices for evaluation of bone marrow in nonclinical toxicity studies. Veterinary

Clinical Pathology, v.40, n.2, p.119-135, 2011. doi: 10.1177/0192623310396907.

RIZZI, T.E.; CLINKENBEARD, K.D.; MEINKOTH, J.H. Normal hematology of the

cat. In: WEISS, D.J.; WARDROP, K.J. Schalm's veterinary hematology. 6. ed. Ames:

Blackwell Publishing Ltd, 2010. Cap.105, p. 811-820.

ROLIM, V.M.; PAVARINI, S.P.; CAMPOS, F.S.; PIGNONE. V.; FARACO, C.;

MUCCILLO, M.S.; ROEHE, P.M.; COSTA, F.V.A.; DRIEMEIER, D. Clinical,

pathological, immunohistochemical and molecular characterization of feline chronic

gingivostomatitis. Journal of Feline Medicine and Surgery, v10, p. 1 – 7, 2016.doi:

10.1177/1098612X16628578.

SÁNCHEZ-AGUILERA, A.; MÉNDEZ-FERRER, S. The hematopoietic stem-cell

niche in health and leukemia. Cellular and Molecular Life Sciences. v.74, n.4. p.579-

590, 2016. doi: 10.1007/s00018-016-2306-y.

SANTOS, D. Prevalência de imunodeficiência viral, leucemia viral e peritonite

infecciosa em felinos domésticos atendidos no hospital veterinário da universidade

Anhembi Morumbi da capital de São Paulo. 25 f. Dissertação (Mestrado em Clínica

Page 87: UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ FACULDADE DE …§ão.pdf · mieloproliferativos e diseritropoieses. Assim, em gatos anêmicos com sinais clínicos, os referidos exames hematológicos

87

Veterinária) – Departamento de Clínica Médica, Faculdade de Medicina Veterinária e

Zootecnica. Universidade de São Paulo. São Paulo. 2012.

SHARKEY, L.C.; HILL, S.A. Structure of bone marrow. In: WEISS, D.J.; WARDROP,

K.J. Schalm's veterinary hematology. 6. ed. Ames: Blackwell Publishing Ltd, 2010.

Cap.2, p.8-13.

SHIOZAWA, Y.; HAVENS, A.M.; PIENTA, K.J.; TAICHMAN, R.S. The bone

marrow niche: habitat to hematopoietic and mesenchymal stem cells, and unwitting host

to molecular parasites. Leukemia, v.22, n.5, p.941-950, 2008. doi: 10.1038/leu.2008.48.

SOUTHARD, T.L.; RODRIGUEZ-RAMOS FERNANDEZ, J.; PRIEST, H.; STOKOL,

T. Holoprosencephaly and pure red cell aplasia in a feline leukaemia virus-positive

kitten. Journal of Comparative Pathology, v.154, n.2-3, p. 239-242, 2016. doi:

10.1016/j.jcpa.2016.01.006.

STACY, N.I.; HARVEY, J.W. Bone marrow aspirate Evaluation. Veterinary Clinical

Small Animal, v.47, n.1, p.31-52, 2016. doi:

http://dx.doi.org/10.1016/j.cvsm.2016.07.003.

STEPHENSON, R.B. Visão geral da função cardiovascular. In: CUNNINGHAM, J,G.

Tratado de Fisiologia Veterinária. 3ª edição. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan,

2008. p.117-130.

STOCKHAM, S.L.; SCOTT, M.A. Medula óssea e linfonodo. In:______.

Fundamentos de patologia clínica veterinária. 2. ed. Rio de Janeiro: Guanabara

Koogan, 2011. Cap.6, p.263-302.

STÜTZER, B.; MÜLLER, F.; MAJZOUB, M.; LUTZ, H.; GREENE, C.E.;

HERMANNS, W.; HARTMANN, K. Role of latent feline leukemia virus infection in

nonregenerative cytopenias of cats. Journal of Veterinary Internal Medicine, v.24,

n.1, p.192-197, 2011. doi: 10.1111/j.1939-1676.2009.0417.x.

SWANN, J.W.; SZLADOVITS, B.; GLANEMANN, B. Demographic characteristics,

survival and prognostic factors for mortality in cats with primary immune-mediated

hemolytic anemia. Journal of Veterinary Internal Medicine, v.30, n.1, p.147-156,

2016.doi: 10.1111/jvim.13658.

TAICHMAN, R.S. Blood and bone: two tissues whose fates are intertwined to create

the hematopoietic stem-cell niche. Blood, v.105, p.2631 – 2639, 2005. doi:

10.1182/blood-2004-06-2480.

TAMURA, T. Blood count specimen. Rinsho Byori, v.63, n.12, p. 1387 – 1396,

2015.PMID: 27089655.

TEIXEIRA, B.M. et al. Ocorrência do vírus da imunodeficiência felina e do vírus da

leucemia felina em gatos domésticos mantidos em abrigos no município de Belo

Horizonte. Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia, v.59, n.4,

p.939-942, 2007. ISSN: 1678-4162.

Page 88: UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ FACULDADE DE …§ão.pdf · mieloproliferativos e diseritropoieses. Assim, em gatos anêmicos com sinais clínicos, os referidos exames hematológicos

88

THRALL, M.A.; BAKER, D.C.; CAMPBELL, T.W.; DENICOLA, D.; FETTMAN,

M.J.; LASSEN, E.D.; REBAR, A.; WEISER, G. Avaliação laboratorial da medula

óssea. In:______. Hematologia e bioquímica clínica veterinária. 1. ed. São Paulo:

Roca, 2007. Cap.13, p.141-169.

VASSALLO, J.; MAGALHÃES, S.M.M. Síndromes mielodisplásicas e

mielodisplásicas/mieloproliferativas. Revista Brasileira de Hematologia e

Hemoterapia, v.31, n.4, p.267-272, 2009. ISSN 1516-8484.

VIVIANO, K.R.; WEBB, J.L. Clinical use of cyclosporine as an adjunctive therapy in

the management of feline idiopathic purê red cell aplasia. Journal of Feline Medicine

and Surgery, v.13, n.12, p.885-895, 2011. doi: 10.1016/j.jfms.2011.07.007.

WALKER, D.; COWELL, R.L.; CLINKENBEARD, K.D.; FEDER, B.; MEINKOTH,

J.H. Bone marrow mast cell hyperplasia in dogs with aplastic anemia. Veterinary

Clinical Pathology, v.26, n.3, p.106-111, 1997. doi: 10.1111/j.1939-

165X.1997.tb00719.x.

WALTON, R.M.; MODIANO, J.F.; THRALL, M.A.; WHEELER, S.L. Bone marrow

cytological findings in 4 dogs and a cat with hemophagocytic syndrome. Journal of

Veterinary Internal Medicine, v.10, n.1, p.7-14, 1996. doi: 10.1111/j.1939-

1676.1996.tb02017.x.

WEBB, J.; CHARY, P.; NORTHRUP, N.; ALMY, F. Erythrophagocytic multiple

myeloma in a cat. Veterinary Clinical Pathology, v.37, n.3, p.302-307, 2008. doi:

10.1111/j.1939-165X.2008.00064.x.

WEEDEN, A.L.; TAYLOR, K.R.; TERRELL, S.P.; GALLAGHER, A.E.; WAMSLEY,

H.L. Suspected myelodysplastic/myeloproliferative neoplasm in a feline leukemia

virus-negative cat. Veterinary Clinical Pathology, v.45, n.4, p.584-593, 2016. doi:

10.1111/vcp.12426.

WEINGART, C.; TASKER, S.; KOHN, B. Infection with haemoplasma species in 22

cats with anaemia. Journal of Feline Medicine and Surgery, v.18, n.2, p.129-136,

2015. doi: 10.1177/1098612X15573562.

WEISS, D.J. Bone marrow pathology in dogs and cats with non-regenerative immune-

mediated haemolytic anaemia and pure red cell aplasia. Journal of Comparative

Pathology, v.138, n.1, p.46-53, 2008. doi: http://dx.doi.org/10.1016/j.jcpa.2007.10.001.

WEISS, D.J. Cytologic evaluation of primary and secondary myelodysplastic

syndromes in the dog. Veterinary Clinical Pathology, v.30, n.2, p.67-75, 2001. doi:

10.1111/j.1939-165X.2001.tb00261.x.

WEISS, D.J. Inflammatory disorders of bone marrow. Veterinary Clinical Pathology,

v.21, n.3, p.79-84, 1992. doi: 10.1111/j.1939-165X.1992.tb00588.x.

WILSON, S.C.; THOMSON-KERR, K.; HOUSTON, D.M. Hypereosinophilic

syndrome in a cat. The Canadian Veterinary Journal, v.37, n.11, p.679-680, 1996.

PMCID: PMC1236165.

Page 89: UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ FACULDADE DE …§ão.pdf · mieloproliferativos e diseritropoieses. Assim, em gatos anêmicos com sinais clínicos, os referidos exames hematológicos

89

YILMAZ, H.; ILGAZ, A. Prevalence of FIV and FeLV infections in cats in Istanbul.

Journal of Feline Medicine and Surgery, v.2, n.1, p.69-70, 2000. doi:

10.1053/jfms.2000.0066.

Page 90: UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ FACULDADE DE …§ão.pdf · mieloproliferativos e diseritropoieses. Assim, em gatos anêmicos com sinais clínicos, os referidos exames hematológicos

90

APÊNDICE

Page 91: UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ FACULDADE DE …§ão.pdf · mieloproliferativos e diseritropoieses. Assim, em gatos anêmicos com sinais clínicos, os referidos exames hematológicos

91

APÊNDICE A – Modelo de laudo de mielograma emitido durante a realização da

pesquisa.

Page 92: UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ FACULDADE DE …§ão.pdf · mieloproliferativos e diseritropoieses. Assim, em gatos anêmicos com sinais clínicos, os referidos exames hematológicos

92

APÊNDICE A – Modelo de laudo de mielograma emitido durante a realização da

pesquisa.

Page 93: UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ FACULDADE DE …§ão.pdf · mieloproliferativos e diseritropoieses. Assim, em gatos anêmicos com sinais clínicos, os referidos exames hematológicos

93

ANEXO

Page 94: UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ FACULDADE DE …§ão.pdf · mieloproliferativos e diseritropoieses. Assim, em gatos anêmicos com sinais clínicos, os referidos exames hematológicos

94

ANEXO A - CERTIFICADO DA COMISSÃO DE ÉTICA PARA O USO DE

ANIMAIS (CEUA) DA UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ – UECE