UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ FACULDADE DE … · luciana de sousa santos a repercussÃo da...

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ FACULDADE DE FILOSOFIA DOM AURELIANO MATOS FACULDADE DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIAS E LETRAS DO SERTÃO CENTRAL MESTRADO ACADÊMICO INTERCAMPI EM EDUCAÇÃO E ENSINO LUCIANA DE SOUSA SANTOS A REPERCUSSÃO DA POLÍTICA DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E TECNOLÓGICA EM LIMOEIRO DO NORTE: DA FACULDADE TECNOLÓGICA (FATEC), DO INSTITUTO CENTRO DE ENSINO TECNOLÓGICO (INSTITUTO CENTEC), AO INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DO CEARÁ (IFCE) LIMOEIRO DO NORTE CEARÁ 2017

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ

FACULDADE DE FILOSOFIA DOM AURELIANO MATOS

FACULDADE DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIAS E LETRAS DO SERTÃO CENTRAL

MESTRADO ACADÊMICO INTERCAMPI EM EDUCAÇÃO E ENSINO

LUCIANA DE SOUSA SANTOS

A REPERCUSSÃO DA POLÍTICA DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E

TECNOLÓGICA EM LIMOEIRO DO NORTE: DA FACULDADE TECNOLÓGICA

(FATEC), DO INSTITUTO CENTRO DE ENSINO TECNOLÓGICO (INSTITUTO

CENTEC), AO INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E

TECNOLOGIA DO CEARÁ (IFCE)

LIMOEIRO DO NORTE – CEARÁ

2017

1

LUCIANA DE SOUSA SANTOS

A REPERCUSSÃO DA POLÍTICA DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E TECNOLÓGICA

EM LIMOEIRO DO NORTE: DA FACULDADE TECNOLÓGICA (FATEC), DO

INSTITUTO CENTRO DE ENSINO TECNOLÓGICO (INSTITUTO CENTEC), AO

INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DO CEARÁ

(IFCE)

Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado

Acadêmico em Educação e Ensino Intercampi

do Programa de Pós-Graduação em Educação

e Ensino da Universidade Estadual do Ceará,

da Faculdade de Filosofia Dom Aureliano

Matos e da Faculdade de Educação Ciências e

Letras do Sertão Central, como requisito

parcial à obtenção do título de mestre em

Educação. Área de concentração: Educação,

Escola, Ensino e Formação Docente.

Orientador: Prof. Dr. José Eudes Baima

Bezerra.

LIMOEIRO DO NORTE – CEARÁ

2017

2

3

LUCIANA DE SOUSA SANTOS

A REPERCUSSÃO DA POLÍTICA DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E TECNOLÓGICA

EM LIMOEIRO DO NORTE: DA FACULDADE TECNOLÓGICA (FATEC), DO

INSTITUTO CENTRO DE ENSINO TECNOLÓGICO (INSTITUTO CENTEC), AO

INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DO CEARÁ

(IFCE)

Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado

Acadêmico em Educação e Ensino Intercampi

do Programa de Pós-Graduação em Educação

e Ensino da Universidade Estadual do Ceará,

da Faculdade de Filosofia Dom Aureliano

Matos e da Faculdade de Educação Ciências e

Letras do Sertão Central, como requisito

parcial à obtenção do Título de Mestre em

Educação.

APROVADA EM: ____/_____/____

BANCA EXAMINADORA

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AGRADECIMENTOS

A Deus, que me possibilitou a perseverança na conclusão dessa Odisseia, a qual idealizei

desde o término da graduação.

Ao programa de Mestrado Acadêmico Intercampi em Educação e Ensino (MAIE) e ao corpo

docente deste, que de forma rica e comprometida com o ensino emancipador fomentou na

minha essência o germe do saber aliado à necessidade de ação para mudança da realidade.

Ao meu orientador, José Eudes Baima Bezerra, pela condução, apoio e dedicação conferidos

ao estudo. Por ter guiado o trabalho de maneira a lapidar minhas ideias e, ao mesmo tempo,

oxigenando minha criativa. Sou grata pela maneira séria e coerente que sempre se mostrou

enquanto mestre que alumia o caminho do seu discípulo. Pela sabedoria e partilha do saber de

modo generoso. Agradeço pelas ponderações quanto ao ritmo de construção da pesquisa,

estabelecendo agenda saudável, ao passo que me acalmando quanto à maturação do estudo

para ser apresentado.

Aos professores membros da banca que designaram tempo e dedicação para qualificar o

estudo.

Aos sujeitos da pesquisa que se dispuseram a partilhar suas memórias trazendo a

possibilidade para ampla navegação e ricas particularidades.

À minha família pelo amor e apoio incondicional, em particular a minha mãe e irmãos.

Aos meus colegas de turma que contribuíram com minha formação na troca de saberes. Em

especial a Joao Paulo, Janine, Diana, Renata e Elenice (Leninha) que estiveram irradiando

apoio, solidariedade e camaradagem em toda jornada do mestrado, especialmente nos

momentos de angústia da elaboração do texto de dissertação. E, por fim, pela amizade

germinada no decorrer destes dois anos.

Aos meus amigos que me apoiaram e ficaram felizes com a minha vitória quando ingressei no

mestrado, a compreensão nos momentos de ausência e ainda pela torcida contínua pela

conclusão. Em especial à minha amiga Nilene Matos Trigueiro, que me incentivou a ousar

esta empreitada de conquistar um grau maior de formação e me encharcou de esperança e

apoio. Obrigada por ter insistido e acreditado no meu potencial!

A TODOS que somaram na minha formação acadêmica, contribuindo nas dimensões humana

e política, o meu muito obrigada!

5

“Mesmo sem naus e sem rumos, mesmo sem

vagas e areias, há sempre um copo de mar para

um homem navegar”.

(Jorge de Lima)

6

RESUMO

A política de educação profissional e tecnológica, suscitada pela Lei 11.982/2008, criou os

Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia, possibilitando a transformação da

Faculdade de Tecnologia (FATEC), do Instituto CENTEC, de uma Organização Social a uma

unidade do Instituto Federal em Limoeiro do Norte. O objetivo central do estudo é o de

investigar o processo pelo qual se deu a criação do Instituto Federal de Educação, Ciência e

Tecnologia do Ceará (IFCE) na referida cidade, a partir dos enfrentamentos, resistências e

interesses políticos, econômicos e sociais envolvidos neste processo de

substituição/transformação da Faculdade de Tecnologia (FATEC), do Instituto CENTEC, de

Limoeiro do Norte. A pesquisa é caracterizada como qualitativa, de natureza explicativa,

conduzida por uma análise bibliográfica-documental e amparada no recurso da entrevista com

sujeitos protagonistas do citado processo, tendo como horizonte teórico-metodológico o

materialismo histórico-dialético. A criação do IFCE em Limoeiro do Norte se deu a partir da

desobrigação do governo do estado do Ceará em manter a instituição de educação profissional

gerida por Organização Social. A FATEC, do Instituto CENTEC, foi federalizada na

oportunidade de expansão da Rede Federal de Educação Profissional e Tecnológica

primeiramente pelo Centro Federal de Educação Tecnológica (CEFET) - Unidade de Ensino

Descentralizado (ENED), aproximadamente em 2007. O Instituto CENTEC foi federalizado

de forma arbitrária tanto pelo Estado quanto pela União, desconsiderando os sujeitos desta

instituição. A federalização refletiu a pauta da política de interiorização do ensino profissional

pelo governo Lula da Silva no quadro da segunda fase de expansão de rede federal. O

CEFET- UNED de Limoeiro do Norte foi incorporado à Rede de Educação Profissional e

Tecnológica em 29 de dezembro de 2008, pela lei nº 11.982, se tornando uma unidade dos

Institutos Federais no Ceará, o IFCE, Campus de Limoeiro do Norte. A pesquisa constatou

que através das diferentes etapas do processo de federalização se ressaltou o fenômeno do

hibridismo das instituições do Instituto CENTEC e do IFCE, que expressa elementos de

continuidade e descontinuidade, de conservação e transformação, permanecendo, contudo, a

mesma espinha dorsal da educação para o trabalho como sinônimo da produção de mão de

obra razoavelmente habilitada para o consumo do grande capital. O estudo constatou que o

caso em tela corrobora com a ideia de que a educação profissional na sociabilidade do capital

não se coaduna com uma educação para emancipação humana.

Palavras-chave: Instituto CENTEC. CEFET. IFCE. Limoeiro do Norte. Política de educação

profissional e tecnológica.

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RESUMEN

La política de educación profesional y tecnológica planteada por la Ley 11.982 / 2008 creó los

Institutos Federales de Educación y Tecnología de la Ciencia, lo que permite la

transformación de la Escuela de Tecnología (FATEC) de CENTEC Instituto de organización

social para una unidad del Instituto Federal en Limoeiro del Norte . El objetivo principal del

estudio es investigar el proceso por el cual dio la creación del Instituto Federal de Educación

y Tecnología de la Ciencia de Ceará (IFCE) en la ciudad de Limoeiro do Norte, de la lucha,

resistencia y políticos, económicos y sociales involucrados en este proceso de sustitución /

transformación de la Escuela de Tecnología (FATEC) de CENTEC Instituto de Limoeiro do

Norte. La investigación se caracteriza como la naturaleza cualitativa, explicativa, impulsado

por un análisis bibliográfico y documental, y se basa en la entrevista con sujetos disponen

protagonistas de dicho procedimiento, con el horizonte materialismo histórico y dialéctico

teórico y metodológico. La creación de la Limoeiro del Norte de IFCE tomó de la liberación

del gobierno del estado de Ceará para mantener la institución de educación profesional a

cargo de la organización social. FATEC el Instituto Centec la federalización en la expansión

de la oportunidad profesional Federal y la Red de Educación Tecnológica principalmente por

el Centro Federal de Educación Tecnológica (CEFET) - Unidad descentralizada Educación

(ENED), aproximadamente en el año 2007. El Instituto CENTEC federalización

arbitrariamente por el Estado y la Unión excluyendo el tema de esta institución. La

federalización refleja la agenda de la política de internalización de la formación profesional

por el gobierno de Lula da Silva en la segunda fase de la expansión de la red federal. El

CEFET UNED de Limoeiro del Norte se constituyó la Red de Educación Profesional y

Tecnología el 29 de diciembre de 2008 por la Ley N ° 11.982 se convirtió en una unidad de

los Institutos Federales en Ceará, IFCE, el Campus Norte Limoeiro. La encuesta encontró

que, a través de las diferentes etapas del proceso de federalización ha puesto de manifiesto el

fenómeno de la hibridación de las instituciones Instituto Centec y IFCE elementos de

continuidad y discontinuidad, conservación y transformación que expresan, sin dejar de ser la

misma columna vertebral de la educación trabajar como sinónimo de la producción de mano

de obra cualificada para el consumo razonable de las grandes empresas. El estudio encontró

que en el caso corrobora la idea de que la formación profesional en la naturaleza social del

capital no es consistente con una educación para la emancipación humana.

Palabras clave: Instituto CENTEC. CEFET. IFCE. Limoeiro do Norte. Política de educación

profesional y tecnológica.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Quadro 1 - Lista dos cursos ofertados no Instituto CENTEC....................................... 61

Quadro 2 - Geografia das zonas econômicas de Limoeiro do Norte............................. 66

Quadro 3 - Disposição dos cursos do IFCE, Campus Limoeiro do Norte.................... 71

Quadro 4 - Categoria dos entrevistados.......................................................................... 74

Figura 1 - Linha temporal do Instituto CENTEC ao IFCE ....................................... 76

9

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ADECE Agência de Desenvolvimento do Estado do Ceará

BID Banco Interamericano de Desenvolvimento

BM Banco Mundial

CEFET Centro Federal de Educação Tecnológica

CENTEC Instituto Centro de Ensino Tecnológico

CHESF Companhia Hidrelétrica do São Francisco

CLT Consolidação das Leis Trabalhistas

CNI Confederação Nacional das Indústrias

CNE Conselho Nacional de Educação

CNPq Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico

CVT Centros Vocacionais Tecnológicos

CVTEC Centros Vocacionais Técnicos

FATEC Faculdades de Tecnologia

FUNCAP Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e

Tecnológico

FMI Fundo Monetário Internacional

IF Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia

IFCE Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará

ONU Organização das Nações Unidas

OS Organização Social

PDDU Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano

PDDU-LN Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano de Limoeiro do Norte

PI Perímetro Irrigado

PROMOVALE Programa de Valorização Rural do Baixo e Médio Jaguaribe

PROURB Projeto Cidades do Ceará

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SECITECE Secretaria de Ciência Tecnologia e Educação Superior do Ceará

SDLR Secretária de Desenvolvimento Local e Regional do Ceará

SENAC Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial

SENAI Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial

UNED Unidade de Ensino Descentralizada

11

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO.......................................................................................... 13

2 ÂNCORA METODOLÓGICA – TEÓRICA: REUNINDO

PRESSUPOSTOS.......................................................................................

23

2.1 O FAZER METODOLÓGICO.................................................................... 23

2.2 A RELAÇÃO EDUCAÇÃO – TRABALHO.............................................. 30

2.2.1 Brasil Imperial escravocrata..................................................................... 33

2.2.2 Brasil Império pós-escravocrata............................................................... 35

2.2.3 Brasil República......................................................................................... 36

2.3 OS ASPECTOS BASILARES DO ENSINO PROFISSIONAL E

TECNOLÓGICO NO BRASIL...................................................................

39

2.4 INSTITUCIONALIZAÇÃO DO ENSINO SUPERIOR NO BRASIL..... 43

3 DO INSTITUTO CENTEC EM LIMOEIRO DO NORTE,

NATUREZA E CARACTERIZAÇÃO, AO IFCE..................................

51

3.1 LIMOEIRO DO NORTE: ROTA DE EXPANSÃO DA REDE

FEDERAL DE EDUCAÇÃO PROFISSIONAL.........................................

51

3.2 O INSTITUTO CENTEC EM LIMOEIRO DO NORTE E A

PUBLICIZAÇÃO.........................................................................................

54

3.3 O AGRONEGÓCIO EM LIMOEIRO DO NORTE.................................... 63

3.4 ADVENTO DO IFCE, CAMPUS DE LIMOEIRO DO NORTE................ 69

4 ATRAVÉS DO MAR REVOLTO............................................................. 72

4.1 LIVRO I: ANCORANDO AS VELAS DO INSTITUTO CENTEC.......... 74

4.1.1 Trabalho...................................................................................................... 74

4.2 LIVRO II: NAVEGANDO EM VENTOS PRECISOS, MAS LOGO A

TORMENTA VIRIA....................................................................................

78

4.2.1 Políticas educacionais da educação profissional................................... 78

4.3 LIVRO III: NAUFRÁGIO, QUEM VIVER VERÁ!................................... 92

4.3.1 Totalidade.................................................................................................... 92

4.4 LIVRO IV: A FEDERALIZAÇÃO: “NOVA” EMBARCAÇÃO.............. 97

4.4.1 Hibridismo: substituição e transformação da FATEC, do Instituto

CENTEC, para IFCE, Campus de Limoeiro do Norte..........................

97

4.5 LIVRO V: A EMBARCAÇÃO DO IFCE: NOVA TRIPULAÇÃO?

NOVOS VENTOS? NOVO DESTINO? NOVO COMANDANTE?........

102

12

4.5.1 Conciliação da educação progressista e o ensino superior técnico e

tecnológico...................................................................................................

102

5 CONCLUSÃO............................................................................................. 113

REFERÊNCIAS.......................................................................................... 118

APÊNDICE................................................................................................. 125

APÊNDICE A – ROTEIRO DE ENTREVISTA......................................... 126

13

1 INTRODUÇÃO

A presente pesquisa tem como finalidade refletir sobre a política de educação

profissional e tecnológica implementada pelo governo Lula da Silva (2003-2006, 2007-2010),

a qual possibilitou a criação do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará

(IFCE) na cidade de Limoeiro do Norte. Para atingir este intento, o presente trabalho realizou

um resgate histórico sobre a instituição que antecedeu a criação do IFCE de Limoeiro do

Norte, denominada Faculdade de Tecnologia (FATEC), organizada pelo Instituto Centro de

Ensino Tecnológico (Instituto CENTEC), no sentido de compreender como aconteceu o

processo político de transformação desta última em IFCE.

Na sociabilidade do capital, a escola de insígnia profissional no Brasil se

encarrega da missão de ofertar uma educação destinada ao mercado de trabalho, diga-se, para

o trabalho fragmentado, desagregador de humanidade. Infere-se que esta escola se distingue e

se opõe à educação propedêutica e politécnica. É na relação educação e trabalho, ensino

propedêutico e ensino técnico, dominados e dominantes, que se fundamentam a proposição

deste estudo. O presente estudo adota estas balizes para discutir o caso da Rede Federal de

Educação Profissional e Tecnológica na figura dos Institutos Federais de Educação Ciência e

Tecnologia (IF’s), a qual possibilitou a implantação da unidade do IF no município de

Limoeiro do Norte.

O fenômeno estudado na pesquisa é o IFCE, Campus de Limoeiro do Norte,

analisado a partir da construção do ordenamento legal que tornou possível a transformação da

Faculdade de Tecnologia (FATEC), do Instituto CENTEC de Limoeiro do Norte, até então

uma instituição mantida pelo governo estadual, em Instituto Federal de Educação, Ciência e

Tecnologia (IF), cuja responsabilidade orçamentária, fiscal e financeira passou a ser destinada

ao governo federal. As Faculdades de Tecnologia (FATEC), os Centros Vocacionais Técnicos

(CVTEC) e Centros Vocacionais Tecnológicos (CTV) são modalidades de ensino ofertadas

pelo Instituto CENTEC.

A pesquisa é de natureza quali-quantitativa e o método de análise empregado é o

materialismo histórico dialético. Este se apresenta em:

Três dimensões, que são a concepção de mundo, o método e a práxis[...], nos

revelando que o entrelaçamento dos aspectos da apreensão, interpretação e

intervenção da realidade se apresentam como inseparáveis para possibilitar uma

perspectiva de totalidade. (BEZZERA, SOUSA 2015.p.3).

14

O estudo de caso e a pesquisa explicativa são aspectos metodológicos deste

estudo, que se valeu dos instrumentos da analise documental e de entrevista com os sujeitos,

que receberam pseudônimos no intento de preservar o anonimato e ambientar a narrativa. Os

depoimentos dos sujeitos deverão perpassar os capítulos do estudo, a começar destes.

A motivação da escolha da referida temática partiu da inquietação em conhecer o

processo de constituição histórica do IFCE, Campus de Limoeiro do Norte, no qual a

pesquisadora é docente desde o ano de 2011. Diante de pesquisas e conversas com

funcionários mais antigos da instituição, notou-se a ausência de um arquivo histórico que trate

dessa questão, bem como de estudos referentes ao processo de criação do IFCE, Campus de

Limoeiro do Norte.

Ao iniciar seus trabalhos na instituição, a autora do presente estudo percebeu que

o IFCE, Campus de Limoeiro do Norte, provinha de uma origem diferenciada da maioria das

instituições pertencentes à Rede Federal de Educação Tecnológica do Estado do Ceará, que

foram criadas a partir de instituições pertencentes ao Sistema Federal de Educação

Tecnológica, instituída pelo governo Fernando Henrique Cardoso a partir da Lei nº 8.948 de

08 de dezembro de 1994. Quanto a Limoeiro do Norte, a criação do IFCE deu-se efetivamente

através da transformação da FATEC, do Instituto CENTEC, instituição de ensino profissional

e tecnológico financiado pelo governo estadual, gerida por uma Organização Social (OS)

através de um contrato de gestão pactuado com o Estado do Ceará, embora tenha havido um

breve período de federalização anterior ao IFCE, Campus de Limoeiro do Norte, quando se

instituiu o CEFET.

Com o resultado da pesquisa pode-se perceber que houve sim uma passagem da

FATEC, do Instituto CENTEC, de Limoeiro do Norte, para a rede federal supracitada na

figura do Centro Federal de Educação Tecnológica do Ceará (CEFET) como Unidade

Descentralizada de Ensino (UNED) na cidade de Limoeiro do Norte, antes dessa se configurar

em IF. O processo de federalização ocorreu ainda na forma de CEFET porque a política de

educação profissional dos Institutos Federais estava em processo de elaboração e aprovação.

Tal peculiaridade foi desvelada apenas no percurso de desenvolvimento da pesquisa, por meio

dos primeiros sujeitos elencados, quando da aplicação do questionário-piloto para o estudo

(entrevistas) e, posteriormente, por meio de registro em jornal e do depoimento dos demais

sujeitos durante coleta de dados definitiva.

A federalização da FATEC, do Instituto CENTEC, de Limoeiro do Norte, ocorreu

muito provavelmente no ano de 2007, embora a ausência de marco temporal exato nos

coloque na condição de eleger um parâmetro aproximado, tendo em vista que as instituições e

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o próprio Instituto CENTEC não possuem documentos sobre a data da extinção do Campus de

Limoeiro do Norte, assim como o IFCE- Reitoria, e, inclusive, o IFCE, Campus de Limoeiro

do Norte, também não dispõe de registros da federalização da instituição. O que mostra que

estas instituições de ensino têm pouco apreço por seus aspectos históricos, o que se

apresentou como uma das principais dificuldades do nosso estudo.

O período de transição perdurou aproximadamente entre os anos de 2007 e 2008,

tempo em que o corpo de funcionários do Instituto CENTEC se manteve até a realização de

concurso público para o novo ente federal.

Este último dado explica a dificuldade dos sujeitos da pesquisa, na sua maioria,

terem de reconhecer a federalização antes da contração de pessoal através de concurso

público, já que para a comunidade pouco havia mudado no período de transição. O CEFET,

enquanto instituição funcionando com servidores próprios (concursados para o CEFET-

UNED de Limoeiro do Norte), permaneceu por um período ínfimo, cerca de um mês, tendo

em vista que logo a seguir se instituiu legalmente o Sistema Nacional de IF’s, que ensejou o

surgimento do Campus do IFCE em Limoeiro do Norte.

Nessa medida, a formalidade e burocratismo dessa transformação (que inclui a

instituição do CEFET-UNED por apenas 26 dias como exigência puramente legal, vazia de

sentido) seria reflexo apenas do cumprimento das determinações de instâncias superiores ao

largo das necessidades da comunidade de alunos, professores e servidores?

A provocação colocada parte da premissa de que o fenômeno revela traços de

hibridismo, ou seja, de substituição e transformação, mas com a conservação de traços

anteriores e de sua coexistência com novos parâmetros de funcionamento, porém isso só veio

a ser considerado na maturação do estudo. Antes a hipótese esteve fixada na figura da

transformação, apenas.

Doutro modo, a transformação da FATEC em IFCE, Campus de Limoeiro do

Norte, seria uma manifestação da abdicação da responsabilidade do governo do Estado de

prover o ensino profissionalizante diante da implantação da Rede Federal de Educação

Profissional e Tecnológica capaz de incorporar as instituições de ensino profissional?

Nota-se que a política de criação da Rede Federal de Educação Profissional e

Tecnológica em alguns estados exigia como contrapartida, do Município e do Estado, uma

estrutura física já construída para que a implantação dos IF’s pudesse ocorrer de forma mais

rápida. Atena1 assinala que “O governo federal aprovou a ampliação da rede; teve a

1 GESTOR(A). Entrevista concedida em 24 de março de 2017, em Limoeiro do Norte.

16

contrapartida da infraestrutura física”. No caso do IFCE, Campus de Limoeiro do Norte,

ocorreu uma desresponsabilização do governo do Estado com o Instituto CENTEC, melhor

dizendo, com a política de educação profissional do Estado que o possibilitou.

No instante em que houve a oportunidade de entregar o Instituto CENTEC para

o governo federal, o ente estadual o fez, no governo Lúcio Alcântara. Tal entendimento é

também o de Atena quando afirma: “O instituto CENTEC já havia enfrentando problemas

financeiros, assim como os institutos CENTEC de Sobral e Maracanaú. O Estado gostaria de

se livrar do problema” (grifo nosso). Tendo em vista a política de expansão da educação

profissional e tecnológica que se concretiza no segundo mandato do governo Lula da Silva

(2007-2010). Esta hipótese se constata diante da debilidade econômica que a FATEC vinha

enfrentando sob a chancela do Instituto CENTEC em Limoeiro do Norte, a possibilidade de

tornar-se parte da Rede Federal de Educação Tecnológica foi extremamente oportuna,

conforme a fala de Antinoo2 quando comentou: “o Instituto CENTEC estava com os dias

contados muitos (professores e servidores) já se preparavam para buscar novos postos de

trabalho”. Com este indicador, infere-se que a instituição via uma saída com a incorporação

na rede federal, apresentando-se, a priori, como única alternativa viável para conservação da

instituição, pelo menos em parte, logicamente com outro formato. Confirmando o exposto,

resgatamos o depoimento de Poseidon3: “A rede federal foi um alívio para o Estado”.

Esta hipótese se apresenta como indicação provável de que tenha havido

contrapartidas determinantes para a incorporação da FATEC, do Instituto CENTEC, no

município de Limoeiro Norte à Rede Federal de Educação Profissional e Tecnológica, a qual

foi descortinada no âmbito da investigação do estudo em questão, acessível no corpo da

pesquisa, no sentido de negar, afirmar e/ou identificar aspectos impossibilitados de serem

vislumbrados inicialmente. Foi levantada a hipótese, ao mesmo tempo, se a federalização do

Instituto CENTEC para o CEFET- UNED e, por fim, ao IFCE, em Limoeiro do Norte, esteve

ligada à conformação a uma tendência das necessidades do capital atualmente. Considerando

assim como efeito das nuances da globalização que repercute em larga escala o fomento sobre

a educação técnica e tecnológica, assim como nas demais modalidades do ensino superior,

particularmente nos países em desenvolvimento.

A educação carrega consigo o emblema caraterístico do tipo de sociabilidade que

representa e que a institui, tendo em vista as mutações do sistema econômico em vigor. A

base legal (amparada na Lei 11.892, de 29 de dezembro de 2008) e os documentos oficiais da

2 PROFESSOR(A). Entrevista concedida em 19 de fevereiro de 2016, em Limoeiro do Norte.

3 TÉCNICO(A). Entrevista concedida em 30 de março de 2017, em Limoeiro do Norte.

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rede federal de educação profissional e tecnológica, tais como apresentam os consultores

técnico-científicos da rede, em Silva (2009) e Pacheco (2010), dizem estar apontando para um

ensino progressista e emancipador, negando e até mesmo colocando-se como um marco na

ruptura da educação de patrões e empregados, como bem aponta a teoria da escola dualista

percebida no cenário nacional, conforme identifica Saviani (2009).

Contudo, é possível vislumbrar, nas entrelinhas, aspectos convergentes e/ou

indissociáveis com a ideologia neoliberal imposta pelos organismos internacionais, tais como

o Banco Mundial (BM), Banco Internacional de Reconstrução e Desenvolvimento (BIRD),

Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), Organização das Nações Unidas (ONU),

Fundo Monetário Internacional (FMI) mesmo diante da “nova” proposta educacional

apresentada. Elucidados pela leitura de dados da realidade em questão, como a oferta da

maioria das vagas (50%) na rede federal de ensino para a educação de nível técnico.

Nesse cenário, os organismos internacionais têm grande impacto nas políticas de

educação, sobretudo em países em desenvolvimento. Em linhas gerais, estes objetivam uma

educação mínima com a universalização da educação básica. A referida educação trata-se de

caráter estritamente vinculado a empregabilidade para garantir o desenvolvimento econômico

requerido no mundo do trabalho. As políticas da educação orquestradas pelos organismos

internacionais se erguem;

A partir dos valores e da lógica vigente no mundo dos negócios, tendem a moldar o

processo de formação humana a partir de seus conceitos mercadológicos e, em

última instância, moldar e justificar a organização social humana segundo os seus

interesses. (SABII, 2012, p. 08).

Diante desses dados, percebe-se que a realidade investigada, ou seja, os Institutos

Federais e por consequência o IFCE, Campus de Limoeiro do Norte, é, a priori, compatível

com a política de sociabilidade do capital, explicada especialmente pelo interesse com

segmento de ensino técnico, quando se apresenta como uma formação aligeirada,

perceptivelmente na qualificação profissional, podendo acontecer em até 18 meses, no caso

do ensino técnico subsequente, ofertado no IFCE, Campus de Limoeiro do Norte.

Neste sentido, as políticas de ensino profissional, conhecidas ao longo da história

da educação brasileira, não se identificam com a noção de politecnia apontada por Marx e

desenvolvida por Gramsci. Importante ressaltar que a politecnia concebe uma educação

indissociada do trabalho (CASSOL; SILVA, 2015), opondo-se também ao ensino

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profissionalizante de maneira geral, visto pelos moldes que se conformam especialmente em

países em desenvolvimento. A escola politécnica objetiva promover o mais alto grau de

elevação da potencialidade humana, para isso rompe-se com a perspectiva dualista de ensino

(teoria X prática). É importante frisar que tal ideário ainda não encontrou aplicação concreta

mesmo nas propostas mais genuínas e/ou firmes dos regimes de esquerda que tendem a

compactuar com tal ideário, ainda se configura na zona do “inédito viável”, assim como

argumenta o conceito de utópico em Paulo Freire. Não se tratando de uma educação

profissional como estranha ao homem que o faz, mas considerando o trabalho um elemento

imprescindível para formação humana nos seus diversos aspectos: intelectual, material, social

e político (JESUS, 2005).

Diante da discussão de qual tipo de ensino se propõe, coloca-se o locus do

fenômeno, onde foi possível notar que é eleita a carga horária mínima estipulada pelos órgãos

reguladores, a qual também repercute nos cursos superiores do IFCE, Campus de Limoeiro do

Norte, se comparado às universidades, que vem sendo modificado recentemente (com

alterações nos documentos da matriz curricular – aguardando implementação) por força de

determinações legais em nível nacional, como a eleição da quantidade mínima de semestres

para licenciatura, por exemplo. O Conselho Nacional de Educação (CNE), através da

Resolução do CNE/CP Nº 02 de 1º de Julho de 2015, se encarrega de alterar a quantidade

mínima de formação do licenciado, antes 2800hs, para 3200hs, com distribuição agora em, no

mínimo, 08 semestres para integralização do curso. O curso de licenciatura em Educação

Física no Campus Limoeiro do Norte, por exemplo, nasceu com apenas 07 semestres, embora

obedecendo à carga horária mínima.

Contudo, o acondicionamento em menor número de semestres só foi possível

diante da escolha da carga horária mínima obrigatória, dada em decorrência da orientação da

gestão, que objetivava um curso mais curto possível. O que gostaríamos de evidenciar aqui é

o tempo de permanência da graduação, que se diminui um semestre se comparado às

licenciaturas nas universidades, falando de forma geral. Consideramos que essa diminuição na

permanência do licenciado nos cursos de graduação dos IF’s, a exemplo do IFCE, Campus de

Limoeiro do Norte, pode impactar na formação do acadêmico.

Por entender o tempo de formação do aluno como fator maturacional de uma

maior apropriação dos saberes em todas as esferas que a instituição de ensino superior propõe,

para além das aulas regulares, mencionamos aqui também as formações promovidas que

margeiam a própria dinâmica do ensino superior, tais com as agremiações, os fóruns de

debates, ações científicas, políticas e culturais que florescem na rotina acadêmica. Por

19

conseguinte, das novas exigências de formação docente por determinação do CNE, todas as

licenciaturas deverão ser ofertadas em, no mínimo, 08 semestres. Diferentemente da resolução

atual, a prerrogativa de flexibilização no número de semestres para a integralização das

licenciaturas possibilitou que o IFCE, Campus de Limoeiro do Norte, suprimisse 01 semestre.

Observa-se que o uso desse arranjo legal se constitui em um diferencial na formação mais

rápida desse profissional, conforme a lógica histórica do aligeiramento da educação

profissional.

A respeito dos cursos ofertados pelo Instituto CENTEC, assim como IFCE,

Campus de Limoeiro do Norte, ocorre um perfilhamento com os interesses da lógica do

mercado. A implantação de cursos, ainda que sob a recomendação das necessidades do

mercado, não traz garantias nem quanto à eficiência da formação e, especialmente, no que se

refere à conquista de postos de emprego. Entendemos que a politica de educação profissional

é forjada sob os anseios dos organismos internacionais. Estas políticas afirmam que os

mecanismos de qualificação de mão de obra são suficientes para alavancar o crescimento de

posto de emprego, porém, se trata de falácia. Visto que o produto da qualificação consiste

apenas num status de empregabilidade, que depois “são colocadas na agenda pública as

políticas de formação de mão de obra, na perspectiva de empregabilidade e não de emprego”,

conforme Faleiros (2009, p.75 apud GARCIA; SOUZA, 2014, p.05).

Nesse sentido, as políticas públicas de educação profissional, assinaladas pelos

organismos internacionais, fazem a transposição das regras do mercado para a educação. Com

isso “garante que o mercado disponha de profissionais preparados para suas demandas, mas

não garante que esses profissionais ainda que empregáveis, tenham acesso ao emprego”

(GARCIA; SOUZA, 2014, p.16). As políticas de educação profissional recomendadas pelos

organismos internacionais representam de fato os interesses do mercado, e neste prisma a

educação se torna um capital humano que concede ao homem apenas o tíquete para disputar

uma vaga e não lhe assegura qualquer conquista, ao contrário, “na verdade a exigência de

qualificação e habilidades especiais para atuação no processo produtivo se configura como

critério de seleção de trabalhadores justificando assim o desemprego” (GARCIA; SOUZA,

2014, p.19). Desse modo, a educação se configura com critérios, ou seja, medidas para excluir

mais do que para admitir nos postos de emprego.

Diante desse cenário de educação profissional, o estudo ganha relevância ao

possibilitar uma reflexão sobre as questões que permeiam a concretização ideológica

propaladas nas políticas de implantação da rede federal de ensino profissional e tecnológico,

através do processo que fomentou a unidade do Instituto Federal de Educação, Ciência e

20

Tecnologia em Limoeiro do Norte, a qual afirma objetivar a formação de indivíduos críticos e

atuantes na construção de uma sociedade balizada na democracia e equidade para todos, e que

caminhe na contramão de uma educação para o capital, avessa a simples capacitação para

ofícios.

Elencamos como objetivo geral deste estudo: Investigar o processo pelo qual se

deu a criação do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE) na

cidade de Limoeiro do Norte, a partir dos enfrentamentos, resistências e interesses políticos,

econômicos e sociais envolvidos neste processo de substituição/transformação da Faculdade

de Tecnologia (FATEC), do Instituto CENTEC, de Limoeiro do Norte. Os objetivos

específicos se configuram como desdobramentos para o alcance da reflexão fundante. São

eles:

a) Compreender, através da análise do ordenamento legal a nível nacional e

estadual, como ocorreu o processo de substituição/transformação da Faculdade de Tecnologia

(FATEC), do Instituto CENTEC, de Limoeiro do Norte em IFCE.

b) Analisar a política de educação profissional e tecnológica promovida pelo

Governo do Estado do Ceará a partir da década de 1990, no intuito de entender os motivos

que possibilitaram a transmissão de responsabilidades com a educação profissional e

tecnológica desenvolvida pelo Governo do Estado do Ceará em Limoeiro do Norte ao

Governo Federal.

c) Refletir acerca da política de educação profissional e tecnológica implementada

pelo governo Lula da Silva, a qual possibilitou a criação do IFCE na cidade de Limoeiro do

Norte, considerando como aconteceu a mudança na oferta de cursos da então FATEC, do

Instituto CENTEC, de caráter tecnológico para cursos diversificados, como licenciatura no

IFCE, Campus de Limoeiro do Norte.

Para alcançar tais objetivos traçamos o percurso ancorado no materialismo

histórico-dialético, uma vez que ele se configura como método marcado pela análise profunda

dos determinantes sociais, políticos e econômicos que permeiam o fenômeno educacional

estudado.

Buscamos uma reflexão que, a partir do estudo de natureza descritiva em que foi

confrontado o objeto, garantisse, ao mesmo tempo, a reflexão sobre os desdobramentos que

cercaram a problemática.

A análise também foi guiada pelo contexto histórico, sendo fundamental para

compreensão ampla e desvendada da prática social focada, uma vez que esta reflete a

21

realidade social concreta e contraditória imersa no bojo de necessidades e interesses próprios

de agentes distintos da esfera social.

Conduzido por uma análise bibliográfica-documental, buscando elementos num

conjunto de entrevistas com sujeitos envolvidos no processo, empreitou-se elucidar o

processo da história da FATEC, do Instituto CENTEC, em IFCE, Campus de Limoeiro do

Norte, a partir da política de educação profissional e tecnológica implementada pelo governo

Lula da Silva. Diante do exposto, foram alcançados os objetivos propostos, debruçando-se

nos documentos oficias e ordenamentos legais.

Os dados foram colhidos num período de seis meses, partindo da análise dos

documentos e bibliografias referentes à política da Rede Federal de Educação Profissional e

Tecnológica que suscitou a criação do IFCE, Campus de Limoeiro do Norte, bem como

valendo-se de entrevistas com funcionários que permaneceram na instituição, conferindo

espaço para alguns relatos das vivências de sujeitos que puderam acompanhar essa trajetória.

Para conduzir a análise desse estudo elegemos um grupo de autores, dentre os mais

recorrentes citamos Libâneo (2012), Saviani (2007,2009), Frigotto (1989), Kuenzer (2011),

Ramos; Ciavatta (2011; 2012), Mészáros (2008) e Cunha (2000; 2005). As fontes

documentais apreciadas no estudo se tratam: Lei estadual nº. 12.781, de 30 de dezembro de

1997; Artigo 11 da Lei federal nº. 9.637, de 15 de maio de 1998, que versa sobre as

Organizações Sociais (OS) que regem os Institutos CENTEC; Lei nº 11.892, de 29 de

dezembro de 2008, criadora dos IF’s, estas duas são o foco da análise; Ainda consideramos

para uma leitura colaborativa o Decreto nº 5.224, de 1º de outubro de 2004, o qual discorre

sobre a organização dos Centros Federais de Educação, Ciência e Tecnologia e a Lei nº 11.

741, de 2008, tratando a educação profissional atualizando a LDB.

O estudo foi estruturado em cinco capítulos, sendo o primeiro a introdução, o

texto aqui apresentado. O capítulo dois trata do recorte teórico-metodológico em que o

trabalho se erigiu, reunindo especialistas do campo da educação e da pesquisa para

fundamentar as categorias centrais do estudo. O terceiro e o quarto capítulo tratam

especialmente do fenômeno da pesquisa. Sendo que o terceiro capítulo coloca o Instituto

CENTEC no contexto de Limoeiro do Norte, compreendendo a instituição como reflexo de

uma política de desenvolvimento econômico do governo a nível estadual e federal, com

repercussão também no IFCE. O quarto capítulo recebe o título Através do Mar Revolto, onde

é narrado e explicado o trajeto que o Instituto CENTEC percorreu até se conformar em

Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia. Para isso sistematizamos as memórias

dos sujeitos e recrutamos as fontes documentais para descortinar esse enredo. E por último a

22

conclusão, que traz os elementos fundamentais para a compreensão da federalização do

Instituto CENTEC em Limoeiro do Norte.

23

2 ÂNCORA METODOLÓGICA-TEÓRICA: REUNINDO PRESSUPOSTOS

Ao segundo capítulo destinamos primeiramente a apresentação da conformação

metodológica do estudo, no intuito de guiar a incursão da investigação. Logo em seguida

requisitamos também os teóricos que tratam da temática em foco, no sentido de levantarmos a

política de educação profissional que deu origem aos IF’s, concatenando e analisando as

reflexões dos especialistas em torno do fenômeno em questão. Para isso, o quadro teórico ao

qual nos valemos ajudou a situar essa política numa perspectiva histórica e ideológico-política

de caráter global, vislumbrando assim as repercussões do plano local.

2.1 O FAZER METODOLÓGICO

Nesta sessão desenvolveremos os pressupostos eleitos para a análise e o

tratamento dos dados que foram continuamente aperfeiçoados no percurso da pesquisa, à

medida que atendem as necessidades de desvelar o fenômeno.

Como norteador da pesquisa, buscamos descortinar o seguinte objetivo geral:

investigar o processo pelo qual se deu a criação do Instituto Federal de Educação, Ciência e

Tecnologia do Ceará (IFCE) na cidade de Limoeiro do Norte, a partir dos enfrentamentos,

resistências e interesses políticos, econômicos e sociais envolvidos neste processo de

substituição/transformação da Faculdade de Tecnologia (FATEC), do Instituto CENTEC, de

Limoeiro do Norte.

O objeto de estudo, ou melhor, o fenômeno – se convencionou por vezes com

distinção das ciências positivistas - ao ser estudado, indubitavelmente se configura uma

pesquisa qualitativa predominante sem prescindir dos dados quantitativos no instante em que

o próprio fenômeno é emancipado, ou seja, autônomo, com isso imprime sua personalidade

determinando a forma de análise, e o pesquisador apenas torna-se um coadjuvante nessa

eleição. A pesquisa qualitativa, para Minayo (1994), alcança um nível mais profundo dos

sentidos, valorações, hábitos e crenças num plano simbólico da linguagem. Nesse prisma, é

impossível de ser conformado em dados quantificáveis apenas. Afirmando tal concepção

sobre a natureza qualitativa de uma pesquisa, versa-se:

Por trabalhar em nível de intensidade das relações sociais (para se utilizar uma

expressão kantiana), a abordagem qualitativa só pode ser empregada para a

compreensão de fenômenos específicos e delimitáveis mais pelo seu grau de

complexidade interna do que pela sua expressão quantitativa. (MINAYO, 1993, p.

7)

24

Embora, muitas vezes, haja, na academia, distinção entre pesquisas quantitativas e

qualitativas, se vê de forma profunda que esta se dissolve no método marxista, a saber:

A importância atribuída tanto a dados quantitativos como qualitativos, utilizando-os

de modo complementar como contraprovas históricas, [...] O capital (1989), no qual

Marx, referindo-se à exploração do trabalho infantil, descreve-a com riqueza de

dados quanti-qualitativos (PRATES, 2012, p.121).

A qualidade e quantidade são faces do mesmo fenômeno que:

Tão somente a quantidade permite que nosso mundo qualitativo tenha uma estrutura

definida, sem deixar de ser qualitativo. No devir, a qualidade dura, se prolonga, se

repete, conserva-se a mesma no curso de um crescimento quantitativo gradual.

Lefebvre (1991, p. 211 apud PRATES, 2012, p. 123).

A pesquisa que utiliza características ditas de natureza quali-quanti é mais

coerente com o método marxista de pesquisa, pois utiliza a articulação de ambos os tipos de

investigação, podendo até ter predominância de um ou outro tipo, mas no cerce reconhece a

unidade dialética necessária entres estas (PRATES, 2012). No nosso estudo, esse movimento

se deu quando buscamos entender o fenômeno, observando que este se vale tanto de aspectos

quantificáveis quanto qualificáveis. No que se refere aos quantificáveis, partindo inicialmente

do número da população, amostra e da própria unicidade do estudo, além do volume de dados

disponíveis sobre a temática, a quantidade de tempo disponível para maturar o estudo. Todos

estes fatores são importantes e, sobretudo, impactantes na qualidade dos dados

documentários. Consolidado através do valor das teorias e autores consultados, assim como a

eficiência da depuração dos dados extraídos dos sujeitos (que se vale de produção/qualidade e

volume/quantidade dos discursos numa relação real).

A pesquisa atende também aos pré-requisitos para ser estudo de caso. Sendo o

IFCE, Campus de Limoeiro do Norte, uma realidade particular a ser perquirida,

consequentemente, suas singularidades e inferências não poderão ser generalizadas, tendo em

vista o caráter de aprofundamento conferido neste tipo de estudo. Diante desta manifestação

da pesquisa, Gil (2011, p. 57-58), conceitua o estudo de caso como “estudo profundo e

exaustivo de um ou de poucos objetos, de maneira a permitir o seu conhecimento amplo e

detalhado”, o autor ainda se vale do estudo de Yin (2003) para explicar os diferentes

propósitos em número de três, a que o estudo de caso atende, sendo que para o estudo do

IFCE converge para a terceira situação exposta, a qual é transcrita com a finalidade de

25

“explicar as variáveis causais de determinados fenômenos em situações muito complexas que

não possibilitam a utilização de levantamentos e experimentos (YIN, 2003, p.32 apud GIL,

2011, p. 58)”.

Objetivando esclarecer as problemáticas levantadas, foi eleito como referência o

método materialismo histórico-dialético, uma vez que este se configura como método capaz

de uma análise profunda dos determinantes sociais, políticos e econômicos que permeiam o

fenômeno educacional estudado. Superar a aparência do fenômeno e alcançar elementos que

possam concorrer para a essência, para Marx, na via do intérprete Netto (2011, p.22), é uma

etapa importante no processo de estudo, uma vez que essa é aprioristicamente necessária por

ser um aspecto da realidade, assinalado nestes termos: “[...] indo além da aparência

fenomênica, imediata e empírica – por onde necessariamente se inicia o conhecimento, sendo

essa aparência um nível da realidade e, portanto, algo importante e não descartável”. A

criação do IFCE a partir da substituição ou transformação da FATEC como oriundo de uma

determinação legal é a aparência do fenômeno do estudo em voga aqui. O que se almeja como

a contemplação do real que se desprende do idealizado pelo pesquisador esforçando-se para

revelá-lo o mais próximo da sua concretude. Compreendendo-o com as suas múltiplas

determinações, que incorre naturalmente na subjetividade – desejos e contradições dos

sujeitos imbricados, aos que de forma explícita é dado poder em tal deliberação. E por último,

sem descartar os sujeitos que parecem ser esvaziados de poder – é nesta direção que se

prognostica a busca pela apreensão da essência, o real.

Tivemos consciência da complexidade da tarefa e, ao mesmo tempo, também dos

riscos que esse nome imprime sobre um estudo. Diante de história de adulteração, a qual foi

submetida à teoria de Marx, colocamo-nos cientes das dificuldades da teoria e, sobretudo,

pela aversão que por vezes se edificam sobre o tema e, sejamos honestos, sobre a oposição

que se faz ao método no instante em que este não se descola da postura nada

amistosa/conciliadora, nem tão pouco comportada, que Marx propõe.

A pesquisa ainda é classificada como explicativa. Entendendo como característica

basilar o levantamento e análise dos determinantes envolvidos no caso de estudo. O fenômeno

é o IFCE de Limoeiro do Norte, que será explicado a partir da análise de peculiaridade de

suas bases, ou seja, a FATEC ligada ao Instituto CENTEC. O município de Limoeiro do

Norte foi o piloto do Instituto CENTEC no Brasil, com a implementação da primeira FATEC.

A origem da educação tecnológica no viés no Instituto CENTEC a nível nacional é conferida

a um político natural do referido município. Tal levantamento e descoberta foram esclarecidos

por um sujeito da pesquisa ainda na aplicação do questionário piloto. A figura do deputado

26

Ariosto Holanda nos parece central para entender o caso Instituto CENTEC em Limoeiro do

Norte. O protagonismo do deputado na historia do Instituto CENTEC de Limoeiro do Norte,

assim como sua presença no CEFET- UNED até a chegada do IFCE nesta cidade está

explicado no capítulo quatro (04).

A pesquisadora em questão se colocou no patamar de participação relativa no

fenômeno estudado, não podendo prescindir do entendimento de imersão desta no fenômeno e

no próprio lócus de estudo. Essa estabelece de forma explícita uma relação de laboralidade, a

qual não poderia ser omitida por conta do vínculo empregatício que instigou a escolha do

estudo diante da identificação com a categoria de servidor público e, sobretudo, docente.

Desse modo, buscamos entender como esses sujeitos perceberam e foram impactados por esse

fenômeno/acontecimento.

Como é sabido, Marx não se propôs a desenvolver um estudo sobre um método de

análise, embora o materialismo histórico-dialético seja uma ontologia, um estudo do ser.

Daquilo que na concepção marxiana remetia ao complexo fundante: o trabalho. Considerando

que o trabalho é fundamental e particularmente comum à espécie humana. Marx não se

dedicou a pensar uma epistemologia teórica do conhecimento que versasse sobre o

conhecimento das dimensões processuais e de valoração. Ainda assim a sua produção teórica

esta ancorada em método peculiar de analise da realidade que inaugura procedimentos

metodológicos que usou para compreender os modos de produção.

A teoria marxiana identifica regulações, leis que caracterizam o fenômeno. Neste

viés, surgem as categorias de análise que são normatizações, permitindo compreender os

modos de ser e estar no mundo. São elas totalidade, contradição e mediação, estas são

fundamentais para se conceber o método em Marx.

A primeira categoria posta refere-se à totalidade de como compreender o

fenômeno IFCE, Campus de Limoeiro do Norte, numa dimensão micro sem desconsiderar sua

correspondência com as ideologias propaladas para educação na escala mundial,

particularmente para os países em desenvolvimento que repercutem inegavelmente nas

diretrizes e propostas de educação para as massas, a categoria em voga, totalidade, certamente

é estratégica neste estudo.

A contradição é uma das categorias centrais em Marx, considerando

especialmente a apreensão do real numa dimensão dinâmica que não se torna imóvel quando

dada à apreciação. Pelo contrário, remete ao estudo de um fenômeno vivo, orgânico, que deve

ser compreendido mesmo em movimento e especialmente no movimento, para assim garantir

a contemplação da concretude deste. O IFCE foi forjado literalmente em meio a contradições

27

de forma real, ao que se refere às posições dos sujeitos imbricados nesta instituição. Diante

das dimensões deliberativas e de poder que eram próprias de um grupo de sujeito, a saber, os

legisladores e o executivo, que não iriam ser implicados diretamente. Estes possibilitaram o

surgimento da rede, nas dimensões nacional e local na nova configuração da instituição.

Por último, a mediação encarna a natureza simbólica a que o fenômeno se faz.

Conhecer a primeira feita se dá pela aparência num plano sensório e dedutivo. Contudo, deve

ser logo superada para estabelecer as conexões necessárias para compreensão da realidade.

Tal entendimento deve se descolar do senso comum, reconhecendo que o homem possui

poder de transformar no instante em que compreende a realidade e alcança as abstrações do

concreto, num movimento que se dá puramente no intelecto, mas se presta a identificar os

elementos/determinantes que conformam o real. Desta feita, a mediação neste estudo partirá

da análise de forma, contorno, textura, volume que o IFCE, em Limoeiro do Norte, se erigiu.

Dito de outro modo, foi levado em conta as impressões, anseios, valorações como traduções

destas primeiras características assinaladas. Estes dados foram acessados através dos sujeitos

que vivenciaram o fenômeno, ao mesmo tempo em que as mediações se dão pelos discursos e

via documental. Com isto pudemos entender as configurações deste fenômeno e verificamos

se de fato, o IFCE, Campus de Limoeiro do Norte, representa um projeto superador da

educação dualista, se propondo a ter uma perspectiva progressista de educação.

Freitas (2007) afirma que o método em Marx revela o fundamento do ideário

marxista que é a categoria no e do pensamento sui generis, avessa a considerar o método

como técnicas e procedimentos estéreis de ideologia.

É importante pontuar a distinção de categorias de análise e de conteúdo, assim

chamadas respectivamente categorias gerais e específicas. Antes de mais nada, categorias

representam um tipo de procedimento que é comum nas pesquisas qualitativas, segundo

Minayo (2001, p.70), servindo ao intento de reunir aproximações comuns de um conceito.

Vejamos logo adiante os pormenores das categorias: “[...] são empregadas para se estabelecer

classificações. Nesse sentido, trabalhar com elas significa agrupar elementos, ideias ou

expressões em torno de um conceito capaz de abranger tudo isso”.

As categorias gerais identificadas como mote das discussões se mostraram na fase

exploratória da pesquisa. Assim como na coleta de dados, Minayo (2001) esclarece que as

categorias deveriam ser eleitas previamente antes do trabalho de campo, embora no

tratamento dos dados surjam as categorias específicas. Desta feita, foram dois grupos de

categorias: as gerais e as específicas. No primeiro grupo foram elencadas: a) totalidade, no

sentido de compreender as articulações e nexos com diversas instâncias que o fenômeno se

28

emaranha para explicá-lo; b)trabalho, atividade imbricada de humanidade e sua demanda para

escolarização na sociabilidade do capital; c) políticas educacionais da educação profissional,

analisando a repercussão destas políticas na dimensão da globalização e sua materialização no

ensino superior de perfil profissionalizante nos países em desenvolvimento.

As categorias específicas que emanam dos dados da pesquisa representam um

aspecto bem peculiar ao estudo e foram anunciadas como: a) O Hibridismo: Substituição e

Transformação da FATEC para IFCE em Limoeiro do Norte; b) A conciliação da educação

progressista e o ensino superior técnico e tecnológico.

As categorias específicas são de fundamental importância para apresentar, reunir,

classificar e, sobretudo, explicar a particularidade do fenômeno estudado. Estas foram eleitas

ou se fizeram no instante em que se compreende como cruciais para atender a

intencionalidade da pesquisa em questão.

Conduzido por uma análise bibliográfica-documental, empreitou-se elucidar o

processo de transformação da FATEC do Instituto CENTEC em IFCE, Campus de Limoeiro

do Norte, a partir da política de educação profissional e tecnológica implementada pelo

governo Lula da Silva. Diante do exposto, foram alcançados os objetivos propostos

debruçando-se nos documentos oficias e ordenamentos legais, que se tratam de/da: Lei

estadual nº. 12.781, de 30 de dezembro de 1997 e o Artigo 11 da Lei federal nº. 9.637, de 15

de maio de 1998, que versa sobre as Organizações Sociais (OS) que regem o Instituto

CENTEC; a Lei nº 11. 741, de 2008, tratando a educação profissional atualizando a LDB em

vigor; o Decreto nº 5.224, de 1º de outubro de 2004, que discorre sobre a organização dos

Centros Federais de Educação, Ciência e Tecnologia; e especialmente a Lei nº 11.892, de 29

de dezembro de 2008, que criou os IF’s. De segunda ordem, as fontes de dados documentais

foram pautadas em estudos científicos, em periódicos, matérias de jornal, editais dos

concursos públicos do CEFET- UNED, documentos do Estado do Ceará e municípios, tais

como: plano de desenvolvimento local e regional e dados da agência de desenvolvimento

econômico do Governo do Estado, informações pedagógicas dos cursos fundantes do Instituto

CENTEC e projeto pedagógico dos cursos do IFCE em Limoeiro do Norte, obra do deputado

Ariosto Holanda relacionada à idealização dos Institutos CENTEC, que convergiram sobre a

rede de educação profissional e tecnológica. Os dados foram colhidos num período de seis

meses, partindo da análise dos documentos e bibliografias referentes à política da Rede

Federal de Educação Profissional e Tecnológica que suscitou a criação do IFCE, Campus de

Limoeiro do Norte, bem como valendo-se de entrevistas com funcionários que permaneceram

29

na instituição, conferindo espaço para relatos vividos por sujeitos que puderam acompanhar

esse processo de transição.

A técnica de entrevista é um recurso utilizado na pesquisa em questão tendo em

vista considerar como fundamental a apreensão de dados referentes ao fenômeno da

conformação do IFCE, Campus de Limoeiro do Norte, no prisma de perceber com riqueza de

detalhes as impressões e informações do problema levantado no estudo. Para tanto,

apresentamos a definição de Minayo (2001, p. 57-58) a respeito da entrevista:

[...] ela não significa uma conversa despretensiosa e neutra, uma vez que se insere

como meio de coleta dos fatos relatados pelos atores, enquanto sujeitos-objeto da

pesquisa que vivenciam uma determinada que esta sendo focalizada.[...]. Através

desse procedimento podemos obter dados objetivos e subjetivos. Os primeiros

podem ser também obtidos através de fontes secundarias, tais como censos,

estatísticas e outras fontes de registros. Em contrapartida o segundo tipo de dados se

relacionam aos valores, às atitudes e às opiniões dos sujeitos entrevistados.

Utilizamos no presente estudo a entrevista na modalidade semiestruturada, a qual

se caracteriza por estabelecer perguntas previamente definidas, mas, ao mesmo tempo em que

permite flexibilidade quanto aos questionamentos que possam ser desencadeados na conversa.

O roteiro da entrevista (apêndice A) é constituído de seis (06) proposições e se dispõe a ser

desmembrado de forma maleável, não necessariamente seguindo a ordem de disposição das

perguntas, tendo em vista que nesta modalidade de técnica de coleta de dados a entrevista

pressupõe que a rigidez no diálogo não seja a vertente norteadora. Por vezes, quando

efetivamos a entrevista, o assunto abordado na questão um (01) remetia a outra proposição do

roteiro. Nesta feita, é importante que o entrevistador esteja atento e aberto para não perder a

riqueza trazida pela espontaneidade da conversa. A população e amostra do estudo foram

delimitadas com o intento de dar voz aos sujeitos que assistiram a gestação do IFCE, Campus

de Limoeiro do Norte. Nesta perspectiva foram elencados na categoria de: a) docentes (05); b)

técnicos administrativos (02); c) discentes (02); d) gestor (01); que vivenciaram o período de

instabilidade e transformação da FATEC, do Instituto CENTEC, para o IFCE em Limoeiro do

Norte, sem, contudo, nos esquecer da passagem pelo CEFET – UNED. Diante do exposto, o

número de sujeitos da amostra foi dez(10), o qual percebemos como significativo e

representativo para compreender o fenômeno. O capítulo quarto apresenta como os sujeitos

foram tratados. Para isso, optamos pelo uso de pseudônimos.

30

2.2 A RELAÇÃO EDUCAÇÃO-TRABALHO

A educação formal, conquista da evolução histórica do homem, representa

certamente um avanço indiscutível nos modos de viabilizar o status de civilização moderna

que desfrutamos hoje, fruto de uma trajetória de dois mil anos de história humana.

Compreender esses processos educacionais e a configuração destas organizações são

temáticas recorrentes no âmbito acadêmico, o entrelaçamento com áreas de conhecimento,

tais como história, políticas públicas, sociologia e filosofia se fazem imperiosas com

frequência, a fim de desvelar a realidade complexa que cerca as instituições educacionais.

O empenho em congregar estas áreas distintas de conhecimento converge para

debruçar-se sobre o fenômeno da educação institucionalizada. Os processos de escolarização

vivenciados nos últimos anos no país acompanham uma tendência global ditada pelo trabalho

moderno. O modo de produção do capital requer instrumentalização da educação, os

organismos internacionais, tais com Banco Mundial, Organização das Nações Unidas (ONU),

Fundo Monetário Internacional (FMI) dão o tom em boa medida na formatação das políticas

educacionais. A discussão da educação formal provoca a análise sobre a raiz e o propósito da

educação para o gênero humano, que se imbrica de forma indissociável com o trabalho. As

instituições escolares de educação básica, ensino técnico, tecnológico, ensino de graduação e

pós-graduação são nomeados de educação formal por teóricos como Libanêo (1994), que

apontam para uma universalização dos processos de formação com vista à preparação para o

trabalho.

É importante pontuar que houve um tempo em que o trabalho era imediatamente

educação, no instante que o ato de trabalhar já era em si o espaço de educação de forma

indissociável da instrumentalização para este. Ou seja, a educação se dava pelo trabalho, por

transmissão verbal e gestual das técnicas e modus operante. Neste período podia-se prescindir

da instituição escola (SAVIANI, 2009).

A educação deliberada, formal ou intencional se mostra forjada sobre a égide da

apreensão e socialização dos conhecimentos historicamente acumulados pelo homem. Embora

por vezes, resguarde dos holofotes a natureza indissolúvel desta, que tem causa e fim no

trabalho. O trabalho é caracterizado como um complexo4, na perspectiva lukacsiana – o termo

4 Para Lukács, complexo designa a compreensão de um fenômeno fruto de múltiplas determinações gestadas no

seio social, dentre os complexos, o trabalho é considerado o complexo fundante do homem. Apoiamos-nos em

Lara (2015, p.02) para caracterizar a categoria complexo: “As análises lukacsianas partem do pressuposto de

que os processos sociais só são compreensíveis como partes do organismo complexo. A sociedade é composta

por complexos de complexos, em que o próprio homem biológico é em si um complexo e, sobretudo, enquanto

31

complexo refere-se às categorias basilares para compreensão do gênero humano. Destarte, o

trabalho se configura como uma potencialidade exclusivamente humana, repercutindo na

supremacia dos homens diante de toda e qualquer espécie.

Por este prisma, a história esclarece aspectos importantes quanto à

criação/invenção da educação nos moldes que se assemelham a práticas com potenciais de

reprodução, tendo sido elaboradas para atender ao elemento fundante, trabalho, como

premissa imanente ao homem. É importante pontuar a conotação de trabalho, aqui se trata do

trabalho intelectual, ou seja, capacitar os homens para liderar os que de fato trabalham

(SAVIANI, 2011). O mesmo autor destaca que “a história da escola começa com a divisão

dos homens em classe” (SAVIANI, 2011, p. 8).

A educação a que se refere este estudo é aquela que se apresenta de modo formal

ou institucional. Deste modo, as instituições escolares têm representado um tipo de educação

oriunda da estratificação social “com o aparecimento de uma classe que não precisa trabalhar

para viver, surge uma educação diferenciada. E é aí que está localizada a origem da escola”

(SAVIANI, 2000?, p. 2). A educação iria atender como gênese à classe ociosa, uma vez que,

“a palavra escola em grego significa o lugar do ócio. Portanto, a escola era o lugar a que

tinham acesso as classes ociosas” (SAVIANI, [2000?], p.2).

Em contrapartida, o trabalho era o princípio gerador de educação para o

trabalhador. Ou seja, a educação para a maior parcela da população dos trabalhadores se dava

no e pelo trabalho, restringindo-se a esse. Isto após o “comunismo primitivo”, ou seja, no

advento da sociedade de classes esse tipo de educação era suficiente, se não, vejamos em

“contraposição, a educação geral, a educação da maioria era o próprio trabalho: o povo se

educava no próprio processo de trabalho. Era o aprender fazendo. Aprendia lidando com a

realidade, aprendia agindo sobre a matéria, transformando-a” (SAVIANI, [2000?], p. 2).

Neste momento, nos deparamos com o dilema quando se colocam os avanços da

civilização. Estes avanços são propiciados pelo modo de produção do capital, sendo a

educação formal um fator decisivo para tal. A sofisticação dos modus de viver humano

alcançados pela tecnologia e ciência para a vida dos indivíduos se deu na conjuntura do

capital, portanto, pelas vias da sobrepujança de uma minoria sobre um coletivo denso. Essas

melhorias alcançadas pelo modo de produção em que a expropriação do homem sobre o

complexo humano-social, jamais pode ser decomposto. [...]. A questão central da abordagem é estudar o

“objeto”, a partir de sua historicidade e preponderância social, sempre relacionado à particularidade e

universalidade. Assim, as categorias que expressam formas de ser e determinações da existência estão

prevenidas das abstrações logicistas”.

32

homem é engrenagem apriorística, especialmente o capital têm suas bases em “[...] uma classe

ociosa, ou seja, uma classe que não precisa trabalhar para viver: ela vive do trabalho alheio”

(SAVIANI, 2000?, p. 2).

A escola como encarnação da educação, se consolidou com a primazia de atender

ao ócio da classe dominante, mas não a qualquer tipo de ócio. Na Idade Média, a escola –

lugar do ócio – precisava ter um caráter produtivo para a vida aristocrática. Este era o “ócio

com dignidade”. Nele estava em pauta a formação para o exercício da nobreza, que incluía a

arte militar e atitudes corteses, “neste contexto, a forma escolar da educação é ainda uma

forma secundária que se contrapõe como não trabalho à forma de educação dominante

determinada pelo trabalho” (SAVIANI, 2000?, p. 3). A dignidade perseguida pela escola/ócio

provinha de princípios que garantiriam a este grupo reunir condições de permanecer

subjugando. Tais tarefas versam sobre apropriação de dialética, hábitos/atitudes polidos e

desenvoltura na arte militar, propriedades perquiridas pela nobreza galgando para o

burgo/modus urbano que se inauguravam.

Já na Idade Moderna encerrou-se a estratificação de classes pelo direito natural,

hereditário (a servidão passa de pai para filho, assim como a nobreza), inaugurando as

relações dominantemente sociais, mantidas por uma convenção contratual. Sai de cena a ideia

de comunidade e instalam-se as bases da sociedade. Todos têm possibilidade de ser

proprietários, o liberalismo é anunciado com força. Embora no Brasil, ainda nesse período,

estivesse em vigor o escravismo, tornando anacrônica a relação homem livre e mão de obra

escrava, já que a abolição escravista aconteceu bastante tardia no país, adiando, desse modo, o

liberalismo econômico. O capitalismo se instala para garantir a liberdade de dispor ou

comercializar a força de trabalho, ao mesmo tempo em que para isso captura do sujeito o

vínculo com seus meios de existência. A educação, neste prisma, ganha novos olhares a partir

do momento em que “a sociedade contratual, baseada nas relações formais, centrada na cidade

e na indústria, vai trazer consigo a exigência de generalização da escola” (SAVIANI, [2000?],

p.05).

É importante mencionar a distinção das formas de trabalho consolidadas e

hierarquizadas pelas civilizações ao longo do tempo, no que se refere a reconhecimento e

credibilidade destes tipos de trabalho radicalmente distintos, se apresentando este em duas

modalidades: manual e intelectual. Tal bifurcação, há pouco mencionada, reverbera de modo

impactante nas manifestações educacionais cultivadas, ou melhor, disponíveis para os

coletivos sociais, convergindo para o que se espera de determinada classe quanto a postular

posições laborais nas formas de sociabilidade ou modos de produção que primam pela

33

sobrepujança de um grupo sobre outro, conforme se vê historicamente - escravismo, asiático,

feudalismo, capitalismo; que se acentua em determinados tempos históricos.

A correspondência entre educação e trabalho tem nexos vigorosos, enquanto

pensamos nas implicações e repercussões da instrução, consideremos fatores como tempo de

permanência, forma e ideário desta educação para o exercício do trabalho, ou melhor, dos

tipos de trabalho e a quê se destinam estes. Como veremos, o ensino profissional conta com

importantes marcas históricas no Brasil até chegarmos ao modelo, dentre eles ao dos IF’s.

O trabalho atrelado à educação, tratado há pouco na dimensão ampla, agora parte

para o contexto do Brasil, buscando reconhecer as repercussões da história geral para a

particular, alinhando aos determinantes que caracterizam a realidade da educação profissional

no Brasil. A educação profissional no Brasil remonta desde o período imperial à república,

que compreende século XIX, estimado entre os anos 1822 a 1889, tendo como dirigente Dom

Pedro I e Dom Pedro II. Elegemos Cunha (2000; 2005) para tratar das bases do ensino

técnico-profissional no Brasil. Para isso, o faremos sob três marcos históricos, a saber: Brasil

Imperial escravocrata; Brasil Imperial pós-escravocrata; Brasil República.

2.2.1 Brasil Imperial escravocrata

A tarefa de perpetuação dos ofícios se dava de forma espontânea, de geração a

geração, no que concerne ao processo de transmissão desses saberes. (CUNHA, 2000).

No Brasil os processos de formação de novos profissionais se davam de maneira

peculiar. No que se refere à apropriação de um ofício, não estava em jogo apenas o trabalho,

mas quem o exercia. Os escravos no Brasil desempenhavam toda sorte de trabalhos

manuais/braçais e isto repercutiu em cheio sobre a escolha de um ofício (CUNHA, 2000).

O fato de exercer, naquele período, um trabalho que é ou foi exercido

fundamentalmente por escravos, transmitia irremediavelmente a ideia de falência de

dignidade, nobreza ou valoração. Uma vez que nessa análise se materializa a concepção

dualista de trabalho: trabalho manual (como relés, vil) se contrapondo ao trabalho intelectual

(honroso, nobre, respeitado). Somada à esta dualidade valorativa de trabalho agrega-se a

questão da coisificação do sujeito que exercia esse ofício, ou seja, o escravo era também

objeto do seu patrão/dono, assim como o fruto do seu trabalho, ele também faz parte da

propriedade, vejamos tal constatação:

34

O emprego de escravos como carpinteiro, ferreiro, pedreiro, tecelões etc, afugentava

os trabalhadores livres dessas atividades, empenhados todos em se diferenciar do

escravo, e que era da maior importância diante dos senhores/empregadores que

viviam todos os trabalhadores com coisa sua. (CUNHA, 2000, p. 90, grifo nosso).

Desse modo, “as escolas” de ofícios eram designadas na sua gênese aos

miseráveis, nas quais estavam os órfãos, os abandonados, os desvalidos. Estes jovens, à mercê

da sorte, eram encaminhados a trabalhar como artífices nos arsenais militares e da marinha.

(CUNHA, 2000).

Como se pode notar, as raízes da educação profissional são problemáticas, uma

vez que o ensino de ofícios não era voluntário, ao contrário, era impositiva. (CUNHA, 2000).

A semelhança deste formato de educação profissional que se institui a instrução de ofício

destinada às crianças e jovens desvalidos ocorria também na Europa, especificamente na

Inglaterra, além da França e norte da Europa. Vejamos:

No século XVIII, na Inglaterra, foram criadas casas de trabalho para o internamento

e disciplinamento das crianças, os workhouses, com o objetivo de educá-las na

disciplina e hábitos necessários para futuramente trabalhar nas indústrias. (PADOIN;

AMORIN, 2016, p. 3).

A primeira instituição formal embrionária de ensino profissional no Brasil

Imperial foi o Colégio das Fábricas, criado em 1809, no Rio de Janeiro, para abrigar órfãos

portugueses recém-chegados no Brasil. O ensino inicial versava para os ofícios nos cais dos

navios, nos hospitais, nos arsenais militares ou da marinha, progressivamente foi acrescida a

alfabetização, ou melhor, as “primeiras letras”, e por último o ensino primário. (CUNHA,

2000).

As casas de Educandos Artífices foram continuadas durante 10 governos

provinciais das décadas de 1840 a 1856, seguindo um padrão militar, capturando a hierarquia

e a disciplina como motes desse processo educacional para os ofícios, consoante o mesmo

autor.

Já na década de 1870, ainda no século XIX, é criado o Asilo dos Meninos

Desvalidos, no Rio de Janeiro, abrigando crianças da extrema pobreza com idade entre 06 a

12 anos. Estes recebiam instrução primária, e, posteriormente, disciplinas especiais de

conhecimento do mundo do trabalho e de cultura geral, e por fim aprendiam um ofício. Ao

final, digamos de sua educação profissional, estaria ligado à instituição por ainda três (03)

anos, trabalhando para pagar os investimentos na sua educação e reunindo uma espécie de

35

poupança para o seu sustento e proveito no período de encerramento de sua estadia no asilo.

(CUNHA, 2000).

2.2.2 Brasil Império pós-escravocrata

As modificações do sistema de produção impulsionaram novas demandas

educacionais no momento regido pela produção manufatureira no Brasil, isto no século XIX.

Neste contexto, iniciou-se uma mobilização para ensino de artes e ofícios e ao mesmo tempo,

por isso mesmo, o amparo de órfãos, a quem se destinaria essa instrução. O diferencial nesse

instante se dá pelos mantenedores dessa instrução, nessa época estava sendo organizada uma

associação, composta por burocratas do Estado, tais como civil, militar e eclesiástica, além de

nobres, fazendeiros e comerciantes. Em contrapartida, tal sociedade civil tinha “dotações

governamentais”, isto é, verbas específicas para fins públicos. Havia também a possibilidade

dos próprios artífices fazerem parte da sociedade, embora as organizações que obtinham

sucesso fossem as que os sócios injetavam os próprios recursos ou ainda aqueles que tinham

amparo do Estado (CUNHA, 2000).

Como exemplo de sociedades civis apontamos os liceus de artes e ofícios, e foi no

Rio de Janeiro, em 1858, que surgiu o primeiro liceu. Um ano antes a Sociedade Propagadora

de Belas-Artes é fundada com o propósito de criar e conservar o liceu de artes e ofícios, neste,

é interessante notar, o seu acesso era livre, exceto no primeiro momento, para os escravos.

Apesar de uma nova roupagem que se anunciava na educação profissional, no que concerne à

adesão voluntária, ao financiamento e fundamentalmente ao tipo de educação com um caráter

mais amplo, esta não se materializou como pretendido, se conformando apenas no ensino das

artes, não os ofícios, já que não dispunham de laboratórios para o exercício destes ofícios

(sem oficinas) (CUNHA, 2000).

Este autor destaca ainda as intencionalidades do ensino voltado para os ofícios no Brasil

Imperial, seja oriunda do Estado ou da sociedade civil, comungavam dos seguintes ideais:

a) Imprimir a motivação para o trabalho; b) evitar o desenvolvimento de ideias

contrárias à ordem politica, de modo a não se repetirem no Brasil as agitações que

ocorriam na Europa; c) propiciar a instalação de fábricas que se beneficiariam da

existência de uma oferta de força de trabalho qualificada, motivada e ordeira; e d)

favorecer os próprios trabalhadores, que passariam a receber salários mais elevados,

na medida dos ganhos de qualificação. Ao final do império, com a chegada ao Brasil

dos padres salesianos, um novo elemento ideológico foi incorporado a esse conjunto

– o do ensino profissional como antídoto ao pecado. (CUNHA, 2000, p. 92).

36

A trajetória da educação profissional no Brasil Imperial é perpassada por várias

nuances, embora algo permaneça recorrente, a nosso ver, o tipo: que é a educação rala,

elementar e os destinatários, pessoas menos “propensas” à carreira de excelência,

considerando o conjunto de ofícios e seus respectivos protagonistas.

2.2.3 Brasil República

Diante de ideias positivistas forjadas, partindo do pressuposto de Augusto Comte,

foi idealizado um plano de trabalho, ao qual todos os empregadores deveriam se encaixar com

indicativos de regulamentação do exercício do trabalho movido pela novas demandas de

produção. Ao mesmo tempo, tais ações exigiriam uma instrução maior dos operários, onde

seria necessária uma educação para assegurar o cumprimento do dever, trabalho, implicando

com isso um resgate à educação moralizadora (CUNHA, 2000).

Segundo Cunha (2000), o Asilo de Meninos Desvalidos sofreu uma modificação,

se tornando o Instituto de Educação Profissional com ressalvas, já que se institui uma

regulamentação do trabalho infantil. Antes as crianças de 12 anos podiam trabalhar nas

fábricas, com o decreto 1.313, de 17 de janeiro de 1891, não podiam mais. Embora houvesse

exceção para o trabalho nas tecelagens, em que as crianças entre 08 e 13 anos de idade

podiam ser admitidas a título de aprendizagem com carga horária de 04 horas, no máximo.

A princípio houve um apartamento do assistencialismo dos órfãos e desvalidos do

ensino profissional, a partir do decreto 722, de 30 de janeiro de 1892. Assim, estes jovens

seriam destinados a lugares de acolhimento desagregado agora de uma obrigatoriedade de

ensino profissional diante de sua condição de abandono, o mesmo autor.

O Brasil começou a ver com muito bons olhos a ideia de ensino profissional como

horizonte alternativo de massa de trabalhadores ou mesmo como instrumento para forjar esses

trabalhadores dóceis, no início do século XIX. Uma vez que, em 1909, o processo de

industrialização estava num frenesi, ao mesmo tempo em que a articulação dos sindicatos era

admirável, as categorias se solidarizavam aos colegas grevistas e paravam também suas

atividades. Neste contexto, esse proletário foi visto como nocivo e apontado como “corrente

anarcosindical”, formado por imigrantes estrangeiros, em boa medida. Diante desse cenário o

ensino profissional foi apontado como a saída para contenção das ideias subversivas.

(CUNHA, 2000).

A uma postura conservadora, quando a educação profissional seria moralizadora,

agregava-se um ditame progressista no sentido de desenvolvimento da nação a partir da

37

industrialização brasileira, inoculando a ideia de elevação do desenvolvimento para a pátria,

alcançando o status civilizatório de países europeus e do próprio Estados Unidos.

Essa concepção se materializou em políticas públicas no governo de Nilo

Peçanha:

Como presidente do estado do Rio de Janeiro, ele baixou um decreto criando, em

1906, cinco escolas profissionais – três para o ensino manufatureiro (em Campos,

Petrópolis e Niterói) e duas para o ensino agrícola (em Paraíba do Sul e Resende).

Em 1909, já presidente da República, Nilo Peçanha baixou o decreto 7.566, de 23 de

setembro, criando 19 escolas de aprendizes e artífices, situadas uma em cada Estado. (CUNHA, 2000, p. 94).

As Escolas de Aprendizes e Artífices se diferenciavam das demais escolas de

características similares quando “[...] tinha prédios, currículos e metodologia didática

próprios; alunos, condições de ingresso e destinação esperada dos egressos que as distinguiam

das demais instituições de ensino elementar” (CUNHA, 2000, p. 94).

É interessante colocar que as dezenove (19) escolas foram estabelecidas em todos

os estados da federação, com exceção do Distrito Federal e do Rio Grande do Sul, os quais já

possuíam escolas com esse propósito. Bem se destaca ainda que a distribuição igualitária de

escolas pelos estados, especificamente nas capitais, se dava quase de forma maciça. Não se

promovia com esse intento de justiça/igualdade, mas sim projetando interesses de visibilidade

do poder federativo. O critério para a instalação das escolas passou a largo dos interesses e

necessidades, ou mesmo potenciais manufatureiros das cidades que iriam receber estas

escolas, a revelia dos lócus de produção atuantes, de fato uteis/promissor para o

desenvolvimento daquela cidade. Cunha assinala essa leitura no instante em que diz:

Enquanto as escolas de aprendizes artífices obedeceram a um movimento centrifugo,

pois foram instaladas de modo disperso, uma em cada Estado, mesmo nos menores,

o processo de industrialização apresentava uma tendência centrípeta. (CUNHA,

2000, p. 95)

O mesmo estudioso conclui afirmando que esta política não era séria ou mesmo

lógica, já que suas ações não correspondiam aos espaços, onde garantiam uma aplicação real

da instrução e logo gerariam desenvolvimento, mesmo no sentido de rentabilidade econômica

para os empregadores. Importa considerar que a ordem do crescimento da indústria se dava na

dimensão espacial voltada para as regiões periféricas dos grandes centros e não nas capitais.

38

Essa política, no mínimo insana, repercutiu indiscutivelmente na longevidade e saúde da

educação profissional nestes termos na escola de aprendizes e artífices.

Observa-se ainda que as escolas de aprendizes e artífices deveriam ter a gerência

de ministérios distintos ao longo de sua vida. Primeiramente ligado ao Ministério da

Agricultura, Indústria e Comércio. Interessante notar que estas escolas, apesar de constituírem

um segmento educacional, indiscutivelmente estavam vinculadas ao setor produtivo

economicamente, e só a partir de 1930 foram guiadas pelo Ministério da Educação e Saúde

(CUNHA, 2000). Embora o Ministério da Educação e Saúde preservasse o Ministério anterior

da Agricultura, Indústria e Comércio, analisa-se que foi a perspectiva do desenvolvimento

econômico especialmente que erigiu o sistema federal de escolas de Aprendizes e Artífices

(CUNHA, 2005).

A vida destas escolas foi de 33 anos e está na ordem de 141 mil o número de

alunos que foram impactados por esse sistema educacional, de 1910 a 1942. Os anos gloriosos

se deram na década de 20, no que diz respeito ao funcionamento em grande volume de alunos,

em seguida houve um declínio. Aponta-se a falência desta empreitada devido à discrepância

“[...] os propósitos industrialistas de seus criadores e a realidade diversa de sua vinculação ao

trabalho fabril” (CUNHA, 2000, p. 94). O tipo de ofício ensinado era mais manufatureiro

(marcenaria, alfaiataria, sapataria, etc) do que industrial (tornearia, mecânica, eletricidade,

etc.), conforme se alardeava como propósito de um desenvolvimento da industrialização no

país. Tal circunstância se tornou ainda mais incoerente com a lógica do programa educacional

porque ocorreu de forma maciça, com exceção de São Paulo, devido sua frutífera

potencialidade de desenvolvimento e por consequência a necessidade de instrução para o

mundo do trabalho. (CUNHA, 2000).

Foram expostos alguns pormenores da história da educação profissional no Brasil

que apontam para iniciativas muitas vezes controversas e incongruentes, apesar de trazerem a

bandeira do desenvolvimento, o que custou certamente fissuras no projeto de

profissionalização e industrialização do Brasil, que com o tempo, adensadas a outros fatores

interferiram/comprometeram o curso da educação profissional no Brasil.

Nesse momento se encera a trajetória de parte da educação profissional no Brasil

no formato de Escolas de aprendizes e artes. Inaugura-se então o Sistema S5, através da

5 Diz respeito à associação de instituições que se destinam à formação profissional como gênese e a posterior

agregam ações como consultorias, assistência social, pesquisa e assistência técnica. Tem seus limites tênues e

ora difuso entre a iniciativa privada e o poder público na sua gestão/promoção, para mais ver Cunha (2000).

Recebe o nome Sistema S devido às demais instituições que se vinculam a esta iniciarem com a letra S, que

reúne 11 esferas. Destacam-se o SENAI e o SENAC, respectivamente, ligado à Indústria e o Comércio, como

39

criação do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial – SENAI. O sistema S compreende

hoje 11 instituições, destas, pode-se destacar, além do SENAI, seu precursor, o Serviço

Nacional de Aprendizagem Comercial - SENAC e o Serviço Social da Indústria – SESI, com

grande abrangência em todo território nacional. Embora o SENAI mereça mais visualização,

tendo em vista sua importância no estudo no que diz respeito à educação profissional. O

ministro da educação, Gustavo Capanema, no mote da reforma educacional elegeu o SENAI

como sistema destinado ao ensino industrial, materializado no Decreto lei 4.073, de 30 de

janeiro de 1942. O SENAI foi instituído como fruto do interesse de industriais. É curiosa a

participação do Estado na constituição e funcionamento desses órgãos, que por si eram de

gestão privada, e, ao mesmo tempo, respondiam também ao Estado. Vejamos: “mas o

ambíguo estatuto do SENAI, uma instituição privada criada por ato estatal, propiciou

interpretações que ameaçaram seu próprio formato institucional” (CUNHA, 2000, p.102). A

atuação do SENAI na formação de operários qualificados lhe conferiu destaque, tendo um

crescimento vertiginoso impulsionado pelas mudanças do setor econômico, conforme se

observa quando:

[...] nos anos 40, iniciou suas atividades priorizando a aprendizagem industrial, para

qualificar o operariado para a indústria nascente; nos anos 50, foi a vez da

modalidade treinamento, correlativa à industrialização segundo os moldes da grande

indústria; nos anos 90, a ênfase recaiu na polivalência. Nos anos 70, a ênfase na

habilitação de técnicos de nível médio resultou mais da política educacional de

profissionalização universal e compulsória no ensino de 2o. grau do que de

mudanças efetivas do setor produtivo (CUNHA, 2000, p.102).

Contudo, não iremos expor a trajetória SENAI, nem mesmo a do Sistema S. A

intenção neste instante é sumariamente apontar a participação deste na educação profissional,

assim como outras esferas de instituições e/ou políticas públicas que se somam à constituição

da educação na ou para laboralidade no Brasil.

2.3 OS ASPECTOS BASILARES DO ENSINO PROFISSIONAL E TECNOLÓGICO NO

BRASIL

O nosso fenômeno, isto é, o ensino profissional, situa-se temporalmente na década

de 1990. A trajetória da Rede Federal de Educação Profissional e Tecnológica brasileira

protagonistas desta organização de setores produtivos. Originalmente se deu no Governo Vargas,

acompanhando a politica Nacional-Desenvolvimentista a qual o Brasil se empreitava.

40

fomentada no início do século XX passou por diversas mudanças desde a sua implantação,

alcançando formatos e visibilidade nacional consideráveis nos governos de Fernando

Henrique Cardoso (1995-1998, 1999-2000) e Lula da Silva (2003-2006, 2007-2010),

conforme Trigueiro (2014).

O ensino profissional aponta para uma concepção superadora da sociabilidade do

capital que se coloca com o viés de entrelaçar trabalho e educação de forma a democratizar e

garantir o acesso aos bens e/ou mecanismos de produção das riquezas através de uma

educação no e pelo trabalho. Recorremos a Gramsci para dialogar com tal ideário.

Gramsci apud Jesus (2005) indica como ideário a concepção de que a escola não

deve estar dissociada do mundo do trabalho, contrária à perspectiva de dicotomia de ensino

distinto para as classes sociais – patrões e empregados; contudo, a escola idealizada por

Gramsci busca ser “desinteressada”, termo que imprime um caráter de equidade e de

dimensão social do homem aliando conhecimentos profissionais com formação política,

cultural e reflexiva, ou seja, uma dimensão de ensino ampliado que garanta, ao mesmo tempo,

a capacitação para o trabalho bem como uma formação capaz de fazer o aluno refletir e

intervir na sociedade que o institui. Manacorda (1997, p.173 apud Jesus, 2005, p. 55)

manifesta a concepção gramsciana de educação, conforme pode-se perceber quando diz:

Gramsci propôs uma escola que excluísse os pontos de estrangulamento e que

integrasse as funções e os princípios educativos dispersos da escola atual. Uma

escola “nova” deve apresentar-se como escola de cultura e de trabalho ao mesmo

tempo, isto é, da ciência que se tornou produtiva.

Gramsci (1982) revela sobre a questão da dualidade do ensino:

A crise terá uma solução inicial de cultura geral, humanística, formativa, que

equilibre e equanimemente o desenvolvimento da capacidade de trabalhar

manualmente (tecnicamente, industrialmente) e o desenvolvimento das capacidades

de trabalho intelectual. Deste tipo de escola única, através de repetidas experiências

de orientação profissional, passar-se-á a uma das escolas especializadas ou ao

trabalho produtivo (GRAMSCI, p. 118).

A escola unitária ou de formação humanística [...] ou de cultura geral deveria se

propor a tarefa de inserir os jovens na atividade social, depois de tê-los levado a um

certo grau de maturidade e capacidade, à criação intelectual e prática e uma certa

autonomia na orientação e na iniciativa (GRAMSCI, p. 121).

41

Os Institutos Federais (IF’s), nos seus documentos legais, se comprometem com

uma formação que converge para uma aliança do ensino profissional e científico, apontados

anteriormente por Gramsci, e, abaixo, nas palavras de Silva (2009):

Nosso objetivo central não é formar um profissional para o mercado, mas sim um

cidadão para o mundo do trabalho, o qual poderia ser tanto técnico, como um

filósofo, um escritor ou tudo isto. Significa superar o preconceito de classe de que

um trabalhador não pode ser um intelectual, um artista. [...] (SILVA, p.10-11).

O que está em curso, portanto, reafirma que a formação humana, cidadã, precede a

qualificação para a laboralidade e pauta-se no compromisso de assegurar aos

profissionais formados a capacidade de manter-se em desenvolvimento. (SILVA

p.16)

Saviani (2009) também confere importância fundamental ao processo de ensino

como instrumento de resistência contra a opressão sobre a classe trabalhadora. Nesse sentido,

as instituições de ensino formais podem se apresentar como espaço de desenvolvimento

humano, quando garante conhecimento necessário para a leitura de mundo que o aluno pode

exercer sobre a sociedade.

Frigotto (1989) discorre sobre o papel que o ensino tem cumprido na sociedade,

conferindo êxito no seu anseio mascarado que é a falência da educação pública quando esta

possui ares de resolutividade e eficácia supostamente intangíveis. Impregnando na população

a ideia que o sistema educacional envolve uma complexidade de ações que dificilmente serão

palpáveis mesmo diante dos esforços engendrados pelas políticas educacionais, uma vez que

os agentes diretos – alunos e professores – envolvidos no processo educacional têm a maior

parcela de responsabilidade no seu sucesso ou fracasso da trajetória escolar, já que a educação

é entendida com percurso predominante individual. Dessa forma, isentando o Estado da

responsabilidade na promoção de educação de qualidade.

A Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica, e nesta os

Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia, criados pela Lei nº 11.982, de

dezembro de 2008, se intitula como um marco na propagação da ruptura do ensino dualista

até então vigente no Brasil, comprometendo-se nos documentos oficiais a suscitar uma rede

federal de ensino capaz de combater as distâncias sociais, galgando oportunidade de ascensão

social. Percebe-se essa ideia na afirmação de Pacheco (2010, p. 7) quando coloca: “O

Governo Federal tem implementado, na área educacional, políticas que se contrapõem às

concepções neoliberais e abrem oportunidades para milhões de jovens e adultos da classe

trabalhadora”.

42

As ideias ou as bases que os IF’s dizem seguir não representam necessariamente a

aplicação exata ou mesmo em parte desta versão sobre uma suposta ruptura do

neoliberalismo. É especialmente importante colocar que o governo (diga-se Partido dos

Trabalhadores) que fomentou essa rede se distanciou significativamente de suas bases –

originalmente, antes mesmo de se instituir no poder, mostrava-se com bandeira avessa aos

ditames do capital.

Contudo, se erigindo no poder, comportou-se dessa forma, assim como em outras

ações, com uma política não desvinculada dos interesses da concepção neoliberal. De modo

algum se desconsideram os avanços e as repercussões também positivas no que diz respeito à

expansão do ensino de forma ampla, sobretudo no ensino técnico e superior através da política

da Rede Federal de Educação Profissional implementada no governo do Partido dos

Trabalhadores (PT), no momento do governo Lula da Silva, atingindo uma expansão maior no

governo Dilma Rousseff (2011-2014; 2014 a 31 de agosto de 20066).

Kuenzer (1985) aponta, balizado em Marx e Engels, que o homem se faz homem,

se educa no trabalho e nas relações de produção demonstrando a indissociabilidade visceral

entre trabalho e educação, já que o primeiro determina o segundo. Para a autora, o cerne da

questão, quando se pensa a educação do trabalhador na sociedade capitalista, representa a

disponibilidade na oferta de conhecimentos – habilidades técnicas – necessária a um conjunto

de condutas convenientes, conformista. A ideia pode ser ratificada quando se coloca:

A escola, por sua vez, se constitui historicamente como uma das formas de

materialização desta divisão, divorciação da práxis, representação abstrata feita pelo

pensamento humano, e que corresponde a uma forma peculiar de sistematização,

elaboração a partir da cultura de uma classe social. E, não por coincidência, é a

classe que detém o poder material que possui também instrumentos materiais para a

elaboração do conhecimento (Marx e Engels, s.d). Assim a escola, fruto da prática

fragmentada, expressa e reproduz esta fragmentação, através de seus conteúdos,

métodos e formas de organização e gestão (KUENZER, 2005, p.79).

.

Os estudos de Ramos e Ciavatta (2012), referentes à política de educação

profissional e tecnológica, demonstram o balizamento dos currículos que se desenvolvem por

meio de competências contidas na atualização das Diretrizes Curriculares Nacionais para a

Educação Profissional Técnica de Nível Médio (BRASIL, 2011). Notoriamente, apontam a

“CHAVE” como conjunto de competências a serem desenvolvidas, ao mesmo tempo entende-

6 Governo interrompido diante de golpe político midiático, onde acabou por ser destituída do cargo de presidente

pelo mecanismo de Impeachment.

43

se como uma metáfora que representa o acesso para a ascensão profissional/social, quando se

coloca que:

[...] a “chave”, sigla que reúne os componentes da competência (conhecimento,

habilidades, atitudes, valores e emoções), é o eixo de todo o argumento do parecer.

A visão da educação como chave para algum lugar não é nova. Incluem-se chave

para o futuro, [...], para o sucesso profissional. Expressões como essas fazem parte

do senso comum. Trata-se, portanto, de uma metáfora reificadora do poder

econômico e social da educação tão difundido pela teoria do capital humano nas

décadas de 1950 e 1970 e, por isso mesmo, bastante sedutora (RAMOS;

CIAVATTA 2012, p. 22).

Destarte, a política de educação tecnológica e profissional inclina-se para a

formação de indivíduos com foco não mais em disciplinas específicas, mas sim no domínio de

competências, tendo em vista a habilidade de superar os desafios da vida cidadã do

trabalhador. Imprimindo um caráter de base polivalente ao aluno/trabalhador e contrapondo-

se, de certa forma, à especialização e fragmentação minuciosa da produção, como no auge da

industrialização fordismo/taylorismo; com vista até mesmo a minar as possíveis mobilizações

sindicais, já que muitos funcionários que se colocam à margem da causa da categoria detendo

o domínio das etapas de produção podem ser levados a manter a produção como estratégia de

dissolução das mobilizações trabalhistas.

Apesar desse contexto da educação para o trabalho, a expansão do ensino é uma

conquista inegável para a sociedade, aspira-se que a concretização desse direito não incorra

em mais um instrumento de expropriação da sociabilidade do capital, que entende a educação

como necessária apenas para o exercício do trabalho – expansão do mercado, conforme a

teoria do capital humano afirmado por Saviani (2010).

2.4 INSTITUCIONALIZAÇÃO DO ENSINO SUPERIOR NO BRASIL

A trajetória do ensino superior no Brasil no século XIX (1808) tem um marco

significativo com a chegada da família real portuguesa ao país. Tais instituições mencionadas

com fomento desse período eram ligadas às duas áreas: a primeira predominante médica de

modo concorrente a escola de guarda nacional. A corte, em 1808, teve como direcionamento

para o ensino superior no Brasil a formação profissional e controle do Estado (SAMPAIO,

1991).

Colossi et al (2001) afirma que o ensino superior no Brasil foi implementado

graças às necessidades das elites da sociedade, uma vez que a fuga da família real das forças

44

napoleônicas desencadearam o fomento de escolas superiores, dentre elas a Escola de

Medicina do Rio de Janeiro, Escola de Medicina da Bahia e Escola de Engenharia e Artes

Militar do Rio de Janeiro.

Até à proclamação da república, o ensino superior se desenvolveu bem lentamente

por iniciativa de alguns profissionais liberais em faculdade isoladas. O ensino superior, por

não ter ainda um caráter universitário, não era desacreditado, já que o nível dos docentes se

assemelhava ao padrão de ensino superior na Universidade de Coimbra e os cursos eram de

longa duração, conforme Martins (2002).

Para o mesmo autor, com a independência política, em 1822, o sistema de ensino

se manteve sem avanços, a elite no poder não via o investimento em ensino superior como

necessário.

Depois de 1850 houve uma pequena expansão das instituições de ensino no Brasil

com a criação de alguns centros científicos (Museu Nacional, Comissão Imperial Geológica e

o Observatório Nacional), como coloca Martins (2002). Para Sampaio (1991), esta expansão

se deu devido a um período de estabilidade política e de crescimento econômico, sendo palco

do crescimento gradual relativo de instituições educacionais. Ainda diante deste cenário

destaca-se:

O ensino superior propriamente dito manteve-se exclusivamente limitado às

profissões liberais em meia dúzia de instituições isoladas de tempo parcial. Quanto à

atividade cientifica, até o início da República, ela pode ser caracterizada por sua

extrema precariedade, oscilando entre a instabilidade das iniciativas realizadas pelo

favor imperial e as limitações das escolas profissionalizantes (SAMPAIO, 1991, p.

4).

O controle que o Estado exercia sobre o ensino superior no Brasil até 1878

permaneceu preponderante, incorrendo no engessamento de sua mobilidade. O investimento e

a gestão estavam subjugados pelos interesses do governo central. Os currículos e os

programas eram objeto de analise criteriosa do governo, assim como a indicação dos sujeitos

que geriam o sistema de ensino, chegando até mesmo à escolha dos docentes. Nesse contexto,

a distribuição da cátedra estava na prática ancorada em critérios políticos se sobrepondo aos

critérios estabelecidos como acadêmicos (SAMPAIO, 1991).

O referido autor afirma que a resistência dos positivistas em fomentar a

universidade no Brasil valeu-se dos pressupostos de Comtê para argumentar que o modelo de

universidade, enquanto modalidade do ensino superior, não era adequada para sociedade

brasileira. Essa posição influenciou todo o século XIX e início do século XX, permanecendo

45

no ensino superior, nesse período, o viés de profissões tradicionais em faculdades isoladas

para esse fim, avesso ao formato de universidade.

O número de 100.000 alunos representa os estudantes de ensino superior no Brasil

em apenas 24 instituições de ensino no final do século XIX. A partir daí a iniciativa privada

(elites locais e confessionais católicas) investiu nos seus próprios centros de ensino superior,

amparados na abertura para esse negócio, conforme a Constituição de República de 1891.

(MARTINS, 2002).

No primeiro período, que vai de 1808 a 1889, o ensino superior se desenvolve de

forma muito tímida ao lado das transformações sociais e econômicas no país, este sistema

tinha foco no ensino que conferia uma habilitação profissional e um cargo de trabalho, como

bem aponta Sampaio (1991, p.3) quando coloca “[...] um sistema voltado para o ensino, que

assegurava um diploma profissional, o qual dava direito a ocupar posições privilegiadas no

restrito mercado de trabalho existente e a assegurar prestigio social”. O mesmo autor continua

argumentando que o advento da independência no Brasil, em 1822, não impactou nem

timidamente o formato de ensino superior, já que os governantes não viam qualquer lucro na

criação de universidades, permanecendo o modelo de faculdades dessincronizadas.

Na década de 1930 houve uma expansão significativa das instituições de ensino

superior, antes com 24 para 133 escolas, destaca-se a década de 20 pelo maior fomento destas

instituições (MARTINS, 2002).

Martins (2002) vê a criação de uma rede/sistema de universidade pública que

incorreu em embates, a elite intelectual laica encabeçava a ideia de universidade pública se

opondo às iniciativas descompassadas de instituições (faculdades) e propunha a fomentação

de centros de pesquisa.

Em oposição ao colonialismo espanhol, a implantação de universidades no

México ocorreu ainda no período de colônia (domínio espanhol), diferentemente da colônia

Brasil, onde o poderio lusitano não permitiu a criação de universidades no Brasil, e as forças

independentistas não tiveram potência para tanto, sendo adiada para a chegada da família real

portuguesa. A concepção ainda pragmática (reforma pombalina em Portugal) de ensino

superior foi idealizada e alinhada ao modelo de dissociação entre ensino e pesquisa científica,

de Napoleão7 (MARTINS, 2002; SAMPAIO, 1991). Helena Sampaio (1991) acrescenta que o

7 Para explicar o modelo Napoleão recorremos ao seguinte trecho: “O modelo francês-napoleônico foi adotado

no Brasil Colônia a partir de 1808, com a vinda da família real, quando iniciou o ensino superior, com a

criação das escolas isoladas. Antes dessa data, as famílias abastadas, que aqui viviam, mandavam seus filhos

para Europa, geralmente para Portugal, a fim de completar seus estudos. Esse modelo caracterizava-se por uma

organização não-universitária, mas profissionalizante, centrada nos cursos ou faculdades com a finalidade de

46

ensino superior no Brasil só teve caráter universitário nos anos 30. Além do já citado México,

no período colonial, o Peru, também como colônia espanhola, ganha universidade, e o Chile

recebe a universidade no Pós-independência. No período de 1808 a 1934, durante mais de um

século, o ensino superior no Brasil foi voltado para profissões liberais tradicionais,

exemplificadas nos cursos de medicina, direito e engenharias. A escolha destes cursos, a

“espinha dorsal” do ensino superior, nesse período, se deu pela busca de formar profissionais

para gerir os negócios do Estado e para a busca de novas riquezas para a nação (SAMPAIO,

1991).

Ganha holofotes, nessa época, não apenas o controle que o Estado exerce sobre o

ensino superior, mas a função que este deverá ter na sociedade, assim definidas: abrigar a

ciência, os cientista e promover a pesquisa. Residia a ideia de que as universidades fossem

centro de saber desinteressados. Quanto a universidades, só existiam duas (02), de fato, no

Paraná e no Rio de Janeiro, no mesmo período. As demais cento e cinquenta (150)

instituições representavam um acúmulo de escolas (desarticuladas), que não configuram como

universidades. (MARTINS, 2002).

Com a Reforma Francisco Campo (primeiro Ministro da educação no país),

promovida no governo provisório de Getúlio Vargas, em 1931, foi proposta uma ampla

reformulação educacional, “autorizando e regulamentando o funcionamento da universidade,

inclusive a cobrança de anuidade, uma vez que o ensino público não era gratuito”.

(MARTINS, 2002, p.2). O ideário da universidade era um núcleo constituído de uma escola

de Filosofia, Ciência e Letras. Embora tenha havido avanços importantes, uma das principais

queixas era a não exclusividade de promoção do ensino superior pela esfera pública aliada à

sua concessão ao funcionamento de instituições isoladas. (MARTINS, 2002). Sampaio (1991)

afirma que a implantação de universidade no Brasil ganhou nova conotação saindo do campo

essencialmente político e migrando para a acolhida da ciência, neste sentido, duas associações

exerceram um papel importante, a Associação Brasileira de Educação (ABE) e a Academia

Brasileira de Ciências (ABC), propondo reforma em todo o sistema educacional no Brasil,

formar os burocratas que atuariam nos quadros administrativos do Estado. O ensino superior foi criado para

servir a elite, única parcela da população que tinha condições econômicas para financiar os estudos de seus

filhos. Assim, foram criados os cursos de anatomia, cirurgia e medicina, bem como os cursos jurídicos, que

mais tarde deram origem à Faculdade de Medicina da Bahia e as Faculdades de Direito em São Paulo e Recife.

[...].Este modelo seguiu nitidamente os moldes das organizações religiosas e, por isso, seus membros eram

considerados “jesuítas” do Estado, que juravam obediência aos estatutos e às ordens do Imperador, que a esse

respeito se manifestava assim “Eu quero um corpo que esteja ao abrigo das pequenas febres da moda, um

corpo que marche sempre, quando o governo descansa” (NAPOLEÃO apud ROSSATO, l998. p. 127). Em

outras palavras, um corpo obediente e disposto a servir o Imperador, por meio do Estado enquanto instrumento

de dominação política”.”

47

desde a educação elementar/primária percorrendo ao ensino superior. Nestes termos, a

universidade brasileira formulada pelos idealizadores deveria:

Ser semi-oficial, dispor de autonomia didática e disciplinar tão completa quanto o

possível e de uma relativa autonomia administrativa. [...]. Não se trata de excluir o

Estado, mas de propor mecanismo que limitassem seu poder. (SAMPAIO, 1991, p.

10).

As reformas concebidas no período de liberdade política foram estranhamente

implementadas por governos autoritários e centralizadores, como em Vargas (década de 30).

Surgiu duas modalidades de ensino superior: o sistema universitário e o instituto isolado;

neste mesmo período os gestores da universidade, o conselho e o reitor, este último passando

a ser indicado a partir de uma lista tríplice (norma que ainda vigora atualmente). A Reforma

Francisco Campos aqui mencionada, não implementou vigorosamente o ideário de

universidade concebido por intelectuais e educadores da década de 20, doutro modo, apenas

priorizou a formação de professores para o ensino secundário (SAMPAIO, 1991).

No período de 1931 a 1945 houve disputa das lideranças laica e católica, no que

concerne ao controle educacional. Como barganha, o Estado ofereceu o ensino religioso como

facultativo no ciclo básico. Contudo, a Igreja não se deu por satisfeita, empreendendo mesmo

assim no campo do ensino superior, posteriormente (MARTINS, 2002).

Apenas em 1934 foi criada uma universidade dentro dos moldes propostos pela

Reforma Francisco Campos, a Universidade de São Paulo como Faculdade de Filosofia,

Ciências e Letras, com grande autonomia (SAMPAIO, 1991). Embora esta tenha se

configurado quase como relíquia, uma vez que o projeto de universidade prática ficou a título

de aglutinação de escolas isoladas, lhes conferindo o status de universidades, o modelo antigo

de formação de profissionais liberais permaneceu, como bem elucidado a seguir:

Em síntese, a criação das universidades no Brasil foi antes um processo de

sobreposição de modelos do que de substituição. O antigo modelo de formação para

profissões foi preservado. O modelo de universidades de pesquisa acabou sendo

institucionalizado de modo muito parcial e apenas em algumas regiões do pais,

sobretudo naquelas mais desenvolvidas. A fundação da USP é um exemplo. (SAMPAIO, 1991, p. 12).

Para Martins (2002), reinvindicações do período de 1945 a 1968, balizados pelo

movimento estudantil e de professores, acenavam à defesa do ensino público, buscando a

implantação do modelo de universidade e eliminação do setor privado destas instituições. A

elite predominante era a parcela beneficiada pela oferta do ensino superior. A reforma da Lei

48

de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN), de 1961, assinalou uma derrota para o

reformista, uma vez que a iniciativa privada ganhou abertura para a liberdade de ensino

(MARTINS, 2002).

O mesmo autor ainda declara que diante do golpe militar a crise se intensificou, o

abafamento dos movimentos sociais (estudantil e professores) expôs a universidade a bode

expiatório, vista como articuladora de rebeliões, tendo como consequência a expulsão de

lideranças importantes no ensino superior e a consequente expansão da esfera privada.

Em 1968 houve melhorias no campo de sistematização e gestão do ensino

(organização de currículo básico, criação de departamentos de ensino, institutos básicos,

alterou o vestibular, aboliu a cátedra, etc), além de envolver política de acesso e fomento da

pesquisa no ensino superior (MARTINS, 2002). Contudo, há controvérsias sobre as supostas

melhorias, essa posição não é consenso entre teóricos, uma das críticas que se fazem é ao

vestibular classificatório. Dentre os teóricos que se opõem a essa perspectiva otimista de

1968, se colocam Romanelli (1986) e Saviani (2010).

As décadas de 1960 e 1970 foram influenciadas pelo novo molde de universidade

americana, que propunha a organização de departamentos e a institucionalização da carreira

aberta docente, se contrapondo às questionáveis cátedras, já que “a distribuição das cátedras,

em geral, atendia mais a critérios políticos do que acadêmicos” (SAMPAIO, 1991, p. 6). Esse

modelo era nutrido pelos movimentos de intelectuais e estudantes que almejavam uma

formatação de ensino superior mais coerente com o rigor acadêmico.

O projeto proposto por Darcy Ribeiro na universidade de Brasília convergia

significativamente para esse ideário, embora não tenha encontra solo fértil, a repressão por

conta do regime político minou a concretização da nova universidade, esta instituição vivia

sob suspeita e vigilância policial. Havia neste contexto um paradoxo: a repressão política e a

expansão do ensino, o último se dava para atender às demandas desencadeadas no movimento

de 68, com vista ao mercado (SAMPAIO, 1991).

Conforme Martins (2002), na década de 70 e 80 houve uma expansão gigante do

ensino superior em matriculas, atendidas, sobretudo, pela iniciativa privada. A opção do

Estado pelas universidades entrelaçadas ao fomento do ensino e pesquisa tornou-se muito

onerosa. Daí se atribui certo freio na capacidade de expansão, ficando em oposição à

iniciativa privada, que ganhou em fôlego para atender à demanda não absorvida pelo poder

público. Ao custo da qualidade, o ensino superior promovido pela iniciativa privada

proliferou-se e poucas foram as universidades que conseguiram instituir a produção científica.

49

Com relação aos programas de pós-graduação e pesquisa, o ensino público, ainda nesse

momento, se apresentava como elemento mais qualificado para promovê-lo.

Na década de 80 e 90 houve uma retenção do ensino superior, não por falta de

vagas, mas por evasão dos alunos e inadequação do ensino às demandas do mercado de

trabalho. O retorno à interiorização do ensino superior, concebido na década 50, regressou na

década de 90, sob alegativa de promoção da facilidade ou a busca de cliente. (MARTINS,

2002).

A expansão que se deu do ensino superior entre os anos 60 e 90 vem incrustada de

desorganização, o planejamento para tal ampliação da rede parece ter sido ignorada, sendo

impulsionada apenas pela expansão econômica vigente no país (COLOSSI, 2001).

O século XX trouxe a promoção do ensino superior deslocada fundamentalmente

das elites para as massas. Pesquisas da década de 1990 apontam que o ensino superior privado

tem como estudantes jovens de classe média, com um número significativo de sessenta por

cento (60%), ou seja, não eram apenas as classes desfavorecidas, como se imagina. Porém, a

questão fundante tem bases no acesso e, especialmente, na permanência dos alunos de classes

baixas no ensino superior, seja ele privado ou mesmo público, segundo Martins (2002), não

por falta de vagas, mas por deficiências severas no ensino básico e problemas sociais.

(MARTINS, 2002).

O que se propunha na virada do século XX ao XXI era que o ensino superior no

Brasil deveria ser orientado pelos princípios de expansão, diversificação do sistema,

avaliação, supervisão, qualificação e modernização. Logicamente, na prática, esses pontos

seriam ditados pelos interesses do mercado (COLOSSI, 2001). Helena Sampaio reforça tal

afirmação. No instante que:

a expansão de estabelecimentos privados e não universitário é governada pelas leis

do mercado e está, portanto, condicionada aos elementos mais imediatos da

demanda social, que se orienta no sentido da obtenção do diploma. Cria-se, assim,

um sistema empresarial de ensino no qual a qualidade da formação oferecida é

secundaria e a pesquisa totalmente irrelevante (SAMPAIO, 1991, p. 19).

Diante do exposto, se retoma as origens na tentativa de desvelar o contemporâneo.

O ensino superior no Brasil, especialmente o público, apresenta uma trajetória singular se

comparada a outras nações colonizadas também na América, no que concerne a prorrogar

significativamente seu fomento. As intencionalidades que impõem a necessidade de

implantação do ensino superior no Brasil dificilmente se desvinculam de atender as demandas

das elites e consequentemente do mercado. Ora, o ensino superior público, apesar das crises

50

que refletem a contemporaneidade incorrendo na precarização do ensino, por vezes, ainda

possui instituições de relevante prestígio perante à sociedade – tendo em vista que entre o seu

público ainda predomina a elite, ou classes mais favorecidas, na maioria das vezes – já que o

acesso a um conhecimento profissional se ancora na ânsia de ascensão social, na qual se

agarra um crescente complexo de indivíduos que buscam preservar e/ou galgar posições de

privilégio

51

3 DO INSTITUTO CENTEC EM LIMOEIRO DO NORTE, NATUREZA E

CARACTERIZAÇÃO, AO IFCE

Este capítulo destina-se a apresentar a FATEC, do Instituto CENTEC, e o IFCE e

reconhecê-los imersos no cenário do município de Limoeiro do Norte. Segue a exposição dos

dados, relacionando as ações governamentais que suscitaram a educação profissional do

Instituto CENTEC e, posteriormente, do IFCE. Buscamos ainda elucidar como a educação

profissional no Ceará reverberou as políticas de educação nacional, cedendo também às

necessidades do mercado global, ou seja, a economia neoliberal dando o tom aos sistemas

educacionais.

3.1 LIMOEIRO DO NORTE: ROTA DE EXPANSÃO DA REDE FEDERAL DE

EDUCAÇÃO PROFISSIONAL

O município de Limoeiro do Norte se localiza no Vale do Jaguaribe a cerca de

200 km da capital cearense, foi beneficiário da interiorização do ensino superior (ES) no

estado do Ceará através da implantação do IFCE, a partir da expansão da Rede de Educação

Profissional e Tecnológica instituída em 2008, que deu origem ao IF. O IFCE, em Limoeiro

do Norte, foi implantado através do reconhecimento d o potencial socioeconômico da cidade

no setor de produção agrícola, sobretudo. Constituindo, desse modo, um pólo de ensino

superior que atende a potenciais estudantes da Região Jaguaribana, que compreende 16

municípios, englobando cerca de 400.000 pessoas. Na cidade de Limoeiro do Norte a oferta

de ensino superior e/ou profissionalizante público esteve nucleada a uma unidade da

Universidade Estatual do Ceará, a saber, a Faculdade de Filosofia Dom Aureliano Matos

(FAFIDAM), com cursos destinados à formação docente, exclusivamente licenciaturas, com

notória importância, porém, não eram compatíveis com os programas de industrialização

agroeconômica do Governo do Estado.

Nesse contexto, ocorre a chegada do Instituto CENTEC, através da FATEC, a

priore, a posteriori o IFCE, Campus de Limoeiro do Norte, que oportunizou o potencial

econômico ligado à produção agrícola alimentícia, especialmente, além de outras áreas que

convergem para agroindústria. Como incentivo estadual, o Instituto CENTEC foi

implementado possivelmente para atender ao promissor distrito agroindustrial instalado na

região do Vale do Jaguaribe, logo, no município de Limoeiro do Norte. A Princesa do Vale,

como é conhecido. O município tem sua economia movida fundamentalmente pela produção

52

primária, alinhada também aos setores de bens e serviços que imanam desse mesmo setor.

Além da produção de grãos e frutas existe a pecuária de tipos bovina leiteira, pequeno e

médio porte e a apicultura.

O município de Limoeiro do Norte tem como potencial econômico agribusiness 8,

nomenclatura usada pela Secretaria de Desenvolvimento Local e Regional do Ceará (SDLR).

A cidade reúne aspectos favoráveis para estar na condição de destaque no desenvolvimento

econômico quando se considera a Região Jaguaribana. Destacam-se o clima estável, as

condições de solo e recursos hídricos como fatores que possibilitam a agricultura irrigada da

cidade, sobretudo na produção de frutas. (CEARÁ, [ca. 2000a] ). O Produto Interno Bruto

(PIB) do município, em 2014, esteve na ordem de 300.000 reais distribuídos nas áreas da

agropecuária, indústria e dos serviços. (CEARÁ, [ca. 2000a] ). O fator econômico

potencializa o desenvolvimento do município “como centro urbano regional do Vale do

Jaguaribe”, imanando também no setor da saúde e educação, segundo a posição da Secretaria

de Desenvolvimento Local e Regional do Ceará.

Destacamos a educação, na figura do IFCE, no município, como potencial produto

da política implementada para o desenvolvimento do Estado. Empresas como Fruta Cor,

Bananas do Nordeste S/A ou Pura Vida e Del Monte Fresh Produce, fixadas no Perímetro

Irrigado (PI) de Apodi (Jaguaribe-Apodi), foram instaladas em Limoeiro do Norte como face

de plano de desenvolvimento regional do Ceará. Este município sedia diversas empresas do

agronegócio, cenário este bem controverso, especificamente quando se coloca em pauta a

ideia de desenvolvimento.

As políticas e/ou estratégias de desenvolver o semiárido no Ceará, mais

especificamente no Baixo Jaguaribe e particularmente em Limoeiro do Norte, perpassam por

medidas governamentais que apontam crescimento/desenvolvimento através de índices de

elevação de produtividade e renda. Ao contrário dessa perspectiva, uma parcela significativa

dos pequenos agricultores e estudiosos das áreas de saúde, meio ambiente, geografia e história

dizem que houve na verdade um retrocesso na produção agrícola. Tal visão se ergue ao

considerar os danos no solo e na água pelo uso excessivo de fertilizantes e a exagerada

produtividade, que desrespeita os intervalos de restauração do solo, tornando-o improdutivo.

Na esfera da saúde há índices elevados de doenças, inclusive câncer, ligados ao agrotóxico,

8 Esta expressão foi repercutida diante da crise da dívida externa e da abertura neoliberal da década de 1990. O agrobusiness trata-se de um terno norteamericano de 1950 que foi “tropilalizado” para o contexto nacional para a palavra agronegócio, que envolve toda cadeia produtiva agrícola tais como o plantil, armazenamento, processamento e distribuição da produtos. Ver: (CALDART, 2012).

53

além de doenças relacionadas ao trabalho exaustivo; assim como o remanejamento ou

migração das populações rurais devido à instalação das agroindústrias.

A Agência de Desenvolvimento do Estado do Ceará (ADECE) explica os motivos

que sustentam essa política de desenvolvimento. Foram elencados os benefícios da produção

de frutas no estado, conferindo alta rentabilidade ao agronegócio no Ceará, dito isto,

aplicamos essas características à viabilidade de produção na cidade de Limoeiro do Norte,

distante da capital cearense 200 km. (CEARÁ [ca. 2010a] ). Destacam-se os fatores atrativos

para agroindústria:

Localização geográfica privilegiada e o menor transit-time do Brasil para a

Europa, Estados Unidos e África.

Aeroporto internacional com câmaras frigoríficas para pescados, flores e frutas.

02 portos internacionais (Mucuripe e Pecém) - últimas paradas de navios do

Brasil para o exterior.

Produção agrícola e pesqueira o ano todo, com ciclo reduzido de pescados,

frutas, hortaliças e flores.

03 mil horas de sol por ano, ausência de granizo e geadas. (CEARÁ, [ca.

2000a] ).

Vê-se no Ceará as condições climáticas adequadas para a cultura de frutas o ano

inteiro, e o lugar privilegiado de escoamento da produção para o exterior por meio de portos e

aeroportos internacionais. Particularmente estratégico para os Estados Unidos (EUA), Europa

e África e lucrativo para o setor de produção de frutas. Limoeiro do Norte então ganha

visibilidade, sobretudo, quanto à localização próxima dos pontos de despache de mercadorias,

especialmente em consideração a produção de frutas que tem níveis de perecimento diminutos

se comparado aos outros itens alimentícios. Destaque é atribuído ao município de Limoeiro

do Norte no que se refere ao Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano (PDDU) alavancado

pelo Governo do Estado, vejamos:

O Município apresenta vantagem competitiva favorecida por suas condições

climáticas para o desenvolvimento da agricultura irrigada, na medida em que conta

com elevada insolação, temperatura estável e baixa umidade relativa do ar. Essas

condições possibilitam a produção de frutas em qualquer época do ano, com maior

teor de sacarose, menor aplicação de agrotóxico e maior nível de produtividade

agrícola. Os Projetos de Tabuleiro de Russas e Jaguaribe-Apodi são as principais

âncoras para o desenvolvimento da agroindústria em Limoeiro. Limoeiro do Norte e

mais sete outros municípios cearenses foram selecionados para integrar o Pólo de

Desenvolvimento do Baixo Jaguaribe, do Programa de Desenvolvimento do

Nordeste. Por constar dessa relação, Limoeiro do Norte terá prioridade nos

investimentos de infra-estrutura social e econômica a cargo dos poderes executivos

federal e estadual, no funcionamento de programas de capacitação da mão-de-obra,

54

na concessão de incentivos tributários à instalação de agroindústrias e no apoio

creditício à Irrigação e agroindústria, além de outras iniciativas públicas. (CEARÁ,

[ca. 2000b] , grifo nosso)

Desse modo, podemos perceber a posição de Limoeiro do Norte a partir do

Programa de Desenvolvimento do Nordeste, que sobressai em inovação, bem no sentido de

rentabilidade. Este se daria por meio da produção no agronegócio particularmente para o

mercado externo. A política de desenvolvimento do Ceará apresenta a busca pela captação de

capital exterior com repercussão no Vale do Jaguaribe sediando corporações estrangeiras do

agronegócio. A fixação do distrito agroindustrial de forma mais evidente acontece nos anos

2000, mas há 04 décadas (desde o final da década de 80) já existe o agronegócio em Limoeiro

do Norte. Ressalta-se que não foi um processo livre em resistências, especialmente no que

tange a desapropriação de terras dos camponeses (DOSSIÊ, 2014).

3.2 O INSTITUTO CENTEC EM LIMOEIRO DO NORTE E A PUBLICIZAÇÃO

O Instituto CENTEC é uma instituição classificada como sociedade civil de

direito privado qualificado como Organização Social (OS) pelo Decreto Estadual nº 25.927,

de 29 de junho de 2000, conforme Parecer Nº 0099/2005; quanto à natureza do Instituto

CENTEC pode-se elucidar com clareza conforme o artigo que segue:

Artigo 1º - O Instituto Centro de Ensino Tecnológico é uma sociedade civil, com

personalidade jurídica de direito privado, sem fins lucrativos, detentor de autonomia

administrativa, patrimonial, financeira, didática e disciplinar, doravante denominado

CENTEC, regendo-se por este Estatuto, pelo seu Regimento Interno e pela

legislação que lhe foi pertinente. (CEARÁ, 2005).

O site oficial do Instituto CENTEC na rede de comunicação digital acrescenta

detalhando a função pública da instituição enquanto OS e a convergência para “o interesse

social e utilidade pública” em correspondência ao Artigo 12 da Lei estadual nº. 12.781, de 30

de dezembro de 1997 e pelo Artigo 11 da Lei federal nº. 9.637, de 15 de maio de 1998.

(INSTITUTO, [ca. 2013] ).

O Instituto CENTEC surge a partir da reforma do Estado, regulamentado pela Lei

nº 9637, de 1998, que trata das OS’s e institui o Programa Nacional de Publicização. Diante

da suposta ou até comprovada ineficiência do serviço público, orquestrada ou não, é soprado

fôlego à OS. Essas instituições foram imbuídas então da missão de promover serviços

55

públicos de qualidades para os cidadãos-clientes9, tendo em vista que o setor estatal não foi

capaz de fazê-lo e especialmente que seria oneroso ofertá-lo pela via estatal. (PINTO, 2000).

Diante disso a atribuição das OS’s, diz respeito à:

[...] promoção do processo de "publicização" dos serviços sociais, que, por sua vez,

representa a transferência para o setor público não-estatal (também reconhecido

como 3º setor) dos serviços não exclusivos do Estado, quais sejam, os arrolados pela

Lei 9.637 de 15 de maio de 1998 (que dispõe sobre a qualificação de entidades como

OS, sobre a criação do Programa Nacional de Publicização, entre outros), a saber,

ensino, pesquisa científica, desenvolvimento tecnológico, proteção e preservação do

meio ambiente, cultura e saúde. (PINTO, 2000, p.02, grifo nosso).

Ainda nessa prerrogativa da preocupação com a população, na qual o cidadão

passa a ser cliente, é instaurada a ideia da “democracia participativa” que se materializa na

reforma do Estado, para Bresser Pereira (apud BEZERRA, 2015). Para isso, as Organizações

Sociais se valem de mecanismos, [...] o controle social está encaixado no dispositivo geral e

complexo de controle e gerenciamento dos serviços públicos empurrados para a esfera

privada como parte da área pública não-estatal. (BRESSER PEREIRA apud BEZERRA,

2015, p. 8).

Nesse dispositivo, o controle primordial é exercido pelo mercado, o degrau “mais

difuso e mais democrático”, cuja racionalidade intrínseca seria o horizonte para as

demais esferas de controle: a democracia direta (controle social), o controle

democrático representativo, o controle hierárquico gerencial e o controle hierárquico

tradicional (BEZERRA, 2015, p. 8).

O chamado Estado mínimo é o idealizador da publicização, medida esta tomada

sob justificativa do “enxugamento da máquina pública”. Tal jargão, há pouco mencionado,

traz no seu bojo uma complexidade de interfaces do processo ou mutações, frutos do

neoliberalismo econômico. Iniciaremos dizendo que o público precisa adotar o princípio da

eficiência, sendo assim, o caminho apontado é a publicização, grosso modo, terceirização.

A reforma do Estado possibilitou a elaboração de uma categoria fundante na

institucionalização das OS, que é a noção “[...] do público não exclusivamente estatal”

(PINTO, 2000, p. 01).

9 Designa a ideologia, a princípio positiva, de ampla participação popular na administração pública, contudo, o

que pode se denunciar é a deteriorização da ideia de cidadania, uma vez que ao adensar o termo cliente

minimiza e mina o papel do sujeito/povo quando o reconhece simplesmente como alguém que adquire um

produto. Por mais que seja impressa a ideia de um bem adquirido com recurso próprio, em contrapartida anula

as possibilidade de decisão que podem se dar para o cidadão antes mesmo de realizar a “compra” no ato de

decidir sobre a necessidade ou não desse serviço ou bem, diferente do cliente que se coloca apenas diante do

que foi comercializado ficando à margem da política sobre a gestão deste serviço. Ver NOHARA (2012) para

aprofundamento.

56

Ainda considerando os dispositivos tecidos pela publicização através das OS’s, a

FATEC, do Instituto CENTEC, foi incumbida de ofertar um serviço considerado não

exclusivo do Estado, que é a educação, assinando um contrato de gestão que tem em suas

bases um “instrumento do controle por resultados (Gestão por Resultados), uma das bases da

‘reforma’, tanto na dimensão nacional quanto, nos anos que se seguiram, na esfera dos

Estados e municípios e nas reconfigurações da gestão setorial dos serviços”. (BEZERRA,

2015, p. 04).

Interessante notar que a celebração das parcerias entre as esferas públicas e

privadas, além de se ancorar numa promessa de melhoria na qualidade dos serviços – não

exclusivos do Estado – oferecidos aos cidadãos, também se justifica numa dimensão de

“participação ampla” da sociedade civil na gestão pública. Modesto (1997, apud Pinto, 2000,

p.02) adverte que há uma mensagem de “participação popular na gestão administrativa”

quando se possibilitou a instituição das OS’s, levando o povo a entender que o bem público

poderia ser gerido de modo mais democrático. Importa cautela a implantação de uma

legislação que redefine o papel do Estado, na medida em que transfere responsabilidade na

oferta de serviços públicos, como se não fosse suficiente ainda é capaz de com o Programa

Nacional de Publicização inocular a ideia de que o terceiro setor é a representação que faltava

do povo na administração de bens/serviços públicos.

Como se já não bastasse tal reconfiguração, que por si só já apresenta

questionamentos sobre tal arranjo do papel do Estado, ou melhor, a isenção na oferta estatal

de alguns serviços que são considerados direitos inalienáveis, como a educação e a saúde, há

ainda o alarde da mística nociva do “povo no comando”.

Importante anunciar que o paradigma da “Administração Gerencial10

” é tido como

alternativa capaz de superar a burocratização da máquina pública quanto esta diz replicar o

modelo de gestão do setor privado. Nesse quesito as OS’s seriam uma aposta segura e bem

inovadora, seguindo a bandeira do inovadorismo, que trata da rentabilidade especificamente

na produção do ensino e das ciências. Tal sucesso é atribuído a uma gestão que tem como

princípio a eficiência, logo é possível deduzir que a esfera privada tem um exímio

desempenho, será mesmo? Pinto (2000) aponta como bastante controversa a superação de

10

Modelo que se apresenta superador da gestão pública estatal, desenvolvido no neoliberalismo, tem como

característica a eficiência transplantada da gestão da iniciativa privada. Erigido sob a alegativa de maior

controle e qualidade dos serviços, com ênfase nos mecanismo de gestão dos resultados sobre duras críticas no

que concerne a isenção de responsabilidade do Estado na prestação de serviços estatais, comprometendo em

boa medida a deliberação e administração do coletivo sobre o serviço público.

57

modelo estatal utilizando “Administração Gerencial”. E o Instituto CENTEC repercute a ideia

de público não estatal, quando se reveste da configuração da OS.

A reforma do Estado deve ser entendida pelas regulações as quais esta diz pautar

sua conduta, que se dá através da instalação de mecanismos de controle pelo Estado para com

o terceiro setor e assim, como a partir desta nova conformação, a sociedade seria capaz de

controlar as ações do governo.

Destaca-se ainda que o possível controle da sociedade na esfera pública não

estatal ocorre como garantido na lei do Programa Nacional de Publicização pela participação

no conselho administrativo da organização social, estes são termos normativos. De fato, há

falhas na aplicação desta conduta que comprometem a participação popular de forma efetiva,

vejamos a seguir:

É justamente porque se está chamando a sociedade organizada a comprometer-se

ativamente com o público não-estatal que se tem a necessidade de torná-lo o mais

claro e fundamentado possível tal figura jurídico-institucional para que se evitem

distorções e enganos prejudiciais à sua implementação, ainda mais se se considerar,

por exemplo, que cabe à sociedade (um dos pontos cruciais da Lei n.º 9.637/98)

parcela significativa na representação do Conselho de Administração das

organizações sociais, que é o seu órgão máximo de deliberação institucional.

(PINTO, 2000, p. 3, grifo nosso).

É apontada, na citação acima, a falta de conscientização ampla do povo na

participação desses conselhos deliberativos, ênfase maior se dá na apropriação desses saberes

necessários à compreensão dos membros que farão a composição desses conselhos.

As OS’s são modalidades do terceiro setor, as mesmas se tratam de uma

organização que pode ter seus serviços pactuados (comercializados) para o poder público

através de um contrato de gestão, a exemplo da FATEC, do Instituto CENTEC, que oferta um

serviço de educação que é público, porém contratado por uma “empresa” privada. No que se

refere às OS’s na versão FATEC, a oferta de serviços desta instituição tem o caráter de

ensino, pesquisa cientifica e desenvolvimento tecnológico. Diante da reforma do Estado, o

que se pode inferir é que tais OS’s apresentam a possibilidade de dissimulação da oferta de

qualidade de serviços públicos ganhando amparo já que “ora, grande parte da população

brasileira, de certo modo, nunca teve uma efetivação abrangente dos direitos sociais como

educação e saúde (apesar de estarem conformados na Constituição de 88 como "deveres do

Estado")”. (PINTO, 2000, p.04).

Com relação às regulações e/ou normas estabelecidas para pactuar as celebrações

de parceria público-privado, serão expostos adiante os elementos fundamentais que devem

58

gerir esta parceria. Sendo financiado pelo setor público, o Instituto CENTEC presta

responsabilidade nas dimensões financeiras e de serviços, onde é intermediado pelo controle

do Tribunal de Contas do Estado do Ceará, na figura de uma comissão de no mínimo três (03)

servidores da secretária do Estado da área que corresponde à atividade fomentadora. Deve

sofrer apreciações regulares de especialistas do setor, observando entre os itens fundamentais

sobre a celebração do contrato o cumprimento do plano de trabalho e a confecção de

relatórios.

Os funcionários da instituição não são servidores do Estado, o regime

contemplado nessa modalidade de instituição é a Consolidação das Leis Trabalhista (CLT).

No caso do nosso fenômeno, no entanto, a vigência dos celetistas, nome usual aos

profissionais com este vínculo trabalhista da CLT, só aconteceu de fato cerca de cinco (05)

anos após a implantação do Instituto CENTEC, através da FATEC, em Limoeiro do Norte,

pelo menos para os docentes, os quais desempenhavam trabalho de professor-pesquisador11

,

desenvolvendo atividade de ensino, pesquisa e desenvolvimento tecnológica, sendo

caracterizados como bolsistas de dois órgãos de fomento, respectivamente, CNPq por três(03)

anos e posteriormente Funcap, no período de dois (02) anos.

Pensando na trajetória da FATEC, esta teve onze (11) anos de existência, tendo os

cinco(05) primeiros anos com vínculo empregatício de bolsistas, os quais faziam a instituição

funcionar. É importante frisar que tal situação pode ser explicada pelo caráter de originalidade

no que se refere à unidade inaugural da instituição no país, e sendo o Instituto CENTEC de

Limoeiro do Norte a pioneira. Embora um depoente coloque também algumas dificuldades, a

mais significativa é que esse período de trabalho não pode ser contabilizado em tempo de

serviço para aposentadoria, como revela Antinoo12

, isto nos cinco(05) primeiros anos de

história do Instituto CENTEC em Limoeiro do Norte. Antinoo ainda pondera que, em

contrapartida, não havia atrasos nas suas remunerações enquanto professor-bolsista, ao

contrário do que aconteceu de forma regular a cada ano quando os professores estiveram

posteriormente vinculados pela CLT.

11

A ideia aqui de professor-pesquisador não se configura na FATEC com o sentido admirável e idealizado como

sugere o nome, pois o termo professor-pesquisador se associa diretamente ao docente que tem a pesquisa em

suas bases, e com isso este profissional ancora sua atuação para além do exercício de magistério simplesmente.

Na situação aqui apontada do Instituto CENTEC em Limoeiro do Norte, essa expressão na verdade mascara o

financiamento dos docentes por órgãos de pesquisa, e não significa que o exercício de pesquisador fosse

desenvolvido pelos docentes. Deste modo, exemplifica-se os meandros da efetivação da reforma do Estado,

utilizando de diversos dispositivos para precarização de vínculos trabalhistas e/ou encolher a remuneração

enquanto profissional, já que se entende que bolsistas estão em condições de aprendizado, por isso justiça-se

salários menores. 12

PROFESSOR(A). Entrevista concedida em 19 de fevereiro de 2016, em Limoeiro do Norte.

59

Tal dado nos parece um contrassenso, já que as conquistas trabalhistas parecem

notórias. Contudo, a realidade é diversa e complexa no mesmo instante em que o

professor/servidor conquistara direitos trabalhistas e poderia ser comprovado e validado o

tempo de serviço. De forma recorrente havia uma insegurança quanto à expectativa da

renovação do contrato de gestão da OS, e isto implicava diretamente em atrasos de até três

meses dos salários dos servidores, conforme fala Antinoo e Circe13

, os quais precisavam se

precaver para o período nefasto. Tais dados só vieram a se apresentar no desenrolar do estudo

ainda na entrevista piloto, na medida em que se pode analisar numa perspectiva micro apenas

por conta da participação dos sujeitos.

O Instituto CENTEC, do município de Limoeiro do Norte, foi criado em 1997.

Recebendo posteriormente o nome de Faculdade de Tecnologia (FATEC) como sendo uma

das suas modalidades de ensino. Esse dispunha da oferta de cursos de caráter estritamente

tecnológicos14

, nos níveis médio (ensino técnico), superior (tecnológico), e pós-graduação

(especialização). No Quadro 1 a seguir podemos observar os cursos ofertados pela FATEC ao

longo de sua existência:

Quadro 1- Lista dos cursos ofertados no Instituto CENTEC

Cursos da FATEC do Instituto CENTEC em Limoeiro do Norte (nos anos 1997 a 2008)

Tecnológicos Tecnologia em Alimentos

Tecnologia em Eletromecânica

Tecnologia em Saneamento Ambiental

Tecnologia em Irrigação e Drenagem

Técnicos Meio Ambiente

Fruticultura

Mecânica

Fonte: Elaborado pelo autor

13

PROFESSOR (A). Entrevista concedida em 20 de fevereiro de 2016, em Limoeiro do Norte. 14

Estes cursos tecnológicos consideram 03 fatores, conforme aponta Ângelo Cortelazzo, (responsável) pelas

Faculdades de Tecnologias de São Paulo (Fatecs), curso com foco especifico, pesquisa voltada para avanços

tecnológicos (ou seja inovação) e atrelado ao setor produtivo (acompanhando o potencial do mundo do

trabalho na região. Os cursos de natureza tecnológicos tem tempo reduzido (2-3 anos) se comparado com os

superiores (4-5anos) e foco mais preciso para inserção do mundo do trabalho, pontua-se não no trabalho no

sentido lato senso. Para saber mais ver na entrevista em: <http://guiadoestudante.abril.com.br/profissoes/>.). O

uso de tecnológicos nesse contexto denota a caracterização de um ensino altamente particular, uma

especificação de saber que fundamentalmente deve se ter correspondência com as demandas do mundo do

trabalho, no que concerne à busca pela inovação no sentido de rentabilidade.

60

Podemos ver que os cursos da FATEC, do Instituto CENTEC em Limoeiro do

Norte, eram polarizados em nível médio e superior (tecnológico), mesmo dentro dessa

polarização de níveis deste profissional formado na FACET, do Instituto CENTEC, embora

seja comum o viés prático que molda os dois perfis de cursos ofertados. Uma das questões

que se coloca é a dificuldade de inserção de alguns profissionais, especialmente no que

concerne aos tecnólogos, quando se trata da equiparação de exercício em nível superior com o

bacharelado, deixando os tecnólogos frequentemente em desvantagem. Tanto o profissional

técnico (nível médio) quanto o profissional da tecnologia (nível superior) comungam do

mesmo mote educacional, a tecnologia. Tal tecnologia se liga à ideia de inovação, que em boa

medida esbarra na obsolescência programada – mecanismo que sustenta o consumo moderno,

fundado na fragilidade dos produtos – a aplicação deste termo para com a formação dos

profissionais de cursos de tecnologia consiste no fato desses cursos sofrerem desta mesma

lei/regularidade com caráter transitório, melhor dizendo, pouco duradouro, além da

instabilidade de inserção no mercado.

A FATEC, do Instituto CENTEC, em parceria com a prefeitura municipal já

referida, com a substituição/transformação para IFCE, Campus de Limoeiro do Norte, ganhou

um leque de cursos. Além desses, foi incorporada a oferta de vagas para cursos superiores nas

modalidades de bacharelado e licenciatura, bem como um programa de mestrado,

apresentando um diferencial na instituição de ensino profissional e tecnológico.

Conforme as determinações da Rede Federal de Educação Profissional e

Tecnológica são designadas 50% das vagas para a educação profissional técnica de nível

médio – preferencialmente na modalidade médio integrado; 20% do total de vagas para os

cursos de licenciaturas e as demais vagas (30%) para graduações tecnológicas, programas lato

sensu, de aperfeiçoamento e especialização, e stricto sensu, de mestrado e doutorado. Desse

modo, a Rede Federal de Educação Profissional e Tecnológica se apresenta na regulação,

avaliação e supervisão equiparando as universidades federais (SILVA, 2009).

Destaca-se que as vagas destinadas para o curso de licenciatura foram implantadas

no IFCE, Campus de Limoeiro do Norte, no ano de 2011, no segundo semestre, pelo menos

dois anos após a incorporação da FATEC e seguido do CEFET-UNED, no final do ano de

2008. Esquadrinha-se que a implantação de curso de licenciatura nos IF’s possa ter

contribuído para conferir um diferencial na transformação dos ideais educacionais da Rede

Federal de Educação Tecnológica, mesmo diante da incorporação da instituição de ensino

estritamente tecnológica, a exemplo do Instituto CENTEC, no município de Limoeiro do

Norte.

61

Embora se recomende na legislação, artigo 7º, inciso VI, alínea b da Lei nº

11.892, de 29 de dezembro de 2008, que as licenciaturas e programas especiais de formação

pedagógica estejam voltados preferencialmente para área de ciências e matemática, e para a

educação profissional. Sabe-se, contudo, que a formação de educadores, independente de sua

área específica,volta-se para a criação de bens e serviços – eminentemente técnica (como no

caso das ciências da natureza e suas tecnologias) – o fazer pedagógico inerente ao exercício

do magistério requer um alinhamento com áreas de conhecimento que podem se apresentar

como capazes de suscitar a reflexão do aluno (FREIRE, 1996). Nesta feita, os cursos de

licenciatura podem abrigar espaços de resistência na direção de analisar/questionar e não

romper, em certa medida, com a ideologia que o ensino profissionalizante vem sendo

balizado, por muito tempo, por uma formação simplista, com vista unicamente à

instrumentalização de indivíduos para o mercado de trabalho.

Esse trabalho partiu, a nível nacional, da análise dos ordenamentos legais

instituídos no governo Lula da Silva, que tratam da criação da Rede Federal de Educação

Tecnológica, e, consequentemente, da criação dos IF’s, possibilitada pela Lei 11.892, de

29/12/2008; e a nível estadual da legislação e das questões políticas que tornaram possível a

transferência de responsabilidades da FATEC, do Instituto CENTEC, para o governo federal,

primeiro pelo CEFET- UNED (que será tratado posteriormente) e em seguida através da

criação do IFCE em Limoeiro do Norte.

Esse novo modelo de educação profissional e tecnológica implementado

recentemente, com pouco menos de uma década de história, diz trazer consigo uma proposta

inovadora e ousada quando apregoa a democratização no acesso ao ensino técnico,

tecnológico e superior às camadas majoritárias da sociedade. Nesse sentido, pode-se verificar

a ideia quando se diz:

O Governo Federal, [...] acaba de criar um modelo absolutamente inovador em

termos de proposta politico-pedagógica: os Institutos Federais de Educação, Ciência

e Tecnologia. Estas instituições tem em suas bases um conceito de educação

profissional e tecnológica sem similar em nenhum outro país. Para tanto, devem ir

além da compreensão da educação profissional e tecnológica como mera

instrumentalizadora de pessoas para ocupações determinadas por um mercado.

(PACHECO, 2010, p. 13, grifo nosso).

Abrimos um item para tratar desse conceito de inovação estampada de forma larga

nos documentos oficiais dos IF’s. À primeira vista, a palavra inovação traz aspectos bastante

positivos no que diz respeito à ideia de criação que vigora no nosso uso corriqueiro. No

62

entanto, o termo inovação, sob a tendência “inovacionalista”, dentro da ciência e do

conhecimento de forma geral não tem nada de inofensivo, já que:

[...] uma inovação é uma invenção rentável, isto é, uma invenção que pode ser

adotada por uma empresa, contribuindo para a maximização de seus lucros.

(OLIVEIRA, 2014, P.3).

Além disso, “inovação” é considerado um conceito central das políticas

cientificas neoliberais, apontado ainda pelo mesmo autor, fazendo com que a ciência seja

mercantilizada, isso por vias das políticas públicas que favorecem em grande medida as

pesquisas das áreas consideradas produtivas, ou melhor, com potencial inovador. Isso implica

em espaço ou finanças restritas às ciências humanas, às ciências ou pesquisas básicas (com

fins em si mesmo, a ciência pela ciência) e adensando ainda a mais frágil destas três, as

“ciências do interesse público” termo de Sheldon Krimsky que Oliveira (2014) repercute,

considerando esclarecedora sua aplicação quando a nomeia pelo seu interessa no

desenvolvimento da humanidade, vejamos a ideia:

a ciência do interesse público é a ciência voltada para os problemas sociais

(econômicos, ambientais, etc.), especialmente os dos setores mais pobres da

população, e não susceptíveis de solução pelo mercado” Oliveira (2014, p.5).

Sendo, dessa forma, as ciências de interesse público as mais atingidas devido à

incompatibilidade de interesses, já que não haverá mercado que queira produtos/serviços que

entrem em conflito com suas demandas estruturais, mantendo um grande bloco de massa à

margem, e, por isso, não tendo condições de adquirir tais produtos. Podemos mencionar a

indústria farmacêutica que tem pouco interesse em fármacos de doenças ligadas à pobreza,

doenças tratáveis, porém de custo baixo.

Retomando o cerne do estudo, colocamos a trajetória da FATEC, do Instituto

CENTEC, em Limoeiro do Norte, cercada de meandros que perpassam sem dúvida

determinações legais. No entanto, não é isenta de digitais dos sujeitos, sejam estes de embargo

ou chancela política, sejam estes dos sujeitos coadjuvantes ou protagonistas de tal história. A

FATEC, do Instituto CENTEC, de Limoeiro do Norte, como OS, fez parte de um projeto que

atendeu a chamada contrarreforma, a qual representa nada mais que uma nova configuração

de Estado, um modus operante diferente que se inaugura atendendo o objetivo de

compartimentar a vácuo e reduzir substancialmente o Estado como aparelho responsável pela

oferta e gerência das bases reais do funcionamento da sociedade.

63

3.3 O AGRONEGÓCIO EM LIMOEIRO DO NORTE

No termo agronegócio residem aspectos divergentes de perspectivas quanto a sua

natureza, e em grande medida sobre uma visão ideológica/política no que se refere à

produção. Diante disso, foi abordada uma dimensão geral ou mesmo introdutória do conceito

de agronegócio. Sabe-se que este é fruto das demandas de produção da sociabilidade de

capital. Dito isso, o agronegócio é tido por um nicho de profissionais e/ou indivíduos que

lidam com agricultura, pecuária e afins da agroindústria como uma evolução na escala de

produção agrícola e tem como característica basilar uma articulação vinculada com setores

aliados. Vejamos a definição do agronegócio aqui pautada fundamentalmente numa

perspectiva de desenvolvimento de produção de uma sociedade:

Em 1957, Davis e Goldberg, dois pesquisadores americanos reconheceram que não

seria mais adequado analisar a economia nos moldes tradicionais, com setores

isolados que fabricavam insumos, processavam os produtos e os comercializavam.

Neste caso, o agronegócio foi, então, definido como o conjunto de empresas que

produzem insumos agrícolas, as propriedades rurais, as empresas de processamento

e toda a distribuição (LOURENÇO; LIMA, [ca. 2008], p.2)

O agronegócio originalmente sob o viés de Davis e Goldberg (1957) apud

Lourenço e Lima [ca. 2008], respondia ao entrelaçamento de intersetores, fazendo a ponte

entre as relações de produção estabelecidas no campo com as cidades e/ou setores pares, em

se tratando da palavra agribusiness, que a princípio traduzia correspondentemente o intento.

Contudo, o agribusiness, que em sua gênese é sinônimo de agronegócio, repercute no Brasil

com conotações e dimensões por vezes maiores e/ou distintas da singularidade de sua

tradução fiel. Em se tratando das perspectivas que se desdobraram do agronegócio, estes

margeiam em produtividade e crescimento agrícola, gerenciamento de planta indústria,

fronteiras agrícolas, produtores (grande; e/ou pequenos?), e o mais acirrado é a tensão a

respeito da categoria das circunstancias sociais sobre o paradoxo de práticas obsoletas num

meio rural cada vez mais industrializado (HERIDA; PALMEIRA; LEITE; 2009).

Além do mais, o agronegócio esbarra na delicada ferida das questões

socioambientais envoltas frequentemente nesse bojo.

Quanto a sua história no Brasil, o agronegócio tem ganhado espaço na

agroindústria mais fortemente na década de 1970 (LOURENÇO; LIMA, [ca. 2008] ). O Ceará

tem empreendido no ramo do agronegócio de modo mais significativo no final da década de

80 e início da década de 90. Destacamos aqui a fruticultura irrigada, ancorada em políticas de

64

desenvolvimento local, ligadas à captação hídrica, sobretudo no interior. No que compete à

fruticultura, o estado do Ceará encontra-se na 6º posição na produção de frutas,

nacionalmente. No que concerne à agricultura irrigada, ainda ocupa o 3º lugar na exportação

de frutas secas. Atingiu a cifra de US$ 108,2 milhões em exportação, em 2012, melão e

banana são os maiores responsáveis. Desse modo, o município de Limoeiro do Norte tem

importância significativa, uma vez que é o maior produtor de banana irrigada do Ceará,

segundo dados da ADECE (AGÊNCIA, 2013a).

A produção do agronegócio no Ceará, na face da agricultura irrigada, é mapeada

em seis polos. Dentre eles o pólo do Baixo Jaguaribe que abriga Limoeiro do Norte. O

município de Limoeiro do Norte faz parte do pólo do Baixo Jaguaribe e, de forma mais

compartimentada, no Perímetro Irrigado (PI) do Tabuleiro de Russas, além de ter inserção no

PI de Jaguaribe-Apodi e PI de Morada Nova, para um esclarecimento a titulo didático destes

aspectos geoeconômicos de Limoeiro do Norte, segue Quadro 2. (AGÊNCIA, 2013a).

Quadro 2 - Geografia das zonas econômicas de Limoeiro do Norte

Fonte: Próprio autor

Diante desta infraestrutura hídrica, a produção de banana ganha destaque para o

município de Limoeiro do Norte. Individualmente, o município conquista o segundo lugar na

produção desse fruto, e enquanto constituinte do pólo de agricultura irrigada do Baixo

Jaguaribe coloca-se no topo de produção deste fruto no Ceará. O desdobramento da produção

de bananas em Limoeiro do Norte repercute em boa medida, concedendo ao Ceará o 7º lugar

na produção dessa cultura no Brasil, em 2011 (AGÊNCIA, 2012).

Geografia das zonas econômicas de Limoeiro do Norte

Estado do Ceará

Mesoregião Vale do Jaguaribe Limoeiro do Norte com 15 municípios

Microrregião Baixo Jaguaribe Pólo de agricultura

irrigada

Limoeiro do Norte

dentre 15 municípios

Zonas irrigadas Tabuleiro de russas Perímetro Irrigado Russas, Limoeiro do

Norte e Morada

Nova

Jaguaribe-Apodi Perímetro Irrigado Limoeiro do Norte

Morada Nova Perímetro Irrigado Limoeiro do Norte e

Morada Nova

65

Ainda sobre a importância de Limoeiro do Norte nas riquezas do Ceará, vejamos

que a banana foi a segunda fruta mais exportada do Brasil, em 2012. O referido estado

contribuiu com 17% na exportação de frutas, ficando em primeiro lugar o melão, que se

coloca como a fruta mais exportada do Ceará (AGÊNCIA, 2012). O Ceará, no ano de 2014,

exportou 62,4% do melão produzido no Brasil. As regiões apontadas pela ADECE como

responsáveis por esse destaque são duas, dentre 06 polos de agricultura irrigada do estado, o

pólo do Baixo Jaguaribe, particularmente os municípios de Limoeiro do Norte e Russas, ao

lado do pólo da Chapada do Apodi (Aracati e Icapuí). (AGÊNCIA, 2013b).

Estes dados trazem luz à importância econômica de Limoeiro do Norte para

exportação tanto em nível local no Ceará como em escala nacional. Enfatizamos a posição de

destaque das culturas melão e banana, sendo estas as duas frutas mais exportadas do Brasil,

com repercussão direta em Limoeiro do Norte.

Neste contexto de produtividade agricultora, vê-se que o Ceará atingiu um teto de

exportação de ordem US$131.604, no ano de 2008 (AGÊNCIA, 2012), bem no ano de criação

dos IF’s - assinalado na Lei gestora dos Institutos Federais, lei nº 11.892, de 28 de dezembro

de 2008 - sendo Limoeiro do Norte eleita uma das cidades a sediar uma unidade IF no Ceará,

o IFCE, Campus de Limoeiro do Norte.

O mais intrigante, ou melhor, elucidativo, é que o IFCE, Campus de Limoeiro do

Norte, surge dessa política sob o contexto promissor de lucro/produção do agronegócio no

Ceará associado ao “terreno fértil” para uma educação deste mote, dizemos educação

profissional, aberto em um estado com potencial econômico para o agronegócio, sobretudo a

agricultura irrigada e particularmente a cultura de frutas – com perfil de exportação - que

encontra vazão considerável no Baixo Jaguaribe, tendo Limoeiro do Norte como um grande

protagonista dessa riqueza.

Abriremos uma unidade de sessão para relacionar a história do agronegócio no

Ceará e sua relação com Limoeiro do Norte, tendo como fonte um folder da ADECE - tal

documento foi desenvolvido para atração de empresas estrangeiras, dado com redação na

língua inglesa e alguns trechos em língua portuguesa - foram mencionados marcos temporais

para ilustrar brevemente a trajetória do agribusiness no Ceará, particularmente na fruticultura

irrigada (AGÊNCIA, [ca. 2010] ).

66

1970 - A constituição de um Departamento Nacional de Obras Contra as Secas

– DNOCS, criando um dos primeiros perímetros públicos irrigados federais do Ceará15

, com

vista à agricultura irrigada na década de 1970, sendo um marco importante para alavancar e

sistematizar uma plataforma de desenvolvimento de cultura irrigada.

1989 - No ano 1989 começa a funcionar o perímetro público irrigado

Jaguaribe–Apodi no município de Limoeiro do Norte, “hoje uma referência em produção de

frutas”.

2002 - Construção da estrada do melão. Criado o Instituto Agropolos do Ceará

– Instituição vital na formação dos pólos de fruticultura irrigada e atração de investidores;

2003 – Inauguração da Barragem do Castanhão, infraestrutura fundamental para

abastecimento de água para fruticultura irrigada no Ceará.

2004 - Criada a estrada da fruta nos municípios de Quixeré, Limoeiro do Norte

e Russas (municípios que constituem o Perímetro Irrigado do Tabuleiro de Russas),

melhorando o escoamento da produção e por consequência viabilizando a exportação de

frutas. Assim como o Porto do Pecém é inaugurado representando uma importante estrutura

para a exportação da cultura de frutas do Ceará e do Nordeste. Foi criado também o órgão

Fundo de Desenvolvimento do Agronegócio – FDA, para incentivar a modernização e

competitividade do agronegócio cearense. Entra em funcionamento o Perímetro Irrigado de

Tabuleiros de Russas, um dos mais modernos do Brasil (no qual Limoeiro do Norte se

integra).

2006 – O então governador CID GOMES, em Limoeiro do Norte, garante apoio

total à fruticultura irrigada do Ceará. Consideramos que de captação de investidores

estrangeiros deu destaque a localização de Limoeiro do Norte, quando fez ato de público

sobre o tema nessa cidade.

2008 – O Ceará fica no 3º lugar em exportação de frutas no Brasil, com isso

impulsionou a criação de mais um órgão: a Câmara Setorial da Fruticultura no Ceará.

2009 – O Ceará alcança o 2º lugar na exportação de frutas a nível nacional.

(AGÊNCIA, [ca. 2010], grifo nosso)

15

Os primeiros perímetros irrigados na região do vale do Jaguaribe eram públicos, na década de 1970, atendendo

a pequenos produtores locais. Já o segundo lote de perímetros irrigados na década de 1990 são destinados à

iniciativa privada. O destino do segundo lote chegava aos grandes empresários que compravam essa áreas para

a agricultura industrial. Em Limoeiro do Norte, nomes como FRUTACOR, Delmonte foram beneficiados com

esses perímetros. Ver mais em ELIAS (2003).

67

Limoeiro do Norte, diante de tal conjuntura – a potencialidade econômica no

ramo do agronegócio, especialmente da fruticultura irrigada – está numa posição privilegiada

no que concerne a fomentos para sua ampliação de produção e desenvolvimento, conforme à

Secretária de Desenvolvimento Local e Regional do Ceará (SDLR) no Plano Diretor de

Desenvolvimento Urbano de Limoeiro do Norte (CEARÁ, [ca. 2000a] ). Destacamos do

documento, há pouco mencionado, da SDLR a ênfase de ações ou políticas que favorecem o

seguinte município quando revela que:

Os Projetos de Tabuleiros de Russas e Jaguaribe-Apodi são as principais âncoras

para o desenvolvimento da agroindústria em Limoeiro. Limoeiro do Norte e mais

sete outros municípios cearenses foram selecionados para integrar o Pólo de

Desenvolvimento do Baixo Jaguaribe, do Programa de Desenvolvimento do

Nordeste. Por constar dessa relação, Limoeiro do Norte terá prioridade nos

investimentos de infra-estrutura social e econômica a cargo dos poderes executivos

federal e estadual, no funcionamento de programas de capacitação da mão-de-obra,

na concessão de incentivos tributários à instalação de agroindústrias e no apoio

creditício à Irrigação e agroindústria, além de outras iniciativas públicas. O

comércio poderá beneficiar-se com a maior densidade econômica dessas atividades e

com a provável consolidação do Município como centro urbano regional do Vale do

Jaguaribe, para o que também concorrem os serviços de saúde e de educação

oferecidos pela Sede de Limoeiro do Norte. (Ceará, [ca. 2000a], grifo nosso).

Existem ações políticas aqui apontadas em primeira escala pelo Plano Diretor de

Desenvolvimento Urbano em Limoeiro do Norte (PDDU-LN) que foram confeccionadas ao

encontro do potencial do agronegócio do município, já discorridas nessa sessão. Como o

advento dessas prioridades expostas no documento (PDDU-LN) e reproduzidas na citação

acima, tais benefícios ou políticas governamentais são justificadas sob a necessidade de

desenvolvimento do potencial econômico dos municípios e pelo Governo do Estado do Ceará.

Para além do que está posto, vemos ainda que tais medidas envolvem diretamente o

desenvolvimento do agribusiness no município de Limoeiro do Norte, para isso não é

possível prescindir de políticas de qualificação profissional para a massa de trabalhadores, ou

seja, incorrendo em serviços de educação como é mencionado no PDDU-LN quando elenca

os setores que se beneficiaram da agroindústria em Limoeiro do Norte.

É importante mencionar que o Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano dos

municípios, a saber, também, o PDDU-LN, é um documento obrigatório, conforme a

Constituição Federal (1988 apud CEARÁ, [ca. 2000c] ), para todas as cidades com mais de

20.000 habitantes, objetivando, desse modo, o planejamento diante do processo corrente de

urbanização da população brasileira. O documento traz ainda como alvo “ a estruturação do

68

espaço urbano, para dar suporte ao processo de desenvolvimento econômico e social”

(CEARÁ, [ca. 2000c]).

A bandeira do desenvolvimento ordeiro e descentralizado dos grandes centros

aparece como âncora para o PDDU dos municípios do Ceará no instante em que:

[...] o Governo do Estado do Ceará, traça uma Política Urbana influenciada por dois

fatores: a perspectiva de progressiva urbanização e a exaustão do modelo urbano

brasileiro que privilegiou a polarização nas capitais. (CEARÁ, [ca. 2000d]).

Cada município tem seu PDDU, que é elaborado pelo próprio município, e no

Ceará essa diretriz está atada ao Projeto Cidades do Ceará (PROURB). Este último tem dentro

do grande bojo de objetivo viabilizar a estruturação urbana. Para isso, o PROURB busca

tornar as cidades competitivas para seduzir as indústrias, alavancando também agricultura

irrigada, esta vertente de potencialidade que corresponde a Limoeiro do Norte.

Diante desses ideais de desenvolvimento, para 44 municípios desse perfil no

Ceará, o governo se compromete a conceder prioridades com investimentos nos direitos

básicos, dentre eles mencionamos cifras para a educação. Relacionamos como indicativo de

investimento dessa área educacional o surgimento do IFCE, Campus de Limoeiro do Norte,

quando o PDDU-LN traz demandas dessa ordem como alvo, inclusive com indicação de

fomento oriundas de poderes executivos federais, não com injeção de verbas do Governo do

Estado como alertado há pouco, mas sabe-se da articulação dos poderes em níveis estaduais e

da união.

O PROURB é desenvolvido pelo governo do Estado em parceria com os

municípios e com o apoio do Banco Internacional de Reconstrução e Desenvolvimento –

BIRD. (CEARÁ, [ca. 2000c]). Destacamos a participação de organismos internacionais na

confecção de programas com PROURB e, consequentemente, no PDDU. O Banco Mundial,

no caso do PROURB, que aparece como “apoio” nas políticas locais de desenvolvimento dos

municípios. Interessante ver o discurso apregoado pelo Governo do Estado através desse

programa, PROURB, e materializados através do PDDU, quando dizem:

assim, ao mesmo tempo em que interioriza o crescimento econômico e social, o

PROURB fará surgir áreas urbanas onde se poderá viver bem, com muitas das

vantagens das cidades grandes e sem a maioria dos seus problemas. (CEARÁ, [ca.

2000c]).

69

Podemos relacionar tal citação à ideia de desenvolvimento nos moldes da política

neoliberal, ancorada, neste caso, na agroindústria, ou seja, nos grandes conglomerados

empresariais, amparada por políticas públicas de interiorização tanto na ordem de ampliação

de mercado e produção quanto na qualificação profissional. Neste cenário, a educação

profissional em Limoeiro do Norte possui grande relevância no instante em que o potencial de

desenvolvimento dos moldes de produção agribusiness em escala mundial é replicado num

pequeno município do Brasil. Queremos dizer com isso que Limoeiro do Norte é um exemplo

de local, a princípio, fora do alcance ou interesse do grande capital. Contudo esse município

se constituiu como fronteiras agrícolas, sob influência de determinações de políticas dos

organismos internacionais, sem, contudo prescindir de interesses de micropoderes locais.

3.4 ADVENTO DO IFCE, CAMPUS DE LIMOEIRO DO NORTE

O IFCE, Campus de Limoeiro do Norte, surgiu em 2008 como advento da lei de

11.892 do mesmo ano. Como regra, o nome do Campus é instituído em correspondência com

o nome da sede do município em que se instala. É interessante notar que a instituição – O

IFCE, Campus Limoeiro do Norte, se declara no seu site oficial como substituidora do

CEFET-UNED, a antiga rede que intermediou a mudança de CEFEC-UNED para IF’s, logo,

possibilitando o IFCE. O Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará -

IFCE, Campus de Limoeiro do Norte, conta hoje com a oferta de onze (11) cursos no nível

básico (médio/técnico), superior (tecnológico, licenciatura e bacharelado), 04 em nível de

pós-graduação (especialização e mestrado). Veja o Quadro 3 que se segue:

Quadro 3 – Disposição dos cursos do IFCE, Campus Limoeiro do Norte

(continua)

Níveis Tipos/modalidades Cursos:

Pós-graduação Mestrado Tecnologia em Alimentos

Especialização Gestão em controle

ambiental

Segurança alimentar

Fruticultura irrigada

Superiores Tecnologia Alimentos

Mecatrônica Industrial

70

Saneamento Ambiental

Bacharelado Nutrição

Agronomia

Licenciatura Educação Física

Básico Técnico (Nível médio) Mecânica Industrial

Meio Ambiente

Panificação

Agropecuária

Eletroeletrônica

Fonte: Próprio autor

A oferta de cursos do IFCE diz atender às demandas de mercado na localidade, se

articulam também com as dimensões da extensão e da pesquisa, além, fundamentalmente, do

ensino. A instituição promove cursos voltados à profissionalização, tendo como parte da

missão a inserção rápida no mercado de trabalho que “[...] contribuam com as transformações

tecnológicas e socioculturais do mundo do trabalho compatíveis com as características do

processo produtivo da área” (INSTITUTO FEDERAL, 2015). Desse modo, se vê que os

cursos ofertados no IFCE dizem acompanhar o potencial econômico local, qualificando

trabalhadores para o exercício do ofício adequando-se às demandas do mercado. A instituição

oferta cursos nos três turnos, com aporte de laboratórios específicos para as áreas de

conhecimento, além dos espaços comuns de aprendizagem com auditórios, salas de aula, pátio

de convivência, biblioteca, etc.

O IFCE, Campus de Limoeiro do Norte, tem 09 anos de existência e recebeu as

instalações do CEFET- UNED e por consequência originarias do FATEC/Instituto CENTEC.

No que diz respeito à Unidade sede que permanece com poucas alterações e a Unidade

Experimental de Pesquisa e Ensino (UEPE), houve acréscimo de patrimônio depois de se

tornar IFCE. A infraestrutura tem um bom aporte ainda com a Unidade do Bairro Antônio

Holanda (popularmente Cidade Alta), onde fica um dos acessos estratégicos da cidade na CE-

265 e a BR-116, somado ao Campus avançando de Jaguaruana.

A comunidade de alunos atendida pelo Campus de Limoeiro do Norte, no

semestre atual - 2016.2 - compreende o número de 1097 matrículas ativas em todos os níveis

ofertados em cursos técnicos (subsequente), superior (bacharelado, licenciatura e

tecnológicos) e pós-graduação (apenas mestrado, nesse momento). A instituição oferta ainda

(conclusão)

71

uma Coordenadoria de Assuntos Estudantis - CAE, que envolve uma rede de assistência

estudantil objetivando a permanência dos alunos, diminuindo a evasão e retenção a partir de

dois eixos: serviços (didáticos e preventivos) e os auxílios (assegurando as despesas

estudantis). A instituição atende alunos de boa parte da região do Vale do Jaguaribe. O IFCE,

Campus Limoeiro do Norte, tem seus serviços prestados a alunos oriundos de diversos

municípios, sendo que nove(09) municípios estão entre os outros com maior participação, os

quais geralmente os alunos fazem o deslocamento diário de suas cidades de origem até

Limoeiro do Norte em busca de uma formação.

72

4 ATRAVÉS DO MAR REVOLTO

Para apresentar os dados tratados da pesquisa com suas devidas análises,

partiremos rumo a uma totalidade (provisória) dos depoimentos dos sujeitos que estiveram

presentes na trajetória que foi do surgimento do CENTEC à fundação do IFCE – Campus de

Limoeiro do Norte. Mantendo a imagem marítima da travessia, vamos nomeá-los com nomes

de personagens da Odisseia16

, de Homero.

Os pseudônimos foram eleitos considerando os personagens da Odisseia para

conferir o anonimato aos sujeitos entrevistados, que foram em número de dez (10), sendo

seis(06) homens e quatro(04) mulheres. Para isso, ver Quadro 4.

De maneira secundária, embora não menos importante, os personagens foram

designados para cada sujeito da pesquisa como sendo os favoráveis ao protagonista do enredo,

assim como os antagonistas deste, na tentativa de transpor a trama épica, ao mesmo tempo em

que se busca estabelecer uma relação com o posicionamento dos sujeitos diante da história de

transformação do Instituto CENTEC para IFCE, Campus de Limoeiro do Norte.

Quadro 4- Categoria dos entrevistados

Categorias dos

entrevistados

N

Nº de

sujeitos

Pseudônimos

Gestor (a) 1 1.Atena

Técnico (a) 2 1.Poseidon 2. Penélope

Aluno (a) 2 1.Laerte 2.Telémaco

Professor (a) 5 1.Ulisses 2.Odisseu 3. Eumeu 4. Antinoo 5. Circe

Fonte: Próprio Autor.

A questão do gênero dos personagens foi ignorada para nomear os entrevistados,

dito de outro modo, os sujeitos da pesquisa do gênero masculino podem ter nomes femininos

dos personagens da trama grega, e vice-versa. Estes personagens ou pseudônimos aparecem

na medida em que forem emergindo os elementos da história do Instituto CENTEC, que estes

16

Trata-se, pois, de uma história ou conto grego apresentada em poemas compondo vinte e quatro (24) cantos –

que são dispostos em livros, num mesmo volume - de grande repercussão no campo literário. Obra esta

considerada um cânone ocidental, atribuída a sua autoria a Homero no final do século VIII a.C. A “odisseia” é

um vocábulo que foi incorporado maciçamente pelos países ocidentais, uma expressão que significa jornada

heroica.

73

verbalizaram. O despontar mais tímido ou expansivo, recorrente em alguns personagens,

esteve condicionado à relevância do conteúdo que o sujeito trouxe para compor essa narrativa.

A predileção pelo clássico grego para ambientar essa pesquisa se deu por

considerarmos as aproximações e certa correspondência dos dois enredos. Primeiro com

relação à Odisseia, no instante em que Odisseu, protagonista da trama, tinha esta identidade

originalmente, e ao concluir sua jornada assumiu outra identidade, sendo esta modificada

pelos grandes empreendimentos “sobre-humanos” que passou, embora não sendo mais o

mesmo homem que saiu da sua terra natal, ao mesmo tempo em que não pode negar sua

existência (essência) anterior. Neste prisma, o enredo da pesquisa se concatena ao

descortinado na história do Instituto CENTEC e sua possível substituição e/ou transformação,

ou ainda, supressão e/ou conservação na nova instituição, o IFCE, Campus de Limoeiro do

Norte.

Entendemos que a Odisseia, enquanto viagem heroica se assemelha à jornada

emblemática que o Instituto CENTEC viveu até se tornar IFCE, na cidade de Limoeiro do

Norte. Coincidentemente, a viagem do protagonista Odisseu durou dez(10) anos, e a história

do Instituto CENTEC, em Limoeiro do Norte, durou período semelhante no seu pleno

funcionamento, no que diz respeito ao ensino.

A questão da hipótese da supressão do Instituto CENTEC, por nós elencada,

justifica-se pela real mudança que a instituição sofreu, assumindo uma identidade distinta da

sua origem. Por outro lado, a hipótese residual da sua conservação se mostra válida no tocante

a apurar se houve o acondicionamento/preservação de recursos humanos, estruturais,

pedagógicos e ideológicos do Instituto CENTEC, herdados pela unidade federalizada CEFET

e, posteriormente, se tornando IFCE, Campus de Limoeiro do Norte. A substituição ou

supressão paralela à transformação ou, conservação somada a algumas modificações, compõe

a hipótese do hibridismo que constatamos ou refutamos correlacionado aos determinantes

intervenientes desse fenômeno, que será mediado pela exposição da narrativa que se segue

neste instante.

Traçamos uma linha do tempo para situar a Odisseia do Instituto CENTEC, de

Limoeiro do Norte, passando pelas águas turvas da federalização até chegar ao CEFET -

Unidade de Ensino Descentralizada (UNED), de Limoeiro do Norte. Como já foi anunciada

na introdução, a federalização do Instituto CENTEC, de Limoeiro do Norte, aconteceu

provavelmente em 2007, tendo os indicadores de marco jornalístico e depoimentos dos

sujeitos do estudo. Este processo de federalização foi assegurado pela política de expansão da

74

Rede Federal de Educação Tecnológica, no governo Lula da Silva, a qual teve duas fases: a

primeira expansão iniciou em 2005 e a segunda fase teve marco em 2007.

Foi na segunda fase da expansão, especificamente, que a federalização do Instituto

CENTEC, de Limoeiro do Norte, se consolidou. O período de constituição do CEFET-UNED

de Limoeiro do Norte foi bastante conturbado, pois a transição da instituição estadual para a

federal, diz-se para construir quadro próprio de servidores públicos, teve duração aproximada

de dois anos. Entretanto, a instituição já era federalizada, porém funcionava com o mesmo

pessoal do Instituto CENTEC até à adequação com funcionários públicos concursados. O

CEFET-UNED com quadro próprio de pessoal só existiu por cerca de um mês. E em seguida

se tornou IFCE, Campus Limoeiro do Norte. Este último, o IFCE, nasceu como consequência

da absorção das instituições de educação profissional, dentre estas os CEFET da União, para

compor a Rede Federal de Educação Profissional e Tecnológica na figura dos Institutos

Federais de Educação Ciência e Tecnologia pela lei nº 11.982 de 2008, como representado na

Figura 1.

Figura 1 – Linha temporal do Instituto CENTEC ao IFCE

Fonte: Próprio Autor

4. 1 LIVRO I: ANCORANDO AS VELAS DO INSTITUTO CENTEC

4.1.1Trabalho

O Instituto CENTEC é fruto da idealização do deputado Ariosto Holanda,

justificado, por este, pela necessidade do desenvolvimento regional do Vale do Jaguaribe.

75

Antinoo17

constata que o deputado Ariosto Holanda foi o mentor da instituição em Limoeiro

do Norte: “o CENTEC foi uma instituição piloto no Brasil. Ariosto Holanda foi idealizador do

CENTEC”.

O Instituto CENTEC, sendo uma instituição formal de educação de nível técnico e

superior, é instituído para promover uma formação para a laboralidade, atendendo ou

considerando o tino vocacional e potencial econômico do município de Limoeiro do Norte,

assim como o da região que faz parte, o Vale do Jaguaribe. Neste prisma, a categoria de

trabalho é a primeira que nos salta aos olhos, tendo em vista que a educação profissional

chega para subsidiar a formação para o trabalho.

O trabalho aqui mencionado refere-se ao modus de existência humana, fruto de

uma sociabilidade particular, que é o capitalismo, logo “tira do homem o fruto de sua

produção e faz com que se torne estranho a si mesmo e ao ambiente onde vive. Nesse

processo ele identifica a ‘coisificação’ do trabalhador, reduzido à condição de mercadoria”

(MARX, 2008, p.08/09). É importante esclarecer que o trabalho nestes termos perde a

principal característica que é potencializador da humanidade.

O Instituto CENTEC sugere, a priori, que se instituiu para atender ao trabalho,

solucionando uma problemática visceral da sociedade no que diz respeito à sobrevivência e

realização do homem. Contudo, o trabalho a que se destina a formação dos cursos de natureza

profissional que “[...] parece na economia nacional apenas sob a forma de emprego”

(ERWERBSTÄTIGKEIT, apud MARX, 2008, p. 30), dito de forma mais clara, uma educação

erigida para um tipo específico de trabalho. Este trabalho pouco consegue se desvencilhar do

propósito orquestrado de ser uma realização estéril de potencialidade humana.

Ainda sobre este trabalho, empreita-se de condições deterministas quase que

completamente quando o sujeito formado na educação profissional se vê como uma

habilitação restrita e pontual para sua aplicação, e com possiblidades ínfimas de transitar para

galgar níveis mais elevados do mercado do trabalho. Exemplo dessa situação são os cursos

ofertados pelo Instituto CENTEC, em Limoeiro do Norte, desde sua origem: Irrigação e

Drenagem, Saneamento Ambiental, Tecnologia em Alimentos (vegetal ou animal) e

Eletromecânica, os quais têm nichos específicos de inserção no mercado do trabalho, um teor

de formação mais aligeirado com indicação de provisoriedade da formação, que logo pode ser

substituído por outra dita mais atual e especialmente, a nosso ver, a contenção e a limitação a

um ofício, ou, retomando Marx, substituindo o trabalho por emprego ou ainda por ocupações.

17

PROFESSOR (A). Entrevista concedida em 19 de fevereiro de 2016, em Limoeiro do Norte.

76

O último, há pouco mencionado, repercute diretamente nas mudanças dos cursos

especificamente oriundos do Instituto CENTEC, o qual passou por mudanças provavelmente

no período da federalização, onde o curso de Eletromecânica deixou de existir, sendo

transformado em Mecatrônica Industrial.

O curso de Eletromecânica já era de nível superior, porém precisava de

reformulação, como determinação do órgão regulador, o MEC, tendo seu funcionamento

proibido, como denota a fala de Atena18

: “O curso de Eletromecânica passou para

Mecatrônica, o primeiro já era tecnológico (superior), mas o próprio MEC proibiu o curso,

então para os próprios alunos veio a calhar a mudança de curso para ser aceito na sociedade”.

Quanto à provisoriedade da formação e alinhada à limitação do ofício, constatamos a restrição

das ocupações fruto dessa formação. Tais ocupações logo se colocam em oposição ao trabalho

pelo sua efemeridade. Especificamente no curso de Eletromecânica encontramos respaldo na

fala de Odisseu19

, quando declara: “atualizou a Eletromecânica, agora Mecatrônica, inclusão

da informática”.

Podemos dizer que a educação profissional, pensada nestes termos, reduz a noção

de trabalho apenas à sua manifestação imediata-animalesca, negando sua dimensão fundante

da humanidade, como na visão globalizante de Marx e Lukács, entre outros. Para isso, o

trabalho deveria fomentar o mais elevado grau de humanidade, desenvolvendo no indivíduo a

capacidade de ampliar seu potencial criativo e inventivo, ao mesmo tempo em que se

enriqueceria do saber oriundo da atividade humana plena.

Ao contrário, a educação profissional vista no Instituto CENTEC remete a uma

fragmentação de uma genuína formação do trabalho, quando esfacela o saber, assim como

reproduz ou mesmo desconstrói o trabalho, quando nega um ofício (trabalho) e em

substituição, de modo débil, oferta um emprego, ocupação, função ou tarefa profissional.

Difícil até de nomear tal embargo, elegemos o emprego como face deturpada do trabalho, que

anunciávamos há instantes.

Ainda sobre a categoria trabalho, note-se que, no Instituto CENTEC, o curso de

Tecnologia em Alimentos contava com uma bifurcação: o indivíduo seria habilitado em

Tecnologia em Alimentos Vegetal ou Tecnologia em Alimentos Animal. Evidencia-se

também neste curso uma formação esfacelada, onde o profissional teria apenas o

conhecimento de uma vertente da área. Com a mudança da nova instituição (IFCE), o curso

de Tecnologia em Alimentos passou a ser “uno” – aqui trata-se de uma análise inicial,

18

GESTOR(A). Entrevista concedida em 24 de março de 2017, em Limoeiro do Norte. 19

PROFESSOR(A). Entrevista concedida em 27 de março de 2017, em Limoeiro do Norte.

77

considerando apenas os dois caminhos antes apontados – não existindo mais essa divisão e

com indícios de ampliação em certa medida da carga horária, em cerca de um semestre.

Assinalando tal episódio da história do Instituto CENTEC, Telémaco20

destaca na sua fala

que:

Entrei no CENTEC eram duas vertentes: a primeira em Tecnologia em Alimentos

Animal e a segunda Tecnologia em Alimentos Vegetal. No CENTEC, a carga

horaria era de 3,5 anos, com o IFCE, reformulou a matriz curricular acho que

aumentou um semestre. Para os alunos a mudança da matriz não impactou, por que

via o curso como fragmentado, gostaram da perspectiva mais ampla.

Já o curso de Agronomia surgiu como fruto de uma mudança mais radical do

curso de Irrigação e Drenagem, que foi o precursor, informação assinalada por Odisseu no

depoimento em que segue, identificando o novo curso com o antigo: “Agronomia, antiga

Irrigação”. Mesmo diante da ampliação substanciosa de carga horaria, se comparado o curso

de Irrigação e Drenagem de duração de três anos e meio (3,5) com o curso que o sucedeu,

Agronomia, com tempo de cinco (05) anos, inferimos que há similares nos condicionantes

que ombreiam esta formação para a laboralidade. Ou seja, essa mudança do curso original foi

desencadeada para atualizar esse perfil de trabalho que se buscava para atender as novas

necessidades do distrito agroindustrial do Vale do Jaguaribe. O projeto pedagógico do curso

de Agronomia do IFCE, Campus de Limoeiro do Norte, aponta como justificativa para

existência do curso que:

A região foi beneficiada por programas de desenvolvimento nos últimos anos,

devido à sua vocação agroindustrial, o que favoreceu a agricultura irrigada e setor

pecuário; contudo, a comunidade detinha, apenas, o conhecimento básico que é

capaz de gerar baixa renda local, ficando somente na agricultura familiar. Com o

advento da tecnologia e do conhecimento, muitos produtores, irrigantes e

empreendedores passaram a explorar mais intensivamente esta atividade, buscando

qualidade nos produtos produzidos ou transformados. (LIMOEIRO, 2010, p. 10,

grifo nosso).

Diante da citação, vemos que a base de sustentação do curso de agronomia se

ancora para atender às demandas do agronegócio do Vale do Jaguaribe, tendo ainda o curso

como parte de seu objetivo geral:

qualificação de profissionais com conhecimentos de tecnologias pertinentes à

produção vegetal [...] capazes de gerar tecnologias, operar, maximizar e dar

rentabilidade aos sistemas agroindustriais. (LIMOEIRO, 2010, p. 12, grifo nosso).

20

ALUNO(A). Entrevista concedida em 28 de março de 2017, em Limoeiro do Norte.

78

A categoria trabalho, aqui exposta, traz luz sobre o fenômeno de

substituição/transformação do Instituto CENTEC para o IFCE, Campus de Limoeiro do

Norte. Até aqui trouxemos elementos para compor a rede que se aporta o trabalho na

perspectiva do ensino do Instituto CENTEC, compreendemos que essas bases não se

apresentam espontaneamente se não no esforço na leitura da realidade.

4.2 LIVRO II: NAVEGANDO EM VENTOS PRECISOS, MAS LOGO A TORMENTA

VIRIA

4.2.1 Políticas educacionais da educação profissional

O Instituto CENTEC foi forjado no ano de 1996, teve seus anos iniciais cercado

de atenção e “vontade política”. A categoria políticas educacionais da educação profissional

se apresenta neste momento. A primeira sede do Instituto CENTEC se deu na capital do

Estado do Ceará, em 1996, quando foi elaborado o projeto CENTEC. Segundo Ulisses21

, “o

início do projeto CENTEC era uma sala em Fortaleza. Esta é a origem da instituição. Em

Limoeiro do Norte, a estrutura cedida era da PROMOVALE22

em 1997”. O Instituto

CENTEC se presenta hoje em três faces: As Faculdades de Tecnologia (FATEC), os Centros

Vocacionais Técnicos (CVTEC) e Centros Vocacionais Tecnológicos (CTV), modalidades de

ensino ofertadas pelo Instituto CENTEC. Vejamos o relato de um dos precursores do Instituto

CENTEC em Limoeiro do Norte, que afirma:

O instituto CENTEC teve que se instalar em prédio de outra instituição, que no

futuro foi cedido de fato para este. Trabalhei no CVT (CENTROS VOCACIONAIS

TECNTOLOGICOS). Fui pioneiro do CENTEC, proposta da Secretaria de Ciência e

Tecnologia criou os CVTs e o CENTEC. Primeiro a nascer foram os CVTS e o

instituto CENTEC apenas 02 anos depois (em média). Fui convidado a participar do

CVT. A estrutura do CENTEC era da Secretaria da Agricultura do Estado houve

uma permuta com a Secretaria da Ciência e Tecnologia. Em 1996 - processo de

instalação do CENTEC, acompanhei a instalação. Houve um teste de seleção,

primeiros 30 profissionais para Limoeiro, Juazeiro e Sobral. Primeiro acesso de

alunos foi o vestibular eram cursos tecnológicos. Em 1997começaram as aulas.

Ingresso com vestibular era ofertado o dobro de vagas, havia um curso de

21

PROFESSOR (A). Entrevista concedida em 28 de março de 2017, em Limoeiro do Norte. 22

A primeira sede do Instituto CENTEC de Limoeiro do Norte era da PROMOVALE (Programa de Valorização

Rural do Baixo e Médio Jaguaribe), uma instituição que surgiu para instrumentalizar a agricultura já que a

região tinha se consolidado desde 1978, a fruticultura nas áreas ribeirinhas, porém, com a introdução de

técnicas avançadas de irrigação disseminadas pela PROMOVALE seria alavancada a agricultura irrigada

moderna, sobretudo com a chegada dos perímetros irrigados na região do Jaguaribe. Mais informações ver:

BAIXO JAGUARIBE - PLANO DE DESENVOLVIMENTO REGIONAL.

79

nivelamento/aperfeiçoamento (português, matemática, química, biologia). O acesso

se dava em duas etapas. Inicio das aulas 06 de janeiro de 1997 no protécnico – curso

de nivelamento (ULISSES).

O Instituto CENTEC teve como arcabouço de sustentação para seu surgimento a

Secretaria de Ciência e Tecnologia do Estado, como menciona Ulisses. É interessante notar

que o titular desta pasta era o deputado Ariosto Holanda, que participou diretamente na

idealização e implantação do Instituto CENTEC. A sede do Instituto CENTEC (hoje

pertencente ao IFCE, Campus de Limoeiro do Norte) era da Secretaria de Agricultura, que

cedeu o espaço para então uso da Secretaria de Ciência e Tecnologia do Estado, através de

uma permuta. Queremos chamar atenção para a prontidão e/ou eficiência que se teve em

mudar essas sedes para viabilizar o Instituto CENTEC, e ainda a relação de aproximação e

interesse com a área da agricultura. Tal situação pode ser explicada, já que a área da

agricultura esteve bem contemplada nos cursos ofertados pelo Instituto CENTEC a fim de

atender ao distrito agroindustrial que se instalava de forma mais proeminente neste período,

no Vale do Jaguaribe. A declaração a seguir esclarece e assinala este fato, ao dar conta de que

o:

CENTEC foi pensando de forma estratégica (uma cadeia), os 04 cursos. Produção:

Irrigação, para região agroindustrial, dar o suporte. Beneficiamento: Tecnologia em

Alimentos Para indústria previne os danos dos maquinários: Eletromecânica.

Poluidores do ambiente: entre o curso de Saneamento (ODISSEU).

Ulisses corrobora a respeito da origem e fins do Instituto CENTEC,

complementando a fala de Odisseu quando diz:

Os primeiros anos foram em Fortaleza, de elaboração da proposta. A primeira

unidade do CENTEC foi em Limoeiro do Norte, a proposta era construir 3 centros

equidistantes (norte- Sobral; Juazeiro e Limoeiro). Acredito que Limoeiro foi eleita

por ser celeiro de educação de referencia do Vale do Jaguaribe (a exemplo da

FAFIDAM23

), além de ser área de produção agrícola (Irrigação) a questão

econômica, pelo viés político também. Infraestrutura direcionada para Limoeiro do

Norte, idealizado por Ariosto Holanda. O primeiro curso Irrigação ou Recursos

Hídricos e Drenagem foi o curso convencido pelo deputado para se instalar;

Eletromecânica e Alimentos (para atender ao perímetro irrigado). 2001-2004 foi o

“boom” da chegada dos macroempresarios. Futura área das agrarias, os alunos dos

05 primeiros anos das turmas iniciais foram absorvidos pela agroindústria. As 04

bases do CENTEC; para atender o parque industrial; 04 primeiros cursos: Propulsão

e produção primária – Irrigação Processamento de Alimentos- Tecnologia de

Alimentos Manutenção do maquinário – Eletromecânica Resolução do lixo residual

– Saneamento ambiental O ciclo fechadinho (ULISSES) (grifo nosso).

23

Faculdade de Filosofia Dom Aureliano Matos. FAFIDAM/UECE. Com 49 anos de fundação em Limoeiro do

Norte- CE.

80

Ulisses destaca que o Instituto CENTEC foi o primeiro a ser implantado no

Brasil, como fruto da idealização do deputado Ariosto Holanda. Sublinhamos ainda que o

político em questão escolheu o primeiro curso a ser implementado: recursos hídricos ou

Irrigação e Drenagem.

Damos ênfase mais uma vez ao termo “convencido pelo deputado”, usado pelo

entrevistado Ulisses para demonstrar a força política que este possuía na implementação desta

instituição de educação profissional. A escolha do curso de Irrigação dá pistas sobre o intento

para quem serviriam esses profissionais, “para atender ao perímetro irrigado”, usando as

palavras de Ulisses não só este curso, mas também os quatro (04) cursos originários do

Instituto CENTEC.

Atena sustenta, mesmo que de forma indireta, a ideia de que o agronegócio foi

entendido como sinônimo de desenvolvimento regional, através do perímetro irrigado, e o

desenvolvimento foi a bandeira que alicerçou a criação e instalação do Instituto CENTEC,

como mostra a seguinte fala: “ O CENTEC surgiu da definição de cursos de estratégia da

produção (Alimentos, Irrigação, Eletromecânica) alavancando o desenvolvimento regional”

(grifo nosso). Podemos deduzir com bastante clareza que a educação profissional

implementada no Instituto CENTEC, alicerçada em uma política pública marcada por este

tipo de educação, passa a equivaler, em grande medida, à formação de profissionais para o

agronegócio, a qual se identifica com o desenvolvimento regional.

Ressalta-se aqui o fato de que os produtores menores não faziam parte do grupo

de beneficiados, com profissionais formados nessa instituição, embora, parte dos sujeitos

hesitem com este entendimento. Odisseu mascara dizendo que o: “CENTEC sempre atendeu a

agricultura dando suporte, independente do tamanho do produtor”.

Contudo, a força material de um grupo de megaempresários do agronegócio,

certamente, teve seus interesses de mão de obra atendidos prontamente através da formação

ofertada pelo Instituto CENTEC.

A trajetória do Instituto CENTEC, em Limoeiro do Norte, perdurou por

aproximadamente onze (11) anos. 1996 foi o ano de idealização e implantação, porém as

aulas só começaram em 1997. Assim, no total, estima-se que, em no pleno funcionamento,

foram dez (10) anos de instituto CENTEC de Limoeiro do Norte.

81

Em se tratando dos primeiros momentos do Instituto CENTEC em Limoeiro do

Norte, percebemos como a categoria da política da educação profissional se insere de forma

larga na saúde dessa instituição.

Na instalação do Instituto CENTEC, a divulgação superou o simples anúncio de

seu surgimento e se revestiu de uma ação para captação de alunos/clientes. Alguns pioneiros

do Instituto CENTEC, ainda em projeto, fizeram “divulgação” do empreendimento para os

prefeitos das cidades do Vale do Jaguaribe. Para Ulisses, era necessário “vender o projeto

CENTEC nos municípios, tentando sensibilizar os prefeitos alinhados com o projeto de

educação, além da pressão política” (grifo nosso).

A questão política entra em voga a todo o momento na narrativa dos sujeitos.

Destacando os primeiros períodos de funcionamento da instituição, Ulisses intitula esta como

“projeto CENTEC”, e lembra ainda que “vender o curso tecnológico foi demorado! Mas

obtivemos sucesso”. Ulisses revela sua visão enquanto precursor da instituição que intitula

como Projeto CENTEC.

Ainda sobre a fala de Ulisses, no primeiro momento gostaríamos de chamar

atenção aos embargos enfrentados pelo Instituto CENTEC, de Limoeiro do Norte, quando

este menciona a necessidade de convencer ou, no termo usado, “sensibilizar” os prefeitos.

Sublinhamos ainda a referência aos “prefeitos alinhados com o projeto de educação”. Note-se,

primeiro, que a menção aos “alinhados” denota que o projeto estava ligado à consolidação de

um projeto de poder na região (do então Governador Tasso Jereissati), mas também o fato de

que até para os governantes do Vale do Jaguaribe, simpatizantes da educação profissional, foi

necessário um esforço para “vender” o produto na forma de cursos de tecnologias. Era

necessário um “empurrãozinho” ou a “pressão política” dos políticos de maior expressão

ligados ao governo do Estado, figuras entendidas de peso que fariam a instituição se erigir.

Entendemos que mesmo uma educação profissional com conotações de

fragmentação do saber era vista com ressalvas pelos políticos dos munícipios, que podem ter

hesitado também pela histórica recusa na oferta da educação para o povo, mesmo sendo num

caráter profissional, em sua base pouco nociva.

Para recrutar alunos que fizessem o Instituto CENTEC funcionar foi necessária

muita conversa no sentido de convencer os municípios a apoiar a instituição. Em termos de

amparos financeiros dos municípios, sua contrapartida seria a de fornecer o mínimo de

condições para que os alunos permanecessem estudando na instituição (transporte, etc.).

No instante em que as prefeituras garantiram o traslado dos alunos de seus

municípios para a região, além do apoio de residência universitária para os alunos de

82

municípios mais distantes, elas parecem ter vislumbrado a oportunidade de melhorar os

índices de escolarização e desenvolvimento econômico futuro, a custo baixo: “O avanço na

linha tecnológica foi visto como oportunidade dos municípios, de forma mais barata,

subsidiar uma casa do que manter alunos em outro Estado, a exemplo de Mossoró”

(ULISSES). O município de Mossoró fica no estado do Rio Grande do Norte, fazendo

fronteira com o Ceará, dai a explicação deste local, entenda-se como sendo pertencente a

outro estado e não o próprio estado do Ceará.

A contrapartida do município em incentivar e apoiar seus jovens para fazer um

curso superior, mesmo que em tecnologia, já que antes havia uma hesitação em torno dessa

habilitação, foi superado pela minimização de orçamento para os cofres das prefeituras.

Acreditamos que também era positivo para os prefeitos pela questão da propaganda política,

uma vez que a contrapartida surgia como benemerência e não havia a obrigação direta dos

municípios no custeio para a educação técnica ou superior. Dessa forma, a política da imagem

de bom gestor seria um trunfo importante para qualquer governante, e isto ajudou a viabilizar

o público do Instituto CENTEC em Limoeiro do Norte, até que este ganhasse credibilidade na

comunidade.

Os anos de frescor do Instituto CENTEC foram os cinco primeiros (1996-2000),

no que diz respeito à novidade que representou na região, ao aporte da força de trabalho

docente e de oportunidades de estudo. Corroborando com isso, Antinoo revela:

o corpo docente trabalhava com bastante empenho, os laboratórios já estavam

instalados e bem instalados. Eram dez professores por instituição. O CENTEC

Limoeiro foi o primeiro a ser instalado, seguido do de Sobral e do de Juazeiro.

Laerte24

afirma ainda sobre os anos gloriosos do Instituto CENTEC que

“enquanto aluno: o ensino era referência. Os recursos eram muito bons, os professores sem

muita titulação, mas mesmo assim eram bons”.

Seguiram-se anos ainda de fôlego no que diz respeito a recursos para instituição,

embora sempre houvesse o impasse da remuneração dos funcionários.

Diante da consolidação da instituição nesse primeiro período, os anos de 2000, do

Instituto CENTEC, em Limoeiro do Norte, são considerados pelos sujeitos os anos áureos no

aspecto dos recursos e do desempenho da instituição: “de 2000 a 2004 foram os melhores

anos da instituição” (ULISSES).

24

LAERTE. ALUNO (A). Entrevista concedida em 30 de março de 2017, em Limoeiro do Norte.

83

Esses primeiros anos conheceram bom subsídio no que diz respeito aos recursos

permanentes e de consumo da instituição25

. Alguns entrevistados assinalam que a compra de

materiais de alta qualidade (mesmo a toque de caixa) repercutia no processo de ensino.

Poseidon26

declara que “com relação aos recursos para laboratório, era mais tranquilo o

acesso” e Eumeu27

, comparando o IFCE com o Instituto CENTEC, diz: “o IFCE tem

dificuldades, a questão de compras, a aquisição de bens, equipamentos e de coisas pequenas”.

O entrevistado faz menção à ausência de burocracia, se referindo ao fato de que não se fazia

pregão para aquisição de bens ou serviços no Instituto CENTEC.

Com relação aos anos de fartura do Instituto CENTEC, o financiamento estava

vinculado às questões políticas: se o governador do Estado do Ceará era favorável à

instituição, esta tinha recursos financeiros largos, “o governo de Tasso tinha como secretário

Ariosto Holanda; o CENTEC ficava refém do governo, se apoiava ou não a instituição. No

tempo de Tasso eram das vacas gordas” (EUMEU). Conforme declaração de Eumeu, há

pouco referido, a política de educação profissional que promoveu o Instituto CENTEC em

Limoeiro do Norte, esteve atada às inclinações individuais dos governantes, sem qualquer

relação de parâmetros quanto a desempenho da instituição, como se dependesse apenas da

identificação ou não do governador de plantão com a “bandeira CENTEC”.

Em se tratando dos rumos do Instituto CENTEC, de Limoeiro do Norte, Ulisses

diz textualmente que os motivos que levaram ao enfraquecimento do CENTEC em Limoeiro

do Norte são de cunho político, já que com a “saída do secretário de desenvolvimento

tecnológico e do governador Tasso Jeiressati, diminuiu o apoio ao CENTEC em Limoeiro”. A

menção ao deputado Ariosto Holanda está relacionada com o exercício de seu mandato de

deputado federal nos anos de 1990, quando orquestrou a base do Instituto CENTEC em

Limoeiro do Norte. Após o encerramento de seu mandato de legislador, Holanda assumiu a

pasta da Secretaria de Desenvolvimento Tecnológico no Governo Estadual. Neste cargo de

secretário, Ariosto Holanda pôde ainda expressar grande apoio para sustentação do Instituto

CENTEC em Limoeiro do Norte. Quando foi destituído do cargo, o Instituto CENTEC, em

Limoeiro do Norte, passa a ter problemas financeiros cada vez mais graves, comprometendo

seu funcionamento, com largos atrasos salariais.

25

Na qualidade de Organização Social (OS), o Instituto CENTEC funcionava, no período em tela, na base de

um contrato de gestão que poderia ser ou não renovado a cada ano, e, em todo caso, sem a segurança de um

padrão permanente de financiamento. 26

TÉCNICO (A). Entrevista concedida em 30 de março de 2017, em Limoeiro do Norte. 27

PROFESSOR (A). Entrevista concedida em 28 de março de 2017, em Limoeiro do Norte.

84

A politica de educação profissional, na qual o CENTEC estava ancorado, foi

pouca a pouco sendo estremecida, uma vez que o corpo docente era mantido inicialmente por

verbas federais, através de uma categoria de servidor denominada de “professor–

pesquisador”, na verdade uma modalidade de precarização do trabalho, na qual os professores

eram bolsistas para docência. Esta solução formal foi lograda possivelmente por intermédio

do deputado Ariosto Holanda na vigência de seu mandato. Antinoo assinala sobre este vínculo

empregatício dos docentes do Instituto CENTEC em Limoeiro: “tive Bolsa CNPQ de

Professor/pesquisador por 03 anos fui bolsista nessa modalidade, 02 anos da FUNCAP”.

Nos anos subsequentes, embora o vínculo empregatício tenha sido regularizado

com a instituição da contratação pelo regime da CLT, ao mesmo tempo, o financiamento,

inclusive no que diz respeito à manutenção do corpo docente e técnico-administrativo, passou

a requerer seguidas lutas pela renovação do contrato de gestão, sempre duvidosa e incerta.

Embora tenha acontecido certa guinada numa política de contenção da reforma do

estado, como já observamos, Lula da Silva não apresentou uma ruptura com as bases da

reforma do Estado. Assim, enxergamos que o Instituto CENTEC, de Limoeiro do Norte, foi

uma oportunidade vantajosa, do ponto de vista dos custos, para a política de expansão da rede

de educação profissional do governo federal. Atena mostra os indícios destes ganhos: “o

governo federal aprovou a ampliação da rede; teve a contrapartida da infraestrutura física”,

indicando o baixo custo na implantação de uma Unidade de Ensino Descentralizada (UNED)

da rede federal de educação profissional. De fato, a rede federal aproveitou os recursos

estruturais e organizativos que estavam em curso numa instituição de educação profissional

com cerca de uma década de bagagem e história no município de Limoeiro do Norte.

Contudo, esse aproveitamento da experiência é relativo, se se pensar que o grosso

da herança vinha na forma da estrutura material, e não da experiência do pessoal. Para

Poseidon, a nova embarcação receberia bem os títulos do barco naufragado, que eram os bens

móveis e imóveis: “com relação à estrutura e laboratórios a transição foi mais suave”. Mas, e

seus tripulantes (professores, técnicos e alunos)? Quem receberia esses órfãos? Há espaço

para eles na nova casa? Atena responde de forma negativa: “a transição para os funcionários é

que foi um transtorno, já que implicará na insegurança no emprego”.

Odisseu concorda com Atena, pois questiona sobre a federalização do Instituto

CENTEC de Limoeiro do Norte “Dúvidas: é bom pra região? Sim. Para o município? Sim. E

para nós (funcionários)? Será melhor para nós?” (ODISSEU).

Gostaríamos de voltar a nossa atenção a alusão que Odisseu faz aos funcionários

do CENTEC que ficaram pelo caminho e de fato perderam o emprego, que era o dado real.

85

Diante do naufrágio anunciado e transferência de embarcação, houve resistência

da comunidade, como está registrado, em agosto de 2007, em reportagem do Jornal Diário do

Nordeste:

[...] o principal motivo é a perda do emprego dos atuais docentes e dos servidores,

que, com a incorporação do Centro Federal de Ensino Tecnológico (CEFET), serão

demitidos e submetidos a concurso público federal para continuar dando aulas nos

mesmos cursos (MELQUÍADES JÚNIOR, 2007).

Notadamente, houve recusa e articulação da comunidade com intuito de frear a

proposta de federalização:

Limoeiro do Norte - Com apoio de estudantes e servidores, os professores da

Faculdade Tecnológica CENTEC (FATEC), nesse município, estão protestando

contra o processo de federalização da instituição no Ceará, já em curso, repercutindo

para manifestações na unidade de Sobral. (MELQUÍADES JÚNIOR, 2007, grifo

nosso).

Percebe-se que desde agosto de 2007 já se sabia da federalização, e mais, houve

resistência dos servidores apoiados por alunos do Instituto CENTEC, de Limoeiro do Norte,

contrários à entrega da instituição para a União, já que isto implicava na extinção da FATEC

do Instituto CENTEC de Limoeiro do Norte. Diante desse quadro, portanto, os servidores não

ficaram apáticos: “ameaçando paralisar as aulas, o grupo de professores é contrário à

‘apropriação’ da Fatec pelo Cefet, defende uma ‘nova construção’ para o Cefet e critica a

‘doação’ da estrutura estadual para o governo federal” (MELQUÍADES JÚNIOR, 2007).

Embora houvesse, por parte dos alunos, apoio a respeito da resistência à

federalização junto aos professores e funcionários, estes seriam os menos lesados diante da

transição. No instante em que os discentes seriam incorporados de modo automático pela

instituição, exceto em alguns casos, certos cursos, em que estes deveriam escolher entre

aumentar seu tempo de formação na habilitação nova provida pelo CEFET e/ou IFCE, tendo o

ganho de uma formação melhor avaliada, ou se dirigir para os outros pólos do Instituto

CENTEC do Ceará, se mantendo no curso original. Sobre a última alternativa para os

discentes, Telêmaco assinala: “a Direção reuniu os alunos e foi esclarecendo os pontos, havia

a alternativa de migrar para outros polos do CENTEC que ficavam em outras cidades para não

mudar nada do curso [...]”.

No que diz respeito aos alunos, o professor líder da manifestação - registrada em

reportagem de agosto de 2007 - coloca: “uma escola ter o carimbo federal não quer dizer que

86

seja melhor do que ter o carimbo estadual” (MELQUÍADES JÚNIOR, 2007). Diante desta

fala, temos o entendimento de que foi questionado o “comercial” que já vinha sendo

“veiculado” para a comunidade local sobre a superioridade da instituição federal em relação à

estadual. Ainda sobre as possíveis avarias que os discentes iriam sofrer, outro professor

destaca na reportagem a preocupação com a fragilidade do diploma outorgado por uma

instituição que seria extinta: “como ficarão os alunos que concluírem a Fatec com um diploma

de uma faculdade que não existe mais?” (MELQUÍADES JÚNIOR, 2007). Questiona o

professor.

Diante da conjuntura fatalista da embarcação, dos danos no convés e na proa, se

tornava uma “via sacra” a renovação do contrato de gestão da OS.

“a estrutura da FATEC era frágil por que era um OS; prestava serviço para o estado,

contrato de gestão anual, transtorno ano após ano, na expectativa do contrato ser

renovado; os salários eram instáveis. Grandes incertezas. Boa justificativa para

migração para o IFCE para os profissionais” (ODISSEU).

A menção ao IFCE ao invés do CEFET pode ser explicada pela falta da clareza

acerca de um marco temporal do fim do CENTEC e início da federalização para o CEFET.

Assim como Odisseu, Atena ressalta “havia muito atraso salarial de três (03) meses. [...]. a

remuneração dos funcionários nos últimos anos era o maior embargo do Instituto CENTEC de

Limoeiro do Norte”.

O Instituto CENTEC se agarra à esperança de alcançar a outra embarcação do

governo federal, o CEFET. Os intervenientes são: o mar revolto, as águas são turvas, o

abatimento diante de término/naufrágio do projeto:

O clima era pesado devido à insegurança do emprego. Os professores e servidores

tinham uma identidade com a instituição CENTEC. Onze (11) anos de luta; todo o

esforço empreendido estava em questão. (ULISSES).

Somadas a tal cenário, havia as condições distintas de cada náufrago, ou seja, de

cada servidor. Alguns nadavam bem, outros se viram intimidados diante dos jovens e

vigorosos tripulantes, o espírito de concorrência imperava na disputa entre colegas e até entre

amigos que dividiam a jornada e ergueram o Instituto CENTEC de Limoeiro do Norte.

A prova do concurso público tinha parâmetros iguais de avaliação para todos: “o

processo seletivo para o IFCE foi no CEFET em Fortaleza, estes foram os organizadores. [...]

a concorrência parece alta. O processo parece que foi isento de fraudes.” (ANTINOO).

87

Atena concorda que o “concurso houve com lisura” contando com prova escrita,

prova didática e de títulos. Mas destacamos que as condições de concorrência são

discrepantes. O tempo que cada indivíduo teve disponível para estudar foi também diferente.

A grande maioria estudando para o concurso em paralelo ao trabalho. Diante disso, Poseidon

narra: “pedi para sair para estudar para concurso e retornei em 2009”. Tal atitude só ocorreu

por que Poseidon afirma ainda que podia se dar ao luxo de pedir demissão. Poseidon tinha

outra fonte de renda, trabalhando por conta própria, com menor carga horária já que contava

com os pais para suprimento da maioria das despesas. O entrevistado Poseidon ainda atribui à

decisão de demissão o sucesso ao passar logo no primeiro concurso público.

Esse exemplo sustenta nossa tese da desigualdade de condições materiais ou

espirituais entre os concorrentes. Poseidon estava destituído do emprego no ano de 2008 e no

ano seguinte, em 2009, já estava de posse de seu novo cargo, agora com condições

privilegiadas no que diz respeito a ser um funcionário público, integrante do IFCE de maneira

efetiva.

O primeiro concurso, já na federalização, ocorreu por edital do CEFET, no ano de

2008, e Poseidon tomou posse em 2009, já encontrando a absorção do CEFET- UNAD de

Limoeiro do Norte pelo IFCE, no mesmo município.

Diante do exposto, notamos que as condições dos integrantes, especificamente da

embarcação Instituto CENTEC de Limoeiro do Norte, não eram em nada homogêneas, ao que

o entrevistado acrescenta:

Na reunião com docentes e técnicos, o deputado e o diretor informaram sobre a

necessidade de concurso, porém houve uma maquiagem das informações sobre as

condições de acesso que seriam privilegiados (uma promessa de benefícios para os

antigos funcionários) (POSEIDON).

A declaração de Poseidon remete ao contexto de nebulosidade que cerca a

transformação do Instituto CENTEC, trazendo esse dado de que até houve informações que os

funcionários da casa teriam algum benefício, alguns passos adiante nessa jornada. Tal

promessa de privilégio se constitui num assunto muito delicado, com repercussões concretas

em matéria de condições de existência desses sujeitos funcionários da instituição, e, por isso,

hesitamos, a princípio, em trazer para essa narrativa.

Penélope 28

lembra as falas da direção: “comecem a estudar”, “vai ter concurso”.

A entrevistada ainda declara:

28 TÉCNICO(A). Entrevista concedida em 30 de março de 2017, em Limoeiro do Norte.

88

Não houve muito esclarecimento da situação. [...]. Foi pouca a comunicação. Teve

um cursinho de português para preparação, único apoio de FULADO DE TAL

(Diretor da instituição). (PENÉLOPE).

Trazemos Penélope para ponderar que houve certa vantagem para os funcionários

do Instituto CENTEC, quando foi ofertado esse cursinho de língua portuguesa para, quem

sabe, possibilitar uma melhor posição na concorrência por uma vaga. Contudo, nem fez frente

à promessa veiculada pelo então diretor e deputado “pai do Instituto CENTEC”, no

entendimento de Poseidon. Infere-se que se buscavam condições mais concretas para disputar

a concorrência, como por exemplo, a atribuição de uma pontuação expressiva na prova de

títulos para os antigos funcionários, considerando o tempo de experiência na educação

profissional no Instituto CENTEC de Limoeiro do Norte, o que não se consubstanciou. Foi

frustrada, para Poseidon, qualquer expectativa dessa natureza.

Todos os entrevistados são unânimes em afirmar que houve comunicação sobre a

transformação ou federalização, porém, há divergência quanto ao número de reuniões e acerca

da qualidade destes esclarecimentos. A maioria dos sujeitos afirma que as reuniões foram em

cima da hora, bastante confusas e com o fim apenas de apresentar a situação. Em momento

algum a reunião se punha a consultar a comunidade da instituição (alunos, docentes e

servidores) para deliberar algo. Prova disso é que em agosto de 2007 um dos professores líder

do movimento de resistência, diz “a federalização vai desempregar muitos pais de família.

Não temos certeza do futuro nem somos consultados (MELQUÍADES JÚNIOR, 2007, grifo

nosso)".

Tais reuniões aconteceram apenas para constatar o naufrágio e apresentar a única

saída que era a federalização. Dos dez(10) entrevistados, apenas três(03) afirmam ter havido

uma larga comunicação da transformação ou federalização. Neste último grupo minoritário

está Odisseu, quando diz: “houve uma ampla divulgação sobre a importância da

federalização”. A grande maioria, porém, se mostra insatisfeita sobre a qualidade dos

esclarecimentos, vários citam que houve apenas uma reunião oficial, e que esta comunicação

foi insuficiente. Destacamos a fala Laerte quando diz:

Houve uma reunião com os alunos para explicar a transição para o CEFET.[...]. Já

por parte dos professores houve pauta e movimentação para permanência das duas

instituições. Foi feita uma camisa com jargão para questionar a transição (para usar

em uma reunião). Houve muito atraso pra fazer essa reunião, uma promessa de

transferência para os servidores. (LAERTE, grifo nosso).

89

Podemos analisar muitos aspectos interessantes desta fala que vão ao encontro da

posição da maioria dos entrevistados sobre a comunicação e apreciação da extinção do

Instituto CENTEC e sua substituição por uma instituição da União. Todos os entrevistados

concordam que as reuniões não eram para decidir os rumos na instituição, apenas para

constatar a situação. Note-se, neste sentido, a fala de Laerte quando diz: “houve muito atraso

pra fazer essa reunião”, apontando que essas comunicações foram feitas às pressas, assim

como Eumeu que pontua também: “foi traumatizante; houve algumas conversas, mas a

conversa veio em cima da hora” (grifo nosso).

Diante disso, concluímos que a decisão de federalização foi repassada para a

comunidade com sobressalto e de forma acelerada no que diz respeito à constatação e

oficialização da notícia.

Ainda recuperando o depoimento de Laerte: “houve muito atraso pra fazer essa

reunião, uma promessa de transferência para os servidores”. Veja-se que Laerte comunga da

ideia de falsas promessas de favorecimento no concurso público aos funcionários da casa.

Ainda mais grave foi a promessa de transferência dos funcionários do Instituto CENTEC para

a União de modo automático, como está explícito no uso do próprio termo empregado:

“transferência”.

O primeiro depoimento indicava a promessa (mesmo não cumprida) de vantagem

no concurso público para os servidores da casa que nos deixou incomodados pela gravidade

da questão e ao, mesmo tempo, hesitantes em adicionar o problema à narrativa. Contudo,

quando o segundo sujeito fez essa mesma denúncia, consideramos ser importante que conste

nos apontamentos desse enredo, na medida em que tem valor explicativo acerca dos processos

políticos que envolveram o episódio de transição do Instituto CENTEC, de Limoeiro do

Norte, para o atual Campus do IFCE na cidade.

Diante disso, tivemos indícios então para inferir que as promessas de vantagens já

mencionadas, atribuídas aos gestores da instituição e/ou ao deputado Ariosto Holanda

ocorreram de fato, sendo atestadas por dois sujeitos entrevistados, que tiveram a “ousadia” de

mencionar o fato. Acreditamos ainda que o compartilhamento dessa informação aconteceu

como expressão do repúdio destes sujeitos diante de falsas promessas, que por si não se

sustentavam, já que não há como garantir legalmente essa vantagem no concurso público, até

por que, no regime de ampla concorrência, não pode haver regras particulares para parte dos

concorrentes.

90

O concurso acabou por ocorrer no ano de 2008. Até lá, os servidores do CENTEC

ficaram na instituição durante um período de transição, embora a federalização houvesse se

consumado independente do concurso público. (CEFET, 2008a). (CEFET, 2008b)

Houve assim a extinção da FATEC do Instituto CENTEC, que se pode deduzir da

passagem de reportagem publicada em agosto de 2007, citada a seguir, onde se faz referência

a uma “doação” da estrutura do CENTEC para a União:

Prevê-se que até o próximo mês seja assinado o documento de “doação” de toda a

estrutura das duas escolas para a União. Conforme o deputado federal Ariosto

Holanda, serão abertos concursos públicos para professores dos futuros Cefets. É

justamente com este ponto que professores da unidade Fatec de Limoeiro estão

indignados, pois isso implicaria na demissão dos 56 professores, dos quais 28 são

mestres e outros oito são doutores. Eles consideram “injusto” ter que passar por

novo processo de seleção para continuarem dando aulas nos cursos da faculdade –

Tecnologia de Alimentos, Recursos Hídricos e Irrigação, Eletromecânica e

Saneamento Ambiental. (MELQUÍADES JÚNIOR, 2007).

A pesquisa, entretanto, não encontrou indícios da publicação de tal documento de

doação, o que pode indicar que seu conhecimento não foi dado à comunidade.

Em jogo estava a continuidade de uma instituição já com uma década de

funcionamento, com nome e credibilidade consolidados. Para professores e funcionários

estava em xeque a carreira e a demissão, sem qualquer garantia de emprego diante da nova

instituição, uma vez que o acesso à esta passava para todos via concurso público.

Interessante também destacar a participação do deputado Ariosto Holanda,

consultado na reportagem citada, o que atesta a identificação deste político com o Instituto

CENTEC, de Limoeiro do Norte. Chama a atenção também seu posicionamento favorável à

federalização, tendo em vista que apoiava a extinção da instituição que fundou, e diante da

federalização se mostra desinteressado na manutenção da mesma.

Conforme, ainda, a última citação (MELQUÍADES JÚNIOR, 2007), só do quadro

docente seriam demitidos cinquenta e seis(56) professores a que se somavam os servidores

técnico-administrativos. A reportagem chamava atenção para a interessante qualificação dos

professores: trinta e seis(36) mestres e doutores, correspondente a 62% do corpo docente.

Ainda conforme a reportagem levantada, a comunidade do Instituto CENTEC de

Limoeiro do Norte resistente à federalização questionou o motivo pelo qual a criação de

CEFET deveria ser amparada na extinção do Instituto CENTEC:

Ao invés de incorporar o Cefet na Fatec, o governo deveria criar uma nova estrutura

para o Cefet, permitindo a continuidade dos trabalhos da Faculdade Tecnológica,

isso “garantiria toda essa estrutura que já conquistamos”, explica o professor

91

SICRANO DE TAL, que, juntamente com outros professores, está planejando a

paralisação das atividades na unidade. (MELQUÍADES JÚNIOR, 2007).

Os professores que repeliram a extinção do Instituto CENTEC, de Limoeiro do

Norte, alegavam que o acordo entre o Estado ou a União não era coerente com a ideia de

ampliar a oferta de educação profissional e tecnológica. Se a ideia era expandir a rede de

educação profissional e tecnológica através da educação profissional, em quê a extinção seria

“lucrativa de fato”, questionava o professor entrevistado do jornal Diário do Norte

(MELQUÍADES JÚNIOR, 2007).

Os sujeitos, por nós entrevistados, também corroboram a posição deste professor

quando um deles diz:

Ainda tinha muita insatisfação e incompreensão, porque não foi esclarecido o

porquê de substituir uma instituição por outra, e por que diminuir uma instituição de

educação, e não promover duas instituições. (POSEIDON).

Já Odisseu hesita sobre a vigência de duas instituições, quando perguntado sobre a

ideia de manter o Instituto CENTEC e se instituir o CEFET. Odisseu argumenta:

Não tinha certeza se seria viável duas instituições. Iriam competir entre si? Além de

não ter força política, [como] algumas pessoas colocavam. A sociedade aguentaria

as duas instituições! Porém a sociedade só via o nome federal, e o Estado não tinha

o interesse de continuar regendo a instituição (ODISSEU).

Diante da mesma questão, a manutenção das duas instituições, Eumeu lembra o

alto orçamento de que dependia o Instituto CENTEC, de Limoeiro do Norte, e adiciona: “o

estado não tem responsabilidade com o ensino superior e a União teve a proposta de assumir.

Não se valoriza muito a instituição CENTEC, quando passasse a ser federal seria outra coisa”.

Eumeu destaca o fator investimento, que certamente foi levando em conta na

decisão, corroborando com a opinião de Odisseu. Os anos de crise que antecederam a este

momento mostram justamente que o Estado perdera o interesse em manter este tipo de

empreendimento e que a doação do patrimônio material para permitir o surgimento da

instituição federal era vantajosa para ambos os entes.

O Estado, ao ver a oportunidade de se livrar desta despesa, prontamente o fez,

consoante indica também Ulisses:

92

Em 2007 ‘a federalização, era a salvação’, a única solução diante do declínio. A

transformação do CENTEC de Limoeiro em IFCE garantiu a sobrevivência das duas

outras unidades (Sobral e Juazeiro do Norte) e do Instituto CENTEC no Ceará.

Ulisses se preocupa, em seu depoimento, com uma alternativa para a crise que

estava instalada no Instituto CENTEC, de Limoeiro do Norte, materializada especialmente no

atraso do orçamento, indicando que, de fato, a crise era tão avassaladora que comprometia a

existência de outras unidades do Instituto CENTEC, no Ceará.

4.3 LIVRO III: NAUFRÁGIO, QUEM VIVER VERÁ!

4.3.1. Totalidade

Nos anos de 2006 a 2008 foram grandes as turbulências enfrentadas pelo Instituto

CENTEC, de Limoeiro do Norte: “desde 2006 já se colocava esta conversa de federalização

ao CENTEC” (LAERTE). A situação da instituição, no que diz respeito ao orçamento, estava

cada vez mais complicada, como Atena observa: “O instituto CENTEC já havia enfrentado

problemas financeiros, assim como os institutos CENTEC de Limoeiro, Sobral e Maracanaú”,

destacando que toda a instituição no estado do Ceará estava comprometida, além do Instituto

CENTEC de Limoeiro do Norte.

A categoria totalidade é invocada aqui para compreendermos a concatenação dos

diversos fatores e distintos atores que deixaram sua digital nesse fenômeno. As questões

locais/domésticas se apresentando enquanto cadeia, respingando nos rumos do Instituto

CENTEC, se enlaça com a crise econômica mundial, reverberada em princípio nos estados

que começaram a conter gastos. A eleição destes gastos se dava, por outro lado, de forma

nebulosa. Somado a isso, o sistema nacional de educação passava por transformações

relacionadas evidentemente à pauta política do governo federal daquele momento.

A política de expansão da rede federal, proposta por Lula da Silva, foi uma das

pautas principais do seu governo. A totalidade se evidencia ainda quando identificamos os

ditames dos organismos internacionais interferindo nas políticas nacionais de educação. Neste

momento, como já discutido acima, a orientação dos organismos mundiais se focalizava

fortemente nas medidas voltadas a vincular a oferta de educação diretamente às necessidades

específicas de mão de obra para o mercado de trabalho. Esta orientação se refletiu nas

mudanças operadas na forma de oferta de educação profissional no plano local. Aqui, os

nexos do ensino profissional com os empresários do distrito agroindustrial do Vale do

93

Jaguaribe aparecem com mais nitidez, tornando visível o ciclo que vai do global para o

particular, e, em efeito cascata, chega ao nível local.

Neste item, faremos um esforço para estabelecer conexões entre a ponta da

política local e seus “micropoderes” com a política nacional, na pessoa dos presidentes e seus

projetos de Estado, e, por fim, com o cenário mundial econômico, sobretudo no que diz

respeito às diretrizes para a educação, particularmente para os países em desenvolvimento. É

neste tripé que sustentamos a nossa concepção de totalidade para compreender o fenômeno da

transformação do Instituto CENTEC em IFCE, Campus Limoeiro do Norte.

Os “micropoderes”, acreditamos, já foram em boa medida apresentados,

especificamente destacando o protagonismo do deputado Ariosto Holanda, assim como dos

governadores do estado do Ceará entre os anos de 1996-2007, anos de existência do Instituto

CENTEC em Limoeiro do Norte. O período coincide com o governo Tasso Jereissati (1995-

1998; 1999-2002), durante o qual se instaurou o Instituto CENTEC; o governo Lúcio

Alcântara (2003-2006), que, segundo os sujeitos abordados, não viabilizou o apoio necessário

para permanência do Instituto CENTEC em Limoeiro do Norte. E o governo de Cid Gomes

(2007-2010), durante o qual, no ano de 2007, se operou a federalização do Instituto CENTEC

de Limoeiro do Norte.

Ainda nesse plano dos poderes locais, nos anos iniciais do Instituto CENTEC,

enxergamos as digitais dos prefeitos dos municípios do Vale do Jaguaribe. Embora em menor

proporção, os prefeitos do Vale do Jaguaribe desempenharam papel auxiliar nos ventos da

embarcação CENTEC, no instante em que possibilitaram a condução da massa de potenciais

trabalhadores do agronegócio na região.

O Instituto CENTEC, em Limoeiro do Norte, nasceu em 1996 e ofertou ensino

profissional de 1997 até 2007, aproximadamente. O presidente que estava em exercício nesse

período era Fernando Henrique Cardoso (1995-1998/1999-2002). A bandeira desse governo

era o Estado mínimo, que veio a convergir com a ideia do projeto CENTEC, idealizado pelo

deputado federal Ariosto Holanda. O projeto CENTEC atendia ao Estado mínimo de forma

direta quando adotava uma gestão de tipo OS que, segundo Pinto (2000), foram idealizadas

para reduzir a máquina pública, invocando os princípios fundamentais da eficiência e da

racionalidade administrativa, numa esfera chamada pública não estatal, dedicadas a serviços

públicos considerados não essenciais, como a educação. (PINTO, 2000).

Assim, o Instituto CENTEC surgirá nos termos da Lei nº 9637, de 1998, que

regulamentou o regime de gestão das Organizações Sociais (OS) como instituições que não

integram a administração do Estado, não se regem pelas regulamentações deste, mas pelas leis

94

de mercado e cujo pessoal pode ser contratado sob diversas modalidades, do regime CLT a

contratos de prestação de serviço, descartando o ingresso nos moldes do serviço público

regular. O financiamento de tais organizações é determinado pela celebração de instrumentos

como o contrato de gestão, onde passa a ser pautado por um conjunto de compromissos e

metas com as quais a instituição se compromete diante dos financiadores. Em geral, o próprio

estado que, em contrapartida, se descompromete com a gestão do serviço ofertado.

Foi no governo FHC que o lastro da reforma do Estado ganhou espaço, sendo o

modelo OS uma espécie de modelo prototípico de uma estrutura de serviços públicos, mas

não estatais, descaracterizados, onde, do ponto de vista dos beneficiários, a ideia de cidadão

detentor de direitos se substitui pela de cliente, indo ao encontro do que se chamou acima de

“Estado mínimo”, na sequência do chamado regime de bem-estar social que se apresentou no

segundo pós-guerra como forma suposta de controlar a violência do capital.

Sob este aspecto, o Instituto CENTEC encarnou, no plano local, esta concepção

de ordenamento estatal. A educação profissional ofertada no Instituto CENTEC em Limoeiro

do Norte serviu à população num serviço de custos baixos, com servidores sem estabilidade, e

por consequência, uma educação profissional terceirizada, pública, porém não estatal.

O contrato de gestão da OS carecia continuamente de renovação, problemática

que se acentuou na medida em que minguava o apoio político para a “bandeira CENTEC”. A

celeridade com que a renovação do contrato ocorria nos anos iniciais deu lugar a uma enorme

morosidade na celebração dos novos contratos. Foi ficando claro ainda que o modelo OS se

destinava fundamentalmente a suprimir as normas estatais e a responsabilidade do poder

público para com o serviço, e não, como se alegava na época, para oportunizar investimentos

privados (alegava-se que as regras estatais dificultavam a captação de recursos na área

privada), já que o financiamento do Instituto sempre foi fundamentalmente proveniente do

erário.

A renovação do contrato de gestão da OS que geria o Instituto CENTEC

representava a nutrição vital para sua existência. As condições do CENTEC, naquele período,

impactaram fortemente a oferta do serviço: “o CENTEC por ser contrato de gestão tinha

muitos problemas, todo ano a instituição atrasava salários” (ANTINOO). Penélope comunga

com a fala anterior, quando diz: “foi um processo traumático (isso por 02 anos) de anseios e

medo, o receio da transformação para IFCE, seriam transferidos?”, diz, fazendo menção aos

funcionários.

95

O fato dos anos mais débeis da instituição serem os que antecederam a rede

federal em primeira instancia pelo CEFET, e logo em seguida pelo IFCE, Campus de

Limoeiro do Norte, mostra de fato que o declínio da instituição foi um processo anunciado.

Poseidon comunica o entendimento de que a queda do Instituto CENTEC estava

evidenciada e, como saída, se apresentava a federalização diante dos “atrasos de salários”. “O

sonho era tornar o Instituto CENTEC uma instituição federal por força de lei (porém não foi

possível29

). A rede federal foi um alívio para o Estado”, afirma Poseidon. Realçamos o

seguinte trecho da fala de Poseidon: “porém não foi possível”. Acreditamos que a afirmação

se refere ao imediatismo esperado na transformação do CENTEC em instituição federal, o que

não ocorreu logo. Mesmo a incorporação de seu patrimônio físico, pela via da doação do

Governo Estadual ao Federal, teve de aguardar. A expressão “alivio” sustenta a percepção de

que o Estado abdicou do seu papel de sustentar o Instituto CENTEC e viu como um alento a

desresponsabilização para com esta instituição em Limoeiro do Norte.

A federalização foi apresentada como saída. E como se daria esse processo? Para

Ulisses, “a primeira conversa sobre o processo de federalizar, não se sabia com iria acontecer.

Muita conversa de corredor sobre o tema”. Veja-se que Ulisses indica que a transformação do

Instituto CENTEC de ente de responsabilidade estatal para estrutura da União gerou grande

tensão na comunidade escolar, sobretudo nos funcionários.

Haviam indícios de comunicação sobre os novos rumos da instituição, porém

muitos sujeitos apontam que as informações não eram precisas. Sublinhamos mais um recorte

da citação de Ulisses que reforça esta dedução: “muita conversa de corredor sobre o tema”.

Os servidores do Instituto CENTEC daquele período estavam prestes a testemunhar a guinada

da situação numa nova embarcação, a União. A sua substituição pelo CEFET, sinalizava um

amparo ao ensino profissional em Limoeiro do Norte, porém o quanto teriam de fôlego para

nadar até a outra embarcação?

Essa inquietação atormentava os tripulantes do Instituto CENTEC. Uma das

testemunhas do episódio de naufrágio comenta: “estava presente, existiu a possibilidade do

CEFET, alguns servidores acham positivo, mas havia grande receio de como se daria o

ingresso nessa nova organização. Houveram (sic) reuniões não eram para deliberar

(ANTINOO) ”. Antinoo testemunha que os servidores e a comunidade institucional nada

poderia fazer para reverter a situação ou mesmo se opor à mudança de instituição. As reuniões

29

Esta saída sempre buscada pelos governos estaduais em face de instituições de sua esfera que apresentam

dificuldades não é permitida por vários motivos, em primeiro lugar, pelo dispositivo da CF de 1988, que torna

o ingresso de servidores em qualquer esfera da administração pública condicionada à aprovação em concursos

públicos. Isto, por óbvio, veta a conversão de serviços estaduais e de seus servidores em serviços federais.

96

que houveram foram apenas para constatar que a embarcação, o CENTEC, estava com os dias

contados, a sucumbir.

A única saída que foi apresentada, ou melhor, comunicada aos servidores e alunos

era a mudança de embarcação: “ocorreu então a porta para o CENTEC se tornar CEFET”

(EUMEU), mas não havia espaço para todos, ou melhor, para ocupar esse espaço seria

necessário enfrentar os obstáculos, uma verdadeira jornada contra as forças antagônicas, que

era um concurso público: “muita tensão porque precisaria de concursos” (EUMEU). O

obstáculo era ainda mais grave para estes tripulantes, na medida em que o concurso tem

características de ampla concorrência para todo território nacional e estrangeiros

naturalizados.

Seria necessário transpor águas revoltas com seres místicos e imprevisíveis. O

tíquete para embargar na navegação socorrista era o concurso público: “foi lançado o

concurso para docentes do IFCE, com prova escrita, didática e de títulos (ANTINOO)”.

Em correspondência com Antinoo, sobre a insegurança do emprego, Atena

declara: “Os servidores viram o IFCE como incerteza, que tinha que fazer uma prova

(concurso). Mas os servidores viram também com aspecto positivo, caso passassem, porque o

status de funcionário estadual passaria para federal”. Por IFCE entenda-se CEFET, na fala

agora apontada. Tendo em vista que o período de transição foi bastante confuso e como o

tempo de permanência do CEFET foi breve, os sujeitos do estudo em alguns momentos tem

dificuldade de distinguir CEFET do IFCE. Chamamos atenção para o beneficio que se teria

caso o servidor da OS se tornasse um funcionário público. Para além do status destacado por

Atena, realçamos os ganhos de estabilidade profissional e um plano de cargos e carreiras.

O governo Lula da Silva possibilitou a embarcação socorrista para os náufragos

do Instituto CENTEC em Limoeiro do Norte, por ter como pauta a expansão da política de

educação profissional, que só veio se consolidar no seu segundo mandato, convergindo com o

período de debilidade financeira do Instituto CENTEC que tinha como seu mantenedor o

Estado do Ceará.

O fortalecimento das instituições nacionais foi priorizado de modo significativo

no governo Lula da Silva. Isto não quer dizer que a reforma do Estado foi um projeto refutado

por este governo. O que acreditamos é que a educação profissional, no que concerne ao seu

funcionamento, tomou rumos um tanto diferentes no sentido de injeção de orçamento e

replicação de unidades, tendo em vista o projeto de interiorização da educação profissional e

superior no governo Lula da Silva.

97

4.4 LIVRO IV: A FEDERALIZAÇÃO: “NOVA” EMBARCAÇÃO

4.4.1. Hibridismo: substituição e transformação da FATEC do Instituto CENTEC para

IFCE, Campus Limoeiro do Norte

A federalização marca a admissão da categoria hibridismo30

para desvelar o

fenômeno aqui apreciado. Hibridismo se aplica aqui no contexto da interpenetração de duas

estruturas num mesmo objeto ou mesmo da dupla função de um único objeto. Apresentado o

sentido empregado do termo híbrido, cremos ser tranquila a sua transposição para o

fenômeno.

O hibridismo representa uma categoria que surge para explicação da conjuntura

que levou o Instituto CENTEC, de Limoeiro do Norte, a se tornar CEFET - UNED e logo em

seguida IFCE, Campus Limoeiro do Norte, percebido enquanto resultado do estudo, o

entrelaçamento ainda persistente entre as instituições estadual e federal.

Neste sentido, o hibridismo será aqui aplicado como uma paradoxal substituição

do Instituto CENTEC de Limoeiro do Norte no sentido de sua supressão, ou seja, extinção,

anulação de sua existência no que diz respeito a findar os vínculos e estruturas que o

sustentavam como uma OS e, ao mesmo tempo, sua conservação, no instante em que o

CEFET – UNED mantém do Instituto CENTEC de Limoeiro do Norte:

a) primeiramente, na forma da infraestrutura, incorporada de modo imediato e definitivo;

b) em seguida, na forma da manutenção do quadro discente, em regime provisório, no período

da transição;

c) em terceiro lugar, mantendo ou “recuperando” boa parte do quadro de funcionários do

Instituto CENTEC de Limoeiro do Norte, de modo efetivo por meio do concurso;

d) depois, incorporando e reproduzindo de maneira genérica a forma e a finalidade da

educação profissionalizante quando abriga ou conserva vários cursos de modo contínuo;

e) e finalmente, mantendo o apoio do padrinho político, o deputado Ariosto Holanda, ainda

que este tenha concordado com sua extinção e apoiado o surgimento da nova instituição,

como denota sua declaração à reportagem citada: “conforme o deputado federal Ariosto

Holanda, serão abertos concursos públicos para professores dos futuros Cefets”.

30

Híbrido tem significado aplicado àquilo que passou por cruzamento de espécies distintas ou ainda uma

substância que resulta da mistura de alguns elementos. Se aplica de maneira usual a automóveis enquanto

qualidade de híbridos, ou seja, podem ser alimentados tanto por motor a combustão (combustíveis poluentes;

derivados substrato vegetal ou mineral) como por motor elétrico (que não usam combustíveis fosseis por isso

bem menos poluentes).

98

Tal hibridismo concerne, inicialmente, ao período de federalização pelo CEFET-

UNED de Limoeiro do Norte. Este período de transição ocorreu por cerca de dois (02) anos,

mantendo a mesma comunidade escolar (servidores e discentes) do Instituto CENTEC dessa

cidade. Já diante do resultado do concurso público do CEFET-UNED de Limoeiro do Norte, o

hibridismo se materializou quando também houve a prevalência de uma porção substanciosa

de funcionários do Instituto CENTEC de Limoeiro do Norte. Prevalência esta, apontada pela

grande maioria dos entrevistados e com relação ao quadro docentes especificamente. Circe

sublinha: “em percentual 50% dos professores ficaram”.

Como o IFCE, Campus de Limoeiro do Norte, recebeu o quadro de pessoal do

CEFET- UNED, o hibridismo se consolidou também nesta unidade do Instituto Federal de

Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará, já que estes funcionários públicos eram oriundos

do então Instituto CENTEC. Desse modo, vê-se que esse grupo de servidores perpassaram as

“três faces” desta instituição de ensino, ou seja, primeiro o Instituto CENTEC, mediante

seleção, em seguida CEFET- UNED, por concurso público, e por último o IFCE, por absorção

dos funcionários já da união. Desse modo, vários dos servidores entrevistados têm vinte(20)

anos de vínculo com essa instituição de ensino, estando estes desde as bases do Instituto

CENTEC e tendo conseguido se consolidar enquanto funcionário efetivo da União até o IF do

Ceará em Limoeiro do Norte.

Como foi apontado na pesquisa, o Instituto CENTEC foi incorporado pela União,

tornando-se CEFET- UNED, através do Decreto nº 5.224, de 1º de outubro de 2004, que

regulamenta a organização dos Centros Federais de Educação, Ciência e Tecnologia, que

garantia a existência dos CEFET’s desde 2004. A pesquisa não logrou precisar com um marco

temporal quando se deu a abdicação do Estado do Ceará do patrimônio da Fatec, do Instituto

CENTEC de Limoeiro do Norte, concluindo o processo de federalização e dando lugar ao

CEFET – UNED, como já foi tratado de forma panorâmica até aqui.

O próprio IFCE, Campus Limoeiro do Norte, não conta com registros (digital ou

documento físico arquivado) desse importante fato histórico para a instituição. O único

registro que se tem da federalização da antiga instituição (FATEC, do Instituto CENTEC) se

encontra neste acanhado número de caracteres veiculados do site do IFCE, em campo

dedicado à sua história, quando diz: “o Instituto substituiu o antigo Cefet/CE e é resultado do

projeto de expansão da Rede de Ensino Tecnológico do País, elaborado pelo Governo Federal,

em 2007.” (INSTITUTO FEDERAL, 2015).

O site do IFCE não traz nada sobre a história do Campus de Limoeiro do Norte

enquanto componente do Centro Federal de Educação Tecnológica do Ceará, e, por

99

consequência, é praticamente ausente a história da federalização do Instituto CENTEC de

Limoeiro do Norte, que deu origem a um CEFET-UNED.

O Instituto CENTEC, que ainda é atuante no estado do Ceará, também não

mantém qualquer registro de sua história no seu site oficial. Além disso, enquanto

pesquisadores, ainda buscamos junto à instituição sediada em Fortaleza acesso aos dados,

diga-se, documentos que demarcassem temporalmente a extinção de sua unidade de Limoeiro

do Norte, porém obtivemos resposta pouco otimista acerca da existência e divulgação de

dados dessa natureza. A ausência destes documentos foi-nos informada por um dos

funcionários mais antigos, sendo este gestor também da sede do Instituto CENTEC em

Fortaleza. Esta fonte nos afirmou que “nunca houve uma formalização da extinção da

FATEC” do Instituto CENTEC de Limoeiro do Norte através de portarias ou afins. A mesma

fonte afirma que o término da Fatec, do Instituto CENTEC, de Limoeiro do Norte, e sua

subsequente federalização aconteceu via Secretaria de Ciência Tecnologia e Educação

Superior do Ceará (SECITECE) e CEFET. O(a) gestor(a) do Instituto CENTEC de Fortaleza

revela ainda que muitos dados foram perdidos devido ao Instituto CENTEC não possuir um

acervo de relatórios dessa natureza.

Diante disso, para fins de registro temporal do período de federalização do

Instituto CENTEC de Limoeiro Norte, usamos como parâmetro as datas de matéria de jornal,

e acrescemos os editais dos dois(02) primeiros concursos31

públicos do CEFET-UNED no

Ceará, assim como dados das entrevistas dos sujeitos.

É importante considerar que a maioria dos entrevistados define a data da

federalização apenas conforme o período em que foram empossados depois de prestarem

concurso público.

O pouco esclarecimento já registrado dado por gestores e autoridades acerca da

transição entre as duas instituições e o fato de que nela perduraram durante algum tempo as

estruturas do CENTEC, leva os sujeitos entrevistados a localizar a implantação da nova

instituição federal no momento em que esta constituiu quadro funcional próprio. Mas é óbvio

que esta percepção é falha, bastando lembrar para que algum ente pré-existente convocou o

concurso para o provimento deste quadro funcional.

Tal situação pode ser explicada no instante em que se lembra que tudo

“continuava igual” em termos práticos, todos permanecendo com seus empregos e o corpo

discente, em parte, concluindo seus cursos. Este processo de transição pode ter levado os

31

Com o total de trinta e nove(39) vagas para docente e vinte e seis(26) vagas para o concurso de servidores

técnico-administrativos na UNED de Limoeiro do Norte.

100

sujeitos a desconsiderar que oficialmente não existia mais Instituto CENTEC de Limoeiro do

Norte e sim a manutenção dos serviços dos funcionários do CENTEC em caráter provisório,

até que o quadro da nova instituição fosse composto.

A matéria já mencionada é do Diário do Nordeste de 14 de agosto de 2007,

intitulada “Federalização gera protesto entre docentes”, um dos principais jornais do Ceará.

Trata do processo de extinção da Fatec, do Instituto CENTEC, em Limoeiro do Norte,

ressaltando a mobilização da comunidade institucional, que confrontava a federalização.

Contudo, gostaríamos de chamar atenção para a data de registro da reportagem que trás um

importante parâmetro temporal, data de agosto de 2007, que nos permite localizar a

federalização. Vejamos:

[...] Limoeiro do Norte. Com apoio de estudantes e servidores, os professores da

Faculdade Tecnológica CENTEC (Fatec), nesse município, estão protestando contra

o processo de federalização da instituição no Ceará, já em curso, [...].

(MELQUÍADES JÚNIOR, 2007, grifo nosso)

Destacamos aqui, sobretudo, o seguinte o trecho: “o processo de federalização da

instituição no Ceará, já em curso”. A passagem nos permite concluir que a federalização do

Instituto CENTEC de Limoeiro do Norte já havia sido iniciada, ou seja, estava em andamento.

Este processo de transição aconteceu em termos legais e com impacto imediato

apenas para a infraestrutura física da Fatec do Instituto CENTEC, que ao doar seu patrimônio

para o ente federal era suprimida enquanto instituição de ensino, contudo, conservando

provisoriamente os recursos humanos da instituição (funcionários e professores) e sua

clientela (alunos). Era a expressão deste momento híbrido a origem da confusão que se gerou

nessa instituição quanto a real data da federalização.

O exercício efetivo do CEFET - UNED em Limoeiro do Norte, conforme se vê

aqui, ocorreu no momento da doação dos bens do Instituto CENTEC de Limoeiro do Norte.

Este processo se deu no contexto das mobilizações de resistência à federalização já em curso.

Chamamos atenção para a doação do CENTEC de Limoeiro do Norte, que aqui já

vai se consolidando, quando se diz:

Ameaçando paralisar as aulas, o grupo de professores é contrário à ‘apropriação’ da

Fatec pelo Cefet, defende uma ‘nova construção’ para o Cefet e critica a ‘doação’ da

estrutura estadual para o governo federal. (MELQUÍADES JÚNIOR, 2007, grifo

nosso).

101

Com a federalização consolidada, o primeiro edital (Edital nº 02/GRH-

CEFETCE/2008) de concurso público do CEFET-CE para carreira docente com vagas

também para a UNED de Limoeiro do Norte é publicado em 07/05/2008, assim como o

concurso para servidores técnico-administrativos do quadro efetivo com vagas para o CEFET-

UNED de Limoeiro do Norte (Edital nº 018/CCC-CEFETCE/2008). (CEFET, 2008a).

(CEFET, 2008b).

O CEFET – UNED de Limoeiro do Norte existiu por volta de dois anos (2007-

2008). No ano de 2007, como indica a matéria do jornal, a federalização já estava em curso e

se concluiu com a Lei nº 11.9892, de 29 de dezembro de 2008, que extinguiu a maioria dos

CEFETs de todo o país, salvo exceções, e por conseguinte absorvendo o CEFET–UNED de

Limoeiro do Norte, transformando-o em IF, ou melhor IFCE, Campus de Limoeiro do Norte.

Sendo assim, o CEFET– UNED de Limoeiro do Norte só teve funcionários próprios desta

instituição mediante concurso publico a partir do dia 03 de dezembro de 2008 (conforme

depoimento dos sujeitos) data da posse nos primeiros servidores docentes.

Odisseu expressa com muita convicção o fato histórico da instituição agora ser

gerida pela União quando diz “aos 03 de dezembro de 2008, 1 ª posse do CEFET” (grifo

nosso). Confirmando o pleno funcionamento do CEFET-UNED, do dia 03 de dezembro de

2008 quando aconteceu a posse dos aprovados no primeiro concurso dos professores do

CEFET- UNED de Limoeiro do Norte.

O Projeto de Lei (PL) 3775/2008 que instituiria a rede federal de educação

profissional científica e tecnologia que daria origem aos IF’s é submetido ao congresso

nacional em junho de 2008, prevendo a integração e reorganização dos Centros Federais de

Educação Tecnológica - CEFETs, Escolas Técnicas Federais - ETFs e Escolas Agrotécnicas

Federais - EAFs.

Diante da aprovação do projeto de Lei 3775/2008, entra em vigor a Lei nº 11.892

já no dia 29 de dezembro de 2008, que criou os IF’s. A rede federal de educação profissional,

a partir desta data, pôde absorver os CEFETs de todo território nacional, sendo chamado de

Institutos de Federais de Educação, Ciência e Tecnologia.

A absorção do CEFET em Limoeiro do Norte pela rede federal, logo se

transformando em IFCE, aconteceu com base na Lei nº 11.892, de dezembro de 2008.

Considerando que os institutos federais foram criados mediante a transformação

e/ou integração de Cefet, escolas agrotécnicas federais, escola técnica federal e

escolas técnicas vinculadas às universidades federais [...] (SILVA, 2009, P.57).

102

4.5 LIVRO V: A EMBARCAÇÃO DO IFCE: NOVA TRIPULAÇÃO? NOVOS VENTOS?

NOVO DESTINO? NOVO COMANDANTE?

4.5.1 Conciliação da educação progressista e o ensino superior técnico e tecnológico

A façanha enfrentada em águas, à primeira vista, calmas e convidativas, os ventos

vigorosos e contínuos, a novidade de viagem trazia empolgação e sentimento de

pertencimento aos tripulantes que, inebriados do sonho de alcançar vitória em sua empreitada,

dão o tom inicial dessa jornada. O Instituto CENTEC de Limoeiro do Norte foi um projeto

idealizado por um sujeito, e logo vivido e reverberado como um sonho por outros que

acreditaram ser seu.

Ariosto Holanda foi o idealizador do Instituto CENTEC no Brasil, sendo

Limoeiro do Norte a unidade piloto dessa instituição de ensino de educação profissional e

tecnológica. O Instituto CENTEC de Limoeiro do Norte viveu uma “aventura extraordinária”

rumo ao desenvolvimento. Foi aproximadamente uma década de viagem, assim como a

Odisseia, que durou tempo semelhante. Contudo, o projeto/sonho de desenvolvimento a partir

da educação profissional, “comprado” ou “assimilado” por muitos, trazia no seu bojo, desde

sua base, um conceito não homogêneo de desenvolvimento e, mais que isso, um aspecto

questionável, no instante em que se propunha uma educação para o trabalho e, a partir disso,

gerar desenvolvimento.

Em princípio, iremos mostrar a concepção de desenvolvimento em que se baseia o

idealizador do Instituto CENTEC de Limoeiro do Norte e que, como tal, influenciou

grandemente os parâmetros de desenvolvimento para essa instituição, como se percebe nesta

passagem: “quando se fala em desenvolvimento é sempre bom perguntar: desenvolvimento

para que? Na minha visão, para desativar essas três bombas de efeito retardado colocadas na

nossa região: analfabetismo – fome – desemprego” (HOLANDA, 1990, p.04).

Para Holanda (1990), o desenvolvimento deve estar associado ao sujeito a quem

se destina o dito desenvolvimento ou mesmo àquele que promove o mesmo. Podemos inferir

diante do exposto que o desenvolvimento, a priori, tem uma intencionalidade objetiva e até

honrosa quando diz que este deve considerar o homem e o seu meio. Contudo, enxergamos

aqui uma tendência a considerar o trabalho antes do próprio homem, pois é no trabalho que se

dá o lucro. Infere ainda que os ganhos do trabalho sejam distribuídos de forma justa aos que

geram desenvolvimento, o que se trata de uma anedota. A alienação entendida neste contexto

103

se faz evidente para perpetuar o sistema de produção econômica que usa o dispositivo da mais

valia.

Nesta visão, o autor desfoca o real problema que está na infraestrutura da

sociedade, sobre a qual está assentada a superestrutura. Estas categorias são empregadas por

Marx para entender os sistemas econômico-produtivos das sociedades. Para Marx, são duas as

forças que se entrelaçam na dinâmica de existência humana que se dá no trabalho, a

infraestrutura e a superestrutura. A primeira consiste nas relações sociais materiais de

produção, num conjunto de matérias-primas, meios de produção e no próprio homem,

trabalhador, constituindo a base econômica daquela sociedade. Já a superestrutura, consistente

do conjunto de instituições que se erguem sobre a base social para sustentação de um tipo de

sistema produtivo e que é materializado no Estado, religião, cultura e meios de comunicação,

são instrumentos dos grupos dominantes para se estabelecer e permanecer exercendo controle.

A superestrutura é em suma uma estrutura jurídico-politica e alinhada a uma estrutura

ideológica.

Para Marx (1985, P.57), “as relações sociais são inteiramente interligadas às

forças produtivas. [...]. O moinho a braço vos dará a sociedade com o suserano; o moinho a

vapor, a sociedade com o capitalismo industrial”. Esta passagem ilustra como a infraestrutura

é desenhada de modo distinto em cada sociedade, no que diz respeito ao sistema produtivo,

implicando por consequência nas formas de laboralidade e de relações mercantis.

Os sistemas produtivos e as tecnologias empregadas no trabalho delineia em boa

proporção a perspectiva de desenvolvimento colocada em pauta nessa categoria.

Reconhecemos a perspectiva de desenvolvimento tecnicista/capitalista no Instituto CENTEC

de Limoeiro do Norte. Esta continua a constituir a espinha dorsal da instituição federalizada,

seja na roupa do CEFET ou na do IFCE. De modo genérico, ambas se edificam sobre a

mesma base de desenvolvimento sob o prisma do sistema capitalista. Ao longo deste texto

tratamos as bases que nos levaram a essa interpretação. Defendemos a tese que esse tipo de

desenvolvimento é controvertido, dado que apenas beneficia um grupo da sociedade, a

minoria que se utiliza da posição de detentor dos meios de produção para apropriação

majoritária das riquezas. Em contrapartida, o trabalhador que produz o desenvolvimento, por

que não dizer riqueza, não alcança os frutos do seu trabalho, apenas é relegado ao suficiente

para existir, para permanecer gerando riqueza para alguns, melhor dizer, desenvolvimento.

A educação profissional está erigida nessa concepção de desenvolvimento,

influenciada certamente pelas políticas de educação profissional de modo geral, e, por

conseguinte, pela política que idealiza o Instituto CENTEC de Limoeiro do Norte.

104

Holanda (1990) apresenta o desenvolvimento como alternativa para anular a

situação de miséria do Ceará. Identifica como solução a geração de trabalho:

O homem que trabalha e tem salários dignos garantirá, certamente, educação, saúde,

manutenção e moradia para sua família. Difícil é garantir educação e saúde para uma

massa de desempregados e famintos”[...] “portanto, na minha ótica o carro chefe

deve ser o TRABALHO” (HOLANDA,1990, p. 4-5).

A desigualdade aqui é dada de forma naturalizada ou circunstancial. Nessa

perspectiva, a falta de desenvolvimento tem causa nos próprios sujeitos, ou seja, só existem

miseráveis por que são qualificados para trabalhar. Para Holanda (1990), a geração do

trabalho deveria estar fincada na educação para o trabalho:

Veio-nos a ideia das fábricas escolas para capacitar o homem na prática de processos

produtivos industriais, e dos liceus de artes e ofícios que daria formação nas áreas de

serviços técnicos especializados. (HOLANDA, 1990, p.05).

Evidenciamos aqui a simpatia do político pela educação profissional. O

idealizador do Instituto CENTEC no Brasil [que data do ano de 1996] atribuindo à educação

profissional a possibilidade de superação dos abismos sociais, conforme Holanda (1990).

A educação de caráter profissional, alinhada ao trabalho, é apontada para um

público específico, os pobres. Sendo a qualificação para o trabalho o remédio para o

desemprego e a fome. Se tem uma educação profissional destinada para os pobres, a educação

propedêutica se põe sobre bases distintas da primeira. A educação propedêutica seria uma

educação de conteúdo clássico, de preparação básica geral, de caráter introdutório. Esta,

remetendo à ideia de continuidade para outro nível de ensino mais avançado, implica

condições de existência de um pequeno grupo que pode se dar ao luxo de retardar a entrada no

mercado de trabalho.

A politecnia proposta por Marx e a escola única de Gramsci não correspondem,

assim, à política de educação profissional estandardizadas seja pelo Instituto CENTEC seja

pelo CEFET e até mesmo pelos IF’s, incluindo o IFCE, Campus de Limoeiro do Norte.

É certo que o discurso contido nos documentos oficiais que fundamentam os

Institutos Federais dados pela lei de nº 11.982, de 29 de dezembro de 2008 traz no seu texto

uma perspectiva dita progressista.

Os IF’s dizem refutar o ensino artificial de ofício, assim como a formação

destinada ao mercado de trabalho. Promete-se também uma formação ampla e crítica do

mundo com ensino de disciplinas e conteúdo de caráter reflexivo (PACHECO, 2010). A Rede

105

Federal de Educação Ciência e Tecnologia apresenta, em seus documentos, um compromisso

com uma educação profissional que concorra para a emancipação humana. A Rede faz uso de

teorias de vertente progressistas nos seus documentos oficiais, como visto em Pacheco (2010),

quando este diz que se compromete em romper como a concepção neoliberal no seu projeto

educacional.

Pacheco, em seu texto, entende que os documentos fundacionais dos IF’s se

opõem a uma visão rasteira de educação, invocando, neste sentido, a lei nº 11. 982, de 2008,

que declara:

A educação para o trabalho nessa perspectiva se entende como potencializador do

ser humano, enquanto integralidade, no desenvolvimento de sua capacidade de gerar

conhecimentos a partir de uma prática interativa com a realidade, na perspectiva de

sua emancipação (PACHECO, 2001, p. 30).

Esta fração do texto nos remete a categorias de teóricos progressista contrários à

educação alienante, a um trabalho fragmentador do homem. Reconhecemos os avanços que os

IF’s alardeiam, mesmo que apenas no nível de seus documentos oficiais que, de certo modo,

rompem ainda, no plano do discurso, com a origem e intencionalidade da educação

profissional.

Contudo, veremos a seguir, olhando as bases norteadoras dos chamados cursos

âncoras do CENTEC, e que sobreviveram no IFCE de Limoeiro do Norte, como estas seguem

sustentadas numa educação profissional eixada na divisão de classes, na segregação dos

saberes, isto no instante em que persiste uma educação estritamente profissional, de limitadas

áreas de conhecimento, que continua negando a leitura do mundo e das formas de exploração

do homem no mundo do trabalho, tudo isso na base da “naturalização” da competição homem

versus homem como uma normal aceitável.

A disparidade entre os documentos gerais dos IF’s e as propostas de formação de

seus cursos mostra o caráter inconciliável da relação entre a educação progressista e a

educação para o trabalho.

Vejamos então como esta contradição aparece na transição entre CENTEC e IFCE

em Limoeiro do Norte.

Mesmo diante do discurso distinto, não neoliberal, o curso de Agronomia que

antecedeu, no período do Instituto CENTEC de Limoeiro do Norte, Irrigação e Drenagem, por

exemplo, teve seu tempo de duração ampliado de 3,5 para 5 anos. Neste, contudo, a matriz

curricular é destituída de disciplina de caráter reflexivo ou de ciências básicas, tais como

106

história, política, sociologia, filosofia ou outras que versem sobre a organização dos

trabalhadores, estudos sobre a base econômica capitalista que conformou a própria existência

do curso, etc.

Seguindo nesse exemplo, o curso de agronomia, ao contrário do que rezam os

documentos de fundação da Rede, nasce e tem como justificativa, no seu projeto pedagógico,

atender à necessidade de mercado do Vale do Jaguaribe, se não, vejamos: “Os municípios

localizam-se, estrategicamente, próximos a capitais nordestinas, transformando a região num

importante pólo logístico, com fácil acesso aos grandes mercados consumidores”. Conforme o

mesmo documento, o Curso de Agronomia tem como um dos elementos do seu objetivo geral

“desenvolver profissionais capazes de gerar tecnologias, operar, maximizar e dar

rentabilidade aos sistemas agroindustriais” (IFCE, 2010).

Ainda sobre o Curso de Agronomia do IFCE, Campus de Limoeiro do Norte,

quanto ao perfil profissional, foram identificadas as habilitações diretamente relacionadas ao

agronegócio que o agrônomo formado no IFCE será capaz de desempenhar. Dos

dezenove(19) itens listados, seis(06) têm relação direta com agronegócio, apontando

textualmente as palavras agronegócio e/ou agroindústria por cinco(05) vezes, além de um

item tratando especificamente do perímetro irrigado, sendo este desenvolvido pelos

megaempresários do agronegócio no Vale do Jaguaribe.

Com o exposto, pudemos relacionar que os cursos desenvolvidos antes pelo

Instituto CENTEC, como no caso de Irrigação e Drenagem, foram elaborados para atender a

cadeia do agronegócio. Tais cursos correspondiam àquele ideal anunciado por Ariosto

Holanda, em 1990, como se depreende da fala de Ulisses:

Infraestrutura direcionada para Limoeiro, idealizado por Ariosto Holanda. O

primeiro curso Irrigação ou Recursos Hídricos e Drenagem foi o curso convencido

pelo deputado para se instalar; eletromecânica e alimentos (para atender ao

perímetro irrigado). (grifo nosso).

Como podemos notar, os nexos começam a se instalar. A educação para o

desenvolvimento deveria ser, ao modo de Holanda, uma educação para o trabalho, entenda-se,

para o mercado de trabalho. A educação profissional que o Instituto CENTEC de Limoeiro do

Norte promoveu era destinada ao projeto de infraestrutura do distrito agroindustrial no Vale

do Jaguaribe, percebida como uma educação destinada a “produzir” o desenvolvimento. O

CENTEC foi “convencido” então a implementar o curso de Irrigação e Drenagem, e os outros

três cursos, Tecnologia em Alimentos, Saneamento Ambiental e Eletromecânica, para atender

107

o perímetro irrigado, ou seja, os grandes produtores agrícolas, o agronegócio. Ulisses assinala:

“as quatro bases do CENTEC; para atender o parque industrial; 04 primeiros cursos”,

deixando claro que a mão de obra qualificada necessária para o agronegócio seria suprida pelo

Instituto CENTEC de Limoeiro do Norte, formando “o ciclo fechadinho” da cadeia de

produção no Vale do Jaguaribe.

Em correspondência com esse viés de educação e desenvolvimento, o Instituto

CENTEC tem como missão promover a educação e a tecnologia por meio do ensino, da

pesquisa, da inovação e da extensão em áreas estratégicas para o desenvolvimento sustentável

do Estado do Ceará (INSTITUTO, 2017). A educação profissional idealizada para o Instituto

CENTEC mostra a ideia de educação para o trabalho com as fábricas-escolas gerando

“desenvolvimento”.

Ariosto Holanda (1990) elenca as premissas e estratégias de desenvolvimento: 1-

A base do desenvolvimento de qualquer região é a educação em todos os níveis; 2- No mundo

moderno, nenhum país será desenvolvido se não tiver uma base educacional forte e,

sobretudo, tecnológica; 3- Qualquer alternativa só é real quando está voltada para resolver os

problemas da população; 4- Nós temos problemas próprios que exigem soluções próprias. As

experiências dos outros podem ser aproveitadas desde que não agridam o nosso meio e a

nossa cultura.

Notamos que aqui o deputado pai do Instituto CENTEC coloca a educação

profissional a serviço do desenvolvimento da nação, atribuindo à educação tecnológica a

façanha de reverter os problemas. Sobre as estratégias para alcançar o desenvolvimento,

Ariosto Holanda sintetiza: “numa economia com base na produção pelas massas em vez de

produção em massa” (Schumacher 1981 apud HOLANDA, 1990, p.18).

A influência do economista alemão em Holanda (1990) destaca-se na identidade

com a teoria de uma revolução pelas tecnologias disseminadas com descentralização. Como

segunda estratégia é colocado o potencial científico-tecnológico para capacitação técnica,

tecnologia no meio rural, foco na produção industrial, além de tecnologia para a área dos

recursos hídricos (HOLANDA,1990).

Holanda destaca que precisa haver uma escola distinta da que está posta, que

estabeleça conexões com a realidade do mundo, “escola prolongamento da vida. Não mais um

lugar de estudo livresco, isolado da vida e do trabalho” (HOLANDA, 1990, p. 23). Esta

educação teria a Fábrica-escola como exemplo de formação, onde seriam desenvolvidos:

processamento de frutos, pescado e leite. Já nos liceus de artes e ofícios, “escolas

108

profissionais de cunho técnico essencialmente práticos”, seriam formados bombeiros,

eletricistas rurais, técnico rural, etc.

O deputado aponta a fragilidade da indústria/desenvolvimento do Ceará,

atribuindo-a a ausência de apoio técnico às indústrias no próprio estado, que precisavam

contratar trabalhadores qualificados do sul do país. Podemos deduzir, diante disso, que o

Instituto CENTEC de Limoeiro do Norte teve muita influência dessa perspectiva de

desenvolvimento voltada para formação de mão de obra qualificada.

Apesar de que, em vários momentos, o deputado associe o desenvolvimento

econômico ao desenvolvimento do homem de modo automático, este discurso romantizado, a

nosso ver, só mascara a real intenção da educação profissional que é de possibilitar um tipo de

instrução voltada para produzir diretamente mão de obra, apartada da aprendizagem geral e

científica, pautada apenas pela necessidade de oportunizar o maior lucro ao capitalista, em

nome de um desenvolvimento em abstrato.

Escrita por Holanda, em 1990, a obra citada é um espelho do que se queria na

educação profissional tecnológica em Limoeiro do Norte através do Instituto CENTEC.

Há um capitulo ou sessão no livro que trata sobre o projeto de um distrito

agroindustrial no Vale do Jaguaribe, revelando indiretamente a qual público se destinava a

futura instituição: “quando no exercício do cargo de Secretário de Indústria e Comércio

defendemos, juntamente, com o Diretor Geral do DNOCS, Dr. Simas, um complexo industrial

na região conhecida como Tabuleiro de Russas” (HOLANDA, 1990, p. 68).

O projeto elaborado versava sobre a instalação de complexo industrial e para isso

dependia fundamentalmente da irrigação, afirma o deputado. A terra e o clima são bons e

adequados para culturas de alta rentabilidade, desde que irrigadas: “há a expectativa de que a

agricultura do sertão estará, em breve futuro, associada à produção de produtos nobres da

fruticultura [...]” (HOLANDA, 1990, p.69). Percebam aí que o parque industrial que se tem

instalado hoje no Vale do Jaguaribe foi idealizado neste período, em 1990. Para o

funcionamento do distrito industrial foi necessária mão de obra qualificada e local a ser

provida pelo Instituto CENTEC de Limoeiro do Norte, e, depois, por conseguinte, pelo

CEFET, repercutindo até hoje no IFCE, Campus Limoeiro do Norte.

A educação profissional em Limoeiro do Norte foi rota necessária à concretização

do “desenvolvimento” 32

.

32 Este modelo de desenvolvimento gerou à chaga do agrotóxico, ferindo a terra e as pessoas, inclusive com alta

incidência de câncer na população que trabalhava no distrito agroindustrial de Limoeiro do Norte e do Vale do

109

O projeto pretendia seguir o exemplo do polo Juazeiro-Petrolina, para isso,

instalando um distrito agroindustrial no Vale do Jaguaribe, Apodi e Açu, intercalando os

estados do Ceará, Rio Grande do Norte e Paraíba: “estudos preliminares sugerem as

imediações da cidade de Russas, Quixeré, Limoeiro do Norte, para a implantação do

pretendido distrito agroindustrial” (HOLANDA, 1990, P.70).

A elaboração do projeto do distrito agroindustrial no Vale do Jaguaribe conta com

a indicação da localização geográfica, a exemplo da BR-116, da proximidade com a capital do

estado para escoamento da produção, e ainda revela o suporte de carga para a comercialização

da exportação de frutas finas “in natura” para o exterior, contando com o porto e o aeroporto

de Fortaleza, que futuramente seria internacional, e com aeronaves específicas para cargas.

Menciona também os recursos hídricos e elétricos do Vale do Jaguaribe, o último pontuando a

unidade da CHESF em Russas. O planejamento também envolve um estudo de mão de obra

industrial no item Unidades Comerciais e de Serviços, que dariam suporte ao distrito

agroindustrial através das escolas técnicas, evidência de que o Instituto CENTEC de Limoeiro

do Norte e a política de educação profissional que o sucedeu também constitui uma

consequência da implementação do distrito agroindustrial do Vale do Jaguaribe.

Sobre o IFCE como instituição que surgiu do Instituto CENTEC de Limoeiro do

Norte, este ainda mantém os quatro(04) cursos âncoras do então Instituto CENTEC. Alguns

passaram por modificações mais profundas, como no caso Irrigação e Drenagem, que se

tornou Agronomia, assim como Eletromecânica Industrial que passou a ser Mecatrônica, já na

instituição federalizada. O curso de Alimentos passou por mudanças na sua matriz, tendo uma

formação mais geral (extinguindo a antiga formação que se bifurcava em Tecnologia de

Alimentos Animal e Vegetal).

Os elementos contidos no projeto pedagógico do curso de Tecnologia em

Alimentos, como o Curso de Agronomia, uma âncora do CENTEC, se conservaram de algum

modo no CEFET e no IFCE de Limoeiro do Norte, nos trazendo indícios de que os cursos

referidos continuam a atender os fins de formação de mão de obra imediata para a

agroindústria. Neste sentido, a instituição atual conserva aquele hibridismo que se registrou na

transição de uma à outra, mas também mantém a orientação fundamental que já se expressava

na obra aqui analisada de Holanda, datada de 1990.

Jaguaribe, ou mesmo a população das proximidades destas agroindústrias, tendo como canal da doença a água

contaminada pela pulverização aérea. Este triste episódio traz à tona a história dos vários sujeitos que foram

impactados pelo desenvolvimento da agroindústria no Vale do Jaguaribe.

110

Deste modo, o IFCE de Limoeiro do Norte, devido à sua localização geográfica

“privilegiada”, segue sendo alvo do agronegócio do Vale do Jaguaribe, o que se percebe

quando os objetivos dos cursos de sua instituição colocam que estes estão “[...] voltados ao

atendimento das exigências do momento vivido pelo distrito industrial brasileiro, como forma

de contribuir com processo de modernização do país” (LIMOEIRO, 2011, p. 8).

Voltamos a nos remeter ao desenvolvimento através da modernização do país. Ao

observarmos o projeto pedagógico do curso de Tecnologia em Alimentos do IFCE, Campus

de Limoeiro do Norte (LIMOEIRO, 2011), Pacheco afirma que a educação tecnológica

promovida pelos IF’s, para além do desenvolvimento econômico e tecnológico nacional,

estaria voltada para um “projeto progressista que entende a educação como compromisso de

transformação e de enriquecimento de conhecimentos objetivos capazes de modificar a vida

social [...]” (PACHECO, 2001, p.18). Contudo, os Institutos Federais afirmam que a base da

educação profissional é o eixo tecnológico.

Pacheco (2011), assim como Holanda (1990), estabelece a relação de desemprego

à falta de qualificação profissional e qualificando o IF como instituição que iria equacionar tal

questão, atendendo, sobretudo, à indústria. Para Pacheco (2011, p.29), “a indústria é o setor

que concentra a maior demanda por trabalhadores com experiência e qualificação

profissional”. Ele aponta dados sobre a pouca escolaridade dos brasileiros e a pouca inserção

na formação da modalidade Educação Profissional, ao mesmo tempo em que diz: “a

referência fundamental para a educação profissional e tecnológica é o ser humano e, por isso,

o trabalho, como categoria estruturante do ser social, é seu elemento constituinte”

(PACHECO, 2001, p. 30).

Notamos que o uso de discurso progressista nas bases de fundação dos IF’s

contrasta com a realidade de implantação dos cursos, com a intencionalidade da formação da

mão de obra, o que nos leva a concluir que mesmo no campo teórico já havia descompasso

entre intenção e gesto, como é percebido de forma já explicitada em trechos dos projetos

pedagógicos dos cursos de Agronomia e Tecnologia em Alimentos, que revelam sua

orientação preponderantemente voltada para prover mão de obra para o grande capital.

Esta percepção de continuidade entre o CENTEC e o IFCE, que observamos na

leitura dos distintos documentos enumerados acima, não é consensual entre os sujeitos

entrevistados. Alguns destes enxergam mudanças importantes entre o que se projeta na obra

de Holanda (1990), o projeto original da OS e a atual orientação do IFCE.

Como contraponto aos traços de mudança da nova instituição IFCE, Campus

Limoeiro do Norte, Telémaco fala com saudosismo do caráter empreendedor que o Instituto

111

CENTEC de Limoeiro do Norte tinha, mencionando com ênfase e de forma repetida: “no

CENTEC os professores tinham muita articulação com as empresas/indústrias, isso era muito

bom para promover a inserção do estagiário”.

Telémaco considera que o IFCE não teria como bandeira pragmática o

empreendedorismo. O entrevistado dá a esta noção um sentido positivo, eludindo o fato de

que este conceito mascara a divisão do trabalho, atribuindo ao indivíduo uma superação

inalcançável, pela sua condição de pião concorrendo com reis, a exemplo do xadrez. Apesar

da fala de Telémaco, o curso de Tecnologia em Alimentos, do qual o entrevistado foi aluno e

atualmente é professor, possui unidades de conteúdo voltadas para o empreendedorismo,

assim como a disciplina especifica Gestão e Empreendedorismo, na sua matriz curricular.

Vê-se, assim, que dentro dos processos de transformação que marcaram a

absorção do antigo Instituto CENTEC pelo ente federal, há este importante elemento de

continuidade e conservação, expresso tanto nas funções atribuídas ao IFCE neste modelo de

desenvolvimento, como nos próprios projetos pedagógicos dos seus cursos, sem se falar no

fato de que a ideia dos “cursos âncoras” parece perfeitamente preservada.

Infere-se que era mesmo barco o tempo todo, um pouco modificado do CENTEC

para IFCE, porém, fundado na ideia de uma profissionalização para atender aos patrões do

agronegócio.

A primeira era uma nau com pouca expressão, inicialmente, e que depois foi

ganhando apoio e tida como referência em todo o país.

O barco renovado, agora a vapor, foi oriundo da federalização. Este parece

inovador pelo seu sistema de combustão que o garante suficiência, eis o CEFET.

A embarcação IFCE, Campus de Limoeiro do Norte, no quadro dos Institutos

Federais em vigor no final de 2008, que continua o CEFET, embora com uma fachada

melhor, com abertura, pelo menos nos textos oficiais, para desbravar e implementar uma

educação profissional distinta, ainda permanece atada a místicas, condutas e princípios dos

executores (presidente, governadores, gestores de âmbito nacional assim com gestores

administrativo e políticos locais), que permanecem com o mesmo posicionamento

conservador, burguês, seguros no seus cômodos gabinetes, interferindo e ditando os rumos da

nação.

No nível do IFCE, esta continuidade aparece na sobrevivência da orientação de

um ensino profissionalizante apartado da formação geral e do domínio dos rudimentos da

ciência, eixado num pragmatismo pedagógico que revela, antes da intenção de prover uma

112

formação humana autêntica, a miserável intenção de alimentar a máquina produtiva de

trabalhadores limitados somente ao seu fazer técnico imediato.

113

5 CONCLUSÃO

A pesquisa em questão tratou da repercussão da política de educação profissional

e tecnológica que possibilitou a criação do IFCE, Campus de Limoeiro do Norte, a partir da

transformação da Fatec, do Instituto CENTEC, de Limoeiro do Norte, no contexto da Lei nº

11.982 de 29 de dezembro de 2008.

O estudo teve como o objetivo geral investigar o processo pelo qual se deu a

criação do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE) na cidade de

Limoeiro do Norte, a partir dos enfrentamentos, resistências e interesses políticos,

econômicos e sociais envolvidos neste processo de transição/substituição da Faculdade de

Tecnologia (FATEC), do Instituto CENTEC de Limoeiro do Norte. O IFCE, em Limoeiro do

Norte, foi viabilizado no quadro legal que permitiu a expansão da Rede Federal de Educação

Profissional e Tecnológica implementada no governo Lula da Silva, consolidado no seu

segundo mandato (2007-2010), especificamente no ano de 2008 pela lei já citada.

Esta é uma das faces da história do IFCE, Campus de Limoeiro do Norte, a saber,

como produto da política de expansão da Rede no período Lula da Silva. O processo pelo qual

esta política nacional se efetivou é o outro lado desta história. Os meandros que cercam a

trajetória que vai do Instituto CENTEC ao IFCE, Campus Limoeiro do Norte, estão

intimamente entrelaçados por vários protagonistas do cenário doméstico, do âmbito dos

gabinetes políticos e, finalmente, do alto escalão do capital em dimensões globais.

Foi esta totalidade de fatores que cercaram o processo que nosso trabalho tentou

captar.

Nosso cenário doméstico diz respeito em primeira instância ao protagonista do

Instituto CENTEC, o deputado federal Ariosto Holanda. O político, natural de Limoeiro do

Norte, constituiu o Instituto CENTEC quando esteve no exercício da pasta de Secretário de

Ciência e Tecnologia do Estado do Ceará, nos anos de 1995 a 1998 e 1999 a 2002, nos dois

mandatos do governador do Estado do Ceará Tasso Jereissati (1995-1998; 1999-2002).

As diferentes fases do CENTEC, da época, digamos, áurea, até o período de

colapso, acompanham exatamente os diferentes graus de interesse dos governos na instituição.

Os momentos de maior crescimento mostram a afinidade do político limoeirense com

Jereissati; a época de decadência mostra uma perda de influência do deputado no Governo

Estadual.

114

Este é um aspecto importante de nossas conclusões: a dependência que o modelo

CENTEC tinha da simpatia do governo de plantão, o que pode ser observado pela maior ou

menor facilidade na renovação do contrato de gestão pela qual a entidade era financiada.

Por outro lado, como desenvolvemos no texto supra, a experiência do CENTEC

em Limoeiro do Norte foi uma expressão local da política nacional (por sua vez, ditada pelas

agências multilaterais) de implantar um modelo de serviço público assentado nas OS’s e

regulado por instrumentos de tipo contrato de gestão.

Desse modo, Ariosto Holanda lançou as bases para o que se originaria o IFCE em

Limoeiro do Norte, isto no ano de 1996. O projeto do Instituto CENTEC de Limoeiro do

Norte foi implementado em 1996, sendo uma unidade piloto no Brasil. O pai do Instituto

CENTEC propunha uma educação profissional e tecnológica nos níveis técnico e superior,

sendo o superior na modalidade de tecnólogo, prioritariamente.

A trajetória do Instituto CENTEC de Limoeiro do Norte foi alicerçada bem

anteriormente ao ano de sua implantação e, mais que isso, era um percurso necessário para

outro fim, pois estava vinculada à implantação do projeto de distrito agroindustrial a ser

implementado no Vale do Jaguaribe, que data de 1990, conforme Ariosto Holanda (1990). A

educação profissional e tecnológica era essencial para viabilidade do distrito agroindustrial

que seria instalado no Vale do Jaguaribe, de grande interesse do poder público estadual.

Nesse contexto, o Instituto CENTEC veio atender à qualificação de mão de obra

para o distrito agroindustrial que se erigia alinhada como produto da política implementada

para o desenvolvimento do estado, no que diz respeito ao setor agrário. A agricultura de

grande porte no Vale do Jaguaribe começou a ser desenvolvida desde os anos de 1980 e

alcançou índices muito elevados a partir dos anos 2000, atraindo cada vez mais os

macroempresarios do capital estrangeiro, o que coincide de modo bem elucidativo com os

anos glorioso do Instituto CENTEC de Limoeiro do Norte.

Constatamos que, no nível doméstico ou local, o Instituto CENTEC de Limoeiro

do Norte surgiu para atender ao projeto de desenvolvimento, ou melhor, de lucratividade do

setor agrário, com repercussões na arrecadação estadual, sendo a educação profissional e

tecnológica apenas umas das medidas fundamentais para atrair e consolidar um parque

agroindustrial para o Vale do Jaguaribe.

Os Cursos de Irrigação e Drenagem, Tecnologia de Alimentos, Eletromecânica e

Saneamento Ambiental, ofertados no Instituto CENTEC de Limoeiro do Norte, atestam mais

uma vez a intencionalidade de formação técnico-profissional ligada diretamente à área de

115

agricultura de moldes industrias, assim como assegurar a cadeia produtiva a partir da

formação destes profissionais.

O Instituto CENTEC de Limoeiro do Norte, sendo uma OS, requeria uma

renovação anual de seu contrato de gestão que implicou diretamente na baixa de investimento

para a instituição e atrasos homéricos dos salários dos professores, instaurando uma crise

aproximadamente a partir do ano 2005. Neste período, o governador do estado era Lúcio

Alcântara (2003-2006), que parece não ter a mesma afinidade com a política de educação

profissional do Instituto CENTEC de Limoeiro do Norte que tinha a gestão anterior.

De fato, Ariosto Holanda foi destituído de seu cargo de Secretário de Ciência e

Tecnologia do Estado do Ceará com o fim da era Tasso Jereissati. A ausência de força politica

levou o Instituto CENTEC de Limoeiro do Norte a avarias profundas na sua embarcação. O

que acabou por comprometer a existência do Instituto CENTEC de Limoeiro do Norte na

jornada em direção ao “desenvolvimento”, o que durou apenas uma década, assim como a

Odisseia, de Homero.

O “desenvolvimento” aqui colocado, não representa mudança real nas condições

de existência humana para a grande população que foi impactada pela política de educação

profissional e tecnológica do governo estadual no Vale do Jaguaribe. Embora se considere

que a educação veiculada, apesar dos moldes profissionalizantes, possibilitou a alguns galgar

certa ascensão social, mesmo que inofensiva ao capital de conjunto, a orientação pedagógica

deste período é marcada pela formação direta e imediata de mão de obra para a agroindústria

e, portanto, avessa à formação geral, humana e científica.

O projeto de desenvolvimento econômico do Estado não foi abalado pela

anunciada extinção do Instituto CENTEC de Limoeiro do Norte, tendo em vista que a

formação profissional necessária à manutenção do distrito agroindustrial seria mantida no

instante que a União acenou a expansão de educação profissional através do CEFET- UNED

de Limoeiro do Norte.

Quando o Governo Federal anunciou a bandeira de constituição de uma rede de

educação profissional, no nosso entendimento, houve desinteresse do governador Lúcio

Alcântara em permanecer com essa política, tendo em vista aliviar seus cofres. Junte-se a isto

o mencionado distanciamento do então governador Lúcio Alcântara com o pai e padrinho

político (Ariosto Holanda) do Instituto CENTEC, inferida pela sua destituição da pasta de

Secretaria de Ciência e Tecnologia ou de qualquer outra posição do mesmo governo. Tal

oposição comprometeu irremediavelmente a embarcação no Instituto CENTEC de Limoeiro

do Norte. Tendo sido fatal a avaria que sofreu, extinguindo o Instituto CENTEC de Limoeiro

116

do Norte, o ensino profissional seguiu sobrevivendo agora por conta do novo barco CEFET-

UNED, aproximadamente a partir de 2007, como resultado da abdicação da responsabilidade

do Estado em manter a politica de educação profissional e tecnológica através do CENTEC e

da imediata transferência do patrimônio material da instituição para a União, num acerto

vantajoso para esta, que herdou uma boa infraestrutura, como para o Governo do Estado, que

se viu livre do encargo.

A outra face dessa história corresponde aos poderes dos gabinetes políticos. O

governo Lula da Silva teve como pauta a expansão da educação profissional dada pela

federalização do Instituto CENTEC de Limoeiro do Norte, que assumiu a forma de CEFET –

UNED.

Tal bandeira esteve presente em dois dos seus mandatos, na forma da expansão da

Rede Federal de Educação Profissional e Tecnológica, implementada de forma gradual no

governo Lula da Silva com duas fases de expansão da rede. A primeira data de 2005 e a

segunda em 2007. O CEFET – UNED de Limoeiro do Norte é prova disso, criado quando

estava em vigência a lei que regulamentava os Centros Federais de Educação Tecnológica,

criados em 1994 no governo de Itamar Franco e consolidado nos governos de FHC nos dois

mandatos (1995-1998/1999-2003).

O modelo CEFET foi continuado, mesmo que reestruturado, no Governo Lula da

Silva, nos seus dois mandatos. Foi nesse marco legal que, no ano de 2007 provavelmente, o

Instituto CENTEC de Limoeiro do Norte foi transformando em CEFET – UNED, coincidindo

com a segunda fase de expansão da rede federal.

Registramos ainda a ausência de um marco temporal que registre o momento da

federalização da FATEC do Instituto CENTEC, mostrando fragilidade na história do IFCE,

Campus de Limoeiro do Norte.

Mesmo diante dessa lacuna, temos o ano de 2007 como provável momento da

incorporação do ente estadual pelo federal, tendo em vista os dados que foram apresentados

no corpo do estudo, a partir de jornal, editais e dos sujeitos depoentes.

Temos o entendimento de que o processo de transição foi áspero, com resistência

de parte significativa dos sujeitos presentes nesse período e que viveram o Instituto CENTEC

em Limoeiro do Norte. A federalização foi encharcada de arbitrariedade, tanto do Estado

quanto da União, quando desconsiderou o posicionamento da comunidade institucional,

sobretudo dos funcionários que se viram desamparados e prestes a imergir. Houve danos aos

discentes no que diz respeito às mudanças de matriz curricular, com implicações na carga

horária e na fragilidade do diploma de uma instituição extinta.

117

O Governo Federal integrou então o Instituto CENTEC de Limoeiro do Norte em

sua política de expansão, transformando-o em CEFET – UNED e com isso implementando a

política a baixos custos, já que a infraestrutura da antiga instituição foi doada.

A última dimensão por nós elencada foi a dos ditames dos organismos

internacionais perfilados ao grande capital que, de fato, dão o tom das políticas de educação.

Os países em desenvolvimento como o Brasil são mais impactados e por isso são impelidos a

seguir os regulamentos das diretrizes de instituições financeiras como Banco mundial, Nações

Unidas (ONU), Fundo Monetário Internacional (FMI). O sistema econômico conduz

maciçamente os parâmetros pactuados para a educação. A política de educação profissional e

tecnológica tem sido abordada de um ângulo que privilegia a formação de tipo praticista,

desvinculada da formação geral, humana e científica e, por isso, bastante aceitável e

incentivada pelo seu caráter politicamente inócuo e propiciador da economia do capital.

Trata-se de uma educação profissional que tem características convergentes para o

projeto de permanência da sociabilidade do capital no instante em que é fragmentada e

artificializada da aplicação útil para a emancipação humana.

Desse modo, a educação profissional que ocorre no Instituto CENTEC de

Limoeiro do Norte, passando pelo CEFET – UNED e desaguando do IFCE, seguiu, em todas

estas etapas, os preceitos neoliberais, alguns integralmente e outros com nuances diferentes.

No caso de Limoeiro do Norte, acreditamos que o Instituto CENTEC tomou parte

integral do projeto neoliberal. Há uma descontinuidade com a incorporação do patrimônio da

OS pela União, dando origem ao CEFET – UNED e, depois, com sua transformação em

IFCE, Campus de Limoeiro Norte, com expectativas de mudança, tendo em vista os

documentos fundacionais dos IF’s que apelavam à noção de politecnia.

A manutenção dos cursos âncora, herdados do CENTEC e a reestruturação dos

currículos dos mesmos, mostram que na descontinuidade houve uma continuidade da

manutenção de uma linha que se coaduna com o projeto neoliberal. Ainda que se enxerguasse

um feixe de luz que passava através do convés, mesmo que apenas no campo formal-

normativo e com pouquíssima consistência, o que ainda havia era uma imersão no projeto

neoliberal.

Neste prisma, a hipótese do hibridismo se confirma nas instituições, tanto no

momento de vigência do projeto de educação profissional do Estado, quanto no período de

incorporação do ensino profissional pela União: as duas carregam a essência neoliberal.

Os dados que recolhemos, neste aspecto, seguem mostrando que é certo que não

pode haver conciliação entre este gênero de educação profissional e a emancipação humana.

118

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Paraíba, Joao Pessoa, 2014.

125

APÊNDICE

126

APÊNDICE A – ROTEIRO DE ENTREVISTA

Dissertação de mestrado- MAIE Turma 2015

Pesquisadora Profª: Luciana de Sousa Santos

Orientador: Profº Dr José Eudes Baima Bezerra

ROTEIRO DE ENTREVISTA

Qual cargo exercia?

Como se deu a forma de ingresso?

Quanto tempo trabalhou no CENTEC de Limoeiro do Norte?

A respeito da mudança da instituição CENTEC em Limoeiro do Norte, que foi criada

em 1997, e em 2009 surgindo com IFCE, você esteve presente? Como aconteceu?

Houve discursão com a comunidade de servidores, assim como um espaço para

deliberação/esclarecimento com os discentes e comunidade local? Ou apenas

aconteceu por força da lei?

O que mudou na nova instituição (IFCE)? Os servidores precisaram passar um por

processo seletivo para a nova instituição? como aconteceu? Como os professores

viram essa mudança? Houve prevalência desse quadro, mesmo diante de uma nova

instituição que se anunciava?

Fique à vontade para reformular alguma resposta ou mesmo adicionar alguma

formação que compreenda como relevante.

*Solicitar indicação de outras fontes prováveis que possa vir a contribuir com o estudo, e assim como o

compartilhamento de algum documento que se relacionem à questão.