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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO NORTE DO PARANÁ

CAMPUS DE JACAREZINHO

SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO

PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL - PDE

CONTOS DE FADAS: UM PODEROSO INSTRUMENTO PARA O

DESENVOLVIMENTO DO GOSTO PELA LEITURA NA INFÂNCIA

JACAREZINHO

2012

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CONTOS DE FADAS: UM PODEROSO INSTRUMENTO PARA O

DESENVOLVIMENTO DO GOSTO PELA LEITURA NA INFÂNCIA

Hilceia Oliveira do Prado1 Luciana Brito2

RESUMO

O projeto em questão, alicerçado no Método Recepcional, teve por objetivo desenvolver o hábito de leitura através do gênero Contos de Fadas, em especial o conto “João e Maria”, visando capacitar o educando a se posicionar diante do texto. Pretendeu também, através de estratégias dialógicas e interacionistas, provocar durante o percurso de leitura a ruptura, o questionamento, tornando a escola e por extensão a literatura infantil em espaços para a criança refletir sobre sua condição pessoal, promovendo a adoção de novos valores e sua integração com o meio social.

Palavras-chave. Contos de Fadas. Psicopedagogia. Método Recepcional

1 INTRODUÇÃO

Sosa (1982) assinala a importância da literatura infantil como etapa criadora

dentro do problema geral da imaginação, uma vez que não se sabe bem em que

idade, nem em que forma e circunstância ela aparece na criança. O mesmo autor

afirma que a imaginação é a “faculdade soberana” e a forma mais elevada do

desenvolvimento intelectual. Se em outros componentes curriculares atenta-se para

conteúdos significativos para as crianças, na literatura infantil encontra-se o espaço

privilegiado para estimular o sujeito como elemento gerador das hipóteses mágicas.

O presente artigo considera a importância dos contos de fadas como

1 Graduada em Letras-Francês. Curso Lato Sensu em Metodologia de 1º e 2º Graus. Participante do

Programa de Desenvolvimento Educacional-2010/12 2 Doutora em Língua Portuguesa. Docente da Universidade Estadual do Norte do Paraná – UENP.

Campus de Jacarezinho.

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necessidade fundamental para a educação infantil bem como para o ensino

fundamental. Assim o trabalho foi desenvolvido, com interesse interdisciplinar, a

partir do conto “João e Maria” a fim de estimular o prazer pela leitura, considerando a

interdisciplinaridade e a atuação de todos os alunos nesse processo como aspecto

fundamental do processo ensino aprendizagem.

Dessa forma, pensando na importância e na necessidade de adaptar-se a um

mundo onde a leitura está em constante transformação, que procuramos abordar o

tema Contos de Fadas dentro de um contexto em sala de aula, buscando uma

análise da temática do conto “João e Maria”, em um processo de construção

sentimental em crianças em formação do “eu” para atribuições de um ser humano

com capacidade de distinguir o positivo do negativo. Como contraponto, far-se-á a

leitura do conto: “João e Maria”, dos irmãos Grimm e uma leitura crítica mostrando a

verdadeira mensagem, cujo personagem faz o caminho inverso do que seria o certo.

Conforme se pode observar, o ato de contar histórias é muito importante na

criação de imagens e de mundos. Nossa opção pelo conto de fadas explica-se por

sua tendência ao fantástico, ao maravilhoso, ao simbólico numa tentativa de

amenizar o panorama de violência da realidade atual.

A presente proposta, que também foi enriquecida com outros gêneros

artísticos (pinturas, filmes, músicas, dentro outros) pretendeu despertar no aluno o

gosto pela leitura, por estar de acordo com seu horizonte de expectativas. Além

disso, através de estratégias dialógicas e interacionistas, procurou provocar durante

o percurso de leitura a ruptura e o questionamento, tornando a escola e por

extensão a literatura infantil e infanto-juvenil em espaços para a criança refletir sobre

sua condição pessoal, a fim de conduzi-la, ao final do processo, à ampliação de seu

horizonte de expectativa e, como consequência, à autonomia e à emancipação.

2.1 CONTOS DE FADAS: ORIGEM E ASPECTO IMAGINÁRIO

De acordo com Nocera (2010), diferentemente do que se poderia pensar, os

contos de fadas não foram escritos para crianças, muito menos para transmitir

ensinamentos morais (ao contrário das fábulas de Esopo). Em sua forma original, os

textos traziam doses fortes de adultério, incesto, canibalismo e mortes hediondas.

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Segundo registra Cashdan (2000, p. 20):

Originalmente concebidos como entretenimento para adultos, os contos de fadas eram contados em reuniões sociais, nas salas de fiar, nos campos e em outros ambientes onde os adultos se reuniam - não na creche.

Ainda conforme Cashdan (2000. p. 24), "alguns folcloristas acreditam que os

contos de fada transmitem 'lições' sobre comportamento correto e, assim, ensinam

aos jovens como ter sucesso na vida, por meio de conselhos [...] crença de que os

contos de fada contêm lições pode ser, em parte, creditada a Perrault, cujas histórias

veem acompanhadas de divertidas 'morais', muitas das quais inclusive rimadas". E

ele conclui: [...] "os contos de fada possuem muitos atrativos, mas transmitir lições

não é um deles".

A palavra portuguesa "fada" vem do latim fatum (destino, fatalidade, fado etc).

O termo se reflete nos idiomas das principais nações européias: fée em francês, fairy

em inglês, fata em italiano, fee em alemão e hada em espanhol. Por analogia, os

"contos de fadas" são denominados conte de fées na França, fairy tale na Inglaterra,

cuento de hadas na Espanha e racconto di fata na Itália. Na Alemanha, até o século

XVIII era utilizada a expressão Feenmärchen, sendo substituída por Märchen

("narrativa popular", "história fantasiosa") depois do trabalho dos Irmãos Grimm. No

Brasil e em Portugal, os contos de fadas, na forma como são hoje conhecidos,

surgiram em fins do século XIX sob o nome de contos da carochinha. Esta

denominação foi substituída por "contos de fadas" no século XX (Wikipédia, 2011).

De acordo com o site Wikipédia (2012) as fadas são entidades fantásticas,

características do folclore europeu ocidental. Apresentam como mulheres de grande

beleza, imortais e dotadas de poderes sobrenaturais, capazes de interferir na vida

dos mortais em situações limite.

Conforme destaca Coelho (1987, p. 34):

Na maioria das tradições, as fadas aparecem ligadas ao amor, ou sendo elas próprias as amadas, ou sendo mediadoras entre os amantes. A partir da cristianização do mundo, foi esse último sentido que predominou, perdendo completamente aquela outra dimensão "mágica", sobrenatural.

As versões infantis de contos de fadas hoje consideradas clássicas,

devidamente expurgadas e suavizadas, teriam nascido quase por acaso na França

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do século XVII, na corte de Luís XIV, pelas mãos de Charles Perrault3.

Para Cashdan (2000), em referência aos países de língua inglesa, a

transformação dos contos de fadas em literatura infantil (ou sua popularização) só

teria mesmo ocorrido no século XIX, em função da atividade de vendedores

ambulantes ("mascates") que viajavam de um povoado para o outro "vendendo

artigos domésticos, partituras e pequenos volumes baratos chamados de

chapbooks".

Assim, ainda para Cashdan (2000,) estes chapbooks (ou cheap books, "livros

baratos" em inglês), eram vendidos por poucos centavos e continham histórias

simplificadas do folclore e contos de fadas expurgados das passagens mais fortes, o

que facultava o acesso a um público mais amplo e menos sofisticado.

Em se tratando do aspecto imaginário, o maravilhoso sempre foi e continua

sendo um dos elementos mais importantes na literatura destinada às crianças.

Através do prazer ou das emoções que as estórias lhes proporcionam, o simbolismo

que está implícito nas tramas e personagens, vai agir em seu inconsciente, atuando

pouco a pouco para ajudá-las a resolver os conflitos interiores normais nessa fase

da vida.

De acordo com Oliveira (2005), o aspecto imaginário dentro da psicanálise é

lembrado como a criança é levada a se identificar com o herói bom e belo, não

devido à sua bondade ou beleza, mas por sentir nele a própria personificação de

seus problemas infantis: seu inconsciente desejo de bondade e beleza e,

principalmente, sua necessidade de segurança e proteção. Pode assim superar o

medo que inibe a criança a enfrentar os perigos e ameaças que sente à sua volta,

podendo alcançar gradativamente o equilíbrio adulto.

Ressurreição (2005) comenta que nos contos de fadas pode encontrar o

modelo básico de qualquer narrativa literária, em toda narrativa literária existem

episódios, ou seja, situações de equilíbrio e desequilíbrio, que se modificam,

provocando a passagem de uma situação a outra. É nessa cadeia de episódios que

se situam os conflitos e as soluções aos problemas que tanto nos prendem a

atenção. A diferença é que, nos contos de fadas, a transformação é provocada pela

intervenção de uma ação mágica. Assim, os seres mágicos são tão importantes para

o desenvolvimento da história quanto para o comportamento do herói.

3 COELHO, Nelly Novaes. O Conto de Fadas. São Paulo: Ática, 1987.

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É possível reconhecer nos Contos de Fadas um tipo de literatura capaz de

levar a criança a uma dimensão que vai bem além do mero entretenimento, uma vez

que eles permitem a construção de um imaginário singular, fundamental para a

constituição da subjetividade, visto que os Contos de Fadas levam a criança a se

encontrar com seu ser psicológico e emocional e, por meio da imaginação, a

trabalhar questões relacionadas ao inconsciente, que vêm à tona, a partir das

situações representadas e da simbologia dos personagens que os constituem.

2.2 A LEITURA E OS CONTOS DE FADAS

Falar sobre literatura é, sem dúvidas, falar sobre a imaginação. Sosa (1982)

assinala a importância da literatura infantil como etapa criadora dentro do problema

geral da imaginação, uma vez que não se sabe bem em que idade, nem em que

forma e circunstâncias ela aparece na criança. O mesmo autor afirma que a

imaginação é a “faculdade soberana” e a forma mais elevada do desenvolvimento

intelectual. Se em outros componentes curriculares atenta-se a conteúdos

significativos para as crianças, na literatura infantil encontra-se o espaço privilegiado

para estimular o sujeito como elemento gerador das hipóteses mágicas.

Segundo Bettelheim (1980), para que uma história realmente prenda a

atenção da criança, deve entretê-la e despertar sua curiosidade. Mas para

enriquecer sua vida, deve estimular-lhe a imaginação: ajudá-la a desenvolver seu

intelecto e a tornar claras suas emoções; estar harmonizada com suas ansiedades e

aspirações; reconhecer plenamente suas dificuldades e, ao mesmo tempo, sugerir

soluções para os problemas que a perturbam.

Para Leivas (apud Abramovich, 1989), há mais significado nos contos que lhe

contaram durante a infância do que na verdade que a vida ensina. A arte de contar

histórias está intrinsecamente ligada à existência do pensamento humano, as

fábulas, que na maior parte das vezes encerravam lições de moral, deram origem

aos contos de fadas. Os chamados contos de fadas vieram quiçá da própria

necessidade humana de mentir ou de "enfeitar" a realidade. Porém, nas fábulas, que

deram origem aos contos de fadas, se buscava uma lição final que cabia como um

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ensinamento para quem as ouvissem4.

Os contos têm uma linguagem simbólica, linguagem que enriquece a

imaginação de uma criança, que, por sua vez, estabelece uma relação entre o

mundo externo e o interno. Eles favorecem a capacidade de imaginação na difícil

tarefa da observação de seus sentimentos.

Ainda se tratando dos conteúdos trazidos pelos contos de fadas, Bettelheim

(1980, p.14) coloca que esta é exatamente a mensagem que:

[...] os contos de fadas transmitem à criança de forma múltipla: que uma luta contra dificuldades graves na vida é inevitável é parte intrínseca da existência humana – mas que se a pessoa não se intimida, mas se defronta de modo firme com as opressões inesperadas e muitas vezes injustas, ela dominará todos os obstáculos e, ao fim, emergirá vitoriosa. (...) O conto de fadas confronta a criança honestamente com os predicamentos humanos básicos.

De acordo com Soares (2003), a arte literária nos faz ver o mundo com um

olhar transformador, pois proporciona ao ser humano e inclusive às crianças a

capacidade de ver e sentir a realidade com um olhar mais generoso, de maneira

mais sensível, inovadora, que ao mesmo tempo permite uma interatividade com a

sua existência concreta e objetiva.

Assim, impõem que os conflitos bem como sua superação, fazem parte da

vida do ser humano e os contos de fadas trabalham diretamente com isso, através

de uma simbologia poética cheia de sentimentos, que amplia a capacidade de

imaginação, da busca da maturidade e expressão de sentimentos.

As histórias infantis são contos bem antigos e ainda hoje podem ser consideradas verdadeiras obras de arte, lembrando sempre que seus enredos falam de sentimentos comuns a todos nós, como: ódio, inveja, ciúme, ambição, rejeição e frustração, que só podem ser compreendidos e vivenciados pela criança através das emoções e da fantasia (RESSUREIÇÃO, 2010, p. 20).

De acordo com Zilberman (1989), os contos de fadas funcionam como

instrumentos para a descoberta desses sentimentos dentro da criança (ou até

mesmo de adultos), pois os mesmos são capazes de nos envolver em seu enredo,

de nos instigar a mente e nos comover com a sorte de seus personagens. Causam

4 Trecho retirado da revista literatura: As fábulas e os Contos de Fadas por Antero Leivas. Disponível no

site http://conhecimentopratico.uol.com.br/literatura/figuras-linguagem/34/as-fabulas-e-os-contos-de-fadas-as-historias-206972-1.asp. Acessado dia 09/02/2011.

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impactos em nosso psiquismo, porque tratam das experiências cotidianas,

permitindo que nos identifiquemos com as dificuldades ou alegrias de seus heróis,

cujos feitos narrados expressam, em suma, a condição humana frente às provações

da vida.

Assim, Cesar (2010) relata que os contos de fadas são considerados por

inúmeros pesquisadores como um ótimo instrumento para o desenvolvimento

integral da criança, proporcionando a possibilidade do desenvolvimento de uma

autoestima positiva.

Eles começam de maneira simples e partem de um problema ligado à

realidade como a carência afetiva de Cinderela, a pobreza de João e Maria ou o

conflito entre filha e madrasta em Branca de Neve. Na busca de soluções para esses

conflitos, surgem as figuras “mágicas”: fadas, anões, bruxas malvadas. E a narrativa

termina com a volta à realidade, em que os heróis se casam ou retornam ao lar.

Só partindo para o mundo é que o herói dos contos de fada (a criança) pode se encontrar; e fazendo, encontrará também o outro com quem será capaz de viver feliz para sempre; isto é, sem nunca mais ter de experimentar a ansiedade de separação. O conto de fadas é orientado para o futuro e guia a criança – em termos que ela pode entender tanto na sua mente inconsciente quanto consciente – a ao abandonar seus desejos de dependência infantil e conseguir uma existência mais satisfatoriamente independente. (BETTELHEIM, 1980, p.19).

A fantasia facilita a compreensão das crianças, pois de acordo com

Ressurreição (2005) se aproxima mais da maneira como vêem o mundo, já que

ainda são incapazes de compreender respostas realistas. Assim não podemos

esquecer que toda e qualquer criança dá vida a tudo, ou seja, para elas, o sol é vivo,

a lua é viva, assim como todos os outros elementos do mundo, da natureza e da

vida.

Gutfreind (2004) fala ainda da importância do final feliz que o conto de fadas

possui. Segundo sua experiência clínica, crianças que estão em contato com os

contos de fadas possuem maior habilidade para acrescentarem finais felizes ou

melhores para os seus sonhos. Isso acontece através da evocação dos processos

de reparação que o final feliz do conto oferece para a criança. Por isso, Bettelheim

(1980) cita Lewis Carrol quando este chama os contos de fadas de “presente de

amor”, pois eles não fazem solicitações, mas dão esperança para o futuro.

Assim, Soares (2002, p. 7) relata que é possível “reconhecer nos Contos de

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Fadas um tipo de literatura capaz de levar a criança a uma dimensão que vai bem

além do mero entretenimento, uma vez que eles permitem a construção de um

imaginário singular, fundamental para a constituição da subjetividade, visto que os

contos levam a criança a se encontrar com seu ser psicológico e emocional e, por

meio da imaginação, a trabalhar questões relacionadas ao inconsciente, que vêm à

tona, a partir das situações representadas e da simbologia dos personagens que os

constituem”.

No entanto, apesar da importância dos contos de fadas e dos outros gêneros

literários, nota-se que a literatura não está tão presente nas salas de aula quanto

deveria. A ideia de leitura/contos de fadas e funções psicológicas é recente, mas

precisam ser conhecidas pelos educadores.

Acreditamos que a escola necessita propiciar oportunidades para a criança se

entender e entender este mundo complexo em que vivemos, e a junção desses

métodos os contos/leituras e funções psicológicas podem se constituir em um ótimo

instrumento para esse fim. O conto também ajuda a criança a pensar, a verbalizar,

através da habilidade de contar, recontar e perguntar.

De acordo com Amarilha (2001, p. 56):

[...] quando ouvimos uma história e nos envolvemos com ela, há todo um processo de identificação com alguns personagens. Isso faz com que os contos enriqueçam a vida da criança e contribuam no seu desenvolvimento cognitivo e emocional. A história proporciona ao individuo viver além de sua vida imediata, vivenciar outras experiências. Por isso seduz, encanta e embriaga. Mesmo sem tarefa, sem nota, sem prova, a literatura educa e, portanto é importante pedagogicamente.

Trabalhar com os contos de fadas em um contexto da prática

psicopedagógica pode tornar mais fácil e criativo o processo de construção da

autoestima e do autoconceito em crianças quanto ao resgate das dificuldades de

aprendizagem.

Segundo Bettelheim (1980 apud OAKLANDER, 1989), os contos de fadas se

bem trabalhados em sala de aula, oferecem uma grande riqueza de material de

trabalho. Para a mesma autora, os contos de fadas desenvolvem a capacidade de

fantasia infantil e o desenvolvimento da personalidade. Enquanto diverte as crianças,

os contos esclarecem sobre seus sentimentos e favorecem o desenvolvimento da

sua personalidade. Por isso, um conto trabalha o aspecto afetivo, psicológico e

cognitivo.

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Se tratando em contos de fadas, muitos são os significados atribuídos visto de uma maneira psicopedagógica onde os contos emergem das profundezas da humanidade e envolvem todas as lutas, conflitos, tristezas e alegrias que as crianças e adultos encontram através dos tempos (AOKLANDER, 1989, p. 112).

Para Bettlheim (apud OAKLANDER, 1989 p.7) as histórias modernas escritas

para crianças geralmente evitam problemas existenciais, sendo que as histórias não

mencionam problemas sobre os limites da nossa existência, e tampouco o desejo de

uma vida eterna. Os contos de fadas, ao contrário das histórias modernas,

confrontam honestamente a criança com suas realidades humanas.

Ainda Bettelheim (1980, p.16) destaca que:

[...] para dominar os problemas psicológicos do crescimento – superar decepções narcisistas, dilemas edípicos, rivalidades fraternas, ser capaz de abandonar dependências infantis; obter um sentimento de individualidade e de autovalorização, e um sentido de obrigação moral – a criança necessita entender o que está se passando dentro de seu inconsciente. Ela pode atingir essa compreensão, e com isto a habilidade de lidar com as coisas, não através da compreensão racional da natureza e conteúdo de seu inconsciente, mas familiarizando com ele através de devaneios prolongados – ruminando, reorganizando e fantasiando sobre elementos adequados da estória em resposta a pressões inconscientes, o que capacita a lidar com este conteúdo. É aqui que os contos de fadas têm um valor inigualável, conquanto ofereçam novas dimensões à imaginação da criança que ela não poderia descobrir verdadeiramente por si só. Ainda mais importante: a forma e estrutura dos contos de fadas sugerem imagens à criança com as quais elas podem estruturar seus devaneios e com eles dar melhor direção à sua vida.

Através dos contos de fadas, podemos levar as crianças a compreender que

na vida real, devemos estar preparados (as) para enfrentar as coisas difíceis com

coragem e otimismo para a conquista da felicidade.

Ao propor um trabalho com o gênero conto em sala de aula, apoiamos nas

concepções de alguns estudiosos que afirmam que o trabalho com a Literatura

Infantil pode certamente ajudar na valorização da criatividade, da independência e

da emoção infantil, o chamado pensamento crítico. Nesse sentido, Silveira (1997,

p.149) afirma que:

[…] faz necessário que o professor introduza na sua prática pedagógica a literatura de cunho formativo, que contribui para o crescimento e a identificação pessoal da criança, propiciando ao aluno a percepção de diferentes resoluções de problemas, despertando a criatividade, a autonomia e a criticidade, que são elementos necessários na formação da criança em nossa sociedade atual.

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Ao desenvolver uma proposta voltada para a utilização da literatura infantil na

escola, adotamos a concepção de que ler não é decifrar palavras. É necessário

construir o hábito de ouvir histórias e sentir prazer nas situações que envolvem a

leitura, refletindo sobre aspectos importantes existente no texto, interligando com a

realidade atual do aluno.

Sabe-se que as crianças são muito curiosas e se envolvem com entusiasmo

em situações que as desafiam a explorar os mais diferentes tipos de material de

leitura; a manusear livros, jornais e revistas; a ouvir a leitura de contos, poemas,

crônicas, reportagens; a brincar de ler e de escrever ou mesmo a criar e participar de

jogos e brincadeiras nas quais a leitura e à escrita são objetos centrais. Todas essas

são maneiras de aproximar as crianças da cultura letrada. Entretanto, além desse

contato com o material escrito, as crianças precisam ter oportunidades de observar e

reelaborar suas representações sobre o “para que” e “como” as pessoas leem e

escrevem em suas atividades diárias.

Para isso, é importante que a ação pedagógica promova a participação das crianças em práticas autênticas de leitura e de escrita, no cotidiano da sala de aula, nas quais elas possam sempre interagir com esse objeto do conhecimento. Mas o que ler e escrever para e com as crianças? A leitura de livros de literatura em voz alta pelas professoras pode ser um desses momentos em que se pratica a leitura com a participação dos alunos. A cada livro lido pela professora, as crianças vão incorporando novas referências sobre como se configuram os livros de literatura (localização do título, do nome do autor, da editora etc.). A leitura em voz alta desperta o desejo e a curiosidade das crianças. Quando elas gostam da história que foi lida em sala de aula, acabam buscando os livros em momentos livres de leitura. Portanto, a leitura em voz alta para as crianças pode despertar o desejo de ser leitor. Vale ressaltar a importância de se lerem outros materiais de leitura e buscar apresentar às crianças variados gêneros textuais (MONTEIRO; BAPTISTA, 2009, p.40).

Diante disso, o Referencial Curricular Nacional para Educação Fundamental

(RCNEI) Brasil (1998, p.144) expõe que “a leitura é um processo em que o leitor

realiza um trabalho ativo de construção do significado do texto, apoiando em

diferentes estratégias, como seu conhecimento sobre o assunto, sobre o autor e de

tudo o que sabe sobre a linguagem escrita e o gênero em questão". Além disso, este

Referencial sugere também que:

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[...] os professores deverão organizar a sua prática de forma a promover em seus alunos: o interesse pela leitura de histórias; a familiaridade com a escrita por meio da participação em situações de contato cotidiano com livros, revistas, histórias em quadrinhos; escutar textos lidos, apreciando a leitura feita pelo professor; escolher os livros para ler e apreciar. Isto fará possível trabalhando conteúdos que privilegiem a participação dos alunos em situações de leitura de diferentes gêneros feita pelos adultos propiciando momentos de conto de histórias conhecidas com aproximação às características da história no que se refere à descrição de personagens, cenários e objetos, com ou sem a ajuda do professor (BRASIL, 1998, v.3, p.117-159).

Todo educador deve ser curioso, instigador, revolucionário em sua prática

educativa, para alcançar seu objetivo. Portanto, deve sempre procurar desenvolver

suas atividades de forma interdisciplinar, buscando em outras disciplinas subsídios

para desenvolver seus conteúdos.

Segundo a LDBEN 9394/96, na sua Seção III, Artigo 32, incisos I e III, são objetivos do ensino fundamental desenvolver: “a capacidade de aprender, tendo como meio básico o pleno domínio da leitura, da escrita e do cálculo [...]” bem como alargar a “capacidade de aprendizagem, tendo em vista a aquisição de conhecimentos e habilidades e a formação de atitudes e valores” (BRASIL, 1996).

Trabalhar com contos de fadas nas escolas é uma atividade prazerosa para

todos os envolvidos no processo educativo, pois é um tema de grande aceitação

entre as crianças, que desperta interesse, envolvimento e participação dos mesmos.

Consequentemente a criança aprende num contexto e em um ambiente próprio, com

organização do espaço e do tempo rico em possibilidades de atividades e

experiências, interações entre pares, adultos, profissionais, familiares e comunidade.

De acordo com Pereira (2005, p. 2 apud HADDAD, 2004, p. 14):

A criança aprende no contexto da brincadeira do trabalho, pelo envolvimento intenso nas atividades ou planos que projeta a relação que estabelece com adultos e outras crianças de diferentes idades, no contato com uma vasta gama de materiais e na comunicação espontânea que surge da necessidade de falar sobre suas ideias e ações.

O professor precisa estar consciente dessas questões e trabalhar para que a

relação literatura e a escola aconteça de forma harmônica. Um dos passos que

precisa ser bem construído refere à escolha dos textos e a adequação dos mesmos

ao leitor.

O maravilhoso dos contos de fadas faz com que aos poucos a magia, o

fantástico, o imaginário deixe de ser visto como pura fantasia para fazer parte da

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vida diária de cada um, inclusive dos adultos que já se permite em muitos momentos

se transportar para este mundo mágico, onde a vida se torna mais leve e bem

menos operativa.

Para Radino (2001) Ao mesmo tempo em que divertem, os contos de fadas

ensinam. Não um saber institucionalizado, mas uma sabedoria de vida: eles ajudam

as crianças e os adultos a perceberem o mundo e prestam-se como suportes

metafóricos para uma construção simbólica desse mundo. Dessa forma, os contos

de fadas podem ser considerados um rico instrumento pedagógico que, além de

prazeroso, auxilia no processo de simbolização. Mas talvez o mais importante de

todos os méritos de um livro de contos é a possibilidade que ele fornece aos adultos

de interagirem com as crianças.

O método usado é o recepcional, o qual estabelece que o professor sonde as

preferências e gostos dos alunos previamente à indicação de uma leitura ou de um

conto, a fim de se efetuar a determinação do horizonte de expectativas da sala.

Essa comunicação objetiva evidenciar a importância da leitura literária na escola e

enfatizar como o Método Recepcional, proposto por Bordini e Aguiar (1988 apud

SANCHES, 2008), o qual de acordo com o autor (1988) pode contribuir para a

ampliação do horizonte de expectativas do leitor. No entanto, para isso, faz

necessário adentrar, mesmo que rapidamente, nas teorias de Hans Robert Jauss

(1994) sobre a Estética da Recepção.

Diante da literatura dos contos constitui um componente curricular

fundamental para a formação dos leitores. Neste sentido propõem, a seguir, uma

metodologia centrada nos leitores, fazendo uso do método recepcional.

3 METODOLOGIA E IMPLEMENTAÇÃO DO PROJETO NA ESCOLA

Esta pesquisa teve por objetivo desenvolver o hábito de leitura através do

gênero Contos de Fadas, visando capacitar o educando a se posicionar diante do

texto. Partindo dessa indagação, houve uma reflexão sobre os laços existentes e

uma pesquisa literária que propiciou ainda a oportunidade de transgressão de

valores e de comportamentos padronizados pelos condicionamentos sociais e

reflexões éticas entre o conto “João e Maria” hoje e sua representação.

O trabalho foi direcionado aos alunos do 5ª série/6º ano do ensino

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fundamental do Colégio Estadual Maria Dalila Pinto-EFM, da cidade de Santo

Antônio da Platina/Paraná. Durante a implementação do projeto houve a

interdisciplinaridade com a disciplina de Arte, o uso do laboratório de informática,

biblioteca e TV multimídia. O método usado foi o recepcional, o qual estabelece que

o professor sonde as preferências e gostos dos alunos previamente à indicação de

uma leitura ou de um conto, a fim de se efetuar a determinação do horizonte de

expectativas da sala.

O início do trabalho ocorreu através da apresentação do tema proposto para

os alunos, especificando o objetivo principal e ações que iriam ocorrer durante o

desenvolvimento das atividades ao longo do semestre. Buscou-se ainda, despertar a

curiosidade dos mesmos sobre o tema e a sua participação efetiva como

colaboradores nas ações propostas visando alcançar os objetivos.

A implementação do projeto aconteceu com a distribuição da cópia do conto

“João e Maria” em formato de livros disponíveis pela biblioteca da escola e algumas

cópias cedidas (emprestadas) pelas professoras da escola. Para esse momento foi

abordado os elementos estruturais da narrativa, bem como uma breve

contextualização da obra e biografia do autor, em apresentações na TV Multimídia.

Em seguida deu inicio com explicações do que seria os contos de fadas, se

eles já conheciam a história? Do que ela trata? Como ela começa? Como termina? E

quais os personagens? Após a apreensão global da obra e sua contextualização

teórica, histórica, estilística, crítica, foi sugerido uma segunda leitura (oral e coletiva)

que buscou aprofundar a temática da escolha.

Dando continuidade ao trabalho, o professor apresentou aos alunos a

estrutura básica dos contos de fadas: Início - nele aparece o herói (ou heroína) e

sua dificuldade ou restrição. Problemas vinculados à realidade, como estados de

carência, penúria, conflitos etc., que desequilibram a tranqüilidade inicial, como por

exemplo, uma proibição é imposta ao herói; Ruptura - é quando o herói se desliga

de sua vida concreta, sai da proteção e mergulha no completo desconhecido;

Confronto e superação de obstáculos e perigos - busca de soluções no plano da

fantasia com a introdução de elementos imaginários, como por exemplo, quando são

dados poderes mágicos ao herói ou são introduzidas fadas; Restauração - início do

processo de descobrir o novo, possibilidades, potencialidades e polaridades opostas;

Desfecho - volta à realidade. União dos opostos, germinação, florescimento,

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colheita e transcendência, como por exemplo, as crianças que voltam para casa e

são bem recebidas pelo pai e a madrasta vai embora.

Após as crianças conhecerem as estruturas básicas de um conto de fadas, o

professor irá propor que elas criem e/ou recriem um conto de fadas, que

posteriormente será utilizado para a construção e ilustração de uma história em

quadrinhos construídas em grupos. Nesse momento o professor além de mediador

na construção da história, também assumirá o papel de escriba, sempre salientando

a importância da leitura e da escrita como prática social e fazendo análise crítica do

texto através de um paralelo com o conto João e Maria.

Na disciplina de Arte será feito pesquisas sobre as obras que retratam lugares

ou roupas usadas nos contos de fadas, como, por exemplo, as pinturas da Idade

Média, e sobre músicas e danças que eram praticadas nos verdadeiros castelos.

Com a participação dos alunos será construído maquetes dos castelos e

representações de príncipes, princesas e bruxas.

Em processo de desconstrução dos padrões, os alunos assistirão ao filme

Procurando Nemo para a ruptura do horizonte de expectativa. O filme apresenta

como temática o amor que um peixe (pai) tem pelo seu filho Nemo, quando num

deslize foi capturado pelos humanos e logo em seguida o pai enfrenta uma busca

constante pelo seu filho, processo demorado, mas com um final feliz. A produção

põe em cheque o desamor e neutraliza critérios como seleção de valor, de amor

paternal.

No questionamento do horizonte de expectativa foi lido “Rodas pra que te

quero”. Em seguida, os alunos fizeram uma análise comparativa do tema com a sua

realidade do aluno e mostraram com clareza a força que uma palavra ou expressão

pode ganhar socialmente, designando uma pessoa comum que de repente se tornou

uma cadeirante ou o próprio preconceito, quando a expressão é usada para as

pessoas com algum tipo de necessidade especial.

Após esta relação texto/contexto, a obra foi retomada numa nova perspectiva,

onde os alunos se colocaram no lugar de Nemo e Tchela e procuraram vivenciar o

que passou com os personagens principais, fazendo uma reflexão oral em grupo e

expondo para sala.

No momento seguinte fizeram a leitura do livro A menina que era uma vez.

Sendo assim, novamente os alunos viajaram pelo universo dos contos de fadas.

Entretanto, vale ressaltar que o autor tem uma versão nova e um conto bem

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humorado. Misturando brincadeiras com uma pitada de ironia, ele focaliza clichês

presentes nas histórias, colocando em dúvida, requerendo do público uma nova

postura, ao mesmo tempo aventureira e questionadora.

Em seguida, as crianças confeccionaram histórias em quadrinhos. Ao final da

atividade, as crianças se dividiram em grupos para apresentar oralmente as histórias

que haviam escrito.

O término das ações da pesquisa no final do semestre ocorreu com a

realização de uma aula prática em que os alunos confeccionaram uma maquete que

reproduzia cenas importantes do conto João e Maria. O trabalho foi minucioso e

precisou de bastante atenção dos alunos. A maquete foi apresentada pelos alunos

da 5ª série/6º ano para os demais alunos da escola. A apresentação foi um sucesso.

Após todas as atividades supracitadas, pode se dizer que os alunos estão

preparados para a etapa da ampliação do horizonte de expectativas, que resulta da

reflexão sobre as relações entre leitura e vida, pois tendo os educandos percebido

que as leituras feitas dizem respeito não só a uma tarefa escolar, mas ao modo

como veem seu mundo, tomará consciência das alterações e aquisições obtidas

através da experiência com a literatura. E, assim, abrem-se mais um ciclo para

ampliação do horizonte de expectativas dos alunos.

Desta forma, o aluno do Ensino Fundamental construirá seu conceito de

pluralidade ao percorrer o universo cultural da diversidade representada por cada

personagem: João, Maria, o pai, a madrasta e a bruxa, num exercício simultâneo de

autoconhecimento e de alteridade.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A pesquisa teve início com os conceitos e importância dos Contos de fadas,

com o enfoque na análise do conto de fada tradicional, sendo utilizado o livro João e

Maria (Hänsel und Gretel no original), um conto de fadas de tradição oral e que foi

coletado pelos irmãos Grimm.

Acredita-se que ao incentivar um trabalho com contos de fadas nas séries

iniciais e no ensino fundamental torna possível, dentre outras coisas, ajudar no

desenvolvimento integral da criança pelo fato de poder proporcionar a ela a ajuda

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necessária para lidar com a construção de sua autoestima e de seu auto conceito,

consequentemente, com os desfechos de suas atitudes e as atitudes do outro nas

interações e inter-relações sociais das quais inerentemente, como seres humanos,

fazem parte.

Dessa maneira, as possibilidades oferecidas aos alunos relacionadas ao

desenvolvimento de novas aprendizagens sobre a diversidade textual no mundo das

comunicações e as diversas formas de linguagens que o conto de fadas

proporciona, fizeram com que os alunos aproveitassem ao máximo e se

emprenhassem para realizar cada etapa desse projeto.

Assim, obtivemos resultados além do esperado. Até mesmo um jornal local

mencionou o projeto em questão, avaliou o mesmo com muita dedicação e incentivo.

Depois do projeto em questão, as aulas e a ida à biblioteca tornaram-se mais

construtivas. Os alunos apresentaram uma melhora significativa em relação à leitura

e até mesmo a escrita. Pretende-se, com o passar de cada ano, ir aprimorando o

projeto em questão.

Como se pode observar pela discussão aqui proposta, no conjunto da

Literatura Infantil, com raras exceções, nenhum gênero é considerado mais

enriquecedor e satisfatório para a criança do que os Contos de Fadas. Eles tratam

de sentimentos universais, anseios, temores, ressentimentos; a partir deles o ser

humano e, particularmente a criança, pode lidar com problemas interiores e aprender

a buscar e encontrar soluções para os conflitos por intermédio da linguagem literária.

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