A bíblia das crianças - O irmão invejoso (estória e atividades)
UNIVERSIDADE ESTADUAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · em profundidade e o desenho-estória com tema....
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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO RIO GRANDE DO NORTE
CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ODONTOLOGIA
ÁREA DE CONCENTRAÇÃO EM ODONTOLOGIA
PREVENTIVA E SOCIAL
O TRATAMENTO ODONTOLÓGICO SOB O OLHAR DA CRIANÇA:
UM ESTUDO DE REPRESENTAÇÃO SOCIAL
NATAL – RN
2005
2
RUBIANE DIÓGENES ALVES
O TRATAMENTO ODONTOLÓGICO SOB O OLHAR DA CRIANÇA:
UM ESTUDO DE REPRESENTAÇÕES SOCIAIS
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Odontologia da UFRN como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em Odontologia, área de concentração em Odontologia Preventiva e Social.
Orientadora: Profa. Dra. Maria do Socorro Costa Feitosa Alves
Co-orientadora: Profa. Dra. Maria da Penha de Lima Coutinho
NATAL - RN
2005
3
DEDICATÓRIA
Aos meus pais, Rubens e Enilza, pelo
amor incondicional e por investirem e
incentivarem sempre os meus estudos.
4
AGRADECIMENTOS
A Deus pelas oportunidades que concedeu em minha vida.
À minha irmã e amiga Ruthinéia, que foi a mola percussora de apoio para a realização
deste Mestrado e que tanto me ajudou nos momentos mais conturbados.
Ao meu namorado Alexandre, por todo o amor, companheirismo e compreensão nas
minhas ausências e atrasos.
À Dra. Socorro pela sensibilidade, paciência e incontestável valor humano.
À Dra. Penha, pelo desprendimento e carinho, pois, mesmo sem me conhecer bem,
acreditou em mim, compartilhou seus valiosos conhecimentos e se dedicou por completo
para a concretização deste estudo.
A todos os Professores do Mestrado, pela abrangência que proporcionaram aos meus
conhecimentos.
À Dra. Lêda Quinderé e Dra. Kátia Gandur, pela força em instantes de dificuldade e
compreensão diante das minhas faltas.
Aos Colegas de turma que me acolheram e me ajudaram bastante no decorrer desses
dois anos de Curso.
À Brisa, pela participação direta e ativa na execução desta pesquisa.
A Sandra e Aline pela disponibilidade e presteza sempre presentes.
Aos Funcionários da Biblioteca, pela atenção e colaboração.
A todos os que fazem a Escola Estadual “Professor José Fernandes Machado”, Diretora,
Coordenadora, Professores e Alunos, pela receptividade e confiança a mim depositadas.
Expresso a minha eterna gratidão.
5
RESUMO
As ações de saúde bucal direcionadas às crianças encontram-se permeadas pela ausência de uma política que incentive essa prática, bem como considere o ser humano em seus aspectos biopsicossociais. Como conseqüência, observa-se que a experiência odontológica infantil vem normalmente sendo pré-julgada como desagradável e ameaçadora. Dessa forma, este estudo objetiva investigar o tratamento odontológico a partir da visão das crianças utilizando como suporte teórico/metodológico a Teoria das Representações Sociais. Esta Teoria foi eleita por possibilitar a construção de um conhecimento prático envolvendo as inter-relações entre os atores sociais, o fenômeno e o mundo que os rodeia. O locus de investigação foi a Escola Estadual “Professor José Fernandes Machado”, localizada no bairro de Ponta Negra na cidade de Natal-RN. Os participantes foram 30 crianças inseridas no contexto escolar do Ensino Fundamental da Rede Pública, na faixa etária de 6 a 10 anos de idade, que tinham sido submetidas a tratamento odontológico há menos de um ano ou que estivessem em tratamento no momento da coleta dos dados. Como instrumentos de coleta, foram utilizados a entrevista em profundidade e o desenho-estória com tema. Para análise do material coletado pelas entrevistas foi utilizada a técnica de análise de conteúdo temática preconizada por Bardin (2002). Já para o desenho-estória com tema além da análise de conteúdo, os dados foram também analisados por meio do modelo proposto por Coutinho (2001). Os dois instrumentos demonstraram similitude de conteúdo assim como complementaridade e apresentaram categorias associadas à concepção do modelo de tratamento odontológico infantil, à descrição do ambiente odontológico, à percepção da imagem do dentista e a manifestações psicológicas e comportamentais. Os resultados possibilitaram entender determinadas reações representadas pelas crianças em relação ao tratamento odontológico, em que este foi objetivado pelo caráter técnico-curativo, onde se sobressaem o motivo da procura pelo atendimento, a forma como ele se realiza e a relação do dentista com a criança. Assim, essa pesquisa pretende não apenas conscientizar acerca da visão da criança face ao tratamento odontológico, mas fornecer subsídio para repensar a prática odontológica direcionada a crianças, podendo assim estimular nos profissionais que as atendem uma consciência mais concreta acerca das carências, anseios e sentimentos desses pequenos pacientes.
Palavras-chaves: saúde bucal; tratamento odontológico; criança; representações sociais.
6
ABSTRACT
Oral health measures directed to children are characterized by the lack of policies that consider the individual and his biopsychosocial aspects. As a consequence, it can be observed that a child´s dental experience has normally been prejudged as unpleasant and threatening. Thus, this study is aimed at investigating dental treatment from the child´s viewpoint using the theory of social representations for theoretical/methodological support. This theory was selected for being able to build practical knowledge surrounding the interrelations between social actors, the phenomenon and the world around them. The investigation was performed at the Professor José Fernandes Machado State School, located in the Ponta Negra district of Natal-RN-Brazil. The participants consisted of 30 children from the public elementary school system in the 6-10 year age group, who had undergone dental treatment within the previous year or were being treated at the time of data collection. An in-depth interview and story drawing within a theme were used as collection instruments. Thematic Content Analysis (Bardin, 2002) was used to analyze the material collected in the interviews, whereas for story drawing within a theme, in addition to content analysis, the data were also analyzed by the Coutinho model (2001). The two instruments demonstrated similarity of content as well as complementarity and contained categories associated to the model for dental treatment in children, the description of the dental office environment., the perception of the image of the dentist, as well as psychological and behavioral manifestations. The results enable us to understand determinate reactions of the children in relation to dental treatment, which has been characterized by its technical-curative approach, where the motive for seeking treatment, the manner in which it is performed and the relation of the dentist with the child are all in evidence. Thus, this study intends not only to reveal the viewpoint of children faced with dental treatment, but also to contribute to a dental practice directed towards them, in this way instilling in the professionals who attend them a more concrete awareness of the needs, anxieties and feelings of these young patients.
Key Words: oral health; dental treatment; children; social representations
7
LISTA DE FIGURAS
Figura 1. Distribuição percentual das crianças segundo o sexo..........................................
Figura 2. Distribuição percentual da relação idade-sexo dos sujeitos..................................
Figura 3. Distribuição percentual da relação escolaridade-sexo dos sujeitos.......................
Figura 4. Distribuição percentual da relação escolaridade-idade dos sujeitos........................
8
Desenho 1
Desenho 2
Desenho 3
Desenho 4
Desenho 5
Desenho 6
Desenho 7
Desenho 8
Desenho 9
Desenho 10
Desenho 11
Desenho 12
Desenho 13
Desenho 14
Desenho 15
Desenho 16
Desenho 17
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LISTA DE QUADROS
Quadro 1. Distribuição das categorias e subcategorias das representações sociais do tratamento odontológico em crianças elaboradas por meio das entrevistas...........................
Quadro 2. Distribuição das freqüências e percentuais das subcategorias de concepção do modelo de tratamento odontológico infantil..........................................................................
Quadro 3. Distribuição das freqüências e percentuais das subcategorias da percepção da imagem do dentista...................................................................................................................
Quadro 4. Distribuição das freqüências e percentuais das subcategorias das manifestações infantis frente ao tratamento odontológico.............................................................................
Quadro 5. Distribuição das categorias e subcategorias das Representações sociais do tratamento odontológico em crianças apreendidas através do desenho-estória com tema.......
10
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO............................................................................................................0
1 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA.................................................................................
1.1 TRATAMENTO ODONTOLÓGICO À CRIANÇA..................................................
1.1.1. Manifestações infantis frente ao tratamento odontológico.............................
1.1.2 Fatores influenciadores das reações infantis frente ao tratamento
odontológico.......................................................................................................
1.2 REPRESENTAÇÃO SOCIAL X TRATAMENTO ODONTOLÓGICO
INFANTIL..................................................................................................14
2 OBJETIVOS..............................................................................................................
3 ESTRATÉGIAS METODOLÓGICAS.........................................................................
3.1 NATUREZA DA PESQUISA............................................................................13
3.2 O CENÁRIO.....................................................................................................13
3.3 OS ATORES SOCIAIS......................................................................................13
3.4 ASPECTOS ÉTICOS .......................................................................................13
3.5 INSTRUMENTOS..............................................................................................14
3.5.1 Entrevista em profundidade........................................................................13
3.5.2 Desenho-estória com tema.........................................................................13
3.6 ESTUDO PILOTO.............................................................................................13
3.7 PROCEDIMENTOS..........................................................................................13
3.8 TRATAMENTO E ANÁLISE DOS DADOS.....................................................14
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO...........................................................................
11
4.1 A ELABORAÇÃO DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DAS CRIANÇAS
SOBRE O TRATAMENTO ODONTOLÓGICO...................................................
4.2 REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DAS CRIANÇAS APREENDIDAS POR MEIO
DO DESENHO-ESTÓRIA COM TEMA.............................................................
CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................................................17
REFERÊNCIAS..........................................................................................................17
ANEXOS
Anexo A. Parecer do Comitê de Ética em Pesquisa da UFRN.
Anexo B. Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.
Anexo C. Termo de Consentimento Livre e Esclarecido para menores de idade.
Anexo D. Ficha da entrevista em profundidade.
12
INTRODUÇÃO
Apesar dos avanços técnico-científicos na área da saúde, observa-se que as ações de
saúde bucal se apresentam ainda sob uma visão biologicista e mecanicista, com ênfase nos
procedimentos curativos, em detrimento de uma prática de promoção à saúde, que venha a
contribuir para melhoria da qualidade de vida do ser humano.
Essa realidade tem sido observada, nas ações direcionadas às crianças, pela ausência
de uma política que valorize a visão macro, que considere o indivíduo em seus aspectos
biopsicossociais. Como conseqüência, foi observado que a experiência odontológica vem
normalmente sendo pré-julgada como desagradável e ameaçadora, com estudos demonstrando
que a relação dentista-criança na clínica se encontra permeada por sensações de medo,
ansiedade e dor 57,91,93.
Nos últimos anos, vem sendo sinalizada a necessidade de pesquisas que contemplem a
compreensão da saúde e da doença a partir de valores, sentimentos e crenças que os sujeitos
têm de si mesmos e do que os afligem. Conforme ressalta Abric (2000)1, a identificação da
visão de mundo que os indivíduos ou grupos têm e utilizam para agir e para tomar posição é
indispensável para compreender a dinâmica das interações sociais e clarificar os
determinantes das práticas sociais.
Nesse sentido, é importante para os cirurgiões-dentistas perceberem que a satisfação
do tratamento odontológico não é independente das experiências vividas pelo paciente,
devendo assim estudar as atitudes infantis a fim de configurar a abordagem de relacionamento
e o procedimento que deverão ser estabelecidos para a construção de estratégias de promoção
à saúde bucal e obtenção do êxito do tratamento.
Configura-se, então, a necessidade de realização de trabalhos que desenvolvam
modelos voltados para a promoção da saúde bucal, numa perspectiva psicossociológica. Neste
direcionamento, foi escolhida a Teoria das Representações Sociais por possibilitar a
construção de um conhecimento prático, envolvendo as inter-relações entre os atores sociais,
o fenômeno e o contexto que os rodeia.
Assim, parte-se do pressuposto de que as Representações Sociais, como construções
simbólicas de sujeitos concretos, marcadas por suas relações e experiências que se organizam
com um tipo de saber do senso comum e que orienta comunicações e condutas cotidianas56,
13
podem contribuir, enquanto Teoria, para se apreender a compreensão das formas que as
crianças utilizam para elaborar, transformar e interpretar a visão do tratamento odontológico
vinculada à sua realidade.
Na busca desse conhecimento, procurou-se apresentar os conteúdos na seguinte ordem:
Na fundamentação teórica encontra-se uma sistematização sobre a literatura científica
considerada relevante para subsidiar as discussões, abordando alguns aspectos que são
intrínsecos no contexto do tratamento odontológico à criança e que surgiram de forma
significativa nos resultados deste estudo, a saber: o modelo de atenção odontológica, as
manifestações infantis diante do atendimento e seus fatores influenciadores. Por fim,
apresenta-se a relação do tratamento odontológico infantil com a Teoria das Representações
Sociais.
Logo em seguida são apresentados os objetivos, o percurso metodológico seguido nesta
investigação, os resultados e discussões referentes aos dados levantados, encerrando com uma
sinopse geral e incentivo a realização de novos estudos na área.
14
1 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
O atendimento odontológico infantil é um campo bastante fecundo, repleto de nuances e
reconhecidamente complexo, que requer muita dedicação e paciência e que se encontra ainda
longe de ser esgotado pelas normas e modelos pré-estabelecidos e preconizados pela Ciência.
Por um longo tempo, o tratamento odontológico se satisfez em direcionar quase todos
os seus esforços e energias para o desenvolvimento de refinamentos técnicos e tecnológicos
das suas práticas operativas, em detrimento do estudo e da compreensão dos diversificados
eventos biológicos e biopsicossociais relacionados com o processo saúde-doença103.
A abordagem restauradora tradicional centrada no tratamento da doença influenciou a
prática odontológica em muitas partes do mundo. Desenvolveu-se uma maneira mecânica de
solucionar problemas que não promoveu um tratamento efetivo da doença. Essa Odontologia
restauradora apenas ganhava tempo, criando um novo problema: a manutenção e a re-
restauração do dente42.
Segundo Weyne (1997)103, a tentativa de melhorar os níveis de saúde bucal da
população treinando um maior número de dentistas “curativos”, resultou somente na execução
de um número maior de restaurações, próteses, cirurgias e exodontias. Esses procedimentos
promoveram um ciclo restaurador repetitivo, aumentando as necessidades de tratamento, uma
vez que essa forma de atenção permite que as reais causas das doenças permaneçam
intocáveis. Daí surgem os re-tratamentos cada vez mais complexos e caros, que são
emblemáticos na prática cirúrgico-restauradora, sendo também denominada de “ciclo fútil”.
O mesmo autor acima citado afirma que tal forma de atenção odontológica não se
mostra capaz de controlar as doenças bucais, proporcionando apenas mais frustrações para os
profissionais do que saúde para os pacientes e também não reduz a incontrolável demanda por
serviços cirúrgico-restauradores.
Nas últimas décadas, a Odontologia migrou da chamada “era da Odontologia
restauradora”, em que o diagnóstico e o tratamento da doença eram baseados, quase que
exclusivamente, no reparo da lesão já estabelecida, para uma Odontologia da Promoção de
Saúde. Isso ocorreu porque apenas a execução de procedimentos restauradores não vinha
apresentando uma diminuição efetiva das doenças bucais e conseqüentemente, uma melhoria
efetiva da saúde dos indivíduos65.
15
No que concerne ao tratamento odontológico infantil, essa prática não se estabeleceu
de forma diferente. De acordo com Linhares (1984/1985)62, o ensino da Odontopediatria nas
escolas brasileiras de Odontologia somente foi oficializado em 1931, quase meio século
depois de instituídos os cursos de Odontologia no Brasil. Esse atendimento, conforme afirma
Santi (2003)92, restringia-se ao tratamento de problemas dentários e orofaciais, ou seja,
limitava-se apenas às ações curativas direcionadas aos procedimentos restauradores ou
extrações precoces.
No atendimento às crianças e adolescentes, o critério para conceder “alta” era o
término das execuções de procedimentos restauradores, como se as restaurações tivessem a
capacidade de controlar as condições que modulam a atividade da doença103. Entretanto, ainda
em 1929, no Brasil, já se comentava a necessidade de uma propaganda sem limites no seio da
família, devendo-se iniciar desde a vida da criança no ventre materno, ressaltando-se que os
dentes que merecem maiores cuidados são os primeiros a aparecerem na cavidade bucal102.
A idade ideal da criança para o início do acompanhamento odontológico foi um
questionamento bastante debatido durante décadas dentro da Odontopediatria. No período
entre 1935 a 1945, estabelecia-se como norma que a criança deveria consultar o profissional
aproximadamente aos 12 anos de idade, pelo fato desse período corresponder à fase de
erupção quase total dos dentes permanentes. Depois, a faixa etária sugerida para esse início
passou a ser de 6 a 7 anos de idade39.
Por volta dos anos 50, foi estabelecido que a primeira visita da criança ao consultório
odontológico deveria ocorrer aos 3 anos de idade ou quando esta pudesse cooperar39. Essa
idade era considerada ideal, baseada no comportamento psicológico da criança, visto que,
nessa idade, ela já passa a relacionar causa e efeito e cooperar com o tratamento. Entretanto,
observa-se que alguns dos problemas bucais podem acontecer antes da criança ter idade para
cooperar95.
De acordo com Pinto (2003) 85, grande parte da população menor de 3 anos, que era
desassistida de atendimento odontológico, já apresentava necessidades curativas antes mesmo
do primeiro exame de rotina, concluindo assim que o atendimento odontológico deveria
iniciar antes da possibilidade do aparecimento da doença.
Mudanças de mentalidade ocorreram no decorrer dos tempos, abandonando-se os
aspectos puramente curativos. Contudo, foram necessárias décadas para modificar certos
mitos, como aquele de que “os dentes de leite não merecem cuidados porque são perdidos de
16
qualquer maneira”, tanto no meio científico quanto no popular. Tal mito decorreu de uma
norma geral adotada e imposta em guias de educação do cuidado dentário da década de 1960
e aplicado a todas as classes sociais92.
Apenas em meados de 1980, a ênfase na prevenção precoce com base no
esclarecimento e motivação dos pais a cuidar corretamente das crianças começa a ser
discutida e divulgada92. Essa tendência de atendimento odontológico precoce foi desenvolvida
em diferentes partes do mundo, assumindo importância os programas de atenção odontológica
destinados aos bebês, que reforça a necessidade de se trabalhar a saúde bucal nessa faixa
etária até então desassistida de acompanhamento odontológico102.
Assim, em maio de 1986, membros da “American Academy of Pediatric Dentistry”
oficializaram a recomendação de que a primeira visita da criança ao dentista deveria ocorrer
antes dos 12 meses de idade39.
A visita odontológica, ainda nos primeiros meses de vida, é justificada principalmente
pela possibilidade de prevenção de doenças, manutenção da saúde e familiarização com o
ambiente odontológico16.
No Brasil, Luiz Walter e equipe iniciaram de forma pioneira, na Universidade
Estadual de Londrina, em meados da década de 80, o atendimento odontológico a bebês. Foi a
partir dessa Universidade que surgiu a “Bebê Clínica”, com o objetivo de alcançar mudanças
conceituais na época através da conscientização da população para o atendimento
odontológico precoce e para a manutenção da saúde bucal, visando à sua aplicação nos
serviços públicos102.
A experiência da “Bebê Clínica” foi transferida para o município de Londrina em
1987, e a partir de 1997, a mesma foi incorporada pela Secretaria de Estado de Saúde do
Paraná ao programa “Protegendo a vida”85. Os resultados favoráveis confirmaram o
atendimento a bebês como um tópico importante da Odontologia, culminando no seu
reconhecimento como um direito de cidadania durante a 2a Conferência Nacional de Saúde
Bucal, realizada em Brasília no ano de 1993102.
A atenção precoce consiste, então, em uma conquista da Odontopediatria,
representando a incorporação de um novo entendimento na abordagem das doenças bucais,
fortemente centrada numa perspectiva de promoção de saúde. Apesar dessa filosofia de
atenção precoce ainda não estar difundida de forma massificada na população como um todo,
observa-se que atualmente vêm crescendo a sensibilização e a procura da assistência
17
odontológica para bebês com fins preventivos. Dessa forma, as crianças terão desde cedo
maior contato com a situação odontológica, familiarizando-se com o ambiente e com o
profissional, tendo oportunidade de adquirir hábitos mais saudáveis, ter uma melhor qualidade
de vida e repassar experiências pessoais e positivas de saúde bucal para as pessoas de seu
convívio52.
Na realidade, o que ainda encontramos com maior prevalência no Brasil é a
organização das ações em saúde bucal em torno do modelo curativista, geralmente voltada
para grupos restritos, oferecendo aos indivíduos excluídos socialmente acesso limitado aos
serviços odontológicos. De acordo com Iyda (1998)55, a forma de conhecimento decorrente
desse modelo exclui da Odontologia o que há nela de essencial, a sua humanidade e
historicidade.
A ênfase predominante da profissão odontológica aos domínios psicomotor e
cognitivo parece deixar de lado o reconhecimento do papel social da profissão71. Nesse
sentido, aflora a necessidade de se pensar o atendimento odontológico no contexto do
indivíduo, a partir do estudo das suas manifestações e de seus fatores influenciadores, o que
será feito a seguir.
1.1. MANIFESTAÇÕES INFANTIS FRENTE AO TRATAMENTO ODONTOLÓGICO
Na prática odontopediátrica, observa-se que entre as manifestações infantis frente ao
tratamento odontológico, o medo, a ansiedade e a birra, bem como suas formas de
expressão, ocupam papel de destaque no cotidiano das atividades odontológicas destinadas às
crianças.
Ao mesmo tempo que existe um grande avanço técnico-científico na Odontologia, com
o emprego de novos materiais, equipamentos e técnicas, persiste ainda um sentimento
desagradável do paciente com relação à vivência odontológica, que normalmente se inicia na
infância88. Assim, apesar de estar caracterizada por oferecer aos pacientes tratamento rápido e
indolor, a Odontologia ainda acarreta, nestes, sensações de ansiedade, medo, dor e
desconforto47, 87.
18
Na maioria das vezes, quando chega ao consultório odontológico, a criança é vista
dentro de uma ótica reducionista, em que suas emoções são geralmente subestimadas e
reprimidas pelos profissionais que as atendem.
De acordo com Aragone e Vicente (1998)6, o medo e a ansiedade estão presentes em
mais da metade dos pacientes e são responsáveis, em grande parte, pelo descaso com a saúde
bucal, uma vez que, como conseqüência dessas reações, o paciente evita a procura pelo
atendimento odontológico, descuidando-se assim da sua saúde.
Nessa perspectiva, constata-se que as experiências infantis frente ao ambiente
odontológico podem ser frustrantes e geradoras de conflitos. Por essa razão, considerar as
manifestações que emanam no momento do atendimento é primordial para o desenrolar de
uma prática mais tranqüila e efetiva.
Alguns estudos vêm mostrando que essas manifestações surgem de forma consistente
nos relatos das crianças e dos profissionais que lidam com estas.
Silva e colaboradores (1992)93, avaliaram a percepção de 280 crianças de 7 a 12 anos
de idade com relação ao tratamento odontológico, fazendo uso de um questionário de
perguntas abertas aplicado na escola pelos professores. Os resultados apontaram que as
crianças eram conscientes da necessidade de tratamento, mas, mesmo assim, quando
interrogadas acerca do que sentiam, sensações desagradáveis como dor (27,03%), medo
(19,86%) e ansiedade (11,39%) surgiram e quando interrogadas acerca do que gostariam de
fazer, a esquiva (50,87%) apareceu na maioria das respostas.
A habilidade dos profissionais em identificar as reações de medo, ansiedade, birra e
timidez de crianças, na faixa etária entre 3 e 5 anos de idade, durante o tratamento
odontológico, foi avaliada através de um questionário. Houve dificuldade entre os
pesquisados em definir e identificar as reações apresentadas pelas crianças, embora os
resultados tenham revelado que o medo (52,6%) foi a reação considerada mais freqüente,
seguido pela ansiedade (28,4%), birra (9,5%) e timidez (7,4%)41.
Um estudo realizado por meio de entrevista com 63 odontopediatras do estado de
Pernambuco avaliou as reações emocionais percebidas em seus pacientes frente ao tratamento
odontológico. Os resultados encontrados revelaram que 81% dos odontopediatras
identificaram o medo como a emoção mais freqüente no consultório odontológico. A
ansiedade foi identificada por 77,8% dos entrevistados e a birra por 63,5%26.
19
Segundo Brunner e colaboradores (1981) 17 a resposta negativa mais típica frente ao
atendimento odontológico é o medo. Algumas crianças choram diante de nova situação,
temem estranhos e apresentam algumas reações de medo a qualquer coisa que não lhes seja
familiar.
O medo é considerado um fator biológico de defesa e proteção relacionado com o
instinto de conservação, constituindo uma das principais forças motivadoras da conduta
humana9, 31, 48.
Nesse sentido, o medo não é patológico, apenas um fenômeno muito mais
neuropsíquico e baseado nas inclinações e instintos da espécie do que um acontecimento
puramente emocional. O ser humano, como os demais animais, teme o que o ameaça e o
desconhecido10.
Durante a infância, o medo faz parte do próprio desenvolvimento da criança, em geral
é transitório e não produz grandes perturbações na sua vida diária. Embora a capacidade de
vivenciá-lo seja uma função biológica inata, respostas de medo a certos objetos e situações
são, em grande parte, adquiridas através da aprendizagem94.
Dessa forma, o medo pode ser adquirido de forma objetiva ou subjetiva. O medo
objetivo é oriundo de experiências desagradáveis vividas diretamente pela criança; enquanto o
subjetivo é baseado em sensações e atitudes sugeridas à criança, sem que ela tenha
experiência pessoal prévia20,50,51.
O primeiro tipo de medo pode ainda ser subdividido em direto ou indireto. O medo
objetivo direto ocorre quando a experiência anterior desagradável foi através de ações
provocadas, por exemplo, durante o tratamento odontológico. O indireto é aquele de caráter
associativo, decorrente de experiências desagradáveis em ambientes semelhantes ao do
consultório odontológico, como, por exemplo, um atendimento médico que tenha
proporcionado à criança uma dor intensa20,50,51.
O medo subjetivo, por sua vez, pode ser transmitido à criança através da verbalização
e expressão no contato direto com outras pessoas, ou mesmo através dos meios de
comunicação, como a televisão. É considerado mais intenso e difícil de ser controlado por não
ter sido sentido diretamente, existindo somente na mente, o que facilita o universo imaginário
infantil20,50,51.
Segundo Klatchoian (1998)59, sentir medo faz parte de uma infância normal. A
criança, ao expressar seus medos, concretiza uma maneira de pedir ajuda, correspondendo à
20
expressão da necessidade de dependência, que ocorre em determinadas épocas de sua vida.
Mesmo assim, a criança pode apresentar evolução patológica do medo, caracterizada por
perturbações de conduta a ele ligadas, podendo evoluir desde manifestações de timidez e
vergonha até crises de ansiedade48.
Também associados ao medo patológico, podem ocorrer o ataque de pânico (medo
paralisante), o transtorno do pânico (ataques repetidos) e a fobia. Essa última se manifesta
como uma reação desproporcional à situação que a provocou, sendo inexplicável e não
permitindo o autocontrole 31.
De acordo com Pinto e Carvalho (2002)86, a criança fóbica se encontra
permanentemente em vigília, tentando se esquivar de todas as situações em que outros tentem
exercer controle sobre seus comportamentos verbais ou encobertos ou sobre o seu corpo.
Dessa forma, ela poderá: puxar ou derrubar o instrumental, se recusar a abrir a boca, tentar
levantar-se da cadeira e, até mesmo, chutar o profissional.
Porém, o medo do dentista só será considerado como uma fobia se preencher alguns
requisitos básicos: ser irracional e absurdo, o próprio paciente ter juízo crítico de que seu
medo é absurdo e, finalmente, ser acompanhado de sintomas do sistema nervoso autônomo,
tais como palpitações, sudorese, falta de ar, sensações de desmaio, vista escura e mãos frias10.
Diante dessa realidade, é preciso acompanhar corretamente o medo biológico da
criança, para que este não se torne patológico, uma vez que, diferentemente dos adultos, as
crianças, por não apresentarem consciência do que sentem, não conseguem reconhecê-lo e
entender sua natureza excessiva e irracional31.
Na verdade, as experiências onde o medo está presente ajudam a criança a desenvolver
habilidades de enfrentamento. No entanto, muitos medos infantis, inicialmente normais,
podem persistir por longos períodos e produzir diversos problemas à criança e a sua família.
Assim pode acontecer em relação ao medo do tratamento odontológico94.
Com relação à ansiedade, Gruspun (1965)48 a definiu como um estado emocional de
alerta ante o perigo (antecipação de sofrimento), mas desprovido de conteúdo intelectual.
A ansiedade que acompanha o tratamento odontológico tem sido considerada um
problema universal, uma vez que as crianças que demonstram altos níveis desse tipo de reação
tendem a apresentar comportamentos negativos e a serem mais negligentes com os cuidados
de saúde bucal90.
21
A ansiedade é entendida como uma resposta a situações nas quais a fonte de ameaça
ao indivíduo não está bem definida, é ambígua ou não está objetivamente presente68 e que se
encontra sempre associada a uma sensação de desamparo, uma vez que o ansioso se sente
bloqueado e incapaz de encontrar a solução para o seu problema9.
Quanto à manifestação da ansiedade, Corrêa, Fernandes e Trindade (2002)30 acreditam
que ela ocorra por um estado de inquietação, que pode aumentar progressivamente e, em
geral, é associada a uma sensação de perigo iminente, o qual parece ameaçar a segurança do
indivíduo, acompanhado por sentimentos de desassossego, tensão e medo.
Embora os termos medo e ansiedade possuam significados distintos, freqüentemente, é
difícil diferenciá-los, sendo por isso, muitas vezes, considerados simultaneamente58.
Nas crianças muito pequenas é bastante difícil distinguir o medo da ansiedade 48. Uma
distinção comumente feita é a de que o medo consiste numa resposta a uma ameaça ou perigo
definido e específico, enquanto a ansiedade corresponde a uma reação frente a algo
desconhecido ou indefinido41.
Contudo, a ansiedade e o medo são diferentes em suas manifestações, pois, enquanto o
medo está associado à descarga de adrenalina, a ansiedade não está. A reação de ansiedade
não se dirige diretamente aos objetos ou situações externas. Na realidade, a criança quase
sempre não sabe com clareza o que a inquieta, ou seja, pode sentir ressentimento pelo
profissional ou pela situação, mas não sabe informar exatamente a razão. Suas reações são
principalmente internas, embora a criança possa ser mais nervosa, zangar-se, morder os lábios
ou roer as unhas30.
Segundo Amorim (1992)4, a ansiedade pode ser observada claramente no consultório
odontológico. O paciente ansioso apresenta-se em constante posição de defesa durante a
consulta, como se a qualquer momento algo fosse ameaçá-lo.
O estudo realizado por Ramos-Jorge (2000)89 observou, através do teste VTP
(Venham Picture Test), o nível de ansiedade de 118 crianças entre 48 e 71 meses de idade,
sem experiência odontológica prévia, momentos antes de serem submetidas a procedimentos
de exame clínico e profilaxia. Os dados coletados mostraram que 17,79% estavam altamente
ansiosas, 26,27% apresentavam nível médio de ansiedade, 31,35% se encontravam com nível
baixo de ansiedade, enquanto 24,27% não estavam ansiosas.
Castro (2000)21 avaliou a ansiedade e o comportamento de 50 crianças entre 6 e 9 anos
de idade frente a procedimentos odontológicos preventivos através do uso de desenho, do
22
monitoramento da freqüência cardíaca e da avaliação de comportamento por meio de
filmagem. Os resultados revelaram que, de acordo com os desenhos, 70% das crianças
apresentavam ausência ou baixa ansiedade odontológica e 82% demonstravam
comportamento cooperativo. O monitoramento da freqüência cardíaca não se mostrou como
indicador da ansiedade odontológica.
Nas situações de ansiedade, a criança pode experimentar um sentimento de
antecipação e expectativa de um perigo que poderá ocorrer a qualquer momento. Geralmente,
é manifestada por agitação, irritabilidade generalizada e crises de agressividade que, quando
muito intensas, alteram o estado de tranqüilidade e o equilíbrio emocional da criança30.
Como tratamento da ansiedade, a tranqüilidade e o tom de voz sereno do profissional
são recursos que podem ser bem utilizados. Através de explicações simples e ao alcance do
paciente o tratamento odontológico pode ser desmistificado. Assim, com uma clara
explanação sobre o trabalho que será executado, o porquê e a sua importância, será obtida
uma melhor cooperação do paciente, uma vez que será diminuído o clima de ansiedade a que
o próprio equipamento odontológico induz4.
Outra manifestação comumente observada no cotidiano das ações odontológicas
direcionadas as crianças diz respeito à birra, que corresponde a um tipo de reação psicológica
muito comum em crianças, manifestando-se através de explosões temperamentais, como
chutes, gritos, choro, mordidas, ou até mesmo vômitos. Na realidade, a birra consiste em uma
manifestação em que a criança se rebela de fato contra o meio ambiente63.
Crianças que apresentam preparo emocional são fisicamente mais saudáveis e
demonstram melhor capacidade de colaborar com o tratamento odontológico. Já o despreparo
emocional da criança pode se expressar por meio da birra, considerada normal dos 2 aos 5
anos de idade, caracterizada pela tentativa da criança em controlar o adulto, resultando em um
comportamento rebelde34. Segundo Guedes-Pinto (1997)51, a birra pode também ser vista
como falta de educação da criança por parte dos pais.
Para Colares e Rosenblatt (1998)25, crianças criadas com muita permissividade
desenvolvem a expectativa constante de ter todos os seus desejos atendidos prontamente, não
suportando frustrações e contrariedades. Portanto, a criação sem delimitação dos seus
domínios acarreta em demonstração de birra.
Em geral, a birra é um dos comportamentos que mais incomoda os dentistas que
cuidam de crianças, quase sempre levando a um impasse e desembocando em situações de
23
dissabores. Isto porque provoca falta de alternativa para o clínico51. No entanto, o limite
apresentado pelo odontopediatra leva ao relacionamento de respeito e confiança mútua25.
O reconhecimento dessas manifestações apresentadas pelas crianças no consultório
odontológico fornece auxílio para a conduta do profissional em cada caso, pois, quando
erroneamente avaliados, o profissional dificilmente poderá obter a compreensão e a
colaboração do pequeno paciente.
1.2 FATORES INFLUENCIADORES DAS REAÇÕES INFANTIS FRENTE AO
TRATAMENTO ODONTOLÓGICO
Acredita-se que o comportamento da criança diante do atendimento odontológico pode
ser determinado por uma série de fatores e variáveis, destacando-se entre eles: a maturidade
da criança11,54, o relacionamento com os pais26,67,90, a abordagem do odontopediatra 6,26,67,80,91,
experiências passadas6,68,91 e o ambiente do consultório odontológico 6,80.
Peixoto, Frauches e Costa (2001)81 investigaram as variáveis que podem influenciar o
comportamento da criança na primeira consulta odontológica, segundo a opinião de 38
cirurgiões-dentistas de Vitória (ES) e 28 de Governador Valadares (MG), que responderam a
um questionário. Os resultados mostraram que os fatores que mais influenciam o
comportamento do pequeno paciente são a ansiedade da mãe e a presença de dor, seguidos de
história médica pregressa, desajustes familiares, conhecimento do problema dentário e fatores
socioeconômicos.
No entanto, o estudo de Castro (2000)21, que analisou os fatores influenciadores da
ansiedade e do comportamento de 50 crianças entre 6 e 9 anos de idade frente a
procedimentos odontológicos preventivos, revelou que a idade, o gênero, a experiência
odontológica anterior traumática, a influência negativa de terceiros e a ansiedade materna não
apresentaram associações significativas com a ansiedade odontológica infantil.
Conhecer esses fatores é de fundamental importância para acompanhar e compreender
o pequeno paciente na tentativa de proporcionar à criança uma situação odontológica mais
agradável. Nesse sentido, destacamos abaixo a relação de alguns desses fatores relacionados
com o comportamento infantil no consultório odontológico.
24
MATURIDADE DA CRIANÇA
Cada faixa etária apresenta um comportamento característico diante de situações
novas, como, por exemplo, um tratamento odontológico. As crianças menores são geralmente
mais indispostas, cooperam menos e reportam maior medo e ansiedade que crianças maiores6.
De acordo com Vomero (2000)101, muitas vezes elas não colaboram com o tratamento porque
simplesmente não entendem direito o que está acontecendo.
A partir da idade escolar, os pacientes já começam a entender ordens101. Essa é a fase
de aceitação das normas sociais de conduta pela criança. O pranto, birras e outras expressões
de conduta tendem a desaparecer em crianças normais84.
As crianças maiores já compreendem o que representa um tratamento odontológico,
no entanto, embora tenham vontade própria, sintam medo e até se estressem diante de
situações relacionadas à dor101.
No desenvolvimento normal, a criança de 6 a 10 anos entra definitivamente no
funcionamento simbólico abstrato e lógico. A maioria das crianças nessa faixa etária não
apresenta problemas durante o tratamento odontológico, uma vez que não reagem mais apenas
aos estímulos presentes, conseguindo visualizar o futuro mais positivo, se suportar o medo do
presente50.
Segundo Corrêa e Ulson (2002)35, nessa faixa etária ocorre um grande
desenvolvimento e crescimento cognitivo e social. A criança adquire maior controle
emocional, reconhece seus próprios limites e se torna sensível às exigências dos adultos, o
que propicia o autocontrole de seu comportamento, auxiliando em sua colaboração durante o
tratamento odontológico.
Assim, nesse estágio, a criança é capaz de assumir a perspectiva do outro, o que
facilita os contatos odontopediátricos. O profissional pode conversar sobre vários assuntos,
dando ênfase a idéias sobre situações concretas, como a vida escolar, por exemplo13.
Diante de tais concepções, é importante destacar que o desenvolvimento das crianças
corresponde a um produto da interação de suas próprias características e as das pessoas que
com elas se socializam26. É na relação interpessoal que a criança encontra os elementos
indispensáveis à realidade de si mesma. Uma criança que se coloca à parte sozinha,
25
inteiramente separada da sociedade e das conseqüências que vêm da comunhão com os
outros, não terá tido um desenvolvimento sadio44.
De acordo com Barreto (2002)13, o indivíduo evolui continuamente na vida. Desse
modo, as relações odontopediátricas são muito importantes para o desenvolvimento humano,
assim como as mais diversas experiências e as mais variadas formas de contato.
No tocante ao desenvolvimento e comportamento infantil, não se pode, porém,
estabelecer padrões fixos e rígidos. Trata-se de um processo particular relativo, variando de
criança para criança, além de depender de estímulos e sofrer influências do meio ambiente.
Entretanto, há de se considerar que algumas características comportamentais são comuns à
maioria das crianças do mesmo grupo etário7.
PARTICIPAÇÃO FAMILIAR
As atitudes dos responsáveis normalmente têm efeito direto no comportamento da
criança17,22, pois estes representam uma grande referência na vida dos seus filhos, sendo a sua
maior influência26.
A mãe pode transmitir angústias e incertezas na criação de seu filho. O tipo de
educação que este recebe influencia no seu comportamento durante o tratamento
odontológico. Uma criança educada e estimulada responderá melhor do que uma mimada e
insegura36.
Tem-se observado que a ansiedade materna é um dos fatores mais relevantes na
determinação da ansiedade infantil diante do tratamento odontológico88, embora a relação
mais explícita entre a ansiedade materna e a cooperação infantil no consultório odontológico
ocorra mais freqüentemente com crianças menores de 5 anos, por serem, de acordo com as
teorias psicológicas de desenvolvimento, mais dependentes de suas mães51.
Colares, Scavuzzi e Rosenblatt (1998)28 estudaram o comportamento ansioso materno,
através da aplicação de questionário a 10 dentistas, alunas do Curso de Especialização em
Odontopediatria da UPE, que pesquisaram os responsáveis por 45 pacientes infantis, na faixa
etária de 2 a 13 anos de idade, atendidos na Clínica do Curso. Identificou-se que 25% das
mães foram consideradas ansiosas com relação ao tratamento odontológico de seus filhos e
que estes se apresentaram com medo ou ansiedade durante o atendimento. As autoras
26
acreditam que a orientação para a condução psicológica adequada do acompanhante do
paciente infantil é uma necessidade na prática odontopediátrica moderna.
De acordo com Corrêa e Wanderley (2002) 36, a mãe também pode servir de modelo
durante o atendimento de seu filho, mostrando-se segura e tranqüila, colaborando assim com o
andamento do tratamento.
Linhares (1984/1985)62 procurou identificar os fatores que podem influenciar o
comportamento de crianças durante o tratamento odontológico, através de um questionário
enviado aos odontopediatras de Belo Horizonte. O levantamento revelou que 75,7% dos
especialistas acreditam que os pais são os maiores responsáveis pelo comportamento
problemático da criança no atendimento odontológico, 16,2% não atribuem aos pais essa
responsabilidade e 6,8% acreditam que a influência dos pais pode ocorrer em alguns casos.
Esse estudo também mostrou que apenas 1,3% dos odontopediatras permitem a presença dos
pais na sala de consulta, 55,5% admitem essa presença somente em alguns casos e 43,2% não
permitem a presença deles na sala de consulta após a primeira visita.
A presença do responsável durante a consulta odontológica da criança é um tema
conflituoso e gerador de opiniões divergentes entre os profissionais que tratam dessas
crianças.
Para Tollara e colaboradores (1998)95, o fato de a mãe estar presente durante todo o
trabalho clínico e a forma como ela está se sentindo e reagindo frente às intervenções
necessárias contribuem para o comportamento da criança. O inverso também é verdadeiro. O
comportamento da criança afeta os sentimentos e as reações maternas.
Os odontopediatras que não concordam com a presença materna durante o
atendimento infantil argumentam que o comportamento da criança fica alterado, que as mães
interferem no relacionamento da criança com o profissional e que a ansiedade dela pode ser
transmitida para os seus filhos, interferindo negativamente na experiência própria da criança
acerca da situação odontológica. Os profissionais que preferem a permanência da mãe durante
o tratamento odontológico da criança acreditam que a sua presença seja um fator de segurança
e confiança para a criança, reduzindo a sua ansiedade e incentivando o comportamento
cooperativo51.
Tostes, Gomes e Corrêa (1998)96 avaliaram a preferência da mãe com relação à sua
presença na sala de atendimento odontológico e a preferência da criança, de 5 a 12 anos de
idade, quanto à presença da mãe durante o atendimento odontológico. Para tanto, foi aplicado
27
um questionário a 52 mães e aos seus filhos que estavam sendo atendidos na Clínica de
Odontopediatria da FOUSP. O resultado desta pesquisa mostrou que as crianças preferem que
as mães entrem na sala de atendimento odontológico e que as mães ansiosas preferem entrar,
embora a presença possa contribuir para o desenvolvimento de comportamento negativo em
seus filhos. Vale ressaltar que as mães entrevistadas demonstraram consciência de que na sua
presença seus filhos podem se comportar pior.
A preferência dos responsáveis com relação à sua permanência ou não na sala de
atendimento durante o tratamento odontopediátrico também foi pesquisada por Colares e
colaboradores (1998)27. Com esse objetivo, foram entrevistados 40 acompanhantes dos
pacientes de 1 a 13 anos de idade da Clínica do Curso de Especialização em Odontopediatria
da UPE. Os resultados mostraram que os responsáveis por crianças de 1 a 6 anos de idade
preferem permanecer ao lado da criança durante o atendimento clínico, acreditando que, dessa
forma, esta se comporta melhor, enquanto que os responsáveis pelas crianças de 7 a 13 anos
de idade preferem ficar na sala de espera por acreditarem que assim estas demonstram um
melhor comportamento.
Dessa forma, acreditamos que a presença do responsável na sala clínica deve ser
avaliada em cada caso e cabe ao profissional decidir se sua permanência é adequada ou não.
RELAÇÃO DENTISTA-CRIANÇA
A interação dentista-paciente deve ser vista como uma relação interpessoal voltada
para a saúde e para o bem-estar físico e emocional dos indivíduos que a compõem70.
Por abranger uma série de aspectos subjetivos que vão além do tratamento
odontológico em si, a relação do dentista com seus pacientes deve proceder de forma
harmoniosa. Isso somente vai acontecer se o profissional enxergar que, além daquele dente ou
boca, existe um indivíduo único, repleto de expectativas e receios. E também se o paciente
perceber o dentista como alguém em quem ele possa confiar sem medo101.
O dentista precisa perceber cada criança nas suas características próprias,
estabelecendo a partir daí o seu procedimento com ela, construindo-o e reconstruindo-o
conforme as respostas que a criança lhe dá a cada momento. Dessa forma, é a ele, e não à
criança, que cabe a tarefa de compreender a situação, dando-lhe um sentido adequado18.
28
Segundo Gonçalves, Sagretti e Borges (1993)47, a comunicação entre o profissional e
o paciente é de vital importância para o bom desempenho do atendimento da criança no
consultório odontológico. A atenção e o carinho dispensados às crianças são fortes aliados
contra o medo que possa vir a ser gerado.
Dessa forma, a imagem do profissional parece estar consistentemente relacionada com
a comunicação entre ele e o paciente. Os fatores mais importantes acerca do profissional,
levantados pelos pacientes, são os comportamentais, girando em torno de traços pessoais do
profissional ligados à relação dentista-paciente40.
Uma pesquisa realizada por Amorim (1994)5 avaliou a visão que a criança tem do
dentista por meio de desenhos e entrevistas coletados de 120 estudantes de escolas pública e
privada, na faixa etária de 7 a 12 anos de idade. Como resultado da impressão geral,
encontrou-se que em 48,1% a imagem foi amistosa, em 31,8% hostil (autoritário e agressivo)
e em 20% indiferente (pessoa técnica). Foi também percebido, nesse estudo, que a reação
negativa das crianças parecia não se dirigir propriamente à pessoa do dentista, mas às suas
atitudes no exercício de suas atividades profissionais.
De acordo com Moraes e Pessoti (1983)70, o dentista deve estar atento não só aos
aspectos técnicos da prática odontológica, mas também à forma como esta afeta o seu
paciente e a si mesmo.
Araújo e colaboradores (2004)8 investigaram a imagem que 24 crianças, na faixa
etária de 6 a 12 anos de idade, participantes do Projeto de Extensão da Universidade Federal
do Pará, constroem em relação ao cirurgião-dentista, através da análise de desenhos feita por
psicólogos e acadêmicos de Odontologia. Os dados coletados mostraram que 91,7% das
crianças apresentaram uma relação positiva com o cirurgião-dentista e 8,3% demonstraram
uma relação negativa. Os pesquisadores concluíram que o fato dessas crianças participarem,
semanalmente, de atividades lúdicas e educacionais relacionadas à saúde bucal proporcionou
essa imagem positiva do profissional, confirmando que quanto mais cedo a criança tiver
contato com o dentista, melhor será a sua imagem e aceitação durante a atenção odontológica.
O desenvolvimento de uma relação profissional-paciente adequada exige do dentista a
capacidade de lidar com o comportamento do seu paciente, na tentativa de influenciá-lo para
que este receba o tratamento odontológico como benefício para a saúde e não como uma
situação penosa inevitável70.
29
O dentista precisa estar consciente do impacto de seu próprio comportamento sobre a
criança e sobre as manifestações desta com relação à Odontologia. A percepção que o
pequeno paciente tem do dentista pode influenciar significativamente na formação da reação
para com o atendimento odontológico5.
É necessário então, que o dentista compreenda a complexidade do comportamento do
paciente, do seu próprio comportamento e do conjunto de estímulos que compõem e
caracterizam o ambiente odontológico.
O AMBIENTE ODONTOLÓGICO
Ao entrar no consultório odontológico, a criança se depara com um ambiente
diferente7. Por isso, a organização da estrutura física do consultório odontológico é de
fundamental importância para impressionar de maneira positiva o paciente, desde que seja de
forma harmônica, suave, agradável, alegre, com linguagem expressiva, uma vez que realiza
uma primeira comunicação informal, de maneira a transmitir segurança e tranqüilidade para o
pequeno paciente. Tal ambiente influenciará de forma direta na resposta do paciente diante do
tratamento odontológico33.
Com relação à importância do ambiente do consultório odontológico, seja no seu
aspecto físico seja espaço social, Linhares (1984/1985)62 encontrou em seu estudo, através de
questionários enviados a odontopediatras de Belo Horizonte, que 81,1% destes acreditam que
a decoração do consultório oferece inúmeras vantagens na adaptação da criança, enquanto
18,9% não consideram necessárias essas instalações e decorações especiais. Quanto ao uso do
uniforme branco por parte do profissional, esta pesquisa mostrou que 67,6% dos especialistas
não o consideram como um fator que possa alterar o comportamento da criança, 27% são
contrários e 4,1% expressaram ser tal vestimenta prejudicial em alguns casos.
A composição cuidadosa do ambiente do consultório odontopediátrico, na realidade,
conduz a uma reação mais adequada por parte do paciente. As cores, o som, os brinquedos e
os materiais educativos, quando bem utilizados, trarão benefícios do ponto de vista
emocional, pois contribuirão para uma maior descontração e aceitação da situação, o que
garantirá, conseqüentemente, um maior bem-estar e a almejada promoção da saúde33.
30
EXPERIÊNCIAS PASSADAS
A influência de antecedentes odontológicos negativos vividos pela própria criança
durante uma situação de atendimento é o principal indutor do medo e da ansiedade infantil6,94.
Segundo César e colaboradores (1999)23, quando as experiências odontológicas na
infância são associadas com sensações de dor, influenciam decisivamente na formação do
sentimento de medo e nas posteriores resistências aos procedimentos odontológicos.
As pessoas apresentam, naturalmente, medo de intervenções sobre seus corpos, como
por exemplo, a injeção. Isso faz parte de um mecanismo natural de prevenção do sofrimento e
da dor, embora, racionalmente, façamos uma avaliação custo-benefício e permitamos as
intervenções sobre nós que, mesmo oferecendo algum risco imediato, estarão prevenindo
riscos maiores no futuro10.
No estudo de Colares, Rosenblatt e Bastos (1998)26, realizado por meio de entrevista
com 63 odontopediatras do estado de Pernambuco, 22,2% dos profissionais entrevistados
citaram a experiência anterior negativa como motivo para o comportamento não colaborador
da criança, ressaltando a importância de uma merecida reflexão por parte dos próprios
dentistas, uma vez que a experiência anterior negativa foi conduzida por um outro
profissional.
Singh, Moraes e Ambrosano (2000)94 avaliaram o medo, a ansiedade e o controle
relacionados ao tratamento odontológico por meio de questionários aplicados a 364 crianças
de faixa etária entre 7 e 13 anos de idade. Os resultados mostraram que as crianças mais
velhas são um pouco mais temerosas, por terem vivenciado um maior número de
atendimentos odontológicos com a doença instalada e, conseqüentemente, serviços curativos
invasivos e dolorosos. Constatou-se também que a ansiedade foi maior para as crianças que
receberam anestesia, quando comparadas com aquelas que não o receberam, mostrando que
tratamentos odontológicos invasivos podem aumentar a ansiedade nas crianças.
Castro (2000)21 acredita que a maior ansiedade encontrada nas crianças mais velhas
ocorre pelo fato destas já terem sido submetidas a um maior número de procedimentos
odontológicos invasivos, acompanhados de dor e desconforto.
As experiências médicas pregressas também são apontadas por alguns odontopediatras
como fatores importantes no processo de cooperação da criança para com o tratamento
31
odontológico. A atitude da criança em relação ao médico e a qualidade desse relacionamento
são mais significativas do que a freqüência das experiências médicas na influência do
comportamento durante a consulta odontológica81.
De acordo com Nóbrega (1995)76, muitas vezes os medos podem ser transferidos de
uma situação para outra devido a algumas semelhanças existentes entre o médico e o dentista,
uma vez que os dois são chamados de doutor e usam roupa branca, por exemplo. Também as
crianças que já foram hospitalizadas ou mesmo as que passaram longos períodos em casa, em
virtude de uma doença grave, tendem a apresentar comportamento não-cooperador na
consulta odontológica.
1.3 REPRESENTAÇÃO SOCIAL E TRATAMENTO ODONTOLÓGICO INFANTIL
A Teoria das Representações Sociais tem sido utilizada para a compreensão das
concepções do senso comum sobre vários aspectos relacionados à saúde. Como reporta
Jodelet (2001)56, as Representações Sociais revelam “crivos de leitura” do mundo, e nessa
perspectiva atuam como construtores da realidade.
De acordo com Moreira e Moriya (2000)72, as Representações Sociais podem ser
entendidas como idéias, imagens e concepções de mundo que os atores sociais constroem
sobre a realidade, as quais estão vinculadas às práticas sociais.
Por se tratar de um estudo que se preocupa em resgatar a realidade vivenciada durante o
tratamento odontológico e em apreender as Representações sob a ótica das crianças
submetidas a esse tratamento, entende-se que os princípios teóricos das Representações
Sociais fornecem elementos norteadores para construção e materialização do nosso objeto de
estudo.
Pesquisar as Representações Sociais do tratamento odontológico implica realizar uma
leitura não só em relação aos aportes teóricos normativos, mas também em relação ao
conhecimento cotidiano elaborado e compartilhado pelos participantes deste estudo.
Tura (2004)99 conceitua as Representações Sociais como sendo uma forma de
pensamento ou conhecimento específico que, estando fortemente enraizada nas experiências
socialmente compartilhadas, dirigem as relações dos indivíduos entre si e com o mundo,
32
inserindo-se em sua dinâmica e transformação. O conflito entre diversificados interesses,
assim como as mudanças que ocorrem na vida do indivíduo integram-se na sua construção.
Essa forma de conhecimento, igualmente designada como “saber de senso comum”,
“saber ingênuo” ou “natural”, é diferenciada do conhecimento científico, embora seja tido
como objeto de estudo tão legítimo quanto este último, devido à sua importância na vida
social, ao esclarecimento que traz sobre os processos cognitivos e devido às interações
sociais. Trata-se de um conhecimento “outro” que não o da ciência, que é vivenciado e
corrobora para a ação sobre o mundo56.
A Representação Social compreende um conjunto organizado de atitudes, opiniões e
crenças referentes a um objeto ou a uma situação, sendo determinada ao mesmo tempo pelo
próprio sujeito (sua história, sua vivência), pelo sistema social e ideológico no qual está
inserido e pela natureza dos vínculos que mantém com esse sistema social1.
É neste sentido que se pode afirmar que o aspecto processual da Representação Social
modela o mundo ou torna familiar àquilo que é estranho ou distante, compatibilizando
diversas possibilidades lingüísticas e intelectuais e possibilitando a constituição de uma lógica
a organização da vida cotidiana99. Ela nos guia de maneira a definir juntos os diferentes
aspectos da realidade de todos os dias, de forma a interpretar, interferir sobre eles e, se for o
caso, tomar uma posição a seu respeito e defendê-los 56.
Para Moscovici (2003)75, as Representações Sociais são sempre produto da interação e
comunicação, configurando-se em todos os momentos como conseqüência do equilíbrio
específico dos processos de influência social. Desse modo, ele define a Representação Social
como:
um sistema de valores, idéias e práticas, com uma dupla função: primeiro lugar, estabelecer uma ordem que possibilitará às pessoas orientarem-se em seu mundo material e social e controlá-lo; e, em segundo lugar, possibilitar que a comunicação seja possível entre os membros de uma comunidade, fornecendo-lhes um código para nomear e classificar, sem ambigüidade, os vários aspectos de seu mundo e de sua estória individual e social (p. 21)
Percebe-se, então, que a Representação decorre da nossa convivência e nos permite a
explicação e o relacionamento com o mundo que nos cerca. Segundo Lane (1986) citado por
Guareshi (1995)49, a Representação Social implica ação, experiência e conhecimento de um
objeto ou situação, bem como os significados que passamos a atribuir a estes.
33
Conseqüentemente, corresponde ao sentido pessoal que atribuímos aos significados
elaborados socialmente.
É importante destacar Abric (2000)1, que chama atenção para a observação de que a
Representação Social corresponde ao produto e ao processo de uma atividade mental, por
intermédio da qual, um indivíduo ou um grupo reconstitui o real com o qual é confrontado e
lhe atribui um significado específico.
Nessa perspectiva, todos os fenômenos que emergem do contexto social são investidos
simbolicamente, recebendo nomes e significados que os avaliam, explicam e lhes dão sentido.
Esses significados, à medida que circulam, transformam-se de acordo com os modelos
vigentes de uma determinada época e formação social38.
Dessa forma, deve-se levar em consideração o funcionamento do sistema social, das
suas interações e do aparelho psíquico dos grupos, pelo que afetam a gênese, a estrutura e a
evolução das Representações56. Isto porque estas constituem algo mais complexo, não
significando apenas representar os objetos, mas repensá-los, re-experimentá-los e fazê-los ao
modo particular, num contexto próprio, introduzindo-os numa região de pensamento e do real,
da qual se foi eliminado e na qual se investiu a fim de torná-lo como próprio49.
Observa-se assim que as Representações Sociais traduzem a visão do mundo de um
determinado grupo e refletem o poder criativo, a imaginação, bem como a interação do
indivíduo com o seu cotidiano.
Moscovici (1961,1978)73,74 comenta que, ao traduzir a visão do mundo de um
determinado grupo, as Representações Sociais fornecem suporte aos comportamentos e às
comunicações. Elas são marcadas pela contradição das relações sociais, incorporando seus
valores, símbolos e práticas, de modo a orientar as pessoas no mundo material e social,
permitindo a comunicação intergrupal e gerando uma tomada de posição frente ao mundo e à
realidade vivida82.
Para as crianças, as Representações surgem como uma modalidade de conhecimento
que lhes permite interpretar, através de suas sensações, ações e experiências, as descobertas
do meio físico e social, fornecendo-lhes um significado e um valor que são adquiridos,
principalmente, nas suas relações e trocas com o outro60.
Segundo Lauwe e Feuerhahn (2001)60, a criança é compreendida como um indivíduo
marcado por sua história pessoal, em estado de mudança devido ao seu crescimento e às suas
aquisições, mas, ao mesmo tempo, como um sujeito que vive cada instante de sua vida
34
cotidiana, um membro de uma classe social, em função de sua família e do meio social no
qual está inserida, e como um membro de uma categoria social de idade, devido ao estatuto
comum a todas as crianças de uma mesma sociedade.
A maneira pela qual a criança nasce, cresce e se desenvolve não se encontra
relacionada somente com as condições concretas de vida a que é submetida, mas, também, em
função de como é simbolizada, representada e tratada em nível das práticas institucionais e
familiares79.
Freqüentemente, muitos aspectos da natureza ou da sociedade são observados,
descobertos e interpretados pelas crianças em função da Representação desses objetos pelos
adultos, que fornecem suas próprias explicações antes ou depois da interação da criança com
o objeto60.
Nesse sentido, os sistemas de Representações que as crianças adquirem, sua visão do
mundo e de si resultam de interações que elas apresentam com as pessoas que a cercam e com
o meio ambiente no qual estão inseridas.
Dessa forma, acreditamos que o processo de construção das Representações Sociais do
tratamento odontológico sob o ponto de vista da criança dá-se nas trocas de conhecimentos,
através de experiências que ocorrem na vivência destas. Faz-se também importante frisar a
afirmação de Jodelet (2001)56 ao destacar que as Representações Sociais devem ser estudadas
articulando-se elementos afetivos, mentais e sociais, e procurando integrar, ao lado da
cognição, da linguagem e da comunicação, a atenção com as relações sociais. Essas relações
afetam as representações e a realidade material, social e ideal sobre a qual elas estão atuando.
Segundo Iyda (1998)55, a realidade social não é uma massa de fatos fragmentados e
desligados entre si. Antes, é complexa, contraditória, compreendendo relações, processos e
estruturas nem sempre visíveis, mas que devem ser desvendados para que possa ser captada
em sua totalidade, em movimento, e para que se busque a resolução de suas contradições.
Percebemos então que o estudo das Representações Sociais do tratamento
odontológico poderá contribuir para uma melhor compreensão da forma como essas crianças
se relacionam com tal tratamento, uma vez que os princípios teóricos dessas Representações
tendem a colaborar na análise dos dados com valores, emoções e concepções peculiares a
cada ser que se encontra envolvido no cotidiano do atendimento odontológico infantil,
favorecendo assim a contextualização das discussões propostas por este estudo.
35
Considerando os avanços que a prática odontológica vem apresentando e a visão mais
ampliada de considerar e conhecer o indivíduo que existe “por trás dos dentes” e os modos
como este pode ser afetado por fatores de natureza interpessoal ou social71, esse tipo de
pesquisa torna-se imprescindível para desmistificar alguns elementos presentes no contexto
do atendimento odontológico destinado a crianças.
De acordo com Moreira e Moriya (2000)72, constitui um avanço o estudo das
Representações Sociais para o campo da Saúde, por dar conta dos fenômenos coletivos e da
compreensão das regras que regem o pensamento social. Diante dessa perspectiva, acredita-se
que as pesquisas de Representações Sociais podem revelar às Ciências da Saúde o quanto elas
se mantiveram alienadas às mudanças e incapazes de aceitar suas falhas, principalmente pelo
tratamento desumanizado do paciente.
Madeira, Tura e Tura (2003)64 afirmam que ainda de forma sutil, mesmo quando
progressiva, a Teoria das Representações Sociais vem:
despertando interesse em diversas áreas do conhecimento, principalmente naquelas voltadas para a formulação e concretização de políticas sociais. Os profissionais que atuam nessas áreas ressentem-se das dificuldades de estabelecimento de diálogo efetivo com a população, alvo de suas ações e intenções (p.116).
O que se identifica na literatura atual é uma grande preocupação com a produção de
conhecimento que permita construções teóricas mais consistentes, a fim de melhor
compreender as relações que se estabelecem no campo da saúde.
O estudo de Coutinho (2001)38 buscou compreender Representações Sociais da
sintomatologia da depressão infantil compartilhadas por crianças com e sem essa
sintomatologia e pertencentes a um mesmo contexto sociocultural. A pesquisadora ressalta a
importância da aplicabilidade da Teoria das Representações Sociais na explicação de
fenômenos de saúde relacionados à depressão, estimulando o desencadeamento de um
processo contínuo de atuação profissional frente à construção da realidade nesse campo de
aplicação e acrescentando a garantia da possibilidade de se realizarem estudos sobre
fenômenos semelhantes no campo da saúde, tratados de maneira despercebida pelos
profissionais.
Pinheiro (1999)83 relata que apesar de existirem outras abordagens para a investigação
a cerca das concepções da saúde mental, os estudos fundamentados nas Representações
36
Sociais podem dar sua contribuição pela necessidade atual de entender o binômio saúde-
doença para além da questão individual.
Cabe destacar que essas reflexões implicam em uma recolocação do pensar em saúde.
Na investigação de Costa (2000)37 sobre as Representações Sociais da atenção odontológica à
gestante, destacam-se a falta de integração das ações em saúde, os preconceitos, as crenças e
os medos, como aspectos que interferem na prática profissional.
A pesquisa de Representação Social realizada por Ferreira (2002)43, a respeito das
necessidades de cuidados bucais de usuários do serviço de saúde do bairro de Cidade de
Esperança da cidade de Natal, revelou que nem todas as necessidades biológicas são
compreendidas e incluídas nos serviços públicos de saúde e que as representações das
necessidades de cuidados bucais apresentam atribuições que vão além da capacidade
mastigatória, demonstrando uma importância no cotidiano através das relações afetivas e de
ocupação.
37
2 OBJETIVOS
A relevância deste estudo pauta-se na busca de novas formas de conhecimento, isto é,
no desenvolvimento de um saber espontâneo sobre o tratamento odontológico infantil. Nessa
perspectiva, esta pesquisa se propõe a apreender as Representações Sociais que as crianças
constroem sobre o tratamento odontológico, buscando através de um conhecimento elaborado
e partilhado socialmente, entender a forma como elas se manifestam, bem como a imagem
que possuem do dentista, com a finalidade de analisar e refletir acerca das práticas
odontológicas que estão sendo desenvolvidas nesse campo.
38
3 PERCURSO METODOLÓGICO
3.1 NATUREZA DA PESQUISA
Trata-se de uma pesquisa de campo na Área de Saúde Bucal, utilizando como suporte
teórico/metodológico a Teoria das Representações Sociais.
3.2. O CENÁRIO
O cenário de pesquisa deste estudo foi a Escola Estadual “Professor José Fernandes
Machado”, localizada no bairro de Ponta Negra na cidade de Natal/RN.
A escolha dessa escola se deu pelo fato desse estabelecimento atender à quantidade
necessária de crianças para compor a amostra da presente pesquisa, além de possuir um
espaço físico apropriado às aplicações dos instrumentos e a direção e o corpo técnico terem
demonstrado uma maior aceitação, entre as escolas pesquisadas, para realização deste estudo.
3.3 OS ATORES SOCIAIS
Participaram do estudo 30 crianças inseridas no contexto escolar do Ensino
Fundamental da Rede Pública da cidade de Natal/RN, selecionadas a partir dos seguintes
critérios:
Crianças na faixa etária entre 6 e 10 anos de idade;
Crianças que tenham sido submetidas a tratamento odontológico há menos de um ano ou
que estejam em tratamento no momento da coleta dos dados.
3.4 ASPECTOS ÉTICOS
39
Esta pesquisa foi submetida e aprovada pelo Comitê de Ética na Pesquisa da
Universidade Federal do Rio Grande do Norte (Anexo A). Os pais ou responsáveis pelas
crianças foram devidamente informados sobre o caráter e objetivos da pesquisa e expressaram
a sua concordância através da assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido,
autorizando a inclusão da criança no estudo (Anexo B). As crianças foram esclarecidas a
respeito da pesquisa e também assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido para
menores de idade (Anexo C).
3.5 INSTRUMENTOS
Para obtenção dos dados, foram utilizados a entrevista em profundidade e o desenho-
estória com tema.
3.5.1 ENTREVISTA EM PROFUNDIDADE
A entrevista é um instrumento precioso de conhecimento interpessoal estabelecido
para a apreensão de informações visando ao conhecimento, à assistência ou à pesquisa100, que,
por sua natureza interativa, permite tratar de temas complexos, explorando-os em
profundidade3.
Cada sugestão de tema que se introduz na entrevista ou cada questão que se levanta
faz parte de uma interação diferenciada com o entrevistado à medida que esses itens
representam uma teoria em ato e trazem implícitos uma hipótese, um pressuposto ou um
conceito teórico69.
A entrevista em profundidade utilizada neste estudo procurou trabalhar as vivências,
os significados, as atitudes e os valores que as crianças apresentam com relação ao tratamento
odontológico, visando a captar a complexidade dos aspectos subjetivos da realidade vivida de
uma forma mais espontânea.
De um modo geral, a entrevista em profundidade não segue um fraseamento nem uma
ordem rigidamente estabelecida para as perguntas, assemelhando-se muito a uma conversa,
40
onde o pesquisador se encontra interessado em compreender o significado atribuído pelos
participantes a eventos, situações, processos ou personagens que fazem parte da sua vida
cotidiana. Assim, o investigador apenas introduz o tema da pesquisa, pedindo que o sujeito
fale um pouco sobre ele, inserindo, eventualmente, alguns tópicos de interesse no fluxo da
conversa3.
Fundamentalmente, numa entrevista em profundidade bem executada, a visão pessoal
do entrevistado é explorada em detalhe. Tais pontos de vista pessoais expressam os resíduos
ou memórias passadas, cabendo ao entrevistado o papel central, pois a entrevista reflete a sua
construção pessoal do passado46.
No decurso da entrevista em profundidade, Gaskel (2002)46 afirma ser fascinante ouvir
a narrativa em construção:
alguns dos elementos são muito bem lembrados, mas detalhes e interpretações falados podem até mesmo surpreender o próprio entrevistado. Talvez seja apenas falando que nós podemos saber o que pensamos (p.75).
Porém, há de se destacar que durante a entrevista recebemos apenas o retrato que o
entrevistado tem do seu mundo, cabendo a nós, pesquisadores, avaliar o grau de
correspondência de suas afirmações com a realidade.
Com relação à normatização técnica das entrevistas, define-se que, em geral, a sua
duração é flexível e depende das circunstâncias que rodeiam principalmente o informante e o
teor do assunto em estudo. Recomenda-se que o pesquisador seja o mais explícito possível em
relação à idéia do projeto que o anima e que grave a entrevista, ainda que seja cansativa a sua
transcrição, uma vez que a mesma permite contar com todo o material fornecido pelo
entrevistado e dessa forma contribuir melhor ainda aos esclarecimentos que perseguem o
cientista98.
De acordo com Turato (2003)100, quanto melhor ocorrer o momento da entrevista
melhor se construirá a posterior interpretação dos dados coletados. Assim, o autor afirma ser
importante que esta seja realizada em um recinto reservado para manter a privacidade da
relação, e que ocorra uma reapresentação mútua mais detalhada e afetiva, com o
estabelecimento do rapport (sentimento consciente de acordo, simpatia, confiança e
responsividade mútua entre uma pessoa e outra), seguida da explicação detalhada dos
objetivos da pesquisa.
41
Por fim, é necessário lembrar que a entrevista, como instrumento de coleta de dados
para uma pesquisa, corresponde à “teoria em ação” que apóia a visão do pesquisador e
proporciona resultados verdadeiramente valiosos, caso este apresente amplo domínio do
enfoque em estudo e da teoria que orienta seus passos98.
3.5.2 DESENHO-ESTÓRIA COM TEMA
O desenho-estória com tema é uma técnica projetiva constituída pela associação de
processos expressivo-motores (desenho-livre) e processos perceptivos dinâmicos
(verbalizações temáticas)61, que foi desenvolvida a partir do procedimento de desenho-estória
livre97.
As técnicas projetivas são instrumentos clínicos elaborados para o diagnóstico da
personalidade, utilizando-se dos mais variados estímulos simbólicos, verbais e pictóricos,
podendo também ser utilizadas na pesquisa para obtenção de elementos inconscientes que se
encontram latentes à consciência do indivíduo38.
De modo geral, essas técnicas são consideradas formas de comunicação indireta,
especialmente facilitadora no trabalho com crianças e adolescentes, quando a comunicação
verbal direta nem sempre se mostra suficiente para a obtenção do material necessário para a
coleta dos dados61.
No caso do desenho-estória livre, encontramos uma técnica projetiva utilizada como
instrumento auxiliar na investigação da personalidade, destinado a fornecer elementos clínicos
e não-clínicos, não sendo um teste psicológico, mas colocando-se como uma técnica de
investigação, que possibilita uma aproximação dos conteúdos mentais do paciente e uma
elucidação das angústias que o mobilizam 38.
O procedimento de desenho-estória com tema consiste na realização do desenho com
um tema determinado, em que a seguir se pede ao examinado que conte uma história sobre o
desenho, finalizando com os esclarecimentos necessários à compreensão e interpretação do
material (fase de inquérito) e a solicitação do título da produção2,38. Sua administração pode
ser estendida a todas as faixas etárias, em ambos os sexos, em qualquer nível (mental,
socioeconômico e cultural), de forma individual ou coletiva, dando apenas preferência para o
período diurno, devido ao uso de estímulos cromáticos.
42
De acordo com Coutinho (2001) 38, o desenho-estória com tema se torna relevante por
ampliar tanto o conhecimento das atitudes básicas do sujeito em referência a si próprio e ao
mundo, quanto a expressão de seus sentimentos e suas simbolizações, configurando um
processo de comunicação de suas representações.
O desenho como atividade expressiva permite que a criança externalize sua realidade
conceituada, propiciando a objetivação do plano mais interno, profundo e oculto do
pensamento, podendo se transformar, quando acompanhado da verbalização, em um meio de
aproximação da trama afetiva oculta atrás do pensamento19.
Assim, acreditamos que essa técnica favorece a livre expressão de sentimentos e
emoções, constituindo um processo de comunicação por meio do qual os sujeitos podem
expressar o seu modo de entender o mundo, materializando, de forma inconsciente, as
imagens que criam acerca da realidade na qual estão inseridos. Nesse sentido, os elementos
constituintes das Representações Sociais podem perfeitamente ser acessados através desse
instrumento.
3.6 ESTUDO-PILOTO
Para familiarizar a pesquisadora com os instrumentos eleitos e avaliar se estes iriam
ser entendidos claramente pelas crianças, correspondendo às expectativas do estudo, foi
realizado um estudo-piloto com 4 crianças da Escola Estadual “Professor José Fernandes
Machado”, locus do desenvolvimento da pesquisa.
Durante a entrevista, foram avaliadas as primeiras adaptações à questão norteadora,
buscando a melhor forma de se fazer entender pelos entrevistados. Foi observada uma grande
dificuldade inicial, devido ao tema-chave “tratamento odontológico” ser desconhecido para as
crianças. A partir daí, foi constatada a necessidade de explicar-lhes, antes da coleta, do que
tratava o tema, bem como estabelecer um bom rapport a fim de que as crianças se sentissem
mais descontraídas e conseguissem se expressar melhor.
Com relação ao teste de desenho-estória com tema, foi percebida uma instantânea
adaptação e aceitação das crianças, não havendo necessidade de reajustes.
3.7 PROCEDIMENTOS
43
Inicialmente foi solicitada a autorização da direção da escola para a realização da
pesquisa. Em seguida foram enviadas cartas a todos os responsáveis pelas crianças do Ensino
Fundamental a fim de selecionar as crianças que se enquadravam nos critérios de inclusão da
pesquisa.
Após esta etapa inicial, foram enviadas novas cartas aos responsáveis das crianças que
se enquadravam nos critérios necessários, solicitando a participação deles em uma reunião
para explicação dos objetivos da pesquisa e dos procedimentos a serem realizados, e ainda
obter os dados sociodemográficos e a autorização para participação da criança. Apenas
poucos pais compareceram à reunião. Por tal razão, foi enviado o Termo de Consentimento
Livre Esclarecido aos responsáveis, com todos os detalhes da pesquisa, bem como o telefone
de contato da pesquisadora. Depois dessa última etapa, 30 crianças foram selecionadas a partir
da presença na escola e da disponibilidade para a pesquisa nos dias das coletas dos dados.
Ao chegar à escola, observou-se inicialmente a presença e a disponibilidade das
crianças em participar da pesquisa naquele determinado dia. Como estas precisavam se
ausentar da sala de aula por um tempo, em torno de trinta a cinqüenta minutos, sempre se
tinha que passar pelas turmas perguntando às professoras quais as que poderiam sair sem
comprometer o seu desempenho escolar, sendo geralmente, liberadas aquelas que já tinham
terminado as suas atividades.
A escola disponibilizou uma sala de reuniões para o desenvolvimento da pesquisa.
Assim, as crianças liberadas pelas professoras eram levadas individualmente à sala reservada
e submetidas aos dois instrumentos de coleta de dados na presença apenas da pesquisadora.
Antes da aplicação dos instrumentos, foi realizado um rapport com a criança, a fim de
conquistar a sua confiança e segurança e estabelecer um vínculo com ela. Durante essa
conversa, a pesquisadora se apresentava, explicava a sua profissão, a preocupação com o
atendimento odontológico dela, bem como os objetivos e as justificativas do estudo. Quando
sentia que a criança já se encontrava mais à vontade e expansiva, perguntava se ela gostaria de
colaborar e solicitava a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido,
informando também que ia ser utilizado um gravador, para facilitar o registro das entrevistas.
Só se iniciava a aplicação dos instrumentos quando se percebia que a criança estava
bem familiarizada tanto com a tarefa a desenvolver como com a utilização do gravador, isso
porque se buscava diminuir qualquer inibição que pudesse ocorrer. A escolha pelo gravador
44
foi por este ser um equipamento que permite registrar as falas de forma integral e, ainda, por
permitir ao pesquisador observar o comportamento das crianças durante os seus relatos.
A entrevista em profundidade foi realizada individualmente com cada criança.
Apresentava uma primeira parte constituída por itens referentes à identificação
sociodemográfica dos sujeitos, definindo o seu perfil, e uma segunda parte composta por uma
única questão norteadora: o que você sabe sobre o tratamento odontológico?(Anexo D)
A técnica do desenho-estória com tema foi administrada de forma individual,
utilizando-se uma folha de papel em branco, sem pauta, de tamanho ofício, lápis preto (ponta
de grafite) e caixa de lápis de cor. A aplicação consistiu em solicitar que a criança realizasse
um desenho sobre “o tratamento odontológico” e em seguida contasse uma história sobre o
desenho. Concluída a fase de contar a história, passou-se então ao “inquérito”, em que se
buscou o esclarecimento necessário à compreensão e à interpretação do material produzido,
tanto no desenho quanto na história, seguido da solicitação do título para esta.
Durante as entrevistas, as principais dificuldades encontradas foram a timidez de
algumas crianças e a pouca familiaridade que elas apresentavam com o tema. Porém, foi
observado que na execução dos desenhos elas se sentiam mais à vontade, agindo de forma
mais espontânea, mesmo quando relatavam suas histórias.
3.8 TRATAMENTO E ANÁLISE DOS DADOS
Com a finalidade de manter a conexão entre os pressupostos teórico/metodológicos e a
maneira mais apropriada para analisar o conteúdo do material coletado, foi escolhida a técnica
de análise de conteúdo temática proposta por Bardin (2002)12 e o modelo utilizado por
Coutinho (2001)38.
Os resultados brutos foram submetidos a operações estatísticas simples (percentagens)
e às inferências e interpretações previstas no seu quadro teórico.
Segundo Bardin (2002) 12, a análise de conteúdo é definida por:
Um conjunto de técnicas de análise das comunicações visando obter, por procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens, indicadores (quantitativos ou não) que permitam a inferência de
45
conhecimentos relativos às condições de produção/recepção (variáveis inferidas) destas mensagens (p.42).
Essa modalidade de análise foi utilizada com o objetivo de conseguir uma
aproximação mais precisa com o material coletado, tentando-se identificar o que está por trás
das mensagens emitidas pelas crianças e visando a ultrapassar as incertezas, enriquecer a
leitura e aumentar a validade 12.
Assim, tomando como base os objetivos propostos neste estudo subsidiados na Teoria
das Representações Sociais, esta técnica de análise seguiu as seguintes etapas operacionais:
LEITURA FLUTUANTE
Corresponde ao estabelecimento do contato com os documentos a analisar e ao
conhecimento do texto, deixando-se invadir por impressões e orientações 12.
Foi feito um contato exaustivo com o material coletado, deixando-se impregnar pelo
seu conteúdo. Inicialmente tal ligação ocorreu de forma livre, seguida por uma leitura
progressivamente mais orientada e sugestiva.
CONSTITUIÇÃO DO CORPUS
Esta etapa consiste na organização do material coletado para ser submetido aos
procedimentos analíticos, de tal forma que possa responder a algumas regras, quais sejam:
exaustividade (contemplar todos os elementos), representatividade (representar o universo
inicial), homogeneidade (obedecer aos critérios de escolha em termos de temas, técnicas e
interlocutores) e pertinência (ser adequado e corresponder aos objetivos do trabalho)12.
O corpus da presente pesquisa foi constituído por 30 entrevistas e 30 desenhos-estórias
com tema aplicados nas crianças que foram submetidas ao tratamento odontológico há pelo
menos um ano.
COMPOSIÇÃO DAS UNIDADES DE ANÁLISE E CODIFICAÇÃO
46
Embora o corpus de texto esteja aberto a uma multidão de possíveis questões, a
análise de conteúdo interpreta o texto apenas à luz do referencial de codificação, a qual
constitui uma seleção teórica que incorpora o objetivo da pesquisa 15.
Para Holsti citado por Bardin (2002)12, a codificação é o processo pelo qual os dados
brutos são transformados sistematicamente e agregados em unidades que permitem uma
descrição exata das características pertinentes do conteúdo.
Dessa forma, após a leitura flutuante do corpus, foram estabelecidas as unidades de
análise, separando-se o conteúdo em frases que fornecessem significados possíveis de serem
analisados, sistematizados e situados no conteúdo do corpus em relação aos questionamentos
e objetivos propostos neste estudo.
CATEGORIZAÇÃO
A categorização surge como uma operação cuja finalidade é a classificação de
elementos constitutivos de um conjunto, por diferenciação e reagrupamento, segundo a
analogia com os critérios previamente definidos12.
Os desenhos-estórias com temas foram submetidos, além da análise de conteúdo já
mencionada, à análise do modelo preconizado por Coutinho (2001)38. Esse modelo é
constituído dos seguintes procedimentos: observação sistemática dos desenhos; seleção dos
desenhos por semelhanças gráficas e/ou aproximação dos temas; leitura flutuante das
unidades temáticas das histórias; recorte e categorização dos desenhos com suas respectivas
histórias; análise e interpretação dos desenhos através dos grafismos e análise e interpretação
das unidades temáticas.
Nesse estudo, depois da decomposição do corpus e da codificação das unidades
temáticas, o material coletado foi dimensionado nas seguintes categorias e subcategorias:
Quadro 1. Distribuição das categorias e subcategorias das Representações Sociais do tratamento odontológico em crianças apreendidas por meio da entrevista e do desenho-estória com tema.
47
ENTREVISTA DESENHO-ESTÓRIA COM TEMA
CONCEPÇÃO DO MODELO DE TRATAMENTO ODONTOLÓGICO
(técnico-curativo/preventivo)
DESCRIÇÃO DO AMBIENTE ODONTOLÓGICO
(espaço físico/material-instrumental)
CONCEPÇÃO DO MODELO DE TRATAMENTO ODONTOLÓGICO
(técnico-curativo/preventivo)PERCEPÇÃO DA IMAGEM DO
DENTISTA
(humanizada/tecnicista-mecanicista) PERCEPÇÃO DA IMAGEM DO DENTISTA
(humanizada/tecnicista-mecanicista)
MANIFESTAÇÕES INFANTIS FRENTE AO TRATAMENTO ODONTOLÓGICO
(psicológica/comportamental)
MANIFESTAÇÕES INFANTIS FRENTE AO TRATAMENTO ODONTOLÓGICO
(psicológica/comportamental)
48
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
4.1 CARACTERÍSTICAS DOS PARTICIPANTES
Para visualização das variáveis sociodemográficas dos participantes deste estudo,
seguem-se as figuras com as características coletadas.
Pode–se observar, em relação ao sexo, que 73% são meninas e 27%, meninos. A
Figura 1 apresenta a distribuição do sexo.
73%
27%
F
M
Figura 1. Distribuição percentual das crianças segundo o sexo.
Quanto à idade, constata-se que o maior percentual dos participantes se encontra na
faixa etária entre 9 e 10 anos de idade, correspondendo a 56,7% dos indivíduos. Os meninos
se encontram em igual proporção que as meninas aos 07 anos e se distribuem uniformemente
nas idades de 08 a 10 anos de idade. A Figura 2 ilustra a relação idade-sexo.
49
0
2
4
6
8
6 7 8 9 10
Idade (anos)
F
M
Figura 2. Distribuição percentual da relação idade-sexo dos sujeitos.
Com relação à escolaridade das crianças, percebe-se que 33% se encontravam na 4a
série, seguida por 30% na 2a série, 20% na 3a série e 16,7% na 1a série. Também na 4a série foi
encontrada a maior porcentagem das meninas do estudo, correspondendo a 40,9%. Já os
meninos se encontraram em maior proporção na 3a série, com 37,5%. A Figura 3 ilustra a
relação entre escolaridade e sexo.
0
2
4
6
8
10
1a série 2a série 3a série 4a série
Escolaridade
F
M
Figura 3. Distribuição percentual da relação
escolaridade-sexo dos sujeitos.
Comparando a relação entre escolaridade e idade, constatou-se que 77,8% das crianças
da 4a série apresentam 10 anos de idade, 66,7% da 3a série, 9 anos de idade, 44,5% da 2a série,
8 anos de idade e 60% da 1a série, 6 anos de idade. A Figura 4 ilustra essa relação.
50
0
2
4
6
8
6 7 8 9 10
Idade (anos)
1a série
2a série
3a série
4a série
Figura 4. Distribuição percentual da relação
escolaridade-idade dos sujeitos.
4.2 A ELABORAÇÃO DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DAS
CRIANÇAS SOBRE O TRATAMENTO ODONTOLÓGICO
O conhecimento elaborado acerca da Representação Social do tratamento odontológico
pelas crianças com base no material coletado pelas entrevistas foi dimensionado em três
categorias e seis subcategorias, como discrimina o Quadro 2.
Quadro 2. Distribuição das categorias e subcategorias das Representações Sociais do tratamento odontológico em crianças elaboradas por meio das entrevistas.
CATEGORIAS SUBCATEGORIAS
Técnico-curativoConcepção do modelo de tratamentoodontológico
PreventivoHumanizadaPercepção da imagem do dentista
Tecnicista/mecanicista
PsicológicaManifestações infantis frente ao tratamento odontológico
Comportamental
51
CATEGORIA 1 - CONCEPÇÃO DO MODELO DE TRATAMENTO
ODONTOLÓGICO
A concepção do modelo de tratamento odontológico infantil encontra-se vinculado às
esferas técnico-curativo e preventivo, mostrando as diferentes maneiras pelas quais as
crianças percebem o tratamento, baseado em suas experiências.
Quadro 3. Distribuição das freqüências e percentuais das subcategorias de concepção do modelo de tratamentoodontológico.
CONCEPÇÃO DO MODELO DE TRATAMENTO ODONTOLÓGICO
SUBCATEGORIAS f %
Técnico-curativo 232 68,04
Preventivo 109 31,96
TOTAL 341 100
No Quadro 3 encontram-se as freqüências e percentuais referentes à categoria
“concepção do modelo de tratamento odontológico” e as suas respectivas subcategorias, nas
quais se observa uma freqüência mais elevada na subcategoria “técnico-curativo” (68,04%),
em detrimento da subcategoria “preventivo” (31,96%).
Este resultado repercute o modelo hegemônico da prática odontológica presente no
Brasil, que, segundo Santi (2003)92, se encontra caracterizado por alta complexidade e
destaque nos procedimentos curativos, ancorada no biologicismo, na sofisticação da técnica e
dos instrumentos. Basicamente, esse modelo cuida das doenças bucais instaladas no
organismo do paciente, em vez de incentivar a educação-prevenção através de procedimentos
de menor complexidade e custo.
52
Dessa forma, o que se tem observado é que esse tipo de prática centrada no modelo
técnico-curativo pouco tem contribuído para a melhoria das condições de saúde bucal da
população, demonstrando a necessidade de um reordenamento da prática odontológica, com
mudanças sensíveis na abordagem do processo saúde-doença, ou seja, a compreensão de que a
saúde e a doença decorrem da interação de fatores biológicos, psicológicos e sociais.
Subcategoria 1.1 - Modelo técnico-curativo
Na subcategoria “modelo técnico-curativo”, a representação do tratamento
odontológico infantil emerge associada aos procedimentos clínicos técnico-curativos, com
ênfase na doença instalada, desconsiderando os fatores que interferem no processo da doença
e as condições que promovem a saúde, conforme relatos das crianças:
“dá anestesia (31) arrancar o dente (115) botar motor (9) pegar alicate (7) fazer obturação (41) colocar curativo (4) fazer canal (2) colocar prótese ( ) tirar a cárie do dente (5) cirurgia do dente ( ) tirar tártaro ( ) usar aparelho ( ) botava um anel ( ) passa uma pasta pra ficar dormente (9) consertar os dentes (2) saiu sangue ( ) pegar ponto ( )”
Observa-se, por meio das falas dos nossos participantes, bem como por meio dos
desenhos 4 e 5 (p.72) que o atendimento odontológico infantil ainda se encontra ancorado no
tratamento tradicional, embora se reconheçam atualmente as suas limitações e ineficácia no
controle das doenças bucais. Esse tipo de tratamento reducionista gera um círculo vicioso que
não promove saúde, somente trata dos sintomas da doença.
Procedimentos mais complexos como canal, prótese, cirurgia e aparelho, que não
fazem parte da atenção básica à saúde, surgem também de forma considerável e curiosa nos
relatos das crianças. Em tempos ainda recentes, esses procedimentos representavam um
avanço técnico da Odontologia, hoje representa o resquício de uma prática que sabemos ser
ineficaz. Isso reforça a idéia de círculo vicioso que ostenta essa filosofia de atendimento, que
não proporciona solução e nem eleva o nível de saúde da população, refletindo apenas a
imensa fragilidade desse modelo que culmina quase sempre na necessidade de procedimentos
cada vez mais complexos e caros.
Percebe-se também que a maior freqüência dentro dessa subcategoria se relaciona às
técnicas mais invasivas desenvolvidas durante o tratamento odontológico, exemplificadas por
53
“dá anestesia” e “arrancar o dente”. Desta forma, acredita-se que por estarem objetivadas as
sensações de desconforto e dor, esses elementos adquirem maior destaque no mundo infantil,
ou seja, quanto mais penosa a situação, maior o registro no imaginário do pequeno paciente.
Conforme destacado por Moraes e Ongaro (1998)71, o tratamento odontológico
representa, para grande parcela da população, uma ameaça ao seu bem-estar psicológico,
considerando os estímulos aversivos presentes na situação e a ruptura que produz no cotidiano
de vida do paciente. Nesse sentido, ele não pode ser apenas técnico, mas interativo, com o
objetivo de apreciar, juntamente com o doente, a extensão das implicações da doença na sua
história de vida.
Acredita-se que esses achados podem estar associados à precariedade de programas
educativo-preventivos em nosso país, ao contexto social menos favorecido no qual essas
crianças estão inseridas e que provavelmente dificultam a acessibilidade aos serviços de saúde
ou ao pouco esclarecimento dos seus responsáveis, que podem trazer como resultado a
procura pelo atendimento apenas quando a doença já se encontra instalada.
Porém, todas essas possibilidades são apenas conseqüências do modelo vigente e
perverso de organização da assistência em saúde bucal no Brasil, que de acordo com Oliveira
e colaboradores (1999)77 é iatrogênico-mutilador, biologicista, individualista, centrado na
técnica e pouco resolutivo.
Mesmo após quase 10 anos de implantação do PSF (Programa de Saúde da Família),
que surgiu com a finalidade de modificar essa prática histórica da Odontologia, constata-se
que infelizmente apesar da sua proposta de reformulação do processo de trabalho e
reestruturação da atenção primária, ainda hoje se encontra a imagem da Odontologia
relacionada ao trabalho centrado na recuperação da saúde.
Configura-se, desse modo, que a Representação Social do tratamento odontológico
para este grupo de crianças está vinculada a uma prática curativista, afastando-se o bastante da
prática odontológica que se busca atualmente, ou seja, embasada em ações educativo-
preventivas, considerando o contexto social do paciente.
54
Subcategoria 1.2 – Modelo preventivo
Esta subcategoria encontra-se relacionada ao modelo preventivo de saúde bucal e
caracteriza-se por elementos associados às noções de higiene e cuidados com os dentes,
conforme se pode observar nas falas dos sujeitos:
“fazer limpeza nos dentes (28) cuidar dos dentes (14) escovar os dentes (17) escovar pra não estragar os dentes (6) escovo meu dente pra ficar bem bonito (3) passar fio dental (2) coloca flúor (20) faz tratamento pra não deixar os nossos dentes ficar podre (5) não deixar os dentes sujos ( )”
As ações preventivas em saúde têm por objetivo levar as pessoas a modificar seus
padrões de comportamento, substituindo-os por estilos de vida mais saudáveis,
compreendendo a relação saúde-doença na perspectiva da melhoria da qualidade de vida53.
Para o controle da cárie, principal problema de saúde bucal no Brasil, reporta-se a
necessidade da conscientização e colaboração do paciente como recursos importantes à
manutenção da saúde. Percebe-se na presente pesquisa o enfoque dado pelas crianças à
escovação diária e após as refeições e do controle da dieta, conforme exemplo:
“ escovar os dentes todos os dias (4) sempre quando comer alguma coisa escovar os dentes (7) não pode ficar sem escovar os dentes ( ) não comer coisa doce ( )”
Algumas crianças relacionam as atividades preventivas a práticas propiciadoras de
“saúde dentária”, exemplificadas por “faz tratamento pra não deixar os nossos dentes ficar
podre”, “escovar pra não estragar os dentes” e “escovo meu dente pra ficar bem bonito”.
Ressalva também deve ser dada ao grande destaque que o flúor apresenta nos relatos e
também no desenho 6 (p.74) como medida preventiva aplicada na clínica odontológica.
Observa-se, então, que as falas das crianças direcionam-se em torno dos
procedimentos odontológicos clínico-preventivos como limpeza e flúor, bem como no
seguimento de instruções sobre normas de higiene, como escovar os dentes. Porém, há de se
conscientizar que esse modelo de prevenção só considera os fatores biológicos, não incluindo
as condições de vida, como fator predisponente e essencial no processo saúde-doença. Isso
porque se constata uma postura limitada de prevenção, como um tratamento fechado, o
indivíduo cuida do dente sem relacioná-lo com a boca e com o corpo, culminando numa
atividade puramente técnica e pouco abrangente.
55
Segundo Martins (1998)66, as atividades preventivas deveriam enfocar o indivíduo, o
seu corpo, seus desejos, sua inserção na sociedade, considerando a sua realidade, utilizando o
diálogo como ponto de partida e com enfoque voltado para o cuidado e a valorização do corpo
enquanto ser social e fonte de prazer.
Pode-se observar que as crianças conhecem as medidas preventivas existentes, e diante
desse quadro, parece fundamental o envolvimento e a valorização destas no desenvolvimento
do tratamento odontológico.
CATEGORIA 2 - PERCEPÇÃO DA IMAGEM DO DENTISTA
A segunda categoria diz respeito à percepção da imagem do dentista. Os dados
revelam que as crianças associam a imagem do profissional dentista à forma como este aborda
e se comunica durante o desenrolar da execução das ações odontológicas, fazendo emergir
duas subcategorias: tecnicista/mecanicista e humanizada, conforme quadro abaixo.
Quadro 4. Distribuição das freqüências e percentuais das subcategorias da percepção da imagem do dentista.
PERCEPÇÃO DA IMAGEM DO DENTISTA
SUBCATEGORIAS f %
Tecnicista/mecanicista 24 18,05
Humanizada 109 81,95
TOTAL 133 100
No Quadro 4, encontram-se as freqüências e percentuais referentes à categoria
“percepção da imagem do dentista” e as suas respectivas subcategorias, mostrando que houve
56
um maior registro da imagem que enfatiza o aspecto humano do dentista (81,95%), do que a
que enfatiza a atividade profissional propriamente dita (18,05%).
Os métodos que o dentista utiliza nas aproximações e procedimentos com a criança
apresentam fundamental importância nas atitudes e reações do paciente infantil diante do
tratamento odontológico5. Assim, percebe-se que esses achados são de grande relevância no
contexto do atendimento odontológico infantil, pois ao considerar a imagem humanizada
predominante acredita-se que o atendimento tem se apresentado mais agradável e
descontraído.
Subcategoria 2.1 - Imagem tecnicista/mecanicista
Na subcategoria “tecnicista/mecanicista”, a imagem do dentista se encontra
relacionada a atitudes de interesse meramente profissional, desconsiderando o paciente na sua
totalidade como um ser biopsicossocial contextualizado, conforme falas dos entrevistados:
“bota a gente numa cadeira (4) abre a boca da pessoa (3) puxou meu irmão ( ) muito avexada (2) manda deitar (4) manda ficar queto (2) manda cuspir (2) disse que tinha que engolir o sangue ( ) não falava muito bem com as pessoas ( )”
Na realidade, o que podemos observar através das entrevistas e também dos desenhos
7, 8 e 9 (p.76-7) é a imagem de um profissional que não interage com seu paciente e
conseqüentemente não consegue estabelecer um clima cordial durante o atendimento. Essa
maneira “seca” do cirurgião-dentista tratar o paciente produz o distanciamento entre ambos e
desfavorece a co-participação, podendo desencadear inclusive comportamentos defensivos no
paciente, conforme exemplo:
“não gosto dele porque ele não faz brincadeira ( ) achei a dentista esquisita ( ) achei ele chato (2)”
De acordo com Moraes e Ongaro (1998)71, o paciente não pode ser visto
exclusivamente como um problema de saúde bucal, ou como um conjunto de dentes a
restaurar, pois isso intensificará a impotência do paciente e certamente a aversividade ao
tratamento. Dessa forma, parece fundamental o envolvimento e a valorização do paciente
durante todo o percurso do tratamento.
57
Percebe-se, então, que o profissional não pode simplesmente agir como um prestador
de serviços. É necessário que se estabeleça um contato mais humano, que o dentista perceba
cada criança nas suas características próprias e consiga se comunicar de forma atenciosa,
demonstrando respeito, paciência e carinho com ela, que sente a necessidade de ser valorizada
e percebida como pessoa.
Assim, o dentista deve atuar não apenas como técnico, mas principalmente ancorado
em um modelo holístico para com o pequeno paciente e com sua saúde, para que este possa se
sentir confiante e tranqüilo durante o atendimento.
Subcategoria 2.2 - Imagem humanizada
A comunicação é o elo no relacionamento humano, constituindo uma ferramenta
poderosa para o estabelecimento de um amistoso entendimento durante o tratamento
odontopediátrico 36.
Na subcategoria “imagem humanizada”, percebe-se a importância da comunicação
entre o dentista e a criança, objetivada por um relacionamento amigável e amistoso durante o
atendimento. Essa interação do profissional com a criança faz emergir a imagem de um
profissional humanizado, como evidenciam as falas a seguir:
“conversa com a gente (12) são legal aqueles que conversa (3) ela é bem legal, pergunta como a gente tá escovando os dentes, ensina a gente ( ) ela pergunta se eu vou bem na escola (2) pergunta se ele já tá dormindo ou não ( ) diz que não vai doer (11) falou que não precisava se preocupar (2) falou pra eu não ter medo (3) acalma a gente (4) fica dizendo o que está acontecendo com os meus dentes ( ) dizendo o problema que tá tendo ( ) fala pra gente ficar confortável ( ) diz pra mim não chorar ( ) fica falando umas coisas engraçadas, a gente assim começa a perder o medo ( )”
Para Vomero (2000)101, o paciente vai sentindo-se integrado ao ambiente à medida que
o dentista procura conversar com ele e entender suas dúvidas e seus receios. Assim, pode se
constatar, através dos relatos das crianças e dos desenhos 10 e 11 (p.79-80), que a
comunicação, além de favorecer um relacionamento construtivo e harmonioso entre o
profissional e o pequeno paciente, é também um importante auxiliar no condicionamento da
criança, à medida que pode ser utilizada para entretê-la durante a execução dos
procedimentos, para explicar acerca do desenvolvimento das ações odontológicas e
tranqüilizá-la quanto aos seus receios e fantasias frente ao ambiente odontológico.
58
O lúdico é outro elemento que surge nas falas das crianças como instrumento auxiliar
de enfrentamento da situação odontológica. As crianças exprimem a satisfação diante de
profissionais que interagem de maneira lúdica com elas, e dessa forma tendem a facilitar o
estabelecimento de vínculos e a relação entre ambos, conforme relatos abaixo:
“faz a gente sorrir (4) me faz sorrir quando eu tô arrancando o dente (2), brinca com a gente (9), faz brincadeira pra pessoa não chorar (2), distrai a gente (3) o dentista tem que ser mais animado com as crianças (3)”
De acordo com Barreto (2002)14, o brincar e as atividades afins podem assumir
dimensões variadas na relação odontopediátrica, algumas muito expressivas, revelando o ser
humano e sua essência. Utilizar o lúdico de modo flexível possibilita a ampliação das
modalidades de intervenção na área odontológica, bem como o uso incessante da criatividade
humana.
É comum os dentistas oferecerem uma recompensa para a criança após a consulta,
quando ela colabora com o atendimento. Esses prêmios favorecem o relacionamento com o
profissional e são coadjuvantes importantes para o interesse da criança em comparecer no
consultório50, conforme observado nas falas seguintes:
”eles dão um brinquedo (7) eles dão doces (2) ele dá uma escova (2) ela me deu aquelas bolinha de assoprar ( ) tem uns que dão luva pra brincar ( ) ela me dá revista de quadrinhos ( )”
É importante também destacar que as crianças valorizam e enfatizam a simpatia e
cordialidade do profissional, exemplificados por:
“a dentista é gentil (3) ele é bonzinho com a gente (17) ela é educada ( ) quando ele me atende dá bom dia ( ) dá boa tarde pra mim ( ) quer amizade com a gente ( ) me trata bem (2) atende bem (2)”
Essas observações tendem a favorecer a colaboração da criança para com o
tratamento, pois de acordo com Sandrini, Bonacin Júnior e Christóforo (1998)91, a simpatia e
a amizade pelo odontopediatra consistem no primeiro passo para que a criança aceite o
atendimento odontológico.
Dessa forma, a participação humana do profissional durante o atendimento é
primordial na busca de um tratamento harmonioso e eficaz, e que não proporcione o
surgimento de sentimentos aversivos nos pequenos pacientes.
59
CATEGORIA 3 – MANIFESTAÇÕES INFANTIS FRENTE AO TRATAMENTO
ODONTOLÓGICO
A terceira categoria se reporta às manifestações infantis face ao tratamento
odontológico. As crianças objetivaram essas manifestações através de duas subcategorias
associadas às esferas psicológicas e comportamentais, segundo quadro a seguir.
Quadro 5. Distribuição das freqüências e percentuais das subcategorias das manifestações infantis frente ao tratamentoodontológico.
MANIFESTAÇÕES INFANTIS FRENTE AO TRATAMENTO ODONTOLÓGICO
SUBCATEGORIAS f %
Psicológicas 25 21,2
Comportamentais 93 78,8
TOTAL 118 100
De acordo com os dados do Quadro 5 referente às freqüências e percentuais da
categoria “manifestações infantis frente ao tratamento odontológico”, observou-se que a
subcategoria “manifestações comportamentais” surgiu com maior freqüência (78,8%),
enquanto a subcategoria “manifestações psicológicas” apresentou (21,2%).
Ter uma criança segura e relaxada é imprescindível para o sucesso do atendimento
odontológico, pois o paciente que apresenta estímulos aversivos diante do tratamento é mais
resistente em comparecer às consultas, em colaborar com a execução do procedimento clínico
e em seguir as orientações necessárias à promoção da saúde. Por isso, a compreensão dessas
manifestações, demonstrando sempre respeito com suas emoções, expectativas e temores,
resulta, conseqüentemente, em uma melhor abordagem de relacionamento com a criança, ou
60
seja, deve-se conhecer a criança que existe “por trás dos dentes” e os modos como ela pode
ser afetada por fatores de natureza interpessoal ou social.
Subcategoria 3.1 – Manifestações psicológicas
Nessa subcategoria, emergem com grande enfoque manifestações de medo,
nervosismo e de ansiedade, diante do tratamento odontológico, conforme exemplos:
“fico com medo (3) tem algumas crianças que tem medo de dentista ( ) ficava nervosa (2) eu não tenho medo ( )
A ansiedade e o medo influenciam a espontaneidade das crianças em aceitar o
tratamento odontológico, não que elas desejem evitar o dentista ou o tratamento, ou que não
queiram cooperar, mas o surgimento desses sentimentos pode interferir em suas atitudes
(GALE, 1983 citado d´ÁVILA, 1997)41.
Sem dúvida, o primeiro passo na superação do medo e da ansiedade é a descoberta do
elemento gerador dessas manifestações, para que, a partir desse diagnóstico, o profissional
possa compreender melhor o seu pequeno paciente e estabelecer a forma de abordagem mais
coerente de acordo com cada caso.
Os relatos das crianças por meio das entrevistas e dos desenhos 12, 13 e 14 (p.82-3)
apontaram os procedimentos odontológicos técnico-curativos como os principais elementos
desencadeadores dessas manifestações psicológicas, conforme falas das crianças:
“fiquei com medo porque olhei pra injeção (3) tava com muito medo porque ia arrancar um dente no dentista ( ) fiquei toda nervosa pra arrancar um dente ( ) aquele motor faz barulho e me dá medo ( )”
As situações presentes no modelo de tratamento odontológico técnico-curativo são por
si só ameaçadoras para as crianças e produtoras de estímulos aversivos para com o tratamento.
Como observado anteriormente, esse modelo de tratamento não tem se mostrado eficaz na
redução dos índices das doenças bucais e principalmente na promoção de saúde da população.
Está-se agora diante de mais um problema, ou seja, além de não melhorar o quadro de saúde,
esse modelo de tratamento também proporciona reações aversivas e conseqüentemente
dificulta o percurso do atendimento.
61
Em algumas entrevistas, a dor também aparece como um fator desencadeador do medo
e da ansiedade. Ela é também considerada manifestação psicológica quando produzida no
imaginário e não vivenciada diretamente por algum elemento indutor. É o que se observa
nitidamente abaixo:
“penso que vai doer (8) pergunto que vai doer (3) se eu vejo assim que vai doer um pouco, aí eu fico com medo ( )”
Nas falas acima, as crianças demonstram tensão e ansiedade frente à possibilidade de
sentirem uma sensação dolorosa. Na verdade não existiu um agente físico causador dessa dor,
mas sim uma visão do tratamento odontológico como uma situação capaz de ameaçar o seu
bem-estar. Pode-se afirmar que encontramos crianças angustiadas diante da premonição do
tratamento odontológico desencadear sensibilidade dolorosa.
A dor não é só um distúrbio do corpo, mas está relacionada ao estado emocional,
podendo ser o resultado da percepção individual de ameaça à integridade do seu corpo, ser
usada como desculpa para comunicar-se e expressar-se emocionalmente ou representar uma
conseqüência da hostilidade84.
A ansiedade antecipa e exagera qualquer experiência dolorosa real32. De acordo com
Guedes-Pinto (1997)51, a tensão aumenta a sensibilidade dolorosa, e por este motivo o
dentista deve estar preparado para lidar com pacientes tensos e conseqüentemente mais
propensos à dor. Muitas vezes a ausência de diálogo entre profissional-paciente pode
transformar um receio em medo e este em sensação de dor.
As situações que envolvem dor no atendimento odontológico estão entre as mais
estressantes, tanto para a criança, quanto para o profissional. Assim, cabe ao dentista ter
equilíbrio emocional e controle da situação, tentando diminuir o desconforto provocado pela
dor, considerando sempre ser ela psicológica ou comportamental.
Subcategoria 3.2 – Manifestações comportamentais
A maior parte das manifestações comportamentais que foram apreendidas através das
falas dos participantes encontra-se relacionada a elementos como birra, choro e esquiva,
conforme se observa nas falas das crianças:
62
“chorei (6) tem criança quando vai que grita (2) tem algumas que fica com trauma ( ) meu pai segurou nas perna e minha mãe segurou no braço pra arrancar o dente ( ) às vezes eu fico com coragem, quando eu chego começa a sair lágrimas ( ) não quer ir nunca mais para o dentista (2) um dia eu fugi para casa da minha vó ( )”
A birra é uma explosão de forte emoção, acompanhada de raiva e agressividade, choro
e batimentos de pés e mãos, que pode ser expressa no consultório odontológico como forma
de resistência em cooperar com o tratamento41. Nesse estudo, a birra se encontra presente nos
relatos de gritos e de resistência física, exemplificados por “tem criança quando vai que grita”
e “meu pai segurou nas perna e minha mãe segurou no braço pra arrancar o dente”.
O choro para a criança significa uma forma sublime e profunda de expressão
emocional que transcende a verbalização29, podendo ter origem de variadas causas, como
tensão, birra, medo, dor e cansaço51. Todos esses fatores causais são comuns no ambiente
odontológico, o que torna muitas vezes difícil distingui-los para se poder solucionar o
problema. Alguns profissionais tendem a subestimar e reprimir essa forma de expressão da
criança, quando na verdade ele precisa mesmo é compreender o que o pequeno paciente quer
dizer através do choro.
Já a esquiva corresponde ao comportamento da criança em tentar impedir ou atrasar a
ocorrência de um estímulo aversivo iminente70. No ambiente odontológico, esta situação
ocorre principalmente pela natureza aversiva do tratamento odontológico técnico-curativo,
como exodontias, anestesias e ruídos do motor de alta rotação, que tendem a gerar a sensação
de que algo desagradável poderá ocorrer, fortalecendo assim o comportamento de esquiva da
criança, exemplificado nesta pesquisa por “não quer ir nunca mais para o dentista”, “um dia
eu fugi para casa da minha vó”.
Essa natureza aversiva do tratamento odontológico ancorado no modelo técnico-
curativo também foi, assim como na subcategoria anterior, o elemento precursor das
manifestações comportamentais, conforme relatos das crianças:
“choro quando bota a agulha (5) quando é pra arrancar meu dente eu choro (2) chorei porque meu dente tava muito dormente ( ) quando vai arrancar dói (2) quando vai dá anestesia dói (7) dói mais por causa do motor (3) o anel que ela colocava doía a gengiva ( ) o tratamento odontológico dói (24)”
De acordo com as falas acima, é importante destacar ainda a presença da dor nessa
subcategoria, só que aqui ela emerge como uma manifestação comportamental provocada por
63
elementos invasivos próprios da prática odontológica técnico-curativa, tais como anestesia e
caneta de alta rotação.
Porém, mesmo diante de todo esse quadro de emersão de manifestações negativas
frente ao tratamento odontológico, há de se destacar que algumas crianças também se
apresentaram seguras e tranqüilas durante o atendimento, exemplificado por:
“eu fiquei tranqüila (8) “eu nem chorei (5) não dói (21) ”
Assim, percebe-se que o tratamento odontológico tem a possibilidade de ser vivido de
forma serena, agradável e com ausência de sintomatologia dolorosa. Nesse contexto, cabe ao
dentista reconhecer e compreender as reações infantis, visando a reduzir o provável
desconforto que a situação de atendimento, juntamente com os elementos constituintes da
nossa prática, pode proporcionar à criança.
64
4.3 REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DAS CRIANÇAS APREENDIDAS
POR MEIO DO DESENHO-ESTÓRIA COM TEMA
Os desenhos-estórias com tema foram selecionados e agrupados por aproximações dos
grafismos e dos conteúdos temáticos. O material coletado e agrupado fez emergir 4 categorias
empíricas e 8 subcategorias, conforme quadro a seguir.
Quadro 6. Distribuição das categorias e subcategorias das Representações Sociais do tratamento odontológico em crianças apreendidas através do desenho-estória com tema.
CATEGORIAS SUBCATEGORIAS
Espaço físico Descrição do ambiente odontológico
Material/instrumental
Técnico-curativoConcepção do modelo de tratamento odontológico
PreventivoHumanizada Percepção da imagem do dentista
Tecnicista/mecanicista
PsicológicaManifestações infantis frente ao tratamento odontológico Comportamental
CATEGORIA 1 - DESCRIÇÃO DO AMBIENTE ODONTOLÓGICO
A primeira categoria refere-se à descrição do ambiente odontológico e encontra-se
direcionada para dois eixos: a descrição do espaço físico e dos materiais e instrumentais que
fazem parte do cotidiano da prática odontológica. Percebe-se dentro da técnica do desenho-
estória com tema que, sob o olhar das crianças, o ambiente odontológico corresponde ao
elemento figurativo das Representações Sociais do tratamento odontológico, uma vez que
esse elemento perpassa todas as demais categorias.
Na realidade, constata-se que as duas subcategorias, “espaço físico” e
“material/instrumental”, emergiram de forma indissociada tanto no nível do grafismo quanto
65
no da elaboração do conteúdo das histórias, por isso serão descritas e analisadas
conjuntamente.
O posto
“Aqui é a porta do laboratório..., aqui é a porta que aquitinha uns banco, aqui que eu não desenhei que tem umaruma de pessoa, essa mulher é a mulher que chama aspessoa pra vim entrar, aqui é um laboratório que nãotem dois, né! Lá dentro, aí aqui é um e aqui é outro,aqui é uma casa que fica uma mulher aqui, isso aqui éos negócio que tá faltando, sabe as ferramentas que táfaltando nos negócio, aqui é uma mesa de reserva, é amulher que chama. Ela chamou a mulher que tava como menino aqui, era a vez do menino entrar que era esseaqui...”.
(09 anos)
Desenho 1
Eu vou ao dentista
“Eu estava indo para o dentista, entrei na porta, tinha uma mesinha cheia de coisas, com aquelaspastas que passam dentro da boca, de passar no dente, tem algodão e aquele negócio que colocaquando arranca o dente, aquele paninho, o espelho e o alicate. A dentista pediu a agulha, tem duascrianças esperando para entrar. Eu tô deitada, a dentista ia arrancar meu dente, e a assistente dela tátrazendo uma agulha para furar a boca”
(09 anos)
Desenho 2
66
Dentista das crianças
“A menina foi arrancar o dente, precisou dáinjeção, da pomadinha pra não ficar inchado, e ospessoal ficaram esperando, a família e um bocadode gente esperando”.
(09 anos)
Desenho 3
De acordo com a produção do conjunto de desenhos e respectivas histórias (1,2 e 3)
dessa primeira categoria, a Representação Social do tratamento odontológico infantil surgiu
associada à descrição de forma concreta dos elementos que compõem o ambiente
odontológico.
Independente da categoria, o ambiente clínico odontológico permeia todos os
desenhos-estórias das crianças. Na expressão gráfica, ele é objetivado através do espaço
físico no qual se processa o tratamento clínico, como posto de saúde, a presença de paredes e
portas, bem como pelos equipamentos, materiais e instrumentais que compõem a prática
odontológica. Esses equipamentos e instrumentais são apresentados com considerável
destaque, indicando uma preocupação que essas crianças provavelmente demonstram,
enquanto elaboração mental, no que diz respeito ao equipamento e à possível ameaça do
instrumento pontiagudo na mão do profissional (desenho 2).
É interessante também destacar a presença da sala de espera nos grafismos, onde
encontramos crianças aguardando o atendimento, em um ambiente sem elementos interativos
e desprovidos de atividades lúdicas que possam distraí-las durante o tempo em que nela se
encontram. Segundo Amorim (1994)5, a sala de espera pode ser considerada fonte de
ansiedade, gerando expectativa e fantasia quanto ao que se aguarda.
67
Essa sala é um dos elementos essenciais do consultório odontopediátrico, pois, quando
bem planejada, diminui a ansiedade e o medo da criança, estimulando o bem-estar e
aumentando a segurança desta e dos pais. Desta forma, favorece um comportamento mais
tranqüilo e amplia o envolvimento nas atividades clínicas e de promoção de saúde45.
Na verdade, a presença da sala de espera com pessoas aguardando o atendimento
somente reflete a realidade do sistema de atendimento público do Brasil, em que o acesso aos
serviços odontológicos é difícil e geralmente ocorre a partir da livre demanda ou demanda
espontânea, o que faz com que muitas pessoas se submetam a ficar esperando durante horas
para conseguir o atendimento, enquanto outras acabam por desistir de procurar assistência.
Percebe-se também através dos discursos contidos nas histórias das crianças a
presença de instrumentais e materiais odontológicos, ainda que alguns não muito definidos,
bem como de objetos e estruturas físicas de espaços relacionados à Odontologia, conforme
histórias das crianças:
“[...] tinha uma mesinha cheia de coisas [...] pastas que passa na boca [...] agulha [...] algodão [...] aquele negócio que arranca o dente [...] alicate [...] paninho [...] espelho [...] injeção [...] pomadinha [...] porta do laboratório [...] uns banco [...] ferramentas [...] o posto [...] mesa de reserva [...] clínica de saúde [...] salinha com cadeira [...] mesas [...] ferrinhos [...] pro hospital [...]”.
Em face dessa exposição, é possível mencionar que o conhecimento do senso comum
elabora um campo estruturante da Representação Social do tratamento odontológico infantil
ancorado no ambiente do consultório, objetivado através dos elementos constituintes da
prática tradicional tecnicista/mecanicista - o que corrobora a categoria a seguir - e do local
onde esta se dá.
CATEGORIA 2 - CONCEPÇÃO DO MODELO DE TRATAMENTO
ODONTOLÓGICO
Observa-se que esta categoria das Representações Sociais do tratamento odontológico
apreendida através do desenho-estória com tema encontra-se relacionada à concepção do
modelo de tratamento odontológico infantil, fazendo emergir duas subcategorias: “técnico-
curativo” e “preventivo”, corroborando resultados encontrados e já descritos nos dados
referentes àqueles apreendidos por meio das entrevistas .
68
Subcategoria 2.1 - Modelo técnico-curativo
João vai ao dentista
“Eu tava no dentista, a médica perguntou o que era para eu fazer, eu disse que erapara obturar o dente. Ela pegou a agulha, deu uma injeção, pegou um negócio tipoum alicate e arrancou os dois dentes. Aí ela me deu um paninho para eu segurar, medeu uma água, mandou eu cuspir, mandou eu ficar segurando para não sair muitosangue...”
(08 anos)
Sala do dentista
“eu tava arrancando o meu dente, ela tava pegando um negócio pracolocar no meu dente, a pasta, pegou o espelhinho pra olhar meudente... passou a pomada, acendeu a luz e foi arrancar meu dente,depois passou algodão e eu cuspi, depois me deu uma luva pra mimencher e brincar, aí eu fui pra casa...” (08 anos)
Desenho 4
Desenho 5
Considerando os desenhos (4 e 5) como produções coletivas de um mesmo grupo de
pertença, percebem-se manifestações de conteúdos temáticos, bem como de expressividades
gráficas semelhantes. Essas manifestações, tanto no nível verbal quanto no gráfico, levam a
69
inferir que, segundo as crianças desta pesquisa, o tratamento odontológico encontra-se
principalmente ancorado no atendimento técnico-curativo, em que o profissional se detém a
prestar um serviço de limitação do dano, ou seja, tratar da doença já instalada através de
atividades cirúrgico-restauradoras.
Na expressividade gráfica, encontra-se a presença do ambiente clínico do consultório
odontológico, apresentando portas e janelas fechadas, mesinhas, ar-condicionado, equipo,
refletor, material, merecendo destaque a representação que fazem da agulha na mão do
dentista (desenho 5) e a proporção desse objeto em relação ao desenho como um todo,
ressaltando a condição que assume no imaginário infantil.
As histórias dos desenhos demonstraram que as crianças dispuseram e estruturaram o
campo da Representação Social do atendimento odontológico infantil, em torno da concepção
curativista, principalmente associada ao desenvolvimento de ações de procedimentos
invasivos por parte do profissional, exemplificado por “eu tava arrancando o meu dente”, “tô
no posto tirando o dente”, “o dentista arrancou meu dente”, “pegou a agulha, deu uma injeção,
pegou um alicate e arrancou dois dentes”, “pegou alicate e puxou, deu injeção em mim e
tirou”, “ele foi arrancar meu dente”. Isso porque na maioria das ocasiões o ciclo vicioso do
paradigma cirúrgico-restaurador só termina com a extração do dente.
Destaca-se também a descrição do atendimento clínico que emergiu de forma
considerável nas histórias elaboradas pelas crianças desta pesquisa, conforme as falas abaixo:
“[...] pegou o espelhinho pra olhar meu dente [...] passou a pomada [...] acendeu a luz [...] passou algodão e eu cuspi [...] deu um paninho para eu segurar [...] me deu uma água [...] mandou eu cuspir [...] mandou eu ficar segurando para não sair muito sangue [...] a luzinha que ele botou no meu rosto [...] pegou um negócio que solta água e botou no meu dente [...] pegou uma pastinha passou no algodão, botou na minha boquinha [...] pegou um metalzinho e passou no meu dente [...] viu que era uma cárie [...]”.
Considerando estas produções, pode-se afirmar que o motivo da procura pelo
tratamento odontológico e a forma como este se realiza influenciam consideravelmente a
visão que as crianças desenvolvem acerca das ações de saúde bucal.
Para Bourdieu citado por Oliveira e colaboradores (2000)78, devido à existência de
campos sociais distintos, em torno dos quais a vida social se organiza, deve-se imaginar que
as práticas de promoção de saúde da criança ocorrem nos campos sociais, em que as relações
de contradição e poder se estabelecem. Pode-se avançar nessas reflexões ao considerar que a
70
odontologia infantil incorporou no seu cotidiano apenas ações técnico-científicas, passando a
ignorar a criança como objeto de sua atenção.
Esse resultado nos mostra a necessidade de se repensar a dinâmica do atendimento
odontológico às crianças, um ponto de partida para novas reflexões e abordagens desse
campo.
Subcategoria 2.2 – Modelo preventivo
A menina da boca bonita e os dentes sujos
“Era uma vez uma boquinhaque ela era muito bonita... elatinha os dentes muito amarelos,mas depois a doutora Luisa deuo flúor nos dentinhos dela e osdentinhos dela ficou bemlimpinho”.
(09 anos)
Desenho 6
Nessa subcategoria, pode-se observar que a Representação Social do tratamento
odontológico emana desvinculada de uma atividade promotora de saúde, embora evidenciada
por um atendimento associado à limpeza dos dentes e à aplicação de flúor.
No tratamento odontológico, a utilização do flúor consiste em uma medida
significativa no controle e na prevenção da cárie dentária. Não se trata, porém, de utilizá-lo
apenas como uma medida preventiva isolada, mas de associá-lo a um processo educativo-
preventivo permeado pelos aspectos de cidadania e qualidade de vida.
71
A expressividade gráfica continua dando ênfase ao ambiente odontológico, através da
presença de elementos constituintes da nossa prática, tais como equipo e materiais. É
interessante registrar também a imagem da boca separada do corpo. No grafismo do desenho
6, observa-se uma ruptura da boca frente ao resto do corpo, à medida que foi desenhada fora
do corpo, agravada pela verbalização da história, em que se encontra a própria desvinculação
dos dentes, exemplificado por “boca bonita e dentes sujos”.
A Odontologia tomou a boca como seu objeto de estudo e a prática odontológica tem
ignorado sua estreita relação com o ser humano na sua totalidade. Dentro desse contexto,
encontra-se a figura do cirurgião-dentista condicionado a contemplar apenas as dimensões
anatômicas e funcionais da boca e desconsiderando a sua significação emocional, a sua
subjetividade.
A separação da boca do resto do corpo e principalmente do mundo externo e as
emoções que dela emanam correspondem a alguns pontos que devem ser discutidos na
tentativa de se entender a resistência que algumas crianças apresentam ao tratamento
odontológico. A postura do cirurgião-dentista frente a esses conhecimentos é questionada, já
que se tem observado que esse profissional tem-se limitado à prevenção e à solução dos
problemas odontológicos, sem levar em consideração as sensações infantis diante desses
procedimentos.
CATEGORIA 3 - PERCEPÇÃO DA IMAGEM DO DENTISTA
A terceira categoria encontra-se relacionada à percepção da imagem do dentista, que
se apresenta direcionada em 2 subcategorias, quais sejam: “tecnicista/mecanicista” e
“humanizada”. Essas representações da imagem do dentista emergem provavelmente da
observação que essas crianças fazem durante seus tratamentos, o que reafirma que as
representações resultam da interação dos atores sociais com as práticas e o contexto em que se
encontram inseridos.
72
Subcategoria 3.1 - Imagem tecnicista/mecanicista
Alimpando os dentes
“Eu tô no posto tirando o dente, a doutoramandou eu cuspir aqui dentro, disse que euabrisse a boca para tirar o dente quebrado. Aí euabri e tirei, aí ela pegou o alicate e puxou e deuinjeção em mim e tirou”.
(10 anos)
A médica
“Tem uma meninaindo ao médico, adentista foi coisar odentim dela, elacoisou o dente,injeçou o dente, pegoue saiu fora, ela botouum papelzinho assimno dente dela e umpaninho pra não ficarmais sangrando,mandou ela pegar ecuspir...”
(08anos)
Desenho 7
Desenho 8
73
O menino que não chorou pra arrancar
um dente
“Aqui é um menino queentrou pra tirar unsdentes que tavaestragado, o médicopegou os materiais praabrir e tirar o dente epegar a anestegia, omenino não chorou,ficou quietinho, fez tudoque o médico mandoufazer”.
(10 anos)
Desenho 9
Nessa subcategoria, a imagem do profissional dentista surge como uma figura
tecnicista, sem nenhum relacionamento, que deixe a criança numa atitude mais tranqüila com
relação ao atendimento odontológico (desenhos 7, 8 e 9).
O grafismo dos desenhos desse grupo denota a importância do dentista dentro do
contexto do tratamento odontológico infantil, uma vez que esse profissional aparece em
destaque. Observa-se em todos eles a presença do paciente deitado no equipo de forma
passiva à espera do atendimento e o dentista ao seu lado.
Para Amorim (1994)5, a imagem que a criança apresenta sobre seu dentista, ou seja, as
impressões que tiver, alterará o seu comportamento com relação a ele e ao tratamento
odontológico em si.
74
Nos desenhos 8 e 9, é interessante destacar a presença de um instrumento perfuro-
cortante na mão do dentista e, no desenho 7, novamente a imagem da boca separada do corpo.
Essas produções nos levam a inferir a prática odontológica técnico-curativa, sob a égide de
uma relação tecnicista/mecanicista entre profissional e paciente, que acaba por considerar
apenas os “aspectos dentários” e que pouco se incomoda com o paciente. Essas referências
são percebidas com muita propriedade pelas crianças durante o tratamento odontológico.
Na produção das histórias, identifica-se um profissional que apenas executa seus
procedimentos clínicos considerando a precisão técnica, sem interagir com o pequeno
paciente, desconsiderando seus anseios e suas angústias diante de um ambiente tão
conflituoso para a criança como é o odontológico, conforme falas das crianças:
“[...] disse que eu abrisse a boca para tirar o dente quebrado [...] ela pegou o alicate e puxou e deu injeção em mim e tirou [...] já tava arrancando o dente [...] ela arrancou com muita força e doeu muito [...] ela coisou o dente, injeçou o dente, pegou e saiu fora [...] ela botou um papelzinho assim no dente dela e um paninho pra não ficar mais sangrando [...] o médico pegou os materiais pra abrir e tirar o dente e pegar a anestegia [...]”.
Ressaltado num conhecimento incrustado de uma carga emocional muito grande,
relacionado às experiências traumáticas anteriores, sensação de impotência, ansiedade e falta
de informação, percebe-se que não existe por parte do dentista uma preparação psicológica,
uma comunicação, na tentativa de tranqüilizar a criança frente aos procedimentos que irão
ocorrer no decorrer do tratamento.
De acordo com Moraes e Ongaro (1998)71, o dentista geralmente aborda o paciente de
uma forma neutra e com pouca emoção, exibindo atitudes de interesse profissional e de
confiança em suas habilidades. O paciente, por sua vez, mostra-se passivo e compreensivo no
tocante às intervenções técnicas e às recomendações do dentista, esperando a resolução do seu
problema, exemplificado por “o menino não chorou, ficou quietinho, fez tudo que o médico
mandou fazer”.
É interessante registrar a dificuldade que algumas crianças apresentam em definir os
profissionais da área de saúde. Elas tendem a confundir a figura do dentista com a do médico:
“tem uma menina indo ao médico”, “o médico pegou os materiais pra abrir e tirar o dente”,
“fez tudo que o médico mandou fazer”. Para Nóbrega (1995)76, isso ocorre devido a algumas
semelhanças existentes entre o médico e o dentista, pois os dois são chamados de doutor e
usam roupas brancas, por exemplo.
75
Há de se considerar também que ambos cuidam da saúde e lidam com procedimentos
clínicos sobre o corpo, o que gera muita expectativa nas crianças.
Pode-se observar que essa forma tecnicista/mecanicista do dentista se relacionar com
a criança altera a visão que esta apresenta com relação ao próprio profissional e compromete
seu comportamento diante do tratamento odontológico, conforme exemplo:
“[...] essa é chata, já tava arrancando o dente, ela arrancou com muita força e doeu muito, até eu fiquei um pouco traumatizada [...]”
Desta forma, considera-se fundamental a postura ética e profissional de respeito à
criança como ser único e com uma subjetividade própria, estabelecendo um vínculo
harmonioso, na tentativa de tornar o atendimento favorável e aceitável por ela.
Subcategoria 3.2 - Imagem humanizada
A minha dentista
“Eu estava no consultório e a dentista... tirando o tártaro domeu dente, não doeu nada, eu estava com medo, mas pareide ficar com medo quando ela começou a falar coisasengraçadas, logo sai do consultório e fui pra casa. Quandocheguei em casa mostrei meus dentes pra papai e eleadorou, por isso minha mãe gosta dessa dentista e nóstambém”. (10 anos)
Desenho 10
76
A dentista
“Eu cheguei na dentista, aíeu deitei na cadeira quetem, ela ajeitou meu dentee a gente depois conversou,conversou e aí a gentecomeçou a ajeitar meudente, depois eu ia praaqui”.
(10 anos)
Desenho 11
A subcategoria “imagem humanizada” emerge associada à figura do profissional
dentista que apresenta sensibilidade para compreender as angústias e as reações dos pequenos
pacientes frente à situação de atendimento odontológico e se encontra preparado para
enfrentar as adversidades que podem surgir no decorrer do tratamento, agindo de forma
adequada com carinho e segurança durante a sua prática cotidiana (desenhos 10 e 11).
Assim como as demais categorias, a expressividade gráfica continua dando ênfase ao
ambiente clínico odontológico, aparecendo em todos os desenhos desse estudo também a
figura do dentista. Nesses desenhos, percebe-se a presença da cadeira odontológica, do
refletor, da cuspideira e do lixeiro, e também de um ambiente mais alegre com o paciente
posicionado de lado, de uma forma mais descontraída, e do dentista com uma aparência mais
receptiva e feliz.
77
Nos discursos das crianças, consegue-se identificar o perfil de um profissional que se
comunica com estas e demonstra se preocupar com o seu bem-estar, tranqüilizando-as com
relação aos procedimentos clínicos, conforme falas a seguir:
“[...] conversando comigo, dizendo que não vai doer [...] conversou e aí a gente começou a ajeitar meu dente [...] disse que não era pra mim chorar porque ia passar logo [..] tava dizendo que ia doer só um pouquinho [...] ele disse assim: já tá terminando [...]”.
O dentista pode ser visto como benévolo e afetuoso, distante, perigoso ou frio, e essa
visão deverá gerar reações na criança (ARFOUILLOUX, 1988 citado por AMORIM, 1994)5.
Por isso, ressalta-se a importância do desenvolvimento de um relacionamento amistoso
durante a situação de atendimento odontológico, pois observa-se que as crianças e seus
responsáveis tendem a valorizar a atenção dispensada pelo profissional, fazendo-as expressar
satisfação, carinho e afeto positivo para com o seu dentista, exemplificado por “dentista
amigo do peito”, “ela gostava muito de ser médica, adorava ajudar as crianças a cuidar dos
dentes, era uma boa médica”, “elas gostavam muito da médica que cuidava do dente das
criança”, “minha mãe disse se tinha perguntado se eu gostei, eu disse que gostei e disse que
queria ir mais vezes”.
A importância da humanização do atendimento odontológico na cooperação do
pequeno paciente para com o tratamento fica evidente nos recortes das estórias:
“[...] parei de ficar com medo quando ela começou a falar coisas engraçadas [...] eu nem chorei porque o dentista tava sendo muito legal pra mim [...]”
Percebe-se que a atenção, a comunicação e a distração da criança foram os elementos
essenciais para o desenvolvimento de um atendimento odontológico tranqüilo e desprovido de
resistência. Esse achado corrobora com Sandrini, Bonacin Júnior e Christóforo (1998)91, ao
afirmarem que o interesse demonstrado pelo profissional para com o paciente e suas
necessidades emocionais diminui grandemente o aparecimento de comportamentos
indicativos de medo ou ansiedade.
Assim, podemos evidenciar a necessidade da interação do profissional com a criança,
a fim de reduzir a ansiedade que o tratamento odontológico proporciona nelas e promover
uma imagem mais positiva de si mesmo.
78
CATEGORIA 4 – MANIFESTAÇÕES INFANTIS FRENTE AO TRATAMENTO
ODONTOLÓGICO
A quarta e última categoria relacionada ao desenho-estória com tema concerne às
“manifestações infantis frente ao tratamento odontológico”. Essa categoria se encontra
diretamente relacionada ao caráter técnico-curativo das ações odontológicas no cotidiano do
atendimento infantil, que cria a possibilidade de emersão de conflitos, tensões e sentimentos
de impotência.
Subcategoria 4.1 – Manifestações psicológicas
A menina que estava com medo de ir ao dentista
“A menina está com medode fazer o tratamento, odentista tá mandando ela seacalmar, ela se acalmou, vaifazer a limpeza, ela estavacom medo que ele fizesseoutra coisa, de arrancar odente, ela tinha que ir, omédico mandou ela seacalmar, depois que ela seacalmou, ele fez a limpeza”.
(09 Anos)
Desenho 12
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Dentista
“Tem um menino, ele tá muito nervoso, aí a dentista ta pedindopara ele tenha calma que não vai doer nada, e a mãe dele táajudando, meu filho fique calmo porque não vai doer, ela táarrancando o dente dele e ele tá nervoso porque acha que vai doermuito.”
(10 anos)
Desenho 13
Desenho 14
O menino que tinha medo de arrancar o dente
“O doutor tava ajeitando o dente do menino, mas ele tava com muito medo, a mãe dele falou: Nãofique com medo ele só vai arrancar um dente. Aí ele disse: Secretária me dê o meu material; elatrouxe. Ele começou a falar: Mãe, mãe. Ela disse: Tô aqui; aí ela disse mesmo assim: Fique aí quedaqui a pouco eu vou vê se tá tudo bem. O doutor arrancou o dente dele, ele: Mãe não doeu nada.Você deve seguir o conselho do doutor e dos responsáveis pelo tentar arrancar o seu dente. Fim.”
(09 anos)
80
Um menino pela primeira vez arrancando o dente “Era um menino chamado Anderson. A dentista era Cláudia, elatava tirando o dente do menino. Ela disse: calma eu vou botar aanestesia. Ele disse: dói? Ela disse: não dói muito não. Quando elabotou, ele ficou com medo de tirar o dente. Quando a dentista tirou,a mulher disse: doeu? Ele disse: não. Tá vendo, por causa daanestesia. Pronto só isso”.
(08 anos)
Desenho 15
Constata-se, através dos desenhos (12, 13, 14 e15), que o medo e a ansiedade são as
mais freqüentes manifestações psicológicas infantis frente ao tratamento odontológico, e que
estas se encontram principalmente relacionadas a estímulos específicos de procedimentos
clínicos invasivos ainda tão presentes na nossa prática diária.
A expressividade gráfica também apresenta o ambiente odontológico com seus
elementos constituintes, com destaque às figuras do dentista e do paciente. O primeiro
representado como uma figura ameaçadora, quase sempre com um instrumento pontiagudo na
mão e a segundo como uma figura assustada, conforme observado pela expressão dos olhos e
da boca, bem como pela posição como se encontra na cadeira, ressaltando, assim, o
significado que o tratamento adquire no imaginário infantil, bem como as reações que o
mesmo desencadeia no pequeno paciente.
A criança enquanto ser biopsicossocial em formação busca desenvolver a capacidade
de armazenar conhecimentos obtidos por meio de conhecimento cientifico e experiências
cotidianas, que ocasionam comportamentos distintos conforme o estágio de desenvolvimento
81
em que está inserida 92. Nesse sentido, quando chegam ao consultório odontológico, elas já
trazem consigo, em relação à prática odontológica, um conhecimento incrustado de uma carga
emocional muito grande.
Percebe-se na construção das histórias que essas manifestações não se dirigem
propriamente à pessoa do dentista, mas em geral, à sua prática, conforme recortes das falas
das crianças:
“[...] quando ela botou ele ficou com medo [...] a menina está com medo de fazer o tratamento [...] ela estava com medo que ele fizesse outra coisa, de arrancar o dente [...] o menino que tinha medo de arrancar o dente [...] o doutor tava ajeitando o dente do menino, mas ele tava com muito medo [...]”.
Embora a distinção entre o medo e a ansiedade não seja fácil de ser feita, na presente
pesquisa, a ansiedade foi classificada segundo o conceito de Corrêa, Fernandes, Trindade
(2002)30, qual seja, que esta se apresenta geralmente acompanhada por agitação, irritabilidade
generalizada ou crises de agressividade, as quais, quando intensas, alteram o estado de
tranqüilidade e equilíbrio emocional das crianças. Assim, a ansiedade foi associada à agitação,
ao nervosismo e à curiosidade das crianças diante da expectativa que o atendimento
odontológico produz, exemplificado por:
“[...] calma eu vou botar a anestesia [...] Ele disse: dói? Ela disse: não dói muito não [...] o dentista tá mandando ela se acalmar, ela se acalmou [...] médico mandou ela se acalmar [...] depois que ela se acalmou, ele fez a limpeza [...] ele tá muito nervoso [...] a dentista tá pedindo para ele tenha calma que não vai doer nada [...] tá arrancando o dente dele e ele tá nervoso porque acha que vai doer muito [...]”.
Explicações simples e ao alcance do paciente diminuem esse clima de ansiedade,
melhorando a colaboração e propiciando experiências agradáveis durante o todo o percurso do
tratamento odontológico24.
82
Subcategoria 4.2 – Manifestações comportamentais
O dentista
“Eu tava no dentistaarrancando o meu dente, tavana frente do aquário sorrindopara o peixe, depois dearrancar o dente, eu fui pedirpra ele se eu já podia ir queeu não agüentava mais, praver minha mãe... Meu paidizia que: Calma, pra você seacalmar; mas eu dizia paraele que eu queria ir muitopara minha mãe”.
(07 anos)
O dentista “Esses dois menino tava arrancando odente, esse queria, esse não queria, esseachava bom, esse queria ir pra casa, essequeria ficar e esse queria brincar. Aí essearrancou o dente, esse foi...esse tinha cárie,esse também arrancou o dente. Aí acabou”
(07 anos)
Desenho 16
Desenho 17
83
Os desenhos-estórias dessa subcategoria mostraram que os participantes objetivaram o
campo semântico da Representação Social do tratamento odontológico em torno da esfera
comportamental de fuga.
No grafismo do desenho 16, constata-se mais uma vez a presença do paciente numa
posição passiva na cadeira odontológica e do dentista numa posição ameaçadora, portando um
instrumento potencialmente aversivo.
No desenho 17, observa-se além do ambiente interno de uma clínica odontológica com
três consultórios produzida de forma apática e sem colorido, a porta de saída para um
ambiente externo bastante atrativo, objetivado pelas árvores, pelo céu ensolarado e pelo arco-
íris. Assim, encontra-se a disparidade de ambientes como se a criança tentasse justificar o
desejo de fugir do tratamento porque do lado de fora a situação é bem melhor.
A fuga, diferentemente da esquiva, representa a ação de um indivíduo para escapar ou
conseguir a interrupção de um estímulo aversivo. Pode-se observar através das histórias que o
comportamento de fuga surgiu objetivado no desejo de retornar para casa e brincar, conforme
os relatos das crianças:
“[...] eu fui pedir pra ele se eu já podia ir que eu não agüentava mais pra ver minha mãe [...] meu pai dizia que: Calma, pra você se acalmar; mas eu dizia para ele que eu queria ir muito para minha mãe [...] esses dois menino tava arrancando o dente, esse queria, esse não queria [...] esse queria ir pra casa [...] esse queria brincar [...]”.
É importante também considerar que nessa categoria de manifestações infantis,
psicológicas e comportamentais, conseguiu-se identificar no grafismo do desenho 13 e nas
histórias deste e dos desenhos 14 e 16 a presença do responsável como elemento interativo
com a criança e com o profissional no ambiente odontológico e influenciador do
comportamento infantil durante o tratamento, conforme exemplo:
“[...] a mãe dele tá ajudando, meu filho fique calmo porque não vai doer [...] a mãe dele falou: Não fique com medo ele só vai arrancar um dente [...] ele começou a falar: Mãe, mãe. Ela disse: Tô aqui... Fique aí que daqui a pouco eu vou vê se tá tudo bem [...] a dentista falou com a mãe dela [...] Meu pai dizia que: Calma, pra você se acalmar [...]”.
Percebe-se que para esse grupo de crianças a figura dos pais emergiu positivamente,
colaborando com o profissional, tranqüilizando e incentivando seus filhos a enfrentar o
tratamento odontológico de forma menos sofrida possível.
84
Diante das exposições já mencionadas, pode-se inferir que a estrutura do campo da
Representação Social do tratamento odontológico infantil, percebido e construído pelos
participantes desta pesquisa com o auxílio da técnica do desenho-estória com tema,
estruturou-se, principalmente, através de situações desagradáveis encontradas na prática
técnico-curativa do dentista, como os próprios elementos constituintes desta prática – espaço
físico e material/instrumental – e a forma de abordagem tecnicista/mecanicista do dentista.
85
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os princípios teóricos das Representações Sociais utilizados neste estudo fortaleceram
a análise dos dados com valores, emoções e concepções peculiares aos atores sociais que se
encontram envolvidos no cotidiano do atendimento odontológico infantil, o que contribuiu
para a contextualização dos resultados encontrados.
O ambiente clínico odontológico surgiu em todos os grafismos, com destaque ao
espaço físico, aos materiais e instrumentais constituintes de nossa prática e à figura do
dentista, revelando, assim, mesmo em nível inconsciente, todos os elementos que elas
consideram importantes no contexto do atendimento odontológico.
O modelo de tratamento odontológico predominante nos relatos e nos grafismos das
crianças foi o técnico-curativo, centrado em procedimentos operatórios e principalmente
invasivos. Apesr de já ser conhecido que esse modelo tradicional não se tem mostrado capaz
de controlar as doenças bucais, é triste percebe-se que essa prática reducionista se encontra
ainda bastante difundida e incrustada no mundo infantil.
No que concerne à imagem do dentista, observou-se que as crianças valorizam por
demais a relação humana durante o atendimento. Elas expressaram os seus desejos de serem
atendidas por profissionais que se comuniquem e interajam de forma criativa e lúdica, e a
repulsa por aqueles que executam os procedimentos de forma técnica/mecânica.
Em relação às manifestações infantis face ao tratamento odontológico, as dimensões
psicológicas e comportamentais consideravelmente aversivas, como medo, ansiedade, dor e
esquiva, foram referências percebidas com muita propriedade pelo mundo infantil.
Ciente das limitações desta pesquisa e de que ela não esgota todas as vertentes do
atendimento odontológico infantil, espera-se que seus resultados forneçam contribuições para
a prática dos dentistas que atendem crianças, consistindo num ponto de partida para novas
reflexões e abordagens na área.
86
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ANEXOS
Anexo A. Parecer do Comitê de Ética em Pesquisa da UFRN
Anexo B. Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE
DEPARTAMENTO DE ODONTOLOGIA
PROJETO DE PESQUISA “O TRATAMENTO ODONTOLÓGICO SOB O OLHAR DA CRIANÇA: UM ESTUDO DE REPRESENTAÇÃO SOCIAL"
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Voluntário nº ( ) Iniciais do voluntário: ( )
a) Objetivo e justificativa da pesquisa:
Obrigada pela sua participação como voluntário (a) em nossa pesquisa. O objetivo desta pesquisa é entender como as crianças compreendem o tratamento odontológico, sendo importante porque poderá contribuir para a avaliação da forma como essas crianças convivem com esta problemática no seu cotidiano.
b) Riscos possíveis e benefícios esperados:
A presente pesquisa não oferece risco ou desconforto, pois as crianças que aceitarem participar do estudo apenas desenharão e responderão algumas perguntas que buscará compreender a sua experiência com o tratamento odontológico. Os resultados da pesquisa poderão servir para melhorar a compreensão da visão infantil sobre o tratamento odontológico, na perspectiva de favorecer novas alternativas à manutenção da saúde bucal e conseqüentemente outras estratégias à prática odontológica em crianças.
c) Procedimentos:
As crianças que aceitarem participar da pesquisa serão abordadas de forma individual onde desenharão uma situação de atendimento odontológico, seguida de uma história sobre desenho realizado e responderão algumas perguntas sobre o que sabem do tratamento odontológico.
d) Ressarcimento:
Não haverá ressarcimento pela participação do (a) seu (sua) filho (a) nesta pesquisa, devendo essa participação ser espontânea e voluntária. Porém, terá
96
direito ao ressarcimento em caso de danos comprovadamente ocorridos pela participação na pesquisa.
e) Acesso às informações:
As informações obtidas de cada participante são confidenciais e somente serão usadas com o propósito científico, sem divulgar o nome do participante. O pesquisador, os demais profissionais envolvidos nesse estudo e o Comitê de Ética e atividades reguladoras terão acesso aos arquivos dos participantes, para verificação de dados, sem contudo violar a confidencialidade necessária. Você também poderá ter acesso aos dados.
A assinatura desse formulário de consentimento formaliza sua autorização para o desenvolvimento de todos os passos anteriormente apresentado, mas mesmo que você tenha assinado este termo de consentimento seu filho poderá desistir de participar se desejar.
f) Termo de Consentimento:
Declaro que, após ter lido e compreendido as informações contidas neste formulário, concordo que o menor sob minha guarda participe desse estudo.
E através deste instrumento e da melhor forma de direito, autorizo a Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Odontologia Preventiva e Social da UFRN/Natal, Rubiane Diógenes Alves, brasileira, solteira, RG 1.524.487-SSP/RN, CRO-RN 2487, telefone: 642-1801 a utilizar as informações obtidas, através do que for falado, escrito, visto e examinado, com a finalidade de desenvolver trabalho de cunho científico na área da Odontologia.
Autorizo também a publicação do referido trabalho e concedo o direito de retenção e uso para quaisquer fins de ensino e divulgação em jornais e/ou revistas científicas do país e do estrangeiro, desde que mantido o sigilo sobre minha identidade, podendo usar pseudônimos. Estou ciente que nada tendo a exigir a título de ressarcimento ou indenização.
Em caso de alguma dúvida sobre a conduta ética nesta pesquisa posso entrar em contato com o Comitê de Ética da UFRN, pelo telefone: 215.3135.
Declaro ter lido e compreendido todas as informações contidas neste formulário e concordo que o menor sob minha responsabilidade participe desse estudo.
De acordo, Nome do responsável:__________________________________________ Assinatura do responsável:______________________________________ Número da identidade ou CPF: ___________________________________ Status do responsável: Pai ( ) Mãe ( ) Tutor ( )
97
Natal, _____ de ___________________ de 2004
_______________________________________ RUBIANE DIÓGENES ALVES
CIRURGIÃ-DENTISTA/ PESQUISADORA
Anexo C. Termo de Consentimento Livre e Esclarecido para menores de idade
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE
DEPARTAMENTO DE ODONTOLOGIA
PROJETO DE PESQUISA “O TRATAMENTO ODONTOLÓGICO SOB O OLHAR DA CRIANÇA: UM ESTUDO DE REPRESENTAÇÃO SOCIAL"
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO PARA MENORES DE IDADE
Estamos realizando uma pesquisa para saber como você vê o tratamento odontológico. Se você deseja participar desta pesquisa, será feita uma entrevista e solicitado que você desenhe o que você sabe sobre o tratamento odontológico e em seguida conte uma história sobre o desenho realizado.
Você não é obrigado (a) a participar desta pesquisa, caso não deseje. Poderá deixar de participar quando quiser, sem nenhum prejuízo para você.
Caso você queira participar desta pesquisa, por favor, assine seu nome abaixo.
Nome do menor:_______________________________________________ Assinatura do menor:___________________________________________
Natal,_____ de ___________________ de 2004
________________________________________ RUBIANE DIÓGENES ALVES
CIRURGIÃ-DENTISTA/ PESQUISADORA Telefone: (84) 642-1801
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Anexo D. Ficha da entrevista em profundidade
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DE NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE
DEPARTAMENTO DE ODONTOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ODONTOLOGIA
PREVENTIVA E SOCIAL- NÍVEL MESTRADO
PROJETO DE PESQUISA “O TRATAMENTO ODONTOLÓGICO SOB O OLHAR DA CRIANÇA: UM ESTUDO DE REPRESENTAÇÃO SOCIAL"
Nome: _______________________________________________________
Data de nascimento: ___________________ Sexo____________________
Escola: _______________________________________________________
Turno: ___________________________ Turma: _____________________
Nome do responsável: __________________________________________
Profissão:_________________ Escolaridade: ______________________
Faixas de renda:
( ) Até 03 salários mínimos ( ) 10 a 13 salários mínimos
( ) 04 a 06 salários mínimos ( ) > 13 salários mínimos
( ) 07 a 09 salários mínimos
Endereço: _____________________________________________________
Bairro: ________________ Cidade: ________ Telefone: _______________
O que você sabe sobre tratamento odontológico?