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Universidade Estadual Paulista “Júlio de M esquita Filho” - Unesp

Instituto de Geociências e Ciências Exatas

JOÃO CLEPS JUNIOR

Orientadora: Prof ª. Drª. Vera Mariza Henriques de Miranda Costa

Tese de Doutorado apresentada junto ao Curso de Pós-Graduação em Geografia - Área de Concentração em Organização do Espaço - IGCE/UNESP - Campus de Rio Claro.

Rio Claro-SP, 1998

DINÂM ICA E ESTRATÉGIAS DO SETOR AGROINDUSTRIAL

NO CERRADO: O CASO DO TRIÂNGULO M INEIRO

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C628d Cleps Junior, João Dinâmica e estratégias do setor agroindustrial no cerrado: o caso do Triângulo Mineiro./ João Cleps Junior. - - 1998. 291 p.; il. Tese (Doutorado em Organização do Espaço). Rio Claro: IGCE-Cp.de Rio Claro-UNESP, 1998. Orientador: Vera Mariza Henriques de Miranda Costa 1. Setor Agroindustrial. 2. Estratégias empresariais. 3. Soja. 4. Cerrado. 5. Triângulo Mineiro.

Ficha catalográfica preparada pelo Serviço de Biblioteca e Documentação do IGCE - Cp.de Rio Claro - UNESP Bibliotecária: Terezinha Regina Lorenzon Rodrigues – CRB-8 /1609

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BBBAAANNNCCCAAA EEEXXXAAAMMMIIINNNAAADDDOOORRRAAA

__________________________________________

Profª. Drª. Vera Mariza Henriques de Miranda Costa

(Orientadora)

__________________________________________

Prof. Dr. José Jorge Gebara

__________________________________________

Prof. Dr. Leonel Mazzali

__________________________________________

Prof. Dr. Miguel César Sanchez

__________________________________________

Profª. Dra. Vera Lúcia Salazar Pessôa

__________________________________________

João Cleps Junior (Candidato)

Rio Claro, 29 de Maio de 1998.

Resultado: 10,0 (Dez) - Aprovado

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A todas as pessoas que contribuíram para a realização deste trabalho e que não foram aqui mencionadas, devido a esquecimento de momento, deixamos registrados nossos sinceros agradecimentos. À CAPES, agradecemos a bolsa para a capacitação, recebida no período 1993-1996. Aos professores e servidores técnico-administrativos do Curso de Pós-Graduação em Geografia da UNESP de Rio Claro, pelo constante apoio prestado e à eficiência demonstrada neste período. Aos membros da banca de qualificação, inicialmente ao nosso amigo e ex-orientador de Mestrado, Prof. Dr. Sílvio Carlos Bray, e ao Prof. Dr. Miguel César Sanchez, pelas sugestões recebidas no Exame de Qualificação, contribuindo para o aprimoramento e condução final do trabalho. Ao Prof. Dr. Leonel Mazzali, pela leitura da parte inicial do trabalho, críticas e materiais recebidos. Aos amigos do Departamento de Geografia da Universidade Federal de Uberlândia, que nos apoiaram durante a realização da tese, avaliando os Relatórios da Pós-Graduação e, por conseguinte, assumindo os compromissos deixados durante o breve período de afastamento. Ao Sílvio Luiz Andreozzi pela colaboração nas aulas e companherismo constante, principalmente nas requeridas articulações com Rio Claro. Ao Samuel do Carmo Lima pelo apoio recebido, principalmente na área de informática. Ao Roberto Rosa, pela amizade e apoio para utilização dos equipamentos do Laboratório de Geoprocessamento para confecção do material cartográfico. Aos amigos Marilena Schneider, Antonio Feltran Filho, Beatriz Ribeiro Soares, pelos materiais fornecidos, confiança e apoio profissional. Especial agradecimento à Prof.ª Dra. Vera Lúcia Salazar, do Departamento de Geografia da Universidade Federal de Uberlândia, pela troca de experiência e convívio profissional produtivo na área de Geografia Rural. Ao Ireneu Antonio Siegler, pela dedicação e colaboração na revisão crítica dos cartogramas e ilustrações finais do trabalho. Ao Celso Antonio Siqueira pela amizade, competência e dedicação com que contribuiu para a confecção dos desenhos que enriqueceram este trabalho. À Tânia de Novais Silveira, amiga e leitora incansável de todas as etapas e versões do trabalho. À Prof.ª Sônia Maria Guimarães, pela colaboração nas revisões finais e de “última hora”. Aos colegas do Departamento de Economia da UFU, pela oportunidade e convívio enriquecedor nas discussões teóricas do trabalho. Particularmente agradeço ao amigo Prof. Dr. Henrique Neder, pela convivência profissional e troca de experiência, e ao Prof. Dr. Shigeo Shiki, pela oportunidade em participar de projetos conjuntos. Especialmente, somos gratos ao amigo Álvaro, pela paciência e prontidão demonstrados no auxílio dos desenhos. Ao Carlos Diniz, pelo fornecimento de dados e material estatístico. À Conceição e aos demais funcionários da Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação. Aos servidores do DEGEO, ao pessoal da Gráfica da UFU e ao fotógrafo Milton, que prestaram os serviços indispensáveis para a realização e entrega final do trabalho, somos particularmente gratos.

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A Marluce, Daniel, Joaquim e Rubens, da ADUFU, pelas inúmeras vezes despendidas para nos atender prontamente. Aos profissionais das empresas do setor agroindustrial de Uberlândia e da região do Triângulo Mineiro, que nos receberam para as Entrevistas. Ao Grupo ABC-Algar, pela oportunidade nas participações nos eventos sobre o “agribusiness”. À atenção do Sr. Sílvio Teixeira, da Cargill Agrícola. Ao Sr. Valmor Albino Schaffer, da Rezende Alimentos. Ao Eng. Agr. Elias, da COPAMIL, pelas oportunidades oferecidas no breve convívio. À equipe do IBGE. Ao supervisor estadual de pesquisa, o Sr. Abiezer K. Horst, da DIPEQ de Belo Horizonte, pela valiosa atenção no envio de dados. A Jaime de Oliveira, da Agência do IBGE de Uberlândia. À Secretaria de Indústria e Comércio de Uberlândia, em especial a Benedito Henrique, pelas informações e disposição permanentes. Aos amigos Antonio Nivaldo Hespanhol, da UNESP de Presidente Prudente, Enéas Rente Ferreira, da UNESP de Rio Claro, e Antonio Cordeiro Feitosa da UFMA agradecemos pelo apoio material e logístico recebidos durante a fase da pós-graduação. À Geisa, com carinho, pela paciência, apoio demonstrado e compartilhado nesses anos e em todas as etapas do trabalho. À amiga e orientadora, Profª. Dra. Vera Mariza Henriques de Miranda Costa, um convívio pessoal que se aprofundou desde as aulas da pós-graduação em Rio Claro e seminários em Araraquara. Agradecemos o seu apoio profissional, confiança, e por ter administrado e conduzido com competência e preocupação as diversidades decorrentes das nossas formações profissionais.

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ÍÍ NN DD II CC EE

SUMÁRIO .......................................................................................................................................................... vii

LISTA DE ILUSTRAÇÕES ................................................................................................................................. xi

LISTA DE GRÁFICOS ...................................................................................................................................... xiii

LISTA DE QUADROS ....................................................................................................................................... xv

LISTA DE TABELAS ....................................................................................................................................... xvii

LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS .......................................................................................................... xix

RESUMO ........................................................................................................................................................... xxii

ABSTRACT ..................................................................................................................................................... xxiii

INTRODUÇÃO .................................................................................................................................................. 02

CAPÍTULO 1. A DINÂMICA AGROINDUSTRIAL: ELEMENTOS DESENCADEADORES E

PERSPECTIVAS DE ANÁLISE ................................................................................................................... 11

CAPÍTULO 2. A DIMENSÃO TERRITORIAL DA PRODUÇÃO E A DINÂMICA DO SETOR

AGROINDUSTRIAL E DA INDÚSTRIA ALIMENTAR .............................................................................. 42

CAPÍTULO 3. CARACTERIZAÇÃO E ARTICULAÇÕES DO SETOR AGROINDUSTRIAL NO

BRASIL: O CASO DA SOJA NO CERRADO ................................................................................................ 79

CAPÍTULO 4. AS POLÍTICAS E PROGRAMAS GOVERNAMENTAIS PARA O

DESENVOLVIMENTO DO SETOR AGROINDUSTRIAL NO CERRADO E AS ESTRATÉGIAS

DAS EMPRESAS DO COMPLEXO SOJA .................................................................................................. 124

CAPÍTULO 5. A DINÂMICA DAS CADEIAS AGROINDUSTRIAIS NO CERRADO MINEIRO:

ACUMULAÇÃO E REPRODUÇÃO ............................................................................................................ 172

CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................................................................. 248

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................................................ 258

ANEXOS: .......................................................................................................................................................... 272

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SS UU MM ÁÁ RR II OO

INTRODUÇÃO ......................................................................................................................... 02

CAPÍTULO 1 - A DINÂMICA AGROINDUSTRIAL: ELEMENTOS DESENCADEADORES E PERSPECTIVAS DE ANÁLISE ................................................. 11

1.1. OS PRINCIPAIS ENFOQUES TEÓRICOS SOBRE AS RELAÇÕES ENTRE AGRICULTURA E

INDÚSTRIA ........................................................................................................................... 11

1.1.1. A Noção de Complexo Industrial (CI) ........................................................................ 14

1.1.2. Agribusiness e Complexo Agroindustrial (CAI) .......................................................... 17 1.1.2.1. A abordagem sobre o padrão agrícola brasileiro e a formação do

Complexo Agroindustrial .................................................................................... 21 1.1.3. O Sistema Agroindustrial de Alimentos (SAA) e a "Filière" ......................................... 26

1.1.4. A Contratualização na Cadeia Agroindustrial ............................................................. 28

1.1.5. Distinções e Críticas ao Uso do Termo "Agribusiness" e ao Sistema Agroalimentar (SAA) .................................................................................................... 30

1.2. A UTILIZAÇÃO DO CONCEITO DE AGRIBUSINESS PELA GEOGRAFIA....................................... 32

1.2.1. As Abordagens Teóricas e as Noções de Cadeia Produtiva no Âmbito da Geografia Econômica e Industrial ................................................................................. 36

CAPÍTULO 2 - A DIMENSÃO TERRITORIAL DA PRODUÇÃO E A DINÂMICA DO SETOR AGROINDUSTRIAL E DA INDÚSTRIA ALIMENTAR ......................................... 42

2.1. O DEBATE E A REVISÃO SOBRE OS PARADIGMAS DA INDUSTRIALIZAÇÃO E O

MOVIMENTO DE REESTRUTURAÇÃO PRODUTIVA E ESPACIAL CONTEMPORÂNEOS ............... 43

2.2. A COMPREENSÃO CONTEMPORÂNEA DA REESTRUTURAÇÃO REGIONAL E

ESPACIAL ............................................................................................................................. 47

2.3. O PAPEL DA LOCALIZAÇÃO E AS FORMAS DE ALIANÇAS ENTRE AS EMPRESAS .................... 51

2.3.1. As formas de Organização e Controle: "governança" e "redes" ................................... 53

2.4. A "ORGANIZAÇÃO EM REDE" E A "EMPRESA REDE" E SUAS APLICAÇÕES PARA O

SETOR AGROINDUSTRIAL ..................................................................................................... 57

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2.5. MOVIMENTO DE REESTRUTURAÇÃO DO SETOR AGROINDUSTRIAL E O SISTEMA

AGROALIMENTAR ................................................................................................................ 59

2.5.1. A Internacionalização do Setor Agroalimentar e as Corporações Multinacionais do Agribusiness ..................................................................................... 63

2.5.2. O Movimento de Reestruturação Produtiva ................................................................ 67

2.6. O DESENVOLVIMENTO RECENTE DA AGROINDÚSTRIA NO BRASIL E O MOVIMENTO

DE REESTRUTURAÇÃO PRODUTIVA ...................................................................................... 68

2.6.1. As Mudanças nos Padrões de Desenvolvimento Agrícola e Agroindustrial Brasileiro: o esgotamento da fase do complexo agroindustrial (CAI) ............................. 68

2.6.2. Os Rumos do Processo de Integração Agricultura-Indústria no Brasil ........................ 69

2.6.3. As Trajetórias dos Principais Complexos Agroindustriais ........................................... 72

2.6.4. As Recentes Estratégias das Agroindústrias e da Indústria Alimentar .......................... 74

CAPÍTULO 3 - CARACTERIZAÇÃO E ARTICULAÇÕES DO SETOR AGROINDUSTRIAL NO BRASIL: O CASO DA SOJA NO CERRADO .............................. 79

3.1. O COMÉRCIO MUNDIAL DE SOJA E A PRODUÇÃO DE COMMODITIES AGRÍCOLAS .................. 79

3.2. PERSPECTIVAS DE CRESCIMENTO DA PRODUÇÃO DE GRÃOS NO CERRADO E A

COMPETITIVIDADE DA SOJA BRASILEIRA ............................................................................. 81

3.3. A PRODUÇÃO DE GRÃOS NO BRASIL E AS REGIÕES DA SOJA ................................................ 86

3.3.1. As Regiões da Soja no Brasil ..................................................................................... 88 3.3.1.1. A região tradicional .......................................................................................... 90 3.3.1.2. Região de expansão consolidada e as novas fronteiras da soja nos

cerrados ............................................................................................................. 94

3.4. FRONTEIRA AGRÍCOLA E AS NOVAS POLÍTICAS DE REORGANIZAÇÃO ESPACIAL DO

CERRADO: OS CORREDORES DE TRANSPORTES MULTIMODAIS NO BRASIL ......................... 102

3.5. DA CONQUISTA À DEGRADAÇÃO DA NATUREZA NO CERRADO BRASILEIRO ...................... 108

3.5.1. Os Impactos das Novas Biotecnologias sobre os Recursos: a genética para adaptação da soja às baixas latitudes da região do cerrado .......................................... 108 3.5.1.1. O caso da cultura da soja em Minas Gerais ..................................................... 110

3.5.2. Controle Genético e as Estratégias das Empresas de Sementes no Cerrado ............... 112

3.5.3. Os Impactos dos (Mono)cultivos Intensivos da Terra sobre os Recursos Naturais no Cerrado .................................................................................................... 116

3.5.4. As novas Biotecnologias e a Agroindústria ............................................................... 120

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CAPÍTULO 4 - AS POLÍTICAS E PROGRAMAS GOVERNAMENTAIS PARA O DESENVOLVIMENTO DO SETOR AGROINDUSTRIAL NO CERRADO E AS ESTRATÉGIAS DAS EMPRESAS DO COMPLEXO SOJA ............................................. 124

4.1. A MODERNIZAÇÃO DA AGRICULTURA DO CERRADO: AS ARTICULAÇÕES ESTADO E

ESPAÇO COM A AGRICULTURA CAPITALISTA ..................................................................... 124

4.1.1. A Ideologia dos "Espaços Vazios": os Principais Programas de Desenvolvimento Regional nos Cerrados .................................................................... 124

4.1.2. O Programa de Crédito Integrado (PCI) para a Incorporação dos Cerrados (1972-75) ................................................................................................................... 126

4.1.3. O Programa de Assentamento Dirigido do Alto Paranaíba - PADAP (1973-74) .......... 127

4.1.4. O Programa de Desenvolvimento dos Cerrados - POLOCENTRO (1975-1979) ........................................................................................................................... 128

4.1.5. Programa de Cooperação Nipo-Brasileira para o Desenvolvimento dos Cerrados - PRODECER (1978 - ...) ............................................................................ 132

4.1.6. Avaliação e Resultados dos Programas Oficiais no Cerrado ...................................... 138

4.2. OS PROGRAMAS DE APOIO AO DESENVOLVIMENTO AGROINDUSTRIAL E OS FLUXOS

DE INVESTIMENTOS RECENTES NA REGIÃO DO CERRADO .................................................. 141

4.2.1. Os Novos Mecanismos de Financiamento da Agricultura e Agroindústria como Investimentos para a Concentração Agroindustrial ............................................. 141

4.2.2. As Políticas Tributárias, Leis de Incentivos e os Conflitos Fiscais Federativos: as "guerras fiscais" ....................................................................................................... 146

4.3. COMPLEXO AGROINDUSTRIAL DA SOJA NO BRASIL E AS ESTRATÉGIAS DAS

EMPRESAS NA REGIÃO DOS CERRADOS .............................................................................. 151

4.3.1. Caracterização das Empresas do Complexo Soja ...................................................... 151

4.3.2. Padrões Tecnológicos e Escala de Processamento de Soja ........................................ 153

4.3.3. Padrão de Localização e Distribuição Espacial da Agroindústria da Soja no Brasil .......................................................................................................................... 155

4.3.4. Movimento de (Re)concentração Econômica do Segmento de Esmagamento de Soja ....................................................................................................................... 158

4.4. COMPLEXO SOJA NA REGIÃO DO CERRADO ....................................................................... 161

4.4.1. As Cooperativas e Empresas das Cadeias de Carnes e Óleos ................................... 163

4.4.2. As Estratégias dos Grupos Multinacionais do Complexo Soja .................................. 168

CAPÍTULO 5 - A DINÂMICA DAS CADEIAS AGROINDUSTRIAIS NO CERRADO MINEIRO: ACUMULAÇÃO E REPRODUÇÃO ................................................................ 172

5.1. AS ESTRATÉGIAS ECONÔMICAS DO ESTADO PARA O DESENVOLVIMENTO DA

AGRICULTURA E DA INDÚSTRIA EM MINAS GERAIS ............................................................ 172

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5.1.1. As Bases das Políticas de Desenvolvimento Industrial em Minas Gerais ..................... 172

5.1.2. A fase de Estruturação e Desenvolvimento da Agroindústria no Oeste de Minas Gerais (1975-1980) .......................................................................................... 173

5.1.3. Consolidação e a Fase Recente de Reestruturação Agroindustrial ............................. 176

5.2. A DINÂMICA DOS INVESTIMENTOS NO SETOR AGROINDUSTRIAL REGIONAL ..................... 183

5.3. ESPAÇO AGRÍCOLA E DIVISÃO DO TRABALHO ................................................................... 186

5.3.1. A Perspectiva Regional e Urbana: as relações inter-regionais Minas-Goiás ............... 187

5.3.2. O Pólo Agrícola de Uberlândia ................................................................................. 190

5.3.3. Dos Pólos (industriais) aos Eixos de Desenvolvimento ............................................. 193

5.4. A DINÂMICA AGRÍCOLA E AGROINDUSTRIAL NO TRIÂNGULO MINEIRO ............................. 196

5.4.1. A Produção Agrícola ............................................................................................... 196

5.4.2. O Processo de Agroindustrialização do Triângulo Mineiro ....................................... 202

5.4.3. A Logística de Armazenagem e Comercialização de Grãos no Triângulo Mineiro ........................................................................................................................ 204

5.5. ESTRATÉGIAS DO SETOR AGROINDUSTRIAL NO CERRADO: O CASO DO TRIÂNGULO

MINEIRO ............................................................................................................................ 207

5.5.1. As Empresas das Cadeias de Carnes e Óleos ........................................................... 208 5.5.1.1. A Rezende Alimentos ..................................................................................... 209 5.5.1.2. O Grupo ABC-Algar e as empresas do setor agroalimentar: ABC-

INCO e ABC-A&P ........................................................................................... 220 5.5.1.3. A Cargill Agrícola .......................................................................................... 229

5.6. O SEGMENTO AGROINDUSTRIAL DE FRUTAS E VEGETAIS TROPICAIS ................................ 236

5.7. A DINÂMICA DA INDÚSTRIA PARA AGRICULTURA NO TRIÂNGULO MINEIRO ..................... 242

5.7.1. A Genética na Produção Animal ............................................................................... 242

5.7.2. As Indústrias de Fertilizantes, Defensivos Químicos e Equipamentos Agrícolas .................................................................................................................................... 244

CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................... 248

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................................ 258

ANEXO 1 - (NOTA METODOLÓGICA) ................................................................................ 272

ANEXO 2 - (DADOS ESTATÍSTICOS) ............................................................................. 283

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LLIISSTTAA DDEE IILLUUSSTTRRAAÇÇÕÕEESS

FIGURA 1 FASES DO PADRÃO AGRÍCOLA BRASILEIRO E FORMAÇÃO DO CAI: 1950-1985 ..................... 22

FIGURA 2 A SEGMENTAÇÃO DA AGRICULTURA EM CAIs ........................................................................... 23

FIGURA 3 A CADEIA DE PRODUÇÃO SIMPLIFICADA .................................................................................... 37

FIGURA 4 SEQÜÊNCIA DE UMA CADEIA DE VALOR ..................................................................................... 40

FIGURA 5 AS PRINCIPAIS MUDANÇAS NO SISTEMA AGRO-ALIMENTAR NOS ANOS 80 ......................... 61

FIGURA 6 ESTADOS UNIDOS: PRODUÇÃO DE SOJA E MILHO NOS PRINCIPAIS ESTADOS DO CINTURÃO DO MILHO - 1996 ............................................................................................................ 82

FIGURA 7 BRASIL - ÁREAS DE PRODUÇÃO DE SOJA - 1997 .......................................................................... 93

FIGURA 8 BRASIL - PRINCIPAIS SISTEMAS OPERACIONAIS DE TRANSPORTES DE CARGAS - 1997 .................................................................................................................................................... 107

FIGURA 9 ESQUEMA DE PROCESSAMENTO DE MILHO POR VIA ÚMIDA .................................................. 122

FIGURA 10 ÁREAS SELECIONADAS DO PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO DOS CERRADOS POLOCENTRO (1975-1979) ................................................................................................................ 130

FIGURA 11 BRASIL - DISTRIBUIÇÃO DAS UNIDADES DE PROCESSAMENTO DE OLEAGINOSAS - 1997 ...................................................................................................................... 157

FIGURA 12 LOCALIZAÇÃO E CAPACIDADE DE PROCESSAMENTO DAS EMPRESAS DO COMPLEXO SOJA EM 1997 - DISTRITO FEDERAL, GOIÁS E MINAS GERAIS ......................... 162

FIGURA 13 LOGÍSTICA DE RECEBIMENTO DE GRÃOS E DE PROCESSAMENTO DE SOJA DA COOPERATIVA MISTA DOS PRODUTORES RURAIS DO SUDOESTE GOIANO LTDA.-COMIGO ............................................................................................................................................ 167

FIGURA 14 MINAS GERAIS - REGIONALIZAÇÃO SEGUNDO O CIRCUITO ESPACIAL DO SETOR AGROPECUÁRIO (1990) - PÓLO AGRÍCOLA DE UBERLÂNDIA .................................................. 192

FIGURA 15 ESTADO DE MINAS GERAIS - CORREDORES E EIXOS ESTRATÉGICOS DE TRANSPORTES - 1995 ..................................................................................................................... 195

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FIGURA 16 PROPORÇÃO DA ÁREA EXPLORADA COM SOJA EM 1985 TRIÂNGULO MINEIRO/ALTO PARANAÍBA E SUL GOIANO ....................................................... 198

FIGURA 17 PROPORÇÃO DA ÁREA EXPLORADA COM SOJA EM 1995 TRIÂNGULO MINEIRO/ALTO PARANAÍBA E SUL GOIANO ....................................................... 200

FIGURA 18 GRAU DE URBANIZAÇÃO POR MUNICÍPIO EM 1996 MESORREGIÕES GEOGRÁFICAS TRIÂNGULO MINEIRO/ALTO PARANAÍBA E SUL GOIANO ............................................................................................................................................. 201

FIGURA 19 REDE LOGÍSTICA DE RECEBIMENTO, ARMAZENAMENTO E PROCESSAMENTO DE GRÃOS DA REZENDE ALIMENTOS DE UBERLÂNDIA (MG) - 1998 .................................... 218

FIGURA 20 ESTRUTURA ORGANIZACIONAL DO GRUPO ABC-ALGAR DE UBERLÂNDIA - 1997 ............. 223

FIGURA 21 REDE LOGÍSTICA DE RECEBIMENTO, ARMAZENAGEM E PROCESSAMENTO DE GRÃOS DA CARGILL AGRÍCOLA DE UBERLÂNDIA (MG) .................................................... 234

FOTO 1 FÁBRICA DE RAÇÕES E INDÚSTRIA DE ÓLEOS DA REZENDE ALIMENTOS - UBERLÂNDIA(MG) ........................................................................................................................... 219

FOTO 2 FRIGORÍFICO DA REZENDE ALIMENTOS - UBERLÂNDIA (MG) ............................................... 219

FOTO 3 INSTALAÇÕES DA ABC-INCO E ABC-A&P DISTRITO INDUSTRIAL DE UBERLÂNDIA (MG) .......................................................................... 222

FOTO 4 CARGILL AGRÍCOLA - UBERLÂNDIA (MG) .................................................................................. 235

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LLIISSTTAA DDEE GGRRÁÁFFIICCOOSS

GRÁFICO 1 ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL - CULTURA DE SOJA EVOLUÇÃO DA ÁREA PLANTADA, PRODUÇÃO E RENDIMENTO MÉDIO: ANO-SAFRA 1969-70 A 1996-97 .......................................................................................... 90

GRÁFICO 2 ESTADO DE SANTA CATARINA - CULTURA DE SOJA EVOLUÇÃO DA ÁREA PLANTADA, PRODUÇÃO E RENDIMENTO MÉDIO: ANO-SAFRA 1969-70 A 1996-97 .......................................................................................... 91

GRÁFICO 3 ESTADO DO PARANÁ - CULTURA DE SOJA EVOLUÇÃO DA ÁREA PLANTADA, PRODUÇÃO E RENDIMENTO MÉDIO: ANO-SAFRA 1969-70 A 1996-97 .......................................................................................... 92

GRÁFICO 4 ESTADO DE SÃO PAULO - CULTURA DE SOJA EVOLUÇÃO DA ÁREA PLANTADA, PRODUÇÃO E RENDIMENTO MÉDIO: ANO-SAFRA 1969-70 A 1996-97 .......................................................................................... 94

GRÁFICO 5 ESTADO DO MATO GROSSO DO SUL - CULTURA DE SOJA EVOLUÇÃO DA ÁREA PLANTADA, PRODUÇÃO E RENDIMENTO MÉDIO: ANO-SAFRA 1969-70 A 1996-97 .......................................................................................... 95

GRÁFICO 6 ESTADO DO MATO GROSSO - CULTURA DE SOJA EVOLUÇÃO DA ÁREA PLANTADA, PRODUÇÃO E RENDIMENTO MÉDIO: ANO-SAFRA 1977-78 A 1996-97 .......................................................................................... 96

GRÁFICO 7 ESTADO DE GOIÁS - CULTURA DE SOJA EVOLUÇÃO DA ÁREA PLANTADA, PRODUÇÃO E RENDIMENTO MÉDIO: ANO-SAFRA 1969-70 A 1996-97 .......................................................................................... 97

GRÁFICO 8 DISTRITO FEDERAL - CULTURA DE SOJA EVOLUÇÃO DA ÁREA PLANTADA, PRODUÇÃO E RENDIMENTO MÉDIO: ANO-SAFRA 1977-78 A 1996-97 .......................................................................................... 98

GRÁFICO 9 ESTADO DA BAHIA - CULTURA DE SOJA EVOLUÇÃO DA ÁREA PLANTADA, PRODUÇÃO E RENDIMENTO MÉDIO: ANO-SAFRA 1983-84 A 1996-97 .......................................................................................... 99

GRÁFICO 10 ESTADO DO MARANHÃO - CULTURA DE SOJA EVOLUÇÃO DA ÁREA PLANTADA, PRODUÇÃO E RENDIMENTO MÉDIO: ANO-SAFRA 1983-84 A 1996-97 ........................................................................................ 100

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GRÁFICO 11 EVOLUÇÃO DA PRODUÇÃO BRASILEIRA DE ALGODÃO: SAFRAS 1995-96 E 1996-97 ............ 115

GRÁFICO 12 BRASIL - PARTICIPAÇÃO DOS TIPOS DE EMPRESAS NAS EXPORTAÇÕES DO COMPLEXO SOJA EM 1990 .............................................................................................................. 153

GRÁFICO 13 BRASIL - ÍNDICES DE CRESCIMENTO DA PRODUÇÃO AGROINDUSTRIAL, PRODUTOS UTILIZADOS PELA AGRICULTURA 1981-93 ............................................................ 174

GRÁFICO 14 MINAS GERAIS - EVOLUÇÃO DO NÍVEL DE PRODUÇÃO INDUSTRIAL POR SETORES, 1981-93 ............................................................................................................................. 177

GRÁFICO 15 BRASIL - ÍNDICES DE CRESCIMENTO DA PRODUÇÃO AGROINDUSTRIAL , PRODUTOS DERIVADOS DA AGRICULTURA 1981-1993 ............................................................ 178

GRÁFICO 16 BRASIL - CRESCIMENTO DA AGROINDÚSTRIA PROCESSADORA DE SOJA: 1981 - 1993 ......................................................................................................................................... 179

GRÁFICO 17 TRIÂNGULO MINEIRO E ALTO PARANAÍBA - PARTICIPAÇÃO DOS INVESTIMENTOS E EMPREGOS GERADOS NOS PROJETOS AGROINDUSTRIAIS APROVADOS PELO INDI .................................................................................................................. 181

GRÁFICO 18 UBERLÂNDIA (MG) - CONTRIBUIÇÃO DO SETOR AGROINDUSTRIAL NA ARRECADAÇÃO FISCAL MUNICIPAL - 1992 ................................................................................ 182

GRÁFICO 19 ESTADO DE MINAS GERAIS - CULTURA DE SOJA EVOLUÇÃO DA ÁREA PLANTADA, PRODUÇÃO E RENDIMENTO MÉDIO: ANO-SAFRA 1969-70 A 1996-97 ........................................................................................ 196

GRÁFICO 20 ORIGEM DA SOJA EM GRÃO PROCESSADA EM MINAS GERAIS: 1991-96 ............................... 206

GRÁFICO 21 CARGILL AGRÍCOLA DE UBERLÂNDIA (MG) PERFIL DO PRODUTOR DE SOJA, POR TAMANHO DA ÁREA PLANTADA (EM HA) .............. 232

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LLIISSTTAA DDEE QQUUAADDRROOSS

QUADRO 1 TIPOS DE ESTRUTURAS DE CONTROLE (GOVERNANÇA) ........................................................... 55

QUADRO 2 BRASIL - TRANSFERÊNCIA DE CONTROLE NA INDÚSTRIA AGROALIMENTAR: 1985-1998 ............................................................................................................................................. 77

QUADRO 3 VARIEDADES DE SOJA RECOMENDADAS PARA OS CERRADOS ENTRE 1985-89 .................. 109

QUADRO 4 PRINCIPAIS VARIEDADES DE SOJA INTRODUZIDAS NAS REGIÕES DO TRIÂNGULO MINEIRO E ALTO PARANAÍBA, ENTRE OS ANOS DE 1973 A 1977 ..................... 111

QUADRO 5 PRINCIPAIS VARIEDADES DE SOJA LANÇADAS PELA SUBSIDIÁRIA DA MONSANTO PARA OS CERRADOS ................................................................................................ 119

QUADRO 6 EXEMPLO DE NOVAS APLICAÇÕES E MUTAÇÕES DA SOJA .................................................... 121

QUADRO 7 BRASIL - PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DAS POLÍTICAS DE INCENTIVOS FISCAIS DOS ESTADOS ................................................................................................................... 147

QUADRO 8 CAPACIDADE AGROINDUSTRIAL DA COMIGO - 1994 ............................................................... 166

QUADRO 9 ESTRUTURA LOGÍSTICA DA CARGILL AGRÍCOLA NO CERRADO BRASILEIRO .................... 168

QUADRO 10 TRIÂNGULO MINEIRO E ALTO PARANAÍBA (MRH/FIBGE): PRINCIPAIS PROJETOS AGRÍCOLAS E AGROINDUSTRIAIS APROVADOS PELO INDI .................................................... 175

QUADRO 11 PRINCIPAIS PROJETOS E INVESTIMENTOS ANUNCIADOS PELAS EMPRESAS NO SETOR AGROALIMENTAR, REGIÃO DO TRIÂNGULO MINEIRO E ALTO PARANAÍBA : 1995-2000 ................................................................................................................... 185

QUADRO 12 CRONOLOGIA DA IMPLANTAÇÃO DAS PRINCIPAIS VIAS DE CIRCULAÇÃO DO TRIÂNGULO MINEIRO ..................................................................................................................... 189

QUADRO 13 CAPACIDADE AGROINDUSTRIAL E DADOS GERAIS SOBRE A REZENDE ALIMENTOS - 1977 ........................................................................................................................... 212

QUADRO 14 PRINCIPAIS PARCERIAS E ASSOCIAÇÕES DO SETOR AGROALIMENTAR DO GRUPO ALGAR 1995-1998 ................................................................................................................ 227

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QUADRO 15 TRIÂNGULO MINEIRO/ALTO PARANAÍBA: PRINCIPAIS ESTRATÉGIAS QUE ENVOLVEM A REESTRUTURAÇÃO DAS EMPRESAS AGROINDUSTRIAIS EM PROCESSOS INTERNOS DE PRODUÇÃO E GESTÃO .................................................................... 239

QUADRO 16 PRINCIPAIS MUDANÇAS NO PERFIL DAS EMPRESAS QUE ATUAM NO SETOR AGROALIMENTAR NA REGIÃO DOS TRIÂNGULO MINEIRO/ALTO PARANAÍBA .................. 241

QUADRO 17 PRINCIPAIS INVESTIMENTOS E ESTRATÉGIAS DAS EMPRESAS DE INSUMOS QUÍMICOS E EQUIPAMENTOS AGRÍCOLAS ................................................................................. 246

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LLIISSTTAA DDEE TTAABBEELLAASS

TABELA 1 COMPARAÇÕES DA PARTICIPAÇÃO DO AGRIBUSINESS E SETORES DA ATIVIDADE ECONÔMICA NO PIB NACIONAL EM 1990, SEGUNDO A FIBGE E ABIA .............. 70

TABELA 2 EVOLUÇÃO E PROJEÇÃO DO FATURAMENTO DO AGRIBUSINESS NO MUNDO (US$ BILHÕES) .................................................................................................................................... 70

TABELA 3 CARACTERÍSTICAS DO AGRIBUSINESS BRASILEIRO EM 1980 (US$ BILHÕES) ........................ 71

TABELA 4 OS MAIORES PAÍSES IMPORTADORES DE DERIVADOS DE SOJA NO MUNDO (EM MILHÕES DE TONELADAS) .............................................................................................................. 79

TABELA 5 OS MAIORES PAÍSES PRODUTORES MUNDIAIS DE SOJA (EM MILHÕES DE TONELADAS) ...................................................................................................................................... 80

TABELA 6 OS MAIORES PAÍSES EXPORTADORES DE SOJA E DERIVADOS NO MUNDO (EM MILHÕES DE TONELADAS) .............................................................................................................. 80

TABELA 7 BRASIL E EUA - PARTICIPAÇÃO DE CADA MODAL DE TRANSPORTE NO VOLUME TOTAL DE GRÃOS MOVIMENTADOS ............................................................................................. 83

TABELA 8 COMPARAÇÃO DAS RENDAS LÍQUIDAS NAS FAZENDAS DE SOJA: EUA, BRASIL E ARGENTINA EM 1990/91 (EM US$/HA) ............................................................................................ 84

TABELA 9 EVOLUÇÃO DA PRODUÇÃO AGRÍCOLA DA REGIÃO CENTRO-OESTE (EM TONELADAS) ...................................................................................................................................... 87

TABELA 10 PRODUÇÃO DE SOJA NOS PRINCIPAIS ESTADOS BRASILEIROS - SAFRA 1996/97 ................... 89

TABELA 11 POTENCIAL PRODUTIVO DA REGIÃO DO CORREDOR CENTRO-NORTE ................................ 104

TABELA 12 REGIÕES ABRANGIDAS PELO PROGRAMA POLOCENTRO (1975) ............................................ 131

TABELA 13 ÁREAS INCORPORADAS PELO POLOCENTRO ENTRE 1975-79 .................................................. 131

TABELA 14 PROJETOS DO PROGRAMA DE COOPERAÇÃO NIPO-BRASILEIRA PARA O DESENVOLVIMENTO DO CERRADO - PRODECER I (1979-1985) ............................................... 134

TABELA 15 PROJETOS DO PRODECER II (1985-1993) ....................................................................................... 135

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TABELA 16 PROJETOS DO PRODECER III - EXPANSÃO (1993-1998) ............................................................. 136

TABELA 17 BRASIL - ESTRATIFICAÇÃO DA CAPACIDADE DE PROCESSAMENTO DAS INDÚSTRIAS DE ÓLEOS VEGETAIS - 1997 .................................................................................... 154

TABELA 18 BRASIL - CAPACIDADE INSTALADA DE PROCESSAMENTO DE OLEAGINOSAS - 1997 (TON./DIA) ................................................................................................................................ 155

TABELA 19 A NOVA ESTRUTURA DA ÁREA DE ALIMENTOS DA BUNGE NO BRASIL .............................. 159

TABELA 20 BRASIL - PROCESSO DE (RE)CONCENTRAÇÃO NO SETOR DE ESMAGAMENTO DE SOJA, 1995-1998 ................................................................................................................................ 160

TABELA 21 BRASIL E MINAS GERAIS – EVOLUÇÃO DA PRODUÇÃO AGRÍCOLA E DA PRODUÇÃO AGROINDUSTRIAL: PRODUTOS SELECIONADOS, 1981-93 ................................... 179

TABELA 22 SÍNTESE DOS PROJETOS AGROINDUSTRIAIS NA REGIÃO DO TRIÂNGULO MINEIRO E ALTO PARANAÍBA, POR SEGMENTO, VALOR DO INVESTIMENTO E NÚMERO DE EMPREGOS ................................................................................................................ 180

TABELA 23 COMPLEXO SOJA DE UBERLÂNDIA (MG): CAPACIDADE DE ESMAGAMENTO E PROCESSAMENTO DE GRÃOS, REFINO DE ÓLEO E PRODUÇÃO DE FARELOS – 1997 .................................................................................................................................................... 202

TABELA 24 UBERLÂNDIA (MG) – CAPACIDADE, QUANTIDADE DE SOJA EM GRÃO PROCESSADA, FARELO, ÓLEO BRUTO E REFINADO E ARMAZENAGEM NOS ESTABELECIMENTO AGROINDUSTRIAIS: 1991-1996 ................................................................. 203

TABELA 25 LOGÍSTICA DE ARMAZENAGEM DE GRÃOS DE UBERLÂNDIA (MG) ..................................... 205

TABELA 26 UBERLÂNDIA (MG) – QUANTIDADE DE SOJA EM GRÃO INGRESSADA NAS AGROINDÚSTRIAS, SEGUNDO O ESTADO DE ORIGEM DA MATÉRIA-PRIMA, 1993/94 ............................................................................................................................................... 206

TABELA 27 BRASIL - AS MAIORES EMPRESAS DO AGRIBUSINESS EM 1995 CLASSIFICAÇÕES DAS EMPRESAS DO SETOR AGROPECUÁRIO .............................................. 210

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LLLIIISSSTTTAAA DDDEEE SSSIIIGGGLLLAAASSS EEE AAABBBRRREEEVVVIIIAAATTTUUURRRAAASSS

ABAG - Associação Brasileira de Agribusiness ABC-A&P - ABC – Agricultura e Pecuária ABC-INCO - ABC – Indústria e Comércio ABCZ - Associação Brasileira dos Criadores de Gado Zebu ABEF - Associação Brasileira dos Produtores e Exportadores de Frangos ABIA - Associação Brasileira da Indústria de Alimentação ABIOVE - Associação Brasileira de Indústrias de Óleos Vegetais ACIUB - Associação Comercial e Industrial de Uberlândia ADTP - Agência de Desenvolvimento Tietê-Paraná APR - Animação Pastoral e Social do Meio Rural (ONG) BEMGE - Banco do Estado de Minas Gerais S.A. BDMG - Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais BM&F - Bolsa de Mercadorias & Futuros BMG - Banco de Minas Gerais S.A. BNDES - Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social BRASAGRO - Companhia Brasileira de Participação Agroindustrial CAI - Complexo Agro-Industrial CAMPO - Companhia de Promoção Agrícola CAMIG - Companhia Agrícola de Minas Gerais CASEMG - Companhia de Armazéns e Silos do Estado de Minas Gerais CDI - Companhia de Distritos Industriais de Minas Gerais CEDEPLAR - Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional (FCE-UFMG) CEE - Comunidade Econômica Européia CEMIG - Companhia Energética de Minas Gerais CENARGEM - Centro Nacional de Recursos Genéticos e Biotecnologia CEPET - Central de Experimentação, Pesquisa e Extensão do Triângulo Mineiro CNA - Confederação Nacional da Agricultura COPAMIL - Cooperativa Agrícola Mista Iraí de Minas Ltda. COMIGO - Cooperativa Mista dos Produtores Rurais do Sudoeste Goiano Ltda. CONAB - Companhia Nacional de Abastecimento CPAC - Centro de Pesquisa Agropecuária dos Cerrados (Embrapa) CTBC - Companhia de Telecomunicações do Brasil Central CVRD - Companhia Vale do Rio Doce EFVM - Estrada de Ferro Vitória-Minas EMATER-MG - Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural de Minas Gerais EMBRAPA - Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária EPAMIG - Empresa de Pesquisa Agropecuária do Estado de Minas Gerais EUA - Estados Unidos da América FAO - Organização de Alimentação e Agricultura FCO - Fundo Constitucional para a Região Centro-Oeste FEPASA - Ferrovia Paulista S.A. FIBGE - Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística FIEMG - Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais FMI - Fundo Monetário Internacional G 7 - Grupo dos Sete Países mais Industrializados GATT - Acordo Geral de Tarifas e Comércio IAC - Instituto Agronômico de Campinas ICMS - Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços

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IGA - Instituto de Geociências Aplicada (UFMG) ILPES - Instituto de Pesquisa Econômica e Social IMA - Instituto Mineiro de Agropecuária INDI - Instituto de Desenvolvimento Industrial de Minas Gerais INCRA - Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária INRA - Instituto Nacional de Pesquisa Agronômica (FRANÇA) JADECO - Japan Brazil Agricultural Development Corporation JICA - Agência Japonesa para Cooperação Internacional MAARA - Ministério da Agricultura, do Abastecimento e da Reforma Agrária MERCOSUL - Mercado Comum do Cone Sul MRG - Microrregião Geográfica (IBGE) MRH - Microrregião Homogênea (IBGE) MST - Movimento dos Trabalhadores Sem Terra NICs - Novos Países Industrializados OCDE - Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico OMC - Organização Mundial do Comércio ONU - Organização das Nações Unidas P&D - Pesquisa e Desenvolvimento PCI - Programa de Crédito Integrado e Incorporação dos Cerrados PADAP - Programa de Assentamento Dirigido do Alto Paranaíba PADSA - Programa PADVALE - Programa PEA - População Economicamente Ativa PENSA - Programa de Estudos dos Negócios do Sistema Agroindustrial (USP) PIB - Produto Interno Bruto PIM - Pesquisa Industrial Mensal (IBGE) PME - Pequenas e Médias Empresas PMU - Prefeitura do Município de Uberlândia PNB - Produto Nacional Bruto PND - Plano Nacional de Desenvolvimento PNDA - Programa Nacional de Desenvolvimento Agroindustrial PNDR - Programa Nacional de Desenvolvimento Rural POLOCENTRO - Programa de Desenvolvimento dos Cerrados PRODECER - Programa de Cooperação Nipo-Brasileira para o Desenvolvimento dos Cerrados RFFSA - Rede Ferroviária Federal S.A. SNCR - Sistema Nacional de Crédito Rural EU - União Européia UFMG - Universidade Federal de Minas Gerais UFU - Universidade Federal de Uberlândia UFV - Universidade Federal de Viçosa UNCTAD - Conferência das Nações Unidas para o Comércio e o Desenvolvimento UNCTNC - Centro das Nações Unidas sobre Companhias Transnacionais USDA - Departamento de Agricultura dos Estados Unidos VAF - Valor Adicionado Fiscal WWW - Fundo Mundial para a Natureza

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RRREEESSSUUUMMMOOO

O presente trabalho analisou as principais estratégias das empresas do setor agroindustrial

e o processo de expansão econômico-territorial recente no oeste do Estado de Minas

Gerais, particularmente na região do Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba. Como base teórico-

metodológicos de enfoque à questão da agroindústria, foram discutidos os principais

instrumentais existentes e as novas abordagens que consideram as mudanças no sistema

produtivo em geral, na década de 1980. Nessa perspectiva, o processo de

agroindustrialização na região foi estudado tanto como parte de um processo

desencadeado pelas políticas oficiais de ocupação agropecuária no domínio do cerrado

brasileiro, na década de 70, como no contexto dos movimentos de reestruturação produtiva

e locacional das empresas. A investigação recaiu sobre as principais estratégias

empresariais nesta região do cerrado, desenvolvida junto às empresas do complexo soja e

suas inter-relações com as cadeias grãos-farelo-óleo, grãos-rações-carnes; e também junto

a segmentos novos na região, os quais vêm conquistando espaço nos últimos anos, como

as empresas processadoras ligadas à produção de vegetais e frutas tropicais. A partir do

levantamento de informações nas empresas do agribusiness do segmento de grãos e

carnes, constituídas pelo capital regional (como Rezende Alimentos e o setor agroalimentar

do grupo ABC-ALGAR, de Uberlândia), como dos grupos econômicos multinacionais que

atuam como tradings no mercado de commodities agrícolas (Cargill), verificaram-se, em

resultado, diante das fortes pressões competitivas, novas configurações da agroindústria,

tanto no sentido dos aspectos mais gerais relacionados com a dinâmica mundial quanto aos

movimentos de concentração econômica (fusões, aquisições, parcerias, entre outras),

diversificação produtiva das empresas, como de aspectos particulares: como de localização

espacial e mudanças quanto ao relacionamento da agroindústria com a estrutura social

rural nessa região do cerrado brasileiro.

Palavras-Chave: Agribusiness, Estratégias Empresariais, Complexo Soja, Cerrado,

Triângulo Mineiro.

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AAABBBSSSTTTRRRAAACCCTTT

The present work analysed the main strategies of agribusiness sector's enterprises and the

process of recent economic-territorial expansion in the west of the State of Minas Gerais,

particularly in the area of the Triângulo Mineiro/ Alto Paranaíba. As theoretical-

methodological base of focus to the subject of the agribusiness, the main existent

instruments and the new approaches that consider the changes in general in the productive

system, in the decade of 1980 were discussed. In that perspective, the process of

agribusiness development in the area was studied as much as part of a process unchained

by the official policies of agricultural occupation in the Brazilian domain of the savanna in the

decade of 70, as in the context of the movements of productive restructuring and location of

the companies. The investigation relapsed on the main managerial strategies in this area of

the savanna, developed near the firms of the soy complex and its interrelations together with

the grain-farelo-oil chains, grain-ration-meat; and also close to new segments in the area,

which come conquering space in the last years, as the industrial companies linked to the

production of vegetables and tropical fruits. Starting from the survey of information in the

agribusiness companies of the segment of grains and meats, constituted by the regional

capital (as Rezende Alimentos and the agribusiness section of the group ABC-ALGAR, of

Uberlândia), as of the multinational economic groups that act as tradings in the market of

agricultural commodities (Cargill), it was verified, in result, before the strong competitive

pressures, new configurations of the agricultural industry, so much in the sense of the most

general aspects related with the world dynamics with relationship to the movements of

economic concentration (coalitions, acquisitions, partnerships, among other), productive

diversification of the companies, as of private aspects: space location and changes with

relationship of the agricultural industries with the rural social structure in that area of the

brazilian savanna.

KEY-WORD: AGRIBUSINESS, MANAGERIAL STRATEGIES, SOYBEAN COMPLEX SAVANNA, TRIÂNGULO MINEIRO.

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2

IINNTTRROODDUUÇÇÃÃOO

“É da natureza das ciências exatas que as idéias mudem: isto quer dizer que se aprendem coisas novas. Não se t rata de teologia. Não se fazem declarações que se conservam intactas durante a vida toda. Ao contrário, nas ciências sociais, as posições freqüentemente são personalizadas. Quando se toma uma posição, deve-se defendê-la a todo custo. Isso torna-se uma questão de honra pessoal de não mudar, isto é, de não aprender; será acusado de ser contraditório se modificar sua posição” (NOAM

CHOMSKY)

Este trabalho é fruto de um conjunto de indagações e lacunas existentes nas

interpretações geográficas recentes a respeito do setor agroindustrial no Triângulo Mineiro.

A produção de conhecimento sobre a problemática não é algo novo para a “região” e, ao

dar continuidade às contribuições anteriores, torna-se claro que a intenção não é reduzir as

explicações do fenômeno da agroindustrialização a elementos de natureza meramente

econômica. Não se poderia também deixar de refletir o convívio com especialistas de outras

áreas, o qual também veio contribuir para uma série de questionamentos e para a

percepção de que boa parte dos princípios, dos métodos adquiridos necessitam ser

permanentemente reavaliados.

O estudo geográfico sobre a dinâmica agroindustrial recente coloca-se como um

desafio, principalmente em tempos de grandes mudanças, não só do sistema econômico

em geral, como do instrumental de suporte às análises sobre o tema em questão.

O processo de expansão agroindustrial do Triângulo Mineiro o qual teve como eixo

dinâmico a grande expansão agrícola no cerrado brasileiro, nos anos 80, e a sua

conseqüente inserção regional à dinâmica agroindustrial no cerrado e na Região Centro-

Oeste, que gerou a implantação de infra-estrutura para a consolidação de grandes

empresas ligadas ao complexo agroindustrial brasileiro e o fortalecimento de empresas

regionais, assume o aspectos diferenciados na fase atual, no ambiente de mudanças

conduzidas, em termos gerais, pela onda da globalização.

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Desde a década de 1970, em nível global, vem intensificando-se drasticamente a

internacionalização da indústria, dos serviços e do capital. A economia mundial está

tornando-se verdadeiramente globalizada e transnacionalizada.

Em época de pluralidade teórica, seria questionável adotar-se uma única via teórico-

metodológica para explicar as questões relacionadas à agroindústria, tanto em nível geral

sobre o sistema produtivo, quanto em nível de investigação. Registra-se, particularmente na

geografia econômica contemporânea, que uma das características mais estimulantes é esta

pluralidade de aproximações e o intercâmbio frutífero de idéias que tal diversidade pode

suscitar. A geografia econômica tem utilizado noções e conceitos novos para abordar o

grande número de questões surgidas a partir das últimas mudanças espaciais na economia,

valendo-se principalmente de reformulações teóricas sobre a localização industrial.

A economia capitalista, vista principalmente como um sistema industrial com

padrões e trajetórias de localizações geográficas e desenvolvimento regional, assume

novas configurações. Naturalmente que essas transformações refletem na orientação dos

estudos sobre a economia espacial, colocando novos problemas e necessidades de

reformulação. Esse não é o objetivo específico deste trabalho, mas, sem “perder o hábito”,

ao procurar fazer o resgate histórico dos principais enfoques sobre o setor agroindustrial e a

análise das relações gerais entre a agricultura e indústria, com a alusão às diversas

posições teórico-metodológicas e técnicas, procura-se fazê-la como referência, e não como

meta a ser aplicada mecanicamente no trabalho científico, no campo, como advertem boa

parcela dos geógrafos. Essa aproximação de métodos, técnicas e linguagem de áreas e

especialidades com formações e posições diferentes, sugere, como bem enfatiza o

geógrafo Manuel Correia de ANDRADE (1994), que “Mais uma vez admitimos que é difícil

se elaborar uma metodologia que sirva para as pesquisas de Geografia Rural para as áreas

mais diversas e para ser aplicado por pesquisadores com posições técnicas científicas e

formações filosóficas as mais diversas. Admitimos que a Geografia brasileira chegou ao

estágio das opções as mais diversas, de domínio de um pluralismo que longe de

homogeneizar, heterogeniza as soluções, trazendo um enriquecimento à produção

científica.”

Sem dúvida, surgem conceitos novos e modelos de produção e organização

industrial, com o advento de um novo paradigma tecnológico, que tem resultado na

transformação da organização técnica, corporativa e social da produção. Ao mesmo tempo,

ocorrem novas práticas de produção “flexíveis” de trabalho e de apropriação do valor;

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mudanças nos modos de consumo, mais diferenciados e individualizados; a intervenção

mínima do Estado, que procura liberalizar e privatizar sua economia e pelos progressos

tecnológicos, principalmente no âmbito da comunicação, da informação e na engenharia

genética.

Com isso, o problema central do trabalho é o de reunir os elementos explicativos da

nova dinâmica agroindustrial e avaliar as estratégias das empresas líderes do sistema

agroindustrial mundial e nacional, com a possível interpretação para o caso daquelas

empresas que atuam na região do Triângulo Mineiro, objeto particular de investigação.

Assim, tendo como uma das principais hipóteses o argumento da necessidade de

levantar parte das questões anteriormente colocadas, as quais dão suporte à compreensão

da nova dinâmica sobre o desenvolvimento agroindustrial brasileiro, este estudo procura

seguir alguns objetivos, expostos nos 5 capítulos que compõem a tese de doutorado:

No Capítulo 1, procurou-se realizar o resgate das principais discussões teóricas

sobre a agroindústria, partindo da noção inicial de agribusiness formulada, no final dos anos

50, por DAVIS e GOLDBERG (1957), chegando até a fase do padrão agrícola comandado

pelo Complexo Agroindustrial (CAI) no Brasil.

Principalmente na Geografia brasileira, os estudos sobre o agribusiness até pouco

tempo atrás, na década de oitenta, enfocavam realidades e processos históricos sobre a

origem e a modernização dos variados segmentos agroindustriais. Pela tradição cafeeira e

açucareira do país e a grande ênfase às relações da geografia com a história, prevaleceu o

enfoque sobre as atividades agroindustriais, privilegiando-se a trajetória social e econômica

dos grupos e a organização espacial da produção, a modernização agrícola, o papel do

Estado na agricultura; sem poder ainda, evidentemente, incorporar os novos

questionamentos quanto à nova fase de desenvolvimento capitalista e à tradição

epistemológica do geógrafo dedicado ao estudo do agribusiness.

Intencionalmente, e com grande esforço de entendimento, procura-se lançar as

principais perspectivas conhecidas pelas disciplinas e campos de conhecimento diferentes

da Geografia os quais procuram superar a análise dicotômica da agricultura com a indústria

e as perspectivas sobre o setor agroindustrial.

Levantar as mudanças nos padrões de produção agrícola e agroindustrial e no

sistema produtivo mundial são os principais desafios colocados no Capítulo 2. Quais os

cenários futuros da agroindustrialização diante das mudanças nos padrões de consumo, na

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redefinição do papel do Estado e nas estratégias e formas organizacionais das empresas?

Como pensar a natureza da atual transformação espacial e territorial?

Nessa parte, são colocadas as questões sobre a nova lógica territorial na

perspectiva de mudança e reestruturação do sistema produtivo mundial à luz de autores

conhecidos no campo da Geografia que se referem ao sistema produtivo contemporâneos,

com ênfase à discussão do “pós-fordismo” do “período da acumulação” e da

“especialização flexível” elaborados por HARVEY (1992; 1996), BENKO (1996), entre

outros; os quais, em linhas gerais, traduzem a corrente “pós-moderna” na Geografia.

Nele, também, são abordadas as questões relativas às estratégias do capital

(incluindo o multinacional) e as tendências cada vez mais acentuadas para a

internacionalização e a integração, a nível global, das economias locais e nacionais, na

perspectiva geográfica.

As abordagens teóricas advindas de outras áreas de fora da Geografia

referenciadas nessa parte do trabalho, inserem-se, em sentido amplo, às de maior

destaque na bibliografia internacional, que tratam das transformações produtivas no

sistema agroindustrial. É o exemplo da empresa-rede, entendida como uma nova forma de

interpretação das articulações e das relações entre os agentes econômicos que auxiliam na

definição do campo das estratégias recentes dos grupos econômicos e das empresas do

setor agroindustrial e seus diferentes segmentos nos anos 90. Entende-se que o processo

de interação dos agentes, sejam eles produtores, industriais, clientes ou fornecedores, é

cada vez mais de forte interdependência, não se limita às fronteiras econômicas e, também,

geográficas.

As empresas dinâmicas estão tornando-se cada vez mais globalmente

descentralizadas, organizadas em uma “teia empresarial” e constituídas de centros de

negócios e de lucros, onde os produtos são elaborados internacionalmente, a partir de

controle corporativo mundialmente difuso, traduzindo, porém, formas espaciais.

Incorporar os novos enfoques metodológicos na Geografia é uma tarefa nova e um

desafio. Esse tipo de abordagem é encontrada também na literatura econômica francesa a

respeito do sistema agroalimentar, em autores como RAÚL GREEN (1990), GREEN e

ROCHA dos SANTOS (1993); e na Geografia, nos autores reunidos na corrente do “pós-

fordismo” e no processo da “acumulação flexível” do novo sistema produtivo, tais como

DAVID HARVEY (1992) BENKO e HARVEY (1994) e BENKO (1996).

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Assim, procurando compreender as implicações dessas mudanças no tema em

análise, o referido capítulo trata também do movimento de reestruturação do setor

agroindustrial recente no Brasil, tomando não apenas as principais mudanças econômicas e

as estratégias das agroindústrias, como também as ocorridas no domínio da indústria

alimentar (sistema agroalimentar). Os aspectos relacionados à nova dinâmica agrícola e

agroindustrial fecham a presente parte, onde são apresentados exemplos e trajetórias de

empresas líderes. Essa perspectiva exemplifica-se pelos processos de associações,

aquisições, fusões, parcerias e mudanças nas formas de gestão e controle, gerando a

concentração econômica e internacionalização verificada com as empresas líderes

mundiais da produção agroalimentar.

Em geral, são enfocadas as principais estratégias das empresas e o processo de

reestruturação das agroindústrias e da indústria alimentar brasileira, recorrendo-se aos

autores que têm refletido sobre a situação particular e mais geral dos diversos segmentos,

tais como o complexo citrícola; o de leite e laticínios, carnes, café; e a cadeia agroindustrial

da soja e carnes.

Quais os desdobramentos do modelo de modernização agrícola e agroindustrial

brasileiro sobre as áreas de cerrado? Diferentemente das regiões tradicionais do sul do

País, o modelo agrícola no qual baseou-se a implantação de cultivo de grãos (no boom da

soja, em especial) apresenta reflexos de todo tipo, atingindo tanto o meio ambiente natural,

quanto às populações.

A escolha do estudo da dinâmica da soja e da agroindústria processadora de grãos

no Capítulo 3, deve-se pela sua forte inserção regional, na produção, circulação e

reprodução capitalista da agricultura. É a produção da soja que vem marcando,

principalmente, o processo de desenvolvimento agroindustrial, comercial e financeiro no

cerrado brasileiro, ao produzir, por exemplo, encadeamentos com os segmentos de

produção de carnes (principalmente de aves e suínos). Aqui, procura-se apreender os

processos sobre a evolução da produção e suas novas configurações das relações da

cadeia da soja no espaço brasileiro, notadamente as perspectivas de crescimento e as

implicações diante das políticas oficiais que influem na reorganização espacial,

principalmente nas regiões em fase de incorporação pela agropecuária moderna.

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Os impactos dos monocultivos e as aplicações da biogenética no cerrado encerram

o presente capítulo, onde se procura introduzir questões ligadas às estratégias das

empresas na região, especificamente das empresas posicionadas “a montante” da

agropecuária, tais como as produtoras de sementes e de pesquisa de plantas; além de

buscar avaliar, embora em sentido geral, as relações da agroindústria, natureza e produção

rural, com exemplos do Estado de Minas Gerais e do Triângulo Mineiro.

No Capítulo 4 são retomadas as principais políticas governamentais para o

desenvolvimento agropecuário dos cerrados na década de 1970. Procura fazer-se uma

retrospectiva dos principais programas com base nos estudos já produzidos. Também são

avaliadas as políticas agroindustriais de estímulo e as recentes políticas de incentivos à

agroindústria na região central do Brasil. A fase de implantação dos programas oficiais dá

suporte à compreensão da fase posterior em que ocorre o processo de desenvolvimento

agroindustrial nos anos 80. No contexto das políticas agroindustriais recentes, são

apresentados outros fatores que tem influenciado na localização de novos investimentos no

Brasil, a partir da política fiscal dos Estados.

Essa parte do trabalho compreende a avaliação do perfil agroindustrial na região do

cerrado , uma vez entendido que a dinâmica das empresas do setor no Triângulo Mineiro

segue as características regionais do Centro-Oeste, com a análise das principais

estratégias das empresas líderes das cadeias de grãos e carnes, maiores responsáveis

pelo dinamismo regional. Apresenta-se o conjunto de comportamentos das empresas, onde

se incluem os exemplos das empresas integradas, esmagadoras e tradings na região,

compostas por grupos regionais, cooperativas e multinacionais.

O intuito em privilegiar a investigação nos grandes grupos econômicos do complexo

agroindustrial foi de apresentar os novos aspectos “do novo” e “do moderno” na região do

cerrado de Minas Gerais, porque constituem os representantes do processo de

mundialização capitalista. Escolhe-se para isso o complexo agroindustrial da soja, símbolo

da modernização agrícola no Brasil, porque em nível empírico é possível direcionar ou

mesmo delimitar melhor o campo de estudo. A indústria processadora de soja e a de carnes

estão estreitamente ligadas à história recente da região.

Por seu turno, a apreensão da dinâmica agroindustrial dos estados vizinhos de

Minas Gerais, bem como a avaliação do processo de reconcentração econômica do setor

agroindustrial, fornecem as bases de entendimento das articulações espaciais da produção

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e das inter-relações econômicas presentes nas diversas cadeias do complexo soja, objeto

de análise da parte seguinte do trabalho.

Finalmente, no Capítulo 5, procura-se analisar a nova dinâmica da agroindústria no

cerrado mineiro através de estudo de casos de segmentos e principais empresas que

constituem a denominada “agroindústria processadora” (agroalimentar), principalmente a

que integra o segmento a “jusante” do denominado Complexo Agroindustrial.

Inicialmente, procura-se estabelecer as principais fases do desenvolvimento

agroindustrial de Minas Gerais, relacionando os segmentos e as regiões do estado que

receberam os investimentos agroindustriais, além da caracterização do fluxo de grãos para

as empresas esmagadoras de soja da região (Triângulo Mineiro), o sistema de infra-

estrutura e logística de armazenagem, processamento e comercialização de grãos.

Apesar do reconhecimento da importância dos agricultores tanto no contexto real

como em vários enfoques teóricos discutidos neste trabalho, quanto no complexo

agroindustrial brasileiro, a necessidade de perseguir um caminho e a própria delimitação do

campo de estudo não permitiram maior ênfase.

Na análise inter-setorial, não se perdem de vista os aspectos financeiros e o

desigual poder de acumulação das empresas, que incluem também a presença dos grupos

transnacionais e empresas regionais do complexo soja no Triângulo Mineiro,

particularmente instaladas no pólo de Uberlândia, tais como a Rezende Alimentos, o

segmento agroalimentar do Grupo ABC-Algar e a multinacional Cargill.

A ênfase recai, principalmente, à cadeia agroindustrial de oleaginosas, pela sua

abrangência ao conjunto de mercados, dos quais se destacam a produção e o comércio de

grãos; a produção de rações (farelo) e a produção de óleos vegetais (óleo bruto e refinado).

A dinâmica desse segmento e seu grande entrelaçamento com as diferentes cadeias

agroindustriais, em especial da produção de grãos-farelo-óleo e de grãos-rações-carnes,

motivou maiores considerações: pois é o que dá a dinâmica ao cerrado brasileiro.

Outras cadeias importantes são consideradas, como a de frutas e vegetais tropicais,

embora em nível caracterizador no domínio das estratégias das empresas, algumas

incipientes na região, com exemplos do processo de reestruturação agroindustrial. A

dinâmica do segmento situado “a montante” também é enfocado nessa parte do trabalho,

com exemplos das estratégias das empresas ligadas à genética animal, das indústrias de

fertilizantes, defensivos químicos e equipamentos agrícolas.

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A grande carência de estudos, bem como a produção de dados e informações

setoriais e municipais sobre o processo de agroindustrialização no Triângulo Mineiro,

contribuiu para que se desviasse, por vezes, do objetivo principal que é o de interpretar os

aspectos da nova dinâmica da agroindústria no cerrado, particularmente no Triângulo

Mineiro.

O caráter insuficiente dos dados disponíveis e informações sobre as empresas

consideradas, onde algumas encontram-se disponíveis apenas em nível de investimentos

aprovados por órgãos oficiais de Minas Gerais, decorre, em particular, do componente

estratégico e das formas de poder econômico (atores) envolvidos no investimento direto e

da própria natureza estratégica das empresas em sonegar informações.

A identificação e a sistematização das estratégias de reorganização espacial e de

reconcentração econômica recentes foram levantadas em periódicos especializados, cujas

referências encontram-se no corpo da tese e relacionadas no Anexo do trabalho.

Por outro lado, o corte temporal onde se privilegia o período recente, visa

contextualizar esse novo momento das relações e período da acumulação capitalista

internacional, em que se insere também a região do cerrado em geral, e a do Triângulo

Mineiro em particular.

A propósito das delimitações regionais existentes sobre o denominado Triângulo

Mineiro, têm-se produzido numerosos estudos, prestando-se à diversos propósitos. O

trabalho não segue uma via única e critérios rígidos no tocante à regionalização. A

divulgação oficial dos dados sobre a agroindústria não privilegia os critérios de delimitação

espacial comum e a maioria das fontes apresentam os resultados de forma agregada, em

unidades macro-espaciais, tais como as Regiões Brasileiras e as Unidades da Federação.

Por demais divisões regionais existentes, a nova forma de desenvolvimento do

cerrado brasileiro impõe um desafio de pesquisa, ora exigindo que se considere na

perspectiva do domínio físico, como também as unidades de agregação propostas

oficialmente, onde se consideram variáveis agrícolas. Boa parte dessa diretriz é colocada

no final do trabalho (Anexo), com as principais delimitações geográficas e critérios

metodológicos das fontes.

Acompanham também o Anexo, um conjunto de informações que orientaram a

elaboração do material cartográfico, critérios metodológicos de regionalização, dotados no

presente trabalho.

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1.1. OS PRINCIPAIS ENFOQUES TEÓRICOS SOBRE AS RELAÇÕES ENTRE AGRICULTURA E INDÚSTRIA

Com o objetivo de explicar as perspectivas da organização das atividades agrícolas a

partir das relações com a indústria, diversos estudos sobre a dinâmica agroindustrial, de uma

forma ou de outra, tentam descrever a agricultura sob a perspectiva intersetorial.

Por meio de vários enfoques teórico-metodológicos, muitos autores procuraram

superar a análise da evolução da agricultura sob o ponto de vista “funcional”, ou seja, pelas

funções que esta agricultura desempenhava. Outros, pela falta de percepção de que o

funcionamento das atividades agrícolas depende do desenvolvimento das atividades não-

agrícolas, foram também criticados em suas análises.

Por outro lado, produziram-se também diversos instrumentais analíticos e uma vasta

literatura sobre a agricultura como simples ofertante de alimentos e matérias-primas; e outras

visões do papel dessa agricultura, tanto na oferta de divisas quanto fornecedora de mão-de-

obra, ou ainda como demandante de produtos industriais.

O que se tem nessa trajetória histórica da agricultura é que o aprofundamento do

processo de desenvolvimento econômico capitalista tem levado à crescente

interdependência da agricultura com os diferentes ramos industriais. Nesse sentido, o próprio

processo de desenvolvimento tem justificado o crescente reconhecimento da importância de

uma análise intersetorial no tratamento de questões relacionadas às mudanças na

agricultura. O contexto de uma economia cada vez mais globalizada e urbanizada, na qual

os alimentos industrializados conquistam maior espaço no consumo da população, requer

que se considere ainda a produção de alimentos, ou seja, as múltiplas relações entre

agricultura, indústria e mercado.

O critério analítico baseado nas relações intersetoriais, algo que há algum tempo tem

sido comum no campo das Ciências Econômicas, da Sociologia, da Agronomia, da Geografia

e em outros campos do conhecimento, tem como base a supressão da divisão tri-setorial da

economia, ou seja, nos três setores da economia – primário, secundário e terciário. Ao

mesmo tempo, novas abordagens exigem que se considerem as múltiplas conexões entre o

rural e o urbano, vencendo tanto a dicotomia como a intensificação do processo de

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industrialização e o conseqüente fenômeno de urbanização, que se intensificou na

interdependência campo-cidade.

Nesse sentido, Karl KAUTSKY (1980, p.272) mostrou grande percepção do processo

evolutivo da agricultura ao formular que “o modo de produção moderno chega ... no fim do

processo dialético, a seu ponto de partida, a supressão do divórcio entre a indústria e a

agricultura”, mostrando que “se a agricultura campesina primitiva, a agricultura era, do ponto

de vista econômico, o elemento decisivo e dirigente, esta relação agora se subverte. A

grande indústria capitalista passa agora a dominar. A agricultura passa a obedecer às suas

ordens, adaptar-se às suas exigências. A direção da evolução industrial serve de regra à

evolução agrícola”.

Os postulados de KAUTSKY, a partir da obra “A Questão Agrária”, têm servido a

muitos autores, principalmente aos que trataram do problema no contexto latino-americano,

que encontram nos postulados do autor as bases para as explicações recentes das

transformações nas relações agricultura-indústria. MÜLLER (1989, p.27), por exemplo,

sintetiza os principais aportes de KAUTSKY, onde: em primeiro lugar, “a circulação em geral,

o comércio e as comunicações, revolucionadas pela acumulação de capital, aumentam a

dependência da agricultura”; e, em segundo lugar, “a aplicação de conquistas da ciência

moderna na agricultura, provoca uma revolução na organização rural, suprimindo o divórcio

entre agricultura e indústria”. De acordo com essas idéias, o capital se apodera da

agricultura, inicialmente, pelas vias de circulação, e, posteriormente, revolucionando seu

modo de produzir.

Uma questão a considerar previamente diz respeito às análises sobre a relação

indústria e agricultura e o processo de unificação cidade-campo, que encontram diferentes

enfoques nas diversas correntes que examinam a trajetória da agricultura e da indústria no

sistema capitalista internacional.

Para GOODMAN et al. (1990, p.5-6), por exemplo,

“A agricultura tem-se constituído no principal obstáculo à imposição de um processo de produção capitalista unificado no sistema agroalimentício e, consequentemente, à incapacidade de revolucionar os meios de produção. As principais limitações são representadas pela natureza orgânica, pela terra e pelo espaço, e estes fatores determinaram o padrão e a trajetória da apropriação. Os capitais industriais têm-se restringido a apropriações parciais do processo de trabalho rural, conduzindo em diferentes conjunturas históricas à mecanização da agricultura e a inovações químicas e genéticas ... À medida em que certos elementos do processo de produção rural tornam-se suscetíveis de reprodução industrial, eles são apropriados pelos

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capitais industriais e reincorporados na agricultura como insumos ou meios de produção. O desenvolvimento capitalista da agricultura é assim caracterizado pela apropriação industrial de atividades discretas, em marcante contraste com a transformação da produção artesanal doméstica e rural. A produção capitalista no caso da agricultura localiza-se na cidade, não no campo”.

Nessa perspectiva, ao contrário de formulações recentes, o “complexo agroindustrial”

é visto como uma fase dinâmica e transitória no desenvolvimento industrial da agricultura, e

não sua expressão final e mais completa; não é possível a imposição de um padrão

unificado à totalidade do sistema agroalimentício.1

Para OLIVEIRA (1994, p.52), o processo de desenvolvimento da agricultura,

sobretudo via industrialização,

“...tem eliminado gradativamente a separação entre a cidade e o campo, entre o rural e o urbano, unificando-os numa unidade dialética. Isto quer dizer que campo e cidade, cidade e campo, formam uma unidade contraditória. Uma unidade onde a diferença entre os setores da atividade econômica (a agricultura, a pecuária e outros, em um, e a indústria, o comércio, etc., em outro), vai sendo soldada de um lado, pela presença, na cidade, do trabalhador assalariado (bóia-fria) do campo. Aliás as greves dos trabalhadores do campo são feitas nas cidades. Por outro lado, pode-se verificar que a industrialização dos produtos agrícolas pode ser feita no campo com os trabalhadores das cidades. Aí reside um ponto importante nas contradições do desenvolvimento do capitalismo, tudo indicando que ele mesmo está soldando a união contraditória que separou no início de sua expansão: a agricultura e a indústria; a cidade e o campo”.

Assim, de acordo com o autor, a industrialização do campo é vista como processo

contraditório e desigual de desenvolvimento da agricultura. Essas colocações ampliam as

posições de que “a produção capitalista, no caso da agricultura, localiza-se na cidade, não

no campo” (GOODMAN et al., 1990, p.6), além de permitir a reflexão do processo de trabalho

rural e urbano, sendo este último o locus preferencial da concentração da força de trabalho e

1 O termo agroindústria não deve ser confundido com Complexo Agroindustrial. O primeiro é parte do

segundo e por definição, em sentido amplo, a agroindústria é “a unidade produtiva que transforma o produto agropecuário natural ou manufaturado para sua utilização intermediária ou final” (LAUSCHNER, 1974). A ampliação do conceito original de agroindústria proposto por MALASSIS (1973), por exemplo, considera a divisão da indústria ligada aos produtos agrícolas e à alimentação, conforme o destino da produção e a origem das matérias-primas, caracterizando três tipos de indústrias ao nível de transformação, definindo assim como agroindústria tanto a primeira quanto a segunda transformação do produto de origem agrícola. Na segunda transformação está a indústria chamada indústria de alimentos, que utiliza insumos ou subprodutos das “indústrias agroalimentares”. Dessa forma, essa tipologia complementa a definição acima apresentada por Lauschner. Uma exposição mais ampla desses conceitos é apresentada por ARAUJO et al. (s/d, p. 3) em trabalho editado pela ABAG, especialmente o primeiro capítulo. MÜLLER (1989, p. 63), nas discussões sobre o CAI, também propõe o emprego das noções de agroindústria e industrialização da agricultura.

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consequentemente do capital “. No campo, este processo de desenvolvimento capitalista

está igualmente sendo marcado pela industrialização da agricultura” (OLIVEIRA, 1994, p.25).

Nessa lógica contraditória do desenvolvimento capitalista da agricultura, no processo

combinado de expansão da agricultura camponesa com a industrialização da agricultura, o

geógrafo Ariovaldo Umbelino de OLIVEIRA expõe o significado da “industrialização da

agricultura” no contexto da internacionalização da economia brasileira, ou melhor, “a lógica

contraditória do desenvolvimento capitalista da agricultura se fez e se faz no seio do

capitalismo mundializado. Portanto, está relacionado com o mecanismo da dívida externa. É

através deste mecanismo, que diferentes governos brasileiros têm tomado dinheiro

emprestado no mercado financeiro internacional, com a finalidade de ampliar a sua

produção, particularmente no setor industrial. Para pagar a dívida o país tem que exportar,

quer dizer, tem que se sujeitar a vender seus produtos pelos preços internacionais” (ibid.,

p.28-9).

O quadro teórico sobre o entendimento da dinâmica da agroindústria apresenta

diferentes terminologias e níveis de análise do setor (recortes), que consistem em enfocar a

cadeia produtiva como um todo, a exemplo do conceito de agribusiness (a soma de todas

as operações desde a pesquisa até o consumidor final); ou realizar as análises econômicas

a partir dos grupos e agentes, em níveis intermediários entre unidades base e economia

global (meso-sistemas), ou a análise de produtos isolados, tal como o sistema

agroindustrial (avícola, do trigo, citrícola, da soja, entre outros).

Procurando, portanto, levantar os principais esquemas interpretativos que envolvem

o setor agroindustrial, passamos à discussão das correntes, com os diferentes níveis de

abrangência.

1.1.1. A Noção de Complexo Industrial (CI)

Uma importante vertente adotada para a compreensão do processo de integração

entre agricultura e indústria é a análise em torno do conceito de Complexo Industrial (CI),

cujo recurso permitiu a muitos autores utilizarem o enfoque na identificação dos “complexos

agroindustriais”.

Na tentativa de compreender a rápida e crescente presença industrial na agricultura

dos Estados Unidos e da Europa na década de 1950, elaboram-se muitos estudos sobre a

participação das atividades agrícolas nas relações inter-setoriais, a partir de teorias

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formuladas por Wassily LEONTIEF onde, por meio de quadros matriciais, mostrava-se a

crescente relação entre a agricultura e o conjunto do sistema produtivo e, em particular, a

indústria. Os estudos de LEONTIEF (1964) sobre a Matriz Insumo-Produto têm influenciado

notadamente nas áreas de administração e planejamento e sua maior contribuição ficou no

campo da Economia e da Organização Industrial.

Segundo MÜLLER (1991, p.30), são três as fontes básicas que sustentam a noção de

complexo industrial. A primeira deriva da teoria da produção de LEONTIEF, como se

observou anteriormente. A segunda está baseada na Teoria do Desenvolvimento

Econômico, com as contribuições de PERROUX (1965), HIRSCHMAN (1981), SHUMPETER

(1985), PEREIRA (1985), entre outros. A terceira fonte assenta-se na Teoria da Organização

Industrial, com as contribuições de economistas como KALECKI (1983), BAIN (1956), SYLOS-

LABINI (1986), STEINDL (1952), LIFSCHITZ e ALLENDE (1985).

Apesar das possibilidades analíticas reconhecidas da noção de complexo industrial,

esta tem recebido muitas críticas, principalmente no que se refere ao sentido estático deste

instrumental de análise – a Matriz de Insumo-Produto – e, particularmente, ao caráter fixo de

seus coeficientes técnicos.

Os critérios econômicos de delimitação supõem que os complexos devam envolver

fortes vínculos setoriais de compra e venda de insumos, com ou sem passagem pelo

mercado, podendo ou não incluir bens de capital. Este tipo de enfoque tende a restringir-se

ao marco essencialmente estático de uma dada estrutura técnico-produtiva, sendo que

“...isso não impede, contudo, que tais relações captem um momento estruturalmente definido

de uma dada trajetória tecnológica ... nesse sentido, um momento de um processo dinâmico”

(POSSAS, 1991, p.85).2

Os vínculos intersetoriais de compra e venda de insumos, que seriam utilizados a

partir de dados da matriz insumo-produto para a delimitação operacional-metodológica dos

complexos industriais, e, em particular, agroindustriais, não esgotam as direções de difusão

tecnológica, e o uso de critérios mais dinâmicos tende a gerar complexos muito distintos dos

obtidos pela metodologia usual, como também dificulta a aplicabilidade de qualquer

metodologia mais consistente com relação às indústrias locais. Os métodos de delimitação

que se baseiam neste tipo de abordagem, com limitações estáticas, diversificam-se bastante,

e os estudiosos adotam muitas vezes cortes arbitrários que podem gerar alternativas

2 A esse respeito ver, por exemplo, os trabalhos de PRADO (1981); HAGUENAUER et al. (1984);

ALBUQUERQUE (1984); PEREIRA (1985); KAGEYAMA et al. (1987) e POSSAS (1988).

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possíveis de serem compreendidos, dependendo, por exemplo, do “grau de autonomia” que

se estabelece como caracterizador de um complexo.

Para LEMOS (1995, p. 86), os complexos agroindustriais podem ser tratados como

um caso particular dos complexos industriais, à medida que a relação indústria-agricultura

constitui-se na base principal das trocas intersetoriais. O autor utiliza, para a identificação

dos complexos, a matriz insumo-produto do Brasil de 1980. A sua diferenciação das outras

posições é a proposta de “abertura da matriz de insumo-produto na coluna “Agricultura”, que

é desagregada em 12 atividades agrícolas.3

Diversas críticas têm sido tecidas ao uso e limitações do aporte metodológico

baseado na noção de complexos industriais, da inserção do CAI no âmbito geral desses

complexos e sua aplicação para o estudo das agroindústrias. Como se observou antes, as

divergências mais acentuadas em torno da noção de complexo industrial dizem respeito

tanto à redução e abrangência setorial, quanto o seu caráter “estático”. 4

Para POSSAS (1991, p.88),

“...o complexo industrial tem sido passado, com muita freqüência, e a meu ver, sem suficiente aprofundamento das questões teóricas envolvidas, como nova instância ou unidade de análise setorial mais adequada que as usualmente disponíveis, por permitir maior integração estrutural e dinâmica entre atividades econômicas, apontando inclusive uma possível maior integração micro-macroeconômica”.

Ao tratar o conceito na perspectiva “dinâmica” (por exemplo a inclusão do “tempo”, ou

seja, o movimento e os processos de mudança que estão do âmago do sistema econômico

capitalista), a ênfase é dada no processo de inovações no sentido lato (através de noções de

paradigma e trajetórias tecnológicas) e de concorrência.5

3 Os resultados de identificação dos complexos agroindustriais brasileiros são bastante úteis e

interessantes. O número de “complexos” identificados chega ao total de onze, a saber: 1) Café; 2) Arroz; 3) Carne; 4) Laticínios; 5) Fumo; 6) Açúcar e Álcool; 7) Trigo; 8) Grãos-Aves; 9) Calçados; 10) Têxtil e 11) Floresta; além das atividades isoladas que não estão incluídas nos complexos, identificados como “Outros Agrícolas”, como o caso de “Frutas e Vegetais”, de “Bebidas” etc.3 No que diz respeito aos complexos fornecedores genéricos para a agricultura (“fertilizantes”, “defensivos”, “produtos farmacêuticos” e “máquinas agrícolas”), foram excluídos dos complexos individuais, indicando que a difusão de insumos industriais foi relativamente ampla, embora desigual, sobre as atividades agrícolas no Brasil.

4 A esse respeito, ver o comentário crítico de PROCHNIK (1987) sobre a inclusão de setores de insumos e equipamentos agrícolas no conceito de CAI e as contribuições de HAGUENAUER et al. (1984).

5 Aqui a análise incorpora a visão neoshumpeteriana, onde a concorrência inter-capitalista (via mercados) e o conjunto de conhecimentos científicos disponíveis direcionam a trajetória tecnológica a ser seguida a partir das inovações geradas no setor de bens de produção para a agricultura, estabelecendo assim as articulações dos setores que passam a integrar o complexo.

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Como sintetiza POSSAS (1991, p.95), ”o uso da noção de complexo industrial, para

ser relevante, deve ser muito modesto, não cobrando dela mais do que pode oferecer;

especificamente, que seja uma espécie de panacéia analítica ‘mesoeconômica’”.

Tanto pela importância que representam determinados “complexos”, como pela forma

com que eles se relacionam com as cadeias, os resultados desse instrumental metodológico

são úteis para captar as relações inter-industriais num dado momento e mesmo a trajetória

das indústrias integrantes do “complexo”; o que será retomado na análise subseqüente deste

trabalho.

1.1.2. Agribusiness e Complexo Agroindustrial (CAI)

Para explicar o processo de subordinação e relações da agricultura com setores

industriais e até comerciais, surge a concepção de agribusiness a partir de dois autores

norte-americanos, John DAVIS e Roy GOLDBERG.

No trabalho pioneiro “A Concept of Agribusiness”, de DAVIS e GOLDBERG (1957), em

que foi proposto pela primeira vez o termo “agribusiness”, no Centro de Administração de

Negócios (Graduate School of Business Administration) de Harvard, define-se o agribusiness

como “a soma total de todas as operações envolvidas na manufatura e distribuição de

suprimentos agrícolas; as operações de produção no campo; e o armazenamento,

processamento e distribuição dos produtos agrícolas, bem como dos itens feitos a partir

destes”.

A grande razão para a definição do termo agribusiness foi a rápida mudança da

agricultura na maior parte do ocidente, especialmente nos Estados Unidos, nas décadas

consecutivas à Segunda Grande Guerra. A agricultura, ou melhor, o “setor agrícola”, estava

transformando-se em um componente (embora o maior) de um sistema embriônico, que

ligava cada vez mais as operações com os industriais e distribuidores de todas as partes do

país. Em muitos aspectos, esse desenvolvimento no pós-guerra e suas conseqüências

fazem mais jus ao título de “Revolução Agrícola”. O papel dos insumos adquiridos (fora da

fazenda) era muito menor na agricultura pré-industrial e, apesar dos avanços significativos

na mecanização e introdução de fertilizantes artificiais durante o século XIX, permaneceu

modesto até 1940 (GRIGG, 1982). Depois da Segunda Guerra Mundial, contudo, houve um

aumento extraordinário no uso de fertilizantes químicos, tratores e equipamentos, além da

adoção de insumos comprados de empresas agropecuárias; todos esses fatores foram

causa e efeito da prosperidade e expansão da agricultura. A integração da produção agrícola

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com outros setores da economia tornou-se igualmente significativa no sentido campo-

indústria.

O aumento da população e da urbanização, mais o crescente índice de participação

da mulher na força de trabalho, criaram um ambiente econômico e social que estimulava

mudanças substanciais nas indústrias alimentícias e no comércio varejista. A introdução de

inovações como alimentos congelados, o advento dos supermercados e a informação

através dos anúncios de TV promoveram a proliferação de alimentos semi-prontos, ao

mesmo tempo em que aceleraram as tendências para uma concentração corporativa nesses

setores. Do ponto de vista de DAVIS e GOLDBERG, era necessário que os administradores

dos empreendimentos relacionados ao agribusiness desenvolvessem uma percepção clara

do sistema total de produção do qual participavam e moldassem suas decisões

estrategicamente, neste contexto. Na realidade, o termo surge para dar conta das relações

mais estreitas entre o campo e a indústria, como destaca José GRAZIANO DA SILVA (1991,

p.7),

“A idéia de ‘agribusiness’, não apenas ressalta os vínculos intersetoriais existentes, como coloca a produção agrícola, como parte de um sistema de ‘commodities’ (‘commodities system’) muito mais amplo, enfatizando as suas relações com o mundo dos grandes negócios”.

Aos poucos, o termo “agribusiness” passou a ser a base das elaborações dos

denominados “agronegócios” e, mais tarde, nas definições de “complexos agroindustriais”.

As contribuições originais e as adaptações posteriores procuraram incorporar a visão

sistêmica do “agribusiness”. O seu uso subseqüente mostrou uma considerável confusão

conceitual, aumentada ainda pela polêmica da discussão política de “esquerda” e de

“direita”.

No âmbito da Geografia há, contudo, muitas características teóricas e empíricas de

agribusiness que têm estimulado pesquisas nas áreas da geografia econômica e industrial.

A noção de Complexo Agroindustrial (CAI) igualmente possui uma origem “estática”

e surge também para ampliar o conceito de agricultura nos EUA nos anos 50, com a

terminologia de “agrobusiness”, conforme já foi destacado anteriormente.

Na América Latina, o enfoque conhecido com o nome de “complexo setorial” foi

proposto pelo Instituto de Estudos Transnacionais do México por R. TRAJTENBERG (1977) e

desenvolvido por VIGORITTO (1978). Parte-se da idéia básica de que é possível identificar

um conjunto de atividades que têm entre si relações de forte interdependência (que levam à

definição de “complexo”), de caráter assimétrico (que por sua vez conduz à noção de

“núcleo”). A partir da definição de “complexo setorial”, proposto originalmente, VIGORITTO

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desenvolve critérios para o estudo de caso específico de complexos, os denominados

“complexos agroindustriais”.

De acordo com esse aporte teórico-metodológico, um “complexo agroindustrial” é um

caso particular de “complexo setorial”, composto pela “sucessão de etapas produtivas

vinculadas à transformação de uma ou mais matérias-primas cuja produção se baseia no

controle do potencial biológico do espaço físico”, que constitui, por sua vez, “um mecanismo

de reprodução estruturado em torno da cadeia de transformação diretamente vinculada à

produção agrária até atingir o seu destino final como meio de consumo ou inversão e fazer

parte da órbita de outro complexo não-agroindustrial” (VIGORITO, 1978).

No Brasil o termo “agribusiness” foi utilizado, especificamente, na obra “Complexo

Agroindustrial - o Agribusiness Brasileiro”, de Ney Bittencourt de ARAUJO, Ivan WEDEKIN e

Luiz Antonio PINAZZA, patrocinada pela Associação Brasileira de Agribusiness (ABAG),

sendo utilizado ainda hoje pela mesma representação da classe do “agronegócio”.

Uma das principais definições do complexo agroindustrial (CAI) brasileiro é proposta

por MÜLLER (1989, p.45), como:

“Em termos formais, o complexo agroindustrial, CAI, pode ser definido como um conjunto formado pela sucessão de atividades vinculadas à produção e transformação de produtos agropecuários e florestais. Atividades tais como: a geração destes produtos, seu beneficiamento/ transformação e a produção de bens de capital e de insumos industriais para as atividades agrícolas; ainda: a coleta, a armazenagem, o transporte, a distribuição dos produtos industriais e agrícolas; e ainda mais: o financiamento, a pesquisa e a tecnologia, e a assistência técnica”.

O complexo agroindustrial é uma forma de unificação das relações inter-

departamentais com os ciclos econômicos e as esferas de produção, distribuição e consumo.

Para MÜLLER, no estudo do complexo agroindustrial no Brasil, convém evitar o emprego da

definição originária de “agribusiness” partindo de países desenvolvidos, atentando-se para o

período de constituição histórica do mesmo no país. Portanto,

“...é a homogeneidade da base técnica que é o suposto no emprego do termo CAI como unidade de análise. Vale dizer que a acumulação de capital e a reprodução de relações capitalistas de produção na agricultura tem, no uso generalizado dos elementos e técnicas industriais, a sua base de avanço e bloqueio”. (Ibid., p.47)

Ainda de acordo com a definição de MÜLLER (1989, p.23), o complexo agroindustrial

(CAI) “é uma forma de unificação das relações interdepartamentais com os ciclos

econômicos e as esferas da produção, distribuição e consumo, relações essas associadas

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às atividades agrárias”. Em diversos trabalhos, o autor enfatiza a indústria para a agricultura

(setor a montante) como elemento dinâmico do CAI, influenciado evidentemente pelos

estudos metodológicos dos complexos industriais.

A definição do CAI é um importante instrumental conceitual-metodológico para

compreensão do processo de transformação da agricultura brasileira, onde:

“O CAI distingue-se de outros complexos de atividades pelo fato de levar em conta a agricultura, e aí a terra como uma mercadoria especial. Caracteristicamente, o CAI é uma unidade de análise na qual a agricultura se vincula com a indústria de dupla maneira: com a indústria de máquinas e insumos que tem na agricultura seu mercado e com a indústria processadora/beneficiadora de matérias-primas agrícolas. A primeira pode ser designada de indústria para a agricultura, e a segunda de agroindústria. Na medida em que há uma forte interdependência entre agricultura e indústria para a agricultura, verifica-se um processo de industrialização da agricultura; e na medida em que há uma forte interdependência entre agricultura e a indústria beneficiadora e processadora, verifica-se um processo de agroindustrialização. Chama-se de modernização (tecnoeconômica) agrária, a interação entre industrialização do campo e agroindustrialização”. (MÜLLER, 1989, p. 61-2)

Ao formalizar inicialmente a noção de CAI, o autor vincula a agricultura à indústria

tanto ao início do processo de produção (indústria para a agricultura) como para a indústria

processadora dos bens de origem agropecuária (agroindústria). Assim, a conformação do

CAI brasileiro é dada pelo trinômio “indústria para a agricultura”, “agricultura” e

“agroindústria”.

Talvez pela insuficiência de estudos e pela própria dinâmica da agroindústria

processadora e da indústria alimentar na década de 70, tenha sido dada maior ênfase ao

setor a montante, ou seja, aos processos e exemplos da indústria para a agricultura.6

A ampliação do conceito de “agrobusiness” para as “agribusiness industries”, feita por

GOLDBERG (1968) para examinar os “complexos” trigo, soja e laranja na Flórida, na verdade

era apenas o reconhecimento de que o destino dos produtos agrícolas era a agroindústria e

não mais o consumidor final (GRAZIANO DA SILVA, 1991, p.7).

Os usos distintos do termo “complexo agroindustrial” no Brasil levam a considerar, de

um lado, uma primeira vertente, inspirada nos conceitos de “agribusiness” e de “sistema

agroalimentar”, que identificam um macro-complexo CAI; de outro, a derivada do conceito de

Complexo Rural, que culmina com a existência de vários Complexos Agroindustriais (CAIs).

No primeiro caso, a utilização do “macro-complexo” CAI tem a origem em Alberto Passos

GUIMARÃES (1982), cuja visão reside em mostrar que crescentemente a agricultura se

6 Um exemplo de análise das inovações e concorrência no setor de insumos e equipamentos agrícolas

(setor a montante) pode ser encontrado em CASTRO e FONSECA (1991).

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relaciona com o setor industrial a montante e a jusante, ou seja, na existência de uma

integração técnico-produtiva. Para esse autor, o crescente relacionamento da agropecuária

moderna com os demais setores da economia é chamado de industrialização da

agricultura.

Também no Brasil, outros autores como MÜLLER (1982) e DELGADO (1985) utilizam o

termo Complexo Agroindustrial (CAI) no sentido da modernização da agricultura como fator

que acelera e prepara a base do seu desenvolvimento capitalista (GRAZIANO DA SILVA,

1991, p.12); enquanto GUIMARÃES (1982) considera o relacionamento da agropecuária

moderna com os demais setores da economia, ou seja, a integração e a conseqüente

transformação da base técnica dos produtores, como uma “perversidade” da indústria, que

“rouba” o lucro e a renda da terra dos agricultores integrados.

Na discussão sobre a integração de produtores ao CAI, cujo processo desencadeia-

se no final dos anos 60, no Brasil, surgem ainda opiniões sobre os diferentes níveis de

agricultura e agricultores nos autores reunidos em outra vertente: a que considera a

existência de vários CAIs. No tocante à formação dos complexos, também não deixa de

haver controvérsias nesta abordagem, em especial quanto ao nível de agregação das

atividades agroindustriais.7

1.1.2.1. A abordagem sobre o padrão agrícola brasileiro e a formação do Complexo Agroindustrial

A implantação da indústria para a agricultura ou internalização da indústria produtora

de bens de capital e insumos para a agricultura (D¹), no Brasil, foi um processo onde o

Estado teve um papel de suma importância: de um lado, estimulando a expansão das

indústrias por meio de vários incentivos fiscais; e, de outro, assegurando um mercado

através da política de crédito rural.

Em termos gerais, a melhor caracterização e periodização de desenvolvimento

agrícola brasileiro deriva das distinções entre os conceitos de modernização,

industrialização da agricultura e constituição dos complexos agroindustriais, descritos

por KAGEYAMA et al. (1990), MÜLLER (1989) e GRAZIANO DA SILVA (1996).

A industrialização da agricultura é tida como um momento específico do processo de

modernização em que ocorre a reunificação agricultura-indústria. “É o momento da

modernização a partir do qual a indústria passa a comandar a direção, as formas e o ritmo

7 A esse respeito, consultar POSSAS (1991).

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da mudança da base técnica agrícola, o que ela só pôde fazer após a implantação do D1

para a agricultura do país” (GRAZIANO DA SILVA, 1996, p.32).

Embora alguns aspectos relacionados às fases do desenvolvimento agrícola

brasileiro tenham sido caracterizados anteriormente, é importante ressaltar os mais recentes,

quando o padrão agrícola torna-se mais complexo, pela emergência do tipo de integração,

ou seja, a integração de capitais sob o comando do capital financeiro, conforme apontou

DELGADO (1985).

A ilustração seguinte (Figura 1) apresenta como ponto principal a formação do

complexo agroindustrial. O conceito de CAI surge, no Brasil, diante da necessidade de

explicar as mudanças ocorridas nas atividades agrárias, a partir da intensificação das

ligações entre agricultura-indústria durante a década de 60. O CAI passa a conduzir as

relações interdepartamentais com as esferas da produção, distribuição e consumo. Aqui, são

os grupos econômicos e empresas nacionais e transnacionais que interagem, cabendo ao

Estado o papel de mediador financeiro e formulador de políticas econômicas para

compatibilizar os interesses comuns das atividades agrícolas e industriais.

Figura 1 - Fases do Padrão Agrícola Brasileiro e Formação do CAI: 1950-1985

Anos 50: elevação do uso de insumos modernos

(basicamente por importações)

55-65: implantação do D1 geral da economia

(fase da industrialização pesada)

MODERNIZAÇÃO INDUSTRIALIZAÇÃO CAIs DA AGRICULTURA DA AGRICULTURA 65-75: internalização do D1 para a agricultura

75-85: integração de capitais

NOVO PADRÃO AGRÍCOLA

Fonte: GRAZIANO DA SILVA, 1996, p.30.

D1 para a agricultura (máquinas e insumos)

Agricultura moderna

Agroindústrias oligopólicas

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Segundo GRAZIANO DA SILVA (1996, p.31), a constituição dos CAIs localiza-se na

década de 70, a partir da integração técnica intersetorial entre as indústrias que produzem

para a agricultura, a agricultura propriamente dita e as agroindústrias processadoras, só

possível a partir da internalização do D¹ (Departamento produtor de máquinas e insumos

para a agricultura).

Portanto, com a formação do CAI, a nova dinâmica agrícola não é mais realizada de

modo autônomo: passa a depender do desenvolvimento da indústria, não sendo mais

possível tratá-la como um “setor”, isolado do restante da economia. Outro aspecto

importante é que os três processos distintos estiveram estreitamente ligados à ação do

Estado, que viabilizou o projeto de modernização.

FIGURA 2 – A Segmentação da Agricultura em CAIs

Ligações específicas

Ligações não-específicas

Fonte: Kageyama et al., 1990, p.186 (Gráfico II-3).

Indústria de máquinas e

insumos

(D)

Atividade Agrícola (CAI Completos)

Atividade Agrícola (CAI Incompletos)

Atividades Agrícolas

Modernizadas Atividades Agrícolas Artesanais

Agroindústria

de Processamento

Embalagem e

Classificação

Setor de

Subsistência

Mercado Final

(interno e externo)

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KAGEYAMA et al. (1990, p. 186-88) propõem uma tipologia de complexos de acordo

com a inserção da atividade no padrão de desenvolvimento agrícola, ou seja, a forma de

inserção nos CAIs e no processo de industrialização do campo. Os autores privilegiam o

grau das relações intersetoriais a montante e a jusante como elemento importante na

determinação da dinâmica da produção agrícola. Assim, em termos descritivos, conforme

ilustração, o setor agrícola passa a compor-se por quatro segmentos diferenciados: 1) o

segmento mais moderno e industrializado e formado por complexos agroindustriais

completos, ou seja, os complexos com três “pés” – a indústria a montante, a produção

agrícola (ou pecuária) e a agroindústria processadora. Como exemplo, destacam-se os

complexos avícola (milho-rações-aves-frigoríficos), de açúcar e álcool, além das carnes, de

soja e o trigo, do milho híbrido, do arroz irrigado e a produção de ovos; 2)um segmento

plenamente integrado à frente, ou seja, às agroindústrias processadoras, onde se encontram

os CAIs incompletos, isto é, com ligações específicas “para frente”, porém sem ligações

específicas “para trás”. Neste caso, servem de exemplos o caso do algodão, frutas (suco de

laranja), laticínios, parte dos grãos (milho), oleaginosas (amendoim) e legumes (tomate,

ervilha); 3) um conjunto de atividades modernizadas que dependem do fornecimento de

máquinas e insumos, mas sem estabelecer vínculos específicos para a frente e para trás,

isto é, sem tomar a forma de complexos. Neste grupo estão incluídos o feijão, em São Paulo,

o arroz, no Centro-Oeste, a cebola, as hortaliças, frutas de mesa e o café do segmento de

exportação/ embalagem/ classificação; 4) por último, o segmento formado pelo conjunto de

atividades agrícolas onde ainda prevalece a produção em bases quase que artesanais,

onde a agricultura ainda não é modernizada e não possui ligações intersetoriais fortes. Os

exemplos são, além da mandioca e da banana, os alimentos básicos produzidos nas regiões

menos dinâmicas do país, como o arroz de sequeiro, o milho e o feijão (KAGEYAMA et al.,

1990, p.186-88).

A tipologia anteriormente apresentada baseia-se fundamentalmente nos

condicionantes tecnológicos da articulação da agricultura com o setor industrial. Porém

mostra-se insuficiente, uma vez que não contempla, por exemplo, as relações que se

estabelecem dentro das cadeias, que são traduzidas nas diferentes formas organizacionais

utilizadas pelas empresas. Além disso, os dados da Matriz de Relações Interindustriais de

1975 (matriz insumo-produto) são bastante limitados, uma vez que tais dados referem-se

ainda à etapa em que se iniciava a consolidação dos CAIs. Porém, não deixa de ter validade,

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permitindo chegar a observações importantes sobre a inserção das atividades agrícolas no

circuito industrial.8

Outra importante vertente sobre o complexo agroindustrial no Brasil, que amplia a

noção com a presença do capital financeiro na agricultura é produzida por DELGADO (1985),

que baseia sua análise na integração de capitais, e não na integração técnico-produtiva,

destacando o processo de fusão ou integração de capitais intersetoriais nas relações

agricultura-indústria. Para o autor,

“Essa integração se distingue da integração técnica agricultura-indústria, embora se realize com o suporte dela. Mas a integração de capitais terá um raio de abrangência mais amplo, compreendendo não apenas o aprofundamento das relações interindustriais, mas outras formas de integração sob o comando do grande capital”. (DELGADO, 1985, p.34)

Trata-se, portanto, da constituição e do desenvolvimento do capital financeiro na

agricultura brasileira. Dessa maneira, para o autor, o que caracteriza a constituição do CAI é

uma fusão de capitais e não a integração das atividades agrárias numa cadeia produtiva.

Além disso,

“A transformação da base técnica da agricultura e a constituição do CAI são processos distintos e historicamente separados. O primeiro, se entendido enquanto processo de transformação dos meios de produção utilizados pela agricultura, de ‘insumos naturais’ para bens de produção industriais, é basicamente, no Brasil, um processo de mudança técnica do pós-guerra”. (ibid., p.33)

Em linhas gerais, a mudança na base técnica da agricultura implica na dependência

cada vez menor dos recursos naturais utilizados e dos meios de produção gerados em

escala de manufatura e, cada vez mais, dos meios de produção gerados num setor da

indústria (de fertilizantes, defensivos, corretivos do solo, rações, concentrados, máquinas em

geral, com destaque para os tratores e colheitadeiras etc.), que cumpririam, a grosso modo,

o papel do Departamento de Meios de Produção da indústria para a agricultura – o D¹ (ibid.,

p.19-20).

Prosseguindo na análise e definição de um perfil industrial do CAI, DELGADO (1985)

elabora o quadro de composição dos principais ramos industriais a jusante e a montante da

agricultura, utilizando critérios de “origem agropecuária das matérias-primas utilizadas” e,

8 A matriz de 1975 desagrega a agropecuária em 10 setores de atividades: 1) Extração Vegetal; 2) Caça e

Pesca; 3) Lavoura de Café; 4) Lavoura de Cana-de-açúcar; 5) Lavoura de Arroz; 6) Lavoura de trigo e Soja; 7) Outras Lavouras; 8) Criação de Bovinos; 9) Aves e Ovos e 10) Agropecuária.

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ainda, de sua “participação no valor da produção industrial não inferior a 50%” a partir dos

dados sobre o valor da Transformação Industrial do Censo Industrial da FIBGE (1970 e

1975) e da Pesquisa Industrial de 1979. A operacionalização do critério, que dá o perfil do

CAI na década de 70, para o autor, “...é um indicador relevante para que se possa, senão

medir, pelo menos estimar uma ordem de magnitude desse complexo industrial (grifo nosso),

e bem assim a relevância das relações interindustriais do tipo insumo-produto” (ibid., p.38).

Em suma, de acordo com essa visão, a mudança na base técnica da produção rural

identifica-se pela disseminação das relações interindustriais a montante, pois são elas que

efetivamente modificam o processo produtivo.

1.1.3. O Sistema Agroindustrial de Alimentos (SAA) e a “Filière”

Criado pelos economistas agrários franceses do Instituto Nacional de Pesquisa

Agronômica (INRA), nos anos sessenta, para explicar os problemas contemporâneos da

esfera (sistema) agroalimentar, a abordagem do SAA é utilizada como instrumento meso-

analítico, tais como as fileiras-produtos, os agrupamentos de empresas, os territórios, os

processos de inovação, etc., tendo como recurso operacional a noção de cadeia ou “filière”.

Em linhas gerais, define-se como sistema agroindustrial de alimentos “a cadeia que

se inicia na produção agrícola dos cultivos alimentares, passa pelo processo de

transformação industrial e, através da rede de distribuição, chega ao consumidor final”

(FARINA, 1988, p.292). Esta abordagem do SAA incorpora a teoria de crescimento das

empresas industriais da Teoria de Organização Industrial, cujo enfoque da análise está

centrado de forma particular nas empresas de transformação dentro do sistema

agroindustrial de alimentos.

O uso inicial do conceito de “sistema agroindustrial” coube ao francês Louis

MALASSIS, do Institut Agronomique Mediterranée de Montpellier, que foi o responsável pela

introdução do termo “filières” (do original agribusiness) para a análise do Setor Agro-

alimentar (SAA). O autor enfatizou a dimensão histórica do sistema agroalimentar,

assinalando que é característico da etapa em que a agricultura se industrializa.

MALLASSIS (1973) afirma que o agrupamento funcional de uma filière compreende

os seguintes segmentos: produtores agrícolas, indústrias processadoras e fornecedoras de

insumos agrícolas, distribuidores de produtos agrícolas e alimentos e estabelecimentos

varejistas. O autor exclui o consumidor final (entendendo que ele forma um substancial elo

final para esta cadeia) e também, mais discutivelmente, os fornecedores de insumos

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agrícolas, baseado em que sua maior fatia de negócios não converge a produtos

agroalimentares. O mesmo poderia ser dito de outros setores, citados anteriormente, e o fato

de que as vendas de tratores e fertilizantes, por exemplo, podem constituir apenas uma

pequena proporção da atividade das multinacionais líderes nos ramos de combustível e

automóveis não altera o fato de que eles são fornecedores dominantes de insumos para o

setor agrícola.

Para outros estudiosos, a filière possui três dimensões: um instrumento de descrição

técnico-econômico (espaço tecnológico); uma modalidade de recorte do sistema produtivo (a

contabilidade nacional) e um campo de análise de atores privados e públicos (sistema)

(MONTIGAUD, 1992, p.61). Para esses autores, o campo de observação das filières é o setor

agroalimentar, o qual se refere ao conjunto das atividades que concorrem para a formação e

distribuição de produtos agroalimentares. Assim, propõem a definição de filière como:

“...o conjunto das atividades estreitamente imbricadas, ligadas verticalmente a um mesmo produto (ou produtos muito próximos), cuja finalidade consiste em satisfazer o consumidor. São compostas por níveis ou funções ligadas entre si por mecanismos e instituições que tem por tarefa gerar e coordenar o conjunto”. (MONTIGAUD, 1992, p.62)

A filière constitui o campo de estudo privilegiado para observar as empresas, as

instituições e os principais mecanismos que aí se ligam. Para que essas observações sejam

eficazes, é preciso que a filière considerada seja suficientemente restrita para ser analisada

em detalhe e suficientemente ampla para oferecer o máximo de casos possíveis.

MONTIGAUD (1992, p.63), ao estudar as filières, utiliza-se conjuntamente ou

sucessivamente de suporte metodológico dos enfoques em termos de sistemas, de

economia industrial e de gerenciamento. Num primeiro momento, levanta-se que a filière é

um sistema fechado em que se deseja estudar o conteúdo em sua totalidade e

complexidade. Com efeito, caracterizam-se as estruturas elementares que são, por exemplo,

empresas ou relações que se combinam em sub-sistemas, onde se estudam as relações (ao

mesmo tempo entre eles e entre cada um deles) e o sistema, tal como definido. Tenta-se em

seguida descobrir os pontos sensíveis. Isolam-se, assim, os centros de comando, os

mecanismos de transmissão das ordens e os pontos de regulação. Num segundo momento,

analisam-se as relações permanentes e recíprocas entre as firmas, tendo o poder e as

estruturas sócio e técnico-econômicas (diferenciação de produto, barreiras à entrada,

tecnologias de produção-transformação, regulamentação etc.) de seu meio (filière e setor

agroalimentar). A utilização das técnicas de “análise de estrutura de mercado” (organização

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industrial) permite então localizar as estratégias mais significativas e explorar os primeiros

resultados. No terceiro momento, analisa-se o comportamento das firmas (e organizações,

em sentido amplo) não mais em função de seu meio, mas de sua estrutura interna. Para

isso, faz-se o uso de instrumental de gerenciamento (como a contabilidade analítica), cuja

utilização chega ao estudo das organizações.

A abordagem sobre o sistema agroalimentar (SAA) incorpora a teoria de crescimento

das empresas industriais da Teoria de Organização Industrial. O enfoque da análise está

centrado, de forma particular, nas empresas de transformação dentro do SAA.

Além disso, esse tipo de enfoque também pode referir-se a grupos de empresas

relacionadas entre si através da localização geográfica, tecnológica, estrutura jurídica ou

econômica, igual atividade (supermercados), grupos com serviços comuns, etc. A análise

tem particular interesse nos “grupos territoriais”, que trata de um grupo de empresas cujo

ponto comum é que estão localizadas em uma zona determinada e que se dedicam a

mesma atividade. Os estudiosos dessa corrente têm como referência os “distritos industriais”

proposto por Alfred MARSHALL.

1.1.4. A Contratualização na Cadeia Agroindustrial

A abordagem dos chamados “negócios agroindustriais” (CSA – Commodity System

Approach) constitui um referencial que reúne, de um lado, a metodologia dos Sistemas

Agroindustriais Complexos (“Escola do Agribusiness”, de Harvard), e de outro, a noção de

“filière” trazida da “Escola Francesa de Organização Industrial.9

O termo cadeia agroindustrial aparece como unidade a partir do esquema analítico

adotado pelos estudiosos da escola de administração e negócios de Harvard, expressando

as relações comerciais e tecnológicas que se estabelecem entre seus segmentos,

contribuindo para o entendimento da dinâmica da mudança técnica e organizacional.

De acordo com essa visão, a cadeia produtiva é tomada como um recorte dentro do

complexo agroindustrial mais amplo e privilegia as relações entre agropecuária, indústria de

transformação e distribuição em torno de um produto principal (frango, trigo, leite, tomate,

laranja, etc.). Nesta perspectiva, segundo FARINA e ZYLBERSZTAJN (1991, p.11),

9 Um dos exemplos da aplicação desse referencial teórico é apresentado por NEVES e JANK (1994) no

estudo sobre as estratégias empresariais no MERCOSUL, onde também é feita a análise apoiada nos custos de transação e contratos para o estudo do agribusiness.

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“Dentro da cadeia, entende-se que o segmento da indústria de transformação do primeiro e segundo processantes exerce função estratégica. Induz a mudanças tecnológicas na agropecuária e muitas vezes também na estrutura de distribuição. Além disso, tem sido responsável pela dinamização dos mercados consumidores e, portanto, do alargamento das possibilidades de colocação do produto primário”.

Essa corrente apoia-se ainda nas pressões do mercado consumidor (através da

informação e conscientização do consumidor) e na sua influência nas estratégias de

crescimento das empresas. Assim, é a indústria alimentar que decodifica as exigências do

consumidor, transmitindo-as para a agroindústria, agropecuária e mesmo para a indústria de

insumos. Além disso, dentro da cadeia produtiva, é no setor de bens de capital e insumos

industrializados que se estabelecem os fluxos tecnológicos, tanto para a agropecuária como

para a indústria agroalimentar. “É neste segmento que se desencadeia o processo de

adoção de novas formas de produzir, por suas exigências de quantidade, qualidade e fluxo

regular de matéria-prima” (FARINA e ZYLBERSZTAJN, 1991, p.11).

Ainda segundo os autores,

“O estudo das relações contratuais existentes na cadeia agroindustrial permite a ampliação do escopo analítico, saindo da óptica centrada na agricultura como geradora de excedentes transferidos para a indústria, para um novo enfoque, em que os atores buscam otimizar o processo organizacional no âmbito da cadeia. Tal abordagem torna possível tratar as recentes alterações de articulação entre os diferentes segmentos do sistema que, aparentemente, seguem a direção da diversidade de produtos e do chamado ‘consumerismo’”. (ibid., p.12)

Nesse tipo de abordagem, busca-se otimizar o processo organizacional no âmbito

das cadeias, valendo-se de elementos da Teoria dos Contratos (RICKETTS, 1987), no

contexto proposto pela nova Economia das Instituições (WILLIAMSON, 1985).

Nessa perspectiva, a discussão de organização do sistema agroindustrial, através de

análise das diferentes formas pelas quais os segmentos componentes do sistema se inter-

relacionam para garantir o processo de acumulação, é o ponto principal desse tipo de

abordagem. As ligações, segundo FARINA e ZYLBERSZTAJN (1991, p.25), podem assumir a

forma de uma completa integração vertical, relações impessoais de mercado via sistema de

preços, ou podem dar-se através de contratos formais e informais.10 Para os autores, “a

função dos contratos, contudo, é minimizar custos de produção e transação, de forma tão

10 Segundo os autores, o conceito de “integração vertical” implica em controle hierárquico gerencial de

estádios sucessivos de produção, tecnologicamente separáveis (WILLIAMSON, 1985). Assim, contratos firmados entre uma empresa e seus fornecedores e distribuidores não se confundem com a integração vertical. A integração vertical é uma alternativa utilizada por várias empresas agroindustriais, como forma de garantir uma parcela da matéria-prima necessária para manter o processo produtivo em funcionamento.

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eficiente quanto a integração das atividades produtivas. A obtenção de insumos através do

mercado representa o outro extremo das formas organizacionais” (ibid., p.17).11

1.1.5. Distinções e Críticas ao uso do termo “Agribusiness” e ao Sistema Agroalimentar (SAA)

Apesar da aparente equivalência entre “agribusiness” e “sistemes agro-alimentaires”,

há uma diferença semântica que justifica a preferência de muitos autores em adotarem o

conceito de Sistema Agroalimentar à definição de DAVIS e GOLDBERG (1957). No âmbito da

pesquisa institucional e entre as estruturas dos setores agro-alimentares na França e nos

Estados Unidos, as diferenças aparecem em razão do termo francês carregar pouca

conotação ideológica, considerando que agribusiness, a despeito da discordância de

GOLDBERG (1968), inegavelmente, é “carregado” (WALLACE, 1985).

O problema com o termo agribusiness, como demonstrou GREGORY (1980), é que a

linguagem da teoria dos sistemas mascara a “ideologia do controle”.

A definição de DAVIS e GOLDBERG (1957) tem a aparência formal de derivar-se de

uma análise de entrada e saída, transações iniciadas pelos produtores agrícolas. Qualquer

(e a totalidade do) setor que interage como comprador ou vendedor com a “agricultura”

torna-se ipsu facto um elemento do sistema ou complexo “agribusiness”. Sob esse aspecto,

o agribusiness corresponde muito amplamente ao termo francês “les industries agro-

alimentaires”, cujo uso passou a ser crescente a partir do fim dos anos 60 (MALLASSIS,

1973). O fato de que o sistema agroalimentar ser mais poderoso na França que nos Estados

Unidos ou na Inglaterra, sem dúvida contribuiu para que boa parte da literatura francesa

sobre o assunto tenha adquirido outro tipo de enfoque.

Outras críticas que o uso do termo e a análise na visão do “agribusiness” tem

recebido remontam à tradição neoclássica do enfoque sistêmico, “não passando de um

agregado de subsistemas inter-relacionados por fluxos de troca”. Se, de um lado,

“...ajuda a descrever a complexidade das relações estruturais, não permite em nenhum momento dar conta da dinâmica das forças sociais aí envolvidas que determinam não apenas aquela configuração particular, como também as suas mudanças”. (GRAZIANO DA SILVA, 1991, p.7)

11 Custos de transação correspondem aos custos de fazer o sistema econômico funcionar, em um

ambiente de incerteza, complexidade organizacional, e oportunismo dos agentes econômicos. O conceito foi originalmente formulado por Richard COASE e constitui a base da Economia das Instituições desenvolvida por WILLIAMSON (1985). Cf. FARINA e ZYLBERSZTAJN , 1991, p.17.

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Outro complicador para o uso geral do conceito reside no fato de que a maior parte

dos estabelecimentos situa-se na “agricultura atrasada” (segundo alguns estudos, cerca de

80%) e, portanto, está fora do complexo agroindustrial, colocando-se como um ponto

fundamental para a utilização do conceito derivado da matriz insumo-produto. Mais

recentemente, alguns questionamentos têm sido levantados, notadamente sobre a validade

atual do uso do conceito para explicar o padrão de industrialização e de modernização

agrícola contemporâneos no Brasil.

Portanto, a noção de “sistema agroalimentar” está ligada, desde a sua origem, à idéia

da internacionalização do processo de industrialização da agricultura e dos padrões

de consumo “fordistas”, ocorridos a partir dos anos 60 (GRAZIANO DA SILVA, 1991, p.9).

Sobre a difusão de padrões de consumo “fordistas”, vários autores têm apontado caminhos

para uma elaboração mais pertinente com as mudanças que ocorrem neste final de século,

mostrando a importância de se avaliarem as estratégias dos grandes grupos multinacionais

na reestruturação do setor agroindustrial europeu, norte-americano e dos países da América

Latina.

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1.2. A UTILIZAÇÃO DO CONCEITO DE AGRIBUSINESS PELA GEOGRAFIA 12

O fenômeno de crescimento do agribusiness no mundo e a pesquisa em agribusiness

têm sido pouco estudados pelos geógrafos dedicados aos ramos da agricultura, da geografia

rural e industrial.

O termo agribusiness tem o uso freqüentemente relacionado ao sistema global de

produção, o qual tem servido para moldar as decisões estratégicas dos grupos de interesse.

Para muitos, o termo, por vezes, denota muito mais uma instituição que um sistema.

O problema com o agribusiness não é a validade do conceito. É, como GREGORY

(1980) demonstrou convincentemente, que a teoria de sistemas mascara a “ideologia do

controle”. NEWBY (1982, p.146), citado por AUSTIN (1974), enfoca o agribusiness como

“uma semente para o sistema de consumo” e reconhece que a abordagem da Escola de

Harward “enfoca uma função que passa por todo o sistema (e o prende, ajuntando-o a

administração)”, e não se estende a uma análise igualmente explícita de quem administra o

sistema, para que fins, e com que efeitos.

A evolução do agribusiness no pós-guerra foi promovida pelas políticas e ações de

alguns, mas certamente não de todos os participantes do sistema. Ambos, os modos de

pensar e as conseqüências da transformação da produção agroalimentar pela maciça

penetração de tecnologias e racionalidade de mercado do capitalismo contemporâneo, têm

resistido a um grande número de desinteressados em mudanças. Mesmo GOLDBERG (1977,

p. 174-75) não foi convincente ao tentar responder às críticas sobre o agribusiness,

afirmando que a palavra

“é um termo descritivo apolítico, apartidário, que tenta descrever a natureza interrelacionada do sistema alimentar interno e global. Inclui pequenos e grandes agricultores, pequenos e grandes distribuidores, ricos e pobres [onde você e eu legitimamos o sistema]. Não é uma tentativa de contrapor um segmento da sociedade a outro.”

Nem todos os agricultores estão interessados no sistema de agribusiness, mas sua

dinâmica tende a polarizar a comunidade agrária. Este é o tema do único estudo substancial

de agribusiness que desde há tanto tem sido discutido por geógrafos. Nesse sentido, “os

produtores de pequena e média escala são mais vítimas que beneficiários das instituições de

12 Esta parte em que cabe a contribuição dos geógrafos à discussão do agribusiness, por se tratar de

obras e artigos traduzidas para este trabalho, pode conter imprecisões quanto ao sentido e a termos originais dos autores tratados.

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agribusiness”, os interesses de lucratividade dos produtores de larga escala geralmente

coincidem com o das instituições não-agrícolas, entendido que agrícolas pode ser

caracterizado como “o lado que produz do agribusiness” (VOGELER, 1981, p.106).

A transformação da economia agrícola em sistema de produção de agribusiness

surgiu, ou pelo menos tem sido associada, ao crescimento dos focos institucionais

específicos de poder, cujo exercício varia os níveis de controle sobre os elementos

subordinados ao sistema. Na ex-União Soviética e na Europa Oriental o focus típico é o

“complexo agroindustrial” (HAMILTON e LINGE, 1979, p.10): no mundo ocidental a instituição

dominante é a grande corporação, predominantemente transnacional, envolvida em um ou

mais estágios estratégicos do processo de produção agroalimentar. Compreensivelmente, ou

inutilmente, tais corporações são tratadas freqüentemente como agribusiness, o que conduz,

consequentemente, à ambigüidade sobre se o tema denota um sistema ou uma instituição

(um elemento do sistema). Além disso, até recentemente a palavra era usada com mais

freqüência pelos protagonistas de agribusiness da Escola de Harvard ou pelos críticos, para

quem ela é sinônimo de “O negócio da fome” (TUDGE, 1979), “Imperialismo morango”

(strawberry imperialism) (FEDER, 1977), o reservado e poderoso “Mercadores de grãos”

(MORGAN, 1980) ou ainda as corporações responsáveis por “Como morre a outra metade”

(GEORGE, 1976). Com essa conotação crítica, “L’agrobusiness” (GANEAU, 1977) inaugurou a

literatura francesa, conferindo o termo agribusiness a instituições, distintamente do sistema

agroalimentar.

Para WALLACE (1985) “é desejável que aqueles que continuam a escrever sobre

agribusiness dêem-lhe uma definição contextual: e isto é mais para que consigam provar

futuramente os processos de mudança econômica e social em que ele ocorre. O autor

enfatiza ainda que:

“A evolução da agricultura para um elemento do sistema industrial agro-alimentar surgiria, à primeira vista, para uma cooperação frutífera entre os atuantes dos ramos bem-estabelecidos e sistemáticos da geografia agrícola e industrial. Há sinais de que isto está finalmente acontecendo (Healey e Ilbery, 1985); mas em sua ausência, outros cientistas sociais, notavelmente os expoentes de uma nova sociologia rural crítica (Buttel e Newby, 1980; Frieland et al., 1981) e um grupo de economistas aplicados franceses (Malassis, 1979; Petit, 1982) têm liderado a pesquisa sobre o crescimento do agribusiness. “ (WALLACE, 1985, p.494)

A tradicional geografia da agricultura, segundo SMITH (1982, p.283), em sua revisão

sobre o assunto, “não está mais em moda”. Os geógrafos rurais trataram o setor agrícola

seletivamente, dando atenção considerável à consolidação da terra e à mudança social nas

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comunidades rurais, mas tratando da emergência do sistema de agribusiness apenas

incidentemente.

Já a geografia industrial recente, em contrapartida, não demonstrou redução da

análise teórica, com uma variedade de posições filosóficas (veja-se, por exemplo, os

trabalhos de HAMILTON e LINGE, 1979, 1981 e 1983), conforme destacou WALLACE (1985),

mas muito pouca atenção foi voltada para as mudanças ocorridas no setor agroindustrial. Há,

certamente, estudos detalhados de ajustamento de localização orientados notavelmente

para a matéria-prima (não-processada) e, tradicionalmente, para as atividades de mercado.

Há estudos que dão considerável atenção à dimensão espacial da estratégia corporativa,

mas pouca para o contexto mais abrangente de tendências de mercado que incentivam

incorporações para diversificação do comércio de produtos agroalimentares.

Conforme apresenta WALLACE (1985), a análise de WADLEY (1979) sobre as

respostas das incorporações à recessão na indústria de máquinas agrícolas australianas e

os esforços de GYLLSTROM (1977) para traçar a ligação regional e o impacto multiplicador

de diferentes formas institucionais de produção na indústria de chá do Quênia constituem os

poucos exemplos de estudos relacionados ao agribusiness.

Contudo, a impressão que fica é que os geógrafos industriais, desde há muito, têm

observado o setor agroalimentar como uma indústria madura e estável, faltando-lhe o

estímulo ou o fascínio associado à fronteira da pesquisa de alta tecnologia. Os geógrafos

rurais e industriais contribuíram, portanto, bem menos do que se esperava acerca de uma

compreensão da dinâmica do agribusiness, definindo como um sistema de produção ou

como as instituições a ele relacionadas. Devido à natureza mutante, tem sido desafiador à

pesquisa geográfica sobre o setor agroindustrial.

Para WALLACE (1985, p.496), há pelo menos quatro dimensões do sistema agro-

industrial que chamam a atenção:

a) “de qualquer modo, a produção mundial de alimentos continua sendo um assunto

de fundamental importância no final do século vinte. Os “polemistas” fariam

acreditar que as instituições e práticas de agribusiness são a única esperança

para alimentar o mundo melhor ou então o maior obstáculo para que se alcance

tal meta. Conforme Lipton (1977, i) admite, as pessoas ‘práticas’ poderiam sentir

que ‘apenas um senso ultra-desenvolvido de paradoxo’ poderia estimular a

pesquisa baseada na convicção que ‘grupos de interesses inexplorados existem

entre os agricultores mais pobres do mundo e as corporações internacionais mais

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ricas’. Tais grupos ainda não podem ser identificados, eles representam um dos

paradoxos encontrados na pesquisa de agribusiness. Há, então, incentivo para o

estudo mais reflexivo deste assunto importante e demandado pelos geógrafos.

b) A industrialização da produção agrícola levanta questões fundamentais sobre a

relação entre um sistema econômico com características mecânicas (tanto

conceitual quanto material) e um sistema de produção que permanece

essencialmente preso aos ciclos biológicos naturais. O conceito da economia

política de erosão do solo (Blaikie, 1984), embora desenvolvido em um contexto

de Terceiro Mundo, sugere aplicação semelhante nas agriculturas

contemporâneas das nações industrializadas do Oriente e do Ocidente. Evidência

de estresse do meio ambiente (Crosson, 1982; Crosson e Frederick, 1977) e de

tensões sociais não resolvidas, associadas com a perseguição incansável e

crescente por racionalidade econômica através de instituições do agribusiness,

sugerem que aqui se apresenta um enfoque para uma pesquisa cooperativa

frutífera a ser desenvolvida por geógrafos humanos e físicos.

c) Sobrepondo, até certo ponto, os pontos anteriores, estão os argumentos teóricos

acerca da interpretação da evolução da agricultura contemporânea. Até mesmo

nas nações de industrialização avançada, muitos elementos da comunidade

agrícola retêm uma base material adequada para resistir à integração total no

modo de produção dominante, seja uma economia capitalista mista ou socialismo

estatal centralizado. A penetração ambígua e desigual do capitalismo industrial na

sociedade agrária gerou uma controvérsia histórica e teórica desde o estudo

marxista seminal de Kautsky sobre “A questão agrária” (Banaji, 1980). As

interpretações das relações entre agricultores e corporações de agribusiness

como o ‘feudalismo novo’ (Perelman, 1977) é anacrônico e enganoso, mas

apontam, contudo, para novas relações de poder que necessitam ser elucidadas.

A economia política da produção agro-industrial promete ser uma área estimulante

para a pesquisa geográfica.

d) Finalmente, a emergência da biotecnologia como mola propulsora da mudança

tecnológica e econômica revolucionária, neste final do século, coloca o sistema

agro-alimentar em particular em um contexto radicalmente novo. O potencial para

a manipulação genética da vida de plantas e animais para manipular as

constrições e limitações naturais do meio ambiente (inclusive doenças) na

produção de alimentos pode transformar a agricultura contemporânea e o

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processamento de seus produtos. Os possíveis benefícios de um suprimento de

alimentos mais seguro e abundante precisam ser ponderados diante dos riscos e

aspectos éticos associados à engenharia genética. No contexto institucional no

qual a biotecnologia progride e se aplica, cresce o número de perguntas acerca da

incidência social e econômica de seus benefícios e da distribuição destes

benefícios entre as zonas ecológicas principais do mundo (Kloppenburg e Kenney,

1984; Kenney et al., 1983). Então, esse assunto oferece, também, inúmeros

escopos para a análise geográfica”.

Enfim, essas são importantes questões sobre o agribusiness levantadas pelos

diversos autores geógrafos, os quais constituem grande parte das reflexões teóricas sobre o

assunto.

1.2.1. As Abordagens Teóricas e as Noções de Cadeia Produtiva no Âmbito da Geografia Econômica e Industrial

Os conceitos de “cadeia de produção”, conjuntamente com o de filière, têm sido

utilizados recentemente para explicar como a produção é organizada e foram introduzidos

para analisar a inter-relação entre as corporações transnacionais e as nações-Estados. Na

literatura de geografia econômica, por exemplo, WALKER (1988, p.380) incorpora o conceito

de filière como “o filamento conectivo das atividades tecnologicamente relacionadas”, em sua

exploração sobre a organização geográfica dos sistemas de produção”.

STORPER (1992) utiliza o conceito de “cadeia de commodity” como base para análise

dos distritos de tecnologia num contexto global, e a noção básica de “cadeia” (embora o

termo não seja utilizado) faz parte do trabalho de STORPER e HARRISON (1994), sob a

perspectiva da flexibilidade, hierarquia e desenvolvimento regional. Na literatura sobre os

sistemas mundiais, HOPKINS e WALBRSTEIN (1986) empregam uma interpretação específica

de cadeia de commodity para exemplificar a evolução histórica da economia do mundo

capitalista.13

A literatura de negócios é a terceira área na qual o conceito de “cadeia” tem sido

empregado. PORTER (1985, 1986) utiliza o termo “cadeia de valor”; outros, como JOHNSTON

e DAWRENCE (1988), utilizam o termo mais convencional, “cadeia de valor agregado”.

DICKEN (1994) prefere o termo “cadeia de produção”.14

13 Percebe-se aqui que o conceito de filière é o mesmo que commodity system idealizado por GOLDBERG (1968). 14 Note-se, portanto, que não há acordo universal sobre o termo por se tratar, essencialmente, do mesmo conceito.

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FIGURA 3 - A Cadeia de Produção Simplificada

(Sequência A)

Matéria- Aquisição Transformação Marketing Distribuição Serviço Prima e Vendas

(Seqüência B)

Tecnologia/ Pesquisa e Desenvolvimento

(produto design, tecnologia de processamento, logística de aquisição/ distribuição)

Matéria- Aquisição Transformação Marketing Distribuição Serviço Prima e Vendas

Processos de Comunicação e Transporte (movimento de matérias-primas, produtos, pessoas, informação)

(Seqüência C)

SISTEMA FINANCEIRO

Tecnologia/ Pesquisa e Desenvolvimento

(design, processo tecnológico, logística de aquisição/ distribuição)

Matéria- Aquisição Transformação Marketing Distribuição Serviço Prima e Vendas

Processos de Transporte e Comunicação

(movimento de matéria-prima, produtos, pessoas, informação)

REGULAÇÃO, COORDENAÇÃO, CONTROLE

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(Seqüência D)

SISTEMA FINANCEIRO

Indústria 1 Indústria 2 Indústria N

REGULAÇÃO, COORDENAÇÃO, CONTROLE

Nota: a mão-de-obra está envolvida em cada elemento e, portanto, não é mostrada. Fonte: baseado em DICKEN, 1994, p.104.

A estrutura básica de uma cadeia de produção retirada de DICKEN (1994) é

mostrada, a título de ilustração (Figura 3 – Seqüência “A”). Ela consiste numa seqüência de

funções administrativamente interligadas em que cada estágio da seqüência acrescenta

valor ao processo de produção, sejam bens ou serviços. Percebe-se na primeira Seqüência

(A) o foco da atenção para os segmentos “a jusante” da cadeia produtiva. De acordo com

DICKEN (1994, p. 103), tanto HOPKINS (1986) quanto GEREFFI e KORZENIEWICZ (1990),

restringem-se a esta cadeia básica, embora produzam versões mais elaboradas. Por sua vez

os autores não incorporam os dois componentes adicionais mostrados nas seqüências “B” e

“C”, ou seja, a tecnologia e a Pesquisa & Desenvolvimento, os processos de comunicação,

transporte e o movimento de matérias-primas, produtos, pessoas e informação, além do

sistema financeiro.

São comuns à cadeia completa de funções administrativamente interligadas os

processos tecnológicos envolvidos na produção em si e no movimento físico dos elementos

constitutivos (Seqüência “B”); as funções coordenativa, normativa e financeira (Seqüência

“C”); e todos os processos de mão-de-obra que estão embutidos em cada parte que compõe

a cadeia. Um sistema de produção completo pode, portanto, ser pensado como um

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complexo sistema de entrada e saída de cadeias de produção interligadas por elos verticais,

horizontais e diagonais (seqüência “D”). 15

Há, contudo, muitas publicações importantes relacionadas ao funcionamento de cada

um dos estágios da cadeia de produção (production chain). Apenas um pequeno segmento

da cadeia tem recebido a maior parte da atenção, a produção em si, enquanto menos

atenção é dada às outras funções. Uma área de óbvia negligência pelos geógrafos

econômicos é o marketing. A geografia de marketing, como a que existe, reporta-se,

predominantemente, ao varejo e, em menor extensão, ao atacado. Por enquanto, os

mercados e o marketing são apenas tão centrais pela operação da cadeia de produção

quanto a própria “produção”. De maneira geral, a concentração excessiva na produção tem

obscurecido a importância dos serviços na produção. De modo crescente “os serviços têm se

tornado a principal fonte de valor agregado. Os serviços ao longo da cadeia particular são,

simultaneamente, fator contribuinte para a força competitiva e fonte de valor agregado”

(UNCTAD, 1988, p.178). Mas o valor dos serviços para a competitividade dos produtos é

mais geral que isso e aplica-se através da cadeia de produção.

O termo “cadeia de valor”, proposto por PORTER (1993), recentemente tem sido

usado também para enfatizar o sucesso competitivo de determinadas nações num certo tipo

de indústrias individuais, a partir de nações comerciais de maior sucesso econômico como

os Estados Unidos e, também, o Japão, Coréia e países ex-socialistas como a União

Soviética e da Europa Oriental e Ásia. Nesse sentido o seu entendimento, em linhas gerais,

indica que:

“Todas as atividades na cadeia de valores contribuem no valor para o comprador. As atividades podem ser divididas, de maneira geral, nas que se relacionam com produção, comercialização, entrega e assistência ao produto (atividades primárias) e nas que proporcionam os insumos comprados, tecnologia, recursos humanos ou funções de infra-estrutura geral que apoiam as outras atividades (atividades de apoio). Toda atividade emprega insumos comprados, recursos humanos e alguma combinação de tecnologias, e depende da infra-estrutura da empresa, como administração geral e finanças.” (PORTER, 1993, p.52)

Ainda, de acordo com o autor:

“Uma empresa é mais do que a soma de suas atividades. A cadeia de valores de uma companhia é um sistema interdependente, ou uma rede de atividades, unidas por ligações. Esses ocorrem quando a maneira pela qual um atividade é desempenhada afeta o custo ou a eficiência das outras atividades. Elas criam, com freqüência, um intercâmbio no desempenho de diferentes atividades que deve ser otimizado.” (ibid.)

15 Cf. DICKEN, 1994, p.103.

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O sistema econômico onde uma determinada indústria realiza a competição é

denominado sistema de valores, e tem o seguinte funcionamento:

“O sistema de valores inclui fornecedores que proporcionam insumos (como matéria-prima, componentes, maquinaria e serviços comprados) para a cadeia de valores da empresa. No caminho até o comprador final, o produto da empresa, com freqüência, pelas cadeias de valores dos canais de distribuição. Em última análise, os produtos se tornam insumos comprados para as cadeias de valores de seus compradores que usam os produtos para realizar as suas próprias atividades.” (PORTER, 1993, p.53)

Os elos ou agentes da “Cadeia de Valor” que, em última instância, proporciona

instrumento para o entendimento e diferenciação importante para a explicação da posição

competitiva de um país ou de uma indústria, podem ser visualizados conforme demonstra a

figura seguinte:

Figura 4 - Seqüência de uma Cadeia de Valor

CADEIA DE CADEIA DE CADEIAS DE CADEIAS DE

VALORES DO VALORES VALORES DE VALORES DO FORNECEDOR DA EMPRESA CANAIS COMPRADOR

[DISTRIBUIDORES OU VAREJISTAS]

Fonte: PORTER, 1993, p. 54.

No estudo das estratégias das empresas no interior de uma filière, por exemplo, um

método importante a ser considerado refere-se à utilização dos trabalhos de PORTER, cuja

contribuição original reside na aproximação entre economia industrial e análise estratégica

das empresas. “O princípio de base é que em toda filière, a concorrência está ligada a quatro

elementos de base: a ameaça de novos entrantes, o poder de barganha dos compradores e

dos fornecedores e a presença de produtos substitutos” (MONTIGAUD, 1992, p.70).16

16 Como mostram os exemplos, muitas idéias aqui apresentadas têm sua adoção mais abrangente para as

empresas industriais.

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CAPÍTULO 2

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CCCAAAPPPÍÍÍTTTUUULLLOOO 222

AA DDIIMMEENNSSÃÃOO TTEERRRRIITTOORRIIAALL DDAA PPRROODDUUÇÇÃÃOO EE AA DDIINNÂÂMMIICCAA DDOO SSEETTOORR AAGGRROOIINNDDUUSSTTRRIIAALL EE DDAA IINNDDÚÚSSTTRRIIAA AALLIIMMEENNTTAARR

Até há pouco tempo, as teorias, premissas e princípios da geografia econômica, que

se dedica à economia capitalista moderna, vista, antes de tudo, como um sistema industrial

com padrões e trajetórias de localização industrial e desenvolvimento regional, pareciam ser

estáveis e previsíveis. Isso levou muitos autores a elaborarem leis genéricas e universais de

localização industrial e de desenvolvimento regional.17

Nos últimos anos, entretanto, o instrumental teórico existente vem progressivamente

sendo questionado. Essa reviravolta pode ser relacionada a três causas interligadas, de

ruptura:

“A primeira é substantiva e de natureza paratônica, e tem a ver com o que muitos acreditam ser a chegada de uma fase nova e qualitativamente diferente do desenvolvimento econômico capitalista, a chegada de “novas realidades econômicas” ... Essas mudanças colocam alguns problemas importantes para as teorias sobre a economia espacial aceitas por nós, e para o que a geografia econômica reestruturada devia parecer. A segunda, para potencializar a questão, é que a economia propriamente dita se encontra igualmente em um redemoinho, em grande parte pela mesma razão. Há uma crise na e em economia... Nenhuma das principais escolas de economia – neoclássica, Keynesiana ou marxista – explica adequadamente os acontecimentos e mudanças das últimas duas décadas, e, à medida que esses principais paradigmas ficaram como que sitiados, houve um avanço nas revisões, reformulações e perspectivas alternativas propostas. Mas, em terceiro lugar, como se estes desafios não bastassem, em alguns redutos, tanto da economia como da geografia econômica, as bases epistemológicas e ontológicas propriamente ditas da investigação teórica estão sendo contestadas. Examinando através de uma assim chamada crítica “pós-moderna”, estamos assistindo não apenas a uma movimento de uma fase do desenvolvimento econômico capitalista para outra, mas também a um movimento associado que vai de uma tradição epistemológica para outra. No cerne desse desafio está a questão geral de como vemos e simbolizamos o mundo, do relacionamento entre nossos conceitos e a “realidade”, seja qual for o sentido com que esta última é tomada” (MARTIN, 1996, p. 31-2).

17 Não obstante, até os meados da década de 1980, no campo acadêmico, a geografia econômica parecia

ter atingido um grau de estável e estruturado, organizado em torno de programas relacionados à dinâmica da localização industrial e o processo de desenvolvimento regional desigual, utilizando-se conceitos e teorias da economia neoclássica, de Keynes e de Marx. Para um aprofundamento da discussão teórica da geografia humana e econômica, ver o capítulo 1 sobre teoria econômica em GREGORY et al. (1996).

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As tendências que se abrem para a geografia econômica abrem-se em algumas

novas direções. De um lado, torna-se cada vez mais claro que os fatores tradicionais de

localização, como os custos de transporte e os custos diferenciais de acesso aos recursos

e aos mercados já não são determinantes, e que as lógicas intra-organizacionais, ou seja,

as modalidades de articulação entre as diversas implantações da empresa ou da rede de

empresas exercem influência crescente. Tende-se a valorizar, também, na análise territorial,

a organização interna dos sistemas de produção.

Com isso, abrem-se importantes investigações sobre o sentido e a importância das

atuais mudanças e tendências na economia, como também sobre as abordagens teóricas,

metodologias de pesquisa e categorias conceituais usadas, principalmente, pelos

geógrafos.

2.1. O DEBATE E A REVISÃO SOBRE OS PARADIGMAS DA INDUSTRIALIZAÇÃO E O

MOVIMENTO DE REESTRUTURAÇÃO PRODUTIVA E ESPACIAL CONTEMPORÂNEOS

Neste final de século, vivencia-se uma grande crise no mundo econômico e na

realidade espacial. Conjuntamente, os instrumentais de análise da Geografia e dos novos

espaços econômicos mudam.

No âmbito geográfico e “macro-econômico”, nas últimas décadas, o debate sobre os

novos modos e paradigmas de industrialização têm particularmente incidido no estudo de

casos sobre empresas, sistemas produtivos, regiões, distritos industriais, entre outros. Em

sua maioria, esses estudos partem de economias desenvolvidas, levando em consideração

os casos exitosos de regiões prósperas, como a região Toscana, na Itália; a Alemanha do

Sul; a Califórnia do Sul e o Vale do Silício, nos Estados Unidos; e o Japão.

Evocam-se na Europa e nos Estados Unidos, por exemplo, os distritos industriais e a

especialização flexível como uma (terceira) via do desenvolvimento econômico e social,

como um modelo universal, “uma era nova de redefinição dos mercados, das tecnologias e

das hierarquias industriais” (AMIN e ROBINS, 1994, p. 77-8).

A grande reflexão teórica sobre os mecanismos e origem da dinâmica espacial e do

desenvolvimento industrial regional e local vem substancialmente sendo renovada. Os

modelos tradicionais da polarização, da divisão espacial do trabalho, do desenvolvimento

endógeno ou ainda os esquemas centro-periferia têm sido, com efeito, insuficientes para

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tornar evidentes os fenômenos de territorialização das atividades econômicas e da

emergência de “novos espaços de produção flexível” (SCOTT, 1988).

O modo de regulação e o regime de acumulação, que constituiuem o modelo de

desenvolvimento capitalista dominante depois da Segunda Guerra Mundial, denominado

fordismo, tem recebido severas críticas onde, para alguns, vem sofrendo um

arrefecimento. Quais as características do fordismo? Resumidamente, o fordismo

corresponde basicamente a:

- uma divisão do trabalho “taylorista” entre atividades de concepção, de fabricação

qualificada, de fabricação desqualificada, o todo regulado por procedimentos

hierárquicos;

- um regime de acumulação fundado na redistribuição dos ganhos de

produtividade aos assalariados, de modo a garantir o crescimento da demanda

efetiva;

- um modo de regulação que garante essa redistribuição por meio da legislação

social, das convenções coletivas, do Estado-providência (BENKO, 1996, p.92-3).

A transformação radical de uma sociedade de massa em “comunidades flexíveis”

torna para alguns autores uma via não só desejável, mas também necessária e inevitável.

SCOTT e STORPER, autores dedicados à geografia econômica, utilizam os conceitos

regulacionistas (escola francesa) de “regime de acumulação” e de “modo de regulação”

para afirmar que a “ruptura histórica” atual marca a crise do fordismo, simultaneamente

como modelo de acumulação e de regulação (AMIN e ROBINS, 1994, p.79).

Uma das contribuições mais importantes da chamada teoria da regulação na

geografia, além da utilização generalizada para os espaços, foi a interpretação dada por

LIPIETZ em sua notável obra “Le capital et son espace” (1977)18, na qual assinala a

coexistência de vários tipos de regiões no espaço nacional como resultante do paradigma

tecnológico e do regime fordista em circuitos de ramos. A questão colocada era de uma

regulação inter-regional e do papel ativo das regiões para se inserirem ou não numa

“divisão inter-regional do trabalho”, também transposta para a escala internacional (BENKO,

1996, p.94).

18 Edição portuguesa em 1988, obra citada “O Capital e seu Espaço”.

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Buscando compreender o crescimento de aglomerações PME (Pequenas e Médias

Empresas) competitivas, em regiões do centro e nordeste da Itália (a chamada “Terceira

Itália”), essa corrente de estudiosos baseia-se nas concepções de Marshall, do princípio do

século, sobre a concentração de indústrias especializadas em determinados locais. Para os

autores, a análise de Marshall permite explicar satisfatoriamente a dinâmica atual das

regiões da “Terceira Itália”, caracterizadas pela presença de redes muito densas de

pequenas empresas com fortes tradições técnico-profissionais, inovadoras e especializadas

na produção de determinado bem destinado a ser vendido a uma clientela desejosa de

qualidade e particularmente flexível no que se refere a preço.

Porém algumas críticas já vêm sendo feitas, alegando ser uma “nova ortodoxia”,

conforme aponta um grupo de especialistas franceses da ciência regional, ligado ao

GREMI.19 Os pesquisadores dessa equipe afirmam que o fordismo, ditado pela lógica

“funcional” da empresa, cede o passo a uma lógica “territorial” do desenvolvimento,

baseada numa capacidade de inovação suscetível de melhor realização através de redes

sociais e industriais cujo melhor testemunho é o meio local. Só este último poderia fornecer

as condições necessárias - materiais, sociais e institucionais - à inovação e à produção em

redes (AMIN e ROBINS, 1994, p.100).

Os autores que afirmam a emergência do paradigma da “especialização flexível”

sugerem que neste contexto a relação entre a economia e o território altera-se, implicando

em especializações espaciais particulares.

Segundo AMIN e ROBINS (1994, p.80), “quanto mais voláteis se tornavam os

mercados, mais as empresas experimentavam formas flexíveis de organização que

permitissem rápidas alterações nos volumes de produção. Ao fazê-lo, encorajaram a

reconsolidação da região como unidade de produção integrada”. Esses estudiosos insistem

na questão das redes industriais e sociais, afirmando que elas são decisivas, não só para

as pequenas empresas, mas também para um número crescente de empresas que imitam

os distritos industriais e se aliam a eles.

No plano espacial, a emergência do novo regime de acumulação flexível, a mutação

industrial, manifesta-se também por uma “nova geografia da acumulação flexível” (HARVEY,

1992, p.177) e sua tradução espacial (o distrito).

19 Grupo de Pesquisa Européia sobre os Meios Inovadores, estabelecido em Paris.

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Alguns autores baseiam suas argumentações numa variante marxista de análise de

“custos de transação” (STORPER e SCOTT, 1989), mostrando “a tendência das economias

integradas cederem terreno frente a uma externalização progressiva da estrutura de

produção em condições de flexibilidade crescente”, reforçando a perspectiva da

implantação de empresas num mesmo local e para a reaglomeração (AMIN e ROBINS, 1994,

p. 82).

A flexibilidade da produção está necessariamente associada à concentração das

empresas em espaços geográficos definidos. Segundo STORPER e SCOTT (1989), “a

passagem para a flexibilidade foi marcada por uma reaglomeração decisiva da produção e

pela emergência do fenômeno dos distritos industriais”. Os autores enfatizam a questão da

emergência de distritos industriais marshallianos, de “complexos de produção

espacialmente concentrados, com as bacias de mão-de-obra deles dependentes e as

comunidades humanas neles integradas”. A explicação dos autores para a proliferação dos

distritos industriais é bastante clara: “a intensificação da flexibilidade conduz à

desintegração vertical das estruturas de organização, dando origem à convergência das

implantações num local e à sua aglomeração espacial”. A partir daqui, é possível distinguir

o “regime de acumulação fordista tardio” - caracterizado pelos circuitos de ramo e pela

descentralização da produção para as regiões periféricas - do regime posterior - com forte

tendência, para a aglomeração nos setores de produção flexível e a “reafirmação da

importância do local como suporte de aparelhos de produção eficazes” (STORPER e SCOTT,

1989, p. 37).

Assim, encontram-se aqui alguns elementos para a discussão da questão do

território, porém, como destaca SAYER (1990), não se deve confundir produção de massa

com rigidez a respeito da crise do regime fordista. Para o autor, a indústria capitalista tem

aliado sempre flexibilidade e rigidez; aquilo a que podemos assistir hoje são as novas

combinações dessas duas componentes, e não a um movimento geral no sentido de maior

flexibilidade”.

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2.2. A COMPREENSÃO CONTEMPORÂNEA DA REESTRUTURAÇÃO REGIONAL E ESPACIAL

Para AMIN e ROBINS (1994, p.95) desenham-se, sem dúvidas, novas tendências,

que ainda não cabem certamente na designação de “especialização flexível”. Segundo

eles, “o novo não se caracteriza por uma ruptura total e essencial com o velho: a antiga

ordem das coisas não pode pura e simplesmente desaparecer”.

As transformações atuais, segundo GORDON (1988, p.24), devem ser entendidas,

“não como um sistema de uma mudança estrutural, mas antes como uma conseqüência da

erosão da estrutura social de acumulação que permitiu a prosperidade capitalista

internacional nas décadas de 50 e 60. Assistimos hoje ao declínio da ordem anterior, sem

que se observe o advento de uma nova ordem”.

Da mesma maneira, ao examinar as atividades do capital financeiro internacional,

dos bancos transnacionais e das empresas multinacionais, o que se vê é uma ordem

capitalista mundial “que não possui verdadeiramente um novo rosto” (ANDREFF, 1984, p.

87).

Muitos autores têm insistido na profunda reestruturação do espaço e do território, na

suposta transição para o “pós-fordismo”, onde os distritos industriais tornam-se símbolos da

nova ordem, não apenas como um simples indicador de convergência geográfica (vias de

circulação, rede de relações e trocas com os mercados externos, modo de urbanização,

etc.), mas pela interação dinâmica entre a divisão e a integração do trabalho ali praticadas.

É importante lembrar que toda essa discussão trata das polêmicas em torno dos modelos

de desenvolvimento que caracterizam uma nova ordem econômica e social ou um

período.20

Georges BENKO (1996) sumaria os pontos principais para se analisar a passagem

do fordismo à “especialização flexível” caracterizando, como formas de “flexibilidade”:

técnicas de produção e estruturas industriais flexíveis; a estrutura do capital; as práticas

flexíveis na esfera do trabalho; a flexibilidade do mercado de trabalho; os modos de

20 Não cabe aqui discutir em profundidade os distritos industriais, e sobretudo os do tipo marshallianos;

porém, podem ser feitas algumas articulações com os tipos e formas empíricas de aglomerações urbanas encontradas em países do Terceiro Mundo. É certo que a dinâmica atual das formas flexíveis de produção e do mercado de trabalho engendrou, tanto nos EUA como na Europa Ocidental, um retorno da aglomeração e do tipo particular de crescimento urbano, mas as cidades do Terceiro Mundo guardam especificidades em relação às áreas metropolitanas das economias capitalistas avançadas. Mesmo se tomadas especificamente, as formas de urbanização nas regiões do interior dos países seguem trajetórias diferentes. O Brasil é um exemplo ilustrativo onde a urbanização adquire novos contornos, à medida em que ainda há espaços por serem explorados produtivamente.

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consumo; a intervenção mínima do Estado, entre outras. Por outro lado, alerta para as

ambigüidades do conceito de “flexibilidade” e as formas numerosas de expressões

utilizadas (produção flexível, trabalho flexível, emprego flexível, salários flexíveis, medidas

flexíveis de seguridade social, conexões interempresas flexíveis, taxas de câmbio flexíveis,

considerando ser prematuro querer definir modelos específicos de flexibilidade, por causa

dessas diferenças de termos a ele associados (BENKO, 1996, p.123).

A interpretação mais freqüente para o movimento de reestruturação produtiva é a de

que estamos, atualmente, em meio a um período em que o capital e o trabalho estão sendo

significativamente reorganizados, numa tentativa de restabelecer o aumento dos lucros e

reforçar a disciplina do trabalho, em parte, através de ataques diretos à organização, aos

salários e aos padrões de vida da classe trabalhadora (SOJA, 1993, p. 206).

Essa interpretação está situada, historicamente, no fim dos anos 60 ou início dos 70,

quando se configuram “novas” divisões regionais e internacionais do trabalho, porém não

substituindo por completo as “antigas” divisões, que não apenas permanecem vivas, como

também em plena atividade. As mudanças nas divisões regionais e internacionais do

trabalho no período recente apontam em direção a uma ordem e a uma configuração

significativamente diferentes da vida social, econômica e política. Houve mudanças

regionais expressivas que ocorreram no atual período de reestruturação produtiva,

envolvendo a intensificação de padrões preexistentes de desenvolvimento regional desigual

em muitas áreas. Várias regiões centrais experimentaram um relativo poder econômico e

político, sustentado e, por vezes, ampliado, enquanto muitas periferias atrasadas

mergulharam profundamente no empobrecimento, chegando, em alguns casos, à fome

pandêmica.

Segundo SOJA (1993, p.207), referindo-se ao desenvolvimento setorialmente

desigual e à importância da tecnologia como principais fontes de superlucros desde a

Segunda Guerra Mundial, “sua significação axial tendeu a transformar a mudança regional e

a organização das divisões regionais do trabalho, mais do que nunca, num produto direto

da dinâmica setorial, à medida que determinadas indústrias, bem como ramos e empresas

específicos dos setores industriais, foram sendo cada vez mais diferenciadas em termos de

produtividade, lucratividade e controle da força de trabalho”.

Por seu turno, a especialização flexível na produção, nas relações trabalhistas e na

localização das atividades produtivas tem o efeito de desenrijecer as estruturas hierárquicas

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mais antigas e criar, pelo menos aparentemente, uma nova ordem de responsabilidade e

controle.

“ A especialização flexível, os sistemas de produção verticalmente desintegrados e o rompimento de hierarquias rígidas têm sido acompanhados por uma mobilidade acelerada do capital, para facilitar a busca de superlucros setoriais (inclusive os obtidos através do barateamento substancial dos custos da mão-de-obra) em qualquer parte do mundo. A busca geográfica nem sempre é bem-sucedida, é claro, mas o efeito conjunto desses processos de reestruturação setorial tem sido o desenrijecimento de divisões espaciais do trabalho há muito estabelecidas, praticamente em todas as escalas geográficas. É nesse ponto que os cenários setoriais e espaciais da reestruturação contemporânea convergem e reverberam, acelerando os ciclos de exploração nos planos vertical e horizontal do desenvolvimento desigual. “ (SOJA, 1993, p. 208)

Portanto, a instrumentalidade das estratégias espaciais e locacionais da acumulação

de capital e do controle social está sendo revelada com maior clareza do que em qualquer

outro período.

No âmbito específico da Geografia, desenvolveu-se uma nova idealização do

particular e do local, ou seja, tendências cada vez mais acentuadas para analisar o

processo de internacionalização e a integração, em nível global, das economias locais e

nacionais.

As economias regionais devem ser redimensionadas nessa perspectiva global. As

empresas mundiais constituíram a principal força criativa da nossa época. As grandes

empresas continuam a ser os agentes mais poderosos do processo de reestruturação e

nada deixa prever que o desenvolvimento desigual e a integração multinacional se

encontrem em declínio.

A antiga forma fordista não está acabada: a grande empresa, com a sua rede

hierarquizada de estabelecimentos, sucursais e empresas subcontratadas, repartidas no

espaço pela ação da planificação empresarial, está cada vez mais presente.

Num contexto de fragmentação do mercado, parece que nem sequer as grandes

empresas sabem já exatamente o que produzir, nem como produzi-lo (AMIN e ROBINS,

1994, p.82). A capacidade de adaptação das empresas hierarquizadas para a produção de

massa parece estar ultrapassada; o que dá origem a uma profunda reorganização das suas

unidades operacionais. Os seus traços mais notáveis são a diminuição das hierarquias e o

reforço das relações externas de subcontratação.

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Como ocorre no processo de divisão social do trabalho, as relações entre

estabelecimentos multiplicam-se por meio de laços de relações que se espraiam no espaço.

Nesse sentido, caracterizam-se por custos dependentes da distância, desde o custo do

transporte de simples fluxos de mercadorias até os custos mais peculiares oriundos da

necessidade do intercâmbio de informações veiculadas pelos indivíduos em contatos

pessoais diretos.

Isso tudo implica, inevitavelmente, seja em que segmento for, em pressões para que

pelo menos uma parte dos produtores se localize na imediata proximidade uns dos outros,

com vistas a obter economia de custos de transação.

Assim, em muitos casos, conforme aponta SCOTT (1994, p.66),

“as economias externas latentes criadas pela divisão social do trabalho só se atualizam através de uma estratégia de localização em que essas economias são transformadas e captadas pelos produtores sob a forma de economia de aglomeração, isto é, em concentrações geograficamente polarizadas da atividade produtiva”.

As economias de aglomeração produtiva regional podem ser traduzidas, do ponto de

vista espacial, pelo número de escritórios das principais firmas industriais.

BECATTINI (1987) observa que essas concentrações são freqüentemente

designadas como distritos industriais marshallianos, que são territórios marcados por uma

desintegração vertical da indústria, pela massificação de redes de produtores e por uma

economia rica em transações. Todo distrito desse tipo será invariavelmente rodeado por

vastas áreas residenciais suburbanas, destinadas a alojar os trabalhadores empregados no

sistema industrial local.

Evidentemente, nesta dinâmica de produção, engendram vastas aglomerações de

capital e do trabalho, cujo locus é a cidade moderna (os centros metropolitanos), onde

desenvolvimento se encontra efetivamente centrado em torno de densas cadeias de

produção, variadas e ricas em informação.

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2.3. O Papel da Localização e as Formas de Alianças entre as Empresas

As empresas multinacionais são verdadeiros atores e artífices da economia mundial.

Quais seriam, portanto, as atuais estratégias do capital multinacional? Na verdade, as

grandes empresas mundiais seguem várias estratégias, freqüentemente contraditórias -

localização e lógica territorial, tendência para a flexibilidade e para a integração na

economia local -, podendo ainda permanecer nas “velhas” formas de organização fordistas,

sem deixar por isso de explorar um vasto leque de novas oportunidades. Segundo AMIN e

ROBINS (1994, p.97), “Ao lado do nítido movimento de relocalização das unidades de

produção verificado durante os anos de recessão da década de 70, a direção das grandes

empresas pôs em prática uma multiplicidade de estratégias, a maior parte das quais em

escala mundial, destinadas a reforçar o seu poder e o seu domínio”, e, evidentemente, a

restabelecer as suas margens de lucro.

Os anos 80 caracterizam-se por um crescimento sem precedentes em nível dos

investimentos diretos no estrangeiro, particularmente através de fusões, aquisições, joint-

ventures e diversas formas de alianças estratégicas entre grandes empresas.

“Sempre prontas a reduzir os custos e os riscos, a maximizar as economias de escala, a conquistar novos mercados para novos produtos, a manter ou ampliar as suas quotas de mercado, estas empresas desenvolvem estratégias como a produção em paralelo, a produção de origens múltiplas e a co-produção multilateral; praticam a fragmentação, a nível internacional, e a subcontratação do processo de produção, ao mesmo tempo que intensificavam o domínio das suas redes de produção, graças à utilização das novas tecnologias de informação e comunicação e, enfim, reforçaram a integração horizontal e vertical, por meio do controle direto - ou por outros meios - nos domínios financeiro, da investigação-desenvolvimento, do marketing e da distribuição”. (AMIN e ROBINS, 1994, p.97)

Acrescente-se a crescente internacionalização e o reforço da integração interna, em

nível mundial, das atividades das principais multinacionais.

O capital torna-se cada vez mais móvel, tendendo para uma existência cada vez

mais nômade. CASTELLS e HENDERSON (1987) descrevem um “espaço de fluxo”, o qual

aplica-se não apenas aos fluxos de capital, mas também aos do trabalho, como nos casos

de um operário qualificado poder instalar-se em domínio local e desfrutar dessa espécie de

fidelidade e de lealdade em relação ao lugar, não podendo dizer-se o mesmo da crescente

subclasse dos trabalhadores periféricos.

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“A evolução da economia internacional, o crescimento espetacular das novas tecnologias de informação e de comunicação e a constituição de poderosas organizações transnacionais ligadas por redes subordinadas e descentralizadas, são os fatores decisivos no processo que dá sentido estrutural a cada território, pela função que este desempenha num contexto mais amplo de operações independentes. Continuam certamente a existir formas espaciais, visto que as sociedades e as economias se desenvolvem em territórios concretos e de modo desigual pelo mundo afora. Mas, na ótica das organizações e dos interesses sociais dominantes, a lógica e a dinâmica do desenvolvimento territorial são cada vez mais a-espaciais”. (CASTELLS e HENDERSON, 1987, p. 7, apud AMIN e ROBINS, 1994, p. 97)

Essas formas “a-espaciais” na estruturação e reestruturação dos territórios

contrastam fortemente com a tese da “especialização flexível”.

“Mais do que a passagem de um período de centralização, concentração e integração, a uma nova era histórica de descentralização, disseminação e desintegração, o que se observa hoje são evoluções que constituem, de múltiplos pontos de vista, uma extensão das estruturas fordistas. O que se verifica de fato não é uma fragmentação, mas sim uma integração mais eficaz das grandes empresas”. (AMIN e ROBINS, 1994, p.97)

A integração reflete a procura de uma estrutura de gestão empresarial mais eficaz e

mais produtiva. Para esse processo, os autores utilizam termos diversos como “integração

flexível”, “sistematização”, “integração quase-vertical”, “processo de integração territorial e

funcional” cada vez mais acentuada, a todos os níveis, o desenvolvimento da “economia em

rede” como forma de organização competitiva e alternativa.

“... as atuais experiências efetuadas na economia das empresas tendem a confirmar que a produção descentralizada, quando se verifica, faz parte de um processo de intensificação e extensão da concorrência e do domínio oligopolístico, e não pode desligar-se dele. Esta estratégia oligopolística realiza-se hoje através do desenvolvimento de economias inteiramente de rede, adotadas e controladas por um número relativamente de empresas gigantes”. (GORDON, 1989 e VELTZ, 1990, apud AMIN e ROBINS, 1994, p.98)

O processo de reestruturação, atualmente em curso, revela um conjunto de

estratégias espaciais dependentes de determinados contextos, situações e equilíbrios de

poderes. Empresas diferentes podem desenvolver estratégias bem distintas; além disso, em

nível individual, cada empresa pode adotar igualmente várias estratégias diferentes.

As grandes empresas procuram enraizar-se localmente.

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“Esta estratégia implica um certo reforço do sistema produtivo local, embora a linha de comportamento da empresa constitua mais um meio do que um fim em si ... Ao princípio, [a multinacional] suscita a criação de empresas inovadoras - ou, o mais das vezes, assiste ao seu nascimento -, que considera como organizações relativamente independentes, enraiadas no meio local. Em seguida toma o controle dessas empresas e põe fim, ou atenua, os laços que elas estabelecem com o meio”. (AMIN e ROBINS, 1994, p.117)

A localidade, no novo complexo de produção, mantém-se prisioneira da organização

multinacional e depende das suas decisões. Na medida em que as novas redes locais da

grande empresa se vão estendendo deve-se repensar o conceito de “desenvolvimento

regional dependente”. Porém, não se deve perder de vista, no plano da análise, que as

novas operações individuais podem não fornecer um estímulo suplementar ao

desenvolvimento econômico local, no sentido de fornecer muito os laços locais, apesar do

forte potencial de desenvolvimento local das suas atividades (“fábricas”), dos seus produtos

e das suas empresas.

Essa discussão, baseada em estudos de “complexos industriais de ramo”, difere das

formulações sobre o distrito industrial marshalliano da Europa e Estados Unidos, como os

da Escócia Central, do Vale do Silício, da Rota 128, perto de Boston, e dos parques

científicos ou tecnopólos - que têm pouco em comum, tanto em nível dos atores principais

como dos processos-chave em jogo, o que remete a análises distintas dos dois tipos.

Neste final do século XX, as economias locais só podem ser encaradas como

malhas de uma rede econômica global, sem qualquer realidade própria fora desse contexto.

2.3.1. As Formas Organização e Controle: “governança” e “redes”

O resultado da organização - ou governança - da cadeia de produção tem sido

objeto de um debate considerável. Na verdade, há uma variação de trajetórias de

desenvolvimento e um espectro de diferentes formas de governança que são melhor

apreendidas através da noção de redes interrelacionadas estruturadas em diferentes níveis

e formas de poder e influência. Tais redes consistem invariavelmente de um mix21 de

estruturas intra-empresa e inter-empresa.

21 O termo “mix” da literatura dos negócios é empregado para designar um conjunto de itens.

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O relacionamento da rede é centralizado no conceito de encaixe social da ação

econômica, desenvolvida nas literaturas de sociologia econômica e sócio-economia. Boa

parte das iniciativas na economia de negócios tem sido tomada por pesquisadores

escandinavos que têm argumentado, há muito, que os sistemas de produção, como um

todo, assim como as empresas que fazem parte deles, deveriam ser interpretados como

redes.

As redes são estruturas relacionais e, como tal, levam tempo para desdobrarem-se,

especialmente porque envolvem a construção de compromisso, fidelidade. A natureza dos

relacionamentos, contudo, depende de um bom acordo acerca da estrutura de poder

específica. Vários autores têm tentado conceituar esse fenômeno. CHRISTENSEN et al.

(1990) identificam dois grupos amplos de “organização em rede”: um centrado em torno de

grupo de corporação dominante e o outro baseado nas habilidades de interface.

STORPER e HARRISON (1994, p.176) usam um exemplo semelhante. Para

representar o controle (governance) manifestamente crescente exercido pelas grandes

empresas sobre os seus fornecedores e a complexidade crescente dos sistemas de

organização econômica, utilizam a linguagem adotada no mundo dos negócios, o “núcleo”

(core) e “anel” (ring), onde:

“Por núcleo, entendemos uma situação de poder assimétrica, ou em que algumas empresas nucleares condicionam por si sós a existência de várias outras. Por anel , entendemos o contrário, ou seja, uma situação de poder simétrica, ou em que a existência de um conjunto de empresas ou de unidades de produção não é propriamente determinada por decisões provenientes de uma única empresa ou unidade. Como é evidente, a hierarquia é mais forte no primeiro caso do que no segundo.”

BENKO (1996, p.98) atribui o termo “rede” à dimensão espacial de uma forma de

regulação das relações entre unidades produtivas, e “governança” ao modo de regulação

dessas relações, “que é em geral a combinação de diferentes formas: hierarquia,

subcontratação, parceria, ‘atmosfera’, agências públicas ou parapúblicas”.

A organização hierarquizada transforma-se numa organização em rede, construída

em torno de noções de “parceria”, “relações contratuais”, “flexibilidade”, “cooperação entre

firmas”, ou seja, utilizam-se os mesmos termos para as análises de distritos e meios e para

teorizar os domínios da organização industrial.

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As múltiplas combinações possíveis entre o número de parceiros, a especificidade

do capital tecnológico ou humano e a especialização podem provocar uma “fragmentação”

do poder no seio de um sistema produtivo, gerando um amplo leque de poderes e

hierarquias na sua governança. Com base nessas diferentes combinações, elabora-se uma

tipologia sumária dessas estruturas.

Quadro 1 – Tipos de Estruturas de Controle (Governança)

TIPOS

CARACTERÍSTICAS

1. ANEL SEM NÚCLEO Ausência de empresa líder permanente ou direção alternada (de acordo com os projetos). Ausência de hierarquia.

2. ANEL-NÚCLEO, COM EMPRESA COORDENADORA

Esta última ocupa uma posição dominante: é o agente motor do sistema input-output, mas não pode sobreviver sozinha, nem condicionar a existência das outras empresas do sistema. Existência de uma certa hierarquia.

3. ANEL-NÚCLEO, COM EMPRESA LÍDER

Esta última é largamente independente dos seus fornecedores e subcontratados periféricos, o que lhe dá a possibilidade de determinar, pelo menos parcialmente, a sua periferia; por conseguinte, a empresa líder condiciona a existência de certo número dos seus parceiros. Poder assimétrico, hierarquia considerável.

4. NÚCLEO SEM ANEL

É a empresa de integração vertical total.

Fonte: STORPER e HARRISON, 1994, p. 177 (Figura 10.3).

Existem os sistemas exclusivamente de “anel e sem núcleo”, ou seja, sem nenhuma

empresa que o lidere de forma permanente, ou com uma liderança assegurada

alternadamente pelos diversos parceiros. É o que acontece, por exemplo, no caso de um

sistema que reúne empresas em torno de projetos ad hoc. Encontramos sistemas input-

output desse tipo, em torno de projetos concretos na produção cinematográfica

independente de Hollywood, bem como na indústria de laticínios da cidade de Prato, na

Itália, onde o impannatore (termo que designa os fabricantes que não possuem a sua

própria fábrica, e que confiam as diferentes fases do trabalho a empresas que trabalham

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por conta de terceiros) reúne temporariamente diversas empresas para a produção de

modelos específicos.22

Prosseguindo, para as estruturas mais hierarquizadas, descreve-se a combinação

“núcleo/anel”, em cujo seio existe uma relativa coordenação sistemática, bem como uma

certa assimetria. É o caso, por exemplo, de uma rede de produção que possui um agente

dominante no seu sistema input-output. Tal agente (em geral uma empresa) pode

influenciar de modo sistemático as operações internas de outras empresas ou unidades da

rede, mas não pode funcionar sem elas, pois é incapaz, quer de efetuar por si as atividades

que essas empresas realizam para ele, quer, por conseguinte, de decidir por si só a

combinação ou a cessação das suas operações. Essa situação intermediária - que associa

influência e hierarquias limitadas - pode depender do número de parceiros: é o caso de

quando as unidades do anel possuem um elevado número de clientes (o anel da Xerox, por

exemplo), ou quando, tendo um número mais reduzido de clientes, trata-se de unidades

que exigem um elevado nível de especificidade das imobilizações e do know-how (é o caso

da Porsche, por exemplo).

O terceiro tipo de estrutura é também uma combinação “núcleo/anel”, mas onde a

empresa líder pode prescindir dos seus fornecedores e subcontratados, substituindo-os por

outros, se assim o quiser. A empresa líder ocupa uma posição dominante, e o poder é

assimétrico e revela uma elevada hierarquia no seio do sistema input-output. É o caso típico

dos sistemas produtivos do setor de aparelhos elétricos (General Eletronic, Westinghouse,

Sony e Philips).

Por último, existem sistemas input-output cujas unidades se situam todas elas no

núcleo: trata-se essencialmente da empresa verticalmente integrada. É o caso, por

exemplo, da Westinghouse, em Pittsburgh, que fabrica material ferroviário e estabelece

contratos de manutenção com companhias de transportes, públicas e privadas, em todo o

país. Constitui um sistema produtivo verticalmente integrado, ainda que os seus dirigentes

se encontrem atualmente empenhados num projeto de desintegração do processo

produtivo no interior de uma zona territorial com 250 Km de raio.

22 STORPER e HARRISON (1994, p.173) definem o sistema input-output como um conjunto de

atividades que concorrem para a produção de um bem comercializável. Os sistemas input-output “constituem o núcleo funcional da economia”. Caracterizam-se freqüentemente pelo número de unidades de produção que abrangem, e por uma divisão social do trabalho que lhes é própria. Uma empresa pode possuir várias unidades de produção, mas também pode fazer parte de vários sistemas input-output.

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Qualquer que seja a forma exata tomada pelas redes, as empresas continuam,

claramente, sendo o centro de suas operações. A conceituação de rede implica, contudo,

que os limites da empresa precisam ser redefinidos, pois há situações em que não se

dispõe de uma clara linha divisória separando o interior da empresa de seu exterior.

As estruturas de rede apresentam empresas com um nível de flexibilidade

considerável à medida em que elas podem internalizar ou externalizar funções específicas

na cadeia de produção. Embora possa haver uma tendência para um padrão específico a

se desenvolver entre empresas de uma mesma indústria em particular, não há razão, a

priori, pela qual possa ser assim. Igualmente, não há um modo a priori de determinar os

caminhos específicos nos quais as cadeias de produção estão geograficamente

configuradas. Os tipos de cadeia de produção podem ser geograficamente configurados de

modos muito diferentes, mas a mesma cadeia de produção pode ser configurada

diferentemente por diversas empresas. Certamente os padrões mudam com o tempo.

Conforme apontou PORTER (1986), a questão da configuração/ localização geográfica deve

ser resolvida para cada função separada, dentro da cadeia. Esses problemas de

coordenação e configuração das funções de cadeia de produção que as empresas

enfrentam são de todos os tipos, mas elas tomam uma forma específica - e mais complexa

nos níveis internacional e global, assim como no contexto das corporações transnacionais e

suas interações com as nações-Estados.

2.4. A “Organização em Rede” e a “Empresa-Rede” e suas Aplicações para o Setor Agroindustrial

As mudanças teóricas em direção a uma atitude centrada na adaptação progressiva

e flexível à demanda são o elemento central que abandona os mecanismos de

funcionamento do regime fordista e manifesta a emergência de uma nova lógica produtiva.

A lógica fordista centra-se na busca de economias de escala sobre os meios de produção.

A lógica toyotista ou pós-fordista é centrada na resposta rápida, múltipla, solidária e

adaptada a uma demanda heterogênea e flutuante. A lógica das escalas de produção é,

portanto, substituída por outros mecanismos, que buscam aumentar a produtividade, mais

além da mecânica pura das quantidades produzidas.

Do ponto de vista metodológico, o conceito de “economia de rede” revela-se

apropriado por apreender a dinâmica de algumas formas de organização. Do ponto de vista

econômico, a rede, enquanto forma de organização do sistema alimentar, enquanto

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princípio lógico de sua explicação, exprime uma realidade do trabalho na qual o valor é

produzido ao mesmo tempo no sistema.

Foi no Japão que se estruturaram, pela primeira vez, as empresas-rede. A fim de

tornarem mais flexíveis suas relações, os atores econômicos procuraram estabelecer entre

si uma série de convenções que determinam as formas de estruturação das relações

cliente-fornecedor, com a finalidade de definir uma relação contratual de qualidade.23 A

ligação contratual parte do princípio de que as empresas evoluem dentro de uma divisão de

coordenação de atividades econômicas e produtivas entre a empresa e o mercado, de

acordo com a percepção de seus custos de transação, conforme definido por COASE (1937,

1972).

O espaço econômico determinado por essas relações contratuais liga diversos tipos

de agentes de produção de bens de serviços. Cada vez mais a produção de um bem tende

a ser a conseqüência de elementos intermediários adquiridos dos fornecedores, assim

como dos sub-contratantes. Esse processo, definido enquanto externalização de funções

de produção, significa uma nova forma de relações interidustriais.24

Há diversos estudos apontando que as empresas fornecedoras possuem vantagens

sobre o plano de negociação em relação às empresas subcontratadas. Estas últimas

possuem uma gama de produtos muito limitada e têm como interlocutor apenas uma só

empresa. Ao contrário, as empresas fornecedoras de bens intermediários possuem uma

gama maior de produtos e sobretudo com clientes mais numerosos. Isto permite uma

grande capacidade de operar e, principalmente, de controlar, elas mesmas e a longo prazo,

o futuro de sua empresa.

Segundo MAZZALI (1995, p.163), a “noção de ‘organização em rede’ traz à tona a

forte interdependência existente entre os agentes econômicos, obrigando a repensar os

limites da empresa individual. A empresa não aparece como um agente independente, ao

contrário, possui diversos tipos de articulação com outras unidades, as quais impelem ao

desenvolvimento de relações complexas”.

23 A idéia de convenção é conceituada por FAVEREAU (1988) como “a organização definida enquanto

espaço de transações ligadas a uma atividade de produção”. 24 A utilização do termo “externalização” pode remeter a dois processos distintos, embora possam ser,

muitas vezes, concomitantes. Segundo CHESNAIS (1996, p.104), “uma primeira acepção do termo indica a extensão ou aprofundamento da divisão industrial do trabalho (que atualmente inclui os serviços); certas atividades, anteriormente organizadas de forma interna pelas empresas, destacam-se e tornam-se ramos separados”. Os novos setores dos chamados “serviços para empresas”, por exemplo, constituem caso típico. A segunda maneira de utilizar o termo “externalização” é por oposição à internalização, no sentido da teoria dos custos de transação.

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59

De acordo com a abordagem da “escola organizacional” e de “economia de rede”,

diante das mudanças no sistema agroalimentar, no comportamento dos consumidores e

diante da possibilidade de substituição das matérias-primas, torna-se mais complexa a

tarefa dos produtores rurais, mediatizada ainda pelas estratégias dos operadores

industriais, a “instabilidade do mercado final”, que tende a transferir-se diretamente à

produção agrícola (GREEN e ROCHA DOS SANTOS, 1993).

Os operadores industriais, ao alargarem seus processos de produção, aprendem

também a utilizar as matérias-primas dentro da gama de produtos não-alimentares, o que

lhes permite maior valorização de seu trabalho. Isto conduz à fixação de novas condições

de controle de qualidade dos produtos agrícolas. Para assegurar a qualidade de seus

próprios alimentos – garantidos por uma marca, os industriais devem preocupar-se mais

com a matéria-prima a ser processada. A qualidade não é somente de ordem sanitária, mas

também de composição molecular, com prazos precisos e dotada de uma flexibilidade

produtiva capaz de acompanhar as novas formas organizativas que os industriais praticam.

“Isso significa que os produtores agrícolas tornam-se um elemento dessa estrutura complexa que funciona de uma forma coerente, como através de uma verdadeira ‘linha de montagem’. Esse funcionamento, mais integrado, entre os agricultores e industriais freia a tendência de substituição radical de utilização de certas matérias-primas. A solidariedade produtiva, no centro da nova forma de funcionamento, exige uma complementaridade flexível, que pode obrigar o agricultor a transformar sua produção, mas, ao mesmo tempo, assegura-lhe um mercado estável. As relações contratuais que ligam os produtores de aves aos industriais do setor, são um exemplo paradigmático desse modo de comportamento”. (GREEN e ROCHA DOS SANTOS, p.16)

2.5. MOVIMENTO DE REESTRUTURAÇÃO DO SETOR AGROINDUSTRIAL E O SISTEMA

AGROALIMENTAR

Neste movimento de mudanças no sistema produtivo em geral, ganha destaque a

crescente reestruturação setorial da agroindústria e as estratégias recentes das empresas

líderes mundiais do sistema agroalimentício. Ao fazer esse resgate, tomam-se como base

inicial as empresas multinacionais, por entender que elas constituem exemplos concretos

dessa dinâmica das estratégias espaciais e locacionais até aqui consideradas, passíveis

portanto de serem estendidos para os casos estudados neste trabalho.

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60

Nos dias atuais, não é possível compreender a dinâmica de um segmento

agroindustrial específico (do complexo grãos-rações-carnes, por exemplo), sem se

considerar a nova lógica e a dinâmica da indústria agroalimentar mundial. 25

Inicialmente, os estudos sobre as estratégias das empresas líderes do setor

agroindustrial, grosso modo, enfatizam pelo menos dois lados: de um lado, os aspectos

tecnológicos do processo produtivo e, de outro, os de ordem mercadológica (ou

organizacional). Neste último é que podem ser incluídas as estratégias geográficas,

entendidas a partir da mobilidade espacial das grandes empresas (sobretudo

transnacionais) e sua repartição nos países de origem e de acolhimento. 26

As inovações mercadológicas dizem respeito à aquisição/controle de “marcas” e à

ampliação de mercados através de aquisições, formação de joint-ventures e franquias. Elas

também ocorrem no domínio da logística da distribuição, para assegurar os fluxos e a

qualidade da matéria-prima a montante da agricultura.

As inovações tecnológicas relacionam-se, principalmente, aos progressos

alcançados pela engenharia genética.

Do ponto de vista histórico, o rompimento com o modelo “fordista” de produção da

indústria de alimentos ocorreu a partir da década de 80, através da grande capacidade

desse segmento em adaptar-se a um programa de produção flexível do tipo just-in-time,

trabalhando com matérias-primas de difícil homogeneização e de alta sazonalidade.

O novo sistema de trabalho adotado pela indústria de alimentos nesse processo de

reestruturação se aproximou do modelo “toyotista”, que se caracteriza, principalmente, pela

produção just-in-time e pela automação da produção. Outro aspecto desse processo é o

grande número de novos produtos alimentares que são introduzidos nos mercados,

compostos por produtos naturais, saudáveis, dietéticos, semi-prontos, étnicos, entre outros.

25 Embora de maneira simplificada, para compreender melhor o sistema agroalimentar, pode-se

desagregar os seus diferentes componentes, que podem ser organizadas em torno dos seguintes eixos: a agricultura e a indústria de insumos, a agroindústria (ou de primeiro processamento), a indústria alimentar (ou de produtos finais).

26 Embora os diversos autores não separem este tipo de análise, preferimos fazê-la de forma a contribuir para a discussão dos aspectos geográficos do tema. Como foi demonstrado anteriormente, o conceito de estratégia é trabalhado diferentemente pelas escolas. A abordagem dos sistemas Agroindustriais Complexos - originada nos trabalhos de GOLDBERG (1968) da corrente do “Agribusiness” - é trabalhada principalmente em nível de firma, enquanto que pela abordagem das “filières” o enfoque é para as políticas governamentais. As diferentes metodologias privilegiam o sistema de produção, com análise centrada no sistema produtivo na linha de um produto específico.

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61

Na fase “pós-fordista”, um aspecto geográfico que adquiriu importância maior e é

considerado estratégico para as empresas refere-se aos segmentos de logística e

distribuição. A logística, que anteriormente se restringia internamente às empresas, passa a

ser um elo independente na cadeia de produção, cabendo-lhe a função de unir produtores

e fornecedores no menor tempo possível, independente da distância geográfica.

BELIK (1994, p.64), ao estudar o processo de reestruturação industrial e as

estratégias dos grupos agroalimentares, destaca que nos anos 80 verifica-se a

consolidação do que se convencionou chamar de “toyotismo” no sistema agroalimentar. A

partir da figura seguinte, esse movimento e seus principais condicionantes pelo lado da

oferta e demanda é demonstrado pelo autor.

Figura 5 : As Principais Mudanças no Sistema Agro-Alimentar nos anos 80

PRODUÇÃO EXTENSIVA FLEXIBILIZAÇÃO

BANALIZAÇÃO ESPECIALIZAÇÃO

MERCADOS DE MICROMERCADOS MASSA

Fonte: BELIK (1994, p. 65)

Observa-se pela ilustração (Figura 5) que o sistema flui de uma produção e

consumo de massa (extensiva e homogênea) para uma produção flexível vinculada a um

consumo segmentado com produção em pequenos lotes e com uma preocupação maior

para os aspectos ligados à qualidade do produto.

- crise financeira Internacional - protecionismo dos mercados - revol. tecnológica e organizac.

- onda verde - saturação de mercados

FORDISMO TOYOTISMO

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62

“A estratégia toyotista para IAA (Indústria Agro-Alimentar) atua com o conceito de micromercados mostrando ao consumidor que o seu consumo pode ser individualizado e moldado segundo as suas necessidades sociais. Como resultado dessas mudanças, emergem como elos fortes da cadeia agroalimentar as atividades de distribuição e logística.” (BELIK, 1994, p. 64)

O entendimento da dinâmica e estratégias recentes das empresas agroalimentares,

quer no Brasil, como nos países da América Latina, requer também um conhecimento do

profundo processo de transformação produtiva da economia mundial a partir dos países

desenvolvidos.

Entre as novas categorias de análise, está aquela que valoriza as relações

dinâmicas estabelecidas entre os atores e o contexto produtivo onde eles operam. A

importância desse fenômeno, segundo as diversas concepções, torna necessária a

mudança da visão linear do sistema produtivo, “substituindo por uma leitura mais flexível”,

onde as inter-relações entre “ofertantes” e “demandantes” desenvolvem-se

permanentemente, transformando a produção, que se apresenta cada vez mais

diferenciado. Esse processo coexiste com uma forte onda de “terceirização” da economia e

da produção industrial, que inclui o setor agroalimentar, onde também os serviços incluídos

nos produtos tendem a exercer forte domínio.

Para compreender a transformação do setor agroalimentar dois elementos devem

ser considerados: a dinâmica da mudança técnica e o processo de transformação do

consumo alimentar. O período atual é marcado, principalmente, por uma tendência à

multiplicidade de demandas, diante das possibilidades oferecidas por uma indústria

alimentar mais concentrada, enquanto tal, ao número de operadores, porém mais

diversificada em sua oferta alimentar (GREEN, 1990, p.25).

Se, de um lado, existe uma homogeneidade da inovação nos países desenvolvidos,

em especial no interior dos mesmos ramos industriais, existe uma grande heterogeneidade

entre os países desenvolvidos e os países da América Latina, assim como no interior

destes últimos. Essa heterogeneidade é fonte de tensões e de agravamento dos desajustes

estruturais.

GREEN (1990) observa que um dos elementos de mudança, o mais importante, que

tem sido integrado ao setor agroalimentar, é a informática, que participa desde a primeira

transformação até a distribuição, e que está contribuindo substancialmente para a

transformação do conjunto da atividade do setor, muito especialmente o setor logístico das

empresas agroalimentares. Para a análise, o autor toma como exemplo de estudo o caso

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dos alimentos para animais, cuja combinação de conhecimentos e técnicas novas permite o

aparecimento de processos de gestão e de produção que vão progressivamente variando o

panorama do setor agroalimentar, através de um processo de combinação adequada das

informações sobre a composição molecular de cada uma das matérias-primas disponíveis

no mercado; necessidades nutricionais de cada tipo de animal - segundo a idade,

destinação ou tipo de utilização, raça; informação técnica sobre os limites da flexibilidade

das instalações industriais, que podem transformar diversas matérias-primas e, por último,

informação sobre o valor vigente no mercado. A partir de uma combinação adequada

dessas informações, o operador pode saber, em cada momento, qual é o melhor alimento

animal, com o menor custo possível.

Como poderá ser visto mais adiante, os resultados desse enorme avanço técnico,

que são hoje também e principalmente utilizados por pequenas e médias empresas na

Europa (“banalização” - como atribui GREEN, 1990), são uma adequação de novas técnicas

e estratégias das grandes empresas e negociantes de commodities internacionais como a

Unilever, Cargill, Bunge e Born ou Dreyfus.

2.5.1. A Internacionalização do Setor Agroalimentar e as Corporações Multinacionais do Agribusiness

As grandes mudanças de reestruturação do setor agroindustrial vêm ocorrendo no

âmbito dos países desenvolvidos, compostos pela tríade América do Norte, Europa e

Japão, desde os anos 80, orientadas para novos métodos de produção, gestão,

distribuição, relações entre fornecedores, pesquisa e desenvolvimento e consumo de bens

e serviços. Nesse processo, as grandes empresas seguem as regras de concorrência

dentro dos setores em que atuam, porém possuindo estratégias próprias. A sua estrutura

multinacional leva a decidir sobre onde produzir, por quem e através de que associações

com outras empresas se dará a atuação.

Ao mesmo tempo, assinala-se um período de forte multinacionalização, com a

difusão rápida de produtos e de processos de fabricação, o desenvolvimento dos meios de

circulação de mercadorias em escala mundial, a adoção de estratégias de industrialização

enfocadas nas “fileiras agroindustriais”, o que permitiu a emergência de novos produtos e,

por conseguinte, de novos concorrentes, originados nos Novos Países Industrializados

(NICs).

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Com o objetivo de analisar as estratégias das firmas multinacionais alimentares

(FMN) de estruturas oligopolísticas, PÉREZ (1996, p.21) apresenta uma tipologia que

permite compreender a inserção dos grandes grupos industriais e financeiros que atuam no

domínio agrícola e agroalimentar, classificando-os nos seguintes tipos:

Tipo 1. As FMN alimentares propriamente ditas, orientadas para a produção de bens

alimentares, multiprodutos (exemplo da Nestlé) ou especializadas numa “família” de

produtos (exemplo: Coca-Cola), às vezes se desenvolvendo fora do setor alimentar

(exemplo, Unilever);

Tipo 2. As FMN de agroindústrias, posicionadas mais a montante que as precedentes,

em termos de filières agroindustriais, assentadas nas primeiras transformações de

produtos agrícolas. Este segundo tipo confunde-se com o primeiro – exemplo da

Eridiana-Beghin Say (corporação italiana do setor de gorduras e carnes);

Tipo 3. As FMN do comércio internacional – trader – que se dedicam essencialmente ao

comércio mundial de produtos primários – commodities; algumas da FMN mantêm

alguma atividade industrial do tipo 2 – exemplo da Cargill;

Tipo 4. As FMN da grande distribuição, que não são integrantes diretamente à esfera

alimentar, porém atuam através de seus centros de compras em caráter multinacional –

exemplo: Carrefour;

Tipo 5. As FMN de restaurantes fora da sede, as quais desempenham uma função

crescente nos modos de consumo alimentar, tanto através de formas de consumo

(restaurant/ fast food ) individual (Mc Donald’s), quanto coletivas (Sodexho);

Tipo 6. As FMN do agro-aprovisionamento que, em sentido amplo, envolvem diversas

indústrias: adubos, sementes, produtos fitossanitários, maquinário agrícola e, por

conseguinte, variados tipos de firmas. Exemplos: Rhône-Poulenc, Massey Ferguson etc.;

Tipo 7. AS FMN do setor financeiro – bancos, seguradoras – das quais algumas são

mais particularmente ligadas ao setor agroalimentar – exemplo: Crédito Agrícola.27

O movimento da globalização dos mercados conduz as firmas multinacionais à

medida que suas estratégias e a estrutura de suas atividades toma uma dimensão

planetária. As sujeições de rapidez e de flexibilidade levam a privilegiar, de um lado, as

27 Cf. PEREZ “Les stratégies des firmes multinationales alimentaires” (1996, p. 21-2). Esta tipologia

consiste numa ampliação da classificação dos grupos industriais e financeiros apresentada em MALASSIS (1992).

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estratégias de crescimento externo para envolver os mercados mundiais e, de outro lado,

as estruturas do tipo cooperativo para fazer face às incertezas do seu ambiente. A

combinação desses dois tipos de estratégias resulta em novos modos de estruturação: a

“empresa rede”.

As estratégias de crescimento e reestruturação das firmas multinacionais, de acordo

com DELAPIERRE (1996), desenvolvem-se nas formas de estratégias de “alianças”, que

constituem complemento das estratégias de “fusão-aquisição”, alianças do tipo “partilha” e,

por último, a reestruturação do tipo “parceria”.28

Antes de ocorrerem as estratégias de fusão-aquisição - que visam obter o controle

exclusivo, proprietário, de uma operação- as empresas pesquisam a coordenação de

atividades de parceria. Por mais que ocorram as fusões, aquisições e alianças, essas não

constituam um fenômeno novo, sob o mesmo título, representam entretanto os aspectos

característicos da globalização atual. A aliança estabelece uma relação entre alguns

parceiros, para uma duração determinada, com um objetivo fixo.

As grandes corporações mundiais engajadas nos mercados de alimentos, como a

Cargill, ConAgra, Ferruzi Finanzaria SpA, Archer-Daniels, Unilever, Continental Grain,

International Multifoods, British Petroleum/ British Nutrition, entre outras, passaram a adotar

estratégias que caracterizam a formação de joint-ventures, compra-venda de tecnologia,

fusões e aquisições de empresas e/ou departamentos de empresas, etc. No âmbito das

grandes corporações, algumas adotam estratégias de globalização dos mercados e de

diversificação de produtos, enquanto outras buscam concentrar seus investimentos nos

mercados em que possuem maior competência. No último caso, as empresas buscam, em

primeiro lugar, uma “reestruturação corporativa” e, em seguida, procuram estabelecer

“estratégias externas” capazes de aumentar sua competitividade nos mercados

internacionais. Uma conseqüência disso é o deslocamento das ações das empresas para a

área de preços, implicando na busca de liderança em custos a qual pode ser obtida com a

redução de custos de processamento e custos totais e que requer escalas de produção

eficientes, elevado market share (participação de mercado) e fácil acesso à matéria-prima.

28 Cf. DELAPIERRE, Michel. “Les firmes multinationales: évolutions structurelles et stratégies face à la

mondialisation” (1996, p.15).

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Com a globalização econômica, as firmas têm passado por um mundo turbulento,

marcado por uma forte incerteza influenciada pela desregulamentação, pela

internacionalização e pela aceleração do ritmo das inovações. Nesse movimento, as

indústrias mundiais têm entrado num processo de reestruturação e de recomposição de

seus modos de organização e funcionamento.

O crescimento da complexidade que caracteriza a globalização traduz-se por um

aumento da densidade de relações que são tecidas entre os ramos de atividades

econômicas. Constata-se, então, a conjugação de duas tendências: observa-se, em

primeiro lugar, a interação crescente das funções que asseguram um reforço da coesão de

atividades anteriormente especializadas no ambiente das firmas, a P&D (Pesquisa e

Desenvolvimento). A produção e a comercialização são organizadas de forma

interrelacionada, com o objetivo de melhorar o segmento da demanda e de reduzir o tempo

de acesso ao mercado. Assistimos, em segundo lugar, a um movimento de

descentralização, de autonomia das unidades integradas, nas firmas estruturadas em rede.

Segundo GREEN e ROCHA DOS SANTOS (1992), o caso da indústria de alimentos é um

exemplo concreto da formação de uma “economia de rede” em que, dada a perecibilidade

do produto, o fator tempo e o nível de estoques desempenham um papel fundamental.

O exemplo seguinte serve como ilustração importante das estratégias de algumas

dessas empresas líderes do comércio mundial de grãos:

“Para a Cargill, produzir e exportar aves para o Japão é mais barato a partir de associações com produtores da Tailândia, em parte por causa da proximidade, mas em parte porque o trabalho aí é também mais barato. Estão também se associando a empresas para disputar mercados locais de grande importância: A Ferruzzi Finazaria SpA, gigante italiana, que formou uma joint-venture com a Mitsubishi do Japão para criar, processar e exportar carne de porco para o mercado asiático; a Tyson Foods Inc. está criando galinhas em Arkansas e exportando cortes para o México para serem desossados”. (CASTRO, 1993, p.56)

Como se observa, as diferentes estratégias adotadas pelas corporações

multinacionais têm conferido grande poder de barganha na determinação das políticas

agroalimentares por todo o mundo, caracterizando assim a fase atual de reestruturação do

sistema produtivo.

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2.5.2. O Movimento de Reestruturação Produtiva

A reestruturação do processo produtivo que ocorre na Europa e nos Estados

Unidos, desde os meados da década de setenta, tem atingido diretamente as

agroindústrias, e especificamente a indústria de alimentos, provocando grandes mudanças.

O modelo “fordista”, baseado em sistema de produção de massa e contínua, tem

sofrido um esgotamento, que é sentido tanto no lado da produção como do consumo. O

espaço conquistado cada vez mais pela indústria de alimentos tem relação com as

mudanças de hábitos das populações consumidoras, tais como a própria redução do tempo

de trabalho na preparação de alimentos e o trabalho feminino fora de casa e, por

conseguinte, no aumento das despesas com alimentação.

Do ponto de vista das mudanças organizacionais, as empresas deixaram de atuar

em escalas gigantescas, diversificando sua produção horizontalmente, envolvendo uma

enorme gama de itens; e, verticalmente, integrando-se aos seus fornecedores e

distribuidores. No sistema anterior, as grandes empresas do setor buscavam diversificação

adquirindo fornecedores com o intuito de se integrarem às fontes de matéria-prima e,

horizontalmente, completando suas linhas de produto.

Um dos efeitos do novo sistema são as novas associações entre firmas, seguindo as

afinidades geográficas e culturais dos mercados, concentrando em aquisições horizontais e

absorvendo concorrentes. A parte mais significativa dessas mudanças ocorreu na indústria

de alimentos, com grande volume de fusões e aquisições. Para alguns autores, a

explicação para essas ondas de fusões e aquisições ocorridas na última década na

indústria dos países desenvolvidos tem como causa, principalmente,

“...a busca de ‘economias de escopo’ por parte das empresas líderes, a busca de melhores posições em mercados emergentes, as boas possibilidades de retorno na compra de participações em empresas subavaliadas e; evidentemente, as possibilidades de introdução de barreiras tecnológicas permitindo a consolidação de determinadas lideranças de mercados”. (BELIK, 1995, p.108-9)29

O conceito de economia de rede tem sido adotado para o estudo do sistema

agroalimentar. Para alguns autores, tal princípio permite afirmar que o sistema alimentar

29 O termo “economias de escopo” (economies of scope ou “economias de variedade”) é utilizado na

economia industrial tendo relação direta com as novas teorias de localização industrial. Essas economias se referem ao tipo de firma que materializa uma configuração muito particular: “nomotecnológica”, mas “multiprodutos”.

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brasileiro traduz melhor a realidade da economia de rede, uma vez que o tipo de enfoque

dá conta de suas relações e articulações internas e de sua dispersão espacial.

2.6. O DESENVOLVIMENTO RECENTE DA AGROINDÚSTRIA NO BRASIL E O MOVIMENTO DE

REESTRUTURAÇÃO PRODUTIVA 2.6.1. As Mudanças nos Padrões de Desenvolvimento Agrícola e Agroindustrial

Brasileiro: o esgotamento da fase do complexo agroindustrial (CAI)

A partir da década de 1980 e início dos anos 90, desencadeiam-se grandes

transformações que alteraram o padrão agrícola de modernização, requerendo uma

reflexão maior dos esquemas interpretativos sobre o complexo agroindustrial brasileiro.

As grandes mudanças ocorridas na economia mundial, em que emerge o novo

paradigma tecnológico e organizacional, reforçam o quadro das mudanças. MAZZALI (1995,

p.8) destaca alguns pontos principais dessas mudanças:

“A retomada da ‘visão neoliberal’ associada a crise fiscal do estado brasileiro colocam em xeque o padrão de desenvolvimento agroindustrial. Ao se desvencilhar do papel de financiador e de patrocinador da modernização, o Estado enfraquece as bases que sustentavam as articulações entre os agentes, deixando ‘em aberto’ o campo de opções estratégicas para sua atuação, gerando, assim, o ambiente para a reestruturação das articulações” .

Assim, enquanto o Estado situou-se no centro do padrão de desenvolvimento

agroindustrial brasileiro a partir dos meados da década de 1960, como financiador e

legitimador das articulações entre os diferentes agentes econômicos, a partir da crise fiscal,

principalmente no final dos anos 80, com a conseqüente desarticulação do aparato de

regulação estatal, representou uma reorientação dos interesses agrários e, mais

intensamente, uma mudança no comportamento desses agentes produtivos.

Em termos gerais, a idéia central do padrão de modernização, que caracterizou o

período 1965-1980 de constituição do complexo agroindustrial, vem recentemente sendo

reavaliada, e atualmente alguns autores têm procurado ampliar o significado do conceito de

CAI.

Nas proposições de MIRANDA COSTA (1992), o termo “complexo agroindustrial”

pode ser utilizado analogamente ao termo “substituição de importações”, designado para

referir-se ao modelo histórico de desenvolvimento brasileiro via substituição de importações

que se inicia no período posterior a Depressão dos anos 30.

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“Nesse sentido, da mesma forma que o termo ‘substituição de importações’ comporta duas acepções, uma no sentido estrito e outra no sentido lato, o termo ‘Complexo Agroindustrial’, num sentido estrito estaria referindo às fortes articulações de determinada atividade agrícola, ‘para frente’ ou a jusante e ‘para trás’ ou a montante, aproximando-se do conceito de cadeia agroindustrial e, portanto, utilizado para designar complexos específicos e determinados. Num sentido lato, designaria o processo histórico de desenvolvimento do setor agropecuário, intensificado no final da década de 60 e marcado por um novo padrão de articulação agricultura-indústria, em que a dinâmica e as condições de reprodução ampliada da primeira, advêm, primordialmente, da segunda. Através desse ‘modelo’, modernizam-se as atividades agrícolas, quer as articuladas ou integradas (exemplo do tomate ‘rasteiro’, produzido para a indústria), quer as não articuladas ou não integradas (exemplo tomate ‘envarado’, de mesa) às atividades industriais. Nesse sentido o termo Complexo Agroindustrial designaria o próprio modelo através do qual processou-se a modernização da agricultura, cuja dinâmica esteve situada na própria integração técnica e de capitais agricultura-indústria.” (MIRANDA COSTA, 1992, p.18)

Além disso, a despeito da utilização conceitual do CAI, a autora conclui que o termo,

mesmo utilizado com graus de abrangência diversos, não apenas entre os autores mas

mesmo ao interior da obra de um mesmo autor, e “apesar da existência de observações

relativas à imprecisão do termo e das controvérsias no estabelecimento de seus limites e de

seu alcance explicativo – abre caminho para a compreensão do estilo e do padrão de

desenvolvimento da agricultura brasileira após os anos 60” (MIRANDA COSTA, 1992, p.15).

2.6.2. Os Rumos do Processo de Integração Agricultura-Indústria no Brasil

Todas as abordagens descritas anteriormente sobre o “sistema agroindustrial” têm

como ponto comum o fato de tomar um ramo como agregação para sua análise, permitindo

estudar os distintos mercados de produtos agropecuários, a dinâmica tecnológica de cada

um dos ramos e as ações dos seus agentes.

Um exemplo da aplicação conceitual do agribusiness, como dos resultados

distintos das análises setoriais no Brasil, podem ser visualizados pela seguinte (Tabela 1).

O comparativo das diferentes metodologias de agregação revela a grande diferença dos

dados entre o “Negócio Agrícola” (ABIA) e sua participação expressiva quando comparada

ao “setor agrícola” (IBGE). A agricultura, se incluída apenas no “setor primário”, tem a sua

participação total muito reduzida, enquanto que o conceito de Agribusiness eleva o seu

peso no PIB nacional. Além disso, se aplicado o conceito para as atividades para “além da

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70

porteira” da fazenda – indústria de insumos, processamento e distribuição – a agregação de

valor desses setores chega a mais de 70%.

Tabela 1 Comparações da Participação do Agribusiness e Setores da Atividade Econômica

no PIB Nacional em 1990, segundo FIBGE e ABIA

INDICADORES: ABIA

%

INDICADORES: IBGE

%

Indústria de Insumos

Produção Agropecuária

Processamento/ Distribuição

8,0

28,0

64,0

Agricultura

Indústria

Serviços

9,1

34,2

56,7

“Negócio Agrícola” 37,5

Fonte: ABIA/ FIBGE-Departamento de Contas Nacionais.

O quadro seguinte, extraído de GOLDBERG (1977), demonstra que o agribusiness

mundial continuará crescendo de maneira heterogênea entre os diferentes níveis da cadeia

vertical. As etapas/funções de processamento e distribuição no ano de 2028 representarão

79% de todo o faturamento do sistema, contra 60% em 1950 e 65% em 1980. Por sua vez,

a agricultura terá sua participação reduzida de 30% em 1950 para 14% em 2028; enquanto

os fornecedores de insumos e fatores de produção igualmente terão sua participação

diminuída, no período, de 10% para 7%.

Tabela 2 Evolução e Projeção do Faturamento do Agribusiness no Mundo (US$ bilhões)

SETORES ANOS

1950

1960

1970

1980

2000

2028

Fornecedores de Insumos e Fatores de Produção

44

69

113

375

500

700

Agricultura

125

175

255

750

1115

1465

Processamento e Distribuição

250

380

6000

2000

4000

8000

Fonte: GOLDBERG, 1977, apud PINAZZA e ARAÚJO, 1993, p.148.

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71

No Brasil, a falta de banco de dados e estudos do agregado agricultura-indústria-

serviços não permite maior entendimento quanto às relações intersetoriais. A fonte mais

recente, que possibilita uma visão das relações intra e intersetoriais, tem como base a

matriz de insumo-produto baseada nas informações dos censos econômicos de 1975, 1980

e 1985.30 Mesmo que limitada pela disponibilidade dos dados do Censo Agropecuário de

1980, a análise sobre os grandes elos do sistema agroindustrial permite considerar que os

setores de processamento e distribuição já respondiam por 60% do valor adicionado,

enquanto que a “agropecuária” representava 27,8% no valor adicionado (vide tabela 3).

Tabela 3

Características do Agribusiness Brasileiro em 1980 (US$ bilhões)

Setores

Valor da

Produção

Valor

Adicionado

Participação no

Valor Adicionado Insumos 8,5 8,5 11,4 % Agropecuária 29,3 20,8 27,8 % Processamento 52,1 22,8 30,5 % Distribuição 74,7 22,6 30,3 % TOTAL 74,7 100 %

Fonte: ARAUJO et al. “Complexo Agroindustrial – O ‘Agribusiness’ Brasileiro”, s/d, p.37.

Apesar da grande “informalidade” presente nas relações econômicas no campo, no

caso brasileiro, o peso relativo da agricultura em 27,8% na participação no valor adicionado,

em 1980, comporta várias explicações; porém é um importante indicador do maior

atrelamento e interdependência do “setor agropecuário” com os demais segmentos, como já

vinha ocorrendo em outros países do mundo.

30 A análise do relacionamento intersetorial da agricultura com os demais setores e em nível mais

desagregado de subsetores é freqüentemente realizada através das tabelas de insumo-produto, concebidas inicialmente por Leontief (matriz de Leontief) e outros modelos dela derivados. Apesar das limitações quanto à oferta de dados (variáveis e agregados espaciais) e periodicidade, o instrumental básico para a avaliação do “agribusiness” brasileiro consiste nas fontes de informações produzidas pela Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (FIBGE).

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72

2.6.3. As Trajetórias dos Principais Complexos Agroindustriais

LEMOS (1995) apresenta questões interessantes sobre o desenvolvimento dos

encadeamentos intersetoriais de cada complexo, contribuindo para o entendimento da

dinâmica de organização dos mercados e em particular das estratégias adotadas da

empresa líder dominante em cada mercado.31

De acordo com o estudo elaborado originalmente por LEMOS (1992), a estrutura de

organização dos mercados das indústrias pertencentes aos complexos encontravam-se

reunidas em mercados relativamente desconcentrados de produtos homogêneos com

grande escala de produção. Essas indústrias controlavam em torno de 80% da produção

processada de alimentos no Brasil, dominando quase que exclusivamente o mercado de

exportação agroalimentar. Sumariando as estratégias de crescimento das empresas líderes

e, por conseqüência, o desenvolvimento da base produtiva dos principais complexos, têm-

se as realidades descritas a seguir.32

O complexo “grãos-aves” caracteriza-se pelo paradigma da “estratégia de integração

exportadora”, ou seja, mesmo que parte de seus produtos não seja para exportação e o

mercado interno não absorva grande parte de sua produção, a expansão do mercado

externo é fundamental para a reprodução dinâmica deste complexo, pois se realizam

fundamentalmente as taxas diferenciais de lucro (“sobre-lucro”). Por outro lado, no mercado

interno, o diferencial de lucratividade é reduzido pelo nível relativamente desconcentrado

das vendas e o baixo grau de diferenciação dos produtos. As vantagens de custos dos

líderes na produção e comercialização são obtidas via integração vertical, do controle do

fornecedor da matéria-prima agrícola à “trading”. A liderança desses mercados pertence às

empresas multinacionais líderes no comércio mundial de grãos (integrado pelas “cinco

irmãs”: Cargill Inc., Continental Grain Co., Andrés, Louis Dreyfus Co. e Bunge & Born) e às

31 Os resultados da análise estão focados nas tabulações especiais do IBGE para 45 setores do Censo

Industrial de 1985 e uma amostra de 371 empresas líderes, onde são identificados pelo autor três grupos distintos de indústrias: as pertencentes aos complexos agroindustriais; as de processamento final em mercados diferenciados não pertencentes aos complexos e as de processamento primário em mercados homogêneos também não pertencentes aos complexos.

32 Segundo o autor, os resultados da estrutura de organização desses mercados vai refletir em que medida a fonte de crescimento das empresas líderes dos complexos está baseada nas exportações ou na diferenciação de produtos. Além disto, o domínio do mercado de exportação agroalimentar no Brasil (80%) só não era absoluto porque o setor de “frutas e sucos”, como foi dito anteriormente, não foi identificado como um “complexo”, devido a problemas de desagregação da matriz de insumo-produto brasileira de 1985.

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73

empresas nacionais de grande porte (por exemplo o Grupo Hering-Ceval, a Sadia e a

Perdigão).

O complexo “laticínios”, dominado pela “estratégia de diferenciação”, cuja fonte de

crescimento das empresas líderes é a diferenciação de produtos e a realização de sobre-

lucro, está centrado no mercado interno. As duas empresas multinacionais líderes (Nestlé e

CPC-BSN) exercem um poder oligopolístico em nichos de produtos com preços-prêmio de

marcas com alto valor agregado e que resultam em até 50% de margens diferenciais de

lucro.

Igualmente ao de “laticínios”, nos complexos de “Café” e “Fumo” também ocorrem as

“estratégias de diferenciação”, onde as empresas líderes das indústrias finais comandam a

dinâmica de todo o complexo, mesmo não atuando em todas as etapas da cadeia.

Na indústria de alimentos, segundo LEMOS (1995, p.95-6) 33,

“...as sinergias de processos e comercialização são particularmente importantes, as quais tem dado a direção do processo de diversificação das multinacionais alimentares a nível global. Combinações diferentes desta mesma estratégia pode ser bem exemplificado pela estratégia de diversificação das duas maiores empresas de produtos alimentares diferenciados do Mundo e do Brasil, Nestlê (Suíça) e Unilever ((Reino Unido-Holanda). Mantendo sua área de especialização em alimentos, a Nestlê tem se diversificado usando duas bases tecnológicas complementares (desidratação de alimentos e processos de misturação), cujas inovações tem sido direcionadas para uma mesma área de comercialização (mercados de alto valor agregado de bebidas instantâneas e refeições prontas) em diferentes linhas de produto (laticínios, chocolates, café, sorvetes, sopas, etc). A Unilever, ao contrário, tem explorado a mesma base tecnológica (processos químicos de separação de gorduras) para diversificar sua área de especialização para outros bens de consumo não-duráveis (de margarinas e alimentos preparados para detergentes e cosméticos) com áreas complementares de comercialização (bens diferenciados de consumo não-durável)”.

Por último, a análise sobre as estratégias seguidas pelas indústrias mostra também

que as ligadas ao processamento primário “não-pertencentes aos complexos” constituem-

se de produtos agrícolas marginais do centro dinâmico do sistema agroalimentar brasileiro.

Nesse caso, incluem a massa de produtores agrícolas (de mandioca, de feijão, etc), que

devido à sua falta de articulação interindustrial “são excluídos do agribusiness”.

33 O autor distingue ainda as indústrias de processamento final em mercados “diferenciados”, não

pertencentes aos complexos e as de processamento primário em mercados homogêneos, também não pertencentes aos complexos.

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74

2.6.4. As Recentes Estratégias das Agroindústrias e da Indústria Alimentar

A avaliação do processo de reestruturação produtiva da indústria, nos anos

recentes, aponta para dois fenômenos que moldaram a agroindústria alimentar brasileira:

“Em primeiro lugar a emergência de uma clara política de incentivos à exportação de produtos agrícolas semi-processados e manufaturados. Em segundo lugar, a consolidação de um padrão de consumo interno tipicamente urbano e semelhante a aquele observado nos países desenvolvidos”. (BELIK, 1995, p.11)

Na década de 1970, o Brasil mudou sua posição de exportador de produtos

primários, como por exemplo o café, e passou a destinar-se para o mercado de óleo, farelo

de soja, suco de laranja, além da posição de destaque para as carnes processadas, tabaco

e outras. Ocorridos o crescimento e a expansão da agroindústria processadora nos anos 70

e início dos 80, não se pode afirmar que houve um processo de reestruturação nesse

segmento, no período.

A análise do processo de reestruturação produtiva da indústria agroalimentar, em

particular, pode ser enriquecida pelo exame das dos principais complexos citados

anteriormente. O trabalho de BELIK (1995) permite uma compreensão das estratégias

adotadas pelas empresas e alguns segmentos da indústria de alimentos no Brasil a partir

dos anos 80. 34

O setor de leite e laticínios, conforme já mencionado por LEMOS (1995), recebeu

um grande volume de capital estrangeiro nos últimos anos e, apesar de ser um grande

produtor mundial e considerado um mercado de grande potencial de expansão, o consumo

per capita brasileiro é ainda muito baixo (média de 90 litros/ano). Em termos regionais, há

ainda uma grande variação na produtividade por vaca (média de 3 litros/dia), coexistindo

bacias onde se alcançam altos índices de produtividade a partir de raças melhoradas, com

bolsões de ineficiência produtiva. Por seu turno, o consumo dos principais produtos

derivados do leite (principalmente queijos, manteiga, iogurtes), dadas as características de

baixa renda da população brasileira, é ainda muito pequeno.

Talvez o aspecto mais importante do setor de laticínios seja a grande presença de

empresas estrangeiras, aumentando o seu espaço de participação adquirindo redes de

34 Embora estejam posicionadas a jusante do setor agroindustrial, as considerações feitas nesta parte do

trabalho sobre as indústrias alimentares objetivam ilustrar o processo de transformação produtiva no sistema groalimentar.

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75

captação menores, normalmente controladas por cooperativas, reforçando assim a sua

presença em marca própria forte (exemplo Danone, Parmalat) e esquemas de

comercialização bem montados.

O setor de carnes de aves tem registrado evidente avanço na produção nacional,

principalmente a partir das inovações ocorridas na fase de criação, onde se conseguiu

elevar a taxa de conversão e desenvolver linhagens próprias (aves avós). Para exemplificar,

um frango que é atualmente abatido com 42 a 45 dias, pesando no máximo 1.680 gramas,

no início da década de 1970 era abatido somente com 60 dias de vida (variação na taxa de

conversão de 3,0 para 2,4). Outros aspectos que reforçam a posição da cadeia de aves

referem-se ao crescimento na logística de produção em novas áreas da fronteira agrícola,

onde vem sendo adotado o modelo do tipo quase-integração, aproveitando-se rações (pré-

mix) a partir de matérias-primas locais. Apesar de haver uma enorme elevação do consumo

nacional, o mercado de frangos basicamente atende às exportações, com produção “sob

medida”, ou seja, atendendo às exigências da demanda. Os principais mercados

compradores de aves produzidas no Brasil são o Oriente Médio e Extremo Oriente.

Por outro lado, o setor de carnes bovinas também teve expansão no país,

destacando-se os avanços tecnológicos no processamento, apesar de ainda a tecnologia

pecuária estar praticamente estagnada. Um aspecto ressaltado por BELIK (1995, p.116) é

que “devido às tendências internacionais para o consumo de carnes brancas, o setor

frigorífico nacional se adaptou e muitos frigoríficos tradicionais agora já processam também

carnes de aves. Com isto, temos convivendo lado a lado no Brasil um setor moderno com

instalações de última geração e um setor tradicional com abatedores marginais onde

inexiste controle de qualidade, e se pratica a evasão fiscal”. A expansão dos padrões do

fast-food no Brasil e a maior demanda por cortes nobres têm provocado uma melhoria na

qualidade da carne produzida (com inseminação, confinamento e maior controle fito-

sanitário) e reaparelhamento dos produtores.

Outro setor que vem passando por grandes mudanças é o de moinhos de trigo,

depois da desregulamentação geral de mais de vinte anos de controle de preços. O recente

processo de modernização está ocorrendo com forte concentração da produção. Os

grandes moinhos, com instalações modernas e alta capacidade produtiva, estão

absorvendo os moinhos pequenos e menos eficientes. Segundo ainda o autor em

referência, são poucos os moinhos que buscaram a integração produzindo também massas

ou biscoitos.

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Por fim, no setor de óleos vegetais, o processo de reestruturação produtiva foi

acelerado nos últimos anos. Dentre os principais aspectos das mudanças, está a inversão

de prioridades para o mercado mundial de soja em grãos, devido ao processo de

concorrência com outros países exportadores de farelo e óleo. No tocante ao

processamento de soja - com a maior difusão e padrões internacionais de consumo de óleo

comestível e sub-produtos para públicos diferenciados (margarinas líquidas e light, óleos

com menor teor de gordura) - este vem acompanhando as tendências internacionais do

setor. Quanto ao parque produtivo e outros aspectos relacionados ao “complexo soja”, ter-

se-á oportunidade de fazer maior referência adiante neste trabalho.

Numa avaliação recente da Associação Brasileira da Indústria de Alimentação

(ABIA), a indústria de alimentos está crescendo como nunca antes registrado. Alguns

pontos que justificam esse enorme crescimento, expressos inclusive na mídia, apontam

para o seguinte: o setor aumentou suas vendas em 12% nos últimos dois anos; os produtos

importados ocupam apenas 3% do mercado brasileiro; a população consumidora vai gastar

em média 33% mais com comida neste ano do que gastou em 1983; a venda de alimentos

nas feiras cresceu 43% no último ano.

O grande crescimento ocorreu não só na agroindústria processadora, como também

em vários segmentos da indústria de alimentos. Pelo exame dos dados sobre as principais

fusões e associações ocorridas na indústria agroalimentar, houve grandes mudanças no

panorama de propriedade nos anos 80 e 90, onde várias empresas estrangeiras

ingressaram no mercado brasileiro em associações ou simples participações em empresas

locais (Quadro 2).35

35 Cf. “O Processo de reestruturação da indústria”/ José Roberto Mendonça de Barros e Lídia

Goldenstein. In: Gazeta Mercantil, 12/ago./1996, p. A-10.

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77

Quadro 2: Brasil – Transferência de Controle na Indústria Agroalimentar: 1985-1998

SEGMENTO

EMPRESA ADQUIRENTE

EMPRESA ADQUIRIDA

MASSAS E BISCOITOS Nestlé (SUI) Bung y Born (BRA) Nabisco (EUA) United Biscuits (EUA) Borden (EUA) BSN (FRA) Parmalat (ITA) Danone (FRA)

Ailiram e Buitoni Petybon Júpiter Águia Adria e Romanini Campineira Lu Petybon Triunfo e Aymoré

TEMPEROS

CPC (BRA) McCormick e Kitano

SORVETES

Philip Morris (EUA) Kibon, Sorvane e Lacta

SUCOS E ACHOCOLATADOS

Nestlé (SUI) Fleishman Royal (EUA) M. Mars (EUA) Quaker Oats (EUA) Dreyfuss (FRA) Granada (EUA)

INSOL – Gelato Maguary Neugebauer Toddy Frutropic Brasfrutas

LATICÍNIOS

Bongrain (FRA) M. Foods (DIN) Gessy Lever (GB/HOL) Sodima (FRA) Mansur (BRA) Parmalat (ITA) BSN (FRA)

Scandia e C. Limpo Vigor Rex e Luma Lacesa (Yoplait) Flôr da Nata Teixeira, Supermo, Spam, Via Láctea, Alimba, Lavisa, Alpha, Sta. Helena, Go-Go, Mocóca e Planalto Chandler e LPC

CARNES Perdigão (BRA) Sadia (BRA) Ajinomoto (JAP) Mitsubishi (JAP) Hering (BRA) Bordon (BRA)

Chapecó, Sulina, Utinga, Mocóca e Borella Frigorífico Mouran Osato Perdigão Agroindustrial La Villete, Betinha e Contibrasil Swift-Armour

CONSERVAS Gessy-Lever (GB/HOL) Quaker Oats (EUA) Parmalat (Etti)

Cica Coqueiro Etti

CONFEITOS

Dart & Kraft (EUA)

Embaré

Legenda: BRA=Brasil; DIN=Dinamarca; EUA=Estados Unidos da América; FRA=França GB=Grã-Bretanha; HOL=Holanda; ITA=Itália; JAP=Japão; SUI=Suiça Organização: João Cleps Jr. Fontes: BELIK, 1995, p. 114; O Estado de São Paulo, 07 de abril de 1996, p.B-9. Folha de S.Paulo,

04/mar./1998, p.2-3. [Dinheiro]

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CCAAPPÍÍTTUULLOO 33

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79

CCCAAAPPPÍÍÍTTTUUULLLOOO 333

CCAARRAACCTTEERRIIZZAAÇÇÃÃOO EE AARRTTIICCUULLAAÇÇÕÕEESS DDOO SSEETTOORR AAGGRROOIINNDDUUSSTTRRIIAALL NNOO BBRRAASSIILL:: OO CCAASSOO DDAA SSOOJJAA NNOO CCEERRRRAADDOO

3.1. O MERCADO MUNDIAL DE SOJA E A PRODUÇÃO DE COMMODITIES AGRÍCOLAS

As profundas mudanças operadas nos sistemas de produção e consumo alimentar

nos países desenvolvidos têm-se refletido na reestruturação dos grupos empresariais,

induzindo sistemas de automação flexível, novas técnicas organizacionais nos distintos elos

da cadeia produtiva e avanços na biotecnologia que são incorporados a montante da

produção, gerando novos produtos.

Por sua vez, a agroindústria também tem respondido à saturação dos mercados

tradicionais de commodities, que definem a dinâmica do comércio mundial.

Algumas tendências apontadas para as mudanças e a internacionalização da

concorrência das empresas líderes nos mercados de produtos alimentares e sobretudo o

das commodities agrícolas são: a primeira, a crescente liberalização do comércio mundial

está permitindo uma importante diversificação da pauta de exportações dos países; em

segundo lugar, a mudança da trajetória da demanda alimentar – de calorias e proteínas

para vitaminas – está estimulando a inserção de novos produtos na pauta de comércio

mundial para frutas e hortícolas; e, em terceiro lugar, o comércio mundial está se

deslocando para o eixo asiático, dando potencialmente mais fôlego às commodities

(principalmente soja), apesar do maior rigor em qualidade. Cerca de 85% das importações

mundiais de soja são realizadas pelos países da Ásia e União Européia (cf. USDA).

Tabela 4 Os Maiores Países Importadores de Derivados de Soja no Mundo

(em milhões de Toneladas)

Importadores 1992/93 1993/94 1994/95 1995/96 1996/97

Holanda 5,66 5,51 6,40 6,07 6,05

Japão 4,87 4,86 4,84 4,80 4,86

Alemanha 5,53 4,91 4,95 4,75 4,75

China 0,25 0,77 1,86 2,25 3,25

Fonte: USDA, apud Revista Amanhã, abril de 1997, p. 57.

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80

Segundo dados sobre a safra mundial de grãos, divulgados pelo Departamento de

Agricultura dos Estados Unidos (USDA), a produção mundial de soja na safra 1996/97 foi

de 131,71 milhões de toneladas; a de farelo de 91,17 milhões e a produção de óleo de

soja de 20,41 milhões de toneladas. Os maiores produtores são os Estados Unidos, que

respondem por cerca de metade da produção mundial de soja; seguidos pelo Brasil (20%),

Argentina (10%) e China (9,5%), União Européia, Paraguai, entre outros (Tabela 5).

Tabela 5 Os Maiores Países Produtores Mundiais de Soja

(em milhões de toneladas) Produtores/ Safras 1992/93 1993/94 1994/95 1995/96 1996/97

EUA 59,51 50,92 68,49 59,24 64,84

Brasil 22,50 24,70 25,90 23,40 26,50

Argentina 11,35 12,40 12,65 12,64 13,50

China 10,30 15,31 16,00 13,50 12,50

Fonte: USDA, apud Revista Amanhã, abril de 1997, p. 57.

A soja brasileira teve rápida expansão no comércio internacional: em 1997, a

exportação de farelo já era superior, enquanto que a de óleo equiparava-se, em termos de

quantidade, ao exportado pelos Estados Unidos, que dominava até poucos anos antes o

comércio mundial de soja e derivados.

Tabela 6 Os Maiores Países Exportadores de Soja e Derivados no Mundo

(em milhões de toneladas)

Exportadores 1992/93 1993/94 1994/95 1995/96 1996/97

EUA 27,23 21,58 30,12 29,07 31,50

Brasil 12,32 17,09 15,80 16,47 17,10

Argentina 10,41 11,28 10,73 11,85 12,40

Índia 2,01 2,20 1,58 2,50 2,20

Paraguai 1,25 1,20 1,45 1,50 1,65

China 0,70 2,15 1,67 0,32 0,30

Fonte: USDA, Revista Amanhã, abril de 1997, p. 57.

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81

O Brasil é o segundo maior produtor e exportador mundial de soja do mundo, depois

dos Estados Unidos. A área plantada de soja brasileira teve pouco crescimento nos últimos

anos, passando de 8,7 milhões de hectares em 1979/80 (IBGE) para cerca de 11,3 milhões

de hectares na safra 1996/97; enquanto que produção atingiu 26,5 milhões de toneladas no

ano-safra 1996/97 (Tabela 6).

3.2. PERSPECTIVAS DE CRESCIMENTO DA PRODUÇÃO DE GRÃOS NO CERRADO E A COMPETITIVIDADE DA SOJA BRASILEIRA

O Brasil pode passar os Estados Unidos em volume de produção de soja nos

próximos cinco anos. Projeta-se um aumento dos atuais 30,7 milhões de toneladas para

mais de setenta milhões no ano de 2003, duplicando a atual área, um volume considerado

superior à média histórica norte-americana, que atingiu o limite de 74 milhões de

toneladas.36

Essa projeção de crescimento, segundo a avaliação da EMBRAPA, deverá ser

respondida com o desenvolvimento do potencial produtivo de novas áreas do cerrado

brasileiro. Além disso, o cenário mundial futuro da produção de grãos aponta para a

eficiência dos mercados físicos nos países produtores.

Por outro lado, vários aspectos interferem para grande competitividade da produção

e mercado mundial de grãos. Nos Estados Unidos, por exemplo, um dos fatores favoráveis

da competitividade refere-se ao fato de os plantios serem realizados nas planícies centrais

do meio-oeste norte-americano, na região do “corn-belt” ou cinturão do milho (Figura 6).

Isso se justifica tanto pelas condições físico-naturais da região produtora como pelas altas

tecnologias presentes nos sistemas de produção e pela eficiente estrutura logística de

distribuição de grãos daquele país.

Para ilustrar outros aspectos da competitividade, basta comparar os índices de

produtividade média de soja e milho norte-americana com a brasileira: 7.500 kg/ha de milho

nos Estados Unidos, contra 2.700 kg/ha no Brasil e 2.700 kg/ha de soja nos Estados

Unidos, contra 2.100 kg/ha no Brasil.

36

Segundo informação da ABIOVE. Cf. Gazeta Mercantil, 28/01/98, p. C-7 [Agribusiness].

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130° 100°110°120°

50°

90° 80° 70° 60°

50°

40°

30°

40°

30°

120° 110°

170°60°

CANADÁM

ÉXICO

ESTADOS UNIDOS

D Á

Em 1000Toneladas

45.000

35.000

25.000

15.000

0

Soja

Milho

Golfo doMexico

Oce

ano

Atla

ntic

o

WA

MT

ID

OR

WY

ND

SD

CA

NV

UTCO

AZ NMOK

TX

KS

NE

LA

AR

MO

IA

MN

500 1000 km0200 400 600 800

MSAL GA

SC

NCTN

KYVA

WYIL

INOH

PA

WI

MI

ME

NYMA

NHVT

CT

NJ

ML DE

Figura 6

N A C A

PRODUÇÃO DE SOJA E MILHO NOS PRINCIPAIS ESTADOS

NORTE-AMERICANOS NA SAFRA DE 1996, EM MIL TONELADAS

ESTADO SOJA MILHO

(IA) IOWA 11.315.664 46.756.717

(IL) ILLINOIS 10.856.424 39.972.216

(MN) MINNESOTA 6.101.423 23.642.336

(IN) INDIANA 5.542.988 18.243.038

(OH) OHIO 4.276.711 8.307.134

(MO) MISSOURI 4.078.047 9.663.762

OUTROS

(KS) KANSAS

(SD) DAKOTA DO SUL

(NE) NEBRASKA

2.470.505

14.601.355

2.013.850

3.686.16310.069.254

54.237.496

9.720.912

32.300.533

ESTADOS UNIDOS: PRODUÇÃO DE SOJA E MILHO NOS PRINCIPAIS ESTADOS DO CINTURÃO DO MILHO - 1996

252.913.39864.943.130TOTALFONTE: USDA (1996), apud SOUSA E MARQUES (1997)

ALASKAHAWAI

2.500

5.000

10.000

20.000

30.000

40.000

ORGANIZAÇÃO: João Cleps Jr.DIGITALIZAÇÃO: Celso A. Siqueira - 1998

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83

Tabela 7 :Brasil e EUA – Participação de cada Modal de Transporte no Volume Total de Grãos Movimentados

Tipo de Modal

Brasil (%)

Estados Unidos (%)

Rodoviário

Ferroviário

Hidroviário

81,49

16,14

2,37

28,3

48,8

22,9

Total 100 100

Fontes: GEIPOT/ Ministério dos Transportes. SOUSA e MARQUES, 1997, p.14.

Nos EUA, há predominância do transporte de grãos por via ferroviária e grande

utilização do sistema fluvial, principalmente para os produtos de exportação, este último

formado pela bacia do rio Mississipi e seus principais afluentes, Missouri e Illinois,

totalmente navegável, indo desembocar no Golfo do México, principal porto de exportação

de grãos. SOUSA e MARQUES (1997, p.13) comparam os diferenciais de custo de transporte

de granéis agrícolas. O frete entre Illinois e o Golfo, cuja distância é de aproximadamente

1.200 km, custa cerca de US$ 7,50/ton pela hidrovia, ou US$ 11,00/ton quando feito pela

ferrovia. No Brasil, o frete rodoviário para uma distância de aproximadamente 1.100 km, por

exemplo entre Montividiu (GO) e Santos (SP) custava em maio de 1997 cerca de US$ 40,00

por tonelada.

CASTRO (1993) faz uma comparação das rendas líquidas em fazendas de soja nos

Estados Unidos, Brasil e Argentina e chega a resultados interessantes sobre as condições

de competitividade da região Centro-Oeste do Brasil (Tabela 8).

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Tabela 8 : Comparação das Rendas Líquidas nas Fazendas de Soja: EUA, Brasil e Argentina em 1990/91

(em US$/ ha)

ITEM

EUA

BRASIL

ARGENTINA Corn-Belt Delta Sul C-Oeste

Despesas de Caixa Sementes Fertilizantes Defensivos Operações Combustíveis e Energia Reparações Secagem Serviços Técnicos Trabalho Assalariado Miscelânea Total Custos Variáveis

Overhead da Fazenda Impostos e Seguros Juros Total Custos Fixos

Despesas Totais Preço de Mercado (US$/t) Rendimento (t/ha.) Renda Líquida Receitas (por ha.) Total de Despesas (p/ha.)

Renda Líquida Total

(por hectare)

13 16 6 12

14 13 5 3

10 15 8 11 0 0 0 0 3 4 - -

59 73 14 13 18 12 18 14

50 39

109 113 213 209 2,4 1,8

516 274 258 201

258 173

14 13 17 11 34 28

- - 23 21 3 2 3 3 2 2 5 4 2 2

103 86 6 6 8 7

10 9

24 22 127 108 200 175 1,9 2,1

380 368 239 225

141 143

12 0

17 - 9 - - - 7

23

69 11 17 11

40 108 190 2,3

437 249

188

Fonte: CASTRO, 1993, p.63.

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85

Os resultados mostram despesas totais muito semelhantes entre Estados Unidos,

Brasil e Argentina, sendo que o Sul do Brasil encontra-se em situação desvantajosa em

termos de competitividade, enquanto que a Região Centro-Oeste compara-se com a

Argentina. Segundo o estudo, é o rendimento por hectare a variável-chave da ampliação da

competitividade. As diferenças de custos de produção entre esses países devem ser

buscadas em outros fatores, que contribuem para a redução da receita líquida brasileira,

tais como os fretes médios até o porto, os impostos e a despesa portuária (CASTRO, 1993,

p. 64).

Por outro lado, nesses últimos anos, para produtores norte-americanos, o cultivo de

milho tem sido mais rentável, com produção que supera largamente a de soja (Figura 6). A

maior precisão e previsão da agricultura faz com que os agricultores definam as suas áreas

de cultivo de acordo com a demanda internacional pelo produto, optando pelo milho, uma

vez que a soja atingiu seu limite de produtividade e estabilizou-se em termos de área

cultivada.37

Quanto às perspectivas da produção de soja no Brasil, o cenário tem sido anunciado

e, por vezes, antecipado por muitos autores:

“Deve-se, portanto, esperar uma estagnação global dessa cultura no sul, em favor dos grandes projetos de colonização no Centro-Oeste do país: o governo brasileiro, aliás, está pronto a ceder diversas centenas de milhares de hectares aos japoneses, no cerrado, para o cultivo da soja e do milho para exportação. Contudo, é cada vez maior o número de vozes que se erguem, especialmente nos sindicatos agrícolas, para voltar a trazer à discussão o modelo de intensificação da agricultura, que marginaliza milhões de camponeses, acelera a concentração da propriedade da terra e sequer garante ao país sua independência alimentar. Ainda que a idade do ouro da soja pareça estar no fim, no sul do país, o peso da dívida externa e a poderosa capacidade de trituração exigem sua manutenção entre os grandes produtos agroexportadores do Brasil. Resta saber por quanto tempo poderá durar um modelo de desenvolvimento econômico que se faz às custas de grande parte da população.” (BERTRAND et al., 1987, p.119)38

37 Cf. Gazeta Mercantil, 28/01/98, p.C-7 [Agribusiness]. 38 Prova dessa afirmação é o Documento para Discussão produzido por uma equipe de pesquisadores do

Fundo Mundial para a Natureza (WWF), em conjunto com a Sociedade de Pesquisas Ecológicas do Cerrado, (PRÓ-CER) em 1995, sobre os impactos do processo de ocupação espacial do cerrado brasileiro. Também, Organizações Não-Governamentais (ONGs) têm sido constituídas em favor da proteção dos pequenos agricultores e do meio ambiente no cerrado, como a Animação Pastoral e Social do Meio Rural (APR) e a Ekip Naturama, ambas ligadas também ao movimento de trabalhadores rurais sem terra e assentamentos de Reforma Agrária no Triângulo Mineiro. Sobre a questão da representação de interesses na agricultura do cerrado mineiro, ver ORTEGA (1997).

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86

3.3. A PRODUÇÃO DE GRÃOS NO BRASIL E AS REGIÕES DA SOJA

Desde 1919, quando foi introduzida no Brasil no município de Santa Rosa (RS), a

soja tornou-se cada vez mais o produto cultivado em qualquer parte do território nacional.

Nos anos 60 e 70, a expansão da produção deu-se a partir do Rio Grande do Sul para as

regiões do Oeste de Santa Catarina e Norte do Paraná. Na década de 80, a soja continuou

sua expansão pelo Oeste do Paraná, avançou pelo Estado de Mato Grosso do Sul, Minas

Gerais, Goiás, Mato Grosso, revolucionando enfim a agricultura na região dos Cerrados.

Mais recentemente, a soja atingiu áreas da Região Norte e Nordeste do país, em áreas

específicas do estado do Amazonas, Tocantins, Maranhão, Bahia, entre outros.

A Região Centro-Oeste do Brasil é a que melhor reflete o crescimento da exploração

agrícola do cerrado nas duas últimas décadas. Esse crescimento da produção agrícola da

região foi extraordinário em praticamente todos os cultivos, com destaque para os produtos

ligados ao mercado agroindustrial e de commodities, como a soja, o milho e a cana-de

açúcar. Apenas para ilustrar, entre 1980 a 1995, a produção de soja teve uma expansão de

6,5 vezes, passando de cerca de 1,5 milhões de toneladas em 1980 para mais de 10,0

milhões de toneladas em 1995. A produção de milho mais que quadruplicou, de 1,5

milhões de toneladas em 1980 para 6,2 em 1995. O crescimento da produção de cana-de-

açúcar foi ainda mais expressivo, cerca de 15,5 vezes depois de 1980, alcançando quase

20 milhões de hectares em 1995 (Tabela 9).

De acordo com CASTRO e FONSECA (1995), a produção agrícola da região Centro-

Oeste cresceu à frente da produção nacional, sobretudo as culturas ligadas ao complexo

grãos-carnes, como a soja e o milho. O milho chegou próximo de 3,5 vezes mais que a

média registrada no país entre 1980 a 1989 (cerca de 9,4% ao ano, contra 2,7% do

restante do Brasil) e a soja, indiscutivelmente, apresentou crescimento explosivo: a sua

taxa média de crescimento ao ano foi de 16,5%, enquanto a do país ficou em torno de 4,7%

no período. Além disso, essa vigorosa expansão agrícola foi sustentada por expressivos

ganhos de produtividade em quase todos os produtos, graças ao potencial ainda não

esgotado de modernização agrícola das áreas de cerrados centrais e do oeste da região.39

Por outro lado, apesar de ser considerado produto de grande importância para a

abertura de novas áreas de cerrado no Centro-Oeste, o cultivo de arroz apresentou

situação diferente no período em questão, com taxas negativas e maior decréscimo a partir

39 Cf. CASTRO e FONSECA, 1995, p. 3.

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87

dos anos 80. Trata-se de um processo de reorientação agrícola onde, com a consolidação

agrícola, o cultivo do arroz deixa de ser um produto utilizado como abertura de áreas de

cerrados e cede espaço para o cultivo de grãos ligados ao complexo agroindustrial.

Tabela 9 Evolução da Produção Agrícola da Região Centro-Oeste (*)

(em toneladas)

PRODUTOS/

Anos

1970

1975

1980

1985

1990

1995

Soja

Milho

Arroz

Feijão

Cana-de-açúcar

Trigo

Café

Algodão

Tomate

Mandioca

24.568

768.379

1.273.621

121.524

297.098

1.713

7.164

114.540

15.381

348.468

250.160

1.315.983

2.042.573

107.340

423.629

5.933

20.709

81.581

20.026

194.584

1.509.861

1.563.805

2.687.178

118.054

1.262.862

78.207

47.003

106.385

33.912

195.806

5.662.786

2.435.804

1.970.563

150.965

10.941.425

318.540

86.309

244.184

100.774

1.147.793

6.441.323

3.108.401

914.716

187.111

14.139.418

205.250

107.962

190.953

347.477

1.068.916

10.008.110

6.235.674

1.423.171

188.498

19.576.648

27.293

26.251

350.280

257.377

1.192.418

(*) Incluem os estados de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás e Distrito Federal. Organização: João Cleps Jr. Fonte: FIBGE - Censos Agropecuários de 1970, 1975, 1980 e 1985.

FIBGE - Produção Agrícola Municipal – SIDRA/97 (1995). Anuário Estatístico do Brasil, IBGE, 1991.

Outras culturas, porém, merecem ainda maior destaque, conforme pode ser

observado nos dados de evolução da produção agrícola na região Centro-Oeste nos

últimos vinte anos. O crescimento da produção foi extraordinário para as culturas novas na

região, como a da cana-de-açúcar, café, trigo e tomate. Todos esses produtos têm o seu

desenvolvimento associado aos programas oficiais de incentivo agrícola. Por sua vez, a

produção de mandioca registrou uma notável expansão e, em que pesem os projetos

levados a efeito por algumas empresas na região, liga-se certamente à agricultura de

pequenos produtores.

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88

3.3.1. As Regiões da Soja no Brasil

Como se viu antes com o exemplo do Centro-Oeste brasileiro, em pouco mais de

vinte anos a soja passou a ser a cultura de maior importância tanto na agricultura como na

agroindústria, ocupando o segundo lugar depois do milho na produção nacional de grãos,

sendo ainda o maior segmento exportador.

As mudanças de hábitos de consumo – principalmente do óleo de cozinha – e no

aumento da demanda de outros produtos derivados, como o farelo utilizado na ração

animal, foram os grandes responsáveis por sua expansão.

Nesses anos, a soja deslocou-se dos estados do Sul do país, onde era considerada

tradicional no cultivo, e espalhou-se para as novas regiões de grande potencial produtivo.

Nesse processo, a cultura de soja buscou as melhores terras, dotadas de infra-estrutura

básica (estradas, energia elétrica e proximidade geográfica dos grandes centros e das

fontes de insumos), como as regiões do cerrado, o que possibilitou a produção a baixo

custo. A expansão de novos cultivos para as fronteiras agrícolas nos domínios do Cerrado e

da Amazônia, como em Rondônia e sul do Amazonas, o leste do Pará e o oeste do

Tocantins e o Maranhão, são ilustrativos desta nova dinâmica em espaços onde nunca se

pensava o cultivo intensivo de grãos.

O impulso da produção nessas regiões tem resultado na instalação de indústrias de

óleos, farelos, rações, tanto por empresas agroindustriais nacionais como por cooperativas

e filiais de multinacionais do comércio de grãos, reconfigurando as relações tanto em níveis

regionais como também com os mercados nacional e internacional.

Analisando, grosso modo, a configuração espacial da distribuição das explorações

de soja no Brasil, é possível identificar quatro regiões produtoras: 40

1) Região Tradicional: formada pelos Estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina,

Paraná e São Paulo;

2) Região de Expansão Consolidada: compreende os Estados de Minas Gerais, Goiás,

Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Distrito Federal;

3) Região de Expansão Recente: abrange a Bahia, Piauí e Maranhão;

40 Esta delimitação geográfica é estabelecida pela Associação Brasileira das Indústrias de Óleos

Vegetais (ABIOVE).

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89

4) Região de Potencial de Expansão: formada por Rondônia, sul do Amazonas, leste do

Pará, sul do Maranhão e leste do Tocantins.

Esse deslocamento da soja para as novas fronteiras agrícolas não implicou no recuo

da expansão das áreas antigas, que continuaram com produção expressiva. No entanto,

tanto nas regiões “tradicionais” como nas “consolidadas”, a produção tem requerido uma

maior eficiência produtiva dos agricultores, com índices maiores de incorporação de

tecnologia e nível de produtividade, para conseguir rentabilidade. A tabela sobre a

produção de soja nos principais estados produtores permite ilustrar o montante da produção

atual e os diferenciais de produtividade alcançados pelas regiões em referência.

Tabela 10 Produção de Soja nos Principais Estados Brasileiros – Safra 1996/97

ESTADOS

Área (Hectares)

Produção

(Toneladas)

Produtividade (Kg/hectares)

Bahia 456.550 1.013.541 2.220 Distrito Federal 34.620 83.088 2.400 Goiás 1.016.388 2.451.163 2.411 Maranhão 129.150 257.016 1.990 Mato Grosso 2.066.589 5.397.037 2.611 Mato Grosso do Sul 883.386 2.175.116 2.462 Minas Gerais 502.235 1.110.822 2.212 Paraná 2.480.000 6.525.000 2.631 Rio Grande do Sul 2.950.930 4.786.015 1.622 Santa Catarina 233.440 542.023 2.322 São Paulo 574.900 1.408.500 2.450 Tocantins 14.814 18.163 1.226

TOTAL

11.343.002

25.767.484

2.271

Org. João Cleps Jr. Fonte: FIBGE – Levantamento Sistemático da Produção Agrícola/ Sidra 97.

O desempenho da soja pode ser melhor entendido quando observada a situação de

cada região produtora, notadamente pelo movimento da produção das novas áreas no

cerrado vis a vis as áreas tradicionais de produção de grãos no sul do País.

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90

3.3.1.1. A Região Tradicional

Os gráficos sobre a evolução do cultivo da soja nas regiões tradicionais ilustram que

houve uma estabilização da área cultivada nos principais estados produtores do Centro-Sul

do país, como o Rio Grande do Sul, Paraná, Santa Catarina e São Paulo. No Rio Grande

do Sul a soja já havia alcançado alto patamar de produção desde os meados dos anos 70,

quando chegou a cinco milhões de toneladas e continuou nesse nível até a safra agrícola

de 1996/97. Note-se que a área manteve-se a mesma, em torno de três milhões de

hectares, indicando uma relativa estabilização na produção através da manutenção e

elevação da produtividade, chegando aos anos 90 em torno de duas mil toneladas por

hectare.

Gráfico 1: Estado do Rio Grande do Sul – Cultura de Soja Evolução da Área Plantada, Produção e Rendimento Médio Ano-Safra 1969-70 a 1996-97

0

1.000.000

2.000.000

3.000.000

4.000.000

5.000.000

6.000.000

7.000.000

70 71 72 73 74 75 76 77 78 79 80 81 82 83 84 85 86 87 88 89 90 91 92 93 94 95 96 97A N O S

Área (ha) eProdução(T)

0

500

1.000

1.500

2.000

2.500

Kg/ ha

Área (ha) Produção (T) Rendimento (Kg/ha)

Organização: João Cleps Jr. Fonte: IBGE/ CONAB. IBGE/SIDRA – Produção Agrícola Municipal (1990-1997).

Não cabe aqui a avaliação da dinâmica interna da soja naquele estado tradicional,

porém é digno de registro que o cultivo encontra-se associado às forças modernas de

produção ligadas aos complexos agroindustriais, principalmente, no Planalto Basáltico , na

alta bacia do rio Uruguai, em terras favoráveis ao cultivo comercial de grãos.

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O estado de Santa Catarina, o de menor expressividade na produção de soja deste

conjunto da “região tradicional”, é o que tem apresentado maior variação na produção total

depois de 1980, quando registrou mais de setecentas mil toneladas numa área explorada

de pouco mais de quinhentos mil hectares, com produtividade ficando abaixo de 1.500

ton/hectares (ao longo da década de 80). A partir do início dos anos 90, há uma elevação

considerável da produtividade, ultrapassando dois mil kg/hectare de rendimento médio,

porém numa área cultivada que caiu pela metade em relação aos anos 80, para cerca de

200 mil hectares. O oeste do Estado é a maior região produtora de soja, devido à sua

ligação ao complexo grãos-carnes.

Gráfico 2 : Estado de Santa Catarina – Cultura de Soja Evolução da Área Plantada, Produção e Rendimento Médio: Ano-Safra 1969-70 a 1996-97

0

100.000

200.000

300.000

400.000

500.000

600.000

700.000

800.000

70 71 72 73 74 75 76 77 78 79 80 81 82 83 84 85 86 87 88 89 90 91 92 93 94 95 96 97 Anos

Área (ha) e Produção (T)

0

500

1.000

1.500

2.000

2.500

Kg/ ha

Área (ha) Produção (T) Rendimento (Kg/ha)

Organização: João Cleps Jr.

Fonte: IBGE/ CONAB. IBGE/SIDRA – Produção Agrícola Municipal (1990-1997).

O Paraná é o maior produtor de soja do Brasil, com mais de 6,5 milhões/ton no ano,

safra 1996/97. A área cultivada no estado tem praticamente se mantido a mesma desde os

anos 70, porém com mudanças quanto à dinâmica interna das regiões produtoras, onde a

soja, cujo cultivo se iniciou no norte do estado, deslocou-se para o oeste e sudoeste

paranaense depois da década de 70. Registra-se no Paraná, igualmente aos demais

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92

estados da região, uma notável expansão da produtividade da soja nos anos 90, quando

atinge 2.500 toneladas por hectare, com reflexos na elevação crescente da produção para

patamares acima de cinco milhões de toneladas.

Gráfico 3 : Estado do Paraná – Cultura de Soja Evolução da Área Plantada, Produção e Rendimento Médio: Ano-Safra 1969-70 a 1996-97

0

1.000.000

2.000.000

3.000.000

4.000.000

5.000.000

6.000.000

7.000.000

70 71 72 73 74 75 76 77 78 79 80 81 82 83 84 85 86 87 88 89 90 91 92 93 94 95 96 97A N O S

Área (ha) eProdução (T)

0

500

1.000

1.500

2.000

2.500

3.000

Kg/ ha

Área (ha) Produção (T) Rendimento (Kg/ha)

Organização: João Cleps Jr.

Fonte: IBGE/ CONAB. IBGE/SIDRA – Produção Agrícola Municipal (1990-1997).

Por sua vez, o estado de São Paulo reflete a mesma dinâmica da região produtora

“tradicional”, com a estabilização da área cultivada (entre 500 e 600 mil hectares), porém

com relativo crescimento da produção e produtividade.

Sumariando o conjunto da “região tradicional”, importa ressaltar que as

agroindústrias do complexo soja tiveram a sua instalação inicial com capacidade produtiva

de grande porte, o que em muitos casos gerou capacidade ociosa dessas indústrias de

esmagamento e mesmo uma reestruturação agroindustrial, com foco ao segmento grãos-

carnes.

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0

N

500 1000 km

FIGURA 7

FONTE: Adaptacao ABIOVE / Estatísticas do Complexo Soja - 1997 Digitalizacao: Celso A. Siqueira

BRASIL: AREAS DE PRODUCAO DE SOJA - 1997

Areas tradicionais

Areas de expansao consolidada

Dominio do Cerrado

~,

Areas de expansao recente

AREAS PRODUTORAS DE SOJA

,~

Organizacao: Joao Cleps~

~

,

,

~

~

e de potencial

PEPB

RNCE

PI

AL

SE

MAPA

MTTO

BA

MG

GO

APRR

AM

AC RO

MSES

RJSP

PR

SC

RS

DF

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94

Gráfico 4: Estado de São Paulo – Cultura de Soja Evolução da Área Plantada, Produção e Rendimento Médio: Ano-Safra 1969-70 a 1996-97

0

200.000

400.000

600.000

800.000

1.000.000

1.200.000

1.400.000

1.600.000

70 71 72 73 74 75 76 77 78 79 80 81 82 83 84 85 86 87 88 89 90 91 92 93 94 95 96 97A N O S

Área (ha) eProdução (T)

0

500

1.000

1.500

2.000

2.500

3.000

Kg/ ha

Área (ha) Produção (T) Rendimento (Kg/ha)

Organização: João Cleps Jr. Fonte: IBGE/ CONAB.

IBGE/SIDRA – Produção Agrícola Municipal (1990-1997).

3.3.1.2. Região de Expansão Consolidada e as Novas Fronteiras da Soja nos Cerrados

Quais os componentes que envolvem a expansão dos cultivos e o deslocamento

das agroindústrias esmagadoras de soja do Sudeste e Sul para as regiões dos cerrados no

Centro-Oeste? Segundo CASTRO e FONSECA (1995, p.2), o deslocamento da produção de

grãos para a região Centro-Oeste antecedeu o da agroindústria. Como poderá observar-se

nas tabelas e gráficos seguintes, o ritmo intenso de crescimento da produção de grãos

ocorreu de forma quase simultânea ao aumento da capacidade de implantação de infra-

estrutura agroindustrial.

A evolução dos preços e o impulso do comércio internacional da soja na década de

90 conferem uma nova dinâmica para a região do cerrado brasileiro que, nas últimas safras

agrícolas brasileiras, registrou um aumento na produção de grãos, conforme atestam os

dados da cultura da soja em cada estado produtor. Na Região Centro-Oeste, a produção de

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95

grãos oleaginosos mereceu maior destaque, com o grande impulso ocorrido a partir da

década de 1980 (Gráficos 5, 6, 7, 8, 9 e 10).

Gráfico 5 : Estado de Mato Grosso do Sul - Cultura de Soja Evolução da Área Plantada, Produção e Rendimento Médio : Ano-Safra 1969-70 a 1996-97

0

500.000

1.000.000

1.500.000

2.000.000

2.500.000

3.000.000

70 71 72 73 74 75 76 77 78 79 80 81 82 83 84 85 86 87 88 89 90 91 92 93 94 95 96 97

Área (ha) eProdução (T)

0

500

1000

1500

2000

2500

3000

Kg/ ha

Área (ha) Produção (T) Rendimento (Kg/ha)

Organização: João Cleps Jr.

Fonte: IBGE/ CONAB. IBGE/SIDRA – Produção Agrícola Municipal (1990-1997).

No estado de Mato Grosso do Sul toda a década de 1980 foi assinalada por um

aumento crescente da produção, entrando nos anos 90 com relativa estabilização. Uma

grande queda do volume de produção verifica-se depois de 85 e atingiu o maior volume em

1989, com 2.850 mil toneladas. Porém, nos anos 90, a produção sofreu uma maior queda,

para algo em torno de dois milhões de toneladas, refletindo uma queda na produtividade,

uma vez que a área plantada permaneceu pouco alterada, próxima de um milhão de

hectares.

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96

Gráfico 6 : Estado de Mato Grosso – Cultura de Soja Evolução da Área Plantada, Produção e Rendimento Médio: Ano-Safra 1977-78 a 1996-97

0

1.000.000

2.000.000

3.000.000

4.000.000

5.000.000

6.000.000

78 79 80 81 82 83 84 85 86 87 88 89 90 91 92 93 94 95 96 97Anos

Área (ha) e Produção (T)

0

500

1000

1500

2000

2500

3000

Kg/ ha

Área (ha) Produção (T) Rendimento (Kg/ha)

Organização: João Cleps Jr.

Fonte: IBGE/ CONAB. IBGE/SIDRA – Produção Agrícola Municipal (1990-1997).

Nos estados onde a cultura da soja teve um avanço mais recente, como em Mato

Grosso e Goiás, o maior crescimento da produção ocorreu a partir dos meados da década

de 80. Mato Grosso tornou-se o líder da região Centro-Oeste, com um volume de produção

que no período 1989-93 alcançou em média 3,5 milhões/ton e chegou ao limite máximo em

1994, com uma produção em torno de 3,9 milhões/ton. É importante assinalar que tal

crescimento foi essencialmente comandado pelos ganhos de produtividade, próximos das

três mil kg/ha, muito superior aos outros estados, que alcançaram pouco mais de duas mil

kg/ha.

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97

Gráfico 7: Estado de Goiás – Cultura de Soja Evolução da Área Plantada, Produção e Rendimento Médio: Ano-Safra 1969-70 a 1996-97

0

500.000

1.000.000

1.500.000

2.000.000

2.500.000

3.000.000

70 71 72 73 74 75 76 77 78 79 80 81 82 83 84 85 86 87 88 89 90 91 92 93 94 95 96 97 anos

Área (ha) e Produção (T)

0

500

1000

1500

2000

2500

Kg/ ha

Área (ha) Produção (T) Rendimento (Kg/ha)

Organização; João Cleps Jr.

Fonte: IBGE/ CONAB. IBGE/SIDRA – Produção Agrícola Municipal (1990-1997). A produção agrícola moderna no território goiano abrange a porção centro-sul do

estado, que corresponde ao tradicional “Mato Grosso” de Goiás, incluindo também o

sudoeste (Rio Verde e Jataí) e o sul (vale do Meia-Ponte até Itumbiara, na divisa com Minas

Gerais, através do rio Paranaíba). A incorporação dessa extensa área do cerrado às

atividades agrícolas modernas pelo Programa de Desenvolvimento dos Cerrados

(POLOCENTRO) fez dessa região uma grande produtora de grãos.41

No Distrito Federal a introdução da soja deu-se a partir dos recursos do

POLOCENTRO, no final da década de 70. Assim, não só o Distrito Federal, como os

municípios do Entorno de Brasília beneficiaram-se desses incentivos e incorporaram

grandes áreas à exploração de grãos nos anos 80. Nessa região, os órgãos federais

41 Como será visto adiante, a produção de soja desta região do Sul de Goiás é significativa, e se articula

na organização regional do Brasil e com o Estado de Minas Gerais como importante fornecedora de grãos para a exportação e processamento agroindustrial.

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98

vinculados às pesquisas agrícolas, com seus núcleos experimentais, testaram as

tecnologias novas para o aproveitamento agrícola de áreas de solos pobres como os do

cerrado.

Gráfico 8 : Distrito Federal - Cultura de Soja Evolução da Área Plantada, Produção e Rendimento Médio: Ano-Safra 1977-78 a 1996-97

0

20.000

40.000

60.000

80.000

100.000

120.000

140.000

78 79 80 81 82 83 84 85 86 87 88 89 90 91 92 93 94 95 96 97 Anos

Área (ha) e Produção (T)

0

500

1000

1500

2000

2500

3000Kg/ ha

Área (ha) Produção (T) Rendimento (Kg/ha)

Organização: João Cleps Jr. Fonte: IBGE/ CONAB. IBGE/SIDRA – Produção Agrícola Municipal (1990-1997).

A região de Barreiras, na Bahia, é o principal pólo de produção de grãos da região

de expansão agrícola recente, sendo que os plantios de soja cresceram na década de 80 a

partir do acordo de cooperação entre o Brasil e o Japão (Programa de Cooperação Nipo-

Brasileira para o Desenvolvimento dos Cerrados - PRODECER). A área ocupada pela soja

na Bahia cresceu de 1.900 hectares no ano-safra 1979/80 para cerca de 456.500 hectares

em 1996/97, atingindo o volume de produção de mais de um milhão de toneladas (Gráfico

9). A soja dessa região, até 1985, tinha como destino as indústrias de processamento e

exportadoras de outros Estados, como as de Uberlândia (MG), Vitória (ES), Fortaleza (CE),

Petrolina (PE), São Luís (MA), Teresina (PI) e Mairinque (SP), além dos portos de Santos

(SP) e Paranaguá (PR). Em 1989 a primeira fábrica de óleos – da Olvebasa - foi

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99

inaugurada em Barreiras, com capacidade de processamento de 950 ton/dia (180 mil

toneladas de soja anuais).42

Gráfico 9 : Estado da Bahia - Cultura de Soja Evolução da Área Plantada, Produção e Rendimento Médio: Ano-Safra 1983-84 a 1996-97

0

200.000

400.000

600.000

800.000

1.000.000

1.200.000

84 85 86 87 88 89 90 91 92 93 94 95 96 97 Anos

Área (ha) e Produção (T)

0

500

1000

1500

2000

2500

Kg/ ha

Área (ha) Produção (T) Rendimento (Kg/ha)

Organização: João Cleps Jr.

Fonte: IBGE/ CONAB. IBGE/SIDRA – Produção Agrícola Municipal (1990-1997).

Por sua vez, os espaços em que a soja teve sua expansão bem mais intensa, a

partir do final dos anos 80 e nos anos 90, situam-se ao norte do Paralelo 13°, que

compreende basicamente a denominada região de potencial de crescimento (ABIOVE),

nas novas áreas recentemente incorporadas à produção de grãos pelos incentivos oficiais e

iniciativas privadas, localizadas no chamado Corredor Norte de Exportação, formado pelos

estados do Maranhão, Pará, Piauí e Tocantins.

No Maranhão, o principal pólo produtor de soja é a região de Gerais de Balsas, no

extremo sul do Estado, onde se encontra em fase de implantação um projeto do

42 Cf. SANTOS FILHO, 1989, p. 115. Outra fábrica de esmagamento de óleo - a CEVAL – foi

instalada em Mimoso (Barreiras), com capacidade de processamento de 1.800 ton/dia.

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100

PRODECER III pela Cooperativa Batavo Norte. Os novos cultivos de grãos nessa região

têm sido impulsionados pela construção do Corredor Centro-Norte, que faz a ligação da

hidrovia Tocantins-Araguaia com a ferrovia Norte-Sul e a Estrada de Ferro Carajás, até o

porto da Ponta da Madeira, em São Luís.43

Gráfico 10 :Estado do Maranhão – Cultura de Soja Evolução da Área Plantada, Produção e Rendimento Médio: Ano-Safra 1983-84 a 1996-97

0

50.000

100.000

150.000

200.000

250.000

300.000

1984 85 86 87 88 89 90 91 92 93 94 95 96 97 Anos

Área (ha) e Produção (T)

0

500

1000

1500

2000

2500

Kg/ ha

Área (ha) Produção (T) Rendimento (Kg/ha)

Organização: João Cleps Jr.

Fonte: IBGE/ CONAB. IBGE/SIDRA – Produção Agrícola Municipal (1990-1997).

No Tocantins, a principal zona produtora situa-se a leste do Estado, principalmente

no município de Pedro Afonso, que integra a terceira fase do Programa de Cooperação

Nipo-Brasileira para o Desenvolvimento dos Cerrados (PRODECER III). A primeira safra de

soja foi colhida no ano de 1997 pelos produtores selecionados pela CAMPO – Companhia

de Promoção Agrícola – e a Cooperativa Mista São João da Boa Vista (SP).44

Novas regiões da produção de grãos têm sido incorporadas, nos anos 90, nos

estados de Mato Grosso, Rondônia, Amazonas e Acre. Essa nova fronteira situa-se na área

de influência do corredor de transporte multimodal Noroeste e a expansão dos novos

43 Sobre a produção e a rota de exportação de soja desta região ver Revista Globo Rural, n 142,

ago./1997, p.35; Gazeta Mercantil, 30, 31/mai. e 01/jun./1997, p. C-6. 44 Idem. Revista Globo Rural, n 142, ago./1997, p.32.

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101

cultivos nessa ampla região vem ocorrendo sobretudo na Chapada dos Parecis, numa área

potencial que soma cerca de cem milhões de hectares nesses quatro estados.45 A

incorporação dessas áreas conta com forte apoio da pesquisa agrícola para adaptar novas

variedades de plantas para esta região, desenvolvidas pela EMBRAPA e pela Fundação

Mato Grosso. A soja e outras culturas foram aí introduzidas por empresários gaúchos e

paranaenses.

Em Mato Grosso, por exemplo, a parte explorada situa-se no noroeste do Estado, no

município de Sapezal, desmembrado de Campo Novo do Parecis em 1994, e conta com

pouco mais de cinco mil habitantes. A produção de soja de Sapezal, em 1997, atingiu 177

mil hectares de um total de 1,5 milhão já explorados, com produção de 8,5 milhões de

sacas e com alta produtividade (3.000 Kg/ha). O Grupo Maggi, que responde por grande

parcela da produção e pelas exportações regionais de soja através da trading Sementes

Maggi, está construindo a parte hidroviária do Corredor Noroeste (Hidrovia Madeira-

Amazonas).46

Pode-se dizer que, depois da Região Centro-Oeste, a expansão agrícola brasileira

neste final dos anos 90 e na próxima década será fortemente reforçada pela incorporação

das terras de cerrados da Região Amazônica, envolvendo o sul do Estado do Amazonas

(região dos campos de Humaitá) e a região do lavrado de Roraima. A cultura do arroz tem

sido estimulada nessas regiões, para “abrir o solo para a soja”. 47

45 Cf. Gazeta Mercantil – 14, 15 e 16/mar/1996, p. B-19 [Especial Hidrovia Madeira-Amazonas]. 46 O empresário gaúcho dono do Grupo Maggi e também prefeito de Sapezal, André Maggi, já vem

sendo considerado o novo “rei da soja” do Brasil. Cf. Folha de São Paulo, ed. 06/abr/1997, p. 1-13. O grupo criou a empresa Hermasa Navegação da Amazônia S.A para o escoamento da soja da Chapada dos Parecis até o terminal portuário de Itacoatiara (AM) pela Hidrovia Madeira-Amazonas. A nova rota da soja implicará numa redução de cerca de 30% do valor do frete (de US$ 105,00 para US$75,00) e ainda deixará de percorrer mais de 2.500 Km. pela BR 364 até os portos de Santos e Paranaguá, significando uma redução de cerca de 330 Km. em relação ao antigo trajeto. Cf. Gazeta Mercantil, 14, 15 e 16/mar/1996, p.B-19; Revista A Granja, n 576, Dez/1996, p.16.

47 A EMBRAPA estima o potencial produtivo dessas regiões entre dez e doze milhões de hectares, onde Roraima participa com cerca de quatro milhões de área agricultáveis. Somente em Humaitá, estima-se em seiscentos mil hectares os campos de cerrado disponíveis para a exploração agrícola. Cf. Gazeta Mercantil, 25/08/1997, p. C-6 [“Novas Fronteiras Agrícolas”].

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102

3.4. FRONTEIRA AGRÍCOLA E AS NOVAS POLÍTICAS DE REORGANIZAÇÃO ESPACIAL DO

CERRADO: OS CORREDORES DE TRANSPORTES MULTIMODAIS NO BRASIL

A infra-estrutura e política pública de transportes, assentada fundamentalmente no

sistema rodoviário, implantada nos meados da década de 1950 para o escoamento das

safras agrícolas, vive o seu esgotamento. Pela própria crise do Estado, com a falta de

investimentos para recuperação e ampliação, o sistema rodoviário vem sofrendo um

processo de deterioração crescente desde os anos 80 e, juntamente com o sistema

ferroviário, abandonado desde os anos 60, agora chegam à fase das privatizações.

A nova política de transportes no Brasil vem sendo executada há alguns anos pelo

Ministério do Transportes, juntamente com o Ministério da Agricultura, do Abastecimento e

da Reforma Agrária (MAARA) e com à iniciativa privada, apresentaram alternativas de

escoamento da produção agrícola mediante o uso combinado, de vários sistemas de

transportes, utilizando rodovias, ferrovias e hidrovias. Essa nova tentativa de escoamento

agrícola consiste no estabelecimento de quatro multimodais de transportes integrados

pelos corredores Noroeste, Centro-Norte, Nordeste e Centro-Leste, visando prioritariamente

a expansão e a abertura de novas fronteiras agrícolas.

1] Corredor Noroeste

A área de influência do Corredor Noroeste abrange a maior parte da Amazônia

brasileira, compreendendo as seguintes áreas da denominada pré-Amazônia:

Chapada dos Parecis - situada nos estados do Mato Grosso e Rondônia, cujo pólo dista

500 km. a N-NW de Cuiabá (MT); Áreas de cerrados adjacentes em 150 km à BR 364 (Cuiabá-MT - Porto Velho-RO - Rio

Branco-AC); Áreas limítrofes à hidrovia do Rio Madeira entre Porto Velho (RO) e Itacoatiara (AM), com

extensão de 1.115 km; Áreas contínuas ao Sul do Estado do Amazonas (Humaitá e Apuí) e a N-NE do Estado

do Acre.

Os principais modais de transporte dessa região são o fluvial e o rodoviário, a saber:

1) Rio Amazonas, entre sua foz e Itacoatiara (AM); 2) Rio Madeira, entre Porto Velho (RO) e

Itacoatiara (AM); 3) Rodovia BR-163 (Cuiabá-Santarém).

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103

Em linhas gerais, as características físico-naturais da região abrangem solos

constituídos por latossolos vermelhos, de boa textura e profundidade; topografia plana;

clima com períodos bem definidos (chuvas/estiagem) e precipitações totais favoráveis e

bem distribuídas; grande luminosidade/iluminação e temperaturas equilibradas com as

necessidades do ciclo produtivo de grãos e com o desenvolvimento de pecuária. Estima-se

a área agricultável nessa região em torno de vinte milhões de hectares.48

A principal região produtora da área de abrangência do Corredor Noroeste encontra-

se em franco processo de expansão, principalmente na Chapada dos Parecis, ao Norte do

estado de Mato Grosso, onde se destaca a produção de grãos, principalmente de soja,

milho e arroz. O principal modal de transporte utilizado pelos produtores da região é o

rodoviário, seguindo o trajeto zona de produção- Porto de Santos-SP ou Paranaguá-PR.

Em função da grande distância (cerca de 2.200 km), do estado precário das rodovias e dos

portos, assinala-se o alto custo de transporte, representando cerca de 35% a 40% do preço

final da soja. 49

2] Corredor Centro-Norte

O Corredor Centro-Norte pode ser considerado como um dos mais importantes e

estratégicos para a ampliação agrícola da região do cerrado brasileiro. A área abrangida

pelo Corredor Centro-Norte compreende grande parte dos Cerrados Centrais e

Setentrionais, a saber:

Tocantins (a totalidade do estado); Sul do Maranhão e do Piauí; Sudeste do Pará; Leste de Mato Grosso; e Noroeste de Goiás.

Por seu turno, os principais modais de transporte dessa região são: 1) cerca de

1.230 km navegáveis do Rio Araguaia; 2) 580 km do Rio das Mortes, no Mato Grosso

(afluente deste último); 3) 420 km do Rio Tocantins, no estado do Tocantins; 4) 1.500 km da

Rodovia BR-010 (Belém-Brasília); 5) 230 km da Ferrovia Norte-Sul (110 km concluídos e

48 Segundo estudos de aptidão em fase de elaboração pelo Ministério da Agricultura em conjunto com a

Embrapa/CPAC. 49 Preço CIF da safra agrícola de 1995/96. Revista de Política Agrícola, ano 5, n 2, abr/mai/jun/ 1996.

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cerca de 120 em construção); 6) 600 km da Ferrovia Carajás e 7) os Portos da Ponta da

Madeira e de Itaqui, no Maranhão.

Os estudos de aptidão agrícola realizados pelo MAARA e a EMBRAPA indicam

grande potencialidade para a área de influência do Corredor Centro-Norte, perfazendo um

total de 20.827.879 ha(Tabela 11). No conjunto, essa vasta região ainda possui pouca

expressividade em termos de produção agrícola, com uma área explorada em cerca de 2,2

milhões de hectares, ou seja, pouco mais de 10% do potencial produtivo apresentado.50

Tabela 11 :

Potencial Produtivo da Região do Corredor Centro-Norte

Área – Programa

Área Potencial (em hectares)

1- Tocantins

2- Sul do Maranhão

3- Sul do Piauí

4- Sudeste do Pará

5- Leste do Mato Grosso

6- Noroeste de Goiás

7- Oeste da Bahia

9.809.279

1.224.000

425.000

1.483.000

3.036.400

4.200.000

650.200

Total 20.827.879

Fonte: MAARA/DEPLAN/SPA, 1996, apud Revista de Política Agrícola, Ano 5, n. 2, abr./mai./jun., 1996, p.27

No entanto, esse potencial produtivo para grãos, segundo estudos, alcançaria entre

trinta e quarenta milhões de hectares. Diante da produtividade já alcançada no cultivo da

soja na região de Balsas (MA) e municípios do leste do Mato Grosso (3.300 kg/ha), estima-

se ainda uma potencialidade superior a sessenta milhões de toneladas de soja, ou mais de

oitenta milhões de toneladas de milho. 51

50 Um estudo mais aprofundado sobre as potencialidades e impactos físicos decorrentes da implantação

do Corredor Multimodal Centro-Norte é apresentado na Revista de Política Agrícola (MAARA/CONAB), n1, jan./fev./mar./1997, p.11-6.

51 Revista de Política Agrícola , n 2, abr./mai./jun./1996, p. 27.

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105

Assim, como se observa, os dois primeiros corredores multimodais – o Noroeste e o

Centro-Norte - assumem importância decisiva para a maior integração da Região Centro-

Oeste e Norte do País.

3] Corredor Nordeste

O Corredor Nordeste tem como principal área de abrangência o norte do Estado de

Minas Gerais, Bahia e Pernambuco, além de secundariamente atingir os demais estados da

Região Nordeste do Brasil. O principal eixo viário desse corredor é o Rio São Francisco e

seus afluentes navegáveis da margem esquerda, a BR-242 (Barreiras - Salvador) e a BR-

365 (Pirapora - entroncamento BR-040, em Minas Gerais). Os principais modais abrangem:

a extensão navegável do Rio São Francisco, de Pirapora a Petrolina/Juazeiro, com três importantes pontos intermediários: Januária, em Minas Gerais, Ibotirama e Barra, na Bahia;

a malha rodoviária, a partir de Pirapora, num raio de aproximadamente 300 km; a malha rodoviária, a partir de Petrolina/Juazeiro, às cidades de Recife e Fortaleza,

numa distância de 900 km; a futura ligação ferroviária entre Unaí e Pirapora, em Minas Gerais, e desta para o Porto

de Tubarão, no Espírito Santo.

Na maior parte dessa região predomina o clima semi-árido, sendo desfavorável o

cultivo agrícola de sequeiro e favorável a irrigação. Apenas nas regiões do oeste baiano e

noroeste de Minas Gerais é recomendado o cultivo de grãos como soja, milho, arroz e

feijão.

A produção de grãos como o milho e a soja nos limites da Região Centro-Oeste do

Corredor Nordeste é estratégica para o abastecimento de rações para o complexo avícola

dos estados da Região Nordeste. Em termos de insumos para a agricultura, o corredor terá

importante papel no transporte de derivados de gipsita (gesso agrícola) da região de

Araripe (PE), tanto para a região produtora do oeste baiano como para o noroeste de Minas

Gerais.

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4] Corredor Centro-Leste

O Corredor Centro-Leste abrange mais diretamente a área de estudo deste trabalho.

A sua área de influência envolve o Entorno de Brasília (DF), Noroeste de Minas Gerais até

Pirapora (MG) e desta a Belo Horizonte. O principal tronco viário é formado pela Estrada de

Ferro Vitória-Minas, entre o Porto de Tubarão e Belo Horizonte, da Companhia Vale do Rio

Doce - CVRD -, pelo ramal ferroviário da RFFSA, entre Belo Horizonte e Pirapora (MG), e

pela extensão desse ramal à cidade de Unaí (MG).

Esse importante eixo foi privatizado em 1996 e projeta-se o novo ramal ferroviário,

ligando Unaí (MG) ao Sul de Goiás e/ou Formosa (GO). Essa região, constituída

basicamente por cerrados, é explorada basicamente com o cultivo de grãos e pela pecuária

e possuí grande potencialidade para a expansão que, segundo o Governo do Estado de

Minas Gerais, pode chegar a 13 milhões de hectares. Desse total, cerca de 9,6 milhões de

hectares são considerados como passíveis de mecanização para a produção de grãos,

sendo que 5,73 milhões de hectares estão no noroeste mineiro e 3,87 milhões de hectares

no entorno do Distrito Federal. 52

52 Revista de Política Agrícola, n.2, abr./mai./jun./1996, p. 35.

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108

3.5. DA CONQUISTA À DEGRADAÇÃO DA NATUREZA NO CERRADO BRASILEIRO

O ritmo do processo científico na agricultura tem-se acelerado rapidamente e, com o

poder financeiro exercido pelas grandes companhias transnacionais de petróleo, químicas e

farmacêuticas, uma revolução técnica está em andamento no melhoramento de plantas,

nos agroquímicos e na indústria de alimentos. As inovações dos produtos e processos,

através do uso das modernas biotecnologias, têm determinado o ritmo das mudanças no

sistema produtivo.

Na tentativa de apreender as relações indústria e natureza (agricultura), com ênfase

no caso das indústrias situadas a montante do setor agropecuário, notadamente das

empresas de sementes e suas relações com o progresso da biotecnologia vegetal, torna-se

importante analisar os aspectos da produção de grãos no cerrado. Com os exemplos aqui

arrolados, procura-se mostrar uma parte do conjunto de estratégias recentes adotadas

pelas empresas, sobretudo as resultantes das conquistas dos métodos biológicos aplicados

ao conjunto da produção agrícola dos cerrados

3.5.1. Os Impactos das Novas Biotecnologias sobre os Recursos: a Genética para Adaptação da Soja às Baixas Latitudes da Região do Cerrado

Um dos aspectos mais importantes da expansão agrícola no território brasileiro tem

sido a dinâmica espacial das atividades para as regiões Norte e Centro-Oeste, desde a

década de 70, sobretudo quando observada a trajetória espacial da soja.

Até 1977, eram ainda poucas as opções de variedades para as regiões central e

norte dos cerrados, o que constituía uma limitação para a expansão dos cultivos de soja,

restringindo-se a apenas quatro variedades - IAC-2, UFV-1, Santa Rosa e Júpiter - as

quais foram criadas e adaptadas para as altas latitudes da região Sul do Brasil. Os

problemas advindos da introdução de variedades de altas latitudes, dentre outros,

resultaram, num primeiro momento, na impossibilidade de atingir altura adequada à colheita

mecanizada, reduzindo com isso a produtividade. Os recursos do programa

POLOCENTRO, no final da década de 70, vieram financiar as pesquisas agronômicas,

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109

impulsionando o cultivo nos solos ácidos dos cerrados, transformando assim a estrutura

produtiva pela modernização agrícola, sob o comando da Empresa Brasileira de Pesquisa

Agropecuária (EMBRAPA).

A partir dos meados da década de 80, depois de grandes esforços realizados pela

EMBRAPA, foi possível obter, em curto espaço de tempo, variedades de melhor adaptação

à região “norte” dos cerrados, onde se conseguiu maior porte da planta e,

conseqüentemente, aumento de produtividade. No quadro 3, observa-se nítida

diferenciação no que diz respeito às variedades de soja recomendadas para os primeiros

dois anos de cultivo nas regiões dos cerrados: de um lado, a parte “norte”, restrita às

latitudes inferiores a 15º S. em direção à Amazônia, com apenas quatro variedades; e de

outro a parte “sul”, circunscrita às latitudes maiores que 15ºS., com apenas uma variedade

preferencialmente recomendada.

Quadro 3 Variedades de Soja Recomendadas para os Cerrados entre 1985-89

INDICAÇÃO

ÁREAS DE 1ºe 2ºANO

DE CULTIVO (1)

ÁREAS DE 3º ou

MAIS CULTIVOS (2)

ENTRESSAFRA

(3)

Região “Sul” (Latitudes Maiores de 15 ºS)

Preferencialmente Recomendadas

BR-9 (Savana); Doko EMGOPA-301; IAC-8

BR-9 (Savana); UFV-5; Cristalina; EMGOPA-301, 302; Doko; IAC-7; Numbaíra; FT-11(Alvorada)

BR-9;Doko;

IAC-8

Toleradas IAC-2; IAC-5; IAC-6; IAC-7 UFV-9 (Sucupira)

Bossier; Paraná; Santa Rosa; UFV-1

EMGOPA-301; IAC-6; IAC-7; Numbaíra

Região “Norte” (Latitudes Menores de 15ºS)

Preferencialmente Recomendadas

Tropical

Doko; EMGOPA-303; BR-10 (Teresina); Tropical; BR-11 (Carajás); IAC-8

Tropical

EMGOPA-303

Toleradas IAC-8; Doko

EMGOPA-303

IAC-8

IAC-8 Doko

(1) recomendação para solos parcialmente corrigidos; (2) solos corrigidos ou terra de cultura. (3) em condições de irrigação e solos corrigidos. Organização: João Cleps Jr. Fonte: Comunicado Técnico/EMBRAPA, n 48, jun./l986, p.9 (Reimpressão dez./1989).

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110

3.5.1.1. O caso da Cultura da Soja em Minas Gerais

A exploração econômica da soja em Minas Gerais é muito recente. As regiões do

Triângulo Mineiro, Alto Paranaíba e Paracatu (MRH-1970),53 apesar da baixa fertilidade

natural dos solos do cerrado, apresentam grande proporção de áreas favoráveis à

exploração agrícola (declividade de até 12%), de acordo com a EMBRAPA, estimada em

mais de 10 milhões de hectares, constituem as mais favoráveis ao cultivo da soja.

As primeiras experiências com pesquisa de soja no Estado de Minas Gerais

começaram em 1966, com a Universidade Federal de Viçosa (UFV), através do Centro de

Experimentação, Pesquisa e Extensão do Triângulo (CEPET), localizado em Capinópolis, a

qual, juntamente com o Sistema Estadual de Pesquisa, contribuiu para o desenvolvimento

de técnicas culturais e a criação de variedades melhoradas de soja, por intermédio do

projeto da UFV/ Purdue-USAID, com a utilização de um grande número de variedades de

linhagens de soja procedentes do sul dos Estados Unidos, as quais, ao mesmo tempo,

estavam sendo introduzidas no interior do estado de São Paulo pelo Instituto Agronômico

de Campinas (IAC). As primeiras variedades estudadas na região mineira foram: L652,

Stuart, L763, L1556, L2006, (IAC- 2), Mogiana, Major, L763-9, Hardee, L1154, Pelicano e

Improved Pelican, destacando-se a L652 .54

No início da década de 70, as pesquisas em variedades de soja tiveram rápida

expansão no estado, com o Programa Integrado de Pesquisas Agropecuárias do Estado de

Minas Gerais (PIPAEMG), hoje transformado em Empresa de Pesquisa Agropecuária de

Minas Gerais (EPAMIG), sediada em Uberaba. Os trabalhos da EPAMIG possibilitaram a

expansão e introdução dos locais de cultivos de soja no Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba,

onde já despontavam algumas lavouras em escala comercial. Entre as localidades

estudadas nessas regiões, naquele período, destacam-se Uberaba, Iturama, Santa Vitória,

Monte Alegre de Minas, Araguari, Sacramento, Centralina, Canápolis e Capinópolis. Entre

as variedades estudadas figurava o tipo Santa Rosa, que mais se destacou em termos de

adaptação em solos de média e alta fertilidade trazida das altas latitudes. Com isso,

estruturou-se uma enorme rede de experimentação com a soja em Minas Gerais,

53 Divisão Regional em Microrregiões Homogêneas da FIBGE. Para melhor compreensão da divisão

espacial e regionalizações de Minas Gerais, consultar o ANEXO deste trabalho. 54 Cf. SEDIYAMA, 1981, p.335.

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111

totalizando nos anos 1973-74 cerca de 22 municípios e 21 variedades de soja.55 Em termos

gerais, os trabalhos de melhoramento genético visaram, até aquele período, basicamente:

“a) Obtenção de variedades de soja adaptadas às latitudes compreendidas entre 15 e 22ºS, que abrangem desde a região Norte até o Sul de Minas;

b) Alta produtividade de grãos em solos de alta, média e baixa fertilidade natural; c) Resistência às moléstias mais comuns, em condições de campo; d) Boa altura da planta e de inserção das primeiras vagens e resistência ao

acamamento, visando a eficiência da produtividade e da mecanização; e) Melhor resistência à deiscência de vagens; f) Melhor qualidade de semente (ausência de rachaduras no tegumento, melhor

germinação e vigor); g) Elevado teor de óleo e de proteína nos grãos; h) Variedades de ciclo diferente, para melhor adaptação à rotação de culturas, e

aumento do período de colheita” (SEDIYAMA, 1980, p.338).

Quadro 4 Principais Variedades de Soja Introduzidas nas Regiões do Triângulo Mineiro

e Alto Paranaíba, entre os Anos de 1973 a 1977 CULTIVARES

Média de Produção

Kg/há

Ciclo das Plantas

CARACTERÍSTICAS

UFV – 1 1.716,4 134 a 157 dias

Variedade mais tardia do grupo. É mais indicada para os solos de média e alta fertilidade e recomendada a partir do terceiro e/ou quarto ano de cultivo (conhecida também como “viçoja mutante”);

IAC – 2 1.625,8 s/i Plantas de porte elevado, indicadas para solos de baixa fertilidade natural, como nos plantios de primeiro e/ou segundo ano, em solos sob vegetação de cerrados;

Santa Rosa 1.649,5 s/i Embora sejam de porte médio, adaptam-se melhor a solos de média e alta fertilidade. Em solos de cerrados, têm-se comportamento melhor em plantio de segundo e/ou terceiro ano em diante;

UFV – 2 1.662,2 142 dias Idem. Originou-se do cruzamento entre Hardee e IAC-2, a partir do método de seleção genealógico, feito em Viçosa (MG), em 1966;

Paraná 1.213,5 s/i Variedade precoce, recomendada para solos de alta fertilidade, em rotação de culturas;

UFV- 3 S/i 144 dias Originária do cruzamento entre Hardee e Improved

Pelican, feito em Viçosa (MG), em 1966. s/ i = sem informação. Organização: João Cleps Jr. Fonte: EPAMIG - Informe Agropecuário, 43. Belo Horizonte, jul./1978. SEDIYAMA (1980).

55 Cf. SEDIYAMA, 1981, p.336.

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112

A partir das informações anteriores, percebe-se que ainda nos anos 70 era muito

reduzida a quantidade de cultivares de soja adotados pelos agricultores da região do

Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba (Quadro 4).

Por outro lado, as principais variedades de soja cultivadas nos cerrados apresentam

teor de óleo em torno de 20,5% (variedades UFV-1, UFV-2 e UFV-3) e alto valor protéico,

atingindo mais de 40%, com um ciclo que varia de 134 a 157 dias para estarem prontas

para a colheita. Além das vantagens em termos de teor de óleo, devido às condições

climáticas em geral nas áreas de cerrados - ocorrência de poucos períodos de chuvas na

época da colheita - em relação a outras regiões produtoras como o Sul do País, a soja

encontra grandes vantagens, não só no processo de colheita como no transporte,

armazenagem ou mesmo para o processamento.

Por conseqüência dos progressos alcançados pela introdução das novas variedades

de soja nos cerrado mineiro, houve grande aumento da produção no estado. Pode-se, com

isso, fazer um paralelo com as políticas oficiais para a exploração agrícola da região, com

as fases da agroindustrialização mineira, que culminaram com a instalação das primeiras

indústrias esmagadoras de soja no Triângulo Mineiro (Uberlândia), a partir do aumento

considerável da produção de soja em Minas Gerais, na década de 80.

3.5.2. Controle Genético e as Estratégias das Empresas de Sementes no Cerrado

Os exemplos ilustrativos da aplicação comercial da engenharia genética na

agricultura incluem as culturas resistentes às pragas, às doenças e aos herbicidas.

GOODMAN et al. (1990, p.96) ilustram que a firma americana de engenharia genética -

Calgene - conseguiu isolar um gene, que confere resistência ao Roundap, desenvolvido

pela Monsanto, líder mundial em biotecnologia para agricultura e produtora de herbicidas,

esperando criar plantas resistentes a esse herbicida.

1. A Soja Transgênica

No período mais recente, os estudos genéticos têm procurado avaliar as

presumíveis mutações naturais e mutações introduzidas em soja, visando a obtenção de

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113

plantas mais altas e mais tardias, para adaptação principalmente aos solos e clima dos

cerrados.

As pesquisas para desenvolver sementes de soja resistentes, com o emprego da

biotecnologia, chegaram ao Brasil a partir da safra de 1996. A empresa norte-americana

Monsanto Corporation lançou a variedade resistente ao herbicida glifosato, comercializado

sob a marca Round-up. As sementes desenvolvidas por biotecnologias estão sendo

introduzidas no país pela Monsoy, empresa que foi constituída naquele ano com a

associação entre a Monsanto e a FT - Pesquisa e Sementes, destacada empresa brasileira

privada de pesquisa e produção de sementes de soja. Neste campo, a nova empresa

passou a desenvolver variedades de soja resistentes a doenças novas na região do cerrado

como o cancro da haste, póstula bacteriana e mancha olho-de-rã e oídio, principalmente.

Para isso, a Monsoy constituiu centros de excelência de pesquisa e desenvolvimento de

novas variedades de soja adaptadas às principais regiões produtoras do País, a exemplo

do Centro de Pesquisa de Morrinhos, em Goiás. 56

A empresa Monsanto, no Brasil, atua nas áreas de alimentos, farmacêutica e

química fina. O grupo Monsanto faturou US$ 9 bilhões no ano de 1995 e, segundo o

presidente da empresa, uma das estratégias é colher metade das suas receitas fora dos

Estados Unidos até o ano 2000, privilegiando as atenções nos mercados da Índia, China e

Brasil. O grande interesse da Monsanto pela região dos cerrados está na prática do plantio

direto, cada vez mais adotado pelos agricultores, uma vez que a empresa distribui

sementes de milheto, cultura que produz grande volume de palha, indispensável para o

sistema.57 A difusão dos métodos de rotação de culturas, adotados inicialmente no sul do

Brasil e difundidos na região do cerrado, vêm solucionar, em parte, os grandes problemas

do uso intensivo dos solos pelos monocultivos, principalmente com a soja.

56 A FT-Pesquisa e Sementes é uma empresa pioneira a atuar na criação de cultivares de soja e a

contribuiu decisivamente para a abertura dos cerrados, com uma das sedes em Cristalina (GO) e que se associou em 1996 à Monsanto, passando a denominar-se Monsoy.

57De acordo com a mesma fonte, a empresa prevê grandes possibilidades de crescimento da avicultura e suinocultura e pretende abrir novos negócios, dobrando em cinco anos sua atuação na região. Como parte dessas estratégias nos cerrados fechou a compra da Dekalb, empresa de genética que trabalha com o melhoramento de milho e suínos, entre outros produtos (Cf. entrevista de Bob Reynolds, vice-presidente da área internacional e Dave Morley, vice-presidente da área de agroquímicos para as Américas em recente visita à região. Gazeta Mercantil, 29/abr./1996, p. B-24.

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2. Algodão resistente aos herbicidas e às pragas

O algodão transgênico no Brasil é o fenômeno mais recente da entrada de

biotecnologias de sementes. A primeira empresa produtora do país estabeleceu sua sede

em Uberlândia (MG) através da MDM - uma joint-ventures formada entre o grupo Maeda, a

Delta and Pine Land Company e a Monsanto Ltda. -, empresa de pesquisa,

desenvolvimento, produção e comercialização de sementes de algodão que vai atuar nos

mercados brasileiro, paraguaio, boliviano e colombiano.

Uma entre outras estratégias adotadas pela empresa Monsanto no Brasil inclui o

lançamento de uma nova variedade de algodão resistente a insetos, uma de milho seletivo

ao Round-up, variedade de batata com maior teor de amido e tomate que resiste maduro

por até duas semanas após a colheita.

O algodão transgênico, alterado geneticamente para resistir a pragas e pesticidas,

foi introduzido em 1996 nos Estados Unidos e está sendo introduzido pelo Grupo Maeda de

Ituverava (SP) (líder nacional na produção de algodão) em associação com a empresa

norte-americana Delta Pine, que é a líder produtora mundial de sementes de algodão, ao

lado da Monsanto, maior empresa produtora de biotecnologia. 58

Desde o final da década de 80 tem havido uma crescente queda nacional dos

cultivos do algodão, principalmente nos estados tradicionais da produção, como São Paulo

e Paraná e seu deslocamento para o cerrado brasileiro. Considerada como uma das

atividades que deu maior número de emprego no campo nessas regiões, no passado, essa

lavoura tem migrado para as áreas do cerrado brasileiro, sobretudo para Goiás, Mato

Grosso e Minas Gerais. Um exemplo dessa nova dinâmica espacial de deslocamento da

produção são os efeitos produzidos no estado do Paraná, maior produtor nacional, que vem

enfrentando forte queda na área plantada, provocada pelo estímulo dos preços da soja e

pelo aumento do custo de mão-de-obra na lavoura, reduzindo sua produção de cerca de

120 mil toneladas em 1995/96 para cerca de 50 mil toneladas na safra 1996/97 (Gráfico 11).

A queda na produção do algodão nos anos 90 deve-se à redução das alíquotas de

importação do produto - estipulada em 3% no final de 1996: as indústrias têxteis passaram

a importar com mais intensidade a matéria-prima, beneficiada por empréstimos externos a

taxas de juros que atingiam no máximo 8% ao ano, com prazo de até um ano.

58 Cf. Gazeta Mercantil, Belo Horizonte, 04/ fev./ 1996, p. B-20 [Agribusiness].

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115

A principal região cotonicultora em Minas Gerais é o Triângulo, atingindo cerca de

25 mil hectares nas safras de 1995/96, já chegando bem próximas às do Paraná. A

produção mineira já chega a cerca de 25 mil toneladas.

Com os novos investimentos das empresas produtoras de sementes no cerrado, a

principal meta dos produtores de sementes de algodão é triplicar em apenas três anos a

produção deste insumo, as mudanças tendem a ser aceleradas ainda mais, uma vez que o

algodão transgênico tem uma produtividade até 16% maior que a convencional. Para fazer

frente ao crescimento, já se encontram em curso vários projetos agroindustriais para a

expansão dos plantios e o beneficiamento do produto na região do cerrado, como do

próprio Grupo Maeda, que atua há mais de cinqüenta anos na atividade verticalizada da

cotonicultura, a usina da Cooperativa Comigo, de Rio Verde, que está em funcionamento, e

ainda nos novos projetos do Grupo Maggi, em Parecis, Mato Grosso.

As características fundamentais da expansão recente da produção algodoeira nos

cerrados está no sistema de produção e no próprio campo genético. O algodão introduzido

nos cerrados está voltado ao uso intensivo de tecnologia - irrigação, plantio e colheita

mecanizados - e realizado em grandes propriedades.

Gráfico 11: Evolução da Produção Brasileira de Algodão:

safras 1995-96 e 1996-97

Fonte: CONAB/ 1997.

0

20

40

60

80

100

120

(em

mil

ton

elad

as)

PR SP MG MT MS GO

1995-96

1996-97

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3.5.3. Os Impactos dos (Mono)cultivos Intensivos da Terra sobre os Recursos Naturais no Cerrado

A existência de extensas áreas mecanizáveis conhecidas como chapadas e a

estrutura fundiária caracterizada basicamente por grandes propriedades, aliadas à

ocorrência de fontes de minerais para correção dos solos (calcário) e o apoio do Estado na

pesquisa e projetos de infra-estrutura contribuíram para a implantação de sistemas de

cultivo intensivo sobre as terras do cerrado brasileiro.59

Os trabalhos de geógrafos têm revelado a complexidade na estrutura superficial das

chapadas, onde o processo contínuo de ocupação na região vem provocando alterações

na paisagem natural. FELTRAN FILHO (1997), ao apresentar a tipologia da paisagem das

chapadas do Oeste mineiro, identifica os tipos fisionômicos, caracterizando principalmente

as alterações ocasionadas na “paisagem natural”, na “paisagem agrícola” e nas “paisagens

suburbanizada e urbanizada”.

A paisagem natural das chapadas no Oeste mineiro praticamente já desapareceu.

“Com a rápida ocupação da área dos cerrados pela expansão da agricultura, não foram

preservadas áreas de reservas naturais e a cobertura vegetal original dos cerrados foi

quase toda dizimada, restando apenas pequenas manchas espalhadas” (FELTRAN FILHO,

1997, p. 146). Por sua vez, as áreas do planalto das chapadas (“paisagem agrícola”), é a

que tem apresentado maior crescimento e degradação, por influência da expansão da

produção de grãos. Ainda, de acordo com a classificação do autor, nas paisagens

“suburbanas” e “urbanizadas” das chapadas do oeste mineiro estão assentadas as

principais cidades da região, e em virtude da maior presença antrópica com a abertura de

vias de circulação e assentamentos urbanos, os processos erosivos são mais presentes. 60

59 AB’SÁBER (1973) no estudo sobre a organização das paisagens inter e subtropicais brasileiras,

dentre outras características, apresenta o “domínio dos chapadões recobertos por cerrados e penetrados por florestas-galerias” como sendo espaços de topografia plana onde os solos são da fraca fertilidade primária em geral. Em termos de sistema agrícola comum nas áreas de cerrados de Minas Gerais, nas chapadas ocorre os sistemas soja-milho, pecuária extensiva e também o café. As terras de chapadas, em geral, são apropriadas pelos grandes e médios proprietários. Em oposição, nas áreas onde o relevo é mais dissecado e montanhoso, conhecidas como vertentes (ou ainda “terras de cultura”), dominam os agricultores familiares, com os sistemas de pecuária leiteira e de produção alimentar.

60 De acordo com os estudos do autor, as cidades que se destacam na ocupação dos topos das chapadas são Uberlândia, Araguari, Indianópolis, Romaria, Iraí de Minas e Santa Juliana. Para maior entendimento das unidades geomorfológicas que compõem o Triângulo Mineiro, bem como os processos erosivos nas cidades localizadas nas chapadas, a exemplo de Uberlândia, são realizados por BACCARO (1991); DEL GROSSI (1991) e BACCARO (1994). Sobre as alterações ambientais, a evolução e relações espaciais da paisagem nas áreas do subsistema úmido do cerrado (veredas) veja, por exemplo, o trabalho de LIMA (1996).

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Portanto, preferencialmente, a agricultura intensiva foi instalar-se nessas áreas

planas dos chapadões, no início, com a monocultura da soja, associando-se mais tarde

com o milho. Esse sistema de produção soja-milho onde, em geral, a proporção cultivada é

de 1 hectare de milho para 4 de soja, por exemplo, na avaliação feita por pesquisadores em

um dos projetos do PRODECER I implantado na região do Alto Paranaíba, demonstra que:

“Os sucessivos anos de mecanização intensiva, em solos frágeis como os do cerrado, produziram efeitos já conhecidos de compactação do solo, erosão de superfície e de ravinas, de modo a encorajar a introdução de um sistema de manejo conhecido como cultivo mínimo ou plantio direto. Esta introdução foi feita com base nas experiências do Sul do país, com dificuldades, sobretudo, quanto a espécies mais adaptadas para a cobertura vegetal no inverno, já que o clima favorecia uma rápida decomposição das espécies conhecidas no Sul. Apesar destas dificuldades, o sistema de plantio direto vem se expandindo rapidamente, estimando-se em torno de 80% do total da área cultivada no entorno de Iraí de Minas (MG). Obviamente, esta não é a situação geral das áreas cultivadas com grãos no conjunto dos cerrados brasileiros, mas dá para se ter uma idéia de sua rápida difusão.” (SHIKI, 1997, p. 152)

Os efeitos danosos da agricultura intensiva ao meio ambiente têm sido apontados

por estudiosos e estão relacionados tanto à expansão dos cultivos (principalmente da soja)

sobre áreas de nascentes de água quanto às contaminações provocadas pelos defensivos

agrícolas (pesticidas). O exemplo dado a seguir, na bacia hidrográfica que compreende os

dois maiores centros produtores de soja no Estado de Minas, Uberaba e Uberlândia, ilustra

tipicamente o resultado da trajetória dos sistemas agrícolas sobre uma área de chapada no

cerrado, principalmente com as mudanças ocorridas sobre as áreas tradicionais de pecuária

extensiva.61

“As condições ambientais dadas pelo relevo, pela fertilidade natural dos solos, a distribuição das chuvas, a cobertura vegetal nativa desempenhavam o mais alto grau de influência nesse modelo tradicional agrícola, restringindo ou favorecendo as atividades produtivas. Dessa forma, o modelo agrícola tradicional era um sistema de produção altamente equilibrado do ponto de vista ambiental, onde as diversas espécies animais e vegetais tinham, entre si, relações harmônicas e de complementaridade. As relações estabelecidas entre o homem, em seu processo produtivo, e a natureza eram de profunda interdependência. O uso do solo, voltado para a produção de alimentos, era feito de forma não intensiva, pois as culturas praticadas no período das chuvas deixavam o solo inativo durante o período seco, numa verdadeira situação de pousio, pois não havia necessidade de prepará-lo para o plantio antes da próxima estação chuvosa”. (SCHNEIDER, 1996, p.71)

61 Para maiores exemplos dos efeitos ambientais da produção agrícola intensiva com soja, ver o

trabalho de SCHNEIDER (1996), especialmente o capítulo 5.

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Por outro lado, o aparecimento e a proliferação de novas pragas e doenças até

então desconhecidas ou inexistentes no país e na região do cerrado, como o “cancro da

haste” e o “nematóide de cisto” na cultura da soja, são também produtos do uso intensivo

do solo e da prática das monoculturas.62

As áreas de soja infestadas com nematóide de cisto no Brasil espalharam-se por

mais de um milhão de hectares desde o seu aparecimento e atestam a presença da doença

em diferentes áreas do cerrado com maior incidência no início dos anos 90, inicialmente

surgindo no Triângulo Mineiro e, em seguida, em regiões adjacentes, no sudoeste de

Goiás, no Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Em resultado, a título de ilustração, como se

observa no quadro seguinte, há o aparecimento de um grande número de variedades de

soja onde, por exemplo, uma única empresa de pesquisa de sementes chega a lançar no

mercado uma nova variedade a cada safra. 63

Como se apresentou anteriormente, o número crescente de variedades de plantas

de características especiais, recomendadas para as diferentes regiões, é o resultado tanto

do avanço das pesquisas genéticas como parte das estratégias das empresas de sementes

e da própria mudança ambiental com a difusão das doenças e pragas na agricultura. A

grande mobilidade da soja para as baixas latitudes geográficas, em direção ao norte do

País, também é o resultado prático desse processo. Até o final dos anos 70, a soja ainda

não havia chegado a latitudes menores que 15º e, num espaço de vinte anos, já chega

próxima do paralelo 10º, em plena Região Amazônica. 64

62 O nematóide de cisto (heterodera glycines) é uma praga que ataca as raízes da planta, prejudicando

seus mecanismos fisiológicos vitais, causando a atrofia e a morte do vegetal. O cisto é de fácil dispersão, sendo levado de uma área para outra pelas partículas de solo que ficam aderidas ao maquinário e implementos agrícolas, veículos, sementes, sacaria e ao próprio homem. O controle do nematóide é muito difícil, concentrando-se na eliminação de partículas de solo das sementes, máquinas, implementos, veículos e ainda na rotação de culturas com plantas não-hospedeiras. Segundo pesquisas, o plantio de milho, sorgo, trigo, algodão e amendoim por um ano ou dois pode reduzir a população em até 90%. A título de exemplo, apenas no primeiro ano em que se tem registro de ocorrência no Brasil (1991/92), o nematóide atingiu uma área de 10 mil hectares, causando perdas avaliadas em US$ 1milhão, atingindo os estados do Centro-Oeste e Minas Gerais. Enquanto na safra de 1991/92 apenas seis municípios haviam sido atingidos, ao final da safra 1993/94 a praga já havia se expandido para 31 municípios, atingindo o Estado de São Paulo (Cf. entrevista do Eng. Agrônomo José Tadashi Yorinori, pesquisador da Embrapa, a Revista Agroanalysis, vol. 15, n.2, fev./1985, p. 52). Já o “cancro da haste” é causado por um fungo que infecta o caule das plantas e está disseminado em culturas de soja por todo o país desde o seu aparecimento, por volta de 1988/89.

63 Somente a FT Sementes, por exemplo, prevê o lançamento de 4 variedades novas de soja para as próximas safras (FT-110; FT-105; FT-111; FT-114); todas resistentes às doenças anteriormente referidas. Cf. Material de divulgação da Monsoy – Cultivares das Regiões dos Cerrados (1998).

64 Basta aqui dar o exemplo das primeiras colheitas de soja do Grupo Maggi em Sapezal, 250 Km. ao norte de Cuiabá, na Chapada dos Parecis entre o Mato Grosso e Rondônia e no Estado do Amazonas, nas proximidades de Humaitá, que exigiu a criação da nova rota pela hidrovia Madeira-Amazonas. Cf. Folha de São Paulo, 06/abr./1997, p.1-12 e 1-13 e Gazeta Mercantil, , 14, 15, 16/ mar./1997, p. B-19.

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Quadro 5

Principais Variedades de Soja Lançadas pela Subsidiária da Monsanto para os Cerrados

Empresas/ Séde

Variedades Existentes no

Mercado

CARACTERÍSTICAS

FT PESQ. E SEMENTES * [Cristalina -GO]

FT – Cristalina Série 100 – FT

101, FT 102, FT

104 e FT Estrela

FT Cristalina: considerada a “Rainha do Cerrado” FT 101 – resistência ao acamamento e plantios precoce e tardio. Recomendado para Goiás, Distrito Federal e Mato Grosso; FT 102 – cultivar de ciclo precoce/ médio, resistência ao cancro-da-haste. Indicado especialmente para a região sudoeste de Goiás; FT 104 – cultivar de ciclo tardio e resistência ao cancro-da-haste e à quebra-do-colo. Também é indicada para o plantio direto ou convencional, em áreas contaminadas por estas doenças. Indicado para a região do cerrado; FT Estrela: precocidade e resistência ao cancro-da-haste e à quebra-do-colo. É indicada para a safrinha e áreas de plantios direto ou convencional, contaminadas pelo cancro-da-haste.

* A FT- Pesquisa e Sementes associou-se à Monsanto Co., constituindo a empresa MONSOY S.A Organização: João Cleps Jr. Fonte: Material de Divulgação da Monsoy (vários anos). Os aspectos ligados à genética da soja não se referem apenas ao desenvolvimento

de variedades resistentes às principais doenças e pragas, mas também ao grande interesse

das empresas em se associarem às instituições oficiais e expandirem a rede de

comercialização de sementes (Quadro 5). Essas associações com a pesquisa pública, no

geral, estão voltadas à região central do Brasil, visando o aperfeiçoamento de variedades e

adaptação às latitudes compreendidas entre 16º e 21ºS. Nos campos experimentais da

Central de Experimentação, Pesquisa e Extensão do Triângulo Mineiro (CEPET), ligada à

Universidade Federal de Viçosa, por exemplo, em parceria com empresas privadas

produtoras de sementes, vêm sendo testadas novas variedades de soja resistente ao

“cancro-da-haste” - como a variedade “UFV-17”, que também se vem mostrando altamente

produtiva, alcançando os três mil quilos por hectare – e resistente também a outros

problemas relacionados à cultura, como a póstula bacteriana, fogo selvagem e olho-de-rã.

Nos últimos anos, várias empresas instalaram seus laboratórios e estações experimentais

para o desenvolvimento de variedades (milho e soja) para a região do cerrado. Entre as

principais, está a Ciba Sementes, em Uberlândia, e a Cargill, em Capinópolis.

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Outro resultado dessa conexão corporação-universidade é ilustrado pelo contrato de

pesquisa recentemente firmado entre a multinacional Monsanto e a Universidade Federal

de Uberlândia (UFU) para a instalação de um centro de excelência em biotecnologia para o

desenvolvimento de mudas resistentes de soja, milho e algodão em Uberlândia. Uma,

dentre outras razões da escolha da localização de seu terceiro centro de pesquisa no País,

é a estratégia da abertura comercial da empresa na Região Centro-Oeste.65

Em suma, as fortes pressões competitivas do setor de sementes e de produtos

químicos têm ocasionado, tanto na soja como no caso do algodão, uma luta desenfreada

das empresas produtoras, que investem cada vez mais em novas tecnologias genéticas.

Assim, conforme apontam GOODMAN et al. (1990, p.97),“a aquisição dos direitos de

patente sobre os cultivares melhorados contém a chave para o controle do processo de

produção agrícola e para a dominação do mercado de insumos agroindustriais”.

3.5.4. As Novas Biotecnologias e a Agroindústria

Outro campo de aplicação da genética vegetal reside nas alterações do produto,

aumentando o seu potencial de uso para a indústria e consumo alimentar. As pesquisas

regionais atestam as possíveis alterações da soja na base da produção agrícola pelas

empresas ligadas à pesquisa científica, conforme é destacado a seguir (Quadro 6).

A alteração no sabor dos alimentos revela a tendência, no futuro próximo da

fabricação de alimentos, para produtos “substitutos” a partir da soja, como fonte de

proteína, às custas do leite e dos ovos nas indústrias de pães e biscoitos e de produtos de

confeitaria, por se adaptarem melhor às exigências do processamento (GOODMAN et. al.,

1990, p.82).

65 O anúncio de instalação da Monsanto em Uberlândia em 1997 ocorreu depois de uma disputa entre

esta cidade e a capital de Goiás, Goiânia. Para a construção do centro, a Prefeitura de Uberlândia doou uma área para a construção do centro de pesquisa, com os serviços de infra-estruturas iniciados em 1998. Cf. Jornal Correio, 15/Fev/1998, p.5.

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121

Quadro 6 : Exemplo de novas aplicações e mutações da soja

A soja mais saborosa está saindo do forno

Está nascendo no Triângulo Mineiro uma nova variedade de soja que pode tornar a

leguminosa tão bem sucedida nos pratos de comida quanto em relação ao seu desempenho protéico.

A Central de Experimentação, Pesquisa e Extensão do Triângulo Mineiro (CEPET) realiza atualmente

estudos de adaptação a solo e clima e multiplicação de sementes de uma variedade da qual foram

eliminadas as substâncias responsáveis pelo gosto indigesto da soja.

O lançamento da variedade está previsto para os próximos dois anos. Os pesquisadores

tentam aproveitar a riqueza protéica da soja, que tem duas vezes mais proteína do que o feijão, por

exemplo. “Quando estiver disponível, essa variedade poderá ressuscitar os programas de vacas

mecânicas que produziam leite a partir da soja, que não prosperaram por causa do sabor de feijão cru

da soja” , diz o diretor do Cepet (...)

Em fase de avaliação de comportamento também estão os estudos que visam desenvolver

linhagens de soja resistentes ao nematóide de cisto. Nesse caso, o feito seria ainda mais valioso: não

existe atualmente no País variedade que não seja passível de ser afetada pela praga.

As pesquisas dos professores da universidade fazem parte do projeto Soja, que vem

buscando adaptar variedades da cultura ao clima nacional, principalmente os do Brasil Central.

Convênios junto a indústrias do setor alimentício, que garantem o repasse de verba, vêm

possibilitando à equipe do Cepet prosseguir nos testes (...).

Fonte: LACERDA, A. Gazeta Mercantil, 22/jan/1996, p. B-16 [Agribusiness].

Concomitantemente às aplicações da biotecnologia na produção alimentar, os

capitais industriais vêm utilizando inovações visando melhorar as perspectivas econômicas

de determinados produtos agrícolas. Um exemplo decorre do sistema desenvolvido a partir

da produção do amido puro para uso industrial e alimentício, qual seja, do processamento

do milho por via úmida, com a finalidade de alcançar a utilização e o valor máximo de cada

elemento do grão de milho. Como se observa no esquema de processamento do milho

utilizado pela Cargill de Uberlândia (MG), derivam múltiplos subprodutos do grão, como o

amido, o óleo comestível proveniente do germe, diversos ingredientes usados pelos

formuladores e indústrias de rações (Figura 9).

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Figura 9: Esquema de Processamento de Milho por Via Úmida

LIQUOR

GERME FIBRAS GLÚTEN Fonte: Fundação Cargill, 1997.

MILHO EM GRÃOS

LIMPEZA DO

MILHO

MACERAÇÃO

SEPARADORES DE GERME

MOINHOS

PENEIRAS DE LAVAGEM

CENTRÍFUGAS SEPARADORAS

HIDROCIONES DE LAVAGEM

DO AMIDO

EXTRAÇÃO DE GERME

ÓLEO DE

MILHO

EVAPORAÇÃO DE LIQUOR

Amidos e adoçantes nutricionais

Glutenose

Germe

de milho

Proteína

para rações

Liquor

de milho

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CCAAPPÍÍTTUULLOO 44

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124

CCCAAAPPPÍÍÍTTTUUULLLOOO 444

AASS PPOOLLÍÍTTIICCAASS EE PPRROOGGRRAAMMAASS GGOOVVEERRNNAAMMEENNTTAAIISS PPAARRAA OO DDEESSEENNVVOOLLVVIIMMEENNTTOO DDOO SSEETTOORR AAGGRROOIINNDDUUSSTTRRIIAALL NNOO CCEERRRRAADDOO EE AASS EESSTTRRAATTÉÉGGIIAASS

DDAASS EEMMPPRREESSAASS DDOO CCOOMMPPLLEEXXOO SSOOJJAA

4.1. A MODERNIZAÇÃO DA AGRICULTURA DO CERRADO: AS ARTICULAÇÕES

ESTADO E ESPAÇO COM A AGRICULTURA CAPITALISTA

4.1.1. A Ideologia dos “Espaços Vazios”: os Principais Programas de Desenvolvimento Regional nos Cerrados

Para compreender o processo que levou à crescente especialização da produção

agrícola de Minas Gerais, é preciso considerar a estratégia adotada pelo Estado mineiro de

expansão capitalista no período recente, que foi a fórmula da incorporação de terras

baratas do cerrado, através de incentivos para criação de infra-estruturas, correção dos

solos e alta mecanização.

A concepção de “espaços vazios” no território brasileiro não é original ao cerrado

brasileiro, mas também serviu muito de argumento para a exploração “racional” da

Amazônia, desde os anos 60.

Uma primeira questão que se coloca é o significado geopolítico do espaço como

“fronteira” (seja ela agrícola, comercial ou política), ou seja, da reflexão sobre o papel do

espaço e sua estreita relação com o Estado na era tecnológica contemporânea. A geógrafa

Bertha BECKER tem questionado sobre o significado e o papel da fronteira Amazônica. O

debate sobre a expansão da fronteira desenvolveu-se em torno da participação de

pequenos produtores e das conseqüências dessa participação e dos grandes

empreendimentos capitalistas no processo de ocupação de novas terras. Para a autora, a

fronteira

“...só pode ser interpretada a partir da inserção do Brasil no capitalismo global decorrente da nova escala da relação capital-trabalho tendo como referência a produção de um espaço planetário onde os Estados nacionais conservam suas funções de controle, hierarquização e regulação, e como base o espaço. É a partir de então que se torna necessário o Estado, não mais apenas como gerenciador da economia, mas para assegurar as condições da reprodução das relações de dominação inerentes à hierarquia dos grupos e dos lugares. Ao caos das relações sociais, o Estado tende a impor uma racionalidade, a sua, que tem o espaço como

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125

instrumento privilegiado. O econômico é reconsiderado em termos espaciais – fluxos e estoques – e o Estado tende a controlá-los e a assegurar a sua coordenação, integrando e rompendo o espaço anterior, e produzindo o seu próprio espaço”. (BECKER, 1988, p.66)

Daí, em outros termos, a fronteira é o espaço da expectativa de reprodução

ampliada para praticamente todos os atores em jogo, mas onde há incerteza quanto a essa

reprodução, na medida em que as ações sociais respondem a orientações políticas e

valorativas e não só aos constrangimentos econômicos, condição que lhe atribui valor

dinâmico e estratégico (ibid., p.67).

A implantação de projetos estratégicos no cerrado tem assegurado a apropriação

monopolista do espaço, na qual passam a conviver formas de organização da produção

diversificadas, que podem ser redefinidas. A centralização das terras nas mãos do Estado e

sua redistribuição controlada são uma das bases do seu fortalecimento.

A expressão física principal das “fronteiras” consiste numa reorganização do espaço

pela intensificação da produção agrícola ou da ocupação demográfica em zonas

consideradas como “vazias”, segundo critérios geralmente subjetivos.

Outra colocação que se faz, agora relacionada diretamente à exploração do cerrado,

é a idéia de que essa área era desocupada e tida como o grande “vazio” nacional,

principalmente em termos oficiais. Desse modo, o cerrado aparece como área “vazia” de

população, de capital, de exploração e produção. Por esse motivo, fala-se em “ocupação”

dos cerrados, na “nova terra” e mesmo “nova fronteira” que representa o cerrado brasileiro.

Essa concepção hegemônica do vazio de capital e de população é refletida na exposição

seguinte:66

“O cerrado era a ‘terra de fazer longe’. 67 A não ser uma pecuária extrativa muito incipiente ele não tinha outra atividade. Se você procurou analisar bem o cerrado, pode olhar que isso ainda existe hoje. A população era muito rarefeita no cerrado e vivia quase sempre em torno dos cursos d’água, levando uma vida muito precária, típica da agricultura de subsistência só. Plantava uma mandiocazinha, perto a nascente um arroz, e vivia da exploração do gado, muito irracionalmente. Então era um vazio, era uma expectativa. Bom, a proximidade dos grandes centros consumidores, a infra-estrutura já existente, e principalmente a confiança de que o Brasil já dispunha de uma tecnologia para isso, nos levou a fazer projetos de ocupação no cerrado”. (RIBEIRO, 1986, p.175)

66 Discurso do ex-ministro da agricultura Alysson Paulinelli em 1984, Cf. RIBEIRO, 1986, p. 175. 67 Expressão atribuída aos mineiros do interior, particularmente os do Oeste do estado, significando

que as planuras do cerrado só serviam para fazer lonjuras, aumentar as distâncias. Cf. RIBEIRO, 1986, p. 175.

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Assim, assumindo a mesma perspectiva, para os técnicos do JICA qualquer

“ocupação” que se faça é melhor que a vigente, ou seja, melhor que o “nada” existente.

“É por essa razão também que as avaliações do desempenho dos programas do cerrado enfatizam não um crescimento da produtividade, mas o crescimento de uma nova produtividade; não o crescimento do emprego (quando há), mas a geração do emprego. Por esse mecanismo, os resultados pouco lisonjeiros sobre a população há muito estabelecida na região desaparecem, ou deixam de ser comentados. De qualquer forma, partindo daquele suposto ‘vazio’, a população local só pode ser beneficiária dos projetos, pois há uma troca do ’nada’ pela ‘ocupação’”. (RIBEIRO, 1986, p.175)

4.1.2. O Programa de Crédito Integrado (PCI) para a incorporação dos Cerrados

(1972-75)

O Programa de Crédito Integrado (PCI), criado em 1972 pelo Banco de

Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG), foi concebido para articular-se ao programa

federal denominado Corredores de Exportação, que se constituía num dos principais

desdobramentos da política agrícola no âmbito do I Plano Nacional de Desenvolvimento

(PND). Esse programa, de caráter estadual pioneiro, constituiu um marco para os

programas federais subseqüentes, em escala federal, para incrementar a utilização de

grãos exportáveis das áreas do cerrado brasileiro.

Inicialmente o PCI abrangia especificamente a Região do Triângulo Mineiro; depois

foi estendido às regiões fisiográficas do Alto Paranaíba, Paracatu, Alto São Francisco, Alto

Médio São Francisco e Zona Metalúrgica. A área programada no período 1972 a 1975

atingiu 52,7 mil Km²na região do Triângulo Mineiro, 34,9 mil no Alto Paranaíba, 51,2 mil em

Paracatu, 10,2 mil no Alto Médio São Francisco e 2,9 mil Km² na Zona Metalúrgica.68 O

programa contou com a participação articulada de vários órgãos estaduais, como a

Companhia Agrícola de Minas Gerais (CAMIG), a Companhia de Armazéns e Silos do

Estado de Minas Gerais (CASEMG), a Associação de Crédito e Assistência Rural (ACAR-

MG - atual Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural de Minas Gerais, EMATER-

MG) e o Programa Integrado de Pesquisas Agropecuárias do Estado de Minas Gerais

68 Todas as áreas mencionadas, com exceção das zonas Alto São Francisco e Metalúrgica, foram

incorporadas pelo POLOCENTRO a partir de 1975, conforme SALIM, 1986, p. 310.

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(PIPAEMG, hoje Empresa de Pesquisa Agropecuária do Estado de Minas Gerais, EPAMIG).

Segundo avaliação feita sobre o PCI,

“Esse programa visava, sob vários aspectos, assegurar maiores níveis de produtividade e de lucro ao empresário rural, não somente através da adaptação de culturas às melhores condições do solo da gleba, mas também concentrando a produção de tal modo que favorecesse as chamadas economias de escala, através da redução dos custos de produção. Uma das técnicas utilizadas para o planejamento agrário da gleba ou da região eram as fotografias aéreas que, propiciando o mapeamento sistemático, identificava não só a sua real situação, como a capacidade potencial do uso das terras. Com base nesses dados, eram definidas as melhores opções em termos de manejo do solo (conservação, rotação e preparo) e de técnicas culturais (fertilização, sementes selecionadas, tratos fitossanitários etc.), num período de três anos aproximadamente.” (SALIM, 1986, p.310) Um dos aspectos mais importantes do PCI, sem dúvida, foi a abrangência e a

seletividade do programa em relação aos produtores rurais, transferindo enormes somas de

recursos financeiros a uma pequena parcela de grandes proprietários (a área média

financiada ficava em torno de 483 hectares). Em linhas gerais, os resultados do Programa

de Crédito Integrado para a expansão da agricultura nos cerrados mineiros foram os de

favorecer o consumo de insumos químicos modernos e máquinas agrícolas; criar condições

para que fosse incorporada produtivamente uma vasta quantidade de terras à agropecuária

no estado e servir de projeto-piloto, permitindo a elaboração de um programa especial em

nível federal para toda a região Centro-Oeste, em especial ao POLOCENTRO.

4.1.3. O Programa de Assentamento Dirigido do Alto Paranaíba – PADAP (1973-74)

O PADAP surgiu especificamente como resultado da articulação do governo

estadual mineiro e a Cooperativa Agrícola de Cotia (CAC), com ligações com o governo

japonês, e foi implantado entre 1973/74 em quatro municípios da região do Alto Paranaíba

(Campos Altos, Ibiá, São Gotardo e Rio Paranaíba).69 O objetivo do programa foi o de

assentar descendentes de imigrantes japoneses em uma área de 60 mil hectares, cerca de

69 A exemplo do que também ocorreu com o PCI, o acordo para a execução desse projeto contou com a

participação do secretário de Agricultura de Minas Gerais, Alysson Paulinelli. Cf. PESSÔA, 1988, p.103.

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90 colonos previamente selecionados pela CAC, em áreas médias de 250 hectares.70 No

primeiro ano de implantação do PADAP foram introduzidos os cultivos de café, soja e arroz,

passando-se ao segundo ano com o cultivo de trigo e, no terceiro ano, foram definidas as

culturas básicas do projeto: soja, trigo e café.

Decorridos dez anos de sua implantação, em 1984, já eram 180 o total de colonos

cooperados envolvidos no PADAP. Devido ao esquema proposto, de esforços na

construção de infra-estrutura, assistência técnica, cooperativismo, crédito rural subsidiado e

colonos selecionados e em número limitado, o PADAP foi eleito como programa-modelo de

exploração agrícola da região dos cerrados, e serviu de base para outros programas como

os PRODECERs, o PADSA e o PADVALE.

Entretanto, afora a iniciativa do governo em desapropriar “por interesse social” um

latifúndio com área superior a 20 mil hectares, além da destinação de recursos da ordem de

US$ 200 milhões para o programa, como concluiu PESSÔA (1988, p.105),

“... tal como ocorreu com o PCI, o PADAP apresentou aspectos negativos. Um deles refere-se à marginalização da população da área em relação ao processo produtivo, incorporando-se a ele como mão-de-obra temporária. A especulação no preço das terras fez com que a maioria vendesse suas pequenas propriedades e se acumulasse nas cidades. Além do mais, a agricultura desenvolvida nestes projetos é de grupos fortes, porque os investimentos necessários só mostram retorno após a segunda safra”.

4.1.4. O Programa de Desenvolvimento dos Cerrados – POLOCENTRO (1975-1979)

O POLOCENTRO foi um programa estabelecido para a região dos cerrados em 1975,

dentro das estratégias do II Plano Nacional de Desenvolvimento (II PND - 1975/79), que

tinha como caráter mais amplo o desenvolvimento produtivo de outras regiões do país,

como a Amazônia Legal. O programa foi criado pelo Decreto n°75.320 (de 29/01/75) e

objetivava “o desenvolvimento e a modernização das atividades agropecuárias da região

Centro-Oeste e do oeste de Minas Gerais, mediante a ocupação racional de áreas com

características de cerrados e seu aproveitamento em escala empresarial”.71

70 Sobre o Programa de Assentamento Dirigido do Alto Paranaíba (PADAP) implantado em 1973,

consultar PESSÔA (1988), em especial o capítulo IV, e RIBEIRO (1986). 71 Cf. Circular n. 259 do Banco Central do Brasil de 19/06/75. In: MÜELLER, 1990, p. 53.

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Todos os programas especiais de ocupação agrícola do POLOCENTRO propostos

pelo Governo Federal foram orientados dentro da concepção de pólos de desenvolvimento

e abrangeram uma extensa área dos cerrados e um conjunto de estados localizados na

região Centro-Oeste e oeste de Minas Gerais, conforme pode ser observado nas tabelas

seguintes (Tabelas 12 e 13).

A figura apresentada a seguir possibilita a visualização das áreas estratégicas em

toda a região Centro-Oeste, e ainda no Oeste do estado de Minas Gerais, compreendendo

as regiões do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba, em 1975.

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0 250 Km

III

II

I

IV

V

VI

VII

VIII

IX

X

XIXII

I - TRIÂNGULO MINEIRO

II - VÃO PARACATU

III - ALTO MÉDIO SÃO FRANCISCO

IV - RIO VERDE

V - PIRANHAS

VI - PIRINEUS

XII - XAVANTINA

XI - PARECIS

X - BODOQUENA

IX - CAMPO GRANDE - TRÊS LAGOAS

VII - PARANÃ

ESTADO DE GOIÁS* ESTADO DE MATO GROSSO**ESTADO DE MINAS GERAIS

(**) inclui o Estado de Mato Grosso do Sul, criado em 1977.

(*) inclui o atual Estado de Tocantins, criado em 1989.

OCORRÊNCIAS DE CALCÁRIO

FONTE: Brasil. Presidência da República (1975)

VIII - GURUPI

FIGURA 10

ÁREAS DOS PROJETOS

50°

-10°

20°

60°

GURUPI

BARREIRAS

NOBRES

CUIABÁ

BARRA DO GARÇAS

PIRANHAS

ARAGARÇASBRASÍLIA

GOIÂNIA MONTES CLAROS

PIRAPORA

CURVELOCORINTO

BELO HORIZONTE

TRÊS LAGOAS

CAMPO GRANDE

CORUMBÁ

AQUIDAUANA

DOURADOS

JARDIMPORTO MURTINHO

PONTA PORÃ

PATROCÍNIO

UBERLÂNDIACANÁPOLIS

ITUMBIARAJATAÍ

RIO DE JANEIROSÃO PAULO

DOMÍNIO DOS CERRADOS

DIG.: Celso A. Siqueira

BALSAS

PALMAS

0 500 1000 km

N

ORG.: João Cleps Jr.

15°

SÃO PAULO

PARANÁ

MATO GROSSODO SUL

MATO GROSSO BAHIA

MINAS GERAIS

GOIÁS

TOCANTINS

PIAUÍ

MARANHÃO

RIO DE JANEIRO

ÁREAS SELECIONADAS DO PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO DOS CERRADOS -

POLOCENTRO (1975 - 1979)

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Tabela 12 Regiões Abrangidas pelo Programa POLOCENTRO (1975)

Microrregiões (1)

U.F

Áreas de Abrangência

I - Triângulo Mineiro II - Alto Médio São Francisco III – Vão do Paracatu IV - Campo Grande-Três Lagoas V - Bodoquena VI - Xavantina VII – Parecis VIII- Gurupi IX - Paranã X - Pirineus XI – Piranhas

MG MS* MT TO** GO

- ao longo da BR-365, entre Patrocínio e Canápolis; - limitada pelos rios Paraopeba, São Francisco e das Velhas, de Sete Lagoas até Pirapora; - localizada entre a cidade de Paracatu e a BR-365, tendo como eixo a BR-040; - ao longo da Estrada de Ferro Noroeste, entre Campo Grande e Três Lagoas; - ao longo da rodovia de ligação entre Aquidauana e Bonito; - delimitada pelo rio Cristalino e ribeirão Água Preta; - localizada ao longo da BR-364, entre os ribeirões Sumidouro e Sacré; - ao longo da BR-153, entre Gurupi e Porangatu; - ao longo da BR-020, entre o rio Paraim e a cidade de Posse; - ao longo da BR-080, entre a divisa do Distrito Federal com Goiás e o rio das Almas; - ao longo da BR-158, entre os rios Verde Grande e Claro e o eixo da BR-060

(1) Segundo a Divisão Regional do Brasil em Zonas Fisiográficas (1940), FIBGE. (*) Incluído, na época, ao estado de Mato Grosso. (**) Desmembrado do estado de Goiás. Organização: João Cleps Jr. Fonte: Adaptado de SALIM, 1986, p.315.

Tabela 13 Áreas Incorporadas pelo POLOCENTRO entre 1975-79

Área Incorporada (ha.) e

Estimativas de Expansão Do Espaço Produtivo

Minas Gerais

Mato Grosso

Mato Grosso do Sul

Goiás *

Total da Área Incorporada em hectares (1)

248.410,1

208.361,0

500.765,4

457.241,3

Estimativa com base na Totalidade dos projetos (ha.)

440.000,0

367.500,0

885.000,0

807.500,0

Total da área (ha.)incorporada na região-programa entre 75-80

1.610.000,0

1.722.000,0

2.903.000,0

1.911.000,0

Estimativa da Participação do programa na expansão produtiva regional (%)

27,3

21,3

30,5

42,3

(*) Inclui a área do atual estado de Tocantins. (1) Reúne dados de 2.900 projetos. Fonte: Fundação João Pinheiro, 1985, p. 56.

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4.1.5. Programa de Cooperação Nipo-Brasileira para o Desenvolvimento dos Cerrados- PRODECER (1978 - ...)

O programa PRODECER resultou de um acordo de cooperação firmado, em 1976,

entre o Brasil e o Japão, para a promoção de agricultura moderna em áreas de cerrados

das regiões Centro-Oeste e Norte. A estratégia do programa foi a criação de grandes

unidades agrícolas, com forte base empresarial, fundamentadas no sistema de operação

cooperativista.

Para a coordenação geral do PRODECER foi criada uma binacional, a Companhia

de Promoção Agrícola (CAMPO), constituída por 51% do capital pertencente à Companhia

Brasileira de Participação Agroindustrial (BRASAGRO), uma holding composta por 44

acionistas; e a outra parte pertencente à holding japonesa Japan-Brasil Agricultural

Development (JADECO), com 49 acionistas liderados pela Japon International Corporation

Agency (JICA). Entre os principais acionistas brasileiros estavam envolvidos os principais

bancos oficiais e privados, como o Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG),

Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico (BNDE), Banco Nacional de Crédito

Cooperativo S.A (BNCC), Banco do Brasil, Banco América do Sul, Bamerindus, Banco

Econômico, Banco Nacional, UNIBANCO, DESENBANCO, Banco da Amazônia; empresas

estatais como a Companhia Vale do Rio Doce, Companhia Brasileira de Armazenamento

(CIBRAZEM), Companhia Agrícola de Minas Gerais (CAMIG), COBEC e grupos de

empresas privadas como Cataguases Leopoldina, Cica Norte, Manah, Eucatex, Solorrico,

Minasa, Brahma, Nutrícia, Florestal Acesita, MADAL e Granja Resende. 72

A holding japonesa, comandada pela Companhia Nipo-Brasileira de

Desenvolvimento Agrícola (JADECO), com 49% do capital da CAMPO, era liderada pela

JICA, com participação do Banco de Tóquio, Central de Cooperativas do Japão, Banco

Nacional de Crédito Agrícola e Florestal e das empresas MITSUI, MITSUBISHI, TOSHIBA,

MARUBENI, SUMITOMO, ISHIKAWAJIMA, YAKAULT, KAWASAKI, KOMATSU, C. ITOH,

entre outras.

A CAMPO foi responsável pela implantação do PRODECER I, a partir de 1980, que

se distribuiu por três áreas de Minas Gerais, totalizando cerca de 58.754 hectares, assim

distribuídas: 1) o município de Iraí de Minas como sede, abrangendo também os municípios

de Nova Ponte e Romaria; 2) o município de Coromandel como pólo, e parcialmente

72 Para maiores informações sobre o PRODECER, consultar os trabalhos de SALIM (1986) e PESSÔA

(1988) neste último especialmente o Capítulo V, p. 132.

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compreendida pelos municípios de Patrocínio, Guimarânia e Patos de Minas; 3) o município

de Paracatu, entre a divisa de Goiás e o município de Unaí, com pequena parte da área

neste último. Todas essas três zonas são coincidentes com as áreas então estabelecidas

pelo Programa POLOCENTRO (1975).73

Um dos exemplos de projetos da primeira fase do PRODECER na região do

Triângulo Mineiro-Alto Paranaíba foi o Projeto de Colonização de Iraí de Minas, cuja área

inicial era de 8,9 mil hectares e que foi entregue a 26 colonos. Executada pela então

Cooperativa dos Suinocultores de Encantado Ltda. (COSUEL), do Rio Grande do Sul -

atual Cooperativa Agrícola Mista Iraí Ltda. (COPAMIL) -, esse projeto tem sido de grande

impacto para as transformações produtivas da região do cerrado no oeste mineiro. Do

ponto de vista agrícola, o papel desempenhado pela cooperativa foi atuante no sentido de

ampliar enormemente o espaço incorporado dos cerrados e de inserir novos agricultores na

região (especialmente gaúchos ), servir como campo de aplicação e veículo de difusão das

novas tecnologias nas variedades de plantas e produção de sementes (milho e soja,

sobretudo), estimular o uso de agroquímicos diversos, atuação esta realizada através de

parcerias com empresas privadas e órgãos oficiais de pesquisa.

73 Os projetos do PRODECER foram os seguintes: 1) Projeto de Colonização de Iraí de Minas (Iraí de

Minas), abrangendo 8.910 hectares, distribuído em 26 lotes com área média de 343 hectares.; 2) Projeto de Colonização Mundo Novo (Paracatu), com uma área total de 23.100 hectares, com 50 lotes de área média de 462 ha; 3) Projeto de Colonização Coromandel (Coromandel), com 18 lotes de área média de 333 ha, somando 6.000 hectares; 4) Companhia de Desenvolvimento Agroindustrial do Cerrado - CDAC (Paracatu), numa área total de 10.120 ha; 5) Curral do Fogo Agroindustrial S.A. (Unaí), com área de 4.840 ha e, 6) Fazenda Coromandel, pertencente a CAMPO, com área de 5.784 ha.

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Tabela 14: Projetos do Programa de Cooperação Nipo-Brasileira para o Desenvolvimento do Cerrado - PRODECER I [1979-1985]

Nome do Projeto/

Empresa

Localização

Área do Projeto

(em hectares)

Número de Produtores

Beneficiados

Tamanho Médio dos Lotes

(em hectares)

Valor dos Investimentos (Em mil US$)

1. Projeto de Colonização Mundo Novo CAC – Cooperativa Agrícola de Cotia –Coop. Central

Paracatu-MG

23.100

48

462,0

26.500

2. Projeto de Colonização Iraí de Minas COPAMIL – Cooperativa Agrícola Mista Iraí Ltda

Iraí de Minas-MG

8.910

26

342,7

11.610

3. Projeto de Colonização Coromandel Associação de Produtores de Coromandel

Coromandel-MG

6.000

18

333,3

4.800

4. Projeto de Colonização Paracatu Entre Ribeiros PCPER – I

Paracatu-MG

10.315

41

251,6

17.120

5. Fazenda Coromandel CAMPO

Coromandel-MG

5.784

(*)

---

---

6. Cia. de Desenvolvimento Agroindustrial Cerrado CDAC

Paracatu-MG

10.120

(**)

---

---

7. Curral do Fogo Agroindustrial CFA

Unaí-MG

4.840

(***)

---

---

(*) Fazenda de experimentos e produção de sementes básicas melhoradas de milho, soja, feijão e trigo; (**) Empresa agrícola formada pela associação entre a CAMPO, JADECO, Banco América do Sul, BEMGE entre outros, para a produção de arroz, soja, trigo e café; (***) Empresa controlada por capitais privados (família Vitor Ribeiro, com mais de 70% de ações) em associação com a CAMPO e BRASAGRO, para a produção de soja, milho, arroz, feijão, ervilha e tomate. Organização: João Cleps Jr. Fontes: CAMPO/Relatório do Programa de Cooperação Nipo-Brasileira para o Desenvolvimento dos Cerrados – PRODECER: Fases I e II, 1978 a 1992 SALIM, 1986, p. 328. PESSÔA, 1988, p. 143.

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135 Tabela 15: Projetos do PRODECER II [1985-1993]

Nome do Projeto/

Empresa

Localização

Área do Projeto (em ha)

Número de Produtores

Beneficiados

Tamanho Médio dos Lotes

(em hectares)

Valor dos Investimentos (em mil US$)

PPRROOJJEETTOOSS DDEE EEXXPPAANNSSÃÃOO

1. Projeto de Colonização Paracatu Entre Ribeiros II / COOPERVAP- Coop. Agrop. Vale do Paracatu Ltda.

Paracatu – MG

10.843

28

387,2

23.655

2. Projeto de Colonização Paracatu Entre Ribeiros III / COOPERVAP- Coop. Agrop. Vale do Paracatu Ltda.

Paracatu – MG

5.953

20

297,6

19.317

3. Projeto de Colonização Paracatu Entre Ribeiros IV / COOPERVAP- Coop. Agrop. Vale do Paracatu Ltda.

Paracatu – MG

3.984

10

398,4

9.103

4. Projeto de Colonização Bonfinópolis/ FEMECAP – Federação Meridional das Cooperativas Agrop. Ltda.

Bonfinópolis e Unaí – MG

16.588

49

338,5

38.300

5. Projeto de Colonização Piratinga/ COOPERTINGA – Coop. Agropecuária da Região de Piratinga Ltda.

Formoso – MG

20.643

53

389,5

41.800

6. Projeto de Colonização Buritis/ COOPAGO - Coop. Agropecuária do Planalto Goiano Ltda.

Butitis – MG

17.004

42

404,8

24.200

7. Projeto de Colonização Guarda-Mor/ SULBRAS – Coop. Central Agr. Sul Brasil Ltda

Guarda-Mor – MG

11.916

37

322,0

24.350

8. Projeto de Colonização Paineiras/ COCARI – Cooperativa dos Cafeicultores de Mandaguari Ltda.

Ipameri e Campo Alegre-GO

8.274

29

285,3

23.129

9. Projeto de Colonização Cristalina/ COCARI – Cooperativa dos Cafeicultores de Mandaguari Ltda.

Cristalina-GO

6.115

16

382,2

9.428

10. Projeto de Colonização Buriti Alto/ COPACEN – Coop. Agropecuária do Planalto Central Ltda.

Niquelândia, S.J. da Aliança, Planaltina de Goiás, Água Fria e Alto Paraíso – GO

15.615

40

390,4

35.650

11. Projeto de Colonização Alvorada/ CAMAS – Coop. Agrícola Mista Alvorada do Sul Ltda.

Água Clara – MS

22.001

56

392,9

26.096

Segue ...

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136

PPRROOJJEETTOOSS PPIILLOOTTOO

CCoonntt.. PPRROODDEECCEERR IIII

12. Projeto de Colonização Ouro Verde/ CAC- Coop. Agrícola de Cotia- Coop. Central

Formosa do Rio Preto – BA

16.404

48

341,7

26.000

13. Projeto de Colonização Brasil Central/ COACERAL – Coop. Agrícola do Cerrado do Brasil Central Ltda.

Formosa do Rio Preto – BA

15.028

38

395,5

24.000

14. Projeto de Colonização Ana Terra/ COOPERCANA – Coop. Agropecuária Mista Canarana Ltda.

Tapurah – MT

18.600

40

465,0

22.000

15..Projeto de Colonização Piúva/ COOPERLUCAS – Coop. Agropecuária Lucas Rio Verde Ltda.

Lucas do Rio Verde e Mutum – MT

16.717

39

428,6

28.000

Organização; João Cleps Jr. Fonte: CAMPO/ Relatório do Programa de Cooperação Nipo-Brasileira para o Desenvolvimento dos Cerrados – PRODECER: Fases I e II, 1978 a 1992.

Tabela 16: Projetos do PRODECER III – EXPANSÃO [1993 – 1998]

Nome do Projeto/

Empresa

Localização

Área do Projeto

(em hectares)

Número de Produtores

Beneficiados

Tamanho Médio dos Lotes

(em hectares)

Valor dos Investimentos (em mil US$)

1. Projeto Balsas CAMPO – Companhia de Promoção Agrícola e Batavo Nordeste

Balsas (MA)

40.000

60

654,0

76.600 (1)

2. Projeto Pedro Afonso CAMPO/ Cooperativa Mista São João Ltda.

Pedro Afonso (TO)

40.000

41

500,0

76.600 (1)

3. Projeto Javaés (2) JICA

Formoso do Araguaia (TO)

162.000

N/d

N/d

120.000

(1) Valores estimados com base nos investimentos totais previstos para os dois projetos, de US$153,2 milhões. (2) Projeto desenvolvido pelo governo do Estado de Tocantins em cooperação com a Agência JICA para o fornecimento exclusivo de arroz para o Japão. Organização: João Cleps Jr. Fontes: CAMPO/Relatório do Programa de Cooperação Nipo-Brasileira para o Desenvolvimento dos Cerrados – PRODECER: Fases I e II, 1978 a 1992. Gazeta Mercantil, 26, 27 e 28/nov./1997, p. C-7 [Agribusiness]; CUNHA et al. , 1993.

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O grande destaque, porém, foi o de servir como modelo para a terceira fase do

PRODECER, iniciada recentemente nas áreas do cerrado dos estados do Piauí e

Maranhão.74

A segunda etapa do Programa de Cooperação Nipo-Brasileira para o

Desenvolvimento dos Cerrados (PRODECER II) iniciou-se entre 1985 a 1987, tendo como

objetivos desenvolver a produção de grãos em 200 mil ha. de terras e promover o

assentamento de agricultores selecionados em lotes de 250 e 400 hectares,

compreendendo 15 projetos em cinco estados brasileiros: sete projetos em Minas Gerais,

três em Goiás, dois na Bahia, dois em Mato Grosso e um em Mato Grosso do Sul.

Uma avaliação recente do PRODECER II aponta resultados menos favoráveis aos

agricultores envolvidos do que na fase anterior, no PRODECER I, visto que no PRODECER

II os colonos tiveram que incorporar custos (crédito caro, insumos modernos e maquinaria),

num contexto desfavorável dos mercados nacional e internacional. De outro lado, esses

agricultores contavam com vantagens tais como: subsídios nas taxas de juros dos créditos

obtidos, correção monetária parcial, baixos preços da terra, assistência técnica e outros.75

Em Minas Gerais, como o principal estado beneficiado pelo PRODECER, a situação

dos projetos é bastante variável, indo desde resultados insatisfatórios, como a cultura da

soja nos projetos Entre Ribeiros (Paracatu), com produtividade agrícola abaixo da média

regional (entre 1987-1992), até razoáveis inserções no contexto regional, devido às

condições de transportes (exemplo dos próprios projetos de Paracatu e de Guarda-Mór,

este último com melhores condições de clima e solo e índices de produtividade agrícola).

Como aspectos positivos do conjunto de projetos ressaltam-se a grande

diversificação produtiva introduzida nessas regiões através de novas culturas, com o uso de

irrigação de frutas e olerícolas e a diversificação na criação de animais (criação de suínos e

bovinocultura de corte).76

A Fase III – Expansão - do PRODECER inicia-se num período em que o poder

público encontra dificuldades em manter os grandes volumes de créditos e inicia cortes nos

subsídios, como nos anos 70. Esta fase de “expansão” constitui basicamente uma

74 A Cooperativa Agrícola Mista Iraí Ltda nesse período de funcionamento, ampliou o quadro de

produtores-cooperados, atuação que atinge mais de 10 municípios do seu entorno e, principalmente, o espaço de cultivo agrícola chegando próximo de 30 mil hectares (20 mil com soja e 10 mil com milho) e com volume de produção de grãos em torno de 100 mil toneladas. Cf. Dados da Copamil, fev./1995.

75 Para uma maior avaliação do PRODECER II, ver NABUCO et al., 1993. 76 Idem.

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retomada do projeto do início dos anos 90, envolvendo a construção de infra-estrutura de

transporte e energia e liberação de financiamento direto ao produtor agrícola para as

culturas de soja, milho e arroz abrangendo, em ordem de destinação de volumes de

recursos, os estados de Minas Gerais, Goiás e Tocantins. Os investimentos iniciais do

PRODECER III somam cerca de US$ 850 milhões, onde cerca de 40% destina-se a Minas

Gerais (em torno de US$ 300 milhões), para ser aplicado na construção do ramal ferroviário

Pirapora-Unaí (US$ 200 milhões), da Companhia Vale do Rio Doce (CVRD); o restante

desse percentual destina-se aos produtores rurais mineiros para a compra de máquinas e

implementos agrícolas, com condições especiais de pagamento, além de projetos de

silvicultura para atender a carvoarias, siderúrgicas e indústria moveleira mineira.77

No estado de Tocantins, o PRODECER III já envolveu cerca de 40 mil hectares no

município de Pedro Afonso, na confluência dos rios Tocantins e Sono, para a produção de

soja, além da previsão de expansão do arroz nas áreas de varjão da região de Formoso do

Araguaia, próximas à Ilha do Bananal, com o objetivo exclusivo de atender o governo do

Japão (Tabela 18). Além desse eixo, situado no Corredor Tocantins-Araguaia, está ainda

prevista, nessa terceira etapa, a implementação de projetos nos estados do Piauí, Pará e

Rondônia, em áreas consideradas de domínio florestal transitório entre o Cerrado e a

Floresta Amazônica, no Centro-Norte do país.78

4.1.6. Avaliação e Resultados dos Programas Oficiais no Cerrado

Na avaliação dos programas regionais de desenvolvimento para os cerrados, o que

se pode concluir é que a fórmula de expansão capitalista adotada pela agricultura brasileira

e mineira nos anos iniciais foi a de incorporação de terras do cerrado através da distribuição

de crédito barato destinado aos projetos com número limitado de produtores “selecionados”.

Conclui-se, também, que nesse processo o Estado, para atender os interesses dos

grandes capitais agrícolas, industriais e financeiros, teve iniciativas como a de desapropriar

77 Nota-se mais uma vez a participação decisiva de políticos de Minas Gerais, como ficou evidente

anteriormente, através da presença de Alysson Paulinelli, que dirige a Secretaria de Agricultura do Governo mineiro, que vem assessorando o governo federal nas negociações com o governo japonês para o Programa de Desenvolvimento do Cerrado; além da própria participação do Ministro da Agricultura, Arlindo Porto, que é de Patos de Minas. Cf. Gazeta Mercantil, 30/abr./1995 e 01/mai./1997, p. B-18 [Agibusiness] e 28/set./1995, p. B-16 [Finanças & Mercados – Agribusiness].

78 Cf. Anuário Manchete Rural, Especial Agribusiness, n.118, abr./1997.

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terras “por interesse social”; em contrapartida não o fez em prol de pequenos agricultores e

trabalhadores sem terras da região.

Um dos pontos marcantes dos programas, com reflexos diretos no processo de

reocupação do cerrado, foi a redistribuição da terra entre os colonos dos projetos e os

antigos proprietários, que se desfizeram das áreas de cerrados (predominantemente

terrenos de chapadas) e adquiriram “terras de cultura”, localizadas em áreas de vertentes

de relevo impróprio à mecanização. A conseqüente valorização das terras de cerrados,

promovida pela agricultura moderna, foi algo “impensável” para os antigos donos, muitos

dos quais mais tarde se arrependeram diante da rápida e grande valorização fundiária.

Acresce que a concepção dos programas oficiais, a exemplo do POLOCENTRO, foi a

de dar prioridade à seleção de colonos com alta probabilidade de adotarem as tecnologias

propostas, visto que a maioria dos mutuários era oriunda dos estados do Sul do Brasil. Ao

lado das grandes vantagens concedidas aos colonos, os quais iam desde os investimentos

na aquisição de terras, levantamento e demarcação, correção e conservação dos solos com

insumos, financiamento de equipamentos de irrigação e máquinas, construções de infra-

estrutura nas glebas de terras, o programa realizou investimentos em obras de infra-

estrutura regional e de apoio à comercialização agrícola, tais como em estradas, energia,

armazenagem, saúde, educação, entre outras.

PESSÔA (1988), ao fazer uma análise do processo de apropriação da terra nas

áreas adquiridas pela CAMPO para a destinação aos colonos localizados em Iraí de Minas,

Coromandel e Paracatu, sintetiza as características do PRODECER, no que diz respeito à

política seletiva do programa:

“O modelo de agricultura proposto para o cerrado teve indicação certa. Os participantes deste programa não foram os proprietários tradicionais (agricultores, pecuaristas, meeiros, arrendatários) residentes nos referidos municípios. A escolha foi feita pelas cooperativas que se responsabilizaram por cerca de 80% do pessoal e

pela CAMPO que se encarregou dos 20% restantes”. (PESSÔA, 1988, p.155)

Os sucessivos planos econômicos do Governo Federal favoreceram amplamente a

quitação antecipada dos débitos de aquisição de terras. O Plano Cruzado (fevereiro de

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1986), ao impor o congelamento de preços, também reduziu as dívidas a valores irrisórios,

que tinham sido contraídas para serem pagas com até 20 anos de carência.79

A experiência dos PRODECERs em relação ao padrão tecnológico e fundiário, em

que se procurou seguir a experiência do farmer americano (colonos com experiência

agrícola e gerencial, e uso intensivo de insumos e maquinaria modernos), segundo

avaliação recente, aponta o seguinte:

1) em relação à produção e produtividade: alguns projetos, como os situados no território

mineiro (exemplo dos Projetos Entre Ribeiros II, III e IV, em Minas Gerais), onde domina

o cerrado, com regime de chuvas irregulares, apresentam os mais baixos índices de

produtividade da soja (entre 1.020 e 1.010 kg/ha), em relação aos outros projetos do

PRODECER;

2) no tocante à seleção dos colonos, a avaliação permitiu constatar que: a) há indícios de

favorecimento na escolha de colonos pelas cooperativas; b) houve burla de exigência

de não ser proprietário de terra; c) houve falta de experiência produtiva, não obstante

ser elevado o nível técnico dos colonos; d) a inclusão de agrônomos e técnicos favorece

as alternativas de diversificação; e) a seleção realizada por dois agentes (a CAMPO e

as Cooperativas), sem fiscalização mútua, com exclusão do agente financeiro,

contribuiu para promover disparidades entre os colonos, em detrimento dos projetos;

3) no tocante à situação financeira dos projetos, talvez seja um dos aspectos mais

criticáveis: a maioria dos colonos não tem sido capaz de gerar recursos financeiros

suficientes para amortização dos empréstimos; e formas paliativas encontradas para

renegociação das dívidas não permitem equacionar sua situação estrutural, agravando

o quadro de endividamento (NABUCO et al., 1993, p.72-3).

Não obstante os percalços encontrados pelo governo e os empresários rurais,

aparecem novos projetos no cerrado como continuidade desses programas, como é o caso

do governo de Tocantins que pleiteia a implantação do PRODECER IV na região de

Silvanópolis, 100 Km ao sul da capital Palmas, para a produção agrícola.80

79 Um dos agricultores mutuários do programa declarou, em entrevista realizada, que ao procurar fazer

a quitação dos débitos antecipados, “ficou muito mais caro pagar a passagem de deslocamento até a capital Belo Horizonte”. Cf. Trabalho de Campo, julho/95. Para maior avaliação do processo de aquisição de terras pela CAMPO e a situação dos colonos em Iraí de Minas, ver PESSÔA, 1988, p.155.

80 Cf. Relatório Gazeta Mercantil Latino-Americana, “Especial Tocantins”, 29/set. a 05/out./1997, p.13-20.

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Em Minas Gerais, particularmente, já desde a década de 80, assiste-se a um

esgotamento da expansão da fronteira do cerrado.81 Com isso, a tendência é a

intensificação dos cultivos em Minas Gerais, realizada através de uma concentração, cada

vez maior, da propriedade e da produção agrícola.

4.2. OS PROGRAMAS DE APOIO AO DESENVOLVIMENTO AGROINDUSTRIAL E OS

FLUXOS DE INVESTIMENTOS RECENTES NA REGIÃO DO CERRADO

4.2.1. Os Novos Mecanismos de Financiamento da Agricultura e Agroindústria como Instrumentos para a Concentração Agroindustrial

Uma das mais importantes fontes indiretas de recursos ao desenvolvimento

agroindustrial proveio dos créditos agrícolas subsidiados, nos anos 70, que criaram as

condições para o estreitamento das relações entre agricultura e indústria, dando suporte à

compra de tratores, implementos e máquinas agrícolas, além dos insumos químicos.

Ainda nos anos 70, sob os programas de investimentos do II Plano Nacional de

Desenvolvimento (II PND), setores da indústria de processamento agroalimentar (sobretudo

as indústrias de esmagamento de grãos) foram amplamente beneficiados com baixas taxas

de juros e grandes volumes de crédito, concedidos pelos bancos estatais, o que beneficiou

principalmente a economia agroindustrial dos estados do Sudeste e Sul do Brasil.

A partir dos meados dos anos 80, novas áreas do espaço brasileiro foram

incorporadas à agricultura empresarial, tais como as regiões do cerrado do planalto central.

Isso, inicialmente, ocorreu nos principais estados do Centro-Oeste e de Minas Gerais e

posteriormente, no oeste da Bahia, no Maranhão e no Piauí; tudo dentro dos mais altos

padrões tecnológicos modernos, comandados pelas regiões tradicionais do segmento

agroindustrial.

A instalação de grandes empresas agroindustriais no Centro-Oeste, as quais atuam

no ramo de commodities, de um lado; e, no mercado interno, de outro, integrando em nível

regional as cadeias produtivas de grãos e carnes; é um processo recente. As empresas

81 Na realidade, nas três antigas macrorregiões que de maneira geral caracterizam o cerrado mineiro

(Triângulo e Alto Paranaíba, Noroeste e Jequetinhonha), segundo os dados do IBGE, houve uma redução de 133.470 hectares na área dos estabelecimentos agropecuários, no período 1980-85.

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possuidoras de grandes redes de silos e armazéns, as plantas de esmagamento dos

grandes grupos econômicos como a Sadia, a Ceval, entre outras, só surgem nos estados

do Centro-Oeste (em Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, principalmente) e, nos demais

estados fora da região, a partir da segunda metade da década de 80.

Um estudo recente, que se constituiu da investigação de campo nas empresas

líderes do complexo soja e carne no Brasil, mostra que essas empresas têm mantido um

certo esforço de investimento mesmo durante os anos de recessão econômica:

“Esses investimentos em nova capacidade produtiva ocorreram basicamente na região de cerrado do Centro-Oeste e Bahia e tiveram o objetivo de assegurar o seu acesso privilegiado às fontes de matérias-primas (soja) e a mercados regionais de crescente importância (carne de frango)”. (CASTRO e FONSECA, 1995, p.5)

A avaliação feita pelo estudo revela que, por intermédio do Banco Nacional de

Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), entre 1987 e 1991 foram comprometidos

cerca de US$ 175 milhões em programas de apoio à agroindústria em regiões do cerrado

novo.82

Nesse processo, as empresas buscaram o aproveitamento das condições

excepcionais das novas áreas. E foi neste contexto que as empresas esmagadoras de

grãos e processadoras de óleos e farelos beneficiaram-se de vários programas estaduais

de incentivos fiscais, o que lhes facilitou o deslocamento, adiantando recursos para sua

implantação. Por outro lado,

“...a decisão de não alterar a política de preços mínimos, após o Governo Collor ter anunciado mudanças que penalizariam a agropecuária nestas novas áreas, acabou beneficiando a economia de fronteira, ao permitir que agricultores do centro-oeste e do oeste da Bahia, por exemplo, não sofressem o impacto da diferenciação regional dos valores básicos de custeio. Essa decisão provocou acalorados debates na época, desagradando especialmente as indústrias esmagadoras de grãos de outras regiões, mas mostrou-se adequada em médio e longo prazo, ajudando a consolidar a moderna e competitiva economia agroindustrial de fronteira nos Estados de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, no centro-oeste e oeste da Bahia e Maranhão, no Nordeste”. (FONSECA e GONÇALVES, 1995, p.32)

82 Segundo ainda a avaliação feita, o valor total aproximado destes investimentos no período pode ter

ficado entre US$ 350 milhões e US$ 400 milhões, embora seja difícil estimar o volume de recursos investidos a partir dos dados de financiamento via BNDES. Além deste tipo de financiamento, as empresas também obtiveram recursos oriundos de incentivos fiscais e ainda puderam lançar mão de deduções de ICMS (CASTRO e FONSECA, 1995, p. 8).

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Já no final da década de 1980, a escassez de recursos do crédito rural estatal

provocou o surgimento de novas formas de financiamento da produção e dos investimentos

na agricultura e na agroindústria. Com isso, aumentou significativamente a participação de

recursos privados no custeio da safra e no próprio investimento, em contrapartida à

diminuição dos recursos públicos.

Com a grande crise econômica vivida pelo país nos anos 80, novas práticas de

financiamento passaram a ser colocadas pelas empresas do complexo agroindustrial para o

financiamento à compra de insumos (custeio), de máquinas agrícolas, compondo assim as

estratégias competitivas dessas indústrias. A escassez de crédito barato, desencadeada

sobretudo pela crise fiscal e cambial dos anos 80, e, posteriormente, pela retirada dos

recursos oficiais de investimento, custeio e comercialização, foram os traços marcantes no

início dos anos 90.

A redução gradual da participação dos recursos públicos no investimento rural e

agroindustrial culminou com dois programas lançados pelo governo entre 1989 e 1993, o

Programa Nacional de Desenvolvimento Rural (PNDR) e o Programa Nacional de

Desenvolvimento Agroindustrial (PNDA). No que diz respeito ao primeiro, cabe destacar que

o mesmo atendeu preferencialmente à ocupação da fronteira agrícola dos cerrados do

Brasil Central e contribuiu para consolidar a agropecuária de grãos e a pecuária em bases

empresariais e modernas. Quanto ao programa voltado ao segmento agroindustrial,

segundo avaliação de FONSECA e GONÇALVES (1995, p.36),

“O traço institucional mais marcante do programa revelou a preocupação em não caracterizar a existência de uma seleção orientada pelo Governo. Na ausência de definições de prioridade, a alocação dos seus recursos acabou sendo sancionada pelas políticas de portfólio dos bancos que atuaram como agentes repassadores do PNDA. Nota-se que essa opção está de acordo com a orientação do próprio Banco Mundial, expressa em documentos encaminhados ao Governo brasileiro, em que se manifesta claramente a preferência por uma orientação de liberalização dos mercados, em lugar da política que o BIRD considera como ‘excessivamente intervencionista’ do Governo brasileiro nos mercados de crédito agrícola”.

Nesse contexto, a função de alocação é deixada para o mercado e o governo passa

a restringir-se à elaboração dos termos gerais dos contratos de empréstimos (e

subempréstimos) e dos mecanismos de regulamentação mínima necessários ao seu

acompanhamento. Ainda prosseguindo a análise, os autores referidos fazem críticas ao

enfoque “liberalizante” assumido pelo poder público na condução do PNDA.

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“Há ainda, um aspecto de importância a depor contra os argumentos não intervencionistas. Os projetos mutuários no PNDA pertencem a um número relativamente pequeno de grandes empresas agroindustriais, na realidade empresas com considerável poder de mercado. Com os bancos impondo uma série de cláusulas adicionais de proteção a uma clientela extremamente poderosa, mas rarefeita, a alocação de recursos faz-se em circunstâncias que estão longe de ser aquelas idealizadas para mercados perfeitos”. (FONSECA e GONÇALVES, 1995, p.37)

Na ausência de maiores diretrizes setoriais e regionais, os recursos serviram para

complementar grandes projetos em andamento, reforçando a tendência de reestruturação e

relocalização da agroindústria brasileira em curso, desde os meados da década de 80. 83

A análise setorial das informações obtidas nos contratos pelos autores referidos

destaca o subconjunto de recursos destinados ao processamento alimentar, que inclui

tanto as primeiras fases da transformação agroindustrial quanto a fabricação de alimentos.

Dentro desse grupo foram incluídas atividades relacionadas ao esmagamento de grãos

para obtenção de farelos, óleos e fabricação de gorduras vegetais derivadas, produção de

açúcar e álcool em usinas e destilarias, instalação de armazéns e silos graneleiros,

processamento de suco de laranja e alimentos enlatados, industrialização de matéria-prima

de origem animal, fabricação de farinhas, pães e massas industrializadas e a seleção e

armazenamento de sementes melhoradas.84

Os autores apontam ainda que, no caso da agroindústria, os recursos

encaminharam-se, na quase totalidade, para as empresas multinacionais de produtos

agroquímicos, tais como os herbicidas, acaricidas, fungicidas, produtos veterinários

(antibióticos para aves) e também para a fabricação de fertilizantes.

A avaliação de 41 projetos beneficiados com os recursos mostra a elevada

distribuição de recursos do PNDA para empreendimentos individuais, como o destinado

para uma fábrica de conservas de tomate, ervilha em Minas Gerais, que obteve US$7,6

milhões.

83 A análise dos autores acrescenta ainda a lógica financeira que norteou o processo de seleção dos

mutuários pelos bancos públicos e privados envolvidos no programa, adotando critérios regionais, ou seja, na concentração de recursos em regiões e setores que, em geral, têm mais acesso aos recursos financeiros, chegando a casos em que alguns dos bancos mantinham vínculos acionários com os próprios mutuários. Do ponto de vista regional, os principais estados beneficiados foram São Paulo, líder dos investimentos no Sudeste; Alagoas e Bahia, no Nordeste; Rio Grande do Sul, no Sul e o estado de Mato Grosso, no Centro-Oeste.

84 Cf. FONSECA e GONÇALVES, 1995, p.39.

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145

A distribuição dos recursos do Programa Nacional de Desenvolvimento

Agroindustrial (1989-1993), de acordo com a finalidade dos contratos agrícolas, por ordem

de importância dos volumes financeiros, foi feita em inversões associadas ao manejo do

solo (correção e fertilização) e água (irrigação), aquisição de máquinas e equipamentos, em

implantação de culturas e na construção de infra-estruturas.85

No tocante à distribuição dos recursos do PNDA para investimentos no agribusiness,

reforçaram-se as tendências de concentração e centralização da agroindústria, com os

repassadores financeiros selecionando clientes basicamente pela sua capacidade de saldar

compromissos, eliminando com isto a oportunidade para os pequenos empreendimentos.

Por sua vez, as empresas que receberam os recursos investiram em aumento de

capacidade e modernização, bem como na relocalização/consolidação de alguma forma

ligadas ao agribusiness.

Além disso, os recursos do PNDA para a agroindústria ajudaram a consolidar

processos de fusões e aquisições das empresas agroindustriais e rurais que, de outro lado,

sucumbiram ao endividamento com altas taxas de juros. De acordo com o estudo de

FONSECA e GONÇALVES (1995, p.43),

“De alguns anos para cá, alguns grupos econômicos internacionais aproveitando-se da relação cambial favorável e da fragilidade financeira de empresas ligadas à atividade agroindustrial iniciam movimento de incorporação, adquirindo ativos e participações acionárias, especialmente no segmento de processamento de grãos e leite. A espetacular entrada e ampliação da Parmalat no mercado brasileiro de leites e derivados ocorre nesta última fase”.

Em suma, a experiência dos dois programas atesta a ausência cada vez maior do

“intervencionismo” estatal, tão presente nos anos 70, e como concluem os autores citados,

podendo ser encarados como um “laboratório para desestatizar” os instrumentos de crédito

e de preços mínimos propostos pelo Banco Mundial para os países em desenvolvimento.

85 Em termos de localização geográfica, a expressiva participação de projetos na Região Centro-Oeste

encontra justificativas nos elevados custos iniciais de exploração agrícola em áreas de cerrados (correção e fertilização), que antecede outras formas de tecnologias empregadas na terra. Cf. FONSECA e GONÇALVES, 1995, p. 42.

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146

4.2.2. As Políticas Tributárias, Leis de Incentivos e os Conflitos Fiscais Federativos: as “guerras” fiscais

A indústria e a agricultura têm sido altamente influenciadas pela política de cobrança

de tributos e impostos diferenciados pelos estados brasileiros.

Na agricultura, por exemplo, desde que o governo federal, de um lado, retirou a

cobrança do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) sobre a

exportação de alguns produtos semi-elaborados, permitindo a manutenção da renda de

algumas cadeias agroindustriais (como a da soja e da laranja, por exemplo), e de outro,

reduziu o IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) e outros impostos internos, garantiu

uma razoável receita ao setor rural, porém gerou uma crise financeira e política para alguns

estados, que têm perdido receitas. A legislação complementar do ICMS de 1996 deu novo

estímulo ao crescimento do agribusiness que, impulsionado também pela redução do custo

de investimento na expansão e melhoria de infra-estrutura (decorrente da desoneração dos

bens de capital empregados na ampliação da oferta de transportes, de energia e de

telecomunicações), amplia as possibilidades de modernização econômica de diferentes

partes do território brasileiro.86

Além das medidas que atestam a falta de uma política tributária a longo prazo e

unificada para o setor agrícola e sobre produtos industriais, decorre ainda a questão das

alíquotas diferenciadas da cobrança de ICMS entre os estados. Em conseqüência, têm

surgido verdadeiras “guerras fiscais”, como fator de atração – competição entre as unidades

da federação (Quadro 7).

Um dos pontos marcantes das chamadas “guerras fiscais”, gerados principalmente

pela cobrança de alíquotas diferenciadas de ICMS e de antecipação de receitas (retenção

do imposto antecipadamente pelas indústrias), é a migração de empresas para outros

estados que oferecem maiores incentivos. Em Minas Gerais, essa estratégia tem surtido

86 As medidas de desoneração das exportações aprovadas pelo governo federal sobre o ICMS fazem

parte da política de abertura comercial e não incidem apenas sobre produtos primários e semi-elaborados (redução que pode chegar a 13%), mas influem também sobre os preços de máquinas e equipamentos adquiridos (redução de 8% a 10%). Integram também esta política outro conjunto de medidas para aumentar a capacidade produtiva e a competitividade das empresas brasileiras nos mercados doméstico e internacional. Além disso, a lei complementar sobre o ICMS causa impactos regionais, desde o incremento às exportações pelas reduções de custos tributários, como a criação de atrativos ao deslocamento das atividades de transformação para junto da região produtora, beneficiando com isso principalmente as regiões de fronteira agrícola como o Centro-Oeste e a Amazônia. A desregulamentação das taxas de exportações de soja, que antes eram de 13% para o grão, 11% para o farelo e 8% para o óleo, no primeiro ano de aplicação da nova política em 1997 provocou, de um lado, o aumento das exportações e, de outro, uma valorização do produto no mercado doméstico e maior demanda da matéria-prima pelas agroindústrias, com redução do nível de esmagamento.

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147

efeito contrário - onde algumas empresas novas e outras já sediadas procuram deslocar os

empreendimentos para Goiás ou São Paulo. Dentro desta lógica, como essas empresas

estão instaladas fora do estado, a legislação tributária permite reter menos imposto (ICMS),

mesmo em caso de vendas para dentro do estado de Minas Gerais.87

No segmento agrícola e agroindustrial, por exemplo, os impactos são variados, e

vão desde o aumento nos custos dos combustíveis utilizados até às exportações industriais

de produtos como óleos, couros, milho, entre outros. No caso do processamento de óleos,

que pode exigir das empresas operações interestaduais, a matéria-prima (soja) que é

adquirida (como em Goiás) fica com o ICMS deferido no estado de origem e, se exportada

diretamente, não gera crédito ao exportador. Por outro lado, se o produto for comercializado

para outro estabelecimento manufatureiro ou exportador de outro estado, acaba

beneficiando, pelo acúmulo de crédito potencialmente maior que o próprio lucro da

atividade, o estado onde está localizada a empresa industrializadora e exportadora final do

produto.88

Quadro 7 Brasil - Principais Características das Políticas de Incentivos Fiscais dos Estados

ESTADOS Prazo para Pagamento

% do ICMS Recolhido

Carência

Encargos

Correção Monetária

Minas Gerais De 5 a 8 anos 50% a 70% Até 1 ano 0,6 % a.a 100%

São Paulo De 2 a 10 anos Não há Não há Não há Não há

Rio de Janeiro 5 anos 40% a 70% 5 anos Não há 100%

Santa Catarina Até 10 anos 40% a 75% 5 anos Não há 100%

Goiás Até 10 anos Até 70% Não há 12% a.a 25%

Tocantins Variável Até 70% Não há 9% a.a 20%

Organização: João Cleps Jr. Fonte: Conselho Regional de Desenvolvimento Industrial/FIEMG – Posição de Set./1997.

87 Esta estratégia é comum para as empresas do setor de atacado-distribuição de Uberlândia, por

exemplo, que realizam o faturamento da venda de seus produtos fora do estado, como em São Paulo, cujo imposto é de 12%, fugindo da alíquota maior adotada pelo governo de Minas Gerais que cobra 18% para vendas inter-estaduais. Para compreensão das estratégias das empresas atacadistas de Uberlândia ver: CLEPS, Geisa D. Gumiero. O Comércio Atacadista de Uberlândia (MG): Mudanças Tecnológicas e Estratégias Territoriais. Rio Claro: UNESP, 1997, 181 p. Dissertação (mestrado) – IGCE, UNESP, 1997.

88 Cf. Entrevista do Secretário de Indústria e Comércio de Uberlândia, ao jornal Correio, 20/abr./1997, p. 8.

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148

A “guerra fiscal” para atrair investimentos tem gerado disputas e envolve dezoito dos

vinte e seis estados brasileiros, que oferecem indiscriminadamente diferentes vantagens,

em muitos casos em detrimento das receitas e do déficit público. As principais “armas” da

guerra fiscal entre estados incluem os seguintes benefícios relacionados ao Imposto sobre

Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS): 1) Isenções para micro e pequenas

empresas (MG, RJ, SP, CE, PB, PE, AC e RR); 2) Restituição total ou parcial do ICMS (AM

e RR); 3) Isenção total do ICMS (PI e AP); 4) Prazos diferenciados ou suspensão para

pagamentos (ES, PR, SE e AC); 5) Redução para exportações (PA e RR); 6) Isenção para

setores específicos (BA e PE); 7) Concessão de crédito (PB e RR); 8) Alíquotas

diferenciadas (RJ, MS, AL, PB e SE); 9) Isenção para instalação de indústrias novas (RJ,

MS e PI) e 10) Redução de alíquota básica de 17% para 7% (MS).89 Os pontos básicos das

disputas fiscais e os benefícios concedidos pelos estados brasileiros foram sumariados

anteriormente (Quadro 5).Ocorre ainda, que os estados oferecem incentivos “camuflados”,

ou seja, dão outras vantagens não previstas em leis tributárias.90

Essa disputa levou o governo mineiro a instituir o programa de incentivos

denominado Fundo de Desenvolvimento das Indústrias Estratégicas (Fundiest), para atrair

empresas do setor automotivo, agroindustrial e eletroeletrônico e a manter um escritório

estratégico do INDI na capital paulista, para mediar as negociações com os empresários.91

Um exemplo da diversificação e do deslocamento geográfico de plantas industriais

para outros estados em função dos incentivos ocorre em Minas Gerais, com o caso da

instalação da empresa do setor têxtil catarinense – a Tecelagem Kuehnrich S.A (Teka) –

do interior de São Paulo para Passos, no sul de Minas. De acordo com as projeções da

empresa, a previsão é de economizar cerca de US$ 50 milhões em impostos nos próximos

dez anos. Em outros termos, a principal vantagem da transferência será a redução de

custos e ampliação dos lucros, projetados sobre a concessão dos benefícios municipal e

estadual. Do governo de Minas, a tecelagem catarinense terá isenção de 15% do Imposto

89 Cf. Folha de São Paulo, 15/set./1996, p. 2-10. 90 Uma das alternativas encontradas de camuflar a legislação tem sido a prática de prorrogação do

prazo de pagamento do imposto e ainda estados que emprestam dinheiro via banco estadual no valor do imposto com juros de 1% ao ano. O governo paulista, por exemplo, decidiu criar dois fundos com recursos de orçamento para capital de giro das empresas, prevendo mais recursos para as empresas proporcionais ao volume de investimentos, tecnologia incorporada e para aqueles projetos que gerarem maior número de empregos. Cf. Gazeta Mercantil, 05/set./1996, p. A-6.

91 A criação do referido fundo foi feita por ocasião da assinatura para a construção da fábrica da Mercedes-Benz na cidade de Juiz de Fora (MG) em 1996.

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sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) por cinco anos e, o restante, financiado

durante dez anos, com correção de 50% do acumulado do Índice Geral de Preços de

Mercado (IGP-M) no período. A prefeitura de Passos isentou a Teka do pagamento do

Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) e cedeu o terreno de 20 mil metros quadrados,

além de um galpão de 6,5 mil m² de área construída.92

No Triângulo Mineiro, em particular, os efeitos dessa política têm sido sentidos nos

diferentes segmentos, como o eletroeletrônico, com o deslocamento da Black & Deker da

Grande São Paulo para a cidade de Uberaba, em 1995.

As formas mais comuns de incentivos fiscais têm sido a doação de terrenos e

construção de obras de infra-estruturas nos locais, a exemplo do que ocorreu com as

disputas para a instalação das fábricas do setor automotivo.93 Os incentivos dados ao setor

automotivo, o que tem recebido mais críticas, estão ocorrendo com o máximo custo fiscal

possível para o país, não criando condições para novos investimentos, mas apenas

influenciando a decisão sobre sua localização. Segundo estimativas baseadas nos

investimentos da Mercedes-Benz em Minas, de R$ 400 milhões, para a construção da

fábrica em Juiz de Fora (que pretende gerar cerca de 1.500 empregos diretos) levando-se

em conta apenas os empréstimos sobre o faturamento com prazo de dez anos, calcula-se

que cada emprego criado custará R$ 575 mil. Com todas as vantagens concedidas à

empresa, há quem diga que a Mercedes “ganhou” a fábrica de Minas Gerais, onde o

governo vai emprestar R$ 775 milhões em dez anos e vai receber apenas R$ 270 milhões

92 Somente em economia com custos de mão-de-obra a empresa reduzirá em 60% em relação a

Blumenau e 40% em São Paulo. Além da Teka, outras empresas paulistas anunciaram ou já se transferiram para Minas Gerais. Além das razões fiscais e de busca por menores salários, também alegam os problemas de urbanização intensa dos centros paulistas e problemas decorrentes. Na lista do INDI, constam as seguintes empresas que migraram para o Estado: a Farway Filamentos (joint venture entre a Hoechst do Brasil e a Rhodia), que está investindo US$ 70 milhões na cidade de Alfenas; a Hope (US$ 3,5 milhões em São Gonçalo do Sapucaí); a J.T. Adisaka (US$ 3 milhões em Pouso Alegre); Cambuci (US$ 9 milhões em Três Pontas); Kamy’s (US$ 5 milhões em Poços de Caldas). Cf. Gazeta Mercantil, 11/jun./1997, p.C-1 [Empresas & Negócios].

93 Os aspectos mais marcantes da questão fiscal envolveram principalmente a disputa para atrair novas montadoras de veículos entre os Estados do Centro-Sul do País, como São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Nessas novas localizações, saíram “ganhadoras” as cidades de São José dos Pinhais, no Paraná, com a fábrica da Renault e o Rio de Janeiro com a fábrica de caminhões e ônibus da Volkswagen.

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150

em receita com o ICMS, ou seja, cerca de 2,7% do faturamento, gerando uma diferença de

R$ 505 milhões.94

A interrupção do processo de desconcentração industrial no País foi um dos fatores

que contribuiu para o acirramento do fenômeno da guerra fiscal. De 1970 até os meados da

década de 80 houve um movimento de interiorização das indústrias, que contribuiu para a

amenização do papel dos governos estaduais na disputa pelos investimentos. A partir de

1985, com o fim do movimento de deslocamento das indústrias para os pólos regionais

próximos ao eixo Rio-São Paulo, os estados tentaram compensar com políticas mais ativas

no sentido de atrair novos investimentos produtivos. Com a postura do governo central em

reduzir o tamanho do Estado e praticar menor intervenção na economia, promovendo a

“abertura” a partir do final da década de 80, a agressividade e a competição entre os

estados foi aumentando. Além disso, com a economia relativamente estabilizada com o

Plano Real implantado em 1994, os investimentos começam a reaparecer no país.

Nesse contexto da disputa por novas localizações, as empresas do agribusiness

também têm sido envolvidas. Os casos mais recentes relacioanm-se com o grupo Perdigão

e a multinacional Monsanto, líder na genética de sementes, que foram disputadas pelos

Estados de Minas Gerais e Goiás. 95

Essa dinâmica perversa da guerra fiscal não deixa de refletir um novo padrão de

intervenção estatal no Brasil, onde os governos estaduais procuram ocupar o espaço

deixado pela União em termos de política industrial. Os estados, ao oferecerem grandes

vantagens iniciais às empresas, fazem-no com a possibilidade de aumentar no futuro a

arrecadação de impostos das mesmas empresas.

94 No protocolo assinado entre a Mercedes-Benz e governos estadual e municipal o valor estimado do

empréstimo é de R$ 775 milhões sobre o percentual do valor do faturamento da montadora durante os dez anos, repassados sem juros e correção monetária (7,75%). O valor estimado do crédito de 0,67% nos cinco primeiros anos, e de 1,35% nos últimos cinco anos calculado sobre o faturamento, sem juros e correção, somam R$ 87,7 milhões. Em linhas de crédito para capital de giro (juros de 3,5%), a Mercedes receberá R$ 104,9 milhões. Outros R$ 16 milhões são previstos em linhas de crédito para financiamento de máquinas e equipamentos, com 120 meses para pagar, sem juros e correção; além da isenção de impostos municipais por um período de dez anos, terreno doado para a construção da fábrica e a garantia como avalista do governo estadual na captação de recursos no exterior pela Mercedes-Benz. Cf. Folha de São Paulo, 04/mai./1997, p. 2-10. [Dinheiro]

95 Veja os exemplos da Perdigão e Monsanto na parte que analisa o movimento de reconcentração econômica e estratégias das empresas no cerrado, na parte posterior deste trabalho.

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4.3. COMPLEXO AGROINDUSTRIAL DA SOJA NO BRASIL E AS ESTRATÉGIAS DAS

EMPRESAS NA REGIÃO DO CERRADO

4.3.1. Caracterização das Empresas do Complexo Soja

O complexo soja tornou-se o símbolo da modernização agroindustrial no Brasil.

Nesse processo de modernização da agricultura brasileira, a introdução da soja no período

pós-70 pode ser considerado um divisor de águas, cuja atividade exigiu a implantação de

sistemas de produção com maior componente tecnológico, principalmente quando se

considera o seu cultivo na região dos cerrados.

A implantação da indústria de soja no Brasil ocorreu no começo da década de 1950,

com a instalação da primeira fábrica no Rio Grande do Sul, a Incobrás. Em 1955, a Igol

iniciou as operações de processamento de óleos e em 1958 entrou em operação a Sanrig

(Grupo Bunge y Born), resultante da fusão de dois moinhos de trigo.

A expansão do volume de soja processado em 1970 era ainda de cerca de um

milhão de toneladas. A maior expansão do processamento deu-se na década de 70,

quando entre 1974 e 1981 ocorreu um salto de quatro milhões para cerca de 14 milhões de

toneladas. Em 1981 a capacidade de esmagamento do país havia crescido para vinte

milhões.

Antes de iniciar a caracterização e análise das estratégias das principais empresas,

é importante destacar também que a cadeia agroindustrial de oleaginosas estende sua

atuação por um conjunto de mercados, dos quais se destacam: a produção e o comércio de

grãos; a produção de óleos vegetais (óleo bruto e refinado) e a produção de rações (farelo).

Além disso, para melhor compreensão das estratégias das empresas, na visão do complexo

agroindustrial, pode-se considerar a configuração de diferentes encadeamentos na

produção de soja, a saber: a produção de grãos-farelo-óleo e de grãos-rações-carnes. 96

96 Há que se considerar que o complexo de oleaginosas interage com um total de vinte e oito diferentes

produtos (óleos, gorduras e grãos), além de que o seu componente principal – a soja - é o que possui maior grau de inter-relação com outras cadeias, notadamente com a cadeia rações-carnes.

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Como assinalado anteriormente, devido ao elevado requerimento de capital fixo e

circulante para a verticalização, a liderança dos mercados do complexo “grãos-aves” é

limitada às empresas multinacionais líderes no comércio mundial de grãos e às empresas

nacionais de grande porte. De um lado, as empresas multinacionais concentram suas

estratégias de integração na cadeia de grãos, especialmente de soja, onde residem suas

vantagens globais de comercialização e, de outro, as empresas nacionais, a partir de sua

especialização inicial, direcionam suas estratégias ou para a integração dos dois segmentos

do complexo (como Hering-Ceval de soja para aves-rações) ou para diferenciação de

produtos (como produtos congelados) e diversificação horizontal em mercados de produtos

substitutos (como Sadia e Perdigão de aves e suínos para carne bovina e produtos

derivados (LEMOS, 1995, p. 92-3).

Em recente estudo de CASTRO e FONSECA (1995) sobre a agroindústria na região

Centro-Oeste, as empresas do complexo soja, quanto à propriedade do capital, são

divididas em nacionais, internacionais e cooperativas. No conjunto, o comportamento das

empresas tende a ser semelhante em nível internacional no mercado de commodities,

diferindo, em termos de estratégias, no que diz respeito ao mercado nacional. A

classificação envolve os seguintes tipos:

integradas: industrializam a soja, quer seja na cadeia de óleos (óleo refinado,

margarinas, maioneses, etc.), quer seja na cadeia de carnes (frango, suíno, e

derivados), ou em ambas;

esmagadoras: realizam apenas a primeira etapa do processamento industrial de

óleos e farelo;

tradings: apenas compram o produto e o comercializam no mercado internacional.

Na relação das maiores empresas exportadoras do complexo soja, onde se

encontram as grandes, médias e pequenas; nacionais, internacionais; cooperativas e

empresas regionais, principalmente as do Centro-Oeste, encontramos nove empresas que

integram as cadeias grãos-óleos-carnes (Ceval, Sadia, Perdigão) e as que integram grãos-

óleos (Cargill, Sanbra, Braswey); empresas internacionais e nacionais; uma empresa

esmagadora (Incobrasa) e uma grande trading (Cutrale Quintela), empresas estas que

respondiam por 57% do total das exportações do complexo (ANEXO).

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Neste conjunto dos maiores exportadores do complexo soja, somente as dez

primeiras empresas respondem pela metade do valor das exportações. Se consideradas as

vinte primeiras, essa participação aumenta para mais de 70%, o que evidencia uma grande

concentração, em termos de valores, no mercado exportador de farelo e grãos.

Gráfico 12: Brasil - Participação dos Tipos de Empresas nas Exportações do Complexo Soja em 1990

Organização: João Cleps Jr. Fonte: CACEX-BRASIL – Lista das 1000 Maiores Empresas Exportadoras

Apud. CASTRO, 1993, p. 69-70.

A grande participação das empresas integradas é reforçada pelo exame dos dados

sobre os principais exportadores do complexo soja em 1990, como a CEVAL, Sadia e

Perdigão (grãos-óleos-carnes) e a Sanbra, Cargill e Braswey (grãos-óleos). As tradings

Cutrale Quintela e Richco Cereais respondem por mais de 10% das exportações totais

brasileiras (Gráfico 12).

4.3.2. Padrões Tecnológicos e Escala de Processamento de Soja

A escala de produção e a tecnologia de processamento de soja são fatores

importantes para as indústrias do complexo soja.

O processamento de óleos vegetais deslocou-se do esmagamento mecânico para a

extração de óleo por solvente, tecnologia que foi difundida na Alemanha durante a década

de 1930. A difusão desse processo exigiu mudanças no equipamento das fábricas, o que

ocorreu em nível internacional ao longo dos anos 40, 50 e 60. Outro importante passo no

desenvolvimento tecnológico foi dado pelo processo de “desolventização” do farelo de soja,

68%

21%

11%

Integradas

Tradings

Esmagadoras

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154

que o tornou mais valioso do ponto de vista biológico e que permitiu utilizá-lo em todos os

tipos de rações para animais. Um terceiro deslocamento de tecnologias deu-se a partir dos

anos 50, quando foi constatada a ocorrência de significativas economias à medida em que

se expandia a escala de produção, até o volume de duas mil toneladas/dia (CASTRO,

1993, p.39-40). As reduções que podem ser obtidas com o aumento da escala de produção

de óleo são as seguintes: de 300 ton./dia para 600 ton/dia, redução de 15%; de 600 ton

para 1.000 ton./dia, redução de 3,5%; de 1.000 ton para 1.500 ton/dia, redução de 7% e,

por último, de 1.500 ton para 2.000 ton./dia, redução de 5,6%.

Assim, dentro do conjunto de estratégias adotadas pelas empresas esmagadoras, o

ganho de escala é um dado importante, como será ilustrado mais adiante com o processo

de expansão e reestruturação das indústrias de processamento de soja no Brasil.

Segundo os dados da Associação Brasileira de Indústrias de Óleos Vegetais

(ABIOVE), a maioria dos estabelecimentos processadores de oleaginosas no Brasil opera

basicamente com a soja (mais de 90%), sendo que o processo básico de extração do óleo

é via solventes. Em 1997 existiam no país mais de uma centena de plantas esmagadoras,

sendo que a maior parte (mais de 80%) são unidades de pequeno e médio porte (até 1.500

ton./dia). Por sua vez as unidades industriais maiores, com capacidade de esmagamento

acima de 1.500 ton./dia, que somavam apenas 21 unidades, respondem por 37% do óleo

processado, evidenciando uma concentração no setor.

Tabela 17 Brasil - Estratificação da Capacidade de Processamento

das Indústrias de Óleos Vegetais – 1997

Capacidade Instalada (ton./dia)

Número de Fábricas (1)

Processamento (ton./dia) – (2)

Participação %

(1) (2)

Até 600

601 a 1.000

1.001 a 1.500

1.501 a 2.000

2.001 e mais

45

27

25

13

8

18.445

22.530

33.350

23.150

20.400

38,1

22,9

21,2

11,0

6,8

15,6

19,1

28,3

19,7

17,3

Total 118 117.875 100 100

Organização: João Cleps Jr. Fonte: ABIOVE/ Coordenadoria de Economia e Estatística.

(Posição em Dezembro/97 – Inclusive as unidades paralisadas)

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4.3.3. Padrão de Localização e Distribuição Espacial da Agroindústria da Soja no Brasil

O movimento de deslocamento das unidades processadoras de soja para a região

dos cerrados tem implicado numa elevação da ociosidade e até numa diminuição do

número de plantas industriais no Sudeste e Sul do país. Esse movimento se explica pela

relativa modernização do parque agroindustrial que, conforme explicado anteriormente, vem

incorporando inovações tecnológicas no processo produtivo (redimensionamento das

escalas de produção, utilização de solventes químicos, etc.).

Como se observou antes, a escala de produção é um fator importante para a

determinação de economias de escala e investimentos na ampliação da capacidade

produtiva da empresa. O que se verifica no movimento das indústrias esmagadoras de óleo

do Brasil, nos últimos anos, é o encerramento das atividades das unidades de pequeno

porte, na medida em que a empresa passa por reestruturação; e um movimento contrário

de ampliação das fábricas como reforço à tendência de localização próxima às regiões

produtoras de matérias-primas, por encontrar condições especiais e incentivos fiscais, por

visar a redução de custos de transportes e mesmo para ampliar a sua atuação na própria

região ou em novos mercados.

Tabela 18 Brasil - Capacidade Instalada de Processamento de Oleaginosas – 1997 (Ton/dia)

Estado

Total

Participação

%

Nº de Plantas

Paraná Rio Grande do Sul São Paulo Goiás Mato Grosso Mato Grosso do Sul Minas Gerais Santa Catarina Bahia Distrito Federal Pernambuco Piauí Ceará Maranhão (1)

35.720 28.950 13.460 9.000 8.550 6.730 5.400 5.255 2.750 1.000 600 260 200 1.000

30,3 24,6 11,4 7,6 7,3 5,7 4,6 4,5 2,3 0,8 0,5 0,2 0,2 --

33 26 18 10 06 07 03 08 02 01 02 01 01 01

Total 117.875 100 119 (2)

(1) Em Projeto; (2) Do total desta relação, no ano de 1997 havia 22 unidades paralisadas, sendo uma no Ceará, duas em Pernambuco, uma em Goiás, duas no Mato Grosso do Sul, seis em SãoPaulo, seis no Paraná e quatro no Rio Grande do Sul.

Organização: João Cleps Jr. Fonte: Associação Brasileira de Indústrias de Óleos Vegetais (ABIOVE), 1997.

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156

No total, existem cerca de 120 plantas esmagadoras espalhadas pelo Brasil,

atingindo uma capacidade de produção em torno de 118 mil toneladas/dia (Tabela 18). A

distribuição reflete uma concentração de plantas na Região Centro-Sul, acompanhando os

principais estados produtores de soja, como demonstrado anteriormente. Somente o Rio

Grande do Sul e o Paraná concentram mais da metade da produção total e do número de

fábricas de esmagamento de óleos, enquanto que nos estados da nova fronteira agrícola

(Centro-Oeste e no oeste da Bahia) está localizado cerca de ¼ dessas unidades.

Segundo dados da ABIOVE, o esmagamento no ano de 1997 foi de

aproximadamente 19,8 milhões de toneladas de soja (de um total de cerca de 26,5 milhões

de toneladas da safra brasileira), volume ligeiramente inferior aos 20,1 milhões de

toneladas processadas em 1996. Do total esmagado, 15,7 milhões de toneladas foram

transformados em farelo e 3,75 milhões de toneladas, em óleo. Impulsionado pela

avicultura, o mercado interno absorveu cerca de 5,6 milhões de toneladas de farelo,

registrando aumento de 6% em relação a 1996. Quanto ao consumo doméstico de óleo de

soja, esse alcançou aproximadamente 2,75 milhões de toneladas, enquanto que as

exportações ficaram em cerca de 1,2 milhão de toneladas. Vê-se com isso, que a produção

nacional funciona muito abaixo da capacidade total das indústrias processadoras a qual

varia entre 30 a 35 milhões de toneladas anualmente. 97

Do ponto de vista geral da distribuição espacial do parque agroindustrial de soja no

Brasil, é possível caracterizá-la como do tipo policêntrico, refletindo uma localização

próxima aos centros produtores de matérias-primas (Figura 11).

97 O valor sobre a capacidade total de esmagamento de soja das indústrias brasileiras é calculado sobre

a média de 11 meses de funcionamento das fábricas no país e, pode alcançar até 35 milhões de ton/ano. Porém, considerando-se a situação variada de muitas empresas com fábricas desativadas, esse número chega a cerca de trinta milhões de toneladas por ano. Com isso, depreende-se que o parque agroindustrial de oleaginosas no país funciona com, pelo menos, 30% a menos de sua capacidade. Dados da ABIOVE/ Estatísticas do Complexo Soja, 1997 e Gazeta Mercantil, 10/mar./1997, p. B-22. [Agribusiness]

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260 km 0 260 520 km

CuiabáDF

BRASIL - DISTRIBUIÇÃO DAS UNIDADES DE PROCESSAMENTO DE OLEAGINOSAS

São Luís

Goiânia

Campo Grande

Curitiba

Porto Alegre

Florianópolis

SãoPaulo

Fonte: ABIOVE - Associação Brasileira de Indústrias de Óleos Vegetais Coordenadoria de Economia e Estatística - Dezembro/97 Elaboração-Desenho: João Cleps Jr.

BeloHorizonte

Rio de Janeiro

Vitória

Brasília

Salvador

Fortaleza

Natal

JoãoPessoa

Recife

Maceió

Aracaju

Terezina

Palmas

Belém

Macapá

Boa Vista

Manaus

RioBranco

Porto Velho

MATO GROSSO

RONDÔNIA

ACRE

AMAZONAS

RORAIMA

AMAPÁ

PARÁ

MATO GROSSO

DO SUL

SÃO PAULO

PARANÁ

SANTA

CATARINA

RIO GRANDE

DO SUL

MINAS GERAIS

ESPÍRITO

SANTO

RIO DE

JANEIRO

GOIÁS

BAHIA

TOCANTINS

PIAUÍ

MARANHÃOCEARÁ

RIO GRANDE

DO NORTE

PARAÍBA

PERNAMBUCO

ALAGOAS

SERGIPE

LEGENDA

FÁBRICA DE ÓLEOS

1997

CAPACIDADE INSTALADA

(Ton./dia)

PR 35.720 (30%)RS 28.950 (25%)SP 13.460 (11%)GO 9.000 ( 8%)MT 8.550 ( 7%)MS 6.730 ( 6%)MG 5.400 ( 5%)SC 5.255 ( 4%)BA 2.750 ( 2%)DF 1.000 (1%)PE 600 PI 260 CE 200

BRASIL = 117.875

FIGURA 11

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158

4.3.4. Movimento de (Re)Concentração Econômica do Segmento de Esmagamento de Soja

O processo de concentração do segmento de esmagamento de soja vem sendo

dominado por empresas multinacionais como a Bunge Internacional, a Cargill, a Coinbra

(Grupo Louis Dreyfus) e a Refinadora de Óleos Brasil (ROB, do Grupo Andre).

A Sadia, que até recentemente figurava como uma das únicas empresas na cadeia

de soja de capital nacional, vem reduzindo sua participação no mercado de óleos de soja,

após uma queda na capacidade de refino em 63%, de 270 mil ton para 100 mil ton, depois

de vender quatro fábricas esmagadores de soja para a multinacional norte-americana

Archer Daniels Midland (ADM). A Sadia já havia fechado uma esmagadora de soja

localizada em Campinas (SP). A desativação da unidade industrial deveu-se à

obsolescência das máquinas e sua pequena capacidade de esmagamento (400 ton/dia),

em 1996.

No setor de oleaginosas, a nova estratégia da Sadia é comprar óleo bruto de

terceiros para refinar e enlatar, e sair dos mercados logisticamente mal localizados e

distantes, como o Norte do país, e voltar-se mais para a concentração no mercado de

margarinas (onde detém o terceiro posto e 20% de participação dentre as marcas de

margarinas mais vendidas). Nesse sentido, as estratégias das empresas é deslocarem-se

para sub-produtos (margarinas, maionese) que exigem maior concorrência, como

qualidade, exposição e apresentação do produto, através de ampla campanha de

marketing, ao contrário do óleo de soja, onde o consumidor geralmente busca o menor

preço. 98

Outro processo de compra envolvendo o setor de óleos e de alimentos ocorreu com

a Bunge International Limited, holding do grupo argentino Bunge y Born, que adquiriu em

1998 a CEVAL Alimentos (Grupo Hering) e assumiu seu controle acionário. Com a

operação, a Bunge transformou-se na da maior empresa de alimentos do país, superando a

Nestlé. A CEVAL era a quinta esmagadora mundial de soja e líder no mercado nacional de

óleos vegetais, atuando também no setor de carnes (congeladas). A CEVAL também

possuía, até o final de 1997, cerca de 12 plantas processadoras de soja espalhadas pelo

Brasil, somando uma capacidade total de 15.980 ton/dia (ABIOVE). 99

98 Gazeta Mercantil, 18/dez./1997, p. C-7. [Agribusiness] 99 Sobre a CEVAL, ver estudo produzido pelo programa PENSA, de autoria de WEDEKIN e

PINAZZA (1993). “CEVAL: diversificação e busca de valor agregado”. In: Estudos de Caso em Agribusiness/ Décio ZYLBERSZTAJN (coord.), 1993, p. 95-126.

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159

O papel da CEVAL nos mercados nacional e internacional nos últimos anos vinha

sendo reforçado pela expansão dos negócios de integração grãos-óleo-farelo-carnes,

através da ampliação das plantas de processamento de soja, investimentos no aumento na

infra-estrutura de estocagem de grãos e no mercado de carnes (marca Seara). De acordo

com CASTRO (1993, p.74), a expansão da CEVAL nos últimos anos teve como

contrapartida o aumento do endividamento da empresa, devido a problemas de defasagem

cambial da soja exportada, o que levou a empresa a reduzir as operações com commodities

para transformar-se numa empresa de alimentos voltada para o mercado interno.

Tabela 19: A Nova Estrutura da Área de Alimentos da Bunge no Brasil

Dados das Empresas

CEVAL

SANTISTA

ALIMENTOS

Nova Estrutura

Da Bunge

Faturamento consolidado Em 1996 (em bilhões US$)

2,7

2,1

4,8

Número de Funcionários

14.000

8.500

22.500

Unidades Industriais

20

28

48

Capacidade Anual de Esmagamento de soja (em milhões de ton./ano)

6,0

3,6

9,6

Fonte: Revista Exame. [http.www.exame.com.br, 10/set./1997].

Com a fusão, a CEVAL assumiu os ativos de processamento de soja da Santista

Alimentos, também controlada pela Bunge. Com isso, a Santista deixou de operar com

commodities para concentrar vendas em produtos industrializados.100 O processo de

concentração do setor de alimentos provocado pelo grupo Bunge, particularmente vinha

sendo feito pela compra da Santista Alimentos, que nos últimos anos também já havia

adquirido três fábricas de processamento de soja, cinco moinhos de trigo, o Pão Pullman,

de São Paulo, e a Covebrás, fabricante de margarinas no Estado da Paraíba.

100 Gazeta Mercantil, 27, 28, 29/dez./1997, p. C-4.[Empresas & Negócios] A expansão das operações

de soja da Santista, em 1997, envolveu a reorientação de sua unidade de processamento de algodão em Bauru (SP) para o recebimento de soja (visando a auto-suficiência de óleo bruto para a fábrica de margarinas, maionese e óleo vegetal sediada na capital paulista) e arrendamento da fábrica da Olvebasa na Bahia, além de adquirir os ativos da Incobrasa, no Rio Grande do Sul. Destacaram-se também os investimentos estratégicos numa nova fábrica de óleo com capacidade de processamento de 1 milhão de ton/ano em Pederneiras (SP), próximo de Bauru, localizada no pólo servido pela rodovia Marechal Rondon, ferrovias (Fepasa/Noroeste) e na hidrovia Tietê-Paraná. Cf. Gazeta Mercantil. Ed. 24, 25/mai./1997, p. B-20. [Agribusiness]

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160

A estratégia da Bunge é transformar a Santista em sua divisão de produtos de

consumo e concentrar na CEVAL os negócios no setor de commodities agrícolas. Por outro

lado, os produtos de consumo da CEVAL (carnes suína e de frango, um dos maiores do

país) serão transferidos para a Santista Alimentos.

O conglomerado argentino Bunge, com mais de uma centena de empresas e com

forte diversificação, atuando em setores desde o cimento à informática, depois de prejuízos

consecutivos, mudou o seu perfil, concentrando os negócios no mercado brasileiro de

alimentos, uma vez que estava em jogo a sobrevivência do grupo no mercado global de

commodities de soja. Por outro lado, o mercado de carnes industrializadas apresenta uma

rentabilidade em torno de 10% a 15%, enquanto o de commodities dificilmente chega a 5%.

Tabela 20

BRASIL: PROCESSO DE(RE)CONCENTRAÇÃO NO SETOR DE ESMAGAMENTO DE SOJA, 1995-1998

EMPRESA ENTRANTE

ORIGEM DO

CAPITAL

EMPRESA

ADQUIRIDA

LOCALIZAÇÃO DAS FÁBRICAS

(CAPACIDADE – ton./dia)

Olvepar

Nacional Clevelândia (PR)

COOPERSUL – Cooperativa Central dos Campos Gerais

- Ponta Grossa (PR)

Archer Daniels Midland (ADM)

Estrangeiro Estados Unidos

Sadia - Joaçaba (SC), porto de Paranaguá (PR), Campo Grande (MS) e Rondonópolis (MT)

Coinbra (Louis Dreyfus)

Estrangeiro França

Anderson Clayton (ex – Unilever)

- Cruz Alta (RS), Ponta Grossa (PR) e Londrina (PR)

Santista Alimentos (Bunge y Born)

Estrangeiro Argentina

Incobrasa Olvebasa (Óleos Veg. da Bahia)

- Canoas (RS) e Rio Grande (RS) - Barreiras (BA)

Organização: João Cleps Jr.

Fonte: Gazeta Mercantil , 21/mar./1996; 02/abr./1997; 18/dez./1997. ABIOVE – Associação Bras. de Indústrias de Óleos Vegetais – Estatísticas do Complexo Soja, 1997.

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161

4.4. COMPLEXO SOJA NA REGIÃO DO CERRADO

O diferencial dos custos de produção do Centro-Oeste resultou na produção

crescente e no deslocamento das indústrias de esmagamento de soja para os cerrados de

Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, Minas Gerais e, mais recentemente, para a nova

fronteira do sul do Maranhão, Piauí e oeste da Bahia.

Essa dinâmica na produção de grãos do Centro-Oeste é ainda reforçada pela alta

participação da região no total nacional, conforme foi visto na parte anterior deste trabalho,

e traduz-se por um conjunto de fatores positivos, cujo resultado é a obtenção de custos de

produção menores no Centro-Oeste, o que justifica também o deslocamento de mais de

40% da produção de soja para as áreas do cerrado brasileiro. Em resumo, as principais

vantagens encontradas para o boom da soja no cerrado podem ser enumeradas:

a) a maior produtividade da soja no cerrado em relação à região sul do Brasil, e a

sua melhor qualidade, devido ao seu reduzido teor de umidade e maior presença

de óleo e proteínas, permitiram a obtenção de um prêmio associado a uma

melhor cotação no mercado internacional;

b) as economias de escalas obtidas nas unidades agroindustriais de até duas mil

ton/dia levaram as fábricas a se instalarem próximas às regiões produtoras;

c) a proximidade com as regiões produtoras trouxe vantagens competitivas de

localização, ao diminuir os custos de movimentação de cargas associadas à

operação industrial - entre a fábrica esmagadora e a área produtora;

d) os produtores agrícolas passaram a negociar mais diretamente com a indústria,

depositando a soja diretamente nos seus armazéns, reduzindo os custos de

intermediação comercial;

e) a formação de mercados regionais estimulou o deslocamento de empresas

agroindustriais da cadeia grãos-farelo-aves;

f) a política de incentivos fiscais e condições especiais dadas por alguns estados

favoreceram a instalação de indústrias nas regiões dos cerrados. 101

101 Cf. CASTRO, 1993, p. 66-7.

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GO

MS

MT

SP

DF

MG

RJ

BA

ES

CAPACIDADE DE PROCESSAMENTO E EMPRESAS DO COMPLEXO SOJA

DISTRITO FEDERALGOIÁS

MINAS GERAIS

1. OLVEGO - 1.000 ton./dia 1. CEVAL - 1.000 ton./dia 2. GRANOL - 550 ton./dia 3. OLVEGO - 600 ton./di a 4. L ASA - 600 ton./dia 5. COMOVE - 1.200 ton./dia 6. COMIGO - 800 ton./dia 7. COINBRA - 900 ton./dia 8. CARAMURU - 1.500 ton./dia 9. CARAMURU - 1.000 ton./dia

1. CARGILL - 2.500 ton./dia2. ABC.INCO - 1.700 ton./dia3. REZENDE - 1.200 ton./dia

50 25 0 50 100 KM.

ORG. JOÃO CLEPS JR..FONTE; ABIOVE/ ESTATÍSTICAS DO COMPLEXO SOJA - 1997

UBERLÂNDIA

ITUMBIARA

RIO VERDE

JATAÍ

GAMA

PIRES DO RIO

ANÁPOLIS

CATALÃO

SÃO SIMÃO

IPAMERI

LUZIÂNIA

D.F.

G O I Á S

MINASGERAIS

MAPA DE LOCALIZAÇÃO

MATO GROSSO DO SUL

SÃO PAULO

MATOGROSSO

LOCALIZAÇÃO E CAPACIDADE DE PROCESSAMENTO DAS EMPRESAS DO COMPLEXO SOJA - 1997 DISTRITO FEDERAL, GOIÁS E MINAS GERAIS

FIGURA 12

Goiânia

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163

4.4.1. As Cooperativas e Empresas das Cadeias de Carnes e Óleos

Dentre as principais empresas do complexo soja na região central do Brasil, como

foi visto anteriormente, destacam-se as empresas de capital nacional, como a CEVAL,

Sadia, Perdigão, Cutrale Quintela, Caramuru, Comove, entre outras. 102

Devido às relações do estado de Goiás com Minas Gerais, tanto no processamento

como no comércio de grãos, destacar-se-ão aqui as características principais do parque

agroindustrial goiano dentre o conjunto da região Centro-Oeste.

No Estado de Goiás, como constataram CASTRO e FONSECA (1995, p.56), a

presença de grandes empresas nacionais no setor de produção e refino de soja é

relativamente recente no estado. Quando se compara Goiás com os demais estados do

Centro-Oeste, verifica-se que a participação geral das empresas nacionais é

significativamente inferior (20% do total em Goiás contra 60% em Mato Grosso e 51% em

Mato Grosso do Sul, da amostra escolhida para o ano de 1991). Com exceção da CEVAL,

as empresas líderes do complexo soja, como a Sadia e a Perdigão, não estavam presentes

até aquele período em Goiás. Segundo os autores,

“Em termos relativos, poder-se-ia dizer que a força de atração de capitais do Centro-Sul parece menor no estado de Goiás. Isto pode ser resultante de vários fatores, entre os quais vale apontar a presença de cooperativas na extração e refinos de óleo de soja, como é o caso da Cooperativa Mista dos Produtores Rurais do Sudoeste Goiano (Comigo), ou ainda, e talvez com maior poder explicativo, de vantagens em termos de produtividade, custos e potencial de expansão agrícola na fronteira mais distante, além de um novo padrão de relacionamento indústria/fornecedor”. (CASTRO e FONSECA, 1995, p.56)

Recentemente, os planos de expansão da Perdigão incluíram investimentos no

Estado de Goiás e Minas Gerais. Visando a desconcentração do parque agroindustrial, o

grupo passou a direcionar para Rio Verde (GO) e Patos de Minas (MG) duas novas

unidades agroindustriais, visando o aumento da capacidade de produção de carnes

102 As considerações feitas nesta parte do trabalho referem-se ainda à fase anterior ao processo de

reconcentração econômica ocorrida com algumas dessas empresas, as quais também se destacam pela forte

atuação no segmento grãos-carnes, como a Sadia, através de sua subsidiária Frigobrás (Campo Grande, p.ex.).

Para uma visão ampla do perfil agroindustrial da região Centro-Oeste, particularmente do perfil agroindustrial

dos Estados de Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, ver CASTRO e FONSECA, 1995.

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164

frigorificadas de 790 mil ton/ ano, distribuídas igualmente para a produção de aves e

suínos. 103

É importante destacar que as estratégias de expansão do grupo Perdigão na região

Centro-Oeste fazem parte do plano de reestruturação iniciado em 1995, que em linhas

gerais se resume em: 1) desconcentração do parque agroindustrial do grupo para o Centro-

Oeste; 2) lançamento de novos produtos direcionados ao auto-serviço (produtos

congelados e segmento “light” de produtos a base de carnes); 3) reforço às estruturas de

armazenagem e distribuição de alimentos, através da expansão comercial com a instalação,

junto aos grandes centros de consumo, de modernas estruturas de armazenagem e

distribuição para atender à rede de mercado varejista. Para isso, foi criado um modelo

simplificado de distribuição visando a ampliação do atendimento a regiões ainda não

cobertas pelas filiais ou distribuidores; 4) investimentos em marketing e ganhos de

produtividade; 5) enfoque à exportação de produtos e projeto de “otimização” das fábricas.

Com a conclusão e ampliação da capacidade produtiva de cortes de aves (da unidade de

Capinzal, em Santa Catarina) em 60%, resultou um crescimento em torno de 20% (em

relação a 1995) das exportações de frigorificados para o mercado asiático e europeu, além

do ingresso em novos mercados, como a Rússia. 104

Por outro lado, um grande papel nos complexos grãos e carnes também é exercido

pelas empresas regionais, que constituíram a base sobre a qual se ergueu a agroindústria

no Centro-Oeste.105 Particularmente, as empresas regionais concentram as atividades nas

cadeias grãos-farelo-óleos e grãos-farelo-carnes. No estado de Goiás, as empresas

nacionais mais importantes no segmento soja são a CEVAL, Cutrale Quintela, Olma,

Granol, Olvego, Comove e Caramuru. 106

103 A previsão do Grupo Perdigão é de implantar, até o ano de 2003 as duas unidades, requerendo

investimentos de US$ 306 milhões. Cf. Gazeta Mercantil, 14, 15, 16/mar./1997, p. A-10. 104 Idem. 105 Dentre as mais bem-sucedidas está a empresa Arisco que atua diversificadamente no setor agro-

alimentar, instalada em Goiânia, cujo espaço de atuação ultrapassa os próprios mercados regionais. Na Arisco,

que iniciou com a produção de alho e sal, a diversificação de atividades ocorre nos setores de conservas, massa

de tomate, temperos, processamento de vegetais, etc. 106 Destas, apenas a Olma e Granol não industrializam a soja na região, apenas adquirem o produto que

se destina ao processamento no Centro-Sul, ou óleo bruto para envazamento na região. Cf. CASTRO e

FONSECA, 1995, p.56.

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A CEVAL, assim como as multinacionais presentes no estado de Goiás, tem

utilizado como estratégia a significativa participação nos mercados de commodities,

possuindo também uma fábrica com capacidade de esmagamento de soja de seiscentas

ton./dia em Luziânia, a poucos quilômetros ao sul de Brasília.

O grupo Cutrale-Quintela, através da empresa Comercial, é o caso mais

interessante de diversificação, com projeto de esmagamento, refino e hidrogenação

(margarina), além de uma infra-estrutura para estocagem de 100 mil toneladas. No estado

de Goiás, o grupo atua basicamente como trading e está investindo na infra-estrutura de

transporte, construindo dois terminais fluviais privados em São Simão, localizados às

margens do rio Paranaíba, através de chatas com a finalidade de transportar soja através

de chatas pela hidrovia Tietê-Paraná até o estado de São Paulo (Pederneiras) e seguir de

trem para o porto de Santos.107

O grupo Caramuru mantém fábricas de óleos em Itumbiara e São Simão, além de

uma rede de armazéns de silos distribuídos pelo estado de Goiás.

Nesse movimento, destaca-se ainda o importante segmento das cooperativas

agroindustriais que, excluindo as características de relacionamento interno com seus

cooperados, acaba atuando igualmente às demais empresas. Como descreve CASTRO e

FONSECA (1995, p.7):

“A mais importante diferença entre as cooperativas e as empresas líderes do complexo grãos-carnes é a forma como tende a dar-se a diversificação produtiva. Os investimentos agroindustriais seguem, em geral, uma determinada coerência técnico-produtiva, aproveitando sinergias tecnológicas e comerciais. As cooperativas agroindustriais não se limitam à estrita coerência industrial, mas buscam verticalizar a partir da ampla gama de matérias-primas agropecuárias produzidas pelos cooperados. Como resultante, seus investimentos tendem a ser mais diversificados e a inserir-se, portanto, em diferentes estruturas de mercado, o que, em princípio, aumenta as resistências às flutuações da conjuntura”.

107 Com o transporte fluvial da soja, o objetivo foi baixar o custo do frete da fábrica até o porto de US$

45 (em Goiás) para US$ 30 ou US$ 35, representando uma redução de 25% no frete final.

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166

A Comigo (Cooperativa Mista dos Produtores Rurais do Sudoeste Goiano Ltda.), que

se formou em 1975, é atualmente uma multicooperativa de grande porte na região Centro-

Oeste, cuja sede fica localizada no município de Rio Verde, em Goiás. A estratégia de

crescimento da Comigo tem sido a verticalização da produção e a busca de agregação de

valor aos produtos agropecuários, como alternativa para a diversificação agropecuária.

Além da comercialização de grãos, a cooperativa possui uma moderna planta industrial com

capacidade para o processamento de oitocentas toneladas de soja por dia. A grande

diversificação agroindustrial é caracterizada pelos novos empreendimentos nos segmentos

de rações, descaroçamento de algodão, beneficiamento de arroz, empacotamento de

feijão, além de outros projetos de investimentos no processamento de leite e abatedouro de

aves e suínos. Conforme pode ser observado a seguir (Figura 13), a cooperativa Comigo

possui uma ampla rede de armazéns e silos na região sudoeste de Goiás, com capacidade

de armazenagem total de 637 mil toneladas, concorrendo assim fortemente com outras

empresas nacionais e multinacionais no comércio de grãos no estado. 108

Quadro 8 Capacidade Agroindustrial da COMIGO – 1994

Tipo

Capacidade Produtiva

1 unidade de esmagamento de soja 1 unidade de refino de óleo de soja 1 fábrica de sabão 1 unid. de benef. e empacotamento de arroz 1 unidade de empacotamento de feijão 1 unidade de produção de sal mineralizado 1 fábrica de ração 1 unidade de descaroçamento de algodão 1 unidade de processamento de leite 8 unidades de armazenamento de grãos

800 ton./dia 120 ton./dia 20 ton./dia 15 ton./dia 15 ton./dia 21 ton./dia 96 ton./dia

5.000 arrobas/dia 100.000 litros/dia

637.000 toneladas

Organização: João Cleps Jr. Fonte: Banco de Dados COMIGO, Pesquisa Direta, 1995.

Como se verifica, pelos dados sobre a capacidade agroindustrial da COMIGO, no

quadro anterior, a cooperativa tem importância vital para a agricultura de Goiás, figurando

inclusive como uma das maiores fontes da arrecadação do ICMS daquele estado.

108 Cf. Banco de Dados COMIGO, Pesquisa Direta, 1995.

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1020 0 20 60 Km40

LEGENDA

Limite interestadual

Agroindústria de Processamento de Soja

Entreposto de Recebimento de Grãos

Unidades Armazenadoras

Chapadão do CéuIndiaraSta. Helena de GoiásParaúnaAcreúnaMontevidiuJataí Rio Verde

CAPACIDADE ARMAZENADORA

MUNICÍPIO QUANTIDADE (em Toneladas)

9.000

40.000 30.000

48.000 60.000 72.000132.000210.000

Rio Para

aiba

Rio Gran de

n

Represa de

Represa Sao Simao~ ~

Represa Agua Vermelha

Itumbiara

FONTE: Pesquisa de Campo / Banco de DadosDIG.: Celso A. Siqueira

COMIGO - 1995

ORG.: Joao Cleps Jr.~

SAO PAULO

MATO GROSSO DO SUL

GOIÁS

MINAS GERAIS

LOGÍSTICA DE RECEBIMENTO DE GRÃOS E DE PROCESSAMENTO DE SOJA

DA COOPERATIVA MISTA DOS PRODUTORES RURAIS DO SUDOESTE

~

GOIANO LTDA (COMIGO)

FIGURA 13

Bom Jesus

Maurilândia

Santa Helena

RIO VERDE de Goiás

Edéia

Indiara

Paraúna

Jatai

de Goiás

Mineiros

Portelândia

Serranópolis

Aporé

Montevidiu Acreúna

Caiapônia

Chapadão do Céu

ES

GO

SPMS

PR

MG

RJ

MT

DFBA

LOCALIZAÇÃO

17°00'

20°30'

50°30'

Fluxos de Grãos

Page 192: Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” - Unesp · Aos professores e servidores técnico-administrativos do Curso de Pós-Graduação em Geografia da UNESP de

168

4.4.2. As Estratégias dos Grupos Multinacionais do Complexo Soja

Segundo CASTRO e FONSECA (1995, p.6) as grandes empresas multinacionais do

setor de esmagamento, com atuação forte no mercado de commodities, não

acompanharam o movimento de deslocamento de capacidade produtiva para a região dos

cerrados da região Centro-Oeste.

A Cargill Agrícola S.A. constitui a primeira e uma das únicas empresas do mercado

de commodities a acompanhar o movimento das agroindústrias do setor de oleaginosas

para o Centro-Oeste. As empresas do grupo Bunge e Unilever, também com forte presença

no comércio de commodities, mantêm estrategicamente uma rede de silos e armazéns na

região Centro-Oeste, porém privilegiam a localização das indústrias de esmagamento em

áreas próximas aos portos.

Quadro 9 Estrutura Logística da Cargill Agrícola no Cerrado Brasileiro

Atividade

Localização Características e Capacidade de

Produção Centro de Pesquisa e Desenvolvimento de Sementes Híbridas

Santa Helena (GO) Área de 100 ha. destinada à pesquisa e desenvolvimento de sementes básicas de milho

Usina de Sementes Híbridas Rio Verde (GO) Capinópolis (MG)

Tratamento de sementes híbridas de milho

Processamento de Soja

Uberlândia (MG) Processamento 3 mil ton./dia (jan./98)

Processamento de Milho (por via úmida)

Uberlândia (MG) Processamento 800 ton./dia (jan./98)

Fábrica de Rações/Farelos

Uberlândia (MG) Capacidade de Produção diária de 2.400 ton de farelo de soja

Fazendas de Produção de Laranjas

Comendador Gomes (MG) Uberlândia (MG)

- 1 milhão e 400 mil pés - 1 milhão e 100 mil pés

Escritórios de Compra de Grãos Catalão (GO); Itumbiara (GO); Uberaba (MG) e Rondonópolis (MT).

Comercialização anual média de 1 milhão e 800 mil ton. de soja e 400 mil ton. de milho.

Armazéns de Recebimento de Grãos *

Acreúna (GO); Almeida Campos (MG); Bom Jesus (GO); Catalão (GO); Chapadão do Céu (GO); Conceição das Alagoas (MG); Dourados (MS); Guaratuba (GO); Jataí (GO); Montevidiu (GO); Primavera do Leste (MT); Rio Verde (GO); Serra Bonita (MG) e Taquari (MT).

Capacidade estática total – 400 mil toneladas (incluídos os armazéns dos Estados de São Paulo e Paraná)

Organização: João Cleps Jr.

(*) obs: somente as unidades de armazenagem própria. Fonte: Cargill Agrícola S.A - Material de Divulgação, Pesquisa Direta, 1997 e 1998.

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169

A atuação da Cargill no estado de Goiás justifica-se pela localização do complexo

industrial, incluída a planta esmagadora de soja em Uberlândia, Triângulo Mineiro.

Beneficiada pela proximidade de Goiás e Mato Grosso do Sul, a Cargill estruturou sua rede

de silos e centros de compras de grãos nas principais localidades produtoras de matérias-

primas (milho e soja), no sul e sudoeste goiano.

Após o breve exame das estratégias dos diversos tipos de empresas atuantes na

produção agroindustrial na região Centro-Oeste, pode-se concluir que a condição de

proximidade das regiões produtoras e dos centros consumidores traz para essas empresas

vantagens competitivas de localização, ao diminuir os custos de movimentação de carga,

associados à operação industrial (entre a fábrica e a área produtora), pela aproximação às

áreas de cultivo, possibilitando condições mais vantajosas junto aos produtores agrícolas.

Em linhas gerais, para cada tipo, as estratégias seguidas foram as seguintes:

“os grandes grupos nacionais que atuam nas cadeias de oleaginosas e de carnes

tenderam a estabelecer plantas esmagadoras na região Centro-Oeste, com o objetivo de

apropriarem-se das vantagens de proximidade da matéria-prima, dos menores custos aí

encontrados, e dos incentivos fiscais disponíveis. A contrapartida foi um elevado

endividamento, que coincidiu com a conjuntura externa desfavorável (em meados da

década de 1980) e com uma conjuntura interna de grande instabilidade;

os grandes grupos internacionais tenderam a adotar um comportamento mais

conservador, sem grandes investimentos na ampliação da capacidade de

processamento industrial da soja, preferindo a localização de suas plantas mais

próximas aos portos de escoamento de exportações, estratégia facilmente

compreensível numa economia como a brasileira, cujas constantes mudanças

macroeconômicas, de política monetária e do comércio exterior; muitas vezes exigem a

rápida tomada de decisões (ou um processo decisório pouco compatível com as rotinas

empresariais dos grupos estrangeiros);

por fim, algumas cooperativas regionais e de maior porte investiram no processamento

industrial da soja (por exemplo a Comigo, de Goiás), ou na produção de farelo, visando o

negócio da avicultura (como a Coagri, em Campo Grande), adotando uma estratégia de

diversificação coerente com a base agrícola dos seus associados; essa faixa de

produtores não chega a competir nos mercados internacionais, mas encontra seu

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170

espaço na integração dos mercados do Centro-Oeste e da região Nordeste, na

dependência da melhoria das comunicações de transporte”. 109

Por último, quanto às empresas de capital regional, relacionam-se principalmente as

empresas instaladas em Minas Gerais, as quais serão objeto de análise na parte

subseqüente deste trabalho.

109

Cf. CASTRO, 1993, p. 72.

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CCAAPPÍÍTTUULLOO 55

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172

CCCAAAPPPÍÍÍTTTUUULLLOOO 555

AA DDIINNÂÂMMIICCAA DDAASS CCAADDEEIIAASS AAGGRROOIINNDDUUSSTTRRIIAAIISS NNOO CCEERRRRAADDOO MMIINNEEIIRROO:: AACCUUMMUULLAAÇÇÃÃOO EE RREEPPRROODDUUÇÇÃÃOO

5.1. AS ESTRATÉGIAS ECONÔMICAS DO ESTADO PARA O DESENVOLVIMENTO DA

AGRICULTURA E DA INDÚSTRIA EM MINAS GERAIS

Não se compreende o processo de agroindustrialização de Minas Gerais,

principalmente o da região oeste do estado, sem a articulação ao conjunto das políticas

industriais em geral e mesmo aos programas de desenvolvimento agrícola implantados com

grandes incentivos fiscais no território mineiro, como foi descrito anteriormente.

Assim, objetivando fazer um resgate das principais políticas industriais mineiras ao

longo das últimas décadas, procura-se estabelecer as principais fases da industrialização, a

orientação e as interligações setoriais dos investimentos, ocorridas a partir das políticas

oficiais.

A dinâmica da agroindústria em Minas Gerais e no Triângulo Mineiro tem uma

relação direta com a expansão agrícola sobre as áreas de cerrados, a qual se iniciou com

os programas de incentivos oficiais implantados a partir da década de 1970, cujos

resultados efetivos foram, principalmente, a adaptação de novos cultivos aos solos dos

cerrados e os investimentos em infra-estruturas (estradas, energia, silos e armazéns, etc.).

Com as novas possibilidades dadas pelos avanços tecnológicos e conquistas da

agropecuária brasileira, a região do cerrado mineiro conheceu uma grande diversificação de

atividades, tanto nas transformações da pecuária como na introdução de novos cultivos de

alimentos, que estimulariam o processamento e a transformação industrial.

5.1.1. As Bases das Políticas de Desenvolvimento Industrial em Minas Gerais

Em termos de política de industrialização do estado mineiro, pode-se assinalar que

uma nova era de crescimento desse setor ocorreu com a criação do Instituto de

Desenvolvimento Industrial (INDI), que passou a atuar conjuntamente com o Banco de

Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG) e a Companhia de Distritos Industriais (CDI), em

1969. A política industrial foi estabelecida com as seguintes diretrizes: identificação e

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173

promoção de oportunidades industriais (INDI), infra-estrutura industrial, montagem de

distritos industriais e obras básicas para projetos prioritários (CDI), créditos subsidiados,

repasses de recursos federais, financiamentos com recursos próprios (BDMG) e concessão

de incentivos fiscais via devolução de ICM pela Secretaria da Fazenda do Estado.

A distribuição setorial dos primeiros projetos, na década de 70, não favoreceu muito

a diversificação do produto industrial mineiro. O estudo realizado por MUINHOS (1992,

p.158) mostra que, nos dois primeiros planos (1970-77), cerca de 62,45% dos investimentos

foram na indústria metalúrgica e quase 10% na área de minerais não-metálicos, o que

contribuiu para acentuar a especialização nesses dois setores. Os investimentos no setor

de transporte, cerca de 10%, deveram-se quase exclusivamente à implantação da FIAT.110

Em termos de distribuição espacial dos incentivos à industrialização, os dados

referentes ao montante dos investimentos repassados pelo INDI revelam que os projetos

agroindustriais tiveram reduzida participação na fase em que vigorou a Lei n 5261/69

(1969-1975), que norteou as políticas de industrialização daquele órgão, com o predomínio

do apoio ao capital local.

5.1.2. A Fase de Estruturação e Desenvolvimento da Agroindústria no Oeste de Minas

(1975-1980)

No Oeste mineiro, particularmente considerado como uma região de grande tradição

na produção pecuária e leiteira, a industrialização da agricultura começa a adquirir

importância nas políticas industriais do governo de Minas Gerais somente a partir da

década de 1970.111

O maior projeto agroindustrial do estado de Minas Gerais, na segunda metade da

década de 70, foi a indústria de fertilizantes, idealizada para atender à grande demanda

interna de insumos agrícolas e às elevações do preço do produto importado. Com isso, as

regiões do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba112, favorecidas pelas grandes jazidas de

fosfatos e calcários, foram escolhidas para a localização dos investimentos. Os projetos

foram para a instalação da indústria de fosfatos do Triângulo Mineiro (Valefértil), a indústria

110 Cf. MUINHOS, 1992, p. 158. 111 A denominação de região “Oeste” refere-se a divisão espacial das Zonas de Planejamento do

governo de Minas Gerais em 1969. Sobre as delimitações espaciais de Minas Gerais, ver ANEXO deste trabalho.

112 Conforme a Divisão Regional do Brasil em Microrregiões Homogêneas (MRH), do IBGE, proposta na década de 1970.

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174

de fertilizantes Arafértil (Araxá) e a indústria de fosfato em Patos de Minas (Fosfértil), que

exigiram investimentos que ultrapassaram os US$ 300 milhões.113

A importância da produção de insumos agrícolas no Oeste de Minas Gerais

(Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba) pode ser constatada nos resultados do crescimento

global acumulado em relação à produção dos itens industriais “utilizados pela agricultura” 114

da pesquisa do IBGE, que representam fundamentalmente os adubos e fertilizantes (item

Fertilizantes Compostos NPK), evidenciando seu papel importante no processo

modernizante na agricultura brasileira e na incorporação de novos espaços à produção

agropecuária, sobretudo na fronteira agrícola. No período 1981-93, o crescimento da

produção de alguns insumos agrícolas em Minas Gerais foi cerca de 2,5 mais que a média

brasileira (Gráfico 13).

Gráfico 13: Brasil – Índices de Crescimento da Produção Agroindustrial Produtos Utilizados pela Agricultura – 1981-93

Organização: João Cleps Jr. Fonte: Indicadores da Produção Agroindustrial, 1981-93.

[Estatísticas Básicas - Séries Retrospectivas N 4]. IBGE/DPE/ Departamento de Indústria, 1995.

113 Cf. NABUCO, 1988, p. 52. 114 São todos os equipamentos e máquinas agrícolas, adubos e fertilizantes levantados pela PIM-PF.

Infelizmente essa pesquisa não abrangeu os dados sobre defensivos agrícolas, segmento de considerável importância na indústria em geral.

0 50 100 150 200 250 300

PR

SC

RS

SP

MG

BA

PE

BRASIL ÍndicesAcumulados (1981=100)

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175

De acordo com os dados do INDI, o “sub-setor” agroindustrial de Minas apresentaria

um crescimento na segunda metade da década de setenta. Entre as indústrias mais

dinâmicas do segmento agro-industrial (incluindo as indústrias processadoras de alimentos,

bebidas e cigarros), sobressaiu-se a de fumo, com 204,9% de crescimento durante o

período 1974-79. O maior destaque desse crescimento explica-se pela instalação da

Companhia de Cigarros Souza Cruz, em Uberlândia, em 1978, que absorveu a parcela dos

recursos repassados pelo INDI. Nesta fase da década de 70, as firmas estrangeiras de

grande porte foram as grandes beneficiadas com os incentivos fiscais do governo de Minas

Gerais.

Quadro 10 : Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba (MRH/FIBGE) Principais Projetos Agrícolas e Agroindustriais Aprovados pelo INDI (*)

Nome da Empresa

Localidade

Composição do Capital/

Origem

Natureza/ Ramo

1. Nestlé 2. JICA- Agência de Coo- peração Técnica Interna- cional do Japão 3. Granja Rezende 4. Grupo Pão-de-Açúcar 5. Sementes Cargill 6. Cia. Souza Cruz 7. Triálcool 8. Usina Delta 9. Valefértil 10. Arafértil 11. Fosfértil

Ituiutaba Coromandel, Iraí de Minas e Paracatu Uberlândia Uberaba Capinópolis Uberlândia Canápolis Uberaba s.i. Araxá Patos de Minas

Capital estrangeiro (Suiça) Capital estatal e japonês (PRODECER) capital nacional local capital nacional capital estrangeiro capital estrangeiro capital nacional capital nacional associação de capital estatal nacional (Cia. Vale do Rio Doce) e fundos financeiros estadual e federal, bancos estrangeiros e Banco Mundial. Fundo financeiro estadual (BDMG) associação de recursos estatais federais e estaduais (CAMIG, PETROBRÁS e FIBASE)

Laticínios Produção de soja, Trigo, arroz, milho, café e pecuária Avicultura s.i. Sementes Cigarros Álcool Álcool Indústria de Fertilizantes Indústria de Fertilizantes Indústria de Fosfato

s.i. = sem informações Organização: João Cleps Jr. (*) Posição dos projetos aprovados até 31/12/80 Fonte: FREITAS e SAMPAIO (1985); NABUCO (1988; 1992).

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176

Essa fase da expansão agroindustrial no Oeste do estado, de maior diversificação,

deu-se através da associação de capital estatal e privado (nacional e estrangeiro). A

diversificação (agro) industrial ocorreu com a instalação de grandes empresas do setor de

laticínios, sucro-alcooleiro, frigoríficos, óleos vegetais, rações, avicultura, sementes, fumo,

frutas, entre outras. Modifica-se, portanto, tanto o perfil como a posição do Triângulo

Mineiro e Alto Paranaíba, cujas regiões, com os incentivos fiscais recebidos, passam a

ocupar o segundo lugar entre as do estado de Minas Gerais, chegando a representar perto

de 40% do total dos recursos para os projetos apoiados pelo INDI até o início da década de

80 (Quadro 10).115

5.1.3. Consolidação e a Fase Recente de Reestruturação Agroindustrial

A década de 1980 caracterizou-se como uma fase dos deslocamentos das

chamadas empresas líderes do complexo agroindustrial brasileiro para os cerrados da

Região Centro-Oeste, através da instalação de fábricas de processamento de grãos e

atividades integradas de criação e abate de animais. Nesse contexto, a produção

agroindustrial de Minas Gerais passou a ocupar posição de destaque ao lado de estados

de grande desenvolvimento no setor agrícola.

No Oeste mineiro, e particularmente no Triângulo Mineiro, como exemplos de

clássicas regiões de produção pecuária e leiteira, a industrialização da agricultura começa a

adquirir cada vez maior importância. Enquanto até o início da década de 70 a região havia

se beneficiado muito pouco dos incentivos fiscais concedidos pelo governo de Minas, nos

anos 80 modifica-se a sua posição, ocupando o segundo lugar entre as regiões do estado

beneficiadas pelos grandes investimentos industriais decididos pelo Instituto de

Desenvolvimento Industrial de Minas Gerais (INDI).

A agroindústria mineira, na década de 80, cresceu à frente de alguns estados e

acima da média nacional. Enquanto que a produção da agroindústria brasileira, em termos

gerais, teve uma expansão de 13,7% no período 1981-93, a de Minas Gerais foi de 15,8%,

115 Cf. Palhano, Maria Regina N., 1982, p. 38.

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177

ficando atrás apenas de São Paulo (16,8%), Paraná (18,4%) e Santa Catarina (37,7%)116.

Os segmentos industriais “vinculados à agricultura”, no Brasil, não cresceram 14,4% mas,

em Minas, 37,5%. Esse comportamento, melhor visualizado na ilustração seguinte, mostra

que em Minas houve um desempenho dos produtos industriais “derivados da agricultura”

semelhante ao crescimento geral da agropecuária, tanto no estado como no contexto

nacional, entre 1981-93, conforme resultados da pesquisa. Diferentemente do nível de

produção industrial brasileiro, que apresentou decréscimo após 1988, a produção de

produtos “utilizados pela agricultura” (insumos agropecuários), em Minas, cresceu duas

vezes e meia.

Gráfico 14: Minas Gerais - Evolução do Nível de Produção Industrial por Setores 1981-93 Base (Média 1981 = 100)

Organização: João Cleps Jr. Fonte: IBGE/DPE – Departamento de Indústria. Indicadores da Produção Agroindustrial (1981-93).

116 Aqui, conforme indica a pesquisa do IBGE, o termo “agroindústria” é utilizado para determinar os

setores industriais vinculados à produção agropecuária, tanto a montante quanto a jusante da produção, ou seja, tanto de produtos “utilizados” por, quanto de “derivados” da agropecuária. Cf. IBGE, Pesquisa Indicadores da Produção Agroindustrial, 1995, p.18 e 26.

0

25

50

75

100

125

150

175

200

225

250

1982 83 84 85 86 87 88 89 90 91 92 93Anos

Per

cent

uais

Produtos Industriais Derivados da Agricultura

Produtos Industriais Utilizados pela Agricultura

Total da Agropecuária

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178

A grande expansão da agroindústria em Minas Gerais, de acordo com os dados da

Pesquisa sobre Indicadores da Produção Agro-industrial, do IBGE, pode ainda ser

entendida se comparada com outras unidades da federação. Dentre o conjunto de oito

estados pesquisados (RS, SC, PR, SP, RJ, MG, BA e PE), a agroindústria mineira despontava

na industrialização de alguns produtos, como a soja (1), cana-de-açúcar (4), fumo (4) e

algodão (3).117 Vale observar que o crescimento foi superior a muitos outros estados

líderes no processo de agroindustrialização brasileira, como São Paulo, Paraná e Santa

Catarina, ficando abaixo apenas do Rio Grande do Sul (Gráfico 15).

Gráfico 15 : Brasil – Índices de Crescimento da Produção Agroindustrial Produtos Derivados da Agricultura – 1981-1993

Organização: João Cleps Jr. Fonte: Indicadores da Produção Agroindustrial, 1981-93.

IBGE/DPE/ Departamento de Indústria, 1995.

117 A referida pesquisa do IBGE investigou 16 produtos agrícolas que passam pelo processamento

industrial, dentre os quais destacam-se: cana-de-açúcar, trigo, soja, café (solúvel), cacau, castanha de caju, tomate, algodão, mamona, laranja, fumo, uva, sisal, milho, cevada, juta e outros produtos, como compotas de frutas e conservas, doces, suco e concentrados de frutas, entre outros.

0 20 40 60 80 100 120 140 160

PR

SC

RS

SP

MG

RJ

BA

PE

BRASIL ÍndicesAcumulados (1981=100)

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179

Tabela 21 : Brasil e Minas Gerais - Evolução da Produção Agrícola e da Produção Agroindustrial: Produtos Selecionados – 1981-93

Setores

Produção Agrícola BRASIL

PRODUÇÃO AGROINDUSTRIAL

BRASIL MINAS GERAIS

Cana-de-Acúcar Soja Trigo Laranja Milho Fumo Algodão

161,2 151,3 99,6 157,8 141,9

-- --

142,9 76,8 111,4 165,3 116,5 145,4 101,5

124,0 365,3 109,7

-- 70,2 175,1 107,7

(em percentuais – 1981 = 100) Organização: João Cleps Jr. Fontes: IBGE/DPE/Departamento de Indústria, 1995.

Indicadores da Produção Agroindustrial, 1981-1993.

Quando analisado por segmento da agroindústria, a tendência à especialização em

alguns produtos fica evidente, principalmente com o cultivo da soja (Tabela 21). O caso da

indústria de soja, que inclui principalmente a produção de óleos e farelos, além de outros

derivados, conforme já foi mostrado anteriormente, representou na década de oitenta um

dos segmentos mais dinâmicos da agroindústria mineira, em conseqüência da expansão

dessa atividade agrícola no estado. De acordo com a referida pesquisa do IBGE, a

indústria voltada para o processamento de soja em Minas Gerais registrou uma taxa

acumulada, no período 1981-93, de 365,3%, com um crescimento 4,7 vezes superior à

média nacional, que foi de 76,8%, sendo, portanto, muito superior à de outros estados de

tradição no processamento de soja (Gráfico 16).

Gráfico 16 : Brasil – Crescimento da Agroindústria Processamento de Soja: 1981-1993

Fonte: Indicadores da Produção Agroindustrial, 1981-93. IBGE/ DPE/ Departamento de Indústria, 1995.

0

100

200

300

400

Índi

ces

PR SC RS SP MG PE Brasil

(Base:1981=100)

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180

Nos anos 90, os dados sobre os principais investimentos em projetos agroindustriais

nas regiões do Triângulo e Alto Paranaíba, do Instituto de Desenvolvimento Industrial de

Minas Gerais (INDI), apontam para maior diversificação e um condicionamento dos

incentivos em torno da agroindustrialização de poucos produtos cultivados na região, a

exemplo da cana-de-açúcar, soja e milho, conforme a tabela abaixo.118

Tabela 22

Síntese dos Projetos Agroindustriais na Região do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba, por Segmento, Valor do Investimento e Número de Empregos

SEGMENTOS

Investimento

Total US$ Mil

Número

De Projetos

Número

de Empregos

Participação

% nos Investimentos

Participação

% nos Empregos

1. Óleos, Óleo Refinado e Farelo de Soja

72.958,0

05

764

7,75

3,92

2. Abatedouros, Incubatórios e Avicultura Integrada

23.681,4

05

1.367

2,51

7,01

3. Cana, Álcool e Aguardente

103.062,8

09

12.045

10,94

61,79

4. Frigoríficos, Abate de Bovinos e Industrialização de Carnes

12.814,4

06

735

1,36

3,77

5. Processamento, Armazenagem, Torrefação e Moagem de Café

24.145,0

04

218

2,56

1,12

6. Proces. de Leite, Leite em Pó, Leite Longa Vida, Queijos, Manteiga e Doces

45.761,3

14

760

4,86

3,90

7. Moagem de Trigo, Massas 26.769,5 02 92 2,84 0,47

8. Proces. de Milho, Derivados do Milho, Sementes e Rações

72.653,2

04

300

7,71

1,54

9. Beneficiamento de Algodão

4.754,8

02

136

0,51

0,70

10.Cigarros

528.587,0

02

1.495

56,11

7,67

11.Processamento de Frutas, Polpas, Sucos, Vegetais Supergelados e Enlatados, Cons. de Alimentos

26.800,0

10

1.582

2,85

8,11

Total

941.987,4

63

19.494

100

100

Organização: João Cleps Jr. Fonte: INDI/ Instituto de Desenvolvimento Industrial de Minas Gerais.

[Posição acumulada dos projetos aprovados até Julho de 1996].

118 Sobre a evolução da produção dos principais produtos agrícolas nos anos 90 no Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba, ver o ANEXO deste trabalho.

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181

De acordo com os dados do INDI (Tabela 22), dois segmentos destacam-se pela

grande abrangência geográfica, porém com menores proporções de incentivos públicos: o

leiteiro e o de frutas e vegetais tropicais. Uma análise através do número de projetos

coloca em destaque o segmento processador de leite e produção de derivados, que reflete

a própria lógica da organização da distribuição espacial deste complexo, considerado não

só o de maior tradição, mas certamente também o de maior significância dentre a ocupação

e renda dos produtores da região. Outro setor que recebeu o maior número de projetos foi

o da industrialização de frutas e vegetais tropicais, que tem conquistado maior espaço na

região dos cerrados nos últimos cinco anos, voltado principalmente para o processamento

de frutas para a produção de sucos e polpas como o abacaxi, o maracujá e de vegetais

como a ervilha. Tal segmento tem tanto o seu mercado como o centro de decisões

sediados fora da região.

GRÁFICO 17 : Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba – Participação dos Investimentos e Empregos Gerados nos Projetos Agroindustriais Aprovados pelo INDI

Organização: João Cleps Jr. Fonte: INDI/ Instituto de Desenvolvimento Industrial de Minas Gerais.

[Posição acumulada dos projetos aprovados até Julho de 1996].

0

10

20

30

40

50

60

70

Óle

os

Ave

s

Álc

ool

Car

nes

Caf

é

Leite

Trig

o

Milh

o

Alg

odão

Fum

oFr

utas

e C

ons.

Veg.

% Investimentos

% Empregos

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182

Como uma observação importante sobre os investimentos setoriais do INDI, vale

destacar o segmento de fumo, que tem acumulado mais da metade dos recursos

destinados para a região. Aqui não se trata de uma atividade com integração econômica

(industrial) regional, mas do caso de uma única empresa que processa a matéria-prima

(fumo), que é produzida distante e cujo centro de decisão, igualmente, encontra-se fora do

contexto regional. Porém, por este exemplo, pode-se avaliar a sua grande importância na

explicação para a maior absorção de recursos governamentais. De acordo com os dados, a

participação da agropecuária e agroindústria no movimento econômico de Uberlândia, em

1993, representava 70,64%; se excluído o valor adicionado da Cia. de Cigarros Souza

Cruz, esse percentual cairia para 18,8%; o que a coloca como maior fonte arrecadadora

fiscal do município (51,84%) (Tabelas no Anexo).119

Gráfico 18 : Uberlândia (MG) – Contribuição do Setor Agroindustrial na Arrecadação Fiscal Municipal - 1992

Organização: João Cleps Jr. Fonte: Prefeitura do Município de Uberlândia/ Secretaria de Indústria e Comércio, 1992.

Relatório de Valor Adicionado Fiscal (VAF), 1992.

119 Fonte: VAF- Valor Adicionado Fiscal, Prefeitura Municipal de Uberlândia – MG, 1992.

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183

Afora a prioridade dos incentivos ao setor de fumo, nota-se nos últimos anos uma

ligeira orientação para projetos de diversificação, como de frutas e vegetais tropicais, cafés

e o tradicional setor de laticínios. Depreende-se que, graças a esses incentivos oficiais do

governo mineiro, algumas empresas deslocaram suas fábricas para a região; trata-se em

muitos casos, de projetos novos, porém a maioria é de ampliação.120

5.2. A DINÂMICA DOS INVESTIMENTOS NO SETOR AGROINDUSTRIAL REGIONAL

As explicações para as novas localizações industriais não se resumem apenas aos

fatores acima sublinhados. Eles podem variar tanto para os ramos de indústrias ou todos os

portes de empresas, não existindo regras para a localização espacial das atividades

econômicas. Como foi destacado anteriormente neste trabalho e de acordo com Georges

BENKO (1996, p.133), os fatores podem ser enumerados: a força de trabalho; os atrativos

da paisagem; a infra-estrutura de transporte; a presença de universidades e centros de

pesquisa; os serviços e o clima político dos negócios entre outros.

De acordo com a listagem dos investimentos do Instituto de Desenvolvimento

Industrial de Minas Gerais (INDI), apresentada anteriormente, apesar da relativa

diversificação, a disputa por incentivos por parte do agribusiness no Triângulo Mineiro e Alto

Paranaíba, nos últimos anos, tem envolvido grupos e empresas ligados principalmente às

cadeias de grãos e carnes. A título de exemplo, as fontes de dados sobre as principais

cidades do pólo de agribusiness mineiro, como a de Uberlândia, indicam diversos

investimentos para o segmento alimentar e em geral nos anos 90 (Tabela 24).121 Muito

embora não se possa vislumbrar uma única lógica, principalmente no processo de

reestruturação dessas indústrias do setor agroalimentar, é possível retirar alguns elementos

comuns às diferentes estratégias. Como poderá ser visto, pela análise dos casos das

empresas do agribusiness regional, as inovações que permitiram a reestruturação de

120 Para um exame mais detalhado sobre a localização e porte dos projetos, consultar as tabelas no

ANEXO deste trabalho. 121 Apesar das grandes disparidades nos volumes de investimentos anunciados entre as diversas fontes,

(empresas, organismos públicos e meios de comunicação), o quadro serve como base para entendimento das destinações dos recursos financeiros, tanto em relação aos ramos de agroindústria, como do porte das empresas e volumes de recursos. A idéia de pólo agroindustrial será discutida na parte subseqüente deste trabalho.

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184

determinados grupos são muito mais de cunho organizacional que tecnológico, como os

gastos com aperfeiçoamento de produtos e P&D.

Apesar da forte influência dos incentivos oficiais, as novas localizações das

indústrias do setor agroalimentar mostram perspectivas diferentes. Nota-se em alguns

casos, a verticalização (Rezende), bem como a integração para frente e para trás

(Rezende), acompanhadas de lançamentos de novos produtos (Algar). Outro caso, de

grupo proveniente da área financeira – A BRASFRIGO, grupo BMG (Banco de Minas

Gerais) – que atuava também na área logística (frigorificados) articulou-se em direção à

agroindustrialização, com o processamento de vegetais e frutas e produtos congelados.

Acompanhando a estratégia de diversificação para produtos vegetais e enlatados, a Swift-

Armour é outro exemplo.

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185

185

Quadro 11 PRINCIPAIS PROJETOS E INVESTIMENTOS ANUNCIADOS PELAS EMPRESAS NO SETOR AGROALIMENTAR

REGIÃO DO TRIÂNGULO MINEIRO/ ALTO PARANAÍBA – 1995-2003

EMPRESA/ LOCAL

PROJETOS

Anos

Investimentos (US$) /nde

empregos diretos

Tipos de Investimentos, Inovações e Linhas de Produtos

1. Rezende Alimentos (Uberlândia)

Frigorífico, Embutidos de Carnes, Integração

1995-97 US$ 80 milhões (1.500 empregos )

- instalações físicas: conclusão de projeto de frigorífico de carnes e lançamento de novos produtos e itens derivados de carnes bovina, suína e de aves; - implantação de modelo de integração junto aos produtores.

2. Cargill Agrícola (Uberlândia)

Ácido cítrico, Esmagamento de Soja

1997-... US$ 204 milhões (350 empregos)

- instalações físicas: construção de uma unidade produtora de ácido cítrico, utilizado como aditivo alimentar utilizado na produção de refrigerantes. - instalações físicas: duplicação da unidade de processamento de soja para 3,2 mil ton/dia.

3. Grupo ABC-ALGAR / ABC.Inco e ABC.A&P (Uberlândia-MG)

Alimentos

1996-... US$ 4,5 milhões (800 empregos)

- Consórcio c/ a empresa norte-americana produtora e distribuidora de frutas, legumes e verduras, Dolle Food Company para a produção e processamento de vegetais;

4. Brasfrigo/ Grupo BMG (Uberlândia - MG)

Produtos Congelados Processam. de Polpas (Vegetais e Frutas)

1995-... US$ 14 milhões (n/d)

- instalações físicas: ampliação na linha de produtos vegetais congelados (milho, ervilha, etc.) e processamento de polpas de tomate e goiaba

5. Perdigão Agroindustrial (Patos de Minas - MG)

Carnes e Embutidos Integração

1997-2003

US$ 64,7 milhões (600 empregos)

- construção de um abatedouro de aves com capacidade para processar e industrializar 140 mil aves/dia. Do total dos investimentos anunciados, cerca de US$ 30 milhões correspondem à parcela de contrapartida, a ser aplicada nos 222 aviários dos produtores integrados.

6. Pif Paf S.A. Ind. de Alimentos (Patrocínio - MG)

Frigorífico para Abate de Suínos e Integração

1998-99 US$ 20 milhões (entre 700 e 1 mil empregos)

- construção de um frigorífico com capacidade para abater 2,4 mil suínos/dia, além de uma fábrica de ração de 15 ton/hora). A capacidade para o processamento industrial de carnes é de 80 toneladas de presunto, 16 de bacon e 156 de congelados/dia. O sistema de criação, com capacidade para 6 mil matrizes, seá desenvolvido por cerca de 160 produtores

n/d = não divulgado. Organização: João Cleps Jr. Fonte: Jornais: Gazeta Mercantil, 26/dez./1996, p. B-18; 16, 17 e 18/jan./1998, p. C-7 [Agribusiness]; Correio, 12 e 13/abr./1997; 15/jun./97, p.8. 19/dez./1997,

p. 8; 04/jan./1998, p. 7; Gazeta Mercantil, 18/dez./1997, p. C-8 [Agribusiness]; Correio, 19/jul./1997, p.5 e 19/dez./97, p.8. Entrevista Direta nas Empresas .

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186

5.3. ESPAÇO AGRÍCOLA E DIVISÃO DO TRABALHO

Uma das principais preocupações da Geografia é buscar a compreensão e

representação espacial do processo de organização do território e suas possíveis

articulações. Tal organização e representação revela-se, de um lado, pelos elementos fixos

existentes no território (cidades, plantações, fábricas, casas, armazéns, portos, etc.) e, de

outro, pelos fluxos que garantem as interações entre fixos através de redes geográficas.

Assim, na tentativa de entendimento do território, nesta parte do trabalho procura-se

utilizar os estudos sobre a espacialização dos fluxos, que revelam as interações espaciais

existentes entre os centros urbanos e os fluxos de pessoas em busca de bens e serviços e

de informações. 122

O estabelecimento de novas dinâmicas regionais, ou em outros termos, a definição

atual de regiões, leva em conta os nexos de informação, sobretudo ao serviço das forças

econômicas hegemônicas e ao serviço do Estado, sendo o grande regedor das ações

definidoras das novas realidades espaciais. Nesse sentido, as segmentações e partições

presentes do espaço sugerem, pelo menos, que se considerem dois recortes espaciais a

que se chamam de horizontalidades e verticalidades (SANTOS, 1996, p.93). As

horizontalidades são os espaços contínuos, formados de pontos que se agregam sem

descontinuidade, como na definição tradicional de região. São as áreas produtivas: regiões

agrícolas, cidades, os conjuntos urbanos-rurais. De outro lado, as verticalidades são pontos

no espaço que, separados uns dos outros, asseguram o funcionamento global da

sociedade e da economia. São os sistemas urbanos. Nas áreas de agricultura moderna, as

cidades são o ponto de inserção entre verticalidades e horizontalidades. Para SANTOS

(1996, p.94),

“O planejamento de boa parte do que está na cidade e no campo poderá ser feito a partir da cidade. Lugar da regulação da atividade agrícola, nela é mais possível reconhecer a mutabilidade frenética a que o campo está subordinado, em função das exigências da globalização. É a partir do conhecimento desta e dos seus mecanismos locais que se poderão encontrar os caminhos desejáveis para que o campo possa igualmente responder aos interesses da sociedade, como agora responde, melhor do que qualquer outro subespaço, aos interesses do capital”.

122 Esses fluxos são concebidos na forma de matrizes e de mapeamentos e estão reunidos nos diversos

estudos da FIBGE sobre a denominação Regiões Funcionais Urbanas (1972) e Regiões de Influência das

Cidades (1987).

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Ainda, de acordo com a opinião do autor,

“A cidade não é mais o locus por excelência dos capitais novos. Esse locus do capital hegemônico facilmente difundido é o campo, onde as horizontalidades que se estabelecem têm como base material a ciência, a tecnologia e a informação. A cidade é um lugar que se recusa a essa difusão rápida e fácil do capital novo. O campo é o lugar onde uma certa tipologia de capital, de tecnologia e de organização dá-se de forma espalhada sob certas áreas, redefinindo-as”. (SANTOS, 1996, p.95)

5.3.1. A Perspectiva Regional e Urbana: as relações Inter-regionais Minas-Goiás

A compreensão da dinâmica espacial do Triângulo Mineiro passa pelo entendimento

da constituição e expansão da rede viária regional rumo ao planalto central brasileiro que

ligou, a partir da década de 60, o Centro-Sul à nova capital federal - Brasília. Aí forma-se o

eixo de circulação viária que dá início à exploração dos cerrados, principalmente com as

rodovias que atravessam o Triângulo - BR-050 e BR-365 e ainda a BR-040, ligando Belo

Horizonte a Brasília.

Historicamente, a estrutura produtiva do Triângulo Mineiro manteve-se articulada,

desde o século XIX, através do comércio de gêneros alimentícios, com a economia paulista,

através da mercantilização de gêneros agrícolas e do comércio em geral. Esse papel

comercial do Triângulo é muito bem sintetizado na explicação a seguir:

“A partir do desenvolvimento de São Paulo com a posterior concentração industrial e o forte crescimento populacional, a região encontra novo e forte estímulo. As vantagens geográficas do Triângulo situado entre São Paulo e as terras férteis de Goiás e Mato Grosso criaram a possibilidade para a região servir como entreposto comercial, abastecendo as áreas para o norte com as mercadorias de São Paulo e mandando produtos alimentícios para as áreas industrializadas do sul”. (FRANCIS et al., 1988, p.43)

Dessa forma, o comércio contribuiu para a formação da estrutura urbana, servindo

também à fixação de população em centros dispersos, que tinham a pecuária extensiva

como principal atividade econômica regional, com a maior parte da população vivendo no

campo.

Na década de 30 do século atual, estabeleceram-se importantes ligações do

Triângulo Mineiro com outros centros urbanos paulistas e região Centro-Oeste através do

prolongamento da Estrada de Ferro Mogiana até a cidade de Anápolis, no centro de

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Goiás.123 Foi por essa região que se iniciou o avanço da fronteira agrícola nos cerrados,

uma vez que a área da ferrovia contava com manchas de terras de considerável fertilidade,

sobretudo no sul de Goiás.

Nas décadas de 50 e 60, com a construção de Brasília, implantada em plena região

central do Brasil e dos cerrados, foi criado um importante sistema de transportes,

favorecendo o avanço da exploração agrícola para as áreas ainda subpovoadas do centro-

sul de Goiás e do próprio Triângulo Mineiro. A construção das rodovias deu suporte à

estruturação da rede urbana, não só em direção ao Centro-Oeste como para leste de Minas

Gerais, com a ligação à capital Belo Horizonte. 124

A extensão das rodovias não somente inseriu a região nos novos mercados, como

reforçou o papel da cidade de Uberlândia como principal pólo econômico do Triângulo

Mineiro. Um dos principais eixos, razão de esforços políticos da própria região, foi a

pavimentação do trecho Itumbiara – Rio Verde, no estado de Goiás, que veio configurar o

seu domínio comercial com o sul e sudoeste goiano até os dias atuais.

O processo de interiorização e desenvolvimento regional do Triângulo Mineiro

completa-se com a implantação de programas oficiais para a exploração dos cerrados,

culminando com a expansão agrícola e pecuária, incorporando novos espaços e

reconfigurando antigos centros de maior e menor expressão. A consolidação regional e

integração plena ao eixo do Centro-Sul, comandado pela metrópole paulista, ocorre já no

final dos anos 70. Assim, a delimitação e o enfoque regional, como não poderia deixar de

ser, não são possíveis sem a interligação do Triângulo Mineiro com os mercados

consumidores do Sudeste e Sul e a fronteira dos cerrados em expansão, sobretudo na

Região Centro-Oeste. No espaço imediato ao Triângulo Mineiro, está o Sul e Sudoeste

Goiano, que se interligou a essa região pela rede viária e pela influência urbana (comercial,

industrial e serviços) desde o final dos anos 50, inserindo-se ainda na mesma dinâmica de

implantação programada da rede viária e contexto político dos programas oficiais de

desenvolvimento agropecuário (Quadro 12).

123 A título de ilustração, desde 1895 havia sido inaugurada a estação de São Pedro do Uberabinha -

atual Uberlândia. Apenas no ano de 1929 a cidade ganharia o nome de Uberlândia, que significa “terra fértil”. Para maior compreensão do papel dos centros urbanos do Triângulo, sugerem-se os trabalhos de BRANDÃO (1989), especialmente o Cap. 3 e SOARES (1986).

124 Sobre a evolução do sistema de transportes nesta região, consultar GUIMARÃES (1990) especialmente o Capítulo II.

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Quadro 12 Cronologia da Implantação das Principais Vias de Circulação do Triângulo Mineiro

PERÍODO

PRINCIPAIS PROJETOS DE CIRCULAÇÃO VIÁRIA

1958 BR-153 = Inauguração do trecho asfaltado de Monte Alegre (MG) a Itumbiara), concluindo o trajeto entre a divisa de Minas a Goiás; Função: direcionar para o oeste do Triângulo Mineiro o fluxo que demandava o sentido Sul-Brasília, interligando a cidade paulista de São José do Rio Preto e de Goiânia-Anápolis, no Estado de Goiás.

1960

BR-050 = Conclusão da ligação Santos-Brasília, num total de 1.087 Km., passando no Triângulo Mineiro pelo eixo Uberaba-Uberlândia-Araguari. A ligação por asfalto de Uberaba com São Paulo só foi efetivamente realizada no início dos anos 60. O trajeto Uberaba-Cristalina (GO), de cerca de 400 Km havia demorado mais de uma década para ser completado.

1965

BR-050 = Embora fosse aberta ao tráfego desde fins de 1962, o trecho Uberaba-Uberlândia só foi inaugurado em meados de 1965.

1966 BR-365/ BR-153 = Conclusão do trecho asfaltado no trajeto Uberlândia-Brasília através das BRs 365 (Uberlândia-Divisa com Goiás) e 153 (Itumbira-GO até o Distrito Federal) BR-153 = Complementação da pavimentação asfáltica na parte do Triângulo Mineiro, permitindo a ligação efetiva do Triângulo com o Estado de São Paulo até a SP-326 com direção a Barretos (SP).

1968

BR-050 = Conclusão do Trajeto Uberlândia-Araguari. Apesar de já ser transitável desde 1961 com a construção da ponte sobre o rio Paranaíba, no sentido Araguari-Catalão (GO), a ligação asfáltica entre Uberlândia-Araguari da BR-050 só viria a ser completada no início de 1968.

1974 BR-365 = Inauguração da pavimentado do eixo Uberlândia a Montes Claros, no noroeste de Minas Gerais, passando por Patrocínio e Patos de Minas.

1975 BR-452 = Conclusão da pavimentação do trajeto Uberlândia – Araxá BR-495 = Inauguração oficial do trecho pavimentado da ligação Uberlândia - Prata, com uma extensão de 78 Km. dando acesso a BR-153 que liga o Sul a Capital Federal

Organização: João Cleps Jr. Fonte: Prefeitura do Município de Uberlândia. Banco de Dados Integrados (BDI), vol I., 1995.

GUIMARÃES, 1990.

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190

5.3.2. O Pólo Agrícola de Uberlândia

Com o objetivo de caracterizar o perfil da agricultura e agroindústria regional do

Triângulo Mineiro, o trabalho realizado pelo CEDEPLAR/IPEA (1986) propõe uma

delimitação, baseando-se nos circuitos econômicos no espaço onde foram identificados os

pólos agrícolas com a utilização de índices agregados de terciarização, complementado

com índice da agroindústria.125

Esse estudo, apresentado por LEMOS (1990), procurou seguir as variáveis

econômico-espaciais como fator de articulação entre os centros urbanos, onde se destaca o

seguinte:

“a) O fator de atração e articulação entre os centros urbanos prende-se ao desenvolvimento

desigual existente entre eles, sendo os maiores mais diversificados do que os menores,

constituindo pólos de atração econômica dos menores pelos maiores;

b) O crescimento desigual explica-se não apenas pelos fatores ‘históricos’ (ambiente

natural, fatores sociais e culturais, etc.) mas por fatores endógenos, ligados às próprias

atividades desenvolvidas nos centros urbanos;

c) Os fatores endógenos resultam de uma combinação de economia de escala (interna às

atividades produtivas e externo-aglomerativa) com a propriedade espacial das atividades

terciárias;

d) A propriedade espacial das atividades terciárias consiste em sua espacialidade típica,

isto é, não ‘viajam’, sejam aquelas consideradas tipicamente dos serviços (isto é, não

materializadas em ‘bens’), sejam aquelas dentro da circulação de mercadorias.” (LEMOS,

1990, p. 2).

125 Esse instrumento de agregação espacial carece ainda de maior aperfeiçoamento, pois utiliza a

microrregião no lugar de município.

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Assim, foram definidos os pólos de atração a partir dos “índices e terciarização” e,

complementarmente, o “índice da agroindústria”. Além disso, o estudo utilizou como

unidade espacial as microrregiões homogêneas da FIBGE, a despeito de que uma

regionalização com base nos municípios poderia fornecer resultados mais precisos.126

O estudo consiste num importante esforço e instrumental para compreensão, onde

se insere a região de estudo, que aponta cinco pólos que correspondem a microrregiões

que têm como “núcleo” os principais centros urbanos, a saber: o pólo industrial de Belo

Horizonte e os pólos agrícolas de Uberlândia, Juiz de Fora, Governador Valadares e Teófilo

Otoni (Figura 14). Como resultado interessante dessa regionalização, têm-se os efeitos de

polarização em relação a regiões fora do Estado de Minas Gerais: o primeiro, representado

apenas pelo pólo de Uberlândia, indicando a sua polarização de quatro microrregiões do

Estado de Goiás.127 O segundo refere-se à polarização de microrregiões por pólos

localizados fora do Estado, como é o caso de outras quatro microrregiões do Sul de Minas,

Almenara e o Pontal do Triângulo Mineiro (MRH 177), sendo esta última polarizada tanto

pelo pólo de Uberlândia como pelo pólo de São José do Rio Preto, no estado de São Paulo

(LEMOS, 1990, p.22).

Os resultados alcançados pelo estudo, que teve como referência a regionalização

do “circuito espacial do setor agropecuário”, produzido pelo CEDEPLAR, onde são

esboçadas as articulações inter-regionais do Triângulo Mineiro, constituiu um reforço para

um “recorte” espacial e, por conseguinte, instrumento para a compreensão da dinâmica

agrícola e agroindustrial regional.128

126 O “índice de terciarização” foi obtido a partir da divisão do valor bruto das vendas de comércio e

serviços pelo valor da transformação agrícola-industrial. Segundo LEMOS (1990), a ausência de um conceito de valor adicionado do comércio e serviços nos dados da FIBGE obrigou à utilização do valor bruto das vendas, o que pode levar a uma distorção sobre o peso e importância de algumas atividades, em particular, a do comércio atacadista. Já o “índice de agroindústria” selecionou um grupo de indústrias a jusante (couros e peles, fumo, química, bebidas, produtos alimentares, madeira e papel), cujo Valor da Transformação Industrial (VTI) foi dividido pelo Valor da Produção Agropecuária (VTA). A sua consideração como critério apenas complementar deveu-se ao fato de que tais setores industriais têm um custo de circulação baixo, com alto peso somente para custo de transporte da matéria-prima de origem agrícola.

127 No estado de Goiás, correspondem às Microrregiões Homogêneas (FIBGE) do Alto Araguaia Goiano (MRH 356), Serra do Caiapó (MRH 357), Sudeste Goiano (MRH 359) e Vertente Goiana do Paranaíba (MRH 360), ver Figura no ANEXO.

128 Tomaremos, com base na delimitação proposta, por exemplo, a representação das áreas de produção agrícola regional (soja) e do correspondente grau de urbanização, acrescentando a Microrregião de Meia Ponte (MRH 358). Note-se ainda que essa regionalização que identifica o “Pólo de Uberlândia” é reforçada pela atuação das empresas do agribusiness de Uberlândia. Ver ilustrações mais adiante neste trabalho.

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0 40 80 120 km

BASE: LEMOS (1990) - CEDEPAR/UFMG Digitalização: Celso A. Siqueira

N

MINAS GERAIS - REGIONALIZAÇÃO SEGUNDO O CIRCUITO ESPACIAL DO SETOR AGROPECUÁRIO - 1990

P2

P1

P3

P4

P5

R1

R2S

S S

S

SS

S

E1

Pólo Agrícola de São José do Rio Preto

Pólo Agrícola de Ribeirão Preto

Pólo Industrialde São Paulo

Pólo Agrícola e Administrativode Goiânia e Brasília Pólo Agrícola

de Vitória da

Conquista

LEGENDA

P1 - Pólo Industrial de Belo Horizonte

P3 - Pólo Agrícola de Juiz de Fora (MRH 200, 201, 199, 196)

P4 - Pólo Agrícola de Teófilo Otoni (MRH 168, 176, 169)P5 - Pólo Agrícola de Governador Valadares (MRH 175, 184, 185)R1 - Região Agrícola de Manhuaçu (MRH 189)R2 - Região Agrícola de Muriaé (MRH 193)E1 - Enclave Agrícola de Montes Claros (MRH 162)S - Subsistência (MRH 157, 158, 159, 161, 162, 163, 167, 192)

P2 - Pólo Agrícola de Uberlândia

FIBGE/Divisão Regional do Brasil em Mesorregiões e Microrregiões Homogêneas (1969)

Organização: João Cleps Jr.

PÓLO AGRÍCOLA DE UBERLÂNDIA

UBERLÂNDIA

SÃO PAULO

GOIÁS

MATO GROSSO DO SUL

RIO DE JANEIRO

ESPÍ

RIT

O S

ANTO

BAHIA

Minas Gerais (MRH 170, 171, 172, 178, 179)Goiás (MRH 356, 357, 359, 360)

Núcleo Industrial (MRH 244, 239)Entorno Agroindustrial (MRH 181, 186, 187, 195)Entorno Agrícola (MRH 191, 180, 173, 190, 166, 174, 161, 188)

FIGURA 14

OBS.: Os números indicam as Microrregiões Homogêneas (MRH) pertencentes.

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193

5.3.3. Dos Pólos (Industriais) aos Eixos de Desenvolvimento

Desde os anos 70, Minas Gerais tem apresentado uma elevada tendência à

concentração geográfica da população estadual quando então cerca de 41 dos 722

municípios do estado concentraram 91% do aumento da população ocorrido no período

1970-1980. Nessa distribuição, uma parte estava localizada no anel maior da região

metropolitana de Belo Horizonte (cerca de 25 municípios) e outra parte encontrava-se

distribuída na categoria das cidades de porte médio (16 municípios).

A partir da tendência de crescimento, o governo de Minas concebeu e executou

programas de apoio ao desenvolvimento das cidades de porte médio ou centros urbanos de

porte intermediário, entre os quais se incluem o Aglomerado Urbano Vale do Aço, Juiz de

Fora, Montes Claros, Varginha, Pouso Alegre, Patos de Minas, Uberlândia, Uberaba, etc.

A lógica de crescimento das cidades-pólos ao longo da década de 70, era a atração

de fluxos intensos de investimentos diretamente produtivos e de migrantes, pressionando a

infra-estrutura econômica e social existente em cada cidade, que cresceram 45%, enquanto

o conjunto do estado teve apenas 16,5%.

Por conseqüência da crise econômica brasileira dos anos 80, as cidades de porte

médio ficaram mais no papel de amortecedoras do ritmo desordenado de migração

metropolitana e, não diferente da característica nacional, as cidades médias mineiras

tornaram-se o locus preferencial dos fluxos migratórios de êxodo rural. 129

Vários estudos têm procurado mostrar o processo de reorganização espacial da

indústria brasileira a partir do pólo dinâmico de São Paulo. A expansão da indústria paulista

atravessou os estados vizinhos, seguindo os principais eixos rodoviários, que partem de

São Paulo em direção às áreas contíguas, principalmente para os estados do Paraná e

Minas Gerais.

De acordo com DINIZ & LEMOS (1989), o Triângulo Mineiro é atingido por um dos

eixos que partem de São Paulo em direção a Campinas-Ribeirão Preto.

A despeito, recentemente o Governo de Minas Gerais está deslocando a sua política

de desenvolvimento baseada no “pólos de crescimento” para os “eixos estratégicos de

transportes”, que está orientado para a estruturação da produção e instalação de novos

129 Como uma das políticas do governo de Minas Gerais nos anos 80, o Programa de Desenvolvimento

dos Centros Intermediários objetivou além de destinar os investimentos industriais para as cidades de porte

médio, reorientar esses fluxos migratórios de êxodo rural do estado.

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194

empreendimentos econômicos baseados nos seguintes eixos rodoviários e ferroviários

(Figura 15):

1) Rodovia Fernão Dias; 2) Sudeste – Brasil Central; 3) Pirapóra – Unaí; 4) Belo Horizonte – Vale do Aço; 5) Sudeste – Nordeste; 6) Corredor Centro-Leste; 7) Sudeste Mineiro – São Paulo; 8) Belo Horizonte – Rio – Sepetiba.

Dentre os eixos estabelecidos, de acordo com a política de Corredores Multimodais

de Transporte no Brasil, conforme analisado anteriormente neste trabalho, os que têm

relação direta com o Triângulo Mineiro, são o Corredor Sudeste – Brasil Central (servido

pela rodovia BR-050/ SP-330 e BR-153 e ferrovias FEPASA e RFFSA/SR2) e Corredor

Centro-Leste (formado pela BR 262 – Triângulo Mineiro/ Vitória; RFFSA/SR2 e

EFVM/CVRD e suas ramificações, incluindo também o ramal Pirapora-Unaí, a ser

construído).

Um dos resultados práticos da ampliação dessas infra-estruturas na região, a partir

da duplicação do trecho da rodovia BR-050 (São Paulo-Brasília) entre a fronteira paulista e

a cidade de Uberaba, que tem dinamizado principalmente o pólo petroquímico (indústria de

fertilizantes e outros insumos químicos agrícolas) é a instalação de novas indústrias. 130

130 O próprio deslocamento da empresa Black & Deker de São Paulo para Uberaba seguiu como eixo de

localização a parte da rodovia a ser duplicada (até o fim de 1998). Cf. Gazeta Mercantil, 30/nov./1995.

[Relatório Investimentos em Minas]

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0 40 80 120 km

FONTE: Governo de Minas Gerais Digitalização: Celso A. Siqueira

CORREDORES E EIXOS ESTRATÉGICOS DE TRANSPORTES - 1995

1. EIXO FERNÃO DIAS

2. CORREDOR RMBH - RIO-SEPETIBA

3. CORREDOR CENTRO-LESTE

4. CORREDOR SUDOESTE MINEIRO-SÃO PAULO

5. CORREDOR SUDESTE BRASIL CENTRAL

6. EIXO VALE DO AÇO/RMBH-BR-381

7. CORREDOR SUDESTE-NORDESTE (BR-116)

e suas ramificações - inclui ramal Pirapora-Unaí em construção)

BR-050/SP-330 e BR-153 + FEPASA e RFFSA/SR2)

BRASÍLIA MINAS GERAIS

BAHIA

GOIÁS

SÃO PAULO

RIO DE JANEIRO

ESPÍRITO SANTO

Unaí

DF

Montes Claros

Pirapora

Uberlândia

Uberaba

Santos

SÃO PAULO

Pouso Alegre

Varginha

BELO HORIZONTE

João Monlevade

Vitória

Gov. Valadares

Ipatinga

ItabiraSete Lagoas

7

3

35

41

1 2

6

FIGURA 15

Fundação João Pinheiro - 1995

ESTADO DE MINAS GERAIS

(duplicação da Rodovia BH/SP em fase inicial)

(BR-040-BH/RJ e RFFSA/SR3)

(BR 262 - Triângulo Mineiro-Vitória; RFFSA/SR2 e EFVM/CVRD

(MG-050)

(Previsão de duplicação)

LEGENDA

3

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196

5.4. A Dinâmica Agrícola e Agroindustrial no Triângulo Mineiro

5.4.1. A Produção Agrícola

O movimento de agroindustrialização ligado ao complexo da soja em Minas Gerais é

precedido pela expansão agrícola a partir da década de 1970, graças aos incentivos do

estado. Nos anos 80, ampliaram-se crescentemente a área cultivada e a produção de soja,

gerando por conseguinte o processo de gestação da agroindústria no estado de Minas

Gerais.

Gráfico 19 : Estado de Minas Gerais – Cultura de Soja Evolução da Área Plantada, Produção e Rendimento Médio: Safra 1969-70 a 1996-97

0

200.000

400.000

600.000

800.000

1.000.000

1.200.000

1.400.000

70 71 72 73 74 75 76 77 78 79 80 81 82 83 84 85 86 87 88 89 90 91 92 93 94 95 96 97 Anos

Área (ha) e Produção (T)

0

500

1000

1500

2000

2500

Kg/ ha

Área (ha)

Produção (T)

Rendimento (Kg/ha)

Organização: João Cleps Jr.

Fonte: IBGE/ CONAB. IBGE/SIDRA – Produção Agrícola Municipal (1990-1997).

Fazendo o retrospecto da produção de soja, até os meados da década de 1970, era

desprezível o cultivo desse tipo de grão oleaginoso no estado de Minas Gerais, quando

ainda havia pouca influência dos programas de incentivo à produção agrícola intensiva. A

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197

maior expansão das lavouras de soja em Minas Gerais ocorreu, em ritmo surpreendente, a

partir do final da década de 1970. De uma área de 117,1 mil hectares e uma produção de

195 mil toneladas em 1978/79, em quinze anos, a produção aumentou em 1 milhão de

toneladas, passando para perto de 1,2 milhões na safra 1994/95. No início, o cultivo de soja

no estado obtinha um rendimento abaixo de 1,5 mil ton/ha., e já em 1993 passa para cerca

de 2,1 mil toneladas por hectare (Gráfico 19). Este crescimento, como veremos adiante,

tem possibilitado grande mercado para as atividades que usam a soja, principalmente para

a produção de rações para as integrações do complexo carnes (aves, bovinos e suínos).

A partir dos meados da década de 70, com influência maior dos programas oficiais

que estimularam a exploração agrícola dos cerrados através do cultivo de grãos

exportáveis, a produção de soja em Minas Gerais começa a sofrer um aumento gradual,

culminando no ano de 1985, quando se inicia uma nova fase da expansão agroindustrial do

estado.

A fase posterior a 1985 coincide com a instalação da unidade de esmagamento de

soja da Cargill em Uberlândia, no ano de 1986, com a estabilização tanto da área cultivada,

em torno de 600 mil hectares, como da produção do estado, entre 800 mil a 1,2 milhões de

toneladas. 131

O nível de crescimento das lavouras de soja na região do pólo agrícola de

Uberlândia pode ser visualizado com as ilustrações seguintes, onde são representadas a

proporção e a concentração da produção municipal em 1985 e 1995.

Na perspectiva de comparar a evolução da produção de soja nos últimos dez anos,

tomando-se como base os dados do Censo Agropecuário de 1985 e da Produção Agrícola

Municipal de 1995, da FIBGE132, observou-se um aumento extraordinário da área cultivada

nos municípios do Oeste de Minas e Centro-Sul de Goiás.133

131 O setor de processamento de óleos ganha maior importância no Triângulo Mineiro somente a partir

de 1978, quando o grupo ABC-Algar adquiriu o controle acionário da indústria de óleos Fujiwara, surgindo então a ABC-Inco. Sobre o desenvolvimento da agroindústria na região do Triângulo Mineiro na fase anterior à década de 80, ver ALMEIDA FILHO et al (1988).

132 Apesar das duas fontes não serem passíveis de comparação, dão uma noção da tendência da produção entre 1985 a 1995.

133 A agregação espacial denominada “Oeste de Minas” tem como base oito Microrregiões

Geográficas no Estado de Minas Gerais (MRGs Uberlândia, Frutal, Ituiutaba, Uberaba, Araxá, Patrocínio, Patos de Minas e Paracatu) e seis no estado de Goiás (MRGs Catalão, Meia Ponte, Vale do Rio dos Bois, Sudoeste de Goiás, Quirinópolis e Pires do Rio). Para o ano de 1985, procedeu-se o remembramento dos municípios à mesma delimitação de microrregiões geográficas proposta pela FIBGE (1990).

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Ausência /MENOS de 10%

DE 11 A 30%

DE 31 A 50%

ACIMA DE 50%

Participação Percentual daCultura da Soja em Relaçãoàs Lavouras Temporária, porMunicípio

BrasíliaD.F.

FIGURA 16

PROPORÇÃO DA ÁREA EXPLORADA COM SOJA EM 1985Mesorregiões Geográficas Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba e Sul Goiano

ESTADO DEMATO GROSSO

ESTADO DE MATO GROSSO DO SUL

50 25 0 50 100 KM.

Fonte: FIBGE - Censos Agropecuários de 1985/ Minas Gerais e Goiás

Elaboração/Desenho: João Cleps Jr./ 1997

MINASGERAIS

ESTADO DE SÃO PAULO

Escala

GO

MS

MT

SP

DF

MG

RJ

BA

ES

MAPA DE SITUAÇÃO

GOIÁS Goiânia

Base: Divisão em Mesorregiões Geográficas (FIBGE - 1990) (Em Minas Gerais, inclui e Microrregião Geográfica de Paracatu) Malha Municipal de 1994

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199

O aumento das áreas com soja foi diferenciado nos dois estados, com expansão de

cerca de 46% em Minas Gerais, enquanto que o conjunto de municípios de Goiás

aproximou-se de 90% entre 1985 e 1995.134

Por outro lado, o número de municípios

produtores também cresceu.

Observaram-se, igualmente, as tendências da expansão tanto sobre as áreas

correspondentes nas áreas de chapadas do cerrado, onde a mecanização é favorável,

como também onde foram implantados os programas oficiais de colonização agrícola nos

dois estados, conforme processo analisado anteriormente no trabalho.

Nota-se, ainda, que o mesmo agregado espacial passou por um forte processo de

urbanização, apresentando semelhanças entre proporção da área explorada com soja, em

1995, com o grau de urbanização, em 1996 (Figuras 17 e 18).

134 Em 1985, nas microrregiões de Minas a área de cultivo de soja era cerca de 320 mil hectares,

enquanto que nas de Goiás ultrapassava pouco mais de 511 mil. Em 1995, a área plantada no “Oeste de Minas”

chegou a 467 mil hectares, enquanto que no “Centro-Sul de Goiás” aproximou-se de 1 milhão de hectares, quase

duplicando.

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GO

MS

MT

SP

DF

MG

RJ

BA

ES

Ausência

Menos de 10%

de 11 a 30%

de 31 a 50%

Acima de 50%

Participação Percentual daCultura de Soja em Relaçãoàs Lavouras Temporárias

Fonte: IBGE- Produção Agrícola Municipal- Sidra/97 Malha Municipal de 1994 - vide mapa ANEXO

Org./Des. João Cleps Jr.

Proporção da Área Explorada com Soja em 1995Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba e Sul Goiano

50 25 0 50 100 KM

Escala

MAPA DE SITUAÇÃO

ESTADO DEMATO GROSSO

ESTADO DE MATO GROSSO DO SUL

E S T A D O D E S Ã O P A U L O

BRASÍLIA (DF)

Goiânia

Divisão em Mesorregiões Geográficas -1990IEm Minas Gerais, inclui a Microrregião Geográfica de Paracatu

FIGURA 17

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26,5 - 40,9%

41,0 - 55,4%

55,5 - 69,9%

70,0 - 85,4%

85,5 - 99,0%

PARTICIPAÇÃO DA POPULAÇÃOURBANA EM RELAÇÃO À POPULAÇÃOTOTAL DO MUNICÍPIO EM 1996

FONTE: FIBGE/ Contagem da População - 1996 Org./Desenho: João Cleps Junior, 1997

50 25 0 50 100 KM.

Escala

BRASÍLIA D.F.

GOIÂNIA

ESTADO DE MATO GROSSO DO SUL

ESTADO DE MATO GROSSO

MINASGERAIS

GOIÁS

E S T A D O D E S Ã O P A U L O

FIGURA 18

Grau de Urbanização, por Município em 1996Mesorregiões Geográficas Triângulo Mineiro e Sul Goiano

GO

MS

MT

SP

DF

MG

RJ

BA

ES

MAPA DE SITUAÇÃO

Frutal

Uberaba

Uberlândia

Araxá

Patos de Minas

Paracatu

Catalão

PatrocínioItuiutaba

Itumbiara

Rio Verde

Quirinópolis

Palmeirasde Goiás

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202

5.4.2. O Processo de Agroindustrialização do Triângulo Mineiro135

O complexo soja em Minas Gerais, notadamente polarizado na região do Triângulo

Mineiro, caracteriza-se pela presença inicial da unidade agroindustrial de processamento de

soja do conglomerado transnacional da Cargill, que se instalou em Uberlândia em 1986.

Aproveitando-se de incentivos e vantagens de localização, tanto do centro produtor de

matéria-prima quanto do mercado consumidor, a empresa foi a primeira das transnacionais

a acompanhar o grande movimento de crescimento da produção de grãos da região do

cerrado brasileiro.136

Tabela 23

Complexo Soja de Uberlândia (MG): Capacidade de Esmagamento e Processamento de Grãos, Refino de Óleo e Produção de Farelos – 1997

EMPRESAS

Capacidade de Esmagamento

T/dia

Processamento

de Grãos (T/Ano)

Óleo

Refinado (mil T/Ano)

Farelo de

Soja (mil T/Ano)

ABC – Inco* Cargill Agrícola* Rezende Alimentos

1.800 2.500 1.200

520.000

870.000

330.000

120.000

200.000

62.700

400.000

680.000

259.000

Total

5.500

1.720.000

382.700

1.339.000

* Dados referentes ao ano de 1996. Organização: João Cleps Jr. Fonte: IBGE - Levantamento da Soja em Grão/ Indústrias.

Entrevista Direta, 1996 e 1997.

As chamadas empresas de capital regional, notadamente uberlandenses,

completam a base da agroindústria da soja em Minas Gerais do complexo grãos-óleos-

farelos e grãos-rações-aves. Essas empresas vêm apresentando um ritmo de crescimento

acentuado nos últimos anos, e seu espaço de atuação ultrapassa os limites geográficos da

135 O termo “agroindustrialização” é utilizado para designar o processo de interdependência entre

agricultura e a indústria beneficiadora e processadora. 136 As empresas líderes atuantes no complexo soja, únicas do Estado de Minas Gerais, escolhidas para o

estudo, são a empresa multinacional - a Cargill - e duas outras de capital regional do Triângulo Mineiro, sediadas em Uberlândia: a Rezende Alimentos (Rezende Óleos) e Grupo ABC-Algar (ABC-Inco). As duas últimas empresas são ilustrativas para a compreensão da dinâmica agroindustrial do cerrado mineiro.

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203

região, competindo também na captação da produção com outras unidades agroindustriais

de Goiás e Mato Grosso.

A indústria ABC-Inco., do Grupo ALGAR, passou a produzir óleos vegetais a partir

de uma fábrica que adquiriu no final dos anos 70, na cidade de Uberlândia, operando uma

parcela de produtos provenientes de suas próprias plantações na região e fora do estado. A

unidade agroindustrial atinge uma capacidade de esmagamento de 1.800 ton/dia, com

produção e envasamento diário de 450 mil litros de óleo vegetal. No ano de 1996, a

produção de óleo atingiu 57 mil toneladas, enquanto a produção de farelo foi de duzentas

mil toneladas.137 A ABC-Inco atua sobretudo no segmento grãos-farelo-óleo e na

exportação.

A empresa Rezende Alimentos, que estava com uma fábrica de processamento de

soja para a produção de óleo pronta desde 1989, começou a operar em 1994, com

capacidade para esmagamento de 900 toneladas/dia, aumentando para 1.200 em 1997.138

A Rezende é um exemplo regional de verticalização, que centra as atividades desde a

criação de aves até o abate, passando pela fabricação de rações.

Tabela 24 Uberlândia (MG) – Capacidade, Quantidade de Soja em Grão Processada, Farelo,

Óleo Bruto e Refinado e Armazenagem nos Estabelecimentos Agroindustriais :1991-1996 (1)

PRODUÇÃO

1991

1992

1993

1994

1995

1996

Capacidade de Processamento (ton./dia)

3.100

3.100

3.100

3.100

4.000

4.000

Total de Grãos Processados (Ton./Ano)

399.909 499.886 633.008 822.910 1.110.928 1.388.660

Farelo (ton. Ano)

306.697 383.371 491.988 639.584 863.438 1.079.298

Óleo Bruto (ton./Ano)

75.756 94.695 118.702 154.313 208.322 260.403

Óleo Refinado (ton./Ano)

72.123 90.153 147.788 192.124 259.367 324.209

Borra (ton./Ano)

1.218 1.522 2.603 3.384 4.568 5.710

Capacidade de Armazenagem (Ton./Ano)

230.400 288.000 350.000 414.000 517.500 595.125

(1) A fonte não inclui a produção da Rezende Óleos, que entrou em atividade em 1994. Fonte: IBGE, Levantamento da Soja (em Grão)/ Indústria de Transformação, 1992-1997.

137 Informações coletadas no Setor Agro-Alimentar do Grupo Algar. Entrevista Direta, janeiro/1997. 138 Cf. Entrevista Direta, fevereiro/1998.

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204

Quanto ao mercado doméstico de farelo de soja, este tem apresentado uma

crescente demanda na composição da alimentação animal, e por isso passa a centrar

grande parte das exportações das empresas do complexo.

A grande capacidade de atração de empresas agroindustriais na região tem

produzido encadeamentos com o setor agropecuário, tanto com o setor de insumos e

máquinas quanto com os setores de beneficiamento, comercialização, armazenagem,

acondicionamento e transporte de matérias-primas de produtos alimentares.

5.4.3. A Logística de Armazenagem e Comercialização de Grãos no Triângulo Mineiro139

As agroindústrias ligadas à industrialização da soja têm-se concentrado junto às

cidades-pólo e eixos rodoviários das áreas de produção e estão vinculadas sobretudo à

melhor oferta de estrutura urbana, transportes, comunicações e mercado consumidor.

Nesse sentido, a região do Triângulo Mineiro ocupa posição geográfica privilegiada,

pela sua eqüidistância dos principais centros do país e como “porta de entrada” para o

cerrado central e região Centro-Oeste, que dispõe de infra-estrutura logística (sistema de

telecomunicações, transportes, armazenagem, energia, insumos industriais, matérias-

primas complementares utilizados no processo industrial, etc) capaz de dar suporte à

produção de grãos dos estados vizinhos. O exemplo mostrado a seguir sobre a infra-

estrutura logística de armazenagem de grãos de Uberlândia ilustra bem o caso de uma pólo

agroindustrial, onde a capacidade estática de armazenagem aproxima-se de 750 mil

toneladas, podendo chegar a 1 milhão se considerada a capacidade dinâmica.

139 Não é objetivo deste item o enfoque ao significado maior de logística, que pressupõe todo o

processo de planejamento, operação e controle dos fluxos de matérias-primas e mercadorias trabalhadas, bem como o fluxo de informações, desde a origem de suprimento, até o consumo final. A idéia aqui é propiciar uma visão de um dos componentes do sistema logístico, que consiste no fluxo de produção (grãos), e a capacidade e a importância da rede de armazenagem e distribuição atacadista polarizada em Uberlândia.

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205

Tabela 25

Logística de Armazenagem de Grãos de Uberlândia (MG)

EMPRESAS

Capacidade Instalada (em toneladas) (1)

EMPRESAS PRIVADAS Cargill Agrícola ABC. Inco Rezende Óleos Transcarga – Armazéns Gerais Conage – Armazéns Gerais Aspasa – Algodoeira Paulista S.A Cerealistas

120.000 198.000 120.000

6.000

12.000 100.000

EMPRESAS PÚBLICAS CONAB – Companhia Nacional de Abastecimento CASEMG – Cia. Armazéns Silos Est. Minas Gerais*

120.000 65.000

TOTAL 741.000

(1) capacidade estática Organização: João Cleps Jr. (*) em fase de expansão: CASEMG = 15 mil toneladas; Fonte: SMAAB/SMICT/EMATER, 1994. Entrevista Direta, 1996, 1997 e 1998.

O movimento da produção de grãos da região do Triângulo Mineiro e dos estados

próximos, como o sul de Goiás, atraiu grandes grupos que atuam como tradings na venda

de grãos no mercado de commodities, como a Unilever, ADM (ex-Glenclore), Richco, entre

outras. Esses grupos econômicos constituem a rede estratégica de armazéns e silos criada

pelas empresas atuantes no complexo agroindustrial brasileiro e cujo pólo está sediado em

Uberlândia, Uberaba e outros centros da região. Vale registrar ainda que as indústrias que

transformam os produtos da agricultura apresentam o seu desenvolvimento plenamente

integrado ao sistema atacadista-distribuidor do Triângulo Mineiro, considerado o maior pólo

do setor alimentar da América Latina.

A influência inter-regional do Triângulo Mineiro na circulação de grãos é ilustrada

com a quantidade de soja ingressada nas agroindústrias de Uberlândia (Tabela 26).

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206

Tabela 26 Uberlândia (MG) - Quantidade de Soja em Grão Ingressada nas

Agroindústrias, segundo o Estado de Origem da Matéria-Prima 1993/94

ESTADOS DE ORIGEM DA MATÉRIA-PRIMA

QUANTIDADE (em toneladas)

PERCENTUAL

Minas Gerais 425.586 65,4 São Paulo 165.366 24,5 Goiás 48.415 7,4 Distrito Federal 11.347 1,7 Paraná 85 0

Total 650.799 100 Fonte: IBGE, Levantamento da Soja em Grão, 1993-1994.

Acompanhando o movimento de fluxo de grãos, sobretudo da soja processada nas

agroindústrias de Minas Gerais (Uberlândia), observa-se um crescimento ao longo dos anos

90, concomitante ao processo de ampliação da capacidade das indústrias esmagadoras. O

maior destaque no período tem sido a participação de Goiás, que superou o volume do

próprio estado de Minas Gerais, a partir de 1995. Isso é explicado pela ampliação da área

de atuação inter-regional das empresas, como por exemplo da Cargill, que possui centros

de compras e base operacional no território goiano, além do próprio fluxo de grãos

provenientes dos estados da região Centro-Oeste (Figura 19).

Gráfico 20: Origem da Soja em Grão Processada em Minas Gerais: 1991-1996

Organização: João Cleps Jr. Fonte: IBGE, Levantamento da Soja em Grão (Indústria), 1993-1994.

0

100.000

200.000

300.000

400.000

500.000

600.000

700.000

800.000

Qu

antid

ade

(T

)

1991 1992 1993 1994 1995 1996

MG

GO

MT

Outros

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207

5.5. ESTRATÉGIAS DO SETOR AGROINDUSTRIAL NO CERRADO MINEIRO: O CASO

DO TRIÂNGULO MINEIRO 140

A análise das estratégias das empresas do setor agroindustrial no Triângulo Mineiro

permite considerar o contexto de mudanças no padrão de desenvolvimento agroindustrial

mundial e brasileiro ocorridas a partir dos anos 80, tais como o processo de reestruração

organizacional, tecnológica e do próprio papel do Estado nas articulações entre os

diferentes agentes, conforme se observou anteriormente neste trabalho.

É cada vez mais freqüente a ocorrência de estratégias de compra, venda e fusões

entre empresas nos vários níveis de integração vertical do setor agroindustrial. Trata-se de

iniciativas que buscam conquistar novas oportunidades de negócios nas mais diferentes

regiões do mundo. Essa é a maior evidência de que o processo de globalização está em

curso.

Com o novo padrão de desenvolvimento da agricultura, face às mudanças no

sistema produtivo, as estratégias das empresas relacionadas ao setor agroindustrial, no

plano interno, apontam para uma diferenciação/ sofisticação/segmentação (MAZZALI et al.,

1994, p.4). Tais estratégias passam também pela reformulação da estrutura administrativa e

reestruturação de atividades, tais como: redução de custos, maior agilidade, intensificação

de relação com fornecedores, padrão de higiene e qualidade, entre outras. Acompanham

esse processo a terceirização de atividades acessórias, a constituição de alianças e

associações com empresas de outros setores, a relocalização e até o afastamento das

atividades.

No sentido de permitir o entendimento da dinâmica das principais empresas do setor

agroindustrial presentes na região, procedeu-se à seleção da análise da atuação das

empresas ligadas às cadeias produtivas de grãos e carnes, e da integração dessas duas

cadeias, tais como os segmentos soja/óleo e soja/carnes.

Por outro lado, a apresentação sistemática dos dados que possibilitam identificar a

posição e o comportamento dos grupos econômicos que operam na agricultura brasileira é

muito difícil, principalmente nos casos das sociedades controladoras serem empresas

holdings. A crescente penetração de grandes grupos econômicos na economia rural tem-se

140 Nesta análise da dinâmica agroindustrial regional, optou-se pela denominação genérica “Triângulo

Mineiro” para o recorte espacial da mesorregião geográfica proposta pela FIBGE (1990) “Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba”.

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208

verificado a partir de sua articulação no mercado de terras e da realização de investimentos

produtivos em diversos ramos da produção rural.

Para a análise presente, a identificação do grupo econômico, o número de

empresas rurais e sua localização, bem como os demais indicadores, exigiram pesquisa

contínua em diversas fontes de dados secundários. De qualquer modo, algumas

informações podem ser conseguidas e analisadas, em termos de rankings (por faturamento,

patrimônio líquido etc.), presentes nas diversas fontes consultadas e aqui mencionadas.141

5.5.1. As Empresas das Cadeias de Carnes e Óleos

Em função do campo de ação principal da empresa, foi possível fazer a

caracterização das empresas atuantes no segmento agroindustrial do Triângulo Mineiro, a

partir dos casos das empresas líderes de Uberlândia- Cargill Agrícola, Rezende Óleos

(Rezende Alimentos) e ABC-Inco. (Grupo ABC-ALGAR). Essa análise do perfil das

empresas líderes no segmento de alimentos de Uberlândia demonstra o padrão de

comportamento estratégico descrito anteriormente. São analisados os casos da Rezende

Alimentos, da ABC.Inco, do Grupo ALGAR e da Cargill Agrícola S.A. As duas primeiras

empresas são de capitais locais e vêm, nos últimos anos, apresentando um grande

dinamismo no segmento agroalimentar, constituindo também, junto com a Cargill, a base da

agroindústria da soja em Minas Gerais, cuja atuação ultrapassa os limites regionais,

competindo não só na cadeia grãos-óleos, como também na de rações e carnes.

Como se observou anteriormente, a produção de soja teve grande desenvolvimento

a partir dos estados da região Sul (Rio Grande do Sul, Paraná e Santa Catarina) e São

Paulo, ainda nos anos 60 e início dos anos 70. A partir do final da década de 1970, houve a

expansão dos cultivos para as áreas centrais do cerrado brasileiro (Mato Grosso, Goiás,

Oeste de Minas e sul da Bahia), deslocando e criando nessas regiões importante segmento

de cooperativas agroindustriais, empresas regionais e a instalação de algumas grandes

empresas multinacionais que utilizam a soja, de um lado, e a carne, de outra.

141 Para a identificação das estratégias, bem como a caracterização das principais grupos e empresas

analisadas, valemos da pesquisa em um conjunto de fontes de informações, principalmente nos jornais Gazeta Mercantil e Correio (Uberlândia), além de entrevistas realizadas nas empresas Rezende Alimentos, ABC-Inco. e Cargill de Uberlândia, entre os anos de 1995 a 1998.

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209

Como parte integrante desse processo, o Triângulo Mineiro recebeu maior impulso

na produção de grãos (soja), a partir dos anos 80, quando as empresas regionais

procuraram aproveitar-se desse potencial para aumentar a presença no mercado onde já

atuavam e para diversificarem, como também houve a instalação de novas empresas do

mercado de commodities que se deslocaram para a região buscando aproveitar a

proximidade com as áreas de cultivo e diminuir, assim, tanto os custos com transportes e

movimentação de grãos até as fábricas de processamento, quanto assegurar o mercado e

a qualidade dos grãos produzidos nessas regiões.

5.5.1.1. A REZENDE ALIMENTOS

i) Caracterização do Grupo

A Rezende Alimentos tornou-se mais conhecida no segmento genético-avícola

nacional (Granja Rezende) desde o início dos anos 60, quando começou a funcionar em

Uberlândia, onde detém a exclusividade na produção-distribuição de dois tipos de

linhagens, sendo também líder em vendas de matrizes de corte para empresas importantes

no segmento de carnes, como a Chapecó, Frangosul, Perdigão e Sadia, que adquirem as

aves de um dia para a produção integrada.142

A Rezende Alimentos figurava no ranking das maiores organizações em Patrimônio

Líquido, aparecendo em 44º lugar entre os 300 maiores grupos do Brasil, com patrimônio

de US$ 480.056,6 mil e Receita Operacional Líquida de US$49.030,2 mil em 1996, atuando

nos setores de Carne e Pecuária, Alimentos e Transporte e Armazenagem. Fazem parte do

grupo quatro empresas: a Granja Rezende S.A, Rezende Alimentos S.A, Rezende Óleo

Ltda. e Rezende Armazéns Gerais. 143

142 Fundada em 1962, a Granja Rezende é uma empresa de Capital Fechado, com participação

majoritária de Alfredo Júlio Rezende (56,95%) juntamente com outros oito acionistas, dentre esses a Fundação Alfredo Júlio Rezende (1O%). Cf. Balanço Anual 97 - Gazeta Mercantil, ano XXI, n.21, 31/out./1997; Entrevista Direta na Empresa (1993).

143 Cf. Balanço Anual - Gazeta Mercantil (1996-1997), Ano XX, n. 23, 31/out./1996, p. 44. No anos seguinte, a Rezende Alimentos passou a ser o 60 lugar dentre os 300 maiores grupos nacionais. Cf. Balanço Anual de 1997, ano XXI, n. 21, 31/out./1997, p. 72.

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210

Na classificação setorial das empresas agropecuárias no Ranking das 100 Maiores

Empresas do Agribusiness de 1995, a Granja Rezende, principal empresa do grupo,

ocupava o terceiro lugar, conforme tabela seguinte:

Tabela 27 As Maiores Empresas do Agribusiness em 1995

Classificação das Empresas do Setor Agropecuário Ordem de Classificação/ Empresa

Class. Geral

Ativo Total

Receita Oper.

Líquida

Patrim. Líquido

Lucro

Líquido

Rentab.

1. Avipal S.A Avicultura Agropecuária

48

278.195

136.143

262.269

31.822

12,1

2. Frangosul S.A Agroavícola Industrial 60

184.627 143.262 130.990 8.754 6,7

3. Granja Rezende S.A

82 416.227 48.156 405.314 -3.917 -1,0

SOMATÓRIO DO SETOR

--- 879.049 327.561 798.573 36.659 4,6

(Valores em R$/ dezembro/94) Organização: João Cleps Jr. Fonte: Centro de Estudos Agrícolas - IBRE/FGV - “As 100 Maiores do Agribusiness - 1995”.

Revista Agroanalysis, vol. 15, n.10, São Paulo, out./1996. Jornal Correio, 13/abr./1997, p. 8.

Comparada com às empresas líderes do setor agropecuário, especialmente com

suas congêneres do segmento avícola, a Rezende destaca-se pelos ativos e patrimônio

acumulado, apesar dos prejuízos no ano de 1994 (ano de referência dos dados).

Nos últimos anos, o grupo Rezende vem adotando diversas estratégias que se

enquadram predominantemente no processo de verticalização das suas atividades.

Passamos, a seguir, à caracterização das principais orientações estratégicas da

Rezende Alimentos.

ii) O Processo de Reestruturação/ Readaptação/ Terceirização

Com a crise de abastecimento interno de grãos e componentes de rações no início

dos anos 80, consideradas matérias-primas básicas das atividades espacializadas de

engorda e abate de animais da empresa, a Granja Resende passou um período de

dificuldades financeiras, reorientando sua atuação para áreas mais rentáveis e que

dependiam menos de capital de giro e de menor quantidade de milho e soja para os

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211

plantéis. Como uma das medidas, a empresa também paralisou as atividades do frigorífico

e segmentos de engorda e abates.144 Esse tipo de estratégia permitiu lucro operacional e

financeiro, uma vez que os lucros foram aplicados no mercado financeiro.

A partir de 1986 a Rezende Alimentos voltou a fazer inversões de capital, com

recursos próprios, na ampliação das granjas de aves ”avós”, no número de matrizes e na

capacidade graneleira. Nesse período foram construídos um novo incubatório, um

abatedouro de suínos e bovinos, uma indústria de carnes, uma indústria de processamento

de soja e o novo centro administrativo.145 Além disso, foi modernizado e ampliado o

abatedouro de aves e, também, iniciado um programa de melhoramento genético com

suínos.146 Nesse processo de reestruturação organizacional, a empresa Rezende Alimentos

realizou operações de terceirização dos serviços essenciais, tais como as de transporte de

aves (pintos de um dia) e serviços administrativos internos (limpeza, refeições, vigilância,

entre outros).

iii) Verticalização e Integração Horizontal

O processo de verticalização, ou seja, a diversificação “para trás” (na soja e rações)

e “para frente” (industrialização de produtos alimentares finais como subprodutos da soja e

carnes) da Rezende Alimentos nasceu da sua atuação na venda de matrizes, da criação

própria e abate de aves e na produção de rações a partir da soja e milho.

Vislumbrando também a tendência de diminuição no mercado de aves de corte

(pintos de um dia), uma vez que as empresas do segmento passam pelo mesmo processo

de diversificação, a Rezende ingressa no ramo da produção agroalimentar de gêneros

finais de consumo, como os produtos derivados de carnes. A diversificação horizontal (além

de aves, atuação em outros ramos de carnes, como de suínos e bovinos) do grupo

144 Naquele período, a Granja Rezende possuía a fábrica de rações, um abatedouro de aves e um

incubatório para a produção de aves de corte, construídos na primeira metade da década de 70,. Em 1978, a empresa passa por uma nova ampliação das atividades, com o fechamento do ciclo de todos os segmentos da avicultura de corte (da criação ao abate) com os recursos do Fundo de Desenvolvimento do Centro-Oeste. No período, foi iniciada também a produção de ovos SPF (Specific Patogene Free) destinados à produção de vacinas em laboratório. Cf. Entrevista Direta – Rezende Alimentos (1993); Correio, 13/abr./1997, p. 8.

145 O novo centro administrativo “inteligente” da Rezende possuí controle eletrônico interno e mantém um alto padrão de controle fitossanitário.

146 Cf. Correio, 13/abr./1997, p. 8.

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Rezende começa em 1994, com a montagem do novo frigorífico, totalmente remodelado e

inaugurado em 1997 (Foto 2).147

Assim, a empresa passa a atuar tanto a montante como a jusante do segmento

agroindustrial, como grande criadora-abatedora de aves, partindo para a diversificação do

tipo grãos-farelo-óleo e grãos-rações-carnes.

Quadro 13 Capacidade Agroindustrial e Dados Gerais sobre a Rezende Alimentos – 1997

SEGMENTOS

Capacidade Produtiva/ Quantidade

AVES E OVOS Plantel de aves avós Matrizes de corte Produção de matrizes de corte (anual) Capacidade de incubação (ovos/mês) Comercialização de pintos de corte (mensal) Comercialização de ovos férteis (mensal) Produção de ovos SPF (Specific Patogene Free)

400.000

1.800.000 12.000.000 18.000.000 8.000.000 5.000.000 3.500.000

CARNE BOVINA E SUÍNOS Rebanho Bovino (próprio) Plantel de suínos (fêmeas reprodutoras) Plantel total de suínos

13.500 2.200

17.800

AGROINDÚSTRIA Fábrica de rações (capacidade - ton./dia) Processamento de soja (capacidade - ton./dia) Abate de aves (capacidade - frangos/dia) Abate de suínos (capacidade – unidades/dia) Abate de bovinos (capacidade - unidades/dia) Industrialização de carnes (capacidade – ton./ano)

240

1.200 160.000

2.400 800

50.000

OUTRAS INFRA-ESTRUTURAS E PATRIMÔNIO Incubatório (reprodutor – matrizes de aves “avós”) Incubatório (produção comercial) Silos (capacidade para 60 mil/ton.) Terras (em hectares) Número de Funcionários

1 3 2

19.346 2.700

Organização: João Cleps Jr. Fonte: Entrevista Direta, Rezende Alimentos, jan./1997.

147 Em 1993 a empresa muda de denominação, passando a chamar Rezende Alimentos, refletindo,

assim o ingresso no segmento agroalimentar.

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iv) Diferenciação das Linhas de Produtos

Dentre as principais estratégias no segmento de carnes (aves, suínos e bovinos), a

Rezende Alimentos tem buscado direcionamentos para suas atividades no sentido da

diferenciação/sofisticação, notadamente com relação ao processamento de produtos

industrializados derivados de carnes, com o objetivo de produzir anualmente cinqüenta mil

toneladas/ano de salsichas, lingüiças, hambúrgueres, empanados, salames, mortadelas,

cortes nobres, entre outros. Para isso a empresa investiu nas construções e ampliações de

seus frigoríficos, que somam uma capacidade de abate de 20 mil frangos, 100 bovinos e

300 suínos por hora.148

O mesmo processo acontece também com relação à cadeia soja. Como parte de

suas estratégias de diferenciação, a Rezende lançou em 1995 o único óleo de soja da

classe “tipo 1” do país, que foi aprovado pelo Ministério da Agricultura através de critérios

de qualidade em relação à pureza, cor, sabor e cheiro do produto, com a mesma marca da

empresa. Nesse sentido, essa estratégia está de acordo com os novos hábitos de

consumo, das exigências de baixo nível de colesterol, aroma, etc.149

v) Um Novo Modelo de Integração no Cerrado: o “projeto-parceria”

O modelo de integração proposto pela Rezende é uma versão moderna da criação,

tanto de aves como de suínos, diante dos novos padrões e ritmos de transformações do

processo produtivo, distinta também da tradicional produção agrícola integrada do Sul do

País (sobretudo de Santa Catarina), que envolvia, principalmente, a participação de

produtores pequenos e médios. As características próprias do produtor no cerrado, sua

dispersão espacial e a relativa dimensão da propriedade rural que são maiores que as do

Sul do Brasil, aliadas ao forte caráter empresarial desses produtores, pela sua ligação aos

programas agrícolas oficiais, são elementos diferenciadores dessa nova dinâmica.

148 Em janeiro de 1998, o abate de aves era de 20 mil frangos/hora e, de acordo com os objetivos da

empresa, pretende chegar a 80 mil até a metade do ano. CF. Entrevista Direta, jan./1998. 149 Além dos novos produtos mencionados, no tocante à diferenciação, a Rezende Óleos introduziu no

mercado um sabão em pó especialmente preparado para ser utilizados pelas máquinas de lavar tipo “tanquinho”. Cf. Entrevistas Direta realizadas na empresa e jornal Correio, 13/abr./1997, p. 8.

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As novas exigências por parte da empresa integradora, em termos de relações

contratuais, vincula o ingresso ao complexo agrícola industrial de variados perfis de

produtores, formados basicamente por médios e grandes e são principalmente: 1) que o

produtor esteja localizado num raio de até 100 Km da empresa; 2) ser pessoa “aberta para

novas tecnologias”, que requerem mudanças constantes; 3) tenha uma administração

familiar na propriedade rural, sendo o produtor o responsável pela unidade produtiva; 4)

possua uma área em torno de 25 hectares (5 alqueires mineiros); 5) que mantenha uma

diversificação produtiva de modo a aproveitar os resíduos da criação (“cama de frangos”);

6) tenha capacidade para realizar investimentos necessários na atividade, entre outras. 150

Conforme entrevista direta, as exigências da empresa em termos de área e perfil do

produtor das unidade produtivas em processo de integração tem sido maiores, pois para a

criação em galpões de 18 mil frangos, que custam entre US$ 25 a US$ 40 mil, a empresa

não avaliza os empréstimos do produtor para a construção dos galpões, ela apenas tem

restringido a busca dos financiamentos oficiais, ficando os contratos limitados entre o

agente financeiro e produtor. Por seu turno, a empresa tem participado nos custos variáveis

(tais como o fornecimento de pintos de um dia, rações, medicamentos para controle

sanitário, transporte para deslocamento, assistência técnica) e os projetos técnicos dos

galpões. A capacidade de abate de aves da Rezende em Uberlândia é de 160 mil aves/dia,

chegando a ser maior que a da Perdigão, projetada para Patos de Minas, a qual é de 140

mil aves/dia.

Já o sistema de produção de suínos é mais complexo, por questões de sanidade,

envolvendo tipos diferenciados de produtores de acordo com o estágio da criação – cria,

recria e terminação – com perfis de maior capacidade patrimonial e gerencial. Na produção

de leitões, o integrado inicia com 1.040 matrizes de suínos, para uma produção semanal de

500 leitões, o que requer um investimento inicial em torno de R$ 650 mil. Para o

funcionamento do processo de industrialização da carne pelo frigorífico da Rezende foram

envolvidos cerca de 64 produtores (9 produzindo leitões; 23 na etapa de recria e 32 na

terminação). A previsão de abate de suínos é de 2.400 unidades/dia, a mesma da outra

empresa integradora – a Pif Paf – que está se instalando em Patrocínio(MG) (Quadro 11). 151

Ao se propor a divisão dos investimentos, a empresa integradora, para garantir a

matéria-prima para a indústria desses parceiros, lança também a divisão dos resultados,

150 Cf. Entrevista Direta, Rezende Integração, dez./1996. 151 Idem.

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visando a maior produtividade possível, onde “os produtores ineficientes pagam pelos

eficientes”. 152

O moderno complexo avícola na região do cerrado do Triângulo Mineiro/Alto

Paranaíba encontra condições sociais e econômicas e de formação histórica diferentes, em

oposição ao do Sul do Brasil. As estratégias das integradoras, tanto da Rezende quanto da

Perdigão, ao formarem a agricultura de integração, concretizam-se com base na grande

empresa. Essa tendência mudou, à medida que se toma como exemplo a própria decisão

de verticalização da Granja Rezende, no início dos anos 80, a qual foi orientada nas

características da propriedade rural no cerrado. Além disso, a dinâmica de algumas

empresas que implantaram a integração horizontal no Sul e em outras regiões (como a

Sadia), implantaram inicialmente a integração vertical (exemplo da Sadia de Goiás).

O caráter diferenciado de ocupação do solo do cerrado produz também o aumento

da seletividade dos produtores rurais, na medida em que exclui o conjunto de pequenos

agricultores familiares e seleciona parceiros-produtores, fortemente capitalizados,

constituídos basicamente de grandes empresários.

vi) Rezende Óleo e a Logística de Recebimento e Processamento de Soja

A estratégia da Rezende Óleos na aquisição da matéria-prima tem sido trabalhar

com os dois tipos básicos de produtores de soja, “pulverizando” sua atuação para os

médios e grandes produtores, não ficando restrita a poucos produtores, como acontece

com determinadas indústrias esmagadoras de soja no Mato Grosso. A Rezende tem

financiado cerca de 30% a 40% da safra anual dos produtores (pré-financiamento).153

O sistema logístico de recebimento de grãos da Rezende Óleos está estruturado a

partir da fábrica de processamento de soja localizada em Uberlândia, com capacidade para

152 Frase dita por um dos técnicos da empresa durante Entrevista Direta. Nesse processo, cabe ainda registrar, que

o produtor deve assumir as despesas com a contratação de mão-de-obra, fornecimento de gás e a “pega” de frangos. Pesquisa Direta, dez./1996.

153 Esse perfil de produtor varia desde aqueles que produzem em 20 hectares de soja como em 8 mil hectares, ficando, em média, com produtores abaixo de 300 toneladas de soja. Por outro lado, a capacidade da Empresa de captar recursos e repassar com relativa rapidez ao produtor, torna-se objetivamente uma vantagem competitiva. Segundo informações obtidas, o financiamento da Rezende é o mais barato em relação a outras fontes não-oficiais (e das multinacionais)disponíveis no mercado. O crédito oficial, apesar de mais barato, por exemplo, “nunca está a tempo na mão do produtor devido à grande burocracia”, sendo que esse agricultor prefere o da empresa, pela rapidez e “simplicidade” do atendimento na ocasião do empréstimo, que é facilitado pela administração, e o poder de “flexibilização” nas decisões da administração do grupo, muito maiores que a de um grupo multinacional. “Se conheço profundamente um produtor, e a nossa regra diz que só pode emprestar dentro de uma garantia real, podemos mudar isso, bastando ligar para o nosso presidente, ... isso leva até dois minutos”. Cf. Entrevista Direta, fev./1998.

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esmagamento de 1,2 mil toneladas/dia, produzindo 220 ton/dia de óleo e 900 ton/dia de

farelo (1996). Uma fábrica desse porte, por critérios de rentabilidade, não se viabiliza num

raio de atuação acima de 300 km. Cerca de 60% da soja processada é produzido no

Estado de Minas Gerais, e o restante é produzido em Goiás, onde a Rezende mantêm sua

rede básica de armazéns e um transbordo de grãos na cidade de Catalão. No Triângulo

Mineiro, a Rezende dispõe de 2 transbordos, um em Santa Juliana e outro em Almeida

Campos (Figura 19).

A estratégia de arrendar armazéns em Goiás para o depósito de grãos justifica-se

pela questão fiscal e operacional. A soja fica armazenada e somente é transferida para a

fábrica de Uberlândia geralmente depois do término da safra, quando diminui o custo do

frete e também para a soja não ficar armazenada em Uberlândia aguardando o

processamento.154

No que diz respeito à evolução do faturamento e esmagamento do segmento da

soja, desde a reativação da fábrica de óleo da Rezende, em 1994, esta tem sido crescente:

em 1994, foram esmagados 124 mil toneladas; em 1995, dobrou a produção de óleos e

farelos, indo para 256 mil toneladas; em 1996 foi de 300 mil ton/ano e no último ano, em

1997, chegou a 330 mil toneladas. Quanto ao faturamento da Rezende Óleo, foi em torno

de US$ 45 milhões em 1994; saltou para US$ 85 em 1995; US$ 99 em 1996 e na última

safra em 1997 foi de US$ 130 milhões.155

Desde a implantação do modelo do sistema de integração com os produtores, para

a produção de aves e suínos, o percentual de farelo que fica na Granja Rezende vem

aumentando nos últimos anos. De cerca de 10%, até os meados de 1997, passou para

15% no final daquele ano e, com a conclusão do projeto, em 1999, pode chegar a 40%.

Com o rápido processo de globalização e concentração econômica verificado nos

últimos anos, onde poucas e grandes empresas tendem a exercer maior poder de domínio

na cadeia de soja no Brasil, a estratégia da Rezende Óleo é a de concentrar esforços no

próprio grupo, a partir do projeto-parceria com produtores integrados, onde a empresa

pretende compensar a parcela perdida da disputa dos grandes grupos, principalmente no

mercado interno de farelo de soja. Quanto à produção do óleo vegetal, o produto tornou-se

um diferenciado para o consumidor, por características de cor, aroma e ponto de fumaça,

154 Por uma questão fiscal, de recolhimento antecipado do ICMS sobre a produção de óleo e farelo,

cujo ressarcimento que em geral pode chegar a 120 dias, para a empresa não ficar com o capital “morto”, mantém os estoques em armazéns arrendados do lado goiano.

155 Informações obtidas no setor comercial da Rezende Óleo. Entrevista Direta, fev./1998.

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por exemplo; resultando em vantagem competitiva para a empresa, com tecnologia própria

no processo de refino do óleo.

Nos quadros sobre as principais estratégias das empresas agroindustriais do

Triângulo Mineiro, têm-se outras informações sobre a Rezende Alimentos (Quadros 11, 15

e 17).

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Goiânia

REDE LOGÍSTICA DE RECEBIMENTO, ARMAZENAGEM E PROCESSAMENTO DE GRÃOS DA REZENDE ALIMENTOS DE UBERLÂNDIA (MG) - 1998

Unidade de Recebimento de Grãos (Contratada)

Patos de Minas

UBERABA

Nova PonteSanta Juliana

Catalão

RIO VERDE

BRASÍLIA

Santa Helenade Goiás

Vicentinópolis

Bom Jesusde Goiás

G O I Á S

S Ã O P A U L O

M I N A SG E R A I S

M A T O G R O S S O D O S U L

M A T OG R O S S O

50 25 0 50 100 KM

GO

MS

MT

SP

DF

MG

RJ

BA

ES

MAPA DE LOCALIZAÇÃO

ESCALA

UBERLÂNDIA

Figura 19

Gouvelândia

Cristalina

Transbordo

Fábrica de Processamentode Soja

Fonte: Rezende Alimentos/ Fev./98 Org./Des.: João Cleps Jr.

D.F.

Fluxo de Grãos

Castelândia

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(Fotoe Olivo Mecabô/1998)

Foto 1 : Fábrica de Rações e Indústria de Óleos da Rezende Alimentos – Uberlândia (MG)

(Foto Olivo Mecabô/1998)

Foto 2: Instalações do Frigorífico da Rezende Alimentos - Uberlândia (MG).

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5.5.1.2. O GRUPO ABC-ALGAR e as Empresas do Setor Agroalimentar: ABC-Inco e ABC- A&P

i) Caracterização do Grupo ALGAR

A compreensão das estratégias do Grupo ALGAR em termos do setor alimentar

passa pelo entendimento da própria constituição e trajetória da empresa-holding.

O Grupo ABC-ALGAR figura no ranking das maiores organizações em patrimônio

líquido do Brasil, segundo o Balanço Anual da Gazeta Mercantil 1996-1997, como o 21°

grupo nacional dentre os trezentos maiores, com Receita Líquida Operacional de US$

506.757,1 mil e Patrimônio Líquido de US$ 1.164.161,4 mil.156 Segundo a mesma fonte, o

grupo ALGAR atua nos seguintes setores de atividades “holdings”: Agricultura, Alimentos,

Informática e Telecomunicações, Eletroeletrônica, Serviços Gerais, Distribuidores de

Veículos e Peças, Construção, Mecânica, Comunicação, Transporte e Armazenagem,

Seguros e Previdência.

De acordo com o Balanço Anual de 1997 (Gazeta Mercantil), o Grupo ALGAR

figurava em 41 lugar na lista das 300 maiores grupos nacionais do país e passou por uma

profunda modificação nos últimos dez anos, tanto do ponto de vista interno do grupo,

quanto de seu papel na economia.

ii) O Processo Recente de Reestruturação Organizacional do Grupo ALGAR e a Criação da “Empresa-Rede”

A reestruturação da holding ABC-ALGAR iniciou-se em 1989, quando o grupo

possuía cerca de 54 empresas atuando em diversos ramos de atividades. Daquele número

total, depois do processo de reestruturação, o grupo conseguiu reduzir 31 empresas,

através da venda, de fusões e da eliminação de cerca de 50% do número de funcionários.

Este processo de reestruturação envolveu a formação de joint-ventures, parcerias e vários

acordos operacionais. As associações estrangeiras estão no ramo da informática e

telecomunicações, como por exemplo a realizada com a empresa francesa Bull, um dos

gigantes internacionais na área de computadores. As parcerias tecnológicas envolveram,

156 Cf. Balanço Anual - Gazeta Mercantil (1996-1997), Ano XX, n.20, 31/out./1996, pág. 92.

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principalmente, as áreas de transmissão de dados e videotexto, com a canadense Gandalf,

a francesa Steria e as empresas americanas Amnet e Bytex.

No conjunto do processo de reestruturação administrativa e empresarial ocorrido no

período 1989 -1994, estão os seguintes pontos:

Instituição do sistema de “organização em rede” e empresa rede;

Diminuição dos níveis hierárquicos da companhia, de 11 para três;

Vendas e fusões de 31 empresas, deixando a organização com 23 companhias;

Estabelecimento de metas em todas as unidades da corporação;

Investimento de US$ 1,5 milhão anual em treinamento de funcionários;

Integração do Sistema de Contabilidade entre as diversas empresas do grupo;

Redução do quadro de pessoal de 13.090 para 5.462;

Redução da dívida de US$ 170 milhões para US$ 70 milhões;

Terceirização da frota agrícola e serviços de colheita, com a venda de máquinas e

equipamentos próprios, inclusive de suas vinte colheitadeiras;

Terceirização de serviços (refeições servidas ao pessoal das empresas etc.), e estímulo

à criação de sessenta outras pequenas empresas;

Associações e acordos tecnológicos com grupos estrangeiros, principalmente nas áreas

de tecnologia da informação e agroalimentar. 157

O que cabe considerar, ainda, como resultado da implantação da nova forma de

gestão de ”Empresa-Rede”, iniciada em 1989, do Grupo ABC-ALGAR, exigiu a adoção de

novos valores e princípios, de “empresa flexível”, definidos principalmente pela valorização

dos “talentos humanos” (onde as pessoas deixam de ser “recursos” para serem “talentos”),

gerando um comprometimento e ideal de equipe na organização da holding. Além disso, em

vez de empregado, tem-se o “associado”.158

Do ponto de vista interno, isso tem significado treinamento e formação de pessoal,

saneamento financeiro, estrutura enxuta, gestão participativa, automação de atividades e

estratégias de qualidade (orientação das empresas para a Certificação ISO 9000, para a

Qualidade Total, para a consolidação e evolução da Qualidade para o Sistema de Gestão

157 Cf. O Estado de São Paulo, 28/mar./1994, pág. B-12. [Economia]. Gazeta Mercantil, 26/jun./1996,

p. B-16. [Agribusiness] 158 Cf. Material de divulgação do Grupo ABC-Algar, s.d.

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Ambiental – SGA -, para a Certificação ISO 14000, além de dirigir o processo de Qualidade

como visão do cliente).

Essa transformação organizacional, notadamente com o processo de enxugamento

da empresa e a fragmentação da estrutura e o inter-relacionamento dos diversos “centros

de resultados“, levou-a a formar verdadeira rede interna. No âmbito externo e de

relacionamentos, tem-se o aumento das parcerias e terceirização de atividades não-afins.

Porém, o aspecto que mais se destaca é a diminuição do quadro de pessoal, a partir

da implantação da forma de gestão “empresa rede”, com a redução de mais de trinta

empresas na holding ALGAR, do início até a conclusão do processo de reestruturação entre

1994/96 (de 54 empresas para cerca de 23). Entre 1989 a 1994, o número de funcionários

do grupo ABC-ALGAR caiu de 13.090 para 5.462, significando uma diminuição de cerca de

58%.159

(Foto Olivo Mecabô/1998)

Foto 3: Instalações da Agroindústria ABC-INCO e ABC-A&P – Distrito Industrial de Uberlândia-MG

159 Cf. O Estado de São Paulo, 28/mar./1994, p. B-12. [Economia]

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Figura 20: Estrutura Organizacional do Grupo ABC-ALGAR de Uberlândia (MG)

ALGAR

SETOR AGROALIMENTAR

SETOR TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO

SETOR DE APOIO

AlgarBull Lightel ABC Propaganda

ABC Táxi Aéreo

Comtec

Consórcio Nacional

ABC

CTRQ (Pousada do

Rio Quente Resorts)

Sabe

ABC A&P

ABC

Inco CTBC Telecom Engeset Image TV

ABC Bull Integris Cone Sul

ABC Emep Xtal Fibras

Fonte: Grupo Algar, Fevereiro, 1998.

(1) Argentina, Uruguai e Chile

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iii) Estratégias no Segmento Agroalimentar do Grupo ALGAR: diferenciação,

verticalização e diversificação

No planejamento estratégico da empresa para o qüinqüênio 1995-2000, o Grupo

ALGAR vem priorizando o setor de alimentos, que deverá ficar atrás apenas do setor de

telecomunicações.

Os investimentos no setor de alimentos vêm sendo conduzidos pela ABC-INCO. em

11 fazendas do grupo na ampliação das plantações, que atingem 15,2 mil hectares, com o

objetivo de cultivar e enlatar produção própria de ervilhas, milho, vagem, cenouras e outras

conservas. Atualmente a empresa produz o milho doce (variedade Colorado), que é

destinado às indústrias de enlatados.

As estratégias do setor de alimentos do Grupo ALGAR estão entre as mesmas

utilizadas pelas outras empresas do segmento, espelhadas principalmente na catarinense

Ceval, do então Grupo Hering (atual Bunge).

No processo de reestruturação empresarial, dentro do setor de alimentos, o grupo

desfez-se dos frigoríficos próprios e passou a investir na criação de suínos “diet”, de raça

inglesa, que têm menos teor de gordura do que a existente no peito de frango, por

exemplo.

Uma das estratégias de “diferenciação” adotadas em 1996 pela ABC-INCO ocorreu

a partir de 1996, quando cerca de 10% da soja produzida pelo grupo já foi destinada às

indústrias alimentares que produzem bolos e bolachas, cuja exigência é a existência de

hilos claros e sem defeitos. Esse tipo alcança preços 20% superiores aos do mercado.160

iv) O Complexo Grãos-Farelo-Óleo: ABC-INCO e ABC-A&P

A empresa ABC-INCO, pertencente ao segmento agroalimentar do Grupo ALGAR,

possui forte atuação regional e presta serviços na compra e no processamento da soja.

Depois de passar por um período de dificuldades na obtenção de capital de giro para

compor o estoque da unidade de processamento, foi impelida a realizar contratos de

prestação de serviços com as grandes empresas multinacionais do segmento de soja.

160 A variedade de soja descrita é a FT-Cristalina. Cf. Folha de São Paulo, 20/fev./1996, p.6-1.

[Caderno Agrofolha]

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Ainda na área de alimentos, a empresa ABC-INCO vem aproveitando o volume de

compra de terceiros e a produção própria de soja em suas fazendas - da qual já se utiliza

para extrair óleo e fabricar farelo - para a produção de margarina e outros produtos

hidrogenados. No que diz respeito ainda ao complexo de oleaginosas, a ABC-INCO. produz

óleos refinados de soja das marcas “ABC” e “Nara”, e refinado de girassol da marca “Kira”,

distribuídos principalmente para os mercados de São Paulo, Goiás e Mato Grosso.

De acordo com MAZZALI (1995, p.86), nas experiências da ABC-INCO e OLVEBRA,

“os contratos ‘a façon’ passam a se constituir em importante saída para as empresas com

menor capacidade de autofinanciamento, que enfrentam margens negativas na

comercialização do óleo e se vêem às voltas com a crescente disputa pelo grão”.

A ABC-INCO vem atuando na prestação de serviços na compra e no processamento

de grãos, diminuindo o custo financeiro e problemas de colocação do farelo no mercado

externo, diante dos concorrentes que conseguem alcançar custos portuários e fretes mais

baixos. Por seu turno, como essas empresas estão mais interessadas no farelo do que

propriamente nos subprodutos da soja, a empresa pode comprar o óleo para o refino,

contando com a matéria-prima disponível na região.161

Em suma, no segmento soja, a ABC-INCO, dentre outras estratégias da empresa,

no período que se inicia nos anos 90, relacionam-se aos negócios, principalmente:

a) verticalização da produção de óleo de soja, com a instalação de uma novo sistema de

envasamento;

b) montagem de uma estrutura própria no Brasil, com capacidade para armazenar 65 mil

toneladas de grãos;

c) entrar na produção de derivados de soja – leite e leiticina –,sabão em pó e sabão

líquido;

d) investimentos em automação industrial, ganho de qualidade e Certificação ISO 9000.

Registre-se, também, a intensificação das articulações com concorrentes, tanto do

próprio setor como de segmentos distintos.

161 Os contratos de prestação de serviços da ABC-INCO foram realizados com as multinacionais que

atuam como tradings no Brasil, como a Gessy Lever, Richco e Toepfer. Cf. Gazeta Mercantil, 16/set./1993.

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Particularmente, a empresa ABC-A&P, dedica-se à produção agropecuária e segue,

em linhas gerais, estratégias semelhantes e articuladas ao braço agroindustrial, da ABC-

INCO, a quem garante também o suprimento de matéria-prima para o processamento.

A empresa ABC-A&P se destaca como maior produtora de soja e milho do Estado

de Minas Gerais, possui fazendas próprias na região do Triângulo Mineiro (que somam

cerca 16 mil hectares) para a produção de sementes de soja, feijão irrigado e milho doce, e

a produção de animais confinados (matrizes híbridas de gado nelore com a raça francesa

blon’d aquitaine) no município de Paranaíba, no Estado de Mato Grosso do Sul.

A ABC-INCO tem realizado contratos de parceria e franquia com empresas oficiais e

privadas de sementes para a introdução de novos cultivares de soja, a exemplo da

EMBRAPA, FT Sementes (atual Monsoy, pertencente à multinacional Monsanto), entre

outras (Quadro 12).

v) Projetos Estratégicos e Investimentos Futuros do Setor Agroalimentar

No exame da trajetória do setor agroalimentar da ALGAR, constata-se uma

mudança na orientação dos rumos, do ramo de commodities agrícolas para a produção

diferenciada. Essas novas estratégias, onde a base das inter-relações da ABC A&P com a

ABC INCO eram principalmente com matérias-primas pouco variadas (tradicionalmente

ligada à produção de grãos), tendem a mudar.

Entre os investimentos programados até o ano 2000, que somarão US$ 60 milhões,

figuram vários projetos estratégicos, tais como:

parcerias no setor agroalimentar com empresas multinacionais de pesquisa em

biotecnologia para o lançamento de sementes básicas (exemplo ABC A&P com a

Monsoy);

maior aproveitamento da estrutura da indústria de óleo vegetal própria, passando

a produzir margarinas, cremes vegetais e óleos de alta qualidade. Neste caso, a

empresa introduziu no mercado em 1995 o creme vegetal da marca “Saborela”;

entrada no segmento de alimentos pré-congelados;

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reforço nas estratégias de distribuição de alimentos. No caso do creme vegetal e

óleos, a empresa vem reforçando sua atuação nos mercados num raio de 500

Km da sede em Uberlândia;

lançamento de produtos específicos, tais como óleos finos (para saladas) e

farinhas micronizadas;

produção de matrizes da raça bovina destinadas à recriação e comercialização

pelas boutiques de carnes. A empresa ABC-A&P, um dos braços do Grupo

ALGAR, possuí um núcleo de criação de matrizes bovinas híbridas de nelore e da

raça francesa Blon’d Aquitaine, pretendendo alcançar um rebanho de 10 mil

cabeças;

investimentos de US$ 12 milhões em automação e ganho de qualidade

(obtenção de Certificado ISO 9000, já alcançado pelo setor de sementes);

implantação de projeto de produção hortícola em estufas (plasticultura) com baixo

uso de agrotóxicos (investimentos de US$ 2,5 milhões em cinco hectares

cobertos com estufas holandesas);

reforço na comercialização de farelo de soja peletizado (marca “Raça Forte”).162

Quadro 14: Principais Parcerias e Associações do Setor Agroalimentar do Grupo ALGAR 1995 -1998

EMPRESAS

PARTICIPANTES

SETOR

DENOMINAÇÃO

FINALIDADE

1. ALGAR (ABC A&P/ ABC-INCO) e Dole Do Brasil

Alimentos – produtos de

conveniência

Algar Dole Prods. Naturais

Produção de frutas e verduras, processamento de vegetais, acondicionamento e distribuição.

2. ALGAR (ABC A&P/ CTBC/ Engeset e Integris); Manah; Case IH e DuPont

Agropecuária – monitoramento

Agrícola

Agrisat – Soluções Integradas

Prestação de serviços para agricultura de precisão, sistema que emprega tecnologia de monitoramento agrícola por satélite.

3. ALGAR (ABC A&P) e Monsanto

Agropecuária – produção de

sementes

--- Contrato de Parceria com a Monsoy (exemplo FT-Sementes) visando a comercialização de sementes de soja concebidas a partir da eng. Genética

Organização: João Cleps Jr.

Fonte: Entrevista Direta, fev./1998.

162 Idem. Gazeta Mercantil. “ABC Lucra integrando campo à fábrica”, 07/fev./1996, p. B-16.

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Um dos mais recentes projetos da ALGAR, no segmento agroalimentar, é a parceria

com a empresa norte-americana Dole Food Company (subsidiária Dole do Brasil), líder

mundial na produção e distribuição de frutas, legumes e verduras.163 O projeto de parceria

será executado inicialmente com montagem e administração da fazenda de produção e a

instalação de câmaras frias para a produção de banana, abacaxi, manga, uva, maçã,

laranja e limão. Posteriormente, a ALGAR Dole Produtos Naturais passará a industrializar

os produtos de conveniência, onde serão produzidos fibras, cenouras e repolhos, entre

outros, visando principalmente o mercado asiático.164

163 A empresa Dole também já realizou parceiras com produtores de abacaxi em Bauru, no estado de

São Paulo, visando produzir uma fruta de tamanho menor para atender um consumidor diferenciado (famílias

pequenas e consumidores individuais). A Dole Food Company foi fundada em 1851 com a produção de abacaxi

no Havaí, detendo cerca de 35% do mercado de abacaxi nos Estados Unidos, e atua em mais de 90 países. No

Brasil, a estratégia da empresa é explorar o potencial da fruticultura no mercado internacional. Cf. Gazeta

Mercantil , 24/nov./1997, p. C-7. [Agribusiness] 164 Segundo informações obtida junto ao setor agroalimentar da ALGAR, o projeto demandará um

investimento de cerca de US$ 4,5 milhões, sendo que um dos objetivos da parceria é alcançar competitividade a

partir dos padrões embalagens, exigências de qualidade e condições que possibilitem tornar os novos produtos

“griffes” no mercado de alimentos naturais e produtos de conveniência, principalmente para o mercado asiático.

Cf. Correio, 19/jul./1997, p.5; Correio, 03/ago./1997, p.8. [Entrevista com o Diretor de Agribusiness do Grupo

Algar].

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5.5.1.3. A CARGILL AGRÍCOLA

As estratégias da Cargill Agrícola, como foi visto anteriormente, inserem-se na

dinâmica dos grandes grupos multinacionais, como uma das cinco maiores companhias que

dominam o comércio de cereais – a Bunge, a Continental Grain, a Dreyfus, o complexo

Andre-Garnac e a própria Cargill – sendo também as principais comerciantes (tradings) do

ramo no mercado mundial.

No Brasil, a Cargill atualmente compra soja, tanto para as fábricas como também da

Europa, em função da demanda crescente do mercado mundial.

i) Ampliação da Capacidade e Diversificação Produtiva

Nos anos recentes, a empresa Cargill Agrícola vem investindo no crescente

potencial produtivo das regiões do Triângulo Mineiro e do Sul de Goiás. Iniciou suas

atividades no segmento soja (óleo vegetal e farelos) e, logo em seguida, no processamento

de subprodutos do milho, como rações, concentrados e amido (glucose).

A capacidade de processamento de soja no ano de 1986, quando a empresa se

instalou em Uberlândia, era de 1.200 toneladas de soja/dia, que foi ampliada em seguida

para 1.600 ton/dia, atingindo 3.000 ton/dia no final de 1997. A fábrica atual, depois do

projeto de ampliação em curso, passará a processar cerca de 3.700 ton/dia de soja até

1999, constituindo-se no maior complexo industrial do grupo no mundo. Esse crescimento

da capacidade produtiva das fábricas de processamento de soja para além de 3 mil

toneladas diárias é o indício da nova tendência de concentração no setor nas mãos de

poucos e grandes grupos econômicos.165

A capacidade de esmagamento de milho no ano de inauguração, 1994, era de 300

mil ton/ano; chegou a 800 ton/dia dois anos depois e a 1 milhão no final de 1997. Nessa

unidade, de acordo com os projetos da empresa, a capacidade diária de esmagamento de

milho também será aumentada para cerca de 1.200 toneladas. Com essa ampliação, a

Cargill volta-se mais especificamente para o setor de rações. 166

165 Principalmente se considerado o processo histórico de constituição das primeiras fábricas, com a

utilização de solventes (hexano) para a extração de óleos vegetais, surgidas em São Paulo e no Rio Grande do

Sul a partir do final dos anos 60, com escala industrial abaixo de 1200 ton/dia. 166 Segundo informações obtidas na unidade de Uberlândia (MG), Entrevista Direta, 26/ago./1994 e

Gazeta Mercantil, 24/mar./1997, p. B-20; 08/out./1996, p. B-22. [Agribusiness]

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A diversificação produtiva da Cargill de Uberlândia, na região do Triângulo Mineiro,

envolve ainda as plantações de citros (laranja) em pomares próprios, em Uberlândia e

Comendador Gomes. Dentre os projetos de diversificação e aproveitamento de matérias-

primas, inclui a construção de uma nova unidade industrial de Uberlândia para a produção

de ácidos cítricos a partir do açúcar, através do milho ou da cana-de-açúcar (fábrica

bimodal), utilizados como aditivos alimentares e refrigerantes. Além disso, com a ampliação

da base agroindustrial da soja, a Cargill de Uberlândia será o maior pólo agroindustrial do

conglomerado no mundo. A planta da fábrica de esmagamento de soja passará de para 3,5

mil ton/dia.

ii) Mudanças nos Processos Internos de Gestão e Controle: a “Reengenharia”

A Cargill Agrícola é uma empresa global atuante no setor agroindustrial. Possui

estratégias comuns entre as várias unidades espalhadas por mais de cinqüenta países.

Desde 1994, está em curso um processo de padronização por meio da informática (uso de

software) das áreas administrativas e financeiras em 14 fábricas, dentre elas as do Brasil,

integrando ao sistema da centralizado de administração e de controle.

Constatam-se as mudanças nos processos internos da Cargill nos métodos

eficientes de gestão e controle da unidade agroindustrial de Uberlândia, considerada como

uma das mais eficientes em termos de produtividade e qualidade perante as seiscentas

divisões da empresa no mundo. A Cargill aprimorou o sistema de compras, ampliando uma

rede de centros, e estreitou as relações com os fornecedores.

Outro ponto envolve a qualidade dos produtos processados através da introdução

de um moderno e automatizado processo de envasar óleos em sua fábrica de Uberlândia,

que alcançou a certificação ISO 9000 por várias vezes (1992 e 1993), além de conquistar

premiação internacional como “empresa não-poluidora” pela devolução da água utilizada

nas fábricas, livre de poluição, ao principal rio que abastece a cidade.167

Entre o recente conjunto de projetos de investimentos anunciados para o pólo

agroindustrial de Uberlândia, está o projeto de co-geração de energia, aproveitando os

167 O Certificado é um conjunto de normas que padronizam os processos de produção para garantir

fornecimento de mercadorias, serviços de qualidade e controle ambiental.

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231

processos industriais para a produção de soja e milho, visando a redução pela metade dos

custos com energia.168

Outro aspecto ligado aos métodos de gestão interna envolve promoções anuais de

incentivos a qualidade, tal como o programa “Zero Defeito”, uma de suas estratégias que

consiste em premiar individualmente funcionários pela qualidade nas funções que

desempenham.

iii) Relacionamento com os Produtores Rurais: a Prestação de Serviços

A Cargill de Uberlândia tem-se orientado estrategicamente nesses últimos anos para

a qualidade da prestação de serviços junto aos produtores da região.169

Desde o final dos anos 80, com a crise fiscal do Estado, e com o fim dos subsídios

ao crédito agrícola e da disponibilidade dos recursos, verificou-se uma redução gradual e

eliminação quase por completo dos recursos do EGF (Empréstimos do Governo Federal)

para a soja, como reflexo do agravamento da crise fiscal no Brasil. De outro lado, como já

foi demonstrado na análise sobre a comercialização de grãos no Centro-Oeste, a soja tem-

se constituído numa exceção na ocorrência das AGFs (Aquisições do Governo Federal),

sendo que a comercialização, de fato, tem sido um negócio do agribusiness (CASTRO e

FONSECA, 1995, p.41).

Com a saída do Estado dos mecanismos tanto de financiamento como de

comercialização das safras, as agroindústrias passam a ser um importante agente

financeiro no campo. Nesse campo, principalmente a partir da superação crise do crédito e

da inadimplência dos produtores rurais depois de 1993/94, a Cargill passou a ser

importante agente de financiamento das lavouras de soja de produtores da região de

atuação, notadamente no Triângulo Mineiro e Sul/Sudoeste de Goiás. Os mecanismos de

compra de grãos (soja e milho) adotados pela Cargill de Uberlândia são, basicamente: o

primeiro tipo, a aquisição “pré-fixada” da safra, onde a empresa estipula antecipadamente

prazo, preço e quantidade, sem fazer o pagamento antecipado (pagamento pré-fixado) ao

168 Cf. Gazeta Mercantil, 24/mar./1997, p. B-20. [Agribusiness] 169 De acordo com um dos responsáveis pela parte comercial da Cargill, “o mercado de soja vai se

nivelar, de agora em diante, por prestação de serviço ... Nós fizemos uma pesquisa há três anos atrás, com o

produtor daqui desta região de Minas Gerais, e descobrimos que ele valoriza sobremaneira a prestação de

serviço ... Nós estamos nos equipando, por assim dizer, para prestar o melhor serviço ... Então, quem prestar o

melhor serviço, quem atender melhor o produtor, vai ficar com a produção dele.” Cf. Entrevista Direta,

dez./1997.

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232

produtor. Numa segunda modalidade de financiamento, o produtor entrega a produção para

a Cargill, “a fixar”. A produção pode ser entregue, na ocasião do contrato ou

posteriormente, à indústria, que fornecerá os critérios de classificação do produto, no

momento da venda e de acordo com o preço de mercado daquele produto. No terceiro tipo,

o produtor pode deixar o produto depositado, sem custo de armazenagem, podendo fazer

uma “fixação” antecipada do preço do grão.

Adontando o slogan “A Cargill é o seu melhor parceiro o ano inteiro”, a empresa

chega a antecipar até 40% dos recursos para o financiamento da safra, como também

fornece os insumos agrícolas (fertilizantes) e a assistência técnica rural, de acordo com o

potencial e perfil do produtor, de acordo com critérios previamente estabelecidos pela

empresa, onde conta também o grau e tempo de relacionamento. Isso constitui a parceria

empresa - fornecedor de commodities agrícolas. É assim, que a empresa tem direcionado

suas estratégias no campo de prestação de serviços ao produtor.170

Gráfico 21: Cargill Agrícola de Uberlândia (MG)

Perfil do Produtor de Soja, por Tamanho da Área Plantada

(em hectares)

Organização: João Cleps Jr.

Fonte: Cargill Agrícola – Uberlândia, Entrevista Direta, dez./1997.

170 Para estabelecer o nível da parceria, a Cargill adota uma classificação desses produtores, para

eleger os melhores, que são avaliados a cada safra, tanto do lado comercial, como de qualidade da produção, de

acordo com os critérios de ISO 9000. Esta avaliação inclui inclusive o “coeficiente emocional” nos

relacionamentos. Cf. Entrevista Direta, dez./1997.

33%

17%

24%

5%

21% 0 - 300300 - 600 600 - 10001000 - 30003000 e mais

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233

O perfil do produtor de commodities da Cargill, principalmente da soja, tanto de

Minas, quanto de Goiás (estado de onde se origina cerca de 40% da matéria-prima utilizada

pela empresa), constitui-se de agricultores médios e grandes, quando considerado que

mais de 60% cultivam em áreas acima de 300 hectares. Nesse conjunto, cerca de 2,5 mil

produtores são ativos, dentro de um universo de aproximadamente 4,4 mil produtores

cadastrados na empresa. A ilustração anterior, em termos gerais, apresenta a distribuição

percentual desses produtores, de acordo com o tamanho da área explorada com soja na

safra agrícola de 1996/97 (Gráfico 21).

iv) Logística de Recebimento de Grãos

A estrutura logística é o ponto-chave para a empresa e foi o que influiu na escolha

da localização do complexo industrial em Uberlândia, em 1986, seguindo os critérios (dentre

outros) da posição geográfica, do eixo de circulação e da proximidade da matéria-prima. 171

A partir da infra-estrutura montada em Uberlândia, a Cargill estruturou outros pontos

de recebimento de grãos no Triângulo Mineiro e no estado de Goiás, de onde se originam

cerca de 40% da soja processada na unidade industrial de Uberlândia; o restante é

exportado (Figura 19). O grupo também adquire a matéria-prima de produtores do Estado

de Mato Grosso, de onde aflui uma parte da produção, perfazendo, junto com Goiás, mais

da metade dos grãos comercializados e processados pela Cargill.

171 Segundo entrevista na área comercial da Cargill, para as novas localizações industriais ,“seja qual a

estrutura de logística, em primeira instância, segunda instância, deve-se analisar qual a reciprocidade que o

Governo vai ter com você, porque existem situações que para um tudo e para o outro nada, então tem que tomar

um pouco de cuidado com isso. Vendem muito bem essa idéia. Então, principalmente logística, situação

governamental, facilidade de pontos de escoamento da produção do produtor. Então a localização deve ser no

meio da área produtiva, porque a soja não pode andar muito: então se você coloca a fábrica num lugar que não

tem produção tem que andar. Para nós, 200 Km estariam no limite de distância para essa soja. Para a soja, acho

que 100 km é o que o produtor deve andar. Se você quiser andar mais de 100 km, tem que ter um motivo ... Ou

você deu dinheiro lá atrás, com o compromisso dele te entregar a 200 km de distância, ou você tem que colocar

o ponto de recebimento lá perto dele e ele te entregar naquele ponto e a partir daí, as despesas são todas suas

para fazer o escoamento daquela produção. Por quê? Hoje em dia, nós temos exportadores extremamente

agressivos, por exemplo em Vitória (cidade portuária do Espírito Santo). Então você toma especialmente essa

região de Patos de Minas a Patrocínio. Eles são agressivos. Se eu quiser entrar ‘brigando’ naquele mercado, ...

caso contrário ‘entrego de bandeja’ para os exportadores. Dentro da produção de Minas Gerais, que estaria em

torno de 1,3 milhões de toneladas, tenho que comprar 400 mil em Minas Gerais, estaria assim com uma

participação significativa, basicamente em torno de 25%, ou seja, compraria ¼ da soja produzida no Estado” Cf.

Entrevista Direta, dez./1997.

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Goiânia

REDE LOGÍSTICA DE RECEBIMENTO, ARMAZENAGEM E PROCESSAMENTODE GRÃOS DA CARGILL AGRÍCOLA DE UBERLÂNDIA (MG) - 1997

FÁBRICA (milho e soja)

Unidade de Recebimento de Grãos (Contratada)

Patos de Minas

São Gotardo

Frutal

Planura

Coceição dasAlagoas

UBERABACampo Florido

Nova PonteSanta Juliana

Capinópolis

Campo Alegre

Catalão

RIO VERDE

BRASÍLIA

Armazém Próprio

Montividiu

Santa Helenade Goiás

Acreúna

Vicentinópolis

Bom Jesusde Goiás

GoiatubaJATAÍ

G O I Á S

S Ã O P A U L O

M I N A SG E R A I S

M A T O G R O S S O D O S U L

M A T OG R O S S O

50 25 0 50 100 KM

FONTE: Cargill Agrícola - 1997ORG. João Cleps Junior

GO

MS

MT

SP

DF

MG

RJ

BA

ES

MAPA DE LOCALIZAÇÃO

ESCALA

UBERLÂNDIA

FIGURA 21

Fluxo de Grãos

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235

(Foto Olivo Mecabô/1998)

Foto 3 : Instalações de Cargill em Uberlândia (MG).

v) Relações com os Fornecedores de Embalagens

Além da alta tecnologia utilizada em suas fábricas de Uberlândia, a Cargill

estabelece relações de parceria com seus fornecedores de embalagens para o

envasamento de óleos produzidos dentro da unidade. Um dos principais fornecedores, com

os quais a empresa mantém relação de parceria é com a Metalúrgica Prada, localizada no

Distrito Industrial de Uberlândia, onde também se localizam as fábricas da Cargill (Foto 3).

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236

5.6. O SEGMENTO AGROINDUSTRIAL DE FRUTAS E VEGETAIS TROPICAIS

Uma das principais tendências da cadeia de sucos e vegetais é o da produção

flexível vinculada a um tipo de consumo segmentado com produção de pequenos lotes e

uma preocupação, cada vez maior, tanto para os aspectos de qualidade, como para a não

utilização de conservantes.

Nessa perspectiva está a estratégia recente do grupo ABC-Algar de Uberlândia,

através da parceria realizada com a empresa norte-americana Dole para a produção

segmentada de frutas e verduras e processamento de vegetais e frutas (produtos de

conveniência), conforme o relatado anteriormente.

As características das agroindústrias ligadas ao processamento de frutas e vegetais

tropicais na região do Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba são bastante diversas, tanto em

relação ao processamento de frutas para a produção de sucos e compotas, quanto aos

vegetais congelados ou enlatados, variando de empresa para empresa. Observa-se em

geral que, de um lado, igualmente ao que ocorre nos segmentos analisados, a cadeia de

frutas e vegetais apresenta uma forte concentração, com o domínio da produção na esfera

de poucas empresas; de outro, uma pulverização de várias outras unidades processadoras

de produção em pequena escala. A análise sobre as estratégias das empresas,

principalmente nos aspectos ligados às negociações, tais como as formas de

relacionamento entre os produtores e a agroindústria, ainda são objetos de maior

aprofundamento na região.172

Em Uberlândia estão localizadas as duas fábricas da Brasfrigo, do grupo financeiro

mineiro BMG (Banco de Minas Gerais), ligado ao setor de armazém frigoríficos. Uma de

processamento de vegetais (enlatados e congelados) e outra de produtos derivados de

tomate (molho, purê, extrato).173

172 Casos da CICA (do grupo Unilever), de Patos de Minas e da Swift Armour de Uberlândia, cujas

linhas de produtos estão voltadas para a produção de conservas de vegetais enlatados (ervilhas, milho, tomate, entre outros). Veja também no ANEXO deste trabalho, a relação das principais indústrias que operam basicamente com frutas com a respectiva capacidade instalada, linhas de produtos, origem da matéria-prima e mercado de destino da produção.

173 A Brasfrigo S.A que chegou a ocupar a primeira posição no Ranking do setor de armazéns frigoríficos de acordo com o Balanço Anual da Gazeta Mercantil (1994/95), com faturamento de US$ 53 milhões, passou para o segundo lugar no Balanço Anual de 1997. O Grupo Banco de Minas Gerais possui também plantações de café e criação de gado, além do processamento de produtos vegetais diversos, como milho, tomate, ervilha, cenoura, couve-flor, brócolis, mandioca e vagem. A linha de produtos enlatados e congelados têm a marca própria – a Twist.

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237

Os produtos distribuídos pela Brasfrigo são demandados por empresas importantes

do segmento afim, como a Cica, Etti e Arisco e outras indústrias como a Só Fruta, Vega e

empresas atacadistas-distribuidoradas como o Armazém Martins de Uberlândia, em

esquema de terceirização de marcas.

Como resultado do processo de diversificação e integração “para trás”, a Brasfrigo

realizou contratos de produção com cerca de 40 produtores em regime de parceria, que

estão situados num raio de até 300 km da indústria processadora de Uberlândia. Além

disso, para o suprimento de outros produtos, como de ervilhas, tomate, cenoura, etc, a

Brasfrigo mantém em regime de contratos cerca de 70 produtores.174

A indústria de sucos Maguary, líder no segmento de sucos e frutas e braço do grupo

multinacional Fleischmann & Royal, foi instalada em Araguari, no Triângulo Mineiro, em

1974, para o processamento de maracujá, além de possuir outra fábrica em Aracati no

estado do Ceará.175 Como a produção de frutas no Triângulo Mineiro é insuficiente para

atender à demanda da fábrica de sucos, a Maguary tem recorrido a outros centros

produtores. Na região existem cerca de 800 pequenos produtores que fornecem a matéria-

prima para a indústria que, além de produzir o suco de maracujá cultivado na região, realiza

o processamento de outros tipos de frutas (abacaxi, goiaba e manga), produzidas

sobretudo na Região Nordeste. (ver Quadro, no ANEXO)

Como parte de suas estratégias recentes, a Maguary vem diversificando a linha de

produtos para o consumo das classes mais populares (classes “C” e “D”), investindo para

isso no processo de otimização da distribuição, em marketing, em novas embalagens (como

do tipo PET - polietileno tereftalato - que é mais resistente aos conservantes químicos

contidos no suco de fruta) e também em processos tecnológicos de envase do suco.

174 O grupo também está investindo recentemente em outras conservas, como de azeitonas, de

temperos prontos e de compotas. Cf. Gazeta Mercantil, 18/mai./1995, p. B-16. [Finanças & Mercados] 175 A indústria de sucos Maguary passou por uma mudança de seu controle acionário em 1984, que foi

transferido para a Companhia Souza Cruz, até 1992 quando foi adquirida pela Fleichmann & Royal. Cf. Entrevista Direta, ago./1996.

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238

Ainda com relação às empresas multinacionais, como exemplo de integração “para

trás” com produção própria, a CARGILL, diante da disputa pelo mercado entre as empresas

do complexo citrícola paulista, migrou para o cerrado, onde passou a investir em novos

pomares na Região do Triângulo Mineiro como forma de assegurar a matéria-prima na

agroindústria.

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239

239

Quadro 15 TRIÂNGULO MINEIRO/ALTO PARANAÍBA: PRINCIPAIS ESTRATÉGIAS QUE ENVOLVEM A REESTRUTURAÇÃO DAS EMPRESAS

AGROINDUSTRIAIS EM PROCESSOS INTERNOS DE PRODUÇÃO E GESTÃO

EMPRESA

Ramo de Atividade e Linha de Atuação

Ano de

Realização

Inovações e

Outros Processos

Tipos de Contratos, Parcerias e

Associações Realizadas

Investimentos

(US$)

1. GRANJA PLANALTO (Grupo Carfepe)

Avicultura 1995-... Automação Industrial: Automatização das operações de vacinação de aves e classificação de ovo

n/d US$ 10 milhões

Instalações Físicas: construção de incubatório e centro administrativo Saída do sistema integrado de produção de aves

Negociação com instituições financeiras e credores, uma vez que o grupo passou por dificuldades financeiras.

Incluídos no valor acima

2. GRUPO ABC-ALGAR ABC.Inco./ ABC A&P

Diversos Setor Agroalimentar

1989-1996 Reestruturação nos métodos de gerenciamento e condução de negócios

- Realização de várias associações, aquisições ou joint-ventures nas áreas de telecomunicações, TV por assinatura, informática, setor agro-alimentar etc.

n/d

3. REZENDE ALIMENTOS

Setor Agroalimentar 1983-1997 Reestruturação estratégica privilegiando segmentos mais rentáveis, como o de processamento e industrialização de carnes.

n/d n/d

4. CARGILL AGRÍCOLA

Setor Agroindustrial 1994-1997 Reestruturação visando a padronização administrativa e financeira de suas fábricas, implantando um sistema centralizado de compras, pagamentos de fornecedores.

Contrato com as empresas para implantação do processo de reengenharia com as norte-americanas Hackett Group e a produtora de software J.D. Edwards

US$ 17 milhões com a empresa produtora do software.

n/d: não divulgado. Organização: João Cleps Jr. Fonte: Entrevistas Diretas e Gazeta Mercantil, 18/mai./1995, p. B-16; 08/out./1996, p. B-12; Correio, 13/abr./1997, p.8.

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240

240

Quadro 16 PRINCIPAIS MUDANÇAS NO PERFIL DAS EMPRESAS QUE ATUAM NO SETOR AGROALIMENTAR

NA REGIÃO DO TRIÂNGULO MINEIRO/ ALTO PARANAÍBA

GRUPO/ Empresa

ORIGEM DO

CAPITAL [Localização]

PERFIL EM 1980

PERFIL NOS ANOS 90

DESCRIÇÃO DAS ESTRATÉGIAS RECENTES COM RELAÇÃO AO SEGMENTO AGROALIMENTAR

1. ABC-ALGAR/ ABC-Inco

Uberlândia (MG) [Uberlândia]

Agropecuária Serviços Telefônicos Comércio e Serviços Imóveis

Agroalimentar Telecomunicações Informática e Tecnologia Comércio e Serviços

produção de margarinas, lançamento de óleo de girassol;

2. REZENDE ALIMENTOS/ Granja Rezende

Uberlândia (MG) [Uberlândia]

Matrizes de Aves Abate de Frangos

Matrizes de Aves Abate de Animais (aves, Suínos e bovinos) Esmagamento de Soja Rações Óleo Vegetal Integração (Aves e Suínos) Industrialização de Carnes e Produção de Embutidos

a empresa é responsável pela introdução no mercado nacional do conceito de óleo tipo 1, conforme certificação recebida pelo Ministério da Agricultura dado pela qualidade do óleo em relação a pureza, cor, sabor e cheiro do produto.

entrada no modelo de integração de aves (200 integrados) e suínos (6 mil matrizes) para corte;

ampliação e readaptação do abatedouro para aves (desativado) e construção de mais uma unidade para o abate de suínos (capacidade p/ 450 mil cabeças/ano) e bovinos (200 mil cabeças/ano), com capacidade para processar 50 mil toneladas anuais de carnes;

reativação da indústria processadora de soja paralisada desde 1994, com capacidade para 1,2 mil toneladas diárias onde produz o óleo da marca Rezende, o único tipo 1 do mercado.

S E G U E ..

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241

241 3. CARGILL AGRÍCOLA

EUA Uberlândia (MG)

Comércio de Grãos Esmagamento de Soja

Esmagamento de Soja Comércio de Grãos

Processamento de Milho Citricultura Rações Sementes

atuação como trading, obtendo receitas também pela venda de grãos no mercado de commodities, além das atividades de processamento dos subprodutos básicos da soja: óleos (bruto e refinado), farelo e rações.

Produção de glucose e amido de milho formação de pomares de citros em áreas

arrendadas (5,7 mil hectares) no município de Uberlândia (1,5 milhão de pés) e Frutal-MG.

4. GRANJA PLANALTO/ Grupo Carfepe

Belo Horizonte Uberlândia (MG)

Avicultura (matrizes pesadas e ovos) e Integração (aves) Moagem de Trigo

Avicultura Agroquímica Agroindústria Imobiliário Vacinas (Valée Nordeste) Moagem de Trigo

“Desintegração” do sistema de criação de aves para corte;

5. BRASFRIGO/ Grupo BMG- Banco de Minas Gerais

Belo Horizonte Uberlândia (MG)

Armazéns e Câmaras Frigoríficas

Câmaras Frigoríficas Agropecuária Alimentos - Conservas de Vegetais Processamento de Polpas Alimentos Supergelados

conservas e enlatados de milho verde processamento de polpas de tomate (molho,

purê e tomate) e fruta (goiaba) lançamento em novos produtos congelados e

supergelados como o milho, ervilha, cenoura, couve-flor, brócolis, mandioca e vagem

Parceria com a empresa holandesa Farm Frites para importação de batata pré-frita congelada;

Investimentos na marca própria “TWIST” parcerias com outras empresas que utilizam

produtos da empresa, como Etti, Cica e Arisco;

terceirização e contratos de parceria com produtores de milho e outros vegetais

Organização: João Cleps Jr. Fonte: Entrevista Direta; Gazeta Mercantil, 18/mai./1995, p. B-16. [Agribusiness]; Folha de São Paulo, 20/fev./1996, p.1. [Agrofolha]; Correio, 13/abr./1997, p.8.

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242

5.7. A DINÂMICA DA INDÚSTRIA PARA AGRICULTURA NO TRIÂNGULO MINEIRO

5.7.1. A Genética na Produção Animal

As empresas atuantes no segmento genético também tiveram um grande

desenvolvimento na região nos últimos quinze anos, principalmente no campo da

biotecnologia animal.

1. Genética Avícola

A região do Triângulo Mineiro, particularmente a cidade de Uberlândia, também

concentra o maior complexo avícola produtor de matrizes do país, onde estão incluídas as

duas principais empresas, a Granja Rezende e a Granja Planalto, esta pertencente ao

grupo Carfepe. Juntas, as duas empresas controlam mais da metade do mercado de

matrizes de aves de corte e postura do país.

A maior empresa do setor, Granja Rezende, responsável por mais da metade da

genética avícola brasileira (55%), produz doze milhões de matrizes de corte (pintos de um

dia) e quatrocentas mil matrizes (aves avós) por ano, sendo também a maior produtora

mundial de “broillers” (frango de corte), comercializando oito milhões de pintos de corte por

mês.

Atuando no campo da avicultura em Uberlândia desde 1962, a Granja Rezende é

distribuidora exclusiva na América do Sul das linhagens para corte das marcas norte-

americanas Hubbard e Peterson, e produz também cerca de cinco milhões/ano de ovos

férteis e 3,5 milhões por ano de ovos SPFs (Specific Patogene Free), utilizados para

produção de vacinas de uso humano e veterinário.

A Rezende é uma empresa “avozeira”, isto é, a partir de ovos importados (avós),

em seus incubatórios são produzidas as matrizes para outras indústrias integradoras, tais

como a Sadia, Perdigão, Ceval, Chapecó e Frangosul, que repassam aos criadores de

frangos. As aves avós, que dão origem às matrizes, são importadas dos Estados Unidos

desde o início dos anos 70.

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243

Outro exemplo de grande empresa avícola - a Granja Planalto, do Grupo Carfepe - é

grande produtora e exportadora de pintos de um dia (aves para corte e postura), de ovos

comerciais, e atua no sistema de integração de frangos.176 A empresa, no âmbito da

genética, é distribuidora exclusiva na América Latina da linhagem Lohmann, de origem

alemã, de aves de postura (ovos tipo branco e vermelho).

2. Genética Bovina

Segundo GOODMAN et al. (1990, p.37), “na produção de animais, ao contrário dos

grãos, a apropriação industrial seguiu uma dinâmica diferente, uma vez que a terra não é

fator intrínseco ao processo biológico imediato de produção”. Desde o princípio, portanto, a

apropriação desenvolveu-se, principalmente, pela eliminação da terra enquanto espaço.

Deixando de explorar em maior profundidade aqui nesta parte do trabalho o

processo de substituição da pastagem permanente por métodos de criação e alimentação

do gado em confinamento (estábulos e currais), o segmento produtor de antibióticos,

vacinas e outros produtos farmacêuticos, cabe destacar a maior difusão dos métodos de

inseminação artificial. No tocante, tem papel de destaque na genética animal nacional a

região do Triângulo Mineiro, notoriamente na produção de sêmen bovino, na inseminação

artificial e no cruzamento seletivo desenvolvidos em moldes altamente modernos por

algumas empresas de laticínios e associações de criadores.

As duas principais empresas do setor genético bovino são representadas pelo grupo

multinacional ABS Global (ex - Bradesco/Pecplan) e a empresa Nova Índia Genética,

sediados em Uberaba, onde também funciona o centro nacional de criadores da raça

zebuina.177

A concentração e a especialização de um centro regional voltado para o cruzamento

seletivo abrem novas oportunidades, tanto por parte das indústrias de laticínios como por

parte de abatedouros e frigoríficos, e para que outros capitais lucrem com a manipulação da

fisiologia reprodutiva dos animais.

176 A Granja Planalto abandonou o sistema de integração avícola com produtores rurais em 1995, que

foi assumido em parte pelas empresas avícolas DaGranja e MixForte. 177 A cidade de Uberaba é um dos maiores centros de produção de sêmen bovino do país, impulsionada

pela atuante Associação Nacional de Criadores da Raça Zebuina (ABCZ).

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5.7.2. As Indústria de Fertilizantes, Defensivos Químicos e Equipamentos Agrícolas

Atraídas pelas grandes oportunidades de lucro, as firmas mais importantes de

produtos químicos, farmacêuticos e de processamento de alimentos têm assumido o

controle de companhias comerciais de sementes e de firmas de pesquisas genéticas,

ampliando a sua rede de comercialização e um grau adicional de integração vertical. Tais

aquisições podem ser vistas como elementos integrais de uma estratégia de diversificação

corporativa, particularmente para as companhias de agroquímicos (defensivos e

fertilizantes), para ampliar os mercados para esses insumos químicos. Porém essa

concentração em favor das grandes corporações multinacionais vem sendo conseguida

através de diversos processos: controle integral de pesquisas, pela aquisição de lotes de

ações, formação de joint-ventures ou sociedades limitadas de P&D, pelo financiamento,

com capital de risco, de firmas privadas que investem em biotecnologia, contratos de

pesquisa com universidades e expansão de suas próprias atividades de pesquisa e

desenvolvimento.

Porém, outros aspectos devem aqui ser levantados a respeito do mercado de

agroquímicos, que consistem na grande quantidade de produtos lançados pelas empresas

de defensivos atuantes na região do cerrado. A presença das principais corporações

evidencia processos estratégicos de explorar maiores oportunidades de lucro diante dos

problemas agrícolas em grande parte advindos dos problemas ambientais gerados pelos

sistemas intensivos de exploração do solo (Quadro 17). 178

As novas estratégias adotadas pelas empresas de fertilizantes químicos no cerrado

têm acompanhado o movimento de mudança no sistema produtivo, conforme foi

demonstrado anteriormente. O caso ilustrativo é o da Fosfértil, a primeira empresa a ser

privatizada do Grupo Petrofértil, em 1992, que foi adquirida por um grupo de fabricantes de

fertilizantes reunidos na holding Fertifos.

178 Esses impactos envolvem, entre outros, desde os processos erosivos do solo e a diminuição de sua

fertilidade natural, o aparecimento e aumento de pragas e doenças nas plantas e solos, que exigem a aplicação progressivamente maiores de fertilizantes para aumentar ou manter a fertilidade e a existência de produtos de aplicações cada vez mais ampliada.

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A empresa adquiriu, através do mecanismo de leilões futuros, os controles da

Goiásfertil, de Catalão (GO), da Ultrafértil, em Cubatão (SP), e de Araucária (PR). No final

de 1996 a empresa goiana foi incorporada ao capital da Ultrafértil, que ficou “verticalizada”

desde a mina até a fábrica, como a controladora Fosfértil. Com isso, abriu-se o caminho

para a fusão entre as duas empresas no futuro, cujo trabalho de reestruturação vem sendo

colocado em curso (Quadro 17).179

Uma outra empresa do setor agroquímico - a FMC Brasil - tem orientado suas

estratégias de investimentos no grande potencial de crescimento de consumo de insumos

químicos na região dos cerrados através da difusão da prática de plantio direto pelos

produtores, e vai passar a produzir internamente no país um herbicida que foi desenvolvido

pela FMC, dos Estados Unidos, em processos totalmente automatizados na unidade de

Uberaba, Triângulo Mineiro. Visando ainda atingir o mercado potencial das regiões

produtoras e dos países do Mercosul, A FMC tem pesquisado o uso do herbicida para

outras culturas além da cana-de-açúcar e soja, orientando também o uso para o café, citros

e milho.180

179 Cf. Gazeta Mercantil, 23, 24 e 25/ago./1996, p. B-16. [Agribusiness] 180 Cf. Informações do Diretor Superintendente da FMC em Minas Gerais. Gazeta Mercantil, 15,

16,17/nov./1996, p. B-16. [Agribusiness]

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Quadro 17

PRINCIPAIS INVESTIMENTOS E ESTRATÉGIAS DAS EMPRESAS DE INSUMOS QUÍMICOS E EQUIPAMENTOS AGRÍCOLAS

EMPRESA/ Sede

Ramo de Atividade e Linha de Atuação

Ano de

Realização

Metas e Previsões De Investimentos

(US$)

Principais Estratégias Adotadas

1. Fosfértil/ Uberaba (MG)

Fertilizantes 1996-1998 US$ 55 milhões

Ampliação em mais 20% da capacidade da fábrica de fertilizantes fosfatados do complexo industrial situado em Uberaba que produz 83 mil ton.de ácido fosfórico (matéria-prima básica para a fabricação de fosfato monoamônio -MAP- e superfosfato triplo -TSP). Com isso, a empresa elevará a produção de MAP e TSP em 175 mil ton./ano a partir do 2° Sem. de 1998.

US$ 25 milhões Ampliação e modernização do terminal portuário de uso privativo misto localizado na Ilha do Cardoso, em Santos, que terá duplicada para 2 milhões toneladas a sua capacidade de movimentação de matérias-primas líquidas e sólidas importadas utilizadas na produção de fertilizantes, como enxofre e amônia.

2. FMC Brasil/ Uberaba (MG) Herbicidas

1996-1997 n/d

Fabricação herbicida da marca Boral na unidade industrial de Uberaba, deixando de importar o produto dos Estados Unidos, e também para atender o mercado Argentino a partir do Brasil.

3. ASBRASIL/ Uberaba (MG)

Equipamentos de Irrigação

1997 n/d

Formação de joint venture com a norte-americana Valmont Industries Inc., dando origem à Valmont Ind. e Com. Ltda., com o objetivo de reforçar a participação no mercado de irrigação da América do Sul. A Valmont deverá atender 80% do mercado brasileiro de equipamentos mecanizados para irrigação, e vai distribuir produtos para a Argentina, Paraguai, Uruguai e Chile.

Organização: João Cleps Jr. n/d = não divulgado Fonte: Gazeta Mercantil, 23, 24, 25/ago./1996; 15,16,17/nov./1996 e 04/mar./1997.

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CCOONNSSIIDDEERRAAÇÇÕÕEESS FFIINNAAIISS

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CCOONNSSIIDDEERRAAÇÇÕÕEESS FFIINNAAIISS

O nível de desenvolvimento industrial e as articulações entre agricultura e

indústria tem se tornado cada vez mais intensos e complexos. As novas localizações

industriais, a expansão da agroindústria, as mudanças e as novas estratégias das

empresas, constituem campo privilegiado de estudo das mutações econômicas e

espaciais deste final de século.

Quando se propôs retomar às discussões teóricas sobre o setor

agroindustrial, mesmo que correndo o risco de desviar por demais a abordagem e

linguagem geográficas, aderindo os instrumentais de análise presentes no âmbito

das Ciências Econômicas, buscou-se analisar a problemática agroindustrial a partir

de outros campos não-geográficos. Isso requer, porém, uma maturidade na

abordagem, que se acredita ainda não ter sido alcançada, porém abrem-se para

novas linhas geográficas e perspectivas de análise, para outros trabalhos.

A despeito da noção de Complexo Industrial (CI), há tempo tem sido utilizado

pela geografia econômica mundial, como instrumento de análise espacial e

econômica dos sistemas produtivos, e as articulações do produto entre as unidades

de produção industrial. Em particular, a noção de complexo industrial, tomando como

base a Matriz Insumo-Produto, apesar dos problemas anteriormente colocados,

como o da defasagem e do nível de agregação dos dados, e o caráter estático a ela

atribuído, é válida como instrumento para delimitação das cadeias agroindustriais

com articulações mais fortes no Brasil.

De outro lado, ao serem discutidos neste trabalho os diversos conceitos, tais

como “agribusiness”, “filière”, “Sistema Agroalimentar” e “Complexo Agroindustrial” ,

os quais procuram apreender as novas relações entre as atividades agrárias e o

restante da economia, não se pretendeu a redução da importância da agricultura.

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Outra questão importante a ser ressaltada (de acordo com as diferentes

posições teóricas analisadas no trabalho) é que o estudo da dinâmica agroindustrial

ao longo dos anos 80, e para alguns nos dias de hoje, é feita, principalmente,

utilizando o referencial teórico apoiado no conceito de Complexo Agroindustrial

(CAI) o qual, diante das mudanças globais, requer a incorporação de elementos

novos à análise espacial e econômica das agroindústrias.

Porém, apesar de levantar as novas contribuições para entendimento da

dinâmica recente do setor agroindustrial, tomando com referência o ambiente

empresarial, não se abandona a noção de Complexo Agroindustrial, uma vez que

ainda constitui com instrumento válido como ponto de partida e delimitação dos

segmentos analisados, principalmente do complexo grãos e carnes.

Ao consolidar-se tardiamente no país, isso não implicou que os CAIs

brasileiros posicionassem plenamente no movimento de reestruturação do sistema

agroalimentar mundial. Porém, o padrão de produção fordista, implantado com

atraso, já vinha sendo questionado nos países centrais.

O surgimento de padrões flexíveis a partir do esgotamento do modelo fordista,

e o ritmo das mudanças no setor agroindustrial e, mais amplamente, no sistema

agroalimentar, colocam em xeque o arcabouço teórico que deu suporte aos

trabalhos sobre as dinâmicas da agricultura e indústria.

No âmbito da geografia econômica contemporânea, o exame das posições

teóricas sobre os tipos de sistemas produtivos e as possíveis combinações

espaciais, presentes nos trabalhos de STORPER e HARRISON (1994), BENKO

(1992, 1994), HARVEY (1996), fornecem a dimensão espacial da produção na

atualidade. A organização hierarquizada transforma-se em organização “em rede”,

construída, por exemplo, em torno das noções de “parceria”, “relações contratuais”,

“flexibilidade”, “cooperação entre firmas”, “governança”; ou seja, os termos para

teorizar os domínios da organização industrial da produção, gerando formas

territoriais concentradas, dispersas ou de produção especializada. Esse conjunto de

práticas por parte das empresas abre um campo de investigação fértil, à medida

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que as unidades de produção e a divisão do trabalho entre elas (interligações), são,

portanto, fenômenos geográficos.

O antigo paradigma que definia a presença industrial em um dado local,

seguindo os princípios clássicos como matérias-primas, recursos energéticos, mão-

de-obra a baixo custo e o acesso a mercados, é modificado, é ampliado. As novas

estratégias de localização são recolocadas na perspectiva de maior ou menor

presença do Estado, por meio dos incentivos fiscais. A propósito, realizam-se os

investimentos com muitas vantagens, porém com poucos resultados sociais, ou seja,

os grandes investimentos requeridos pelas agroindústrias, somente possíveis para

uma mínima parcela do capital, produzem ganhos questionáveis para uma região,

uma vez que algumas atividades foram pobres na criação de empregos. É preciso

estar consciente de que a agroindustrialização numa região, na maioria das vezes,

não permite oferecer uma estabilidade de qualidade e de quantidade apenas graças

aos incentivos e aos apoios estaduais e locais para a atração de capitais.

O forte atrelamento do desenvolvimento da produção agroindustrial regional

às matérias-primas pouco diversificadas (a exemplo da soja e o milho nos anos

recentes) não é sinônimo de desenvolvimento (industrial), nem tampouco social. Já

é conhecido que enquanto crescem alguns ramos da agroindústria ligada à

transformação “primária”, as culturas de sobrevivência decrescem e, com isso,

aumentam as pressões sociais, requerendo mais investimentos do poder público em

equipamentos urbanos e na geração de novos empregos.

Nas pequenas localidades regionais, não atingidas pelo dinamismo

agroindustrial, as atividades econômicas giram em torno das mesmas possibilidades

de industrialização da produção agrícola e muitas delas, ao que parece, vivem

desprovidas de investimentos produtivos onde uma parcela significativa da

população ainda reside no meio rural e outra parte, a urbana, vive da economia

informal.

Nos países como o Brasil, onde a indústria, que tradicionalmente dependia de

restrições locais no tocante a fontes de matérias-primas e a mercados, pôde tornar-

se muito mais independente a partir das políticas e dos incentivos estatais. A

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competição inter-regional e internacional coloca um problema para as regiões de

países que têm menos vantagens, que a longo prazo poderão sofrer com os efeitos

adversos quando consideradas as transformações ocorridas nos sistemas de

produção e de marketing, caracterizando processos de trabalho e mercados mais

flexíveis, de mobilidade geográfica e de rápidas mudanças nos padrões de consumo.

Fica claro, também, um natural deslocamento e novas localizações das

agroindústrias, principalmente no âmbito da cadeia de soja, na produção agrícola no

Brasil, dos Estados do Centro-Sul para o Norte do país, levando as empresas a se

instalarem junto às áreas produtoras, diferentemente da antiga estratégia de

localização junto às zonas portuárias.

Por outro lado, esse movimento migratório das agroindústrias para o cerrado,

em termos gerais, é bastante previsível, pois atualmente as fábricas estão

posicionando-se no interior, uma vez que os mercados de farelos e óleos têm

apresentado um crescimento considerável nos últimos anos.

Impossibilitadas de competir com igualdade com os grandes grupos

multinacionais, as empresas menores procuram seguir estratégias, no que tange ao

consumo de seus produtos, para os mercados domésticos, tanto do farelo, como de

óleos diferenciados: “cliente forte dentro de casa ”. Atualmente, na estratégia de

localização das agroindústrias, o que conta, não é apenas a proximidade geográfica

às zonas produtoras, mas o produtor em si, tem sido muito mais importante que, por

vezes, o mercado consumidor. Em se tratando de uma região como a do Triângulo

Mineiro (Uberlândia), onde a competitividade entre as empresas é acirrada pela forte

concentração espacial das empresas esmagadoras de soja, esse processo é ainda

mais evidente.

A despeito da localização, pode-se inferir que, na atualidade as

agroindústrias ligadas às cadeias de grãos e carnes buscam como “ponto ideal” para

instalação de suas plantas, os aspectos de rentabilidade, obtida principalmente nas

novas áreas de expansão agrícola. Nesse sentido, pode-se observar nas ilustrações

anteriores e pelas tendências verificadas, que esse movimento é restrito ao domínio

físico do cerrado brasileiro.

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252

No Brasil, as empresas, portanto, procuram reduzir custos de transportes de

grandes volumes de grãos, alocando as instalações agroindustriais junto às regiões

produtoras. No tocante ao centro produtor, a cidade de Barreiras, na região Oeste

da Bahia, atende a dois aspectos: pequena distância com o produtor e mercado

consumidor potencial próximo, que é a Região Nordeste do Brasil.

A cidade de Uberlândia representa outro pólo agroindustrial importante pela

sua localização geográfica, que privilegia muito mais o mercado consumidor do

Centro-Sul, conforme constatou-se a partir das informações obtidas junto às

empresas. Com isso, a competição no mercado de matéria-prima aumenta, forçando

um tratamento quase que personalizado junto ao produtor, pela qualidade na

prestação de serviços, tal como vem ocorrendo com a Cargill, que tem adotado o

lema: “A Cargill é seu melhor parceiro o ano inteiro ”.

Por outro lado, tendem a aumentar as pressões dos órgãos de interesses do

“agribusiness”, que passaram a reivindicar melhores infra-estruturas em termos de

transportes no interior (e embutido na denominação de “Custo Brasil”). A esse

despeito, a inserção neste trabalho da temática relacionada à política de

implantação dos Corredores Multimodais de Transportes, a qual é considerada como

ponto importante para o aumento da competitividade das empresas do setor

agroindustrial.

Pela dinâmica apresentada pelas empresas líderes do complexo grãos-

carnes, torna-se evidente também que, nas localizações, as empresas têm buscado

cada vez mais sinergias regionais e locais, na esfera comercial, tecnológica e da

produção agropecuária, através da diversificação. Também dentro da própria

empresa, quando se consideram as articulações entre as suas subdivisões

organizacionais (exemplo, Rezende Óleo e a Granja Rezende, para o fornecimento

crescente de farelos e rações), como se observou nas investigações em campo.

As transformações na indústria agroalimentar, posicionadas “para frente” do

setor agrícola e agroindustrial, serviram também como referencial para apreensão

das novas estratégias que ocorrem nos variados segmentos, onde as mudanças

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avançam no sentido de uma flexibilização da oferta – em termos de quantidade,

qualidade e preços dos produtos -, permitindo atender à demanda diversificada pela

urbanização e pelos novos hábitos de consumo.

Como o Brasil encontra-se inserido na “rota” das empresas líderes do setor

agroalimentar, acompanha esse processo de mudança das bases tecnológicas e dos

métodos flexíveis de produção. Porém, as tecnologias e formas organizacionais

flexíveis não se tornaram ainda hegemônicas em todos os lugares. A atual

conjuntura se caracteriza por uma combinação de produção fordista, altamente

eficiente em alguns setores e regiões e de sistemas de produção, com processos

distintos de controle do trabalho.

Diante da análise, que se caracteriza pelo movimento de (re)concentração do

setor agroindustrial e reestruturação produtiva, principalmente no Brasil, o que se

pode antecipar é a tendência no domínio de capitais agroindustriais de permanecer

nas mãos de poucos e grandes grupos econômicos. Esse processo é notório quando

se observam casos de fusões-aquisições na Região Centro-Oeste, com os exemplos

da Bunge y Born que adquiriu a Ceval; a entrada do grupo Perdigão na Região do

Triângulo e em Goiás; entre outras grandes empresas integradoras, nessas regiões

para a produção de carnes. A internacionalização parece ser irreversível no âmbito

de diversas cadeias produtivas.

Constata-se pela investigação realizada nas empresas regionais do complexo

grãos e carnes, notoriamente, que estão plenamente afinadas com a nova lógica

produtiva, tanto no que diz respeito aos processos de organização e gestão internos,

como no que se relaciona à esfera das estratégias territoriais. O caso analisado

neste trabalho - grupo ABC-Algar (ABC A&P e ABC-INCO) - ilustra tal processo:

reestruturação organizativa, com a instituição do modelo de organização “empresa

rede”; verticalização e diversificação produtiva, com associações e parcerias com

multinacionais para a produção de sementes, prestação de serviços agrícolas,

produção e distribuição de produtos de conveniência, entre outras.

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Um dos pontos questionáveis de todo o processo de reestruturação

organizacional e do sistema produtivo adotado como estratégia das grandes

empresas, é a questão do desemprego. No caso em análise, a terceirização dos

serviços do grupo, com a criação de outras novas pequenas empresas prestadoras

de serviços, não elimina os efeitos que tem sido gerados pelas formas atuais de

comportamento das empresas.

O deslocamento da produção de commodities rurais e das agroindústrias para

as áreas de cerrados implica na produção de novos espaços dentro dos quais a

produção capitalista se expande, trazem profundas conseqüências como a

exploração da força de trabalho e para o meio ambiente.

As alterações na paisagem natural do cerrado brasileiro, advindas da

introdução dos monocultivos, vêm modificando profundamente o ambiente natural,

principalmente nas áreas planas – chapadas -, consideradas fontes de

biodiversidade (pela devastação para a exploração agrícola sobre as áreas de

fontes de água, uso de pesticidas, erosão dos solos, entre outros, conforme também

procurou-se ressaltar neste trabalho).

No tocante ainda aos problemas decorrentes da exploração agrícola do

cerrado, devem-se considerar os efeitos que ainda estão por vir a partir das

estratégias que orientam as novas localizações e da presença dos grandes grupos

econômicos ligados à biotecnologia vegetal na região, (Monsanto). Não é necessário

aqui se descreverem as realizações da biotecnologia na agricultura em detalhe. Elas

vão desde a criação de plantas resistentes a vírus e insetos, a criação de lavouras

insensíveis a determinados pesticidas, até a inseminação de hormônios para o

crescimento bovino e para o aumento da produção de leite, transferências de

embriões, as alterações genéticas das células reprodutoras de aves, porcos e

ovelhas

Porém, surgem algumas preocupações com essa nova tecnologia que tem

menos a ver com seus impactos econômicos do que com as questões de saúde e do

ambiente. A revolução biotecnológica aumenta os rendimentos, mas também pode

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alargar o risco ambiental (até por vezes indiscriminada) pelas aplicações de novas

tecnologias pelos agricultores.

Para as grandes empresas empenhadas na pesquisa biotécnica, o futuro

parece muito atraente: uma indústria totalmente nova está surgindo com o

desaparecimento das linhas que separam os agricultores, as empresas produtoras

de sementes e fertilizantes, as usinas de processamento de alimentos e outras

partes distintas do processo de levar o cereal e a carne da fazenda até a mesa do

consumidor. Essa integração vertical entre as empresas biotécnicas é

qualitativamente diferente dos tipos de integração anteriores.

Pode-se, ainda, falar num importante setor que têm experimentado, há

décadas, um crescimento graças ao alto grau de controle do processo biológico e

que se realiza cada vez mais independente das condições naturais (solo e clima):

caso da avicultura.

Por sua vez, o agricultor, ao centro da nova forma de funcionamento, requer,

muitas vezes, mudanças nas formas de produzir. As relações de integração

contratual (parceria) que se vem estabelecendo com a chegada e a mudança de

orientação das empresas do complexo grãos e carnes, são exemplos dessa nova

dinâmica agrícola e agroindustrial no cerrado e, particularmente, no Triângulo

Mineiro. As novas formas de contratos-parceria, implantados pelas empresas do

setor agroindustrial, são passíveis de questionamentos, principalmente quando

comparadas com os modelos de integração estabelecidos tradicionalmente com os

pequenos agricultores na Região Sul do Brasil. Por esse ponto de vista, também, é

que se desenvolvem os argumentos e idéias de que a agricultura no cerrado “já

nasce moderna”. Cumpre, porém, avaliar mais profundamente os impactos desses

novos modelos de contratos de integração agroindustrial na região sobre o conjunto

da produção rural.

Finalmente, ressalta-se que, a partir do exame das principais estratégias dos

grandes grupos (multinacionais) atuantes no cerrado, como das empresas

agroindustriais de capital regional, não existe fronteira, tanto empresarial, quanto

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setorial, ou geográfica, em resultado das novas formas de organização “em rede”,

permitindo assim captar o ambiente de mudanças nas empresas e a dinâmica

recente do setor agroindustrial ocasionadas pelo processo de globalização. Assim

utilizando-se esse referencial, abre-se um campo novo para os geógrafos

interessados na problemática agroindustrial, incluindo como elemento de estudo,

também, as estratégias e decisões dos agentes econômicos.

O grande desafio deste trabalho foi vencer a questão geral de como vemos e

simbolizamos o mundo, do relacionamento entre nossa formação conceitual e a

“realidade” estudada. Seja qual for o sentido que possa ter sido dado à temática

proposta, o objetivo foi de colocar a importância de uma reflexão mais elaborada

sobre a produção geográfica do agribusiness.

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(Orgs.). As regiões ganhadoras: distritos e redes - os novos paradigmas da geografia económica. Trad. A. Gonçalves. Lisboa (Portugal): Celta Editora, Oeiras, 1994, p. 189-201.

VIGORITO, R. Critérios metodológicos para el estudio de cmplejos agroindustriales. México: Cable Ilet,

1978, 23p. (mimeogr.) VOLEGER, I. The myth of the family farm: agribusiness dominance of US agrigulture. Bouldeer, Colorado:

Westview, 1981. WADLEY, D. A. Enterprises in trouble: the geography of wholesaling in the Australian agricultural machinery

industry, 1967-72. In: HAMILTON, F., LINGE, G.J.R. (Eds), 1979. WALLACE, I. Towards a geography of agribusiness. Progren in Human Geograghy. v.9(4), 1985, p. 491-

514. WILKINSON, J. O futuro do sistema alimentar. São Paulo: Hucitec, 1989. (Estudos Rurais).

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270

ZYLBERSZTAJN, D. (Coord.). Estudo de Caso em Agribusiness - O processo de tomada de decisões nas

empresas brasileiras. Porto Alegre: Ortiz, 1993. ___________________________________________________ JORNAIS CONSULTADOS CORRREIO, Uberlândia - MG FOLHA DE SÃO PAULO, São Paulo - SP GAZETA MERCANTIL, São Paulo - SP O ESTADO DE SÃO PAULO, São Paulo - SP

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AANNEEXXOOSS

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272

AANNEEXXOO 11 –– NNOOTTAA MMEETTOODDOOLLÓÓGGIICCAA

1. AS DIVISÕES ESPACIAIS DE MINAS GERAIS

Embora as delimitações regionais adotadas neste trabalho contenham princípios, métodos e utilizações diferentes, não são excludentes. A base de referência estatística contém as informações em nível de unidade político-administrativa, que é o município. A nova divisão adotada pela FIBGE, a partir de 1990, trouxe não apenas a definição dos novos agregados espaciais, mas uma nova formulação metodológica, utilizando-se o conceito de organização do espaço, que se refere “às diferentes estruturas espaciais resultantes da dinâmica da sociedade sobre um suporte territorial”.1 O modelo atualizado não apenas altera a denominação de Mesorregiões e Microrregiões Geográficas, substituindo a expressão “Homogêneas” do modelo anterior, mas dá um grande avanço em nível teórico-conceitual, porque parte de determinações mais amplas da totalidade nacional. 1.1. As Subdivisões Espaciais de Minas Gerais

Em qualquer análise e subdivisão (“recorte”) que se faça do espaço, é importante considerar

que, como afirma SANTOS (1996, p.98), “regiões são subdivisões do espaço: do espaço total, do

espaço nacional e mesmo do espaço local...”. Um dos problemas mais freqüentes nas pesquisas que pressupõem a delimitação do espaço

geográfico (regionalização) é o uso de critérios para a divisão espacial adequada. Desde a década de 70 produziu-se, tanto em escala nacional quanto estadual, uma série de estudos de divisão espacial com os diferentes níveis de agregação, tais como:

a] as Zonas Fisiográficas (IBGE – 1940); b] as Microrregiões Homogêneas (IBGE –1968); c] as Regiões de Planejamento do Governo de Minas Gerais (ILPES –1969); d] as Regiões de Influência das Cidades [IBGE – 1978; IBGE – 1987]; e] a Divisão Regional em Mesorregiões e Microrregiões Geográficas (IBGE –1989)

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274

Existem várias propostas de regionalização para o estado de Minas Gerais, utilizando diferentes critérios de “recorte” espacial. Algumas partem dos antigos critérios de “homogeneidade” (Microrregiões Homogêneas, do IBGE - 1968), outras seguem critérios de políticas de planejamento territorial (Regiões de Planejamento, do Governo de Minas - 1969). Apesar da superação teórico-metodológica (conceito de região) e da defasagem temporal (nível de corte e agregação estatística), a maioria das propostas de divisões regionais de Minas Gerais não são válidas como instrumento de apreensão da dinâmica agrícola e agroindustrial do estado. Essas delimitações apenas auxiliam no entendimento de determinadas situações, tais como a polarização urbana, os fluxos de bens e de serviços, num período determinado.

Dentre as diferentes propostas mencionadas, cabe ressaltar a versão atualizada sobre a divisão regional do Brasil em Mesorregiões e Microrregiões Geográficas (FIBGE), apresentada no início dos anos 90. As diferentes escalas espaciais, segundo o estudo do IBGE, são assim definidas:

“Entende-se por mesorregião uma área individualizada, em uma Unidade da Federação, que

apresenta formas de organização do espaço geográfico definidas pelas seguintes dimensões:

o processo social, como determinante, o quadro natural, como condicionante, e a rede de

comunicação e de lugares, como elemento da articulação espacial. Estas três dimensões

possibilitam que o espaço delimitado como mesorregião tenha uma identidade regional. Esta

identidade é uma realidade construída ao longo do tempo pela sociedade que aí se formou”. (IBGE, 1990, p.8)

O conhecimento da realidade espacial brasileira evidencia, entre outras, o “Triângulo Mineiro” como uma unidade espacial identificada como mesorregião. Por seu turno,

“As microrregiões foram definidas como partes das mesorregiões que apresentam especificidades, quanto à organização do espaço. Essas especificidades não significam

uniformidade de atributos, nem conferem às microrregiões auto-suficiência e tampouco o

caráter de serem únicas, devido à sua articulação a espaços maiores, quer à mesorregião, à

Unidade da Federação, quer à totalidade nacional. Essas especificidades referem-se à

estrutura de produção, agropecuária, industrial, extrativismo mineral, ou pesca ... A

organização do espaço microrregional foi identificada, também, pela vida de relações ao

nível local, isto é, pela interação entre as áreas de produção e locais de beneficiamento e pela

possibilidade de atender às populações, através do comércio de varejo ou atacado ou dos

setores sociais básicos. Assim, estrutura da produção para identificação das microrregiões é

considerada em sentido totalizante, constituindo-se pela produção propriamente dita,

distribuição, troca e consumo, incluindo atividades urbanas e rurais. Dessa forma ela

expressa a organização do espaço a nível micro ou local”.(ibid.)

É importante adotar a presente divisão, uma vez que ela possui um forte suporte na estrutura da produção primária, utilizando-se como indicadores para a definição das “microrregiões” o Valor da

Produção Primária; Orientação da Agricultura; Estrutura Dimensional dos Estabelecimentos; Relações de Produção; Nível Tecnológico e Emprego de Capital e Grau de Diversificação da

Agropecuária (FIBGE-1990). Para efeito da questão da localização espacial, da dinâmica agroindustrial e da distribuição da

produção agrícola, além da Mesorregião Geográfica Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba, o estudo estende a análise para a Mesorregião Geográfica Sul Goiano, conforme a figura e a relação das Microrregiões Geográficas e Municípios correspondentes apresentadas a seguir:

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ESTADO DE MINAS GERAIS - MESORREGIÃO DO TRIÂNGULO MINEIRO/ ALTO PARANAÍBA RELAÇÃO DAS MICRORREGIÕES GEOGRÁFICAS E MUNICÍPIOS (1990/ IBGE)

MRG UBERLÂNDIA

MRG FRUTAL

MRG ITUIUTABA

1. Araguari 1. Campina Verde 1. Cachoeira Dourada 2. Araporã 2. Carneirinho 2. Capinópolis 3. Canápolis 3. Comendador Gomes 3. Gurinhatã 4. Cascalho Rico 4. Fronteira 4. Ipiaçu 5. Centralina 5. Frutal 5. Ituiutaba 6. Indianópolis 6. Itapajipe 6. Santa Vitória 7. Monte Alegre de Minas 7. Iturama 8. Prata 8. Limeira do Oeste 9. Tupaciguara 9. Pirajuba 10. Uberlândia 10. Planura 11. São Francisco de Sales

MRG UBERABA

MRG ARAXÁ

MRG PATROCÍNIO

1. Água Comprida 1. Araxá 1. Abadia dos Dourados 2. Campo Florido 2. Campos Altos 2. Coromandel 3. Conceição das Alagoas 3. Ibiá 3. Cruzeiro da Fortaleza 4. Conquista 4. Nova Ponte 4. Douradoquara 5. Uberaba 5. Pedrinópolis 5. Estrela do Sul 6. Veríssimo 6. Perdizes 6. Grupiara 7. Pratinha 7. Iraí de Minas 8. Sacramento 8. Monte Carmelo 9. Santa Juliana 9. Patrocínio 10. Tapira 10. Romaria 11. Serra do Salitre

MRG PATOS DE MINAS

MESORREGIÃO GEOGRÁFICA DO NOROESTE DE MINAS

MICRORREGIÃO GEOGRÁFICA DE PARACATU 1. Arapuá 1. Brasilândia de Minas 2. Carmo do Parnaíba 2. Guarda-Mor 3. Guimarânia 3. João Pinheiro 4. Lagoa Formosa 4. Lagamar 5. Matutina 5. Lagoa Grande 6. Patos de Minas 6. Paracatu 7. Rio Paranaíba 7. Presidente Olegário 8. São Gotardo 8. São Gonçalo do Abaeté 9. Santa Rosa da Serra 9. Varjão de Minas 10. Tiros 10. Vazante

Fonte: FIBGE/ Estudos para Caracterização do Território e Estruturas Territoriais.

http.www.sidra.ibge/gov.br./

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276

ESTADO DE GOIÁS – MESORREGIÃO GEOGRÁFICA SUL GOIANO RELAÇÃO DAS MICRORREGIÕES GEOGRÁFICAS E MUNICÍPIOS (IBGE – 1990)

MRG VALE DO RIO DOS BOIS

MRG PIRES DO RIO

MRG CATALÃO

1. Acreuna 1. Cristianópolis 1. Anhanguera 2. Campestre de Goiás 2. Orizona 2. Campo Alegre de Goiás 3. Cesarina 3. Palmelo 3. Catalão 4. Edealina 4. Pires do Rio 4. Corumbaíba 5. Edéia 5. Santa Cruz de Goiás 5. Cumari 6. Indiara 6. São Miguel do Passa Quatro 6. Davinópolis 7. Jandaia 7. Silvânia 7. Goiandira 8. Palmeiras de Goiás 8. Urutaí 8. Ipameri 9. Palminópolis 9. Vianópolis 9. Nova Aurora 10. Paraúna 10. Ouvidor 11. São João da Paraúna 11. Três Ranchos 12. Turvelândia 13. Varjão

MRG MEIA PONTE

MRG SUDOESTE DE GOIÁS

MRG QUIRINÓPOLIS

1. Água Limpa 1. Aparecida do Rio Doce 1. Cachoeira Alta 2. Aloândia 2. Aporé 2. Caçu 3. Bom Jesus de Goiás 3. Caiapônia 3. Gouvelândia 4. Buriti Alegre 4. Castelândia 4. Itajá 5. Cachoeira Dourada 5. Chapadão do Céu 5. Itarumã 6. Caldas Novas 6. Doverlândia 6. Paranaiguara 7. Cromínia 7. Jataí 7. Quirinópolis 8. Goiatuba 8. Maurilândia 8. São Simão 9. Inaciolândia 9. Mineiros 10. Itumbiara 10. Montividiu 11. Joviânia 11. Palestina de Goiás 12. Mairipotaba 12. Perolândia 13. Marzagão 13. Portelândia 14. Morrinhos 14. Rio Verde 15. Panamá 15. Santa Helena de Goiás 16. Piracanjuba 16. Santa Rita do Araguaia 17. Pontalina 17. Santo Antonio da Barra 18. Porteirão 18. Serranópolis 19. Professor Jamil 20. Rio Quente 21. Vicentinópolis

Fonte: FIBGE/ Estudos para Caracterização do Território e Estruturas Territoriais.

http.www.sidra.ibge/gov.br./

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0 15 30 60 Km45

E S C A L A

LEGENDA

Limite Microrregiões

Limite interestadual

Rodovias Federais

Sede de municipio

Limite intermunicipal

* O mapa inclui a Microrregião Geográfica de Paracatu para adequação à denominação "Região Oeste" de Minas Gerais adotada neste Trabalho

e Estaduais

FIGURA - ANEXO

Carneirinho

Limeira do Oeste

Iturama

Santa Vitoria

Ipiacu

Gurinhata~

CapinopolisCanapolis

Centralina

Arapora~

Tupaciguara

Monte Alegre

Araguari

Uberlandia^

Uberaba

ConquistaAguaComprida

Conceicao dasAlagoas

Planura

Pirajuba

Verissimo

Campo Florido

Frutal

Fronteira

Itapagipe

Sao FranciscoSales

~

Campina Verde

Prata

CachoeiraDourada

de ~

Comendador Gomes

Ituiutaba

SÃO PAULO

MATO

GROSSO

DO SUL

MINAS GERAIS

GOIÁS

TapiraSacramento

Pratinha

Campos Altos

Ibia

Araxa

Rio ParanaibaNova Ponte

PedrinopolisSanta Juliana

Perdizes

Indianopolis Irai de Minas

Romaria

Monte Carmelo

Estrela do Sul

Cascalho Rico

Grupiara

DouradoquaraAbadia dos Dourados

Coromandel

Serra do Salitre

ParanaíbaCruzeiro da

Guimarania

Patrocinio

Patos de Minas

Fortaleza

^

Guarda-Mor

Paracatu

Unai

Tres Ranchos

Ouvidor

CatalaoGoiandira

Nova Aurora

Cumari

^

~Corumbaíba

Marzagao

Caldas NovasMorrinhos

Buriti Alegre

Panamá

Bom Jesus

Goiatuba

Aloândia

Joviânia~

Maurilândia

Santa HelenaRio Verde

Quirinópolis

Cachoeira Alta

de Goias

Pontalina

Edeia

JandaiaParaúna

PalminópolisPalmeiras

Varjão

Cromínia

Anapolis

Piracanjuba

Cristianopolis

Santa CruzPalmelo

Pires do Rio

Orizona

Vianopolis

Silvania

Urutai

Ipameri

de Goias

GOIANIA^

Cristalina

Gama

Taguatinga

Brasilandia

Sobradinho

BRASILIA

^

^

Campo Alegrede Goias

Jataí

Chapadao do Sul

Paranaiba

Aparecida do Taboado

~

Nova Sao Simao~ ~

de Goias

de Minas

Itumbiara

Santa Rita do Araguaia

Mineiros

Portelândia

Perolândia

Caiapônia

Doverlândia

Serranópolis

Aparecida do Rio Doce

Montividiu

Prof. Jamil

da BarraSto. Antônio

Vicentinópolis

Turvelândia

Acreúna

Indiara

Edealina

Cesarina

S. J. Paraúnade Goiás de Goiás

Campestre

Mairipotaba

S. Miguel doPassa Quatro

Matutina

TirosArapuá

São Gotardo

Santa Rosa da Serra

p/ Belo Horizonte

Lagoa Formosa

Presidente Olegário

S. Gonçalo do Abaeté

Vazante

Tirante

João Pinheiro

Lagamar

Carmo do

DF

Davinópolis

MATO

GROSSO

p/ Rib. P

reto

p/ S

. J. R

io P

reto

p/ Cuiabá

p/ Belo Horizonte

Anhanguera

Rio Quente

Água Limpa

CachoeiraDourada

Inaciolândia

Gouvelândia

Castelândia

Paranaiguara

Itajaí

Aporé

Itarumã

CaçuChapadão do Céu

Palestina de Goiás

Luziânia

DIVISÃO MUNICIPAL NAS MESORREGIÕES GEOGRÁFICAS TRIÂNGULO MINEIRO/ALTO PARANAÍBA E SUL GOIANO

(FIBGE 1990)

o050

o

o

o

o

o

365

497

153

153452

o

o262

BR

o452

365o

040o

040o

060o

050o

o060

060o364o

364o

365o

o452

153o

FONTE: Estado de Minas Gerais - Mapa Geopolitico - IGA 1994 DIG.: Celso A. Siqueira - 1998

ORG.: Marilena O. Schneider/João Cleps Jr.

Malha Municipal de 1994/FIBGE

16°00'

17°00'

18°00'

19°00'

20°00'20°00'

19°00'

18°00'

17°00'

16°00'

47°30'51°00'

47°30'51°00'

GO

MS

MT

SP

DF

MG

RJ

BA

ES

LOCALIZAÇÃO

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1.2. O Domínio Físico do Cerrado no Estado de Minas Gerais

A inclusão de parte do estado de Minas Gerais, bem como da “região” do Triângulo Mineiro no Domínio dos Cerrados, embora possa parecer abrangente, é válida para apreender os processos sócio-espaciais. Um dos aspectos mais importantes dessa articulação decorre do grande interesse que a região dos cerrados vem despertando, a partir da década de 1970, como principal área de políticas de expansão agrícola do País.

Na verdade, a região de cerrados constitui um espaço econômico tão vasto quanto heterogêneo, no qual se encontra grande variedade de sistemas ecológicos, inclusive manchas de florestas e solos férteis, além de variados tipos de clima, solo, relevo e altitudes. Os sistemas de produção que prevalecem na região dos cerrados decorrem, em grande parte, das características físicas, econômicas e demográficas. Conforme o Delineamento Macroagroecológico do Brasil, elaborado pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA), em 1992, a região de vegetação de cerrados abrange quase todos os estados da região central do Brasil e praticamente a totalidade da Região Centro-Oeste (ver Figura seguinte). A área que se convencionou chamar núcleo central do cerrado compreende um total de 155 milhões de hectares. Em Minas Gerais, especificamente, esse ecossistema ocupa uma superfície de cerca de 308.000 Km², somando 53% da superfície do estado e 17% da superfície brasileira. Por cerrados entende-se um tipo bastante característico de cobertura vegetal: árvores baixas, tortuosas, casca grossa, folhas largas, sistema radicular profundo, além de gramíneas e outros tipos de vegetação rasteira. São típicos dos cerrados: os solos de formação antiga, de elevada acidez e baixa fertilidade, as chuvas torrenciais, concentradas em alguns meses do ano, e o relevo, em sua maior parte ondulado ou levemente ondulado.

Distribuição das Áreas de Cerrado, por Unidades da Federação

Unidade da Federação

Área de Cerrados

(Km²)

Distribuição Percentual No Estado │ No País

Distrito Federal 6.000 100 1 Goiás 555.000 88 30 Mato Grosso 479.000 39 26 Mato Grosso do Sul 147.000 s.i (1) Minas Gerais 308.000 53 17 Piauí 115.000 46 6 Bahia 105.000 19 6 Maranhão 98.000 30 5 Outros 17.000 s.i. 9 TOTAL 1.830.000 __ 100

Fonte: Fundação João Pinheiro (1985). s.i. = sem informações.

(1) incluído no estado de Mato Grosso. O Delineamento Macroagroecológico do Brasil consiste num dos mais importantes estudos de regionalização agrícola, onde são identificadas cerca de 92 zonas agroecológicas, mapeadas segundo as classes de aptidão dominantes de cada zona. Vale ressaltar que o referido estudo tem servido de importante instrumento de referência em termos de potencial de uso dos cerrados para a ocupação.

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Região Centro-Oeste

10º

10º

20º

30º

10º

10º

20º

30º

Região dos CerradosRegião dos Cerrados

Fonte: Mapa Delineamento Macroagroecológico do Brasil, EMBRAPA, 1992 Elaboração própria

70º 60º 50º 40º

70º 60º 50º 40º

Delimitação Regional

Região Centro-Oeste e Domínio dos Cerrados

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Assim, do ponto de vista da “dinâmica” sócio-espacial, analisar os cerrados brasileiros, apenas na sua dimensão (ou delimitação) ecológica, desarticulado da “Região Centro-Oeste”, implica em mascarar os processos que comandaram a integração e desenvolvimento capitalista recente, notadamente aqueles decorrentes das políticas de desenvolvimento agrícola e agroindustrial, que têm resultado em novas configurações geográficas, em que o território é rapidamente estruturado e reestruturado. Além disso, as duas delimitações quase coincidem, ficando a Região Centro-Oeste praticamente inserida no Domínio dos Cerrados.

Porisso, para que fosse feito uma melhor análise do espaço em questão, utilizou-se a sobreposição da “região física” com a divisão política do Brasil baseada nas Mesorregiões e Microrregiões Geográficas, da Fundação IBGE, realizada em princípios da década de 1990. 2. FONTE DE DADOS DA PESQUISA

A seguir são relacionadas as principais fontes de dados utilizadas para a elaboração do trabalho, assim divididas:

i) Estatísticas não-dinâmicas (estatísticas que têm base de ponderação fixa) Estatísticas Industriais (IBGE) - até 1985; Pesquisa Industrial Mensal (estrutura de valor da transformação da indústria do Censo Industrial de

1980); Indicadores da Produção Agroindustrial: 1981-93 - Estatísticas Básicas/ IBGE; Levantamento da Soja (em grão)/ Indústria - IBGE/ Departamento de Indústria: disponível a partir

de 1991; Relação dos Estabelecimentos Processadores de Óleos Vegetais - Unidades da Federação/

ABIOVE; Estatísticas do Complexo Soja – 1997/ABIOVE; Pesquisa de Estoques: Minas Gerais - IBGE/ Diretoria de Pesquisas - DEAGRO, 1995; Censos Econômicos - Minas Gerais - Indústria, Comércio e Serviços/ IBGE, 1980 e 1985; Censos Agropecuários - Minas Gerais, 1970 e 1980; Censos Demográficos - Minas Gerais/ IBGE, 1980, 1991 e Sinopse Preliminar de 1996.

ii) Estatísticas Dinâmicas (periodicidade regularmente atualizada) e Outras Fontes de Dados

Listagem de Projetos Agroindustriais/Posição Acumulada/Governo de Minas Gerais - INDI Listagem de Empresas Contribuintes do ICMS do Estado de Minas Gerais; Tabulações Especiais do Censo de 1985/ Departamento de Indústria do IBGE (Produtos

selecionados por gênero, número de informantes e grau de abrangência planejada); Cadastro de Empresas Contribuintes do Valor Adicionado Fiscal (VAF) de Uberlândia; Cadastro das Empresas Estaduais (FIEMG); Balanço Anual - Gazeta Mercantil (vários anos); Revista Exame - Melhores e Maiores (vários anos); Revista Agroanalysis - IBRE/ Centro de Estudos Agrícolas (FGV) - Ranking das 100 Maiores

Empresas do Agribusiness Brasileiro; Anuário Estatístico do Estado de Minas Gerais (vários anos);

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Produção Agrícola Municipal/FIBGE, vários anos; Levantamento da Sistemático Produção Agrícola (LSPA), FIBGE – SIDRA; Outras Fontes de Dados de Órgãos Oficiais (Secretarias Municipais e Estadual de Indústria e

Comércio, Fazenda e Planejamento): 1) Banco de Dados Integrados de Uberlândia/ Prefeitura Municipal (vários anos).

3. NOTA METODOLÓGICA DAS ILUSTRAÇÕES O trabalho foi desenvolvido tomando como base a representação cartográfica de dados extraídos do Censo Agropecuário de 1985 e do Levantamento Sistemático da Produção Agrícola (LSPA), divulgados na Internet no sistema SIDRA/IBGE, em nível de municípios dos estados de Minas Gerais e de Goiás. Para a elaboração e agrupamento das informações municipais da maioria dos mapas agrícolas, procedeu-se à utilização da nova divisão em Microrregiões Geográficas da FIBGE (1990). Para o estado de Goiás a agregação das Microrregiões, oficialmente, são as mesmas em 1985 e 1995. Somente para os municípios mineiros é que se procedeu à adaptação da base estatística de 1995 (ver relação anterior das microrregiões e municípios componentes desses estados e o mapa que apresenta a divisão municipal).

Os mapas elaborados tiveram o intuito de fornecer uma representação sintética de grupos de variáveis selecionadas (agrícolas, demográficas etc.) onde se procurou escolher a melhor forma (técnica) de agrupamento, que refletisse a realidade vivida. Para os que tratam da Proporção da Área Explorada com Soja (1985 e 1995) procedeu-se ao cálculo da área plantada ou em produção de soja em relação ao “total da área de lavouras temporárias” porque se julgou que é a que melhor reflete a situação/ variação anual da utilização agrícola da terra de cada município. Cabe ressaltar que o último ano passível de ser trabalhado pelo critério adotado, até então, é o de 1995, sendo que os dados foram pesquisados no site da FIBGE na Internet. A técnica de agrupamento seguida foi de intervalos inteiros e múltiplos, buscando assim uma visualização simplificada do fenômeno soja nesta região do cerrado, uma vez que outras técnicas apontavam um número excessivo de classes.

Para os dados populacionais, utilizaram-se as informações sobre a população rural e urbana dos municípios, a partir dos Censos Demográficos de 1991 e Contagem da População de 1996. Para a construção do mapa sobre o Grau de Urbanização em 1996, o intervalo de classe adotado seguiu o resultado da amplitude dos dados (Amplitude Útil), a partir do cálculo do percentual de população urbana em relação à população total do município. 4. DIFICULDADES ENCONTRADAS PARA A PESQUISA

As dificuldades encontradas neste trabalho decorreram, principalmente, da grande carência de dados sobre a agroindústria e o setor agropecuário da região. A propósito da primeira, as estatísticas recentes não têm sido capazes de captar o movimento do agribusiness em nível regional. As estatísticas industriais anuais permaneceram paradas desde 1986, período em que praticamente se iniciou o processo de agroindustrialização na região dos cerrados e em Minas Gerais. Somente em 1995, pela primeira vez, a Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística divulgou as Estatísticas Básicas dos Indicadores da Produção Agroindustrial sobre a evolução dos setores industriais vinculados à agropecuária, quer dos estabelecimentos processadores de matérias-primas de origem agropecuária, quer dos produtores de insumos industriais utilizados por esse setor no período 1981-1993. A Pesquisa Industrial Mensal da Produção Física (PIM-PF), com um nível maior de detalhamento que as pesquisas anteriores, procura avaliar integradamente a agricultura com a indústria. A pesquisa não faz especificamente o “corte agroindustrial”, porém destaca os gêneros industriais. De acordo com a FIBGE, por ser esta uma amostra intencional, sua representatividade é

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grande apenas onde a produção é razoavelmente concentrada. Para o presente estudo foi uma referência de importância, pois é uma das únicas fontes de dados que abrange a fase em que ocorre o maior desenvolvimento de grandes projetos agroindustriais na região. A pesquisa da FIBGE investigou 16 produtos agrícolas, dentre os quais se destacam: cana-de-açúcar, trigo, soja, café (solúvel), cacau, castanha de caju, tomate, algodão, mamona, laranja, fumo, uva, sisal, milho, cevada, juta e outros produtos, como compotas de frutas e conservas, doces, suco e concentrados de frutas, entre outros.

A grande desvantagem da Pesquisa Indicadores da Produção Agroindustrial é o nível de agregação, feito por unidade da federação (estados), o que dificulta a análise regionalizada e/ou localizada. Porém a sua utilização, em especial da soja, torna-se válida, uma vez que toda a concentração da produção mineira desse segmento está sediada em Uberlândia.

Com o objetivo de caracterizar o perfil da agroindústria na região do Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba foram utilizadas diversas fontes de dados. Em termos sistemáticos, os últimos rankings das empresas do agribusiness brasileiro e, em especial, o último Balanço Anual da Gazeta Mercantil (1996-1997) constituíram uma importante fonte de dados sobre as diversas empresas líderes que operam no segmento agroindustrial brasileiro e, por conseguinte, regional. Aqui somaram-se, ainda, um conjunto de materiais de divulgação das empresas analisadas e o material reunido em diversas reportagens no Jornal Gazeta Mercantil, entre outros, dos anos 90.

A classificação-sistematização das empresas que ora são apresentadas resultou de levantamentos e cruzamentos de fontes diversas, como a Relação das Empresas Contribuintes da Arrecadação Municipal do Valor Adicionado Fiscal de Uberlândia - VAF e a relação dos projetos de investimentos do órgão oficial que coordena a política industrial do Estado - o Instituto de Desenvolvimento Industrial de Minas Gerais (INDI).

Porém, fundamentalmente, a pesquisa baseou-se em entrevistas realizadas junto às empresas agroindustriais estabelecidas na região do Triângulo Mineiro, principalmente em Uberlândia, e por diversas vezes repetidas, para possibilitar melhor compreensão da sua dinâmica e características específicas. Tais entrevistas recaíram sobre as principais estratégias empresariais nesta região do cerrado e foram desenvolvidas junto às empresas do complexo soja e suas inter-relações com as cadeias grão-farelo-óleo, grãos-rações-carnes; e também junto a segmentos novos na região, como as empresas processadoras ligadas à produção de vegetais e frutas tropicais. Não se pode deixar de ressaltar, também, o grau de dificuldade que é realizar entrevistas com dirigentes de alguns segmentos de empresas que, estrategicamente, por viverem em ambiente cada vez mais competitivo, não divulgam informações completas e mais elaboradas ao pesquisador.

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283

AANNEEXXOOSS 22 -- DDAADDOOSS EESSTTAATTÍÍSSTTIICCOOSS Tabela 1 - Exportações Brasileiras do Complexo Soja por Empresa – 1990 (em US$)

NOME

PAÍS

Tipo 1

Tipo 2

Produto

Total Exportado

Ceval Agroindustrial S.A Cutrale Quintela Com. e Exp. Ltda. Industrial e Comercial Bras S.A Sanbra Soc. Alg. Nordeste Bras. Cargill Agrícola S.A Braswey S.A Ind. e Com. Bianchini S.A Ind. Com. e Agric. Perdigão Agroindustrial S.A Richco Cereais Com. Exp. Ltda. Olvebra Industrial S.A Frigobras Ind. Bras. de Frigor. Ciba Geigy Química S.A Industrias Gessy Lever Ltda. Ceval Paraná Ltda. Com. e Ind. Bras. Coimbra S.A Sadia Concórdia S.A Ind. e Com. Copasa Ind. de Óleos Veget. Ltda. Indústrias J.B. Duarte S.A Bertol S.A Ind. Com. e Exportação Refinadoras de Óleos Brasil S.A Cocamar Coop. Caf. Agrop. Maringá Granol Ind. Com. e Export. S.A S.A Moinhos Rio Grandenses Ceval Centro-Oeste S.A Cia. Mogiana de Óleos Vegetais Merlin S.A Ind. E Com. de Óleos Veg. Omega Trading S.A Gessy Lever Alimentos S.A Coop. Central Agrop. Campos G. Olvepar Óleos Veg. Paraná S.A Sadia Mato-Grosso S.A União das Coop. do Sul Ltda. Matosul Com. Importação Ltda. Imcopa Imp. Exp. e Ind. de Óleos Socepar Agrop. Ind. e Exp. Richo. Vitória Com. e Exp. Ltda. Lavoura Ind. Com. Oeste S.A Enor Com. Imp. E Export. Ltda. Coop. Central Agrop. do Paraná Caramuru Óleos Vegetais Coop. Reg. Tritícola Serrana Agrafelo Com. De Cereais Ltda. Ovetril Óleos Veg. Treze Filiais Contibrasil Com. e Export. Ltda. Coop. Agrop. Três Fronteiras Indústria de Óleos Pacaembu S.A Baldo S.A Indústria e Exportação Ocidental Commodities Mercantil Angelo Camilotti Cia. Ltda.

Brasil Brasil Brasil

Argentina EUA Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Suiça R.U.

Brasil França Brasil Brasil Brasil Brasil Suiça Brasil Brasil

Argentina Brasil Brasil Brasil Brasil R.U.

Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil EUA Brasil Brasil Brasil

... Brasil

NAC NAC NAC INT INT NAC NAC NAC NAC NAC NAC INT INT NAC INT NAC NAC NAC NAC INT

COOP NAC INT NAC NAC NAC NAC INT

COOP NAC NAC

COOP NAC NAC NAC NAC NAC NAC

COOP NAC

COOP NAC NAC INT

COOP NAC NAC INT NAC

INTEGR TRADING ESMAG INTEGR INTEGR INTEGR ESMAG INTEGR

TRADING INTEGR INTEGR

TRADING INTEGR INTEGR INTEGR INTEGR INTEGR INTEGR INTEGR INTEGR INTEGR INTEGR INTEGR INTEGR INTEGR INTEGR

TRADING INTEGR INTEGR INTEGR INTEGR ESMAG INTEGR INTEGR INTEGR

TRADING TRADING TRADING INTEGR INTEGR INTEGR

TRADING INTEGR

TRADING ESMAG INTEGR ESMAG

TRADING TRADING

Farelo Grãos Farelo Farelo Grãos Farelo Farelo Grãos Grãos Farelo Farelo Farelo Farelo Farelo Farelo Grãos Farelo Farelo Farelo Farelo Farelo Farelo Farelo Farelo Farelo Farelo Farelo Farelo Farelo Farelo Farelo Farelo Grãos Farelo Farelo Grãos Grãos Grãos Grãos Farelo Grãos Grãos Farelo Grãos Farelo Farelo Farelo Grãos Grãos

345.975.244 277.683.031 157.655.775 150.904.122 140.980.253 136.922.688 113.247.301 102.885.236 100.683.341

87.131.074 86.596.709 82.553.766 78.363.216 75.381.613 72.374.556 67.971.384 67.860.372 58.723.184 56.445.270 52.928.315 50.226.189 45.010.747 42.966.614 42.491.208 40.580.310 39.434.761 37.036.388 35.506.050 34.327.454 33.732.952 33.030.809 30.403.434 29.286.245 26.787.172 24.757.528 24.248.310 22.813.326 20.469.758 19.882.910 19.047.954 18.642.323 18.599.432 17.978.203 17.745.725 17.252.127 13.839.493 13.474.609 12.765.916

9.918.119 Segue

Continua

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284

Oleoplan S.A Óleos Veget. Planalto A Perim S.A Ind. e Com. Coop. Agric. Mista Rondon Ltda. Com. de Cer. e Tran. Nunaretto ATC Comércio Internacional Ltda. Sementes Com. e Export. S.A Cereais Migliorini Com. e Exp. Imcopa Ind. de Óleos Vegetais Coop. dos Caf. de Mandaguari Zamboni Exp. e Imp. Diversos Siderúrgica J.L. Alipert S.A Ciampar Prods. Agrícolas Ltda. Coop. Agric. Mista Vale do Piquiri Lt. Pennachi Óleos Vegetais Ltda. Coop. Agropecuária Mista Canarana

Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil

NAC NAC

COOP NAC NAC NAC NAC NAC

COOP NAC NAC NAC NAC

COOP NAC

COOP

INTEGR INTEGR INTEGR

TRADING TRADING TRADING TRADING INTEGR ESMAG

TRADING TRADING TRADING INTEGR

TRADING INTEGR

TRADING

Farelo Grãos Farelo Grãos Grãos Grãos Grãos Farelo Grãos Grãos Grãos Farelo Farelo Grãos Farelo Grãos

6.330.668 8.870.507 8.430.350 6.900.632 5.921.404 5.892.740 5.379.480 4.605.885 4.568.147 4.550.292 4.463.730 4.438.547 4.253.208 4.216.924 4.116.708 4.044.689

TOTAL

3.192.506.427,00

LEGENDAS Tipo 1: NAC = Empresa Nacional INT = Empresa de Capital Internacional COOP = Cooperativas

Tipo 2: INTEGR = Empresas Integradas (em óleos e carnes) ESMAG = Empresas que apenas esmagam a soja TRADING = Empresas que comercializam apenas soja

________________ Fonte: CASTRO (1993)Estudo da Competitividade da Indústria Brasileira - Competitividade na

Indústria de Óleos Vegetais, 1993.

TABELA 2 - Produção Agrícola dos Principais Produtos na Mesorregião Geográfica Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba, 1990-1995

QUANTIDADE PRODUZIDA (em Toneladas)

PRODUTOS 1990 1991 1992 1993 1994 1995 Arroz 90.297 108.513 104.135 92.742 88.700 92.614

Milho 686.535 1.140.515 1.168.597 1.141.871 1.182.308 1.222.086

Soja 536.637 644.663 694.531 799.431 853.109 863.984

Feijão 37.649 34.391 33.778 40.103 32.058 25.129

Cana-de-açúcar 7.332.891 7.228.210 6.737.040 5.922.690 6.307.135 6.856.624

Trigo 13.510 6.369 8.527 15.778 14.493 8.543

Algodão 36.667 45.313 52.032 37.498 43.893 43.194

Café 214.986 185.103 178.770 196.807 225.387 185.609

Tomate 52.871 51.396 45.710 42.690 40.875 44.917

Laranja 629.681 656.896 650.257 1.159.563 1.113.100 1.866.608

Mandioca 122.253 123.516 126.659 131.120 138.263 122.268

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ÁREA PLANTADA (em Hectares)

PRODUTOS 1990 1991 1992 1993 1994 1995

Arroz 87.886 75.750 77.326 69.461 62.129 64.052

Milho 329.039 396.641 387.051 341.421 355.099 368.482

Soja 346.370 311.900 326.687 379.455 393.025 395.034

Feijão 47.488 47.499 42.572 43.686 36.880 30.220

Cana-de-açúcar 103.862 87.987 81.976 78.436 86.084 92.575

Trigo 4.769 2.044 2.737 4.288 3.980 2.962

Algodão 24.829 26.541 25.362 17.633 22.288 27.196

Café 156.519 147.248 139.046 131.302 126.246 122.953

Tomate 1.004 1.015 1.030 933 928 866

Laranja 15.917 16.333 19.263 19.874 22.146 34.066

Mandioca 8.780 8.683 8.674 8.728 9.134 8.295

Fonte: FIBGE/ Levantamento Sistemático da Produção Agrícola – Sidra/97. Tabela 3 - Projetos Desenvolvidos sa Região do Triângulo Mineiro/ Alto Paranaíba com o Apoio do Instituto de Desenvolvimento Industrial de Minas Gerais – INDI [Classificação por Linha de Produção]

Tabela 3.1 ÓLEO, ÓLEO REFINADO, FARELO DE SOJA

EMPRESA LOCALIZAÇÃO

tipo(*)

Investimento US$ MIL

Número de Empregos

LINHA DE PRODUÇÃO

Garcia Ind.Com. Óleos Veg. Ituiutaba NV 8.000,0 50 Óleo refinado de Soja ABC-Inco II Uberlândia EP 20.538,7 132 Óleo e Farelo de Soja ABC-Inco I Uberlândia NV 3.567,7 226 Óleos Vegetais Cargill III Uberlândia NV 19.950,0 150 Óleo e Farelo de Soja Granja Rezende Óleos Uberlândia NV 20.901,6 206 Óleo e Farelo de Soja Fonte: Relação de Empresas Agroindustriais Assistidas pelo INDI-MG [Posição em Julho/96].

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Tabela 3.2 INCUBATÓRIOS, ABATEDOURO DE AVES E AVICULTURA INTEGRADA

EMPRESA LOCALIZAÇÃO

tipo(*)

Investimento US$ MIL

N de Empregos

LINHA DE PRODUÇÃO

Cia. Ibirapuera Avicultura Uberaba EP 602,4 200 Incubatório e Abatedouro Grupo Carfepe Uberlândia EP 7.000,0 300 Avicultura Cia. Ibirapuera Avicultura Uberaba NV 2.827,4 257 Avicultura Integrada Granja Planalto Ituiutaba NV 382,3 10 Avicultura Granja Rezende Uberlândia NV 12.869,3 600 Avicultura Fonte: Relação de Empresas Agroindustriais Assistidas pelo INDI-MG [Posição em Julho/96].

Tabela 3.3

FRIGORÍFICOS, ABATE DE BOVINOS, INDUSTRIALIZAÇÃO DE CARNES

EMPRESA LOCAL

Tipo(*)

Investimento US$ MIL

N de Empregos

LINHA DE PRODUÇÃO

Consórcio Brasil Central (AR) Iturama NV 4.926,6 300 Abate de Bovinos FISA Ituiutaba NV 428,2 50 Frigoríficos Frigorífico Pampulha Uberlândia NV 4.376,6 100 Ind. de Carne Bovina Ind. Carnes e Derivados Patrocínio NV 1.428,2 60 Frigorífico Mafrinorte- Mat. Frig. Norte Uberlândia NV 300,0 200 Abate de Bovinos MURABRAS Perdizes NV 1.354,8 25 Pecuária de Corte Fonte: Relação de Empresas Agroindustriais Assistidas pelo INDI-MG [Posição em Julho/96].

Tabela 3.4 CANA, ÁLCOOL DE CANA E AGUARDENTE

EMPRESA

LOCALIZAÇÃO

Tipo(*)

Investimento US$ MIL

N de Empregos

LINHA DE PRODUÇÃO

Grupo Carlos Lyra Conceição das Alagoas NV 25.000,0 3.000 Álcool Triálcool Canápolis EP 2.474,2 2.570 Cana e Álcool ABC - Agric. e Pecuária Monte Alegre NV 364,5 95 Cana e Álcool Cooproalcool Monte Alegre NV 11.726,6 860 Cana e Álcool Destilaria St Ângelo Pirajuba NV 9.475,8 860 Cana e Álcool Fazenda Vazante Agrop. Tupaciguara NV 4.783,9 450 Cana e Aguardente RB Ind.Com.Aguardente Iturama NV 1.971,0 350 Cana e Aguardente Iturama Agro-Industrial Iturama NV 31.444,3 2.570 Cana e Álcool Triálcool Canápolis NV 15.822,5 1.290 Cana e Álcool Fonte: Relação de Empresas Agroindustriais Assistidas pelo INDI-MG [Posição em Julho/96].

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Tabela 3.5

PROCESSAMENTO DE FRUTAS, POLPAS E SUCOS, DOCES, VEGETAIS SUPERGELADOS E ENLATADOS E

CONSERVAÇÃO DE ALIMENTOS EMPRESA

LOCALIZAÇÃO

Tipo(*)

Investimento US$ MIL

N de Empregos

LINHA DE PRODUÇÃO

COMFRUTA Uberaba NV 1.000,0 300 Frutas Brasfrigo Uberlândia EP 4.370,0 200 Vegetais Supergelados Maguary Araguari EP 5.850,0 71 Suco de Frutas Brasfrigo Uberlândia NV 1.989,5 120 Câmara Fria Celarmig Indul. (P) Frutal NV 1.066,1 86 Processamento de Abacaxi Centrofructo Uberlândia NV 7.030,0 110 Polpa de Tomate e Goiaba Maguary Araguari NV 658,1 200 Suco de Maracujá Pomar S.A Indl. Coml. Araguari NV 1.000,0 45 Processamento de Sucos Sucotrisa Uberlândia NV 1.836,3 200 Prod. Abacaxi, Soja, Etc. Swift Armour Ind. Com. Uberlândia NV 2.000,0 250 Vegetais Enlatados Doces Cecília Ltda. Araxá EP 300,0 25 Doces Fonte: Relação de Empresas Agroindustriais Assistidas pelo INDI-MG [Posição em Julho/96].

Tabela 3.6 PROCESSAMENTO, ARMAZENAGEM, TORREFAÇÃO E MOAGEM DE CAFÉ

EMPRESA

LOCALIZAÇÃO

Tipo(*)

Investimento US$ MIL

N de Empregos

LINHA DE PRODUÇÃO

Coop. Cafeicultores Planalto de Araxá

Araxá NV 18.670,0 33 Processamento de café para exportação

Acarpa Patrocínio NV 2.000,0 100 Armazenagem e processamento de café

Acarpa Araguari NV 3.400,0 74 Armazenagem e processamento de café

Torrefadora de Café Campos Altos

Campos Altos NV 75,0 11 Torrefação e moagem de café

Fonte: Relação de Empresas Agroindustriais Assistidas pelo INDI-MG [Posição em Julho/96].

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Tabela 3.7

PROCESSAMENTO DE LEITE, LEITE LONGA VIDA, LEITE EM PÓ, QUEIJOS, MANTEIGA E DOCES

EMPRESA

LOCALIZAÇÃO

Tipo(*)

Investimento US$ MIL

N de Empregos

LINHA DE PRODUÇÃO

Copapi Itapagipe NV 6.500,0 32 Leite Longa Vida Latic. e Doces Araxá Araxá NV 400,0 35 Doce de leite e queijos Latic. Letícia Ltda. Araxá NV 1.000,0 30 Proces. De leite/ queijos Copervale Uberaba EP 1.500,0 10 Leite Longa Vida Indústria de Leite Patrocínio Ltda.

Patrocínio

EP

640,1

30

Leite pasteurizado, doce de leite, manteiga e queijo

Nestlê Ituiutaba EP 4.243,5 112 Leite em pó Nestlê Ituiutaba EP 18.235,0 70 Leite em pó Prolat Tupaciguara EP 286,3 05 Manteiga de leite Arca Agroindustrial Perdizes NV 2.104,0 37 Laticínio - leite tipo A Coop. Pontal Triângulo Ituiutaba NV 400,0 19 Leite resfriado Ind. Leite Patrocínio Patrocínio NV 112,1 06 Leite C, doce de leite Laticínio Scala Sacramento NV 492,7 35 Queijos Prolat Uberlândia NV 9.547,6 314 Laticínios diversificados Fonte: Relação de Empresas Agroindustriais Assistidas pelo INDI-MG [Posição em Julho/96].

Tabela 3.8 MOAGEM DE TRIGO, MASSAS ALIMENTÍCIAS

EMPRESAS

LOCALIZAÇÃO

tipo(*)

Investimento US$ MIL

N de Empregos

LINHAS DE PRODUÇÃO

Grupo Carfepe Uberlândia EP 15.000,0 30 Moagem de trigo Nestlê Uberlândia EP 11.769,5 62 Massas Fonte: Relação de Empresas Agroindustriais Assistidas pelo INDI-MG [Posição em Julho/96].

Tabela 3.9 BENEFICIAMENTO DE ALGODÃO

EMPRESAS LOCALIZAÇÃO

tipo(*)

Investimento US$ MIL

N de Empregos

LINHAS DE PRODUÇÃO

Artex Capinópolis NV 1.104,8 50 Algodão Maeda S.A Ind. Com. Capinópolis NV 3.650,0 86 Beneficiamento de Algodão Fonte: Relação de Empresas Agroindustriais Assistidas pelo INDI-MG [Posição em Julho/96].

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Tabela 3.10

PROCESSAMENTO DE MILHO E DERIVADOS, AMENDOIM E FEIJÃO PRODUÇÃO DE SEMENTES E RAÇÕES

EMPRESA

LOCALIZAÇÃO

Tipo(*)

Investimento US$ MIL

N de Empregos

LINHA DE PRODUÇÃO

Cargill IV Uberlândia NV 68.500,0 200 Processamento de Milho Cargill I Capinópolis NV 153,2 20 Produção de Sementes Garcia Ind. Com. de Produtos Alimentícios

Ituiutaba NV 2.500,0 60 Derivados de Milho, Amendoim e Feijão

Rações Tapuia Ltda. Pirajuba NV 1.500,0 20 Rações Animais Fonte: Relação de Empresas Agroindustriais Assistidas pelo INDI-MG [Posição em Julho/96].

Tabela 3.11 CIGARROS

EMPRESA LOCALIZAÇÃO

tipo(*)

Investimento US$ MIL

N de Empregos

LINHAS DE PRODUÇÃO

Cia. Souza Cruz Uberlândia EP 475.000,0 450 Cigarros Cia. Souza Cruz Uberlândia NV 53.587,0 1.045 Cigarros Fonte: Organização: João Cleps Jr.

Relação de Empresas Agroindustriais Assistidas pelo INDI-MG [Posição em Julho/96]. (*) IN = Implantação Iniciada OI = Operação Iniciada EP = Projeto em Expansão NV = Projeto Novo P = Paralisado

AR = Arrendado

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Quadro 1 Microrregião Geográfica de Uberlândia - Relação das Principais Indústrias de Processamento de Frutas in natura [Sucos, polpas, compotas e doces]

Empresa

Localização

Capacidade de Processamento (toneladas/dia)

Matérias-

Primas

Processadas

Origem da Produção

Destino da Produção

Marca

Instalada Atual 1. Ind. Alim. Maguary Ltda

Araguari

12.000

3.000

Abacaxi - suco

Prata(MG), Sapé(PB)

Mercado Interno (MI)

Maguari

[Fleischmann & Royal] 40.000 20.000 Maracujá - suco Região do Triângulo Mineiro/ RJ, PE e outros

Idem

9.000 1.500 Manga - suco Minas Gerais Idem 9.000 1.000 Goiaba - suco Estado de São Paulo Idem 2. Ind. Da Fruta Araguari 1.900 966 Abacaxi - polpa Estado de Tocantins M.I. Da Fruta 24.000 12.000 Maracujá - suco Triângulo Mineiro e

Estado da Bahia Idem

2.250 1.125 Manga - suco Região de Paracatu (MG)e Espírito Santo

Idem

2.400 1.200 Goiaba - suco Estado de São Paulo M.E. - Holanda 1.400 720 Uva - suco Rio Grande do Sul M.I. 600 300 Tamarindo/ suco Região Nordeste Idem 3. Exotic Juice Monte

Alegre 20.000 4.000 Abacaxi - suco Monte Alegre (MG) e

Canápolis (MG) Araguari, S.Paulo e Paraná/ Holanda (ME)

(1)

5.000 Maracujá - suco 80.000 Laranja - suco 3.000 Banana/ compota 1.000 Manga - suco 500 Goiaba - suco 300 Acerola - suco 200 Mamão - suco Segue Continua

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4. Ind. Alim. Doce Forte

Monte Alegre

300

200

Abacaxi - polpa

Região do Triângulo Mineiro (Canápolis, Monte Alegre e Centralina)

Estados do Espírito Santo, São Paulo e outros

Doce Forte

50 50 Morango - polpa Jundiaí-SP Espírito Santo e São Paulo

50 50 Ameixa - polpa Argentina idem 6 6 Kiwi - polpa Chile idem 5. Sintagro - Fazenda Prata Prata 6.000 3.000 Abacaxi - suco Produção própria São Paulo e indústria

de Araguari (2)

12.000 6.000 Abacaxi – compota

idem idem

6. Indústria Angorá (*) Tupaciguara 60 24 Banana-da-terra – doce

Triângulo Mineiro M.I. Angorá

60 24 Marmelo - doce (banana nanica)

idem idem

60 24 Goiaba - doce idem 12 4 Mamão - doce idem 12 4 Cidra - doce idem 12 4 Coco-da-bahia-

doce Região Nordeste idem

7. Doce Mineiro Ltda. Canápolis 180.000 500 Abacaxi - polpa c/ açúcar

Canápolis, Centralina e Monte Alegre de Minas

São Paulo, Região Sul (PR, SC, RS) e Países do MERCOSUL

Triângulo Mineiro

30.000 10.000 Abacaxi/ compota 8. Rodolfo Jahn & Cia. Ltda. (**)

Canápolis 3.000 6.000 Abacaxi Canápolis séde em Guará, Santa Catarina

Roja

9. Indústria Pomar (***)

Araguari 7.140 3.570 Caju - suco Região Nordeste Mercado Interno Pomar

Fonte: Pesquisa de Campo/ Indústrias - agosto 1996 Org. João Cleps Jr. (*) o produto principal da empresa é o doce de leite, que opera com 50% da capacidade instalada de 4.320 ton./ano, além da produção de doce de amendoim, com a produção atual de 4 ton./ano e capacidade instalada de 12 ton./ano; (**) a empresa opera também pepino em conserva, com capacidade de produção de 180 ton./ano; (***) a indústria atua apenas no envasamento de sucos produzidos por outras empresas. (1) A distribuição dos produtos da Exotic Juice é feita pelo grupo suiço Hikona (Pineapplejuice); além de produzir para Parmalat, Da Fruta e Gota de Sol em forma de terceirização de marcas. (2) A Sintagro, além de processar frutas para produção de sucos e compotas para a indústria de alimentos, produz tembém com exclusividade essências de eucalipto (para a indústria alimentícia e de perfumarias) para a subsidiária da empresa americana IEF, com séde no Rio de Janeiro.

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