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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE ECONOMIA CURSO DE GRADUAÇÃO DE CIÊNCIAS ECONÔMICAS HUMBERTO DO BOMFIM LUZ DISTRIBUIÇÃO ESPACIAL DA INDÚSTRIA DE PRODUTOS PLÁSTICOS NO ESTADO DA BAHIA EM 2007 E 2017 SALVADOR 2019

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

FACULDADE DE ECONOMIA

CURSO DE GRADUAÇÃO DE CIÊNCIAS ECONÔMICAS

HUMBERTO DO BOMFIM LUZ

DISTRIBUIÇÃO ESPACIAL DA INDÚSTRIA DE PRODUTOS

PLÁSTICOS NO ESTADO DA BAHIA EM 2007 E 2017

SALVADOR

2019

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HUMBERTO DO BOMFIM LUZ

DISTRIBUIÇÃO ESPACIAL DA INDÚSTRIA DE PRODUTOS

PLÁSTICOS NO ESTADO DA BAHIA EM 2007 E 2017

Trabalho de conclusão de curso apresentado ao curso de Ciências Econômicas da

Universidade Federal da Bahia, como requisito parcial para a obtenção do grau de

bacharel em Ciências Econômicas.

Área de concentração: Economia Regional

Orientador: Prof. Dr. Gervásio Ferreira dos Santos

SALVADOR

2019

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Ficha catalográfica elaborada por Valdinea Veloso Conceição CRB5-1092

Luz, Humberto do Bomfim

L979 Distribuição espacial da indústria de produtos plásticos no Estado

da Bahia em 2007 e 2017 / Humberto do Bomfim Luz. - Salvador: 2019.

59f. il. fig. tab.

Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Economia) -

Faculdade de Economia, Universidade Federal da Bahia, 2019.

Orientador: : Prof. Dr. Gervásio Ferreira dos Santos

1.Economia regional 2. Indústria - Bahia 2. Incentivos Fiscais.

I. Santos, Gervásio Ferreira dos II. Título III. Universidade Federal da

Bahia.

CDD 338.98142

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HUMBERTO DO BOMFIM LUZ

DISTRIBUIÇÃO ESPACIAL DA INDÚSTRIA DE PRODUTOS

PLÁSTICOS NO ESTADO DA BAHIA EM 2007 E 2017

Trabalho de conclusão de curso apresentado ao curso de Ciências Econômicas da

Universidade Federal da Bahia, como requisito parcial para a obtenção do grau de bacharel

em Ciências Econômicas.

BANCA EXAMINADORA

Aprovado, 10 de julho de 2019

Orientador: ____________________________________________

Prof. Dr. Gervásio Ferreira dos Santos

Faculdade de Economia da UFBA

________________________________________

Prof. Dr. Lívio Andrade Wanderley

Faculdade de Economia da UFBA

________________________________________

Me. Fernanda Oliveira Caires e Caires

Doutoranda em Economia-UFBA.

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Dedico este trabalho a minha mãe, que se esforçou

tanto quanto eu, para vê-lo finalizado.

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RESUMO

Este trabalho tem como objetivo analisar a eficácia da política de atração de investimentos

da indústria de plásticos no Estado da Bahia no período entre 2007 e 2017. Essa análise se

justifica pela importância da atividade de transformação plástica estadual no âmbito da

matriz industrial da Bahia, além da expansão de aglomerado de firmas pertencentes à

indústria ao longo do período analisado. A abordagem dessa pesquisa gira em torno da

contribuição das principais políticas implementadas pelo governo baiano, particularmente o

Programa de Desenvolvimento da Indústria Plástica - Bahiaplast, e o Programa de

Desenvolvimento Industrial e de Integração Econômica do Estado da Bahia – Desenvolve.

Para se atingir o escopo proposto, faz-se necessário uma revisão dos conceitos teóricos que

suportaram as políticas de desenvolvimento regional, assim como avaliar se os Programas de

atração de investimentos do governo do estado contribuíram, mediante diretrizes que se

propôs, para o alcance dos resultados esperados na formação de adensamentos industriais,

integração e verticalização das cadeias produtivas, desenvolvimento e assimilação de novas

tecnologias essenciais ao desenvolvimento econômico e social no Estado. A metodologia

utilizada foi a análise exploratória de dados espaciais; através de indicadores do grau de

concentração da indústria no estado, índice de Moran e do Índice Local de Associação

Espacial (LISA) para identificar as principais regiões potenciais de aglomerações de

transformadores de resinas plásticas na Bahia ao longo da última década. Os resultados

mostraram que o Programa Desenvolve do governo do Estado apresentou resultado positivo

na geração de empregos no setor, no entanto, com pouco efeito no processo de interiorização

e desconcentração da indústria plástica no estado.

Palavras chave: Indústria. Bahia. Incentivos Fiscais. Desconcentração industrial.

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SUMMARY

This work aims to analyze the effectiveness of the investment attraction policy of the

plastics industry in the State of Bahia in the period between 2007 and 2017. This analysis is

justified by the importance of the activity of state plastic transformation within the scope of

the industrial matrix of Bahia, besides of the expansion of agglomerate of firms belonging to

the industry during the analyzed period. The approach of this research revolves around the

contribution of the main policies implemented by the Bahia government, particularly the

Plastic Industry Development Program - Bahiaplast, and the Bahia State Industrial

Development and Economic Integration Program - Desarrollo. In order to reach the

proposed scope, it is necessary to review the theoretical concepts that supported the regional

development policies, as well as to evaluate if the State Government's Investment

Attractiveness Programs contributed, through proposed guidelines, to reach the expected

results in the formation of industrial densities, integration and verticalization of production

chains, development and assimilation of new technologies essential for economic and social

development in the State. The methodology used was the exploratory analysis of spatial

data; through indicators of the concentration of industry in the state, Moran index and the

Local Spatial Association Index (LISA) to identify the main potential regions of

agglomerations of plastic resin transformers in Bahia over the last decade. The results

showed that the Development Program of the State Government presented a positive result

in the generation of jobs in the sector, however, with little effect on the process of

internalization and deconcentration of the plastic industry in the state.

Keywords: Industry. Bahia. Tax breaks. Industrial deconcentration.

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Incentivos Fiscais Previstos Pelo Bahiaplast 26

Tabela 2 Comportamento anual do projeto da Bahiaplast (1999-2005) 26

Tabela 3 – Participação da Região Metropolitana de Salvador no Produto

Interno Bruto do estado da Bahia 45

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 – Cadeia Produtiva Petroquímica 15

Figura 2 – Perfil da Indústria de Transformado Plástico 16

Gráfico 1 – Balança Comercial do setor de Transformados Plásticos 2007-2017

(Em R$ milhões) 19

Gráfico 2 – Participação da Região Metropolitana de Salvador no Produto

Interno Bruto do estado da Bahia 46

Quadro 1 – Autocorrelação espacial – Indústria Plástica (2007 – 2017) 47

Quadro 2 – Autocorrelação espacial – Empregos da Indústria

Plástica (2007 – 2017) 48

Quadro 3 – LISA: mapas de clusters para indústrias plásticas baiana (2007-2017) 49

Quadro 4 – LISA: mapas de significância para indústrias plásticas baiana (2007-2017) 50

Quadro 5 – LISA: mapas de cluster de empregos da indústria plástica

baiana (2007-2017) 50

Quadro 6 - LISA: mapas de mapas de significância de empregos da indústria

plástica baiana (2007-2017) 51

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO 9

2 ESTRUTURA DA INDÚSTRIA DE PLÁSTICO E BORRACHA 14

2.1 CARACTERISTICA DA INDÚSTRIA PLÁSTICA 14

2.2 PANORAMA DA INDÚSTRIA PLÁSTICA: UMA BREVE ANÁLISE 16

2.2.1 O desempenho do setor plástico no Brasil entre 2007 e 2017 18

2.3 O CRESCIMENTO DA INDÚSTRIA DE PLÁSTICO NA BAHIA 19

2.3.1 O desempenho do setor entre 2007 e 2017 19

2.3.2 Incentivos governamentais e a expansão da indústria na Bahia 20

2.3.3 Programas de incentivos governamentais para a indústria baiana 22

2.3.4 Programas de inventivos para a indústria baiana: Bahiaplast e Desenvolve 24

3 REFERENCIAL TEÓRICO: TEORIA CLÁSSICA DA LOCALIZAÇÃO 29

E A NOVA GEOGRAFIA ECONOMICA

3.1 TEORIAS CLÁSSICAS DE LOCALIZAÇÃO 29

3.1.1 Von Thünen 29

3.1.2 Alfred Weber 31

3.1.3 August Lösch 32

3.2 ALFRED MARSHALL E SUA CONTRIBUIÇÃO DA LOCALIZAÇÃO 33

3.3 A NOVA GEOGRAFIA ECONOMICA E OS FATORES 35

DETERMINANTES DA LOCALIZAÇÃO INDUSTRIAL

3.3.1 O modelo centro-periferia 36

4 ANÁLISE EXPLORATÓRIA DOS DADOS ESPACIAIS 39

4.1 MAPAS DE PERCENTIL 39

4.2 ÍNDICE GLOBAL DE MORAN 39

4.3 ÍNDICE LOCAL DE ASSOCIAÇÃO ESPACIAL (LISA) 40

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5 O PADRÃO DE DISTRIBUIÇÃO ESPACIAL DA INDÚSTRIA 43

DE PLÁSTICO NO ESTADO DA BAHIA

5.1 CARACTERIZAÇÃO GERAL DA INDÚSTRIA 43

5.1.1 Analise da indústria de plástico na Bahia 43

5.2 ÍNDICE GLOBAL DE MORAN 46

5.3 ÍNDICE LOCAL DE ASSOCIAÇÃO ESPACIAL (LISA) 48

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS 53

REFERÊNCIAS

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1 INTRODUÇÃO

No exercício de articulador e incentivador de ações que fomentasse o desenvolvimento

econômico regional, o Governo do Estado da Bahia, com o objetivo de promover o

crescimento e a diversificação do seu parque industrial no decurso dos anos 1990,

desenvolveu alguns instrumentos que desempenham função catalizadora de investimentos

para o Estado, como forma de estimular à expansão do setor industrial na Bahia e estimulasse

uma transformação nas bases de sua estrutura produtiva.

Durante os anos de 1990 diferentes programas foram desenvolvidos e implementados em

diversos setores, sobretudo, programas direcionados a setores específicos e estratégicos no

desenvolvimento econômico e industrial do Estado, a exemplo do setor de transformados

plásticos, dado a sua importância e relevante na indústria brasileira.

Atualmente, o setor de Plástico e Borracha se destaca na indústria de transformação, sendo

responsável por 0,9% do PIB nacional e 38,85% do valor bruto da produção por segmento,

conforme dados da Associação Brasileira da Indústria do Plástico (Abiplast). Esta indústria

apresenta grande destaque no comércio externo brasileiro, detendo o posto de maiores

consumidores de plástico no mundo, segundo a Abiplast (2017), com 13,2% do consumo de

transformados plástico mundial.

Este trabalho tem como objetivo analisar a eficácia da política de atração de investimentos da

indústria de plásticos no Estado da Bahia no período de 2007 e 2017, frente às principais

diretrizes do Programa de Desenvolvimento Industrial e de Integração Econômica do Estado

da Bahia. Essa análise se justifica pela importância da atividade de transformação da indústria

plástica no âmbito da matriz industrial do Estado, além da expansão de aglomerado de firmas

pertencentes à indústria ao longo do período analisado e assimilação de novas tecnologias

essenciais ao desenvolvimento econômico e social no território baiano.

As mudanças advindas das relações de comércio e outras reformas decorrentes como abertura

comercial brasileira e o surgimento de grandes blocos, a exemplo do Mercosul e da União

Europeia, contribuíram para formação estrutural e o aumento da competividade das indústrias

locais, pois com a maior presença de produtos externos, isso significou o aperfeiçoamento dos

itens produzidos pelas firmas domésticas, em especial nos setores em que os insumos

necessários a esses processos se tornaram mais disponíveis e competitivos, ocasionando

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alterações significativas nos mercados internos e externos e, por conseguinte, aumentando as

transações comerciais entre os países participantes. Estas mudanças incluem os setores

primário e secundário, nos quais se encontram a indústria plástica.

Contudo, após a abertura comercial nos anos 1990, tais transformações do ambiente

competitivo puseram em dúvida a continuidade e o desempenho de firmas até mesmo em seu

próprio território local. Esta situação ocorreu devido ao alto nível de competividade que as

empresas estavam sujeitas com a fragmentação de barreiras e mudança do perfil do

consumidor. Para (CASTON, TAPSCOTT, 1995; BRAGA, 1999 apud DALMORO, 2009), a

competividade “surge não apenas de concorrências, mas de novos entrantes a partir da

desintegração de carreiras de acessos a mercados anteriormente isolados e protegidos por

barreiras tarifárias e não tarifárias”.

Soma-se ao cenário de competitividade, o elevado nível de concentração da indústria no

Brasil, tendo como palco central a região Sudeste, principalmente, por ser o maior centro

econômico e financeiro do país, além de ser dominante de diferentes setores da atividade

industrial da produção interna, após o processo de industrialização brasileira nos anos de

1930.

Neste contexto, o país passou por mudanças significativas em sua conjuntura

macroeconômica. Estas estiveram associadas diretamente a fatores endógenos como, por

exemplo, a entrada do Plano Real, instabilidade econômica e abertura das transações

econômicas. Vale ressaltar que nesta fase tais adventos permitiram o crescimento das

importações de insumos e bens de capitais essenciais na indústria de transformação, não

sendo diferente com a indústria de plástico.

O contexto fez com que fosse necessária uma política que viabilizasse o eixo da

industrialização para outras regiões do País, inclusive na tentativa de modificar a moldura de

inércia e atraso que as economias menos desenvolvidas mantinham em relação às mais

desenvolvidas, sobretudo, diante da ausência de políticas de desenvolvimento regional,

ausente de tais ações desde meados da década de 1980.

Desse modo, segundo Oliveira (2008), a Bahia, na tentativa de mudar o quadro de estagnação

e declínio que sua economia vinha passando desde meados da década de 1980, intensificou, a

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partir dos anos de 1990, o uso da política de atração de novos investimentos através da

concessão dos incentivos fiscais, financeiros e de infraestrutura.

A atuação contundente do Governo da Bahia para solucionar o agravante derivado da

ausência de políticas que promovessem o crescimento e desenvolvimento industrial do estado,

sustentou-se na defensa de um plano industrialista, apoiado nos pilares de ideias

estruturalistas da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal), de que para

consolidar a trajetória de industrialização e desenvolvimento econômico de setores, fazia-se

necessário a criação das cadeias industriais capazes de fomentar externalidades para toda

matriz industrial do estado, ao modificar a inserção de novas indústrias com atração e

assimilação de novas tecnologias para a região.

A resposta do Estado na busca de solução para os desequilíbrios industriais fez surgir uma

dinâmica estratégica de política de atração de investimento buscando, sobretudo, criar

mecanismos próprios de prospecção de investimentos, no sentido de corrigir fatores exógenos

que inviabilizavam a instalação de empreendimentos em diversas regiões do estado. Logo, os

mecanismos para atração de investimento respaldam-se em políticas de indução ao

desenvolvimento industrial como forma de implementar inovação tecnológica e

desconcentração espacial da indústria no estado. Além disso, as políticas de atração

transcorrem com o escopo de corrigir distorções decorrentes da ausência de estímulos que

outras políticas não foram capazes de solucionar.

Nesse sentido, visando desempenhar um papel fundamental no desenvolvimento da matriz

industrial do estado, o governo baiano adotou um conjunto de políticas ativas de atração de

investimentos, em particular para o setor de plástico e borracha, formulando e implementando

partir da década de 1990, o Programa de Incentivo à Transformação Plástica (Bahiaplast),

como ficou conhecido e instituído pela Lei n° 7.351, de 15 de julho de 1998 e regulamentado

pelo Decreto n° 7.439, de 17 de setembro de 1998 com o seguinte objetivo: fomentar a

instalação de novos empreendimentos industriais no segmento de transformação petroquímica

e plástico, além de fomentar o adensamento da cadeia produtiva do setor plástico, no parque

industrial baiano (BAHIA, 1998).

Em 2002, visando melhorar a estrutura espacial da matriz industrial do estado, propondo-se a

diversificação do parque industrial com a integração das cadeias produtivas consideradas

relevantes à economia do estado, além de buscar mecanismo que trouxesse segurança frente

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às fatores exógenos a economia baiana, foi criado o Programa de Desenvolvimento Industrial

e de Integração Econômica do Estado da Bahia (DESENVOLVE), instituído pela Lei n°

7.980, de 12 de dezembro de 2001, e encontra-se regulamentado pelo Decreto n° 8.205, de 03

de abril de 2002.

Ademais, antes de tratar das políticas indutoras da indústria de transformação do plástico,

cabe uma breve exposição quanto à série de teorias que tem como principal objetivo o

desenvolvimento econômico das regiões. Assim, corroborando com o objetivo desse trabalho,

dentre as diversas vertentes possíveis, optou-se por tentar explicar a eficácia da política de

atração de investimentos da indústria de plásticos no estado da Bahia, por meio da ótica da

nova geografia econômica e seu modelo econômico de centro-periferia (CP), cujo principal

expoente é Paul Krugman. Far-se-á uma breve explanação de algumas correntes voltadas para

o desenvolvimento regional, particularmente daquelas que, de certa forma, podem suscitar

uma ação pública mais ativa, a exemplo da teoria do distrito industrial marshalliano com

objetivo de analisar o padrão de geolocalização da indústria de plástico no estado da Bahia.

Diante do contexto apresentado, o problema de pesquisa da presente monografia é: qual é a

eficácia das políticas de atração de investimento no setor de plásticos no estado da Bahia?

Para responder esta questão, utiliza-se da análise exploratória de dados espaciais através de

mapas de estatísticas, do índice de Moran e do Índice Local de Associação Espacial (LISA)

para determinar o grau de concentração da indústria no Estado.

Os dados utilizados por este trabalho são oriundos da Relação Anual de Informações Sociais

(RAIS), e dizem respeito às variáveis: número de estabelecimentos e número de empregos

formais do setor de plástico e borrachas. Os índices de Moran e LISA serão gerados para o

setor de plástico e borrachas, o qual será denominado de cadeia petroquímica. Desta forma,

será feita uma análise para o setor de plástico e os programas de incentivos relacionados ao

fomento da indústria plástica, que é o objeto de estudo deste trabalho, examinando dessa

forma, os aglomerados produtivos e o comportamento da indústria plástica no Estado.

Além dessa introdução, esta monografia é composta de mais seis capítulos. No segundo

capítulo, caracteriza-se a indústria plástica e se apresenta o contexto histórico da evolução da

industrialização baiana. A terceira seção se dedica a abordar as teorias dos determinantes

locacionais, expondo as vantagens de localização, considerando também suas diferentes

intensidades tecnológicas e as políticas que fomentaram e direcionaram os investimentos

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neste estado. O quarto capítulo refere-se à análise de dados. Neste capítulo utiliza-se o índice

de Moran e LISA como forma de mensurar a concentração espacial e inferir acerca da

evolução da indústria no estado. O quinto capítulo aborda o padrão de distribuição espacial da

indústria plástica no estado, enquanto que na última seção tem-se as considerações finais.

Sendo assim, este trabalho possui como principal finalidade avaliar a eficácia da política de

atração de investimentos, para a conformação de um aglomerado de firmas pertencentes à

atividade da indústria de transformação plástica no desenvolvimento industrial do estado da

Bahia.

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2 ESTRUTURA DA INDÚSTRIA DE PLÁSTICO E BORRACHA

Esse capítulo tem como objetivo caracterizar a indústria plástica, evidenciando o papel

produtivo no Brasil e no Estado da Bahia. No País, a indústria do plástico apresentou

significativa expansão nos últimos anos e o estado da Bahia tem atuado com participação

importante na criação de empregos e empresas do setor de transformados plásticos. Foi

realizado um levantamento de dados históricos sobre o setor, bem como uma revisão

bibliográfica de publicações pertinentes ao objetivo deste trabalho monográfico. Foram

descritos alguns aspectos do Programa de Desenvolvimento Industrial e de Integração

Econômica do Estado da Bahia (DESENVOLVE), que são pertinentes a este trabalho, uma

vez que é o ponto de partida para a análise da eficácia da política de atração de investimentos

para a conformação de um aglomerado de firmas pertencentes à indústria de transformação

plástica no Estado da Bahia.

2.1 CARACTERISTÍCA DA INDÚSTRIA PLÁSTICA

Corroborando com o escopo de análise desta pesquisa, optou-se por classificar a distribuição

setorial da indústria Plástica e Borracha de acordo com as divisões da Classificação Nacional

de Atividades Econômicas (CNAE), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

O nível de detalhamento do CNAE, correspondente a divisão 22 – relacionado a fabricação de

produtos de borracha e de material plástico, pertencente à seção C – Indústria de

Transformação e que são cadastradas e registradas pela administração pública do país

(INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 2003).

Deve-se ressaltar que, a indústria de produtos de materiais plásticos e componentes é

responsável por integrar a cadeia produtiva da indústria petroquímica, fazendo parte da sua

terceira geração. Segundo Lima e Spínola (2005), a primeira e segunda geração são os

derivativos da cadeia petroquímica, sendo a montante os fornecedores de resinas, e a jusante

os produtores de bens intermediários. Após ser realizada a extração do petróleo, dá-se início a

etapa para o processamento do óleo como refino, do qual surge o gás natural e nafta, ambos

considerados principais matérias-primas básicas da cadeia petroquímica.

No Brasil, a distribuição das matérias-primas citadas é realizada pela Petrobras, – empresa

estatal brasileira – ou via de importação caracterizando, desse modo, a primeira geração.

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Lima e Spínola (2005) destacam as principais empresas produtoras e sua origem em vários

fatores, que podem ser resumidos em três blocos:

A Petroquímica União (em São Paulo), a Capesul (no Rio Grande do Sul) e a

Braskem (na Bahia) decompõem a nafta, produzindo uma série de produtos (eteno,

propeno, benzeno, butadieno, paraxileno, tolueno), denominados de petroquímicos

básicos, que são utilizados como insumos pelas empresas responsáveis pela segunda

geração da cadeia. Com a entrada em operação do Rio Polímeros (no Rio de Janeiro)

em 2005, a cadeia produtiva petroquímica brasileira ganhou mais uma central de

produção de matérias primas, a partir do fracionamento do etano do gás natural

extraído da Bacia de Campos.

Os autores concluem afirmando que as unidades da segunda geração transformam os produtos

básicos em resinas termoplásticas que se constituem, finalmente, nos insumos fundamentais à

produção de transformados plásticos. Com isso, chega-se então na terceira geração da cadeia

produtiva, constituindo-se em produtos acabados, prontos para serem utilizados para o

consumo ou novamente agregados à produção de outros segmentos.

Figura 1 – Cadeia Produtiva Petroquímica

Fonte: Ribeiro e Spínola (2003)

Quanto ao perfil da indústria plástica no Brasil, nota-se um crescimento da atuação no número

de empresas a medida em que há um avanço na cadeia produtiva. No Brasil, na primeira

geração existem apenas quatro produtores relacionados a petroquímicos básicos, enquanto,

aproximadamente, nove mil centrais respondem pela terceira geração, com fabricação de

produtos de transformados plásticos, conforme indica a Figura 1.

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Deste número de empresas, as Micro e Pequenas Empresas na indústria de Transformados

Plásticos representam 94,3% quando avaliadas pelo número de pessoas empregadas. Contudo,

quando a avaliação é realizada pelo faturamento as MPE’s representam apenas 78%, o que

demonstra a capacidade de geração de valor do setor de Transformados Plásticos (IBGE,

2017).

Figura 2 – Perfil da Indústria de Transformado Plástico

Vale ressaltar que em nível nacional a indústria de transformados plásticos apresenta uma

configuração de grupos de empresas com características específicas das quais, de forma geral,

são “agrupados” em termos de produtos/materiais, destinados aos setores automobilístico,

eletroeletrônico, embalagens, utilidades domésticas e construção civil. Ademais, o

“alinhamento” das empresas não é perfeito, uma vez que existem empresas que atuam em

apenas uma cadeia de produção, bem como existem aquelas que não atendem a requisitos de

desempenho, e assim migram de uma cadeia para outra (FLEURY; FLEURY, 2011).

2.2 PANORAMA DA INDÚSTRIA PLÁSTICA: UMA BREVE ANÁLISE

A indústria de plástico experimentou um notável ritmo de crescimento como um todo no

Brasil nos últimos anos. Alguns fatores influenciariam o desenvolvimento industrial

experimentado, a saber: o melhoramento da estrutura produtiva do país após a abertura

comercial, a implantação de plantas e novos segmentos que passaram a exercer força sobre as

importações de bens de capital e a estabilização no contexto macroeconômico advinda com o

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Plano Real, o que permitiu maiores condições para os ingressos líquidos de investimento

direto estrangeiro (IDE) na economia brasileira (RODRIGUES, 1999).

Rodrigues (1999), afirma que as tendências de reestruturação produtiva são visíveis desde a

virada da década de 1990, marcada por forte mudança nos parâmetros que balizam as

condições de concorrência no mercado doméstico, e se acentuam com a vigência do programa

de estabilização monetária. Ademais, segundo Cano (2015), a alta existência da grande

capacidade ociosa possibilitou a formação e o êxito do processo de industrialização no

mercado interno, o qual, à medida que essa capacidade se esgotava, a implantação de novas

plantas em novos segmentos passou a exercer barreiras sobre as importações.

Vale ressaltar que o Brasil adotou várias medidas institucionais no início da década de 1990,

que segundo Rodrigues (1999), foram instrumentos que contribuíram para o êxito de

reestruturação e crescimento de alguns setores, sendo significativa a participação do Banco

Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) ao tornar a entrada de IDEs

mais atrativas no país, com destaque nas áreas de: (i) concessão de financiamento para dar

suporte de capital aos empreendimentos; (ii) a diminuição dos parâmetros regulatórios do

Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI), que visa deliberar sobre acordos de

transferência de tecnologia; e (iii) a redução do imposto de renda sobre remessas. Segundo

Moreira (2014), todas estas mudanças tornaram o Brasil mais atrativo à entrada de recursos

estrangeiros, favorecendo o desenvolvimento da indústria nacional.

Por conseguinte, apesar das condições favoráveis ao desenvolvimento da indústria nacional

em diferentes setores da economia, apoiada por combinação de fatores econômicos e

políticos-institucionais, faltava uma política regional nacional que minimizasse a tendência à

concentração industrial nos estados do Sul e Sudeste.

A maneira de promover este desenvolvimento industrial tem sido umas das principais

discussões no âmbito nacional. As competições entre as federações na atração dos

investimentos privados põem em evidencia o enfraquecimento do pacto federativo ao

perceber a interferência na alocação dos recursos privados. Outros agentes defendem tais

políticas como instrumentos para promover a atração de investimentos e o emparelhamento

dos estados menos desenvolvidos em relação aos mais industrializados. (AMARAL FILHO,

2003).

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Conceição (2002) compartilha desta ideia e que explica que os Estados potencializam a

capacidade de organizar e planejar as ações de instituições públicas e privadas direcionadas à

construção de ambientes favoráveis ao crescimento econômico. Ainda de acordo com o citado

autor, o objetivo mais importante não consiste somente em viabilizar novos investimentos,

mas em realizar um corte na dependência dos Estados em relação à esfera federal.

Sendo assim, essa forma de promover política de atração de investimento para a

desconcentração industrial brasileira conduz o Estado a desempenhar políticas isoladas a

setores determinantes da economia local.

Os dados a seguir retratam o nível de concentração da indústria brasileira. Em 2017, por

exemplo, os principais polos regionais da indústria plástica do país concentram-se na região

Sudeste e Sul, com respectivamente 55,70% e 27,5% do número de empresas, bem como

55,65% e 27,52% de funcionários, segundo dados da (ABIPLAST, 2017).

2.2.1 O desempenho do setor plástico no Brasil entre 2007 e 2017

Atualmente, a indústria de produtos plásticos no Brasil tem se destacado como um importante

setor industrial para a economia do país. Conforme dados da ABIPLAST (2017), a

participação do setor plástico no PIB nacional foi de 2,34% em 2007, com redução para

1,86% em 2010. A partir desse último período, manteve trajetória de crescimento ascendente

até 2014, quando a economia declinou em razão da crise econômica da atividade interna,

fechando em 2017 com 1,04%.

Segundo o Relatório Anual de Informações Sociais – RAIS (BRASIL, 2016), a indústria de

transformados plásticos no Brasil destaca-se como intensiva atividade na contratação de mão

de obra, por ser uma das maiores empregadoras da indústria de transformação, ocupando

posição inferior em relação aos setores de confecção de vestuário e acessórios, abate e

fabricação de carnes. Vale ressaltar que apesar do desempenho desfavorável na participação

do PIB, o setor é o quarto maior empregador do país, responsável por gerar 310 mil empregos

na cadeia produtiva da indústria plástica no Brasil, com 11.312 empresas.

Dados da ABIPLAST (2017) indicam que os principais setores consumidores de

Transformados Plásticos são: (i) construção civil, (ii) automóveis e autopeças, (iii) produtos

de metal, (iv) máquinas e equipamentos, (v) móveis, (vi), (vii) eletrônicos e (viii) outros

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equipamento e transportes, sendo essas aplicações de ciclo longo responsáveis por mais de

52% do mercado consumidor de produtos plásticos.

Em 2014, o setor de transformados plásticos obteve faturamento de R$ 84,7 bilhões,

entretanto, a marca expressiva não representa um indicador suficiente para equilibrar o saldo

comercial negativo, conforme aponta ABIPLAST (2017). Quanto ao nível da balança

comercial brasileira o déficit é resultado, sobretudo, da elevação do nível de importações, que

entre os anos de 2007 a 2017 apresentou taxa de crescimento anual de 10,38%, enquanto que

as exportações cresceram 1,05% ao ano no mesmo período.

Reforçando os índices, em 2017 o setor de plástico obteve saldo comercial de R$ -5.727

milhões. Deve-se ressaltar que neste mesmo período, o setor faturou R$ 66,8 bilhões, sendo

5,8% referente à receita de exportação (ABIPLAST, 2017).

Gráfico 1 – Balança Comercial do setor de Transformados Plásticos 2007-2017 (Em R$

milhões)

Fonte: Elaboração própria com base na ABIPLAST (2017)

2.3 O CRESCIMENTO DA INDÚSTRIA DE PLÁSTICO DA BAHIA

2.3.1 O desempenho do setor entre 2007 e 2017

Não diferentemente do Brasil, a indústria produtiva de plástico na Bahia tem apresentado

saldos crescentes no estado, destacando-se por possuir estabelecimentos em todos os

segmentos dessa atividade, notadamente na fabricação de artefatos e fabricação de

embalagens de material plástico, bem como possui a maior quantidade de trabalhadores dessa

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indústria. Segundo informações da RAIS (2016), a indústria de transformados plásticos

nordestina registrou cerca de 1.130 estabelecimentos, com presença em todos os estados da

região. Entretanto, vale salientar que as indústrias desta atividade concentram-se basicamente

no estado da Bahia, seguidos de Pernambuco e Ceará.

Tomando como referência a Bahia, nota-se que o estado possui vantagens competitivas

determinantes na atração de investimentos para o setor, dentre elas: a proximidade de grandes

fornecedores, a exemplo da Braskem, maior produtora de resinas termoplásticas das

Américas, com capacidade anual de produção de mais de 16 milhões de toneladas de resinas e

outros produtos petroquímicos básicos e o baixo custo logístico no transporte de matérias-

primas, fatores que explicam o forte atrativo para a instalação de empresas do ramo plástico

no mercado interno baiano.

Conforme dados disponibilizados pelo Portal da Indústria do Estado, o percentual da

participação do setor de plástico na indústria de transformação baiana corresponde a 3,0%,

enquanto na região Nordeste e no Brasil tem-se 1,8% e 2,2%, respectivamente.

2.3.2 Incentivos governamentais e a expansão da indústria na Bahia

Foi por ausência de programas que contribuíssem para o desenvolvimento industrial das

regiões menos favorecidos que a Bahia introduziu-se na dinâmica estratégica de incentivos

fiscais como principais instrumentos de formulação de políticas de atração de investimentos,

minimizando dessa forma, os prejuízos causados pelo modelo de desenvolvimento que

desfavorecia as regiões mais distantes dos principais polos do país (AMARAL FILHO, 2003).

A finalidade dessa política era promover o crescimento e fortalecimento das cadeias

produtivas vinculados ao processo de integração de áreas potenciais.

Segundo Oliveira (2013), tal intensificação na utilização de incentivos coincide com a

abertura da economia brasileira no início dos anos 1990, quando se observou uma busca pela

reestruturação produtiva, a fim de fazer frente a mercados mais competitivos. Além de

corrigir os problemas de fatores locacionais relacionados aos gargalos de infraestrutura, cujos

reflexos estão propensos ao encarecimento dos produtos e ao aumento da competitividade do

cenário nacional.

Tal desvantagem fez a Bahia agir com planejamento estratégicos para atrair investimentos,

sobretudo, com a ideia que tal política seria o vetor impulsionador de um crescimento e

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desenvolvimento industrial para o Estado. Esse no plano seria capaz de incentivar a instalação

de novos empreendimentos industriais e agroindustriais nas regiões, trazendo também

soluções para melhorar a mobilidade interna no fluxo de entrada e saída de insumo para

produção, a julgar pelas perspectivas geradas.

Vale ressaltar que a política de atração de novos investimentos, através da concessão dos

incentivos fiscais, financeiros e de infraestrutura que o governo do Estado fez uso, foi uma da

tentativa de mudar o quadro de estagnação e declínio que sua economia vinha passando desde

meados da década de 1980, intensificando, a partir da década de 1990, um esforço pela

reestruturação produtiva, a fim de fazer frente a mercados mais competitivos.

Segundo Balanco e Nascimento (2005), uma das medidas adotadas pelo governo do Estado da

Bahia foi a implantação de alguns programas de incentivos, os quais objetivavam superar as

dificuldades apresentadas pela indústria do estado e impulsioná-la a um novo patamar de

competitividade. Essas medidas decorreram do acirramento competitivo que se iniciou com

mudanças macroeconômicas e institucionais vividas pelo Brasil a partir da década de 1990.

De acordo com os autores,

as prioridades foram dirigidas para a interiorização da indústria e a diversificação

produtiva – principalmente através da implantação de indústrias de bens de consumo

e o adensamento das cadeias produtivas do estado –, estimulando uma dinâmica

econômica endógena, setorialmente encadeada menos suscetível aos “espasmos” da

demanda de outras regiões. (BALANCO; NASCIMENTO, 2005).

Do ponto de vista estratégico a política de atração de investimento reforça o papel do Estado

como protagonista do desenvolvimento, através da intensa busca de instrumentos usados ao

seu alcance como mola propulsora para um novo ciclo de crescimento econômico no Estado

visando, inclusive, modificações e reestruturação em sua indústria, no intuito de promover a

desconcentração dessa atividade em direção ao interior do estado.

Menezes (2001) ressalta que o processo de desenvolvimento industrial concentrado na Região

Metropolitana de Salvador (RMS) retroalimentava-se devido às vantagens oriundas da própria

aglomeração produtiva destacando, contudo, a disponibilidade de incentivos fiscais e

financeiros, a proximidade em alguns casos da matéria-prima, a existência de uma força de

trabalho relativamente barata e o apoio governamental.

Na década seguinte, o governo promoveu planos para fomentar melhores condições para a

implantação de indústrias na Bahia, como o desenvolvimento de infraestrutura portuária,

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rodoviária, ferroviária, etc, gerando emprego e contribuindo para o processo de

desconcentração e diversificação da indústria do estado (TEIXEIRA; GUERRA, 2000).

Quanto à concentração setorial, a especialização da produção baiana em bens intermediários

deve-se, na avaliação de Teixeira e Guerra (2000), a alguns fatores, dentre os quais estão:

havia no estado a maior produção de petróleo do país; carência de alguns insumos básicos na

produção nacional da indústria de transformação nos primeiros anos da década de 1970; e

acentuado desequilíbrio regional. Menezes (2001) chama a atenção para a concentração

empresarial, dado o caráter capital-intensivo resultante da opção pela produção de bens

intermediários que ocorre em grandes empresas.

Neste contexto, em torno da necessidade de adoção de uma nova estratégia de

desenvolvimento, a indústria baiana no século XX se deu principalmente com a produção de

bens relacionados à indústria petroquímica. Seguindo uma política de “desconcentração

concentrada”, o governo federal investiu na região Nordeste com a criação de polos e centros

industriais. O objetivo era dinamizar a economia local, adensando as cadeias produtivas.

Contudo, segundo Teixeira e Guerra (2000), observou-se “uma dinâmica exógena”, na qual

investimentos externos e pontuais no tempo provocavam uma dinamização somente

passageira, além de concentrada na Região Metropolitana de Salvador. Nesse sentido, a

política pública estadual de atração de investimentos a partir da década de 1990 procurou

desconcentrar a atividade industrial, como se mostra na sessão seguinte.

2.3.3 Programas de incentivos governamentais para a indústria baiana

Diante das dificuldades macroeconômicas e das instâncias de planejamento enfraquecidas

pelo Governo Federal, inclusive com o esvaziamento de instituições voltadas para esse fim,

como foi o caso de perda da importância da Sudene, a Bahia, amparada pela maior autonomia

política e financeira propiciada pela Constituição de 1988, passou a fomentar suas próprias

políticas de atração de investimentos, como uma forma de reduzir o aprofundamento da crise

em meados da década de 1990, por meio da concessão de incentivos fiscais. De acordo com

Uderman:

Enquanto, no período de constituição do sistema de planejamento

estadual e do polo industrial são explicitamente desenvolvimentistas,

baseadas na intervenção do Estado em prol da criação de economias

de aglomeração e polos de crescimento associados aos requisitos

fordistas, a partir dos anos 1990, após um interregno na

implementação de políticas de desenvolvimento industrial,

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identificam-se, ao lado das ações de reorganização do aparelho de

Estado, esforços de atração de empreendimentos industriais indutores

do crescimento e propostas de desenvolvimento local dirigidas para o

incremento do capital social, a consolidação de redes produtivas, o

desenvolvimento de pequenos e médios negócios e o estabelecimento

de vínculos mais estreitos entre segmentos públicos e privados.

(UDERMAN, 2008, p. 30).

Silva (2008, p. 2) aponta que, dentre os programas de governo a máxima prioridade era dada

para a indústria petroquímica e fixação local do maior número de empreendimentos

orientados às oportunidades a montante e a jusante. As oportunidades a montante estavam

ligadas à constituição de um segmento metal mecânico, voltado para a produção de

equipamentos, peças e máquinas para a indústria química e o desenvolvimento de serviços de

alta qualificação. As oportunidades a jusante deveriam dar margem à implantação de

indústrias de transformação dos produtos petroquímicos, principalmente fertilizantes, resinas

e fibras sintéticas. Vale ressaltar que ao contrário da política dos anos 1950 a 1980, a atenção

estava voltada não mais para investimentos estruturantes, na expectativa de que estes por si só

criassem uma endogeneidade no crescimento da economia baiana, mas sim uma atração

difusa de investimentos em alguns setores (MARIANA, 2014).

A partir desse contexto, atuava o novo modelo de políticas de investimentos industriais do

Estado da Bahia, sobre o prisma de moderna estratégia de desenvolvimento, que deveria

focar, sobretudo, em setores produtores de bens finais, por meio de diferentes programas,

além de direcionar o desenvolvimento para outras regiões do estado, promovendo a

desconcentração espacial da atividade econômica.

Desse modo, conforme mencionado, na década de 1990 o Estado da Bahia introduziu um

processo ágil de atração de investimentos. Os principais escopos deste novo plano estratégico

de desenvolvimento eram oportunizar a desconcentração da atividade industrial nas demais

regiões do estado, isto é, incentivando novos investimentos em direção ao interior, com vistas

ao adensamento do parque industrial, principalmente através da implantação de indústrias de

bens intermediários para insumo.

Menezes (2001) afirma que a implementação da nova estratégia de atração de novos

investimentos industriais só foi possível graças aos esforços de saneamento fiscal e financeiro

do estado, pois no início da década de 1990, com a consolidação da Constituição Federal, o

Governo da Bahia iniciou um processo de modernização e reestruturação da máquina pública,

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atingindo o equilíbrio financeiro e fiscal e das contas públicas, em conformidade com o

projeto neoliberal vigente no cenário nacional.

Nesse movimento, a maior parte dos programas foi implementada na segunda metade da

década de 1990. Lima e Spínola (2005) relatam que o Governo da Bahia pode ser considerado

como um dos pioneiros, com o lançamento do Programa de Desenvolvimento da Bahia –

Probahia, em outubro de 1991. Eles acrescentam que o programa se propunha a auxiliar na

definição de políticas que visassem à atração de investimentos industriais, agroindustriais, de

mineração e outros relevantes para o desenvolvimento do estado.

Rocha e Melo (2005) destacam que em função da escassez de investimentos privados no país

nos primeiros anos da década de 1990, o estado não conseguiu atrair um volume significativo

de investimentos, mas, a partir do Plano Real, em 1994, iniciou-se um novo ciclo de

investimentos na economia brasileira e a Bahia entrou de forma contundente na disputa por

esses investimentos.

Nesse movimento, seguindo a lógica de uma política de desenvolvimento voltada na

desconcentração industrial, sobretudo, na concepção de que o desenvolvimento é resultado de

um conjunto de investimentos privados, dando à esfera executiva estadual a garantia das

condições de concretizar esforços, que o governo baiano desenvolveu e editou uma série de

programas de incentivos fiscais, financeiros e de infraestrutura, com o objetivo de atrair novos

empreendimentos privados para a Bahia, a julgar pelas edições dos programas

BAHIAPLAST, principal instrumento para o fomento da indústria de plástico no estado,

posteriormente transformado no Programa DESENVOLVE.

Por conseguinte, vale ressaltar que por motivos metodológicos e objetivos nesta pesquisa,

optou-se por analisar somente o programa direcionado a indústria de plástico, tomando-se

como base o incentivo governamental do Programa DESENVOLVE, não sendo realizada uma

abordagem mais ostensiva de outros Programas de fomento à industrialização do Estado.

2.3.4 Programas de incentivos para a indústria baiana: Bahiaplast e Desenvolve

Assim com o escopo de desenvolver programas específicos para o desenvolvimento industrial

produtivo no Estado da Bahia, diferente dos anteriores que eram bastante amplos, a exemplo

da concessão de financiamentos através do Fundo de Promoção ao Desenvolvimento

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Industrial (PROIND), foram criados a partir da década de 1990, programas de incentivos

direcionados a setores estratégicos.

Lima e Spínola (2005) apontam que estes tinham por finalidade “promover a diversificação da

matriz industrial do Estado, estimular a transformação no próprio Estado dos seus recursos

naturais, interiorizar o processo industrial e incentivar o aumento da capacitação tecnológica,

da qualidade dos bens e da produtividade do parque industrial baiano, visando a sua maior

competitividade” (BAHIA, 1991).

A primeira criação de incentivo financeiro e fiscal voltada a um enquadramento setorial

prévio, com programas e objetivos direcionados a setores específicos a indústria de base,

ocorreu a partir de 1995, a exemplo do Polo de Informática de Ilhéus, Programa de Incentivo

ao Comércio Exterior – Procomex e do Programa Estadual de Desenvolvimento da Indústria

de Transformação Plástica – Bahiaplast.

O Bahiaplast como ficou conhecido foi instituído pela Lei n° 7.351, de 15 de julho de 1998 e

regulamentado pelo Decreto n° 7.439, de 17 de setembro de 1998 e se estabeleceu como

principal instrumento de política focada no setor de plástico.

Em linhas gerais, a intenção do Programa BAHIAPLAST consistia em adensar e desenvolver

a principal cadeia produtiva da indústria petroquímica do estado. Este teve como objetivo

atrair indústrias de transformação plástica que fabricassem bens de consumo industriais, além

de buscar incentivar a interiorização da indústria. Segundo Rapp (2014), a instalação desse

programa visava atrair empresas que dificilmente se instalariam na Bahia por estarem

distantes de seu mercado consumidor, principalmente se considerar que esta é uma etapa da

indústria petroquímica que gera maior valor agregado, aumentando também o valor de seu

frete.

Dentre os benefícios oferecidos às empresas produtoras de manufaturados plásticos pelo

programa estavam: a oferta de infraestrutura física; diferimento do lançamento e pagamento

do ICMS devido; e crédito presumido nas operações de saídas de produtos transformados,

desde que fossem derivados de produtos químicos e petroquímicos básicos e intermediários,

promovidas por empresa industrial instalada no estado com inscrição no Cadastro de

Contribuintes do ICMS do Estado da Bahia.

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Tabela 1 – Incentivo Fiscais Previstos Pelo Bahiaplast

Tipo de Venda Alíquota do

ICMS sem

incentivo

Percentual de

redução da

alíquota

Alíquota final do

ICMS com

incentivo

No próprio estado 17,0% 41,17% 10,0%

Para as regiões Sul e Sudeste

Para as regiões Norte,

Nordeste e Centro-Oeste

12,0% 50,0% 6,0%

7,0% 50,0% 3,5%

Para outros estados, em

projetos relevantes para a

matriz industrial da Bahia

12,0% 70,0% 3,6%

Fonte: Spínola (2000)

De acordo com Pinto (2006), o programa contemplou a aprovação de 60 projetos industriais,

com investimentos previstos da ordem de U$ 299.734 e geração de 4.044 empregos diretos,

além de, no período de 1999 a 2005, terem se implantado 38 empresas, estando pelos dados

cadastrais da Secretaria da Fazenda, 31 ativas. Segundo o autor, esses estabelecimentos

geraram um faturamento acumulado da ordem de R$ 15,3 bilhões e geraram ICMS

acumulado no mesmo período da ordem de R$ 325,3 milhões, conforme Tabela abaixo.

Tabela 2 – Comportamento anual do projeto da Bahiaplast (1999-2005) R$/1.000

Programas Estados

1999 18 1.786.084 32.443 6.120.354

2000 23 2.536.318 27.434 6.651.125

2001 32 2.682.994 56.325 6.812.300

2002 38 3.327.675 68.976 7.186.722

2003 34 2.580.248 63.813 6.731.983

2004 32 1.516.749 42.388 7.458.180

2005 31 933.847 33.995 6.317.072

Total 31 15.363.915 325.374 47.277.736

Ano Nº de Contribuinte FaturamentoICMS

Fonte: Pinto (2006)

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Apesar da estratégica da atração de investimentos industrial alcançar alguns resultados

positivos, como o Polo industrial de Informática em Ilhéus e o desenvolvimento da indústria

de transformação plástica no estado, o Governo da Bahia optou por modernizar e reformular

seu posicionamento tático ao comtemplar outros ramos industriais que não foram diretamente

contemplado nos programas anteriores, visando inclusive reduzir o ambiente de incerteza e a

notória dependência em relação às commodities petroquímicas, com diferentes oscilações

típicas do mercado internacional.

Diante dessa realidade, e buscando mecanismo que trouxesse segurança frente aos fatores

exógenos a economia baiana, foi criado o Programa de Desenvolvimento Industrial e de

Integração Econômica do Estado da Bahia (DESENVOLVE), instituído pela Lei n° 7.980, de

12 de dezembro de 2001, regulamentado pelo Decreto n° 8.205, de 03 de abril de 2002.

Segundo Pessoti (2008), divergente dos programas anteriores o grande mérito do Desenvolve

tem sido a agregação de outros decretos, de forma a desburocratizar o sistema de incentivos

sob a jurisdição de uma única política.

Em linhas gerais, o Programa Desenvolve visava melhorar a estrutura espacial da matriz

industrial do estado, propondo-se a diversificação do parque industrial com a integração das

cadeias produtivas consideradas relevantes à economia. Nesse sentido, as ideias centrais do

Programa são descritas como: fomentar e diversificar o desenvolvimento tecnológico dos

processos produtivos a partir da instalação de novos empreendimentos industriais, além de

buscar o desenvolvimento socioeconômico e a geração de emprego e renda no estado.

Dentre os benefícios planejados e adotados pelo programa está a possibilidade da concessão

de dilação do prazo de pagamento, de até 90% do saldo devedor mensal do ICMS normal,

limitada a 72 (setenta e dois) meses, além disso, o Desenvolve prevê o diferimento do ICMS

sobre ativos fixos e insumos adquiridos na Bahia e sobre o diferencial de alíquota de bens

adquiridos de outros estados.

Lima e Spínola (2005, p. 10), afirmavam que:

O segmento de transformação do plástico, em algumas regiões da Bahia, acabou se

apresentando como uma das prioridades consideradas pelo Desenvolve. Essa

situação fez com que o novo Programa se apresentasse como um sucessor do

Bahiaplast, no que se refere especificamente à indústria transformadora do plástico.

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Para Pessoti (2008), o DESENVOLVE foi um plano de ação integrado a visão de

desenvolvimento de longo prazo do Governo do Estado, como mecanismos estratégicos

capazes de promover articulações de cadeias produtivas ao expandir os vínculos intersetoriais

com o aumento da competitividade empresarial.

Dessa maneira, constata-se que a adoção desse novo modelo de incentivo teve como objetivo

oportunizar a condição fundamental para a atratividade de novas investimentos, promovendo

a transferência de recursos para regiões do estado, ao contribuir com melhores

disponibilidades de infraestruturas, produtividade e economia de aglomeração (ROCHA,

2004; CAVALCANTE, 2008).

Diante das considerações demonstradas nesse capítulo, nota-se a atuação do Governo do

Estado no desenvolvimento de instrumentos direcionado a formação de estrutura produtiva

industrializada, tendo como base a política de atração de investimentos, a exemplo de

Programas voltados a industrialização de transformados plásticos no Estado da Bahia.

No próximo capítulo será abordado as bases teóricas e modelos que busca explicar os fatores

determinantes da localização e a composição de aglomerados.

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3 REFERENCIAL TEÓRICO: TEORIA CLÁSSICA DA LOCALIZAÇÃO E A NOVA

GEOGRAFIA ECONOMICA

Neste capítulo expõem-se as teorias que explicam a formação de aglomerados indústrias

(clusters), que são base metodológica para o entendimento do processo evolutivo do

desenvolvimento industrial e análise deste trabalho. Dentre essas teorias, expõe-se a Teoria

dos Determinantes Locacionais da Indústria de Paul Krugman, um dos maiores representantes

da Nova Geografia Econômica (NGE) e seu modelo de centro-periferia, indicando quais são

os fatores determinantes para a localização das indústrias em determinado local e a

contribuição de Marshall, sendo este pioneiro nos estudos que buscam explicar o sistema local

de produção.

3.1 TEORIAS CLÁSSICAS DE LOCALIZAÇÃO

A Nova Geografia Econômica (NGE) emergiu no início da década de 1990 com os estudos de

Paul Krugman, Fujita, dentre outros nomes. Entretanto, é importante ressaltar que os

primeiros trabalhos em um contexto espacial podem ser verificados em estudos anteriores

desenvolvidos por Thunen, Weber e Losch, que já dissertavam sobre questões teóricas que

afetam o comportamento locacional dos agentes. Esta é uma corrente teórica que contém

atuação tanto nas teorias de desenvolvimento regional, com destaque nos fatores de

aglomeração, quanto pelas teorias clássicas da localização. Cumpre informar ainda a notória

influência dos trabalhos de Alfred Marshall (1890) sobre os autores presentes desta corrente

(CAVALCANTE, 2001).

Acerca da contribuição relacionada ao campo do desenvolvimento econômico regional, estão

as teorias clássicas da localização que pretendem explicar os fatores determinantes da

localização das empresas em determinado território, sustentadas por um conjunto de modelos,

levando-os a configuração de uma teoria de conhecimento da economia regional. Para

(Spínola, p. 22), pode-se considerar que as empresas na busca da sua localização, orientam-se

para as matérias-primas; para o mercado; para a disponibilidade da mão de obra e para a

disponibilidade de energia.

3.1.1 Von Thünen

Johann Heinrich Von Thünen (1826 apud CUNHA, 2008b) baseando-se na sua Teoria da

Localização Agrícola buscou respostas para determinação da localização relativa das diversas

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atividades agrícolas. Em seu modelo, examinou uma determinada região isolada do resto do

mundo, existindo uma única relação de mercado e sem influências externas. Para tanto, com o

propósito de determinar a formação dos preços, levou-se em consideração os custos

envolvidos nos transportes com as distâncias das diferentes terras do mercado consumidor,

que ali os produtores vendem seus produtos a um preço homogêneo para cada tipo e

condições relacionadas às características do solo e do clima da região. Assim, os preços da

agricultura passam a ser estabelecidos através da concorrência perfeita, levando em

consideração os custos de mobilidade somados aos custos de produção (MACCAN, 2001

apud CUNHA, 2008b).

Segundo (Lima e Spínola, 2005), nota-se que à medida que as terras utilizadas se afastavam

da cidade, elas deveriam ser utilizadas para a produção de bens cujos custos de transportes

fossem menores. Essas conclusões, no entanto, devem ser avaliadas com certo cuidado, uma

vez que alguns pressupostos importantes foram adotados, como o de homogeneidade de

fertilidade do solo e das oportunidades de acesso à cidade, contaminando e reduzindo o

alcance da teoria (CRUZ, 2000).

No modelo de Thünen, o custo de transporte é função direta da distância, ocorrendo uma

preferência por terras mais próximas aos centros urbanos, sendo possível usufruir-se de

“economias de proximidade” (CUNHA, 2008). Contudo, quando se leva em consideração os

aluguéis, os preços das terras mais próximas às cidades são mais elevados.

A partir destas premissas, Thünen traz evidencias que os rendimentos dos agentes produtores

seriam em função dos custos relacionados aos transportes, tendo em vista que as atividades

compreendidas como potenciais em termos de lucratividades, localizam-se próximas do

núcleo central, ou seja, à medida que o custo de transporte aumentasse, as terras seriam

utilizadas para a produção de bens com menor rotatividade de demanda, resultando em

círculos concêntricos ao redor do principal centro dedicados ao plantio de produtos com

custos de transporte inversamente proporcional à sua distância da cidade (CAVALCANTE,

2002).

Oliveira, (2014) aponta que ao contrário das teorias da localização industrial formuladas

posteriormente, a teoria da localização agrícola de Von Thünen não visava responder qual a

melhor localização para a instalação de uma atividade produtiva, e sim o que se deveria

produzir em uma determinada localidade. Nota-se, que a grande contribuição de Thünen está,

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segundo Fujita (2000 apud CUNHA, 2008b), em tratar de uma tecnologia de transportes que

tende a desencadear, pelo menos inicialmente, a aglomeração da atividade.

3.1.2 Alfred Weber

Alfred Weber, economista alemão dos anos 1909, buscou compreender a lógica espacial ao

responder onde se deve localizar uma atividade industrial, divergente da análise proposta por

Thünen, com a teoria da localização agrícola, que procura orientar quais são atividades que

deverão se instalar em determinado local (FERREIRA, 1989).

Em sua teoria buscava determinar uma localização ótima de uma firma que reduzisse os

custos de operação de uma indústria, citando inclusive três elementos essenciais como centro

das suas formulações, a saber: os custos de transporte; os custos da mão-de-obra; e um “fator

local” constituído por forças de aglomeração industriais (FERREIRA, 1989 apud

CAVALCANTE, 2014).

Em seu modelo, Alfred Weber (1909 apud CUNHA, 2008.b) parte da constatação empírica de

que as matérias-primas não estão igualmente distribuídas no espaço, de modo que as firmas se

localizarão aonde o custo com transporte possa ser minimizado. Para Cavalcante (2014),

Weber teceu seu raciocínio percebendo a existência de dois tipos de matéria prima: as que

estão disponíveis em qualquer parte e as que estão disponíveis apenas em alguns pontos no

espaço, resultando em uma decisão que basearia quanto à localização da firma em função dos

custos envolvidos na mobilidade dos insumos.

Vale destacar que quanto à mão-de-obra, Weber admite a influência desse aspecto sobre a

decisão da localização da firma. Portanto, ele aborda uma análise sobre dois fatores: o índice

de custo de mão-de-obra sobre o custo do produto; e o indicador da mão-de-obra, com base no

coeficiente do custo de mão-de-obra e o fator local. A intenção é avaliar o comportamento

(orientação) da firma quanto à sua direção, ou seja, a indústria se orienta diante dos custos de

mão-de-obra envolvida ou pelo custo de transporte (FERREIRA, 1989).

Outra importante contribuição de Weber, diz respeito ao fator locacional. Seguindo seu

raciocínio, ele defende os ganhos derivados de um grupo de indústrias com características

específicas que podem obter ao se localizar em um dado ponto (SPINOLA, 2003). Dessa

forma, para o autor, as indústrias tenderiam a se instalar nas localidades em que os custos de

transporte fossem mínimos e a matéria prima estivesse disponível em qualquer parte.

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Segundo Rahp (2014), com base no tipo de matéria prima, a localização da firma seria

definida em função dos custos de transporte: caso o custo de transporte da matéria prima fosse

superior ao custo de transporte do produto final, a atividade estaria localizada o mais próximo

possível da fonte de matéria prima.

3.1.3 August Lösch

O modelo de Lösch apresenta posicionamento contrário aos pressupostos weberianos, ao

considerar que as matérias-primas estão concomitantemente presentes em toda parte, sendo a

decisão da melhor localização da indústria baseada na maximização dos lucros e não apenas

da minimização dos custos e a maximização das receitas (GOUVEIA, 2006).

Em seu modelo, Lösch afirma que a maximização do lucro não pode ser desconsiderada no

comportamento das firmas, e não havendo limitação de ingressos no mercado de

concorrência, a existência de vantagens lucrativas permitiria atrair novas unidades até que tais

vantagens deixariam de ocupar espaço na relação de negócios, acarretando, desta forma, o

aumento do lucro individual e a maximização do número de empresas, atuando duas forças

controladoras do processo de equilíbrio (LOPES, 2006).

Para Lösch, a melhor localização seria definida pela existência de fatores que atendessem a

estas exigências e, especificamente, ao equilíbrio entre as economias de escala e custos de

transporte. Sendo que o equilíbrio espacial poderia ser encontrado por alguns elementos

como: vantagem da localização; melhor ocupação do espaço e aumento do número de

concorrentes até desaparecer as vantagens lucrativas o que, para os produtores, fará aproximar

os preços dos custos (OLIVEIRA, 2014).

As preocupações de Lösch concentravam-se na teoria geral da localização, tendo em vista que

com a localização industrial adequada, favoreceria encontrar o equilíbrio entre as economias

geradas pela produção em escala e, consequentemente, reduções do custo de produção com a

distribuição dos bens produzidos (GOUVEIA, 2006).

Segundo Cunha (2008b), a ideia central da teoria loschiana reside no fato de que os ganhos de

escala vão diminuindo em contraposição aos custos de transporte que só aumentam, pois com

o distanciamento da produção ao consumidor, o custo logístico aumenta, o que reduz o

consumo. Trata-se da teoria do lugar central.

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3.2 ALFRED MARSHALL E SUA CONTRIBUIÇÃO DA LOCALIZAÇÃO

Economista inglês e pioneiro na investigação dos sistemas locais de produção, Alfred

Marshall buscou tratar com clareza os principais fatores que sinalizam as vantagens obtidas

pela aglomeração espacial de firmas setorialmente concentradas em determinada região nos

distritos industriais da Inglaterra no século XIX. Marshall infere que existem dois tipos

diferentes de produção que fomentam essas vantagens, a saber: a verticalização integrada da

produção de grandes empresas, no que diz respeito à economia de escala interna e, segundo,

quanto às economias externas geradas pela concentração dos produtores especializados nas

mais diversas etapas da produção.

De acordo com Becattini (2004, p.11), os motivos que justificam a influência de aglomeração

industrial em determinado território são para Marshall, explicados por razões pelas quais os

distritos industriais se formam e se reforçam. Assim, de forma geral, as indústrias procuram

estabelecer-se onde encontram relativa disponibilidade e qualidade para os insumos, como

também facilidades de acesso tanto aos insumos quanto ao escoamento da produção e

comercialização.

Campos e Paulo p.35 concluem ao afirmar que para a as firmas,

a proximidade geográfica possibilita o surgimento de outras atividades subsidiárias

fornecendo à indústria principal instrumentos e matérias-primas e, dessa forma,

proporcionando economia de material. A presença de fornecedores de bens e

serviços, portanto, constitui-se em importante fonte de economias externas,

especialmente quanto ao processo de conhecimento gerado através das relações

entre as firmas e seus fornecedores.

Para Garcia (2006, p. 303), a existência de economias locais externas à firma e internas à

aglomeração dos produtores justifica a importância da concentração geográfica entre as

firmas. Para o autor, Marshall analisa que as empresas que agem na presença concentrada de

firmas de um mesmo setor ou segmento industrial, são capazes de gerar externalidades

positivas, apropriadas por um conjunto econômico de vantagens das quais resultam em

criação de infraestrutura capaz de beneficiar e fomentar toda a cadeia produtiva, além de

incrementar sua capacidade competitiva.

Assim, segundo (Sousa, 2010, p. 30), quando Alfred Weber afirma que “a empresa procura

uma localização que minimize os custos salariais ou os custos de transporte de matéria-prima

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e de produtos acabados” é em razão de se decidir sua melhor localização para a instalação de

uma atividade produtiva tendo como base os elementos da geografia econômica.

Para Krugman e Fujita (2004), as três principais causas que contribuem para a formação de

aglomeração são sustentadas por Marshall da seguinte maneira: (i) as firmas se beneficiam da

proximidade geográfica e da concentração de indústrias que compõem seu mercado, o que

permite reduzir os custos envolvidos no processo produtivo, além de obter difusão da

informação e o conhecimento tácito (knowledge spillovers); (ii) poder de empregar mão de

obra especializada diante da forte existência de um mercado de trabalho; e (iii) diante da

polarização técnica e difusão setorial dos efeitos de encadeamento vertical e horizontal, o que

contribui para induzir o crescimento das demais indústrias a elas ligadas tecnologicamente.

Partindo dessas contribuições, são esses propósitos que buscam explicar a formação das

aglomerações industriais, discutidas anteriormente por economistas desde Von Thünen, com

sua teoria do uso da terra, em 1826 a Alfred Marshall (1920), discutido anteriormente sobre os

elementos importantes no debate sobre questão das economias externas e, por conta delas, as

vantagens temáticas dos spillovers de conhecimento que contribuiriam para a formação de

aglomerados industriais, entendidas como lugares centrais para distribuírem bens e serviços

para a região no seu entorno (SPINOLA, 2003).

Os lugares centrais podem ser definidos como centros, cuja principal função é fornecer um

conjunto de bens e serviços a uma determinada área envolvente (área de influência ou região

complementar) no seu entorno. Vale ressaltar que cada um desses centros ocupa uma

hierarquia em função da diversidade de bens e serviços que fornece à sua área de influência

(SPINOLA, 2003).

Infelizmente, a teoria do lugar central não conduziu explicação para demonstrar a ocorrência

do desenvolvimento, trouxe apenas esclarecimento de padrões adotados sem, contudo,

elucidar questões que difundissem a origem destes padrões e quais as transformações

decorridas (HERMANSEN, 1969; BENKO, 1994 apud SPINOLA, 2003).

Frente ao exposto, as teorias apontadas trazem o entendimento que as decisões sobre a

localização geográfica das atividades econômicas são comumente influenciadas por fatores

produtivos e de mobilidade (custo de transporte). De acordo com Cavalcante (2002), as

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teorias se limitam quando não avaliam as externalidades positivas decorrentes da aglomeração

de atividades numa determinada região.

Cumpre-se pontuar outra grande contribuição que merece ser mencionada com especial

relevância, que trata-se da proposta desenvolvida por François Perroux (1955) sobre os

“complexos industriais”, apontando que o crescimento econômico se realiza de maneira

concentrada no espaço regional, acarretando a conformação de polos de crescimento que

transmitem reflexos para as demais localidades, apoiando-se em uma análise de mercado de

integração que ocorre no complexo industrial e provoca efeitos de encadeamento nas relações

entre as atividades (CRUZ, 2000).

A junção do conteúdo abordado pelos embasamentos teóricos, atrelado a de outras

contribuições semelhantes, traz a concepção do principal eixo para consolidação da

intervenção pública na economia baiana, culminando na adoção de política da atração de

investimento e fomento ao desenvolvimento, via processo de industrialização.

3.3 A NOVA GEOGRAFIA ECONÔMICA E OS FATORES DETERMINANTES DA

LOCALIZAÇÃO INDUSTRIAL

A Nova Geografia Econômica (NGE) surgiu no início dos anos 1990, a partir das ideias

pioneiras de inspirações marshallianas e defendidas por colaboradores, na qual se destacam os

autores Paul Krugman, Masahisa Fujita, Anthony Venables dentre outros (CAVALCANTE,

2001, p.18). Trata-se de uma corrente teórica que explica o molde da integração de forças

centrípetas e centrífugas na estrutura geográfica de uma economia, tendo como ênfase os

fatores de aglomeração. (FUJITA; KRUGMAN, 2004).

Os autores da NGE explicam que às teorias clássicas de localização se limitaram a responder

com exatidão às questões abordadas em seus modelos, demonstrando assim a fragilidade

analítica dos mesmos na avaliação de estudos apresentados (RUIZ, 2003).

Para os autores da NGE, os modelos em geral desprezavam explicações importantes que

expressassem uma teoria robusta e suficiente a ponto de esclarecer os principais fatores que

explicam como os agentes escolhem onde localizar-se no espaço. Em resumo, Ruiz (2003)

alega que nenhum destes apresenta uma teoria geral que explique a micro organização

espacial dos agentes. Assim, essa dificuldade poderia ser solucionada a partir do

desenvolvimento de uma teoria geral que expressasse a forma da micro organização espacial

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dos agentes, no entanto, os modelos tradicionais de economia regional e suas recentes re-

interpretações não teriam tal teoria completamente desenvolvida. Diante deste episódio,

trabalhos foram lançados no início da década de 1990, a exemplo do livro The Spatial

Economics cujo objetivo central é a lógica microeconômica que guia a organização da

produção no espaço (RUIZ, 2003, p.6).

3.3.1 O modelo centro-periferia

Krugman, Fujita e Venables (1999 apud RUIZ, 2003) defendem que conseguiram sumarizar

em uma teoria regional todos os modelos de economia urbana e regional tratados

separadamente na literatura. O referencial teórico da NGE fundamenta-se especialmente sobre

o modelo Cetro-Periferia (C-P), o qual apresenta os fundamentos da formação das economias

de aglomeração. Esse modelo traz uma integração dos rendimentos crescentes, da demanda e

dos custos de transporte, resultando na concentração espacial da indústria, originando-se um

polo industrializado e uma periferia agrícola (MARQUES, 2012).

Vale ressaltar que de acordo com Fujita e Krugman (2004), a Nova Geografia Econômica

tenta em essência, responder e explicar a formação de uma gama de aglomerações de

atividades econômicas no espaço geográfico. Ou seja, o ponto central do modelo procura

entender não como as economias se aglomeram, mas compreender como essa integração

ocorre e o que molda a estrutura espacial de uma economia.

Para compreender a base teórica do modelo C-P, destacam-se dois pontos cruciais para

análise: o primeiro elemento refere-se à definição da curva de demanda, que retrata o

comportamento dos consumidores quanto à alocação da renda; na segunda abordagem tem-se

a curva de oferta, referindo-se a como as firmas determinam o nível de produção e os preços.

Nota-se que diante de uma economia regional, os agentes encontram-se dispersos no espaço,

tendo que arcar com os custos de demanda e de oferta, com o escopo de “maximizar rendas e

minimizar gastos tomando em consideração a localização dos demais agentes, ou seja,

procuram otimizar sua localização na rede de economias regionais” (RUIZ, 2003).

Importa citar que o autor defende que no modelo C-P a demanda e a oferta são determinadas

de maneira concomitantemente. Segundo ele, a ocorrência do equilíbrio será alcançada

quando: (i) houver mobilidade das firmas; (ii) as tecnologias porém homogêneas; (iii) não

haver nenhuma aparente economia externa à firma (economias de aglomeração de Marshall);

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(iv) os trabalhadores (consumidores) migrarem livremente e estarem sempre em busca de

melhores salários reais (RUIZ, 2003).

Assim, para Fujita e Krugman (2004, p. 140), o padrão de aglomeração centro-periferia

ocorrerá “(i) quando o custo de transporte dos manufaturados for baixo o suficiente, (ii)

quando variedades são suficientemente diferenciadas, ou (iii) quando o gasto com

manufaturados é grande o suficiente”.

Oliveira (2004) apud Silva e Silveira Neto (2005, p. 4), assume não possuir elevada

importância o aporte teórico dos modelos da nova geografia econômica em relação às teorias

elaboradas pelos cientistas regionais, porém, a forma de modelar as fontes com

fundamentação teórica dá base econômica para explicar a distribuição espacial da atividade

econômica decorrente do equilíbrio da ação de duas forças: a centrípeta e a centrífuga, ambas,

contribuíram com grande avanço no desenvolvimento das teorias de localização.

A primeira força refere-se à dimensão do mercado e sua estrutura, sendo esta a principal

responsável pela aglomeração geográfica da atividade econômica; implica sinalizar que sua

força é mais significativa quanto maior for à disponibilidade de fatores de produção, gasto

com bens industriais e economias de escala. Quanto à força centrífuga, esta responde pela

dispersão das atividades econômicas resultados da concorrência, via conjunto de firmas.

Segundo Céspedes (2011, p. 3), na medida em que as condições econômicas favorecem uma

região, a força centrípeta gera um efeito de concentração do setor industrial, através da

mobilidade de trabalhadores atraídos por ganhos salariais reais; dos custos de transporte

reduzidos; e, dos maiores níveis das economias de escala e do gasto com bens industriais.

Na citação de Céspedes (2005, p. 6), Krugman defende que as relações de complementaridade

entre diversos setores seriam capazes de reforçar os efeitos centrípetos da demanda, onde o

crescimento se sustentaria pela acumulação do capital físico, que produziria, a exemplo das

inovações e da externalidade local como propulsor da aglomeração.

Nesse sentido, de acordo com a concepção de Fujita, Krugman e Venables (1999), a interação

entre o custo de transporte baixo e as economias entre os produtores moldaria o espaço

econômico, além do pressuposto de que a distância declina as economias externas entre

produtores, promovendo a afluência de aglomerações de firmas e de empregos. Para Mendes

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(2010, p.1) a interação das diferentes firmas na busca de suas localizações ótimas não apenas

produziria o ótimo global, como também reestruturaria as regiões econômicas.

Reforçando o posicionamento das empresas, Fujita, Krugman e Venables (1999), explica que

a localização das firmas importa porque existe custo de transporte e também por causa do

pressuposto de que as economias externas entre produtores declinam com a distância.

Spínola (2013, p.1) reforça a ideia acima ao considerar que as empresas, na busca da sua

localização, orientam-se no que tange aos fatores regionais, técnico-locacionais, espaciais e

motivacionais, o que explica a importância de integrar o custo da mobilidade por exercer

influência para a definição da localidade. Desse modo, os setores que modelam o espaço

geográfico caracterizado por retornos crescentes de escala, competição imperfeita e custos de

transporte, se localizarão em regiões, dentre outras, com boas condições de acesso ao mercado

(SANTOS, 2010, p. 33).

Com base nesse contexto a NGE buscar explicar que a tendência da concentração espacial

(aglomerado) das firmas em economia persiste alienada

Desse modo, no que se refere à indústria plástica, é por meio do modelo de centro-periferia da

NGE que se torna possível a identificação dos efeitos determinantes que reforçam

aglomeração desse setor, sobretudo, devido a fatores de proximidade e especialização setorial,

com estreita colaboração na formação de um sistema produtivo, gerando incremento da

capacidade de inovação e desenvolvimento local.

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4 ANÁLISE EXPLORATÓRIA DOS DADOS ESPACIAIS

Este capítulo tem por objetivo apresentar a metodologia a ser utilizada nesse trabalho. Esta

metodologia compreende a análise exploratória de dados espaciais, tendo como base

metodológica estatística a autocorrelação espacial do Índice Global de Moran – indicador de

nível global – e o Índice Local de Associação Espacial (LISA) – indicador de nível local. A

autocorrelação refere-se à correlação espacial entre atributos de uma mesma variável aleatória

em diferentes localizações do espaço. Somando-se, a isto, uma avaliação de mapas de

percentis extraídos a partir do software GeoDa. Os dados da indústria de plástico da Bahia

foram inseridos em uma tabela (.dbf), que contêm polígonos delimitadores dos municípios do

estado.

O objetivo proposto consiste em identificar quais os municípios obtiveram maior índice de

empresas e emprego e qual a intensidade da correlação espacial existente entre os mesmos.

Com base nos resultados espera-se fornecer um panorama da indústria de plástico no estado

baiano, além de identificar possíveis arranjos produtivos (clusters).

4.1 MAPAS DE PERCENTIL

O mapa de percentil é um instrumento de medida da posição de uma unidade observacional,

responsável em permitir localizar territorialmente os municípios para a amostra em análise.

Ferramenta importante, uma vez que possibilita revelar o nível da concentração espacial dos

elementos analisados. O intuito da utilização desse instrumento neste trabalho consiste em

demonstrar nível ou o padrão de distribuição espacial da indústria de plástico.

4.2 ÍNDICE GLOBAL DE MORAN

O Índice Global de Moran está entre os índices de autocorrelação espacial como maior

frequência de utilização em economia espacial, sendo este um indicador que fornece uma

medida geral da associação espacial existente para todo o conjunto de dados. Em síntese,

mostrar como os valores estão correlacionados no espaço (RIGOTTI, 2012). Segundo Paiva

(2012), este índice presta-se a um teste cuja hipótese nula representa independência espacial,

ou seja, o índice seria igual a zero, indicando a inexistência de autocorrelação espacial e

valores próximos a zero correspondem à autocorrelação espacial não significativa, entre o

valor do atributo do objeto e o valor médio do atributo de seus vizinhos.

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O cálculo do índice global de Moran (I) é expresso pela seguinte fórmula:

Onde:

n é o número de observações, neste caso, de municípios;

wij é o elemento na matriz de vizinhança para o par i e j;

zi e zj são desvios em relação à média (zi – zm); (zj – zm);

zm é a média.

De acordo com Paiva (2012), a correlação só é calculada para os vizinhos de primeira ordem

no espaço, conforme estabelecido pelos pesos wij. Por conseguinte, o mesmo cálculo sendo

realizado para a matriz de proximidade de maior ordem permite estimar a função de

autocorrelação para cada ordem de vizinhança.

Embora o índice global de Moran seja considerado um bom indicador sobre o comportamento

espacial, este explicita apenas um único valor como medida de associação espacial para todo

o conjunto da área de estudo. Desse modo, quando houver um elevado número de áreas é

provável que ocorram diferentes regimes de associação espacial. “Dito isso, para evidenciar

os locais em que a dependência espacial é ainda mais acentuada, uma possibilidade é utilizar

o Índice Local de Associação Espacial – LISA” (MARQUES et al.,2010, p. 03).

4.3 ÍNDICE LOCAL DE ASSOCIAÇÃO ESPACIAL (LISA)

Apesar do índice global de Moran responder de forma eficiente como bom indicador sobre o

comportamento espacial dos fenômenos, infelizmente ele não propicia uma observação

detalhada para um elevado número de áreas, o que possibilita que nessas áreas ocorram

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diferentes regimes de associação espacial que não são contidas por esse índice

(HOLZSCHUH et al., 2010). Assim, uma forma de identificar padrões locais de

autocorrelação espacial estatisticamente significativos, segundo Holzschuh et al. (2010), é

fazer uso do Índice Local de Associação Espacial, pois o LISA identifica clusters estatísticos

de regiões com o mesmo comportamento da variável estudada e outros padrões espaciais

locais.

De acordo com Paiva (2012), a Estatística Espacial Local foi desenvolvida com o intuito de

“quantificar o grau de associação espacial a que cada localização do conjunto amostral está

submetida em função de um modelo de vizinhança preestabelecido.” Assim, os LISAs

possibilitam a separação dos indicadores globais, como o índice de Moran, em índices

singulares que revelem territórios e aglomerados (clusters) significativos de valores

semelhantes em torno de determinadas localizações. Isso ocorre, segundo Anselin (1995 apud

PAIVA, 2012), devido à proporcionalidade direta entre o valor da autocorrelação global e os

valores auferidos de autocorrelações locais.

Ademais, é possível identificar outliers, ou seja, objetos anômalos, tendo em vista que:

Anselin (1994) afirma que um indicador local de associação espacial é qualquer

estatística que (1) permita a identificação de padrões de associação espacial

significativos, e (2) que a soma total do LISA de todas as áreas é proporcional ao

valor obtido para o índice global, isto é, que o indicador local seja uma

decomposição do indicador global. (MARQUES et al. ,2010, p. 03).

Neste índice, a autocorrelação espacial é calculada a partir do produto dos desvios em relação

à média como medida de covariância, de modo que os valores significativamente elevados

indicam elevadas probabilidades de que haja locais de associação espacial, aplicando-se tanto

a regiões com altos valores associados quanto àquelas com baixos valores associados

(PAIVA, 2012). A estatística local de Moran para cada área i a partir dos valores

normalizados zi do atributo é dada por:

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Os valores alcançados através do índice de Moran Local podem ser evidenciados em um

mapa denominado de LISA MAP, sendo possível realizar uma análise visual sobre as áreas

mais correlacionadas no espaço, ou seja, dependentes espacialmente.

Anselin (1994 apud MARQUES, 2012) afirma que nesse mapa as áreas apresentam cinco

diferentes classificações a depender do nível de significância, que são: sem significância;

significância de 0,05 (95% de confiança); de 0,01 (99% de confiança); de 0,001 (de 99,9% de

confiança); e de 0,0001 (de 99,99% de confiança).

Para melhor compreensão da análise dos dados, Druck et al.(apud MARQUES, 2012) expõe

que uma maneira alternativa de visualização da dependência espacial existente no conjunto de

dados é através do gráfico de espelhamento de Moran. De acordo com o autor, este diagrama

é dividido em quatro quadrantes, de forma que permite interpretar a associação linear entre

cada valor de atributo zi em relação à média dos valores dos atributos de seus vizinhos zm,

dado que Anselin (1993 apud MARQUES, 2012) afirma que o indicador de Moran é um

coeficiente de regressão linear entre zi e zm.

Sendo assim, Marques (2012) expõem os quadrantes do gráfico de Moran com as seguintes

situações: os quadrantes superior direito e inferior esquerdo – indicam associação espacial

positiva, ou seja, a área para o valor do atributo considerado está cercada por áreas que tem

comportamento similar, sendo o quadrante superior direito (High-High = Alto-Alto),

indicando que os valores do atributo considerado e os de seus vizinhos estão acima da média

do conjunto e o quadrante inferior esquerdo (Low-Low = Baixo-Baixo), sinalizando que tanto

os valores do atributo quanto à média dos vizinhos, estão abaixo da média.

Os quadrantes superior esquerdo e inferior direito – sinalizam comportamentos espaciais

negativos. Os valores baixos estão arrodeados por valores altos, isto é, com valores que

apresenta áreas que tem comportamento divergentes (quadrante superior esquerdo: Baixo-

Alto (Low-High), indicando valor negativo e média dos vizinhos positiva) e valores altos são

rodeados por valores baixos (quadrante inferior direito: Alto - Baixo (High-Low),

demonstrando valor positivo e média dos vizinhos negativa) (ANSELIN, 1993 apud

MARQUES et al.,2012, p. 03).

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5 O PADRÃO DE DISTRIBUIÇÃO ESPACIAL DA INDÚSTRIA DE PLÁSTICO NO

ESTADO DA BAHIA

Este capítulo tem por objetivo apresentar os resultados da análise exploratória espacial que

descreve a dinâmica da indústria plástica na Bahia. Para tal, foram utilizadas técnicas em

níveis de estatística espacial com a utilização do software Open Geoda, abordando de forma

específica a análise da espacialidade territorial com o objetivo de apurar se houve

desconcentração industrial em algum município e em seus entornos, o que configura um

cluster.

Foram utilizados para atingir tal objetivo as variáveis número de estabelecimentos, número de

funcionários na indústria plástica, ambos extraídos da Relação Anual de Informações Sociais

(RAIS) e variação do Produto Interno Bruto (PIB) industrial. A variável principal dependente

selecionada para análise foi o número de empregos diretos gerados na indústria plástica, com

dados para os 417 municípios da Bahia entre 2007 e 2017. Como bases metodológicas s

foram utilizados mapas de percentil e dois índices: o índice global de Moran – indicador de

nível global – e o índice local de associação espacial (LISA) – indicador de nível local.

5.1 CARACTERIZAÇÃO GERAL DA INDÚSTRIA

5.1.1 Análise da indústria de plástico na Bahia

Com significativas mudanças nas duas últimas décadas, a indústria baiana de plástico se

intensificou em decorrência da reestruturação de programas de fomento à industrialização do

estado, a exemplo da terceira geração da cadeia petroquímica voltada para a produção de bens

manufaturados. O que se verificou foi um indutor para o aumento da demanda local para os

produtos do Polo Petroquímico de Camaçari, sobretudo as resinas termoplásticas, das quais o

referido Polo apresenta-se como um dos principais produtores nacionais (LIMA; SPINOLA,

2005). Esses fatores refletiram na indústria baiana, inclusive, no setor de transformados

plásticos.

De acordo com a base de dados disponibilizados pela Relação Anual de Informações Sociais

(RAIS), o setor de plástico baiano totalizou 320 empresas instaladas no território do estado no

ano de 2017, aumento de 107 novas unidades industriais quando relacionado ao número de

estabelecimento presente em 2007, cujo crescimento apresentou alta de 99,06%, das unidades

instaladas. No entanto, quando se analisa o período de 2007 e 2017, as indústrias instaladas no

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Estado da Bahia não se deslocaram de maneira acentuada para as demais regiões adjacentes à

Região Metropolitana de Salvador.

Nos últimos dez anos, observa-se que apesar do aumento significativo de novas unidades

produtivas do setor de plástico e borracha no território baiano, o número de indústria desse

setor não apresentou mudanças significativas e mais acentuadas em outras regiões da Bahia.

Na Região Metropolitana de Salvador, por exemplo, o número de estabelecimentos desse

ramo de atividade passou de 162 em relação a 2007, cuja volume a época consistia em

76,06% da indústria plástica no Estado, para 213 em 2017.

Nota-se que a apesar de todo esforço do programa de incentivo fiscal para viabilizar a

desconcentração espacial dos adensamentos industriais, e dá condições para a formação de

adensamentos industriais nas regiões com menor desenvolvimento econômico e social no

Estado, dados evidenciam um processo de concentração espacial da estrutura produtiva

baiana.

O perfil da concentração espacial da estrutura produtiva pode, a princípio passar despercebido

diante da análise do Produto Interno Bruto (PIB) da Região Metropolitana de Salvador, pois

apesar do crescimento de 127,14% do PIB da RMS, entre 2007 e 2017, os dados inicialmente

apontam uma redução frente a outras regiões, tendo em vista que em 2007 a RMS era

responsável por deter 46,84% de toda a riqueza produtiva no estado da Bahia, passando a

44,97% em 2017.

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TABELA 3 – Participação da Região Metropolitana de Salvador no Produto Interno Bruto do

Estado da Bahia

Produto Interno Bruto (PIB)

Metropolitano de Salvador 2007 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016

ESTADO DA BAHIA 109.330 154.420 166.603 182.573 204.844 223.930 245.025 258.649

Metropolitano de Salvador 51.206 72.627 74.708 77.619 88.208 97.556 107.670 116.310

Participação PIB (%) 46,84% 47,03% 44,84% 42,51% 43,06% 43,57% 43,94% 44,97%

Camaçari 10.369 12.446 11.967 11.534 14.458 17.602 20.375 21.936

Candeias 1.477 2.192 2.445 2.652 2.641 3.086 3.385 3.444

Dias D'Ávila 1.176 2.206 2.457 2.501 2.758 3.129 3.331 3.346

Itaparica 95 128 143 161 184 194 200 210

Lauro de Freitas 2.177 3.652 4.211 4.578 5.351 5.931 5.651 6.104

Madre de Deus 251 347 361 330 406 412 495 456

Mata de São João 502 614 798 878 988 1.024 1.015 1.044

Pojuca 974 939 1.160 1.328 1.445 1.157 957 801

Salvador 28.064 40.763 44.316 47.940 53.472 56.551 57.873 61.102

São Francisco do Conde 3.269 5.324 2.491 1.067 1.282 2.883 8.646 11.796

São Sebastião do Passé 413 487 637 770 831 707 670 561

Simões Filho 2.254 3.254 3.405 3.485 3.960 4.414 4.568 4.989

Vera Cruz 186 275 317 394 432 466 504 522

Fonte: SEI/IBGE

No entanto, diante da análise desse trabalho basear-se na esfera da ótica industrial, conclui-se

que a redução da atividade econômica e a perda de participação do PIB da RMS, ambos

mencionados acima, não retratam ou expõem uma análise precisa do setor, haja vista que o

próprio conceito do Produto Interno Bruto (PIB) leva em consideração toda a riqueza

produzida no estado, incluindo outros setores, a exemplo do setor primário e terciário. Desse

modo, como forma de assegurar uma avaliação mais precisa da estrutura produtiva baiana, foi

realizado um redirecionamento para avaliar basicamente a participação do PIB industrial do

estado.

Assim, a análise do setor industrial realizada isoladamente permitiu obter resultados mais

precisos. A partir desses resultados foi possível observar que o nível de concentração espacial

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da atividade econômica da Região Metropolitana de Salvador era de 56,56% em 2007 e

representa em 2017, 59,23% da participação do PIB industrial de todo Estado, o que só

corrobora para revelar a dificuldade de um reordenamento industrial, visando uma economia

espacial de efeitos a jusante e de forma a criar cadeias e adensamento industrial disseminados.

GRÁFICO 2 – Participação da Região Metropolitana de Salvador no Produto Interno Bruto

do estado da Bahia

22.418

36.74035.142

54.082

12.904

20.667

15.214

32.033

57,56%

56,25%

43,29%

59,23%

0,00%

10,00%

20,00%

30,00%

40,00%

50,00%

60,00%

70,00%

80,00%

90,00%

100,00%

0

10.000

20.000

30.000

40.000

50.000

60.000

2007 2010 2012 2016

ESTADO DA BAHIA Metropolitano de Salvador Participação PIB (%)

Fonte: SEI

Em 2007, 12 cidades do setor plástico baiana já se destacavam fora da Região Metropolitana

de Salvador. Eram responsáveis por sediar 23,94%% dos estabelecimentos desse segmento no

estado: Juazeiro, Barreiras, Vitória da Conquista, Itapetinga, Itabuna, Ilhéus, Santo Antônio

de Jesus, Santo Estevão, Conceição do Jacuípe, Feira de Santana, Alagoinhas e Ipirá.

Comparado a 2017, outras cidades entraram para o conjunto da produção plástica baiana, com

aumento da participação de 33,44%.

5.2 ÍNDICE GLOBAL DE MORAN

A análise do índice de Moran global auxilia a quantifica o grau de autocorrelação espacial

entre os municípios vizinhos baianos que possuem em seus territórios atividades da indústria

plástica. O Quadro 1 evidencia a participação da estrutura produtiva dessa indústria em cada

um dos anos, 2007 e 2017.

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No valor computado do índice de Moran em 2007 para análise da estrutura produtiva da

indústria plástica baiana foi de (0,229), havendo evidencia de autocorrelação espacial

positiva, ou seja, existem evidencias de municípios que exibem altas participações dessas

atividades, rodeadas por regiões que apresentam atuações nos mesmos segmentos. Vale

ressaltar a concentração das atividades nessas regiões.

Por conseguinte, no sentindo de permite estudar o comportamento da variabilidade espacial

da participação da indústria plástica no Estado da Bahia, faz-se necessário análise do

diagrama de dispersão de Moran. Esta representa uma forma adicional não somente de

visualizar a dependência espacial, mas também de contextualizar as variáveis plotadas nesse

diagrama.

Sendo assim, o diagrama de dispersão de Moran (Quadro 1 - A) apresenta um perfil de

concentração intensa no primeiro quadrante, localizando-se o agrupamento dos valores alto-

alto (AA), ou seja, existem pontos de associação positiva entre os vizinhos com valores

também semelhantes. Vale ressaltar que a existência de tais aglomerações evidencia a

presença de possíveis transbordamentos espaciais entre cidades contiguas, ou de um efeito

multiplicador entre elas.

Em 2017, nota-se que mesmo com a adesão ao Programa Desenvolve, instrumento de

política de atração de investimento para fomentar o desenvolvimento industrial do setor

plástico, o comportamento dessa indústria (Quadro 1 - B) quanto à desconcentração espacial,

apesar de positivo, não logrou resultados significativos durante o período analisado.

Quadro 1 – Autocorrelação espacial – Indústria Plástica (2007 – 2017)

Moran’s I: 0,22911

Participação da Indústria (2007) A

Moran’s I: 0,194015

Participação da Indústria (2017) B

Fonte: Elaboração própria com base na RAIS e processados no software GeoDa.

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Outro ponto diretamente ligado à indústria plástica é quanto à geração de empregos. Em

2017, o volume de empregos na industrialização do setor plástico apresentou o coeficiente I

de Moran (0,1635), contra (0,1586) apresentado em 2007. Apesar de ser uma variação pouco

expressiva, esse volume não pode ser negligenciado, haja vista que retrata uma interação de

autocorrelação espacial entre outros vizinhos e outros fatores que podem ter contribuído na

formação da atividade plástica.

Quadro 2 – Autocorrelação espacial – Empregos da Indústria Plástica (2007 – 2017)

Moran’s I: 0,158626

Participação de emprego da Indústria de plástico

(2007)

Moran’s I: 0,163514

Participação de emprego da Indústria de plástico

(2017)

Fonte: Elaboração própria com base na RAIS e processados no software GeoDa.

5.3 ÍNDICE LOCAL DE ASSOCIAÇÃO ESPACIAL (LISA)

Outra medida importante que busca identificar possíveis associações entre as indústrias

plásticas (agrupamentos) e volume de empregos gerados é aplicação do Índice Local de

Associação Espacial, também conhecido como mapa de Cluster LISA, mensurando a

significância dos clusters.

Para análise sobre a associação espacial de indústrias plásticas no território baiano, utilizou-

se dos mesmos dados das análises anteriores, incluindo o índice global de Moran para

geração dos mapas de classificação das áreas (LISA Cluster map ou Box map).

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Como pode ser visualizado (Quadro 3) o mapa de Cluster LISA apresenta os municípios do

Estado da Bahia em diferentes cinco cores, cada um com seu atributo e importância

significativa para compor a análise. A cor branca, por exemplo, indica a inexistência de

atividade da indústria do setor plástico, isto é, são não significativos. Na cor vermelha

(quadrante High-High) são encontrados os municípios que tem um volume grande de

empresas do setor plástico e que estão cercados por municípios que também possuem grande

unidade de empresas do setor em seus territórios.

Na cor azul (quadrante Low-Low), nos apresenta os municípios que tem uma quantidade

total de empresas em seu território abaixo da média global. Note que em 2007 existem

diversos municípios que apresentam esse comportamento. Ademais, a cor azul claro

(quadrante Low-High), indica a presença de municípios com índice de indústrias abaixo da

média, no entanto, a média dos outros municípios vizinhos são positivas. O inverso dessa

relação é encontrado no (quadrante High-Low), representado pela cor vermelho claro com

municípios que tem índice de estabelecimento industrial plástico maior que a média, porém

com vizinhos com valores abaixo da média. Verifica-se que a variável participação da

indústria plástica nesse quadrante é mais acentuada no ano de 2007.

Quadro 3 – LISA: mapas de clusters para indústrias plásticas baiana (2007-2017)

Clusters da Indústria Plástica (2007)

Clusters da Indústria Plástica (2017)

Fonte: Elaboração própria com base na RAIS e processados no software GeoDa.

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Quadro 4 – LISA: mapas de significância para indústrias plásticas baiana (2007-2017)

Mapa de significância para participação da

Indústria Plástica (2007) C

Mapa de significância para participação da

Indústria Plástica (2017) D

Fonte: Elaboração própria com base na RAIS e processados no software GeoDa.

No que diz respeito ao mapa de significância de Moran (LISA), consta-se que as mesmas

regiões destacadas nas Figuras C e D quando comparadas com o mapa de cluster, ratifica o

efeito da autocorrelação presente nos municípios vizinhos que apresentam valores

semelhantes para esta variável.

Quadro 5 - LISA: mapas de cluster de empregos da indústria plástica baiana (2007-2017)

(2007)

(2017)

Fonte: Elaboração própria com base na RAIS e processados no software GeoDa.

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Quadro 6 - LISA: mapas de mapas de significância de empregos da indústria plástica baiana

(2007-2017)

Mapa de significância de empregos da indústria

plástica (2007) E

Mapa de significância de empregos da indústria

plástica (2007) F

Fonte: Elaboração própria com base na RAIS e processados no software GeoDa.

Com base em evidencia do Quadro 5, a variável volume de empregos da indústria plástica

no ano de 2007 não apresentou municípios no quadrante High-Low, ou seja, a evidencia que

exista número de empregos nessa atividade, porém abaixo da média. Ademais, tal ocorrência

foi registrado somente a partir de 2017 com crescimento de municípios neste quadrante,

indicando que o número de empregos gerados nestes municípios ficou acima da média, mas

os seus vizinhos ficaram abaixo da média global.

No tocante à informação do quadrante Low-Low, verificando-se a ocorrência em todos os

dois períodos analisados, indicando neste caso que a produção de empregos gerados nestes

municípios esteve abaixo da média assim como seus vizinhos.

No quadrante Low-High, nota-se também observações isoladas para os anos de 2007 e 2017.

Vale ressaltar que a produção de empregos nestes municípios ficou abaixo da média assim

como em seus vizinhos. Por fim, no quadrante High-High em 2007 estão presentes algumas

cidades onde a produção de empregos gerados em cada um desses municípios foi superior à

média obtida e o número de empregos gerados por seus vizinhos também, configurando um

Cluster com relação a geração de empregos.

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52

Quanto ao quadrante Low-Low este sugere que há existência de municípios com baixas

taxas de empregos geradas pela indústria plástica, cercadas por municípios em situação

similar. Isto não significa afirmar que exista uma concentração espacial. Descreve apenas

que há um conjunto de municípios no qual não há este tipo de emprego.

Por fim, com base nas informações dos quadros apresentados acima, verifica-se a existência

da ocorrência de dependência espacial para os dados analisados. A partir dessa análise foi

possível concluir a presença de um quantitativo baixo de municípios que concentram as

indústrias produtoras de plástico no Estado da Bahia, indicando possível nível de padrão de

concentração espacial das unidades produtoras (clusters).

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6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A maneira de promover o desenvolvimento industrial tem sido algumas das principais

discussões no âmbito nacional, de maneira que o Brasil adotou várias medidas institucionais

no início da década de 1990, como forma de tornar o país mais atrativo à entrada de recursos

estrangeiros. Somado a isso, há o problema da concentração das atividades industriais em

determinadas unidades federativas no Brasil. Complementarmente a essa situação, para

promover a matriz industrial do Estado da Bahia, o governo criou diferentes políticas de

incentivos, visando melhorar a estrutura espacial da indústria, dentre as quais se destaca o

Programa Desenvolve, que tem como objetivo promover a geração de empregos e a

interiorização do desenvolvimento industrial no Estado.

Com base nas observações e levantamentos de teorias apresentadas para produção desse

trabalho, incluindo análise empírica dos dados disponibilizados pela Relação Anual de

Indicadores Sociais (RAIS), mapas e índices estatísticos gerados com o auxílio do software

GeoDa, verificou-se que aplicação da Programa Desenvolve, em espacial direcionado para o

desenvolvimento da industrial plástica no Estado da Bahia contribuiu com moderada

eficácia sobre a interiorização da indústria plástica na Bahia, indicando conforme diagrama

de dispersão de Moran um padrão de concentração espacial das unidades produtoras.

Em termos de resultados verificou-se que os números de indústrias de transformados

plásticos e volume de postos de trabalhos gerados cresceram de maneira concentrada.

Contudo, apesar da interiorização industrial ser uma das principais diretrizes do Programa

Desenvolve, este instrumento não permitiu dinamizar a dispersão da indústria plástica no

Estado. Todavia, ele pode ser interpretado como um importante catalisador de política de

atração de investimento, tendo em vista a ausência de política regional nacional que

minimize a tendência à concentração industrial nos estados do Sul e Sudeste.

É importante citar que apesar do método de avaliação estatístico empregado para análise do

Programa Desenvolve não apresentar uma relação de direta de interiorização da indústria

plástica baiana, este deve ser analisado com cautela, uma vez que existem fatores exógenos

que não foram levados em consideração na avaliação desse trabalho.

Vale ressaltar que o incentivo fiscal se enquadra como um instrumento na promoção do

desenvolvimento econômico e regional, ainda que numa menor escala na retroalimentação

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do setor produtivo. Dessa forma, não se pode desconsiderar a eficácia do Programa

Desenvolve no período compreendido entre 2007 e 2017.

Por fim, esse trabalho monográfico serve para diagnosticar a formação da estrutura

produtiva da indústria plástica do Estado da Bahia, ao mesmo tempo em que fornece dados

para melhorar o planejamento estratégico na atração de novos investimentos e

desenvolvimento econômico e social do território baiano.

Em suma, este trabalho pode ser explorado em outras diferentes linhas e sobre diversas

perspectivas de análise que não foram exploradas nessa mamografia.

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