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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE COMUNICAÇÃO PROGRAMA DE GRADUAÇÃO EM COMUNICAÇÃO SOCIAL PIETRO MENEZES RAÑA ALVAREZ O LEAD NO JORNALISMO DIGITAL Salvador 2006

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE COMUNICAÇÃO

PROGRAMA DE GRADUAÇÃO EM COMUNICAÇÃO SOCIAL

PIETRO MENEZES RAÑA ALVAREZ

O LEAD NO JORNALISMO DIGITAL

Salvador

2006

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PIETRO MENEZES RAÑA ALVAREZ

O LEAD NO JORNALISMO DIGITAL

Monografia apresentada ao Curso de Graduação em

Comunicação Social com Habilitação em Jornalismo,

Faculdade de Comunicação, Universidade Federal da

Bahia, como requisito parcial para obtenção do grau de

Jornalista.

Orientador: Prof. Dr. Marcos Palacios

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Salvador

2006

A

Nilse Menezes Alvarez, mãe, pelo apoio incondicional.

Manuel Raña Alvarez, pai, pela compreensão e por ter me mostrado o valor do estudo.

AGRADECIMENTOS

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Em primeiro lugar a Deus, que me permitiu ter ingressado e cursado devidamente uma

universidade pública.

A Marcos Palacios, orientador extremamente engajado, preocupado e presente.

À Professora Maria Carmem Jacob, que durante o curso, foi uma das maiores incentivadoras

do projeto.

Ao Colegiado da Faculdade de Comunicação, da UFBA, pelo apoio, a infra-estrutura e a

presteza dos seus funcionários.

À Reitoria da UFBA, em especial ao Reitor Naomar de Almeida Filho, que sempre esteve

disposto a me receber e esclarecer dúvidas.

Aos amigos e colegas pela força e por sempre acreditarem no meu potencial.

Ao amigo Pablo Henrique Leiro de Leiro pelo apoio no tratamento das imagens utilizadas no

trabalho.

RESUMO

Este trabalho está baseado em um estudo de casos e visa identificar se há variações nos leads

utilizados em quatro jornais online do país. Partimos de um histórico de criação e principais

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modificações pelas quais o lead passou e mostramos que ele possibilitou o surgimento da

estrutura de construção narrativa conhecida como Pirâmide Invertida. O conceito da pirâmide

e a discussão sobre seu uso são pontos de partida para o entendimento do assunto. O boom da

Internet (considerando-se suas três etapas de desenvolvimento: transposição, metáfora e

webjornalismo), o conhecimento de suas características e potencialidades (multimidialidade,

hipertextualidade, memória, instantaneidade, interatividade e customização de conteúdo) e o

desenvolvimento desses recursos, abriu espaço para a discussão sobre a aplicabilidade da

estrutura da pirâmide invertida nos textos dos jornais digitais. Três hipóteses foram

formuladas. A primeira delas considera que, assim como o jornalismo na web apresenta

continuidades, potencializações e rupturas, é de se esperar que os leads dos webjornais

também o apresentem. Na segunda, visamos mostrar que as características específicas do

jornalismo online são fatores que potencialmente afetam a estrutura narrativa e, portanto, o

lead. A terceira parte da evidência de que o uso dos leads não é homogêneo no jornalismo

impresso, sendo de se esperar que também não seja no jornalismo online. Em canais dos

webjornais analisados onde o fator tempo é preponderante, como nas Últimas Notícias,

verifica-se continuidade com o sistema de lead tradicional. Já em canais como os Especiais

percebe-se uma quebra da lógica de leitura, possibilitada pelo recurso da hipertextualidade.

Palavras-chave: Lead; Pirâmide Invertida; Webjornalismo; Hipertextualidade; Lead nos

Webjornais

LISTA DE FIGURAS

Figura 1

Modelo da Pirâmide Invertida 22

Figura 2

Modelo da Taça de Champanhe, como proposto por Mario

García 43

Figura 3 Visão Geral da Folha Online 47

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Figura 4

Detalhes Portal UOL e Acesso à Versão Impressa 48

Figura 5

Detalhes da Seção Em Cima da Hora

49

Figura 6

Leads tradicionais nas seções de atualizações mais rápidas 49

Figura 7

Plantão de notícias como possibilidade nas diversas seções 50

Figura 8

Detalhe do lead na seção Brasil (lead tradicional) 51

Figura 9

Galeria de Fotos – uma possibilidade de quebra com a estrutura

tradicional 52

Figura 10

Parte textual da Galeria de Fotos – retorno aos leads

tradicionais 52

Figura 11

Seção Especiais em detalhe – informações cruzadas por ano e

editoria de interesse 53

Figura 12

Detalhe de um texto na seção Especiais: após a escolha do

caminho a percorrer, percebemos a ocorrência de leads

tradicionais

54

Figura 13

Visão geral O Globo (versão online) 55

Figura 14

Página do Cadastro 56

Figura 15

Plantão de Notícias (notícias longas e leads tradicionais) 57

Figura 16

Canais do Jornal O Globo 58

Figura 17

Detalhe do lead em um dos canais de O Globo: modelo

tradicional 59

Figura 18

Especiais (apesar de não determinar o caminho a percorrer, ao

chegar nos textos, se percebem leads tradicionais 60

Figura 19

Vista geral de O Estado de São Paulo (versão online) 62

Figura 20

Detalhe do topo – outros veículos do grupo podem ser acessados

de forma direta 63

Figura 21

Detalhes da seção Foto Repórter. Na instância textual, o uso do

lead tradicional é evidenciado 64

Figura 22

Detalhe Acesso Gratuito (o conteúdo liberado do jornal recebe

uma marca indicativa) 65

Figura 23

O lead tradicional vigora no canal de últimas notícias 66

Figura 24

Detalhe do canal Economia (lead tradicional) 67

Figura 25

Canal Espaço Aberto (promove interatividade com o leitor) 67

Figura 26

Geral e detalhes da seção Especiais (aqui também não se

determina uma lógica de leitura, mas se ampara a parte textual

nos conceitos da pirâmide invertida e do lead tradicional)

68

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Figura 27

Seção Especial – mais uma vez, ruptura acentuada na

construção da lógica de leitura. Mas apelo ao modelo tradicional

quando se chega na base textual

69

Figura 28

Detalhe dos canais Shopping e Blog do Noblat

70

Figura 29

Detalhe de um lead no Blog do Noblat – modelo misto

71

Figura 30

Visão Geral do Jornal do Brasil (online)

72

Figura 31

Visualização da versão impressa

73

Figura 32

Seção Últimas Notícias – Leads tradicionais 74

Figura 33

Últimas Notícias = Lead tradicional 75

Figura 34

Mais uma vez a estrutura tradicional presente nas Últimas

Notícias 75

Figura 35

Detalhe / Disposição dos canais 76

Figura 36

Canal Interface: Lead misto 77

Figura 37

Canal Interface trata não apenas assuntos da agenda do dia e usa

leads mistos 78

Figura 38

Jblogs: leads mistos

79

Figura 39

Lead misto 80

LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 Pesquisa realizada pelo Instituto Verificador de Circulação,

2004

PÁG. 17

Gráfico 2 Crescimento no número de jornais online no Brasil PÁG. 32

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 10

CAPÍTULO 1 19

O Lead e a estrutura da Notícia no Jornalismo Impresso:

História, Percurso e Crítica

CAPÍTULO 2 30

A Internet e as polêmicas em torno do formato Notícia

no Jornalismo Online.

CAPÍTULO 3 45

Estudos de Caso

3.1 – Análise do Jornal “Folha de São Paulo” 47

3.2 – Análise do Jornal “O Globo” 55

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3.3 – Análise do Jornal “O Estado de São Paulo” 61

3.4 – Análise do “Jornal do Brasil” 72

CONCLUSÃO 81

BIBLIOGRAFIA 87

ANEXO 92

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INTRODUÇÃO

Este Trabalho de Conclusão de Curso se propõe a analisar a estrutura do lead

no texto jornalístico na web. Procurou-se traçar um histórico desse recurso narrativo

desde a sua criação no jornalismo impresso, investigando possíveis variações nos

leads em diferentes seções e gêneros dos jornais digitais e evidenciar que

modificações essa estrutura textual vem sofrendo em sua transição para as redes

digitais.

O trabalho é o desdobramento de um ensaio apresentado em 2003, por ocasião

da conclusão da Disciplina Oficina de Jornalismo Impresso, na Faculdade de

Comunicação da Universidade Federal da Bahia; assim como, de um segundo ensaio,

elaborado para a Disciplina Oficina de Jornalismo Digital, em 2005, na mesma

Faculdade. Buscou-se, neste trabalho, aprofundar duas das perguntas que orientaram o

segundo ensaio: como funciona o do lead no jornalismo digital? Existem diferenças

identificáveis entre os principais jornais online brasileiros quanto ao uso do lead?.

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Assim, inicialmente, esse estudo visou evidenciar - tendo como ponto de

partida experiências com o lead em suportes impressos - os tipos de leads praticados

no jornalismo web, verificando as mudanças que estes sofreram na transição do

modelo impresso para o digital, pinçando especificidades do lead no modelo digital de

jornalismo. Visou também identificar, mais concretamente, como isso ocorre no caso

de alguns jornais brasileiros na internet.

A partir desse estudo e da análise de um conjunto de webjornais, pretendeu-se

verificar se é possível traçar-se um “perfil” do lead utilizado no texto jornalístico dos

suportes digitais, ou seja, mostrar como esse lead se constrói atualmente, em analogia

ao lead tradicional, que obedece à fórmula que responde às seis perguntas básicas (que

são: o quê?, quem?, como?, onde?, por quê? e como?)1 Visamos ainda identificar se

são aplicados tipos diferentes de leads em cada gênero jornalístico (reportagem

especial, matéria factual, etc) praticado na web.

A questão básica que norteia o encaminhamento do presente estudo é a

constatação, por parte de autores como Ricardo Noblat (2002), Clóvis Rossi (1980),

Elcias Lustosa (1996), Natalício Norberto (s.d.) e outros, de mudanças na estrutura do

lead nos jornais impressos. O que buscamos é saber até que ponto essas mudanças se

transpõem para o jornalismo na web; que diferenciações são identificáveis nesse “lead

da web” e até que ponto tais diferenciações decorrem das características específicas

das redes telemáticas enquanto suporte para a prática jornalística.

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___________________________________________________________________________

(1) A forma de resposta às seis perguntas básicas (o quê?, quem?, como?, onde?, por quê? e como?) foi

convencionada como a fórmula dos 5W e 1 H, que correspondem às letras iniciais das perguntas no idioma

inglês (what? who? when? where? why? how?).

Partindo da premissa de que o lead inicialmente obedecia à estrutura dos 5W e

1H - atuando como resumo das matérias para os jornais impressos - e passou por

mudanças desde a sua criação, esse estudo visa enfocar o momento da transição desse

modelo de lead dos jornais impressos para os digitais, identificando as características

dessa mudança.

Três hipóteses de trabalho foram levantadas e avaliadas através do estudo de

casos:

(a) Palacios (2003b) sugere que o jornalismo na web apresenta continuidades,

potencializações e rupturas com respeito à produção jornalística em outros

suportes. É de se supor, que com relação à estrutura narrativa e ao lead em

particular, continuidades e rupturas possam ser observadas no jornalismo online;

(b) as características específicas do jornalismo online (multimidialidade,

interatividade, atualização contínua, hipertextualidade, personalização e memória)

são fatores que potencialmente afetam a estrutura narrativa e, portanto, de forma

particular o lead;

(c) no jornalismo impresso o uso do lead não se apresenta de maneira homogênea nos

vários gêneros, sendo de se esperar que fenômeno similar se verifique no

jornalismo online.

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“Embora os princípios de rigor informativo sejam comuns a todas as

publicações do jornal, é óbvio que as regras técnicas aplicáveis aos cadernos de edição

diária e aos suplementos ou ao magazine são necessariamente distintas. (...) Cada um

dos suplementos e o magazine têm características específicas que determinam

diferenças de estilo gráfico e redactorial.” (SILVA, 1998). Gêneros jornalísticos são,

então, categorizações a que se encaixam os diversos tipos de notícias e formações

textuais. Trata-se de assunto controverso quanto à própria tipologia utilizada em sua

caracterização. Não entraremos, neste trabalho, na discussão sobre as diferentes

tipologias já propostas por pesquisadores da área. Limitamo-nos, para efeitos do

trabalho, a utilizar uma caracterização operacional, conforme explicitado a seguir:

- matéria: notícia sobre um fato recente, da ordem do dia. Nela,

geralmente os leads são tradicionais e verificamos estrutura da pirâmide invertida

devido ao curto espaço disponível;

- reportagem especial: textos mais densos e, no geral, mais literários e

narrativos. Fogem da imediaticidade do jornalismo diário pelo prazo oferecido para

construção (geralmente uma semana nos grandes jornais impressos) e de forma geral,

não demandam leads ou estruturas de pirâmide invertida, por serem justamente

maiores e mais densas;

- entrevistas: gênero onde são expostas partes selecionadas de uma

entrevista realizada com uma personagem, sobre a forma de perguntas e respostas.

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Esse gênero também prescinde da estrutura da pirâmide invertida, pela lógica própria

de construção;

- crônicas e textos de opinião: gêneros mais leves, que prescindem de

leads tradicionais por não terem o dever principal de informar.

Dessa forma, devemos atentar que a possibilidade de alteração nas construções

dos leads em jornais digitais pode nada mais ser do que uma alteração possibilitada

pelo gênero jornalístico analisado. Não é possível concluir, mas levantar uma

pergunta: a possível alteração percebida nos leads de webjornais é resultado do

suporte ou da diferenciação de gêneros?

Parte da questão, entretanto, fica limitada neste trabalho, devido ao curto

espaço de tempo para a realização das pesquisas e estudo de casos. Uma pesquisa mais

vasta sobre gêneros jornalísticos e a observação de leads nos jornais impressos, para

comparação com os de webjornais representam aprofundamentos futuros. Uma análise

mais detida sobre os blogs enquanto ferramenta que pode ser utilizada como coluna de

atualizações contínuas ou como um gênero textual também seria de grande valia para

desenvolvimentos posteriores.

A metodologia estabelecida para que os objetivos propostos pudessem ser

alcançados envolveu uma exploração bibliográfica em torno da temática e um estudo

de casos.

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A história da utilização do estudo de caso como metodologia de investigação

está marcada por períodos de uso intenso e períodos de não utilização, tendo o seu uso

iniciado na França, entre 1900 e 1935, segundo Vergara (2003). Um estudo de caso,

segundo YIM (1993) representa a busca pela verdade através de uma análise profunda

de um objeto de estudo, estando a decisão pela utilização deste método dependente do

que será investigado. A finalidade do estudo de caso é sempre uma pesquisa holística

(sistemica, ampla e integrada), visando preservar e compreender em profundidade e de

forma detalhada o caso no seu todo e na sua unicidade.

Devem ser considerados três princípios para assegurar uma correta condução

de um estudo de caso:

(a) o uso de múltiplas fontes de informação (não sendo necessário o uso de todas as

fontes em simultâneo num estudo, o uso de mais do que uma é recomendado pelas

razões de validação do estudo, já apresentadas);

(b) a criação de uma base de dados do caso;

(c) a gestão de uma cadeia de evidências do caso.

Para os pesquisadores Elias Machado e Marcos Palacios, os estudos de casos,

(...) são uma etapa de um processo de combinação de metodologias

que objetiva a máxima amplitude na descrição, explicação e

compreensão do objeto, sendo utilizados para ilustrar argumentos,

demonstrar a validade ou refutar hipóteses de trabalho previamente

levantadas pelo próprio pesquisador ou em trabalhos revisados na

literatura corrente. (...) Com este procedimento, a metodologia

empregada permite que a realidade do conceito – uma abstração que

por definição descreve, mas não representa realidade alguma – seja

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contrastada com a realidade diversificada dos objetos estudados nos

casos, possibilitando que, quando for necessário, o conceito posto à

prova seja reformulado para incorporar os aspectos até então

desconsiderados. (MACHADO & PALACIOS, 2006)

“Levantadas as hipóteses de trabalho que serão testadas pelo pesquisador (...)

vem a etapa em que ocorre a seleção das organizações jornalísticas em que serão

desenvolvidos os estudos de casos”. (MACHADO & PALACIOS, 2006).

A seleção do corpus para a realização do estudo de casos baseou-se nos

resultados de um levantamento efetuado pelo Instituto Verificador de Circulação

(IVC), em 2004, através da qual construiu-se uma lista com os principais jornais de

nível nacional, que foram categorizados através do elemento “circulação”. É

necessário salientar que optamos por números referentes à tiragem impressa porque tal

indicador diz respeito à importância do veículo original ao qual a edição online está

ligada e sua penetração, mas também estabelece o critério de analisarmos veículos

jornalísticos online produzidos por grandes empresas jornalísticas, caracterizadas por

sua importância econômica e capacidade de investimento o que, pelo menos em tese,

garantiria que estamos analisando veículos nos quais as potencialidades da web não

seriam tolhidas em sua utilização por escassez de recursos financeiros por parte de

seus produtores.

Três dos quatro jornais escolhidos para a análise deste trabalho são os três de

maior circulação no país. (Folha de São Paulo, O Globo e O Estado de São Paulo). O

quarto jornal utilizado como parte do corpus deste trabalho foi escolhido pelo

pioneirismo: o Jornal do Brasil foi o primeiro a disponibilizar uma edição online, em

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maio de 1995. Determinado o corpus, foi realizado um trabalho de exploração dos

canais2 visando verificar a construção das narrativas e foi feito o levantamento dos

(2) Canais é a denominação usualmente empregada nos webjornais para referir-se às seções em que está

dividido o material disponibilizado.

leads nas diferentes colunas desses webjornais. O desenvolvimento do estudo de casos

e os resultados serão apresentados no Capítulo 3 deste trabalho.

Gráfico 1: Pesquisa realizada pelo Instituto Verificador de Circulação, 2004

As atividades para o desenvolvimento deste trabalho foram iniciadas em

agosto de 2005, quando um primeiro esboço do projeto foi apresentado na disciplina

Desenvolvimento Orientado de Projeto. Na ocasião, foram feitos reparos no esboço e

estabeleceram-se os contatos iniciais com o orientador, Prof. Dr. Marcos Palacios.

Entre os meses de outubro e dezembro de 2005, foi realizado um levantamento

bibliográfico, orientado pelo Prof. Palacios, para que se esboçasse um texto mais

denso, contendo mais material referente ao jornalismo praticado na web.

0

50000

100000

150000

200000

250000

300000

350000Folha de São Paulo

O Globo

O Estado de São

Paulo

Jornal do Brasil

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A etapa final, desenvolvida entre março e junho de 2006, envolveu a análise

de webjornais e levantamentos para o estudo de casos. As hipóteses de trabalho foram

refinadas, aprofundou-se o trabalho com a bibliografia e buscou-se redigir e organizar

a primeira versão do trabalho.

Após reuniões presenciais e por e-mail, e avaliações, passou-se à etapa de

reparos e adequações, para que se chegasse à versão final.

Trata-se de um trabalho preliminar, que deverá servir de base para mais

discussões sobre o tema, assim como poderá constituir ponto de partida para análises

de diversos outros elementos do texto jornalístico, em pesquisas futuras, que

pretendemos conduzir como desdobramentos deste primeiro esforço de investigação.

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CAPÍTULO 1

O Lead e a estrutura da Notícia no Jornalismo Impresso: História, Percurso e Crítica.

O lead do texto jornalístico vem do termo inglês to lead, que quer dizer guiar,

preceder, conduzir, liderar. Ele se presta a introduzir ao leitor, no primeiro parágrafo,

os pontos básicos do texto que inicia. Mar de Fontcuberta (1996) atribui o seu

nascimento à Guerra de Secessão norte-americana e afirma que a técnica do lead

possibilitou o surgimento de um modelo discursivo marcado por uma segunda

estrutura: a da Pirâmide Invertida. “Carl N. Warren, citado por José Álvarez Marcos

(2003: 246), defende (...) que foram os editores dos jornais que criaram a pirâmide

invertida em 16 de Abril de 1861, data da queda do forte Sumter. As linhas

telegráficas estavam constantemente a ser cortadas, pelo que os editores ordenaram

aos seus correspondentes que relatassem o essencial nas primeiras linhas” (ZAMITH,

2005).

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Perante esta situação, os operadores de telégrafo criaram um método

para dar prioridade em simultâneo a todos os correspondentes. O

método consistiu em fazer uma fila de informadores em que cada um

podia ditar um parágrafo – o mais importante – da sua informação.

Ao acabar o turno iniciava-se o ditado do segundo parágrafo, e assim

até final. Nascera a pirâmide invertida da notícia, método ainda hoje

em vigor. (FONTCUBERTA, 1996: 59)

Segundo essa versão, fortemente marcada por um determinismo tecnológico, essa

prática teria levado ao ideal da objetividade no jornalismo. “A meta normativa passa a

ser a busca pela objetividade, com conteúdo objetivo, sem a emoção, sem preconceitos

e imparcial, primando pela neutralidade.” (MENDEZ, 2002). Transmitindo as

informações mais básicas sobre cada fato, a objetividade seria estimulada. Como

resultado desse consenso, nasceu o termo lead, que significava elaborar o primeiro

parágrafo do texto jornalístico a partir das respostas às questões básicas relativas a um

acontecimento. As questões foram assim definidas:

O quê? – What?

Quem? – Who?

Quando? – When?

Onde? – Where?

Por quê? – Why?

Como? – How?

Essa é a tradicional estrutura dos 5W e 1H. “A técnica não ficava só nas respostas

àquelas seis indagações, pois era preciso também reduzir todas as respostas a um

parágrafo de cinco linhas em média” (LUSTOSA, 1996: 78). “A cabeça, ou lead, da

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notícia deverá conter a informação mais relevante (...) reservando-se para o corpo da

notícia os complementos e/ou pormenores” (ZAMITH, 2005).

O escritor Natalício Noberto (s.d.) afirma que o lide foi criado pelos norte-

americanos há mais de cem anos; mas não partilha dessa visão que tem como ponto de

criação do termo a Guerra de Secessão. Segundo Noberto, o objetivo da criação era

substituir o estilo britânico, que consistia em redigir as notícias para os jornais,

observando fielmente a ordem cronológica dos fatos.

Segundo o pesquisador e jornalista Francisco José Karam, “a origem do lead,

ao contrário do que consideram alguns manuais ou discursos, não é responsabilidade

exclusiva do jornalismo norte-americano ou inglês”. (KARAM, 2000). Para o

jornalista, o surgimento não se dá por acaso ou por um simples arbítrio na articulação

do discurso. “Certamente, a linguagem jornalística valeu-se da tradição greco-romana

em relação ao uso das palavras e ao discurso claro e convincente” (KARAM, 2000),

completa.

Pela óptica de Karam, as técnicas discursivas desenvolvidas pelos filósofos

gregos e os oradores e juristas romanos antigos, possuíam três qualidades essenciais: a

brevidade, a clareza e a verossimilhança. E para que uma exposição fosse completa,

exigiam-se alguns elementos essenciais: era preciso responder às mesmas questões

básicas que hoje encontramos como caracterizadoras de um lead. Ainda segundo o

pesquisador,

(...) as atribuições de que a pressa para ler, o telégrafo que poderia

cair, o tempo disponível de leitura - fatores da incipiente

modernidade e do assoberbado ritmo atual - quando consideradas

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razões primeiras ou exclusivas para o surgimento e permanência do

lead, desmentem-se pela necessidade de uma arte de dizer e

convencer, no que gregos e romanos foram mestres. (KARAM,

2000).

A versão de Karam coloca-se, portanto, como um contraponto ao modelo

explicativo marcado pelo determinismo tecnológico. O fato é que o formato tornou-se

padrão nas redações jornalísticas, principalmente naqueles países onde predominou a

influência norte-americana nos modelos jornalísticos adotados.

O autor Fernando Zamith explica que a Pirâmide invertida foi instituída, há

mais de 100 anos, como jargão jornalístico para identificar um formato de textos em

que a parte mais importante da notícia ou da informação é colocada logo no primeiro

parágrafo. A pirâmide da informação seria invertida porque, ao contrário das

pirâmides físicas, o mais importante estaria no alto, ou seja, no início do texto. “O

formato tornou-se quase uma unanimidade na imprensa porque poupa tempo do leitor

e permite que o texto seja cortado para adequar-se ao espaço editorial disponível, sem

comprometer a qualidade da notícia ou da informação” (ZAMITH, 2005).

Lead = base larga da pirâmide:

(contém as informações mais

relevantes dos fatos)

Corpo do Texto = afunilamento

para o topo da pirâmide

(informações adicionais sobre os

fatos)

Figura 1: Modelo da Pirâmide Invertida

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Como explica Luiz Garcia, de O Globo: “alimenta-se o início da matéria com

os fatos mais relevantes, e o conteúdo dos parágrafos que seguem vai decrescendo em

importância”. A autora Ana Paula Goulart Ribeiro ratifica: “A pirâmide invertida tinha

uma dupla função. Além de atender à lógica da leitura rápida, facilitava também o

processo de edição, permitindo que, na hora da montagem da página, se cortasse o

texto pelo final (ponta da pirâmide), sem lhe causar danos de sentido” (RIBEIRO,

2003).

Segundo registro e observação do autor Adelmo Genro Filho, a primeira

notícia redigida segundo a técnica da pirâmide invertida teria aparecido no The New

York Times, em abril de 1861. “A partir da segunda metade no século XX, alguns dos

mais importantes periódicos latino-americanos passaram a publicar notícias das

agências norte-americanas, redigidas segundo esse modelo” (GENRO FILHO, 1987).

A utilização do lead, e portanto, da estrutura da pirâmide invertida, no Brasil,

foi difundida a partir dos anos 50, por iniciativa do jornalista Pompeu de Souza. “O

Diário Carioca foi o primeiro jornal brasileiro a adotar, de forma sistemática, as

técnicas norte-americanas. Em março de 1950, esse matutino lançou um manual de

redação e estilo (o primeiro do Brasil) cujo título era Regras de redação do Diário

Carioca” (RIBEIRO, 2003). Ainda na década de 50, passou-se a adotar, no país, uma

técnica de elaboração de notícia institucionalizada pelos manuais de redação de

grandes jornais, que sofriam forte influência do sistema norte-americano. “Os manuais

de redação dos principais jornais do país normatizam estilos, sugerindo uma pretensa

homogeneização de textos entre as editorias” (ALZAMORA, 2001).

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Segundo Fernando Zamith, com o tempo “os manuais de redação, ou livros de

estilo, têm sido progressivamente abandonados por muitos órgãos de comunicação

social, mas, nos poucos que ainda vão existindo, é freqüente encontrar referências à

pirâmide invertida” (ZAMITH, 2005). O autor completa: “ela tem vigorado mais nos

jornais do que nas televisões ou rádios”.

A utilização da pirâmide invertida nos diferentes tipos de veículos midiáticos

(televisão, rádio, jornais impressos e webjornais) gera discussões. O que se discute é

se a forma pela qual ela propõe a abertura dos textos é a mais adequada ou não. Em

que pontos seria mais interessante retomar a lógica britânica de redação de notícias, de

forma narrativa cronológica? E o prazer estético?

Ao longo das últimas décadas, têm-se sucedido os estudos sobre as

vantagens e desvantagens de uso da pirâmide invertida no

jornalismo, particularmente na imprensa. Na generalidade, os

estudos indicam que o leitor recorda melhor os pormenores de um

acontecimento que lhe foi apresentado numa narrativa linear (em

ordem cronológica) do que o que leu em pirâmide invertida. Uma

das explicações que tem sido dada é que ler uma “história” (seja ela

notícia ou romance literário) em ordem cronológica é mais apelativo

e entusiasmante do que ler um texto em que nos é dada de imediato a

“conclusão” e em que o interesse vai decrescendo à medida que

avançamos na leitura. (ZAMITH, 2005)

Nos Estados Unidos, percebe-se um renascimento de interesse dos jornais

diários pela forma narrativa (narração de um fato na ordem dos acontecimentos). “Na

realidade, trata-se de um novo ciclo de interesse, pois o Jornalismo Narrativo -

sinônimo atual do sempre empolgante Jornalismo Literário - e o jornalismo da

pirâmide invertida coexistem na imprensa dos Estados Unidos, desde o final do século

XIX”. (LIMA, 2003). A autora Magru Floriano ratifica: “Jornalismo literário existe

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pelo menos desde o século 19”. (FLORIANO, s.d.). O argumento desses autores é que

o estilo narrativo aumentaria a satisfação do leitor.

Com base nas discussões sobre estilos narrativos, três instituições norte-

americanas (American Society of Newspapers Editors, que congrega cerca de 900

editores-diretores de diários; Newspaper Association of America, organização das

empresas editoras de jornais nos Estados Unidos e no Canadá, com mais de 2.000

jornais filiados; e o Media Management Center, da Universidade Northwestern)

analisaram o modo de escrita de 74 mil matérias. O estudo considera três categorias

possíveis: as de formato piramidal, as de comentário e as de estilo narrativo, mais

próximo ao literário. O resultado apontou 69% seguindo o modelo da pirâmide

invertida, 12% na categoria comentários e 18% narrativas. Embora esteja em

desvantagem numérica, o estudo realizado traçou conclusões favoráveis ao Jornalismo

Narrativo.

O problema com esse estudo é que a classificação “Jornalismo Narrativo”

introduz uma denominação pouco esclarecedora e que pode inclusive levar a

confusões, já que se pode argumentar que todo e qualquer estilo é, em essência,

“narrativo”, sendo o lead apenas uma forma de “introduzir uma narrativa”.

O uso do lead e da tradicional estrutura da pirâmide invertida, não é, portanto,

de modo algum consensual e suscita contínuas discussões: a “correta” forma de se

montar um lead (lead para jornais, independente do formato onde o texto seja

postado), portanto, divide os interessados no tema em dois grupos bem delimitados.

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O primeiro deles defende a estrutura tradicional de montagem, respondendo às

seis questões básicas e seguindo o modelo da pirâmide invertida. Esse grupo de

autores argumenta que o lead é eficaz por despertar o interesse do leitor, expondo logo

o que ele quer saber. “O lead é encarado (...) como um resumo de toda a matéria. Isso

se baseia no fato de ninguém hoje ter tempo de ler toda uma notícia com muitas linhas,

por isso, as linhas iniciais devem conter um resumo de toda a reportagem” (ROSSI,

1980: 57).

Nilson Lage, no artigo “Comentários à dissertação ‘O Estado de S. Paulo (1942

- 1972), uma contribuição à história das técnicas jornalísticas’, de Liriam Sponholz”,

defende que a notícia, e portanto, o lead tradicional, é o produto que o jornal põe à

venda. O autor explica que o lead decorre da maneira como as pessoas contam umas às

outras episódios pontuais a que assistiram, começando pelo mais relevante, com o

objetivo evidente de atrair a atenção do interlocutor.

Se formalizarmos esses tópicos orais situando o evento no tempo e

espaço e dando nomes civis a pessoas e temas, chegaremos ao lead

clássico. E não é verdade que o lead descontextualize o fato: apenas

faz com que a exposição do fato anteceda a exposição do contexto.

(LAGE, s.d.)

Adelmo Genro Filho cita, em Jornalismo como ideologia: o reducionismo

como método, um dos capítulos do livro O segredo da pirâmide - para uma teoria

marxista do jornalismo, o autor cubano Ricardo Cardet:

(...) o autor faz o elogio do lead, alegando aspectos práticos, no

sentido de uma comunicabilidade eficaz. Segundo Cardet, o lead

tem dois méritos poderosos: "Primeiro, porque bastará ler esse

primeiro parágrafo para que o leitor fique inteirado do

acontecimento; segundo, porque mesmo que não haja tempo de ler

os restantes, parágrafos fica sempre fixado o essencial da informação

no primeiro". Conforme Ricardo Cardet, a principal condição do

jornalismo é a veracidade: "Por isso, a principal condição da

informação jornalística não é nem a brevidade, nem a clareza, nem a

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simplicidade da linguagem, mas sim a veracidade dos dados. A

essência de qualquer notícia é que o fato seja verdadeiro, mesmo que

esteja redigido com erros de ortografia". (GENRO FILHO, 1987)

“O jornalismo que fazemos hoje, é um jornalismo de modelo americano,

tecnicamente hegemônico, que estabelece a lógica do Lead como única e verdadeira”,

expõe Magru Floriano (s.d.), que defende que:

(...) isto não quer dizer que o jornalismo foi sempre assim, isento de

liberdade e flexibilidade técnica, ou que nunca tenha permitido o uso

das emoções e valores subjetivos. Este jornalismo que temos hoje, é

um jornalismo datado historicamente. Não é, portanto, um modelo

único, e sequer permanecerá eternamente sendo exercido pelas

redações mundo afora. (FLORIANO, s.d.)

Partilham da mesma opinião os autores Francisco José Karam (2000) e Ana

Paula Goulart Ribeiro (2003). “O lead ainda não foi (e não pode ser) aposentado.

Objetividade, discurso direto, simplicidade e diversas outras coisas que continuam

sendo importantes”. (VIANA, 2001). Comaseto (2001) explica que os modelos de

estruturação da notícia, desenvolvidos paralelamente à evolução do jornalismo

mundial, levam em consideração justamente os formatos que facilitam a assimilação

de conteúdos pelas mentes humanas. Luiz Garcia, do jornal O Globo, afirma que “o

bom lead é aquele que faz o leitor continuar a ler”.

O segundo grupo critica a rígida estrutura tradicional do lead. Para este, o texto

deve exercer uma sedução com relação ao leitor; e o lead tradicional não funciona

dessa maneira. “O lead não é a abertura de uma notícia, mas a soma total dos detalhes

do fato. É o clímax do acontecimento” (NOBERTO, s.d.: 57). Ricardo Noblat afirma

que “o lead convencional morreu (...) vocês fingem que ele está vivo (...) mas [ele]

viveu mais do que deveria. (..) O lead é inimigo do prazer que a leitura de um texto

pode proporcionar.” (NOBLAT, 2002: 96/99). O autor defende que “se quisermos que

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o primeiro parágrafo de uma notícia continue atendendo pelo nome de lead”, não há

problemas. O grande entrave para o autor é “teimarmos em redigi-lo do modo como o

fazemos” (NOBLAT, 2002: 99).

Um conceito proposto em sala de aula, em 2002, na disciplina Oficina de

Comunicação Escrita, foi chamado de “abre-convite” e é a síntese do que os autores

citados no parágrafo anterior idealizam. Um lead que elimine o mecanicismo e

convide o leitor a desfrutar dos detalhes de todo o texto.

Segundo Mendez (2002), estamos numa era em que não adianta mais apenas

reportar o acontecido, é preciso primeiro entender todo o contexto, priorizando o

tratamento dado à informação, que deve ser explicativa e analítica, reforçando sua

capacidade e seu poder de informar. “O jornalista não pode perder a sua sensibilidade,

procurando sempre manter a percepção sobre o fato real e como abordá-lo para não se

tornar apenas um transmissor de uma informação já conhecida pelo público que ouve

rádio, assistiu no programa jornalístico da televisão ou viu pela Internet”. Mendez

continua:

(...) Os fatos diários devem ser tratados com singularidade,

permitindo que o leitor tenha a segurança de que há organização,

coesão e consistência. Um novo caminho a ser tomado pelo

Jornalismo informativo impresso proporcionando um estímulo ao

pensamento, propiciando o debate e a construção de um

conhecimento sólido sobre os acontecimentos contemporâneos.

(MENDEZ, 2002)

O autor Sergio Vilas Boas, em entrevista ao jornalista Paulo Lima (2006), para

o site Observatório da Imprensa, em 2006, afirma que:

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(...) O lead foi inventado para facilitar a vida de quem faz

jornalismo, ou seja, para facilitar a vida dos jornalistas. Não foi para

facilitar a vida de quem "consome" jornalismo, ou seja, os leitores.

(...) O jornalismo é feito de muitos outros conteúdos não-noticiosos.

Não basta apenas responder às perguntinhas clássicas ("onde",

"quando", "quem", "como" e "por quê") que compõem o lead básico

de uma notícia. (LIMA, 2006).

O parágrafo de abertura, segundo esta concepção, deve atrair o público. Deve

ser como um convite para que o leitor se interesse em saber sobre os desdobramentos

daquilo que está escrito. Isso não significa, entretanto, que uma estrutura rígida e

imutável deva ser adotada como parágrafo de abertura da narrativa. Os autores

Fernando Zamith (2005) e Edvaldo Pereira Lima (2003) também partilham desta

visão.

Dessa linha de raciocínio, surge a hipótese do lead convite, ou seja, aquela

estrutura textual que faça o leitor se identificar com a matéria e despertar o seu

interesse em lê-la. É o lead misto, ou seja, aquele que transmite informações

respondendo a algumas das perguntas básicas, mas não esquecendo da lógica da

identificação. Essa hipótese, proposta por um colega de curso, Vítor Bittencourt

Rocha, pôde ser trabalhada – conforme citado no decorrer deste capítulo – durante a

disciplina Oficina de Comunicação Escrita, ministrada em 2002 pelo professor Paulo

Leandro, na Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia.

Após essa breve incursão sobre a polêmica em torno do lead, vamos passar à

discussão sobre sua transposição à Internet e às questões que surgem a partir dela.

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CAPÍTULO 2

A Internet e as polêmicas em torno do formato Notícia no Jornalismo Online.

O jornalismo, tal como o conhecemos hoje, nasceu no século XVII, com o

lançamento dos primeiros jornais na Europa, quando se otimizou a aplicação das

técnicas de impressão. De lá para cá, a história do jornalismo guarda forte relação com

a difusão de novas tecnologias de transmissão, comunicação e informação. De certa

forma, o conceito de jornalismo encontra-se relacionado ao suporte técnico e ao meio

que permite a difusão das notícias. Daí derivam conceitos como jornalismo impresso,

telejornalismo e radiojornalismo. (MURAD, 1999)

Ainda segundo Murad (1999), as primeiras experiências de jornalismo na rede

datam do final da década 80, quando provedores como o American Online começaram

a disponibilizar serviços de notícia personalizados. Conforme assinalam Machado e

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Palacios (1997), “a criação da Internet, a rede mundial de computadores (...) sinaliza

para a adoção de um ambiente único para circulação das mais distintas formas de

expressão da subjetividade, protagoniza uma revolução paradigmática no campo do

discurso jornalístico”.

No artigo coletivo “Além das Profecias”, os autores Suzana Barbosa, Elias

Machado, Luciana Mielniczuk, Marcos Palacios e Beatriz Ribas, referindo-se ao

seminário New News Products (realizado em 1995 para discutir as previsões quando o

jornalismo digital começava a ensaiar modelos de produção adaptados ao mundo das

redes), concluem que:

(...) pelas previsões daqueles especialistas convidados, o jornalismo

no ciberespaço seria mais contextualizado, facilitaria o trabalho de

apuração, aproveitaria a vinculação das matérias por links,

estimularia a interação dos jornalistas com o público e exploraria

formas mais expressivas de reportagem, com o uso diferenciado de

texto e gráficos. (BARBOSA et al., 2006)

E prosseguem, citando Pavlik (2001):

Um jornalismo que, por um lado, pode vir a ser melhor do que o

atual porque tende a incorporar uma audiência alienada, mas que,

por outro, apresenta ameaças a padrões do jornalismo como

autenticidade nos conteúdos, verificação de fontes, veracidade e

exatidão. (BARBOSA et al., 2006)

A nova tecnologia poderia servir para mudar o ambiente comunicacional de

forma radical, permitindo alterações profundas nos sistemas para coletar, tratar,

classificar, censurar, circular e armazenar as informações. A previsão, em 1995, era de

que o estilo baseado na técnica da pirâmide invertida para a redação das notícias e

reportagens poderia ser ampliado. Em boa medida, o emprego do link como um dos

recursos para uma nova gramática de se reportar, ajuda na maior contextualização dos

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eventos, no entanto, os autores assinalam que o formato ainda é muito linear na grande

maioria dos websites noticiosos. (BARBOSA et al., 2006). Vale ressaltar que, se

consideramos que o índice de livros representa uma forma de linkagem, o emprego do

link é, então, anterior ao jornalismo. Vale igualmente ressaltar que a digitalização

possibilita o surgimento do hipertexto, potencializando e abrindo perspectivas até

então desconhecidas para a utilização de processos de linkagem.

Para Fidler (1997) as transformações nos meios de comunicação são

decorrentes de complexas inter-relações de necessidades percebidas, competitividade,

pressões políticas, inovações sociais e tecnológicas.

Em 1997, Machado e Palacios, através de um Manual de Jornalismo na

Internet, pela primeira vez no Brasil, apresentaram conceitos, noções práticas e um

guia das principais publicações jornalísticas digitais brasileiras e internacionais: “Uma

nova modalidade de jornalismo toma conta das telas dos computadores. Cerca de

quatro mil publicações digitais de todos os tipos, estão hoje disponíveis para qualquer

pessoa que, possuindo um computador e um modem, conecte-se à Internet, através de

uma linha telefônica ou cabo de fibra ótica”. (MACHADO & PALACIOS, 1997). Os

jornais online, segundo estudo da Editor e Publisher citado pelos autores naquele

trabalho, passaram de 20, em 1994 para quase 4 mil, em 1999.

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Gráfico 2: Crescimento no número de jornais online no Brasil Fonte: Editor e Publisher (Retirado de MACHADO & PALACIOS, 1997)

Foi na virada da década de 80, com a criação da World Wide Web (WWW)

pelo físico inglês Tim Berners-Lee, que se iniciou o boom da internet. A WWW

possibilitou a navegação mais fácil, a partir de interface gráfica amigável baseada em

hipertexto. “A internet passa a ser utilizada, de forma expressiva, para atender

finalidades jornalísticas, a partir de sua utilização comercial, que se dá com o

desenvolvimento da web” (MIELNICZUK, 2002).

Segundo a autora, ao longo desta década de história do jornalismo na web, é

possível identificar três fases distintas:

(a) num primeiro momento, o qual chama-se de

transpositivo, os produtos oferecidos, em sua maioria, eram

reproduções de partes dos grandes jornais impressos, que passavam

a ocupar o espaço na Internet. É muito interessante observar as

primeiras experiências realizadas: o que era chamado então de jornal

online não passava da transposição de uma ou duas das principais

matérias de algumas editorias. Este material era atualizado a cada 24

horas, de acordo com o fechamento das edições do impresso;

(b) com o aperfeiçoamento e desenvolvimento da estrutura

técnica da Internet, pode-se identificar uma segunda fase - a da

metáfora - quando, mesmo ‘atrelado’ ao modelo do jornal impresso,

os produtos começam a apresentar experiências na tentativa de

explorar as caraterísticas oferecidas pela rede. Nesta fase, mesmo

0

500

1000

1500

2000

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3500

4000

1994 1995 1996 1999 (maio)

Jornais

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sendo ainda transposições do impresso para a Web, começam a

surgir links com chamadas para notícias de fatos que acontecem no

período entre as edições; o e-mail passa a ser utilizado como uma

possibilidade de comunicação entre jornalista e leitor ou entre os

leitores, através de fóruns de debates; a elaboração das notícias passa

a explorar os recursos oferecidos pelo hipertexto. A tendência ainda

era a existência de produtos vinculados não só ao modelo do jornal

impresso, mas também às empresas jornalísticas cuja credibilidade e

rentabilidade estavam associadas ao jornalismo impresso;

(c) o terceiro, e atual, momento corresponde a um estágio

mais avançado de toda uma estrutura técnica relativa às redes

telemáticas, bem como corresponde a um momento de expansão da

base instalada e aumento do número de usuários. Ou seja, houve

uma evolução técnica que permite a transmissão mais rápida de sons

e imagens e houve também o crescimento do número de usuários,

justificando investimentos no setor. (MIELNICZUK, 2002)

Hoje, a internet interliga em redes mundiais, mais de um bilhão de usuários,

através de computadores capazes de gerenciar e estocar texto, imagem e som na forma

digital, utilizando-se para isso de suportes diversos como fibra ótica, linhas de

telefone, satélite e rádio.

A rede das redes disponibiliza serviços de informação em linha (Web), correio

eletrônico e fóruns de discussão, abrigando formas de comunicação variadas e

estabelecendo-se como ambiente de comunicação, informação e ação, que incorpora

os mais diversos âmbitos de atividades humanas, como a educação, a saúde, o

comércio, a administração, a política, etc, etc. (PALACIOS, 2003a).

Para o entendimento dos elementos da dinâmica própria do jornalismo online,

devemos considerar:

a) O aumento da quantidade de informação disponível 24 horas, em fluxo

contínuo;

b) A crescente importância da incorporação da memória ao texto jornalístico;

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c) A diversidade de fontes de informação , especialmente com o impulso que

vêm ganhando os blogs;

d) A força da participação do usuário para a produção dos conteúdos;

e) A emergência e o desenvolvimento do formato portal. (BARBOSA et al.,

2006)

Os jornais foram os primeiros veículos de comunicação a integrar o

ciberespaço, favorecidos pelo avanço das ferramentas tecnológicas e comandados pela

decisão estratégica de ocupar espaços e não perder receitas publicitárias. Um leque de

oportunidades se abre à atividade jornalística na Internet, no que concerne ao processo

de produção e difusão da notícia, em função das tecnologias digitais e das redes

interativas. (MURAD, 1999).

As mudanças na forma de busca, leitura e recepção da informação exigem nova

maneira de escrever que contemple as relações com o tempo e o espaço. O

desenvolvimento de linguagem própria deve contemplar não só formas diferentes de

contar a história, como também modos de como disponibilizar as informações ao

público. (MURAD, 1999). A possibilidade de utilizar recursos como textos, fotos,

imagens, mapas e áudio, integrando-os na mesma mensagem, bem como de conectar,

por meio do hipertexto, a matéria a informações de arquivo e/ou complementares

disponíveis na home do próprio veículo ou em outro site, sem dúvida, incrementam a

produção, completa Murad.

As características intrínsecas do texto no jornalismo digital envolvem a

convergência dos formatos das mídias tradicionais (imagem, texto e som) na narração

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do fato jornalístico, ou seja, a Multimidialidade. Somam-se a ela a Instantaneidade, a

Interatividade - leitor com maior possibilidade de interação com o processo

jornalístico, Hipertextualidade - interconexão de textos

através de links, Customização

do Conteúdo - configurar os produtos a partir de interesses individuais e Memória -

acúmulo de informações, que podem ser utilizadas tanto pelo próprio jornalista

(produtor) quanto pelo usuário (consumidor). (PALACIOS, 2003b).

Apesar das potencialidades abertas pela tecnologia do suporte, o início do

jornalismo na web foi marcado pela transposição do modelo praticado nos jornais

impressos. Os textos, nessa primeira fase (o Jornal do Brasil Online foi lançado em

1995), eram exatamente os publicados nas versões impressas dos jornais: as matérias

se apresentavam em blocos grandes, seguindo o modelo da pirâmide invertida e o lead

tradicional, respondendo aos 5W e 1H. Não se fazia qualquer adaptação: os textos

eram simplesmente “copiados e colados” nos sites dos jornais online.

Visualizávamos, há cerca de uma década, portanto, textos na web que seguiam

a estrutura da pirâmide. Mas com o passar do tempo, foi ficando evidente o

inconveniente dessa prática, como é exposto por Carlos Castilho:

À medida que a web caminha para projetos multimídia em ambiente

de convergência de meios, ficam mais evidentes as deficiências da

transposição de textos impressos para a Internet. Como aplicar, por

exemplo, o formato da pirâmide invertida em narrativas jornalísticas

que envolvam sons, imagens e interatividade? Quase todos os

jornalistas sabem usá-la com maior ou menor habilidade, em textos

que seguem uma estrutura linear. Mas será que é possível usar o

mesmo recurso numa narrativa não-linear, que é a que dá ao

internauta a possibilidade de escolher como vai navegar por um

tema? (CASTILHO, 2005)

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O mesmo ponto de vista é defendido por João Canavilhas, referindo-se ao fato

de que com o gradual desenvolvimento do Jornalismo na Internet, as estruturas

narrativas se foram diversificando e exigindo novas formas de construção:

Me parece que solo es posible hablar en una "pirámide invertida" en

un medio hipermediático cuando se trate de una "estructura unilink".

En este caso, cada texto tendría un solo enlace y, como tal, se

seguiría la técnica de pirámide invertida. La novedad son las

"estructuras multilink" y, en este caso, la pirámide no tiene sentido e

la escritura interactiva exige modificar la narrativa y la forma de

crear los textos y esto esta íntimamente ligado a la superestructura.

(CANAVILHAS, 2001)3

(3) “Me parece que só é possível falar em uma “pirâmide invertida” em um meio hipermidiático, quando

se trate de uma estrutura linear. Neste caso, cada texto teria uma só possibilidade de amarração e, como

tal, se seguiria a técnica da pirâmide invertida. A novidade são as “estruturas multilink” [hipertextos] e,

neste caso, a pirâmide não tem sentido e a forma interativa de escrever exige modificar a narrativa e a

forma de criar os textos e isso está intimamente ligado à superestrutura.” (Nossa tradução).

O jornalismo online é, pois, uma área da comunicação que está sendo obrigada

a criar seus próprios modelos e formatos. A ausência de paradigmas a serem seguidos

só pode ser solucionada através da experimentação.

Tendo em vista suas potencialidades tecnológicas, o meio digital possibilita um

conjunto de gêneros (ou organizações temáticas) que vão desde um jornalismo rápido

e de atualização contínua, com textos mais leves, menores e menos densos até um

jornalismo mais contextualizado e investigativo, formado por reportagens especiais e

canais especializados em determinado assunto.

A atualização contínua promove a inserção, a cada intervalo de tempo, de

partes das notícias, segundo o desenrolar dos fatos. A cada novo fato, a cada espaço de

tempo; mais informação. Esse processo gera arquivos de memória que beneficiam o

jornalismo digital, na medida em que possibilita usarmos esse material como fonte de

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pesquisas preliminares sobre um fato ou notícia. De maneira similar, o leitor pode

recorrer aos arquivos online para recuperar a memória do material noticioso do dia.

No mundo do click here, as informações podem ser transmitidas também,

através de ilustrações, infográficos e aspectos visuais em geral. “Consideramos a

infografia multimídia uma expressão discursiva potencial neste sentido”, defende

Beatriz Ribas no artigo Informática Multimídia: um modelo narrativo para o

webjornalismo. “A narração infográfica multimídia apresenta uma estrutura

multilinear que agrega diferentes formatos, constituindo uma unidade informativa

naturalmente interativa”, completa a autora.

José Alvarez Marcos (2003:247), com base nessa lógica, propõe o conceito de

‘pirâmide convergente’ (juntando imagem com texto e som, e estruturada como a

pirâmide invertida clássica). Já “Nielsen diz que seria expectável que os redatores na

web repartissem o seu texto em pequenas peças coerentes, parecendo o trabalho global

mais como um conjunto de pirâmides flutuando no ciberespaço” (ZAMITH, 2005)

Outra noção ímpar, quando se trata do assunto é a de hipertextualidade, já

citada anteriormente. O recurso torna os textos não lineares: o leitor pode visualizar

apenas o material que lhe seja de interesse, passando por exemplo, da capa de um

jornal para apenas um determinado texto; ou a partes especificas dentro da mesma

reportagem. “O hipertexto permite libertar os ciberleitores da leitura obrigatória de

passagens documentais para muito desnecessárias e indesejadas” (ZAMITH, 2005).

“Os primórdios do hipertexto podem ser associados a uma idéia de Agostino Ramelli

cuja proposta era permitir a consulta simultânea de vários livros. A roda de leitura

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[séc. XVII] é uma máquina engenhosa (...) com esta máquina um homem pode ver e

percorrer através de um grande número de livros (...) de tal forma que, quando os

livros estão em seus leitoris, nunca caem ou saem do local em que se encontram,

mesmo que a roda gire uma volta completa”. (DIAS, 1999).

A discussão extrapola os limites das salas de aula e jornais laboratórios. No

artigo “Para que serve a Pirâmide Invertida”, publicado no site do Observatório da

Imprensa, em 2005, o jornalista Carlos Castilho relata, a propósito dos debates

ocorridos no Congresso sobre Novos Meios de Comunicação, realizado em Santiago

de Compostela, na Espanha, em novembro do ano passado:

Um congresso sobre jornalismo na internet que tinha tudo para

passar em brancas nuvens acabou se transformando no grande tititi

acadêmico da virada do ano, quando professores se colocaram em pé

de guerra por conta do uso ou não da tradicionalíssima pirâmide

invertida nos textos noticiosos online. (...) A pirâmide invertida nem

estava na agenda, mas quando a professora Maria Cantalapiedra, da

Universidade dos Países Bascos fez uma apaixonada apologia do seu

uso como fórmula obrigatória para qualquer texto jornalístico, os

ânimos esquentaram. O seu colega Ramón Salaverria, da

Universidade de Navarra, também na Espanha, considerou

retrógrada a defesa incondicional da pirâmide, fazendo críticas

duríssimas à professora. (CASTILHO, 2005).

Afinal, segundo o próprio Castilho, o jornalismo é um ambiente da comunicação

online que, assim como a própria Internet, está criando formatos e modelos. “A

ausência de paradigmas a serem seguidos só pode ser solucionada através da troca de

idéias e da experimentação”. (CASTILHO, 2005).

A gradativa exploração das potencialidades oferecidas pelo meio digital

possibilitou a emergência de formas de produção narrativas onde o leitor constrói o

seu percurso. “O ciberleitor quer, pode e deve conduzir o seu percurso por entre o

material noticioso disponibilizado num cibermeio (...) o ciberleitor tem de ter o direito

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de “consumir” apenas o que quer e seguir o trajeto que mais lhe atrai, construindo a

sua própria pirâmide invertida.” (ZAMITH, 2005).

O internauta constrói, então, sua própria lógica de leitura, podendo iniciar um

assunto pelas fotos, pelos vídeos, ou por quaisquer dos tópicos das matérias e

reportagens. “Pode-se dizer que o jornalista não é mais o único a determinar o que é o

mais importante na narrativa do fato jornalístico (fato que ocorre na hora de escrever o

texto e apresentá-lo no formato da Pirâmide Invertida). A participação do leitor nesta

escolha cresce e ela passa a acontecer com maiores possibilidades - comparativamente

com o impresso – na hora da leitura, da navegação pelo hipertexto” (MIELNICZUK,

2003).

“Não tardaram a aparecer detratores da utilização desta técnica [da pirâmide

invertida] no ciberjornalismo, com o argumento da inadequação da pirâmide invertida

às especificidades próprias de um meio hipertextual, convergente e interactivo. (...)

Por mais que possa espantar muita gente, ainda hoje se questiona se faz ou não sentido

usar a pirâmide invertida na cibernotícia” (ZAMITH, 2005).

Fernando Zamith, no artigo “Pirâmide Invertida na Cibernotícia: argumentos

pró e contra”, explica que o uso da pirâmide se dá, no webjornalismo, em notícias

mais imediatas: “a utilidade da pirâmide invertida na redação de notícias “fortes”,

“diretas”, dado que nas restantes se proporciona mais o uso de outras técnicas que

cativem o leitor e aproveitem as potencialidades de um meio convergente. Ir direto ao

ponto, numa redação de estilo conciso, só ajuda a comunicação num meio nervoso e

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interactivo como a web, especialmente ao se tratar de hard news, das notícias de

última hora, que são o forte do jornalismo online na fase actual, conlui o autor.

José Álvarez Marcos (2003: 247) afirma que os estilos redatoriais na web se

ajustam a “protocolos clássicos de brevidade, concisão e estrutura piramidal”. E

acrescenta: “escrever para a web é muito mais do que pensar nas possibilidades do

hipertexto, é conceber uma arquitetura multimídia em que as histórias satisfaçam todas

as necessidades informativas dos utilizadores”. E a primeira dessas necessidades é a

atualidade, a rapidez informativa.

“Os estudos feitos por Carole Rich (1998) apontam para a adoção de diferentes

técnicas adaptadas aos vários conteúdos ciberjornalísticos, mas a autora também

reconhece a importância da pirâmide invertida nas hard news difundidas na web”, frisa

Zamith (2005).

Salaverría, também citado por Zamith (2005), afirma que a pirâmide invertida

serve, mas não basta: “Um meio hipertextual como a web exige começar a utilizar

formatos que aproveitem a possibilidade de fragmentar o discurso informativo, e de

criar, portanto, níveis de profundidade documental. E a pirâmide invertida, um formato

intrinsecamente monolítico, não facilita esse trabalho”. (ZAMITH, 2003). “Já em

ocasiões anteriores, Salaverría tinha apelado para a necessidade de procurar novas

formas de expressão para o ciberespaço”, completa Zamith.

Para Canavilhas, “no webjornalismo a pirâmide é substituída por um conjunto

de pequenos textos hiperligados entre si” (CANAVILHAS, 2003). O autor alude a um

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estudo do Media Effects Research Labor atory, publicado em 1992, que indica que os

utilizadores preferem navegar livremente num texto separado por blocos, a seguir

obrigatoriamente a leitura de um texto seguindo as regras da pirâmide invertida.

Essas variações foram apontadas também por Mielniczuk (2002), que sugere a

possibilidade de múltiplas pirâmides, ou “pirâmides flutuantes” convivendo lado a

lado:

(...) as potencialidades da web possibilitam que cada célula

informativa da narrativa jornalística possa ser constituída, além do

texto escrito, por som, e/ou imagem. Esses recursos disputam um

lugar na hierarquia dos elementos mais importantes de um fato

jornalístico. Ao contrário do que acontece na Pirâmide Invertida,

onde o mais importante está no topo, aqui o mais importante está

lado a lado (ocupando um espaço tridimensional e nem sempre

visível na tela) com outras informações. (MIELNICZUK, 2002)

Em sua tese de doutorado, Mielniczuk (2003) demonstra o fenômeno:

As figuras a seguir são ilustrativas da situação. Na primeira,

temos a representação de uma notícia hipotética composta por um

conjunto de células informativas, que estão propostas num modelo

de hipertexto em árvore. Cada quadrado representa uma célula

informativa que pode se constituir em texto escrito em formato de

Pirâmide Invertida (triângulos cor de laranja), sons (circulos verdes)

ou imagens (quadrado amarelo). (MIELNICZUK, 2003)

(Figura extraída de MIELNICZUK, 2003)

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O traço azul representa, no conjunto de figuras a seguir,

algumas das possíveis leituras a serem realizadas no hipertexto

representado. (MIELNICZUK, 2003)

(Figura extraída de MIELNICZUK, 2003)

Mario García (TORRES, 2004: 112) também acredita que a pirâmide invertida

virá a ser substituída na Internet por outra técnica redatorial, a que chama “taça de

champanhe”: “(…) a história flúi graciosamente, apertando-se para um ponto de

interesse ou de excitação”. García explica que, neste formato, a história é contada em

pequenos pedaços (chunks), com a excitação renovada mais ou menos em cada 21

linhas, o que ajuda o leitor a manter o interesse ao longo de toda a história, à

semelhança do que acontece com um bom romance.

Lead Introdutório

Narrativa

Retomada do Ponto de Interesse ou Excitação

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Figura 2: Modelo da Taça de Champanhe, como proposto por Mario García

Carole Rich (1998) afirma que é preferível apresentar “diferentes formas para

diferentes funções: “pirâmide invertida para algumas hard news, narrativa em série

para outras, chunks laterais com links para diferentes páginas se as histórias têm

quebras lógicas, e scrolling stories [histórias de navegação vertical e horizontal] para

aquelas que, para melhor compreensão, precisam de uma apresentação mais linear”.

Zamith conclui:

(...) se repararmos com atenção, praticamente todos os autores

concordam que estas hard news devem ser construídas numa

estrutura piramidal, baseada num título e num lead/entrada/abertura

fortes, conclusivos, que vão directos ao assunto, ao que é notícia.

Parece haver diferenças de opinião na forma como se deve passar do

lead para o resto da informação (ou conteúdo) que queremos

transmitir. (ZAMITH, 2005)

Apresentados os pontos gerais da discussão no jornalismo impresso e

verificado que a polêmica sobre a sobrevivência do lead se transpõe ao jornalismo

online, passaremos, no próximo Capítulo, à observação empírica dos leads, em

webjornais brasileiros, através do estudo de casos.

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CAPÍTULO 3

O Lead e a estrutura da Notícia nos Jornais Digitais: Estudos de Caso

A definição do corpus aqui apresentado, conforme assinalado na introdução

deste trabalho, demandou a observação e análise dos seguintes webjornais brasileiros:

O Estado de São Paulo, A Folha de São Paulo, o Jornal do Brasil e O Globo. Todos

são jornais de nível nacional, sendo que os três primeiros foram escolhidos observando

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levantamento do Instituto Verificador de Circulação (IVC), pelo caráter “circulação”

(são as maiores circulações no ranking do país). Já o Jornal do Brasil, que aparece em

12° lugar no ranking da IVC, foi escolhido pelo pioneirismo (foi o primeiro jornal de

nível nacional a publicar edição online, em 1995).

Aleatoriamente, foram escolhidas datas (dias 20 e 27 de maio e dia 03 de junho

de 2006), nas quais foram analisados os quatro jornais. Inicialmente, foi elaborado um

briefing de cada um, apresentando as principais características e ferramentas utilizadas

em suas edições; bem como o comportamento da construção das narrativas e do lead

nas diferentes seções de cada uma dessas edições. O resultado desse levantamento,

ilustrado, será apresentado ao longo deste capítulo.

Vale a pena relembrarmos aqui as hipóteses que nortearam a nossa observação

dos webjornais:

a) A hipótese principal deste trabalho sugere, conforme defende Palacios

(2003), que o jornalismo na web apresenta continuidades, potencializações e rupturas

com respeito à produção jornalística em outros suportes. Supomos que com relação à

estrutura narrativa e ao lead em particular, continuidades e rupturas possam ser

observadas também no jornalismo online;

b) Supomos ainda que as características específicas do jornalismo online

(multimidialidade, interatividade, atualização contínua, hipertextualidade,

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personalização e memória – explicadas detidamente no capítulo anterior) são fatores

que potencialmente afetam a estrutura narrativa e, portanto, de forma particular o lead;

c) Verificamos, conforme apresentado no primeiro capítulo deste trabalho, que

no jornalismo impresso o uso do lead não se apresenta de maneira homogênea nos

vários gêneros. É de se esperar, portanto, que fenômeno similar se verifique no

jornalismo online.

A ordem das análises do estudo de caso seguiu o caráter quantitativo de

circulação de cada jornal.

3.1 – Análise do Jornal Folha Online

Histórico:

O jornal Folha de S. Paulo, versão impressa, foi fundado em 1921 e tornou-se

na, década de 80 o jornal mais vendido no país (no ano passado, a circulação média foi

de 287 mil em dias úteis e 360 mil aos domingos). Os princípios editoriais declarados

por seus editores são: pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.

Organizado em cadernos temáticos diários e suplementos, tem circulação

nacional. Foi o primeiro veículo de comunicação do Brasil a adotar a figura do

ombudsman.

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Figura 3: Visão geral da Folha Online

O Folha Online tem uma equipe de reportagem própria, visando criação,

produção e desenvolvimento de conteúdo jornalístico online, além de serviços com

destaques para áreas de interatividade.

* As principais características do Folha Online são:

1) Uma especificidade nesse grupo é que o jornal está hospedado em um Portal da

Internet, que é o Universo Online; então, além de todo o conteúdo jornalístico, o

leitor tem o plus, com a fração liberada do conteúdo do UOL. Outro plus é a

possibilidade de acesso ao conteúdo da versão impressa, mas com restrições de

conteúdos para assinantes.

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Figura 4: Detalhes Portal UOL e Acesso à versão impressa

2) A Seção Em Cima da Hora traz, no topo, os destaques por temas (política,

cotidiano, Brasil, economia) e na base as notícias são expostas por horário. Nessa

seção, os textos seguem a lógica da pirâmide invertida e os leads são construídos

de forma tradicional, respondendo às perguntas básicas (ver fig. 6).

Figura 5: Detalhes da seção Em Cima da Hora

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Figura 6: Leads tradicionais nas seções de atualizações mais rápidas

3) Outras seções: um detalhe a ser destacado é que como rodapé, em todas as seções,

estão as últimas notícias referentes àquele assunto. Os textos, nessas seções são mais

longos e apurados. As seções são: Brasil, Mundo, Dinheiro, Cotidiano, Esporte,

Ilustrada, Informática, Ciência, Educação, Manchetes e Erramos.

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As colunas e seções

oferecem um

plantão de notícias,

por horários

Figura 7: Plantão de notícias como possibilidade nas diversas seções

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Figura 8: Detalhe do lead na seção Brasil (lead tradicional)

4) A seção Galeria traz imagens em destaque no dia e álbuns que contam fatos

ocorridos. Como mostra o destaque abaixo, as chamadas de capa para cada “foto-

reportagem” já seguem a lógica da pirâmide invertida e do lead tradicional. Quando

avançamos na navegação, alcançando a parte textual que explica e justifica as fotos,

percebemos ainda uma aderência ao modelo tradicional (ver figura 10).

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F

Figura 9: Galeria de Fotos – uma possibilidade de quebra com a estrutura tradicional

Figura 10: Parte textual da Galeria de Fotos – retorno aos leads tradicionais

5) A seção Especiais funciona, inicialmente, cruzando informações de ano e

tema/assunto, para as opções de reportagens especiais. A lógica de construção da

forma narrativa, aqui, já se modifica um pouco. A informação não se resume aos

textos mas, principalmente, aos infográficos e ilustrações. A lógica de construção,

portanto, quebra com o tradicionalismo da pirâmide invertida. Entretanto, quando

avançamos nos textos que compõem o conjunto dos especiais, voltamos a perceber

uma aderência ao formato da pirâmide invertida e do lead tradicional.

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Figura 11: Seção Especiais em

detalhe – informações cruzadas

por ano e editoria de interesse

Figura 12: Detalhe de um texto na seção Especiais: após a escolha do caminho

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a percorrer, percebemos a ocorrência de leads tradicionais

6) Ainda são exibidos Canais. Alguns deles, como Horóscopo, por não se tratar de

conteúdo jornalístico (ou seja, por não possuir os padrões jornalísticos – interesse,

valor-notícia, atualidade, etc...), não foram analisados. Outros canais, de caráter

jornalístico, remetem a conteúdos da própria versão Folha Online e também da versão

impressa, como Almanaque e Turismo. Assim como nas seções citadas

anteriormente, os leads aqui obedecem ao modelo tradicional.

3.2 – Análise do Jornal O Globo Online

Histórico:

Por fazer parte de um grupo com outros veículos de comunicação, em O Globo

Online há a opção de conhecer o conteúdo da versão impressa de O Globo, além dos

demais veículos: Diário de São Paulo e Agência Globo.

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Figura 13: Visão geral O Globo (versão online)

Uma observação a ser feita é que parte do conteúdo é liberado somente quando

o internauta se cadastra no site do jornal. O cadastro é gratuito, mas não permite

visualização de todas as notícias. As manchetes da versão online, embora tratem das

mesmas temáticas da versão impressa, são dispostas com forma e tamanho diferentes.

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Figura 14: Página do Cadastro

* As principais características de O Globo Online são:

1) O Plantão de Notícias é um dos destaques da capa do webjornal. Ele se organiza

por horários de publicação das últimas notícias, também com a opção de visualização

das notícias mais recentes por editoria. A maior parte do material é fornecido por

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agências de notícias, e por isso, no Plantão, as matérias não são curtas como nos outros

jornais analisados, entretanto, mantêm a lógica da pirâmide invertida. (ver figura 15)

LEAD APRESENTADO:

QUEM: A seca

QUANDO: Hoje (notícia atualizada)

ONDE: Santa Catarina (Sul do País)

O QUÊ: 164 cidades em Santa Catarina

estão em situação de emergência

POR QUÊ: por causa da estiagem que já

dura seis meses

Figura 15: Plantão de Notícias

(notícias longas e leads tradicionais)

2) Outros canais: Ciência, Cultura, Economia, Educação, Esportes, Mundo, País,

Plantão, Rio de Janeiro, São Paulo, Tecnologia, Blogs, Cadastro, Newsletter e

Especiais. As características gerais são as mesmas apresentadas em A Folha de São

Paulo, inclusive com relação à conformidade para com o sistema tradicional de lead e

pirâmide invertida. Os canais são alimentados por notícias de agências e da própria

versão impressa do jornal. As matérias são mais longas e usam com mais freqüência

fotografias, gráficos e animações.

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Figura 16: Canais do Jornal O Globo

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Figura 17: Detalhe do lead em um dos canais de O Globo: modelo tradicional

3) O canal Blogs mostra links para blogs de colunistas. O canal Newsletter oferece o

envio de conteúdos de determinadas editorias por e-mail.

4) Já o canal Especiais apresenta reportagens sobre temas específicos, não

necessariamente “temas da semana” (um exemplo é A Nova Comida), mas com maior

profundidade. São reportagens, onde o uso de elementos como fotografias,

infográficos e vídeos é mais comum, mas não é regra. Aqui, também verificamos uma

lógica que, na construção da narrativa, dá a liberdade ao leitor de escolher por onde

quer começar a ler a matéria. Mas, mais uma vez, quando escolhemos o percurso e

chegamos na base textual, percebemos uma concordância com o sistema da pirâmide

invertida. Os leads são tradicionais, respondendo às questões básicas.

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Figura 18: Especiais (apesar de não

determinar o caminho a percorrer, ao

chegar nos textos, se percebem leads

tradicionais)

3.3 – Análise do Estadão Online

Histórico:

A versão impressa de O Estado de S. Paulo é o mais antigo dos jornais da

cidade de São Paulo ainda em circulação. Ao longo dos 129 anos de existência, novas

empresas e produtos foram criados a partir de jornal. Em 1958 começa a diversificação

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com a inauguração da Rádio Eldorado. Em 1966 é lançado o Jornal da Tarde. A

Agência Estado passa a operar em 1970. Em 1984 nasce a Oesp-Mídia e em 1988 a

Oesp-Gráfica.

Em 1991 a Broadcast é incorporada à Agência Estado. Em março de 2000

ocorreu a fusão dos sites da Agência Estado, O Estado de São Paulo e Jornal da Tarde

resultando no portal Estadao.com.br, veículo informativo em tempo real.

Em janeiro de 2003 o portal Estadao.com.br superou a marca de um milhão de

visitantes mensais, consolidando sua posição de liderança em consultas a veículos de

jornalismo na Internet, no Brasil.

* As principais características do Estadão Online são:

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Figura 19: Vista geral de O Estado de São Paulo (versão online)

1) Permite que o internauta acesse em separado outros veículos que compõem o

grupo (Jornal da Tarde, Eldorado AM, Eldorado FM e Agencia Estado), mas em

sua página inicial agrega elementos dos veículos citados. (figura abaixo)

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Figura 20: Detalhe do topo – outros veículos do grupo podem ser acessados de forma direta

2) Utiliza-se de elementos como Foto Repórter4 (fatos contados através de fotos) e

vídeos, além de gráficos. Aqui, a lógica se assemelha ao que acompanhamos nos

especiais dos jornais já analisados. Não se determina qual o caminho a seguir para o

começo da leitura. Mas ao escolher por onde se quer ir, chega-se a tópicos textuais que

seguem o modelo tradicional. (ver figura 21).

___________________________________________________________________________________

(4) A seção Foto Repórter aceita e disponibiliza também fotos produzidas pelos leitores, desde que

consideradas de interesse jornalístico.

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Figura 21: Detalhes da seção Foto Repórter.

Na instância textual, o uso do lead tradicional é

evidenciado

3) Oferece a possibilidade ao internauta de ler o conteúdo da versão impressa do

jornal, com ressalva: parte do conteúdo é restrito aos assinantes do jornal. O conteúdo

liberado recebe uma “seta indicativa”, conforme indicado na figura a seguir.

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Figura 22: Detalhe Acesso Gratuito (o conteúdo liberado do jornal recebe uma marca indicativa)

4) Seção Últimas Notícias: informações ordenadas por horário de postagem e em sua

maioria são pílulas de informações. No topo, alguns destaques do dia (textos mais

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longos e extraídos da versão impressa do jornal). Uma particularidade, nesse caso, é

que todas as outras seções remetem para as Últimas Notícias, pois na parte inferior de

cada tela selecionada, são expostas as últimas notícias com relação àquela temática

(por exemplo, no canal Mundo, aparecem as últimas notícias relativas ao mundo e no

canal Política Brasileira aparecem as atualizações dentro do tema política brasileira).

Nessa seção se verifica a ocorrência de leads tradicionais, conforme explicitado na

figura a seguir:

LEAD TRADICIONAL:

QUEM: O Deputado Raul Jungman

QUANDO: Nesta 5ª feira, dia 25

ONDE: Brasília

O QUÊ: Disse que uma testemunha

da comissão telefonou para a secretaria

da CPI

POR QUÊ: Alertar o deputado Morroni

Torgan que sua vida corre risco

Figura 23: O lead tradicional vigora no

canal de últimas notícias

5) As seções Mundo, Nacional, Economia, Cidades, Ciência e Meio Ambiente,

Educação, Esportes, Arte e Lazer e Vida Digital têm boa parte de seus conteúdos

alimentados por matérias longas, como as da versão impressa. Algumas delas,

inclusive, utilizam a versão impressa. Elas apresentam como rodapé a opção de o leitor

atualizar as informações na seção Últimas Notícias. Nessas seções, com textos

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baseados nos da versão impressa, permanecem a pirâmide invertida e os leads

tradicionais.

Figura 24: Detalhe do canal Economia (lead tradicional)

6) Há ainda uma seção, Espaço Aberto, com possibilidade de interação com o

internauta. É o espaço para participações através de e-mails e comentários das notícias.

Figura 25: Canal Espaço Aberto (promove interatividade com o leitor)

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7) A seção Especiais mostra no topo alguns destaques, sempre ilustrados por

fotografias; e na base, dá opções de especiais segmentados por temas (nacionais,

política, economia, etc). Nos Especiais, devido à utilização de elementos como

fotografias e infografias, há uma quebra na construção da lógica de leitura. Mais uma

vez o leitor pode escolher por onde começar. Entretanto, mais uma vez também,

quando se apela ao texto, a pirâmide invertida se verifica.

Figura 26: Geral e detalhes da seção Especiais

(aqui também não se determina uma lógica de

leitura, mas se ampara a parte textual nos conceitos

da pirâmide invertida e do lead tradicional)

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Figura 27: Seção Especial – mais uma vez, ruptura acentuada na construção da lógica de leitura. Mas

apelo ao modelo tradicional quando se chega na base textual

8) Ainda no Portal são exibidos Canais, que funcionam como um plus ao leitor.

Alguns deles, como Shopping, de conteúdo não jornalístico. Esse mostra propagandas

e links de vendas de produtos. Outros canais, de cunho jornalístico, inclusive

remetendo a conteúdos do próprio jornal; como Blog do Noblat (indicação para um

blog mantido pelo jornalista Ricardo Noblat. Blog de conteúdo jornalístico e

opinativo), Consultor Jurídico, Saúde, Turismo, Negócios (notícias segmentadas

extraídas do jornal). No caso dos blogs jornalísticos, pelo menos naqueles que se

propõem a opinar sobre os fatos, há uma quebra parcial na construção da estrutura da

pirâmide invertida, porque na maioria das vezes, o autor começa pelo comentário para

só depois resgatar o assunto (ver figuras 28 e 29).

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Figura 28: Detalhe dos canais Shopping e Blog do Noblat

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Figura 29: Detalhe de um lead no Blog do Noblat – modelo misto

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3.4 – Análise do Jornal do Brasil Online

Histórico:

Fundado em 1891, o Jornal do Brasil (versão impressa) chega aos 115 anos

promovendo mudanças. Pioneiro no jornalismo web, tendo lançado o JB Online em

maio de 1995, estreou em maio de 2006 a nova forma de acesso5 à versão impressa.

Figura 30: Visão Geral do Jornal do Brasil (online)

__________________________________________________________________________ (5) A nova forma de acesso à versão impressa do Jornal do Brasil através do site utiliza o software VirtualPaper

Journal, que publica edições diárias de jornais em formato PDF na web e disponibiliza o conteúdo das edições

diárias para pesquisa. O diferencial é que o programa mantém a layout original do papel na web, oferecendo ao

leitor a impressão de estar passando as páginas.

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A partir da versão online: no JB Online, o leitor tem a opção de acessar todo o

conteúdo da edição impressa, de forma liberada. Não há necessidade de ser assinante,

nem restrições.

Figura 31: Visualização da

versão impressa

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O Jornal do Brasil Online, após reformulação, se propõe, portanto, a

apresentar as notícias factuais, os fatos cotidianos, com a versão impressa; reservando

espaço, na versão web, para um conteúdo mais especifico para a Internet.

* As principais características do JB Online são:

1) A seção Tempo Real apresenta as notícias de última hora, ordenadas por horário.

Há indicação em cada uma delas da editoria a qual pertencem. As notícias são

expostas em drops e em sua maioria são oferecidas por agências de informações

nacionais e internacionais, além de notícias na própria Agência JB. Nessa seção, há

ainda um calendário, que permite ao internauta recuperar as últimas notícias de forma

mais direta, escolhendo uma data. As manchetes ou chamadas de capa são justamente

as notícias de última hora. Os leads nessa seção seguem o modelo da pirâmide

invertida (figura 32).

Figura 32: Seção Últimas

Notícias – Leads tradicionais

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Figura 33: Últimas Notícias = Lead tradicional

Figura 34: Mais uma vez a estrutura tradicional presente nas Últimas Notícias

2) A disposição dos canais e seções se diferencia dos demais webjornais. As seções e

canais se apresentam de forma unificada, tanto no topo do site, de forma horizontal,

quanto na base do site. Após as últimas notícias (ou Tempo Real), se dispõem as

outras seções: Edição Eletrônica (mais uma opção de acessar o conteúdo da versão

impressa), Canais (que oferece opção de acesso aos canais do jornal, que são: Café

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Literário, Games, Sala de Cinema, Interface, Moda e Música, Mobile (que

disponibiliza acesso ao conteúdo do jornal através de mensagens ‘SMS’ enviadas a

aparelhos de telefone celular ou a aparelhos de ‘PDA’), Agência JB (oferece a

possibilidade de interação com o conteúdo trabalhado pela Agência JB), Shopping

(propagandas e links de ofertas), JBlog (blogs dos colunistas, que funcionam como

uma espécie de ‘últimas notícias’ - em formato de crônicas - daqueles assuntos aos

quais os colunistas são responsáveis) e Área do Leitor (enquetes e serviços ao

assinante).

Figura 35: Detalhe / Disposição dos canais

3) Na base, outros canais: Interface (notícias - factuais ou não - que apresentam

benefício da interface tecnológica; por exemplo, resenha de uma exposição com

animação das obras que nela estarão expostas), Charges (apresenta ilustrações

referentes a notícias atuais), Moda (não se restringe a roupas; tratando também de

decoração, estilos, artes e artesanatos. Conteúdo misto, fazendo alusão a lojas e links

para publicidade) e Música (críticas e notícias de eventos ligados ao tema, com

conteúdo produzido de forma exclusiva para o canal). Dentro do universo desses

canais, para aqueles que se propõem a seguir o padrão jornalístico, se verifica uma

quebra parcial ao sistema da pirâmide invertida e lead tradicional. Aqui, os leads

respondem algumas, mas não todas as questões (e nem sempre resumem a matéria).

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Figura 36: Canal Interface: Lead misto

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Figura 37: Canal Interface trata não apenas assuntos da agenda do dia e usa leads mistos

4) Os JBlogs representam uma potencialização da atualização contínua possibilitada

pela web. Como a proposta é que as notícias sejam tratadas pela versão impressa

(disponível a acesso online), os colunistas tratam dos temas do dia sob a forma de

crônicas, emitindo opiniões sobre os fatos e fugindo dos leads mecânicos (ou

tradicionais).

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Figura 38: Jblogs: leads mistos

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Figura 39: Lead misto

Uma síntese das observações do Estudo de Casos, bem como uma apresentação das

conclusões possibilitadas através deste trabalho será tratada no próximo capítulo.

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CONCLUSÃO

Como vimos no primeiro capítulo deste trabalho, o lead suscita discussões que

vão desde a tentativa de determinar sua verdadeira origem, até a forma de sua

utilização e a necessidade ou não de sua manutenção como técnica padrão de redação

jornalística informativa. A criação do lead possibilitou a difusão de uma técnica de

construção de narrativa textual conhecida por Pirâmide Invertida: um primeiro

parágrafo respondendo a perguntas básicas sobre o fato e os fatos consecutivos

expostos por ordem de importância. O uso dessa técnica é, como vimos no primeiro

capítulo, controverso no meio impresso e entre os estudiosos do assunto.

Se no meio impresso o assunto gera discussões, essa polêmica se transpõe para

o jornalismo digital. Como assinalamos no segundo capítulo, o meio digital apresenta

características intrínsecas (multimidialidade, instantaneidade, memória, atualização

contínua, hipertextualidade e interatividade) que possibilitam novas formas de

construção das narrativas textuais. No geral, os estudiosos do meio digital também se

dividem em dois grupos bem definidos: os prós pirâmide invertida e os contra

pirâmide invertida.

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No capítulo 2, pudemos acompanhar as discussões em torno da construção da

narrativa no webjornalismo, sendo consideradas as potencialidades do suporte.

Acompanhamos a discussão sobre a aplicabilidade ou não da pirâmide invertida (e

portanto do lead tradicional) nos webjornais. Estudiosos chegam a propor novos

modelos de construção de narrativas, tais como a “taça de champanhe” (Mario García)

e a “pirâmide convergente” (José Alvarez Marcos) e “pirâmides flutuantes”

(Mielniczuk). No estudo de casos realizado não encontramos estruturas textuais que

representassem a “taça de champanhe”, mas podemos estabelecer um paralelo entre os

Especiais e a estrutura da “pirâmide convergente”, proposta por José Álvarez Marcos.

A partir da apresentação de posições dos autores sobre o tema, realizada nos

primeiros dois capítulos, levantamos aspectos com relação ao lead em diferentes

canais e seções dos webjornais que serviram de corpus para esse estudo.

As três hipóteses propostas se verificaram parcialmente:

(a) Confirmando a hipótese de que o jornalismo na web apresenta continuidades,

potencializações e rupturas com respeito à produção jornalística em outros

suportes, encontramos na estrutura narrativa e no lead dos jornais online

analisados, continuidades e potencializações. Identificamos nos canais de maior

proximidade com o jornalismo impresso uma continuidade com o sistema

tradicional da pirâmide invertida e do lead que responde aos 5W e 1H. Essas

seções são Últimas Notícias e em canais onde os textos apresentados são os

mesmos da versão impressa, a exemplo do canal Brasil do jornal Folha de São

Paulo e no canal Economia do Estadão Online.

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(b) As potencializações foram verificadas quando percebemos que as características

específicas do jornalismo online são fatores que afetam a estrutura narrativa, como

verificamos nos canais como Especiais, Foto-Repórter e Galeria. Independente

do uso ou não da construção em forma de pirâmides, os recursos da Internet

quebram a construção linear da lógica de leitura, como defende Mielniczuk (2003).

Nesses canais, não se define por onde o leitor deve começar a fruir a notícia. Esta

observação é parcial, visto que mesmo nessas seções, quando nos deparamos com

textos, percebemos ainda estruturas tradicionais, que respondem aos 5W e 1H,

como visualizado nas figuras 26 e 27, que tratam dos Especiais do jornal Estadão

Online.

(c) Assim como no jornalismo impresso, onde o uso do lead não se apresenta de

maneira homogênea nos vários gêneros, fenômeno similar se verifica no

jornalismo online: nas seções de Últimas Notícias (figuras 6, 15, 23, 33 e 34) e

nos canais, como o Brasil - da Folha de São Paulo (figura 8) e o Economia - de O

Estado de São Paulo (figura 24), verificamos presença de leads tradicionais, que

respondem aos 5W e 1H. Em contrapartida, em canais como o Interfaces - de O

Estado de São Paulo (figuras 36 e 37), nos Jblogs - do Jornal do Brasil (figuras

38 e 39) e no Blog do Noblat - de O Estado de São Paulo (figura 29), em que se

verificam gêneros opinativos, nota-se a existência de leads mistos, que não

necessariamente respondem às perguntas e inserem fatos curiosos e/ou

personagens na abertura dos textos.

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Verificamos variações entre os leads apresentados em diferentes colunas dos

webjornais, como a de Últimas Notícias, onde há conformidade com o modelo da

pirâmide invertida, em contrapartida dos canais como Blogs, Especiais e

Reportagens, onde se quebra essa lógica, por vezes de forma parcial (quebrando a

lógica de leitura, mas mantendo o lead tradicional), e por vezes de forma mais intensa,

deixando de responder no primeiro parágrafo as seis perguntas básicas e inserindo, por

exemplo, inovações tecnológicas (como verificado no canal Interfaces, do JB Online).

O que percebemos é que as diferenciações podem, além do suporte, relacionar-se ao

gênero jornalístico trabalhado.

Percebemos, nesses casos, um movimento de “não determinação da lógica de

leitura”. Os conteúdos, como defendido por Mielniczuk (2003) no segundo capítulo

desse trabalho, podem ser combinados de inúmeras maneiras. Entretanto, nesses

canais e seções, percebemos também que, ao nos depararmos com o conteúdo textual

propriamente, há um retorno à lógica da pirâmide invertida e do lead tradicional.

Podemos verificar o fato em quaisquer dos canais Especiais analisados. Em O Estado

de São Paulo, por exemplo, os especiais não começam com um texto principal e

seguem com indicações de links, mas ao acessar esses links, deparamos com pirâmides

invertidas.

A tabela a seguir sintetiza a situação observada. Dividimos os canais dos

webjornais em cinco grupos: Últimas Notícias, Blogs, Especiais, Canais Nacionais

(Política, Economia, Turismo Nacional e os canais com notícias sobre o país) e

Mundial (Política Internacional, Economia Mundial, Turismo e os canais com

notícias sobre o mundo).

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COLUNAS ÚLTIMAS

NOTÍCIAS

CANAIS

NACIONAIS

MUNDIAL BLOGS ESPECIAIS

JORNAIS

1

2

3

4

Tabela 1: ocorrência de leads tradicionais e mistos nos webjornais analisados

Legenda:

1 = Folha de São Paulo / 2 = O Globo / 3 = O Estado de São Paulo / 4 = Jornal do Brasil

vermelho = leads tradicionais

amarelo = leads mistos

azul = leads tradicionais com quebra na lógica de leitura

No quesito “Especiais”, percebemos, através deste estudo, um movimento

inicial por outras formas de construção de notícias. Percebemos ainda que as

potencialidades do meio são fundamentais para tanto, mas que elas ainda não foram

plenamente exploradas. Há uma quebra nas formas de construção da lógica de leitura

em determinados pontos dos webjornais analisados e isso representa uma possível

busca pela identidade do meio.

Entretanto nos demais canais e seções, poucas mudanças puderam ser

percebidas. As continuidades se verificaram em maior número, conforme demostra a

área vermelha da tabela, que é resultado da análise do estudo de casos. Concluímos

que apesar do movimento dos autores, o lead continua vivo.

Baseado numa análise de um corpus reduzido e num espaço de tempo curto,

este trabalho tem um caráter necessariamente preliminar, e certamente servirá de base

para outras discussões sobre o tema, assim como de ponto de partida para reflexões

mais aprofundadas sobre a estrutura narrativa do texto jornalístico.

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Um acompanhamento baseado na observação constante dos webjornais (por

determinado período), associado ao estudo de caso aqui apresentado e nas conclusões

a que chegamos seria de grande valia para que os resultados aqui apresentados

pudessem ser ampliados e melhor especificados.

Para desenvolvimento futuro, será ímpar um estudo mais aprofundado sobre

gêneros jornalísticos e jornalismo literário; bem como um trabalho de observação e

comparação de leads e seu comportamento nos jornais impressos e uma pesquisa sobre

as características dos blogs.

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ANEXO I – CRONOGRAMA DE ATIVIDADES

Agosto a Outubro de 2005:

- Apresentação do pré-projeto ao professor da disciplina “Desenvolvimento Orientado de

Projeto;

- Reparos no projeto inicial;

- Contatos iniciais com o orientador escolhido.

Outubro a Dezembro de 2005:

- Etapa de levantamento da bibliografia relacionada ao jornalismo online (já indicada pelo

orientador), para que se crie um histórico da modificação do lead também no jornalismo

digital;

- Analise de bibliografias restantes, necessárias para o primeiro esboço de um projeto mais

denso;

- Etapa de análise de leads em webjornais atuais, bem como seleção de alguns que possam

ser usados como exemplos no decorrer do projeto;

- Conhecer e aprofundar pesquisas já realizadas sobre leads em jornais impressos para

efeito de comparação no projeto;

- Reuniões com o orientador para acompanhamento do trabalho.

Janeiro a Março de 2006:

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- Etapa de sistematização e rascunho das teorias e dados importantes obtidos;

- Redação a partir da estrutura da fundamentação teórica do pré-projeto, somando-se os

resultados da pesquisa sobre o histórico do lead em jornais digitais, mostrando o modo de

se apresentar do lead na relação com os diferentes gêneros jornalísticos.

Março de 2006:

- Apresentação do trabalho elaborado após as indicações do orientador.

Março a Junho de 2006:

- Etapa de desenvolvimento da pesquisa necessária, apontada pelo orientador após a

apresentação do trabalho elaborado;

- Digitação, correção e impressão do TCC.

Julho de 2006:

- Apresentação e defesa do TCC