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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS CURSO DE GEOLOGIA PAULO RICARDO DA SILVA SANTOS SISTEMA DEPOSICIONAL DA FORMAÇÃO AÇURUÁ NOS ARREDORES DE GUINÉ, CHAPADA DIAMANTINA-BA Salvador 2011

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS

CURSO DE GEOLOGIA

PAULO RICARDO DA SILVA SANTOS

SISTEMA DEPOSICIONAL DA FORMAÇÃO AÇURUÁ NOS ARREDORES DE GUINÉ, CHAPADA DIAMANTINA-BA

Salvador 2011

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PAULO RICARDO DA SILVA SANTOS

SISTEMA DEPOSICIONAL DA FORMAÇÃO AÇURUÁ NOS ARREDORES DE GUINÉ, CHAPADA DIAMANTINA-BA

Monografia apresentada ao Curso de Geologia, Instituto de Geociências, Universidade Federal da Bahia, como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Geologia. Orientador: Prof. Msc. Antonio Jorge C. Magalhães Co-orientador: Prof. Bs. Cícero da Paixão Pereira

Salvador 2011

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TERMO DE APROVAÇÃO

PAULO RICARDO DA SILVA SANTOS

Salvador, 20 de junho de 2011

SISTEMA DEPOSICIONAL DA FORMAÇÃO AÇURUÁ NOS ARREDORES DE GUINÉ, CHAPADA DIAMANTINA-BA

Monografia aprovada como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Geologia, Universidade Federal da Bahia, pela seguinte banca examinadora:

__________________________________________________________ Cícero da Paixão Pereira – Co-orientador Especialista em Geologia pela Universidade Federal de Ouro Preto ANP-UFBA

__________________________________________________________

João de Deus Souto Filho Mestre em Geo-Engenharia de Reservatórios de Petróleo pela Universidade Estadual de Campinas PETROBRAS

__________________________________________________________ Michael Holz Doutor em Geociências pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul UFBA

__________________________________________________________

Roberto Rosa da Silva Mestre em Sedimentologia e Petrologia Sedimentar pela Universidade Federal de Ouro Preto UFBA - PETROBRAS

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Aos meus pais, irmãos, vó e Cássia.

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AGRADECIMENTOS

A Deus, pela vida.

A minha família, pelo suporte financeiro, psicológico e pelo amor, sem os

quais não seria possível concretizar tal momento.

A minha noiva e amiga Cássia, que sempre apostou no meu potencial, pela

presteza de todos os momentos e pelos imensuráveis finais de semana sacrificados

em prol de minha formação.

A Seu Valter (In memorian), Dona Dêde, Cidinha, Escurinha e Branco, pelo

acolhimento familiar durante todos esses anos.

Ao mestre Magal, figura ilustre aonde chega, por ter me acolhido como

orientando, pela extrema dedicação, prontidão e apoio dispensados a mim, além do

companheirismo revelado nestas andanças pela Chapada.

Ao professor Cícero, virtuoso em sabedoria e simplicidade, pela co-

orientação.

A ANP, pela oportunidade de desenvolver essa monografia, através da bolsa

de estudos e de todo o apoio logístico fornecido. Representada, como muita

competência e prontidão, pelos professores Cícero e Sato.

Agradeço também:

Aos colegas de curso e amigos de jornada: Murilo, Valter, Caio, Josafá,

Pedro, Asafe, Alexandre, Acácio, Rejane, Tico, Michel, Mateus, Priscila, Eula,

Antônia, Goiaba, Rodolfo, Jaime, Danilão, A.J., Nelize, Micheli, Riscadão, Luciano,

Henrique, Aline, Naldão, Paulão, Pedroca, Ítala, Jamile, Rambo, Carlinha, André,

Gleice, Gleide, Anderson, Daniel, Dira, Jailma, Zilda, Gouthiers e aqueles, neste

momento, traídos pela minha memória, que tornaram a aprendizagem mais

prazerosa e significativa.

Aos professores, Carlson, Maria José, Diney, Ângela, Amalvina, Rosa, Aroldo

Sá, Haroldo Misi, Osmário, Olívia, Paulo Espinheira, Felix, Geraldo, Marcelo,

Simone, Sergio, Xavier, Michael, Doneivan, Zoltan, Eron e Flávio, pela formação

acadêmica, que me proporciona ver a terra com um novo olhar.

Agradeço ainda à bibliotecária Aldacy, Evandro, Zeca e Gil; a Mércia do

colegiado; aos funcionários: Joaquim, Caetano, Boçal, André e Alberto; todos

sempre solícitos e munidos de significativa parcela de contribuição com o

desenvolvimento acadêmico dos graduandos.

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―A mente que se abre a uma nova idéia jamais voltará ao seu tamanho original.‖

Albert Einstein

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RESUMO

Este trabalho final de graduação propôs a caracterização do sistema

deposicional da Formação Açuruá nos arredores de Guiné, sítio que possui bons análogos de reservatórios de petróleo e água subterrânea, com o objetivo de ampliar o conhecimento sobre sedimentologia e estratigrafia e suas aplicações nos afloramentos daquela Formação, em particular na região da Serra do Sincorá. Para isso, a metodologia utilizada baseou-se na interpretação dos elementos arquiteturais componentes do sistema. Desta forma, foram caracterizadas treze litofácies e agrupadas em seis elementos arquiteturais que integram o sistema deposicional deltaico dominado por rio, da Formação Açuruá e o sistema fluvial efêmero atribuído a base da Formação Tombador, estes são separados por uma superfície de discordância subaérea. Estas interpretações diferem dos trabalhos anteriores, que atribuíram a influência de marés para sistema deltaico e o sistema deposicional eólico para a base da Formação Tombador. Contudo, qualitativamente, os sistemas deposicionais caracterizados foram associados a um sistema petrolífero composto de rochas reservatório, selante e, possível, geradora.

Palavras-chave: Fácies. Elementos arquiteturais. Sistema deposicional

deltaico. Guiné.

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ABSTRACT

This monograph proposed the characterization of the depositional system of Açuruá Formation in the vicinity of Guiné, a site that has good analogues of oil reservoirs and groundwater, with the goal of increase the knowledge of sedimentology and stratigraphy and its applications in the outcrops of that formation, particularly, at the Serra do Sincorá. For this, the methodology used was based on the interpretation of architectural elements of the system components. Thus, it was characterized thirteen lithofacies that were grouped into six architectural elements, which form the deltaic depositional system river-dominated, Açuruá Formation, and the ephemeral fluvial system, the basis of Tombador Formation, separated by a subaerial unconformity surface. Those interpretations differ from previous works that attributed a tide influence for deltaic and eolian system to the basis of Tombador Formation. However, qualitatively, the characterized depositional systems were associated to a petroleum system composed of reservoir, cap and, possible, source rocks.

Keywords: Facies. Architectural elements. Deltaic depositional system. Guiné.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1.1 - Mapa de Situação e Localização da Área de Estudo indicando as vias de acesso, bem como os municípios inseridos. Pedreira (2002), modificado. ............... 21

Figura 1.2 - Fluxograma da Pesquisa, ressaltando suas etapas e as respectivas atividades desenvolvidas........................................................................................... 22

Figura 2.1 - Mapa geológico simplificado do cráton do São Francisco: BSF – Bacia do São Francisco; ES - Espinhaço Setentrional; CD - Chapada Diamantina. Extraído de Cruz (2004). ......................................................................................................... 26

Figura 2.2 - Esboço geológico da região da Chapada Diamantina e Espinhaço Setentrional, com indicação das feições estruturais. Danderfer Filho (1990) adaptado por Castro (2003). ..................................................................................................... 27

Figura 2.3 - Carta estratigráfica da Chapada Diamantina referente às rochas supracrustais do cráton do São Francisco e coberturas recentes. Guimarães et al. (2005), modificado. .................................................................................................... 28

Figura 2.4 - Mapa geológico local, compilado de Andrade Filho et al. (1999). .......... 33

Figura 2.5 - Perfil da Formação Açuruá no afloramento da trilha Guiné-Patí, Pedreira (1994). ....................................................................................................................... 35

Figura 2.6 - Perfil das Formações Açuruá eTombador no em torno da discordância, no afloramento da Trilha do Beco, segundo Santos (2009). ..................................... 36

Figura 3.1 - Diagrama de fases, obtido em estudos de laboratório, mostrando as fases de estabilidade das formas de leito subaquosas em função da velocidade do fluxo e da granulometria, segundo Morang (2002) adaptado de Ashley (1990). ....... 38

Figura 3.2 - Relações entre fácies e sistemas deposicionais. Riccomini et al. (2000), modificado. ................................................................................................................ 39

Figura 3.3 - Exemplos de deltas atuais no mundo: (a) em Caravela, litoral sul da Bahia, (b) no Golfo do Mexico, EUA e (c) no Mar de Coral, Papua-Nova Guine. Imagens extraídas do Google Earth©. ...................................................................... 40

Figura 3.4 - Geometria de corpos arenosos e padrão isolítico dos seis tipos de delta de Coleman e Wright (1975) adaptado a classificação ternária – dominado por rio, por onda e influenciado por maré - de Galloway (1975), Bhattacharya e Walker (1992). ....................................................................................................................... 41

Figura 3.5 - Subsistemas deltaicos vistos em planta, dominado por rio, por onda e influenciado por maré. Os deltas dominados por rio são classificados como lobado (de água rasa) e alongado (de água profunda). Modificado de Fisher et al. (1969) por Bhattacharya (2006). ................................................................................................. 42

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Figura 3.6 - A geometria sigmóide e a distribuição dos litotipos de um sistema deltaico vistas em seção dip (corte longitudinal). Extraído de Bhattacharya (2003). . 42

Figura 3.7 - Arquitetura de fácies deltaicas. (A) dominado por ondas, (B) influenciado por marés, (C) dominado por rio, lobado, e (D) dominado por rio, alongado. Extraído de Suguio (2003). ...................................................................................................... 43

Figura 3.8 - Perfis de poço do delta dominado por rio da Formação Dunvegan, Província de Alberta, Canadá. (A) canal distributário constituído por arenitos finos, estratificação cruzada na parte inferior e laminação cruzada acima: intraclastos argilosos e bioclastos formam um pavimento (lag) conglomerático na base erosiva do canal e (B) lobos de crevasse splay preenchendo baías interdistributárias, progradante com intercalação de folhelhos/siltito e arenito, laminação cruzada com laminações cavalgantes, abaixo, e arenito médio com estratificação sigmóide, acima: o intervalo é capeado por siltito com restos de vegetais e ostras. Extraído de Castro e Castro (2008). ........................................................................................................ 45

Figura 3.9 - Perfil de poço do delta dominado por rio da Formação Dunvegan, Província de Alberta, Canadá, que mostra o lobo de frente deltáica, progradante sobre o prodelta argiloso, em sucessão granocrescente ascendente, formada pela transição areno-argilosa com laminações plano-paralelas ou cruzada cavalgante nos arenitos, estrutura convoluta e barra de desembocadura com estratificações cruzada e marcas de raízes de topo. Extraído de Castro e Castro (2008). ............................ 46

Figura 3.10 - Ciclo deltaico completo, com os componentes progradante da frente deltaica/prodelta, agradante da planície deltaica, limitado por inundações marinhas, Allen (1989) apud Castro e Castro (2008), modificado. ............................................ 48

Figura 4.1 – Imagem panorâmica da Serra do Esbarrancado, mostrando, em amarelo, o trecho inicial da Trilha do Beco no qual o perfil foi empilhado. Base da seção coord. E 226.682m / N 8.587.686m e o topo E 227.801m / N 8.588.440m. Extraída do Google Earth©. ...................................................................................... 49

Figura 4.2 - Perfil da seção empilhada, trecho A. ...................................................... 69

Figura 4.3 - Perfil da seção empilhada, trecho B. ...................................................... 70

Figura 4.4 - Perfil da seção empilhada, trecho C ...................................................... 71

Figura 4.5 - Perfil da seção empilhada, trecho D. ..................................................... 72

Figura 4.6 - Interpretação do perfil empilhado na seção da Serra do Esbarrancado, no início da Trilha do Beco. ....................................................................................... 80

Figura 5.1 - Interpretações para o afloramento da trilha Guiné-Patí. À esquerda, o perfil da Formação Açuruá descrito por Pedreira (1994) correspondente ao trecho abaixo da discordância subaérea no perfil descrito no presente trabalho, no centro da figura. À direita, o perfil descrito por Santos (2009) no em torno da discordância, que engloba o topo da Formação Açuruá e a Formação Tombador. ........................ 85

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LISTA DE FOTOS

Foto 1.1 - Vista panorâmica da serra do Esbarrancado. Início da trilha do Beco, área de estudo................................................................................................................... 20

Foto 1.2 - Uso da bússola acoplada ao tripé como artifício de medição entre camadas com grandes distâncias horizontais. .......................................................... 24

Foto 4.1 - Arenito grosso com cruzada acanalada em granodecrescência ascendente para siltito. Prof. 1750,9m. ........................................................................................ 51

Foto 4.2 - Estratificação cruzada acanalada em arenito grosso com gradação normal. Prof. 1304m .................................................................................................. 51

Foto 4.3 – Detalhe do arenito grosso com gradação normal. Prof. 1292,6m ............ 52

Foto 4.4 - Arenito fino com clastos lamosos e cruzada acanalada. Prof. 1681,5m ... 52

Foto 4.5 - Detalhe do clasto lamoso em arenito grosso. Prof. 1770,4m. ................... 53

Foto 4.6 - Arenito fino maciço com clastos lamosos avermelhados com até 12cm. Prof. 1667,8m. ........................................................................................................... 53

Foto 4.7 – Arenito muito fino a fino/médio com laminação plano-paralela entre arenito grosso com cruzada acanalada, na base, e, em granodecrescência ascendente, siltito laminado com filme de lama no topo. Prof. 1747,4m. .................. 54

Foto 4.8 - Detalhe da greta de contração no filme lamoso do topo do ciclo granodecrescente ascendente de arenito grosso a siltito laminado. Prof. 1747,4m. . 54

Foto 4.9 - Panorâmica de arenitos médio a muito fino, em granodecrescência ascendente. Prof. 1677m. ......................................................................................... 55

Foto 4.10 – Detalhe de arenito muito fino com climbing ripple. Prof. 1679,4m.......... 55

Foto 4.11 - Panorâmica do afloramento, mostrando o siltito lamoso maciço. Prof. 1570m. ...................................................................................................................... 56

Foto 4.12 – Detalhe do siltito lamoso cinza amarelado maciço. Prof. 1570m. .......... 56

Foto 4.13 - Panorâmica do afloramento: silitito cinza amarelado, avermelhado e roxo. Prof. 1544m. .............................................................................................................. 57

Foto 4.14 - Lente de arenito muito fino em siltito e wavy. Prof. 1517,4m. ................. 57

Foto 4.15 - Panorâmica das camadas tabulares de interlaminado de folhelho e siltito cinza, avermelhado e cinza amarelado, com arenito muito fino. Prof. 1562m........... 58

Foto 4.16 - Detalhe do interlaminado de folhelho e siltito, cinza avermelhado, com arenito muito fino, mostrando gretas de contração. Prof. 1561,8m. .......................... 58

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Foto 4.17 - Panorâmica do afloramento mostranto o folhelho vermelho laminado em camadas tabulares, com destaque a área da foto de detalhe, em verde. Prof. 1510,2m. ................................................................................................................... 59

Foto 4.18 - Detalhe do folhelho vermelho laminado, Prof. 1510,2m. ......................... 59

Foto 4.19 - Siltito creme avermelahado com laminação plano-paralela no topo. Prof. 1473,1m. ................................................................................................................... 60

Foto 4.20 - Arenito fino/médio como marcas onduladas. Prof. 1428m. ..................... 61

Foto 4.21 - Sill de rocha máfica com brechas de arenito. Prof. 1340m. .................... 61

Foto 4.22 - Arenito com laminação indistinta. Prof. 1312,2m. ................................... 62

Foto 4.23 - Estratificação cruzada tabular em arenito grosso e muito grosso. Prof. 1302,6m. ................................................................................................................... 63

Foto 4.24 - Arenito muito grosso com grânulos na estratificação cruzada tabular de pequeno porte em camada tabular. Prof. 1299,8m. .................................................. 63

Foto 4.25 - Panorâmica do arenito muito grosso com laminação sub-horizontal, mostrando a forma tabular das camadas. Prof. 1301,5m. ......................................... 64

Foto 4.26 - Arenito muito grosso com laminação sub-horizontal. Prof. 1301,4m. ..... 64

Foto 4.27 – Detalhe do arenito muito grosso com laminação sub-horizontal, mostrando a gradação normal e a ocorrência de grânulos na laminação. Prof. 1301,4m. ................................................................................................................... 65

Foto 4.28 - Panorâmica do afloramento, com destaque para a laminação sub-horizontal e a forma tabular do arenito. Prof. 1294,5m. ............................................ 66

Foto 4.29 - Arenito médio a médio/grosso com laminação sub-horizontal. Prof. 1294,5m. ................................................................................................................... 66

Foto 4.30 – Arenito bimodal com laminação sub-horizontal e gradação inversa. Prof. 1298,2m. ................................................................................................................... 67

Foto 4.31 - Geometria externa dos elementos CS, mostrando formas tabulares. Prof. 1677m. ...................................................................................................................... 74

Foto 4.32 - Geometria tabular em camadas centimétricas a métricas, lateralmente continuas do elemento lamoso (LPL). Prof. 1562m ................................................... 75

Foto 4.33 - Geometria tabular em camadas lateralmente contínuas do elemento LPR. Prof. 1510,2m ................................................................................................... 75

Foto 4.34 - Elemento BD, mostando a clinoforma da barra arenosa. Prof. 1416m. .. 76

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Foto 4.35 - Geometria externa do elemento BF, mostrando canais amplos e rasos e barras tabulares. Prof. equivalente a 1316m ............................................................. 77

Foto 4.36 - Geometria externa do elemento LE, intercalado com elementos BF. Prof. 1292,4 a 1297m. ....................................................................................................... 77

Foto 4.37 - Panorâmica do início da Trilha do Beco (linha amarela pontilhada), mostrando a delimitação dos istemas deposicionais e seus subsistemas na Serra do Esbarrancado adjacente ao trecho empilhado, perfil interpretado. ........................... 81

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LISTA DE TABELAS

Tabela 4.1 – Sumário da caracterização das fácies. ................................................. 68

Tabela 4.2 - Sumário dos sistemas deposicionais. ................................................... 79

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................... 17

1.1 APRESENTAÇÃO ................................................................................... 17

1.2 JUSTIFICATIVA ...................................................................................... 18

1.3 OBJETIVOS ............................................................................................ 19

1.4 LOCALIZAÇÃO E ACESSO .................................................................... 19

1.5 MATERIAIS E MÉTODO ......................................................................... 21

1.5.1 Fase pré-campo ..................................................................................... 22

1.5.2 Fase de campo....................................................................................... 22

1.5.3 Fase pós-campo .................................................................................... 24

2 CONTEXTO GEOLÓGICO ................................................................................ 25

2.1 GEOLOGIA REGIONAL .......................................................................... 25

2.1.1 Arcabouço estrutural ............................................................................ 26

2.1.2 Estratigrafia ........................................................................................... 28

2.1.2.1 Supergrupo Espinhaço ..................................................................... 29

2.1.2.1.1 Formação Serra da Gameleira ....................................................... 29

2.1.2.1.2 Grupo Rio dos Remédios .............................................................. 29

2.1.2.1.3 Grupo Paraguaçu ........................................................................... 30

2.1.2.1.4 Grupo Chapada Diamantina .......................................................... 30

2.1.2.2 Supergrupo São Francisco ............................................................... 31

2.1.2.3 Coberturas Fanerozóicas .................................................................. 31

2.1.3 Evolução geotectônica ......................................................................... 32

2.2 GEOLOGIA LOCAL ................................................................................. 32

3 REFERENCIAL TEÓRICO ................................................................................ 37

3.1 SISTEMAS DEPOSICIONAIS ................................................................. 37

3.2 SISTEMAS DEPOSICIONAIS DELTAICOS ............................................ 39

3.2.1 Elementos arquiteturais ........................................................................ 43

3.2.1.1 Elementos arquiteturais da planície deltaica .................................. 44

3.2.1.2 Elementos arquiteturais da frente deltaica proximal ...................... 45

3.2.1.3 Elementos arquiteturais da frente deltaica distal ........................... 46

3.2.1.4 Elemento arquitetural do prodelta .................................................... 47

3.2.2 Sucessão de fácies deltaica típica ....................................................... 48

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4 ANÁLISE E INTEGRAÇÃO DOS DADOS ........................................................ 49

4.1 FÁCIES E EMPILHAMENTO DE FÁCIES NOS ARREDORES DE GUINÉ

..................................................................................................................49

4.1.1 Fácies arenito médio a muito grosso com estratificação cruzada

acanalada de pequeno a médio porte (Aa) .................................................... 51

4.1.2 Fácies arenito fino a muito grosso com estratificação cruzada

acanalada e intraclasto lamoso (Aal) ............................................................. 52

4.1.3 Fácies arenito muito fino a fino/médio com laminação plano-paralela

(Apl) 53

4.1.4 Fácies arenito muito fino a fino/médio com laminações cavalgantes

(Ac) ..................................................................................................................55

4.1.5 Fácies siltito a siltito arenoso maciço (Sm) ........................................ 56

4.1.6 Fácies interlaminado de folhelho, siltito e arenito (I) ......................... 57

4.1.7 Fácies folhelho laminado (Fl) ............................................................... 59

4.1.8 Fácies siltito com laminação plano-paralela (Sp) ............................... 60

4.1.9 Fácies arenito muito fino a fino/médio com laminação cruzada

tangencial e marcas onduladas (Aco) ............................................................ 60

4.1.10 Fácies rocha máfica (Rm) ..................................................................... 61

4.1.11 Fácies arenito muito fino a muito grosso maciço ou com laminação

indistinta (Am) .................................................................................................. 62

4.1.12 Fácies arenito grosso a muito grosso com estratificação cruzada

tabular de pequeno a médio porte (At) ........................................................... 62

4.1.13 Fácies arenito muito grosso com laminação sub-horizontal (As) .... 64

4.1.14 Fácies arenito médio a médio/grosso laminado com gradação

inversa (Asi) ...................................................................................................... 66

4.1.15 Empilhamento das fácies ..................................................................... 67

4.2 ELEMENTOS ARQUITETURAIS E SISTEMAS DEPOSICIONAIS DOS

ARREDORES DE GUINÉ .................................................................................. 73

4.2.1 Elemento arquitetural crevasse splay (CS) ......................................... 73

4.2.2 Elemento arquitetural de fácies lamosa de planície deltaica (LPL) .. 74

4.2.3 Elemento arquitetural associação de fácies lamosa de prodelta

(LPR) ..................................................................................................................75

4.2.4 Elemento arquitetural barra de desembocadura (BD) ........................ 76

4.2.5 Elemento arquitetural barras arenosas fluviais efêmeras (BF) ......... 76

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4.2.6 Elemento arquitetural lençol de areia eólico (LE) ............................... 77

4.2.7 Interpretação dos sistemas deposicionais ......................................... 78

5 DISCUSSÕES .................................................................................................... 83

6 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES ............................................................ 86

7 REFERÊNCIAS ................................................................................................. 87

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1 INTRODUÇÃO

Neste capítulo são apresentados o tema e a área de estudo, as justificativas

que motivaram estas escolhas, o método através do qual foi possível a realização

deste trabalho, bem como os objetivos almejados.

1.1 APRESENTAÇÃO

A Serra do Sincorá é um sistema orográfico do Cráton do São Francisco que

se estende na direção aproximada norte-sul, na parte central do estado da Bahia,

domínio fisiográfico da Chapada Diamantina, parte oriental. Compreende um

conjunto de serras menores alinhadas, que localmente recebem nomes distintos,

como serra do Esbarrancado, a exemplo da área de estudo.

Seu relevo reflete o padrão estrutural da região que, segundo Danderfer Filho

(1990), apresenta baixa a sutil magnitude de deformação registrada nos estratos

dobrados suavemente, em formas sinclinais e anticlinais conjugadas, das

Formações Açuruá e Tombador, base e topo da serra, respectivamente. Estas

Formações ocorrem em contato angular erosivo, de caráter bacinal, que separa o

Grupo Paraguaçu do Grupo Chapada Diamantina, correspondentes, ao mesmo

tempo, as fases pós-rifte e sinéclise flexural do Supergrupo Espinhaço, paleo- a

mesoproterozóico (GUIMARÃES et al., 2005).

Silva Filho (2009) realizou estudos petrográficos em lâmina delgada, que

constataram o baixo grau metamórfico que estas rochas foram submetidas,

evidenciado pela ocorrência de grãos de quartzo com extinção ondulante. Contudo a

forte presença de sobrecrescimento de quartzo assinala a intensa cimentação, que,

em alguns afloramentos, podem dificultar o reconhecimento granulométrico em

escala macroscópica (CASTRO, 2003).

A combinação de baixo grau de deformação e metamorfismo e inexistência de

bioturbação, de modo geral, condicionaram a boa preservação das características

texturais e estruturas sedimentares nas rochas metassedimentares da região,

expostas em afloramentos com boa continuidade lateral. Tais características

constituem o elemento fundamental para a caracterização de sistemas

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deposicionais, uma vez que refletem as condições paleoambientais deposicionais

nas suas propriedades físicas, químicas e biológicas (SUGUIO, 1998). Nos

depósitos pré-cambrianos siliciclásticos da região, constituem-se o único instrumento

de correlação estratigráfica devido à inexistência, ou insuficiência, de dado

cronoestratigráfico.

Pedreira (2008), em um estudo sobre os sistemas deposicionais da Chapada

Diamantina centro-oriental, interpretou sistemas de leques aluvial, fluvial, desértico,

planície de maré, deltaico e marinho, baseado na caracterização de doze diferentes

litofácies combinadas em diversas associações. Dispostos em uma associação

litológica do tipo Q-P-C (Quartzito-Pelito-Carbonato), os sistemas são inicialmente

continental, depois, transicional de margem continental, novamente continental e,

finalmente, marinho. Nesse trabalho, aquele autor traz, ainda, uma série histórica

dos trabalhos realizados na região acerca dos sistemas deposicionais.

Dentro deste arcabouço, esta pesquisa traz como tema a caracterização do

sistema deposicional da Formação Açuruá nos arredores de Guiné, especificamente

no início da trilha do Beco. Os trabalhos já realizados na região não esgotam as

possibilidades de pesquisa, pois, em sua maioria, abordam o tema em escala

regional (1:250.000), carecendo portanto, de trabalhos em escala de detalhe,

capazes de refinar o conhecimento regional existente ou, ainda, subsidiar dados a

novas interpretações.

1.2 JUSTIFICATIVA

A Chapada Diamantina apresenta-se como um interessante sítio de estudos

de natureza sedimentológica, estratigráfica e estrutural devido à existência de

excelentes afloramentos de depósitos pré-cambrianos estuarinos, eólicos, deltaicos

e aluviais. Estes afloramentos constituem bons análogos de reservatórios de

petróleo, depósitos de pláceres e água subterrânea.

A relevância didática desta região viabiliza a expansão da pesquisa

envolvendo a caracterização e o estabelecimento de critérios de reconhecimento de

sistemas deposicionais no registro geológico.

Neste contexto, é importante desenvolver no autor habilidades em

reconhecimento de fácies sedimentares, descrição de seções estratigráficas,

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interpretação dos sistemas deposicionais, como também o reconhecimento de

superfícies chave para a estratigrafia de sequências, que serão bastante úteis,

doravante, no âmbito profissional para permitir a elaboração de modelos

estratigráficos de caráter preditivo, em bacias sedimentares com interesse

econômico.

1.3 OBJETIVOS

Ampliar o conhecimento sobre sedimentologia e estratigrafia e suas

aplicações nos afloramentos da Formação Açuruá, além de contribuir para melhor

compreensão das mudanças nas tendências deposicionais ocorridas no Supergrupo

Espinhaço, em particular na região da Serra do Sincorá. Aliado a estes objetivos

gerais constituem-se objetivos específicos:

Aprimorar os conhecimentos teóricos de Sedimentologia e Estratigrafia de

Sequências;

desenvolver competência em análise vertical de fácies sedimentares e em

análise estratigráfica de afloramentos;

obter prática em levantamento de seções geológicas, aplicação das

técnicas de foto mosaico e correlação inter-afloramentos;

desenvolver competência para o reconhecimento de sistemas

deposicionais.

1.4 LOCALIZAÇÃO E ACESSO

A área de estudo localiza-se no distrito de Guiné, especificamente, no início

da trilha do Beco (foto 1.1), que liga ao vale do Patí. Circunscrito no Parque Nacional

da Chapada Diamantina, na borda oeste da Serra do Sincorá, o distrito de Guiné faz

parte do município de Mucugê, situado na porção central do estado da Bahia,

distante cerca de 470Km da capital, Salvador. Embora Guiné seja distrito do

município de Mucugê, o acesso mais curto, vindo de Salvador, faz-se através do

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município vizinho Palmeiras. O acesso pode ser realizado totalmente por via

terrestre ou parcialmente por via aérea.

Foto 1.1 - Vista panorâmica da serra do Esbarrancado. Início da trilha do Beco, área de estudo.

O acesso rodoviário a partir de Salvador inicia-se através da BR-324, por

120Km até a cidade de Feira de Santana, de onde segue-se pela BR-116 por 70Km,

seguida da BR-242 por mais 90Km, até a cidade de Itaberaba. Percorrido pouco

mais da metade do trajeto, a viagem continua na BR-242 por 120Km, até Tanquinho,

localidade do município de Lençóis, de onde segue-se pela mesma via por mais

40Km até o entroncamento com a BA-849, que dá acesso a cidade de Palmeiras, à

8Km. Ao chegar a Palmeiras, finalmente, segue-se 30Km por uma via não

pavimentada, sentido sul, até Guiné. De ônibus a viajem pode ser feita a partir de

saídas regulares do Terminal Rodoviário de Salvador até o Terminal de Palmeiras,

através do mesmo trajeto.

Já o acesso aeroviário ocorre regularmente por vôos semanais a partir do

Aeroporto Internacional Deputado Luís Eduardo Magalhães, em Salvador, até o

Aeroporto Cel. Horácio de Matos, popularmente chamado Aeroporto de Tanquinho,

na localidade de Tanquinho, Lençóis. A partir daí a viagem segue por via terrestre

por 78Km até Guiné.

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A maior parte dos trechos rodoviários oferece boas condições de

trafegabilidade e o aeroporto Cel. Horácio de Matos possui uma pista asfaltada com

2.060m x 30m. As principais vias de acesso e localidades da região estão

representadas no Mapa de Situação e Localização da Área de Estudo (figura 1.1).

Figura 1.1 - Mapa de Situação e Localização da Área de Estudo indicando as vias de acesso, bem como os municípios inseridos. Pedreira (2002), modificado.

1.5 MATERIAIS E MÉTODO

O presente trabalho foi realizado em três fases: Pré-campo, Campo e Pós-

campo. Esta organização permitiu o desenvolvimento das atividades de forma lógica

e sistemática, de maneira que a fase precedente criou subsídios à fase seguinte. Em

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todas as fases a revisão bibliográfica esteve presente. Os subitens a seguir

pormenorizam estas fases, ilustradas no fluxograma da pesquisa (figura 1.2).

Figura 1.2 - Fluxograma da Pesquisa, ressaltando suas etapas e as respectivas atividades desenvolvidas.

1.5.1 Fase pré-campo

Esta fase compreendeu o planejamento da pesquisa e a compilação do

referencial teórico. Para tanto foi definido o tema, os objetivos, a área de estudo, a

metodologia e o formato das missões de campo, considerando a disponibilidade de

recursos e o tempo necessário para realização das atividades. Através de um

minucioso levantamento bibliográfico das principais publicações com referência ao

tema proposto, buscou-se obter o baluarte teórico necessária à execução do Projeto

de Pesquisa elaborado.

1.5.2 Fase de campo

Os trabalhos foram executados em missões de campo: uma preliminar, fora

da área de estudo, com o escopo específico de aprendizado; e as demais, com

vistas no reconhecimento regional e da área de estudo e aquisição de dados.

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A capacitação teórica e prática foi realizada através de um curso de campo

intensivo ministrado pelo orientador, com aulas diurnas, no campo, e noturnas, em

sala de aula. A metodologia adotada, nos moldes do Curso de Campo da Chapada

Diamantina da PETROBRAS, conforme Savini e Raja Gabaglia (1997), baseou-se

na fotointerpretação de afloramentos e falésias para definir a geometria externa dos

elementos arquiteturais, suas superfícies limítrofes e eventuais estruturas

sedimentares.

As interpretações prévias foram confrontadas no campo, onde se procedeu: a

descrição detalhada das litofácies; medição da espessura dos estratos,

perpendicular ao acamamento; medição do sentido das paleocorrentes e atitude das

camadas. A partir daí foram interpretados detalhadamente os elementos

arquiteturais, através da associação e sucessão de fácies, bem como dos dados de

paleocorrente e atitude das camadas. Em seguida, foram designados os elementos

arquiteturais e superfícies limitantes, hierarquizando-as. E, por sua vez, os

elementos arquiteturais foram associados, com vistas à interpretação dos sistemas

deposicionais.

Para o acesso aos afloramentos da área de estudo foi necessário o uso de:

mapas de trilhas e geológico da região, nas escalas 1:100.000 e 1:250.000,

respectivamente; um aparelho de GPS; e, eventualmente, um facão. Já na descrição

e registro dos afloramentos foram utilizados materiais como: bússola, lupa, escala

granulométrica, prancheta, ficha de descrição de afloramento, lapiseira e máquina

fotográfica. Concomitantemente, a medição das camadas demandou o uso de uma

régua de carpinteiro e do lápis de cera, este último para marcações discretas e

temporárias na rocha. Nos casos em que a medição exigiu correlações entre

camadas com grandes distâncias horizontais, foi utilizado um tripé com um

clinômetro (bússola) acoplado como artifício para obtenção de visadas precisas,

observando a perpendicularidade alusiva a atitude das camadas (foto 1.2).

As missões foram realizadas em dupla de pesquisadores com mesma área de

pesquisa, porém com temáticas distintas, com o intuito de obter-se maior

produtividade e segurança nos trabalhos de campo, bem como a otimização dos

custos envolvidos.

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Foto 1.2 - Uso da bússola acoplada ao tripé como artifício de medição entre camadas com grandes distâncias horizontais.

1.5.3 Fase pós-campo

Esta fase foi cumprida no escritório, em Salvador, onde foram realizados: o

tratamento dos dados obtidos de paleocorrente, atitude das camadas e estruturas

sedimentares, com o auxílio de softwares específicos. Para a digitalização dos perfis

de empilhamento foi utilizado o software CorelDRAW X3®, com o auxílio de um

scanner. Foi feito também a organização do registro fotográfico em planilha Excel.

Na sequência foram realizadas a interpretação dos dados e a redação da

monografia, em observância às normas da Associação Brasileira de Normas

Técnicas (2011).

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2 CONTEXTO GEOLÓGICO

Este capítulo aborda os principais aspectos geológicos da região da Chapada

Diamantina, com natural destaque a sua parte oriental por tratar-se da região

específica da área de estudo. Para tanto a abordagem far-se-á em dois itens,

inicialmente sob a ótica regional com referência ao arcabouço estrutural, a

estratigrafia e a evolução geotectônica, seguido da ótica local a luz da Formação

Açuruá.

2.1 GEOLOGIA REGIONAL

Os metassedimentos, objeto de estudo, afloram na borda oeste da Serra do

Sincorá, uma expressão fisiográfica da Chapada Diamantina. Esta região

denominada inicialmente por Inda e Barbosa (1978) como Bacia de Lençóis,

compreende, entretanto, duas bacias superpostas repositórias do Supergrupo

Espinhaço: as bacias Espinhaço Oriental e Chapada Diamantina. Estas bacias

jazem na porção central do Estado da Bahia, instaladas no Cráton do São Francisco

(figura 2.1), que, por sua vez, encerra um seguimento crustal antigo bordejado por

faixas orogênicas cujas vergências são dirigidas para o seu interior, afirma Cruz e

Alkmim (2007). O preenchimento das bacias Espinhaço oriental e Chapada

Diamantina corresponde a rochas supracrustais do cráton do São Francisco, em sua

maioria metassedimentares, com variado grau de deformação e metamorfismo, cuja

gênese relaciona-se à origem e evolução policíclica destas bacias ensiálicas

superpostas desde a tafrogênese Estateriana, Paleoproterozóico, até a orogênese

Brasiliana, Neoproterozóico.

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Figura 2.1 - Mapa geológico simplificado do cráton do São Francisco: BSF – Bacia do São Francisco; ES - Espinhaço Setentrional; CD - Chapada Diamantina. Extraído de Cruz (2004).

A ocorrência destes eventos conferiu a região da Chapada Diamantina

características geológica peculiares, especialmente, do ponto de vista estrutural,

estratigráfico e da evolução geotectônica.

2.1.1 Arcabouço estrutural

A Chapada Diamantina é dividida em dois domínios fisiográficos – oriental e

ocidental, separados pelo lineamento brasiliano Barra do Mendes-João Correia, de

acordo com Jardim de Sá et al. (1976). Segundo aquele autor, o domínio ocidental

faz parte da faixa de dobramentos Espinhaço, com dobras apertadas, enquanto o

domínio oriental é considerado uma cobertura tabular de plataforma, na qual se situa

a área deste estudo.

De acordo com Danderfer Filho (1990), o padrão estrutural dominante, na

Chapada Diamantina, é caracterizado por sistemas de dobras e falhas de empurrão

com orientação preferencial NNW-SSE a N-S. Esse autor individualizou quatro

domínios estruturais com graus de deformação e estilos estruturais diferentes,

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representados pelos domínios Morro do Chapéu, Irecê, Gentio do Ouro e Piatã. A

área deste estudo está inserida no domínio Morro do Chapéu caracterizado por

baixa a insignificante magnitude de deformação, o que favoreceu a preservação de

estruturas sedimentares. Segundo Pedreira (1994), os sedimentos estão dobrados

em anticlinais e sinclinais, conjugados, com eixos ondulados de direção NNW-SSE,

aumentando o raio de curvatura de oeste para leste (figura 2.2).

Figura 2.2 - Esboço geológico da região da Chapada Diamantina e Espinhaço Setentrional, com indicação das feições estruturais. Danderfer Filho (1990) adaptado por Castro (2003).

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2.1.2 Estratigrafia

As litologias presentes no âmbito regional da Chapada Diamantina

compreendem parte do embasamento do cráton do São Francisco, o preenchimento

das bacias superpostas Espinhaço Oriental e Chapada Diamantina, assim como os

depósitos recentes. Inda e Barbosa (1978) compartimentaram o preenchimento

daquelas bacias em duas unidades litoestratigráficas, os Supergrupos Espinhaço e

São Francisco. Em trabalhos recentes realizados na porção ocidental, Guimarães et

al. (2005) estabeleceram a carta estratigráfica da Chapada Diamantina baseada na

interpretação das fases tectônicas – pré-rifte, sin-rifte, pós-rifte, e sinéclise fexural –

de preenchimento daquelas bacias, ilustradas na figura 2.3. Os subitens a seguir

descrevem as unidades litoestratigráficas destes Supergrupos, bem como as

coberturas Fanerozóicas.

Figura 2.3 - Carta estratigráfica da Chapada Diamantina referente às rochas supracrustais do cráton do São Francisco e coberturas recentes. Guimarães et al. (2005), modificado.

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2.1.2.1 Supergrupo Espinhaço

É representado, sequencialmente, pela Formação Serra da Gameleira, fase

pré-rifte da bacia Espinhaço Oriental, Grupo Rio dos Remédios, fase sin-rifte, Grupo

Paraguaçu, fase pós-rifte e, em contato discordante angular, Grupo Chapada

Diamantina, representante inicial da bacia sinéclise homônima. De acordo com Cruz

(2004), o Supergrupo Espinhaço engloba uma sucessão de sedimentos de natureza

predominantemente terrígena, com contribuições vulcânicas ácidas a intermediárias

em sua base.

2.1.2.1.1 Formação Serra da Gameleira

Compreende a fase pré-rifte e é composta por depósitos pouco espessos, da

ordem de uma centena de metros, de metaconglomerados, metarenito e

metapelitos, interpretados com de ambiente eólico com fácies fluviais subordinadas.

Ocorre com maior expressão entre as localidades Marcolino Moura e Juciape,

Chapada oriental, em discordância regional, erosiva e angular sobre rochas do

embasamento (GUIMARÃES et al., op. cit.).

2.1.2.1.2 Grupo Rio dos Remédios

Este Grupo encerra a fase sin-rifte e é composto pelas Formações Novo

Horizonte, Lagoa de Dentro e Ouricurí do Ouro. Caracteriza-se por depósitos

vulcânicos proeminentes e depósitos rudáceos atribuídos a subsidência tectônica.

A Formação Novo Horizonte é composta por rochas vulcânicas,

subvulcânicas e piroclásticas tais como andesito, riolito, dacito, em alguns locais

cisalhadas e xistificadas. A Formação Lagoa de Dentro é composta por rochas

arenosas e pelíticas de ambiente lacustre. A Formação Ouricurí do Ouro é

constituída por metarenitos de ambiente fluvial e eólico, e também por rochas

conglomeráticas de ambiente de leque aluvial. Estas Formações afloram nas

proximidades das localidades Novo Horizonte, Lagoa do Dionísio e em outras

localidades adjacentes à Rio de Contas (GUIMARÃES et al., 2005).

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2.1.2.1.3 Grupo Paraguaçu

Depositado em discordância angular e erosiva sobre o Grupo Rio dos

Remédios, o Grupo Paraguaçu concerne à fase pós-rifte e tem ampla distribuição

espacial. Este Grupo é composto na base pela Formação Mangabeira e no topo pela

Formação Açuruá.

Os depósitos da Formação Mangabeira são compostos por metarenitos

feldspáticos bimodais, interpretados como de origem eólica costeira (PEDREIRA,

1994). Segundo aquele autor, esta Formação aflora na rodovia entre Brotas de

Macaúbas e Ipupiara, assim como nas regiões de Seabra, Guiné, Cascavel e

Ibicoara. A Formação Açuruá é constituída por metargilitos, metassiltitos e

metarenitos, atribuídos a múltiplos sistemas deposicionais transicionais e marinhos

rasos. Esta Unidade avança e retrabalha o topo dos depósitos eólicos inferiores (da

Formação Mangabeira) e apresenta um ordenamento vertical granodecrescente

ascendente, sugestivo de um contexto sedimentar transgressivo a mar alto

(GUIMARÃES et al., 2005). Esta Formação aflora no sopé de diversas serras da

Chapada Diamantina, principalmente em sua porção oriental (PEDREIRA, op. cit.).

2.1.2.1.4 Grupo Chapada Diamantina

Este Grupo decorre de um sítio deposicional de bacia do tipo sag, com grande

amplitude e pouca profundidade, representado por depósitos continental fluvial,

eólico, costeiro e marinho raso com plataforma do tipo rampa mista, formando um

ciclo regressivo-transgressivo completo, dividido entre as Formações Tombador (na

base) e Caboclo (no topo), conforme Guimarães et al. (2005). A estratigrafia deste

Grupo encerra com os depósitos fluvio-estuarinos da Formação Morro do Chapéu.

Considerando a escala bacinal, o Grupo Chapada Diamantina apresenta

algumas variações. Entre Morro do Chapéu e Jacobina, sua sedimentação é

eminentemente eólica e fluvial. Na região entre Lençóis e Mucugê, seu

preenchimento começa com depósitos estuarinos, fluvial entrelaçado e de leques

aluviais, da Formação Tombador, gradando para pelitos, calcarenitos e silex,

representantes da Formação Caboclo. Um rebaixamento do nível eustático expôs a

plataforma ―Caboclo‖ à ação fluvial e gerou um grande vale inciso na porção norte

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da Chapada Diamantina, arredores do distrito de Morro do Chapéu, que foi

preenchido por sedimentos fluviais da Formação homônima (DOMINGUEZ,1996).

O contato do Grupo Chapada Diamantina com as unidades inferiores da fase

pós-rifte é definido por uma discordância erosiva de escala bacinal, sobre depósitos

da Formação Açuruá. O seu contato superior, erosivo e angular, se dá com a

sedimentação plataformal, por vezes glacial, da bacia São Francisco, ou ainda com

as Formações superficiais (GUIMARÃES et al., op. cit.).

2.1.2.2 Supergrupo São Francisco

Compreende a sequência de rochas terrígenas-carbonáticas num contexto

marinho plataformal e glacial da bacia Chapada Diamantina. Esta Unidade aflora nas

"bacias" Irecê, Una-Utinga e Ituaçu (PEDREIRA, 1994). O Supergrupo São

Francisco é representado na região da Chapada Diamantina pelo Grupo Una, que

compreende as Formações Bebedouro e Salitre. A Formação Bebedouro é

composta por tilitos (maciços ou estratificados), siltito calcíferos e pelitos,

interpretado como depósitos glaciais e de planície aluvial (GUIMARÃES, 1996). A

Formação Salitre é composta por calcilutitos, calcissiltitos, calcarenitos, laminitos

microbiais estromatólitos, calcarenitos oncolíticos, intraclásticos e oolíticos,

interpretados como depósitos marinho plataformal, conforme Pedreira (op. cit.).

2.1.2.3 Coberturas Fanerozóicas

São constituídas na região do Vale do Rio Salitre pela Formação Caatinga

que consiste de depósitos de calcrete ou caliche lacustres, pedogenéticos, a partir

da dissolução dos carbonatos do Grupo Bambuí, conforme Pereira (2011).

Os depósitos colúvio-eluvionares e aluvionares, Cenozóicos, ocorrem

irregularmente na área da Chapada Diamantina. Os depósitos colúvio-eluvionares

são acumulações friáveis, normalmente, não selecionadas com granulometria

variada, de argila a matacões, muito próximos de sua área fonte, ou mesmo, in situ.

Depósitos aluvionares, planícies e terraços de aluvião, são constituídos por areias

finas a grossas, grânulos e seixos, encontrados nos leitos de rios e córregos.

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2.1.3 Evolução geotectônica

O Cráton do São Francisco corresponde a um segmento crustal consolidado

no Paleoproterozóico, composto por complexos de rochas metamórficas de alto grau

e rochas supracrustais, todas de idade Arqueana, e núcleos granitóides do

Paleoproterozóico, cuja evolução a partir de 1750Ma condicionou a instalação de

duas bacias sedimentares ensiálicas, superpostas e diacrônicas, estruturadas nas

direções NS e NW-SE, repositórias do Supergrupo Espinhaço: uma, do tipo rifte-sag,

de idade Estateriana – Bacia Espinhaço Oriental, e outra, do tipo sinéclise, atribuída

ao Calimiano – Bacia Chapada Diamantina (GUIMARÃES et al., 2005).

Segundo Almeida (1977), durante o ciclo Brasiliano, o substrato mais velho do

cráton (1.8Ga) foi poupado de deformação e metamorfismo durante as colisões

formadoras do Gondwana Ocidental no Neoproterozóico, as quais desenvolveram as

faixas móveis que limitam o cráton: Brasília, Rio Preto, Riacho do Pontal, Sergipana

e Araçuaí. No interior do cráton, esta orogênese condicionou a inversão das bacias

superpostas Espinhaço Oriental e Chapada Diamantina por tectônica reflexa.

Pedreira (1994) analisou as relações entre os diversos sistemas deposicionais e a

posição geográfica destes em relação à faixa Jacobina/Contendas-Mirante e

interpretou a Chapada Diamantina Oriental como uma bacia foreland, preenchida

por sedimentos provenientes daquela faixa.

2.2 GEOLOGIA LOCAL

A Serra do Sincorá conforma um grande anticlinório com eixo ondulante,

alongado na direção nor-nordeste, alternando altitudes superiores a 1200m,

conforme Pedreira (2008). Esta Serra é formada predominantemente por

metarenitos da Formação Tombador, que compõem os flancos deste anticlinal, e por

depósitos da Formação Açuruá sotopostos, que ocorrem nos vales e sopés (figura

2.4). O contato entre estas Formações marca a mudança da bacia pós-rifte para

sinéclise (GUIMARÃES et al., 2005), Na maior parte da sua área de afloramento, a

base da Formação Açuruá está em contato com a Formação Mangabeira

(PEDREIRA, 1994).

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Figura 2.4 - Mapa geológico local, compilado de Andrade Filho et al. (1999).

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De acordo com Silva Filho (2009), na parte setentrional da serra, próximo a

Lençóis, foram interpretados três ambientes deposicionais: estuarino e eólico,

correspondentes a Formação Tombador, e deltaico, correspondente a Formação

Açuruá. Na Formação Açuruá os lobos deltaicos progradantes migram para leste e

são representados por metarenitos finos com padrão granocrescente ascendente. O

contato entre a Formação Tombador e Açuruá foi definido com base na geometria e

paleocorrente dos depósitos deltaicos da Formação Açuruá para leste e geometria e

paleocorrente dos depósitos estuarinos da Formação Tombador para oeste,

segundo Pedreira (1994) e Silva Filho (op. cit.). A mudança na direção de

paleocorrentes é um critério adotado por diversos autores para a interpretação de

discordâncias.

Na área deste trabalho, a Formação Açuruá aflora no sopé da Serra do

Esbarrancado, designação local da Serra do Sincorá. A expressão local desta

Formação, de acordo com Andrade Filho et al. (1999), é composta pelo conjunto de

fácies pelitos laminados, siltitos com laminação plano-paralela, arenitos finos com

estratificação cruzada tabular e herring bone. Bomfim e Pedreira (1990) e Pedreira e

Margalho (1990), apud Pedreira (1994), com base na associação de fácies,

interpretaram dois subsistemas deltaico na seção-tipo da Formação Açuruá aflorante

na trilha Guiné-Patí (figura 2.5): prodelta e planície deltaica.

O subsistema prodelta, foi interpretado por aqueles autores, com base na

associação de fácies argilosas sem evidência de estruturas indicativas de água rasa

ou exposição subaérea, conglomerados intraformacionais com gradação normal e

arenitos com estratificações plano-paralelas e cruzadas de baixo ângulo no topo,

indicativas de fluxos hiperpicnais.

A planície deltaica foi interpretada com base na associação de marcas

onduladas de crista reta, indicativas sedimentação em profundidade moderada, e as

mud cracks, indicativas de exposição subaérea. Estas fácies foram atribuídas a

zonas interdistributárias, por ocorrerem em associação lateral com arenitos de

geometria sigmoidal, atribuídos a canais distributários.

O sistema deposicional foi interpretado, por aqueles autores, como deltaico

dominado por maré, com base nas estratificações cruzadas do tipo espinha de peixe

associadas à planície deltaica.

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Figura 2.5 - Perfil da Formação Açuruá no afloramento da trilha Guiné-Patí, Pedreira (1994).

Aragão (2009) e Santos (2009), em trabalhos restritos ao em torno da

discordância Açuruá–Tombador, interpretaram nesta área o subsistema planície

deltaica, a partir de estruturas como syneresis cracks e do padrão granulométrico e

o atribuiu a Formação Açuruá. Aqueles autores também interpretaram o ambiente

eólico para a Formação Tombador. Entre estas Formações, aqueles autores,

identificaram, ainda, um dique máfico de textura fina com o anfibólio actinolita e

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36

enclaves de quartzito, com direção N330, que localmente comporta-se como um sill,

com espessura total de 27m, por aproveitar o plano de fraqueza existente da

discordância (figura 2.6).

Figura 2.6 - Perfil das Formações Açuruá eTombador no em torno da discordância, no afloramento da Trilha do Beco, segundo Santos (2009).

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37

3 REFERENCIAL TEÓRICO

Neste capítulo são apresentadas as bases conceituais adotadas neste

trabalho para a caracterização do sistema deposicional deltaico.

3.1 SISTEMAS DEPOSICIONAIS

Sistemas deposicionais envolvem a interação entre processos sedimentares

que atuam em diversas escalas de tempo e espaço (SAWAKUCHI e GIANNINI,

2006). Pode-se afirmar que, os sistemas deposicionais constituem a interação entre

os ambientes deposicionais e os processos sedimentares, neles atuantes, ou

inferidos.

De acordo com aqueles autores, esta interação apresenta dinâmica complexa

e gera produtos de grande variabilidade, os depósitos sedimentares, cujas partes

elementares são as fácies deposicionais. Reading (1996) definiu fácies como uma

litossoma, que pode ocorrer como uma única camada, ou grupo de múltiplas

camadas formadas sob condições específicas, que reflete um processo particular de

sedimentação.

Segundo Selley (1970), as fácies são caracterizadas com base no tipo

litológico, estruturas sedimentares, geometria, distribuição de paleocorrentes e

conteúdo fossilífero. A fácies resulta da atuação de processos físicos, químicos e

biológicos sobre os sedimentos. Portanto, os processos físicos e as condições

dinâmicas do meio fluido particulares a porções específicas de ambientes

deposicionais antigos, durante a formação de uma determinada fácies ou conjunto

de fácies, podem ser inferidos com base na análise dos atributos deposicionais

primários.

A ocorrência de formas de leito específicas, responde a variação da

velocidade do fluxo em relação à granulometria dos sedimentos, conforme a

ilustração da figura 3.1. Estas relações foram estabelecidas através de simulações

feitas em laboratório e, analogamente, estima-se que as mesmas relações

ocorreram nos exemplos descritos no registro geológico, de acordo com Morang

(2002).

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Figura 3.1 - Diagrama de fases, obtido em estudos de laboratório, mostrando as fases de estabilidade das formas de leito subaquosas em função da velocidade do fluxo e da granulometria, segundo Morang (2002) adaptado de Ashley (1990).

Miall (1996) chamou de elemento arquitetural uma porção morfológica de um

sistema deposicional específico caracterizado pela associação de fácies, geometrias

e processos. O agrupamento das fácies em elementos arquiteturais possibilita

interpretar, de maneira preditiva, as porções constituintes dos sistemas

deposicionais, tal como, o agrupamento dos elementos arquiteturais permite

interpretações, de caráter preditivo, dos sistemas, ainda que individualmente os

elementos arquiteturais não sejam, via de regra, peculiares a um único sistema

deposicional.

Para Walker (1992), sistema deposicional é uma assembléia tridimensional de

fácies, geneticamente relacionada a processos e ambientes de sedimentação ativos

ou inferidos. Walker (2006), em revisão ao trabalho supracitado, afirmou que o

modelo de facies, no entendimento atual, envolve uma síntese de Informações sobre

ambientes deposicionais antigos e modernos, em um esforço para entender a

natureza, escala, heterogeneidade e os processos físicos controladores dos

elementos representados em cada ambiente.

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Ambas as sistemáticas de agrupamento de fácies, com vistas à interpretação

dos sistemas deposicionais, estão ilustradas na figura 3.2. Este trabalho seguirá a

metodologia proposta por Savini e Raja Gabaglia (1997), cujos sistemas são

descritos em termos dos elementos arquiteturais, conforme descrito na seção

materiais e método deste trabalho.

Figura 3.2 - Relações entre fácies e sistemas deposicionais. Riccomini et al. (2000), modificado.

3.2 SISTEMAS DEPOSICIONAIS DELTAICOS

Deltas são ambientes transicionais que se formam na desembocadura de um

rio em um corpo d’água onde a carga sedimentar trazida pelo rio supera a sua

dispersão pelos agentes atuantes na bacia receptora (CASTRO e CASTRO, 2008).

Na linha de costa, os deltas são discretas protuberâncias formadas na

desembocadura de um rio que, devido à rápida perda de competência ao adentrar o

mar, deposita sedimentos mais rapidamente do que eles podem ser redistribuídos

por processos como as marés e ondas (BHATTACHARYA, 2006) (figura 3.3).

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Figura 3.3 - Exemplos de deltas atuais no mundo: (a) em Caravela, litoral sul da Bahia, (b) no Golfo do Mexico, EUA e (c) no Mar de Coral, Papua-Nova Guine. Imagens extraídas do Google Earth©.

De acordo com Dalrymple (1999) delta difere de estuário devido a sua

sedimentação ser diretamente fluvial, em contraste com estuários, cuja

sedimentação deriva de ambos, marinho e fluvial. Ademais, estuários foram

definidos como sistemas deposicionais fundamentalmente transgressivos, em

contraste com deltas, regressivos (DALRYMPLE, 1992).

Galloway (1975) propôs uma classificação ternária para deltas antigos com

base na influência dos processos marinhos - ondas e marés - em detrimento dos

processos fluviais na construção dos deltas atuais. Coleman e Wright (1975)

diferenciaram seis tipos básicos de deltas baseados na geometria dos corpos

arenosos. Ambos os trabalhos foram compilados por Bhattacharya e Walker (1992)

e representados na figura 3.4. Bhattacharya (2006), em revisão ao trabalho

supracitado, observou que todos os corpos arenosos dos depósitos deltaicos

estreitam e espessam em direção a foz e, também, que a geometria dos deltas

influenciados por maré em comparação aos unicamente dominados por rio, se

assemelha na parte final daqueles corpos.

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Figura 3.4 - Geometria de corpos arenosos e padrão isolítico dos seis tipos de delta de Coleman e Wright (1975) adaptado a classificação ternária – dominado por rio, por onda e influenciado por maré - de Galloway (1975), Bhattacharya e Walker (1992).

Os sistemas deltaicos são subdivididos morfologicamente em três

subsistemas: planície deltaica, que corresponde à porção sob atuação de processos

predominantemente subaéreos; frente deltaica e prodelta, correspondentes às

porções proximais e distais, respectivamente, sob atuação permanente de

processos subaquosos (Figuras 3.5).

De acordo com o tipo de delta, a distribuição interna de facies e a forma dos

depósitos nos subsistemas deltaicos dependem: (1) se o influxo fluvial é mais denso

(hiperpicnal), igualmente denso (homopicnal), ou menos denso (hipopicnal) que

corpo aquoso receptor; (2) da interação do influxo fluvial com os processos

marinhos, que pode incluir ondas, marés, tempestades e correntes oceânicas, e

ocorrência de bioturbação; (3) da posição do delta, em relação à quebra da

plataforma; e (4) do grau de retrabalhamento dos sedimentos fluviais por ação dos

processos marinhos (BHATTACHARYA, 2006).

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Figura 3.5 - Subsistemas deltaicos vistos em planta, dominado por rio, por onda e influenciado por maré. Os deltas dominados por rio são classificados como lobado (de água rasa) e alongado (de água profunda). Modificado de Fisher et al. (1969) por Bhattacharya (2006).

A geometria de um sistema deltaico é lobada quando vista em planta e

sigmóide vista em corte longitudinal (figura 3.6). A geometria sigmoidal de uma

construção deltaica resulta do padrão de espessuras da planície deltaica com baixos

valores e da frente deltaica, com maiores valores que diminuem gradativamente em

direção ao prodelta (CASTRO e CASTRO, 2008).

Figura 3.6 - A geometria sigmóide e a distribuição dos litotipos de um sistema deltaico vistas em seção dip (corte longitudinal). Extraído de Bhattacharya (2003).

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A geometria dos estratos e a variação lateral de facies podem ser obtidas

através da sísmica, GPR, dados de afloramentos contínuos e interpolação de dados

de poço (BHATTACHARYA, 2006).

3.2.1 Elementos arquiteturais

Segundo Bhattacharya (2006), embora os estudos atuais possam ser

prematuros para caracterizar completamente os elementos arquiteturais que

compõem os sistemas deposicionais deltaicos (figura 3.7), algumas generalizações

podem ser feitas.

Figura 3.7 - Arquitetura de fácies deltaicas. (A) dominado por ondas, (B) influenciado por marés, (C) dominado por rio, lobado, e (D) dominado por rio, alongado. Extraído de Suguio (2003).

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3.2.1.1 Elementos arquiteturais da planície deltaica

Conforme Bhattacharya (2006), os elementos arquiteturais arenosos da

planície deltaica incluem canais distributários em variadas escalas, que podem

migrar ou empilhar corpos em forma de canal ou cinturões de canais. Internamente

estes corpos consistem em barras (macroformas) e, em menor escala, formas de

leito, análogas aos elementos arquiteturais descritos na literatura fluvial (e.g. MIALL,

1996). A dimensão dos canais depende da ordem de bifurcações, que pode ser alta

em deltas dominados por rio e baixa nos dominados por ondas, afirma Bhattacharya

(op. cit.). Ele descreve também, que a planície deltaica inclui áreas interdistributárias

com crevasse splay e depósitos de dique marginal, além de numerosas áreas

úmidas propensas a deposição lamosa, embora nelas existam poucos estudos

acerca das dimensões típicas do elemento associação de facies lamosa.

O elemento arquitetural canal distributário (figura 3.8a) consiste da

associação de fácies areia grossa a muito fina com marcas erosivas e estratificações

cruzadas, podendo conter areia muito grossa a cascalhos, que formam barras

longitudinais e de acreção lateral, associadas a processos trativos; e areia siltosa a

argila, laminada, atribuída a deposição a partir de suspensão por abandono do canal

(SUGUIO, 2003).

O elemento arquitetural crevasse splay (figura 3.8b) é constituído da

associação de fácies areia à argila, com estratificação plano-paralela, laminações

cavalgantes associadas a processos de tração e suspensão combinados, marcas de

exposição subaérea e geometria lobada, que ocorrem nas áreas interdistributárias a

partir do rompimento de diques marginais, quando do extravasamento do canal

(CASTRO e CASTRO, 2008).

O elemento arquitetural dique marginal consiste da associação de fácies

argila siltosa laminada, que podem conter bioturbações e estão associadas à

deposição a partir de carga em suspensão por extravasamento de canais fluviais,

conforme Suguio (2003).

O elemento arquitetural associação de fácies lamosa consiste de silte e argila

interlaminadas com areia muito fina, estruturas de carga e marcas de exposição

subaérea. Ocorrem nas áreas baixas da planície deltaica, incluindo entre os canais

distributários ativos e abandonados, por processo de decantação, a partir de

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inundações. Podem ocorrer depósitos paludais como turfa, atrelada ao clima

tropical; e calcrete ou evaporito, quando árido (SUGUIO, op. cit.).

Figura 3.8 - Perfis de poço do delta dominado por rio da Formação Dunvegan, Província de Alberta, Canadá. (A) canal distributário constituído por arenitos finos, estratificação cruzada na parte inferior e laminação cruzada acima: intraclastos argilosos e bioclastos formam um pavimento (lag) conglomerático na base erosiva do canal e (B) lobos de crevasse splay preenchendo baías interdistributárias, progradante com intercalação de folhelhos/siltito e arenito, laminação cruzada com laminações cavalgantes, abaixo, e arenito médio com estratificação sigmóide, acima: o intervalo é capeado por siltito com restos de vegetais e ostras. Extraído de Castro e Castro (2008).

3.2.1.2 Elementos arquiteturais da frente deltaica proximal

A frente deltaica proximal consiste de elementos barra de desembocadura

(figura 3.9), que por sua vez constroem assembléias de barras e lobos

amalgamados com várias dimensões, como descrito por Bhattacharya (2006). As

barras de desembocadura são alimentadas por canais distributários terminais e

constituem-se o depocentro deltaico (CASTRO e CASTRO, 2008). Uma variedade

de formas de leito arenosa pode está associada à parte proximal destas barras.

Segundo Bhattacharya (op. cit.) em deltas dominados por rio, com água rasa e

forças de fricção dominante, aqueles canais têm tipicamente poucos metros de

profundidade e algumas dezenas a centenas de metros de largura.

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O elemento arquitetural barra de desembocadura consiste da associação de

fácies areia fina e silte, laminações cruzada acanalada, cruzada tangencial,

laminações cavalgantes e forma sigmoide alongada ou lobada. A deposição resulta

do decréscimo da velocidade e rápida diminuição da competência com o

desconfinamento do fluxo canalizado (SUGUIO, 2003).

A compactação e o transporte gravitacional de massa de areias na frente

deltaica sobre as lamas do prodelta dão origem a estruturas de escorregamento,

diápiros de argila e falhas de crescimento (CASTRO e CASTRO, op. cit.).

Figura 3.9 - Perfil de poço do delta dominado por rio da Formação Dunvegan, Província de Alberta, Canadá, que mostra o lobo de frente deltáica, progradante sobre o prodelta argiloso, em sucessão granocrescente ascendente, formada pela transição areno-argilosa com laminações plano-paralelas ou cruzada cavalgante nos arenitos, estrutura convoluta e barra de desembocadura com estratificações cruzada e marcas de raízes de topo. Extraído de Castro e Castro (2008).

3.2.1.3 Elementos arquiteturais da frente deltaica distal

Segundo Bhattacharya (2006), em deltas dominados por rio a porção distal da

frente deltaica é comumente formada por elementos arquiteturais barra distal ou

canais e calhas subaquosos. Os canais tipicamente erodem somente alguns metros

e podem estar intimamente associadas com as barras. As dimensões das barras

distais não são conhecidas, porém estes podem coalescer e formar uma franja distal

de frente deltaica arenosa, com escala de lóbulo deposicional (BHATTACHARYA,

op. cit.). O elemento arquitetural barra distal consiste da associação de fácies silte e

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argila, laminações sub-horizontais, resultantes do prolongamento natural

subaquático dos canais distributários; e laminações cruzadas e pequenas estruturas

de corte e preenchimento associadas a períodos de cheias acentuadas nos rios

(SUGUIO, 2003).

De acordo com Bhattacharya (op. cit.), os elementos arquiteturais formados

por ondas incluem corpos arenosos de ilha-barreira e shorefaces (plataforma

litorânea). A largura das ilhas-barreira tipicamente ocorre na mesma escala da barra

de desembocadura, embora elas possam se estender por vários quilômetros

paralelos á linha de costa.

O elemento arquitetural shorefaces é caracterizado pela associação de fácies

arenosas lateralmente contínuas (até várias dezenas quilômetros), estratificações

cruzada hummocky, cruzada de baixo ângulo, cruzada Swaley e fácies fluviais

localizadas. Esta última, indicada por uma diminuição marcante na diversidade e

abundância de icnofaunas em lamitos subjacente e pelo aparecimento de laminados

que gradam para a facies prodelta, definido por Hampson e Howell (2005) apud

Bhattacharya (2006).

Em deltas influenciados por marés, as barras de maré constituem os

elementos arquiteturais diagnóstico, afirma Della Favera (2008). Seu

retrabalhamento, segundo Bhattacharya (op. cit.), pode produzir uma variedade

confusa de formas de leito. Ele cita ainda, que o fluxo bidirecional também pode

tornar os canais distributários mais estáveis por períodos consideravelmente mais

longos, se comparado com os deltas dominados por rios. Este fato pode resultar em

barras notavelmente mais alongadas e assembléias de barras.

Segundo Castro e Castro (2008), a avulsão fluvial pode provocar na frente

deltaica distal o abandono de um lobo deposicional, seguido de retrabalhamento

marinho transgressivo e, lateralmente contíguo, a construção de um novo lobo.

3.2.1.4 Elemento arquitetural do prodelta

Este elemento encerra uma associação de fácies marinha essencialmente

argilosa, de prodelta, que pode recobrir vastas áreas da plataforma e migrar por

milhares de quilômetros. De acordo com Bhattacharya (2006), embora intraclastos

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lamosos costeiros sejam comuns nos exemplos modernos, existe uma escassez de

bons exemplos antigos documentados.

3.2.2 Sucessão de fácies deltaica típica

O perfil vertical deltaico típico (figura 3.10) demonstra a Lei da Sucessão de

Fácies de J. Walther, de 1894, fundamentalmente regressiva em sistemas deltaicos,

que apresenta da base para o topo um padrão progradacional da frente deltaica

sobre o prodelta argiloso, seguido do padrão agradacional da planície deltaica. Os

depósitos lamosos de inundação marinha limitam o ciclo deltaico completo.

Figura 3.10 - Ciclo deltaico completo, com os componentes progradante da frente deltaica/prodelta, agradante da planície deltaica, limitado por inundações marinhas, Allen (1989) apud Castro e Castro (2008), modificado.

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4 ANÁLISE E INTEGRAÇÃO DOS DADOS

Este capítulo aborda a descrição, organização e interpretação dos dados

levantados na seção aflorante da Formação Açuruá, nos arredores de Guiné e a

base da Formação Tombador. Para tanto o capítulo é organizado em dois itens que

versam sobre: (1) a caracterização e o empilhamento das litofácies; e (2) o

agrupamento destas litofácies em termos de elementos arquiteturais e, estes, em

sistemas deposicionais.

4.1 FÁCIES E EMPILHAMENTO DE FÁCIES NOS ARREDORES DE GUINÉ

Neste trabalho foram empilhados 480 metros de seção da Serra do

Esbarrancado, expressão do flanco leste do Anticlinal de Seabra, no início da Trilha

do Beco (figura 4.1), em camadas com mergulho local modal N340/14NE. Dentro

deste universo de 480m, 150m corresponderam a seções não aflorantes (gaps),

além de 48m correspondentes a um sill interestratal de rocha máfica.

Embora a seção compreenda rochas com baixo grau de metamorfismo, os

282 metros de seção descritos estão referidos a nomenclatura de rochas

sedimentares.

Figura 4.1 – Imagem panorâmica da Serra do Esbarrancado, mostrando, em amarelo, o trecho inicial da Trilha do Beco no qual o perfil foi empilhado. Base da seção coord. E 226.682m / N 8.587.686m e o topo E 227.801m / N 8.588.440m. Extraída do Google Earth©.

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Utilizou-se uma referência de profundidade – topo a 1290m e base a 1770m –

arbitrária para estabelecer uma referência vertical no empilhamento. A seção

geológica foi medida na superfície, porém com esse sistema arbitrário de medida

vertical, o perfil pode ser caracterizado como um ―poço fictício‖ perfurado na região.

Dessa forma, foram caracterizadas quatorze fácies identificadas na seção

empilhada, com base nos atributos deposicionais primários: tipo litológico, estruturas

sedimentares, geometria e distribuição de paleocorrentes. A caracterização fez-se

por códigos constituídos por até três letras, sendo a primeira, maiúscula,

representante da granulometria, a segunda, minúscula, indicativa da estrutura

sedimentar e a terceira letra, também minúscula, alusiva a alguma característica

peculiar, quando pertinente.

Cada fácies será interpretada em termos dos processos físicos intrínsecos à

sua formação. Abaixo, seguem listadas, as referidas fácies precedidas dos seus

respectivos códigos:

As - arenito muito grosso com laminação sub-horizontal;

At - arenito grosso a muito grosso com estratificação cruzada tabular de

pequeno a médio porte;

Aa - arenito médio a muito grosso com estratificação cruzada acanalada de

pequeno a médio porte;

Aal - arenito fino a muito grosso com estratificação cruzada acanalada e

intraclasto lamoso;

Asi - arenito médio a médio/grosso laminado com gradação inversa;

Am - arenito muito fino a muito grosso maciço ou com laminação indistinta;

Aco - arenito muito fino a fino/médio com laminação cruzada tangencial e

marcas onduladas;

Ac - arenito muito fino a fino/médio com laminações cavalgantes;

Apl - arenito muito fino a fino/médio com laminação plano-paralela;

I - interlaminado de folhelho, siltito e arenito;

Sm - siltito a siltito arenoso maciço;

Sp - siltito com laminação plano-paralela;

Fl - folhelho laminado;

Rm - rocha máfica.

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4.1.1 Fácies arenito médio a muito grosso com estratificação cruzada

acanalada de pequeno a médio porte (Aa)

Camadas com até 1m de arenito médio a muito grosso com estratificação

cruzada acanalada de pequeno a médio porte (foto 4.1 e 4.2), disposta em sets com

espessuras centimétricas, que comumente apresentam gradação normal (foto 4.3) e,

por vezes, níveis grânulosos. Esta fácies frequentemente compõe camadas maiores

em granodecrescência ascendente.

Foto 4.1 - Arenito grosso com cruzada acanalada em granodecrescência ascendente para siltito. Prof. 1750,9m.

Foto 4.2 - Estratificação cruzada acanalada em arenito grosso com gradação normal. Prof. 1304m

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Foto 4.3 – Detalhe do arenito grosso com gradação normal. Prof. 1292,6m

Esta fácies é interpretada com resultante da migração de dunas subaquosas

de cristas sinuosas sob a ação de correntes unidirecionais em regime de fluxo

inferior (MIALL, 1996).

4.1.2 Fácies arenito fino a muito grosso com estratificação cruzada acanalada

e intraclasto lamoso (Aal)

Camadas decimétricas de arenito fino a muito grosso, com estratificação

cruzada acanalada (foto 4.4 e 4.5) e intraclastos lamosos de variados tamanhos, até

12cm (fotos 4.6), que podem, raramente, ocorrer em arenitos com estrutura maciça.

Esta fácies integra camadas maiores em granodecrescência ascendente.

Foto 4.4 - Arenito fino com clastos lamosos e cruzada acanalada. Prof. 1681,5m

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Foto 4.5 - Detalhe do clasto lamoso em arenito grosso. Prof. 1770,4m.

Foto 4.6 - Arenito fino maciço com clastos lamosos avermelhados com até 12cm. Prof. 1667,8m.

Esta fácies é interpretada como resultado dos processos de erosão do

substrato e tração em correntes unidirecionais sob regime de fluxo inferior, durante

períodos de aumento relativo do nível local de energia do fluxo.

4.1.3 Fácies arenito muito fino a fino/médio com laminação plano-paralela

(Apl)

Possui camadas com alguns centímetros a decímetros de arenito muito fino a

fino/médio com laminação plano-paralela (foto 4.7), frequentemente com filme de

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lama no topo (foto 4.8), que pode conter gretas de contração, compondo camadas

maiores granodecrescente ascendentes.

Foto 4.7 – Arenito muito fino a fino/médio com laminação plano-paralela entre arenito grosso com cruzada acanalada, na base, e, em granodecrescência ascendente, siltito laminado com filme de lama no topo. Prof. 1747,4m.

Foto 4.8 - Detalhe da greta de contração no filme lamoso do topo do ciclo granodecrescente ascendente de arenito grosso a siltito laminado. Prof. 1747,4m.

Esta fácies é interpretada como produto de processo de tração por correntes

de fundo em regime de fluxo inferior, seguido da decantação dos finos associada ao

topo de um ciclo granodecrescente ascendentes.

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4.1.4 Fácies arenito muito fino a fino/médio com laminações cavalgantes (Ac)

Representada por camadas tabulares decimétricas de arenito muito fino a

fino/médio com laminações cavalgantes (fotos 4.9 e 4.10). Esta fácies integra

camadas maiores em granodecrescência ascendente.

Foto 4.9 - Panorâmica de arenitos médio a muito fino, em granodecrescência ascendente. Prof. 1677m.

Foto 4.10 – Detalhe de arenito muito fino com climbing ripple. Prof. 1679,4m.

Esta fácies é interpretada como resultado da combinação dos processos de

tração e suspensão, causando a agradação da forma de leito, devido o aumento da

taxa de deposição das areias em relação à velocidade de deslocamento da forma de

leito.

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4.1.5 Fácies siltito a siltito arenoso maciço (Sm)

Camadas métricas de siltito a siltito arenoso, creme ou amarelo, maciço, com

aspecto blocoso (fotos 4.11 e 4.12), que podem eventualmente conter níveis de

arenito muito fino laminado micáceo.

Foto 4.11 - Panorâmica do afloramento, mostrando o siltito lamoso maciço. Prof. 1570m.

Foto 4.12 – Detalhe do siltito lamoso cinza amarelado maciço. Prof. 1570m.

Esta fácies é interpretada como resultante da deposição, preferencialmente,

em condição de subaquosa parálica com fraco contraste granulométrico.

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4.1.6 Fácies interlaminado de folhelho, siltito e arenito (I)

Fácies com camadas tabulares decamétricas, lateralmente contínuas,

compostas de siltito vermelho, roxo ou cinza e folhelho cinza esverdeado associados

com arenito muito fino, que formam laminações cavalgantes, lentes de arenito muito

fino e wavy (fotos 4.13 e 4.14). Frequentemente ocorrem gretas de contração (fotos

4.15 e 4.16).

Foto 4.13 - Panorâmica do afloramento: silitito cinza amarelado, avermelhado e roxo. Prof. 1544m.

Foto 4.14 - Lente de arenito muito fino em siltito e wavy. Prof. 1517,4m.

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58

Foto 4.15 - Panorâmica das camadas tabulares de interlaminado de folhelho e siltito cinza, avermelhado e cinza amarelado, com arenito muito fino. Prof. 1562m

Foto 4.16 - Detalhe do interlaminado de folhelho e siltito, cinza avermelhado, com arenito muito fino, mostrando gretas de contração. Prof. 1561,8m.

Esta fácies é interpretada como resultado da combinação de processos de

tração e suspensão de areias e siltes, seguido de decantação de lama sobre formas

de leito onduladas e exposição subaérea.

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59

4.1.7 Fácies folhelho laminado (Fl)

Camadas tabulares decamétricas, lateralmente contínuas, compostas por

folhelho vermelho arroxeado, por vezes, com níveis amarelados, finamente laminado

(fotos 4.17 e 4.18).

Foto 4.17 - Panorâmica do afloramento mostranto o folhelho vermelho laminado em camadas tabulares, com destaque a área da foto de detalhe, em verde. Prof. 1510,2m.

Foto 4.18 - Detalhe do folhelho vermelho laminado, Prof. 1510,2m.

Devido à ausência das evidências acerca dos processos trativos, bem como

ao caráter francamente argiloso desta fácies, esta é interpretada como resultado de

decantação em águas calmas sem ação de correntes de fundo.

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60

4.1.8 Fácies siltito com laminação plano-paralela (Sp)

Representada por camadas decimétricas a métrica, lateralmente contínuas,

de siltito creme, por vezes cinza avermelhado, com laminação plano-paralela no

topo (foto 4.19). Esta fácies ocorre na base de algumas camadas granocrescente

ascendentes maiores e intercaladas.

Foto 4.19 - Siltito creme avermelahado com laminação plano-paralela no topo. Prof. 1473,1m.

Esta fácies é interpretada como resultado dos processos de tração e

suspensão combinados, sob regime de fluxo inferior, correspondente a parte distal

das barras progradantes.

4.1.9 Fácies arenito muito fino a fino/médio com laminação cruzada tangencial

e marcas onduladas (Aco)

Camadas decimétricas de arenito muito fino a fino/médio, com laminação

cruzada tangencial e marcas onduladas (foto 4.20), que integram um conjunto de

camadas métricas granocrescente ascendentes.

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61

Foto 4.20 - Arenito fino/médio como marcas onduladas. Prof. 1428m.

Esta fácies é interpretada como resultado do processo de diminuição da

tração em detrimento da saltação/decantação em correntes aquosas unidirecionais,

sob condições de aumento da taxa de deposição e diminuição relativa da

capacidade de transporte arenoso, em uma tendência progradacional das camadas

maiores.

4.1.10 Fácies rocha máfica (Rm)

Rocha máfica com textura fina, com a forma de sill interestratal, com 48m de

espessura. Esta fácies comumente inclui xenólitos centimétricos compostos por

brechas de arenito (foto 4.21).

Foto 4.21 - Sill de rocha máfica com brechas de arenito. Prof. 1340m.

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62

Esta fácies é interpretada como resultado de uma intrusão ígnea, localmente

concordante, se instalou aproveitando a superfície de discordância entre as

Formações Açuruá e Tombador, conforme Andrade Filho et al. (1999) e Aragão

(2009).

4.1.11 Fácies arenito muito fino a muito grosso maciço ou com laminação

indistinta (Am)

Constitui camadas com espessuras decimétricas a métricas de arenito médio

a muito grosso maciço ou, por vezes, com laminação indistinta (foto 4.22).

Foto 4.22 - Arenito com laminação indistinta. Prof. 1312,2m.

A estrutura maciça é interpretada como resultado da perda de fluídos por

sobrecarga, deposição por fluxos turbulentos ou falta de contraste granulométrico

acentuado (MIALL, 1996).

4.1.12 Fácies arenito grosso a muito grosso com estratificação cruzada tabular

de pequeno a médio porte (At)

Constitui camadas tabulares com até 1m de arenito grosso a muito grosso,

com estratificação cruzada tabular de pequeno a médio porte (fotos 4.23). Os sets

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63

são centimétricos e, comumente, apresentam gradação normal e grânulos alinhados

na estratificação (foto 4.24).

Foto 4.23 - Estratificação cruzada tabular em arenito grosso e muito grosso. Prof. 1302,6m.

Foto 4.24 - Arenito muito grosso com grânulos na estratificação cruzada tabular de pequeno porte em camada tabular. Prof. 1299,8m.

Esta fácies é interpretada com resultante da migração de dunas subaquosas

de cristas retas sob a ação de correntes unidirecionais em regime de fluxo inferior

(MIALL, 1996).

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64

4.1.13 Fácies arenito muito grosso com laminação sub-horizontal (As)

São camadas tabulares com até 1,5m de arenito muito grosso com laminação

sub-horizontal (foto 4.25), que frequentemente contém grânulos alinhados (foto 4.26)

ou dispersos. Esta fácies é composta de sets de espessuras centimétricas, que

constantemente apresentam gradação normal (foto 4.27).

Foto 4.25 - Panorâmica do arenito muito grosso com laminação sub-horizontal, mostrando a forma tabular das camadas. Prof. 1301,5m.

Foto 4.26 - Arenito muito grosso com laminação sub-horizontal. Prof. 1301,4m.

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65

Foto 4.27 – Detalhe do arenito muito grosso com laminação sub-horizontal, mostrando a gradação normal e a ocorrência de grânulos na laminação. Prof. 1301,4m.

Esta fácies, sub-horizontal com várias classes granulométricas, é interpretada

como depositada por processos de tração por correntes unidirecionais em regime de

fluxo superior, corroborada pela ocorrência constante de formas de leito de regime

inferior sobrepostas, em caráter gradacional, de acordo com Scherer (2008).

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66

4.1.14 Fácies arenito médio a médio/grosso laminado com gradação inversa

(Asi)

São camadas tabulares com espessura total de 4m constituídos por arenito

médio a médio/grosso, com textura bimodal, laminação sub-horizontal (foto 4.28 e

4.29) e ripple granular. Esta fácies é composta por lâminas de espessura milimétrica

que, eventualmente, contém gradação inversa (foto 4.30).

Foto 4.28 - Panorâmica do afloramento, com destaque para a laminação sub-horizontal e a forma tabular do arenito. Prof. 1294,5m.

Foto 4.29 - Arenito médio a médio/grosso com laminação sub-horizontal. Prof. 1294,5m.

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67

Foto 4.30 – Arenito bimodal com laminação sub-horizontal e gradação inversa. Prof. 1298,2m.

Esta fácies é interpretada como produto de processos eólicos. A textura

bimodal é atribuída à boa seleção imposta aos grãos pela alternância da velocidade

do fluxo eólico. Por outro lado, de acordo com Mountney (2006), a gradação inversa

resulta da migração das cristas dos ripples, constituídas por grãos mais grossos

aglomerados por saltação e rastejamento, sobre as respectivas calhas, compostas

por grãos mais finos depositados a partir de suspensão. Já a estrutura ripple

granular resulta do processo de deflação (GIANNINI et al., 2008).

4.1.15 Empilhamento das fácies

As quatorze fácies caracterizadas estão sumarizadas na tabela 4.1 e

representadas no perfil da seção empilhada integrado pelas figuras 4.2 a 4.5.

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68

Tabela 4.1 – Sumário da caracterização das fácies.

Código Fácies Descrição Interpretação

Asi

Arenito médio a

médio/grosso

laminado com

gradação inversa

Camadas tabulares com espessura total de 4m de

arenito médio a médio/grosso, bimodal com lam.

sub-horizontal milimétrica, ripple granular e pode

conter gradação inversa.

Retrabalhamento do topo de

barras arenosas por processos

eólicos.

At

Arenito grosso a

muito grosso com

estrat. cruz. tabular

de peq. a médio

porte

Camadas tabulares com até 1m de arenito grosso a

grosso muito, com estrat. cruz. tabular de pequeno a

médio porte, sets centimétricos, gradação normal e

grânulos na estrat..

Migração de dunas subaquosas

de crista reta por correntes

unidirecionais, em regime de

fluxo inferior.

Aa

Arenito médio a

muito grosso com

estrat. cruz.

acanalada de peq. a

médio porte

Camadas com até 1m de arenito médio a muito

grosso com estrat. cruz. acanalada de pequeno a

médio porte, sets centimétricos, gradação normal e

níveis grânulosos. Integram camadas maiores em

coarsenig up.

Migração de dunas subaquosas

de crista sinuosa por correntes

unidirecionais, em regime de

fluxo inferior.

As

Arenito muito

grosso com lam.

sub-horizontal

Camadas tabulares com até 1,5m de arenito muito

grosso com lam. sub-horizontal, com grânulos, sets

centimétricos e gradação normal.

Tração por correntes

unidirecionais sob regime de

fluxo superior

Am

Arenito muito fino a

muito grosso maciço

ou com lam.

indistinta

Camadas com espessuras decimétricas a métricas de

arenito médio a muito grosso maciço ou com lam.

indistinta

Perda de fluídos por

sobrecarga, deposição por

fluxos turbulentos ou falta de

contraste granulométrico.

Rm Rocha máfica Rocha máfica de textura fina, forma de sill

interestratal, espessura 48m e xenólitos de arenito. Intrusão ígnea interestratal.

Aal

Arenito fino a muito

grosso com estrat.

cruz. acanalada e

intraclasto lamoso

Camadas decimétricas de arenito fino a muito grosso,

com estrat. cruz. acanalada e intraclastos lamosos

(podem ocorrer em arenitos maciços). Integram

camadas maiores em fining up.

Erosão e tração em fluxo

unidirecional sob regime

inferior, durante um aumento

relativo da energia do fluxo.

Ao

Arenito muito fino a

fino/médio com

laminações

cavalgantes

Camadas tabulares decimétricas de arenito muito

fino a fino/médio com laminações cavalgantes, que

compõem camadas maiores em fining up.

Agradação da forma de leito

por combinação de tração e

suspensão.

Apl

Arenito muito fino a

fino/médio com lam.

plano-paralela

Camadas com alguns centímetros a decímetros de

arenito muito fino a fino/médio com lam. plano-

paralela, frequentemente com filme de lama no topo,

que pode conter gretas de contração. Integram

camadas maiores em fining up.

Tração por correntes

unidirecionais sob regime de

fluxo inferior, associado ao

topo de um ciclo fining up.

I

Interlaminado de

folhelho, siltito e

arenito

Camadas tabulares decamétricas, lateralmente

contínuas, de siltito vermelho, roxo ou cinza e

folhelho cinza esverdeado associados a arenito muito

fino. Contém linsen, laminações cavalgantes, wavy e

gretas de contração.

Combinação de tração e

suspensão, seguido de

decantação e exposição

subaérea.

Sm Siltito a siltito

arenoso maciço

Camadas métricas de siltito a siltito arenoso, creme

ou amarelo, maciço, com aspecto blocoso, que

podem conter níveis de arenito muito fino laminado

micáceo.

Deposição, preferencialmente,

em condição de subaquosa

parálica com fraco contraste

granulométrico.

Sp Siltito com lam.

plano-paralela

Camadas decimétricas a métrica, lateralmente

contínuas, de siltito creme, ou cinza avermelhado,

com lam. plano-paralela no topo. Ocorrem na base de

algumas camadas coarsenig up maiores e

intercaladas.

Combinação de tração e

suspensão, sob regime de

fluxo inferior, correspondente

a parte distal das barras

progradantes.

Aco

Arenito muito fino a

fino/médio, com

lam. cruz. tangencial

e marcas onduladas

Camadas decimétricas de arenito muito fino a

fino/médio, com lam. cruz. tangencial e marcas

onduladas, que compõem um conjunto de camadas

métricas coarsenig up.

Aumento da deposição e

redução da capacidade de

transporte do fluxo, em uma

tendência progradacional.

Fl Folhelho laminado

Camadas tabulares decamétricas, lateralmente

contínuas, de folhelho vermelho arroxeado, por

vezes, com níveis amarelados, finamente laminado.

Decantação em águas calmas

sem ação de correntes de

fundo.

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69

Fig

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4.2

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4.3

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71

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72

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4.5

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73

4.2 ELEMENTOS ARQUITETURAIS E SISTEMAS DEPOSICIONAIS DOS

ARREDORES DE GUINÉ

A caracterização dos sistemas deposicionais, de acordo com a metodologia

adotada neste trabalho, segue o reconhecimento do grupo de porções

morfologicamente peculiares que os integram. Para tanto, as fácies foram

agrupadas, em associação e/ou sucessão, considerando os processos interpretados

para sua gênese, assim como a geometria interna e externa dos depósitos que as

contém, quando disponível. Esta etapa totalizou seis elementos arquiteturais, que

posteriormente foram agrupados em dois sistemas deposicionais distintos. Abaixo

estão listados os elementos arquiteturais reconhecidos:

Crevasse splay (CS);

fácies lamosa de planície deltaica (LPL);

associação de fácies lamosa de prodelta (LPR);

barra de desembocadura (BD);

barras arenosas fluviais efêmeras (BF);

lençol de areia eólico (LE).

4.2.1 Elemento arquitetural crevasse splay (CS)

São depósitos de geometria externa tabular (foto 4.31), composto pela

associação de fácies Aa + Apl + Ac + Aal + Am. Na base ocorrem as fácies arenosas

acanaladas com intraclastos (Aal) e, ou, sem intraclastos (Aa), por vezes maciça

(Am), seguida da fácies arenosa com ondula (Ac), em granodecrescência

ascendente, para a fácies com laminação plano-paralela (Apl). Estes depósitos são

interpretados como resultado de descargas esporádicas em ocasião de cheias

fluviais, quando do transbordamento de diques marginais, a partir de fluxos

desconfinados, densos e erosivos, decantação, seguida de exposição subaérea.

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74

Foto 4.31 - Geometria externa dos elementos CS, mostrando formas tabulares. Prof. 1677m.

4.2.2 Elemento arquitetural de fácies lamosa de planície deltaica (LPL)

É Integrado por camadas tabulares centimétricas a métricas, lateralmente

continuas (foto 4.32), compostas pela associação das fácies I + Sm e,

eventualmente a fácies Am. As camadas maciças, fácies (Sm), resultam da

decantação de sedimentos lamosos nas regiões interdistributárias ou em áreas

próximas e as interlaminadas (I), da deposição sob fina lâmina d’água, a partir de

correntes com pouquíssima energia remanescentes da inundação. Este elemento

apresenta, eventualmente, a fácies arenito muito fino como laminação incipiente

(Am), interpretado como uma interação com as fácies distais de um lobo arenoso do

elemento crevasse splay (CS).

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75

Foto 4.32 - Geometria tabular em camadas centimétricas a métricas, lateralmente continuas do elemento lamoso (LPL). Prof. 1562m

4.2.3 Elemento arquitetural associação de fácies lamosa de prodelta (LPR)

Este elemento possui camadas tabulares decamétricas, lateralmente

contínuas (foto 4.33), de folhelho vermelho arroxeado ou amarelado, finamente

laminado da fácies Fl, interpretada como resultado do processo de decantação em

águas calmas sem ação de correntes de fundo.

Foto 4.33 - Geometria tabular em camadas lateralmente contínuas do elemento LPR. Prof. 1510,2m

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76

4.2.4 Elemento arquitetural barra de desembocadura (BD)

Este elemento é composto por sucessões de barras arenosas, com geometria

sigmoidal (foto 4.34), granocrescente ascendentes, iniciadas, por vezes, com a

fácies siltito laminado (Sp). As barras frequentemente apresentam fácies arenosa

maciça ou com laminação incipiente (Am) e, por vezes, contém fácies com marcas

onduladas e tangencial (Aco) dispostas no topo. A sucessão das barras

granocrescente ascendentes é interpretada como resultado da progradação das

mesmas. As medidas de paleocorrentes neste elemento arquitetural indicam o

sentido do fluxo preferencialmente para Leste.

Foto 4.34 - Elemento BD, mostando a clinoforma da barra arenosa. Prof. 1416m.

4.2.5 Elemento arquitetural barras arenosas fluviais efêmeras (BF)

É formado por barras tabulares com aspecto blocoso, por vezes,

granodecrescente ascendentes, que preenchem formas de canais amplos e rasos

(foto 4.35). É composto pela associação das fácies At + Aa + As + Am. Normalmente

a fácies arenosas com estratificação cruzada (At) e (Aa), com pequeno porte, se

dispõe no topo das fácies arenosas com laminação sub-horizontal (As) e maciça ou

incipiente (Am). Este elemento é interpretado como resultado de fluxos aquosos

efêmeros inicialmente sob regimes de fluxo superior que grada para o regime

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inferior. As paleocorrentes medidas neste elemento arquitetural indicam o sentido do

fluxo preferencialmente para oeste.

Foto 4.35 - Geometria externa do elemento BF, mostrando canais amplos e rasos e barras tabulares. Prof. equivalente a 1316m

4.2.6 Elemento arquitetural lençol de areia eólico (LE)

Possui geometria externa tabular ampla e muito laminada (foto 4.36), é

composto pela fácies Asi, que ocorre sobrejacente ao elemento arquitetural BF. Este

elemento é interpretado como resultado do retrabalhamento eólico do topo do

elemento arquitetural BF.

Foto 4.36 - Geometria externa do elemento LE, intercalado com elementos BF. Prof. 1292,4 a 1297m.

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78

4.2.7 Interpretação dos sistemas deposicionais

A associação e sucessão dos elementos arquiteturais crevasse splay (CS),

fácies lamosa de planície deltaica (LPL), barra de desembocadura (BD), associação

de fácies lamosa de prodelta (LPR), conduziu a interpretação do sistema

deposicional deltaico com domínio fluvial.

Considerando que ainda que não se tenha reconhecido o elemento canal

distributário, a frequente sucessão de depósitos areno-lamosos, em

granodecrescência ascendente, do elemento crevasse evidencia a ocorrência de

vários ciclos de extravasamento dos canais distributários e pode indicar uma intensa

atividade fluvial na planície deltaica que, de acordo com Bhattacharya (2006), pode

ser alta em deltas dominados por rio. Ademais não foi reconhecido bandas de maré,

estrutura diagnóstica de deltas influenciados por marés, segundo Della Fávera

(2008). Tampouco estruturas cruzadas do tipo hummocky, swaley, ou outras, que

evidenciem a ação de retrabalhamento por processos marinhos.

O agrupamento dos elementos arquiteturais lençol de areia eólico (LE) e

barras arenosas fluviais efêmeras (BF) é interpretado como constituinte de um

sistema deposicional fluvial efêmero com base nas formas amplas e rasas dos

canais, preenchidos por depósitos tabulares, laminados, pobremente selecionado,

sob fluxo de regime superior, com retrabalhamento eólico no topo, indicando a

alternância do fluxo fluvial, conforme descrito nos trabalhos de Taylor (1994) e

Scherer (2008).

O contato superior dos depósitos do sistema deltaico da Formação Açuruá

com os fluviais efêmeros da base da Formação Tombador, se dá por uma

discordância subaérea. A discordância foi constatada pela mudança marcante de

fácies do Elemento arquitetural barra de desembocadura (BD) para o elemento

barras arenosas fluviais efêmeras (BF) e pela inversão do sentido modal das

paleocorrentes de leste para oeste, respectivamente. Nesta superfície de fraqueza

se instalou um sill de rocha máfica (Rm).

As interpretações acima apresentadas estão sumarizadas na tabela 4.2.

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79

Tabela 4.2 - Sumário dos sistemas deposicionais.

Agrupamento de fácies Elemento arquitetural Sistema deposicional Formação

Asi LE Fluvial efêmero e localizado

retrabalhamento eólico. Tombador

At + Aa + As + Am BF

Sp + Am + Aco BD

Deltaico dominado por rio Açuruá

Fl LPR

I + Sm ± Am LPL

Aa + Apl + Ac + Aal + Am CS

O perfil empilhado foi condensado e caracterizado em termos destas

intepretações, conforme ilustra a figura 4.6.

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80

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A despeito da inexistência local de falésias que exponham as macroformas

deltaicas, a interpretação para o perfil empilhado foi extrapolada lateralmente a

seção contígua da serra de modo a delimitar a expressão local dos subsistemas

deltaico (foto 4.37). A extrapolação foi apoiada pela boa continuidade lateral das

camadas, suavemente dispostas no flanco leste do Anticlinal de Seabra, e pelo

caráter restrito desta extrapolação, devido à variabilidade natural de sistemas

deposicionais contemporâneos na seção strike.

Foto 4.37 - Panorâmica do início da Trilha do Beco (linha amarela pontilhada), mostrando a delimitação dos istemas deposicionais e seus subsistemas na Serra do Esbarrancado adjacente ao trecho empilhado, perfil interpretado.

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82

Qualitativamente, podem-se associar os sistemas deposicionais

caracterizados ao longo dos afloramentos da Trilha do Beco a um sistema petrolífero

composto:

Rocha reservatório, os elementos arquiteturais barra de desembocadura

(BD), crevasse splay (CS) e lençol de areia eólico (LE);

rocha selante, o elemento arquitetural de fácies lamosa de planície deltaica

(LPL) e, também, o elemento arquitetural associação de fácies lamosa de

prodelta (LPR);

provável rocha geradora, o elemento arquitetural associação de fácies

lamosa de prodelta (LPR).

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5 Discussões

Comparando-se as interpretações apresentadas no capítulo anterior com os

trabalhos anteriores realizados por Bomfim e Pedreira (1990) e Pedreira e Margalho

(1990), ambos apud Pedreira (1994), Aragão (2009) e Santos (2009) referentes à

mesma seção da Serra do Esbarrancado (figura 5.1), algumas considerações podem

ser feitas.

Bomfim e Pedreira (1990) e Pedreira e Margalho (1990), ambos apud

Pedreira (1994), trabalharam na seção correspondente a Formação Açuruá e

interpretaram para o trecho inferior desta seção o limite planície deltaica/prodelta

como sendo abaixo da camada conglomerática (figura 5.1), pois consideraram esta

camada como resultado de um fluxo hiperpicnal no prodelta. Esta interpretação

difere da interpretação deste trabalho, que atribuiu esta camada conglomerática com

os clastos lamosos à base dos depósitos de crevasse splay, devido sua associação

com gretas de contração, também reconhecidas ao logo de alguns metros acima.

Então, dessa forma, o limite planície deltaica/prodelta fica localizado

estratigraficamente acima da posição delimitada por aqueles autores, o que implica

em uma espessura menor para o prodelta interpretado por aqueles autores.

Na parte superior da Formação Açuruá, os mesmos autores, interpretaram o

subsistema deltaico planície de inundação em contato transicional com o prodelta,

subjacente, ao passo que a interpretação deste trabalho atribuiu ao topo desta

Formação o subsistema frente deltaica e estabeleceu seu limite inferior, com o

prodelta, baseado no padrão claramente granocrescente ascendente das barras

arenosas, nas clinoformas deltaicas e na ausência de evidências de exposição

subaérea para este trecho.

Quanto à classificação do tipo de sistema deltaico da Formação Açuruá,

Bomfim e Pedreira (1990) e Pedreira e Margalho (1990), ambos apud Pedreira

(1994), advogaram a influência das marés para este sistema. O que difere da

interpretação do domínio fluvial defendida no presente trabalho baseada,

principalmente, na ausência de bandas de maré, estrutura diagnóstica de deltas

influenciados por marés, segundo Della Fávera (2008), além de outras estruturas

que evidenciem o retrabalhamento marinho nos depósitos, conforme descrito no

item 4.2.7, acerca da interpretação dos sistemas deposicionais.

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Aragão (2009) e Santos (2009), em trabalhos realizados no entorno da

discordância Açuruá-Tombador, Interpretaram para a seção superior da Formação

Açuruá um subsistema planície deltaica, com base em estruturas de syneresis crack.

Porém, para o mesmo trecho, no presente trabalho não foram reconhecidas gretas

de sinérese, mas sim, gretas de contração, uma vez que as lamas gretadas têm o

preenchimento arenoso, conforme descrito na literatura por Suguio (1998). Esta

nova interpretação remonta a episódios de exposição subaérea, ao invés de

somente condições subaquosas rasas, quando da formação destes depósitos.

Contudo, aqueles autores, não consideraram a ausência de evidencias de

exposição subaérea ou subaquosa rasa no trecho intermediário da seção (figura

5.1). Portanto não consideraram a ocorrência de um subsistema prodelta,

interpretado no presente trabalho e por Pedreira (1994). Para o topo da formação

Açuruá, Aragão (2009) e Santos (2009) interpretaram tal como Bomfim e Pedreira

(1990) e Pedreira e Margalho (1990), ambos apud Pedreira (1994) que difere da

interpretação deste trabalho, como explicado anteriormente neste item.

Para a Formação Tombador, Aragão (2009) e Santos (2009) interpretaram o

arquitetural lençol de areia eólica e atribuíram ao sistema deposicional eólico. Esta

interpretação difere da interpretação assumida no presente trabalho, que restringiu

este elemento ao topo das barras arenosa, atribuídas ao sistema fluvial efêmero,

conforme descrito no item 4.2.7.

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Figura 5.1 - Interpretações para o afloramento da trilha Guiné-Patí. À esquerda, o perfil da Formação Açuruá descrito por Pedreira (1994) correspondente ao trecho abaixo da discordância subaérea no perfil descrito no presente trabalho, no centro da figura. À direita, o perfil descrito por Santos (2009) no em torno da discordância, que engloba o topo da Formação Açuruá e a Formação Tombador.

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6 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES

Com a análise dos afloramentos do início da Trilha do Beco, em Guiné, foi

possível caracterizar quatorze litofácies e agrupá-las em seis elementos arquiteturais

distintos, além de um sill de rocha máfica. O agrupamento destes elementos integra

um sistema deposicional deltaico dominado por rio, que corresponde à expressão

local da Formação Açuruá, e um sistema fluvial efêmero pertencente à base da

Formação Tombador.

As peculiaridades deste trabalho residem (a) na interpretação da dominância

fluvial para o sistema deltaico da Formação Açuruá, diferente de Bomfim e Pedreira

(1990) e Pedreira e Margalho (1990) que atribuíram o domínio à maré; e (b) na

restrição do elemento arquitetural lençol de areia eólica, identificado por Aragão

(2009) e Santos (2009), ao topo de amplas barras arenosas em um sistema fluvial

efêmero.

Contudo, de forma qualitativa, os sistemas deposicionais caracterizados

podem ser considerados, analogamente, a alguns componentes do sistema

petrolífero. Embora, a rigor também se devam considerar outras características,

como petrofísicas, por exemplo, que não fizeram parte do escopo deste trabalho.

Dessa forma o presente trabalho poderá servir como base para estudos mais

específicos, como estudo em lâmina delgada e caracterização petrofísica, que

corroborem com o conhecimento acerca dos depósitos sedimentares locais e seus

análogos.

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