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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS CURSO DE GEOLOGIA LEIDIANE CERQUEIRA DE CARVALHO CARACTERIZAÇÃO MINERALÓGICA/QUÍMICA DA MINERALIZAÇÃO SUPERGÊNICA DO DEPÓSITO DE Pb-Zn (Ag), ALVO MORRO DO CHUMBO, NOVA REDENÇÃO, BA Salvador 2013

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS

CURSO DE GEOLOGIA

LEIDIANE CERQUEIRA DE CARVALHO

CARACTERIZAÇÃO MINERALÓGICA/QUÍMICA DA MINERALIZAÇÃO SUPERGÊNICA DO DEPÓSITO DE Pb-Zn (Ag),

ALVO MORRO DO CHUMBO, NOVA REDENÇÃO, BA

Salvador 2013

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LEIDIANE CERQUEIRA DE CARVALHO

CARACTERIZAÇÃO MINERALÓGICA/QUÍMICA DA MINERALIZAÇÃO SUPERGÊNICA DO DEPÓSITO DE Pb-Zn (Ag),

ALVO MORRO DO CHUMBO, NOVA REDENÇÃO, BA

Monografia apresentada ao Curso de Geologia, Instituto de Geociências, Universidade Federal da Bahia, como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Geologia. Orientador: Prof. Dr. Aroldo Misi

Salvador 2013

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TERMO DE APROVAÇÃO

LEIDIANE CERQUEIRA DE CARVALHO

Salvador, 26 de março de 2013

Monografia aprovada como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Geologia, Universidade Federal da Bahia, pela seguinte banca examinadora:

Prof. Dr. Aroldo Misi - Orientador Instituto de Geociências, Universidade Federal da Bahia Prof. Dr. José Haroldo da Silva Sá Instituto de Geociências, Universidade Federal da Bahia MSc. Maísa Bastos Abram CPRM - Serviço Geológico do Brasil

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AGRADECIMENTOS

Quero, primeiramente, agradecer a Deus, força maior do universo, pela

coragem de perseverar neste longo caminho, e por não me deixar sucumbir diante

das dificuldades.

Agradeço aos meus pais pela disciplina, educação, carinho e pelo apoio

incondicional em todos os momentos. Obrigada mãe pelo seu imenso amor e por me

mostrar que ter força de vontade é uma capacidade que todos temos, basta querer!

Aos meus irmãos Dan, Clebe e Evandro por se mostrarem sempre presentes

em minha vida, com muito afeto e preocupação. Obrigada Dan por ter sido sempre

um segundo pai!

A Daniel, companheirinho e conselheiro, agradeço principalmente pelo amor,

carinho e paciência, e por ter me dado um braço na confecção deste trabalho. Serei

eternamente grata!

Ao Prof. Dr. Aroldo Misi pela paciência, atenção e ajuda na confecção deste

trabalho. A todos os professores da UFBA, que veem lutando pela qualidade da

universidade e pela formação de bons profissionais. Agradeço a todos os

funcionários do IGEO pela dedicação e simpatia.

A CPRM pela confecção das lâminas e principalmente pelo acolhimento e

carinho dado por todo pessoal da DIARMI, Madá, Maísa, Ioná, Rogério, Nívia, Joci,

Davi, Marco, Denis, Ricardo, Alessandra e meus companheiros de estágio Elo,

Sizão e Marcelo.

Ao CETEM pela realização da MEV e do DRX, em especial ao Everton e o

Reiner que foram os facilitadores das análises.

Aos colegas de geologia que me fizeram dar as melhores risadas: Gi, Elô,

Bianca, Taís, Cipri, Goiaba, Thiago, Vitinho, Fabiane, Gabriel, Laura, Xandi, Ed,

Pricila, Brunos, Carlos, MV, Acássio, Rebeca, Lucas, Gontijo, Muriel, Eula, Falcão,

Luana, Jamille, Clarinha, Caio, Eduardo, Nilsinho, Natália, Dexter, Natali, Dona

Florinda, Zé, Cabeça, Ramon, Gagau e Chapa.

E por fim, com muita alegria, agradeço as meninas da residência, que

dividiram comigo sem dúvida os momentos mais difíceis dessa jornada, estas são

mulheres batalhadoras que lutam para tranformar seus sonhos em realidade: Cintia,

Ivone, Norma, Sara, Germana, Lai, Lú, Xica, Dai, Robertinha, Alana, Nélia, Renata e

a todas que dividiram comigo o mesmo teto durante todos esses anos.

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“A mente que se abre a uma nova ideia, jamais voltará ao seu tamanho original.”

Albert Einstein

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RESUMO

O estudo da porção sudoeste do Depósito de Pb-Zn (Ag) de Nova Redenção

(Ba), denominado de alvo Morro do Chumbo, possibilitou identificar uma

mineralização dominada por minerais secundários não sulfetados resultantes de

processos supergênicos. Nesta área a mineralização é hospedada nos dolarenitos e

dolomitos na forma de bolsões, preenchendo fraturas, encaixada em zonas de falhas

e de cisalhamento rúptil e substituindo a matriz dessas rochas. Na quantificação dos

minerais de minério por difratometria de raios-X foi observado

cerussita>>quartzo>goethita>galena. A caracterização mineralógica/química do

minério na microscopia eletrônica de varredura possibilitou identificar os primários:

galena, esfalerita, pirita e tennantita, e os secundários: cerussita, oxi-hidróxido de

ferro, anglesita e covelita. Com base nestes dados é possível identificar as diversas

fases de um processo clássico de oxidação e enriquecimento supergênico de

sulfetos em rochas carbonáticas.

Palavras-chave: depósito de Pb-Zn supergênico; Nova Redenção; Neoproterozoico.

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ABSTRACT

The detailed study of the southwestern portion of Nova Redenção Pb-Zn (Ag)

Deposit (Ba), known as Morro do Chumbo target, allowed the identification of

mineralization dominated by non-sulphide secondary minerals resulting from

supergene processes. The mineralization is hosted in dolarenites and evaporitic

dolostones filling, fractures, faults and brittle shear zones and replacing rock matrix.

The quantification of ore minerals using X-ray diffraction allowed recognize cerussite

>> quartz> goethite> galena. The mineralogical/chemical characterization of the ore

with scanning electron microscopy identified the primary minerals: galena, sphalerite,

pyrite and tennantite, and secondary supergene minerals: cerussite, Fe-

oxyhydroxides, anglesite and covellite. It is well characterized an oxidation-

supergene enrichment process in carbonate rocks.

Keywords: Supergene Pb-Zn deposit, ; Neoproterozoic; Nova Redenção, BA

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SUMÁRIO

LISTA DE FIGURAS....................................................................................................x LISTA DE TABELAS.................................................................................................xv

1 INTRODUÇÃO.................................................................................................... 16

1.1 Localização e Vias de Acesso...................................................................................... 17

1.2 Objetivos.........................................................................................................................18

1.3 Justificativa.................................................................................................................... 18

1.4 Materiais e Métodos.......................................................................................................19

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA.......................................................................... 21

2.1 Depósitos de Chumbo e Zinco Hospedados em Rochas Carbonáticas e os

Processos Supergênicos Superimpostos.............................................................................. 21

2.1.1 Depósitos de Pb-Zn Hospedados em Rochas Carbonáticas.................................21 2.1.2 Modelos Metalogenéticos...................................................................................... 22

2.1.2.1 Modelo do tipo MVT.....................................................................................23 2.1.2.2 Modelo do tipo Irlandês................................................................................28 2.1.2.3 Modelo do tipo SEDEX................................................................................29

2.2 O Depósito de Nova Redenção.....................................................................................29

2.3 Síntese dos Processos Supergênicos em Depósitos de Pb-Zn................................ 31

2.3.1 Fatores que influenciam na geração de depósitos supergênicos.......................... 32 2.3.2 Estágio de Oxidação.............................................................................................. 35

2.3.2.1 Blindagem mineral........................................................................................35 2.3.2.2 Adsorção de metais por oxi-hidróxidos de ferro (OHF)................................36 2.3.2.3 Solubilidade e estabilidade de minerais secundários de Pb-Zn...................37

2.3.3 Estágio de Pós-oxidação....................................................................................... 41

3 GEOLOGIA REGIONAL..................................................................................... 42

3.1 Supergrupo Espinhaço..................................................................................................43

3.2 Supergrupo São Francisco........................................................................................... 44

3.2.1 Grupo Una............................................................................................................. 45

3.3 Evolução Tectonica....................................................................................................... 51

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4 CONTEXTO GEOLOGICO LOCAL.................................................................... 56

4.1 Posicionamento Estratigráfico da Mineralização....................................................... 57

4.2 Características Descritivas das Rochas Encaixantes do Minério de Pb-Zn de Nova

Redenção................................................................................................................................... 60

4.3 Feições Geológicas do Morro do Chumbo.................................................................. 62

4.3.1 Características macroscópicas.............................................................................. 62

5 CARACTERIZAÇÃO MINERALÓGICA/QUÍMICA DOS MINERAIS DE

MINÉRIO.................................................................................................................... 71

5.1 Analise do Minério por Difratometria de Raios-X....................................................... 71

5.2 Caracterização dos Minerais de Minério por Microscopia Eletrônica de

Varredura....................................................................................................................................72

5.2.1 Mineralogia Primária.............................................................................................. 73 5.2.2 Mineralogia Secundária......................................................................................... 79

6 CONCLUSÕES E CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................. 91

7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...................................................................93

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Mapa de localização e acesso da área de estudo..................................... 17 Figura 2: Distribuição dos diferentes depósitos de Pb-Zn no mundo, diferenciando os mais antigos e os mais jovens (modificado de Taylor et. al., 2009). ..................... 22 Figura 3: Ambiente tectônico de depósitos de Pb-Zn hospedado em sedimentos em margens passiva. Os depósitos de Pb-Zn MVT estão localizados na plataforma de sequências carbonáticas de margem passiva ( modificado de Leach et al., 2010)... 25 Figura 4: Blocos diagramas mostrando evolução de uma bacia foreland durante a convergência de placas. (A) um cinturão de cisalhamento submarino empurra a margem passiva, formando assim a bacia foreland, o domínio extensional e a intumescência. A continuidade da convergência das placas causa essas feições de migração ao longo da foreland. A bacia foreland permanece não completamente preenchida por causa da migração do depocentro deposicional. (B) A convergência das placas foi cessada e a bacia foreland foi preenchida por sedimentos, criando condições hidrológicas favoráveis para a formação da mineralização do tipo MVT (modificado de Leach et. al 2010). ............................................................................ 26 Figura 5: Temperaturas de homogeneização e salinidades em inclusões fluidas primárias e pseudo-secundárias de esfaleritas do depósito de Nova Redenção e comparação com dados de depósitos clássicos de Zn-Pb (modificado de Misi et. al., 2004) ......................................................................................................................... 31 Figura 6: Figura esquemática mostrando os processos e balanço de massa para a precipitação e adsorção de Zn e Pb em uma zona de oxidação com pH =5 rica em oxi-hidróxidos de ferro (OHF). A maior parte do Pb é precipitado na forma de anglesita, sendo que o restante é quase todo adsorvido pelo OHF. O Zn continua móvel na solução, sendo muito pouco adsorvido pelo OHF nessas condições. Modificado de Reichert (2007). ................................................................................. 38 Figura 7: Gráfico mostrando os campos de estabilidade da anglesita e cerussita (25ºC, 100 kPa). Modificado de Reichert (2007). O gráfico mostra a diminuição da estabilidade da anglesita com o aumento da PCO2. ................................................. 39 Figura 8: Estabilidade dos carbonatos de zinco no sistema Zn-O-H-C em função de PCO2 e pH para uma atividade de Zn= 10-5 (modificado de Reichert, 2007) .......... 40 Figura 9: Estabilidade dos minerais de zinco em função de PCO2 e pH para uma solução com sílica e carbonato disponível (modificado de Reichert, 2007). ............. 40 Figura 10: Mapa tectônico simplificado da porção leste do Brasil, enfatizando o Cráton do São Francisco. CD- Chapada Diamantina, ES- Espinhaço Setentrional, BSF- Baciado São Francisco. Retirado de Cruz, 2004 e modificado de Alkmim (2004). ....................................................................................................................... 43

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Figura 11: Mapa esquemático do Cráton do São Francisco mostrando a disposição de diferentes depósitos de Pb-Zn, destacando-se principalmente no Supergrupo São Francisco (modificado de Gomes, 2005) ................................................................... 44 Figura 12: Descrição e interpretação das litofácies da Formação Bebedouro. Modificado de Guimarães & Pedreira (1990) e adaptado de Sampaio (1994). ......... 47 Figura 13: Descrição e interpretação das litofácies da Formação Salitre. (modificado de Guimarães & Pedreira 1990 e adaptado de Sampaio 1994). ............................... 48 Figura 14: Ciclos de sedimentação do Grupo Una (Formação Salitre) na Bacia de Irecê, com indicação do intervalo mineralizado em sulfetos e em fosfatos. Modificado de Misi & Silva (1996). .............................................................................................. 49 Figura 15: Neste estágio de evolução do Cráton do São Francisco a glaciação Bebedouro-Jequitaí envolveu grande parte do cráton, ocorrendo a presença de diamictitos de pequena espessura que originam a Formação Bebedouro (Dominguez, 1993). ................................................................................................... 52 Figura 16: Ao final da glaciação ocorreu a subida do nível eustático do mar que inundou o cráton, resultando na implantação de importantes plataformas, tal como a Plataforma Carbonática da Formação Salitre (Dominguez, 1993). ........................... 53 Figura 17: Colisões nas margens do cráton com geração de cinturões de dobras e empurrões, mostram a modificação sofrida na bacia devido a orogênese Brasiliana (Dominguez, 1993) .................................................................................................... 54 Figura 18: Estágio final com a consolidação da Bacia Una – Utinga (Dominguez, 1993). ........................................................................................................................ 55 Figura 19: Esboço da área mineralizada em sulfetos em Nova Redenção, Bacia de Una-Utinga (Moraes Filho & Leal, 1990). .................................................................. 56 Figura 20: Coluna estratigráfica esquemática da Região de Nova Redenção (Ba), com base em observações de campo e em descrições petrográficas de amostras de testemunhos de sondagem (Gomes, 2005). ............................................................. 58 Figura 21: Mapa 3D da geologia local do Depósito de Nova Redenção, ressaltando a área de estudo no domínio da Formação Salitre(modificado de Moraes, Filho & Leal, 2001). ............................................................................................................... 59 Figura 22: Coluna estratigráfica esquemática mostrando a correlação entre sequencias carbonáticas da “Bacia” Irecê e de nova Redenção, Bacia Una-Utinga (modificado de Gomes, 1998). .................................................................................. 59 Figura 23: Dolarenito visto no Morro do Chumbo com uma coloração cinza clara, representando a rocha hospedeira do topo da sequencia, aparecendo por vezes silicificado. ................................................................................................................. 63

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Figura 24: Dolarenito como rocha hospedeira da galena. Presença de microfraturas preenchidas por galena. As fraturas serviram como dutos para a passagem do fluido hidrotermal mineralizado. .......................................................................................... 63 Figura 25: Cristais grossos de galena agregados na rocha hospedeira, apresentando uma pequena oxidação da mineralização. ......................................... 64 Figura 26: Detalhe da galena disseminada cimentando a matriz do Dolarenito Maciço. Amostra LC-09, coletada no Morro do Chumbo em Nova Redenção. Aumento de 60X. ....................................................................................................... 65 Figura 27: Detalhe de bolsão de galena maciça, com bordas transformadas para cerussita. É possível se observar a clivagem da galena ainda preservada. Amostra AB-T-03, coletada no furo de sondagem NR-25 realizado pela CPRM no Morro do Chumbo em Nova Redenção. Profundidade 0,6-0,8m. Aumento de 60X. ................ 66 Figura 28: Agregados de cerussita dominantemente euédricos, resultantes da oxidação da galena. Amostra AB-T-04, coletada no furo de sondagem NR-25 realizado pela CPRM no Morro do Chumbo em Nova Redenção. Profundidade 12,65-12,75m. Aumento de 60X. ............................................................................... 66 Figura 29: Brechas/cangas sílico-ferruginosas cerussíticas com remanescentes de galena. ...................................................................................................................... 67 Figura 30: Rochas apresentando diferentes padrões de fraturamentos. .................. 68 Figura 31: Gossans consistindo principalmente em óxidos de ferro e óxidos de ferro hidratados, apresentando remanescentes de galena já alterando para cerussita..... 69 Figura 32: Detalhe de cristais de pirita conservados em um bolsão maciço de galena, mostrando seus aspectos originais de coloração amarelada. Amostra LC-10, coletada no Morro do Chumbo em Nova Redenção. Aumento de 60X. .................... 70 Figura 33: Difratograma de amostra de minério do Morro do Chumbo (depósito de Pb-Zn de Nova Redenção) mostrando uma maior abundância em cerussita. .......... 71 Figura 34: Imagens de elétrons retroespalhados (BSE) obtidas na MEV de galena (Ga) com transformação para cerussita (Cer) nas bordas do grão (blindagem) e ao longo de fraturas. ...................................................................................................... 77 Figura 35: Imagens de elétrons retroespalhados obtidas em MEV de porção parcialmente preservada da mineralogia primária. Na figura 2a é possível observar grãos de pirita (pi) e esfalerita (Esf) inclusos em anglesita (Ang)/galena (Ga). A preservação desta mineralogia original deve-se possivelmente pelo processo de blindagem da galena pela anglesita, que ajudou a preservar as demais fases minerais. A figura 2b é uma ampliação da 2a onde mostra a relação de equilíbrio da esfalerita com a galena. ............................................................................................ 78 Figura 36: Imagens de elétrons retroespalhados obtidas em MEV da ocorrência de tennantita (Ss) associada com pirita envolvidas por galena (Ga) transformada para

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anglesita (Ang). A preservação parcial desta mineralogia primária deve-se, provavelmente, ao processo de blindagem da galena pela anglesita. Nesta imagem é possível observar também o produto da transformação da tennantita, representado pela covelita (Cv), além da transformação da anglesita para cerussita (Cer). .......... 78 Figura 37: Perfil químico com BSE efetuado na porção de ocorrência dos grãos de tennantita, que são envolvidos por anglesita da transformação da galena. Este perfil corresponde ao perfil “A” marcado na figura 35. ....................................................... 79 Figura 38: Imagem de elétrons retroespalhados e mapas de distribuição de elementos obtidos no MEV de minério de chumbo exibindo galena (Ga) e três gerações de cerussita distintas (Cer1, 2 e 3). a) A imagem de BSE ressalta as diferentes texturas; b) Mapa do chumbo (Pb-MA) salienta os maiores conteúdos deste elemento na galena. c) Mapa do enxofre (S-KA) ressaltando a galena; d) Mapa do oxigênio (O-KA) mostrando forte presença do oxigênio na cerussita; e) Mapa do cobre (Cu-KA) ressaltando a presença de cobre associada com a cerussita 2 devido a presença de finos cristais aciculares de covelita; f) Mapa do ferro (Fe-KA) ressalta a ocorrência de OHF associados com a cerussita 3. ................................................ 84 Figura 39: Detalhe das diferentes texturas em cerussita vista na figura 38, ressaltando cerussita 2 associada com covelita em imagem de elétrons retroespalhados (a) e no mapa do cobre (b). ............................................................ 85 Figura 40: Imagens de elétrons retroespalhados de cerussita formando massas aciculares (a), com crescimentos ocupando a clivagem da galena (visão geral 40a, detalhe 40b). ............................................................................................................. 85 Figura 41: Imagem de elétrons retroespalhados e mapas de distribuição de elementos obtidos no MEV de minério de chumbo preenchendo cavidade de dolarenito do Morro do chumbo. a) A imagem de BSE ressalta a galena (Ga) com bordas transformadas para cerussita (Cer) envolvida pelo dolarenito (Dol); b) Mapa do chumbo (Pb-MA) salienta os maiores conteúdos deste elemento na galena e na cerussita; c) Mapa do enxofre (S-KA) ressalta a galena em relação à cerussita; d) Mapa do ferro (Fe-KA) ressalta a ocorrência de OHF associada principalmente com cerussita; e) Mapa do silício (Si-KA) ressaltando a presença de quartzo microcristalino associado ao dolarenito e acompanhando a mineralização de chumbo; f) Mapa do cálcio (Ca-KA) mostrando a presença desse elemento na rocha encaixante. ................................................................................................................ 86 Figura 42: Imagem de elétrons retroespalhados e mapas de distribuição de elementos obtidos no MEV de galena (Ga) parcialmente transformada para anglesita (Ang) e cerussita (Cer), associada com oxi-hidróxido de Fe botrioidal. a) A imagem de BSE destaca a galena (Ga) reliquiar com anglesita (Ang) em golfo de corrosão e predominância da cerussita (Cer) associados com OHF botrioidal; b) Mapa da composição da imagem BSE com os mapas dos elementos Pb, S, Fe, Zn, Cu, As e Si, neste é possível observar a ocorrência de uma fina borda de anglesita envolvendo a galena além desta no golfo de corrosão, e a variação composicional dos glóbulos do OHF; c) Mapa do chumbo (Pb-LA) salienta os maiores conteúdos deste elemento nos minerais de chumbo; d) Mapa do enxofre (S-KA) ressalta a galena e anglesita em relação à cerussita; e) Mapa do ferro (Fe-KA) ressalta a

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ocorrência de OHF botrioidal; f) Mapa do silício (Si-KA) ressaltando a presença de quartzo microcristalino associado ao OHF sugerindo possível precipitação concomitante. ............................................................................................................ 87 Figura 43: Imagens de elétrons retroespalhados de cerussita maciça associada com OHF maciço e homogeneo sugerindo a precipitação concomitante devido ao aumento do pH da solução como resultado dos processos de neutralização dos fluidos ácidos pelos carbonatos da rocha encaixante. .............................................. 88 Figura 44: Imagens de elétrons retroespalhados de OHF botrioidal, ressaltando a variação composicional dos glóbulos e a presença de cerussita tardia ocupando os interstícios. ................................................................................................................ 89 Figura 45: Perfil químico com BSE efetuado na porção de OHF botrioidal, ressaltando a variação composicional dos glóbulos, marcada por uma fina capa externa caracterizada pela diminuição dos teores de Fe acompanhado pelo aumento do oxigênio. Este perfil corresponde ao perfil “A” marcado na figura 44. .................. 89 Figura 46: Perfil químico com BSE efetuado em golfo de corrosão de galena, mostrando a transformação da galena para anglesita marcada pelo decréscimo dos conteúdos de enxofre, além da presença de um grão de covelita que exibe um aumento dos conteúdos de cobre acompanhado por um decréscimo dos conteúdos de oxigênio. Este perfil corresponde ao perfil “B” marcado na figura 36. .................. 90

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1- Sequência genética dos minerais de minério do Morro do Chumbo (depósito de Pb-Zn de nova Redenção) caracterizados na MEV.............................. 73 Tabela 2- Resultado da análise química pontual com EDS em galena do Morro do Chumbo...................................................................................................................... 74 Tabela 3- Resultado da análise química pontual com EDS em esfalerita do Morro do Chumbo......................................................................................................................75 Tabela 4- Resultado da análise química pontual com EDS em pirita do Morro do Chumbo......................................................................................................................75 Tabela 5- Resultado da análise química pontual com EDS em tennantita do Morro do Chumbo................................................................................................................. 77 Tabela 6- Resultado da análise química pontual com EDS em cerussita do Morro do Chumbo...................................................................................................................... 81 Tabela 7- Resultado da análise química pontual com EDS em OHF do Morro do Chumbo...................................................................................................................... 82 Tabela 8- Resultado da análise química pontual com EDS em covelita do Morro do Chumbo. Esta análise deve ser analisada com cuidado, pois a análise teve interferência da mineralogia encaixante (adição de Pb) devido a dimensão diminuta do cristal analisado (<4 μm).......................................................................................83

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1 INTRODUÇÃO

O chumbo e o zinco estão entre os quatro metais não ferrosos mais

consumidos na atualidade. O chumbo tem seu maior consumo na produção de

baterias, enquanto que o zinco é utilizado principalmente na galvanização do aço.

Estes metais são utilizados pela humanidade há milênios, há vestígios de peças de

latão com 23% de Zn datadas de 1.000-1.400 a.C. na Palestina, enquanto o chumbo

já estava sendo utilizado desde 3.000 a.C. Esses metais têm sido amplamente

utilizados desde a Roma antiga, o zinco compondo ligas com cobre na formação de

latão para fabricar moedas e armas, e o chumbo na produção de tubulações e

revestimentos diversos. Desde então o homem vem buscando esses metais na

natureza para abastecer o consumo gerado na manufatura de equipamentos e

materiais, que são imprescindíveis nos dias de hoje.

Na Bacia de Una-Utinga, região nordeste do Cráton do São Franscisco,

ocorre o Depósito de Pb-Zn-Ag de Nova Redenção (BA). Neste depósito as

melhores exposições do minério e da rocha hospedeira são encontradas na porção

sudoeste da área, no denominado Alvo Morro do Chumbo.

Neste trabalho é apresentada a compilação dos trabalhos pré-existentes

sobre o Depósito de Pb-Zn de Nova Redenção, além da descrição macroscópica

das feições e texturas da mineralização ocorrentes no Morro do Chumbo e a

caracterização mineralógica/química desta mineralização com auxilio de

difratometria de raios-X e microscopia eletrônica de varredura. Este estudo justifica-

se pela necessidade que o estilo de vida moderno mostra pelos metais chumbo e

zinco. Esta necessidade faz com que o estudo dessas mineralizações, bem como o

entendimento dos processos supergênicos que modificam a mineralização original

dos depósitos, torne possível a criação de critérios prospectivos para auxiliar na

determinação do potencial econômico de mineralizações de Pb-Zn, e na descoberta

de novos depósitos.

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1.1 LOCALIZAÇÃO E VIAS DE ACESSO

A área de estudo localiza-se no município de Nova Redenção, na região

centro-leste do Estado da Bahia (Fig. 1), distando de 416 km de Salvador. Este

percurso é efetuado pela BR-324 até Feira de Santana, onde se inflete para

sudoeste seguindo pela BR-116 por 67 km até o entroncamento com a BR-242. A

partir deste, segue pela BR-242 por 180 km na direção oeste até a BA-142, onde se

inflete para sul, dando continuidade pela BA-142 por mais 18 km até chegar ao

entroncamento com a estrada vicinal que leva até Nova Redenção. Nesta estrada

são percorridos mais 28 km na direção sul até a sede do município. De Nova

Redenção até a área de estudo são 6 km por estrada vicinal não pavimentada na

direção noroeste.

A área está situada na Zona Fisiográfica da Chapada Diamantina, no domínio

da Bacia Hidrográfica do Rio Paraguaçu.

Figura 1: Mapa de localização e acesso da área de estudo.

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1.2 OBJETIVOS

O presente trabalho tem como objetivo a investigação da mineralização de

Pb-Zn que ocorre na porção sudoeste do depósito de Nova Redenção, denominada

de Morro do Chumbo, buscando o entendimento dos processos e produtos

supergênicos que atuaram nesta área. Nesta investigação são utilizados os dados

de trabalhos pré-existentes sobre o depósito, somados a descrição macroscópica

das feições e texturas da mineralização presentes no Alvo Morro do Chumbo e a

caracterização mineralógica/química dos minerais de minério com auxilio de

difratometria de raios-X e microscopia eletrônica de varredura.

1.3 JUSTIFICATIVA

O ritmo acelerado dos países em desenvolvimento tem gerado um

crescimento sem precedentes nos setores de infraestrutura, telecomunicações, tanto

em linhas fixas como em telefones celulares, além do aumento súbito na produção

de veículos e sistemas de transporte. Todas essas atividades têm ligação direta com

a mineração de chumbo e zinco. O zinco é um excelente protetor do aço contra a

corrosão (aço galvanizado), e tem sido amplamente utilizado no desenvolvimento de

infraestrutura. Enquanto que o chumbo é utilizado em baterias de carro, baterias de

backups em indústrias, equipamentos eletrônicos, etc. Com a globalização, pode-se

considerar que o estilo de vida moderno mostra grande dependência de chumbo e

zinco, o que movimenta um mercado ávido por esses metais. Portanto torna-se

muito importante o estudo das mineralizações de chumbo e zinco, bem como o

entendimento dos processos supergênicos que modificam a mineralização original,

tanto na transformação mineralógica quanto na distribuição das fases minerais

neoformadas neste ambiente. Com a investigação desses processos é possível criar

critérios prospectivos que pode auxiliar na determinação do potencial econômico de

mineralizações de Pb-Zn, e até mesmo na descoberta de novos depósitos.

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1.4 MATERIAIS E MÉTODOS

A sistemática utilizada para atingir os objetivos propostos foi desenvolvida em

quatro etapas distintas: (i) Levantamento de Dados Bibliográficos; (ii) Trabalhos de

Campo e (iii) Trabalhos de Laboratório.

(i) Levantamento de Dados Bibliográficos

Nesta etapa foram levantados dados bibliográficos abrangendo:

- Contexto geológico regional da área estudada;

- Interpretações e modelos dos depósitos de Pb-Zn dos tipos Mississippi

Valley , Irlandês e Sedex;

- Dados e interpretações sobre o Depósito de Pb-Zn de Nova Redenção;

- Geoquímica de processos supergênicos em depósitos de Pb-Zn.

(ii) Trabalhos de Campo

Nos períodos de 23 a 27 de janeiro e 10 a 13 de abril de 2012 realizaram-se

trabalhos de campo, com apoio da CBPM e da CPRM, onde foram desenvolvidas as

seguintes atividades:

- Visão geral dos afloramentos do Morro do Chumbo;

- Identificação dos diferentes litotipos, fácies sedimentares, estruturas,

texturas e contexto da mineralização;

- Exame macroscópico com auxilio de lupa de mão da rocha encaixante e dos

diferentes ocorrências de mineralização;

- Amostragem do minério em diferentes contextos para estudos de

laboratório.

Durante os trabalhos de campo foram coletadas 15 amostras representativas

para exame macroscópico, destas cinco foram selecionadas para a confecção de

lâminas delgadas polidas no laboratório de laminação da CPRM de Salvador, sendo

uma cominuída para investigação por difratometria de raios X e três selecionadas

para a caracterização por microscopia eletrônica de varredura. Foram utilizadas

ainda na confecção dessas laminas duas amostras de furo de sondagem realizados

pela CPRM, a primeira (AB-T-03) representou o furo NR-25 em 0,6-0,8m de

profundidade, já a segunda amostra retirada deste mesmo furo (AB-T-04) possui

uma profundidade variando entre 12,65-12,75m.

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As análises por difratometria de raios X e microscopia eletrônica de varredura

(MEV) foram realizadas no Centro de Tecnologia Mineral (CETEM) do Rio de

Janeiro.

(iii) Trabalhos de Laboratório

Os trabalhos de laboratório envolveram a descrição das lâminas petrográficas

em microscópio ótico de luz refletida, quantificação mineralógica por difratometria de

raios X e a metalização das lâminas delgadas seguidas pelas análises por MEV.

A descrição petrográfica de luz refletida possibilitou a identificação dos

principais minerais de minério e suas características, que permitiu a seleção de três

lâminas para serem caracterizadas na microscopia eletrônica de varredura.

A difratometria de raios X (DRX) foi realizada em um equipamento Bruker-D4

Endeavor, nas seguintes condições de operação: radiação Co Kα (40 kV/40 mA);

velocidade do goniômetro de 0,02° 2θ por passo com tempo de contagem de 0,5

segundos por passo e coletados de 4 a 80º 2θ, com detector sensível à posição

lynxeye. As interpretações qualitativas de espectro foram efetuadas por comparação

com padrões contidos no banco de dados do Centro de Tecnologia Mineral

(CETEM), Rio de Janeiro.

As lâminas selecionadas foram metalizadas com aproximadamente 20 nm de

ouro, em sputter coater BAL-TEC, modelo SCD 005, de modo a torná-las

condutoras, adequando-as para serem analisadas.

A microscopia eletrônica de varredura foi realizada nos laboratórios do

CETEM, Rio de Janeiro. Foi utilizado um equipamento FEI modelo QUANTA 400

equipado com sistema de microanálise por espectrometria de raios X (EDS) Bruker

Xflash 4030 com detector SDD (Silicon Drift Detector). As análises químicas pontuais

foram executadas com 20KV de tensão de aceleração de elétron.

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2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 DEPÓSITOS DE CHUMBO E ZINCO HOSPEDADOS EM ROCHAS CARBONÁTICAS E OS PROCESSOS SUPERGÊNICOS SUPERIMPOSTOS

Neste capítulo serão apresentados uma compilação sobre os depósitos de

Pb-Zn hospedados em rochas carbonáticas dos tipos Mississippi Valley e Irlandês,

bem como uma síntese das características dos depósitos tipo SEDEX. Este é

seguido por um resumo de dados e interpretações genéticas sobre o Depósito de

Pb-Zn de Nova Redenção. Por ultimo é apresentado uma síntese sobre os

processos supergênicos em depósitos de Pb-Zn, detalhando os aspectos que

favorecem esses processos, as variáveis envolvidas e a geoquímica das

transformações minerais. Esta síntese visa auxiliar no entendimento dos processos

e produtos provenientes da supergênese observados no Morro do Chumbo (depósito

de Nova Redenção) que estarão descritos nos capítulos seguintes.

2.1.1 Depósitos de Pb-Zn Hospedados em Rochas Carbonáticas

Depósitos e distritos de chumbo e zinco ocorrem em todo o mundo, no

entanto os de classe mundial normalmente ocorrem como parte de um distrito que

abrange também outros jazimentos de menor expressão (Fig. 2). Depósitos de

classe mundial de Zn-Pb são conhecidos na maioria das plataformas continentais

(p.ex. Broken Hill, McArthur e Mount Isa na Austrália, Sullivan e Pine Point no

Canadá, Mehdiabad no Iran) com exceção do continente sul-americano (Neves,

2011).

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Figura 2: Distribuição dos diferentes depósitos de Pb-Zn no mundo, diferenciando os mais

antigos e os mais jovens (modificado de Taylor et. al., 2009).

De acordo com Leach et. al. (2010) depósitos de Pb-Zn hospedados em

sedimentos compreendem um grupo diverso de minérios hospedados em uma

grande variedade de rochas siliciclásticas e carbonáticas. Estes com poucas

exceções, não possuem associação genética direta com atividades ígneas. Eles são

na verdade produtos de uma gama de processos de formação de minério em uma

grande variedade geológica e tectônica de ambientes. Os metais foram precipitados

através de uma variedade de processos que incluem a precipitação sinsedimentar

no fundo oceânico (SEDEX), diagênese, substituição epigenética, e baixo grau de

metamorfismo. Os minérios desses tipos de depósitos consistem principalmente de

esfalerita, galena, e geralmente são acompanhados por menores conteúdos de

sulfetos de ferro. A prata é um produto comumente importante, enquanto que o Cu é

geralmente baixo, mas é economicamente importante, em alguns depósitos.

2.1.2 Modelos Metalogenéticos

De acordo com Leach & Sangster (1993) depósitos sedimentares de Pb e Zn

hospedados em rochas carbonáticas podem ser classificados a partir de suas

características genéticas nos tipos: Mississippi Valley (MVT) e Irlandês.

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Nesses depósitos sedimentares, gangas minerais podem incluir carbonatos

(dolomita, siderita, ankerita, calcita), além de barita. A silicificação das rochas

hospedeiras (ou ganga de quartzo) é geralmente menor podendo ser abundante,

mas em alguns depósitos. Assim, de acordo com Leach et. al., (2010) os depósitos

ocorrem de diferentes formas na rocha hospedeira, que incluem minérios

estratiformes, stratabound e minérios discordantes, sendo que em alguns depósitos

veios de minério são importantes. Dado que os depósitos de Pb-Zn hospedados em

sedimentos são originados principalmente de salmouras sedimentares e que os

processos de formação do minério são similares , Leach et al. (2005) concluíram que

os atributos, controles de minério, e a natureza dos depósitos são principalmente

determinados pelo ambiente tectônico onde a deposição do minério ocorreu.

Estudos realizados por Gomes (1998), Misi et al. (1999), Misi et al. (2004),

Gomes (2005), Misi et al. (2005), entre outros, no depósito de Pb-Zn de Nova

Redenção apontam os modelos MVT e Irlandês como possíveis modelos

metalogenéticos para o depósito.

2.1.2.1 Modelo do tipo MVT

Depósitos MVT devem sua origem à circulação de fluido, transporte e

deposição de metal nas bacias sedimentares. Ao contrário dos tipos Irlandês e

SEDEX que podem ser epigenéticos e/ou singenéticos, o MVT, no entanto, é

interpretado como sendo sempre epigenético, em que os metais podem ser

depositados milhões de anos após a deposição dos sedimentos. Leach et. al.,

(2005) afirma que os minerais dominantes em depósitos do tipo MVT são

representados por esfalerita, galena, pirita, marcassita, dolomita e calcita, sendo

mais raramente associados a barita e fluorita.

Os depósitos MVT se formam a partir de temperaturas de fluidos

relativamente baixas (<150 °C) aliada a salinidades que variam de 10% até 30%

NaCl equivalente, sendo eles amplamente stratabound, com rochas carbonáticas

como principal hospedeira. Segundo Leach et. al.(2005) as temperaturas de

inclusões fluidas nos depósitos MVT variam de cerca de 50 °C a 250 °C, no entanto,

a maioria das temperaturas situa-se entre 90° e 150°C. Estes intervalos são

semelhantes aos valores determinados por Basuki e Spooner (2004). Os depósitos

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com temperaturas acima de 150°C foram consideradas por alguns autores como um

novo tipo de depósito, conhecido como Irlandês (Banks et al., 2002; Paradis et al.,

2007, entre outros), no entanto Leach et al. (2010) consideram como um subtipo de

MVT.

Segundo Robb (2005), depósitos MVT contêm significativamente mais

esfalerita do que galena, com a exceção dos depósitos do Viburnum Trend,

localizado no sudeste do Missouri - EUA. Conforme trabalhos realizados por Moraes

Filho et al. (2001), o depósito de Pb-Zn de Nova Redenção também apresenta

conteúdos de galena superiores aos de esfalerita.

Os depósitos tipo MVT ocorrem hospedados principalmente por dolomitos e

calcários de sequências carbonáticas plataformais, localizados geralmente nas

margens de bacias sedimentares (Fig. 3), estando eles associados com a evolução

dessas bacias. Considerando o minério como epigenético, segundo Sangster (1990),

o modelo de MVT clássico, pressupõe a existência de uma ampla circulação de

soluções hidrotermais nas rochas encaixantes carbonáticas, gerada a partir de

processos orogenéticos adjacentes à bacia. As soluções podem migrar por

centenas ou até milhares de quilômetros através das rochas regionais, extraindo os

metais e depositando-os em ambientes com condições físico-químicas favoráveis

na bacia.

Os depósitos tipo MVT conhecidos foram dominantemente hospedados em

carbonatos do Fanerozóico, sendo significantemente menos abundantes nas

rochas do Arqueano e Proterozóico (Leach et. al., 2010).

Dados isotópicos de depósitos tipo MVT indicam fontes crustais para os

metais e para o enxofre (Leach & Sangster,1993).

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Figura 3: Ambiente tectônico de depósitos de Pb-Zn hospedado em sedimentos em margens

passiva. Os depósitos de Pb-Zn MVT estão localizados na plataforma de sequências

carbonáticas de margem passiva (modificado de Leach et al., 2010).

O regime tectônico do depósito MVT encontra-se relacionado a ambientes

orogênicos ou compressionais. O ambiente tectônico determina o tipo da rocha

hospedeira, os controles da mineralização, temperatura e a pressão dos processos

de deposição, bem como a permanência dos depósitos durante a reciclagem

tectônica. Os controles mais importantes da mineralização são dados por falhas e

fraturas, brechas de colapso, dissolução e transições litológicas. A maioria dos

depósitos de Pb-Zn hospedados em sedimentos estão em estratos que foram

depositados em ambientes de rift ou margem passiva (Leach et. al., 2010).

Como já visto, de acordo com Leach et. al. (2010) o ambiente mais propício

para mineralização do MVT está na plataforma carbonática de margem passiva,

estas estão eventualmente localizadas em baixo da bacia foreland, depositados na

colisão orogênica forelands (Bradley & Leach, 2003) (Figs 4 A e 4 B).

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Figura 4: Blocos diagramas mostrando evolução de uma bacia foreland durante a

convergência de placas. (A) um cinturão de cisalhamento submarino empurra a margem

passiva, formando assim a bacia foreland, o domínio extensional e a intumescência. A

continuidade da convergência das placas causa essas feições de migração ao longo da

foreland. A bacia foreland permanece não completamente preenchida por causa da

migração do depocentro deposicional. (B) A convergência das placas foi cessada e a bacia

foreland foi preenchida por sedimentos, criando condições hidrológicas favoráveis para a

formação da mineralização do tipo MVT (modificado de Leach et. al, 2010).

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A maior parte dos depósitos mundiais de MVT foi formada no Fanerozóico,

mais especificamente do Devoniano ao Permiano, sendo que alguns depósitos,

como Pine Point foram formados no período entre o Cretáceo e o Paleogeno.

Durante a montagem do Pangea no Paleozóico, os requisitos fundamentais

para formar depósitos MVT convergiram, o que resultou na época mais prolífera

para a formação de mineralizações do tipo MVT na história da Terra (Leach et al.,

2001). As excepcionais características do Pangea, especialmente na América do

Norte, para gerar depósitos de Pb-Zn tipo MVT pode ser explicada por uma série de

fatos:

- 1° - O continente Laurentia que formou uma relevante parte do Pangea manteve-se

em baixas latitudes durante o Paleozóico, permitindo o desenvolvimento de grandes

plataformas carbonáticas.

- 2° - Após o segundo grande evento de oxigenação, o Pangea foi posicionado nas

latitudes ideais para a formação de salmouras oxidadas que favoreceram a

formação de fluidos formadores de minério de depósitos MVT. A oxigenação da

atmosfera aumentou para concentrações superiores aos níveis de hoje, produzindo

o maior teor de sulfato na água do mar da história da Terra. Isto levou à abundância

de evaporitos ricos em sulfato, desenvolvimento de salmouras oxidadas,e a

explosão de organismos carbonáticos e sedimentos carbonáticos de granulação

grossa.

- 3° - Nessa época o Pangea possuia elevadas taxas de evaporação, que levaram à

evaporação da água do mar nas bacias da margem continental e a infiltração de

salmouras sedimentares em rochas do embasamento e em aquíferos profundos de

bacias.

- 4° - A intensa atividade orogênica durante a montagem do Pangea criou as

condições necessárias para a circulação das salmouras mineralizadas (zonas

extensivas crustais e entumecimentos associados com carsts) favorecendo a

geração de depósitos MVT.

O segundo período fértil na geração de depósitos MVT ocorreu entre o

Cretáceo e o Terciário. Colisões de microplacas ao longo da margem ocidental da

América do Norte e África-Eurásia produziram os depósitos gigantes de Upper

Silesia na Polônia e Reocín na Espanha.

Com base nas datações dos depósitos tipo MVT em todo o mundo, nota-se

que poucos depósitos foram formados durante os períodos de dispersão das placas,

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representados pelo intervalo entre o Neoproterozóico e o Paleozóico inferior, e na

ruptura do Pangea, do Triássico até o final do Jurássico.

2.1.2.2 Modelo do tipo Irlandês

Apresentado como uma subdvisão do modelo MVT, o modelo Irish,

pressupõe a existência de um ambiente distensivo (ambiente extensional) antes e

durante o processo mineralizador (Banks et. al., 2002; Paradis et. al., 2007; Leach

et. al., 2010).

Os depósitos irlandeses de Pb-Zn hospedados em carbonatos de Midlands

tem sido o foco de intensos debates a respeito de sua origem, classificação e idade

da mineralização. Eles têm sido descritos como exalativos, sinsedimentares,

sindiagenéticos, diagenéticos, MVT, epigenéticos e depósitos do tipo Irlandês.

Os depósitos "Irish-Type " surgiram como uma classificação distinta nas

décadas de 70 e 80, num momento em que muitos dos maiores depósitos irlandeses

em Midlands foram interpretados como sendo de origem sinsedimentar ou

sindiagenético. A classificação “tipo Irlandês” foi posteriormente formalizada por

Hitzman & Large (1986) em um tipo genético de mineralização.

Leach et. al. (2005) afirma que o termo "Irish-Type" se consagrou pelo uso

tão frequente na literatura (por exemplo, Hitzman & Large, 1986; Hitzman, 1999;

Wilkinson, 2003). Hitzman e Beaty (1996) incluem as seguintes características para

este tipo de depósito: o minério está associado a falhas normais, sendo ele

constituído dominantemente por esfalerita e galena, podendo conter pirita

abundante, e conteúdos variáveis de barita. Esses depósitos são stratabound, e

possuem complexas texturas, de substituição mineral, coloidais, sulfetos com

granulação fina a grossa e preenchimento de cavidades.

Wilkinson (2003) acrescentou ainda algumas características relacionadas a

este tipo de depósito:

(i) As falhas normais são sinsedimentares;

(ii) A formação da mineralização ocorre durante a diagênese;

(iii) Jazidas são dominadas por sulfetos maciços com zoneamento lateral

de metais;

(iv) O enxofre é predominantemente reduzido por meio de bactérias.

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2.1.2.3 Modelo do tipo SEDEX

Segundo Leach et al. (2005), depósitos tipo SEDEX são mineralizações

compostas por sulfetos de zinco e chumbo laminados, que são formados a partir de

salmouras bacinais exaladas no assoalho da bacia e/ou substituem sedimentos da

bacia em subsuperfície rasa.

Enquanto que os depósitos do tipo MVT são dominantemente formados em

sequências de plataformas carbonáticas localizadas em zonas extensionais de

cinturões orogênicos, os depósitos do tipo SEDEX são formados em rifts

intracontinentais ou abortados e margens continentais passivas rifted.

Dados discutidos por Leach et al. (2005) sugerem que os depósitos do tipo

MVT e SEDEX possuem temperaturas e salinidades de formação similares, que

variam de 90°C a 200°C, e de 10% a 30% NaCl equivalente. Outra característica

similar é a composição dos isótopos de chumbo, que apresentam uma variedade de

fontes crustais. No entanto, estes mesmos autores ressaltam que a composição dos

isótopos de enxofre para esfalerita e galena apresenta uma aparente diferença. Os

depósitos tipo SEDEX são dominados por minérios com composições isotópicas

positivas de 0 a 20 por mil, enquanto que nos depósitos tipo MVT os valores

possuem uma maior variação, que incluem mais valores isotópicos negativos.

Conforme Leach et al. (2005), os depósitos do tipo SEDEX são muito

importantes pois compreendem mais que 50% das reservas mundiais de Zn e Pb e

são os responsáveis por mais que 25% da produção de Zn e Pb do mundo. Este tipo

de depósito, apesar de raro, forma depósitos de classe mundial, com tamanhos de

50Mt ou mais, com Zn+Pb contido chegando a 10Mt ou mais.

2.2 O DEPÓSITO DE NOVA REDENÇÃO

A caracterização de um modelo metalogenético é realizada através da relação

existente entre parâmetros, tais como: tipo da mineralização, rocha encaixante,

ambiente tectônico, idade, principais controles, textura e estruturas, temperatura,

salinidade, origem do enxofre e dos metais, mecanismo de precipitação e processos

envolvendo a geração do sistema hidrotermal. Os estudos realizados por Gomes

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(1998 & 2005) nos depósitos relacionados com a plataforma carbonática do Salitre,

utilizando vários destes parâmetros, demonstraram uma associação hidrotermal no

depósito de Nova Redenção, mas sem possibilitar a correlação com um dos

modelos clássicos, determinando apenas a relação de fonte, transporte e deposição

da mineralização.

O minério de chumbo de Nova Redenção apresenta altas concentrações de

chumbo isotópico, resultado provavelmente de uma fonte com alta concentração

radioativa que forneceu os metais para a bacia sedimentar (Misi et al 1999; Misi et

al. 2005). Os estudos isotópicos de Pb-Pb em galenas de Nova Redenção, apesar

do caráter radiogênico do chumbo, mostram idades modelo situadas entre 400 e 600

Ma. Essas idades, ainda que imprecisas, são parcialmente concordantes com a

idade geológica presumida das rochas encaixantes, consideradas cronocorrelatas

do Grupo Bambuí (Gomes, 1998).

Misi et al. (1999) apresenta análises de isótopos de enxofre em barita do

depósito de Nova Redenção com valores altos de δ34S (+33,6 a +40,9%0 CDT) que

são compatíveis com o esperado para a composição da água do mar no término do

Proterozóico.

Estudos de inclusões fluidas primárias em esfalerita efetuadas por Gomes

(1998) apresentaram salinidades variando de 10 a 25% NaCl. Já as temperaturas

obtidas por Misi et al. (1999) e Gomes (2005) para a deposição do minério do

depósito de Nova Redenção forneceram valores de 145° a 197°C pelo método de

geotermometria isotópica de enxofre nos pares de esfalerita – galena e 140° - 220°C

em análises de inclusões fluidas realizadas nas esfaleritas. Estas temperaturas

elevadas excluem a possibilidade do envolvimento da atividade bacteriológica na

redução do enxofre, como sugerido por Misi et al. (1999).

Misi et al. (2005) sugere que as temperaturas elevadas na formação do

Depósito de Nova Redenção podem estar relacionadas a uma crosta enriquecida em

elementos radiogênicos (granitos ricos em urânio), um gradiente geotérmico elevado

e anomalia negativa de Bouguer.

Estudos apresentam os dados de termometria e salinidade de inclusões

fluidas em esfalerita do depósito de Nova Redenção (Gomes, 1998) em um gráfico

de temperatura de homogeneização versus salinidade com campos delimitados

pelos dados das mineralizações do tipo Mississippi Valley (MVT), Sedimentar

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exalativo (SEDEX) e Irlandês clássicos (Fig 5 ). Com base nas temperaturas obtidas

pela geotermometria isotópica, aliado a temperaturas e salinidades obtidas em

inclusões fluidas, o depósito de Nova Redenção é interpretado como sendo do tipo

Irlandês (Misi et al.,1999; Misi et al., 2004; Gomes, 2005; Misi et al., 2005 e Coelho

et al., 2005).

Figura 5: Temperaturas de homogeneização e salinidades em inclusões fluidas primárias e

pseudo-secundárias de esfaleritas do depósito de Nova Redenção e comparação com

dados de depósitos clássicos de Zn-Pb (modificado de Misi et. al., 2004)

2.3 SÍNTESE DOS PROCESSOS SUPERGÊNICOS EM DEPÓSITOS DE Pb-Zn

A alteração supergênica em depósitos de Pb-Zn hospedados em carbonatos

tem sido estudada ao longo do tempo por diversos autores (Anderson, 1930;

Takahashi, 1960; Hitzman, 2003; Reichert, 2007; entre outros...), pois o

entendimento dos processos e produtos decorrentes da oxidação é parte importante

da história dos depósitos que sofreram processos supergênicos, e pode servir como

uma ferramenta na prospecção de novos depósitos, e até mesmo para auxiliar na

determinação das possíveis transformações minerais e da mobilização de metais em

pilhas de rejeito de minas em atividade.

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Para o entendimento dos processos da alteração supergênica é importante

primeiramente conhecer todos os fatores responsáveis que favorecem a geração

desses processos e as variáveis que determinam desde a mineralogia secundária

final até o posicionamento desta no contexto geológico.

Segundo Reichert e Borg (2008), os processos de alteração em depósitos

supergênicos não sulfetados de Zn-Pb hospedados em rochas carbonáticas podem

ser divididos em dois estágios: 1- Oxidação e 2 – Pós-Oxidação.

2.3.1 Fatores que influenciam na geração de depósitos supergênicos

Reichert (2007), com base no estudo de depósitos não sulfetados de zinco

(MVT) iranianos gerados por processos supergênicos, apontou três fatores

responsáveis pela geração desses depósitos:

1 – Proximidade do protominério sulfetado da superfície - A proximidade do minério

sulfetado com a superfície, aliada à exposição parcial em áreas com relevo

topográfico positivo são fatores importantes que facilitam um processo de oxidação

rápida e eficaz;

2 – Presença de carstes brechados- As brechas clásticas são caracterizadas por

uma grande área superficial, elevada porosidade e boa permeabilidade, que permite

que a água subterrânea transportando metais facilmente penetre, fazendo com que

os minerais não sulfetados precipitem a partir deste fluido e cimentem os clastos da

brecha.

3 – Proximidade de um aquiclude ou aquifuge, tais como: folhelhos, calcários

intercalados com camadas argilosas e xistos - O aquiclude/aquifuge atua como uma

barreira quase impermeável e insolúvel para todos os fluidos do sistema (água

meteórica sistema de água subterrânea e fluidos ricos em metais). Este processo de

mistura de fluidos pode resultar num aumento da capacidade de dissolver calcita

fazendo aumentar os processos cársticos.

Outro fator importante que influencia nos processos supergênicos é

representado pelo clima e pela condição de equilíbrio da água meteórica infiltrada

com a atmosfera. Quanto ao equilíbrio da água com a atmosfera pode-se dividir o

sistema como “aberto” ou “fechado” (Reichert, 2007).

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No sistema aberto a água está em equilíbrio continuo com a atmosfera. As

rochas altamente porosas e condições insaturadas fornecem essa condição “aberta”

para a infiltração da água e fluidos descendentes.

O sistema fechado é caracterizado por diminutas fissuras e poros preenchidos

por água capilar. A troca de gases é inibida e, portanto, o sistema não é equilibrado

com a atmosfera. A PCO2 dentro da água pode cair para zero e aumentar o pH

rapidamente ou a PCO2 pode crescer devido a desequilíbrios microbiológicos.

Para entender os efeitos de equilíbrio da água meteórica e climáticos,

Reichert (2007) modelou os sistemas aberto e fechado em condições climáticas

úmidas e áridas. Reichert (2007) considerou as seguintes características quanto às

condições climáticas úmida e árida:

O clima úmido é caracterizado por uma espessa cobertura do solo cobrindo a

rocha, com atividade biológica suportada por altas precipitações anuais (>

500 mm). Assim, os solos apresentam um grande aumento da PCO2 devido à

atividade microbiológica. As taxas de infiltração são altas e o nível de água

subterrânea é geralmente maior do que em regiões áridas.

O clima árido apresenta, geralmente, baixas atividades biológicas e é

caracterizada por uma baixa precipitação média anual (0-200 mm). Portanto,

a atividade biológica no solo é bastante limitada em comparação com

condições úmidas. Como resultado destes processos biológicos limitados, o

PCO2 de tais solos é quase igual ao da atmosfera.

Clima úmido, sistema “aberto”

Conforme Reichert (2007), em uma região com solo cobrindo rochas

carbonáticas, a água que se infiltra através do solo se aproxima da saturação com

carbonatos dissolvidos enquanto ainda está em contato com abundante CO2. Esta

reação consome CO2 especialmente durante a dissolução da calcita das rochas

carbonáticas hospedeiras. Os gases consumidos serão rapidamente reabastecidos

por CO2 a partir do solo sobrejacente e/ou a atmosfera. Este processo estabiliza o

pH e eleva levemente os valores do pH. A água dos poros é caracterizada por

relativamente altos conteúdos de CO2 e baixa concentração de O2.

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Clima úmido,sistema "fechado":

As reações de equilíbrio da primeira água meteórica dentro do sistema

fechado são semelhantes aos do sistema aberto. A água está em equilíbrio com a

atmosfera e há uma elevação da pressão parcial de CO2 devido ao solo. No entanto,

em contraste com o sistema aberto, aqui a dissolução da calcita/dolomita consome a

maioria do CO2 dissolvido. Devido à falta de CO2 atmosférico no interior das

pequenas fissuras e os poros cheios de água, o valor de pH aumenta drasticamente.

A água dos poros é caracterizada por baixas concentrações de CO2 e O2.

Clima árido, sistema “aberto”:

Um clima árido é caracterizado por uma baixa taxa de precipitação (chuva)

acompanhada por subordinadas atividades biológicas em solos, associado com

valores semelhantes de PCO2 e PO2 aos da atmosfera. Os fluidos possuem um pH

levemente aumentado e são relativamente ricos em O2 dissolvido (Reichert, 2007).

Clima árido, sistema "fechado":

Semelhante a um sistema "fechado" em ambiente úmido, o pH aumenta

devido ao processo de dissolução da calcita, mas diferente do clima úmido, as

concentrações de O2 na água são mais elevadas devido a ausência de

microorganismos no solo que consomem O2. O clima, assim como a geologia local

(fragmentação, carstificação) das rochas carbonáticas encaixantes influenciam nas

concentrações de O2 e CO2 dos fluidos descendentes, e assim influenciam no pH e

na capacidade do fluido de dissolver a rocha carbonática hospedeira. Cálculos

efetuados por Reichert (2007) sugere que ambientes áridos proporcionam melhores

condições para a oxidação via O2 em minérios sulfetados. Taxas de precipitação

meteórica de moderada a baixa resultam em velocidades lentas de infiltração da

água e ótimas condições para o equilíbrio com a atmosfera e rochas hospedeiras. O

lençol freático de climas áridos é geralmente baixo, com isso, após um evento de

chuva individual a água meteórica preenche todos os póros e fraturas abertos e,

assim, proporciona um fluxo de gases para o interior (O2, CO2) do corpo de minério

sulfetado.

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2.3.2 Estágio de Oxidação

Segundo Reichert (2007), o estágio de oxidação deve-se principalmente a

oxidação dos sulfetos, principal constituinte dos depósitos de Pb-Zn. A oxidação de

sulfetos está relacionada principalmente com a oxidação direta do sulfeto sólido pela

molécula de oxigênio. Existem outros processos de oxidação tais como: complexos

ou íons Fe3+, nitratos e Mn4+, porém estes processos normalmente ocorrem em

baixas concentrações, ou como no caso do Fe3+, tornam-se importantes em

determinadas condições de pH e/ou escassez de O2 na solução.

A oxidação da pirita e a subsequente hidrolização do Fe3+ desempenham um

papel importante no estágio de oxidação de depósitos sulfetados. A reação da pirita

com o oxigênio gera a maior proporção de ácido sulfúrico quando comparado com

os outros sulfetos normalmente associados (galena, calcopirita, esfalerita, etc).

Portanto a oxidação da pirita é o principal responsável pelos valores baixos de pH

dentro da zona de oxidação de corpos sulfetados (Reichert, 2007).

Segundo Dold (2005) a reação de oxidação da pirita ocorre em três etapas

principais: 1- oxidação do enxofre (equação 1); 2- oxidação do ferro ferroso

(equação 2); e 3 – hidrólise e precipitação dos oxi-hidróxidos de ferro (equações 4 –

6).

1) FeS2 + 7/2 O2 + H2O Fe2+ + 2SO42- + 2H+

2) Fe2+ + ¼ O2 + H+ Fe3+ + ½ H2O

A equação (1) descreve a etapa inicial de oxidação dos sulfetos na presença

de oxigênio atmosférico.Uma vez que o ferro férrico é produzido pela oxidação do

ferro ferroso, em condições de baixo pH, fortemente acelerada pela atividade

microbiológica (equação 2), o ferro férrico será o principal oxidante da pirita

(equação 3) ( Dold, 2005). Sob condições abióticas a taxa de oxidação da pirita por

ferro férrico é controlada pela taxa de oxidação do ferro ferroso, o que diminui

rapidamente com o decréscimo do pH. Abaixo do pH 3 a oxidação da pirita por ferro

férrico é de cerca de dez a cem vezes mais rápida do que por oxigênio (Dold, 2005).

3) FeS2 + 14 Fe3+ + 8 H2O 15Fe2+ + 2SO42- + 16H+

O ácido gerado na oxidação do sulfeto é posteriormente neutralizado quando

os prótons reagem com as rochas carbonáticas (Jurjovec et al., 2002). A eliminação

da maioria dos prótons proporciona a precipitação dos oxi-hidróxidos de ferro

(equações 4, 5 e 6).

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4) Fe3+ + 2H2O FeOOH + 3H+ (Goethita)

5) 2 Fe3+ + 12H2O Fe2O3*9H2O + 6H+ (Ferrihidrita)

6) 2 Fe3+ + 3H2O Fe2O3 + 6H+ (Hematita)

A galena e a esfalerita são os principais minerais dos depósitos sulfetados de

Pb-Zn, e em contraste com a oxidação da pirita, que gera grandes volumes de ácido

sulfúrico, a oxidação destes minerais produzem quantidades subordinadas de

prótons/acidez. No entanto, durante o processo de oxidação dos sulfetos, a

concentração do íon SO42- é aumentada devido à oxidação da galena e esfalerita e a

geração associada de ácido sulfúrico devido à oxidação da pirita.

Reichert (2007) examinando o processo de formação de depósitos não

sulfetados de zinco definiu três importantes processos de fracionamento de metais

durante a supergênese: 1 – efeitos de blindagem mineral (reações de inibição da

galena e calcita); 2 – adsorção de metais pelos oxi-hidróxidos de ferro; e 3 –

diferentes solubilidades e estabilidades dos minerais de Pb e Zn.

2.3.2.1 Blindagem mineral

Blindagem da galena

Cama & Acero (2005) demonstraram em um estudo de dissolução de galena,

pirita, calcopirita e esfalerita em uma solução saturada em oxigênio, a 25°C e pH =3,

que a galena dissolve 1,6, 2,2 e 3,4 vezes mais rápido que pirita, calcopirita e

esfalerita. No entanto, Reichert (2007) observou que nos depósitos Pb-Zn Iranianos

Mehdi Abad e Irankuh a corrosão e oxidação ocorre preferencialmente na seguinte

ordem: pirita > esfalerita > galena. Esta diferença nos resultados experimentais de

Cama & Acero (2005) comparados com a observação de Reichert (2007) é

explicada pela estabilização de anglesita nas bordas dos grãos de galena no estágio

de oxidação, que age como uma blindagem (armoring), diminuindo assim a sua

reatividade. No processo de oxidação do minério sulfetado os fluidos enriquecem em

SO42- e o pH fica ácido, nessas condições íons de Pb2+ combinam-se com SO4

2- e

precipitam na forma de anglesita (equação 7). Este revestimento de "proteção" é

provavelmente uma explicação para a resistência aparente de galena, durante o

processo de oxidação.

7) Pb2++ SO42- PbSO4 (Anglesita)

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Blindagem da calcita

O ácido gerado durante o processo de oxidação reage com carbonatos e

silicatos da rocha encaixante, principalmente calcita e dolomita. Esta reação causa

uma dissolução da rocha encaixante, e pode gerar permeabilidade secundária

significativa e, assim, caminhos para os fluidos. Reações de neutralização resultam

em um aumento do pH dos fluidos no interior dos poros,e na liberação e

reprecipitação de cátions metálicos a partir da rocha hospedeira, tais como:Ca2+,

Mg2+ e pequenas quantidades de Fe2+/3+. Este aumento do pH é acompanhado pela

precipitação de vários minerais que contém metais. Além disso, os minerais

neoformados que são precipitados interagem de várias maneiras com a solução

aquosa rica em metais, podendo tamponar as soluções aquosas dentro de intervalos

diferentes de pH (Blowes et al., 2004) e ainda inibir a reação de neutralização do

ácido com os carbonatos da rocha hospedeira devido a uma blindagem (armoring)

dos minerais de carbonato (Al et al., 2002). Embora que o esperado seria uma

neutralização imediata (pH = 7 à acima) pelos carbonatos altamente reativos da

rocha encaixante,a oxidação dos sulfetos e a "blindagem" dos carbonatos, resultam

em uma frente de oxidação com um pH baixo, variando aproximadamente de pH 4

até pH 6 (Jurjovec et al., 2002). Esta blindagem dos carbonatos deve-se pela

precipitação de gipsita gerada pela reação da calcita com a solução ácida rica em

SO42- (equação 8).

8) CaCO3 + 2H+ + SO42- + 2 H2O CaSO4

.2H2O + H2CO3 (aq.)

Após a oxidação dos sulfatos a concentração de SO42- diminui rapidamente,

com isso a gipsita torna-se solúvel e é lixiviada do sistema.

2.3.2.2 Adsorção de metais por oxi-hidróxidos de ferro (OHF)

Os oxi-hidróxidos de ferro (goethita, ferridrita) apresentam alta afinidade com

íons metálicos de valência 2+, tais como: Cu, Cd, Pb, Zn e As, além de

apresentarem uma grande superfície areal (Lee & Saunders, 2003). Estas

características fazem com que os OHF em condições especiais de pH adsorvam os

íons metálicos que estão concentrados na solução.

A adsorção dos íons Pb2+ pela ferridrita atinge o seu máximo de saturação

quando o pH atinge 5,5 (Dyer et al., 2003). Em contraste com o chumbo, a adsorção

do zinco começa em valores de pH mais elevados, variando entre pH 5,5 a 7,5

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(Dzombak & Morel, 1990). Esta é uma das razões que explica o fracionamento do

chumbo e do zinco pelos processos decorrentes da oxidação. No fronte da oxidação,

sob condições ácidas, os íons Pb2+ que não precipitaram na forma de anglesita são

adsorvidos pelos OHF (Fig. 6). Nessas condições, no entanto, o zinco continua a ser

móvel na solução aquosa e é transportado (verticalmente ou lateralmente) para

zonas distais (Reichert, 2007). O pH da solução aumenta levemente devido aos

processos de blindagem do carbonato e como resultado o zinco precipita nas

porções distais (geralmente profundas) do sistema supergênico, que são geralmente

livres de óxidos de ferro hidratado se não têm quaisquer acumulações significativas

de chumbo secundário.

Figura 6: Figura esquemática mostrando os processos e balanço de massa para a

precipitação e adsorção de Zn e Pb em uma zona de oxidação com pH =5 rica em oxi-

hidróxidos de ferro (OHF). A maior parte do Pb é precipitado na forma de anglesita, sendo

que o restante é quase todo adsorvido pelo OHF. O Zn continua móvel na solução, sendo

muito pouco adsorvido pelo OHF nessas condições. Modificado de Reichert (2007).

2.3.2.3 Solubilidade e estabilidade de minerais secundários de Pb e Zn

A solubilidade e a precipitação de minerais secundários em depósitos de

zinco e chumbo em calcários são predominantemente controlados pela pressão,

temperatura, PCO2, pH e a concentração dos elementos na solução aquosa

(Takahashi, 1960). O Eh (potencial de oxidação-redução) não está relacionado com

os limites de estabilidade e a precipitação destes minerais, uma vez que não há

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alteração nas valências dos elementos durante o processo de precipitação

(Takahashi, 1960).

Anglesita e Cerussita

No processo de oxidação do minério sulfetado, em solução de pH ácido rico

em SO42- o mineral secundário de chumbo mais estável é a anglesita. No entanto,

após a oxidação dos sulfetos, o pH da solução tende a mudar para condições

básicas, fazendo com que a cerussita se torne mais estável que a anglesita. Desta

forma a anglesita será substituída pela cerussita, conforme equação 9.

9) PbSO4 + H2CO3 PbCO3 + SO42- +2H+

A reação 9 apresenta a dependência das atividades de pH, H2CO3 e SO42-.

Quando a oxidação está ativa, esta é associada com alta atividade de SO42- e H+,

que leva a reação para o lado esquerdo. Após a oxidação, a concentração de SO42-

diminui, o pH aumenta e torna a cerussita estável.

Na figura 7 estão apresentados os campos de estabilidade da anglesita e

cerussita em função da concentração de SO42-, pH e PCO2.

Figura 7: Gráfico mostrando os campos de estabilidade da anglesita e cerussita (25ºC, 100

kPa). Modificado de Reichert (2007). O gráfico mostra a diminuição da estabilidade da

anglesita com o aumento da PCO2.

Carbonatos e silicatos de zinco

Como demonstrado anteriormente, a esfalerita é facilmente oxidada e lixiviada

nos processos de oxidação, e em condições de pH ácido os íons Zn2+ são móveis,

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pouco adsorvidos por OHF e não formam nenhuma fase mineral insolúvel nessas

condições.

Os carbonatos de zinco representados por smithsonita (ZnCO3) ou

hidrozincita (Zn5(OH)6(CO3)2) começam a precipitar em condições de pH ~6,5,

dependendo da PCO2 e da atividade do Zn2+ (Reichert, 2007) (Fig. 8). Enquanto que

os silicatos de zinco irão se formar se o sistema tiver disponibilidade de sílica em

condições baixas de pressão parcial de CO2 (Fig. 9).

Figura 8: Estabilidade dos carbonatos de zinco no sistema Zn-O-H-C em função de PCO2 e

pH para uma atividade de Zn= 10-5 (modificado de Reichert, 2007)

Figura 9: Estabilidade dos minerais de zinco em função de PCO2 e pH para uma solução com

sílica e carbonato disponível (modificado de Reichert, 2007).

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2.3.3 Estágio de Pós-oxidação

Neste estágio o minério sulfetado foi completamente oxidado restando apenas

pequenas porções remanescentes. A geração de fluidos ácidos terminou e o

processo de neutralização finaliza neste estágio. A consequência destas mudanças

é a sucessiva diminuição do ácido sulfúrico derivado da concentração de SO42-. Com

isso a solubilidade dos sulfatos, tais como anglesita e gipsita, aumenta devido ao

princípio de Le Chatelier e começam a ser dissolvidas. O aumento do pH e as

condições ainda com valores elevados de PCO2 favorecem a precipitação da

cerussita no lugar da anglesita, sendo que toda a anglesita é dissolvida ou é

substituída por cerussita. Na fase final desse estágio todo o Pb é liberado formando

cristais de cerussita dentro de fraturas e espaços abertos. Com o aumento do pH de

neutro a alcalino os carbonatos de zinco tornam-se estáveis na forma de

hidrozincita, smithsonita e silicatos de zinco. Porém com a diminuição da PCO2 a

smithsonita torna-se instável e é substituída pela hidrozincita.

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3 GEOLOGIA REGIONAL

O Cráton do São Francisco é definido como uma porção da plataforma Sul

Americana que foi delimitado na orogenia Brasiliana no Neoproterozóico (Almeida,

1977). Com exceção da margem do Atlântico, o Cráton do São Francisco tem seus

limites definidos pelos cinturões de dobramentos neoproterozóicos Brasília a sul e

oeste, Rio Preto a noroeste, Riacho do Pontal e Sergipano a norte, Araçuaí a

sudeste e Rio Grande ao Sul (Fig.10).

O Cráton do São Francisco é quase inteiramente coberto por sucessões pré -

cambrianas e fanerozóicas. Os domínios abrangidos no interior do cráton

compreendem três unidades morfotectônicas distintas: Aulacógeno do Paramirim, ao

norte, a Bacia São Francisco, ao sul (Cruz & Alkmim, 2006) e a Bacia da Chapada

Diamantina que se encontra à NE do Cráton. O cráton é subdividido nos

Supergrupos Espinhaço e São Franscisco, sendo este último de maior destaque

visto que nele ocorre a maioria dos depósitos de Pb-Zn do cráton.

No Supergrupo São Francisco encontra-se a bacia de Una – Utinga, inserida

no domínio geotectônico da Chapada Diamantina, mostrando-se preenchida por

sedimentos predominantemente carbonáticos do Grupo Una.

O Grupo Una na bacia de Una-Utinga, encontra-se ainda localizado na região

leste do vale do Paramirim, na Bacia do São Francisco, representando as partes das

coberturas sedimentares do Cráton São Francisco pertencentes ao Supergrupo São

Francisco. Neste contexto existem carbonatos do Grupo Una, cronocorrelatos ao

Grupo Bambuí (Bacia do São Francisco), que representam a deposição de uma

extensa plataforma carbonática no final do Neoproterozóico (Barbosa & Dominguez,

1996).

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Figura 10: Mapa tectônico simplificado da porção leste do Brasil, enfatizando o Cráton do

São Francisco. CD- Chapada Diamantina, ES- Espinhaço Setentrional, BSF- Baciado São

Francisco. Retirado de Cruz, 2004 e modificado de Alkmim et al. (1993) e Alkmim (2004).

3.1 SUPERGRUPO ESPINHAÇO

Este compartimento, de idade mesoproterozóica, está presente no entorno da

Bacia de Irecê, com exceção do norte desta. Na Bahia, este supergrupo é

compartimentado em dois grandes domínios fisiográficos: (i) domínio do Espinhaço

Setentrional, a oeste, e (ii) domínio fisiográfico da Chapada Diamantina, a leste,

separados fisicamente pelo vale do Rio Paramirim.

O Espinhaço Setentrional é constituído pelas Formações Pajeú, Bom Retiro,

Fazendinha e Serra da Vereda que integram o Grupo Oliveira dos Brejinhos

(Paleoproterozóico) e Grupo Santo Onofre (Neoproterozóico). A Chapada

Diamantina é uma bacia do tipo rifte-sinéclise, com o estágio rifte representado pelo

vulcanismo Rio dos Remédios e o estágio sinéclise pelos depósitos continentais e

marinhos dos Grupos Paraguaçu e Chapada Diamantina (Pedreira, 1994).

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3.2 SUPERGRUPO SÃO FRANCISCO

Na Bahia, este supergrupo, de idade neoproterozóica, também ocorre em

duas regiões distintas: (i) região da Bacia do São Francisco, e (ii) região da Chapada

Diamantina Oriental.

A primeira região está situada a oeste do estado, onde o supergrupo São

Francisco está representado, parcialmente, pelos grupos Macaúbas, na base, e

Bambuí, no topo.

A outra área de afloramento das rochas do Supergrupo São Francisco ocorre

na parte central do Estado da Bahia, nas “bacias” de Irecê, Una-Utinga e Ituaçu,

onde é representado pelo Grupo Una, que compreende as Formações Bebedouro,

na base e Salitre, no topo, sendo essa última de grande interesse neste trabalho.

O Supergrupo São Francisco foi dividido por Inda & Barbosa (1978) nos

Grupos Bambuí e Una. Datações radiométricas e bioestratigráficas já realizadas

colocam ambos os Grupos como correlatos no tempo.

A maioria dos depósitos de Pb-Zn encontrados no Cráton do São Francisco

ocorrem associados com esta unidade, conforme observado na Figura 11.

Figura 11: Mapa esquemático do Cráton do São Francisco mostrando a disposição de

diferentes depósitos de Pb-Zn, destacando-se principalmente no Supergrupo São Francisco

(modificado de Gomes, 2005).

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Atributos geológicos definidos por Misi et al. (2005) determinam inúmeras

semelhanças presentes nos depósitos de Pb-Zn das coberturas neoproterozóicas do

Cráton São Francisco:

- As rochas encaixantes são dolomitos (principalmente) e calcários,

silicificados, com feições típicas da deposição marinha em águas rasas. Estas

apresentam-se por vezes capeadas por margas e pelitos, localmente piritosos.

Fazem parte de sequências das bacias sedimentares intracratônicas, formadas em

regimes extensionais e crono-correlatas entre si (Grupos Vazante, Bambuí e Una).

- A presença de nódulos de quartzo microcristalino tipo length slow ou lutecita

(Irecê, Corpo N-Morro Agudo, Nova Redenção), gipsita (Irecê), nódulos de sulfetos

(Irecê, Corpo N-Morro Agudo) e de sulfetos pseudomorfos sobre gipsita (Irecê, Nova

Redenção), assim como de estruturas sedimentares teepees (Irecê, Morro Agudo,

Nova Redenção), sugere um ambiente evaporítico dominante que controlou, pelo

menos, uma fase importante da mineralização.

- Os depósitos estudados têm nítido controle estrutural por fraturas e falhas

orientadas N40-50W em Nova Redenção e Irecê e falhas normais N15-20W em

Morro Agudo. São estruturas profundas que cortam as coberturas sedimentares e o

embasamento e que provavelmente tiveram papel importante para a migração dos

fluidos durante a mineralização.

- A associação mineral principal compreende sulfetos (pirita, esfalerita e

galena). Em Morro Agudo e Irecê, predominam esfalerita e pirita e em Nova

Redenção galena. Prata está presente em todos os depósitos.

- Os minerais de ganga mais comuns aos depósitos são: calcita, dolomita,

quartzo (megacristais de quartzo e quartzo microcristalino) e barita.

- Em todos os depósitos ocorrem mineralizações discordantes (veios,

bolsões) e concordantes a sub-concordantes, podendo ser maciças ou

disseminadas.

3.2.1 Grupo Una

O Grupo Una preenche as Bacias Irecê e Una-Utinga, ele é subdividido nas

formações Bebedouro (basal) e Salitre (topo) (Bonfim et. al., 1985). A Formação

Bebedouro é de origem glaciogênica e constituída por metassedimentos silico-

argilosos, lentes conglomeráticas de metagrauvacas com granulometria variando de

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seixos a matacões (Misi & Silva, 1996). Já a Formação Salitre é caracterizada pela

presença de calcilutitos, calcissiltitos e calcarenitos, com raras contribuições

terrígenas na base e, no topo, ocorrem níveis dolomíticos silicificados, com

intercalações pelíticas locais. Pedreira (1994) ainda descreve a presença ocasional

de calcarenitos com estratificação cruzada e silexitos.

Formação Bebedouro

Segundo Misi & Silva (1996), essa Formação apresenta no topo contatos

discordantes com a Formação Salitre e na base encontra-se em contato discordante

e erosivo com o Grupo chapada Diamantina.

A Formação Bebedouro é identificada pela existência de metassedimentos

síltico-argilosos, aos quais se associam lentes relativamente contínuas de

metagrauvaca conglomerática com clastos possuidores de formas angulares, cujos

tamanhos variam de seixos a matacões. A matriz é composta por clorita, sericita,

quartzo e calcita e os fragmentos de rochas são principalmente de gnaisses,

granitos, pegmatitos, rochas básica, xistos, quartzitos verdes e brancos, filitos e

calcários (Misi, 1979 apud Misi & Silva, 1996) pertencentes às formações anteriores

ao evento glaciogênico.

De acordo com Guimarães (1996) foi possível individualizar três tipos

litológicos principais para a Formação Bebedouro: diamictitos, arenitos e pelitos, os

quais compreendem doze litofácies diferentes.

O Diamictito trata-se do tipo litológico mais expressivo da área de estudo

correspondendo a rochas de textura grossa, imaturas, mal selecionadas e bastante

semelhantes do ponto de vista descritivo, diferenciando-se fundamentalmente, pelas

estruturas sedimentares presentes. O Arenito é o tipo litológico de ocorrência mais

subordinada na Formação Bebedouro compreendendo corpos, em geral pouco

espessos, de arenitos de composição diversificada podendo ser caracterizado como

subarcóseos, arcóseos, grauvacas e quartzo-arenitos, sendo normalmente

alternados com as litofácies de diamictitos ou de pelitos, formando ritmitos. E por fim

há os Pelitos nos quais se incluem rochas argilosas e siltosas, na maioria das vezes

não passíveis de separação em níveis distintos (Guimarães, 1996).

Segundo Sampaio (1994), os diamictitos possuem características de

retrabalhamento por onda, podendo apresentar geometria sigmoidal, juntamente

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com os pelitos. Os carbonatos são as primeiras evidências da sedimentação em

planícies de maré, superposta a Formação Bebedouro (Fig. 12).

Figura 12: Descrição e interpretação das litofácies da Formação Bebedouro. Modificado de

Guimarães & Pedreira (1990) e adaptado de Sampaio (1994).

Formação Salitre

A Formação Salitre foi originada a partir da deposição de uma extensa

plataforma carbonática sobre o Cráton do São Francisco durante o Neoproterozóico.

Após a deposição da Formação Bebedouro, durante o período de deglaciação,

houve o aumento do nível do mar associado com a subsidência do Cráton,

permitindo a instalação dos carbonatos que dariam origem à Formação Salitre

(Domingues, 1993).

A Formação Salitre é constituída por diferentes variedades de carbonatos,

calcirruditos, calcarenitos e dolarenitos, ainda com presença de terrígenos, em

especial pelitos. Feições orgânicas são representadas por laminitos algais (Sampaio,

1994).

Estruturas sedimentares que possuem associação com rochas dessa

formação, apresentam-se geralmente anunciando sedimentação em água rasa,

agitada, e de exposição subaérea, podendo haver momentos em que ocorre

também o retrabalhamento por ondas. Essas estruturas consistem em marcas

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onduladas, oólitos e intraclastos, o que indica deposição de planície de maré para a

Formação Salitre (Fig. 13).

Figura 13: Descrição e interpretação das litofácies da Formação Salitre. (modificado de

Guimarães & Pedreira 1990 e adaptado de Sampaio 1994).

O mapeamento de semidetalhe realizado na Bacia de Irecê (Misi & Souto,

1975), demonstrou a existência de seis diferentes unidades estratigráficas

mapeáveis. Misi (1979) propôs informalmente uma divisão às unidades, as quais

possuem diferentes características, e estas serão utilizadas neste trabalho. Misi as

nomeou da base para o topo como unidades: C (constituída por calcários

dolomíticos vermelhos argilosos e dolomitos), B e B1, formados respectivamente por

calcários cinza-claro laminados e estratificados, e dolarenitos silicosos e oolíticos no

topo. A unidade A é constituída por siltitos, argilitos calcíferos e margas, tendo

acima, na unidade A1, cacilutitos pretos e calcários oolíticos.

As mineralizações de fosfato e sulfetos de Pb-Zn associadas a unidade B1

são bem marcadas e observadas nos diversos trabalhos realizados na área por

Guimarães & Pedreira (1990), Misi (1996) e Misi, 1979 (Fig.14).

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Figura 14: Ciclos de sedimentação do Grupo Una (Formação Salitre) na Bacia de Irecê, com

indicação do intervalo mineralizado em sulfetos e em fosfatos. Modificado de Misi & Silva

(1996).

Unidade C:

Segundo Misi & Silva (1996), esta unidade é constituída por dolomitos e

calcários dolomíticos vermelhos e argilosos, sendo identificada como a base da

Formação Salitre. Podem ainda ocorrer na base estruturas estromatolíticas não

classificadas. Esta unidade se estende lateralmente ao longo de toda borda leste,

repousando sobre quartzitos arcosianos da Formação Bebedouro.

Unidade B:

Esta unidade apresenta-se com fácies composta por calcários cinza - claro,

ocorrendo também calcários dolomíticos com laminações e níveis interestratificados

com leitos argilosos (Misi & Silva, 1996). Intercalações de calcários pretos, oolíticos

também podem ser identificados nesta unidade.

Na Bacia de Una-Utinga esta unidade é representada por calcilutitos finos a

grossos, intercalações dolomíticas silicificadas, pelíticas e calcilutitos com laminação

plano-paralela (Misi, 1996). Outros autores como Souza et al. (1993), concordam

que esta unidade é constituída por calcissiltitos com laminação plano-paralela e

lamitos algais francamente ondulados.

Segundo Misi (1996), a deposição desta unidade é um resultado de uma

sedimentação profunda indicativa de uma transgressão marinha com tendências

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regressiva, que marca uma mudança de nível do mar pela deposição de material

mais fino e laminações do tipo plano - paralela.

Unidade B1:

Segundo Misi & Silva (1996), esta unidade consiste em dolomitos silicosos,

dolomitos oolíticos e dololutitos, com nódulos e lentes individualizadas de sílica. É

possível também ser observada a presença de barita e de pirita, com subordinação

da galena e da esfarelita com formas nodulares, sendo ainda frequente a ocorrência

de estruturas sedimentares do tipo “teepee”, que se caracterizam com a exposição

subaérea dos sedimentos em clima árido, além de brechas intraformais, indicando a

possível dissolução de sulfatos.

Estromatólitos colunares (ricos em carbonato-fluorapatita) relacionam-se a

zonas relativamente mais profundas, de alta energia. Todas estas estruturas

mencionadas anteriormente são indicativas de ambientes equivalentes de inter a

supramaré (Misi & Kyle, 1994).

De acordo com os estudos realizados por Misi & Silva (1996), esta unidade

mostra uma sedimentação muito rasa, com frequentes exposições da lama

carbonática, ou seja, uma zona de sedimentação equivalente a uma planície de

marés.

Unidade A:

Esta unidade apresenta-se com predominância de siltitos, argilitos calcíferos e

margas, com uma coloração geralmente cinza-clara. Mostra-se ainda com

ocorrências de pequenos cristais cúbicos de pirita (Misi & Silva, 1996). De acordo

com Bonfim & Pedreira (1990) apud (Misi & Silva, 1996), na Bacia de Una – Utinga,

essa unidade mostra-se com litofácies constituídas por pelitos laminados e margas

com laminação plano-paralela.

Assim, mostra-se claramente um aprofundamento da lâmina d’água,

evidenciada devido a uma possível transgressão marinha, que induziu a um novo

ciclo transgressivo-regressivo.

Unidade A1:

Segundo Misi & Silva (1996), esta unidade é constituída por calcilutitos pretos

e calcários oolíticos e pisolíticos, ricos em matéria orgânica. São comuns, horizontes

com estratificações cruzadas ou com abundantes intraclastos constituídos de

calcário, normalmente com pequenas espessuras, no entanto apresentando grande

continuidade lateral, e marcas de onda, dentre outras estruturas. As características

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dessa unidade indicam condições rasas de sedimentação em ambiente agitado e

rico em matéria orgânica. Na bacia Una-Utinga, esta unidade corresponderia aos

calcários oolíticos silicificados (Guimarães e Pedreira, 1990).

Situada na porção Oriental da Chapada Diamantina (BA), no domínio da

Bacia Hidrográfica do Rio Paraguaçu, a Bacia Una-Utinga, assim como a Bacia

Irecê, encontram-se preenchidas por sedimentos predominantemente carbonáticos

do Grupo Una, descritos anteriormente. Gomes (1998) mostrou uma correlação

estratigráfica entre as unidades da Formação Salitre, presente na Bacia Irecê,

(descrição em Misi e Silva, 1996) e aquelas observadas em Nova Redenção (Bacia

Una-Utinga).

No domínio da Formação Salitre, dentro da Bacia Una-Utinga, Moraes Filho &

Leal (1990) definiram duas associações de litofácies:

Associação A: seqüência do topo, constituída de dolarenitos, dolarenitos

silicificados ooidais ou não, muitas vezes com níveis detríticos quartzosos, e

estromatólitos silicificados. Os dolarenitos, de modo geral de cor cinza-clara ou

rósea, apresentam-se na forma maciça ou estratificada, podendo ocorrer localmente

estratificação cruzada tipo “espinha de peixe”. Esta sequencia é mineralizada em

chumbo e zinco, com prata e cádmio associados.

Associação B: composta por calcilutitos, calcarenitos, “laminitos algais” e

calcissiltitos laminados, da unidade basal, onde se observa intercalação de

laminações finas, com coloração mais escura.

A distribuição destas litofácies B e A representa uma seqüência regressiva

(shallowing upward) e assemelha - se às representadas pelas unidades B e B1,

respectivamente, da Formação Salitre, na Bacia Irecê (Gomes 1998; Misi & Silva,

1996). Diferem, entretanto, pelo elevado grau de silicificação observado na

associação A (Bacia Una-Utinga) em relação à unidade B1 (Bacia Irecê) (Gomes,

1998).

3.3 EVOLUÇÃO TECTONICA

O Cráton do São Francisco corresponde a um segmento crustal consolidado

no Paleoproterozóico, composto por complexos de rochas metamórficas de alto grau

e rochas supracrustais, todas de idade arqueana, e núcleos granitoides do

Paleoproterozóico, cuja evolução a partir de 1750Ma condicionou a instalação de

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duas bacias sedimentares ensiálicas, superpostas e diacrônicas, estruturadas nas

direções NS e NW-SE, repositórias do Supergrupo Espinhaço: uma, do tipo rift-sag,

de idade Estateriana – Bacia Espinhaço Oriental, e outra, do tipo sinéclise, atribuída

ao Calimiano – Bacia Chapada Diamantina (Guimarães et al., 2005).

Para auxiliar o entendimento da origem da Bacia Una-Utinga será descrito de

forma sumária os estágios de evolução da Bacia São Francisco definidos por

Dominguez (1993) a partir do estágio V que se refere ao inicio da glaciação

Bebedouro-Jequitaí.

Dominguez (1993) propôs um modelo evolutivo para a glaciação Bebedouro-

Jequitaí que afetou extensivamente o paleocontinente São Franciscano, e resultou

na deposição de diamictitos glaciais da Formação Bebedou do Supergrupo São

Francisco (Fig. 15).

Figura 15: Neste estágio de evolução do Cráton do São Francisco a glaciação Bebedouro-

Jequitaí envolveu grande parte do cráton, ocorrendo a presença de diamictitos de pequena

espessura que originam a Formação Bebedouro (Dominguez, 1993).

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Ao final da glaciação Bebedouro-Jequitaí ocorre uma subida do nível do mar

por decorrência do degelo, invadindo o paleo-continente São Francisco e

possibilitando a deposição e acumulação sedimentos carbonáticos sobre o Cráton

do São Francisco. A associação desta inundação com o aumento da expansão da

subsidência das bordas do paleo-continente São Franciscano para o seu interior,

relacionadas a evolução das margens passiva, resultou na implantação de

importantes plataformas carbonáticas (Rampa Carbonática Salitre e Plataforma

Isolada Bambuí) (Dominguez, 1993) (Fig. 16).

Figura 16: Ao final da glaciação ocorreu a subida do nível eustático do mar que inundou o

cráton, resultando na implantação de importantes plataformas, tal como a Plataforma

Carbonática da Formação Salitre (Dominguez, 1993).

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No final do Neoproterozóico (entre 0,6 e 0,5 Ga), com colisões nas margens

do Cráton, processou-se a orogênese Brasiliana que culminou na formação do

Gondwana e foi responsável pela inversão dos sedimentos dos Supergrupo

Espinhaço e Supergrupo São Francisco, causando registros de bacias policíclicas

acumuladas durante todo o Proterozóico, com a formação das faixas móveis que

bordejam o Cráton do São Francisco (Alkmim, 2004). A intensidade da deformação

foi maior ao longo do eixo do rift, onde a litosfera havia sido afinada durante os

episódios de subsidência anteriores. Os sedimentos (Grupo Una) que se

acumularam nas partes externas do rift, sobre os blocos continentais mais espessos,

foram relativamente poupados da deformação (Dominguez, (1993) apud. Barbosa et

al.,( 2003), (Fig. 17).

Figura 17: Colisões nas margens do cráton com geração de cinturões de dobras e

empurrões mostram a modificação sofrida na bacia devido a orogênese Brasiliana

(Dominguez, 1993)

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55

.

Durante o Fanerozóico, as coberturas mesozóicas se depositam sobre o

Grupo Bambuí e Una pela expansão da sedimentação da Bacia do Parnaíba

(Dominguez, 1993). Como pode ser observado na Figura 18, as coberturas

sobrepõem a plataforma carbonática, separando parte da Bacia Bambuí, as Bacia

Una-Utinga e Bacia de Irecê.

Figura 18: Estágio final com a consolidação da Bacia Una – Utinga (Dominguez, 1993).

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4 CONTEXTO GEOLÓGICO LOCAL

A mineralização de Pb–Zn (Ag) em Nova Redenção (BA), na sub-bacia de

Una Utinga, constitui uma descoberta da CPRM, através do mapeamento geológico

básico, folha Lençóis 1:100.000 (Bonfim et al., 1990). Os últimos trabalhos de

prospecção realizados pela CPRM e publicados em Moraes (2001), permitiram

separar, até então duas faixas potencialmente mineralizadas principais: Setor Sete

Lagoas e Queimadas do Felipe / Queimadas / Calhau (Fig.19).

Figura 19: Esboço da área mineralizada em sulfetos em Nova Redenção, Bacia de Una-

Utinga (Gomes, 1998).

Trabalhos referentes às mineralizações de Pb e Zn relacionadas às

coberturas sedimentares neoproterozóicas do Cráton do São Francisco foram

analisados por alguns pesquisadores, destacando-se os estudos realizados por

Dardenne & Freitas Silva (1999), Misi et al.(1999) e Misi et al.(2004). Estes trabalhos

apresentam entre outras coisas o resultado de estudos realizados nos depósitos de

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Pb e Zn do Grupo Una, estando notadamente incluso neste Grupo, o depósito de Pb

e Zn de Nova Redenção. Esse depósito possui uma reserva estimada em 2,5

milhões de toneladas de minério, com Pb= 6,35%, Zn= 0,50%, Ag= 33 ppm e Cd=

10 ppm que encontra-se hospedado em carbonatos da Formação Salitre (Bomfim &

Pedreira, 1990; Pedreira & Margalho, 1990; Guimarães & Pedreira, 1990).

A partir da análise de alguns trabalhos, pode-se determinar alguns aspectos

geológicos para a região, os quais indicam um ambiente deposicional com uma

espessa sedimentação carbonática epicontinental marinha, em ambiente de planície

de maré com subambientes de submaré rasa. Segundo Gomes (1998) as rochas

dolomíticas silicificadas são ricas em estruturas sedimentares indicativas de

ambiente evaporítico, que correspondem ao topo de uma sequência transgressivo-

regressiva.

4.1 POSICIONAMENTO ESTRATIGRÁFICO DA MINERALIZAÇÃO

Estratigraficamente, segundo Moraes Filho & Leal (1990, apud Gomes, 1998,

p. 18) a litologia na região de Nova Redenção pode ser dividida em duas

associações de litofácies (Fig 20):

a) Associação de Litofácies A: seqüência do topo, constituída de dolarenitos,

dolarenitos silicificados ooidais ou não, muitas vezes com níveis detríticos

quartzosos, e estromatólitos silicificados. Os dolarenitos, de modo geral de cor cinza-

clara ou rósea, apresentam-se sob forma maciça ou estratificada, podendo ocorrer

localmente estratificação cruzada tipo “espinha de peixe”. São comuns níveis

oolíticos ou oncolíticos, bem como níveis dentríticos quartzosos. O dolarenitos

oolícos representam litofácies carbonáticas inteiramente silicificadas, sendo essa

uma feição marcante na área estudada. Esta seqüência é mineralizada em chumbo

e zinco, com prata e cádmio associados.

b) Associação de Litofácies B: constituída essencialmente por uma seqüência

de calcarenitos/calcissiltitos/calcilutitos laminados, em associação com laminitos

algais. Gomes (1998) considera além de um controle estrutural, a presença de um

controle faciológico para a mineralização.

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Figura 20: Coluna estratigráfica esquemática da Região de Nova Redenção (Ba), com base

em observações de campo e em descrições petrográficas de amostras de testemunhos de

sondagem (Gomes, 2005).

Segundo Gomes (1998), a litofacies A é composta pelas fácies Dolarenitos

Laminados e Dolarenito Maciço, estando posicionados no topo da seqüência

carbonática. Enquanto que a associação de litofácies B é representada apenas

pelos Calcários Laminados (Fig. 21).

A distribuição destas litofácies B e A assemelha-se às representadas pelas

unidades B e B1, respectivamente, da Formação Salitre, na Bacia Irecê (Misi & Silva,

1996) mostrada anteriormente neste trabalho. Diferem, entretanto, pelo elevado grau

de silicificação observado na associação A (Bacia Una-Utinga) em relação à unidade

B1 na Bacia Irecê (Gomes, 1998), que também abriga mineralizações de Pb-Zn

(Ag), na mesma posição estratigráfica (Fig. 22).

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Figura 21: Mapa 3D da geologia local do Depósito de Nova Redenção, ressaltando a área

de estudo no domínio da Formação Salitre (modificado de Moraes, Filho & Leal, 2001).

Figura 22: Coluna estratigráfica esquemática mostrando a correlação entre sequencias

carbonáticas da “Bacia” Irecê e de nova Redenção, Bacia Una-Utinga (modificado de

Gomes, 1998).

Morro do Chumbo Nova Redenção

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4.2 CARACTERÍSTICAS DESCRITIVAS DAS ROCHAS ENCAIXANTES DO MINÉRIO DE PB-ZN DE NOVA REDENÇÃO

Como citado anteriormente, estudos realizados por Gomes (1998) permitiram

uma subdivisão de litofácies, mostrando suas diferentes características:

-Facies Calcários Laminados: são caracterizados por intercalações de

calcilutitos, calcissiltitos e calcarenitos distribuídos em todo o intervalo, além de

níveis mais argilosos com coloração mais escura;

-Facies Dolarenito Laminado: constituída por dolarenitos finos a médios,

laminados, com intercalações de níveis silicificados, peloidais intraclásticos e de

dolomicrito peloidal e intraclástico. Alguns níveis exibem intercalações com laminitos

algais. Os dolarenitos laminados encontram-se em contato gradacional com a Facies

Calcário Laminado, subjacente. Sub-litofácies desta fácies foram observadas por

Gomes (1998) através de estudos petrográficos:

Dolarenito com Laminitos Algais e Dolomicrito- são formados por finas laminações

plano-paralelas, apresentando alternadamente colorações claras e escuras

caracterizando os laminitos algais, além de estilólitos subparalelos à estratificação,

sugerindo que os sedimentos sofreram diagênese de soterramento. São comuns

cavidades de dissolução acompanhando o acamadamento.

Dolarenito Peloidais Intracláticos- distribuem-se em diversas posições no intervalo

estratigráfico de ocorrência dessa fácies. São formados por estruturas peloidais e

por intraclastos, originalmente calcíticos, cimentados por calcita espática

dolomitizada, silicificada. A alternância dos leitos claros e escuros e a regularidade

de sua distribuição, sugerem que a Fácies Dolarenito Laminado pode representar,

predominantemente, laminitos algais que se desenvolveram originalmente em

regiões rasas de planícies de marés, possivelmente equivalente a zonas de

intermaré rasa.

-Fácies Dolarenito Maciço: esta é representada por dolarenitos,

predominantemente cinza-claros, de aspectos maciço e geralmente muito

silicificados. Comumente, o contato com a Fácies Dolarenito Laminado, subjacente,

é marcado pela presença de níveis de silexito cinza, frequentemente preservando as

formas das estruturas ooidais e com alta porosidade, quando intemperizados. A esta

fácies associam-se estruturas estromatolíticas colunares, quartzo microcristalino do

tipo lenght-slow (lutecita) além de quartzo pseudomorfo de gipsita, e barita. Esta

fácies pode ser subdividida em:

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Dolarenito Oolítico - Os níveis oolíticos distribuem-se em diversas posições na

coluna estratigráfica e apresentam-se interligados em litofácies de dolomitos não

oolíticos, onde podem ocorrer as estruturas estromatolíticas colunares já referidas,

além de quartzo detrítico.

Dolomito com Feições Indicadoras de Evaporação- Caracterizado essencialmente

pela presença abundante de feições diagnósticas de ambiente evaporítico, tais

como: quartzo microcristalino fibroso do tipo lutecita, quartzo pseudomorfo de gipsita

geminada e estruturas nodulares de sílica. Conforme demonstrado por Folk &

Pittman (1971), o quartzo microcristalino do tipo lutecita se forma sempre por

substituição de sulfato, podendo ser por isso utilizado para diagnosticar a presença

de ambientes evaporíticos antigos.

As feições observadas nesta fácies indicam, portanto, uma fase regressiva de

sedimentação, com períodos de possíveis exposições aéreas em clima árido.

Apesar de não terem sido encontradas estruturas sedimentares do tipo gretas de

ressecamento ou teepees, a presença de quartzo microcristalino fibroso lenght-slow

(lutecita), é diagnótica para este ambiente (Folk & Pittman, 1971).

-Fácies Brecha Sílico-Ferruginosa: A ocorrência de diversos níveis de brechas

pode ser observado ao longo de quase toda a seção estratigráfica na área

mineralizada de Nova Redenção. Elas são formadas por fragmentos angulosos de

silexito, calcário silicificado, dolarenito silicificado, brecha e quartzo, cujos diâmetros

maiores variam de 0,1 a 15cm, cimentados por uma matriz silico - ferruginosa,

essencialmente limonítica, mas frequentemente cimentadas também por galena,

quase sempre oxidada para cerussita. Em profundidade, as zonas mineralizadas

correspondem a bolsões de galena maciça com pirita, esfalerita e alguma pirrotita

associadas.

As litologias, texturas e estruturas sedimentares identificadas sugerem a

deposição dessas litofácies em um ambiente de planície de maré, sendo a

Associação de Litofácies A depositada predominantemente em ambiente de águas

rasas e de energia moderada a agitada, com emersões periódicas, nas zonas de

intermaré a supramaré. A Associação de Litofácies B desenvolveu-se tipicamente

em uma zona de submaré, com oscilações para águas mais rasas e de maior

energia, acima do nível base das ondas, e emersões criando zonas de intermaré alta

a supramaré (Moraes, Filho & Leal, 2001).

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4.3 FEIÇÕES GEOLÓGICAS DO MORRO DO CHUMBO

Neste item são apresentados os dados referentes à unidade geológica

observada, com as descrições macro da rocha encaixante e de suas mineralizações,

de acordo com a litofácie estudada presente na área. Em seguida, é discutida a

distribuição espacial das feições da mineralização e como ela é caracterizada.

Durante os trabalhos de campo foram coletadas 15 amostras representativas

dos litotipos observados, visando à confecção de lâminas de seção polida. Deste

grupo apenas 5 foram enviadas para a laminação, sendo três delas analisadas na

MEV.

4.3.1 Características macroscópicas

Na área de Nova Redenção é observada a escassez de afloramentos e a

presença de uma extensa cobertura de solo residual, sendo detectada a exposição

da mineralização em morrotes, tal como o Morro do Chumbo (Fig. 21).

As litofácies hospedeiras da mineralização encontrada no Morro do Chumbo

em Nova Redenção são constituídas por dolarenitos e dolomitos evaporíticos

representados pela associação de litofácies A (Fig. 23). O dolarenito aparece

aparentemente maciço, cinza-claro a roseo claro, silicificado, localmente

ferruginizado e/ou intensamente fraturado, microfissurado, aparentemente com

estilólitos e níveis ooidais subordinados. Ocorre a presença de metálicos pretos

oxidados (pirita) preenchendo fraturas, microfissuras e estilólitos, ou como

pontuações disseminadas. Em certos locais a silicificação é tão intensa que forma

níveis milimétricos paralelos de silexito.

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Figura 23: Dolarenito visto no Morro do Chumbo com uma coloração cinza clara,

representando a rocha hospedeira do topo da sequencia, aparecendo por vezes silicificado.

As mineralizações ocorrem em zonas filonares, com alto ângulo em relação à

estratificação das encaixantes e com tamanhos que podem variar desde centímetros

a poucos metros de comprimento, sendo possível ser observado microfraturas

preenchidas pela mineralização no dolarenito, o que indica que esses

preenchimentos podem ser subsidiários de um filão mineralizado maior (Fig. 24).

Figura 24: Dolarenito como rocha hospedeira da galena. Presença de microfraturas

preenchidas por galena. As fraturas serviram como dutos para a passagem do fluido

hidrotermal mineralizado.

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A galena constitui a maior parte da mineralização sulfetada apresentando-se

por vezes como agregados de cristais grossos, maciços, formando brechas

oxidadas, bolsões, veios e cimentando corpos concordantes e subconcordantes com

os carbonatos (Fig. 25).

Figura 25: Cristais grossos de galena agregados na rocha hospedeira, apresentando uma

pequena oxidação da mineralização.

Há ocorrências de Dolarenito Maciço apresentando-se com uma matriz

carbonática parcialmente silicificada, com galena cimentando a matriz oolítica do

dolarenito e ainda com a galena disseminada na rocha. Essa galena encontra-se

preservada provavelmente porque a anglesita serviu como uma capa protetora,

impedindo a passagem de fluidos que causariam a alteração (oxidação) da galena

(Fig. 26).

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Figura 26: Detalhe da galena (Ga) disseminada cimentando a matriz do dolarenito (Dol).

Amostra LC-09, coletada no Morro do Chumbo em Nova Redenção. Aumento de 60X.

As rochas predominantemente constituídas por brechas/cangas sílico-

ferruginosas cerussíticas, localmente apresentam remanescentes de galena

(bolsões) e, subordinadamente, contendo esfalerita e pirita. Esses bolsões maciços

de galena, quando encaixados no dolarenito, normalmente exibem bordas oxidadas,

que caracterizam a alteração da galena para cerussita (Fig. 27). A cerussita por sua

vez, é identificada na forma de cristais euédricos milimétricos a centimétricos, com

faces nítidas exibindo, por vezes, geminações. Esses cristais apresentam-se

associados com oxi-hidróxidos de ferro oriundos da alteração, provavelmente, da

pirita, muitas vezes acompanhados por cavidades não preenchidas que sugerem

que havia uma boa porosidade e permeabilidade (espaços) para a percolação de

fluidos, que favoreceu a precipitação dessa mineralogia secundária (Fig. 28).

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Figura 27: Detalhe de bolsão de galena maciça (Ga), com bordas transformadas para

cerussita (Cer). É possível se observar a clivagem da galena ainda preservada. Amostra AB-

T-03, coletada no furo de sondagem NR-25 realizado pela CPRM no Morro do Chumbo em

Nova Redenção. Profundidade 0,6-0,8m. Aumento de 60X.

Figura 28: Agregados de cerussita (Cer) dominantemente euédricos, resultantes da

oxidação da galena acompanhados por finas capas de oxi-hidróxidos de ferro (OHF).

Amostra AB-T-04, coletada no furo de sondagem NR-25 realizado pela CPRM no Morro do

Chumbo em Nova Redenção. Profundidade 12,65-12,75m. Aumento de 60X.

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As brechas/cangas cerussíticas e a galena podem ser consideradas

argentíferas, sendo os corpos de brechas ligeiramente lenticulares posicionadas ora

subparalela à estratificação, ora subvertical. É possível observar a presença de

fragmentos de brechas dentro dos próprios níveis brechados, mostrando feições que

sugerem a existência de reativações tectônicas, as quais estariam relacionadas a

origem das brechas. Essas se mostram, por vezes, com cavidades de dissolução

preenchidas por quartzo, produtos de alteração compostos por oxi-hidróxidos de

ferro+sílica amorfa de coloração castanho-avermelhada e amarelada, contendo

ainda alguns fragmentos de dolarenito de coloração cinza, sendo este por vezes

ooidal. (Fig. 29).

Figura 29: Brechas/cangas sílico-ferruginosas cerussíticas com remanescentes de galena.

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A distribuição geográfica das brechas sílico-ferruginosa especialmente

cerussitica em morrotes, segue o trend estrutural NW-SE, dentro de uma provável

zona de cisalhamento frágil, com fraturas preenchidas pela galena, sendo esse um

dos principais guias da prospecção da mineralização. Outro trend subordinadamente

mineralizado é o sistema NE-SW, apresentando-se assim ortogonal ao trend

principal. Ressalta-se aqui a possibilidade das estruturas NW-SE resultarem da

mesma tectônica brasiliana que afeta a região de Ibitiara–Rio de Contas, decorrente

da ação da faixa de dobramentos Araçuaí (Gomes, 1998). Essas estruturas estariam

aparentemente relacionadas a estruturas antigas do embasamento, reativadas

durante e após a sedimentação da bacia (Fig. 30).

Figura 30: Rochas apresentando diferentes padrões de fraturamentos.

No Morro do Chumbo há também a ocorrência de gossan localizado na

porção mais elevada do morro (Fig. 31). O gossan é composto por oxi-hidróxidos de

ferro, sílica amorfa, cerussita e restos de galena. Neste é destacada a presença de

boxwork característico da oxidação de pirita e galena (Fig. 31).

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Figura 31: Gossans consistindo principalmente em óxidos de ferro e óxidos de ferro

hidratados, apresentando remanescentes de galena já alterando para cerussita.

O minério no Morro do Chumbo ocorre na forma de bolsões, preenchendo

fraturas milimétricas a centimétricas, encaixado em zonas de falhas e de

cisalhamento rúptil formando brechas/cangas cerussíticas, bem como substituindo a

matriz do dolarenito encaixante.

Na caracterização macroscópica do minério foi identificado: galena e pirita

(Fig. 32) como mineralização primária, além de cerussita (predominante) e goethita

que constituem mineralogia secundária da mineralização. Os minerais de ganga,

mais frequentemente associados com o minério são: dolomita, quartzo, barita e

hematita (Gomes, 1998).

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Figura 32: Detalhe de cristais de pirita conservados em um bolsão maciço de galena,

mostrando seus aspectos originais de coloração amarelada. Amostra LC-10, coletada no

Morro do Chumbo em Nova Redenção. Aumento de 60X.

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5 CARACTERIZAÇÃO MINERALÓGICA/QUÍMICA DOS MINERAIS DE MINÉRIO

Durante os trabalhos de campo foram coletadas 15 amostras representativas

da mineralização de Pb/Zn no Morro do Chumbo. Esta coleta de amostras visou

contemplar as mais diversas variações do minério observadas no local. Destas, uma

foi cominuída e analisada por difratometria de raios-X, enquanto que cinco foram

encaminhadas para a confecção de lâmina delgada polida, sendo três delas

analisadas na Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV).

5.1 ANALISE DO MINÉRIO POR DIFRATOMETRIA DE RAIOS-X

Uma amostra do minério foi selecionada para a análise por difratometria de

raios–x com o intuito dequantificar as fases minerais. Foram identificadas as

seguintes fases minerais: cerussita>>quartzo>goethita>galena (Fig. 33).

Figura 33: Difratograma de amostra de minério do Morro do Chumbo (depósito de Pb-Zn de

Nova Redenção) mostrando uma maior abundância em cerussita.

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5.2 CARACTERIZAÇÃO DOS MINERAIS DE MINÉRIO POR MICROSCOPIA ELETRÔNICA DE VARREDURA

A caracterização mineralógica/química dos minerais de minério foi efetuada

com auxilio da Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV). A MEV traz muitas

vantagens, destacando-se a possibilidade de aumento em até 500 mil vezes,

análises químicas pontuais (EDS), além de imagens através de elétrons

retroespelhados (resposta da química dos materiais observados) e secundários

(topografia dos materiais observados).

Nesta caracterização do minério do Morro do Chumbo na MEV foram

utilizados: imageamento por elétrons retroespalhados (BSE) e análises químicas

com detector EDS.

O BSE auxilia na identificação da mineralogia pela diferença química dos

minerais marcada pelo peso atômico médio, essa diferença é observada na imagem

em tons de cinza, que são mais claros nos minerais compostos por elementos com

maior peso atômico, ou seja, uma galena terá um tom de cinza bem claro

contrastando com um carbonato, que terá um tom bem escuro.

Após a caracterização dos minerais por BSE, imagens foram selecionadas

para análises químicas pelo EDS. Neste foram utilizadas três técnicas distintas:

análise química pontual, imageamento químico e perfil químico.

- Análise química pontual – nesta análise são selecionados pontos a serem

analisados com até 2 μm de diâmetro.

- Imageamento químico – neste é atribuída uma cor para o elemento químico

a ser mapeado, e o sensor do MEV analisa cada pixel da imagem para o

determinado elemento, e colore na presença do mesmo.

- Perfil químico - é selecionado um perfil no material analisado, que é

analisado ponto a ponto para os elementos químicos selecionados. Ótima

ferramenta para caracterizar zonações químicas nos minerais e variação

composicional da mineralogia.

A investigação dos minerais de minério com o auxilio da MEV possibilitou a

identificação de minerais que não haviam sido observadas na microscopia

convencional por possuírem dimensões muito reduzidas, contribuindo dessa forma

para uma precisa avaliação do conteúdo mineralógico que constitui a mineralização.

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A caracterização mineralógico/química dos minerais de minério do Morro do

Chumbo com auxilio da MEV possibilitou identificar os seguintes minerais de minério

primários e secundários:

- Mineralogia Primária: Galena (PbS), Esfalerita (ZnS), Pirita (FeS2) e

Tennantita de zinco (Cu10Zn2As4S13);

- Mineralogia Secundária: Cerussita(PbCO3), Oxi-hidroxido de ferro (Fe2O3,

FeOOH), Anglesita (PbSO4) e Covelita (CuS).

Na tabela 1 estão apresentados a mineralogia primária e secundária, sua

frequência observada e sucessão genética.

Tabela 1 – Sequência genética dos minerais de minério do Morro do Chumbo (depósito de

Pb-Zn de nova Redenção) caracterizados na MEV.

Fase Mineral Fórmula Frequência Paragênese Primária Paragênese Secundária

Oxidação Pós-

Oxidação

Galena PbS Maior

Esfalerita ZnS Menor

Pirita FeS2 Menor

Tennantita de Zn Cu10Zn2As4S13 Traços

Anglesita PbSO4 Traços

Cerussita PbCO3 Abundante

OHF FeO(OH),

Fe2O3 Abundante

Covelita CuS Traços

A caracterização dessas fases minerais, sua química e interpretações estão

descritos a seguir.

5.2.1 Mineralogia Primária

A identificação e caracterização da mineralogia primária do Morro do Chumbo

são dificultadas pelos processos de supergênese aos quais o depósito foi exposto

no decorrer da sua história. Estes processos transformaram boa parte da

mineralogia primária para fases equilibradas nas condições oxidantes, restando

poucas porções preservadas nas quais é possível identificar a paragênese

mineralógica original.

A mineralogia primária identificada nas lâminas das amostras do Morro do

Chumbo é constituída por galena>> pirita > esfalerita >>sulfoarsenieto de cobre e

zinco. Esta relação das fases identificadas não reflete a relação de grandeza do

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momento da deposição do minério, pois os minerais reagem em graus diferentes às

condições da oxidação, podendo ser completamente lixiviados para fora do sistema

ou depositados em porções mais distais.

Galena

A galena é o mineral de minério primário mais abundante nas lâminas do

Morro do Chumbo. Ao MEV, observando-se em BSE, a galena apresenta-se com o

tom de cinza mais claro, quando comparado com o restante da mineralogia da

lâmina, devido ao seu maior peso atômico médio. É comum visualizar sua clivagem

perfeita e suas típicas feições triangulares de arranque (Fig. 34). Em uma porção

parcialmente preservada do minério foi possível observar feições de equilíbrio da

galena com esfalerita e pirita, sendo que estas ocorrem como inclusões. A análise

química efetuada na MEV com EDS forneceu conteúdos de chumbo e enxofre

compatíveis com esta fase mineral (Tab. 2). Este método não é adequado para

dosar com exatidão o teor de prata, servindo apenas para indicar a presença da

prata em associação com a galena.

Os processos de oxidação são bem marcados na galena, a qual mostra

transformações, principalmente, nas bordas dos grãos para cerussita e anglesita,

que caracterizam o processo de blindagem, que, provavelmente, possibilitou que

parte da galena resistisse ao intemperismo.

Tabela 2- Resultado da análise química pontual com EDS em galena do Morro do Chumbo.

Elemento Série % em peso

medido % em peso

normalizado % atômica Erro (3 σ)

Enxofre K 16,65 9,04 36,81 1,85

Oxigênio K 1,21 0,66 5,36 0,86

Zinco K 1,01 0,55 1,09 0,24

Ferro K 0,16 0,08 0,20 0,11

Chumbo M 165,21 89,67 56,53 17,52

Carbono K 0,00 0,00 0,00 0,00

Total 184,24 100,00 100,00

Esfalerita

A esfalerita é observada somente nas porções mais preservadas do minério,

pois é muito susceptível aos processos de oxidação, sendo facilmente lixiviada. Esta

fase mineral foi observada na forma de inclusões em galena, acompanhada por

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pirita. Seus grãos ocorrem com dimensões de 5 μm a 50 μm, com formas anédricas

acompanhadas por golfos de corrosão, que devem estar refletindo a sua baixa

solubilidade em meio ácido (Fig. 35). A análise química efetuada na MEV com EDS

forneceu conteúdos de zinco compatíveis com esta fase mineral (Tab. 3).

Tabela 3- Resultado da análise química pontual com EDS em esfalerita do Morro do

Chumbo.

Elemento Série % em peso

medido % em peso

normalizado % atômica Erro (3 σ)

Enxofre K 38,44 37,32 54,79 4,15

Oxigênio K 0,00 0,00 0,00 0,00

Zinco K 63,94 44,69 44,69 6,45

Ferro K 0,64 0,52 0,52 0,16

Carbono K 0,00 0,00 0,00 0,00

Total 103,01 100,00 100,00

Pirita

A pirita observada ocorre como inclusão na galena acompanhada por

esfalerita (Fig. 35) e, localizadamente, associada com sulfoarsenieto de cobre e

zinco (Fig. 36). Os grãos ocorrem com dimensões de 30 μm a 50 μm, são anédricos

a subédricos, com anedria resultado, provavelmente, da oxidação por fluidos ricos

em oxigênio ou em Fe3+. A análise química pontual com EDS efetuada forneceu

conteúdos de Fe e S compatíveis com pirita, sugerindo alguma participação de

arsênio na estrutura (Tab. 4).

A presença constante de OHF no minério oxidado, sugere que a pirita deve

ter sido abundante na mineralogia primária do Depósito de Pb-Zn de Nova

Redenção.

Tabela 4- Resultado da análise química pontual com EDS em pirita do Morro do Chumbo.

Elemento Série % em peso

medido % em peso

normalizado % atômica Erro (3 σ)

Enxofre K 72,31 60,13 72,54 7,72

Ferro K 46,87 38,97 27,00 4,21

Arsênio L 1,08 0,90 0,46 0,26

Carbono K 0,00 0,00 0,00 0,00

Total 120,27 100,00 100,00

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Sulfoarsenieto de cobre e zinco com prata (Tennantita)

Os sulfossais ocorrem em vários tipos de depósitos hidrotermais, onde os

sulfobismutinetos, os sulfoantimonietos e os sulfoarsenietos cristalizam-se,

respectivamente, em temperatura alta, intermediária e baixa (Foord et al., 1988,

apud Rocha et al., 2002). Na caracterização do minério do Morro do Chumbo na

MEV foi identificado um sulfoarsenieto de cobre e zinco contendo prata. A presença

de sulfossais do grupo da tetraedrita-tennantita em depósitos do tipo MVT é rara,

pois normalmente a temperatura dos fluidos é muito baixa para transportar cobre

(Ixer & Pattrick, 2003). Gołębiowska et al. (2012) estudando a química mineral dos

minerais do grupo da tetraedrita-tennantita e suas temperaturas de formação,

sugerem que as tennantitas contendo zinco predominam em temperaturas inferiores

a 200°C, o que é concordante com as temperaturas de 145° a 197°C obtidas por

Misi et al. (1999) pelo método de geotermometria isotópica de enxofre nos pares de

esfalerita-galena na mineralização de Pb-Zn de Nova Redenção.

Existem cerca de 200 espécies de sulfossais (Mozgova, 2000; apud Rocha et

al., 2002) que ocorrem nos depósito minerais, o que dificulta na determinação exata

da fase mineral. A estrutura dos minerais do grupo da tetraedrita-tennantita possuem

sítios que podem ser ocupados por cátions uni- di- e trivalentes, como demostrado

na fórmula geral: M+10M2

+2M43+S13

2-. Com base nas análises efetuadas nos grãos de

sulfossal ocorrente no morro do chumbo (Tab. 5), este pode ser classificado como

tennantita contendo zinco, possuindo como fórmula aproximada: Cu10Zn2As4S13. A

prata que ocorre em baixos teores (~1%) deve estar substituindo o sítio univalente

M+ ocupado pelo cobre (Tab.5).

Os grãos de tennantita contendo zinco ocorrem acompanhados por pirita e

são envolvidos por anglesita, o que sugere que eram originalmente inclusões em

galena, e que o processo de blindagem da galena, representado pela anglesita,

ajudou a preservar a tennantita e a pirita. A tennantita ocorre como grãos com

dimensões de 8 μm a 30 μm, anédricos e com bordas irregulares, que sugerem

dissolução de parte dos grãos por fluidos ácidos, como constatado pela presença da

anglesita (Fig. 36). Os processos de oxidação transformam parte da tennantita em

covelita, conforme figura 36. Um perfil químico foi efetuado cortando os grãos de

tennantita, além da galena/anglesita hospedeira para verificar a variação

composicional nesta região. Neste é observado um crescimento dos conteúdos de

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cobre e arsênio acompanhado por um decréscimo do enxofre nos grãos de

tennantita quando comparados com a galena e anglesita (Fig. 37).

Tabela 5- Resultado da análise química pontual com EDS em tennantita do Morro do

Chumbo.

Elemento Série % em peso

medido % em peso

normalizado % atômica Erro (3 σ)

Carbono K 0,00 0,00 0,00 0,00

Enxofre K 49,30 42,82 61,02 5,37

Oxigênio K 0,00 0,00 0,00 0,00

Cobre K 38,92 33,81 24,31 3,22

Zinco K 7,21 6,26 4,37 0,69

Arsênio K 17,67 15,35 9,36 1,66

Prata L 1,47 1,27 0,54 0,23

Ferro K 0,56 0,48 0,40 0,13

Bismuto L 0,00 0,00 0,00 0,00

Total 115,13 100,00 100,00

Figura 34: Imagens de elétrons retroespalhados (BSE) obtidas na MEV de galena (Ga) com

transformação para cerussita (Cer) nas bordas do grão (blindagem) e ao longo de fraturas.

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Figura 35: Imagens de elétrons retroespalhados obtidas em MEV de porção parcialmente

preservada da mineralogia primária. Na figura 2a é possível observar grãos de pirita (pi) e

esfalerita (Esf) inclusos em anglesita (Ang)/galena (Ga). A preservação desta mineralogia

original deve-se possivelmente pelo processo de blindagem da galena pela anglesita, que

ajudou a preservar as demais fases minerais. A figura 2b é uma ampliação da 2a onde

mostra a relação de equilíbrio da esfalerita com a galena.

Figura 36: Imagens de elétrons retroespalhados obtidas em MEV da ocorrência de

tennantita (Ss) associada com pirita envolvidas por galena (Ga) transformada para anglesita

(Ang). A preservação parcial desta mineralogia primária deve-se, provavelmente, ao

processo de blindagem da galena pela anglesita. Nesta imagem é possível observar

também o produto da transformação da tennantita, representado pela covelita (Cv), além da

transformação da anglesita para cerussita (Cer).

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Figura 37: Perfil químico com BSE efetuado na porção de ocorrência dos grãos de

tennantita, que são envolvidos por anglesita da transformação da galena. Este perfil

corresponde ao perfil “A” marcado na figura 35.

5.2.2 Mineralogia Secundária

A mineralogia secundária no Morro do Chumbo é predominante em relação à

mineralogia primária, e está refletindo os processos de supergênese aos quais o

depósito foi exposto no decorrer da sua história. Estes processos de oxidação em

depósitos tipo MVT são muito importantes para a formação dos chamados

“Depósitos não sulfetados de zinco”, e foram amplamente discutidos na edição

especial da revista Economic Geology de 2003 no volume 98(4). Os processos de

oxidação são complexos, pois envolvem diferentes concentrações de elementos na

solução aquosa, além de variações no pH e PCO2, que são os principais

controladores da solubilidade e precipitação de minerais secundários em depósitos

de zinco e chumbo. Com base nos produtos secundários encontrados, texturas e

relação com a mineralogia vizinha são interpretadas as condições as quais os

minerais secundários foram formados.

Na caracterização mineralógico/química das lâminas do Morro do Chumbo foi

identificada a seguinte mineralogia secundária: cerussita > OHF >> anglesita >>

covelita.

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Cerussita

A cerussita é o mineral secundário mais abundante no Morro do Chumbo, e

apresenta diversas variações texturais e de ocorrência, que sugerem diferentes

condições físico/químicas para a precipitação deste mineral.

Nos grãos de cerussita observados na MEV foram identificadas as seguintes

formas texturais: maciça bandada, maciça homogênea, porosa envolvendo covelita,

maciça associada com OHF, e massas aciculares.

A cerussita com textura maciça bandada (Fig.38) ocorre principalmente ao

longo da borda dos grãos de galena, e representa a transformação da anglesita para

cerussita com o aumento do pH devido aos processos de neutralização dos fluidos

ácidos pelos carbonatos da rocha encaixante.

A cerussita com textura porosa associada com covelita possui uma gênese

difícil de ser determinada, pode ter sido gerada tanto pela transformação direta da

anglesita provocada pelo aumento do pH, como pela precipitação deste mineral

como produto da reação dos íons Pb2+ com CO2 em condições de pH intermediário a

básico (Fig. 38 e 39). A associação com covelita sugere que a PCO2 não foi muito

elevada, pois o aumento da PCO2 favoreceria a formação de malaquita (Cu2CO3(OH))

invés de covelita (CuS).

A textura maciça da cerussita associada com OHF (Fig. 38 e 41) sugere um

momento de pH intermediário a básico, no qual o fluido estava rico em íons Pb2+ e

disponibilidade de CO2 suficientes para precipitar a cerussita juntamente com OHF.

As massas aciculares de cerussita ocorrem como produto da substituição da

anglesita ao longo da clivagem da galena (Fig. 40), na qual a cerussita, pela sua

característica de formar cristais prismáticos alongados, tende a se orientar ao logo

da clivagem. A formação desse tipo de cerussita sugere condições semelhantes ao

da cerussita com textura maciça bandada, formando-se da substituição da anglesita

com aumento do pH, devido aos processos de neutralização.

A textura maciça homogênea em cerussita é observada em locais com grande

disponibilidade de chumbo em pouco espaço disponível (Fig. 41), que é o caso das

galenas que ocuparam pequenos espaços no dolarenito preenchendo pequenas

cavidades e fraturas e sofreram os processos de oxidação sendo transformados

inicialmente para anglesita, enquanto os fluidos estavam com baixo pH, e em

seguida transformados para cerussita quando os fluidos aumentaram o pH com os

processos de neutralização.

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A análise química pontual com EDS efetuada em cerussita forneceu

conteúdos de O e Pb compatíveis com cerussita (Tab. 6).

Tabela 6- Resultado da análise química pontual com EDS em cerussita do Morro do

Chumbo.

Elemento Série % em peso

medido % em peso

normalizado % atômica Erro (3 σ)

Oxigênio K 29,63 19,85 76,23 10,58

Chumbo M 119,66 80,15 23,77 12,71

Enxofre K 0,00 0,00 0,00 0,00

Carbono K 0,00 0,00 0,00 0,00

Total 149,29 100,00 100,00

Anglesita

A galena quando submetida aos processos de oxidação, em condições de

baixos pH e PCO2 estabiliza anglesita. Este mineral secundário é pouco encontrado

nas amostras do Morro do Chumbo, o que sugere que os processos de

neutralização dos fluidos ácidos pela reação com os carbonatos da rocha encaixante

foram intensos. Nas amostras observadas na MEV, foi encontrado anglesita nas

regiões que, supostamente, tiveram menor acesso aos fluidos oxidantes, ocorrendo

principalmente nas bordas da galena (Fig. 42) e em golfos de alteração (Fig. 36).

Nesses locais ainda é possível observar que a anglesita ajudou a preservar restos

da mineralogia primária (Fig. 35 e 36) pelo seu efeito de blindagem.

As análises químicas pontuais efetuadas nos grão de anglesita tiveram

fechamentos com erros muito altos, possivelmente por problemas no equipamento

no momento das leituras. Por este motivo não serão apresentadas neste trabalho.

Oxi-hidróxidos de ferro

Oxi-hidróxidos de ferro (OHF) são comuns no Morro do Chumbo, e são

representados por limonita e hematita (Moraes Filho et al.,2001). A sua geração em

depósitos de Pb-Zn é atribuída a transformação de sulfetos de ferro, principalmente

pirita, pelos processos de oxidação (Reichert, 2007). A grande quantidade de oxi-

hidróxidos de ferro ocorrente na área sugere que essa transformação foi parte

fundamental nos processos de oxidação, pois deve ter gerado grande quantidade de

ácido sulfúrico, o qual catalisou as transformações minerais do depósito.

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Os oxi-hidróxidos de Fe observados na MEV apresentam duas texturas

principais: maciça e botrioidal. Aqueles com textura maciça ocorrem acompanhado

por cerussita maciça e devem ter sido precipitados com o aumento do pH devido aos

processos de neutralização dos fluidos ácidos pelos carbonatos da rocha

encaixante. Uma característica deles é a homogeneidade composicional (Fig. 43).

O oxi-hidróxidos de Fe botrioidais ocorrem com glóbulos que variam de 0,1 a

0,5mm e apresentam grande variação composicional, marcada por finas capas

externas, que na MEV apresentam uma tonalidade de cinza mais escuro que o

núcleo (Fig. 44), sugerindo uma diminuição do peso atômico médio. Cerussita ocupa

parte dos interstícios dos glóbulos, muitas vezes em contato com as capas externas,

o que sugere que depois da precipitação dos oxi-hidróxidos de Fe, ocorrida

possivelmente no momento da neutralização, novos fluidos aquosos com pH

intermediário a básico contendo íons Pb2+ e CO2 percolaram entre os glóbulos,

precipitando cerussita e modificando a química da capa externa dos glóbulos

adicionando oxigênio na estrutura, conforme sugere o perfil químico da figura 44.

Nas análises pontuais efetuadas foi possível observar teores em torno de 1% de

chumbo e zinco, que devem estar refletindo a adsorção dos íons Pb2+ e Zn2+ durante

as condições de pH baixo na oxidação (Tab. 7).

Tabela 7- Resultado da análise química pontual com EDS em oxi-hidróxidos de Fe do Morro

do Chumbo.

Elemento Série % em peso

medido % em peso

normalizado % atômica Erro (3 σ)

Oxigênio K 51,13 43,53 73,20 16,43

Silício K 0,58 0,49 0,47 0,15

Ferro K 62,38 53,10 25,58 5,55

Chumbo M 1,78 1,51 0,20 0,27

Zinco K 1,30 1,11 0,45 0,25

Arsênio L 0,31 0,27 0,10 0,13

Total 117,47 100,00 100,00

Covelita

A covelita não é um mineral secundário muito frequente nos depósitos de Pb-

Zn do tipo MVT, pois possui cobre em sua estrutura. A covelita foi observada nas

amostras do Morro do Chumbo em duas situações distintas: na forma de finos

cristais (<5 μm) aciculares englobados por cerussita (Figs. 38 e 39) e na forma de

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grão anédrico com dimensão de 50 μm, englobado por anglesita em golfo de

corrosão de galena (Figs.36 e 46). Este mineral secundário deve ser o resultado da

transformação da tennantita pelos processos oxidantes. Essa transformação lixiviou

o arsênio e o zinco estabilizando covelita com prata, conforme pode ser conferido na

análise química pontual da tabela 8.

Tabela 8- Resultado da análise química pontual com EDS em covelita do Morro do Chumbo.

Esta análise deve ser avaliada com cuidado, pois a análise teve interferência da mineralogia

encaixante (adição de Pb) devido a dimensão diminuta do cristal analisado (<4 μm).

Elemento Série % em peso

medido % em peso

normalizado % atômica Erro (3 σ)

Enxofre K 64,84 49,93 67,08 7,04

Cobre K 60,79 46,81 31,74 4,96

Prata L 2,92 2,25 0,47 0,44

Chumbo L 1,13 0,87 0,35 0,20

Oxigênio K 0,00 0,00 0,00 0,00

Carbono K 0,00 0,00 0,00 0,00

Total 129,86 100,00 100,00

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Figura 38: Imagem de elétrons retroespalhados e mapas de distribuição de elementos

obtidos no MEV de minério de chumbo exibindo galena (Ga) e três gerações de cerussita

distintas (Cer1, 2 e 3). a) A imagem de BSE ressalta as diferentes texturas; b) Mapa do

chumbo (Pb-MA) salienta os maiores conteúdos deste elemento na galena. c) Mapa do

enxofre (S-KA) ressaltando a galena; d) Mapa do oxigênio (O-KA) mostrando forte presença

do oxigênio na cerussita; e) Mapa do cobre (Cu-KA) ressaltando a presença de cobre

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associada com a cerussita 2 devido a presença de finos cristais aciculares de covelita; f)

Mapa do ferro (Fe-KA) ressalta a ocorrência de OHF associados com a cerussita 3.

Figura 39: Detalhe das diferentes texturas em cerussita vista na figura 38, ressaltando

cerussita 2 associada com covelita em imagem de elétrons retroespalhados (a) e no mapa

do cobre (b).

Figura 40: Imagens de elétrons retroespalhados de cerussita formando massas aciculares

(a), com crescimentos ocupando a clivagem da galena (visão geral 40a, detalhe 40b).

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Figura 41: Imagem de elétrons retroespalhados e mapas de distribuição de elementos

obtidos no MEV de minério de chumbo preenchendo cavidade de dolarenito do Morro do

chumbo. a) A imagem de BSE ressalta a galena (Ga) com bordas transformadas para

cerussita (Cer) envolvida pelo dolarenito (Dol); b) Mapa do chumbo (Pb-MA) salienta os

maiores conteúdos deste elemento na galena e na cerussita; c) Mapa do enxofre (S-KA)

ressalta a galena em relação à cerussita; d) Mapa do ferro (Fe-KA) ressalta a ocorrência de

OHF associada principalmente com cerussita; e) Mapa do silício (Si-KA) ressaltando a

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presença de quartzo microcristalino associado ao dolarenito e acompanhando a

mineralização de chumbo; f) Mapa do cálcio (Ca-KA) mostrando a presença desse elemento

na rocha encaixante.

Figura 42- Imagem de elétrons retroespalhados e mapas de distribuição de elementos

obtidos no MEV de galena (Ga) parcialmente transformada para anglesita (Ang) e cerussita

(Cer), associada com oxi-hidróxido de Fe botrioidal. a) A imagem de BSE destaca a galena

(Ga) reliquiar com anglesita (Ang) em golfo de corrosão e predominância da cerussita (Cer)

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associados com OHF botrioidal; b) Mapa da composição da imagem BSE com os mapas

dos elementos Pb, S, Fe, Zn, Cu, As e Si, neste é possível observar a ocorrência de uma

fina borda de anglesita envolvendo a galena além desta no golfo de corrosão, e a variação

composicional dos glóbulos do OHF; c) Mapa do chumbo (Pb-LA) salienta os maiores

conteúdos deste elemento nos minerais de chumbo; d) Mapa do enxofre (S-KA) ressalta a

galena e anglesita em relação à cerussita; e) Mapa do ferro (Fe-KA) ressalta a ocorrência de

OHF botrioidal; f) Mapa do silício (Si-KA) ressaltando a presença de quartzo microcristalino

associado ao OHF sugerindo possível precipitação concomitante.

Figura 43- Imagens de elétrons retroespalhados de cerussita maciça associada com OHF

maciço e homogeneo sugerindo a precipitação concomitante devido ao aumento do pH da

solução como resultado dos processos de neutralização dos fluidos ácidos pelos carbonatos

da rocha encaixante.

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Figura 44- Imagens de elétrons retroespalhados de OHF botrioidal, ressaltando a variação

composicional dos glóbulos e a presença de cerussita tardia ocupando os interstícios.

Figura 45: Perfil químico com BSE efetuado na porção de OHF botrioidal, ressaltando a

variação composicional dos glóbulos, marcada por uma fina capa externa caracterizada pela

diminuição dos teores de Fe acompanhado pelo aumento do oxigênio. Este perfil

corresponde ao perfil “A” marcado na figura 44.

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Figura 46: Perfil químico com BSE efetuado em golfo de corrosão de galena, mostrando a

transformação da galena para anglesita marcada pelo decréscimo dos conteúdos de

enxofre, além da presença de um grão de covelita que exibe um aumento dos conteúdos de

cobre acompanhado por um decréscimo dos conteúdos de oxigênio. Este perfil corresponde

ao perfil “B” marcado na figura 36.

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6 CONCLUSÕES E CONSIDERAÇÕES FINAIS

A compilação dos trabalhos existentes sobre o depósito de Pb-Zn de Nova

Redenção somado aos novos dados obtidos neste trabalho, envolvendo a geologia

da mineralização ocorrente no Morro do Chumbo e a caracterização

mineralógica/química desta com auxilio de difratometria de raios-X e microscopia

eletrônica de varredura, possibilitou o entendimento dos processos supergênicos

superimpostos na área. A mineralização de Pb-Zn ocorrente no Morro do Chumbo

foi estudada por Gomes (1998), Misi et al.(1999), Gomes (2005), Misi et al. (2005),

Coelho et al. (2005) e foi interpretada como um possível depósito do tipo Irlandês

hospedado em rochas carbonáticas, depositado entre 400Ma e 600Ma em

temperaturas variando de 140ºC a 220ºC e salinidades da ordem de 10% a 25% de

NaCl equivalente.

O detalhamento do Morro do Chumbo permitiu observar que as rochas

carbonáticas hospedeiras da mineralização no Morro do Chumbo são constituídas

por dolarenitos e dolomitos evaporíticos, que abrigam a mineralização em bolsões,

preenchendo fraturas, encaixada em zonas de falhas e de cisalhamento rúptil

(direção NW-SE) formando brechas/cangas cerussíticas, bem como substituindo a

matriz da encaixante.

Na quantificação dos minerais de minério por difratometria de raios X foi

possível observar a predominância de cerussita no minério, com

cerussita>>quartzo>goethita>galena.

A caracterização mineralógico/química dos minerais de minério com auxilio da

MEV possibilitou identificar os minerais primários representados por galena,

esfalerita, pirita e tennantita e, como mineralogia secundária, cerussita, oxi-hidroxido

de ferro, anglesita e covelita.

A galena é o mineral primário mais abundante no Morro do Chumbo, e deve

ter sido parcialmente preservada devido à formação de anglesita nas bordas dos

grãos (blindagem). A presença abundante de oxi-hidróxidos de ferro no minério

oxidado sugere que a pirita deve ter sido uma fase importante na mineralogia

primária, e que pode ter contribuído muito na geração de ácido sulfúrico no estágio

de oxidação. A esfalerita é observada somente nas porções mais preservadas do

minério, pois é muito susceptível aos processos de oxidação, sendo facilmente

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lixiviada no meio ácido. Foi encontrado um sulfoarsenieto de cobre e zinco

classificado como tennantita de zinco. Esta fase se forma somente em temperaturas

inferiores a 200°C (Gołębiowska et al., 2012), o que é concordante com as

temperaturas obtidas na mineralização de Pb-Zn de Nova Redenção por Gomes

(1988) e Misi et al. (1999) em inclusões fluidas de esfalerita (150 a 220°C, moda

185°C), e por geotermometria isotópica de enxofre nos pares de esfalerita-galena

(145 a 197°).

A mineralogia secundária no Morro do Chumbo é predominante em relação à

mineralogia primária, com cerussita > óxido-hidróxidos de Fe >> anglesita >>

covelita. A cerussita ocorre formando agregados com texturas maciça bandada,

maciça homogênea, porosa envolvendo covelita, maciça associada com OHF e

massas aciculares, que marcam diferentes condições da solução e que envolvem,

principalmente, variações na disponibilidade Pb2+, PCO2 e pH. A anglesita é rara,

encontrada nas porções mais preservadas do intemperismo, principalmente nas

bordas dos grãos e golfos de corrosão em galena. Os oxi-hidróxidos de Fe ocorrem

com texturas maciça e botrioidal que refletem as condições de precipitação,

apresentando conteúdos de Zn e Pb ~1% devido a adsorção desses elementos no

meio ácido. Foi encontrado covelita ora envolvida por anglesita, ora associada com

cerussita, que deve ter sido formada da transformação da tennantita no estágio de

oxidação com a lixiviação do Zn2+ e As3+ em meio ácido.

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