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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA CENTRO DE EDUCAÇÃO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO MESTRADO EM EDUCAÇÃO PAULO RICARDO CONCEIÇÃO ALELUIA DA PRÁTICA À PRÁXIS: uma análise do curso de extensão em Tecnologia em Gestão de Organizações e Movimentos Populares de Base do Instituto de Fé e Política de Cáritas da Diocese de Amargosa-BA JOÃO PESSOA 2018

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA

CENTRO DE EDUCAÇÃO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO

MESTRADO EM EDUCAÇÃO

PAULO RICARDO CONCEIÇÃO ALELUIA

DA PRÁTICA À PRÁXIS: uma análise do curso de extensão em Tecnologia em Gestão

de Organizações e Movimentos Populares de Base do Instituto de Fé e Política de

Cáritas da Diocese de Amargosa-BA

JOÃO PESSOA

2018

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PAULO RICARDO CONCEIÇÃO ALELUIA

DA PRÁTICA À PRÁXIS: uma análise do curso de extensão em Tecnologia em Gestão

de Organizações e Movimentos Populares de Base do Instituto de Fé e Política de

Cáritas da Diocese de Amargosa-BA

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-

Graduação em Educação da Universidade

Federal da Paraíba (PPGE/UFPB) como

requisito parcial para obtenção do título de

Mestre em Educação, vinculado à linha de

pesquisa Educação Popular, sob a orientação da

Prof.ª Dr.ª Aline Maria Batista Machado.

JOÃO PESSOA

2018

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PAULO RICARDO CONCEIÇÃO ALELUIA

DA PRÁTICA À PRÁXIS: uma análise do curso de extensão em Tecnologia em

Gestão de Organizações e Movimentos Populares de Bases do Instituto de Fé e Política

de Cáritas da Diocese de Amargosa-BA

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-

Graduação em Educação da Universidade

Federal da Paraíba (PPGE/UFPB) como

requisito parcial para obtenção do título de

Mestre em Educação.

Dissertação aprovada em 29 de março de 2018.

BANCA EXAMINADORA

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Ao meu querido irmão Georgeton (in memoriam),

que nesta caminhada deixou de cuidar de si para cuidar de mim.

Eternamente grato, irmão!

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AGRADECIMENTOS

Para além do fato concreto de ter ingressado numa pós-graduação, ser pobre, preto, filho de

uma merendeira e de um mecânico autônomo, sem dúvida alguma concluir esta etapa do curso

tem um significado muito importante para mim, como também para minha cidade, comunidade,

e para muitos pretos e pretas pobres que conseguem ingressar no ensino superior.

Neste momento quero deixar registrado o meu agradecimento ao melhor presidente da história

do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva. Pelos avanços sociais alcançados durante seu governo, por

todas as conquistas que a classe trabalhadora obteve, obrigado, presidente Lula, por nos ter

dado a Universidade Federal do Recôncavo da Bahia e permitir que negros e negras pobres

ingressem em cursos de pós-graduação nas diversas universidades brasileiras.

A caminhada percorrida até aqui não foi nada fácil, principalmente no primeiro ano do curso

onde eu estava longe da família e desprovido de recursos financeiros. A conclusão desta

dissertação de mestrado, de fato, não poderia ser efetivada sem o apoio significativo de várias

pessoas, em especial as duas pessoas substanciais em minha vida: meu pai Jurandir e minha

mãe Maria, amores de minha vida.

Agradeço aos meus colegas as boas amizades que estabeleci em João Pessoa, aos professores

da linha de pesquisa em Educação Popular, ao meu amigo Eduardo, uma pessoa que me ajudou

quando eu mais precisei nesta trajetória, e um agradecimento do meu coração ao meu amigo e

irmão, David Glasiel, grande pessoa e intelectual com quem convivi durante esses dois anos, a

quem admiro pela generosidade, companheirismo e humanidade.

Também um agradecimento especial ao meu “irmão branco” Lucas, por aturar minhas

madrugadas de estudos sob a lâmpada fluorescente em seu rosto, pelos almoços e jantas

compartilhadas e pelo companheirismo de sempre.

Agradeço à minha banca examinadora, professor Dr. Fernando Abath, professor Dr. Pedro

Cruz, por aceitarem contribuir com esta pesquisa e principalmente à minha querida orientadora

professora Dr.ª Aline Machado, pelas orientações, incentivos e pela amizade constituída.

Enfim, agradeço aos egressos e coordenadores do Instituto de Fé e Política de Amargosa, Pe.

Neivaldo Carvalho, que permitiram que este trabalho fosse realizado. Como também à

Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), pelo financiamento

a esta pesquisa. A todos os oprimidos, excluídos, cristãos, que lutam por uma sociedade mais

justa e humana, que denunciam as práticas impopulares das forças conservadoras e que se

comprometem com as causas dos mais necessitados.

Enfim, ao Deus de Jesus Cristo, o maior de todos os educadores, meu muito obrigado!

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RESUMO

A presente pesquisa teve como objetivo central analisar o Curso de Extensão em Tecnologia

em Gestão de Organizações e Movimentos Populares de Bases do Instituto de Fé e Política de

Amargosa-BA. Assim sendo, buscamos analisar o contexto histórico do Instituto de Fé e

Política de Amargosa, analisar a Matriz Curricular do curso, como também relacionar a atuação

do egresso com a formação recebida no curso de Fé e Política, identificando as contribuições

do curso para a ação dos egressos em suas áreas de atuação. Para as discussões teóricas das

questões abordadas nesta pesquisa, utilizamos Guerrieri (1994), Freire (2016), Hurtado (1992),

Gutiérrez (1988), Gohn (2012), Preiswerk (1997), Kosik (1976), Konder (1992), dentre outros.

A abordagem utilizada na pesquisa fundamenta-se no Estudo de Caso com enfoque qualitativo,

tendo como referência o materialismo histórico dialético. Para as análises, as entrevistas foram

transcritas, categorizadas com o texto fiel à linguagem dos egressos na qual posteriormente foi

feita a análise de conteúdo. A pesquisa de campo revelou que os saberes adquiridos no curso

de Fé e Política dão suporte teórico-prático para uma atuação crítica dos sujeitos em suas

comunidades. Os sujeitos entrevistados afirmam que depois que fizeram o curso, suas práticas

sociais foram mais fundamentadas e refletidas, diferentemente da prática que tinham antes. No

entanto, os sujeitos afirmam que a experiência prática nos movimentos sociais ainda é o alicerce

de suas orientações. Além disso, percebemos que a formação do curso contribuiu para que

alguns egressos ingressassem no ensino superior, concretizando suas expectativas profissionais.

Palavras-chave: Instituto de Fé e Política. Teoria e Prática. Educação Popular.

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RESUMEN

El presente estudio tiene como objetivo central analizar el Curso de Extensión en Tecnología

en Gestión de Organizaciones y Movimientos Populares de Base del Instituto de Fe y Política

de Amargosa– BA. Asimismo, busca analizar el contexto histórico de dicho Instituto, estudiar

la Matriz Curricular del curso y también relacionar la actuación del egresado con la formación

recibida en el curso de Fe y Política, identificando las contribuciones de este en la acción de los

egresados en sus áreas de actuación. Para las discusiones teóricas de las cuestiones abordadas

en este estudio, se ha recurrido a autores como Guerrieri (1994), Freire (2016), Hurtado (1992),

Gutiérrez (1988), Gohn (2012), Preiswerk (1997), Kosik (1976), Konder (1992), entre otros. El

abordaje utilizado en este estudio se fundamenta en el Estudio de Caso con enfoque cualitativo,

teniendo como referencia el materialismo histórico-dialéctico. Para los análisis, las entrevistas

fueron transcritas, categorizadas con el texto fiel al lenguaje de los egresados, sobres las cuales,

posteriormente, se hizo el análisis de contenido. El estudio de campo reveló que los saberes

adquiridos en el curso de Fe y Política dan soporte teórico-práctico para una actuación crítica

de los sujetos en sus comunidades. Los sujetos entrevistados afirman que tras participar en el

curso, sus prácticas sociales fueron más fundamentadas y reflexionadas, a diferencia de la

práctica que tenían antes. Sin embargo, los sujetos afirman que la experiencia práctica en los

movimientos sociales aún es la base de sus orientaciones. Además, el estudio percibe que la

formación del curso ha contribuido para que algunos egresados profundicen en la enseñanza

superior, concretizando sus expectativas profesionales.

Palabras-clave: Instituto de Fe y Política. Teoría y Práctica. Educación Popular.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Foto 1- Padres e Freiras na Estação de Trem de Amargosa construída em1892...................... 26

Foto 2 - Pavilhão de aulas da UFRB campus Amargosa .......................................................... 28

Foto 3 – Praça da Catedral; atualmente um dos cartões-postais mais bonitos de Amargosa ... 29

Diagrama 1- Caracterização dos sujeitos da pesquisa quanto aos dados pessoais e

profissionais .............................................................................................................................. 31

Quadro 1 - Matriz Curricular do Curso de Formação Leigo para os Cristãos do Centro Nacional

de Fé e Política Dom Helder Câmara- Brasília -DF ................................................................. 63

Foto 4- Alunos egressos do Instituto de Fé e Política de Amargosa ........................................ 66

Foto 5 – Participação dos alunos no 7º Congresso Nacional de Fé e Política -

Ipatinga - MG/2009 .................................................................................................................. 67

Foto 6 – Área interna do Seminário Menor de Amargosa ........................................................ 68

Foto 7 - Alunos em aula no curso de Fé e Política ................................................................ 69

Quadro 2 - Matriz Curricular do Curso de Extensão em Tecnologia em Gestão de

Organizações e Movimentos Populares de Bases .................................................................... 75

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO: PERCURSO TEÓRICO - METODOLÓGICO ................................. 10

1.1 Aproximações com a Educação Popular e o Instituto de Fé e Política da Diocese

de Amargosa .......................................................................................................................... 10

1.2 A escolha do método ....................................................................................................... 15

1.3 A caminhada: abordagens metodológicas e técnicas de pesquisa ................................ 19

1.4 Amargosa: a cidade jardim ........................................................................................... 24

1.5 Sujeitos da pesquisa .......................................................................................................... 29

2 UM OLHAR SOBRE A EDUCAÇÃO POPULAR E SUAS PRÁTICAS

EDUCATIVAS NOS MOVIMENTOS SOCIAIS.................................................................33

2.1 Educação Popular e a Teologia da Libertação .............................................................. 33

2.2 Movimentos Sociais .......................................................................................................... 42

2.3 Movimentos Sociais e Educação Popular: a educação que acontece fora do espaço

escolar ...................................................................................................................................... 48

2.4 Fé, utopia e transformação das estruturas: o início das bases ..................................... 52

3 O INSTITUTO DE FÉ E POLÍTICA: UMA INSTITUIÇÃO DE FÉ À PROCURA

DE UMA PRÁXIS .................................................................................................................. 59

3.1 O Centro Nacional de Fé e Política Dom Helder Câmara: um recorte de sua

historicidade ............................................................................................................................ 59

3.2 Situando o Instituto de Fé e Política de Cáritas da Diocese de Amargosa: uma

Escola de Fé e Vida ................................................................................................................. 64

3.3 Currículo em movimento: pensando a formação dos sujeitos sociais a partir de

uma Educação Popular ....................................................................................................... 72

4 PEDAGOGIA DA LIBERTAÇÃO E SUA PRÁXIS: QUANDO A FORMAÇÃO

TAMBÉM TRANSFORMA A AÇÃO...................................................................................81

4.1 Do contexto concreto ao contexto teórico: a busca da formação para se pensar a

prática ...................................................................................................................................... 81

4.2 Prática-Teoria-Prática, a mesma palavra, diferentes ações: mudança dos

educandos a partir da formação recebida ............................................................................ 85

CONSIDERAÇÕES NECESSÁRIAS .................................................................................. 95

REFERÊNCIAS ................................................................................................................... 100

APÊNDICES ........................................................................................................................ 106

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1 INTRODUÇÃO: PERCURSO TEÓRICO-METODOLÓGICO

O presente estudo nasce a partir da nossa experiência nos movimentos pastorais

populares ligados à Igreja Católica, no grupo de jovens da Pastoral da Juventude da cidade de

Taperoá–BA, mas, sobretudo da nossa participação no Instituto de Fé e Política da Cáritas da

Diocese de Amargosa, onde estávamos na condição de aluno, na participação de congressos

regionais e nacionais de onde surgiu nossa proposta de investigação a fim de debater a questão

da Educação Popular.

Assim sendo, este capítulo abordará o contexto da pesquisa visando ao conhecimento

do objeto de estudo, o campo e os sujeitos investigados, as abordagens teórico-metodológicas

e os caminhos que levaram à elaboração do problema de pesquisa, bem como os instrumentos

de coleta e análise dos dados aqui utilizados. Desta forma, objetiva-se com este capítulo situar

o leitor sobre as bases iniciais as quais originaram a presente investigação e alguns

conhecimentos prévios sobre a realidade que pouco a pouco aprendemos a conhecer.

Acreditamos que a introdução sobre o percurso teórico-metodológico é um importante

fundamento para a compreensão de toda a elaboração do estudo e dos caminhos traçados pelo

pesquisador.

1.1 Aproximações com a Educação Popular e o Instituto de Fé e Política da Diocese de

Amargosa

O objeto de pesquisa, segundo Deslauriers (2008), geralmente, é definido como uma

lacuna que é preciso preencher, sendo ao mesmo tempo ponto de partida e de chegada. Os

autores ainda afirmam que o objeto escolhido deve ser fruto de preocupação ou curiosidade,

sendo importante que a questão epistemológica se insira na psicologia individual do

pesquisador e/ou em seu pertencimento a um grupo social. Sendo assim, o objeto de estudo é

construído a partir de uma rede de interesses que passa a orientar e direcionar as escolhas.

Considerei oportuno escrever os passos desse percurso por meio de uma escrita em

primeira pessoa, em que seja possível explicitar alguns fatos principais que se constituíram

dentro da Igreja Católica em que passei por todo o processo de iniciação cristã até conhecer o

Instituto de Fé e Política da Diocese do município de Amargosa, na Bahia.

Minha inserção no meio católico começa ainda quando criança aos dez anos de idade

fazendo parte do grupo de coroinhas da referida cidade, orientado pelo meu amigo de infância

Mailson Lopes, um garoto que nasceu numa família tradicionalmente católica, dotado de

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especiais faculdades que autodidaticamente adquiriu muito cedo. Estudos em latim, estudos de

liturgia, da tradição católica, avaliações e outros conteúdos eram muito frequentes nas reuniões

dos coroinhas aos sábados.

Passados alguns anos, deixo de servir ao altar e sou convidado a participar do EJC

(Encontro de Jovens com Cristo), um movimento de jovens que tem sua gênese na Renovação

Carismática Católica (RCC) em que se sustenta em meio a um discurso capaz de sensibilizar os

jovens, mas não de mobilizá-los para as questões mais concretas da realidade. Foi um momento

de grande efervescência espiritual, no entanto, o grupo de jovens não demorou muito tempo e

acabou se extinguindo.

Antes mesmo do grupo EJC chegar ao fim, havia um movimento muito forte na paróquia

em que os jovens eram “despertados”, para assumir um compromisso de trabalho social em sua

localidade: a Pastoral da Juventude (PJ), porém nem todos os jovens viam esse movimento com

bons olhos, pois achavam que nada tinha de espiritualidade, pois os que participavam do grupo

eram levados a enxergar de forma crítica o mundo ao seu redor, algo que não era costume o

jovem fazer para o desenvolvimento de sua consciência.

Tinham as missas aos domingos na paróquia, mas também tinham cursos de

capacitação, catequese, encontros com as comunidades, romarias, na ocasião de refletir para

agir coletivamente como leigos e leigas dentro da própria comunidade. Lembro-me com

precisão do 1º Congresso de Fé e Política e 21ª manifestação dos trabalhadores dos municípios

da Diocese de Amargosa, na cidade de Santo Antônio de Jesus. Era dia 2 de maio de 2008, para

ser exato, quando militantes políticos, lideranças pastorais, religiosos, juntaram-se aos

profissionais de diversas áreas científicas e teólogos para refletir a relação de fé e vida.

Pandeiros, atabaques, violas, cirandas, numa encantada mística expressavam uma

teologia diferenciada, exigindo dos encontristas uma opção profética e solidária com a vida. Foi

o momento em que me lancei e me deparei em confronto entre a religião tradicional que havia

herdado quando criança, e os novos valores que estava adquirindo dentro do grupo pastoral e

da própria comunidade eclesial de base, ou seja, um explícito conteúdo de interpretação da

realidade, levando-me a dar um salto qualitativo no que se refere ao pensamento crítico.

Daí em diante comecei a participar efetivamente da Pastoral da Juventude (PJ)1, como

também junto a outros movimentos pastorais, na articulação do Grito dos Excluídos2 e no

1 A Pastoral da Juventude é um organismo de ação social composta por jovens da Igreja Católica que incorporam

um projeto de Evangelização libertadora no meio em que vivem. 2 O Grito dos Excluídos é uma manifestação popular aberta a grupos, movimentos sociais que são comprometidos

com as causas dos oprimidos. Uma manifestação criada por setores progressistas da Igreja Católica que acontece

simbolicamente todo ano no dia 7 de setembro em diversas partes do Brasil. Essa manifestação ocorre com o

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Movimento Fé e Política3. A participação nesses movimentos me fez questionar sobre minha

maneira de pensar e agir como cristão numa sociedade injusta, principalmente na minha cidade

onde a cultura política é hegemonicamente constituída por uma elite que controla e define os

rumos da política local.

Passados alguns anos, mais especificamente em 2008, prestei vestibular para a

Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB) no campus de Amargosa e ingressei no

curso de Pedagogia. Toda essa trajetória e experiência pastoral me aproximou ainda mais ao

Instituto de Fé e Política de Cáritas de Amargosa. Só então a partir do oitavo semestre do curso,

faço a disciplina de Educação Popular em que se delinearam mais firmemente os contornos e

rumos da área de pesquisa que mais me atrairia e me faria desejar segui-la na pós-graduação.

Neste contexto as abordagens no âmbito das discussões envolvendo Educação Popular,

Teologia da Libertação, Movimentos Sociais e Práxis, são subsídios importantes para orientar

as reflexões desta pesquisa, como também servirão de ponto de partida para o desenvolvimento

do estudo em questão.

Ao longo da história, a Educação Popular tem assumido concepções diferentes no que

concerne à sua teoria educacional, apresentando acepções difusas em detrimento dos variados

conceitos do que vem a ser Educação Popular. Ela se configura pela história latino-americana

à medida que a filosofia de Paulo Freire se intercruza com o ideário da Teologia da Libertação4

e das lutas populares de todos os lugares em resistência aos sistemas opressivos e autoritários,

principalmente na América Latina onde emerge e se destaca com maior visibilidade.

Diante dos diversos conceitos que a Educação Popular apresenta no âmbito educacional,

geralmente é identificada como Educação de Jovens e Adultos (EJA), o que é um equívoco,

visto que nem toda EJA trabalha na perspectiva da Educação Popular. Entretanto, esse

pensamento é comum porque muitos entendem que a partir do momento em que há uma

iniciativa educacional voltada a essas pessoas desfavorecidas economicamente e socialmente,

se faz educação para o povo, e, portanto, entendida como popular. Mas a Educação Popular a

partir da perspectiva de Paulo Freire é a que surge no bojo dos movimentos educacionais

objetivo de aprofundar o tema da campanha da fraternidade. Em Taperoá, na minha cidade, a articulação é

liderada por representantes das pastorais sociais e da Frente Popular de Taperoá. 3 O Movimento Nacional Fé e Política foi criado em junho de 1989 por cristãos que são comprometidos com as

lutas populares, no intuito de fortalecer a dimensão ética e espiritual que dá vida às suas atividades políticas. A

cada dois anos o movimento promove encontros nacionais de Fé e Politica no intuito de partilhar e refletir as

experiências de grupos e movimentos sociais na sociedade. 4 De acordo com Galilea (1978), a Teologia da Libertação foi elaborada num contexto cristão de miséria, de

dependência e de exploração múltipla. Sua preocupação básica é a justiça, a libertação dos oprimidos como parte

do anúncio da vivência da fé. Nesse sentido, é uma teologia que parte do mundo dos pobres, da periferia, e

procura ser a “voz teológica deles”, onde tira da realidade latino-americana, que é elemento decisivo para seu

discurso teológico, a ação da Igreja e dos cristãos para “libertar” essa realidade.

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críticos, também voltada para o povo, ou seja, a classe desfavorecida no sistema capitalista, mas

construída junto com ele.

Portanto, a Educação Popular de que tratamos aqui se refere àquela sistematizada por

Freire a partir dos anos de 1950 no nosso país, a qual busca a conscientização dos sujeitos

sociais de seu lugar na história e, consequentemente, a transformação da sociedade, que na

perspectiva de Melo Neto (1999) aborda como uma educação voltada à cultura do povo que

sempre esteve à margem do sistema educacional formal, dos processos escolares e da produção.

Outra questão importante da Educação Popular no âmbito pedagógico é o Ensino

Público, o qual, segundo Guerrieri (1996, p. 02), “deve deixar de ser um mero reprodutor do

saber dominante e ter sua formulação voltada para a formação do cidadão crítico com relação

às estruturas econômicas, políticas e sociais”. Nessa especificidade educacional, o autor chama

a atenção para o objetivo da ação educativa, apresentando uma educação oposta à da burguesia,

a qual é popular, crítica e, sobretudo, libertadora.

A especificidade de Educação Popular à qual darei ênfase nesta pesquisa tem como

peculiaridade um caráter político e está associada à luta transformadora dos movimentos

sociais, considerando o “popular” não como acepção de povo, mas, sobretudo, como

organização/movimento. Uma educação vista na perspectiva de transformação social e no

protagonismo dos educandos por meio de sua organização política. Dessa forma, concordamos

com Holliday (2006b) que a Educação Popular visa transformar o sujeito em agente político,

no sentido de ser participante ativo na transformação do mundo e de sua história.

Pautando-se nessa visão de que a Educação Popular tenciona modificar a relação dos

sujeitos com os outros e com o mundo, a Teologia da Libertação também participa dessa

transformação ao se configurar um referencial teórico do agir apresentando princípios e valores

aos homens, que faz engrenar o processo de libertação a partir dos oprimidos, almejando

soluções concretas para construção de uma sociedade justa (NÓBREGA, 1988).

É uma provocação considerável explicitar as interações entre a Educação Popular e a

Teologia da Libertação. Entretanto, as investigações no âmbito dessas duas correntes

possibilitam a constituição de um diálogo mostrando que “a Educação Popular é mais que a

mera reprodução do saber popular, assim como a Teologia da Libertação é mais que a

socialização de um saber religioso” (PREISWERK, 1997, p. 180).

O desenvolvimento acerca dessa reflexão teórica e prática da Educação Popular,

possibilitou a ampliação de seus horizontes sobretudo nos anos de 1960 a 1990. Esse paradigma

influenciou diferentes campos de conhecimento e vários espaços populares, porém, atualmente

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vem sendo rechaçado dentro da própria educação, daí que o grande desafio da educação popular

hoje, mais do que ampliar-se é manter-se viva nos debates e nas ações educacionais.

Wanderley (2010) constata que a presença participativa de setores católicos como as

Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), as pastorais sociais, dentre outros movimentos

comprometidos com os direitos humanos e sociais, tem crescido bastante; suas experiências

fizeram brotar o Centro Nacional de Fé e Política Dom Helder Câmara5.

É nesta aspiração que o Instituto de Fé e Política da Diocese de Amargosa se faz um

campo de interpretação como nenhum outro referencial. Analisar e compreender as práticas

educativas do referido Instituto, dos agentes da diocese de Amargosa são importantes meios

para tentar desvendar marcas e rumos da Educação Popular presente nesse contexto. Dessa

forma, o Instituto corrobora sua importância tornando-se ainda mais bem justificado quando se

tem como postulado o compromisso com a libertação dos oprimidos por meio do

comprometimento da política e da educação.

É sob esse prisma que se delineia nesta dissertação um plano de investigação sobre o

Instituto de Fé e Política de Amargosa, lançando um olhar reflexivo sobre sua ação educativa e

a atuação dos egressos em seus movimentos de base, apresentando seus princípios, sua história

e objetivos na qual serão mais bem exploradas no próximo capítulo.

Dessa forma, a motivação por investigar o Instituto ocorreu desse entrelaçamento

teórico, bem como das dimensões práticas cotidianas do conhecimento sobre os movimentos

populares de base e a formação realizada pelo Instituto de Fé e Política de Cáritas da Diocese

de Amargosa.

Como foi exposto acima, minha aproximação com a perspectiva comunitária orientada

pela Educação Popular me forneceu subsídios importantes para a apreensão da prática com a

comunidade, pautada nos princípios de uma educação crítica, superando as práticas caritativas

que tradicionalmente eram desenvolvidas na paróquia.

Fundamentalmente é necessário ter diante do pensamento, o problema de pesquisa e os

objetivos gerais e específicos, bem como os sujeitos que serão encontrados no campo empírico

para que adequadamente toda a organização e o planejamento tenham coerência e sejam meios

de chegar ao fim almejado, ou seja, a elaboração do saber e entendimento das ações, percepções

5 É um Centro responsável pela formação de lideranças cristãs em diversos lugares do Brasil através de cursos

presenciais e a distância, cuja sede se encontra em Brasília. No próximo capítulo iremos aprofundar sobre esta

Instituição, bem como explanar o contexto histórico do campo empírico pesquisado - o Instituto de Fé e Política

do município de Amargosa-BA. Contudo, cabe adiantar que Dom Hélder Câmara foi um árduo defensor dos

direitos humanos no período da ditadura militar instalada no país em 1964.

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e acontecimentos institucionais. De fato, “fazer pesquisa é um trabalho duro. Também é

divertido e excitante. Na verdade, nada se compara ao prazer da descoberta” (STRAUSS;

CORBIN, 2008, p. 26).

Diante disso, buscamos esboçar um plano de trabalho científico que ofereça

contribuições relevantes aos estudos da Educação Popular. Desse modo, o problema de pesquisa

se expressa da seguinte forma: “Como os princípios da Educação Popular do Instituto de Fé e

Política da diocese de Amargosa se realizam na prática dos egressos em suas comunidades de

atuação? Os saberes adquiridos na Escola de Fé e Política resultam em uma práxis

transformadora nos espaços de atuação dos egressos?”

O presente trabalho tem como objetivo geral analisar o curso de extensão em Tecnologia

em Gestão de Organizações e Movimentos Populares de Bases do Instituto de Fé e Política de

Cáritas da Diocese de Amargosa - BA, o qual toma por base os princípios da Educação Popular

e os da Teologia da Libertação.

Dentro dessa perspectiva, os objetivos específicos do trabalho são: Analisar o perfil

socioeconômico dos sujeitos da pesquisa; descrever e analisar o contexto histórico do Instituto

de Fé e Política da Diocese de Amargosa; analisar a matriz curricular do curso de Tecnologia

em Gestão de Organizações e Movimentos Populares de Base do Instituto de Fé e Política; e

relacionar a atuação do egresso com a formação recebida no curso de Fé e Política, identificando

as contribuições do curso para a ação dos egressos em suas áreas de atuação.

1.2 A escolha do método

A ciência possui um campo de estudo que tem como escopo produzir conhecimento,

para isto, os cientistas recorrem a métodos científicos. Nesse percurso, fundamentalmente, o

pesquisador deve ater-se a paradigmas epistemológicos que deem subsídios às suas práticas

científicas, ou seja, uma escolha teórico-metodológica propícia ao seu objeto de estudo.

Neste sentido, o método “envolve as técnicas, dando-lhes sua razão, perguntando-lhes

sobre as possibilidades e as limitações que trazem ou podem trazer às teorias a que servem no

trabalho sobre seu objeto” (LIMOEIRO, 1971, p. 3). Trata-se de um conjunto de procedimentos

que exigem um tratamento sistemático permitindo estruturar de forma coerente uma

investigação; no entanto, o método não é uma receita pronta para ser sobreposta ao problema,

mas um guia que ao observar os fatos, possamos saber por que tais fenômenos estão ocorrendo

de uma certa forma.

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A partir das experiências no âmbito da Educação Popular, dos movimentos sociais de

base, a fundamentação metodológica deve dar conta de sustentar as ações pedagógicas desses

espaços vinculados à prática social. Desta forma, a pesquisa está orientada em conformidade

com uma pesquisa qualitativa e exploratória pautada no método dialético.

Ao buscar analisar a prática dos egressos do Instituto de Fé e Política de Cáritas da

Diocese de Amargosa, em seus movimentos específicos, adotamos a concepção metodológica

dialética por acreditarmos que a mesma nos ajudará melhor a interpretar o fenômeno

pesquisado. Mas o que vem a ser o método dialético? Tomando-se como base Holliday (2006a,

p. 46):

A Concepção Metodológica Dialética é uma maneira de conceber a

realidade, de aproximar-se dela para conhecê-la e de atuar sobre ela para

transformá-la (...). Nesse sentido concebe a realidade como uma criação dos

seres humanos que, com nossos pensamentos, sentimentos e ações,

transformamos o mundo da natureza e construímos a história outorgando-lhe

um sentido.

Segundo o autor, esse modelo teórico-metodológico constitui-se um modo de pensar o

homem concreto em sua totalidade encarando a realidade social, política e cultural como

processo histórico que não se encontra de forma estática, mas elástica. Em outros termos, a

acepção da dialética deve ser interpretada como algo dinâmico e que represente em sua essência

o ser do movimento, ou seja, um produto do homem que possibilite a transformação por vias

de intervenção na sociedade.

Partindo desse pressuposto, Kosik (1976, p. 37) traz três características elementares

deste método de investigação para o desenvolvimento do estudo:

a) Minuciosa apropriação da matéria, pleno domínio do material, nele incluídos todos os

detalhes históricos aplicáveis, disponíveis;

b) Análise de cada forma de desenvolvimento do próprio material;

c) Investigação da coerência interna, isto é, determinação da unidade das várias formas de

desenvolvimento.

A partir desta realidade concreta, em que os sujeitos populares egressos de uma

instituição educativa se encontram em suas comunidades, torna-se fundamental que os mesmos

assumam uma metodologia cujos princípios estejam divididos em três partes: tese- antítese-

síntese. Obedecendo a esse tríplice diagnóstico, este método obedece a uma interpretação da

realidade social e uma intenção frente a ela (RICHARDSON, 1999).

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Fundamentado nesse princípio marxista, Kosik (1976) afirma que a compreensão da

estrutura das coisas não pode ser possível por meio apenas de meras reflexões, mas sim

mediante atividades em que o homem se aproprie do mundo para desvelá-lo e transformá-lo.

Segundo essa lógica dialética marxista, essas transformações estruturais ocorreriam a partir do

embate entre os aspectos fundamentais de um modo de produção.

Evidentemente, este embate aconteceria uma vez que as classes dominadas negassem o

que está posto pelo sistema capitalista criando uma aspiração para a transformação, desde que

tomassem consciência de seu envolvimento e desenvolvessem uma luta para a mudança das

estruturas opressoras.

Destarte, de acordo com Damke (1995), esta prática nos remete a pensar numa

interpretação de que o conhecimento e a transformação não são dualidades, mas a práxis

histórica do ser humano. Ou seja, como seres da práxis os homens são inseridos na história,

incitados pelo conhecimento alcançado ou produzido no contexto teórico a nos voltarmos para

o contexto real e melhorar a nossa atuação como sujeitos na busca de novos objetivos. Nesse

contexto, conforme o autor, essa mudança estrutural ocorreria mediante o processo de

destruição da pseudoconcreticidade, na qual os sujeitos diluem o pensamento aparente e o

submetem a um exame rígido para alcançar a sua concreticidade.

Sendo assim, no que se refere à destruição da pseudoconcreticidade, conforme Kosik

(1976, p. 23-24), está centralizado em três pontos básicos:

a) Critica revolucionária da práxis da humanidade, que coincide com o

devenir humano do homem, com o processo de “humanização do homem”

(A. Kolman), do qual as revoluções sociais constituem as etapas chaves.

b) Pensamento dialético, que dissolve o mundo feitichizado da aparência para

atingir a realidade e a “coisa em si”.

c) Realizações da verdade e criação da realidade humana em um processo

ontogenético, visto que para cada indivíduo humano o mundo da verdade

é, ao mesmo tempo, uma sua criação própria, espiritual, como indivíduo

social- histórico.

Por conseguinte, partindo desta ótica, o materialismo dialético se configura em seu

raciocínio como um método de compreensão da realidade partindo da atividade prática humana

resultante da relação homem-natureza em sua complexidade. É justamente do empírico que essa

teoria se aproxima do real e que tem como finalidade partir da ação das massas buscando

diagnósticos da realidade em que se encontra para desenvolver a conscientização e teorização

sobre esta ação e voltar à mesma com uma nova visão para transformá-la.

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Uma outra e importante lógica de visão dialética se encontra em Hurtado (1992, p. 47-

48) ligada aos movimentos populares:

Para nós, só através de uma metodologia dialética se pode conseguir tal

relação, pois somente baseando-se na teoria dialética do conhecimento se pode

conseguir que o processo "ação-reflexão-ação" "prática-teoria-prática" dos

grupos populares – do movimento popular – conduza a apropriação consciente

de sua prática (...) Uma "metodologia dialética" é o caminho adequado que

nos permite ter como "ponto de partida" do processo a prática real da

organização transformando sua realidade; este partir da prática será levado

sistematicamente a novos níveis de compreensão, isto é, a processos de

abstração da mesma realidade que nos permita compreendê-la, de maneira

diferente, em sua complexidade histórica e estrutural, para então, projetar as

novas ações transformadoras de uma maneira mais consciente.

O papel de protagonista da classe trabalhadora é um elemento essencial na construção

de toda tarefa da Educação Popular. Uma contribuição mais detalhadamente ilustrada que gira

em torno da visão dialética é na perspectiva de Paulo Freire. O desvelamento da realidade, o

compromisso frente ao mundo, a necessidade de considerar o homem como sujeito histórico

social, faz-se constante no pensamento de Freire que adotando esta totalidade como categoria,

propôs práticas pedagógicas em que o diálogo, a consciência e a problematização fossem

priorizados:

No momento em que os indivíduos, atuando e refletindo, são capazes de

perceber o condicionamento de sua percepção pela estrutura em que se

encontram, sua percepção muda, embora isto não signifique, ainda, a mudança

da estrutura. Mas a mudança da percepção da realidade, que antes era vista

como algo imutável, significa para os indivíduos vê-la como realmente é: uma

realidade histórico-cultural, humana, criada pelos homens e que pode ser

transformada por eles (FREIRE, 1979d, p. 50).

Admite-se nesta concepção freireana que consciência e mundo estão altamente

interligados. Para Freire, uma das mais importantes condições para que o homem possa exercer

um ato comprometido é estando no mundo e saber-se nele, não sendo objeto em que se

submetem à não responsabilidade histórica. “A realidade social não é conhecida como

totalidade concreta se o homem no âmbito da totalidade é considerado apenas e, sobretudo

como objeto” (KOSIK, 1976, p. 52).

Paradoxalmente a isto, quando o ser social tem condições concretas de ser sujeito

histórico do processo, este sim consegue enxergar a realidade, interagir com ela para poder

transformá-la. Isso significa que esse movimento, produto da união da teoria e da prática, não

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surge separadamente da existência da realidade, mas propicia prováveis caminhos de

intervenção na sociedade.

Nessa aspiração, ao analisar a prática dos egressos do Instituto de Fé e Política, ou seja,

o concreto, o contexto real dos sujeitos, refletimos sobre os fenômenos, as situações que estão

visíveis com a intencionalidade de entender o que não está tão visível a fim de contribuir com

a transformação desta realidade concreta que como tal deve ser tratada e abordada.

1.3 A caminhada: abordagens metodológicas e técnicas de pesquisa

O pesquisador, os sujeitos e a instituição investigada encontram-se numa dinâmica

crucial para o bom desempenho do estudo. Diante desses fatores, o pesquisador precisa ter

domínio suficiente das teorias que embasam o tema de estudo, das abordagens metodológicas

e atuação articulada com intencionalidade científica na interação com o campo e nas coletas

dos dados. Desenvolver uma pesquisa requer por parte de nós pesquisadores estarmos

familiarizados com as estratégias metodológicas e técnicas que em todo percurso de pesquisa

se exige.

De acordo com Ludke e André (1986, p. 01), “para se realizar uma pesquisa é preciso

promover o confronto entre os dados, as evidências, as informações coletadas sobre

determinado assunto e o conhecimento teórico acumulado a respeito dele”. Exige-se que o

pesquisador tenha uma formação inicial fundamentada em conhecimentos teórico-

metodológicos, para que seja feito o diálogo e/ou confronto com os dados coletados.

A pesquisa qualitativa foi escolhida de acordo com os objetivos do estudo, visto que a

mesma possibilita a compreensão aprofundada das narrativas e aproximação com os sujeitos no

estudo de campo. Segundo Bogdan e Biklen (1994, p. 49), “a abordagem qualitativa exige que

o mundo seja examinado com a ideia de que nada é trivial, que tudo tem potencial para construir

uma pista que nos permita estabelecer uma compreensão mais esclarecedora do nosso objeto

de estudo”.

Desta forma a própria escolha da abordagem de investigação é cuidadosamente pensada

para possibilitar o conhecimento adequado das dimensões reais, coletivas e sociais da

problemática que norteia o trabalho.

Ao escolher esse tipo de abordagem, o pesquisador terá como uma das finalidades saber

de que forma os diferentes sujeitos dão sentido às suas vidas. Os pesquisadores indagam os

sujeitos da pesquisa na perspectiva de saber como eles experienciam, interpretam e estruturam

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suas experiências e o mundo em que vivem. Sendo assim, todo esse processo investigativo,

pauta-se em um tipo de diálogo que se dá entre o investigador e o sujeito.

Um dos objetos privilegiados da pesquisa qualitativa é o sentido da ação da sociedade

na vida, assim como o comportamento dos indivíduos, sem deixar de considerar o sentido da

ação individual quando envolve a ação coletiva. Nessa perspectiva, pode-se dizer que o objeto

essencial da pesquisa qualitativa é a ação interpretada. Dessa maneira, a linguagem e as

conceituações ganham importância para dar conta tanto do objeto “vivido”, como do objeto

“analisado” (DESLAURIERS; KÉRISIT, 2008).

De fato, mais que uma abordagem de pesquisa e menos que um novo paradigma de

análises e de interpretação, o procedimento qualitativo possibilita uma nova visão, permitindo

reconceituar as problemáticas sociais (POUPART, 2008). Há uma intensa articulação na

pesquisa qualitativa entre o pesquisador e o meio. Por isso, devemos considerar os informantes

como fonte de conhecimento e guardiões de informações indispensáveis para a teorização da

temática estudada e aprofundamento das questões.

A abordagem utilizada na pesquisa fundamenta-se no Estudo de Caso com abordagem

qualitativa, o qual é amplamente utilizado em pesquisas na contemporaneidade contribuindo

para a compreensão e reflexão crítica das realidades sociais. Segundo André (1995), o Estudo

de Caso enfatiza o conhecimento de uma dada realidade, visto que mesmo observando e

levando em consideração o todo, o objeto de estudo é tratado como único.

Conforme o autor, o Estudo de Caso possui uma aquisição analítica e interrogativa da

situação, podendo confrontar o caso com outros já conhecidos e com as teorias existentes.

Assim, haverá possibilidades de surgirem novas teorias e questões que possam ajudar em

inquirições posteriores.

Nessa aspiração, destacamos nos estudos de caso a importância da interpretação

contextual, ou seja, para se ter informações precisas de um problema e compreendê-la, deve-se

relacionar as ações, os comportamentos e as interações das pessoas envolvidas com a

problemática da situação a que estão ligadas (RODRIGO, 2008).

Algumas propostas de conteúdo e sequência para a condução de um bom Estudo de

Caso podem ser asseveradas por Creswell (2014, p. 88-89) no processo de investigação

qualitativa:

a) Primeiramente os pesquisadores determinam se uma abordagem de

Estudo de Caso é apropriada para o estudo do problema de pesquisa. Um

Estudo de Caso é uma boa abordagem quando o investigador possui casos

claramente identificáveis e delimitados e busca fornecer uma

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compreensão em profundidade dos casos ou uma comparação de vários

casos.

b) A seguir, os pesquisadores precisam identificar seu caso ou casos. Esses

casos podem envolver um indivíduo, vários indivíduos, um programa, um

evento ou uma atividade. Na condução da pesquisa de Estudo de Caso,

recomendo que os investigadores primeiro considerem qual tipo de Estudo

de Caso é o mais promissor e útil.

c) A coleta de dados em uma pesquisa de Estudo de Caso é extensa,

baseando-se em múltiplas fontes de informação como observações,

entrevistas, documentos e materiais audiovisuais. Por exemplo, Yin

(2009) recomenda seis tipos de informações a ser coletadas: documentos,

registros de arquivo, entrevistas, observações diretas, observação

participante e artefatos físicos.

d) O tipo de análise destes dados pode ser uma análise holística de todo o

caso ou uma análise incorporada de um aspecto específico do caso (YIN,

2009). Por meio dessa coleta de dados, surge uma descrição detalhada do

caso (STAKE, 1995) na qual o pesquisador detalha aspectos tais como a

história, a cronologia dos eventos ou a realização rotineira das atividades

do caso.

e) Na fase interpretativa final, o pesquisador relata o significado do caso, se

aquele significado provém do aprendizado sobre a questão do caso (um

caso instrumental) ou o aprendizado sobre uma situação incomum (um

caso intrínseco). Como mencionaram Lincoln e Guba (1985), essa fase

constitui as lições aprendidas com o caso.

Fundamentalmente o conhecimento das abordagens de pesquisa, bem como dos

instrumentos de coleta de dados revela os caminhos possíveis a serem seguidos e os

descaminhos que poderão não permitir o saber acurado e a aproximação adequada do que

teoricamente foi estudado com pretensão de tocar os vértices, em que se concentra

concretamente o “desconhecido”.

Nesse contexto, o pesquisador deverá desenvolver fundamentos para analisar e

interpretar os fatos que mostrem os sentidos conferido a esses fatos pelos depoentes. Desta

forma nos deixa claro a pretensão e a função da pesquisa qualitativa em um estudo de caso:

“interpretar o sentido do evento a partir do significado que as pessoas atribuem ao que falam e

fazem” (CHIZZOTTI, 2008, p. 28).

O caminho da pesquisa é realizado na perspectiva da inter-relação entre as implicações

sociais, pessoais e empíricas, mas, acima de tudo, no comprometimento científico. Para tanto,

o pesquisador precisa estar atento ao caráter intelectual de implicação do saber produzido.

Durante a trajetória, pouco a pouco, descobre-se que no comum há informações preciosas. A

experiência, então, nos leva a afirmar que compreender o que é banal para alguns com um olhar

de curiosidade teórica é descobrir a amplitude do conhecimento.

Assim sendo, dentre as variadas técnicas de coleta de dados na pesquisa social, e,

consequentemente nos estudos de caso, a entrevista é uma das mais utilizadas em investigações

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por profissionais de diversas áreas científicas. Fazer uma entrevista permite que o pesquisador

adquira uma quantidade significativa de informações por parte do entrevistado com técnicas

diversificadas que podem variar de acordo com seu objetivo.

A escolha dos instrumentos de coleta de dados foi pensada tendo em vista o objeto de

pesquisa e as possibilidades de estratégias para obter informações na busca das inquietudes

levantadas com o problema de pesquisa. Ao aproximar-se do campo, o pesquisador munido dos

instrumentos, suas ferramentas táticas, poderá desenvolver a pesquisa de forma planejada e

articulada.

Na coleta de dados o critério que subsidiou os instrumentos metodológicos situa-se no

fator da eficácia do contato com os sujeitos da pesquisa, além de ser a entrevista, segundo

Poupart (2008), um instrumento privilegiado de acesso à experiência dos atores. Marconi e

Lakatos (2005, p. 83) apontam algumas vantagens que a técnica de entrevista oferece:

a) Pode ser utilizada com todos os segmentos da população: analfabetos ou

alfabetizados.

b) Fornece uma amostragem muito melhor da população geral: o entrevistado

não precisa saber ler ou escrever.

c) Há maior flexibilidade, podendo o entrevistador repetir ou esclarecer

perguntas, formular de maneira diferente; especificar algum significado,

como garantia de estar sendo compreendido.

d) Oferece maior oportunidade para avaliar atitudes, condutas, podendo o

entrevistado ser observado naquilo que diz e como diz: registro de reações,

gestos etc.

e) Dá oportunidade para a obtenção de dados que não se encontram em fontes

documentais e que sejam relevantes e significativos.

f) Há possibilidade de conseguir informações mais precisas, podendo ser

comprovadas, de imediato, as discordâncias.

g) Permite que os dados sejam quantificados e submetidos a tratamento

estatístico.

O tipo de entrevista mais adequado para as pesquisas realizadas em educação sob a

abordagem qualitativa são os esquemas mais livres, menos estruturados; assim, as informações

são mais fáceis de serem abordadas através de um instrumento mais flexível. Um exemplo está

nas entrevistas semiestruturadas que:

combinam perguntas abertas e fechadas, onde o informante tem a

possibilidade de discorrer sobre o tema proposto. O pesquisador deve seguir

um conjunto de questões previamente definidas, mas ele o faz em um contexto

muito semelhante ao de uma conversa informal. O entrevistador deve ficar

atento para dirigir, no momento que achar oportuno, a discussão para o assunto

que o interessa fazendo perguntas adicionais para elucidar questões que não

ficaram claras ou ajudar a recompor o contexto da entrevista, caso o

informante tenha “fugido” ao tema ou tenha dificuldades com ele. Esse tipo

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de entrevista é muito utilizado quando se deseja delimitar o volume das

informações, obtendo assim um direcionamento maior para o tema, intervindo

a fim de que os objetivos sejam alcançados (BONI; QUARESMA, 2005, p.

88).

Nesse tipo de entrevista, segundo a autora, o entrevistador pode implementar questões

que acredite serem importantes para a pesquisa, que não se encontram previstas na lista de

perguntas a serem feitas, ou seja, propicia que determinadas questões sejam abordadas em

profundidade, além de dar voz aos protagonistas da realidade cotidiana. Caracteriza-se,

portanto, por uma entrevista mais aberta onde o entrevistado fala livremente sobre o assunto.

Baseado nesses critérios utilizamos na pesquisa a entrevista semiestruturada, pois como

vimos, propicia que determinadas questões sejam abordadas em profundidade, além de dar voz

aos protagonistas da realidade cotidiana. Na aplicação desse instrumento alguns princípios são

primordiais: “[...] obter a melhor colaboração do entrevistado, colocá-lo o mais à vontade

possível na situação de entrevista, ganhar a sua confiança e, enfim, fazer com que ele fale

espontaneamente e aceite se envolver” (POUPART, 2008, p. 228).

Na entrevista o contato direto com o entrevistado estabelece pouco a pouco essa relação

de escuta sensível, aprendizagem e senso crítico, fatores cruciais para o bom desempenho do

estudo. Dessa forma,

A entrevista do tipo qualitativa seria necessária, uma vez que uma exploração

em profundidade da perspectiva dos atores sociais é considerada indispensável

para uma exata apreensão e compreensão das condutas sociais [...] a entrevista

do tipo qualitativo parece necessária, porque ela abriria a possibilidade de

compreender e conhecer internamente os dilemas e questões enfrentadas pelos

atores sociais (POUPART, 2008, p. 216).

Os roteiros de entrevista foram elaborados de acordo com os objetivos geral e

específicos da pesquisa, na busca de seguir a trilha impulsionada pelo problema de pesquisa.

Como as entrevistas foram semiestruturadas as perguntas se desenrolaram “[...] a partir de um

esquema básico, porém não aplicado rigidamente, permitindo que o entrevistador faça as

necessárias adaptações” (LUDKE; ANDRÉ, 1986, p. 45).

As entrevistas foram realizadas com o fundador do curso e com os egressos do Instituto

de Fé e Política, que fizeram parte da primeira turma do Instituto de Fé e Política do ano de

2006 sendo que do montante de 30 cursistas que participaram da formação, serão entrevistados

5 egressos obedecendo ao critério de acessibilidade, pois muitos dos sujeitos se encontram fora

do Estado e/ou moram muito longe da Diocese.

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Outro critério de escolha dos egressos foi o fato de atuarem nas cidades mais próximas

que fazem parte da diocese de Amargosa na busca de conhecer de forma abrangente o campo e

as práticas desenvolvidas. Inicialmente entramos em contato com o fundador do Instituto de Fé

e Política apresentando a proposta de pesquisa e conversamos sobre o interesse em desenvolver

o estudo, bem como o comprometimento e responsabilidade nos passos a serem dados e na

aplicação dos instrumentos de coleta de dados e relevância científica da pesquisa.

A etapa de análise ocupa um lugar especial na pesquisa, assim como a revisão

bibliográfica auxilia na elaboração de explicações durante a coleta de dados e na própria análise,

permitindo o esclarecimento e entendimento dos dados, além de ajudar na categorização e

relação entre a teoria e o mundo real (DESLAURIERS; KÉRISIT, 2008).

Nesse contexto, utilizamos a técnica Análise de Conteúdo, que versa sobre um

“conjunto de técnicas de análise das comunicações que utiliza procedimentos sistemáticos e

objetivos de descrição do conteúdo das mensagens” (BARDIN, 2009, p. 40). Essa técnica

permite analisar diferentes conteúdos como jornais, documentos, livros, como também pode ser

aplicada a documentos pessoais como discursos, textos etc., pois todas essas formas de

documentação têm importância no processo de pesquisa, permitindo uma análise adequada.

Na análise de conteúdo o primeiro passo consiste em realizar uma pré-análise. Portanto,

inicialmente, foi feito o contato inicial com as entrevistas transcritas e com alguns documentos

do Instituto de Fé e Política. Num segundo momento, explorei os materiais selecionados

identificando categorias que são “expressões ou palavras significativas em função das quais o

conteúdo de uma fala será organizado” (MINAYO, 2014, p. 317). Como por exemplo: ação,

comunidade, militância, transformação, podem se configurar como uma codificação de

categoria “prática”.

Na terceira e última fase, concernente ao tratamento dos dados, realizaremos as

interpretações e inferências dialogando com o quadro teórico do objeto de estudo, o qual exigirá

constantes retomadas aos dados de campo e ao exercício da revisão bibliográfica, o que se torna

fundamental para a elaboração de todo o trabalho.

1.4 Amargosa: a cidade jardim

Em 21 de abril de 1877 a resolução provincial nº 1.726 cria a Vila de Nossa Senhora do

Bom Conselho de Amargosa e só em 19 de junho de 1891 é reconhecida como cidade,

outorgada na época pelo governador da Bahia, José Gonçalves da Silva. Amargosa é uma cidade

localizada na mesorregião do Centro-Sul Baiano, no Vale do Jiquiriçá, e é conhecida como

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“Cidade Jardim” pela beleza de suas praças e jardins, um dos cartões-postais mais bonitos da

região com 34.351 habitantes.

Conforme Santos (2015), historicamente na cidade de Amargosa, contam que a primeira

ocupação em seu território ocorreu pelos índios Kariris de língua Karamuru, descendentes dos

Sabujas ou Payayas. Através de pesquisas feitas sobre o município, pesquisadores apontam

conflitos pela terra originando um campo de amplos movimentos de combate entre os

bandeirantes e os nativos das respectivas localidades, tendo sido os índios barbaramente

massacrados e dizimados pelos colonizadores portugueses.

A partir da década de 1850, houve um crescimento muito significativo na economia do

“município”, por meio da entrada da lavoura cafeeira. Com o surgimento desse produto,

conforme se apresenta, incidiu a vinda demasiada de colonizadores que acabavam se

beneficiando com as quantidades de áreas rurais da região. Mas foi no final do século XIX que

chegaram famílias de europeus portugueses atraídas pela economia do Recôncavo, onde

passaram a desenvolver atividades dentro do comércio, principalmente na venda de café e fumo,

produtos de grande valor econômico.

O município de Amargosa tornou-se o centro de uma região de economia

basicamente cafeeira e fumageira, aparecendo em menor escala o cacau, a

cana-de-açúcar. Dentre os produtos de subsistência a mandioca, feijão, milho

e banana propiciaram o surgimento da feira livre, que logo passou a ser um

local de referência de comercialização de toda a região (LOMANTO NETO,

2007, p. 155).

Nesse período histórico foi construída uma “estrada de ferro” que se constituiu uma das

mais importantes obras do município de Amargosa, devido ao escoamento da produção do café

em quase todo o estado e pela diversidade de indústrias, hotéis e outros estabelecimentos;

segundo o autor, as famílias italianas Bartilotti, Checucci, Contelli, Ferrari, Lomanto, Longo,

Maimone, Orrico, Scaldaferri, Tude, Vinhola, Vita; e os espanhóis D’ Ávila, ampliaram as

atividades no comércio com mercearias de secos e molhados, chegando Amargosa a ser

considerada por alguns historiadores de “pequena São Paulo”.

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Foto 1 - Padres e freiras na Estação de trem de Amargosa construída em 1892

Fonte: https://www.ufrb.edu.br/cfp/galeria-de-fotos

Assim, com a criação da estrada de ferro em Amargosa, a economia local se destaca

nessa época promovendo exportações diretamente para outros centros de comércios no Brasil

e na Europa. Dessa maneira, toda essa inovação e avanço na produtividade originaram diversos

armazéns de compra de café e fumo em toda a região do Vale do Jequiriçá e também da região

do Recôncavo baiano (LOMANTO NETO, 2007).

Nesse contexto histórico, destaca-se também uma contribuição igualmente importante

no município: A criação da diocese de Amargosa. Mediante a posse do primeiro bispo

diocesano Dom Florêncio Sizínio Vieira, em 1941, é criada a diocese de Amargosa. Segundo

os estudiosos, o território que a diocese dominava, envolvia uma ampla extensão de terras, que

ia do Recôncavo Baiano ao norte de Minas Gerais. Todavia, em 1957, a diocese de Amargosa

perde esse território a partir do desmembramento com a região de Vitória da Conquista, que

passa a pertencer à diocese da cidade de Jequié.

A criação da diocese de Amargosa foi algo extraordinário para uma pequena população

da cidade, o que gerou significativas contribuições para a educação do município e região

através da implantação do Seminário Menor de Amargosa e o Ginásio Santa Bernadete, este

último dirigido pelas irmãs sacramentinas, em 1946.

Foi um momento de concretização inovadora que contou com a ajuda da elite local em

expandir a educação formal obviamente para beneficiar seus filhos, parentes e principalmente

as mulheres que viam na criação dessa instituição possibilidades de ampliar o acesso à educação

formal na região.

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Além dessa conquista no âmbito da educação formal, deve-se mencionar um fato

histórico de grande importância nos anos 1960 na diocese: A criação do Movimento de

Educação de Base (MEB) em Amargosa e região, incorporando uma nova visão de ser Igreja,

brotado para firmar sua presença notoriamente social ao lado dos pobres e dos que eram

injustiçados, sob as “vozes” de um projeto educativo.

Segundo Fávero (2002), o MEB foi um movimento fruto da Igreja Católica, gestado no

ano de 1961 com o objetivo de desenvolver um projeto de educação de base através de escolas

radiofônicas sob os cuidados da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), junto aos

estados do Norte, Nordeste e Centro-Oeste do país.

Em Amargosa e região esse movimento contribui com o surgimento de novas lideranças

na cidade e a constituição de sindicatos e associações, proliferando e fortalecendo com isso os

Movimentos Sociais Rurais da época, como bem nos conta um depoente da cidade de Mutuípe

e também egresso do Instituto de Fé e Política, que participou desse processo:

Pra você ter ideia, Mutuípe ficou 74 anos na mão de apenas um grupo político,

ou seja, desde 1926 até 2000 o município ficava apenas com um grupo político

que dominou. Então não pense que era fácil pra ver um trabalhador, uma

trabalhadora da comunidade mesmo ligado à Igreja pra vim refletir conosco o

sofrimento, a vida e a fé ligada à vida. Então a Diocese de Amargosa... aí a

gente tem que realmente tirar o chapéu que já tinha um movimento antigo

chamado MEB que ficava direcionado aos municípios vizinhos de Amargosa.

Elísio Medrado, São Miguel e a própria Amargosa. Bebendo da experiência

do pessoal do MEB, nós construímos na época, a Pastoral Rural da Diocese

de Amargosa. Então o MEB foi importante naquele período. Ajudei em muitos

municípios: São Felipe, Rafael Jambeiro, Tancredo Neves, Laje. Nós

estávamos lá, ou brigando para tomar sindicatos ou fundando sindicato dos

trabalhadores, né?! Com aqueles padres mais ligados da Teologia da

Libertação. (ENTREVISTADO Nº 1)

Esse pronunciamento demonstra claramente que a diocese de Amargosa possibilitou,

através do MEB, uma prática política progressista que tinha como escopo trabalhar em

direcionamento de uma Educação Popular, constituindo-se de uma educação empenhada e

participativa, dirigida pela perspectiva de cumprimento dos direitos do povo, promovendo a

participação popular e comunitária da população pobre e excluída das regiões circunvizinhas.

Obviamente, esse movimento se tornou uma “pedra no sapato” dos poderosos da região

gerando tensão e incômodo nas elites e setores religiosos conservadores, justamente pelo fato

de o MEB propor uma ação pedagógica pautada numa formação moral, profissional e

principalmente agrícola, por se tratar em sua maioria de sujeitos advindos da zona rural, bem

como cuidar da espiritualidade da população, que por sinal era característico do movimento

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estabelecer essa união entre a fé e a vida. Nesta mesma época instaura-se o golpe militar de

1964. Censuras, torturas e perseguições a freiras e padres que comungavam de um

posicionamento político libertador se tornaram recorrentes.

No final dos anos de 1980, Amargosa rompe com as oligarquias e o povo alcança eleger

a primeira mulher prefeita da cidade. Nesse período histórico, a prefeita Iraci Silva, com suas

ações políticas, ergue o município com investimentos feitos na parte de infraestrutura urbana,

com o propósito de fortalecer o turismo em sua gestão. Atualmente, os investimentos no

comércio e indústria juntamente com a festa de São João em Amargosa vêm sendo destaque no

cenário regional e nacional, atraindo multidões de todo canto (LOMANTO NETO, 2007).

Segundo o autor, mais recentemente em 2005, com o Partido dos Trabalhadores (PT)

no poder, Amargosa é contemplada com um campus da Universidade Federal do Recôncavo da

Bahia (UFRB), fruto de ações administrativas corroboradas também pelas mobilizações

populares do município no intuito de proporcionar uma “educação capaz de mobilizar a

sociedade em torno de projetos políticos coletivos, tornando-se assim sujeitos do próprio

desenvolvimento” (LOMANTO NETO, 2007, p. 159).

Em 2006 as aulas da universidade iniciam com apenas três cursos: Licenciatura em

Matemática, Física e Pedagogia, configurando um Centro de Formação de Professores, uma

conquista significativa para Amargosa e região.

Foto 2 - Pavilhão de aulas da UFRB campus Amargosa

Fonte: https://www.ufrb.edu.br/cfp/galeria-de-fotos

Atualmente o número de cursos aumentou para sete, fazendo parte os cursos de

Licenciatura em Química, Filosofia, Letras e Educação Física. Inclusive, cursos muito bem

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avaliados através do reconhecimento do Ministério da Educação (MEC) com o conceito 5

(cinco), o mais alto concedido a um curso de graduação em nível superior. Ainda hoje o Centro

de Formação de Professores vem recebendo estudantes de todo o Recôncavo baiano além de

outros estudantes de diversas partes do Brasil.

Foto 3 - Praça da Catedral, atualmente um dos cartões-postais mais bonitos de Amargosa

Fonte: https://www.ufrb.edu.br/cfp/galeria-de-fotos

1.5 Sujeitos da pesquisa

A escolha dos sujeitos para a realização desta pesquisa se deu através do contato com o

campo empírico dos movimentos pastorais da Igreja Católica da diocese de Amargosa.

Primeiramente, para que este estudo fosse realizado, buscou-se ir ao encontro de cinco sujeitos

atuantes espalhados pelos municípios da diocese de Amargosa, a fim de deixá-los cientes do

que é que se deseja deles e qual pode ser sua contribuição para o esclarecimento da situação

que lhes interessa.

Para tanto, estabelecemos os seguintes critérios para efetivar a escolha desses sujeitos:

a) Ser egresso do curso de Gestão em Organização e Movimentos Populares de Base, do

Instituto de Fé e Política de Amargosa (primeira turma do ano de 2010);

b) Pertencer à região que engloba a diocese de Amargosa;

c) Estar militando em seus espaços de atuação social.

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A partir do levantamento desses critérios, selecionamos 05 (cinco) egressos, sendo 01

do município de Taperoá, 01 do município de Mutuípe, 02 da cidade de Santo Antônio de Jesus

e 01 da cidade de Presidente Tancredo Neves.

Os sujeitos aderiram de forma voluntária participar do processo de pesquisa. Com o

intuito de preservar a identidade dos sujeitos da pesquisa, foram codificados com números de

01 a 05, certificando-se que a proposta investigativa assegura o consentimento informado e a

segurança dos envolvidos.

Mediante a realização das entrevistas, foi possível delinear o perfil dos egressos do

referido curso a partir de 08 (oito) variáveis: idade, gênero, estado civil, religião, local de

moradia, nível de formação, cargo que ocupa, renda salarial, conforme podemos visualizar no

diagrama 1.

Refletir sobre a presença e o agir dos entrevistados constitui sair das fronteiras visíveis

da igreja institucional, acolher todas as questões suscitadas por eles e estar atento às

transformações de seu contexto.

A partir dos dados apresentados, podemos perceber que os sujeitos entrevistados são

militantes de movimentos sociais, onde desenvolvem suas ações em suas organizações: A faixa

etária se dá entre 33 e 51 anos, sendo 3 casados, 1 viúva e 1 solteiro, 4 do gênero masculino e

1 do gênero feminino. Quanto à escolarização, dos 5 entrevistados, 3 possuem ensino superior

completo e apenas 2 com curso em andamento. Verifica-se também que todos os sujeitos

entrevistados permanecem católicos, visto que o critério do curso exigia uma aproximação com

a Igreja Católica, e oriundos das comunidades eclesiais de base, o que faz com que desenvolvam

também atividades junto aos movimentos pastorais da Igreja.

Inspirados na fé, esses trabalhadores sociais cristãos leigos e leigas se lançam em seus

espaços de atuação nas comunidades de base, sindicatos, pastorais e em outros movimentos em

defesa dos direitos humanos no campo e na cidade apresentando um cristianismo de espírito

crítico que se compromete com a realidade social.

Isso alude à precisão constante dos militantes de expandir cada vez mais seus

conhecimentos, não somente de forma metódica e técnica da ação, mas exigindo-se uma

reflexão crítica de seu quefazer6.

6 Termo utilizado para designar o trabalho e/ou atividade que se faz por hábito.

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Diagrama 1 - Caracterização dos sujeitos da pesquisa quanto aos dados pessoais e

profissionais

Fonte: Elaboração própria, 2018.

SUJEITOS DA PESQUISA: Os

egressos dos instituto de fé e

política de Amargosa

Idade:

entre 33 e 51 anos

Gênero:

4 do gênero masculino e 1 do gênero feminino

Estado Civíl:

3 casados; 1 viúva; 1 solteiro

Nível de Formação:

4 superior completo;

1superior em andamento

Local de moradia:

Santo Antônio de Jesus

Taperoá

Tancredo Neves

Mutuípe

Religião:

Todos sãocatólicos

Cargo que ocupa:

1 Acessor politico

1 Vereador

4 Presidentes de sindicatos, sendo que

todos exercem atividades junto a Pastorais sociais.,

como tambem exercem duas

funções.

Remuneração:

de R$ 2.500 a R$ 5.000

ou seja, de 02 a 05 Salários Mínimos

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Apesar de os egressos do Instituto de Fé e Política serem oriundos da zona rural,

atualmente são moradores da zona urbana situados nas regiões do Recôncavo Baiano, Vale do

Jequiriçá e Baixo Sul da Bahia. No entanto, experienciam o processo de serem sujeitos rurais

com vivências urbanas, onde os sujeitos estabelecem suas relações sociais de diferentes

aspectos, seja pela convivência nos sindicatos de trabalhadores rurais, seja na escola, no seio

da Igreja, trabalho ou em outros movimentos.

O entrevistado n° 1 é morador do município de Mutuípe, atualmente é presidente do

Sindicato dos Trabalhadores Rurais e é representante dos movimentos sociais exercendo a

função de vereador há mais de 24 anos em seu oitavo mandato consecutivo. Além dessas

funções, desenvolve atividades junto às CEBs na comunidade do Pastinho.

O entrevistado n° 2 milita junto ao movimento “11 de Dezembro” na cidade de Santo

Antônio de Jesus que é constituído de famílias que perderam 64 pessoas numa explosão de

fogos em 1998. Além disso, é presidente da Dimensão Sociotransformadora da Diocese de

Amargosa.

O entrevistado n° 3, o qual é militante do movimento sindical, começou sua militância

na igreja, catequese, pastoral da juventude e atualmente é presidente do Sindicato dos

Comerciários na cidade de Santo Antônio de Jesus. Ainda é membro do movimento 11 de

Dezembro, que acompanha os processos trabalhistas, criminal e dos processos federais das

pessoas que morreram na fábrica de fogos, como também é filiado ao Partido dos

Trabalhadores.

Outro sujeito da pesquisa, nº 4, é docente da rede municipal, presidente do Sindicato

dos Servidores Públicos; atua junto aos movimentos pastorais da cidade como a Pastoral da

Criança e Pastoral do Batismo, atuante na Dimensão Sociotransformadora e membro da Frente

Popular em sua cidade.

O entrevistado nº 5 reside no município de Presidente Tancredo Neves, no qual atua no

sindicato dos trabalhadores da agricultura familiar da cidade há 17 anos, onde atualmente é

coordenador da parte de habitação rural. O sujeito também tem suas raízes dentro dos

movimentos pastorais católicos. Em sua comunidade já atuou como catequista e até hoje

desenvolve atividades junto à Igreja como integrante do grupo de homens de sua cidade.

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2 UM OLHAR SOBRE A EDUCAÇÃO POPULAR E SUAS PRÁTICAS EDUCATIVAS

NOS MOVIMENTOS SOCIAIS

Levando em consideração o objeto de estudo desta dissertação, este capítulo tem como

escopo discutir sobre movimentos sociais e estabelecer sua relação com a educação. Evidencia-

se também o debate sobre Educação Popular, a partir das ações práticas de movimentos e grupos

sociais, bem como refletir sobre a contribuição desse tipo de educação para os movimentos

sociais. Aborda-se também uma análise do contexto histórico da opção da diocese de Amargosa

e da própria região pela política, buscando situar o leitor sobre as primeiras organizações às

hodiernas ações que se configuram em suas práticas em inúmeros movimentos e pastorais,

inclusive no que impulsionou a criação do Instituto Educativo de Fé e Política de Cáritas da

Diocese de Amargosa-BA.

2.1 Educação Popular e a Teologia da Libertação

Ao longo da história a Educação Popular tem assumido concepções diferentes no que

concerne à sua teoria educacional. Ela tem sua gênese nos Movimentos Sociais Populares de

luta e resistência do povo na América Latina. A trajetória da Educação Popular pode ser

apresentada por Paludo (2012, p. 283) no trecho a seguir:

As raízes da educação popular são as experiências históricas de enfrentamento

do capital pelos trabalhadores na Europa, as experiências socialistas do Leste

Europeu, o pensamento pedagógico socialista, as lutas pela independência na

América Latina, a teoria de Paulo Freire, a teologia da libertação e as

elaborações do novo sindicalismo e dos Centros de Educação e Promoção

Popular. Enfim, são as múltiplas experiências concretas ocorridas no

continente latino-americano e o avanço obtido pelas ciências humanas e

sociais na formulação teórica para o entendimento da sociedade latino-

americana.

Para a autora, a Educação Popular vem de um acumulado histórico, destacando a

América Latina como um continente em que houve muitas experiências de educação ligadas

diretamente aos setores populares, desenvolvidas tanto pela classe trabalhadora quanto por

setores católicos e intelectuais comprometidos com a sociedade, apresentando um pensamento

libertário, radical, amoroso e revolucionário.

De acordo com Streck (2013), a América Latina se caracteriza no cenário mundial por

ter sido um lugar de experimento de políticas neoliberais ávidas pelas ditaduras opressoras. No

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entanto, paradoxalmente a isto, foi também um lugar onde mais cedo se verificaram os

movimentos de resistência.

Nesse contexto, Mota Neto (2016) esclarece que a Educação Popular passa a se

caracterizar como um paradigma teórico-prático que assume uma opção preferencial pelo povo

que mais sofre, fazendo críticas contundentes ao colonialismo. Dessa forma, põe os oprimidos

como os principais responsáveis pela própria libertação, ou seja, fazendo a luta política

“descolonizada”, que se estabelece por uma política própria do povo em suas lutas. Frente a

essa discussão, o autor supracitado apresenta quatro características da Educação Popular latino-

americana como determinantes das lutas populares:

a) A Educação Popular propõe uma teoria renovadora de relações homem-

sociedade-cultura-educação e uma pedagogia que pretende fundar, a partir

das relações, uma educação libertadora.

b) A Educação Popular realiza-se inicialmente no domínio específico da

educação de adultos das classes populares, definindo-se, aos poucos, como

um trabalho político de libertação popular e de conscientização dos

movimentos populares.

c) A Educação Popular afasta-se de ser apenas uma atividade de

escolarização popular para ser toda e qualquer prática sistemática de

intercâmbio de saber, partindo das próprias práticas sociais populares.

d) A Educação Popular é um trabalho político de mediação a serviço de

projetos, sujeitos e movimentos populares de classe, visando à construção

de uma hegemonia no interior da sociedade capitalista dependente.

(MOTA NETO, 2016, p. 118).

Não cabe dúvidas que o impacto dessas experiências de pedagogia marca

profundamente a América Latina e coloca em destaque o aspecto comum do que chamamos de

Educação Popular, isto é, a participação, autonomia e o empoderamento das classes populares

para serem protagonistas de uma mudança societária.

Embora Paludo (2012) e outros autores entendam que as raízes da Educação Popular

são as experiências históricas de enfrentamento do capital pelos trabalhadores na Europa, a

perspectiva de Educação Popular de que se trata aqui, nasce no Brasil, e Paulo Freire, por

sistematizar as variadas experiências que vivenciava com outros educadores nos anos de 1950,

marca o momento desenvolvendo uma “pedagogia para a libertação”.

Este conceito de educação segundo Picon (2006) não se restringia a fórmulas e técnicas

de memória, mas a uma teoria do conhecimento de pedagogia popular que direcionava, através

de seus fundamentos, uma intervenção na realidade. Esse momento histórico pode ser descrito

por Freire em linhas abaixo:

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Vivia o Brasil, exatamente, a passagem de uma para outra época. Daí que não

fosse mais possível ao educador, então, mais do que antes, discutir seu tema.

Todos os temas e todas as tarefas características de uma “sociedade fechada”.

Sua alienação cultural, de que decorria sua posição de sociedade “reflexa” e a

que correspondia uma tarefa alienada e alienante de suas elites. Elites

distanciadas do povo. Superpostas à sua realidade. Povo “imerso” no

processo, inexistente enquanto capaz de decidir e a quem correspondia à tarefa

de quase não ter tarefa. De estar sempre sob. De seguir. De ser comandado

pelos apetites da “elite”, que estava sobre ele. Nenhuma vinculação dialogal

entre estas elites e estas massas, para quem ter tarefa seria somente seguir e

obedecer. Incapacidade de ver-se a sociedade a si mesma (FREIRE, 1979c, p.

46-47).

Para o autor, Educação Popular é a que:

Substantivamente democrática, jamais separa do ensino dos conteúdos o

desvelamento da realidade. É a que estimula a presença organizada das classes

sociais populares na luta em favor da transformação democrática da

sociedade, no sentido da superação das injustiças sociais. É a que respeita os

educandos, não importa qual seja sua posição e classe e, ao mesmo tempo,

leva em consideração, seriamente, o seu saber de experiência feito, a partir do

qual trabalha o conhecimento com rigor de aproximação aos objetos. [...] É a

que não considera suficiente mudar apenas as relações entre educadora e

educandos, amaciando essas relações, mas, ao criticar e tentar ir além das

tradições autoritárias [...] critica também a natureza autoritária e exploradora

do capitalismo (FREIRE, 2007, p. 103-105).

Partindo dessa pressuposição, Freire inova as formas de se pensar e trabalhar os

conteúdos na alfabetização das classes populares, constituindo uma relação dialética com a

cultura inserida na realidade dos sujeitos históricos, possibilitando com que eles captem o

mundo com um pensamento consciente e crítico.

Esse método, de acordo com Scocuglia (2003), permitia ao indivíduo passar de uma

consciência ingênua para a consciência crítica, constituindo o binômio alfabetização-

conscientização, que implicaria num compromisso histórico de libertação. Nesta clara relação

entre alfabetização e conscientização, Wanderley (2010, p. 36) apresenta as características da

consciência crítica asseveradas por Freire (1979d, p. 40-41) que engloba como uma das

categorias principais da Educação Popular:

a) Anseio de profundidade na análise de problemas. Não satisfaz com as

aparências.

b) Reconhece que a realidade é mutável.

c) Substitui situações ou explicações mágicas por princípios autênticos de

causalidade.

d) Procura verificar ou testar as descobertas. Está sempre disposta às revisões.

Ao se deparar com um fato, faz o possível para livrar-se de preconceitos.

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e) Repele posições quietistas. Indaga, investiga, força, choca.

f) Ama o diálogo, nutre-se dele.

g) Face ao novo, não repele o velho por ser velho, nem aceita o novo por ser

novo, mas aceita-os na medida em que são válidos.

Através desse tencionamento, os movimentos de alfabetização de adultos começam a

utilizar as propostas metodológicas de Freire unindo a alfabetização ao processo de

conscientização. Nessa aspiração, constata-se que o “Método Paulo Freire” na medida em que

era ensinado às camadas populares também servia de estratégia política para a manutenção do

populismo no poder. Isto é, uma estreita relação entre ação educativa e a ação política

(SCOCUGLIA, 2003).

No final dos anos de 1970, o Brasil passa por um processo gradativo de

redemocratização, e, nesse processo, ocorre a organização de vários movimentos sociais

populares em resistência à ditadura militar, em especial, o surgimento das Comunidades

Eclesiais de Base (CEBs)7.

Com esse indubitável impacto e contribuição das CEBs ao trabalho popular, a Educação

Popular ganha um novo perfil. Já não bastava saber ler e escrever nos moldes da conscientização

como Freire desenvolveu nos anos de 1960. O que esperava agora era o engajamento do povo

como agente político, fruto desse processo de conscientização. É nesse sentido freireano de

educação que os sujeitos direcionavam seu olhar a um futuro melhor, sendo partícipes ativos

na transformação da realidade e de sua história (HOLLIDAY, 2006b).

Vale ressaltar que muitos padres e educadores religiosos que estavam engajados no

movimento da Teologia da Libertação, e, portanto, considerados mais progressistas e

democráticos dentro da Igreja Católica, comungavam dos mesmos princípios da Educação

Popular.

Ao longo de sua história, a Igreja Católica passou por intensas transformações nos

campos da ação e da sua produção teológica. Em certo contexto, mais precisamente a partir do

papado de Leão XIII (1891), a Igreja formou um conjunto de ensinamentos por meio de cartas

ou encíclicas configurando um pensamento católico para a questões sociais. Esse processo foi

engendrado nos contextos papais em diferentes épocas e diferentes papados, a saber: a Rerum

Novarum, no papado de Leão XIII; Quadragesimo Anno, do Papa Pio XI; a Mater et magistra

7 As pessoas que compunham as CEBs nesse período eram, geralmente, pessoas de remuneração salarial baixa,

moradores de periferias, pequenos sítios que forneciam mão de obra para o trabalho agrícola. Eram

semianalfabetas, sabiam ler, mas sem entender o que estava escrito. Importante destacar sua atuação no período,

pois suas mensagens “religiosas-políticas” conseguiam infiltrar lugares longínquos em que a esquerda

dificilmente penetraria.

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e Pacem in terris, de João XXIII; Populorum progressio, de Paulo VI e o Laborem exercens,

de João Paulo II.

Dentro desse princípio, podemos observar que as encíclicas são originadas

gradativamente em contextos históricos diferentes. Elas não foram elaboradas no mesmo

momento, o que nos permite dizer que a Doutrina Social da Igreja não é completa, acabada,

mas é adaptada com a evolução da história através desses documentos, voltando-se para a

centralidade e dignidade da pessoa humana.

É nesse contexto que a Igreja latino-americana abre as portas para a sociedade, num

momento de crítica ao sistema capitalista, na qual captam os graves problemas que surgiam

dentro da realidade do continente, motivada pelo Concílio Vaticano II e pela Conferência

Episcopal Latino-Americana de Medellin (1968), um ensinamento social que ajudava as

pessoas, em sua condição social, a buscar soluções para seus problemas. No entanto, “não basta

expor os preceitos sociais, mas é preciso aplicá-los de fato” (MATER ET MAGISTRA, 2009,

p. 80).

Após o Concilio Vaticano II (1962- 1965) a Igreja Católica, em especial, na

América Latina sofreu profundas alterações de ordem moral, cultural, social e

política. Na América Latina os novos ventos que sopravam fizeram com que

setores da Igreja se colocassem na contramão da história. Assim, a Instituição

eclesiástica que historicamente se aliava aos nobres e, posteriormente, com a

burguesia na sociedade liberal, colocava-se diante de novas tendências, ou

seja, setores da Igreja passaram a organizar o povo, os pobres, os camponeses,

entre outros. A chamada opção preferencial pelos pobres foi amplamente

discutida durante os anos 1968 a 1990 em toda realidade latino-americana

(NASCIMENTO, 2010, p. 92).

Dentro dessa perspectiva vê-se que a Igreja Católica Romana passou por mudanças

significativas no mundo, em especial na América Latina, um continente muito explorado, mas

paradoxalmente intrépido, utópico, apresentando uma Igreja rachada, visto que as correlações

de força se acentuam. Se de um lado tem-se a velha ala conservadora, aliada à elite dominante,

de outro tem-se uma corrente mais coesa com o povo, com o mundo secular, comprometida

com a promoção da justiça social.

Destarte, essa aproximação da Igreja com a sociedade deu um norte a novas medidas

elaboradas pela própria Igreja Católica através do Concílio Vaticano II, realizando a

Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano em Medellin sob o papado de João XXIII,

conforme foi dito anteriormente. Algumas dessas medidas apontam questões sobre a Educação,

alargando seu conceito direcionado à participação social do sujeito.

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Sendo assim, muitas dessas medidas tomadas pelo Concílio Vaticano II abriram espaços

para orientações políticas dentro da Igreja, na qual as pessoas se comprometiam na prática

passando a elaborar uma teologia política como uma necessária resposta aos sinais dos tempos”

(REGA, 2011, p. 48). Uma Igreja preocupada em preparar as pessoas para o diálogo, nas

pegadas de uma educação para a liberdade ou para uma Teologia da Libertação (TdL)8.

Na medida em que a Doutrina Social da Igreja apresenta orientações para a ação social

dos cristãos, a TdL tenta agregar essas orientações em sua síntese, buscando refletir a partir da

prática dos oprimidos contra sua pobreza e em favor de sua libertação integral. Por isso vale

sublinhar que o método da Teologia da Libertação vai de encontro com a prática concreta em

que se dá dialeticamente entre a teoria (fé) e práxis9 (ação).

Para Gustavo Gutiérrez (2000, p. 68), a Teologia da Libertação é, necessariamente,

“uma crítica da sociedade e da Igreja enquanto convocadas e interpeladas pela palavra de Deus;

uma teoria crítica a Luz da Palavra aceita na fé, animada por uma intenção prática”, fazendo

com que os teólogos acoplassem esse tipo de pensamento à perspectiva de transformação social.

Sung (1994, p. 82), em sua análise sobre a TdL, a caracteriza em cinco pontos fundamentais:

a) A práxis de libertação dos pobres e o compromisso evangélico de outros

setores sociais com eles. A consciência dessa práxis gera uma nova

linguagem religiosa e teológica, fruto da relação dialética entre práxis e

teoria presente na metodologia desse novo pensar teológico.

b) A necessidade de análise científica da realidade social com o recurso da

teoria da dependência e, posteriormente, com o que se denominou

mediações socioanalíticas.

c) A consciência do condicionamento socioeconômico da teologia e da Igreja

e a crítica de ambos a partir da ótica da libertação histórica dos pobres.

d) A perspectiva de a reflexão teológica estar a serviço da transformação da

sociedade, com indicações práticas e concretas de caminhos históricos de

libertação sociopolítica. Nesse sentido, a Teologia da Libertação não se

esgota no âmbito acadêmico.

e) O lugar central da economia na reflexão teológica para, entre outros

aspectos estabelecer uma crítica ao messianismo tecnologista, às relações

entre capital e trabalho, e vislumbrar alternativas de cunho socialista.

Esse fundamento da Teologia da Libertação, ao nosso ver, não se configura apenas como

uma expressão de uma corrente dentro da Igreja, mas vai além disso, nessas circunstâncias,

requer também de quem a pratica lutar contra o modelo econômico capitalista, que exclui e que

concentra suas riquezas para grupos minoritários.

8 A sigla TdL será utilizada referente à Teologia da Libertação. 9 Um termo marxista que significa uma ação refletida, o que diferencia de uma simples ação. A teologia da

libertação segue a logicidade de que o cristianismo significa em primeiro lugar, uma práxis e não uma teoria.

A práxis, portanto, tem em vista uma ação transformadora.

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Evidentemente, este jeito de ser e fazer Igreja, está ligado às possibilidades de alteração

no âmbito social e político na busca de uma sociedade igualitária e participativa. Algumas

dessas experiências foram evidentes no Brasil, a exemplo do Movimento de Educação de Base

(MEB) junto às Comunidades Eclesiais de Base (CEBs).

É nessa aspiração que grandes referenciais da área, a exemplo de Leonardo Boff (1982),

enfatizam a importância de combater a dicotomia existente entre a teoria e a prática dentro desse

processo teológico. Nas palavras de Freire, “a reflexão e ação se impõe, quando não se pretende,

erroneamente, dicotomizar o conteúdo da forma histórica do ser do homem” (FREIRE, 2016,

p. 96).

É possível identificar nos depoimentos de Frei Betto10 e Vidales (1978, p. 54-55),

respectivamente, conforme citado por Preiswerk (1997, p. 228), certa referência a essa ideia

freireana ao falar sobre a Teologia da Libertação:

A teologia da libertação nasce na prática dos cristãos, na base social para

transformar a realidade principalmente nas comunidades eclesiais de base. Ela

não nasce na cabeça dos teólogos. Ela é fruto dessa prática das comunidades,

das pastorais populares. Os teólogos captam toda a água que brota da vida... e

analisam, sistematizam pra devolver para as comunidades e para as igrejas em

geral.11

No mesmo processo metodológico, a teologia da libertação contém os

elementos que fazem com que, vindo ela da práxis, engendre por si mesma a

tendência de regressar ao mesmo povo como uma produção que lhe pertence.

Porém, isto não se pode conseguir senão através de um longo e paciente

exercício pedagógico, não concebido como uma tarefa escolar de transmissão

e aprendizagem, mas como um trabalho de autêntica produção teológica

pastoral no interior e como serviço eficaz ao processo de libertação.

No que diz respeito ao pensamento pedagógico, Paulo Freire em seus trabalhos possui

uma marca muito forte nesse aspecto dito por Frei Betto. Com a criação de uma pedagogia

advinda da cultura popular ele se distancia radicalmente da educação posta pela elite e se

compromete com a classe oprimida. Como vimos, Freire contribuiu para a solidificação da

democracia na sociedade, ao desenvolver um projeto de educação de adultos autenticamente

radical e voltado para libertação dos oprimidos no sistema capitalista.

Para ele, a superação da opressão se dava através do desenvolvimento da práxis social,

mas essa não se dava sem uma consciência crítica. “A educação como prática da liberdade, ao

contrário daquela que é prática de dominação, implica a negação do homem abstrato, isolado,

10 Frei Betto é um escritor e religioso dominicano, figura-chave na propagação da Teologia da Libertação no

Brasil, e militante de movimentos pastorais e sociais, influente em vários setores populares, tendo ocupado a

função de assessor especial do presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva entre 2003 e 2004. 11 Entrevista realizada no 9º Encontro Nacional de Fé e Política, em novembro de 2013, Brasília-DF.

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solto, desligado do mundo, assim como também a negação do mundo como uma realidade

ausente dos homens” (FREIRE, 2016, p. 123).

De forma não tão dicotômica com o ideário de Paulo Freire, seguidores da TdL

interpretam a realidade da pobreza e a exclusão evidenciando uma reflexão teológica pautada

na ação transformadora. “Estar no mundo sem ser do mundo significa, concreta e cada vez mais

claramente, estar no sistema sem ser do sistema” (GUTIÉRREZ, 2000, p. 191).

Tomando isto como base, os cristãos socialmente comprometidos são um dos artifícios

mais ativos e importantes do movimento teológico em estudo. As práticas das Comunidades

Eclesiais de Base, do Movimento de Educação de Base, mostram em sua essência o potencial

educativo que a Igreja Católica, especialmente a ala progressista, representou, colaborando para

uma pedagogia do oprimido, defendendo a educação como uma prática de liberdade. Nas

palavras de Freire.

A pedagogia do oprimido, como pedagogia humanista e libertadora, terá dois

momentos distintos. O primeiro, em que os oprimidos vão desvelando o

mundo da opressão e vão se comprometendo, na práxis, com a sua

transformação; segundo, em que, transformada a realidade opressora, esta

pedagogia deixa de ser do oprimido e passa a ser a pedagogia dos homens em

processo de permanente libertação (FREIRE, 2016, p. 79).

Nesse aspecto, os cristãos socialmente comprometidos com as causas populares

encaravam a realidade com outro olhar fazendo uma leitura “consciente” e histórica de seu

contexto, aspirando uma sociedade justa e igualitária, apresentando a consciência como alicerce

histórico do processo de transformação social.

Dentro desse princípio freireano de leitura consciente da realidade, vê-se claramente a

elaboração de uma teologia da libertação processada em três momentos fundamentais. Neste

ponto, refere-se a uma mediação socioanalítica na qual se procura entender por que o oprimido

é oprimido (ver); a mudança hermenêutica, na qual procuram identificar qual o plano divino

para o pobre (julgar); e a mediação prática voltando-se para o lado da ação, na aspiração de

superar a opressão com base no plano de Deus (agir) (BOFF, L.; BOFF, C., 2010).

A partir dessa relação com o pensamento de Paulo Freire, é notória a sua contribuição

no surgimento da TdL, na qual sua vida está fortemente marcada por esse fundamento teológico.

Costumo dizer que, independentemente da posição cristã na qual tratei de

sempre estar, Cristo será para mim, como o é, um exemplo de Pedagogo... O

que me fascina dos Evangelhos é a indivisibilidade entre seu conteúdo e o

método com que Cristo os comunicava... Esta palavra jamais poderia ser

aprendida se não fosse apreendida e não seria apreendida se não fosse

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encarnada por nós... Daí que falam tanto de boa-nova, sem denunciar o

contexto mau que obstaculiza a realização efetiva da boa-nova; daí que

separamos Salvação e Libertação (FREIRE, 1977 apud PREISWERK, 1997,

p. 52).

Seu pensamento flexível representou uma fusão entre o pensamento católico humanista

com as correntes do marxismo, que, por sua exigência de reflexão teológica crítica pelos

oprimidos, ou seja, por adotar as ciências sociais como sua essência crítica, tornou necessário

fazer um diagnóstico da realidade com esse instrumento de análise, como aponta o autor:

A educação está tomada pela ideologia dominante. Frente a esta realidade, a

pedagogia dos oprimidos tem uma base utópica e um papel profético de

denúncia e de anúncio. Neste nível aparece em Freire a articulação entre a

fonte profético-teológica de seu pensamento e a análise marxista. A denúncia

tem que ser apoiada numa análise rigorosa da realidade (PREISWERK, 1997,

p. 53).

Entretanto, esta rigorosidade fez com que alguns teólogos da libertação assumissem

certo tipo de marxismo e excluíssem outros, principalmente os que são incompatíveis com os

fundamentos da fé cristã. Nessa aspiração Frei Betto expõe que,

Tudo o que desagrada aos opressores, os que oprimem tentam demonizar. Diz

que é marxismo, comunismo... que é isso e que é aquilo. Ne?! E no entanto os

verdadeiros negadores de Deus são eles que fala no amor a Deus, dizem que

tem fé e oprime o pobre, sonega o salário do trabalhador, discrimina os povos

indígenas, os negros... que fazem uma política favorável a seus interesses

privados e não ao bem comum. Paulo Freire como todos nós cristãos da

teologia da libertação, usamos sim o método marxista na arte da realidade,

porque não consideramos o marxismo uma religião e nem consideramos o

marxismo uma ideologia. Assim como São Tomás de Aquino, para fazer

teologia, utilizou a filosofia pagã de Aristóteles, foi muito acusado na época

também, no entanto, hoje é considerado o teólogo oficial da igreja.12

Fundamentalmente, os teólogos da libertação utilizam a ideologia marxista como

método de análise para explicar melhor a realidade social e não como uma “doutrina” ou um

dogma de fé a ser seguido. Um dos principais equívocos da TdL, segundo Frei Betto, é

considerá-la como uma teologia puramente política, ateia, uma teologia que por si mesma nega

os princípios da fé católica.

Desta forma, a TdL utiliza o marxismo de forma instrumental, ou seja, “a Teologia da

Libertação utiliza livremente do marxismo algumas indicações metodológicas que revelam

12Entrevista realizada no 9º Encontro Nacional de Fé e Política, em novembro de 2013, Brasília-DF.

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fecundas para a compreensão do universo dos oprimidos”. Dentro dessa perspectiva analítica,

a atenção à luta de classes e o atentamento para os fatores econômicos são evidentemente

priorizados nesta corrente epistemológica (BOFF, L.; BOFF, C., 2010, p. 45).

Partindo desse pressuposto de metodologia marxista e de pedagogia freireana, essas

práticas trazem em comum conhecimentos como possibilidades de superar as realidades sociais

adversas, implantando propostas que levem o indivíduo a pensar na mudança de realidade, isto

é, numa práxis.

Obviamente que sem querer cair no ecletismo teórico, os integrantes da Teologia da

Libertação estavam cientes que no materialismo histórico dialético Deus é uma invenção dos

homens, mas não era esse aspecto filosófico que estava em questão e sim as ações críticas contra

um sistema capitalista opressor e a consciência de que neste sistema os opressores naturalizam

os fatos sociais, fatos esses que não têm nada de natural, a exemplo da pobreza e desigualdade

social, que são, na verdade, consequências de um sistema de produção que aprofunda tal

desigualdade, visto que o lucro, e, consequentemente, a exploração da classe trabalhadora, é o

motor de seu desenvolvimento e manutenção.

Remetendo-se a Konder (1992), a práxis se configura como uma prática revolucionária,

questionadora e crítico-prática, que compreende que a tarefa do homem é transformar a

realidade opressora, através de sua imersão nas consciências entendida como uma reflexão do

homem sobre o mundo em que está circunstanciado. Segundo o autor, “a práxis é a atividade

concreta pela qual os sujeitos humanos se afirmam no mundo, modificando a realidade objetiva

e, para poderem alterá-la, transformam-se a si mesmos. É a ação que, para aprofundar de

maneira consequente, precisa da reflexão” (KONDER, 1992, p. 115).

A Teologia da Libertação surge dessa experiência dialética da fé, da práxis cristã,

fundamentalmente centrada no estudo da situação concreta, na análise desta situação à luz dos

princípios e, por fim, na determinação do que pode ser feito para transformar a realidade. De

acordo com seus princípios o tipo de relação educativa que dá base à Educação Popular

direciona a um novo estilo de fazer teologia no diálogo com os espaços populares, na qual

definitivamente, os teólogos da libertação reafirmam a importância da relação educativa na

elaboração da Teologia da Libertação latino-americana.

2.2 Movimentos Sociais

Certamente esta discussão se constitui como um dos temas mais discutidos e

vivenciados atualmente, cujas incidências no âmbito da Educação Popular são muito

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contundentes. Um assunto bastante pertinente, que repercute não só no Brasil, mas em todo o

mundo e que, como tal, deve ser tratado e abordado em seus contextos sociais.

Ao estudar sobre os movimentos sociais encontramos autores como Gohn (2011), Streck

(2006), Garcés (2006), que propõem uma análise teórica dos movimentos sociais situando a

América Latina como o berço desses acontecimentos marcado por diversas experiências

neoliberais e que por isso mesmo passou a ser configurado como um lugar onde mais cedo

surgiram os movimentos de resistência.

Nos campos da Educação e das Ciências Sociais a discussão sobre movimentos sociais

aponta que a sua definição não é única, mas sim diversa, apresentando uma conotação mais

ampla do que em outras épocas na qual abarcam diferentes influências na sociedade. Dessa

maneira, podemos dizer que os movimentos sociais geralmente são entendidos sob duas óticas

principais: os “Velhos” Movimentos Sociais e os “Novos” Movimentos Sociais.

Segundo Damasceno (2016), os Velhos Movimentos Sociais surgem através da luta de

classes protagonizada entre operários e proprietários dos meios de produção do século XIX,

constituindo duas classes substanciais do sistema capitalista. Já os Novos Movimentos Sociais

se caracterizam pelo caráter inovador e pela diversificada forma de organização e de

experiências, quer seja no meio urbano, quer seja no meio rural. Movimentos ecológicos, de

homossexuais, de juventudes, movimento negro, por exemplo, fazem parte dessa nova

perspectiva de Movimentos Sociais, sobretudo, no que se relaciona às mudanças ético-culturais.

Mas o que são os Movimentos Sociais? Para início de discussão procuramos esclarecer

sua definição apoiada respectivamente em dois autores, Gohn (2011) e Streck (2010). Para a

primeira os movimentos sociais são:

Ações sociais coletivas de caráter sociopolítico e cultural que viabilizam

formas distintas de a população se organizar e expressar suas demandas. Na

ação concreta, essas formas adotam diferentes estratégias que variam de

simples denúncias, passando pela pressão direta (mobilizações, marchas,

concentrações, passeatas, distúrbios a ordem constituída, atos de

desobediência civil, negociação, etc.) até as pressões indiretas. [...] Os

movimentos realizam diagnósticos sobre a realidade social, constroem

propostas (GOHN, 2011, p. 335, 336).

Para o segundo autor, Streck (2010, p. 304):

Um movimento social é, por princípio, a busca de um outro lugar social. Ele

se dá a partir daqueles que rompem a inércia e se negam a continuar vivendo

no lugar que historicamente lhes estava designado. Partindo desse mover-se,

formam-se territórios que se orientam por uma lógica distinta da hegemônica.

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Diante do exposto, a definição proposta por esses dois autores expressa uma ideia de

conflito que é desejado ardentemente por interesses antagônicos. Streck (2006, p. 104) assevera

que “os conflitos sinalizam rupturas com padrões ou processos sociais hegemônicos limitadores

de direitos de cidadania ou ameaças à própria vida”. Nesse sentido, os movimentos sociais estão

sempre na ação prática, resistindo às relações sociais adversas para garantirem e conquistarem

suas demandas.

Dentro desse princípio, os movimentos sociais se transformam em forças políticas na

aspiração de superar as realidades sociais. Nessa perspectiva é preciso ressaltar que através da

organização popular e vias práticas de pressão os movimentos sociais são responsáveis por

conquistas de políticas públicas na garantia dos direitos dos cidadãos.

Nessa acepção, Gohn (2011) chama atenção ao analisar o sucesso das lutas sociais

protagonizadas pelos “novos” movimentos sociais surgidos no Brasil no final do século XX, a

exemplo do movimento negro, que garantiu a política de cotas, o movimento feminista e o

LGBTT que têm garantido direitos e construção de identidades, o movimento ecologista, dentre

outros.

Com base nesta concepção de novos movimentos sociais destacam-se quatro

características que asseveram a natureza desses movimentos, que são essenciais para dar

validade em seu interior, assim aponta Garcés (2006, p. 81-84):

a) Os novos movimentos sociais expressam mudanças nos discursos e nas

práticas que organizam as relações sociais nas bases da sociedade.

b) O potencial transformador dos novos movimentos sociais não é político,

mas sociocultural.

c) A maior novidade dos movimentos sociais diz respeito ao desenvolvimento

de novas lógicas emancipatórias assim como a ampliação e reformulação

da política.

d) Os novos movimentos sociais representam uma guinada de muita coragem,

a crítica ao estadocentrismo e a afirmação de novas territorialidades.

Central neste fragmento de texto é a ideia de que os movimentos sociais perpassam de

uma questão mais socioestrutural caracterizada pela condição de classe e adquirem uma

acepção mais sociocultural, marcada pelas formas de expressão cultural e identidade. Se a

compreensão de movimentos sociais é diversa, a quantidade deles também é.

Quando pensamos em movimentos sociais, vem logo à mente algo relacionado às forças

de esquerda ou ligado a movimentos mais emancipatórios e radicais. No entanto nem todo

movimento social pode ser considerado progressista, pois também há os conservadores.

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Retomando a memória histórica, um exemplo plausível disto é quando em março de

1964 inúmeros grupos sociais compostos por famílias, pelo clero, juntamente com setores

políticos conservadores, unem-se em marcha para derrubar o governo do presidente João

Goullart, conhecida como “Marcha da Família com Deus pela Liberdade”. Circunstanciados

por uma época de grande efervescência política, de novas ideologias, de novos pensamentos, a

elite preocupada em perder seus privilégios, grande parte dela vai para as ruas empreender um

movimento social.

Passados 54 anos desse acontecimento histórico, o Brasil revive hoje um momento de

grande retrocesso político no campo dos direitos civis e da democracia. Em nome de Deus, da

família e da pátria, o país sofre um golpe político corroborado por uma forte participação de

grupos da classe média brasileira orientados pelo Movimento Brasil Livre (MBL) e outros

novos movimentos sociais conservadores orquestrados por partidos neoliberais, ou seja,

partidos que buscam cada vez mais a minimização do Estado no âmbito social, as privatizações

e o desmonte dos direitos trabalhistas.

Alguns movimentos a exemplo dos “Revoltados On-line”, “Vem Pra Rua”,

“#NasRuas”, “Movimento Contra Corrupção (MCC)”, financiados para sustentar o golpe,

destacaram-se nesta empreitada disseminando ódio ao Partido dos Trabalhadores e a outros

setores de esquerda, criminalizando os movimentos sociais populares.

A partir desta análise podemos afirmar que existem movimentos sociais conservadores,

conquanto, com outra configuração. Nem todos os movimentos sociais incorporam em si

mesmos perspectivas democráticas e pretensões para uma maior justiça social. Segundo Streck

(2006), esses novos movimentos sociais apresentam um redirecionamento do “popular”, ou

seja, configuram-se em movimentos transclassistas.

São considerados movimentos sociais porque agem coletivamente e como outros

movimentos “apresentam um conjunto de demandas via práticas de pressão/mobilização”

(GOHN 2011, p. 336); todavia, seus objetivos e direcionamentos vão de encontro a uma

perspectiva crítica e emancipatória configurando-se assim um movimento pseudopopular.

Outra tendência verificada entre os novos movimentos sociais é a habilidade de

funcionamento em redes, denominada por Gohn (2011) como “redes digitais”. Organizados

nacionalmente através de redes sociais, os movimentos supracitados apareceram na tentativa de

unir os diferentes movimentos das passeatas. Além do fato concreto desses movimentos sociais

se organizarem em redes digitais sociais, em grandes caminhadas, alguns deles elaboraram

propostas legislativas para o combate à corrupção. Como é o caso do movimento “#NasRuas”:

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O NasRuas tem como objetivo criar e manter frentes representativas contra a

impunidade e a corrupção. Tentamos dentro de nossas limitações fiscalizar o

poder público em âmbito federal, estadual e municipal, bem como, pressionar

os políticos a votarem em projetos contra a corrupção e que tenham impacto

na melhoria do país.13

Referendando-se também aos objetivos14 do Movimento Contra Corrupção (MCC)

obtém-se:

a) Divulgar notícias referentes a casos de corrupção, informando a população.

b) Promover estudos a respeito do fenômeno da corrupção, formando

intelectuais aptos para a análise, a percepção, a sugestão de medidas

preventivas, punitivo-sancionatórias, reparatórias e inibitórias.

c) Contribuir para a formação de cidadãos conscientes, dotados de capacidade

intelectual, crítica e analítica no que concerne à sociedade, à política e à

economia.

Estes são alguns dos objetivos e propostas dos grupos disfarçados de movimentos

progressistas que, junto à mídia protagonizaram uma das mais vergonhosas e inautênticas

campanhas anticorrupção da história do Brasil. Milhares de brasileiros saíram às ruas desde o

ano de 2015 para protestar contra a corrupção e, consequentemente, a favor do impeachment da

presidenta Dilma. De rostos pintados, bandeiras do Brasil nas costas e panelas nas mãos não

foram apenas para as ruas denunciar a corrupção, mas serviram perfeitamente para legitimar

um golpe de Estado.

Atualmente estamos presenciando um escândalo atrás do outro, através das práticas

impopulares do governo Temer e nem por isso se veem pelas ruas manifestantes com caras

pintadas e muito menos grupos como “#NasRuas”, “MCC”, denunciando essas práticas

antidemocráticas, visto que não conseguem sustentar seus objetivos e propostas. Se estivessem

de fato contra a corrupção, hoje as ruas estariam tomadas de verde e amarelo novamente.

Isso deixa claro que, além das razões vindas de circunstâncias que são da própria

realidade brasileira, há sinais muito evidentes de influências e patrocínios para esses grupos,

provenientes de interesses internacionais, o que torna ainda mais latente o seu caráter capitalista

e impopular.

Paradoxalmente a esses grupos surgiram movimentos sociais que se pronunciavam

contra o impeachment da presidenta Dilma Rousseff. Movimentos como “Frente Popular

Brasil”, “Povo Sem Medo”, são exemplos de grupos que atualmente compõem as manifestações

13 Conteúdo retirado da fonte https://www.brasilnasruas.com.br/quemsomos/ 14 Informações obtidas no site http://www.contracorrupcao.org/p/objetivos-do-movimento.html

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e atuam em diversos espaços com muita força principalmente nas redes sociais na articulação

de suas ações.

Gohn (2011, p. 336) pontua que esses movimentos sociais populares, ao contrário dos

que observamos anteriormente, “apresentam um ideário civilizatório que coloca como

horizonte a construção de uma sociedade democrática”. Nessa visão as relações de poder se

estabelecem e entram em conflito com os interesses da classe dominante. A estes grupos se

acrescenta também os estudantes secundaristas que, de acordo com a autora, atuam mais como

grupos de pressão do que propriamente como movimento social estruturado.

É preciso reconhecer que foi um movimento muito forte, que inclusive surpreendeu a

todos nós pelo grande número de jovens atuando junto a outros movimentos, na luta pela

democracia e pelos avanços nos direitos sociais. Uma de suas pautas de reivindicação girou em

torno da proposta de reformulação do Ensino Médio que coloca em risco conquistas que se

traduzem em elementos indispensáveis à garantia do direito a uma educação pública de

qualidade.

Nesta esteira de mudanças, não poderíamos deixar de citar o movimento “Escola sem

Partido”, uma proposta da direita conservadora, que traz em sua proposta o silenciamento das

visões de mundo, em que ameaça a liberdade de expressão dos professores e dos próprios alunos

em sala de aula, como bem explicitam em sua página na web: “O Professor não se aproveitará

da audiência cativa dos alunos, para promover os seus próprios interesses, opiniões, concepções

ou preferências ideológicas, religiosas, morais, políticas e partidárias15”.

Destrói, portanto, a natureza diretiva da educação, na qual Freire (1987, p. 187) expõe

com veemência: “Temos que dizer aos alunos como pensamos e por quê. Meu papel não é ficar

em silêncio. Tenho que convencer os alunos do meu sonho, mas não conquistá-los para meus

planos pessoais”. Para o autor, toda atividade é um ato político, tendo em vista que não há

neutralidade na educação. Sendo assim, a proposta da Escola sem Partido não deixa de

expressar sua opção política, que é opressora, acrítica e alienante, na ideia de uma educação

perfilada aos interesses capitalistas.

Não há dúvidas de que estamos frente a novos atores sociais. Todavia, essa diversidade

de movimentos sociais não se dá de forma meramente espontânea. Uma vez que as políticas

neoliberais aumentam, mais movimentos de resistência surgem como respostas causando

conflito com os interesses das classes dominantes. Se por um lado a dominação hegemônica

cria formas de participação na sociedade, por outro lado os movimentos de resistência ampliam

15 Conteúdo referente aos deveres do professor em que orienta a proposta da Escola sem Partido; retirado na

página https://www.programaescolasempartido.org/

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e diversificam seus espaços de ação. Desta forma, faz-se pertinente discutir suas lutas, suas

experiências e sobretudo sua dimensão educativa, como veremos no tópico a seguir.

2.3 Movimentos Sociais e Educação Popular: a educação que acontece fora do espaço

escolar

Como vínhamos discutindo no transcorrer deste estudo, a educação compreende uma

perspectiva que ultrapassa a instituição escolar formal. Sustentar esta afirmação implica ter

como hipótese uma concepção de educação que não se oriente somente nos processos formais

de ensino pautada na “transmissão” do conhecimento, mas sim numa forma intencional de fazer

educação a partir dos interesses dos meios populares, ou melhor, numa Educação Popular.

Nesse contexto a EP é concebida como um elemento essencial dos movimentos sociais que

[...] Tem por objeto a recriação das bases da sociabilidade numa dada

sociedade. É, portanto, parte de um grande movimento de transformação

histórica. Distingue-se claramente da política da educação cívica, na medida

em que não se preocupa com os problemas da razão instrumental, as assim

chamadas de procedimento, a engenharia política, o manejo e a manipulação

dos mecanismos de poder. A educação para os movimentos sociais é um

subsistema de educação programada e informal, orientado para complementar

o conjunto de atividades educativas e formativas existentes na sociedade

(PREISWERK, 1997, p. 73).

O termo “educação não formal” começa a aparecer relacionado ao campo pedagógico

concomitantemente às críticas ao sistema de ensino formal. Ele é um termo utilizado para

designar o processo de ensino-aprendizagem que funciona à margem do sistema educativo

formal. Sendo assim, essa educação informal que se realiza no conjunto da Educação Popular

se inscreve num horizonte político voltado para empoderamento dos setores com os quais são

realizados diferentes trabalhos (MARIÑO, 2006).

De acordo com os estudos de Góes (1980), nos anos 1960, em meio à efervescência

político-cultural do Nordeste brasileiro, por iniciativas de alguns intelectuais, estudantes e

representantes de setores progressistas da Igreja Católica, alguns movimentos direcionados para

a alfabetização e fomento da cultura popular, nascem, nesse período, na tentativa de incluir os

excluídos da sociedade a partir de um processo social, educacional, cultural e político.

Segundo o autor, esse procedimento incorporou uma metodologia baseada no método

Paulo Freire de ensino, tendo como escopo principal a conscientização. Nessa visão, Góes

(1980, p. 2) apresenta cronologicamente esses movimentos de educação popular que marcaram

profundamente este período:

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a) O Movimento de Cultura Popular (MCP), criado em maio de 1960, sob o

patrocínio da Prefeitura do Recife, como sociedade civil autônoma;

b) A Campanha De Pé no Chão também se Aprende a Ler, deflagrada pela

Secretaria Municipal de Educação de Natal, em fevereiro de 1961;

c) O Movimento de Educação de Base (MEB), lançado pela Conferência

Nacional dos Bispos do Brasil, em convênio com o governo federal, em março

de 1961;

d) O Centro Popular de Cultura (CPC), criado pela União Nacional dos

Estudantes (UNE), em abril de 1961.

Dentro desse princípio, a relação movimento social e Educação Popular existe por meio

das ações práticas de movimentos e grupos sociais. Dessa maneira, não consideramos neste

aspecto a concepção de EP como simplesmente uma educação do povo ou destinada para o

povo, mas sim uma acepção de educação que denota “movimento” cuja especificidade esteja

baseada numa perspectiva de transformação social e protagonismo dos sujeitos.

Em seu livro Educação Popular - outros caminhos, Melo Neto (1999, p. 68-69)

apresenta a Educação Popular como um sistema educativo importante para o avanço histórico

dos movimentos sociais populares.

Educação popular é um sistema educativo aberto, caracterizado por um

conjunto de elementos teóricos que fundamentam ações educativas

relacionados entre si, ordenados segundos princípios e experiências. Mas esse

sistema forma um todo, uma unidade alicerçada por uma filosofia com uma

teoria do conhecimento, metodologias da produção desse conhecimento, com

conteúdos e técnicas de avaliação sustentadas por uma base política. É,

portanto, um processo permanente de teorização sobre a prática que serve ao

avanço histórico dos movimentos sociais, particularmente os movimentos

sociais populares.

O autor ainda justifica essa ideia quando diz que “é a Educação Popular difundida pelos

movimentos sociais, como educação autenticamente popular, sendo constituída pelo conjunto

de práticas educativas desenvolvidas pelas próprias classes populares” (MELO NETO, 1999,

p. 48). Sendo assim, as práticas pautam como fundamento a participação nas decisões políticas

que cooperem para o coletivo da sociedade. Destarte, a Educação Popular cria um trabalho

pedagógico voltado para a transformação da sociedade cujas articulações estejam nas mãos do

próprio povo.

Obviamente, entendemos que essa concepção de educação atrelada aos movimentos

sociais, tenciona contribuir com diversos setores das classes populares explicitando fortemente

o seu caráter político na educação. De acordo com Carrillo (2010, p. 9) esse caráter traduz-se

em cinco aspectos que incorporam esta concepção:

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a) Una lectura crítica del orden social vigente y un cuestionamiento al papel

integrador que ha jugado allí la educación formal.

b) Una intencionalidad política emancipadora frente al orden social

imperante.

c) Un propósito de contribuir al fortalecimiento de los sectores dominados

como sujeto histórico, capaz de protagonizar el cambio social.

d) Una convicción que desde la educación es posible contribuir al logro de

esa intencionalidad, actuando sobre la subjetividad popular.

e) Un afán por generar y emplear metodologías educativas dialógicas,

participativas y activas.

Neste prisma, o caráter educativo dos movimentos sociais populares se configura como

autoconstrutivo. Na prática, esta peculiaridade surge de várias fontes. Dentre elas, Gohn (2012,

p. 56-57) destaca:

a) Da aprendizagem gerada com experiência de contato com fontes de

exercício do poder.

b) Da aprendizagem gerada pelo exercício repetido de ações rotineiras que a

burocracia estatal impõe.

c) Da aprendizagem das diferenças existentes na realidade social a partir da

percepção das distinções nos tratamentos que os diferentes grupos sociais

recebem de suas demandas.

d) Da aprendizagem gerada pelo contato com as assessorias contratadas ou

que apoiam o movimento.

e) Da aprendizagem da desmistificação da autoridade como sinônimo de

competência, a qual seria sinônimo de conhecimento. O desconhecimento

de grande parte dos “doutores de gabinete” de questões elementares no

exercício cotidiano do poder revela os fundamentos desse poder: a defesa

de interesses de grupos e camadas.

Segundo a autora, todos esses tipos de aprendizagem que ocorrem no interior dos

movimentos populares se dão, sobretudo, por um envolvimento integral dos sujeitos, cujas

ações são conscientemente planejadas e orientadas coletivamente pondo em risco o poder

hegemônico vigente. Consequentemente, este caráter educativo dos movimentos sociais se

constitui uma ferramenta muito forte das classes populares em prol de uma sociedade mais

justa, solidária e igualitária.

Partindo do pressuposto de que a Educação Popular se entende enquanto uma educação

prática e política vivenciada nos movimentos sociais populares, as contribuições de Paulo Freire

foram muito importantes para apresentar uma educação que extrapolasse os espaços formais de

ensino. Nesse contexto a conscientização como processo de educação constituiu-se em um

elemento basilar para a organização dos movimentos sociais. Nesta visão Freire (1979a, p. 15),

aduz:

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Ao ouvir pela primeira vez a palavra conscientização, percebi imediatamente

a profundidade de seu significado, porque estou absolutamente convencido de

que a educação como prática de liberdade é um ato de conhecimento, uma

aproximação crítica da realidade [...]. Ao nível espontâneo, o homem ao

aproximar-se da realidade faz simplesmente a experiência da realidade na qual

está e procura. Esta tomada de consciência não é ainda a conscientização,

porque esta consiste no desenvolvimento crítico da tomada de consciência.

Segundo Freire, enquanto uma classe social explorada, os oprimidos deveriam se

engajar na luta pela sua libertação, colocando-se numa postura dialética de reflexão crítica sobre

a realidade e pensar em relação a uma ação. Ao ter refletido sobre o contexto histórico das

décadas de 1950 e 1960, o legado de Paulo Freire permanece ainda vivo entre os processos de

formação dos movimentos sociais populares em que o mesmo diz que “o destino do homem

deve ser criar e transformar o mundo sendo o sujeito de sua ação” (FREIRE, 1979c, p. 38).

Essas contribuições em sua formulação tornam-se essenciais para o desempenho de

lideranças sociais que, não de forma individualizada, mas junto com os grupos populares,

procuram desvelar a realidade para poder transformá-la, pois na visão do educador “ninguém

educa ninguém, como tampouco ninguém se educa a si mesmo: os homens se educam em

comunhão, mediatizados pelo mundo” (FREIRE, 1979c, p. 38).

Fundamentalmente vê-se a comunhão como uma das características mais fortes dos

grupos populares. Salienta-se, nesse sentido, a grandeza educativa da participação nos

movimentos sociais, que se ajusta a várias experiências socioeducativas que compõem a

dimensão pedagógica do movimento, a partir de uma metodologia que faça parte de uma

pedagogia comunitária, que brota do ato dialógico dos sujeitos.

Esse processo dialético de reflexão-ação fundamentado por uma pedagogia libertadora

se fez outrora muito presente na vida cotidiana de trabalhadores rurais da região do Vale do

Jequiriçá na Bahia, onde desenvolveram suas percepções críticas da realidade por parte de uma

ação claramente educativa dentro dos sindicatos e das Comunidades Eclesiais de Base, espaços

concretos de profundas reflexões orientadas pela Teologia da Libertação.

Partindo dessa conjectura na qual se configura a concepção de relações sociais

alicerçadas pela comunhão, solidariedade, cooperação e muitas vezes medo, as primeiras

experiências de lutas dos movimentos sociais populares do Vale do Jequiriçá fizeram surgir,

além de novos sujeitos, novos espaços de política como fontes essenciais de transformação da

sociedade.

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No tópico vindouro, a partir de dois entrevistados analisaremos e entenderemos como

se deu a constituição do Instituto de Fé e Política de Amargosa sob uma perspectiva histórica e

dialética.

2.4 Fé, utopia e transformações das estruturas: o início das bases

Abordaremos aqui o contexto histórico da opção política da diocese de Amargosa que

proporcionou a posteriori o surgimento do Instituto de Fé e Política. A raiz histórica desta

instituição se encontra no protagonismo da classe trabalhadora (em sua maioria da zona rural e

das CEBs), que desde os anos de 1980 luta em detrimento da transformação do sistema social

e político da época. Nesse contexto, a Igreja assume juntamente com leigos, padres, bispos,

religiosas, a sua missão social amparada pela Teologia da Libertação.

O contexto de classes sociais exploradas, povos dominados, grupos marginalizados,

pobreza e exclusão constituiu artefatos cruciais para se falar da situação dos pobres que viviam

na região do Vale do Jequiriçá.

Em 1980, no município de Mutuípe e toda região de Amargosa, o sofrimento do povo

era muito grande, oprimido pelo poder local. As pessoas mais afetadas não tinham direito à

saúde, educação e sequer condições que as levassem a uma vida digna. Tinha-se nas igrejas as

missas aos domingos, reuniões do Apostolado da Oração, Legião de Maria, mas não se tinha

nenhuma reunião das comunidades para refletir sobre seu sofrimento e suas realidades.

No entanto, havia algumas pessoas formadas por pequenos grupos que aos poucos iam

saindo da ingenuidade adquirindo consciência crítica. Desta vez esses grupos começam a ler

politicamente a realidade em que vivem (“leitura de mundo” nos termos de Paulo Freire) e

apostam em uma ação libertadora provocando resistências e medo também.

Você não contava com muita gente. Você só contava com seus

companheiros... Nem todos... Porque tinha aquelas pessoas que tinha medo.

Tinha vontade, mas tinha medo, morava numa fazenda, era funcionário de um

fazendeiro, aí pronto, as pessoas não podiam se manifestar. Então a gente

contava com as pessoas que tinham vontade de fazer e fazia e aquelas pessoas

que só ficavam por trás pra assinar um abaixo-assinado, pra poder ajudar numa

reflexão. Mas na hora de mostrar a cara as pessoas tinham medo. Então

quando a gente refletia, refletia. A gente ia pra caminhada e ia pra luta e

enfrentava muito desafio mesmo. Tinha uma comunidade que era obrigada a

fazer a reunião em baixo de um pé de uma árvore. O poder político do

município não deixava fazer no prédio. Aí a gente se reunia debaixo de um pé

de árvore ou na casa de uma pessoa da comunidade. Era muito bom fazer essas

reuniões no prédio. Era melhor. A gente tinha mais instrumentos para a

reflexão, sabe?! [...] Então a gente via tudo que acontecia e começava pensar

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diferente e tomar consciência da nossa classe. Foram reflexões que definimos

a nossa classe. O que é que nós temos? Por que que eles têm? Por que eles não

querem que nós nos organize? E aí a gente continuou a luta graças a Deus.

(ENTREVISTADA nº 4).

Nesse agitado momento de organização popular, algumas lideranças passaram a

entender a realidade e a expressar sua indignação frente ao poder local. Afinal, como diria Freire

(2016, p. 65): “Quem, melhor que os oprimidos, se encontrará preparado para entender o

significado terrível de uma sociedade opressora? Quem sentirá, melhor que eles, os efeitos da

opressão?”

Como vimos no tópico anterior, nas máximas de Paulo Freire os fundamentos da

Educação Popular estão intrinsecamente ligados à mudança e o desvelamento da realidade

opressora, à valorização e emancipação dos sujeitos. Este período, segundo a entrevistada, foi

muito enriquecedor e de forte amadurecimento na fé e nas ideologias. Assim como ela, Paulo

Freire acreditava no poder transformador do homem.

Para ele, “quando o homem compreende a sua realidade, pode levantar hipóteses sobre

o desafio dessa realidade e procurar soluções. Assim, pode transformá-la e o seu trabalho pode

criar um mundo próprio, seu eu e as suas circunstâncias” (FREIRE, 1979d, p. 30). Daí então as

comunidades começam a pensar “diferente”, em outras palavras, conscientemente.

Em meio a esse momento de libertação e esperança, o povo contou com o apoio, na

época, do bispo diocesano dom Alair e, na paróquia de Mutuípe, com o padre Esmeraldo.

Também freiras espanholas, que vieram morar em Ubaíra (cidade vizinha) juntamente com os

padres, ajudavam na libertação política, social e existencial dos oprimidos, contribuindo assim

para seus projetos de vida. Foi nesse momento que nasceram as Comunidades Eclesiais de Base

(CEBs) na região.

E foi aí que começou nascer as primeiras lutas, da saúde, da educação, dos

direitos das pessoas. Foram muitas lutas que causaram, baixo assinado, a gente

ia reivindicar em Salvador, na câmara dos deputados, a gente tinha apenas um

sindicato aqui na nossa região que era o sindicato dos trabalhadores rurais do

vale do Jequiriçá, então eles representavam nossa luta. Aí a gente foi dando

passos e aí a gente percebia que somente a comunidade não resolvia o

problema. A gente tinha fé, tinha o apoio da Igreja, mas a gente precisava de

outros setores, entidades que desse suporte a toda caminhada dos

trabalhadores. E foi aí que nasceu no ano... Na década de 80, os trabalhadores

se organizaram, aí nasceu aqui o sindicato dos trabalhadores rurais de

Mutuípe, foi fundado também o sindicato de Ubaíra, foi fundado sindicato de

Laje, foi fundado o sindicato em quase toda região (ENTREVISTA nº 4).

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Assim, o trabalho nas CEBs possibilitou a criação do sindicato dos trabalhadores rurais

de Mutuípe, em 1986. Partilhando com o poder político da Igreja Católica e abeberando-se à

fonte da Teologia da Libertação, as comunidades se organizam para instaurar uma outra

realidade possível. Sorrateiramente um processo de conscientização ocorria entre os cristãos.

A população de Mutuípe, especialmente a zona rural era profundamente cristã, o que

favorecia ainda mais a organização do povo. Um protagonismo libertador e popular que a partir

de então ganhou força, esperança e confiança, sobretudo, em que suas ações se sustentavam a

partir da bíblia com reflexões teológicas libertadoras, como bem nos conta o entrevistado nº 1:

Assim, tudo isso que nós construímos que nós lutamos, foi à luz do Evangelho

de Nosso Senhor Jesus Cristo refletido na comunidade eclesial de base. Então,

assim, nada de cima para baixo, mas sempre construído com a participação de

alguns trabalhadores da comunidade que pingavam de cada comunidade ou de

cada município (ENTREVISTADO nº 1).

Estas reflexões também são bem fundamentadas por Gustavo Gutiérrez (2000, p. 68)

quando diz:

A reflexão teológica seria, então, necessariamente, uma crítica da sociedade e

da Igreja enquanto convocadas e interpeladas pela palavra de Deus; uma teoria

crítica à Luz da Palavra aceita na fé, animada por uma intenção prática e,

portanto, indissoluvelmente unida à práxis histórica.

Nessa perspectiva, a prática da leitura bíblica nessas comunidades era extremamente

importante para os cristãos no processo de compreensão da realidade em que viviam, o que

possibilitou uma capacidade crítica de analisar e contextualizar os fatos. De acordo com Boff

(2010), essa estrutura se debruça na visão analítica da realidade, no julgamento da realidade

pelos princípios da fé e, finalmente, no agir conforme os critérios e princípios pastorais para

transformar a realidade. Assim, essas pessoas, em suas comunidades, denunciavam qualquer

tipo de injustiças. E anunciavam também.

Nós construímos também na época já com os sindicatos todos organizados a

chamada Pastoral Rural da Diocese de Amargosa que foi o grande instrumento

da igreja participando na vida dos trabalhadores. Inclusive nós, né,

participávamos da coordenação da Pastoral da diocese de Amargosa. Hoje

chama-se a Pastoral da Dimensão Sociotransformadora. Hoje já tem outro

nome, mas na época era chamada pastoral rural (ENTREVISTADO nº 1).

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O surgimento da Pastoral Rural no município de Mutuípe foi, sem sombra de dúvidas,

um grande passo para sua solidificação e disseminação. Com o apoio de alguns setores da

Igreja, os sujeitos das CEBs ajudaram na fundação de sindicatos em vários municípios da

diocese de Amargosa, do Litoral ao Sertão ao Vale do Jequiriçá.

Nessa perspectiva, em menor proporção, religiosos e sacerdotes também participaram

ativamente dessas iniciativas. Na época os sacerdotes mais ligados ao movimento eram Pe. João

Antônio (in memoriam) que trabalhava em Iaçu, Pe. Neivaldo, sendo pároco de Mutuípe, e Pe.

Esmeraldo que ficava mais nos arredores do Vale de Mutuípe - Jequiriçá, que davam sentido

ao compromisso de suas lutas pela “libertação” do povo oprimido.

Os sindicalistas e todos os leigos comprometidos com a causa social puderam, dessa

maneira, organizar-se e instaurar suas práticas transformadoras no município. Já com os

sindicatos formados vieram as primeiras lutas. Uma delas foi a luta da Constituição Estadual,

que em assembleia a diocese de Amargosa juntamente com as dioceses vizinhas, como a de

Jequié, Alagoinhas e Paulo Afonso, conseguiram colocar duzentos e quarenta mil assinaturas

contendo as propostas do movimento popular ligado à Igreja, sindicatos e associações.

Nessa mesma ocasião, era a lei do município de Mutuípe que estava sendo reformulada

e criada. Mais uma vez o povo se insurge e participa decisivamente, juntamente com a Igreja,

da elaboração da Lei Orgânica do Município. Aí também, segundo o entrevistado, já se deve

acrescentar o empenho e determinação do bispo diocesano que apoiou incondicionalmente os

trabalhadores.

Vê-se claramente o efeito do compromisso que possibilitou essas autênticas

experiências do povo, que a partir de então começaram a se afirmar como principais sujeitos do

próprio destino. Organizando-se, anunciando e denunciando qualquer tipo de injustiça, mesmo

tendo que lidar com certas realidades que tristemente vinham sob uma forma opressora e

desprezível, como expõe o sujeito entrevistado:

Mas, a gente era muito bom. Mobilizava, botava um ônibus de gente em

Salvador para Estadual, botava gente em Brasília para os grandes gritos dos

excluídos, nos gritos da terra Brasil, do encontro da CONTAG, mas na hora

da decisão, meu amigo, a gente rezava, mobilizava, refletia, via o sofrimento,

mas na hora da decisão, numa certa época o deputado disse: “que nada, rapaz,

vocês é um pinguinho (sic) de gente de lá de Mutuípe, meus votos lá eu sei

como ganho!” Um determinado deputado me disse isso. Eu disse: pois é,

deputado, mas os trabalhadores de Mutuípe começam a se mobilizar pra ter

seus direitos garantidos ou buscar ou colocar na lei os seus direitos e depois

garanti-los. Mas não tem problema não, eu voto contra vocês e pronto

(ENTREVISTADO nº 1).

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Diante da pressão das elites, mesmo dentro de um contexto desfavorável onde as

ameaças muitas vezes eram constantes, urge a necessidade de superar as situações opressoras.

Nesse momento em que se expõe o ocorrido, reportamos a Freire (2016, p. 69) que dizia que o

medo da liberdade impedia a busca dos oprimidos em “ser mais”.

Os oprimidos, contudo, acomodados e adaptados, “imersos” na própria

engrenagem da estrutura dominadora, temem a liberdade, enquanto não se

sentem capazes de correr o risco de assumi-la. E a temem, também, na medida

em que lutar por ela significa uma ameaça, não só aos que a usam para oprimir

como seus “proprietários” exclusivos, mas aos companheiros oprimidos, que

se assustam com maiores repressões (FREIRE, 2016, p. 69).

Nesse sentido, diante da deplorável realidade da violência política que o Vale do

Jequiriçá, especificamente em Mutuípe, vivia, como foi explicitado acima, a partir das reflexões

dos cristãos, entenderam que era necessário a própria Igreja, o próprio movimento ter

representantes tanto nas esferas municipais quanto nos setores estaduais. Então, os sindicalistas,

depois de diálogos amplos com a Igreja, com o próprio movimento, em 1992 lançam candidatos

para ocupar um cargo político na cidade de Mutuípe.

Apesar de ter o apoio massivo dos trabalhadores, muitos deles não tinham consciência

de que deveriam estar de fato dentro do espaço político.

Algumas pessoas, inclusive minha mãe dizia quando tava viva há muito

tempo, talvez essa fosse a grande dificuldade, não mais do poder político

constituído, mas a própria cabeça nossa dos trabalhadores. E aí dizia assim:

“tu já viu ovo brigar com pedra?” Era uma expressão muito assim... que nós

sequer tínhamos o direito de estar no espaço político, no espaço sindical, mas

aí veio aquela música: “Não é preciso ser filho de doutor, mas jovem da roça

também tem valor”. Então em cima da dificuldade a gente criava uma

perspectiva de também estar nesse lugar, né?! A gente gritava: “Eu não sou

sapo para entrar debaixo de pé de vaca ou de boi”. Então a gente tinha que

levantar a voz e gritar que a gente queria socorro e queria de fato que os

trabalhadores pudessem ter vez e voz. Então, em 92, com a ousadia da gente,

né (sic). A gente disputa a primeira eleição do movimento popular em toda

região e fomos eleito vereador na época, o 4º mais votado (...) E aí, nós

começamos a entender o que era espaço político. Que nem tudo que a gente

imaginava que lá era fácil, não era. Mas nós tínhamos a voz, tínhamos o direito

de defender aquelas propostas dos trabalhadores que apresentavam pra nós

coletivamente, refletido pela comunidade e não uma proposta que nascesse

apenas de minha cabeça (ENTREVISTADO nº 1).

Para Freire (2016), a autodesvalia se constitui uma das fortes características dos

oprimidos. De tanto ouvirem que não são capazes de nada, acabam introjetando mitos das

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consciências opressoras, e nesse tipo de relação a conscientização se torna inviável. Nas

palavras do autor:

De tanto ouvirem de si mesmos que são incapazes, que não sabem nada, que

não podem saber, que são enfermos, indolentes, que não produzem em virtude

de tudo isso, terminam por se convencer de sua “incapacidade”. Falam de si

como os que não sabem e do “doutor” como o que sabe e a quem deve escutar

(FREIRE, 2016, p. 92).

Dessa forma, a Igreja no seu sentido mais humano contribuiu de forma significativa para

o surgimento de valores que inspiravam politicamente os trabalhadores. “A conscientização é

um parto doloroso”, nos lembra o autor. E ainda exige dos oprimidos que sejam utópicos. Pois

na sua visão a conscientização está vinculada à utopia, na qual se configura como “a

dialetização nos atos de denunciar e anunciar” (FREIRE, 1971 apud TORRES, 2014, p. 76).

A partir daí os trabalhadores começam a não aceitar aquela candidatura imposta pelos

“grandes”. O entrevistado nº 1 afirma que hoje em Mutuípe e em toda região de Amargosa, a

grande maioria dos trabalhadores possui “outra mentalidade”, já não se deixam ser enrolados

pelo poder dominante. Através da práxis dos trabalhadores surge a consciência crítica e um tipo

de cultura popular.

Este fenômeno de ações coletivas, que não perpassa por atitudes isoladas, deverá

promover e elaborar a cultura do povo com o próprio povo, e não criar uma cultura para o povo.

A partir da tétrica realidade que os trabalhadores de Mutuípe viviam, foi necessário utilizar

instrumentos pedagógicos para que propusessem uma mobilização popular através da

politização e organização do povo, elaborados a partir dos valores fundamentais da vida cristã

dos trabalhadores.

Com isso, a vitalidade das comunidades cristãs junto aos trabalhadores começa a dar

frutos. Foi aí que garantiram transporte escolar, direitos na saúde pública, que até então eram

desprivilegiados, e conseguiram garantir também outras políticas de participação dos

trabalhadores nos conselhos municipais, por exemplo, quebrando todo o paradigma de que só

os ricos e filhos de doutores deveriam estar no espaço político. Consequentemente a isso, o

Sindicato de Mutuípe, juntamente com a população, continua dando frutos, gerando projetos e

políticas de promoção social, cultural e humana.

Atualmente, segundo o entrevistado, o sindicato executa o segundo maior projeto do

governo do estado em habitação na zona rural, construindo cento e trinta unidades habitacionais

na zona rural coordenado pelo governo federal e governo estadual, executando também projetos

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ligados à agricultura familiar, não esquecendo, sobretudo, do seu objetivo maior, que é a

conscientização, na perspectiva de que não se perca do compromisso de lutar pelos seus direitos.

Toda essa luta dos trabalhadores da região do Vale do Jequiriçá fez brotar o Instituto de

Fé e Política de Cáritas da Diocese de Amargosa. “A gente tinha fé, tinha o apoio da Igreja,

mas a gente precisava de outros setores, entidades, que dessem suporte a toda caminhada dos

trabalhadores” (Entrevistado nº 4). A partir da informação obtida, a fala desse sujeito surge em

forma de súplica por um espaço que incorpore uma proposta de educação que dialogue com as

relações sociais que se estabelecem na sociedade.

Referendando-se a esse momento histórico,

O Instituto de Fé e Política ele vem exatamente aí na década de... a partir do

ano de 2006. E aí foi que nós fundamos o Instituto de Fé e Política que eu

participei e gostei muito dos primeiros módulos, né? Tenho ajudado na

reflexão quando a gente é procurado, mas assim, eu acho que isso é uma coisa

grandiosa para a diocese. É ter em cada paróquia, cada município, alguém que

mesmo não estando no espaço político, mas estudando a relação da fé e da

vida e como daqui pra frente nós continuamos essa luta. Então o Instituto de

Fé e Política da diocese de Amargosa que nos levou até em encontros no Rio

de Janeiro, ele tem dado resultado. Bom você ver a atuação de vereador no

município de Laje, vereador no município de Ubaíra, vereadores de outros

municípios que a gente tem assumido cadeira legislativa e até a forma como

os presidentes de sindicatos, de associações tem agido dentro de sua entidade

de uma forma muito mais qualitativa (ENTREVISTADO Nº 1).

Em meados do ano de 2000, o padre Neivaldo Carvalho Santos começa a pensar em

uma proposta de uma educação crítica intencionada a partir dos interesses dos meios populares

criando o Instituto de Fé e Política de Cáritas da Diocese de Amargosa, composto por homens

e mulheres que atuam em diversos ramos dos movimentos sociais, nas associações,

comunidades de base, ou seja, pessoas comprometidas com as causas sociais, estudando e

refletindo a relação da fé com a vida a fim de ter uma formação pautada numa Educação Popular

para atuarem em suas comunidades.

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3 O INSTITUTO DE FÉ E POLÍTICA: UMA INSTITUIÇÃO DE FÉ À PROCURA DE

UMA PRÁXIS

Neste capítulo abordaremos o contexto histórico do Instituto de Fé e Política de Cáritas

da Diocese de Amargosa-BA, buscando, primeiramente, situar o leitor sobre as bases iniciais

as quais originaram o nosso campo de investigação e alguns conhecimentos prévios sobre a

realidade que pouco a pouco pretendemos abordar. Neste ínterim, falaremos de suas bases

teórico-metodológicas e ético-políticas em um currículo pensando a formação dos sujeitos

sociais a partir de uma Educação Popular crítica. Para melhor entender a criação do referido

Instituto faz-se necessário compreendermos sua articulação ao Centro Nacional de Fé e Política

Dom Helder Câmara.

3.1 O Centro Nacional de Fé e Política Dom Helder Câmara: um recorte de sua

historicidade

O Centro Nacional de Fé e Política Dom Helder Câmara (CEFEP)16 é caracterizado,

sobretudo, como uma organização de cunho essencialmente político. A proposta do CEFEP foi

uma iniciativa motivada por frutuosas reflexões fomentadas pela Comissão Episcopal para o

Laicato juntamente com os movimentos eclesiais. Todo esse processo de reflexão pôde

engendrar o “Seminário de Fé e Política”, realizado nos dias 19 a 20 de junho de 2004 no

Distrito Federal contando com uma significativa participação de escolas locais de formação

política dos cristãos em nível diocesano e regional.

Esta ávida proposta de implementação do Centro justificou-se pelo momento de

desesperança, de enfraquecimento da política, da difusão do individualismo e do esvaziamento

da democracia que o Brasil atravessava. Vivia-se ali uma despolitização da vida social. Por esse

motivo, os participantes do Seminário propuseram ampliar a reflexão em torno da “fé e política”

na aspiração de contribuir com a consolidação de um pensamento social cristão no Brasil. Em

função do que foi dito, a proposta do Centro Nacional de Fé e Política “Dom Helder Câmara”

contemplaria as seguintes atividades:

a) Um curso Nacional de Formação Política para os cristãos leigos.

b) Uma rede de assessoria baseada nas áreas temáticas das Ciências Sociais e Política;

Filosofia e Ética; Teologia e Pastoral; Educação.

16 Na pretensão de apresentar a história do Centro Nacional de Fé e Política Dom Helder Câmara, foi necessário

recorrer a um documento publicado pelo referido Centro tendo como organizador o Pe. José Ernanne Pinheiro.

Neste caso, não tive a participação direta na obtenção dos dados, no entanto, nos servirá para contar a história

da criação do CEFEP.

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c) Articulação das Escolas locais de Formação Política num contínuo intercâmbio entre

elas.

Nessa aspiração, no dia 21de fevereiro de 2005, sob os auspícios da Conferência

Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), o Centro Nacional de Fé e Política Dom Helder Câmara

é fundado em Brasília-DF, reunindo desde o presidente da CNBB, Dom Geraldo Majella

Agnelo, e outras autoridades eclesiásticas, a membros do parlamento civil.

Uma organização católica que formou sua espinha dorsal com um estilo de Igreja

adaptado aos documentos do Concílio Vaticano II (1962- 1965), na qual defendem veemente a

participação de leigos nas ações da Igreja. Uma proposta que veio ajudar os cristãos na relação

da fé com a política. O Pe. Pinheiro (2006, p. 141) aponta os objetivos gerais que expressam a

finalidade do CEFEP:

a) Contribuir com a formação de lideranças inseridas na política, em suas

diferentes formas e níveis, a partir de uma reflexão bíblica, teológica, das

ciências sociais e da filosofia - para a construção de uma sociedade justa,

solidária, democrática, pluricultural e pluriétnica.

b) Fomentar em nosso país um pensamento social cristão à luz do Ensino

Social da Igreja e dos valores evangélicos.

c) Incentivar, apoiar e articular os Grupos e Escolas de Fé e Política existentes

no País e estimular a constituição de novas iniciativas;

d) Criar espaços de reflexão e troca de experiências;

e) Formar assessores para nossas comunidades, entidades e organizações

sociais;

f) Fortalecer as pastorais sociais, movimentos eclesiais e outros organismos

da Igreja cuja ação tenha incidência no político-social;

g) Despertar para a importância da organização do trabalho em Redes como

espaço de difusão de textos, subsídios e troca de experiências.

Na ocasião, o ato de fundação contou com depoimentos de cristãos leigos sobre sua

participação política na sociedade. Um dos exemplos com que podemos ilustrar esse feito

histórico de criação do CEFEP é o do senador Pedro Simon:

Vivemos hoje num mundo assolado pelo materialismo vulgar, pela pobreza

espiritual, pelo individualismo, pela indiferença em relação aos mais pobres,

pelo consumismo desenfreado e pela ganância. A situação é dramática. Mas

eu acho que os intelectuais e os militantes cristãos podem e devem trabalhar

duramente para mudar esse quadro. Já os políticos cristãos, creio eu, devem

colocar sobre os ombros esse encargo e assumir um papel de liderança nesta

batalha. O Centro Nacional de Fé e Política Dom Helder Câmara será o espaço

privilegiado em que nós, que temos vivência política, poderemos refletir e

trocar experiências como nossos irmãos.

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Nessas circunstâncias, acreditou-se que uma ação educacional promoveria especiais

faculdades e abrangeria a consciência crítica de cristãos e a sua articulação com as comunidades

e movimentos sociais. Para isso, criou-se dentro deste Centro um espaço de formação política

dos cristãos leigos, denominada “Escola de Fé e Política”, que tem como objetivo geral formar

cristãos leigos para a vida política, favorecendo-lhes a aquisição de competências e habilitação

para agir no complexo campo da política em prol de uma sociedade justa e solidária.

Através do documento publicado pelo Centro Nacional de Fé e Política, Pinheiro (2006)

aduz as especificidades basilares da proposta do Curso de Formação Política para os Cristãos

Leigos:

a) Contribuir com a formação de lideranças cristãs para as funções públicas

efetivas ou não, no campo da política e das organizações comunitárias;

b) Aprimorar a prática política dos Cristãos no exercício da cidadania e do

bem comum;

c) Investir na formação do sujeito evangelizador para torná-lo apto a

influenciar na construção de uma nova cultura política.

Indubitavelmente, essa proposta supõe uma educação para as situações concretas da

vida, ou seja, uma educação para a participação política. Ora, e se a Igreja assume esse papel

político, esse preparo estende-se também a processos educativos. Dessa forma, a formação

proposta é constituída por módulos divididos em duas etapas, cada uma com 90 horas,

totalizando 180 horas, contendo temáticas que serão estudadas durante o mês cursado

presencialmente.

O curso de Formação Política das Escolas de Fé e Política destina-se exclusivamente

para as pastorais sociais, lideranças de comunidades, movimentos eclesiais, pessoas com

envolvimento em organizações e movimentos sociais, como também pessoas que estão

engajadas na política ou que pretendem assumir cargos partidários. Como critério de

participação do curso, o candidato deve ser cristão, ter tempo disponível para participar das

etapas previstas para realizar os trabalhos; preferencialmente ter o ensino médio (caso não

tenha, em alguns casos serão analisados); como também ser possuidor de alguma militância

política, seja ela sindical, popular, partidária ou de outras áreas.

Do ponto de vista metodológico, o curso de Formação Política para os Cristãos Leigos

apresenta uma prática educativa coesa permanentemente ao quefazer do povo numa perspectiva

lógica entre os seus conteúdos e objetivos orientando os sujeitos populares para serem

protagonistas de uma mudança na sociedade, fortalecendo as organizações e movimentos

sociais. De acordo com Pinheiro (2006, p. 128), o curso tem como processo metodológico:

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a) A formação política dos cristãos nas múltiplas dimensões, relacionadas

entre si - ética espiritual e intelectual, respeitando o pluralismo político, a

partir da opção pelos pobres, em comunhão com as diretrizes da Igreja no

Brasil;

b) A participação do cursista como sujeito do processo de formação e da

construção do saber em todos os níveis. Neste sentido, o CEFEP

privilegiará a construção coletiva, articulando as diferentes ciências e

saberes com a prática dos participantes;

c) A leitura da realidade sócio-histórica e eclesial dos cursistas, contribuindo

com a construção de uma espiritualidade na ação;

d) A busca de uma pedagogia libertadora: através de técnicas e instrumentos

vivenciados na Educação Popular e na pedagogia dos grupos da Igreja.

Aí nos chama atenção a perspectiva da Educação Popular, visto que há variadas

interpretações acerca desse tipo de educação e, muitas vezes, equivocadas. Para um melhor

entendimento da Educação Popular que propõe, destacamos a matriz curricular do Curso de

Formação para Leigos Cristãos do Centro Nacional de Fé e Política “Dom Helder Câmara” –

DF a fim de conhecermos as temáticas desenvolvidas, bem como, se eles seguem numa

perspectiva crítica ou não.

Os fundadores do CEFEP puderam, dessa maneira, formar um campo de conhecimento

originalmente orgânico e bem elaborado através de fundamentos filosóficos, pedagógicos e

políticos que orientem os sujeitos para a sua formação chamando atenção para o compromisso

dos cristãos por meio do comprometimento político e da educação na perspectiva de capacitá-

los para que eles próprios sejam autores de seu progresso, ou seja, uma educação libertadora.

O intuito do curso de formação do CEFEP não se restringe a dissertar, copiar, produzir,

mas sim problematizar a realidade dos cursistas. Em outras palavras, uma educação à luz de

uma visão humanista de caráter crítico. Visão que reconhece a realidade concreta e se orienta

para transformá-la.

Neste contexto, a Educação Popular encontra um campo muito fecundo para se fazer

teoria pedagógica, tendo as bases de uma pedagogia essencialmente latino-americana, em

especial a de Paulo Freire, como aporte fundamental para a metodização de tal concepção.

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Quadro 1 - Matriz Curricular do Curso de Formação Leigo para os Cristãos do Centro Nacional de Fé

e Política Dom Helder Câmara- Brasília - DF

Fonte: Informações contidas do Centro Nacional de Fé e Política Dom Helder. Elaboração própria. 2017.

Tomando-se como base Preiswerk (1997, p. 29), a Educação Popular é entendida como

“um conjunto de práticas educativas realizadas por e com os setores populares, dentro de uma

perspectiva política de mudança social”. Isso implica dizer que a Educação Popular possui uma

intencionalidade crítica, apresentando a conscientização e a práxis como bases históricas do

processo de transformação social.

TEMÁTICAS DESENVOLVIDAS EM 180 HORAS PRESENCIAIS ATRAVÉS DE MÓDULOS –

EM DUAS ETAPAS:

PRIMEIRA

ETAPA:

15 DIAS

(90 HORAS)

− Desafios contemporâneos da relação “Ética, Fé e Política”

− História da política e da economia com seus conceitos básicos

− As grandes etapas do capitalismo e suas implicações, através da globalização, na lógica

do mercado

− História da formação social, econômica, política e cultural do Brasil

− A legislação eleitoral do Brasil

− Análise da conjuntura política nacional e internacional; elementos do processo

metodológico

− Os fundamentos da bioética e sua atualização

− O Ensino Social da Igreja: sua teologia, suas raízes e os princípios básicos para os temas

estudados

− A caminhada das conquistas da cidadania e dos direitos humanos, nos últimos 50 anos, e

a luta dos movimentos populares; a contribuição da Igreja nesse processo

− Alternativas e protagonistas – experiências educativas:

o Orçamento participativo

o Conselhos Municipais de Direitos ou paritários;

o O trabalho e a economia solidária

o Agroecologia e a economia sustentável;

o Agricultura Familiar;

o Cultura de paz contra a violência

− Projetos para o Brasil: os projetos dos partidos políticos e os projetos populares

democráticos dos movimentos sociais

− Leitura da relação Fé e Política: na Bíblia, na Patrística, no Vaticano II e nos documentos

da Igreja na América Latina e no Brasil

− Relatos e análise de experiências de Escolas locais de Fé e Política.

SEGUNDA

EETAPA:

15 DIAS

(90 HORAS)

Temas desenvolvidos através do “estudo de Educação à distância” (180 horas) entre as

duas etapas do curso presencial:

Aprofundamento dos temas trabalhados na primeira etapa e preparação para a segunda etapa

com orientação de leituras para os respectivos temas a serem estudados:

− Ética, Fé/ espiritualidade e Política;

− História das Instituições Políticas no Brasil;

− História da Formação Social, Econômica, Política e Cultural do Brasil;

− A Constituição de 1988 e os Direitos Humanos;

− Questões de Bioética: implicações éticas, teológicas e políticas;

− Temas do Ensino Social da Igreja.

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64

A conscientização é, em primeiro lugar, um ato de conhecimento. Implica um

desvelamento da realidade com o qual vou me aprofundando, pouco a pouco,

na própria essência dos fatos que tenho diante de mim como objetos

cognoscíveis para desvelar a sua razão de ser [...] não se pode basear na crença

de que é dentro da consciência que se opera a transformação do mundo, a

criação do mundo. É dentro do próprio mundo, na história, através da práxis

que se dá o processo de transformação (FREIRE, 1979b, p. 114-115).

Nesse contexto, conforme Mejia (2010), essa concepção de educação trabalha com os

grupos populares numa aspiração de transformação social, priorizando os saberes populares que

dão base para a luta transformadora dos movimentos sociais na qual o povo se organiza,

mobiliza e constrói propostas de transformação. Será esta a concepção de Educação Popular a

qual estaremos a considerar nesta pesquisa, o que nos permitirá, mais adiante, compreender

melhor a constituição e luta dos egressos do Instituto de Fé e Política de Amargosa tomando

como base os princípios desta concepção de educação, como também da Teologia da

Libertação.

3.2 Situando o Instituto de Fé e Política de Cáritas da Diocese de Amargosa: uma Escola

de Fé e Vida

O Instituto de Fé e Política de Cáritas Diocesana de Amargosa foi fundado no ano de

2006, uma entidade civil filantrópica vinculada à Cáritas brasileira17 e atende atualmente 27

municípios localizados no Recôncavo e Vale do Jequiriçá, assim como na Costa do Dendê. A

Cáritas se configura numa entidade civil filantrópica, beneficente e sem fins lucrativos que

trabalha em prol dos direitos humanos, da segurança alimentar e do desenvolvimento

sustentável solidário. Dessa forma, este órgão atua junto aos excluídos e excluídas que são

vinculados (as) à outras instituições e até mesmo aos movimentos sociais.

Conforme o projeto de implantação do curso de tecnologia em gestão de movimentos

populares de base (2006), eles atuam a partir de processos organizativos e coletivos gerando o

protagonismo das comunidades. Ao mesmo tempo, a Cáritas busca fortalecer, junto aos

desfavorecidos, a construção de espaços de democracia participativa e de transformação social,

buscando prioritariamente anunciar os ensinamentos do Evangelho, na perspectiva de

17 Configura-se um organismo da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) que está organizada em

uma rede com 178 entidades-membro, 12 regionais – Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo,

Minas Gerais, Espírito Santo, Norte II (Amapá e Pará), Maranhão, Piauí, Ceará, Nordeste II (Alagoas, Paraíba,

Pernambuco e Rio Grande do Norte) e Nordeste III (Bahia e Sergipe) – e uma sede nacional. sendo presença

solidária junto às pessoas mais empobrecidas.

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65

promoção da solidariedade libertadora, optando pela vida cujas ações alimentam um objetivo:

transformar.

Sendo assim, a Cáritas de Amargosa, segundo o projeto do Instituto, em consonância

com a Cáritas brasileira busca atuar em meio às comunidades e pessoas que se encontram em

situação de exclusão, na defesa dos direitos humanos e do desenvolvimento sustentável

solidário, muitas vezes trabalha em parceria com instituições e movimentos sociais como em

projetos pastorais, sindicatos, associações de bairro, partidos políticos etc.

Algumas das ações que a Cáritas desenvolveu foram a organização do Fórum de

Economia Solidária da Região de Amargosa; Experiência de construção de 20 cisternas no

município de Iaçu-BA; e junto às comunidades o incentivo para a implantação da Pastoral

Carcerária e dos Conselhos de Segurança nos municípios da diocese de Amargosa.

Um anseio intenso de justiça, por direitos e cidadania, contribuiu para a construção de

um centro de formação política para os cristãos da diocese. As avaliações desse processo foram

tão positivas que se traçou como meta a possibilidade de certificação ou um curso com o

qualificante de extensão universitária.

A implantação do Curso de Tecnologia em Gestão de Movimentos Populares de Base

teve a diocese de Amargosa como palco principal, seguindo como fonte inspiradora um

movimento católico de intensas consequências sociais: a Teologia da Libertação. No entanto,

para que fosse garantida a qualidade da atuação de novos profissionais nos movimentos

populares de base, a Cáritas diocesana, por meio de um oficio nº 001/2008, solicita ao Conselho

Gestor do Fundo Nacional de Solidariedade, financiamento para os gastos do centro e da

formação, sob a coordenação do padre Neivaldo Carvalho Santos, coordenador da Cáritas

diocesana e fundador do Instituto de Fé e Política de Amargosa.

Na verdade, ainda segundo o projeto do Instituto, a finalidade fundamental era que o

Instituto de Fé e Política fosse um espaço diferenciado de empoderamento de agentes e

lideranças que se comprometam na construção de uma sociedade justa, solidária e fraterna. A

região onde ocorre este projeto se localiza na Região Recôncavo Sul, aproximadamente um

território de 13.972 km², dividido em 27 municípios com 24 paróquias, em três áreas geográfica

e culturalmente bem distintas: a zona da mata (recôncavo e Vale do Jequiriçá), a região da

caatinga e a região litorânea (a Costa do Dendê). A primeira turma do Instituto de Fé e Política

não foi composta por representantes das 24 paroquias da diocese de Amargosa. Apenas

algumas, as mais atuantes, fizeram parte do curso, como pode ser representado pela fotografia

abaixo.

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Foto 4 - Alunos egressos do Instituto de Fé e Politica

Fonte: Arquivo Pessoal, Amargosa-Ba, 2018.

De acordo com um fôlder do Instituto, publicado em 2009, o curso de extensão oferecido

pela Escola de Fé e Política de Cáritas Diocesana de Amargosa tem duração de 18 meses, sendo

que em cada semestre se estuda um módulo totalizando quatro deles. As aulas acontecem

presencialmente uma vez por mês e durante todo o mês os alunos realizam atividades dirigidas

nos dias de sexta, sábado e domingo. O público-alvo são pessoas ligadas a partidos políticos,

ONGs, sindicatos, pastorais sociais e associações.

O cursista também precisa ter o Ensino Médio completo para ingressar no Instituto;

entretanto, a forma de seleção ocorre mediante uma carta de indicação enviada pela comunidade

ou dirigente do órgão a que o candidato esteja vinculado. Dentro do curso não há avaliação por

matérias, no entanto, é obrigatória a participação assídua nos encontros, como também em

Congressos e Assembleias Populares para o processo de formação.

De acordo com as informações obtidas pelo Instituto, o objetivo central do curso é

graduar tecnólogos em Gestão de Movimentos Populares de Base, a partir de princípios éticos

e da doutrina social da Igreja, na perspectiva da construção de uma sociedade economicamente

justa, ecologicamente sustentável, politicamente democrática, socialmente solidária e

culturalmente plural, qualificando-os para atuação em partidos políticos, movimentos populares

e organizações sociais, de forma crítico-participativa, fomentando o protagonismo popular.

Além deste, objetivos específicos orientam o curso supracitado:

a) Alimentar, renovar e aprofundar a mística, a espiritualidade e o

compromisso social;

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b) Empoderar os agentes e lideranças para uma maior e qualificada

participação nas políticas públicas;

c) Capacitar os participantes em metodologias e instrumentos para

elaboração, monitoramento e avaliação de práticas sociais e políticas

públicas;

d) Fortalecer a vivência cristã na dinâmica da sociedade atual (PROJETO

DE IMPLANTAÇÃO DO CURSO DE TECNOLOGIA EM GESTÃO

DE MOVIMENTOS POPULARES DE BASE, 2007).

Foto 5 - Participação dos alunos no 7º Congresso Nacional de Fé e Política - Ipatinga-MG/ 2009

Fonte: Arquivo Pessoal, Amargosa-Ba, 2018.

Ao conceber esta proposta, o Instituto de Fé e Política da Diocese de Amargosa tem seu

discurso acoplado a uma prática que transcorre pela dedicação profissional e pelo compromisso

em acatar as questões da sociedade moderna. Nessa aspiração, busca auxiliar uma ação mais

crítica e consciente, evidenciando o anseio em colaborar significativamente na edificação de

uma sociedade economicamente justa, politicamente democrática, socialmente solidária através

do seu protagonismo popular.

No que concerne à metodologia do curso, todas as atividades presenciais são

desenvolvidas na cidade onde está localizado o Instituto de Fé e Política. O curso oferecido

contempla a mediação pedagógica por meio de monitoramento remoto por assistentes, através

do uso da plataforma de aprendizagem e da internet, nas Salas de Atividades on-line,

favorecendo a aquisição de autonomia gradativa dos estudantes no processo de construção do

conhecimento.

Já o material impresso, produzido pelos docentes do curso, é estudado nos encontros

presenciais e trabalhado pelo estudante com autonomia e flexibilidade de horário e local. Como

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68

também uma Biblioteca Virtual, acessada on-line, onde são disponibilizados resultados de

pesquisas e textos complementares, especialmente criados para o curso. Além disso, é tarefa do

professor indicar sites que o estudante poderá visitar para ampliar seus conhecimentos e

habilidades.

O Instituto de Fé e Política da Diocese de Amargosa-BA disponibiliza para os alunos

toda uma infraestrutura de apoio, de maneira que sejam sanadas as possíveis dúvidas ou lacunas

durante o curso oferecido. A estrutura física do Instituto é constituída por um salão com

capacidade para 120 pessoas, 22 banheiros, seis salas de aula, uma secretaria, uma cozinha, um

refeitório, dormitório para 120 pessoas, uma sala administrativa, uma minibiblioteca. O

ambiente é arejado e com plantações ao seu redor, situado no Seminário Menor da Diocese.

Foto 6 - Área interna do Seminário Menor de Amargosa

Fonte: Facebook do Seminário Menor de Amargosa.

Além do aspecto físico, a Escola de Fé e Política é formada por uma equipe

multidisciplinar composta pela Coordenação Pedagógica que é responsável pelos

procedimentos acadêmicos, orientação e capacitação dos docentes, bem como pela elaboração

dos materiais didáticos dialógicos e atividades pedagógicas; pela Coordenação Tecnológica, na

qual é responsável pela gestão da tecnologia aplicada à educação a distância; Secretaria

Executiva responsável pela administração financeira, bem como a organização de toda a

documentação do curso e da infraestrutura do Instituto e o professor que é o docente com, no

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mínimo, graduação e experiência em educação superior na área específica da disciplina que vai

ministrar.

Geralmente também é o professor o responsável pela elaboração do material didático

para a disciplina. Cabe a este profissional, ainda, a orientação permanente aos docentes durante

o período que integra a carga horária da disciplina ministrada por ele.

Foto 7 - Alunos em aula no curso de Fé e Política

Fonte: Arquivo Pessoal, Amargosa-Ba, 2018.

Além dos fundamentos éticos, dos referenciais da Doutrina Social da Igreja Católica,

para a ação política dos militantes cristãos, é fundamental o conhecimento prático do militante,

o contato visceral com as comunidades e um exímio conhecimento teórico que dê ferramentas

necessárias às suas ações, principalmente nesse contexto de mudanças, no qual a América

Latina hoje vive principalmente no Brasil, onde vivenciamos um golpe parlamentar, jurídico e

midiático no ano de 2016.

A compreensão da educação como modo de propiciar a participação social surgiu

quando os militantes dos movimentos sociais e partidos políticos oriundos das Comunidades

Eclesiais de Base, no ano de 2005, estavam construindo uma nova visão concernente às

questões sociais. Desta forma, essas compreensões vieram em forma de súplicas, motivadas por

muitos cristãos da diocese de Amargosa conforme o fundador da Escola, padre Neivaldo, nos

informou:

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Nós estamos nos movendo nestes mundos em nome de Jesus Cristo e da Igreja,

sem nenhum acompanhamento, sem nenhuma formação, sem nenhum espaço

onde se possa discutir, refletir, é... confrontar nossos princípios e valores com

os princípios e os valores dos movimentos e dos partidos políticos. Queremos,

nesta instância deliberativa da nossa Diocese, pedir aos padres e ao bispo

diocesano que nos escutem e que nos atendam! (Pe. NEIVALDO, entrevista

realizada em 2017).

Entendendo a educação libertadora como um processo de conscientização e ação em

que as pessoas tomam conhecimento de sua realidade, e a partir dela adquirem condições de

lutar para transformá-la, percebemos que os militantes cristãos da diocese de Amargosa

destacam a educação como um dos principais meios que possibilite a construção de uma outra

sociedade. Motivados por essa perspectiva, sem mesmo ter o apoio das autoridades eclesiásticas

superiores, no ano de 2006, iniciou-se uma experiência de formação com os ativistas de vários

municípios que compõem a diocese de Amargosa.

Segundo o coordenador, o número de militantes que compunham a Escola de Fé e

Política era muito grande, sua maioria provinha dos Sindicatos dos Trabalhadores Rurais, o que

levava as pessoas que vinham de fora e da própria Igreja a desdenharem e, pejorativamente,

acusar o processo de formação de “politiqueiros”, “petistas” e “partidaristas”. Que nada de

Igreja se tinha ou se era. A participação dos militantes na luta pelos direitos humanos, na

política, na militância partidária sempre foi um aspecto que gerava tabus na diocese e

principalmente nas paróquias.

Padre Neivaldo foi a principal liderança e mentor na tentativa de que todo o clero

diocesano aceitasse essa iniciativa para a Igreja Católica. O fundador do Instituto sempre teve

preocupação com a situação de exploração e desigualdades da região. O que ele queria era

possibilitar aos militantes a oportunidade de adquirir a capacidade de gerenciar sua produção,

sua prática em seus espaços de atuação.

Nesse esforço de criação, o fundador incorpora à Escola de Fé e Política um caráter de

Igreja respaldado nos documentos do Concílio Vaticano II. Diante desse fator, é importante

salientar que, perante uma Igreja historicamente conservadora como a diocese de Amargosa, a

criação do Instituto de Fé e Política foi um episódio surpreendente, que ocasionou

transformações expressivas dentro do episcopado.

A Diocese como um todo também assistiu como novidade o que estava

nascendo no seu interior e naqueles “entonces”, né?! Perplexa e desconfiada

não se lançou nem a apoiar e muito menos a conspirar contra. Que no meu

avaliar é uma “faca de dois gumes”. Há sempre quem seja contra, quem critica

quem não quer o processo se desenvolvendo. E, muitas vezes, as forças

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internas que gerenciam a instituição têm mais poder de fogo do que as forças

externas que se veem ameaçadas pela consciência e pela capacidade de

organização e de articulação que os formandos vão desenvolvendo. E você

sabe disso, filho! Isso é muito ruim para quem tem que coordenar, articular,

organizar processos sociais e políticos que requerem o parecer e a posição da

Instituição. (Pe. NEIVALDO, entrevista realizada em 2017)

A fala do padre Neivaldo revela a imparcialidade da Igreja e das principais autoridades

eclesiásticas em relação às discussões em torno do Instituto Fé e Política. O fundador do

Instituto acreditava que seria mais fácil lidar com a comunidade externa do que com a Igreja

teocêntrica e hierarquicamente constituída.

Esse era um dos aspectos que impossibilitava a organização dos processos sociais e

políticos dentro da Igreja. “Ainda para muitos católicos, a missão da Igreja é só pregar o

Evangelho, né?! E não eleger políticos que representem o povo [...]” diz o fundador do Instituto.

Daí acrescenta-se a exigência da ação pastoral conforme orienta a encíclica Gaudium et Spes

nº 44:

É dever de todo o Povo de Deus e sobretudo dos pastores e teólogos, com a

ajuda do Espírito Santo, saber ouvir, discernir e interpretar as várias

linguagens do nosso tempo, e julgá-las à luz da palavra de Deus, de modo que

a verdade revelada possa ser cada vez mais intimamente percebida, melhor

compreendida e apresentada de um modo conveniente.

A pertinência dessa função que as encíclicas encarregam às autoridades eclesiásticas

enfatiza, nessa instância, o convite ao compromisso social implicado numa realidade

conflituosa e mutante como da América Latina. Coesa a esse aspecto, o papel dos teólogos será

de colaborar para maior entendimento nesse compromisso, teoricamente e teologicamente.

Infelizmente, a participação dos militantes na luta pelos direitos humanos, na política, na

militância partidária sempre foi um aspecto que gerava tabus na diocese e principalmente nas

paróquias.

A Igreja orientada pela Teologia da Libertação segue com sua tarefa, de consolidar a

perspectiva da fé, mas sem perder de vista seu papel político dentro da sociedade capitalista.

Para o Instituto de Fé e Política, uma forma de materializar essa missão é no compromisso, no

trabalho ativo dos militantes cristãos na sociedade.

Neste mesmo sentido, a Cáritas brasileira, por meio da Cáritas diocesana de Amargosa,

segue com a proposta de um curso de extensão aos militantes cristãos, no qual houve um

repensar dos objetivos e da matriz curricular por meio das lideranças (professores e militantes),

como veremos no tópico seguinte.

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3.3 Currículo em movimento: pensando a formação dos sujeitos sociais a partir da

Educação Popular

Neste tópico apresentaremos a matriz curricular do curso de Tecnologia em Gestão de

Organização e Movimentos Populares de Base do Instituto de Fé e Política em que difere de

algumas concepções tradicionais de currículo. O currículo como conhecemos é um recurso

usado pela escola para se organizar e construir caminhos que nortearão sua prática a partir de

seu contexto histórico, social e principalmente a partir da realidade do educando, para que assim

haja uma educação de qualidade (CONDINI, 2014).

Sendo assim, para corroborar com a discussão, fez-se necessário recorrer a Silva (2010),

que discursa sobre as diferentes teorias do currículo sendo que uma delas exerce significativa

influência nas práticas pedagógicas em Educação Popular: a teoria crítica. Junto a essas teorias

trazidas pelo autor estão as concepções tradicionais e as pós-críticas.

As teorias tradicionais pretendem ser apenas isso: neutras, científicas

desinteressadas. As teorias críticas e pós-críticas, em contraste, argumentam

que nenhuma teoria é neutra, científica ou desinteressada, mas que está,

inevitavelmente, implicada em relações de poder. As teorias tradicionais, ao

aceitar mais facilmente o status quo, os conhecimentos e os saberes

dominantes acabam por si concentrar em questões técnicas. [...] As teorias

tradicionais se preocupam com questões de organização. As teorias críticas e

pós-críticas, não se limitam a perguntar “o que”, mas submetem este “que”, a

um constante questionamento. Sua questão central seria, pois, não tanto “o

que?”, mas “por que?” [...] As teorias críticas e pós-críticas do currículo estão

preocupadas com as conexões entre saber, identidade e poder (SILVA, 2010,

p. 16-17).

De acordo com o autor, as teorias tradicionais se configuram em teorias de aceitação,

organização, ajustes e de caráter puramente técnico. Paradoxalmente, as teorias críticas são

teorias de problematização, questionamento, transformação radical.

Hoje, mais do que nunca, como aponta Holliday (2006b), na Educação Popular, há uma

necessidade de se pensar as práticas pedagógicas e aprofundar nesses requisitos no intuito de

construir propostas educacionais alternativas, fazer uma opção epistemológica, refletir em torno

dos fundamentos filosóficos, políticos e pedagógicos que nos orientem para transformar a

sociedade.

Hurtado (2006, p. 150-154) ratifica que essas propostas educacionais da Educação

Popular perpassam por quatro pilares fundadores e que seguem vigentes até hoje apresentando

uma proposta teórico-prática na qual se entende que o ser popular se configura no posicionar-

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se na ótica social em movimento. A saber: o marco ético, o marco epistemológico, uma proposta

pedagógica subsequente e o sociopolítico.

De acordo com a leitura do autor, o Marco Ético procede dos problemas e desafios

complexos do mundo globalizado ávido pelas políticas neoliberais, que geram a exclusão,

desigualdades e injustiças. Neste sentido, exige-se um posicionamento ético que conduza e

interprete esses fenômenos para refletir sobre o agir do indivíduo na sociedade. Portanto, essa

dimensão ética põe em vista a construção de uma sociedade justa através de sujeitos críticos e

conscientes.

Outro elemento de proposta vigente da Educação Popular é a de que se deve assumir

uma visão epistemológica. Entendendo que a Educação Popular se configura como um conjunto

de práticas educativas que lutam pela libertação da classe oprimida, o conhecimento nunca será

visto como um instrumento de dominação. Isto implica dizer que de forma dicotômica ao

ideário positivista, adota-se uma base epistemológica de caráter dialético. E para que a educação

aconteça como prática de liberdade e direcione a uma práxis, é somente através da dialogicidade

que isso acontece.

O terceiro pilar vigente em questão é de uma proposta pedagógica consequente, que

amplia as propostas metodológicas libertárias para o âmbito formal. Como ele mesmo

apresenta, apresenta-se na compreensão pedagógico-democrática do ato de propor conteúdos,

métodos etc. Sua proposta está baseada na pedagogia do diálogo e na participação. Nesse

sentido, aspira-se romper com a ideia de que o processo de ensino é mera “transmissão de

conhecimento”. Nesta relação, portanto, o educador está aberto para aprender também com o

educando. O que existe é uma relação recíproca, imbricada entre o ensinar e o aprender.

E o quarto e último pilar apresentado por Hurtado na Educação Popular é o

Sociopolítico, em que destaca a articulação entre o pedagógico e o caráter político. A esse

respeito Guevara (2006) corrobora com essa afirmação ratificando que o entrelace permitiu

descobrir que o ato educacional nunca é neutro. Sendo assim, para se estabelecer uma pedagogia

crítica, emancipatória ligada à prática de Educação Popular, alude ter intencionalidade política

e pedagógica.

Percebe-se que mediante as teorias do currículo, pode-se afirmar que o currículo não é

algo neutro, ou seja, ele desempenha um papel político. Novas interpretações aparecem em

Freire (2016) em sua Pedagogia do Oprimido, que se fundamenta em uma teoria educacional

crítica e libertadora. Freire vem fazendo uma crítica à educação tradicional justificando como

“[...] um ato de depositar, em que os educandos são os depositários e o educador, o depositante”

(FREIRE, 2016, p. 104).

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Para ele, essa visão bancária18 anula a criatividade dos alunos, estimulando sua

ingenuidade e não sua criticidade. “Na visão ‘bancária’ da educação, o saber é uma doação dos

que se julgam sábios aos que julgam nada saber. Doação que se funda numa das manifestações

instrumentais da ideologia da opressão. [...]” (FREIRE, 2016, p. 105).

Freire nos apresenta um outro jeito de fazer educação, uma educação para a liberdade

como um processo histórico de humanização que deve garantir uma práxis transformadora para

libertar todo homem e mulher circunstanciados por qualquer tipo de opressão ávida pelo sistema

de produção capitalista.

Foi pensando nessa perspectiva que o fundador da Escola de Fé e Política pensou um

currículo baseando-se numa aspiração crítica de ensino (MOTA NETO, 2016), cuja base

incorpora uma pedagogia dialógica e problematizadora.

Três bases determinaram a elaboração mais permanente do Currículo do curso

em tecnólogo em movimentos sociais de base do Instituto de Fé e Política. O

primeiro deles foi a necessidade imperiosa de refletir a prática. Assim...

pressupostos teóricos para pensar, aprofundar e melhor acompanhar os

processos que dentro do movimento popular se impõem. Um segundo

elemento foi o diálogo com a Fé, como os ritos celebrados, a palavra imediata

iluminam a vida politicamente vivida, economicamente determinada,

socialmente relacionada. Já o terceiro elemento, né?! foi a necessidade mesma

de se ter a sistematização de um Projeto Político com as cores e o sangue do

Movimento Popular (Pe. NEIVALDO, entrevista realizada em 2017).

A partir do depoimento do fundador do Instituto de Fé e Política, vê-se claramente que

o currículo do curso de Gestão em movimentos sociais de base, foi elaborado para assumir uma

metodologia de educação contrária à bancária, um modelo crítico, libertador, conscientizador.

Nessa lógica, o currículo foi construído na perspectiva dos movimentos sociais,

apresentando o diálogo, a problematização, o conflito, como processo metodológico constante,

que permite a vinculação dos conteúdos com a história de vida dos sujeitos.

O papel do indivíduo que trabalha com os movimentos sociais, com as classes populares,

é o de escutar, refletir junto com o povo sobre a sua experiência a partir de pressupostos teóricos,

ou seja, a partir do momento em que o sujeito histórico passa por situações adversas do

cotidiano; estas mesmas situações deverão ser problematizadas e apresentadas como um

obstáculo a ser suplantado pela reflexão e ação dos próprios sujeitos.

18 Esse termo metafórico se refere, segundo Paulo Freire, à prática tradicional de ensino justificada pelo ato de

“depositar”, em que o educador é o depositante e o educando é o depositário.

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Os conteúdos curriculares estudados no Instituto no curso em questão são divididos em

quatro núcleos curriculares: Formação Específica tendo como objetivo propiciar um

conhecimento mais sistemático e reflexões sobre sociedade e Estado. São vistos fundamentos

de política e direitos humanos, direito trabalhista, história das organizações, ética pessoal e

profissional, história da economia e da política, abordagem sociopolítica da sociedade

contemporânea, legislação eleitoral e reforma política, gestão social e desenvolvimento

sustentável, modelos de gestão, cooperativismo e associativismo e Educação Popular.

O núcleo de conteúdos sobre Formação Geral engloba Língua Portuguesa, oratória,

gestão estratégica de pessoas, antropologia cultural, fenomenologia da religião e história da

teologia, fundamentos da bioética, informática aplicada à gestão, empreendedorismo e

marketing social, pluralidade cultural, matemática financeira e negociação.

Núcleo das Dimensões Teórico-práticas, no qual os cursistas aprendem metodologia

da pesquisa, realizam estágio supervisionado, trabalho de conclusão de curso e seminários

temáticos. Outro núcleo é o referente a Fundamentos de Formação Teológica pautados em

conteúdos referentes à cristologia, História da teologia, bíblia sagrada e doutrina social.

Esses conteúdos foram articulados na perspectiva da formação profissional e tendo em

vista as demandas da sociedade contemporânea e não outra. Os conteúdos desses núcleos são

distribuídos durante todo o curso, como pode ser visto na matriz curricular a seguir:

Quadro 2 - Matriz Curricular do Curso de Extensão em Tecnologia em Gestão de Organizações e

Movimentos Populares de Base

1º PERÍODO

Disciplina

T

E

P

R T CH

Metodologia Científica 3 1 4 72

Modelos de Gestão I 3 1 4 72

Língua Portuguesa I 3 1 4 72

Cristologia 3 1 4 72

História das Organizações e Movimentos Populares 3 1 4 72

Seminário Temático I 1 1 2 30

TOTAL 16 6 22 390

2º PERÍODO

Disciplina

T

E

P

R T CH

Antropologia Cultural 3 1 4 72

Informática Aplicada à Gestão 3 1 4 72

Direitos Humanos 3 1 4 72

Bíblia Sagrada 3 1 4 72

História da Economia e da Política 3 1 4 72

Seminários Temáticos II 1 1 2 30

TOTAL 16 6 22 390

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3º PERÍODO

Disciplina

T

E

P

R T CH

Fundamentos de Política e Direito 3 1 4 72

Abordagem Sociopolítica da Sociedade Contemporânea 3 1 4 72

Modelos de Gestão II 3 1 4 72

Língua Portuguesa II 3 1 4 72

Pluralidade Cultural 3 1 4 72

Seminários Temáticos III 1 1 2 30

TOTAL 16 6 22 390

4º PERÍODO

Disciplina

T

E

P

R T CH

Direito Trabalhista e da Seguridade Social 3 1 4 72

Oratória 3 1 4 72

Fenomenologia da Religião e História da Teologia 3 1 4 72

Gestão Social e Desenvolvimento Sustentável 3 1 4 72

Associativismo e Cooperativismo 3 1 4 72

Seminários Temáticos IV 1 1 2 30

TOTAL 16 6 22 390

5º PERÍODO

Disciplina

T

E

P

R T CH

Matemática Financeira e Negociação 3 1 4 72

Gestão Estratégica de Pessoas 3 1 4 72

Doutrina Social 3 1 4 72

Fundamentos da Bioética 3 1 4 72

Legislação Eleitoral e Reforma Política 3 1 4 72

Seminários Temáticos V 1 1 2 30

TOTAL 16 6 22 390

6º PERÍODO

Disciplina

T

E

P

R T CH

Empreendedorismo e Marketing Social 3 1 4 72

Estágio Supervisionado 3 1 4 72

Ética Pessoal e Profissional 3 1 4 72

Educação Popular 3 1 4 72

Trabalho de Conclusão de Curso – TCC 3 1 4 72

TOTAL 15 5 20 360

TOTAL GERAL 95 35

13

0

231

0

Fonte: Instituto de Fé e Política de Cáritas da Diocese de Amargosa/BA. Projeto de solicitação do curso de

extensão em tecnologia em gestão de organizações e movimentos populares de base. 2008.

O currículo tem um eixo que é fundamental em favor da acolhida e dos anseios para a

consciência, a luta e a organização dos trabalhadores e trabalhadoras; e por outro lado algo mais

flexível, adaptável às diversas circunstâncias da atualidade da agenda política, cultural,

econômica, jurídica, trabalhista e das adversidades dos distintos contextos da complexidade

humana.

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Dessa maneira, quando se trata desse sentido cristão e humanista da educação, o

documento de Medellin (1968, p. 28-29) propõe uma educação libertadora dentro desse

processo histórico de Educação Popular.

Nuestra reflexión sobre este panorama nos conduce a proponer una visión de

la educación más conforme com el desarrollo integral que propugnamos para

nuestro continente; la llamaríamos la "educación liberadora"; esto es, la que

convierte al educando ensujeto de su próprio desarrollo. La educación es

efetivamente el medio clave para liberar a los pueblos de toda servidumbre y

para hacerlos ascender "de condiciones de vida menos humanas a condiciones

más humanas" [PP 20], teniendo em cuenta que el hombre es el responsable y

el "artífice principal de su éxito o su fracaso". [...] Para ello, la educación en

todos sus niveles debe llegar a ser creadora, pues ha de antecipar el nuevo tipo

de sociedad que buscamos en América Latina; debe basar sus esfuerzos em la

personalización de las nuevas generaciones, profundizando la conciencia de

sudignidad humana, favorecendo su libre autodeterminación y promovendo

su sentido comunitario. [...] Debe, finalmente, capacitar a las nuevas

generaciones para el cambio permanente y orgánico que implica el desarrollo.

Esta es la educación liberadora que América Latina necesita para redimirse de

las servidumbres injustas y, antes que nada, de nuestro propio egoísmo. Esta

es la educación que reclama nuestro desarrollo integral.

Nessa conjuntura, desenvolvendo essas propostas teórico-metodológicas, o Instituto de

Fé e Política de Amargosa acaba promovendo uma educação crítica. Uma educação que gere o

desenvolvimento de aprendizagens para a apreensão da realidade. “Hoje mesmo, já sentimos a

necessidade de repensar este currículo, pois muitos elementos que ontem eram pertinentes hoje

já são outros. Agora mesmo, todo o trabalho no Instituto será para a adequação da urgência de

um Projeto Popular para a Reforma Política”, diz o fundador do Instituto.

Em relação aos professores que ministram os módulos, no Instituto de Fé e Política da

Cáritas Diocesana de Amargosa, Pe. Neivaldo esclarece que são as comunidades, os sindicatos,

os partidos que indicam, apresentam e mantêm os indicados mediante alguns critérios que o

Instituto apresenta. Normalmente são candidatos de uma experiência na militância que já

tenham concluído no mínimo o 2º Grau. Alguém disposto a manter uma regularidade na

participação. Assim nos conta:

Quanto aos professores, são pessoas que ademais de dominarem um

conhecimento específico estão quase sempre em comunhão com os

movimentos sociais, com um pensar de uma sociedade onde o mercado não

seja ditador das normas das relações sociais, culturais, políticas e humanas a

ponto de escravizá-las. São pessoas que têm história de militância ou

proximidade com as grandes questões sociais e almejam a participação

popular nas decisões políticas, econômicas, sociais. E... homens e mulheres

que também se dispõem para o trabalho voluntário, pois não há nenhum tipo

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de remuneração para os que lidam neste espaço de formação teológica e

política (Pe. NEIVALDO, entrevista realizada em 2017).

Partindo desse pressuposto, se isto se faz sem relação com um processo organizativo,

toda a metodologia torna a ser do tipo “bancária”, opressora, alienante. Por mais que seu

conteúdo seja de cunho libertador, não se pode conseguir o objetivo que os militantes cristãos

criem seus próprios meios caracterizados por suas experiências de pedagogia popular crítica.

Nesta clara relação entre professores e alunos do Instituto de Fé e Política, exige-se que

a educação deixe de ser um trabalho de educador sobre os educandos numa aspiração

gnosiológica tendo como finalidade uma educação dialógica, crítica e libertadora, como

assevera Paulo Freire (2016, p. 118) em sua Pedagogia do Oprimido.

A educação que se impõe aos que verdadeiramente se comprometem com a

libertação não pode fundar-se numa compreensão dos homens como seres

vazios a quem o mundo “encha” de conteúdos, não pode basear-se numa

consciência especializada, mecanicistamente compartimentada, mas nos

homens como “corpos conscientes” e na consciência como consciência

intencionada ao mundo.

Após Freire afirmar que a educação bancária não se configura dentro de uma perspectiva

de educação crítica e libertadora, o autor explicita a importância da problematização dos

homens frente ao mundo, ao afirmar que “é a práxis, que implica ação e reflexão dos homens

sobre o mundo para transformá-lo” (FREIRE 2016, p. 118).

Aí se define o papel fundamental da problematização: oferecer aos educandos a

perspectiva de irem se exercitando na prática diária de pensar criticamente para que possam

tirar suas próprias explicações e interpretações dos fatos. Sendo assim, a função do professor

se torna importante nesta compreensão de educação, problematizando e desenvolvendo uma

inclinação para a leitura crítica do mundo.

Uma experiência assim só torna evidente a apreensão de que a fé e a ação política

somente entram em relação correta e fecunda através da ideação de um novo tipo de sujeito

histórico em uma sociedade. O Instituto é um espaço em que há um compromisso em juntar-se

para partilhar as distintas experiências, os diversos conteúdos, e também de partilhar suas

dificuldades e desafios.

Num processo educativo sério está implícito um monte de obstáculos quando

se refere à formação onde os que são capacitados... são por vocação,

ideologia... e... convicção, e também reconhecedores da necessidade para

melhor ser sal, ser luz dentro de uma sociedade que mais se direciona para

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obscurecer os mais fracos. Quando se tem um governo como o nosso, filho,

golpista... impopular e destruidor das políticas sociais, isso é grave e é o que

dificulta nossa luta, mas para nós, os empecilhos se convertem e são esses

desafios que dão sabor à luta e às vitórias que seguramente advirão. Aí está

verdadeiramente, como te disse, a importância da política na educação (Pe.

NEIVALDO, entrevista realizada em 2017).

Para o fundador, um dos principais obstáculos que travam os avanços do Instituto de Fé

e Política são as medidas do atual governo Michel Temer, no qual a Instituição está fortemente

ameaçada devido à falta de recursos que sustentam o projeto. Atualmente, a queda do presidente

Temer, antes mesmo que chegasse às próximas eleições, é um desejo unânime da maioria dos

brasileiros que estão nas ruas na superação das políticas neoliberais que o governo impõe.

As inúmeras denúncias de corrupção só reforçam a ilegitimidade desse governo. Um

governo que não foi eleito democraticamente e está gerando a maior retirada de direitos da

história do país. De qualquer forma, diante dos atuais retrocessos deste governo, uma série de

ações pela democratização e fortalecimento dos movimentos sociais continua intrépida.

A partir desta análise, vê-se claramente que o momento histórico por que muitos

brasileiros estão passando, principalmente os setores populares, exige-se de suas lideranças

reflexões profundas sobre esta realidade a fim de que a consciência resulte numa inserção sobre

ela. Uma inserção, como dizia Freire, crítica, comprometida com o povo, com o homem

concreto.

Neste ponto, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), representante

principal da Igreja Católica no país, vem repudiando os esquemas neoliberais do governo de

Michel Temer desempenhando um papel importante na articulação da sociedade civil, com

ONGs, Igrejas, movimentos pastorais e demais instituições sociais.

O pensamento político da Igreja é refletido, também, em textos-base da Campanha da

Fraternidade orientada todo ano pela CNBB, que é aplicada ao contexto hodierno do Brasil sob

a dimensão da fé e política, que neste ano de 2018 tratou sobre: Fraternidade e superação da

violência, tendo como lema “Em Cristo somos todos irmãos (Mt 23,8)”, configurando-se

como uma proposta de crítica social para promoção do bem comum.

Essa intencionalidade conscientizadora da CNBB só será garantida a partir da prática,

na qual o conhecimento aparece numa perspectiva transformadora, substituindo uma visão

fetichizada e ingênua da realidade por uma visão crítica.

Considerando a situação tétrica em que o Brasil está vivendo, não é motivo para

comemorarmos. Mas, pelo contrário, exige-se muita luta e múltiplas estratégias para enfrentar

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esses desmontes, uma vez que essas perdas já fazem parte da realidade de muitos trabalhadores,

quer seja na educação e/ou nos direitos trabalhistas.

Nesses tempos de práticas capitalistas e impopulares do governo Temer, um dos maiores

desafios é ir de encontro a essas forças políticas neoliberais e desumanizadoras que o país vive.

Com todo esse desmonte dos direitos sociais, o fundador do Instituto nos leva à compreensão

de que é extremamente importante a participação do povo e sua presença diretiva nos processos

sociais.

No entanto, como “não há bônus sem ônus”, todos se articulam, pois, os desejos de

mudanças sociais são muito vivos e continuam presentes na vida dos cristãos. E quando alguém

é ameaçado a ficar fora por não reunir forças suficientes, a solidariedade é o compromisso e

marca da maioria dos que fazem parte desse Instituto de Fé e Política.

Contudo, também não podemos negar que ao falarmos de cristãos, não podemos

generalizar, já que atualmente uma onda neoconservadora toma conta de uma grande parte

deles. Daí a importância de processos educativos que acolham a perspectiva crítica dessa

realidade, como a Educação Popular. É sobre ela e a força dos movimentos sociais que nos

debruçaremos no capítulo a seguir.

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4 PEDAGOGIA DA LIBERTAÇÃO E SUA PRÁXIS: QUANDO A FORMAÇÃO

TAMBÉM TRANSFORMA A AÇÃO

O presente capítulo tem como escopo analisar a prática dos egressos do Instituto de Fé

e Política de Amargosa, problematizando os dados coletados através das entrevistas realizadas

com os mesmos concomitantemente estabelecendo relações com as referências bibliográficas

apresentadas neste estudo. Dentro deste capítulo, discutiremos algumas categorias básicas da

Educação Popular como práxis, conscientização e relação teoria e prática, que direcionam seus

fundamentos a uma educação crítica e transformadora. Seguimos abordando a partir do método

dialético, tendo em vista a importância de compreender o fenômeno em estudo não só

historicamente, mas também, buscando entender suas contradições. Neste prisma, lançamos um

olhar reflexivo sobre a atuação do egresso com a formação recebida no curso de fé e política,

identificando as possíveis contribuições do curso para a ação dos mesmos em suas áreas de

atuação.

4.1 Do contexto prático ao contexto teórico: a busca da formação para se pensar a prática

Como vimos nos capítulos anteriores, a Instituição educativa de Fé e Política, que se

formou em Amargosa, fez-se extremamente importante por integrar uma diversidade de pessoas

que atuam em sindicatos, pastorais sociais e demais espaços políticos, uma vez que esta

instituição busca fortalecer junto a esses sujeitos sociais a construção de espaços de participação

democrática e transformação social.

Uma das finalidades fundamentais deste centro educativo era que fosse um espaço

diferenciado para a contribuição na qualidade da atuação dos profissionais nos diversos

movimentos populares de base, empoderando-os para a construção de uma sociedade mais justa

e igualitária.

Como já mencionamos, os sujeitos da pesquisa, antes de participarem do curso

formativo, já exerciam suas práticas nas comunidades, até porque muitos desses ativistas

procuram capacitações metodológicas e pedagógicas capazes de fortalecer o seu processo

organizativo na intenção de compreender a sua realidade a fim de melhorar sua prática. Apesar

desses sujeitos terem adquirido conhecimentos teórico-práticos no interior de movimentos

pastorais da Igreja Católica, eles nos contaram quais foram seus interesses e expectativas em

participar de um curso voltado para a organização de movimentos populares de base. Vejamos

seus depoimentos:

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Voltar a participar do Instituto era uma forma de trocar experiências, ganhar

formação e ganhar ânimo para continuar militando. Então, meu objetivo era

esse. Sabendo que o Instituto dava a formação para você e cobrava

perseverança, diálogo, capacidade, honestidade. E como eu já estava

militando na política também nesse período, Padre Neivaldo já cansou de dizer

que aquilo era o centro de formação para você perceber que ao você militar

no movimento social, nas instituições, na organização do povo e na política

tem muitos laços e você tem que estar preparado, uma delas é a questão da

corrupção. Então você precisava estar preparado para isso porque volta e meia

iria aparecer para lhe corromper, lhe tirar do caminho e o Instituto dava essa

formação. Te preparava para vencer isso. (ENTREVISTADO Nº 3)

Olha, na realidade foi pelo fato de toda minha formação teológica. Ela ter sido

voltada para os movimentos sociais, então desde minha infância, de meus 12

anos lá no sertão da Bahia, a gente já tinha uma vida voltada para o sindicato,

às associações e movimentos, sobretudo em minha região, que tinha muita

questão de “fundo de pasto”, então existia muitos conflitos agrários.

(ENTREVISTADO Nº 2)

As minhas expectativas e interesses de participar de uma formação voltada

para organização e movimentos populares da base se dá no momento

exatamente que a gente precisa trocar experiências com outros companheiros

de organização de toda a região, uma expectativa muito boa de passarmos

também as nossas experiências e nos capacitarmos para estarmos à frente de

uma gestão por exemplo de uma presidência da câmara. (ENTREVISTADO

Nº 1)

Então! Eu já tinha este espírito dentro mesmo do movimento, mas o que a

gente precisa é de uma base, base teórica, foi o que estava faltando, então o

Instituto ele veio a calhar, então veio respaldar todo esse movimento com a

base... para não ficar solto, porque, né? Pega daqui você só na prática, então

no caso... que o Instituto veio favorecer para mim e para os outros alunos, foi

a base teórica, que viu a teoria e também fomos para a prática, sendo que a

gente sabe que a teoria não se separa da prática. (ENTREVISTADO Nº 4)

A diferença é sempre buscar a capacitação, né? Quanto mais você participa de

curso, você adquire conhecimentos para que você possa tá melhorando sua

atuação nos espaços onde você ocupa. O interesse é o de você se aprimorar

para contribuir no espaço em que você atua. [...] O Instituto foi uma porta que

nos abriu muita coisa, o estudo, a troca de experiência, mas que também

tivemos outros momentos de formação que isso tudo vai nos enriquecendo

para atuação, né? Como eu participo de sindicato, a gente tá sempre

participando de formações, também veio a questão do curso de serviço social

que tô fazendo... isso vai lhe aprimorando. Mas como eu vim do sindicato,

acho que a base maior de minha iniciação política é o sindicato

(ENTREVISTADO Nº 5).

De modo geral, as falas desses entrevistados indicam que todos já tinham uma atuação

política antes do curso do Instituto, mas que estavam buscando conhecimentos para estarem

qualificados e atualizados no aprimoramento de suas atividades práticas, fortificando sua

militância e clareando suas vicissitudes da organização social. Pois através dessas atividades

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eles aprofundam os conhecimentos adquiridos na prática que são requisitos para o bom

desempenho em seus processos de organização e militância. Outra observação que podemos

destacar é o fato deles reconhecerem que a relação teoria e prática caminham juntas,

demonstrando amadurecimento intelectual e político.

Vários movimentos católicos, de comunidades, sindicatos e associações, em especial as

áreas de atuação dos egressos pesquisados, são lugares que aplicam técnicas e desenvolvem

especiais metodologias no âmbito da educação popular. Nesse processo, os sujeitos

entrevistados acham fundamental sua inserção participativa na sociedade. Ancorados nessa

perspectiva, percebem na educação um instrumento essencial para contribuir com o processo

de transformação da realidade concreta.

Para os entrevistados nº 1, 2 e 3, fazer o curso no Instituto de Fé e Política significava a

busca de uma melhor capacitação para dar subsídios às suas práticas sociais. A vivência e o

contato com questões relacionadas à corrupção e a outros conflitos no interior dos seus

movimentos, levaram-nos a buscar uma educação que possibilitasse uma nova postura frente

aos problemas de seu tempo e de seus espaços de atuação.

Esse tipo de educação que possibilite o homem adquirir um discurso problematizador

perante as adversidades é também apresentado por Freire (1979c) em Educação como Prática

de Liberdade, que defendia que a transformação da sociedade também passa por uma reforma

subjetiva do homem, nesse sentido, apresentando-lhes uma educação que “o advertisse dos

perigos de seu tempo para que conscientes deles, ganhasse a força e a coragem de lutar (...).

Educação que o colocasse em diálogo constante com o outro. Que o predispusesse a constantes

revisões” (FREIRE, 1979c, p. 89-90).

A partir dos depoimentos dos entrevistados, participar de um processo educacional que

priorize a realidade foi sem dúvida um fator motivacional, pois enxergaram no Instituto, um

tipo de educação que dialoga com a realidade concreta, que imprime um processo dialético

entre a consciência humana e a estrutura da sociedade, direcionando a formação do curso como

um fator elementar para a mudança das estruturas, como ficou explícito no desejo de um dos

entrevistados. “Uma expectativa muito boa de passarmos também as nossas experiências e nos

capacitarmos para estarmos a frente de uma gestão, por exemplo, de uma presidência da

câmara”. Não só nessa fala como em outras é possível enxergarmos que além de aprender eles

também queriam contribuir com o curso expondo suas experiências, refletindo, assim, a visão

dialógica e conscientizadora da Educação Popular.

Para Francisco Gutierrez (1988), o homem que se conscientiza no envolvimento com

sua realidade é sempre um sujeito em movimento. O autor afirma que esse trabalho organizativo

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orientado por um pensamento crítico “não mais se trata, portanto, de um método pedagógico,

mas de um projeto histórico onde a educação deixa de ser abstração” (GUTIERREZ, F., 1988,

p. 54).

Abordagens sobre a relação da teoria e prática também foram relatadas pelos sujeitos

nas entrevistas. O entrevistado nº 4 acha que dentro desse processo pedagógico, a teoria é muito

importante para respaldar as ações que desenvolve no movimento social. Pois é “no contexto

teórico, tomando distância do real, que assumimos a posição de sujeitos cognoscentes e

chegamos ao conhecimento verdadeiro” (DAMKE, 1995, p. 91).

De forma paradoxal ao pensamento do autor, muitos grupos, movimentos de base,

partem da ação e permanecem na ação. Preocupam-se em desenvolver atividades e ações, mas

não param para refletir sobre sua própria prática, e por não refletirem acabam caindo num

ativismo, o que faz com que muito movimentos se desestabilizem.

Nesse contexto, Freire (2016) já nos adverte, partindo do pressuposto de que a educação

não se dá de forma verbalista ou ativista, mas sim pautada na perspectiva dialógica de reflexão

e ação. Fundamentalmente, essa proposta freireana se caracteriza pela busca de um

conhecimento mais científico para explicar os fatos da realidade como um todo para poder

transformá-la, sendo o homem um ser da práxis.

Como dissemos antes, a partir dos depoimentos dos entrevistados, podemos afirmar que

todos, a priori, adquiriram saberes para sua militância, antes mesmo de ingressarem no Instituto

de Fé e Política pelo contexto do seu trabalho. Porém, o que deixou claro nos depoimentos a

seguir foi que esses saberes não asseguravam uma melhor atuação prática. Assim, os

entrevistados compreendem que o saber é limitado, o que fez com que alguns recorressem a

outros cursos e formações em busca da teoria.

Para nós é importante ter essa formação teórica. Então essa capacidade das

pessoas ter uma avaliação crítica de passar isso de forma teórica e a gente

perceber no dia a dia (...), a nossa caminhada ela só vai ter sabor quando a

gente juntar a fé e vida, então a gente precisava ter esta parte teórica, mas a

gente precisava perceber isso no dia a dia nosso, aonde está ligado uma coisa

à outra? Então a teoria com a prática que a gente tinha, a gente conseguia

juntar para a gente perceber qual era nossa tarefa no dia a dia.

(ENTREVISTADO Nº 3)

Eu acho a teoria muito importante. Porque no momento que você está na

teoria, você adquire conhecimento no qual você ainda não era portador e só se

torna relevante quando você pega isso aí e põe na prática né, na sua trajetória,

na sua caminhada. (ENTREVISTADO Nº 5)

A prática é importantíssima, mas a teoria também, porque isso ali dá base, dá

sustentação, conhecimento, cada vez que você se aprofunda que você vai

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buscar teóricos, teorias que trata daquele assunto, você parte para o campo

com mais segurança, com mais firmeza. (ENTREVISTADO Nº 1)

Para mim tem sido muito importante. Porque se você não tem conhecimentos

teóricos, dificilmente você desenvolverá prática de qualidade, entendeu?

Então uma coisa sempre depende da outra, eu acho que foi. Foi não, tem sido

fundamental para os meus trabalhos para as minhas seções, junto ao

movimento, junto a cada dia que passa graças à oportunidade que tive de ter

esse conhecimento teórico dentro do Instituto. (ENTREVISTADO Nº 2)

A partir do momento em que o movimento ou grupo se engaja e reflete sobre sua ação,

vai percebendo a necessidade de formação mais teórica e planejada. Pois, “na Educação

Popular, a prática não fala por si mesma. Assim, qualquer fato prático carece de análise e

interpretação. (...) O critério de verdade está na prática, mas só após uma interação da abstração

ou da teoria sobre essa prática mesma” (MELO NETO, 1999, p. 57).

Enfim, diante das expectativas e interesses que levaram os mesmos a ingressarem no

Instituto de Fé e Política de Amargosa, podemos dizer que todos os entrevistados acreditavam

que o ingresso na Instituição possibilitaria o avanço significativo nas lutas dos movimentos de

que participavam através da fundamentação teórica que não tinham. Mas não uma simples

teoria. Eles acreditavam que o Instituto como um espaço de conhecimento os capacitaria

teoricamente para a elaboração de práticas sociais mais críticas e conscientes, daí o próximo

tópico abordar acerca das práticas dos egressos após o curso.

4.2 Prática-Teoria-Prática, a mesma palavra, diferentes ações: mudanças dos educandos

a partir da formação recebida

Atualmente, os processos pedagógicos que promovem uma formação na ação não são

elaborados de qualquer forma. Isto porque se pressupõe uma proposta que una a teoria com a

ação. Os cursos que utilizam estes modelos de formação na ação sempre partem da realidade

concreta. Ao contrário de uma “educação bancária”, estimulam maior participação dos

cursistas, ou seja, uma educação libertadora. Tomando-se como base Freire (2016, p. 127):

Enquanto a educação “bancária” dá ênfase à permanência, a concepção

problematizadora reforça a mudança. Deste modo a prática “bancária”,

implicando o imobilismo a que fizemos referência, se faz reacionária,

enquanto a concepção problematizadora, que, não aceitando um presente

“bem-comportado”, não aceita igualmente um futuro pré-dado.

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Em outras palavras, Freire considera esse tipo de educação como um ato de “depositar”,

em que as informações e conteúdos são transferidos do professor para o aluno que é desprovido

de conhecimento. Ao contrário desta concepção de educação, o autor propõe uma educação

como prática de liberdade em que “ao contrário daquela que é prática de dominação, implica a

negação do homem abstrato, isolado, solto, desligado do mundo, assim como também a negação

do mundo como uma realidade ausente dos homens” (FREIRE, 2016, p. 123).

Ao abordar como se dá esse processo educativo libertador, Damke (1995, p. 84) não

desconsidera a educação humanista pautada num caráter científico. Em suas palavras,

É preciso deixar claro que a pedagogia libertadora não dispensa os conteúdos

escolares, nem o rigor científico, tampouco a autoridade do educador o a

diretividade do processo. Ao contrário, esses são elementos considerados

fundamentais, necessários ao processo educativo como ato de conhecimento

e como processo libertador.

A perspectiva freireana de Educação Popular também não exclui os saberes científicos,

na verdade os soma com os saberes populares, sendo exatamente essa articulação que permite

uma educação mais humanizada, crítica e dialógica.

Ao observarmos a Matriz Curricular do Curso de Extensão em Tecnologia em Gestão

de Organizações e Movimentos Populares de Bases do Instituto de Fé e Política de Amargosa

(Quadro 3 do Capítulo terceiro), notamos que ela imprime bem esta perspectiva de educação

libertadora apresentada pelos supracitados autores. Antropologia Cultural, História da

Economia e da Política, Direito Trabalhista e da Seguridade Social, Meio Ambiente, são

sugestões que direcionam a possibilidade de se estabelecer uma sociedade na qual os sujeitos

se tornem agentes de sua própria história. Assim, podemos perceber esta relação da teoria

estudada no Instituto com a vida na comunidade sobretudo nas falas dos entrevistados nº 1 e nº

2, respectivamente:

Então, a nossa percepção em relação a teoria estudada no Instituto com a vida

na comunidade ela ficou muito clara para nós, principalmente no que se refere

à questão dos projetos que estavam sendo colocados no Brasil e que há cerca

de 500 anos eles já existem. É um projeto que inclui as pessoas, que garante a

distribuição de renda, que garante a emancipação do cidadão e o outro projeto

que só pensa na questão do econômico, a economia está em primeiro lugar;

então quando a gente vai para a comunidade que vê um depoimento das

pessoas dizerem que com as conquistas que tiveram mudou de vida, melhorou

de vida, para a gente estava um pouco sendo colocado em prática tudo aquilo

que nos vivenciamos. (...) Ou seja, o que nós aprendemos na teoria no instituto

fé e política passava a acontecer na prática da vida das pessoas e mudava para

melhor a vida das pessoas, esse é o grande legado dessa nossa história de

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formação política sindical associativista, mas sobretudo uma formação das

comunidades eclesiais de base.

São duas coisas interessantes para mim: a teoria e a prática, duas coisas

necessárias, porque você não precisa ter só a questão da prática, você tem que

ter o conhecimento também, né? Lhe dá muita segurança naquilo que você

está fazendo (...) Na medida que você vai estudando, você está inserido na

vida da comunidade, junto do movimento, muitas vezes você se depara com

situações que você não consegue decifrar, não fica muito claro, você meio

como sem saída, quando você tem um conhecimento, digamos assim, o

conhecimento mesmo, através dos livros, dos estudos, conhecimentos

técnicos, teóricos, você consegue enxergar isso com mais nitidez e consegue

também buscar saídas. Agora mesmo eu estava numa reunião com mais de 80

mães lá da creche aonde eu estava, donde a gente coordena mais de 18 anos e

eu estava justamente dando uma palestra, então se você não tiver um

conhecimento teórico dificilmente você vai transferir aquilo para uma prática

junto de um pessoal; agora mesmo fui convidado a participar com o pessoal

da UFRB, alunos da UFRB, para vir dar uma palestra sobre a questão do meio

ambiente aqui no bairro aonde a gente está. Então se a gente não tivesse

habilidades e conhecimentos teóricos dificilmente você passaria isso na

prática.

A partir das falas dos entrevistados, percebemos que na medida em que eles vão

compreendendo os fenômenos reais de sua localidade, os temas são aprofundados. Nessa

aspiração, é no contexto teórico, por meio do diálogo e das reflexões junto à comunidade que

conseguem estabelecer um pensamento para poderem desvelar a realidade. Fica evidente nas

entrevistas o papel de quem está vinculado aos movimentos populares, que nada mais é do que

refletir junto com a comunidade sobre suas experiências no intuito de sistematizá-las para que

o povo, aberto a novas formas de captação da realidade, desperte o senso crítico e a consciência

de serem sujeitos capazes de transformar o seu meio.

Dentro desse princípio, Freire (2016, p. 75) ainda traz o conceito de práxis e considera

a educação como conhecimento crítico. Pois somente através dessa consciência crítica é que as

classes populares se apropriarão da política e se organizarão para instaurar a práxis

transformadora. Nesse sentido, “a práxis, porém é reflexão e ação dos homens sobre o mundo

para transformá-lo. Sem ele é impossível a superação da contradição opressor-oprimidos”.

A partir dessas reflexões, fica evidente que os egressos do Instituto de Fé e Política de

Amargosa adotam a totalidade como categoria para interpretar seu contexto real. Sendo assim,

de acordo com Hurtado (1992, p. 48),

Assim, pois, uma “metodologia dialética” é o caminho adequado que nos

permite ter como “ponto de partida” do processo a prática real da organização

transformando sua realidade; este partir da prática será levado

sistematicamente a novos níveis de compreensão, isto é, a processos de

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abstração da mesma realidade que nos permita compreendê-la, de maneira

diferente, em sua complexidade histórica e estrutural, para então projetar as

novas ações transformadoras de uma maneira mais consciente e sobretudo, de

acordo com uma teoria que nos ajude a conhecer as leis históricas, permitindo-

nos avançar mais adequadamente dentro de uma visão estratégica, que situa e

supera um mero ativismo [...].

Nos movimentos sociais, sindicatos, organizações, os egressos pesquisados apontam a

importância de haver uma reciprocidade entre a teoria e a realidade, na intenção de descobrirem

os fatos sociais de seu meio através do contato com a prática. Nessa compreensão, na condição

de militantes passariam de uma ação crua e simples para uma ação fundamentada, refletida e

inovadora, conforme percebemos claramente na fala do entrevistado nº 1 que diz:

A formação que recebi no Instituto me ofereceu subsídios para atuar na

comunidade em que atuo. Então isso foi muito importante. Claro que foi

importante! Porque quando você atua de uma forma qualificada com ideias

novas, com pensamentos voltados ao interesse comum, você termina sendo o

contraponto daquelas discussões [...] O estudo dos movimentos que

aconteceram antes e depois do descobrimento do Brasil, exemplo das ligas

camponesas, a luta daquele povo, daquela época e nos nossos grandes

guerreiros da história e muitos ligados à igreja, muitos ligados à questão dos

negros, a exemplo de Zumbi de Palmares, então tudo isso nos possibilita a

termos uma atuação na vida comunitária na vida política. [...] Em tudo que

nós recebemos essas formações, essas orientações numa visão macro que a

escola não ensina, colocando os fatos de uma forma real da história do nosso

país e dos movimentos da própria igreja. Isso possibilitou o diferencial nos

lugares onde a gente atua, inclusive valorizando a teoria para colocar em

prática aquilo que a vida em comunidade nos orienta. Então eu consegui ver

em mim mesmo essa percepção de diferença, mas também quando a gente

chegar na comunidade, a percepção da comunidade também era diferente [...].

O entrevistado, nesta ocasião, chama a atenção para a importância da teoria estudada na

Instituição. O debate de assuntos históricos é marcante, pois ao se encontrar em um processo

de construção de conhecimento, e ao se deparar com as contradições de sua localidade, encontra

na formação teórica orientações para superar as aparências da comunidade, assumindo, assim,

uma concepção dialética como metodologia cuja esquematização seja: “1) Partir da prática dos

educandos; 2) Teorizar sobre esta prática a fim de romper com as aparências; 3) Voltar a esta

prática com uma nova visão para transformá-la” (GUERRIERI, 1994, p. 60).

Para melhor entendimento, Hurtado (1992) apresenta esse esquema de forma mais

detalhada a partir da formulação “prática-teoria-prática”. Segundo o autor, a primeira fase

apresenta como ponto de partida um esforço de analisar as ações que os grupos realizam

procurando fazer um autodiagnóstico das práticas sociais. A segunda fase é caracterizada pelo

avanço dos níveis de compreensão da realidade sem se distanciar dela.

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É importante fazermos uma pausa aqui para observarmos na fala do entrevistado nº 1

quando diz: “isso possibilitou o diferencial nos lugares onde a gente atua, inclusive valorizando

a teoria para colocar em prática aquilo que a vida em comunidade nos orienta, [...] mas também

a gente chega na comunidade, a percepção da comunidade também era diferente”.

O egresso do Instituto de Fé e Política entende que a teorização não se dá de forma tão

simples. Em relação a esta teorização a partir da prática, para Hurtado (1992), é um avanço

significativo no conhecimento da realidade. O autor afirma que “deixa de ser uma mera

“compreensão” do que acontece, para converter-se em um instrumento ativo de crítica nas mãos

das classes populares que permitirá dirigir a história para o que deve acontecer” (HURTADO,

1992, p. 54).

Assim, a terceira fase da teoria dialética, a volta à prática para melhorar de forma

coletiva a prática social, ou seja, através do embate da teoria com o contexto concreto, criam

uma nova prática. Assim, os egressos estabelecem essa concretude da teoria nas suas ações. A

partir das lições teóricas dos módulos reconhecem que puderam melhorar sua ação junto às

organizações.

Acompanhando os discursos desses entrevistados, observamos, também, que noções de

“consciência crítica”, “conscientização”, que são categorias da Educação Popular, aparecem

muito nas práticas dos mesmos. Os egressos ainda afirmam que a experiência que tiveram no

Instituto de Fé e Política, tem contribuído para o desenvolvimento das suas atividades junto ao

povo, embora um dos egressos tenha ressaltado que a formação do curso contribuiu para que

ingressasse no ensino superior. Observemos o que dizem alguns entrevistados:

Eu estava frisando neste instante a gente que trabalha junto aos movimentos

sociais quanto mais as pessoas são fracas, quando digo assim, sem poderes

aquisitivos, educacionais, a dificuldade de despertar para sua autonomia, para

a sua digamos assim, para construir a sua história é muito difícil, a minha vida

tem sido muito dedicada às comunidades mais ligadas à periferia, aos bairros

populares e para mim os subsídios, o conhecimento adquirido no instituto de

fé e política ele me deu a certeza, a convicção de que a gente precisa enquanto

cidadão consciente estar com os pés no chão inseridos, junto à comunidade.

(ENTREVISTADO Nº 2)

O curso de fé e política, ele teve uma relevância muito grande né, por que

mostra que a gente enquanto líder comunitário, militante da igreja, que a gente

tem a missão de não apenas ficar na oração, mas também ter a ação enquanto

militante de movimentos sociais, da igreja, e aprimorar nossos conhecimentos

a partir do curso, para que a gente possa ter uma ação mais clara, mais objetiva

dentro dos espaços que a gente ocupa na igreja, nossas funções nos sindicatos.

Então, o curso ele dá esses subsídios muito bons para que você tivesse uma

atuação mais qualificada, pra conscientizar as pessoas como um crescimento

pessoal também. (ENTREVISTADO N°5)

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Primeiro eu digo assim, eu entrei no instituto e tinha muita vontade mesmo,

vontade, vontade não, necessidade de que eu tinha que fazer um curso

superior, eu adquiri essa consciência no Instituto. Então a gente fez uma

seleção e eu já estava no instituto, o instituto me deu a base que eu fui a

primeira colocada, deixando para trás pessoas que já tinham pós-graduado e

tudo, então em Taperoá eu fui a primeira colocada nos cursos, eu passei para

história [...] então o instituto, quer dizer a base que ele me deu das, dos teóricos

fez com que eu desempenhasse muito bem a minha na avaliação da seleção na

qual eu participei, então isso deu base, sustentação como docente de história

para ajudar na consciência das pessoas. (ENTREVISTADO Nº 4)

A pedagogia da libertação de Freire se estabelece como um dos elementos centrais da

teoria da conscientização. Para ele só será possível a mudança da sociedade se o homem

começasse mudando a si mesmo, libertando-se, assumindo uma posição histórico-crítica no

processo de transformação da sociedade. Ademais, cabe ressaltar que para Freire, a

conscientização

Não pode existir fora da “práxis”, ou melhor, sem o ato ação-reflexão. Essa

unidade dialética constitui, de maneira permanente, o modo de ser ou de

transformar o mundo que caracteriza os homens. Por isso mesmo, a

conscientização é um compromisso histórico. É também consciência histórica;

é inserção crítica na história, implica que os homens assumam o papel de

sujeitos que fazem e refazem o mundo. Exige que os homens criem sua

existência com um material que a vida lhes oferece (FREIRE, 1979a, p. 26).

Observamos que um dos objetivos dos militantes egressos é contribuir com o processo

de conscientização de membros de seus grupos por meio de ações concretas. Ações estas que

devem assumir como um compromisso histórico.

A conscientização implica, portanto, que, ao perceber-me oprimido, e saiba

que só me libertarei se transformar essa situação concreta em que me encontro

oprimido, e que não posso transformar essa situação em minha cabeça, porque

isso será idealismo no sentido filosófico da palavra [...] então a

conscientização implica o compromisso histórico de transformação (FREIRE,

1971)19.

O supracitado autor destaca, ainda, que “o processo de conscientização não deixa

ninguém de braços cruzados. É um processo que leva alguns a descruzar os braços” (FREIRE,

1971). Foi o que aconteceu com o entrevistado nº 4. Para além do fato de o egresso ter

ingressado no curso de Fé e Política, ele achava que fazendo um curso de nível superior em

história daria mais subsídios para atuar em sua comunidade. A fala do entrevistado revela

19 Fala de Paulo Freire na Conferência em Cuernavaca Morelos (México), no Centro Intercultural de

Documentação, em 1971 apud Torres (2014, 76).

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também uma significativa contribuição do curso em sua vida, uma vez que a imersão no

conhecimento teórico fez com que tomasse uma posição frente às suas expectativas individuais.

Após o curso, os egressos entrevistados do Instituto de Fé e Política enfrentam o desafio,

juntamente com a classe trabalhadora, de fortalecer seu compromisso a favor das lutas pela

justiça e igualdade social. Nesse contexto, os trabalhadores vão analisando a realidade em que

se encontram. E para isso se exige um aprofundamento de sua consciência e, consequentemente,

de sua práxis. Assim sendo, “o trabalhador social não pode ser um homem neutro frente ao

mundo, um homem neutro frente à desumanização” (FREIRE, 1979d, p. 49). A neutralidade

não existe nem para os que se dizem ou acreditam neutros.

Como foi explanado nos capítulos anteriores, os sujeitos egressos do Instituto de Fé e

Política atuam em diversas organizações. Um misto de espaços que vão desde as pastorais

sociais a sindicatos urbanos e rurais, na aspiração concreta de atuar de forma refletida e

interiorizada com os sujeitos com quem trabalham. Na ocasião, foram questionados se

atualmente sua atuação nos movimentos de que participam é embasada pelo curso.

No Instituto, na questão política de movimento de entidade, o instituto ele veio

da uma base muito boa e quando a gente começa a falar da política para tratar

o que é a política e aí eu digo é... quando entrar com o mandato popular, frente

popular, né? E a gente está lá nos bairros periféricos com aquelas crianças

pesando, visitando que é a pastoral da criança, a gente está no sindicato

organizando, atualizar estatuto, fazer plano de carreira para o servidor, tudo

está embasado nos assuntos que vimos no Instituto; a gente consegue perceber

o que é a nossa fala, o nosso tratado não é igual de quem não teve uma base

dessa. [...] Tanto era que eu me despontei em todo o decorrer do curso de

história que foram 4 anos também. Dentro da universidade tinha essas

discussões também, política, social, né? Econômica. A gente sabia tratar, aí o

pessoal dizia: “Ah, mas você já tem prática”. Nem todo mundo sabia que eu

já tinha feito Instituto e eu ainda estava fazendo o Instituto também. Não tinha

concluído, mas isso me ajudou bastante. Me ajudou bastante o conhecimento

que veio de lá. (ENTREVISTADO Nº 4)

O depoimento do egresso nº 4 deixa claro que sua atuação no âmbito dos movimentos

sociais é embasada na formação do curso de Fé e Política. Essa afirmação se torna ainda mais

bem justificada ao falar das ações que desenvolve no interior dos espaços em que trabalha. Estar

fazendo “plano de carreira para o servidor”, “atualizar estatuto”, são práticas pedagógicas que

adquiriu na formação, que fazia com que, segundo o egresso, ficasse à frente dos que não

receberam a formação do curso.

Nesse depoimento, outro ponto relevante é que além de a formação do Instituto servir

para subsidiar sua prática social, o entrevistado diz que não teve dificuldades em alguns

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conteúdos no momento em que fazia o curso de nível superior em História, pois o mesmo afirma

que as discussões envolviam política e economia, disciplinas vistas no curso de Fé e Política.

Assim como o entrevistado nº 4, o egresso nº 3 afirma que a formação foi muito

importante para estar atuando em sua comunidade, como também contribuiu para seu ingresso

no ensino superior. Notamos na fala dele que o diálogo é um dos principais elementos que

utiliza em sua prática. De acordo com Freire (2016, p. 135), “o diálogo é este encontro dos

homens, mediatizados pelo mundo, para pronunciá-lo, não esgotando, portanto, na relação EU-

TU”.

Se não fosse essa formação eu acho que não só eu, mas os outros já tinham

desistido da militância, se não fosse essa formação, essa caminhada. No dia a

dia nosso, para ter ideia eu voltei agora também a estudar, estou concluindo o

curso de direito, estou desenvolvendo um trabalho na secretaria de assistência

social e lá eu trabalho com muita gente pobre, porque eu trabalho na

coordenação de proteção especial, proteção básica e especial, então vou

descobrindo essas coisas e isso me dá condição e todo momento que eu chego

junto em grupo de jovens, mulheres, de negros... falar para eles que é

necessário que se organizem na associação [...] voltar a reorganizar a

associação de moradores do meu bairro, montar várias atividades.

(ENTREVISTADO Nº 3)

De fato, para Freire (1979d) e o egresso, o diálogo é uma exigência que se deve fazer

para a transformação, e que não deve se restringir somente a duas pessoas. Nas palavras do

autor, “a mudança não é trabalho exclusivo de alguns homens, mas dos homens que a acolhem.

O trabalhador social tem que lembrar a estes homens que são tão sujeitos como ele no processo

de transformação” (FREIRE, 1979d, p. 52).

Nessa aspiração o egresso declara:

[...] Eu tenho grupo de jovens organizado, eu tenho um grupo de mulheres

organizado, grupo de pessoas com deficiência organizado, grupo de idosos

fazendo atividades dentro da associação, estou com diversas atividades na

associação, de balé, de capoeira, hip hop. Música, chorinho; então a sede da

associação é efervescência a semana inteira, de dia e de noite, todo mês a gente

faz uma atividade de formação para as pessoas perceberem como é importante

está organizado. [...] (ENTREVISTADO Nº 3)

Diante de suas práticas sociais, os entrevistados nº 1, 2 e 5 consideram que atualmente

suas atuações nos espaços de militância são embasadas pela formação do curso de Fé e Política;

no entanto, acham que grande parte de suas formações vem da experiência concreta e

organicamente constituída, sobretudo, nas Comunidades Eclesiais de Base, conforme os

egressos nos contam:

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Eu considero que atualmente a nossa função naquilo que nós fazemos,

devemos muito à formação que nós tivemos, no instituto fé e política, mas

como disse anteriormente, mas a própria história da gente nos ensina como

atuarmos e a forma na qual devemos atuar quando estamos na política, como

é meu caso no mandato de vereador, quando estamos no sindicato, nas

associações, nas comunidades [...] Então tem que ter a participação, tem que

ter as discussões, tem que ter as reflexões e partilha entre todos para tomar a

decisão conjunta, então acho que é extraordinário essa formação que nós

tivemos ainda como leigos na comunidade eclesial de base desde da década

de 80, isso nos ajudou muito a estarmos hoje atuando. O Instituto veio dar um

suporte, é... um embasamento a mais para atuarmos de forma qualificada, de

forma inovadora. (ENTREVISTADO Nº 1)

Bom, na realidade a gente tem vindo já de uma caminhada, hoje eu estou com

meus 45 anos, desde dos 18 anos que a gente está envolvido, tanto nos estudos,

tanto no Instituto de fé e política e outras oportunidades que a gente tem de

estar buscando conhecimento, mas especificamente falando do Instituto de fé

e política, aonde nós passamos 4 anos inseridos e estudando, isto tem me

ajudado bastante, bastante sobretudo junto aos movimentos dos quais eu

participo, como a creche escola 11 de Dezembro, o movimento, a própria

igreja, a comunidade aonde eu participo, por quê? Porque sempre, sempre a

gente está buscando aquele subsídio naquelas apostilas, coisas que são muito

atuais, entendeu? A questão de como você organizar a comunidade, de como

você ajudar a solucionar aqueles problemas que as comunidades enfrentam e

tudo pela luz daquilo que a gente teve nos nossos estudos junto ao instituto de

fé e política. (ENTREVISTADO Nº 2)

Sim.[...] de certa forma o Instituto foi uma porta que a gente teve de estudo,

de troca de experiências e que também tivemos outros momentos, né? De

formação, continuidade de formação, que isso tudo vai nos enriquecendo

atuação, né? [...] E como eu participo do sindicato, a gente tá sempre

participando de formações também [...] Mas como eu tive, como eu já venho

do sindicato, acho que a base maior na minha inserção política vem do

movimento sindical, a relação que a gente tem com o município ela é bastante

vasta e isso na política conta. Então, os cursos através do Instituto de fé e

política te dá uma formação, né? Uma preparação para que você possa ter um

suporte maior na atuação na política e no dia a dia. (ENTREVISTADO Nº 5)

As falas desses egressos traem significativas contribuições para entender as marcas do

processo formativo do Instituto de Fe e Política. Todos os três afirmam que os conhecimentos

teóricos foram substanciais para suas atuações práticas, todavia, enfatizam que a base de sua

militância está no movimento sindical, na própria caminhada junto à Igreja, na comunidade

eclesial e nos demais movimentos sociais populares.

O entrevistado nº 1 novamente faz uma declaração significativa que nos remete à

concepção dialética marxista em que a “teorização é um processo de aprofundamento

ascendente, é um processo de acumulação e avanço quantitativo e qualitativo no conhecimento

da realidade a partir da mesma realidade” (HURTADO, 1992, p. 52).

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Assim o entrevistado nº 1 destaca: “devemos muito a formação que tivemos [...] mas a

própria história da gente nos ensina como devemos e a forma como atuamos e a forma da qual

devemos atuar”. Nessa perspectiva, tanto o autor quanto o entrevistado acreditam que a teoria

é utilizada para melhor compreensão dos fenômenos sociais sem que os sujeitos precisem se

afastar da sua realidade. Nesta mesma linha, o entrevistado nº 5 destaca: “como eu já venho do

sindicato, acho que a base maior na minha inserção política, vem do movimento sindical”.

Do ponto de vista gramsciano, podemos inferir que esses sujeitos são identificados como

“intelectuais orgânicos”, constituem “a pessoa (ou grupo) de extrato popular que adquiriu uma

formação intelectual e a coloca a serviço dos seus” (PREISWERK, 1997, p. 197). De maneira

singular, o conhecimento popular é valorizado e a socialização desse saber é orientado por esses

intelectuais que junto aos oprimidos, lançam-se à luta política.

São orgânicos os intelectuais que, além de especialistas na sua profissão que

os vincula profundamente ao modo de produção do seu tempo, elaboram uma

concepção ético-política que os habilita a exercer funções culturais,

educativas e organizativas para assegurar a hegemonia social e o domínio

estatal da classe que representam. [...] No trabalho como técnicos e

especialistas dos conhecimentos mais avançados, no interior da sociedade

civil para construir o consenso em torno do projeto de classe que defendem,

na sociedade política para garantir as funções jurídico-administrativas e a

manutenção do poder do seu grupo social. (SEMERARO, 2006, p. 135).

Sendo assim, a organização desses intelectuais orgânicos, constitui-se uma autentica

conexão com o mundo do trabalho, com as organizações sociais, culturais em que todos estejam

comprometidos com o desenvolvimento da sociedade.

Por fim, podemos dizer que o Instituto de Fé e Política contribuiu para que os sujeitos

pudessem atuar em suas comunidades, subsidiados pela formação do curso de Organização e

movimentos populares de base. Os egressos do Instituto reconhecem que ao sair do curso, suas

ações junto à classe trabalhadora tornaram-se mais qualificadas e refletidas. Ao mesmo tempo

afirmam que a base do Instituto contribuiu para que desenvolvessem suas perspectivas

individuais, como o ingresso no ensino superior, por exemplo.

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5 CONSIDERAÇÕES NECESSÁRIAS

Ao concluirmos este estudo, faz-se necessário retomarmos brevemente a questão

norteadora de nossa investigação a fim de refletirmos se alcançamos ou não os objetivos aqui

propostos. A questão era descobrir se os princípios da Educação Popular do Instituto de Fé e

Política da Diocese de Amargosa se concretizam na prática dos egressos em suas comunidades

de atuação. Em outras palavras, se os saberes adquiridos na Escola de Fé e Política resultam em

uma práxis transformadora nos espaços de atuação dos egressos.

Para tanto, analisamos a proposta de formação do curso de Extensão em Tecnologia em

Gestão de Organizações e Movimentos Populares de Base do Instituto de Fé e Política de

Amargosa-BA, desde seu histórico e matriz curricular, às práticas anunciadas pelos egressos do

referido curso.

Neste trabalho, buscamos como instrumento de coleta de dados a entrevista

semiestruturada e observação participante, sob a abordagem qualitativa. Em outras palavras, a

entrevista semiestruturada, nesse contexto, foi necessária para que os egressos pudessem se

expressar, a partir de um roteiro de perguntas abertas e fechadas.

A pesquisa foi realizada com o fundador do Instituto de Fé e política de Amargosa e

com os militantes de movimentos sociais e pastorais, egressos desta referida Instituição. Esses

sujeitos contribuíram muito para as reflexões provenientes do problema de pesquisa, em que

foi possível relacionar a atuação dos egressos com a formação recebida no curso de

Organizações e Movimentos Populares de Base, identificando, assim, as contribuições do curso

para a ação dos egressos em suas comunidades.

Tivemos algumas dificuldades ao encontrar os egressos da primeira turma do curso,

visto que muitos deles estavam morando em outras cidades e/ou não tinham o contato telefônico

atualizado. Alguns endereços de e-mails foram oferecidos pelos próprios colegas de turma, a

fim de estabelecer um contato, mas não obtivemos respostas. Conseguimos realizar as

entrevistas com os que estavam mais próximos da diocese de Amargosa e aproveitamos a

disponibilidade dos que moravam nas regiões do Vale do Jequiriçá, Recôncavo e Baixo Sul da

Bahia. Esse contexto contribuiu para que a pesquisa fosse desenvolvida.

As conclusões a que chegamos nesta pesquisa enfatizam que os saberes que os egressos

adquiriram da formação do curso de Fé e Política resultaram numa práxis autêntica. Assim

sendo, os resultados da pesquisa dialogam bastante com os estudos realizados por outros

pesquisadores que escrevem sobre nosso objeto de estudo. Nessa aspiração, essa confirmação

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pode ser mais bem justificada pelas concepções de práxis outorgadas por Freire, Gutiérrez e

Konder, respectivamente:

A práxis porém, é reflexão e ação dos homens sobre o mundo para transformá-

lo. [...] desta forma, esta superação exige a inserção crítica dos oprimidos na

realidade opressora, com que, objetivando-a, simultaneamente atuam sobre

ela. Por isso, inserção crítica e ação são a mesma coisa. (FREIRE, 2016, p.

75)

Na educação a práxis é, portanto, uma “ação transformadora consciente” que

supõe dois momentos inseparáveis, o da ação e o da reflexão, sendo o primeiro

o ponto inicial, na medida em que a ação parte de uma certa consciência e

conduz até uma nova forma de consciência, mais esclarecida, mais plena.

(GUTIÉRREZ, 1988, p. 107)

É a ação que, para se aprofundar de maneira mais consequente, precisa da

reflexão, do autoquestionamento, da teoria; e é a teoria que remete à ação, que

enfrenta o desafio de verificar seus acertos e desacertos, cortejando-os com a

prática. (KONDER, 1992, p. 115)

Portanto, a práxis fundamentalmente se mostra como uma aspiração à democracia

popular por se apresentar como uma ferramenta das massas oprimidas a se engajar num

compromisso histórico, assumindo uma postura crítico-prática que se nutre da consciência para

confrontar os problemas que o mundo oferece, ou seja, não seria apenas uma prática qualquer,

mas sim uma conjunção entre a teoria e a própria prática.

Analisando a percepção dos egressos com relação à base teórica estudada no curso,

averiguou-se que todos os entrevistados afirmam que a teoria foi fundamental para que desse

suporte teórico-crítico à prática dentro das suas organizações. Os egressos sinalizaram que a

prática sozinha não caminha, mas que o conhecimento teórico ajuda nas ações que promovem

dando mais segurança sobre o que fazem. Afirmaram que muitas vezes se deparam com

situações embaraçosas na comunidade, e quando a prática não dá jeito, encontram na teoria,

nos estudos que fizeram no Instituto, meios para superar as situações adversas, ou seja, quando

a prática é refletida à luz da teoria, os egressos geram outra prática.

Dessa forma, identificamos nas falas dos egressos do curso de Fé e Política, que ao

ingressarem na Instituição, obtiveram instrumentos teóricos-metodológicos essenciais para

fundamentar suas práticas nos movimentos de que participam. Para eles, após o término do

curso, suas práticas sociais foram mais conscientemente refletidas e interiorizadas por meio do

embasamento teórico que receberam.

Nesse sentido, um dos pontos relevantes a ser considerado também foi a Matriz

Fé e Política. Verificou-se que o currículo é pautado nas aspirações dos movimentos sociais,

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configurando um modelo crítico libertador apresentado por Freire, que é a construção de um

currículo pautado em metodologias, conteúdos programáticos e fundamentos epistemológicos

para serem contextualizados pelas experiências de vida dos sujeitos (SCOCUGLIA, 2013, p.

104).

Não há quaisquer notícias de que Freire produziu estudos relacionados ao currículo, mas

sua obra, como Pedagogia do Oprimido chama a atenção para o desenvolvimento de uma

educação que ofereça a emancipação social e cultural por meio do compromisso político de

transformação. Neste sentido, como foi visto, os conteúdos do currículo do Instituto de Fé e

Política foram pensados no intuito de formar profissionais para prepará-los para suprir as

demandas de suas circunstâncias sociais.

Na obra de Freire (2016), as discussões que envolvem o currículo se apresentam como

uma crítica à educação bancária partindo do pressuposto de que o professor é o detentor do

saber e que os alunos são ingênuos, criando uma visão verticalizada entre eles. Nesta obra,

Freire nos propõe, diferentemente desta educação, outro modelo. Uma educação pautada no

diálogo, na problematização dos fatos, partindo de um método concreto e libertador que “não

pode ser o do depósito de conteúdos”, mas o de uma educação que promova a práxis (FREIRE,

2016, p. 118).

Dessa forma, um currículo que seja pautado nessa perspectiva que traz o Instituto de Fé

e Política, que entende o homem em sua existência como um ser histórico, problematizador,

educar nessa relação dialética de teoria e prática estimularia aquilo que Freire explicita em sua

obra Educação e Mudança, que é a transitividade da educação ingênua para uma educação

crítica e libertadora (FREIRE, 1979d).

Do ponto de vista da atuação prática dos egressos vinculados à formação do curso, outro

fator analisado foi que os entrevistados declaram que devem muito à formação que obtiveram

durante os anos de curso. Questões como: organizar a comunidade, atualizar estatutos, fazer

plano de carreira para servidor, a própria oratória necessária para o diálogo com os movimentos,

foi sinalizado pelos egressos como exigências de suas práticas. Dessa maneira, eles afirmam

que o Instituto ofereceu um embasamento significativo. Todos asseveram que, além do curso

ter contribuído com a suas formações, eles veem ainda sua inserção política dentro do

movimento social como essencial para orientar suas práticas.

Conquistas profissionais como conseguir ingressar no ensino superior foi algo que

também encontramos em duas narrativas dos entrevistados. Eles contam que quando o Instituto

iniciou a formação, eles tiveram vontade de fazer uma faculdade. Dentro desse contexto, o

Instituto de Fé e Política os ajudou a ingressar no ensino superior, de uma certa forma também

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os manteve na faculdade, visto que muitas das discussões que eles tinham na faculdade já eram

parte das discussões que faziam no curso, o que fazia com que eles se destacassem. Nesse

sentido as especificidades da formação do curso de Fé e Política podem ser consideradas para

além das propostas da Instituição.

Foi possível também verificar que as ocupações atuais que esses sujeitos exercem são

em sua maioria diversas. Neste caso, os egressos, além de atuarem em seus respectivos

movimentos sociais, todos são católicos e exercem funções de lideranças pastorais dentro da

Igreja Católica. Uma das poucas exigências do Instituto em participar da formação era ser

cristão. De acordo com o coordenador do curso, há um encontro em nível regional onde as

experiências de cada militante, de cada organização, são partilhadas para que haja um balanço

qualitativo de suas práticas e um partilhar de utopias.

Assim o militante estabelece essa concretude da teoria na sua prática. O fato de ele estar

militando em um ambiente não formal junto ao movimento popular não significa que ele deva

estar desprovido de conhecimentos teóricos para subsidiar suas ações. A partir das lições

teóricas dos módulos, eles puderam melhorar suas ações junto à população. Através da

formação do Instituto, os egressos passaram a compreender a realidade melhor e de outra forma,

embora já apresentassem formação crítica a partir de suas experiências nos movimentos sociais.

Despertaram uma consciência de transformação eficaz através de questionamentos teóricos, que

direcionassem para a organização e fundamentação de suas ações.

Atualmente o Instituto de Fé e Política se encontra parado e com outra coordenação.

Uma segunda turma deu início ao processo de formação, mas foi interrompida. Segundo

informações, investimentos que eram destinados à Cáritas foram cortados, o que fez com que

desestabilizasse sua organização. Além do mais, atualmente essa desestabilização é ainda mais

provocada pela falta de interesse das forças políticas neoliberais, que atualmente incorporam

uma lógica capitalista de competitividade e exclusão, que vai de encontro a uma perspectiva de

transformação social.

Esperamos, portanto, que esta pesquisa represente uma contribuição significativa para

os estudos da Educação Popular, tendo em mente também colaborar com a sociedade e os

setores populares numa perspectiva de formação humana e libertadora. Sabemos que todo

trabalho acadêmico é inconcluso, e esta dissertação não seria diferente. Pesquisar esse diálogo

entre o Instituto de Fé e Política e a prática dos egressos, apresenta-se como um dos novos

caminhos em que a educação vem mostrando sua potencialidade nos espaços não formais.

A partir desta pesquisa, segue a continuidade do exemplo da necessidade de

reconhecimento de que o Instituto de Fé e Política é um espaço também de educação e que os

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processos educativos neste âmbito merecem ser priorizados, visto que efetivamente contribuem

com a disseminação dos princípios da educação popular, tais como diálogo, participação,

mobilização, conscientização, e, portanto, com os caminhos que nos levam a tramitar da prática

à práxis.

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106

APÊNDICE A - Carta de anuência / TCLE

UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA

CENTRO DE EDUCAÇÃO

Programa de Pós-Graduação em Educação – PPGE/UFPB

SOLICITAÇÃO DE CARTA DE ANUÊNCIA

À coordenação do Instituto de Fé e Política de Cáritas da Diocese de Amargosa-Ba.

Pretende-se realizar uma pesquisa intitulada DA PRÁTICA À PRÁXIS: UMA ANÁLISE

DA ATUAÇÃO COMUNITÁRIA DOS EGRESSOS DO INSTITUTO EDUCATIVO DE

FÉ E POLÍTICA DE CÁRITAS DA DIOCESE DE AMARGOSA-BA, que será

desenvolvida pelo pesquisador PAULO RICARDO CONCEIÇÃO ALELUIA, estudante do

Programa de Pós-Graduação em Educação/PPGE da Universidade Federal da Paraíba/UFPB.

O estudo tem por finalidade a elaboração de dissertação de mestrado e será orientada pela

professora ALINE MARIA BATISTA MACHADO, tendo como objetivo analisar a prática dos

egressos do curso de Gestão e Organização de Movimentos Populares de Base do Instituto de

Fé e Política de Cáritas da diocese de Amargosa-Ba com base nos princípios da Educação

Popular e Teologia da Libertação. Nesse sentido, venho solicitar seu consentimento como

diretor da Instituição para o desenvolvimento da pesquisa de campo, a qual será realizada

através de entrevistas com egressos do curso em questão, como também análise de documentos

da Escola de Fé e Política. Esclarecemos que a participação nesse estudo é voluntária e que

cada participante será consultado e assinará Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.

João Pessoa,

__________________________________________________________

Paulo Ricardo Conceição Aleluia

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107

PARECER DO RESPONSÁVEL (ANUÊNCIA)

Coordenador do Instituto de Fé e Política

Parecer/anuência: [ ] AUTORIZO A PESQUISA [ ] NÃO AUTORIZO A PESQUISA

Justificativa:

__________________________________________________________

Coordenador do curso

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APÊNDICE B – Termo de consentimento livre e esclarecido

UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA - UFPB

CENTRO DE EDUCAÇÃO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO/PPGE

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

(Resolução no. 466/2012)

Prezado Senhor (a),

Pretende-se realizar uma pesquisa sobre DA PRÁTICA À PRÁXIS: UMA ANÁLISE

DA ATUAÇÃO COMUNITÁRIA DOS EGRESSOS DO INSTITUTO EDUCATIVO DE

FÉ E POLÍTICA DE CÁRITAS DA DIOCESE DE AMARGOSA-BA, que será

desenvolvida pelo pesquisador PAULO RICARDO CONCEIÇÃO ALELUIA, estudante do

Programa de Pós-Graduação em Educação/PPGE da Universidade Federal da Paraíba/UFPB.

O estudo tem por finalidade a elaboração de dissertação de mestrado e será orientada pela

professora ALINE MARIA BATISTA MACHADO. O objetivo do estudo é analisar a prática

dos egressos do curso de Gestão e Organização de Movimentos Populares de Base do Instituto

de Fé e Política de Cáritas da diocese de Amargosa-BA com base nos princípios da Educação

Popular e Teologia da Libertação. Sua participação envolve uma entrevista, que será gravada,

se assim você permitir. A participação nesse estudo é voluntária e se você decidir não participar

ou quiser desistir ou continuar em qualquer momento, tem absoluta liberdade de fazê-lo. Na

publicação dos resultados desta pesquisa, sua identidade será mantida no mais rigoroso sigilo.

Serão omitidas todas as informações que permitam identificá-lo(a). Mesmo não tendo

benefícios diretos em participar, indiretamente você estará contribuindo para a compreensão do

fenômeno estudado e para a produção de conhecimento científico. Quaisquer dúvidas relativas

à pesquisa poderão ser esclarecidas pelo pesquisador PAULO RICARDO CONCEIÇÃO

ALELUIA ou pela entidade responsável – Comitê de Ética em Pesquisa da UFPB.

Esperamos contar com o seu apoio, desde já agradecemos a sua colaboração.

AUTORIZAÇÃO

Eu, _______________________________________________________________, portador

do RG ______________________, declaro que fui devidamente esclarecido (a) e dou o meu

consentimento para participar da pesquisa e para publicação dos resultados.

_______________________________________________________

Assinatura do participante da pesquisa

_______________________________________________________

Assinatura do(s) Pesquisador (a) Responsável(eis)

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Contatos dos pesquisadores:

Paulo Ricardo Conceição Aleluia. E-mail:

[email protected]/[email protected]. Cel.: (75) 991832456

Mestrando no Programa de Pós-Graduação em Educação/PPGE/UFPB

Aline Maria Batista Machado. E-mail: [email protected] Cel.: (83)

987181428

Professora do Curso de Graduação em Serviço Social da UFPB, do Programa de Pós-

Graduação em Serviço Social da UFPB e do Programa de Pós-Graduação em Educação da

UFPB. Possui graduação (2000) e mestrado (2003) em Serviço Social pela UFPB e doutorado

em Educação (2009) pela mesma universidade.

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APÊNDICE C - ROTEIROS DE ENTREVISTA

ROTEIRO DE ENTREVISTA DO FUNDADOR

1- O que o levou a fundar o Instituto de Fé e Política aqui na diocese de Amargosa? Fale-me

um pouco da história do curso de Fé e Política.

2- Como é feita a seleção dos professores da Escola de Fé e Política? A partir de que

fundamentos, autores, foi pensado o currículo do curso de Fé e Política?

3- Diante realidade da diocese de Amargosa, quais são os atuais desafios do curso do Instituto

de Fé e Política?

4- Pra você, qual a importância da política na educação?

ROTEIRO DE ENTREVISTA DOS EGRESSOS

1- Conte-me um pouco da sua trajetória dentro do movimento do qual participa.

2- Quais suas expectativas e interesses ao participar de uma formação voltada para a gestão de

organização e movimentos populares de base?

3- A formação que você recebeu no instituto lhe ofereceu subsídios para atuar na comunidade

em que você está inserido? Se sim, de que forma?

4- Você conseguia perceber a relação da teoria estudada no Instituto com a vida da comunidade?

5- Sobre o que você estudou no Instituto, você acha que a teoria é importante para subsidiar a

prática no movimento em que você participa? Por quê?

6- Atualmente a sua atuação na comunidade ou órgão/ instituição ao qual está vinculado é

embasada pela formação no curso? Se sim, de que forma você percebe isso?

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APÊNDICE D - Formulário sobre o perfil socioeconômico do entrevistado

UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA- UFPB

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO - PPGE

CENTRO DE EDUCAÇÃO - CE

FORMULÁRIO SOBRE O PERFIL SOCIOECONÔMICO DO ENTREVISTADO

ENTREVISTADO _________________________________________

GÊNERO ( ) FEMININO ( ) MASCULINO

COR _____________

IDADE___________

ESTADO CIVIL _____________

RELIGIÃO ________________

NIVEL DE FORMAÇÃO_______________________________

EM QUAL CIDADE MORA ____________________________

CARGO ____________________________________________

TEMPO DE ATUAÇÃO ______________________________

COM RELAÇÃO À SUA ATIVIDADE REMUNERADA MENSAL:

1- ( ) NÃO POSSUO ATIVIDADE REMUNERADA MENSAL

2- ( ) RECEBO ATÉ R$ 260,00

3- ( ) RECEBO DE R$ 261,00 ATÉ R$ 780,00

4- ( ) RECEBO DE R$ 781,00 ATÉ R$ 1.300,00

5- ( ) RECEBO DE R$1.301,00 ATÉ R$ 1.820,00

6- ( ) RECEBO DE R$ 1.821,00 ATÉ R$ 2.600,00

7- ( ) RECEBO DE R$ 2.601,00 ATÉ R$ 3.900,00

8- ( ) RECEBO DE R$ 3.901,00 ATÉ R$ 5.500,00

9- ( ) RECEBO DE R$ 5.501,00 ATÉ R$ 6.500,00

10-( ) RECEBO MAIS DE R$ 6.500,00