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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARABACENTRO DE CINCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTESPROGRAMA DE PS-GRADUAO EM COMUNICAO PPGCDisciplina:Metodologia da Pesquisa em Comunicao e Culturas MiditicasProfessor:Marcos NicolauCrditos: 04

Ementa:Epistemologia e Metodologia. Empirismo e crtica. Anlise de contedo e Anlise de discursos. Teorias da Interpretao. O problema da hermenutica. O trabalho terico e a pesquisa de campo. A pesquisa em comunicao no mundo contemporneo.

Objetivos:refletir sobre os conceitos de Epistemologia e Hermenutica aplicados ao contexto da Comunicao; apreender e aplicar as teorias de anlise de contedo e do discurso em temticas de Comunicao; sistematizar pesquisas tericas e prticas no campo da Comunicao e das Culturas Miditicas.

Contedo programtico:

1. Epistemologia e origens histricas do fenmeno comunicacional- o objeto da comunicao, a transdisciplinaridade, a contemporaneidade;

2. O conhecimento cientfico da Comunicao- Modelos tericos antigos e novos, ps-modernidade e meios de comunicao;

3. A sociedade em rede e o novo paradigma da Comunicao- A cultura das sociedades informacionais;

4. A pesquisa em Comunicao- perspectivas, suportes tericos, instrumentos e abordagens.

Metodologia:aulas expositivas, discusses e debates, exerccios de pesquisa e seminrios.

Avaliao:os alunos sero avaliados pela assiduidade, participao e qualidade dos trabalhos.

Referncias:

BARABSI, Albert-Lszl.Linked:a nova cincia dos networks. So Paulo: Leopardo Editora, 2009.

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FRAGOSO, Suely; RECUERO, Raquel; AMARAL, Adriana.Mtodos de pesquisa para internet.Porto Alegre: Sulina, 2011.

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MATTAR, Joo.Metodologia cientfica na era da informtica. 3. ed. Revista e atualizada. So Paulo: Saraiva, 2008.

MAIGRET, ric.Sociologia da Comunicao e das mdias.So Paulo: Editora SENAC So Paulo, 2010.

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POLISTCHUK, Ilana; TRINTA, Aluzio Ramos.Teorias da comunicao: o pensamento e a prtica da comunicao. Rio de Janeiro: Elsevier, 2003.

NICOLAU, Marcos. Fluxo, conexo, relacionamento: um modelo comunicacional para as mdias digitais interativas. In:Culturas Miditicas. Ano I, n. 01, jul/dez/2008. Disponvel em:http://www.cchla.ufpb.br/ppgc/smartgc/uploads/arquivos/6ed025a91a20101009054815.pdf

PARRY, Roger.A ascenso da mdia:a histria dos meios de comunicao de Gilgamesh ao Google. Rio de Janeiro: Elsevier, 2012.

RDIGER, Francisco.As teorias da cibercultura:perspectivas, questes e autores. Porto Alegre: Sulina, 2011.

SANTAELLA, L.Comunicao & Pesquisa:projetos para mestrado e doutorado. So Paulo: Hacker, 2003.

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WEBER, M.H; BENTZ, I; HOHLFELDT, A. (Org.).Tenses e Objetos da pesquisa em comunicao. Porto Alegre: Sulina/COMPS, 2002.

WOLF, Mauro.Teorias das comunicaes de massa. 2. ed. So Paulo: Martins Fontes, 2005.

WOLTON, Dominique.Pensar a comunicao. Braslia/DF: Editora da UnB, 2005.

______. preciso salvar a comunicao.So Paulo: Paulus, 2006.

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As prticas comporo um total de trs notas, das quais sero extradas as mdias finais.

Atividades para nota:1. Resenha crtica de obra da rea a ser definida no primeiro dia de aula;2. Produo e apresentao de seminrio em grupo;3. Produo de artigo cientfico conforme os padres ABNT de editorao em peridicos.

Os trabalhos aprovados sero encaminhados para publicao.

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METODOLOGIA DE PESQUISA EM COMUNICAO E CULTURAS MIDITICAS - PPGCProf.Marcos Nicolau

RESUMO DAS PRIMEIRAS AULAS

1. O que Comunicao?Do latimCommunicatio, o processo de compartilhar um mesmo objeto de conscincia. Comum+ao.Conceitos diversos: fato de comunicar, estabelecer uma relao com algum; transmisso de signos atravs de cdigos naturais ou convencionais; processo de troca de pensamentos, informaes e idias por fala, gesto, direta ou por meios tcnicos; ao de usar meios tecnolgicos; a mensagem, a informao: anncio, notcia, novidade; comunicao de espaos, circulao, transporte por artrias, estradas; disciplina, saber, cincia ou grupo de cincias.

2. Qual o objeto da comunicao?Os processos comunicativos no interior da cultura de massas constituem certamente o objeto da comunicao, mas a caracterstica inalienvel, e portanto mais prpria a esta disciplina, reside na perspectiva que ela adota, ou seja, na interpretao desses processos tendo como base um quadro terico dos meios de comunicao. Trata-se de uma leitura do social realizada a partir dos meios de comunicao, o que equivale a dizer que meios de comunicao e cultura de massa no se opem, nem podem ser reduzidos um ao outro, ao contrrio, eles exigem uma relao de reciprocidade e complementao. Amplia-se a questo com dois aspectos complementares: 1) o problema filosfico da comunicao enquanto fundamento do homem; 2) o problema histrico da tomada de significao dos processos comunicativos a partir da emergncia de um tipo de organizao coletiva determinada.(MARTINO, Luiz C. In:Teorias da Comunicao: conceitos, escolas e tendncias.)

O objeto da comunicao no so os objetos comunicativos do mundo, mas uma forma de identific-los, de falar deles ou de constru-los conceitualmente. Quando se pergunta pelo objeto da comunicao, no nos referimos a objetos disponveis no mundo, mas aqueles que a comunicao, enquanto conceito, constri, aponta, deixa ver. A modernidade transformou a comunicao e comunicao em problema; levantou questes em torno de uma prtica at ento natural, naturalizada. Em torno da comunicao, e como resultado dos esforos de conhec-la, comearam a surgir estudos, teorias. Uma teoria um sistema de enunciados, um corpo organizado de idias sobre a realidade ou sobre um certo aspecto da realidade.(FRANA, Vera Veiga. In:Teorias da Comunicao: conceitos, escolas e tendncias.)

Teorias de Modelos em Comunicao

1.Amass communication researche seus desdobramentos

2. As teorias crticas

3. Os modelos do processo comunicativo

4. As tendncias culturolgicas e miditicasConceitos de comunicao nas cincias vizinhas

(SANTAELLA, Lcia. In: Comunicao e Pesquisa)

Modelos de comunicao e sociedade informacional

A complexidade espacial e temporal da organizao social o ponto de partida para os modelos de comunicao nas sociedades informacionais, dando origem a uma globalizao comunicativa. De fato, a informao parece ter substitudo a energia nos pases mais desenvolvidos e depois se expandindo para todas as reas do planeta sujeita s regras de mercado.

Do telefone televiso, passando pela Internet, so mdias porque asseguram de diferentes formas (pelo som, texto e imagem) a transmisso codificada de smbolos, dentro de um quadro predefinido de estrutura de signos, entre emissor e receptor. Entre elas encontram-se as mdias multimdia, que utilizam de uma forma combinada e improvisada (em hipertexto ou no), som, imagem e texto.

Wolton considera a Internet um sistema de informao e no um meio de comunicao social. Slevin, baseado em Thompson, considera que a Internet possui os atributos que nos permitem considera-la um meio de comunicao de massa.

A Comunicao de massa que se desenvolve na Internet pode tambm ser designada pormass media. No considerar essas tecnologias como meios de comunicao de massa com base no fato de que no se destinam a um pblico vasto incorrer no erro de considerar o usurio da Internet, ou o telespectador, um elemento passivo na equao comunicativa. De acordo com o conceito de campo de Bordieau, na Internet h o uso pessoal, com e-mails e o uso coletivo atravs da WorldWide Web, caracterstica de meio de comunicao de massa oumass media.

Novas mdias so todos os meios de comunicao, representao e conhecimento (media), nos quais encontramos a digitalizao do sinal e do seu contedo, que possuem dimenses de multimdia e interatividade.

As macromdias (satlites de TV e Internet) so agentes de globalizao dos mercados nacionais, sociedades e culturas. As mesomdias (imprensa, cinema, TV rdio), sob controle governamental e institucional so agentes de integrao nacional e mobilizao social. As micromdias (telefone, fotocopiadoras, gravadores em geral) so instrumentos de poder para foras na periferia do poder.

A mudana de paradigma est em curso nas nossas sociedades. A ambivalncia da Internet a coloca nesse paradigma comunicacional e em outras dimenses como novo modelo.

A partir do conjunto de constataes possvel argumentar que um novo sistema parece ter lentamente se estabelecido ao longo da ltima dcada. Durante esse perodo assistimos ao nascimento simultneo de centenas de novos ttulos de imprensa e ao recurso s mais variadas tcnicas de difuso de mensagens, num processo que pode ser caracterizado por amdia precede a mensagem(Eco).

Sendo a Internet um meio de comunicao de massa e ao mesmo interpessoal, as duas dinmicas encontram-se presentes, em simultneo. Como base tecnolgica, a Internet serve as duas dimenses e por essa razo o mercado e o Estado adotaram-na como o novo elemento central do sistema de mdia.

Para Colombo, a comunicao sinttica fruto das tcnicas e processos de socializao que interagindo se alteram simultaneamente. Essa comunicao sinttica assim indutora, pela sua apropriao pelo uso de tecnologias de informao, de uma concepo de espao e tempo.

A comunicao sinttica em rede resulta da forma como as diferentes dimenses de um sistema tecnocultural interagem entre si e o paradigma tecnolgico dominante, nesse caso, as tecnologias de informao propiciadoras de modelos de organizao em rede e tambm de uma comunicao em rede.

A comunicao sinttica em rede apresenta-se como uma nova forma cultural de relacionar audincias e emissoras, pois funciona segundo uma lgica hipertextual, no sentido em que promove a articulao entre o conceito clssico de texto, o conceito de fluxo e a comunicao interpessoal.

O modelo de comunicao gerado nas sociedades informacionais, onde o modelo de organizao social prevalecente a rede, o da comunicao sinttica em rede, um modelo de comunicao que no substitui os anteriores, antes os articula, produzindo novas formas de comunicao, permitindo tambm novas formas de facilitao deempowermentindividual e conseqentemente de autonomia comunicativa.(CARDOSO, Gustavo. In:A mdia na sociedade em rede.)

COMUNICAO & PESQUISA (Sntese da obra)Lcia Santaella (So Paulo: Hacker Editores, 2001)

HISTRICO DAS TEORIAS, MODELOS E MBITOS DE PESQUISA NA COMUNICAO

As teorias, modelos e mbitos da pesquisa em Comunicao se agrupam em quatro grandes tradies: 1) amass communication researche seus desdobramentos; 2) as teorias crticas; 3) os modelos do processo comunicativo; 4) as correntes culturolgicas e miditicas. Obras e autores de apoio bsico usadas por Santaella:Teorias da comunicao, de Mauro Wolf (1987);Histrias da Comunicao, de A e M. Mattelard (1999).

1. Amass communication researche seus desdobramentos

Trs fontes recorrentes de influncia para a pesquisa em comunicao nos Estados Unidos, no sculo XX: 1) identificao dessa pesquisa com o estudo dos meios de comunicao de massa; 2) preocupao com o papel dos meios de comunicao pblica na vida social e poltica; 3) desenvolvimento das prticas profissionais dentro e atravs das disciplinas das cincias sociais.Sustenta-se em dois pilares: 1) A sociedade de massa concebida como um agregado que nasce e vive para alm dos laos comunitrios e contra esses mesmos laos que resulta da desintegrao das culturas locais e no qual as funes comunicativas so necessariamente impessoais e annimas. 2) A teoria da ao elaborada pela psicologia behaviorista e pelas teorias do reflexo condicionado, adaptadas s teorizaes mecanicistas sobre a sociedade de massa fornecendo-lhes o suporte em que se apoiavam as convices acerca da instataneidade e da inevitabilidade dos efeitos dosmass mediasobre as massas.Perodo: de 1900 1980. Principal pesquisador: H. D. Lasswell (obra publicada em 1927:Propaganda techniques in the world war) para este autor, a mdia age segundo o modelo da agulha hipodrmica, que provoca um efeito direto e indiferenciado sobre indivduos isolados.

2. As teorias crticas

Na contracorrente dasmass communication researchque se desenvolveu nos Estados Unidos, surgiu na Alemanha, por volta da segunda guerra mundial, na chamada Escola de Frankfurt, um movimento intelectual que passou a ser conhecido sob a rubrica de teoria crtica. O ponto de partida da teoria critica foi a dialtica da economia poltica fundada no materialismo marxista, ou seja, a crtica sociedade de mercado na qual se d a alienao dos indivduos em relao sociedade como resultante histrica da diviso de classes. Perodo: a partir da dcada de 1940. Principais pesquisadores: Horkheimer, Adorno, Walter Benjamin, Herbert Marcuse e Habermas.

3. Os modelos do processo comunicativo

Segundo Laville e Dionne (1999), teorias so generalizaes de grande envergadura da ordem das concluses ou interpretaes. Trata-se de uma generalizao de explicaes concordantes tiradas dos fatos que foram estudados para sua construo. um conjunto coerente de princpios que configura uma moldura geral de referncia para um campo de investigao e que serve para deduzir princpios, formular hipteses para serem testadas, executar aes etc.As cincias da computao definem modelo como um sistema matemtico que procura colocar em operao propriedades de um sistema representado. Para Fiske (1990), um modelo como um mapa, representa traos selecionados do seu territrio, portanto, nunca uma viso completa do todo.Nth (1990) classificou os modelos comunicacionais em trs grupos: modelos lineares, modelos circulares e modelos que rejeitam o conceito de fluxo de informao, enfatizando a autonomia dos organismos em interao. A esses Nth acrescentou mais trs tipos: modelo lingstico-funcional, modelo semitico-informacional e modelo semitico textual. Em seguida, considerando o surgimento das cincias cognitivas, apresentou um stimo modelo: o cognitivo.

3.1 Modelos lineares

Se o problema da comunicao consiste em reproduzir em um ponto dado, de maneira exata ou aproximativa, uma mensagem selecionada em um outro ponto, a linearidade est a expressa nos dois plos do processo que definem uma origem e um fim. Foi formulado pela primeira vez por Shannon & Weaver.

3.2 Modelos circulares

Quanto aos modelos circulares de comunicao, o primeiro deles j havia sido esboado por Saussure quando descreveu o caminho dos sinais acsticos (ondas sonoras) como um fluxo de informao em duas direes: de um emissor a um ouvinte e de volta ao emissor. Este o modelo do dilogo.

3.3 Modelos interativos

um modelo que enfatiza a autonomia do receptor. Tem se preservado muito provavelmente graas a sua aplicabilidade a fenmenos bem heterogneos, quer o processo comunicativo se verifique entre mquinas, entre humanos, entre humanos e mquinas, assim como entre microorganismos biolgicos. (Autor bsico: LASZLO)

3.4 Modelo lingstico-funcional

A novidade deste modelo est no foco de referencialidade da mensagem, de onde so extradas as funes da linguagem (proposio de Jakobson). O foco pode estar voltado fora da mensagem, para aquilo a que ela se refere, com funo referencial. Tambm pode estar voltado para qualquer um dos elementos componentes do processo comunicativo: o emissor, quanto se tem a funo emotiva, o receptor, quando se tem a funo apelativa, o canal, quando se tem a funo ftica, o cdigo, quando se tem a funo metalingstica e, por fim, a prpria mensagem, quando se tem a funo potica ou esttica.

3.5 Modelo semitico-informacional

O Modelo pe nfase na necessidade de tratamento da questo da significao ou produo de sentido, baseada na teoria semitica geral, pois somente esta poderia ser capaz de explicitar a significao inerente ao processo comunicativo atravs da varivel da decodificao e dos sistemas de conhecimentos e competncias que a orientam. Desenvolvido por Umberto Eco, para este modelo, segundo Wolf (1987, p. 123) os efeitos e as funes sociais dosmass mediano podem prescindir do modo como se articula, dentro da relao comunicativa, o mecanismo de reconhecimento e de atribuio de sentido, que parte essencial dessa relao.

3.6 Modelo semitico-textual

Desdobramento do Modelo anterior (semitico-informacional) como parte da evoluo interna da prpria teoria semitica, este modelo salienta o elemento da ao interpretativa sobre as mensagens, atravs dos cdigos. Ou seja, na troca comunicativa, no so j as mensagens que so veiculadas, o que pressuporia uma posio partidria entre emissores e receptores; a relao comunicativa que se constri em torno de conjuntos de prticas textuais.

3.7 Modelos Cognitivos

As cincias cognitivas comearam a se formar nos Estados Unidos desde os anos 40 a partir da ciberntica, da teoria da informao, do progresso da lgica matemtica. Em seguida vieram as pesquisas com inteligncia artificial e a sofisticao dos experimentos neuro-fisiolgicos e neuro-psicolgicos. Para os cognitivistas, a mente um sistema que recebe, arquiva, recupera, transforma, transmite e comunica informao. Devido a esse alto grau de generalidade, a viso da mente como um sistema processador de informao se tornou dominante, naquilo que ficou conhecido como o modelo computacional da mente. Vrias correntes foram desenvolvidas a partir dessa base conceitual levando em conta aspecto da percepo humana no processo comunicacional.

4. As tendncias culturolgicas e miditicas

Fazem parte dos estudos que abordam os meios de comunicao e suas implicaes como componentes de uma dimenso scio-antropolgica maior, a dimenso da cultura, na qual os meios encontram uma lgica de desenvolvimento que lhes prpria, mas ao mesmo tempo inseparvel das injunes culturais. Exemplo dessas tendncias acultural studies, surgida na Inglaterra nos anos de 1950/60 estudando tanto os significados e os valores que surgem e se difundem nas classes e nos grupos sociais, quanto as prticas efetivas atravs das quais esses valores e esses significados se exprimem e nas quais esto contidos. So duas as aplicaes doscultural studies: os trabalhos sobre a produo dosmass mediaenquanto sistema complexo de prticas determinantes para a elaborao da cultura e da imagem da realidade social; os estudos sobre o consumo da comunicao de massa enquanto espao de negociao entre prticas comunicativas extremamente diferenciadas.

Embora reunidos em torno de diferentes temas de trabalho, tais como etnografia,media studies, teorias da linguagem e subjetividade, literatura e sociedade, todos esses estudos encontram e continuam encontrando uma linha comum de atuao tanto na concepo da cultura como conjunto de todas as prticas sociais e como soma de suas interaes, quanto na vinculao de seus trabalhos a questes suscitadas por movimentos sociais, o feminismo, por exemplo.

Foram muitas as tendncias, desdobradas, inclusive, a partir das discusses sobre ps-modernidade e com o surgimento das novas tecnologias que comearam a descentralizar a comunicao de massa. (Alguns nomes importantes: McLuhan, Bougnoux, Edgar Morin, Felix Guattari, Baudrillard).

5. Conceitos de comunicao nas cincias vizinhas

Na tradio iniciada por antroplogos e lingsticas antropolgicos, tais como Sapir, Whorf, Malinowski, Firth, Leach e Lvi-Strauss, a comunicao tornou-se um termo chave para a anlise das sociedades e das culturas. A tese proposta por G. Bateson de que toda cultura comunicao condensa o amplo escopo do conceito na antropologia cultural. Essa tradio foi particularmente influente para o desenvolvimento da semitica especialmente nos Estados Unidos. Seguiram-se estudos em ramos como a lingstica antropolgica e em reas como psicoterapia, psiquiatria e psicanlise, bem como na sociologia filosfica de Habermas. Por sua vez, tanto a lingstica e anlise do discurso quanto a semitica, est ltima concebida com teoria dos signos e tambm como teoria da significao, compareceram como teorias da comunicao em muitos estudos, embora estas ltimas tenham um estatuto que lhes prprio como cincias.

Considraes finais: Todas as misturas entre tradies diversas e muitas vezes antagnicas, assim como seu aparecimento em cincias vizinhas, foram fazendo da rea de comunicao um campo hbrido e pouco ntido nos seus limites internos e fronteiras. Essa falta de nitidez s vem aumentando nos ltimos anos em funo da emergncia recente de novos fatores que, no dizer de A e M Mattelart (1999: 9), esto situando a comunicao como figura emblemtica das sociedades do Terceiro Milnio. (SANTAELLA, 2001, p. 73)

METODOLOGIA DA PESQUISA EM COMUNICAO E CULTURAS MIDITICAS - PPGCProf.Marcos Nicolau

A pesquisa em Comunicao exige que se compreendam os textos dos tericos da rea a partir das categorias e dos conceitos que estes abordam. Eduardo Duarte traz, no apenas uma tentativa de compreenso das questes epistemolgicas pertinentes ao estudo da Comunicao, mas uma tessitura de conceituaes de difcil entendimento a partir de uma simples leitura. O exerccio aqui proposto a leitura e a anlise de como se compe um texto que tenta compreender o que ainda est por se construir nos estudos de Comunicao.

Referncia:DUARTE, Eduardo. Por uma epistemologia da comunicao. In: LOPES, Maria Immacolata Vassalo (Org.).Epistemologia da comunicao. So Paulo: Edies Loyola, 2003.

Trecho final do artigo:Por uma epistemologia da comunicao, de Eduardo Duarte/UFPE.

Um objeto e um campo possveis

O exerccio que direcionamos aqui o de olhar mais uma vez para o mesmo tema que j foi e ainda ser diversas vezes visitado e analisado ao longo do tempo, enquanto a comunicao como pesquisa ainda mantiver interesse para os seres humanos. Um exerccio que estabelece uma tentativa de reenfocar o objeto da comunicao para distender a compreenso sobre ele. Um exerccio que nos permite mais do que a iluso de explicar o objeto, ele nos permite tambm compreender o percurso do nosso olhar. Passamos a conhecer mais sobre aquele que pergunta do que sobre o que perguntado. Cada tempo um olhar sobre o mesmo objeto e assim compreendemos mais sobre o esprito do momento em que a pergunta feita. Isso o que Paul Ricoeur prope como uma hermenutica da cultura.(1)

Tentamos compreender um conceito num novo contexto com a ajuda da etimologia da palavra e de uma filosofia que se aproxima da investigao a que se prope etimologicamente o conceito. Um exerccio que ampliando sua investigao nos permitiria compreender um pouco mais sobre nosso tempo e ns mesmos atravs de uma hermenutica da comunicao.

Poderamos agora tentar localizar os objetos da comunicao a partir do que j percebemos sobre o tema. Pelo caminho em que localizamos uma proposio filosfica em ressonncia com o que enxergamos da definio etimolgica, torna-se objeto da comunicao o fenmeno do encontro de planos cognitivos que pela percepo do outro so arrastados para uma fronteira criativa de novas formas cognitivas. Torna-se objeto da comunicao essa interface e suas propriedades, o processo de estabelecimento do vnculo que permite o desenho de uma fronteira. Torna-se objeto da comunicao o que emerge, o terceiro plano que no havia antes do encontro de todas as partes dialogantes. Torna-se objeto da comunicao oestar em relaco, ou melhor, a troca.

Sendo assim, o campo da comunicao pode ser terico, quando este analisa a ontologia desses encontros, quando preocupa-se com os processos quetornam comumum pensamento a um grupo que troca informaes.O campo pode ser tambm emprico quando a mesma discusso ontolgica considera a relao com os suportes nos quais os planos cognitivos esto atrelados. preciso apenas chamar ateno para o fato de que esses suportes no so necessariamente objetos de mdia.

Aqui surge a necessidade de se distinguir os objetos de mdia de objetos da comunicao. Os objetos de mdia, como a televiso, o rdio, o jornal, a Internet necessariamente no estabelecem um dilogo com seus pblicos. Podem estar a servio desse dilogo, mas em si mesmos no trazem interfaces explcitas e inerentes com os planos cognitivos a que se anunciam conduzindo a uma troca que faa emergir um pensamento comum. A disponibilizao de informaes num site, ou a emisso no ar da freqncia de onda de uma rdio ou de uma emissora de TV no cria por si s um meio de comunicao. explcito o vetor da transmisso da informao, mas discutvel as manifestaes de um dilogo entre os planos cognitivos em ao. Se tomarmos a comunicao como um fenmeno de percepo e troca, no podemos reduzi-la a transmisso de informao, ou seja, os meios no so necessariamente de comunicao. Os meios podem veicular informao e a veiculao da informao uma das etapas do estabelecimento da comunicao, mas a veiculao por si no indica um fenmeno comunicacional se temos por comunicao os encontros perceptivos entre agentes e os produtos cognitivos que emergem.

O que temos aqui um deslocamento do objeto e do campo da comunicao. Ao mesmo tempo em que h uma ampliao do que pode ser considerado objeto dessa hermenutica h, por outro lado e por conseqncia, a delimitao de um campo. Ou seja, o objeto da comunicao se desloca para alm dos objetos de mdia, englobando, por exemplo, as manifestaes artsticas midiatizadas ou no. Este objeto pode manifestar-se nos estudos das redes neurais e dos sistemas regulares que emergem por ao de atratores. Este objeto pode estar nos estudos das linguagens que atravessam e marcam o corpo com o pertencimento das tribos, passando pelo teatro, pela moda, pela engenharia gentica. Este objeto pode est no reflexo antropolgico, sociolgico, psicolgico do encontro desses agentes cognitivos que se expressam atravs dos veculos de informao, dos discursos polticos, dos movimentos das massas. Entretanto, esse objeto pode no est onde classicamente visto, localizado e engessado: nosmass media.

O que est em jogo na localizao deste objeto, no o suporte no qual ele se expressa, mas qual a comunho que ele permite a partir da informao posta na relao. Qual o sentido de troca que se estabelece a partir da percepo recproca do outro? Se h formas de se localizar esse dilogo dos meios com suas massas que passa a compor de forma mais clara o universo dos que percorrem as fronteiras, teremos um objeto de comunicao, mas um veculo de informao no traza prioria condio de ser um meio de comunicao.

Em outras palavras, temos aqui a ampliao do objeto e a delimitao de um campo atravs de uma epistemologia da comunicao, que parte de uma fenomenologia sugerida pela prpria etimologia da palavra.

Todas as implicaes que surgem do redimensionamento do objeto e do campo da comunicao criam novas perspectivas metodolgicas, como tambm a reviso da utilizao das antigas ferramentas. No se trata de fundar um ps-qualquer-coisa como se fosse possvel desfazer-se de todas as investidas metodolgicas que os pesquisadores da comunicao j desenvolveram. Se a comunicao o motor da organizao complexa dos sistemas cognitivos orgnicos e inorgnicos, ela soma experincias e redimensiona-as no contexto epistemolgico que indaga a realidade. Isso implica em criao constante de novos mtodos, reconhecimento explcito dos limites naturais de cada mtodo e reviso das ferramentas j utilizadas que nos permitem chegar at aqui levantando questes sobre formas de re-utiliza-las.

A redimenso do campo da comunicao permite uma varredura mais ampla do espectro temtico da cognio do homem sem perder de vista um critrio que defina e pontua o seu objeto. O objeto delimitado pelo estabelecimento de relaes de trocas que geram um plano de entendimento, ou um plano comum s partes, ganha uma zona de fluidez transdisciplinar. Ou seja, o campo se assume transdisciplinar a partir da zona de contato das disciplinas. Uma zona fluida, mas com um campo claro de indagao da realidade. Um objeto visvel que emerge pontualmente do fluxo invisvel do contrabando de cognies, estabelecendo uma tenso que j faz eco nas cincias com a crise da modernidade. Essa tenso nos tira da zona segura de explicao do mundo das metanarrativas e nos pem na zona de risco da vida, que sempre esteve entre o cristal e a fumaa. (2)

Notas(1) RICOEUR, Paul.Temps et Rcit.Tomo I, Paris: ditions du Seuil, 1983. p.122.(2) ATLAN, Henri.Entre o Cristal e a Fumaa. Rio de janeiro: Jorge Zahar Editora. 1992.

METODOLOGIA DE PESQUISA EM COMUNICAO E CULTURAS MIDITICAS - PPGCProf.Marcos Nicolau

Aula sobremetodologia de estudo e expresso + contedo do texto

O que estudar:1. Assimilar idias; 2. refletir sobre as idias; 3. expressar as idias.- A forma como as idias sero expressas define o mtodo de estudo (comoestudar).

O processo de estudar envolve as operaes:1. Pr-leitura (mapear); 2. Leitura (ler e demarcar trechos); 3. Ps-leitura (resumo, esquema etc.).- A mente no aprende o que ela no conhece (pr-leitura visa conhecer o assunto).

Livro:A MDIA NA SOCIEDADE EM REDE Gustavo Cardoso*(FGV Editora, 2007)Captulo:Modelos de comunicao e sociedade informacional(pg. 99 pg. 133).

Textos da contracapa:

Este livro muito oportuno e estabelece a agenda de prioridades de forma totalmente correta. O campo de pesquisa de comunicao e mdia precisa tratar a complexidade da mdia como um processo de mediao no qual velhas e novas tecnologias, assim como seus produtores e consumidores, se combinam e interagem de vrias maneiras. O livro fornece provas e argumentos para colocar em prtica essa nova agenda. (Roger Silverstone)

O livro que voc tem em mos ser amplamente usado e lido nas universidades e organizaes de comunicao pelo mundo afora, porque um dos poucos e melhores exemplos de compreenso da relao entre a mdia e a internet, no amplo contexto de nossa transio para a sociedade em rede. Ele expe a lgica que atualmente est formando o tecido comunicacional de nossas vidas. (Manuel Castels)

Textos da orelha:

Na sociedade em rede um novo modelo comunicacional vem tomando forma um modelo caracterizado pela fuso da comunicao interpessoal com a rede de massa, conectando receptores e emissores em uma matriz hipertextual interligando vrios dispositivos de mdia.

O modelo de comunicao em rede aquele das sociedades da informao um modelo que deve ser compreendido tambm nos conhecimentos necessrios para a elaborao de nossas dietas e matrizes de mdia e na forma como est transformando a maneira de administrarmos nossa autonomia e exercermos a cidadania na idade da informao.

Neste livro, Gustavo Cardoso desenvolve uma anlise que, com o foco na ltima dcada, nos leva da Europa Amrica do Norte e da Amrica do Sul sia, combinando, sob o arcabouo da sociedade da informao, uma vasta gama de perspectivas cientficas dos estudos de mdia poltica e da teoria dos movimentos sociais sociologia da comunicao. (Os editores)

*Sobre o autor:Gustavo Cardoso professor de tecnologia e sociedade no ISCTE, em Lisboa. Colaborador do Departamento de Comunicao da Universidade de Milo e da Universidade Catlica Portuguesa. Foi consultor da presidncia da repblica portuguesa para as polticas da sociedade da informao e telecomunicaes.

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METODOLOGIA DE PESQUISA EM COMUNICAO E CULTURAS MIDITICAS - PPGCTpicos da pesquisa coletiva dos alunos da disciplina 2010.1

Anlise de Contedo

O que

A Anlise de Contedo uma tcnica de pesquisa para realizar uma descrio objetiva, sistemtica e quantitativa de um determinado contedo. Aplica-se geralmente a uma grande quantidade de material organizado de maneira lgica e objetiva, possibilitando assim a utilizao de mtodos de pesquisa, como a deduo, ou seja, os resultados podem ser verificados com a adoo de diversas ferramentas metodolgicas. Contudo, ela considerada superficial, com margem para simplificao e distores, sofrendo constantes contestaes quando adotada como mtodo cientfico.

Entendemos a Anlise de Contedo como a supremacia dos nmeros, fazendo dela uma importante pea para diversas disciplinas, adotando-a como uma tcnica de pesquisa. Hoje, sua utilizao procura adotar uma perspectiva complementar entre o quantitativo e o qualitativo, com diversas parcerias com outras tcnicas de investigao.

A Anlise de Contedo consiste em um apanhado de tcnicas de investigao voltado para a descrio objetiva e sistemtica dos contedos manifestos. Nossa observao corroborada pela definio apresentada por Bardin (1979, p. 42) quando esta aponta que a Anlise de Contedo se configura como:

Um conjunto de tcnicas de anlise de comunicao visando a obter, por procedimentos sistemticos e objetivos de descrio do contedo das mensagens, indicadores (quantitativos ou no) que permitam a inferncia de conhecimentos relativos s condies de produo/recepo destas mensagens.

A partir da realizao de uma pesquisa exploratria, percebe-se claramente que o conceito de Anlise de Contedo polmico. Autores divergem quanto a ser um mtodo ou uma tcnica. Por exemplo, no texto Anlise de Contedo de Fonseca Jnior (2005, p. 280), o autor conceitua um mtodo das cincias humanas e sociais destinado investigao de fenmenos simblicos por meio de vrias tcnicas de pesquisa. No entanto, na sequncia do texto, Fonseca Jnior (2005, p 281) cita uma definio do terico Bernand Berelson, que designa a Anlise de Contedo como uma tcnica de pesquisa para a descrio objetiva, sistemtica e quantitativa do contedo manifesto da comunicao (...).

Ela pode ser usada para tirar sentido das informaes recolhidas em entrevistas ou inquritos de opinio, como, por exemplo, quando temos em mos um grande volume de dados textuais dos quais h que extrair sentido (GHIGLIONE & MATALON, 1997).

A Anlise de Contedo uma tcnica (BERELSON apud BARDIN, 1979; VERGARA, 2005) ou um mtodo de investigao realizado em diferentes cincias humanas que visa a descrio objetiva, sistemtica e quantitativa (BERELSON, 1952) do contedo apresentado na comunicao. definida tambm como uma metodologia de anlise que pode ser utilizada em planos qualitativos para tirar sentido em informaes colhidas por meio de entrevistas, questionrios ou pesquisas de opinio pblica em um grande nmero de dados textuais (GHIGLIONE & MATALON,1997ApudCOUTINHO, 2007). Apesar de ser tratada ora por mtodo, ora por metodologia, ora por tcnica (definio mais predominante), a AC ganhou status de cincia quando foi dotada das tcnicas de aplicao em textos. O que no meu entender pode definir a AC como mtodo a sua aplicao tambm em outros tipos de mdia, tais como os meios de comunicao de massa (rdio, televiso, cinema) como fez Bardin. Em casos como este a AC ganha novas caractersticas que a fazem ser mais que uma simples tcnica, como pensam os tericos da Anlise de Discurso (AD).

Diferena entre Anlise de Contedo e Anlise do Discurso

A grande diferena entre as duas tendncias investigativas est na natureza de ambas: a Anlise de Contedo eminentemente quantitativa, ou seja, concentra-se em analisar o contedo em sua quantidade, abordando um grande nmero de informaes com o intuito de categoriz-las para, s ento, inferir de forma interpretativa sobre os dados coletados, mesmo que possa ser aplicada em pesquisas qualitativas. A Anlise do Discurso possui uma natureza qualitativa, visto que no se interessa em inferir suas interpretaes por meio do embate numrico dos dados, e sim por uma analtica aprofundada nos interstcios semnticos do objeto de estudo. Na Anlise do Discurso o importante pesquisar como as linguagens so construdas, levando em considerao o discurso em si, o lugar do sujeito e as estratgias discursivas que permitem enxergar essas linguagens como construtos sociais. Assim, para a Anlise do Discurso o que dito e o tom com que dito so igualmente importantes e inseparveis (MAINGUENEAU, 1993, p. 45).

A Anlise do Discurso preocupa-se em compreender os sentidos que o sujeito manifesta atravs do seu discurso, ou seja, principal diferena entre as duas formas de anlise abordadas que a Anlise de Discurso trabalha com o sentido do discurso e a Anlise de Contedo com o contedo do texto (1).

A Anlise de Contedo baseia-se na descrio analtica e classificativa de dados, desenvolvendo uma anlise a partir de uma pr-anlise e aps a explorao do material e o tratamento dos resultados, procurando suas interpretaes e desdobramentos. J a Anlise do Discurso procura analisar o prprio Discurso, principalmente na forma de texto, procurando marcas e traos que identifiquem o contexto histrico-social da sua criao.

De maneira resumida, a Anlise de Contedo procura realizar uma pesquisa quantitativa em um determinadocorpus, e a Anlise do Discurso realiza uma pesquisa qualitativa, no objetivando nmeros e resultados quantitativos, e sim, determinados elementos e conceitos em umcorpus.

A Anlise de Discurso leva em considerao o social na apreciao do texto. Como a relao de poder se constri no plano discursivo. Em oposio Anlise de Contedo, a Anlise de Discurso no tenta revelar o que se esconde por trs da construo textual. Tenta articular linguagem e sociedade, entendendo a primeira como uma forma de ao no mundo.

Observando as razes histricas da Anlise de Contedo e da Anlise do Discurso, considera-se que a segunda emergiu como uma forma de alargamento terico e ruptura da primeira.

A Anlise de Contedo aposta no rigor do mtodo, na busca da preciso e na objetividade, acreditando que atravs de dados quantitativos se poder alcanar resultados validveis e confiveis. Desse modo, a Anlise de Contedo exclui a subjetividade como fator relevante na conjuntura da realizao de pesquisas, como afirmam Rocha e Deusdar (2005, p 309): (...) residindo nesse processo de descoberta a desconfiana em relao aos planos subjetivo e ideolgico, considerados elementos de deturpao da tcnica.

De modo divergente, a Anlise do Discurso, leva em conta a subjetividade, intencionalidade e ideologia que se instaura no enunciado e busca a desconstruo da mensagem, em discursos. Para a Anlise do Discurso importante que sejam considerados os sujeitos, suas inscries na histria e as condies de produo da linguagem (o que no acontece na Anlise de Contedo).

Origem, principais autores e respectivas obras sobre Anlise de Contedo

A Anlise de Contedo vem sendo utilizada desde o sculo XVII, por volta do ano de 1640, quando a corte sua analisou detalhadamente uma coleo de noventa hinos religiosos annimos, denominados Os cantos de Sio, para saber se eles continham idias perniciosas. Contudo, a adoo regular da Anlise de Contedo s ocorreu no incio do sculo XX, quando ela passou a ser utilizada em vrios campos do conhecimento. Fonseca Junior (2005) exemplifica que a anlise de contedo foi utilizada nas cincias polticas, na psicologia, na sociologia e etc.

A Anlise de Contedo tem em sua essncia heranas do positivismo (2). De acordo com Rocha e Deusdar (2006) o primeiro grande nome da Anlise de Contedo foi Harold Lasweel, que publicou em 1927 o livro Propaganda Technique in the word war. Depois em 1948, Berelson e Lazarsfeld publicaram a obra Content analysis in communication research (Anlise de contedo na pesquisa em comunicao), considerada o primeiro manual sobre Anlise de contedo.

Outra estudiosa de destaque da Anlise de Contedo a Laurence Bardin. Em 1977, ela publicou a obra analyse de contenu.

A consolidao da Anlise de Contedo voltada para procedimentos analticos na rea de Comunicao data do incio do sculo XX, mesmo que alguns de seus pressupostos metodolgicos j remontassem ao sculo XVII, como apontam Rocha e Deusdar (2005, p. 308-309, grifo dos autores):

[como exemplo de Anlise de Contedo prematura temos] a pesquisa de autenticidade feita na Sucia por volta de 1640 sobre os hinos religiosos. Com o objetivo de saber se esses hinos, em nmero de noventa, podiam ter efeitos nefastos sobre os Luteranos, foi efetuada uma anlise dos diferentes temas religiosos, de seus valores e de suas modalidades de apario (favorvel ou desfavorvel), bem como de sua complexidade estilstica.

Durante a I Guerra Mundial os Estados Unidos despontaram como pioneiros nos estudos quantitativos ligados a propagandas, caracterizados pelo vis matemtico, quantitativo. A partir de 1940, a Anlise de Contedo se dedicou a analisar a propaganda subversiva nazista nas comunicaes na II Guerra Mundial. Os principais autores que trabalharam com Anlise de Contedo nessa poca foram o cientista poltico Harold D. Lasswell, com sua conhecida obra Propaganda Technique in World War I e Paul Lazarsfeld, do qual destacamos a obra coletiva, El Anlisis de Datos en la Investigacin Social.

A Anlise de Contedo experimentou o descrdito dos pesquisadores aps a II Guerra Mundial. Contudo, a partir dos anos 50 a Psicolingustica passou a discutir o tema, o que suscitou novas perspectivas metodolgicas em reas como a Etnologia, a Sociologia, a Lingustica, a Histria etc. Devido a tais perodos de aceitao e contestao, a Anlise de Contedo nos dias atuais desperta questionamentos e dvidas quanto sua utilizao.

A pesquisadora mais conhecida do tema na atualidade Laurence Bardin, autora de Anlise de Contedo. Alm dela, destacamos o professor de Comunicao da Universidade da Pensilvnia (EUA), Klaus Krippendorff, estudioso da Ciberntica, relacionado Teoria Matemtica da Comunicao, ou Teoria da Informao, com sua obra An Examination of Content Analysis: A Proposal for a Framework and an Information Calculus for Message Analytic Situations.

Exemplos de estudos de Comunicao com uso da Anlise de Contedo

A Analise de Contedo pode ser aplicada s pesquisas relacionadas Comunicao, principalmente quando ligada a fatos e situaes que ocorrem de maneira constante nas mdias, assim como a sua disposio no meio de divulgao e o interesse do publico pela informao.

Podemos utilizar a Anlise de Contedo para verificar a incidncia e periodicidade de vezes em que a mulher, por exemplo, representada nas capas de revistas semanais comoVejaouIsto, e que tipo de representao mais utilizada, ou mesmo verificar a periodicidade com que atores de nacionalidade estrangeira aparecem em telenovelas brasileiras e que tipo de representao mais freqente.

Podemos tambm verificar a disposio das matrias relacionada a um determinado poltico dentro de um jornal. Se as matrias sobre ele esto sempre na pgina da direita, considerada a mais importante dentro do jornal; se ela vem na parte superior ou inferior da pgina; ou se est prxima a um determinado tipo de matria.

O campo de aplicao da anlise de contedo extremamente vasto, j que qualquer transporte de significaes de um emissor para um receptor deveria poder ser escrito, logo decifrado pelas tcnicas da anlise de contedo, como explica Laurence Bardin (1979). Um exemplo em que a anlise de contedo poderia colaborar seria na elaborao de uma pesquisa que buscasse compreender os esteretipos do papel da mulher no enredo de uma novela. J num segundo exemplo, se uma pesquisa buscasse saber quantas vezes um mesmo discurso aparece numa revista, ou qual a freqncia que aquele contedo aparece, a anlise de contedo poderia colaborar na elucidao da questo.

Podemos aplicar a Anlise de Contedo em estudos de Comunicao, por exemplo, voltados para a anlise de meios impressos, como as revistas, e audiovisuais, como a televiso.

No meio impresso, um estudo que tencione averiguar a presena dos gneros jornalsticos em revistas mensais de cultura pode fazer uso da Anlise de Contedo para tal mister. O objetivo verificar a frequncia de gneros informativos e opinativos nas revistas de videogame, procurando identificar a predominncia das categorias. Atravs da catalogao dos gneros, podemos efetuar o levantamento desses dados e, posteriormente, analisar as hipteses propostas pela pesquisa.

J no meio televisivo, uma pesquisa voltada para a anlise da representao das crianas em propagandas comerciais do horrio nobre pode se utilizar da Anlise do Contedo como tcnica de levantamento de dados. A inteno demonstrar de que forma as crianas aparecem nos comerciais, buscando averiguar uma tendncia adultizao dessas crianas por meio das disjunes semnticas atreladas infncia na publicidade. O pesquisador, munido de fichas catalogrficas com variveis previamente elaboradas, pode categorizar a apario do pblico infantil nos anncios televisivos, como no exemplo abaixo:

Varivel personagens envolvidos no comercial:(1) Crianas.(2) Adolescentes.(3) Adultos.(4) Idosos.(5) Seres animados.(6) Coisas, objetos.(7) Outros.

A Anlise de Contedo pode ser aplicada em vrios estudos de Comunicao, como por exemplo, estudos de reportagens e imagens veiculadas em jornais e revistas. Cito como exemplo, a pesquisa A traduo do conhecimento cientfico nas matrias de Sade da revista Veja (3), de autoria de Lia Hecker Luz, na qual ela utilizou a Anlise de Contedo como percurso metodolgico para verificar se as matrias alcanavam um dos objetivos do jornalismo cientfico - traduzir conhecimentos especficos para uma linguagem acessvel ao pblico.

De mesmo modo, a tese Retratos do Brasil: anlisis de las imgenes de portada publicadas en las revistas brasileasVejae Isto, de Derval Golzio mais um caso de estudo apoiado na Anlise de Contedo.

Notas

(1) Disponvel em: terezav.files.wordpress.com/2009/11/analise-conteudo-e-discurso.pdf. Acesso em 13/06/10.(2) Corrente de pensamento desenvolvida por Augusto Comte, cuja principal caracterstica a valorizao da razo, em que a observao rgida e verificvel a nica base possvel dos conhecimentos.(3) Disponvel em: . Acesso em: 11 de junho de 2010.

Referncias

BARDIN, L.Anlise de contedo. Lisboa: Edies 70, 1979.

FONSECA JNIOR, Wilson Corra da. Anlise de contedo. In: DUARTE, Jorge; BARROS, Antonio (Org.).Mtodos e tcnicas de pesquisa em Comunicao.So Paulo: Atlas, 2005.

FRASON, Carla Beatriz. ANLISE DO DISCURSO: Consideraes bsicas. Revistade Ps-Graduao da FUCAMP (http://www.fucamp.com.br/nova/revista/revista0612.pdf). Acesso em 12 de junho de 2010.

GHIGLIONE, Rodolphe & MATALON, Benjamin.O inqurito:teoria e prtica.3. ed. (Trad Portuguesa). Oeiras: Celta Editora, 1997.

MAINGUENEAU, Dominique.Novas tendncias em anlise do discurso. Campinas: Pontes, 1993.

ORLANDI, Eni Puccinelli.Anlise de discurso: princpios e procedimentos. Campinas: Pontes, 2000.

ROCHA, Dcio; DEUSDAR, Bruno.Anlise de Contedo e Anlise do Discurso: aproximaes e afastamentos na (re)construo de uma trajetria. 2005. Disponvel em: . Acesso em: 11 de junho de 2010.

ROCHA, Dcio; DEUSDAR, Bruno.Anlise de Contedo e Anlise do Discurso: o lingstico e seu entorno. 2006. Disponvel em: . Acesso em: 11 de junho de 2010.

VERGARA, S. C.Mtodos de pesquisa em administrao. So Paulo: Atlas, 2005.