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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DE PERNAMBUCO PROGRAMA DE DOUTORADO INTEGRADO EM ZOOTECNIA DIVERSIDADE GENÉTICA DE POPULAÇÕES CAPRINAS DO NORDESTE BRASILEIRO COM MARCADOR DE DNA MITOCONDRIAL NÚBIA MICHELLE VIEIRA DA SILVA AREIA-PB DEZEMBRO-2013

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA

UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ

UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DE PERNAMBUCO

PROGRAMA DE DOUTORADO INTEGRADO EM ZOOTECNIA

DIVERSIDADE GENÉTICA DE POPULAÇÕES CAPRINAS DO NORDESTE

BRASILEIRO COM MARCADOR DE DNA MITOCONDRIAL

NÚBIA MICHELLE VIEIRA DA SILVA

AREIA-PB

DEZEMBRO-2013

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA

UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ

UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DE PERNAMBUCO

PROGRAMA DE DOUTORADO INTEGRADO EM ZOOTECNIA

DIVERSIDADE GENÉTICA DE POPULAÇÕES CAPRINAS DO NORDESTE

BRASILEIRO COM MARCADOR DE DNA MITOCONDRIAL

NÚBIA MICHELLE VIEIRA DA SILVA ZOOTECNISTA

AREIA-PB

DEZEMBRO-2013

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NÚBIA MICHELLE VIEIRA DA SILVA

DIVERSIDADE GENÉTICA DE POPULAÇÕES CAPRINAS DO

NORDESTE BRASILEIRO COM MARCADOR DE DNA

MITOCONDRIAL

Tese apresentada ao Programa de Doutorado

Integrado em Zootecnia da Universidade da Paraíba,

Universidade Federal Rural de Pernambuco e

Universidade Federal do Ceará como requisito

parcial para obtenção do título de Doutor em

Zootecnia.

Área de concentração: Produção Animal

Comitê de Orientação:

Prof. Dr. Edgard Cavalcanti Pimenta Filho – Orientador Principal

Prof. Dr. Carlos Manoel Martins Santos Fonseca – Co-orientador

Prof.ª Dr.ª Maria Norma Ribeiro - Co-orientadora

AREIA-PB

DEZEMBRO-2013

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Autorizo a reprodução e divulgação total ou parcial deste trabalho,

por qualquer meio convencional ou eletrônico, para fins de estudo e

pesquisa, desde que citada à fonte.

Ficha Catalográfica Elaborada na Seção de Processos Técnicos da

Biblioteca Setorial do CCA, UFPB, Campus II, Areia – PB.

S586d Silva, Núbia Michelle Vieira da. Diversidade genética de populações caprinas do Nordeste brasileiro com marcador de

DNA mitocondrial. / Núbia Michelle Vieira da Silva. - Areia: UFPB/CCA, 2013. 135f. : il.

Tese (Doutorado em Zootecnia) - Centro de Ciências Agrárias. Universidade Federal da Paraíba, Areia, 2013.

Bibliografia. Orientador (a): Edgar Cavalcanti Pimenta Filho. Coorientador (a): Carlos Manoel Martins S. Fonseca e Maria Norma Ribeiro.

1. Caprinos – caracterização genética 2. Filogenia 3. Caprinos – Nordeste, Brasil I. Pimenta Filho, Edgar Cavalcanti (Orientador) II. Título.

UFPB/CCA CDU: 636.39(043.2)

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DADOS CURRICULARES

Filha de Nivaldo Antonio da Silva e Maria das Graças Vieira da Silva, Núbia

Michelle Vieira da Silva nasceu em Bezerros, cidade do Agreste de Pernambuco, em

vinte e seis de Janeiro de 1984. Concluiu o segundo grau em 2001, no Colégio Nossa

Senhora das Dores, em Bezerros.

Em setembro de 2003, iniciou o curso de graduação em Zootecnia, na

Universidade Federal Rural, Recife, PE. Quando graduanda, sob a orientação da Profa.

Dra. Maria Norma Ribeiro, foi aluna bolsista PIBIC-CNPq-UFRPE e FACEPE, durante

três anos, tendo concentrado suas pesquisas na área da produção de caprinos. Submeteu-

se à defesa do trabalho de conclusão de curso, para obtenção do título de Zootecnista,

em 2008.

Em agosto de 2008, iniciou o curso de pós-graduação em nível de mestrado em

Produção Animal, no departamento de Zootecnia, na Universidade Federal Rural de

Pernambuco, sob a orientação da Profa. Dra. Maria Norma Ribeiro. Continuou na linha

da caprinocultura, tendo realizado diversos trabalhos, principalmente na área de

conservação de caprinos locais. Em Julho de 2010, submeteu-se à defesa do trabalho de

dissertação para obtenção do título de Mestre em Produção Animal.

Na sequência, em Agosto desse mesmo ano, sob orientação do Dr. Prof. Edgard

Cavalcanti Pimenta Filho, ingressou no Doutorado em Zootecnia do Programa de

Doutorado Integrado da Zootecnia, (UFPB/Campus II, Areia), sendo bolsista da

CAPES. Em 2012, iniciou o período sanduíche na Universidade de Aveiro, Aveiro,

Portugal, sob a orientação do Prof. Dr. Carlos Fonseca, na Unidade de Vida Selvagem,

ao apoio do PDSE é um programa institucional da CAPES, destinados à concessão de

bolsas de doutorado sanduíche. Em 2013, concluiu o período sanduíche. Em Dezembro

de 2013, Silva submeteu-se à defesa de sua tese para a obtenção do título de Doutor em

Zootecnia.

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A vida vai ficando cada vez mais dura perto do topo.

Friedrich Nietzsche

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DEDICATÓRIA

A Deus,

À minha família, e a todos os caprinocultores.

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AGRADECIMENTOS

Ao Prof. Dr. Edgard, que nos anos de convivência, muito me ensinou, contribuindo para

meu crescimento científico e intelectual.

Ao Prof. Dr. Carlos Fonseca, pela atenção e apoio durante o processo de orientação no

doutorado sanduíche.

À Universidade Federal da Paraíba, pela oportunidade de realização do curso de

doutorado.

À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), pela

concessão da bolsa de doutorado e pelo apoio financeiro para a realização desta

pesquisa.

Ao Departamento de Biologia da Universidade de Aveiro, por colocar à disposição o

laboratório.

À Profa. Dra. Maria Mascena, pelo carinho, mas também pela ajuda, indispensável à

finalização deste trabalho; ao Prof. Dr. Manoel Adrião, por toda a ajuda neste trabalho

desde o seu início; ao Pesquisador Júlio Oliveira, a Pesquisadora Patricy e aos Pós doc

Dr. José Fábio e Dr. Josiane Veloso, pela ajuda construtiva neste trabalho.

À Profa. Dra. Maria Norma (UFRPE), por iniciar as pesquisas com caprinos e estar

presente ate hoje, na minha vida profissional.

Aos amigos que permitiram a realização deste trabalho, Anna, Filipe, Rosália, Janaína,

Carla, Elizabete, Denea, Eduardo, Irene e Rita.

Aos amigos Marcinho e Ju presentes em todo o doutorado.

Ao Dr. Aderbal Cavalcanti Neto que desde o início das coletas esteve presente para a

realização deste trabalho.

Aos criadores de caprinos que permitiram o acesso de seus rebanhos sempre com muita

gentileza, e sua sensibilidade em trabalharem com essas raças valiosas para o Brasil.

A Embrapa Meio-Norte, Embrapa Caprinos e Emparn pela contribuição ao nosso

trabalho.

Enfim, a todos que, direta ou indiretamente, contribuíram para o término de mais uma

etapa da minha vida.

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SUMÁRIO

Lista de Figuras.............................................................................................................xii

Lista de Tabelas............................................................................................................xiv

Resumo Geral................................................................................................................xv

Abstrat...........................................................................................................................xvi

CONSIDERAÇÕES INICIAIS....................................................................................xvii

CAPÍTULO 1. Referencial Teórico ............................................................................ 177

INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 18

OBJETIVOS ................................................................................................................... 20

Objetivo Geral ............................................................................................................ 20

Objetivos Específicos ................................................................................................. 20

REVISÃO DE LITERATURA ...................................................................................... 21

Classificações da Cabra e Origem .............................................................................. 21

Características dos ancestrais ..................................................................................... 24

Domesticações das cabras .......................................................................................... 24

Utilizações da Biologia Molecular para esclarecimento da Domesticação ................ 27

Definição e formação de raça ..................................................................................... 28

Rotas das raças atuais ................................................................................................. 32

Caprinos do Brasil ...................................................................................................... 38

As Raças Caprinas estudadas ..................................................................................... 41

Registro Genealógico de Caprinos e Associações ...................................................... 48

Marcadores Moleculares............................................................................................. 50

DNA mitocondrial ...................................................................................................... 54

Tipos de DNA presentes no organismo .......................................................................59

CONSIDERAÇÕES FINAIS..........................................................................................61

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................................................62

CAPÍTULO 2.Catalogação dos haplótipos do DNA mitocondrial de caprinos da raça

Canindé............................................................................................................................75

RESUMO.........................................................................................................................76

ABSTRAT.......................................................................................................................77

INTRODUÇÃO...............................................................................................................78

METODOLOGIA............................................................................................................80

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Local do Estudo...........................................................................................................80

Amostragem e descrição do local de colheita de material biológico para a pesquisa 80

Material biológico e extração do DNA....................................................................... 81

Amplificação da região D-loop e sequenciamento ..................................................... 82

Tratamento dos dados ................................................................................................. 83

Análise de dados ......................................................................................................... 84

RESULTADOS E DISCUSSÃO ................................................................................... 86

Análise de polimorfismo ............................................................................................ 86

Distribuição dos haplótipos de mtDNA ..................................................................... 89

Diferenciação genética ............................................................................................... 91

Análises filogenéticas ................................................................................................. 93

Análise de correspondência entre distribuição geográfica e variância genética

(SAMOVA) ................................................................................................................ 99

Dinâmica populacional ............................................................................................. 101

CONCLUSÃO .............................................................................................................. 103

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................... 104

CAPÍTULO 3.Diversidade Genética na Região D- loop do mtDNA de populações

caprinas brasileiras e sua relação filogenética com seu grupo de origem .................... 108

RESUMO.......................................................................................................................109

ABSTRAT.....................................................................................................................110

INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 111

MATERIAL E MÉTODOS .......................................................................................... 112

Amostragem ............................................................................................................. 112

Material biológico .................................................................................................... 113

A amplificação da região D-loop do mtDNA e sequenciamento ............................. 115

RESULTADOS E DISCUSSÃO ................................................................................. 116

CONCLUSÃO .............................................................................................................. 129

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................... 130

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LISTA DE FIGURAS

Capítulo 1. Referencial Teórico

Figura 1. Localização geográfica dos principais centros de domesticação da espécie

caprina. A-Turquia, B-Paquistão, C- Irã, D- Iraque, E- Anatólia, F- Síria, G- Israel e H-

Jordânia............................................................................................................................25

Figura 2. Ibex, 11 000 a.C., Gruta de Niaux, Foix, França............................................26

Figura 3. Origem e desenvolvimento de algumas raças Caprinas..................................32

Figura 4. O brasão da família Cabral, com a representação de cabras (animais valentes

e leais, comuns na região das Beiras, Portugal) indica que a família Cabral era influente

na Corte Portuguesa.........................................................................................................34

Figura 5. Resumo dos conjuntos de cromossomos da Capra hircus (DONG et al.,

2012)................................................................................................................................56

Capítulo 2 - Catalogação dos Haplótipos do DNA Mitocondrial de Caprinos da

Raça Canindé

Figura 1. Representação dos locais onde as amostradas foram coletadas......................81

Figura 2 - Amplificação bem sucedida dos fragmentos de DNA, evidenciado pelas

bandas obtidas por eletroforese (o “controle” não apresenta bandas, o que indica

ausência de contaminação)..............................................................................................82

Figura 3 - Cromatograma obtido para uma sequência....................................................83

Figura 4. Relação filogenética entre os haplótipos de caprinos da raça Canindé oriunda

do Nordeste do Brasil. O tamanho dos círculos é proporcional ao número de indivíduos

que apresenta o respectivo haplótipo. Os pequenos círculos vermelhos indicam vetores

intermediários, introduzidos pelo algoritmo executado................................................. 94

Figura 5. Árvore filogenética não enraizada com base em 481pb de um fragmento da

região HVR1 do mtDNA de caprinos Canindé do Nordeste do Brasil.......................... 96

Figura 6. Árvore filogenética enraizada com base em 481pb de um fragmento da região

HVR1 do mtDNA de caprinos Canindé do Nordeste do Brasil..................................... 97

xii

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Figura 7. Árvore filogenética não enraizada construído com base em 481pb de um

fragmento da região HVR1 do mtDNA de cabras Canindé e representantes dos seis

haplogrupos de mtDNA para caprinos (A; B1, B2; C; D; F; G).....................................98

Capítulo 3. Diversidade genética na região d- loop do mtDNA de populações

caprinas brasileiras e sua relação filogenética com seu grupo de origem

Figura 1. As raças estudadas....................................................................................... 113

Figura 2. Locais de colheitas de dados e material biológico....................................... 114

Figura 2. A rede Median joining do mtDNA os haplótipos observados nas quatro raças

caprinas locais brasileiras Canindé, Moxotó, Marota e Azul e duas exóticas Saanen e

Alpina Britânica. A área do círculo é proporcional para a frequência da amostra. Os

pequenos círculos vermelhos indicam vetores intermediários. ....................................122

Figura 3. Árvore Neighbour-Joining para os 39 haplótipos encontrados de um

fragmento da região D-loop para amostras representativas de cada tipo caprino estudado

e representantes dos seis haplogrupos de mtDNA para caprinos (A ; B1 , B2 ; C

; D ; F ; G )............................................................................................................126

Figura 4. Filogenia de caprinos a partir das sequencias de DNAmt da região D- loop.

Árvore inferida por analise Bayesiana utilizando o modelo TrN+I+G, com valores de

probabilidades a posteriori........................................................................................... 128

xiii

1

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LISTA DE TABELAS

Capítulo 1. Referencial Teórico

Tabela 1. Distribuição geográfica do gênero Capra, de acordo com Shakleton

(1997)...............................................................................................................................23

Capítulo 2 - Catalogação dos Haplótipos do DNA Mitocondrial de Caprinos da

Raça Canindé

Tabela1. Informação de coleta da raça Canindé.............................................................81

Tabela 2. Variabilidade genética nas 10 subpopulações de cabras da Raça Canindé a

partir de sequências de 481pb de um fragmento da região D-loop do mtDNA..............88

Tabela 3. Catálogo dos haplótipos do DNA mitocondrial dos caprinos da raça Canindé.

.........................................................................................................................................90

Tabela 4. Estimativas pareadas de distância genética entre dez populações de cabras

Canindé com base em medidas de FST.............................................................................91

Tabela 5. AMOVA entre as populações amostradas do caprino Canindé..................... 92

Tabela 6. Análise espacial de variância molecular (SAMOVA) para as oito

subpopulações de caprino Canindé. Agrupamentos gerados pelo programa estão

indicados entre colchetes.................................................................................................99

Tabela 8. Índices de neutralidade calculados para cada população estudada...............102

Capítulo 3. Diversidade genética na região d- loop do mtDNA de populações

caprinas brasileiras e sua relação filogenética com seu grupo de origem

Tabela 1. Frequência numérica dos 39 haplótipos do DNA mitocondrial nos caprinos

das seis raças por populações....................................................................................... 118

Tabela 2. Principais características das sequências analisadas nas populações de cabras

brasileiras...................................................................................................................... 121

Tabela 3. AMOVA entre e dentro de populações e raças.............................................123

Tabela 4. Valores do índice de Fixação FST para as 15 populações utilizadas............ 124

xiv

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DIVERSIDADE GENÉTICA DE POPULAÇÕES CAPRINAS DO

NORDESTE BRASILEIRO COM MARCADOR DE DNA

MITOCONDRIAL

RESUMO GERAL

No Brasil existe uma grande variedade de raças caprinas. O avanço nos estudos

moleculares, além do enriquecimento das análises filogenéticas intraespecíficas, tem

possibilitado de maneira eficaz a interpretação de possíveis cenários evolutivos. Dados

filogeográficos permitem estabelecer uma estratégia que priorize a conservação de

grupos que incluam representantes da maior parte da historia evolutiva da espécie

caprina. O objetivo foi caracterizar e avaliar a variabilidade genética de algumas raças

caprinas brasileiras. Foram amostrados 271 indivíduos pertencentes a 15 populações.

Foram analisadas as sequências da região D-loop, com 481pb com 62 sítios

polimórficos, variabilidade relativamente alta quando considerada a história evolutiva

do grupo. O pelo de 271 animais das raças Canindé (n=178), Moxotó (n=20), Marotá

(n=24), Azul (n=19), Sannen (20) e Alpina (n=10) foi utilizado para realizar extração de

DNA, amplificação da região D-loop, purificação e sequenciamento. Após edição, as

sequências obtidas foram alinhadas, comparadas com cada sequência obtida e com uma

referência, tendo estimados vários índices de divergência e de diversidade genética entre

as subpopulações estudadas. Foram encontrados 39 haplótipos. A análise da estrutura

populacional mostrou diferenciação significativa (P<0,05) entre alguns pares possíveis

das seis raças. Na AMOVA verificou-se que apenas 5,13% da variação genética

ocorrem entre grupos, ou seja, entre raças devido a diferenças entre raças. Já 9,99%

ocorrem entre populações dentro de grupos, onde a maior diferença está dentro das

populações onde 84,89% corresponderam a diferenças entre indivíduos. A maior

diferença genética entre as seis raças foi observado entre Moxotó e Alpina Britânica,

enquanto a maior similaridade verificou-se entre Canindé e a Marota. Estas observações

são consistentes com a recorrente introdução de animais exóticos no plantel. Os animais

brasileiros são classificados como haplogrupos A, com haplótipos de predominância de

descendência européia e com participação africana e asiática. Dessa forma, a variação

do DNA mitocondrial estimados neste trabalho em caprinos contribuiu com a geração

de dados genotípicos para a realização de estudos futuros de origem e evolução dos

animais na região Nordeste no Brasil.

Palavras-chave: Capra hircus, caracterização genética, filogenia, recurso genético.

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GENETIC DIVERSITY OF GOAT POPULATIONS IN

NORTHEAST BRAZIL WITH MITOCHONDRIAL DNA MARKER

GENERAL ABSTRACT

In Brazil there is a wide variety of goat breeds. Advances in molecular studies, in

addition to enriching intraspecific phylogenetic analysis, has enabled effectively the

interpretation of possible evolutionary scenarios. Phylogeographic data allows set up a

strategy that prioritizes conservation groups including representatives of most of the

evolutionary history of goat species. The objective was to characterize and evaluate the

genetic variability of some Brazilian goat breeds. The sample consisted of 271

individuals from 15 populations. Sequences of the D-loop region containing 481pb with

62 polymorphic sites were analyzed, a relatively high variability when considering the

evolutionary history of the group. The coat from 271 Canindé animal breeds (n = 178),

Moxotó (n = 20), Marotá (n = 24), Azul (n = 19), Sannen (20) and Alpina (n = 10) was

used for DNA extraction, amplification of D-loop region, purification and sequencing.

After editing, the obtained sequences were aligned, compared with each obtained

sequence and a reference, having estimated several divergence and genetic diversity

indices among subpopulations studied. We found 39 haplotypes. Analysis of population

structure showed a significant difference (P < 0.05) between some possible pairs from

the six breeds. In AMOVA it was found that only 5.13% of genetic variation occurs

among groups or among breeds due to differences between breeds. Meanwhile 9.99%

occurs among populations within groups, where the largest difference is within

populations in which 84.89% corresponded to differences between individuals. The

largest genetic difference among the six breeds was observed between Moxotó and

British Alpine, while the largest similarity was between Canindé and Marota. These

observations are consistent with the recurring introduction of exotic animals in the

squad. Brazilian animals are classified as haplogroups A, with haplotypes

predominantly of European descent and African and Asian participation. Therefore, the

change in estimated mitochondrial DNA in goats in this study contributed for the

generation of genotype data for future studies on the origin and evolution of animals in

the Northeast region of Brazil.

Keywords: Capra hircus, genetic characterization, phylogeny, genetic resource.

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CONSIDERAÇÕES INICIAS

Existe um reconhecimento global da necessidade de conservação da diversidade

genética e da caracterização de raças e populações, incluindo a sua diferenciação e

relações genéticas (BARKER et al. 2001). Na Convenção para a Diversidade Biológica

e na Agenda 21, foi confirmada a importância dos recursos genéticos dos animais

domésticos como componente da diversidade biológica global, sendo reconhecida a

soberania de cada país sobre os seus recursos genéticos e a obrigação de conservá-los.

A perda da diversidade ocorre devido às pressões exercidas pela produção

animal moderna, sendo causa de preocupação mundial. Grande parte da diversidade

que se perde anualmente é desconhecida, incluindo raças de animais domésticos,

incluindo a espécie caprina. Assim, é importante medir, documentar e proteger a

diversidade existente em populações localmente adaptadas, por constituir material

genético de valor para futuros objetivos de produção (BRUFORD et al., 2003).

A caracterização genética de caprinos tem sido alvo de estudos em várias regiões

do mundo (LUIKART, et al., 2001; JOSHI et al., 2004; PEREIRA et al., 2005; LIU et

al., 2006; NADERI et al., 2007; ADEBAMBO, 2009; PEREIRA et al., 2009;

BENJELLOUN et al., 2011). Esses estudos têm avaliado a diversidade inter e

intrarracial, bem como a estrutura genética das populações e/ou raças. A maioria deles

baseia-se na caracterização molecular, com vistas a apoiar programas de conservação

em cada país (FAO, 2010).

A criação de caprinos é um elemento que contribui para a fixação do homem no

campo, pois representa importante fonte de renda familiar dos pequenos agricultores e

também para a geração de emprego, principalmente, na região Nordeste do Brasil.

Os caprinos brasileiros introduzidos a partir da colonização desenvolveram

características particulares de adaptação. Apesar de suas potencialidades poucos são os

estudos realizados com os caprinos locais com conservação da diversidade genética e

avalição das relações genéticas existentes.

A diversidade da variabilidade genética entre e intrapopulações da espécie

caprina é importante tanto na conservação quanto na produção animal.

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CAPÍTULO 1

________________________________________________________________

REFERENCIAL TEÓRICO

DIVERSIDADE GENÉTICA DE POPULAÇÕES CAPRINAS DO NORDESTE

BRASILEIRO COM MARCADOR DE DNA MITOCONDRIAL

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INTRODUÇÃO

As cabras foram domesticadas há 11000 anos, no Oriente Médio, na região que

hoje reúne Iraque, Síria, Líbano e Jordânia que, desde então, desempenha um papel

econômico, cultural e religioso em muitas civilizações humanas (PEREIRA; AMORIM,

2010). Devido à sua versatilidade e adaptabilidade, os caprinos conseguiram se espalhar

por todo o mundo, seja ao lado do homem em movimentos migratórios seja pelo

comércio (LUIKART et al., 2001). Isso proporcionou o desenvolvimento de vários tipos

morfológicos, afetando, por exemplo, as orelhas, chifres, tipo de pelo e cores.

Ao explorar a história da agricultura e alimentação é possível compreender as

questões atuais das raças contemporâneas, já que as relações do homem com o mundo

rural e a produção de alimentos estão sempre ligadas ao desenvolvimento e fracassos,

tecnológicos econômicos, políticos e culturais (FLAMANT, 2002).

O progresso das condições de vida e do bem-estar humano encontra-se,

estreitamente, dependente das espécies animais e vegetais domesticadas durante os

últimos milênios, as quais foram utilizadas para os mais variados fins. A cabra foi a

primeira espécie a ser domesticada com o interesse econômico, uma vez que só o cão a

antecede (SHELTON, 1993).

Graças aos pequenos agricultores os animais desenvolveram adaptações a

diferentes condições ambientais. Diferentes raças foram formadas de acordo com a

necessidade de produção e do ambiente. Assim como nas demais espécies animais, a

diversidade de recursos genéticos caprinos no mundo reflete sua adaptação aos

diferentes sistemas de produção, com predomínio de raças nativas, muitas vezes em

perigo de extinção (FAO, 2010).

Segundo a FAO (2007) há cerca de 800 milhões de caprinos no mundo, dos

quais 60% estão no continente asiático, com mais de 500 raças caprinas reconhecidas

mundialmente, em que mais de 90% são consideradas locais. Todavia, em muitos países

não se tem a tradição de classificar os animais por raça, mas sim pela sua distribuição

geográfica, designando-os como Crioulos termo utilizado amplamente e que inclui

genótipos e tipos raciais distintos (EGITO; MARIANTE; ALBUQUERQUE, 2002).

O grande número de raças locais de caprinos existentes no mundo resulta em

grande diversidade genética intraespecífica o que representa importante patrimônio

genético mundial. Todavia, são escassas as informações sobre estes recursos,

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particularmente, quando comparado a outras espécies de produção (GAMA;

BRESSAN, 2011).

Como parte da diversidade biológica, os caprinos locais brasileiros tem sido alvo

de estudos, em geral, por serem considerados adaptados a áreas específicas bem como

devido à importância social, econômica e cultural para as populações que ocupam essas

áreas, que se concentram na região Nordeste. Muitas dessas raças economicamente

importantes são atualmente raras e com uma combinação de genes ainda por avaliar e

empregar nos sistemas de produção, elevando ao máximo os benefícios que este recurso

pode proporcionar (EGITO et al., 2002).

A importância da defesa da biodiversidade animal é seguida por avanços

genéticos que auxiliam o planejamento e efetivam o objetivo da conservação. A

genética molecular oferece ampla gama de técnicas para estudo e entendimento das

bases genéticas da biodiversidade. Porém é impossível recriar a diversidade genética

natural e, assim sendo sua perda é irreversível (GINJA, 2002).

Desde a década de 70 do século passado o mtDNA é uma das moléculas mais

empregadas em estudos envolvendo estrutura populacional, relações filogenéticas em

nível inter ou intra-espécies e no entendimento de vários aspectos biológicos e

evolutivos de uma grande variedade de organismos (AVISE et al., 1987; MORITZ;

DOWLING; BROWN, 1987). A utilização dessa molécula em tais estudos se deve ao

fato dela apresentar alta taxa de evolução, ser circular, pequena e de estrutura gênica

simples. Além disso, o sequenciamento direto dos genes mitocondriais é mais fácil do

que o de genes nucleares (que podem requerer clonagem), e o alinhamento das

sequências não oferece problema (SANTOS, 2005).

A investigação sobre a filogenia e estrutura das raças tem sido em termos

históricos, uma área de trabalho de grande evidência em virtude da sua relevância nos

aspectos culturais e socioeconômicos (EGITO; MARIANTE ; ALBUQUERQUE,

2002). Estes estudos populacionais devem, sempre que possível, ser interpretados

considerando o contexto histórico (CAVALLI-SFORZA; MENOZZI; PIAZZA, 1994),

sob pena de se cometer grandes equívocos na interpretação dos dados. Estudos

genéticos, associados aos relatos históricos indicam que as raças caprinas do Brasil são

adaptadas e distintas daquelas raças das quais derivaram, por isso são considerados

locais (MENEZES et al., 2006).

Por conseguinte, este estudo, visa conhecer as relações existentes entre

diferentes populações caprinas do Nordeste brasileiro, analisando o patrimônio genético

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disponível, entre e intrapopulções a partir de marcador molecular do tipo DNA

mitocondrial. As informações geradas poderão fornecer subsídios para o gerenciamento

das populações estudadas.

OBJETIVOS

Objetivo Geral

Estimar a variabilidade genética de cabras brasileiras das raças Canindé, Azul,

Moxotó e Marota, e duas exóticas existentes na região Nordeste do Brasil a fim de

inferir as relações entre elas através de sequências de DNA mitocondrial.

Objetivos Específicos

Analisar a variabilidade genética inter e intra populacional em rebanhos

caprinos criados no nordeste brasileiro.

Inferir as relações evolutivas e a composição genética das raças caprinas

estudadas através de analise de mtDNA.

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REVISÃO DE LITERATURA

Classificações da Cabra e Origem

Os caprinos pertencem à ordem dos Artiodactyla, na qual os animais possuem

cascos nas patas, subordem ruminante e, à família Bovidae, cuja evolução ocorre no

Mioceno, há 20 milhões anos. É no grupo de ungulados que existe a maior diversidade,

com mais de 300 táxons fósseis e cerca de 140 espécies de seres vivos, incluindo

ovelhas, bovinos e antílopes (HASSANIN; DOUZERY, 1999).

Comparações citogenéticas indicam alto nível de colinearidade entre

cromossomos de caprinos e bovinos e, todos os 30 cromossomos que constituem o

genoma caprino foram ordenados de acordo com o Sistema Internacional de

Nomenclatura de cromossomo para bovídeos. Bovinos e caprinos teriam divergido há

23 milhões de anos atrás (DONG et al., 2012), enquanto ovinos e caprinos divergiram

há, aproximadamente, seis milhões de anos.

Taxonomicamente, o caprino tem a seguinte hierarquia, segundo Grzimek e

Fontaine (1972), no Le Monde Animal:

REINO: Animalia

FILO: Chordata

CLASSE: Mammalia

SUPER ORDEM: Ungulados

Com 2 ordens: Perissodactylos e Artiodactylos

ORDEM: Artiodactylos

Com 3 subordens : Tylopodes – Não ruminantes (Suiformes) – Ruminantes

(Ruminantia)

SUBORDEM: RUMINANTES

Com 2 infra-subordens : Tragulina – Pecora (ruminantes verdadeiros)

INFRA-SUBORDEM: Pecora

Com 4 famílias : Cervídeos - Girafídeos - Antilocaprídeos – Bovídeos

FAMÍLIA: Bovídeos

Com 15 subfamílias

SUBFAMÍLIA: Capríneos

Com 5 tribos

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TRIBO: Caprini

Com 5 gêneros (incluindo: Ovis)

GENERO: Capra

Com 11 espécies (IUCN UNEP-WCMC, 2010)

ESPÉCIE: Capra hircus L. : a cabra doméstica.

As relações taxonômicas são baseadas na análise de características morfológicas,

essencialmente, no formato dos chifres, nos machos. A morfologia do chifre pode não

ser um critério adequado para resolver as questões referentes à taxonomia da Capra,

uma vez que o chifre é uma característica muito variável, mesmo dentro de uma

população pode passar por evolução convergente (SCHALLER, 1977).

Do ponto de vista genético, todas as espécies pertencentes ao gênero Capra tem

o mesmo número de cromossomos (2n=60), condição que favorece a hibridação. Pelo

que se relata, este grupo não chegou ao seu ápice evolutivo e isso gerou no gênero

Capra uma grande quantidade de espécies na sua divisão. Atribui-se a origem da cabra

doméstica às espécies selvagens do Quaternário, encontrando-se disseminadas por todos

os continentes com uma notável concentração na Ásia e norte da África (Tabela 1). Os

estudos arqueológicos sugerem que a Capra hircus foi domesticada a partir da Capra

aegagrus no Crescente Fértil (ZEDER et al., 2006). Isto foi confirmado em estudos

genéticos através de mtDNA (MANCEAU et al., 1999; TAKADA et al., 1997;

FERNÁNDEZ et a., 2005; NADERI et al., 2008). Alguns autores, contudo, consideram

a Capra aegagrus, a única ascendente das cabras domésticas. Admite-se a origem

difilética dos caprinos domésticos, ou seja, descenderiam de duas espécies selvagens: a

Capra aegagrus e a Capra falconeri (MIRANDA DO VALE, 1949).

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Tabela 1. Distribuição geográfica do gênero Capra, de acordo com Shakleton (1997).

Espécie Nome Comum Distribuição Geográfica

Capra hircus Cabra doméstica Mundial

Capra aegragus Cabra Bezoar ou selvagem Cáucaso, Ásia Central e

Oriente Próximo

Capra falconeri Markhor Himalaia Ocidental

Capra caucásica Oeste caucasiano Oeste Cáucaso

Capra cylindricornis Leste caucasiano Cáucaso Leste e Central

Capra ibex Alpina Ibex Alpes

Capra pyrenaica Espanhol Ibex Península Ibérica

Capra nubiana Nubiana Ibex Nordeste da África e partes

da Arábia

Capra sibirica Siberiana Ibex Ásia Central

Capra walie Walia Ibex Montanhas do norte da

Etiópia

Há muitas lacunas no registro fóssil, isso devido à sua rápida taxa de

diversificação do gênero Capra, o que explica as dificuldades na obtenção arqueológicas

confiáveis e inferências filogenéticas. Como consequência, a taxonomia da Capra

continua sob debate, tendo o seu número de espécies e subespécies propostas a mudar

constantemente (PEREIRA et al., 2009).

Em 2006, apenas nove espécies eram reconhecidas, principalmente, com base

em características morfológicas, tais como chifres, características faciais e cores de

pelagem, de acordo com Pidancier et al. (2006).

Atualmente, IUCN UNEP-WCMC (United Nations Environment Programmes

World Conservation Monotoring Centre), estabelece dez espécies do gênero Capra:

Capra aegagrus, Capra ibex, Capra falconeri, Capra pyrenaica, Capra cylindricornis,

Capra caucásia, Capra nubiana, Capra Sibirica, Capra walie e Capra hircus (INIA,

2010).

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Características dos ancestrais

As espécies do gênero Capra são adaptadas a climas extremos e são encontradas

principalmente em áreas de montanhas. O conhecimento dos ancestrais da cabra

doméstica foi primordial para a domesticação (MANCEAU et al., 1999).

As cabras selvagens vivem em áreas montanhosas, rochosas, com vegetação

aberta, arbustiva, acima do estágio da floresta de altitude, com pouca água disponível

(EL MUNDO, 2012). Este ambiente é globalmente semiárido, apesar de apresentar

fortes chuvas em alguns ecossistemas, com fortes variações de temperatura. Os

predadores são, principalmente, o lobo, o leopardo, o lince e a águia (para os jovens

nascidos). Esse conjunto de condições determina o comportamento do animal: o gosto

para subir, a capacidade de arrancar no início da corrida, a fuga em zig-zag, mas

enfrentando o perigo quando necessário, sempre alerta, com o hábito de esconder os

filhotes antes deles poderem correr, e o hábito alimentar baseado em folhagem em vez

de capim como os ovinos, entre outros (JASEN, 2004).

A domesticação tirou progressivamente o animal de seu ambiente natural.

Observa-se uma descida para as planícies mais favoráveis à espécie humana. As

mudanças de condições ecológicas acarretaram uma adaptação das cabras aos vários

ambientes, sempre ao lado dos grupos humanos que as moldaram em função de suas

necessidades (MIKERNA et al., 2010). Se, por via de regra, as cabras são criadas numa

ótica de produção mista (carne, leite, pele), observa-se também especialização. Por

exemplo, a raça Saanen como leiteira em pasto herbáceo, a raça Boer para carne no

semiárido temperado, a raça Maradi (no Mali) para a pele no semiárido quente.

De um modo geral, o processo de domesticação trouxe mudanças para a espécie

domesticada e, quanto maior o nível de domínio sobre ela mais mudanças acontecem. A

ponto dos lobos, em determinado momento, terem se tornado um animal diferente, dócil

o suficiente para ser mantido em casa. Essas e outras mudanças costumam fazer com

que os animais domesticados pareçam drasticamente diferentes de seus ancestrais

selvagens (BLONDEL; ARONSON, 1999).

Domesticações das cabras

Alguns focos de domesticação são citados na literatura, como o rio Eufrates, a

Nevali Cori, Turquia (11.000) e as Montanhas Zagros do Irã em Ganj Dareh (10.000)

(PETERS; SCHMIDT, 2004; ZEDER, 2000; HIRTS, 2008). Outros possíveis locais

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incluem a bacia do rio Indus no Paquistão, em Mehrhah (9000), e talvez na Anatólia

central e sul do Levante. Outros importantes sítios arqueológicos com evidência para o

processo inicial da domesticação da cabra incluem Cayonu, Turquia (8500-8000 a.C.),

Tell Abu Hureyra, Síria (8000-7400 a.C.), Jericó, Israel (7500 a.C.) e Ain Ghazal,

Jordânia (7600-7500 a.C.) (ZEDER, 2008). Segundo a FAO (2010), com base em

pesquisas arqueológicas e de genética molecular, identificaram-se pelo menos 12

grandes centros de domesticação animal. A dispersão dos caprinos, provavelmente,

procedeu em diferentes direções.

Arqueologicamente, este ponto torna-se mais claro nos vários focos de

domesticação que são mostrados na Figura 1.

Figura 1.

O processo desta domesticação foi marcado pela "invenção" da agricultura e da

pecuária. É o início do uso dos animais para alimentação leite, carne, lã e peles para

habitação e vestuário, força de tração, fertilização dos solos pelo estrume. Os caprinos e

ovinos foram às primeiras espécies a serem domesticadas com o intuito de servirem

como alimento (CORREIA, 2004). Ao longo do tempo, os animais utilizados nesse

processo foram aqueles que tinham algum tipo de relacionamento social, tal como a

Localização geográfica dos principais centros de domesticação da

espécie caprina. A-Turquia, B-Paquistão, C- Irã, D- Iraque, E- Anatólia,

F- Síria, G- Israel e H- Jordânia.

A

F

H

D G

E

B

C

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capacidade de formar manadas ou rebanhos. Estes eram mais susceptíveis ou mais

facilmente domesticados, no que diz respeito a adaptação e agregação no longo prazo

com o homem (SHELTON, 1993).

Investigações recentes têm evidenciado que a domesticação animal foi um

processo gradual, extremamente complexo e que não está ainda completamente

esclarecido (ZEDER, 2008). Devido ao fato de que este procedimento, que foi iniciado

no passado, e prolonga-se até hoje (FLAMANT, 2002).

Ainda de acordo com Flamant (2002), muitos trabalhos tendem demonstrar o

processo de domesticação só com base em uma origem econômica e alimentar.

Enquanto Jacques Cauvin, arqueólogo especializado em tempos pré-históricos, escreveu

vários livros sobre suas pesquisas que em sua investigação sobre o Neolítico do Oriente

Próximo (de 12 000 a 6 300 a.C.) e, assim, desenvolveu uma teoria sobre a origem da

domesticação dos animais com base no plano social, cultural e simbólico.

As pinturas rupestres foram o primeiro sinal que o homem evidenciou seu

relacionamento com outros animais. Os animais mais representados são os mamíferos:

cavalos selvagens, bisão, veados, ibex (Figura 2), javalis, ursos, grandes felinos,

mamutes e rinocerontes. Estes animais representavam o centro da sociedade paleolítica,

quer como fonte de alimento, quer por lhes conferirem características ou poderes

divinos (SANTANA, 2008).

Figura 2. Ibex, 11 000 a.C., Gruta de Niaux, Foix, França.

Fonte: http://queridobestiario.blogspot.com.br/

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A história revela que as civilizações domesticaram animais, plantas e

consequentemente, tiveram mais poder em suas mãos, sendo capazes de espalhar suas

culturas e linguagens (DIAMOND, 2002).

Em todo o mundo antigo as civilizações domesticaram animais por vários

motivos, seja por esses viverem próximos ou pelo que esses animais poderiam fornecer.

Alguns destes animais até alcançaram importância religiosa em várias civilizações,

como no Antigo Egito, com gatos e boi, ou em Roma, com os cães. Nos Bestiários

Medievais, a cabra aparece com ambivalência simbólica bem clara, isto é, podendo

originar simultaneamente uma leitura positiva, quando se assume como animal

selvagem, mas revestindo-se de uma significação negativa quando tratada como animal

doméstico (VARANDAS, 2006).

Utilizações da Biologia Molecular para esclarecimento da Domesticação

À medida que a ciência avançava, com melhorias das técnicas de pesquisa,

principalmente na área da Biologia Molecular, além das descobertas arqueológicas,

todas as suposições relatadas poderiam ser reforçadas ou rejeitadas. Diante dessas

suposições, sempre é necessário uma análise crítica sobre as diferentes vertentes da

domesticação e o seu enquadramento na época estudada (CORREIA, 2004).

Nos estudos arqueológicos ocorre constantes debates consideráveis sobre a

capacidade para detectar a ocorrência da domesticação e as transições desta na estrutura

das populações de uma dada espécie, deixando não esclarecidas questões de como

espécies de ancestrais selvagens foram domesticadas e em que grau contribuiu para o

patrimônio genético atual (BRUFORD; BRADLEY; LUIKART, 2003).

Os marcadores genéticos têm contribuído para esclarecer algumas questões

evolutivas e o marcador mitocondrial presente no DNA tem sido a ferramenta mais,

amplamente, utilizada em estudos de filogenia e diversidade de populações (LUIKART

et al., 2006).

A história filogenética dos caprinos domésticos foi estudada através de DNA

mitocondrial (mtDNA) por Luikart et al. (2001), Joshi et al. (2004) e Fernandez et al.

(2006). Estes estudos demonstraram que os caprinos acompanharam os movimentos

migratórios e exploratórios do homem. Luikart et al. (2001), verificaram que a Capra

aegagrus, como progenitora da Capra hircus pela maior proximidade, assim como os

tipos de DNA do cromossomo Y das Capra aegagrus eram idênticos aos das cabras

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domésticas. Todos os marcadores genéticos demonstram relação da Capra hircus com a

Capra aegagrus (TAKATA et al., 1997; LUIKART et al., 2001; MANNEN, NAGATA,

TSUJI, 2001) e esse resultado é coerente com os estudos arqueológicos e morfológicos

apresentados por Zeder e Hesse (2000).

Os estudos com sequências de mtDNA revelam elevada homogeneidade

genética na espécie caprina, mesmo em grupos muito distantes geograficamente,

diferentemente do que ocorre em outras espécies, por exemplo, como bovinos e ovinos,

em que são encontradas grandes diferenças genéticas entre as populações européias,

asiáticas e africanas. A grande semelhança verificada na espécie caprina é resultado do

grande fluxo gênico dentro da espécie ao longo do curso da história humana

(FERNÁNDEZ et al., 2006).

O mtDNA na espécie caprina apresenta um polimorfismo do haplogrupo A (que

representa mais de 90% dos haplótipos), sendo demasiadamente elevado para ser o

único haplótipo proveniente da domesticação (TABERLET et al., 2011). A análise

detalhada do haplogrupo A sugere um número de haplótipos superior a 1.000 por

Naderi et al. (2008), apoiando, fortemente, a ausência de gargalo no período da

domesticação da espécie caprina, diferentemente do que ocorre na espécie bovina

(TABERLET et al., 2011).

Definição e formação de raça

O conceito de raça surgiu há cerca de 200 anos atrás e este tem servido para

categorizar diferentes populações de uma mesma espécie biológica com características

hereditárias que permitem agrupá-los entre si e separá-los de outros da mesma espécie.

Apesar da raça não ser considerada uma categoria taxonômica formal, não possuindo

como tal um significado biológico definido, constitui a base dos trabalhos no âmbito da

zootecnia atual (MONTEIRO, 2011). Logo, para que se possa definir um padrão racial,

é necessário a descrição das características que permitam a identificação dos indivíduos

da raça em questão. Essas características podem ser morfológicas, fisiológicas,

comportamentais e econômicas (FERREIRA, 2011).

Na maioria dos casos, as raças são nomeadas de acordo com a região geográfica

em que se originou (por exemplo, Moxotó), ou para o grupo que os criaram ou, ainda,

por alguma característica descritiva (por exemplo, Shorthorn, Red Poll), ou por uma

combinação de duas dessas categorias (por exemplo, Rhode Island, Red). Ao mesmo

tempo, deve-se ter em mente que as descrições implicavam em um nome que pode ser

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falso ou enganoso a exemplo da ovelha Negra Persa que não se originou na Pérsia

(PORTER, 2002).

As raças podem ser formadas de dois modos: espontâneo ou artificial. A

primeira é através da seleção natural, onde o meio ambiente seleciona os indivíduos que

passarão sua genética adiante, enquanto na seleção artificial o homem seleciona as

características que melhor lhe convém para determinada produção.

Segundo Domingues (1984) a raça não é um elemento estático, pois é um

estágio no seguimento evolutivo de certa população em constante processo de adaptação

ao ambiente. Este processo de adaptação às variações ambientais só foi possível graças

à variabilidade genética que representa o potencial evolutivo de uma população ou

espécie, sendo por isso um fator fundamental da sua sobrevivência á longo prazo

(MAUDET, 2001).

Para que se estabeleça uma raça é necessário haver evolução, logo, é

fundamental existir variação nos caracteres pretendidos, e que esta variabilidade seja

transmissível geneticamente (MONTEIRO, 2011). Assim, são necessários três

processos: domesticação, seleção e o controle total da raça pelo homem relativo à sua

gestão e reconhecimento (RODERO; HERRERA, 2000).

Do ponto de vista zootécnico, a caracterização das raças é fundamental para que

elas possam ser reconhecidas oficialmente. Ao identificar e caracterizar os indivíduos a

ela pertencentes, permitiremos a definição do padrão racial. As características mais

utilizadas na definição de uma raça são as morfológicas. Isso não se dá porque sejam

mais importantes, mas porque são mais facilmente percebidas e, porque, ao descreverem

adequadamente a raça, identificarão os indivíduos que apresentam as demais

características que se deseja, mas que são mais difíceis de serem identificadas

(RIBEIRO, 2000).

Em conservação, a raça é a unidade de estudo. De acordo com a FAO, uma raça

consiste num “grupo sub-específico de animais domésticos com características externas

identificadoras e definidoras que permitem separá-las, por avaliação visual, de outros

grupos semelhantes, que levou à aceitação de sua identidade separada” (FAO, 1999). Já

para Sierra Alfranca (2001) está definição esta incompleta, pois em sua percepção

faltaria à transmissão dos caracteres a descendência, além de características não

estimáveis por observação, mas muito definidoras de uma raça como crescimento,

produção leiteira e outros aspectos produtivos. Segundo a FAO “as raças têm sido

desenvolvidas de acordo com diferenças geográficas e culturais e para ir ao encontro

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dos requerimentos humanos de comida e agricultura”. Nesta perspectiva, o aspecto

cultural é o principal elemento definidor da raça (SCHERF, 2000).

A conservação das raças demanda um grande esforço, que gera benefícios em

vários estágios do sistema de produção, além de contribuir para a preservação das

tradições, que formam uma parte essencial de nosso legado cultural (BOETTCHER et

al., 2010).

No novo sistema de classificação de raças desenvolvido para o relatório

“Situação Mundial dos Recursos Genéticos Animais para Agricultura e Alimentação”, a

distinção principal se faz entre as raças que só ocorrem em um país, chamadas de raças

locais, e as que ocorrem em mais de um país, chamadas de raças transfronteiriças.

Dentro da categoria de raça transfronteiriça, introduz-se mais uma distinção entre raças

transfronteiriças regionais, as que ocorrem em mais de um país dentro de uma única

região (ou continente), e as raças transfronteiriças internacionais, as que ocorrem em

mais de um país (ou continente) (FAO, 2010).

Atualmente, os animais encontrados nos sistemas de produção foram formados

ao longo dos séculos, devido a ação do ambiente e das decisões do homem, baseado nas

crenças, costumes e necessidades. Foi possível a manifestação de diferenças genéticas

embora não tivessem sido criados novos genótipos, sendo essas diferenças selecionadas

pelo homem. Estas diferenças genéticas, aliadas à redução da pressão exercida pela

seleção natural (LUSH, 1945), determinaram aumento considerável na taxa e na

extensão da variabilidade genética (BELYAEV, 1979). Este aumento da variabilidade

genética possibilitou a “criação” do elevado número de raças de animais domesticados

atualmente existentes (7.616) mesmo que, cerca de 30 % delas sejam classificadas como

ameaçadas (FAO, 2010). As raças da espécie caprina contribuem com 12% do número

total de raças de mamíferos registradas no mundo FAO (2010), das quais mais de 90%

são consideradas locais.

Desde a origem do conceito de raça, as populações animais vêm sofrendo fortes

pressões de seleção para a normalização da morfologia e desempenho, fragmentados em

várias raças bem definidas. Esta fragmentação da população é conhecida por ter efeitos

deletérios no longo prazo, aumentando a deriva genética e a endogamia, além de ser um

importante elemento em espécies selvagens que conduz a extinção (TABERLET et al.,

2011).

Nas últimas décadas, tem-se assistido a seleção de um pequeno número de raças

consideradas altamente produtivas, que tem causado o declínio de outras raças

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(MAUDET et al., 2002). De fato, à medida que o processo de domesticação avançou

acentuou-se a tendência para a homogeneização e a especialização, tendo-se chegado

aos sistemas de produção em estabulação mono raciais (REICHERT, 1982). A produção

animal mundial baseia-se, cada vez mais, em um número limitado de raças; além disso,

a diversidade genética intrarracial está sendo prejudicada pelo uso de poucos

reprodutores, fato que contribui para diminuição do número efetivo e aumento da

consaguinidade, duas medidas inversamente proporcionais.

Embora os sistemas intensivos de produção sejam mais, facilmente, controlados

e explorados, as leis da ecologia impõem ao homem, em contrapartida, o fornecimento

de grandes quantidades de energia para que a produtividade se mantenha elevada

(SOUZA, 2006). É necessário equilíbrio entre o homem e o ambiente para que se possa

produzir de forma a atender às necessidades de mercado e às limitações impostas pelo

ambiente.

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Rotas das raças atuais

Figura 3. Origem e desenvolvimento de algumas Raças Caprinas.

Nos três e quatro mil anos iniciais dos eventos da domesticação as cabras foram

difundidas pela Europa, África e Ásia. A origem dos caprinos é muito discutível, tendo

cada autor a sua opinião. Porém, parece que a maioria dos autores aceita a existência de

três troncos: o asiático, o europeu e o africano. Ao tronco europeu pertencia a Capra

aegagrus, ao tronco asiático a Capra falconeri e a Capra prisca, e ao tronco africano a

Capra nubiana, outra espécie ancestral (ALEMANDRA, 1996).

TRONCO EUROPEU

sub tronco

Alpino

Saanen

Saanen

Branca Alemã

Alpina

Parda Alpina

Chamoiseé

Alpina Francesa

Toggenburg sub tronco

Pirineu

Murciana

La Mancha

Grahadiana

TRONCO AFRICANO

Anglo Nubiana

Jamnapari

Bhuj

TRONCO ASIÁTICO

Angorá

Cashemere

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As cabras, em sua forma doméstica, teriam chegado à África através do Oriente

Médio. Difundiram-se pelo leste e noroeste africano, enquanto uma parte teria ficado

restrita à Ásia e ao Sudão (EPSTEIN; MASON, 1971). Elas se espalharam na Anatólia

e Europa a partir do ano de 8.800 a.C. Segundo Pereira e Amorim (2010) houve

migrações secundárias no sul da Europa quando fenícios e gregos estabeleceram suas

importantes colônias comerciais no Mediterrâneo e durante os períodos romano e

muçulmano. As evidências arqueológicas mostram que o homem, através da agricultura,

colonizou a Europa por duas vias principais: a rota do Mediterrâneo e a do Danúbio.

As raças espanholas atuais tiveram a influência da raça Savana e o tipo Bezoar

que é amplamente difundido entre as etnias espanholas. Estando o caprino europeu com

dois tipos de tronco, o Alpino e Pirenaico. Os animais foram introduzidos em Portugal

pelos vizinhos espanhóis como no caso da raça Serpentina, antigamente chamada de

Espanhola ou Castelhana e também conhecida por Raiana como cita Ariano Suassuna

(CORREIA, 2004).

No final do século XV, o comércio do Velho Mundo teve um grande

desenvolvimento ao explorar rotas oceânicas para o sudoeste da Ásia, expandindo com

isso o comércio entre o leste e oeste. Depois do conhecimento do sudeste asiático, veio

em seguida o sudoeste africano, em 1448 (VARGAS, 1995).

A chegada dos portugueses à ilha de Cabo Verde em 1462 é iniciada pelo

povoamento com humanos, animais e plantas (CARVALHO; SÁ, 2007). Os primeiros

caprinos cabo-verdianos foram oriundos de Portugal, mas é possível que a cabra

Saheliana tenha também entrado na constituição da cabra destas ilhas (MACHADO et

al., 1998). As explorações guiaram ao descobrimento da América em 1492, o Novo

Mundo. As espécies domésticas foram distribuídas e introduzidas do Velho Mundo para

o Novo Mundo (LOPES, 1976).

Durante o século XVI, as primeiras introduções de animais afetaram

particularmente, as Grandes Antilhas, as primeiras terras descobertas por Cristóvão

Colombo, que constituíram as principais fontes da repopulação animal nas áreas que

incluem o Haiti, Santo Domingo, Cuba, Porto Rico e Jamaica (MARCHECO et al.,

2009).

Essa dispersão por todo o mundo ocorreu em consequência das viagens

migratórias dos vários povos, da ação mercantil, dos conquistadores, muito frequentes

na historia da humanidade. A formação das raças caprinas no Brasil não poderia ser

diferente do mecanismo que levou à formação das demais raças de cabras no mundo.

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Os portugueses transportaram animais para o Brasil após a sua descoberta, em

1500 por Pedro Álvares Cabral (PRIMO, 2004). Os primeiros caprinos chegaram ao

Brasil, juntamente com outros animais domésticos, apenas em 1534. Na época do

descobrimento, não houve registros da presença desses animais nos documentos.

Entretanto, alguns fatos justificam a presença do caprino desde a chegada dos

portugueses. Um deles é que a família Cabral era admiradora das cabras (Figura 3), e o

nome da família Cabral também é sobrenome português toponímico, referindo-se a um

“lugar onde há ou pastam cabras”. O registro mais antigo conhecido deste nome é o de

Aires Cabral, no tempo do rei D. Diniz, época dos primeiros reis de Portugal, que

ocupou os Cabrais, os lugares mais honrados (ALMEIDA, 2010).

Figura 4.

Outro fato é que a presença da espécie caprina está registrada no início da

exploração mineira no Brasil, por volta de 1515 – 1540, quando os índios, escravos dos

colonizadores utilizavam a pele de cabrito com pelos para reter pedras de ouro ou prata

nas saídas de água (SIMONSEN, 1937). A presença dos caprinos foi, primeiramente,

relatada por Cardim, em 1583 (MACHADO; CHAKIR; LAUVERGNE, 2000), e sabe-

se que estes animais vieram de Portugal e da Ilha de Cabo Verde (DANTAS SILVA,

1995), uma vez que os barcos procedentes da Europa eram também abastecidos nesta

ilha. Estas ilhas podem ter recebido, também, animais da costa Senegalesa. Lima e

Loures (2010) ressaltam que as raças europeias que vieram junto com os colonizadores,

Fonte: www.projetobrasilurgente.com.br

O brasão da família Cabral, com a representação de cabras (animais

valentes e leais, comuns na região das Beiras, Portugal) indica que a

Família Cabral era influente na Corte Portuguesa.

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provavelmente, também sofreram influências de raças africanas, trazidas pelos navios

negreiros. Em 1630, veio do Paraguai para São Paulo um grande número de caprinos,

desta vez, de linhagem espanhola (MACHADO, 2001). Outras rotas foram, igualmente,

importantes para a introdução de animais na América (CAPOTE et al., 2004). Pimenta

Filho (1993) cita a contribuição das raças Charnequeira, Murciana e Maltesa na

formação dos tipos nativos brasileiros, trazidos pelos portugueses.

As raças padronizadas modernas começaram a serem introduzidas depois do

século XIX. Até o ano de 1910 não se sabe ao certo quais foram às raças que chegaram

ao Brasil, mas a partir de 1925 e até 1937, chegaram 387 animais das raças Toggenburg,

vindos da Suíça; Murciana, vindas da Espanha nos anos de 1925, 1927, e 1934 a

Angorá e a Nubiana, nos anos de 1927, 1929, 1935, 1936 e 1937, vindas da África do

Sul tendo a Nubiana o maior número de animais dentre as demais raças (RIBEIRO et

al., 2004) e as vindas dos Estados Unidos a partir de 1994.

Segundo Pinheiro Junior (1973), as primeiras importações de caprinos da raça

Bhuj foram feitas por criadores de Pernambuco, cujos animais, provenientes da Índia,

foram levados para o território de Fernando de Noronha, porém, não é conhecida a data

exata de entrada. O caprino Bhuj foi registrado no Ceará no ano de 1958, com animais

vindos de Pernambuco e oriundos de Fernando de Noronha (ARAÚJO, 1979).

Em 1975, o segundo Plano Nacional de Desenvolvimento proibiu a importação

de queijo de leite de cabra, entre outros produtos, o que permitiu o desenvolvimento de

uma criação de caprinos leiteiros com a importação das raças Anglo-Nubiana, Alpina,

Saanen e Toggenbourg (MACHADO, 1984). Outras raças como Angorá, Alpina,

Jamnapari, Murciana, Boer, Bhuj, Manbrina, entre outras, foram introduzidas ao longo

dos anos no rebanho nacional. A importação da raça Boer e Anglo-Nubiana foram

realizadas oficialmente em 1994. Esses animais ficaram em quarentena na estação

experimental de Tacima na Paraíba (EMEPA). Na introdução da raça Boer foi realizada

através de varias formas, como: sêmen, embriões e animais vivos provenientes da

Alemanha, França, África do Sul e dos Estados Unidos e, ainda, da importação de

Savana pela Empresa Estadual de Pesquisa Agropecuária (EMEPA) (PIRES, 2011). Em

1986, o criador Ronaldo Carneiro da Rocha importou, da Suíça, um pequeno lote de

animais tidos como Grisona que ficou no Rio de Janeiro, tendo depois um reprodutor da

raça seguido para um rebanho na Bahia (Asccorper). Em 1988 chegaram as primeiras

Alpinas Britânicas ao Brasil (O Berro, 1988). Foram importados 11 fêmeas e 5 machos

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da raça Alpina Britânica pelo patrocínio de Paulo Roberto de Miranda Leite, da EMEPA

(PB), do cônsul inglês e a Associação dos Criadores na Inglaterra.

A importação de raças exóticas, selecionadas em regiões de clima temperado, no

início do século XX, levou a uma drástica substituição das raças nativas (EGITO;

MARIANTE; ALBUQUERQUE, 2002). Como não houve trabalho paralelo de

conservação e melhoramento genético dos caprinos locais, a maioria das ações com

intuito de produzir animais produtivos e adaptados falhou. Pinheiro Junior (1947), já

relatava que as tentativas de melhorar os rebanhos caprinos com estas importações não

alcançaram o resultado esperado, um exemplo ocorreu em Pernambuco, onde alguns

animais só se reproduziam na Zona da Mata e Agreste, não conseguindo se reproduzir

no Sertão. Como a utilização de raças exóticas enfrentou dificuldades por razões de

adaptabilidade procedeu-se ao cruzamento destas com raças locais, com consequente

descaracterização racial das cabras brasileiras.

Isso tem provocado várias ameaças à diversidade genética de nossas raças

caprinas, a mais significativa talvez seja a marginalização de sistemas tradicionais de

produção e das raças locais, motivada, sobretudo pela pecuária intensiva, utilizando-se

um reduzido número de raças de alto rendimento, o que tende a estreitar a diversidade

genética entre e dentro de raças. O exemplo desse fato é a raça caprina mais difundida

no mundo, a Saanen que é encontrada em pelo menos 81 países (FAO, 2010).

Atualmente, a região Semiárida Brasileira possui o maior rebanho de cabras do

Brasil. Este fica quase todo concentrado nas mãos de pequenos criadores e composto de

animais, na sua maioria, sem padrão racial definido, resultantes dos cruzamentos entre

diferentes caprinos trazidos para o país (ARAÚJO et al., 2006), mas as semelhanças

entre estes animais e os caprinos da Península Ibérica são ainda notórias (Figura 4).

Egito et al. (2002) faz referência às semelhanças fenotípicas da raça Moxotó com a raça

portuguesa Serpentina. Com base nessas semelhanças foi realizado um estudo genético

molecular realizado por Oliveira et al. (2010), observaram que a raça Moxotó apesar da

semelhança fenotípica com a raça Serpentina de Portugal os estudos genéticos indicam

que são raças distintas. Isso valoriza a raça como patrimônio do Brasil.

.

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Figura 5. Caprinos ibéricos (lado esquerdo) e brasileiros (lado direito).

Vários escritores relatam a presença do caprino ao longo das décadas,

principalmente na região do Nordeste Brasileiro. Segundo Monteiro (2004), na década

de 20 e 30 havia a presença do caprino na paisagem em meio ao cangaço, retratando sua

importância social e econômica. Domingues (1955) relata que na década de 50 eram

encontrados mestiços das raças exóticas e locais, entretanto, a predominância

remanescente era de ecótipos nativos no sertão, além de formas étnicas distintas,

capazes de servirem a um trabalho de seleção. Nesta época, ocorreu a primeira tentativa

de conservar as raças locais no Nordeste e, dentre os caprinos estavam os da raça

Moxotó e os tipos Marota e Repartida, que eram os mais comuns na época

(DOMINGUES et al., 1954). Nem sempre os relatos sobre os caprinos eram positivos.

Desde a sua introdução no século XVI, eram desprestigiados e, genericamente eram

Raça Serrana

Raça Serpentina

Raça Alpina Britânica

Raça Azul

Raça Moxotó

Raça Canindé

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chamados de “miunças”, termo relacionado ao pequeno porte e a sua menor importância

econômica. Nobre, Amaral e Pinheiro (2007) descrevem que a atividade da caprino-

ovinocultura era vista como uma prática denominada de “teimosia de pobre”, tida como

uma atividade sem futuro e sem importância econômica.

Nos domínios da grande lavoura, cabras, assim como outros animais domésticos

de pequeno porte, chegam a ser considerados como “criaturas inúteis”. Mais que isso,

os caprinos eram vistos como inimigos da cana e deveriam ser evitados como forma de

se prevenir contra danos às lavouras, já que bastava que começasse o brotamento no

campo trabalhado que lá iam elas investirem contra as plantas, alimentando-se

(FREYRE, 1973).

Este desprestígio da caprinocultura é, também, descrito em outros países.

Pomponet (2009) relata o que aconteceu na Espanha, em 1826, quando se determinou

uma “matança geral de cabras”, sob a alegação de que o animal poderia causar danos às

florestas, o que, posteriormente, se concluiu não ter fundamento. Na Itália uma das mais

significativas disposições, a da República de Veneza de 1972, na qual, proibia as cabras,

sob a pena de matança imediata dos animais (GAUTIERI, 1816). Já nos Estados

Unidos, os caprinocultores eram ridicularizados. Dizia-se que o animal era predador e

malcheiroso. Somente entre os franceses existe algum reconhecimento, já que é definida

como “vaca democrática”, por ser uma cria acessível a, praticamente, todos os

camponeses, inclusive aos mais pobres (CASTRO, 1984).

Mais recentemente, os caprinos passaram a ser vistos de outra forma devido ao

reconhecimento da adaptação à região Semiárida, a capacidade produtiva, e reprodutiva

adequada à área a qual foram moldados, além de ser uma atividade transformadora do

quadro social. Atualmente, estão distribuídos em rebanhos particulares e públicos,

sendo em maior número as raças Moxotó e Canindé (RIBEIRO et al., 2004).

Caprinos do Brasil

O Brasil possui um efetivo de 9.312.784 cabeças de caprinos, dos quais

8.458.578 estão na região Nordeste (IBGE, 2010). Quando comparamos com o ano de

2007 o efetivo caprino foi reduzido em 137.528 no rebanho nacional. Os maiores

estados produtores são Bahia, Pernambuco, Piauí e Ceará, com uma participação no

efetivo nacional de 75,1% revelando o potencial que a região possui para o

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desenvolvimento de políticas associadas à organização do setor de recursos genéticos

locais, dados baseados no IBGE (2010).

A maioria dos caprinos é criado em sistema extensivo, quase sempre nas terras

mais pobres da propriedade rural. Assim, fixam as populações rurais no campo e são

considerados de múltipla função (GONÇALVES JÚNIOR, 2012).

A caprinocultura vem aumentando sua participação no agronegócio brasileiro e a

tendência é de que se mantenham em expansão. Vários fatores nos cenários nacional e

internacional mostram essa vertente. A mudança de atitude da população abastecida no

que se refere à alimentação é um exemplo. Como a carne caprina é uma das mais

magras, superando, inclusive, a de frango, tem conquistado mais adeptos. As estratégias

de conquistas de novos mercados, também, podem impulsionar o consumo mundial

desse tipo de carne (MAPA, 2012).

O leite de cabra não é diferente em suas qualidades e é classificado como

alimento funcional, pois além de ser ótimo alimento, participar da manutenção da saúde,

reduzir doenças crônicas também tem efeitos benéficos nas funções fisiológicas

(OSMARI, 2006). Além de ser conhecida a sua alta digestibilidade, é utilizado por

indivíduos com problemas alérgicos ao leite de vaca (OSMARI, 2006).

Outro produto importante fornecido pela espécie caprina é a pele, que desde o

princípio da domesticação revelam sua importância econômica na sociedade. A pele era

utilizada para a escrita religiosa, os manuscritos e também foi usado pelos militares

romanos para a construção de escudos de batalha e sandálias. Os cristãos, judeus e

muçulmanos a utilizavam para tendas, cortinas, ofertas de presentes e sacrifícios

(LUIKART et al., 2006). Hoje, considerada muitas vezes um subproduto ou um produto

secundário da carne, segundo Rey et al. (2007), a pele pode contribuir com cerca de 8%

do valor da carcaça na venda animal. Segundo Barros (1987), numa avaliação das raças

nativas caprinas brasileiras, já classificou estas como, preferentemente, produtoras de

pele.

As diversas possibilidades dos produtos de origem caprina, bem como as raças

permitem o desenvolvimento de regiões, em especial a semiárida, a forma de garantir a

sobrevivência dessas é torná-las competitivas. Para que esse sistema se mantenha

produtivo e rentável é necessário conhecer as potencialidades das raças para pode-se

explorar de forma eficiente os seus produtos, agregando valor ao sistema de produção

natural. Assim, a produção de animais locais seria uma alternativa economicamente

interessante, a partir do momento que for conseguida a valorização com produtos

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certificados, como a que acontece com os produtos da península Ibérica (ALMEIDA;

MORAIS, 2001).

O Brasil tem uma grande diversidade de Recursos Genéticos Animais (RGAn),

representada por onze raças locais da espécie caprina, distribuída num vasto espaço

territorial, resultado da enorme variedade de condições ambientais e nichos ecológicos

específicos.

A grande variedade de raças existentes no Brasil é fruto da interação positiva

entre os criadores e o meio ambiente. Desde o início da agropecuária no país, os

produtores buscaram um sistema de criação onde a melhor progênie fosse escolhida

com intuito de aumentar a produção. Mas nem sempre esta escolha foi a melhor para se

alcançar os objetivos de uma produção sustentável no seu sentido amplo (EGITO;

MARIANTE; ALBUQUERQUE, 2002).

As raças caprinas criadas no Brasil podem ser classificadas de duas formas, de

acordo com sua origem: locais ou exóticas. O termo “local” será usado quando a raça

foi desenvolvida na região, possuindo combinações genéticas que lhe confere adaptação

ao ambiente onde se formaram. Essa adaptação a certos ambientes e adversidades

quando comparadas a outras raças é retrata em alguns estudos (MARIANTE; EGITO;

ALBUQUERQUE, 1999; RIBEIRO et al., 2004). Apesar de apresentarem níveis

produtivos mais reduzidos, constituem, muitas vezes, um recurso socioeconômico que

permite manter as populações rurais em regiões mais desfavorecidas (GAMA et al.,

2004), particularmente, orientado pela sua adaptabilidade, para o aproveitamento dos

recursos agrosilvopastoris existentes. O termo “exótico”, por conseguinte, é utilizado

para denominar as raças comerciais que foram importadas a partir do século XX.

Entre os caprinos são, oficialmente, reconhecidas apenas duas raças (Canindé e

Moxotó), enquanto as demais raças locais ainda não homologadas (Marota, Azul,

Gurgueia, Repartida, Graúna, Meridional, Nambi, Crespa e Biritinga). O

reconhecimento oficial de um grupo genético como raça é um elemento importante para

a conservação da referida raça.

A maioria das raças locais tem seus números efetivos muitos reduzidos,

apresentam consanguinidade devido ao fato de não haver renovação periódica dos

reprodutores, aumentando esta taxa a cada geração.

Os rebanhos de caprinos locais, em sua maior parte, são populações fechadas e

encontram-se ameaçados de extinção. Para identificação das raças ou populações em

perigo de extinção, podem-se listar cinco argumentos da conservação: manutenção de

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populações reservas; manutenção de variabilidade genética para a produção animal;

aumentar o conhecimento sob todos os aspectos da biologia animal e a manutenção de

raças; variedades e rebanhos, por razões históricas, culturais e educacionais (SILVA,

RIBEIRO; LIMA, 2010).

As Raças Caprinas estudadas

Raça Canindé

Origem: Zona de Canindé nos estados de Piauí e Ceará (Rio Canindé). A cabra

Canindé é também conhecida como Calindé.

Características raciais

Pelagem: castanho escura a preta por todo o corpo, exceto no ventre; o períneo

tem pelos curtos e finos. Variedade da Canindé vermelha, avermelhada ou castanha.

Altura: machos: 60 cm e fêmeas 50 cm (média).

Características zootécnicas: apresenta certa aptidão leiteira acima da media das

cabras nacionais, boa produção de carne, pele e esterco.

Pele: excelente qualidade

Peso: machos: acima de 40 e fêmeas: 25-30 Kg.

Obteve o Livro de Registro e foi reconhecida como raça apenas em 1999.

Histórico – Filogeneticamente, a cabra Canindé (ou Calindé) tem sua origem no

grupamento ilustrado pela Grisone Negra, da Suíça, de onde derivaram a "British

Alpine" e a "Poitevine". Segregada no Nordeste brasileiro desde o período colonial,

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conforme bem o determina seu próprio nome, logrou consolidar um tipo específico no

Semiárido (BOLETIM PECUÁRIO).

Etimologicamente, a denominação "Calindé" deriva do nome da tanga branca, de

algodão rústico, usada pelos escravos africanos, a qual recebia o nome de "Calindé". O

negro escravo vestia sua "Calindé" da mesma maneira que essa cabra também vestia sua

"Calindé", ou seja, ambos ostentavam a parte baixa do corpo em coloração branca,

mantendo-se o restante negro. A cabra "Calindé", portanto, era a cabra do escravo

alforriado por Fauna brasileira (2008).

Alguns historiadores acreditam que as cabras recebiam o nome "Canindé"

devido a região do rio Canindé, no Piauí, ou mesmo devido á "faca afiada" que o

sertanejo piauiense sempre utilizou na cinta (O Berro, 1988). De fato, naquela região

foram encontrados alguns poucos animais negros de barriga vermelha. Não foram

encontrados, todavia, registros de rebanho ou de proprietários de cabras de barriga

vermelha ou branca, que justificassem a adoção do nome "Canindé" de forma ampla.

Quanto a significação de 'Canindé" como "peixeira" ou "faca afiada" é desprezível,

dado o desvelo do sertanejo para com suas cabras (AGROCAVE).

Foi descrita pela primeira vez em 1915 por Ingleses no estado do Piauí

(CASTRO, 1984). Um dos primeiros trabalhos na raça Canindé ou "Calindé" foi o de

João Batista de Andrade (Joãozito Andrade), da Fazenda Trindade, em Jeremoabo (BA),

na década de 1970. O método utilizado foi por meio de consanguinidade e pelo uso

intensivo de homólogas européias, seguindo a linha já utilizada por Manuel Dantas

Vilar Filho, da Fazenda Carnaúba (Taperoá, PB) para regenerar as cabras pardas e

brancas sertanejas (BOLETIM PECUÁRIO).

Atualmente, o Canindé é um caprino encontrado nos estados do Piauí, Bahia,

Pernambuco, Rio Grande do Norte, Ceará e Paraíba.

Os animais da raça Canindé são, em geral, explorados para dupla função carne –

leite. O regime de exploração predominante é o extensivo, caracterizado por longos

períodos de carência alimentar. No entanto, alguns criadores interessados no aumento

da produção, procedem à suplementação dos animais, utilizando normalmente feno e

palha.

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Raça Moxotó

Origem: Vale do Moxotó no município de Ibimirim em PE. A cabra Moxotó é

também chamada de “Lombo Preto”.

Características raciais:

Pelagem: cor baia e suas tonalidades, até o lavado; linha dorso lombar com faixa

preta (terço médio pescoço à cauda). Pelos pretos na região do ventre, nas faces internas

dos membros, região perineal, úbere e canela. Linhas pretas nas faces laterais da

maxilar, presença de óculos, e linhas que saem da inserção dos chifres indo à nuca.

Altura: machos: 71 cm e fêmeas: 62 cm.

Cabeça: perfil reto, chanfro seco e com bordas retilíneas quando visto

frontalmente.

Presença ou não de brincos. Mocho desclassifica.

Características zootécnicas:

Produção de leite baixa (0,3-0,4 Kg/dia)

Peso: machos: acima de 36 Kg e fêmeas: 30-34 Kg.

Partos duplos em 40% dos casos.

Pele preta e fina além da produção de esterco.

A raça Moxotó é a mais antiga oficialmente reconhecida desde 1977.

Histórico – Provavelmente originou-se da Charnequeira e Serpentina ambas

Alentejanas, sendo a primeira um ecótipo e a segunda considerada uma raça (Menezes,

2005). Alguns autores afirmam ser oriunda de cruzamentos de Alpina Francesa e cabras

brancas nativas descentes da época da colonização.

A origem do nome Moxotó vem do Vale do Rio Moxotó em Ibimirim no Estado

de Pernambuco, foi Renato Faria quem descreveu a raça em 1937, identificando-a com

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este nome. Hoje é encontrada nos estados de Piauí, Ceará, Bahia, Pernambuco, Paraíba

e Rio Grande do Norte. No início das décadas de 30 e 40 eram encontrados da ilha de

Marajó, do Pará a Pernambuco (DOMINGUES, 1942).

Explorados de forma extensiva, devido a sua grande rusticidade estes efetivos

realizam o pastoreio na caatinga, através da região mais agreste, periodicamente, são

recolhidos e presos em currais, quando isto não ocorre abrigam-se em rochedos perto

das povoações. Barros et al (2011) relata um sistema de uso comum de recursos, com

animais soltos na caatinga, não representando problema para o manejo da raça Moxotó e

tem sido pratica normal ao longo de anos no centro de origem.

Raça Marota

Origem: vale do São Francisco entre os sertões da Bahia e Pernambuco.

Características raciais:

Pelagem: pelos curtos e brancos, pele clara e alguma pigmentação na cauda e

face interna das orelhas.

Altura: acima de 50 cm.

Cabeça: ligeiramente grande e vigorosa. Chifres desenvolvidos e divergentes

desde a base, para cima, para trás e para fora. Orelhas pequenas e com pontas

arredondadas.

Características zootécnicas:

Peso: acima de 35 Kg

Pele: macia e flexível.

A raça Marota, também denominada Curaçá, é descendente dos tipos raciais

trazidos pelos colonizadores, como todas as demais raças nativas de caprinos aqui

existentes, apesar de não se ter ainda estudos que comprovem essa origem (BARROS et

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al., 2011). Por falta de um conhecimento mais profundo sobre sua importância

zootécnica e até mesmo histórico-cultural, essa raça está desde muitos anos seriamente

ameaçada de extinção (DOMINGUES, 1955; ARAÚJO, 1979).

Esta raça encontra-se o último rebanho no núcleo de Conservação da Embrapa

Meio-Norte, na cidade de Castelo no Piauí-PI. O rebanho foi formado no ano de 1982

através da iniciativa dos conservacionistas Luís Pinto Medeiros e José Herculano de

Carvalho, pesquisadores da Embrapa Meio-Norte que por mais de vinte anos tentam

manter a integridade do rebanho (ALMEIDA, 2007).

Raça Azul

Origem: Na África e Portugal, encontrada na região do Cariri Paraibano.

Características raciais

Pelagem: A pelagem é azulada, ou cinza-azulada, podendo apresentar as

extremidades bastante escuras. Algumas apresentam o debrum (contorno fortificado) da

orelha também escuro. A grande maioria apresenta uma "estrela" clara na testa.

Altura: acima de 50 cm.

Cabeça: vigorosa com chanfro seco. Chifres desenvolvidos e divergentes desde a

base, para cima, para trás e para fora. Orelhas pequenas e com pontas arredondadas.

Características zootécnicas:

Peso: acima de 35 Kg

Aptidão: leite

Pele: macia e flexível. A pele é escura, as mucosas nasal e perineal são negras ou

em tom cinza-escuro.

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A Cabra Azul brasileira apresenta o pelo mais azul do mundo. Encontrada em

pequena quantidade na Paraíba, Rio Grande do Norte, Pernambuco e Piauí.

Os sertanejos têm grande apreço pelas cabras azuis, sendo muitas de boa aptidão

leiteira, recebendo muitos nomes: azulega, zulanha, cabra-da-serra, azulona, azula e etc.

É conhecida pela sua rusticidade e docilidade, muitos sertanejos pela tradição penduram

chocalhos nelas por serem excelentes guias de rebanhos. Em alguns países como nos

Estados Unidos, as cabras azuis são criadas como bicho de estimação (pets), no Brasil

esta cresceu na Caatinga sendo de produção com grande possibilidade de progredir na

região de catingueira (O BERRO, 2001).

Raça Saanen

Origem: Vale Saanen na Suíça.

É, a raça leiteira mais famosa do mundo. Tem contribuído para a formação e/ou

melhoramento de muitas outras raças caprinas leiteiras. É muito apreciada na Europa,

Estados Unidos e outros países.

Características raciais:

Pelagem: Animais com pelos curtos, brancos a creme, predominantemente lisos

e bem implantados.

Altura: machos: 80-90 cm e fêmeas: 70 a 83 cm

Corpo: animais longilíneos, descarnados e angulosos. Ventre profundo, dorso

reto e lombo bem desenvolvido, com garupa ampla, membros delicados, mas fortes.

Cabeça: leve, perfil retilíneo a côncavo, orelhas pequenas a médias e eretas,

presença de brincos.

Características Zootécnicas:

Produção de leite: 520 a 920 Kg/lactação (250 a 302 dias)

Peso: machos: 70-90 Kg e fêmeas: 45-60 Kg

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Os animais são de aptidão leiteira e altamente produtivas, explorados de forma

intensiva a semi-intensiva no Brasil. É uma das raças leiteiras mais usadas em

cruzamentos com o intuito de aumento de produção, principalmente no Sul e Sudeste do

país. Comercializada para inúmeros países por todo o mundo, no âmbito de programas

de melhoramento, sendo uma das raças mais difundidas a nível mundial (LUIKART et

al., 1999). É considerada uma raça cosmopolita.

Raça Alpina Britânica

Origem: A raça foi desenvolvida na Grã Bretanha no início de 1900 a partir de

uma importação de caprinos alpinos tipo "Black Swiss" da Suíça, feita pela Inglaterra e

utilizada em cruzamentos absorventes em cabras locais, iniciado em 1911.

Características raciais:

Pelagem: pelos curtos e finos, na grande maioria do corpo mas, às vezes,

compridos no dorso e flancos, de cor preta; porém branca no ventre, parte interior dos

membros e inferior da cauda, além de duas faixas brancas de cada lado do chanfro.

Altura: machos: 85-1, 10 cm e fêmeas: 75 a 90 cm

Corpo: animais longilíneos, descarnados e angulosos.

Cabeça: com perfil retilíneo, fronte larga, orelhas levantadas de tamanho médio.

Características Zootécnicas:

Produção de leite: 515 a 634 Kg/lactação (280 a 305 dias)

Peso: machos: 70-100 Kg e fêmeas: 55-70 Kg

A Alpina Britânica especializada para a produção de leite chegou ao Brasil na

década de 90 e conta com poucos criadores. Esta raça é principalmente utilizada na

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“regeneração leiteira” para cabras do tipo Caimbé. Explorada de forma intensiva e semi-

intensiva (BERRO).

Registro Genealógico de Caprinos e Associações

A Lei Federal de nº. 4.716 de 29 de junho de 1965 foi complementada pelo

Decreto nº. 58.984 de 3 de agosto de 1966 que regulamenta a execução dos Serviços de

Registro Genealógico no Brasil. O Serviço de Registro Genealógico das Raças Caprinas

– SRGC possui contrato de delegação com o Ministério da Agricultura da Pesca e do

Abastecimento, desde 1975, e é mantido pela Associação Brasileira de Criadores de

Caprinos – ABCC.

O Registro Genealógico comprova tanto a ascendência quanto a descendência

dos animais, além de sua idade, criatório de origem e, indiretamente, seu desempenho

reprodutivo. Deste modo, a identificação individual se torna a melhor forma de registrar

toda a informação praticada e útil para uma boa gestão da exploração (RIBEIRO, 1997).

“O registro genealógico, juntamente, com o padrão racial é

importante para o desenvolvimento organizado da produção dos

caprinos domésticos, além de agregar valor comercial aos

animais. Evidencia-se que, muitas vezes, o negócio vinculado a

esses parâmetros têm-se mostrado muito lucrativo apesar de

representar, apenas, uma pequena fatia do mercado, superando

mesmo a própria renda obtida com os produtos primários

oriundos da exploração dos animais como fontes de leite, de carne

e peles ou lã. Daí cria-se um contraste entre a importância do

registro genealógico e as potencialidades produtivas, real e

potencial, das raças ou tipos raciais quando explorados

racionalmente. Ainda, muitas vezes, surgem impasses entre os

que trabalham na direção de maximizar a produção e aqueles que

representam as Associações de Criadores e, às vezes, uma minoria

de filiados, ditos selecionadores. Ressalta-se que estes, na maioria

das vezes, consideram o controle ou o registro genealógico

definitivo como elemento único para proceder à seleção dos

indivíduos em detrimento de componentes produtivos, como o

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desenvolvimento ponderal, a precocidade sexual, o perímetro

escrotal, a taxa de ovulação à puberdade, o desempenho em prova

de ganho de peso, a habilidade materna, a produção total de leite,

a qualidade do leite, dentre outros. Sem dúvida, esta conduta

prejudica o desenvolvimento e a sustentabilidade da

caprinocultura no sentido de que ela ocupe o seu real papel no

agronegócio brasileiro e, possivelmente, mundial” (ARAÚJO;

SIMPLÍCIO, 2002).

O número de animais registrados no registro genealógico definitivo das raças

Canindé e Moxotó é muito reduzido, não passando de algumas centenas. Em um estudo

preliminar, Silva et al. (2010) expõem o pequeno número de animais registrados das

duas raças nacionais ao longo dos anos e o baixo efetivo de 378 e 475 animais das raças

Canindé e Moxotó, respectivamente. Estes valores apontam o risco a que estas raças

estão submetidas.

As raças locais, tais como Marota, Repartida, Gurgueia e outras, serão

enquadradas para fins de registro somente quando forem oficializadas como raça. Se

partirmos do conceito de que raça é um grupo genético distinto, com semelhanças

hereditárias, já se justifica enquadrá-las como raça e promover iniciativas de estabelecer

o registro genealógico desses caprinos locais, porque zootecnicamente são raças

(ARAÚJO; SIMPLÍCIO, 2002). O que falta é a homologação para que as mesmas sejam

reconhecidas oficialmente.

É através de associações que os criadores de uma mesma raça conseguem ficar

ativo, isso tradicionalmente. Quando há associações de raça os grupos de criadores que

façam parte desta, devem buscar aprimorar suas ações, incentivando a criação seletiva e

promovendo a raça, pois os esforços deste grupo serão de manter a raça pura e

conservar a variação existente (FAO, 2001).

As associações, para se manterem ativas, são dependentes das contribuições dos

membros, o que acontece muitas vezes na prática é que uma raça rara, com um ou

poucos criadores, não oferece suporte para continuar. Nesta situação, organizações em

rede podem ser muito eficazes na prestação de assistência aos membros (HENSON,

1984).

As organizações e associações de criadores de raças autóctones são poucas e

muitas vezes inexistentes, especialmente, no setor familiar. As poucas associações

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existentes não estão a participar, plenamente, no desenvolvimento e promoção de RGAn

locais por causa da falta de incentivos (nicho de mercado, rotulagem, certificação para o

uso sustentável dos RGAn locais (TAWONEZVI, 1999).

Pesquisa e desenvolvimento dos RGAn locais são necessárias para melhorar a

compreensão de seu valor, bem como promover a sua utilização. Também falta apoio

institucional para as comunidades envolvidas nas RGAn, em termos de orientação de

mercado e serviços técnicos (FAO, 2010).

Desde 1997, os agricultores em Botswana se organizam em uma associação de

pequenos produtores de ruminantes, especificamente, para apoiar e implementar

programas de conservação da integridade genética dos ovinos e caprinos daquele

país. Esse programa pode ser estendido na seleção dentro das raças (SETSHWELO,

2001).

Aglomerar-se em associações gera um ganho na eficiência e na flexibilidade que

são raramente atingidas por pequenos criadores, se estiverem dispersos. A articulação

dos sujeitos locais como empreendedores públicos e privados, produtores de bens,

serviços e cultura poderá fortalecer tanto a sua autonomia quanto produzir um projeto

estratégico de desenvolvimento regional e de inserção cooperativa e interdependente.

Quando se tem informações sobre as várias raças a tomada de decisões políticas para a

conservação e gestão desses recursos é agilizada (GANEM, 2011).

Segundo Setshwelo (2001), em Botswana, 50% do gado são constituído de raças

locais, e dessas 75% são geridos pelos pequenos produtores. Esta mesma autora

comenta que, às vezes, por questões políticas, um mesmo recurso genético em regiões

diferentes, mesmo que próximas geograficamente, como é o caso de Botswana com a

África do Sul, gerem seus recursos genéticos de forma distinta. Em Botswana um

determinado grupo caprino é considerado como raça, enquanto este mesmo grupo ao

passar pela fronteira e estando na África do Sul já não será tido como tal.

Marcadores Moleculares

O termo marcador indica que sua função é identificar ou “etiquetar” algo

(RAMALHO, 2008) e, no caso dos marcadores genéticos são utilizados para marcar

alelos cuja expressão é de difícil identificação.

Existe DNA em duas diferentes partes das células dos mamíferos, no núcleo e na

mitocôndria, sendo denominados de nuclear e de mitocondrial, respectivamente, ambos

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constituindo o DNA total. Com base nestes, é possível estudar a ancestralidade materna

(marcadores uniparentais do DNA mitocondrial) e a paterna (marcadores uniparentais

do cromossomo Y) assim como a ancestralidade genômica (marcador biparental

autossômico) (CAVALCANTE NETO, 2010).

Os marcadores moleculares são características de DNA, herdadas

geneticamente, que servem como base para diferenciar um ou mais indivíduos. Estas

características, as marcas, são alterações na sequência de nucleotídeos na molécula de

DNA, denominada de polimorfismo, a maioria dessas alterações são estáveis e não

acarretam em mudanças fenotípicas. Segundo Dias-Salman, Giachetto e Malago (2009),

isto favorece a tolerâncias pelo indivíduo à transmissão para os descendentes e a fixação

do polimorfismo dentro de uma população, com exceção de gêmeos idênticos.

Os primeiros marcadores considerados modernos foram as isoenzimas, por volta

dos anos 50. A partir dos anos 80 houve a grande mudança na utilização dos marcadores

genéticos, passando do proteico para os de DNA. Esses novos marcadores agora

possuem um maior potencial pelo genoma já que opera no DNA, na informação

genética, livre de interferências do ambiente e herdada, trata-se do sistema mais direto.

A partir daí, descobriram uma série de métodos, seguidos cronologicamente, pelos

marcadores moleculares RFLP – Restriction Fragment Length Polymorphism Botstein

et al., (1980), RADAP – Randon Amplified Polymorphic DNA Williams et al. (1990),

microssatélite Litt e Luty, (1989), AFLP - Amplified Fragment Length Polymorphism

(VOS et al., 1995). O auge da utilização de marcadores de DNA só foi alcançado em

1985 devido à descoberta da PCR (Polimerase Chain Reaction), por Kary Mullis. A

PCR permitiu replicar regiões concretas de uma cadeia de DNA gerando um número

muito elevado de cópias do fragmento inicial. Esta técnica foi possível graças ao

descobrimento de uma polimerase termoestável, obtida a partir da bactéria Thermus

aquaticus (SAIK et al., 1985).

Dentre as variações da técnica de análise de polimorfismos no DNA, as mais

utilizadas, tanto por motivos de maior confiabilidade quanto por um menor custo, tempo

reduzido, dentre outras particularidades, estão: Single Nucleotide Polymorphism (SNP),

Single Strand Conformation Polymorphism (SSCP), Amplified Fragment Length

Polymorphism (AFLP), Random Amplified Polymorphic DNA (RAPD), Sequence-

Characterized Amplified Regions (SCAR), Restriction Fragment Length Polymorphism

DNA (RFLP), DNA Satélite, Minissatélites ou Variable Number of Tandem Repeats

(VNTR), Microssatélites ou short tandem repeats (STRs), Combinação entre SNPs e

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STRs/microssatélites (SNPSTR), Short Insterspersed Elements (SINEs) e Haploides nos

Microssatélites (HAPSR) (SEIXAS, 2011). A técnica de marcadores vem permitindo

determinar pontos de referência nos cromossomos capazes de diferenciar indivíduos.

Os marcadores podem diferir quanto ao tipo de herança, a abundância dentro do

genoma, ao nível de polimorfismo e informação genética detectada, a especificidade dos

locos, a reprodutibilidade e ao investimento técnico e financeiro. O uso desses é

primordial tanto nos estudos de conservação como nos de melhoramento genético, pois

auxiliam no conhecimento e gerenciamento da espécie (ODALIA-RÍMOLI et al., 2000).

Entre os pequenos ruminantes temos a espécie caprina que concorre para um

importante agronegócio mundial e com muitas características biológicas únicas. A

caprinocultura é um importante recurso econômico, principalmente, em muitos países

em desenvolvimento ao redor do mundo. No entanto, apesar da sua importância, o

estudo de melhoramento genético caprino tem sido dificultado pela falta de uma

referência na sequência do genoma de alta qualidade. Agora, com a recente conclusão

da sequência do genoma caprino (SHENZHEN, 2012) será facilitada a identificação de

marcadores SNP (Single Nucleotide Polymorphism) para produção assistida por

marcadores e melhorará a utilidade da cabra como um modelo biomédico.

A diversidade biológica nos caprinos locais tem sido alvo de estudos, por serem

considerados adaptados a áreas específicas bem como devido à importância social,

econômica e cultural para as populações que ocupam essas áreas. As raças locais detém

uma valiosa combinação de genes que poderão atender as necessidades da produção

animal nos diferentes cenários que surgirem (ROCHA, 2009).

A variabilidade genética é o material inicial e necessário para a seleção animal.

A partir dela é possível moldar as espécies de interesse zootécnico de acordo com

preferências e necessidades da pecuária atual, além de ser a base da evolução de todas

as espécies. Em estudos evolutivos, a frequência na qual os alelos de um gene ocorrem

em diferentes populações é usada para inferir relações de parentesco. As frequências

genotípicas e alélicas permitem estabelecer coeficiente de diversidade genética entre

populações e da estrutura genética das mesmas (MACHADO, 2003).

Apesar da informação da caracterização genética de caprinos ter aumentado nos

últimos anos, esta ainda é escassa, quando comparada com outras espécies como, por

exemplo, a bovina. Gama e Bressan (2011) comentam sobre a falta de informação de

muitas raças caprinas, tanto em termos de caracterização molecular, bem como no que

diz respeito às suas características fenotípicas, sistemas de produção, distribuição

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geográfica e socioeconômica e importância cultural. Apesar dos avanços da genética

molecular, no Brasil os trabalhos com genes expressos e polimorfismo são limitados.

A coleção de Etiquetas de sequencia expressa (ESTs) para caprinos hoje conta

com EST 14236, quando em 2007 contava com apenas 637 vista por Coutinho et al.,

(2007). Um aumento representativo, porém ainda muito baixo quando comparado com

as demais espécies domésticas, bovinos, aves e suínos. A coleção de EST obtidas para

bovinos (Bos taurus), depositada no Centro Nacional de Informações sobre

Biotecnologia (NCBI), no Banco de Dados para etiquetas de sequencia expressa

(dbEST), já totaliza mais 1.613.441 e para suínos (Sus scrofa) mais 1.672.966,

baseados nos dados do NCBI, 2013.

Os marcadores moleculares são caracteres qualitativos com herança mendeliana

simples, facilmente reconhecida e cuja expressão não é influenciada pelo meio. Os já

descritos são inserções e deleções (indels), os polimorfismo de base única (SNPS, single

nucleotide polymorphism) e as regiões repetitivas (GARCIA, 2006).

Estes marcadores abriram com maior clareza as informações sobre questões de

variabilidade, relacionamento ou discriminação de indivíduos numa população, das

diferentes relações entre populações e diferenças entre raças e espécies, combinando

fluxo gênico e atributos demográficos. O marcador molecular vem auxiliando o

rastreamento de genótipos superiores, permitindo dentro de programa de melhoramento

a seleção de indivíduos com características de interesse.

A genética vive uma fase ômica, ou era da genômica. Essa era teve início na

década de 90, com o sequenciamento dos primeiros genomas, trascriptômica (definição

de um conjunto de RNAs produzidos) e proteômica (definição do conjunto de proteínas

produzidas). A partir dessa gama de dados gerados tornou-se possível explorar o código

genético (DNA), o seu potencial de expressão gênica (RNA), os seus produtos protéicos

(polipeptídios) e as interações e mecanismos moleculares do metabolismo de cada

organismo (NUNES, 2010).

O rápido progresso na área da genética molecular tem motivado pesquisadores

de todo mundo para o uso direto de genes como forma de terapia, assim o tratamento de

problemas genéticos logo ficou evidente que as manipulações genéticas envolvendo

genes específicos e vetores de expressão direcionados para eucariotos, poderiam ser

usadas como tratamento ou na ação preventiva para varias doenças (ROSINHA, 2004).

O uso de marcadores moleculares nos estudos da espécie caprina torna-se cada

vez mais necessário, é uma ferramenta a mais a ser utilizada nos trabalhos de

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melhoramento genético, saúde animal, animais transgênicos, quanto na conservação dos

recursos genéticos.

DNA mitocondrial

O DNA mitocondrial (mtDNA) é formado por uma fita simples de DNA circular

– assemelha-se a um plasmídeo – possui menos que 20kb na maioria dos mamíferos e

está localizado no citoplasma celular, dentro da mitocôndria (organela celular

responsável pela produção de energia). O mtDNA de vertebrados não apresenta

sequências espaçadoras entre genes ou íntrons e compreende 37 genes, dos quais 13

codificam proteínas, dois codificam RNAs ribossomais (12S e 16S), 22 codificam

RNAs transportadores. Além desses genes, o mtDNA possui uma região não codificante

chamada região controle (D-loop) que é responsável pela regulação da replicação e da

transcrição de todo mtDNA (MEYER, 1993) e também conhecida como região rica em

A+T (WOSTENHOLME, 1992).

A origem do genoma mitocondrial ainda é controversa, porém, a teoria do

endossimbionte tem sido a mais aceita para a explicação da origem da mitocôndria e do

seu genoma. Essa teoria baseia-se em que uma célula eucariótica teria fagocitado uma

α-protobactéria e esta se diferenciado em mitocôndria; durante esse processo, parte do

genoma da α-protobactéria teria sido transferida para o núcleo celular e o inverso

também teria ocorrido (GRAY et al., 2001).

A origem da mitocôndria parece ter ocorrido uma única vez na história evolutiva

dos organismos; tal evidência é apoiada pelo fato de que o conteúdo gênico

mitocondrial é altamente conservado entre os mais diversos organismos. Essa

conservação de conteúdo em uma ampla gama de organismos dificilmente seria

explicada por convergência evolutiva (ARIAS et al., 2003).

Outra característica importante do genoma mitocondrial é a ordem em que os

genes estão arranjados nesse genoma. Essa ordem é muito conservada, principalmente,

em se tratando dos genes codificadores de proteínas e das subunidades ribossômicas.

Alterações na ordem desses genes maiores só são verificadas entre organismos

filogeneticamente distantes, como, por exemplo, entre insetos e mamíferos (ARIAS et

al., 2003).

No processo de fertilização do óvulo, as mitocôndrias presentes nos

espermatozoides são degradadas após a penetração no ovócito ou durante as primeiras

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clivagens embrionárias (HIRAOKA; HIRAO, 1998). Assim, apenas o mtDNA materno

vai ser herdado pelos filhos, através do citoplasma do óvulo. A mitocôndria é

transmitida intacta de geração a geração, desconsiderando-se as mutações que podem

ocorrer no mtDNA. Portanto, ao contrário do DNA nuclear, o DNA mitocondrial não

não há mistura em cada geração, então se presume para mudar uma velocidade mais

lenta, o que é útil para o estudo da evolução do organismo. Sequenciamento

mitocondrial é usado para ilustrar a diversidade genética e evolução molecular no setor

pecuário, por exemplo, nas raças caprinas.

Os ovócitos contém aproximadamente 105 a 10

8 moléculas de mtDNA; enquanto

que no espermatozoide só há de 10 a 100 moléculas; assim, por questões de

probabilidade é quase impossível com essa pequena quantidade de mtDNA por via

paterna, por isso que se atribui que este seja herdado por via materna (GROSSMAN;

SHOUBRIDGE, 1996).

Em estudos populacionais de origem e diversificação, a Região Controle do

mtDNA pode ser aplicada, pois de todos os genes mitocondriais, esta região tem a

maior taxa de substituição. As taxas de evolução da Região Controle são de duas a

cinco vezes mais altas do que em genes mitocondriais codificantes de proteína

(GREENBERG, 1983) e, portanto, sofrem mutações mais rapidamente, pois

corresponde à região mais variável deste genoma (BROWN, 1985). Na espécie caprina

a região controle é de 1213pb (SULTANA; MANNEN, 2004).

O método mais utilizado para analisar o mtDNA no estudo do polimorfismo

consiste em amplificar a região controle, por meio da técnica de PCR e sequenciar o

produto amplificado. Então, são verificadas mutações pontuais, inserções e deleções em

relação à sequência padrão, descrita por Anderson et al. (1981).

O Sequenciamento de DNA mitocondrial tem sido usado para explicar as

origens de muitas espécies de animais domésticos modernos. A existência de várias

linhagens de DNA e sua mistura dentro das raças pode ser devido a vários eventos de

domesticação ou introgressão entre espécies domésticas e selvagens. Os estudos sobre a

estrutura e função do mtDNA se destaca na área de pesquisa da evolução molecular,

classificação, análise genética da população, identificação relativa e traços loci

quantitativos.

A primeira sequência do genoma da cabra doméstica por uma abordagem

robusta integrada com sequenciamento e mapeamento de todo genoma. O genoma do

caprino (Figura 5) é o primeiro genoma de referência para os pequenos ruminantes e

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pode ajudar a avançar a compreensão das características genômicas de ruminantes

distintos de espécies não ruminantes. Este trabalho também produz uma experiência

valiosa para facilitar as montagens de novos genomas no futuro (SHENZHEN, 2012).

Figura 6.

O emprego da análise de mtDNA vem sendo, desde da década 70, utilizada em

estudos envolvendo estrutura populacional, relações filogenéticas em nível inter ou

intraespécies. Tais estudos permitem a construção de filogenias matrilineares, a partir

das quais se inferem os possíveis ancestrais, o tempo de divergência, o número de

eventos de domesticação e os locais onde estes teriam ocorrido (DOBNEY; LARSON,

2006). O mtDNA tem se mostrado um elemento bastante informativo nos estudos de

origens dos animais domésticos (MACHUGH; BRADELY, 2001).

WU et al., (2009) fazem menção de como os dados genéticos em nível molecular

pode ser uma importante ferramenta para esclarecer as ambiguidades na atual

Resumo dos conjuntos de cromossomos da Capra hircus (DONG et al.,

2012).

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classificação taxonômica que se baseia na morfologia e em dados fisiológicos, o que é

considerado insuficiente para determinar as relações entre raças. Além de relatar o

reconhecimento dos padrões históricos de variação genética entre as raças caprinas há

necessidade de preservar as relações evolutivas durante a prática de conservação dos

animais.

Apesar dos progressos da análise filogenética em diversos estudos, a origem de

diversas espécies domésticas continua mal elucidada e um bom exemplo é a espécie

caprina. Embora esta espécie desempenhe um importante papel em todo mundo, a sua

origem ainda não está bem esclarecida. Isso pode ter decorrido devido à ocorrência de

intercruzamentos, com a produção de descendência fértil, entre diferentes espécies

selvagens e entre espécies domesticadas, implicando na possibilidade de uma

ancestralidade múltipla para algumas populações domésticas.

Os primeiros estudos com mtDNA permitiram a identificação de várias

linhagens e os trabalhos realizados com a espécie caprina (JOSHI et al., 2004;

LUIKART, et al., 2001; SARDINA et al., 2006; SULTANA et al., 2003). Este

levantamento inicial vem fornecendo uma base para estudos mais detalhados regionais.

Luikart et al. (2001) realizaram um levantamento mundial da diversidade no

mtDNA da cabra doméstica e identificaram três grandes linhagens A, B e C. A

linhagem A foi a mais comum em todos os continentes, principalmente na Europa

Ocidental. As 150 cabras no estudo de Benjelloun et al., (2011), em Marrocos, se

encaixaram todas no Haplogrupo A. A linhagem B foi encontrada no subcontinente

indiano, Mongólia, Laos, Malásia, Paquistão e Sudeste da Ásia (LUIKART, et al.,

2001). Existem várias linhas de evidência que indicam que a linhagem B é originária da

região Sudoeste da China (WU et al., 2009). Já a linhagem C foi observada em algumas

amostras da Mongólia, Suíça e Eslovénia, sendo esta linhagem também identificada por

Sultana et al. (2003) nas cabras do Pasquitão.

As três linhagens A, B e C encontradas por Luikart et al. (2001) foram estimadas

ter divergido há mais de 200.000 anos. Assim, a divergência antiga e em diferentes

localizações geográficas das linhagens sugeriu a probabilidade dos acontecimentos de

domesticação terem sido múltiplos ou houve introgressão de linhagens adicionais após a

domesticação. Segundo Sardina et al. (2006) as linhagens de mitocôndrias B e C

representam expansões secundárias recentes.

A variabilidade observada dentro de populações e regiões geográficas são

consistentes com a elevada diversidade encontrada em todo o mundo na espécie caprina

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(SULTANA et al., 2003; JOSHI et al., 2004; MANNEN, 2004; CHEN et al., 2005;

PEREIRA et al., 2005; ODAHARA et al., 2006; SARDINA et al., 2006; NADERI et

al., 2007; BENJELLOUN et al., 2011). A maioria da diversidade genética ocorre dentro

de raças com uma estrutura geográfica fraca em decorrência do intenso fluxo de cabras

entre os continentes relacionados à migração humana e o comércio.

O trabalho de Sultana et al. (2003) foi o primeiro caso em que um único país se

observaram quatro haplogrupos mitocondriais de cabras domésticas ( A, B. C e D). Tal

descoberta suporta a tese de que o Paquistão seja um dos centros antigos de pastoreiro

caprino. Também Joshi et al. (2003) encontraram Haplogrupos adicionais (D e E) em

cabras indianas. Estas novas linhagens correspondem a um possível centro de

domesticação no oriente do Pasquistão, corraborando com os resultados de Sultana et al.

(2003).

Os resultados obtidos por Chen et al. (2005) apoiam as múltiplas origens

maternas dos caprinos domésticos e encontram também a linhagem D.

No estudo de cabras domésticas da Sicília, Sardina et al. (2006) observaram três

haplótipos que se agruparam com a cabra Bezoar, o qual considerou como uma nova

linhagem (F), que poderia ser fruto de introdução de cabras selvagens.

Segundo Naderi et al. (2007) estudaram numa amostra a nível mundial e

incluindo uma síntese dos estudos anteriores citados, fazendo relações dos halogrupos

mitocondriais, adicionaram um novo haplogrupo denominado de G, presente nos

animais do Oriente médio e o norte da África, na região do Crescente Fértil. Nesse

estudo a diversidade genética fica estruturada em seis haplogrupos diferentes, sendo que

mais de 90% das cabras se enquadram no haplogrupo A.

As cabras Corsas, na Ilha de Córsega, estudadas juntamente com as cabras do

seculo XII mostram que a diversidade mitocondrial tem permanecido relativamente

constante desde a Idade Média até o momento (HUGHES et al., 2012).

Embora seja extremamente informativo em estudos evolutivos, o mtDNA possui

limitações. Por se portar como um único loco (haplótipo) e ser um marcador

extranuclear com uma dinâmica própria, não é um bom indicador para inferir a respeito

da diversidade genética total (EGITO, 2007). Além disto, devido a sua herança materna

não se detecta o fluxo gênico mediado pelo macho, o qual tem fundamental importância

na evolução dos animais domésticos e na dinâmica dos rebanhos na atualidade

(BRUFORD; BRADLEY; LUIKART, 2003).

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Tipos de DNA presentes no organismo

Há dois tipos de DNA nos organismos, o DNA nuclear que é formado por

longas fitas, constituídas cada uma por dupla hélice e que codificam aproximadamente

100.000 genes e o mtDNA que representa de 1 a 2% do DNA celular, em duplo

filamento circular, codificando 37 genes. Ele codifica aproximadamente 10% das

proteínas constitutivas das mitocôndrias, sendo que para um bom funcionamento destas,

é necessária uma boa cooperação entre o DNA nuclear e o DNA mitocondrial.

O mtDNA não tem nenhuma característica exclusiva em sua composição

química que o diferencie do DNA nuclear, entretanto, possui um código genético

próprio. Ambos são marcadores moleculares, usados como teste de maternidade,

enquanto o teste de paternidade é exclusivo do DNA nuclear, já que o mtDNA tem sua

herança materna. Sendo essencialmente haploide e transmitido uniparentalmente. O

mtDNA informa sobre a contribuição materna na evolução da população em análise

(ALMEIDA, 2009). O mtDNA abriu uma nova perspectiva no estudo da genética de

populações por não existir recombinação nesse compartimento genômico. É o marcador

molecular mais utilizado em estudos de domesticação nas diferentes espécies e suas

respectivas regiões do globo.

O mtDNA pode ser amostrado de materiais biológicos como, por exemplo, o

pelo, não sendo um método invasivo; sobrevive mais tempo do que o DNA nuclear,

mantendo-se melhor em registros zoogeológicos; possui elevada variabilidade como

consequência de baixas pressões seletivas; deficientes mecanismos de reparação;

hereditariedade materna; não recombinante; haploide, não tem relações de linkage

ambíguas; diferentes zonas do mtDNA tem diferentes taxas de mutação (BEEBEE;

ROWE, 2004; PIRES, 2006). A principal vantagem do DNA mitocondrial, em

comparação com o DNA nuclear, é que ele está presente num total aproximado de 500 a

2.000 cópias por célula. Por todas estas características vem sendo muito utilizado por

ser facilmente isolado devido a sua estrutura.

Existem várias diferenças entre o DNA nuclear e o mtDNA. As principais estão

listadas no Quadro 1.

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Quadro 1- Diferenças entre o DNA Nuclear e o DNA Mitocondrial

PARÂMETRO DNA NUCLEAR DNA MITOCONDRIAL

Localização No núcleo da célula, protegido pela

membrana nuclear

Nas mitocôndrias, protegidas pela

membrana mitocondrial – influência

de radicais livres

Conformação

Dupla hélice Dupla fita circular

Mecanismo de proteção

Protegido por histonas Desprovido de histonas

N° de Genes

100.000 genes 37 genes

Funcionamento Autônomo Necessita da cooperação do DNA

nuclear

Composição Regiões codificantes (éxons) e não

codificantes (íntrons) 90% DNA codificante

Característica do genoma Genoma diploide (materno/ paterno)

– sofre recombinação

Genoma haploide (herança materna) –

não sofre recombinação

N° de pares de bases

Bilhões de pares de bases 16.569 pares de bases

Atividade da Polimerase

Grande Fraca

Sistema de reparo

Presente Ausente

Taxa de evolução

Pequena 5 a 10 x maior que a nuclear

N° de DNA por célula 1 1.000 a 10.000

Fonte: SANTOS (2005)

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

O conhecimento sobre diversidade genética intra-populacional é fundamental

para a manutenção e perpetuação das populações caprinas locais. A variabilidade da

espécie caprina é resultado da variabilidade entre inter-racial e intrarracial, ou seja, do

número total de raças e da diversidade entre indivíduos de uma mesma raça. As raças

locais muitas vezes com números reduzidos e ate mesmo desaparecendo dos criatórios

devido a sua substituição e cruzamentos com raças exóticas. A perda de uma raça,

compromete o acesso a sua combinação genética única de cada população, o que vem

ocorrendo em vários países, o que é drástico tanto para a segurança alimentar quanto

para o desenvolvimento sustentável. Portanto, espera-se que, as informações genéticas

das raças caprinas brasileiras que detém um pool genético único possam auxiliar no

desenvolvimento e acompanhamento de programas de preservação, conservação e

melhoramento animal.

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CAPÍTULO 2. ______________________________________________________________________

CATALOGAÇÃO DOS HAPLÓTIPOS DO DNA MITOCONDRIAL DE

CAPRINOS DA RAÇA CANINDÉ

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CATALOGAÇÃO DOS HAPLÓTIPOS DO DNA MITOCONDRIAL DE

CAPRINOS DA RAÇA CANINDÉ

RESUMO

Com o objetivo de catalogar os haplótipos do mtDNA dos caprinos da raça Canindé e

de caracterizar sua diversidade genética por meio desse DNA, sequenciou-se um

fragmento de 481 pb, correspondente à primeira porção da região-controle, de 178

indivíduos, provenientes de dez rebanhos (subpopulações), localizados em seis estados

do Nordeste brasileiro. Os fragmentos foram amplificados via PCR, purificados e

sequenciados. Após edição, as sequências obtidas foram alinhadas, comparadas com

cada sequência obtida e com uma sequência referência, além de estimar os índices de

divergência e de diversidade genética entre as subpopulações estudadas. Foram

encontrados 29 haplótipos na população estudada, o que resultou em 53 sítios

polimórficos, sendo 10 haplótipos comuns a todas as subpopulações e 19 exclusivos de

uma subpopulação. A população apresentou diversidade haplotípica alta (0,82) –

observando-se máxima de 0,90 e mínima de 0,56 – e nucleotídica baixa (0,014) –

observando-se máxima de 0,02 e mínima de 0,004. A partilha dos haplótipos entre as

subpopulações foi atribuída ao início da formação dos rebanhos. Todos os haplótipos

encontrados pertencem ao Haplogrupo A, que é predominante no mundo. Ao agrupar as

subpopulações em duas partes, com base em suas distribuições geográficas e sequências

de mtDNA, na SAMOVA, a maior participação da variância genética observada entre as

subpopulações foi 18,13%. A AMOVA revelou que 88,35% da variação observada na

raça são em virtude das diferenças entre indivíduos intrapopulacionais; apenas 11,35%

da variação genética são referentes às diferenças entre as subpopulações e 33,13% dos

indivíduos de diferentes subpopulações compartilharam o mesmo haplótipo. Isso,

provavelmente, é reflexo da proveniência de um mesmo pool genético original, com

baixa diversidade ou por intercâmbios anteriores de animais.

Palavras-chave: distribuição geográfica, marcador uniparental, Região

Hipervariável.

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CATALOGING MITOCHONDRIAL DNA HAPLOTYPES OF THE CAPRINE

CANINDE RACE

ABSTRACT

Aiming to catalog the mtDNA haplotypes of the goats Canindé race and characterize

their genetic diversity through this DNA, a fragment of 481 bp was sequenced,

corresponding to the first portion of the control region of 178 individuals from ten herds

(subpopulations), located in six states of the Brazilian Northeast. The fragments were

amplified by PCR, purified and sequenced. After editing, the sequences were aligned,

compared with each obtained sequence and with a reference, estimating the divergence

rates and genetic diversity among studied subpopulations. In the studied population, 29

haplotypes were found, which resulted in 53 polymorphic sites, 10 of them being

common to all subpopulations and 19 exclusive of one subpopulation. The population

showed high haplotype diversity (0.82) - observing a maximum of 0.90 and a minimum

of 0.56 - and low nucleotide diversity (0.014) - observing a maximum of 0.02 and a

minimum of 0.004. The partition of haplotypes among subpopulations was attributed to

the onset of herd formation. All haplotypes found belongs to the Haplogroup A, which

is prevalent in the world. By grouping subpopulations into two parts based on their

geographic distributions and mtDNA sequences in SAMOVA, the largest participation

of the observed variance among subpopulations was 18.13%. The AMOVA revealed

that 88.35% of the observed variation in the race is due to differences among

intrapopulational individuals, only 11.35% of the genetic variation is related to

differences among subpopulations and 33.13% of individuals of different

subpopulations shared the same haplotype. This probably reflects the provenance of the

same original gene pool, with low diversity or previous animal interchanges.

Keywords: geographical distribution, uniparental marker, hypervariable region.

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1 Informação pessoal. Estimativa de comunicação pessoal.

INTRODUÇÃO

O progresso das condições de vida e do bem-estar humano encontra-se

estreitamente dependente das espécies animais e vegetais domesticadas. A cabra foi a

primeira espécie de produção a ser domesticada, uma vez que só o cão a antecede. Isso

ocorreu há 11.000 anos, na região que, hoje, reúne Iraque, Síria, Líbano e Jordânia e,

desde então, desempenha um papel econômico, cultural e religioso em muitas

civilizações humanas (PEREIRA; AMORIM, 2010).

Com a domesticação o animal foi retirado progressivamente do seu ambiente

natural, observando-se uma descida para as planícies favoráveis à espécie humana. As

mudanças de condições ecológicas acarretaram uma adaptação das cabras a vários

meios em volta de grupos humanos, cujas preocupações variam em função destes

(MIKERNA et al., 2010). Se, via de regra, as cabras são criadas numa ótica de produção

mista (carne, leite e pele), observa-se também especialização (MAPA, 2010). Por

exemplo, a Saanen como leiteira em pasto herbáceo, o Boer para carne no semiárido

temperado e a Maradi (no Mali) para a pele no semiárido quente.

Devido a sua versatilidade e adaptabilidade, os caprinos se espalharam por todo

o mundo, seja juntamente com o homem em movimentos migratórios seja pelo

comércio (LUIKART et al., 2001). A formação das raças caprinas brasileiras seguiu o

trajeto dos colonizadores intimamente ligada a colonização do Brasil. Essa

movimentação proporcionou o desenvolvimento de vários tipos morfológicos de orelha,

de chifre, de pelo e de cor (VIGNE; PETERS; HELMER, 2005).

O Brasil tem uma grande diversidade de Recursos Genéticos Animais (RGAn),

em que se verificam a existência de onze raças locais da espécie caprina, em um vasto

território, resultado da enorme variedade de condições ambientais e nichos ecológicos

específicos. São oficialmente reconhecidas apenas duas raças (Canindé e Moxotó),

enquanto as demais raças locais não homologadas (Marota, Azul, Gurguéia, Repartida,

Graúna, Meridional, Nambi, Crespa e Biritinga). O reconhecimento oficial de um grupo

genético como raça é um elemento importante para a sua conservação.

Com origem no Nordeste do Brasil, a raça Canindé é importante nativa, presente

em diferentes sistemas produtivos, sendo utilizada para diversas finalidades (carne,

leite, pele e esterco). Atualmente, encontra-se em risco, pois o censo estima que existam

menos de 3.000 animais (informação pessoal)1. As populações remanescentes

distribuem-se em 12 explorações, por seis estados da Federação Brasileira (Bahia,

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Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Ceará e Piauí), todos no Nordeste do país,

sendo o Rio Grande do Norte o estado com maior número de rebanhos.

Poucos são os trabalhos conduzidos com a raça Canindé, com vistas à

determinação da variação genética intra e interpopulacional. Trabalhos dessa natureza

são importantes para o desenvolvimento de um programa de conservação e

melhoramento. Alguns trabalhos avaliando a diversidade genética dos animais nos

núcleos de conservação já vêm sendo realizados com tal raça (PAIVA et al., 2008;

ARAÚJO et al., 2010).

Os avanços nos estudos moleculares proporcionaram maior clareza nas

informações sobre variabilidade genética, relacionamento ou discriminação de

indivíduos numa população, das diversas relações entre populações e das diferenças

entre raças e entre espécies, combinando fluxo alélico e atributos demográficos (FAO,

2010).

Os primeiros estudos na espécie caprina com mtDNA permitiram a identificação

de várias linhagens, como o de Luikart et al. (2001) e o de Sultana et al. (2003), que

identificaram quatro e seis respectivamente. Esse levantamento inicial vem sendo base

para estudos regionais mais específicos.

A variabilidade genética observada intrapopulacional e em diferentes regiões

geográficas são consistentes com a elevada diversidade encontrada em todo o mundo na

espécie caprina (JOSHI et al., 2004; SULTANA; MANNEN, 2004; CHEN et al., 2005;

PEREIRA et al., 2005; ODAHARA et al., 2006; SARDINA et al., 2006; NADERI et

al., 2007; BENJELLOUN et al., 2011;). A maioria da diversidade genética ocorre em

raças com estrutura geográfica fraca em decorrência do intenso fluxo de cabras entre os

continentes, relacionado à migração humana e ao comércio.

Os estudos filogeográficos discriminam a história evolutiva de uma linhagem,

relacionando-a com sua distribuição geográfica, através, principalmente, das diferenças

entre sequências de DNA mitocondrial (AVISE, 2000).

Neste trabalho, objetivou-se catalogar os haplótipos do mtDNA da raça Canindé

e caracterizar sua diversidade genética por meio desse DNA, mediante análise de um

fragmento da região-controle (D-loop).

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MATERIAS E MÉTODOS

Local do Estudo

O trabalho de campo foi desenvolvido na região Nordeste do Brasil, enquanto

que o processamento das amostras biológicas foi efetuado no Laboratório de Unidade de

Vida Selvagem, no Departamento de Biologia, da Universidade de Aveiro – UA,

Portugal, com o intuito de caracterizar a nível genético as populações caprinas através

da análise de mtDNA.

Amostragem e descrição do local de colheita de material biológico para a pesquisa

As amostras utilizadas neste estudo provêm de seis estados (BA, PE, PB, RN,

CE e PI) onde se encontram os criadores e produtores de caprinos da raça Canindé

(Figura 1, Tabela 1). O número de criações varia de acordo com o estado, sendo que o

com maior número de propriedades é Rio Grande do Norte, seguido da Paraíba.

Barro Duro- PI Pedro Avelino- RN Jeremoabo- BA

Floresta- PE oBoa vista- PB Taperoá-PB

Lajes N- RN Lajes K- RN Lajes A- RN

alex

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Sobral-CE

Figura 1. Representação dos locais onde as amostradas foram coletadas.

Foram analisados dados relativos a 178 caprinos, correspondentes a 10 rebanhos

(subpopulações) da raça Canindé (Tabela 1).

Tabela1. Informação de coleta da raça Canindé.

Nº de indivíduos Origem Rebanho

(Subpopulação)

Latitude Longitude

18 Jeremoabo-BA 10º 04' 30" S 38º 28' 51" W

19 Taperoá-PB 07º 12' 27" S 36º 49' 36" W

10 Floresta-PE 08º 36' 04" S 38º 34' 07" W

18 Boa Vista-PB 07º 15' 34" S 36º 14' 24" W

15 Barro Duro-PI 05º 49' 01" S 42º 30' 47" W

18 Sobral-CE 03º 41' 10" S 40º 20' 59" W

20 Pedro Avelino-RN 05º 31' 18" S 36º 23' 17" W

60 Lajes-RN* 05º 42' 00" S 36º 14' 41" W

Total: 178

*Obs: No município de Lajes (K, N e L), estão situadas 3 propriedades, assim, devido à

proximidade nas coordenadas, para a SAMOVA, consideraram-se como única

subpopulação. www.geografos.com.br/cidade

Material biológico e extração do DNA

Para a extração de DNA, foram coletados pelos, conservados em envelopes de

papel. Foram selecionados entre 10 e 12 bulbos capilares por animal, cortados em sua

base, para proceder à extração. O DNA foi isolado utilizando-se da técnica do NaOH

(COELHO et al., 2004). Para quantificar o DNA, usou-se um espectrofotômetro

(NanoDrop®, da Thermo Scientific).

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Amplificação da região D-loop e sequenciamento

Foi obtido um fragmento de 481 pb – primeiro segmento hipervariável (HVR1)

da região controle (CR) do DNA mitocondrial – corresponde à região entre as posições

15.707 e 16.187. A reação de polimerase em cadeia (PCR), com um volume final de 25

ul, incluía 2,5 µl de um tampão buffer completo; 2,5 µl BSA; 0,5 µl de DNTPs (10

mM); 1 µl de cada iniciador (10 µM); 0,2 µl (1U) de enzima Taq DNA polimerase

(Bioron); e 2 µl de DNA genômico (50 ng/µl). A PCR foi realizada em 38 ciclos, de

acordo com Pereira et al. (2004), usando-se os iniciadores diretos

(5'CGCTCGCCTACACACAAATA-3-') e reversos

(5'GAAGAGTGGGCGATTTTAGG-3'), com as seguintes condições: desnaturação

inicial de 94 °C durante 3 min; 94 °C durante 30 s, 60 °C durante 45 s, 72 °C durante 1

min e uma extensão final de 72 °C durante 10 min, 38 ciclos.

Os produtos amplificados foram visualizados inicialmente em géis de agarose a

2% para identificar possíveis falhas (Figura 2). A eletroforese foi realizada em uma

voltagem de 120 Volts por 30 minutos. Os géis foram corados com brometo de etídeo,

analisados sob luz ultra-violeta e fotografados. Um marcador de peso molecular de peso

molecular de 100kb Plus (Invitrogen) foi utilizado para verificar se de fato houve

amplificação dos fragmentos esperados.

Figura 2 - Amplificação bem sucedida dos fragmentos de DNA, evidenciado pelas

bandas obtidas por eletroforese (o “controle” não apresenta bandas, o que

indica ausência de contaminação).

Os produtos obtidos foram purificados utilizando-se o kit “QIAquick PCR

purification Kit” (Quiagen Inc., Valencia, CA), seguindo-se os protocolos

recomendados pelos fabricantes. Para o sequenciamento, foi utilizado o sequenciador

M CN

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automático ABI 3100 (Applyed Biosystems) no laboratório da Empresa da Macrogen

(Holanda).

Tratamento dos dados

As sequências geradas foram avaliadas e nos casos em que surgiram bases mal

identificadas nas sequencias obtidas procedeu-se, visualmente, a correção das mesmas

através da analise dos cromatogramas (Figura 3), utilizando o programa MEGA vs 5.10.

Figura 3 - Cromatograma obtido para uma sequência.

Em análise de mtDNA, os erros consequentes da verificação do processo de

sequenciamento da amostra, que consistem, na maioria das vezes, em trocas de base,

referências ambíguas e mutações fantasmas, são apontados como a maior causa de

equívoco (BANDELT et al., 2001). Assim a fim de evitar erros as sequências foram

aceitas com, no máximo, uma base não determinada a cada 100 sequenciadas. De 286

animais sequenciados, 271 ficaram na análise para serem alinhados.

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Análise das sequências

As sequências obtidas foram comparadas com uma referência (AF533441,

Pietro et al., 2003), seguindo-se os critérios descritos em Pereira et al. (2004) e como

grupo externo a Capra pyrenaica (FJ207528, HASSANIN et al., 2009).

As sequências disponíveis no GenBank foram usadas nas análises

filogenéticas com a raça estudada, juntamente, com sequências de diferentes

haplogrupos obtidas do GenBank sob números de acesso: A (AJ317736, AJ317661 e

AJ317778, Luikart et al., 2001); B1 (AJ317826, Luikart et al., 2001) e (EF618355 e

EF617850.1, Naderi et al., 2007); B2 (AJ317833, Luikart et al., 2001); C (AJ317835,

Luikart et al., 2001) e (AB110559, Sultana et al., 2003); D (AB110587, Sultana et al.,

2003) e (EF617701, Naderi et al., 2007); F (DQ241349, Sardina et al., 2006); e G

(EF617728, Naderi et al., 2007). Nessa análise, foi utilizado o segmento entre as

posições 15735 e 16187, de modo a incluir todas as sequências disponíveis.

As sequências foram editadas e alinhadas usando-se o software MEGA®

vs 5.10

(KUMAR et al., 2012) – em que se empregou o algoritmo Clustal W – e comparadas

entre si.

Análise de dados

Relações entre os haplótipos e entre as subpopulações

Os haplótipos foram obtidos por meio de contagem direta usando-se o programa

ARLEQUIN (EXCOFFIER et al., 2005). A proporção dos nucleotídeos diferentes entre

os haplótipos foi estimada a partir da distância de TAMURA & NEI (1993).

Foi utilizado o método Neighbour-Joining (SAITOU & NEI, 1987) para

reconstruir as relações filogenéticas entre as subpopulações (Bahia, Ceará, Paraíba,

Pernambuco, Piauí e Rio Grande do Norte). E, para reconstruir as relações entre os

haplótipos encontrados para os caprinos Canindé, utilizou-se, além do método citado, o

Median Joining (BANDELT et al., 1999).

Foi construída uma rede de haplótipo usando-se o programa NETWORK

v.4.2.0.1® (BANDELT et al., 1999).

Medidas de diversidade genética

Como medidas de diversidade genética, foram estimadas as diversidades

nucleotídica (π) nucleotídica e haplotípica (Hd). Esta resulta de uma função entre o

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número de haplótipo existente na população e das suas frequências (NEI & TAJIMA,

1981), enquanto aquela pode ser calculada a partir da divisão da proporção média de

diferença nucleotídica entre os pares de sequência (K) pelo comprimento total da

sequência analisada (NEI, 1987).

Assim, para a população de caprinos Canindés e para as suas subpopulações,

foram estimadas as diversidades nucleotídica (π) e haplotípica (Hd) assim como como o

número médio de diferença nucleotídica (K), usando-se o programa ARLEQUIN

(EXCOFFIER et al., 2005).

Os valores de polimorfismo e os parâmetros de diversidade genética foram

estimados com o programa DNASP v 5.10 (ROZAS et al., 2010).

Medidas de divergência genética

Para verificar se, de fato, existem possíveis subpopulações na população

Canindé, foram utilizadas, além dos métodos filogenéticos citados, duas medidas de

divergência genética, numa tentativa de averiguar a possível existência de estruturação

entre as subpopulações. Assim, foi calculado o valor de divergência nucleotídica entre

as subpopulações, por meio da estimativa do número de diferença nucleotídica que

ocorre entre elas (DA). Essa medida incorpora informações tanto das frequências

haplotípicas quanto das diferenças nucleotídicas entre os haplótipos, fornecendo o nível

de distância genética entre as subpopulações.

Outro método estatístico utilizado neste estudo para avaliar o grau de

divergência genética entre as subpopulações definidas foi a estimativa do parâmetro FST

(WRIGHT, 1951), que, através da combinação de várias medidas de heterozigose a

diferentes níveis (indivíduos, subpopulações e população total), permite uma descrição

detalhada da estrutura populacional (HARTL & CLARK, 2007). Esse parâmetro foi

calculado usando-se também o programa ARLEQUIN (EXCOFFIER et al., 2005), por

meio de 1.023 permutações paramétricas dos haplótipos entre as subpopulações.

Teste de Neutralidade

Para testar se o polimorfismo observado na região do mtDNA estudada é

consistente com o modelo de evolução neutra, foram estimadas as estatísticas D

(TAJIMA, 1989) e Fs (FU, 1997). Esses testes indicam se a seleção e/ou processos

demográficos são fatores a se considerar como explicação das frequências haplotípicas

observadas por oposição à deriva genética e à seletividade neutra.

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Os testes de Tajima (Tajima 1989) e de Fu (Fu 1997) no programa ARLEQUIN

v 3.5 (EXCOFFIER et al., 2005).

AMOVA e SAMOVA

Análise de variância molecular (AMOVA) foram realizadas por meio do

programa ARLEQUIN v 3.5 (EXCOFFIER et al., 2005). A AMOVA possibilita o teste

de hipóteses relativas à estruturação geográfica populacional. Os cálculos se baseiam

numa matriz de distância entre a diversidade nucleotídica dos haplótipos. A repartição

dessa diversidade entre as populações subpopulações e seus indivíduos revela a

estruturação da espécie. A análise então retorna resultados em forma de um valor

percentual que representa o quanto aquela partição explica a diversidade contida entre

populações de um mesmo grupamento em relação aos agrupamentos (FCT) e ao total

(FST), e entre agrupamentos em relação ao total (FSC). Os testes de significância

envolvem permutações entre indivíduos, sub-populações e grupos de sub-populações.

A análise espacial de variância molecular (SAMOVA) procura correspondência

entre a distribuição geográfica, através das coordenadas geográficas de cada localidade,

e a distância relativa à diversidade nucleotídica. Essa análise foi realizada no programa

SAMOVA 1.0 (DUPANLOUP et al., 2002). A SAMOVA testa as melhores

combinações de agrupamentos de subpopulações para todas as possíveis combinações

de grupos, delimitadas pelo número de subpopulações. Neste trabalho, foram

delimitadas 8 subpopulações devido as coordenadas geográficas e como a SAMOVA

retorna resultados entre dois e sete agrupamentos.

RESULTADOS e DISCUSSÃO

Análise de polimorfismo

Trabalhos em genética populacional com caprinos têm aumentado,

principalmente, utilizando mtDNA.

A raça Canindé revelou grande quantidade de haplótipos 29. A diversidade

haplotípica (Hd) e a nucleotídica (π) de mtDNA são importantes índices para avaliar o

polimorfismo populacional e diferenciações genéticas. Embora informativo esse

marcador possui limitações. Um desses entraves está na particularidade de ser

uniparental.

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Pereira et al. (2005) analisaram 481pb da região controladora de mtDNA de 288

indivíduos de cinco raças autóctones portuguesas e obtiveram 118 sítios variáveis;

Oliveira (2007), analisando um fragmento de 130pb da mesma região em 1531

sequências, verificou 55 sítios polimórficos em caprinos do Nordeste brasileiro; Lopes

(2012) analisou 696pb em 64 indivíduos do ecótipo Crespa do sul do Brasil e encontrou

24 sítios variáveis. Nesse estudo, foram analisados 481pb da referida região em 178

indivíduos da raça Canindé, encontrando-se 53 sítios variáveis.

Dos 29 haplótipos, 19 foram exclusivos, enquanto 10, comuns a diferentes

subpopulações estudadas. Os haplótipos mais frequentes foram H 1 (33,13%), H 2

(19,66%), H 5 (11,79%) e H 6 (10,11%), seguidos por H 3 (2,24%), H 12 (2,24%), H 17

(3,37%), H 18 (1,68%), H 21 (2,24%) e H 28 (2,80%). Os demais haplótipos

apresentaram frequência de 0,56%, ocorrendo em um único indivíduo.

Os 29 haplótipos obtidos apresentaram uma diversidade haplotípica 0,82 maior

que as cabras crespas estudadas por Lopes (2012), cujo valor foi 0,78, e menor que a

observada por Liu et al. (2007), que foi 0,93. Essa quantidade de haplótipos encontrada

pode ser fruto do sistema de criação, em que não há seleção restrita dos animais, e da

distribuição metapopulacional da raça (dividida em pequenos), permitindo a

manutenção de um elevado número de haplótipos, apesar do seu pequeno efetivo

populacional.

O valor obtido de diversidade haplotípica foi 0,82 para a população estudada,

enquanto, para diversidade nucleotídica, foi 0,014. Esta não é diretamente proporcional

àquela, pois são influenciadas por números de indivíduos e frequências dos haplótipos,

respectivamente. Os índices de diversidade haplotípica para cada subpopulação foram

altos (Tabela 2), variando de 0,5621 (Faz Boa Vista) a 0,900 (Faz Lajes K). A

subpopulação de Jeremoabo apresentou a menor diversidade nucleotídica (π=0.00459),

enquanto a de Lajes K, a maior (π=0,01869).

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Tabela 2. Variabilidade genética nas 10 subpopulações de cabras da Raça Canindé a

partir de sequências de 481pb de um fragmento da região D-loop do

mtDNA.

População

N

mtDNA

nh

Hd

π

Jeremoabo-BA 18 4 0.6275 0.00459

Taperoá-PB 19 4 0.6959 0.00902

Floresta-PE 10 6 0.8889 0.00569

Boa Vista-PB 18 6 0.5621 0.01306

Barro Duro-PI 15 7 0.7810 0.01022

Sobral-CE 18 6 0.8497 0.01696

PedroAvelino-RN 20 6 0.8105 0.01685

Lajes K-RN 20 11 0.9000 0.01869

Lajes N-RN 20 7 0.7895 0.01297

Lajes A-RN 20 7 0.8579 0.01399

n: tamanho da amostra; nh: número de haplótipos; Hd: diversidade haplotípica; e π:

diversidade nucleotídica.

Em relação à diversidade nucleotídica das populações estudadas, obteve-se

0,01413 menores que as encontradas por Paiva et al. (2008), que, trabalhando com

caprinos Canindé do núcleo de conservação da Embrapa caprinos, observaram valores

de 0,021642 ± 0,011461.

A baixa diversidade nucleotídica e a alta diversidade haplotípica são indícios de

que a população passou por um gargalo populacional seguido de um rápido

crescimento, acumulando mutações (GRAND; BOWEN, 1998). A população de

Jeremoabo foi a que apresentou altos valores de h, mas reduzido π, enquanto as demais

criações apresentaram uma combinação de altos valores para Hd e π, o que poderia ter

ocorrido por contato com outras linhagens.

Monteiro (2007) sugere a utilização da diversidade nucleotídica como estimativa

da variação entre população (subpopulação). Esta é bastante informativa, uma vez que

divulga as diferenças nucleotídicas entre sequência de DNA, enquanto a diversidade

haplótípica apenas indica se duas sequências são ou não idênticas.

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Distribuição dos haplótipos de mtDNA

Dos 29 haplótipos encontrados nos 178 indivíduos das dez subpopulações de

caprinos analisadas, dez foram compartilhados entre diferentes fazendas. Apenas o

haplótipo H1 foi compartilhado entre todas as subpopulações, aparecendo em 59

indivíduos. O H2 apareceu em 35 indivíduos, sendo o segundo mais presente na

população, não estando, no entanto, presente na subpopulação Boa Vista-PB. O H3,

com 4 indivíduos presentes nas populações de Jeremoabo-BA, Boa Vista-PB, Pedro

Avelino-RN e Lajes K. O H5 esteve presente em 21 caprinos, oriundos das

subpopulações de Taperoá, Boa Vista, Sobral, Pedro Avelino, Lajes A, Lajes N e Lajes

K. O H6, com 18 indivíduos, aparecem na Taperoá, Floresta, Boa vista, Pedro Avelino,

Lajes A, Lajes N e Lajes K. O H12 apareceu em quatro indivíduos, dois de Barro Duro

e dois da população de Lajes A. O H17, em cinco caprinos de Sobral e em 1 Pedro

Avelino, ao passo que o H18 aparece só na Sobral, em três indivíduos. O H21esteve

presente tanto na população de Lajes A quanto na de Lajes K; e o H28, só na de Lajes N

com cinco caprinos. Os demais 19 haplótipos foram exclusivos para diferentes

populações (Tabela 3).

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Tabela 3. Catálogo dos haplótipos do DNA mitocondrial dos caprinos da raça Canindé

Haplótipo Subpopulação

Barro Duro Boa Vista Pedro Avelino Floresta Jeremoabo Lajes A Lajes K Lajes N Taperoá Sobral Total haplótipo

H 1 7 12 2 2 9 4 5 8 7 3 59

H 2 2

5 2 7 6 1 2 8 2 35

H 3

1 1

1

1

4

H 4

1

1

H 5

1 6

2 3 2 3 4 21

H 6

2 5 3

2 4 1 1

18

H 7

1

1

H 8

1

1

H 9

1

1

H 10

1

1

H 11

1

1

H 12 2

2

4

H 13 1 1

H 14 1

1

H 15 1

1

H 16 1

1

H 17

1

5 6

H 18

3 3

H 19

1 1

H 20

1

1

H 21

3 1

4

H 22

1

1

H 23

1

1

H 24

1

1

H 25

1

1

H 26

1

1

H 27

1

1

H 28

5

5

H 29

1

1

Total Pop 15 18 20 10 18 20 20 20 19 18 178

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A apresentação dos haplótipos é desequilibrada, havendo uns muito frequentes,

como é o caso do H1 (33,13%), e outros bastante raros, aparecendo em apenas uma

amostra, que constituem 10,74% do total de haplótipos obtidos. Esses raros estão

sujeitos a um maior risco de desaparecimento na população.

Diferenciação genética

Estimativas de diferenciação genética entre as dez subpopulações de cabras

Canindé, por meio do índice de fixação Fst para mtDNA, demonstram que a menor

diferenciação significativa está entre as populações Lajes A e Jeremoabo, enquanto que

os animais de Sobral-CE e Jeremoabo-BA apresentam maior diferenciação genética, FST

= 0,32882 (Tabela 4).

Tabela 4. Estimativas pareadas de distância genética entre dez populações de cabras

Canindé com base em medidas de FST.

Pop. Jeremoabo Taperoá Floresta BoaVista BarroDuro Sobral Pedro Avelino LajesA LajesK LajesN

Jeremoabo 0

Taperoá 0.02345 0

Floresta 0.32298* 0.19109 0

BoaVista 0.07192 0.07946 0.14263 0

BarroDuro -0.00919 -0.00936 0.16974 -0.00954 0

Sobral 0.32882* 0.23788* 0.22067* 0.26541* 0.25021* 0

Pedro Avelino 0.23953* 0.08506 0.01573 0.16105 0.13207 0.16274 * 0

LajesA 0.13413* 0.02349 0.05925 0.10222 0.04778 0.20377* 0.01348 0

LajesK 0.16485* 0.05548 -0.00907 0.06328 0.05789 0.18162* -0.01906 -0.00863 0

LajesN 0.13597 0.06249 0.10290 0.05090 0.04636 0.21036* 0.06869 0.03813 0.01829 0

*Significativo a 5%

A maioria dos valores encontrados de divergência (FST) entre pares de

populações foi de baixo a moderado, revelando pouca diferenciação genética entre as

populações. Segundo Wright (1931), valores de FST acima de 0,25 são considerados de

forte diferenciação. A maior diferenciação genética encontrada na subpopulação de

Sobral em relação às demais ocorre, possivelmente, por ser uma subpopulação fechada,

provavelmente pelo isolamento com as demais localidades, diminuindo,

consequentemente, o trânsito de matrizes.

Com informações pessoais dos criadores dessa raça sobre a formação dos

rebanhos, os animais base foram recolhidos em várias localidades do nordeste. Poder-se

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considerar que todas as subpopulações são a mesma população dividida por causas

antropogênicas. A falta de diferenciação das subpopulações, mesmo com localidades

distantes, estaria sujeita ao início e ao tipo de formação, como também no decorrer da

criação, em que há a constante interferência do criador por meio dos critérios de seleção

e do tipo de criação. Segundo Luikart et al. (2001), essa fraca diferenciação geográfica é

comum nas raças domésticas devido ao intenso fluxo de animais desde a domesticação.

A falta de diferenciação entre as subpopulações, possivelmente, deve-se ao

trânsito de matrizes, já que os criadores sempre fazem compras e vendas entre as

diversas localidades, a fim de evitar endogamia, porém, na maioria das criações, a

variabilidade genética é ocasionada mais pelos reprodutores machos, o que influencia o

genoma nuclear, já que a herança mitocondrial é materna.

Algumas subpopulações tem sistema produtivo baseado em endogomia,

consequentemente o nível de variação intrapopulacional tende a diminuir como

resultado a disparidade entre as diferentes populações tende a aumentar.

O grau de diferenciação genética das subpopulações foi verificado não só pelo

índice de fixação FST como também pela Análise de Variância Molecular (AMOVA). O

teste de AMOVA revelou fraca diferenciação genética entre populações, a qual é

apoiada, significativamente, pelo índice de fixação (FST = 0,08306; P < 0,05).

Observou-se que 11,35% da variação encontrada entre as sequências correspondem à

variação entre as subpopulações, enquanto 88,64% da variação são relativas à variação

intrasubpopulacional (Tabela 5). Resultados que corrobora com os estudos realizados

por Lopes (2012), que encontrou nas cabras crespas 10,6% da variação entre as

populações e por Oliveira (2007), que, com caprinos oriundos do Nordeste, comparando

com os do velho mundo, observaram 11,49% de variação. A variação intrapopulacional

obtida neste trabalho foi 88,64%, o que ocorre, principalmente, devido ao alto número

de diferenças nucleotídicas.

Tabela 5. AMOVA entre as populações amostradas do caprino Canindé.

Fonte de Variação Soma dos

quadrados

Componentes

da variância

Percentual

de variação

Entre populações 95,950 0,41745 11.35

Dentro de populações 547,186 3,25907 88,64

Total 643,136 3,67652 100,00

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Análises filogenéticas

A relação filogenética entre os haplótipos foi inferida pelo método median-

joining. Para facilitar a compreensão, os códigos H1, H2,..., Hn foram utilizados na rede

de Haplótipos (Figura 4). Através dessas redes, foi possível verificar que não há

tendência de estruturação geográfica ou por subpopulação, visto que os haplótipos das

diferentes subpopulações se misturam.

Nota-se que os haplótipos representados no primeiro clado hipotético que

apresenta o H1 que foi o que apresentou a maior frequência, sugere que possivelmente

seria oriundo de uma mesma matrilinha.

Foram também identificados, na rede de haplótipos, sete vetores médios, que

sugerem a possibilidade de existência de haplótipos não amostrados ou correspondentes

a haplótipos ancestrais já extintos.

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Figura 4. Relação filogenética entre os haplótipos de caprinos da raça Canindé oriunda do Nordeste do Brasil. O tamanho dos círculos é

proporcional ao número de indivíduos que apresenta o respectivo haplótipo. Os pequenos círculos vermelhos indicam vetores

intermediários, introduzidos pelo algoritmo executado.

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No programa MEGA, foram realizadas 1000 replicações (bootstrap) para avaliar

o suporte dos ramos. Na figura 5 apresenta-se a filogenia consenso dos 481pb dos 178

indivíduos de caprinos Canindé pertencentes as dez subpopulações amostradas onde

verifica-se, que a maioria dos valores de suporte dos ramos são superiores 50%. Não

houve uma clara separação das populações sem ramos terminais distintos. O clado

situado na base dessa árvore é composto por um individuo da subpopulação Taperoá,

quatro da subpopulação Floresta, três de Boa Vista, cinco de Pedro Avelino, dois de

Lajes A, cinco de Lajes K e um de Lajes N, com um suporte de 95%. Dois clados

apresentaram um suporte de 99%, um deles composto por nove indivíduos de Sobral e

de Pedro Avelino e o outro caldo com três indivíduos de Lajes A e um de Lajes K.

Na construção da arvore filogenética com os mesmos indivíduos, usando como

grupo externo C. pyrenaica, sendo sua sequência obtida do GenBank sob o número de

acesso (FJ20528.1). Para essa análise a maioria dos valores de boostrap superiores a

50%. O caldo da base com suporte de 99%, composto por três indivíduos de Lajes A e

um da subpopulação Lajes K. Outros ramos terminais também aparecem bem

suportados, como o ramo de suporte de 90% composto de cinco indivíduos da

subpopulação de Lajes N e o ramo com 80% composto por nove indivíduos de Sobral e

um de Pedro Avelino. Alguns indivíduos de cada subpopulação aparecem em ramos

terminais suportados, acima de 50%, enquanto os demais aparecem mais relacionados

com os de outras subpopulações que com aqueles da sua própria subpopulação de

origem (Figura 6).

A árvore gerada com amostras dos diferentes haplogrupos indica que todas as

amostras caprinas da raça Canindé pertencem ao haplogrupo A, sendo que na base da

arvore posicionam-se os demais haplogrupos. As sequencias referentes aos haplogrupos

C e F aparecem na base da árvore, seguidos pelo clado dos dois subgrupos B(B1 e B2).

Em seguida, aparece o haplogrupo G e por ultimo o haplogrupo D, mais relacionado

com todas as demais sequências incluindo as quatro sequências representativas do

haplogrupo A. (Figura 7).

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Figura 5. Árvore filogenética não enraizada com base em 481pb de um fragmento da

região HVR1 do mtDNA de caprinos Canindé do Nordeste do Brasil.

can235 d7 can255 f3 can185_h6

can268 g4 can143_d12 can107 a12 can155_e12 can221 c5 can277 h1 can171_g4 can176_g9 can232 d4 can236 d8

can284 h8 can280 h4 can256 f4 can247 e7 can238 d10 can237 d9 can234 d6 can231 d3 can230 d2 can226 c10 can223 c7 can215 b11 can214 b10 can211 b7 can206 b2 can196 a4 can174_g7 can170_g3 can147_e4 can142_d11 can135 d4 can134 d3 can131 c12 can130 c11 can122 c3 can121 c2 can119 b12 can118 b11 can115 b8 can113 b6 can112 b5 can111 b4 can109 b2 Can99_a4 Can98_a3

can261 f9 can177_g10 can117 b10 can128 c9 can132 d1 can154_e11 can189_h9 can200 a8 can202 a10 can208 b4 can209 b5 can218 c2 can220 c4 can224 c8 can227 c11 can228 c12 can241 e1 can243 e3 can249 e9 can252 e12 can253 f1 can257 f5 can269 g5 can286 h10

can167_f12 can108 b1

can182_h3 can287 h11 can285 h9 can282 h6 can281 h5 can278 h2 can273 g9 can272 g8 can270 g6 can267 g3 can264 f12 can263 f11 can254 f2 can251 e11 can242 e2 can240 d12 can239 d11 can229 d1 can219 c3 can216 b12 can203 a11 can201 a9 can191_h11 can187_h8 can186_h7 can181_h2 Can96_a1 can100 a5 can101 a6 can102 a7 can103 a8 can104 a9 can106 a11 can110 b3 can114 b7 can116 b9 can124 c5 can125 c6 can126 c7 can127 c8 can129 c10 can133 d2 can139_d8 can141_d10 can149_e6 can150_e7 can152_e9 can156_f1 can159_f4 can160_f5 can161_f6 can162_f7 can163_f8 can164_f9 can165_f10 can166_f11 can169_g2 can175_g8 can178_g11 can179_g12 can260 f8 can204 a12 can193 a1 can194 a2 can195 a3 can205 b1 can207 b3 can225 c9

can197 a5 can198 a6 can199 a7

can146_e3 can244 e4 can246 e6 can248 e8 can259 f7

can271 g7 can274 g10 can275 g11 can276 g12 can283 h7

can288 h12 can184_h5 can137_d6

can158_f3 can123 c4 can136 d5 can138_d7 can140_d9 can148_e5 can157_f2 can210 b6 can212 b8 can213 b9 can217 c1 can222 c6 can233 d5 can245 e5 can250 e10 can258 f6 can265 g1 can266 g2

can262 f10 can279 h3

Jeremoabo-BA

Taperoá-PB

Floresta-PE

Boa Vista-PB

Barro Duro-PI

Sobral-CE

PedroAvelino-RN

Lajes A –RN

Lajes K –RN

Lajes N -RN

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Figura 6. Árvore filogenética enraizada com base em 481pb de um fragmento da região

HVR1 do mtDNA de caprinos Canindé do Nordeste do Brasil.

can141_d10

can260 f8

can139_d8

can133 d2

can129 c10

can127 c8

can126 c7

can125 c6

can124 c5

can116 b9

can114 b7

can110 b3

can106 a11

can104 a9

can103 a8

can102 a7

can101 a6

can100 a5

Can96_a1

can149_e6

can150_e7

can152_e9

can156_f1

can159_f4

can160_f5

can161_f6

can162_f7

can163_f8

can164_f9

can165_f10

can166_f11

can169_g2

can175_g8

can178_g11

can179_g12

can181_h2

can186_h7

can187_h8

can191_h11

can201 a9

can203 a11

can216 b12

can219 c3

can229 d1

can239 d11

can240 d12

can242 e2

can251 e11

can254 f2

can263 f11

can264 f12

can267 g3

can270 g6

can272 g8

can273 g9

can278 h2

can281 h5

can282 h6

can285 h9

can287 h11

can182_h3

can108 b1

can167_f12

Can98_a3

Can99_a4

can109 b2

can111 b4

can112 b5

can113 b6

can115 b8

can118 b11

can119 b12

can121 c2

can122 c3

can130 c11

can131 c12

can134 d3

can135 d4

can142_d11

can147_e4

can170_g3

can174_g7

can196 a4

can206 b2

can211 b7

can214 b10

can215 b11

can223 c7

can226 c10

can230 d2

can231 d3

can234 d6

can237 d9

can238 d10

can247 e7

can256 f4

can280 h4

can284 h8

can232 d4

can236 d8

can176_g9

can171_g4

can221 c5

can277 h1

can155_e12

can107 a12

can268 g4

can143_d12

can185_h6

can235 d7

can255 f3

can261 f9

can177_g10

can117 b10

can128 c9

can132 d1

can154_e11

can189_h9

can200 a8

can202 a10

can208 b4

can209 b5

can218 c2

can220 c4

can224 c8

can227 c11

can228 c12

can241 e1

can243 e3

can249 e9

can252 e12

can253 f1

can257 f5

can269 g5

can286 h10

can146_e3

can204 a12

can193 a1

can194 a2

can195 a3

can205 b1

can207 b3

can225 c9

can197 a5

can198 a6

can199 a7

can276 g12

can283 h7

can275 g11

can274 g10

can271 g7

can288 h12

can184_h5

can137_d6

can158_f3

can123 c4

can136 d5

can138_d7

can140_d9

can148_e5

can157_f2

can210 b6

can212 b8

can213 b9

can217 c1

can222 c6

can233 d5

can245 e5

can250 e10

can258 f6

can265 g1

can266 g2

can262 f10

can279 h3

can244 e4

can246 e6

can248 e8

can259 f7

CpyrFJ207528.1

Jeremoabo-BA

Taperoá-PB

Floresta-PE

Boa Vista-PB

Barro Duro-PI

Sobral-CE

PedroAvelino-RN

Lajes A –RN

Lajes K –RN

Lajes N -RN

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Figura 7. Árvore filogenética não enraizada construído com base em 481pb de um

fragmento da região HVR1 do mtDNA de cabras Canindé e representantes

dos seis haplogrupos de mtDNA para caprinos (A; B1, B2; C; D; F; G).

H2

H20

H8

H23

H16

H3

H27

H12

H11

H4

H1

H24

H9

H25

H22

H5

H13

gi28|AJ317778.1|Af

ChAF533441

gi27|AJ317736.1|As

gi29|AJ317661.1|Aeu

H19

H17

H18

H21

H28

H29

H15

TH6

H26

H7

10

H14

35|AB110587.1|das

37|EF617701.1|deu

36|EF618341.1|gas

38|EF617728.1|Gaf

39|EF617850.1|b1eu

gi32|AJ317833.1|b2as

gi30|AJ317826.1|B1as

gi31|EF618355.1|b1af

40|DQ241349.1|feu

gi33|AJ317835.1|ceu

34|AB110559.1|cas

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Os grupos formados mostram, claramente, a diferenciação entre os haplótipos

europeus e os africanos junto com os asiáticos. Nas subpopulações de Canindé

estudadas, aparecem haplótipos de origem europeia como pode ser observados nos

haplótipos (H17, H18 e H19) pertencentes ao haplogrupo A. Este fato é atribuído à

relação comercial desde o período colonial e às várias introduções ao longo dos anos de

animais no Brasil. Os resultados das análises da raça Canindé é apoia a ampla

distribuição da linhagem A que é dominante em todos os continentes.

Nos demais haplótipos, observa-se a participação de haplótipos africano, asiático

e europeu. Oliveira (2007), trabalhando com diversas raças de caprinos nativos do

Brasil, encontrou forte participação de populações de raças europeias e africanas na

formação das populações de Canindé.

Análise de correspondência entre distribuição geográfica e variância genética

(SAMOVA)

A análise de SAMOVA, que relaciona a variância genética com a distribuição

geográfica, explorando e otimizando todas as possibilidades de agrupamentos das

populações pré-definidas, encontra-se na Tabela 6.

Tabela 6. Análise espacial de variância molecular (SAMOVA) para as oito

subpopulações de caprino Canindé. Agrupamentos gerados pelo programa

estão indicados entre colchetes.

Nº grupos Agrupamentos % de variação FCT

2 [Sobral]

[Floresta, Jeremoabo, Taperoá, Boa Vista, Pedro Avelino, Lajes,

Barro Duro]

18,13% 0,181

3 [Sobral] [Floresta] [Jeremoabo, Taperoá, Boa Vista, Pedro Avelino,

Lajes, Barro Duro]

15,47% 0,1547

4 [Sobral] [Floresta] [Pedro Avelino, Lajes] [Jeremoabo, Taperoá, Boa

Vista, Barro Duro]

13,14% 0,1314

5 [Pedro Avelino, Lajes] [Boa Vista] [Jeremoabo, Taperoá, Barro

Duro] [Floresta] [Sobral]

13,23% 0,1322

6 [Pedro Avelino] [Lajes] [Floresta] [Boa Vista] [Jeremoabo, Taperoá,

BBarro Duro] [Sobral]

13,98% 0,1398

7 [Jeremoabo, Barro Duro] [Boa Vista] [Floresta] [Taperoá] [Sobral]

[Lajes] [Pedro Avelino]

14% 0,1399

Não significativo.

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100

O resultado de dois grupos foi o que obteve o maior valor (18,13%) da

participação de variância genética entre grupos. Porém, nos resultados da SAMOVA,

esta percentagem de variação é muito baixa, já que o FCT deve apresentar valores

superiores a 50. Para esse resultado, o agrupamento correspondente a Sobral forma um

único grupo, e o segundo grupo é formado pelos demais Estados (PB, PE, BA, RN e

PI). A porcentagem de variação genética entre os dois grupos é menor que as

intrapopulacionais, não sendo possível encontrar diferenciação genética em relação às

coordenadas geográficas.

As raças caprinas brasileiras foram moldadas através de seleção artificial e

natural de maneira a atender as diversas condições naturais em todo o mundo. Houve

um grande intercâmbio comercial desde a expansão da agricultura, o que contribuiu

para uma estrutura filogeográfica fraca nos caprinos domésticos. Essa estruturação fraca

foi observada também em estudos anteriores (LUIKART et al., 2001; CHEN et al.,

2005; NADERI et al., 2007; LIU et al., 2008).

Apesar de a distância geográfica entre Jeremoabo e outras localidades desse

agrupamento ser grande (cerca de 970 km da fazenda mais distante de Jeremoabo-BA

até Sobral-CE) e a mais próxima ser a de Floresta-PE (com 197km), tal resultado sugere

relações entre essas localidades. As vias de contato entre as subpopulações se dão pela

compra e venda de matrizes e reprodutores, visto que um dos principais centros de

fornecimento de caprinos da raça Canindé é na localidade de Jeremoabo-BA.

Os valores encontrados de FST foram de modo geral moderados (Tabela 4),

mostrando pouca diferenciação entre as subpopulações inferidas. Segundo Wright

(1978), os valores de divergência podem ser classificados como baixo (entre 0,00 e

0,05); moderado (entre 0,05 e 0,15); alto (entre 0,15 e 0,25); e muito alto (maior que

0,25). Quase todos os valores encontrados de divergência entre os pares de

subpopulações são de baixo a moderado. Foram observados, no entanto, valores acima

de 0,25, sendo considerado divergência muito alta e significativa, o que é vista entre os

pares Sobral e Jeremoabo, seguidos de Floresta e Jeremoabo e de Sobral e Boa Vista.

Os valores significativos com alta divergência envolvem as localidades de Pedro

Avelino-RN com Jeremoabo-BA, Sobral-CE com Taperoá-PB, Floresta com Sobral-CE,

Barro Duro-PI com Sobral-CE, sobral com Lajes-RN.

As localidades com moderada divergência são: Jeremoabo com Boa Vista e

Pedro Avelino; Taperoá com Boa Vista e Pedro Avelino; Floresta com Boa Vista, Barro

Duro e Pedro Avelino; Boa Vista com Lajes; Barro Duro com Pedro Avelino.

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101

Com baixa diferença (FST), porém, o valor não foi significativo, estando nessa

condição Jeremoabo com Taperoá; Lajes com Taperoá; Floresta com Pedro Avelino ;

Barro Duro com Lajes e Lajes com Pedro Avelino. Já quanto às relações negativas ou

iguais a zero, esse fato significa que não existe diferença entre as populações, o que

pode ser visto nas localidades de Barro Duro com Jeremoabo, Taperoá com Boa Vista,

sendo similares.

Existem, contudo, haplótipos comuns a todas as subpopulações, como o Hap1,

que sugerem a existência de linhagens em comum, o que implica que há linhagens

maternas que contribuíram na formação de todas as subpopulações estudadas,

possivelmente por meio do fluxo alélico e, por isso, os valores baixos de divergência

genética encontrados.

Dinâmica populacional

O teste de neutralidade (Fs) aplicado nos diferentes grupos revelou valores não

significativos (P > 0,10) (Tabela 8). Em conjunto, o valor obtido também não é

significativo para o índice de D Tajima, enquanto o Fs é significativo. Os valores

calculados estão relacionados logo a seguir:

D de Tajima: -0,63365 (P> 0,10)

Fs de Fu: -2,019 (P< 0,05)

Valores de Fs negativos e significativos são evidências de um excesso de alelos,

como se espera em casos de expansão populacional recente ou efeito carona.

Segundo Hartl e Clark (2007), valores significativos e negativos no teste D de

Tajima, evidenciam uma população em crescimento. Neste mesmo cenário, para

Monteiro (2007), esses valores negativos e significativos podem ser obtidos, se houve

seleção desfavorável sobre haplótipo raro.

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102

Tabela 8. Índices de neutralidade calculados para cada população estudada.

Grupos Nº de indivíduos D de Tajima Fs de Fu

Jeremoabo 18 1,64497 1.910

Taperoá 19 -0,77275 4,668

Floresta 10 0,54694 2,202

Boa Vista 18 -0,67285 3,265

Barro Duro 15 -0,67516 0,669

Sobral 18 1.85022 4,500

Pedro Avelino 20 0,58138 5,035

Lajes A 20 0,13808 2,805

Lajes K 20 0,70523 0,294

Lajes N 20 0,40405 2,495

Não foi significativo

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CONCLUSÃO

Com base nas análises da região da D-loop do mtDNA nas 10 subpopulações de

caprinos da raça Canindé estudadas, foram catalogadas um elevado número de

haplótipos, 29, quando comparado com outros estudos em caprinos brasileiros. Os

haplótipos H1, H2, H5 e H6 foram os mais frequentes. Os valores de diversidade

genética foram, relativamente, moderados e com uma fraca diferenciação genética e

geográfica. A associação entre distância genética e distância geográfica não foi evidente

em toda a amostragem. As 178 cabras da raça Canindé estudadas são todas do

haplogrupo A, que é a linhagem predominante em nível mundial.

Mesmo com pequenos rebanhos, a raça Canindé apresentou variabilidade

mitocondrial onde existe uma maior variação entre indivíduos de uma mesma população

que entre populações, o que torna possível a manutenção de muitas das linhagens

maternas que contribuíram na sua formação, tão fundamental em programas de

conservação genética.

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CAPÍTULO 3.

____________________________________________________________

DIVERSIDADE GENÉTICA NA REGIÃO D- LOOP DO MTDNA DE

POPULAÇÕES CAPRINAS BRASILEIRAS E SUA RELAÇÃO

FILOGENÉTICA COM SEU GRUPO DE ORIGEM

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DIVERSIDADE GENÉTICA NA REGIÃO D- LOOP DO MTDNA DE

POPULAÇÕES CAPRINAS BRASILEIRAS E SUA RELAÇÃO

FILOGENÉTICA COM SEU GRUPO DE ORIGEM

RESUMO

A grande variedade de raças caprinas existentes no Brasil resulta dos sistemas de

criação, adotado pelos criadores que mantem um papel essencial na economia em

especial no Nordeste do país. Com os objetivos de elucidar a origem genética dos

caprinos brasileiros e de contribuir para sua conservação, analisou-se a região

hipervariável do DNA mitocondrial de raças locais brasileiras Canindé, Moxotó, Marotá

e Azul além de duas raças exóticas Sannen e Alpina Britânica de 271 animais da região

Nordeste. Todas as raças mostraram diversidade haplotípica média de 0,8428. A análise

da estrutura populacional mostrou diferenciação significativa (P<0,05) entre alguns

pares possíveis das seis raças. Na AMOVA apenas 5,13% da variação genética ocorreu

entre grupos, ou seja, entre raças devido a diferenças entre raças. Já 9,99% ocorrem

entre populações dentro de grupos onde a maior diferença está dentro das populações,

com 84,89% correspondente a diferenças entre indivíduos. A maior diferença genética

entre as seis raças está entre Moxotó e Alpina Britânica, enquanto a maior relação de

similaridade verificou-se na Canindé e a Marota. Foi também observado que as

distâncias genéticas entre as raças não se correlacionam com microgeografia do

Nordeste do Brasil. Estas observações são consistentes com a recorrente introdução de

animais exóticos no plantel, ou resulta do fato dos haplótipos terem esta mistura nas

populações desde a colonização do Brasil. Os animais brasileiros são classificados como

haplogrupos (A) com haplótipos de maior influência de raças europeias e com

participação africana e asiática.

Palavras-chaves: análises filogenéticas, cabras brasileiras e linhagens

mitocondriais.

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GENETIC DIVERSITY IN THE D - LOOP REGION OF MTDNA BRAZILIAN

GOATS POPULATIONS AND THEIR PHYLOGENETIC RELATIONSHIP

WITH THEIR ORIGINAL GROUP

ABSTRACT

The wide varie-te of existing breeds of goats in Brazil results of culture systems adopted

by farmers holding a key role in the economy especially in the Northeast. Aiming to

elucidate the genetic origin of Brazilian goats and contribute to their conservation, we

analyzed the hypervariable region of the mitochondrial DNA of Brazilian local breeds

Canindé Moxotó and Blue, plus two exotic breeds Sannen and British Alpine 271

animals the Northeast. All breeds showed average haplotype diversity of 0.8428. The

analysis of population structure showed a significant difference (P< 0.05) among some

possible pairs of the six races. In AMOVA only 5.13 % of the genetic variation occurs

between groups or between races due to differences between races. While 9.99% occurs

among populations within groups where the largest difference is within populations, in

which 84.89 % corresponded to differences between individuals. The largest genetic

difference between races, is among the six Moxotó and British Alpine, while the highest

ratio of similarity found in the Canindé and Marota. It was also observed that the

genetic distances between breeds do not correlate with microgeography of Northeast

Brazil. These observations are consistent with the recurring introduction of exotic

animals on the roster, or results from the fact they have this mixture of haplotypes in

populations since the colonization of Brazil. Brazilian animals are classified as

haplogroups (A) haplotypes with greater influence of European breeds and African and

Asian participation.

Keywords: phylogenetic analyzes, Brazilian goats and mitochondrial lineages.

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111

INTRODUÇÃO

Ao explorar a história da agricultura e alimentação, é possível compreender as

questões atuais das raças contemporâneas, já que nossas relações com o mundo rural e a

produção de alimentos estão sempre apoiadas por desenvolvimento e fracassos,

tecnológicos, econômicos, políticos e culturais (FLAMANT, 2002).

O progresso das condições de vida e do bem-estar humano encontra-se,

estreitamente dependente das espécies animais e vegetais domesticadas durante os

milênios, as quais foram utilizadas para os mais variados fins. A cabra foi a primeira

espécie de produção a ser domesticada, uma vez que só o cão a antecede (SHELTON,

1993).

A domesticação da cabra (Capra hircus) remota do período Neolítico, a cerca de

11.000 anos provavelmente no Crescente Fértil, região do Oriente Próximo (PEREIRA;

AMORIM, 2010). A sua origem, evolução e diversidade tem sido objeto de uma grande

variedade de trabalhos. Nos últimos anos, os estudos efetuados a partir de DNA

mitocondrial (mtDNA) apontam para alta diversidade genética dos caprinos (NADERI

et al., 2007; PEREIRA et al., 2009).

A diversidade de recursos genéticos caprinos mundiais reflete sua adaptação aos

diferentes sistemas de produção, com predomínio de raças nativas, muitas vezes em

perigo de extinção. Segundo a FAO (2007) existiam mais de 500 raças caprinas

reconhecidas mundialmente, em que mais de 90% são consideradas locais. Todavia, em

muitos países não se tem a tradição de classificar os animais por raça. Mas, sim pela sua

distribuição geográfica, ou ainda, designam como Crioulos, termo utilizado de forma

mais ampla, que inclui várias populações distintas (EGITO; MARIANTE;

ALBUQUERQUE, 2002).

O grande número de raças implica uma forte diversidade genética e,

consequentemente, constitui um importante patrimônio genético. Contudo são escassas

as informações sobre estes recursos, particularmente, quando comparado com outras

espécies de produção (SIDER; ZAROS, 2008).

O Sequenciamento de DNA mitocondrial tem sido usado para explicar as

origens de muitas espécies de animais domésticos modernos. A existência de várias

linhagens de DNA e sua mistura dentro das raças pode ser devido a vários eventos de

domesticação ou introgressão entre espécies domésticas e selvagens (NADERI et al.,

2007). Os estudos sobre a estrutura e função do mtDNA se destaca na área de pesquisa

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da evolução molecular, classificação, análise genética da população, identificação

relativa e traços loci quantitativos (ALMEIDA, 2007).

A história filogenética dos caprinos domésticos vem sendo estudada através de

DNA mitocondrial (mtDNA) (LUIKART et al., 2001; JOSHI et al., 2004 e

FERNÁNDEZ et al., 2006). Estes estudos demonstraram que os caprinos

acompanharam os movimentos migratórios e exploratórios do homem. No trabalho

realizado por Luikart et al., (2001) verificou a Capra aegagrus como progenitora da

Capra hircus pela maior proximidade, assim como os tipos de DNA do cromossomo Y

das Capra aegagrus que eram idênticos aos das cabras domésticas. Todos os

marcadores genéticos concordam com a relação da Capra hircus e Capra aegagrus por

Takada et al., (1997); Luikart et al., (2001); Mannen; Nagata; Tsuji, (2001), esse

resultado é coerente com os estudos arqueológicos e morfológicos (ZEDER; HESSE,

2000).

Os estudos com sequências de DNA revelam em caprinos uma elevada

homogeneidade genética, mesmo em animais muito distante, geograficamente.

Diferentemente do que ocorre em outras espécies, por exemplo, como nos bovinos e

ovinos, são encontradas diferenças genéticas entre as populações 112europeias, asiáticas

e africanas. A semelhança na espécie caprina é a confirmação do grande intercâmbio de

genes que os caprinos sofreram durante o curso da história humana (FERNÁNDEZ et

al., 2006).

Diante do exposto o objetivo do estudo foi caracterizar as raças caprinas

brasileiras Canindé, Moxotó, Marota e Azul e as raças exóticas Sannen e Alpina

Britânica ao nível das suas linhagens maternas, comparando com sequências de cabras

existentes no GenBank de várias regiões do Mundo.

MATERIAL E MÉTODOS

Amostragem

No total foram analisados dados relativos a 271 caprinos, correspondentes a seis

raças de caprinos: 4 raças brasileiras e 2 raças exótica. Sendo a maior parcela de animais

da raça Canindé 178 indivíduos.

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Canindé Azul Saanen

Alpina britânica Marota Moxotó

Figura 1. As raças estudadas

Material biológico

Foram submetidos a um estudo genético os caprinos de raças locais: Canindé

dos Estados de PE, PB, RN, PI e BA (CAN, n=178), Moxotó do Ceará (MOX-CE,

n=20), Marota do Piauí (MAR-PI, n=24), Azul de Pernambuco (AZU, n=19) e duas

raças cosmopolitas de origem Alpina, a Saanen e a Alpina Britânica encontradas em

Pernambuco e Bahia (SAA, n= 20; ALP, n=10) (Figura 1). Os animais amostrados

foram selecionados a partir da segunda muda e aqueles que melhor representassem a

raça, de acordo com os parâmetros morfológicos estabelecidos pela Associação

Brasileira de Criadores de Caprinos (ABCC) e homologados pelo Ministério da

Agricultura.

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Figura 2. Locais de colheitas de dados e material biológico.

Foram coletados pelos com bulbo dos animais para a extração de DNA, que

foram condicionados a seco em envelopes de papel ou sacos plásticos. Em torno de 10 a

12 bulbos capilares, por amostra, foram selecionados e cortados em sua base para

proceder à extração. A extração do DNA foi baseada na técnica do NaOH (COELHO et

al., 2004).

Para quantificar o DNA, usou-se um espectrofotómetro (NanoDrop®, da Thermo

Scientific).

As extrações e amplificações foram realizadas no laboratório da Biologia

(dbio/CESAM) da Universidade de Aveiro.

Barro Duro- PI Raça Canindé

Teresina-PI Raça Marota

Sobral-CE Raça Canindé e Moxotó

Lajes-RN Raça Canindé

Pedro Avelino-RN Raça Canindé

Taperoá-PB Raça Canindé

Boa Vista-PB Raça Canindé

Floresta-PE Raça Canindé

Afrânio-PE Raça Azul

Jeremoabo-BA Raça Canindé e Alpina Britânica

Recife-PE Raça Saanen

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A amplificação da região D-loop do mtDNA e sequenciamento

Foi obtido de um fragmento de 481 pb – primeiro segmento hipervariável da

região controle do DNA mitocondrial – corresponde à região entre as posições 15.707 e

16.187. A reação de polimerase em cadeia (PCR), com um volume final 25µl, incluía

2,5 µl de um tampão buffer; 2,5 µl BSA; 0,5 µl de DNTPs (10 mM); 1 µl de cada

iniciador (10 µM); 0,2 µl (1U) de enzima Taq DNA polimerase (Bioron) e 2 µl de

DNA genômico (50 ng/µl). A PCR foi realizada em 38 ciclos, de acordo com Pereira et

al. (2004), usando-se os iniciadores diretos (5' CGCTCGCCTACACACAAATA-3-') e

reversos (5'-GAAGAGTGGGCGATTTTAGG-3'), com as seguintes condições:

desnaturação inicial de 94 ° C durante 3 min, seguida de 38 ciclos de 94 ° C durante 30

s, 60 ° C durante 45 s, 72 ° C durante 1 min e uma extensão final de 72 ° C durante 10

min.

Os produtos obtidos foram purificados utilizando-se do kit “QIAquick PCR

purification Kit” (Quiagen Inc., Valência, CA), seguindo-se os protocolos

recomendados pelos fabricantes. Para o sequenciamento, foi utilizado o sequenciador

automático ABI 3100 (Applyed Biosystems) no laboratório da Empresa Macrogen

(Holanda).

As sequências obtidas foram comparadas com uma referência (AF533441,

Pietro et al., 2003), seguindo-se os critérios descritos em Pereira et al. (2004) e como

grupo externo a Capra pyrenaica (FJ207528, Hassanin et al., 2009) .

As Sequências disponíveis no GenBank foram usadas nas análises

filogenéticas com a raça aqui estudada juntamente com sequências de diferentes

haplogrupos obtidas do GenBank sob números de acesso: A (AJ317736, AJ317661 e

AJ317778, Luikart et al., 2001); B1 (AJ317826, Luikart et al., 2001) e (EF618355 e

EF617850.1, Naderi et al., 2007); B2 (AJ317833, Luikart et al., 2001); C (AJ317835,

Luikart et al., 2001) e (AB110559, Sultana et al., 2003); D (AB110587, Sultana et al.,

2003) e (EF617701, Naderi et al., 2007); F (DQ241349, Sardina et al., 2006); e G

(EF617728, Naderi et al., 2007). Nessas análises, foi utilizado o segmento entre as

posições 15735 e 16187, de modo a incluir todas as sequências disponíveis.

As sequências foram editadas e alinhadas usando-se o software MEGA®

vs 5.10

(Kumar et al., 2012) – em que se empregou o algoritmo Clustal W – e comparadas entre

si. Os valores de polimorfismo e os parâmetros de diversidade genética foram estimados

com o programa DNASP v 5.10 (ROZAS et al., 2010).

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A divergência genética foi analisada mediante a Análise de Variância Molecular

(AMOVA) por meio do programa ARLEQUIN v 3.5 (EXCOFFIER et al., 2005). A

rede network das sequências foi obtida através do método median-joining, com o

software NETWORK v.4.2.0.1.

Para a análise bayesiana foi utilizado o modelo de evolução mais apropriado

para cada região inferido. Usando o programa MrBayes v.3.2 (HUELSENBECK e

RONQUIST, 2001). Iniciou-se gerando árvores aleatórias e procederam por 2,0 x 106

gerações.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Em programas de conservação, conhecer a estrutura populacional dos caprinos é

essencial. O mtDNA tem-se mostrado eficaz na detecção de fenômenos de

endocruzamento, de fragmentação e isolamento, de efeito de gargalo, de fluxo genético,

ou ainda na quantificação da variabilidade genética em risco. Nas análises filogenéticas

há um grande uso do estudo da região controladora ou D-loop por apresentar uma taxa

de mutação mais elevada (COOK et al., 1999).

O alinhamento da região D-loop com segmento de 481pb em 271 sequências das

cabras brasileiras e exóticas avaliadas, revelou 62 sítios polimórficos. Observou-se uma

média de 19,47 transições, 1,47 transversões e 0,07 deleções. Este valor, foi maior que

os estimados em estudos anteriores 17/1(Luikart et al. 2001), 16/1 (Joshi et al. 2004),

13,9/1 (Pereira et al. 2005).

As análises revelaram 39 haplótipos diferentes, dos quais 13 são compartilhados

entre as populações e 26 são exclusivos. Os haplótipos predominantes foram H1

(26,56%), H2 (20,29%), H6 (16,60%), H5 (13,28%) e H17 (4,06%). Os demais

apresentaram uma frequência abaixo de 2%. O H1 o mais frequente dos haplótipos e

que pode ser observado em diferentes raças brasileiras, essa matrilinha foi a que,

possivelmente, mais contribuiu com a formação dos grupos genéticos do Brasil.

O H1 ocorreu em 72 indivíduos em todas as raças, exceto na raça Moxotó, com

uma frequência de 12 a 2 indivíduos por raça. O H1 está presente em animais da raça

ibérica (PIETRO et al., 2003). Em seguida, H2 com 56 indivíduos e H5 com 36

indivíduos que, esteve presente em todas as raças. H6 foi observado em 45 indivíduos,

só não esteve presente na raça Alpina Britânica. O H17 com 11 indivíduos distribuídos

nas raças Canindé em duas Populações 4 em Sobral e 5 em Pedro Avelino, na raça

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Moxotó e na Marota. O haplótipo 29 foi restrito a raça Azul com 2 indivíduos. Os

demais haplótipos foram restritos a uma única localidade, sendo encontrados em um ou

dois indivíduos (Tabela 1).

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Tabela 1. Frequência numérica dos 39 haplótipos do DNA mitocondrial nos caprinos das seis raças por populações.

Haplótipo Populações

Pop1 Pop2 Pop3 Pop4 Pop5 Pop6 Pop7 Pop8 Pop9 Pop10 Pop11 Pop12 Pop13 Pop14 Pop15

H1 2 12 7 3 2 4 5 8 9 7 3

4 2 4

H2 2 2

2 5 6 2 2 7 8 5 3 2 4 6

H3

1

1

1 1

H4

1

H5

1

4 6 2 4 2 3

1 1 2 4 6

H6 3 2

5 2 4 1

1 9 10

4 4

H7 1

H8 1

H9 1

H10

1

H11

1

H12

2

2

H13

1

H14

1

H15

1

H16

1

H17

5 1

4

1

H18

3

H19

1

H20

1

H21

4 1

H22

1

H23

1

H24

1

H25

1

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H26

1

H27

5

H28

1

H29

2

H30

1

H31

1

H32

1

H33

2

H34

1

H35

2

H36

1

H37

1

H38

1

H39

1

Distribuição dos 39 haplótipos de seis raças de caprinos entre as quinze populações amostradas. Pop 1: Can_Floresta, Pop 2:

Can_Boavista, Pop 3: Can_BarroDuro, Pop 4: Can_Sobral, Pop 5: Can_Pedro Avelino, Pop 6: Can_A, Pop 7: Can_K, Pop 8:

Can_N , Pop 9: Can_Jeremoabo, Pop 10: Can_Taperoá, Pop 11: Azul, Pop 12: Moxotó, Pop 13: Alpina, Pop 14: Saanen e Pop

15: Marota.

Tabela 1. Continuação...

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120

A diversidade genética encontrada em todas as raças brasileiras e a partilha de

alguns haplótipos com outras raças estrangeiras é consistente com a introdução repetida

de animais exóticos nos rebanhos brasileiros. Esse resultado corrobora com os dados

históricos que relatam a entrada dos caprinos domésticos no Brasil pelos colonizadores

portugueses em 1515, descrito por SIMONSEN, (1937).

Como sabido, as raças Saanen, Alpina Britânica, Anglonubiana, entre outras

foram introduzidas no Brasil para fins de aumento de produção, e muitos criadores de

raça local utilizaram-nas em cruzamentos no intuito de melhorar a produção dos seus

animais.

As diferentes influências, bem como a existência provável de haplótipos muitos

distantes nos estoques iniciais dos fundadores trazidos para a região Nordeste Brasileiro

levaram à presença de várias linhagens no pool de genes na linha materna das cabras

brasileiras. A principal influência seria entre as raças ibéricas, e essas têm origem a

partir do tronco asiático visto por Luikart et al. (2001), o que elucidaria esta

proximidade das raças locais com as raças asiáticas.

Os índices de diversidade haplotípica (Hd) para cada população foram altos

(acima de 0.5). Considerando cada população amostrada, verifica-se que as diversidade

haplotípicas (Hd) variam de 0,5621 (Pop 2) a 0,9000 (Pop7) (Tabela2). Em relação à

diversidade nucleotídica, a variação encontrada foi de 0,00459 (Pop. 9) a 0.01869 (Pop

7). A raça Canindé apresenta a maior diversidade nucleotídica (0.01869), seguida da

raça Moxotó (0.01829). As diversidades nucleotídicas não são diretamente

proporcionais as haplotípicas, pois são influenciadas por números de indivíduos e

frequência dos haplótipos. Dentre as populações analisadas, a que apresentou o maior

número de (Hd) e (π) foi a (Pop 7).

Os testes de neutralidade (Tabela 2) não tiveram valores significativos para as

populações analisadas. Os valores de Fs foram positivos, evidenciando poucos alelos

em todas as populações, porém quando tratamos todas as subpopulações, referentes à

raça Canindé esta apresenta o Fs= -2.019, sugerindo que a raça preserva sinais de

expansão.

O valor obtido de diversidade haplotípica Hd e nucleotídica π, sítios

polimórfico, o teste de Tajima D e Fu de Fs, de todas as raças e suas populações se

encontram na Tabela 2.

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121

Tabela 2. Principais características das sequências analisadas nas populações de cabras

brasileiras.

Populações Nº

indivíduos

Nº sítios

polimórfico

s

haplótipos

Hd

diversidade

haplotípica

π

diversidade

nucleotídica

Tajima D Fu Fs

1 10 26 6 0.8889 0.00569 0.54694 2.202

2 18 26 6 0.5621 0.01306 -0.67285 3.265

3 15 19 7 0.7810 0.01022 -0.67516 0.669

4 18 19 6 0.8497 0.01696 1.85022 4.500

5 20 25 6 0.8105 0.01685 0.58138 5.035

6 20 24 7 0.8579 0.01399 0.13808 2.805

7 20 27 11 0.9000 0.01869 0.70523 0.294

8 20 20 7 0.7895 0.01297 0.40405 2.495

9 18 5 4 0.6275 0.00459 1.64497 1.910

10 19 19 4 0.6959 0.00902 -0.77275 4.668

11 20 19 5 0.7368 0.01623 1.72990 6.463

12 19 22 5 0.6842 0.01829 1.54092 6.934

13 10 10 5 0.8222 0.00822 0.52752 0.977

14 20 20 8 0.8895 0.01611 1.42219 2.348

15 24 25 8 0.8478 0.01613 0.59029 3.175

1:Can_Floresta, 2:Can_Boavista, 3:Can_BarroDuro, 4:Can_Embrapa, 5:Can_Emparn, 6: Can_A,

7:Can_K, 8:Can_N 9:Can_Jeremoabo, 10:Can_Taperoá, 11Azul, 12:Moxotó, 13:Alpina 14: Saanen,

15:Marotá

As cabras brasileiras obtiveram uma diversidade haplotípica de (0,8428). Para

avaliar a relação entre os haplótipos, uma rede de median joining foi construída (Figura

2). Não foi possível verificar uma tendência de estruturação por raça ou por

fazenda/população. O principal fator que poderia contribuir para esta falta de estrutura é

o alto fluxo gênico induzido pela ação humana (LUIKART et al., 2001; CHEN et al.,

2005; PEREIRA et al., 2005; NADERI et al, 2007, PEREIRA et al., 2009). Um fluxo

constante entre os animais dos diferentes estados poderiam apagar um possível padrão

geográfico.

Foram também verificados na rede de haplótipos onze vetores médios, que

representam a existência de haplótipos extintos ou não amostrados (Figura 2).

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Figura 2. A rede Median joining do mtDNA os haplótipos observados nas quatro raças caprinas locais brasileiras Canindé, Moxotó, Marota e

Azul e duas exóticas Saanen e Alpina Britânica. A área do círculo é proporcional para a frequência da amostra. Os pequenos círculos

vermelhos indicam vetores intermediários.

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Os valores da análise de variância molecular (AMOVA) demonstram que 5,13%

da variação genética ocorrem entre grupos, ou seja, entre raças. Já 9.99% acontecem entre

populações dentro de grupos onde a maior diferença está dentro das populações, com

84,89% de toda variação genética observada (Tabela 3). Resultado este que corrobora

com os estudos realizados por Pereira et al., (2005) e Benjelloun et al., (2011).

Tabela 3. AMOVA entre e dentro de populações e raças.

Fonte de variação GL Soma de

quadrados

Componentes

de variação

Porcentagem da

variação

Entre raças 5 85.840 0.20923 Va 5.13

Entre populações

dentro de raças

9 96.260 0.40755 Vb 9.99

Dentro de populações 256 886.763 3.46392 Vc 84.89

Total 270 1068.863 4.08070 100,00

Índices de fixação

FSC 0.10527

FST 0.15115

FCT 0.05127

O número de haplótipos compartilhados entre todos os pares de raças e o FST foi

utilizado para estabelecer as distâncias genéticas das 15 populações (Tabela 3), onde foi

encontrado um FST=0.15115 classificada como moderada. Os resultados evidencia o

baixo valor de divergência entre populações FSC e o baixo valor de diferença entre grupos

determinado FCT. A maior diferenciação genética das populações ocorre entre a

população 12 e 13, referente, respectivamente, a raça Alpina e a Moxotó com o FST=

0,40220. A menor diferenciação genética significativa ocorre com a raça Marota (Pop.15)

e Sobral Canindé (Pop 4), na tabela 4.

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Tabela 4. Valores do índice de Fixação FST para as 15 populações utilizadas 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15

1 0

2 0.14549 0

3 0.16038 -0.00318 0

4 0.22067* 0.26844* 0.23761* 0

5 0.01573 0.16296 0.13063 0.16274 0

6 0.05925 0.10363 0.04844 0.20377* 0.01348 0

7 -0.00946 0.06382 0.06069 0.18205* -0.01981 -0.00936 0

8 0.10290 0.05163 0.04620 0.21036* 0.06869 0.03813* 0.01773 0

9 0.32298* 0.07371 -0.00616 0.32882* 0.23953* 0.13413 0.16538* 0.13597 0

10 0.19109 0.08093 -0.00318 0.23788* 0.08506 0.02349 0.05516 0.06249 0.02345 0

11 -0.05421 0.18717 0.20775* 0.26847* 0.03689 0.08988 0.01415 0.12728 0.34239* 0.22363* 0

12 0.04496 0.34811* 0.37076* 0.25107* 0.15830* 0.25783* 0.16445 0.28338* 0.50116* 0.39721* 0.05955 0

13 0.19683 0.07870 -0.01537 0.22409 0.09030 0.03443 0.05970 0.07008 0.01637 -0.06921 0.24227 0.40220* 0

14 0.02048 0.19007* 0.16265* 0.20907* -0.04225 0.0368 -0.00954 0.09487 0.28214* 0.11875 0.03877 0.16797 0.1259 0

15 0.02953 0.09539 0.06568 0.15824* -0.03382 -0.00989 -0.03073 0.03204 0.15203* 0.02670 0.05447 0.20126* 0.03081 -.0161 0 0

*significativo 5% de probabilidade

Os resultados mostram como as raças analisadas estão intimamente relacionadas,

visto que a diversidade entre elas foi pequena. Isso pode ocorrer devido ao fato de que o

mtDNA é altamente conservado, o que levaria a uma semelhança genética, que permite

analisar comparativamente as sequências obtidas com outras sequências do GenBank.

Análise comparativa com outras populações de cabras

A fim de avaliar as relações entre as raças de caprinos brasileiros e outras raças de

caprinos em todo o mundo e comparar o grau de diversidade encontrada no Nordeste

brasileiro, com outras cabras domésticas e selvagens, usou-se as sequências disponíveis

da região controle do mtDNA.

Foi feito o alinhamento de 271 sequências de cabras do Brasil e comparando com

24 sequências disponíveis da região controle do mtDNA no GenBank. De 481pb passou-

se para 447 de modo que às sequências ficassem com o mesmo tamanho para a

comparação.

Foi realizada uma análise filogenética abrangente, a fim de definir as origens

genéticas dos caprinos brasileiros. Foi construída a árvore de NJ a partir das sequências

de 271 indivíduos agrupados nos seis tipos de caprinos, 16 sequências de cabras

representativas dos 6 haplogrupos já descritos no mundo (A, B, C, D, F e G) por Naderi

et al., (2001) e uma sequência da C. pirenaica, como grupo externo com relação aos

demais agrupamentos.

Para essa análise, poucos foram os valores de bootstrap superiores a 50%. Apenas

alguns indivíduos de cada raça aparecem em ramos terminais bem suportados, os demais

aparecem relacionados com indivíduos de outras raças do que aqueles da sua própria raça

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pré-determinada (Figura 3). Este resultado também foi verificado por Lopes (2012) com

as raças

A topologia resultante na árvore gerada com amostras dos diferentes haplogrupos

(isto é, A, B, C, D, F e G) indica que todas as amostras caprinas analisadas do nordeste do

Brasil pertencem ao haplogrupo A.

A linhagem A é predominante em todos os trabalhos já realizados com caprinos

(Luikart et al., 2001; Sultana et al., 2004; Chen et al., 2005; Pereira, et al., 2005; Liu et

al., 2007; Naderi et al., 2007; Benjelloun et al., 2011; Piras et al., 2012). Luikart et al.

(2001) relatam que a diversidade encontrada no haplogrupo A é resultado do início da

domesticação na região do Crescente Fértil e sua expansão pelo mundo.

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Figura 3. Árvore Neighbour-Joining para os 39 haplótipos encontrados de um fragmento

da região D-loop para amostras representativas de cada tipo caprino estudado

e representantes dos seis haplogrupos de mtDNA para caprinos (A ; B1 ,

B2 ; C ; D ; F ; G ).

H2

H23

11

H16

1

H20

h32

11 0

H8

5

H3

6h30

H11

H4H1H24h384767363220

3H12 4

H2712

H9 h33

22

H25

H22H5

H13

h34255776

30310

h36

25

gi28|AJ317778.1|A

f

ChA

F533441|A

gi27|AJ317736.1|A

s

4737

10

gi29|AJ317661.1|A

eu

h31H

19H

17H

18715449

75

8

h35 H28

H21

H29 H15

h39

H6H26

29

H10

H7

h37

433052

7730169221312

H14

84

35|AB110587.1|das

37|EF617701.1|deu

99

35

36|EF618341.1|gas

38|EF617728.1|G

af

94

64

39|EF617850.1|b1eu

gi32|AJ317833.1|b2as

gi30|AJ317826.1|B

1asgi31|E

F618355.1|b1af

9662

98

40|DQ

241349.1|feu

gi33|AJ317835.1|ceu

34|AB

110559.1|cas

100

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127

Na figura 4, os resultados encontrados mostram que os caprinos brasileiros das

diferentes raças, apareceram na matrilinha A, como uma mistura, separados dos demais

grupos que se apresentam bem coesos (B; C; D, F; G). Nesta árvore, o valor de bootstrap

mais elevado foi atingido na ramificação periférica envolvendo o nó 98%, enquanto os

nós internos apresentaram valores desde 51 até 99%.

Nas populações avaliadas, aparecem haplótipos de origem europeia como pode ser

observado nos haplótipos (H17, H18, H19 e H31). O H17 presente nas raças Canindé em

duas subpopulações (Sobral e Pedro Avelino), Moxotó e Marota. O H18 e H19 referente

à subpopulação de Sobral da raça Canindé. O H31 presente na raça Alpina Britânica

(Figura 4).

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Figura 4. Filogenia de caprinos a partir das sequencias de DNAmt da região D- loop.

Árvore inferida por analise Bayesiana utilizando o modelo TrN+I+G, com

valores de probabilidades a posteriori.

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129

CONCLUSÃO

A variabilidade de haplótipos nas cabras brasileiras mostrou que, mesmo em áreas

muito distante dos centros de domesticação, há uma importante diversidade que pode ser

útil em programas de conservação. A caracterização destas raças locais é importante para

o uso adequado em programas de seleção que permitam aumentar a produção sem perda

de adaptação local.

A análise da região D-loop mostra que a ancestralidade materna dos caprinos

locais é uma mistura de haplótipos europeus, africanos e asiáticos. Houve maior relação

dos caprinos brasileiros com os caprinos europeus.

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