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1 UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS CAMPUS SERTÃO CURSO DE GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA - LICENCIATURA ALINE ALVES DOS SANTOS POLUIÇÃO AMBIENTAL NO RIACHO CARAIBEIRINHA, DELMIRO GOUVEIA- AL: UMA EXPERIÊNCIA DE ENSINO DE GEOGRAFIA Delmiro Gouveia/AL Fevereiro/2015

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS

CAMPUS SERTÃO

CURSO DE GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA - LICENCIATURA

ALINE ALVES DOS SANTOS

POLUIÇÃO AMBIENTAL NO RIACHO CARAIBEIRINHA, DELMIRO GOUVEIA-

AL: UMA EXPERIÊNCIA DE ENSINO DE GEOGRAFIA

Delmiro Gouveia/AL

Fevereiro/2015

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ALINE ALVES DOS SANTOS

POLUIÇÃO AMBIENTAL NO RIACHO CARAIBEIRINHA, DELMIRO GOUVEIA-

AL: UMA EXPERIÊNCIA DE ENSINO DE GEOGRAFIA

Trabalho de Conclusão de Curso – TCC apresentado ao Curso Licenciatura da Universidade Federal de Alagoas, Campus do Sertão, como requisito parcial para obtenção do grau de graduado em Geografia-Licenciatura.

Orientador: Prof. Msc. Kleber Costa da

Silva

Delmiro Gouveia/AL

Fevereiro/2015

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FOLHA DE APROVAÇÃO

AUTOR: Aline Alves dos Santos

POLUIÇÃO AMBIENTAL NO RIACHO CARAIBEIRINHA, DELMIRO

GOUVEIA-AL: UMA EXPERIÊNCIA DE ENSINO DE GEOGRAFIA

Trabalho de Conclusão de Curso submetido ao corpo docente do Curso de Geografia Licenciatura da Universidade Federal de Alagoas, Campus do Sertão. Aprovada em 11 de Fevereiro de 2015.

___________________________________________________

(Mestre, Kleber Costa da Silva, UFAL – Campus do Sertão) (Orientador)

Banca Examinadora:

___________________________________________________________

(Prof. Dr. Antonio Pedro de Oliveira Netto, UFAL - Campus do Sertão)

(Examinador Externo)

___________________________________________________________

(Prof. Dr. Angela Fagna Gomes de Souza, UFAL - Campus do Sertão)

(Examinador Interno)

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Agradeço primeiramente a Deus e em segundo lugar aos

meus pais, a Srª. Helena Alves dos Santos e ao Sr. Pedro

Pereira Sobrinho, estes a quem eu sempre dediquei o meu

amor e dei os melhores abraços.

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AGRADECIMENTOS

Em primeiro lugar agradeço a Deus pelas forças todos os dias para enfrentar as

dificuldades da vida.

A minha mãe, Helena Alves dos Santos, a quem eu dedico toda esta obra, esta que

considero uma guerreira. Sem a sua presença, seu amor e seu carinho, a minha caminhada na

graduação e na minha vida teria sido bem mais difícil.

Ao meu pai, Pedro Pereira Sobrinho, por sempre me ajudar quando precisei. Hoje,

posso dizer que foi o meu braço direito e que sua presença e figura de pai me traz muita

confiança para continuar realizando os meus sonhos.

Ao prof. Kleber Costa da Silva, ao qual tenho um grande carinho e respeito. Foi uma

das pessoas que Deus colocou em meu caminho e ficará marcado para sempre em minha vida.

Agradeço pela sua paciência e por nunca desistir de mim, mesmo quando, repetidamente,

mencionei que queria desistir de cursar geografia. Agradeço ainda, pelas orientações e por

sempre me ajudar nos momentos em que precisei. Hoje, vejo o quanto valeu a pena tudo que

fez e vem fazendo por mim. Saiba que suas reflexões em sala de aula ou nas conversas que

tivemos me ajudaram a ser uma pessoa melhor e mais humilde.

A todas as minhas amigas, em especial, Maíra Michelle, por sempre estarem comigo.

Sua presença e seu apoio foram fundamentais na concretização do meu trabalho. Agradeço a

Deus pela sua amizade e por compartilhar comigo os momentos bons e ruins.

A um amigo que não poderia deixar de mencionar, que, apesar da distância,

compartilhamos momentos únicos. Jamais me esquecerei da ilustre presença de Alexandre

Silva de Araújo e do que ele representou na minha vida.

A toda a minha família, em destaque a presença da minha prima Lilian Thaís, pelo seu

amor incondicional e por preencher minha vida de paz, esperança e fé em Deus. Saiba que sua

presença me trouxe muita paz espiritual. A minha tia, Maria Alves dos Santos, pelas diversas

vezes que precisei fazer refeições em sua casa e por sempre me acolher e cuidar de mim. A

minha prima, Mayara Santos Feitoza, pela companhia durante a graduação. Ao meu primo,

Will Moreira, por ter me ajudado com a matemática durante o ensino médio e fundamental,

seu apoio foi fundamental e serviu como alicerce para estar onde estou.

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Ao professor Marcos Antonio Farias, por me ajudar com as correções da língua

portuguesa.

Agradeço a Universidade Federal de Alagoas – UFAL Campus do Sertão, ao GESN, a

bolsa permanência e ao PIBID - CAPES, pois foram estes programas que possibilitaram o

término do meu curso e ao mesmo tempo me proporcionaram, através de projetos,

conhecimento.

A todos os meus professores da graduação, em especial, a Angela Fagna, ao Leônidas

Marques, por ter me ajudado com as normas da ABNT, nas escolhas dos autores e obras da

educação sobre percepção ambiental nas escolas. Ao José Alegnoberto, por ter me ajudado a

construir o mapa de Delmiro Gouveia-AL e ao Roberison Wittgenstein que, diante dos seus

questionamentos e críticas à geografia humanista, procurei dar um sentido e importância a

minha pesquisa.

Serei eternamente grata ao prof. Antonio Pedro de Oliveira Netto, por ter me ajudado a

coletar as águas do Riacho Caraibeirinha, pela sua disponibilidade, atenção, e por sempre tirar

as minhas dúvidas durante os momentos em que precisei Agradeço ainda, ao Laboratório de

Saneamento (LSA / CTEC / UFAL) pela análise das águas.

À escola Municipal Noêmia Bandeira da Silva, por permitir a realização da minha

atividade, em especial ao professor Paulo Cesar por disponibilizar as suas aulas para a

realização da minha atividade.

Aos meus amigos de trabalho, em especial ao Fábio Henrique Lima Ventura pela

compreensão, e por entender os momentos em que precisei me ausentar do trabalho em

função dos congressos e das aulas de campo.

Enfim, agradeço a todos que indiretamente torceram para que esta obra se realizasse e

por aqueles que ainda continuam acreditando no meu sucesso.

Ficam aqui, os meus sinceros agradecimentos!

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“a água que viabilizou o processo de urbanização tem sido constantemente

inviabilizada por ele”

(TORRES E MACHADO, 2012, p.03 e 04)

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RESUMO

A princípio esta pesquisa é fruto de algumas discussões realizadas no grupo GESN (Grupo de Estudo Sociedade e Natureza), cujo tema central foi à poluição ambiental nos bairros Caraibeirinha, Novo e COHAB Nova. Utilizamos a categoria lugar para dar subsídio teórico-metodológico à nossa investigação. Com isso, foi possível fazer uma leitura da poluição ambiental de um riacho que está inserido no meio urbano, na tentativa de discuti-la no ensino de geografia, em uma escola pública local. Quanto à relevância do tema, podemos dizer que nos levou a uma compreensão da existência de um dos principais riachos da cidade de Delmiro Gouveia-AL, que se estruturou em três capítulos: a) estudo teórico-conceitual, principalmente no que se refere ao conceito de lugar; b) constatação da poluição e contaminação do riacho Caraibeirinha a partir da análise dos parâmetros de pH, OD e DQO; c) experiência didática e pedagógica na escola municipal Noêmia Bandeira da Silva, com a participação dos alunos do 9° ano do ensino fundamental. Desse modo, o envolvimento com o ensino, a pesquisa e a extensão possibilitou um amadurecimento teórico-metodológico acerca do que foi trabalhado com: a) leitura da categoria lugar como ferramenta para interpretar a realidade; b) a relação entre conhecimento empírico e teórico; c) experiência com a iniciação à docência. De modo geral, os resultados deste trabalho nos fizeram refletir sobre a poluição ambiental, a questão das águas dos riachos urbanos e a escola como um espaço de discussão sobre questões ambientais no âmbito dos lugares.

Palavra-chave: Poluição ambiental. Riacho Caraibeirinha. Delmiro Gouveia.

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ABSTRACT

At first, this research is the result of some discussions in SNSG (Society and Nature Study Group), whose central theme was the environmental pollution in the following neighborhoods: Caraibeirinha, Novo and COHAB Nova. We used the place category to give theoretical and methodological benefits to our research, based on discussions held by Tuan (2012), Oliveira (2012) and Holzer (2012). Regarding to environmental pollution, we have been guided by Torres and Machado (2012) and von Sperling (2005). Thus, it was possible to analyze environmental pollution of a stream that is placed in urban areas, in order to discuss it in geography lesson in a local public school. Regarding to the relevance of the research, we can say that has led us to an understanding of the existence of one of the main streams of the city of Delmiro Gouveia-AL, which was structured into three chapters: a) theoretical and conceptual study, especially with regard to the concept of place, from the perspective of Tuan (2012, p. 136); b) finding of pollution and contamination of Caraibeirinha stream by the analysis of parameters such as pH, DO and COD; c) didactic and pedagogical experience in municipal school Noêmia Bandeira da Silva, with the participation of students in the 9th grade of elementary school. Thus, involvement in teaching, research and extension allowed a theoretical and methodological maturation by using the following tools: a) Reading the category “place” as a tool to interpret reality; b) the relationship between empirical and theoretical knowledge; c) experience with the initiation in teaching. n general, the results of this work have made us reflect on the environmental pollution, the issue of the waters of urban streams and the school as a space for discussion on environmental issues in places.

Keyword: Environmental pollution. Caraibeirinha stream. Delmiro Gouveia.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

LISTA DE FIGURAS:

Figura 1 – “Mapa - imagem mental” construído pelo aluno Alessandro Cristino de Andrade

(17 anos de idade).....................................................................................................................50

Figura 2 – “Mapa - imagem mental” construído pela aluna Jacineide da Conceição Silva (14

anos de idade) ...........................................................................................................................51

Figura 3 – “Mapa - imagem mental” construído pelo aluno José Marlon (13 anos de

idade).........................................................................................................................................52

Figura 4 – “Mapa - imagem mental” construído pela aluna Elionara Rodrigues dos Santos (13

anos de idade)............................................................................................................................53

LISTA DE FOTOS:

Foto 1: Riacho Caraibeirinha, localizado no bairro Caraibeirinha, município de Delmiro

Gouveia-AL .............................................................................................................................28

Foto 2: Riacho Caraibeirinha, localizado no bairro Novo, município de Delmiro Gouveia-

AL.............................................................................................................................................28

Foto 3: Coleta de água através da sonda multiparâmetros YSI Incorporated modelo

55..............................................................................................................................................31

Foto 4: Coleta da amostra da água para ser analisada em laboratório através do método

espectrofotométrico..................................................................................................................31

Foto 5: Aula de campo nas proximidades do bairro Caraibeirinha.........................................46

Foto 6: Aula de campo no bairro Novo...................................................................................47

Foto 7: Aula de campo no bairro Novo...................................................................................48

Foto 8: Encontro do riacho Caraibeirinha e Batoque no bairro COHAB Nova......................49

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LISTA DE GRÁFICOS:

Gráfico 1: Variação de pH, ao longo do riacho Caraibeirinha................................................34

Gráfico 2: Variação de Oxigênio Dissolvido, ao longo do riacho Caraibeirinha....................35

Gráfico 3: Variação da Demanda Química de Oxigênio Dissolvido e Oxigênio Dissolvido, ao

longo do riacho Caraibeirinha..................................................................................................36

LISTA DE IMAGENS:

Imagem 1: percurso do riacho Caraibeirinha, localizado em Delmiro Gouveia-AL...............13

Imagem 2: Imagem em AutoCAD dos bairros Caraibeirinha, Novo e COHAB Nova,

localizados na cidade de Delmiro Gouveia-AL........................................................................32

LISTA DE MAPAS:

Mapa 01- Localização da cidade de Delmiro Gouveia-AL......................................................27

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 13

2. PRESSUPOSTOS TEÓRICO-CONCEITUAIS ..................................................... 16

2.1- Os conceitos de espaço e lugar .............................................................................. 16

2.2. O conceito de percepção ambiental........................................................................22

2.3. O conceito de poluição ambiental..........................................................................24

3. CARACTERIZAÇÃO DO RIACHO CARAIBEIRINHA, NOS BAIRROS

CARAIBEIRINHA, NOVO E COHAB NOVA......................................................27

3.1. A constatação de poluição ambiental.....................................................................30

4. O ENSINO DE GEOGRAFIA E A PERCEPÇÃO DA POLUIÇÃO

AMBIENTAL..............................................................................................................38

4.1. O ensino de geografia: a importância de abordar a percepção..............................38

4.2. O ensino de geografia: o desafio de abordar a poluição ambiental...................43

4.3. O trabalho com os alunos.......................................................................................46

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS.....................................................................................55

6. REFERÊNCIAS..........................................................................................................58

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1. INTRODUÇÃO

Inicialmente esta proposta de trabalho é fruto de algumas discussões realizadas entre

2012 e 2014 junto ao grupo GESN (Grupo de Estudo Sociedade Natureza), do curso de

geografia da Universidade Federal de Alagoas, campus do sertão, onde buscamos analisar o

processo de poluição ambiental do riacho Caraibeirinha, localizado nos bairros Caraibeirinha,

Novo e COHAB Nova, na cidade de Delmiro Gouveia-AL.

S ETOR04

SETOR 106

SETOR07

Assim, este trabalho, então intitulado “Poluição ambiental no riacho Caraibeirinha,

Delmiro Gouveia-AL: uma experiência de ensino de Geografia”, permitiu fazer reflexões

acerca da poluição ambiental, especialmente no que se refere ao comprometimento da

qualidade das águas desse riacho e como tal problemática pode ser objeto de ação pedagógica

em relação ao ensino de Geografia. Com isso, consideramos, ao menos inicialmente, este

riacho como sendo intermitente, e em maior parte do seu percurso, coberto de vegetação,

sedimentos e rochas. No entanto, aos poucos a sua estrutura física foi substituída por

estruturas de concreto, que permeabilizam as águas desse riacho até chegarem ao riacho

Batoque.

Imagem 1: Percurso do riacho Caraibeirinha, localizado em Delmiro Gouveia-AL

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O objetivo geral do trabalho foi identificar três pontos de poluição do riacho

Caraibeirinha nos bairros Caraibeirinha, Novo e COHAB Nova, e exercitar a percepção

ambiental com os alunos do 9° ano da escola municipal Noêmia Bandeira da Silva. Para que

isso fosse alcançado, tínhamos como objetivos específicos: a) realizar uma leitura teórico-

conceitual; b) coleta de água de três pontos distintos dos bairros Caraibeirinha, Novo e

COHAB Nova; c) registro fotográfico; d) georreferenciamento; e) atividade na escola

municipal Noêmia Bandeira da Silva.

A constatação da contaminação das águas do riacho Caraibeirinha, através de esgotos

domésticos e lixos, permitiu realizarmos algumas reflexões sobre a composição da paisagem

urbana local e assuntos que estão diretamente e indiretamente ligados à saúde pública, bem-

estar e qualidade de vida.

A escolha do percurso teórico-metodológico se deu através da apreciação das

categorias espaço e lugares de vivência. Desse modo, fomos orientados por autores da

geografia humanista, tais como Tuan (2013, p. 12), quando considerou lugar como “centros

aos quais atribuímos valor e onde são satisfeitas as necessidades biológicas de comida, água,

descanso e procriação”. Ou seja, o lugar está “inserido no espaço” e ambos são a base para a

realização das atividades humanas, no entanto, o primeiro se destaca por valor cultural que lhe

é empregado. Oliveira (2012, p. 05) afirmou que “lugar é tempo lugarizado, pois entre espaço

e tempo se dá o lugar, o movimento, a matéria”. Holzer (2012, p. 291) ao afirmar que lugar

“está ligado a vivências individuais e coletivas a partir do contato do ser com seu entorno”.

Com isso, podemos afirmar que os lugares onde as pessoas residem refletem um modo de ser,

de viver e de agir, pois os principais pontos de poluição às margens do riacho coincidem com

o local onde as pessoas residem e estão próximas ao canal.

Com base nisso, o segundo momento do processo de investigação ocorreu quando

realizamos a coleta das águas do riacho Caraibeirinha em três pontos, nos bairros

Caraibeirinha, Novo e COHAB Nova. Além disso, realizamos os registros fotográficos e

georeferenciamos cada ponto da coleta. A análise dos parâmetros de pH (potencial

hidrogeniônico), DQO (Demanda Química de Oxigênio) e OD (Oxigênio Dissolvido) de cada

ponto coletado foi relevante para que pudéssemos afirmar que existe um processo de

contaminação desse riacho, pautado em uma análise que não se limitou a meras observações.

O terceiro momento da investigação ocorreu quando fizemos uma atividade

pedagógica na escola municipal Noêmia Bandeira da Silva, onde o objetivo principal foi

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exercitar a percepção dos estudantes do 9° ano do ensino fundamental. Isso nos direcionou a

uma discussão em sala de aula por meio de uma aula de campo e um exercício com “imagens-

mapas mentais” 1. Com isso, realizou-se uma leitura do lugar, um exercício perceptivo e uma

educação ambiental.

Por fim, esses três momentos resultaram em uma estrutura sumária organizada em três

capítulos. O primeiro trata de um relato dos conceitos de espaço e lugar, a partir de uma

perspectiva geográfica. No entanto, a investigação está fundamentada na categoria de lugar

com a qual compreendemos como ligado à noção de vivência. Além disso, já que a nossa

investigação tinha como problemática central a percepção e a poluição ambiental, decidimos

entendê-la a partir dos conceitos de percepção e poluição ambiental.

O segundo capítulo marca exatamente a localização do riacho Caraibeirinha e as

características do município de Delmiro Gouveia-AL, bem como a constatação da poluição

ambiental das suas águas. Feito isso, tratamos de construir uma análise dos parâmetros de pH,

OD e DQO, a fim de analisarmos, através dos resultados da pesquisa, o nível de contaminação

das águas.

O terceiro capítulo foi construído a partir do relato de uma experiência na escola

municipal Noêmia Bandeira da Silva, cujos exercícios se estruturaram em uma aula teórica

onde foram debatidos os conceitos de espaço vivido, lugar, mapas mentais, percepção

ambiental, rio/riacho/riacho urbano e ensino-aprendizagem. Promovemos uma aula de campo

na tentativa de fazer uma leitura da paisagem e da história do lugar, além de aliar a teoria à

prática e de exercitar a percepção. Por fim, realizamos uma atividade de confecção de

“imagens - mapas mentais” que possibilitou e serviu de ferramenta pedagógica alternativa

para avaliarmos o processo de ensino-aprendizagem dos alunos.

De modo geral, o nosso trabalho permitiu fazermos uma leitura da poluição ambiental

a partir de uma perspectiva geográfica, que teve a categoria lugar como subsídio para a

percepção de uma parcela da realidade. Além disso, esse trabalho envolveu uma pesquisa-

participante, onde foi possível construirmos saberes junto com os alunos, a partir da sua

própria vivencia cotidiana.

1 Considera-se tais “imagens – mapas mentais” como o registro de representações mentais acerca da realidade vivida. Fruto do processo de percepção individual, configura-se como um primeiro passo de conhecimento das localidades. Apresenta-se, nesse sentido, como ferramenta de apoio ao ensino de Geografia.

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2. PRESSUPOSTOS TEÓRICO-CONCEITUAIS

2.1- Os conceitos de espaço e lugar

A proposta inicial deste trabalho é a de construir um relato sobre o desenvolvimento

histórico do conceito de espaço, sob um olhar geográfico, que serviu como referência para

posteriormente tratarmos da nossa categoria de análise, neste caso, o lugar.

Assim, recorremos aos conceitos de espaço que foi entendido como espaço vital, a

partir das ideias de Ratzel, que tem como escala de análise o determinismo geográfico.

Embora essa ciência tenha colecionado vários conceitos-chave para estudar a realidade,

nessa escola geográfica, o espaço não era considerado como tal. Quanto ao seu significado,

este era entendido, segundo Moraes (2007, p. 70), como “uma proporção de equilíbrio,

entre a população de uma dada sociedade e os recursos disponíveis para suprir suas

necessidades”. Diante disso, o homem se vinculava ao espaço de acordo com os recursos

disponíveis na natureza para sua sobrevivência, mantendo, assim, uma relação de

dependência. Ainda assim, esta categoria não era estudo central para a investigação da

realidade, pois os estudos na geografia acabaram privilegiando os conceitos de paisagem e

região para a análise dos aspectos físicos e humanos.

Contrapondo-se ao determinismo, surge o possibilismo na França durante o século

XIX, tendo como figura principal o Vidal de La Blache, que também vislumbrava a relação

indissociável entre homem e natureza no espaço, não havendo restrições naturais para a

ação do homem. Assim, o homem se adapta ao espaço e intervém na natureza, através da

técnica, conforme suas necessidades e se tornou motivo de permanência no espaço. Para

Braga (2007, p. 66), o conceito de espaço, sob ponto de vista de La Blache, é a “coabitação

de homem e natureza e é prenhe de intencionalidade”. Com isso, o sujeito irá se sobressair

a qualquer adversidade natural, à medida que se utiliza da técnica para intervir na natureza.

A geografia racionalista, por sua vez, privilegiou o método dedutivo para os estudos

dos aspectos físicos e teve como figura principal, Richard Hartshorne. Um geógrafo norte-

americano, cujos estudos estiveram vinculados às diferenciações de áreas. Segundo Corrêa

(2012, p. 18), para Hartshorne, cabia ao geógrafo “descrever e analisar a interação e

integração de fenômenos em termos de espaço”. Portanto, o espaço era tratado como

“espaço absoluto”, ou seja, um conjunto de “pontos independentes”, interpretado como

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área e havia uma visão idiográfica da realidade, onde os estudos privilegiaram os aspectos

naturais e sociais.

A geografia pragmática surge como uma forma de renovação da geografia e teve como

base o positivismo lógico, onde os estudos estavam vinculados às diferenças regionais e

tinha como base a técnica estatística. Nesta, o espaço se destaca como conceito-chave,

porém “a concepção de espaço dos geógrafos teorético-quantitativistas é limitada”

(BESSA, 2004, p. 103-104). Com isso, os estudos das unidades espaciais estiveram

vinculados às técnicas estatísticas e aos dados coletados em campo, que pouco

contribuíram com a análise dos problemas sociais.

O surgimento da geografia crítica procurou romper com Geografia Tradicional e a

teorética-quantitativa, que tinha como objetivo discutir os problemas de caráter social. Essa

corrente de pensamento objetivava denunciar a realidade e as contradições sociais

existentes no espaço, tendo como base o materialismo histórico e a dialética e centralizou

questões que dizem respeito aos problemas de desigualdades sociais impostas pelo sistema

capitalista.

É nessa categoria geográfica (espaço geográfico) que é possível, por exemplo,

entender a relação entre sociedade e espaço. Segundo Santos (2008, p. 163), após

referenciar o pensamento de K. Kosik (1967), conclui que espaço é “um fato social, um

fator social e uma instância social”. Então, temos o espaço social que é produzido e

reproduzido pela sociedade.

Diante disso, sentimos a necessidade de colecionarmos alguns conceitos de espaço, de

acordo com a geografia crítica, a fim de compreendê-los a partir da leitura de alguns

autores. Segundo Santos (2009, p. 63), em sua obra “A natureza do espaço”, o espaço

geográfico é “formado por um conjunto indissociável, solidário e também contraditório, de

sistemas de objetos e sistemas de ações”. Podemos dizer que este é formado pela relação

indissociável de objetos e ações, que configuram e dão forma ao espaço.

Noutro momento, Santos (2008, p. 173) refletiu sobre a relação entre tempo e espaço,

onde os objetos revelam, através da paisagem, a sua historicidade. Assim, espaço é

considerado como “um testemunho; ele testemunha um momento de um modo de produção

pela memória do espaço construído, das coisas fixadas na paisagem criada”, sendo ele um

testemunho da relação que se firma entre as ações e os objetos, que ocorre num

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determinado tempo e espaço. Assim, podemos dizer que o seu estudo nos faz compreender

como se manifesta os objetos e as ações no tempo presente.

Para Castells (1983, p. 181), o espaço é resultado das relações sociais. Ele

desconsidera, a princípio, a ideia de “espaço como uma página branca”, e o caracteriza

como um produto material, assim: “um produto material em relação com outros elementos

materiais [...] que entram também em relações sociais determinadas, que dão ao espaço

[...] uma forma, uma função, uma significação social” (CASTELLS, 1983, p. 181).

Neste, o espaço é apontado como um produto material, resultado da sua relação com a

sociedade e de materiais com outros materiais.

Já para Corrêa (2012, p.44), ele é um “reflexo social e condição social”; sua

existência condiciona a existência humana. De modo que, é

[...] a morada do homem. Absoluto, relativo, concebido como planície isotrópica, representado através de matrizes e grafos, descritos através de diversas metáforas, reflexo e condição social, experienciado de diversos modos, rico em simbolismos e campo de lutas, o espaço geográfico é multidimensional (CORRÊA, 2012, p. 44).

Neste contexto, este conceito tido como um reflexo possibilita afirmar que, para

entender o espaço, é necessário estudar a sociedade que o produz. Assim, os espaços

possuem características dos seus moradores e refletem modos de vida diferentes e

singulares.

É sabido que o objeto de estudo da geografia é analisar a relação entre sociedade e

espaço, por isso foi que decidimos considerar o aspecto socioambiental, uma vez que, à

medida que o homem intervém na natureza, ele produz o espaço geográfico. Consideramos

ainda, que, com o passar do tempo as pessoas que residem no espaço acabam dotando-o de

valores culturais e subjetivos, pois são nos espaços que as pessoas constroem a sua história

de vida.

Com o passar do tempo, esses espaços, preenchidos de intencionalidades, acabam se

tornando um símbolo cultural, o qual passa a ser nomeado de lugar. Logo, justificamos o

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fato de ter essa categoria como análise central para as nossas discussões, uma vez que a

mesma possibilita entendermos o modo de vida e o apego das pessoas ao lugar.

Pensando nisso, foi que compartilhamos do que Moreira e Hespanhol (2007, p. 50)

perceberam da categoria lugar para explicar a realidade, pois para eles “o lugar é visto

como o mundo da vida, marcado pela experiência e percepção”, ou seja, esta categoria nos

leva a compreender o modo de ser e a essência que lugares são passíveis de serem

percebidos e representados.

Com isso, podemos dizer que a afetividade, o amor ao lugar, as relações sociais com

outras pessoas e com os objetos no seu entorno são alguns dos fatores que determinam o

apego ao lugar. Segundo Calisto (2006, p. 45):

Quanto mais o indivíduo atribui significado e importância para o ambiente, sentindo-se inserido neste, recheando-o com uma variada gama de intenções e transformações, tanto de caráter prático e objetivo quanto no sentido da subjetividade, emoções e sentimentos, mais este ambiente se converte em lugar.

Sabemos que o lugar é posterior ao espaço. Sendo assim, para entendê-lo sob a ótica

humanista nos apropriamos de alguns dos seus conceitos, tendo como base o que Tuan

(2013) considerou como espaço. Uma das afirmações o relaciona como sendo “um termo

abstrato para um conjunto complexo de idéias” (Tuan, 2013, p. 49), Este autor destacou ser

o espaço o “resultado de sua experiência íntima com o seu corpo e com outras pessoas,

organiza o espaço a fim de conformá-lo a suas necessidades biológicas e relações sociais”

(TUAN, 2013, p. 49). Assim, o autor o destaca como um resultado da experiência da

relação entre o homem e espaço, tendo como reflexão os valores subjetivos. Mais adiante,

ele considera como sendo “uma condição para a sobrevivência biológica” (TUAN, 2013, p.

76). Portanto, podemos afirmar que o espaço, sob a luz da geografia, é resultado da relação

entre natureza e sociedade.

Diante da importância do conceito de espaço, decidimos analisar alguns conceitos de

lugar, tendo como orientação Tuan (2013, p. 72), que nos concebe a ideia de lugar como

sendo “o espaço fechado e humanizado”, sendo ainda “um centro calmo de valores

estabelecidos”. É “uma pausa no movimento [...] a pausa permite que uma localidade se

torne o centro de reconhecido valor” (TUAN, 2013, p. 169). Com isso, à medida que são

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atribuídos valores ao espaço, este se caracteriza como lugar, obtidos a partir do tempo e a

permanência do indivíduo no espaço.

Tuan (2012, p. 136) atribuiu ao lugar a competência de ser considerado como um

caminho, o qual possibilita as emoções, sendo este um “veículo de acontecimentos

emocionalmente fortes ou é percebido como um símbolo”. Símbolo este, que representa

momentos singulares em um determinado espaço e tempo, guardados nas lembranças e no

subconsciente do homem.

Segundo Oliveira (2012, p. 04), lugar “se mescla, se confunde com o espaço

ocupado”. No entanto, esse é repleto de outras características, que vão além de um simples

habitat do homem. Esse representaria os valores e as afeições de uma comunidade.

Expresso pela sua essência, que se dá através “da experiência, do habitar, do falar e dos

ritmos e transformações” (OLIVEIRA, 2012, p. 15). Estes quando somados, caracterizam a

identidade de uma comunidade, em busca de uma valorização individual e conservação do

meio em que se insere.

Segundo Holzer (2012, p. 291), o ‘“lugar” está ligado a vivências individuais e

coletivas a partir do contato do ser com seu entorno; enquanto o “espaço” é uma

racionalização abstrata, uma construção mental, que busca uniformizar e homogeneizar o

“suporte físico”’. Com isso, temos o espaço como uma construção abstrata, enquanto o

lugar algo que se materializa por meio da vivência.

Para tentar compreender o conceito de lugar, a partir das relações de vivência,

buscamos analisar como tal estudo esteve situado na geografia. Por diversas vezes,

atribuíram-lhe um sentido locacional, decorrente dos estudos das áreas. Segundo Holzer

(2012, p. 281), “lugar, um conceito marginal para a geografia, foi por longo tempo

associado ao conceito de locação, relativo à localização de um determinado ponto no

espaço”. Com isso, somente a partir da geografia humanista, que os estudos de lugar

ganharam importância, e ele veio a ser considerado palavra-chave.

Para o seu entendimento é necessário o contato direto com as pessoas que vivenciam

esses lugares, percebê-lo enquanto lugar e não somente como espaço, nos instiga a querer

conhecer as experiências de vida dos sujeitos, à medida que constroem esses lugares e

como isso influencia no seu modo de vida. Como afirmou Relph (2012, p. 26), os “lugares

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só podem ser feitos por quem vive e trabalha neles, pois são tais pessoas que conseguem

entender de forma conjunta as construções, atividades e significados”.

Os lugares são cotidianamente construídos pelos sujeitos de maneira natural e

intencional, estando propícios a serem modelados e remodelados por pessoas diferentes.

Assim, o mesmo objeto presente no espaço tende a carregar vários significados, por meio

de pessoas diferentes, que podem despertar lembranças através do contato com a paisagem.

Percebemos que a convivência do dia a dia indica a construção de um laço afetivo

com o lugar que pode ser construído individualmente ou coletivamente. Com isso, algumas

pessoas desenvolvem a ideia de que sua existência se limita ao seu lugar e o tem como o

seu mundo, independente da escala geográfica. Nesse sentido, consideramos os lugares

enquanto símbolos que representam as manifestações culturais e históricas que dão razão à

existência do ser humano. “As brincadeiras no espaço coletivo, a respeitabilidade e a

convivência em endereços diversos despertam um profundo sentimento de bairrofilia,

sensação essa de apego, pertencimento, desenvoltura, filiação e bem-estar” (MELLO,

2012, p. 39).

A produção da vida no espaço não se limita aos aspectos materiais, foi nesse

sentido que enfatizamos a importância de estudar os aspectos simbólicos que, por um

momento, justificam a permanência das pessoas nos lugares e são capazes de superar as

adversidades naturais. Para Leite (1998, p. 12), os lugares são “uma construção subjetiva e

ao mesmo tempo tão incorporada às práticas do cotidiano que as próprias pessoas

envolvidas com o lugar não o percebem como tal”. Assim, o indivíduo que não se

reconhece como parte do seu lugar e não percebe a influência deste na construção da sua

existência, tende a vagar no espaço e na sua própria história de vida.

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2.2. O conceito de percepção ambiental

Esta palavra é oriunda do latim perceptio e pode ser definida como sendo “ato, efeito

ou faculdade de perceber” (FERREIRA, 2001, p. 526). Consideramos a percepção como

um sistema cognitivo capaz de explorar os estudos do meio ambiente. Marczwski (2006, p.

20) definiu como sendo “uma atividade mental de interação do indivíduo com o meio, que

ocorre através de mecanismos perceptivos propriamente ditos e, principalmente

cognitivos”. Tuan (2012, p. 30), por sua vez, definiu como “uma atividade, um entender-se

para o mundo”. Neste caso, entende-se um esforço mental diário e constante do intelecto

humano em sempre observar as modificações do meio.

Tais conceitos nos permite entender o significado da palavra percepção, dada à

importância que se dá a relação entre o homem e o meio. Segundo Melazo (2005, p. 46-

47), “as inter-relações entre o homem e o ambiente, suas expectativas, satisfações e

insatisfações, valores e condutas, como cada indivíduo reage e responde [...] às ações sobre

o seu meio”. Desse modo, podemos afirmar que a percepção é, antes de qualquer coisa, um

atentar-se para os problemas e para as qualidades ambientais e sociais que estão presentes

na sociedade.

É importante ressaltar que a percepção é um exercício dos sentidos, são eles: tato,

paladar, olfato, audição e visão. Contudo, alguns desses sentidos tende a se desenvolver e

ficar mais apurado com o passar do tempo, e isso está diretamente relacionado à cultura

das pessoas e às condições ambientais. Como afirmou Tuan (2012, p. 337), “a cultura e o

meio ambiente determinam em grande parte quais os sentidos são privilegiados”. Ou seja,

alguns sentidos tendem a ser privilegiados a depender das situações, por exemplo, as

pessoas que residem em seu bairro pouco perceberam as qualidades e os defeitos do seu

meio, é o oposto do que ocorre com o visitante que terá mais facilidade de fazer esse tipo

de julgamento. De acordo com Tuan (2012, p. 97), “o estranho julga pela aparência, por

algum critério formal de beleza. É preciso um esforço especial para provocar empatia em

relação às vidas e valores dos habitantes”. Ou seja, o indivíduo que vem de fora, fará um

tipo de julgamento fora do seu entendimento ou da sua realidade. Consequentemente “o

visitante, frequentemente, é capaz de perceber méritos e defeitos, em um meio ambiente,

que não são mais visíveis para o residente” (TUAN, 2012, p.99). Portanto, consideramos

que o visitante pode perceber as qualidades e os defeitos, predominantes no meio

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ambiente. Porém, é importante destacar que é por meio da vivência com os moradores do

lugar que é possível entender como se dá a construção dos lugares.

A poluição ambiental se tornou um grande problema social e muitos não a percebem

como tal, por isso, achamos necessário discuti-la, principalmente no âmbito geográfico.

Com isso, recorremos ao exercício da percepção ambiental, enquanto atividade

pedagógica, aliada ao ensino de geografia.

A justificativa para discutir a poluição ambiental está relacionada à tentativa de

amenizar os problemas ambientais que estejam diretamente relacionados ao

comprometimento da qualidade do meio ambiente. A análise da percepção ambiental nos

faz refletir sobre esses problemas e possibilita adotar medidas que visem solucionar ou

amenizar tais problemas.

Com isso, nosso trabalho não se limitou a discutir a relevância da percepção

ambiental, mas nos instigou a conhecer o conceito de poluição ambiental, uma vez que o

meio ambiente vem sendo constantemente modificado pelo homem.

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2.3. O conceito de poluição ambiental

O desenvolvimento das cidades às margens dos rios é o resultado de um processo de

ocupação histórica, sendo que no passado essa prática era exercida em função da pesca. Nos

dias atuais os leitos dos rios servem como deposito de esgotos sanitários, industriais ou

agrícolas, além de reservar grande quantidade de lixo. Diante da preocupação e o

comprometimento da qualidade da água, decidimos trabalhar os conceitos de poluição

ambiental e meio ambiente, uma vez que o homem vem modificando a natureza e construindo

o seu meio ambiente. Com isso consideramos que o conceito de ambiente é entendido como

um “conjunto dos meios ambientes de todas as espécies, pensados e/ou conhecidos pelo

sistema social humano” (DULLEY, 2004, p. 20). O homem tem o seu meio ambiente que vem

sendo modificado, através da técnica, e tem se distanciado de um meio natural.

No caso dos seres humanos, o seu meio ambiente mais comum são as cidades que podem ser vistas como natureza modificada pelo homem, afastada portanto da categoria natureza, assumindo a categoria de meio ambiente específico, denominado também de meio ambiente construído (DULLEY, 2004, p. 21).

Para os humanos, a cidade é o seu meio ambiente, sendo ele modificado e construído

pelo homem, e como afirmou o autor, cada vez mais se distancia de um ambiente natural.

Consequentemente, a ação do homem gera problemas ambientais com efeitos de degradação e

poluição ambiental, a exemplo da contaminação das águas que desenham o espaço urbano.

No que se refere ao conceito de poluição, consideramos esta como sendo um “ato ou

efeito de poluir. Contaminação e consequente degradação do meio natural” (FERREIRA,

2011, p. 544), gerados pela falta de comprometimento dos sujeitos que teimam em não

respeitar a natureza. Com isso, tornou-se imprescindível estudar o “meio ambiente

construído”, como chamou Dulley (2004), para entender a relação entre sociedade e natureza.

Diante disso, nossa pesquisa tem como fundamento os problemas oriundos da

contaminação das águas do riacho Caraibeirinha, localizado na cidade de Delmiro Gouveia-

AL. Esse problema não é local e não é uma particularidade dessa cidade.

A lei orgânica do município de Delmiro Gouveia-AL n° 934/08-GP aponta o

compromisso em preservar e conservar os recursos hídricos da cidade,

Em seu art. 2º aponta:

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a utilização dos recursos ambientais, na conformidade com o seu manejo ecológico, bem como para a preservação, melhoria e recuperação da qualidade ambiental propícia à vida, visando assegurar condições ao desenvolvimento sócio-econômico e à proteção da dignidade e qualidade da vida humana (DELMIRO GOUVEIA, 2008, p. 01).

Portanto, o bom manejo dos recursos naturais implica, em especial, na qualidade do

meio ambiente e na vida das pessoas. No entanto, embora a gestão municipal compreenda os

benefícios em não contaminar as águas urbanas, pouco faze para mudar esta situação. No art.

113, da mesma lei, fica claro que “é proibido o lançamento de esgotos, sem tratamento em

canais de drenagem de águas pluviais e em rede de drenagem pluvial” (DELMIRO

GOUVEIA, 2008, p. 27). Ainda assim, é possível visualizar na cidade de Delmiro Gouveia-

AL o lançamento de esgotos em leitos de riachos, a exemplo do riacho Caraibeirinha,

localizado nos bairros Caraibeirinha, Novo e COHAB Nova. Atualmente passou a ser

considerado um grande canal de esgoto a céu aberto. Os moradores antigos retratam a época

em que era possível tomar banho em suas águas.

Visualizamos que a maioria das pessoas residentes às margens desse riacho vivem em

situação de risco, devido às enchentes, ao convívio diário com as águas poluídas e grandes

quantidades de lixo. Risco esse, associado às moradias precárias, resultado da segregação

sócio espacial e econômica dos moradores que ali residem. Tuan (2012, p. 289-290) escreveu

que “são isolados por razões econômicas, sociais e culturais. Os distritos dos muito ricos e dos

muito pobres [...] sobressaem nitidamente no mosaico urbano”, os quais se localizam em áreas

sem infraestrutura adequada e sem qualidade de moradia.

Ainda assim, os moradores permanecem nesses lugares porque suas casas guardam

história, ou seja, faz parte do seu eu. Esses lugares são uma reafirmação da sua existência.

Esses fatores são alguns dos motivos que levam a comunidade a permanecer nas suas casas e

permitem enfrentar as adversidades naturais. Como afirma Tuan (2012, p. 99), “o ser humano

é excepcionalmente adaptável. Beleza ou feiura – cada um tende a desaparecer no

subconsciente à medida que ele aprende a viver nesse mundo”. Notamos a necessidade de se

analisar a percepção na vida do sujeito, pois ao longo do tempo, esses moradores não

conseguem enxergar a hostilidade desses espaços, os riscos que as águas contaminadas

oferecem e o mau-cheiro provocado pelos esgotos sanitários.

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Discutir os conceitos de poluição ambiental possibilitou o entendimento do processo

de transformação do meio natural pela ação do homem. Além do descumprimento da Lei n°

934/08-GP pela gestão municipal da cidade de Delmiro Gouveia-AL, que vem provocando a

poluição dos recursos hídricos e o aproveitamento de leitos de riachos para o lançamento de

esgotos sanitários.

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3. CARACTERIZAÇÃO DO RIACHO CARAIBEIRINHA, NOS BAIRROS

CARAIBEIRINHA, NOVO E COHAB NOVA

Este trabalho trata do processo de poluição ambiental das águas do riacho

Caraibeirinha, que se manifesta nas ruas da cidade de Delmiro Gouveia, sertão de Alagoas.

A cidade de Delmiro Gouveia-AL está localizada a, aproximadamente, 300 km da

capital, Maceió-AL. Como mostra o mapa 01, abaixo:

O riacho Caraibeirinha se transformou ao longo dos anos em uma espécie de canal

coletor de esgotos domésticos e lixos. Tal realidade se estende pela área urbana e se agrava,

ainda mais, nos espaços onde a quantidade de pessoas é maior.

A foto 1 mostra as águas do riacho Caraibeirinha com o seu leito ainda em contato

direto com o solo e com a vegetação. Essa é uma característica predominante no bairro

Caraibeirinha e no bairro COHAB Nova.

Mapa 01- Localização da cidade de Delmiro Gouveia-AL. Fonte: IBGE (2010). Elaborado por José Alegnoberto.

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Foto 1: Riacho Caraibeirinha, localizado no bairro Caraibeirinha, município de Delmiro Gouveia-AL. Aline Alves, 16-05-2014.

Foto 2: Riacho Caraibeirinha, localizado no bairro Novo, município de Delmiro Gouveia-AL. Aline Alves, 16-05-2014.

Já na foto 2 observamos a realidade do bairro Novo, onde o riacho ganha um novo

formato, sendo agora considerado um canal, com uma estrutura de concreto que dá maior

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fluidez à água e possibilita receber um número maior de águas, sejam elas de dejetos

domésticos ou das águas da chuva. Além disso, a arquitetura das casas nos revela que as

mesmas foram projetadas para o lançamento direto de esgotos domésticos no canal.

Com isso, verificamos um processo de degradação ambiental e comprometimento das

águas do riacho Caraibeirinha, que se tornou também um problema de caráter social, uma vez

que a qualidade de vida da população que vive às suas margens está cada vez mais

comprometida.

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3.1. A constatação de poluição ambiental

Após averiguarmos a deposição de esgotos domésticos e lixos nas águas do riacho

Caraibeirinha, surgiu a necessidade de verificar a qualidade das águas e constatar, a partir da

análise de pH (Potencial Hidrogeniônico), DQO (Demanda Química de Oxigênio) e OD

(Oxigênio Dissolvido), que as águas estão de fato poluídas e são impróprias para o consumo

humano.

Realizamos algumas aproximações teórico-conceituais com base em Von Sperling

(2005) e Torres e Machado (2012). Dispusemo-nos a fazer uma visita in loco para

verificarmos o processo de contaminação das águas do riacho Caraibeirinha, localizado nos

bairros Caraibeirinha, Novo e COHAB Nova, na cidade de Delmiro Gouveia-AL. Após

averiguarmos o processo de deposição de esgotos domésticos e lixos no curso d’água no meio

urbano, coletamos a água em três pontos distintos dos diferentes bairros citados acima. Assim,

os resultados dos valores pH, OD e DQO puderam revelar a qualidade da água através das

amostras coletadas. Para obter esses valores, em especial, de OD e pH, foi utilizada a sonda

multiparâmetros YSI Incorporated modelo 556. Esta sonda foi imersa no meio líquido a ser

avaliado e os resultados foram obtidos de forma imediata através do display acoplado (foto 3),

enquanto os resultados de DQO foram analisados em laboratório através do método

espectrofotométrico, após a coleta in loco (foto 4).

Realizamos ainda um registro fotográfico dos pontos mais críticos da poluição

ambiental do riacho Caraibeirinha, a fim de obtermos uma melhor visualização da paisagem

urbana e fazermos uma leitura de como o processo de degradação ambiental nos bairros

Caraibeirinha, Novo e COHAB Nova foram pensados diante da poluição ambiental.

Posteriormente, coletamos cada ponto da coleta (amostras 01, 02 e 03) com o GPS, com o

intuito de georeferenciar as áreas estudadas (imagem 02).

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Foto 3: Coleta de dados através da sonda multiparâmetros YSI Incorporated modelo 556. Autoria: Aline Alves, Delmiro Gouveia-AL, 17-01-2014.

Foto 4: Coleta da amostra da água para ser analisada em laboratório através do método espectrofotométrico. Autoria: Aline Alves, Delmiro Gouveia-AL, 17-01-2014.

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SETOR 04

SETOR 106

S ETOR 07

Imagem 02: Imagem em AutoCAD dos bairros Caraibeirinha (ponto 1), Novo (ponto 2) e COHAB Nova (ponto 3), localizados na cidade de Delmiro Gouveia-AL. Adaptado: Aline Alves.

A partir dos dados coletados, buscamos analisar os valores dos três parâmetros. Uma

das primeiras amostras analisadas foram os valores de pH, que está diretamente relacionado à

quantidade de íons de hidrogênio, e seus valores quando estão abaixo de 7, são caracterizados

como condições ácidas. Quando o pH se iguala a 7, dizemos que é neutra e quando é maior,

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nomeamos de condições básicas ou de alcalinidade. No ato da coleta, obtemos os seguintes

resultados: na primeira amostra o pH foi de 5,6 (bairro Caraibeirinha), na segunda, foi de 6,96

(bairro Novo) e, na terceira, foi de 6,69 (bairro COHAB Nova). Com isso, constatamos que os

valores se aproximam do pH 7, isso que dizer que, embora haja poluição, a água é levemente

ácida. Em termos de uso “não tem implicação em termos de saúde pública”, porém se o pH

for muito baixo provoca corrosão em canos, quando altos demais, ocorre o processo de

incrustação (VON SPERLING, 2005, p. 30).

Embora a primeira amostra esteja um pouco distante do pH 7, não quer dizer que as

águas possuam poder corrosivo. A justificativa para tal valor é devido a sua água parada no

ponto de coleta, ocasionado pela concentração de matéria orgânica, o que não ocorre, por

exemplo, no meio e no final do percurso, devido à fluidez da água. Ressaltamos ainda que o

pH quando afastado da neutralidade tende a afetar o tratamento biológico das águas dos

esgotos. Neste caso, podemos afirmar que as águas do Riacho Caraibeirinha possuem boas

condições para o tratamento biológico de esgoto. Já o pH elevado, ou muito baixo, indicam a

presença de efluentes industriais, embora este precise ser neutralizado antes de ser lançado em

qualquer rio, riacho ou córrego. Ainda assim, desconsideramos, ao menos inicialmente, que

haja esse tipo de contaminante nas águas pesquisadas.

No que se refere ao lançamento de efluentes domésticos no riacho, esse se tornou um

dos grandes contaminantes das águas, tendo o leito desse riacho se transformado em um

canal, dando-lhe uma nova configuração e função, aquela que permite receber todos os

dejetos humanos. No entanto, para o Von Sperling (2005, p.33) o “pH entre 4,5 e 8,2”, embora

considerados básico, “tem pouco significado sanitário”.

O gráfico 01 a seguir corresponde aos valores de cada amostra de pH:

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Outro parâmetro considerado na pesquisa foi o OD (Oxigênio Dissolvido), esse é o

principal indicativo para sabermos o grau de poluição das águas por compostos orgânicos.

Diante dos dados coletados detectamos os seguintes valores: no primeiro, o OD foi de 3,65

mg/L, no segundo, foi de OD de 1,59 mg/L, e no terceiro, de 1,63 mg/L. Assim, verificamos

uma quantidade razoável de oxigênio na primeira amostra, isso ocorre em função do local de

coleta da amostra ainda estar em processo de ocupação urbana. Já nas amostras 2 e 3 com OD,

respectivamente, 1,59 mg/l e 1,63 mg/l, percebemos que houve uma queda de oxigênio do

primeiro até o segundo, do segundo até o terceiro ponto a quantidade de oxigênio fica estável.

O gráfico 02 aponta os valores de OD das 3 amostras coletadas.

5,6

6,96 6,69

0

1

2

3

4

5

6

7

8

Amostra 1 Amostra 2 Amostra 3

pH

pH

Gráfico 1: Variação de pH, ao longo do riacho Caraibeirinha. Autor, 2014. Analisado pelo Laboratório de Saneamento (LSA / CTEC / UFAL)

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Em relação aos dados de DQO, podemos dizer que está relacionada à matéria orgânica

biodegradável e não biodegradável. Quanto maior a concentração de OD, menos poluído é o

receptor e, consequentemente, a DQO. Essa relação nos leva a compreender que os valores de

DQO possuem relação direta com os valores OD. Para melhor exemplificar, tomamos como

base os valores de OD coletados nessa pesquisa, que inicia com 3,65 mg/L, na primeira

amostra, vai para uma OD de 1,59 mg/L, no segundo ponto, e, no terceiro, passa a ser 1,63

mg/L. Assim, percebemos que, à medida que a água fica poluída, o oxigênio diminui, exceto

um pequeno aumento na última amostra. Com os valores da DQO ocorre o contrário, ela

tende a aumentar. Por exemplo, na primeira amostra, temos uma DQO de 192,25 mg/L, na

segunda, DQO de 238,27 mg/L e, na terceira, uma DQO de 264,01 mg/L. Esses valores

indicam que a quantidade de DQO é inversamente proporcional ao valor de OD.

3,65

1,59 1,63

0

0,5

1

1,5

2

2,5

3

3,5

4

Amostra 1 Amostra 2 Amostra 3

OD - mg/L

OD -mg/L

Gráfico 2: Variação de Oxigênio Dissolvido, ao longo do riacho Caraibeirinha. Autor, 2014. Analisado pelo Laboratório de Saneamento (LSA / CTEC / UFAL)

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Com isso, verificamos que a qualidade das águas do riacho Caraibeirinha está cada vez

mais comprometida, sua poluição está relacionada à inserção do curso do rio espaço urbano.

Com isso, “a qualidade das águas de um rio ou reservatório está sob a constante ameaça da

ação degradadora de certas substâncias poluentes. Estas podem originar-se de fontes pontuais

ou localizadas, com os esgotos domésticos e os efluentes industriais” (TORRES e

MACHADO, 2012, p. 151). Assim, a poluição está relacionada ao lançamento direto de

esgotos domésticos nos cursos d’água, sem que haja nenhum tipo de tratamento.

Segundo Morandi e Gil (2000 apud, TORRES e MACHADO, 2012, p.154), a

contaminação das águas se relaciona às seguintes doenças:

Por ingestão de água contaminada: cólera, disenteria amebiana, disenteria bacilar, febre tifoide e paratifoide, gastroenterite, giardíase, hepatite, leptospirose, salmonfelose; Por contato com água contaminada: escabiose, tracoma, verminose, esquistossome; Por meio de insetos que se desenvolvem na água: dengue, febre amarela, filariose, malaria.

1,0

1,5

2,0

2,5

3,0

3,5

4,0

100

150

200

250

300

Amostra 1 Amostra 2 Amostra 3

DQOOD

DQO - mg/L

Gráfico 3: Variação da Demanda Química de Oxigênio Dissolvido e Oxigênio Dissolvido, ao longo do riacho Caraibeirinha. Autor, 2014. Analisado pelo

Laboratório de Saneamento (LSA / CTEC / UFAL)

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Com a análise da qualidade da água buscamos reconhecer, a partir dos dados de pH,

DQO e OD, que as águas do riacho Caraibeirinha estão contaminadas, tomando como base

um método de análise que não se limitou a observações empíricas, mas sim a partir dos

valores de DQO que confirmaram a poluição desse riacho a partir de esgotos domésticos.

Essa análise serviu como fundamento teórico para discutirmos a problemática da

poluição ambiental na escola Noêmia Bandeia da Silva e identificar na aula de campo os

pontos mais críticos, indicando, por exemplo, onde havia maior indício de poluição ambiental,

na tentativa de auxiliar o trabalho do pesquisador no processo de ensino-aprendizagem dos

alunos.

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4. O ENSINO DE GEOGRAFIA E A PERCEPÇÃO DA POLUIÇÃO

AMBIENTAL;

A proposta deste trabalho está vinculada a um processo educativo que busca conciliar

o ensino da geografia em sala de aula, intercalando momentos de trabalho de campo, para

exposição e reflexão de conteúdos na escola. Nessa perspectiva, apontamos como um possível

caminho para a superação do ensino tradicional que não contempla aulas de campo, o

exercício perceptivo aliando teoria e empiria. Nesse sentido, buscamos uma atividade ligada

ao cotidiano dos alunos, para que se possa perceber o sentido dos lugares geográficos.

4.1. O ensino de geografia: a importância de abordar a percepção

Na tentativa de enxergarmos a importância dos lugares na vida dos sujeitos, foi que

nos instigou a mostrá-lo para agentes que anteriormente não sabiam da sua existência, na

tentativa de exercitar a percepção ambiental. De acordo com Matheus (2007, p. 145), “olhar e

perceber o entorno nos conduz a refletir sobre ele” e tem como intuito entender a lógica e a

organização urbana no contexto de uma reflexão madura no que diz respeito à relação entre

sociedade e natureza.

No entanto, nem sempre percebemos o que ocorre no nosso meio. Como afirma Tuan

(2012, p. 30), “é possível ter olhos e não ver; ouvidos e não ouvir”, tonando-se necessário o

exercício perceptivo, uma vez que a vivência e o contato direto do sujeito com o objeto não

despertam estranhamento para as qualidades e os defeitos presentes no seu meio. Diante disso,

tivemos que percorrer, metodologicamente, alguns caminhos para alcançar o nosso objetivo.

Um deles está na boa relação afetiva e profissional que precisa se estabelecer entre professor e

aluno, tendo como base a pedagogia relacional onde o aluno, assim como o professor, tem

autonomia para construir o conhecimento. Enquanto o docente tem a tarefa de estimulá-lo a

querer aprender, a conhecer, e isso “serve de patamar para continuar a construir e que alguma

porta abrir-se-á para o novo conhecimento - é só questão de descobri-la: ele descobre isto por

construção” (BECKER, 1999, p. 07). A ponto de não serem mais considerados como uma

tabula rasa sem conhecimento; ao contrário, o aluno possui conhecimento, ainda que

empírico, sobre sua realidade e isso só contribui para a sua aprendizagem. O reconhecimento

do seu meio facilita a compreensão sistemática, e nesse momento crucial, possibilitando

refletir sobre assuntos, não somente, da disciplina de geografia, mas a importância do lugar na

construção de sua identidade.

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De acordo com alguns autores da educação e pensando em novas abordagens de

ensino-aprendizagem, adotamos, como direcionamento, a seguinte questão: “não podemos

dizer que houve ensino se não houve aprendizagem” (VASCONCELLOS, 2010, p. 104).

Então, notamos que assim como o discente e o docente precisam estabelecer uma boa relação,

o conhecimento e a aprendizagem devem caminhar juntos. Diante dessa possibilidade, o

ensino e a aprendizagem só se firmam quando ambos enxergam que “ensina-se aprendendo e

aprende-se ensinando” (OLIVEIRA, 2009, p. 217).

Podemos dizer que a geografia, enquanto disciplina, tende a desenvolver melhor os

seus conteúdos, quando os sujeitos presenciam o conhecimento ao seu redor. Para isso, é

necessário que o professor tenha aula de campo como uma ferramenta didática de ensino,

possibilitando a análise da percepção. Logo, acreditamos que o aluno terá mais facilidade para

interpretar a sua realidade. Segundo Santaella (2012, p. 03), com a percepção conseguimos

“desvendar os processos cognitivos” dos sujeitos. Ou então:

São responsáveis pelas operações de reconhecimento, identificação, memória, previsibilidade, em síntese, habilidades mais propriamente cognitivas, que explicam por que as coisas que estão lá fora, no mundo, chegam até nós de modo que nos é compreensível (SANTAELLA, 2012, p. 03).

A percepção proporciona, ainda, enxergarmos uma realidade e um mundo, até então

desconhecido, auxiliando a compreensão deste e o seu significado. De acordo com Santaella

(2012, p. 30), “nossa percepção espacial revela que ser é estar situado”. Tal afirmação

possibilita entender que a importância da percepção está diretamente relacionada à nossa

subjetividade e à arte de interpretar os lugares vividos. Para Malysz (2011, p. 171), “o estudo

do meio nos possibilita perceber a ação da sociedade no espaço e no tempo e também nos

percebermos como sujeitos”, facilitando a interpretação da ação da sociedade na natureza.

Outra questão que consideramos relevante para melhorar a percepção do sujeito são as

ações dos objetos na construção e no desenvolvimento da mesma, principalmente, o exercício

dos sentidos, em especial, a visão. De acordo com Tuan (2012, p. 22) “o homem depende

mais conscientemente da visão do que dos demais sentidos para progredir no mundo”. Com

isso, podemos fazer uma leitura da paisagem já que esta revela a organização da sociedade no

espaço. Já que os objetos que constituem o espaço e “o que nós percebemos, num ato de

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percepção, é algo que aparece de certo modo. Algo insistente, impositivo, mudo, que não

somos nós, ou melhor, não é nossa mente que cria” (SANTAELLA, 2012, p. 91).

Assim, o desenvolvimento da percepção engloba, ainda, uma espécie de linguagem,

passível de ser representada, seja através de desenho ou de “mapa-imagem mentais”, que

possibilitam fazer uma leitura do modo de vida de moradores de um determinado lugar. Além

de expressar a cultura e os costumes como forma de valorização do sujeito que se realiza em

seu meio e dão sentido à sua existência. Quanto à importância de cada um, podemos dizer

que as representações expressam o que se vive no dia a dia. Já no âmbito escolar, pode ser

usado como um exercício, pois dá direcionamento ao professor para detectar se as leituras e a

aula de campo facilitam o processo de ensino-aprendizagem do aluno.

Segundo Nogueira (2009, p. 125), estudos “apontam os mapas mentais como

metodologia de investigação nos debates sobre percepção ambiental”. Por esse motivo,

consideramos que a representação tem contribuído para a análise de questões ligadas ao

ensino e ao aprendizado de geografia. Revelam, ainda, “saberes sobre os lugares que só quem

vive neles pode ter e revelar” (NOGUEIRA, 2009, p. 130), pois, somente aqueles que

vivenciam o meio identificam significados próprios aos lugares.

Os autores Kozel e Galvão (2008, p. 37) nos orientam para as atividades

desenvolvidas pelo sujeito como um valor simbólico e cognitivo, sendo “as interações entre

sujeito e o mundo, implicando numa atividade conjunta de construção e reconstrução no ato

da representação”. Portanto, averiguamos que as representações possuem um papel

importante para entender também as dimensões perceptivas espaciais. O sujeito precisa

acompanhar essas mudanças para acompanhar o que se passa no seu meio. Por isso, a

importância do exercício perceptível, pois, além de se tratar de uma atividade cognitiva,

representa os valores simbólicos que permeiam e se firmam nos lugares.

Quanto aos tipos de representação, consideramos basicamente os desenhos, os croquis

e cartas/mapas mentais. A primeira expressão trata de uma manifestação mais à vontade dos

alunos. De acordo com Pontuschka et al (2009, p. 293), o desenho representa para o professor

o “desenvolvimento cognitivo de certa realidade representada pelo aluno”, ou seja, é a

maneira mais espontânea de descrever como é vivenciado os lugares sob influência dos seus

costumes e das culturas. Santos (2009, p. 198), por exemplo, considera estes como “uma

representação, uma expressão gráfica e uma expressão conceituada”, sendo uma forma de

mostrar o que foi aprendido. Assim, a representação poderá ser expressa através de cores ou

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através de expressos traços gráficos. A segunda característica, de acordo com Pontuschka et al

(2009, p. 303), tem o conceito de “um desenho, um esquema rápido”, um tipo de pedagogia

pautada na observação direta com o objeto. A terceira e última, “trata-se de uma perspectiva

que implica conhecimento pessoal dos homens e dos lugares”, (PONTUSCHKA et al,2009, p.

312) que nos direciona a fazer uma leitura de como são vivenciados os lugares.

Para este trabalho consideramos a ideia de cartas/mapas mentais, por se tratar de um

instrumento capaz de revelar como o sujeito vivencia e constrói os significados relativos aos

seus lugares. No entanto, para que essa atividade possa se estabelecer enquanto atividade

pedagógica é necessário o contato direto com o objeto estudado. Somente partindo dessa

perspectiva, é que essa atividade poderá transcender os muros escolares para obter um bom

conhecimento através do contato com a realidade.

De modo geral, essas representações têm um objetivo específico: ultrapassar o modelo

tradicional do ensino de geografia, com intuito de colocá-la como uma ciência capaz de

reconhecer o papel do sujeito na sociedade. Assim, utiliza-se a realidade como objeto de

estudo para compreender a geografia, a fim de superar os conteúdos desatualizados do livro

didático, e a começar a formar cidadãos críticos. Buscamos despertar a percepção ambiental,

no intuito de entender as modificações ocorridas no meio pela ação do homem. Esta geografia

“transcende e supera algumas “velhas” formas de se fazer geografia na escola, pautadas,

sobretudo, na memorização de conteúdos e numa relação hierarquizada e autoritária entre o

professor e os alunos” (KOZEL e GALVÃO, 2008, p.43). Portanto, no âmbito escolar,

apontamos a aula de campo como um grande laboratório da geografia para tentar superar a

ideia tradicional de uma disciplina meramente decorativa.

Santos (2008, p. 93) afirmou que “a simples apreensão da coisa, por seu aspecto ou

sua estrutura externa, nos dá o objeto em si mesmo, o que ele apresenta, mas não o que ele

representa”. Com isso, a realidade, segundo o autor, não está relacionada à percepção do

sujeito, e o que ele julga ser real não condiz com a verdade dos fatos.

Com base em Tuan (2012, p. 93), “uma pessoa pode parar e interpretar os indícios

perceptivos de maneiras diferentes, como um exercício em racionalidade”. Assim, cada

indivíduo interpretará a realidade de maneiras diferentes; trata-se de valores subjetivos. No

que se refere a sua veracidade, podemos afirmar que “a verdade não é dada por meio de

alguma consideração objetiva da evidência. A verdade é subjetivamente admitida como parte

da experiência e da perspectiva global da pessoa”. Sob essa óptica, o que importa não é o que

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está sendo posto ou o que está em evidência para se constituir a verdade dos fatos, mas o que

a subjetividade do indivíduo pode nos oferecer em termos de conhecimento e da sua

experiência de vida.

Buscamos trazer à tona o papel da percepção no desenvolvimento do saber, tendo esta

como uma alternativa teórico-metodológica para o ensino de geografia, aliada à aula de

campo. Buscamos como reflexão os lugares de vivência e a importância da paisagem natural e

cultural na construção da subjetividade do sujeito, através da representação espacial, onde o

exercício perceptivo nos direcionou a entender os lugares de vivência e sua influência na

construção da identidade do individuo, que só se reconhece enquanto sujeito quando percebe

o seu meio.

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4.2. O ensino de geografia: o desafio de abordar a poluição ambiental

Consideramos a poluição ambiental, em especial, a dos recursos hídricos, como um

fator preocupante da sociedade urbana atual. Sendo um assunto em pauta nos discursos dos

gestores ambientais de cidades, tal questão vem acarretando preocupações de caráter

ambiental, econômico e social. Segundo Machado e Torres (2012, p. 04), “a degradação da

qualidade das águas urbanas tem se constituído num elevado custo econômico e social”, isso é

resultado da alteração da qualidade da água e do aproveitamento dos leitos de riachos para o

lançamento de esgotos domésticos, industriais e agrícolas, característico, em especial, do

espaço urbano. Ou seja, isto é fruto de um processo de urbanização acelerado e sem

planejamento ambiental das cidades brasileiras.

Dentre os problemas encontrados, pontuamos, para a nossa reflexão, aqueles que

predominam por todo o percurso do riacho Caraibeirinha. Encontramos grandes quantidades

de lixo, lançados pela população, problemas com saneamento básico e, consequentemente, de

tratamento de esgoto. Ainda assim, a sociedade não tem consciência da gravidade da questão

e muitas vezes dificulta a conscientização da população. Nesse sentido, o professor de

geografia assume papel importante ao propor a reflexão sobre o assunto.

Além disso, existem outros problemas a serem superados. Um deles está pautado no

discurso de que a água se autopurifica. No entanto, o lançamento direto de matéria orgânica

nos cursos d’água, em excesso, dificulta a capacidade de depuração da água, em função da

falta de oxigênio, necessitando, portanto, de tempo para que a matéria orgânica venha a se

decompor. É o caso, por exemplo, de áreas que recebem diariamente esgotos domésticos que

se refletem na contaminação e são facilmente percebidas seja pelo mau-cheiro ou pela sua cor.

Mesmo assim, as pessoas não percebem a gravidade, em especial da poluição das microbacias

que são as mais atingidas por estarem presentes no meio urbano.

Decidimos discutir esses assuntos na sala de aula, uma vez que este ambiente permite

esse tipo de diálogo. Ressaltamos a importância da preservação dos recursos disponíveis na

natureza, em busca de uma educação ambiental, a fim de conscientizarmos os alunos sobre a

problemática para que mais tarde possa servir de exemplo para os seus pais, amigos, vizinhos

e parentes.

Nesse sentido, escolhemos a EA (Educação Ambiental) como alternativa pedagógica

para cumprir nosso objetivo que, quando aplicado, permitiu reconhecer os valores dos

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recursos naturais. De acordo com Mansano (2006, p. 118), a EA “tem como objetivo a

conscientização das pessoas em relação ao mundo em que vivem, para que possam ter cada

vez mais qualidade de vida, respeitando o ambiente natural que as cerca”. O desafio é formar

cidadãos mais responsáveis e conscientes sobre os efeitos dos problemas ambientais na

sociedade. Isso não significa dizer que irá sancioná-los, mas pode ser uma das medidas,

adotadas, para amenizar tal problema. Mais tarde os cidadãos podem exigir do poder público

do município de Delmiro Gouveia, sertão de Alagoas, o tratamento efetivo dessas questões,

para que tenhamos ambientes mais saudáveis com qualidade de vida e possamos assumir um

papel de destaque na sociedade, enquanto sujeitos atuantes e críticos capazes de melhorar o

seu lugar.

Enquanto função pedagógica do professor, buscamos analisar o PCNEF (Parâmetros

Curriculares Nacionais do Ensino Fundamental), com intuito de identificarmos algumas

características pertinentes ao assunto, tendo-os como base para as discussões de caráter

geográfico.

Para isso, pontuamos os assuntos relacionados às questões ambientais e no decorrer

das nossas leituras, verificamos nas discussões certa preocupação com o espaço urbano. A

princípio analisamos as questões de natureza ambiental sob a luz da geografia, que quando

estudada sob essa ótica “favorece uma visão clara dos problemas de ordem local, regional e

global, ajudando a sua compreensão e explicação, fornecendo elementos para a tomada de

decisões e permitindo intervenções necessárias” (PCNEF, 1998, p. 46). Portanto, explicar os

fenômenos locais possibilita um melhor entendimento de ordem regional e global,

melhorando assim, a sua visão de mundo.

Diante disso, retornamos ao caso da poluição ambiental dos rios e riachos localizados

no meio urbano, onde suas margens ainda são atrativos de povoamento, além de serem alvos

de enchente, causando perdas de bens materiais daqueles que ali residem. Ainda no PCNEF

(1998, p. 62), esse assunto pode ser discutido para analisar a “enchente numa cidade, pode-se

ressaltar o papel de cada componente da natureza no processo que tornou a cidade alvo de

enchentes”. A partir desse enfoque, é possível entendermos os elementos naturais, inclusive a

função natural dos leitos dos rios e riachos, e entendermos que, ao longo do tempo, foi

atribuído uma nova função; a de receber águas contaminadas. Isso vem promovendo

enchentes nas áreas próximas a essas microbacias.

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O segundo questionamento está relacionado aos “tipos de ocupação”, onde “manejar o

ambiente e de certo modo prever conseqüências de determinados tipos de ocupação. Uma

cidade que foi implantada na várzea de um rio certamente está sujeita às suas inundações”

(PCNEF, 1998, p. 62 e 63). Esse ponto só reforça a relevância em conhecer e preservar a

natureza, utilizando-se ainda de planejamentos claros e efetivos na resolução dos problemas

mais urgentes.

Podemos perceber que o ensino de geografia, com base nos Parâmetros Curriculares,

possibilita fazermos uma leitura da importância da percepção para entendermos os fenômenos

encontrados no dia a dia, auxiliando o professor nas suas aulas de geografia, que terá como

base os lugares de vivência. Assim, de acordo com Malysz (2011, p.173), “o estudo das

interações entre sociedade e natureza, tomando o lugar de vivência como objeto de análise,

facilita a transposição didática do conhecimento científico para alunos do ensino

fundamental”. Diante disso, resta-nos entender a realidade para que o conhecimento seja

facilmente compreendido e, somente através da percepção ambiental, é que o aluno tomará

ciência dos problemas ambientais que o cercam.

Consideramos que a escola possui um papel relevante para essa construção, capaz de

formar cidadãos com responsabilidades socioambientais e conscientes do seu papel na

conservação do patrimônio natural. No entanto, tal ação só terá êxito quando a EA for

aplicada como uma necessidade para o bem-estar humano e natural, não somente como uma

obrigação, com clara visão para a concretização do processo de ensino/conscientização.

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4.3. O trabalho com os alunos

A imagem de poluição do riacho Caraibeirinha tornou-se central para a reflexão ora

pretendida a respeito da relação entre sociedade e natureza, pois constatamos a presença de

esgotos domésticos e grande quantidade de lixo em seu leito. Frente a esse processo, levamos

essas discussões para a escola municipal Noêmia Bandeira da Silva, com os alunos do 9º ano.

Dentre os conteúdos, trabalhamos os conceitos de espaço vivido, lugar, mapas mentais,

percepção ambiental, rio/riacho/riacho urbano, e ensino-aprendizagem.

Num segundo momento, realizamos uma aula de campo com os alunos para

conhecermos o riacho Caraibeirinha, localizado no bairro Caraibeirinha, Novo e COHAB

Nova, com intuito de analisar o processo de contaminação das águas, tendo como base uma

pesquisa-participante. Foram apresentadas aos alunos as características físicas de um riacho e

de um canal. Utilizamos como exemplo, as características do riacho nesses três bairros.

No primeiro bairro (Caraibeirinha), por exemplo, demos ênfase à estrutura física, que,

ainda se caracteriza como riacho, visto que possuem secções irregulares, pouca vegetação,

solo arenoso, ausência de infraestrutura e falta de iluminação, como mostra a foto 5.

Foto 5: Aula de campo nas proximidades do bairro Caraibeirinha. Autoria: Haroldo Oséias de Almeida, Delmiro Gouveia-AL, 16/05/2014

Seguimos em direção ao bairro Novo, e instigamos os alunos a fazer algumas

comparações com o bairro anterior. Nesse, por exemplo, pudemos perceber que o canal se

caracteriza como um canal retilíneo, feito de paredes verticais, com um fundo de concreto

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sem acabamento, pouca vegetação e um ambiente iluminado. No entanto, nesse trecho, ainda

no início, verificamos algumas construções de casas irregulares que foram projetadas para o

lançamento direto de esgotos domésticos. Além disso, constatamos que as casas ficam muito

próximas a leitos de rios, riachos e córregos, e estão sujeitas aos efeitos das enchentes durante

o período de chuva. Desse modo, refletimos junto com os alunos que a poluição ambiental

provoca problemas de caráter ambiental e social, principalmente, no que se refere à saúde

pública e implica na qualidade de vida do sujeito.

A foto 6 revela o contato dos alunos da escola Noêmia com o riacho Caraibeirinha.

Foto 6: Aula de campo no bairro Novo. Autoria: Haroldo Oséias de Almeida, Delmiro Gouveia-AL, 16/05/2014.

Na foto 7 observamos o bairro Novo, onde procuramos ressaltar que as margens do

canal possuem uma boa estrutura física, árvores no seu entorno e uma boa iluminação.

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Foto 7: Aula de campo no bairro Novo. Autoria: Haroldo Oséias de Almeida, Delmiro Gouveia-AL, 16/05/2014.

O terceiro ponto a ser analisado é o bairro COHAB Nova. Neste encontramos maior

contaminação das águas do riacho, por receber os dejetos dos bairros Caraibeirinha e Novo.

Verificamos que o riacho voltou a sua estrutura física inicial, embora as pessoas não o

nomeiem de riacho.

Além disso, verificamos o encontro de dois riachos poluídos: Caraibeirinha e Riacho

Batoque, que, ao se juntarem, seguem em direção ao povoado Lagoinha, e, sem tratamento

algum, deságua no Rio São Francisco.

Por fim, tivemos a oportunidade de apreciar um lugar onde predomina uma paisagem

natural, ponto de encontro dos dois riachos já mencionados. Devido as suas características

físicas podemos afirmar que o riacho Caraibeirinha apresenta irregularidades no seu leito,

com poucas árvores e grama no seu entorno, além de uma grande contaminação das águas

conforme a foto 8.

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Foto 8: Encontro do riacho Caraibeirinha e Batoque no bairro COHAB Nova. Autoria: Aline Alves, Delmiro Gouveia-AL, 17-01-2014.

Durante a aula de campo procuramos exercitar os sentidos, principalmente a visão e o

olfato, a partir de uma leitura da paisagem e da degradação da natureza pela ação do homem.

Após consolidarmos a teoria e a prática, realizamos uma atividade com os mapas

mentais para avaliarmos o desempenho dos alunos como exercício complementar de fixação

do conteúdo e verificarmos como os alunos perceberam a poluição ambiental, a fim de

avaliarmos se os alunos aprenderam o conteúdo e se a aula de campo auxilia no processo de

ensino-aprendizagem. Logo, foi possível identificar se no ambiente percebido predominava

características de topofilia (são as características boas do lugar) ou topofobia (são as

características consideradas ruins do lugar).

Para isso, selecionamos os principais mapas mentais, cujo critério foi à quantidade e

qualidade das informações. Na “imagem - mapas mentais” do aluno Alessandro Cristino de

Andrade, conseguimos analisar a poluição ambiental, através da retratação de lixos, destacado

com um circulo vermelho na figura 1. Além disso, percebemos a imagem de um riacho, pois

não existe a estrutura de concreto. A presença da natureza foi demonstrada através do sol, das

árvores e das nuvens, indicada pelas setas em vermelho. Concluímos que há predominância de

uma topofilia do lugar, pois existem mais elementos naturais sendo demonstrados do que o

próprio lixo, conforme figura 1.

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Figura 1 – “Mapa – imagem mental”construído pelo aluno Alessandro Cristino de Andrade (17 anos de idade). Autor: Alessandro Cristino de Andrade, 2014.

A aluna Jacineide da Conceição Silva retratou a presença do lixo, através de garrafas e

latas (destacada no círculo em vermelho). Mostrou a presença de animais como ratos, da

vegetação, (indicado pela seta em vermelho) e verificou o riacho Caraibeirinha canalizado. A

imagem nos passa uma imagem desagradável do lugar. Assim, podemos concluir que o

ambiente se caracteriza como uma topofobia do lugar, uma vez que a presença de objetos

artificiais é mais frequente, conforme figura 2 a seguir.

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Figura 2 – “Mapa – imagem mental” construído pela aluna Jacineide da Conceição Silva (14 anos de idade). Autor: Jacineide da Conceição Silva, 2014.

O que se destacou no desenho do José Marlon foram as ocupações irregulares às

margens do riacho Caraibeirinha. Além disso, o aluno conseguiu perceber o lançamento direto

de esgotos domésticos no canal, mesmo com a presença de uma estação de tratamento. Isso

nos faz refletir sobre o não tratamento de esgoto na cidade como um todo. Assim, concluímos

que prevalece a topofobia no lugar, de acordo com a figura 3 a seguir.

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Figura 3 – “Mapa – imagem mental” construído pelo aluno José Marlon (13 anos de idade). Autor: José Marlon, 2014.

A figura 4 revela a poluição ambiental, através do lixo, da água contaminada e das

construções irregulares às margens do riacho (como mostra os círculos em vermelho). As

setas, em vermelho, indicam a presença da natureza nesse ambiente considerado hostil.

Verificamos que o aluno retratou o lançamento de esgotos domésticos no canal. Outro

indicativo de poluição está relacionada ao lixo. No desenho da aluna Elionara Rodrigues dos

Santos também temos expressões que revelam a sua capacidade de argumentação sobre o

ambiente retratado.

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Figura 4 – “Mapa – imagem mental” construído pela aluna Elionara Rodrigues dos Santos (13 anos de idade). Autor: Elionara Rodrigues dos Santos, 2014.

Consideramos que trabalhar com “mapas-imagens mentais” estimulou os alunos no

entendimento do conteúdo, que deixou de ser complexo e se tornou mais acessível,

envolvendo criatividade, arte e distração. Assim, interpretar esses mapas produzidos pelos

alunos permitiu avaliar se, de fato, os alunos compreenderam os conteúdos e conhecimentos

trabalhados durante as aulas teóricas e práticas.

Quando decidimos trabalhar com os alunos da escola Noêmia, que, até então, não

conheciam a realidade mostrada, foi para eles enxergarem a topofilia e a topofobia do lugar, já

que os moradores não conseguem mais perceber devido ao convívio diário com o seu meio. A

princípio, sabíamos que os lugares de vivência foram construídos, ao longo dos tempos, pelos

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moradores e existe uma relação de amor com o seu lugar, isso explica o porquê deles

permanecerem em suas moradias mesmo que o ambiente seja hostil.

Com isso, tentou-se despertar a percepção dos alunos e uma atenção maior para as

questões de caráter ambiental. Pois, no decorrer do dia, as pessoas se esquecem de vivenciar a

natureza e não observam que a ação em jogar lixo no córrego agrava a qualidade do meio

ambiente em que a comunidade se insere. Foi o que aconteceu com a aluna Andreia da Silva

que manifestou sua opinião a partir do que ela viu durante nossa aula de campo. A mesma

escreveu:

[...] estivemos no bairro Novo e Novo horizonte. Aonde pude ver a realidade de muitos delmirenses e também de pessoas que moram em outras localidades como o bairro Novo Horizonte. Pouco a pouco a poluição tomou conta desse bairro, deixando totalmente poluído. O mau cheiro está em todas as ruas e lugares. As águas paradas que fazem os insetos se reunir e provocar doenças nas pessoas.

A maioria das pessoas que mora nesta localidade são pessoas humildes e sem condições de vida. Aproveitando que estava lá fiz uma entrevista com um morador sobre o que eles acham da situação, ele disse que não consegue dormir à noite com tantas muriçocas por causa do esgoto que passa perto das casas deles. E também quando chove a água da chuva e do esgoto invade as ruas e casas, molham os moveis e as casas enchem totalmente de água. Andreia da Silva, 13 anos.

Assim, constatamos que a aluna Andreia conseguiu verificar as causas e os efeitos do

processo de poluição e contaminação das águas que o riacho urbano trazem. Nesse sentido,

percebemos que o exercício da percepção e dos sentidos foram fundamentais para a

construção do conhecimento. No entanto, foi através da conversa com os moradores do lugar

que despertou nos alunos uma sensibilidade para com as pessoas que residem às margens do

riacho Caraibeirinha.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

As reflexões e os resultados obtidos neste trabalho nos ajudaram a entender o processo

de poluição ambiental do riacho Caraibeirinha, principalmente, no que se refere à

contaminação e comprometimento das suas águas, possibilitando abordar questões de caráter

ambiental aliadas à prática do ensino de geografia.

Com isso, os resultados obtidos através desta experiência de graduação em Geografia

se iniciaram após realizarmos uma aproximação teórico-conceitual sobre espaço geográfico e,

posteriormente, sobre a categoria lugar. Isso possibilitou exercitarmos a identificação dos

lugares vividos, as histórias de vida que são produzidas próximo ao riacho Caraibeirinha. Em

seguida, abordamos os conceitos de percepção e poluição ambiental em torno da compreensão

da cidade como um meio ambiente construído pelo ser humano. Com isso, passamos a elevar,

de certo modo, a importância de percebermos como ocorrem essas transformações que vão do

meio natural para um meio ambiente construído, socialmente, para e pelo homem.

As discussões tiveram como base as contribuições teóricas de Tuan (2013, p.12)

quando considerou lugar como “centros aos quais atribuímos valor e onde são satisfeitas as

necessidades biológicas de comida, água, descanso e procriação”. A partir disso, verificamos

que os lugares guardam lembranças e momentos vivenciados com a família, que já não estão

mais presentes. Isso justifica o fato de algumas pessoas ainda residirem nesses lugares,

mesmo com a presença de água contaminada e lixo, que resultam muitas vezes em ambientes

desagradáveis à permanência e à morada.

Após verificarmos os lugares de vivência foi que decidimos nos aprofundar sobre as

características físicas e químicas da água para sabermos se de fato as águas estavam

contaminadas. A constatação ocorreu através da análise dos parâmetros de pH, OD e DQO;

isso levou a identificarmos os principais pontos de poluição ambiental. O pH (Potencial

Hidrogeniônico), por exemplo, permitiu fazermos uma leitura da acidez da água e identificar

o tipo de poluente, neste caso, através de esgotos domésticos. Enquanto o OD (Oxigênio

Dissolvido) indicou o grau de poluição por meio da matéria orgânica, ou seja, onde havia

maior incidência de esgotos domésticos. Já a DQO (Demanda Química de Oxigênio)

possibilitou identificarmos a presença de matéria orgânica na água, devido a pouca incidência

de oxigênio.

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Pensando na possibilidade de dar continuidade a esta nossa pesquisa, decidimos levar

as discussões, até então caracterizadas como de iniciação científica e à docência no âmbito

estritamente geográfico, sugerimos o tratamento da temática no que tange às reflexões e

práticas relativas ao ensino de Geografia. A proposta considerou questionamentos que

levassem os alunos de uma escola pública local a pensarem a respeito da produção do espaço,

dos lugares e do cotidiano vivenciado.

Nesse sentido, a atividade foi realizada na escola municipal Noêmia Bandeira da Silva,

com os alunos do 9° ano, onde foi realizada uma aula expositiva, com o objetivo de dialogar

com a turma assuntos como: espaço vivido, lugar, mapas mentais, percepção ambiental,

rio/riacho/riacho urbano e ensino-aprendizagem. Contaram ainda os alunos com uma aula de

campo, onde foi imprescindível a consideração, ao menos num sentido teórico iniciante, de

duas categorias geográficas fundamentais: a) paisagem, necessária para auxiliar no processo

de ensino-aprendizagem dos alunos e a compreensão de aspectos relevantes à leitura da

realidade urbana local; b) lugar, como as pessoas vivenciam o entorno do riacho Caraibeirinha

e a questão da poluição ambiental em específico.

Por último, finalizamos nossa atividade com uma proposta pedagógica de confecção

de “mapas-imagens mentais” que serviu como ferramenta pedagógica alternativa para

avaliarmos o processo de ensino-aprendizagem dos alunos. O objetivo foi a leitura das

impressões individuais acerca das questões e temáticas desenvolvidas com base em etapas

anteriores. A tentativa foi construir informações verídicas e saberes que ampliassem o

conhecimento geográfico do lugar. Para isso, identificamos nos desenhos produzidos pelos

alunos a topofilia e a topofobia do lugar, configurando-se como um exercício de percepção.

Tais ações nos levaram a refletir sobre a possibilidade de superarmos o ensino baseado

numa pedagogia “tradicional”. Isso foi possível na medida em que permitiu intercalarmos

momentos de trabalho de campo e debates sobre de conceitos no âmbito do ambiente escolar.

Além disso, notamos que é um grande desafio aliar o conhecimento da pesquisa científica e

vivenciada na graduação e trazê-la para sala de aula, pois tivemos que adaptar a linguagem

acadêmica a diálogos próximos à realidade dos alunos. Sentimos que a nossa atuação na

escola municipal Noêmia Bandeira da Silva estimulou nos alunos a vontade de aprender, pois

percebemos que estes foram curiosos em saber da história do riacho, de como as pessoas

vivem e como elas convivem com o mau-cheiro provocado pela contaminação das águas. A

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confecção de “mapas - imagens mentais”, por sua vez, ainda que considerada uma forma de

avaliação, teve uma mistura de arte com produção de conhecimentos geográficos.

Por fim, gostaríamos de ressaltar que este trabalho abre várias possibilidades de

discussões acadêmicas no contexto da iniciação à pesquisa e ao ensino de Geografia.

Consideramos, nesse sentido, as limitações teórico-metodológicas para um tema tão amplo,

especialmente em relação a um Trabalho de Conclusão de Graduação em Geografia, mas

reconhecemos também as ricas possibilidades de aprendizado; logo, um dos nossos focos

centrais de experimentação acadêmica. Assim, este trabalho pretende ser registrado como um

humilde esforço de contemplação, de leitura direcionada a um aspecto relevante da realidade

(percepção da poluição ambiental no Riacho Caraibeirinha) e de um exercício de tratamento

metodológico.

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