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- 1 - UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS CENTRO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS CURSO DE AGRONOMIA ROSA MARIA CUNHA SEIXAS VARIABILIDADE ESPACIAL DA FERTILIDADE DO SOLO, DO ESTADO NUTRICIONAL E DA PRODUTIVIDADE EM CANAVIAL MANEJADO HOMOGENEAMENTE E VISUALMENTE UNIFORME RIO LARGO, ALAGOAS – BRASIL

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS

CENTRO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

CURSO DE AGRONOMIA

ROSA MARIA CUNHA SEIXAS

VARIABILIDADE ESPACIAL DA FERTILIDADE DO SOLO, DO ESTADO NUTRICIONAL E DA PRODUTIVIDADE EM CANAVIAL MANEJADO HOMOGENEAMENTE E VISUALMENTE UNIFORME

RIO LARGO, ALAGOAS – BRASIL

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2010

ROSA MARIA CUNHA SEIXAS

VARIABILIDADE ESPACIAL DA FERTILIDADE DO SOLO, DO ESTADO NUTRICIONAL E DA PRODUTIVIDADE EM CANAVIAL MANEJADO HOMOGENEAMENTE E VISUALMENTE UNIFORME

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à

Coordenação do curso de Agronomia do Centro de

Ciências Agrárias – CECA, da Universidade

Federal de Alagoas – UFAL como requisito para

obtenção do título de Engª Agrônoma.

Orientador: Profº Dr. Mauro wagner.

RIO LARGO, ALAGOAS – BRASIL

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2010

ROSA MARIA CUNHA SEIXAS

VARIABILIDADE ESPACIAL DA FERTILIDADE DO SOLO, DO ESTADO NUTRICIONAL E DA PRODUTIVIDADE EM CANAVIAL MANEJADO HOMOGENEAMENTE E VISUALMENTE UNIFORME

Trabalho de conclusão de Curso de Graduação em Agronomia apresentado em 11 de fevereiro de 2010 com média 9,0 pela banca examinadora formada pelos seguintes membros:

Profª Roseane Cristina Predes Trindade Universidade Federal de Alagoas

Profª Terezinha Bezerra Albino Oliveira Universidade Federal de Alagoas

Profº Mauro Wagner de Oliveira – Orientador

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Universidade Federal de Alagoas

DEDICATÓRIADEDICATÓRIADEDICATÓRIADEDICATÓRIA

Aos meus pais Josué e Aos meus pais Josué e Aos meus pais Josué e Aos meus pais Josué e Rodes, ao meu Rodes, ao meu Rodes, ao meu Rodes, ao meu filho filho filho filho Daniel Daniel Daniel Daniel

Vinícius, por serem as pessoas mais imVinícius, por serem as pessoas mais imVinícius, por serem as pessoas mais imVinícius, por serem as pessoas mais importantes da minhaportantes da minhaportantes da minhaportantes da minha

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vidavidavidavida.... Ao meu querido amigoAo meu querido amigoAo meu querido amigoAo meu querido amigo,,,, professor e orientador professor e orientador professor e orientador professor e orientador

Mauro Wagner a quem admiro e respeito.Mauro Wagner a quem admiro e respeito.Mauro Wagner a quem admiro e respeito.Mauro Wagner a quem admiro e respeito.

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AGRADECIMENTOSAGRADECIMENTOSAGRADECIMENTOSAGRADECIMENTOS

Primeiramente Primeiramente Primeiramente Primeiramente eu quero agradecer a Deus, porque dEle e para Ele são todas as coisas, e sem a eu quero agradecer a Deus, porque dEle e para Ele são todas as coisas, e sem a eu quero agradecer a Deus, porque dEle e para Ele são todas as coisas, e sem a eu quero agradecer a Deus, porque dEle e para Ele são todas as coisas, e sem a

força dEle eu não teria força dEle eu não teria força dEle eu não teria força dEle eu não teria chegado até aqui.chegado até aqui.chegado até aqui.chegado até aqui.

Aos meus pais Aos meus pais Aos meus pais Aos meus pais Josué e Rodes Josué e Rodes Josué e Rodes Josué e Rodes , por, por, por, porque são as colunas e os pilares que são as colunas e os pilares que são as colunas e os pilares que são as colunas e os pilares que que que que sustentam sustentam sustentam sustentam a minha vidaa minha vidaa minha vidaa minha vida e e e e

aaaa minha históriaminha históriaminha históriaminha história. Ao meu filho . Ao meu filho . Ao meu filho . Ao meu filho DanielDanielDanielDaniel,,,, que sem querer e até sem saber tornouque sem querer e até sem saber tornouque sem querer e até sem saber tornouque sem querer e até sem saber tornou----se a minha maior se a minha maior se a minha maior se a minha maior

inspiração de lutas e conquistas.inspiração de lutas e conquistas.inspiração de lutas e conquistas.inspiração de lutas e conquistas. A minha irmã A minha irmã A minha irmã A minha irmã Eurides Eurides Eurides Eurides que direta e indiretamente tem sempre me ajudado.que direta e indiretamente tem sempre me ajudado.que direta e indiretamente tem sempre me ajudado.que direta e indiretamente tem sempre me ajudado.

Ao meu estimado e abnegado orientadorAo meu estimado e abnegado orientadorAo meu estimado e abnegado orientadorAo meu estimado e abnegado orientador Mauro Wagner e sua esposa Terezinha bezerrraMauro Wagner e sua esposa Terezinha bezerrraMauro Wagner e sua esposa Terezinha bezerrraMauro Wagner e sua esposa Terezinha bezerrra, por toda , por toda , por toda , por toda

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Em especial quero agradecer a Edna pelas horas dedicadas e pela sua atenção incondicional para a Em especial quero agradecer a Edna pelas horas dedicadas e pela sua atenção incondicional para a Em especial quero agradecer a Edna pelas horas dedicadas e pela sua atenção incondicional para a Em especial quero agradecer a Edna pelas horas dedicadas e pela sua atenção incondicional para a

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Por fim quero agradecer a UFAl/CECA, Por fim quero agradecer a UFAl/CECA, Por fim quero agradecer a UFAl/CECA, Por fim quero agradecer a UFAl/CECA, PRPRPRPROOOOEST, PROEX, EST, PROEX, EST, PROEX, EST, PROEX, a coordenação do curso de agronoa coordenação do curso de agronoa coordenação do curso de agronoa coordenação do curso de agronomiamiamiamia

e e e e a todos professores e funcionários que direta e/ou indiretamente contribuíram para minha formação a todos professores e funcionários que direta e/ou indiretamente contribuíram para minha formação a todos professores e funcionários que direta e/ou indiretamente contribuíram para minha formação a todos professores e funcionários que direta e/ou indiretamente contribuíram para minha formação

superior.superior.superior.superior.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 01: Relação entre o pH em H2O e o Al+3 em 130 amostras de solos cultivados com cana-

de-açúcar na Zona da Mata Mineira ............................................................................06

Figura 02: Saturação por alumínio (m%) aos 40, 80 e 145 dias após início da incubação (D.A.I.)

de amostras de solo com calcário dolomítico e silicato de cálcio, utilizando-se uma ou

duas doses de corretivo predita analiticamente pelo método de saturação por

bases..............................................................................................................................09

Figura 03: Identificação das folhas +1, + 2 e + 3...........................................................................16

Figura 04: Esquema do deslocamento no campo para as amostragens de solo, folha e colmos da

cana-de-açúcar..............................................................................................................21

Figura 05: Coeficiente de variação dos teores foliares de macro e micronutrientes no terço médio

da folha +3 da variedade RB867515, no estudo de variabilidade do estado nutricional

em canavial manejado...................................................................................................27

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Neutralização da acidez do solo com CaCO3, elevação do pH, precipitação do alumínio e

disponibilidade de fósforo de um Latossolo Roxo.......................................... .................07

Tabela 2: Quantidade de calcário calculada pelo método de saturação por bases (V %), em t/ha, para

alcançar as saturações por bases de 40, 50 e 60% e, a saturação por base no solo atingida

após dois, três e quatro anos de condução dos experimentos e o incremento necessário

(I.N.) baseando-se na dose predita analiticamente..............................................................09

Tabela 3: Sugestão de doses de potássio para a adubação da cana, baseando-se na disponibilidade do

potássio extraído com Mehlich e na expectativa de produção de matéria

natural..................................................................................................................................13

Tabela 4: Composição química de vinhaças originárias de diferentes mostos, em amostras coletas na

Zona da Mata Mineira e Alagoana......................................................................................15

Tabela 5: Valores mínimos de disponibilidade de micronutrientes no solo, extraídos com solução de

DTPA e Mehlich-1..............................................................................................................16

Tabela 6: Faixas de concentração de nutrientes no terço médio da folha +2, ou +3, consideradas

adequadas............................................................................................................................17

Tabela 7: Resultados do pH em água e dos teores de fósforo (P), potássio, cálcio (Ca+2), magnésio

(Mg+2), alumínio (Al+3), hidrogênio + alumínio (H+ Al), soma de bases (SB), capacidade

de troca catiônica a pH 7,0 (CTC – T) e saturação por bases (V %) nas amostras de solos

da camada de 0 a 20 cm, do estudo de variabilidade espacial da fertilidade do

solo......................................................................................................................................23

Tabela 8: Resultados dos teores de matéria orgânica (M.O.), zinco (Zn), ferro (Fe),

manganês (Mn), cobre (Cu) e sulfato (SO42-) nas amostras de solos da camada de 0 a 20

cm, do estudo de variabilidade espacial da fertilidade do solo...........................................25

Tabela 9: Teores foliares de macro e micronutrientes no terço médio da folha +3 da variedade

RB867515, no estudo de variabilidade do estado nutricional em canavial

manejado.............................................................................................................................26

Tabela 10: Acúmulo de biomassa, produção de colmos industrializáveis e de açúcares, pela variedade

RB867515, no estudo de variabilidade espacial da produtividade em canavial manejado

homogeneamente e visualmente uniforme..........................................................................28

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SUMÁRIO

Página

RESUMO ......................................................................................................... VI

1. INTRODUÇÃO ........................................................................................... 1

2. REVISÃO DE LITERATURA .................................................................. 3

2.1. A cultura da cana-de-açúcar.................................................................... 3

2.2. A produção de biomassa e a remoção de nutrientes .......................... 4

2.3. Calagem e gessagem ............................................................................... 5

2.4. Adubação química ................................................................................ 11

2.5. Avaliação do estado nutricional da cana-de-açúcar ............................. 15

2.6. A variabilidade espacial e medidas usadas para quantificar a dispersão de resultados .........................................................................

17

3. MATERIAL E MÉTODOS ..................................................................... 20

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO............................................................... 23

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................... 29

6.REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA.......................................................... 30

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RESUMO

SEIXAS, R.M.C. Variabilidade Espacial da Fertilidade do Solo, do Estado Nutricional e

da Produtividade em Canavial Manejado Homogeneamente e Visualmente Uniforme.

Rio Largo: UFAL – CECA, 2010. 35p. (Trabalho de Conclusão de Curso).

Avaliou-se nesta pesquisa a variabilidade espacial da fertilidade do solo, do estado nutricional

e da produtividade em canavial manejado homogeneamente e visualmente uniforme. Na fase

de crescimento máximo da cana-planta e por ocasião da sua colheita realizaram avaliações

visuais da uniformidade do canavial, visando implementar o estudo no ciclo de primeira

rebrota. No ciclo de primeira rebrota foram realizadas dez amostragens, georeferenciadas, do

solo, das folhas + 3, e dos colmos industrializáveis, no centro do talhão de cerca de 5,0

hectares. Para as amostragens deslocou-se na diagonal do talhão e, a cada 30 m, realizou-se,

sempre no mesmo local, a coleta das amostras. As amostras de solo foram coletadas a cerca

de 20 a 25 cm do sulco de plantio e as folhas + 3 e os colmos industrializáveis em uma área

de 2,0 m2. Mesmo o canavial sendo manejado homogeneamente e estando a rebrota

visualmente muito uniforme, foram constatadas grande variação espacial da fertilidade do

solo, do estado nutricional e da produtividade de colmos e de açúcares. Em relação à

variabilidade espacial da fertilidade do solo observou-se que acidez, medida como pH em

H2O, foi a que menos variou, por outro lado constatou-se coeficiente de variação igual ou

superior a 50% para os teores de fósforo, potássio, zinco, ferro, manganês e cobre. Em

diversas amostragens o conteúdo de nutrientes no limbo foliar foi inadequado mesmo com as

plantas crescendo em solo com alta disponibilidade do elemento. Agrupou-se a variabilidade

espacial da concentração foliar dos nutrientes em três classes: a primeira com coeficiente de

variação (CV) inferior a 10%, a segunda variando de 10 a 15% e, a terceira maior que 15%.

Os elementos da primeira classe foram P, N e Mg. Para o teor foliar de P foi verificado o

menor coeficiente de variação, cerca de 5%, e todos os valores observados foram abrangidos

pela média ± dois desvio padrão. Potássio, zinco, boro e enxofre constituíram, em ordem

crescente de variação, a segunda classe. O coeficiente de variação dos teores foliares de

ferro,cobre e manganês foram da ordem de 20%. O cálcio foi o nutriente que teve maior

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variabilidade no conteúdo foliar, atingindo 40% de coeficiente de variação. Mesmo sob

deficiência nutricional a RB867515 apresentou alta produção de biomassa e de açúcares.

Palavras-Chave: Dispersão de resultados, amplitude da média, análise foliar, teor de

nutrientes, estado nutricional da cana-de-açúcar.

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1 INTRODUÇÃO

A cana-de-açúcar (Saccharum spp.) é uma cultura de grande importância para o Brasil,

atualmente maior produtor mundial. A área cultivada com cana-de-açúcar é de cerca de 8,0

milhões de hectares, plantada em pequenas, médias e grandes propriedades rurais,

empregando, portanto, grande número de pessoas de diferentes classes sociais, sendo na

maioria das vezes, utilizada para a produção de açúcar e álcool (SILVA et al.,2009).

Nas pequenas propriedades rurais o uso da cana-de-açúcar é mais comum na produção

de rapadura, açúcar mascavo, cachaça e alimentação animal: para ruminantes, em épocas de

preços altos do milho e/ou baixos da carne de suínos tem-se recorrido a cana-de-açúcar como

fonte de energia para a alimentação desses monogástricos, fornecendo aos animais na forma

de colmos picados, misturados à ração, ou como garapa (OLIVEIRA, M. et al., 2007).

Quando se utiliza a cana-de-açúcar na alimentação de ruminantes é necessário uma

complementação com proteína, minerais e amido para que a produtividade animal seja

satisfatória, pois o baixo teor protéico desta forragem associado às outras limitações

nutricionais, como alto teor de fibra de difícil degradação ruminal, baixos teores de amido,

fósforo e enxofre, resultam em consumo e rendimento limitados (EZEQUIEL et al., 2006 ).

Devido a elevada taxa de fixação do ar atmosférico pela cana-de-açúcar, por período

prolongado de tempo, associada à implementação, em grandes áreas, da colheita sem a prévia

despalha a fogo, o sequestro de carbono pela cultura está sendo visto como mais uma

contribuição ao meio ambiente, haja visto que atualmente no Brasil são utilizadas técnicas de

produção que reciclam nutrientes e resíduos produzidos pela cultura ou pela industrialização,

havendo nas usinas grandes pátios de compostagem. O bagaço da cana-de-açúcar é usado

tanto para a compostagem quanto para a produção de energia, mas há estudos em andamento

visando a sua hidrólise para posterior utilização na produção de álcool.

Várias tecnologias têm sido estudadas, tanto por pesquisadores quanto pelas unidades

sucroalcooleiras do Brasil, visando ao aumento da eficiência dos insumos, diminuição dos

custos de produção e elevação da produtividade da terra e da mão-de-obra, com o objetivo de

tornar a atividade lucrativa e sustentável. Dentre estas podem-se citar: a avaliação da

fertilidade do solo, o uso de adubação verde e de compostagem, os trabalhos para identificar

variedades com maior potencial produtivo e melhor adaptadas a determinados ambientes

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edafoclimáticos, o controle integrado de plantas daninhas, o uso de controle biológico para

pragas, especialmente para a broca da cana-de-açúcar e para as cigarrinhas, o planejamento

de colheita e o pagamento da cana-de-açucar pela qualidade do caldo e pelos açúcares

recuperáveis. Dentre essas tecnologias, a adubação assume papel de alta importância para o

aumento da produtividade da cana-de-açúcar, principalmente naqueles solos de comprovada

carência de nutrientes. A análise química do solo é uma ferramenta fundamental para avaliar a

fertilidade do solo e, conseqüentemente, determinar a necessidade de adubação das culturas

(FELIPE, 2008).

Outra tecnologia, mais recente, mas muito promissora é a agricultura de precisão, que

permitirá, dentre outros, adubar mais adequadamente os canaviais levando-se em

consideração a fertilidade do solo e a remoção de nutrientes pelas colheitas. Entretanto, para

sua implementação há necessidade de conhecer diversos atributos químicos do solo e da

planta e, especialmente sua variabilidade espacial.

Assim, nesta pesquisa, avaliou-se a variabilidade espacial da fertilidade do solo, do

estado nutricional e da produtividade em canavial manejado homogeneamente e visualmente

uniforme.

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2 REVISÃO DE LITERATURA

Em estudos e avaliações realizadas em Alagoas e em outras regiões produtoras de

cana-de-açúcar do Brasil têm-se constatado produtividade média dos canaviais, incluindo os

colmos industrializáveis, as folhas secas e os ponteiros, em torno de 100 toneladas de matéria

natural por hectare, sendo que aproximadamente 80% dessa massa é constituída pelos colmos

industrializáveis. Mas, conforme afirmam Demattê (2005), Vitti e Mazza (2002) e Oliveira, et

al. (2007), empregando-se corretamente a calagem, a gessagem, as adubações verde, orgânica

e química e, escolhendo-se adequadamente as variedades podem-se alcançar produtividades

superiores a 150 toneladas de matéria natural por hectare, e ainda sob irrigação complementar

essa produtividade média pode ultrapassar a 200 toneladas de matéria natural por hectare.

Desta forma, desde o planejamento até a implantação do canavial devem ser usadas

tecnologias que preservem ao máximo o meio ambiente e que por outro lado otimizem o uso

dos insumos, da terra e da mão de obra, resultando em aumentos de produtividade e em

redução dos custos de produção.

2.1. A cultura da cana-de-açúcar

A cana-de-açúcar (Saccharum spp.) é uma gramínea de relevante importância

socioeconômica e ambiental para o país. Esta importância é atribuída à sua múltipla

utilização, podendo ser utilizada “in natura”, na forma de forragem para alimentação animal, e

como matéria prima na fabricação de rapadura, melaço, cachaça e, principalmente, na

produção de açúcar e àlcool (CESAR et al., 1987; OLIVEIRA, M. et al., 2007).

Geralmente, o seu uso em pequenas propriedades é para alimentação humana e animal,

enquanto a produção das médias e grandes lavouras destina-se à fabricação de açúcar e álcool.

O rendimento econômico da cana-de-açúcar é dado pela produção de sacarose, componente

mais valioso, além de açúcares redutores utilizados para formar o melaço e, também o bagaço,

que pode ser utilizado para a compostagem ou como fonte de energia para a própria usina,

evitando ou diminuindo o uso de lenha ou de óleo combustível no processo industrial

(OLIVEIRA et al., 2002; OLIVEIRA, M. et al., 2007).

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2.2. A produção de biomassa e a remoção de nutrientes

A cana-de-açúcar por produzir grande quantidade de massa, extrai do solo e acumula

na planta, grande quantidade de nutrientes. Para uma produção de 120 toneladas de matéria

natural por hectare, cerca de 100 toneladas de colmos industrializáveis, o acúmulo de

nutrientes na parte aérea da planta esta na ordem de 150, 140, 180, 90, 50 e 40 kg de N, P, K,

Ca, Mg e S, respectivamente. No caso dos micronutrientes Fe, Mn, Zn, Cu e B, os acúmulos

na biomassa da parte aérea, também para uma produção de 120 toneladas são em torno de 8,0;

3,0; 0,6; 0,4 e 0,3 kg respectivamente (ORLANDO FILHO, 1993; VITTI e MAZZA, 2002;

DEMATTÊ, 2005, OLIVEIRA, M. et al., 2007).

O acúmulo de biomassa pela cana-de-açúcar depende de fatores climáticos,

principalmente da luminosidade, temperatura e disponibilidade hídrica do solo, sendo também

marcantes os efeitos da fertilidade do solo e do controle de plantas daninhas e pragas. Em

relação às doenças, o principal método utilizado é a seleção de variedades tolerantes ou

resistentes (BARBOSA et al., 2007).

Pesquisas têm mostrado que há diferença entre as variedades de cana-de-açúcar quanto

à eficiência na absorção e na utilização de nutrientes, havendo materiais que apresentam

produção razoável mesmo sob condições de baixa disponibilidade destes nutrientes na solução

do solo, enquanto outros, às vezes os mais produtivos, são consequentemente mais exigentes

(OLIVEIRA, et al., 2002, 2007). Na análise da eficiência nutricional de uma variedade de

cana-de-açúcar deve-se quantificar sua capacidade de absorver e utilizar os nutrientes para a

produção de biomassa seca, de proteína e de sacarose. A variedade que em uma mesma

condição edafoclimática consegue acumular maior quantidade de nutrientes é considerada

mais eficiente no processo de absorção e, aquela que produz maior massa de sacarose, ou de

biomassa, por massa de nutriente absorvido, é a mais eficiente na utilização deste elemento

(MENDES, 2006). É desejável que a variedade seja eficiente nos dois processos, mas nem

sempre se consegue alcançar este objetivo (BARBOSA et al., 2002; VITTI e MAZZA, 2002;

DEMATTÊ, 2005, OLIVEIRA, M. et al., 2007).

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2.3 Calagem e gessagem

A cana-de-açúcar é cultivada em muitos tipos de solo, possuindo diferentes fertilidade,

portanto, deve-se conhecer a capacidade de fornecimento de nutrientes pelo solo para, se

necessário, complementá-la com adubações e, se constatada a presença de elementos em

níveis tóxicos, reduzir sua concentração pela calagem e gessagem. Normalmente, se avaliam a

disponibilidade de nutrientes e a presença de elementos em níveis tóxicos no solo pela análise

química da camada arável, sendo também de grande valia o histórico da área, sobretudo as

adubações realizadas e se houve ou não ocorrência de sintomas de deficiência ou de toxidez

nos cultivos anteriores (OLIVEIRA, M. et al., 2007).

A acidez do solo é uma das principais causas da baixa produtividade agrícola, sendo

caracterizada pela alta concentração de íons hidrogênio (H+) na solução do solo e aos altos

teores de Al trocável, conhecidas como acidez ativa, acidez trocável ou nociva. A calagem é

uma prática cujos efeitos benéficos são bastante conhecidos na agricultura e visam

principalmente corrigir a acidez; neutralizar os efeitos tóxicos de elementos como o alumínio

e o manganês; fornecer cálcio e magnésio; contribuir para melhoria da estrutura do solo e da

vida microbiana, além de favorecer a ação de adubos químicos. Os solos brasileiros são, em

sua grande maioria, naturalmente ácidos, apresentando baixa saturação por cátions básicos,

como cálcio, magnésio e potássio. A deficiência de cátions básicos, associada aos altos teores

de alumínio, ferro e manganês, é prejudicial ao crescimento do sistema radicular e,

consequentemente, de toda a cana-de-açúcar (OLIVEIRA, M. et al., 2007; RAIJ, 2008).

Especialmente em relação ao alumínio há muitas observações experimentais indicando

que a maior parte da ação fitotóxica desse elemento ocorre no sistema radicular, que poderia

ser resumida da seguinte maneira: os primeiros sintomas observáveis de toxicidade são as

diminuições no elongamento radicular; a produção de biomassa radicular é normalmente mais

sensível à toxicidade do Al que a produção de biomassa da parte aérea; e uma correlação entre

o suprimento de Al e seu acúmulo na parte aérea não pode ser generalizada para todas as

plantas afetadas pelo metal (MACHADO, 1997; RAIJ, 2008).

De forma geral, a grande maioria dos pesquisadores se referem à toxidez do Al, mas o

Al(OH)2+ e o Al3

+, são essas formas fitotóxicas do alumínio, que afetam a divisão celular;

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inibem o crescimento das raízes; causam a precipitação do fósforo, tanto no solo como no

interior das raízes; diminuem a absorção de água e de nutrientes; afetam a fotossíntese e, por

consequência, a produtividade das culturas (NOVAIS e SMITH, 1999; OLIVEIRA, M. et al.,

2007). Após a aplicação do calcário há elevação do pH do solo e essa neutralização da acidez

do solo inicialmente precipita o alumínio. Na Figura 1 é mostrada a relação entre o pH em

H2O e o Al+3 em 130 amostras de solos cultivados com cana-de-açúcar na Zona da Mata

Mineira. Pela linha de tendência da figura pode-se constatar que, para valores de pH em H2O

maior que 5,5, há pouco ou nenhum alumínio na solução do solo.

0,00

0,20

0,40

0,60

0,80

1,00

1,20

1,40

4,25 4,50 4,75 5,00 5,25 5,50 5,75 6,00

pH em H2O

Al3

+(c

mo

l c/d

m3)

Figura 1. Relação entre o pH em H2O e o Al+3 em 130 amostras de solos cultivados com

cana-de-açúcar na Zona da Mata Mineira.

Fonte: Oliveira, M.W. Informação pessoal.

Após a precipitação do alumínio trocável há aumento da disponibilidade de fósforo na

solução do solo, decorrente da liberação de fósforo ligado ao alumínio, como observado por

Pavan e Oliveira (1997), em trabalhos conduzidos em latossolo roxo. Esses pesquisadores

constataram que a elevação do pH de 4,5 para 5,5 precipitou totalmente o alumínio e elevou o

teor de fósforo de 4,8 para 24,2 mg/dm3 (Tabela 1), mas a valores de pH de 6,5 e 7,0 houve

decréscimo na disponibilidade de fósforo pela formação de fosfato de cálcio.

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Tabela 1. Neutralização da acidez do solo com CaCO3, elevação do pH, precipitação do

alumínio e disponibilidade de fósforo de um Latossolo Roxo.

mg/dm3

4,5 1,80 0,66 0,37 1,60 12,56 4,8

5,0 4,40 0,68 0,38 1,00 10,00 5,5

5,5 7,6 0,70 0,35 0,00 6,73 24,2

6,5 10,60 0,70 0,36 0,00 3,66 16,0

7,5 15,00 0,66 0,36 0,00 0,20 8,0

PC átions bás icos trocáveis

.---------------------- cmolc/dm3 ----------------.

H+ +

Al+3 C a Mg K

Al +3

pH em

H 2O

Fonte: Adaptado de Pavan e Oliveira (1997).

O uso de fertilizantes nitrogenados, principalmente os amoniacais, e a remoção de

cátions básicos pelas colheitas também podem contribuir para que os solos se apresentem

ácidos, com isso tem sido uma prática comum, na cultura da cana-de-açúcar, a correção da

acidez do solo. Exemplifica-se, a seguir, com base em Malavolta et al. (1989), Oliveira, M. et

al. (2007) e Raij (2008), a acidificação causada por um fertilizante amoniacal, o sulfato de

amônio, (NH4)2SO4:

(NH4)2SO4 ↔ 2NH4+ + S04

2-; a seguir os 2NH4+ originários da dissociação do

(NH4)2SO4 são oxidados por Nitrossomonas e Nitrobacter, produzindo 2NO3-. Desta forma,

pode-se descrever a reação ácida do sulfato de amônio como sendo:

(NH4)2SO4 + 4O2 → 2NO3- + SO4

- + 2H2O + 4H+ .

Uma vez que 100 g de CaCO3 neutralizam 2,0 moles de H+ , para neutralizar 4H+ serão

necessários 200 g de CaCO3. Vários materiais podem ser usados como corretivos da acidez

dos solos, sendo os mais empregados os calcários calcíticos, magnesianos e dolomíticos e os

silicatos de cálcio e magnésio, designados de escórias de siderurgias. Nessas escórias, o teor

de óxido de magnésio oscila em torno de 8%, enquanto os calcários calcíticos possuem teores

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de MgO inferiores a 5%, os magnesianos entre 6 e 12% e os dolomíticos acima de 12%. A

eficiência desses produtos na correção da acidez do solo depende, dentre outros fatores, da

sua granulometria, da distribuição uniforme no campo e da disponibilidade hídrica do solo

VITTI e MAZZA, 2002; OLIVEIRA, M. et al., 2007).

Em relação à dosagem do corretivo, existem alguns métodos para estimar a quantidade

do produto a ser aplicado. Esses métodos baseiam-se na granulometria e poder neutralizante

do corretivo, bem como nas características químicas do solo, principalmente teores de cálcio,

magnésio, potássio, alumínio e hidrogênio (OLIVEIRA, 1993; OLIVEIRA et al., 1997;

OLIVEIRA, M. et al., 2007).

Na maioria dos estados brasileiros, a dose de corretivo a ser aplicada tem sido

estimada pelo método da neutralização da acidez trocável e da elevação dos teores de cálcio e

magnésio (SOUZA et al., 1997) ou pelo método de saturação por bases (RAIJ, 1997). Para a

cana-de-açúcar, tem sido recomendado elevar a saturação por bases (V) a 60%. Segundo Raij

(1997), a quantidade de calcário (QC) a ser usada, quando se emprega o método de saturação

por bases, é calculada pela seguinte expressão: QC (t ha-1) = [(60 – V) x T] ÷ PRNT (Eq. 1)

sendo V = saturação por bases atual do solo; T = capacidade de troca catiônica a pH 7,0; e

PRNT = poder relativo de neutralização total do corretivo utilizado.

Estudos conduzidos por Oliveira et al. (2004), em solos cultivados com cana-de-

açúcar na Zona da Mata Mineira, mostraram a necessidade de utilizar o dobro das quantidades

de corretivo calculadas pelos dois métodos (SOUZA et al., 1997; RAIJ, 1997), para

neutralizar o alumínio trocável ou elevar a saturação por bases a 60% (Figura 2).

Os resultados descritos por Oliveira et al. (2004) foram semelhantes aos obtidos por

Ernani e Almeida (1986), Oliveira et al. (1997) e Zancanaro (2002), ao compararem métodos

analíticos para avaliação da necessidade de calcário dos solos dos Estados de Santa Catarina,

Paraná e Mato Grosso, respectivamente. Estes autores também verificaram que o método de

saturação por bases subestimou, demasiadamente, a necessidade de calcário dos solos

estudados, sobretudo dos mais tamponados. Valores de saturação por bases inferiores aos

preditos analiticamente também foram encontrados por Morelli et al. (1992) em latossolo de

textura média, álico, cultivado com cana-de-açúcar. Os resultados obtidos por Zancanaro

(2002) em Campo Novo do Parecis e Nova Mutum (MT) são apresentados na Tabela 2. Esse

autor verificou que o incremento na dose de calcário estimada pelo método de saturação por

bases variou de 46 a 92%.

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0

10

20

30

40

50

60

70

80

40 dias 80 dias 145 dias

m (

%)

Testemunha Calcário dolomítico (Uma dose)Calcário dolomítico (Duas doses) Silicato de cálcio (Uma dose)Silicato de cálcio (Duas doses)

Figura 2 - Saturação por alumínio (m%) aos 40, 80 e 145 dias após início da incubação (D.A.I.) de amostras de solo com calcário dolomítico e silicato de cálcio, utilizando-se uma ou duas doses de corretivo predita analiticamente pelo método de saturação por bases.

Tabela 2 - Quantidade de calcário calculada pelo método de saturação por bases (V %), em t/ha, para alcançar as saturações por bases de 40, 50 e 60% e, a saturação por base no solo atingida após dois, três e quatro anos de condução dos experimentos e o incremento necessário (I.N.) baseando-se na dose predita analiticamente.

Local V% V% Calcário Calcário ( t/ha)*Inicial desejado t/ha Quantidade necessária

PRNT 80% (Dois anos após calagem)

2 3 4

8,3 40 2,5 24,6 24,6 27,6 4,8 92

8,3 50 3,3 30,6 30,6 31,4 5,8 76

8,3 60 4,1 38,7 38,7 35,2 6,9 68

Média 79

9,0 40 2,8 26,8 26,8 28,7 4,1 46

9,0 50 3,7 33,8 33,8 33,5 5,8 57

9,0 60 4,7 39,4 39,4 38,9 7,4 57

Média 54

Nova Mutum

(MT)

I. N.

(%)

V (%)Atingida após vários anos

da realização da calagem

Campo Novo

do Parecis

(MT)

* Quantidade de calcário necessária para área de vegetação de cerrado de primeiro ano de

cultivo. Fonte: Zancanaro (2002).

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Há uma conceituação generalizada que a melhor relação Ca+2: Mg+2 no solo é de 4:1,

assim o tipo de calcário, calcítico, magnesiano ou dolomítico, a ser usado deve-se basear nesta

relação. Por outro lado, alguns autores preconizam saturação de cátions trocáveis, em relação

à capacidade de troca catiônica efetiva do solo (t), de 80% de cálcio, 13% de magnésio e 6%

de potássio, proporcionando relações Ca:Mg, Ca:K e Mg:K, respectivamente de 6,15:1 ;

13,3:1 e 2,2:1. Entretanto, conforme afirmam Oliveira, M. et al. (2007) vários trabalhos

evidenciam-seque as concentrações de Ca e Mg na solução são mais importantes que a

relação entre esses cátions. No caso do milho, trabalhos conduzidos por Oliveira (1993) têm

indicado que as variações na relação Ca:Mg do solo de 01:01 a 12:01 em solos com teores de

Ca e Mg trocáveis acima de 2,32 e 0,40 cmolc dm-3, respectivamente, não afetaram o

rendimento e produção de matéria seca do milho.

Os altos teores de alumínio no solo, associados na maioria das vezes à teores

deficientes de cálcio, afetam o desenvolvimento das raízes, chegando até mesmo a impedir o

seu crescimento, conforme discutido anteriormente. Nestas situações, há no solo uma barreira

química, ou impedimento químico ao crescimento e aprofundamento do sistema radicular,

decorrente dos altos teores de alumínio trocável e da acidez elevada. Há portanto, necessidade

de romper essa barreira, o que pode ser conseguido experimentalmente incorporando o

calcário na profundidade de 0 a 40 cm, mas é impraticável nas lavouras comerciais devido à

necessidade de alta potência dos tratores, o que onera demasiadamente os custos de produção.

Uma alternativa à incorporação profunda do calcário é o uso de gesso, que aplicado

superficialmente ao solo, ou conjuntamente com o calcário, arrasta cálcio e magnésio para a

subsuperfície (VITTI e MAZZA, 2002; DEMATTÊ, 2005; OLIVEIRA, M. et al., 2007; RAIJ

, 2008).

O gesso agrícola ou fosfogesso, 10CaSO4.2H2O, é um subproduto da indústria de

fertilizantes, originário da reação entre o ácido sulfúrico e a rocha fosfatada, realizada para

produzir ácido fosfórico. Além do fosfogesso, o Brasil tem abundantes jazidas de gipsita no

sertão pernambucano, no centro-oeste e no norte, que podem fornecer o gesso para uso

agrícola. A solubilidade em água, cerca de 2,5 g/L, é um importante fator diferencial do gesso

em relação ao calcário: nem alta demais, que promove rápida lixiviação de íons, nem baixa

demais, que torne o material pouco inerte no solo (RAIJ, 2008). O gesso aplicado ao terreno

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não neutraliza a acidez do solo, mas diminui a saturação de alumínio e aumenta a saturação

por bases da subsuperfície, proporcionando condições para maior desenvolvimento e

aprofundamento do sistema radicular da cana (OLIVEIRA, M. et al., 2007; RAIJ , 2008).

Recomenda-se aplicar gesso quando for varificado teores de Ca2+ menores que 0,4

cmolc dm-3 e, ou, saturação por alumínio maior que 20%, na camada de 20 a 40 cm. A

aplicação de gesso levará à melhoria do ambiente radicular das camadas abaixo da arável,

efeito que perdura por alguns anos, por esse motivo não é necessária a reaplicação anual do

gesso. Em áreas com palhada de cana-de-açúcar ou de resíduos orgânicos sobre o solo e, se os

teores de Ca2+ não forem muito baixos e, ou, a saturação por alumínio não for muito alta, a

resposta ao gesso poderá ser menor, devido à presença de ânions orgânicos na solução do solo

(DEMATTÊ, 2005; OLIVEIRA, M. et al., 2007; RAIJ , 2008).

2.4 Adubação química

A adubação mineral da cana-de-açúcar baseia-se nos resultados da análise de solo, na

camada de 0 a 20 cm, e na produtividade que se deseja obter.

O acúmulo de nitrogênio pela cana-de-açúcar varia de acordo com o cultivar, a idade

da cultura, a disponibilidade do N e de outros elementos na solução do solo como também

depende de fatores edafoclimáticos. Para as variedades atualmente mais plantadas diversos

trabalhos (DEMATTÊ, 2005; MENDES, 2006 e, OLIVEIRA, M. et al., 2007) relatam que a

extração de nitrogênio oscila em torno de 1,2 kg por tonelada de matéria natural da parte

aérea. Considerando que as raízes e os rizomas correspondem, em média, a 30% da massa de

toda a planta, pode-se estimar que para cada t de matéria natural acumulada pela parte aérea

ocorre absorção de 1,5 kg de N pela planta. Portanto, para sistemas com produtividade

superior a 120 toneladas de matéria natural por hectare, a quantidade de N absorvida pela

cultura ultrapassa 180 kg.ha-1, sendo, nesses sistemas, sugerido o uso de adubação

nitrogenada, em doses variando de 60 a 100 kg por hectare (OLIVEIRA, M. et al., 2007).

As respostas das rebrotas de cana-de-açúcar à adubação nitrogenada são mais

frequentes que na cana-planta, com porcentual acima de 90%. Como recomendação geral,

sugere-se aplicar 1,0 kg de N por tonelada de matéria natural acumulada na parte aérea. Uma

vez que os colmos industrializáveis representam em média 80% da matéria natural da parte

aérea, produtividades de 100 t de colmos corresponderiam a 125 t de matéria natural. Nesse

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caso, a recomendação de adubação seria de 125 kg de N ha-1, devendo o adubo nitrogenado

ser aplicado, em dose única, juntamente com o potássio (OLIVEIRA, M. et al., 2007).

A uréia tem sido o fertilizante nitrogenado mais usado na adubação da cana-de-açúcar

em razão, principalmente, do menor custo por unidade de N, em comparação com outras

fontes. A aplicação de uréia sobre o solo ou sobre a palhada poderá levar a grandes perdas por

volatilização de amônia, conforme observado por Oliveira et al. (1999b), ultrapassando

valores da ordem de 40% do nitrogênio.

A maior dose de fósforo deve ser aplicada no fundo do sulco de plantio. Essa aplicação

a uma profundidade maior aumenta a absorção do nutriente pela cana, pois a disponibilidade

hídrica da subsuperfície varia menos que na superfície. A mobilidade do fósforo no solo é

pequena e, sua difusão é influenciada por diversos fatores, com destaque para: precipitação

por cátions como, ferro, alumínio e cálcio; conteúdo volumétrico de água no solo; adsorção

do fósforo pelos colóides do solo; complexidade da estrutura do meio; compactação do solo;

a distância a percorrer até atingir as raízes e o teor do elemento no solo, conforme relatam

Novais e Smith, (1999). Em geral, são registrados valores muito baixos de transporte de

fósforo, devido a sua forte interação com os colóides do solo, principalmente em solos muito

intemperizados e segundo esses mesmos autores, pode-se estimar que o transporte seja em

média de 0,013mm por dia.

O fósforo aplicado por ocasião do plantio da cana assegura, na maioria das vezes,

suprimento adequado do elemento para a cana-planta e para a primeira rebrota, devendo-se

utilizar formulações contendo P na adubação das rebrotas posteriores. Antecedendo a

adubação fosfatada das rebrotas, deve-se analisar o solo na camada de 0 a 20 cm, e, caso a

saturação por bases (V) seja inferior a 50%, recomenda-se, primeiramente, realizar uma

calagem para elevar V para 60%. A ausência de alumínio trocável na solução do solo aumenta

a eficiência da adubação fosfatada, especialmente por não haver formação, tanto no solo

quanto dentro das raízes das plantas, de fosfato de alumínio, um composto de baixa

solubilidade. Caso a saturação por bases seja maior que 50% e o teor de P, extraído com

Melhich, seja menor que 10 mg/dm3, recomenda-se a adubação fosfatada da rebrota

(BARBOSA et al., 2002; VITTI e MAZZA, 2002; DEMATTÊ, 2005; OLIVEIRA, M. et al.,

2007).

A dose de fósforo utilizada pode-se basear na restituição do P removido pela colheita;

nesse caso, para cada t de matéria natural devem-se aplicar de 200 a 300 g de P. Caso, por

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exemplo, a produção de matéria natural da rebrota tenha sido de 120 t por ha, cerca de 100 t

de colmos industrializáveis, devem ser aplicados de 25 a 40 kg de P por ha. O adubo fosfatado

deverá ser aplicado juntamente com o N e o K (OLIVEIRA, M. et al., 2007).

Nas grandes lavouras, a adubação N-P-K das rebrotas é realizada simultaneamente

com as operações de subsolagem e cultivo da entrelinha (VITTI e MAZZA, 2002;

DEMATTÊ, 2005). Em pequenas e médias propriedades, especialmente naquelas em que se

colhe a cana queimada ou para a alimentação animal, a sulcagem da entrelinha da cana-de-

açúcar com arado de tração animal para posterior adubação tem apresentado bons resultados.

O adubo N-P-K é aplicado no sulco aberto na entrelinha da cana-de-açúcar e, posteriormente,

coberto com terra, usando-se novamente implemento de tração animal (OLIVEIRA, M. et al.,

2007).

A adubação potássica da cana é realizada no plantio e após cada corte da cana-de-

açúcar, devido ao fato de o potássio se deslocar no perfil do solo. Essa adubação baseia-se

nos resultados da análise de solo da camada de 0 a 20 cm, na produtividade que se deseja

obter e na utilização da cana. Em canaviais destinados a alimentação do gado deve-se elevar a

dose de potássio a ser aplicada, pois a remoção deste nutriente será maior, uma vez que se

colhe a cana com os ponteiros e as folhas secas. A massa de potássio contida nos ponteiros e

folhas secas da cana-de-açúcar oscila em torno de 70 kg por ha (OLIVEIRA et al., 1999b),

podendo, na cana-planta, alcançar 140 kg por ha (OLIVEIRA et al., 2002b).

Na Tabela 3 estão apresentadas as representadas as recomendações para adubação

potássica da cana-planta das rebrotas, tendo como extrator o Melhich ou a resina de troca

iônica.

Tabela 3 - Sugestão de doses de potássio para a adubação da cana, baseando-se na

disponibilidade do potássio extraído com Mehlich e na expectativa de produção de matéria

natural.

Expectativa de Produção no Ciclo da Cana-Planta (t ha-1)

Classe de Fertilidade do Solo Baixa Média Alta

------------ Dose de K (kg ha-1)* ------------ Menos de 90 100 ------ -------

90 a 120 120 100 80 120 a 150 140 120 100 150 a 180 160 140 120

Mais de 180 180 160 140 * Para transformar K em K2O, multiplica-se o valor desejado por 1,20.

Fonte: Oliveira, M. et al. (2007).

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A dose de K a ser aplicada nas rebrotas pode-se basear na restituição do potássio

removido pela colheita, à semelhança do sugerido para as adubações nitrogenada e fosfatada.

Esse método é recomendado por Oliveira, M. et al. (2007) havendo segundo os autores

excelentes resultados agronômicos e financeiros. Embora a absorção e a remoção de potássio

variem entre os cultivares de cana-de-açúcar, pode-se considerar que para cada t de matéria

natural colhida há, em média, uma remoção de l,5 kg de K.

Não há necessidade de parcelar o potássio utilizado nas adubações das rebrotas,

devido às possíveis perdas por lixiviação. Nos estudos conduzidos por Oliveira et al. (2002c),

não foram verificados perdas de K por lixiviação, confirmando resultados encontrados por

Sampaio e Salcedo (1991) que também observaram que as perdas de K, por percolação abaixo

de 100 cm de profundidade, foram de 9,0 kg ha-1, totalmente compensados pelo aporte de K

provindos da água da chuva, 18 kg por ha.

O cloreto de potássio tem sido a fonte de K mais utilizada nas adubações, entretanto

outros resíduos contendo potássio também o são, sendo um deles a vinhaça; subproduto da

fabricação do álcool. A vinhaça pode substituir a adubação potássica, assim a quantidade de

potássio fornecida pela aplicação de vinhaça deve ser integralmente deduzida da adubação

mineral (VITTI e MAZZA, 2002; DEMATTÊ, 2005, OLIVEIRA, M. et al., 2007).

O volume de vinhaça aplicado tem variado de 60 a 300 m3 ha-1, dependendo da

concentração de potássio. A concentração de K na vinhaça originária do melaço é maior que

nos demais, seguida pela proveniente do mosto misto que contém, em média, duas vezes

maior que na vinhaça originária do caldo da cana, com valores oscilando em torno de 2,5 e

1,2 kg m-3, respectivamente (Tabela 4).

Em grande parte das áreas cultivadas com cana-de-açúcar no Brasil tem ocorrido

suprimento adequado de micronutrientes pelo solo, dispensando, portanto, o seu uso nas

adubações químicas. Entretanto, a implantação de canaviais em áreas menos férteis ou

marginais, associada à adubação com fertilizantes concentrados e ao plantio de variedades de

alta produtividade, que cada vez mais aumentam a absorção e exportação de nutrientes, tem

causado a deficiência de micronutrientes em diversas lavouras de cana-de-açúcar, havendo,

nesses casos, a necessidade de fornecer os microelementos pela adubação (DEMATTÊ, 2005;

OLIVEIRA, M. et al., 2007).

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A análise de solo, o histórico da área e da variedade têm sido utilizados como métodos

preditivos de avaliação da possibilidade de ocorrência de deficiência de micronutrientes,

porque os resultados analíticos são influenciados pelo extrator utilizado, pelas características

do solo e da variedade e, também, pela época de coleta da amostra, havendo, inclusive, relatos

de efeitos marcantes da temperatura ambiente e da umidade do terreno sobre os teores de

micronutrientes (PAVAN e MYASAWA,1984; PEREIRA et al., 2001).

Tabela 4. Composição química de vinhaças originárias de diferentes mostos, em amostras coletas na Zona da Mata Mineira e Alagoana.

Melaço Misto Caldo de cana

N 0,57 a 0,79 0,33 a 0,48 0,25 a 0,35P 0,05 a 0,15 0,03 a 0,14 0,03 a 0,07K 3,27 a 6,32 1,81 a 2,78 0,95 a 1,61Ca 1,32 a 1,70 0,40 a 0,95 0,08 a 0,52Mg 0,50 a 0,85 0,19 a 0,35 0,13 a 0,25S 0,30 a 0,40 0,45 a 0,54 0,58 a 0,70

Matéria orgânica 37,0 a 57,0 19,1 a 45,1 15,3 a 34,7

Fe 52 a 120 47 a 130 45 a 110Cu 3,1 a 9,3 4,2 a 57,3 1,0 a 18,0Zn 3,0 a 4,0 3,0 a 4,0 2,0 a 3,0Mn 6,0 a 11,0 5,0 a 11,0 5,0 a 10,0

pH 4,2 a 4,4 3,6 a 4,4 3,5 a 3,8

Origem do mosto

g do elemento/m3 de vinhaça

kg do elemento/m3 de vinhaçaComposição

química

Fonte: Oliveira, M.W. Informação pessoal.

Na Tabela 5 estão citados os teores mínimos de disponibilidade de micronutrientes no

solo, extraídos com solução de DTPA e Melhich -1, abaixo dos quais esses microelementos

devem ser fornecidos às plantas pela adubação. As doses de cobre, zinco, manganês e ferro a

serem aplicadas, no caso de deficiência, são respectivamente: 2,5 a 6,0; 5,0 a 7,0; 3,0 a 6,0 e,

6,0 a 10,0 kg ha-1.

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2.5 Avaliação do estado nutricional da cana-de-açúcar

A análise química das folhas da cana-de-açúcar é mais uma forma de avaliar o estado

nutricional das lavouras. A preferência pelas folhas deve-se ao fato de elas serem a parte da

planta que, de um modo geral, refletem as variações no suprimento de nutrientes, tanto do

solo quanto das adubações. Em cana-de-açúcar tem sido recomendado coletar as folhas +2 ou

+3. A folha +1 é, no sentido descente do caule, a primeira que apresenta a lígula (região de

inserção da bainha foliar no colmo) totalmente visível (Figura 3). Para a análise química

utiliza-se o terço mediano da folha +2 ou +3, excluída a nervura central.

Tabela 5. Valores mínimos de disponibilidade de micronutrientes no solo, extraídos com

solução de DTPA e Mehlich-1 ------------------------------------- Extrator ----------------------------------- ----------------- DTPA ------------- -------------- Mehlich-1 ----------

------------------------------------ Elementos ---------------------------------

Disponibilidade Cu Zn Mn Fe Cu Zn Mn Fe

------------------------------------- mg dm-3 ----------------------------------- Baixa ≤ 0,2 ≤ 0,5 ≤ 1,2 ≤ 4 ≤ 0,8 ≤ 1,0 ≤ 6 ≤ 19 Média 0,3-

0,8 0,6-1,2

1,3-5,0

5-12 0,8-1,2

1,0-1,5

6-8 19-30

Alta > 0,8 >1,2 > 5,0 > 12 > 1,2 > 1,5 > 8 > 30 DTPA: ácido dietilenotriaminopentaacético 005molc/L, Mehlich-1: HCl 0,05 molc.H2SO4 0,025 molc/L Fonte: Oliveira, M. et al. (2007).

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- 17 -

Figura 3 – Identificação das folhas +1, + 2 e + 3. A folha +3 é a indicada pela seta

vermelha.

As amostras do terço mediano devem ser primeiramente lavadas em água

corrente limpa e, posteriormente, em água destilada. A seguir, o material deve ser seco a 65

ºC até peso constante, caso não seja possível esta secagem, deve-se enviar rapidamente as

amostras para o laboratório onde serão analisadas. Na tabela 6 estão citadas as faixas de

concentrações de nutrientes, consideradas adequadas, conforme citação de pesquisadores

brasileiros.

Tabela 6 - Faixas de concentração de nutrientes no terço médio da folha +2, ou +3,

consideradas adequadas.

Autores

---------------------------------- Nutrientes --------------------------------------

N P K Ca Mg S

---------------------------------- g kg-1---------------------------------

Malavolta et al. (1989)* 19-21 2,0-2,4 11-13 8,0-10 2,0-3,0 2,5-3,0

Malavolta et al. (1989) ** 20-22 1,8-2,0 13-15 5,0-7,0 2,0-2,5 2,5-3,0

Raij et al. (1996) 18-25 1,5-3,0 10-16 2,0-8,0 1,0-3,0 1,5-3,0

Orlando Filho (1983) 16 - 26 2,0-3,5 6 -14 4,3-7,6 1,1-3,6 1,3-2,8

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B Cu Fe Mn Mo Zn

Autores --------------------------------- mg kg-1 --------------------------------

Malavolta et al. (1989)* 15-50 8-10 200-500 100-250 0,15-0,30 25-50

Malavolta et al. (1989) ** ----- 8-10 80-150 50-125 ----- 25-30

Raij et al. (1996) 10-30 6-15 40-250 25-250 0,05-0,20 10-50

Orlando Filho (1983) 6-29 9-17 76-392 73-249 ------ ----

* e **: Faixas de concentração para a cana-planta e rebrotas, respectivamente.

2.6 Variabilidade espacial e medidas usadas para quantificar a dispersão dos resultados

A variabilidade espacial de características químicas do solo ocorre naturalmente em

consequência do material de origem, relevo, organismos, tempo e das práticas culturais

adotadas. Essa variação tem efeito no estado nutricional das plantas e na produtividade

(VITTI e MAZZA, 2002; DEMATTÊ, 2005; OLIVEIRA, M. et al., 2007). O solo por mais

uniforme que possa se apresentar tem variações, tanto horizontais quanto verticais, nos

atributos físicos, químicos e biológicos (SALVIANO et al., 1998).

O manejo regionalizado do solo e da cultura é parte integrante de um sistema de

Agricultura de Precisão, a qual envolve conceitos de uso de informações sobre a variabilidade

nos atributos físicos, químicos e biológicos, visando ao aumento da produtividade, a

otimização no uso de recursos e redução do impacto da agricultura no meio ambiente (CORÁ

et al., 2007; MONTEZANO et al., 2006; CAVALCANTE et al., 2007). Por esta razão,

afirmam Corá et al. (2007), o conhecimento da variabilidade espacial e temporal dos fatores

de produção é o primeiro passo para a adoção, com êxito, do sistema de Agricultura de

Precisão. Estudos e pesquisas têm sido implementados por diferentes grupos, incluindo

fabricantes de equipamentos, fornecedores de insumos, companhias de sementes, consultores

agronômicos, cientistas e produtores rurais, como mais uma ferramenta para melhorar a

rentabilidade da agricultura e pecuária, além de otimizar recursos (DEMATTÊ, 2005;

MONTEZANO et al., 2006; CAVALCANTE et al., 2007; CORÁ et al., 2007 e OLIVEIRA,

M. et al., 2007).

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A amostragem dos solos é a primeira etapa de um programa racional de avaliação das

necessidades de calagem, gessagem e adubação, visando à agricultura de precisão

(MONTEZANO et al., 2006, CAVALCANTE et al., 2007). A amostragem de solos deve ser

feita de forma criteriosa de modo a representar da melhor maneira possível, a área a ser

cultivada, uma vez que se utilizam quantidades muito pequenas deste solo, geralmente 10

cm3, para as análises químicas e estas, que por mais cuidadosa e precisa que venham ser não

corrigirão os erros cometidos durante a retirada da amostra. Antecedendo a coleta das

amostras de solo, é necessário dividir a área em unidades homogêneas, levando-se em

consideração, dentre outros, o histórico da área, os tipos de solo (cor, textura, profundidade), a

localização e topografia (várzea, encosta, platô), a cobertura vegetal e as adubações

anteriores. Delimitada as áreas, devem-se coletar as amostras de forma eqüidistantes e

georeferenciadas (DEMATTÊ, 2005; MACHADO et al., 2007; OLIVEIRA, M. et al., 2007).

Os instrumentos de coletas de amostras de solos mais utilizados são os trados de

caneca e a pá de corte, também designada de pá reta. A utilização do trado em substituição à

pá reta tem a vantagem da maior rapidez na coleta das amostras simples, no manuseio e,

transporte de menor volume de solo no campo antes da homogeneização das amostras simples

e retirada da amostra composta. Por outro lado, o menor volume de solo coletado com trado

faz com que a variabilidade dos índices de fertilidade do solo aumente, tornando necessário

coletar maior número de amostras simples para formar uma amostra composta representativa.

Mesmo assim, a laboriosidade da amostragem de solo com a utilização do trado é menor do

que quando se utiliza a pá reta (VITTI e MAZZA, 2002; DEMATTÊ, 2005, OLIVEIRA, F. et

al., 2007). A princípio, o uso de instrumentos que coletam pequeno volume de solo, como o

trado, não seria recomendável para áreas de cultivo mínimo ou plantio direto, nos quais há

adubação localizada na linha de plantio, preferindo-se nestes casos a pá reta (OLIVEIRA, F.

et al., 2007).

Em relação aos resultados da análise química do solo, o potássio, o cálcio, o magnésio,

o sódio e o alumínio são analisados quanto ao teor trocável e, mesmo havendo grande

variação dos extratores químicos utilizados por diferentes laboratórios, a precisão e exatidão

dessas análises são muito grandes. Por outro, os teores de fósforo e de micronutrientes são

influenciados pelos extratores. Por exemplo, Oliveira, M. et al. (2007) avaliando a fertilidade

de solos cultivados com cana-de-açúcar na Zona da Mata Mineira considerou o Melhich

melhor extrator de P que a resina de troca iônica, mas estudos realizados por Cantarella et al.

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(1998) apontaram que as melhores correlações entre os teores de Zn ou de Cu nos solos e as

concentrações desses micronutrientes nas plantas foram obtidas pelo método que utiliza a

solução de ácido dietiltriaminopentacético (DTPA) como extratora, comparativamente

àqueles dos extratores Melhich-1 e HCl. Ainda segundo Cantarella et al. (1998) existe uma

tendência de o DTPA ser mais eficiente que o Mehlich-1 e o HCl naquelas situações em que a

disponibilidade de Zn e de Cu é alterada pela calagem. Quanto ao Mn, as soluções ácidas e

quelatantes têm mostrado coeficientes de correlação entre Mn no solo e na planta muito

próximos. Contudo, analisando solos que receberam adubação com óxidos de Mn, observou-

se a tendência de o DTPA ser o melhor extrator.

No estudo de variabilidade espacial da fertilidade do solo, do estado nutricional das

plantas e produção, podem-se utilizar algumas medidas de dispersão de resultados, mas tem

sido comum usar a média, a moda, o valor máximo e mínimo e, o coeficiente de variação

(SOUZA et al., 1997; MONTEZANO et al., 2006; CAVALCANTE et al., 2007; SILVA et

al., 2007).

3 MATERIAL E MÉTODOS

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As avaliações da variabilidade espacial da fertilidade do solo, do estado nutricional e

da produtividade foram realizadas em canavial manejado homogeneamente e visualmente

uniforme. O solo estudado foi classificado como um Argissolo Amarelo coeso latossólico

textura média/argilosa, conforme levantamento realizado na região de Boca da Mata-Al/1992

citado por Silva et al., (2005b). Baseados em Jacomine et al. (1975), estes autores também

relatam que esse solo provém do grupo das barreiras, cuja fração areia é constituída

principalmente por quartzo e na fração argila predomina a caulinita, com baixos teores de

óxido de ferro. O relevo da região é plano e suave ondulado, que é característico da unidade

geomórfica dos tabuleiros costeiros.

A instalação do experimento ocorreu em meados de julho de 2007. Antecedendo a

implantação do canavial foram coletadas amostras de solo da área experimental, cerca de 5,0

hectares, nas camadas de 0 a 20 e de 20 a 40 cm. De posse dos resultados da análise química

dessas amostras de solo foi avaliada a necessidade de aplicação de calcário e de gesso,

visando elevar a saturação por bases para 70% na camada de 0 a 20 cm e, reduzir a saturação

por alumínio na camada de 20 a 40 cm, conforme proposto por Oliveira, M. et al., (2007).

Após a aplicação do calcário e do gesso, a área experimental foi arada e gradeada, sulcando-se

a seguir, no espaçamento de 1,0 metro entre linhas. Optou-se pelo plantio da RB867515, por

ser atualmente a variedade de cana-de-açúcar mais plantada no mundo, e usou-se densidade

de 15 a 18 gemas por metro de sulco. A adubação foi realizada, através do implemento

sulcador-adubador com os nutrientes N-P- K aplicados no fundo do sulco, na dose de 60, 100

e 200 kg por hectare, respectivamente. Utilizou-se o herbicida pré-emergente para o controle

de plantas daninhas e o controle biológico para broca da cana e cigarrinha das raízes. No

período de maio a junho de 2008, na fase de crescimento máximo da cultura e por ocasião da

colheita da cana-planta realizou-se as avaliações visuais da uniformidade do canavial.

Após a colheita da cana-planta estabeleceu-se os critérios para as futuras amostragens

do solo, coleta das folhas + 3 (para avaliar o estado nutricional das plantas) e dos colmos

industrializáveis visando implementar o estudo no ciclo da primeira rebrota. Para as

amostragens, deslocou-se na diagonal do talhão e, a cada 30 m, realizou-se, sempre no mesmo

local, a coleta das amostras, utilizando-se dez amostragens, georeferenciadas, no centro do

talhão, conforme ilustração da Figura 4. As amostras de solo foram coletadas em torno de 20

a 25 cm do sulco de plantio, seguindo recomendações de Vitti e Mazza (2002) e Oliveira, M.

et al (2007), pois segundo esses autores, caso se colete as amostras de solo no sulco de plantio

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os teores de P e K serão superestimados, devido ao adubo fosfatado e potássico terem sido

aplicados no fundo do sulco de plantio. Por outro lado, se as amostras forem coletadas

somente na entrelinha, os teores de Ca e Mg serão superestimados e conseqüentemente, a

soma de bases e a saturação por bases, porém os teores de P e K serão subestimados. Desta

forma, ao se coletar as amostras entre 20 a 25 cm do sulco de plantio procurou-se minimizar

esses erros, em razão da amostragem ter sido realizada em área de menor concentração de

fertilizantes, mas com presença de sistema radicular.

Figura 4. Esquema do deslocamento no campo para as amostragens de solo, folha e

colmos da cana-de-açúcar.

As folhas + 3 e os colmos industrializáveis foram coletados em uma área de 2,0 m2. Na

fase de crescimento máximo da cana-de-açúcar foi realizada a coleta das folhas + 3, para

avaliação do estado nutricional das plantas. Após a remoção da nervura central os limbos

foliares foram lavados em água corrente, enxaguados em água destilada, secos em estufa com

ventilação forçada de ar, a 65 °C, até massa constante, triturados em moinho tipo Willey e

submetidos às analises de N, P, K, Ca, Mg, S, B, Cu, Fe, Mn e Zn, seguindo método descrito

por Malavolta et al. (1989).

Na ocasião da colheita foram avaliados a produção de colmos industrializáveis e a

qualidade do caldo, sendo colhidas todas as plantas dos 2,0 m2 em cada ponto amostral. Após

a determinação da matéria fresca, uma subamostra de toda a parte aérea foi passada em

picadeira de forragem e seca a 65 °C em estufa de ventilação forçada até massa constante,

para determinação da matéria seca. Em seguida foram passadas em moinho tipo Willey para

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quantificar o teor de nutrientes (N, P, K, Ca, Mg, S, Fe Zn, Cu, Mn e B), segundo método

descrito por Malavolta et al. (1989). Após a despalha e o desponte, os colmos

industrializáveis foram triturados em uma picadeira de forragem, homogeneizados, prensados

e o caldo obtido foi analisado quanto aos teores de sólidos solúveis, sacarose aparente, fenóis,

fósforo inorgânico e fósforo total, seguindo-se métodos descritos por Delgado et al. (1984),

Malavolta et al. (1989).

Concluídas as análises calculou-se os valores médios e os coeficientes de variação dos

teores de nutrientes no solo, no terço médio da folha +3, e da produção de colmos

industrializáveis e de açucares. Os dados foram avaliados por meio da estatística clássica,

utilizando-se as medidas de média, mediana, desvio padrão, valores máximos e mínimos e do

coeficiente de variação.

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4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Inicialmente, serão apresentados os resultados das avaliações da variabilidade espacial

da fertilidade do solo (Tabela 7) e, posteriormente, os do estado nutricional das plantas e da

qualidade do caldo e de produção de sacarose.

Analisando a Tabela 7 verifica-se que os maiores coeficientes de variação foram

observados para fósforo e potássio. Para o fósforo foram obtidos teores que o classificariam,

segundo Oliveira, M. et al. (2007), como muito baixo (4,4 mg/dm3 de solo - amostra 2), a

muito alto (82,7 mg/dm3 de solo - amostra 7). Para o potássio os teores das amostras 8 e 10

classificam o solo como pobre nesse nutriente, enquanto nas amostras de número 1; 3 e 5,

todas com valores maiores que 140 mg/dm3 de solo, os teores estão em excesso.

Tabela 7. Resultados do pH em água e dos teores de fósforo (P), potássio, cálcio (Ca+2),

magnésio (Mg+2), alumínio (Al+3), hidrogênio + alumínio (H+ Al), soma de bases (SB),

capacidade de troca catiônica a pH 7,0 (CTC – T) e saturação por bases (V %) nas amostras

de solos da camada de 0 a 20 cm, do estudo de variabilidade espacial da fertilidade do solo.

pH P K Ca+2

Mg+2

Al+3

H+ Al SB CTC (T) V

em H2O (%)

1 6,7 9,1 148 2,7 1,2 0,00 1,65 4,28 5,93 72,17

2 5,5 4,4 51 1,5 0,8 0,00 1,65 2,43 4,08 59,56

3 6,8 50,5 210 3,0 1,2 0,00 1,65 4,74 6,39 74,17

4 5,8 14,9 78 1,7 0,8 0,00 3,14 2,70 5,84 46,23

5 7,2 59,8 164 4,6 2,2 0,00 1,15 7,22 8,37 86,26

6 6,5 22,7 66 2,7 1,4 0,00 2,48 4,27 6,75 63,25

7 7,4 82,7 98 3,6 1,3 0,00 0,90 5,15 6,05 85,13

8 6,7 10,0 24 2,3 0,9 0,00 1,65 3,26 4,91 66,40

9 7,0 20,8 109 2,6 1,0 0,00 1,65 3,88 5,53 70,16

10 6,6 11,6 24 1,8 0,8 0,00 1,82 2,66 4,48 59,39

Média 6,62 28,65 97,20 2,65 1,16 0,00 1,77 4,06 5,83 68,27

C.V.(%) 8,38 87,36 60,08 33,55 34,95 0,00 33,81 33,83 19,90 16,90

Valor mínimo 5,50 4,40 24,00 1,50 0,80 0,00 0,90 2,43 4,08 46,23

Valor máximo 7,40 82,70 210,00 4,60 2,20 0,00 3,14 7,22 8,37 86,26

.- mg/dm3 -..---------------------------- cmolc/dm

3 ------------------------.

Amostra

Essa grande amplitude de variação observada para os fósforo deve-se aos valores

muito baixos de transporte desse nutriente no solo, devido a sua forte interação com os

colóides do solo, principalmente em solos muito intemperizados (DEMATTÊ, 2005, Oliveira,

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M. et al., 2007) e que, segundo Novais e Smith (1999), pode-se estimar em torno de 0,013mm

por dia e, desta forma, há pouca difusão do P originário do grânulos do adubo. Para o

potássio, a distribuição irregular do adubo ou da vinhaça, aplicada nos ciclos anteriores, pode

ser a causa da alta variabilidade, uma vez que a difusão deste elemento no solo é alta

(MALAVOLTA et al.,1989; OLIVEIRA, M. et al., 2007).

Tendência de maior variabilidade espacial dos teores de fósforo no solo também foi

constatada nos estudos realizados por Salviano et al., (1998) em área severamente erodida do

município de Piracicaba – SP e, sob cultivo de crotalaria juncea. Esses autores verificou que

os coeficientes de variação dos teores de fósforo, magnésio e potássio foram, respectivamente,

de 75, 54 e 52 %, de mesma ordem dos relatados por Machado et al., (2007) em trabalhos

conduzidos em Uberlândia, MG, em um Latossolo Vermelho a Moderado, textura argilosa,

com pontos amostrais distanciados 50 metros um do outro. Coeficientes de variação da ordem

de 50% nos teores de fósforo no solo foram também relatados por Carvalho et al. (2003), em

estudos conduzidos em solo Argissolo Vermelho –Amarelo eutrófico no município de Vitória

Brasil, SP, e Montezano et al. (2006) em solos do cerrado de Planaltina, GO.

Montezano et al. (2006), citando Warrick e Nielsen (1980), comentam que esses

autores estudando a variabilidade espacial de diversas propriedades do solo, verificaram que,

para algumas, a variabilidade expressa pelo coeficiente de variação pode ser inferior a 10%,

enquanto para outras, pode superar a 1.000%. Warrick e Nielsen (1980) classificaram a

variabilidade em três níveis: baixa, com coeficiente de variação (C.V.) menor que 12%, de 12

a 52 a variabilidade seria média, e acima de 52% alta.

Confirmando os resultados de Pavan e Oliveira (1997), constantes na Tabela 1, e das

informações pessoais de Oliveira, M. W. citados na Figura 1, constatou-se que não havia

alumínio trocável (Al+3) no solo, uma vez que o pH em água de todas as amostras foi igual ou

maior que 5,5. Assim, o alumínio da camada de 0 a 20 cm não se constitui em um fator

limitante à produção da cana-de-açúcar. Em relação à saturação por bases (V%), observa-se

pela análise da Tabela 7 que houve uma amplitude de cerca de 90% entre o menor e o maior

valor de V (%), referentes às amostras 4 e 5. O coeficiente de variação da saturação por bases

foi de 16,90%, de mesma ordem de grandeza dos relatados por Montezano et al. (2006), mas

inferior aos obtidos por Salviano et al., (1998) e Corá et al., (2007).

A variabilidade espacial dos teores de matéria orgânica, ferro, cobre, zinco,

manganês e sulfato, está apresentada na Tabela 8. Para os micronutrientes, houve grande

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variabilidade podendo-se considerá-la alta, com base na classificação proposta por Warrick e

Nielsen (1980), uma vez que os C.V. (%) foram iguais ou superiores a 50%.

Tabela 8. Resultados dos teores de matéria orgânica (M.O.), zinco (Zn), ferro (Fe), manganês

(Mn), cobre (Cu) e sulfato (SO42-) nas amostras de solos da camada de 0 a 20 cm, do estudo

de variabilidade espacial da fertilidade do solo.

M.O. Zn Fe Mn Cu SO42-

.-- (%) --.

1 1,9 0,6 40,4 6,4 0,1 36,6

2 1,3 0,3 63,6 1,5 0,3 34,9

3 2,3 1,7 51,1 9,3 0,3 36,6

4 1,6 0,7 48,3 2,3 0,2 45,5

5 2,6 2,0 19,0 12,0 0,1 33,3

6 2,8 0,7 20,0 4,1 0,0 40,1

7 2,1 3,8 13,6 14,8 0,2 31,6

8 1,6 1,3 9,5 4,6 0,2 43,7

9 2,8 2,1 19,4 10,2 0,3 30,0

10 0,8 6,7 19,4 3,9 0,3 36,6

Média 1,98 1,99 30,43 6,91 0,20 36,89

C.V.(%) 31,93 92,86 58,33 61,02 50,00 12,81

Valor mínimo 0,80 0,30 9,50 1,50 0,00 30,00

Valor máximo 2,80 6,70 63,60 14,80 0,30 45,50

.--------------- mg/dm3 --------------.

Amostra

Com base na Tabela 5, citada por Oliveira, M. et al. (2007), e tendo sido os elementos

extraídos com Mehlich, constata-se que o teor de cobre foi muito baixo em todas as amostras

analisadas, e isto repercutiu em alto coeficiente de variação, mesmo sendo a diferença entre o

maior e o menor valor observado de apenas 0,30 mg/dm3 de solo. Em relação aos teores de

ferro, zinco e manganês, observa-se que estes foram baixos, respectivamente, em duas, quatro

e cinco amostras. Montezano et al. (2006) em sua pesquisa de variabilidade espacial da

fertilidade do solo em área cultivada e manejada homogeneamente, constatou a alta

variabilidade dos teores de cobre e manganês, em 80 amostras de solo coletadas em 373

hectares e, à semelhança do presente trabalho, os baixos teores de Cu e Mn contribuíram para

o alto coeficiente de variação.

Fazendo uma análise conjunta das Tabelas 7 e 8, pode-se afirmar que, de modo geral,

as propriedades do solo alteradas pelo manejo apresentam maior variabilidade do que a

acidez, medida com pH em água ou em solução salina, o que reforça as observações de

Oliveira et al. (2004), Montezano et al. (2006) e Zanão Júnior et al. (2007), para os quais as

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características morfológicas do solo (cor e horizontes), físicas (tamanho e densidade das

partículas) e acidez, têm menor variabilidade.

Os teores foliares de macro e micronutrientes da folha +3, utilizada para avaliar o

estado nutricional das plantas estão apresentados na Tabela 9.

Tabela 9. Teores foliares de macro e micronutrientes no terço médio da folha +3 da

variedade RB867515, no estudo de variabilidade do estado nutricional em canavial manejado.

N P K Ca Mg S

Amostra

1 16,8 1,5 8,0 2,4 2,7 1,4

2 16,8 1,6 7,2 5,7 3,0 1,7

3 18,2 1,6 7,6 5,7 2,4 1,8

4 18,8 1,7 6,8 4,3 2,8 1,5

5 20,7 1,7 8,7 2,8 3,0 1,6

6 16,8 1,5 8,4 1,9 2,8 1,4

7 17,1 1,7 8,4 3,3 3,4 2,1

8 16,8 1,5 6,5 2,4 2,7 1,7

9 15,4 1,6 6,8 2,4 2,7 1,4

10 15,4 1,4 6,1 1,9 2,5 1,2

Média 17,3 1,6 7,5 3,3 2,8 1,6

C.V.(%) 8,75 6,20 11,49 42,15 9,58 15,45

Valor máximo (Max.) 20,7 1,7 8,7 5,7 3,4 2,1

Valor mínimo (Min.) 15,4 1,4 6,1 1,9 2,4 1,2

Diferença Max.- Min. 5,3 0,3 2,6 3,8 1,0 0,9

Zn Fe Mn Cu B

Amostra

1 18 91 10 3 5,9

2 17 236 9 3 5,0

3 19 277 9 6 6,9

4 20 264 12 4 7,8

5 18 246 15 4 7,8

6 17 191 8 4 5,9

7 25 271 15 3 8,8

8 21 246 12 3 7,8

9 24 215 16 4 6,9

10 16 215 10 4 6,9

Média 20 225 12 4 7,0

C.V.(%) 14,73 22,93 23,51 22,94 15,45

Valor máximo (Max.) 25 277 16 6 8,8

Valor mínimo (Min.) 16 91 8 3 5,0

Diferença Max.- Min. 9 186 8 3 3,8

. ------------------------------------g/kg --------------------------------------------.

.--------------------------mg/kg -----------------------------------.

Tomando como referência as faixas de concentração de nutrientes no terço médio da

folha +3, citada por Raij et al. (1996), constantes na Tabela 6, verifica-se que somente para os

elementos magnésio, zinco e ferro não se detectou nenhuma amostra com deficiência. Por

outro lado, todas as amostras de potássio, manganês e boro apresentaram teores menores que

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o mínimo. Para explicar essa deficiência generalizada de potássio há necessidade de um

estudo mais detalhado, uma vez que somente duas amostras de solo apresentam

disponibilidade de potássio inferior a 50 mg/dm3 de solo, tendo, inclusive, quatro amostras

com disponibilidade de potássio superior a 100 mg/dm3 de solo, o que classificaria estes solos

como tendo alta disponibilidade do elemento. Conciliando os teores de disponibilidade de

manganês no solo, extraídos com solução Mehlich-1, e citados na Tabela 5, com os teores

foliares de Mn, surpreende, também, o generalizado estado nutricional deficiente em

manganês. Conforme citado para o potássio, são informações novas e que de certa forma,

precisam de informações básicas locais de nutrição mineral e fisiologia para o entendimento

da causa da deficiência da planta crescendo em solo com alta disponibilidade do elemento.

Além de comprometer o potencial produtivo da cana-de-açúcar, a deficiência de cobre

e de manganês acarreta alterações metabólicas que comprometem a qualidade do caldo, pois

esses nutrientes são constituintes das metaloenzimas polifenol oxidase e amilase

(MALAVOLTA et al., 1989) e, portanto, sob atuação deficiente destas enzimas há acúmulo

de compostos fenólicos e de amido. Os compostos fenólicos, o amido e as clorofilas são

substâncias que influenciam negativamente na cor do caldo e consequentemente na do açúcar,

pois se oxidam durante a industrialização e a estocagem do açúcar, dessa forma diminuindo a

qualidade e a aceitabilidade do produto.

A variabilidade espacial da concentração foliar dos nutrientes foi avaliada pela

amplitude dos resultados. Os resultados obtidos foram agrupados em três classes: a primeira

com coeficiente de variação (CV) inferior a 10%, a segunda variando de 10 a 15% e, a

terceira maior que 15% (Figura 5).

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- 29 -

0

5

10

15

20

25

30

35

40

45

P N Mg K Zn B S Fe Cu Mn Ca

Co

efi

cie

nte

de

Va

ria

çã

o (%

)

Figura 5. Coeficiente de variação dos teores foliares de macro e micronutrientes no

terço médio da folha +3 da variedade RB867515, no estudo de variabilidade do estado

nutricional em canavial manejado.

Os elementos da primeira classe foram P, N e Mg. Para o teor foliar de P foi verificado

o menor coeficiente de variação, cerca de 5%, e todos os valores observados foram

abrangidos pela média ± dois desvio padrão. Potássio, zinco, boro e enxofre constituíram, em

ordem crescente de variação, a segunda classe. O coeficiente de variação dos teores foliares

de ferro, cobre e manganês foram da ordem de 20%. O cálcio foi o nutriente que teve maior

variabilidade no conteúdo foliar, atingindo 40% de coeficiente de variação.

O acúmulo de biomassa, a produção de colmos industrializáveis e de açúcares, além

do número de colmos em 2,0 m2 e do índice de colheita, estão apresentados na Tabela 10.

Tabela 10. Acúmulo de biomassa, produção de colmos industrializáveis e de açúcares, pela variedade RB867515, no estudo de variabilidade espacial da produtividade em canavial manejado homogeneamente e visualmente uniforme.

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No de Peso de Peso de Ac. MN Produção de Indice de Produção de

colmos colmos folhas secas na biomassa colmos colheita açúcares

em 2,0 m2

em 2,0 m2

.+ ponteiros da parte aérea industrializ. ("ATR"/ha)

em 2,0 m2

da cana kg/ha

(kg) (kg)

1 14 24,50 7,70 161.000 122.500 0,761 22.630

2 23 36,30 10,50 234.000 181.500 0,776 19.204

3 12 18,50 7,30 129.000 92.500 0,717 29.996

4 12 18,10 6,00 120.500 90.500 0,751 21.440

5 12 25,00 8,20 166.000 125.000 0,753 23.826

6 15 22,50 5,50 140.000 112.500 0,804 18.823

7 15 39,70 10,50 251.000 198.500 0,791 25.573

8 22 22,00 7,50 147.500 110.000 0,746 20.869

9 16 20,50 7,50 140.000 102.500 0,732 23.183

10 11 26,50 6,30 164.000 132.500 0,808 21.000

Média 15 25,36 7,70 165.300 126.800 0,764 22.654

C.V.(%) 26,12 27,04 20,88 24,95 27,04 3,75 13,82

Valor máximo (Max.) 23 40 10,50 251.000 198.500 0,8 29.996Valor mínimo (Min.) 11 18 5,50 120.500 90.500 0,7 18.823

Amostra

. --------------- (kg/ha) -------------.

Utilizando-se o coeficiente de variação como indicador da variabilidade espacial,

observa-se pela análise da tabela 10 que a menor amplitude de variação foi do índice de

colheita, que é quociente da massa de colmos industrializáveis pela massa de toda a parte

aérea da planta. Nas avaliações realizadas, o valor médio deste índice foi 76,4%, significando,

portanto, que em 100,0 kg de biomassa da parte aérea (folhas seca+ folhas verdes+ ponteiros

+ colmos industrializáveis) tem-se em média 76,4 kg de colmos industrializáveis.

A produção de biomassa ultrapassou a 150 t por hectare, assim, mesmo sob deficiência

nutricional de vários elementos, a RB867515 apresentou alta produtividade. Estudos básicos

de nutrição mineral e fisiologia vegetal com esta variedade estão sendo desenvolvidos pela

Rede Interuniversitária de Desenvolvimento do Setor Sucroalcooleiro (RIDESA) e

contribuirão para o entendimento do metabolismo e da adaptação desta variedade de cana a

diversos ambientes edafoclimáticos.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Mesmo o canavial sendo manejado homogeneamente e estando a rebrota visualmente

uniforme, foram constatadas grande variação espacial da fertilidade do solo, do estado

nutricional e da produtividade de colmos e de açúcares.

Em relação à variabilidade espacial da fertilidade do solo observou-se que o pH em

H2O foi o que menos variou, por outro lado, os teores de fósforo, potássio, zinco, ferro,

manganês e cobre, apresentando coeficiente de variação igual ou superior a 50%,

caracterizando alta variabilidade.

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- 31 -

Considerando os teores foliares como indicadores do estado nutricional das plantas,

constatou-se conteúdo de nutrientes no limbo foliar inadequado mesmo com as plantas

crescendo em solo com alta disponibilidade do elemento.

Apesar da deficiência nutricional, a RB867515 produziu grande quantidade de

biomassa e de açúcares, mas há necessidade de estudos básicos de nutrição e metabolismo

mineral, quanto à eficiência na absorção e utilização dos nutrientes pela cultivar, para melhor

entendimento da fisiologia de produção da RB867515.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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