UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALFENAS RAFAELA SILVA … · de realizar meu sonho que é ser uma brilhante...

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALFENAS RAFAELA SILVA DOS SANTOS INVESTIGAÇÃO DA PARTICIPAÇÃO DO SISTEMA ENDOCANABINÓIDE E CÉLULAS DA GLIA NA DOR MUSCULAR CONTROLADA PELO EXERCÍCIO FÍSICO Alfenas/MG 2016

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALFENAS

RAFAELA SILVA DOS SANTOS

INVESTIGAO DA PARTICIPAO DO SISTEMA ENDOCANABINIDE E

CLULAS DA GLIA NA DOR MUSCULAR CONTROLADA PELO EXERCCIO

FSICO

Alfenas/MG 2016

RAFAELA SILVA DOS SANTOS

INVESTIGAO DA PARTICIPAO DO SISTEMA ENDOCANABINIDE E

CLULAS DA GLIA NA DOR MUSCULAR CONTROLADA PELO EXERCCIO

FSICO

Alfenas/MG

2016

Dissertao apresentada como parte dos requisitos para obteno do ttulo de Mestre em Cincias Fisiolgicas pelo Programa Multicntrico em Cincias Fisiolgicas da Sociedade Brasileira de Fisiologia da Universidade Federal de Alfenas-UNIFAL-MG. rea de concentrao: Farmacologia e Fisiologia da dor. Orientador: Prof. Dr. Giovane Galdino de Souza

Aos meus pais Ftima e Luiz Carlos e a minha Voa, com todo meu amor.

AGRADECIMENTOS

Primeiramente, agradeo Deus, o Senhor Soberano da minha vida, pelo

dom da sabedoria, pacincia nos momentos difceis, por estar sempre presente nos

meus caminhos.

minha Nossa Senhora, por nunca me desamparar, por sempre ter me

colocado debaixo do seu manto sagrado, mesmo nos momentos de desespero.

Ao meu orientador Prof. Dr. Giovane Galdino de Souza, pela brilhante

orientao, pacincia, pelos conhecimentos infinitos, por ter me dado a oportunidade

de realizar meu sonho que ser uma brilhante cientista. Por ter me ensinado que

ainda possvel acreditar no SER HUMANO. Ele meu exemplo de carter,

profissional, cientista e acima de tudo um SER HUMANO excepcional.

Famlia Buscap, Tia, Valdimir, Mi, Aninha, Filipe, Jlio, Dinho, Iara, Gu,

Bela, Nenzinho, Joo, Victor, Diego, Karla, Fio Dri, Gabriel, Gui, Padrinho, Clu,

Dudu e Nando pelas oraes, por sempre ter me apoiado e acreditado no meu

potencial e nos meus sonhos.

minha amada Voa, pelo exemplo que na minha vida, por nunca ter me

abandonado, pelas vezes que foi comigo apenas de companhia no laboratrio no

Natal, Ano Novo, Carnaval, mesmo sem saber sobre o meu trabalho, sempre disse

com muito orgulho...A minha neta trabalha com os ratinhos!!!!

Aos meus pais, por muitas vezes, terem deixado de realizarem seus sonhos

para que os meus fossem concretizados.

Aos meus irmos Juninho e Rany pela confiana.

Ao meu amor Fabrilucio, por desde o primeiro ter acreditado e me apoiado em

todas as minhas decises, por estar presente em todos os momentos...te amo!

Aos meus amores, Raul, Clara, Mel e Mrio pelo amor incondicional e pela

doura que vejo todos os dias nos seus olhares. Em especial Sasha que foi um ser

iluminado que Deus mandou para eu cuidar, para eu amar e que agora se tornou

uma estrela!!!!!

Famlia Insetos: Pedro, Jlia e Fred por terem se tornado essenciais na

minha vida, pelas risadas, pelas lgrimas, foi muito mais fcil com a ajuda de vocs.

Eu no existo longe de vocs, trabalhar nunca foi to divertido. O que temos para

hoje SAUDADE...amo para sempre!!!

famlia que ganhei no ano de 2014 na Clnica de Fisioterapia, Ieda, Cris,

Vera, Meyre, Gisnay, Danilo e Maicon pelos momentos de alegria que se tornaram

inesquecveis. Vocs so muito especiais para mim!

Ao meu grande amigo e irmo Fernando pelo apoio incondicional, pelas

oraes e pela torcida mesmo de longe pela minha vitria. Amo voc!

Ao Prof. Alexandre e a Fabiana pelos conhecimentos partilhados e por

sempre estarem dispostos a me ajudar.

Aos amigos do Laboratrio de Fisiologia por terem me acolhido to bem, em

especial, Vanessa Veronesi, Tatiane, Layla, Mara, Ana Laura, Ana Cludia, Silvia,

Clarice e Luciana pelos sorrisos sinceros...

minha querida amiga e irm Mel, por ter dividido comigo os melhores e

piores momentos desta jornada...amo voc!

Ao meu companheiro Herick, por sempre ter sido o meu brao direito em tudo

que fiz durante meu Mestrado e por ter se tornado meu irmo.

Aos amigos da Ps, Isabela, Jdina, Roberta, Marlia, Ravena, em especial a

J e o Ricardo por sempre terem me socorrido em sua casa e por serem estas

pessoas to iluminadas que Deus colocou na minha vida.

Aos funcionrios Dona Zlia e Helena, aos tcnicos Jos Reis, Marina, Lus e

Luciana e a secretria Antonieta por sempre estarem dispostas a ajudar.

Aos animais, por terem doado suas vidas para a realizao deste trabalho.

UNIFAL, CAPES E FAPEMIG, pelo apoio financeiro.

Enfim, a todos que de alguma forma fizeram parte deste projeto!!!

necessrio sempre acreditar que o sonho possvel, que o cu o limite e voc imbatvel.

No espere o futuro mudar tua vida, porque o futuro a consequncia do presente."

(Racionais MCs)

RESUMO

A dor muscular afeta cerca de 11 a 24% da populao mundial. de origem

multifatorial, podendo ser causada por fatores fsicos, emocionais, psicolgicos e

sociais e cada vez mais encontrada na prtica clnica. Estudos tem demonstrado

que o exerccio fsico uma atividade que auxilia no controle da dor. Os receptores

canabinides do tipo 2 (CB2), expressos em tecidos perifricos e clulas

inflamatrias, parecem estar envolvidos no controle da dor. Alm disso, estudos tem

demonstrado que tais receptores tambm estejam expressos no Sistema Nervoso

Central, incluindo clulas microgliais. Sendo assim, o presente estudo investigou a

participao de receptores CB2 e o envolvimento da micrglia espinal no controle da

dor muscular por meio do exerccio fsico. Para isso, foram utilizados camundongos

fmeas da linhagem C57BL/6, pesando entre 20 a 25g. O limiar nociceptivo foi

avaliado pelo teste de filamentos de Von frey e pelo teste da placa quente. O modelo

de dor muscular foi induzido pela injeo intramuscular de carragenina no msculo

gastrocnmio direito. Para verificar os nveis de citocinas pr-inflamatrias, Il-1 e

TNF-, foi realizado o ensaio de ELISA. A dor muscular pode gerar inflamao com

aumento da temperatura local, sendo assim, utilizamos a tcnica de termografia para

verificar as alteraes na temperatura local dos animais. Foram utilizadas as drogas,

AM630, para investigar a participao de receptores CB2; o MAFP, para avaliar a

participao de endocanabinides e a minociclina, para investigar o envolvimento da

micrglia. Aps a terceira semana de natao, os animais apresentaram uma

reduo da alodnia mecnica e da hiperalgesia trmica induzidas pela carragenina

i.m. O AM630, reverteu a antinocicepo induzida pelo exerccio, em ambos os

testes nociceptivos. O MAFP inibiu a nocicepo muscular nos animais exercitados,

apenas no teste da placa quente. A minociclina bloqueou a nocicepo apenas nos

animais sedentrios com dor muscular. Os resultados do ensaio de ELISA

demonstraram que o exerccio reduziu os nveis de TNF-, os quais se encontraram

aumentados nos animais com dor muscular que no foram exercitados. J os nveis

basais de IL-1 apresentaram reduzidos apenas nos animais submetidos ao modelo

de dor muscular e que realizaram o treinamento fsico. Por meio da anlise

termogrfica, foi encontrado uma reduo da temperatura local nos animais

exercitados com dor muscular. A micrglia parece estar envolvida na

termorregulao local dos animais com dor muscular exercitados, pois quando a

micrglia foi bloqueada pela minociclina, a temperatura corporal nestes animais foi

aumentada. Sendo assim, conclumos que o exerccio inibe a dor muscular induzida

pela carragenina, os receptores CB2 participam deste controle da dor e a micrglia

parece estar envolvida na gnese e manuteno da dor muscular, com a liberao

de citocinas pr-inflamatrias.

Palavras-chave: Mialgia. Exerccio. Receptor de canabinide. Micrglia.

ABSTRACT

Muscle pain affects approximately 11-24% of the population. It is of multifactorial

origin, which may be caused by physical, emotional, psychological and social factors

and is increasingly found in clinical practice. Studies have shown that physical

exercise is an activity that helps to control pain. Cannabinoid receptor type 2 (CB2)

expressed in peripheral tissues and inflammatory cells, appear to be involved in pain

control. In addition, studies have shown that these receptors are also expressed in

the central nervous system, including microglial cells. Thus, the present study

investigated the participation of CB2 receptors and the involvement of the spinal

microglia in the control of muscle pain by exercise. For this, were used C57BL/6

female mice, weighing between 20 and 25g. The nociceptive threshold was

measured by Von Frey filaments test and hot plate test. The muscular pain model

was induced by intramuscular injection of carrageenan in the right gastrocnemius

muscle. To verify the levels of pro-inflammatory cytokines, we performed the ELISA

assay. Muscle pain can lead to inflammation with increased local temperature, so we

use thermography technique to check for changes in the local temperature of the

animals. The following drugs were used, AM630, to investigate the involvement of

CB2 receptors, MAFP to evaluate the role of endocannabinoids and minocycline to

investigate the role of microglia. After the third week of swimming, the animals

showed a reduction in mechanical allodynia and thermal hyperalgesia induced by

carrageenan i.m. The AM630, reversed the antinociception induced by exercise in

both nociceptive tests. MAFP inhibited muscle nociception in animal exercised only in

the hot plate test. Minocycline blocked nociception only in the sedentary animals with

muscular pain. The results of the ELISA assay showed that exercise reduced TNF-

levels, which were found in animals with increased muscle pain, which have not been

exercised. Basaline levels of IL-1 showed reduced only in animals submitted to

muscular pain model and underwent physical training. By thermographic analysis, we

find a reduction in the local temperature of trained animals with muscular pain.

Microglia appear to be involved in thermoregulation location of animal muscle pain

exercised because when the microglia were blocked by minocycline, body

temperature was increased in these animals. Thus, we conclude that exercise

inhibits muscle pain induced by carrageenan, CB2 receptors participate in this pain

control and microglia seems to be involved in the genesis and maintenance of

muscle pain, with the release of pro-inflammatory cytokines.

Keywords: Myalgia. Exercise. Cannabinoid receptor. Microglia.

LISTA DE FIGURAS

Figura 1- Via ascendente da nocicepo. ..................................................... 28

Figura 2- Camundongo da linhagem C57BL/6 ............................................. 44

Figura 3- Via de administrao intratecal. .................................................... 46

Figura 4- Local de injeo da carregenina: msculo gastrocnmio .............. 46

Figura 5- Teste de Von Frey filamento: ........................................................ 50

Figura 6- Aparato utilizado para o teste da hiperalgesia trmica: Placa quente. .......................................................................................... 51

Figura 7- Termovisor FLIR Srie T420 (Flir System AB, Sucia) ................. 52

Figura 8- Posicionamento do animal sobre a bancada para o registro das imagens termogrficas dos membros inferiores. ................ 52

Figura 9- Mensurao do limiar nociceptivo de retirada da pata aps exerccio fsico. Os animais receberam carragenina ou veculo antes do nicio do protocolo de treinamento fsico e AM630 ou veculo aps o treinamento. ......................................... 54

Figura 10- Mensurao do limiar nociceptivo de retirada da pata aps exerccio fsico. Os animais receberam carragenina ou veculo antes do nicio do protocolo de treinamento fsico e MAFP ou veculo aps o treinamento.. ......................................... 55

Figura 11- Mensurao do limiar nociceptivo de retirada da pata aps exerccio fsico. Os animais receberam carragenina ou veculo antes do nicio do protocolo de treinamento fsico e minociclina ou veculo aps o treinamento. ................................... 55

Figura 12- Mensurao do limiar nociceptivo de retirada da pata aps exerccio fsico e efeito das citocinas sobre a dor muscular. ......... 56

Figura 13- Mensurao do limiar nociceptivo de retirada da pata aps exerccio fsico e efeito do exerccio sobre o controle da temperatura no modelo de dor muscular. ...................................... 56

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1- Protocolo de exerccio fsico (natao) ............................................ 48

LISTA DE GRFICOS

Grfico 1- Efeito do exerccio fsico na dor muscular. O limiar nociceptivo mecnico foi avaliado pelo teste de Von frey filamentos, antes do treinamento, no final da primeira, no final da segunda e no final da terceira semana. .......................... 59

Grfico 2 Efeito do exerccio fsico na dor muscular. O limiar nociceptivo trmico foi avaliado pelo teste da placa quente antes do treinamento, no final da primeira, no final da segunda e no final da terceira semana.. ..................................... 59

Grfico 3 Participao do receptor para canabinide (CB2) sobre o efeito antinociceptivo produzido pelo exerccio fsico no controle da dor muscular. O limiar nociceptivo mecnico foi avaliado pelo Von frey filamentos antes do treinamento, no final da primeira, no final da segunda e nio final da terceira semana. ...................................................................................... 61

Grfico 4 Participao do receptor para canabinide (CB2) sobre o efeito antinociceptivo produzido pelo exerccio fsico no controle da dor muscular. O limiar nociceptivo trmico foi avaliado pelo teste da placa quente antes do treinamento, no final da primeira, no final da segunda e no final da terceira semana. ......................................................................... 61

Grfico 5 Participao dos endocanabinides no controle da dor muscular. O limiar nociceptivo mecnico foi avaliado pelo Von Frey filamentos antes do treinamento, no final da primeira, no final da segunda e no final da terceira semana. ...... 62

Grfico 6 Participao de endocanabinides no controle da dor muscular. O limiar nociceptivo trmico foi avaliado pelo teste da placa quente antes do treinamento, no final da primeira, no final da segunda e no final da terceira semana. ...... 63

Grfico 7 Participao da micrglia no controle da dor muscular. O limiar nociceptivo mecnico foi avaliado pelo Von Frey filamentos antes do treinamento, no final da primeira, no final da segunda e no final da terceira semana. .......................... 64

Grfico 8 Participao da micrglia no controle da dor muscular. O limiar nociceptivo trmico foi avaliado pelo teste da placa quente antes do treinamento, no final da primeira, no final da segunda e no final da terceira semana.. ................................ 65

Grfico 9 Efeito dos veculos sobre o teste do Von Frey filamentos. O limiar nociceptivo mecnico foi avaliado pelo teste do Von Frey filamentos antes do treinamento, no final da primeira, no final da segunda e no final da terceira semana. ..................... 66

Grfico 10 Efeito dos veculos sobre o teste da placa quente. O limiar nociceptivo trmico foi avaliado pelo teste da placa quente antes do treinamento, no final da primeira, no final da segunda e no final da terceira semana. ...................................... 66

Grfico 11- Efeito do treinamento fsico sobre os nveis musculares de TNF-. Os dados representam a mdia + E.P.M. dos nveis de TNF- (pg/mL) realizados aps a ltima semana de exerccio fsico.. .......................................................................... 69

Grfico 12- Efeito do treinamento fsico sobre os nveis musculares de

IL-1. Os dados representam a mdia + E.P.M. dos nveis de IL-1 (pg/mL) realizados aps a ltima semana de exerccio fsico.. .......................................................................... 69

Grfico 13- A- Efeito do treinamento fsico sobre a temperatura corporal aps dor muscular. B- Imagens representativas da temperatura local no msculo gastrocnmio direito em animais sedentrios e exercitados. ............................................. 71

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

L - Microlitros

AM 630 - Antagonista do receptor para canabinide do tipo 2

ATP - Trifosfato de Adenosina

CB1 - Receptor para canabinide do tipo 1

CB2 - Receptor para canabinide do tipo 2

CDME - Corno Dorsal da Medula Espinal

CFA - Adjuvante Completo de Freud

Cg - Carragenina

CGRP - Protena relacionada ao gene da calcitonina

CR3 - Receptor para o complemento-3

CR3/CD11b - Marcador microglial

Crem - Cremofor

CX3CR1 - Quimiocina fractalcina

DAGL - Enzima diacilglicerol lipase

DMSO - Dimetilsulfxido ou sulfxido de dimetilo

ELISA - Enzyme Linked Immuno Sorbent Assay

EPM - Erro padro da mdia

Ex - Exerccio

FAAH - cido graxo amino hidrolase

G - Gramas

GFAP - Protena cida fibrilar glial

i.m. - Intramuscular

i.p. - Intraperitoneal

i.t. - Intratecal

IBA - Marcador microglial

IL-1 - Interleucina 1

IL-10 - Interleucina 10

IL-1 - Interleucina 1 beta

IL-4 - Interleucina 4

K+ - Potssio

M - Molar

MAFP - cido metil araquidonil fluorfosfano/ (5Z, 8Z, 11Z, 14Z)

5,8, 11, 14-eicosatetraenil-metil ester fosfofluordrico)

MB - Medida basal

MGL - Monoacilglicerol lipase

MHC - Complexo principal de histocompatibilidade

Mino - Minociclina

nM - Nanmetro

NMDAR - Receptor de glutamato

NO - xido ntrico

PAG - Substncia Cinzenta Periaquedutal

PBS - Tampo Fosfato Salino

PG - Prostaglandina

PGE - Prostaglandina E

pH - Potencial hidrogeninico

RNAm - cido ribonuclico mensageiro

RVM - Bulbo rostral ventro medial

s.c. - Subcutnea

Sal - Salina

SDCR tipo I - Sndrome de Dor Complexa Regional do tipo 1

Sed - Sedentrio

SNC - Sistema Nervoso Central

SNP - Sistema Nervoso Perifrico

SP - Substncia P

TLRs - Tool like receptors

TNF- - Fator de necrose tumoral alfa

SUMRIO

1 INTRODUO ........................................................................................... 24

2 REVISO DE LITERATURA ...................................................................... 26

2.1 DOR: CONSIDERAES GERAIS ............................................................ 26

2.2 CLASSIFICAO DA DOR ........................................................................ 28

2.3 DOR MUSCULAR ....................................................................................... 30

2.4 EXERCCIO FSICO: NATAO ................................................................ 31

2.5 SISTEMA ENDOCANABINIDE ................................................................ 33

2.6 CLULAS DA GLIA E NOCICEPO ........................................................ 35

2.7 ATIVAO GLIAL E A MODULAO DA DOR ......................................... 38

2.8 CB2 E GLIA ................................................................................................. 41

3 OBJETIVOS ............................................................................................... 43

3.1 OBJETIVO GERAL ..................................................................................... 43

3.2 OBJETIVOS ESPECFICOS ...................................................................... 43

4 MATERIAIS E MTODOS ......................................................................... 44

4.1 ANIMAIS ..................................................................................................... 44

4.3 ADMINISTRAO DAS DROGAS ............................................................. 45

4.3.1 Administrao Intratecal .......................................................................... 45

4.3.2 Injeo intramuscular ............................................................................... 46

4.4 EXERCCIO FSICO ................................................................................... 47

4.5 AVALIAO DO LIMIAR NOCICEPTIVO .................................................. 49

4.5.1 Teste de alodnia mecnica: Von Frey filamentos ................................. 49

4.5.2 Teste de hiperalgesia trmica: Placa quente ......................................... 50

4.6 TERMOGRAFIA ......................................................................................... 51

4.7 PREPARAO DOS TECIDOS E DOSAGEM DE CITOCINAS

PELO ENSAIO DE ELISA .......................................................................... 53

4.7.1 ELISA- Enzyme linked immuno sorbent assay ...................................... 53

4.8 DELINEAMENTO EXPERIMENTAL ........................................................... 54

4.9 ANLISE ESTATSTICA ............................................................................ 57

5 RESULTADOS ........................................................................................... 58

5.1 EFEITO DO EXERCCIO FSICO SOBRE A DOR MUSCULAR

INDUZIDA PELA CARRAGENINA. ............................................................ 58

5.2 INVESTIGAO DA PARTICIPAO DO RECEPTOR

PARACANABINIDE DO TIPO 2 (CB2) NO CONTROLE DA

DOR MUSCULAR PELO EXERCCIO FSICO .......................................... 60

5.3 INVESTIGAO DA PARTICIPAO DE

ENDOCANABINIDES NO CONTROLE DA DOR MUSCULAR

PELO EXERCCIO FSICO. ....................................................................... 61

5.4 AVALIAO DO ENVOLVIMENTO DA MICROGLIA NO

CONTROLE DA DOR MUSCULAR PELO EXERCCIO FSICO. ............... 63

5.5 EFEITO DOS VECULOS SOBRE O LIMIAR NOCICEPTIVO DE

RETIRADA DA PATA ................................................................................. 65

5.6 DETERMINAO DA CONCENTRAO DE CITOCINAS PR

INFLAMATRIAS NO MSCULO GASTROCNMIO POR

ELISA ......................................................................................................... 67

5.7 EFEITO DO TREINAMENTO FSICO NA TEMPERATURA

CORPORAL APS DOR MUSCULAR ....................................................... 69

6 DISCUSSO .............................................................................................. 72

7 CONCLUSO............................................................................................. 80

REFERNCIAS .......................................................................................... 81

ANEXO ..................................................................................................... 100

24

1 INTRODUO

A dor um fenmeno que afeta todas os indivduos, independente de raa,

cor, sexo ou idade, em alguma fase de sua vida. Apesar de todos avanos obtidos

nos ltimos anos em relao ao entendimento dos mecanismos envolvidos na

transmisso dos impulsos dolorosos, muitos tratamentos, principalmente os

farmacolgicos, no so totalmente eficazes, ou ainda muitos indivduos sofrem com

os efeitos adversos provenientes desses tratamentos.

Diante disso, destaca-se os tratamentos no-farmacolgicos, os quais so

economicamente viveis e produzem menos efeitos colaterais. Dentre os no-

farmacolgicos, o exerccio fsico citado como sendo bem eficaz. Estudos

demonstram que o exerccio fsico exerce muitos benefcios para a sade fsica e

mental, reduz a incidncia de patologias, promove neuroproteo, neuroplasticidade,

melhora a cognio, alm de ter atividade antidepressiva e ansioltica (MAZZARDO-

MARTINS et al., 2010). Alm de todas essas vantagens, o exerccio promove

analgesia (MAZZARDO-MARTINS et al., 2010).

Muitas evidncias demonstram que o exerccio fsico uma ferramenta til

para o controle da dor. Tais, so utilizados para reabilitar pacientes com doenas

crnicas, principalmente com disfunes msculo-esquelticas, como fibromialgia,

dor lombar crnica e dor miofascial (GOWANS; HUECK, 2004; WRIGHT; SLUKA,

2001). Alm disso, vrios estudos demonstraram que esse efeito ocorre tanto

durante quanto aps sua prtica (KOLTYN, 2000; OCONNOR; COOK, 1999).

Dentre os vrios sistemas envolvidos no controle da dor durante a atividade

fsica, o sistema endocanabinide tem fundamental importncia em termos de

relevncia fisiolgica (FIELD, et al., 2005). Estudos demonstram que os

endocanabinides produzem efeitos antinociceptivos em regies espinais e

supraespinais (DI MARZO et al., 1998; PIOMELLI, 2003). Alm disso, Galdino e

colaboradores (2014) demonstraram que a administrao em ratos de antagonistas

para o receptor para canabinide do tipo 1 (CB1) e receptor para canabinide do tipo

2 (CB2), bloqueou a antinocicepo induzida por exerccio aerbio. Em adio,

esses autores demonstraram que os nveis plasmticos de endocanabinides

(anandamida e 2-araquidonoilglicerol) e de mediadores relacionados com a

http://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0028390813004292#200022359http://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0028390813004292#200016446

25

anandamida (palmitoiletanolamida e oleoletanolamina) foram aumentados aps o

exerccio aerbico.

Outros estudos tambm demonstraram o aumento dos nveis de

anandamida na circulao sistmica em humanos aps exerccio em esteira e

bicicleta (SPARLING et al., 2003).

As clulas da glia, principalmente a micrglia, so importantes na gnese da

dor. Os receptores canabinides do tipo 2 so expressos em clulas da glia de

humanos e ratos (ASHTON et al., 2006; NUNEZ et al., 2004) e sua expresso

aumenta especialmente as clulas gliais durante a inflamao (RAMIREZ et al.,

2005; SHENG et al., 2005;).

Os endocanabinides atuam sobre os receptores CB2 nas clulas da glia e

inibem a liberao de citocinas prinflamatrias, incluindo a IL1, TNF- e NO

(CABRAL et al., 2001; MOLINA-HOLGADO et al., 1997; 2002; PUFFENBARGER et

al., 2000; SHAOHAMI et al., 1997;), levando a antinocicepo.

Sendo assim, estudos demonstram que receptores CB2 inibem a atividade

microglial, por reduzir a liberao de citocinas pr-inflamatrias (MERIGUI et al.,

2012).

Portanto, o presente estudo investigou o envolvimento de receptores CB2 e

da micrglia no controle da dor muscular promovida pelo exerccio fsico.

http://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0028390813004292#200013335

26

2 REVISO DE LITERATURA

Os tpicos a seguir, apresentaro o embasamento terico e contextualizaes

referentes ao estudo.

2.1 DOR: CONSIDERAES GERAIS

A dor uma experincia sensitiva e emocional associada ao dano tecidual

real ou potencial ou descrio desses danos (IASP, 2008). Alm disso, a dor

tambm um processo cognitivo que depende de memria, aspectos culturais e

psquicos (LOESER; TREEDE, 2008).

Em indivduos saudveis, a dor utilizada para propsitos altamente

adaptveis, orientada para a sobrevivncia. O primeiro objetivo da dor de avisar de

perigo real ou iminente de danos corporais, tais como contato com objetos

pontiagudos ou aquecidos (WATKINS; MAIER, 2002).

O segundo objetivo da dor de encorajar comportamentos de recuperao

em resposta dor resultante do prprio organismo. A leso j ocorreu e a rea

danificada agora inflamada. A informao dolorosa retransmitida para os centros

superiores do crebro que organizam os comportamentos de recuperao

apropriados para proteger e facilitar a cicatrizao do local danificado. Tais

comportamentos incluem desuso e proteo de um membro lesado e em caso de

animais, ocorre a limpeza da leso com o comportamento de lamber (WATKINS;

MAIER, 2002).

Assim sendo, a dor envolve aspectos comportamentais, podendo causar

reaes emocionais negativas e, quando persistente, pode tornar-se debilitante e

muitas vezes causadora de sofrimento, sendo frequentemente responsvel pela

diminuio drstica da qualidade de vida dos portadores deste sintoma (CHAPMAN;

GAVRIN, 1999; COMPTON; DOERING, 2006; GRIFFIS; JULIUS; BASBAUM, 2001).

J em modelos experimentais de dor em animais registrado tambm o processo

de codificao e processamento do estmulo nocivo (processo sensorial), sem levar

em considerao os aspectos psicolgicos que tambm influenciam na percepo

27

final da dor (processo emocional), por esta razo, denominamos a resposta

comportamental dos animais de nocicepo (LOESER; TREEDE, 2008).

Entretanto, existe uma diferena conceitual quando se utiliza os termos

nocicepo e dor. O primeiro conceito consiste apenas na recepo e decodificao

do estmulo nocivo por estruturas altamente especializadas do sistema nervoso

chamados nociceptores. Essas estruturas consistem em terminaes nervosas livres

associadas a fibras aferentes primrias (carreiam estimulo nociceptivo da periferia

medula) com caractersticas distintas (limiar de ativao e sensibilidade) em relao

a outras estruturas nervosas sensoriais. Entre essas fibras aferentes temos as do

tipo C e A, que possuem um menor calibre e esto relacionadas transduo e

conduo do estimulo nocivo, vale ressaltar que as fibras C so amielinizadas

(ausncia de mielina, uma camada de revestimento rica em lipdios e protenas que

possuem ndulos de Ranvier o qual, proporcionam aumento da velocidade do

estimulo pela fibra) e as fibras A apresentam mielina e possuem uma maior

velocidade de conduo do impulso nervoso em relao fibra C (JULIUS;

BASBAUM, 2001).

Na medula espinal, essas fibras aferentes primrias fazem sinapse com

neurnios de segunda ordem, que por sua vez, ascendem a reas supra-espinais

por meio de tratos neuronais especficos, como por exemplo, o trato espinotalmico.

Assim, os neurnios de segunda ordem faro no tlamo uma segunda sinapse com

neurnios de terceira ordem, os quais enviaro a informao nociceptiva at as

reas especficas do crtex cerebral, onde aspectos como intensidade, localizao e

durao do estmulo nociceptivo sero integrados e componentes afetivos e

emocionais sero interpretados e contextualizados, proporcionando a percepo da

dor (VANDERAH, 2007).

28

Figura 1- Via ascendente da nocicepo.

Sendo assim, veremos adiante as formas de classificao da dor.

2.2 CLASSIFICAO DA DOR

Dentre as formas de classificao da dor, a mais habitualmente utilizada a

que leva em considerao o tempo de durao. Assim sendo, a dor pode ser

classificada em aguda e crnica.

A dor aguda se d pela ativao direta de nociceptores, estruturas

especializadas na deteco de estmulos nocivos capazes ou no de causar alguma

leso. Desta forma, muitas vezes a dor aguda pode se estabelecer sem que ocorra

uma leso aparente. Quando a dor persiste por semanas ou meses, classificada

como dor crnica. A dor crnica muitas vezes permanece mesmo aps a

recuperao da leso e caracteriza-se tambm pela incapacidade de o organismo

restabelecer suas funes fisiolgicas (LOESER; MELZACK, 1999; MILLAN, 1999).

Na maioria dos casos de dor crnica, ocorrem vrias alteraes no organismo que

Nota: Os axnios das fibras aferentes primrias (C e A) que inervam as regies perifricas transmitem o impulso nociceptivo at as lminas do corno dorsal da medula espinal, onde neurnios de segunda ordem repassam a informao para os tratos neuronais ascendentes.

Fonte: Adaptado de Longhi-Balbinot (2009)

29

facilitam a transmisso e manuteno dessa dor como, por exemplo, o aumento da

sntese e/ou liberao de neurotransmissores, alteraes sinpticas e o brotamento

de novas fibras nervosas (LOESER; MELZACK, 1999; MILLAN, 1999).

A dor pode tambm ser classificada dependendo de onde ela se origina. A dor

nociceptiva aquela que ocorre devido a uma ativao excessiva de nociceptores,

que so estruturas especializadas sensveis a estmulos nocivos (mecnicos,

trmicos e qumicos) localizados principalmente na pele, msculos e vsceras,

enquanto que a dor neurognica ocorre quando o tecido neuronal lesionado com

consequente liberao de neuropeptdeos que induzem dor, tanto por estmulo

perifrico como central (MILLAN, 1999).

A dor neuroptica aquela que ocorre aps uma leso ou disfuno do

sistema nervoso somatossensorial. Ainda fazendo parte desta classificao, pode-se

citar a dor psicognica ou de origem psicolgica, que aquela que ocorre sem a

presena de um fator somtico identificvel (MILLAN, 1999).

J, a dor inflamatria ocorre em resposta leso de tecidos e a resposta

inflamatria subsequente. Ocorrem mudanas para a proteo do organismo contra

um estmulo nocivo potencialmente prejudicial que causou o dano. Para auxiliar na

cura e reparao da parte do organismo atingido, o sistema nervoso sensorial sofre

uma profunda mudana na sua capacidade de resposta; normalmente estmulos

incuos agora produzem dor e respostas a estmulos nocivos so exageradas e

prolongadas (JUHL et al., 2008). A sensibilidade permanece aumentada no interior

da rea inflamada e em reas adjacentes no inflamadas como um resultado de

plasticidade em nociceptores perifricos e vias nociceptivas centrais (HUANG et

al., 2006; HUCHO; LEVINE, 2007; WOOLF; SALTER, 2000). Uma vez que a via

nociceptiva sensibilizada aps a inflamao, os nociceptores j no atuam apenas

como detectores para os estmulos nocivos, mas tambm podem ser ativados por

baixos limiares. Normalmente, a dor inflamatria desaparece aps a resoluo da

leso tecidual inicial (DARFEUILLE-MICHAUD et al., 2004).

Um dos tipos de dor inflamatria que encontramos na clnica a dor muscular

que veremos a seguir.

http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC2768555/#R82http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC2768555/#R68http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC2768555/#R68http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC2768555/#R68http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC2768555/#R69http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC2768555/#R185http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC2768555/#R108http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC2768555/#R108

30

2.3 DOR MUSCULAR

A dor muscular desencadeada pela ativao dos nociceptores perifricos

que acionam fibras nervosas mielnicas A e fibras C do sistema nervoso perifrico

(SNP), que se projetam nos neurnios segmentares da substncia cinzenta do corno

dorsal da medula espinal (CDME) que so acionados e sensibilizados e onde

mecanismos modulatrios podem inibir ou facilitar a atividade dos nociceptores

(MENSE, 1994; 1997; WALL; GUTNICK, 1974).

O que normalmente no dia a dia provoca a dor muscular?

Em modelos animais, o processo miostico resultante da injeo de agente

irritantes musculares, como a carragenina, acarreta a liberao de substncias

vasoativas como a serotonina, histamina, bradicinina e prostaglandinas, resultando

em aumento da atividade dos nociceptores e de outros receptores. As vias

nociceptivas liberam retrogradamente substncia P, calcitonina e neuroquinina, as

quais agravam a condio inflamatria original. Alm disso, a ativao dos

nociceptores (via fibras IV) responsvel por gerar a dor muscular (TEIXEIRA,

1999).

Em adio, alguns desses nociceptores so ativados por uma grande

variedade de estmulos nociceptivos (ZIMMERMANN, 1988), onde alguns reagem

mais intensamente a alguns agentes qumicos e outros com atividade polimodal.

Tais nociceptores so sensibilizados por substncias algiognicas incluindo a

bradicinina, a histamina, os ons K+, as prostaglandinas (PGE), serotonina, acidose

tecidual (pH inferior a 6,1) e substncia P (SP). A liberao de noradrenalina e de

prostaglandinas (PGs) pelas fibras simpticas que inervam os msculos tambm

podem modificar a atividade dos receptores (MENSE et al., 1977; MENSE, 1997;

TEIXEIRA, 1999).

A palavra inflamao, do grego phlogosis e do latim flamma, significa fogo,

rea em chamas. Ela se apresenta como uma reao complexa a vrios agentes

nocivos, como microrganismos e clulas danificadas, que consiste de respostas

vasculares, migrao, ativao de leuccitos e reaes sistmicas (TROWBRIDGE;

EMLING, 1998), sendo considerada uma resposta fisiolgica desencadeada por

leso tecidual ou estmulos antignicos e que muitas vezes pode ser prejudicial ao

organismo (RAO et al., 2007; SCHMID-SCHONBEIN, 2006;). Clinicamente, a

31

inflamao caracteriza-se por apresentar cinco sinais cardinais: eritema, edema,

calor, dor e perda da funo (HEIDLAND et al., 2006), os quais so provenientes da

dilatao de arterolas e aumento da permeabilidade vascular por ao de

mediadores inflamatrios. Alm disso, com o aumento da temperatura, as reaes

metablicas ocorrem com maior rapidez e liberam calor adicional. J o edema surge

com aumento da permeabilidade vascular (VERGNOLLE, 2008).

Sabe-se que o exerccio fsico influencia no controle da dor muscular. Sendo

assim, falaremos a seguir sobre o efeito do exerccio fsico na dor.

2.4 EXERCCIO FSICO: NATAO

Exerccio fsico toda atividade fsica planejada, estruturada e repetitiva que

tem por objetivo a melhora ou manuteno da aptido fsica (CASPERSEN et al.,

1985), apesar do estresse fisiolgico homeostase e aos processos sistmicos

biolgicos que exigem solicitaes energticas acima do nvel de repouso

(MAUGHAN et al., 2000).

O exerccio fsico um importante componente no controle da dor, sendo

utilizado no tratamento de diversas disfunes msculos-esquelticas crnicas

(BEMENT; SLUKA, 2005).

Nesse contexto, evidncias demonstram que o exerccio fsico um

componente que auxilia no controle de algumas condies dolorosas (WRIGHT;

SLUKA, 2001). Este fenmeno tipicamente conhecido como analgesia induzida

pelo exerccio, mas a terminologia mais adequada para este fenmeno hipoalgesia

induzida pelo exerccio (KOTYN, 2002).

A natao uma das formas de exerccio fsico mais praticada em todo o

mundo, sendo que nos Estados Unidos a segunda modalidade de exerccio

dinmico mais popular, ficando atrs somente da caminhada (BOOTH et al., 1997;

US CENSUS BUREAU, 2009).

Essa modalidade de exerccio tem a vantagem de oferecer uma carga mnima

sobre as articulaes, permitindo uma grande facilidade de movimento. Alm disso,

a natao apresenta menor estresse mecnico devido flutuao, pela reduo dos

32

efeitos da gravidade, bem como uma melhor redistribuio do fluxo sanguneo entre

os tecidos (CAMPION, 2000).

Em roedores, a natao considerada uma habilidade inata. Estudos

demonstram ocorrncias de adaptaes (sesses de natao de 20 minutos

com suporte de cargas de 5, 6, 7, 8, 9 ou 10% ao peso do corpo durante 6 semanas

consecutivas) ao treinamento fsico iguais s observadas em humanos (GOBATTO

et al., 2001).

Os protocolos de exerccio so usados na reabilitao de pacientes com

doenas musculoesquelticas crnicas tais como: fibromialgia, lombalgia crnica e

dor miofascial (DE HUECK, 2004; GOWANS; WRIGHT; SLUKA, 2001). Alm disso,

vrios investigadores relataram que uma sesso de exerccio capaz de alterar a

percepo dolorosa, tanto durante quanto aps a realizao da mesma (COOK,

1999; KOLTYN, 2000; OCONNOR, 1999).

Muitos estudos em humanos e animais demonstram que o exerccio aerbio

proporciona alvio da mesma, denominado analgesia induzida por exerccio,

podendo ser ativado por uma variedade de estmulos dolorosos, incluindo o calor

(JANAL et al., 1984; 1994) e frio (PADAWER; LEVINE,1992). Vrios estudos foram

realizados visando demonstrar a analgesia induzida pelo exerccio, bem como

fatores isolados que influenciam a sua ocorrncia e extenso (DROSTE et al., 1991;

KEMPPAINEN et al., 1985).

Alm disso, estudos investigando o efeito do treinamento com natao em

roedores demonstraram uma melhora transitria da alodnia em casos de injria

medular (HUTCHINSON et al., 2004), reduo da hiperalgesia (BEMENT; SLUKA,

2005), diminuio da atrofia muscular durante o perodo de denervao por

esmagamento do nervo citico (JAWEED et al., 1974), aumento da sntese e

liberao de serotonina no crtex cerebral, tronco enceflico e medula espinal (DEY

et al., 1992).

Outro estudo demonstrou que o exerccio fsico agudo de intensidade leve

promoveu uma reduo da hiperalgesia frente a estmulo qumico induzida pela

formalina e da hiperalgesia trmica avaliado pelo teste da placa quente (BENTO-

SILVA et al., 2010).

Em adio, Bratti e colaboradores (2011) encontraram que o exerccio

prolongado de alta intensidade diminuiu a hipersensibilidade dolorosa presente em

33

modelo de sndrome da dor complexa regional tipo I (SDCR tipo I) em

camundongos. Kuphal e colaboradores (2007) tambm demonstraram que a

natao reduziu a hipersensibilidade dolorosa encontrada no teste da formalina e a

alodnia induzida por leso nervosa em ratos.

Alm disso, estudos evidenciam que o exerccio praticado diariamente pode

ser uma adio benfica para tratamentos clnicos e farmacolgicos a pessoas

portadoras de neuropatia perifrica (LI & HONDZINSKI, 2012).

2.5 SISTEMA ENDOCANABINIDE

Dentre os vrios sistemas sugeridos envolvidos no mecanismo da dor, o

endocanabinide tem sido fortemente investigado ao longo das ltimas dcadas.

O sistema endocanabinide foi descoberto no final dos anos 80, enquanto

que os sistemas de neurotransmissores principais, colinrgico, adrenrgico e

dopaminrgico foram descobertos na dcada de 30. A funo bsica do sistema

canabinide pode ser protetora. No SNC, a transmisso de sinal dos

endocanabinides mediada sobretudo pelo receptor CB1, um transportador

transmembrana de endocanabinides e enzimas hidrolticas envolvidas tanto na

sntese (lipase diacilglicerol, DAGL, a fosfolipase D especfica N-acylphosphatidyl-

ethanolamina) como na inativao (hidrolase amida dos cidos graxos e lipase

monoacilglicerol) dos endocanabinides. Os endocanabinides so sintetizados

medida que so necessrios a partir do cido araquidnico dos fosfolipdios da

membrana. A despolarizao neuronal ps-sinptica leva liberao de

endocanabinides, estes difundem-se ao longo da sinapse e ativam os receptores

CB1 na terminao pr-sinptica (DI MARZO et al., 2004).

A partir de ento, ocorreu o desvendamento do primeiro receptor canabinide,

o qual foi descrito como receptor para canabinide do tipo 1 (CB1). Dogrul e

colaboradores (2012), demonstraram que estes receptores esto amplamente

expressos em diversas estruturas enceflicas, preferencialmente, em reas do

crebro envolvidas na transmisso da dor, tais como a substncia cinzenta

periaquedutal (PAG), bulbo rostral ventromedial (RVM) e crtex, bem como na

medula espinal, gnglios da raiz dorsal, sistema nervoso entrico, adipcitos, clulas

34

endoteliais, hepatcitos, tecido muscular e trato gastrointestinal (HERKENHAM et

al., 1990; HOWLETT et al., 2004).

Os endocanabinides participam em uma variedade de processos incluindo a

termorregulao, apetite, funo imunitria, percepo (audio, viso e paladar),

cognio (potenciao a longo prazo e memria a curto prazo) e funo motora

(locomoo, propriocepo e tnus muscular) (POPE; PARSONS, 2010). Em muitos

estudos, demonstram a participao dos endocanabinides na modulao da dor,

regulao do apetite, alteraes de humor e funes patolgicas, respostas

inflamatrias, cncer, comportamento aditivo e epilepsia (GUINDON; HOHMANN,

2009; YATES; BARKER, 2009). Diferentemente dos neurotransmissores clssicos,

os endocanabinides so considerados mensageiros atpicos, uma vez que

medeiam a transferncia das informaes dos terminais ps aos pr-sinpticos de

uma forma retrgrada. Ainda, so sintetizados sob demanda e no so

armazenados em vesculas (DI MARZO et al., 2004).

Com novos estudos e investigaes desse sistema, Pertwee (2002), Van-

Sickle e colaboradores (2005) demonstraram posteriormente um segundo receptor

para canabinide (CB2), presentes predominantemente no sistema perifrico e se

relacionam com o sistema imunolgico, clulas T, clulas B, bao e amgdalas

(AMERI, 1999; MARTIN; LIVHTMAN, 1998). Por consequncia, esto intimamente

ligados a funes do sistema imune onde regulam a liberao de citocinas e a

migrao de clulas do sistema imune, podendo ser encontrados em diversos

tecidos linfoides dentro ou fora do SNC (FERNANDEZ-RUIZ et al., 2007; PERTWEE,

2001). Ensaios de hibridizao in situ demonstraram a existncia de RNAm para os

receptores CB2 no fgado, timo, amgdalas, medula ssea, pncreas, assim como

em macrfagos, moncitos e em uma ampla variedade de clulas imunes em cultura

(LYNN; HERKENHAM, 1994). RNAm para os receptores canabinides CB2 tambm

foi encontrado em tecido glial de crtex retirados de ratos recm-nascidos, inclusive

em concentraes mais elevadas do que nveis de RNAm para os receptores CB1 no

desenvolvimento cerebral (CABRAL et al., 2001).

Apesar de a maioria dos estudos acreditarem que os receptores CB2 so

exclusivamente expressos em tecidos perifricos e clulas inflamatrias (MUNRO et

al., 1993), agora h cada vez mais provas que sugerem que eles tambm so

expressos no SNC (VAN SICKLE et al., 2005). Na verdade, a alta regulao de CB2

durante a dor neuroptica em modelos animais tem sido descrita em clulas

35

microgliais e astrcitos (MARESZ et al., 2005; ZHANG et al., 2003). Alm disso, tem

sido sugerido que os receptores CB2 desempenham um papel crucial na regulao

imune do SNC durante a dor neuroptica (LUONGO et al., 2010; RACZ et al., 2008).

Uma das funes do receptor CB2 no sistema imunolgico durante o processo

doloroso a modulao da liberao de citocinas. A ativao de CB2 nas clulas T

por endocanabinides leva inibio da adenilil ciclase nestas clulas e a uma

reduo da resposta ao desafio imunolgico (CONDIE et al., 1996).

Outra funo no controle da proliferao, diferenciao e sobrevivncia

tanto em neurnios como em clulas no neuronais. Este receptor pode funcionar

como um "sinal de diferenciao de clulas (FERNNDEZ-RUIZ et al., 2007), sendo

sua expresso aumentada em clulas gliais durante estados dolorosos (SNCHEZ

et al., 2001).

Recentemente, tem sido demonstrado que as clulas microgliais de ratos

produzem um nmero de endocanabinoides ambguos, anandamida e 2-AG

(WALTER et al., 2003). Assim, por meio do papel imunomodulador dos

canabinides, buscou-se compreender melhor como o sistema endocanabinide

regula a funo microglial.

2.6 CLULAS DA GLIA E NOCICEPO

As clulas gliais, especificamente os astrcitos e a microglia, foram

reconhecidas por longo tempo como constituintes envolvidos em promover o

ambiente ideal para o funcionamento neuronal, tendo como funes principais o

suporte e a nutrio destas clulas. No entanto, estudos publicados na ltima

dcada tm indicado que a glia pode interagir com os neurnios, modulando a sua

atividade tanto sob condies fisiolgicas quanto patolgicas (ARAQUE et al, 1999).

A ativao glial uma caracterstica comum de muitas doenas do sistema nervoso

central e est envolvida na defesa, no reparo e na regenerao do tecido neuronal

exposto a doenas infecciosas, inflamao, trauma, tumores ou neurodegenerao

(KREUTZBERG, 1996; VILA et al., 2001).

Alm disso, a ativao glial constitui um processo multidimensional e a

maneira pela qual ela expressa depende do tipo e da intensidade do estmulo

36

indutor, podendo ocorrer curso temporal e padro de resposta distintos. Esta

caracterstica das clulas gliais distinta das clulas neuronais, cuja ativao

unidimensional, ou seja, resulta exclusivamente em produo de potencial de ao

(WATKINS; MAIER, 2003). No sistema nervoso central, os astrcitos e a microglia

diferem quanto origem, ao seu estado de ativao basal e s alteraes

morfolgicas e funcionais aps a ativao (WATKINS; MAIER, 2003).

No SNC de mamferos, as clulas gliais so at 10 vezes mais numerosas do

que os neurnios e podem compreender at 50% do volume total de clulas (POPE,

2010). Os astrcitos constituem cerca da metade da populao total das clulas

gliais e so amplamente divididos em astrcitos protoplasmticos e em astrcitos

fibrosos, com base nos dados nas diferenas morfolgicas. Seus processos rodeiam

os capilares dos neurnios revestindo as superfcies neuronais de forma livre,

formando um sinccio com outros astrcitos atravs de junes de hiato (PETERS et

al., 1976). Apesar de seus nmeros e locais estratgicos, h pouca informao

disponvel quanto s suas funes, embora tenha especulaes considerveis a

este respeito (SOMJEN, 1981; VARON; SOMJEN, 1979). Em grande parte, essa

falta de informao se deve ausncia de modelos adequados, em que as

propriedades dinmicas de astrcitos podem ser estudados com detalhes. Estudos

eletrofisiolgicos de astrcitos in situ (SOMJEN, 1981; VARON; SOMJEN, 1979), no

entanto, mostraram claramente que, ao contrrio dos neurnios, e eles so no

excitveis, assim, as suas funes especficas no podem ser identificadas com

base em uma nica resposta eltrica da mesma maneira como pode ser feito para

os neurnios. Os astrcitos exibem funes imunes. Tais clulas expressam os

receptores toll-like (TLRs), alm de atuarem como clulas apresentadoras de

antgenos e produzirem uma variedade de citocinas e quimiocinas, tambm so

importantes para a sinalizao do SNC com a periferia, uma vez que, eles secretam

quimiocinas e citocinas e apresentam contato ntimo com os vasos sanguneos

(DONG; BENVENISTE, 2001). Um dos marcadores mais utilizados na deteco dos

astrcitos so os filamentos intermedirios presentes no citoplasma e conhecidos

como GFAP (glial fibrilary acidic protein). A funo destas protenas ainda no

conhecida, porm o aumento da sua expresso est associado com o incremento da

ativao dos astrcitos (WATKINS; MAIER 2002).

Outra clula da glia bastante importante na gnese da dor a micrglia.

uma populao de macrfagos especializada, encontrada no SNC, so quiescentes

37

quando esto inativadas. No entanto, depois de leso do SNC, estas clulas podem

ser ativadas por citocinas produzidas pela infiltrao de clulas efetoras imunitrias.

Assim, a estimulao da microglia um modelo til para o estudo de mecanismos

subjacentes de leso neuronal por vrios fatores pr-inflamatrios e neurotxicos

lanados pela ativao microglial (JUNG et al., 2010).

Diferente dos astrcitos, sob condies fisiolgicas, a micrglia apresenta-se

na forma quiescente e constitui as clulas imunes residentes no sistema nervoso

central (KREUTZBERG, 1996). Embora apesar dos poucos estudos consistentes

demonstrem a origem da micrglia, acredita-se que clulas gliais mesodrmicas

invadam o sistema nervoso central durante a fase embrionria do desenvolvimento.

Subsequentemente, no perodo aps o nascimento, ocorre uma segunda migrao

de moncitos derivados da medula e, desta forma, ocorre a formao da micrglia

(CHAN et al., 2007; ROCK et al., 2004). A micrglia classificada em dois grupos

celulares, de acordo com sua morfologia e seu estado de ativao, as quais so a

micrglia em repouso, anteriormente denominada como micrglia quiescente e a

micrglia ativada.

A micrglia quiescente morfologicamente tpica, ramificada, com corpo

celular pequeno (5-10 m) e ncleo que preenche quase completamente o soma

(PERRY; GORDON, 1988). Numerosas ramificaes, delgadas e longas, tambm

conhecidas como processos microgliais, emergem a partir do soma. Uma

caracterstica marcante destas clulas que elas se tornam rapidamente ativadas

em resposta a um pequeno estmulo patolgico no sistema nervoso central. J a

micrglia ativada, apresenta alteraes morfolgicas caractersticas e adquirem

propriedades fagocticas, atuando no reparo tecidual e na regenerao neural

(KREUTZBERG, 1996), na defesa do parnquima neural contra doenas

infecciosas, trauma, isquemia, tumores cerebrais e na neurodegenerao.

As alteraes morfolgicas incluem o aumento do corpo celular, o

encurtamento e a hipertrofia das ramificaes. As clulas podem adquirir formato

esfrico ou amebide podendo apresentar ausncia de ramificaes (BRIERLEY;

BROWN, 1982). A forma amebide evidente durante as fases iniciais do

desenvolvimento embrionrio e durante a plasticidade, enquanto que a quiescente

encontrada na vida adulta em condies fisiolgicas.

A ativao microglial tambm caracterizada pelo aumento da expresso de

molculas como o MHC (major histocompatibility complex), o receptor para o

38

complemento-3 (CR3), as integrinas 2 (CD11b e CD11c) e uma variedade de

receptores para citocinas, quimiocinas e outras substncias liberadas no sistema

nervoso central. As alteraes funcionais da micrglia ativada incluem a migrao

para reas lesionadas, a fagocitose, a apresentao de antgenos e a secreo de

citocinas pr-inflamatrias como a interleucina-1 (IL-1) e o fator de necrose tumoral-

(TNF-) (WATKINS; MAYER, 2003). Alm disso, a ativao microglial est

envolvida com o sistema imune adaptativo, uma vez que estas clulas so

componentes chave no recrutamento leucocitrio (ALOISI, 2001). Outras funes

importantes da micrglia incluem a induo do apoptose em subpopulaes

especficas de neurnios durante o desenvolvimento (MARN-TEVA et al., 2001), o

controle da sinaptognese (ROUMIER et al., 2004), a sntese de fatores

neurotrficos e a regulao da transmisso sinptica (COULL et al., 2005) e da

astrogliose (ALLIOT et al., 1991; STREIT et al., 1999). A ativao microglial aguda

geralmente benfica pois atua de maneira protetora ao organismo. Porm, a

ativao crnica leva a mudanas neuronais, alm de contribuir para a destruio

neuronal, que observada em certas doenas neurodegenerativas, tais como a

doena de Alzheimer (KHOURY et al., 2007) e a doena de Parkinson (CARDONA

et al., 2006).

Alm disso, em modelos animais, a inibio da funo glial pela administrao

de minociclina, uma enzima que inibe o metabolismo microglial, atenua a dor

neuroptica e a inflamatria (CHACUR et al., 2004; MILLIGAN et al., 2003).

2.7 ATIVAO GLIAL E A MODULAO DA DOR

Nas ltimas dcadas, diversos estudos tm voltado sua ateno s clulas

gliais, principalmente astrcitos e micrglia, com o intuito de melhor esclarecer suas

funes em modelos de dor experimental (MILLIGAN et al., 2002; SCHOLZ;

WOOLF, 2007).

A importncia das clulas da glia da medula espinal em processos

nociceptivos foi primeiramente evidenciada por Garrison e colaboradores (1991),

que mostraram o aumento da densidade destas clulas, mais especificamente de

astrcitos na medula espinal, aps a induo de ligaduras no nervo isquitico

39

(GARRISON et al., 1991). Ainda, a hiperalgesia trmica resultante da injeo s.c. de

formalina e i.p. de endotoxina (WATKINS et al., 1999) bloqueada pela injeo

intratecal de inibidores gliais. Da mesma forma, a alodnia mecnica resultante da

injeo perifrica de zimosan, um polissacardeo presente na superfcie de fungos,

como leveduras, utilizado para induzir inflamao experimental (SATO et al., 2003)

tambm bloqueada por inibidor metablico das clulas da glia (MILLIGAN et al.,

2000). Estudos realizados por Chacur e colaboradores (2007), mostraram que o

inibidor do TNF e a minociclina, foram capazes de diminuir a hiperalgesia induzida

pela injeo de Adjuvante Completo de Freund (CFA) no msculo gastrocnmio de

ratos, sugerindo a participao de clulas gliais e citocinas neste fenmeno

(CHACUR et al., 2007, 2009).

Alteraes neuroimunes tm sido implicadas no desencadeamento da dor

induzida por diversos tipos de leso em tecidos perifricos (WATKINS et al., 2001).

Na medula espinal, as clulas gliais so ativadas em resposta a uma ampla

variedade de condies que produzem respostas de dor exagerada como

inflamao crnica dos tecidos e leso de nervos (WATKINS et al., 2001). Alm

disso, a glia tambm pode ser ativada por patgenos (vrus e bactrias), substncias

liberadas por fibras aferentes primrias que transmitem a informao dolorosa da

periferia para a medula espinal e que possuem receptores nas clulas gliais (ATP,

aminocidos excitatrios, substncia P e fractalcina) ou substncias liberadas dos

neurnios de segunda ordem da medula espinal que conduzem a informao

dolorosa da medula espinal para o crebro (prostaglandinas, xido ntrico e

fractalcina) (WATKINS et al., 2001; WATKINS; MAIER 2002).

No incio da dcada de 90 foram publicados os primeiros trabalhos

demonstrando que em modelos animais de dor neuroptica, induzida por leso em

nervos perifricos, havia ativao de astrcitos no corno dorsal da medula espinal

(GARRISON et al., 1991). Alm disso, drogas que bloqueavam a dor neuroptica,

como o antagonista do receptor glutamatrgico NMDA, o MK801, inibiam a ativao

astroctica (GARRISON et al., 1991). Estes estudos demonstraram pela primeira vez

uma possvel relao entre a ativao glial e o desenvolvimento da dor neuroptica.

Em adio, estudos mais recentes utilizando modelos animais tem demonstrado que

outros estmulos, como ligao de nervos perifricos (COYLE, 1998), injeo

subcutnea de formalina (FU et al., 2000) ou adjuvante completo de Freund (CFA)

(RAGHAVENDRA et al., 2004) e a leso da medula espinal (NESIC et al., 2005;

40

POPOVICH et al., 1997; SROGA et al., 2003; ZAI; WRATHALL, 2001), tambm so

capazes de induzir ativao das clulas gliais no sistema nervoso central,

particularmente na medula espinal. O bloqueio da ativao das clulas gliais atravs

da injeo intratecal do fluorocitrato, um inibidor metablico glial, reduziu a dor

gerada por estmulos que induzem tanto a inflamao do tecido subcutneo

(MELLER et al., 1994; WATKINS et al., 1997) quanto a inflamao de nervos

perifricos (WATKINS; MAYER, 2000). A inibio da micrglia, com a minociclina,

um inibidor seletivo do metabolismo microglial, tambm atenuou a hiperalgesia e a

alodnia em modelo de dor neuroptica (RAGHAVENDRA et al., 2003). Alm disso,

outros achados tambm demonstraram que a interrupo da ativao glial atenuou a

tolerncia produzida pela morfina, sugerindo que as substncias liberadas pela glia

atuam contrapondo-se aos efeitos do opiide administrado cronicamente (SONG;

ZHAO, 2001). Diante destas evidncias de que a ativao das clulas gliais contribui

para a gerao e manuteno da hipersensibilidade dor, vrios estudos tm sido

realizados para investigar quais molculas so capazes de induzir a ativao glial,

bem como quais substncias liberadas pela glia que podem alterar a atividade

neuronal e, desta forma, contribuir tanto para a gerao quanto para manuteno da

dor.

Estudos prvios demonstraram que as clulas gliais expressaram receptores

para muitas das substncias liberadas pelos neurnios. Na medula espinal, por

exemplo, os astrcitos e a micrglia expressam receptores para glutamato

(BESONG et al., 2002), ATP (TSUDA et al., 2003), substncia P (MARRIOT, 2004),

CGRP (PRILLER et al., 1995; REDDINGTON et al., 1995) e citocinas pr-

inflamatrias, como a fractalcina (ASENSIO; CAMPBELL, 1999; VERGE et al.,

2004).

Outros receptores amplamente expressos nas clulas gliais so os receptores

para canabinides (CB2), principalmente na micrglia, regulando sua motilidade e

produo imunomoduladora (ATWOOD; MACKIE, 2010; PERTWEE et al, 2010).

Neste cenrio complexo, o sistema endocanabinide pode representar um

alvo interessante por modular a comunicao microglia-astrcitos-neurnio. De fato,

os endocanabinides so liberados sob demanda pelos neurnios, bem como por

astrcitos e micrglia (WATTERS et al., 2002). digno notar que as clulas

microgliais produzem 20 vezes mais endocanabinides em comparao com os

neurnios e astrcitos (WATTERS et al., 2002).

41

Muitas molculas liberadas no SNC tm sido cogitadas como capazes de

ativar as clulas gliais, especialmente porque apresenta algumas caractersticas que

a diferencia das demais substncias liberadas pelos neurnios (MILLIGAN et al.,

2004; SUN et al., 2007). A fractalcina a nica citocina expressa constitutivamente e

liberada pelos neurnios no sistema nervoso central, enquanto que seu receptor

(CX3CR1) expresso exclusivamente na glia (ASENSIO; CAMPBELL, 1999;

VERGE et al., 2004). Trata-se de uma citocinamiosttica, nico membro pertencente

classe CX3C, cuja estrutura caracterizada por ter duas cistenas separadas por

trs aminocidos (ASENSIO; CAMPBELL, 1999). A fractalcina existe nas formas

solvel e ligada membrana extracelular (BAZAN et al., 1997; PAN et al., 1997), a

nica que se liga em apenas um tipo de receptor, denominado CX3CR1 (CX3C

receptor-1), que lhe exclusivo (JUNG et al., 2000). Para ativar o receptor CX3CR1,

a forma solvel clivada da membrana neuronal pela catepsina S, uma protease

expressa e liberada pela micrglia (CLARK et al., 2007).

Alguns dados sugerem que a micrglia responsvel pela a atividade

neuronal (HANSSON, 2006; MCMAHON et al., 2005), que quando ativadas sob

condies fisiopatolgicas, liberam substncias que modificam a sinalizao entre os

neurnios (FIELDS; STEVENS GRAHAM, 2002; MARCHAND et al., 2005). Estas

substncias incluem xido ntrico, o ATP e citocinas pr-inflamatrias (MARCHAND

et al., 2005). Estes mediadores derivados de clulas gliais contribuem para a

sensibilizao central (MA & ZHAO, 2002), resultando em alodnia e hiperalgesia

(MILLIGAN et al., 2000; SWEITZER et al., 1999).

2.8 CB2 E GLIA

Os receptores para canabinides do tipo 2 so expressos em clulas da glia

de humanos e ratos (ASHTON et al., 2006; NUNEZ et al., 2004) e sua expresso

aumenta especialmente as clulas gliais durante a inflamao (RAMIREZ et al.,

2005; SHENG et al., 2005). Usando uma inciso de pata ou um modelo de leso de

nervo perifrico mostraram que ativao in vivo do CB2 na medula reduz a

reatividade glial, medida como uma reduo na expresso de CR3/CD11b

(marcador microglial) ou molcula de adaptador de ligao do clcio ionizado 1 (Iba-

42

1) na micrglia (ROMERO-SANDOVAL; EISENACH, 2007; ROMERO-SANDOVAL

et al., 2008). Iba1 um marcador citoslico da micrglia que est associado com um

fentipo pr-inflamatrio e est envolvido na migrao da micrglia (OHSAWA et al.,

2000; 2004). Por conseguinte, o CB2 reduz a ativao in vitro do fator de necrose

tumoral- (TNF) e xido ntrico (NO) em micrglia (EHRHART et al., 2005; RAMIREZ

et al., 2005) e protetor contra a neurotoxicidade da micrglia em humanos

(KLEGERIS et al., 2003). No entanto, o mecanismo intracelular de ao especfica

pelo qual a ativao do CB2 altera o fentipo microglial no foi previamente relatado.

Estudos demonstram que agonistas do receptor canabinide CB2 produzem

alvio da dor em uma variedade de modelos animais (RICHARDSON, 2000). Os

endocanabinides atuam sobre as clulas da glia e neurnios inibindo a liberao de

molculas pr-inflamatrias, incluindo a IL-1, TNF- e NO (CABRAL et al., 2001;

MOLINA HOLGADO et al., 1997; 2002; PUFFENBARGER et al., 2000; SHOHAMI et

al., 1997) e aumentando a liberao de citocinas anti-inflamatrias como IL-4, IL-10

(KLEIN et al., 2000).

Em particular, a ativao dos receptores CB2 expressos na micrglia durante

a neuroinflamao (ATWOOD; MACKIE, 2010; BENITO et al, 2008) reduziu a

produo de NO e TNF- na micrglia (EHRHART et al, 2005; MERIGHI et al,

2012.). Alm disso, tal ativao microglial oferece proteo contra a neurotoxicidade

atravs do aumento da produo de IL-10 (CORREIA et al., 2005; 2010;

ELJASCHEWITSCH et al., 2006; KLEGERIS et al., 2003).

A ativao dos receptores CB2 tambm reduziu a ativao glial, inibindo a

liberao de fatores pr-inflamatrias pela micrglia, em modelos animais de hipxia

por isquemia peritoneal e doena de Huntington (BENITO et al., 2008).

Portanto, h algumas evidncias de que o treinamento fsico altera a atividade

de astrcitos (BERNARDI et al., 2013) e micrglia (COBIANCHI et al., 2010), mas

relao entre exerccio e a ativao glial exige muito mais investigao.

43

3 OBJETIVOS

Os objetivos deste trabalho esto descritos abaixo.

3.1 OBJETIVO GERAL

Investigar a participao de receptores canabinides e o envolvimento da

micrglia na dor muscular controlada pelo exerccio fsico.

3.2 OBJETIVOS ESPECFICOS

a) Avaliar o efeito do protocolo de treinamento fsico sobre o controle da dor

muscular;

b) Investigar a participao a nvel espinal de receptores CB2 na dor muscular

controlada pelo exerccio fsico;

c) Investigar a participao da micrglia espinal na dor muscular controlada pelo

exerccio fsico;

d) Investigar o efeito do treinamento fsico na temperatura muscular em modelo

de dor muscular;

e) Avaliar o efeito do treinamento fsico na produo de citocinas inflamatrias

em modelo de dor muscular.

44

4 MATERIAIS E MTODOS

Os materiais e mtodos utilizado neste estudo esto descritos a seguir.

4.1 ANIMAIS

Foram utilizados camundongos fmeas da linhagem C57BL/6 (figura 2),

pesando entre 20 a 25g, provenientes do Biotrio Central da Universidade Jos do

Rosrio Vellano (UNIFENAS). No perodo de realizao dos experimentos, os

animais foram mantidos em estantes ventiladas, sob controle de temperatura 23C e

com ciclo claro/escuro de 12 h controlado. Alm disso, os animais tiveram livre

acesso a rao e gua. Esse projeto foi realizado de acordo com a comisso

permanente local para experimentao tica com animais aprovado pela Autoridade

de Proteo Animal da Universidade Federal de Alfenas-MG (UNIFAL), sob

protocolo 628/2015, obedecendo s normas recomendadas pela IASP

(ZIMMERMANN, 1983).

Fonte: Da autora.

Figura 2- Camundongo da linhagem C57BL/6

45

4.2 DROGAS

As seguintes drogas foram utilizadas no estudo: Carragenina (Sigma-

Aldrich), diluda em salina isotnica estril (2%) e injetada no msculo gastrocnmio

direito em um volume de 50 L; o AM630 (6-iodo-2-metil-1-[2-(morfolinil)etil]-1H-

iodol-3-il(metoxifenil)metanona (TOCRIS), antagonista para o receptor canabinide

CB2, diluda em salina isotnica estril (2%) +DMSO (2%) +cremofor; o MAFP (cido

metil araquidonil fluorfosfano/(5Z, 8Z, 11Z, 14Z)-5, 8, 11, 14-eicosatetraenil-metil

ester fosfofluordrico) (TOCRIS), inibidor da FAAH, diludo em etanol (3%);

minociclina, inibidor seletivo da micrglia, diluda em tween 80, todas injetadas por

via intratecal. Em alguns experimentos os animais receberam os veculos das

drogas descritas acima, salina, salina+DMSO+cremofor, etanol e tween 80, injetados

de acordo com seus respectivos volumes.

4.3 ADMINISTRAO DAS DROGAS

A forma de administrao das drogas sero des ritas a seguir.

4.3.1 Administrao Intratecal

Para a realizao das injees intratecais, utilizamos o mtodo proposto por

Hylden e Wilcox (1980). Incialmente, os animais foram sedados por inalao de

isoflurano (2%) por meio de um sistema de vaporizao calibrada. Aps encontrar o

osso ilaco (espinhas ilacas ventrais), uma agulha de nmero 29G (13 x 0,33) foi

inserida diretamente no espao subaracnideo entre as vrtebras lombares L5 e L6

do animal. Imediatamente aps a insero e, aps a verificao do flint (retirada da

cauda), foi inserida a agulha no espao subaracnideo da medula e realizada a

injeo (figura 3).

46

Previamente a esse procedimento e com o objetivo de assegurar a

administrao correta das drogas, foi realizado um treinamento prvio para o

aprimoramento dessa tcnica com a injeo de 0,5 L de lidocana (2%). Como

resposta positiva da administrao i.t., observava-se a paralisia dos membros

traseiros dos animais (RADHAKRISHNAN et al., 2003).

As drogas e seus veculos foram injetadas intratecalmente antes da ltima

medida do limiar nociceptivo (incio da quarta semana) do treinamento fsico, para os

animais exercitados e os animais sedentrios.

4.3.2. Injeo intramuscular

Os animais receberam 50L de injeo intramuscular de carragenina (2%)

diluda em salina estril no msculo gastrocnmio direito. Os animais controle

receberam a mesma quantidade de salina (veculo) (figura 4).

Este procedimento foi utilizado para a realizao do modelo de dor muscular.

Fonte: Oliveira (2015)

Figura 3- Via de administrao intratecal.

47

4.4 EXERCCIO FSICO

Neste estudo, o protocolo de exerccio fsico utilizado foi o de natao, a qual

foi realizada por 5 dias, durante trs semanas, iniciada 24 horas aps a induo da

dor muscular pela injeo i.m. de carragenina. Para a realizao do exerccio, os

animais foram colocados em uma caixa de vidro, com dimenses de 15x9 cm, com

gua aquecida a 37C. Foi acrescentado 20% do volume de sabo lquido no total

de gua para reduzir a tenso superficial da gua e evitar o comportamento de

flutuar dos animais. Aps cada sesso de natao os animais foram

cuidadosamente secos com toalhas de tecido (MAZZARDO-MARTINS et al., 2010).

Na Tabela 1 est descrito o protocolo de treinamento fsico no qual os animais

foram submetidos ao longo de trs semanas.

Fonte: Bender (2012)

Figura 4- Local de injeo da carregenina: msculo gastrocnmio direito

48

Tabela 1- Protocolo de exerccio fsico (natao).

Nota: Na primeira semana, os animais realizaram uma adaptao, nadando por um perodo

de 15 minutos por dia, durante 5 dias. J na segunda semana, nadaram por um perodo de 30 minutos por dia, durante 5 dias na semana e na terceira semana, nadaram 45 minutos por dia, durante 5 dias. Ao final da primeira e segunda semana, em um intervalo de 2 dias, os animais no realizaram exerccio.

Fonte: Da autora.

Inicialmente, os animais foram divididos em 4 grupos experimentais, sendo o

Sal+Ex (n=6), composto por animais que receberam injeo de salina e foram

submetidos ao exerccio; Cg+Ex (n=6), composto por animais que receberam

injeo de carragenina e foram submetidos ao exerccio; Sal+Sed (n=6), composto

por animais que receberam injeo de salina e no realizaram exerccio e Cg+Sed

(n=6), formado por animais que receberam injeo de carragenina e no foram

submetidos ao exerccio. J, para investigar a participao de receptores para

canabinides do tipo II, endocanabinides e micrglia, os animais foram divididos

em grupos experimentais, igualmente como os descritos acima, porm com a pr-

injeo dessas drogas e seus respectivos veculos, por via intratecal, aps a terceira

semana do treinamento fsico.

Dias da semana Tempo (min)/

1semana

Tempo (min)/

2 semana

Tempo (min)/

3 semana

1 15 30 45

2 15 30 45

3 15 30 45

4 15 30 45

5 15 30 45

49

4.5 AVALIAO DO LIMIAR NOCICEPTIVO

Em seguir, demonstramos os testes utilizados para avaliar os limiares

nociceptivos.

4.5.1 Teste de alodnia mecnica: Von Frey filamentos

Inicialmente os animais permaneceram em suas caixas na sala de

comportamento por 30 minutos para se habituarem. Logo em seguida, foram

colocados em caixas individuas de vidro, (figura 5A) posicionadas sobre uma grade

de metal, a qual permitiu a avaliao do limiar nociceptivo mecnico pela pata direita

de cada animal (figura 5B). Os limiares de retirada da pata foram avaliados por meio

do von Frey Filamentos, o qual realiza uma presso mecnica, por meio de

filamentos de diferentes espessuras (figura 5C), aplicado de forma perpendicular

com fora suficiente para curv-los na superfcie plantar da pata posterior direita de

cada animal. Foram realizadas 3 medidas do limiar nociceptivo em cada animal,

separadas por intervalos de 3 minutos e a mdia das 3 medidas foi descrita como o

limiar mecnico de retirada de pata em gramas (g).

A medida basal (MB) do limiar nociceptivo mecnico foi realizada antes da

injeo de carragenina. Medidas posteriores do limiar nociceptivo foram realizadas

no final da segunda semana e final da terceira semana de treinamento fsico.

50

A B

C

4.5.2 Teste de hiperalgesia trmica: Placa quente

Alm do teste descrito acima, realizamos outro teste que permite a avaliao

da sensibilidade trmica nociceptiva dos animais: o teste da placa quente. Este teste

mensura a latncia (em segundos) da resposta do estmulo trmico aplicado na

superfcie plantar da pata dos animais. Para a realizao de tal, cada camundongo

foi colocado individualmente sobre a placa (figura 6) em uma sala de temperatura

Figura 5- Teste de Von Frey filamento.

Nota: A e B aparato utilizado para colocar os animais durante o experimento. A: viso completa das caixas dispostas sobre a mesa; B: viso inferior da grade de metal e posicionamento dos camundongos; C: os filamentos utilizados e em destaque uma amostra do posicionamento desse filamento durante a aplicao do estmulo.

Fonte: Oliveira (2015)

51

controlada (231C). Os valores de latncia de retirada da pata foram calculados a

partir de uma mdia de 3 retiradas consecutivas da pata direita, medidas com um

intervalo de 10 minutos. O tempo-limite imposto para evitar danos ao tecido foi de 30

segundos.

4.6 TERMOGRAFIA

A termografia uma tcnica no-invasiva, sem contato, que detecta a rea de

superfcie aquecida com radiao IV (TURNER, 1991).

No presente estudo, os dados da termografia foram captados antes do incio

do tratamento (induo da dor muscular e treinamento fsico) e logo aps a ltima

semana (terceira) do treinamento fsico. As imagens foram captadas utilizando um

Termovisor FLIR Srie T420 (Flir System AB, Sucia) capaz de permitir anlises

precisas de temperaturas de superfcie com variaes entre -20C a 650C (Figura

7).

Fonte: Da autora.

Figura 6- Aparato utilizado para o teste da hiperalgesia trmica: placa quente.

52

Para tal, os animais sedados por inalao de isoflurano (2%) foram colocados

sobre a bancada e o termovisor foi posicionado a 30 cm da rea avaliada e incidindo

de modo perpendicular mesma, considerando emissividade de 0,98 para estudo

em roedores (TURNER, 1991) em uma sala com a temperatura controlada a 23C

por ar condicionado e com umidade relativa do ar em 55%. Antes do procedimento,

esperou- se durante 15 minutos para adaptao as condies da sala.

As imagens foram captadas e analisadas por software (FLIR Quick Report-

Verso 1.2) (figura 8).

Fonte: Da autora.

Fonte: Da autora.

Figura 7- Termovisor FLIR Srie T420 (Flir System AB, Sucia)

Figura 8- Posicionamento do animal sobre a bancada para o registro das imagens termogrficas dos membros inferiores.

53

4.7 PREPARAO DOS TECIDOS E DOSAGEM DE CITOCINAS PELO ENSAIO

DE ELISA

Para a investigao do efeito do treinamento fsico sobre os nveis de

citocinas pr-inflamatrias no modelo de dor muscular, foi realizado o ensaio de

ELISA.

Imediatamente aps ltimo dia do protocolo de treinamento fsico os msculos

gastrocnmios direitos de cada animal exercitado ou controle foram removidos e

colocados em microtubos contendo uma soluo com PBS 0,1 M (pH=7.4). Logo em

seguida, os msculos foram homogeneizados e o homogenato foi centrifugado a

3,000 x g por 10 minutos em uma temperatura de 4 C e cada sobrenadante foi

adicionado em criotubos, os quais foram armazenados em um biofreezer em

temperatura a -80 C at o momento da anlise.

4.7.1. ELISA- Enzyme linked immuno sorbent assay

ELISA um imunoensaio que utiliza um ou mais anticorpos especficos para

um determinado antgeno para a quantificao da molcula de interesse.

Para a anlise dos nveis de interleucina 1-beta (IL-1) e do fator de necrose

tumoral (TNF-) no msculo gastrocnmio direito, foi utilizado kits de ELISA

(enzyme linked immuno sorbent assay) especficos para IL-1 e TNF- de

camundongo (PeproTech). Todos os procedimentos foram realizados de acordo

com as instrues do fabricante.

Logo em seguida, microplacas com 96 orifcios foram sensibilizadas com

anticorpos monoclonais de captura e posteriormente tiveram os stios inespecficos

bloqueados com soluo de albumina bovina. Aps lavagem, as amostras ou

padres foram incubados para possibilitar a quantificao. Seguiu-se a adio de

anticorpo de deteco, incubao com soluo de avidina-peroxidase e posterior

adicionamento da soluo cromognica para leituras das reaes colorimtricas que

foram realizadas a 405nm em leitor de microplacas (Synergy H1, BioTek). Clculos

54

foram realizados a partir da curva padro para determinao das concentraes das

amostras.

4.8 DELINEAMENTO EXPERIMENTAL

Na fase inicial, utilizou-se quatro grupos (Sal+Ex, Cg+Ex, Sal+Sed, Cg+Sed).

Antes da injeo intramuscular (i.m.) de carragenina, os animais foram submetidos a

uma medida basal do limiar nociceptivo de retirada da pata, atravs do filamento de

Von Frey e da placa quente. Na continuidade desse experimento, o limiar

nociceptivo de retirada da pata foi mensurado do final da primeira, da segunda e da

terceira semana de treinamento fsico, conforme demonstrado na figura 8.

Para investigar a participao do receptor para canabinides (CB2) no

controle da dor muscular, o AM630, antagonista do receptor CB2, foi injetado i.t.

antes da ltima medida do limiar nociceptivo (figura 9).

Semanas

Carragenina

Exerccio (24h aps Cg)

Teste nociceptivo

AM630

Para averiguar a participao dos endocanabinides no controle da dor

muscular, O MAFP, inibidor da FAAH, enzima responsvel pela degradao da

anandamida, foi pr-administrado i.t. antes da ltima medida do limiar nociceptivo,

ou seja, depois da terceira semana de treinamento fsico (figura 10).

3 2

1

Figura 9: Mensurao do limiar nociceptivo de retirada da pata aps exerccio fsico. Os animais receberam carragenina ou veculo antes do nicio do protocolo de treinamento fsico e AM630 ou veculo aps o treinamento.

Nota: Cg: carragenina. Fonte: Da autora.

55

Semanas

Carragenina

Exerccio (24h aps Cg)

Teste nociceptivo

MAFP

J, para demonstrar a participao das clulas da glia, a nvel espinal,

principalmente a micrglia, administramos a minociclina, uma droga inibidora seletiva

da micrglia, no final da terceira semana de exerccio (figura 11).

Semanas

Carragenina

Exerccio (24h aps Cg)

Teste nociceptivo

Minociclina

Para determinar os nveis de citocinas pr-inflamatrias, TNF- e IL-1 e sua

participao no modelo de dor muscular, foi realizado o ensaio de ELISA, logo aps

a ltima semana de exerccio fsico (figura 12).

1 3 2

Figura 10- Mensurao do limiar nociceptivo de retirada da pata aps exerccio fsico. Os animais receberam carragenina ou veculo antes do nicio do protocolo de treinamento fsico e MAFP ou veculo aps o treinamento.

Figura 11- Mensurao do limiar nociceptivo de retirada da pata aps exerccio fsico. Os animais receberam carragenina ou veculo antes do nicio do protocolo de treinamento fsico e minociclina ou veculo aps o treinamento.

Nota: Cg: carragenina. Fonte: Da autora.

Nota: Cg: carragenina. Fonte: Da autora.

1 3 2

56

Semanas

Carragenina

Exerccio (24h aps Cg)

Teste nociceptivo

ELISA

Entretando, sabe-se que a dor muscular gera inflamao e levando em conta

que a isso leva ao aumento da temperatura local, investigamos o efeito do exerccio

na influncia desse controle de temperatura. Sendo assim, utilizamos a tcnica da

termografia. As imagens foram captadas antes do incio do treinamento e logo aps

a ltima semana de treinamento (figura 13).

Semanas

Carragenina

Exerccio (24h aps Cg)

Teste nociceptivo

Termografia

2 1 3

Figura 12- Mensurao do limiar nociceptivo de retirada da pata aps exerccio fsico e efeito das citocinas sobre a dor muscular.

Nota: Os animais receberam carragenina ou veculo antes do nicio do protocolo de treinamento fsico. O ensaio de ELISA foi feito logo aps a ltima semana de exerccio. Cg: carragenina.

Fonte: Da autora.

1 3 2

Nota: Os animais receberam carragenina ou veculo antes do nicio do protocolo de treinamento fsico. A termografia foi realizada antes do incio do treinamento e logo aps a ltima semana de exerccio. Cg: carragenina.

Fonte: Da autora.

Figura 13- Mensurao do limiar nociceptivo de retirada da pata aps exerccio fsico e efeito do exerccio sobre o controle da temperatura no modelo de dor muscular.

57

4.9 ANLISE ESTATSTICA

Os resultados foram apresentados como a mdia + EPM. Para o tratamento

estatstico dos dados comportamentais, foi utilizada a anlise de varincia de duas

vias (ANOVA). J, o tratamento estatstico dos dados obtidos pelo ensaio de ELISA

e a termografia foram analisados anlise de varincia de uma via (ANOVA). Ambas

as anlises foram seguidas pelo ps teste de Bonferroni para comparaes mltiplas

e foram consideradas estatisticamente significativas os valores de P

58

5 RESULTADOS

Em seguir, sero apresentados os resultados.

5.1 EFEITO DO EXERCCIO FSICO SOBRE A DOR MUSCULAR INDUZIDA PELA

CARRAGENINA.

No grfico 1, observa-se que ao final da primeira semana aps a injeo i.m.

de carragenina, houve uma reduo significativa do limiar nociceptivo (p

59

J o grfico 2 tambm demonstra que no final da primeira semana aps a

injeo i.m. de carragenina, houve uma reduo significativa do limiar nociceptivo

trmico (p

60

5.2 INVESTIGAO DA PARTICIPAO DO RECEPTOR PARA CANABINIDE

DO TIPO 2 (CB2) NO CONTROLE DA DOR MUSCULAR PELO EXERCCIO

FSICO

Uma vez demonstrado que o modelo de treinamento fsico proposto pelo

estudo promoveu antinocicepo, o prximo passo do estudo foi investigar o

envolvimento nesse efeito de receptores para canabinides CB2, a nvel espinal.

Assim, verifica-se que o efeito antinociceptivo encontrado aps a terceira semana de

treinamento fsico foi revertido significativamente (p

61

Nota: Os dados representam a mdia + E.P.M. da medida do limiar nociceptivo (s), *** indica

significncia estatstica (p

62

animais com dor muscular foi potencializado (p

63

Nota: Os dados representam a mdia + E.P.M. da medida do limiar nociceptivo (g), *** indica

significncia estatstica (p

64

J, tanto os animais exercitados que receberam salina quanto os animais

sedentrios, no tiveram alteraes nos limiares de retirada da pata em ambos os

testes.

Nota: Os dados representam a mdia + E.P.M. da medida do limiar nociceptivo (g), *** indica significncia estatstica (p

65

Nota: Os dados representam a mdia + E.P.M. da medida do limiar nociceptivo (g), *** indica significncia estatstica (p

66

Nota: Os dados representam