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UNIVERSIDADE FEDERAL DE CAMPINA GRANDE CENTRO DE SAÚDE E TECNOLOGIA RURAL CAMPUS DE PATOS-PB CURSO DE MEDICINA VETERINÁRIA MONOGRAFIA Estresse: Conceito e pontos de observação fisiológicos em cães KARLA VALÉRIA PIRES FERREIRA PATOS - 2008

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE CAMPINA GRANDE CENTRO DE SAÚDE E TECNOLOGIA RURAL

CAMPUS DE PATOS-PB CURSO DE MEDICINA VETERINÁRIA

MONOGRAFIA

Estresse: Conceito e pontos de observação fisiológicos em cães

KARLA VALÉRIA PIRES FERREIRA

PATOS - 2008

UNIVERSIDADE FEDERAL DE CAMPINA GRANDE CENTRO DE SAÚDE E TECNOLOGIA RURAL

CAMPUS DE PATOS-PB CURSO DE MEDICINA VETERINÁRIA

MONOGRAFIA

Estresse: Conceito e pontos de observação fisiológicos em cães

KARLA VALÉRIA PIRES FERREIRA Graduanda

Profª. Drª. Melania Loureiro Marinho Orientadora

Patos Abril de 2008

UNIVERSIDADE FEDERAL DE CAMPINA GRANDE CENTRO DE SAÚDE E TECNOLOGIA RURAL

CAMPUS DE PATOS-PB CURSO DE MEDICINA VETERINÁRIA

KARLA VALÉRIA PIRES FERREIRA Graduanda

Monografia submetida ao Curso de Medicina Veterinária como requisito parcial para obtenção do grau de Médico Veterinário. APROVADO EM...... /...... /...... EXAMINADORAS:

______________________________________________ Profª. Drª. Melania Loureiro Marinho

Orientadora

______________________________________________ Profª. MSc. Rosangela Maria Nunes da Silva

Examinadora

______________________________________________ Profª. Drª. Sônia Correia Nóbrega

Examinadora

Dedico este trabalho a todos os amantes Dedico este trabalho a todos os amantes Dedico este trabalho a todos os amantes Dedico este trabalho a todos os amantes

dos animais independente da espécie, raça, dos animais independente da espécie, raça, dos animais independente da espécie, raça, dos animais independente da espécie, raça,

cor e sanidade. E a todos os animais pelo cor e sanidade. E a todos os animais pelo cor e sanidade. E a todos os animais pelo cor e sanidade. E a todos os animais pelo

mundo abandonados de carinho e atenção, mundo abandonados de carinho e atenção, mundo abandonados de carinho e atenção, mundo abandonados de carinho e atenção,

bem como aos que fizerabem como aos que fizerabem como aos que fizerabem como aos que fizeram parte da minha m parte da minha m parte da minha m parte da minha

história na universidade.história na universidade.história na universidade.história na universidade.

AGRADECIMENTOS

A Nossa Senhora por Sua poderosa intercessão. Aos meus pais por toda luta e

esforço para tornar possível meu sonho. Aos meus irmãos Kátia e Roberto por acreditarem

em mim. Ao meu amado noivo Erik pela compreensão, apoio, incentivo e amor em todos

os momentos, que mesmo na distância, de alguma forma sempre esteve comigo;

inenarrável é o meu amor e minha gratidão por ti. Amor deu tudo certo mesmo!

Aos meus tios, minha avó, cunhada, sobrinhos e amigos que torceram e oraram por

mim; bem como meus futuros sogros e cunhados pela força e pelo carinho.

Aos amigos que fiz em Patos, e são tantos que não dá para citar o nome de todos, a

vocês meu agradecimento pela atenção e assistência, a Paróquia de São Pedro e toda

diocese de Patos pelo acolhimento e permissão para continuar servindo a Deus, aprendi

muito com todos.

De forma especial aos Perônico, família de anjos enviada por Deus para cuidar de

mim, sobretudo Bel, abrigada pelo zelo e amor, Deus os abençoe! A minha companheira

de apartamento Iana, como já havia dito, as coisas boas que fizestes por mim superaram

nossos desentendimentos, obrigada mesmo por tudo!

A todos da universidade, colegas (em especial Ailson, Cydia, Gisllyana e Hellen),

professores, em especial Assis, mas, também Melania (orientadora), Patrícia e Jocelin

Brandão, Gil, Rosângela, Almir, Verônica, Paulo Bastos, Sônia Correia, Adílio e Sérgio

Santos e os funcionários que direta ou indiretamente contribuíram para realização dos

meus sonhos. Com tamanha satisfação agradeço ao Dr. Júlio e Drª. Andréa pelas

oportunidades de estágio e pela amizade.

Ao quarteto inseparável, amigas de infância Andréa, Enilma e Iêda, a nossa

cumplicidade faz a diferença.

Aos meus mais especiais filhinhos Negão e Luzia (in memorian) que indiretamente

muito me incentivaram e diretamente me amaram, saudades.

Aos componentes do El Shaday, Missão Nova Tribo do Leão de Judá e

Comunidade Sagrado Coração de Jesus Imaculado Coração de Maria que oraram por mim,

com certeza o Senhor já retribuiu estas orações.

E a todos que me julgaram incapaz; no meu silêncio tenho a vida inteira para

mostrar a capacidade que me vem de Deus. “Toda vocação é uma profissão, mas, nem toda

profissão é uma vocação”.

E a ti Senhor Jesus não poderia deixar de agradecer, mas palavras não

bastam, quero então agradecer com a minha vida, te buscando e sendo-te fiel cada dia

mais.

“Graças te dou Pai por tudo, que eu seja sempre digna das maravilhas e milagres

que realizas em minha vida”.

Obrigada a todos!

SUMÁRIO

Pág.

LISTA DE FIGURAS.......................................................................................... 07

LISTA DE QUADROS ...................................................................................... 08

RESUMO............................................................................................................. 09

ABSTRACT......................................................................................................... 10

1. INTRODUÇÃO................................................................................................ 11

2. REVISÃO DE LITERATURA....................................................................... 12

2.1.HISTÓRICO........................................................................................ 12

2.2.DEFINIÇÃO DE ESTRESSE............................................................ 14

2.2.1 Reação de alarme......................................................................... 14

2.2.2 Adaptação ou resistência............................................................. 16

2.2.3 Fase de exaustão.......................................................................... 17

2.3 MODELO DE ESTRESSE ANIMAL................................................ 19

2.3.1 A resposta do comportamento..................................................... 20

2.3.2 A resposta do sistema nervoso autônomo.................................... 21

2.3.3 A resposta do sistema neuroendócrino........................................ 22

2.3.4 A resposta imunológica............................................................... 23

3. ESTRESSE E SEUS ESTÍMULOS................................................................ 25

3.1 Estímulos estressantes em cães.............................................................. 25

3.2 A dor como estímulo estressante........................................................... 27

4. COMO AMENIZAR O ESTRESSE.............................................................. 28

4.1 Acupuntura............................................................................................ 28

4.2 Florais de Bach...................................................................................... 28

4.3 Florais de Sant German......................................................................... 29

4.4 Fitoterapia.............................................................................................. 30

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS.......................................................................... 31

6. BIBLIOGRÁFIA............................................................................................. 32

LISTA DE FIGURAS Pág.

FIGURA 1 – Dr. Walter Cannon.......................................................................... 13

FIGURA 2 – Dr. Hans Selye................................................................................ 13

FIGURA 3 – Esquema do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal............................... 16

FIGURA 4 – Modelo da resposta biológica do animal ao estresse...................... 19

FIGURA 5 – Respostas biológicas do animal ao estresse.................................... 20

FIGURA 6 – Mecanismo de regulação de cortisol............................................... 23

FIGURA 7 – Cão acorrentado em condição inadequada de vida......................... 26

FIGURA 8 – Cão acorrentado em condição inadequada de vida......................... 26

FIGURA 9 – Pitt Bull, após traumas e agressões................................................. 27

FIGURA 10 – Poodle com os pêlos tingidos........................................................ 27

LISTA DE QUADROS

Pág.

QUADRO 1. Alterações na fase de choque da reação de alarme....................................... 16

FERREIRA, Karla Valéria Pires. Estresse: Conceito e pontos fisiológicos de observação em cães. Patos, UFCG. CSTR/UAMV. 2008, 35p. (Trabalho de conclusão de curso em Medicina Veterinária)

RESUMO Assim como os humanos os animais também vivenciam o estresse. Sendo este definido como sendo a resposta biológica ou conjunto de reações obtidas quando um indivíduo percebe uma ameaça a sua homeostase. Quando confrontado com situações estressantes o animal apresenta quatro respostas gerais de defesas biológicas, resposta do comportamento; resposta do sistema nervoso autônomo; resposta do sistema neuroendócrino e resposta imunológica. O Médico Hans Selye identificou três estágios distintos na resposta destes animais: fase de alarme, na qual o corpo do animal reconhece o estresse e se prepara para agir, seja para brigar ou fugir, é nesta fase que glândulas endócrinas liberam hormônios que aumentam o ritmo cardíaco e a respiração, aumentando o aporte de nutrientes às células que deles necessitam com urgência; fase de resistência, na qual o organismo tenta reparar, ou pelo menos, contrabalançar os danos causados na fase do alarme; e fase de exaustão que é a fase resultante da continuação da fase da resistência. Doenças relacionadas ao estresse podem advir desta fase, ou, se o estresse for muito prolongado, pode ocorrer depleção de energia e depleção de metabólitos de reserva nas células, o que pode acarretar, entre outras coisas, a morte do indivíduo. Muitas terapias complementares têm sido efetivas e seguras para restaurar a saúde dos animais, entre elas, Acumputura, Aromaterapia, Florais de Bach, Florais de Saint German. Palavras chave: Estresse, cães, hipotálamo, cortisol, bem estar animal.

FERREIRA, Karla Valéria Pires. Stress: Concept and physiologic points of observation in dogs. Patos, UFCG. CSTR/UAMV. 2008, 35p. (Work of course conclusion in Veterinary Medicine)

ABSTRACT

As well as humans, animals live the stress, being defined as the biological response or group of obtained reactions when an individual notices a threat to your homeostase. When confronted with stressful situations the animal presents four general response of biological defenses, response of the behavior; response of the autonomous nervous system; response of the neuroendocrine system and immunologic response. Doctor Hans Selye identified tree different phases in the response of these animals: alarm phase, in which the body of the animal recognizes the stress and it gets ready to act, be to fight or to run In this phase endocrine glands release hormones that increase heart rhythm and breathing, increasing nutrients to cells that need them with urgency; resistance phase, in which the organism tries to repair, or at least, to compensate, damages caused in the alarm phase; and exhaustion, phase that is the phase resulting from the continuation of the resistance phase. Diseases related to the stress can occur this phase, or, if the stress goes very lingering, it can happen depletion of energy and depletion of reservation metabolites in the cells, what can cause, among other things, individual's death. Many complementary therapies have been effective and safe to recuperate the health of the animals, among them, Acupuncture, Aromatherapy, Flowers of Bach, and Flowers of Saint German.

Key Words: Stress, dogs, hypophysis, cortisol, animal welfare.

1. INTRODUÇÃO

De forma geral, entende-se estresse como sendo uma alteração na homeostase do

animal, e respostas efetivas para os desafios do meio ambiente são essenciais para a

sobrevivência de qualquer espécie. Quando ameaçado, o animal fica alerta e pode agir em

resposta à ameaça lutando, fugindo ou ficando imóvel para não ser notado. Ao mesmo

tempo ocorre uma série de alterações fisiológicas no organismo do animal, como nos

sistemas nervoso e endócrino.

No estresse, seja ele de natureza física, psicológica ou social, o conjunto das

reações fisiológicas, sendo exageradas em intensidade e duração, acabam por causar

desequilíbrio aos organismos, freqüentemente com efeitos danosos. Assim, existe a

necessidade de compreender o metabolismo do estresse, a resposta do animal a esta

influência, para que a avaliação dos parâmetros do estresse sobre a fisiologia seja mais

precisa, visto não ser este um tema devidamente explorado em animais de companhia, o

que impossibilita um trabalho mais eficaz sobre o bem estar dos animais e prevenção de

doenças.

Diante disto considera-se importante entender as causas do estresse nos animais, em

particular os cães, para que possa agir na minimização e prevenção de seus efeitos,

possibilitando-lhes uma melhor qualidade de vida. Portanto o objetivo deste trabalho foi

estudar, através de uma revisão de literatura, o conceito e a definição do estresse tomando

como principal base às definições de Hans Selye e Walter Cannon, que demonstraram

como os fatores estressantes alteram a homeostase do animal, causando muitas vezes danos

irreversíveis aos mesmos.

2. REVISÃO DE LITERATURA

2.1. HISTÓRICO

A palavra “estresse”, de uso corrente na língua inglesa, provém do latim “stringere”

= tensionar, via francês arcaico. Já era utilizada pelos ingleses no século XVII para

significar a adversidade ou a infelicidade, antes de ser recuperada pelos teóricos da Física

do século XIX para designar a força resultante de um corpo submisso a uma força contraria

que tende a deformar tal corpo (JEAMMET, 2000). E com a evolução foi denominada

“STRESSE”, que advém do inglês STRESS, significando “pressão, tensão, insistência”

(SCHITTINI, 2003).

A teoria do estresse alcançou títulos de nobreza com Walter Cannon e Hans Selye.

(Figuras 1 e 2) que se opuseram à teoria “visceral” de James e Lange, que fazia das

modificações fisiológicas corporais a “causa” da percepção psicológica que constitui a

emoção (JEAMMET, 2000).

Cannon declarou que a origem da emoção não devia ser pesquisada na atividade

visceral, mas, no nível do sistema nervoso central. Estudando as reações de medo no gato

confrontado com a ameaça de um cão, mostrou que as reações de fuga ou de combate são

associadas a uma séria de manifestações fisiológicas, podendo ser relacionadas com a

liberação de um hormônio da medula supra-renal, o “hormônio do estresse” ou adrenalina.

Essa liberação está ligada à atividade do sistema simpático (o gato, cujo sistema simpático

se atrofiou se mostra apático e não consegue se defender). A injeção de adrenalina

reproduz as manifestações fisiológicas e comportamentais observadas durante uma

situação de ameaça. O organismo é então munido de uma estrutura funcional capaz de

reforçar os meios de que ele dispõe para lutar contra um perigo ou para mobilizar

rapidamente uma energia considerável. Tal dispositivo tem uma função adaptativa e está a

serviço da sobrevivência do animal (JEAMMET, 2000).

Dr. Hans Selye, é reconhecido internacionalmente como criador da Teoria do

Estresse. Suas teorias também foram influenciadas pelos trabalhos do Dr. Walter Cannon.

Mas considerando que Cannon viu a “síndrome de briga ou fuga” como um mecanismo

positivo que o corpo usava para se proteger, Selye percebeu um fato imensamente

importante, que se a reação de tensão ou estresse continuasse por longo tempo, causaria

dano para o corpo e mente e retro-alimentaria a enfermidade (SCHITTINI, 2003).

As experiências que ele realizou com ratos em 1936, mostraram que vários

estressores, tais como infecção, trauma, hemorragia, temor, e até mesmo injeção de

substâncias nocivas, produziam o mesmo efeito, pois quando os animais foram examinados

após serem submetidos a estes estressores, todos apresentavam as glândulas supra-renais

hiperplásicas, o tecido imune atrofiado (timo e linfonodos) e úlceras gastrintestinais

(SCHITTINI, 2003).

Ele denomina o conjunto das reações fisiológicas às agressões diversas, pelo termo

“Síndrome Geral da Adaptação” (GAS). Esta se desenvolve de maneira relativamente

estereotipada em três fases sucessivas: Uma fase de alarme ou choque, uma fase de

adaptação ou de resistência e, enfim, uma fase de esgotamento, durante a qual as defesas

do organismo não chegam mais a responder a agressão e são submergidas, fase que pode

conduzir a uma doença orgânica (“patologias da adaptação”) ou à morte. Como a ablação

das supra-renais torna o organismo muito mais sensível aos fatores de agressão, Selye

conclui que a ativação das supra-renais desempenha uma função pivô na resposta

fisiológica ao estresse (JEAMMET, 2000).

Anos mais tarde ele retomou os resultados do conjunto de sua obra, vendo sempre

no estresse o “resultado não-específico” de todo pedido imposto ao corpo, quer o efeito

seja mental ou somático. Uma confusão terminológica foi favorecida pelos seus escritos

quando aproximadamente no final de sua carreira, se propôs a distinguir o “bom estresse”

(eustress) do “estresse fonte de prejuízo” (distresse), sublinhando com razão que nem toda

perturbação de homeostasia do organismo é potencialmente nociva (JEAMMET, 2000).

Figura 1. Dr. Walter Cannon Figura 2. Dr. Hans Selye Fonte:http://www.edumed.org.br/cursos/neurociencia/01./monografia/neuroendocrinologia_stresse.doc

2.2. DEFINIÇÃO DE ESTRESSE

Segundo Moberg apud ROSA (2003), estresse pode ser definido como a resposta

biológica ou conjunto de reações obtidas quando um indivíduo percebe uma ameaça à sua

homeostase. Apesar de a terminologia estresse ser amplamente utilizada, não existe um

consenso sobre sua definição (ROSA, 2003).

Cungi (2006) afirma que o estresse é uma reação não-específica que acomete quem

é exposto, a fatores e/ou situações que desencadeiam uma reação de estresse, ou seja, a

estressores. Ele se manifesta nos campos fisiológico (coração, pulmão, hormônios etc.),

psicológico e comportamental.

O estresse pode ser definido como um estímulo ambiental sobre um indivíduo que

sobrecarrega seus sistemas de controle e reduz sua adaptação, ou parece ter potencial para

tanto. Ao se utilizar esta definição, a relação entre estresse e bem-estar fica muito clara.

Em primeiro lugar, considerando-se que bem-estar se refere a uma gama de estados de um

animal, desde muito bom até muito ruim, sempre que existe estresse o bem-estar torna-se

pobre. Em segundo lugar, estresse refere-se somente a situações nas quais existe falência

de adaptação, porém bem-estar pobre se refere ao estado de um animal, seja em condições

onde existe falência de adaptação ou quando o indivíduo está encontrando dificuldades em

se adaptar (BROOM, 1994).

A interação entre estímulo (o estressor) e a resposta ao estímulo (somatório das

reações não específicas), manifesta-se na forma de uma Síndrome de Adaptação Geral

(“Generation Adaptation Syndrome” – GAS) (MARSON, 1999).

De acordo com Ballone (2005), a Síndrome Geral de Adaptação descrita por Selye

consiste, em três fases sucessivas: reação de alarme, fase de adaptação ou resistência e fase

de exaustão. Sendo que a última, fase de exaustão, é atingida apenas nas situações mais

graves e, normalmente, persistentes.

2.2.1 - Reação de Alarme

A Reação de Alarme subdivide-se em dois estados, a fase de choque e a fase de

contrachoque. As alterações fisiológicas na fase de choque, momento onde o indivíduo

experimenta o estímulo estressor, são muito exuberantes. (Quadro 1).

Quadro 1 - Alterações na fase de choque da reação de alarme

ALTERAÇÕES OBJETIVOS a) Aumento da freqüência cardíaca e

pressão arterial

O sangue circulando mais rápido melhora

a atividade muscular esquelética e

cerebral, facilitando a ação e o

movimento.

b) Contração do baço Carrear mais glóbulos vermelhos à

corrente sanguínea e melhora a

oxigenação do organismo e de áreas

estratégicas

c) O fígado libera glicose Para ser utilizado como alimento e energia

para os músculos e cérebro

d) Redistribuição sanguínea Diminui o sangue dirigido à pele e

vísceras, aumentando para músculos e

cérebro

e) Aumento da freqüência respiratória e

dilatação dos brônquios

Favorece a captação de mais oxigênio

f) Dilatação das pupilas Para aumentar a eficiência visual

g) Aumento do número de linfócitos na

corrente sanguínea

Preparar os tecidos para possíveis danos

por agentes externos agressores

Fonte: http://www.psiqweb.med.br/cursos/fisio.html

Durante a Reação de Alarme, o Sistema Nervoso Autônomo (SNA) participa

ativamente do conjunto das alterações fisiológicas. Este sistema é um complexo conjunto

neurológico que controla, autonomamente, todo o meio interno do organismo, através da

ativação e inibição dos diversos sistemas, vísceras e glândulas (BALLONE, 2005).

Durante o momento em que está havendo estimulação estressante aguda (fase de

choque da reação de alarme), uma parte do Sistema Nervoso Central (SNC) denominado

Hipotálamo promove a liberação de um hormônio, o Fator Liberador da Corticotrofina

(CRH), o qual, por sua vez, estimula a hipófise (glândula vizinha ao Hipotálamo) a liberar

um outro hormônio, o hormônio adrenocorticotrófico (ACTH), este ganhando a corrente

sanguínea estimula as glândulas supra-renais para a secreção de corticóides (Figura 3)

(BALLONE, 2005).

Figura 3. Esquema do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal. Fonte: www.psiquiatriageral.com.br/cérebro/texto13.htm

2.2.2 - Adaptação ou Resistência

Se por um lado a fase lutar ou fugir é de curta duração, o período de resistência e

combate ao estresse é bem mais longo. Uma vez que a mente e o corpo identificam o

agente estressante, eles ativam as células, tecidos, órgãos e sistemas mais apropriados aos

mecanismos de resistência (CAMARGO, 2006).

Nessa fase, além de o organismo se esforçar para manter estáveis os níveis de

energia, a composição sangüínea, etc., ele também tem que lidar com as conseqüências dos

distúrbios emocionais e dar apoio às respostas imunológicas (CAMARGO, 2006).

Esta fase se caracteriza, basicamente, pela hiperatividade da glândula supra-renal

sob influência do Hipotálamo, particularmente da Hipófise (BALLONE, 2005). Há um

aumento no volume da supra-renal, onde os corticosteróides, hormônios secretados pelo

córtex adrenal, são importantíssimos durante essa fase, promovendo a conversão das

proteínas em energia, caso as reservas de glicose sejam exauridas (CAMARGO, 2006),

concomitante a uma atrofia do baço e das estruturas linfáticas, assim como um continuado

aumento dos glóbulos brancos, promovendo uma leucocitose (BALLONE, 2005).

Dessa forma, a ação da Hipófise ao ativar todo o Sistema Endócrino ocorre porque

o organismo necessita concentrar maior quantidade de energia para se defender. As

descargas simpáticas na camada medular da glândula supra-renal, provocam uma liberação

de catecolaminas nas situações emergenciais do estresse. Isto leva a uma ativação da

glicogenólise no líquido extracelular e da glicogênese no fígado. Ocorre ainda uma

inibição da insulina que por sua vez estimula o glucagon, sendo estes dois últimos

hormônios pancreáticos (BALLONE, 2005).

A taxa de glicose precisa ser elevada no sangue para que haja energia disponível ao

longo do estresse. Mas, se o estresse continua por muito tempo, os glicocorticóides são

destrutivos para os tecidos, inibindo o crescimento somático e ósseo (BALLONE, 2005).

Assim, se os estímulos estressores continuam e se tornam crônicos, a resposta

começa a diminuir de intensidade, podendo haver uma antecipação das mesmas. É como se

o indivíduo começasse a se acostumar com os estressores, mas, não obstante, pudesse

também desenvolver a reação de estresse apenas diante da perspectiva ou expectativa do

estímulo (BALLONE, 2005).

Se o agente ou estímulo estressor continua, o organismo vai à terceira fase da GAS,

a Fase de Exaustão.

2.2.3 - Fase de Exaustão ou Esgotamento

É quando começam a falhar os mecanismos de adaptação e déficit das reservas de

energia (BALLONE, 2005). A tendência é que haja um colapso nos sistemas, funções ou

órgãos mais desgastados durante a fase de resistência (CAMARGO, 2006), podendo levar

à morte alguns organismos. (BALLONE, 2005)

Embora a intensidade da exaustão seja variável, suas principais características são:

enfraquecimento dos órgãos, tecidos e sistemas - coração, veias, glândulas supra-renais,

sistema imunológico etc. - sobrecarregados pelo estresse prolongado. Muito antes, porém,

das conseqüências do estresse se somatizarem como disfunção ou doença, elas se

manifestam pela perda de energia e desequilíbrios emocionais (CAMARGO, 2006). A

maioria dos sintomas somáticos e psicossomáticos fica mais exuberante nessa fase.

(BALLONE, 2005).

Como se supõe, a resistência do organismo não é ilimitada. O estado de resistência

é a soma das reações gerais não específicas que se desenvolvem como resultado da

exposição prolongada aos agentes estressores, frente aos quais desenvolveu-se adaptação e

que, posteriormente, o organismo não pode mantê-la (BALLONE, 2005).

Os efeitos da GAS sobre o indivíduo ao longo do tempo compõem o substrato

fisiopatológico das doenças psicossomáticas. Cada órgão ou sistema são envolvidos e

apenados pelas alterações fisiológicas continuadas do estresse, de início apenas com

alterações funcionais e depois, com lesões também anatômicas (BALLONE, 2005).

De modo geral, pode-se afirmar que o organismo humano está muito bem adaptado

para lidar com o estresse agudo, desde que ele não ocorra com muita freqüência. Mas,

quando essa condição se torna repetitiva ou crônica, seus efeitos se multiplicam em

cascata, desgastando seriamente o organismo (VILELA, 2003).

Para Kitchen apud MARSON (1999), a resposta ao estresse geralmente envolve

mudanças na função neuroendocrinológica no nível de SNA e no estado mental do animal,

bem como em seu comportamento. A resposta do animal ainda varia de acordo com suas

experiências, sexo, idade, perfil genético e estado fisiológico e patológico.

O estresse em relação às suas subseqüentes respostas pode ser considerado como

estresse neutro, o qual não é por si só prejudicial ao animal e evoca respostas que nem

aumentam nem ameaçam o bem-estar do mesmo. Eustresse, que envolve alterações

ambientais não prejudiciais aos animais, mas, iniciam respostas que podem, contudo,

fornecer efeitos potencialmente benéficos. E o distresse, estado que o animal se encontra

incapaz de se adaptar ao ambiente alterado ou ao estímulo interno, evoca respostas

prejudiciais que interferem com o seu bem-estar, conforto e/ou fatores reprodutivos sendo

capazes de induzir mudanças patológicas (Kitchen apud MARSON, 1999).

2.3. MODELO DE ESTRESSE ANIMAL

Moberg apud ROSA (2003), propôs um modelo para servir como fundamento

teórico na discussão e reconhecimento do estresse. Este modelo é aplicado na compreensão

do estresse em toda espécie animal, seja nos seres humanos, animais de laboratórios,

domésticos, selvagens, ou mesmo em invertebrados.

O modelo de estresse animal desenvolvido sugere uma resposta biológica ao

estresse a partir de três estágios gerais (Figura 4):

1- O reconhecimento de um estímulo estressante;

2- A defesa biológica contra o estímulo estressante;

3- As conseqüências da resposta ao estresse.

Figura 4: Modelo da resposta biológica do animal ao estresse segundo Moberg, 1985. Fonte: MARSON, 1999

A resposta ao estresse começa com a percepção de uma ameaça potencial (estímulo

estressante) a homeostase, pelo SNC. Uma vez que o SNC percebe uma ameaça, o

organismo desenvolve uma resposta biológica ou defesa que consiste em uma combinação

de quatro respostas gerais de defesas biológicas (Figura 5).

• Resposta do comportamento;

• Resposta do sistema nervoso autônomo;

• Resposta do sistema neuroendócrino;

• Resposta imunológica

Figura 5: Respostas biológicas do animal ao estresse segundo Moberg, 2000 Fonte: ROSA, 2003.

2.3.1 - A resposta do comportamento

A primeira e incontestável resposta biológica mais econômica é a do

comportamento Moberg apud ROSA (2003). As ações de evitar, escapar ou controlar a

dor são as respostas mais comuns dos animais, incluindo os humanos (Dantzer & Morméde

apud MARSON, 1999).

O animal pode ser bem sucedido em evitar a ameaça potencial, pela sua própria

remoção mediante o estímulo estressante. Assim um predador pode ser evitado por

escapar, ou um animal pode procurar sombra se sua temperatura corporal torna-se elevada

(Moberg apud ROSA 2003).

Segundo Moberg apud MARSON (1999), se esta opção comportamental não

estiver disponível ou não for apropriada, o animal poderá alterar sua fisiologia através do

disparo dos sistemas nervoso autônomo e neuroendócrino. As respostas destes sistemas

resultam em mudanças na função biológica do animal, divergindo para novas atividades

biológicas, que podem ajudar o animal a lidar com os agentes estressores.

2.3.2 - A resposta do sistema nervoso autônomo (SNA)

O SNA é o local de ação de grande quantidade de drogas, sendo essencial para

homeostase (CUNNINGHAM, 2004). Esse sistema é ativado, sobre tudo por centros

localizados na medula espinhal, no tronco cerebral e no hipotálamo. Também, porções do

córtex cerebral, especialmente do córtex límbico, podem transmitir impulsos para os

centros inferiores e, desta maneira, influenciar o controle autonômico. Os sinais eferentes

autonômicos são transmitidos para o corpo por meio de duas principais subdivisões: o

sistema nervoso simpático e o sistema nervoso parassimpático (ROSA, 2003).

Durante uma situação de estresse, a estimulação dos nervos simpáticos das medulas

supra-renais faz com que grandes quantidades de adrenalina (epinefrina) e noradrenalina

sejam liberadas na circulação sangüínea, através da qual são transportados para todos os

tecidos do corpo. Estes hormônios têm quase os mesmos efeitos, sobre diferentes órgãos,

que os causados pela estimulação simpática direta, à exceção de que os seus efeitos são

mais prolongados, 1 a 2 minutos após a estimulação ter cessado (GUYTON, 1997).

Portanto, os órgãos são, na verdade, estimulados de maneiras simultâneas: diretamente

pelos nervos simpáticos, e indiretamente, pelos hormônios. Os dois modos de estimulação

sustentam um ao outro, e cada um deles pode na maioria dos casos, substituir o outro,

constituindo-se em um fator de segurança.

Em muitos casos, o sistema nervoso simpático afeta diversos números de sistemas

biológicos (descarga em massa), incluindo o sistema cardiovascular, o aparelho

gastrintestinal, as glândulas exócrinas e a medula adrenal. Como resultados promovem

mudanças na taxa cardíaca, pressão sangüínea, atividade gastrintestinal, excreção de urina,

regulação da secreção pancreática, sudorese, concentração de glicose sangüínea, além de

importantes reflexos sexuais. Entretanto, seus efeitos são relativamente de curta duração, e

consequentemente não apresentam impacto significante no bem-estar do animal (ROSA,

2003).

2.3.3 - A resposta do sistema neuroendócrino

Em contraste aos efeitos do SNA, os hormônios secretados no sistema

neuroendócrino (hipotálamo-pituitária) têm um efeito longo-duradouro, no corpo. A

secreção destes hormônios é alterada diretamente ou indiretamente durante o estresse

(Matteri et al.apud ROSA, 2003).

A resposta neuroendócrina ao estresse mais conhecida e consistente, é a ativação do

eixo hipotálamo-pituitária-adrenal (HPA), iniciando com a liberação do hormônio

adrenocorticotrófico (ACTH) pela hipófise, para resultar na secreção de hormônios

glicocorticóides da glândula adrenal (ROSA, 2003).

Para que a hipófise comece sua resposta ao estresse, o próprio hipotálamo secreta

algumas substâncias conhecidas por neuro-hormônios, como é o caso, entre outros, da

Dopamina, da Norepinefrina e do Fator Liberador da Corticotrofina (CRF). (BALLONE,

2005).

Inicialmente há envolvimento do hipotálamo, que ativa todo o SNA, em sua porção

simpática, assim ativando as respostas físicas, mentais e psicológicas ao estresse

(BALLONE, 2005).

Além do hipotálamo aumentar a produção de Dopamina, Norepinefrina e do Fator

Liberador da Corticotrofina no estresse, a hipófise também faz sua parte, aumentando a

produção de outros hormônios, tais como a Vasopressina, a Prolactina, o Hormônio

Somatotrófico (do Crescimento ou GH), o Hormônio Estimulador da Tireóide (TSH). Em

relação ao GnRH ou Hormônio Liberador de Gonadotrofinas, que também é produzido no

hipotálamo e estimula a hipófise na liberação dos hormônios gonadotróficos pode ocorrer,

no estresse, tanto uma inibição quanto um aumento desmedido Por causa de tudo isso, o

hipotálamo é considerado o principal sítio cerebral responsável pela constelação das

respostas orgânicas aos agentes estressores. A hipófise, por sua vez, tem como uma das

principais ações estimular as glândulas supra-renais (BALLONE, 2005).

A partir da produção do CRF, o hipotálamo estimula a hipófise para aumentar a

produção da própria corticotrofina, chamada também de ACTH, o qual, por sua vez, agirá

em outra glândula bem distante do SNC, as supra-renais. Ali, nas glândulas supra-renais,

ocorre um aumento na liberação de seus hormônios; os corticóides e as catecolaminas.

Esses últimos são de fundamental importância na resposta fisiológica ao estresse

(BALLONE, 2005).

O cortisol apresenta um efeito de feedback negativo direto sobre o hipotálamo, onde

diminui a formação de CRH, e também sobre a glândula pituitária anterior para diminuir a

formação de ACTH, controlando a liberação do mesmo (Figura 6) (ROSA, 2003).

Figura 6: Mecanismo de regulação de cortisol. Fonte: ROSA, 2003.

2.3.4 - A resposta imunológica

O aumento da incidência de doenças em animais com estresse pode ser atribuído à

supressão do seu sistema imunológico, que por si só é um dos maiores sistemas de defesa

em resposta ao estímulo estressante (Dunn apud ROSA, 2003).

A fisiopatologia sabe, há tempos, que os níveis aumentados de corticóides

influenciam o sistema imunológico inibindo a resposta inflamatória, afetando

essencialmente a função das células T (ROSA, 2003).

Um dos primeiros cientistas a demonstrar experimentalmente a ligação do estresse

com o enfraquecimento do sistema imunológico foi Louis Pasteur (1822-1895). Em estudo

pioneiro no final do século 19, ele observou que galinhas expostas a condições estressantes

eram mais susceptíveis a infecções bacterianas que galinhas não estressadas (VILELA,

2007). Em modelos experimentais desenvolvidos em macacos separados de suas mães e

mantidos em isolamento social, observou-se que estes animais mostravam comportamento

depressivo, com elevação nos níveis de cortisol e depressão na atividade imunológica

(BONAMIN & PAULINO, 1996). Em outros modelos desenvolvidos em ratos, o

estabelecimento da relação entre animais dominantes e animais submissos também pode

induzir alterações na imunocompetência. O líder de uma colônia, ao ser deposto por outro

animal estranho inserido na mesma, desenvolve uma forte imunossupressão (BONAMIN

& PAULINO, 1996).

De acordo com Aires (1991), quando uma proteína estranha, o antígeno, invade o

organismo, ela é captada por um macrófago que apresenta o antígeno a uma célula T e ao

mesmo tempo secreta um peptídeo, a interleucina-1. Este peptídeo ativa um subgrupo de

células T com propriedade auxiliadora indutora, que por sua vez secretam interleucina-2,

um peptídeo que estimula a proliferação de novas células T. Estas células podem tanto ser

auxiliadoras (ativadoras) como supressoras de linfócitos–B (produzidos na bolsa de

Fabricius), que secretam os anticorpos dirigidos contra o antígeno. Os glicocorticóides

inibem a produção de interleucina-1 pelos macrófagos e interleucina-2 pelas células

auxiliadoras. Como em geral as células que diminuem em número são auxiliadoras, e não

as supressoras, diminui a resposta imunitária. Uma vez produzidos pelas células B, os

anticorpos não sofrem interferência dos glicocorticóides. Em altas doses, estes hormônios

são linfotóxicos, provocando a destruição das células T, como a interleucina também tem

atividade pirogênica, os glicocorticóides podem ainda se opor ao aumento de temperatura

induzido por infecções.

Temporariamente esta inibição imunológica parece ser benéfica, tendo em vista

diminuir a intensidade das reações inflamatórias aos agentes de estresse (BALLONE,

2005). De acordo com Aires (1991), os níveis normais do hormônio teriam função de,

através de sua ação permissiva, permitir as respostas metabólicas, circulatórias e outras,

necessárias para adaptação aos diversos tipos de estresse. Em contraposição, níveis mais

elevados do hormônio teriam a função de limitar as respostas adaptativas, impedindo que

elas se tornem exageradas e deletérias para o organismo. Assim, por exemplo, os

glicocorticóides, pela sua ação restritiva, impediriam que a resposta imunológica a outro

antígeno se tornasse exagerada e prolongada, o que teria serias conseqüências (doenças

auto-imunes).

3. ESTRESSES E SEUS ESTÍMULOS

Os indivíduos são comumente expostos a uma grande variedade de estímulos e

condições que tendem a alterar drasticamente a homeostase do organismo de uma maneira

mais geral do que específica (MOUNTCASTLE, 1978).

Para Stort apud MARSON, (1999), o estresse é um indicativo de uma condição

adversa ao bem-estar do animal, podendo ser climático, em virtude do frio ou calor

excessivo; nutricional, devido à restrição à ingestão de alimentos e água e social, resultado

de competição e liderança nas hierarquias formadas dentro do grupo.

Para Diniz (1996) o estresse mostra-se com um conjunto de reações do organismo

frente à agressão de ordem física, psíquica, infecciosa etc. capaz de perturbar a

homeostase.

3.1 - Estímulos estressantes em cães

• Situações de perda, como morte de pessoas queridas ou de um animal

companheiro; viagens dos donos, ficar em hotel, canil, podem deprimir alguns

animais, que chegam até a ficar os primeiros dias sem comer (FOLLAIN, 2006); se

um cão forma laços tão fortes com seu dono ao ponto de se sentir inseguro longe

dele, poderá desenvolver um distúrbio compulsivo ou ansiedade de separação

(SAS) (JOCHYMANN, 2008); A SAS, é incriminada como geradora de estresse

(SOARES, TELHADO, PAIXÃO, 2007)*;

• Mudanças na rotina da casa; vinda de um novo bicho na casa, cães e gatos levam

tempo para aceitar estranhos, mesmo aqueles com quem passam a conviver no dia a

dia (ESPAÇO ANIMAL, 2008); alterações em sua própria posição social

(JOCKYMANN, 2008);

• O dono passar menos tempo em contato com o animal ou ir passear menos causa

estresse; (ESPAÇO ANIMAL, 2008).

_________________________________________________________________________________________________

* Na medicina veterinária, a ansiedade de separação é uma síndrome manifestada pelo conjunto de comportamentos exibidos pelos cães quando são deixados sozinhos, e constitui-se em um dos problemas comportamentais mais comuns da espécie. (Guilherme MARQUES, João TELHADO, R. Leal PAIXÃO, Clínica Veterinária n .67, p. 77, 2007)

• Cães mantidos na corrente por longos períodos de tempo, longe de lugares

confortáveis e seguros e do convívio humano; confinamento prolongado que leva a

falta de exercícios, principalmente para aqueles animais que não estão acostumados

a isto (JOCKYMANN, 2008); (Figura 7 e 8)

• Animais que sofrem agressões através de treinamento violento, ou aqueles que são

atropelados, e ainda, erros na criação onde são usados métodos de punição severos

(ESPAÇO ANIMAL, 2008); (Figura 9)

• Mudanças ambientais; mudanças bruscas de temperatura, mudança na dieta ou no

local onde o animal vive (ESPAÇO ANIMAL, 2008); Lesões, traumas cirúrgicos,

infecções (MOUNTCASTLE, 1978), dor (BRANCO & LOBÃO, 1983).

• A maneira como forçamos os animais a viverem como seres humanos.

(JOCKYMANN, 2008) (Figura 10), a Cordotomia que se define como sendo uma

mutilação das cordas vocais e o animal tende a ficar deprimido. “Latir é uma forma

de comunicação do cão. É uma mutilação tanto física quanto psíquica”(FALCÃO,

2007).

Figuras 7 e 8. Cães acorrentados em condições inadequadas de vida. Fonte: www.sofia.gonçalves.blogspot.com/2006/03/se-souber Fonte: www.cache02.stormap.sapo.pt/fotostore02/linkanimal.blogs.html

Figura 9. Pitt Bull, além dos traumas por conta da rinha o proprietário ainda o agrediu até a morte por perder a luta. Fonte: http://forum.portaldovt.com.br/forum/lofiversion/index.php/t21029.html

Figura 10. Poodle com os pêlos tingidos, situação que foge ao extremo da realidade do animal. Fonte: g1.globo/.../rio/foto/o..11309839-ex100.jpq

3.2 - A dor como estímulo estressante

Fala-se de dor em pontada, dor em queimação e dor contínua; dor superficial e dor

profunda; dor lancinante, dor latejante, dor cortante, dor em cólica etc. Sem dúvida, que

estes diferentes tipos de dor são frutos de afecções diferentes, estímulos diferentes atuando

de modo diverso nos algioceptores e sendo conduzidos de modo também diverso pelas

diferentes fibras nervosas. Porém essas sensações, ao cruzarem o tálamo, hipotálamo e

sistema límbico adquirem uma conotação emocional e projetam-se a córtex já mescladas

de emoções; ou, ao contrário, depois de chegarem ao córtex, retornam ao sistema límbico,

via lobo frontal, e já então conscientizado, evocam lembranças e experiências anteriores de

sofrimento próprio ou alheio. Assim, a dor desencadeia o medo, a ansiedade, a angústia, a

tristeza, o choro; enfim, deixa de ser senso-percepção para adquirir o colorido dos afetos,

provocando reações emocionais intensas como o medo (BRANCO & LOBÃO, 1983).

4 - COMO AMENIZAR O ESTRESSE

Muitas terapias complementares têm sido efetivas e seguras para restaurar a saúde

dos animais, entre elas, Acupuntura, Aromaterapia, Florais de Bach, Florais de Saint

German (SPALATO, 2007), massagens e banhos relaxantes. É preciso também melhorar a

qualidade de vida do animal, com uma rotina saudável, passeios diários e momentos de

lazer. (ESPAÇO ANIMAL, 2008).

4.1 - Acupuntura

Foi avaliada em experimentos com estresse agudo por contenção onde avaliou-se o

efeito da acupuntura nos acupontos 06BP, 36E, 17VC, 06CS, 20VG durante um período de

imobilização de 60 minutos em ratos Wistar, utilizando como parâmetros a pressão arterial,

a freqüência cardíaca e análise de comportamento. Os resultados obtidos sugerem que a

acupuntura aplicada durante o estresse agudo por contenção atenua alguns comportamentos

envolvidos na reação de luta ou fuga característica do estresse, de maneira independente

dos parâmetros cardiovasculares avaliados (SCOGNAMILLO-SZABÓ, BECHARA,

2001).

4.2 – Florais de Bach

Estes florais tratam no cão estressado, o estado de alma negativo – esse estado de

alma negativo não é “combatido”, pois isso lhe conservaria a energia, mas é inundado por

ondas de energia harmoniosas. As flores usadas por Bach são de plantas de uma ordem

mais elevada, onde cada planta tem um comprimento determinado de onda de energia. O

floral atua como um catalisador, restabelecendo o contato entre a alma e a personalidade,

no ponto em que este se rompeu.

Os Florais de Bach indicados como sugestões para tratar o estresse do animal são:

• Rescue: Trata o estresse e a tensão, restitui a calma.

• Walnut: É usado sempre que ocorre alguma mudança para os animais.

• Wild oat: Para tratar o tédio, falta de propósito na vida.

• Impatiens: Para tratar a impaciência, a irritabilidade.

• Heather: Para tratar animais que fazem barulho para chamar atenção ou por

sentirem solidão.

• White chestnut: Trata a preocupação e a insônia. Para qualquer

comportamento obsessivo.

• Holly: Para tratar ciúmes. É útil quando um bebê ou um outro animal passa

a conviver no mesmo ambiente.

• Sweet chestnut: Trata a angústia mental.

• Willow: Trata o comportamento rancoroso e o mau-humor.

• Chicory: Trata os ciúmes, o amor condicional. Trata a necessidade de

chamar a atenção (FOLLAIN, 2006).

4.3 - Florais de Sant German

Os cães são mais susceptíveis a desenvolver problemas comportamentais porque se

envolvem com os problemas emocionais das pessoas com que convivem. Nesses casos, o

floral é eficaz e tem o poder de solucionar a causa dos problemas, sem causar efeitos

colaterais podendo atuar como preventivo ou como coadjuvante em tratamentos

homeopáticos ou alopáticos (SPALATO, 2007).

Em 2003, Eunice Santos, veterinária do Centro de Zoonoses de São Paulo realizou

um projeto de utilização de florais de Saint Germain nos animais que estavam recolhidos,

com o objetivo de promover o bem-estar emocional dos animais, acalmar e minimizar os

traumas e medos vividos pelo abandono e pelo confinamento. Por quatro meses em que os

ambientes foram saturados com florais, os animais ficavam mais calmos, em média, 30

minutos após o spray floral (SPALATO, 2007).

4.4 - Fitoterapia

Dentre as plantas medicinais algumas são consideradas calmantes e seria uma

alternativa para o tratamento do estresse principalmente o físico, em que se pode destacar:

o capim-limão ou capim-cidreira (Cymbopogon citratus staupf), esta planta contém citral,

uma substância que oferece propriedades calmantes e sedativas (ANIBAL, et al, 2008).

ANIBAL et al (2008) em pesquisa realizada como objetivo de demonstrar o perfil

dos leucócitos circulantes no modelo de ratos sob estresse físico, e avaliar a fitoterapia

como alternativa para controlar os sintomas patológicos após esse estresse, demonstraram

que o uso da fitoterapia influenciou de forma positiva para alguns tipos de reações nas

células sangüíneas causadas pelo estresse.

5 – CONSIDERAÇÕES FINAIS

Por meio desta revisão foi verificado que o estresse nem sempre é um fator de

desgaste emocional e físico, mas, um mecanismo natural de defesa do organismo. Os

estímulos estressantes são recebidos através do sistema nervoso e dependendo da forma

com que esses estímulos são enfrentados poderão provocar um conjunto de reações

fisiológicas, onde sendo elas exageradas em intensidade e duração, acabam por causar

desequilíbrio no organismo, freqüentemente com efeitos danosos. Por outro lado, se o

estimulo estressante é agudo e sem persistência o animal logo se recupera, passando a ter

uma vida normal.

Pôde-se constatar a influência que o homem tem em relação ao estresse em cães

podendo ser de forma negativa, quando não se permite que o cão se expresse e/ou viva

como tal, ou de forma positiva quando se respeita às atitudes e limitações dos animais e

desta forma se promove o bem estar animal.

Ao observar as complexas alterações fisiológicas, neuroendócrinas e psicológicas

percebe-se a importância em se valorizar e aprofundar os conhecimentos relacionados ao

estresse, visto que o mesmo pode se tornar uma porta de entrada para patologias.

6 – BIBLIOGRAFIA AIRES, M.M. Fisiologia. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1991. ANIBAL, F. F. et al. Alterações imunológicas em camundongos e a atuação de fitoterapia no estresse induzido. Faculdades Integradas Fafibe. Disponível em < www.fafibe.br/revistaonline/arquivos/012_fernanda_anibal_alunos_alter_%20imuni_camu_.pdf> Acesso em :31 mar.2008. BALLONE, G.J. Fisiologia do Estresse. Disponível em: <http:// www.psiqweb.med.br/cursos/fisio.html> Acesso em: 16 dez 2007. BRANCO, C; LOBÃO, A. N. Manual de Psicologia Médica. Piauí: Comepi, 1983. BROOM, D. M; MOLENTO, C. F. M. Bem-estar animal: Conceito e questões relacionadas – Revisão Archives of Veterinary Science, Paraná, n.2, 2004. CAMARGO, L. M. Saúde & Beleza Forever. Disponível em:<http://www.rense.com/general19/chemical.htm>. Acesso em 02 abr. 2008. CUNGI, C. Saber administrar o estresse na vida e no trabalho. 2 ed. São Paulo: Larousse, 2006. CUNNINGHAM, J. G. Tratado de Fisiologia Veterinária. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2004. DUKES, H. H. Fisiologia dos animais domésticos. 11 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1996. FALCÃO, J. Cirurgia para diminuir som de latidos e miados gera polêmica. Diário de S. Paulo. Disponível em:< www.revitaepoca.globo.com/revista/epoca/o>. Acesso em 31mar. 2008. FOLLAIN, M. Estresse em cães e os florais de Bach. Disponível em:<www.greepet.vet.br> Acesso em: 31 mar. 2008.

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SPINOSA, GÓRNIAK, BERNARDI. Farmacologia Aplicada à Medicina Veterinária. 3 ed. São Paulo: Guanabara Koogan, 2002. VILELA, A. M. O estresse do dia a dia. Disponível em: <http://www.afh.bio.br >. Acesso em: 16 fev. 2008.

FICHA CATALOGADA NA BIBLIOTECA SETORIAL DO CAMPUS DE PATOS - UFCG

F383e

2008 Ferreira, Karla Valéria Pires, Estresse: conceitos e pontos de observação fisiológicos em cães. /Karla Valéria Pires Ferreira - Patos - PB: CSTR, UFCG, 2008.

35p.: il Inclui bibliografia. Orientador(a): Melania Loureiro Marinho.

Monografia (Graduação em Medicina Veterinária) – Centro de Saúde e tecnologia Rural, Universidade Federal de Campina Grande.

1 - Psicologia fisiológica – cães - Monografia. I - Título CDU: 159.91