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UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA TROPICAL E SAÚDE PÚBLICA MAURO ELIAS MENDONÇA Saúde mental e trabalho: prevalência de morbidade psiquiátrica e fatores associados, entre servidores municipais em licença médica, Goiânia-Goiás, 2010. Goiânia 2013

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA TROPICAL

E SAÚDE PÚBLICA

MAURO ELIAS MENDONÇA

Saúde mental e trabalho: prevalência de morbidade psiquiátrica e fatores associados, entre servidores

municipais em licença médica, Goiânia-Goiás, 2010.

Goiânia 2013

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Termo de Ciência e de Autorização para Disponibilizar as Teses e Dissertações

Eletrônicas (TEDE) na Biblioteca Digital da UFG

Na qualidade de titular dos direitos de autor, autorizo a Universidade Federal de Goiás-

UFG a disponibilizar gratuitamente através da Biblioteca Digital de Teses e

Dissertações - BDTD/UFG, sem ressarcimento dos direitos autorais, de acordo com a

Lei nº 9610/98, o documento conforme permissões assinaladas abaixo, para fins de

leitura, impressão e/ou download, a título de divulgação da produção científica

brasileira, a partir desta data.

1. Identificação do material bibliográfico: [ X] Dissertação [ ] Tese

2. Identificação da Tese ou Dissertação

Autor: Mauro Elias Mendonça

CPF: 38317265153 E-mail: [email protected]

Seu e-mail pode ser disponibilizado na página? [X]Sim [ ] Não

Vínculo empregatício do autor Universidade Federal de Goiás

Agência de fomento: Sigla:

País: Brasil UF: CNPJ:

Título: Saúde mental e trabalho: prevalência de morbidade psiquiátrica e fatores

associados, entre servidores municipais em licença médica, Goiânia-Goiás,

2010.

Palavras-chave: saúde mental, transtornos mentais, saúde do trabalhador,

absenteísmo, licença médica, setor público.

Título em outra língua: Mental health and work: prevalence of psychiatric

morbidity and associated factors among municipal

employees on sick leave, Goiânia, Brazil, 2010.

Palavras-chave em outra língua: mental health, mental disorders, occupational

health, absenteeism, sick leave, public sector.

Área de concentração: Epidemiologia

Data defesa: 13/09/2013

Programa de Pós-Graduação: Medicina Tropical e Saúde Pública UFG

Orientadora: Prof Marília Dalva Turchi

CPF: E-mail: [email protected]

Co-orientador(a):

CPF: E-mail:

3. Informações de acesso ao documento:

Liberação para disponibilização?1 [ X ] total [ ] parcial

Em caso de disponibilização parcial, assinale as permissões:

[ ] Capítulos. Especifique:

[ ] Outras restrições:

Mauro Elias Mendonça Data: 13/09/2013

1 Em caso de restrição, esta poderá ser mantida por até um ano a partir da data de defesa. A extensão

deste prazo suscita justificativa junto à coordenação do curso. Todo resumo e métodos ficarão sempre

disponibilizados.

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MAURO ELIAS MENDONÇA

Saúde mental e trabalho: prevalência de morbidade psiquiátrica e fatores associados, entre servidores

municipais em licença médica, Goiânia-Goiás, 2010.

Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Medicina Tropical e Saúde Pública da Universidade Federal de Goiás para obtenção do Título de Mestre em Medicina Tropical e Saúde Pública.

Orientadora Drª Marília Dalva Turchi

Goiânia 2013

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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação na (CIP)

GPT/BC/UFG

Mendonça, Mauro Elias.

Saúde mental e trabalho: prevalência de morbidade

psiquiátrica e fatores associados, entre servidores municipais

em licença médica, Goiânia-Goiás, 2010. [manuscrito]

Mauro Elias Mendonça - 2013.

xii, 97 f.: il., figs, tabs.

Orientadora: Profª. Drª. Marília Dalva Turchi.

Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal de Goiás,

Instituto de Patologia Tropical e Saúde Coletiva, 2013.

Bibliografia.

Inclui lista de tabelas, figuras, abreviaturas e siglas.

Apêndices.

1. Saúde mental 2. Transtornos mentais 3. Saúde do

trabalhador 4. Absenteísmo 5. Licença médica 6. Setor

público

I. Título.

CDU:

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Programa de Pós-Graduação em Medicina Tropical e Saúde Pública da Universidade Federal de Goiás

BANCA EXAMINADORA DE DISSERTAÇÃO DE MESTRADO

Mestrando: Mauro Elias Mendonça

Orientadora: Profª Drª Marília Dalva Turchi

Membros:

1. Profª Drª Marília Dalva Turchi (presidente)

2. Prof. Dr. Heleno Rodrigues Corrêa Filho

3. Prof. Dr. João Bosco Siqueira Júnior

Membros Suplentes:

1. Prof. Dr. Ivan José Maciel

2. Profª Drª Cristina Aparecida Borges Pereira Laval

3. Profª Drª Edsaura Maria Pereira

Data: 13/09/2013

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DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho a todos os trabalhadores e trabalhadoras que,

com esperança, paixão e compaixão, acreditam e lutam por uma sociedade

mais justa e solidária, onde se possa viver e conviver, verdadeiramente,

com acolhimento, pertencimento, vínculo, autonomia, liberdade,

compromisso e responsabilidade em defesa da vida individual e coletiva,

com respeito às diferenças,

meditando, vigiando, cuidando, aprendendo sempre

e ainda buscando com muito desejo e sem garantia, o menor esforço,

o maior prazer, a maior alegria e felicidade pessoal, familiar, grupal e social,

na medida do possível.

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AGRADECIMENTOS

Ao Deus, Princípio Criador e Ordenador do universo, aos Mestres Jesus Cristo,

Buda e iluminados anônimos ou não, pela inspiração e oportunidade de viver, conviver e

aprender a ser humano, estudante e trabalhador a serviço da saúde e da educação no

nível pessoal e profissional, a cada dia.

À família de origem e atual, meus queridos pais (Wilmar e Angelina), filhos

(Mauro Filho, Gabriel e Rebeca), irmãos e sobrinhos e aos fiéis amigos, por eu poder

receber e compartilhar a vida e aprender com vocês na busca por sabedoria, justiça,

verdade, compaixão, solidariedade, confiança e humildade e ainda pela tolerância,

paciência e lealdade no apoio de vocês diante dos momentos de minhas presenças

parciais e ausências por motivo de estudo e trabalho.

Às mulheres que amei e que realmente me amaram, fontes de inspiração e

alegria, pela experiência de imperfeita e impermanente felicidade no amor em parceria.

Aos educadores-professores com os quais pude ser despertado no caminho do

pensamento vitalista, analítico, complexo, sistêmico, holístico, social e espiritualista do

ser humano, com tentativa de aplicação nos campos da saúde e educação, em

particular nas áreas de saúde mental e em toda a saúde coletiva.

Aos pacientes que me confiaram na psiquiatria, psicoterapia e homeopatia, a

partilha de suas dores e prazeres da alma na procura pela saúde física, mental e

relacional em direção ao encontro e reencontro com sua verdade, seus medos e

desejos, tristezas e alegrias, paixões e raivas, amores felizes e feridos em suas relações

afetivas, familiares, escolares e de trabalho.

Aos estudantes de graduação, pós-graduação e extensão, com quem muito

tenho aprendido como educador-professor na relação de aprendizagem recíproca e de

modo carinhoso aos monitores de Saúde Coletiva, pela convivência e apoio nesta

missão.

Aos muitos companheiros ativos e aposentados da UFG, nas pessoas do Prof.

Dr. Ivan José Maciel (Departamento de Saúde Coletiva), Prof. Dr. José Clecildo Barreto

Bezerra (Instituto de Patologia Tropical e Saúde Pública) e Profª Drª Maria Ivone Pinto

Vilela (Faculdade de Medicina), pelo respeito às diferenças, incentivo, apoio, pontuação

e parceria no trabalho docente.

À Profª. Drª. Celina Maria Turchi Martelli, a primeira incentivadora para que eu

realizasse esta pós, que insistentemente, durante anos me apoiou e ainda pelas

contribuições na banca de qualificação deste estudo.

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Ao Prof. Dr. João Bosco Siqueira Junior, professor e colega, por ter orientado a

primeira parte da etapa desta pós, ter colaborado na banca de qualificação e por ter

dado seu apoio todo o tempo.

À Profª. Drª. Marília Dalva Turchi, minha orientadora neste estudo, a grande

incentivadora, mentora e apoiadora da elaboração do projeto de minha entrada oficial

nesta pós, bem como da mudança de foco do trabalho que acabou por me trazer de

volta para sua orientação, pela paciência, compreensão, apoio e confiança em todas as

horas, minha maior gratidão.

À Ana Lúcia de Melo Leão, pela iniciativa e desenvolvimento da pesquisa sobre

morbidade geral nos afastamentos dos servidores da Prefeitura de Goiânia em licença

médica, pelo compartilhamento dos dados e do trabalho, origem da realização deste

estudo, o qual não seria concluído sem a sua participação, meu particular

agradecimento.

À Profª. Drª. Anadergh Barbosa de Abreu Branco, pelos estudos sobre

absenteísmo por doença nos trabalhadores brasileiros e pelas contribuições no olhar

ocupacional sobre este trabalho por ocasião da banca de qualificação.

A todos os participantes deste curso de pós-graduação, na pessoa da Profª.

Drª. Ana Lúcia Sampaio Sgambatti de Andrade e dos amigos Eliane Terezinha Afonso e

Solomar Martins Marques, pelo aprofundamento no aprendizado em epidemiologia, por

compartilharem o conhecimento e a experiência e pelo apoio e convívio nos momentos

de ansiedade e de alívio.

Aos membros da banca avaliadora desta dissertação, Profª. Drª. Marília Dalva

Turchi, Prof. Dr. Heleno Rodrigues Corrêa Filho, Prof. Dr. João Bosco Siqueira Junior,

Prof. Dr. Ivan José Maciel, Profª Drª Cristina Aparecida Borges Pereira Laval, Profª Drª

Edsaura Maria Pereira, pela disponibilidade de apreciar o estudo realizado, oferecer

contribuições para seu aprimoramento e por muito colaborarem para o campo da saúde

coletiva.

Aos trabalhadores públicos da Prefeitura de Goiânia que possibilitaram essa

pesquisa através da construção das bases de dados da Junta Médica Municipal e do

Sistema de Recursos Humanos e a todos os servidores do município que através da

opção por trabalhar na rede pública a serviço da sociedade local, tornaram-se o foco

central deste estudo epidemiológico sobre saúde mental e trabalho na sua dolorosa face

do sofrimento psíquico.

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SUMÁRIO

Dedicatória............................................................................................................................. v

Agradecimentos..................................................................................................................... vi

Sumário.................................................................................................................................. viii

Tabelas, Figuras e Anexos..................................................................................................... ix

Siglas e Abreviaturas............................................................................................................. xi

Resumo.................................................................................................................................. xii

Abstract.................................................................................................................................. xiii

1. Introdução.......................................................................................................................... 1

1.1. O processo saúde-doença................................................................................................ 1

1.2. O campo da saúde mental............................................................................................... 7

1.3. Prevalência de morbidade psiquiátrica no Brasil..,,,...................................................... 14

1.4. Saúde e trabalho.............................................................................................................. 19

1.5. Saúde mental e trabalho.................................................................................................. 20

1.6. Vigilância Epidemiológica e saúde mental do trabalhador no Brasil............................. 22

1.7. Prevalência de morbidade psiquiátrica em trabalhadores............................................... 27

2. Justificativa........................................................................................................................ 31

3. Objetivos............................................................................................................................ 33

4. Métodos............................................................................................................................. 34

4.1. Local do estudo............................................................................................................... 34

4.2. População do estudo....................................................................................................... 34

4.3. Delineamento do estudo................................................................................................. 34

4.4. Definição de afastamento por morbidade psiquiátrica................................................... 34

4.5. Fonte de dados................................................................................................................ 34

4.6. Variáveis do estudo........................................................................................................ 35

4.7. Processamento e análise de dados.................................................................................. 35

4.8. Indicadores utilizados..................................................................................................... 39

4.9. Aspectos éticos............................................................................................................... 41

5. Resultados ......................................................................................................................... 42

6. Discussão........................................................................................................................... 62

7. Conclusões e Recomendações........................................................................................... 69

8. Referências ....................................................................................................................... 71

9. Anexos............................................................................................................................... 89

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1. Perfil dos servidores públicos municipais ativos, distribuídos por

sexo, segundo características sócio-demográficas e ocupacionais,

Goiânia-Goiás, 2010.

Pág. 43

Tabela 2. Prevalência global de transtornos mentais (TM) entre servidores

públicos municipais licenciados, por mil servidores ativos, segundo

características sócio-demográficas e ocupacionais, Goiânia-Goiás,

2010.

Pág. 45

Tabela 3. Prevalência global de transtornos mentais (TM) entre servidores

públicos municipais licenciados, distribuída por sexo, segundo

características sócio-demográficas e ocupacionais, Goiânia-Goiás,

2010.

Pág. 47

Tabela 4.

Prevalência de transtornos mentais (TM), no ano, por mil servidores

ativos e morbidade psiquiátrica proporcional, calculadas em licenças

médicas concedidas e em servidores municipais licenciados,

ordenadas segundo agrupamentos do capítulo V da CID-10, Goiânia-

Goiás, 2010.

Pág. 51

Tabela 5.

Prevalência de transtornos mentais (TM) por agrupamentos

psiquiátricos, segundo CID-10, em servidores municipais licenciados,

estratificada por sexo e faixa etária, por mil servidores ativos,

Goiânia-GO, 2010.

Pág. 56

Tabela 6.

Categorias diagnósticas psiquiátricas, segundo capítulo V da CID-10,

de maior prevalência em servidores municipais licenciados, por mil

servidores ativos, Goiânia-GO, 2010.

Pág. 58

Tabela 7. Proporção de servidores municipais licenciados por morbidade

psiquiátrica global e agrupamentos, segundo duração dos

afastamentos em dias, distribuída por sexo, Goiânia-GO, 2010.

Pág. 59

Tabela 8.

Duração das licenças por morbidade psiquiátrica global e

agrupamentos, distribuída por sexo, faixa etária e faixa salarial nos

servidores municipais, calculadas pela mediana e média, Goiânia-GO,

2010.

Pág. 60

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LISTA DE FIGURAS E ANEXOS

Figura 1. Comparação entre a morbidade psiquiátrica proporcional e a

prevalência global de transtorno mental (TM), por agrupamento,

segundo ordenamento da CID-10, nas licenças médicas e entre

servidores públicos municipais licenciados, no ano, Goiânia-Goiás,

2010.

Pág.52

Figura 2. Prevalência de morbidade psiquiátrica global em servidores

municipais licenciados, no ano, por mil servidores ativos, geral e

estratificada por sexo e faixa etária, Goiânia-Goiás, 2010.

Pág. 53

Figura 3. Prevalência de morbidade psiquiátrica global por agrupamento,

geral e por sexo, em servidores municipais licenciados, no ano, por

mil servidores ativos, Goiânia-Goiás, 2010.

Pág. 54

Anexo 1.

Categorização dos cargos quanto à natureza da ocupação.

Pág. 89

Anexo 2. Parecer do Comitê de Ética em Pesquisa.

Pág. 90

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SIGLAS E ABREVIATURAS

CDC - Center for Disease Control and Prevention/United States Departmentof Health and

Human Services.

CEREST - Centro Regional de Saúde do Trabalhador.

CID- 10 - Classificação Internacional de Doenças, 10ª revisão.

CIDI - Composite International Diagnostic Interview.

CLT - Consolidação das Leis do Trabalho.

CNAES - Cadastro Nacional de Atividades Econômicas e Sociais.

DOM - Doenças Osteomusculares.

DORT - Distúrbios Ostemusculares Relacionados ao Trabalho.

DP (dp) - desvio padrão.

DSM IV/APA - Manual de Diagnóstico e Estatístico da American Psychiatric Association.

4ª edição.

DSM-III /APA- Manual de Diagnóstico e Estatístico da American Psychiatric Association. 3ª

edição.

ECA - Epidemiological Catchment Area Study.

ESF - Estratégia Saúde da Família.

EUA- Estados Unidos da América.

FAP - Fator Acidentário Previdenciário.

GHQ - General Health Questionaire.

IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IC95% - intervalo de 95% de confiança.

INSS - Instituto Nacional de Seguridade Social.

IQR - intervalos interquartílicos.

MP - Medida Provisória.

MS - Ministério da Saúde.

NCS - National Comorbidity Study .

NTE - nexo técnico epidemiológico.

OMS - Organização Mundial de Saúde.

ONU - Organização das Nações Unidas.

OR - Odds Ratio.

P - prevalência.

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PPGHC- Problemas psicológicos em cuidados gerais de saúde.

QMPA - Questionário de Morbidade Psiquiátrica em Adultos.

RENAST - Rede Nacional de Atenção Integral à Saúde do Trabalhador.

RJU - Regime Jurídico Único.

RP- Razão de prevalência.

RP F/M- Razão de feminilidade (prevalência nas mulheres/prevalência nos homens).

RSI 2005 - Regulamento Sanitário Internacional 2005.

SIH/SUS - Sistema de Informações Hospitalares do Sistema Único de Saúde.

SINAN - Sistema Nacional de Agravos de Notificação.

SINASC - Sistema de Informação sobre Nascidos Vivos.

SM - Salário Mínimo.

SMARH - Secretaria Municipal de Administração e Recursos Humanos.

SPSS - Statistical Package for Social Science.

SRH - Sistema de Recursos Humanos.

SRQ - Self Report Questionnaire.

TM - Transtornos Mentais.

TMC - Transtorno Mental Comum.

UFG - Universidade Federal de Goiás.

WMH-CIDI - World Mental Health Survey- Composite International Diagnostic Interview.

X2 - teste do qui quadrado.

YLD - Disability Years Lived.

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RESUMO

Introdução: Os transtornos mentais (TM) apresentam alta morbidade e carga elevada nos

anos vividos com incapacidade, reduzindo a qualidade de vida e produzindo grande impacto

socioeconômico. Objetivo: Estimar a prevalência e potenciais fatores associados à morbidade

psiquiátrica de servidores municipais em licença médica na cidade de Goiânia-Goiás, no ano

de 2010. Método: Estudo transversal censitário vinculando o Sistema de Recursos Humanos

com registros de licenças concedidas pela Junta Médica do município. Foram analisadas

variáveis sócio-demográficas e ocupacionais e a duração das licenças associadas ao

afastamento por TM. O nível de significância foi estabelecido em < 5%. Resultados: Entre os

20.535 servidores, 5.028 (24,5%) tiveram pelo menos uma licença, sendo 801 desses

licenciados por morbidade psiquiátrica. No total foram concedidas 9.101 licenças, das quais

1.569 por TM. Os TM representaram a maior carga do tempo total de afastamento (22,1%)

com 75% dos servidores em licença >15 dias. A prevalência de TM foi de 39,0 servidores

licenciados/1.000 servidores ativos, com 76,4 licenças/1.000 servidores ativos. A prevalência

de TM foi maior entre as mulheres e em servidores com nível fundamental ou superior de

escolaridade. Houve diferença no perfil de afastamento por TM entre homens e mulheres

quanto à faixa etária, etnia, estado conjugal e faixa salarial. Em relação ao trabalho, observou-

se uma maior prevalência de TM em servidores com duplo vínculo, tempo de serviço < 3 anos

(estágio probatório) e na faixa de 11 a 20 anos de trabalho. As maiores prevalências de TM,

entre as mulheres, foram evidenciadas nos cargos de educação e saúde e entre os homens, na

fiscalização. Os transtornos de humor (25,4/1.000) e neuróticos (16,9/1.000) foram os

agrupamentos de maiores prevalências, com alta co-morbidade entre ambos. A categoria

diagnóstica de maior prevalência foi depressão. Discussão e Conclusões: No presente estudo,

a prevalência de TM foi mais de seis vezes superior à encontrada nos trabalhadores do regime

geral da previdência social no país. Os resultados confirmam a relevância dos TM na saúde

dos servidores e trazem subsídios para impulsionar medidas de promoção, vigilância e

atenção à saúde do trabalhador. Aponta-se a necessidade de aprofundar no estudo dos fatores

psicossociais associados à alta prevalência de morbidade psiquiátrica no setor público e às

diferenças de gênero e ocupação.

Palavras-chave: saúde mental, transtornos mentais, saúde do trabalhador, absenteísmo,

licença médica, setor público.

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ABSTRACT

Introduction: Mental disorders (MD) have high morbidity and high load in the years lived

with disability, reducing quality of life and producing large socioeconomic impact.

Objective: To estimate the prevalence and potential factors associated with psychiatric

morbidity of municipal employees on sick leave in Goiânia, Brazil, in 2010. Methods: Cross-

sectional census study linking Human Resources System with records of licenses issued by

the Medical Board municipality. Socio-demographic and occupational variables and duration

of the associated removal by MD licenses were analyzed. The level of significance was set at

<5%. Results: Among the 20,535 servers, 5,028 (24.5%) had at least one license, with 801 of

these for psychiatric morbidity. In total 9,101 licenses, of which 1,569 were granted for MD.

The MD represented the greatest burden of the total period of absence (22.1%) with 75% of

the servers on leave for > 15 days. The prevalence of MD was 39.0 licensed servers/1.000

active servers, with 76.4 licenses/1.000 active servers. The prevalence of MD was higher

among women and servers with primary or higher education level. There were differences in

the leave of absence profile caused by DM between men and women regarding age, ethnicity,

marital status and salary. In relation to work, there was a higher prevalence of MD on servers

with double bond, length of service <3 years (probation) and with 11-20 years of work. The

highest prevalence of MD among women, was found in positions of education and health,

and, among men, in surveillance jobs. Mood disorders (25.4/1,000) and neurotic (16.9/ 1,000)

were clusters of higher prevalence, with high co-morbidity between both. The diagnostic

category of depression was more prevalent. Discussion and Conclusions: In the present

study, the prevalence of MD was more than six times higher than the one found on workers of

the general social security system in the country. The results confirm the relevance of MD in

health of servers, and bring subsidies to boost promotion measures, surveillance and

occupational health care. The need to deepen the study of psychosocial factors associated with

high prevalence of psychiatric morbidity in the public sector and differences in gender and

occupation was pointed out in this study.

Keywords: mental health, mental disorders, occupational health, absenteeism, sick leave,

public sector.

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1 INTRODUÇÃO

Saúde mental e trabalho constituem dois diferentes setores do saber, do sentir e do

fazer na vida cotidiana individual e coletiva, com profunda e direta intersecção. Em sua

confluência, recebem contribuições reflexivas sobre suas realidades contraditórias e

complementares por parte do saber e da experiência de vida que procede dos profissionais da

academia e dos serviços, em suas diversas dimensões, incluindo a clínica e epidemiológica, a

política e a econômica, com diferentes referenciais teórico-metodológicos. Assim, o binômio

saúde mental e trabalho contempla aspectos de toda experiência individual e coletiva dos

trabalhadores, nas suas múltiplas formas de organização social da vida contemporânea.

As diferentes disciplinas e abordagens do trabalho em saúde e da saúde do trabalhador

recebem, portanto, importantes influências político-ideológicas e econômico-sociais refletindo

contextos históricos da sociedade, com suas lutas, interesses e campo de forças onde se

constituem, desenvolvem e se transformam. Elas sofrem influxo e apropriam-se de

referenciais teórico-metodológicos, sejam positivistas, histórico-dialéticos ou

fenomenológico-existenciais, dentre outras. Dialeticamente contribuições ocorrem para a

construção de um mundo baseado, ora mais no paradigma individualista, egocêntrico,

narcisista, autoritário e de dominação competitiva, perpetuador das iniquidades, ora mais

social-democrático, solidário, de cooperação ou colaboração coletiva em defesa da vida e da

justiça social para todos.

Diante do convívio e confronto estas muitas diferentes dimensões e correntes de

pensamento e intervenção no processo saúde-doença relacionadas ao tema saúde mental e

trabalho (incluindo individual e coletivo, físico e mental, natural e cultural, natural e social,

quantitativo e qualitativo, descritivo e analítico, profissionais e abordagens do setor saúde e

outros relacionados) contribuem com aspectos e olhares distintos sobre a realidade.

1.1. O processo saúde-doença

1.1.1. A clínica e a epidemiologia: do individual e do coletivo

Enquanto a clínica sistematizou-se historicamente na abordagem teórico-metodológica

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do indivíduo, a saúde coletiva se desenvolveu enquanto campo de conhecimento para

intervenção na realidade do processo saúde-doença na coletividade. Pode-se dizer que

enquanto a clínica utiliza-se da semiologia (com sua anamnese e exame físico) como principal

recurso diagnóstico, de intervenção e avaliação, a saúde coletiva, em outra dimensão, realiza

estes mesmos passos com ajuda principal da epidemiologia, além de outras disciplinas.

A epidemiologia, embora possua intersecção com a clínica, é uma disciplina do

campo da saúde coletiva que estuda o processo saúde-doença em sua dimensão coletiva,

analisando a distribuição, determinação e os potenciais fatores de risco ou proteção de

doenças, agravos, eventos e danos relacionados à saúde-doença, contribuindo no diagnóstico e

intervenção de medidas de promoção, vigilância, proteção, prevenção, controle, clínica

ampliada, redução de danos e reabilitação. Fornece indicadores que possam auxiliar o

planejamento, a administração e avaliação das ações, serviços, sistemas e políticas sociais,

incluindo de saúde e trabalho. No desenvolvimento de suas funções, a epidemiologia recebe

contribuições das ciências humanas e sociais, exatas e biológicas, constituindo-se, portanto,

em uma “disciplina multi, inter ou transdisciplinar” (ALMEIDA FILHO, 1989a; ALMEIDA

FILHO & ROUQUAYROL, 2006; PEREIRA, 1995; MEDRONHO et al., 2003; MACIEL &

SILVEIRA, 2009).

O paradigma dominante na clínica, denominado de medicina científica, foi

sistematizado no século XIX em consonância com as exigências demandadas pela nova

ordem capitalista, impulsionado pelas descobertas científicas do microscópio e da bactéria. É

o modelo biomédico, de base positivista, mecanicista, biologicista, organicista e

medicalizante, centrado na doença do indivíduo e na figura do poder e suposto saber médico.

Embora receba constantes críticas quanto à formação e à prática profissional resultante deste,

com sugestão de mudanças no caminho da integralidade, humanização e compromisso social,

alimentado pela indústria médica, dentre outros setores da sociedade, este modelo continua

ainda hegemônico (COSTA, 1983; BARATA, 1985; ALMEIDA FILHO, 1989a; ALMEIDA

FILHO & ROUQUAYROL, 2006; FOUCAULT, 2011; MENDONÇA, 2012a).

A epidemiologia sofreu também grande influência da visão positivista da era

microbiana em sua estruturação no século XIX. Recebeu contribuições reformadoras, desde a

primeira metade do século passado, passando de uma visão de unicausalidade clássica das

doenças, por modelos preventivistas de multicausalidade natural ecológica. Consolidou-se nas

últimas décadas por sua modelagem matemática, com aporte da estatística computacional, em

sua mais elaborada vertente quantitativa, denominada epidemiologia clínica ou epidemiologia

do risco, estabelecendo maior ou menor proximidade com sua vertente social na determinação

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do processo saúde-doença (a epidemiologia social) e com as contribuições da

etnoepidemiologia (epidemiologia de orientação antropológico-cultural) (LEAVELL &

CLARK, 1976; BARATA, 1985; ALMEIDA FILHO, 1989a; DEJOURS & ABDOUCHELI,

1994; ALMEIDA FILHO & ROUQUAYROL, 2003; AROUCA, 2003; FERNANDES, 2003;

FLETCHER et al., 2003; MACIEL & SILVEIRA, 2009).

A epidemiologia social foi inicialmente gestada e sufocada no século XIX e resgatada,

a partir dos anos 60 do século XX, em período de importantes processos de lutas sociais. Por

receber influência direta e maior do materialismo histórico e dialético em sua principal

concepção de análise da realidade, relaciona o processo saúde-doença diretamente às

condições de vida em cada contexto histórico. O trabalho, com sua organização social, por

meio das forças produtivas e das relações sociais da produção, ou seja, as relações que os

homens estabelecem entre si no processo de produção de saber, poder, sentir e agir, incluindo

a produção de bens, serviços, sentidos, valores, vícios e virtudes, é seu foco central de estudo

na determinação social do processo saúde-doença (BARATA, 2005; LAURELL &

NORIEGA, 1989; LAURELL, 1981; LAURELL, 1983; BREILH, 1991; AROUCA, 2003).

Num momento em que várias e rápidas mudanças ocorrem no contexto do mundo do

trabalho com o advento da globalização, entre elas o avanço tecnológico, a alta produtividade,

a intensificação do trabalho e a precarização das relações de trabalho com ampliação

significativa no número de trabalhadores com a saúde comprometida (ZANELLI, 2010), a

epidemiologia, com suas diferentes vertentes e métodos, coloca-se como recurso integrativo

importante na análise ampliada da realidade de vida e situação de saúde dos trabalhadores,

tomando como ponto de partida as desigualdades presentes na determinação da qualidade do

viver, sofrer, adoecer e morrer.

1.1.2. Mente e corpo: da dualidade e da unidade psicossomática

Ainda que as filosofias e medicinas orientais e ocidentais, incluindo as tradicionais

xamânicas, apresentem há milênios uma visão unitária e indivisível de conceitos energia-matéria

e mente-corpo, o mundo acadêmico ocidental tardou em resgatá-la em suas abordagens teórico-

metodológicas no campo da saúde (GOSWAMI, 2006; MENDONÇA, 2007, 2012a).

Um dos pioneiros desta mudança foi Sigmund Freud que desenvolveu a psicanálise a

partir de sintomas somáticos cuja causa não poderia ser atribuída explícita e diretamente a danos

físicos (FREUD 1996). A abordagem psicanalítica definiu uma base teórica sobre a organização

do sujeito, estruturada a partir das primeiras relações de vida na infância, classificando a

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psicopatologia a partir dos conceitos de neurose, perversão e psicose e orientando, no último

século, toda a base classificatória na psiquiatria descritiva e compreensiva (KAPLAN &

SADOCK, 2007; MENDONÇA, 2007).

Wilhelm Reich, psicanalista do campo freudo-marxista desenvolveu uma abordagem

teórico-metodológica onde funções psíquicas, somáticas e relacionais fossem compreendidas em

termos de um sistema unitário. O componente biopsicossocial ou psicocoporal-relacional que

unifica o corpo, a mente e as relações é a energia emocional que pulsa, antes de tudo, no

encontro afetivo com o outro, estruturando a qualidade do vínculo. Na correlação da energia

psíquica com os processos energéticos no nível do somático ele descreveu as couraças, tensões

musculares ou armaduras de proteção enquanto defesas construídas diante da educação e

organização familiar e social contraditoriamente abandônica e repressiva. Para Reich, amor,

trabalho e conhecimento são as fontes de nossa vida (REICH, 1998; MENDONÇA, 2007).

O principal discípulo seu, Alexander Lowen, aliou ainda mais a análise no corpo com o

processo mental, fundando a abordagem mais influente no campo psicocorporal das

psicoterapias, a análise bioenergética. A saúde nessa abordagem neo-reichiana consiste na

conquista de direitos humanos universais, sendo os básicos: inclusão, apoio social,

independência, autonomia e liberdade. Neste sentido, as interferências traumáticas mais

significativas em direção contrária ao direito são respectivamente: exclusão (rejeição), abandono

(privação, carência, negligência), abuso de poder, exploração e violência sutil ou explícita

(manipulação sedutora, autoritarismo e/ou humilhação supressiva) e a castração da inteireza

solidária (LOWEN, 1997; MENDONÇA, 2007; MENDONÇA, 2012b).

Os principais traumas individuais intrafamiliares correlacionam-se com sofrimentos

coletivos (injustiças sociais) na contemporaneidade: exclusão e abandono social, violência e

abuso de poder (sedução ao consumismo, autoritarismo e/ou exploração social) e convite ao

sucesso pela competitividade individualista em detrimento do coletivo. Numa sociedade

organizada mais em função da exploração do esforço da maioria para o privilégio, o poder, o ter,

o parecer e o suposto saber de muito poucos, buscar a felicidade sem perder o contato com o

verdadeiro prazer e a alegria de estar vivo, diante da dor e do sofrimento social imposto, torna-se

um grande desafio (MENDONÇA, 2007; 2012b).

O desenvolvimento da psicologia do ego e do self enquanto desdobramentos da

psicanálise, muito contribuíram com uma visão psicossomática na medicina (WINNICOTT,

1997; REICH, 1998; LOWEN, 1997; MENDONÇA, 2007).

Além disto, o resgate das medicinas tradicional chinesa e hindu, o crescimento de

abordagens sistêmicas, da homeopatia, os progressos da física quântica e relativista, até as

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concepções mais próximas da medicina biológica ou da medicina social, muitas correntes se

estruturaram na direção da identidade entre processos somáticos e fenômenos psíquicos

(psicossomática), seja no campo da clínica médica, saúde mental, saúde do trabalhador ou saúde

coletiva, apoiadas por diferentes teorias como a determinação social, o desgaste, o estresse, a

psiconeuroendócrinoimunologia e mais recentemente das neurociências (GOSWAMI, 2006;

MENDONÇA, 2007; 2012a).

Na Classificação Internacional das Doenças da Organização Mundial da Saúde em sua

10ª revisão, de 1992, em seu capítulo V, dos transtornos mentais e comportamentais (F00-F99),

os transtornos mentais denominados orgânicos (F00-F09) possuem código adicional em outro

capítulo da classificação, por haver consenso na medicina que o sintoma mental é secundário à

doença ou dano físico, encontrando-se neste grupo as síndromes crônicas (demenciais) e as

agudas (delirium) por intoxicações, infecções ou traumas (WHO, 1992).

Encontram-se entre os transtornos neuróticos, os denominados somatoformes (F45),

sendo a somatização o mais prevalente, quando a disfunção ou lesão inexiste ou não justifica a

intensidade dos sintomas físicos como a dor crônica. Os transtornos mentais conhecidos como

doenças psicossomáticas (F54), onde o componente psicológico seria primário ou de maior

importância na precipitação e evolução dos sintomas, incluem desde doenças imunoalérgicas

agudas, como asma e até doenças crônicas graves como a esclerose múltipla, todas estas

possuindo também código adicional em outro capítulo específico da CID-10 da OMS. Além

disto, os transtornos mentais mais prevalentes, os ansiosos (F40-49) e os de humor (F30-F39),

dentre muitos outros, cursam com sintomas físicos marcantes, inclusive como critério

diagnóstico fundamental (WHO, 1992; TÓFOLI et al., 2011; FORTES et al., 2008)

A contradição epistemológica na ilusória separação mente-corpo pode ser percebida

quando de um lado uma corrente da psiquiatria (biológica) defende a ideia de uma etiologia

organicista genético molecular como fator suficiente ou exclusivo na determinação do

sofrimento mental. O fracasso dos estudos sobre o genoma contrastou com estudos

epidemiológicos na clínica médica e na atenção primária sinalizando que doenças físicas

crônicas graves têm como importante fator associado ou de risco traumas psíquicos na infância e

que o principal transtorno mental na população geral que procura os serviços de saúde geral,

frequentemente sem diagnóstico psiquiátrico, é a somatização (TÓFOLI et al., 2011; SANTOS

& SIQUEIRA, 2010; FORTES et al., 2008; MELLO et al., 2007).

Como a dimensão mental da vida na organização da medicina científica convencional

neste último século foi praticamente excluída da formação e da prática da clínica médica em

geral, a maioria dos clínicos não psiquiatras geralmente se distancia desta dimensão do processo

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saúde-doença. É dentro destas contradições que, em muitos contextos, quase em paralelo ao

setor saúde geral, organizou-se um subsetor que ainda pouco se articulou com a rede maior de

políticas, serviços e ações gerais de saúde pública na atenção básica e hospitalar: a saúde mental

(AMARANTE, 1995).

1.2. O campo da saúde mental

A psiquiatria enquanto especialidade médica é relativamente recente na história da

humanidade. Antes da aliança da necessidade social de descartar os inadequados à nova ordem

capitalista com a curiosidade científica e poder médico, a loucura era objeto do cotidiano das

cidades, da filosofia ou da teologia. A definição de morbidade psiquiátrica enquanto seu objeto

central de estudo trouxe importantes questionamentos nos últimos dois séculos na medicina,

dentre eles: existe produção mental enquanto entidade clínica nosológica? Existe doença,

patologia ou enfermidade mental com diagnósticos específicos? Há diferença entre sofrimento

mental e doença mental? (FOUCAUT, 1978; BASÁGLIA, 1985; CANGUILHEM, 2002)

O estigma carreado pelo rótulo de doente mental, louco ou alienado mental atravessou os

séculos, dentro e fora da medicina. Além do estigma, da falta de acesso à informação e aos

recursos disponíveis, questões socioculturais, revelam uma subjetividade na identificação do

sofrimento mental enquanto fenômeno diagnosticado como situação problema: É um problema?

Se há incômodo, desconforto ou problema, em que medida se percebe isto como problema de

saúde? Se o fenômeno é sentido e pensado como problema de saúde, em que proporção os

pacientes acreditam haver tratamento? Qual o percentual cogita a possibilidade de procurar

ajuda? Quais os tipos de ajuda estão disponíveis? Qual a quantidade, facilidade de acesso e a

qualidade dos serviços ofertados? (VALENTINE et al., 2004; PELUSO & BLAY, 2004;

VILLARES et al., 1999)

A falta de identificação de agentes etiológicos “causais”, na mesma lógica das doenças

infecciosas e parasitárias, com identificação direta ou indireta da presença de microorganismos,

bem como a necessidade de desenvolvimento de pesquisas farmacológicas e uniformização de

critérios e instrumentos diagnósticos, aliado a questão do estigma de doente mental, contribuiu

para a descrição de síndromes clínicas psiquiátricas, denominadas de perturbação, distúrbio,

desordem ou transtorno (AMARANTE, 1995; FOUCAUT, 1978; BASÁGLIA, 1985;

CANGUILHEM, 1995).

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1.2.1. Da psiquiatria biológica à saúde mental

Os correspondentes movimentos desenvolvidos entre a clínica e a saúde coletiva no

campo da saúde mental, conforme a concepção de homem enquanto máquina, animal

biológico ou ser social constituíram a base de diferentes modelos de psiquiatria: psiquiatria

clínica clássica (que expressa sua postura mais radical na psiquiatria biológica), psiquiatria

humanística (psicanálise e psicoterapias), psiquiatria transcultural (etnopsiquiatria) e

psiquiatria social com ênfase na saúde mental (AMARANTE, 1995; SCHWARTZMAN,

1997).

A psiquiatria clínica convencional já nasce com sua lógica manicomial no século XIX,

centrada no suposto controle da alienação ou perturbação mental e institucionalizada pelo

psiquiatra alienista. Representante da face mais violenta da medicina, por meio do poder

autoritário de contenção dos sintomas comportamentais e das pessoas, por meio de diferentes

aparatos mecânicos e ambientais, esta tendência impulsionou a criação de um grande

complexo hospitalar. Depois dos anos 50, financiada pela indústria farmacêutica da loucura,

expandiu-se com nova roupagem por meio da sistematização da contenção química

(BEZERRA JR, 2007; AMARANTE, 1995; BASÁGLIA, 1985). A medicalização de todo

sofrimento ou perturbação da vida social e sua subjetividade tornaram a psiquiatria clínica

uma das áreas mais lucrativas da atualidade (TENÓRIO, 2002; RODRIGUES, 2003). Quando

existe associação aceita entre esta linha da medicina com a psicologia ou a psicoterapia, esta

se dá, predominantemente, com as abordagens mais positivistas da área (terapia

comportamental, cognitiva ou cognitivo-comportamental), unindo-se ao psicofármaco no

controle da mente e do comportamento, sem necessariamente passar pela mudança profunda

nos afetos e nas relações (TEIXEIRA, 2008; GUARIDO, 2007; MENDONÇA, 2007).

Na perspectiva de movimentos de Reforma Psiquiátrica, várias experiências

alternativas em saúde mental puderam articular, em diferentes medidas, a psiquiatria social de

base sócio-histórica, incluindo a análise institucional e a anti-psiquiatria, com a

etnopsiquiatria (psiquiatria transcultural), psiquiatria humanística, psicoterapias analíticas,

corporais e sistêmicas, profissões como terapia ocupacional e arte-terapia, além de disciplinas

emergentes no campo (BEZERRA JR, 2007; AMARANTE, 1995).

Estas contribuições têm potencializado mudanças nesse movimento de luta pelo direito

de cuidado com inclusão, cidadania, dignidade, expressão solidária e significação da

experiência (OLIVEIRA & ALESSI, 2005; ABREU, 2008; MENDONÇA, 2012b).

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Apesar da política de saúde mental adotada pela Organização das Nações Unidas,

Organização Mundial de Saúde, Organização Pan-americana de Saúde (WHO, 2004) e pelo

próprio Ministério da Saúde (MS) do Brasil apontar no sentido da transformação do atual

modelo assistencial do setor saúde mental (centrado ainda hoje, no atendimento hospitalar

com característica excludente e manicomial), com vistas a sua progressiva substituição pela

assistência humanizada na comunidade, dados oficiais do governo brasileiro, por meio do

Sistema de Informações Hospitalares do Sistema Único de Saúde - SIH/SUS demonstram alto

custo hospitalar com doenças psiquiátricas, sendo 90-95% dos gastos com saúde mental nos

últimos anos foram destinados ao pagamento de internações psiquiátricas, com cerca de 20%

dos leitos totais e elevada média de permanência (40 a 60 dias) consumindo 10-15% do total

gasto com internação no Brasil, embora com média de apenas 3% do total de internações

(PAIM et al., 2011; MELLO et al., 2007).

A epidemiologia psiquiátrica tem se constituído numa importante área de interesse,

recebendo contribuições das abordagens epidemiológicas e de saúde mental, constituindo

intersecções quantitativas e qualitativas das mesmas. A maioria dos estudos desta interface é

da vertente quantitativa descritiva ou analítica, seja mais próximo da clínica medicalizante

através dos estudos analíticos experimentais (ensaios clínicos) patrocinados pela indústria

farmacêutica e por outro lado pelo interesse da saúde pública na promoção, vigilância e

conhecimento da demanda por atenção, algumas vezes utilizados como base para análises

qualitativas (ALMEIDA FILHO, 1989b).

1.2.2. Epidemiologia e morbidade psiquiátrica

Os Transtornos Mentais, ainda que se apresentem com indicadores relativamente

baixos de mortalidade proporcional direta, quando comparados com os demais grandes grupos

de causas da CID-10 da OMS (Classificação Internacional das Doenças-10ª revisão), possuem

alta morbidade, com frequente comprometimento funcional e redução da qualidade de vida no

âmbito pessoal, familiar e social, incluindo prejuízo no potencial de trabalho, provocando

incapacitações parciais de longa duração e/ou permanentes, suscitando uma alta demanda nos

serviços de saúde, com elevado custo social e econômico (SANTOS & SIQUEIRA, 2010;

MELLO et al., 2007).

Na CID-10, o seu capítulo V (código F00-F99) dedicado aos transtornos mentais e de

comportamento os divide em agrupamentos diagnósticos, cada um deles contendo suas

categorias (três dígitos: uma letra e dois números) e subcategorias (três ou mais dígitos, com a

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presença do “ponto” quando superior a três) com suas especificidades. As distintas

repercussões no funcionamento social e na capacidade de trabalho de determinados

transtornos, apontam para algumas medidas diferentes de promoção, prevenção, vigilância,

diagnóstico, tratamento e reabilitação. São seguintes os agrupamentos (WHO, 1992):

F00-F09: Transtornos mentais orgânicos, inclusive os sintomáticos, agudos e crônicos

(devido à doença física, lesões ou intoxicações incluindo as demências);

F10-F19: Transtornos mentais e comportamentais devidos ao uso de substância

psicoativa (álcool e outras drogas);

F20-F29: Esquizofrenia, transtornos esquizotípicos e delirantes (transtornos psicóticos

não orgânicos);

F30-F39: Transtornos do humor ou afetivos (depressão, transtorno bipolar e mania);

F40-F49: Transtornos neuróticos, relacionados ao “stress” e somatoformes (incluído

ansiedade generalizada, pânico ou ansiedade aguda, estresse pós-traumático, fóbicos,

conversivo-dissociativos, hipocondríaco, neurastenia e somatização);

F50-F59: Síndromes comportamentais associadas a disfunções fisiológicas e a fatores

físicos (transtornos alimentares, do sono, da disfunção sexual, do puerpério, transtornos

psicossomáticos em co-morbidade com doença física categorizada em outro capítulo da CID);

F60-F69: Transtornos da personalidade e do comportamento do adulto (inclui

transtornos de hábitos, impulsos e de identidade sexual);

F70-79: Deficiência mental (leve, moderado, grave e profundo);

F80-F89: Transtornos do desenvolvimento psicológico (espectro autista, relacionados

à fala, linguagem e habilidade escolar);

F90-F98: Transtornos do comportamento e transtornos emocionais que aparecem

habitualmente durante a infância ou a adolescência (hiperatividade, déficit de atenção e

distúrbios de conduta);

F99: Transtorno mental não especificado.

Apesar da falta de marcadores biológicos e a existência, por algum tempo, de

diferentes critérios diagnósticos para os transtornos mentais, dificultando a estimativa de sua

prevalência, a epidemiologia psiquiátrica ofereceu sua contribuição nas últimas décadas.

Houve a padronização de critérios diagnósticos para transtornos mentais nos principais

sistemas de codificação diagnóstica existentes: a CID-10/OMS e o Manual de Diagnóstico e

Estatístico da American Psychiatric Association, na sua IV edição, de 1994 (DSM-IV/APA).

Isto tem permitido a aplicação de questionários de pesquisa totalmente estruturados, mesmo

por não clínicos capacitados e a comparação entre estudos. Mesmo assim, ainda continuam

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pouco frequentes estudos de morbidade psiquiátrica geral no Brasil e no mundo (ALMEIDA-

FILHO & SANTANA, 1997; MELLO et al., 2007).

A maior parte dos estudos de morbidade psiquiátrica para estimar transtornos mentais

específicos na população, conforme classificações oficiais, têm sido realizada nacional e

internacionalmente em duas etapas subsequentes, de triagem (rastreamento ou screening) e de

diagnóstico.

Entre os muitos instrumentos desenvolvidos, dois são mais frequentemente utilizados

na primeira fase em estudos epidemiológicos, o General Health Questionaire - GHQ e o Self

Report Questionnaire - SRQ. Ambos são auto-questionários (questionários auto-aplicáveis)

para avaliação de queixas psíquicas, estando comprometida a resposta em pacientes com

demência, retardo mental ou outros distúrbios na comunicação ou na psicopatologia cuja

dificuldade inviabilize ou dificulte muito a realização da entrevista. As versões mais usadas

são a do GHQ-12 e o SRQ-20. Os pacientes que apresentam um escore na triagem

considerado positivo (maior ou igual a 3-4 no GHQ ou 7-8 no SRQ) são selecionados para

participar da etapa seguinte do estudo, a diagnóstica (HARDING et al., 1980; MARI &

WILLIANS, 1986).

O Composite International Diagnostic Interview - CIDI é uma entrevista estruturada,

elaborada para pesquisa epidemiológica diagnóstica de transtorno mental, compatível com os

diagnósticos a partir da nona versão da CID-OMS e II do DSM-APA, principalmente na

população geral. Necessita de uma semana de treinamento para sua utilização e tem de 90-180

minutos de duração (ROBINS, 1988). O CIDI, testado e validado há bastante tempo, foi

amplamente utilizado em pesquisas, principalmente no exterior, para estimativa de

diagnóstico de morbidade psiquiátrica.

Mais recentemente, a OMS desenvolveu uma versão do CIDI, o WMH-CIDI, para o

Estudo Mundial de Saúde Mental (World Mental Health Survey- Composite International

Diagnostic Interview) produzindo diagnósticos de acordo com o DSM-IV e CID-10

(ANDRADE et al., 2012).

Estudos epidemiológicos de base populacional realizados pela OMS em 28 países

revelaram prevalência de TM ao longo da vida de 18,1%-36,1% (variação interquartil entre os

países). Países orientais (China e Japão) tiveram prevalências ≤ 18,1%, enquanto Estados

Unidos, Brasil, Nova Zelândia, Colômbia, França e Ucânia ≥ 36,1% (ALONSO, 2012).

Estudos anteriores em diferentes países da Europa e dos Estados Unidos encontraram entre 25

e 32,7% ao longo da vida e de 9,6-25% no ano estudado (CAMPOS-ARIAS & MIRANDA,

2008; FORTES et al., 2008; MELO et al., 2009).

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Segundo o Epidemiological Catchment Area Study (ECA), estudo multicêntrico

realizado nos Estados Unidos da América (EUA), 40-60% das demandas de saúde mental

foram abordadas por médicos generalistas em unidades básicas de saúde, obteve-se

prevalência de 32,7% de TM ao longo da vida e 15,0% a 25,0% nos últimos doze meses. As

mulheres receberam 29,4 milhões de visitas, em comparação com 18,5 milhões para os

homens. De todas as doenças mentais relacionadas com as visitas domiciliares nesse país, a

maior proporção (31%) foi para pacientes com algum transtorno depressivo, seguido por

esquizofrenia (23%) e com outros transtornos psicóticos. No Estudo Nacional de Co-

morbidade (National Comorbidity Study - NCS), realizado nos Estados Unidos houve uma

prevalência de 26,2% a 47,7% ao longo da vida (VIANA & ANDRADE, 2012; CAMPOS-

ARIAS & MIRANDA, 2008, MELO et al., 2009).

Conforme o CDC (Center for Disease Control and Prevention/United States

Departmentof Health and Human Services), nos EUA o percentual de atendimentos

ambulatoriais e de emergência relacionados ao álcool e outras drogas é maior do que para

outros transtornos mentais (CDC, 2011).

Em estudo multicêntrico patrocinado pela OMS, na década de 90 (Problemas

psicológicos em cuidados gerais de saúde-PPGHC/OMS) a prevalência de transtornos

mentais, em serviços de cuidados gerais de saúde teve uma média de 23% em 15 países,

incluindo o Brasil, mostrando que um percentual importante de pacientes com sofrimento

mental tende a procurar tratamento com clínicos gerais (MELO et al., 2009; FORTES et al.,

2008).

Apesar da magnitude no mundo todo, geralmente, bem menos de 50% dos pacientes

que apresentam transtornos psíquicos atendidos por clínicos não especialistas em psiquiatria

são identificados como portadores de distúrbios nesta categoria (SARTORIUS et al., 1993). O

fato dos clínicos gerais frequentemente não estarem suficientemente preparados para

diagnosticar e tratar transtornos mentais, mesmo os médicos da atenção básica, como na

Estratégia Saúde da Família (ESF), que foi concebido no país para garantir a assistência

integral e com alto nível de resolutividade dos problemas de saúde mais comuns da

população, é um dos mais importantes aspectos envolvidos nesta dificuldade diagnóstica

(LAZZARO & ÁVILA, 2004; NUNES et al., 2007).

Enquanto a metade dos pacientes, corretamente diagnosticados pelos clínicos é tratada

com psicotrópicos e/ou psicoterapia, a maioria dos casos não identificados precocemente é

também tratada, mas com produtos inespecíficos (SARTORIUS et al., 1993). O custo social

destes transtornos não diagnosticados nesta categoria e tratados inadequadamente é elevado

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(duas vezes maior que o impacto dos transtornos psiquiátricos mais graves como a

esquizofrenia), favorecendo as repetidas buscas dos serviços de saúde, o aumento do consumo

de medicamentos paliativos, controlados ou não, o afastamento do trabalho, internações

desnecessárias, a diminuição da capacidade de trabalho e a cronificação da doença que eleva

ainda mais o número de internações.

Muitos estudos realizando apenas uma etapa com questionários de triagem têm

descrito seus resultados, a frequência dos positivos (casos suspeitos), como uma estimativa de

prevalência de sofrimento mental na população estudada, sem especificações diagnósticas.

Mesmo sabendo-se da maior prevalência de sintomas de ansiedade e depressão na população

geral, bem como da utilidade da estimativa de sintomas inespecíficos de morbidade

psiquiátrica na carga de sofrimento, estes instrumentos não foram construídos para

diagnosticar, mas apenas rastrear.

A terminologia Transtorno Mental Comum (TMC), atualmente é utilizada para se

referir a uma situação na qual a pessoa, mesmo não preenchendo os critérios formais para

diagnósticos de transtornos específicos de ansiedade e/ou depressão nos sistemas oficiais de

classificação diagnóstica (CID-10 e DSM-4) apresenta sintomas não psicóticos marcantes,

muitas vezes produtores de incapacidade funcional comparável ou até pior do que quadros

crônicos bem estabelecidos (MARAGNO et al., 2006).

Como o capítulo V da CID-10 se refere aos Transtornos Mentais e Comportamentais,

com as mesmas iniciais desta classificação de distúrbios, muitos leitores e pesquisadores de

áreas não psiquiátricas diversas interpretam os resultados de um (Transtorno Mental Comum)

pelo outro (Transtornos Mentais e do Comportamento), chegando a fazer revisão de literatura

em introdução de artigos ou em artigos de revisão considerando resultados com questionários

de triagem no mesmo nível de instrumentos diagnósticos ou da avaliação psiquiátrica (Santos

& Siqueira 2010).

Estudos na população geral em países desenvolvidos, a prevalência de Transtorno

Mental Comum varia de 7 a 30% (WANG et al., 2003).

Além de estudos epidemiológicos descritivos de estimativa de prevalência de

morbidade psiquiátrica na população (sem população de comparação ou controle), estudos

epidemiológicos analíticos do tipo observacionais (com grupo controle, mas sem intervenção)

têm sido utilizados para estimar potenciais fatores associados (ou de risco) à prevalência dos

transtornos mentais em comparação com a população geral ou com outros problemas de

saúde. São denominados estudos transversais, caso-controle e coorte (ANDRADE &

ZICKER, 1997; PEREIRA, 1995; FLETCHER et al., 2003; ALMEIDA FILHO &

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ROUQUAYROL, 2003; MEDRONHO et al., 2003).

Os estudos analíticos observacionais do tipo coorte (prospectiva ou retrospectiva)

partem da variável de exposição (risco ou proteção potencial) e observam ao longo do tempo

em direção ao futuro a ocorrência do evento ou doença nos expostos e no grupo controle (não

expostos). Os estudos do tipo caso-controle possuem lógica retrospectiva, partindo dos casos

com o desfecho ou doença de interesse e observando no passado a presença de potenciais

fatores associados em comparação com a sua presença (sem o desfecho) no grupo controle

(PEREIRA MG, 1995; ALMEIDA FILHO & ROUQUAYROL, 2003).

Os estudos epidemiológicos analíticos de prevalência, chamados de transversais ou

seccionais, apesar de não serem os mais indicados para analisar hipótese de fatores

etiológicos, de causalidade, risco ou determinação, por questões operacionais e econômicas,

são os mais realizados para estimar fatores associados. Estudo de prevalência pode ser,

portanto, apenas descritivo como também analítico (MARTELLI, 1997; PEREIRA MG,

1995; ALMEIDA FILHO & ROUQUAYROL, 2003; FLETCHER et al., 2003; MEDRONHO

et al., 2003).

São mensurados nos estudos analíticos de prevalência os potenciais fatores de

associação entre a variável analisada e o desfecho em questão, comparando-se a prevalência

do evento (agravo, dano, doença) na população exposta à variável potencialmente de risco (ou

proteção) comparada à prevalência no grupo dos controles (não expostos à variável).

Pelo fato das medidas de exposição e dano serem realizadas ao mesmo tempo, torna

difícil separar causa e efeito na temporalidade do processo saúde-doença, não permitindo

inferir causalidade. Testes de modelagem estatística podem contribuir na avaliação do efeito

de uma exposição na presença de outros fatores potenciais de risco possivelmente associados,

podendo ajustar a prevalência por mais de uma variável de confusão ao mesmo tempo

(MARTELLI, 1997; PEREIRA MG, 1995; FLETCHER et al., 2003; ALMEIDA FILHO &

ROUQUAYROL, 2003; MEDRONHO et al., 2003).

Em estudos de morbidade psiquiátrica para avaliação de fatores associados à

prevalência geral, na última década foram encontrados, predominantemente os transversais,

tendo em vista suas vantagens relatadas (tempo de execução e custo menores), estimando-se a

associação potencial das variáveis com o transtorno mental.

Os transtornos mentais têm sido classificados também quando à sua gravidade. O

conceito de doença mental grave inclui situações onde há conseqüente necessidade de uso de

medicamento ou hospitalização (ou a ausência do medicamento possa agravar os sintomas

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e/ou requerer hospitalização), prejuízo ocupacional ou problemas relacionais. Doença mental

persistente pode levar a incapacidade prolongada ou persistente (KESSLER et al., 1996). Os

transtornos mentais mais comumente relacionados a maior gravidade são: psicose não

orgânica (esquizofrenia), transtorno bipolar do humor, depressão maior, transtornos mentais

devido ao uso de álcool e outras substâncias psicoativas e transtornos neuróticos graves

(transtorno do pânico e transtorno obsessivo-compulsivo grave).

Além de alta prevalência e gravidade dos TM, seu impacto na qualidade de vida e

saúde da população alcança proporções ainda maiores quando se acrescenta o fato deste grupo

de transtornos ser considerado, ora como fator de risco, ora em interação com comorbidade

com outras grandes causas de morbimortalidade populacional como acidentes e violências

(acidentes de trânsito, de trabalho, homicídios, suicídios, violência doméstica e outras)

doenças crônico-degenerativas (do sistema osteomuscular, neurológico, circulatório,

respiratório, endócrino-metabólico) incluindo as neoplasias, doenças auto-imunes,

imunoalérgicas e até as infecciosas (KOHN, 2007; APA, 1994; WHO, 1992a).

Alguns fatores ou comportamentos de risco incluem a dieta (obesidade), consumo de

substâncias (álcool, tabaco, drogas injetáveis), sedentarismo, sexo desprotegido, não uso de

cinto de segurança e conduta violenta (Mello et al., 2007; KESSLER, 1996). Diferentes

padrões de co-morbidade psiquiátrica e psiquiátrica/física também têm sido identificados em

mulheres e homens (ANDRADE et al., 2006).

1.3. Prevalência de morbidade psiquiátrica no Brasil

No Brasil, observa-se ainda uma carência de dados epidemiológicos sobre o perfil de

morbidade psiquiátrica na população, dificultando o planejamento, a organização, o

gerenciamento e a avaliação dos serviços de saúde mental no país.

Apesar de um número considerável de estudos, uma revisão de ALMEIDA-FILHO e

SANTANA (1997) classifica a maioria deles, realizados até a última década do século

passado, como estudos “pré-epidemiológicos”, desenvolvidos com grupos em tratamento,

empregando amostragem e técnicas de análise inadequadas ou deficientes.

Estudos epidemiológicos de problemas específicos como álcool e drogas (ALMEIDA-

FILHO et al., 2005, 2007; MELO et al., 2009) ou realizados em segmentos ou faixa etária

específica da população, como exemplo crianças, adolescentes (BORDIN & PAULA, 2007;

MELO et al., 2009) e idosos (BLAY et al., 2007; MELO et al., 2009), também são

identificados.

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Com relação à morbidade psiquiátrica geral, identifica-se um número ainda menor de

estudos no país, sendo quase todos baseados em dados levantados em serviços hospitalares ou

em uma única área metropolitana (MARI et al., 2007; MELO et al., 2009).

Revisão realizada em 2012, durante a execução desta dissertação (MENDONÇA,

2012c), buscou identificar estudos de prevalência de morbidade psiquiátrica geral em adultos

no Brasil, de base populacional, publicados nos últimos 20 anos, produzindo como desfecho a

prevalência de transtornos mentais com diagnósticos de acordo com os sistemas oficiais da

Classificação Internacional das Doenças da Organização Mundial de Saúde em sua nona ou

décima revisão (CID 9-10/OMS) e/ou do Manual de Diagnóstico e Estatístico da Associação

Psiquiátrica Americana em suas terceiras ou quartas edições (DSM III-IV/APA).

Após exclusão dos estudos que não preenchiam os critérios de seleção e pareamento

dos incluídos, agrupando-se as duplicações de mesma base ou bases diferentes, somente três

estudos preencheram os critérios de inclusão nas fontes de dados pesquisadas e foram

selecionados para leitura completa.

Nestes três inquéritos de morbidade psiquiátrica geral de base populacional, como uma

geração nova de pesquisa epidemiológica nesta área, foi estimada a prevalência de TM por

toda a vida e nos últimos 12 meses, com especificação de subgrupos diagnósticos.

De publicação mais antiga, encontrou-se o Estudo Brasileiro Multicêntrico de

Morbidade Psiquiátrica, o maior deles, que foi realizado em 03 áreas metropolitanas entre

1990-1991: São Paulo, Porto Alegre e Brasília (ALMEIDA-FILHO et al., 1992, 1997). Ele

incluiu 6.476 pessoas maiores de 15 anos em amostra aleatória por unidade censitária em cada

local, que foram submetidos ao Questionário de Morbidade Psiquiátrica em Adultos - QMPA

como instrumento de triagem na primeira fase. Todos os residentes no domicílio foram

selecionados para triagem e não uma amostra aleatória de indivíduos, havendo substituições

de domicílios por ausência ou recusa. Em São Paulo, apenas 03 dos 48 distritos foram

incluídos (Brasilândia, Vila Guilherme e Aclimação), escolhidos para representar as três

classes sociais. Uma subamostra aleatoriamente selecionada (30% dos casos suspeitos e 10%

dos não suspeitos) realizou posteriormente entrevista psiquiátrica aberta com uso do

Inventário de Sintomas do DSM-III por clínico treinado para estabelecer o diagnóstico

(ANDREOLI et al., 2000).

A estimativa de prevalência global no ano e na vida foi respectivamente de 19% e 31%

em São Paulo, 33,75% e 42,5% em Porto Alegre, 34,1% e 50,5 % em Brasília. Os subgrupos

mais prevalentes no ano foram transtornos de ansiedade (cerca de 10% em São Paulo e Porto

Alegre e 18% em Brasília), seguido pelos transtornos depressivos e aqueles ligados ao uso de

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substâncias, principalmente o álcool. Houve grande variabilidade na estimativa de prevalência

de depressão (3% em São Paulo e Brasília e 10% em Porto Alegre) e maior similaridade em

alcoolismo (8%). Considerando-se as diferentes cidades, houve elevada prevalência de

transtornos mentais, de 19 a 34% no ano e de 30 a 50% na vida toda na população estudada.

Um segundo estudo da primeira década pesquisada foi realizado em 1996, o Estudo

Epidemiológico de Área de Captação em São Paulo (ANDRADE et al., 1997, 1999, 2002),

restrito à Vila Madalena e Jardim América, bairros de predomínio de classe média e alta,

levando ao questionamento de sua representatividade e consequente validade externa (MARI

et al., 2007). Foram incluídas 1.464 pessoas maiores de 18 anos em amostra aleatória de um

único indivíduo por domicílio na faixa de 25 e 60 anos e todos os indivíduos de idade

diferente (entre 18 e 25 e acima de 60). Utilizou-se a versão 1.1 do Composite International

Diagnóstic Interview - CIDI 1.1 em entrevista estruturada por leigos treinados para

diagnósticos compatíveis com a edição revisada do DSM-III.

A prevalência geral no ano foi estimada em 18,5% e para a vida toda 33,1% (excluídos

do cálculo transtornos relacionados ao uso de nicotina). Incluindo os transtornos mentais

devidos ao consumo de nicotina, do total da amostra, a prevalência geral estimada no ano

elevou de 18,5% para 26,8% e para a vida toda de 33,1% para 45,9%. Os agrupamentos e

categorias específicas de transtornos mais prevalentes, respectivamente no ano e na vida toda

foram: dependência da nicotina (11,4%, e 25%), transtornos do humor (7,6% e 18,5%), sendo

o episódio depressivo o principal diagnóstico deste agrupamento (7,1% e 16,8%), transtornos

de ansiedade (7,7% e 12,5%), transtorno somatoforme (4,2% e 6%) e transtornos relacionados

ao álcool (4,5% e 5,5%).

Na última década, o novo estudo planejado quanto a sua metodologia e trabalho de

campo em colaboração internacional entre 30 países tiveram seus resultados publicados

recentemente (VIANA et al., 2009; ANDRADE et al., 2012; VIANA & ANDRADE, 2012).

O São Paulo Megacity Estudo Epidemiológico de Saúde Mental foi realizado na região

metropolitana de São Paulo. Os dados foram coletados por entrevistadores leigos treinados em

39 municípios da grande metrópole, em amostra probabilística de maiores de 18 anos,

multiestratificada por domicílios, sem substituição, com único entrevistado por residência,

entre maio de 2005 e abril de 2007, utilizando-se a versão do Composite International

Diagnóstic Interview desenvolvido para o Estudo Mundial de Saúde Mental (World Mental

Health Survey) pela OMS (WMH-CIDI), produzindo diagnósticos de acordo com o DSM-IV

e CID-10.

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Foram entrevistadas 5.037 pessoas com uma taxa de resposta global de 81,3% para os

módulos clínicos de transtornos nucleares (humor, ansiedade, controle de impulsos,

decorrentes do uso de substâncias psicoativas e comportamento suicida). Quando positivo na

parte de triagem do instrumento, seguiu-se o módulo específico de diagnóstico. Uma sub-

amostra de 2.942 pessoas, composto por indivíduos com diagnóstico de pelo menos um

transtorno considerado nuclear e uma amostra aleatória de 25% das pessoas que não tiveram

diagnósticos nucleares foram avaliados para módulos clínicos complementares (para

diagnóstico de transtornos obsessivo-compulsivos, de estresse pós-traumático, neurastenia,

jogo patológico, alimentares, pré-menstruais, de personalidade e psicóticos) e não clínicos

(dados sociodemográficos e outros possíveis fatores relacionados).

A prevalência estimada para o ano foi de 29,6% e para toda a vida 44,8% (ANDRADE

et al., 2012; VIANA & ANDRADE, 2012). Os agrupamentos de transtornos mais prevalentes

no ano e na vida foram os transtornos de ansiedade (19,9% e 28,1%), humor (11% e 19,1%),

controle de impulsos (4,3% e 8,4%) e por uso de substâncias (3,6% e 11%). Nesse estudo, as

categorias diagnósticas de maior prevalência na vida foram: depressão maior (19,1%), fobia

específica (12,4%) e abuso de álcool (9,8%). Houve alta co-morbidade (23,2% dois ou mais e

13,4% três ou mais transtornos). A comorbidade é uma condição frequente e mais grave do

que cada agravo isolado, podendo sua mensuração permitir identificar possíveis fatores

relacionados (LOPES, 1999; ANDRADE et al., 2012). Apesar da importância do estudo, as

psicoses orgânicas e não orgânicas (esquizofrenia, transtornos esquizotípicos e delirantes),

geralmente graves, não foram avaliados nesta pesquisa.

Não há nenhum estudo representativo da prevalência geral de TM no Brasil como um

todo. O reduzido número de estudos de prevalência de morbidade psiquiátrica global,

agrupamentos e categorias, de base populacional, com amostra probabilística, a utilização de

instrumentos de triagem e diagnóstico com sistemas e critérios diagnósticos diversos,

metodologia de amostragens diferentes e populações dos estudos geograficamente localizadas

(com características sociodemográficas e culturais específicas), limita o nível de consistência

da análise comparativa e evolutiva, bem como a generalização dos dados para o país. Apesar

das questões metodológicas, os resultados dos estudos publicados na penúltima década são

consistentes com a literatura internacional (MENDONÇA & TURCHI, 2012).

A metodologia internacionalmente padronizada e aplicada no último estudo realizado

em São Paulo facilita a comparação com indicadores de outros países. Os achados sugerem,

no entanto, que a morbidade psiquiátrica no Brasil é semelhante à Europa e EUA quanto à alta

prevalência em adultos na população geral, porém com valores mais elevados e tendência

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crescente ao final das décadas estudadas. Possível fator relacionado é a associação entre o

aumento da longevidade e do crescimento econômico com urbanização e altíssima

desigualdade social no país (ANDRADE et al., 2012).

Diante da pequena produção científica de morbidade psiquiátrica no campo da saúde

pública, baseando-se em indicadores norte-americanos, ajustados pela população brasileira,

estima-se que no país, a prevalência de Transtorno Mental seria de 24,2% no ano, com 6,0 %

de transtorno mental grave e 3,1% de transtorno mental persistente; 12% da população

necessitariam de cuidado especializado em saúde mental e 5% necessitaria de internação

psiquiátrica ao longo da vida (KESSLER et al., 1996, MARI et al., 2007, BRASIL, 2007;

ANDREOLLI, 2007; DELGADO et al., 2007).

No Brasil os transtornos mentais representam 3% das internações no SIH-SUS,

principalmente por psicose e por abuso de substâncias, porém devido à longa duração, com

32% do total das despesas do SUS com internação hospitalar e 86% das despesas totais com

saúde mental (PAIM et al., 2011; ANDREOLLI, 2007; BODEGA, 2002), mesmo com a

redução de leitos psiquiátricos nas últimas décadas, implantação de serviços comunitários

(Centros de Atenção Psicossocial) e expansão da atenção básica (Estratégia Saúde da

Família).

Além dos estudos de morbidade psiquiátrica na população geral com critérios da CID

ou DSM, estudos que tem utilizado instrumentos de triagem diagnóstica, principalmente o

SRQ-20, de fácil e rápida aplicação, para estimar Transtornos Mentais Comuns (TMC) na

população geral, encontraram no país uma prevalência de positividade no teste variando de

22,7 e 36% (DE LIMA et al., 1999; LUDEMIR & LEWIS, 2001; LUDERMIR & MELO-

FILHO, 2002; COSTA & LUDERMIR, 2005, LUDERMIR, 2008; ANSELMI et al., 2008;

COELHO et al., 2009; SANTOS & SIQUEIRA, 2010).

Dentre os estudos analíticos para potenciais fatores de risco para transtorno mental no

Brasil, a maioria deles foram estudos transversais, destacando-se um estudo em coorte de

nascidos vivos no sul do país (ANSELMI et al., 2008).

A diferença entre os sexos foi evidente em vários estudos com as mulheres tendo

positividade global duas vezes maior que os homens. Os TM de ansiedade e humor foram

mais frequentes em mulheres e os transtornos mentais por uso substâncias psicoativas

(incluindo o álcool), transtornos de personalidade anti-social e esquizotípica, transtornos do

controle de impulsos (conduta) e de hiperatividade com déficit de atenção na infância e na

vida adulta de maior proporção nos homens. Quando a prevalência é semelhante nos sexos,

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são observadas diferenças na idade de início, perfil sintomatológico e resposta ao tratamento

(ANDRADE et al., 2006; ANDRADE & VIANA, 2012, ANDRADE et al., 2012 ).

No estudo de base populacional São Paulo Megacity, exposição à violência foi

associada com todos os tipos de transtornos, migrantes tiveram baixa prevalência em

comparação aos moradores estáveis (exceto subgrupos vulneráveis de migrantes que vivem

em áreas mais necessitadas), a exposição à urbanicidade alta foi associada com transtornos de

controle dos impulsos e baixa escolaridade e privação social elevada com transtornos por uso

de substâncias (ANDRADE et al., 2012; ANDRADE & VIANA, 2012).

Outros estudos também referiram desigualdades sociais, analfabetos (4 vezes mais

depressão que universitários), baixo nível de escolaridade, baixa renda, queda recente sobre a

renda, condições precárias de habitação, baixo apoio social, estado conjugal divorciado ou

viúvo, profissionais de saúde, educação e segurança, dentre outros (ALMEIDA-FILHO et al.,

1997; COSTA & LUDERMIR, 2005; CAMPO-ARIAS & MIRANDA, 2008).

A maior prevalência de morbidade psiquiátrica em população economicamente

desfavorável é agravada pelo menor apoio social disponível para essa, menor informação

sobre as possibilidades terapêuticas e piores condições de acesso aos serviços, com ínfimo

acesso a terapias não biológicas, em particular as psicoterapias (KESSLER, 1996,

ALMEIDA-FILHO et al., 1997; MELLO et al., 2007).

1.4. Saúde e trabalho

1.4.1. Da medicina do trabalho à saúde do trabalhador

Na organização clínico-epidemiológica da relação direta setor saúde e trabalho,

observa-se historicamente o desenvolvimento de três modelos principais: medicina do

trabalho, saúde ocupacional e saúde do trabalhador (MENDES & DIAS, 1991).

A Medicina do Trabalho surgiu nas fábricas, no século XIX, no período de franca

revolução industrial, onde trabalhadores foram submetidos como objetos-máquina à alta

exploração da força de trabalho, com repercussões na saúde e na produção, como uma

atividade médica de concepção positivista e mecanicista, exercendo diretamente o médico,

sob a confiança do empregador, o controle sobre a força de trabalho, focando-se na adequação

desta às necessidades de produtividade, lucro e menor absenteísmo, com o retorno o mais

rápido possível do trabalhador ao serviço (GOMEZ & COSTA, 1997).

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No período pós-guerra, devido a interesses econômicos de empresários e seguradoras,

preocupados com a produção e com as indenizações, respectivamente, desenvolveu-se a

Saúde Ocupacional. Esta teve como proposta a ampliação do controle e intervenção médica

no ambiente, num momento onde a teoria da multicausalidade natural apontava para a

necessidade de ampliar a medicina do trabalho, via racionalidade científica, para outras

disciplinas e profissões. Manteve o referencial positivista da medicina, porém com foco nos

riscos ambientais isolados, tornando-se um ramo da saúde ambiental e reduzindo o homem a

sua condição animal biológica (GOMEZ & COSTA, 1997).

Com o movimento social e sindical dos trabalhadores nos anos 60, impulsionando

reformas trabalhistas e sociais, entre elas reformas sanitárias, resgatando sentidos e

significados humanos da existência, aliados com a luta por conquista de direitos e de

cidadania, surge uma nova tendência na saúde pública, a Saúde do Trabalhador (CHEIBUB,

2000; GOMEZ & LACAZ, 2005).

Nesta perspectiva, o enfoque da determinação social (epidemiologia social) é aliado às

questões ligadas à subjetividade (etnoepidemiologia) e análise ampliada de fatores de risco

(epidemiologia clínica), privilegiando o processo saúde-doença em sua relação direta com o

trabalho enquanto organizador da vida social. A Saúde do Trabalhador busca valorizar e

facilitar a socialização das informações e a participação do trabalhador no processo de

trabalho como sujeito ativo na construção de sua própria história e na apropriação da

dimensão humana e social de seu potencial produtivo (FERNANDES, 2003; BUSS &

FILHO, 2007).

1.5. Saúde mental e trabalho

Estudos realizados nas bases de dados eletrônicas e catálogos de pós-graduação no

Brasil revelam que nos últimos anos a temática “saúde mental e trabalho” é a assunto de

maior interesse sobre saúde do trabalhador, sendo a maioria sobre os profissionais de saúde,

de saúde mental, policiais e da educação (ALMEIDA et al., 2005; SANTANA, 2006;

BÁRBARO et al., 2009; MUNDIM, 2012). Todavia, pouco se produz sobre os marcos

teórico-conceituais que orientam o campo (FERNANDES et al., 2006).

Com relação aos modelos teóricos estruturados na interface entre saúde mental e

trabalho, de um lado com influência direta da medicina organicista e suas representantes (a

clássica clínica médica biogicista, a psiquiatria clínica e a medicina do trabalho), de outro

lado a saúde do trabalhador com a subjetividade da psique (psicodinâmica e cultura) e o olhar

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sobre as relações sociais e organização do trabalho e da vida cotidiana, mais próxima da saúde

mental e da saúde coletiva. Nestas confluências, suas principais correntes específicas

relacionadas na literatura são: ergonomia, do estresse, da psicopatologia do trabalho, do

desgaste e a das condições gerais de vida e trabalho, também denominado modo de vida

(FERNANDES et al., 2006)

A ergonomia, apesar de contribuições historicamente importantes, aborda de forma

quantitativa as condições observáveis no ambiente de trabalho, focando seus estudos em

riscos específicos e isolados (ainda que somados), para doenças específicas em detrimento da

multicausalidade por ações simultâneas ou interações, da subjetividade do trabalhador e da

dimensão político-social na organização do trabalho e sobre determinação da saúde-doença

(WISNER, 1987; FISCHER, 1989).

A abordagem do estresse relaciona a organização do trabalho e a alienação dos

trabalhadores diante da urbanização e industrialização, com ameaças difusas, velocidade e

urgência nas demandas do trabalho e a possibilidade de controle deste por parte do

trabalhador, aprofundando na quantificação do nível de estresse em ambientes de trabalho e

ocupações específicas (GARDELL, 1982; KARASEK, 1990).

A psicopatologia ou psicodinâmica do trabalho, de base psicanalítica, está centrada na

subjetividade do trabalhador, particularmente na sua percepção do significado do conteúdo do

trabalho e satisfação (prazer) com o mesmo (DEJOURS, 1986; DEJOURS &

ABDOUCHELI, 1994)

As teorias do desgaste e do modo de vida se concentram mais na dimensão social do

trabalho. A primeira enfatiza a capacidade do trabalhador se desgastar (sobrecarregar) e se

recompor diante de determinados contextos, descrevendo síndromes mentais relacionadas ao

trabalho, como o caso do Burn-Out (LAURELL, 1989; SELIGMANN-SILVA, 1994).

A vertente das condições gerais de vida e trabalho se aprofunda mais no processo de

trabalho, no papel da estrutura social e na dinâmica do mercado de trabalho no modo de vida

e na inserção do indivíduo na estrutura do trabalho (POSSAS, 1989).

Em pesquisas para avaliar fatores psicossociais estressores relacionados ao trabalho,

incluindo questões da organização do trabalho e sua interação com o trabalhador, dois

modelos, por vezes associadas, tem predominado na literatura para avaliar a percepção do

trabalhador sobre estes pontos: o modelo demanda-controle (KARASEK, 1979) e o modelo

desequilíbrio esforço-recompensa (SIEGRIST, 1996).

No modelo demanda controle ampliado, trabalhadores expostos a contextos de alta

demanda psicológica (sobrecarga exigida e dificuldades na execução), baixo controle

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(autonomia e competência decisória diminuídas) e baixo apoio social (precariedade nas

relações com pares e superiores com isolamento social) estariam mais vulneráveis à baixa na

auto-estima e menosvalia, predispondo o adoecimento e comprometimento da capacidade

laboral e de autoregulação. O instrumento utilizado neste modelo (Job Content

Questionnaire) é um questionário com 49 itens sobre o conteúdo do trabalho (KARASEK,

1981; JOHNSON & HALL, 1988; ARAÚJO et al., 2003; STANFELD & CANDY, 2006).

O desequilíbrio esforço-recompensa (dar e receber) aponta a pior situação com alto

esforço empreendido com baixa recompensa (insatisfação da expectativa de reposição

econômica, controle do status progressivo na carreira e reconhecimento afetivo) e excesso de

comprometimento (disponibilidade e dedicação exagerada) com o trabalho em associação. Em

consequência há descarga autonômica, alteração na capacidade decisória e na manutenção de

estilo de vida saudável. Utiliza-se para avaliação do desequilíbrio um questionário (Effort-

Reward Imbalance Questionaire) com 46 itens (SIEGRIST, 1996; STANFELD & CANDY,

2006).

Um desafio epistemológico se coloca em questão no desenvolvimento de estudos

sobre saúde e trabalho envolvendo contextos e condições diferenciais de trabalho e inserções

profissionais específicas (com potencial maior peso de determinantes particulares, isolados ou

em interação), sem abster-se e sem aprofundar-se um mínimo suficiente na discussão da

dimensão subjetiva do trabalhador, da compreensão do processo saúde-doença, processo

saúde-doença mental, processo de trabalho e condições político-sociais e econômicas

presentes em determinado momento histórico, associado na atualidade a muita desigualdade

social e à precariedade dos vínculos (JACQUES, 2003; FERNANDES, 2006; ZANELLI,

2010).

Estudos epidemiológicos de metodologia quantitativa (descritivos ou analíticos) ou

qualitativa sobre morbidade psiquiátrica e saúde mental, relacionados ou não ao trabalho,

encontram-se, portanto, expostos aos conflitos de interesses e contradições presentes nas

diferentes concepções das abordagens do processo saúde-doença, interesses e contradições

estes que estão também presentes na sociedade como um todo (JACQUES, 2003).

1.6. Vigilância Epidemiológica e Saúde Mental do Trabalhador no Brasil

A epidemiologia oferece recursos para todo o processo teórico-metodológico em saúde

coletiva, desde a elaboração e avaliação de políticas, sejam gerais ou de promoção e atenção à

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saúde. Uma das áreas de grande contribuição metodológica direta e particular da

epidemiologia nos serviços de saúde pública é a vigilância.

Embora recentemente tem-se trabalhado com o conceito de vigilância em saúde,

agregando áreas com funcionamento quase independente como a vigilância epidemiológica,

ambiental, sanitária e saúde do trabalhador, ainda muito há que caminhar para sua integração.

A trajetória da saúde do trabalhador no país esteve durante quase todo o tempo e

instâncias mais vinculado à vigilância sanitária, com a questão do ambiente de trabalho e seus

riscos ambientais do que à vigilância epidemiológica.

A vigilância epidemiológica historicamente estruturou-se tendo como foco central a

notificação compulsória de doenças transmissíveis, principal grupo relacionado com altas

taxas de mortalidade por doenças agudas, baseando-se inicialmente no modelo ecológico da

doença e na epidemiologia clássica, tendo por objeto o controle das doenças e dos fatores de

risco, incluindo estratégias como vacinação, controle de vetores, de alimentos e de água para

consumo humano; ou ainda, a criação de barreiras de isolamento de regiões ou pessoas

contaminadas, também mais facilmente incorporadas na lógica do modelo biomédico

(TEIXEIRA, 1998).

O aumento da expectativa de vida, advinda da melhoria das condições de saúde e

socioeconômica da população, corroborou com a transição demográfica e epidemiológica,

inicialmente ocorrida em países do primeiro mundo e já na década de 60 iniciadas no Brasil,

com aumento da mortalidade proporcional por doenças crônico-degenerativas, representando

um novo desafio na formulação de políticas públicas de saúde brasileira (PAIM et al., 2011;

ARAÚJO, 2012).

Diante disto, os sistemas de informação em saúde se tornaram recursos fundamentais

da vigilância na análise e acompanhamento de situação de saúde-doença na população. Os

principais sistemas nacionais relacionados estão focados na morbidade (Sistema Nacional de

Agravos de Notificação-SINAN), na mortalidade (Sistema de Informação sobre Mortalidade-

SIM) e nos nascimentos (Sistema de Informação sobre Nascidos Vivos-SINASC) (LIMA,

2009).

Apesar das doenças relacionadas ao trabalho e saúde mental terem ficado excluídas da

vigilância oficial, após a constituição de 88 e a implantação, regulamentação do Sistema

Único de Saúde - SUS e o papel do controle social através das conferências temáticas e

conselhos de saúde, este cenário começou a mudar. Já em 1997 o Conselho Nacional de

Saúde, recomendava ao Ministério da Saúde a publicação da Lista de Doenças Relacionadas

ao Trabalho (CNS, 1997).

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Em maio de 1999, um avanço significativo no tocante à vigilância e à saúde dos

trabalhadores no país foi a publicação na nova Lista de Doenças Profissionais Relacionadas

ao Trabalho (Decreto nº 3.048/99, DOU 15/05/1999 do MPAS, Regulamento da Previdência

Social, Anexo II, Lista B), onde aparecem os transtornos mentais. No mesmo ano, a portaria

nº. 1339/GM de 18 de novembro de 1999 do Ministério da Saúde adotou esta lista de doenças

relacionadas ao trabalho como referência dos agravos originados no processo de trabalho no

SUS para uso clínico e epidemiológico. Ao lado da lista de cada agravo, encontram-se

referidos os possíveis “agentes etiológicos ou fatores de risco de natureza ocupacional”

relacionados a eles.

A publicação do Manual de Procedimentos sobre as Doenças Relacionadas ao

Trabalho representou um importante avanço para consolidação da lista (MINISTÉRIO DA

SAÚDE , 2001) que contem a relação dos agravos, com código da CID-10, onde no capítulo

10 os transtornos mentais potencialmente relacionados ao trabalho foram contemplados com

12 itens: I. Demência em Outras Doenças Específicas Classificadas em Outros Locais

(F02.8); II. Delirium, não Sobreposto a Demência (F05.0); III. Transtorno Cognitivo Leve

(F06.7); IV. Transtorno Orgânico de Personalidade (F07.0); V. Transtorno Mental Orgânico

ou Sintomático não Especificado (F09.-); VI. Alcoolismo Crônico Relacionado com o

Trabalho (F10.2); VII. Episódios Depressivos Relacionados com o Trabalho (F32.-); VIII.

Estado de “Stress” Pós-Traumático” (F43.1); IX. Neurastenia (Inclui a “Síndrome de Fadiga”)

(F48.0); X. Outros Transtornos Neuróticos Especificados (Inclui a “Neurose Profissional”)

(F48.8); XI. Transtorno do Ciclo Vigília-Sono Devido a Fatores Não-Orgânicos” (F51.2); XII.

Sensação de Estar Acabado (“Síndrome de Burn-Out”; “Síndrome do Esgotamento

Profissional”) (Z73.0)

Em 2002 foi disposta a Rede Nacional de Atenção Integral à Saúde do Trabalhador

(RENAST), conforme nº 1.679/GM, de 19 de setembro de 2002, o que estimulou a expansão

de uma rede de CEREST (Centro Regional de Saúde do Trabalhador) (MINISTÉRIO DA

SAÚDE , 2002).

A partir da portaria Nº 777/GM em 28 de abril de 2004, os transtornos mentais

relacionados ao trabalho, bem como outros grupos de agravos relacionados ao trabalho,

passaram a ser de notificação compulsória em unidades sentinelas no SUS (MINISTÉRIO DA

SAÚDE, 2004).

Esta lista está presente no Anexo III da portaria Nº 104 de 25 de janeiro de 2011, que

trata de todas as doenças, agravos e eventos de notificação compulsória no país, em acordo

com texto revisado do Regulamento Sanitário Internacional 2005 (RSI 2005), acordado na 58ª

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Assembleia Geral da Organização Mundial da Saúde, em 23 de maio de 2005. Das 14

categorias deste anexo, 10 estão relacionadas ao trabalho, entre estas, por último, os

transtornos mentais. São elas: Acidente com exposição a material biológico relacionado ao

trabalho; Acidente de trabalho com mutilações; Acidente de trabalho em crianças e

adolescentes; Acidente de trabalho fatal; Câncer Relacionado ao Trabalho; Dermatoses

ocupacionais; Distúrbios Ostemusculares Relacionados ao Trabalho (DORT) Influenza

humana; Perda Auditiva Induzida por Ruído relacionada ao trabalho; Pneumoconioses

relacionadas ao trabalho; Pneumonias; Rotavírus; Toxoplasmose adquirida na gestação e

congênita; e Transtornos Mentais Relacionados ao Trabalho (MINISTÉRIO DA SAÚDE,

2011).

Em 2012 o governo brasileiro publicou a Política Nacional de Saúde do Trabalhador e

Trabalhadora, abrindo novas perspectivas para consolidação de políticas e ações em saúde do

trabalhador (BRASIL, 2012).

Apesar de anos de compulsoriedade na notificação em unidades sentinela, observa-se,

quando se examina as bases de dados existentes da vigilância, relacionando-as com outros

bancos, uma subnotificação ou quase inexistência de informação sobre transtornos mentais

relacionados ao trabalho no país.

Um dos aspectos levantados em saúde do trabalhador como dificultador da notificação

está na identificação e análise da natureza da variável de exposição no contexto do trabalho, a

força potencial de associação do fator ao desfecho e o estabelecimento do nexo “causal”

relacionando exposição e resultante em saúde mental do trabalhador. Neste sentido, tem-se

apoiado na classificação de Schilling: Grupo I: o trabalho é condição ou “causa necessária”

(risco, determinante ou condicionante necessário), o nexo é evidente e facilmente

comprovado, como as típicas doenças mentais orgânicas por intoxicações ou lesões e

relacionadas ao ciclo sono-vigília; Grupo II: o trabalho é fator de risco associado

(determinante ou condicionante contributivo) facilitador de doença ou agravo de etiologia

multicausal (multideterminada), mas não é condição necessária, como burnout e alcoolismo

crônico, quando comprovada sua maior prevalência no contexto do trabalho; Grupo III: o

trabalho é um fator desencadeante, agravante ou recidivante de doença latente ou pré-

existente (MENDES, 1995).

O nexo técnico epidemiológico previdenciário caminhou nesta direção. A medida

provisória (MP) nº 316, de 11 de agosto de 2006, com a criação do artigo 21-A na lei nº

8.213/91, introduziu importante alteração no critério de prova de certificação de acidente de

trabalho em doenças relacionadas ao trabalho, ampliando o regime de presunção legal quando

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demostrado o nexo técnico epidemiológico. O simples fato de a doença ser mais prevalente

em determinada atividade econômica leva-se a considerá-la como “doença do trabalho”, com

todas as repercussões legais. Houve inversão do ônus da prova, cabendo ao empregador

provar que não há relação ou nexo causal entre o trabalho e a doença, evento ou agravo.

O decreto nº 6.042, de 12 de fevereiro de 2007, DOU DE 12/2/2007 (“Altera o

Regulamento da Previdência Social, aprovado pelo Decreto no 3.048, de 6 de maio de 1999,

disciplina a aplicação, acompanhamento e avaliação do Fator Acidentário de Prevenção - FAP e

do Nexo Técnico Epidemiológico, e dá outras providências”) passou a vigorar a partir de abril de

2007, repercutindo na proporção de auxílio-doença concedido por motivo acidentário (acidentes,

doenças ou agravos relacionados ao trabalho).

Pode-se verificar na listagem das doenças relacionada aos CNAES (Cadastro Nacional

de Atividades Econômicas e Sociais), para cada tipo de atividade no Anexo B do Decreto nº

6.042, de 12.02.07, a inclusão de agravos de maior dificuldade de justificar a inexistência de

nexo causal, tais como transtornos do humor ou afetivos (depressão), transtornos mentais

devidos ao uso de substância psicoativa (fumo, álcool, alucinógenos, etc), psicoses

(esquizofrenia, transtornos esquizotípicos e delirantes), dentre outras.

Os estudos epidemiológicos tem se tornado importante recurso de apoio para a saúde

do trabalhador, diante de todos os conflitos de interesse envolvidos na efetivação do nexo

técnico epidemiológico (NTE). Atualmente, evidência científica de maior chance, risco ou

associação estatisticamente significante entre os grupos comparados pode ser subsídio para

estabelecer a possível ou provável relação do agravo com a exposição a fatores de risco no

trabalho para uso no campo previdenciário e do trabalho, incluindo a justiça do trabalho, além

da saúde.

Diante desta relevância, na ausência de informação nos sistemas oficiais de notificação

compulsória oficial no país, nas últimas décadas, diante da carência de estudos transversais de

base populacional devido a sua dificuldade operacional e financeira, pesquisadores têm

utilizado mais frequentemente sistemas não oficiais de vigilância e fontes de dados

secundários, sejam de sistemas de previdências, juntas médicas periciais, bancos de registros

em serviços de saúde, dentre outros, como base para o seu trabalho.

Enquanto na saúde como um todo se tem utilizado de sistemas de vigilância

complementares ao Sistema Nacional de Agravos de Notificação/SINAN, como exemplo

estudos com o Sistema de Informação de Internações Hospitalares/SIH-SUS com a técnica de

captura-recaptura (SILVA, 2009), na área de saúde do trabalhador, o principal e maior

sistema nacional de informação presente na maioria das pesquisas é o da previdência social

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(BARBOSA-BRANCO et al., 2004, 2012; BARBOSA-BRANCO & OLIVEIRA, 2011).

Apesar da amplitude nacional, este sistema exclui os trabalhadores estatutários do serviço

público.

1.7. Prevalência de morbidade psiquiátrica em trabalhadores

Com pouco mais de 1% da mortalidade direta, os Transtornos Mentais são

responsáveis por mais de 12% da incapacitação decorrente de doenças, percentual que varia

de 23-28% no mundo para 40-50% em países desenvolvidos ou em desenvolvimento

(MELLO et al., 2007; KESSLER, 1996; MURRAY & LOPEZ, 1996).

Das 10 principais causas de incapacitação geral, 05 são transtornos psiquiátricos:

depressão (13%), alcoolismo (7,1%), esquizofrenia (4%), transtorno bipolar (3,3%) e

transtorno obsessivo-compulsivo (2,8%) (ANDRADE et al., 2006).

Na América Latina, estima-se que os transtornos relacionados com a depressão entre

as mulheres e o uso de álcool entre os homens sejam a primeira causa em número de anos

vividos com incapacidade pelo Years Lived with Disability (YLD), sendo o conjunto de TM

responsáveis por 33,2 % da carga total na população geral (KOHN et al., 2007).

Em 1990, depressão foi a 10ª principal causa de todos os anos de vida ajustados por

incapacidade (DALYs) na América Latina, subindo para a 6ª posição, em 2010, enquanto e os

transtornos de ansiedade subiram da 18ª para 13ª posição no mesmo período. Em 2010, na

média mundial, a depressão esteve em 11ª e ansiedade 26ª colocação (MURRAY et al., 1996;

MURRAY et al., 2012).

No Brasil, apesar de existir um número escasso de estudos epidemiológicos sobre

morbidade psiquiátrica geral na população, produziu-se ainda menos sobre a prevalência de

transtornos mentais relacionados ao trabalho. A maioria destes se restringe a um único grupo

de trabalhadores (principalmente das áreas de saúde ou educação), geralmente de um único

local de trabalho, limitando-se a um único agravo (GASPARINI et al., 2006; SILVA &

MENEZES, 2009; CABANA, 2007).

Pela referida dificuldade técnica, operacional e financeira de se realizar estudos de

prevalência de transtornos mentais de base populacional ou na população geral de

trabalhadores, utilizando os critérios diagnósticos da CID e do DSM-IV, muitos estudos

realizara a aplicação de testes de triagem como o SRQ-20 para estimar o sofrimento mental

nesta categoria, restrita a determinados contextos ocupacionais. A prevalência de positividade

no teste em trabalhadores no Brasil, apesar das questões metodológicas sobre o tipo genérico

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de desfecho encontrado, já relatado, tem sido útil para estimar suspeita de sofrimento mental.

A maioria desses estudos foram realizados com profissionais de educação e saúde,

encontrando-se prevalência de até 55,9% entre professores (REIS et al., 2005) e 43,3% entre

agentes comunitários de saúde (SILVA & MENEZES, 2009).

Uma das formas disponíveis para avaliar a saúde do trabalhador é por meio da sua

ausência do serviço, que pode ocorrer por diferentes determinantes, dentre estes por motivo

direto de saúde-doença da própria pessoa ou de pessoa da família. O resultado da avaliação

por parte de uma junta médica pericial para a concessão de licença é um importante recurso

para revelar informações de determinadas situações motivadoras ou envolvidas no

afastamento por eventos relacionados à doença para tratamento clínico ou cirúrgico, ou por

acidentes e violências (SIANO et al., 2011).

O absenteísmo-doença é a expressão usualmente utilizada em saúde do trabalhador

quando o afastamento justificado ocorre em consequência de doença ou agravo confirmado

por licença médica autorizada, gerando incapacidade parcial temporária para o trabalho

(BARBOSA-BRANCO et al., 2004, 2012; BARBOSA-BRANCO & OLIVEIRA, 2011;

GEHRING JUNIOR et al., 2007).

Embora haja ausência de padronização de instrumentos e indicadores utilizados para

estimar o absenteísmo, alguns indicadores epidemiológicos têm sido mais usados no seu

dimensionamento em saúde do trabalhador, tais como a prevalência de trabalhadores em

licença médica (prevalência de absenteísmo-doença), a prevalência de licença médica (por

trabalhador) e a duração média de licença por trabalhador afastado (duração do absenteísmo

ou dias perdidos por trabalhador licenciado) ou por licença (dias perdidos por licença)

(QUICK, 1982; HELSING, 1998; BARBOSA-BRANCO et al., 2004, 2012; BARBOSA-

BRANCO & OLIVEIRA, 2011).

Não há consenso na literatura quanto a um ponto de corte para o afastamento ser

considerado de longa duração. Estudos estabelecem 8 dias na Inglaterra (MARMOT et al.,

1995), 21 dias na Holanda (ROELEN et al., 2008) e 56 dias na Noruega (FOSS et al., 2010).

No país há estudos considerando 10 dias de duração do afastamento como de longa duração

(FERREIRA et al., 2012; GRIEP et al., 2010).

Há também uma diversidade de período considerado para submissão à junta médica

pericial oficial, conforme cobertura do sistema previdenciário, sendo, por exemplo, de 14 dias

na Noruega e o dobro na Holanda.

No Brasil, estudos que usam como fonte de dados o sistema de informação do regime

geral de previdência social, consideram as licenças com requerimento ocorrido a partir de 15

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dias de afastamento do trabalho, até então o pagamento é feito integralmente pelo empregador

(SOUZA et al., 2008; BARBOSA-BRANCO et al., 2012; BARBOSA-BRANCO &

OLIVEIRA, 2011).

Em estudos nessa base de dados de perícias médicas no INSS (Instituto Nacional de

Seguridade Social) encontram-se os transtornos psiquiátricos como uma das três principais

motivações para o afastamento do trabalhador nos últimos anos, ao lado de Doenças

Osteomusculares, Doenças do Sistema Circulatório e Lesões (SOUZA, 2008; BARBOSA-

BRANCO , 2012; BRASIL, 2011).

De acordo com a Constituição Federal de 1988, trabalhadores civis do serviço público,

são aqueles com ocupação na administração direta ou indireta (autárquica ou fundacional),

remunerados pelos cofres públicos. Quanto ao regime de trabalho podem ser os estatutários,

os quais são regidos pelo RJU (Regime Jurídico Único) denominados servidores públicos ou

simplesmente servidores, os empregados públicos contratados pelo regime da CLT

(Consolidação das Leis do Trabalho) além dos contratados por período determinado, os

“temporários” (BRASIL, 1988). Os trabalhadores públicos estatutários, por possuírem regime

próprio, estão excluídos do regime geral da previdência social.

No ano de 2010, o país contava com cerca de 9,4 milhões de trabalhadores públicos

nas três esferas de governo, correspondendo a 21,8% do total de vínculos formais de trabalho

no país sendo mais da metade (52,6%) pertencente aos municípios, com 4,95 milhões de

trabalhadores. Os estatutários compõem a maioria destes postos (IPEA, 2011).

Nos diferentes níveis do poder público onde há exigência legal de funcionamento de

junta médica pericial, os dados produzidos na emissão de licença para tratamento de saúde

pessoal ou acompanhamento de familiar constituem uma importante base de registros para

obtenção de informações sobre a situação de saúde-doença dos servidores e ainda que pouco,

tem sido progressivamente mais utilizada no Brasil e no mundo (ANDRADE, 2008; CUNHA,

2009; FUNDACIÓN EUROPEA PARA LA MEJORA DE LAS CONDICIONES DE VIDA

Y DE TRABAJO, 1997; OENNING, 2011; SALA et al., 2009).

Estudos envolvendo servidores no Brasil apontaram os transtornos mentais

responsáveis por 29% das licenças em servidores estaduais em Santa Catarina, com

prevalência de afastamento variando de 5 a 7% de 2002 a 2007; maior percentual de

absenteísmo em servidores estaduais em São Paulo; uma das principais causas de afastamento

prolongado em uma indústria de petróleo; aumento de 15,2% em 1998 para 23,1 em 2003 na

proporção de licenças em um banco público de Minas Gerais; tendo depressão e transtornos

por uso de álcool como diagnósticos de maior proporção na Prefeitura de Porto Alegre

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(SILVA & MENEZES, 2008; CUNHA et al., 2009; SALA et al., 2009; SANTOS &

SIQUEIRA, 2010; OENNING, 2011).

Em etapa anterior deste estudo, foram analisadas 40.578 licenças médicas concedidas

de 2005 a 2010 entre servidores municipais de Goiânia para analisar os grandes grupos de

diagnóstico da CID-10 (LEÃO, 2012). No município em questão, a partir de 3 dias de licença

o servidor é encaminhado à junta pericial para avaliação do requerimento.

Houve prevalência média anual de 23% (14.484) servidores afastados do trabalho por

motivo de doença no período (absenteísmo-doença), com um total de 944.722 dias potenciais

de trabalho perdidos, tendo no grupo de Transtornos Mentais, com 18%, a principal

motivação diagnóstica do total de licenças, seguido das Doenças Osteomusculares e Lesões,

com 15,3 e 14,8% respectivamente (Leão, 2012).

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2 JUSTIFICATIVA

Nota-se nas bases de dados disponíveis uma relativa carência de estudos epidemiológicos

sobre saúde mental e sobre saúde do trabalhador no Brasil, sendo mais proeminente quando

relacionados diretamente estes dois campos. Quando o foco de estudo é o trabalhador do serviço

público, a escassez de estudos é ainda maior (SILVA & MENEZES, 2008; CUNHA et al., 2009;

SALA et al., 2009, SANTOS & SIQUEIRA, 2010; OENNING, 2011; LEÃO, 2012).

A maioria dos estudos sobre epidemiologia psiquiátrica relacionada ao trabalho utilizou-

se de instrumentos de triagem diagnóstica para suspeita de transtorno mental foram restritos a

grupos ocupacionais específicos, único local ou único tipo de transtorno (ROELEM et al., 2009;

SILVA & MENEZES, 2008; CABANA et al., 2007; GASPARINI et al., 2007; SANTOS &

SIQUEIRA, 2010). Na maioria dos estudos nacionais e internacionais, os transtornos mentais

estão entre as três principais motivações para o afastamento do trabalho e os maiores e mais

representativos estudos de morbidade psiquiátrica geral em trabalhadores no país excluem a

maioria dos que estão no serviço público (SOUZA et al., 2008; BARBOSA-BRANCO et al.,

2012).

Em decorrência da escassez de estudos sobre absenteísmo-doença entre os servidores

municipais, foi iniciado em Goiânia, em 2009, um projeto de pesquisa com a participação de

docentes e pós-graduandos das áreas de Saúde Coletiva e Epidemiologia da Universidade

Federal de Goiás e de profissionais da Prefeitura de Goiânia. Um dos primeiros resultados do

referido projeto foi evidenciar a magnitude dos afastamentos para tratamento de saúde, em

decorrência das grandes causas, incluindo os transtornos mentais entre os servidores municipais

desta capital (LEÃO, 2012).

Na etapa inicial do referido projeto, pelo propósito da avaliação da morbidade global,

utilizou-se o diagnóstico do capítulo V da CID, relacionado aos transtornos psiquiátricos, sem

especificação dos indicadores relacionados ao diagnóstico por agrupamentos e categorias

específicas de transtornos mentais. Com isto, sinalizou-se a necessidade de maior nível de

detalhamento dos diagnósticos nas licenças por motivo de saúde (agrupamentos e categorias)

pelos transtornos mentais, uma vez que estes foram os eventos de maior morbidade relacionada

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às licenças entre os servidores, com uma proporção de 18% do total de licenças no período

estudado (LEÃO, 2012),

Na fase inicial do estudo, utilizou-se a positividade de diagnóstico no primeiro campo da

licença, sem considerar a possível comorbidade de agravos com a presença de outros códigos

psiquiátricos e não psiquiátricos, na mesma licença ou em licenças múltiplas e sequenciais do

trabalhador (LEÃO, 2012).

Apesar de legalmente os servidores municipais de algumas áreas, como educação e saúde

poderem acumular dois vínculos públicos, a presença de duplicidade de vínculos de trabalho no

próprio município como variável de exposição, potencialmente relacionada às licenças por

transtornos mentais, também não foi explorada nesse estudo na fase anterior (LEÃO, 2012).

O presente estudo integra a pesquisa acima mencionada, em andamento desde 2009.

As informações atualmente disponíveis não permitem conhecer aspectos importantes dos

afastamentos dos servidores, por incapacidade temporária por transtorno mental. Identificar o

perfil de absenteísmo por morbidade psiquiátrica poderá contribuir para reflexões neste campo

de intersecção, auxiliando no planejamento, execução e avaliação de políticas e ações de

promoção, vigilância e integralidade no cuidado da saúde mental do trabalhador no âmbito da

esfera pública.

Nesse contexto, diante da carência de pesquisas na área, de lacunas suscitadas serem

respondidas, questões “problematizadoras” do presente estudo foram colocadas com relação aos

transtornos mentais, agrupamentos e categorias diagnósticas nos trabalhadores do serviço

público municipal da cidade de Goiânia em licença médica no ano de 2010, em particular sua

prevalência, morbidade proporcional e duração média de dias de trabalho perdidos, distribuída

por sexo, com análise e reflexão de possíveis fatores associados.

Buscou-se com esse estudo, ampliar as informações disponíveis, contribuindo na

construção do conhecimento sobre saúde mental e trabalho, com possível aplicação no processo

de construção, implantação e avaliação de políticas, programas, serviços e ações de promoção,

vigilância e de cuidado integral à saúde dos trabalhadores do serviço público e de modo

particular, dos servidores do município de Goiânia.

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3 OBJETIVOS

3.1. Objetivo geral:

Mensurar a prevalência de morbidade psiquiátrica e fatores associados entre

servidores municipais de Goiânia-Goiás, em licença médica, no ano de 2010.

3.2. Objetivos específicos:

Estimar a prevalência anual de morbidade psiquiátrica global por características

sociodemográficas e ocupacionais, distribuída por sexo;

Mensurar a prevalência anual de afastamentos por agrupamentos de transtornos

mentais, nas licenças e nos servidores;

Estimar a morbidade proporcional por agrupamentos de transtornos mentais, nas

licenças e nos servidores;

Mensurar a prevalência de categorias de transtorno psiquiátrico nos servidores

afastados, distribuída por sexo;

Estimar a duração média de servidor afastado por morbidade psiquiátrica global e

agrupamentos;

Analisar fatores sociodemográficos e ocupacionais associados ao afastamento por

morbidade psiquiátrica global.

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4 MÉTODOS

4.1. Local do estudo:

O estudo foi desenvolvido no município de Goiânia, capital do estado de Goiás, que

no ano de 2010 contava com uma população de 1.301.892 habitantes (IBGE, 2010). O

período estudado foi de janeiro a dezembro de 2010.

4.2. População do estudo:

A Prefeitura de Goiânia apresentava no ano de 2010 cerca de 39 mil trabalhadores

públicos ativos, a maioria estatutários, distribuídos nos 25 órgãos da administração municipal.

Este número representava mais de 3% da população geral (GOIÂNIA, 2011). A população

alvo da pesquisa compreendeu todos os servidores públicos municipais do poder executivo,

ativos em 2010, que entraram de licença médica por qualquer motivo. O estudo envolveu

dados de toda a população de servidores municipais ativos no ano.

4.3. Delineamento do estudo:

Trata-se de um estudo transversal censitário.

4.4. Definição de afastamento por morbidade psiquiátrica:

Foi considerado todo afastamento de servidor concedido pela Junta Médica Municipal,

nos meses de janeiro a dezembro de 2010, decorrente de pelo menos um diagnóstico de

transtorno mental. Nesta definição tomou-se o primeiro e segundo campo de diagnóstico das

licenças, codificados com a letra F segundo capítulo V da Classificação Internacional das

Doenças (CID-10: F00-F99), em pelo menos um episódio no período, agregando-se a

Síndrome do Esgotamento Profissional (Síndrome de Burn-Out: Z53.0). No presente estudo

adotou-se a sigla TM para os Transtornos Mentais.

4.5. Fonte de dados:

As informações sobre as licenças médicas foram originárias de uma base de dados

dos registros das licenças concedidas rotineiramente pela Junta Médica Municipal da então

Secretaria Municipal de Administração e Recursos Humanos de Goiânia (LEÃO, 2012). Em

Goiânia, de acordo com o estatuto dos servidores, acima de três ausências por doença pessoal

ou em família, comprovada documentalmente por atestado, faz-se necessária avaliação

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pericial para concessão ou não da licença e definição da duração legal do afastamento. No

caso de licença por morbidade psiquiátrica na população estudada, além do atestado de

médico psiquiatra, há avaliação específica de médicos especialistas na área para apreciação e

parecer sobre o afastamento na Junta do município.

Os dados sócio-demográficos e ocupacionais de todos os servidores, no ano do

estudo, foram extraídos do Sistema de Recursos Humanos (SRH) do município, vinculado, na

época, ao mesmo órgão da junta.

4.6. Variáveis do estudo:

As seguintes variáveis de desfecho e exposição foram utilizadas:

Variáveis de desfecho: servidores afastados com diagnóstico de transtorno mental

(agrupamentos e categorias), licença médica com diagnóstico psiquiátrico (e agrupamentos);

servidores em licença por outros diagnósticos; servidores com afastamento por todas as

causas; licença médica por todas as causas.

Variáveis de exposição: sexo, idade, etnia (cor da pele autoreferida), estado conjugal,

escolaridade, reposição salarial, tempo de serviço público, duplicidade de vínculos (como

estatutário) no município, natureza do cargo em ocupação, código diagnóstico em

comorbidade, duração do afastamento, característica (motivação) da licença.

4.7. Processamento e análise de dados:

4.7. 1. Processamento de dados:

Do Sistema de Recursos Humanos foram extraídos os dados relativos à matrícula do

servidor em todos os vínculos empregatícios na prefeitura, data de admissão, sexo, idade,

estado conjugal, escolaridade, etnia (cor da pele), reposição salarial mensal bruta e natureza

do cargo de ocupação.

Da Junta Médica coletou-se a matrícula do servidor, os códigos diagnósticos, a data da

perícia, a motivação e a duração concedida no afastamento.

Nas duas bases, os dados foram coletados em planilhas de Excel.

Estado conjugal, escolaridade e etnia (cor da pele) foram autoreferidos no sistema de

atualização de cadastro dos servidores, realizado no ano anterior à base do estudo, enquanto

as demais variáveis sociodemográficas foram registradas pela administração com base em

documentação. Idade, reposição salarial, tempo de serviço e duração da licença, originalmente

identificadas ou transformadas em variáveis contínuas, foram posteriormente categorizadas.

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Os dados extraídos foram submetidos à análise de consistência e limpeza das bases. As

variáveis foram codificadas e o banco foi preparado em planilhas de Excel. Para o

processamento dos dados foi utilizado o software Statistical Package for Social Science

(SPSS), versão 20.0.

Houve a busca de identificação de duplicidades reais e por possível erro de digitação.

Foi realizado linkage determinístico internamente em cada base de dados e entre as duas bases

(junta médica e cadastro) dos servidores do município através do Link Plus 2.0.

Como cada servidor poderia ter mais de uma matrícula (linkage 1:n), as duplicidades

de vínculo estatutário nos servidores licenciados foram identificadas e agregadas por pessoa,

registrando-se o duplo vínculo como variável, fazendo-se a ligação dos dados

sociodemográficos e ocupacionais. O banco de licença da junta médica, com várias licenças

possíveis por servidor (linkage 1:n) foi transformado em um segundo banco de pessoas,

conforme matrícula e dados pessoais, agregando-se todos os afastamentos de cada licenciado.

4.7.1.1. Variáveis sociodemográficas:

As variáveis sociodemograficas foram assim processadas e categorizadas:

a) Sexo: conservado, conforme cadastro, em categoria nominal masculino e feminino,;

b) Faixa etária: a idade foi estimada pela diferença entre a data de nascimento no cadastro e o

dia da licença (última do ano) entre os afastados e 31 de dezembro de 2010 na base de dados

do sistema para os demais, obtendo-se a variável contínua em anos, conservada para o cálculo

da média e da mediana. Posteriormente foi agregada ordinalmente em cinco categorias (a

primeira < 30 anos, as demais intermediárias com intervalo de dez em dez anos, 30 a 39, 40 a

49, 50 a 59 e a última > 60 anos). Houve também dicotomização ordinal em < 40 e ≥ 40.

c) Etnia (cor da pele): foi classificada nominalmente a partir do dado autoreferido no cadastro,

em branca, parda, preta, amarela e indígena (adaptado “vermelha” em indígena do cadastro ao

indígena do IBGE); também categorizada dicotomicamente em branca e não branca;

d) Estado conjugal: foi feita classificação nominal a partir da base, agrupando-se separado ao

divorciado, ficando quatro categorias: solteiro, casado, divorciado e viúvo. Houve também

outra categorização em solteiro, casado e descasado (divorciado e viúvo).

e) Nível de escolaridade: a partir do informe até o ano cursado na base, foi categorizada em 4

níveis ordinais: < fundamental (analfabeto e alfabetizado), fundamental, médio e ≥ superior;

também categorizado em três faixas: ≤ fundamental, médio e ≥ superior;

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f) Faixa salarial: a partir do valor numérico da reposição salarial na base, foi calculada a

média de todos os salários pagos nos doze meses do estudo (considerando-se somente os

meses trabalhados para os que ingressaram em 2010), sendo estratificada em três faixas

salarias, tomando-se por base o valor de quinhentos e dez reais (R$510,00) do salário mínimo

(SM) no ano do estudo, ficando ordinalmente: até 3 SM; de 3 a 6 SM e acima de 6 SM. Nos

casos de vínculos duplos foi feita a somatória das reposições para o cálculo da faixa salarial.

4.7.1.2. Variáveis ocupacionais:

O processamento e categorização das variáveis ocupacionais se deram conforme

detalhado a seguir:

a) Tempo de serviço: obteve-se uma variável numérica mensurada pela diferença entre a data

de admissão no serviço e conforme a situação, entre os licenciados a data da perícia e entre os

não licenciados a data de 31 de dezembro de 2010. Foi agrupado em quatro faixas categóricas

ordinais: < 3 anos (para identificar os servidores em estágio probatório), 3 a 10, 11 a 20, 21 a

30 e > 30 anos. Nos servidores com duplo vínculo tomou-se a data mais antiga de admissão e

naqueles com mais de uma licença, considerou-se a última perícia realizada.

b) Duplicidade de vínculo no município: foi obtida no emparelhamento da base de dados de

cadastro dos servidores. Como a matrícula secundária possui o mesmo número da primeira

(apenas com um último dígito diferente desta) foi usada como chave de ligação através do

Link Plus 2.0, confirmando-se pelos dados pessoais.

c) Natureza do cargo em ocupação: foi utilizada conforme a natureza da atividade

ocupacional, seguindo-se a categorização do plano de carreira municipal que agrupou os

cargos em cinco categorias nominais: administrativo, operacional, saúde, educação e

fiscalização (GOIÂNIA, 2000a, 2000b, 2003, 2008, 2010). No anexo 1 encontram-se

descritas profissões e funções que foram agregadas.

4.7.1.3. Variáveis do Afastamento:

Os dados da base referente às licenças médicas foram assim processados e

categorizados:

a) Diagnóstico: foram considerados no estudo os três primeiros dígitos do código da CID-10

(letra e dois números), incluindo-se o primeiro e segundo campo de diagnóstico da licença.

Consideraram-se três níveis de categorização nominal: código de capítulo da CID (Capítulo

V, letra F para Transtorno Mental), agrupamento psiquiátrico (10 faixas do Capítulo V) e

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categoria diagnóstica (todas da base com código F). Ainda que fora do Capítulo V, procurou-

se identificar a presença do código Z73.0 (Síndrome do Esgotamento Profissional ou Burn-

Out) na base. Para os demais códigos não psiquiátricos da CID, adotou-se para análise a

categorização apenas da grande causa (Capítulo da CID), sem detalhamento de agrupamento

ou categoria diagnóstica.

b) Número de licenças por diagnóstico: o número de eventos (afastamentos) no ano por

transtorno mental global e agrupamentos;

c) Número de servidores em licença por diagnóstico: o número de pessoas com pelo menos

um afastamento no ano por transtorno mental global, agrupamentos e categorias diagnósticas;

a identificação de multiplicidade de licenças foi realizada através do pareamento pelo Link

Plus 2.0 internamente na base de dados da junta;

d) Duração da licença em dias nos servidores licenciados: obtida numericamente pela

resultante da somatória do total de dias de afastamento por cada servidor com o diagnóstico

de transtorno mental global e agrupamentos, bem como por outras causas. Foi categorizada

em cinco faixas ordinais, por dias: ≤ 15, 16-30, 31-60, 61-90, >90 e posteriormente

transformadas nas categorias ≤ 15, >15; > 30, >60 e > 90 dias. Foi ainda mantida como

variável numérica contínua para cálculo da média e mediana.

d) Motivação da licença: mantida a classificação nominal da junta médica quanto à

característica motivadora do afastamento em acidentário (acidente de trabalho) ou não

acidentário (tratamento clínico ou cirúrgico).

4.7.2. Análise dos dados:

Para as variáveis contínuas foram usadas medidas de tendência central e dispersão. A

média foi calculada com o respectivo desvio padrão (dp) e a mediana com os intervalos

interquartílicos (IQR) entre o percentil 25% e 75% da distribuição. O teste do qui quadrado

(X2) foi utilizado para analisar diferença de proporção entre as variáveis categóricas.

Calculou-se a prevalência (P) por mil servidores ativos e a razão de prevalência (RP)

geral e por sexo, bem como a razão de feminilidade (RP F/M = prevalência nas mulheres

sobre a prevalência nos homens).

O software Statistical Package for Social Science (SPSS), versão 20.0 foi utilizado

para análise dos dados. O nível de significância estatística estabelecido foi de 5% (α=0,05).

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4.8. Indicadores utilizados:

Foram utilizados os indicadores de prevalência de trabalhadores em licença

(prevalência do absenteísmo-doença), prevalência de licenças nos trabalhadores, a duração

média de licença por trabalhador licenciado ou do absenteísmo-doença (média de dias

perdidos por trabalhador em licença) e a duração média das licenças (média de dias perdidos

por licença), tomando-se como base o trabalhador (pessoa licenciada) e o evento (episódio de

licença). Os indicadores foram mensurados de forma global ou estratificados por sexo, faixa

etária e outras variáveis sociodemográficas e ocupacionais, bem como por agrupamentos ou

categorias diagnósticas. A morbidade proporcional (proporção de morbidade) por doença

também foi estimada.

Prevalências

Prevalência de trabalhadores em licença ou prevalência de absenteísmo-doença: estima a

proporção do total de pessoas que tiveram pelo menos um episódio de afastamento por licença

médica, no ano, na população de referência do estudo. Cada trabalhador com uma licença no

ano aparece uma única vez no numerador, mesmo que tenha se afastado em múltiplas

licenças. O cálculo foi realizado por mil servidores ativos (x 1.000).

Prevalência de = nº trabalhadores em licença no ano x 1.000

trabalhadores em licença nº total de trabalhadores no ano

(absenteísmo-doença)

Prevalência de licença nos trabalhadores: A prevalência de licença mede a proporção de

licenças por trabalhador, por ano, no total da população em estudo. Uma vez que um mesmo

trabalhador pode ter tido vários episódios de afastamento por licença no mesmo ano, todas as

licenças aparecem no numerador, contribuindo para este indicador ser igual ou maior (quando

houver multiplicidade de licença) que a prevalência de trabalhadores em licença. O cálculo foi

realizado por mil servidores ativos (x 1.000).

Prevalência de licença = nº licenças no ano x 1.000

nº total de trabalhadores no ano

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Morbidade Proporcional (proporção ou distribuição de diagnóstico)

Morbidade proporcional nos trabalhadores em licença (morbidade proporcional no

absenteísmo-doença): estima o percentual de trabalhadores com licença motivada pelo agravo

de interesse, em pelo menos uma licença, dividido pelo total de trabalhadores com licença por

qualquer somatória de doenças consideradas (onde o agravo de interesse esteja incluído), no

período. A proporção pode ser medida internamente dentro de um mesmo grupo de doenças

(transtornos mentais) ou entre estes (global, por agrupamentos ou categorias) com o total de

agravos estudados (todas as causas), bem como por outras variáveis sociodemográficas e

ocupacionais.

Morbidade proporcional por doença nos trabalhadores em licença

= n° de trabalhadores de licença por doença especificada no ano x 100

nº total de trabalhadores em licença por todas as doenças consideradas no ano

Morbidade proporcional por doença nas licenças: estima o percentual de licenças com

agravo de interesse no total de licenças ocorridas no mesmo período por todas as causas

consideradas. A proporção pode ser medida internamente dentro de um mesmo grupo de

doenças (transtornos mentais) ou entre estes (global, por agrupamentos ou categorias) com o

total de agravos estudados, por outras variáveis sociodemográficas e ocupacionais.

Morbidade proporcional de licença por doença

= n° de licença por doença especificada no ano x 100

nº total de licenças por todas as doenças consideradas no ano

Duração Média

Duração média de licença por trabalhador ou duração média do absenteísmo-doença

(média de dias perdidos por trabalhador): A duração média do absenteísmo-doença

mensura a média de dias afastados por licença no total de trabalhadores licenciados. É

um importante indicador de tempo médio de trabalho perdido, medido em dias, por ano,

por motivo de licença (média de dias perdidos por trabalhador licenciado no ano). Foi

estimado por faixas categóricas, através da mediana (com intervalos interquartílicos/IQR

de 25 e 75%) e da média (com desvio padrão/dp), sendo esta última expressa abaixo.

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Duração média de licença por trabalhador = nº dias de licença no ano

(do absenteísmo-doença) nº trabalhadores em licença no ano

Duração média das licenças (média de dias perdidos por licença): A duração média

das licenças estima a média de dias de trabalho perdidos por licença no ano. Foi

mensurada pela média (dp), expressa abaixo.

Duração média das licenças = nº dias de licenças no ano

nº de licenças no ano

4.9. Aspectos éticos:

O presente projeto de pesquisa foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do

Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Goiás, sob o Protocolo n°194/2010 e foi

desenvolvido em consonância com as diretrizes e normas regulamentadoras de pesquisas

envolvendo seres humanos, incluindo a confidencialidade quanto à identidade dos servidores

presente nos dados analisados (Anexo 2). Não há conflito de interesse no desenvolvimento do

presente estudo.

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5 RESULTADOS

No ano de 2010, a prefeitura de Goiânia-Goiás contava com um efetivo de 20.535

servidores municipais estatuários ativos ocupando 21.157 postos de trabalho. Entre estes, 622

(3,0%) tinham duplo vínculo de trabalho como estatutário. A maioria dos servidores que

possuía duplicidade de vínculo era do sexo feminino (78,1%), com lotação em cargos de

educação (39,2%), operacional (23,5%) e saúde (17,7%). Neste período, foram concedidas

9.101 licenças médicas, sendo 1.569 com diagnóstico de Transtorno Mental (F00-F99). Entre

os 20.535 servidores municipais, 5.028 (24,5%) tiveram pelo menos uma licença para

tratamento de saúde, dos quais, 801 foram licenciados por morbidade psiquiátrica.

Entre todos os afastamentos (1569 licenças), 17,2% foram por Transtorno Mental, em

proporção similar a Lesões (17,4%) e Doenças Osteomusculares (17,1%). Entre os servidores

licenciados por todas as causas, esta proporção foi de 15,9%, atrás de Lesões (20,6%) e

Doenças Osteomusculares (18,4%). A morbidade psiquiátrica teve a terceira maior

prevalência nos servidores (39,0/1.000), atrás de Lesões (50,6/1.000) e Doenças

Osteomusculares (45,2/1.000).

5.1. Distribuição dos 20.535 servidores públicos ativos do município de Goiânia-

Goiás, segundo características sócio-demográficas e ocupacionais, no ano de 2010

A Tabela 1 apresenta o perfil sócio-demográfico e ocupacional dos 20.535 servidores

do município. A maioria era do sexo feminino (n=13.963), correspondendo a 68,0% da

população de estudo; apresentava idade superior a 40 anos (54,0%), cor referida branca

(92,4%) e se declarou não casada (57,5%). Com relação à escolaridade, observou-se um

predomínio do nível médio ou superior (97,1%) e a maior parte dos servidores tinha renda

menor que três salários mínimos (65,6%).

O sexo feminino apresentou maior proporção de servidores em idade superior a 40

anos (55,3%) e maior escolaridade (49,0% com nível superior), enquanto nos homens

predominou a idade menor ou igual a 40 anos (57,4%) e nível médio de escolaridade (65,0%).

Quanto ao tempo de serviço público, a maioria dos servidores possuía menos de 10

anos (69,9%), sendo 26,9% em estágio probatório (< 03 anos) e contava com vínculo único

estatutário no município (96,9%). Entre as cinco categorias de natureza da ocupação, mais da

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Tabela 1. Perfil dos servidores públicos municipais ativos, distribuídos por sexo,

segundo características sócio-demográficas e ocupacionais, Goiânia-Goiás, 2010.

Características

Geral

(n=20535)

Feminino

(n=13963)

Masculino

(n=6572) Comparação

n (%) n (%) N (%)

Razão

F/M p Faixa etária (anos) <0,001*

≤ 30 3951 19,2 2263 16,2 1688 25,7 0,6

31-40 6073 29,6 3992 28,6 2081 31,7 0,9

41-50 6049 29,5 4592 32,9 1457 22,2 1,5

51-60 3729 18,2 2661 19,1 1068 16,3 1,2

≥ 61 733 3,6 455 3,3 278 4,2 0,8

Etnia (cor da pele)a <0,001*

Branca 18799 92,4 12672 91,7 6127 93,9 1,0

Parda 1331 6,5 1020 7,4 311 4,8 1,5

Preta 128 0,6 80 0,6 48 0,7 0,8

Amarela 75 0,4 39 0,3 36 0,6 0,5

Indígena 7 0,0 4 0,0 3 0,0 0,6

Estado conjugal <0,001*

Solteiro(a) 10084 49,1 6303 45,1 3781 57,5 0,8

Casado(a) 8723 42,5 6147 44,0 2576 39,2 1,1

Divorciado(a) 1436 7,0 1237 8,9 199 3,0 2,9

Viúvo(a) 292 1,4 276 2,0 16 0,2 8,1

Escolaridade (nível)b <0,001*

< Fundamental 130 0,7 40 0,3 90 1,5 0,5

Fundamental 399 2,2 357 2,9 42 0,7 4,0

Médio 9642 53,3 5868 47,7 3774 65,0 0,7

≥Superior 7930 43,8 6031 49,0 1899 32,7 1,5

Faixa salarial

(salário mínimo)c,d

<0,001*

< 3 13461 65,6 8913 63,9 4548 69,2 0,9

3 a 6 4533 22,1 3292 23,6 1241 18,9 1,2

> 6 2535 12,3 1753 12,6 782 11,9 1,1

Tempo de serviço

(anos)

<0,001*

< 3 5514 26,9 3595 25,7 1919 29,2 0,9

3 a 10 8831 43,0 6060 43,4 2771 42,2 1,0

11 a 20 3258 15,9 2458 17,6 800 12,2 1,4

21 a 30 2479 12,1 1621 11,6 858 13,1 0,9

≥ 31 453 2,2 229 1,6 224 3,4 0,5

Nº de vínculos <0,001*

Único 19913 97,0 13477 96,5 6436 97,9 1,0

Duplo 622 3,0 486 3,5 136 2,1 1,7

Natureza do cargo <0,001*

Operacional 6818 33,2 4436 31,8 2382 36,2 0,9

Educação 4575 22,3 3646 26,1 929 14,1 1,8

Administrativo 3605 17,6 2299 16,5 1306 19,9 0,8

Saúde 3472 16,9 2371 17,0 1101 16,8 1,0

Fiscalização 2065 10,1 1211 8,7 854 13,0 0,7

Total 20535 100 13963 68 6572 32 2,1

Teste do X 2 para comparar proporção entre os sexos. *Nível de significância p< 0,05.

a)195 sem informação; b)2434 sem informação;c) 06 sem informação; d) salário mínimo em 2010 era R$ 510,00.

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metade, encontrava-se em cargo operacional ou de educação, totalizando 55,5%. Nos homens,

o administrativo aparece como o segundo cargo mais freqüente.

A comparação da proporção de mulheres e homens (razão mulheres/homens), de

acordo com características sócio-demográficas, evidenciou-se uma maior proporção de

mulheres divorciadas (2,9) ou viúvas (8,1), com nível de escolaridade fundamental (4,0) ou

superior (1,5) e cor parda (1,5). Quanto à ocupação, esta razão foi maior em cargo de

educação (1,8) e duplo vínculo de trabalho (1,7). Em contrapartida, foi evidenciada uma

maior proporção de homens com escolaridade menor que fundamental (0,5) e em cargo de

fiscalização (0,7), quando comparados com as mulheres.

Houve diferença estatisticamente significante, na proporção entre homens e mulheres,

para todas as variáveis sócio-demográficas e ocupacionais analisadas (p< 0,05).

5.2. Caracterização sociodemográfica e ocupacional dos servidores municipais

licenciados por transtorno mental

Entre os 5.038 servidores da prefeitura de Goiânia licenciados por todas as causas, 801

(15,9%) afastaram-se com diagnóstico psiquiátrico, em pelo menos uma licença, em 2010. No

total foram concedidas 1.569 licenças para tratamento de saúde por TM para 801 servidores,

com uma média de duas licenças por morbidade psiquiátrica por cada servidor licenciado. Do

total de servidores afastados com TM, 57,0% tiveram episódio único. Entre os reincidentes, a

metade teve 02 episódios no período e os demais tiveram de 03 a 11 licenças por TM, em

proporção decrescente. Apenas 0,5% dos servidores afastados com TM tiveram sua licença

caracterizada pela Junta Médica com característica relacionada ao trabalho (acidentária).

A idade dos servidores licenciados por Transtorno Mental variou de 21 a 68 anos, com

média de 43 anos (desvio padrão de 10,6 anos), mediana de 43 anos (intervalos inter-

quartílicos de 25-75%, de 35-51 anos). O tempo de serviço na prefeitura, entre os afastados,

oscilou de um mês a 39 anos.

A Tabela 2 apresenta as proporções de servidores afastados com Transtorno Mental,

segundo características sócio-demográficas e ocupacionais. A maioria dos licenciados por

TM era do sexo feminino (80,5%), com idade maior ou igual a 40 anos (60,8%), cor branca

(91,3%), não casada (51,4%), com nível superior de escolaridade (77,8%), renda menor que

três salários mínimos (57,6%), menos de 10 anos de serviço público (62,2%, sendo 25,5% < 3

anos) e vínculo único no município (92,8%).

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Tabela 2. Prevalência global de transtornos mentais (TM) entre servidores públicos municipais

licenciados segundo características sócio-demográficas e ocupacionais, Goiânia-Goiás, 2010.

Servidores

Licenciados

Prevalência

RP

Ativos

com TM

Características n (%) n (%) x 1.000

Sexo

Masculino 6572 32,0

156 19,5

23,7

1

Feminino 13963 68,0

645 80,5

46,2

1,9

Faixa etária (anos)

< 40 9446 46,0

314 39,2

33,2

1

≥ 40 11089 54,0

487 60,8

43,9

1,3

Etnia (cor da pele)a

Branca 18799 92,4

693 91,3

36,9

1

Não branca 1541 7,6

66 8,7

42,8

1,2

Estado civil

Solteiro(a) 10084 49,1

322 40,2

31,9

1

Casado(a) 8723 42,5

389 48,6

44,6

1,4

Divorciado(a) 1436 7,0

76 9,5

52,9

1,7

Viúvo(a) 292 1,4

14 1,7

47,9

1,5

Escolaridadeb

≤Fundamental 529 2,9

26 5,0

49,1

5,3

Médio 9642 53,3

89 17,2

9,2

1

≥ Superior 7930 43,8

403 77,8

50,8

5,5

Faixa salarial

(salário mínimo)c,d

< 3 13461 65,6

461 57,6

34,2

1

3 a 6 4533 22,1

199 24,9

43,9

1,3

> 6 2535 12,3

140 17,5

55,2

1,6

Tempo de serviço

(anos)

< 3 5514 26,9

204 25,5

37,0

1,7

3 a 10 8831 43,0

294 36,7

33,3

1,5

11 a 20 3258 15,9

212 26,5

65,1

2,9

21 a 30 2479 12,1

81 10,1

32,7

1,5

≥ 31 453 2,2

10 1,2

22,1

1

Nº de vínculo

Único 19913 97,0

743 92,8

37,3

1

Duplo 622 3,0 58 7,2 93,2 2,5

Natureza do cargo

Operacional 6818 33,2

213 26,6

31,2

1,2

Educação 4575 22,3

283 35,3

61,9

2,3

Administrativo 3605 17,6

95 11,9

26,4

1

Saúde 3472 16,9

150 18,7

43,2

1,6

Fiscalização 2065 10,1

60 7,5

29,1

1,1

Total 20535 801 39,0

RP= Razão de Prevalência;

a)195 sem informação; b)2434 sem informação;c) 06 sem informação; d) o valor de 1 SM em 2010 foi de R$ 510,00.

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46

Entre os licenciados por morbidade psiquiátrica houve maior proporção naqueles com

natureza do cargo de ocupação em educação (35,3%), operacional (26,6%) ou saúde (18,7%),

totalizando 80,6%.

5.3. Prevalência de morbidade psiquiátrica em servidores licenciados por

características sócio demográficas, ocupacionais e duração das licenças, distribuídos por

sexo, no total de servidores ativos do município de Goiânia-GO, em 2010.

A prevalência de servidores municipais afastados com licença medica, por

Transtorno Mental foi de 39,0/1.000. Entre as mulheres, essa prevalência foi de 46,2/1.000 e

entre os homens foi de 23,7/1.000. Houve diferença estatisticamente significante entre

homens e mulheres, em relação à prevalência de servidores afastados por TM (p<0,001).

A Tabela 2 apresenta a prevalência da morbidade psiquiátrica global de acordo com

características sócio-demográficas e ocupacionais. A prevalência de Transtorno Mental foi

maior em mulheres (46,2/1.000 mulheres), em servidores com idade igual ou superior a 40

anos (43,9/1.000), não brancos (42,8/1.000) e descasados (divorciados 52,9/1.000 e viúvos

47,9/1.000). No nível médio de escolaridade foi menor em relação ao nível superior ou

fundamental e cresceu progressivamente (de 34,2 a 55,2/1.000) conforme a faixa salarial.

Quanto às características ocupacionais, a prevalência por Transtorno Mental esteve

maior naqueles com 11 a 20 anos de emprego público (65,1/1.000), seguido pelo período

probatório (37,0/1.000) e foi 2,5 vezes superior em servidor com duplo vínculo de trabalho no

município (93,2/1.000). A prevalência foi também maior nos servidores com cargos de

natureza educacional (61,9/1.000) e de saúde (43,2/1.000).

A proporção dos servidores licenciados por Transtorno Mental, estratificado por sexo,

mostra uma diferença estatisticamente significante (p<0,05%) no perfil de homens e

mulheres, em todas as variáveis (Tabela 3). Ao contrário das mulheres, a maior parte dos

homens tinha menos de 40 anos (62,2%) e era não casada (60,3%). A proporção de homens

licenciados com TM foi maior em cargo de fiscalização (30,8%), estando o cargo de educação

em terceiro e o de saúde em último.

Na prevalência de morbidade psiquiátrica, estratificada de acordo com o sexo dos

servidores (Tabela 3) observa-se que a prevalência de TM nos homens licenciados foi, ao

contrário das mulheres, maior abaixo dos 40 anos (26,8/1.000) e em servidores

autodenominados de cor branca (23,0/1.000). Entre os homens, a prevalência de TM foi de

24.1/1.000 tanto entre os casados, quanto entre os solteiros. Dezesseis servidores do sexo

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47

Tabela 3. Prevalência global de transtornos mentais (TM) entre servidores públicos municipais licenciados, distribuída por sexo,

segundo características sócio-demográficas e ocupacionais, Goiânia-Goiás, 2010.

Feminino (n=13963) Masculino (n=6572) Comparação

Características n (%)

TM

(%)

Prevalência

x 1.000 RP

n (%)

TM

(%)

Prevalência

x 1.000 RP

RP F/M p

Faixa etária (anos)

<0,001*

< 40 5830 41,8 217 33,6 37,2 1

3616 55,0 97 62,2 26,8 1,3

1,4

≥ 40 8133 58,2 428 66,4 52,6 1,4

2956 45,0 59 37,8 20,0 1

2,6

Etnia (cor da pele)a

0,012*

Branca 12672 91,7 552 90,0 43,6 1

6127 93,9 141 96,6 23,0 1,8

1,9

Não branca 1143 8,3 61 10,0 53,4 1,2

398 6,1 5 3,4 12,6 1

4,2

Estado conjugal

<0,001*

Solteiro (a) 6303 45,1 231 35,8 36,6 1

3781 57,5 91 58,3 24,1 1,6

1,5

Casado (a) 6147 44,0 327 50,7 53,2 1,5

2576 39,2 62 39,7 24,1 1,6

2,2

Divorciado (a) 1237 8,9 73 11,3 59,0 1,6

199 3,0 3 1,9 15,1 1

3,9

Viúvo (a) 276 2,0 14 2,2 50,7 1,4

16 0,2 0 0,0 0,0 0,0

-

Escolaridade

(nível)b

0,01*

≤Fundamental 397 3,2 22 5,0 55,4 4,8

132 2,3 4 5,1 30,3 5,4

1,8

Médio 5868 47,7 68 15,5 11,6 1

3774 65,0 21 26,9 5,6 1

2,1

≥ Superior 6031 49,0 350 79,5 58,0 5,0

1899 32,7 53 67,9 27,9 5,0

2,1

Faixa salarial

(salário mínimo)c,d

<0,001*

< 3 8913 63,8 350 54,3 39,3 1

4548 69,2 111 71,6 24,4 1,3

1,6

3 a 6 3292 23,6 175 27,1 53,2 1,4

1241 18,9 24 15,5 19,3 1

2,7

> 6 1753 12,6 120 18,6 68,5 1,7

782 11,9 20 12,9 25,6 1,3

2,7

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48

Tabela 3. Continuação

Feminino (n=13963) Masculino (n=6572)

Comparação

F/M

Características N (%)

TM (%) Prevalência

x 1.000 RP n (%) TM (%)

Prevalência

x 1.000 RP RP p

Tempo de serviço

(anos)

<0,001*

< 3 3595 25,7 150 23,3 41,7 1,6

1919 29,2 54 34,6 28,1 3,0

1,5

3 a 10 6060 43,4 226 35,0 37,3 1,4

2771 42,2 68 43,6 24,5 2,6

1,5

11 a 20 2458 17,6 190 29,5 77,3 3,0

800 12,2 22 14,1 27,5 2,9

2,8

21 a 30 1621 11,6 73 11,3 45,0 1,7

858 13,1 8 5,1 9,3 1

4,8

≥31 229 1,6 6 0,9 26,2 1

224 3,4 4 2,6 17,9 1,9

1,5

Nº de vínculo

0,012*

Único 13477 96,5 591 91,6

43,9 1

6436 97,9 152 97,4 23,6 1

1,9

Duplo 486 3,5 54 8,4 111,1 2,5 136 2,1 4 2,6 29,4 1,2 3,8

Natureza do cargo

<0,001*

Operacional 4436 31,8 170 26,4

38,3 3,9

2382 36,2 43 27,6

18,1 1,2

2,1

Educação 3646 26,1 257 39,8

70,5 7,1

929 14,1 26 16,7

28,0 1,8

2,5

Administrativo 2299 16,5 73,0 11,3

31,8 3,2

1306 19,9 22,0 14,1

16,8 1,1

1,9

Saúde 2371 17,0 133 20,6

56,1 5,7

1101 16,8 17 10,9

15,4 1

3,6

Fiscalização 1211 8,7 12 1,9

9,9 1

854 13,0 48 30,8

56,2 3,6

0,2

Total 13963 645 46,2 6572 156 23,7 1,9

Teste do X 2 para comparar proporção entre os sexos. *Nível de significância p< 0,05

RP: Razão de Prevalência; F/M: Feminino/Masculino

a)195 sem informação; b)2434 sem informação;c) 06 sem informação; d)o valor do salário mínimo em 2010 era R$ 510,00.

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49

masculino se declararam viúvos e, entre esses servidores, nenhum foi afastado por TM, no período.

Homens solteiros ou casados tiveram a mesma prevalência de TM (24,1/1.000).

Em relação ao nível de escolaridade, as maiores prevalências de TM, tanto entre as mulheres,

quanto entre os homens, foram observadas nos servidores com nível fundamental ou superior, sendo

cerca de cinco vezes superior ao nível médio.

Entre as mulheres, observa-se um aumento na prevalência de TM, com o aumento da renda.

Nas servidoras com renda de até três salários mínimos, a prevalência foi de 39,3/1.000 e naquelas

com renda superior a seis salários mínimos foi de 68,5/1.000. Em contrapartida, entre os homens, a

menor prevalência de TM foi observada entre os servidores com renda entre três e seis salários

mínimos (19,3/1.000).

Nos três primeiros anos de serviço (estágio probatório), a prevalência de licenciados por TM

foi de 41,7/1.000 no sexo feminino e de 28,1/1.000 no sexo masculino. Nota-se que a prevalência foi

maior, para as mulheres, com tempo de serviço entre 11 e 20 anos (77,3/1.000), faixa onde se

constata a segunda maior prevalência entre os homens (27,5/1.000). As prevalências variaram entre

os homens de 9,3/1.000 (21 a 30 anos de serviço) a 28,1/1.000 (estágio probatório).

Em relação ao número de vínculos trabalhistas, observa-se que a prevalência de TM foi 2,5

vezes maior entre as servidoras com duplo vinculo (prevalência de 111,1/1.000) em comparação com

aquelas com vinculo único (prevalência de 43,9/1.000). Entre os homens com duplo vínculo, a

prevalência de TM foi 20% superior em relação ao vínculo único (respectivamente 29,4/1.000 e

23,6/1.000).

Entre os homens, a maior prevalência de TM, em relação ao cargo, foi evidenciada entre os

servidores da fiscalização (56,2/1.000), em contrapartida, a menor prevalência entre as mulheres foi

observada nessa mesma categoria de cargo (9,9/1.000). As maiores prevalências entre as mulheres

foram observadas na educação (70,5/1.000) e na saúde (56,1/1.000). Nota-se a menor prevalência

entre os homens no cargo de saúde (15,4/1.000).

A comparação entre as prevalências de TM entre mulheres e homens (razão de feminilidade),

mostrou diferença para todas as variáveis sócio-demográficas e ocupacionais analisadas (p<0,05). A

prevalência entre as mulheres foi maior, em comparação com a prevalência entre os homens para

todas as variáveis analisadas, exceto no cargo de fiscalização. Na fiscalização, a prevalência de TM

foi 5,7 vezes superior entre os homens, quando comparados com as mulheres (Tabela 3).

As maiores razões de prevalência nas mulheres na comparação com os homens foram

observadas no tempo de serviço entre 21 e 30 anos (4,8 vezes), cor não branca (4,2), divorciada (3,9),

vínculo duplo (3,8), cargo de saúde (3,6) e faixas salariais acima de três salários mínimos (2,7).

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50

5.4. Prevalência de Transtornos Mentais e da morbidade psiquiátrica proporcional, por

agrupamentos, nas licenças e nos servidores municipais, Goiânia-GO, 2010.

Os cinco primeiros agrupamentos de Transtorno Mental (F00-F49), dos 10 existentes, de

acordo com a ordenação do capítulo V da CID-10 (F00-F99), concentraram 99,0% da morbidade

psiquiátrica, tanto nas 1.569 licenças, quanto nos 801 servidores afastados.

Considerando-se os 1.569 afastamentos concedidos com diagnóstico de morbidade

psiquiátrica, houve uma prevalência de 76,4 licenças/1.000 servidores ativos. Os transtornos de

humor (F30-F39) tiveram prevalência de 48,7 licenças/1.000 servidores, com 11,0% de morbidade

proporcional das licenças por todas as causas e 63,8% das licenças por Transtornos Mentais, seguido

pelos transtornos neuróticos (F40-F49: neuróticos, do estresse e somatoformes), com prevalência de

27,2/1.000, proporção de 6,1% e 35,6% (Tabela 4).

A prevalência de transtornos de humor (F30-F39) e neuróticos (F40-F49) foram de 25,4/1.000

e 16,9/1.000, com morbidade proporcional de 10,4% e 6,9% do total de servidores afastados por

todas as causas, respectivamente. Entre os licenciados apenas com morbidade psiquiátrica, esta

proporção ficou em 65,2% e 43,4% (Tabela 4)

O agrupamento de transtorno mental por uso de substâncias psicoativas (F10-F19)

representou 1,0% do total de licenças e 5,7% da morbidade psiquiátrica. Evidenciou-se neste

agrupamento uma prevalência de 4,3 licenças/1.000 servidores e 1,7 servidores licenciados/1.000

servidores. Os transtornos mentais orgânicos (F00-F09) e os transtornos psicóticos não orgânicos

(F20-F29) apresentaram prevalências de 2,8/1.000 e 2,5/1.000, respectivamente (Tabela 4).

Na comparação da prevalência e da morbidade proporcional tanto nas licenças quanto nos

servidores licenciados, percebe-se a manutenção dos mesmos agrupamentos de maior proporção e

prevalência, na mesma sequência (Figura 1)

Após a consolidação das licenças em servidores licenciados, houve nos transtornos do humor

e neuróticos um incremento na morbidade psiquiátrica proporcional, sendo este maior (21,9%) nos

transtornos neuróticos, evidenciando maior carga de pessoas com proporcionalmente menos licenças

por este agrupamento (Figura 1). Dinâmica contrária ocorreu nos transtornos por uso de substâncias

psicoativas, com decréscimo de 26,3% depois da mudança, apontando uma média superior de

licenças por servidor afastado neste agrupamento.

Nesse mesmo sentido, quando esta comparação é feita pela morbidade proporcional por todas

as causas, entre o total de licenças concedidas e o total de servidores licenciados, observa-se

incremento na proporção de transtorno de ansiedade (11,5%), ocorrendo o contrário nos transtornos

por uso de substâncias (e transtornos de humor).

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51

Tabela 4. Prevalência de transtorno mental (TM), no ano, por mil servidores ativos e morbidade

psiquiátrica proporcional, calculadas em licenças médicas concedidas e em servidores municipais

licenciados, ordenadas segundo agrupamentos do capítulo V da CID-10, Goiânia-Goiás, 2010.

Licenças Médicas

Prevalência x 1000

Morbidade Proporcional (%)

Transtorno Mental (TM) n° Licenças

Licenças

Licenças Licenças

por TM

por TM

Totais por TM

Servidores (N=20.535) N(9.101) N (1.569)

Orgânicos (F00-F09) 58

2,8

0,6 3,7

Por uso de Substâncias Psicoativas (F10-F19) 89

4,3

1,0 5,7

Psicóticos Não Orgânicos (F20-F29) 52

2,5

0,6 3,3

do Humor (F30-F39) 1.001

48,7

11,0 63,8

Neuróticos, do Estresse e Somatoformes (F40-F49) 558

27,2

6,1 35,6

das Funções Fisiológicas e Fatores Físicos (F50-F59) 2

0,1

0,0 0,1

da Personalidade e Comportamento Adulto (F60-F69) 10

0,5

0,1 0,6

Retardo Mental (F70-F79) 0

0,0

0,0 0,0

do Desenvolvimento Psicológico (F80-F89) 0

0,0

0,0 0,0

que aparecem na Infância ou Adolescência (F90-98) 5

0,2

0,1 0,3

Total de TM(F00-F99) 1.569 76,4 17,2 100%

Servidores Licenciados

Prevalência x 1000

Morbidade Proporcional (%)

Transtorno Mental (TM) n° Licenciados

Licenciados

Total de Licenciados

com TM

com TM

Licenciados com TM

Servidores (N=20.535)

N(5.038) N (801)

Orgânicos (F00-F09) 33

1,6

0,7 4,1

Por uso de Substâncias Psicoativas (F10-F19) 34

1,7

0,7 4,2

Psicóticos Não Orgânicos (F20-F29) 29

1,4

0,6 3,6

do Humor (F30-F39) 522

25,4

10,4 65,2

Neuróticos, do Estresse e Somatoformes (F40-F49) 348

16,9

6,9 43,4

das Funções Fisiológicas e Fatores Físicos (F50-F59) 2

0,1

0,0 0,2

da Personalidade e Comportamento Adulto (F60-F69) 5

0,2

0,1 0,6

Retardo Mental (F70-F79) 0

0,0

0,0 0,0

do Desenvolvimento Psicológico (F80-F89) 0

0,0

0,0 0,0

que aparecem na Infância ou Adolescência (F90-98) 3

0,1

0,1 0,4

Total de TM(F00-F99) 801 39,0 15,9 100%

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52

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53

Depois dessa consolidação dos afastamentos em servidores afastados, identificou-se nos

agrupamentos uma tendência, semelhante ao ocorrido com a prevalência global, de queda inferior a

50,0% na prevalência, exceto nos transtornos por uso de substâncias psicoativas, onde o decréscimo

na proporção foi maior (60,5%), consoante com o observado na morbidade proporcional (Figura 1).

Houve alta comorbidade de agrupamentos de transtorno mental entre os servidores

licenciados (21,8%), a maioria entre transtornos de humor e neuróticos (15,7% de todos os

licenciados por Transtornos Mentais, representando 24,1% dos transtornos de humor e 36,2% dos

neuróticos).

5.5. Prevalência de morbidade psiquiátrica global e por agrupamentos psiquiátricos, por

sexo e faixa etária, nos servidores municipais, Goiânia-GO, 2010.

Quando a prevalência é estratificada por sexo, observa-se tendência contrária entre homens e

mulheres em relação à faixa etária. Nas mulheres a prevalência de TM subiu gradativamente com a

idade, passando de 29,2/1.000 para 59,3/1.000. Entre os homens, houve uma queda da prevalência,

com o aumento da idade, passando de 28,4/1.000 a 18,0/1.000. (Figura 2)

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54

A prevalência de TM foi também superior no sexo feminino em todos os agrupamentos. Os

Transtornos de Humor (F30-F39) e os Transtornos Neuróticos (F40-F49: Neuróticos do estresse e

somatoformes) foram os dois agrupamentos diagnósticos de maior prevalência em ambos os sexos

(Figura 3), A prevalência de Transtorno do Humor foi de 29,7/1.000 entre as mulheres e de

16,3/1.000 entre os homens. A prevalência de Transtornos Neuróticos foi de 20,4/1.000 entre as

mulheres e de 9,6/1.000 entre os homens.

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55

A Tabela 5 apresenta as prevalências de TM por faixa etária e sexo. Com relação à idade,

nota-se que a prevalência geral aumentou gradativamente de 28,9/1.000 em menores de 30 anos até

46,1/1.000 na faixa etária de 51 a 60 anos. Entre os servidores com idade superior a 60 anos esta

prevalência foi de 43,7/1.000. Em consequência, na comparação da prevalência global, entre os

sexos, a razão de prevalência nas mulheres sobre os homens (razão de feminilidade), por faixa etária,

aumentou progressivamente da idade mais jovem (1,0) até atingir seu maior valor nos servidores com

mais de 60 anos de idade (3,3).

Os Transtornos de Humor e os Transtornos Neuróticos apresentaram também as maiores

prevalências, em todas as faixas etárias (Tabela 5). Entre as mulheres, os Transtornos Neuróticos

tiveram maior prevalência na faixa etária de 51 a 60 anos (25,5/1.000) e nos homens entre 31 e 40

anos (10,6/1.000). A maior prevalência de Transtornos de Humor foi verificada nos extremos das

faixas etárias, sendo, nas mulheres na faixa superior a 60 anos (44,0/1.000) e nos homens com idade

≤ 30 anos (19,0/1.000). A tendência de elevação da prevalência com o aumento da idade entre as

mulheres e a sua redução nos homens foi também observada nos Transtornos de Humor e nos

Transtornos Neuróticos.

Os transtornos mentais por uso de substâncias psicoativas (F10-F19) ocuparam a terceira

posição em maior prevalência entre os agrupamentos, no geral (1,7/1.000) e no sexo masculino

(1,4/1.000). Nos homens observou-se a maior prevalência de transtornos por uso de substâncias na

faixa ≤ 30 anos (2,4/1.000), embora a maior prevalência deste agrupamento tenha sido encontrada

entre as mulheres com idade superior a 60 anos (6,6/1.000). Entre as mulheres licenciadas com TM, o

terceiro agrupamento de maior prevalência (2,1/1.000) foi de transtornos mentais orgânicos (F00-

F09). Na faixa etária de 31 a 40 anos, no sexo feminino, foi encontrado seu maior valor (3,8/1.000).

A prevalência geral dos transtornos psicóticos não orgânicos (F20-F29: esquizofrenia,

transtornos esquizotípicos e delirantes) foi a menor entre os agrupamentos (1,4/1.000). Nas mulheres

variou de 1,3/1.000 na faixa etária ≤ 30 anos a 4,4/1.000 em maiores de 60 anos.

Entre os homens não houve nenhuma licença após os 50 anos, em nenhum dos três

agrupamentos de menor prevalência.

Na comparação entre os agrupamentos diagnósticos, por sexo (Tabela 5), verifica-se que a

razão de prevalência de feminilidade oscilou de 1,3 nos transtornos por uso de substâncias (F30-F39)

até 4,7 nos transtornos mentais orgânicos (F00-F09). Quando esta razão de feminilidade compara

cada um dos agrupamentos diagnósticos isoladamente, por faixa etária ou por agrupamento, verifica-

se que a prevalência nas mulheres foi superior aos homens em todos os agrupamentos e em todas as

faixas etárias, exceto em ≤ 30 anos, única faixa onde os transtornos por uso de substâncias (F10-F19)

e transtornos de humor (F30-F39) foram mais prevalentes nos homens.

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56

Tabela 5. Prevalência de transtorno mental (TM) e agrupamentos psiquiátricos, segundo CID-10, em servidores municipais licenciados,

estratificada por sexo e faixa etária, Goiânia-GO, 2010.

TM/Faixa etária (em anos) ≤ 30 31-40 41-50 51-60 ≥ 61 Total

Comparação

n Prevalência

x 1.000 n

Prevalência

x 1.000 n

Prevalência

x 1.000 n

Prevalência

x 1.000 n

Prevalência

x1.000 n

Prevalência

x 1.000 RP RP F/M

Geral

TM Global Geral 114 28,9 225 37,0 258 42,7 172 46,1 32 43,7 801 39,0

1,9

Humor (F 30 - 39) 72 18,2 139 22,9 173 28,6 114 30,6 24 32,7 522 25,4 1 1,8

Neuróticos (F 40 - 49) 51 12,9 104 17,1 108 17,9 75 20,1 10 13,6 348 16,9 1,5 2,1

Por Uso de Substâncias (F 10 -19) 6 1,5 7 1,2 14 2,3 4 1,1 3 4,1 34 1,7 15,3 1,3

Orgânicos (F 00 -09) 4 1,0 16 2,6 8 1,3 5 1,3 0 0,0 33 1,6 15,8 4,7

Psicóticos Não Orgânicos (F20-29) 5 1,3 6 1,0 11 1,8 5 1,3 2 2,7 29 1,4 18,0 2,9

Total de Servidores Ativos 3951

6073

6049

3729

733

20535

Feminino

TM Global em Mulheres 66 29,2 175 43,8 226 49,2 151 56,7 27 59,3 645 46,2

Humor (F 30 - 39) 40 17,7 102 25,6 153 33,3 100 37,6 20 44,0 415 29,7 1 -

Neuróticos (F 40 - 49) 34 15,0 82 20,5 94 20,5 67 25,2 8 17,6 285 20,4 1,5 -

Por Uso de Substâncias (F 10 -19) 2 0,9 5 1,3 11 2,4 4 1,5 3 6,6 25 1,8 16,6 -

Orgânicos (F 00 -09) 3 1,3 15 3,8 7 1,5 5 1,9 0 0,0 30 2,1 13,8 -

Psicóticos Não Orgânicos (F20-29) 3 1,3 6 1,5 9 2,0 5 1,9 2 4,4 25 1,8 16,6 -

Total de Mulheres 2263

3992

4592

2661

455

13963

Masculino

TM Global em Homens 48 28,4 50 24,0 32 22,0 21 19,7 5 18,0 156 23,7

Humor (F 30 - 39) 32 19,0 37 17,8 20 13,7 14 13,1 4 14,4 107 16,3 1 -

Neuróticos (F 40 - 49) 17 10,1 22 10,6 14 9,6 8 7,5 2 7,2 63 9,6 1,7 -

Por Uso de Substâncias (F 10 -19) 4 2,4 2 1,0 3 2,1 0 0,0 0 0,0 9 1,4 11,9 -

Orgânicos (F 00 -09) 1 0,6 1 0,5 1 0,7 0 0,0 0 0,0 3 0,5 35,7 -

Psicóticos Não Orgânicos (F20-29) 2 1,2 0 0,0 2 1,4 0 0,0 0 0,0 4 0,6 26,8 -

Total de Homens 1688 2081 1457 1068 278 6572

Comparação: RP F/M por idade 1,0 1,8 2,2 2,9 3,3 1,9

RP:Razão de Prevalência; RP F/M:Razão de Feminilidade (Prevalência no sexo feminino/Prevalência no sexo masculino).

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57

5.7. Prevalência de categorias diagnósticas psiquiátricas, por sexo, nos servidores

municipais em licença médica, Goiânia-GO, 2010.

Nos cinco agrupamentos de maior prevalência de transtornos mentais foram identificadas 30

categorias diagnósticas. Entre as 10 categorias de maior prevalência, no geral, o transtorno

depressivo, somado o episódico (F32= 16,9/1.000) e o recorrente (F33= 7,2/1.000), ocupam o

primeiro lugar (Tabela 6), seguido por outros transtornos ansiosos (F41= 9,8/1.000), reação aguda ao

estresse grave e transtorno adaptativo (F43= 7,2/1.000) e transtorno bipolar (F31= 3,7/1.000).

Quando estratificado por sexo, todas estas categorias foram encontradas nestas mesmas posições.

Na comparação entre os sexos (Tabela 6), observa-se que a razão de prevalência nas mulheres

sobre os homens (razão de feminilidade) foi superior em todos os 10 transtornos mais prevalentes,

sendo maior em esquizofrenia e reação ao estresse grave e transtorno adaptativo (F20 e F43= 2,8) e

menor em transtorno depressivo recorrente (F33= 1,5) e transtorno por uso de álcool e múltiplas

drogas (F10 e F11= 1,6).

De todas as 30 categorias diagnósticas encontradas, em apenas cinco a prevalência foi

superior no sexo masculino quando comparado com o feminino, sendo em ordem decrescente de

prevalência: transtorno obsessivo-compulsivo (RP=1,5 em F42= 0,6/0,4 por mil), por uso de cocaína

e somatoforme (RP=1,5 em F14 e F45= 0,3/0,2 por mil), esquizoafetivo e do humor não especificado

(RP=1,5 em F25 e F29= 0,2/0,1 por mil).

Não foi identificado nenhum registro, em nenhum dos sexos, de Transtorno do ciclo vigília-

sono devido a fatores não-orgânicos (F51.2), nem de Síndrome de Esgotamento Profissional ou Burn-

Out (Z73.0) na base de dados.

Considerando-se a co-morbidade entre os transtornos depressivos (episódico ou recorrente), a

prevalência de depressão foi de 23,6 servidores licenciados por mil servidores ativos, com 60,5%

(23,6/39,0) do total de servidores licenciados por TM.

5.8. Duração das licenças entre os servidores afastados por morbidade psiquiátrica

global e agrupamentos, por sexo, faixa etária, faixa salarial e tempo de afastamento

categorizado, nos servidores municipais, Goiânia-GO, 2010.

A proporção da morbidade psiquiátrica no total de dias de afastamento concedidos a todos os

servidores municipais, por todas as causas, no ano, foi 22,1%, com 75,6% desta carga em mulheres,

seguido por Doenças Osteomusculares (20,3%) e Lesões (18,1%).

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58

Tabela 6. Categorias diagnósticas psiquiátricas, segundo capítulo V da CID-10, de maior prevalência em servidores municipais licenciados,

por mil servidores ativos, Goiânia-GO, 2010.

TM Geral (n=20.535) Feminino (n=13.963) Masculino (n=6.572) Comparação

n (%)

Prevalência

X 1.000 RP n (%)

Prevalência

X 1.000 RP n (%)

Prevalência

X 1.000 RP RP F/M

TM Global (F00-F99) 801 100 39,0

645 100 46,2

156 100 23,7 1,9

Humor (F 30-F39) 522 65,2 25,4 415 64,3 29,7 107 68,6 16,3 1,8

F 32 - Episódio depressivo 348 43,4 16,9 1 279 43,3 20,0 1 69 44,2 10,5 1 1,9

F 33 - T. depressivo recorrente 147 18,4 7,2 2,4 111 17,2 7,9 2,5 36 23,1 5,5 1,9 1,5

F 31 - T. bipolar 75 9,4 3,7 4,6 61 9,5 4,4 4,6 14 9,0 2,1 4,9 2,1

Neuróticos (F40-F49) 348 43,4 16,9 1,0 285 44,2 20,4 1,0 63 40,4 9,6 1,1 2,1

F 41 - Outros transtornos ansiosos 201 25,1 9,8 1,7 159 24,7 11,4 1,8 42 26,9 6,4 1,6 1,8

F 43 - Reação ao stress grave e T. adaptativo 147 18,4 7,2 2,4 126 19,5 9,0 2,2 21 13,5 3,2 3,3 2,8

Por Uso de Substâncias (F10-F19) 34 4,2 1,7 10,2 25 3,9 1,8 11,2 9 5,8 1,4 7,7 1,3

F 10 - Álcool 18 2,2 0,9 19,3 14 2,2 1,0 19,9 4 2,6 0,6 17,3 1,6

F 19 - Múltiplas drogas 13 1,6 0,6 26,7 10 1,6 0,7 27,9 3 1,9 0,5 23,0 1,6

Orgânicos (F00-F09) 33 4,1 1,6 10,5 30 4,7 2,1 9,3 3 1,9 0,5 23,0 4,7

F 06 - Outros transtornos mentais orgânicos 25 3,1 1,2 13,9 16 2,5 1,1 17,5 3 1,9 0,5 23,0 2,5

Psicóticos Não Orgânicos (F20-F29) 29 3,6 1,4 12,0 25 3,9 1,8 11,2 4 2,6 0,6 17,3 2,9

F 20 - Esquizofrenia 14 1,7 0,7 24,8 12 1,9 0,9 23,3 2 1,3 0,3 34,5 2,8

F 23 - T. psicótico agudo e transitório 14 1,7 0,7 24,8 11 1,7 0,8 25,4 3 1,9 0,5 23,0 1,7

RP:Razão de Prevalência; RP F/M: Razão de Feminilidade (Prevalência no sexo feminino/Prevalência no sexo masculino)

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Tabela 7. Proporção de servidores municipais licenciados por morbidade psiquiátrica global e agrupamentos, segundo duração

dos afastamentos em dias, distribuída por sexo, Goiânia-GO, 2010. Total TM Humor Neuróticos Substâncias Orgânicos Psicóticos Total Licenciados

Transtorno Mental (TM) (F00-F99) (F30-F39) (F40-F49) (F19-F19) (F00-F09) (F20-F29)

Duração das Licenças

(dias) % N % n % n % n % n % n %

Geral

≤ 15 200 25,0 125 23,9 92 26,4 7 20,6 13 39,4 10 34,5 2311 45,9

> 15 601 75,0

397 76,1

256 73,6

27 79,4

20 60,6

19 65,5 2727 54,1

> 30 424 52,9 284 54,4 176 50,6 19 55,9 17 51,5 15 51,7

1621 32,2

> 60 231 28,8

155 29,7

96 27,6

12 35,3

13 39,4

9 31,0

782 15,5

≥ 91 162 20,2 107 20,5 63 18,1 10 29,4 8 24,2 8 27,6 501 9,9

Total Geral 801

522

348

34

33

29

5038

Feminino

≤ 15 171 26,5 105 25,3 81 28,4 6 24,0 12 40,0 10 40,0 1708 44,3

> 15 474 73,5

310 74,7 204 71,6 19 76,0 18 60,0 15 60,0

2144 55,7

> 30 332 51,5 221 53,3

141 49,5

12 48,0

15 50,0

12 48,0

1254 32,6

> 60 188 29,1

129 31,1

79 27,7

6 24,0

11 36,7

7 28,0

575 14,9

≥ 91 126 19,5 84 20,2 50 17,5 5 20,0 6 20,0 6 24,0 360 9,3

TotalMulheres 645

415

285

25

30

25

3852

Masculino

≤ 15 29 18,6 20 18,7 11 17,5 1 11,1 1 33,3 0 0 603 50,8

> 15 127 81,4

87 81,3

52 82,5

8 88,9 2 66,7

4 100 583 49,2

> 30 92 59,0 63 58,9 35 55,6 7 77,8

2 66,7 3 75

367 30,9

> 60 43 27,6

26 24,3

17 27,0

6 66,7

2 66,7

2 50

207 17,5

≥ 91 36 23,1 23 21,5 13 20,6 5 55,6 2 66,7 2 50 141 11,9

Total Homens 156 107 63 9 3 4 1186

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60

Tabela 8. Duração das licenças por morbidade psiquiátrica global e agrupamentos, distribuída por sexo, faixa etária e faixa salarial nos servidores

municipais, calculadas pela mediana e média, Goiânia-GO, 2010.

TM Humor Neuróticos Substâncias Orgânicos Psicóticos Total Mental Média DP

Característica (F30-F39) (F40-F49) (F19-F19) (F00-F09) (F20-F29) n (F00-F99)

Sexo

Feminino 36 (15; 82) 30 (15; 75) 30 (16; 65) 34 (10; 90) 30 (12; 105)

645 34 (15; 75) 67,87 81,39

Masculino 43 (25; 60) 45 (29; 75) 120 (44; 150) 105 (60; 112) 142 (31; 287)

156 45 (27; 75) 78,36 92,01

Faixa etária I (anos)

< 40 31 (15; 60) 30 (15; 60) 60 (22; 150) 18 (10; 77) 30 (12; 119)

314 30 (15; 60) 53,52 60,58

≥ 40 45 (20; 90) 40 (15; 90) 45 (22; 73) 60 (15; 120) 40 (15; 131)

487 45 (20; 90) 80,48 94,11

Faixa etária II (anos)

≤ 30 33 (17; 60) 30 (15; 60) 120 (16; 180) 96 (25; 165) 45 (22; 214)

114 30 (15; 60) 50,73 55,09

31-40 36 (15; 70) 30 (15; 65) 30 (28; 120) 15 (11; 59) 15 (9; 37)

225 30 (15; 61) 56,11 62,48

41-50 35 (19; 77) 37 (20; 90) 60 (26; 125) 87 (37; 120) 60 (10; 300)

258 37 (20; 90) 76,72 91,59

51-60 45 (19; 104) 40 (15; 90) 37 (18; 101) 30 (10; 158) 60 (30;156)

172 45 (18; 99) 80,91 94,79

≥ 61 75 (30; 207) 60 (27; 305) 30 (19; 45) - 18 (7; 30)

32 60 (30; 207) 121,31 124,46

Faixa salarial

(salário mínimo)

< 3 35 (15; 74) 30 (15; 66) 60 (29; 120) 30 (13; 90) 30 (12; 156)

461 30 (15; 70) 67,42 83,37

3 a 6 45 (30; 82) 37 (19; 75) 30 (16; 170) 52 (10; 125) 32 (15; 156)

199 42 (21; 82) 70,98 81,98

> 6 45 (20; 90 ) 50 (30; 75) 52 (20; 120) 120 (60; 180) 60 (48; 105) 140 24 (45; 90) 76,88 87,03

Mediana com interrvalos interquartílicos de 25-75% e média com desvio padrão (DP)

Salário mínimo em 2010 com valor de R$ 510,00 reais.

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61

Quando os servidores licenciados por morbidade psiquiátrica global são distribuídos por

duração da licença, categorizada por faixa de tempo em dias (Tabela 7), observa-se que 75,0% foram

afastados por período superior a 15 dias, 52,9% acima de 30 dias e 28,8% maior de 90 dias. Entre os

licenciados por todas as causas, isto representa uma proporção de 22,0% (> 15 dias), 26,2 (> 30 dias)

e 20,2% (>90 dias).

No sexo masculino, a proporção de licenças com maior duração de afastamento foi superior

na morbidade psiquiátrica global (81,4% > 15dias e 23,1% maior que 90 dias) e em todos os

agrupamentos, com maior proporção nos Transtornos por uso de substância (88,9% > 15 dias e

55,6% superior a 90 dias). Nos homens com Transtorno Psicótico não orgânico, 100% tiveram

duração da licença >15 dias.

A mediana de duração do afastamento encontrada no estudo foi de 30 dias (intervalos

interquartílicos de 25-75% de 15 a 60 dias) e a média de 69,9 dias (desvio padrão de 83,6 dias). Na

distribuição por sexo, uma maior duração global em todos os agrupamentos foi observada no sexo

masculino (Tabela 8).

Quanto à faixa etária e faixa salarial, observa-se a tendência em todos os agrupamentos

diagnósticos de aumento no tempo de afastamento com a idade e com o aumento da faixa salarial,

exceto nos Transtornos por uso de substâncias. Nestes, a mediana é maior na faixa etária ≤ 40 anos

(60 dias, intervalos interquartílicos de 25 e 75% de 22-150) e na faixa salarial < 3 salários mínimos

(60 dias; 22-150).

A maior mediana encontrada no estudo foi de 120 dias no Transtorno por uso de substâncias,

sendo no sexo masculino (120; 44-150) e na faixa ≤ 30 anos (120; 16-180) e no agrupamento de

Transtornos mentais orgânicos na faixa salarial > 6 salários mínimos (120; 60-180).

Quando a prevalência de Transtornos Mentais é calculada conforme a duração dos

afastamentos, nota-se nos servidores afastados por até 15 dias uma prevalência 9,7/1.000 e entre os

licenciados por período superior foi de 29,2/1.000, com diferença estatisticamente significante

(p<0,001), sendo esta diferença maior nos homens (1,4/1.000 e 6,2/1.000).

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62

6 DISCUSSÃO

Este estudo confirma a relevância da morbidade psiquiátrica no afastamento do trabalho de

servidores públicos. Transtornos Mentais tiveram a maior carga de incapacitação temporária para o

trabalho (22%) no ano de 2010 na população estudada, superando as Doenças Osteomusculares

(20%) e Lesões (18%).

Nas licenças concedidas, Transtorno Mental esteve no topo de maior morbidade

proporcional (17,2%) e prevalência (7,6%) entre Lesões e Doenças Osteomusculares. Além disto,

teve a terceira maior morbidade proporcional em servidores licenciados por motivo de saúde

(15,9%) e prevalência (3,9%) entre servidores ativos, no ano estudado.

Esta posição encontrada está consoante com a literatura; independente do vínculo, seja no

serviço público ou na rede privada, os Transtornos Mentais estão entre as três principais morbidades

no absenteísmo por doença (SOUZA et al., 2008, BRASIL, 2011; BARBOSA BRANCO et al.,

2012;), porém em magnitude superior.

Este estudo também está de acordo com resultados obtidos em outras pesquisas quanto aos

agrupamentos psiquiátricos de maior prevalência entre trabalhadores afastados. Confirmou-se a

inversão de posição entre os transtornos neuróticos e de humor na comparação com a população

geral (ALMEIDA-FILHO et al., 1997; ANDRADE et al., 2002; ANDRADE et al., 2012; VIANA &

ANDRADE, 2012) e os trabalhadores licenciados (BARBOSA-BRANCO et al., 2012).

Enquanto os transtornos neuróticos (ansiedade, estresse e somatoformes) são os mais

prevalentes em estudos de base populacional, os de humor ocupam esta posição nos trabalhadores

em licença. Nos transtornos de humor, ainda que com menor prevalência na população geral, nota-

se a maior prevalência nos trabalhadores afastados, levando a um maior número de licenças e com

maior tempo de duração. Nos trabalhadores da previdência social no país, o segundo agrupamento

observado foi o de uso de substâncias, não os neuróticos (BARBOSA-BRANCO et al., 2012).

Outra constatação no presente estudo foi a carga isolada da depressão no afastamento do

trabalho por transtornos mentais e por todas as causas, semelhante ao observado nos trabalhadores

em geral no Brasil e no mundo (BARBOSA-BRANCO et al., 2012). Se somarmos ao diagnóstico

específico de depressão episódica e recorrente a depressão presente no transtorno bipolar, nos

transtornos mistos de depressão e ansiedade, entre outras categorias, o peso da depressão aumenta

de 60,0% para mais de 75,0% na população afastada no presente estudo.

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Transtornos por uso de substâncias ocuparam a terceira posição entre os agrupamentos

psiquiátricos, similar ao encontrado na população geral e nos afastamentos dos trabalhadores em

geral, porém, com prevalência bem inferior aos transtornos neuróticos que estiveram na segunda

posição e com valores similares dos agrupamentos de transtornos mentais orgânicos e psicóticos

não orgânicos. Outro achado sobre os transtornos por uso de substância foi a prevalência ter sido

superior no sexo feminino, apesar de sua prevalência ser maior no sexo masculino na população

geral, bem como nos afastamentos de trabalhadores em geral, em todas as faixas etárias, chegando a

ser 18,9 vezes maior nos homens em licença (ANDRADE et al., 2002; ANDRADE et al., 2012;

SANTOS & SIQUEIRA, 2010; BARBOSA-BRANCo et al., 2012) .

A análise por faixa etária mostrou aspectos diferentes do habitualmente verificado por outros

estudos. Nesta pesquisa, a prevalência global de TM e por agrupamentos, nos homens, não só foi

maior entre os mais jovens, como também diminuiu gradativamente com a elevação da faixa etária.

A longa duração nos afastamentos por TM, bem superior ao encontrado em outras

morbidades, também confirma estudos brasileiros e internacionais, tanto no serviço público, quanto

na população geral. Os homens, neste estudo também se afastaram por períodos mais longos que as

mulheres (BARBOSA-BRANCO et al., 2012, HENSING et al., 2006; MONCRIEFF &

POMERLEAU, 2000).

A morbidade psiquiátrica proporcional encontrada em servidores municipais afastados por

mais de 15 dias (22%) foi superior ao da Noruega (16,8%) e considerando-se 30 dias (26,2%), foi

maior que da Holanda (19,8%). A prevalência global de TM nos servidores estudados (29,3/1.000

em >15 e 20,7/1.000 em >30) ultrapassou a observada em trabalhadores noruegueses (25/1.000) e

aproximou-se dos holandeses (20,0/1.000) (NYSTUEN et al., 2001; ROELEN et al., 2009).

Em relação a estudos nacionais, pode-se verificar diferença metodológica entre este estudo e

estudos realizados com base na previdência social do país. Nesse estudo calculou-se a prevalência

de servidores em licença e a de licenças (independente da repetição e do intervalo entre elas em um

mesmo trabalhador). Para o cálculo da prevalência nos servidores municipais, os trabalhadores

identificados foram incluídos no numerador e no denominador, permitindo obter, tanto a população

exata acometida, quanto a de risco.

Nos estudos do regime geral com registros do sistema previdenciário brasileiro, para o

cálculo da prevalência, foram inseridas no numerador as licenças e no denominador os postos de

trabalho, em nenhum deles os trabalhadores identificados. Nestes, no numerador, cada licença foi

computada uma única vez por trabalhador, mesmo quando possuísse repetição de vínculo

previdenciário. As licenças foram agrupadas como episódio único apenas quando o intervalo entre

os afastamentos foi menor que 60 dias, caso contrário, foram contadas todas as licenças como um

novo caso no período, mesmo sendo de trabalhador que já tivesse licenciado no mesmo ano. No

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denominador não foram agregados e analisados os múltiplos vínculos, portanto não se estimou os

trabalhadores em risco (BARBOSA-BRANCO et al., 2012).

A padronização entre numerador e denominador por trabalhador, com identificação e análise

da duplicidade de vínculos no município, através do relacionamento determinístico interno e entre

as bases de dados pela técnica do linkage com o uso do Link Plus, possibilitou constatar uma

prevalência superior nos servidores com duplo vínculo, representados principalmente por mulheres.

Provavelmente esta diferença pode vir a ser de magnitude ainda maior, caso forem agregados os

duplos vínculos não estatutários no mesmo município, com outros municípios e outros níveis da

esfera pública, bem como com os serviços da rede privada.

Dados da literatura apontam uma maior concessão de afastamento e com duração superior

no afastamento, quando a avaliação pericial do requerimento da licença é realizado por médicos

peritos não psiquiatras (SIANO et al., 2011). Na previdência social, na maioria das vezes, o perito

que aprecia o pedido de afastamento por transtorno mental não é psiquiatra. A junta médica pericial

do município de Goiânia contou, no ano do estudo, com médicos psiquiatras para apreciação do

atestado psiquiátrico. No entanto, a prevalência encontrada entre os servidores municipais de

Goiânia afastados por período superior a 15 dias (29,3/1.000) foi 6,5 vezes maior à observada em

trabalhadores regidos pela previdência social no país (4,5/1.000). Nesta comparação a morbidade

proporcional por transtornos mentais nos servidores municipais (22,0%) foi duas vezes à verificada

entre os trabalhadores da previdência (10,7%) (BARBOSA-BRANCO et al., 2012).

A diferença entre a prevalência e proporção de afastamento por TM em trabalhadores

submetidos a regimes trabalhistas diversos pode estar relacionada à presença de estabilidade no

emprego, o que possivelmente influencia na decisão de requerer ou não licença por TM na rede

pública e privada de forma diferenciada, por questões socioeconômicas.

Nos trabalhadores não estatutários, a reposição salarial durante a licença pode ser bastante

reduzida e o emprego, ainda que indireta e subjetivamente, pode estar ameaçado, colocando a

manutenção da renda em ordem superior de prioridade com relação à saúde, o que pode gerar uma

demanda reprimida na solicitação de licença por transtorno mental (BARBOSA-BRANCO, 2012).

Nos trabalhadores estatutários, a maior iniciativa de licença por TM pode estar facilitada pela quase

inexistência de demissão (mesmo no período probatório) e pelo processo de avaliação funcional

para progressão ser menos exigente (GUIMARÃES et al., 2006).

A diferença entre a proporção e prevalência de TM nos afastamentos ao trabalho na

população geral de trabalhadores e servidores públicos pode também estar relacionada em parte, a

um maior sofrimento psíquico no serviço público, associado ao fato da maioria dos servidores

estarem em atividade fim, em contato com pessoas na saúde, educação, segurança e fiscalização

(BARBOSA-BRANCO et al., 2012).

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Nos últimos anos, estes setores tiveram importante implicação na insatisfação popular no

Brasil, incluindo manifestações públicas ocorridas no corrente ano, com protestos relacionados à

qualidade dos serviços públicos oferecidos e contra a corrupção agravada pela promiscuidade

público-privado. Conquistas recentes no congresso incluem a aprovação de destinação de 75% dos

royalties do petróleo para educação e 25% para a saúde, definição de corrupção como crime

hediondo e exigência de ficha limpa para ocupantes de cargos públicos. São também áreas de

trabalho consideradas, geralmente, de alta demanda, baixa autonomia e baixo apoio social aos

servidores (STANFELD & CANDY, 2006; KARASEK, 1981; ARAÚJO et al., 2003; JOHNSON &

HALL, 1988).

No serviço público, devido à escassa frequência de demissões, punições e advertências

através de processos administrativos, agravados pelo preenchimento das inúmeras chefias

comissionadas não por competência técnica para a gestão, mas por troca de favores forma-se um

terreno fácil para o exercício do abuso moral e o assédio sexual. A degradação das relações

manifesta nas atuações de promiscuidade, sedução e corrupção moral, sexual e econômica, ao lado

do autoritarismo e em detrimento da autonomia solidária na direção da coisa pública, muitas vezes

contam com a atônita e inconsciente conivência de muitos trabalhadores, afetando ainda mais sua

autoestima e dignidade humana (CATALDI, 2002; GARCIA CALLEJO, 2003).

Ainda que, de maneira geral, seja pouca observada a caracterização do nexo causal dos

transtornos mentais com o trabalho por parte das perícias (NETTERSTRON et al., 2008, LIPPEL &

SICCA, 2010), esta correlação por parte da Junta Médica Municipal em Goiânia (< 1%) foi muito

inferior ao encontrado no país no mesmo ano (BRASIL, 2011) e em estudos de anos adjacentes

(BARBOSA-BRANCO, 2012) através do regime geral da previdência.

Considerando-se que os diagnósticos psiquiátricos mais prevalentes no estudo estão contidos

na lista dos Transtornos Mentais potencialmente relacionados ao trabalho no país, a menor

proporção na identificação da relação destes com o trabalho nas perícias médicas do município,

pode revelar menor dedicação ao fenômeno. A inexistência de registro de diagnóstico de Síndrome

do Esgotamento Profissional ou Burn-Out (Z73.0) e de Transtorno do ciclo vigília-sono devido a

fatores não-orgânicos (F51.2) na base de dados do estudo apontou nesta mesma direção.

A permanência de mesma fonte de pagamento dos benefícios, independente da

caracterização da relação com o trabalho, diferentemente do regime da previdência social, pode

favorecer a menor frequência de caracterização da relação do transtorno com o trabalho no serviço

público.

Neste estudo, quando se estratificou a prevalência pelos sexos, apenas uma característica

sociodemográfica (nível de escolaridade) manteve padrão semelhante entre homens e mulheres.

Enquanto a análise geral apontou, por exemplo, associação para estado conjugal casado, na

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estratificação por sexo, entre os homens casados e solteiros não houve diferença alguma na

prevalência. Todavia, nas características ocupacionais, tanto o duplo vínculo quanto o tempo de

serviço (< 3 anos e 10-20 anos) estiveram similares entre homens e mulheres. Na natureza do cargo

houve grande diferença na prevalência entre os sexos.

Educação foi o cargo de maior prevalência de TM no sexo feminino, e o segundo entre os

homens, enquanto que os cargos de natureza operacional e administrativo ocuparam a terceira e

quarta posição em ambos os sexos. No entanto, a fiscalização foi o cargo de maior prevalência entre

os homens e menor entre as mulheres. O cargo de saúde foi o de menor prevalência no sexo

masculino e ocupou a segunda posição no sexo feminino.

Nas variáveis ocupacionais a associação com duplo vínculo, com período <3 anos e entre 11

e 20 anos de serviço público, apontou para o incremento da associação de TM com a elevação da

carga de trabalho e na direção de períodos de maior tensão (estágio probatório e em década

intermediária de trabalho).

A natureza operacional e administrativo do cargo estiveram nas terceira e quarta posições de

prevalência de TM em ambos os sexos, com menor diferença de prevalência entre homens e

mulheres, apontando possível peso similar dessas ocupações no sexo masculino e feminino.

As grandes variações da prevalência de TM segundo as características sociodemográficas

entre os sexos, por vezes opostas e a manutenção de alguns fatores ocupacionais com similar

dinâmica em ambos os sexos e com maior força de associação, podem sugerir a participação de

fatores sociodemográficos apenas como confundidores, ou na melhor das hipóteses, alguns deles,

como sinérgicos (de interação) em relação às características ocupacionais na sobredeterminação

psicossocial do afastamento do trabalho por transtorno mental entre os servidores.

Por outro lado, a manutenção de diferenças na prevalência entre os sexos, por vezes em

extremo (fiscalização e saúde), pode sugerir que homens e mulheres apresentem diferenças na

percepção (demanda esperada e recompensa recebida), reação (autonomia expressa e esforço

desempenhado) e presença de apoio social com relação às atividades de trabalho desenvolvidas. Os

mais variados contextos nas relações de trabalho e na organização do processo de trabalho podem

contribuir de forma diversa para o processo de adoecimento mental nos diferentes sexos.

Estudo multinacional de percepção de fardo no cuidado de pessoas da família com

problemas de saúde física e mental apontou que 39,0% a 39,6% relataram fardo, com dedicação de

22,9% a 31,1% de seu tempo, 23,3% a 27,1% com distúrbios psíquicos decorrentes deste fato

predominando em mulheres para o cuidado dos pais, cônjuges e filhos. O trabalho escravo dos

cuidadores familiares esteve associado com maior percepção subjetiva de sofrimento psicológico

entre mulheres do que homens, mesmo dedicando a mesma carga de tempo e dinheiro no cuidado

(VIANA et al., 2013).

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Nesta perspectiva, a consequente divisão social do trabalho entre homens e mulheres,

influenciada pelas relações sociais e organização de toda a vida cotidiana na sociedade

contemporânea, reproduzindo a competição da luta de classes, pode impor distintas exigências

estressoras e apoio social, por vezes contraditórias em si mesmas sobre o papel do gênero masculino

e feminino, desde o contexto familiar ao mundo do trabalho (exclusão, manipulação e exploração

por sedução e/ou opressão, envaidecimento e castração).

A alta prevalência dos TM entre servidores, associada às características do trabalho suscitam

também interpelações sobre o sistema de assistência e da previdência do servidor público

municipal.

Caso a carga de afastamento por doença, em particular dos transtornos mentais se mantenha

ou se intensifique, com consequente aumento de afastamentos prolongados ou permanentes, a

assistência e previdência municipal se sustentam? Há risco futuro de quebra do sistema de

previdência do servidor e adesão do serviço público municipal ao regime jurídico da previdência

social, com perda de direitos trabalhistas adquiridos? Em caso afirmativo, é possível intervir para

evitar o colapso?

Embora não tenha sido objeto do presente estudo, outras características socioeconômicas

poderiam influenciar no modo de vida dos servidores em Goiânia, contribuindo para a alta

prevalência de morbidade psiquiátrica?

Goiânia é uma cidade cheia de contradições. Por um lado, a cidade é a máscara sedutora do

bom lugar para se viver: possui o título de capital verde e de melhor qualidade de vida entre as

capitais brasileiras, com o maior índice de área verde por habitante, 8 vezes o recomendado pela

ONU para as metrópoles, ultrapassada mundialmente apenas por Edmonton no Canadá e com

muitos parques de convivência. Possui o menor número de favelas entre as capitais brasileiras e é a

12ª entre as capitais e 22ª entre as cidades mais ricas do país. Como importante polo econômico,

Goiânia destaca-se como referência em áreas estratégicas como serviços públicos, medicina, moda,

especulação imobiliária, indústria e agropecuária.

Por outro lado, Goiânia é a 6ª maior cidade do Brasil em tamanho e sofreu acelerado

crescimento populacional a partir dos anos 60 com a transferência do poder federal para Brasília,

ultrapassando um 1milhão de habitantes apenas 60 anos após sua fundação. Com população

estimada em 1.318.148 habitantes atualmente, atrás de Brasília é a 2ª mais populosa da Região

Centro-Oeste e a 12ª mais populosa região metropolitana do Brasil, constituindo através do Eixo

Goiânia-Brasília (Grande Goiânia RIDE) o 3º maior conglomerado urbano do país com mais de 6

milhões de habitantes (IBGE, 2012).

Grandes desafios têm acompanhado, na sombra, o rápido crescimento da cidade, entre eles a

desigualdade social. Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), Goiânia é considerada a 1ª

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cidade mais desigual do Brasil e a 10ª do mundo. Há complicações no transporte e aumento

gradativo dos indicadores de acidentes e violência (3ª capital em mortes por acidentes de trânsito e

15ª em homicídios no país), além da poluição (principalmente automotiva, que agrava ainda mais a

qualidade do ar no período da seca). O contexto em que estão inseridos os trabalhadores do serviço

público do município, que representam mais de 3% da população total da cidade (GOIÂNIA, 2011),

apresenta fatores desfavoráveis à saúde e qualidade de vida coletiva.

A combinação entre urbanização, desenvolvimento econômico e alta desigualdade social

encontrada no município tem sido apontada como fator associado à elevada prevalência de

transtornos mentais no país (ANDRADE et al., 2012).

Caso Freud estivesse vivo, poderia estar lançando um novo capítulo de sua obra, “o mal

estar da globalização”, onde predomina a depressão, a ansiedade, o uso de substâncias e outros

sofrimentos relacionados com as novas políticas de gestão e organização do trabalho, vinculadas,

por sua vez, às políticas neoliberais e sua nova ordem capitalista.

Enfim, quanto às limitações deste estudo, o fato de tomarmos como data inicial de

concessão de licença o dia 1° do ano de 2010, excluiu-se do denominador os servidores que tiveram

requerimentos deferidos no ano anterior, incluindo os de longa duração, que estiveram afastados no

ano do estudo e que porventura não tiveram recorrências em 2010. Mesmo estando em licença,

estes não foram computados no cálculo da prevalência, possivelmente subestimando seu valor.

A análise dos fatores associados foi realizada para prevalência global de TM, sem

aprofundar nas possíveis diferenças entre os agrupamentos psiquiátricos.

Parte das limitações pode estar relacionada ao fato da análise de associação para fatores

sociodemográficos e ocupacionais potencialmente associados ao afastamento por TM, ter sido

restrita à análise univariada, sem ajuste para potenciais variáveis de confusão.

Outros aspectos estão relacionados ao limite da análise dos fatores ocupacionais ter se

restringido à natureza do cargo de ocupação, sem detalhar a profissão ou função específica

relacionada a este, e principalmente, sem considerar o órgão e o local de lotação do servidor. Neste

estudo, também não houve a participação dos servidores licenciados através de sua própria

percepção do impacto do trabalho e da vida sobre sua saúde e sofrimento mental.

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7 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES

Os resultados do presente estudo possibilitaram delinear o perfil e a magnitude dos

afastamentos por transtornos mentais, seus agrupamentos e categorias, entre os servidores do

município de Goiânia. Neste estudo identificou-se alta prevalência e longa duração nas licenças.

Os TM foram identificados como uma das três motivações de maior proporção e prevalência

de afastamentos entre os servidores. Quando se considerou a duração dos afastamentos, os

Transtornos Mentais se confirmaram como a maior carga de morbidade no afastamento do trabalho

entre servidores municipais estudados. Observou-se também elevada reincidência de licenças por

TM.

Depressão foi constatada como a morbidade isolada de maior carga nos afastamentos e os

transtornos por uso de substâncias foram mais prevalentes entre as servidoras.

Na avaliação do perfil dos servidores licenciados constatou-se uma significativa diferença

entre os sexos em relação ao padrão de prevalência por TM. Homens e mulheres divergiram, na

maioria dos aspectos socio-demográficos, bem como na natureza do cargo de ocupação analisados.

Diante de tamanha diferença, o presente estudo aponta a importância de se explorar os potenciais

fatores associados aos afastamentos por TM através de novas análises, que permitam aprofundar as

diferenças de gênero.

A pesquisa realizada permitiu delinear o perfil de afastamentos por TM para os diferentes

cargos, com diferenças marcantes nas prevalências confirmadas na distribuição por sexo. A análise

das variáveis ocupacionais aponta na direção da relevante importância da determinação social

relacionados ao trabalho no afastamento dos servidores.

O presente estudo representa uma linha de base para o aprofundamento dos fatores

psicossociais associados à alta prevalência de morbidade psiquiátrica no setor público.

Outros tipos de análises, como por exemplo, a multivariada com a utilização de diferentes

modelos hierárquicos ou não, bem como análise multinível, podem ser mais adequadas para

explorar mais detalhadamente fatores associados aos afastamentos por TM entre os servidores.

Considerando-se que o presente estudo possibilitou identificar alguns grupos com maior risco

ou vulnerabilidade para TM, como por exemplo, as mulheres, duplo vínculo, em estágio probatório

ou década intermediária de tempo de serviço público e principalmente determinados cargos de

ocupação, faz-se necessário maior aprofundamento dos fatores psicossociais associados à alta

prevalência de morbidade psiquiátrica no setor público e às diferenças de gênero e trabalho.

Esses resultados apontam para a necessidade de novas pesquisas que aprofundem na relação

entre sexo, cargo de ocupação e TM, amplie o limite da análise para a lotação dos servidores,

podendo trazer novas contribuições.

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Uma vez que houve diferença importante entre natureza do cargo e sexo no afastamento por

TM, a análise do cargo com os agrupamentos psiquiátricos pode aprofundar na análise na diferença

de gênero.

Análise dos fatores associados à prevalência dos dois principais agrupamentos psiquiátricos

pode contribuir na identificação de que possíveis fatores poderiam estar mais associados

especificamente a alterações do humor (depressão) ou neuróticos (ansiedade), com ou sem

comorbidade entre ambos.

A participação ativa dos atores sociais do serviço público, como protagonistas em pesquisas,

compartilhando suas próprias percepções sobre o contexto, conteúdo, continente e ambiente de

trabalho (incluindo a organização e as relações) pode vir a ser de grande utilidade na elucidação das

questões apontadas no estudo e abertura de novas pesquisas.

Os resultados do presente estudo mostram a relevância dos TM na saúde dos servidores e

trazem subsídios para o planejamento, execução e avaliação de medidas de promoção, vigilância e

atenção à saúde mental do servidor municipal de Goiânia.

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9. ANEXOS

Anexo 1 - Categorização dos cargos quanto à natureza da ocupação

Categoria de Cargo Profissão ou Função

Operacional encanador, eletricista, pedreiro, pintor, servente, jardineiro,

frentista, motorista, operador de máquinas, porteiro,

merendeira, auxiliar de serviços de higiene e limpeza, agente de

serviços gerais, etc.

Educação pedagogo, professor e auxiliar de atividades educativas

(magistério)

Administrativo administrador, assessor, auxiliar e assistente administrativo, apoio técnico-administrativo, secretária, recepcionista, telefonista, analista de sistemas, procurador jurídico, analista em comunicação social, agente de serviços sociais, contador, economista, auxiliar de sala de leitura, atendente de telemarketing, analista em cultura e desporto, engenheiro, arquiteto, auxiliar de topografia, etc.

Saúde médico, enfermeiro, auxiliar e técnico de enfermagem, agente

de saúde, farmacêutico, nutricionista, psicólogo, cirurgião

dentista, técnico de higiene dental, biomédico, técnico de

laboratório, técnico em radiologia, etc.

Fiscalização guarda municipal, fiscal de posturas, agente fiscal de posturas,

auditor de tributos, fiscal de saúde pública, fiscal de transporte

e agente municipal de trânsito.

Fonte: Prefeitura de Goiânia-Goiás

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Anexo 2 – Parecer do Comitê de Ética em Pesquisa