UNIVERSIDADE FEDERAL DE ITAJUBÁ - saturno.unifei.edu.brsaturno.unifei.edu.br/bim/0030609.pdf ·...

112
UNIVERSIDADE FEDERAL DE ITAJUBÁ Renata Aparecida Ribeiro Custódio ANÁLISE ERGONÔMICA DO TRABALHO APLICADA À ODONTOLOGIA – CLÍNICA GERAL – UM ESTUDO DE CASO Dissertação submetida ao Programa de Pós Graduação em Engenharia de Produção como requisito parcial à obtenção do título de Mestre em Ciências em Engenharia de Produção Orientador: Prof. Carlos Eduardo Sanches da Silva, Dr. Itajubá 2006

Transcript of UNIVERSIDADE FEDERAL DE ITAJUBÁ - saturno.unifei.edu.brsaturno.unifei.edu.br/bim/0030609.pdf ·...

Page 1: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ITAJUBÁ - saturno.unifei.edu.brsaturno.unifei.edu.br/bim/0030609.pdf · Odontologia e Ergonomia 5 2.1 ... Análise Ergonômica do Trabalho aplicada no estudo

UNIVERSIDADE FEDERAL DE ITAJUBÁ

Renata Apar ecida Ribeiro Custódio

ANÁLISE ERGONÔMICA DO TRABALHO APLICADA À ODONTOLOGIA – CLÍNICA

GERAL – UM ESTUDO DE CASO

Dissertação submetida ao Programa de Pós­

Graduação em Engenharia de Produção como

requisito parcial à obtenção do título de Mestre em

Ciências em Engenharia de Produção

Or ientador : Prof. Carlos Eduardo Sanches da Silva, Dr.

Itajubá 2006

Page 2: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ITAJUBÁ - saturno.unifei.edu.brsaturno.unifei.edu.br/bim/0030609.pdf · Odontologia e Ergonomia 5 2.1 ... Análise Ergonômica do Trabalho aplicada no estudo

ii

UNIVERSIDADE FEDERAL DE ITAJUBÁ

Renata Apar ecida Ribeiro Custódio

ANÁLISE ERGONÔMICA DO TRABALHO APLICADA À ODONTOLOGIA – CLÍNICA

GERAL – UM ESTUDO DE CASO

Dissertação aprovada por banca examinadora em 22 de dezembro de 2006, conferindo à

autora o título de Mestre em Ciências em Engenharia de Produção.

Banca Examinadora:

Examinador: Prof. José Geraldo Trani Brandão, Dr.

Examinador: Prof. Carlos Henrique Pereira Melo, Dr.

Or ientador : Prof. Carlos Eduardo Sanches da Silva, Dr.

Itajubá 2006

Page 3: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ITAJUBÁ - saturno.unifei.edu.brsaturno.unifei.edu.br/bim/0030609.pdf · Odontologia e Ergonomia 5 2.1 ... Análise Ergonômica do Trabalho aplicada no estudo

iii

Para Antônio Carlos, Ágata e Íris.

Page 4: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ITAJUBÁ - saturno.unifei.edu.brsaturno.unifei.edu.br/bim/0030609.pdf · Odontologia e Ergonomia 5 2.1 ... Análise Ergonômica do Trabalho aplicada no estudo

iv

AGRADECIMENTOS Tenho muito a agradecer aos professores Luiz Gonzaga Mariano de Souza e Alaor

José Borges de Campos, principalmente pelo apoio para meu ingresso nas ciências em

engenharia.

Ao prof. Carlos Eduardo Sanches da Silva, agradeço a todas as orientações e

oportunidades de estágio­docência tão importantes para minha formação como professora

universitária.

Agradeço ao prof. Carlos Henrique Pereira Mello pelas contribuições ao longo dos

seminários apresentados.

Agradecimento especial à Dra. Siomara Gonçalves Borges pela acolhida, confiança e

apoio. Agradeço também à Marina, enquanto auxiliar extra­bucal, pelo esforço em buscar

soluções para facilitar o trabalho odontológico no caso estudado.

Aos pacientes que a mim permitiram observar seus tratamentos odontológicos, meu

muito obrigado.

Aos representantes da Associação Brasileira de Odontologia (ABO), da Dabi Atlante,

da Revista da Faculdade de Odontologia de Passo Fundo e aos professores Francisco Fialho e

Gilsée Ivan Régis Filho pelo apoio bibliográfico.

Aos meus pais, sempre na arquibancada.

A minha irmã Isabel, engenheira e educadora, que me fortaleceu nos momentos de

cansaço, mostrando­me através de seu exemplo que apenas a dedicação pode levar a

concretização dos trabalhos.

Não posso deixar de agradecer a Angélica, que criou condições para que eu pudesse

me ausentar de minha casa com tranqüilidade para realizar esta pesquisa.

Meu muito obrigado aos amigos Bernadette, Felipe, Marco Aurélio, Mari, Guido,

Tarcisa, Ivone, Thaís pelo apoio que sem a menor dúvida me deram condições para cumprir

as várias etapas deste trabalho.

Page 5: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ITAJUBÁ - saturno.unifei.edu.brsaturno.unifei.edu.br/bim/0030609.pdf · Odontologia e Ergonomia 5 2.1 ... Análise Ergonômica do Trabalho aplicada no estudo

v

Tudo começa com uma escolha.

Page 6: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ITAJUBÁ - saturno.unifei.edu.brsaturno.unifei.edu.br/bim/0030609.pdf · Odontologia e Ergonomia 5 2.1 ... Análise Ergonômica do Trabalho aplicada no estudo

vi

RESUMO Esta dissertação se propôs a realizar a análise da atividade do cirurgião­dentista a fim

de construir um ponto de vista desta profissão. Para tanto foi aplicada a metodologia da Análise Ergonômica do Trabalho – AET, por se tratar de um método de abordagem ascendente, que permite compreender como o trabalhador age e reage nas situações de trabalho. Foi escolhido um caso para estudo, onde o profissional se encontra bem próximo do perfil do cirurgião­dentista brasileiro traçado pelo Instituto Brasileiro de Estudos e Pesquisas Sócio­econômicas (Inbrape). Também foram identificadas as estratégias adotadas para fazer face aos constrangimentos da atividade. O estudo demonstrou haver uma inter­relação entre as ações intra­bucais e os Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho – DORT, mas também evidenciou um forte componente relacionado à organização do trabalho que compromete a produtividade e a qualidade de vida do cirurgião­dentista. Por fim, foram feitas as recomendações ergonômicas para o caso e identificados os referenciais que nortearão o aperfeiçoamento e/ou desenvolvimento do assento odontológico.

Palavras­chave: ergonomia; AET; cirurgião­dentista; odontologia.

Page 7: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ITAJUBÁ - saturno.unifei.edu.brsaturno.unifei.edu.br/bim/0030609.pdf · Odontologia e Ergonomia 5 2.1 ... Análise Ergonômica do Trabalho aplicada no estudo

vii

ABSTRACT The purpose of this study is to analyze the activity of the surgeon­dentist in order to

construct a point of view of this profession. For in such way the methodology of the Analysis Work’s Ergonomics ­ AWE was applied, considering a method of ascending treatment that allows understanding as the worker acts and reacts in the work situations. A case for study was chosen for a professional that is close to the profile of the Brazilian surgeon­dentist did by the Inbrape (Brazilian Institute of Social Economics Research). Also had been identified the strategies adopted to make face to the constraints of the activity. This study demonstrated having interrelations between the intra­mouthed actions and the Work­related Musculoskeletal Disorders – WRMD’s, but also evidenced a strong component related to the organization of the work that compromises the productivity and the quality of life of the surgeon­dentist. Finally, the ergonomic recommendations for the case had been made and references was identified that will guide the improvement and/or development of the surgeon­ dentist seat.

Key­words: ergonomics; AWE; surgeon­dentist; dentistry.

Page 8: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ITAJUBÁ - saturno.unifei.edu.brsaturno.unifei.edu.br/bim/0030609.pdf · Odontologia e Ergonomia 5 2.1 ... Análise Ergonômica do Trabalho aplicada no estudo

viii

LISTA DE FIGURAS Figura 1: Chaves de Garengeot, pelicano e fórceps. 8 Figura 2: Primeira cadeira odontológica. 9 Figura 3: Chaves de Garengeot. 10 Figura 4: Base multifatorial do DORT. 25 Figura 5: esquema gráfico ISO/FDI. 36 Figura 6: Zonas de alcance. 38 Figura 7: A tarefa. 41 Figura 8: Tarefa, atividade e trabalho. 41 Figura 9: Trena CASTO. 49 Figura 10: Goniômetro CARCI. 50 Figura 11: Metodologia AET. 50 Figura 12: Marcação de consulta. 54 Figura 13: Planta baixa do consultório. 55 Figura 14: Medidas do mocho. 56 Figura 15: Equipo com três pontas. 56 Figura 16: Pedal de acionamento do motor. 56 Figura 17: Armários. 57 Figura 18: Gaveteiro móvel. 57 Figura 19: Refletor. 57 Figura 20: Cadeira do paciente. 58 Figura 21: Cuspideira e sugador. 58 Figura 22: Fluxograma das 9 etapas prescritas para a execução da prótese – fase moldagem

definitiva. 59 Figura 23: Fluxograma das 19 etapas prescritas para a execução da restauração

fotopolimerizadora. 60 Figura 24: Primeiro recorte na atividade. 62 Figura 25: Planta baixa do consultório. 63 Figura 26: Vista frontal dos armários alto e baixo sob o balcão. 64 Figura 27: Ação extra­bucal. 66 Figura 28: Ação intra­bucal. 66 Figura 29: Organização do trabalho. 67 Figura 30: Postura fixa na ação intra­bucal. 68 Figura 31: Postura incorreta dos ombros. 69 Figura 32: Postura incorreta da cervical vertebral. 69 Figura 33: Postura incorreta da coluna cervical. 70 Figura 34: Apoio insuficiente dos pés. 70 Figura 35: Deslocamento da CD até o sugador. 75 Figura 36: Pegando material na geladeira 76 Figura 37: Pegando material no armário 76 Figura 38: Aplicação do esquema gráfico. 77 Figura 39: Plano horizontal 79 Figura 40: Compressão da parte inferior da coxa e angulação do joelho. 79 Figura 41: Mocho vista lateral. 80 Figura 42: Angulações da cadeira odontológica em estudo. 81 Figura 43: Ângulos necessários para relaxamento máximo segundo Lehmann. 81 Figura 44: Posição de acionamento do sugador. 82 Figura 45: Zonas de inclinação lateral e flexão do tronco. 83

Page 9: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ITAJUBÁ - saturno.unifei.edu.brsaturno.unifei.edu.br/bim/0030609.pdf · Odontologia e Ergonomia 5 2.1 ... Análise Ergonômica do Trabalho aplicada no estudo

ix

LISTA DE QUADROS Quadro 1: A evolução da ergonomia 19 Quadro 2: Base multifatorial do DORT. 25 Quadro 3: Relação entre trabalho e as entidades nosológicas. 26 Quadro 4: Estudos pertinentes às condições biomecânicas em profissionais da área

odontológica. 29 Quadro 5: Classificação dos movimentos do cirurgião­dentista. 38 Quadro 6: Etapas da intervenção ergonômica. 43 Quadro 7: Observações sobre etapas restauração fotopolimerizada. 61 Quadro 8: Pré­diagnóstico 65 Quadro 9: Posturas e patologias associadas. 84

Page 10: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ITAJUBÁ - saturno.unifei.edu.brsaturno.unifei.edu.br/bim/0030609.pdf · Odontologia e Ergonomia 5 2.1 ... Análise Ergonômica do Trabalho aplicada no estudo

x

LISTA DE ABREVIATURAS ABO – Associação Brasileira de Odontologia

ABENO – Associação Brasileira de Ensino Odontológico

ACBO – Academia Brasileira de Odontologia

AET – Análise Ergonômica do Trabalho

ANVISA – Agência Nacional de Vigilância Sanitária

CD – Cirurgião­dentista

CFO – Conselho Federal de Odontologia

DORT – Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho

FIO – Federação Interestadual de Odontologia

FNO – Federação Nacional de Odontologia

IEA – International Ergonomic Association Inbrape – Instituto Brasileiro de Estudos e Pesquisas Sócio­econômicas

PT – Posto de Trabalho

PTO – Posto de Trabalho Odontológico

SELF – Société d’Ergonomie de Langue Française UDT – Unidade Dental Tripartida

Page 11: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ITAJUBÁ - saturno.unifei.edu.brsaturno.unifei.edu.br/bim/0030609.pdf · Odontologia e Ergonomia 5 2.1 ... Análise Ergonômica do Trabalho aplicada no estudo

xi

SUMÁRIO 1. Introdução 1

1.1 Considerações iniciais 1 1.2 Justificativa 2 1.3 Objetivos Gerais e Específicos 3

1.3.1 Objetivo Geral 3 1.3.2 Objetivos Específicos 3

1.4 Limitações 3 1.5 Estrutura do Trabalho 3

2. Odontologia e Ergonomia 5 2.1 Considerações iniciais 5 2.2 Histórico da Odontologia 5 2.3 Ergonomia 16

2.3.1 A Ergonomia no Brasil 21 2.4 Os Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho do Cirurgião­dentista 23 2.5 Ergonomia e Odontologia 30

2.5.1 O posto de trabalho odontológico 32 2.6 Análise Ergonômica do Trabalho 38

2.6.1 Considerações iniciais 38 2.6.2 Objeto de estudo da AET 39 2.6.3 Tarefa e atividade 40 2.6.4 A construção da ação ergonômica 42

3. Análise Ergonômica do Trabalho aplicada no estudo de caso 47 3.1 Bases para uma abordagem metodológica 47

3.1.1 Pressupostos 47 3.1.2 Instrumentos de estudo 47 3.1.3 O trajeto metodológico 50

3.2 Apresentação do caso estudado 51 3.2.1 A escolha do caso 51 3.2.2 Análise da demanda 51 3.2.3 Abordagem global 53 3.2.4 Pré­diagnóstico 65 3.2.5 Observação sistemática 65

3.3 Considerações finais 71

4. Análise e diagnóstico 72 4.1 Análise das observações 72

4.1.1 A organização do trabalho 72 4.1.2 O consultório odontológico 77 4.1.3 As posturas 83

4.2 Diagnóstico 86

5. Recomendações e conclusões 88 5.1 Recomendações 88

5.1.1 Horários 88 5.1.2 Agendamento 88 5.1.3 Documentos 88

Page 12: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ITAJUBÁ - saturno.unifei.edu.brsaturno.unifei.edu.br/bim/0030609.pdf · Odontologia e Ergonomia 5 2.1 ... Análise Ergonômica do Trabalho aplicada no estudo

xii

5.1.4 Materiais 89 5.1.5 Trabalho a duas mãos 89 5.1.6 Equipamentos e mobiliário 90 5.1.7 Quanto à formação de novos profissionais 90

5.2 Conclusões 91

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 94

ANEXO A 98

ANEXO B 99

ANEXO C 100

Page 13: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ITAJUBÁ - saturno.unifei.edu.brsaturno.unifei.edu.br/bim/0030609.pdf · Odontologia e Ergonomia 5 2.1 ... Análise Ergonômica do Trabalho aplicada no estudo

1

1. Introdução

1.1 Considerações iniciais O homem sofre os efeitos positivos e negativos do trabalho. No que toca aos efeitos

negativos, estes devem ser analisados para que se possa adequar o trabalho ao homem. Esta

dissertação se propõe a estudar o posto de trabalho do cirurgião­dentista, CD, pois o

odontólogo é sem dúvida uma das profissões liberais que se submete aos constrangimentos 1

posturais para a execução de seu trabalho (VILAGRA, 2002). Este profissional trabalha com

um campo visual bastante restrito, a boca, e desenvolve seu trabalho em uma superfície

pequena e de difícil acesso, a faceta de um dente. Para que seu trabalho se cumpra ele adota

posturas fixas que o irão predispor a adquirir doenças osteomusculares (RASIA, 2004).

Segundo Rasia (2004), as pesquisas realizadas até então com estes profissionais são

reducionistas, pois se restringem ao envio de questionários aos CDs. Os estudos encontrados

com o foco voltado para a análise da atividade ainda são incipientes. Deste modo este estudo

visa construir um ponto de vista da atividade deste profissional fundamentado na análise do

trabalho e, sobretudo na relação estabelecida entre as observações, verbalizações, entrevistas,

análise de documentos e dados. Para tanto será utilizada a metodologia da Análise

Ergonômica do Trabalho ­ AET (GUÉRIN et al., 2001) por se tratar de método de

investigação que possibilita ao pesquisador compreender o trabalho a partir da análise das

atividades e das situações de trabalho, ou seja, confrontando o idealizado com o real e

buscando estabelecer uma relação de fatos em situação de trabalho que esteja contribuindo

para a ocorrência de efeitos negativos sobre a saúde. Neste estudo a AET tem um papel

primordial de evidenciar as causas de desconforto sofridas pelo CD por analisar a estrutura do

trabalho, as relações do indivíduo consigo mesmo, com outros sujeitos, os instrumentos e os

objetos (JAMIL, 2004). Para este estudo foi selecionado um caso cujo profissional é do sexo

feminino, com 22 anos de formada, sem auxiliar e que atua na clínica geral como liberal. Este

perfil está bastante próximo do perfil traçado pela pesquisa realizada pelo Instituto Brasileiro

de Estudos e Pesquisas Sócio­econômicos (Inbrape) com 614 CDs, no ano de 2002, onde a

maioria dos profissionais é do sexo feminino (57,5%), trabalha sem auxiliar (56,7%) e atua na

clínica geral (76,7%).

1 A palavra constrangimento origina do latim constringere e significa apertado, aperto, compressão, coação, obrigatoriedade, restrição, cerceamento, injunções, etc. em ergonomia ela pode ter o mesmo significado mas aplicado ao trabalho humano.

Page 14: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ITAJUBÁ - saturno.unifei.edu.brsaturno.unifei.edu.br/bim/0030609.pdf · Odontologia e Ergonomia 5 2.1 ... Análise Ergonômica do Trabalho aplicada no estudo

2

Pretende­se após este estudo ter as referências necessárias que evidenciarão a

necessidade de se desenvolver e/ou aperfeiçoar instrumentos, equipamentos bem como uma

nova proposta de organização do trabalho deste profissional de modo a melhorar sua

qualidade de vida.

1.2 Justificativa A busca por este tipo de pesquisa foi motivada pela necessidade sentida pela

pesquisadora de aprofundar nos estudos dos fatores causadores dos problemas músculo­

esqueléticos enquanto trabalhava como fisioterapeuta em uma clínica de reabilitação e

realizava inúmeros tratamentos de dentistas. Os poucos estudos na área fez com que este tema

fosse de interesse acadêmico e adequado para uma dissertação.

Segundo Michalak­Turcotte (2000) os cirurgiões­dentistas ­ CDs ­ apresentam dores

músculo­esqueléticas mais do que outros, enquanto que a prevalência de desconforto e dores

músculo­esqueléticas atinge um índice de 62% da população em geral, em CDs seu percentual

atinge 93%. Esses profissionais estão sentindo a diminuição na produção de serviços e a

necessidade de adquirir estratégias para se adaptarem ao trabalho devido aos sintomas que

desenvolvem por causa dos Distúrbios Osteomusculares Relativos ao Trabalho ­ DORTs.

Também Kelsey (1982) e Letho (1990) encontraram em seus trabalhos uma maior freqüência

de sintomas entre os CDs com relação à população em geral.

Apesar de estudos sistemáticos que são feitos desde a década de 50 e são responsáveis

pelas primeiras propostas de modificações no processo de trabalho dos dentistas, inclusive a

mudança do trabalho da posição ortostática para a posição sentada, o conhecimento sobre

esses problemas ainda é incipiente (BARRETO & FILHO, 2001).

Desta forma, percebe­se a necessidade de se fazer um estudo deste profissional para

compreender como o trabalho é executado e porque o percentual é tão grande nesta

população. Acredita­se que um maior entendimento das estratégias adotadas pelo CDs dará

orientações importantes para se atingir os objetivos deste trabalho.

Page 15: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ITAJUBÁ - saturno.unifei.edu.brsaturno.unifei.edu.br/bim/0030609.pdf · Odontologia e Ergonomia 5 2.1 ... Análise Ergonômica do Trabalho aplicada no estudo

3

1.3 Objetivos Gerais e Específicos 1.3.1 Objetivo Geral

Estudar o posto de trabalho do cirurgião­dentista através da metodologia da Análise

Ergonômica do Trabalho (AET), visando construir um ponto de vista da atividade desta

profissão para a construção das recomendações ergonômicas.

1.3.2 Objetivos Específicos

a) Obter as referências necessárias que evidenciarão a necessidade de se desenvolver

e/ou aperfeiçoar instrumentos e/ou equipamentos que melhorem a qualidade de vida dos

cirurgiões­dentistas.

b) Identificar as estratégias adotadas para reduzir os constrangimentos no trabalho;

c) Fazer as recomendações ergonômicas necessárias para o caso estudado.

1.4 Limitações Por se tratar de um estudo de caso isolado não é possível generalizar os resultados,

porém espera­se encontrar os pontos­chave comuns a todos os CDs. Neste trabalho o uso de

recursos áudio­visuais como meio de apoio à coleta de dados, ficou limitado devido à

preocupação em se proteger a privacidade do paciente.

1.5 Estrutura do Trabalho O Capítulo 1 situa a dissertação através da relevância, justificativa, objetivos geral e

específicos, limitações e apresenta a estrutura do trabalho.

O Capítulo 2 destina­se a revisão da literatura sendo dividido em quatro partes: a

primeira discorre sobre o histórico da odontologia, como surgiu e se desenvolveu. Fica

evidente que a profissão evoluiu muito tecnicamente, mas não da mesma forma em relação à

posição de trabalho; a segunda parte destina­se ao histórico da Ergonomia e da sua aplicação

nas diversas áreas; a terceira parte se refere aos Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao

Trabalho – DORT – no CD; a quarta parte trata da Odontologia e Ergonomia que visa

descrever as contribuições ergonômicas no trabalho do CD; a quinta e última parte descreve o

método Análise Ergonômica do Trabalho (AET), suas aplicações e adequações para este

estudo.

Page 16: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ITAJUBÁ - saturno.unifei.edu.brsaturno.unifei.edu.br/bim/0030609.pdf · Odontologia e Ergonomia 5 2.1 ... Análise Ergonômica do Trabalho aplicada no estudo

4

O Capítulo 3 trata especificamente da aplicação da metodologia AET no estudo de

caso selecionado.

A discussão dos dados e informações encontrados durante a análise ergonômica e a

elaboração do diagnóstico são abordados no capítulo 4.

O Capítulo 5 traz as recomendações para o caso estudado, as conclusões, bem como as

sugestões para trabalhos futuros baseados no conteúdo desta dissertação.

Page 17: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ITAJUBÁ - saturno.unifei.edu.brsaturno.unifei.edu.br/bim/0030609.pdf · Odontologia e Ergonomia 5 2.1 ... Análise Ergonômica do Trabalho aplicada no estudo

5

2. Odontologia e Ergonomia

2.1 Considerações iniciais Este capítulo descreve brevemente a evolução histórica da odontologia. Trata da

evolução do instrumental e dos tratamentos utilizados, do trabalho empírico, da formação da

profissão bem como das leis que foram estabelecidas para controle do exercício profissional.

Traz também a contribuição da ergonomia na odontologia bem como relaciona os principais

distúrbios osteomusculares a que o CD está predisposto. Refere­se também à história da

ergonomia bem como as contribuições desta última para a odontologia. Por fim, apresenta a

metodologia da Análise Ergonômica do Trabalho ­ AET.

Acredita­se que os conhecimentos atuais só adquirem seu exato valor quando vistos

dentro de uma dimensão histórica. A história deve ser a explicação dos feitos para estabelecer

as relações entre causa e efeito. Ela é ponto de partida para novas criações.

2.2 Histór ico da Odontologia O texto a seguir apresenta de forma cronológica um histórico da odontologia desde a

época dos Sumérios. Não se pretende explorar o assunto em profundidade e sim evidenciar os

principais eventos que marcaram a odontologia ao longo do tempo (ADA, 2006).

5000 a.C. Um texto sumério descreve “vermes do dente” como a causa das cáries.

2600 a.C. Primeira referência a uma pessoa identificada como praticante da arte

dentária. Era o egípcio Hesy­Re, frequentemente chamado de 1º. dentista.

500 ­ 300 a.C. Hipócrates e Aristóteles escreveram acerca da arte dentária incluindo a

erupção padrão dos dentes, tratamentos de dentes cariados, extração dentária com fórceps e a utilização de arames para firmar dentes perdidos e maxilares fraturados.

Para Souza (1917), poucos vestígios são encontrados da arte dentária antes de

Hipócrates. Ele relata alguns estudos arqueológicos como de Boucher de Perthes que

descobriu em Abbeville, na França, um maxilar humano, cujo terceiro molar apresentava

extensa cárie. Também cita a reconstituição de ossos fósseis encontrados em uma gruta La

Chapelle aux Saints – França – que revelou ser uma mandíbula de um idoso com unicamente

dois caninos. Conclui­se, portanto que antes da idade da pedra, dos metais os homens já

conheciam os efeitos das cáries e que ou os dentes caíam ou eram extraídos. O mesmo autor

Page 18: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ITAJUBÁ - saturno.unifei.edu.brsaturno.unifei.edu.br/bim/0030609.pdf · Odontologia e Ergonomia 5 2.1 ... Análise Ergonômica do Trabalho aplicada no estudo

6

cita o papiro de Ebers, da civilização egípcia, como sendo um dos primeiros documentos da

história da medicina e dá destaque onde se lêem algumas passagens referentes às dores de

dentes, abscessos e gengivites. Provas fiéis de arte dentária são encontradas nas múmias do

Egito: dentes ourificados e peças protéticas. Investigações realizadas sobre maxilares no

período neolítico demonstram já atos cirúrgicos e extrações dentárias. O primeiro implante

data do século VII a.C. ao ser identificado na Argélia um crânio feminino com uma falange

implantada na região dos pré­molares superiores (GÁRCIA & MÉNDEZ, 2002).

100 a.C. O romano Celsus escreveu, no seu importante compêndio de medicina, sobre

a higiene oral, colocação de dentes perdidos, tratamentos para dores de dentes e fraturas dos

maxilares.

500 ­ 1000 d.C. Durante a Idade Média, na Europa, a medicina, a cirurgia e a

odontologia eram praticadas pelos monges.

700 d.C. Um texto chinês sobre medicina menciona a utilização de “pasta de prata”

como um tipo de amálgama.

1130 ­ 1163 Os Éditos Papais proibiram os monges de executar qualquer tipo de

cirurgia, sangria ou extração dentária. Após os Éditos, os barbeiros tomaram o lugar dos

monges visto que já costumavam ajudá­los nas suas atividades cirúrgicas.

1210 Surge, na França, uma corporação de barbeiros. Havia dois grupos de barbeiros:

os que foram treinados e educados para fazer cirurgias complexas e os que executavam

serviços rotineiros de barbear, sangria e extração dentária. Estes eram os cirurgiões­barbeiros.

1220 A Escola de Montpellier – França – começou a conferir títulos de doutores da

faculdade de Medicina, os cirurgiões de Saint­Côme e os cirurgiões­barbeiros. Curiosamente

existia uma superioridade dos médicos que não se abaixavam para operar. Os cirurgiões

desprezavam as pequenas cirurgias, entre elas as dentárias que eram deferidas aos cirurgiões­

barbeiros (SOUZA, 1917).

1363 O termo dentista foi criado pelo cirurgião francês Guy Chauliac e apareceu em

seu livro “Chirugia Magna”.

1400 Uma série de decretos, na França, proíbe os cirurgiões­barbeiros de praticarem

todos os atos cirúrgicos excetuando sangria e extração dentária.

Page 19: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ITAJUBÁ - saturno.unifei.edu.brsaturno.unifei.edu.br/bim/0030609.pdf · Odontologia e Ergonomia 5 2.1 ... Análise Ergonômica do Trabalho aplicada no estudo

7

1500 No Brasil, a odontologia passa a ser conhecida a partir da carta de Pero Vaz de

Caminha que descreve os habitantes com bons rostos, o que pode indicar dentes sadios e

bonitos. Crânios encontrados em Lagoa Santa (MG), em regiões litorâneas de São Paulo e do

Paraná e observações dos primeiros colonizadores indicam que os índios tinham dentes bem

implantados e com pouquíssimas cáries, mas acentuada abrasão, causada pela mastigação de

alimentos duros. A tribo kuikuro, do norte do Mato Grosso, preenchia cavidades dentárias

com resina de jatobá aquecida, que cauterizava a polpa e funcionava como uma obturação,

depois de endurecida.

1530 Foi publicado, na Alemanha, o primeiro livro dedicado unicamente à arte

dentária. Escrito para barbeiros e cirurgiões que tratam a boca, o livro fala de higiene oral,

extração dentária, brocagem de dentes e colocação de obturações em ouro.

1534 ­ 1536 Na época da criação das capitanias hereditárias, com a chegada das

expedições colonizadoras e a formação dos primeiros núcleos de povoação, chegam ao Brasil

mestres de ofício de diversas profissões. Eram artesãos entre os quais se incluíam os barbeiros

que além de cortar e pentear os cabelos e barbear faziam curativos em muitos tipos de

machucados e operações cirúrgicas pouco importantes. Por possuírem grande habilidade

manual, passaram a cuidar da boca, fazendo extrações dentárias. O Regimento do Físico­mor

de Portugal, datado de 25 de fevereiro de 1521 regulou o ofício desses profissionais (ABO,

1998). Neste período existiam as extrações dentárias, com técnicas primitivas, instrumental

impróprio, nenhuma forma de higiene e nenhum tipo de anestesia. A odontologia era

praticada pelo barbeiro ou sangrador e suas técnicas eram passadas sem qualquer teoria a

partir da oralidade e da vivência.

1572 Em Paris é publicada por Ambroise Paré (1510­1590) “Cinq Livres de

Chirurgie”, que tratava das variadas cirurgias bucais e da odontologia em geral. Este

enriqueceu o instrumental com a invenção das chaves de Garengot e do pelicano (tipo de fórceps primitivo com a extremidade semelhante ao bico de pelicano) (Figura 1). Suprimiu os

métodos inumanos anteriores de tratar as feridas por meio de azeite quente e popularizou o

uso das ligaduras vasculares para conter as hemorragias. Trabalhou na reimplantação dentária

e foi o primeiro que utilizou a prótese na fissura palatina. Contribuiu em muito para melhoria

das técnicas e para elevar o prestígio da profissão (GÁRCIA & MÉNDEZ, 2002).

Page 20: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ITAJUBÁ - saturno.unifei.edu.brsaturno.unifei.edu.br/bim/0030609.pdf · Odontologia e Ergonomia 5 2.1 ... Análise Ergonômica do Trabalho aplicada no estudo

8

Figura 1: Chaves de Garengeot, pelicano e fórceps. Fonte: Museu e biblioteca de Odontologia de São Paulo

Séc. XVIII Surgem os primeiros vestígios de legislação brasileira, regularizando o

exercício da arte de curar em todos os seus ramos. Com o paulatino enriquecimento do estado

de Minas Gerais, incrementado com o início do ciclo do ouro, a Casa Real Portuguesa nomeia

o primeiro cirurgião­mor desse estado, regulamentando os práticos de toda metodologia

dentária. A prática passava a contar agora com certo grau de organização, tanto que, nesse

mesmo período, a Lei 17 de junho de 1782 cria a Real Junta de Proto­Medicato, formada por

sete deputados, médicos ou cirurgiões, para um período de três anos, para uma melhor

fiscalização das colônias portuguesas. A essa junta caberia o exame e a expedição de cartas e

licenciamento de todos aqueles que tirassem dentes.

Durante a fase Pré­cientificista historiadores destacam a Europa como o berço da

prática odontológica, surgindo ali os primeiros escritos sobre essa ciência. Em 1728, na

França, o médico Pierre Fauchard (1678­1761), com seu livro: "Le Chirurgien Dentiste au

Traité des Dents", revoluciona a odontologia, trazendo novos conhecimentos, criando técnicas

e aparelhos, sendo justamente chamado de "Pai da Odontologia Moderna".

Nas últimas décadas deste século, surgiu agitando o cenário político brasileiro,

Joaquim José da Silva Xavier (1746 ­ 1792), conhecido como Tiradentes, por exercer entre os

seus múltiplos ofícios, o de dentista. Tiradentes possuía grande habilidade como operador e

que não se limitava a isso, também esculpia, provavelmente em marfim ou osso de canela de

boi, coroas artificiais para repor no lugar dos dentes ausentes. Entre os objetos encontrados

em sua casa, em Vila Rica, havia cinco pratos de pó de pedra branca, dois frascos de vidro

grandes, duas garrafas finas pequenas, uma peneira de seda e instrumental de dentista. Os

Page 21: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ITAJUBÁ - saturno.unifei.edu.brsaturno.unifei.edu.br/bim/0030609.pdf · Odontologia e Ergonomia 5 2.1 ... Análise Ergonômica do Trabalho aplicada no estudo

9

instrumentos fazem parte da reserva técnica do Museu Histórico Nacional (RJ): são dois

fórceps, duas chaves de extração e uma espátula. É considerado o “Patrono da Odontologia".

Nessa época não existia o tratamento de canal, os dentes eram extraídos com alavancas

rudimentares, as obturações eram de chumbo sobre os tecidos cariados e polpas afetadas. As

próteses eram simples e amarradas com fios aos dentes que haviam sobrado. Dentaduras eram

esculpidas em marfim ou osso. Dentes humanos ou de animais eram utilizados e retidos na

boca por molas.

1760 O inglês John Baker é o primeiro dentista, treinado sob o ponto de vista médico,

a praticar a odontologia na América.

1789 O francês Nicolas Dubois de Chemant recebe a patente para dentes de porcelana.

1790 Foi construída a primeira cadeira (Figura 2) feita especificamente para o

paciente, pelo dentista americano Josiah Flagg. Era portátil, de fácil montagem e acoplada a

uma caixa com a qual era transportada ao lugar onde o paciente estava. Foi utilizada entre

1885 a 1930.

Figura 2: Primeira cadeira odontológica. Fonte: Reprodução Catálogo Geral S. S. White 1929.

23 de maio de 1800 Foi criado o “Plano de Exames”, que consistia em um

aperfeiçoamento das formalidades e dos exames. É encontrado nesse ano em documentos do

Reino o vocábulo “dentista”. Esse é o início da arte dentária como profissão autônoma no

Brasil.

Início de 1808 Fugindo das forças francesas, o príncipe regente D. João VI, sua corte

e a elite portuguesa (15 mil pessoas) chegavam a Salvador, tornando­se o Brasil, sede do

reino. Houve um grande surto de progresso. No hospital de São José, na Bahia criou­se a

Escola de Cirurgia, graças à interferência do Dr. José Correa Picanço, físico e cirurgião­mor,

em nome da Real Junta do Proto­Medicato, mas que em nada beneficiou os dentistas, pois não

Page 22: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ITAJUBÁ - saturno.unifei.edu.brsaturno.unifei.edu.br/bim/0030609.pdf · Odontologia e Ergonomia 5 2.1 ... Análise Ergonômica do Trabalho aplicada no estudo

10

só licenciou os profissionais da corte como expediu cartas legalizando 11 barbeiros de

Salvador, todos negros, de baixa classe social, forros e até alguns escravos de poderosos

senhores.

Março de 1808 A família real chega ao Rio de Janeiro e o cirurgião­mor iniciou o

licenciamento dos profissionais da Corte, estendendo a fiscalização por todo reino. As

autorizações eram semelhantes às expedidas aos barbeiros baianos. Igualmente a Bahia os

barbeiros e sangradores eram normalmente escravos ou forros. Utilizavam "chaves de Garengeot" (Figura 3) enferrujadas e infectadas na extração de dentes dos escravos e dos brancos sem recursos financeiros com o auxílio de técnicas desorientadas, provocando

traumatismos nos dentes, lábios, queixo, língua, tecidos da boca e com manobras

intempestivas, tirando também dentes próximos aos que estavam sendo tratados.

Figura 3: Chaves de Garengeot. Fonte: Museu de Petrópolis

É criada no Rio de Janeiro a Escola Anatômica e Médica no Hospital Militar e da

Marinha, no Rio de Janeiro, com um caráter eminentemente pragmático. Em 07 de outubro de

1809 é abolida a Real Junta do Proto­Medicato, ficando todas as responsabilidades ao encargo

do físico­mór e do cirurgião­mór, com a colaboração de seus delegados e subdelegados.

1811 No Brasil, a primeira carta de dentista foi expedida em nome do português Pedro

Martins de Moura, que dava o direito apenas de "tirar dentes" e não fazia referência a demais

operações cirúrgicas ou protéticas. Neste mesmo ano, Sebastião Fernandes de Oliveira,

natural da Vila de Vitória, Espírito Santo, foi o primeiro brasileiro a receber sua carta de

autorização. As leis que regulamentavam o ensino da cirurgia (plano de estudos de cirurgia),

aprovado pelo decreto de 1 de abril de 1813, não ajudavam a arte dentária. Os dentistas

possuíam conhecimentos rudimentares, sem escolas, sem cursos. Nenhum pré­requisito era

exigido para obter a carta da profissão de tirar dentes, nem mesmo saber ler. A profissão se

bipartia: as operações cirúrgicas tinham sua licença dependendo do cirurgião­mor e, os

Page 23: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ITAJUBÁ - saturno.unifei.edu.brsaturno.unifei.edu.br/bim/0030609.pdf · Odontologia e Ergonomia 5 2.1 ... Análise Ergonômica do Trabalho aplicada no estudo

11

curativos nos dentes com licença dependendo do físico­mor, ou seja, a parte médica da

profissão.

1820 José Correa Picanço, cirurgião­mor, concedeu ao francês Doutor Eugênio

Frederico Guertin, a primeira carta a um dentista mais evoluído, por ser diplomado pela

Faculdade de Odontologia de Paris, para exercer sua profissão no Rio de Janeiro. Este recebeu

permissão para extrair dentes, praticar todas as operações necessárias ao ramo, fazer

curativos, etc. Este profissional atingiu elevado conceito, atendendo a maior parte da nobreza,

inclusive D. Pedro II e familiares. Este verdadeiro dentista trouxe um progresso imensurável,

principalmente referente à prótese. Colocava coroas metálicas, obturava dente com ouro ou

chumbo, fazia limpeza nos dentes ou os extraia. Publicou em 1819 "Avisos tendentes à

conservação dos dentes e sua substituição", sendo, ao que tudo indica a primeira obra de

odontologia feita no Brasil. Em seguida outros dentistas franceses vieram trazendo o que

havia de melhor na odontologia mundial.

30 de agosto de 1828 D Pedro I (1798­1834) suprime o cargo de cirurgião­mór, cujas

funções passaram a serem exercidas pelas Câmaras Municipais e Justiças Ordinárias. O

objetivo dessa mudança era descentralizar a concessão de licenças, mas esbarrava na falta de

profissionais capacitados a examinar os candidatos em todos os lugares.

1832 James Snell inventou a primeira cadeira dentária reclinável.

1839 Foi publicado o American Journal of Dental Science, o primeiro jornal sobre dentária no mundo.

1840 Horace Hayden e Chapin Harris fundaram a primeira escola de odontologia de

todo o mundo: o Baltimore College of Dental Surgery.

A partir de 1840 Os dentistas franceses foram aos poucos suplantados com a chegada

de profissionais dos Estados Unidos, como Clintin Van Tuyl, o primeiro a utilizar

clorofórmio, em casos excepcionais, para anestesia. Em 1849 publica seu livro: "Guia dos

dentes são”. Este guia era destinado ao grande público, porém foi aproveitado pelos dentistas

da época, porque abrangia todos os assuntos odontológicos.

1840 Foi fundada a American Society of Dental Surgeons.

Page 24: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ITAJUBÁ - saturno.unifei.edu.brsaturno.unifei.edu.br/bim/0030609.pdf · Odontologia e Ergonomia 5 2.1 ... Análise Ergonômica do Trabalho aplicada no estudo

12

1846 O dentista William Morton fez a primeira demonstração pública, com sucesso,

da utilização da anestesia com éter na cirurgia.

1850 Criada a Junta de Higiene Pública, em substituição à fiscalização exercida pela

Câmara Municipal, onde pelas medidas saneadoras possibilitou à medicina uma enorme

evolução. Esta Junta era responsável por ações saneadoras e pela regularização de

profissionais formados em universidades estrangeiras. Um ano depois, o decreto nº. 828,

artigo 28, determinava que médicos, cirurgiões, boticários, dentistas e parteiras apresentassem

suas cartas de habilitação à Junta.

1859 Formação da American Dental Association (ADA).

1861­1865 Outros dentistas chegam dos Estados Unidos, alguns fugindo da Guerra da

Secessão.

1866 Lucy Hobbs, americana, foi a primeira mulher a conseguir o grau de medicina

dentária.

1869 Surge a primeira revista odontológica no Brasil: "Arte Dentária", sob a direção

de João Borges Diniz, dentista formado pela Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, e a

“Revista Dentária” de 1879 e o “Manual do Dentista” por Cardoso & Cia., que vendia artigos

de cirurgia em geral. Nesta época, muitos brasileiros foram estudar nos Estados Unidos,

devido à liderança na evolução técnica e científica mundial. O primeiro foi Carlos Alonso

Hastings, natural do Rio Grande, que estudou no Philadélfia Dental College, radicou­se no Rio de Janeiro e modificou o motor Weber­Ferry, que ficou conhecido como motor de

Hastings.

1870 O ensino da odontologia ganhou mais impulso no Brasil a partir do decreto

7.247, artigo 24, de 19 de abril de 1879, que determinava que a cada faculdade de Medicina

ficassem anexos uma escola de Farmácia, um curso de Obstetrícia e Ginecologia e um curso

de Cirurgia Dentária. Estava cada vez mais próxima a criação de um curso de odontologia.

1871 James Morrison revolucionou a prática da odontologia ao patentear a broca

elétrica acionada por pedal.

1871 O americano George Green recebe a patente pelo primeiro mecanismo elétrico

para odontologia: um motor independente associado a uma peça de mão.

Page 25: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ITAJUBÁ - saturno.unifei.edu.brsaturno.unifei.edu.br/bim/0030609.pdf · Odontologia e Ergonomia 5 2.1 ... Análise Ergonômica do Trabalho aplicada no estudo

13

1877 Surge a primeira cadeira dentária com mecanismo hidráulico, por Wilkerson.

4 de julho de 1879 – Brasil – a Decisão do Império nº. 10 concedia aos aprovados no

curso de cirurgia dentária o título de Cirurgião­dentista, mas o privilégio de “Cirurgião­

dentista da Casa Imperial” era outorgado aos nascidos em famílias da alta sociedade, em geral

formados no exterior. Um levantamento entre 1840 e 1889 nos “Livros da Mordomia Mor da

Casa Imperial”, observou­se que apenas 32 profissionais foram agraciados com tal privilégio

por D. Pedro II, estes na sua maioria do Rio de Janeiro.

1889 Formou­se pela Faculdade de Odontologia do Rio de Janeiro, Isabela Von

Sidow, paulista de Cananéia, tornando­se a primeira mulher dentista formada no Brasil.

1919 A Reforma Educacional deu origem à Deontologia Odontológica, onde os

princípios, fundamentos e a ética profissional eram estudados, sendo criada também a Cadeira

de Medicina legal aplicada à arte dentária.

25 de outubro Ficou sendo o "Dia do Cirurgião­dentista Brasileiro", pois nesta data

em 1884, Vicente Cândido. F. Sabóia e Thomas Gomes dos Santos Filho, escreveram um

texto dentro dos Estatutos das Faculdades de Medicina do Império, denominado "Reforma

Sabóia”, através do decreto nº. 9311, onde constava pela primeira vez, que a odontologia

formaria um curso independente.

1880 O tubo metálico flexível revoluciona tanto o processo de fabricação como o marketing da pasta de dentes. Até aqui, os dentifrícios apenas existiam sob a forma de líquido ou de pó e eram feitos por dentistas. Eram vendidos em garrafas, recipientes de porcelana ou

caixas de papel. O tubo de pasta de dentes, pelo contrário, é produzido em massa nas fábricas,

o seu marketing é feito em grande escala e é vendido em todos os EUA.

23 de fevereiro de 1880 O Visconde de Sabóia assumiu a direção da Faculdade de

Medicina do Rio de Janeiro e atualizou o ensino material e cientificamente, criando

laboratório de cirurgia dentária, trazendo aparelhos e instrumentos dos Estados Unidos e

montou um laboratório de prótese dentária. A Thomas Gomes dos Santos Filho, cirurgião­

dentista, a odontologia nacional muito deve, principalmente por ter descoberto a fórmula de

vulcanite e em seguida produzi­la.

12 de março de 1881 O decreto nº. 8024, art. 94 do Regulamento para os exames das

Faculdades de Medicina diz: “Os cirurgiões­dentistas que quiserem se habilitar para o

Page 26: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ITAJUBÁ - saturno.unifei.edu.brsaturno.unifei.edu.br/bim/0030609.pdf · Odontologia e Ergonomia 5 2.1 ... Análise Ergonômica do Trabalho aplicada no estudo

14

exercício de sua profissão passarão por duas séries de exames: o primeiro de anatomia,

histologia e higiene, em suas aplicações à arte dentária; o outro de operações e próteses

dentárias”.

25 de outubro de 1884 O ensino de odontologia foi oficialmente instituído no Brasil,

por intermédio do Visconde de Sabóia. No início, o ensino era vinculado às Faculdades de

Medicina do Rio de Janeiro e da Bahia, programado em três séries. Ao concluir o curso, o

aluno recebia o título de Cirurgião­dentista, sem colar grau ou outras formalidades.

1885 A primeira assistente de odontologia é empregada pelo dentista Edmond Kells.

As suas funções eram de assistir o dentista durante o tratamento dos pacientes, de limpar os

instrumentos, fazer o inventário, apontamentos, a contabilidade e a recepção.

1890 Willoughby Miller, um dentista americano ao trabalhar na Alemanha, diz num

livro seu que a cárie dentária é originada por micróbios. Isto provocou um grande interesse

pela higiene oral dando origem a um movimento, ao nível mundial, para promoção de uma

escovação regular dos dentes e da utilização do fio dental.

8 de novembro de 1895 No laboratório da Universidade de Wurzburg, o físico alemão

Wilhelm Conrad Roentgen (1845­1923) descobre o Raio X. Esta descoberta trouxe uma

grande colaboração nos tratamentos dentários e médicos.

1896 O dentista Edmond Kells fez a primeira radiografia dentária em pessoa viva nos

EUA.

1899 No estado de São Paulo, o ensino de odontologia surge ligado à Farmácia. Foi

inaugurada a Escola Livre de Farmácia e Odontologia (entidade particular), que mais tarde

acolheria a Faculdade de Medicina e em 1932 passou para rede estadual de ensino.

1905 O químico alemão Alfred Einhorn formulou a anestesia local com procaína que

mais tarde ficou com o nome comercial de Novocaína.

1913 Alfred Fones fundou a primeira Escola de Higiene Oral e ficou conhecido como

o Pai da Higiene Dental dado que foi o primeiro a utilizar este termo.

1917 Fundação da Associação Brasileira de Odontologia Nacional, sob a identificação

de Federação Odontológica Brasileira (ABO, 1998).

Page 27: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ITAJUBÁ - saturno.unifei.edu.brsaturno.unifei.edu.br/bim/0030609.pdf · Odontologia e Ergonomia 5 2.1 ... Análise Ergonômica do Trabalho aplicada no estudo

15

1919 O decreto promulgado pelo Presidente Epitácio Pessoa, transforma o curso

oferecido pela Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro em Faculdade de Odontologia, com

quatro anos de duração. Entretanto tal reforma só foi executada em 1925 no prédio anexo à

Faculdade de Medicina e oferecendo um curso de três anos. Em 1947 o curso de odontologia

passou a ser oferecido em quatro anos, tendo formado sua primeira turma em 1951.

Anos 30 Surge a industrialização das cadeiras odontológicas, próximas aos padrões

atuais. Nos anos 70, ela toma o formato atual, com mesas e aparelhos auxiliares.

1930 ­ 1943 Frederick McKay, dentista do Colorado, verificou que níveis elevados de

flúor na água de beber estavam associados a um baixo nível de cáries e a um alto grau de

manchas castanhas no esmalte dos dentes. Por volta de 1940, Trendley Dean determinou o

nível ideal de flúor na água de modo a reduzir as cáries dentárias sem manchar os dentes.

1938 Surge a primeira escova de dentes feita com fibras artificiais (nylon).

1945 As cidades de Newburgh e New York introduziram fluoreto de sódio nas suas

redes públicas de água.

1950 Começa a ser vendida a primeira pasta de dentes com flúor.

1957 John Borden introduz a turbina de alta rotação. A Airotor consegue velocidades de 300.000 rpm e foi um sucesso comercial instantâneo.

1958 Surge uma cadeira dentária totalmente reclinável.

1960 Os raios laser são desenvolvidos e aprovados para procedimentos em tecidos

moles.

1960 É comercializada a primeira escova de dente elétrica. Foi desenvolvida na Suíça

depois da 2ª. Grande Guerra e introduzida depois nos EUA.

1962 Rafael Bowen desenvolve Bis­GMA, a complexa resina utilizada na maior parte

dos modernos materiais de restauração dos dentes.

1990 Tem início a era da odontologia associada à estética com o aparecimento de

novas cores de materiais de restauração, de tratamento para o branqueamento dos dentes e a

colocação de implantes dentários.

Page 28: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ITAJUBÁ - saturno.unifei.edu.brsaturno.unifei.edu.br/bim/0030609.pdf · Odontologia e Ergonomia 5 2.1 ... Análise Ergonômica do Trabalho aplicada no estudo

16

Desde a primeira citação sobre os vermes dos dentes pelos Sumérios (5000 anos a.C.)

até os dias de hoje com os sofisticados tratamentos curativos, corretivos e estéticos a

odontologia muito evoluiu principalmente no que diz respeito ao instrumental, aos

equipamentos, a técnica e ao reconhecimento da profissão. No entanto, em relação à postura

de trabalho, o CD passou de um atendimento itinerante, onde inclusive levava consigo a

cadeira odontológica, para o confinamento em salas cada vez menores tornando­se refém de

todo o arsenal que utiliza para seu trabalho, da técnica e do contexto atual de alta

competitividade. A ergonomia em muito contribuiu para a evolução da odontologia, tanto em

relação ao conforto do paciente quanto em relação aos equipamentos e as posturas de trabalho

do CD. Por isso, conhecer o histórico da ergonomia, seus conceitos e aplicações contribuirá

para uma ampla abordagem do posto de trabalho odontológico.

2.3 Ergonomia Etimologicamente o termo “ergonomia” significa regras, leis naturais (nomos) do

trabalho (ergon). O termo foi criado por Wojciech. Jastrzebowski em 1857 no seu artigo

intitulado “Ensaios de ergonomia ou ciência do trabalho, baseados nas leis objetivas da

ciência sobre a natureza”. No entanto, foi apenas em 16 de fevereiro de 1950, que Murrel

propõe o termo ergonomia após consultar estudiosos da língua grega e latina (IIDA, 2005).

Sanders & McCormick (1993) consideram que a ergonomia remonta a iniciativas

empíricas desde a pré­história em que o homem buscou formas de adaptar o ambiente ao

redor às suas necessidades, transferindo a força de seu trabalho para animais, adequando

instrumentos às suas características anatômicas.

Com a 2ª. Guerra Mundial (1939 ­ 1945) novos aparatos tecnológicos surgem, aviões

cada vez mais velozes, submarinos, radares e tanques foram instituídos rapidamente,

tornando­se indispensáveis nos campos de batalha. A nova realidade trouxe uma série de

comandos complexos que somados ao clima de tensão excessiva, pressões físicas e

psicológicas levavam os operadores a muitos erros, alguns com conseqüências fatais. Os

equipamentos militares exigiam dos operadores raciocínio e decisões rápidas em condições

críticas, grande quantidade de informações, alta complexidade nas operações, demonstrando­

se assim várias incompatibilidades entre o humano e o tecnológico (MORAES, 2005).

Neste cenário, vários pesquisadores, entre eles o engenheiro inglês K. F. Hywell

Murrel, o fisiologista Floyd e o psicólogo Welford empenharam­se no estudo que buscava

adaptar os instrumentos bélicos às características e capacidades do militar, visando reduzir as

Page 29: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ITAJUBÁ - saturno.unifei.edu.brsaturno.unifei.edu.br/bim/0030609.pdf · Odontologia e Ergonomia 5 2.1 ... Análise Ergonômica do Trabalho aplicada no estudo

17

perdas humanas e materiais. Além de se agravar o conflito entre o homem e a máquina,

deixam a desejar também as formas tradicionais de resolução dos mesmos – a seleção e o

treinamento. Assim engenheiros juntam­se a psicólogos e fisiologistas para adequar a nova

tecnologia não só as características físicas, mas também psicológicas e cognitivas. Desta

forma integram­se à análise outras variáveis como recepção e tratamento da informação

(ABRAHÃO & PINHO, 2001). Esta cooperação pluridisciplinar também propunha utilizar as

descobertas na indústria ou em qualquer outra atividade civil. Esses pesquisadores em 1949

formaram uma sociedade a “Ergonomic Research Society” para estudar o homem em ambiente de trabalho. Os ergonomistas voltaram sua atenção para as milhares de máquinas

presentes no cotidiano e descobriram que “muitos dos erros que atormentavam marinheiros,

soldados e aviadores, existiam – e ainda existem – nas fábricas, nas estradas, na sinalização

urbana, nos tratores, caminhões, automóveis e até mesmo num fogão doméstico” (MORAES,

2005). Muitos projetos inadequados, de incompatibilidade no sistema homem­tarefa­máquina

como painéis com difícil interpretação pelo operador, sinais de trânsito que confundem os

motoristas, instrumentos de difícil manuseio são oriundos da falta de estudos para a adaptação

às características físicas, psíquicas e cognitivas humanas.

Em meados dos anos 50 do século passado a ergonomia surge na França em serviços

especializados nas indústrias. É importante esclarecer que em virtude da ausência da França

na aventura tecnológica advinda da exigência militar na II Guerra Mundial, os ergonomistas

francófonos foram conduzidos a estabelecerem uma problemática com menor influência da

abordagem sistêmica. Em 1958, J.M. Faverge, J. Leplat e B. Guiguet publicam a obra “L’adaptation de la machine à l’homme” pela Presses Universitaires de France. Mas sua

institucionalização só acontece no início dos anos 60 com a criação da Société d’Ergonomie de Langue Française (SELF) que agrupava profissionais da França, Suíça, Bélgica e Luxemburgo. Seu objetivo era o de adaptar o trabalho ao homem, tendo como foco o estudo

específico do trabalho humano. Essa abordagem francofônica é voltada para a atividade

realizada, centrando­se no estudo da inter­relação entre o homem e o contexto de produção de

bens e serviços no qual está inserido. Tal pensamento se opôs ao conceito dominante à época:

a adaptação do homem a sua profissão (BONNARDEL, 1943 apud WISNER, 2004).

É necessário, de acordo com Wisner (2004), apresentar brevemente as disciplinas que

contribuíram para a ergonomia nascente como eram naquela época a fim de evitar concebê­las

como são atualmente. As disciplinas são:

Page 30: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ITAJUBÁ - saturno.unifei.edu.brsaturno.unifei.edu.br/bim/0030609.pdf · Odontologia e Ergonomia 5 2.1 ... Análise Ergonômica do Trabalho aplicada no estudo

18

• A fisiologia do trabalho estava baseada nas questões energéticas do trabalho muscular,

tanto na Alemanha, (Max­Planck Institüt für Arbeitphysiologie de Dortmund) como

na França (Laboratório de Fisiologia do Trabalho do Conservatoire National des Arts

et Métiers ­ CNAM). As medidas de consumo de oxigênio, da freqüência cardíaca e da

temperatura central do corpo possibilitavam o estudo da fisiologia do trabalho

muscular e os efeitos do calor. A eletromiografia (EMG) surgiu mais tarde. As

pesquisas em relação à neurofisiologia do trabalho somente eram relativas à visão e à

fadiga auditiva.

• A antropometria voltada para ergonomia estava em conflito com a antropologia física,

a qual tinha como problemática as teorias e metodologias voltadas a caracterizar os

esqueletos das etnias vivas ou de escavações. O ergonomista estava interessado no

conhecimento das características de trabalhadores vivos. Portanto, não se conseguia

um diálogo científico que atendesse as necessidades dos ergonomistas.

• A biomecânica mostrou­se indispensável para os ergonomistas no que diz respeito a

compreensão e modelização do gesto voluntário, acústica, efeito das vibrações,

biomecânica dos impactos. Como na antropometria os diversos especialistas em

mecânica também estavam pouco adaptados às necessidades dos ergonomistas.

• A psicologia usada na ergonomia era considerada experimental. Esta se surpreendia

com a pequena amostra necessária aos fisiologistas e estes ficavam surpresos com a

variabilidade dos resultados encontrados pelos psicólogos. As questões

epistemológicas dificultavam o diálogo entre estes profissionais.

Não foi fácil para os “ergonomistas constituírem uma abordagem comum dos

problemas colocados pela prática” (WISNER, 2004), pois o mesmo fenômeno industrial seria

tratado como antropométrico, biomecânico, fisiológico ou psicológico de acordo com o

especialista que fosse consultado.

Na mesma época se forma nos Estados Unidos a Human Factors Society, a ergonomia dos métodos e das tecnologias, centrada na contínua necessidade de adaptação da máquina ao

homem e que utiliza a ciência para melhorar as condições de trabalho. “O Departamento de

Defesa Aérea dos EUA "USAF", começou a financiar a atividade, atitude que alicerçou as

pesquisas, e deu aos militares a vanguarda nos estudos e pesquisas da época. O próprio termo, Human Factors, possui uma forte conotação militarista, sendo que os estudos antropométricos

Page 31: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ITAJUBÁ - saturno.unifei.edu.brsaturno.unifei.edu.br/bim/0030609.pdf · Odontologia e Ergonomia 5 2.1 ... Análise Ergonômica do Trabalho aplicada no estudo

19

realizados serviram para a construção de aeronaves equipamentos e posteriormente o projeto

da cápsula espacial. Pela primeira vez os projetos eram feitos de dentro para fora. No entanto,

sua aplicação na indústria tomou uma conotação de menosprezo, servindo muito pouco para a

elaboração de novos projetos” (MORAES, 2005).

Helander (1997) apud Soares (2004), caracteriza a evolução da ergonomia

demonstrando que a sua história refletiu as mudanças da sociedade e seus anseios, extrapolou

o ambiente industrial e seu sistema produtivo e incorporou o usuário comum. Esta evolução é

possível de se observar no Quadro 1:

Década Representação

50 Ergonomia militar

60 Ergonomia industrial

70 Ergonomia do consumo

80 Ergonomia de software e da interação homem­computador

90 Ergonomia organizacional e cognitiva

00 Era da comunicação global e da eco­ergonomia

Quadro 1: A evolução da ergonomia

A ergonomia é uma disciplina jovem, em evolução, e que vem reivindicando o status de ciência como afirma Abrahão & Pinho (2001). Montmollin (1990) a define como a Ciência do Trabalho ou por Wisner (1990) uma arte alimentada de métodos e conhecimentos resultantes da investigação científica. A arte na qual são utilizados o saber tecnocientífico e o saber dos trabalhadores sobre a própria situação do trabalho (WISNER, 1994). A

ergonomia está conceitual e eticamente comprometida com o ser humano e deve ser entendida

como a ciência de aplicação dos conhecimentos relativos ao homem, ao processo e aos

produtos, buscando o funcionamento harmônico e seguro do sistema homem­máquina

(OLIVEIRA et al., 1998). Um dos interesses da ergonomia (ABRAHÃO & PINHO, 2001) é

saber o que os trabalhadores realmente fazem, como fazem e porque fazem.

Segundo a definição da Associação Internacional de Ergonomia (IEA, 1969): ergonomia é o estudo científico da relação entre o homem e seus meios, métodos e ambiente de trabalho. A Sociedade de Ergonomia de Língua Francesa em 1988 em sua definição

Page 32: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ITAJUBÁ - saturno.unifei.edu.brsaturno.unifei.edu.br/bim/0030609.pdf · Odontologia e Ergonomia 5 2.1 ... Análise Ergonômica do Trabalho aplicada no estudo

20

acentua fortemente, segundo Curie (2004), o caráter pragmático de seu objetivo e abordagem:

ergonomia é a utilização de conhecimentos científicos relativos ao homem e necessários para conceber instrumentos, máquinas e dispositivos que possam ser utilizados pelo maior número de pessoas, com o máximo de conforto, de segurança e de eficiência. (Wisner (1996) apud

Abrahão & Pinho (2001) aponta a ergonomia como uma disciplina multidisciplinar do

desenvolvimento mais recente da ciência e da técnica e cobre um largo espectro de

conhecimentos (engenharia, fisiologia, biomecânica, antropologia, psicologia, sociologia,

filosofia...). Uma disciplina de síntese, convocada para fornecer as bases de ação em um campo de ação em um campo onde a parte ocupada pelos fatores não controlados ou não controláveis é importante. Abrahão & Pinho (2001) salientam que a ergonomia incorpora na base de seu arcabouço teórico, um conjunto de conhecimentos científicos vindos de diversas

áreas (Antropometria, Fisiologia, Psicologia,...) e os aplica com vistas às transformações do

trabalho. Consideram como critério de avaliação do trabalho três eixos: a segurança, a

eficiência e o bem estar dos trabalhadores nas situações de labor. Maggi & Tersac (2004)

reforçam as colocações acima quando dizem que a ergonomia (francofônica) busca articular o

conhecimento obtido de diversos campos científicos distintos. Conhecimentos que quando confrontados e articulados de forma integrada contribuem para a tecnologia e organização

do trabalho na definição da melhoria desta realidade (ABRAHÃO & PINHO, 2001).

Oliveira et al. (1998) classificam a ergonomia em dois tipos fundamentais e que às

vezes se superpõem:

• Ergonomia do produto: concepção de produtos com atenção voltada para a utilização

que terão por parte dos consumidores. Para isso é necessário o conhecimento das

características e necessidades dos usuários para atendê­los com conforto e segurança;

• Ergonomia da produção: ocupa­se do conforto e segurança dos trabalhadores. É

necessário conhecimento técnico para a incorporação dos princípios ergonômicos aos

processos de trabalho.

Wisner (1987) classificou a ergonomia de acordo com a ocasião em que ela atua. São

elas:

• Ergonomia de concepção: quando a contribuição ergonômica acontece durante o

projeto do produto, da máquina, ambiente ou sistema;

Page 33: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ITAJUBÁ - saturno.unifei.edu.brsaturno.unifei.edu.br/bim/0030609.pdf · Odontologia e Ergonomia 5 2.1 ... Análise Ergonômica do Trabalho aplicada no estudo

21

• Ergonomia de correção: quando a ergonomia é aplicada a situações reais para se

resolver problemas que se refletem na segurança, fadiga excessiva, doenças do

trabalhador ou quantidade e qualidade da produção;

• Ergonomia de conscientização: quando a ergonomia objetiva a capacitar os próprios

trabalhadores para a identificação e correção dos problemas do dia­a­dia ou aqueles

emergenciais;

• Ergonomia de participação: é a que procura envolver o próprio usuário (trabalhador ou

consumidor) do sistema na solução de problemas ergonômicos.

Wisner (1995) afirma que a ergonomia sustenta­se hoje em dois pilares: um de base

comportamental, que apreende as variáveis que determinam o trabalho pela via da análise do

comportamento e outro subjetivo que qualifica e valida os resultados. Ambos têm o propósito

de transformar as condições e a relação do homem com o trabalho. A ergonomia busca

produzir conhecimentos sobre o trabalho, as condições e a relação do homem com sua

atividade e formular conhecimentos, ferramentas e princípios suscetíveis de orientar

racionalmente a ação de transformação das condições de trabalho. A produção do

conhecimento e a racionalização da ação constituem o eixo principal da pesquisa ergonômica

(ABRAHÃO & PINHO, 1999).

2.3.1 A Ergonomia no Brasil Moraes & Soares (1989) afirmam que a implantação da ergonomia no Brasil se deu

junto às engenharias e ao desenho industrial. Tiveram como fundamento de suas especulações

teóricas e aplicações práticas a adoção dos manuais de Grandjean (1975), Murrel (1975),

Sanders & McCormick (1987) e Woodson (1981). Moraes & Soares (1989) afirmam que não

se aplicava naquela época os experimentos de laboratório, mas apenas se propunham algumas

modificações com bases nos dados destas referências bibliográficas. Duas novas abordagens

passaram a ser aplicadas a partir do enfoque baseado na psicologia, as pesquisas

experimentais sobre o comportamento do motorista desenvolvidas na USP campus de

Ribeirão Preto, e os trabalhos com ênfase numa análise sócio­técnica desenvolvidos na

Fundação Getúlio Vargas no Rio de Janeiro.

Com o surgimento dos livros de Chapanis (1962, 1972) e Miester (1971, 1985) uma

nova abordagem metodológica com ênfase na observação sistemática do trabalho, análise da

tarefa, medidas do ambiente e levantamentos antropométricos passaram a fazer parte do

Page 34: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ITAJUBÁ - saturno.unifei.edu.brsaturno.unifei.edu.br/bim/0030609.pdf · Odontologia e Ergonomia 5 2.1 ... Análise Ergonômica do Trabalho aplicada no estudo

22

escopo do ergonomista brasileiro (Soares, 2004). O acesso à bibliografia francesa em especial

os livros de Montmollin (1986), Sperandio (1984) e Wisner (1987), acrescentou novas

ferramentas e métodos de intervenção da ergonomia no Brasil.

O desenvolvimento da ergonomia no Brasil foi influenciado pela Ergonomia da

Atividade, praticada nos países de língua francesa e foi difundida a partir dos anos 70 por

Alain Wisner, devido à formação de diversos mestres e doutores em ergonomia e por meio de

suas várias viagens ao Brasil (LIMA & JACKSON FILHO, 2004). Ainda para Ferreira &

Mendes (2003) a Ergonomia da Atividade é uma abordagem científica que investiga a inter­ relação entre os indivíduos e o contexto de produção de bens e serviços (espaço físico, organizacional e social). Ela analisa as contradições presentes nesta inter­relação e, em conseqüência, as estratégias individuais e coletivas de mediação operatórias que são forjadas para responder à diversidade de exigências existentes nas situações de trabalho.

O interesse por essa corrente da ergonomia, segundo Lima & Jackson Filho (2004), foi

sua proposta teórico­metodológica e a prática de resolver e tratar os problemas das condições

de trabalho a partir da compreensão das atividades do trabalhador, do seu “trabalhar”,

mostrando a inteligência prática dos trabalhadores, a importância do coletivo e a necessidade

de desenhar sistemas de produção a partir da visão ampla do homem, usualmente reduzida a

suas componentes físicas.

Apesar desta forte influência, podem­se distinguir duas linhas ergonômicas presentes

no Brasil: uma dos métodos e das tecnologias, mais antiga e caracteristicamente americana

(anglo­saxônica), centrada na contínua necessidade de adaptação da máquina ao homem,

chamada de human factors e outra mais recente de origem européia (francofônica), que tem

como foco o estudo específico do trabalho humano, visando adaptá­lo ao homem. Essa

abordagem francofônica é voltada para a atividade realizada, centrando­se no estudo da inter­

relação entre o homem e o contexto de produção de bens e serviços no qual está inserido.

Essas duas abordagens da ergonomia (MONTMOLLIN, 1990) não são contraditórias, mas

complementares, uma vez que a anglo­saxônica realiza suas pesquisas, muitas vezes, em

laboratório, e a francofônica em situações reais de trabalho para verificar os aspectos que

constituem fatores de desgaste para o trabalhador.

Page 35: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ITAJUBÁ - saturno.unifei.edu.brsaturno.unifei.edu.br/bim/0030609.pdf · Odontologia e Ergonomia 5 2.1 ... Análise Ergonômica do Trabalho aplicada no estudo

23

2.4 Os Distúrbios Osteomuscular es Relacionados ao Trabalho do Cirurgião­dentista

Como ponto de partida, entende­se DORT como uma síndrome relacionada ao

trabalho, caracterizada pela ocorrência de vários sintomas concomitantes ou não, tais como:

dor, parestesia, sensação de peso, fadiga, geralmente nos membros superiores, mas podendo

acometer também os membros inferiores. Estes sintomas resultam da combinação da

sobrecarga das estruturas anatômicas do sistema osteomuscular com a falta de tempo para sua

recuperação. A sobrecarga pode ocorrer seja pela utilização excessiva de determinados grupos

musculares em movimentos repetitivos com ou sem exigência de esforço localizado, seja pela

permanência de segmentos do corpo em determinadas posições por tempo prolongado,

particularmente quando essas posições exigem esforço ou resistência das estruturas músculo­

esqueléticas contra a gravidade. A necessidade de concentração e atenção do trabalhador para

realizar suas atividades e a tensão imposta pela organização do trabalho, são fatores que

interferem de forma significativa para a ocorrência do DORT (BRASIL, 2003).

O DORT não se caracteriza por uma patologia aguda. É de início insidioso onde o

indivíduo apresenta dor normalmente ao final da jornada de trabalho ou quando faz um

esforço maior. Em seguida, os sintomas são mais persistentes mesmo fora do trabalho. Caso

as condições de trabalho não mudem os sintomas passam a afetar as atividades da vida diária,

como pendurar roupa no varal, segurar uma panela, parafusar, girar uma maçaneta, secar os

cabelos, etc. À dor e ao desconforto são somados outros sintomas e sinais como o edema,

perda da força e o calor local.

É importante saber que quando um diagnóstico de DORT é indicado significa que

existe uma síndrome já bem conhecida da medicina (ortopedia, reumatologia e clínica

médica), decorrente do uso excessivo das estruturas osteomusculares por condições especiais

e inadequadas de trabalho (OLIVEIRA et al., 1998), ou seja, a patologia desenvolvida pelo

trabalhador possui sua origem no trabalho. Sem este nexo causal uma patologia não pode ser

caracterizada como DORT para fins legais. Essas patologias não têm um tratamento difícil,

mas possuem uma má evolução, diminuindo o desempenho profissional, caso não se aborde

de forma efetiva o fator causador.

Como se pode observar no histórico da odontologia, a profissão evoluiu muito

tecnicamente, seja no que diz respeito aos materiais ou aos instrumentos. Nos últimos tempos

esta evolução tem sido cada vez mais rápida devido às pesquisas mais intensas que tentam

atender a uma demanda cada vez maior com o objetivo de se aumentar a produtividade e

Page 36: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ITAJUBÁ - saturno.unifei.edu.brsaturno.unifei.edu.br/bim/0030609.pdf · Odontologia e Ergonomia 5 2.1 ... Análise Ergonômica do Trabalho aplicada no estudo

24

diminuir os custos. Dentro de um contexto global, segundo Saquy e Pécora (1994), o trabalho

torna­se mais dependente da técnica, o que aumenta de forma assustadora o número de

acidentes e doenças profissionais. No que toca ao CD, existe um grande risco de desenvolver

tais doenças devido ao uso e dependência também cada vez maiores da técnica para exercer

com êxito sua profissão e se tornar mais competitivo.

A ANVISA (BRASIL, 2006), em seu documento “Serviços Odontológicos: Prevenção

e Controle de Riscos” considera como riscos ocupacionais a possibilidade de perda ou dano e

a probabilidade de que tal perda ou dano ocorra. Implica, pois, na probabilidade de ocorrência

de um evento adverso. Segundo o documento, os riscos mais freqüentes a que estão sujeitos

os profissionais que atuam em assistência odontológica são:

• Os físicos: ruído, vibração, radiação ionizante e não­ionizante, temperaturas extremas,

iluminação deficiente ou excessiva, umidade e outros. São causadores desses riscos:

caneta de alta rotação, compressor de ar, equipamento de RX, equipamento de laser,

fotopolimerizador, autoclave, condicionador de ar, etc.

• Os químicos: poeiras, névoas, vapores, gases, mercúrio, produtos químicos em geral e

outros. Os principais causadores desses riscos são: amalgamadores, desinfetantes

químicos (álcool, glutaraldeído, hipoclorito de sódio, ácido peracético, clorexidina,

entre outros) e os gases medicinais (óxido nitroso e outros).

• Os ergonômicos: postura incorreta, ausência do profissional auxiliar e/ou técnico, falta

de capacitação do pessoal auxiliar, atenção e responsabilidade constantes, ausência de

planejamento, ritmo excessivo, atos repetitivos, entre outros.

• Os mecânicos ou de acidente: entre os mais freqüentes, podemos citar: espaço físico

subdimensionado, arranjo físico inadequado, instrumental com defeito ou impróprio

para o procedimento, perigo de incêndio ou explosão; edificação com defeitos;

improvisações na instalação da rede hidráulica e elétrica; ausência de EPI e outros.

• Por ausência de conforto no ambiente de trabalho: sanitário em número insuficiente e

sem separação por sexo, falta de produtos de higiene pessoal, como sabonete líquido e

toalha descartável nos lavatórios, ausência de água potável para consumo, não

fornecimento de uniformes, ausência de ambientes arejados para lazer e confortáveis

para descanso, ausência de vestiários com armários para a guarda de pertences, falta

de local apropriado para lanches ou refeições, falta de proteção contra chuva, entre

outros.

Page 37: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ITAJUBÁ - saturno.unifei.edu.brsaturno.unifei.edu.br/bim/0030609.pdf · Odontologia e Ergonomia 5 2.1 ... Análise Ergonômica do Trabalho aplicada no estudo

25

• Os biológicos: a probabilidade da ocorrência de um evento adverso em virtude da

presença de um agente biológico. Sabe­se que as exposições ocupacionais a materiais

biológicos potencialmente contaminados constituem um sério risco aos profissionais

da área da saúde nos seus locais de trabalho. Estudos desenvolvidos nesta área

mostram que os acidentes envolvendo sangue e outros fluidos orgânicos correspondem

às exposições mais freqüentemente relatadas.

Pode­se observar que os riscos são inúmeros, porém aqueles que estão fortemente

ligados ao desenvolvimento do DORT são os biomecânicos (postura, força, compressão

mecânica, repetitividade, habilidade) que estão enquadrados nos riscos ergonômicos. Oliveira

et al. (1998) afirmam que o DORT é o resultado do uso abusivo dos músculos e tendões, por

movimentos rápidos, repetitivos e de força, em ações estáticas e posturas inadequadas.

A abordagem dos aspectos biomecânicos do DORT é mais freqüentemente valorizada

talvez pelo fato de serem facilmente observados e mensurados. No entanto, Lym & Carayon

(1995) mapearam a base multifatorial do DORT que somados aos fatores biomecânicos

evidenciam que o caminho para amenizar esta problemática não pode se limitar apenas a um

destes fatores. A Figura 4 deixa bem clara a etiologia do DORT segundo estes autores.

Figura 4: Base multifatorial do DORT. Fonte: adaptado de Oliveira et al. (1998).

O exercício da profissão leva o CD a utilizar de forma intensa os membros superiores

o que pode gerar patologias específicas de acordo com sua especialidade. Contudo, Rasia

(2004) aponta além das posturas fixas, o estresse como um componente que pode acentuar as

patologias do trabalho. Aliados a isto também se encontram as características hereditárias e o

estilo de vida adotado por cada um.

Segundo Smith (1996), há oito fatores de risco que interferem na possibilidade de

ocorrência de distúrbios osteomusculares nos membros superiores relacionados ao trabalho.

São eles:

Etiologia

Fatores psicossociais

Stress psicológico

Fatores ergonômicos

DORT

Page 38: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ITAJUBÁ - saturno.unifei.edu.brsaturno.unifei.edu.br/bim/0030609.pdf · Odontologia e Ergonomia 5 2.1 ... Análise Ergonômica do Trabalho aplicada no estudo

26

• A freqüência dos movimentos do membro superior: índice de repetição e duração da

exposição;

• A postura das articulações do braço (mão, punho, cotovelo, ombro) e do pescoço;

• A força necessária para realizar a tarefa ou a carga que cria forças na musculatura e

nos tecidos;

• A vibração;

• As condições ambientais;

• As características da organização do trabalho;

• As condições psico­sociológicas;

• Os fatores de risco de ordem individual, tal como o sexo.

A instrução normativa do INSS descreve de forma exemplificada a relação entre

o trabalho e algumas entidades nosológicas no Quadro 2.

Lesões Causas ocupacionais

Exemplos Alguns diagnósticos diferenciais

Bursite do cotovelo (olecraniana)

Compressão do cotovelo contra superfícies duras

Apoiar o cotovelo em mesas

Gota, contusão e artrite reumatóide

Contratura de fáscia palmar

Compressão palmar associada à vibração

Operar compressores pneumáticos

Heredo­familiar (Contratura de Dupuytren)

Dedo em Gatilho Compressão palmar associada à realização de força

Apertar alicates e tesouras

Diabetes, artrite reumatóide, mixedema, amiloidose.

Epicondilites do Cotovelo

Movimentos com esforços estáticos e preensão prolongada de objetos, principalmente com o punho estabilizado em flexão dorsal e nas prono­supinações com uso de força.

Apertar parafusos, desencapar fios, tricotar, operar motosserra.

Doenças reumáticas e metabólicas, hanseníase, neuropatias periféricas, contusão traumas.

Quadro 2: Relação entre trabalho e as entidades nosológicas (continua). Fonte: Brasil (2003).

Page 39: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ITAJUBÁ - saturno.unifei.edu.brsaturno.unifei.edu.br/bim/0030609.pdf · Odontologia e Ergonomia 5 2.1 ... Análise Ergonômica do Trabalho aplicada no estudo

27

Lesões Causas ocupacionais

Exemplos Alguns diagnósticos diferenciais

Síndrome do Canal Cubital

Flexão extrema do cotovelo com ombro abduzido. Vibrações.

Apoiar cotovelo ou antebraço em mesa

Epicondilite medial, seqüela de fratura, bursite olecraniana forma T de Hanseníase.

Síndrome do Canal de Guyon

Compressão da borda ulnar do punho.

Carimbar Cistos sinoviais, tumores do nervo ulnar, tromboses da artéria ulnar, trauma, artrite reumatóide e etc.

Síndrome do Desfiladeiro Torácico

Compressão sobre o ombro, flexão lateral do pescoço, elevação do braço.

Fazer trabalho manual sob veículos, trocar lâmpadas, pintar paredes, lavar vidraças, apoiar telefones entre o ombro e a cabeça.

Cervicobraquial gia, síndrome da costela cervical, síndrome da 1ª. costela, metabólicas, Artrite Reumatóide e Rotura do Supra­ espinhoso.

Síndrome do Pronador Redondo

Esforço manual do antebraço em pronação.

Carregar pesos, praticar musculação, apertar parafusos.

Síndrome do túnel do carpo

Síndrome do Túnel do Carpo

Movimentos repetitivos de flexão, mas também extensão com o punho, principalmente se acompanhados por realização de força.

Digitar, fazer montagens industriais, empacotar.

Menopausa, trauma,tendinite da gravidez (bilateral), lipomas, artrite reumatóide, diabetes, amiloidose, obesidade neurofibromas, insuficiência renal, lupus eritematoso, condrocalcinose do punho.

Quadro 2: Relação entre trabalho e as entidades nosológicas (continua). Fonte: Brasil (1993).

Page 40: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ITAJUBÁ - saturno.unifei.edu.brsaturno.unifei.edu.br/bim/0030609.pdf · Odontologia e Ergonomia 5 2.1 ... Análise Ergonômica do Trabalho aplicada no estudo

28

Lesões Causas ocupacionais

Exemplos Alguns diagnósticos diferenciais

Síndrome do Interósseo Anterior

Compressão da metade distal do antebraço.

Carregar objetos pesados apoiados no antebraço

Tendinite do Supra – espinhoso

Elevação com abdução dos ombros associada a elevação de força.

Carregar pesos sobre o ombro

Bursite, traumatismo, artropatias, doenças metabólicas.

Tenossinovite de De Quervain

Estabilização do polegar em pinça seguida de rotação ou desvio ulnar do carpo, principalmente se acompanhado de força.

Apertar botão com o polegar

Doenças reumáticas, tendinite da gravidez (particularment e bilateral), estiloidite do rádio

Tendinite da Porção Longa do Bíceps

Manutenção do antebraço supinado e fletido sobre o braço ou do membro superior em abdução.

Carregar pesos

Artropatia metabólica e endócrina, artrites, osteofitose da goteira bicipital, artrose acrômio­ clavicular e radiculopatias C5­C6.

Tenossinovite dos extensores dos dedos

Fixação antigravitacional do punho.

Movimentos repetitivos de flexão e extensão dos dedos.

Digitar,

operar mouse

Artrite Reumatóide, Gonocócica, Osteoartrose e Distrofia Simpático– Reflexa (síndrome Ombro ­ Mão).

Quadro 2: Relação entre trabalho e as entidades nosológicas. Fonte: Brasil (1993).

Com o intuito de esclarecer, mas não de esgotar o assunto, pretende­se destacar as

principais patologias ou regiões corpóreas que o CD está predisposto a desenvolver.

Segundo Michelin et al. (2000) e Laderas & Felsenfeld (2002), os distúrbios que mais

acometem os CDs são: a síndrome do túnel do carpo, as tendinites e os problemas de pescoço

e coluna. Segundo uma pesquisa realizada por Rio & Rio (2000) com 450 dentistas na cidade

de Belo Horizonte, 92,12% sentiram nos últimos 12 meses dor ou incômodo físico

relacionados ao exercício da profissão e 96,85% consideram a profissão estressante. Gobbi

(2003), em sua pesquisa com 165 CDs de uma cidade no interior de São Paulo, encontrou

Page 41: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ITAJUBÁ - saturno.unifei.edu.brsaturno.unifei.edu.br/bim/0030609.pdf · Odontologia e Ergonomia 5 2.1 ... Análise Ergonômica do Trabalho aplicada no estudo

29

referência a algum tipo de sintoma osteomuscular nos últimos 12 meses em 92,7%, sendo que

as regiões mais afetadas foram a cervical (67,3%), punhos e mãos (63%), lombar (62,4%),

torácica (61,2%) e ombros (58,8%). Resultados próximos destes foram encontrados por

Finsen et al. (1998), onde 65% dos entrevistados em sua pesquisa na Dinamarca apresentavam

algum tipo de dor ou desconforto também nas regiões do pescoço e/ou ombros. No entanto,

para Régis Filho et al., (2005) as regiões mais afetadas pelo DORT são ombro/braço

(39,40%), punho/mão (18,30%) e pescoço (17,20%). Neste mesmo trabalho os autores

afirmam que o CD pertence a um grupo profissional exposto a risco considerável de adquirir

algum tipo de DORT desde que alguns fatores (força excessiva, posturas incorretas, alta

repetitividade de um mesmo padrão de movimento, compressão mecânica dos tecidos,

características pessoais) estejam presentes.

Michelin et al. (2000) também cita uma alta prevalência de dores lombares,

desconforto no pescoço e ombro. Burke et al. (1997) apontaram a aposentadoria prematura

por DORT em 29,5% da população de 393 CD pesquisados. Por fim, Murphy (1997)

sintetizou as pesquisas realizadas ao longo de 40 anos segundo o público­alvo e região afetada

pela dor ou desconforto. É o que se pode observar no Quadro 3:

Pesquisador(es) Ano População alvo Par te do corpo afetada

Eccles & Powell 1955/1956 CDs Punho/mãos

Murtomaa 1982 CDs e auxiliares Extremidades inferiores

Diakow & Cassidy 1984 CDs Região lombar

Anderson 1984 Trabalhadores manuais Pescoço

Katevuo 1985 CDs Coluna cervical

Shugars 1987 CDs Diversos locais

Melrad 1990 CDs Pescoço/Cervical

Rundcrantz 1990 CDs Ombros/Pescoço

Stock 1991 Profissionais da área odontológica

Braços

Oberg 1993 Higienista dental Pescoço/Ombros

Stockstill 1993 CDs Extremidades superiores

Conrad 1993 Higienista dental Punhos

Liss 1995 Higienista dental Diversos locais

ADA 1995 CDs e higienistas Diversos locais

Marklin 1996 CDs Região lombar

Quadro 3: Estudos pertinentes às condições biomecânicas em profissionais da área odontológica (Murphy, 1997). Fonte: Rasia (2004).

Page 42: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ITAJUBÁ - saturno.unifei.edu.brsaturno.unifei.edu.br/bim/0030609.pdf · Odontologia e Ergonomia 5 2.1 ... Análise Ergonômica do Trabalho aplicada no estudo

30

Segundo Murphy (1997), os fatores de risco para desenvolver o DORT foram

identificados e podem ser demonstrados pela não adoção dos princípios ergonômicos,

incluindo, dentre diversas causas, o posto de trabalho, as ferramentas, o paciente, as técnicas

de trabalho (uso do espelho), a organização e o ambiente de trabalho. No entanto, não estão

limitados somente a uma causa independente, apresentando assim, razão multifatorial,

concordando, portanto com Lym & Carayon (1995). Os dados acima confirmam a

necessidade de se compreender melhor a gênese destes distúrbios e a atividade do CD.

2.5 Ergonomia e Odontologia As primeiras contribuições da ergonomia no campo da odontologia destinaram­se a

melhorar as condições de trabalho dos CDs, criando e aperfeiçoando as ferramentas,

instrumentos e mobiliário utilizado por esses profissionais. A abordagem human factors ou anglo­saxônica é muito forte nos estudos ergonômicos voltados para essa área. De fato, na

revisão da literatura sobre ergonomia na odontologia ainda é incipiente os estudos com a

abordagem francofônica, ou seja, estudos ergonômicos voltados para a análise da atividade.

Embora seja citada no histórico da odontologia a construção da primeira cadeira em

1790, feita especificamente para os pacientes, pelo dentista americano Josiah Flagg, para

Barros (1993) a primeira grande novidade no campo da ergonomia voltada para a odontologia

se dá com a construção da cadeira operatória do tipo Relax, em 1944, sendo inspirada nas poltronas para pilotos de bombardeiros B­29, que proporcionaram ao dentista trabalhar com o

paciente na posição sentada ou reclinada e com o mínimo de tensão possível. Em seguida,

surgiram as demais inovações, tais como o primeiro mocho giratório, o Posture­Confort­ Stool, e a técnica para sucção de alta potência, Washed­Field­Technique, permitindo que o dentista executasse seu trabalho com o campo operatório limpo, boa visibilidade e sem

maiores interrupções. Outra grande contribuição (MARQUAT, 1980) foi à concepção do

equipo dividido, split unit concept, que separava os elementos do equipo do CD dos elementos da assistente, ao invés de estarem todos juntos, como era originalmente.

Contudo foi o artigo referente à Ergonomia em Odontologia publicado por Eccles e

Powell no Reino Unido que introduziu os conceitos de ergonomia para odontologia na década

de 50 (MURPHY, 1997). Em 1959, foi realizado um grande workshop sobre problemas físicos relacionados ao trabalho odontológico na Western Reserve University School of Dentistry, Cleveland, Ohio (LALUMANDIER et al., 2001 apud RASIA 2004). Esse workshop foi realizado para avaliar as posturas e movimentos dos CDs em seu trabalho

Page 43: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ITAJUBÁ - saturno.unifei.edu.brsaturno.unifei.edu.br/bim/0030609.pdf · Odontologia e Ergonomia 5 2.1 ... Análise Ergonômica do Trabalho aplicada no estudo

31

clínico, sendo então publicado em 1963 o primeiro artigo norte­americano sobre Ergonomia e

Odontologia (MURPHY, 1997).

Posteriormente, em 1965, outros estudos foram realizados pela Pierre Fauchard Academy, que confirmaram que um terço dos CDs sofria com problemas nas costas. Kilpatrick e colaboradores identificaram as regras posturais e de procedimentos na década

seguinte e determinaram normas para o trabalho odontológico na posição sentada

(LALUMANDIER et al., 2001 apud RASIA, 2004).

De 1970 até a atualidade, as universidades têm trabalhado os conceitos e práticas na

atividade odontológica como a lógica nos procedimentos, o “trabalho a quatro mãos”, human factors e ergonomia odontológica propriamente dita (LADERAS & FELSENDELD, 2002).

A University of British Columbia, no início da década de 1980, realizou pesquisas buscando investigar a lógica nos procedimentos clínicos, baseado em um modelo postural

individual (RUCKER & SUNELL, 2002). Os trabalhos iniciaram com estudos de exercícios

proprioceptivos para determinar as preferências posturais do profissional e adoção de posições

para controle físico e visual na atividade de movimento fino, baseado nas necessidades

músculos­esqueléticas individuais, anatômicas e fisiológicas. Utilizou­se para isso estratégias

operacionais as quais tentavam neutralizar as limitações que talvez tenham sido impostas pelo

equipamento específico e pela experiência psicomotora prévia.

Atualmente os CDs desenvolvem suas atividades profissionais com sofrimento

psíquico e físico. Atuam em um contexto macrossocial de alta competitividade, aumento da

produtividade e redução de custos. O estresse derivado deste contexto tem sido bastante

significativo. Neste cenário é que a ergonomia odontológica busca adequar o trabalho

odontológico às características do ser humano, propiciando saúde e produtividade no trabalho

e na vida. É a aplicação dos conceitos da ergonomia à prática odontológica, com o objetivo de racionalizá­la, de acordo com as características do trabalho odontológico (RIO & RIO, 2000), possibilitando ao profissional evitar posturas e movimentos não produtivos e anti­

anatômicos, evitando a fadiga e o desgaste desnecessário, produzindo mais e melhor e

proporcionando maior conforto e segurança ao paciente. Segundo os mesmos autores a

ergonomia odontológica visa principalmente:

• Propiciar maior conforto no trabalho;

• Prevenir o estresse e a fadiga visual, física e psíquica;

Page 44: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ITAJUBÁ - saturno.unifei.edu.brsaturno.unifei.edu.br/bim/0030609.pdf · Odontologia e Ergonomia 5 2.1 ... Análise Ergonômica do Trabalho aplicada no estudo

32

• Prevenir sintomas (dor, dormência, perda de força) e afecções músculo­esqueléticas

relacionadas ao trabalho;

• Prevenir o aparecimento de varizes dos membros inferiores.

Para Djerassi (1971) apud Castro & Figlioli (1999), a ergonomia aplicada à

odontologia tem como objetivo obter meios e sistemas para diminuir o estresse físico e

mental, prevenir as doenças ocupacionais, buscando uma produtividade mais expressiva.

Seguindo a linha Human Factors busca­se a racionalização do trabalho (POI & TAGLIAVINI, 1999) com a organização dos procedimentos clínicos, conceitos sobre

gerenciamento empresarial, noções sobre ergonomia, divisão da área de trabalho e postura de

trabalho, odontologia a quatro mãos e preservação da saúde do profissional. Para Castro &

Figlioli (1999), os princípios ergonômicos, os conceitos de racionalização dos procedimentos

odontológicos e sua respectiva aplicação são fundamentais para alcançar a simplificação do

trabalho, a prevenção da fadiga e o maior conforto tanto para equipe quanto para o paciente.

2.5.1 O posto de trabalho odontológico Para bem se compreender a atividade do CD antes de tudo é importante introduzir

alguns conceitos acerca do posto de trabalho.

Segundo Iida (2005), o posto de trabalho (PT) é a configuração física do sistema

homem­máquina­ambiente. É uma unidade produtiva envolvendo um homem e o

equipamento que ele utiliza para realizar o trabalho, bem como o ambiente que o circunda.

Para Rio & Rio (2000), o PT do CD é constituído pelos seguintes elementos:

• Cadeira odontológica;

• Mocho do dentista;

• Refletor;

• Equipo;

• Unidade suctora (sugador e cuspideira);

• Unidade auxiliar.

Page 45: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ITAJUBÁ - saturno.unifei.edu.brsaturno.unifei.edu.br/bim/0030609.pdf · Odontologia e Ergonomia 5 2.1 ... Análise Ergonômica do Trabalho aplicada no estudo

33

Para Barros (2006), o PT é formado por duas unidades dentárias tripartidas (UDT),

sendo que, cada UDT é dividida também em três unidades:

a) Unidade do paciente:

• Cadeira odontológica.

• Encosto para nuca e ombros.

b) Unidade do CD:

• Dois aparelhos de corte de alta rotação com as pontas;

• Dois aparelhos de corte de baixa rotação com as pontas (micromotor);

• Um aparelho auxiliar específico de acordo com a especialidade exercida pelo

profissional;

• Uma seringa tríplice (água, ar e spray);

• Armário fixo;

• Armário móvel;

• Uma bandeja auxiliar acoplada ao equipo;

• Um mocho;

• Comandos eletrônicos de todos os aparelhos no pé direito.

c) Unidade da auxiliar intra­bucal:

• Armários fixos;

• Unidades suctoras de baixa e alta potência;

• Seringa tríplice;

• Funil (cuspideira móvel);

• Armário ou bandeja auxiliar;

Page 46: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ITAJUBÁ - saturno.unifei.edu.brsaturno.unifei.edu.br/bim/0030609.pdf · Odontologia e Ergonomia 5 2.1 ... Análise Ergonômica do Trabalho aplicada no estudo

34

• Mocho;

• Comandos eletrônicos de todos os aparelhos nos pés;

• Aparelhos auxiliares acionados, comandados, corrigidos e fornecidos pela auxiliar

extra­bucal quando presente na equipe.

Neste trabalho, a unidade produtiva do caso estudado se enquadra no conceito de Rio

& Rio (2000), uma vez que é utilizado apenas uma UDT e sem uma equipe de auxiliares extra

e intra­bucal.

Em relação à postura que deve ser adotada, a posição sentada é considerada a mais

favorável para exercer a atividade odontológica, pois o gasto energético é menor que em pé.

Barros (2006) cita a pesquisa de E. Atzler que em seu manual de fisiologia afirma que uma

pessoa sentada consome 4% de energia e uma pessoa em pé 12%. Quando se adota a postura

em pé e inclinada este consumo energético passa para 55%. De acordo com Barros (2006),

inicialmente o trabalho odontológico era executado com o CD em pé e sem auxiliar. Finsen et

al. (1998) constatou que 82% dos dentistas na Dinamarca trabalhavam principalmente

sentados, 13% em pé e o restante alternava essas posições. Segundo Iida (2005), a posição

sentada exige atividade muscular do dorso e do ventre para manter esta postura e a ligeira

inclinação para frente a torna mais natural e menos fatigante do que a ereta. Em relação à

posição em pé, a sentada tem a vantagem de liberar as pernas para tarefas produtivas e

facilitar a realização de trabalhos delicados com os dedos. Isto vem de encontro com a

atividade do CD que precisa ao mesmo tempo utilizar o pedal para acionar o motor e de

precisão motora e visual para intervir no dente. Dul & Weerdmeester (2001) vêem a postura

sentada também como menos fatigante que a postura em pé, contudo recomendam que não se

deva ficar por tempo prolongado na posição sentada. Este fato se torna mais importante para

as atividades que exijam um acompanhamento visual onde o pescoço e as costas ficam

inclinados para frente e são submetidos à tensão. Por fim, recomendam que quando a tarefa

exige um tempo prolongado sentado, deve­se alternar com outras tarefas que permitam andar

ou ficar em pé. De encontro a esta recomendação Barros (2006) sugere duas UDT para que o

CD possa alternar as posturas sentada, em pé e andando. No entanto, isto apenas se torna

possível quando se possui uma equipe de auxiliares.

Levando em consideração a racionalização do trabalho, a maneira mais favorável de se

trabalhar (BARROS, 2006) em odontologia é com o “trabalho a 4 mãos”. Desde 1943, Klein

Page 47: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ITAJUBÁ - saturno.unifei.edu.brsaturno.unifei.edu.br/bim/0030609.pdf · Odontologia e Ergonomia 5 2.1 ... Análise Ergonômica do Trabalho aplicada no estudo

35

demonstrou que um CD utilizando uma auxiliar atendia 33% de pacientes a mais que um CD

sem auxiliar. Em 1946, Waterman trabalhando com uma auxiliar bem preparada aumentou em

50% sua produtividade e com duas auxiliares aumentou para 75% (BARROS, 2006). Segundo

Finkbeiner (2000), o “trabalho a quatro mãos” abrange um conceito de trabalho em conjunto

por uma habilidade individual precisa dentro de padrões ergonomicamente delineados com o

intuito de promover produtividade da equipe odontológica, qualidade nos cuidados com o

paciente, ao mesmo tempo em que busca o bem­estar dos profissionais que compõem o grupo.

Tal sistema de trabalho apenas é interessante quando o mesmo minimiza movimentos

indesejados e acelera a maioria dos procedimentos. A delegação de funções simples ao

auxiliar traz resultados altamente satisfatórios no balanço final.

Atualmente, é absurda a idéia de um CD trabalhar sem um auxiliar, mas há

profissionais que ainda o fazem (BARROS, 1995). A técnica de transferência de

instrumentos, comumente utilizada na medicina, aumenta a produtividade e é pouco utilizada

na odontologia. O “trabalho a quatro mãos” não se configura na simples transferência de

instrumental de um profissional para o outro e nem no aumento substancial de velocidade no

atendimento. Mais do que isso, esse sistema é o caminho para um trabalho inteligente e

eficiente.

Para muitos CDs e assistentes (FINKBEINER, 2000) é rotina afirmar que executam o

“trabalho a 4 mãos”. No entanto, os relatos de estresse físicos são evidentes, devido à

utilização inadequada de equipamentos e técnicas, pois há desconhecimento dos conceitos

básicos do “trabalho a 4 mãos”. Os dentistas podem, ainda, serem observados realizando

torções e virando­se para alcançar instrumentos ao seu lado. Se o assistente não está repondo

constantemente todo o instrumental necessário e/ou os equipamentos não estão ao alcance do

assistente, o verdadeiro “trabalho a 4 mãos” não está sendo praticado.

Com o objetivo de orientar a atividade odontológica é que a Internacional Organization for Standardization (ISO) e a Federation Dentaire Internacionale (FDI) descreveram esquematicamente o sistema de trabalho para esta classe. O esquema se baseia

em um relógio imaginário colocado sobre o posto de trabalho odontológico onde se pode

indicar a posição a ser adotada pelo CD e seu auxiliar durante o atendimento do paciente (POI

& TAGLIAVANI, 1999; CASTRO & FIGLIOLI, 1999). No centro deste sistema encontra­se

o campo operatório. O paciente com a cabeça voltada para as 12 horas e os pés para 6 horas.

A posição do CD e do auxiliar será então denominada de acordo com o número para o qual as

costas deste profissional estejam voltadas. A Figura 5 mostra o esquema gráfico com o CD

em 9h e seu auxiliar em 3h.

Page 48: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ITAJUBÁ - saturno.unifei.edu.brsaturno.unifei.edu.br/bim/0030609.pdf · Odontologia e Ergonomia 5 2.1 ... Análise Ergonômica do Trabalho aplicada no estudo

36

Figura 5: esquema gráfico ISO/FDI. Fonte: Porto (1994).

Além disso, toda a atividade do tratamento está em volta do paciente (FINKBEINER,

2000). Essa área de trabalho pode ser dividida em 4 zonas ou regiões de atividade. Essa

orientação também é realizada com um mostrador de relógio. Deste modo, tem­se para

profissionais destros a região:

• do operador: estende­se das 7 às 12 horas;

• do assistente: das 2 às 4 horas;

• de transferência: entre 4 e 7 horas;

• estática: entre 12 e 2 horas.

Normalmente, o CD destro posiciona­se em 7, 9 ou 11 horas. As posições mais

vantajosas para execução do trabalho odontológico são em 9 e 11 horas. A posição 9 horas

(CASTRO & FIGLIOLI, 1999; BARROS, 2006) permite ao CD ampla visualização direta das

faces dos dentes inferiores e superiores, assim como da maioria das regiões da boca. Sua

vantagem em relação à posição de 7 horas é que se houver inclinação do tronco, esta será

frontal e não lateral, além de manter os braços junto ao corpo. Em 11 horas, o profissional

trabalha com visão indireta, principalmente das faces palatinas dos dentes anteriores

superiores, sendo orientada para utilização de instrumentos manuais e turbina de baixa

rotação.

Pesquisa realizada com CDs dinamarqueses apontou a posição de 10 horas como a

mais adotada, enquanto que as posições de 9 e 11 horas apresentaram­se em segundo e

terceiro lugar respectivamente na preferência dos pesquisados. Nessa mesma pesquisa,

somente 2% dos profissionais trabalham sem auxiliares em tempo integral. Já 34% utilizam

auxiliares em mais de 50% de suas atividades e 18% clinicam com auxiliares em todos os

Page 49: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ITAJUBÁ - saturno.unifei.edu.brsaturno.unifei.edu.br/bim/0030609.pdf · Odontologia e Ergonomia 5 2.1 ... Análise Ergonômica do Trabalho aplicada no estudo

37

procedimentos (FINSEN et al, 1998). No Brasil, sabe­se que 56,7% dos CDs trabalham sem

auxiliar (CFO, 2002).

As sugestões para um posicionamento correto da equipe sugerem que o CD deve estar

sentado em posição de 9 horas, com o paciente reclinado em posição supina e o auxiliar

posicionado em 3 horas com pequenas variações à esquerda e à direita. Barros (2006) acredita

que nesta posição o CD pode atuar em qualquer dente, em qualquer face com visão direta

concordando, portanto com Castro & Figlioli (1999). O auxiliar (POLLACK, 1996) também

deve ter acesso total ao campo operatório, para que o serviço técnico torne­se mais preciso.

Todos os aparelhos (equipos, periféricos, bandeja auxiliar com instrumentais e materiais

necessários, armários ou gavetas de armários, suctor, terminal de computador) e o campo

operatório devem estar em um plano horizontal imaginário que passa a altura do cotovelo do

CD quando ergonomicamente sentado. A tolerância de variação de altura para este plano é de

até 15 cm acima do mesmo.

Para Castro & Figlioli (1999), a visão direta para o auxiliar pode ser alcançada com o

posicionamento entre 1 e 3 horas, podendo também adotar a posição de 5 horas. No entanto a

posição de 3 horas permite que o auxiliar tenha uma visão direta do campo operatório,

desempenhando muito bem o afastamento e sucção, obtendo­se menor fadiga e assim, melhor

rendimento. Esse posicionamento é ideal quando o CD trabalha em 9 ou 11 horas. Para os

profissionais canhotos as posições devem ser invertidas com as do auxiliar.

Tanto o CD quanto seu auxiliar necessita do máximo suporte lombar oferecido por

seus respectivos mochos (POLLACK, 1996; POLLACK­SIMON, 2000). O auxiliar necessita

estar a uma altura de 10 a 15 centímetros a mais que a visão do CD com um suporte para

descanso dos pés. A posição elevada permite uma visualização do campo operatório acima

das mãos do profissional, enquanto ocorre a assistência. Além disso, o paciente também

participa da adoção de posturas que facilitem o trabalho do CD. Sempre se deve solicitar ao

paciente que altere a posição de sua cabeça para melhor visualização e estabilidade do campo

operatório.

Para reorganizar os materiais com objetivo de atingir as condições de trabalho

favoráveis é interessante exemplificar os movimentos desempenhados no dia­a­dia pelos CDs.

Barros (1999) classificou os movimentos desempenhados pelo CD em 5 tipos, conforme é

mostrado no Quadro 4:

Page 50: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ITAJUBÁ - saturno.unifei.edu.brsaturno.unifei.edu.br/bim/0030609.pdf · Odontologia e Ergonomia 5 2.1 ... Análise Ergonômica do Trabalho aplicada no estudo

38

Movimento Exemplo 1 Somente dos dedos Pegar um rolete de algodão. 2 De dedos e punho Manipular um instrumento manual. 3 Dedos, punho e cotovelo Alcançar a caneta de alta­rotação. 4 Todo o braço e ombro Alcançar materiais além da área de trabalho, sem fazer torção da coluna. 5 Torção completa do

tronco Virar­se para alcançar um equipamento.

Quadro 4: Classificação dos movimentos do cirurgião­dentista. Fonte: Barros (1999).

Os movimentos (BARROS, 1999) que englobam as classes 1, 2 e 3 formam o que é

considerada a área ótima para o trabalho com as duas mãos (Figura 6).

Figura 6: Zonas de alcance. Fonte: Iida (2005).

Esta área é denominada área de pega normal e o campo operatório deve estar dentro

deste espaço para evitar que o profissional realize movimentos incorretos.

As faculdades de odontologia são os melhores locais para aprendizagem ergonômica e

dos princípios de utilização dos equipamentos para otimizar o trabalho. No entanto, essas

entidades freqüentemente oferecem equipamentos antigos os quais apresentam uma

configuração mais eficiente para instrução do que para a prática (RUCKER, 2000; BARROS

1999). Além disto, normalmente adota­se o trabalho a 2 mãos durante o período de

aprendizado na maioria das faculdades, o que dificulta ainda mais a assimilação de um

trabalho ergonomicamente correto (FINKBEINER, 2000; RUCKER, 2000).

2.6 Análise Ergonômica do Trabalho

2.6.1 Considerações iniciais Segundo Wisner (2004), a AET surgiu nos trabalhos de Pacaud nas suas pesquisas

sobre os carteiros de registro da SNCF (1946), (Societé National des Chemins de Fer –

Page 51: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ITAJUBÁ - saturno.unifei.edu.brsaturno.unifei.edu.br/bim/0030609.pdf · Odontologia e Ergonomia 5 2.1 ... Análise Ergonômica do Trabalho aplicada no estudo

39

Sociedade Nacional das Ferrovias) em que ela mostra que todas as operações são de uma

extrema variedade, não acontecem a partir de uma ordem pré­estabelecida, mas se entrelaçam e algumas são abandonadas momentaneamente, em benefício de outras mais urgentes e imperativas. Em seu trabalho com operadoras de informações telefônicas Pacaud (1949), releva quatorze tipos de dificuldades que as operadoras deviam resolver. Embora

tenha inaugurado esta prática ela não teorizou a respeito, o que foi retomado de maneira mais

abrangente por Ombredane e Faverge na obra “A Análise do Trabalho” publicado em 1955

(WISNER, 1994) onde esses autores escrevem:

Certos aspectos significativos da tarefa estão previstos e inscritos nos ensinamentos próprios da formação profissional; outros há, em número indefinido, que não estão previstos e estão sujeitos à descoberta do trabalhador. Acrescentemos que esta descoberta não leva necessariamente a uma clara tomada de consciência por parte do trabalhador e que está na origem de impressões e macetes que atribuímos de bom grado a algum dom natural do homem.

Wisner (1994) evidencia que neste texto estão claramente descritas as razões que

exigem a realização de análises do trabalho, observações feitas diretamente no campo,

dirigindo­se não somente às ações, mas também às observações e às tomadas de informações

pelos trabalhadores. Contudo, foi a partir de Thereau e Pinsky que a AET foi mais claramente

identificada e descrita.

A AET é considerada um método de abordagens ascendentes (Bottom up) se opondo ao método experimental (descendente ou top down), e é utilizada para responder a uma

questão precisa e é orientada para a proposição de soluções operatórias. Sua característica

fundamental, segundo Wisner (2004), é de ser um método destinado a examinar a

complexidade, sem colocar em prova um modelo escolhido a priori. A AET aparece como ferramenta essencial de orientação da intervenção ergonômica e não leva somente às

transformações ergonômicas, mas também às contribuições essenciais para a organização do

trabalho, à definição dos postos de trabalho, à formação das transferências de tecnologias,

dentre outros.

2.6.2 Objeto de estudo da AET O traço fundamental da ergonomia anglófona é que ela visa melhorar os instrumentos

técnicos e os meios de trabalho, de onde se tem que o objeto desta linha é em primeiro lugar o

equipamento, portanto privilegia as pesquisas em laboratório. No caso da ergonomia

francofônica o objeto é o trabalho (WISNER, 2004), o conhecimento das atividades de

trabalho. Sua intervenção em situações especificas é efetuada diretamente nos locais de

Page 52: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ITAJUBÁ - saturno.unifei.edu.brsaturno.unifei.edu.br/bim/0030609.pdf · Odontologia e Ergonomia 5 2.1 ... Análise Ergonômica do Trabalho aplicada no estudo

40

trabalho (MAGGI, 2006). Ao contrário das técnicas de tempos e métodos tradicionais que

reduz o trabalho a uma somatória de gestos isolados e passíveis de serem divididos,

reelaborados e recompostos, a AET vai buscar como o trabalhador enquanto um ser integral

age, raciocina e utiliza sua inteligência para fazer face às variabilidades e imprevistos que a

ele se apresentam nas situações de trabalho (SALERNO, 1998). Para Iida (2005), a AET visa

ampliar os conhecimentos da ergonomia para analisar, diagnosticar e corrigir uma situação

real de trabalho.

A situação real de trabalho é o campo no qual a atividade do homem é exercida. Então

se tem que a atividade do homem no trabalho é orientada em vista de um determinado

resultado. Esta atividade é organizada no interior de um grupo social e exercida de maneira

regular. O resultado desta atividade que é econômica e produtora de utilidade social necessita

de coordenação do conjunto das atividades humanas, no sentido de produzir o que é útil.

Neste sentido, a atividade de trabalho é a maneira como esse resultado é obtido, isto é, a ação

ou forma de trabalhar na matéria, de manejar um instrumento, maneira como uma coisa criada

pelo homem foi executada (FIALHO & SANTOS, 1995). Portanto, a ergonomia tem por

objeto de estudo o trabalho e o cerne deste objeto é a própria atividade de trabalho (GUÉRIN

et al., 2001).

2.6.3 Tarefa e atividade Neste momento é interessante introduzir o conceito de tarefa para que se possa fazer

uma distinção deste do de atividade. Guérin et al. (2001) explicam e exemplificam: quando se

pergunta a um trabalhador sobre seu trabalho, ele fala a princípio sobre os resultados a obter

de seu trabalho (ele embala produtos, ela costura vestidos, ela atende desempregados, ele

dirige trens,...) e em seguida dos meios de que dispõe (eu disponho de caixas de papelão,

bandejas plásticas, um rolo de filme PVC, tenho uma máquina de costura, tenho um fichário,

uso o telefone,...). Na realidade eles estão se referindo às tarefa que cumprem. Então, têm­se a

tarefa como os resultados antecipados a partir das condições determinadas. Esquematicamente

isto é demonstrado na Figura 7:

Page 53: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ITAJUBÁ - saturno.unifei.edu.brsaturno.unifei.edu.br/bim/0030609.pdf · Odontologia e Ergonomia 5 2.1 ... Análise Ergonômica do Trabalho aplicada no estudo

41

Figura 7: A tarefa. Fonte: Guérin et al., (2001).

Ainda para estes mesmos autores, o conceito de atividade é dado como a maneira que

os resultados são obtidos e os meios utilizados. Complementando o esquema mostrado na

Figura 7, tem­se então a Figura 8:

Figura 8: Tarefa, atividade e trabalho. Fonte: Guérin et al., (2001).

Pode­se concluir, portanto que existem três realidades:

• a tarefa como resultado antecipado fixado em condições determinadas;

• a atividade de trabalho como realização da tarefa;

• o trabalho como unidade da atividade de trabalho, das condições reais e dos resultados

efetivos dessa tarefa.

Resultados antecipados

Condições deteminadas

TAREFA

Resultados antecipados

Condições deteminadas

TAREFA

Resultados efetivos

Condições reais

ATIVIDADE DE TRABALHO

Trabalho prescr ito

Trabalho real

Page 54: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ITAJUBÁ - saturno.unifei.edu.brsaturno.unifei.edu.br/bim/0030609.pdf · Odontologia e Ergonomia 5 2.1 ... Análise Ergonômica do Trabalho aplicada no estudo

42

Portanto, tem­se que a análise ergonômica da atividade é a análise das estratégias,

entendidas aqui como regulação, antecipação, usadas pelo operador para administrar a

distância entre “o que é pedido” (trabalho prescrito) e “o que a coisa pede” (trabalho real). A

tarefa é imposta ao operador. Ela é exterior ao operador, determina e constrange sua atividade,

mas ao mesmo tempo é indispensável para que ele possa operar. A atividade, segundo

Ferreira & Mendes (2003), tem um caráter mediador, apresentando uma dinâmica de

“mutações”, em que o indivíduo transforma o contexto e ao mesmo tempo é transformado por

ele.

2.6.4 A construção da ação ergonômica A análise da atividade de trabalho, segundo Guérin et al. (2001), tem sua

particularidade: não existe modelo único de ação ergonômica e sim alguns princípios comuns

importantes. É ao longo do desenvolvimento da ação que o ergonomista constrói sua

compreensão da situação de trabalho, apreende a realidade em sua especificidade inclusive

frente aos imprevistos e a diversidade de demandas e dos objetos da ação ergonômica. A

análise da atividade de trabalho tem essa especificidade: não pode ser uma abordagem

baseada simplesmente na aplicação de ferramentas pré­construídas. Ela é um processo onde o

ergonomista entra, no qual fica imerso. É ao longo do desenvolvimento do processo que ele

constrói sua compreensão da situação de trabalho e estrutura de maneira adequada seus

conhecimentos.

Sendo a AET um método destinado a analisar a complexidade das situações de

trabalho, ninguém pode pretender fazer uma abordagem somente com sua competência.

Portanto, é necessário fazer um certo recorte do campo de conhecimento e da ação. Cada um

se coloca em função deste recorte sem ignorar que a dimensão de trabalho pela qual se

interessa não é independente das outras.

O método AET (GUÉRIN et al., 2001) tem como foco o estudo da atividade e não

possui rigidez em suas etapas, ao contrário, permite uma flexibilização de acordo com a

situação real de trabalho. Os autores apresentam o esquema geral da abordagem ergonômica

como sendo uma construção que se elabora e toma forma ao longo do desenrolar da ação e

cada ação é singular. Existe, porém um conjunto de fases que vão estruturar a construção da

ação ergonômica, onde a importância de cada uma, o que compreendem as idas e vindas entre

elas, é específica de cada ação ergonômica.

Page 55: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ITAJUBÁ - saturno.unifei.edu.brsaturno.unifei.edu.br/bim/0030609.pdf · Odontologia e Ergonomia 5 2.1 ... Análise Ergonômica do Trabalho aplicada no estudo

43

O esquema do Quadro 5 mostra as etapas que compõem a AET. A intervenção em

ergonomia é um processo singular que tem seu início a partir de uma demanda socialmente

estabelecida. Os contornos e as formas dessa intervenção vão se transformando no confronto

com a realidade de trabalho, determinando a seqüência das etapas e os recortes da realidade.

A AET, com todas as suas etapas, implica em decompor para apreender a atividade para

recompô­la sob novas bases, considerando a análise de trabalho real e a participação do

trabalhador no processo (ABRAHÃO, 1993).

Quadro 5: Etapas da intervenção ergonômica. Fonte: Guérin et al. (2001).

Inter ação com os

oper ador es, papel das

entr evistas e das

verbalizações

Observações globais da atividade (observações aber tas)

Exploração do funcionamento da empresa e de seus traços: características da população, da produção, indicadores relativos à eficácia e à saúde. Hipóteses de nível 1: escolha das

situações a analisar.

Das primeiras formulações de demanda à identificação dos fatores gerais em jogo: análise da demanda e do contexto,

reformulação da demanda.

Análise do processo técnico e das tarefas

Diagnóstico: ­ diagnóstico local incidindo sobre a(s) situação(ões)

analisada(s) em detalhe; ­ mas igualmente diagnóstico global incidindo sobre

o funcionamento mais geral da empresa.

Formulação de um

pré­diagnóstico Hipóteses

de Nível 2

Definição de um plano de observações

Observações sistemáticas

Tratamento dos dados

Validação

Page 56: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ITAJUBÁ - saturno.unifei.edu.brsaturno.unifei.edu.br/bim/0030609.pdf · Odontologia e Ergonomia 5 2.1 ... Análise Ergonômica do Trabalho aplicada no estudo

44

Para Guérin et al. (2001), a AET pode ser organizada da seguinte forma:

a) A análise da demanda A ação ergonômica inicia­se a partir de uma demanda, aqui entendida como uma

solicitação, um pedido. Frequentemente, a demanda é um incômodo que se apresenta

cotidianamente e é quase sempre colocada em termos de problemas a resolver, isolados de seu

contexto. Portanto, é necessário reformular a demanda inicial e hierarquizar os diferentes

problemas colocados, articulá­los entre si e, às vezes apontar outros. Deve­se detectar a

natureza dos outros problemas potenciais interrogando­se sobre o grau de importância

daqueles que foram apontados e reformular a demanda inicial numa problemática de natureza

ergonômica centrada na atividade de trabalho (GUÉRIN et al., 2001). Nesta fase, os primeiros

dados da situação de trabalho são levantados, permitindo a formulação das hipóteses de

primeiro nível (hipóteses de nível 1 ou preliminares) a serem consideradas na realização do

estudo: tipo de tecnologia utilizada, organização do trabalho implantada, principais

características do pessoal disponível, principais aspectos sócio­econômicos da empresa e os

diversos pontos de vista a respeito do problema formulado na demanda (FIALHO &

SANTOS, 1995). As hipóteses elaboradas nesta etapa levarão a escolha das situações de

trabalho que devem ser analisadas em detalhe para se obter elementos que respondam às

questões levantadas.

b) Obser vações globais da atividade Uma primeira visita à situação de trabalho permite compreender a natureza das

questões levantadas e como os problemas se manifestam concretamente para os operadores.

Estas primeiras observações abertas tentam compreender o processo técnico e as tarefas

confiadas aos operadores, mas também observar as estratégias adotadas por eles e colher

comentários. É o primeiro contato que determina as possibilidades posteriores de acesso ao

posto de trabalho e também é uma oportunidade para informar os motivos da ação

ergonômica. Deve­se ter em mente os elementos que motivam a demanda e fazer as relações

entre os constrangimentos da situação de trabalho, a atividade desenvolvida pelos operadores

e as conseqüências dessa atividade para a saúde e para a produção. Essas articulações

permitirão formular um pré­diagnóstico ou hipóteses de nível 2. Esta hipótese normalmente é

estruturada da seguinte maneira: “parece que tais fatores levam os operadores a trabalhar de

tais maneiras, o que pode explicar tais conseqüências”. É a partir deste pré­diagnóstico que se

vai estabelecer um plano de observação para verificar, enriquecer e demonstrar tais hipóteses.

Page 57: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ITAJUBÁ - saturno.unifei.edu.brsaturno.unifei.edu.br/bim/0030609.pdf · Odontologia e Ergonomia 5 2.1 ... Análise Ergonômica do Trabalho aplicada no estudo

45

c) Diagnóstico A partir dos registros de observações e das explicações fornecidas pelos operadores é

que o diagnóstico pode ser dado. Ao se ater à atividade real se compreenderá as dificuldades

encontradas em um determinado lugar e se identificará os pontos que devem ser objeto das

transformações dessas situações de trabalho. Por fim, é a partir deste diagnóstico que se

realizam as recomendações e se propõe um acompanhamento do processo de transformação.

Para Fialho & Santos (1995), o plano metodológico da AET pode ser dividido em três

etapas, a saber:

a) Análise das referências bibliográficas.

b) Análise ergonômica do trabalho, que está dividida em três fases:

• Análise da demanda: nesta fase se define o problema a ser estudado a partir de uma

negociação com os vários atores sociais envolvidos. A partir dos primeiros dados

coletados da situação de trabalho é possível se formular as hipóteses de nível 1;

• Análise da tarefa: a partir das hipóteses de nível 1 faz­se a análise das condições de

trabalho e uma descrição minuciosa dos diversos componentes do sistema. Todos estes

dados poderão confirmar ou recusar as hipóteses formuladas;

• Análise da atividade: é a análise dos comportamentos de trabalho (posturas, ações,

gestos, comunicações, direção do olhar, movimentos, verbalizações, raciocínios,

estratégias, resoluções de problemas, modos operativos, tudo o que possa ser

observado ou inferido a respeito da conduta do trabalhador) que serão confrontados

com os dados obtidos na fase anterior e permitirão elaborar um pré­diagnóstico da

situação de trabalho.

c) Síntese ergonômica do trabalho: que está dividida em duas fases.

• Estabelecimento do diagnóstico da situação de trabalho;

• Elaboração do caderno de encargos de recomendações.

A obra destes últimos autores é pragmática, pois traz a metodologia AET em forma de

manual ou roteiro a ser seguido pelos profissionais na análise do posto de trabalho. Por outro

lado, a obra de Guérin et al. (2001) propõe o estudo e entendimento do método da AET e

Page 58: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ITAJUBÁ - saturno.unifei.edu.brsaturno.unifei.edu.br/bim/0030609.pdf · Odontologia e Ergonomia 5 2.1 ... Análise Ergonômica do Trabalho aplicada no estudo

46

além de discutir o método em si referencia inúmeros exemplos. Portanto, este último foi

escolhido como livro de referência principal para o desenvolvimento desta pesquisa.

Page 59: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ITAJUBÁ - saturno.unifei.edu.brsaturno.unifei.edu.br/bim/0030609.pdf · Odontologia e Ergonomia 5 2.1 ... Análise Ergonômica do Trabalho aplicada no estudo

47

3. Análise Ergonômica do Trabalho aplicada no estudo de caso

3.1 Bases para uma abordagem metodológica

3.1.1 Pressupostos Neste capítulo será apresentado o caminho metodológico percorrido para abordar o caso

escolhido. Ferreira (2002) destaca cinco pressupostos que ditam alguns cuidados a se tomar para

não comprometer a eficiência e a eficácia da AET. São eles:

• Situação­problema: é a própria demanda e que segundo o autor nada mais é que a ponta

do iceberg, pois mascara com freqüência seus reais determinantes. A reformulação da demanda através dos recortes e da hierarquização de suas causas por meio da busca de

informações pertinentes é um procedimento incontornável desta reformulação. Ela serve

de bússola da AET, pois orienta a trajetória de investigação.

• Par ticipação: é determinante para os resultados confiáveis da AET, pois sem a

participação dos atores sociais envolvidos com a demanda a realização da análise da

atividade fica comprometida.

• Informação: o acesso à informação deve ser irrestrito, contudo baseado nas regras

deontológicas.

• Var iabilidade: nas dimensões interindividual (gênero, idade, dimensões corporais,

personalidade, história pessoal, experiências e vivências) e intra­individual (leva em

conta o estado fisiológico, cognitivo e afetivo dos indivíduos e que se modificam ao

longo de uma jornada influenciando suas ações).

• Atividade: o que faz, porque faz e como o faz é o centro de interesse da AET.

3.1.2 Instr umentos de estudo Para se analisar um caso através da AET lança­se mão de vários instrumentos que

facilitarão a apreensão da atividade e promoverão as recomendações adequadas que serão feitas.

Tais instrumentos são:

a) Obser vações livres

Page 60: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ITAJUBÁ - saturno.unifei.edu.brsaturno.unifei.edu.br/bim/0030609.pdf · Odontologia e Ergonomia 5 2.1 ... Análise Ergonômica do Trabalho aplicada no estudo

48

As observações livres tiveram início logo no primeiro contato com a CD para verificar se

a mesma estava próxima do perfil do CD brasileiro. Uma vez constatado que sim e a

profissional estar de acordo em participar da pesquisa, as primeiras visitas foram agendadas.

Nesta primeira reunião foram apresentados os objetivos da pesquisa e dois esquemas resumidos

da metodologia AET (ANEXO A e B). Nesta mesma reunião foi formulada a demanda inicial.

Algumas questões foram colocadas para a CD para se ter uma compreensão maior do serviço

prestado por ela, tais como: quais são os tratamentos que realiza, se possui auxiliar, se planejou

o consultório, se atende por convênios, se possui alguma queixa de dor ou desconforto

relacionado ao trabalho, se usa visão direta ou indireta e qual postura adota durante o

tratamento. Ao término desta, novas visitas foram programadas, tendo como critério a aceitação

da presença da pesquisadora no consultório por parte do paciente. A preocupação com o

conforto e a privacidade do paciente foi um aspecto que apareceu logo na primeira reunião e

demonstrou ser uma forte premissa.

As visitas subseqüentes tiveram como objetivo a observação livre de cada tipo de

tratamento a fim de verificar qual elemento era mais relevante para cada um deles. Antes

mesmo de relatar tais atendimentos, é interessante citar os outros instrumentos utilizados.

b) Análise documental A coleta de informações se deu também através da consulta de documentos internos, tais

como:

• Agenda: utilizada para marcação das sessões e lembretes;

• Ficha clínica: onde a cada sessão é anotado o procedimento realizado e as observações

para aquele caso;

• Caderno de controle de atendimentos: onde é registrado o nome, a data inicial e final

do último tratamento. Este controle é feito mensalmente.

• Arquivo: situado no mezanino, onde as fichas clínicas ficam guardadas em envelopes

e ordenadas por datas de nascimento.

A consulta a estes documentos revelou uma parte da organização do trabalho. Todas as

anotações são manuscritas pela própria CD durante ou ao final da sessão ou ainda após o

expediente quando a profissional chega mesmo a levar para casa as fichas clínicas para terminar

de completá­las.

Page 61: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ITAJUBÁ - saturno.unifei.edu.brsaturno.unifei.edu.br/bim/0030609.pdf · Odontologia e Ergonomia 5 2.1 ... Análise Ergonômica do Trabalho aplicada no estudo

49

c) Obser vações sistemáticas As observações sistemáticas tiveram início logo que os procedimentos foram descritos

pela CD e identificados pela pesquisadora durante as observações, confirmando a

obrigatoriedade da seqüência dos procedimentos para se executar os tratamentos. Por se tratar

da metodologia AET cada etapa do procedimento foi considerada uma tarefa a ser cumprida,

pois existe uma seqüência obrigatória que não pode ser modificada quando conveniente. A

partir desta descrição das tarefas foi possível prosseguir no conhecimento das situações reais de

trabalho e realizar os recortes necessários.

d) Entrevistas semi­estruturadas Estas entrevistas foram preparadas em vários momentos da pesquisa com o objetivo de

se conhecer cada vez mais a organização do trabalho e compreender o porquê de alguns gestos,

posturas, ações, decisões, modificações no modo operatório, enfim apreender o trabalho real.

e) Verbalizações Para Guérin et al. (2001), a atividade não pode ser reduzida ao que é observável. O

raciocínio, o tratamento das informações, o planejamento das ações só podem ser realmente apreendido por meio das explicações. As verbalizações podem aparecer ao longo de uma entrevista, durante uma observação e revelam normalmente alguma restrição do trabalho.

f) Equipamentos utilizados para registros de dados Para mensuração do espaço físico e elementos que o compõem, foram utilizadas uma

trena marca CASTO 3m x 19 mm (Figura 9), máquina fotográfica HP 3.3 MP e goniômetro

CARCI (Figura 10).

Figura 9: Trena CASTO.

Page 62: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ITAJUBÁ - saturno.unifei.edu.brsaturno.unifei.edu.br/bim/0030609.pdf · Odontologia e Ergonomia 5 2.1 ... Análise Ergonômica do Trabalho aplicada no estudo

50

Figura 10: Goniômetro CARCI.

Não foram realizadas filmagens dos tratamentos para preservar a privacidade do

paciente. Também não foram mensurados os níveis de ruído, iluminação, temperatura, umidade

do ar e ventilação por não estarem presentes na demanda e por não serem considerados

relevantes durante a pesquisa.

3.1.3 O trajeto metodológico O trajeto metodológico seguido está baseado no esquema geral da abordagem de Guérin

et al., (2001). A Figura 11 descreve resumidamente as fases que serão apresentadas.

Figura 11: Metodologia AET. Fonte: adaptado de Guérin et al. (2001) pela autora.

Abordagem global

Hipóteses nível 1

Análise da atividade

Pré­diagnóstico Hipóteses nível 2

Observações sistemáticas Tratamento dos dados Validação

Diagnóstico

Recomendações

Definição de um plano de observação

Análise da

demanda

Page 63: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ITAJUBÁ - saturno.unifei.edu.brsaturno.unifei.edu.br/bim/0030609.pdf · Odontologia e Ergonomia 5 2.1 ... Análise Ergonômica do Trabalho aplicada no estudo

51

3.2 Apresentação do caso estudado

3.2.1 A escolha do caso O profissional escolhido para este estudo foi uma cirurgiã­dentista, clínica geral, de 46

anos, formada há 22 anos e que atua em consultório próprio situado em uma clínica médica na

cidade de Itajubá ­ MG há 7 anos.

Este caso foi selecionado, pois a profissional está bem próxima do perfil do CD

brasileiro traçado pela pesquisa encomendada à Inbrape pelas entidades 2 nacionais de

odontologia no ano de 2002.

Na Tabela 1 foram destacados os principais índices desta pesquisa que nortearam a

escolha realizada:

Critér io adotado Caso escolhido

57,5% sexo feminino Sexo feminino

76,7% clínico geral Clínica geral

89,6% autônomo Autônoma

56,7% sem auxiliar Sem auxiliar

Tabela 1: critérios adotados para escolha do caso estudado.

3.2.2 Análise da demanda

a) A demanda inicial A demanda inicial foi formulada logo na primeira visita onde também tiveram início as

observações livres. Após sanar algumas dúvidas por parte da profissional, foi formulada a

seguinte demanda inicial:

“Diante da noção de ergonomia acadêmica, diante do grupo heterogêneo de pacientes, com labirintite, idosos, gestantes, não dá para por em prática as posições de Threndelemburg e de 9h. Eu adquiri a insegurança da visão indireta. A anatomia dos dentes é muito parecida podendo diminuir a precisão do trabalho”.

2 ABO (Associação Brasileira de Odontologia), ABENO (Associação Brasileira de Ensino Odontológico), ACBO (Academia Brasileira de Odontologia), CFO (Conselho Federal de Odontologia), FIO (Federação Interestadual de Odontologia) e FNO (Federação Nacional de odontologia).

Page 64: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ITAJUBÁ - saturno.unifei.edu.brsaturno.unifei.edu.br/bim/0030609.pdf · Odontologia e Ergonomia 5 2.1 ... Análise Ergonômica do Trabalho aplicada no estudo

52

b) O que está em jogo (les enjeux) A reformulação da demanda se deu a partir do conhecimento dos elementos que estavam

em jogo nesta situação­problema colocada inicialmente. Foram identificadas as seguintes

questões:

• Ergonomia: a princípio nesta demanda fica claro que a profissional faz pouco uso da

posição mais indicada, tanto para o paciente quanto para ela, ou seja, supina e 9h

respectivamente. Ela refere também não usar a visão indireta com auxilio do

espelhinho o que indica que deve realizar muitas inclinações e rotações do tronco para

ter a visão direta. Ela refere que na faculdade era avaliada segundo a ergonomia

empregada. Os alunos eram policiados se faziam uso da visão indireta. Contudo, ela

revela que possui noções da ergonomia correta de trabalho, mas que não as segue. A

afirmação abaixo deixa isto evidente. Quando se começa a trabalhar sozinha, a gente faz diferente. Desta forma a profissional se adapta ao posto e às necessidades do paciente em

detrimento do conforto próprio para atingir o resultado satisfatório. Ela refere ter tido

uma epicondilite direita que a afastou do trabalho por três meses e no momento

apresenta uma epicondilite esquerda, dores no cóccix, dor lombar lado direito e

ardência em todo o ombro, lado direito e esquerdo, além de dores de cabeça

freqüentes.

• Bem estar do paciente: esta demanda também aponta uma preocupação com o

conforto do paciente e que ao longo das observações realizadas ficou confirmada

como uma forte premissa. A profissional se preocupa com todos os aspectos que

envolvem o paciente. Ela diz:

Eu atendo meu paciente de forma holística.

Para ela a prioridade é o bem estar do paciente. Ela relata que existe paciente que fica

uma sessão toda falando.

Tem que dar atenção ao paciente. Tem que ser um pouco psicóloga. Isto é importante, pois na próxima ele estará mais relaxado e eu poderei trabalhar com mais facilidade.

• Sucesso do tratamento: o sucesso do trabalho está ligado à precisão que a CD tem

que ter durante o procedimento. Ela relata que quando faz um trabalho de escultura

fica com todo o corpo tenso. O sucesso também está vinculado ao bem estar do

Page 65: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ITAJUBÁ - saturno.unifei.edu.brsaturno.unifei.edu.br/bim/0030609.pdf · Odontologia e Ergonomia 5 2.1 ... Análise Ergonômica do Trabalho aplicada no estudo

53

paciente que assim colabora com o tratamento permanecendo mais tranqüilo, seguro e

confiante.

c) Reformulação da demanda A fim de responder à demanda (situação­problema) colocada pela profissional e

considerando as questões nela embutidas, a pesquisadora optou por conduzir a pesquisa de

forma a identificar as restrições deste posto de trabalho, que fazem com que a CD não siga as

normas básicas de ergonomia odontológica e que expõe a mesma aos riscos de desenvolver

dores músculo­esqueléticas. Ainda de outra forma, como a profissional se expõe e como se

preserva destas restrições, ou seja, quais são as estratégias adotadas por ela para fazer face a

estes constrangimentos. A opção por este caminho se justifica pelo fato da profissional

apresentar dores osteomusculares como já foi citado.

3.2.3 Abordagem global Dando seqüência na pesquisa, procurou­se conhecer a estrutura do consultório.

a) A organização do trabalho Os atendimentos são realizados de segunda a sexta­feira das 8:00 às 11:00 e das 13:00 às

17:00. A jornada semanal é, portanto de 35 horas.

O agendamento, na grande maioria das vezes, é realizado pela própria CD e para cada

sessão é reservada uma hora. A clínica da qual o consultório faz parte, dispõe de duas

secretárias que também fazem o agendamento nos horários em que a CD não está presente. Nos

horários normais de atendimento da profissional elas se limitam a transferir a ligação telefônica

para o consultório para que o paciente converse diretamente com a mesma. A CD optou por este

sistema de agendamento, pois refere que as secretárias não foram treinadas para receber e

orientar os pacientes odontológicos Na Figura 12 é possível verificar como este processo

acontece.

Page 66: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ITAJUBÁ - saturno.unifei.edu.brsaturno.unifei.edu.br/bim/0030609.pdf · Odontologia e Ergonomia 5 2.1 ... Análise Ergonômica do Trabalho aplicada no estudo

54

Figura 12: Marcação de consulta.

A profissional além de atender a pacientes particulares (cerca de 50%) também atende

seus antigos pacientes de convênio pelo custo operacional. Desde 2003 se desligou do convênio

por questões econômicas. Refere que a partir desta mudança passou a trabalhar menos e ter um

faturamento maior. Concluiu, portanto que não vale a pena ser credenciada.

Em relação aos materiais, eles estão distribuídos nas gavetas do gaveteiro móvel, nas

prateleiras do armário alto (portas da esquerda e portas de vidro), dentro da geladeira e na

primeira gaveta à direita no balcão.

b) O consultór io odontológico O atual consultório tem uma área total de 12,82 m² (3,74 X 3,43) e ainda mais 6,68 m²

(3,43 X 1,95) de mezanino. Foi projetado na época para um trabalho a duas mãos. A partir do

ano de 1999 passou a ter uma auxiliar após um problema de epicondilite direita que a obrigou a

se afastar do trabalho por três meses. No entanto, há 2 anos está sem esta profissional. Refere

que os custos são altos para se ter um funcionário, contudo programa a contratação de uma

pessoa por saber que este custo é compensatório pela qualidade do trabalho e pela saúde.

A estrutura física está demonstrada na Figura 13 que mostra a planta baixa do

consultório:

O paciente aguarda par a falar com a CD ou a ligação é transfer ida

Se sim, marcação das

sessões.

Execução do tratamento

Paciente faz o contato com a secretár ia

pessoalmente ou por telefone

CD ver ifica o caso e faz ou não

a marcação

1ª. sessão para or çamento é feita.

Aber tur a de uma ficha clínica. Paciente decide se irá ou não realizar o

tratamento.

Page 67: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ITAJUBÁ - saturno.unifei.edu.brsaturno.unifei.edu.br/bim/0030609.pdf · Odontologia e Ergonomia 5 2.1 ... Análise Ergonômica do Trabalho aplicada no estudo

55

Figura 13: Planta baixa do consultório.

Nesta planta podem ser observados:

• Os elementos da CD indicadas com as setas vermelhas:

Ø Mocho

Mesa com

compu tador e

telefone

253

90

230

Janela de vidro

Liga/desl

refletor

pedal

sugador

Raio X

balcão

EQUIPO Escada mezanino

76 100

65

75

135

69

86

128

69

96

Base 40 X 85

60

57

57

111

mocho

230

343

Page 68: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ITAJUBÁ - saturno.unifei.edu.brsaturno.unifei.edu.br/bim/0030609.pdf · Odontologia e Ergonomia 5 2.1 ... Análise Ergonômica do Trabalho aplicada no estudo

56

Figura 14: Medidas do mocho.

Ø Equipo

Figura 15: Equipo com três pontas.

Ø Comando eletrônico no pedal

Figura 16: Pedal de acionamento do motor.

5

14

46

13

36

Page 69: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ITAJUBÁ - saturno.unifei.edu.brsaturno.unifei.edu.br/bim/0030609.pdf · Odontologia e Ergonomia 5 2.1 ... Análise Ergonômica do Trabalho aplicada no estudo

57

Ø Armário fixo

Figura 17: Armários.

Ø Armário móvel

Figura 18: Gaveteiro móvel.

Ø Refletor.

Figura 19: Refletor.

Page 70: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ITAJUBÁ - saturno.unifei.edu.brsaturno.unifei.edu.br/bim/0030609.pdf · Odontologia e Ergonomia 5 2.1 ... Análise Ergonômica do Trabalho aplicada no estudo

58

• Os elementos do paciente são indicados pelas setas verdes:

Ø A cadeira odontológica e o apoio para a cabeça

Figura 20: Cadeira do paciente.

• Os elementos do auxiliar são indicados pela seta azul:

Ø O sugador

Figura 21: Cuspideira e sugador.

c) Os documentos colocados à disposição

• Agenda

• Ficha clínica;

• Caderno de controle de atendimentos.

Os documentos embora todos preenchidos à mão, são bem organizados. No entanto, a

CD não possui uma estatística de quantos pacientes são particulares e custo operacional, quantos

fazem tratamento protético, preventivo, restaurador ou estético. Existe somente uma estimativa.

Detalhe

Page 71: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ITAJUBÁ - saturno.unifei.edu.brsaturno.unifei.edu.br/bim/0030609.pdf · Odontologia e Ergonomia 5 2.1 ... Análise Ergonômica do Trabalho aplicada no estudo

59

d) Tratamentos realizados

Em seu consultório ela oferece os seguintes tratamentos:

• Restaurações fotopolimerizadas (resinas): realizados com maior freqüência;

• Restaurações de amálgama: realizados com menor freqüência;

• Reabilitação protética;

• Prevenção;

• Odontologia com ênfase na estética (clareamento, troca de restaurações de amálgama

por de resina, redução de espaço interdental).

Para cada tipo de tratamento foi feito um fluxograma com as etapas obrigatórias

seguidas pela dentista para sua execução. Por se tratar da metodologia AET, cada etapa desta

está sendo considerada uma tarefa a ser cumprida, ou seja, as etapas precisam ser

obrigatoriamente realizadas numa determinada ordem para a realização do tratamento

odontológico e não podem ser alteradas por conveniência. A seguir, para efeito de

exemplificação, segue o fluxograma de uma das fases do tratamento de prótese (Figura 22) e

outro correspondente ao tratamento de restauração fotopolimerizada (Figura 23).

O tratamento protético é realizado nos casos onde houve perda de dentes ou quando

um dente precisa de uma grande restauração e o mesmo não oferece apoio para uma

restauração fotopolimerizada, por exemplo.

Figura 22: Fluxograma das 9 etapas prescritas para a execução da prótese – fase moldagem definitiva.

Moldagem da gengiva

Anestesia da superfície gengiva

4 Isolamento relativo

3 5

Cimentação do provisório

9

Remoção do provisório / do

cimento provisório

2

Moldagem do antagonista

8 Preparação do paciente

1

Moldagem 7

Afastamento gengival com fio

retrator

6

Page 72: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ITAJUBÁ - saturno.unifei.edu.brsaturno.unifei.edu.br/bim/0030609.pdf · Odontologia e Ergonomia 5 2.1 ... Análise Ergonômica do Trabalho aplicada no estudo

60

O tratamento de restauração fotopolimerizada é realizado diante de uma lesão cariosa

ou diante do interesse do paciente pela estética.

Figura 23: Fluxograma das 19 etapas prescritas para a execução da restauração fotopolimerizadora.

O Quadro 6 contém as observações acerca das etapas com o propósito de facilitar a

compreensão do fluxograma.

Anestesia infiltrativa

Uso do carbono de dupla face e escultura

Remoção das cunhas, da matriz e do isolamento

relativo

Uso do aparelho fotopolimerizador

20 segundos

Aplicação do adesivo escolhido

Refazer o isolamento relativo

Aplicação do ácido fosfórico

Preparo e inserção do forramento

11

3

10 9

7

6

15 17

Aplicação da pomada anestésica

2

Lavagem com água para a remoção do

ácido

8

Preparação do paciente

1 Escultura

Remoção da cárie e/ou obturação

Isolamento relativo com algodão

5

Colocação da resina em pequenos fragmentos

13

Uso do aparelho fotopolimerizador

40 segundos

14

Caso necessário uso de uma matriz para a reconstrução das

laterais do elemento e cunhas na região

gengival

Teste com fio dental para verificar excessos

18

Polimento final 19

12

4

16

Page 73: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ITAJUBÁ - saturno.unifei.edu.brsaturno.unifei.edu.br/bim/0030609.pdf · Odontologia e Ergonomia 5 2.1 ... Análise Ergonômica do Trabalho aplicada no estudo

61

Quadro 6: Observações sobre etapas restauração fotopolimerizada.

Entre todos os tratamentos, a CD considera o de prótese o mais desgastante pelo custo

para ela e para o paciente, por isto se preocupa muito com a execução e com a satisfação do

paciente com o resultado final.

Foi observada uma sessão de cada tratamento e constatado que o tratamento de prótese

de fato é bastante desgastante pela preocupação com o resultado e pelos muitos movimentos

para manipulação dos materiais, por isso muitos gestos para acessar as gavetas, o balcão, o

equipo, ligar e desligar o sugador (este procedimento é adotado para se poupar o compressor

que já parou por sobrecarga), muitos movimentos com o mocho, de sentar e levantar para pegar

material no armário alto e sobre o balcão. Contudo, o tratamento de restauração

fotopolimerizada também apresenta uma grande manipulação de materiais e é realizado com

maior freqüência, embora seja realizado sem a mesma preocupação relativa ao custo do

tratamento protético.

e) A escolha da situação Após a observação de todos os tratamentos, foi realizado o primeiro recorte da

atividade da CD para prosseguir a análise (Figura 24). Foram escolhidos os tratamentos de

prótese dentária e restauração fotopolimerizada segundo os critérios destacados no esquema da

Figura 24.

Etapa Observações sobre algumas etapas 1 Receber o paciente, acomodá­lo na cadeira e colocar as proteções (babador, toalha, guardanapo). 2 Aplicar o anestésico tópico com auxílio de pinça e algodão na região onde será feita a anestesia. 3 Aplicar a anestesia com auxilio de seringa e agulha. 4 Utilização da caneta de alta rotação para remoção da cárie e/ou obturação. 5 Isolamento relativo nada mais é que colocar os roletes de algodão ao redor do dente para se

manter a região seca. 6 O forramento é o material que antecede a resina, visando maior proteção do elemento dentário. 7 Aplicação do ácido fosfórico no elemento dentário para aumentar a porosidade do esmalte e da

dentina. 8 Usa­se sempre o sugador simultaneamente. 10 O adesivo é um material que irá ficar entre a resina e o dente. 11 Aumenta o poder de aderência do adesivo. 12 A matriz é uma espécie de banda ou cinta de metal ou plástico que é colocada ao redor do dente

para auxiliar na reconstrução das paredes do dente. 13 A colocação da resina em pequenos fragmentos evita a contração indesejada do material. 14 Uso do fotopolimerizador por 40 segundos é feito após a inserção de cada fragmento para

endurecê­lo. 16 Eliminação do excesso de resina com caneta de alta e baixa rotação. 17 Usando um carbono de dupla face para marcar os pontos altos, esculpe a resina de acordo com a

oclusão do paciente. Usam­se brocas especiais para tal procedimento; 18 É testado o uso do fio dental comprovando se não há excesso de material nas proximais do dente; 19 Realização do polimento com brocas com pontas abrasivas, de borracha, com tiras de lixa de

granulações diversas. Por fim é usada uma pasta para polimento.

Page 74: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ITAJUBÁ - saturno.unifei.edu.brsaturno.unifei.edu.br/bim/0030609.pdf · Odontologia e Ergonomia 5 2.1 ... Análise Ergonômica do Trabalho aplicada no estudo

62

Observação

Restauração resina

Restauração amálgama

Prótese

Estética prevenção

Custo

Materiais

Resultado

Satisfação

1º. recorte na atividade

Maior freqüência

Figura 24: Primeiro recorte na atividade.

É extremamente importante ressaltar que não foi possível utilizar recursos áudio­visuais

durante as observações para preservar a privacidade do paciente, preocupação permanente da

CD. Os dois tipos de tratamento foram acompanhados e os dados contabilizados e registrados.

Segue um dos gráficos (Gráfico 1) que representa a atividade odontológica através da

freqüência com que as ações aconteceram:

Ações realizadas durante o tratameno de prótese fase prova do núcleo metálico

68 70

14

1 3 5 0 0 0

7 9 1 5 0

11

1 7 1

0

10

20

30

40

50

60

70

80

1 Ações

Freqüência

intervir na boca utilizar equipo utilizar balcão abrir portas esq abrir portas vidro abrir/fechar 1a. Gaveta D abrir/fechar 2a. Gaveta D abrir/fechar 3a. Gaveta D abrir/fechar 4a. Gaveta D abrir/fechar 1a. Gaveta Central abrir/fechar 2a. Gaveta Central abrir/fechar 3a. Gaveta Central abrir/fechar 4a. Gaveta Central abrir/fechar geladeira deslocar até sugador acionar pedal reposicionar refletor atender telefone

Gráfico 1: Tratamento de prótese.

Page 75: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ITAJUBÁ - saturno.unifei.edu.brsaturno.unifei.edu.br/bim/0030609.pdf · Odontologia e Ergonomia 5 2.1 ... Análise Ergonômica do Trabalho aplicada no estudo

63

Ao ler o gráfico considerar que cada vez que o dentista acessava uma gaveta, ou ia até a

boca do paciente, ou até o equipo, por exemplo, foi contabilizada uma ação. Pode­se verificar

no gráfico uma grande intervenção intra­bucal (68) e uma grande utilização do equipo (70).

Para estas ações a CD realizava inúmeras rotações de tronco, mais acentuadas a direita. Em

relação a utilização do balcão, ela necessitava afastar o mocho, girar para a direita e se levantar

quando não permanecia sentada e se esticava para alcançar algum material. Foi observada uma

grande utilização do gaveteiro central que apesar de possuir rodízios permaneceu imóvel sob o

balcão. Outra ação que chamou a atenção foi a de deslocamento até o sugador para ligá­lo e

desligá­lo. A maioria destes deslocamentos foi realizada deslizando o mocho até a posição de 3

horas e outras levantando do mesmo e se deslocando até o dispositivo liga e desliga. Por fim,

foram observados muitos reposicionamentos do refletor para evitar que o paciente bata a

cabeça quando for cuspir e para trazer o foco de luz sobre o equipo para melhorar a

visualização de uma peça que está esculpindo. Na Figura 25 a planta do consultorio é

reapresentada com destaque para os itens observados:

Figura 25: Planta baixa do consultório.

230

Mesa com compu tador e

telefone

Liga/desl

refletor

pedal

sugador

Raio X

balcão

EQUIPO Escada mezanino

76 100

65

75

135

69

86

128 96

Base 40 X85

60

57

57

111

69

Janela de vidro

Page 76: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ITAJUBÁ - saturno.unifei.edu.brsaturno.unifei.edu.br/bim/0030609.pdf · Odontologia e Ergonomia 5 2.1 ... Análise Ergonômica do Trabalho aplicada no estudo

64

Por tas de

vidro

Por tas de

vidro

Geladeira

Auto clave

L i x o

Na Figura 25 é importante destacar a localização do dispositivo liga/desliga no sugador

e a distância entre a mesa e o apoio de cabeça para o paciente que fica bastante reduzida – 57

cm – quando se faz uso da inclinação total da cadeira dificultando a passagem com o mocho.

Na Figura 26, o destaque é para a altura das prateleiras internas do armário alto e para o

lado de abertura da porta da geladeira.

Figura 26: Vista frontal dos armários alto e baixo sob o balcão.

Prateleiras (Portas esquerda)

87,5

78

230

53 64 71

170

193

145

Page 77: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ITAJUBÁ - saturno.unifei.edu.brsaturno.unifei.edu.br/bim/0030609.pdf · Odontologia e Ergonomia 5 2.1 ... Análise Ergonômica do Trabalho aplicada no estudo

65

3.2.4 Pré­diagnóstico A partir das observações pode­se elaborar o seguinte pré­diagnóstico (Quadro 7):

Em função: A CD faz: Isto car acter iza: Mas leva frequentemente a profissional a:

•da disposição dos materiais nas gavetas e armários;

•do controle liga e desliga do sugador;

•das regulagens do refletor;

•do pequeno espaço existente entre o apoio de cabeça da cadeira do paciente e a mesa.

•uma grande utilização do equipo e do balcão para manipular os materiais;

•uma grande utilização dos gaveteiros para procurar/pegar o material necessário;

•vários deslocamentos com o mocho para ligar e desligar o sugador;

•várias mudanças da posição do refletor quando o paciente se senta para cuspir e quando necessita de luz sobre o equipo;

•utilização insuficiente da inclinação da cadeira do paciente.

• uma sessão sem uma seleção prévia dos materiais.

• realizar inúmeras inclinações e rotações de tronco e deslocamentos com o mocho o que provoca uma fadiga física e dores lombo­ sacrais e uma perda de tempo na procura do material desejado;

• evitar um super aquecimento do compressor;

• garantir a segurança, conforto do paciente e sucesso do tratamento

Quadro 7: Pré­diagnóstico.

Este pré­diagnóstico apresenta uma explicação para o problema levantado inicialmente

na demanda. A partir deste ponto serão escolhidos os métodos mais adequados para se

trabalhar nos recortes que serão realizados na atividade.

3.2.5 Observação sistemática As observações sistemáticas foram realizadas com base no pré­diagnóstico. Foi

traçado um plano de observação que resultou na seguinte configuração.

a) Os recor tes Para esta fase inicial foi escolhida a variável tempo das ações para se compreender

como elas se distribuem ao longo de uma sessão. Uma planilha (ANEXO C) foi preparada

para se poder acompanhar a transição de uma ação para outra bem como o intervalo entre

elas.

Após a observação foi possível realizar um segundo recorte na atividade e chegar a

classificá­las em dois tipos:

• O recor te das ações Ø as extra­bucais: são todas as ações que acontecem fora da boca do paciente, como por

exemplo: pegar a caneta de alta rotação, pegar o jato de ar/água, pegar um rolete de

Page 78: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ITAJUBÁ - saturno.unifei.edu.brsaturno.unifei.edu.br/bim/0030609.pdf · Odontologia e Ergonomia 5 2.1 ... Análise Ergonômica do Trabalho aplicada no estudo

66

algodão, pegar um instrumental sobre o equipo, pegar um material na geladeira, na

gaveta, no armário alto, pegar o aparelho fotopolimerizador, o jato de bicarbonato,

atender ao telefone, deslocar­se até o sugador, etc. A foto da Figura 27 mostra um

destes tipos de ação extra­bucal.

Figura 27: Ação extra­bucal.

Ø intra­bucais: são todas as ações de intervenção na boca do paciente, como por

exemplo: usar a caneta de alta rotação, explorar a boca com o espelhinho, avaliar um

dente, colocar um rolete de algodão, esculpir, aplicar uma anestesia, inserir um

material (resina, amálgama, ácido fosfórico, adesivo, etc.), dar um jato de água/ar, etc.

A foto da Figura 28 ilustra uma ação intra­bucal.

Figura 28: Ação intra­bucal.

A seguir o Gráfico 2 que resume a observação do tempo das ações extra e intra­bucais.

Page 79: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ITAJUBÁ - saturno.unifei.edu.brsaturno.unifei.edu.br/bim/0030609.pdf · Odontologia e Ergonomia 5 2.1 ... Análise Ergonômica do Trabalho aplicada no estudo

67

Gráfico 2: Tempo das ações intra e extra­bucais.

• Análise do tempo das ações Embora a diferença de tempo seja pequena ela passa a ser significativa quando se

considera que a ação extra­bucal tem uma relação direta com a organização do trabalho:

distribuição dos materiais, posicionamento dos equipamentos periféricos, etc. Na foto da Figura

29 é possível perceber este aspecto ao se observar a posição do equipamento fotopolimerizador

sobre o balcão:

Figura 29: Organização do trabalho.

No entanto, as ações intra­bucais tem uma relevância maior em relação às extra­bucais,

pois elas estão diretamente relacionadas às posturas estáticas, ou seja, quando a CD intervêm na

boca ela fixa sua postura para aumentar a precisão manual e para focar o ponto do dente onde

Ações extra e intra bucal

extra­bucal in tra­bucal

52%

48%

Page 80: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ITAJUBÁ - saturno.unifei.edu.brsaturno.unifei.edu.br/bim/0030609.pdf · Odontologia e Ergonomia 5 2.1 ... Análise Ergonômica do Trabalho aplicada no estudo

68

ela atua. Esta postura está sempre associada à tensão muscular seja pela manutenção da mesma

seja pelo contexto de apreensão em executar uma atividade onde o paciente na maioria das

vezes apresenta medo, expectativa ou dor. Além disto, a postura estática é uma das responsáveis

pelo desenvolvimento dos DORT. Uma outra questão que também é importante ressaltar que, na

atividade odontológica, a ação intra­bucal é a que agrega valor ao tratamento, portanto mais um

motivo para reconhecer a relevância desta ação. A foto da Figura 30 exemplifica esta

consideração.

Figura 30: Postura fixa na ação intra­bucal.

Na foto da Figura 30 a CD mantém sua postura para intervir com a mão direita e segurar

o sugador com a esquerda, além de manter a cabeça fixa permitindo assim a visão do dente em

tratamento.

A partir destas observações foi possível realizar o terceiro recorte na atividade e eleger

as ações intra­bucais como foco de estudo. As observações se seguiram ainda sobre os

tratamentos de prótese e restaurações fotopolimerizadas. As seguintes posturas foram

identificadas como sendo as que mais são adotadas durante as ações intra­bucais:

Page 81: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ITAJUBÁ - saturno.unifei.edu.brsaturno.unifei.edu.br/bim/0030609.pdf · Odontologia e Ergonomia 5 2.1 ... Análise Ergonômica do Trabalho aplicada no estudo

69

Figura 31: Postura incorreta dos ombros.

Na foto da Figura 31 pode ser observada uma abdução do ombro além de 45º. Esta

abertura dos braços é considerada excessiva uma vez que além desta graduação passa­se a ter a

contração dos músculos supra­espinhoso e trapézio superior, que compromete a coluna cervical

e cintura escapular. Também pode ser observada nesta foto a ausência de apoio para a coluna

lombar.

Figura 32: Postura incorreta da cervical vertebral.

Na foto da Figura 32 observa­se uma flexão acentuada da coluna vertebral sendo mais

acentuada ao nível da cervical. Pode­se perceber também nesta postura a ausência de apoio

lombar.

Page 82: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ITAJUBÁ - saturno.unifei.edu.brsaturno.unifei.edu.br/bim/0030609.pdf · Odontologia e Ergonomia 5 2.1 ... Análise Ergonômica do Trabalho aplicada no estudo

70

Figura 33: Postura incorreta da coluna cervical.

Na Figura 33, verifica­se a inclinação da cabeça para a direita com rotação para a

esquerda. Esta postura é bastante presente, pois a CD adota a postura de trabalho de 10h e utiliza

a visão direta do dente. Sendo assim necessita realizar tal rotação da coluna cervical.

Figura 34: Apoio insuficiente dos pés.

Por fim, na Figura 34, constata­se que a base de apoio do corpo está muito reduzida

devido ao mau posicionamento dos pés. Também se verifica a ausência de apoio da coluna

lombar.

Page 83: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ITAJUBÁ - saturno.unifei.edu.brsaturno.unifei.edu.br/bim/0030609.pdf · Odontologia e Ergonomia 5 2.1 ... Análise Ergonômica do Trabalho aplicada no estudo

71

3.3 Considerações finais

Após a análise das posturas foi possível identificar as principais posturas que são

adotadas durante os 52% de tempo de uma sessão. São elas:

• Abdução de ombros;

• Flexão da coluna vertebral sendo mais acentuada na região cervical que leva a falta de

apoio para a coluna lombar;

• Inclinação da cabeça para a direita com rotação para a esquerda;

• Apoio insuficiente dos pés caracterizado por extensão acima de 120º do joelho esquerdo

e flexões menores que 90º do joelho direito.

Estas posturas desencadeiam dor, desconforto, fadiga e predispõem a profissional a

adquirir as doenças músculo­esqueléticas.

Page 84: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ITAJUBÁ - saturno.unifei.edu.brsaturno.unifei.edu.br/bim/0030609.pdf · Odontologia e Ergonomia 5 2.1 ... Análise Ergonômica do Trabalho aplicada no estudo

72

4. Análise e diagnóstico

4.1 Análise das observações

Este capítulo tem por objetivo discutir os dados coletados, identificando os elementos

restritivos (constrangimentos) e estratégias adotadas para contorná­los. Após esta análise, o

diagnóstico para o caso estudado será formulado.

Para facilitar a análise, o texto foi dividido nos seguintes tópicos: a organização do

trabalho, o consultório odontológico e as posturas de trabalho.

4.1.1 A organização do trabalho

a) Horár ios A CD faz questão de agendar um paciente por hora e não mais do que isto, salvo alguma

urgência que segundo ela a agita.

Ela não realiza pausas programadas durante a jornada, mas aproveita os atrasos do

paciente para tomar um café, uma água e andar um pouco pela clínica. Quando não existe este

intervalo circunstancial ela refere tomar água até mesmo quando não está com sede somente

para poder parar um pouco.

b) Agendamento

O agendamento é realizado pela CD durante seu horário de trabalho. Isto garante que o

paciente tenha o atendimento segundo o padrão da profissional. Em relação a ela mesma fazer o

agendamento ela diz:

Se eu mesma não fizer isto as meninas (duas secretárias da clínica) não vão conseguir manobrar lá fora e aí eu vou perder muito mais.

A interrupção de um atendimento para atender ao telefone gera normalmente um

desconforto para a CD, e apesar da aceitação deste fato por parte do paciente que está na

cadeira, a mesma reconhece que ele não gosta, mas que colabora com ela.

O paciente não gosta, mas entende.

Esta aceitação também se deve ao bom nível de relacionamento que a profissional

estabelece com seu paciente desde a marcação da primeira consulta, passando pela primeira

avaliação onde se discute o diagnóstico, o tratamento, o orçamento, a intenção do paciente e o

Page 85: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ITAJUBÁ - saturno.unifei.edu.brsaturno.unifei.edu.br/bim/0030609.pdf · Odontologia e Ergonomia 5 2.1 ... Análise Ergonômica do Trabalho aplicada no estudo

73

tipo de pagamento. Normalmente não inicia um procedimento na primeira sessão. Para a CD

este primeiro contato é fundamental para estabelecer uma relação de confiança.

Neste momento, a CD tem tido o auxílio de uma pessoa no período da tarde. Este auxílio

se caracteriza mais como o de uma auxiliar extra­bucal, que se limita a fazer algum

agendamento segundo a orientação da profissional, pegar algum material, ir ao protético, fazer o

serviço externo, realizar a desinfecção dos materiais e organizar o consultório. Normalmente os

instrumentais usados na parte da manhã são lavados e esterilizados no início da parte da tarde

por esta pessoa.

c) Documentos

• Caderno de controle de atendimentos: todos os documentos são manuscritos e bem

organizados. Para a CD, a forma como organiza os dados permite que ela encontre o que

deseja com facilidade. Ela faz referência em relação à busca de uma informação neste

caderno:

Eu sempre encontro o que quero.

Neste caderno de controle de atendimentos ela tem o nome do paciente, a data de início e

do final do tratamento. Estes dados fazem com que a CD saiba se um paciente finalizou,

interrompeu o tratamento ou não deu continuidade no mesmo. Esta informação é

baseada na presença do registro da data final e não existe nenhuma observação. Ela

verifica o nome, a data e relembra o porquê daquele paciente ter, por exemplo,

interrompido o tratamento. De onde se tem um desconhecimento dos números

estatísticos de casos de abandono e conclusão de tratamento. Um dos meios de controle

que ela possui para saber se existe alguma pendência é de que, se uma ficha está no

arquivo de baixo e não no arquivo do mezanino é porque o paciente está em tratamento,

ou ainda não efetuou o pagamento, ou porque está esperando uma posição do paciente

para decidir se irá ou não realizar o tratamento.

Da mesma forma a profissional não tem este mesmo controle estatístico para os tipos de

tratamento, lucro, custo de materiais por tratamento, pacientes particulares e com custo

operacional, adultos, crianças, idosos, gestantes e especiais. Ela refere que seu controle

financeiro do consultório também deixa a desejar.

Page 86: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ITAJUBÁ - saturno.unifei.edu.brsaturno.unifei.edu.br/bim/0030609.pdf · Odontologia e Ergonomia 5 2.1 ... Análise Ergonômica do Trabalho aplicada no estudo

74

• Fichas clínicas: as fichas clínicas dos pacientes também são feitas à mão e a profissional

muitas vezes leva as fichas para casa para completá­las quando não é possível fazer isto

a tempo no consultório.

Hoje acordei mais cedo para deixar as fichas em dia e não dei conta.

Eu levo as fichas para casa, mas elas voltam do mesmo jeito.

O fato de ter uma ficha desatualizada gera por vezes uma angústia por não poder

esquecer de anotar uma observação importante na ficha de um paciente.

Vou anotar que estou usando este medicamento com ele para saber disto na próxima vez que ele voltar. Quando uso este medicamento não posso usar um outro.

Para não comprometer tempo de sessão do paciente a CD leva as fichas para casa. O

trabalho fica desta forma estendido à vida privada.

d) Música ambiente Um recurso utilizado pela CD para favorecer o relaxamento do paciente é de colocar

músicas calmas. Segundo ela a música também a tranqüiliza.

A música relaxa o paciente e a dentista também.

e) Mater iais

Os materiais necessários a um tipo de atendimento estão localizados em vários lugares.

As bandejas clínicas, por exemplo, ficam na estufa que está no mezanino. A cada sessão é

necessário subir para buscar uma. Ela dispõe de 8 bandejas de rotina, sendo: 2 para orçamento

(uma pediátrica e outra adulto), 3 clínicas, 1 para amálgama e 2 bandejas de cirurgia (extração

de dente decíduo ou drenagem). Segundo a CD, os cuidados com as bandejas são desgastantes.

Ela verbaliza:

Esta parte é desgastante, porque precisa lavar, secar para não manchar o inox...

A esterilização leva de 40 minutos à 1 hora e 30 minutos, dependendo do material. Ela

possui a autoclave que fica em baixo, mas prefere utilizar a estufa porque acredita ser mais

eficaz na esterilização.

Além da bandeja clínica, a resina necessária para as restaurações fotopolimerizadas fica

na geladeira e é retirada durante a sessão. Grande parte dos materiais fica armazenada no

Page 87: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ITAJUBÁ - saturno.unifei.edu.brsaturno.unifei.edu.br/bim/0030609.pdf · Odontologia e Ergonomia 5 2.1 ... Análise Ergonômica do Trabalho aplicada no estudo

75

armário alto por terem uma embalagem volumosa que não cabe no gaveteiro móvel, o que faz

com que a CD se desloque muitas vezes durante uma sessão, sente e levante do mocho para

pegar este tipo de material. Todos os demais instrumentais e materiais de uso ficam nas gavetas

do gaveteiro móvel e na primeira gaveta do balcão à direita.

f) Trabalho a duas mãos O trabalho odontológico é executado a duas mãos e esta escolha leva a CD a adotar uma

posição de trabalho intermediária, 10h ou 11h, onde ela precisa estar perto do paciente, do

sugador, bem como dos materiais. Isto faz com que ela conduza uma sessão com um grau de

tensão maior do que se ela tivesse um auxiliar, fato que favoreceria sua concentração no

tratamento. Ela relata que quando tinha auxiliar sua qualidade de vida era outra.

Nas fotos a seguir (Figura 35, Figura 36 e Figura 37) pode ser observada

respectivamente a CD fazendo a função de auxiliar, deslocando­se até o sugador para ligá­lo,

em pé pegando um material no armário alto e abrindo a geladeira, por exemplo.

Figura 35: Deslocamento da CD até o sugador.

Page 88: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ITAJUBÁ - saturno.unifei.edu.brsaturno.unifei.edu.br/bim/0030609.pdf · Odontologia e Ergonomia 5 2.1 ... Análise Ergonômica do Trabalho aplicada no estudo

76

Figura 36: Pegando material na geladeira

Figura 37: Pegando material no armário

Como se pode verificar nas fotos, a CD tem que se deslocar para pontos diferentes em

função do material que necessita e do sugador. Este sistema de trabalho passa a ser, portanto

desgastante para a profissional.

Page 89: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ITAJUBÁ - saturno.unifei.edu.brsaturno.unifei.edu.br/bim/0030609.pdf · Odontologia e Ergonomia 5 2.1 ... Análise Ergonômica do Trabalho aplicada no estudo

77

4.1.2 O consultór io odontológico

a) A posição de trabalho

O consultório foi avaliado segundo a norma ISO/FDI e o conceito de PTO de Barros

(2006), que orienta o posicionamento dos equipamentos bem como do CD no consultório.

A CD deste estudo adota preferencialmente em seu trabalho a posição de 10h para

trabalhar na maioria das faces dos dentes. Esta posição é adotada porque também favorece o

deslocamento até o sugador e permite que ela segure a mangueira do mesmo a mantendo na

boca do paciente. Na foto da Figura 38, tem­se a visualização de um esquema gráfico

sobreposto ao consultório para facilitar esta análise.

Figura 38: Aplicação do esquema gráfico.

Para facilitar a análise serão seguidos alguns itens de orientação:

9h

10h

8h 4h

5h

2h

A

B

C

7h

11h 1h

3h

12h

6h

Page 90: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ITAJUBÁ - saturno.unifei.edu.brsaturno.unifei.edu.br/bim/0030609.pdf · Odontologia e Ergonomia 5 2.1 ... Análise Ergonômica do Trabalho aplicada no estudo

78

• Círculo A Nesta área o CD, o auxiliar bem como todo o material, instrumental e terminais de

equipamentos em uso devem estar presentes, pois esta área é considerada o espaço ideal de

pega. Neste caso, pode­se verificar que as pontas do equipo bem como os materiais da gaveta

que aparece aberta e que contém os materiais em uso estão fora deste espaço. Esta disposição

leva a CD a realizar inúmeras rotações do tronco para a direita para pegar as pontas do equipo

bem como materiais na gaveta.

• Círculo B Dentro desta área está o espaço máximo de pega.

Nela devem estar o corpo do equipo, o armário móvel e o sugador. As gavetas dos

armários quando abertas devem cair dentro deste círculo. No caso acima o corpo do equipo está

parcialmente posicionado dentro da área indicada como correta. Por outro lado o sugador com

seu dispositivo liga/desliga e a mangueira estão de acordo para um trabalho a quatro mãos, a

saber.

• Círculo C Nesta área devem estar a pia e o corpo dos armários fixos. Verifica­se que estes itens

estão praticamente dentro da área citada.

b) Os equipamentos

• Mocho Ø Os rodízios: durante as observações foi verificado que a CD realizava um grande

esforço para se deslocar com o mocho. Esta impressão foi confirmada pela profissional,

que rapidamente verificou os rodízios e constatou que eles não estavam em bom estado e

logo em seguida os substituiu por outros novos. A mudança dos rodízios trouxe uma

alteração da forma de trabalhar deixando a CD mais ágil e realizando deslocamentos

com uma grande redução do esforço. A mudança também teve uma repercussão nas

dores do cóccix que desapareceram em seguida.

Ø Medidas: em relação à altura do assento, ele está um pouco acima do ideal, pois a CD

possui 38 cm de distância do solo até a fossa poplítea (região posterior do joelho) e o

assento está a 46 cm. Esta diferença de altura leva a uma compressão da parte posterior

da coxa, o que compromete a circulação sanguínea. Segundo Barros (2006), a fossa

Page 91: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ITAJUBÁ - saturno.unifei.edu.brsaturno.unifei.edu.br/bim/0030609.pdf · Odontologia e Ergonomia 5 2.1 ... Análise Ergonômica do Trabalho aplicada no estudo

79

poplítea deve estar um pouco à frente da borda anterior do assento e neste caso ela se

encontra 16 cm além da borda quando bem posicionada no mocho (Figura 39).

Figura 39: Plano horizontal (elaborada pela autora).

Um outro fator que também colabora para dificultar a circulação sanguínea nesta região

é a extensão do joelho. Uma variação aceitável é de 90º a 120º. Na Figura 40 é possível

visualizar esta distância e a angulação excessiva do joelho esquerdo de 130º.

Figura 40: Compressão da parte inferior da coxa e angulação do joelho.

Ø Revestimento: foi observada que a CD procurava sempre se acomodar melhor no

mocho. Uma fala da profissional veio de encontro a esta observação:

16 cm

90º ­ 120º aceitável

38 cm 68 cm

Plano hor izontal = 15 cm

130º

Page 92: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ITAJUBÁ - saturno.unifei.edu.brsaturno.unifei.edu.br/bim/0030609.pdf · Odontologia e Ergonomia 5 2.1 ... Análise Ergonômica do Trabalho aplicada no estudo

80

Não sei o que acontece, mas eu fico escorregando neste mocho. Deve haver algum

material antiderrapante para revestimento.

De fato o revestimento não é antiderrapante, mas esta situação está mais relacionada ao

tamanho do assento como foi visto e à regulagem do encosto que será falado em seguida.

Ø Regulagens: o mocho permite regulagens de altura do assento, no entanto esta altura

permanece sempre a mesma e não é ajustada de forma a não comprimir a coxa em sua

face posterior. O encosto também pode ser regulado no sentido de afastar e aproximar do

dorso. Foi constatado que o encosto encontra­se muito próximo da coluna lombar de

forma a reduzir a área do assento e por conseqüência a área de contato da bacia com o

mocho e favorecer o escorregamento do qual a profissional se queixou anteriormente

(Figura 41).

Figura 41: Mocho vista lateral.

• Cadeira odontológica Ø Inclinação: a cadeira permite colocar o paciente na posição supina, pois sua

inclinação varia de 110º a 170º de flexão dos quadris (Figura 42). A angulação dos

joelhos é fixa em 160º o que não favorece um grande relaxamento do paciente quando

na posição deitado. Barros (2006) cita em seu trabalho os estudos de Lehmann que

identificou a posição que o corpo fica mais relaxado, ou seja, deitado com um ângulo

de 135º de flexão de joelhos e quadris e a cabeça no mesmo nível dos joelhos (Figura

43).

Page 93: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ITAJUBÁ - saturno.unifei.edu.brsaturno.unifei.edu.br/bim/0030609.pdf · Odontologia e Ergonomia 5 2.1 ... Análise Ergonômica do Trabalho aplicada no estudo

81

Figura 42: Angulações da cadeira odontológica em estudo.

Figura 43: Ângulos necessários para relaxamento máximo segundo Lehmann. Fonte: adaptado de Barros (2006).

Portanto, de acordo com este estudo, a cadeira do paciente não promove o relaxamento

total do paciente.

• Gaveteiro A CD faz uso deste gaveteiro em todas as sessões que realiza, mas não se utiliza da

parte superior do mesmo, tão pouco o movimenta sendo que é um armário móvel. Utiliza

todas as gavetas para guardar materiais e instrumentais e durante uma sessão, abre e fecha

muitas vezes as gavetas para procurar um item que necessita. Durante uma observação de uma

sessão de restauração fotopolimerizadora foram contabilizados 27 vezes a ocorrência deste

evento.

O gaveteiro em relação ao plano horizontal está dentro dos limites de tolerância

máxima, ou seja, altura do cotovelo + 15 cm. Neste caso, têm­se: 68 + 15 = 83 cm para altura

máxima do plano horizontal. A parte superior do gaveteiro se encontra a 78 cm de altura e a

primeira gaveta a 71 cm, portanto, dentro desta zona de tolerância.

• Equipo Este equipamento é fundamental para o tratamento, pois traz nele os motores de alta e

baixa rotação bem como a seringa de jato de água e ar. Serve também de apoio para

instrumentais, materiais e para o manuseio dos mesmos.

quadril

135º

135º

joelho

joelho

quadril

170º

160º

Page 94: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ITAJUBÁ - saturno.unifei.edu.brsaturno.unifei.edu.br/bim/0030609.pdf · Odontologia e Ergonomia 5 2.1 ... Análise Ergonômica do Trabalho aplicada no estudo

82

Durante a observação verificou­se a queda da caneta de alta rotação do suporte do

equipo algumas vezes. A CD afirmou que a braçadeira da caneta necessita de um ajuste para

que isto não ocorra, pois o custo de uma caneta é bastante elevado.

A área da bandeja, utilizada para o manuseio de material e de apoio possui 76 cm de

altura e a região de pega das canetas está a 66 cm de altura. Considerando um plano

horizontal de trabalho entre 68 e 83 cm, verifica­se que apenas a área de pega das canetas está

um pouco abaixo do ideal.

• Sugador O sugador é parte integrante da unidade do auxiliar, por isso fica situado à esquerda do

paciente (junto à cuspideira), local onde deve estar o auxiliar que trabalha com um CD destro.

No caso estudado, o sugador também se encontra à esquerda do paciente embora a CD

não possua auxiliar. Um outro fator agravante é o seu acionamento que além de estar situado

no próprio equipamento possui um dispositivo de liga e desliga giratório que ela utiliza

sempre com a mão esquerda fazendo movimentos de prono­supinação. É importante

relembrar que ela possui uma epicondilite esquerda. Observar destaque na Figura 44.

Figura 44: Posição de acionamento do sugador.

Portanto além da profissional ter que se deslocar até o sugador para pegar a mangueira

ela também precisa ir até ele para reposicioná­la, ligar e desligar o mesmo. Isto implica em

deslocamentos desnecessários, perda de tempo e comprometimento do membro superior

esquerdo, pois a CD abduz e flete o ombro para alcançar o dispositivo e realiza uma rotação

interna e externa de todo o membro superior.

Page 95: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ITAJUBÁ - saturno.unifei.edu.brsaturno.unifei.edu.br/bim/0030609.pdf · Odontologia e Ergonomia 5 2.1 ... Análise Ergonômica do Trabalho aplicada no estudo

83

4.1.3 As posturas

a. As posturas durante os procedimentos dos tratamentos

Em relação aos procedimentos para realizar os tratamentos, ela refere que eles não são

feitos de forma automática, pois uma atenção é necessária para executá­los. Por isso a postura

durante a intervenção intra­bucal se torna mais importante no que diz respeito ao grau de tensão

associado.

Segundo Finkbeiner (2000), existem alguns ângulos que devem ser respeitados para se

prevenir os DORT. Segundo a autora estes distúrbios aparecem quando estas angulações são

excessivas e mantidas por longos períodos. Ela cita três zonas de trabalho que estão destacadas

nas fotos da Figura 45.

• a primeira que é a aceitável (em verde);

• a segunda que é a zona comprometedora (em amarelo);

• e a terceira, a zona prejudicial.

Figura 45: Zonas de inclinação lateral e flexão do tronco.

A natureza do trabalho do CD requer a adoção de posturas longe do eixo central. Isto é

mais importante durante a intervenção intra­bucal onde a tensão e a duração são fatores de

agravamento. No caso estudado, foram identificadas as posturas­padrão adotadas pela CD. O

Quadro 8 traz uma relação destas posturas­padrão, acompanhadas das fotos ilustrativas e das

doenças a que elas predispõem.

Page 96: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ITAJUBÁ - saturno.unifei.edu.brsaturno.unifei.edu.br/bim/0030609.pdf · Odontologia e Ergonomia 5 2.1 ... Análise Ergonômica do Trabalho aplicada no estudo

84

Postur as Patologias Sinais e sintomas apr esentados pela CD

Cabeça e tr onco

Flexão

Inclinação

Síndrome

do

desfiladeiro

torácico.

Cefaléias freqüentes;

Contratura muscular em região de trapézios;

Lombalgia;

Coccialgia.

Rotação

Quadro 8: Posturas e patologias associadas (continua).

Page 97: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ITAJUBÁ - saturno.unifei.edu.brsaturno.unifei.edu.br/bim/0030609.pdf · Odontologia e Ergonomia 5 2.1 ... Análise Ergonômica do Trabalho aplicada no estudo

85

Postur as Patologias Sinais e sintomas apresentados pela CD

Membros super ior es

Flexão de ombro Epicondilite do cotovelo;

Síndrome do canal cubital;

Síndrome do pronador redondo;

Dor e contratura muscular em toda região de ombro

direito e esquerdo;

Epicondilite do cotovelo esquerdo.

Abdução de ombro

Tendinite do supra­espinhoso; A abdução é mais acentuada no ombro esquerdo devido a

sustentação da mangueira do sugador ou uso de

outro instrumental com a mão esquerda. Esta posição favorece o

aparecimento da tendinite do supra­espinhoso.

Flexão e pronação de cotovelo e punho

Tenossinovite de De Quervain.

Tenossinovite dos extensores

dos dedos.

Propensão a desenvolver a Tenossinovite de De Quervain por manter o

polegar em pinça enquanto segura o sugador.

Também para tenossinovite dos extensores por fixação anti­gravitacional do punho.

Quadro 8: Posturas e patologias (continua).

Page 98: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ITAJUBÁ - saturno.unifei.edu.brsaturno.unifei.edu.br/bim/0030609.pdf · Odontologia e Ergonomia 5 2.1 ... Análise Ergonômica do Trabalho aplicada no estudo

86

Posturas Patologias Sinais e sintomas apr esentados pela CD

Membros infer ior es

Extensão de joelho esquerdo Varizes Possui varizes discretas e

não refere dor no momento.

Quadro 8: Posturas e patologias

4.2 Diagnóstico

Nesta etapa, após haver percorrido o trajeto metodológico da AET, é possível elaborar

um diagnóstico para o caso. Para Guérin et al. (2001) o diagnóstico aponta os fatores a serem

considerados para permitir uma transformação da situação de trabalho. Segue então o

diagnóstico:

Independente do tratamento, encontram­se presentes as posturas estáticas durante a

intervenção intra­bucal, pois elas dão condições para focar o ponto a ser tratado e suporte para

aumentar a precisão manual. Este fato, associado à ausência de uma auxiliar, leva a CD a se

posicionar em 10h para que possa estar próxima ao sugador, segurar e manter a mangueira na

boca do paciente. Nesta posição a profissional necessita abduzir e fletir o ombro esquerdo para

posicionar o membro superior sobre a cabeça do paciente, realizar uma inclinação lateral direita

do tronco e da cabeça, bem como uma rotação desta última para a esquerda para obter a visão

direta da face do dente. Ligado a este fato, está o pequeno espaço existente entre a escrivaninha

e o apoio de cabeça da cadeira odontológica quando na posição supina, ou seja, 57 cm, o que

leva a utilizar uma inclinação menor da cadeira, pois necessita passar por trás da mesma com o

mocho para acessar o sugador. Esta situação é encontrada mesmo quando o paciente não possui

restrições físicas (labirintite, gravidez, senilidade, etc.), pois a análise demonstra ser o espaço

físico uma forte restrição que interfere no modo operatório. Associados a estes fatores existe a

organização do trabalho que leva a profissional a realizar inúmeros deslocamentos e

Page 99: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ITAJUBÁ - saturno.unifei.edu.brsaturno.unifei.edu.br/bim/0030609.pdf · Odontologia e Ergonomia 5 2.1 ... Análise Ergonômica do Trabalho aplicada no estudo

87

movimentos desnecessários para procurar o material desejado nos armários e gaveteiro,

provocando fadiga física. A CD faz um uso excessivo do balcão por conta desta organização.

Para desenvolver um trabalho tranqüilo e satisfatório, o bem estar do paciente é um fator

importante. Para se conseguir atingir este estado a profissional dedica uma sessão inteira para

avaliação de novos pacientes, esclarecimento do caso, orientação, formas de pagamento e

programação do número de sessões. Este primeiro contato diminui a expectativa do paciente e o

prepara para a próxima sessão na qual a CD utiliza de recursos como música ambiente calma

para o seu relaxamento.

Page 100: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ITAJUBÁ - saturno.unifei.edu.brsaturno.unifei.edu.br/bim/0030609.pdf · Odontologia e Ergonomia 5 2.1 ... Análise Ergonômica do Trabalho aplicada no estudo

88

5. Recomendações e conclusões

5.1 Recomendações A partir do estudo foi possível formular as recomendações necessárias para abordar o

caso. Algumas destas recomendações são básicas e outras específicas.

5.1.1 Horár ios A CD faz uma boa gestão de sua agenda, no entanto ela pode prever na mesma os

momentos para atualização de fichas e pausas para descanso. Os horários podem ser

flexibilizados e não necessariamente exatos.

Ela deve estar atenta para os dias onde estão previstos atendimentos mais desgastantes

como os de prótese dentária e prever um intervalo para descanso após a sessão, bem como

agendar no início da manhã ou da tarde, momento em que se encontra mais descansada.

5.1.2 Agendamento Para eliminar o incômodo de interrupções com telefonemas durante a sessão, um

treinamento para as secretárias externas ao consultório poderia ser eficaz na medida em que

elas tivessem conhecimento sobre os tipos de tratamento, tempo necessário para cada um

deles, agendamento de urgências, etc. Em caso de dúvidas as secretárias poderiam anotar o

recado e a profissional retornar a ligação em um intervalo programado para este fim,

preferencialmente na parte da tarde quando conta com a presença da auxiliar extra­bucal. A

idéia é de que além de representar a profissional as secretárias filtrem as ligações, solicitando

a mesma somente quando for necessário.

5.1.3 Documentos

Apesar de organizados os documentos não estão fornecendo as estatísticas necessárias

a uma boa gestão financeira.

A introdução de uma estatística do número de sessões por mês, por tipo de tratamento,

idade de pacientes (crianças, adultos e idosos), casos especiais, casos de interrupção ou

abandono, número de orçamentos, lucro por tratamento poderá ser um importante fator de

decisão para a escolha de tratamentos a realizar segundo a relação custo­benefício físico e

financeiro, bem como o direcionamento de investimentos futuros (equipamento, cursos de

formação, contratação de auxiliar intra­bucal, etc.).

Em relação às fichas clínicas, a atualização diária é importante para que informações

não sejam esquecidas. Por isto, recomenda­se, além dos momentos destinados a este fim, o

Page 101: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ITAJUBÁ - saturno.unifei.edu.brsaturno.unifei.edu.br/bim/0030609.pdf · Odontologia e Ergonomia 5 2.1 ... Análise Ergonômica do Trabalho aplicada no estudo

89

uso de um gravador onde se possa registrar diariamente as informações e depois transcrevê­

las para as fichas.

5.1.4 Mater iais O uso da autoclave deve ser priorizado para a esterilização dos materiais odontológicos

por se encontrar melhor localizada dentro do consultório em relação à estufa.

Os materiais devem estar distribuídos nas gavetas do gaveteiro móvel de acordo com a

freqüência de uso e tipo de tratamento, sendo que a 1ª. e a 2ª. gavetas devem ser eleitas para

os materiais de maior manuseio por estarem estas dentro do plano horizontal de ação. Em

seguida a 3ª. e 4ª. gavetas devem ser escolhidas nesta ordem para o armazenamento de

materiais menos utilizados mas necessários.

Quanto aos materiais que estão no armário alto, a primeira prateleira deve ser

destinada aos materiais necessários a maioria dos tratamentos.

Modificar o lado de abertura da porta da geladeira de forma que abra para a esquerda

facilitando desta forma o acesso aos produtos no seu interior.

Inserir uma luz direcionada sobre o equipo para facilitar a visão dos materiais que

manipula sobre ele e não necessitar deslocar o refletor.

5.1.5 Trabalho a duas mãos Adotar o verdadeiro conceito de trabalho a quatro mãos é sem dúvida uma solução

para redução do estresse e aumento da produtividade, no entanto as adequações para reduzir a

fadiga, a exposição aos riscos ocupacionais e para um trabalho a duas mãos dentro do

contexto atual são as seguintes:

Afastar a cadeira odontológica do balcão cerca de 30 cm de forma a aumentar o

espaço e permitir que acesse a geladeira ou o armário alto quando o equipo estiver

posicionado ao lado da cadeira.

Eliminar a escrivaninha de trás da cadeira odontológica.

Retirar o gaveteiro móvel debaixo do balcão e posicioná­lo atrás da cadeira

odontológica.

Adaptar um dispositivo liga e desliga do sugador junto ao equipo ou no pedal, bem

como um suporte para encaixar a mangueira do sugador junto ao equipo.

Reduzir o tamanho do fio do pedal.

Page 102: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ITAJUBÁ - saturno.unifei.edu.brsaturno.unifei.edu.br/bim/0030609.pdf · Odontologia e Ergonomia 5 2.1 ... Análise Ergonômica do Trabalho aplicada no estudo

90

Posicionar o equipo paralelamente a cadeira de forma que este fique com as pontas das

canetas voltadas para a CD.

Eliminar a cadeira do computador e adquirir um novo mocho que possa servir ao uso

esporádico do computador e a auxiliar extra­bucal no período da tarde.

Fazer uso da inclinação total da cadeira quando não houver restrições para o paciente.

Tornar o paciente mais colaborativo durante a sessão de forma a solicitar mudanças da

posição da cabeça para melhorar a visibilidade das faces dos dentes e não realizar inclinações

excessivas do tronco e da cabeça.

Fazer uso de lupa própria para o trabalho odontológico para diminuir o esforço visual.

Por fim, iniciar um treinamento da auxiliar extra­bucal para assistência intra­bucal.

5.1.6 Equipamentos e mobiliár io Realizar manutenção preventiva dos equipamentos e mobiliário.

Trocar o revestimento do mocho por um material antiderrapante.

Regular o encosto do mocho de forma que fique para trás 5 cm e permita que a CD se

acomode melhor no assento.

Trocar os rodízios do gaveteiro.

Regular as gavetas do gaveteiro para que fiquem mais macias para abrir e fechar.

Ajustar a braçadeira do equipo correspondente à caneta de alta rotação.

Realizar uma revisão no compressor.

5.1.7 Quanto à formação de novos profissionais É extremamente importante que os conhecimentos ergonômicos sejam bem

sedimentados ainda durante a formação acadêmica. Um verdadeiro conceito de trabalho a

quatro mãos deveria ser introduzido desde a faculdade de forma que o aluno possa atuar como

auxiliar intra­bucal e como CD. Acredita­se que esta formação de base é de grande

importância para a verdadeira adoção deste conceito na vida profissional.

Page 103: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ITAJUBÁ - saturno.unifei.edu.brsaturno.unifei.edu.br/bim/0030609.pdf · Odontologia e Ergonomia 5 2.1 ... Análise Ergonômica do Trabalho aplicada no estudo

91

5.2 Conclusões Esta dissertação teve como um dos seus objetivos específicos fazer as recomendações

ergonômicas necessárias para o caso estudado. Este fim foi atingido, pois as recomendações

abrangem tanto as atividades extra­bucais quanto as intra­bucais favorecendo a adoção de

posturas mais adequadas, a redução da fadiga, a otimização do espaço, enfim abordam a

organização do trabalho de forma ampla e os aspectos biomecânicos.

Um outro objetivo específico foi de identificar as estratégias adotadas para reduzir os

constrangimentos no trabalho. Os constrangimentos identificados e as estratégias

correspondentes são apresentados no Quadro 9:

Constrangimentos Estratégias

Medo da dor Para ter controle sobre o medo da dor a CD precisa ter a confiança do paciente e respeitar o limiar desta dor durante uma intervenção. A conquista da confiança do paciente tem início no agendamento pela própria CD, passa pela sessão de uma hora que é destinada a consulta inicial e culmina com a realização do tratamento em si onde a profissional procura promover um ambiente descontr aído através da conversa e de música ambiente relaxante. Em relação à dor, ela estabelece inicialmente um código gestual (levantar a mão esquerda) para que o paciente avise quando sentir o menor incômodo. O paciente sabe que a CD está atenta em relação ao aparecimento da dor e que não irá abusar. Um pequeno descuido pode despertar este mecanismo de defesa do paciente e comprometer a confiança do mesmo na profissional.

Precisão manual Como a intervenção intra­bucal requer uma precisão manual, a CD adota postur as estáticas. Para promover o próprio relaxamento durante e entre as sessões, a CD coloca música ambiente tr anqüila e anda pela clínica entr e as sessões par a se movimentar .

Perfeccionismo no atendimento

Para garantir a qualidade do atendimento desde o primeiro contato até a conclusão do tratamento, a CD faz questão de r ealizar o agendamento dos pacientes, função esta que poderia ser delegada às duas secretárias externas ou totalmente à auxiliar extra­ bucal no período da tarde sem comprometer ou interromper uma sessão.

Gerenciamento do Tempo

O período de uma hor a par a cada paciente ameniza a tensão, pois o tempo de procedimento pode sofrer variações de acordo com o tratamento e dificuldades encontradas no decorrer da sessão e comprometer o horário, o que agita em muito a profissional. Ela sabe que poderia realizar um maior número de tratamentos por dia, mas refere que o custo pessoal é muito alto e que prefere esperar a ser esperada.

Localização do sugador

O equipamento é projetado para um trabalho a quatro mãos para um CD destro. O sugador, portanto encontra­se do lado esquerdo do paciente, local onde deve estar a auxiliar intra­bucal. Neste caso para acioná­lo a CD se posiciona em 10 horas local onde pode intervir na boca, utilizar o equipo e o sugador.

Campo oper atór io restr ito

Atuar com precisão manual em uma faceta de um dente exige uma boa visualização do local. Para isso, a CD faz uso de uma lupa adaptada para a odontologia e da visão dir eta, pois refere que esta favorece a precisão manual.

Quadro 9: Constrangimentos e estratégias adotadas

Page 104: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ITAJUBÁ - saturno.unifei.edu.brsaturno.unifei.edu.br/bim/0030609.pdf · Odontologia e Ergonomia 5 2.1 ... Análise Ergonômica do Trabalho aplicada no estudo

92

O terceiro e último objetivo específico era de obter as referências necessárias que

evidenciarão a necessidade de se desenvolver e/ou aperfeiçoar instrumentos e equipamentos

que melhorem a qualidade de vida dos cirurgiões­dentistas. Neste estudo, foi possível

verificar que a posição sentada é a de menor gasto energético (4%) e a adoção de posturas

estáticas aumenta a precisão manual durante as intervenções intra­bucais e favorece a precisão

visual. Para atender a estas condições necessárias ao atendimento, o mocho se torna um

elemento chave neste cenário, merecendo, portanto ser repensado de maneira a promover uma

postura mais ergonômica ao profissional com o objetivo de minimizar os efeitos indesejáveis

das posturas estáticas – os DORT. Alguns elementos foram identificados e merecem uma

reflexão para se repensar o conceito de assento ergonômico para o CD. São eles:

• Apoio lombar: para diminuir a tensão na musculatura da coluna vertebral;

• Apoio para membros superiores: para que os braços não fiquem suspensos;

• Estabilidade/aderência: para que não se deslize sobre o assento e sobre o solo durante

um procedimento;

• Mobilidade: para que favoreça o deslocamento quando necessário;

• Adaptabilidade: para que permita a variabilidade postural e a quebra do padrão

postural estático.

O objetivo geral desta dissertação era de estudar o posto de trabalho do cirurgião­

dentista através da metodologia da Análise Ergonômica do Trabalho (AET), visando construir

um ponto de vista da atividade desta profissão para a construção das recomendações

ergonômicas. A AET mostrou­se um método bastante adequado para o estudo e compreensão

da atividade promovendo desta forma que as adequações atendessem às necessidades da CD.

Ao se conhecer as determinantes desta atividade, os constrangimentos e estratégias

adotados pela CD para amenizá­los, bem como as doenças osteomusculares a que o

profissional se expõe, foi possível construir um ponto de vista desta profissão caracterizada

como:

• Estressante: por exigir um controle do medo da dor, não apenas por parte do paciente,

mas também por parte da CD que teme que ela apareça;

Page 105: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ITAJUBÁ - saturno.unifei.edu.brsaturno.unifei.edu.br/bim/0030609.pdf · Odontologia e Ergonomia 5 2.1 ... Análise Ergonômica do Trabalho aplicada no estudo

93

• Perfeccionista: pela busca do sucesso no tratamento e satisfação do paciente. O

desgaste proveniente da busca pela perfeição desde o agendamento até a manutenção da

clientela colabora ainda mais para o aumento de tensão já existente nas posturas estáticas;

• Restritiva: pela intervenção em pequena área, pela exigência de precisão manual e

visual, pela adoção de posturas estáticas, e pela questão econômica que priva o profissional de

ter sua equipe de auxiliares intra e extra­bucais.

Estes três elementos também são encontrados na literatura. Por outro lado, a CD deste

estudo apresenta uma grande satisfação em ter escolhido a odontologia. Acredita­se que a

satisfação profissional se dá através da realização de um procedimento bem feito e do controle

da dor e do medo. Esta é a gratificação que compensa o custo negativo inerente à atividade.

Tendo como base o conteúdo desta dissertação, seguem algumas sugestões para

trabalhos futuros:

• a simulação em software específico, como o Promodel, por exemplo, pode trazer uma

contribuição para a organização do trabalho;

• estudo do assento para o CD, no que diz respeito aos elementos mínimos necessários

para fornecer uma posição ergonômica;

• a formação acadêmica relativa à ergonomia odontológica e ao conceito de trabalho a 4

mãos;

• a análise ergonômica do trabalho da especialidade odontopediatria, por ser a criança

um paciente especial no que diz respeito a dor e ao tempo de tolerância à intervenção

intra­bucal.

Page 106: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ITAJUBÁ - saturno.unifei.edu.brsaturno.unifei.edu.br/bim/0030609.pdf · Odontologia e Ergonomia 5 2.1 ... Análise Ergonômica do Trabalho aplicada no estudo

94

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. ABO. História da Odontologia. 50 anos da ABO Nacional. Revista da Associação Brasileira de Odontologia. Edição 32. v.6, n.5, out­nov, 1998.

2. ABRAHÃO, J.I. Ergonomia: Modelo, Métodos e Técnicas. Brasília: Instituto de Psicologia, UnB, 1993.

3. ABRAHÃO, J.I., & PINHO, D. L. M. Teoria e prática ergonômica: seus limites e possibilidades. In: M. G. T. Paz & A. Tamayo (Orgs.), Escola, saúde e trabalho: estudos psicológicos. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 1999. 4. ABRAHÃO, J.I., PINHO, D.L.M.; As transformações do trabalho e desafios teór ico­metodológicos da Ergonomia, 2001. Disponível em: <http//www.scielo.com.br> Acesso em 14/11/2004.

5. AMERICAN DENTAL ASSOCIATION (ADA) Disponível em: < http://www.ada.org/public/resources/history/index.asp> Acesso em: 05/02/2006.

6. BARRETO, S.M. & FILHO, S.B.S. Atividade ocupacional e prevalência de dor osteomuscular em cirurgiões­dentistas de Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil: contribuição ao debate sobre os distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho. Cadernos de Saúde Pública, v.17, n.1, jan/fev, 2001.

7. BARROS, O.B. Ergonomia 2 – O Ambiente Físico de Trabalho, a Produtividade e a Qualidade de Vida em Odontologia. São Paulo: Pancast, 1993.

8. BARROS, O.B. Ergonomia 3 – Auxiliares em Odontologia – ACD – THD – TPD ­ APD. São Paulo: Pancast 1995.

9. BARROS, O.B. Ergonomia 1 – A Eficiência ou Rendimento e a Filosofia Correta de Trabalho em Odontologia. São Paulo: Pancast, 1999.

10. BARROS, O.B. PTO: Posto de Trabalho Odontológico. Maringá: Editora Dental Press, 2006.

11. BRASIL. Instrução Normativa INSS/DC Nº 98 ­ DE 05 de dezembro de 2003 – DOU de 10/12/2003. Disponível em: < http://www81.dataprev.gov.br/sislex/imagens/paginas/38/inss­dc/2003/anexos/IN­DC­98­ ANEXO.htm> Acesso em 03102006. 12. BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Ser viços Odontológicos: Prevenção e Controle de Riscos. Brasília: Ministério da Saúde. 2006. 13. BURKE, F.J., MAIN, J.R. & FREEMAN, R. The practice of dentistry: an assessment of reasons for premature retirement. The Br itish Dental Journal, v.182, n.7,1997. 14. CASTRO, S.L. & FIGLIOLI, M.D. Ergonomia aplicada à dentística. Avaliação da postura e posições de trabalho do CD destro e da auxiliar odontológica em procedimentos restauradores. Jornal Brasileiro de Clínica Odontológica Integrada, v.3, n.14, 1999.

15. CONSELHO FEDERAL DE ODONTOLOGIA. Perfil do Cirurgião­Dentista. Disponível em: <http://www.abeno.org.br> Acesso em 17 ago. 2004.

16. CURIE, J. Condições da pesquisa científica em ergonomia. In: DANIELLOU, F. et al, A ergonomia em busca de seus pr incípios: debates epistemológicos. São Paulo: Edgard Blucher, 2004.

Page 107: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ITAJUBÁ - saturno.unifei.edu.brsaturno.unifei.edu.br/bim/0030609.pdf · Odontologia e Ergonomia 5 2.1 ... Análise Ergonômica do Trabalho aplicada no estudo

95

17. DJERASSI, E. Some problems of the occupational diseases of dentists. International Dental Journal, v.21, p.252­269, 1971 apud Castro, S. L., Figlioli, M. D. Ergonomia aplicada a dentística. Avaliação da postura e posições de trabalho do CD destro e da auxiliar odontológica em procedimentos restauradores. Jornal Brasileiro de Clínica Odontológica Integrada, v.3 n.14, p.56­62, 1999.

18. DUL J. e WEERDMEESTER B. Ergonomia Prática. 3ª reimpressão. São Paulo: Edgard Blucher, 2001.

19. FERREIRA, M.C. & MENDES, A.M. Trabalho e Riscos de Adoecimento: O Caso dos Auditores­Fiscais da Previdência Social Brasileira. Brasília: LPA, 2003.

20. FERREIRA M.C. O sujeito forja o ambiente, o ambiente forja o sujeito: inter­ relaçãoindivíduo­ambiente em ergonomia da Atividade. Texto de apoio pedagógico. Laboratório de Ergonomia. UnB, 2002. 21. FIALHO, F.; SANTOS, N. Manual de análise ergonômica no trabalho. Curitiba: Genesis, 1995. 22. FINKBEINER, B.L. Four­Handed Dentistry Revisited. The J ournal of Contemporary Dental Practice, v. 1, n.4, Fall Issue, 2000. 23. FINSEN, L., CHRISTENSEN, H. & BAKKE, M. Musculoskeletal disorders among dentists and variation in dental work. Applied Ergonomics, v.29, n.2, 1998. 24. GARCÍA, R. P. O.; MÉNDEZ, M. M. J. Breve historia dela cirugía bucal y máxilofacial. Revista Humanidades Médicas. v.2, n.4, enero­abril, 2002. 25. GOBBI, G. B. Sintomas músculo­esqueléticos relacionados ao trabalho em cirurgiões­dentistas. Dissertação de mestrado – Faculdade de Ciências Médicas. UNICAMP, Campinas, 2003.

26. GUÉRIN et al. Compreender o trabalho para transformá­lo. São Paulo: Edgard Blücher, 2001.

27. IIDA, Itiro. Ergonomia: projeto e produção. 2ª. edição. São Paulo: Edgard Blücher, 2005.

28. JAMIL, A.C.C. O teletrabalho e a significação do espaço na constituição da competência e gestão da carga de trabalho: um estudo das interações na atividade dos analistas de dossiês de processos habitacionais numa instituição bancária. Dissertação de mestrado – UFMG, Belo Horizonte, 2004.

29. KELSEY, J. L. Epidemiology of Musculoskeletal Disorders. New York: Oxford University Press, 1982.

30. LADERAS, S. & FELSENDELD, A. L. Ergonomics and the dental office: an overview and consideration of regulatory influences. J ournal of the Canadian Dental Association, v.30, n.2, 2002. 31. LETHO, T. U.; RONNEMAA, T.; AALTO, T. & HELENIUS, H. Y. M. Roentgenological arthrosis of the hand in dentists with reference to manual function. Community Dentistry and Oral Epidemiology, v.18, p.37­41, 1990.

32. LIMA, F.P.A.; JACKSON FILHO, J.M. Prefácio da tradução brasileira. In: DANIELLOU, F. et al., A ergonomia em busca de seus princípios: debates epistemológicos. São Paulo: Edgard Blucher, 2004.

Page 108: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ITAJUBÁ - saturno.unifei.edu.brsaturno.unifei.edu.br/bim/0030609.pdf · Odontologia e Ergonomia 5 2.1 ... Análise Ergonômica do Trabalho aplicada no estudo

96

33. LYM S.Y. & CARAYON P. Psichosocial and work stress and perspective on musculoskeletal discomfort. In: International scientific conference on prevention of musculoskeletal disorders, Anais 175­7, Montreal, 1995.

34. MAGGI, B. Do Agir Organizacional. São Paulo: Edgard Blücher, 2006. 35. MAGGI B. & TERSAC. G. O trabalho e a abordagem ergonômica. In: DANIELLOU, F. et al, A ergonomia em busca de seus princípios: debates epistemológicos. São Paulo: Edgard Blucher, 2004.

36. MICHELIN, C.F., MICHELIN, A.F. & LOUREIRO, C.A. Estudo epidemiológico dos distúrbios musculoesqueletais e ergonômicos em CDs. Revista da Faculdade de Odontologia de Passo Fundo, v.5, n.2, p.61­67, 2000.

37. MICHALAK­TURCOTTE, C. Controlling dental hygiene work­related musculoskeletal disorders: the ergonomic process. The J ournal of Dental Hygiene, 74 (1), 41­ 48, 2000. Disponível em <http://www.dimensionsofdentalhygiene.com>. Acesso em 10/11/2004. 38. MONTMOLLIN, M. L’Ergonomie. Paris: La Découverte, 1990.

39. MORAES, A. Quando a primeira sociedade de ergonomia faz 50 anos, a IEA chega aos 40, a Associação Brasileira de Ergonomia debuta com 16. Disponível em: < http://lableui.vilabol.uol.com.br/Fhistorico.html> Acesso em 16/02/2005. 40. MORAES, A.; SOARES, M. M.. Ergonomia no Brasil e no mundo: um quadro, uma fotografia. Rio de Janeiro: ABERGO/UNIVERTA, 1989. 41. MURPHY, D.C. Ergonomics and dentistry. New York State Dental Journal, v.63, n.7, p.30­34, 1997. 42. OLIVEIRA, C. R. et al. Manual Prático de LER. 2ª ed. Belo Horizonte. Health, 1998. 43. POI, W. R., TAGLIAVINI, R. L. Organização do trabalho em clínica integrada. Revista da Associação Brasileira de Odontologia Nacional, v. 7, n. 4, p. 209­212, 1999. 44. POLLACK, R. Dental office ergonomics: how to reduce etress factors and increase efficiency. J ournal of the Canadian Dental Association, v. 62, n. 6, p. 508­510, 1996. 45. POLLACK­SIMON, R. All the right moves: Integranting technology & ergonomics into your patient care environment. Dentistry Today, v. 19, n. 10, p. 112­117, 2000. 46. PORTO, F. A. O Consultór io Odontológico. São Carlos: Scritti, 1994.

47. RASIA, D. Quando a Dor é do Dentista! Custo Humano do Trabalho de Endodontistas e Indicadores de Dort. Dissertação de mestrado. Universidade de Brasília – UnB, 2004. 48. RÉGIS FILHO, G. I.; Michels, M.; SELL, I. LERs: Lesões por Esforços Repetitivos em Cirurgiões­dentistas. Itajaí: UNIVALI, 2005. 49. RIO, L. M. S. P.; RIO, R. P. Manual de Ergonomia Odontológica.. 1ª ed. Belo Horizonte: Conselho Regional de Odontologia de Minas Gerais, 2000. 50. RUCKER, L. M. Technology meets ergonomics in the dental clinic: new toys for old games. Journal of the Amer ican College of Dentists, v. 67, n. 2, p. 26­29, 2000. 51. RUCKER, L.M. & SUNELL, S. Ergonomic risk factors associated with clinical dentristry. Journal of California Dental Association, v. 30, n. 2, p. 139­148, 2002.

Page 109: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ITAJUBÁ - saturno.unifei.edu.brsaturno.unifei.edu.br/bim/0030609.pdf · Odontologia e Ergonomia 5 2.1 ... Análise Ergonômica do Trabalho aplicada no estudo

97

52. SALERNO, M. S. Análise Ergonômica do Trabalho e Projeto Organizacional: uma discussão comparada. Boletim Técnico da Escola Politécnica da USP, Departamento de Engenharia de Produção. São Paulo: EPUSP, 1998.

53. SANDERS, M. S. & McCORMICK, E. J. Human factors in engineer ing and design. 7a ed. New York: McGraw­Hill, 1993.

54. SAQUY P. C. e PÉCORA J. D. A Ergonomia e as Doenças Ocupacionais do Cirurgião­dentista. Ribeirão Preto: Dabi Atlante, 1994.

55. SMITH M. J. Considerações psicosociais sobre os distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho (DORT) nos membros superiores. Disponível em <http://www.ergonomia.com.br> Acesso em 30/08/2006.

56. SOARES, M. M. 21 anos da ABERGO: a Ergonomia brasileira atinge a sua maior idade. ABERGO – Associação Brasileira de Ergonomia, 2004. 57. SOUZA, A. C. Próthese Dentaria. 5ª edição. Rio de Janeiro, 1917.

58. VILAGRA, J. M. Análise da prevalência de distúrbios músculo­esqueléticos em acadêmicos do curso de Odontologia: considerações com enfoque preventivo de LER/DORT. Dissertação de mestrado. UFSC, 2002. 59. WISNER, A. Questões epistemológicas em ergonomia e em análise do trabalho. In: DANIELLOU, F. et al., A ergonomia em busca de seus princípios: debates epistemológicos. São Paulo: Edgard Blucher, 2004.

60. WISNER, A. Ergonomie et analyse ergonomique du travail:un champ de l’Art de l’Ingénieur et une méthodologie générale des sciences humaines. Per formances Humaines & Techiniques, Nº hors serie Seminarie Paris 1 (Septembre), p. 74­78, 1995. 61. WISNER, A. A inteligência do trabalho. São Paulo: Fundacentro, 1994.

62. WISNER, A. La méthodologie en ergonomie: d'hier, à aujourd'hui. Per formaces Humaines & Techniques, v. 50, p. 32­38, 1990.

63. WISNER, A. Por dentro do trabalho. Ergonomia: método & técnica. São Paulo: FTD/Oboré, 1987.

Page 110: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ITAJUBÁ - saturno.unifei.edu.brsaturno.unifei.edu.br/bim/0030609.pdf · Odontologia e Ergonomia 5 2.1 ... Análise Ergonômica do Trabalho aplicada no estudo

98

ANEXO A – Análise Ergonômica do Trabalho

Atividade

Demanda

Abordagem global

Obser vação sistemática

Diagnóstico

Page 111: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ITAJUBÁ - saturno.unifei.edu.brsaturno.unifei.edu.br/bim/0030609.pdf · Odontologia e Ergonomia 5 2.1 ... Análise Ergonômica do Trabalho aplicada no estudo

99

ANEXO B – Esquema geral do método da análise ergonômica

Abordagem global Análise estrutural

Análise da Demanda

Análise da Atividade do Trabalho Observação global da atividade

Formação de um Pré­ diagnóstico Hipóteses

Definição de um plano de

observação

Obser vações sistemáticas Tratamento dos dados

Diagnóstico

Recomendações

Realização Validação

Page 112: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ITAJUBÁ - saturno.unifei.edu.brsaturno.unifei.edu.br/bim/0030609.pdf · Odontologia e Ergonomia 5 2.1 ... Análise Ergonômica do Trabalho aplicada no estudo

100

ANEXO C – Planilha para observação do tempo das ações