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UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA RESIDÊNCIA MULTIPROFISSIONAL EM SAÚDE DO ADULTO COM ÊNFASE EM DOENÇAS CRÔNICO DEGENERATIVAS ANA CAROLINE DA COSTA PINTO PINHEIRO RELAÇÃO DOS ÍNDICES DE INTERNAÇÃO E DIAGNÓSTICO TARDIO DOS PACIENTES PORTADORES DE HIV/AIDS VERSUS ADESÃO À TERAPIA ANTIRRETROVIRAL EM UM HOSPITAL UNIVERSITÁRIO Juiz de Fora 2020

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA

RESIDÊNCIA MULTIPROFISSIONAL EM SAÚDE DO ADULTO COM ÊNFASE EM

DOENÇAS CRÔNICO DEGENERATIVAS

ANA CAROLINE DA COSTA PINTO PINHEIRO

RELAÇÃO DOS ÍNDICES DE INTERNAÇÃO E DIAGNÓSTICO TARDIO DOS

PACIENTES PORTADORES DE HIV/AIDS VERSUS ADESÃO À TERAPIA

ANTIRRETROVIRAL EM UM HOSPITAL UNIVERSITÁRIO

Juiz de Fora

2020

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ANA CAROLINE DA COSTA PINTO PINHEIRO

RELAÇÃO DOS ÍNDICES DE INTERNAÇÃO E DIAGNÓSTICO TARDIO DOS

PACIENTES PORTADORES DE HIV/AIDS VERSUS ADESÃO À TERAPIA

ANTIRRETROVIRAL EM UM HOSPITAL UNIVERSITÁRIO

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Programa de

Residência Multiprofissional em Saúde do Adulto com

Ênfase em Doenças Crônicas Degenerativas, da Universidade

Federal de Juiz de Fora como requisito parcial a obtenção do

título de especialista.

.

Orientadora: MSc. Rosana Maria de Sousa.

Co-orientador: MSc. Igor Rosa Meurer.

Juiz de Fora

2020

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ANA CAROLINE DA COSTA PINTO PINHEIRO

RELAÇÃO DOS ÍNDICES DE INTERNAÇÃO E DIAGNÓSTICO TARDIO DOS

PACIENTES PORTADORES DE HIV/AIDS VERSUS ADESÃO À TERAPIA

ANTIRRETROVIRAL EM UM HOSPITAL UNIVERSITÁRIO

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Programa de

Residência Multiprofissional em Saúde do Adulto com

Ênfase em Doenças Crônicas Degenerativas, da Universidade

Federal de Juiz de Fora como requisito parcial a obtenção do

título de especialista.

.

Aprovada em: _____/_____/_____

BANCA EXAMINADORA:

___________________________________________

MSc. Rosana Maria de Sousa– Orientadora

Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares

______________________________________________

MSc. Igor Rosa Meurer – Co-Orientador

Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares

______________________________________________

Prof. Dr(a). Alessandra Ésther Mendonça

Universidade Federal de Juiz de Fora

______________________________________________

MSc. Natália Resende Avelino

Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares

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AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus por permitir a conclusão de mais uma etapa

importante em minha vida. Agradeço aos meus familiares, em especial minha mãe Noeme,

que sempre foi e é minha fortaleza, e ao meu pai, Messias (in memorian), que apesar de sua

ausência física, foi base e exemplo de vida pra mim. Agradeço ao meu namorado Marger,

pelo apoio, paciência e companheirismo de sempre. Obrigada ao Hospital Universitário, a

UFJF e aos meus orientadores e tutores por todo aprendizado. Por último, mas não menos

importante, obrigada ao meu time de residentes, vocês tornaram esse momento mágico.

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RESUMO

A Terapia Antirretroviral (TARV) aumenta a expectativa de vida de pacientes

soropositivos. Para isso, é necessário uma aderência maior ou igual a 95%, assim como seu

início imediato após o diagnóstico. O presente estudo visa compreender o perfil de aderência

à TARV em pacientes internados em um Hospital Universitário, além de identificar aqueles

que foram internados devido à manifestação de infecções oportunistas, que culminaram ao

diagnóstico no momento da internação no período de 2013 a 2018. Foram identificados 223

pacientes, que se subdividiram em Grupo 1, abrangendo aqueles com diagnóstico de

HIV/AIDS há mais de um ano, representado por 141 pacientes, enquanto o Grupo 2, agrupa

os que apresentaram diagnóstico no momento da internação, contando com 82 pacientes.

Essas informações foram coletadas via Aplicativo de Gestão para Hospitais Universitários

(AGHU) e Sistema de Controle Logístico de Medicamentos (SICLOM). Foi identificado um

perfil de aderência ao tratamento de 8,51%, e a Neurotuberculose/Tuberculose foi infecção

oportunista mais prevalente. Além disso, há um predomínio do sexo masculino entre ambos

os grupos, assim como uma predominância das internações na faixa etária de 40 a 49 anos. Os

índices de internação no período avaliado mantiveram-se constantes, observando-se um maior

cuidado em relação ao tratamento no decorrer da idade no sexo masculino.

Palavras-chave: HIV. Tratamento Farmacológico. Síndrome da Imunodeficiência Adquirida.

Infecções Oportunistas Relacionadas com a AIDS. Fármacos Anti-HIV.

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ABSTRACT

Antiretroviral Therapy (ART) increases the life expectancy of HIV-positive patients.

For this, an adherence greater than or equal to 95% is required, as well as its immediate onset

after diagnosis. The present study aims to understand the profile of adherence to ART in

patients admitted to a University Hospital, in addition to identifying those who were

hospitalized due to the manifestation of opportunistic infections, which culminated in the

diagnosis at the time of hospitalization in the period from 2013 to 2018. They were identified

223 patients, who were subdivided into Group 1, including those diagnosed with HIV / AIDS

for more than a year, represented by 141 patients, while Group 2, groups those who were

diagnosed at the time of admission, with 82 patients. This information was collected via the

Management Application for University Hospitals (AGHU) and the Logistics Control System

for Medicines (SICLOM). An 8.51% treatment adherence profile was identified, and

Neurotuberculosis / Tuberculosis was the most prevalent opportunistic infection. In addition,

there is a male predominance between both groups, as well as a predominance of

hospitalizations in the 40 to 49 age group. The hospitalization rates in the evaluated period

remained constant, observing greater care in relation to treatment over age in males.

Keywords: HIV. Pharmacological Treatment. Acquired Immuno deficiency Syndrome.

AIDS-Related Opportunistic Infections. Anti-HIV Drugs.

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LISTA DE FIGURAS

GRÁFICO 1– DISTRIBUIÇÃO DE PACIENTES EM USO DE TARV. ............................................................................................. 17

GRÁFICO 2– PERCENTUAL DE PACIENTES HOMENS VERSUS MULHERES .................................................................................. 18

GRÁFICO 3- QUANTITATIVO DE PACIENTES POR FAIXA ETÁRIA .............................................................................................. 18

GRÁFICO 4– RELAÇÃO DE PACIENTES RESIDENTES EM JUIZ DE FORA ..................................................................................... 18

GRÁFICO 5– GRUPO 1:DISTRIBUIÇÃO DOS PACIENTES SEGUNDO A TAXA DE ADESÃO À TARV.................................................... 20

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LISTA DE TABELAS

TABELA 1 – GRUPO 1: QUANTIDADE DE PACIENTES HIV POSITIVO POR FAIXA ETÁRIA .............................................................. 19

TABELA 2 – GRUPO 1: DISTRIBUIÇÃO POR FAIXA ETÁRIA E TAXA DE ADESÃO À TARV ............................................................... 21

TABELA 3 – GRUPO 1: PERFIL DE PACIENTES NÃO ADERENTES ............................................................................................. 21

TABELA 4 – GRUPO 1: PERFIL DE PACIENTES ADERENTES POR SEXO VERSUS LOCAL DE RESIDÊNCIA .............................................. 22

TABELA 5 – GRUPO 1: PERFIL DE PACIENTES NÃO ADERENTES POR SEXO VERSUS LOCAL DE RESIDÊNCIA ....................................... 22

TABELA 6 – GRUPO 2: PROPORÇÃO DE MANIFESTAÇÃO DE INFECÇÕES OPORTUNISTAS EM PACIENTES QUE FORAM DIAGNOSTICADOS

COM HIV/AIDS DURANTE O PERÍODO DE INTERNAÇÃO ............................................................................................ 23

TABELA 7– GRUPO 2: RELAÇÃO DE INFECÇÕES OPORTUNISTAS VERSUS QUANTITATIVO DE PACIENTES ATINGIDOS .......................... 24

TABELA 8–GRUPO 2: PACIENTES QUE RECEBERAM O DIAGNÓSTICO DURANTE A INTERNAÇÃO ENTRE 2013 E 2018 ....................... 25

TABELA 9 – GRUPO GERAL: INTERNAÇÕES POR HIV ENTRE 2013 À 2018 ............................................................................ 26

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

AGHU Aplicativo de Gestão para Hospitais Universitários

AIDS Síndrome da Imunodeficiência Adquirida

EBSERH Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares

HIV Vírus da Imunodeficiência Humana

HU Hospital Universitário

INI Inibidor de Integrase

IP/r Inibidor de Protease com Reforço de Ritonavir

ITRN/ITRNt Inibidores da Transcriptase Reversa Análogos de Nucleosídeos

ITRNN Inibidores da Transcriptase Reversa Não Análogos de Nucleosídeo

PVHIV Pessoas Vivendo com HIV

SICLOM Sistema de Controle Logístico de Medicamentos

SUS Sistema Único de Saúde

TARV Terapia Antirretroviral

UFJF Universidade Federal de Juiz de Fora

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ...........................................................................................................................12

2 OBJETIVOS ...............................................................................................................................14

2.1 OBJETIVO GERAL ............................................................................................................................ 14

2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ................................................................................................................... 14

3 MATERIAL E MÉTODOS ............................................................................................................15

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO ......................................................................................................17

5 CONCLUSÃO .............................................................................................................................27

6 REFERÊNCIAS ...........................................................................................................................28

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1 INTRODUÇÃO

A década de 80 foi marcada pela descoberta da Síndrome da Imunodeficiência

Adquirida (AIDS), uma patologia que acomete o sistema imune, através do contato com

sangue, secreções genitais e leite materno contaminados com o vírus da imunodeficiência

humana (HIV). O HIV é um retrovírus que age infectando as células do sistema imune,

deixando-o debilitado, aumentando a susceptibilidade às infecções. A evidenciação do estágio

mais avançado da infecção pelo HIV é caracterizada pela AIDS e pode levar cerca de 2 a 15

anos para surgirem suas manifestações iniciais, ocorrendo principalmente em pacientes que

ainda não realizam o tratamento medicamentoso ou que apresentam baixa adesão à terapia.

(RAMOS, 2017).

Os avanços quanto ao conhecimento desta patologia fez com que parcerias globais

fossem realizadas, promovendo investimentos em estratégias de prevenção e combate à

doença. Mesmo após mais de 30 anos da ocorrência dos primeiros casos de HIV, ainda

existem lacunas entre essas organizações, onde estratégias de reconhecimento dos pontos de

melhoria são essenciais para se traçar os planos de correção e atingir o objetivo de mitigar o

impacto do HIV/AIDS na saúde (JOHNSON et al., 2018).

O número de casos de diagnóstico após internações, identificados principalmente após

complicações provenientes da doença, como tuberculose, neurotoxoplasmose e candidíase

esofágica, por exemplo, evidenciam a importância de estratégias que permitam o aumento do

diagnóstico precoce. Identificar os motivos que levam esses pacientes a internação é fator

crucial na definição do planejamento das ações em saúde, visando prevenir ou protelar

internações futuras, além de reduzir os gastos em saúde pública (SILVA, 2018).

Avanços nas políticas de saúde focados em ações de prevenção, diagnóstico e

tratamento, foram marcados em especial com a introdução da terapia antirretroviral (TARV),

assistência essa que permitiu um impacto positivo na história natural da infecção pelo HIV,

consolidando a AIDS como uma condição crônica, promovendo redução nas taxas de

internações e morbimortalidade e melhorando a qualidade de vida e sobrevida dessas pessoas

vivendo com o HIV (PVHIV) (LOPES, 2016).

O tratamento para essa condição clínica exige acompanhamento médico, realização de

exames periódicos e uso da TARV. O medicamento busca reduzir as taxas de multiplicação

do vírus, promovendo uma recuperação das defesas do organismo. A adesão ao tratamento é

de suma importância para que os objetivos terapêuticos sejam alcançados, porém se configura

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como um dos maiores desafios relacionado às PVHIV, uma vez que o uso desses

medicamentos será de forma vitalícia, demandando mudanças comportamentais e de hábitos

de vida. A assistência prestada pelos profissionais de saúde contribui diretamente para o

processo de aceitação e adesão ao tratamento (HONORATO et al., 2018).

De acordo com o Protocolo Clínico e Diretriz Terapêutica emitido pelo Ministério da

Saúde, e válido para os anos de 2018/2019, é recomendado o início imediato do tratamento

com a TARV, para todas as PVHIV, inclusive para gestantes, principalmente por reduzir a

morbimortalidade e os riscos de transmissão. A terapia inicial deve incluir obrigatoriamente a

associação de três classes de medicamentos antirretrovirais, sendo dois deles pertencentes à

classe dos Inibidores da Transcriptase Reversa Análogos de Nucleosídeos (ITRN/ITRNt),

afiliados a outras classes, como os Inibidores da Transcriptase Reversa Não Análogos de

Nucleosídeo (ITRNN), Inibidor de Protease com Reforço de Ritonavir (IP/r) ou Inibidor de

Integrase (INI). No Brasil, inicia-se preferencialmente com os medicamentos Lamivudina e

Tenofovir (ITRN/ITRNt), consorciado com o Dolutegravir (INI), salvo quando houver

contraindicações ou sinais de resistência a alguns desses medicamentos, alterando os

esquemas de tratamento, de acordo com a necessidade de cada paciente.

No Brasil, o tratamento é disponibilizado de forma gratuita pelo Sistema Único de

Saúde (SUS). Os centros de referência dispensam a TARV via Sistema de Controle Logístico

de Medicamentos (SICLOM), disponibilizando acesso a informações como o estoque de

medicamentos, datas de todas as retiradas dos medicamentos, assim como os dados dos

pacientes e informações relacionadas quanto à patologia em questão (CORRÊA, 2017).

Mesmo com políticas de saúde voltadas para o assistencialismo dessas PVHIV,

diversos motivos ainda contribuem para uma má adesão à TARV, como efeitos colaterais aos

medicamentos, vínculo frágil com os serviços de saúde, e até mesmo o fato de ter ocorrido um

diagnóstico, que envolve um processo de aceitação e compreensão da doença. Essa

instabilidade no tratamento ocasiona uma transição em diferentes temporalidades, marcados

por períodos de agudização e silenciamento da doença, gerando de certa forma, desgaste

emocional ao paciente (RODRIGUES, MAKSUD, 2017).

Tendo em vista o conjunto de evidências citadas, o presente trabalho teve como

objetivo investigar a adesão medicamentosa em pacientes soropositivos internados com

diagnóstico há mais de 1 ano, além de quantificar aqueles pacientes cujo diagnóstico se deu

após a hospitalização, proveniente a infecções secundárias que culminaram em sua internação.

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2 OBJETIVOS

2.1 OBJETIVO GERAL

Avaliar e analisar à retirada da TARV via SICLOM, em pacientes portadores do vírus

HIV/AIDS, internados em um Hospital Universitário vinculado à Universidade Federal de

Juiz de Fora (HU – UFJF), aderido à Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (EBSERH),

no intervalo de 2013 a 2018, com a adesão medicamentosa em relação aos últimos doze

meses que antecedem o momento da internação. Além disso, serão verificados nestes

pacientes quais foram diagnosticados para o vírus HIV/AIDS durante o período de internação,

devido às infecções oportunistas associadas à doença.

2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

A. Avaliar a retirada de medicamentos referente à terapia antirretroviral via

SICLOM dos referidos pacientes, com diagnóstico de HIV constatado há mais

de 1 ano, relativo aos últimos 12 meses que antecedem a internação;

B. Detectar o percentual de adesão medicamentosa dos pacientes usuários de

TARV, com diagnóstico da doença há mais de 1 ano;

C. Traçar o perfil de pacientes em relação ao sexo, idade e cidade de residência.

D. Contribuir para a identificação de diagnóstico tardio naqueles pacientes cuja

hospitalização se deu por infecções oportunistas, culminando no diagnóstico no

momento da internação.

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3 MATERIAL E MÉTODOS

Trata-se de um estudo comparativo de cunho observacional, através da avaliação de

prontuários e registro de dispensação de TARV via SICLOM, envolvendo pacientes com

diagnóstico de HIV/AIDS e que foram internados no HU – UFJF, no período de 2013 a 2018.

Foram incluídos no estudo todos os pacientes adultos, em uso de TARV, os quais

foram internados no HU – UFJF, no período de 2013 a 2018, que possuíam diagnóstico de

HIV há mais de 1 ano, ou que tivessem sido diagnosticados no momento da internação.

Consideramos para análise de dados somente a primeira internação destes pacientes na

instituição.

Foram excluídos do estudo a análise de dados das reinternações dos pacientes que se

enquadram nos critérios de inclusão, pacientes menores de 18 anos, pacientes que possuem

diagnóstico de HIV por período menor que 1 ano, pacientes que não possuem informação

sobre o tempo de diagnóstico, com informações incompletas ou inconclusivas no prontuário e

os demais pacientes internados na instituição.

O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa do Hospital Universitário da

Universidade Federal de Juiz de Fora, parecer número 3.177.354, com início de coleta dos

dados após sua respectiva aprovação.

A coleta de dados foi realizada através do Aplicativo de Gestão para Hospitais

Universitários (AGHU), que permite a emissão de um relatório contendo todos os pacientes

em uso de TARV, sendo possível assim, identificar os pacientes internados no período de

2013 a 2018 com HIV/AIDS.

Após a emissão desse relatório e identificação dos pacientes internados, assim como o

período de sua internação, foi emitido via SICLOM o registro de dispensação da TARV

correspondente a cada paciente, nos últimos 12 meses que antecederam sua internação.

Polejack e Seidl (2010) sugeriram que, para ser considerado aderente a terapia

medicamentosa, de forma que represente eficácia e efetividade no tratamento, a quantidade

ingerida de unidades de medicamentos devem representar ≥ 95% do total de unidades de

medicamento referente ao protocolo de tratamento proposto. De acordo com Foresto et al.

(2017), não existe um método padrão ouro para identificar a adesão a TARV, em tal caso, a

contagem de comprimidos se configura como um dos métodos mais utilizados.

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Através do relatório emitido via SICLOM, é possível identificar o protocolo de

tratamento, quantidade de medicamentos dispensados, e a data de retirada dos mesmos. Com

isso, somou-se a quantidade total de unidades de medicamentos que deveriam ser ingeridos

por cada paciente, referente aos 12 meses que antecederam a data da primeira internação, para

identificar o valor referente a 100% de unidades de medicamentos a serem consumidos.

Ainda utilizando o relatório emitido via SICLOM, avaliaram-se as datas de retiradas

desses medicamentos pelo paciente, e se o mesmo retornava para as retiradas subsequentes

dentro de tempo hábil a evitar que falte um dia sem medicamentos. Quando havia defasagem

entre o dia que deveria ser retirado essa TARV e o real dia em que foi dispensado, calculou-se

o período em que o paciente ficou sem acesso a TARV, e o quanto isso correspondia em

unidades de medicamentos.

Considerando esses dados, correlacionou-se o valor de unidades de medicamentos que

correspondia a 100% do tratamento, com o valor de unidades de medicamentos real que o

paciente teve acesso nesses últimos 12 meses que antecedem sua internação, e por intermédio

de regra de três simples, foi possível estimar a porcentagem de adesão desse paciente, e se o

mesmo se encaixa acima ou abaixo do critério de adesão de ≥ 95% de unidades de

medicamentos ingeridos. O método de cálculo sugerido seguiu como base o apresentado por

COUTINHO, O’DWYER e FROSSARD (2018).

Além disso, através de leitura do prontuário de cada paciente selecionado, foi

analisado o momento em que foi realizado o diagnóstico, avaliando se o mesmo se deu

durante a internação. Para os pacientes que obtiveram diagnóstico no momento da internação,

foram elencados dados como as manifestações de infecções oportunistas, e aqueles que

evoluíram a óbito ainda na internação.

Adicionalmente, foram avaliados parâmetros como sexo, idade e cidade de residência

de todos os pacientes.

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4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Durante o período de estudo foram identificados um total de 377 pacientes

hospitalizados com HIV/AIDS, entre janeiro de 2013 e dezembro de 2018. Desse total, 223

pacientes atenderam aos critérios de inclusão. Esses pacientes foram divididos em três grupos,

sendo o Grupo Geral aquele que enquadra todos os pacientes identificados com uso de TARV,

Grupo 1 aqueles com diagnóstico de HIV/AIDS há mais de um ano, enquanto o Grupo 2,

agrupa os que apresentaram diagnóstico no momento da internação, conforme ilustrado no

Gráfico 1. Ainda foram avaliados o perfil de sexo, idade e cidade de residência para todos os

pacientes.

Gráfico 1– Distribuição de pacientes em uso de TARV.

Constatou-se em relação aos 223 pacientes do Grupo Geral, que o número de pacientes

homens internados foi maior que o de mulheres, definido por 53,40%, como mostra o Gráfico

2, e que a faixa etária, dividida com base em dados da OMS, com maior índice de internação

foi entre 40 e 49 anos, equivalente a 33,18% (Gráfico 3). Além disso, 179 pacientes,

correspondente a 80,26%, residem em Juiz de Fora (Gráfico 4), cidade onde encontra-se o

Hospital Universitário do presente estudo.

377

223

141

82

0

50

100

150

200

250

300

350

400

Total de pacientesem uso de TARV

Grupo Geral Grupo I Grupo II

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18

Gráfico 2– Percentual de pacientes homens versus mulheres

Gráfico 3- Quantitativo de pacientes por faixa etária

Gráfico 4– Relação de pacientes residentes em Juiz de Fora

47%53%

mulheres

homens

30

56

74

47

16

0

10

20

30

40

50

60

70

80

18 a 29 30 a 39 40 a 49 50 a 59 60 ou mais

179

44

0

20

40

60

80

100

120

140

160

180

200

Juiz de Fora Outros

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Segundo o Relatório de Monitoramento Clínico do HIV, emitido em 2019 pelo

Ministério da Saúde, e o boletim epidemiológico publicado em dezembro de 2019, pela

Secretaria de Vigilância em Saúde, existem no Brasil aproximadamente 633.462 homens e

332.505 mulheres vivendo com HIV, totalizando cerca de 966.012 PVHIV. Dessas, somente

593.000 possuem acesso a TARV, concentradas em maior quantitativo na faixa etária de 25 a

39 anos, com cerca de 209.000 pacientes em uso de TARV, e na faixa de 40 a 49 anos, em

torno de 159.000 pacientes.

Em um Hospital Universitário localizado em Maceió foi realizado um estudo

envolvendo 797 pacientes com HIV/AIDS, que também demonstrou um maior quantitativo de

pacientes do sexo masculino, compondo um representativo de 61%. Além disso, o local de

residência dominante é a cidade em que se localiza o HU, representado por 61,23%, assim

como neste presente estudo. Os resultados divergem em relação a idade entre os pacientes,

onde no HU de Maceió prevaleceu a faixa etária de 20 a 34 anos, correspondendo a 55,96%

(MORAES, et al., 2019).

Analisando especificamente o Grupo 1, constatou-se que em relação ao Grupo Geral, a

parcela de seus representantes equivale a 63,22%, composta por 141 participantes, dos quais,

119 são homens (51%). Além disso, a faixa etária entre 40 a 49 anos foi a que apresentou

maior índice de internações, em ambos os sexos. Na Tabela 1 é descrita a relação de pacientes

internados de acordo com a faixa etária no Grupo 1.

Tabela 1 – Grupo 1: Quantidade de pacientes HIV positivo por faixa etária

Faixa Etária Mulheres Homens Total

18 a 29 7 4 11

30 a 39 20 20 40

40 a 49 25 26 51

50 a 59 12 18 30

>60 5 4 9

TOTAL 69 72 141

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Em relação ao perfil de adesão desses pacientes, foi refletido que apenas 12 pacientes

do Grupo 1 conseguiram alcançar a taxa de adesão ideal (maior ou igual a 95% de ingesta da

TARV), configurando um perfil de adesão de, apenas, 8,51%. Esses dados são demonstrados

no Gráfico 5, que traz o percentual de adesão versus o quantitativo de pacientes.

Gráfico 5– Grupo 1:Distribuição dos pacientes segundo a taxa de adesão à TARV

Similarmente, um estudo avaliou 292 indivíduos em relação a dispensação da TARV

por um período antecessor de 12 meses, usando como ponto de corte de adesão a retirada de

medicamentos ≥ 95%. Evidenciou-se que 39,3% dos pacientes adquiriram a TARV de forma

a manter a aderência ≥95%. Além disso, a faixa etária predominante foi por volta dos 43 anos,

e 70,2% correspondiam ao sexo masculino (GUTIERREZ et al., 2012).

Em relação aos pacientes do Grupo 1, 69 são mulheres e 72 são homens, e dentro da

faixa de pacientes aderentes, 6 são homens e 6 são mulheres. As Tabelas 2 e 3 descrevem o

quantitativo de pacientes por faixa etária e sexo com aderência maior ou igual a 95% e

inferior a 95%, respectivamente.

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Tabela 2 – Grupo 1: Distribuição por faixa etária e taxa de adesão à TARV

Faixa

Etária

Mulheres Homens TOTAL

(n=12) Quantidade Porcentagem do Total Quantidade Porcentagem do Total

18 a 29 0 0% 0 0% 0

30 a 39 1 5% 1 5% 2

40 a 49 2 8% 0 0% 2

50 a 59 2 17% 4 22% 6

>60 1 20% 1 25% 2

Tabela 3 – Grupo 1: Perfil de pacientes não aderentes

Faixa

Etária

Mulheres Homens TOTAL

(n=129) Quantidade Porcentagem do Total Quantidade Porcentagem do Total

18 a 29 7 100% 4 100% 11

30 a 39 19 95% 19 95% 38

40 a 49 23 92% 26 100% 49

50 a 59 10 83% 14 78% 24

>60 4 80% 3 75% 7

Nota-se que na faixa etária entre 18 a 39 anos, o perfil de aderência entre homens e

mulheres é semelhante. Já na faixa entre 40 a 49 anos, há uma maior aderência por parte das

mulheres, enquanto 100% dos pacientes do sexo masculino foram considerados não aderentes

nesta faixa etária. Entretanto, com o decorrer da idade, a partir dos 50 anos, há uma maior

aderência ao tratamento por parte dos homens.

Uma metanálise realizada em 2005 por Bezabhe et al., a partir de 43 estudos de nível

mundial, avaliando 27.905 pacientes, descreveu o nível de aderência maior ou igual a 95%

como um dos métodos mais utilizados para avaliar a aderência ao tratamento medicamentoso

com TARV, e ainda complementa que somente 23% dos participantes obtiveram uma taxa de

adesão ideal.

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De acordo com os últimos dados publicados, em Juiz de fora, foram registrados em

2007 pela Secretaria de Saúde, cerca de 2.347 PVHIV, sendo 1.574 homens, proporcional a

67,06%, e 773 mulheres, equivalentes a 32,94%. Comparando esses dados com os obtidos

neste estudo, relacionado à proporção de pacientes homens versus mulheres, evidencia-se que

o número de internações foi maior em homens, o que pode estar relacionado a uma maior

concentração de pacientes soropositivos dentro do sexo masculino

Do total de pacientes estudados, 179 são residentes em Juiz de Fora. As Tabelas 4 e 5

trazem detalhadamente a proporção de pacientes de Juiz de Fora em relação ao sexo, com

perfil de aderência e não aderência à TARV, respectivamente.

Tabela 4 – Grupo 1: Perfil de pacientes aderentes por sexo versus local de residência

Sexo Mulheres Homens TOTAL

Em Juiz de Fora 4 4 8

Outras cidades 2 2 4

TOTAL 6 6 12

PERCENTUAL DE

ADERÊNCIA 8,70% 8,33%

8,51%

Tabela 5 – Grupo 1: Perfil de pacientes não aderentes por sexo versus local de residência

Sexo Mulheres Homens TOTAL

Em Juiz de Fora 49 55 104

Outras cidades 14 11 25

TOTAL 63 66 129

PERCENTUAL DE

ADERÊNCIA 91,30% 91,67%

91,48%

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Faz-se também de grande relevância para o presente trabalho, uma análise sobre o

Grupo 2, que representa, como mencionamos anteriormente, pacientes diagnosticados com

HIV/AIDS durante o período de internação, ocasionada pelo aparecimento de algum tipo de

infecção oportunista. Deste grupo foram elencadas sete manifestações distintas, que são

apresentadas na Tabela 6, relacionando-as ao quantitativo de pacientes acometidos.

Tabela 6 – Grupo 2: Proporção de manifestação de infecções oportunistas em pacientes que foram

diagnosticados com HIV/AIDS durante o período de internação

Diagnóstico

Nº de

manifestações

% de

pacientes

Neurotuberculose/Tuberculose 18 22%

Monilíase 16 20%

Neurotoxoplasmose 15 18%

Pneumocistose 12 15%

Citomegalovírus 11 13%

Neurocriptococose 8 10%

Herpes 2 2%

Além disso, verificou-se que 74% dos pacientes foram identificados com uma ou mais

infecções oportunistas, sendo que o máximo de infecções concomitantes foi igual a três.

Dentre os 26% restantes, não houveram sintomas característicos de infecções oportunistas,

classificados como outros sintomas, não elencados na proposta deste trabalho. A análise do

prontuário desses pacientes comprovou que o motivo de sua internação, foi proveniente

dessas infecções oportunistas. Esses dados são mostrados na Tabela 7.

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Tabela 7– Grupo 2: Relação de infecções oportunistas versus quantitativo de pacientes atingidos

Nº de

diagnósticos

Pacientes

Quantidade Porcentagem

0 21 26%

1 38 46%

2 19 23%

3 4 5%

>3 0 0%

A prevalência de Tuberculose/Neurotuberculose, Monilíase e Neurotoxoplasmose é

relativamente maior em relação às demais manifestações, uma vez que somadas, elas

acometem 49 dos 82 pacientes deste grupo, equivalente a 60% de ocorrência.

Uma revisão realizada em 2019 por Santana, Silva e Pereira, aponta que pelo fato das

células de defesa, do paciente infectado com HIV, estarem reduzidas, a propensão a adquirir

uma infecção oportunista é elevada. Tal propensão é reduzida com o uso da TARV. O estudo

também indica que a principal infecção oportunista é a Tuberculose, chegando a apresentar

chance de 21 a 34 vezes maior que um indivíduo saudável de contrair a doença.

Conforme o Protocolo Clínico e a Diretriz Terapêutica para Atenção Integral às

Pessoas com Infecções Sexualmente Transmissíveis publicado em 2019, o surgimento de

infecções oportunistas configura o estadiamento de doenças como AIDS, ou seja, quando há a

manifestação do vírus HIV. Esse fator contribui para que o paciente seja hospitalizado, e em

alguns casos, descubra o diagnóstico de forma indireta.

Não menos importante, com relação ao sexo e a idade, no Grupo 2 é observado que os

homens apresentaram mais infecções oportunistas do que as mulheres. A faixa etária com

maior acometimento de infecções oportunistas foi entre 40 e 59 anos para as mulheres, e entre

40 e 49 anos para os homens. Além disso, vale ressaltar os pacientes que evoluíram a óbito na

internação que culminou no diagnóstico, sendo elencados 12 óbitos, a maioria em mulheres.

O maior percentual de óbitos nas mulheres foi na faixa entre 50 e 59 anos, enquanto nos

homens variou de 40 até 59 anos. Nota-se também que nas faixas entre 18 e 29 anos e

superior a 60 anos do sexo masculino não houve óbitos, enquanto nas mulheres, somente na

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faixa entre 30 e 39 anos não foram registradas ocorrência de óbitos. A Tabela 8 traz o

detalhamento dessas informações.

Tabela 8–Grupo 2: pacientes que receberam o diagnóstico durante a internação entre 2013 e 2018

Sexo Faixa Etária Número de Diagnósticos Óbito

0 1 2 3 Total Quantidade Porcentagem

F

18 a 29 1 1 1 0 3 1 33,33%

30 a 39 1 4 2 0 7 0 0,00%

40 a 49 3 3 4 0 10 1 10,00%

50 a 59 2 6 1 1 10 3 30,00%

>60 2 1 2 0 5 2 40,00%

TOTAL 9 15 10 1 35 7 -

% do total 10,98% 18,29% 12,20% 1,22% 42,68% - 20,00%

M

18 a 29 4 8 3 1 16 0 0,00%

30 a 39 1 7 0 1 9 1 11,11%

40 a 49 5 4 4 0 13 2 15,38%

50 a 59 1 3 2 1 7 2 28,57%

>60 1 1 0 0 2 0 0,00%

TOTAL 12 23 9 3 47 5 -

% do total 15% 28% 11% 4% 57% - 10,64%

TOTAL Quantidade 21 38 19 4 82 12 -

Porcentagem 25,61% 46,34% 23,17% 4,88% - -

De acordo com o Boletim Epidemiológico publicado em 2019 pela Secretaria de

Vigilância em Saúde, cerca de 10.980 óbitos foram registrados como causa básica a AIDS.

Além disso, relata que existe um predomínio de diagnósticos tardios em homens,

representados por 27 homens a cada 10 mulheres na região Sudeste. Apesar da proporção de

homens ser maior do que de mulheres, este trabalho identificou uma maior taxa de óbitos no

sexo feminino.

Ainda segundo este Boletim, foi evidenciado que a taxa de detecção de HIV foi maior

em homens na faixa entre 25 e 29 anos, representando 50,9 casos/100.000 habitantes,

enquanto nas mulheres foi na faixa entre 40 e 44 anos, com cerca de 20,5 casos/100.000

habitantes. Além disso, a taxa de diagnósticos no estado de Minas Gerais atingiu a menor taxa

de detecção de HIV, simbolizando 11,6%, número bem menor que a média nacional, que é de

17,8%.

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Em conjunto com tais evidências, o presente trabalho traçou o índice de internação

entre 2013 e 2018, identificando o maior número de internação em 2013, e o menor em 2014.

Nos demais anos o número de internações ficou entre 30 e 41. A Tabela 9 traz um

detalhamento do número de internações por ano para cada um dos grupos (grupo 1: HIV+12

meses e grupo 2: diagnóstico no momento da internação) avaliados neste trabalho.

Tabela 9 – Grupo Geral: Internações por HIV entre 2013 à 2018

Ano

Quantidade de Internações

HIV + de 12 meses Diagnóstico na

Internação Total

2013 32 17 49

2014 21 8 29

2015 18 12 30

2016 25 16 41

2017 18 17 35

2018 27 12 39

6 anos 141 82 223

Desde 1997 a taxa de internação por HIV tem variado entre 11 a 49 por/ 100 pessoas-

ano, identificando que os índices de internação não apresentaram declínio, ocorrendo até

mesmo um aumento. Como justificativa, é apresentado o aumento de sobrevida de pacientes

com HIV, culminando em internações por fatores como o envelhecimento, desenvolvimento

de doenças crônicas e até mesmo a resistência causada do vírus a múltiplas drogas da TARV

(RIBEIRO, 2012).

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5 CONCLUSÃO

Os resultados deste trabalho permitiram inferir que a porcentagem de pacientes que

aderem de forma correta ao tratamento é de 8,51%, e o quantitativo de pacientes que são

hospitalizados é muito maior naqueles que são não aderentes ao tratamento, correspondendo a

91,49% das internações, abrangendo em sua maior parcela a população do sexo masculino,

que representa 53,40% do total. Além disso, percebe-se um maior cuidado das mulheres em

relação ao tratamento quando mais jovens, inversamente ao que acontece com os homens.

A Neurotuberculose/Tuberculose foi elencada como a infecção oportunista mais

prevalente, acometendo 22% dos pacientes do Grupo 2. Nota-se que infecções oportunistas

são fatores de acometimento característicos em pacientes com diagnóstico tardio da doença,

caso esse prejudicial tanto para o paciente, devido aos riscos de sequelas permanentes, quanto

para o sistema de saúde, no qual demanda gastos adicionais com problemas de saúde

evitáveis, considerando um diagnóstico precoce e tratamento adequado.

Além disso, o quantitativo de internações por HIV com o passar dos anos permaneceu

praticamente constante, demonstrando que ainda é necessário muito trabalho de educação em

saúde para fortalecer as metas de prevenção, de diagnóstico precoce e tratamento aderente,

estabelecidos pelo Ministério da Saúde. O quantitativo de internações ao decorrer dos anos

analisados variou entre 29 a 49 pacientes.

Ressalta-se que apesar do Hospital Universitário estar localizado em Juiz de Fora,

trata-se de um centro de referência no tratamento e dispensação de antirretrovirais, e mesmo

com toda a estrutura voltada para o suporte a prevenção, diagnóstico precoce e centros de

dispensação de TARV ofertados pela cidade, uma parcela de 80,26% dos pacientes internados

é do próprio município.

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