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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL CÂMPUS DO PANTANAL JEFFERSON FERNANDES DA SILVA BRITO MOTIVAÇÕES DE UM GRUPO DE JOGADORES PARA A PRÁTICA DO FUTEBOL AMADOR EM CORUMBÁ/MS CORUMBÁ MS 2014

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL

CÂMPUS DO PANTANAL

JEFFERSON FERNANDES DA SILVA BRITO

MOTIVAÇÕES DE UM GRUPO DE JOGADORES PARA A PRÁTICA DO

FUTEBOL AMADOR EM CORUMBÁ/MS

CORUMBÁ – MS 2014

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL

CÂMPUS DO PANTANAL

MOTIVAÇÕES DE UM GRUPO DE JOGADORES PARA A PRÁTICA DO

FUTEBOL AMADOR EM CORUMBÁ/MS

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Universidade Federal de Mato Grosso do Sul,

como parte dos requisitos para obtenção do título de Licenciado em Educação Física.

Orientador: Prof. Dr. Fabiano Antonio dos Santos

CORUMBÁ - MS 2014

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RESUMO

O futebol é um dos esportes mais praticados em todo mundo. No Brasil o fascínio por

esse esporte é maior ainda, sendo considerado o principal esporte praticado no país e incorporado com uma cultura local dos brasileiros. O presente estudo buscou compreender a forma de organização do futebol amador e revelar as intencionalidades

dos sujeitos que compõem o objeto de estudo na cidade de Corumbá/MS. Para tal foram feitas entrevistas e aplicação de questionários aos sujeitos da pesquisa, neste caso os

jogadores que compõem a equipe do clube Esporte Clube Vasco da Gama. Num total de vinte e cinco jogadores que compõem a equipe, quinze jogadores participaram da pesquisa. Tendo como resultados desde atletas que praticam o futebol amador pelo lazer

como aqueles que o praticam buscando a profissionalização na carreira.

Palavras-chaves: Futebol; Amador; Cultura.

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ........................................................................................................05

2. FUTEBOL COMO MANIFESTAÇÃO CULTURAL .........................................08

3. FUTEBÓIS ................................................................................................................13

3.1 O FUTEBOL AMADOR ................................................................................... 19

4. ANÁLISE DE UMA EQUIPE AMADORA EM CORUMBÁ/MS .....................25

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................32

6. REFERÊNCIAS ........................................................................................................33

7. ANEXOS ....................................................................................................................35

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1 INTRODUÇÃO

Bola na trave não altera o placar

Bola na área sem ninguém pra cabecear Bola na rede pra fazer o gol

Quem não sonhou em ser um jogador de futebol?

A bandeira no estádio é um estandarte

A flâmula pendurada na parede do quarto O distintivo na camisa do uniforme

Que coisa linda, é uma partida de futebol

Posso morrer pelo meu time

Se ele perder, que dor, imenso crime Posso chorar se ele não ganhar Mas se ele ganha, não adianta

Não há garganta que não pare de berrar

A chuteira veste o pé descalço O tapete da realeza é verde

Olhando para bola eu vejo o sol

Está rolando agora, é uma partida de futebol

O meio campo é lugar dos craques Que vão levando o time todo pro ataque

O centroavante, o mais importante

Que emocionante, é uma partida de futebol

O goleiro é um homem de elástico Os dois zagueiros tem a chave do cadeado

Os laterais fecham a defesa

Mas que beleza é uma partida de futebol

(É uma partida de futebol, de Skank; Compositor: Samuel Rosa e Nando Reis).

O futebol é um dos esportes mais populares no Brasil. É o chamado esporte

bretão1, que desperta sentimentos variados, bons e ruins, em nós torcedores dos menos

até os mais fanáticos pela prática. Uma atividade esportiva que sequer foi criado no

país, mas que teve uma disseminação e apropriação gigantesca por todo o país em

pouco tempo, desde sua introdução oficial no país. Um esporte que teve papel

importante na construção da sociedade que temos hoje em dia. (DAOLIO, 2006)

Percebe-se a popularidade deste esporte pela enorme quantidade de músicas (a

que abrimos essa introdução, é um exemplo), filmes como, por exemplo, “Duelo de

1 Referente à Grã-Bretanha ou Inglaterra, país onde o futebol foi inventado.

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campeões”, obras de artes, como pinturas e esculturas, que retratam esse desporto

mostrando a relevância que o mesmo tem para os brasileiros e para a sociedade.

DAOLIO (2006). Mas é claro não só por isso, como por tantos outros aspectos aqui não

citados.

Muitos autores como Witter (1982), Damatta (1994) e Daolio (2006) afirmam

que estudar o futebol é estudar o povo brasileiro. É a partir desse esporte que podemos

compreender certos rituais da sociedade brasileira. O futebol se rviria como uma

linguagem pela qual a sociedade expressaria questões profundas. O referido esporte é

uma forma que a sociedade brasileira encontrou para se expressar (DAOLIO, 2006).

É uma maneira de o homem nacional extravasar características emocionais

profundas, tais como paixão, ódio, felicidade, tristeza, prazer, dor, fidelidade,

resignação, coragem, fraqueza e muitas outras (DAOLIO, 2006)

No entanto, possíveis pessoas quando questionadas sobre o futebol, só

reconhecem aquele que é focado na mídia (esporte profissional), mostrando o esporte na

sua forma mais espetacularizada possível: grandes equipes de poderio financeiro

elevado, estádios lotados, craques pelo mundo tratados como verdadeiros heróis,

deixando de lado a multiplicidade de elementos e cenários que o futebol possui.

A escolha do tema futebol surgiu da vivência com o esporte no papel de torcedor

e amante de sua prática e, também, no papel de árbitro assistente em jogos de futebol

amador, mas, que sempre se deixou levar pelo senso comum e nunca pesquisou mais

afundo a importância deste esporte e dos variados tipos de significados e práticas

possíveis que o futebol pode ter nesta sociedade. Também, pela inquietação de saber a

motivação de jogadores amadores a participarem de tal campeonato e o porquê do

futebol ser um esporte tão amado por nós brasileiros.

O objetivo geral desta pesquisa foi compreender a forma de organização do

futebol amador e revelar as intencionalidades dos sujeitos que compõem o objeto de

estudo na cidade de Corumbá/MS. Tendo como objetivos específicos compreender

como se deu a formação desta equipe para o campeonato; Perceber o futebol como

manifestação cultural; Compreender os tipos de futebóis existentes.

Para elaboração deste trabalho utilizamos o recurso da revisão literária existente

sobre o tema, tendo como referências autores tais como Damo (2005), Damatta (1982),

Daolio (2006), dentre outros que se aprofundaram nesse tema futebol e também por

meio de uma pesquisa de campo, onde foram usados os instrumentos de pesquisas, tais

como, entrevistas, questionário e observações. Foram entrevistados quinze atletas

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amadores de um time que participa do campeonato amador de futebol de Corumbá/MS

e o dono do time. Este campeonato conta com a participação de doze equipes amadoras.

O critério para a seleção do atletas entrevistados foi o de mesclar atletas mais jovens

que entraram no clube este ano para a disputa do campeonato com os mais experientes

que já participaram de outros campeonatos amadores na região. Escolhemos esta equipe

para análise por ser uma equipe considerada nova no cenário deste campeonato amador

que foi estudado e por ser uma equipe heterogênea com relação aos atletas que a

compõem, desde atletas bem novos até os veteranos.

O trabalho está dividido em três seções e uma subseção. Na primeira seção

“Futebol como manifestação cultural” discutimos possíveis motivos pelo qual o futebol

tornou-se uma forma de expressão cultural do povo brasileiro e o por quê da paixão pelo

esporte. Na segunda seção intitulada “futebóis” faremos uma discussão sobre as

diversas manifestações do futebol. Mostrando que não existe um único futebol, mas

sim, uma ampla variedade deste esporte. Na subseção ainda do capítulo anterior

“Futebol amador” apresentaremos como se caracteriza essa manifestação do futebol,

mostrando suas possibilidades enquanto esporte e as características de quem o pratica.

Por fim, na terceira seção fazemos uma análise de uma equipe amadora que disputa o

campeonato amador de futebol em Corumbá/MS no ano de 2014 para chegar ao

objetivo geral desta pesquisa. Além disso, compreender como se deu a formação desta

equipe para a competição.

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2. Futebol como manifestação cultural

Já virou quase que um clichê denominar o Brasil como o “país do futebol”, não

pelo nascimento deste esporte em solo “canarinho”, já que o local de sua origem foi à

Inglaterra, e sim, pela apropriação deste desporto pelos bras ileiros, não apenas como

meio esportivo, mas como uma cultura local, uma identidade brasileira, uma verdadeira

“paixão nacional” (DAOLIO, 2006). Um esporte capaz de despertar dos mais opostos

sentimentos em seus torcedores, admiradores e até nos menos simpatizantes pelo

esporte. Seja pela alegria da vitória, do seu time ou seleção, ou pela tr isteza de uma

derrota (DAOLIO, 2006)

Em tempos de Copa do Mundo, essa paixão nacional e, por que não, também,

internacional, tornou-se mais flagrante ainda. Para comprovar isso, basta ver a

mobilização nacional em dias de jogos do Brasil e a quantidade de turistas que saíram

de seus países para acompanharem o Mundial de 2014 no Brasil, talvez, quem sabe,

apenas um ou dois jogos de seu país, porém, com maior satisfação e orgulho, mesmo

sua seleção não sendo considerada com uma favorita ao título mundial. (DAOLIO,

2006).

A introdução do futebol no Brasil foi muito além de um simples esporte. Este

acabou tornando-se um fenômeno histórico e social, além de importante ferramenta na

construção do Estado e da identidade brasileira. Percebe-se isso nos estudos de Daolio

quando o mesmo afirma que “é inegável a influência que o futebol teve na vida nacional

a partir do início do século XX” (DAOLIO, 2006, p.107). E vai além:

Pretendemos neste trabalho considerar o futebol algo além de um mero esporte com um conjunto de regras e objetivando o lazer de quem o pratica ou de quem o assiste. Pretendemos aqui considerar o futebol uma prática social que, como tal, expressa a sociedade brasileira, com todas as suas aspirações mais antigas, seus desejos mais profundos e suas contradições mais camufladas. Byington (1982), numa interessante discussão sobre os símbolos do futebol, afirma ser ele o “[...] nosso maior exercício psicológico simbólico de desenvolvimento (p.21). (DAOLIO, 2006, p.108)

O futebol teve papel importante na historia do Brasil, pois, através dele houve

uma integração do Estado Nacional e da sociedade. Nasceu então um forte

nacionalismo, um sentimento de confiança na nossa capacidade como povo, que

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podíamos vencer como país moderno, demonstrado no orgulho de cantar o hino e

emocionar-se dentro de campo pelo orgulho da bandeira nacional (DAMATTA, 1994).

O futebol foi uma das formas que a sociedade brasileira encontrou para se manifestar e

para ser interpretada. Consideramos este esporte como membro legítimo da sociedade e

reconhecemos não só a sua introdução na vida da população brasileira, mas também no

espírito de cada cidadão do país (DAMATTA et al., 1982).

Pensar e analisar sobre um fenômeno esportivo como uma manifestação social

pode parecer assustador, mas também pode ser muito entusiasmante, pela riqueza de

grandes símbolos e representações em seu contexto. O futebol é, assim como, o

carnaval, o samba e outras práticas tradicionais, uma expressão cultural brasileira.

(DAOLIO, 2006).

Sobre essa identificação do brasileiro com o futebol, “parece haver uma certa

relação entre as exigências do esporte e as características originais do futebol com

determinados hábitos, atributos ou estilo do povo brasileiro” (DAOLIO, 2006, p.110).

Este mesmo autor levanta quatro aspectos que se relacionam com as

características do povo brasileiro, para explicar essa fascinação pelo futebol. O primeiro

é a busca pela igualdade, que está presente no futebol. Os dois times tem as mesmas

condições, dentro de campo, de buscar a vitória. Não que no futebol sempre tenha esse

clima de igualdade, e sim, pelas regras elaboradas deste esporte que visam essa

igualdade. Igualdade esta que nem sempre está presente no ambiente de trabalho, na

cidade, no lazer, enfim fora dos estádios.

O campo de jogo é dividido em duas metades iguais, sendo que cada equipe ocupa uma metade durante um tempo. Cada equipe inicia o jogo num tempo, sendo que a primeira a fazer isso é escolhida por sorteio. O time que sofre um gol tem o direito a reiniciar a partida. O time que comete falta sobre um jogador adversário é punido com um tiro livre indireto, sendo que será penalidade se essa falta tiver sido cometida dentro da área. Quando a bola sai do campo, deve ser resposta em jogo pelo time contrário ao que tocou na bola pela última vez. E todas estas decisões devem ser tomadas por um árbitro teoricamente imparcial, auxiliado por dois bandeirinhas que não trocam de lado durante o jogo a fim de acompanharem o ataque das duas equipes. (DAOLIO, 2006, p.111)

Essa igualdade reflete também na escolha de um time para torcer. Temos

liberdade para fazer essa escolha, mesmo que a influência familiar pese muito em vários

casos. Fora do futebol nem sempre temos essa liberdade, pois, em determinadas

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situações existem regras específicas para pertencer a, por exemplo, a uma classe

social.(DAOLIO,2006)

O segundo aspecto seria o fato de ser um esporte jogado basicamente com os

pés, com a exceção do goleiro que além dos pés, pode usar as mãos dentro da área e

com a exceção do tiro lateral que recoloca a bola em jogo, quando esta deixa o campo

de jogo pelas laterais do campo. (DAOLIO, 2006).

Daolio (2006) nos faz refletir sobre o fator do jogo com os pés, comparando o

futebol com outras práticas culturais brasileiras, caso da capoeira, do samba e de certas

danças rituais indígenas.

É interessante comparar essa prática com os pés que é o futebol com a da capoeira, do samba e de certas danças rituais indígenas. Todas essas práticas têm nos pés um papel preponderante. A capoeira é uma prática na qual só é permitido tocar o oponente com os pés. O bom sambista é aquele que tem o “samba no pé” [...] (DAOLIO, 2006, p.111)

O terceiro aspecto citado por Daolio (2006) para explicar a fascinação do

brasileiro pelo futebol é a necessidade e a importância do drible. O drible que nada mais

é que uma ação ofensiva em que o atacante ludibria o adversário, em direção ao gol,

chegando assim ao ápice do jogo, o momento do gol. O drible é identificado pela

esperteza, pela ginga e pela malandragem do atleta, características essas consideradas

inerentes ao jogador brasileiro. É o drible uma forma de expressão do atleta nacional.

O drible nada mais é do que um ato de esperteza do atacante, que ameaçar ir para um lado e vai para o outro, ou ameaça tocar a bola de lado e toca-a entre as pernas do atônito defensor. Basta lembrarmos-nos de Garrincha, que, com suas fintas inesquecíveis, muitas vezes passava por mais de um defensor deixando-os caídos ao chão. Impossível pensar num drible de Garrincha e não associa-lo ao malandro brasileiro, com seu gingado, seu jeito maroto e sua atitude esperta para conseguir sobreviver[...] (DAOLIO, 2006, p.112)

O drible no futebol pode ser comparado a uma situação cotidiana da nossa

realidade atual, em nossa sociedade, que é a malandragem para “driblar” as

adversidades da vida. É a batalha daquele cidadão que luta o mês inteiro e consegue

sobreviver com apenas um salário mínimo. Que usa de sua criatividade e esperteza para

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tirar vantagem sobre uma situação que nem sempre é cômoda. “Como num drible no

futebol, o malandro é aquele que tem que dar um jeito para conseguir dinheiro, para

levar alguma vantagem, para conseguir, enfim, ma rcar seus gols.” (DAOLIO, 2006,

p.112).

O quarto e último aspecto é a permissão para a livre expressão individual, a

dialética entre coletividade e individualidade (Daolio, 2006). Apesar de ser um jogo

coletivo, o futebol permite que a individualidade seja empregada nesse esporte. Quantas

partidas históricas que se tornavam complicadas para a seleção brasileira pela qualidade

técnica da equipe adversária, não foram resolvidas numa jogada individual, num drible,

um chute que parecia improvável, uma arrancada do meio de campo, que resultaram

num gol da vitória.

Apesar de ser um esporte coletivo, o futebol permite e até incentiva as jogadas individuais. Podemos dizer que é por intermédio delas que uma equipe consegue desestruturar o sistema coletivo da equipe adversária. É um chute inesperado, um drible desconcertante, uma arrancada veloz de um jogador, que faz com que uma equipe leve vantagem sobre outra e concretize essa vantagem em gols. (DAOLIO, 2006, p.112).

Na nossa vida cotidiana, nós somos dotados de individualidade para decidir

assuntos pertinentes a nossa vida, porém, como vivemos em sociedade, existem regras e

leis que devem ser cumpridas por todos, para vivermos em harmonia, no coletivo

(DAOLIO, 2006). Afinal, o ser humano precisa do outro para interagir socialmente.

Já está impregnado no jogador brasileiro esse chamado “jogo bonito”, onde o

mesmo busca realizar o drible, fazer um gol bonito, o chamado “gol de placa”, podendo

ser a tradicional jogada chamada de “bicicleta” ou então o “voleio”. Percebe-se,

ultimamente, com as mudanças no futebol que, apesar da introdução de esquemas

táticos, estratégias de jogo, estilos de jogo, especialmente da Europa, o jeito de jogar do

brasileiro vem sofrendo certa influência, não mais priorizando esse “jogo bo nito” com

dribles e jogadas de efeitos, e sim apenas o resultado da partida e um padrão tático bem

definido. No entanto, “parece-nos que os técnicos de futebol que estão se saindo bem

atualmente no Brasil são os que utilizam alguns conceitos de futebol de outros países,

mas não reprimem a individualidade do jogador brasileiro” (DAOLIO, 2006, p.113).

Por fim, em seu estudo Daolio (2006) deixa claro que o assunto não se esgota

nesses quatro aspectos. O mesmo acredita que existam outros mais além desses, por ele

citado e aqui mencionados. O autor ainda ressalta a importância e necessidade de mais

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estudos nessa área, pois acredita que o futebol para além de um conjunto de regras,

técnicas e táticas, é a expressão da cultura brasileira.

Na próxima seção abordaremos um desses tipos de manifestações do futebol que

representa um pouco da paixão do brasileiro pelo esporte. Um futebol que não tem

idade para se praticar e não somente um objetivo que fundamente sua prática. Falaremos

um pouco do futebol amador.

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3. Futebóis

Geralmente, quando falamos sobre futebol, logo nos vem à mente o futebol de

rendimento digno das apresentações realizadas nos megaeventos, amplamente difundido

pela mídia e que tem em seus praticantes a personificação dos heróis. A primeira

impressão é que o futebol seria constituído apenas desta forma de manifestação, muito

vinculada à cultura de massa, à massificação da prática corporal através do esporte.

Logo que essas imagens nos saltam, imaginamos estádios lotados, adversários lutando

para determinada conquista (DAOLIO, 2006)

A mídia exerceu e ainda exerce grande influência no que diz respeito à

popularização e disseminação deste esporte espetacularizado ou de alto rendimento. O

futebol muito mais do que uma prática esportiva, tornou-se uma marca valiosíssima,

que meios midiáticos e grandes empresas utilizam para faturarem em milhões de dólares

com a exploração dessa paixão que as pessoas têm pelo mesmo. Os interesses

econômicos são os principais fatores que tornam esse tipo de futebol como o mais

atraente para ser difundido, diferentemente daqueles outros tipos de “futebóis” que não

acarretariam tamanho retorno financeiro. Com isso, a mídia acaba nos impregnado com

esse futebol que é “vendido” por ela para a população que, acaba por acreditar que esse

tipo de futebol seja a única possibilidade de prática existente. (ALCÂNTARA,2014).

Não iremos nos deter neste trabalho afundo sobre esse aspecto sobre a mídia, mas vale

ressaltá- lo para podermos melhor compreender esse fenômeno, em suas mais diversas

contradições.

Há, entretanto, a possibilidade de outro futebol, que não apenas o identificado

com a grande mídia, com o esporte espetáculo. Inclusive é esse outro futebol que ganha

os mais diversos campos de várzea em todo o país. Os diversos “futebóis” praticados no

país é tão significativo quanto os espetáculos televisionados. É nesse sentido que Damo

(2005) apresenta uma divisão entre essas diferentes manifestações do futebol. Para o

autor, o futebol é constituído por quatro matrizes básicas: a bricolagem, a escolar, a

espetacularizada e a comunitária. (DAMO, 2005)

O autor apresenta uma interessante análise sobre tais matrizes. Essa análise

considera o futebol sob uma ótica conceitual que parte do par profissionalismo e

amadorismo (DAMO, 2005).

Segundo Silva (2011, p.1), “o amadorismo e o profissionalismo nos esportes

estão relacionados às intencionalidades subjacentes a estas práticas que são atribuídas

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pelos “indivíduos no plural” durante o processo de esportivização.” No geral, o

amadorismo acaba enfatizando uma perspectiva de lazer, em busca de prazer e

divertimento como principais objetivos. Já o profissionalismo enfatiza a perspectiva do

trabalho, um meio de sobrevivência e tendo a busca de resultados como principais

objetivos. (SILVA, 2011)

Para Witter (2003) o futebol é o esporte mais democrático dentre todas as outras

modalidades esportivas. No entanto, nem sempre este desporto teve esse caráter

democrático. Introduzido no país em 1894, num momento em que grandes mudanças

aconteciam na sociedade brasileira. “Saímos de um regime monárquico, baseado na

produção escravocrata para um sistema republicano, não-escravagista.” (GORDON;

HELAL, 2002, p.40).

Trazido para o Brasil por imigrantes ingleses, o futebol foi absorvido pela elite

urbana, que não viam com bons olhos a prática do futebol pelas classes populares,

especialmente negros e mestiços (HELAL; GORDON, 2002). Negros e mestiços que

marcaram essa passagem do futebol amadorístico para o profissional.

A passagem do amadorismo para o futebol profissional é marcada pela entrada em cena de jogadores de origens populares nos grandes clubes, apesar dos obstáculos quase instransponíveis que tiveram que enfrentar. Os jogadores negros e mestiços são os pioneiros no que viria a ser chamado de “estilo brasileiro de jogar futebol” (RODRIGUES, 2002, p.2).

Essa preocupação da elite pela apropriação do futebol pelas classes populares

ocorreu devido ao medo da classe dominante ser derrotada pela parte dominada, por

isso, negavam a profissionalização do esporte. (SILVA, 2011)

O debate sobre a introdução do profissionalismo no futebol surge nos anos finais

da década 10, mas tornou-se mais forte a partir da década de 20 quando o time do Vasco

da Gama, no Rio de Janeiro, composto por jogadores mulatos, negros e pobres,

conquista um título. Entretanto, já surgia em 1917, o que ficou conhecido como

“profissionalismo marrom” ou “falso amadorismo”, tendo como uma de suas

características a cobrança por ingressos de quem assistia às partidas, mas que não

incomodava tanto até então, já que os times que ainda saiam campeões eram os quais os

jogadores eram majoritariamente amadores (SILVA, 2011). Cenário esse que mudou

com o título do Vasco, em 1923, que contava com jogadores que eram remunerados

para jogar. (GORDON; HELAL, 2002).

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[...] em 1917, os clubes de Rio de Janeiro e São Paulo começaram a cobrar ingressos dos espectadores que assistiam às partidas. Isso fez com que esse período fosse conhecido como “profissionalismo marrom” ou “falso amadorismo”. No entanto, como até 1923 os times campeões foram aqueles cujo jogadores eram majoritariamente amadores, o problema do amadorismo marrom não incomodava tanto. A vitória de um time de jogadores remunerados, ao contrário, provocou forte reação dos defensores do amadorismo, que promoveram uma cisão no futebol do Rio de Janeiro, criando uma liga à parte, excluindo o Vasco. (GORDON; HELAL, 2002, p.40).

Foi somente em 1933 que a profissionalização do futebol institucionalizou-se.

“A partir daí constitui-se um mercado de trabalho novo e promissor no Brasil. Os

dirigentes esportivos agora possuem o poder de tomar decisões e legislar sobre o

futebol” (RODRIGUES, 2002, p.9).

A partir dessa síntese sobre o amadorismo e o profissionalismo no futebol,

podemos compreender melhor os “futebóis” apresentados por Damo (2005).

Para entender as possíveis práticas futebolísticas e o que elas possuem em

comum, em sua estrutura, o autor explica inicialmente sobre o que seria uma “unidade

futebolística”:

Esta estrutura, uma espécie de “unidade futebolística”, caracteriza-se por: a) duas equipes (principio da coletividade); b) perseguindo objetivos idênticos, porém assimétricos (principio do conflito); c) sendo a disputa mediada por um objeto (princípio da evitação, mas não da interdição do corpo-a-corpo); d) um conjunto de regras (circunscrevendo o espaço, o tempo, e o ilícito, dentre o qual se destaca o uso das mãos, salvo exceções, sendo esta uma modalidade de marca diacrítica em relação a outros esportes) (DAMO, 2005, p.36).

A bricolagem seria aquele futebol com a essência do esporte (unidade

futebolística), mas, totalmente flexível quanto às regras e sua organização de jogo, já

que não há uma agência controladora, caso da FIFA no futebol espetacularizado.

Poderíamos incluir nessa matriz a tradicional pelada.

Por futebol bricolado são compreendidas as configurações nas quais se admite as mais diversas variações a partir da unidade futebolística. Como não há agências para controlá-lo, não há limites para a invenção e/ou adequação de códigos situacionais, destacando-se, sobretudo, as distorções em relação ao football association. Poder-se-ia denominá-lo de futebol de improviso ou informal, mas o termo bricolagem é mais apropriado, pois não supõe a idéia de déficit[...] (DAMO, 2005, p.37).

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O futebol de bricolagem é aquele situado no âmbito do amadorismo,

majoritariamente. É aquele praticado no tempo social do não-trabalho, do lazer, do

ócio, da recreação, etc. Muitos acreditam que é no futebol de bricolagem que o “futebol

arte” se desenvolve pioneiramente (DAMO, 2005). “Há quem acredite que o futebol-

arte ou o estilo brasileiro de jogar, exibido por muitos profissionais que atuam nos

principais mercados futebolísticos, seja produto da socialização primária em

configurações de bricolagem” (DAMO, 2005, p.38).

Uma segunda matriz definida por Damo é a escolar. Segundo o autor há

diferença entre o futebol praticado dentro das aulas de educação física e aquele

praticado no recreio no pátio, este último pertencente mais a matriz da bricolagem, pois,

o pátio é um espaço menos institucionalizado do que a sala de aula. (DAMO, 2005)

Nesse sentido, Damo (2005) considera aquele futebol praticado nas escolas,

integrado aos conteúdos da educação física, como parte das disciplinas legalmente

constituídas. Também é incluído nessa matriz “o futebol praticado nas “escolinhas

esportivas” dentro das escolas e que possuem uma dinâmica própria de organização e

campeonatos específicos entre as instituições educativas”. (SILVA, 2011, p.68). Essa

matriz encontra-se no âmbito do amadorismo, mas, com indícios do profissionalismo.

A próxima matriz apresentada por Damo (2005) é, provavelmente, a mais

conhecida e difundida mundialmente, especialmente pelos meios midiáticos, principais

responsáveis pela disseminação deste tipo de futebol e da popularização no país.

Estamos falando da matriz espetacularizada ou de alto rendimento, assim caracterizada

pelo autor:

O futebol espetacularizado caracteriza-se, em termos gerais, por particularidades dentre as quais três se destacam. A mais importante é sua organização de forma monopolista, globalizada e centralizada através da FIFA-IB. A FIFA e suas afiliadas – as confederações e abaixo delas as federações nacionais e, em países como o Brasil, estaduais – organizam eventos (campeonatos, torneios, copas, etc.), estabelecem normas para as relações entre clubes e controlam a circulação dos atletas e de boa parte do comércio de imagens, uma das principais fontes de receita do futebol. (DAMO, 2005, p.38-39).

Ainda segundo o autor, o futebol espetáculo caracteriza-se pela abundante

divisão social do trabalho, dentro e fora de campo “aliada à distinção clara e precisa

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entre quem pratica e assiste; e a excelência performática exigida dos participantes”

(SILVA, 2011, p.68).

Essa matriz está totalmente inserida no âmbito do profissionalismo, devido

principalmente a característica do trabalho institucionalizado.

É importante ressaltarmos aqui uma outra característica que se incorpora a essa matriz: o trabalho institucionalizado. Do ponto de vista de quem pratica, a matriz espetacularizada é caracterizada pela ação de atletas profissionais, que estabelecem relações institucionalizadas de trabalho com instituições específicas (os clubes), sendo reguladas pela legislação esportiva. Esta é uma característica específica importante e que subsidia a denominação de “profissional” para esta matriz e de “amador” para as demais (SILVA, 2009, p.20-21).

Por último, nos resta a matriz denominada por Damo (2005) de comunitária e a

que mais se aproxima do futebol amador. Segundo o autor, esta matriz caracteriza-se

pela “presença de quase todos os componentes do espetáculo, mas diferindo em escala

(DAMO, 2005, p.42). A divisão social do trabalho não é nula, mas precária”. Essa

matriz encontra-se entre a matriz bricolada e a espetacularizada. O futebol que melhor a

caracteriza é o chamado futebol de várzea ou futebol amador. Tema que será abordado

mais detalhadamente no próximo capítulo.

Todos os times de várzea têm um técnico e quase todos têm também um dirigente e um massagista, diferindo da bricolagem, portanto. Entretanto, o técnico de várzea não é remunerado e nem treina a equipe durante a semana. Nos jogos, os papéis são, de início, bem definidos e até especializados, mas não deve causar surpresa se o centroavante, a certa altura, for jogar de goleiro; ou se um atleta que atuava na ponta-direita, e fora substituído antes do intervalo, reaparecer como beque de espera nos minutos finais da partida. Entrar e sair deste circuito não demanda o mesmo capital corporal do profissionalismo, mas também não é tão poroso quanto o futebol bricolado (DAMO, 2005, p.42).

De acordo com Silva (2011) em seu estudo sobre o futebol amador recifense, na

parte onde compara o futebol da segunda divisão profissional e o futebol amador, foram

percebidas diferenças pouco perceptíveis entre ambos.

Questões como espaço físico (os considerados estádios, mas que podem ser mais bem visualizados se dissermos campos de várzea com sede), organização clubística (desde as questões documentais como estatuto e atas, até a existência de um grupo de dirigentes) e existência

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de várias equipes (com as subdivisões específicas tais como: infantil, juvenil, adulto e veterano; este último predominantemente das equipes amadoras), entre outras, retém características similares nas duas matrizes (SILVA, 2011, p.69)

Portanto, Damo (2005) deu uma importante contribuição para entender os

diferentes tipos de “futebóis” e suas diferentes práticas futebolísticas, que seguem uma

mesma unidade futebolista, ora no âmbito do amadorismo, ora no profissionalismo.

Considerando todas as possibilidades de entendimento e prática do futebol

apresentados nessa seção, fica evidente sua complexidade e importância para o campo

de estudos da educação física, principalmente, mas também discutido no campo da

sociologia. Como campo de estudos, o esporte foi sendo descoberto como uma prática

social e cultural importante, capaz de aproximar pessoas, causar ódio, ser usado para

interesses de controle social. Enfim, o futebol é, ao mesmo tempo, uma prática que pode

gerar possibilidades emancipadoras e conformadoras, sua compreensão dentre os

estudiosos da área viria entre sua importância como ópio do povo, prática carregada de

preceitos hegemônicos e dominadores e entre sua importância como prática cultural e

identitária de um grupo social e, até, de uma nação toda.

A próxima seção será destinada para compreendermos melhor esse olhar

complexo e contraditório do esporte, tentando compreender, em particular, como sua

prática pode gerar tanta comoção e envolvimento do povo brasileiro

19

3.1 O futebol amador

Contrapondo aquele futebol espetáculo que assistimos na mídia esportiva,

atualmente, encontramos um futebol que não recebe o mesmo destaque pelos meios

midiáticos, mas, que teve e tem ainda grande relevância para a construção e evolução

deste futebol atual que considera o futebol de alto rendimento como referência para

todos os outros “futebóis”.

Para falarmos em futebol nos dias de hoje, é importante destacarmos a que modalidade ou tipo estamos nos referindo. Como nos alerta Damo (2003), não devemos nos restringir à existência de um futebol, e sim admitirmos a existência de “futebóis”. Porém, para continuar sendo considerada como futebol, estas práticas precisam possuir uma estrutura comum, através da qual são conhecidas e reconhecidas socialmente (SILVA, 2009, p. 18)

Nós nos concentraremos aqui no futebol amador ou futebol de várzea que é

assim caracterizado por Silva (2011), em seu estudo denominado Futebol: amadorismo

em tempos de profissionalismo.

Esse futebol caracteriza-se pela sua prática não profissional, realizada em campos localizados nas “várzeas” e/ou outros espaços disponíveis nas cidades, com uma organização predominantemente local. Seu surgimento está vinculado à profissionalização do futebol e sua permanência na cidade acontece apesar da disputa pelos espaços e da monopolização estética de um futebol profissional e de espetáculo (SILVA, 2011, p.69)

De modo geral quem pratica o futebol amador são pessoas que gostam do

esporte e de atividades físicas, e que dedicam parte de suas vidas a este tipo de

ocupação. Eles encontram nestas práticas o prazer, a manutenção da saúde, a forma

física, o convívio com amigos, uma forma de aliviar o estresse da vida corrida que

temos, hoje em dia (GOERG, 2010).

“O jogo de futebol compreende mais que um tempo destacado da rotina

cotidiana, trata-se de um tempo de recuperação, um tempo de terapia, de forma que o

ator social pode esquecer-se de seus problemas pessoais e domiciliares” (VALENTIN E

CAVICHIOLLI, 2007 apud GOERG, 2010, p.9).

As pessoas que praticam o futebol amador caracterizam-se por possuir o perfil

de quem trabalha em carga horária completa durante toda a semana e costuma fazer uma

20

atividade física, no caso jogar futebol, aos fins de semana, ou até mesmo são ex-

jogadores profissionais (GOERG, 2010). Além disso, existem ainda nesse grupo

jogadores que chegaram a ser profissionais, mas, não conseguiram prosseguir na

carreira, ou tiveram passagem pelas categorias de base de algum clube, e que vivem de

premiações e bonificações pagas pelos clubes de várzea através das participações em

torneios ou campeonatos amadores das cidades. (GOERG, 2010)

No entanto, Witter (2003) também nos apresenta outra realidade do futebol

amador onde os jogadores e organizadores acabam não recebendo qualquer valor em

dinheiro como recompensa por vitórias em campeonatos e possíveis títulos ou pela

organização destes campeonatos, mas ressaltando que há exceções. O autor afirma que o

que ainda acontece hoje em dia, é o jogador amador “pagando” para jogar (WITTER,

2003).

Sempre me impressionei muito com essas práticas da várzea paulistana, onde há qualquer quantia de dinheiro envolvida (há exceções, é bom deixa claro), como recompensa a jogadores e organizadores. O que acontece, ainda hoje, é que o jogador “paga” para jogar, pois dele se cobra uma taxa para as despesas mais simples como a lavagem de uniformes, gasolina dos carros que levam os atletas e coisas que tal (WITTER, 2003, p.162).

Vários cenários podem existir, com relação aos jogadores do futebol amador, no

que diz respeito aos objetivos de quem pratica esse esporte. Isso se deve a grande

diversidade social de jogadores que praticam este tipo de futebol, desde classes sociais

mais baixas até as de maior poder econômico.

Sendo assim, podemos observar que no futebol de várzea pode haver diversos objetivos diferentes envolvidos, pois conta-se com uma grande variedade de jogadores, isto é, aqueles que buscam praticar sua atividade física da semana, ou os que ainda desejam ingressar no futebol profissional e utilizam o futebol de várzea como “trampolim”, ou os que estão somente interessados no dinheiro pago por algumas agremiações do futebol de várzea, ou aqueles que querem algum status na sua comunidade, ou os que estão lá pelo lazer propriamente dito, etc (GOERG, 2010, p.9-10).

Essa característica do futebol amador mostra a sua multiplicidade, além de sua

gama de possibilidades de atuação. O futebol amador confronta jogadores que podem

ou não ter o mesmo objetivo. O que pode ou não influenciar no andamento da partida ou

21

então na sequência do campeonato ou torneio. A motivação daquele jogador

(geralmente, os mais jovens) que sonha ser visto por um “olheiro” e, migrar para o

futebol profissional, imagina-se ser maior do daquele que apenas joga em busca do

prazer (possivelmente, aqueles chamados de veteranos), mas é claro que isso é apenas

uma hipótese, que não corresponde sempre à realidade. Essa ilusão dos jogadores mais

jovens pela vida de jogador profissional está associada à imagem da fácil ascensão

social, sem muito esforço digamos assim, pela carreira de jogador que eles assistem na

televisão nos grandes jogos (GOERG, 2010). De fato a mídia é a principal responsável

por esse pensamento equivocado. Pois, como pesquisas recentes já realizadas, como a

de Alcântara (2006), comprovaram que uma parcela muito pequena de quem é

classificado como jogador profissional atinge o status da fama e recebem salários

milionários.

A transformação do esporte mais popular do planeta Terra em "vitrine constante" e, é verdade, em algo globalizante (no sentido de amplitude e de acesso rápido) vem fazendo que os garotos e/ou pré-adolescentes "entendam" o futebol como uma atividade naturalmente fácil de ser exercida, e ainda mais fácil de ser alcançada. A internet e a televisão têm grande parcela de responsabilidade nisso. Com o manejo simples do mouse ou do controle remoto, a criança e/ou o adolescente pode ter a informação que desejar a respeito dos jogadores e dos clubes preferidos, além de assistir aos campeonatos espanhol, alemão, inglês e italiano. A brutal exposição dos jogadores bem-sucedidos na mídia, sempre ligados à fama, à "aquisição" das mulheres mais bonitas e fortunas de dinheiro tem tornado esse sonho infanto-juvenil algo assustadoramente distante da realidade brasileira, mas, paradoxalmente, "parte" dessa mesma realidade. De repente, baseado em alicerce nenhum — a não ser o da idealização de um projeto —, o garoto faz uma projeção desconectada da própria realidade. É como se as crianças-adolescentes entendessem que os Ronaldos, "Kakás" e "Robinhos" representassem o verdadeiro cenário do futebol profissional. No áspero cotidiano do jogador profissional, a dor e a pobreza estão associadas quase umbilicalmente à prática desse esporte. A pirâmide salarial do futebol brasileiro mostra que 76% de todos os jogadores profissionais atuando no país ganham até dois salários mínimos (cerca de R$ 700,00) mensais, 21% faturam entre dois e 20 salários mínimos, e apenas 3% ganham acima de 20 salários mínimos (Rogério Ceni e Ricardinho, os únicos que atuam no Brasil convocados para a Copa, na Alemanha, ganham cerca de R$ 300 mil cada um). (ALCÂNTARA, 2006, p.297-298)

Essa questão levanta por Alcântara é muito rica de informações, contradições e

apontamentos e, por isso, necessitaria de um estudo mais aprofundado sobre o tema, que

é objeto nesse estudo.

22

Em seu estudo sobre o futebol amador em Juazeiro do Norte, Gonçalves (2002)

por meio de observações desse fenômeno identificou-o como uma realidade única, “mas

constituído de diferenças internas que permitiu, em princípio, compor dois tipos de

futebol amador” (GONÇALVES, 2002, p.43). A autora, a partir de suas observações e

não pela fala dos sujeitos envolvidos, dividiu o futebol amador, para melhor refletir

sobre o tema, em duas categorias distintas as quais chamou de jogos “aberto” e jogos

“fechados”. Foi uma tentativa de Gonçalves (2002) agrupar as características

semelhantes em tornos desses dois tipos de jogos. Nisso, poderemos encontrar jogos

“abertos” com certas características de jogos “fechados” ou vice-versa (GONÇALVES,

2002). Compreende-se por jogos “abertos”:

Nos jogos “abertos” não há times previamente formados, os jogadores vão chegando, alguns do trabalho, outros de casa, alguns já se encontram na rua, eles vão surgindo como se tivessem marcado um encontro uns com os outros. É certo, o encontro foi marcado sim, porém os candidatos a jogadores somente ali, no momento imediatamente anterior ao jogo é que vão decidir quem irá jogar primeiro, ou em que times irão atuar. A escolha dos jogadores de cada time é feita da seguinte forma: os responsáveis pelo campo, ou, algum jogador veterano

2, escolhem alternadamente, quem vai compor o time

e cada um, fica responsável por uma equipe. O jogador que faz a escolha dos demais jogadores para formar o time, comumente passa a ser responsável pelo time enquanto acontece o jogo naquele momento, sendo o único a ter o direito de fazer alterações no decorrer da partida. (GONÇALVES, 2002, p.43).

Segundo Gonçalves (2002), os jogos abertos ocorrem durante a semana, no final

da tarde, até as 18:00h, aproveitando a luz natural do dia. A duração da partida é

definida pouco tempo antes do começo dos jogos, assim como a forma de disputa, pois

sempre há algum jogador de fora da partida, esperando para jogar ou então um time

inteiro. O mais comum é determina um tempo ou uma quantidade de gols, prevalecendo

o que acontecer primeiro. Em caso de empate ocorre a disputa de pênaltis, para

conhecer o vencedor da partida. Mas, podem ser combinadas outras formas de

desempate, combinadas, anteriormente ao início do jogo. O árbitro nem sempre se faz

presente, ou então o árbitro pode ser um dos próprios jogadores que espera a vez para

jogar, sem experiência alguma com arbitragem.

2 O termo “veterano” é utilizado para designar os jogadores com idade acima de 40 anos, e está mais

relacionado à experiência adquirida através da vivência, com a prática do futebol, d o que com a idade,

propriamente (Ghiggi, 2012).

23

O vestuário, que não pode ser chamado de uniforme, pois, não segue um padrão

utilizado por todos os jogadores do mesmo time, é o mínimo possível. Apenas uma

bermuda, camisa, tênis ou chuteira. Porém, o mais comum para diferenciar os times são

os times com camisa e o sem camisa. E o juiz para se diferenciar dos demais amarra

uma camisa na cabeça ou um boné. (GONÇALVES, 2002)

A partir da localização do campo onde ocorrem os jogos “abertos” “pode haver,

não diria torcedores, mas espectadores, diferente dos que ficam “azarando” o jogo, pois

os espectadores não desejam jogar, e os que ficam “azarando” estão só esperando a

oportunidade ou o convite para jogar” (GONÇALVES, 2002, p.44). Para novos

jogadores participarem, usa-se o critério criado pelos jogadores antigos de cada campo

de futebol. É exemplo de um critério para a aceitação de um novo jogador, a

assiduidade do mesmo nos jogos, ou seja, aquele que participa com frequência. Um

outro critério é a indicação por algum jogador. (GONÇALVES, 2002)

A segunda divisão do futebol amador proposta pro Gonçalves (2002) são as dos

jogos “fechados”, assim definidos pela autora:

Nos jogos “fechados” os times já se encontram formados anteriormente, tendo inclusive um nome. Existe uma pessoa responsável pelo time, conhecida popularmente como ''dono do time'', geralmente um ex-jogador, um aficionado por futebol. Pode ainda figurar como ''dono do time'', jogadores, embora não seja muito comum este caso, pois comumente o ''dono do time'' não joga. Ele é a pessoa responsável por agendar os jogos com outros times, comunicar a seus jogadores os horários e dias de jogo, buscar patrocínios, distribuir e recolher o uniforme do jogo, providenciar água durante a

partida, entre outros encargos (GONÇALVES, 2002, p.45)

A citação acima exemplifica bem como é se organiza uma equipe de futebol

amador nos jogos “fechado”. Assim como no futebol profissional, especialmente, os

jogos fechados obedecem a certas regras que dizem respeito à organização dos times

(uniforme, equipamentos...) e um campo, para que ocorram os jogos. “Os jogos

“fechados” acontecem no final de semana ou feriados, geralmente nas tardes de sábado,

manhãs e tardes do domingo” (GONÇALVES, 2002, p.45). Com relação à arbitragem

nos jogos, “o juiz pode ser alguém convidado especialmente para esta função ou outra

pessoa escolhida de comum acordo pelos "donos dos times" que irão jogar a partida.

Geralmente o time de "casa", ou seja, o time que recebe, cede o juiz para apitar o jogo”.

(GONÇALVES, 2002, p.45).

24

A autora faz uma relação entre os jogos “abertos” e os jogos “fechados”. As

formas de organização, no que se refere ao tempo e ao local disponível para os jogos, o

dinamismo dos jogos e a maneira de administrar os jogos são as principais difere nças.

(GONÇALVES, 2002). Os jogos “abertos” são mais característicos da zona urbana,

enquanto que os jogos “fechados” acontecem tanto na zona urbana como na zona rural.

(GONÇALVES, 2002) Os jogadores podem transitar entre os jogos “abertos” e os jogos

“fechados”, ou seja, um jogador pode fazer parte de um time organizado por um “dono”

e pode também jogar nos jogos “abertos”.

Portanto, a partir dessa descrição de Gonçalves (2002), percebemos o quanto o

futebol amador, também, é rico de significados e possib ilidades de sua prática. Não se

limitando em apenas um tipo de futebol amador, mas em vários tipos de “futebóis

amadores”.

25

4. Análise de uma equipe amadora em Corumbá/MS

O campeonato amador de futebol de Corumbá 2014 é uma competição

organizada pela Liga de Esportes de Corumbá (LEC) em parceria com a Fundação de

Esportes de Corumbá (FUNEC). Com o objetivo de difundir a prática do esporte na

cidade, este campeonato vem crescendo e ganhando mais em organização e

competitividade. Participam deste campeonato neste ano doze equipes. O campeonato

inicia-se sempre no segundo semestre de cada ano, e o campeão e vice-campeão de cada

edição são premiados com medalhas, troféus e uma quantia em dinheiro, estabelecida no

regulamento da competição, previamente elaborado e acordado com todas as

agremiações esportivas que disputarão o campeonato.

Como já foi exposto na introdução deste trabalho, esta pesquisa teve o intuito de

compreender a forma de organização do futebol amador e revelar as intencionalidades

dos sujeitos que compõem o objeto de estudo na cidade de Corumbá/MS, sendo este

nosso principal objetivo. Selecionamos uma equipe dentre às dozes que compõem o

campeonato para esta pesquisa. Além disso, tendo como demais objetivos desta

pesquisa, entender como ocorre a formação dessa equipe, qual a visão que os jogadores

têm do futebol e todas as possíveis características da organização deste campeonato

amador.

A equipe selecionada dentre as dozes equipes participantes foi o Esporte Clube

Vasco da Gama, pelos critérios já mencionados na introdução deste trabalho.

Participaram desta pesquisa o dono do clube, através de entrevista oral, além de quinze

jogadores que se propuseram a responder o questionário proposto.

A equipe selecionada conta com vinte e cinco atletas inscritos no campeonato.

Por ser uma pesquisa onde os sujeitos entrevistados tiveram livre e espontânea vontade

de participar,quinze jogadores se propuseram a participar. Foram realizadas duas

perguntas abertas e cinco perguntas fechadas no questionário entregue e respondido

pelos jogadores. Através das respostas obtidas nos questionários, procuramos realizar

uma análise das possíveis motivações que levaram estes atletas a participar de tal

campeonato, como também comprender possíveis sonhos e desilusões desses atletas

com o futebol amador e a representação do futebol para cada um deles em sua vida. Os

principais objetivos para a prática do futebol citados foram: lazer; socialização com os

amigos; manter a saúde; e tornar-se um jogador profissional. Dois atletas responderam

como objetivo principal da prática do futebol amador ser apenas pelo lazer, quatro

26

atletas pela socialização com os amigos, outros quatro atletas pelo lazer e socialização

com amigos, dois jogadores pelo lazer, socialização e para manter a saúde, somente um

atleta para a socialização e para manter a saúde e por fim somente um atleta que tem o

objetivo de se tornar um jogador profissional. Para melhor análise, elaboramos os

gráficos a seguir para melhor visualização do resultados obtidos. Lazer, Socialização

com os amigos, manter a saúde e torna-se um jogador profissional, são as categorias que

representam os objetivos e motivações destes jogadores que participaram da pesquisa.

Objetivos citados no geral

36%

45%

14%

5%

Lazer

Socialização com os amigos

Manter a saúde

Tornar-se um jogador profissional

Uma possível contradição (ou não)3 encontrada na pesquisa é referente à

ascensão para o futebol profissional. Quando perguntados numa questão, se eles teriam

ambição de ser um jogador profissional, cinco assinalaram que sim, entretanto na

3 Uma possível hipótese é a de que o sonho de ser jogador profissional veio após a participação no

campeonato. Ou o próprio espaço proporcionou algo de diferente para eles que levaram a ter esse desejo.

2

4

1

4

2

1 1

0

0,5

1

1,5

2

2,5

3

3,5

4

4,5

Lazer Socialização

com amigos

Ser jogador

profissional

Lazer e

socialização

Lazer,

socialização

e saúde

Socialização

e saúde

Não

responderam

27

pergunta anterior quando perguntados pelos motivos de estarem ali, somente um

jogador considerou se tornar um jogador profissional.

“Tenho vontade de ser jogador profissional, mas pela minha idade não tenho

mais esperança” (SUJEITO 5, Questionário, 2014)

A fala acima é de um jogador que participou da pesquisa e que retrata a

realidade do futebol amador. Uma manifestação do esporte que convive com sonhos,

frustações, tanto como no futebol profissional. Um jogador amador que almeja ingressar

num clube profissional se compara um atleta que já é profissional num time, mas que

sonha se transferir para uma grande equipe, mais relevante no cenário nacional e

internacional do que aquela que ele está jogando. Ambos têm um sonho, mas por vezes

pode acabar frustado caso não venha a se tornar realidade.

Ambição de ser jogador profissional

Idade

Sujeito 1 não 35

Sujeito 2 não 27

Sujeito 3 sim 17

Sujeito 4 não 30

Sujeito 5 sim 34

Sujeito 6 sim 23

Sujeito 7 sim 28

Sujeito 8 não 40

Sujeito 9 não 25

Sujeito 10 sim 25

Sujeito 11 não 41

Sujeito 12 não 35

Sujeito 13 não 31

Sujeito 14 não 29

Sujeito 15 não 36

Podemos observar na tabela acima que cinco (33%) dos jogadores da pesquisa

têm a ambição de ser jogador profissional e 10 (67%) não apresentam mais essa

ambição. Observamos jogadores bem jovens, como o sujeito 3, de apenas dezessete

anos de idade e outros sete com idade entre vinte e três e trinta anos. Jogadores mais

experientes entre os trinta e um e trinta e nove anos são 6 atletas. Já os considerados

“veteranos”, aqueles acima dos 40 anos, são dois nesta pesquisa. Com já foi possível

28

observar na fala do sujeito 5, exemplificada mais cima, o sonho de ser jogador

profissional está presente numa parcela de jogadores. Uns alimentam esse sonho,

mesmo considerando ter uma idade elevada para tal e que ser ia muito difícil essa

realização. Um sonho que pode (ou não) ser o sonho da maioria dos brasileiros.

Quando a pergunta foi referente se eles acreditavam que o futebol amador que

eles participavam poderia ser uma vitrine para ingressar numa equipe profissio nal, a

maioria esmagadora respondeu que sim, num total de quatorze atletas. Somente um

atleta respondeu não acreditar que o futebol amador seja uma vitrine para o futebol

profissional.

Vitrine para o futebol profissional

93%

7%

sim

não

Como salienta Witter (2003) em seu estudo, muitos jogadores recebem dinheiro

para participar de jogos amadores, entretanto há excessos, casos que os próprios

jogadores acabam “pagando” para jogar. Um ponto que foi tocado em nossa pesquisa

também. Perguntamos aos atletas se eles recebiam alguma ajuda de custo ou salário fixo

para jogar. Nessa resposta recebemos uma resposta unânime: não. Questionamos então

o dono do time, como ele mantinha o clube com despesas básicas como uniformes,

lavagem dos uniformes e transporte dos atletas. Com relação aos uniformes, todas as

equipes receberam da prefeitura da cidade (que incentiva o esporte na região), kits de

uniforme com camisas, shorts e meiões, além de duas bolas e uma bolsa de massagem.

No entanto, para as despesas com lavagem dos uniformes, o dono do time é quem se

responsabilizava com esses gastos e, no quesito transporte cada atleta era responsável

pelo seu deslocamento até o local do jogo. Percebe- se então que esses atletas acabam

“pagando” para jogar, pois têm gastos que são pagos do próprio bolso.

29

Segundo Goerg (2010), no futebol amador existem aqueles jogadores que

chegaram a ser profissionais, mas que não seguiram na carreira. Este ponto também foi

explorado em nossa pesquisa. Foi perguntado aos atletas em nossa pesquisa se eles já

haviam sido jogadores profissionais. Sete responderam positivamente e oito

negativamente. O futebol profissional que ainda causa muita ilusão em algumas

pessoas, de que é um trabalho fácil e de altos salários e uma forma de ascensão social

rápida. O que tem se mostrado através de pesquisas é ao contrário. O que observamos

na pesquisa de Calil (2012), onde oitenta e dois por cento (82%) dos jogadores

profissionais recebem até dois salários mínimos. São poucos os jogadores que consegue

uma oportunidade num grande clube brasileiro ou do exterior. O que podemos levantar

como hipótese para o não prosseguimento de atletas que foram profissionais na carreira.

As dificuldades encontradas e toda a frustação tida podem ter influenciado na não

continuidade no futebol profissional.

Também foi perguntado aos atletas da equipe o que representava o futebol para

eles. Uma gama de respostas variadas foram dadas, das mais elaboradas até aquela com

uma simples palavra, mas que demonstra bem o que o futebol é para este atleta, e por

que não para tantos outros, que assim respondeu: “paixão”.

O que representa o futebol para você

Sujeito

1 "Lazer, esporte, qualidade de vida, amizade, companheirismo"

Sujeito 2 "Representa alegria, harmonia e felicidade"

Sujeito 3 "Futebol é tudo na vida do brasileiro. Amo jogar futebol"

Sujeito

4

"Além de ser a modalidade mais conhecida e praticada no mundo todo, representa

qualidade de vida, amizade"

Sujeito 5 "Muita coisa. Melhor coisa de todas"

Sujeito 6 "Momentos bons e grandes aprendizados"

Sujeito

7 Não respondeu

Sujeito 8 "Além de uma atividade física, é uma qualidade de vida saudável"

Sujeito 9 "Tudo de bom para o corpo, mente e coração. Dar uma relaxada"

Sujeito

10 "Tudo que represente a felicidade da prática esportiva - fator essencial"

Sujeito 11 "Tudo de bom"

Sujeito 12 "Minha vida. Além de gostar de praticar, sempre trabalhei na área"

Sujeito "O futebol representa tradição. Tudo. É uma coisa que eu gosto e ninguém vai tirar isso,

30

13 só Deus e se puder dou o sangue na cara"

Sujeito

14 "Esporte, saúde e lazer"

Sujeito 15 "Paixão"

Outro objetivo de nossa pesquisa foi descobrir como se dá as possíveis

formações dessas equipes. Para tal, realizamos uma entrevista oral com o dono do time

para tentar compreender esse processo. Segundo o mesmo, a principal ligação para

formar o seu time foi à relação de amizade. O dono do time convida atletas que já são

seus conhecidos, atletas esses que já participavam ou participam de outros campeonatos

amadores e que acabam convidando outros atletas para formar a equipe. O dono do que

time que é um ex- praticante do futebol amador, e que hoje mantém o seu amor pelo

esporte fora das quatro linhas. Segundo ele, o futebol amador melhorou bastante do

tempo em que ele praticava para os tempos atuais, hoje em dia, ele é mais valorizado

tanto por quem joga, tanto por quem assiste. No campeonato amador em Corumbá

2014, o dono do time do considerou como principal ponto positivo o incentivo da

prefeitura para com o esporte, com a doação dos kits esportivos. E indicou como

principal ponto negativo a cobrança em ingresso para adentrar ao local do jogo para

assistir as partidas, o que na visão dele afasta as pessoas de assistirem os jogos. A

equipe do Esporte Clube Vasco da Gama é formada por atletas desde aqueles bem

novos que ingressaram pela primeira vez neste campeonato com aqueles de idade mais

avançada que estão quase parando de praticar o esporte e deixando o clube.

O campeonato amador de futebol de Corumbá 2014 mostra-se bastante

organizado, desde a criação de seu regulamento até a realização dos jogos,

assemelhando-se muito ao futebol profissional. Todos os jogos são realizados no

Estádio Arthur Marinho. Na perspectiva de Gonçalves (2002) sobre a divisão sobre o

futebol amador, vista na seção anterior, o jogos do campeonato realizado em Corumbá

enquadram-se na classificação de jogos “fechados”

Nos jogos “fechados” os times já se encontram formados anteriormente, tendo inclusive um nome. Existe uma pessoa responsável pelo time, conhecida popularmente como ''dono do time'', geralmente um ex-jogador, um aficionado por futebol. Pode ainda figurar como ''dono do time'', jogadores, embora não seja muito comum este caso, pois comumente o ''dono do time'' não joga. Ele é a pessoa responsável por agendar os jogos com outros times, comunicar a seus jogadores os horários e dias de jogo, buscar patrocínios,

31

distribuir e recolher o uniforme do jogo, providenciar água durante a

partida, entre outros encargos (GONÇALVES, 2002, p.45)

Fica evidente então o quanto o futebol amador pode se destacar em questão de

organização, planejamento, estruturação e comprometimento dos atletas. Claro que os

diferentes objetivos dos atletas podem influenciar no resultado final, na questão de

competitividade, no entanto, no Campeonato Amador de Corumbá, nesta equipe

observada, podemos perceber que apesar dos diferentes objetivos de cada jogador, a

vontade de vencer cada partida, em busca do título de campeão, acaba tornando-se um

só objetivo.

32

5. Considerações finais

Podemos perceber na realização deste trabalho a gama de possibilidades e a

multiplicidade de manifestações que o futebol pode ter. Constatamos que não existe um

único tipo de futebol, mas sim, vários “futebóis”. Além disso, encontramos na literatura

estudada algumas possíveis razões pelas quais o futebol tornou-se um esporte tão amado

e adorado pelos brasileiros por todos esses anos. Claro que outros fatores podem e

devem existir, não creditando somente aos expostos na pesquisa como únicos e

inabaláveis.

O futebol amador aparece como uma dessas manifestações do futebol que se

mostra rico de significações e possibilidades.

Buscamos compreender com nossa pesquisa por meio dos atletas amadores a (s)

motivação (ões) que estes possuem para participar do campeonato amador de Corumbá

2014, organizado pela Liga de Esportes da cidade. Concluímos que são variados os

objetivos pelos quais estes atletas buscam esse esporte. Objetivos estes como promoção

da saúde, lazer, socialização com os amigos e busca pelo profissionalismo.

Tivemos como respostas mais freqüentes o lazer e a socialização com os amigos.

Percebemos essa socialização, primeiramente, pela forma como ocorre a formação da

equipe, onde um atleta convida um outro atleta, especialmente pelo nível de amizade

entre ambos. Atletas esses que já tem um convívio social e que por vezes já praticaram

o esporte juntos.

A prática do futebol amador além de ser um modo de convivência com os

amigos, uma forma de escape da correria do dia-a-dia, também foi citado como uma

forma de manutenção da saúde. O que mostra a consciência desses jogadores da

importância de se praticar uma atividade física.

Por fim, o presente estudo procurou compreender a forma do futebol amador e

revelar as intencionalidades dos sujeitos que compõem o objeto de estudo, no c aso do

futebol amador de Corumbá/MS. Não se esgotando aqui ou sendo suficiente para uma

análise mais concreta, mas, que permite uma base de estudo e de investigação para

novas pesquisas.

33

6. REFERÊNCIAS

ALCÂNTARA, Hélio. A magia do futebol. Disponível em: < http://www.scielo.br/pdf/ea/v20n57/a21v2057.pdf >. Acesso em: 05 jun. 2014.

CALIL, Lucas. Triste realidade: no Brasil, 82% dos jogadores de futebol recebem

até dois salários mínimos. Disponível em: < http://extra.globo.com/esporte/triste-

realidade-no-brasil-82-dos-jogadores-de-futebol-recebem-ate-dois-salarios-minimos-6168754.html>. Acesso em : 11 dez. 2014

DAOLIO, Jocimar. Cultura, Educação Física e Futebol. 3º ed. Campinas: Editora da Unicamp, 2006.

DAMATTA, Roberto. Antropologia do Óbvio: Notas em torno do Significado do Futebol Brasileiro". Revista USP, Dossiê Futebol, nº 22, 1994.

DAMATTA, Roberto et al. Universo do futebol: esporte e sociedade brasileira. Rio de

Janeiro: Pinakotheke, 1982. DAMO, Arlei Sander. DO DOM À PROFISSÃO: Uma etnografia do futebol de

espetáculo a partir da formação de jogadores no Brasil e na França. 2005. 435 f. Tese (Doutorado) - Curso de Antropologia Social, Universidade Federal do Rio Grande do

Sul, Porto Alegre, 2005. GHIGGI, Micheli Vergínia. Liga de Veteranos do Rio Grande: formas de lazer e

singularidades futebolísticas. 2012. 103 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Educação Física, Universidade Federal de Pelotas, Pelotas, 2012.

GOERG, Marcelo. Futebol na Várzea: uma investigação sobre os valores presentes no cotidiano da prática. 2010. 25 f. TCC (Graduação) - Curso de Educação Física,

Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2010.

GONÇALVES, Alana Mara Alves. Futebol Amador: Campo Emergente de Sociabilidade. 2002. 97 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Sociologia, Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, 2002.

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WITTER, José Sebastião. Futebol: um fenômeno universal do século XX. Revista

USP, São Paulo, v. 58, p.161-168, jun. 2003.

35

7. Anexos

1. Questionário – motivações de um grupo de jogadores para a

prática do futebol amador em Corumbá/MS

Nome: ________________________________________________________________ Idade: __________

Profissão: _________________________________________

1) O que representa o futebol para você?

____________________________________________________________________________________________________________________________________________

______________________________________________________________________

2) Por qual (is) motivo(s) você decidiu participar deste campeonato?

Exemplos: Lazer / Fonte de renda / Tentar ser um jogador profissional / Socialização com os amigos

______________________________________________________________________

____________________________________________________________________________________________________________________________________________

3) Você tem ambição de ser jogador profissional num grande time dentro do Estado ou até fora do mesmo?

( ) sim ( ) não

4) Você acredita que o futebol amador que você está participando pode ser uma vitrine para uma equipe profissional?

( ) sim ( ) não

5) Você já participou de outros campeonatos amadores?

( ) sim ( ) não

6) Você recebe alguma ajuda de custo ou salário fixo para participar dos jogos deste campeonato em questão?

( ) sim ( ) não

7) Você já foi jogador profissional?

( ) sim ( ) não

36

2. Termo de consentimento livre e esclarecido

Você está sendo convidado/a a participar da pesquisa intitulada: MOTIVAÇÕES

DE UM GRUPO DE JOGADORES PARA A PRÁTICA DO FUTEBOL AMADOR EM CORUMBÁ/MS, orientado pelo professor Doutor Fabiano Antonio dos Santos, professor da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul.

Esta pesquisa de graduação de Jefferson Fernandes da Silva Brito, tem o objetivo de descobrir as motivações de um grupo de atletas do futebol amador a

praticarem esse esporte e como se dá a formação dessa equipe. Cabe esclarecer que suas respostas serão tratadas de forma anônima e

confidencial, isto é, em nenhum momento será divulgado o seu nome em qualquer fase

do estudo. As informações coletadas serão usadas apenas nesta pesquisa cujos resultados serão divulgados em eventos e/ou revistas científicas.

Sua participação é voluntária, isto é, a qualquer momento você pode recusar-se a responder qualquer pergunta ou desistir de participar e retirar seu consentimento. Sua recusa não trará nenhum prejuízo em sua relação com o pesquisador ou com a

instituição em que trabalha. Caso concorde em contribuir com a realização desta pesquisa, por favor, assine e date a autorização abaixo.

Jefferson Fernandes da Silva Brito

Cel.: (67) 8125-3568 e-mail: [email protected]

-------------------------------------------------------------------------------------------------------------

Declaro estar ciente do inteiro teor deste TERMO DE CONSENTIMENTO e estou de

acordo em participar do estudo proposto, sabendo que dele poderei desistir a qualquer momento, sem sofrer qualquer punição ou constrangimento.

Sujeito da Pesquisa: ______________________________________________

(assinatura)

__________________________, _______ de _________________ de

2014. (Cidade) (dia) (mês)