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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL CURSO DE LETRAS EDMARA CARDOSO LEITURA E PRODUÇÃO ESCRITA NA ESCOLA: quando a inserção de projetos colabora para o desempenho do aluno em língua portuguesa Aquidauana 2016

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL

CURSO DE LETRAS

EDMARA CARDOSO

LEITURA E PRODUÇÃO ESCRITA NA ESCOLA: quando a inserção de projetos

colabora para o desempenho do aluno em língua portuguesa

Aquidauana

2016

EDMARA CARDOSO

LEITURA E PRODUÇÃO ESCRITA NA ESCOLA: quando a inserção de projetos

colabora para o desempenho do aluno em língua portuguesa

Trabalho de conclusão de curso apresentado ao

curso de Letras da Universidade Federal de Mato

Grosso do Sul (UFMS), habilitação

Português/Literatura, como requisito parcial para a

obtenção do título de licenciado em Letras.

Orientadora: Profª Dra. Janaína Zaidan Bicalho

Fonseca

Aquidauana

2016

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL

CURSO DE LETRAS

LEITURA E PRODUÇÃO ESCRITA NA ESCOLA: quando a inserção de projetos

colabora para o desempenho do aluno em língua portuguesa

Trabalho de Conclusão de Curso defendido

publicamente no Curso de Letras da Universidade

Federal de Mato Grosso do Sul, Campus de

Aquidauana, e aprovado pela seguinte banca

examinadora:

_______________________________________________________________

Profa. Me. Lurdes Batista Monteiro - UFMS

_______________________________________________________________

Profa. Me. Janaína Nogueira Maia Carvalhos - UFMS

_______________________________________________________________

Profa. Dra. Janaína Zaidan Bicalho Fonseca (orientadora) – UFMS

Aquidauana, _______ de __________ de _________.

AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus, a quem devo minha vida, pela sabedoria, por iluminar minha

mente a respeito do que fazer e escrever.

Agradeço à minha mãe que sempre me apoiou nos estudos e nas escolhas tomadas, por

sempre me incentivar e me compreender nos momentos difíceis.

Agradeço, em especial, ao meu esposo Julio César, ao meu filho Isaac, que foram grandes

incentivadores, bem como a compreensão pela minha abdicação do papel de mãe e esposa,

durante quatro anos.

Agradeço à minha orientadora, pelo carinho e atenção, e também pelo papel fundamental na

elaboração do meu trabalho.

Agradeço aos meus colegas pelo companheirismo e disponibilidade para me auxiliar em

vários momentos.

RESUMO

Este trabalho de conclusão de curso tem por objetivo apresentar um estudo sobre a leitura e a

produção escrita de alunos do 6º ao 9º ano do Ensino Fundamental, a partir de sua

participação no projeto Novos Talentos, desenvolvido pela UFMS, em parceria com a

CAPES. Objetiva, assim, através de um trabalho com a diversidade de gêneros textuais, saber

o quanto a inserção de projetos colabora para o desempenho dos estudantes nas aulas de

Língua Portuguesa. Espera-se chegar a esse objetivo com o desenvolvimento de atividades

que enriqueçam o aprimoramento das competências linguísticas, textual, criativa e crítico-

reflexiva. A organização metodológica do trabalho, com vistas ao alcance de seus objetivos,

se valeu primeiramente da participação direta no projeto, além da coleta de dados através de

questionários aplicados aos alunos. Como embasamento teórico, considerei as concepções de

Kleiman (1995), Rojo (2009, 2012), Barré de Miniac (2006), Geraldi (2006) e Brasil (1998).

Palavras chave: Letramento. Gêneros Textuais. Ensino. Projetos.

ABSTRACT

This final paper aims to present a study on reading and written production of students from 6th

to 9th

grade of elementary school, from its participation in the New Talent project, developed

by UFMS, in partnership with CAPES. Objective, so, by working with the diversity of textual

genres, know as the inclusion of projects contributes to the performance of students in

Portuguese classes. Expected reach this goal with the development of activities that enrich the

improvement of linguistic competence, textual, creative and critical-reflexive. The

methodological organization of work, in order to achieve their objectives, primarily earned

from direct participation in the project, in addition to collecting data through questionnaires

given to students. As theoretical framework, considered the conceptions of Kleiman (1995),

Rojo (2009,2012), Barré Miniac (2006), Geraldi (2006) and Brasil (1998).

KEYWORDS: Literacy. Text genres. Education. Projects.

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 7

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ..................................................................................... 12

2.1 CONCEITUAÇÃO DE LETRAMENTO ................................................................................... 12

2.2 GÊNERO TEXTUAL E ENSINO DA LÍNGUA PORTUGUESA ................................................... 17

3 AS OFICINAS ..................................................................................................................... 20

3.1 OFICINA SOBRE O GÊNERO SLOGAN .................................................................................. 20

3.2 OFICINA SOBRE O GÊNERO CARTILHA .............................................................................. 22

4 SALDO DAS OFICINAS ................................................................................................... 26

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................................. 32

REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 33

7

1 INTRODUÇÃO

O trabalho aqui desenvolvido pretende apresentar uma pesquisa sobre leitura e

produção escrita considerando a inserção de projetos que desenvolvam a capacidade letrada

dos alunos, nas aulas de língua portuguesa.

Objetiva-se, por meio de participação direta no projeto “Aquidauana: um rio de

saberes desaguando no pantanal”, desenvolvido por professores da Instituição UFMS -

Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, em parceria com o programa Novos Talentos –

CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), a integração de

alunos e professores da Educação Básica do ensino fundamental juntamente com alunos de

Graduação e Pós-Graduação, tendo como foco principal facilitar a aprendizagem do ensino

abordando questões socioambientais por intermédio do texto. Objetiva-se, também, estimular

a reflexão e a crítica, associando a leitura à efetiva participação como cidadão na sociedade,

tendo o Rio Aquidauana como fator gerador de discussões.

Tais problematizações sugeridas pelo Rio Aquidauana se devem pelo fato deste drenar

o município e possibilitar reflexões acerca do ambiente que rodeia a cidade. Além disso,

possui grande potencial para o desenvolvimento de conteúdos práticos para o ensino. O

projeto, então, surgiu da necessidade de um trabalho que pudesse integrar as diferentes áreas

do saber, utilizando-se de fatos que aproximassem a realidade do cotidiano ao saber científico,

usando o conhecimento já adquirido de alunos/professores e suas diferentes interpretações

como estímulo à participação e contribuição ao projeto.

O referido projeto teve como objetivo facilitar a aprendizagem do ensino através de

atividades práticas e teóricas, como palestras, oficinas, visitas de campo, aulas práticas em

laboratórios e viagens/excursões. Procurou, ainda estimular a leitura e a produção de textos, o

uso das tecnologias e o uso racional dos recursos naturais, abordando questões

socioambientais, além de promover a integração de alunos e professores da Educação Básica

com estudantes de Graduação e Pós - Graduação.

Conforme os PCNs, a inserção de projeto tem sentido bastante positivo:

A característica básica de um projeto é que ele tem um objetivo compartilhado por

todos os envolvidos, que se expressa num produto final em função do qual todos

trabalham e que terá, necessariamente, destinação, divulgação e circulação social

internamente na escola ou fora dela. Os projetos favorecem, assim, o necessário

compromisso do aluno com sua própria aprendizagem, pois contribuem muito mais

para o engajamento do aluno nas tarefas como um todo, do que quando essas são

definidas apenas pelo professor (BRASIL, 1998, p.87).

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Os 25 alunos engajados nesse projeto encontram-se entre o 7º e o 9º ano do Ensino

Fundamental de duas escolas públicas da cidade de Aquidauana. Os alunos participantes

contam com o auxílio dos professores de Ciências, Geografia e Língua Portuguesa dessas

escolas.

Todas as oficinas realizadas pelo projeto foram desenvolvidas no anfiteatro e nos

laboratórios da UFMS-Campus II. Essas oficinas eram ministradas pelos acadêmicos e

professores de diversos cursos da Universidade, que deram suporte aos professores e alunos

das escolas envolvidas, proporcionando ao acadêmico maior contato com a realidade escolar

e, dessa forma, contribuindo para sua formação. Nessas oficinas foram realizadas atividades

de maneira a não reproduzir o ambiente de sala de aula, buscando compartilhar e discutir

assuntos relevantes para os alunos e fomentar produções a partir da experiência dos

participantes.

Todos os alunos e professores participantes do projeto participaram de atividades de

campo, como passeios e excursões. Uma das primeiras atividades foi a descida de barco no rio

Aquidauana, proposta com o intuito de sensibilizá-los acerca da qualidade ambiental do rio, e

sua interferência no ambiente natural. Posteriormente, foram visitar o Museu Dom Bosco e o

Cras - Centro de Recuperação de Animais Silvestres, em Campo Grande – MS, onde foi

possível aos professores e alunos conhecer diferentes aspectos da história, cultura e

diversidade da região. Realizaram uma visita técnica à Base de Pesquisa do Pantanal,

vinculada à UFMS, em que se pretendia ampliar o conhecimento de professores e alunos

sobre a importância das Bacias Hidrográficas e mostrar "in loco" que as ações desenvolvidas

no rio Aquidauana influenciam diretamente no regime de cheias/secas no Pantanal. Visitaram,

ainda, a Empresa de Saneamento da Cidade de Aquidauana, na qual tiveram a oportunidade

de conhecer o processo de tratamento tanto da água como do esgoto da cidade. Essas e outras

atividades despertaram o interesse desses alunos em participarem e continuarem no projeto,

além de uma enorme oportunidade de obter novos conhecimentos.

Para descrever os procedimentos metodológicos, utilizamos as considerações de

Brasileiro (2013), quanto aos fins, aos meios e à abordagem de pesquisa. Esta pesquisa será

conduzida por abordagem qualitativa, meio de pesquisa bibliográfico e de campo, com

finalidades descritivas, explicativas e participativas, ou seja, através do trabalho de pesquisa

pautado fundamentalmente nos textos de alguns teóricos que estudaram sobre as

compreensões das práticas de leitura e escrita, por meio da minha participação como monitora

no projeto, irei descrever os processos de leitura e produção escrita dos alunos nas oficinas ao

longo do projeto. Foram utilizados como corpora produções textuais desses alunos, para

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analisar seu desenvolvimento na prática de leitura e escrita. Além disso, a análise se

fundamentou em um questionário aplicado aos alunos, com o intuito de ter conhecimento do

hábito de leitura dos mesmos.

Sabemos que em todo o momento da nossa vida nos deparamos com a linguagem

escrita: em jornais, revistas, panfletos, cartazes, outdoors, placas de trânsito, e-mails, blogs,

sites, MSN, etc. Um mundo escrito que nos caracteriza como verdadeiros leitores e

navegantes das redes sociais, e a escola, como uma importante agência de letramento, deve

privilegiar esse contato entre alunos e a linguagem.

A leitura e a escrita são fatores importantes na educação escolar, porque constituem

um instrumento necessário para a realização de novas aprendizagens. Isto porque, com o

desenvolvimento econômico, social e tecnológico de uma sociedade letrada, é preciso, além

de ser alfabetizado, saber fazer uso da leitura e da escrita em diversos contextos sociais, tanto

para a vida pessoal quanto profissional. Por isso, cabe ao professor, mediador do

conhecimento nesse processo de ensino/aprendizagem, utilizar uma metodologia de ensino

eficiente que esteja de acordo com as necessidades do aluno, utilizando-se de diferentes

estratégias de ensino com o propósito de formar alunos capazes de usar adequadamente a

língua materna tanto na escrita quanto na oralidade. E que estes possam refletir criticamente

sobre o que leem e escrevem, mas como um hábito cotidiano e prazeroso.

Para os PCN (1998), a leitura possui extrema importância no processo de

ensino/aprendizagem dos alunos, sendo que a partir do desenvolvimento da sua competência

leitora esse aluno poderá tornar-se proficiente em todas as outras áreas do conhecimento. Que

este aluno possa ampliar suas possibilidades de participação social, que leia, escreva, se

expresse e reflita de forma crítica, que sejam capazes de se posicionar sobre o mundo em que

vivem. Segundo os PCN do ensino fundamental de Língua Portuguesa:

A leitura é o processo na qual o leitor realiza um trabalho ativo de compreensão e

interpretação do texto, a partir de seus objetivos, de seu conhecimento sobre o

assunto, sobre o autor, de tudo o que sabe sobre a linguagem etc. Não se trata de

extrair informação, decodificando letra por letra, palavra por palavra. Trata-se de

uma atividade que implica estratégias de seleção, antecipação, inferência e

verificação, sem as quais não é possível proficiência. (BRASIL, 1998, p.69-70).

Aprender a ler e escrever de forma competente é muito mais do que decifrar

mensagens, juntar palavras, é ser capaz de questionar sobre seu conhecimento, construir e

desfrutar da imaginação, é necessário fazer uso eficiente da leitura e da escrita nas diversas

práticas sociais. O professor deve estar consciente desses processos para estimular e motivar

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seus educandos a construírem seu saber-ler e saber-escrever, formando competentes cidadãos

leitores e escritores de texto.

Nesse sentido surgem alguns questionamentos a respeito de como deve ser uma aula

de leitura e escrita. Como planejar práticas de letramento que realmente proporcione uma

construção do conhecimento e melhoria do aprendizado, fazendo com que o conhecimento

tenha sentido para o aluno. Para isso, é necessário que haja a inserção de um método de

trabalho diferenciado, com características dinâmicas, que busque despertar o interesse e a

criatividade do aluno, com o envolvimento entre professores, alunos e toda a comunidade.

Mas se além do trabalho desenvolvido pelo professor em sala de aula, considerarmos o

trabalho com projetos como uma maneira de se chegar mais próximo dos objetivos de uma

educação de qualidade, com o comprometimento dos profissionais da educação e o

envolvimento dos alunos.

Mediante o exposto, essa investigação se norteou pelo seguinte questionamento: será

que a inserção de projetos baseados em práticas de letramento diferenciadas pode favorecer o

ensino e a aprendizagem da leitura e da escrita?

Com base neste questionamento, espera-se saber como a inserção de projetos pode

influenciar no desenvolvimento dos alunos nas aulas de Língua Portuguesa, diminuindo

significativamente as dificuldades de leitura e escrita. Espera-se salientar o quanto é

importante a participação desses alunos em projetos para seu desenvolvimento pessoal e

intelectual, proporcionando uma aprendizagem diferenciada dos padrões de sala de aula,

estimulando a interação professor/aluno/comunidade, sujeitos desse processo, conduzindo os

mesmos a uma transformação, para uma aprendizagem do ensino em diversas áreas do

conhecimento.

Tendo em vista a inserção de projetos que consolidem as práticas de leitura e escrita,

estabelecem-se os seguintes objetivos na realização da presente pesquisa: Em geral, verificar

como a inserção de projetos, que consolidem as práticas de leitura e escrita pode colaborar

para a formação de um sujeito crítico e autônomo.

Visando a esse propósito, apresentam-se os objetivos específicos: Desenvolver

atividades de leitura e escrita que ajudem na formação crítica dos alunos, por meio de um

discurso interdisciplinar; e comprovar que atividades calcadas no ensino de gêneros textuais

variados e em consonância com práticas críticas e reflexivas são capazes de colaborar para

uma formação emancipadora.

Assim, o presente trabalho está dividido em três capítulos. O primeiro expõe a

fundamentação teórica, a qual conceitua-se letramento e a importância dos Gêneros Textuais

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para o ensino da Língua Portuguesa. O segundo descreve como foi realizada as oficinas do

projeto. Por fim no terceiro capítulo, apresentaremos o resultado obtidos nas oficinas e o

resultado da análise do questionário aplicado aos alunos.

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2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 Conceituação de Letramento

Este capítulo trata das abordagens teóricas do conceito de letramento e sua inserção no

discurso educacional. No Brasil, este fenômeno foi discutido por diferentes autores que

perceberam a necessidade da ampliação do conceito de alfabetização e buscaram por um

termo que pudesse explicar o processo que envolvesse, além do acesso ao sistema linguístico,

também as demandas por práticas sociais de leitura e escrita.

Até metade do século XX, para ser alfabetizado, bastava ter domínio do código

alfabético, sabendo decodificar letras, símbolos, sinais. Alfabetizar era um processo de

decodificação do texto. No mundo globalizado de hoje, é preciso saber fazer uso da leitura e

da escrita de acordo com as contínuas mudanças e exigências sociais. Dessa forma, escrever

de forma mecânica, apenas decodificando sons e letras, não garante que uma pessoa possa ter

interação plena com os diferentes tipos de textos que circulam na sociedade. Espera-se que,

além de dominar códigos linguísticos, o aluno se comunique por meio da escrita em várias

situações de uso, que consiga entender os significados do uso da leitura e da escrita em

diferentes contextos e práticas sociais.

Conforme constata Rojo (2009), com o processo de democratização e acesso da

população à escola na década de 1960, devido ao desenvolvimento do capitalismo e da

expansão industrial, ocorreram mudanças no ensino. A escola passa a atender outros

segmentos sociais, não sendo somente destinada aos filhos das elites. Com o novo perfil

econômico e cultural do aluno e do professor, o ensino deveria preocupar-se com a realidade

prática enfatizando gêneros de texto que circulam na comunicação de massa e nas mídias. Em

consequência do grande avanço das novas tecnologias da informação e da comunicação e do

processo de globalização, seria necessário formar profissionais capazes de exercer funções

com maquinários e dirigir processos de produção.

Posteriormente, na década de 1990, ocorreram novamente mudanças no cenário

educacional: agora o foco era desenvolver competências e habilidades para o exercício em

diversas áreas de atuação, desenvolver-se profissionalmente, saber fazer escolhas éticas e

exercer sua cidadania. Assim, afirma Rojo:

[...] trata-se de dar conta das demandas da vida, da cidadania e do trabalho numa

sociedade globalizada e de alta circulação de comunicação e informação, sem perda

da ética plural e democrática, por meio do fortalecimento das identidades e da

tolerância às diferenças. (ROJO, 2009, p.89-90).

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Com o desenvolvimento histórico da escrita refletindo em mudanças sociais, culturais,

econômicas, políticas e tecnológicas nas sociedades, a escrita ganhou uma importância cada

vez mais acentuada. Diante das reflexões que ocorreram na década de 90 sobre a expansão

dos usos da escrita nas sociedades industrializadas, e com o desenvolvimento social na

tentativa de superar práticas de alfabetização pautadas em um ensino tradicional, surge no

Brasil na década de 1980 um novo termo, o letramento. Originário da palavra inglesa

“literacy” (estado ou condição que assume aquele que aprende a ler e escrever), esse conceito

surge devido à necessidade de uma palavra que nomeasse as práticas de leitura e escrita, de

acordo com o contexto social em que vivia o cidadão. Refletindo sobre o termo letramento,

Kleiman ainda argumenta que:

O conceito de letramento começou a ser usado nos meios acadêmicos numa tentativa

de separar os estudos sobre o “impacto social da escrita” dos estudos sobre a

alfabetização, cujas conotações escolares destacam as competências individuais no

uso e na prática da escrita. (KLEIMAN, 1995, p.15-16).

Com a introdução do termo letramento na educação brasileira, ocorre uma mudança no

modo de considerar a aquisição da leitura e escrita, antes vista como um processo de

aquisição mecânica do ato de ler e escrever, responsável pela assimilação dos conteúdos, os

quais fazem parte apenas da esfera escolar. Desse modo, o aluno lê e escreve para a escola,

desconsiderando o uso em diversas práticas sociais. Segundo Rojo,

O termo alfabetismo tem um foco individual, bastante ditado pelas capacidades e

competências (cognitivas e linguísticas) escolares e valorizadas de leitura e escrita

(letramentos escolares e acadêmicos), numa perspectiva psicológica. (ROJO, 2009,

p.98).

Nesse sentido, compreendemos que a prática de letramento vai muito além do

processo de alfabetização, como uma ação individual e cognitiva. Com a introdução do novo

termo, será preciso saber empregar a leitura e escrita em situações reais, construir sentido e

aperfeiçoar a prática comunicativa do indivíduo, dentro e fora da escola. Assim, Kleiman

(1995) define letramento como um conjunto de práticas sociais que usam a escrita, como

sistema simbólico e como tecnologia, em contextos específicos para objetivos específicos. Ou

seja, o termo é compreendido como um fenômeno mais amplo, associado a diferentes

atividades que as pessoas desenvolvem numa dada sociedade que envolve valores, atitudes e

relações sociais, em diversos lugares como na escola, trabalho, igreja, etc.

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Portanto, fora do ambiente escolar, outros usos e práticas ligados à escrita são

vivenciados. Kleiman (1995, p. 20) afirma que o “[...] fenômeno do letramento, então,

extrapola o mundo da escrita tal qual ele é concebido pelas instituições que se encarregam de

introduzir formalmente os sujeitos no mundo da escrita”. Portanto, as práticas de leitura e de

escrita atendem às necessidades do meio, no qual o sujeito está inserido, sendo que os

contextos sociais determinarão o gênero textual a ser lido ou produzido tanto na forma escrita

quanto oral.

Para auxiliar os estudiosos do letramento, Kleiman (1995), apoiada nos novos estudos

do letramento realizados pelo antropólogo Brian V. Street (1984), destaca dois modelos de

letramento: o autônomo e o ideológico. O modelo autônomo caracteriza-se por pressupor uma

maneira única e universal de desenvolvimento do letramento, tratando-o como independente

do contexto social. Segundo Kleiman (1995, p. 22), “A característica de “autonomia” refere-

se ao fato de que a escrita seria, nesse modelo, um produto completo em si mesmo, que não

estaria preso ao contexto de sua produção para ser interpretado”. Assim, o enfoque autônomo

pressupõe que o próprio contato com a escrita, naturalmente, faria com que o indivíduo se

apropriasse de níveis, cada vez maiores, de letramento.

Diferindo do modelo autônomo, de acordo com o autor Brian Street¹ (1984-1993 apud

Rojo, 2009, p. 99), encontra-se o modelo ideológico que “vê as práticas de letramento como

indissoluvelmente ligadas às estruturas culturais e de poder da sociedade e reconhece a

variedade de práticas culturais associadas à leitura e à escrita em diferentes contextos”.

Portanto, o modelo ideológico estabelece que as práticas de letramentos são social e

culturalmente determinadas, assumindo significados e funcionamentos específicos de cada

contexto. Dessa forma, para Kleiman (1995, p.38), referindo-se aos estudos de Street,

denomina “o modelo alternativo de letramento ideológico para destacar explicitamente o fato

de que todas as práticas de letramento são aspectos não apenas da cultura, mas também das

estruturas de poder numa sociedade”.

Ao tratar do modelo ideológico, Rojo (2009, p.102) aponta a heterogeneidade das

práticas sociais de leitura, escrita e uso da linguagem nas sociedades, passando de um

conceito singular para Letramentos, no plural. Considera os letramentos dominantes como

aqueles associados a organizações formais como a escola, local de trabalho, igreja, que

preveem agentes como professores, pesquisadores, entre outros, que são valorizados legal e

culturalmente pelas instituições de sua origem. E os letramentos vernaculares, para os quais se

___________________________________________________

¹ STREET, Brian V. Literacy in theory and practice. Cambridge: Cambridge University, 1984.

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tem dado maior ênfase, pela pouca investigação, pelo fato de não serem regulados por

instituições ou organizações sociais, mas que têm origem no cotidiano e cultural, ou seja, na

prática social sendo desvalorizados pela cultura oficial.

Como vimos, a escola pública teve grande mudanças nos últimos anos em relação à

ampliação e universalização de acesso ao ensino fundamental, e hoje se busca o acesso,

permanência e qualidade de ensino desses alunos, para que sejam inseridos no ensino médio e

superior, formando profissionais qualificados e capacitados para o mercado de trabalho. Nesse

sentido, Rojo (2009) em suas pesquisas propõe o termo multiletramento, cujo termo remete à

capacidade que tem o indivíduo de dominar a leitura e a escrita relacionadas às mídias

contemporâneas, que ampliam os letramentos para o campo da imagem, música, textos

digitais e das outras semioses e não somente a escrita, considerados letramentos

multissemióticos. Mas os multiletramentos podem ser entendidos na perspectiva

multicultural, ou seja, as diferentes culturas, nas diversas esferas, que têm práticas de

diferentes gêneros textuais. Rojo caracteriza cada um desses multiletramentos:

Diferentemente do conceito letramentos (múltiplos), que não faz senão apontar para

a multiplicidade e variedade das práticas letradas, valorizadas ou não nas sociedades

em geral, o conceito de multiletramentos aponta para dois tipos específicos e

importantes de multiplicidade presentes em nossas sociedades, principalmente

urbanas, na contemporaneidade: a multiplicidade cultural das populações e a

multiplicidade semiótica de constituição dos textos por meio dos quais ela se

informa e se comunica. (ROJO, 2012, p.13).

Podemos dizer que, devido aos avanços tecnológicos, a população tem sido submetida

com frequência a situações de letramento, pois estamos, cotidianamente, rodeados de textos

cheios de informações, como letreiros, jornais, revistas, embalagens, etc, uma grande gama de

gêneros circulando socialmente e que fazem parte da vida de qualquer cidadão. A partir daí

percebemos o quanto estamos submetidos a situações de uso da leitura e da escrita, e os

alunos de hoje têm grande acesso a essas ferramentas, de comunicação e informação, vivem a

todo momento conectados, desempenhando diversas tarefas desde a produção de um trabalho

escolar até uma conversa com amigos nas redes sociais, fato que não pode ser ignorado pela

escola. É importante que a escola procure trabalhar de forma satisfatória com a apropriação da

língua oral e escrita, pois é através desses saberes que os indivíduos podem se comunicar e ter

acesso às informações que circulam no meio em que vivem, possibilitando aos mesmos uma

atuação com autonomia na sociedade, que possam defender seus pontos de vista, produzir

saberes etc.

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Dessa forma, Rojo (2009, p. 107) argumenta que um dos objetivos principais da escola

é possibilitar que seus alunos participem das várias práticas sociais que utilizam a leitura e

escrita, de maneira ética, crítica e democrática. Mas para isso é preciso que a educação

linguística leve em conta o trabalho com os multiletramentos, ou seja, deixar de ignorar ou

apagar os letramentos das culturas locais de seus agentes (professores, alunos, comunidade

escolar) e colocando-os em contato com os letramentos valorizados, universais e

institucionais. Segundo a autora, os letramentos multissemióticos também são importantes,

pois são exigidos pelos textos contemporâneos, ampliando a noção de letramentos para o

campo da imagem, da música, das outras semioses que não somente a escrita.

Sendo assim, vale salientar que a instituição de ensino deve desenvolver e valorizar as

novas práticas de letramento, já que fazem parte do universo dos alunos, somente assim a

escola poderá favorecer a inserção desses indivíduos na sociedade, relacionando o que

aprende na escola com suas experiências sociais. Mas as práticas escolares restringem-se, na

maioria das vezes, somente à alfabetização e ao ato de ensinar a ler e escrever, de forma

descontextualizada, em vez de levar o aluno à compreensão ativa e crítica da significação, e

considera a aprendizagem de leitura e escrita como a aprendizagem de competências e

habilidades individuais. Segundo Kleiman (1995), nem sempre a escola favorece o

desenvolvimento de práticas sociais:

Pode-se afirmar que a escola, a mais importante das agências de letramento,

preocupa-se, não com o letramento, prática social, mas com apenas um tipo de

prática de letramento, a alfabetização, o processo de aquisição de códigos

(alfabético, numérico), processo geralmente concebido em termos de uma

competência individual necessária para o sucesso e promoção na escola. Já outras

agências de letramento, como a família, a igreja, a rua como lugar de trabalho,

mostram orientações de letramento muito diferentes. (KLEIMAN, 1995, p.20).

Dessa forma, entende-se que a escola, importante instituição social comprometida com

a democratização social e cultural do conhecimento, tem a função de garantir os saberes

necessários para o exercício da cidadania de seus alunos. Para isso, deve-se criar situações

que permitam aos alunos participar efetivamente de práticas letradas.

A partir dos autores explorados neste texto, podemos considerar que letramento é o

resultado da ação de ensinar e aprender as práticas sociais de leitura e escrita, é a condição de

quem usa socialmente essas práticas respondendo às demandas sociais. De acordo com as

teorias apresentadas, podemos dizer que o ato de ensinar torna-se um desafio para o professor

que como mediador do conhecimento, deve propiciar ao aluno práticas de ensino que se

aproximem da realidade atual de seus educandos. Já que a escola tem o propósito de garantir a

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todos os alunos acesso aos saberes linguísticos necessários à cidadania, e para que os mesmos

não tenham dificuldades de realizar as práticas sociais de leitura e escrita (letramento), assim

certamente poderemos ter um ensino de maior qualidade.

2.2 Gênero Textual e ensino da língua portuguesa

Por todos os lugares que passamos, seja em casa, na escola, no trabalho, no shopping,

enfim, sempre nos deparamos com uma diversidade de textos. Um texto retrata as ideias do

tempo e da sociedade, nesse sentido, percebemos a necessidade de um ensino que esteja de

acordo com o contexto no qual estão inseridos os indivíduos presentes no processo de ensino-

aprendizagem. É de suma importância o trabalho de leitura e escrita, abordando a diversidade

de gêneros em sala de aula, uma vez que isso abre caminho para a ampliação da competência

discursiva do estudante em formação.

O ato de ler e a escrever são práticas de inserção do indivíduo no mundo letrado.

Miniac (2006) comenta que, no momento atual, não podemos mais considerar a escrita como

um domínio exclusivo de pessoas que ocupam cargos importantes no mercado de trabalho, a

escrita traz mudanças que cooperam muito na construção e reflexão da vida social do

indivíduo. A prática de ler e escrever se expande cada vez mais não só nos trabalhos

escolares, mas na vida cotidiana de qualquer cidadão, sendo assim, a escrita é uma ferramenta

de suma importância para qualquer tipo de trabalho, pois sem ela o indivíduo não consegue

ter uma relação mútua com seu meio social.

De acordo com Miniac (2006), não podemos mais considerar a escrita como uma

ferramenta de transcrição de conhecimentos, mas sim como um início de elaboração e de

construção dos conhecimentos. Os próprios Parâmetros Curriculares Nacionais de Língua

Portuguesa (BRASIL,1998, p. 32) salientam que o trabalho com a Língua Portuguesa deve

proporcionar aos indivíduos envolvidos nos processos de ensino e aprendizagem o

conhecimento necessário para interagir produtivamente com seus pares em diferentes

atividades discursivas, possibilitando-os sua inserção efetiva no mundo da escrita, ampliando

suas possibilidades de participação social no exercício da cidadania.

A proposta é criar, na escola, situações que se assemelhem às existentes no ambiente

social, para isso, é fundamental a utilização dos gêneros textuais, enquanto objeto de ensino,

pois, a partir do uso teórico-prático da diversidade de gêneros, a competência discursiva do

aluno é desenvolvida. A partir do texto, o professor deve conduzir os alunos a atividades que

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levem à reflexão, priorizar atividades com texto do próprio aluno, tais como revisão e

refacção textual. Em síntese, é mais do que um aglomerado de frases ou enunciados, consiste

em “uma unidade significativa global” (BRASIL, 1998, p. 21).

Para Geraldi (2006), a presença do texto na sala de aula implica desistir de um ensino

como transmissão de um conhecimento pronto e acabado. Para o autor,

Tratar-se-ia de não mais perguntar „ensinar o quê‟, mas „ensinar pra quê‟, pois do

processo de ensino não se esperaria uma aprendizagem que devolveria o que foi

ensinado, mas uma aprendizagem que se lastrearia na experiência de produzir algo

sempre nunca antes produzido- uma leitura ou um texto- manuseando os

instrumentos tornados disponíveis pelas produções anteriores. (GERALDI, 2006

p.17).

Trata-se da escola trabalhar com métodos diversificados e criativos, tendo em vista os

aspectos individuais, sociais, culturais, comunicativos e linguísticos, para que o aluno possa

interagir com diversas linguagens, fazer uso dos diversos gêneros textuais, criar, produzir de

acordo com o que é exigido pela sociedade. Marcuschi (2008) confirma suas posições levando

em conta o pensamento bakhtiniano. Ou seja, deve-se considerar que as atividades humanas

estão relacionadas à utilização da língua, que se efetiva através de enunciados orais e escritos

que ocorre de maneira heterogênea em contextos determinados (BAKHTIN, 1979, p. 279

apud MARCUSCHI 2008).

O professor de Língua Portuguesa precisa trabalhar a língua como um requisito

voltado para a prática social. No ensino da Língua Portuguesa, a partir de textos, é necessário

considerar que:

Os textos organizam-se sempre dentro de certas restrições de natureza temática,

composicional e estilística, que os caracterizam como pertencentes a este ou aquele

gênero. Desse modo, a noção de gênero, constitutiva do texto, precisa ser tomada

como objeto de ensino. (BRASIL, 1998, p. 23).

Para Marcuschi (2008) é importante o professor trabalhar com o texto na sala de aula a

partir da abordagem do gênero textual. O referido autor entende esse tipo de trabalho como

uma forma de ação social, pois nada do que fizermos linguisticamente está fora de ser feito

em algum gênero. Ainda considera o gênero textual como

textos materializados em situações comunicativas recorrentes. Os gêneros textuais

são os textos que encontramos em nossa vida diária e que apresentam padrões

sociocomunicativos característicos definidos por composições funcionais, objetivos

enunciativos e estilos concretamente realizados na integração de forças históricas,

sociais, institucionais e técnicas. (MARCUSCHI, 2008, p. 155).

19

A partir dessa conceituação, Marcuschi (2008, p.154-155) aponta para uma importante

distinção entre tipo textual, gênero textual e domínio discursivo, ressaltando que tipo textual

denomina a construção teórica delimitada pela natureza linguística de sua organização, como:

narração, argumentação, exposição, etc, não evidencia uma situação de uso da língua.

Enquanto que o gênero textual trata de textos materializados em situações comunicativas,

ações, propósitos e inserção sócio-histórica. E o domínio discursivo que é usado para designar

a instância de produção discursiva em que os textos circulam, proporcionando o surgimento

de discursos específicos como o jurídico, jornalístico, religioso, etc.

Sendo assim, quando desenvolvemos um trabalho com gêneros textuais em sala de

aula, oportunizamos uma forma de atuação sócio discursiva numa cultura e não um simples

modo de produção textual ou de leitura de texto. Por isso é de fundamental importância no

ensino aplicar os diversos tipos de gêneros textuais e discursivos porque são ferramentas

próprias que levam o aluno a se desenvolver e criar autonomia no processo de leitura e

produção de textos, podendo, assim, conquistar o domínio do funcionamento da linguagem

em situações de comunicação concretas. Por isso, Miller (1994) sugere que:

[...] se veja o gênero como um constituinte específico e importante da sociedade, um

aspecto maior de sua estrutura comunicativa, uma de suas estruturas de poder que as

instituições controlam. Podemos entender gênero especificamente como aquele

aspecto da comunicação situada que é capaz de reprodução que pode se manifestar

em mais de uma situação e mais de um espaço-tempo concreto. (MILLER, 1994:71

apud MARCUSCHI, 2011, p.24).

A prática de ensino por meio do trabalho com gêneros textuais, portanto, fornece aos

alunos os conhecimentos linguísticos e textuais necessários para atuar reflexivamente em

diferentes atividades comunicativas, uma vez que os alunos estariam praticando e refletindo

em sala de aula com base em textos originais que circulam na sociedade. Sendo assim, o

professor deve tomar o texto como instrumento de trabalho, pois este pode ocupar o lugar de

destaque no cotidiano escolar.

O referencial teórico contribuiu para o entendimento sobre o conceito de letramento,

para a aprendizagem da língua materna. Além disso, o estudo da língua portuguesa através de

diferentes gêneros textuais permite ao aluno aproximar-se de outras culturas, possibilitando a

compreensão de sua própria cultura e identidade assim como a sua integração no nosso

mundo globalizado.

20

3 AS OFICINAS

Dentre todos os pontos positivos na participação do projeto como monitora, podemos

destacar as atividades com os gêneros textuais, pois através desse trabalho realizado ao longo

do projeto, vivenciamos os desafios e as conquistas alcançadas por cada um dos alunos

envolvidos.

Todas as ações pedagógicas tomadas foram pensadas para que houvesse uma

construção da autoestima e da autoconsciência dos alunos, levando-os à reflexão e à mudança

de atitude, em relação ao modo de ver seu meio social e cultural. Neste capítulo

descreveremos como foi desenvolvido o trabalho com os alunos, tendo como principal opção

didática o trabalho com os gêneros textuais slogan e cartilha.

3.1 Oficina sobre o gênero slogan

Considerando a complexidade e a importância dos gêneros textuais que circulam em

nossa sociedade é possível entender a ênfase que os diversos autores e os próprios PCN

atribuem ao eleger o texto como objeto de ensino e de sugerir a prática de escuta, leitura e

produção de textos dos diferentes gêneros, que o aluno precisa dominar para que exerça sua

efetiva participação social, sendo eles: literários, publicitários, jornalísticos, didáticos,

científicos, tanto na modalidade oral quanto escrita. Tendo em vista essas reflexões sobre o

trabalho com os gêneros textuais, levando em consideração o contexto em que se vive o

aluno, o projeto Rio Aquidauana: um rio de saberes desaguando no Pantanal, orienta-se por

essa perspectiva.

Assim, nesta seção, relataremos o desenvolvimento das oficinas sobre o gênero slogan.

Para o desenvolvimento das oficinas foram realizadas atividades de leitura e discussão de

textos com temas atuais nas mais diversas áreas do conhecimento, para estimular a criticidade

e o interesse pela leitura. Nas primeiras oficinas foram desenvolvidas pelos monitores

exposições de Power point, com atividades de análise crítica de vários slogans de

propagandas publicitárias, apresentaram vídeos da internet com propagandas antigas, para que

eles pudessem perceber as diferenças ocorridas ao longo do tempo. Sempre questionando-os

em relação as informações contidas no anúncio, comparando com os dias atuais: o que

mudou? Por que mudou? para que os alunos pudessem compreender as finalidades e funções

do texto publicitário, bem como a linguagem específica e os recursos linguísticos utilizados.

O gênero slogan ou frase de efeito é uma frase de fácil memorização usada em

contexto político, religioso ou comercial como uma expressão repetitiva de uma ideia ou

21

propósito. É rico em elementos linguísticos e funciona como mediador entre o produto e o

consumidor e através de palavras que contenham valor positivo, mensagens com ideia de

felicidade e perfeição, que o cliente normalmente constrói em sua mente significações que

levarão a um efeito que poderá ser de caráter consumista ou ideológico. Nesse sentido, esse

gênero pode ajudar significativamente o leitor no processo de compreensão do texto, e para a

formação de um leitor capaz de posicionar-se criticamente diante das mensagens transmitidas,

reconhecendo que elas não são neutras, tornando-se um consumidor mais atento e crítico, pois

passa a conhecer os elementos de persuasão que a publicidade usa para conquistar seu

público, já que são marcadas por uma série de interesses.

Assim, após todas as análises e discussões, foi proposta uma atividade em que os

alunos se reunissem em grupos para a criação do slogan de um novo produto. No começo

houve muita agitação pelo fato de se trabalhar em grupo, alguns estavam receosos em

produzir, pois se diziam não serem capazes de produzir algo que chamasse a atenção. Mas, ao

longo do desenvolvimento do trabalho, todos produziram, desenvolvendo sua criatividade.

Numa segunda etapa os alunos tiveram como atividade produzir um slogan para o

projeto, em que deveria abordar questões sobre a diversidade da fauna e flora no município de

Aquidauana, a importância da mata ciliar e da água, seguindo os critérios de elaboração desse

gênero textual. Primeiramente, os alunos desenvolveram as imagens, que, por sua vez, foram

bem criativas. Posteriormente, realizaram a frase de efeito, neste ponto tiveram um pouco de

dificuldade, mas, com o auxílio das monitoras e das professoras, foram surgindo diversas

criações. Era notório que o fato de saber que seus trabalhos teriam um destino bem mais

adequado do que apenas ser corrigido por um professor deixava os alunos mais dispostos e

empolgados com a atividade, produzindo com qualidade, uma vez que suas produções seria o

slogan da camiseta do projeto, distribuída a todos os participantes.

A partir do desenvolvimento do estudo sobre a ferramenta slogan, pudemos verificar a

importância desse gênero textual para a construção da argumentação, da compreensão textual

e do conhecimento de mundo por parte do discente.

Por fim, foram diversas criações interessantes. Após várias revisões, a versão final do

slogan do projeto foi estampada nas camisetas do projeto. Foi um trabalho prazeroso, pois os

alunos realmente participaram. Para conhecimento do leitor, disponibilizamos o slogan do

projeto, trabalho dos próprios alunos:

22

IMAGEM 1: Slogan do projeto Rio Aquidauana: um rio de saberes desaguando no pantanal. 2014.

3.2 Oficina sobre o gênero cartilha

Outro ponto muito importante na aprendizagem dos alunos envolvidos no projeto foi a

realização do trabalho com o gênero textual cartilha. Após o trabalho com o gênero slogan,

os alunos participaram de várias oficinas e palestras em diversas áreas do conhecimento e de

passeios e excursões. Depois de cada uma eram realizados debates, relatórios das atividades

de campo e a aplicação de questionários para avaliação prévia do conhecimento adquirido

pelos alunos, além de promover a exposição de fotos para apresentação do projeto para outros

alunos das escolas.

Nas oficinas de leitura e produção de texto, a proposta foi trabalhar com os alunos a

produção de uma cartilha, que abordasse as questões socioambientais, desenvolvidas ao longo

do projeto. O trabalho foi bem produtivo apesar das dificuldades de escrita enfrentadas pelos

educandos. A princípio, os monitores realizaram uma aula expositiva abordando as definições

do gênero cartilha e sua função no contexto social. Apresentamos diversos modelos de

cartilhas e ao longo das explanações, cada aluno fazia suas considerações sobre a leitura,

características e contexto social do gênero.

No gênero cartilha, podemos encontrar a multimodalidade dos textos contemporâneos,

devido aos vários recursos como imagens, textos em versos, prosa, quadrinhos, cartuns,

esquemas de pergunta e resposta, além do arranjo de diagramação, que são utilizados para

alcançar os objetivos de informar, educar, facilitar a leitura e tornar o texto mais agradável.

Após esclarecermos em conjunto os conceitos linguístico, social e estrutural do

gênero, apresentamos a proposta de produção textual, voltada para as atividades que eles

desenvolveram ao longo do projeto. Para o melhor desenvolvimento das atividades, a turma

foi divida em grupos para que assim pudéssemos dividir os temas, e que cada grupo

23

trabalhasse em conjunto, expondo suas ideias, com a participação do professor fazendo as

intervenções necessárias para melhor estruturação, adequação vocabular das produções de

texto.

Findada a primeira versão dos textos, realizamos as correções e as intervenções

necessárias. Posteriormente, numa segunda etapa do trabalho com cartilha, retomamos com o

trabalho de reescrita dos textos, uma tarefa que é considerada árdua pelos educandos que

muitas vezes se recusavam a reescrever. Nesse momento, foi necessário retomar alguns

conteúdos, pois alguns alunos já tinham se esquecido de certos conceitos expostos nas

oficinas anteriores. Utilizamos a sala de informática, orientando-os a pesquisarem a respeito

dos conceitos sobre abastecimento e tratamento da água e do esgoto, a importância da mata

ciliar e a importância de se reaproveitar a água evitando o desperdício.

Após as pesquisas, discutimos e refletimos em conjunto sobre a relevância da

conscientização e preservação do meio ambiente, considerando as diversas ações que

devemos fazer para contribuir para que não haja o desperdício da água. Em seguida, foi

proposta a reescrita dos textos com base nas pesquisas, em que deveriam ser produzidas

ilustrações que associassem ao texto produzido. Estimulados, realizaram a escrita da segunda

versão, bem melhor do que a primeira, mas ainda faltando ao professor realizar algumas

intervenções.

Para o presente trabalho, disponibilizamos a reescrita efetuadas por dois alunos, que

foram digitalizadas na íntegra, deixando para um segundo momento as correções ortográficas

por não ser o objeto desta pesquisa. Vale ressaltar que essas produções foram retiradas para

esta pesquisa de forma aleatória, dentre as outras realizadas pelos alunos participantes do

projeto.

Vejamos a seguir dois textos de alunos elaborados com base na proposta de produções

textuais para a cartilha do projeto Aquidauana: um rio de saberes desaguando no pantanal:

TEXTO I

Nós os alunos do Projeto Rio Aquidauana um Rio de Saberes, desenvolvemos diversas atividades, como

a nossa primeira aula de campo a descida no rio Aquidauana, é bem diferente nós vermos a situação do nosso rio

na televisão, ou por fotos ou até mesmo ouvirmos conhecidos nossos falando sobre ele, eu não fazia ideia de

como estava precária a nossa situação, lixos pelo rio, o barranco sem mata auxiliar, a poluição do nosso rio,

realmente me deu muito nojo ao ver a situação do rio onde nós bebemos água, ainda bem que temos a

SANESUL (Empresa de Saneamento do Estado de Mato Grosso do Sul) que também foi umas das nossas aulas

no campo, vimos todo o processo da ETA (Estação de tratamento de água), vimos também o tratamento de

esgoto e todas as suas técnicas para o tratamento.

24

Também fomos ao Museu Dom Bosco, vimos de perto a cultura indígena, animais empalhadas entre

outras coisas. A nossa última viagem e que em particular foi a que eu mais gostei, fomos á Base de Pesquisa do

Pantanal onde observamos mais de perto a nossa fauna e flora pantaneira (praticamente ficamos dentro dela),

observamos pássaros, coletamos libélulas e um pouco da vegetação pantaneira, montamos armadilhas de pegadas

(...).

Enfim, como uma aluna do Projeto Rio Aquidauana, tenho orgulho de fazer parte desse grande projeto,

que me proporcionou melhoras na escola e o mais importante que me fez consciente das minhas ações e que

ainda não está tarde para lutarmos na preservação do nosso planeta juntamente com a nossa água, que como

todos nós sabemos a água potável está sendo mal utilizada pelo ser humano.

TEXTO II CRAS: Centro de Reabilitação de Animais Silvestres

Nesse dia, observamos que os animais silvestres também sofrem igual nós, o CRAS serve como um

hospital para animais que são maltratados, jogados na rua ou mesmo abandonados e também encontrados nas

fazendas.

Como por exemplo, o Tamanduá-bandeira que dorme com um ursinho cor-de-rosa até hoje porque foi

abandonada pela mãe recém-nascida, sua mãe foi atropelada e ele foi encaminhado para o CRAS, hoje ele é bem

cuidado mais não vive sem seu urso.

Também temos a onça-pintada que era obesa porque foi criada por um fazendeiro como se fosse um animal de

estimação, e por motivos pessoais não pode continuar com ela, e hoje por ser velha não sabe caçar e não pode ser

solta na natureza, pois passara fome.

Quando estávamos quase acabando, nós vimos uma gaiola enorme cheia de passarinhos (Canarinhos)

mais de mil deles, foram encontrados sendo traficados e após ser apreendido, mandaram eles para o CRAS, onde

vão ser soltos na natureza.

Fizemos uma trilha ecológica, observamos nossa flora onde havia uma Guia que mostrava e falava sobre as

flores, as arvores, os frutos que estavam presentes no chão e também tirava nossa duvidas, chegando em uma

casinha que tinha no meio da trilha havia animais empalhados e assistimos uma palestra sobre o que aprendemos

no Cras.

Para mim uma aluna que está nesse projeto a mais de um ano, tenho consciência sobre os animais que

estão sendo abandonados em todos os lugar, por um momento me coloquei no lugar desses animais e percebi que

não gostaria de ser abandonada pelos meus pais , mesma coisa com os animais eles também não gostariam de

serem abandonados, nunca pratiquei esse ato de abandono e nem pretendo praticar.

Na escritura dos textos, podemos observar a segurança dos alunos em expressaram

suas opiniões, resultantes das sessões de debates e leituras prévias e a própria experiência com

as aulas de campo, despertando assim o interesse em continuar participando do projeto. Nas

suas produções textuais, notamos fortes pontos de vista, relacionando a qualidade ambiental

com a qualidade de vida em sua comunidade.

Para a construção dos textos, delimitamos como tema as experiências vividas ao longo

do projeto, nos passeios e excursões. Notamos a preocupação em relatar a falta de consciência

da preservação da fauna e da flora. Nessa perspectiva, os dois textos apresentam suas

experiências de forma crítica, adquirindo uma postura reflexiva necessária à prática da

cidadania. Assim, os valores éticos podem se transformar em importantes ferramentas para

ampliar e aprofundar a consciência socioambiental.

25

Essa atividade teve como intuito propor a confecção de cartilhas, elaboradas a partir de

textos pouco técnicos produzidos pelos alunos, com algumas considerações sobre o projeto

feito pelos professores participantes, que poderão ser distribuídas à comunidade. Vimos que o

gênero cartilha exerce o papel de situar o leitor sobre determinado assunto, para que ele se

posicione como cidadão, contribuindo para uma construção e conscientização de um meio

social mais prazeroso para se viver.

Após várias versões, devido ao trabalho de reescrita dos textos, as produções textuais

ficaram como o esperado, os alunos conseguiram atingir a proposta do trabalho com os

gêneros textuais slogan e cartilha. Através do estudo dos gêneros textuais é possível explorar

conhecimentos riquíssimos que possibilitam o desenvolvimento de diversas competências de

forma contextualizada, produzindo um efeito muito mais eficaz de que se essas competências

fossem trabalhadas de forma isolada. Segundo o PCN (1998, p. 24), “a compreensão oral e

escrita, bem como a produção oral e escrita de textos pertencentes a diversos gêneros, supõem

o desenvolvimento de diversas capacidades que devem ser enfocadas nas situações de

ensino”.

O trabalho com os gêneros textuais e a cidadania são fundamentais, pelo fato de

despertar a consciência crítica e reflexiva do aluno, para que ele possa responder de maneira

coerente às profundas questões sociais que cercam o meio onde ele vive e ser um cidadão

crítico, transformando, quando necessário, esse espaço, tendo em vista o bem estar social de

todos que fazem parte desse ambiente. Vale ressaltar que todas as atividades desenvolvidas

nas oficinas do projeto fundamentaram-se na contextualização e na interdisciplinaridade dos

conhecimentos, ampliando a conscientização ambiental.

26

4 SALDO DAS OFICINAS

Neste capítulo, apresentaremos a interpretação dos dados que obtivemos através das

produções textuais produzidas pelos alunos do projeto Aquidauana: um rio de saberes

desaguando no Pantanal, desenvolvidas nas oficinas de slogan e cartilha. Assim como a

análise das respostas do questionário aplicado aos participantes do projeto.

Nas oficinas foram realizadas atividades de leitura e de escrita, bem como discussões

acerca dos gêneros textuais slogan e cartilha. Os textos produzidos pelos alunos foram

coletados para análise, considerando sua relação com os procedimentos utilizados nas

propostas de trabalho a eles apresentadas, e pela observação das produções realizadas nas

oficinas notamos o desempenho de cada um. Ao analisar as produções textuais, percebemos

que alguns textos atingiram o esperado, foram criativos e coerentes, escritos conforme o que

trabalhamos sobre os gêneros textuais, pudemos perceber que houve autonomia de alguns

desses alunos que, antes inseguros e tímidos, refugiados em si mesmos, foram, pouco a

pouco, interessando-se pelas atividades, sentindo-se capazes de desenvolvê-las.

Certamente houve grande participação e interação por parte dos alunos, mas alguns

erros encontrados podem ser atribuídos também à falta de exercício assíduo de leitura e

escrita. E através do projeto os alunos puderam desfrutar de tempo para leitura, reflexão,

interpretação de texto, debates e produção textual. Despertando o interesse dos educandos em

continuar participando do projeto, pois em cada oficina o método utilizado pelos professores e

monitores agradava e despertava a curiosidade dos envolvidos, proporcionando novas

aprendizagens.

Após analisarmos as produções dos alunos, notamos a necessidade de proporcionamos

momentos de reescrita dos textos, destacando os pontos importantes para aquela produção,

deixando clara a função e finalidade das produções realizadas por eles. Buscamos como

auxílio a pesquisa na internet sobre os temas propostos, para melhor embasamento nas

produções.

O processo de reescrita de textos promoveu uma atividade de reflexão em que os

alunos se autoavaliaram sobre o que escreveram, dessa forma, o papel do professor é

fundamental ao adotar a reescrita como parte de um procedimento significativo após a escrita

do texto. Nesse sentido, os PCN de Língua Portuguesa (1998, p. 27) sugerem que se tome a

linguagem como atividade discursiva, o texto como unidade de ensino e a noção de gramática

como relativa ao conhecimento que o falante tem de sua linguagem, para a realização de

27

atividades curriculares, baseadas em uma prática constante de escuta, leitura e produção de

textos orais e escritos, para que possa ampliar a competência discursiva do aluno.

A segunda parte da pesquisa foi realizada por meio de um questionário² aplicado aos

25 alunos participantes do já referido projeto, com o intuito de conhecer as práticas de

letramento vigentes entre a comunidade pesquisada.

O questionário foi dividido em duas partes, sendo que na primeira etapa os alunos foram

convidados a responder a quatro perguntas socioculturais, com a opção de marcar alternativas,

em todas as perguntas poderia ser marcada mais de uma resposta. O intuito dessa primeira parte

foi saber um pouco mais sobre o hábito de leitura desses alunos, com que frequência eles leem,

qual tipo de práticas letradas realizam, se tais práticas demandam o uso da tecnologia, etc. A

segunda parte foi composta de quatros perguntas sobre as oficinas do gênero slogan e cartilha,

com a finalidade de saber sobre a experiência desses alunos com os gêneros textuais.

Para conhecimento do leitor, disponibilizamos as questões:

1. Perguntas socioculturais

1- Dessas atividades, quais você (ou seus pais) costuma (m) fazer? (Pode assinalar mais

de uma)

a- ( ) Consultar catálogo telefônico

b- ( ) Consultar guia de rua

c- ( ) Fazer listas de coisas que precisa fazer

d- ( ) Usar agenda para marcar compromissos

e- ( ) Deixar bilhetes com recados para alguém da casa

f- ( ) Escrever cartas para amigos ou familiares

g- ( ) Ler cartas de amigos ou familiares

h- ( ) Ler correspondências impressas que chega em sua casa

i- ( ) Fazer listas de compras

j- ( ) Procurar ofertas ou promoções em folhetos e jornais

k- ( ) Verificar a data de vencimento dos produtos que compra

l- ( ) Pagar contas em bancos ou casas lotéricas

m- ( ) Reclamar por escrito sobre produtos ou serviços que adquiriu

n- ( ) Ler bulas de remédio

o- ( ) Copiar ou anotar receitas

p- ( ) Copiar ou anotar letras de música

q- ( ) Escrever histórias, poesias ou letras de música ( de sua autoria)

__________________________ 2 A primeira parte do questionário foi retirada de Rojo (2009), a qual o adaptou de Vóvio (2007). O intuito das

autoras era o de investigar as práticas de leitura e o domínio de suas habilidades por alunos da educação básica.

28

r- ( ) Escrever diário pessoal

s- ( ) Copiar ou anotar receitas

t- ( ) Copiar ou anotar letras de música

u- ( ) Escrever histórias, poesias ou letras de música ( de sua autoria)

v- ( ) Escrever diário pessoal

2- Qual desses materiais (impressos) há em sua casa? (Pode assinalar mais de um)

a- ( ) Álbuns de fotografia

b- ( ) Bíblia ou livros religiosos

c- ( ) Cartilhas ou livros religiosos

d- ( ) Livros ou folhetos de literatura de cordel

e- ( ) Dicionário

f- ( ) Enciclopédias

g- ( ) Folhetos, apostilas ou livretos de movimentos sociais, de partidos políticos ou grupos

religiosos

h- ( ) Folhinha, calendários

i- ( ) Guias de ruas e serviços

j- ( ) Catálogos e lista telefônica

k- ( ) Jornais

l- ( ) Livros de receitas

m- ( ) Livros de Literatura

n- ( ) Livros didáticos ou apostilas escolares

o- ( ) Livros infantis

p- ( ) Livros técnicos ou especializados

q- ( ) Manuais de instrução

r- ( ) Revistas

s- ( ) Outros. Quais?

t- ( ) Não tem nenhum desses materiais

3- Quais das atividades abaixo você (ou seus pais) costuma (m) fazer no computador?

(Pode assinalar mais de uma)

a- ( ) Escrever relatórios e outros textos

b- ( ) Escrever trabalhos escolares

c- ( ) Organizar agendas ou listas de tarefas

d- ( ) Digitar dados ou informações

e- ( ) Elaborar planilhas ou montar bancos de dados

f- ( ) Consultar e pesquisar

g- ( ) Montar páginas ou fazer programas de computador

h- ( ) Fazer cursos a distância

i- ( ) Pagar contas e movimentar contas bancárias

j- ( ) Enviar e receber e-mails

k- ( ) Comprar pela internet

l- ( ) Jogar ou desenhar

m- ( ) Navegar por diversos sites

29

n- ( ) Copiar músicas em CD ou arquivo eletrônico

o- ( ) Entrar em sites de bate-papo e discussão

4. Indique com que frequência você (ou seus pais) faz (em) cada uma dessas atividades

Frequentemente Às vezes Raramente Nunca

a- Ir ao cinema ( ) ( ) ( ) ( )

b- Ir ao teatro ( ) ( ) ( ) ( )

c- Ir as shows de música ou dança ( ) ( ) ( ) ( )

d- Ouvir noticiários de rádio ( ) ( ) ( ) ( )

e- Ouvir outros programas no rádio ( ) ( ) ( ) ( )

f- Assistir a vídeos e DVD em casa ( ) ( ) ( ) ( )

g- Assistir a noticiários na TV ( ) ( ) ( ) ( )

h- Assistir a outros programas na TV ( ) ( ) ( ) ( )

i- Ir a museus ou exposições de arte ( ) ( ) ( ) ( )

2. Perguntas sobre as oficinas do gênero slogan/ cartilha.

a) No que diz respeito à aprendizagem da leitura e da escrita, qual foi sua maior dificuldade no

projeto?

b) Você já havia produzido cartazes/ slogans/ cartilhas? Onde?

c) O que achou da experiência de produzir slogans /cartilhas no projeto?

d) Você gostaria que sua professora ensinasse a disciplina de Português como fizemos nas

oficinas de leitura e produção de textos? Por quê?

Notou-se que, nos resultados obtidos na análise dos questionários, os jovens e seus

familiares sempre realizam práticas de letramento em seu cotidiano, pois a todo o momento

estão submetidos a situações de uso da leitura e da escrita sempre com alguma finalidade,

desde uma lista de compras até fazer depósitos e saques em caixas eletrônicos. Pudemos notar

que a maioria dos investigados possui algum tipo de material impresso em casa, livros

didáticos e livros de receitas, o interessante é que os alunos que mais se destacaram no projeto

responderam que possuem em casa livros literários, técnicos e infantis. Mas a resposta dada

sobre os materiais impressos, apesar de indicar disponibilidade em casa, não clarifica a ideia

de que os alunos de fato leem esses materiais.

Em relação às atividades que realizam no computador, a maioria responderam que

utilizam para realizar pesquisas e trabalhos escolares. Além de utilizarem o meio tecnológico

para acessarem as redes sociais, em que utilizam a leitura e escrita para enviar e receber e-

mails, etc. Por isso, talvez, cada vez mais esses alunos não leem com muita frequência outros

30

tipos de gêneros, preferindo o meio tecnológico a ler um livro impresso, por ser uma

ferramenta mais fácil de busca e manuseio.

Em relação às atividades desenvolvidas nas oficinas do projeto, a maioria dos

entrevistados gostaram da experiência de produzir slogan e cartilha. Até mesmo porque

alguns nunca tiveram a oportunidade de trabalhar com esses tipos de gêneros textuais, assim,

as opiniões foram de que através dessa nova experiência desenvolveram a escrita, a

criatividade e obtiveram novos conhecimentos. Consideraram um trabalho interessante, mas

em que houve muitas dificuldades em produzir textos, pela pouca prática de escrita, que

exigia a criatividade de cada um.

Os que já haviam produzidos algum desses gêneros textuais, seja na escola ou em

cursos, não reclamaram de nenhuma dificuldade, mas consideraram o nosso trabalho

interessante e diferenciado do que já tinham visto. Depois de aplicado o instrumento de coleta

de dados e obtidas as informações seguidas de suas análises, podemos considerar que o

trabalho com projetos são iniciativas diversificadas, que trabalha de forma contextualizada,

prazerosa e interdisciplinar, oportunizando aos seus participantes o desenvolvimento de

habilidades de leitura e escrita, bem como a construção de seu próprio conhecimento, para

que assim possam superar os desafiados e às expectativas de uma sociedade intelectual que

tem como princípio formar novos cidadãos críticos. Assim, os PCN consideram que os

projetos,

são situações em que as atividades de escuta, leitura e produção de textos orais e

escritos, bem como as de análise lingüística se inter-relacionam de forma

contextualizada, pois quase sempre envolvem tarefas que articulam essas práticas,

nas quais faz sentido, por exemplo, ler para escrever, escrever para ler, decorar para

representar ou recitar, escrever para não esquecer, ler em voz alta, falar para analisar

depois etc. (BRASIL,1998, p.87).

Ainda para os PCN (1998, p.87-88), em relação aos projetos, considera que se trata de

uma atividade de reflexão sobre os gêneros que serão trabalhados, permitindo que o aluno

produza textos mais adequados às condições de produção, além de proporcionar a integração

de diversas áreas do conhecimento.

Durante o desenvolvimento do projeto, podemos observar a evolução das produções

textuais dos alunos participantes, por isso, o professor de Língua Portuguesa precisa valorizar

o que os alunos produzem e orientá-los, para que assim consigam desenvolver sua

criatividade e criticidade. É preciso considerar a leitura e a escrita como instrumento de

31

diversas práticas sociais, e não somente como atividades escolares, em que o livro didático

seja o único instrumento de trabalho em sala de aula.

O professor deve contribuir para que o aluno desenvolva suas habilidades de forma

autônoma, explorando os conhecimentos de mundo que ele possui e incentivando-os a

posicionar-se como cidadão crítico diante da sociedade. Por fim, esperamos que os alunos

terminem as atividades do projeto com um nível melhor de desenvolvimento linguístico,

cultural e que as principais dificuldades encontradas sejam sanadas.

32

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Neste trabalho foi realizado um estudo, considerando diferentes teóricos que

respaldaram a orientação sobre as práticas de letramentos e o ensino a partir dos gêneros

textuais. O letramento não está restrito somente ao sistema escolar, mas cabe à escola levar os

seus educandos a um processo mais profundo nas práticas sociais que envolvem a leitura e a

escrita. A partir da reflexão desenvolvida, concluímos que cabe ao professor de Língua

Portuguesa a tarefa de tornar o conhecimento coerente à realidade desses alunos, pois somente

dessa forma será possível dar subsídios para que esses estudantes tornem-se cidadãos

autônomos e críticos, atores de seu próprio conhecimento.

Mediante a participação no projeto foi possível evidenciar avanços na capacidade

discursiva, criativa e linguística dos alunos envolvidos. Foi notado o desenvolvimento criativo

dos mesmos, tanto na produção quanto na capacidade de seleção dos argumentos para a

construção do discurso, leitura e compreensão textual. O trabalho reflexivo com os slogans e

propagandas mostrou que o entendimento do texto, como elemento dinâmico, estratégico é

relevante, por isso, não podemos negar a importância da diversidade de gêneros textuais para

o ensino/aprendizagem da leitura e da escrita.

O trabalho com o gênero textual cartilha foi desenvolvido com o intuito de envolver os

alunos em situações concretas de uso da língua, integrando a teoria e a prática de modo que

consigam, de forma criativa e consciente construir um significado para o meio social.

Por fim, considera-se que o período de realização do projeto Rio Aquidauana: um rio

de saberes desaguando no Pantanal, foi de suma importância, não só para os alunos que

tiveram uma contribuição significativa para sua vida sociocultural, de forma que os mesmos

construíram novos “saberes”, por meio da leitura e escrita contemporânea, como também para

nós, acadêmicos que pudemos adquirir mais experiência, conviver mais com os alunos,

acompanhando o progresso de cada um.

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REFERÊNCIAS

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científicos. São Paulo: Atlas, 2013.

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