UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO – UFMT§ões... · universidade federal de mato grosso –...

163
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO UFMT FACULDADE DE ECONOMIAFE MESTRADO EM AGRONEGÓCIOS E DESENVOLVIMENTO REGIONAL DINÂMICA DA ACUMULAÇÃO DO CAPITAL NO NORTE DE MATO GROSSO: Estudo relativo à indústria da madeira e da carne (1970 2007). ROGÉRIO DE OLIVEIRA E SÁ CUIABÁ - MATO GROSSO 2010

Transcript of UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO – UFMT§ões... · universidade federal de mato grosso –...

Page 1: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO – UFMT§ões... · universidade federal de mato grosso – ufmt faculdade de economia– fe mestrado em agronegÓcios e desenvolvimento regional

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO – UFMT

FACULDADE DE ECONOMIA– FE

MESTRADO EM AGRONEGÓCIOS E DESENVOLVIMENTO REGIONAL

DINÂMICA DA ACUMULAÇÃO DO CAPITAL NO NORTE DE MATO

GROSSO:

Estudo relativo à indústria da madeira e da carne (1970 – 2007).

ROGÉRIO DE OLIVEIRA E SÁ

CUIABÁ - MATO GROSSO

2010

Page 2: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO – UFMT§ões... · universidade federal de mato grosso – ufmt faculdade de economia– fe mestrado em agronegÓcios e desenvolvimento regional

ii

ROGÉRIO DE OLIVEIRA E SÁ

DINÂMICA DA ACUMULAÇÃO DO CAPITAL NO NORTE DE MATO GROSSO:

Estudo relativo à indústria da carne e da madeira (1970 – 2007).

Orientador:

Prof. Dr. José Manuel Carvalho Marta

Co-orientador:

Prof. Dr. Antônio César Santos

Dissertação apresentada para obtenção de

título de Mestre em Economia. Área de

concentração: Desenvolvimento Regional e

Agronegócio.

CUIABÁ – MATO GROSSO

2010

Page 3: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO – UFMT§ões... · universidade federal de mato grosso – ufmt faculdade de economia– fe mestrado em agronegÓcios e desenvolvimento regional

iii

S11d

Sá, Rogério de Oliveira e.

Dinâmica da acumulação do capital no Norte de Mato

Grosso: estudo

Relativo à indústria da madeira e da carne / Rogério de Oliveira e

– Cuiabá (MT): O Autor, 2010.

104 f.: il; 30 cm.

Dissertação (Mestrado em Agronegócios e Desenvolvimento

Regional). Universidade Federal de Mato Grosso. Faculdade de Economia

Orientador: Prof. Dr. José Manuel Carvalho Marta.

Inclui bibliografia.

1. Acumulação de Capital. 2. Força de Trabalho. 3. Degradação do

Trabalho. I. Título.

CDU: 339

Page 4: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO – UFMT§ões... · universidade federal de mato grosso – ufmt faculdade de economia– fe mestrado em agronegÓcios e desenvolvimento regional

iv

Page 5: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO – UFMT§ões... · universidade federal de mato grosso – ufmt faculdade de economia– fe mestrado em agronegÓcios e desenvolvimento regional

v

Dedico este trabalho a minha família e em

especial aos meus avôs e a minhas avós:

Manoel Firmino de Oliveira (Vovô Firmino),

Ana Cândida de Oliveira (Vovó Ana), João

João Leite de Sá (João Paque) e,

Rita Pereira Leite (Vovó Rita)

Page 6: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO – UFMT§ões... · universidade federal de mato grosso – ufmt faculdade de economia– fe mestrado em agronegÓcios e desenvolvimento regional

vi

AGRADECIMENTOS

Ao meu orientador Professor José Manuel Carvalho Marta pela paciência nos

momentos decisivos na elaboração da minha dissertação, direcionando e conduzindo a

orientação de forma brilhante, oportunidade que aproveito para compartilhar esse momento

único na minha vida.

Aos professores da Faculdade de Economia, Professor Dirceu Grasel meu orientador

na graduação, Benedito Dias Pereira, Sandra Cristina de Moura Bonjur, Fernando Tadeu de

Miranda Borges, Arturo Alejandro Zavala Zavala, Adriano Marcos Rodrigues Figueiredo,

Gerson Rodrigues da Silva, Antônio César Santos, José Antônio da Silva e ao professor

Patrick Örle Guimarães pelos ensinamentos e rigor científico compartilhado no momento

decisivo no mestrado, com auxílio na elaboração de artigos, auxiliando na participação de

congressos e no aprofundamento econométricos, estatísticos e cujo o ensinamento conduzirá o

horizonte da minha vida acadêmica.

Ao Núcleo de Estudos Rurais e Urbanos (NERU) integrante ao Instituto de Ciências

Sociais e Humanas (ICHS) da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), sob a liderança

do Professor João Carlos Barrozo.

Aos servidores da Faculdade de Economia da Universidade Federal de Mato Grosso

(FE/UFMT). Em especial a Maria Enildes, aos seguranças da universidade que permitiram o

acesso a sala de estudos nos finais de semanas e feriados até altas horas da noite.

A Secretaria de Estado de Planejamento e Coordenação Geral de Mato Grosso

(SEPLAN) pela liberação do encargo de trabalho durante os 24 meses no mestrado e pela

viabilização da logística no trabalho de pesquisa de campo, em especial ao Secretario Arnaldo

Alves de Souza Neto e da Secretaria Adjunta Regiane Berchieli e aos colegas de trabalho.

A Fundação de Amparo à Pesquisa de Mato Grosso (FAPEMAT) pela a liberação dos

recursos para o projeto Caracterização do Emprego nas Indústrias do Estado de Mato Grosso:

Um estudo relativo à indústria da madeira e da carne – 1996 a 2007, que permitiu aprofundar

a investigação científica.

Aos meus colegas do MBA/DRS e do mestrado cujos debates na sala de estudo do

mestrado proporcionaram uma rica e extensa experiência acadêmica.

Page 7: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO – UFMT§ões... · universidade federal de mato grosso – ufmt faculdade de economia– fe mestrado em agronegÓcios e desenvolvimento regional

vii

BIOGRAFIA

ROGÉRIO DE OLIVEIRA E SÁ, filho de José Rubens Leite de Sá e Lurdes Irene de

Oliveira e Sá, o sexto filho de uma família de nove irmãos, nascido na capital do estado de

Mato Grosso.

Tudo começou na pequena Escola Estadual São José de Operário (Coleginho), no

Bairro Dom Aquino (Cuiabá-MT) com dificuldades estruturais, mas com excelentes

professores que lhe ensinou muito mais que a aprender a ler e escrever, aonde chegou a cursar

até o antigo ginásio. Em 1997 concluiu o segundo grau com habilitação de Técnico em

Contabilidade na Escola Estadual Presidente Médice, durante cinco anos procurou se

especializar e ganhar experiência na atividade profissional. Em 2002, deixou o trabalho para

se dedicar ao ensino e a pesquisa acadêmica no Curso de Economia (FE/UFMT), tendo

trabalhado no projeto de pesquisa “Política industrial de Mato Grosso: caracterização,

avaliação, análises e tendências”, concluído em dezembro de 2005, com a Coordenação do

Prof. José Manuel Carvalho Marta, apresentando a monografia em 2007.

Em 2008 ingressou no programa de Mestrado em Agronegócio e Desenvolvimento

Regional, procurou melhorar os fundamentos teóricos através das disciplinas e a elaboração

de artigos, com foco em pesquisas ligadas ao mercado de trabalho, desigualdade de

rendimento, pobreza e distribuição de renda e participando de eventos científicos. No último

semestre do mestrado fez intercambio, tendo a oportunidade de compartilhar e adquirir

conhecimento cientifico e cultural na Universidade Técnica de Lisboa (UTL), em Portugal-

Lisboa. Em 05 do mês de agosto defendeu a dissertação, estando presentes professores,

colegas do mestrado e do trabalho, sendo aprovado.

Page 8: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO – UFMT§ões... · universidade federal de mato grosso – ufmt faculdade de economia– fe mestrado em agronegÓcios e desenvolvimento regional

viii

“Estude como você nunca estudou na sua vida,

pois se amanhã você for assaltado, não

conseguiram roubar a única e verdadeira

riqueza adquirida por você durante toda a sua

vida, o teu conhecimento”

Manoel Fermino de Oliveira (1920 - 2002)

Page 9: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO – UFMT§ões... · universidade federal de mato grosso – ufmt faculdade de economia– fe mestrado em agronegÓcios e desenvolvimento regional

ix

SUMÁRIO

RESUMO................................................................................................................................... XI

ABSTRACT .............................................................................................................................. XII

LISTA DE FIGURAS ............................................................................................................... XIII

LISTA DE TABELAS ............................................................................................................... XIV

LISTA DE SIGLAS .................................................................................................................... XV

INTRODUÇÃO ............................................................................................................................. 1

1. ASPECTOS METODOLÓGICOS .............................................................................................. 16

1.1 A BASE ESTRUTURAL DA COLETA DE DADOS SECUNDÁRIOS ............................................................ 17

1.1.1 A CLASSIFICAÇÃO DA ATIVIDADE ECONÔMICA E OS DADOS DA RAIS E DO CAGED. ....................... 17

1.1.2 CÓDIGO BRASILEIRO DE OCUPAÇÕES - CBO ............................................................................ 19

1.2 LIMITAÇÕES DA BASE DE DADOS .............................................................................................. 21

1.3 DETALHAMENTO DA BASE DE INFORMAÇÕES UTILIZADA ............................................................... 22

1.4 DEFINIÇÃO DO UNIVERSO DA PESQUISA E CÁLCULO DA AMOSTRA ................................................... 26

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ............................................................................................... 32

2.1 ASPECTOS HISTÓRICOS DA SITUAÇÃO DA CLASSE TRABALHADORA .................................................. 32

2.2 A REVOLUÇÃO INDUSTRIAL E O PROCESSO DE TRANSFORMAÇÃO DA ESTRUTURA SOCIAL ..................... 36

2.3. ACUMULAÇÃO DE CAPITAL E APROPRIAÇÃO DA FORÇA DE TRABALHO. ............................................ 39

2.4. DINÂMICA DA ACUMULAÇÃO DE CAPITAL. ................................................................................ 42

2.5 O DESENVOLVIMENTO DO CAPITALISMO E O PADRÃO SINGULAR NO BRASIL ...................................... 44

3. FORMAÇÃO DO CAPITAL EM MATO GROSSO. .................................................................... 48

3.1 - BREVE HISTÓRICO DA BASE DE EXPANSÃO DA ATIVIDADE ECONÔMICA NA AMAZÔNIA ....................... 48

3.2 – ASPECTOS HISTÓRICOS DA BASE DE EXPANSÃO DA ATIVIDADE ECONÔMICA EM MATO GROSSO ........... 52

3.3 O DESENVOLVIMENTO DA PRODUÇÃO DE ALGUMAS ATIVIDADES ECONÔMICA NO ESTADO ................... 54

4. ORIGEM DA FORÇA DE TRABALHO DA INDÚSTRIA DA MADEIRA E CARNE. .................... 64

4.1 A GÊNESE DA DINÂMICA DA ACUMULAÇÃO DE CAPITAL EM MATO GROSSO. ...................................... 64

4.2 O DIREITO DE PROPRIEDADE: PODER DELEGADO PELO ESTADO ÀS COLONIZADORAS ............................ 67

4.3 O SURGIMENTO DA FORÇA DE TRABALHO PARA OS SETORES DA CARNE E DA MADEIRA......................... 70

4.4 O CRESCIMENTO POPULACIONAL DO ESTADO DE MATO GROSSO ..................................................... 72

4.5 GERENTES NA INDÚSTRIA DA MADEIRA E CARNE, ASPECTOS QUE OS DIFERENCIAM ............................. 78

4.5.1 O GERENTE NA INDÚSTRIA DA CARNE ..................................................................................... 80 4.5.2 OS GERENTES DE PRODUÇÃO NA INDÚSTRIA DA MADEIRA: MADEIRA LAMINADA, COMPENSADA E

SERRARIA. ............................................................................................................................... 83 4.6 DIFERENTES TIPOS DE GERENTES DE PRODUÇÃO NA INDÚSTRIA DA MADEIRA: ORIGEM, PERFIL E

HABILIDADES............................................................................................................................ 87

5. A DINÂMICA DO CAPITAL NO NORTE DE MATO GROSSO .................................................. 93

5.1 A DINÂMICA DA EXPANSÃO DO CAPITAL NA REGIÃO DE FRONTEIRA E O SEU REFLEXO. ........................ 93

5.2 A FRONTEIRA DO TRABALHO DECENTE NO NORTE DE MATO GROSSO. .............................................. 96

5.3 A DINÂMICA DA ACUMULAÇÃO DO CAPITAL NA REGIÃO NORTE. ..................................................... 99

5.4 A INDÚSTRIA DA MADEIRA E DA CARNE: SITUAÇÃO DO MERCADO DE TRABALHO. ............................. 104

Page 10: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO – UFMT§ões... · universidade federal de mato grosso – ufmt faculdade de economia– fe mestrado em agronegÓcios e desenvolvimento regional

x

5.5 ALGUNS ASPECTOS QUE REFORÇAM A DEGRADAÇÃO DO TRABALHO. ............................................. 112

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................................... 119

7. REFERENCIAS ..................................................................................................................... 122

ANEXOS .................................................................................................................................. 127

APÊNDICES ............................................................................................................................. 139

Page 11: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO – UFMT§ões... · universidade federal de mato grosso – ufmt faculdade de economia– fe mestrado em agronegÓcios e desenvolvimento regional

xi

RESUMO

A colonização oficial do Estado de Mato Grosso na década de 1970 integrou o plano nacional

do regime militar com marco na “Operação Amazônia” em 1966. Orientado por uma

estratégia de desenvolvimento regional, constitui-se por um conjunto de leis que garantia a

posse da terra nos chamados “espaços vazio”. Todavia, tinha como objeto à exploração dos

recursos florestais e minerais, com propósitos de promover o desenvolvimento da

agropecuária e da indústria na região Amazônica, integrando essas atividades as economias

das demais regiões do país. Nesse sentido, este trabalho tem por objetivo entender a lógica do

processo de valorização do capital no Norte de Mato Grosso, com ênfase nas questões

relacionadas aos aspectos do trabalho na indústria da madeira e da carne, no período de 1970

a 2007. O estudo explora a base teórica de Marx e a história da Região Norte do Estado, num

sentido cronológico a partir dos seguintes eixos: primeiro, a partir do processo histórico de

formação econômica do capital no Estado, baseada nos incentivos e aumento da produção;

segundo, busca a origem da força de trabalho, proporcionada pela queda na atividade do

garimpo e a migração de pessoas de outras regiões do país. Para tanto, fez uso de dados dos

registros administrativos da Relação Anual de Informações Sociais e do Cadastro Geral de

Empregados e Desempregados do Ministério do Trabalho e Emprego, juntamente com dados

obtidos em pesquisa de campo. Assim, foi possível entender a dinâmica do capital em Mato

Grosso marcada pela expulsão de nativos da região e incorporação dos excluídos nos setores

agropecuário e industrial. Dessa maneira, a acumulação do capital no Norte de Mato Grosso

custou às vidas de nação indígenas e expropriação de pequenos produtores, como

conseqüência, incorporando essas pessoas como força de trabalho nas indústrias da carne e da

madeira, sob intensa degradação no trabalho. Este fato é constatado através do movimento de

empresas e de trabalhadores nas chamadas “regiões de fronteira”, região onde surgem “novas

oportunidades” e abre espaço para todo tipo de afrontamento aos direitos do trabalhador,

submetendo-os aos piores tipos de emprego e de condições de trabalho.

Palavras-chave: Acumulação de Capital, Força de trabalho, Degradação do Trabalho.

Page 12: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO – UFMT§ões... · universidade federal de mato grosso – ufmt faculdade de economia– fe mestrado em agronegÓcios e desenvolvimento regional

xii

ABSTRACT

The settlement officer of the State of Mato Grosso in the 1970s included the national plan of

the military regime in March with "Operation Amazon" in 1966. Guided by a regional

development strategy, is constituted by a set of laws that guarantee the ownership of land in

so-called "empty spaces". However, had as its object the exploitation of forest resources and

minerals, for purposes of promoting the development of agriculture and industry in the

Amazon region, integrating these activities the economies of other regions of the country.

Thus, this study aims to understand the logic of the process of capital appreciation in northern

Mato Grosso, with emphasis on issues relating to aspects of work in the timber and meat in

the period 1970 to 2007. The study explores the theoretical basis of Marx and the history of

the Northern Region of the State, in chronological order from the following points: first, from

the history of the development of economic capital in the state, based on incentives and

increased production, and second, searches for the origin of the work force, provided by the

decline in mining activity and the migration of people from other parts of the country. To do

so, made use of data from administrative records from the Relação Anual de Informações

Sociais e do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados do Ministério do Trabalho e

Emprego, together with data obtained in field research. Thus it was possible to understand the

dynamics of capital in Mato Grosso marked by the expulsion of natives and incorporation of

the excluded agricultural and industrial sectors. Thus, the accumulation of capital in the north

of Mato Grosso has cost the lives of indigenous nation and expropriation of small producers,

as a consequence, incorporating these people as labor force in the meat industry and timber,

under intense degradation at work. This fact is evidenced by the movement of firms and

workers in so-called "border regions", a region where similar "opportunities" and opens space

for any kind of confrontation rights of workers, subjecting them to the worst types of

employment and working conditions.

Keywords: Capital Accumulation, Labor force, Degradation of Labor.

Page 13: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO – UFMT§ões... · universidade federal de mato grosso – ufmt faculdade de economia– fe mestrado em agronegÓcios e desenvolvimento regional

xiii

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Fluxograma da estrutura de análise de dados do trabalho no período de 1985 a 2001

.................................................................................................................................. 24

Figura 2 - Fluxograma da estrutura para levantamento de dados em campo e análise de dados

no período de 2002 a 2007 ....................................................................................... 25

Figura 3- Mapa dos projetos do INCRA em Mato Grosso na década de 70 e 80 .................... 69

Figura 4 - Fluxograma geral da cadeia produtiva da madeira .................................................. 83

Figura 5 – Mapa do desmatamento e trabalho escravo. ........................................................... 97

Figura 6 – Mapa de migração interna no Brasil, direção predominante na década de 80. ..... 100

Figura 7– Etapas do processo produtivo do agronegócio e seus impactos na saúde do

trabalhador, na população e no ambiente. .............................................................. 114

Page 14: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO – UFMT§ões... · universidade federal de mato grosso – ufmt faculdade de economia– fe mestrado em agronegÓcios e desenvolvimento regional

xiv

LISTA DE TABELAS

Tabela 1. Produto interno bruto, índice de crescimento acumulado e de participação, Brasil e

MT, 2002 a 2007...................................................................................................... 7

Tabela 2. Número de estabelecimento por setor econômico do IBGE, taxa relativa de

crescimento, MT - 2002 a 2007. .............................................................................. 8

Tabela 3. Número de trabalhadores admitidos e desligados, saldo e saldo acumulado, MT -

2002 a 2007.............................................................................................................. 8

Tabela 4. Número de empregos formais, e taxa de participação setor ind. Transformação,

classificação de setor do IBGE, MT - 2002 a 2007. ................................................ 9

Tabela 5. Número de trabalhadores resgatados por município, Mato Grosso 2008 ................. 10

Tabela 6 - Número de Empregos e Estabelecimentos por Classe CNAE – MT, 2006. ........... 27

Tabela 7 - Produção de lenha (m3) e madeira em tora (m

3), taxa de variação anual e índice de

crescimento acumulado no Estado de Mato Grosso, 1978 - 2007. ........................ 55

Tabela 8 - Efetivo bovinos, taxa de variação anual e índice de crescimento acumulado, Mato

Grosso, 1978 - 2007. .............................................................................................. 57

Tabela 9 - Área, produção, produtividade, taxa de variação anual da produção e índice de

crescimento acumulado da cultura da soja (em grão), Estado de Mato Grosso,

1978 - 2007. ........................................................................................................... 59

Tabela 10 – Área, produção da cultura do milho (em grão), taxa de variação anual e índice de

crescimento acumulado da produção, Mato Grosso, 1978 a 2007. ....................... 61

Tabela 11 -Efetivo de suínos e aves, taxa de variação anual e índice de crescimento

acumulado no Estado de Mato Grosso, 1978 - 2007. ............................................ 62

Tabela 12. Crescimento acumulado da população do estado de Mato Grosso, em 1970, 1980,

1991, 1996, 2000 e 2007........................................................................................ 73

Tabela 13. Crescimento anual da população do estado de Mato Grosso, e taxa de participação

da população urbana e rural, em 1970, 1980, 1991, 1996, 2000 e 2007. ............ 74

Tabela 14- Remuneração média do trabalhador, Maranhão, Alagoas e Mato Grosso, 1985 a

2001. ...................................................................................................................... 76

Tabela 15. Número de empregos, taxa de crescimento do emprego e taxa de participação,

Maranhão, Alagoas e Mato Grosso, em 85, 90, 95 e 2001. ................................... 77

Tabela 16- Número de emprego formais, por gênero e participação da mulher, segundo a

classificação do IBGE, Mato Grosso, 85, 90 e 2001. ............................................ 90

Page 15: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO – UFMT§ões... · universidade federal de mato grosso – ufmt faculdade de economia– fe mestrado em agronegÓcios e desenvolvimento regional

xv

Tabela 17- Número de empregos formais, categoria gerentes, por gênero e participação da

mulher, segundo a classificação do IBGE, Região Norte de Mato Grosso, 85, 90 e

2001. ...................................................................................................................... 91

Tabela 18- Número de empregos formais, segundo a Classe CNAE, Região Norte de Mato

Grosso, 2002 a 2007. ........................................................................................... 104

Tabela 19- Número de empregos formais, segundo a Classe CNAE, faixa de tempo de

emprego em meses, Região Norte de Mato Grosso, 2002 e 2007. ...................... 105

Tabela 20- Remuneração média, segundo a Classe CNAE da Região Norte de Mato Grosso,

2002 a 2007.......................................................................................................... 106

Tabela 21- Número de empregos formal por grau de instrução, segundo a Classe CNAE da

Região Norte de Mato Grosso, 2002 e 2007........................................................ 112

Tabela 22- Acidente de trabalho por CNAE relacionada a atividade da madeira e da carne,

Estado de Mato Grosso, 2002 a 2007. ................................................................. 115

Tabela 23- Número de emprego e de acidente de trabalho, índice acumulado, Estado de Mato

Grosso e Norte, 2002 a 2007. .............................................................................. 116

Tabela 24- Acidentes do trabalho, mesorregião de Mato Grosso, 2002 a 2007. .................... 116

LISTA DE SIGLAS

Page 16: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO – UFMT§ões... · universidade federal de mato grosso – ufmt faculdade de economia– fe mestrado em agronegÓcios e desenvolvimento regional

xvi

CBO – Código Brasileiro de Ocupação

CODEMAT – Companhia de Desenvolvimento do Estado de Mato Grosso

CNAE – Classificação Nacional de Atividade Econômica

DNPM – Departamento Nacional Produção de Mineral

FUNDEIC – Fundo de Desenvolvimento Industrial e Comercial do Estado de Mato Grosso

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

INCRA – Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária

MTE – Ministério do Trabalho e Emprego

PIN – Plano de Integração Nacional

POLOCENTRO – Pólo de Desenvolvimento do Cerrado

POLONOROESTE – Programa Integrado de Desenvolvimento do Noroeste do Brasil

RADAM – Projeto Radar da Amazônia

SEFAZ-MT – Secretaria de Fazenda de Mato Grosso

SEPLAN – Superintendência de Planejamento de Mato Grosso

SPVEA – Superintendência do Plano de Valorização Econômica da Amazônia

SUDAM – Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia

Page 17: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO – UFMT§ões... · universidade federal de mato grosso – ufmt faculdade de economia– fe mestrado em agronegÓcios e desenvolvimento regional

1

INTRODUÇÃO

A colonização oficial do Estado de Mato Grosso na década de 70 integrou o grande

plano nacional do regime militar que começou com a “Operação Amazônia” em 1966. Este

Plano elaborado e coordenado pelos governos militares tinha em sua essência a lógica

geopolítica, de ocupar os espaços vazios da Região Amazônica e integrá-la as demais regiões

do país, garantindo assim um padrão de unidade nacional. O slogan divulgado na época era

“integrar para não entregar”.

O plano foi orientado por uma estratégia de desenvolvimento regional constitui-se

num conjunto de leis que garantia a posse da terra nos “espaços vazios”, e permitia à

exploração dos recursos florestais e minerais, com propósito de expansão da agropecuária e

da indústria na região Amazônica, integrando essas atividades as economias das demais

regiões do país (CARVALHO, 2000; BARROZO, 2008)

No entanto, segundo Cardoso e Muller (1978) a busca pelo “progresso e pela

integração nacional” tinha uma intenção clara no contexto do desenvolvimento econômico e

da expansão do capitalismo na Amazônia: a expansão da acumulação de capitais. Esse

interesse começou a ficar cada vez mais evidente quando no final da década de 1970, o

Ministro do Planejamento João Paulo dos Reis Veloso fez o seguinte pronunciamento:

Até aqui a Transamazônica deu ênfase à colonização, mas a necessidade de

evitarmos uma ocupação predatória, com um conseqüente processo de

desmatamento, e de promovermos a manutenção do equilíbrio ecológico, nos leva a

convidar as grandes empresas a assumirem a tarefa de desenvolver esta região.

(CASTRO; et. al., 2002, p.66)

Nesse discurso do Ministro do Planejamento se pode perceber a intenção do governo

em criar políticas que atendessem as empresas. A implantação de grandes empreendimentos

garantiria a manutenção do equilíbrio ecológico e evitaria o desmatamento desenfreado na

região, segundo a concepção do ministro.

Naquela ocasião, observava-se uma mudança repentina no sentido da colonização

promovida pelo governo. A priori, a colonização era justificada em face da expropriação dos

Page 18: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO – UFMT§ões... · universidade federal de mato grosso – ufmt faculdade de economia– fe mestrado em agronegÓcios e desenvolvimento regional

2

pequenos produtores rurais do Sul do país, e pelo interesse em preservar a unidade nacional.

Assim como, a solução para trabalhadores e pequenos produtores do Nordeste prejudicados

pela seca. Com a mudança no discurso, o governo, atendia o anseio internacional e passou a

combater o desmatamento provocado pela ocupação predatória e “garantir” o equilíbrio

ecológico com apoio das grandes empresas que assumiriam a tarefa de promover o

“desenvolvimento” da região (CASTRO; PRETI, 1993)

Neste contexto, parte da população brasileira, em função da pouca atenção dada aos

movimentos sociais, exigia respostas objetivas do governo para suas reivindicações. Assim, o

processo de ocupação e de colonização oficial serviu, de certo modo, como alternativa para

acalmar as regiões de conflitos (Sul e Nordeste) garantindo a ocupação de “espaços vazios”

na Amazônia.

Associado a esse movimento, o Ministro do Planejamento recomendava prudência em

relação ao meio ambiente. Paradoxalmente, a partir do final da década de 70, observava-se, o

início de venda de grandes áreas destinada à colonização e exploração moderna. Desse modo,

o interesse privado reafirma-se acima do social. E tal fato levou o governo a estabelecer

medidas de política fiscal e creditícia oferecida às empresas nacionais e internacionais que

passaram a adquirir glebas e instalar serrarias.

Entre os mecanismos utilizados pelos governos militares na época, a reestruturação da

Superintendência do Plano de Valorização Econômica da Amazônia (SPVEA), a partir da

criação da Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia (SUDAM), se prestavam aos

objetivos dos grandes grupos econômicos nacionais e internacionais se tornar grandes

latifundiários na Amazônia Legal. Dentre as políticas territoriais implantadas podemos

destacar o Programa de Integração Nacional, com a construção das rodovias Transamazônica

e Cuiabá-Santarém.

Em meio a esse contexto, a ocupação da Amazônia e, em especial do Norte de Mato

Grosso apresentada inicialmente como forma de garantir terras aos excluídos do Sul e do

Nordeste do país, teve seu foco desviado, prevalecendo o interesse do capital com a presença

do governo militar garantindo os espaços para inserção da atividade econômica, baseada em

grandes latifúndios e extração de recursos florestais e minerais, principalmente com a inserção

desses “excluídos” como força de trabalho nos empreendimentos econômico.

Page 19: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO – UFMT§ões... · universidade federal de mato grosso – ufmt faculdade de economia– fe mestrado em agronegÓcios e desenvolvimento regional

3

Segundo Oliveira (1987), Mendez (2005) e Moreno (2007) grandes empreendimentos

econômicos se beneficiaram com a venda de terras na região Amazônica, a título de exemplo,

os grupos Ometto e a Agropecuária Cachimbo S.A adquiriram cerca 900.000 hectares de

terras, através de recursos subsidiados pelo governo militar no eixo da BR 163.

Entretanto, segundo Moreno (2007) no período de 1980 a 1992 foram mais de 46

Projetos de Assentamento conduzido pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma

Agrária (INCRA), assentando 9.690 famílias em 990.039 hectares de área, ou seja, em média

102 hectares de terra por família. E durante o período de 1968 a 1992, os projetos de

Colonização Particular foram responsáveis pela implantação de 88 projetos, através da

alocação de 20.000 famílias de colonos numa área de 3,25 milhões de hectares, em média

com 162 hectares de terra por família. Ressalta-se que o Estado de Mato Grosso foi um dos

estados que mais teve Projetos de Colonização implantados a partir da década de 70.

O que se observa nos estudos e dados disponíveis em diversos trabalhados realizados

sobre o processo de ocupação e colonização da região Amazônica e, em especial sobre o

Estado de Mato Grosso é a formação de grandes extensões de terras nas mãos de poucos

(formações de latifúndios). Enquanto que a maioria das pessoas que vieram ocupar os espaços

vazios tinha em médias de 100 hectares de terras. Dessa forma, Moreno (2007) e Oliveira

(1987, 1990) afirmam que apenas alguns grupos e poucas pessoas foram beneficiados com

este processo de ocupação, e os instrumentos de que se valeram foi um conjunto de medidas e

políticas que serviram a interesses particulares, com formação de grandes latifúndios.

Todavia, grande parte dos projetos de colonização oficiais foi realizada através de

parcerias com empresas e cooperativas privadas do Sul do país. E tal fato, justifica em parte a

condição de empresas do estado de Mato Grosso, e do Pará serem as duas principais origens

dos projetos apresentados a SUDAM. Cerca de 72%, deles estava relacionado aos setores da

Agropecuária, Indústria e Agroindústria sobretudo, para os grandes empreendimentos

(CARDOSO; MULLER, 1978; OLIVEIRA, 1990).

A colonização particular serviu em certo ponto para aumentar a especulação da terra, e

garantir o direito de propriedade, facilitando o acesso a créditos e incentivos subsidiados pelo

governo militar para empresas do sudeste.

Page 20: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO – UFMT§ões... · universidade federal de mato grosso – ufmt faculdade de economia– fe mestrado em agronegÓcios e desenvolvimento regional

4

Segundo Oliveira (1990) os incentivos fiscais totais concedidos até o final de maio de

1985 foram de 62.061.540 OTN, equivalente a 15 bilhões de cruzeiros. Em termos atuais1, o

valor dos incentivos concedidos pela SUDAM até o final de 1985 seria equivalente a R$

4.002.553.713,49 (Quatro bilhões, dois milhões quinhentos e cinqüenta e três mil, setecentos

e treze reais e quarenta e nove centavos), sendo que 4% dos projetos foram cancelados,

equivalente a 4.552.053 OTN, o que resultou em prejuízo atual ao cofre público na ordem de

R$ 293.576.934,11 (Duzentos e noventa e três milhões, quinhentos e setenta e seis mil,

novecentos e trinta e quatro reais e onze centavos).

O processo inicial da expansão capitalista em Mato Grosso se deu no início da década

de 70, através do processo de ocupação da Região Norte e na fase seguinte com os aportes de

capitais e formação dos grandes empreendimentos econômicos na região. E tais fatos

permitem datar o estudo a partir da década de 1970.

Em relação à delimitação espacial, dois motivos em especial justificam o estudo na

Região Norte de Mato Grosso, além dos motivos apresentados anteriormente. O fato da

atividade madeireira e da carne serem as principais atividades beneficiadas por este processo

de expansão do capital. Ou seja, na exploração dos recursos florestais e, incorporação de

novas áreas, e de modo particular, com a incorporação de grande parte da força de trabalho

das pessoas vindas do Sul e do Nordeste.

O Mapa 1 traz o limite geográfico da Região Norte objeto do estudo. A mesorregião

Norte Mato-Grossense é a classificação definida pelo Instituto Brasileiro de Geografia e

Estatística (IBGE), composta por oito micros regiões (Aripuanã, Alta Floresta, Colider,

Parecis, Arinos, Alto Teles Pires, Sinop e Paranatinga) e 54 municípios.

Esta região geográfica se insere na definida como “Amazônia Legal”, que está

constituída por nove estados brasileiros: Acre, Amapá, Mato Grosso, Pará, Rondônia,

Roraima, Tocantins e parte do Estado do Maranhão, com uma superfície de aproximadamente

5.217.423 Km2.

1 Valores em OTN convertidos em cruzeiros reais e deflacionado pelo IGP-DI da Fundação Getúlio Vargas

(FGV) até o mês de dezembro de 2007.

Page 21: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO – UFMT§ões... · universidade federal de mato grosso – ufmt faculdade de economia– fe mestrado em agronegÓcios e desenvolvimento regional

5

A área definida como região Amazônia Legal tem como características comum

estados brasileiros pertencentes a Bacia Amazônica e trechos pertencentes a Floresta

Amazônica.

Mapa 1 – Delimitação do espaço geográfico da pesquisa, Mesorregião Norte de Mato Grosso. Fonte: Mato Grosso (2004).

Por se tratar de uma área relativamente grande, em comparação as demais

mesorregiões do Estado, com aproximadamente 482.748.774 Km2 e uma população estimada

em 2006 em mais de 839.000 habitantes, outros recortes foram necessários (MATO

GROSSO, 2006b). O primeiro, em relação às atividades econômicas objeto de estudo: setores

de atividades da madeira e da carne, cuja classificação das atividades apresenta-se a seguir:

1) abate de reses, exceto suínos (Classe CNAE nº 10.112);

2) abate de suíno, aves e outros pequenos animais ( Classe CNAE nº 10.121);

Alta Floresta

Alto Teles Pires

Arinos

Aripuanã Colider

Paranatinga Parecis

Sinop

Page 22: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO – UFMT§ões... · universidade federal de mato grosso – ufmt faculdade de economia– fe mestrado em agronegÓcios e desenvolvimento regional

6

3) desdobramento da madeira (Classe CNAE nº 16.102);

4) Fabricação de laminada e chapas de madeira compensada, prensada de aglomerada

(Classe CNAE nº 16.218);

5) Fabricação de estrutura de madeira e de artigos de carpintaria para construção

(Classe CNAE nº 16.226);

Os setores, objeto de estudo, desenvolvem como atividade operacional bens e matéria-

prima para outras indústrias, relacionados à indústria de transformação. Juntos, essas

atividades econômicas representam o equivalente a 50,7% dos empregos formais da indústria

de transformação no Estado, equivalente a 38.238 postos de trabalho, lotados em 1.359

estabelecimentos da indústria de transformação no Estado de Mato Grosso em 2006, que

corresponde a 32,8% (MTE, 2008).

O segundo recorte foi em relação aos municípios para realizar as entrevistas. O

método utilizado para fazer o recorte amostral foi a concentração de empregos dos setores

selecionados. Nos municípios que mais empregavam em 2006, com base nos dados dos

registros administrativos da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS) do Ministério do

Trabalho e Emprego (MTE).

A partir deste recorte foram realizadas entrevistas com trabalhadores, gerentes,

empresários, ex-empresários, presidentes dos sindicatos e desempregados nos municípios, de

Nova Mutum, Lucas do Rio Verde, Sorriso, Vera, Feliz Natal, Sinop, Cláudia, Marcelândia,

Colíder, Alta Floresta, Juara e Juína, todos da Região Norte do estado de Mato Grosso.

A estrutura de coleta e tratamento dos dados atende os desdobramentos e agregações

da Classificação Nacional da Atividade Econômica (CNAE) 2.0 e da Classificação Brasileira

de Ocupações (CBO), versão revisada em 2002.

O setor da madeira e da carne juntos com outros setores da atividade econômica no

Estado tem contribuído com o desempenho positivo da economia mato-grossense, como o

crescimento do Produto Interno Bruto, aumento das exportações e a geração de emprego.

A economia mato-grossense teve um aumento expressivo de crescimento do seu

Produto Interno Bruto (PIB) nos últimos anos, o maior dentre os estados brasileiros entre

2002 a 2007, apresentando um crescimento acumulado de 45,10% (Tabela 1). Contribuem

Page 23: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO – UFMT§ões... · universidade federal de mato grosso – ufmt faculdade de economia– fe mestrado em agronegÓcios e desenvolvimento regional

7

ainda com esse resultado os programas de desenvolvimento e os incentivos fiscais concedido

pelo Estado, por exemplo, o Programa de Desenvolvimento Industrial do Estado de Mato

Grosso (PRODEI) e Fundo de Desenvolvimento Industrial e Comercial do Estado de Mato

Grosso (FUNDEIC).

Tabela 1. Produto interno bruto, índice de crescimento acumulado e de participação, Brasil e

MT, 2002 a 2007. Descrição 2002 2003 2004 2005 2006 2007*

PIB real – MT 28.662 35.455 41.905 41.960 38.071 41.588

PIB real – Brasil 2.022.698 2.161.115 2.201.184 2.404.813 2.556.973 2.695.049

Índice crescimento MT 100 123,70 146,20 146,40 132,83 145,10

Participação MT/BR (%) 1,42 1,64 1,90 1,74 1,49 1,54

Fonte: Anuário Estatístico de Mato Grosso. SEPLAN/SEI – Secretaria de Estado de Planejamento e

Coordenação Geral/Superintendência de Estudos e Informações, 2002, 2003, 2004, 2005, 2006a e 2007

Notas: * Valor estimado ** Os valores em Milhões de R$ de dezembro de 2007 (deflacionados pelo IGP-DI)

Este desempenho pode estar associado ao papel que as atividades econômicas

representam na economia mato-grossense (MATO GROSSO, 2006b), destacando-se o

aumento das exportações de grãos, de carne, bem como, o surgimento de novas plantas

industriais no Estado, como se verifica na Tabela 2. Permitindo-se caracterizar a economia

como primário-exportador.

Entretanto, a participação do PIB estadual em relação ao PIB do Brasil ainda é

modesto, apenas 1,54%, em 2007. O aumento na quantidade de estabelecimentos no período

de 2002 a 2007 indica uma melhora nesta participação, considerando a possível agregação em

setores como os da soja, beneficiada pela Lei Kandir.

Segundo a classificação do setor econômico do IBGE, o Estado contava-se 40.042

empresas ativas, em 2002; em 2007 passou-se a 56.111 empresas. Equivalente a uma taxa de

crescimento no período de 40%, conforme Tabela 2.

A estratificação em 8 (oito) setores passou a ser coletada a partir de 1988, sendo que a

estatística é reconhecida desde então.

Page 24: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO – UFMT§ões... · universidade federal de mato grosso – ufmt faculdade de economia– fe mestrado em agronegÓcios e desenvolvimento regional

8

Tabela 2. Número de estabelecimento por setor econômico do IBGE, taxa relativa de

crescimento, MT - 2002 a 2007. Setor IBGE 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2002/2007 (%)

Extr. Mineral 97 129 138 145 150 160 64,95

Ind. Transformação 3.855 3.998 4.261 4.403 4.498 4.657 20,80

Serviços ind. Público 101 102 120 129 143 159 57,43

Construção civil 1.228 1.218 1.416 1.498 1.567 1.748 42,35

Comércio 14.594 16.105 17.713 19.163 19.925 20.910 43,28

Serviços 9.912 10.682 11.576 12.318 12.822 13.760 38,82

Adm. Pública 413 369 419 390 430 380 -7,99

Agropecuária 9.842 10.964 12.311 13.317 13.785 14.337 45,67

Total 40.042 43.567 47.954 51.363 53.320 56.111 40,13

Fonte: Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), RAIS 2002 a 2007, estabelecimentos ativos.

Entre os destaques no número de estabelecimentos implantados de 2002 a 2007, temos

o setor da Agropecuária (45,67%), construção civil (42,35%), comércio (43,28%), serviços

(38,82) e a indústria de transformação (20,80%). Neste último, em que estão inseridas as

indústrias da madeira e da carne.

Com o surgimento de novos estabelecimentos e melhoria da economia, através do

crescimento do PIB no período em análise, observam-se nos últimos cinco anos aumento na

geração de empregos. Nesse sentido, o estado de Mato Grosso vem se destacando no cenário

nacional pelo grande crescimento que tem ocorrido na contratação de trabalhadores no setor

formal, segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED) entre

os anos de 2002 a 2007, as empresas instaladas no Estado empregaram mais de 1.300.000

trabalhadores, resultando em saldo positivo entre as admissões e demissão no mesmo período

de mais 77.871 empregos (Tabela 3)

Tabela 3. Número de trabalhadores admitidos e desligados, saldo e saldo acumulado, MT -

2002 a 2007.

Ano Admitidos Desligados Saldo Saldo cumulado

2002 182.489 171.610 10.879 10.879

2003 201.391 185.078 16.313 27.192

2004 253.451 225.683 27.768 54.960

2005 240.380 246.156 -5.776 49.184

2006 227.021 222.890 4.131 53.315

2007 268.853 244.297 24.556 77.871

Total 1.373.585 1.295.714 77.871

Fonte: Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), CAGED 2002 a 2007. Dados organizados

Page 25: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO – UFMT§ões... · universidade federal de mato grosso – ufmt faculdade de economia– fe mestrado em agronegÓcios e desenvolvimento regional

9

Mesmo com o desemprego no ano de 2005, a atividade industrial no Estado composta

pela Indústria de Transformação, dos Serviços Industriais Público e pela Indústria da

Construção Civil, representada por 6.030 empresas, equivalente a cerca de 11% do total de

estabelecimentos em 2005, empregou mais de 69.300 trabalhadores. Como se verifica nos

dados da Tabela 4. Este número passou a ser de 114.625 trabalhadores em 2007, em termos de

participação no número de estabelecimentos ativos no Estado, manteve-se basicamente o

mesmo 11%, ou seja, percebe-se que houve um aumento de emprego nestes setores (Tabela

4).

Tabela 4. Número de empregos formais, e taxa de participação setor ind. Transformação,

classificação de setor do IBGE, MT - 2002 a 2007. Setor IBGE 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2002/2007 (%)

Extr. Mineral 921 1.357 1.525 1.714 1.944 2.650 187,73

Ind. Transformação 60.572 63.701 71.260 69.312 77.651 86.174 42,27

Serviços ind. Público 3.277 3.250 3.577 3.385 3.612 3.607 10,07

Construção civil 12.380 13.033 15.848 13.349 15.273 24.844 100,68

Comércio 78.125 90.277 105.249 109.268 111.978 121.864 55,99

Serviços 89.810 91.003 101.446 105.046 108.888 115.537 28,65

Adm. Pública 88.932 97.013 108.409 124.089 134.609 143.905 61,81

Agropecuária 45.135 54.467 65.322 63.952 64.170 73.024 61,79

Total 379.152 414.101 472.636 490.115 518.125 571.605 50,76

Ind. Transformação (%). 15,98 15,38 15,08 14,14 14,99 15,08

Fonte: Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), RAIS 2002 a 2007, empregos ativos. Dados organizados

Como se verifica nos números do emprego apresentados na Tabela 4, a taxa de

participação no emprego formal pelo setor de transformação tem se mantido em média nos

15%, no período de 2002 a 2007. Enquanto que o número total de emprego no Estado passou

de 379.152 para 571.605, equivalente a uma taxa de 50,76% no mesmo período. As atividades

econômicas objeto deste estudo, indústria da madeira e carne, compõe o setor da Indústria de

Transformação, o qual teve um aumento considerável no estoque de emprego, cerca de

42,27%, passando de 60.572 trabalhadores para 86.174, no período em análise. Em grande

parte pode-se associar o aumento no estoque de emprego aos incentivos financeiros e fiscais,

ao mercado aquecido pelas exportações e que estimulam o surgimento de novas plantas

industriais no Estado.

Em meio aos resultados positivos, observam-se resultados indesejados relacionados às

condições de trabalho em algumas atividades econômica no Estado.

Page 26: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO – UFMT§ões... · universidade federal de mato grosso – ufmt faculdade de economia– fe mestrado em agronegÓcios e desenvolvimento regional

10

Nesse sentido, verifica-se um esforço intenso do Governo Federal e Estadual, no

empenho através das atuações da fiscalização no mercado de trabalho2. Ou seja, com amparo

legal o governo através dos órgãos responsáveis tem combatido as praticas relativo ao

trabalho forçado, análogo ao trabalho escravo.

O número de pessoas resgatadas em condições semelhante ao trabalho forçado e a

participação de alguns municípios de Mato Grosso é mostrado na Tabela 5. Entre os

trabalhadores resgatados cerca de 22% são de estabelecimentos (madeireiras e fazendas de

pecuária bovina) da Região Norte (Brasnorte, Campo Novo dos Parecis, Novo Mundo,

Campos de Júlio, Tapurah e Nova Ubiratã).

O interessante dos dados da Tabela 5 é mostrar o número de municípios da Região

Norte em que foi constatada a prática de trabalho forçado, convém ressaltar que estes dados

são referentes a denúncias realizadas junto a Delegacia Regional do Trabalho e, em grande

parte os trabalhadores pela pressão e ameaças que sofre nem chegam a oficializar a denúncia.

Tabela 5. Número de trabalhadores resgatados por município, Mato Grosso 2008(1)

Municípios Nº de trabalhadores Participação

Poconé 658 58,13

Novo São Joaquim 45 3,98

Alto Garças 124 10,95

Paranatinga 46 4,06

Brasnorte 47 4,15

Confresa 10 0,88

Campo Novo dos Parecis 7 0,62

Novo Mundo 126 11,13

Campos de Júlio 36 3,18

Tapurah 10 0,88

Nova Ubiratã 23 2,03

Total 1.132 100,00

Fonte: Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), 2008.

Nota: (1) Os dados disponíveis esta acumulado com resgates efetuados até 28/11/2008.

A atuação do Ministério do Trabalho e Emprego através da Delegacia Regional do

Trabalho nas fazendas e serrarias tem sido cada vez mais freqüente no estado de Mato Grosso,

com resgate de trabalhadores em condições de trabalho sub-humanas. Outro ponto importante

2 A atuação do Grupo de Fiscalização Móvel do Ministério do Trabalho e Emprego, através da divulgação das

atuações realizadas embasada pela Portaria nº 540 de 15/10/2004, concebida pela atribuição que lhe confere o

art. 87, parágrafo único, inciso II, e tendo em vista o disposto no art. 186, incisos III e IV, da Constituição

Federal de 1988 (MTE, 2007).

Page 27: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO – UFMT§ões... · universidade federal de mato grosso – ufmt faculdade de economia– fe mestrado em agronegÓcios e desenvolvimento regional

11

a ser destacado é que muitas fazendas e empresas autuadas por prática de trabalho forçado são

reincidentes, ou seja, foi autuado mais de uma vez, o que demonstra o descaso desses

empregadores com a condição e ambiente de trabalho, a exemplo deste tipo de prática às

atuações no município de Poconé, em que a mesma empresa foi advertida em mais de uma

vez (MTE, 2008).

Segundo Pignati (2005) os processos produtivos industrial-florestal têm causado

grandes impactos negativos na saúde do trabalhador. Ressalta que os acidentes de trabalho

tem aumentado consideravelmente no Estado de Mato Grosso. Do total de 4.252 acidentes de

trabalho ocorridos em 2000, 103 (cento e três) foram a óbito, destes 16 (dezesseis) são do

setor madeireiro, o número de acidentes do setor madeireiro neste ano foi de 607 (seiscentos e

sete). Em 2003 aumentaram os casos de incidência de acidentes de trabalho no Estado, o que

reforça a tese de precariedade das condições de trabalho.

Em meio a essa situação indesejável, mesmo considerando o desempenho considerável

alcançado pela economia mato-grossense, o crescimento significativo do PIB do Estado, com

geração de emprego, aumento das exportações e aumento no número de estabelecimentos,

remete à preocupação sobre a sua distribuição, ou ainda, com o desenvolvimento

socioeconômico do Estado, e também, sobre o que teria custado ao Estado e a sociedade

(inclui-se aqui os trabalhadores) esse desempenho positivo?

Estabelece-se, portanto um paradoxo diante da exuberância dos indicadores positivos,

exibidos pela economia mato-grossense: o aumento da precariedade das condições de trabalho

e aumento da atuação do MTE nas empresas, por desrespeitar o direito trabalhista do

trabalhador é compatível com crescimento econômico?

Nesse sentido, várias questões se colocam frente ao desempenho positivo que a

economia de Mato Grosso vem obtendo, em especial para a Região Norte objeto de estudo.

Explicitam objetivamente: qual a participação dos trabalhadores? Seus direitos básicos de

trabalhador previsto na Consolidação das Leis do Trabalho - CLT estão sendo respeitados?

Estas performances tem se refletido em melhores salários? Existe uma melhora da qualidade

de vida dos trabalhadores? O desempenho econômico têm se refletido em melhores condições

de trabalho? De que maneira se concebeu a valorização3 do capital no Norte de Mato Grosso

3 A valorização do capital neste trabalho é entendida como sendo o modo da expansão e de acumulação do

capital, envolvendo não somente a relação entre a produção e a capitalização da mais-valia, mas também a

Page 28: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO – UFMT§ões... · universidade federal de mato grosso – ufmt faculdade de economia– fe mestrado em agronegÓcios e desenvolvimento regional

12

(na ótica do trabalho) para que o mesmo pudesse ter resultados positivos e surpreendentes,

tanto na geração de emprego, como do crescimento do Produto Interno Bruto nos últimos

anos?

Com a finalidade de encontrar as respostas para questões acima, recorre-se ao uso da

base estrutural e dados secundários, com seguintes agregação: Na presente formulação da

problematização (nesta introdução) utilizou-se a classificação de Setor IBGE, com a divisão

clássica da economia, Extrativismo Mineral, Indústria de Transformação, Serviços Público,

Construção Civil, Comércio, Administração Pública e Agropecuária. Na etapa subseqüente,

Capítulo 3, a apresentação dos dados segue em nível de atividades (no período de 1978 a

2007). No capítulo quatro, o nível de agregação, traz indicadores a partir do Sub-setor de

atividade do IBGE, os quais contemplam 26 tipos de Sub-setores. Por último utiliza-se a

Classe CNAE, que apresenta o menor nível de agregação disponível, usada pela

administração pública na tributação e na condução de políticas voltada as questões sociais, a

exemplo, o seguro-desemprego, nos municípios e estado. Nela é possível diferenciar as

atividades econômicas, madeira e carne.

A problematização apresentada, juntamente com o recorte dos dados, setores e limite

espacial definido é estruturada a partir da justificativa, da formulação do problema, da

hipótese do trabalho e dos objetivos propostos exposto a seguir.

Justificativa

Além do exposto anteriormente, justifica-se um estudo desta natureza por diversas

razões, apresentamos duas delas: primeira, pela existência dos programas de desenvolvimento

regional. Segunda, associada a necessidade de verificar as condições de trabalho, os tipos de

empregos e o processo de valorização do capital. Portanto, em especial procurando ressaltar o

processo de expansão e valorização do capital no Norte de Mato Grosso em face da

degradação do trabalho.

relação de reprodução. Por isso, valorização ou acumulação do capital se define como o processo econômico,

mas não apenas, compreendendo também o desenvolvimento geral das relações sociais, num processo dinâmico,

em diferentes estágios e momentos, como exemplo, o colonialismo, imperialismo e as diversas mudanças sempre

alterando a função do Estado (BOTTOMORE; et. al., 2001, p.1-2).

Page 29: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO – UFMT§ões... · universidade federal de mato grosso – ufmt faculdade de economia– fe mestrado em agronegÓcios e desenvolvimento regional

13

Problema

De que maneira se concebeu o processo de valorização do capital no Norte de Mato

Grosso, nos setores da madeira e da carne?

Hipóteses

O resultado positivo da economia mato-grossense com o crescimento do PIB e geração

de empregos revela situações divergentes: valorização do capital no Norte de Mato Grosso

com a degradação do trabalho.

Objetivo geral

Entender a lógica do processo de valorização do capital no Norte de Mato Grosso

com ênfase nas questões relacionadas aos aspectos do trabalho na indústria da madeira e da

carne, no período de 1970 a 2007.

Objetivos específicos

Especificamente pretende-se entender a lógica da dinâmica da acumulação do

capital4 no Norte de Mato Grosso através das seguintes etapas:

1) Entender o processo de valorização do capital em Mato Grosso através do processo

histórico da região;

2) Apresentar o processo histórico que fez surgir a força de trabalho para a indústria da

madeira e da carne, relacionado-o a características de trabalhadores existentes nesses setores

(gerente e trabalhador ligado ao processo de produção na indústria);

3) Procura-se estabelecer uma relação entre o processo de valorização do capital e a

incorporação da força de trabalho, através de sua degradação.

4 A definição de “dinâmica” é tratada sob diferentes enfoques, sendo destacada na mecânica como a parte que

estuda o movimento dos corpos, relacionando interações de forças sobre os corpos (PEREIRA, 2010, p.12). O

sentido que tomamos define dinâmica da acumulação do capital como sendo o movimento do capital no tempo,

através da interação das forças produzidas por este sobre os nativos da região Norte de Mato Grosso e nos

pequenos produtores expropriados de suas terras. Dessa forma, submetendo-os à condição de proletários, que

permitiu a acumulação de capital nas indústrias da madeira e da carne.

Page 30: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO – UFMT§ões... · universidade federal de mato grosso – ufmt faculdade de economia– fe mestrado em agronegÓcios e desenvolvimento regional

14

Estrutura do estudo

A estrutura do trabalho segue uma lógica que contemplou na fase de investigação, a

natureza, a partir da apresentação do processo histórico da formação do capital em Mato

Grosso, seguida pela metodologia, fundamentação teórica que deu suporte a explanação dos

resultados preliminares do capítulo 4, sobre a origem da força de trabalho e do capítulo 5 que

trata da dinâmica da acumulação do capital.

Antes de começar a apresentação do conteúdo dos capítulos, cabe ressaltar a

convenção adotada na divisão e subdivisão dos capítulos seguintes. Cada capítulo é

constituído por seções de dois dígitos e de sub-seção com três dígitos.

Os títulos dos capítulos dão uma noção geral do assunto, enquanto que a seção e sub-

seção procura delimitar o assunto e dar mais especificidade ao tema abordado.

O primeiro capítulo trata dos aspectos metodológicos, delineando os passos da

investigação por três grandes linhas de atuação: primeiro, pela revisão bibliográfica; segundo,

aplicação de questionários e entrevistas e, terceiro com a sistematização do material coletado,

procurando estabelecer uma relação entre a expansão do capital no Norte de Mato Grosso e

incorporação da força de trabalho.

O segundo capítulo, procura apresentar a base teórica a partir do enfoque dado por

Marx e Engels sobre os aspectos do trabalho, procurando ressaltar o processo que culminou

com a Revolução Industrial, dinâmica do capital e por último sobre o desenvolvimento do

capitalismo no Brasil e sua relação com Mato Grosso.

O terceiro capítulo trata da formação do capital em Mato Grosso, partindo da

apresentação preliminar das etapas do processo de ocupação e de desenvolvimento da

Amazônia. O declínio da atividade da borracha e o novo modelo de desenvolvimento

regional, considerada a expansão do capital nacional e internacional, destaca-se neste capítulo

os incentivos fiscais e créditos concedidos pelo governo, a implantação dos projetos de

colonização, a questão da energia e a expansão da atividade econômica no Estado, com

aumento na produção de atividades relacionadas a indústria da madeira e a carne no Estado de

Mato Grosso no período de 1978 a 2007.

Page 31: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO – UFMT§ões... · universidade federal de mato grosso – ufmt faculdade de economia– fe mestrado em agronegÓcios e desenvolvimento regional

15

No quarto capítulo procura-se caracterizar os trabalhadores da indústria da madeira e

da carne, com destaque a inserção desses trabalhadores na atividade industrial, explorando o

contexto histórico-econômico e social, a partir de dois eixos: o processo de ocupação e de

colonização e a força de trabalho da atividade garimpeira; abordam-se questões relativas à

origem, perfil e habilidades dos gerentes ligados diretamente ao processo de produção na

indústria da madeira e da carne. Discuti-se também aspectos de gênero na indústria, em nível

de gerência, dando ênfase a contribuição feminina na coordenação e condução das atividades

industriais (mudança do ambiente xucro de trabalho).

No quinto capítulo analisam-se os resultados, com intuito de explicar de forma

articulada, a dinâmica da expansão e valorização do capital e a incorporação da força de

trabalho na indústria da madeira e da carne. Ressalta-se os aspectos da degradação do

trabalho, a subtração da sobrejornada de trabalho pelo empregador e acidentes de trabalho na

indústria. Enfim, construído a base que contrapõe os resultados positivos divulgados da

economia mato-grossense.

No final esboçam-se as conclusões sobre o que pode ser chamado de valorização do

capital no Norte de Mato Grosso, a partir das atividades industriais da madeira e da carne.

Page 32: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO – UFMT§ões... · universidade federal de mato grosso – ufmt faculdade de economia– fe mestrado em agronegÓcios e desenvolvimento regional

16

1. ASPECTOS METODOLÓGICOS

O capítulo procura estruturar as etapas na construção da metodologia de análise do

trabalho. Assim, os passos realizados constituíram-se por uma revisão bibliográfica exaustiva

e continuada o que possibilitaram a elaboração de roteiros de entrevistas e questionários; por

sua vez, a aplicação dos questionários e entrevistas, com trabalhadores, dirigentes de

sindicatos dos trabalhadores, das empresas, ex-empregados, representantes das empresas, ex-

empresários permitira a elaboração de um diagnóstico e a sistematização do material

levantado. Ao Partir da análise agregada dos dados (Sub-setor do IBGE) para o nível menos

agregado chegou-se à análise mais especifica da indústria segundo a Classe CNAE nas

atividades da madeira e da carne na Região Norte de Mato Grosso. Desse modo, o capítulo

seguiu o detalhamento da base de dados secundários do Ministério do Trabalho e Emprego

(MTE), e a definição da amostra está estruturada pela análise dos dados apontando as

limitações da pesquisa.

Os passos da investigação

A investigação seguiu três grandes linhas de atuação. Na revisão bibliográfica, foi

feita uma consulta a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) e as convenções internacionais

do trabalho e a leitura de textos relativos sobre o tema na seqüência, aplicou-se um

questionário piloto, cujo objetivo era avaliar e corrigir possíveis distorções do questionário e

roteiro de entrevista a partir das opiniões do trabalhador sobre os temas5.

Na segunda etapa, foram aplicados questionários com os trabalhadores na indústria,

com representantes da empresa e dirigentes dos sindicatos dos trabalhadores, por meio de

questões fechadas (objetivas) e abertas, objetivando a construção de indicadores de emprego,

com base no critério amostral. Em paralelo, com a aplicação dos questionários, também foram

checadas algumas informações de ex-funcionário e empresário das atividades econômicas em

estudo. Essas informações complementaram as informações obtidas com os dados da RAIS e

do CAGED, base de dados do MTE.

5 Os questionários foram elaborados para atender ao projeto de Pesquisa aprovado na FAPEMAT, Edital

Universal nº 02/2008 e este trabalho de dissertação de mestrado. Nesse sentido, parte das informações coletadas

em trabalho de campo não foi utilizada neste trabalho. Mas de alguma forma serviu para compreender melhor a

dinâmica do capital no Norte de Mato Grosso.

Page 33: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO – UFMT§ões... · universidade federal de mato grosso – ufmt faculdade de economia– fe mestrado em agronegÓcios e desenvolvimento regional

17

Na terceira etapa, reuniu-se o material de trabalho da pesquisa de campo, entrevistas,

questionários, opiniões, complementadas com referências bibliográficas.

1.1 A base estrutural da coleta de dados secundários

A coleta de dados foi realizada através de levantamento de dados em trabalho de

campo e na base de dados do MTE, disponível no Sistema de Gerenciador de Transmissão de

Dados da Internet (SGT-NET), plataforma centralizadora de dados do trabalhador, a estrutura

de organização, tratamento e tabulação de dados segue a Classificação de Atividade

Econômica (CNAE) e do CBO, apresentada a seguir.

1.1.1 A Classificação da Atividade Econômica e os dados da RAIS e do CAGED.

A pesquisa utilizou fontes secundárias como a Relação Anual de Informações Sociais

(RAIS), instituída pelo Decreto Lei nº 76.900, de 23 de dezembro de 1975, tais documentos

são conjunto de banco de dados que serve para a análise relativa à evolução e tipo de

empregos das diversas categorias econômicas consideradas na pesquisa, juntamente com o

Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED), criada através da Lei nº

4.923/65, que instituiu o registro permanente de admissões e dispensa de empregados, sob o

regime da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). O CAGED ainda apresentou-se como

mecanismo de controle pelo Programa de Seguro-Desemprego (SD), para conferir dados

referentes aos vínculos empregatícios. Estas informações constituem uma base de dados

disponibilizada pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), através do Sistema de

Gerenciador de Transmissão de Dados da Internet- SGT-NET6, base de dados oferecida a

pesquisadores e sociedade em geral, permitindo construir, a através delas, indicadores dos

setores envolvidos.

Vale ressaltar, que o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) evoluiu no

levantamento das informações, depuração e distribuição da RAIS e o CAGED, em relação à

períodos anteriores que vem sendo complementadas com qualidade e rapidez nas respostas

por parte de empresas e órgãos governamentais. A cresce-se a interação e retorno dos usuários

no aprimoramento da qualidade das informações prestadas, considerando a disseminação da

base de dados estatísticos oferecidos a pesquisadores e sociedade em geral, na página da

internet através da SGT-NET.

6 Disponível em: http://www.mte.gov.br/pdet/default.asp

Page 34: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO – UFMT§ões... · universidade federal de mato grosso – ufmt faculdade de economia– fe mestrado em agronegÓcios e desenvolvimento regional

18

De posse dessas informações é possível: construir tabelas e indicadores,

considerando o número e tipos de empregos e seus códigos de ocupação nas diversas

categorias econômicas nos municípios e no estado. O uso dos dados da RAIS/CAGED são

estruturadas utilizando a Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAE). Essa

classificação é oficialmente adotada pelo Sistema Estatístico Nacional do Brasil e pelos

órgãos federais, estaduais e municipais gestores de registros administrativos, sendo

oficializada pela resolução do IBGE n° 054, de 19 de dezembro de 1994, publicada no Diário

Oficial da União nº 244, em 26 de dezembro 1994, sendo implementada a partir de 1995 pelo

Sistema Estatístico Nacional e órgãos da administração federal.

A base estrutural de códigos e denominações adotada neste trabalho foi a versão da

CNAE Fiscal 2.0, normatizado pela Resolução Concla nº 1, de 04/09/2006, DOU de

05/09/2006.

A CNAE é a base estrutural das atividades econômica para tributação pelo Estado e

municípios, bem como, para a adoção de políticas públicas, a sua estrutura de códigos e

denominações são utilizadas nas mais diversos tipos de pesquisas, como por exemplo, a

CNAE-Fiscal e CNAE-Domiciliar. A primeira utilizada pela administração pública para

tributação; a segunda nas pesquisas desenvolvidas pelo IBGE, como o censo demográfico e

outras pesquisas domiciliares.

A estrutura de classificação da versão CNAE-Fiscal 2.0, revisado em 2006, apresenta

a sub-divisão detalhada e agregada de toda a atividade econômica, seguido pelas sub-divisões,

Seção, Divisão, Grupo e Classe, sendo esta última a mais detalhada, como se pode observar a

estrutura dos diferentes setores econômicos no Quadro 1.

O quadro procura apresentar, de maneira esquemática um modelo da estrutura de

classes. Tratada de outra maneira pode ser entendida como as cadeias produtivas e seus elos,

atendendo a denominação da corrente sistêmica. Neste estudo, mantém-se a forma tradicional

acatada na CNAE e pelo IBGE.

Page 35: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO – UFMT§ões... · universidade federal de mato grosso – ufmt faculdade de economia– fe mestrado em agronegÓcios e desenvolvimento regional

19

Quadro 1. Estrutura detalhada da CNAE 2.0, códigos e denominações

Seção Divisão Grupo Classe Denominação

C INDÚSTRIAS DE TRANSFORMAÇÃO

10 FABRICAÇÃO DE PRODUTOS ALIMENTÍCIOS

10.1 Abate e fabricação de produtos de carne

10.11-2 Abate de reses, exceto suínos

10.12-1 Abate de suínos, aves e outros pequenos animais

10.13-9 Fabricação de produtos de carne

10.2 Preservação do pescado e fabricação de produtos do pescado

10.20-1 Preservação do pescado e fabricação de produtos do pescado

10.3 Fabricação de conservas de frutas, legumes e outros vegetais

10.31-7 Fabricação de conservas de frutas

10.32-5 Fabricação de conservas de legumes e outros vegetais

10.33-3 Fabricação de sucos de frutas, hortaliças e legumes

10.4 Fabricação de óleos e gorduras vegetais e animais

10.41-4 Fabricação de óleos vegetais em bruto, exceto óleo de milho

10.42-2 Fabricação de óleos vegetais refinados, exceto óleo de milho

10.43-1 Fabricação de margarina e outras gorduras vegetais e de óleos não-

comestíveis de animais

10.5 Laticínios

10.51-1 Preparação do leite

10.52-0 Fabricação de laticínios

10.53-8 Fabricação de sorvetes e outros gelados comestíveis

Fonte: criada pelo Autor

Dessa maneira, ao utilizar os dados da RAIS, com o CNAE, é possível obter-se o

número de empresas e empregados, por setor da atividade, ao longo dos anos, existente e

disponíveis a partir de 1985 para dados mais agregados como a sub-categoria utilizada pelo

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística-IBGE, sendo que para trabalho, foi utilizada a

Classe CNAE e o Sub-Setor do IBGE.

1.1.2 Código Brasileiro de Ocupações - CBO

A estrutura básica do Código Brasileiro de Ocupações (CBO) foi elaborada em 1977,

fruto do convênio firmado entre o Brasil e a Organização das Nações Unidas (ONU), por

intermédio da Organização Internacional do Trabalho (OIT), no Projeto de Planejamento de

Recursos Humanos (Projeto BRA/70/550), tendo como base a Classificação Internacional

Uniforme de Ocupações - CIUO de 1968.

A responsabilidade pela elaboração e atualização da CBO é do MTE, com base nas

Portarias nº 3.654, de 24.11.1977 e nº 1.334, de 21.12.1994, sendo obrigatório os registros

administrativos para subsidiar os diversos programas da política de trabalho do País. Estes

Page 36: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO – UFMT§ões... · universidade federal de mato grosso – ufmt faculdade de economia– fe mestrado em agronegÓcios e desenvolvimento regional

20

registros administrativos fornecidos pelas empresas, órgãos do governo e instituições não-

governamentais é uma ferramenta importante para as estatísticas de emprego e desemprego,

para o estudo das taxas mortalidade das ocupações, para o planejamento das reconversões e

requalificações ocupacionais, no planejamento da educação profissional, no rastreamento de

vagas, para serviços de intermediação de mão-de-obra e na condução do Plano Nacional de

Qualificação do Governo Federal.

Desde a sua primeira publicação, a CBO sofreu algumas modificações para atender

as adequações de novas ocupações, alterando os critérios de agregação, sem, no entanto sofrer

modificações estruturais e metodológicas. A CBO utiliza a metodologia internacional

publicada em 1988. Editada em espanhol CIUO 88, sob o comando da Organização

Internacional do Trabalho (OIT).

Uma das dificuldades enfrentadas no Brasil acerca das informações de registros

administrativos eram ocupações acompanhadas de codificação diferente dos dados censitários

e das pesquisas domiciliares do IBGE. Isso dificultava a comparabilidade entre os usuários de

diferentes fontes de informações produzidas no país. Outro agravante e objeto de críticas era a

comparação dessas estatísticas com aquelas geradas por outros países. A solução para o

problema foi um esforço conjunto no sentido de promover a articulação entre os órgãos

brasileiros para unificá-los, enquadrando-se a norma internacional da OIT (MTE, 2009).

A normalização da nomenclatura oficial junto ao sistema internacional contou com

esforços do SENAI, MTE, Universidade de São Paulo (FIPE), Universidade de Campinas

(FUNCAMP) e da Universidade Federal de Minas Gerais (FUNDEP), cujos trabalhos foram

concluídos em agosto de 2002. Outras instituições e empresas também contribuíram para

conclusão desse trabalho: empresas de consultoria, instituições canadense, e a OIT.

A Classificação Brasileira de Ocupações (CBO) é o ordenamento normalizador do

reconhecimento, da nomeação e da codificação dos títulos e conteúdos das ocupações do

mercado de trabalho brasileiro. Ela é tida também como classificação enumerativa e descritiva

contemplando códigos e descrição dos grandes grupos, subgrupos e ocupações, de atividade

do setor (MTE, 2009).

A Classificação enumerativa é definida como aquela que codifica empregos e outras

situações de trabalho para fins estatísticos de registros administrativos, censos populacionais e

Page 37: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO – UFMT§ões... · universidade federal de mato grosso – ufmt faculdade de economia– fe mestrado em agronegÓcios e desenvolvimento regional

21

outras pesquisas domiciliares. Inclui códigos e títulos ocupacionais e a descrição sumária. Ela

também é conhecida pelos nomes de nomenclatura ocupacional e estrutura ocupacional.

A classificação enumerativa da CBO é utilizada em registros administrativos da

Relação Anual de Informações Sociais (RAIS), no Cadastro Geral de Empregados e

Desempregados (CAGED), no Seguro Desemprego (SD), na Declaração do Imposto de Renda

de Pessoa Física (DIRPF), e ainda, nas pesquisas domiciliares, nos Censo Demográfico, na

Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) e outras pesquisas estatísticas do

IBGE e semelhantes nas esferas dos estados e dos municípios. Esta classificação descritiva;

inventaria detalhadamente as atividades realizadas no trabalho, os requisitos de formação e

experiência profissionais e as condições de trabalho.

A nomenclatura ou estrutura da CBO segue um conjunto de códigos e títulos

utilizada na sua classificação enumerativa, sua estrutura é hierárquico-piramidal, como se

verifica no quadro 2 comparativo entre a estrutura de CBO de 1994 e a de 2002. Assim:

Quadro 2. Estrutura da CBO de 1994 e 2002 Estrutura Sigla CBO 94 CBO 2002

Grandes Grupos GG 8 10

Subgrupos Principais SGP - 47

Subgrupos SG 86 192

Grupos de base ou famílias GB 353 596

Ocupações O 2.356 2.422

Fonte: Ministério do Trabalho e Emprego-MTE, manual da CBO 2002 (MTE, 2009).

A estrutura da CBO2002 pressupõe somente um nível de competência possível por

ocupação, família, subgrupo, subgrupo principal e grande grupo ocupacional. Ou seja, existe

uma compreensão mais atualizada de "competência" cujo nível é pontuado mais fortemente

pela complexidade das atividades exercidas que do nível de escolaridade, um exemplo prático

disso seria o “trabalhador de manutenção e reparação” em alguns casos, é reservado aos

trabalhadores de nível elementar de competência (não-qualificados), mas que conhece todo o

processo de produção, independente de utilizar instrumentos rudimentares ou sofisticados,

considerado apto a desempenhar a função.

1.2 Limitações da base de dados

As bases de dados do MTE originárias dos registros administrados da RAIS e

CAGED disponibilizam uma gama enorme de informações sobre o mercado de trabalho

Page 38: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO – UFMT§ões... · universidade federal de mato grosso – ufmt faculdade de economia– fe mestrado em agronegÓcios e desenvolvimento regional

22

formal. Contanto, recomenda-se cautela na utilização e interpretação dos dados. Pois, ressalte-

se que existem vantagens e limitações no uso desses dados.

Uma das principais vantagens na utilização desses registros administrativos está

relacionada à abrangência das informações, a nível regional, unidade da federação, atingindo

até o município. Outro ponto importante é a diversidade de cruzamento ocupacional e setorial

que esses dados permitem, em níveis desagregados, tais como: classe de atividade econômica

e família ocupacional da CBO.

Em relação às limitações, a principal é a omissão de declaração dos estabelecimentos

ou de erro de preenchimento. A primeira se deve ao fato do empregador não preencher os

registros administrativos de acordo com a realidade, omitindo informações. Quanto ao

preenchimento podem ocorrer informações incompletas ou incorretas. Nesse sentido, existe

uma preocupação por parte do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), em checar e validar

essas informações por meio da fiscalização in-loco e da disseminação da utilização dos dados

de registro administrativos.

Um aspecto importante a destacar tanto na RAIS quanto o CAGED é que ambos vêm

sendo declarados somente em meios eletrônicos, resultando em rapidez na transmissão e

maior confiabilidade na informação, reduzindo assim, os erros nos preenchimentos impressos

utilizados anteriormente.

A estrutura de classificações da CNAE e da CBO apresentada norteou o recorte

amostral para aplicação de questionários e das entrevistas realizadas em campo, bem como na

construção de indicadores apresentados nos capítulos seguintes, da forma detalhada exposta

na etapa a seguir.

1.3 Detalhamento da base de informações utilizada

O universo pesquisado se divide em duas fases: a coleta de dados da RAIS e do

CAGED, junto a base de dados do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), centralizado no

Sistema Gerenciador de Base Dados na Internet (SGT-NET) e disponibilizado aos usuários do

Programa de Disseminação da Estatística do Trabalhador (PDET). Na segunda fase do

trabalho foi feito o levantamento de informações junto às empresas por meio da aplicação de

questionários e de entrevistas, com perguntas abertas e fechadas com os trabalhadores,

Page 39: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO – UFMT§ões... · universidade federal de mato grosso – ufmt faculdade de economia– fe mestrado em agronegÓcios e desenvolvimento regional

23

sindicatos e representantes das empresas. Em ambas as fases o recorte amostral utiliza a

estrutura de classificação da CNAE e do CBO.

Na contextualização da problematização da Introdução, período compreendido entre

o ano de 2002 a 2007, foi utilizado à classificação do IBGE denominada Setor. Para a análise

dos dados do Capítulo 3 os indicadores apresentados seguem no nível de atividade, com

período compreendido entre 1978 a 2007. Para os Capítulos seguintes, seguiu o seguinte

período cronológico: entre 1985 a 2001 foi utilizado a classificação do IBGE, Sub-setor. A

Classe CNAE foi utilizada no período de 2002 a 2007 para o último capítulo, com o menor

nível de desagregação, juntamente com o Grupo de Base de Ocupação, classificação da CBO

de três dígitos.

A visualização esquemática desse recorte pode ser observada a partir das Figuras 1 e

2.

Na Figura 1 apresenta o recorte para construção e análise dos indicadores de

empregos com base nos dados do MTE a partir de 1985 até 2001. Com dados mais agregados

do que o recorte, constrói-se a Figura 2, cuja análise global permite selecionar os setores em

estudo e associá-los entre si. Isso se deve ao fato de que as informações nesse período

disponíveis serem agregada, contemplando várias atividades econômicas, mas que mantém

relação com as atividades selecionadas neste trabalho, objeto de estudo.

Page 40: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO – UFMT§ões... · universidade federal de mato grosso – ufmt faculdade de economia– fe mestrado em agronegÓcios e desenvolvimento regional

24

Figura 1 - Fluxograma da estrutura de análise de dados do trabalho no período de 1985 a 2001

Na Figura 2, a visualização esquemática contempla maior desagregação. Logo, a

partir destes dados será possível entender os setores de atividades relacionadas a madeira e

carne, selecionados para estudo, quais sejam: 1) abate de reses, exceto suínos (Classe CNAE

nº 10.112); 2) abate de suíno, aves e outros pequenos animais ( Classe CNAE nº 10.121); 3)

desdobramento da madeira (Classe CNAE nº 16.102); 4) Fabricação de laminada e chapas de

madeira compensada, prensada de aglomerada (Classe CNAE nº 16.218) e; 5) Fabricação de

estrutura de madeira e de artigos de carpintaria para construção (Classe CNAE nº 16.226).

Neste nível de desagregação é possível fazer uma análise mais criteriosa dos setores.

UF: Mato Grosso

Grupo de Base de Ocupação

Serrador de

Madeira

Operador de máquina

intercaladora de placas

(compensados)

Margarefe em geral

Sub-Setor IBGE

Madeira e

Mobiliário

Indústria de

Produtos

alimentícios

Page 41: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO – UFMT§ões... · universidade federal de mato grosso – ufmt faculdade de economia– fe mestrado em agronegÓcios e desenvolvimento regional

25

Figura 2 - Fluxograma da estrutura para levantamento de dados em campo e análise de dados

no período de 2002 a 2007

Em relação ao grupo base de ocupação, a classificação geral apresentada na Figura 2,

tem os seguintes desdobramentos de ocupações:

Áreas de atividades afins: Abate de reses e Abate de aves e suíno classificação geral do

grupo de base de ocupação margarefe em geral (8485), abatedor (8485-05),

açougueiro (8485-10), desossador (8485-15), margarefe (8485-20) e retalhador de carne

(8485-25) (MTE, 2009)

UF: Mato Grosso

Mesorregião

Geográfica:

Norte

Microrregião:

1- Aripuanã

2- Alta Floresta

3- Colíder

4- Parecis

5- Arinos

6- Alto Teles Pires

7- Sinop

8- Paranatinga

Grupo de Base de Ocupação

Municípios

Classe CNAE

10.112 - Abate

de reses

10.121- Abate

suíno e aves

16.102 -

Desdobramento

da madeira

16.218 -

Laminados e

chapas

16.226 -

Estrutura de

madeira

Serrador de

Madeira

Operador de máquina

intercaladora de placas

(compensados)

Margarefe em geral

Page 42: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO – UFMT§ões... · universidade federal de mato grosso – ufmt faculdade de economia– fe mestrado em agronegÓcios e desenvolvimento regional

26

Áreas de atividades afins: desdobramento da madeira, estrutura de madeira e Laminados e

chapas Operadores de máquinas de desdobramento da madeira (7731), ocupação:

serrador de bordas no desdobramento de madeira (7731-15), serrador de madeira em serra

fita (7731-30), serrador de madeira (7731-20), cortador de laminados de madeira (7731-05)

e serrador de madeira em serra circular múltipla (7731-20) (MTE, 2009);

Segue abaixo a relação de algumas ocupações associadas a descrição oferecida pela

CBO 2002:

Desdobramento da madeira serrador de bordas no desdobramento de madeira, serrador

de madeira em serra fita, serrador de madeira em serra circular múltipla, destopador;

Indústria de Laminados operador de torno, serviço de pé de torno, cortador de

laminados de madeira, operador de secadora, classificador de lâmina;

Fabricação de chapas operador de máquina intercaladora de placas (compensados);

Nas atividades relacionadas a madeira e carne existem outras ocupações que são

mais abrangentes, logo, estão associadas a vários tipos de atividades, um exemplo, seria o

responsável por Serviços Gerais.

Nas seções seguintes serão definidas as amostras que nortearam a pesquisa no

trabalho de campo, com base no recorte amostral.

1.4 Definição do universo da pesquisa e cálculo da amostra

O critério definido para o espaço amostral neste trabalho utilizou a concentração de

empregos nos municípios da Região Norte de Mato Grosso. Considerando as Classes CNAE,

o total de empregos ocupados nas atividades econômicas dos setores selecionados no Estado,

objeto da pesquisa é de 38.238, empregos distribuídos em 1.359 estabelecimentos, conforme

Tabela 6 a seguir.

Page 43: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO – UFMT§ões... · universidade federal de mato grosso – ufmt faculdade de economia– fe mestrado em agronegÓcios e desenvolvimento regional

27

Tabela 6 - Número de Empregos e Estabelecimentos por Classe CNAE – MT, 2006.

Descrição CNAE 2.0 Empregos Estabelecimento

Abate de reses, exceto suínos 16.831 71

Abate de suínos, aves e outros pequenos animais 4.835 23

Desdobramento de madeira 11.735 985

Fabricação de madeira laminada e de chapas de madeira compensada, pren

sada e aglomerada 4.067 175

Fabricação de estruturas de madeira e de artigos de carpintaria para constru

ção 770 105

Total 38.238 1.359

Fonte: Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), RAIS 2006.

Deste total apenas parte compôs a base de cálculo da amostra, com base nos

municípios selecionados através de um ranking (percentil 90% de cada atividade). O Anexo 2

traz o número de emprego por município da Região Norte de Mato Grosso, e participação em

relação ao universo de empregos (carne: 4.480 e madeira: 7.846) na RAIS, considerado no

cálculo da mostra, para definição da quantidade de questionário a ser aplicado em cada

município e atividade.

Com base nos municípios apresentados dos setores selecionados anteriormente, para

cada setor foi feito um cálculo da amostra. A partir dessas informações foi possível obter o

número de trabalhadores que de forma representativa, que seriam entrevistados, a partir de

visita realizada nos estabelecimentos, aplicando-se o questionário proporcionalmente ao

tamanho do estabelecimento (número de emprego em cada estabelecimento).

Considerando as limitações temporais e financeiras, elaborou-se um estudo

identificando um quadro amostral conforme se segue.

Assim P significa proporção populacional, Z responde pelo intervalo de confiança

90%, cujo valor é de 1,64; P representa a estimativa da proporção populacional, admiti-se que

esta taxa seja de 30%; N é considerado o universo de empregos apresentadas na RAIS,

portanto passiveis de serem pesquisadas. Em função da limitação de recursos trabalha-se com

um erro probabilístico de 12% ou 0,12.

O uso da taxa de proporção populacional de trinta por cento (30%), juntamente com

um erro probabilístico de doze por cento (12%) é justificado pela limitação de recursos e pelas

distâncias entre os municípios.

Page 44: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO – UFMT§ões... · universidade federal de mato grosso – ufmt faculdade de economia– fe mestrado em agronegÓcios e desenvolvimento regional

28

P = 0,30

Z = 1,64 (confiança de 90%)

N = 4.480 (para o setor de carne) e N = 7.846 (para madeira)

Erro = 0,12

Cálculo da amostra para população finitas, setor da carne pode ser realizado através da

expressão matemática (1), seguinte:

)1()1(

)1(22

2

pPZErroN

NPPZn

A partir da expressão (1) é possível calcular a amostra para o setor da carne, como segue:

)3,01(3,064,112,0)1480.4(

480.4)3,01(3,064,122

2

n

3989,38 n (empregos)

O valor da amostra para o setor da madeira com base na expressão matemática (1) seria:

)3,01(3,064,112,0)17846(

846.7)3,01(3,064,122

2

n

3903,39 n (empregos)

O quadro 3 a seguir traz o detalhamento dos empregos da carne e do setor madeireiro

de cada município e o resultado do cálculo da amostra (2) e (3).

(

(1)

(

(2)

(

(3)

Page 45: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO – UFMT§ões... · universidade federal de mato grosso – ufmt faculdade de economia– fe mestrado em agronegÓcios e desenvolvimento regional

29

Quadro 3. Número de empregos selecionado com base no percentil 90%, municípios

selecionados e amostra da pesquisa.

Municípios Carne Municípios Madeira

Alta Floresta 121 Alta Floresta 611

Claudia 0 Claudia 1.049

Colider 751 Colider 46

Feliz Natal 0 Feliz Natal 858

Juína 301 Juína 610

Marcelândia 0 Marcelândia 613

Nova Mutum 1.401 Nova Mutum 30

Lucas do Rio Verde 235 Lucas do Rio Verde 16

Sinop 1.184 Sinop 2.701

Sorriso 267 Sorriso 417

Vera 0 Vera 575

Juara 220 Juara 320

Total 4.480 Total 7.846

Amostra 39,4 Amostra 39,51

Arredondamento 39 39

Total dos questionários* 78 Nota: *_No número da amostra inclui-se os gerentes.

A distribuição da amostra por município e das atividades econômicas selecionadas, e

a participação dos empregos nos municípios listados em relação ao total de emprego dos

setores selecionados no Estado pode ser visualizado no Anexo 2, e ainda, o número de

estabelecimentos em cada município.

Antes da aplicação dos questionários e realização das entrevistas foram feitos

contatos com representantes dos empregadores (Federação das Indústrias do Estado de Mato

Grosso), que disponibilizou uma lista com o cadastro dos estabelecimentos filiados a

federação. Também foi feitas cartas de apresentação da Organização das empresas. Tal fato,

proporcionou facilidade de acesso aos estabelecimentos e, por conseqüência, resultando em

maior número de entrevista com trabalhadores do que previsto pelo plano amostral.

Na primeira etapa da pesquisa, com base no roteiro amostral, tamanho do

estabelecimento e representatividade do município no tamanho da amostra, o estudo partiu da

observação em campo através de entrevista, realizadas com 116 (cento e dezesseis),

trabalhadores, dirigentes de sindicatos, gerentes e empresários nos municípios de Nova

Mutum, Lucas do Rio Verde, Sorriso, Vera, Feliz Natal, Sinop, Cláudia, Marcelândia,

Colíder, Alta Floresta e Juína e Juara. Deste total 7 (sete) entrevista foram descartadas por

Page 46: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO – UFMT§ões... · universidade federal de mato grosso – ufmt faculdade de economia– fe mestrado em agronegÓcios e desenvolvimento regional

30

conter viés na resposta, sendo 5 (cinco) de trabalhadores do setor da carne e 2 (dois) do setor

da madeira7.

Na segunda etapa da pesquisa, foram realizados mais 14 (quatorze) entrevistas com

empresários dos municípios de Sinop e Sorriso (sete em cada município), com pessoas

consideradas pioneiras nos setores da carne, ex-empresários, empresários ativos e contador.

Ou seja, o total de entrevistas efetivamente realizadas foi de 123 (cento e vinte e três),

desconsiderando as 7 (sete) com viés constatado nas entrevistas.

Foram também entrevistados 04 (quatro) representantes de sindicato de trabalhadores,

dois da madeira e dois do setor da carne; 09 (nove) empresários, sendo um da carne e oito do

setor madeireiro e 02 (dois) ex-empresários do setor madeireiro; 03 (três) contadores; 03 (três)

ex-funcionários (desempregados), um do setor da madeira e dois da carne; 19 (dezenove)

gerentes, sendo sete do setor da carne e doze do setor madeireiro e 83 (oitenta e três)

trabalhadores, sendo quarenta e um da carne e quarenta e dois do setor madeireiro.

O método de procedimento adotado nas entrevistas de pesquisa de campo foi a

manutenção das falas transcritas na íntegra das abordagens livre e direcionadas, que permite a

interação com os entrevistados, abrindo brechas para o pesquisador buscar e captar pontos

relevantes do pensamento dos entrevistados e de seu cotidiano, possibilitando o pesquisador

refletir melhor sobre a lógica do sistema no qual o trabalhador está inserido.

A técnica dá uma visão no seu conjunto, tanto dos aspectos culturais, quanto dos

aspectos históricos, sociais e econômicos em relação ao modo de vida dos trabalhadores da

indústria da carne e da madeira. A abordagem de forma espontânea, aberta e flexível,

orientada por questões direcionadas pelo foco do estudo, permite ao entrevistado a

oportunidade e a liberdade de falar sobre o seu cotidiano, enquanto trabalhador e de sua

história de vida (DEMO, 1995).

Diante disso, pode-se entender a lógica do processo e seu envolvimento. Entretanto,

alguns cuidados em relação a esse procedimento foram tomados, principalmente em relação a

sua realidade, na pesquisa de campo. Checando algumas informações, dos entrevistados. A

7 Neste caso foi observado em trabalho de campo que em duas das indústrias visitadas, os funcionários

receberam orientação do empregador para responder o questionário e dar a entrevista. Haja vista que os

empregadores tiveram acesso ao questionário antes de serem aplicados. Ante ao fato, as entrevistas foram

realizadas dentro e fora da empresa, evitando possíveis vieses nas respostas.

Page 47: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO – UFMT§ões... · universidade federal de mato grosso – ufmt faculdade de economia– fe mestrado em agronegÓcios e desenvolvimento regional

31

validação dos dados referentes aos registros administrativos da RAIS e do CAGED foi feito

através da aplicação dos questionários em pesquisa de campo considerando a renda média,

grau de instrução e tempo de emprego.

Outras fontes de informações foram coletadas, com ex-funcionário, líderes,

representantes dos sindicatos, responsáveis pela contabilidade das empresas, ex-empresários e

pesquisadores que fizeram pesquisa na região e sobre os setores e, em grande parte com

pessoas que dedicaram boa parte da sua vida a atividade da madeira e da carne no Estado.

Page 48: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO – UFMT§ões... · universidade federal de mato grosso – ufmt faculdade de economia– fe mestrado em agronegÓcios e desenvolvimento regional

32

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Este capítulo trata da base teórica do estudo, o assunto será delineado a partir do

enfoque dado aos autores que tratam da questão social do trabalho. O estudo começa pelos

aspectos históricos da situação da classe trabalhadora, em especial aquele vivido na Inglaterra

e relatado por Engels. Na seção 2.2 apresentam-se as bases que definiram a Revolução

Industrial e a transformação da estrutura social, na ótica dos autores clássicos que tratam do

tema. Na seção seguinte, a ênfase é dada a abstração lógica de Marx da acumulação de capital

e apropriação da força de trabalho e, seus desdobramentos: acumulação primitiva, criação da

mais-valia, absoluta e relativa. Reforçando os aspectos apresentados nas seções anteriores, a

seção 2.4 trata da dinâmica da acumulação do capital, abordagem teórica que indicará os

passos da pesquisa empírica de modo a entendê-la. Todavia, faz-se necessário focar um pouco

na análise do processo de desenvolvimento do capitalismo no Brasil, de maneira geral

apresentando um conjunto de característica particular no seu desenvolvimento, sob a égide da

lógica universal do capitalismo. Em suma, apresentando os autores com contribuições

importantes na análise da dinâmica da acumulação do capital. No final justificando o uso da

base teórica dentro da proposição de estudo, base está que fundamenta o método de análise

deste trabalho.

2.1 Aspectos históricos da situação da classe trabalhadora

Diversos autores importantes na literatura econômica, tais como Smith (1983), Marx

(1984), Engels (1985) e Decca (1982), discutiram aspecto relacionado ao trabalho e a situação

do trabalhador na indústria. Os estudos destes autores consideraram o trabalho como fonte

geradora da riqueza, expressão da medida de valor e da própria vida. Os diversos enfoques

dado ao trabalho, desse modo, contribuíram para centralização das discussões durante muito

tempo decorrente do fato da ausência de trabalho qualificado para as funções nascentes na

Revolução Industrial.

A história da classe trabalhadora na indústria começa no estudo de Engels (1985),

com a invenção da máquina a vapor e das máquinas que foram desenvolvidas para trabalhar o

algodão. As transformações sociais implementadas antes do século XVIII criaram máquinas e

essas desencadearam uma revolução industrial, transformando a sociedade e levando a classe

Page 49: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO – UFMT§ões... · universidade federal de mato grosso – ufmt faculdade de economia– fe mestrado em agronegÓcios e desenvolvimento regional

33

burguesa a hegemonia daquele movimento. A Inglaterra é o país clássico dessa revolução,

assim como, a Grã-Bretanha é considerada o berço desse processo. Mas em nenhum lugar o

desenvolvimento do produto principal (do trabalho), foi tão impetuoso quanto na Inglaterra,

ainda que possam existir outros.

Para Engels (1985), antes do surgimento das máquinas, a fiação e tecelagem eram

desenvolvidas pelo trabalhador na sua própria casa. Juntava-se toda a família, mulheres e

crianças para fiar. A responsabilidade do chefe da casa era tecer e vender no mercado, como

um trabalho complementar às outras atividades rurais e caseiras. A vida dessas pessoas era

honesta e pacata. A situação material era melhor que a de seus herdeiros. Não era preciso se

“matar” de tanto trabalhar, fazia-se somente o necessário para a sua sobrevivência.

A pequena produção familiar evoluiu para um processo no qual os trabalhadores do

campo e pequenos artesãos concentravam seu trabalho num grande galpão, sem exigência de

escala e uniformidade do produto fabricado. Cumpria-se, apenas certa quantidade de horas de

trabalho. Tais exigências, feitas pela burguesia, proprietária dos barracões, consistiam em uma

forma de aluguel dos mesmos, mas iria se caracterizar preliminarmente na dominação do que

estaria por vir. A liberdade do artesão e do camponês direcionava-se, dessa maneira, com seu

tempo em trabalho e lazer e a tranquilidade deixou de existir na sua forma plena a partir deste

momento (DECCA, 1982).

O nome da primeira invenção que alterou profundamente a situação tranqüila da

classe trabalhadora era Jenny, máquina de fiar algodão, criada em 1764. Funcionava a mão,

com um detalhe, em vez de uma agulha, tinha dezessete ou dezoito agulhas movidas por um

trabalhador. Engels (1985) acrescenta que, uma família com quatro adultos e duas crianças,

chegava ganhar em 48 horas de trabalho cerca de quatro libras esterlinas, por semana e,

algumas vezes, bem mais que esse valor. Essa situação foi sendo alterada aos poucos e a

classe de tecelões agrícolas foi sendo substituída pela classe de tecelões que viviam

exclusivamente de seu salário deixando de lado os benefícios que a propriedade do trabalho

agrícola lhe proporcionava na época.

Paralelamente a essa mudança (de tecelão agrícola para proletariado industrial) Engels

mostra o nascimento de segmentos sociais beneficiados pela introdução da máquina de tecer

algodão: os grandes arrendatários cujo patrimônio se constituía, além das máquinas e

barracões por cinqüenta ou mais acres de terra. O desenvolvimento das máquinas não parou, e

Page 50: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO – UFMT§ões... · universidade federal de mato grosso – ufmt faculdade de economia– fe mestrado em agronegÓcios e desenvolvimento regional

34

ganhou força, por meio da força hidráulica, permitindo reduzir o número de operários

necessários na produção e ganho de escala. Assim era possível vender fibras mais baratas que

aquelas produzidas pelos flandeiros tradicionais que se valiam da força motriz humana.

No decorrer do século XVIII as máquinas foram sendo moldada à fiação de lã, e

depois a do linho, na metade do século. Devido a essas poucas modificações o número de

trabalho manual foi sendo reduzido, principalmente, com a introdução da máquina a vapor

criada por James Watt, utilizada para acionar máquinas de fiar a partir de 1785. Esta fase de

pequenas adaptações foi decisiva na vitória do trabalho mecânico sobre o manual, nos setores

industriais da indústria inglesa. E tal fato levou por um lado, a um barateamento dos preços

dos produtos manufaturados, o desenvolvimento do comércio e da indústria, crescimento dos

capitais e da riqueza, e por outro, aumento de proletários submisso, destruição da propriedade

e da segurança no emprego. Não obstante, o desenvolvimento da indústria inglesa não se

limitou às indústrias têxteis, mas nos diversos tipos de atividades indústrias, e a submissão do

proletário de igual modo (ENGELS, 1985).

Entretanto, Engels faz o seguinte questionamento em debates com parlamentares:

o que vai acontecer a este milhões de seres que nada possuem, que nada consomem

hoje o que ganharam ontem, cujas descobertas e trabalho fizeram a grandeza da

Inglaterra, que a cada dia se tornam mais conscientes de sua força e exigem mais

imperiosamente a sua parte das vantagens que proporcionam às instituições sociais?

(ENGELS, 1985, p.27)

Embora a classe média inglesa insistisse em desmerecer as considerações de Engels

(1985, p.45), o autor revelou a maneira pela qual a classe média tratou de ocultar o problema

e a forma como ela se enriqueceu a custa da miséria dos trabalhadores, permitindo criar as

condições que viriam a se manifestar nos processos sociais dos trabalhadores em meados do

século XIX. Como por exemplo, considerando os baixos salários, que levaram à miséria e as

péssimas condições de moradia nas “casas grandes” ocupadas como moradia.

E isso remete a vários outros problemas, apontados por Engels. Esses problemas, em

geral, são desencadeados pelos baixos salários, que leva a miséria e as péssimas condições das

“casas grandes”, consideradas por este, como “inabitabilidade”, ou seja, sem condições de

serem habitadas, como expôs em seu livro:

Podemos fazer uma idéia de como os pobres estão amontoados ao tomarmos

conhecimento de que, em 1817, segundo relatório dos inspetores da Casa de

Trabalho, 1.318 pessoas habitavam na Barrack Street em 52 casas com 390 quartos e

Page 51: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO – UFMT§ões... · universidade federal de mato grosso – ufmt faculdade de economia– fe mestrado em agronegÓcios e desenvolvimento regional

35

1.997 pessoas na Church Street e arredores, repartidas por 71 casas com 393 quartos

(ENGELS, 1985, p.45)

A grande concentração de pessoas nas poucas casas e quartos e, a enorme quantidade

de pessoas deslocadas para os centros urbanos, expunha a situação sanitária considerada

insuportável para o ser humano.

List (1983) também apresenta fatos que comprovam a situação de calamidade da

classe trabalhadora na época:

Os trabalhadores são muito infelizes, penso, por estarem cercados de nações em

situação política pior do que a nossa; em algumas delas, o trabalho é ainda pior

remunerado do que aqui. Os trabalhadores são ainda mais infelizes por serem

descendentes de escravos e servos. A escravidão pessoal ou a condição de vilão

existiram na Grã-Bretanha e todos os trabalhadores, ainda hoje, padecem com a

servidão de seus antepassados (LIST, 1983, P.11)

A situação dos “infelizes trabalhadores” como aponta List parece estar presente em

diversos lugares, muitos bem piores a condição relatada por ele, como por exemplo, na

condição de escravidão uma das piores formas de exploração do trabalhador.

O autor complementa ressaltando o descaso dos políticos e do capitalista para com o

proletário. Este fortemente rechaçado pela elite, sob todas as formas, e sem ao menos

consultá-los sobre o salário:

O legislador e o capitalista sempre comparam nossos salários com os salários de

outros trabalhadores e, sem se referir ao que nós produzimos, que parece ser o único

critério pelo qual devemos ser pagos, somos imediatamente taxados de insolentes e

ingratos se pedimos mais do que satisfaria ao escravo de antigamente e que

satisfaria, hoje, ao escravo quase morto de fome de outros países (LIST, 1983, P.11)

Legislações sanguinárias contra os expropriados (no caso, os trabalhadores) no final

do século XV foram criadas para o rebaixamento dos salários. A dificuldade em adaptar-se a

nova condição, ou seja, na situação de vendedores de sua própria força de trabalho, fez com

que a maioria das pessoas vindas do campo se convertesse em esmoleiros, vagabundos, em

parte, por predisposição e na maioria dos casos devido às circunstâncias existentes. Diante

desse fato, surgiu em toda a Europa ocidental do século XV ao século XVI, legislação

sanguinária contra a vagabundagem e um teto máximo de salários (MARX, 1984).

Como vimos, a princípio a situação da classe trabalhadora era vista apenas como o

modo pelo qual o trabalhador deixa a sua vida pacata de trabalho agrícola, para se tornar

proletário. Depois passa a refletir os problemas antes desconhecido, criação de leis com

Page 52: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO – UFMT§ões... · universidade federal de mato grosso – ufmt faculdade de economia– fe mestrado em agronegÓcios e desenvolvimento regional

36

previsão de teto máximo de salário, Lei contra vagabundagem. Ou seja, além da submissão ao

capital, passou a sentir as conseqüências da mudança impulsionada pela inovação das

máquinas, ou melhor, pela introdução de novas máquinas que lentamente ocupam os seus

lugares no trabalho, acirrando a concorrência por uma vaga na indústria. E tal fato, levou

essas pessoas a virarem ofertadores de trabalho, surgindo então, uma grande massa de

desempregados e esmoleiros, sendo violentamente açoitada pela falta de adaptação a sua nova

condição (ENGELS, 1985; MARX, 1984).

Essa situação nasce a partir de uma transformação da estrutura social antecedente a

Revolução Industrial, considerada o marco neste processo, explicitada na seção seguinte.

2.2 A Revolução Industrial e o processo de transformação da estrutura social

A discussão sobre a origem da Revolução Industrial não é consenso na literatura,

todavia, a visão abordada neste trabalho é aquela apresentada, em especial, por autores

clássicos que trataram sobre o tema (MARX, 1984; HOBSBAWM, 1979b; HUBERMAN,

1981; DECCA, 1982).

Hobsbawm (1979b) coloca que a Revolução Industrial não foi resultado de mero

crescimento econômico, mas proporcionada pela transformação econômica e social, como

será apresentado nas explanações seguintes.

A atividade produtiva predominante antes da Revolução Industrial era a artesanal,

com emprego de pequenas máquinas simples, em geral os trabalhos se concentravam nas

mãos dos artesões, sendo a comercialização feita pelo mesmo, ou seja, o artesão detinha todos

os meios e etapas de processo de produção, em alguns casos, chegava até a comercializar o

produto, essas tarefas eram feitas nas oficinas dos próprios artesões ou em suas próprias casas.

Com o advento da Revolução Industrial os trabalhadores perderam o controle do

processo produtivo e, passaram a trabalhar para a burguesia, ou seja, cabendo a eles

simplesmente prover de sua força de trabalho, no qual o trabalho era realizado por meio de

máquinas num processo conhecido como maquinofatura. Por isso, a Revolução Industrial

consistiu em mudanças tecnológicas de profundo impacto no processo produtivo, em relação

aos aspectos econômicos e sociais. De forma clássica este processo teve início na Inglaterra

em meados do século XVIII, expandindo-se para os demais países a partir do século XIX

(IANNONE, 1995).

Page 53: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO – UFMT§ões... · universidade federal de mato grosso – ufmt faculdade de economia– fe mestrado em agronegÓcios e desenvolvimento regional

37

Este processo de industrialização se consolidou direta e indiretamente a custas dos

pequenos produtores locais, de economias “atrasadas” e da agricultura, através da

concentração econômica ocorrida no século XVII, afirma Hobsbawn:

Direta e indiretamente, essa concentração serviu aos fins da futura industrialização,

ainda que, naturalmente, ninguém tenha se proposto isto. Serviu diretamente, por

meio do fortalecimento da indústria “domiciliar”, às custas da produção artesanal; e

das economias avançadas, às custas das “atrasadas”, e por meio da aceleração do

processo de acumulação de capital. Indiretamente, contribuindo para solucionar o

problema de obter um excedente de produtos agrícolas, e também de outras formas

(HOBSBAWN, 1979a, p. 42)

Isso nos leva a pensar sobre o surgimento da classe capitalista na época. Como uma

sociedade pode ser reconhecida por ela mesma? Ou, como isso pode ser feito? Isso pode ser

feito por meio de instituições e de mecanismos capazes de identificá-los. Tais mecanismos

permitem esse reconhecimento através de normas e valores próprios dotados de

universalidade. Quando se pensa no desenvolvimento da sociedade burguesa a partir da

sociedade feudal, o sentido de universalidade nos remete a instituição mercado, ou na nova

ordem que se impõe naquele momento. Isso fica evidente quando há imposição de normas e

valores pela sociedade predominante. Neste caso, pode ser entendido quando se tem a noção

de tempo útil, no qual a ampliação do mercado, disciplina não somente a classe burguesa mais

também a classe trabalhadora, através de sua exploração (DECCA, 1982)

Além da questão social inerente ao processo de formação das bases para a Revolução

Industrial, Huberman (1981, p.168) destaca a importância da acumulação no processo inicial

da Revolução Industrial, dizendo: “Poderíamos dizer que o capital necessário para iniciar a

produção capitalista veio das almas cuidadosa que trabalharam duro, gastaram apenas o

indispensável e ajuntaram as economias aos poucos”.

A necessidade de obter esses fatores é apontada, por Huberman, sob forte argumento,

quanto ao processo que sustentou a Revolução Industrial, no caso, a origem do recurso

necessário para a acumulação de capital, enfatizando o custo dessa revolução ele argumenta,

situando nas palavras de Marx aponta:

Comércio – conquista, pirataria, saque, exploração – essas as formas, portanto, pelas

quais o capital necessário para iniciar a produção capitalista foi reunido. Não é sem

razão que Marx escreveu...”vem ao mundo com uma mancha congênita de sangue

numa das faces”, o capital vem pingando da cabeça aos pés, de todos os poros,

sangue e lama (HUBERMAN, 1981, p.172)

Page 54: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO – UFMT§ões... · universidade federal de mato grosso – ufmt faculdade de economia– fe mestrado em agronegÓcios e desenvolvimento regional

38

Hubermann ressalta que o processo de acumulação não ocorreu única e

exclusivamente pelas “almas cuidadosas”, mas principalmente pelo comércio, não apenas pela

troca de mercadorias, mas provenientes de conquistas, pirataria, saques e exploração das

colônias. De outra forma, exigia-se um conjunto de fatores que fornecesse as bases para a

Revolução Industrial, e isso só poderia vir através da transformação social e da acumulação de

capital.

Além da acumulação necessária para a realização da revolução, a condição posta

para completá-la dependia ainda, das formas como deveria criar seus próprios mercados.

Seguindo este raciocínio, ela não podia ocorrer em uma estrutura feudal, por isso, era

fundamental a transformação da estrutura social. Valendo-se do mesmo processo que

reorganizou a divisão social do trabalho, ou seja, incrementando a proporção do trabalhador

não-agrícola na produção industrial criando assim as classes assalariadas.

Ao passo que Marx (1984) afirma que, a origem do modo de produção capitalista não

estaria ligada simplesmente a divisão do trabalho, como entendia Smith. Mas na expropriação

da produção familiar, artesanal, camponesa e corporativa, fato que separou os produtores e

artesões dos meios de produção, formando um enorme contingente de indigente e

desocupado, deixados a própria sorte.

Logo, seria preciso mais que a “transformação da estrutura social”. Era preciso

encontrar meios de garantir um mercado, e isso só seria possível se o próprio sistema

capitalista criasse esse mercado de expansão, fato que não ocorreria em uma estrutura feudal.

Portanto, a produção capitalista conseguiu seus fins mediante a transformação social, com a

inclusão do trabalhador no processo produtivo, essa foi uma das principais articulações

adotada pela classe em ascensão na época (a classe burguesa) (HOBSBAWM, 1979a, p.60).

Nota-se que as bases para a consolidação da Revolução Industrial estavam prontas.

Havia capital necessário para a realização do processo de produção, por meio do incremento

da incorporação tecnológica, e o principal, a transformação da estrutura social estava

consolidada, logo, era inevitável a sua existência.

O processo de transformação social, com a exploração do trabalho foi um dos fatores

que contribuiu para o surgimento da indústria e de acumulação para a Revolução Industrial.

Estes fatores de alienação e especulação emergem aos benefícios e malefícios oriundos desta

Page 55: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO – UFMT§ões... · universidade federal de mato grosso – ufmt faculdade de economia– fe mestrado em agronegÓcios e desenvolvimento regional

39

revolução, tratada sobre várias óticas, e pensadores, o que levou a criação de instituições

internacionais e a um aperfeiçoamento das leis sobre o direito do trabalhador.

Nas seções e subseções seguintes serão apresentadas as etapas do processo da

acumulação de capital e a incorporação da força de trabalho. Todavia, a reapresentação de

alguns trechos de autores desta seção e posteriores é sensata na medida em que reforça alguns

elementos lógicos contidos na formação da estrutura do capitalismo, proporcionando

constantes reflexões.

2.3. Acumulação de capital e apropriação da força de trabalho.

A gênese da acumulação de capital

A principal questão que se coloca neste ponto do estudo é qual a origem da

acumulação do capital? Como vimos em páginas anteriores, a etapa que sustentou toda a

acumulação de capital envolveu várias ações culminadas com a exploração das colônias

ultramarinas através de saques, seqüestro, especulação comercial, tráfico de escravos e

monopólios mercantis, oportunizando o enriquecimento de uma parcela da burguesia. Estes

fenômenos históricos geraram as duas classes antagonistas da sociedade industrial capitalista,

a burguesia e o proletariado, abordado por Marx (MARX, 1984).

Como ressaltado em páginas anteriores, o processo de transformação da indústria se

consolidou direta e indiretamente a custas dos pequenos produtores locais, de economias

“atrasadas” e da agricultura, através da concentração econômica ocorrida no século XVII.

Reportando novamente às palavras de Huberman (1981, p.168), o qual destaca a

importância da acumulação de capital no processo inicial da Revolução Industrial, como por

exemplo, a origem do “capital necessário para iniciar a produção capitalista veio das almas

cuidadosa que trabalhou duro, gastaram apenas o indispensável e ajuntaram as economias aos

poucos.”, fato que reforça a tese de Marx, que era preciso ter capital necessário para que fosse

engendrado o mecanismo que põe movimento a força motriz da produção (força de trabalho).

Ou seja, o processo de acumulação não poderia ocorrer única e exclusivamente pelas

“almas cuidadosas”, mas principalmente pelo comércio, como enfatiza o autor. Outros fatores

também tiveram a sua importância nesse processo, como a existência de mercados, a divisão

social do trabalho e o incremento de trabalhadores não-agrícolas na produção industrial.

Page 56: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO – UFMT§ões... · universidade federal de mato grosso – ufmt faculdade de economia– fe mestrado em agronegÓcios e desenvolvimento regional

40

Com a expulsão dos camponeses do campo, motivada pela intermitente e violenta

expropriação da base fundiária, estes se viram desolados. Pois não foram absorvidos pela

empresa manufatureira nascente com a mesma velocidade com a qual foram expulsos da terra.

E tal fato levou a ruptura da estrutural social, pela não adaptação a nova condição, de outro

modo, passaram a serem vendedores de sua própria força de trabalho (MARX, 1984).

Dada essa situação, muitos deles se converteram em esmoleiros, assaltantes,

vagabundos, por força da sua condição e das circunstancias impostas. Leis sanguinárias, como

a sancionada por Henrique VII, aperfeiçoada por Henrique VIII, foram criadas para impedir

que os “vagabundos” ou “criminosos” praticasse a mendigassem pelas ruas, sem a devida

autorização. Para aqueles que desrespeitassem a legislação, eram amarrados atrás de uma

carroça e açoitados até que o sangue corresse de seu corpo, em seguida, prestariam juramento

de que retornariam a sua terra natal ou, ao lugar onde moraram nos últimos 3 anos para “se

porem ao trabalho”. Aquele que fosse apanhado pela segunda vez, por vagabundagem seria

novamente açoitado e teria a metade da orelha cortada; na terceira reincidência, considerado

criminoso, era atribuído o crime grave e inimigo da comunidade, logo, deveria ser executado

(MARX, 1984).

A origem de toda essa prática está associada à violenta expropriação da base

fundiária dos camponeses sem precedentes, sem a correspondente absorção pela empresa

manufatureira deste. A produção, segundo Marx, não seria possível sem os instrumentos de

produção, de outra maneira não poderia existir sem trabalho acumulado passado. Seguindo

este raciocínio, capital é também um instrumento de produção (máquina, equipamentos e

outros) e trabalho passado materializado, a junção destas duas é o que transforma em capital,

isso faz ressurgir como elemento dinâmico, no modo de produção capitalista (HUNT, 1989).

Outros mecanismos de controle foram adotados na época para tornar os proletários

ainda mais dependentes da burguesia nascente, conseqüentemente, aumentando o grau de

exploração (extração da mais-valia), como “regular” o salário, isto é, comprimi-lo dentro dos

limites convenientes à extração de mais-valia, com aumento de jornada de trabalho. O

Estatuto dos Trabalhadores de 1349, e suas alterações posteriores, revelam claramente a

existência de um salário máximo, estabelecido pelo Estado, mas de forma alguma um salário-

mínimo (MARX, 1984).

Page 57: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO – UFMT§ões... · universidade federal de mato grosso – ufmt faculdade de economia– fe mestrado em agronegÓcios e desenvolvimento regional

41

Este mecanismo de controle só foi possível estabelecer dado o desequilíbrio de

forças existente entre exploradores e explorados, resultado como discutido anteriormente pela

prévia acumulação.

A mais-valia e a acumulação de capital

Para Marx (1984) acumulação capitalista num sentido restrito da palavra significa

valorização do capital, ou incremento do capital adiantado mediante produção de mais-valia.

Nesse caso, a acumulação primitiva é condição necessária para posterior acumulação. Quanto

ao modo pelo qual ela é obtida, difere em cada região. Para tanto, a realização tem por base a

reorganização, e mais especificamente a transformação das relações de produção, a separação

abrupto do modo de produção anterior.

Nesse sentido, a observação básica apresentada por Marx é de que a origem do

capitalismo está na transformação das relações da produção do campo, de igual modo, na

separação entre os camponeses e a terra, de onde nasce a fonte abundante de trabalhadores

assalariados, base para captação de mais-valia.

Segundo Marx a “disputa” pela acumulação de capital provoca uma tendência a

concorrência que elimina empresas estacionárias. Neste caso o capitalista, se torna a pessoa

que evoca uma coisa inanimada (capital inicial), que requerer cada vez mais quantidades de

mais-valia, num processo contínuo. Foi assim no princípio do regime capitalista, época em

que as inovações técnicas avançavam com lentidão e o aumento da quantidade de mais-valia

só era possível mediante a criação de mais-valia absoluta. Ou seja, com o prolongamento da

jornada de trabalho, intensificação das tarefas e humilhação. Nessa época o tempo de trabalho

aumentava cada vez mais, mantendo-se constante o tempo de trabalho necessário (criador do

valor do salário). No entanto um fato importante nessa discussão é sobre o modo de produção

capitalista, qual a vantagem para o capitalista, obter mais mais-valia absoluta ou relativa?

Para discutir esta questão, se faz necessário ressaltar as razões que as diferenciam.

Enquanto a mais valia absoluta resulta da ampliação da jornada de trabalho (prolongamento,

aumento de tarefas), a mais-valia relativa exprime o acúmulo de inovações técnicas,

aumentando a produtividade social do trabalho, diminuindo o valor dos bens de consumo e do

valor da força de trabalho, com menor tempo de trabalho para a reprodução desta última.

Logo, é importante destacar que ao se alterar o tempo e a intensidade da jornada de trabalho,

Page 58: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO – UFMT§ões... · universidade federal de mato grosso – ufmt faculdade de economia– fe mestrado em agronegÓcios e desenvolvimento regional

42

na mesma magnitude, altera-se a relação entre seus componentes, ou seja, diminui o tempo de

trabalho necessário, em contrapartida, cresce o tempo de sobre trabalho, isso implica em

desgaste do trabalhador, por conseqüência menor produtividade (MARX, 1984).

O que cada capitalista procura é superar os seus concorrentes, com a introdução em

sua empresa de aperfeiçoamento técnico, concebendo vantagens sobre os seus rivais. Neste

caso, tais aperfeiçoamentos lhe dão certa exclusividade, por exemplo, produzir mercadorias

com tempo inferior ao tempo socialmente necessário, proporcionando certa quantidade de

mais-valia extra ou propriamente super-lucros. Isso foi possível com os aperfeiçoamentos

introduzidos nas empresas, o que fez desaparecer a mais-valia extra (proporcionada pela

sobrejornada de trabalho), pois o aumento da produtividade social do trabalho é resultante da

mais-valia relativa (MARX, 1984).

O fato interessante nesse processo que dá origem a mais-valia relativa e por

conseqüência a acumulação do capital é que, à medida que se implantem inovações que

requer menos mão-de-obra, novos trabalhadores são lançados ao desemprego, mantendo-se

por certo tempo, até que a acumulação de capital requeira maior quantidade de força de

trabalho, dando origem a novos empregos. Essa dinâmica do capitalismo promove o chamado

exército industrial de reserva, em função da superpopulação criada pelo desemprego,

elemento indispensável ao modo de produção capitalista (MARX, 1984).

Esse movimento é engendrado através de um processo dinâmico, característicos do

sistema capitalista, resumido na próxima seção.

2.4. Dinâmica da acumulação de capital.

O objeto de investigação central da obra de Marx (1984, p. 131), intitulada “O

Capital” era desvendar a lei econômica do movimento da sociedade moderna. Cabe destacar

que sua meta era entender o capitalismo como forma de sociedade historicamente moderna e

específica. Distinguir esta das outras formas existentes, e que contradições levariam à sua

futura mudança. E isso só foi possível, segundo ele, por não tratar em seu trabalho da figura

do capitalista e do proprietário fundiário com “cores alegres”. Mas, por tratar de pessoas que

permite a personificação de categorias econômicas, que são responsáveis pelo

desenvolvimento da formação econômica da sociedade. Esta visão é apresentada por meio de

Page 59: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO – UFMT§ões... · universidade federal de mato grosso – ufmt faculdade de economia– fe mestrado em agronegÓcios e desenvolvimento regional

43

um processo histórico-natural, o que faz do individuo uma criatura, mesmo que o capitalista

queria colocar-se acima dele.

O movimento do capital na sociedade capitalista e sua transformação requerem

algumas pré-condições, ou seja, a transformação do dinheiro em meios de produção e de força

de trabalho em capital. Esse, primeiro movimento, segundo Marx ocorre depois de um longo

confronto entre a força existente (capitalismo) e sociedades anteriores (feudais). De outro

modo, a superação do modo de produção da sociedade anterior, relatado por Marx. Isso

custou a expropriação da sociedade (trabalhadores) e pequenos camponeses durante o século

XV ao XVI, em detrimento do enriquecimento elícito de outros.

Engels (1985) procura ressaltar este fato apontando o capital, a propriedade direta e

indireta das subsistências e dos meios de produção seria a arma em que se luta na guerra

social, nesse caso, fica clara a desvantagens do pobre para suportar toda situação, pois a

burguesia teria o favor de enriquecer a sua custa.

Essa desvantagem continuou com o desenvolvimento da maquinaria na grande

indústria. Os efeitos gerados foram imediatos tanto na produção, quanto sobre o trabalho.

Dentre os reflexos, pode-se citar a apropriação da força de trabalho suplementar pelo capital:

incorporação do trabalho feminino e infantil. Mas qual a razão da utilização dessas sensíveis

forças de trabalho? Existe um sentido lógico por detrás, que engendra do capitalismo.

Pois o avanço do capitalismo significou não somente o desenvolvimento da

maquinaria, ainda que este fato seja considerado importante. As bases criadas (vista na seção

2.1 e 2.2), com a transformação da relação de produção foram decisivas. Assim como, o

capital necessário para ser movido pela força motriz do trabalho. Ainda que outras formas de

trabalho tenham sido empregadas na fase inicial da acumulação do capital, tais como, trabalho

feminino e infantil, sob condições forçosas, a essência do capitalismo é a especialização

(produtividade do trabalho), apropriação da mais-valia relativa, como explica Smith e Marx.

Contudo, com base no exposto até o momento, no início o uso de trabalho infantil e

feminino foi a palavra de ordem do capitalista da maquinaria, que substitui trabalho e

trabalhadores, transformando-se rapidamente num meio de substituir o número de

assalariados, colocando todos os membros da família de trabalhadores, sem distinção de sexo,

nem idade, sob o comando imediato do capital. Todavia, servindo de condição necessária na

Page 60: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO – UFMT§ões... · universidade federal de mato grosso – ufmt faculdade de economia– fe mestrado em agronegÓcios e desenvolvimento regional

44

dinâmica da acumulação do capital nos seus estágios iniciais, bem como a incorporação de

trabalhadores e pequenos camponeses expropriados de suas terras.

É fato também que a acumulação de capital pelo capitalista se dá em diferentes

condições e estágios, a exemplo da acumulação primitiva e a acumulação de capital que se

constitui pela reprodução da acumulação anterior, que em análise mais precisa significa

também reprodução destas duas continuamente.

O processo que move esse capital tem duplo caráter materializado na mercadoria

dinheiro: o dispêndio da força de trabalho pelo homem e trabalho humano abstrato, sendo que

a expressão do primeiro é força de trabalho num sentido fisiológico, enquanto que o segundo

não produz valor de uso pra si próprio, mas para outros, tornando-se mercadoria,

independentes um do outro. O que denota que toda mercadoria enquanto dinheiro expressa a

corporificação de trabalho social (com diferentes magnitudes de valores-mercadorias), e que

juntamente com o capital materializado (dinheiro) torna-se importantes na dinâmica

capitalista (MARX, 1984).

Não será tratado neste trabalho como se origina o processo de produção, objeto de

discussão do capítulo 1 e do processo de circulação capítulo 2 da obra de Marx (O Capital),

mas procurar entender a dinâmica que impõe movimento ao capital com reflexo no

trabalhador. Na seção seguinte procura-se entender o desenvolvimento do capitalismo no

Brasil, a partir da análise da agricultura, como forma primeira de engendrar o seu estágio de

desenvolvimento.

2.5 O desenvolvimento do capitalismo e o padrão singular no Brasil

Nesta seção o foco de análise é dedicado ao entendimento do processo de

desenvolvimento do capitalismo no Brasil de maneira simplificada, com intuito de realizar

uma análise da dinâmica do capital no estado de Mato Grosso e, nos capítulos seguintes na

Região Norte do Estado.

No Brasil, o processo de desenvolvimento do capitalismo, de maneira geral, se dá pela

generalização da produção mercantil e aprofundamento da divisão social do trabalho, esta

última se constitui na base de todo processo de desenvolvimento capitalista, que se traduz na

especialização da produção, como ressaltado anteriormente através das obras de Marx e

Engels (GONTIJO, 1984, 1988).

Page 61: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO – UFMT§ões... · universidade federal de mato grosso – ufmt faculdade de economia– fe mestrado em agronegÓcios e desenvolvimento regional

45

Em Mato Grosso o desenvolvimento do capitalismo se dá pela expansão do capital da

região Centro-Sul do país, juntamente com a ampliação do capital mundial (na década de

1970), incentivos fiscais e crédito da União e pela migração de trabalhadores, principalmente

do Sul do país.

Dentro desse contexto a especialização levou a segmentação do mercado, ou seja, a

indústria se separa da agropecuária. Depois, em vários ramos: agricultura, pecuária,

extrativismo vegetal e silvicultura. E tal fato implica na conformação de espaços regionais

industriais e agrícolas produtoras de produtos específicos, refletindo a dinâmica da economia

mundial, qual seja, o a divisão internacional do trabalho (GONTIJO, 1984).

No entanto, há que se ressaltar também que no modo de produção capitalista a

presença da força de trabalho como mercadoria é fundamental. Assim, dono da sua força de

trabalho, como disse Marx “livre feito pássaro”, o trabalhador passa a vender sua única

propriedade, presume-se a existência de trabalho separados das condições de realização do

processo de produção. Neste caso, a condição necessária é que os trabalhadores estejam livres

e desimpedidos para ofertar a sua força de trabalho (MARX, 1984).

Para Gontijo (1984) o processo de modernização do trabalho agrícola que transforma a

agricultura, proporciona a elevação da produtividade do trabalho no meio rural. E tal fato,

permite liberar força de trabalho para outros setores da atividade econômica, no caso, para as

indústrias. É verdade também que esta transformação está associada dentre outras coisas a

exploração da terra, do emprego de novas técnicas e de métodos de produção e, sobretudo,

assentada na cooperação do trabalhador.

Ainda que pese a importância destacada neste trabalho para a atividade industrial é

preciso ressaltar o papel histórico do setor agrícola na expansão do capitalismo brasileiro, em

especial na liberação da força de trabalho para esta última. Assim, pode-se destacar que em

grande parte dos países industrializados a “revolução agrícola” precedeu a “revolução

industrial”.

Nesta concepção Gontijo (1984) aponta que o setor agrícola foi responsável pelo

aumento da produção de alimentos e matérias-primas para a indústria, e também, na liberação

da força de trabalho para a indústria brasileira.

Page 62: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO – UFMT§ões... · universidade federal de mato grosso – ufmt faculdade de economia– fe mestrado em agronegÓcios e desenvolvimento regional

46

No caso dos países da América Latina a especialização de produtos primários reflete a

sua situação periférica de fornecedor de matéria-prima. Essa posição é exposta por Mello

(1986) que diz que o capitalismo latino-americano não seria um capitalismo qualquer, mas o

desenvolvimento do capitalismo na América Latina de modo particular, pois foi realizado

numa “situação periférica nacional”, fruto da expansão do capitalismo nas regiões centrais.

Nessa concepção, segundo Mello (1986) e Gontijo (1988) na análise do modo do

desenvolvimento do capitalismo é preciso ter cautela, pois o seu desenvolvimento

“originário”, o caso clássico da Inglaterra se diferencia dos países da América Latina, mas não

a sua lógica universal, o da expropriação dos proletários para uma posterior acumulação.

Neste sentido, Gontijo (1988) reforça que o desenvolvimento do capitalismo, mais

especificamente o caso universal, em sua lógica processual pode-se dar, na agricultura de dois

modos: o primeiro pela transformação da atividade econômica latifundiária em moderna

exploração capitalista ou, pela expansão da pequena propriedade camponesa em processo de

capitalização, liderada pela grande propriedade; o segundo pela livre ocupação do solo

economicamente acessível e sua extensão.

Em se tratando deste estudo, a visão dual é complementada pela conformação dos

“espaços vazios” em Mato Grosso8, e mais especificamente no Norte de Mato Grosso como se

verá mais precisamente no último capítulo. Através da ocupação espontânea dos grileiros

posseiros e aventureiros que vieram para o Estado. Em segundo, pela ocupação induzida, pelo

governo, com a fixação de pequenos produtores em programas públicos colonização em

parceria com a iniciativa privada (colonizadoras) e; terceiro com elevados aporte financeiros

para empresas agropecuárias privadas de grande propriedade através dos projetos de

desenvolvimento com aporte da Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia

(SUDAM).

Associada as questões teóricas abordadas nesta seção, o presente estudo busca

entender a dinâmica da acumulação do capital na Região Norte de Mato Grosso, associada aos

aspectos do trabalho na indústria da madeira e da carne, a partir da formulação do problema e

objetivos apresentados na introdução, seguindo os passos metodológicos proposta para esta

investigação.

8 A discussão sobre a conformação dos “espaços vazios” no Estado de Mato Grosso nos leva a discussão teórica

sobre a definição de fronteira, tratada com especificidade no último capítulo.

Page 63: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO – UFMT§ões... · universidade federal de mato grosso – ufmt faculdade de economia– fe mestrado em agronegÓcios e desenvolvimento regional

47

Nos capítulos seguintes são apresentados além do processo histórico da formação do

capital e da economia matogrossense, pontos relevantes relativo aos aspectos dos

trabalhadores, entendendo assim, como passo inicial para entender a dinâmica da acumulação

do capital no Norte de Mato Grosso.

No entanto, é preciso distinguir-se o percurso da investigação deste estudo daquele

realizado por Marx (O Capital), como bem salientado por ele, as bases que deram origem ao

capital, difere entre regiões e no tempo, mas a personificação do capital se dá de igual modo

em todo modo de produção capitalista. Ainda que pese os argumentos apresentados por Marx

sobre o processo de acumulação de capital vivido na Inglaterra este certamente, não será o

mesmo no Brasil e nem em Mato Grosso, pois a análise da dinâmica se dá em momentos

distintos e lugares completamente diferentes. Mas o modo como tudo isso é movido se

assemelha em todos os lugares, regiões e tempo, num sentido de apropriar da fonte de riqueza

dos expropriados.

Page 64: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO – UFMT§ões... · universidade federal de mato grosso – ufmt faculdade de economia– fe mestrado em agronegÓcios e desenvolvimento regional

48

3. FORMAÇÃO DO CAPITAL EM MATO GROSSO.

Este capítulo apresenta inicialmente as etapas do processo de ocupação e de

desenvolvimento da Amazônia. Indicando alguns passos que se seguiram desde o declínio da

atividade extrativa da borracha e a expansão do capital nacional e internacional na Amazônia.

Na seção seguinte, o conjunto de mudanças institucionais ocorridas a partir do processo de

colonização iniciada com a “Marcha para o Oeste” com apoio a implantação de grandes

empreendimentos no Estado, fato que contribuiu para o processo de formação do capital em

Mato Grosso. Ressaltam-se os benefícios concedidos pela SUDAM aos empreendimentos

privados e a motivação do governo em consolidar os Projetos de Colonização sob a

coordenação do INCRA, e também, a importância de infra-estrutura básica, estradas, energia.

Há também a participação do Governo do Estado e suas estruturas. Na última seção do

capítulo, apresentam-se os resultados dessa política de incentivos, e os novos incentivos que

contribuiu com o processo de industrialização inicial no Estado, mostrando os resultados que

comprovam a expansão da atividade econômica e aumento da produção no Estado, em

especial de atividades relacionadas a atividades da madeira e da carne no período de 1978 a

2007.

3.1 - Breve histórico da base de expansão da atividade econômica na Amazônia

Antes de o governo começar a implantar as estratégias para o novo modelo de

desenvolvimento regional, aprofundado a partir da década de 70, a Amazônia vivia um

período de estagnação econômica na economia da borracha, iniciada em 1913 e sua

interrupção foi desenhada com o final da Segunda Guerra Mundial. Durante este período

existiram várias tentativas de ocupação da região, por meio dos governos estaduais e pela

União, mas sem o efeito desejado (CARVALHO, 2000; NARETTO, 1994).

Esta crise da borracha estava associada a um conjunto de fatores que inviabilizavam

a sua manutenção, primeiro, custos elevados de extração do produto, em comparação aos

produzidos pelo Oriente; segundo, falta de pesquisa ligada a questão agronômicas com

amparo do governo; terceiro falta de visão dos empresários ligados a atividade da borracha; e

quarto, talvez a principal delas, dificuldade em arrumar mão-de-obra na região, aliada a

distância e condições adversas da região (CARVALHO, 2000)

Page 65: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO – UFMT§ões... · universidade federal de mato grosso – ufmt faculdade de economia– fe mestrado em agronegÓcios e desenvolvimento regional

49

Durante o período de estagnação da economia da borracha houve uma tentativa de

reaquecimento da atividade, com aumento da produção da borracha na Amazônia em função

da demanda requerida pelos países aliados, haja vista, que 90% da produção da Ásia ter ficado

sob o domínio dos japoneses, momento eufórico que terminou com o fim da guerra, entrando

novamente em declínio (CARVALHO, 2000).

A União com objetivos de coordenar os planos governamentais de desenvolvimento

da região da Amazônia criou em 1953 a Superintendência do Plano de Valorização

Econômica da Amazônia (SPVEA), que dispunha de 3% da arrecadação de impostos da

União para consolidar os planos de desenvolvimento da região. Esta superintendência foi

reestruturada e passou a ser chamada de Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia

(SUDAM) (CARVALHO, 2000; OLIVEIRA, 1987, 1990)

Segundo Carvalho (2000) o projeto de desenvolvimento do governo militar na

Amazônia começa com a abertura da estrada Belém-Brasíla, em 1958, despertando o interesse

do capital nacional e estrangeiro com início da ocupação de vastas áreas comandadas pelos

projetos de exploração agropecuária implantadas na Amazônia Ocidental.

Nota-se que até por volta da década de 1950 incumbia a Amazônia fornecer alguns

poucos produtos primários, sobretudo, produtos do extrativismo (basicamente borracha e

castanha-do-pará). Somente com a chamada “Operação Amazônia” em 1967 é que a região

foi aberta a expansão do capitalismo, para isso o Estado brasileiro viabilizou a ocupação da

Amazônia através de um conjunto de instrumentos no campo, político, jurídico e econômico,

sob o auspício de preservar a unidade nacional, visão construída sob a estratégica de

segurança nacional (CARDOSO; MULLER, 1978; CARVALHO, 2000)

Com o lançamento da “Operação Amazônia” foram criados órgãos e programas

especiais a partir da década de 70 para atacar sob diversas frentes os problemas enfrentado

pela região. Nesse sentido, foram criados a Superintendência de Desenvolvimento da

Amazônia (SUDAM), o Instituto Nacional de Colonização (INCRA), o Banco da Amazônia

(BASA), o Pólo do Noroeste (POLONOROESTE), o Pólo dos Cerrados (POLOCENTRO) e

o Programa da Borracha (PROBOR), com intuito de expandir a atividade produtiva e ocupar

os espaços vazios da Amazônia e do Cerrado (BARROZO, 2008, p.15-26).

Page 66: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO – UFMT§ões... · universidade federal de mato grosso – ufmt faculdade de economia– fe mestrado em agronegÓcios e desenvolvimento regional

50

É a partir dessa estratégia que o modelo de desenvolvimento regional foi

restabelecido a partir da década de 70 com a idéia de que a Amazônia deveria deixar de estar

ligada basicamente a atividade extrativista e passar a incorporar a intensa exploração

agropecuária, mineral e madeireira. Segundo Carvalho (2000), o modelo de ocupação criado e

expandido pelos Estados que compõem a Amazônia se assentam em três eixos, articulados,

interdependentes e harmônicos:

a) medidas políticas representadas pela chamada “Operação Amazônia” (1967), que

sintetiza um conjunto de ações de planejamento econômico através das quais se

definem as intenções dessa ocupação;

b) medidas judiciais materializadas nos dispositivos de um vasto aparato legal

destinado a regular a ação efetiva dessa ocupação de acordo com aqueles parâmetro

políticos que haviam condicionado (Estatuto da Terra, Código da Mineração, etc.);

c) medidas econômicas representada pela legislação referente à políticas de

incentivos fiscais e de crédito que, ao lado da disponibilidade de terras abundantes e

baratas, vão se tornar as principais forças de atração do capital em grandes projetos

agropecuário e industriais na região. (CARVALHO, 2000, p.40)

A partir dessas linhas de atuação construída pelo Estado, com forte amparo

institucional, através de medidas políticas de planejamento, aparato judicial legais com a

criação do Estatuto da Terra, Código da Mineração, complementadas com medidas

econômicas atreladas a políticas de incentivos e de crédito e construção da infra-estrutura

básica (Cuiabá-Santarém) que surgem os investidores nacionais e estrangeiros, com projetos

agropecuários, industriais e minerais.

Além de atrair os investidores para a região da Amazônia, outros movimentos foram

induzidos para a consolidação dessas estratégias de desenvolvimento da região, como

exemplo, a vinda de nordestinos para trabalhar na extração de madeira e na formação das

fazendas de pecuária:

Quando deixar de chover na Amazônia, a partir de junho ou julho, tudo recomeçará

novamente: entre cem e cento e cinqüenta mil nordestino, sobretudo maranhenses,

serão trazidos de seus pobres povoados do interior para derrubar grandes árvores e

preparar pastagens numa floresta que desconhecem e lhes é hostil (PINTO, 1980,

p.3)

O acesso a região era complicado, mas a necessidade de muitos dos maranhenses

vindos de regiões muito pobres falava mais alto. Enquanto que o interesse privados, sobretudo

dos grandes empresários agropecuário era dirigido pelos privilégios das políticas do Estado,

criando leis para favorecer a concentração de terra, incentivos fiscais e crédito.

Nesse sentido, Pinto (1980) aponta que em viajem de três dias pela Amazônia um

grupo composto por empresários sulistas ligados a colonizadoras, agropecuária, e do governo

Page 67: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO – UFMT§ões... · universidade federal de mato grosso – ufmt faculdade de economia– fe mestrado em agronegÓcios e desenvolvimento regional

51

pelos Ministros do Planejamento, Interior e da Agricultura, acordaram a venda para os grupos

de empresários de mais de dois milhões de hectares no entroncamento das rodovias Cuiabá-

Santarém e Transamazônica, para implantação de projetos não definidos.

O Estado ainda ofereceu aos empresários um estudo realizado pelo Instituto de

Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) sobre as atividades básicas mais aconselháveis para

implantar na região, tendo como objetivos “facilitar a atração de empreendimentos privados”,

mas com preferência aos grandes empreendimentos (PINTO, 1980).

No pacote de benefícios, incentivos crédito e condições para se instalarem na região,

o governo modernizou portos e aeroportos, fez um levantamento dos recursos naturais na

região (Projeto RADAM-Brasil) modernização e ampliação do aparelho público,

transformando a SPVEA e o BCA em agências públicas como a Superintendência de

Desenvolvimento da Amazônia (SUDAM) e Banco da Amazônia (BASA), além da criação do

Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), responsável pela ocupação

dos espaços vazios na região. E ainda, investiu “pesado” para facilitar e atrair os novos

empreendimentos com a criação do Plano Nacional de Integração (PIN), Programa de

Redistribuição de Terra e Estimulo a Agroindústria no Norte (PROTERRA) e o Programa de

Pólos Agropecuários e Agrominerais da Amazônia (POLOAMAZÔNIA).

A título de incentivo a instalação desses grandes empreendimentos, segundo Pinto

(1980) o governo planejava investir cerca de um bilhão de dólares na Amazônia entre os anos

de 1973 e 1974, abrindo a partir daí uma nova era para a ocupação da região.

A justificativa apresentada pelo Ministro do Planejamento para implantar os grandes

projetos na região Amazônica era de que “os grandes projetos, ao contrário dos pequenos,

seriam essenciais, para evitar os desmatamentos indiscriminados e assegurar o equilíbrio

ecológico da região” (PINTO, 1980, p.64)

Na seção seguinte, procura-se abordar estas questões relacionadas às bases da

formação do capital em Mato Grosso, a partir do processo de colonização oficial e de

ocupação, dos incentivos fiscais, da infra-estrutura criada e da expansão da produção

resultado dessas ações.

Page 68: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO – UFMT§ões... · universidade federal de mato grosso – ufmt faculdade de economia– fe mestrado em agronegÓcios e desenvolvimento regional

52

3.2 – Aspectos históricos da base de expansão da atividade econômica em Mato Grosso

A colonização oficial do território de Mato Grosso teve início a partir de 1930 com a

Política de Colonização de Getulio Vargas, através da criação das “colônias nacionais” no

programa denominado “Marcha para o Oeste”. A partir desta década observa-se uma nova

fase econômica para o Estado, com a contribuição da política de colonização dirigida para o

desenvolvimento das atividades produtivas existentes no Estado (MARTA, 1999; CASTRO

et. al, 2002).

A mobilização posterior a “Marcha para o Oeste”, apresenta programas que o

institucionalizaram, através da Fundação Brasil Central e posteriormente a SUDECO,

marcada por elevados investimentos em infra-estrutura (com apoio do exército na abertura de

estradas), financiamentos para os estabelecimentos da produção agropecuária e incentivo

fiscal, proveniente da Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia (SUDAM). Em

meio a essas ações, nota-se um empenho maior do Instituto Nacional de Colonização e

Reforma Agrária (INCRA) em consolidar os Projetos de Colonização Oficial no Estado de

Mato Grosso (CASTRO et. al, 2002).

É preciso ressaltar que as condições eram extremamente favoráveis para a expansão

do capital no mundo, pois o ritmo da economia mundial até a década de 70 permaneceu

aquecido, e os novos mecanismos financeiros naquela ocasião viabilizavam a expansão do

crédito e da demanda. Segundo Naretto (1994) a economia brasileira acumulava taxas de

crescimento de 11,4% em média no período de 1968 a 1973.

Isso justificava em parte a necessidade do capital, principalmente do Centro-Sul do

país migrar para os espaços vazios, e “resolver os problemas sociais” de concentração de

terras no Sul do país e da seca da região Nordeste.

A partir deste momento o interesse na ocupação dos “espaços vazios” começa a ficar

evidente. Haja vista, coincidir com a liberação de recursos provenientes de incentivos fiscais

liberados pela SUDAM.

Diante deste fato, Silva (1989) afirma que a população da região de Mato Grosso

cresceu aproximadamente 11% ao ano na primeira década de 1970, resultado da expansão do

emprego agrícola vinculado, em menor parte a atividade agropecuária e grande parte

motivada pela colonização privada nas áreas de cerrado.

Page 69: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO – UFMT§ões... · universidade federal de mato grosso – ufmt faculdade de economia– fe mestrado em agronegÓcios e desenvolvimento regional

53

Enquanto Cardoso e Muller (1978) apontam que entre os anos de 1965 a 1973, o

setor agropecuário obteve cerca de 50,6% do total dos incentivos concedidos pela SUDAM,

seguido pelo setor industrial com 41,5%, nesse mesmo período.

Neste intervalo de tempo, constata-se que grande parte destes incentivos

concentrava-se em Mato Grosso e no Pará, sendo que do total de 498 projetos aprovados até

1973, os dois estados tiveram 368 projetos de implantação de empreendimentos, o equivalente

a 71,8% do total de incentivos concedidos (CARDOSO; MULLER, 1978).

Ao lado da política de colonização e de incentivos fiscais aos projetos agropecuários

e industriais, o governo se dispôs a atuar diretamente com investimentos em infra-estrutura

viária e energética como forma de assegurar o processo de desenvolvimento na região e de

garantir os investimentos privados.

Segundo Cardoso e Muller (1978) a rodovia Transamazônica, junto com a rodovia a

Cuiabá-Santarém constituíram-se nos esforços mais significativos na direção assinalada.

Outro ponto importante nesse processo de desenvolvimento da expansão da atividade

produtiva no Estado é a questão da energia, em especial a energia elétrica, segundo Marta

(2005) tido como um dos elementos fundamentais para o Desenvolvimento Econômico e

Social, pois junto com a eletricidade surgem as demandas por saúde, educação, segurança,

lazer, e principalmente o conforto da energia. Do ponto de vista da produção é considerado

um dos fatores indispensáveis para por força motriz nas indústrias.

Prova disso foi que o Estado de Mato Grosso era considerado o maior consumidor

per capita de óleo diesel nos anos oitenta e noventa, motivada por solução rápida para suprir a

demanda por energia, com intuito de atender aos interesses das grandes empresas,

dependentes de energia das pequenas geradoras movidas por motores (MARTA, 2005).

A solução para o problema, segundo Marta (2005) veio com a implantação do

sistema integrado, ocorrido em 1996. A falta de eletricidade, atrelado ao custo do óleo diesel

teria afetado a expansão das atividades econômica na Região Norte do Estado.

A seguir apresenta-se resultados destes incentivos concedidos pelo Estado,

sobretudo, aos grandes grupos econômicos que dinamizaram a produção no Estado de Mato

Grosso, por conseqüência com a expansão da economia mato-grossense.

Page 70: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO – UFMT§ões... · universidade federal de mato grosso – ufmt faculdade de economia– fe mestrado em agronegÓcios e desenvolvimento regional

54

3.3 O desenvolvimento da produção de algumas atividades econômica no Estado

Os dados da Tabela 7 apresentam a evolução da produção de lenha e extração de

madeira em tora durante o período de 1978 a 2007, bem como a taxa de variação e o índice de

crescimento acumulado.

Como se observa na Tabela 7, as taxas de variação tanto da produção de lenha quanto

da madeira em tora apresentam certa instabilidade, com quedas e altas súbitas, isso pode ser

explicado em parte pela dificuldade de acesso aos locais de extração da madeira (falta de

estradas). Dentre as quedas apresentadas a mais acentuada foi no ano de 2005, em ambas as

produções (lenha e madeira em tora), provocada pela operação desencadeada pela Polícia

Federal, o qual ficou conhecido como a “Operação Curupira”. A produção de lenha caiu

(17,45%), enquanto que a produção de madeira em tora teve um declínio de (27,72%).

Na produção de lenha é possível observar na Tabela 7 queda sucessiva nos anos de

1996, 1997 e 1998, com (14,14%), (12,10%) e (14,89%), respectivamente. De igual modo, na

produção de madeira em tora, com (2,06%), (28,09%) e (14,05%) no mesmo período.

Segundo Marta (2008a) a atividade da madeira em volume comercial teve início na

década de 1960. Naquela época não havia qualquer racionalidade econômica ou mesmo

ambiental, em relação a preservação ou a conservação das espécies, ou mesmo que fosse

inviabilizadas a comercialização no futuro.

Durante o período de 1978 a 2007 a produção da madeira acumulou uma taxa de

crescimento de 853,48%, apresentando queda a partir de 1997. Enquanto que a produção de

lenha apresentou aumento de 34,52%.

Page 71: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO – UFMT§ões... · universidade federal de mato grosso – ufmt faculdade de economia– fe mestrado em agronegÓcios e desenvolvimento regional

55

Tabela 7 - Produção de lenha (m3) e madeira em tora (m

3), taxa de variação anual e índice de

crescimento acumulado no Estado de Mato Grosso, 1978 - 2007.

Ano

Lenha

(m3)

Variação

%

Índice

base: 100

Madeira em tora

(m3)

Variação

%

Índice

base: 100

1978 1.528.299 100,00 204.822 100,00

1979 2.117.854 38,58 138,58 347.865 69,84 169,84

1980 2.261.667 6,79 147,99 459.581 32,11 224,38

1981 2.973.664 31,48 194,57 509.674 10,90 248,84

1982 3.110.441 4,60 203,52 610.144 19,71 297,89

1983 3.534.886 13,65 231,30 869.728 42,54 424,63

1984 3.782.812 7,01 247,52 951.139 9,36 464,37

1985 3.836.778 1,43 251,05 1.103.678 16,04 538,85

1986 4.772.435 24,39 312,27 1.527.317 38,38 745,68

1987 4.240.811 -11,14 277,49 1.398.816 -8,41 682,94

1988 4.652.690 9,71 304,44 1.900.314 35,85 927,79

1989 5.055.892 8,67 330,82 1.659.917 -12,65 810,42

1990 4.605.701 -8,90 301,36 1.899.030 14,41 927,16

1991 3.932.575 -14,62 257,32 2.874.701 51,38 1403,51

1992 3.419.643 -13,04 223,75 2.607.967 -9,28 1273,28

1993 3.248.368 -5,01 212,55 2.729.971 4,68 1332,85

1994 3.380.657 4,07 221,20 4.088.119 49,75 1995,94

1995 3.196.208 -5,46 209,13 4.256.770 4,13 2078,28

1996 2.744.330 -14,14 179,57 4.169.173 -2,06 2035,51

1997 2.412.348 -12,10 157,85 2.997.959 -28,09 1463,69

1998 2.053.100 -14,89 134,34 2.576.870 -14,05 1258,10

1999 2.058.401 0,26 134,69 2.636.544 2,32 1287,24

2000 2.017.850 -1,97 132,03 2.600.936 -1,35 1269,85

2001 1.968.857 -2,43 128,83 2.725.512 4,79 1330,67

2002 2.008.416 2,01 131,42 2.867.779 5,22 1400,13

2003 1.946.189 -3,10 127,34 2.601.363 -9,29 1270,06

2004 2.270.483 16,66 148,56 2.343.590 -9,91 1144,21

2005 1.874.390 -17,45 122,65 1.694.022 -27,72 827,07

2006 1.808.933 -3,49 118,36 2.109.740 24,54 1030,04

2007 2.055.834 13,65 134,52 1.952.947 -7,43 953,48

Fonte: Anuário Estatístico de Mato Grosso, SEPLAN-MT, 2000 a 2006 e IBGE, Produção Agrícola Municipal,

2007.

Outros fatores também contribuíram para a instabilidade no setor, com base nas

entrevistas realizadas em trabalho de campo. Essas causas seriam: a demora na liberação do

Plano de Manejo Florestal; o baixo aproveitamento das toras em função da tecnologia

ultrapassada utilizadas pelas serrarias e o custo elevado na logística de transportes dessa

matéria-prima até a indústria.

A atividade madeireira apresenta algumas funções de crescimento e desenvolvimento

nas regiões onde ocorrem as unidades produtivas de extração e transformação industrial, em

geral territorialmente integrada. Com a implantação desse complexo ocorre importante

geração de empregos, decorrente da tecnologia empregada cuja natureza é intensa em mão-de-

obra. Desse modo, a demanda por trabalho exige a disponibilidade de moradias para os

Page 72: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO – UFMT§ões... · universidade federal de mato grosso – ufmt faculdade de economia– fe mestrado em agronegÓcios e desenvolvimento regional

56

trabalhadores e alguns comerciantes que passam a construir seu negócio como fornecedor de

alimentos e outros produtos essenciais, como combustíveis, criando-se um pequeno núcleo

habitacional-comercial, cuja base é a indústria madeireira.

Como se sabe, no processo de “abertura” das áreas disponibiliza-se grande quantidade

de lenha, necessária a secagem de grãos e outros processo industriais que utilizam caldeiras e

produzem calor, vapor e energia. Todavia, as pressões ambientais em relação ao

desmatamento e queimadas de cobertura vegetal, têm aumentado os custos para regularização

dos aspectos ambientais e a demora de órgãos burocráticos de controle na liberação de ATPF,

vem provocando crises no setor, bem como falta de linhas de créditos para reflorestamentos.

O reflexo desta instabilidade no setor da madeira repercute no mercado de trabalho, com

demissão em massa de trabalhadores, como se verá no último capítulo.

Para Marta (2008a) os madeireiros extratores passavam a tirar toras de onde houvesse

matas, extraindo espécies comercializáveis, com alto valor de mercado para a indústria da

madeira, como exemplo, mogno, o pau ferro e mais tarde cerejeira. O avanço da extração da

madeira significava a abertura de áreas para pastagens, de modo geral incorporados pela

agropecuária. A pecuária extensiva foi uma das primeiras atividades implantadas no estado, a

expansão da atividade da madeira abre caminho para a inserção da pecuária.

Com a queda na produção da madeira mais acentuada a partir de 1996, como se

observa nos dados da Tabela 7, o Estado criou o PROMADEIRA9, destinado a Indústria da

Madeira e Mobiliário, em 1999. Este programa procurou estabelecer um conjunto de medidas

e ações para o fortalecimento da atividade industrial através de incentivos fiscais

verticalizados e possibilitando a agregação de valor aos produtos da madeira e geração de

postos de trabalho no setor.

Por meio deste programa direcionado ao setor da madeira, o Estado procurou

minimizar os gargalos existentes no setor, em especial, relativos aos aspectos da

sustentabilidade de recursos ambientais e controle ambiental. Todavia, nos parece que o

mesmo tem aspectos controversos como a premissa de aumento da eficiência produtiva e

ampliação da mão-de-obra, revelando-se de certo modo um discurso apenas de remessa fiscal.

9 O PROMADEIRA, destinado à Indústria da Madeira e Mobiliário. O programa foi instituído pela Lei nº 7.200,

em 09 de dezembro de 1999

Page 73: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO – UFMT§ões... · universidade federal de mato grosso – ufmt faculdade de economia– fe mestrado em agronegÓcios e desenvolvimento regional

57

Os dados da Tabela 8 trazem o número de cabeças de gados no período de 1978 a

2007, o aumento da produção é fruto da abertura dessas áreas de floresta, proporcionada pela

extração da madeira. A atividade da pecuária praticada no Estado (extensiva) representa baixo

custo de manutenção e de investimentos, pois de modo geral, como apontado por Marta

(2008a), a terra fica como uma espécie de “resíduo”, incorporada pela agropecuária,

requerendo apenas a necessidade de pastagem, realizada em conjunto o arroz utilizado para

amansar terra, e de alguns trabalhadores para tocar o rebanho. Contudo, como indicado na

seção anterior, foi um dos setores que mais receberam incentivos fiscais da SUDAM,

considerando os investimentos em desmate, cercas, currais, bretes, casas e outras infra-

estruturas (muitas vezes aviões e barcos). Esse aparato destinava-se a garantir a posse da terra.

Tabela 8 - Efetivo bovinos, taxa de variação anual e índice de crescimento acumulado, Mato

Grosso, 1978 - 2007.

Ano

Bovinos

(nº cabeças)

Variação

%

Índice

base: 100

1978 3.888.000 100,00

1979 4.223.000 8,62 108,62

1980 5.249.000 24,30 135,01

1981 5.496.896 4,72 141,38

1982 5.967.282 8,56 153,48

1983 6.365.102 6,67 163,71

1984 6.787.575 6,64 174,58

1985 6.507.632 -4,12 167,38

1986 6.859.161 5,40 176,42

1987 7.407.377 7,99 190,52

1988 7.850.069 5,98 201,91

1989 8.473.929 7,95 217,95

1990 9.041.258 6,69 232,54

1991 9.890.510 9,39 254,39

1992 10.192.985 3,06 262,17

1993 11.706.318 14,85 301,09

1994 12.653.943 8,09 325,46

1995 14.292.959 12,95 367,62

1996 15.523.094 8,61 399,26

1997 16.337.986 5,25 420,22

1998 16.751.508 2,53 430,85

1999 17.242.935 2,93 443,49

2000 18.924.532 9,75 486,74

2001 19.921.615 5,27 512,39

2002 22.183.695 11,35 570,57

2003 24.613.718 10,95 633,07

2004 25.918.998 5,30 666,64

2005 26.651.500 2,83 685,48

2006 26.064.332 -2,20 670,38

2007 25.683.031 -1,46 660,57

Fonte: Anuário Estatístico de Mato Grosso, SEPLAN-MT, 2000 a 2006 e IBGE, Pesquisa Pecuária Municipal

2007.

Page 74: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO – UFMT§ões... · universidade federal de mato grosso – ufmt faculdade de economia– fe mestrado em agronegÓcios e desenvolvimento regional

58

Observam-se nos dados apresentados na Tabela 8 que a atividade bovina não

apresenta oscilações expressivas, queda na produção, demonstrando ser um setor mais estável

em comparação a extração da tora e lenha de madeira. No período de 1978 a 2007, a produção

cresceu 560,57%, tendo aumento expressivo de 1979 para 1980, com 24,3%. O número de

bovinos efetivos no Estado passou de 3.888.000 milhões de cabeças em 1978 para

25.683.031, milhões em 2007.

As recentes quedas ocorridas nos anos de 2006 e 2007 podem ser associadas ao

aumento de abate no Estado das matrizes, para atender a demanda crescente de carne no

Estado e no mercado internacional. E tal fato, pode ter implicado na redução de bovinos

efetivos no Estado (PERES, 2009).

Em função do expressivo número de bovinos no Estado, e do surgimento de novas

plantas frigoríficas, em especial, apoiadas através de incentivos e benefícios fiscais, a

exemplo do Programa de Desenvolvimento da Cadeia do Boi (PROCOURO)10

, que em face

ao potencial de produção de carne, estimula a produção da atividade bovina de corte para

exportação, tendo a preocupação de agregar valor a carne produzida no Estado. Este programa

procura incentivar também o aproveitamento do sub-produto com o beneficiamento e

industrialização do couro no Estado e outros sub-produtos derivados da carne bovina.

No Estado de Mato Grosso, mesmo com os incentivos fiscais concedidos ao setor

madeireiro para a industrialização, a participação desta atividade é destacada na produção de

toras, e na geração de emprego no setor de desdobramento, ou seja, o setor se apresenta num

estágio preliminar de industrialização, de pouco valor agregado, considerando ainda ao

estoque cada vez mais escasso de recursos florestais.

A implicação dessa atividade como vimos anteriormente, é que a terra passa a ser um

“resíduo”, conforme colocado por Marta (2008a), incorporado por outras atividades, segundo

o autor, primeiro na produção de arroz, com seu esgotamento dessa cultura em duas ou três

safras seguintes, o plantio do arroz cumpre uma função especial no ciclo produtivo da terra,

ela neutraliza a terra11

, considerada ácida pelos especialistas. E tal fato, propícia a inserção da

soja na área. Essa instabilidade nos setores da madeira e da carne reflete na instabilidade no

mercado de trabalho, dessa forma surgem outras culturas com elevados investimentos em

10 O PROCOURO foi criado através de Lei Estadual nº. 7.216 de 17 dezembro de 1999.

11 O Autor utiliza a expressão “amansa terra”.

Page 75: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO – UFMT§ões... · universidade federal de mato grosso – ufmt faculdade de economia– fe mestrado em agronegÓcios e desenvolvimento regional

59

processo de modernização, como no caso da soja que incorpora apenas uma pequena parte dos

trabalhadores desempregados.

O desenvolvimento da produção e expansão da área da soja no Estado se dá

principalmente a partir da década de 80, como se pode verificar na Tabela 9. A área total

utilizada passou de 5.566 hectares, em 1978 para 5.131.235 milhões de hectares em 2007,

uma variação no período de 821,88%. A taxa acumulada da produção ultrapassa os noventa e

dois mil por cento (92000%), a produtividade no período saltou de 1,31 toneladas por hectare

de terra para em média 2,37 ao ano, ou seja, dobrou a produtividade de produção da soja por

hectare de terra.

Tabela 9 - Área, produção, produtividade, taxa de variação anual da produção e índice de

crescimento acumulado da cultura da soja (em grão), Estado de Mato Grosso,

1978 - 2007(1)

.

Ano

Área

(ha)

Produção

(t)

Produtividade

(ha)

Variação

%

Índice

base: 100

1978 5.566 7.269 1,31 100,00

1979 19.130 26.503 1,39 243,69 343,69

1980 70.431 117.173 1,66 268,17 1265,38

1981 120.089 224.901 1,87 70,51 2157,55

1982 194.331 365.501 1,88 61,82 3491,39

1983 301.839 611.258 2,03 55,32 5422,91

1984 538.169 1.050.095 1,95 78,30 9668,86

1985 795.438 1.656.039 2,08 47,80 14291,02

1986 913.222 1.921.053 2,10 14,81 16407,15

1987 1.096.828 2.389.033 2,18 20,11 19705,86

1988 1.319.230 2.694.718 2,04 20,28 23701,58

1989 1.703.649 3.795.435 2,23 29,14 30608,14

1990 1.527.754 3.064.715 2,01 -10,32 27447,97

1991 1.164.585 2.738.410 2,35 -23,77 20923,19

1992 1.453.702 3.642.743 2,51 24,83 26117,54

1993 1.678.532 4.118.726 2,45 15,47 30156,88

1994 2.022.956 5.319.793 2,63 20,52 36344,88

1995 2.322.825 5.491.426 2,36 14,82 41732,39

1996 1.956.148 5.032.921 2,57 -15,79 35144,59

1997 2.192.514 6.060.882 2,76 12,08 39391,20

1998 2.643.389 7.228.052 2,73 20,56 47491,72

1999 2.635.010 7.473.028 2,84 -0,32 47341,18

2000 2.906.448 8.774.470 3,02 10,30 52217,89

2001 3.121.353 9.533.286 3,05 7,39 56078,93

2002 3.824.231 11.702.165 3,06 22,52 68706,99

2003 4.413.271 12.965.983 2,94 15,40 79289,81

2004 5.263.428 14.517.912 2,76 19,26 94563,92

2005 6.106.654 17.761.444 2,91 16,02 109713,51

2006 5.811.907 15.594.221 2,68 -4,83 104418,02

2007 5.131.235 15.493.051 3,02 -11,71 92188,91

Fonte: Anuário Estatístico de Mato Grosso, SEPLAN-MT, 2000 a 2006.

Nota: (1) Produção Agrícola IBGE em 2007.

Page 76: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO – UFMT§ões... · universidade federal de mato grosso – ufmt faculdade de economia– fe mestrado em agronegÓcios e desenvolvimento regional

60

Esse desempenho considerável no aumento da produção se deve em grande parte a

eficiência dos produtores na produção de soja, e ao pacote tecnológico incorporado nesta

cultura ao longo do período, com novas variedades de sementes e de fertilizantes.

O incentivo a exportação deste produto em grãos por meio da isenção de Imposto

sobre Circulação de Mercadorias e Serviço (ICMS) concedido com base em lei federal12

, tem

despertado algumas discussões acerca do quanto o Estado estaria perdendo em exportar esse

produto a granel, se em vez disso tiver exportando manufaturado (farelo, carne e outros

derivados), ainda que se tenha o fato desta cultura proporcionar a verticalização da produção

de frango e suíno no Estado.

O milho é outra cultura que tem papel destacado na produção de grãos no Estado, ente

1978 a 2007, a área de produção desta cultura passou de 84.252 hectares de terra para

1.646.049 de hectares. Em algumas propriedades o milho é produzido como rotação de

cultura, fato que tem proporcionado um aumento na produção de grãos no Estado e

complemento da renda do produtor rural, além da criação de suínos, com ração a base de soja

e milho.

Como se verifica nos dados da Tabela 10, o aumento da produtividade praticamente

dobrou em 29 (vinte e nove) anos, passando de 1,49 toneladas por hectares para 2,49 em

média, isso se deve ao fato do desenvolvimento tecnológico, com surgimento de novas

variedades de sementes.

É possível verificar na evolução da produção, através das taxas de variação anual,

quedas na produção, os fatores associados a redução na produção de milho no Estado pode

estar associado a falta de chuvas, queda nos preços, ou até mesmo excesso de chuvas,

ocasionando perca de produtividade.

Os anos com quedas mais significativas, superior a dez por cento foi em 1983, com

queda de (-10,79%) e, em 1998 com (-12,97%).

No período de 1978 a 2007 a taxa acumulada de crescimento na produção de milho

superou os cinco mil por cento (5000%), passando de 119.760 toneladas em 1978 para

6.129.616 milhões de toneladas. O aumento no número de suínos e aves justifica o aumento

12 A Lei complementar nº 87 de 13 de setembro de 1996, conhecida por Lei Kandir, isenta os produtos e serviços

destinados à exportação no pagamento do ICMS.

Page 77: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO – UFMT§ões... · universidade federal de mato grosso – ufmt faculdade de economia– fe mestrado em agronegÓcios e desenvolvimento regional

61

na produção de carne no Estado. A variação média observada na produção de milho é de

3,76% ao ano (1978 a 2007). O aumento da produção no Estado atende em parte a demanda

das granjas integradas aos frigoríficos de suínos e aves na produção de carnes semi-

processadas, voltadas para exportação.

Tabela 10 – Área, produção da cultura do milho (em grão), taxa de variação anual e índice de

crescimento acumulado da produção, Mato Grosso, 1978 a 2007(1)

.

Ano/Safra Área

(ha)

Produção

(t)

Produtividade por

(ha)

Variação

% Índice da produção

1978 84.252 119.760 1,421 100,00

1979 71.414 109.014 1,527 7,39 91,03

1980 83.609 142.572 1,705 11,71 119,05

1981 114.072 190.765 1,672 -1,93 159,29

1982 167.227 288.324 1,724 3,10 240,75

1983 207.541 319.238 1,538 -10,79 266,56

1984 203.939 318.477 1,562 1,52 265,93

1985 242.913 410.500 1,690 8,21 342,77

1986 273.717 529.072 1,933 14,38 441,78

1987 305.326 683.334 2,238 15,79 570,59

1988 335.287 699.832 2,087 -6,74 584,36

1989 339.263 801.429 2,362 13,18 669,20

1990 270.283 618.973 2,290 -3,06 516,84

1991 253.022 669.683 2,647 15,57 559,19

1992 290.266 763.907 2,632 -0,57 637,86

1993 339.772 908.186 2,673 1,56 758,34

1994 434.705 1.163.551 2,677 0,14 971,57

1995 439.390 1.226.157 2,791 4,26 1023,85

1996 542.636 1.514.658 2,791 0,03 1264,74

1997 573.276 1.520.695 2,653 -4,97 1269,79

1998 410.934 948.659 2,309 -12,97 792,13

1999 440.612 1.118.851 2,539 10,00 934,24

2000 541.792 1.429.672 2,639 3,92 1193,78

2001 536.420 1.743.043 3,249 23,14 1455,45

2002 720.775 2.313.708 3,210 -1,21 1931,95

2003 880.623 3.192.813 3,626 12,95 2666,01

2004 941.092 3.408.968 3,622 -0,09 2846,50

2005 1.043.815 3.483.266 3,337 -7,88 2908,54

2006 1.079.970 4.228.423 3,915 17,33 3530,75

2007 1.646.049 6.129.616 3,724 -4,89 5118,25

Fonte: Anuário Estatístico de Mato Grosso, SEPLAN-MT, 2000 e 2007.

Nota: (1) Produção Agrícola IBGE em 2007.

Os aumentos consideráveis superior a dez por cento foi nos anos, o qual destacamos

alguns deles, foi em 1986 com aumento de 14,38%, em 2001 teve aumento de 23,14% e em

2006 com 17,33%. Esse aumento se deve em parte pelo aumento da área plantada no Estado e

pelo aumento da produtividade, baseada em novas variedades de sementes e uso de

fertilizantes.

Page 78: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO – UFMT§ões... · universidade federal de mato grosso – ufmt faculdade de economia– fe mestrado em agronegÓcios e desenvolvimento regional

62

O aumento da produção de suínos a partir da década de noventa pode ser explicado

pela abertura de novas plantas industriais no Estado. A disponibilidade de rações de soja e

milho proporcionou alguns grupos frigoríficos no Estado valerem-se da integração granjas-

indústria. Essa verticalização representa em essência aumento da produtividade, com vista a

redução de custo para atender o mercado externo.

O número de suínos no período de 1978 a 2007 aumentou cento e sessenta e um por

cento vírgula setenta e três por cento (161,73%), passando de 532.000 para 1.392.424,

cabeças de plantel com crescimento médio anual de 3,8%. O crescimento na produção de aves

foi ampliado em mais de trinta e um mil por cento (31000%), em 29 (vinte e nove) anos a

produção saltou de 88.145 cabeças de aves para 27.850.977 cabeças, em 2007 (Tabela 11).

Tabela 11 -Efetivo de suínos e aves, taxa de variação anual e índice de crescimento

acumulado no Estado de Mato Grosso, 1978 - 2007.

Ano

Suínos

(nº cabeças)

Variação

%

Índice

base: 100

Aves

(nº cabeças)

Variação

%

Índice

base: 100

1978 532.000 100,00 88.155 100,00

1979 563.000 5,83 105,83 214.767 143,62 243,62

1980 556.000 -1,24 104,51 440.995 105,34 500,25

1981 548.705 -1,31 103,14 2.890.177 555,38 3278,52

1982 579.491 5,61 108,93 3.211.663 11,12 3643,20

1983 599.491 3,45 112,69 3.340.712 4,02 3789,59

1984 617.842 3,06 116,14 3.494.141 4,59 3963,63

1985 682.400 10,45 128,27 3.672.827 5,11 4166,33

1986 720.785 5,62 135,49 3.915.061 6,60 4441,11

1987 793.456 10,08 149,15 4.214.373 7,65 4780,64

1988 869.379 9,57 163,42 4.686.163 11,19 5315,82

1989 934.783 7,52 175,71 6.227.761 32,90 7064,56

1990 1.034.107 10,63 194,38 6.675.189 7,18 7572,10

1991 1.039.732 0,54 195,44 7.108.625 6,49 8063,78

1992 872.351 -16,10 163,98 7.253.103 2,03 8227,67

1993 893.333 2,41 167,92 9.502.768 31,02 10779,61

1994 947.629 6,08 178,13 10.687.356 12,47 12123,37

1995 990.802 4,56 186,24 11.410.076 6,76 12943,20

1996 689.514 -30,41 129,61 14.126.465 23,81 16024,58

1997 724.651 5,10 136,21 14.254.453 0,91 16169,76

1998 759.928 4,87 142,84 15.359.068 7,75 17422,80

1999 771.157 1,48 144,95 15.517.593 1,03 17602,62

2000 834.084 8,16 156,78 15.955.329 2,82 18099,18

2001 934.889 12,09 175,73 15.933.541 -0,14 18074,46

2002 1.034.608 10,67 194,48 19.128.323 20,05 21698,51

2003 1.114.592 7,73 209,51 19.812.784 3,58 22474,94

2004 1.315.443 18,02 247,26 19.668.407 -0,73 22311,16

2005 1.359.824 3,37 255,61 21.143.343 7,50 23984,28

2006 1.439.626 5,87 270,61 22.992.534 8,75 26081,94

2007 1.392.424 -3,28 261,73 27.850.977 21,13 31593,19

Fonte: Anuário Estatístico de Mato Grosso, SEPLAN-MT, 2000 a 2006 e IBGE, Pesquisa Pecuária Municipal

2007.

Page 79: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO – UFMT§ões... · universidade federal de mato grosso – ufmt faculdade de economia– fe mestrado em agronegÓcios e desenvolvimento regional

63

A taxa de variação média da produção de aves no Estado no período de 1978 a 2007

é de 36%. Em parte, tanto o aumento da produção quanto o rendimento alcançado pelo

produtor, com base na relação ração/peso/tempo, tem despertado o interesse de investidores,

com aberturas de novas unidades frigoríficas no Estado.

E não se pode deixar de destacar também as contribuições dos incentivos, benefícios

e créditos disponibilizados para as atividades apresentadas, como os incentivos iniciais da

SUDAM, os programas de desenvolvimento e de incentivos fiscais do Estado de Mato Grosso

(PROMADEIRA, PROCOURO, PRODEI, FUNDEIC), o fundo constitucional (Fundo do

Centro Oeste) e os recursos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social

(BNDES). A título de exemplo, o Programa de Desenvolvimento Industrial (PRODEI),

segundo os dados da SEFAZ (2006) acumulou saldo devedor de R$ 301.827.145,17

(Trezentos e um milhões, oitocentos e vinte e sete mil, cento e quarenta e cinco reais e

dezessete centavos), em 31 de dezembro de 2004. Com saldo postergado no início do

programa em mais de 15 (quinze) anos, e com taxa de juros e correções subsidiadas aos

estabelecimentos industriais do Estado entre os anos de 1998 a 2004.

Em suma, como apresentado neste capítulo, a base da formação do capital no estado

de Mato Grosso, surgiu através das estratégias e do modelo de “desenvolvimento”

inicialmente empregada pelo governo militar, por meio dos planos de ocupação com intuito

de garantir a soberania nacional. Sobretudo, incentivando a migração de pequenos produtores

do Sul do país para a Amazônia. Neste contexto, ressalta-se que desde a Marcha para o Oeste,

o Plano Nacional de Integração, os Projetos de Colonização Oficial, orientados pelo INCRA,

juntamente com as empresas colonizadoras privadas, foi que permitiu a ocupação do território

e a formação do capital e da economia no Estado de Mato Grosso. Tais programas ofertaram

subsídios a grandes grupos ligados a agropecuária. E foi assim que fez surgir um mercado de

trabalho amplo no Estado de Mato Grosso, em especial, na indústria da madeira e da carne,

fato que terá abordagem específica da Região Norte do Estado nos capítulos seguintes.

Page 80: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO – UFMT§ões... · universidade federal de mato grosso – ufmt faculdade de economia– fe mestrado em agronegÓcios e desenvolvimento regional

64

4. ORIGEM DA FORÇA DE TRABALHO DA INDÚSTRIA DA MADEIRA E CARNE.

No presente capítulo procura-se caracterizar os trabalhadores da indústria da madeira

e da carne na região norte do estado de Mato Grosso, considerando o ambiente profissional no

qual atuam, e entre eles os gerentes que evoluem “do chão de fábrica”, onde fazem trabalhos

repetitivos e elementares, até alcançar a gerência quando passam a coordenar os demais,

portanto, com atividades mais complexas. A análise, todavia, procura também desvendar

modos de coordenação e condução das atividades objeto deste estudo. Ao se realizar essa

análise insere-se e tenta-se compreender, também, a questão do gênero, considerando o

trabalho da gerência feminina, discutindo suas características, habilidades e sensibilidade no

trabalho. O nível de análise e interpretação dos resultados preliminares procura dar a visão

geral, de onde e como surgiram esses trabalhadores na indústria da madeira e da carne

considerando o ambiente de trabalho.

4.1 A gênese da dinâmica da acumulação de capital em Mato Grosso.

No extremo do norte de Mato Grosso, o vale do Rio Peixoto de Azevedo como era

conhecido, está localizado o município de Peixoto de Azevedo. Esse município faz divisa com

os municípios de Matupá, Marcelândia, Santa Helena, Terra Nova do Norte, São José do

Xingú, além do estado do Pará. Conta com a população de 29.738 habitantes, ocupados na

década de oitenta por colonos, posseiros, parceleiros13

e garimpeiros espalhados pelas glebas

da região (PRETI, 1993).

Alguns conflitos entre os nativos e os novos moradores marcaram aqueles anos,

considerando que não houve qualquer levantamento prévio e os interesses eram divergentes

entre os trabalhadores da terra, os garimpeiros e os nativos. Reforçando esses interesses

divergentes, as colonizadoras apoiaram movimentos de expulsão e assentamentos de acordo

com seus próprios objetivos.

O principal interesse dos pequenos assentados era a terra na qual pudesse ser criada

pastagem para criação leiteira e agricultura de subsistência. Os volumosos aportes de recursos

disponibilizados pela SUDAM interessavam aos grandes proprietários da produção

13 Parceleiro é o nome dado ao produtor rural pelo INCRA, para os colonos assentados pela empresa privada de

colonização.

Page 81: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO – UFMT§ões... · universidade federal de mato grosso – ufmt faculdade de economia– fe mestrado em agronegÓcios e desenvolvimento regional

65

agropecuária que começavam a ter limites ambientais. Associavam-se os recursos do

POLAMAZÔNIA que permitia a instalação de infra-estrutura, com apoio da SUDECO.

No Noroeste de Mato Grosso, onde hoje se localiza o município de Juína era

ocupado por inúmeros povos indígenas, alguns deles ainda podem ser encontrados na região:

os Cinta-Largas, Yakarawakta, Erikbaktsa, Enawenê Nawê e Iranxe. Essas nações indígenas

resistiram bravamente a ações de extermínios dos seringueiros, posseiros, colonos e

garimpeiros. Esses acontecimentos datam das décadas iniciais do séc. XX, segundo Joanoni

Neto (2007, p.41), os mais atingidos neste confronto foram os Cinta-Larga, protagonistas no

“Massacre do Paralelo Onze”, em que foram bombardeados por aviões e por terra.

Depois das primeiras expulsões às nações indígenas foram afastadas para o Parque

Nacional do Xingu na década de sessenta e setenta. Os Kreen-Akarôre eram uma dessas

nações. Habitando o Vale do rio Peixoto Azevedo foi expulsa com o movimento de ocupação

da Região de Guarantã do Norte, dentro do Plano de Integração Nacional (PIN) na década de

70. Assim também dos Caiabi e os Apiacá.

As expulsões de nativos em Peixoto de Azevedo se assemelham a “transferência

compulsória” de camponeses na Inglaterra, cujo motivo mais direto era a “intermitente e

violenta expropriação da base fundiária”. No Norte de Mato Grosso, o movimento foi de

extermínio da nação indígena Kreen-akarôre e outras nações indígenas em primeiro lugar e

depois de assentados e parceiros.

Em relação aos índios, na região existiam cerca de oito aldeias dessa nação indígenas

que ocupava cerca de 300 Km de extensão ao longo do rio Peixoto de Azevedo. Estima-se que

cerca de 1.500 índios ou até mais, viviam nessas aldeias. Sempre reservados, várias tentativas

de contatos com a nação indígena foram feitos. Todas elas fracassadas e houve mais de 400

dias de espera, com avanços e recuos na tentativa de manter um contato com os Kreen-

akarôre. Ao assédio, resistiram bravamente naquele processo de ocupação, mas, lentamente

foram sucumbindo e exterminados pelos brancos, com a abertura da BR 163 pelo 9º Batalhão

de Engenharia e Construção (BEC) (PETRI, 1993)

Em 1979, a Colonizadora INDECO responsável pela instalação de diversas cidades

na região14

, (a partir de 500 mil hectares adquiridos do Estado15

), com apoio de jagunços, de

14 Alta Floresta, Paranaita, Apiacás.

Page 82: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO – UFMT§ões... · universidade federal de mato grosso – ufmt faculdade de economia– fe mestrado em agronegÓcios e desenvolvimento regional

66

alguns colonos e da própria polícia, expulsaram mais de 15.000 garimpeiros, que migraram

para a região de Paranaíta e Apiacás, outros seguiram para a cidade de Itaituba e na fazenda

Cachimbo, no estado do Pará. Com a alegação de que as atividades por eles desenvolvidas

eram impróprias. Depois de estabelecido o conflito, a colonizadora modificou sua tática,

procurando evitar confronto com os garimpeiros. Ao perceber o contingente de garimpeiros

na região, decidiu liberar as áreas onde não houvesse pastagem para a atividade garimpeira.

Mantinha, dessa forma, controle sobre as estradas e ouro extraídos na região (PRETI, 1993).

A Colonizadora Coopercana, responsável pelo assentamento de Terra Nova, em

outra oportunidade também evitou o confronto com os garimpeiros que exploravam o ouro na

região. Fazendo “vista grossas” a abertura de áreas no Projeto de Assentamento Conjunto

PAC/Terra Nova. Esse contingente expressivo de imigrantes vindos de outras regiões do país

para a região, especialmente para Peixoto de Azevedo, transformou a “currutela” em uma

cidade. A principal atividade do município, logo emancipado era desenvolvido pelos

garimpeiros vindos na “nova corrida do ouro”, principalmente do estado do Maranhão e do

Pará, sobretudo, do garimpo de Serra Pelada (PRETI, 1993).

O Exército brasileiro foi um dos principais atores do processo de desenvolvimento

regional, responsável por muitas mudanças na ocupação e na estruturação do espaço na

Amazônia. Pode-se mesmo dizer que garantiu a base fundiária para as empresas colonizadoras

privadas e fixando a infra-estrutura viária, adentrando as terras do Norte de Mato Grosso. Tal

ocupação foi planejada, delimitada e cedida à empresas de colonização privada, instituições

públicas e indivíduos com interesses particulares (MENDEZ, 2005).

Com a participação do Exército no avanço sentido norte ao lado das empresas

privadas, foi possível perceber de forma clara duas forças de natureza distintas, que impôs à

organização do espaço de seus próprios promovedores. Através de forças sociais e objetivas,

que exerceram não só no plano das idéias, mas de fato por meio de luta, e de interesses

distintos, o que mostra a idéia principal dos programas de colonização e o papel do governo

federal nesse processo sobre a nação “desumanizada” (CASTRO; PETRI, 1993)

15 Em 1972 foram comercializados pelo governo de Mato Grosso, através da CODEMAT, 2 milhões de hectares

em lotes de 500mil hectares cuja destinação deveria ser colonizar e implantar pelo menos uma cidade ao final de

5 anos. Desse projeto foram implantadas as cidades de Alta Floresta, Juruena e Cotriguaçú.

Page 83: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO – UFMT§ões... · universidade federal de mato grosso – ufmt faculdade de economia– fe mestrado em agronegÓcios e desenvolvimento regional

67

O papel da iniciativa privada na ocupação do Norte de Mato Grosso foi determinante

para o processo especulativo de terras na região. Desse modo, as empresas colonizadoras

apoiadas contratualmente pelo Estado de Mato Grosso e pela União, se valeram de benefícios

concedidos, chegando a constituir imensos patrimônios fundiários. Apenas um deles recebeu

cerca de 600.000 hectares16

em 1962. Em setembro do mesmo ano, foi aprovado o projeto de

uma subsidiária do grupo, chamada Agropecuária Cachimbo S.A., que obteve aporte

financeiro, para a aquisição de 300.000 hectares de terras, localizados no território dos índios

Kreen-Akrôre entre a BR-080 ao sul e a BR-163, na região do rio Xingu, do estado de Mato

Grosso (MENDEZ, 2005).

Como se pode perceber, a associação entre as empresas privadas e o Estado de Mato

Grosso e à União serviu para dar respaldo a um processo especulativo de vendas de terras na

região norte do Estado. Mais que isso, custou a vida de inúmeros índios Kreen-Akrôre entre

outros. A que pode também ser caracterizada por uma “limpeza étnica” feita com os Caiabi e

outras tribos internadas no Parque Nacional do Xingu.

Dessa forma, o capitalismo desenvolveu-se com a lógica da expulsão dos nativos de

suas terras e de acumulação de capital, tanto na região Sul do país quanto no Norte de Mato

Grosso, em ritmos diferentes. Enquanto no Sul a expropriação se dava pela apropriação da

produção dos minifúndios, em Mato Grosso a aquisição de terras realizava-se pelos mais

capitalizados, viabilizando o processo modernizador da agricultura e suas cadeias produtivas,

onde a terra era considerada do governo federal (CASTRO; PETRI, 1993)

4.2 O direito de propriedade: poder delegado pelo Estado às colonizadoras

A transferência de terras devolutas à grandes empresas colonizadoras para realizar a

partilha de áreas tituladas foi realizada pelo Governo, especialmente através do INCRA e do

Intermat. Semelhante a isso, Marx coloca que o “poder dos capitalistas passou a ser garantido

pelas novas leis de propriedade privada”, quando a burguesia tornando-se classe dominante,

por meio de seus porta-vozes que defendem a “lei e a ordem”.

Assim, a propriedade privada, que substituía as terras comunais dos índios e de

outros nativos, passou a dominar a paisagem, estabelecer uma ordem e o modo de produção e

de circulação da nova sociedade instalada na região. Antes era reservado àqueles que tinham

16 O Grupo Ometto na década de 60 era conhecido por sua participação na indústria açucareira no sudeste do

país.

Page 84: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO – UFMT§ões... · universidade federal de mato grosso – ufmt faculdade de economia– fe mestrado em agronegÓcios e desenvolvimento regional

68

domínio sobre a área, passou a ter “dono”. Nessa categoria, na Inglaterra, podiam-se garantir

artesões criadores do seu próprio trabalho e possuidores da sua força de trabalho, separados

pelo ímpeto do capitalismo (HUNT, 1989)

No estado de Mato Grosso o processo de colonização, instaurado teve a parceria de

empresas de colonização privada. Essas sociedades passaram a promover a comercialização

das terras. Dentre elas estão: a INDECO, Cooperativa Agropecuária Mista de Canarana Ltda

(COOPERCANA), Cooperativa Tríticola de Erechin Ltda (COTREL) e Cooperativa Mista

Agropecuária de Juscimeira (COMAJUL) e através da criação de órgãos coordenadores, no

caso, do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) e da Companhia de

Colonização de Mato Grosso (CODEMAT).

A legislação pertinente remete do “Estatuto da Terra” de 1964, cujo texto, orienta a

destinação das áreas ao longo das rodovias federais e em regiões de fronteira à colonização,

como se fosse reforma agrária.

Desse modo, ao se iniciar, em 1969, o Plano de Integração Nacional, no qual se

implantavam eixos estruturantes como a Transamazônica e sua perpendicular Cuiabá-

Santarém. Às suas margens, dava-se início ao processo de colonização com a venda e

conversão de terras de Mato Grosso. Naturalmente, essa área não se constituía, em um “vazio

demográfico”, mas sim com valor de uso (direito dos nativos).

Como ressaltado, o direito de propriedade foi assegurado pelo Estado em Mato Grosso e

pela União no processo de colonização. O fato, muitas vezes não consumado17

, pode ser

constatado na parceria entre colonizadoras privadas e o Estado, através da coordenação do

Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) e da Companhia de

Colonização de Mato Grosso (CODEMAT), através dos projetos de assentamento em Mato

Grosso, iniciado com a abertura da BR 163, a partir da década de 70, seguiram-se pelo trecho

de abertura da estrada, como se observa na Figura 3.

17 Em muitos casos o Estado entregava apenas um documento que autorizava o uso das terras e sua alienação aos

bancos financiadores como garantia para os investimentos (MORENO, 2007).

Page 85: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO – UFMT§ões... · universidade federal de mato grosso – ufmt faculdade de economia– fe mestrado em agronegÓcios e desenvolvimento regional

69

Figura 3- Mapa dos projetos do INCRA em Mato Grosso na década de 70 e 80 Fonte: Nédélec (2005).

Foi esse movimento migratório, em grande parte de pessoas vindas do Sul do país, que

contribuiu para a dinâmica de acumulação do capital em Mato Grosso e a futura liberação da

força de trabalho para os setores da carne e da madeira. Os assentamentos com lotes entre 50

e 500 hectares de terra, destinavam, alguns deles a metade da área à reserva florestal. Dentre

eles: Terra Nova, Peixoto e Lucas do Rio Verde, projetos das cooperativas e parceria com

produtores.

A falta de conhecimento em relação à abertura das áreas em ecossistemas e

biodiversidade diferentes das condições regionais dos imigrantes, tornavam a produção

impraticável. O abandono das áreas, as doenças e mortes eram frequentes. Alguns poucos,

migraram para as cidades onde se acumulavam nos bairros periféricos, mas depois de alguns

anos muitos regressaram à sua origem. A análise mostra um movimento semelhante ao

exército industrial de reserva na Inglaterra, onde apenas as indústrias da madeira demandava

mão-de-obra com baixa especialização.

Segundo Bonjour, Figueiredo e Marta (2008) a atividade madeireira é parte de um

sistema no qual se incluiu a “derrubada, o calcaeamento, o plantio de arroz, a formação de

Page 86: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO – UFMT§ões... · universidade federal de mato grosso – ufmt faculdade de economia– fe mestrado em agronegÓcios e desenvolvimento regional

70

pastos para a pecuária de corte”. Assim, o aproveitamento da madeira, como matéria-prima,

se constitui no primeiro elo do sistema produtivo enunciado.

Portanto, aqueles migrantes expulsos pela ineficiencia técnica e pelas doenças –

amançadores de terras, passaram a buscar sobrevivencia nas beneficiadoras de grãos, serrarias

e tornos que foram sendo instalados na região. Alguns poucos, com o resultado da venda das

terras, e aqueles que formaram alguma poupança, ou emprestimos familiares, adquiriram

equipamento de baixa eficiencia, as chamadas “pica-pau” e pequenas máquinas de descascar

arroz, ou iniciaram comércio varejista na Região Norte, nas cidades que foram se instalando à

partir das vilas ou planejadas pelas colonizadoras.

4.3 O surgimento da força de trabalho para os setores da carne e da madeira.

Em meio a esse movimento de fluxo de pessoas, nos anos 80 o interesse pelo ouro,

devido ao aumento do preço no mercado internacional no final da década de setenta,

despertou interesse dos migrantes da região. Isso fez provocar, naquele conjunto de mudanças

que se assentava na região, alterações significativas.

A alta do preço do ouro no mercado internacional, de US$ 305 para US$ 612, por

onça, desencadeou uma “Corrida do Ouro” na Amazônia18

. Os garimpos da região eram

desorganizados e informais, mas, sendo intenso em mão-de-obra provocaram crescimento do

setor econômico de Mato Grosso. Em 1989, o número de garimpeiros na Amazônia era de

900.000, deste cerca de 320.000 estavam em Mato Grosso, responsáveis por cerca de 86% da

produção do ouro no Brasil, cuja a meta governamental era atingir em torno de 100 toneladas.

Estima-se que o triplo da produção de ouro de Mato Grosso em 1993, entorno de 27

toneladas, saía por vias não oficiais (PASCA, 1994)

A significativa valorização do ouro no mercado internacional, também estava

associada as questões fundiárias, entre posseiros, parceleiro, colonos e garimpeiros, bem

como, o interesse das empresas colonizadoras na região, e por último, a preocupação do

governo federal em resolver os problemas do Sul do país e do nordeste. O grande interesse

especulativo pela região Norte do Estado de Mato Grosso foi decorrente da disponibilidade

18 Desde o início dos anos de 1970 toda a região amazônica começou a ser pesquisada, com intuito de criar

projetos de ocupação, por isso, foram levantadas as potencialidades da região para exploração de suas riquezas

naturais. O projeto RADAMBRASIL fez um mapa que serviu de subsídio ao planejamento regional, destacado

pelo PIN, entre os anos de 1977 e 1979, e mostrava o potencial madeireiro, do solo e mineral (JOANONI NETO,

2007, p.59)

Page 87: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO – UFMT§ões... · universidade federal de mato grosso – ufmt faculdade de economia– fe mestrado em agronegÓcios e desenvolvimento regional

71

das chamadas terras “devolutas”. A queda na atividade garimpeira, assim como a dificuldade

técnica-ambiental encontrada pelos pequenos produtores do Sul do país para operar na

Amazônia, permitiu a liberação das forças de trabalho para atuar como assalariados ou

subempregados do setor madeireiro e depois da carne, ocupando-se os trabalhadores

migrantes de outras regiões do país e que passaram a ser excedentes com a queda na atividade

garimpeira.

Para o governo da época, o sócio-econômico do Brasil na época era preocupante, em

especial no Sul e no Nordeste. Os conflitos relacionados a questão fundiária na primeira

região, seca e pobreza na segunda, reportavam à dificuldades históricas relacionada à terra. O

estimulo governamental e a vinda de garimpeiros e posseiros para região amazônica, e

principalmente para o estado de Mato Grosso, constituía-se como o sonho de muitos

imigrantes em busca do ouro ou da terra, na época considerada o “boom” desta atividade

(PASCA, 1994).

O fluxo de pessoas era muito grande para uma região com baixa densidade

populacional e legislação pouco definida. Passaram a aflorar os conflitos em toda a região

Norte do estado de Mato Grosso. Assim, grupos de garimpeiros, madeireiros e empresas

agropecuárias tinham posições divergentes como se viu. Acirrando-se as posições, o governo

federal passou a intervir no conflito através da presença direta do Departamento Nacional

Produção de Mineral (DNPM). Para tanto foi criado no âmbito daquele órgão, em 1977, o

Projeto Garimpos, com a finalidade de acompanhar o conflito na região amazônica, dar

orientação técnica aos garimpeiros e criar instrumentos legais, que possibilitasse a

implantação da figura do Regime de Permissão. Esse regime permitiria transformar os

pequenos garimpeiros como pequenos mineradores.

Outros instrumentos foram utilizados para minimizar os conflitos na região Norte. A

criação da Reserva Garimpeira, objetivava, evitar os conflitos entre mineradores, garimpeiros,

faiscadores ou catadores, decorrentes da falta de amparo legal para execução dos trabalhos em

regime de Autorização de Pesquisa e de Concessão de Lavra, separando-os das terras

agrícolas (SPELLER; NASCIMENTO, 1993)

Para Marta (2001) a queda na produção garimpeira tem dois motivos: redução na

disponibilidade do ouro de aluvião e queda no preço internacional do metal. Desse modo

reduzindo-se a atividade a partir da década de 90.

Page 88: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO – UFMT§ões... · universidade federal de mato grosso – ufmt faculdade de economia– fe mestrado em agronegÓcios e desenvolvimento regional

72

Todavia a população migrou para as cidades planejadas do Norte, onde o

crescimento da pecuária passou a exigir investimentos industriais que reduzissem os custos do

frete da matéria-prima em pé até os frigoríficos. Nesse conjunto de experiências estavam

também a energia e as estradas (MARTA, 2005). Assim, diversos municípios surgiram em

função da atividade do garimpo, muitos destes garimpeiros e suas famílias, sem condições

financeiras para voltar ao Estado de origem, optaram em permanecer na região e migraram

para outras atividades. Trabalhar na extração da madeira e em pequenas serrarias na região

Norte do Estado era opções para aquela população desempregada. O Entrevistado 1, no relato

de sua vida, diz onde nasceu por onde viveu e como chegou a trabalhar no setor madeireiro,

destacando essa mobilidade:

[...] Eu morava no estado do Maranhão ai eu vim pro garimpo aí saí do garimpo

arrumei uma mulher e vim trabalhar na serraria, estudei até a quinta série [...] meu

primeiro emprego de carteira assinada, primeiro emprego foi aqui mesmo na serraria

[...] não é um serviço muito forçado [...] Entrevistado 1

É possível perceber que mesmo sabendo que dentro de uma indústria madeireira a

atividade laboral requer um intenso esforço físico, o entrevistado diz não ser um serviço muito

forçado. Em comparação ao trabalho no garimpo, na indústria da madeira ele ainda tem

carteira assinada. E tal fato, denota através das entrevistas realizadas com os trabalhadores

que as condições são melhores do que no garimpo.

Segundo Barrozo (2007), as pessoas com origem no garimpo migram porque buscam

uma qualidade de vida melhor, uma ascensão social (enricar) a sua falência seria o fracasso do

projeto. Por isso, não retornam ao seu Estado de origem enquanto não estiverem em uma

situação financeira melhor. O estado de origem de grande parte desses trabalhadores é do

Maranhão e do Alagoas (em nível de chão-de-fábrica), em média a proporção de

trabalhadores desses estados chega a 60% e, outros 40% são do próprio Estado (pessoas

nascida em MT) e da região Sul e Sudeste do país, apontado pelo setor de Recursos Humanos

das empresas.

4.4 O crescimento populacional do estado de Mato Grosso

Como brevemente apresentado em capítulos anteriores, o estado de Mato Grosso,

assim como todo o Centro-Oeste, beneficiou-se da política de interiorização, originada da

“Marcha par Oeste” implantada nos anos 40 e 50. Pela construção de Brasília e implantação

da infra-estrutura de acesso ao Centro-Oeste nos anos 50 e 60. Pela política de integração

Page 89: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO – UFMT§ões... · universidade federal de mato grosso – ufmt faculdade de economia– fe mestrado em agronegÓcios e desenvolvimento regional

73

nacional dos anos 70, pelos projetos agropecuários, concebidos pela SUDAM,

POLOCENTRO e POLOAMAZÔNIA (infra-estrutura), estradas, hidroelétricas e linhas de

transmissão. Associada a estes investimentos houve uma intensa migração para o estado de

acordo com IBGE, na qual a sua população saltou de 430 mil para 1,6 milhão de habitantes

entre 1940 e 1970. Com a divisão do estado de Mato Grosso em 1977, através da Lei

Complementar nº 31, criando o Estado de Mato Grosso do Sul completa-se a

institucionalização do processo. O Estado de Mato Grosso tinha uma população de mais de

1.597.000 habitantes, distribuídos em 903.357,908 Km2 de área (FIGUEIREDO, 2003)

Após o desmembramento em 1977 do estado de Mato Grosso do Sul de Mato

Grosso, houve um crescimento populacional significativo a partir da década 80, tendo sido um

importante pólo de migração nos anos 90.

A taxa de redução da população do Estado em função do desmembramento na

década de 70 pode ser visualizada na Tabela 13, com redução de 28,69%, a partir desta

década as taxas de crescimentos foram sempre positivas.

A taxa de crescimento intensa entre as décadas de 80 e 90, observados na Tabela 12

pode ser justificada por dois motivos, em especial, pela política de ocupação oficial do

governo militar e pela expansão da atividade garimpeira no Estado e Mato Grosso, esta última

motivada pelo aumento do preço do ouro no mercado internacional. O crescimento acumulado

entre 1970 a 2007 foi de 85,59%, o período da década de 1980 e 1991, observa-se uma

redução taxa de crescimento da população de 28,69% em 1980, e em 1991 acumulando

49,31%. Este aumento considerável pode ser explicado pelo processo de colonização induzida

pelo Estado, ou seja, com a consolidação dos projetos de colonização oficial iniciada na

década de 1970.

Tabela 12. Crescimento acumulado da população do estado de Mato Grosso, em 1970, 1980,

1991, 1996, 2000 e 2007. Anos (número de habitantes)

Situação 1970 1980 1991 1996 2000 2007

Urbana 684.189 655.141 1.485.110 1.695.548 1.987.726 2.305.507

Rural 912.901 483.777 542.121 540.284 516.627 549.135

Total 1.597.090 1.138.918 2.027.231 2.235.832 2.504.353 2.854.456

Crescimento 100 71,31 149,31 159,60 171,61 185,59

Fonte: IBGE, Censos demográficos de 1970/1980/1991/2000; IBGE - Contagem populacional 1996 e 2007.

Page 90: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO – UFMT§ões... · universidade federal de mato grosso – ufmt faculdade de economia– fe mestrado em agronegÓcios e desenvolvimento regional

74

Na Tabela 13 observa-se que a população total do Estado cresceu em termos

relativos entre os anos de 1970 e 2007, foi de aproximadamente 78,73%. Sendo que neste

período ocorreu um aumento da proporção da população urbana em relação a rural. No ano

1970 a população urbana representava 43% do total da população e a rural 57%. No ano de

2007 a população urbana passou a representar 81%, enquanto que a rural para 19%. Isso

equivale em termos de taxas geométrica de crescimento no período de 1970 a 2007 de uma

taxa de um vírgula cinqüenta e oito por cento (1,58%) ao ano19

.

Tabela 13. Crescimento anual da população do estado de Mato Grosso, e taxa de participação

da população urbana e rural, em 1970, 1980, 1991, 1996, 2000 e 2007. Crescimento anual

1970 a 1980 (28,69)

1970 a 1991 26,93

1970 a 1996 39,99

1970 a 2000 56,81

1970 a 2007 78,73

Participação % 1970 2007

Urbana 43 81

Rural 57 19

Fonte: IBGE, Censos demográficos de 1970/1980/1991/2000; IBGE - Contagem populacional 1996 e 2007.

Nota: A expressão entre ( ) significa taxa negativa.

Com esses aumentos expressivos no número de habitantes no Estado a partir da

década de 90, estavam baseados, em parte, na imigração. Associa-se nesse movimento a

migração da população do meio rural para a zona urbana pode ser explicada pela falta de

infra-estrutura social no campo, considerando os aspectos de educação, saúde, segurança

naquelas regiões.

Outro aspecto, que explica a saída do meio rural é o próprio modelo que busca maior

eficiência produtiva, exigindo menos quantidade de trabalhadores e com maior competição

técnica. Portanto, excluindo grandes contingentes populacionais rurais. Assim, a forte

expansão agrícola expressa nas crescentes safras, passaram a apoiar no cenário nacional a

crescente produção de grãos. A necessidade de beneficiar essa produção gerava de empregos

formais nos atividades agro-industriais – beneficiamento de arroz e poucas unidades

esmagadoras de soja -, mas em quantidade que não explica a absorção de mão-de-obra no

meio rural como atividade exitosa.

19 [(1 + 78,72856%)

1÷37 – 1] x 100 = 1,58%

Page 91: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO – UFMT§ões... · universidade federal de mato grosso – ufmt faculdade de economia– fe mestrado em agronegÓcios e desenvolvimento regional

75

Outro propósito que motivou a migração para o Estado de Mato Grosso, destacado

anteriormente, a partir da década de 1980 foi “boom” da atividade garimpeira. No final da

década de 90, com a queda na produção dos garimpos, muitos dos garimpeiros e suas

famílias, sem condições financeiras para voltar ao Estado de origem, optaram em permanecer

na região e migraram para outra atividade. Por isso, várias dessas pessoas foram trabalhar na

extração da madeira e em pequenas serrarias na região Norte do Estado.

Nesse sentido, a grande maioria dos trabalhadores nas indústrias da carne e da

madeira nos municípios pesquisados (Nova Mutum, Lucas do Rio Verde, Sorriso, Vera, Feliz

Natal, Sinop, Cláudia, Marcelândia, Colíder Alta Floresta)20

da região Norte do Estado, são

trabalhadores que vieram inicialmente trabalhar no garimpo, principalmente nos municípios

de Peixoto de Azevedo, Alta Floresta, Nova Canaã e Terra Nova, já os trabalhadores da

região de Juara, a predominância é de pessoas que vieram do estado do Alagoas. Esses

trabalhadores vieram com uma expectativa de se “enricar”; as condições de vida e de trabalho

não são as melhores no seu Estado de origem, eles saíram com a expectativa de ganhar

dinheiro, deixaram para trás irmão, tios, pai, filhos e vieram em busca de um sonho, deixando

também uma grande esperança por parte de seus familiares que lá ficaram. Não existe uma

preocupação em se estabelecer, já que toda a sua família ficou para trás, a ascensão na

empresa é quase inexistente, muito provável em função da sua condição.

Comparando a remuneração média entre os estados de Maranhão, Alagoas e Mato

Grosso, conforme Tabela 14, pode-se verificar que em comparação ao salário mínimo

nacional deflacionado, todos os três estados apresentam renda média superior a um salário

mínino. Proporcionalmente a remuneração média no Estado de Mato Grosso é superior aos

estados do Maranhão e Alagoas, estado de origem da principal força de trabalho das indústrias

da carne e da madeira.

20 No Norte de Mato Grosso no final da década de 1980, não apenas a expansão da fronteira agrícola teve um

papel importante na migração para o Estado, mas principalmente, a atividade garimpeira o qual imprimiu um

intenso crescimento demográfico (CUNHA; ALMEIDA; RAQUEL, 2002, p.3).

Page 92: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO – UFMT§ões... · universidade federal de mato grosso – ufmt faculdade de economia– fe mestrado em agronegÓcios e desenvolvimento regional

76

Tabela 14- Remuneração média do trabalhador, Maranhão, Alagoas e Mato Grosso, 1985 a

2001(1)

.

Remuneração média em R$ SM (2) Crescimento acumulado

Ano Maranhão Alagoas Mato Grosso Real Maranhão Alagoas Mato Grosso

1985 839,32 862,39 1.066,59 322,96 100,00 100,00 100,00

1986 735,80 765,05 983,13 271,85 87,67 88,71 92,18

1987 730,65 755,47 1.027,49 246,10 87,05 87,60 96,33

1988 1.895,51 729,71 994,24 252,77 225,84 84,62 93,22

1989 791,70 685,80 887,87 250,99 94,33 79,52 83,24

1990 731,01 577,70 863,78 166,99 87,09 66,99 80,99

1991 736,65 689,47 934,19 207,01 87,77 79,95 87,59

1992 466,29 294,50 543,26 137,37 55,55 34,15 50,93

1993 588,12 573,19 761,35 190,61 70,07 66,47 71,38

1994 586,30 571,41 758,98 190,02 69,85 66,26 71,16

1995 1.119,69 955,54 1.005,44 222,54 133,40 110,80 94,27

1996 912,84 811,97 1.230,56 228,42 108,76 94,15 115,37

1997 876,31 761,84 1.060,99 234,55 104,41 88,34 99,47

1998 906,32 864,69 1.063,57 247,93 107,98 100,27 99,72

1999 837,22 818,38 994,26 239,21 99,75 94,90 93,22

2000 857,20 808,64 983,24 252,29 102,13 93,77 92,18

2001 868,33 830,95 957,97 274,80 103,46 96,35 89,82

Fonte: Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), RAIS 1985 a 2001, dados trabalhado.

Nota: (1) Valores deflacionados pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) do IBGE para 31 de

dezembro de 2007;

(2) Salário mínimo nacional.

A remuneração média real em 1985 em Mato Grosso era equivalente a R$ 1.066,59,

enquanto que nos estado do Maranhão e Alagoas, respectivamente era de R$839,32 e

R$862,39. Contudo, analisando as variações acumulada no período de 1985 a 2001, da Tabela

14, nota-se que a exceção do Estado do Maranhão, o estado de Alagoas e Mato Grosso,

apresentam redução na sua remuneração média em 3,65% e 10,18%, respectivamente.

A vinda dos trabalhadores do estado de Alagoas e Maranhão para Mato Grosso se

deve em parte pela oportunidade de emprego. A taxa de crescimento de emprego em Mato

Grosso de 85 a 90 foi de 40,50% de 1995 para 2001, a taxa saltou para 47,21%, em

comparação o estado do Maranhão a taxa de crescimento foi de 18,12% em 1985/1990, e de

19995 para 2001, 24,42%, no estado do Alagoas, a taxa foi de 22,30%, e 3,76% de 1995 para

2001 (Tabela 15).

Page 93: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO – UFMT§ões... · universidade federal de mato grosso – ufmt faculdade de economia– fe mestrado em agronegÓcios e desenvolvimento regional

77

Tabela 15. Número de empregos, taxa de crescimento do emprego e taxa de participação,

Maranhão, Alagoas e Mato Grosso, em 85, 90, 95 e 2001.

UF 1985 1990 1995 2001

Maranhão 195.088 230.436 247.925 308.479

Alagoas 211.881 259.120 276.273 286.673

Mato Grosso 141.602 198.951 232.434 342.157

Total 548.571 688.507 756.632 937.309

Crescimento 1985 a 1990 1990 a 1995 1995 a 2001

Maranhão 18,12 7,59 24,42

Alagoas 22,30 6,62 3,76

Mato Grosso 40,50 16,83 47,21

Participação % 1985 1990 1995 2001

Mato Grosso 25,81 28,90 30,72 36,50

Fonte: Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), RAIS 1985, 1990, 1995 e 2001, dados trabalhado.

Outro ponto importante a destacar nos dados da Tabela 15, é a taxa de participação

entre os três Estados. Em 1985, Mato Grosso representava 25,81% dos empregos formais,

chegando em 2001 a corresponder a 36,50%, entre estes Estados. E a partir de 2001 o Estado

de Mato Grosso superou os estado do Maranhão e Alagoas no estoque de empregos formais,

contando com cerca de 342.000 empregos, isso justifica em parte o deslocamento de

trabalhadores para o Estado.

Destaca-se que a maior parte dessas pessoas tem pouco mais de 4 anos de estudos,

em se tratando de ascensão na empresa isso se torna um complicador.

A vindas dessas pessoas para o Estado de Mato Grosso como apresentado neste

capítulo foi motivada, sobretudo, pela busca de novas oportunidades, alguns com sonho de

“enricar” outros com o sonho de ter ou de voltar a ter um pedaço de terra, mas o que

contribuiu significativamente para que essas pessoas viessem para Mato Grosso, deve ser

compreendido como um conjunto de medidas complexa articulada de estratégias, através de

políticas do Estado e da União com interesse privado, juntamente com o fio de esperança dos

excluídos que para cá vieram.

Até agora apresentamos em linhas gerais aspectos ligados ao processo histórico da

formação do capital em Mato Grosso, engendrada pelas políticas de incentivos fiscais e

crédito oferecido pelo governo as empresas privadas, no início voltado principalmente para

aos empreendimentos agropecuários. Neste capítulo, procurou-se mostrar de onde surgiu a

Page 94: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO – UFMT§ões... · universidade federal de mato grosso – ufmt faculdade de economia– fe mestrado em agronegÓcios e desenvolvimento regional

78

força de trabalho para atender o interesse privado, garantindo ainda o interesse do Estado com

a ocupação dos espaços vazios (garantia da unidade nacional).

Em relação aos processos históricos apresentado no capítulo sobre a formação do

capital em Mato Grosso e da origem da força de trabalho para as indústrias da madeira e

carne. É preciso destacar o papel do gerente, o qual tem um papel especial na condução da

indústria e de seus trabalhadores. Os incentivos fiscais e benefícios concedidos pelo Governo

fez surgir boa parte da estrutura produtiva e infra-estrutura para a consolidação dos “espaços

vazios”, mas o “controle” dos trabalhadores só foi possível mediante a atuação dos gerentes.

Na seção seguinte veremos com mais detalhe o perfil dos gerentes na indústria da madeira e

da carne.

4.5 Gerentes na indústria da madeira e carne, aspectos que os diferenciam

O gerente é aquele trabalhador que gere ou administra um negócio, bens ou serviços.

Portanto, é empregado contratado para coordenar trabalhos de outros trabalhadores.

Segundo Kladis, Freitas (1996) e Vidotto (2003) nos últimos tempos a ampliação dos

mercados e de sua complexidade tem levado a certas preocupações sanitárias, ambientais,

culturais e religiosos na oferta dos serviços e na fabricação de produtos. Isso tem refletido na

exigência para assumir o cargo de gerente, sendo cada vez maior.

Para Kladis e Freitas (1996), a função do gerente extrapola as atividades de mercado e

de adaptação a novas tendências tecnológicas, chegando ao ambiente organizacional. Nesse

sentido, o gerente tem um papel fundamental dentro das organizações na medida em que

possibilita a ligação entre empresas e seus trabalhadores. Soma-se a essa atribuição o papel

de: a) planejar – aquilo que poderá acontecer no futuro e traçar ação para superar as

dificuldades; b) organizar – o gerente precisa prover a empresa dos meios necessários para ao

seu funcionamento, o organismo material (matérias-primas, utensílios, capitais) e o organismo

social (pessoal); c) comandar – gerir o pessoal; d) coordenar – seria dispor de certa ordem, de

forma harmonizada de todos os atos e todos os esforços; e) controlar – no sentido de que todas

as operações sejam executadas de acordo com o plano adotado, através das ordens

estabelecidas e os seus princípios.

O papel do gerente nas organizações pode ser constatado através das atividades em

estudo, indústria da madeira e da carne na Região Norte de Mato Grosso. Todavia, faz-se

Page 95: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO – UFMT§ões... · universidade federal de mato grosso – ufmt faculdade de economia– fe mestrado em agronegÓcios e desenvolvimento regional

79

necessário diferenciar as atribuições concebidas a cada um na sua atividade. De posse das

observações coletadas em trabalho de pesquisa de campo foi possível perceber a diferença

entre os gerentes de produção na madeira e o gerente industrial ou gerente da indústria na

carne, como se autodenominam.

Neste trabalho, gerente industrial ou da indústria é aquele que tem a função de gerir a

indústria, todo o processo de coordenação e condução de uma indústria de carne, sua função

na indústria é ampla, com atuação tanto no processo de produção, quanto na relação com os

fornecedores e seus subordinados (funcionários do setor de produção).

Em relação ao gerente de produção, caso específico que aparece com freqüência na

indústria da madeira (pequenas indústria de laminados e serrarias), a sua atribuição é

basicamente o de controle do processo de produção, ou seja, a atribuição do gerente de

produção é a coordenação e controle do processo de produção da laminação da madeira e da

serragem, e de seus subordinados.

Nesse sentido, a principal diferença entre os gerentes é de que na indústria de carne, o

gerente industrial tem um papel mais amplo de atuação, através da comunicação com

fornecedores, e demais setores (limpeza, manutenção e logística). Enquanto, que o gerente de

produção na madeira atua diretamente no processo de produção, ao ponto de em alguns

momentos, atuando junto com os seus subordinados.

Todavia, é preciso ressaltar que pela regularização normativa definidos pela

Classificação Brasileira de Ocupações versão revisada em 2002, gerentes de produção e

operações é definido através da família nº 1.412-0521

, que atribui ao gerente a capacidade de

gerenciar a produção na indústria de transformação e extração mineral, com a implantação de

plano operacional, analisando a demanda de produtos, a capacidade produtiva e recursos

auxiliares, racionalização dos custos de produção, orçamento das despesas, plano de

investimentos, gerenciado equipes de trabalho, cumprimento de metas e em processos de

logística (MTE, 2009).

21 A CBO 2002 traz diferentes níveis e setores de ocupações para o gerente: Gerente de departamento de

fabricação, Gerente de departamento de produção, Gerente de departamento industrial, Gerente de fábrica,

Gerente de manufatura, Gerente de montagem, Gerente de processos, Gerente de produção, Gerente de unidade

de fabricação, Gerente industrial, entre outras (MTE, 2009).

Page 96: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO – UFMT§ões... · universidade federal de mato grosso – ufmt faculdade de economia– fe mestrado em agronegÓcios e desenvolvimento regional

80

Em relação aos requisitos para ocupar a função definidos pela CBO 2002, é preciso ter

curso superior completo, de modo geral, com formação em engenharia plena ou de curta

duração. Ter pelo menos cinco anos de experiência profissional e, sempre buscar novas

tecnologias, ou seja, sendo preciso estar em constante reciclagem.

4.5.1 O gerente na indústria da carne

O gerente da indústria como definido anteriormente, assim chamado na maior parte

das indústrias da carne, não se assemelha ao líder ou gerente de produção. O gerente da

indústria é responsável por toda a planta industrial (suprimento, manutenção e logística).

Nesta parte do estudo dedicado ao gerente industrial na indústria da carne foram

abordadas questões relacionadas ao perfil de gerente industrial, sua origem, formação e

experiência profissional, e alguns aspectos curiosos da profissão e da sua realidade.

O gerente da indústria tem conhecimento de todas as etapas do processo de produção,

a sua experiência dentro da indústria lhe dá um aspecto diferenciado no processo de

industrialização da carne, através do conhecimento adquirido sobre o funcionamento das

máquinas, das etapas de produção, abates, retirada do couro e desossas.

E também dos diferentes tipos de cortes da carne, temperatura em que estes produtos

devem ser acondicionados, inclusive os locais que mais demandam o produto, bem como, as

regiões de onde vêm às principais matérias-prima da indústria, como observado nas

entrevistas realizadas. Esse conhecimento do processo interno e a visão de mercado permitem

ao gerente da indústria apresentar soluções rápidas e adequadas, haja vista, o produto ser

perecível e requerer atenção constante.

Este caráter singular atribuído a este profissional, perceptível nas entrevistas, é

carregado de valores culturais e de convivência com o trabalho diário em cada setor dentro da

indústria e com seus fornecedores.

Em relação aos aspectos culturais, no trabalho realizado na pesquisa de campo nas

industriais de carne (bovina, suína e de aves), foi possível perceber que a grande maioria das

pessoas que desempenham a função, tinha um laço familiar de dedicação a atividade. Em que

o pai ou irmão tinha trabalhado anteriormente nessa atividade. Ou ainda, muitos deles

Page 97: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO – UFMT§ões... · universidade federal de mato grosso – ufmt faculdade de economia– fe mestrado em agronegÓcios e desenvolvimento regional

81

começaram a trabalhar com o pai numa pequena granja, ou na própria indústria em que o pai

era gerente.

Também se percebe que a mobilidade no mercado de trabalho na atividade é comum

entre os setores de abate de aves e suíno, e que é normal a mudança de gerente entre os

frigoríficos de abate de aves e suíno, e não sendo comum a mudança entre as atividades de

aves e suíno para o abate de carne bovina, ou vice-versa, como se pode perceber nas

entrevistas realizadas nas indústrias nos municípios de Nova Mutum, Lucas do Rio Verde,

Sorriso, Sinop, Colíder, Alta Floresta, Juara e Juína, estado de Mato Grosso.

O histórico da inter-relação dos gerentes da indústria nas atividades de abate de aves e

de suíno é de pessoas vindas do Sul do país, certamente derivado da mudança de estrutura nas

grandes empresas que passaram a fazer diferenciação entre suínos e aves, e outros pouco do

Sudeste, onde, alguns desses gerentes da indústria que antes trabalhavam com o abate de

suíno, foram desafiados a trabalhar com o abate de aves. Nesse sentido, destaca-se a

implantação de uma das primeiras grandes plantas industrial de abate de aves instalada no

Estado de Mato Grosso na década de 90 com capacidade para abater 80 mil aves/dia, a

empresa Anhambi Alimentos Norte Ltda.

Na atividade de abate bovino como em outras atividades frigorificas (suíno e aves) não

foi constatada qualquer relação (de pai para filho, ou de qualquer outro grau de parentesco),

apenas a convivência com o trabalho, a prática adquirida com o tempo dedicado na atividade,

em geral ocupadas por pessoas vindas do Sul e do Sudeste do país. Grande parte dos gerentes

da indústria de carne bovina já trabalhava em unidades da empresa em outras regiões ou,

vieram de outras empresas fora do estado de Mato Grosso para assumir o cargo de gerente da

indústria.

A experiência adquirida de fora (de outras empresas fora do Estado) permite ao

gerente industrial uma visão muito ampla de mercado e de conhecimento técnico, este,

adquirido no seu estado de origem, pelo tempo dedicado à profissão. Isso lhe faz um

profissional diferenciado, que percebe e capta as diferenças entre os trabalhadores existentes

na sua região, e aqueles provenientes de outros estados, em especial de onde antes trabalhava.

A experiência adquirida e acumulada pelos anos de trabalho na atividade lhe

proporcionou outras habilidades, como por exemplo, driblar a dificuldade de encontrar

Page 98: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO – UFMT§ões... · universidade federal de mato grosso – ufmt faculdade de economia– fe mestrado em agronegÓcios e desenvolvimento regional

82

profissionais capacitados para exercer a função no setor de produção, em especial no estado

de Mato Grosso que sofre com a falta de profissionais qualificados para ocupar cargos

específicos na indústria (açougueiro desossador, açougueiro classificador), entre outros.

O Entrevistado 2, aponta a dificuldade de adaptação dos trabalhadores no produção

na indústria de carne:

[...] Em relação a qualificação do trabalho em si vai muito dele si eles quiserem ou

não querem ai entra aquela situação ele é deslocado para outro setor [..] vê si ele

consegue fazer aquilo ou então ele perde o emprego [...] sabendo se tem alguém que

não consegue fazer nada aqui! Não vai ficar porque é uma corrente [...] olha o

sistema puxa [..]. Entrevistado 2.

O processo de integração é um dos métodos destacados por eles, neste método

simples, porém eficiente, o funcionário é acompanhado por um líder, ou por uma pessoa que

tenha mais tempo no setor. Dada a falta de profissionais qualificados por formação22

no

Estado, o funcionário que não se adapta no setor lotado é realocado para outro setor, contudo,

ainda no setor que abriga o chamado “chão-de-fábrica”. Após, concluída esta fase, o

funcionário é incorporado ao processo de produção, e isso se dá com a anuência do gerente

industrial, que precisa estar atento a sua adaptação, todo o processo depende da conclusão

desta fase de adaptação, e por conseqüência, os ganhos de produtividades fruto desta

integração.

No processo de adaptação por integração o tempo nunca é inferior a 30 (trinta) dias e,

sendo prorrogável por mais 60 (sessenta) dias, mas nunca superior a 90 (noventa) dias, em

função do prazo estabelecido pela legislação do trabalho para o contrato de experiência

(SAAD, 1988). Isso se deve ao fato do processo de produção no setor de abate ser contínuo, o

que demanda uma sintonia em todo o processo, a quebra desse processo ou a ineficiência de

um dos setores estrangula os demais.

A experiência do Gerente da Indústria, adquirido em outras empresas e em outras

regiões fora do Estado de Mato Grosso, garante a indústria ganhos de produtividade, mesmo

tendo dificuldades na obtenção de pessoas aptas a desempenhar a função e, considerando os

fatores exógenos, atrelado ao mercado internacional.

22 Para o exercício de abatedor, açougueiro, desossador, margarefe e retalhador de carne na indústria de abate de

carne bovina, aves e suíno, requer-se ensino fundamental e curso básico de qualificação profissional com até

duzentas horas-aula. O pleno desempenho das atividades ocorre entre um e dois anos de experiência profissional.

Pode-se demandar aprendizagem profissional para a(s) ocupação (ões) elencada(s) nesta família ocupacional,

exceto os casos previstos no art. 10 do decreto 5.598/2005 (MTE, 2009)

Page 99: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO – UFMT§ões... · universidade federal de mato grosso – ufmt faculdade de economia– fe mestrado em agronegÓcios e desenvolvimento regional

83

Outro fator relacionado à questão do trabalho ainda torna a função do Gerente da

Indústria ainda mais importante e complexa, como por exemplo, a atenção na compra da

matéria-prima para a indústria, verificando se a origem desse insumo está vinculada a algum

tipo de atividade que explora o trabalhador, se é fonte de zona de desmatamento e regiões

com foco de febre aftosa, e demais questões sanitárias. Na seção seguinte veremos os aspectos

relacionados ao gerente de produção na indústria da madeira.

4.5.2 Os gerentes de produção na indústria da madeira: madeira laminada, compensada

e serraria.

A cadeia produtiva da madeira compõe-se de atividade de aproveitamento florestal,

sobretudo, a sua fonte de matéria-prima. Esta matéria-prima é utilizada por meio de

processamento mecânico, industrial e de geração de energia (MARTA, 2008b), a articulação

esquemática entre os diversos setores, de insumo e processamento pode ser observada na

Figura 4.

Figura 4 - Fluxograma geral da cadeia produtiva da madeira Fonte: Ferreira (2002).

No Estado a atividade madeireira está concentrada basicamente na exploração florestal

(Floresta Nativa e Plantada) e no processamento mecânico (Serrarias, Laminadoras e Ind. de

Painéis), podendo ser observada a sua inserção na Figura 4. O processo mecânico se constitui

Page 100: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO – UFMT§ões... · universidade federal de mato grosso – ufmt faculdade de economia– fe mestrado em agronegÓcios e desenvolvimento regional

84

de dois tipos de atividade, laminados e serrados, processados em operações simples e de

pouco valor agregado. Seguida, pelas etapas de fabricação de compensados, pelos laminados e

do beneficiamento das madeiras serradas para aproveitamento na indústria moveleira e da

construção civil. Estas etapas compõem-se a fase preliminar do processo de industrialização.

Em alguns casos observa-se o sub-aproveitamento dos resíduos da madeira para fins de

energia, principalmente na secagem de grãos (MARTA, 2005; 2008b).

Na pesquisa de campo observaram-se algumas engenhosidades (adaptações)

desenvolvidas pelos gerentes de produção da atividade de serraria, como por exemplo, trilho

ligando o processo de serragem, até os limites do pátio, para o armazenamento das pranchas,

requerendo menor esforço por parte dos trabalhadores. Essas adaptações são criadas sob

diferentes formas e situações, como forma de lidar com as dificuldades (limitações

tecnológica), o que faz dos gerentes de produção da madeira um profissional diferenciado,

merecendo toda atenção neste estudo sobre a sua história e realidade, nas indústrias da Região

Norte de Mato Grosso, mais adiante é possível avaliar como o gerente de produção na

indústria da madeira altera as limitações estruturais existente, aumentando a produtividade do

trabalho e do capital.

A indústria da madeira laminada e chapas de madeira compensada

Nesta atividade, o trabalho é menos desgastante em comparação à serraria, em termos

de força propulsora humana, pois a etapa mais dispendiosa e de risco é a laminação da

madeira, fase em que a madeira é cortada em um tamanho padrão, em seguida descascada e

levada para a fabricação de compensados, no qual o emprego de capital é mais intenso.

O processo de produção começa com o cozimento da madeira, sendo posteriormente a

tora descascada, até o ajuste necessário à laminação da madeira no torno (processo mais

utilizado), adquirindo assim um padrão uniforme. Após o ajuste no torno, retiram-se as

lâminas da madeira. O processo de laminação consiste num processo que envolve diversos

procedimentos, a retirada da lâmina da madeira, depois levando o produto para secar, em

seguida, as lâminas são cortadas e classificadas, em alguns casos, parte das sobras das lâminas

é costurada (etapa de reaproveitamento), formando assim novas lâminas, sendo depois

Page 101: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO – UFMT§ões... · universidade federal de mato grosso – ufmt faculdade de economia– fe mestrado em agronegÓcios e desenvolvimento regional

85

direcionadas à comercialização ou, numa etapa seguinte de industrialização da madeira que é

a fabricação de compensados23

.

O processo de laminação se dá de várias espessuras e tamanhos, sob controle visível,

controlada pelo operador da máquina laminadora que faz os ajustes necessários. Assim, sai

um lençol de madeira cortado e recortado em guilhotina, na etapa seguinte é levada para

secar. Nas fases seguintes, o esforço dedicado é menos penoso, abre-se espaço então para a

inserção do trabalho feminino e de pessoas idosas. Ou seja, esse trabalho de finalização do

acabamento das laminas é o que requer mais paciência e cuidado, adequando-se perfeitamente

a essas pessoas, que termina o processo de seleção e padronização das laminas destinada a

outra fase de processamento, fabricação de compensados, como se observou na Figura 3.

Neste caso, a gerente de produção mulher se adapta perfeitamente, pois o conhecimento

adquirido ao lado do marido, do pai, dos irmãos, proporciona o cargo de gerente de produção,

num ambiente em que sempre foi considerado “xucro24

” para muitos.

Contudo, é preciso ressaltar que não é o conhecimento adquirido com a convivência na

atividade de laminas e chapas de madeira compensada que contribuiu com sua inserção na

indústria, mas sim o seu diferencial. Tendo a capacidade de administrar a produção e a

sensibilidade de conduzir as pessoas neste ambiente considerado por muitos como “xucro”. A

mulher gerente de produção ganhou espaço, auxiliando o marido, o pai ou seus familiares na

indústria. Isso fez da inserção da gerente de produção mulher na indústria, uma das maiores

transformação na indústria madeireira, todavia, não é divulgado e tão pouco observado por

estudos sobre atividade madeireira. Nesse contexto, dispensa todo um cuidado especial na

caracterização e na colocação da sua realidade.

O setor madeireiro, neste trabalho contemplado pelo desdobramento da madeira,

laminados e chapas da madeira, artefatos de madeira e fabricação de estruturas de madeira,

traz algumas particularidades, com resquícios culturais, na convivência com o ambiente do

setor da madeira e o mais inusitado, o espaço adquirido pelas mulheres nesse espaço hostil.

23 No Norte de Mato Grosso tem várias indústrias que se dedicam somente a atividade de laminação da madeira,

sendo que a etapa seguinte que é a fabricação de compensados é transferida para outras indústrias, que têm

maiores inversões de capital, com máquinas e equipamento específicos para esse procedimento. 24

No sentido de primitivo, simples, rústico.

Page 102: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO – UFMT§ões... · universidade federal de mato grosso – ufmt faculdade de economia– fe mestrado em agronegÓcios e desenvolvimento regional

86

Nesta atividade tem-se gerente de produção e não gerente da indústria, como dito e

enfatizado em diversas vezes, a responsabilidade do gerente de produção da madeira é com

todo o processo de produção.

Existem diferentes características de gerentes na atividade madeireira: homens e

mulheres, com personalidades diversas, uns um pouco mais flexível, outros, mais rígidos,

denominados aqui de “ortodoxos”, seguindo seus princípios tradicionais e, tendo a sua origem

na conhecida expressão “chão-de-fábrica”. O ingresso no trabalho como gerente se dá com a

anuência de seus familiares ou indicado ao proprietário da indústria, mas todos guardam uma

relação histórica com a atividade. Como se diz nascidos no “oco do pau”.

Dentre os diversos tipos de gerentes de produção uma em especial despertou mais

atenção, a gerente mulher no setor de laminas e chapas de madeira compensada e no

desdobramento da madeira.

O ingresso no mercado de trabalho como gerente nas indústrias da Região Norte do

Estado de Mato Grosso se concebe por três vias. A primeira pela origem (chão-de-fábrica),

pessoa que sempre trabalhou na atividade madeireira, inclusive na exploração florestal. A

segunda através dos familiares, através da convivência com a atividade, interesse, seguida da

destreza e vontade, sempre com apoiado da família, neste caso, a percepção em particular foi

nas mulheres, o que levou a sua inserção pela grande capacidade de organização, habilitando-

a na condução na gerência da indústria. A terceira, por meio de indicação ao proprietário da

indústria, através de amigos, parentes, contudo, cabe novamente ressaltar que o gerente

sempre guarda consigo um histórico no setor da madeira.

Na entrevista realizada com o Entrevistado 3, fica clara a ascensão na empresa pelo

laço familiar e, ele aponta também as dificuldades enfrentadas pelo setor:

[...] Eu sou natural do Paraná, União da Vitória, aos 13 anos de idade eu vim pra

Mato Grosso com meu pai, desde então, trabalho no setor madeireiro. Aqui nesta

empresa eu vim em 95, faz treze anos que estou nesta empresa, até então meu pai era

gerente de produção nesta empresa, depois ele saiu, eu que fiquei no lugar dele [...] e

tamo lutano na dificuldade né e tamo persistindo né, mas não sei até quando

conseguimos trabalhar né [...]. Entrevistado 3.

A origem dos gerentes de produção do setor da madeira como no caso do entrevistado,

em sua grande maioria é de pessoas vindas do Sul e do Sudeste. A etapa seguinte do gerente

de produção na indústria da madeira é eventualmente ser empresário no setor, com

Page 103: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO – UFMT§ões... · universidade federal de mato grosso – ufmt faculdade de economia– fe mestrado em agronegÓcios e desenvolvimento regional

87

arrendamento de pequenas serrarias (pica-pau), isso foi constatado nas entrevistas, onde a

maioria dos atuais empresários ocupou cargo de gerente no setor.

4.6 Diferentes tipos de gerentes de produção na indústria da madeira: origem, perfil e

habilidades

O gerente de produção tradicional ou ortodoxo.

O primeiro, pode-se dizer que é remanescente da “velha guarda”, o gerente de

produção tradicional ou ortodoxo, passou por todas as fases da indústria da madeira, e para

alguns deles, desde a origem do processo, na exploração florestal, retirada da tora da mata,

por isso, carrega consigo um período marcante, onde trabalhar significava “carregar uma

prancha comprida nos braços” e “empurrar a tora da madeira com a força dos braços para ser

serrada”.

Essa “herança de vida” é carregada dentro de si e, em alguns momentos transmitidos

aos seus subordinados. O ambiente de trabalho é pesado e o esforço é constante, mesmo com

as mudanças ocorridas nos últimos tempos, com a atuação da Polícia Federal (PF), Ministério

Público (MP), Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), através da Delegacia Regional do

Trabalho e outras formas de pressão ao trabalho forçado, a visão que passa é que o gerente

procura refletir a imagem de sua época, do seu esforço enquanto trabalhador subordinado.

As tarefas normalmente são impostas aos seus subordinados, o gesto fechado do

gerente de produção é marcante e constante. Percebe-se que o ritmo de trabalho e de produção

é contínuo e acelerado, mesmo em face ao cenário de incertezas no setor, pela demora na

liberação do Plano de Manejo e da existência de pouco estoque de madeira no pátio. A

presença deste tipo de gerente é freqüente nas indústrias de desdobramento de madeira mais

próximas das fontes de matérias-prima, quanto mais distantes desta, maior a dificuldade de

encontrar esses remanescentes da atividade madeireira tradicional.

O processo é todo controlado pelo gerente, que acompanha bem de perto, conferindo

cada etapa de produção, pois este não dispõe de qualquer instrumento tecnológico atual, o

raciocínio matemático é rápido, e isso ele faz questão de mostrar a seus subordinados, como

forma de deixar clara a sua superioridade. Mesmo tendo poucos anos de estudo, ele procura

deixa evidente quem dá as ordens no processo e faz questão de ressaltar que nunca será

passado pra trás, em especial pelos seus subordinados. No geral são pessoas de pouco estudo,

Page 104: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO – UFMT§ões... · universidade federal de mato grosso – ufmt faculdade de economia– fe mestrado em agronegÓcios e desenvolvimento regional

88

muitos analfabetos que carrega todo um sofrimento enquanto trabalhador em nível de chão-

de-fábrica.

O gerente de produção flexível “gerente amigo”.

O segundo, com uma característica diferente do gerente tradicional/ortodoxo,

apresenta um gesto aberto e compreensivo, agrada a todos os seus subordinados.

A maioria dos gerentes de produção também tem poucos anos de estudo, tendo

estudado até a 8ª série do ginásio, em sua maioria, alguns deles com o primeiro grau

completo. Contudo, transmite um carisma enorme, conquistando o respeito de seus

subordinados. A sua história de vida também é marcada por um longo período de dedicação

na indústria da madeira, alguns desde a extração da madeira. Essas pessoas são originárias

principalmente do Sul do país e alguns poucos do Sudeste, sendo que outros poucos do Estado

de Mato Grosso do Sul, com movimento sempre no sentido norte do país, onde estão

localizadas as maiores reserva de floresta.

A condução da produção é toda orientada pelo “gerente amigo”, como chamado por

alguns de seus subordinados, isso se deve provavelmente por ter tido a mesma experiência

enquanto trabalhador na produção, e de ter sentido na pele o peso de trabalhar na serraria,

atividade desgastante e sofrida.

O esforço dedicado pelo gerente de produção é constante e forte, com auxílio aos

trabalhadores/subordinados na atividade da indústria, em alguns momentos chegando a

suplantar a de um trabalhador comum da indústria, pelo fato de requer também a condução da

indústria.

Mesmo tendo poucos anos de estudo, este também tem admirável habilidade com os

números, cálculo de volume de tora da madeira, metragens e, em algumas situações chegando

a surpreender, como por exemplo, um simples olhar a um pequeno sarrafo lhe dá a noção

muito aproximada de medida.

Essas habilidades e jeito de conduzir os seus subordinados lhe conferem o título de

“gerente amigo”, observado nas indústrias de madeira, principalmente nas serrarias, próximas

as fontes de matéria-prima.

Page 105: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO – UFMT§ões... · universidade federal de mato grosso – ufmt faculdade de economia– fe mestrado em agronegÓcios e desenvolvimento regional

89

A gerente de produção mulher, mudança no ambiente xucro de trabalho.

A terceira e última percepção dos gerentes de produção é da atividade de

desdobramento da madeira, que também traz algo muito especial. Em termos de mudança,

pode-se considerar uma quebra de paradigma neste tipo de atividade, considerada por muitos

como um ambiente “xucro”.

A gerente de produção mulher da atividade de desdobramento da madeira tem uma

pequena diferença da gerente de produção de laminas e chapas de madeira compensada,

devido ao ambiente xucro de trabalho em que elas estão inseridas. Tal fato leva a gerente em

alguns momentos a impor ordens sobre seus subordinados, ou seja, de valer-se do modo de

condução do gerente ortodoxo em determinados momentos.

A indicação normalmente é feita por amigos, parentes e outras pessoas próximas ao

proprietário, mas o histórico de vida da gerente de produção é de tempo dedicado a atividade

da madeira, assim como de outros apresentados anteriormente, mulheres vindas do Sul e do

Sudeste do País.

Com um grande diferencial em relação ao gerente de produção homem,

principalmente do tradicional, devido a sua capacidade de organização e, procurando sempre

manter-se informada das novidades tecnológicas e das mudanças de mercado. A condição

exposta na maioria dos casos faz com que esse jeito sensível e organizado seja alterado

repentinamente, para o modo tradicional, com uso da imposição, mostrando quem manda.

Isso se faz necessário muito provavelmente em função do ambiente pesado de uma indústria

de desdobramento, a necessidade de esforço maior, o uso de máquinas com grau de risco

constante, a pressão no trabalho, contribui para a mudança de comportamento, mas isso não

tira o brilho e a competência por ela adquirida.

A diferença na organização da indústria é percebida logo na entrada, e a postura

impositiva em alguns momentos é necessária para manter o controle e ordem na sua

organização.

A participação da mulher no cargo de gerencia tem crescido cada vez mais, a Tabela

16 traz o número de empregos formais, por gênero e a participação da mulher no mercado de

trabalho, segundo a classificação do Sub-setor do IBGE, nos anos de 1985, 1990 e 2001.

Page 106: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO – UFMT§ões... · universidade federal de mato grosso – ufmt faculdade de economia– fe mestrado em agronegÓcios e desenvolvimento regional

90

Observa-se na Tabela 16 que a participação da mulher de modo geral aumentou

significativamente, de 17,3% em 1985 para 28,8% em 2001. Mas o interessante nessa

evolução é a participação da mulher em setores da indústria, o aumento na indústria da

madeira e mobiliário de 1,62% em 1985 para 3,69% em 2001. Dessa maneira, observa-se um

aumento na participação da mulher a partir dos anos 1990, essa participação tem aumentado

cada vez mais ao longo do tempo, em especial na Administração Pública.

Tabela 16- Número de emprego formais, por gênero e participação da mulher, segundo a

classificação do IBGE, Mato Grosso, 85, 90 e 2001.

1985 1990 1995 2001 (1) Participação da mulher % (3)

Sub-setor do IBGE M F M F M F M (2) F (2) 85 90 95 01

Extr mineral 1.237 62 189 21 138 11 259 26 0,43 0,09 0,03 0,03

Min não met 77 5 237 17 224 8 644 29 0,03 0,07 0,02 0,04

Ind metalurg 26 1 55 3 76 6 351 21 0,01 0,01 0,02 0,03

Ind mecânica 30 1 15 0 5 0 46 12 0,01 0,00 0,00 0,02

Elet e comum 0 0 6 2 14 1 0 1 0,00 0,01 0,00 0,00

Mat transp 6 0 2 0 60 10 142 24 0,00 0,00 0,03 0,03

Mad e mobil 2.870 233 5.990 777 8.316 1.361 16.161 2.838 1,62 3,24 4,02 3,69

Papel e gráfica 26 5 50 11 52 9 118 43 0,03 0,05 0,03 0,06

Bor fum cour 2 0 15 1 86 15 337 31 0,00 0,00 0,04 0,04

Ind química 236 31 104 8 100 19 37 13 0,22 0,03 0,06 0,02

Ind têxtil 0 4 35 15 46 12 142 60 0,03 0,06 0,04 0,08

Ind calcados 1 0 9 0 4 0 1 1 0,00 0,00 0,00 0,00

Alim e beb 133 10 187 21 909 105 2.396 699 0,07 0,09 0,31 0,91

Ser util pub 0 0 1 0 20 6 91 13 0,00 0,00 0,02 0,02

Constr civil 949 17 322 14 492 39 1.562 83 0,12 0,06 0,12 0,11

Com varej 1.161 455 2.452 1.087 3.425 1.554 9.121 4.897 3,17 4,54 4,59 6,37

Com atacad 387 70 804 124 899 173 1.585 369 0,49 0,52 0,51 0,48

Inst financeira 1.041 469 779 397 535 329 529 286 3,26 1,66 0,97 0,37

Adm tec prof 792 149 1.021 318 327 213 1.161 597 1,04 1,33 0,63 0,78

Transp. e comum 463 52 522 60 1.034 158 1.680 228 0,36 0,25 0,47 0,30

Aloj comunicão 448 129 470 326 508 368 1.313 1.178 0,90 1,36 1,09 1,53

Med odon vet 46 210 81 328 95 503 236 1.020 1,46 1,37 1,48 1,33

Ensino 1 3 9 35 130 426 194 537 0,02 0,15 1,26 0,70

Adm publica 724 493 827 1.030 2.872 3.069 5.403 8.053 3,43 4,30 9,06 10,48

Agricultura 1.145 78 3.134 329 4.427 438 11.224 1.083 0,54 1,37 1,29 1,41

Outros 81 9 1.136 589 190 68 0 0 0,06 2,46 0,20 0,00

Total 11.882 2.486 18.452 5.513 24.984 8.901 54.733 22.142 17,30 23,00 26,27 28,80

Fonte: Relação Anual de Informações Sociais -RAIS, MTE,1985, 1990, 1995 e 2001.

Notas: (1) todos os empregos formais inclusive da administração pública.

(2) M- Masculino; F-Feminino;

(3) participação da mulher no total do emprego formal no ano de referência.

A participação da mulher no mercado de trabalho tem se ampliado nos últimos anos,

também na função de gerente, como se observa na Tabela 17. O número de gerentes mulher

em 1985, 1990 e 2001, aumentou expressivamente de 1,71% para mais de 15% em 2001, no

caso da Região Norte do Estado. Alguns aspectos justificam este aumento, qualificação

Page 107: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO – UFMT§ões... · universidade federal de mato grosso – ufmt faculdade de economia– fe mestrado em agronegÓcios e desenvolvimento regional

91

profissional, grau de instrução e habilidades em lidar com o cargo de gerente, fato constatado

em entrevista realizado em trabalho de campo.

Tabela 17- Número de empregos formais, categoria gerentes, por gênero e participação da

mulher, segundo a classificação do IBGE, Região Norte de Mato Grosso, 85, 90 e

2001.

1985 1990 1995 2001 (1) Participação da mulher % (3)

Sub-setor do IBGE M F M F M F M (2) F (2) 85 90 95 01

Extr mineral 8 0 4 0 5 0 10 0 0,00 0,00 0,00 0,00

Min não met 2 0 7 0 7 0 16 2 0,00 0,00 0,00 0,13

Ind metalurg 0 0 0 0 1 0 4 1 0,00 0,00 0,00 0,06

Ind mecânica 0 0 0 0 0 0 0 0 0,00 0,00 0,00 0,00

Elet e comum 0 0 0 0 0 0 0 0 0,00 0,00 0,00 0,00

Mat transp 0 0 0 0 3 0 1 0 0,00 0,00 0,00 0,00

Mad e mobil 63 1 138 3 245 10 501 39 0,34 0,61 1,00 2,53

Papel e gráfica 0 0 2 0 1 0 3 0 0,00 0,00 0,00 0,00

Bor fum cour 0 0 1 0 3 0 4 1 0,00 0,00 0,00 0,06

Ind química 1 1 5 0 2 0 0 0 0,34 0,00 0,00 0,00

Ind têxtil 0 0 0 0 0 0 3 3 0,00 0,00 0,00 0,19

Ind calcados 0 0 1 0 0 0 0 0 0,00 0,00 0,00 0,00

Alim e beb 0 0 1 0 26 1 36 4 0,00 0,00 0,10 0,26

Ser util pub 0 0 0 0 1 0 4 0 0,00 0,00 0,00 0,00

Constr civil 11 0 4 0 6 2 16 2 0,00 0,00 0,20 0,13

Com varej 60 0 102 8 106 27 250 77 0,00 1,62 2,70 4,99

Com atacad 11 0 24 1 39 5 65 13 0,00 0,20 0,50 0,84

Inst financeira 85 1 70 4 252 122 105 13 0,34 0,81 12,21 0,84

Adm tec prof 16 0 24 0 6 1 23 7 0,00 0,00 0,10 0,45

Transp. e comum 6 0 11 0 24 2 36 7 0,00 0,00 0,20 0,45

Aloj comunic 2 0 11 2 9 8 23 18 0,00 0,40 0,80 1,17

Med odon vet 0 2 2 0 2 5 3 10 0,68 0,00 0,50 0,65

Ensino 0 0 0 0 2 0 2 3 0,00 0,00 0,00 0,19

Adm publica 3 0 1 3 14 10 27 27 0,00 0,61 1,00 1,75

Agricultura 19 0 38 1 46 0 174 9 0,00 0,20 0,00 0,58

Outros 0 0 26 0 6 0 0 0 0,00 0,00 0,00 0,00

Total 287 5 472 22 806 193 1.306 236 1,71 4,45 19,32 15,30

Fonte: Relação Anual de Informações Sociais -RAIS, MTE,1985, 1990, 1995 e 2001.

Notas: (1) inclusive diretores e gerentes em empresas de serviços de saúde e de educação.

(2) M- Masculino; F-Feminino; (3) participação da mulher no total do emprego formal no ano de referência.

Esse aumento é evidente principalmente em setores considerados xucro, onde a

presença masculina é expressiva, como no caso da indústria da madeira e mobiliário.

Em alguns setores da atividade econômica a participação da mulher é superior a do

homem, a exemplo do setor de medicamentos odontológico e veterinários com 0,65%, em

2001, equivalente a dez gerentes mulher, enquanto que a quantidade de homem chega a três.

No geral observa-se um aumento da participação da mulher nos cargos de gerente, no setor

formal de emprego, confirmado pelos dados do MTE, sem considerar a participação da

mulher junto a seus maridos na condução das empresas familiares, observado nas entrevistas

Page 108: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO – UFMT§ões... · universidade federal de mato grosso – ufmt faculdade de economia– fe mestrado em agronegÓcios e desenvolvimento regional

92

realizadas. Outros setores também vêm absorvendo grande quantidade de mão-de-obra

feminina, a exemplo, na construção civil, comércio e serviços, conforme se verifica nos dados

apresentados.

A partir da exposição realizada, constata-se que existem três tipos diferentes de

gerente de produção na madeira e gerente da indústria na carne, isso reflete em um complexo

sistema de coordenação e de condução da indústria da madeireira e da carne no estado de

Mato Grosso, e em especial na Região Norte de Mato Grosso.

A experiência adquirida em outras empresas nos seu Estado de origem proporcionou a

base para coordenação e condução dos parques industriais das atividades em estudo em Mato

Grosso, com a aplicação do conhecimento adquirido e pela sua expertise. Isso fica evidente

nas adaptações constantemente recorridas pelos gerentes, em face das dificuldades existentes,

principalmente na contratação e treinamentos dos trabalhadores, do chamado “chão-de-

fábrica”.

Com a inserção da mulher no processo de produção, em nível de gerente de

produção, a atividade ganhou uma organização mais moldada, inclusive com a utilização de

novidades tecnológicas.

Estes diferentes tipos de gerentes, com diversas características, habilidades e

sensibilidades, contribui com as atividades, mesmo diante das dificuldades enfrentadas, como

a pressão sobre o setor madeireiro e as exigências internacionais da carne produzida no

Estado.

Nesse sentido, entender o processo de formação da indústria da madeira e da carne só

é possível se entendermos as diversidades existentes nestas atividades, e principalmente

conhecer como é conduzido todo o processo pelos seus gerentes, e isso implica evidentemente

na forma que se concebeu a dinâmica do capital na Região Norte.

Page 109: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO – UFMT§ões... · universidade federal de mato grosso – ufmt faculdade de economia– fe mestrado em agronegÓcios e desenvolvimento regional

93

5. A DINÂMICA DO CAPITAL NO NORTE DE MATO GROSSO

Neste último capítulo, os esforços foram medidos e direcionados a reunir e explicar

de forma articulada, no escopo da investigação e da base teórica, construída nos capítulos

anteriores, a análise da proposta de investigação, dessa forma procurou-se responder a questão

central formulada e cumprir com os objetivos propostos. O delineamento da apresentação dos

resultados inicia-se com a explicação dos motivos que levou o capital a migrar para Região

Norte do Estado, enfatizando a essência contraditória do capitalismo. Na seguinte (seção 5.2),

após ter apresentado as bases e as condições de materialização do capital o assunto é focado a

questão da fronteira do trabalho decente, definido como espaço imaginário onde persistem

condições degradantes de trabalho, ou seja, procurando estabelecer uma relação entre a

expansão e valorização do capital e a incorporação da força de trabalho nas indústrias da

madeira e da carne. O estudo procura avançar nas seções seguintes, nos aspectos relacionados

a expansão do capital no Norte de Mato Grosso; a situação do mercado de trabalho na

indústria da madeira e da carne, mostrando alguns mecanismos utilizados pelas empresas para

subtrair parte da sobrejornada do trabalhador; e, aspectos relacionados ao ambiente e

condições de trabalho, contrapondo, os resultados positivos da economia mato-grossense.

5.1 A dinâmica da expansão do capital na Região de Fronteira e o seu reflexo.

Antes de discutir a expansão e apropriação do capital na chamada região de fronteira

(Norte de Mato Grosso) cabe formular algumas perguntas, para que se possa entender melhor

a dinâmica do capital: Qual a razão do capital migrar para as regiões de fronteira ou, nos

chamados espaços vazios da Região Amazônica, neste caso Norte de Mato Grosso? Que tipo

de capital torna real esse feito? Quais são os jogos de interesses por trás? Eles existem?

Segundo Oliveira (1987) a lógica do capital em sua essência (pelas contradições) é

buscar novas conformações e lugares na qual a oportunidade criada abre espaço para a

ampliação do capital e todas as formas de especulação, ou seja, legalização das terras

“devolutas” dos nativos da região e a incorporação de massas de desempregados e pequenos

produtores expropriados de sua região de origem.

Page 110: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO – UFMT§ões... · universidade federal de mato grosso – ufmt faculdade de economia– fe mestrado em agronegÓcios e desenvolvimento regional

94

Segundo Moreno (2007) a colonização oficial do Estrado de Mato Grosso serviu de

política e mecanismo de burla, cujo interesse privado foi apresentado como solução para os

conflitos relacionados à questão fundiária no Sul do país.

Nesse sentido, novas formas eram necessárias para que a expropriação fosse

engendrada para ampliação do capital. As regiões de fronteira é um ótimo espaço para essa

realização. O modo capitalista ainda é primitivo, as condições e o ambiente institucional ainda

estão em fase de consolidação, a força de trabalho numa fase posterior permite à extração da

mais-valia absoluta e num estágio mais desenvolvido a apropriação da mais-valia relativa,

assim como nas regiões dinâmicas do Centro-Sul do país.

Estes espaços se apresentam também como uma porta para a felicidade (enricar) e

criar melhores condições de vida. É o espaço imaginário onde pequenos produtores familiares

e trabalhadores expropriados sonham se tornar empreendedores. Por ser um lugar onde um

sonho poderá se realizar, os investimentos se tornam efetivos através de capital de outras

regiões consolidadas, ou melhor, de onde o modo e a acumulação capitalista não permitem

mais a sua ampliação com apropriação elevadas de mais-valia e o grau elevado de novas

combinações e técnicas permitem a alguns poucos, a concentração de capital e o ganho de

lucro normal.

Segundo Marta (1999) dentre as populações que vieram para região Norte do Estado

de Mato Grosso, em especial para o município de Sinop na década de 70, aproximadamente

17,7% procuravam melhor condições de vidas para si e para sua família, outros 10% vieram

por conta de parentes e amigos que residiam no local. Além destes outros, 13% vieram em

função da propaganda feita pelas colonizadoras, juntamente com o chamado do governo de

“poder colonizar a Amazônia”. Portanto, mais de quarenta por cento (40%) deixaram o Sul do

país em busca de melhores oportunidades, fato que reforça a tese de que existia um problema

de exclusão social no Sul, relacionado ao acesso a terra, e que a alternativa apresentada pelo

governo motivou os pequenos produtores a virem para o Estado de Mato Grosso.

Nesse sentido, analisando a origem e o modo de como se deu a vinda das pessoas do

Sul e do Nordeste para o Norte de Mato Grosso, não resta dúvida de que o desenvolvimento

do capitalismo e a concentração de capital nas mãos de poucos, associado a expansão do

capital nacional e mundial, através da sub-utilização do capital de regiões consolidadas,

Page 111: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO – UFMT§ões... · universidade federal de mato grosso – ufmt faculdade de economia– fe mestrado em agronegÓcios e desenvolvimento regional

95

sobretudo do Centro-Sul do país, fez com que o capital engendrasse nas chamadas “regiões de

fronteira”, Norte de Mato Grosso.

A constatação desse fato está nas palavras de Oliveira (1987, p.67) e comprovadas

pelas entrevistas realizadas em trabalho de campo, o autor diz o seguinte:

O processo de implantação/expansão dos projetos agropecuários na Amazônia,

como já demonstrado, fazia parte das conclusões obtidas após o chamamento do

governo militar de Castelo Branco aos grupos econômicos nacionais/internacionais e

que consubstanciou na “Operação Amazônia”. A transformação da SPVEA em

SUDAM fez parte deste processo. A definição da política de incentivos fiscais foi a

“pílula dourada”, atrás da qual grandes grupos econômicos, sobre tudo do Centro-

Sul, correram. (OLIVEIRA, 1987, p.67)

Também fica evidente que juntamente com o capital subsidiado pelos incentivos

fiscais, outros investimentos financeiros internacionais migraram para imputar uma dinâmica

do capital na região de fronteira, absorvendo boa parte da reprodução do capital ampliado e da

mais-valia absoluta.

O Estado de Mato Grosso foi um dos estados que mais teve projetos de colonização

privada, ou seja, a associação do Estado e empresas colonizadoras privadas, dentre elas,

destacam-se: PAC Ranchão, Carlinda, Peixoto de Azevedo e o Braço Sul em Gurantã do

Norte. Note que este processo garantiria o acesso a terra daqueles excluídos do Sul, em sua

maioria pequenos produtores. Segundo Oliveira (1987) o governo valeu-se da colonização

como alternativa de dupla mão de sentido: primeiro, serviu como válvula de escape para a

pressão exercida pelos expropriados da terra nas regiões de concentração acentuada; e,

segundo, garantindo a médio e longo prazo a oferta de mão-de-obra nas novas áreas de

ocupação pelos grandes grupos econômicos, de forma a consolidar seus projetos.

A lógica do capitalismo como dito é por essência contraditória, ela recria condições

para aqueles que foram expropriados, roubados, excluídos, qual seja, pequenos produtores e

trabalhadores desempregados (CARDOSO; MULLER, 1978; OLIVEIRA, 1987; OLIVEIRA,

2001).

A questão sobre a chamada “região de fronteira” abre espaço para discussão quanto

aos limites do trabalho decente25

, tratado na seção seguinte.

25 Segundo a Agenda Nacional de Trabalho Decente (OIT, 2006, p. 5), “Trabalho Decente é um trabalho

produtivo e adequadamente remunerado, exercido em condições de liberdade, eqüidade, e segurança, sem

Page 112: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO – UFMT§ões... · universidade federal de mato grosso – ufmt faculdade de economia– fe mestrado em agronegÓcios e desenvolvimento regional

96

5.2 A fronteira do trabalho decente no Norte de Mato Grosso.

Diversas são as concepções sobre fronteira e seu tratamento é feito de maneira

divergente. Consideram-se os aspectos ideológicos, econômicos e a mais comum, na

bibliografia consultada, é aquela relacionada à questão da segurança como a ocupação dos

espaços vazios. Essas idéias têm sido colocadas como alternativas ao entendimento dos

problemas sociais, especialmente quando se trata da ocupação de “espaços vazios” na

Amazônia Legal (GRAZIANO, 1982; MARTINS, 1997).

A “fronteira” é tratada no contexto mato-grossense desde a década de 1930, quando

se promoveu a “Marcha para o Oeste” e posteriormente o Plano de Integração Nacional (PIN),

em 1970. Na região Norte do Estado, a política de ocupação e de integração nacional

procurou incentivar a ocupação da região de fronteira na Amazônia, com intuito de resolver o

problema de exclusão social no Nordeste e minifúndio no Sul do país (GRAZIANO, 1982).

Essa tônica abre agora espaço para se analisar a relação desse movimento de

ocupação da fronteira no Norte de Mato Grosso com as questões relacionadas ao tipo de

trabalho empregado naquelas regiões. Nesse sentido, a idéia de fronteira associada ao

processo de ocupação e integração gera também uma definição adicional: a fronteira em

relação ao trabalho decente. Tal é entendida como uma região imaginária na qual os

trabalhadores resistem aos piores tipos de empregos, com a utilização de trabalho forçado em

situação análoga ao do trabalho escravo. Este limite imaginário se desloca no sentido Sul-

Norte do Estado de Mato Grosso (MT) e no Sul do Estado do Pará.

A definição de fronteira para Borges (2004) exige diferentes entendimentos

relacionados aos marcos da formulação intelectual, nesse caso, fronteira é tida como espaços

de conflitos ou como algo dinâmico que ocupa diferentes espaços, em momentos distintos.

A definição de fronteira para Graziano (1982) parte de dois eixos principais: a frente

pioneira e a frente de expansão. Neste caso, a fronteira não é definida geograficamente, ela

vem a ser o resultado da modernização dolorosa no campo considerando a expropriação de

pequenos produtores e dos excedentes populacionais remanescentes do processo anterior. Sob

quaisquer formas de discriminação, e capaz de garantir uma vida digna a todas as pessoas que vivem de seu

trabalho.”

Page 113: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO – UFMT§ões... · universidade federal de mato grosso – ufmt faculdade de economia– fe mestrado em agronegÓcios e desenvolvimento regional

97

o ponto de vista político pode ser entendida como o pacto da burguesia industrial e do

latifúndio.

Na visão de Martins (1997), a fronteira surge da multiplicidade de elementos, cujo

desencontro entre diferentes grupos sociais e de interesses antagônicos de posseiros,

garimpeiros, indígenas, colonos e capitalistas delineiam os destinos pela exploração ou pela

solidariedade, formando expectativas de futuro ou de derrota. É ela quem produz a escravidão

por dívidas, submete o assujeitado, de modo que não chegue à condição de sujeito.

O Relatório organizado por Sakamoto (2006) aponta uma associação espacial do

emprego de trabalho forçado ao chamado “Arco do Desmatamento”. A Figura 5 traz o mapa

de associação que mostra a presença de trabalho escravo na Região Norte do Estado.

Figura 5 – Mapa do desmatamento e trabalho escravo. Fonte: Reporte Brasil (2009).

Dentre os municípios prioritários para redução do desmatamento e com casos de

trabalho escravo levantados pelo Ministério do Meio Ambiente no período de 2002 a 2007,

Page 114: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO – UFMT§ões... · universidade federal de mato grosso – ufmt faculdade de economia– fe mestrado em agronegÓcios e desenvolvimento regional

98

dos vinte e seis municípios26

que passaram pela operação 13 (treze) são do Estado de Mato

Grosso, a maioria localizado na região Norte do Estado.

Como observado em pesquisa de campo, a prática de exploração de trabalhadores é

comumente empregada em locais e regiões onde os órgãos de proteção e de defesa do

trabalhador não atuam com eficiência. Ou seja, a presença física de sindicatos, Delegacia

Regional do Trabalho (DRT) e do Ministério Público (MP) é quase inexistente, prova disso é

o grande número de atuações do Grupo Especial Móvel de Fiscalização do MTE, que libertou

no ano de 2004, no Norte de Mato Grosso duzentos e quarenta trabalhadores em condições de

trabalho forçado.

Nessa região o grau de exploração dos trabalhadores é agravada pelo sobre-trabalho

em jornada acima de 8 horas diárias. Quanto mais distante da sede do município, maior o

tempo de trabalho do operário. Desse modo, a jornada de trabalho com 9h30’m na sede

municipal nas empresas do setor da madeira, a 10 Km da sede passa a ser de 10h30’m e na

distância de 20 KM, 11h30’m. Este fato reforça a tese de fronteira do trabalho decente, não

apenas pela prática de trabalho forçado na região, mas principalmente pela condições de

trabalho e a situação que o trabalhador é exposto, e ainda em relação ao desrespeito dos

direitos universais do trabalhador (PIGNATI, 2007).

Em complemento a este fato, foi constatado que a atuação dos sindicatos na definida

região de fronteira se mantém apenas nas operacionalizações básicas de acerto e formalização

de acordo e convenção coletiva de trabalho27

. O resultado do Relatório de Sakamoto (2006)

reforça esta constatação, pois a falta de fiscalização abre espaço para todo tipo de prática e de

afrontamento aos direitos, a integridade física e moral do trabalhador, com o afloramento da

força política e de “elites locais”.

26 Os municípios são: Alta Floresta (MT), Altamira (PA), Brasil Novo (PA), Brasnorte (MT), Confresa (MT),

Cumaru do Norte (PA), Dom Eliseu (PA), Juara (MT), Lábrea (AM), Marcelândia (MT), Nova Bandeirantes

(MT), Nova Ubiratã (MT), Novo Repartimento (PA), Paragominas (PA), Paranaíta (MT), Peixoto de Azevedo

(MT), Pimenta Bueno (RO), Porto dos Gaúchos (MT), Querência (MT), Rondon do Pará (PA), Santa Maria das

Barreiras (PA), Santana do Araguaia (PA), São Félix do Araguaia (MT), São Félix do Xingu (PA), Ulianópolis

(PA) e Vila Rica (MT). 27

O Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Alimentação de Álcool e de Refinação de Açúcar no

Município de Tangará da Serra (Sintiaal) representa os trabalhadores em mais de 27 municípios, são eles: Alta

Floresta, Alto Paraguai, Arenápolis, Aripuanã, Brasnorte, Campo Novo do Parecis, Cláudia, Colíder, Denise,

Diamantino, Juara, Juína, Lucas do Rio Verde, Matupá, Nobres, Nortelândia, Nova Marilândia, Nova Olímpia,

Peixoto de Azevedo, Rosário Oeste, Santo Afonso, Sapezal, Sorriso, São José do Rio Claro, Tangará da Serra,

Tapurah, Terra Nova do Norte e Vera.

Page 115: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO – UFMT§ões... · universidade federal de mato grosso – ufmt faculdade de economia– fe mestrado em agronegÓcios e desenvolvimento regional

99

Associado a isso, constatou-se no setor madeireiro e da carne jornada de trabalho

excedente ao limite máximo permitido pela legislação trabalhista de dez (10) horas diárias,

em alguns casos, chega-se a trabalhar entre 12 a 14 horas por dia, por um salário médio de R$

870,16 por mês, os detalhes sobre as condições de trabalho e do mercado de trabalho reforçam

está conclusão. Na seção seguinte veremos com dados mais detalhados a constatação desses

fatos apresentados.

5.3 A dinâmica da acumulação do capital na Região Norte.

Como apresentado em páginas anteriores, às bases do capitalismo estavam

consolidados no Centro-Sul do país, os problemas existentes e que motivavam em parte a

ocupação do Norte de Mato Grosso apresenta-se como um caso típico do capitalismo

(contradição do capitalismo), pela concentração de terras e exclusão social, assim como pela

expansão do capital nacional e internacional. Em Mato Grosso, não existia o direito de

propriedade na prática até a elaboração do Estatuto da Terra. Existia em sua forma plena o

direito de uso, dos nativos da região e alguns poucos garimpeiros e posseiros que se

aventuram na mata, sobrevivendo do extrativismo. Somente com a associação do Estado e das

empresas colonizadoras privadas o direito de propriedade passou a existir impositivamente,

com apoio das forças militar. Em meio a esses elementos existem outros aspectos a ser

ressaltado, como exemplo, o avanço do capitalismo a nível mundial. Logo, existia a

necessidade de ampliação do capital mundial, o governo de forma articulada garantiria todos

os aspectos pertinentes para a consolidação deste processo de expansão, e até mesmo

garantiria a ocupação dos “espaços vazios” da Amazônia, através do processo de ocupação.

Dentre estes elementos destaca-se a necessidade de dar movimento ao modo de

produção capitalista (força de trabalho), através da venda da força de trabalho e, isso só

ocorreu no Estado a partir da vinda de grandes empreendimentos agropecuários e da

instalação de serrarias, sobretudo, com a utilização da força de trabalho de pequenos

produtores e garimpeiros da região, como apresentado no capítulo anterior, ou seja, foram

estas as fontes de mais-valia que consolidou os investimentos iniciais.

Outro dado interessante nesse processo da dinâmica capitalista no Estado é de que

muitos dos empresários que vieram para Mato Grosso, mais especificamente para a Região

Norte, ou eram empregados em serrarias do Sul do país ou se tornaram empresários após

trabalhar um período nas serrarias como empregado. Um exemplo disso são alguns dos

Page 116: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO – UFMT§ões... · universidade federal de mato grosso – ufmt faculdade de economia– fe mestrado em agronegÓcios e desenvolvimento regional

100

empresários de Sinop do setor da madeira e da carne, a maioria morava no Sul do País e vivia

da criação de porcos, pequenos animais e outros trabalhavam em serrarias como gerente e

alguns poucos como encarregados nesses setores.

Nesse contexto, após o período de ocupação (a partir da década dos 1980) com o

processo de conformação dos lotes de terras sendo apropriados pelos colonos, garimpeiros, e

empreendimentos agropecuários, é que surge a força de trabalho necessário para engendra o

setor da indústria da madeira e da carne, em sua maioria de pessoas de origem do Sul e do

Nordeste, destaca-se a nível de “chão de fábrica”, trabalhadores dos Estado do Maranhão e do

Alagoas, a imagem a seguir traz esse fluxo migratório, no sentido Norte de Mato Grosso.

Figura 6 – Mapa de migração interna no Brasil, direção predominante na década de 80. Fonte: Oliveira (1990, p.92)

Com a oferta de trabalhadores disponíveis pelo processo migratório, as indústrias de

carne surgem a partir dos espaços criados pelo avanço do desmatamento e da oferta de gados

viabilizados pelos projetos agropecuários com incentivos da SUDAM28

. Dentre os

28 Segundo Oliveira (1987, p.67) Mato Grosso e o estado do Pará juntos apresentaram mais de 410 projetos,

equivalente a 72% dos projetos de empreendimentos na SUDAM, do total de projetos apresentados pelos

Estados da Amazônia, 581 eram de empreendimentos agropecuários e 274 industrial até final de 1985.

Page 117: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO – UFMT§ões... · universidade federal de mato grosso – ufmt faculdade de economia– fe mestrado em agronegÓcios e desenvolvimento regional

101

empreendimentos consolidados na região pouquíssimos casos são de capital constituído no

próprio Estado (a partir de trabalhadores e pequenos produtores que vieram do Sul), como no

caso do Grupo Bellincanta do frigorífico Frialto, ou seja, parte do capital acumulado na

atividade da indústria da madeira e das indústrias frigoríficas surge com aporte de capital de

outras regiões, principalmente de empresas existentes no Sul e Sudeste do país de grandes

grupos econômicos, e de incentivos do governo.

Nesse caso, no Norte de Mato Grosso diferentemente da forma clássica vivido na

Inglaterra a “burguesia” não havia acumulado capital, nos moldes e na forma da revolução

industrial. Em se tratando dos pequenos que foram desalojados do Sul e dos trabalhadores

desempregados, ao contrário haviam investido o pouco de capital adquirido com o suor do

trabalho, nas pequenas serrarias do Sul do país e da venda de suas pequenas propriedades lá,

com esperança de crescer na nova terra.

Na entrevista com o ex-empregado da atividade madeireira fica clara esta situação,

em geral, os casos encontrados seguem a mesma seqüência, foi empregado, adquiriu uma

pequena “pica-pau” com parte do dinheiro fruto do trabalho e parte emprestado de banco e de

comerciantes locais (Entrevistado 4).

[...] madeireira nós só serramos e comercializamos e beneficiamos também. Eu sou

do Paraná empresa e familiar, 1º geração, ano 2000. Tenho 31 anos, 7º série fui

empregado de madeireira mesmo, ela foi capital adquirido, foi assim agente

comprou a empresa, nós fomos constituindo ela, agente começou bem e compramos

tudo fiado, foi tudo no credito ai fomo crescendo a empresa , tem administrador que

cuida da parte de fazer nota tudo que cuida da parte de banco e minha mulher, parte

dentro do escritório e uma secretaria [...] Entrevistado 4.

O poucos anos de estudo é um fator que limita a visão do empresário, a incorporação

de novas tecnologias, pelo fato de ter em geral o ensino fundamental.

Neste caso, nos resta então perguntar quem se apropriou da “propriedade” que antes

pertencia aos nativos (direito de uso) da região Norte do Estado? Pois o pouco dinheiro

juntado no Sul do país, enquanto empregado, serviu apenas para montar uma pequena

serraria, e na maioria dos casos, parcelado. Nesse esquema destacam-se as seguintes forças

antagônicas, de um lado as colonizadoras privadas, o Estado, grandes grupos econômicos e do

outro, os pequenos produtores do Sul e os trabalhadores dos Estados do Maranhão e Alagoas

em sua maioria. Entre eles os nativos da região que se viram desolados e expulsos de suas

próprias terras (tomaram o direito de uso). Dessa forma, o estado que havia garantido as

Page 118: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO – UFMT§ões... · universidade federal de mato grosso – ufmt faculdade de economia– fe mestrado em agronegÓcios e desenvolvimento regional

102

condições para a inserção dos pequenos produtores na Região Norte, colocou-os novamente

submisso ao capital.

É preciso ressaltar que o modo como isso se desenvolveu foi lento e ainda remanesce

esse estágio primitivo do capitalismo nas chamadas regiões de fronteira do Estado. Na década

de 70, a terra tinha pouco valor, o preço da mata era bem superior ao preço da terra, em

alguns casos a venda da mata era condicionada ao uso da terra. Ou seja, que o produtor

permanecesse com ela, o acesso a região era limitado, estima-se que levava até uma semana

para chegar até Sinop, saindo do Paraná.

O interessante nestes setores é que o setor da madeira vem desempregando várias

pessoas, fato que contrasta com época áurea que antes empregava-se grande quantidades de

trabalhadores e tinha destacado papel na economia do Estado (MARTA, 2008b), como se

verá na seção seguinte. Ainda, observa-se uma mudança do capital para outros setores, por

exemplo, para a pecuária, mas estes setores como se sabe emprega menos pessoas

comparativamente ao setor da madeira. Logo, o problema do capital esta resolvido, mas e a

massa de trabalhadores desempregados (forma-se um Exército Industrial de Reserva)? Por se

tratar de mão-de-obra de pouca qualificação existe a necessidade de novas frentes de trabalho

com a mesma característica (baixo grau de instrução, sem qualificação profissional). Por isso,

setores como a construção civil absorve parte dessa massa de desempregados e a terra que

antes pertencia aos nativos agora pertencem a poucos fazendeiros e agricultores latifundiários.

A lógica da contradição continua, onde o capital pouco eficiente parte para outro

setor onde o lucro esperado é maior, todavia, os trabalhadores desolados se vêem na

expectativa de que o capital possa migrar para um setor onde os mesmo possam ser

absorvidos novamente ou, em regiões onde a oportunidade possa brilhar de novo.

Outro fato importante a destacar é que a condição suficiente e necessária para a

sobrevivência do setor madeireiro no Estado de Mato Grosso (e de igual modo da manutenção

de emprego dos trabalhadores) é o nível mínimo de estoque de recursos naturais, nas

condições atuais (baixa tecnologia).

No setor madeireiro, a falta de previsão para liberação dos Planos de Manejos

Florestais é um dos entraves para o empresário. Observe que Entrevistado 5 destaca que pelo

fato de não existir um previsão da liberação do manejo, a expectativa de longo prazo na

Page 119: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO – UFMT§ões... · universidade federal de mato grosso – ufmt faculdade de economia– fe mestrado em agronegÓcios e desenvolvimento regional

103

atividade fica prejudicada, pois em geral os estoques duram entre 8 meses a 1 ano, enquanto

que a liberação do plano de manejo chega a sair entre dois e três anos.

[...] setor madeireira hoje ta muito difícil trabalhar, e a intenção nossa é trabalhar, a

intenção nossa que os órgãos melhorem, que hoje o setor madeireiro não destrua a

Amazônia, se você tiver a mata hoje você cata ela daqui 4 anos você vai lá cata di

novo i a mata esta do mesmo jeito. [...] Hoje o nosso setor de madeira esta muito

inserto, hoje nos estamos fazendo plano para 8 mês a 1 ano , por que planos a longo

prazo, por que hoje vamos supor hoje tem créditos compra um caminhão e paga com

5 anos, só que hoje você não pode fazer um compromisso desse para pagar com sua

atividade se você não tem previsão [...] Entrevistado 5

A implicação dessa falta de previsão na liberação das licenças é refletida nas demais

cadeias de produção e desdobramento da madeira, o que leva inevitavelmente a conseqüências

sérias no mercado de trabalho, culminando com a demissão do trabalhador, por outro lado, tão

logo ocorre a liberação para extração da madeira, as atividades de desdobramento e fabricação

do compensado procurar “recuperar o tempo perdido”, fato que contribui para um esforço

intenso por parte do trabalhador.

Marta destaca a necessidade de o setor madeireiro procurar novas terras para

arrendar e garantir novas fontes de matérias-prima:

Dessa maneira, os madeireiros extratores de toras passavam a “arrendar” terras, nas

quais houvesse matas, para extrair espécies comercializáveis para suprir com matéria

prima atividade de simples beneficiamento, produtora de bens intermediários para a

indústria do mobiliário e da construção civil e no final ficam com uma terra como

“resíduo” destinado à agropecuária. (MARTA, 2008a, p.01)

Por conseqüência, a manutenção do emprego no Estado de Mato Grosso e com a

evolução tecnológica e a deterioração de alguns setores, como no caso do setor da madeira,

fica prejudicada e sem perspectivas, pelo fato de ter uma grande massa de trabalhadores que

não podem ofertar a sua força de trabalho senão em setores semelhante, ou seja, que absorva

mão-de-obra de baixa qualificação ou em setores em que exija baixo grau de instrução.

O Entrevista 6 (empresário da atividade madeireira), destaca que boa parte dos seus

funcionários são de pessoas vindo do Maranhão, apesar de deixar claro que ele é o patrão,

destaca que o convívio entre patrão e empregado é sempre bom:

[...] eu sou patrão. É tudo daqui, vem outros assim de fora mais normalmente já

moram aqui 4,5,6anos entendeu , aqui nos empregamos muitas pessoas do

Maranhão, hoje nós estamos com quadro de 12 funcionários. Tem funcionários de

fora mais normalmente são gentes daqui, o convívio e sempre bom por se

conhecerem, sendo da mesma cidade [...] Entrevistado 6.

Page 120: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO – UFMT§ões... · universidade federal de mato grosso – ufmt faculdade de economia– fe mestrado em agronegÓcios e desenvolvimento regional

104

O fato de lidar com pessoas normalmente menos escolarizadas garantem aos patrões

certas “vantagens”, como por exemplo, propor acordos para definição da jornada de trabalho.

Nas seções seguintes, veremos isso com mais detalhes, onde a ênfase é dada as questões do

trabalho, ambiente do trabalho e condições de trabalho.

5.4 A indústria da madeira e da carne: situação do mercado de trabalho.

Um das principais características do mercado de trabalho do setor da madeira e da

carne é o baixo grau de instrução dos trabalhadores em nível de chão-de-fábrica e alta taxa de

rotatividade, em comparação a taxa média de mercado do Estado. A mobilidade entre os

setores da carne e da madeira é outro aspecto marcante nessas atividades. Pois não há

exigência de qualificação no momento da contratação, em especial nos setor de produção,

onde a procura é pela força propulsora humana, e menos habilidades. Para solucionar o

problema da falta de trabalhadores qualificados por formação, o trabalhador é treinado na

própria indústria, ou melhor, a aprendizagem se dá por tempo dedicado na profissão, através

da lógica de aprender fazendo.

A Tabela 18 traz o número de empregos, segundo a Classe CNAE dos municípios da

Região Norte do Estado de Mato Grosso no período de 2002 a 2007. Através de uma análise

básica dos dados da tabela, pode-se observar que o setor madeireiro vem perdendo postos de

trabalho ao longo do período, em especial no ano de 2005, ano que foram demitidos cerca de

6.620 trabalhadores, em parte estas demissões estão associado a operação desencadeada pela

Polícia Federal (PF) denominada “Operação Curupira” em junho de 2005.

Tabela 18- Número de empregos formais, segundo a Classe CNAE, Região Norte de Mato

Grosso, 2002 a 2007.

Classe CNAE 2002 2003 2004 2005 2006 2007

Abate de reses 2.338 2.475 3.954 4.774 4.977 5.817

Abate de aves e outros pequenos animais 667 242 693 1.751 2.196 2.667

Desdobramento de madeira 12.634 12.609 13.822 10.004 11.048 11.101

Fabricação de madeira laminada e de chapas 5.207 5.281 5.713 3.004 3.314 3.363

Fabricação de esquadrias de madeira 636 679 720 597 541 557

Total 21.482 21.286 24.902 20.130 22.076 23.505

Fonte: Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), RAIS 2002 a 2007.

Mesmo com demissão de trabalhadores em massa provocado pela operação

“Curupira” em 2005, nota-se que o setor de carne incorporou grande parte desses

trabalhadores, com a ampliação dos postos de trabalho no setor de abate de pequenos animais

e de reses, gerando juntos 1.878 empregos. Ainda assim, na Tabela 18 é possível verificar

Page 121: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO – UFMT§ões... · universidade federal de mato grosso – ufmt faculdade de economia– fe mestrado em agronegÓcios e desenvolvimento regional

105

uma tendência a redução no setor madeireiro e aumento de postos de trabalho no setor de

carne. Em parte, essa mobilidade pode ser explicada pela expansão dos parques industriais de

carne e sucessivas crises do setor madeireiro, motivada pela questão ambiental, na

regularização dos planos de manejos florestais.

Em relação ao tempo de empregado dos trabalhadores dedicado nos setores, observa-

se que na Região Norte em 2002, 52,7% dos trabalhadores tinha tempo de emprego superior a

12 meses, equivalente a 11.322 trabalhadores, outros 47,9%, com tempo de emprego inferior

a 11,9 meses. Em 2007 a proporção manteve-se próxima a do ano de 2002, com 54,53% com

tempo superior a 12 meses e 45,46% (Tabela 19).

Tabela 19- Número de empregos formais, segundo a Classe CNAE, faixa de tempo de

emprego em meses, Região Norte de Mato Grosso, 2002 e 2007.

2002 2007

Classe CNAE Ate

2,9

De 3,0 a

5,9

De 6,0 a

11,9

Acima

de 12

Ate

2,9

De 3,0 a

5,9

De 6,0 a

11,9

Acima

de 12

Abate de reses 440 320 411 1.167 857 645 1.209 3.106

Abate de aves e outros

pequenos animais 137 149 99 282 502 503 433 1.229

Desdobramento de madeira 1.659 1.806 2.739 6.430 1.087 1.647 2.256 6.111

Fabricação de madeira

laminada e de chapas 442 590 1.023 3.152 251 395 681 2.036

Fabricação de esquadrias de

madeira 99 79 167 291 47 74 99 337

Total 2.777 2.944 4.439 11.322 2.744 3.264 4.678 12.819

Fonte: Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), RAIS 2002 e 2007, dados trabalhado.

Através desses dados e da taxa de rotatividade apresentada no Apêndice 3 é possível

relacionar a proporção de trabalhadores com tempo de emprego de até 11,9 meses a massa de

trabalhadores que estão em constante rotatividade nos setores da carne e da madeira (Tabela

19).

Em relação a remuneração média do setores de atividade econômica, verifica-se nos

dados da Tabela 20 que as atividades de carne apresenta salário médio superior ao do setor da

madeira e do piso nacional. No setor de Abates de Reses de 2002 para 2007 a remuneração

média real aumentou 34,62% (de R$604,34 para R$813,55), enquanto que no setor de

Desdobramento da Madeira 28,19% (de R$561,90 para R$720,32), o Salário Mínino Nacional

teve aumento de 42,80% (de R$266,11 para R$380,00), contudo, este último é bem inferior a

média dos setores, madeireiro e frigorífico.

Page 122: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO – UFMT§ões... · universidade federal de mato grosso – ufmt faculdade de economia– fe mestrado em agronegÓcios e desenvolvimento regional

106

Tabela 20- Remuneração média, segundo a Classe CNAE da Região Norte de Mato Grosso,

2002 a 2007 (1).

Classe CNAE 2002 2003 2004 2005 2006 2007

Abate de reses 604,34 629,78 737,96 701,56 784,06 813,55

Abate de aves e outros pequenos animais 566,00 550,45 656,27 678,56 766,77 783,95

Desdobramento de madeira 561,90 595,64 644,69 666,09 700,64 720,32

Fabricação de madeira laminada e de chapas 564,56 606,98 662,58 679,97 681,74 687,34

Fabricação de esquadrias de madeira 539,01 569,44 606,20 658,07 665,71 656,41

Salário mínimo nacional (2) 266,11 289,29 295,28 324,34 368,04 380,00

Renda média setor da carne 595,83 622,71 725,78 695,39 778,77 804,24

Renda média setor madeira 561,86 597,91 648,37 668,80 695,17 710,57

Fonte: Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), RAIS 2002 a 2007, dados trabalhado.

Nota: (1) Valores deflacionados pelo INPC do IBGE para 31 de dezembro de 2007. (2) Salário mínimo nacional

do mês de dezembro, deflacionado.

Em relação a remuneração média de mercado recebida pelos trabalhados nas

atividades em estudo, pode se dizer que em comparação ao salário mínimo nacional, o setor

da carne pagou 2,23 em 2002 e 2,11 no ano de 2007, comparativamente ao piso nacional.

Enquanto no setor da madeira em 2002 o valor pago foi em média 2,23, em 2007 ficou em

1,86 vezes ao salário mínimo nacional, isso mostra que a remuneração média de mercado dos

setores em comparação ao salário mínimo, paga-se mais nos setores e, que o setor madeireiro

está pagando menos em comparação ao ano base, 2002 (Tabela 20).

Em comparação ao piso salarial29

da categoria do setor de alimentação e da madeira,

temos que o valor médio pago aos trabalhadores é superior ao valor do menor nível

estabelecido na Convenção Coletiva de Trabalho (CCT). Enquanto que o sindicato dos

trabalhadores das indústrias da madeira acordou um salário médio de R$ 410,00 para auxiliar

de produção nível I, em 2007, o salário médio de mercado foi de R$ 710,57. O maior salário

acordado pelo sindicato para o último nível, no caso, operador de máquinas móveis foi de R$

530,00.

Essa característica de oferecer remuneração superior ao salário mínimo e do piso

salarial estabelecido em convenção coletiva de trabalho se deve ao fato dos setores em estudo,

terem uma elevada taxa de rotatividade no mercado de trabalho, em comparação a do Estado.

Como se verifica no Gráfico 1 (Apêndice 5), de modo geral, ao longo do período (2002 a

2007) a taxa de rotatividade no setor da carne é bem superior ao da madeira e do Estado, o

29 Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Construção e do Mobiliário do Vale do Arinos (SINTRICOM) e

Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Alimentação, de Álcool e de Refinação de Açúcar nos Municípios

da Região de Tangará da Serra e Região (SINTIAAL).

Page 123: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO – UFMT§ões... · universidade federal de mato grosso – ufmt faculdade de economia– fe mestrado em agronegÓcios e desenvolvimento regional

107

que justifica em parte o salário médio maior pelo setor da carne, como forma de manter o

trabalhador na indústria. Como existe um fluxo grande de admissões e demissões, e grande

mobilidade entre os setores da madeira e da carne, e mais recentemente para o setor da

construção civil, isso tem refletivo na elevação das remunerações média de mercado.

Neste caso, a remuneração média do trabalhador reflete a lógica de oferta e demanda

por trabalho, e não propriamente, salvo em alguns setores específicos que requer profissionais

qualificados e experientes, como exemplo, o margarefe responsável pela retirada do couro e

laminador por afiar a serra fita da serraria. Outro fato que justifica essa mobilidade se deve ao

fator histórico dessas pessoas, é que grande parte são de outros estados, logo, eles procuram

sempre os setores onde possa receber uma remuneração melhor.

Apesar de constatado que os setores de atividade da madeira e da carne pagam um

salário médio superior ao valor do piso salarial acordado pela convenção coletiva de trabalho.

Os trabalhadores em grande parte (99%) nunca fizeram um curso de qualificação profissional,

de modo a atender as especificidades que requer cada ocupação.

No sindicato de alimentação o piso salarial inicial a partir de junho de 2007 foi de R$

405,00, este valor é aumentado para R$ 420,00 após o período de experiência. Enquanto que o

salário médio de mercado pago pelas indústrias de carne foi de R$ 804,24, ou seja, muito

superior ao piso salarial acordado pelo sindicato. Contudo, foi constatado que, de modo geral,

a maior parte dos trabalhadores, aqui incluem-se os novos e antigos enquadrados num mesmo

nível, ou melhor, grande parte dos trabalhadores recebem na carteira pelo menor nível da

categoria previsto CCT, salvo ocupações especificas30

.

Acrescenta-se a este fato o esquema da subtração indevida da sobrejornada de

trabalho nos meandros das indústrias na contabilização e na maneira que são feitos os

“pagamentos” das horas de trabalho que forma a remuneração do trabalhador. Como

ressaltado em páginas anteriores, o trabalhador trabalhava por dia entre 12 a 14 horas no setor

da carne, sendo que o limite previsto pela CLT é de 10 horas de trabalho, e que a jornada

30 Nas indústrias da madeira, no caso de operador de máquinas móveis (operador de torno laminadores, operador

de serras, auxiliar de guilhotina e outros) com piso salarial de R$530,00, enquanto que um trabalhador de nível I

recebe R$ 410,00; Na indústria de alimentação o piso é único, cabendo ao empregador a diferenciação de salário

entre as diversas ocupações no setor de produção, por isso, observou-se que grandes parte dos trabalhadores

foram registrados como auxiliar de serviços gerais, contudo, ocupando postos onde requer habilidades

específicas descritas pela CBO (SINTIAAL, 2007; SINTRICOM, 2007).

Page 124: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO – UFMT§ões... · universidade federal de mato grosso – ufmt faculdade de economia– fe mestrado em agronegÓcios e desenvolvimento regional

108

normal de trabalho é de 8 horas diária ou 44 horas semanais, equivalente a 220 horas

mensais31

, conforme CCT.

Consideramos um exemplo básico observado a partir dos dados obtidos em trabalho

de campo no setor da carne, dados os critérios legais, tais como: piso salarial, jornada normal

de trabalho e, uma hora para descanso e refeições. A expressão (4) define a equação da

remuneração mensal do trabalhador que fez horas extras durante dias úteis do mês.

%55)()( SS wwSR HHHHWW (4)

Em que, WR é a remuneração bruta mensal32

; WS_ piso salarial; H_ horas extras; Hws

_ valor de uma hora de trabalho para 220 horas mensais. A expressão (4) define a

remuneração bruta como sendo o piso salarial acrescido do valor da hora extra trabalhada,

mais um acréscimo de 55% sobre as horas extras trabalhadas durante o mês.

Com base no aspecto legal com limite de jornada de 10 horas, já descontado à uma

hora de descanso, o trabalhador teria direito a duas horas extras por dia, se considerar 2 (dois)

dias na semana, num mês de cinco semanas a remuneração do trabalhador ao final de um mês

seria (5):

90,478%55)90,1$20()90,1$20(00,420$ RRRWR (5)

Como constatado nas entrevistas, esse procedimento é normalmente adotado pelas

empresas do setor, pagamento seguindo as diretrizes da legislação trabalhista denominado

“por dentro”. Sobre o qual ainda incidem os Encargos Sociais Sobre a Folha de Pagamento

(ESSFP) estimado em 166,03%33

. Neste caso a folha de pagamento para um funcionário

considerando os encargos sociais ficaria em R$ 795,12, com piso salarial de referência em

junho de 2007.

31 A Cláusula 7ª – DAS HORAS EXTRAS do CCT estabelece que: as empresas pagarão aos seus empregados

um adicional de 55% (cinqüenta e cinco por cento) pelas horas extras extraordinárias prestadas em dias úteis,

assim entendidas aquelas que excederem 44 (quarenta e quatro) horas semanais, e o adicional de 100% (cem por

cento) nas horas laboradas em domingos e feriados (SINTIAAL, 2007). 32

Uma definição mais ampla de remuneração seria o salário base, mais as gratificações pagas, comissões e

demais gratificações inerentes a promoção salarial, ressalta-se que a base neste de cálculo (Ws) seria o somatório

de todas essas verbas. 33

Estimativas feitas pelo SEBRAE para empresas não optante pelo simples, conforme Apêndice 4.

Page 125: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO – UFMT§ões... · universidade federal de mato grosso – ufmt faculdade de economia– fe mestrado em agronegÓcios e desenvolvimento regional

109

Na prática as horas excedentes as normais, não são pagas na forma legal, se

considerar que o trabalhador tenha trabalhado 14 horas, durante os dois dias úteis da semana,

faria 6 horas extras por dia, que resulta em (6):

70,596%55)90,1$60()90,1$60(00,420$ RRRWR (6)

O valor da remuneração bruta (6) acrescida dos encargos sociais ficaria em R$

990,70. A diferença da remuneração bruta (6) e (5) normalmente é paga por fora (7):

80,11790,478$70,596$ RRWR (7)

Ocorre que na maioria dos casos o trabalhador não chega a receber completamente as

horas trabalhadas e, perde o direito com os pagamentos efetuados “por fora”, haja vista, que

há incidência do FGTS, e o reflexo sobre 13º terceiro salário e férias, com adicional de 1/3

desta, sem considerar as demais contribuições previdenciárias que retornam em forma de

beneficio de seguridade social. Neste caso, o empregador ainda deixa de considerar o valor

dos encargos estimados em R$ 195,58 sobre o pagamento “por fora” que deveria ser

considerado na estimação dos seus custos operacionais.

Dessa forma, tem-se por um lado a subtração indevida das horas de sobrejornada do

trabalhador pelas empresas, que em alguns casos não é pago em sua integralidade. Por outro

deixa de considerar os encargos sociais incidentes sobre a folha de pagamento, fonte dos

benefícios sociais – eis a causa da acumulação do capital no Norte de Mato Grosso, nas

chamadas regiões de fronteira.

Neste caso, a subtração indevida é possível por diversas razões, destaco as principais:

primeiro, existe um controle rígido no processo de produção, sob pressão dos gerentes os

trabalhadores precisam estender a sua jornada de trabalho; segundo, existe um “contrato” em

que o trabalhador aceita trabalhar por longo período em troca de uma remuneração “extra” e;

terceiro, porque o ambiente institucional é propício para este tipo de “contrato”, pois, as

instituições que deveriam defender o direito trabalhista dos trabalhadores, não estão presentes.

Esta prática é comumente empregada pelo modo de produção capitalista, contudo, a

forma como isso se deu é que diferencia das demais formas de apropriação da força de

trabalho, existentes em outras regiões.

Page 126: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO – UFMT§ões... · universidade federal de mato grosso – ufmt faculdade de economia– fe mestrado em agronegÓcios e desenvolvimento regional

110

Em Mato Grosso, especialmente no Norte do estado o processo de colonização

garantiu a ocupação dos “espaços vazios” com a ajuda de pequenos produtores do Sul do país

e desempregados, do Sul e do Nordeste, em sua maioria. Estas pessoas vieram com propósito

único de “enricar” e, em busca de nova “oportunidade”, ou seja, gastaram o pouco que lhes

restava da pequena poupança formada para realização de um “sonho”.

Na Inglaterra, a forma como isso se deu foi diferente, os pequenos camponeses foram

expulsos de suas terras e, estes, se viram desolados nas filas de empregos nas chamadas

“cidades - indústrias”. No Norte o sentido foi inverso, os pequenos produtores expropriados e

trabalhadores desempregado foram “convidados” a participar de um novo processo de

“desenvolvimento” nas chamadas regiões de fronteira. Nesta região, surge todo tipos de

“acordos”, principalmente com a venda de jornada extra pelo trabalhador e, subtração pelo

empregador.

Ressalta-se que para o trabalhador ocupar uma função dentro de uma indústria ele

precisa atender alguns requisitos de adaptabilidade, nos diferentes setores existentes e isso

define em casos específicos seu rendimento.

O Código Brasileiro de Ocupações (CBO) traz a especificidades de cada tipo de

ocupação, com a descrição do tipo de ocupação, os tipos de ferramentas ou instrumentos de

trabalho, o tempo de experiência para exercer a profissão e o curso necessário para

desempenhar o trabalho adequadamente.

No caso do setor da madeira, os operadores de máquinas de desdobramento da

madeira34

, planejam as operações de desdobramento, preparam as máquinas e tem

conhecimento dos procedimentos de segurança e, consegue fazer a manutenção de primeiro

nível (manutenção básica). Os profissionais destas ocupações trabalham nas serrarias, em

ambiente fechados, sob stress constante, ruídos e intenso esforço físico.

No setor da carne os margarefes e afins35

, abatem bovinos, aves e suínos,

controlando temperatura e velocidade de máquinas, preparam carcaças de animais (aves,

bovinos, caprinos, ovinos e suínos) limpando, retirando vísceras, depilando, riscando

34 Cortador de laminados de madeira, Operador de serras no desdobramento de madeira, Serrador de bordas no

desdobramento de madeira, Serrador de madeira, Serrador de madeira (serra circular múltipla) e Serrador de

madeira (serra de fita múltipla) 35

Abatedor, Açougueiro, Desossador, Magarefe e Retalhador de carne

Page 127: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO – UFMT§ões... · universidade federal de mato grosso – ufmt faculdade de economia– fe mestrado em agronegÓcios e desenvolvimento regional

111

pequenos cortes e separando cabeças e carcaças para análises laboratoriais. Também

preparam carnes para comercialização desossando, identificando tipos, marcando, fatiando,

pesando e cortando, trabalham obedecendo as normas de higiene e segurança no trabalho.

Atua na fabricação de produtos alimentares, sob supervisão permanente, ambiente fechado,

desenvolve as suas atividades sob pressão constante, ruídos intensos e altas temperaturas. Para

o exercício dessas ocupações requer o ensino fundamental e curso de 240 (duzentos e

quarenta horas), adquirindo experiência com um a dois anos de trabalho.

Observando as especificidades que cada grupo de ocupação requer para o

desempenho das atividades laborais de maneira adequada e segura, e fazendo a comparação

com fatos observados em trabalho de campo, pode-se afirmar que grande parte dos

trabalhadores nunca fez curso básico de formação profissional e de segurança no trabalho36

.

Nos dados da Tabela 21 é possível observar que uma das características do setor da

madeira e da carne é empregar trabalhadores com baixo grau de instrução, e estes na sua

maioria sem qualificação profissional. Em termos de concentração de emprego por faixa de

grau de instrução, observa-se que em 2002, a grande maioria dos trabalhadores tinham o

ensino fundamental completo, ou seja, mais de 19.300 trabalhadores, em 2007 essa

quantidade reduziu para 16.800.

36 Apenas um por cento (1%) receberam ou fizeram curso de qualificação adequado, considerando para isso os

parâmetros estabelecidos pelo Plano Nacional de Qualificação de duzentas horas de curso de formação (240),

sendo obrigatória vinte por cento (20%) do total da carga horária do curso sobre conhecimentos sobre saúde e

segurança no trabalho, educação ambiental, direitos humanos, sociais e trabalhistas, informação e orientação

profissional (MTE, 2003, p.32)

Page 128: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO – UFMT§ões... · universidade federal de mato grosso – ufmt faculdade de economia– fe mestrado em agronegÓcios e desenvolvimento regional

112

Tabela 21- Número de empregos formal por grau de instrução, segundo a Classe CNAE da

Região Norte de Mato Grosso, 2002 e 2007.

2002 2007

Classe CNAE Analf

abeto

ano

Ensino

funda

mental

Ensino

médio

Sup

erior

Analf

abeto

ano

Ensino

fundam

ental

Ensino

médio

Sup

erio

r

Abate de reses

56 594 1276 368 44

59 928 3015 1631 184

Abate de aves e outros

pequenos animais

2 90 421 130 24

4 709 871 921 162

Desdobramento de madeira

248 5533 5816 989 48

210 2885 5005 2898 103

Fabricação de madeira

laminada e de chapas

134 2524 2184 336 29

68 1147 1560 537 51

Fabricação de esquadrias

de madeira

6 202 307 118 3

1 96 253 203 4

Total 446 8.943 10.004 1.941 148 342 5.765 10.704 6.190 504

Fonte: Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), RAIS 2002 a 2007, dados trabalhado.

Em conseqüência da instabilidade no mercado de trabalho, provocada pelos ciclos

econômicos e crises nos setores da madeira e da carne, associados em relação ao primeiro

caso as pressões ambientais e legalidade nos manejos florestais e, no caso do segundo, a

embargos fitossanitários, observa-se uma disponibilidade maior de trabalhadores que possuem

o ensino médio, até por exigência do mercado, refletindo na contratação de trabalhadores mais

escolarizados, com isso, em 2002 tínhamos cerca de 1.045 trabalhadores com ensino médio e

superior, em 2007 passou a ser 6.694, isso mostra que os trabalhadores estão buscando a sua

escolarização.

5.5 Alguns aspectos que reforçam a degradação do trabalho.

As condições de trabalho e o ambiente de trabalho que muitos dos trabalhadores da

indústria da madeira e da carne são submetidos não são as melhores, tem-se ainda boa parte

de trabalhadores sob a condição de trabalho forçado, com jornada superior a 12 (doze) horas

de trabalho diário37

. Nesse sentido, a questão acerca do ambiente de trabalho é unânime nas

discussões e formulações das convenções da Organização Internacional do Trabalho (OIT), e

ratificada pela Consolidação das Leis Trabalhista (CLT) no Brasil, a exemplo da Convenção

nº 81, que trata da inspeção do trabalho na indústria, como forma de garantir um ambiente

digno e seguro para o trabalhador exercer a sua atividade laboral, também na Convenção nº

37 Neste caso é preciso ressaltar que esta situação não é geral nestes setores, a evidência desse tipo de pratica é

comum em locais ou regiões em que a incidência de conflitos e ausência das instituições responsáveis pela

fiscalização e de dar apoio ao trabalhador é praticamente inexistente.

Page 129: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO – UFMT§ões... · universidade federal de mato grosso – ufmt faculdade de economia– fe mestrado em agronegÓcios e desenvolvimento regional

113

148, reforça a necessidade de proteção aos trabalhadores contra todos os tipos de riscos,

principalmente químicos e de ruídos, em complemento a Convenção nº 155, enfatiza a

necessidade dar segurança e saúde aos trabalhadores no ambiente do trabalho.

No Brasil, o art. 191 da CLT, itens I, II e parágrafo único, destacam a necessidade de

eliminar ou neutralizar a insalubridade no ambiente de trabalho. E tal ato constitucional

garante que o ambiente de trabalho seja de qualidade, que não ofereça risco ao trabalhador,

com uso de equipamento de segurança individual.

Em relato ex-funcionários de frigoríficos da região Norte do Estado afirma que a

jornada de trabalho superou 15 horas, em alguns dias das 3 da manhã às 22 horas. A

ineficiência, motivada pela ingerência de alguns frigoríficos fez com que a espera e o trabalho

de desossa fosse feito com a carne semi-congelada estocadas em caminhões. A dúvida sobre o

destino da produção emperra toda a cadeia da produção, e nesse tempo, o trabalhador é

obrigado a esperar. Em alguns momentos a carne sem uma destinação concreta fica a espera

de uma decisão, a limitada capacidade de armazenamento nas câmaras frias condiciona o

abate e provoca espera de longas horas até uma decisão. Logo depois a carne é acondicionada

com osso nos caminhões (carretas), ficando até o dia seguinte em postos de combustíveis

próximo ao frigorífico, resfriado, retornando no dia seguinte para desossa.

Essa ingerência traz sérias conseqüências ao trabalhador, pela ociosidade e indefinição

na sua atividade. No setor de abate o que prevalece em muitos frigoríficos é a indefinição, o

roteiro de escala é desprezado, os funcionários não sabem quando será o dia da folga. Abate-

se 100 cabeças num dia e no dia seguinte 800 ou, 900 cabeças. Essas oscilações na produção

criam efeitos desastrosos para todo processo de produção, principalmente para o desossador,

que tem que trabalhar com a carne semi-congelada. Outras funções dentro da empresa

também sofrem com a pressão na atividade, o margarefe38

é um exemplo prático disso.

Responsável pela retirada do couro, ele precisa de paciência e cuidados para não furar o

couro, pois o preço do couro é estabelecido pela qualidade do couro, sendo necessária a

retirada sem furos ou arranhões. Neste caso, não se admite erros. O erro significa a

desvalorização do preço pago pelo curtume.

38 Magarefe é uma categoria de ocupação do Código Brasileiro de Ocupações (código 8485-20), relacionado as

funções: Açougueiro classificador (exclusive comércio) , Arrancador em matadouro , Arreador em matadouro ,

Auxiliar de magarefe , Cangoteiro em matadouro , Classificador de carnes , Classificador de carnes em

matadouro , Coxãozeiro em matadouro , Despansador em matadouro , Lombador em matadouro , Pescoceiro em

matadouro , Quarteador em matadouro.

Page 130: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO – UFMT§ões... · universidade federal de mato grosso – ufmt faculdade de economia– fe mestrado em agronegÓcios e desenvolvimento regional

114

Ainda é possível verificar casos mais desoladores na pecuária e no setor de

desdobramento da madeira no estado de Mato Grosso, como a exposição de trabalhadores a

condição de trabalho forçado, obrigatório, veemente criticado e repudiado pela OIT, com base

nas convenções nº 29 e 105.

O esquema apresentado por Pignati (2007) revela uma seqüência de etapas do

processo produtivo em que se encaixa o setor da carne e da madeira, objeto de estudo, ainda

que a conceituação de agronegócio adotada pelo autor possa extrapolar a adotada neste

trabalho para a definição dos setores econômicos. Observa-se na Figura 7 que o setor da

madeira se insere na segunda etapa do esquema e na última as indústrias frigoríficas.

Os trabalhadores são expostos a vários tipos de risco a saúde e a vida, como exemplo,

mutilações e seqüelas, segue na seqüência de danos a saúde humana os danos ambientais,

estes não internalizados nos custos de produção das indústrias (FIGURA, 7).

Figura 7– Etapas do processo produtivo do agronegócio e seus impactos na saúde do

trabalhador, na população e no ambiente. Fonte: Pignati, 2007.

Page 131: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO – UFMT§ões... · universidade federal de mato grosso – ufmt faculdade de economia– fe mestrado em agronegÓcios e desenvolvimento regional

115

Um dos aspectos interessantes observado na pesquisa é que o setor da carne e da

madeira, apesar de atividades distintas guardam uma relação importante na demanda por

trabalho. O mercado de trabalho nesses setores está em constante rotatividade, conforme

apresentado anteriormente, os trabalhadores migram de um setor para outro, pois o nível de

qualificação não é exigido na maioria dos casos, como observado nas entrevistas e conversas

realizadas com os trabalhadores e o setor de recursos humanos das empresas.

De modo geral, a qualificação profissional se dá por tempo dedicado a atividade

(anos dedicado a profissão e na atividade). Em conseqüência disso a ocorrência de acidentes

de trabalhos registrados é extremamente elevados. Os dados da Tabela 22 trazem o número de

acidentes de trabalhos registrados no Comunicado de Acidente de Trabalho (CAT). Do total

de acidentes registrados no Estado de Mato Grosso, em 2002, cerca de 43,54% estavam

relacionado as atividades da madeira e da carne, em 2007 essa taxa passou a ser de 46,95%,

ou seja, mais de oito mil acidentes com trabalhadores.

Tabela 22- Acidente de trabalho por CNAE relacionada a atividade da madeira e da carne,

Estado de Mato Grosso, 2002 a 2007.

Grupo relacionada CNAE Total de Acidentes Registrados

2002 2003 2004 2005 2006 2007

Agricultura, Pecuária 920 1188 1407 1452 1.145 1.211

Silvicultura, Exploração Florestal e Pesca 31 51 69 71 45 94

Abate e preparação de animais (Frigorífico) 515 446 669 934 1.468 2.256

Curtimento de Couro e Artefatos 15 26 32 43 40 36

Indústria da Madeira 637 770 760 590 379 433

Fabric. Móveis de madeira e metal, colchões 30 25 34 36 38 37

Participação % 43,54 43,32 43,18 44,55 40,90 46,95

Total 4.933 5.785 6.880 7.017 7.616 8.662

Fonte: Anuário Estatístico de Acidente de Trabalho (AEAT) do Ministério da Previdência Social (MPS)

2002/2003/2004/2005/2006, Comunicado de Acidente do Trabalho (CAT) 2007 do MTE.

Constata-se que do total de 8.662 acidentes ocorreram 146 mortes (APÊNDICE 1).

Analisando o caso dos municípios da Região Norte do Estado, conforme Apêndice 2, pode-se

verificar que do total de acidentes registrados no Estado, em 2002, 30,53% corresponde aos

acidentes nesta região, isso equivale a mais de 1.500 acidentes. Em 2007, a taxa foi de

27,90%, em termos de quantidade mais de 2.400 acidentes de trabalho, como se percebe

mesmo com aumento na quantidade de emprego, passando de 21.482 em 2002 para 23.505

em 2007, a proporção de acidentes também aumentou de 7% para 10,2%, no mesmo período.

Portanto, o que se observa é que tivemos aumento na geração de empregos e aumento dos

riscos e de acidentes, a contratação de trabalhadores não qualificados pode justificar este

Page 132: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO – UFMT§ões... · universidade federal de mato grosso – ufmt faculdade de economia– fe mestrado em agronegÓcios e desenvolvimento regional

116

aumento de acidentes, como por exemplo, a inserção de trabalhadores mais escolarizados e

não qualificado para trabalhar na atividade (PIGNATI; MACHADO, 2005).

Os dados da Tabela 23 trazem à evolução do número de empregos e de acidentes de

trabalho para o Estado de Mato Grosso e Região Norte, assim como os seus respectivos

índices acumulados. Através desses dados é possível fazer uma análise comparativamente da

evolução do emprego e dos acidentes de trabalho.

Os dados da Tabela 23 trazem à evolução do número de empregos e de acidentes de

trabalho para o Estado de Mato Grosso e Região Norte, com os respectivos índices

acumulados. Como se verifica nos dados da Tabela 23, no caso de Mato Grosso o índice de

acidentes de trabalho de 2002 a 2007 aumentou em (75,59%), comparativamente, o número

de empregos aumento (50,76%). Neste caso é possível inferir que, mesmo com o aumento no

número de empregos tivemos um aumento em taxas superior observados no número de

acidentes de trabalho.

Tabela 23- Número de emprego e de acidente de trabalho, índice acumulado, Estado de Mato

Grosso e Norte, 2002 a 2007.

Mato Grosso Norte de Mato Grosso

Ano Empregos Índice

Acidentes de

trabalho Índice Empregos Índice

Acidentes

de trabalho Índice

2002

379.152 100,00

4.933 100,00

21.482 100,00

1.506 100,00

2003

414.101 109,22

5.785 117,27

21.286 99,09

1.811 120,25

2004

472.636 124,66

6.880 139,47

24.902 115,92

2.345 155,71

2005

490.115 129,27

7.017 142,25

20.130 93,71

2.215 147,08

2006

518.125 136,65

7.616 154,39

22.076 102,77

2.041 135,52

2007

571.605 150,76 8.662 175,59

23.505 109,42

2.417 160,49

Fonte: Anuário Estatístico de Acidente de Trabalho (AEAT) do Ministério da Previdência Social (MPS)

2002/2003/2004/2005/2006, Comunicado de Acidente do Trabalho (CAT) 2007 do MTE; Ministério do

Trabalho e Emprego (MTE), RAIS 2002 a 2007, dados trabalhado.

A situação é bem mais crítica nos municípios localizados na Região Norte do Estado.

No mesmo período de análise, tivemos pouco mais de (9,42%) no número de empregos

gerados, enquanto que o número de acidentes de trabalho registrado foi de (60,49%). E tal

fato, constata que em termos relativos o aumento de acidentes na chamada região de fronteira

foi bem superior ao número de empregos gerados, ainda que tenha sido gerados empregos a

precarização do trabalho tem sido cada vez maior.

Page 133: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO – UFMT§ões... · universidade federal de mato grosso – ufmt faculdade de economia– fe mestrado em agronegÓcios e desenvolvimento regional

117

Quando comparamos a Região Norte de Mato Grosso com as demais mesorregiões do

estado, constata-se uma pequena melhora neste indicador, contudo, a precarização do trabalho

ainda é uma dos maiores do Estado.

Com base nos dados da Tabela 24 pode-se verificar que a região Norte entre 2002 e

2005 teve os maiores índices de acidentes de trabalho. Ou seja, a cada grupo de mil acidentes

cerca 1,51 acidentes ocorreram na região Norte do Estado, em 2002. Este índice passou a ser

de 2,22 em 2005. A segunda região que concentra os maiores índices de acidentes do trabalho

é a Centro Sul, que em 2002 teve 1,37 acidentes, sendo que em 2007 passou a ser de 2,10 por

grupo de mil acidentes. Todavia, está região concentra a maior parte dos empregos formais do

Estado, com cerca de 47,94% em 2002 e 46,60%, em 2007, equivalente neste último ano a

mais de 266.000 empregos formais.

Tabela 24- Acidentes do trabalho, mesorregião de Mato Grosso, 2002 a 2007*.

Mesorregião/Mato Grosso 2002 2003 2004 2005 2006 2007

Mato Grosso 4,93 5,79 6,88 7,08 7,62 11,59

Municípios da Região Norte 1,51 1,81 2,35 2,22 2,04 2,42

Municípios da Região Nordeste 0,28 0,29 0,39 0,57 0,61 1,37

Municípios da Região Centro Sul 1,37 1,62 1,86 2,10 2,29 3,82

Municípios da Região Sudeste 0,99 1,06 1,29 1,16 1,29 1,99

Municípios da Região Sudoeste 0,79 1,00 1,00 1,04 1,39 2,00

Fonte: Anuário Estatístico de Acidente de Trabalho (AEAT) do Ministério da Previdência Social (MPS)

2002/2003/2004/2005/2006, Comunicado de Acidente do Trabalho (CAT) 2007 do MTE; Dados trabalhado.

Nota: *_Acidentes de trabalho por grupo de 1.000.

A redução do índice de acidentes do trabalho na Região Norte do estado pode ser

justificado pela crise enfrentado pelo setor madeireiro com o desencadeamento da operação

denominada “Curripira” no ano de 2005, que resultou na demissão em massa de

trabalhadores.

Dessa maneira, ao comparamos o número de empregos gerados (formais),

juntamente com os índices de incidência de acidentes, percebe-se que a Região Norte gerou

menos empregos e teve um dos maiores índices de acidentes de trabalho, o que reforça a

precarização do trabalho.

Portanto, na comparação entre o Estado de Mato Grosso e a Região Norte pode-se

verificar que no período em análise, ainda que no Estado apresenta-se a maior taxa de

crescimento acumulado de acidentes, este guarda também um relativo crescimento do

emprego, no caso, superior a (50%). Enquanto que, na região Norte o crescimento acumulado

Page 134: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO – UFMT§ões... · universidade federal de mato grosso – ufmt faculdade de economia– fe mestrado em agronegÓcios e desenvolvimento regional

118

superior (60%), tendo gerado pouco mais de (9%) de empregos. Seguindo este raciocínio

constata-se maior degradação do trabalho na região objeto de estudo, evidenciado nos últimos

cinco anos.

Page 135: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO – UFMT§ões... · universidade federal de mato grosso – ufmt faculdade de economia– fe mestrado em agronegÓcios e desenvolvimento regional

119

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O processo de ocupação e de colonização oficial de Mato Grosso na década de 70 é

considerado um marco da expansão do capitalismo em sua forma plena. Integrada ao plano

nacional do regime militar a chamada “Operação Amazônia” que teve início em 1966, através

da geopolítica de ocupação dos espaços vazios da Amazônia Legal, com o slogan “integrar

para não entregar”.

A principal estratégia de desenvolvimento regional baseou-se no desenvolvimento da

agropecuária e da indústria, por meio da exploração dos recursos florestais e minerais pelos

grandes empreendimentos de capitais nacionais e internacionais, em especial nas décadas de

60, 70 e 80. A ênfase dada antes do auge da ocupação e da implantação dos projetos de

colonização oficial era resolver os conflitos ocasionados pela questão fundiária e exclusão

social de pequenos produtores e desempregados do Sul e do Nordeste do país.

Depois de certo momento o interesse pela expansão e valorização do capital nas

chamadas regiões de fronteira, suplantou o clamor social, e o processo de ocupação com

inclusão social destaque até então, saiu arbitrariamente do assunto. Todo o processo de

conformação dos espaços vazios foi coordenado e subsidiado pelo Estado para atender

objetivos particulares e de grandes grupos econômicos.

O processo histórico da formação econômica do Estado reflete essa situação,

liberação de incentivos fiscais e créditos subsidiados, garantidos pelo direito de propriedade e

formação de grandes latifúndios. A vinda dos excluídos do Sul e do Nordeste do país para o

Norte de Mato Grosso nas décadas de 70 e 80. Após o processo de conformação dos espaços,

fez surgir a força de trabalho para os grandes empreendimentos instalados na região, em

especial para a indústria da madeira e da carne.

A mobilidade de trabalhadores no Norte do Estado, entre atividades e regiões é algo

que impressiona. Um dos fatores que contribui para isso pode ser evidenciado através de sua

trajetória de vida, o laço familiar e a condição de trabalho oferecido, mas o que determina a

sua mudança, tanto na atividade quanto da região dentro do Estado é a remuneração pelo seu

trabalho.

Page 136: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO – UFMT§ões... · universidade federal de mato grosso – ufmt faculdade de economia– fe mestrado em agronegÓcios e desenvolvimento regional

120

A falta de regulamentação, regulação ou legislação normatizadora, muitas vezes,

apresenta-se como elemento de incorporação de parte dos excedentes gerados pela produção,

distribuição ou circulação desta ou daquela mercadoria.

Esse fato, observado por diversos autores, permite mostrar que o processo de

acumulação capitalista é decorrente da ausência de Estado ou de seus pressupostos de justiça.

A insistência do capitalista por uma regulamentação geral, deixando as atividades ao sabor

apenas do mercado, como instância de controle, tem levado a economia a situações limites,

especialmente nos setores com os quais o trabalho é objeto principal.

Isso tem levado a ganho indevido pelos empregadores das horas de sobretrabalho de

seus trabalhadores, com os chamados pagamentos “por fora”, através de “contratos” feitos

entre o trabalhador e o empregador. Ainda que se tenha observado pontos positivos nos

setores, em especial com a inserção do emprego feminino no cargo de gerente da indústria

madeireira, considerado por muitos como ambiente xucro de trabalho.

As explicações para a existência deste tipo de “contrato” permitem o pagamento “por

dentro” e “por fora”. Isto pode ser justificado por três razões básicas, conforme observados

nas análises da pesquisa de campo: primeiro, existe um controle rígido no processo de

produção. E tal fato, permite que sob pressão dos gerentes os trabalhadores estendam a

jornada de trabalho; segundo, existe um “acordo” em que o trabalhador aceita trabalhar por

longo período em troca de uma remuneração “extra” e; terceiro, porque o ambiente é propício

para este tipo de “contrato”, as instituições (delegacia do trabalho, sindicatos) que deveriam

defender o direito trabalhista dos trabalhadores, nem sempre estão presentes.

No chamado mercado de trabalho, especialmente aquele que opera no limite da

“fronteira agrícola” ou no sistema madeira-pecuária-agricultura, de onde deriva a produção

pecuária e sua cadeia produtiva e das indústrias de madeira, a demanda por legislação

reguladora é importante. Assim como a presença física, ou seja, a necessidade de Estado é

essencial para uma harmonia na fronteira do trabalho decente.

Entretanto, fica a dúvida quanto a atuação do Estado nesta situação, haja vista, que

estaria sendo contraditório a um posicionamento que engendrou o processo de inserção do

capital no Norte de Mato Grosso, ainda que pese o fato de dar oportunidade para os excluídos

de outras regiões.

Page 137: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO – UFMT§ões... · universidade federal de mato grosso – ufmt faculdade de economia– fe mestrado em agronegÓcios e desenvolvimento regional

121

Portanto, a dinâmica da acumulação de capital no Norte de Mato Grosso é marcada

pela expulsão de nativos da região e a incorporação dos “excluídos” nos setores agropecuários

e industrial. De tal maneira que a inserção dos grandes grupos econômicos significou a

incorporação dos pequenos produtores rurais e desempregados nas industriais da carne e da

madeira. Este fato é confirmado pelo movimento de empresas e trabalhadores nas chamadas

“regiões de fronteira”, espaço onde persistem as piores formas de emprego, e abre espaço para

todo tipo de prática de afrontamento aos direitos trabalhista.

Nesse sentido, fica evidente que a falta (presença física do Estado) do Estado nas

regiões de fronteira, em especial no Norte, permite que as práticas comumente empregadas

(subtração de jornada de trabalho) pelos empregadores tomem um formato especial,

culminando com desrespeito ao diretor do trabalhador e práticas que leva a precarização do

trabalho.

Acrescenta-se também a esta situação o fato de não se ter presente o sindicato dos

trabalhadores e os órgãos responsáveis pela fiscalização, Ministério Público e Delegacia

Regional do Trabalho.

A presença destes entes garantira os pressupostos de justiça, que é ter os direitos dos

trabalhadores reconhecidos em condições aceitáveis de trabalho. Por último, um programa de

qualificação voltado para as atividades da madeira e da carne, principalmente com curso

voltado a segurança do trabalho poderia reduzir o número de acidentes nas indústrias.

Page 138: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO – UFMT§ões... · universidade federal de mato grosso – ufmt faculdade de economia– fe mestrado em agronegÓcios e desenvolvimento regional

122

7. REFERENCIAS

BARROZO (Org.), J. C.; et. al. Em busca da pedra que brilha como estrela: garimpos e

garimpeiros do Alto Paraguai – Diamantino. Cuiabá: EdUFMT, 2007. 256p.

BARROZO, J. C. Mato Grosso do sonho à utopia da terra. Cuiabá: EdUFMT, 2008. 336p.

BONJOUR, S. C. M. ; FIGUEIREDO, A. M. R. ; MARTA, J. M. C. A pecuária de corte no

estado de Mato Grosso. In: XLVI Congresso da Sociedade Brasileira de Economia,

Administração e Sociologia Rural - SOBER, 2008, Rio Branco AC. Anais do XLVI

Congresso da Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural -

SOBER, 2008.

BORGES, B. G. A fronteira na formação do espaço brasileiro (1930-1980). In: Escritas da

história: intelectuais e poder, SERPA; É. C. (Org.); et al. Goiânia: UCG, 2004. 297p.

BOTTOMORE, T.; et. al. Dicionário do pensamento marxista. Rio de Janeiro: Jorge Zahar,

2001, p. 454.

BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil:

promulgada em 5 de outubro de 1988. Organização do texto por Juarez de Oliveira. 4. ed.

São Paulo: Saraiva, 1990. 168 p.

BRASIL. Lei n. 4.504, de 30 novembro de 1964. Dispõe sobre o estatuto da terra, e da outras

providencias. Lex: Coletânea de Legislação: edição federal, São Paulo, v. 48, p. 220-224,

jan./mar. 1984.

BRASIL. Lei nº 8.213 de 24 de julho de 1991. Dispõe sobre os planos de benefícios da

previdência social e da outras providencias. Lex: Coletânea de Legislação: edição federal,

São Paulo, v. 58, 351-382, set./dez. 1991.

Campeões de desmatamento exploraram trabalho escravo. Reporte Brasil, São Paulo, 05 ago.

2009. Disponível em: http://www.reporterbrasil.org.br/pacto/noticias/view/24. Acesso em:

05 ago. 2009.

CARDOSO, F. H.; MULLER, G. Amazônia:expansão do capitalismo. 2 ed. São Paulo:

Brasiliense, 1978, 205p.

CARVALHO, L. A. Colonização e meio ambiente: estudo de duas experiências na Amazônia

Ocidental, Tese de doutorado, Instituto de Economia da Unicamp, São Paulo, 2000 , 230p.

CASTRO, S. P; PRETI, O. PAC: política de assentamento na fronteira agrícola ao norte do

estado de Mato Grosso. Cadernos do Núcleo de Estudos Rurais e , Cuiabá, ano 4, n. 2, p.

45-63, jul./dez. 1993.

CATRO, S. P. et al. A colonização oficial em Mato Grosso: “a nata e a borra da sociedade.

2 ed. Cuiabá: EdUFMT, 2002. 290p.

CUNHA, J. M. P.; ALMEIDA, G. M. R.; RAQUEL, F. Migração e transformações

produtivas na fronteira: o caso de Mato Grosso. In: Anais do XIII Encontro da

Associação Brasileira de Estudos Populacionais, Ouro Preto: MG, p.28, Nov. 04 -08.

2002.

DECCA, E. O nascimento das fábricas. 8 ed., São Paulo: Brasiliense, 1982. 77p.

DEMO, P. Metodologia científica em ciências sociais. 2. ed. São Paulo: Atlas, 1995. 287p.

Page 139: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO – UFMT§ões... · universidade federal de mato grosso – ufmt faculdade de economia– fe mestrado em agronegÓcios e desenvolvimento regional

123

ENGELS, F.. A situação da classe trabalhadora na Inglaterra. São Paulo: Global. São

Paulo, 1985. 170 p.

FERREIRA, O. P. Prospectiva tecnológica da cadeia produtiva madeira e móveis. São Paulo:

Divisão de Produtos Florestais, 2002, p.65 (Resumo)

FIGUEIREDO, M. G. Agricultura e estrutura produtiva do Estado de Mato Grosso: uma

análise de insumo-produto, Dissertação de mestrado, Escola Superior de Agricultura Luiz

de Queiroz (ESALQ), São Paulo, 2003, 188p.

GONTIJO, C. A revolução agrícola no Brasil: Singularidade do desenvolvimento agrícola

do Brasil 1850-1930, Dissertação de mestrado, Instituto de Filosofia e Ciências Humanas,

Universidade Estadual de Campinas, São Paulo, 1984 , 699p.

GONTIJO, C. A revolução agrícola no Brasil: Singularidade do desenvolvimento agrícola do

Brasil: 1850-1930, Revista de Economia Política. São Paulo, vol. 8, nº 2, p. 77-92,

abr./jun. 1988.

GRAZIANO, J. S. A modernização dolorosa: estrutura agrária, fronteira agrícola e

trabalhadores rurais no Brasil. Rio de Janeiro: Zahar, 1982. 192p.

HOBSBAWM, E. J. Da revolução industrial inglesa ao imperialismo. 2 ed. Rio de Janeiro:

Frorense-Universitária, 1979b. 301p.

HOBSBAWN, E. As Origens da revolução industrial. São Paulo: Global, 1979a. 125 p.

HUBERMAN, L. História da riqueza do homem. 10 ed. São Paulo: ZAHAR, 1981. 318 p.

HUNT, E. K. Historia do pensamento econômico: uma perspectiva critica. 7 ed., Rio de

Janeiro: Campus, 1989. 541 p.

IANNONE, R. A. A Revolução Industrial. São Paulo: Editora Moderna Ltda., 1995. 72 p.

IBGE, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Censo demográfico 1980. Rio de

Janeiro: IBGE, 1980.

IBGE, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Censo demográfico 1991. Rio de

Janeiro: IBGE, 1991.

IBGE, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Censo Demográfico de 2000. Rio de

Janeiro: IBGE, 2000.

IBGE, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Contagem da população, 2007. Rio de

Janeiro: IBGE, 2008.

IBGE, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Contagem populacional 1996. Rio de

Janeiro: IBGE, 1996.

IBGE, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Pesquisa Pecuária Municipal 1997-2007.

Rio de Janeiro: IBGE, 2007.

IBGE, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Produção Agrícola Municipal 1997-

2006, Rio de Janeiro: IBGE, 2007.

JOANONI NETO, V. Fronteira da crença: ocupação do norte de Mato Grosso após 1970.

Cuiabá: EdUFMT, 2007. 256p.

KLADIS, C.M.; FREITAS, H. O gerente nas organizações: funções, limitações e estilos

decisórios. Revista Ser Humano (RH), São Paulo, ano 1996, n. 109, p. 33-35, jun.1996

Page 140: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO – UFMT§ões... · universidade federal de mato grosso – ufmt faculdade de economia– fe mestrado em agronegÓcios e desenvolvimento regional

124

LIST, G. F. Sistema nacional de economia política: Defesa do trabalho contra as pretensões

do capital. São Paulo: Abril Cultural, 1983. 338 p.

MARTA, J. C. A atividade da madeira em Mato Grosso. Cuiabá, 2008a. 17 p. Resumo. No

prelo.

MARTA, J. C. A Eletricidade no processo de desenvolvimento econômico recente de Mato

Grosso. In: Gestão pública e desenvolvimento econômico no Brasil: perspectivas

nacional e regional. Dirceu Grasel e Antonio Ricardo de Souza (org.), Cuiabá: EdUFMT,

2005, p.185-212.

MARTA, J. C. A indústria madeireira como atividade econômica em Mato Grosso 1970 a

1995. Cuiabá, 2008b. 11 p. Artigo. No prelo.

MARTA, J. C. Fumaça e progresso, um drama de treva e luz. Revista de Estudos Sociais.

Cuiabá, v 1, p. 17-32, 1999.

MARTA, J. C. Relações de produção no garimpo de Poconé-MT. Revista de Estudos

Sociais. Cuiabá, v 1, ano 3, p.17-32, 2001.

MARTINS, J. S. Fronteira: a degradação do outro nos confins do humano. São Paulo:

HUCITEC, 1997. 213p.

MARX, K. O Capital : critica da economia política: o processo de produção do Capital. 9 ed.

São Paulo: DIFEL, 1984. 579 p.

MATO GROSSO. Lei complementar nº 87 de 13 de setembro de 1996. Lei Kandir isenta os

produtos e serviços destinados à exportação no pagamento do ICMS. IOMAT, Cuiabá, 13

set. 1996.

MATO GROSSO. Lei Estadual nº. 7.216 de 17 dezembro de 1999. Institui o programa

PROCOURO, destinado à Industrialização do Couro. IOMAT, Cuiabá, 17 dez. 1999.

MATO GROSSO. Lei n. 5.323, 19 de julho de 1988. Cria o Programa de Desenvolvimento

Industrial de Mato Grosso e dá outras providências. IOMAT, Cuiabá, 19 jul. 1988.

MATO GROSSO. Lei nº 7.200, em 09 de dezembro de 1999. Institui o programa

PROMADEIRA, destinado à Indústria da Madeira e Mobiliário. IOMAT, Cuiabá, 09 dez.

1999.

MATO GROSSO. Seplan/MT. Anuário Estatístico de Mato Grosso 2000. Cuiabá:

SEPLAN/MT, 2000.

MATO GROSSO. Seplan/MT. Anuário Estatístico de Mato Grosso 2001. Cuiabá:

SEPLAN/MT, 2001.

MATO GROSSO. Seplan/MT. Anuário Estatístico de Mato Grosso 2002. Cuiabá:

SEPLAN/MT, 2002.

MATO GROSSO. Seplan/MT. Anuário Estatístico de Mato Grosso 2003. Cuiabá:

SEPLAN/MT, 2003.

MATO GROSSO. Seplan/MT. Anuário Estatístico de Mato Grosso 2004. Cuiabá:

SEPLAN/MT, 2004.

MATO GROSSO. Seplan/MT. Anuário Estatístico de Mato Grosso 2005. Cuiabá:

SEPLAN/MT, 2005.

MATO GROSSO. Seplan/MT. Anuário Estatístico de Mato Grosso 2006. Cuiabá:

SEPLAN/MT, 2006a.

Page 141: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO – UFMT§ões... · universidade federal de mato grosso – ufmt faculdade de economia– fe mestrado em agronegÓcios e desenvolvimento regional

125

MATO GROSSO. Seplan/MT. Mato Grosso em números – Edição 2006. Cuiabá, 2006b.

MELLO, J. M. C. O capitalismo tardio. 5 ed. São Paulo: Editora Brasiliense, 1986. 182 p.

MENDEZ, P.; et al. Impacto do Projeto de asfaltamento da BR-163: Perspectivas da

sociedade e do setor produtivo agrícola ao longo do eixo Cuiabá-Santarém. Brasília:

EMBRAPA; UNB; COSTEL; CIRAD, jun./2005. 121 p. Relatório de pesquisa.

MORENO, G. Terra e poder em Mato Grosso: política e mecanismo de burla 1982-1992.

Cuiabá: EdUFMT, 2007. 310p.

MTE, Ministério do Trabalho e Emprego, Manual do CBO 2002, Disponível em:

<http://www.mtecbo.gov.br/informacao.asp#2>, Acesso em: 12 jan. 2009.

MTE, Ministério do Trabalho e Emprego, Plano Nacional de Qualificação – PNQ, 2003-2007.

Brasília : MTE, SPPE, 2003. 56 p.

MTE, Ministério do Trabalho e Emprego. Banco de dados da RAIS e CAGED 1985 a 2007,

Disponível em: <http://www.mte.gov.br>. Acesso em: 06 jun. 2009.

MTE, Ministério do Trabalho e Emprego. Portaria MTE/540/2004, Lista de infratores que

exploravam trabalhadores na condição análoga à escravo; 25 jan. 2007.

NARETTO, N. A. Estratégia econômica do governo Geisel em debate, Dissertação de

mestrado, Instituto de Economia da Unicamp, São Paulo, 1994 , 183p.

NÉDÉLEC, V. et. al. Evolução da ocupação do solo nos Projetos de Assentamento Conjunto

(PAC) no Mato Grosso. In: Anais XII Simpósio Brasileiro de Sensoriamento Remoto,

Goiânia, p. 643-645, abr. 16-21. 2005.

OIT, Organização Internacional do Trabalho, Agenda Nacional do Trabalho Decente. In:

19ª Agenda Nacional do Trabalho Decente, mai/ 2006. p.19.

OIT, Organização Internacional do Trabalho, Convenção: 81, 148 e 155. Disponível

em:<http://www.oitbrasil.org.br/>. Acesso em: 13 jan. 2009.

OLIVEIRA, A. U. A agricultura camponesa no Brasil. 4 ed. São Paulo: Contexto, 2001,

164p.

OLIVEIRA, A. U. Amazônia: monopólio, expropriação e conflitos. 1 ed. Campinas-SP:

Papirus, 1987, 132p.

OLIVEIRA, A. U. Amazônia: monopólio, expropriação e conflitos. 3 ed. Campinas-SP:

Papirus, 1990, 132p.

PASCA, D. Garimpo e meio ambiente: o caso de Poconé. Cadernos do Núcleo de Estudos

Rurais e Urbanos, Cuiabá, ano 5, n. 2, p. 17-35, jul./de. 1994.

PEREIRA, R. A Dinâmica nas Ciências Económicas e Empresariais, Lisboa: Escolar

Editora, 2010, 330P.

PERES, M. Independência para em MT. Diário de Cuiabá, Cuiabá, 11 jun. 2009. Economia,

p. 01.

PIGNATI, W. A. Os Riscos, Agravos e Vigilância em Saúde no Espaço de Desenvolvimento

do Agronegócio no Mato Grosso, Tese de doutorado, Escola Nacional de Saúde Pública

Sergio Arouca, São Paulo, 2007 , 114p.

PIGNATI, W.i A.; MACHADO, J. M. H. Riscos e agravos à saúde e à vida dos trabalhadores

das indústrias madeireiras de Mato Grosso. Ciênc. saúde coletiva. 2005, v.10, n.4, pp.

961-973.

Page 142: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO – UFMT§ões... · universidade federal de mato grosso – ufmt faculdade de economia– fe mestrado em agronegÓcios e desenvolvimento regional

126

PINTO, L. F. Amazônia: no rasto do saque. São Paulo: Hucitec, 1980, 219p.

PRETI, O. Terra, ouro e sangue em Guarantã do norte: 20 anos de luta pela terra. Cadernos

do Núcleo de Estudos Rurais e Urbanos, Cuiabá, ano 4, n. 2, p. 3-25, jul./dez. 1993.

SAAD, E. G. Consolidação das leis do trabalho: comentada. 21 ed., São Paulo: LTr, 1988.

462p.

SAKAMOTO, L. (Coord.). Trabalho escravo no Brasil do século XXI. Brasília: OIT,

2006, 192p.

SEFAZ, Secretaria de Fazenda de Mato Grosso. Arrecadação de ICMS 2002 a 2006. Cuiabá,

2006.

SILVA, J. A. Transformações na agricultura e migrações internas em Mato Grosso na década

de 70, Dissertação de mestrado, CEDEPLAR, Minas Gerais, 1989 , 243p.

SINTIAAL - Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Alimentação, de Álcool e de

Refinação de Açúcar nos municípios de Tangará da Serra MT e Região. Convenção

Coletiva de Trabalho 2002- 2007, 2007.

SINTRICOM, Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias, Construção e do Mobiliário do

Vale do Arinos. Convenção Coletiva de Trabalho 2002-2007, 2007.

SMITH, A. Riqueza das nações: investigação sobre sua natureza e suas causas. v.2. São

Paulo: Abril Cultural, 1983.

SPELLER, P. ; NASCIMENTO, A. L. Reservas garimpeiras: desvendando um modelo de

mediação política. Cadernos do Núcleo de Estudos Rurais e. Cuiabá, ano 4, n. 1, p. 17-

32, jan./jun. 1993.

VIDOTTO, L. S. Avaliação dos recursos das competências do gerente de produção da

construção civil na região metropolitana de Curitiba. Dissertação (Mestrado em

Construção Civil), UFPA, 2003. 123p.

Page 143: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO – UFMT§ões... · universidade federal de mato grosso – ufmt faculdade de economia– fe mestrado em agronegÓcios e desenvolvimento regional

127

ANEXOS

Page 144: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO – UFMT§ões... · universidade federal de mato grosso – ufmt faculdade de economia– fe mestrado em agronegÓcios e desenvolvimento regional

128

Anexo 1- Questionários

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO

FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO

FACULADE DE ECONOMIA

Roteiro de Entrevistas com os SINDICATOS dos Trabalhadores

Nome do Sindicato: ________________________________

Nome do Sindicalista: __________________________________

Posto que ocupa no Sindicato: _______________________

Município em que está localiza do sindicato: _______________________

Número: _______________________

NÍVEL GENÉRICO

Me fale um pouco um pouco da história do sindicato, quais os principais desafios e problemas

que o sindicato vêm enfrentando? Quais as soluções o sindicato tem buscado para os

problemas?

2- Para o senhor (a) como representante dos trabalhadores, o que seria qualidade de vida para

os trabalhadores localizados no município? Como o senhor (a) definiria qualidade vida?

NÍVEL PARTICULAR – ATUAÇÃO DO SINDICATO

3- Qual a sua avaliação em relação a importância que as atividades do setor (carne ou

madeira) exerce no município e região?

4- Bom, agora falando um pouco sobre as condições de trabalho, segurança no trabalho,

transportes e saúde.

Começando pelas condições de trabalho, como o senhor avalia? O senhor tem conhecimento?

E o ambiente de trabalho? Me conte um pouco como é? Como avalia?

Em relação a saúde do trabalhador, como são tratados e uma situação de urgência? Existe uma

preocupação em dar assistência médica? Me conte como é? Os funcionários tem plano de

saúde?

Em relação ao transporte do trabalhador as empresas do setor oferecem? Qual a qualidade?

Page 145: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO – UFMT§ões... · universidade federal de mato grosso – ufmt faculdade de economia– fe mestrado em agronegÓcios e desenvolvimento regional

129

5- Qual o número de trabalhados do setor neste município e quantos são filiados ao sindicato?

Como é a relação que o sindicato mantém com as empresas do setor (carne ou madeira) (com

freqüência e harmoniosa/ boa)?

6- Em relação aos Direitos do trabalhador, as empresas procuram sempre respeitar? Mostram-

se interessadas e preocupadas em cumprir e atender o que diz a legislação, Existe preocupação

com os problemas ligados à qualidade de vida dos trabalhadores?

7- Como se dá a definição do reajuste salarial? Quem participa? Quais os critérios definidos

para fazer a recomposição do salário da categoria?

Page 146: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO – UFMT§ões... · universidade federal de mato grosso – ufmt faculdade de economia– fe mestrado em agronegÓcios e desenvolvimento regional

130

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO

FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO

FACULADE DE ECONOMIA

Roteiro de Entrevistas com os Trabalhadores

Nome do Trabalhador: __________________________________

Empresa em que Trabalha: ________________________________

Município: _______________________

Número:________

NÍVEL GENÉRICO - TRABALHADOR

O (A) Senhor (a) poderia me contar um pouco sobre sua trajetória de vida, onde nasceu, por

onde viveu e como chegou a estar trabalhando nesta empresa.

Conte um pouco sobre a sua formação profissional e história escolar (sua escolaridade), até

que série o senhor (a) estudou/estuda, fale também um pouco sobre a qualidade da escola

onde o senhor estudou, de que lhe serviu esse estudo em termos profissionais, e outros. O que

acha que pode ser feito para melhorar sua formação profissional e nível escolar?

3-Agora, o (a) senhor (a) poderia contar um pouco sobre a sua história enquanto trabalhador:

Qual e onde foi o seu primeiro emprego? O (A) senhor(a) teve seus direitos reconhecidos?

Fale um pouco sobre a satisfação que teve em cada emprego que passou.

NÍVEL ESPECÍFICO – AMBIENTE DA EMPRESA

4-Sobre o ambiente de trabalho, da relação com os colegas de trabalho e superiores. Como o

(a) Senhor (a) avalia esta relação? Já se sentiu humilhado (a) e/ou respeitado(a)/valorizado(a)

por eles? Como o (a) senhor (a) é tratado(a) na empresa. Explique um pouco como se sente

neste ambiente, e a relação que desfruta com os colegas de trabalho?

5- Pesando nas condições de trabalho, nos direitos que lhe são segurados pela legislação

(salário, férias, décimo terceiro, entre outros), no seu crescimento pessoal, na sua formação

profissional. O que o(a) senhor(a) considera de fundamental importância para um trabalhador

ter qualidade de vida? Como o(a) senhor(a) definiria ter qualidade de vida na empresa (o que

seria importante para ter qualidade de vida no trabalho)?

Page 147: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO – UFMT§ões... · universidade federal de mato grosso – ufmt faculdade de economia– fe mestrado em agronegÓcios e desenvolvimento regional

131

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO

FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO

FACULADE DE ECONOMIA

Roteiro de Entrevistas com os responsáveis da EMPRESA

Empresa: ________________________________

Responsável: __________________________________

Posto que ocupa: _______________________

Município: _______________________

CNAE:_________________________________________

Número: _______________________

NÍVEL GENÉRICO

Fale um pouco um pouco da história da empresa, quais os principais desafios e problemas

enfrentados pela empresa e seus trabalhadores? Quais as soluções têm buscado para os

problemas?

2- Para o senhor como dirigente da empresa, o que seria qualidade de vida para os

trabalhadores desta empresa? Como o senhor definiria qualidade vida no trabalho?

NÍVEL PARTICULAR – ATUAÇÃO DA EMPRESA

3- Qual a sua avaliação em relação a importância que as atividades da(s) empresa(s) exerce no

município e região?

4- A empresa mantém funcionários terceirizados? Sim ( ) ou ( ). Quais os

setores?________________________________(produção, limpeza, administrativo,

transporte, venda, outros)

5- Como é a relação da empresa com o sindicato (com freqüência e harmoniosa/ boa)? Que

tipo de reivindicação é feita diretamente à empresa pelos trabalhadores e pelo sindicato?

6- A empresa treina os seus funcionários? Sim ( ) ou não ( )? Quais os cursos oferecidos pela

empresa?___________________________Qual a carga horária __________ Quais os cursos

a empresa desejaria oferecer aos seus trabalhadores? Em que horário?

Page 148: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO – UFMT§ões... · universidade federal de mato grosso – ufmt faculdade de economia– fe mestrado em agronegÓcios e desenvolvimento regional

132

7- A empresa mantém em seu quadro de funcionário, portadores de deficiência física?

Quantos são? Quais os setores em geral são lotados?

Page 149: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO – UFMT§ões... · universidade federal de mato grosso – ufmt faculdade de economia– fe mestrado em agronegÓcios e desenvolvimento regional

133

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO

FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO

FACULADE DEECONOMIA

Survey Trabalhadores

Data da entrevista: ____/____/2008 Nº do questionário: (Não preencha)

Nome do entrevistador: (Preencha antes)

Nome do entrevistado:______________________________

Cidade:__________________________________

Perfil do entrevistado

1 – Sexo (anotar sem perguntar)

1 – Masculino 2 – Feminino

2- Contratado pela empresa ( ) ou terceirizado ( )

3- Qual a sua idade?_____

16 ou 17 anos 3- de 25 a 34 anos 5- de 45 a 59 anos

De 18 a 24 anos 4- de 35 a 44 anos 6- 60 anos ou mais

4-Qual a sua escolaridade?__________________

Analfabeto/lê e escreve 3- Segundo grau incompleto/completo

Primeiro grau incompleto/completo 4- Superior incompleto/completo

5-Qual é a renda mensal da sua família, somando todos os rendimentos dos moradores de casa

(salários, horas extras, bicos, aposentadorias, etc.)?

Até 01 SM 3- mais de 05 a 10 SM 5- Mais de 20 SM

Mais de 02 a 05 SM 4- Mais de 10 a 20 SM

Ambiente da Empresa

6- Da relação que desfruta com os colegas e superiores na empresa

1- A relação é muito boa com todos

Page 150: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO – UFMT§ões... · universidade federal de mato grosso – ufmt faculdade de economia– fe mestrado em agronegÓcios e desenvolvimento regional

134

2- A relação é muito boa com meus colegas e nem tanto com meus superiores

3- A minha relação é muito boa com meus superiores e nem tão boa com meus pares

4- A relação não é boa nem com meus pares nem com meus superiores

5- A relação é apenas razoável tanto com meus pares como com meus superiores

6- Outros

7- Das condições de Saúde proporcionadas pela empresa

1- A empresa se preocupa com a saúde do empregado e proporciona boa assistência médica

2- A empresa não se preocupa com a saúde do empregado e a assistência médica pode

melhorar

3- A empresa não se preocupa e não dá assistência

4- Outros

8- Das condições de Segurança e Condições de Trabalho na empresa

1- A empresa se preocupa e sinto-me bem protegido durante o trabalho

2- As condições são razoáveis, mas podem melhorar. Não me sinto completamente seguro

3- Não oferece os equipamentos de segurança de trabalho.

4- Outros

9- Das condições de Transporte da casa para o trabalho e vice-versa

1- É confortável e seguro

2- Não é confortável, é inseguro. Sinto-me intranqüilo

3- Não oferece

4- Outros

Aspecto da qualificação e formação profissional

10- Antes do senhor (a) vir trabalhar nesta empresa, já exerceu outro tipo de atividade, não

semelhante a que exerce atualmente? Sim ( ) ou não ( ), de que

tipo_____________________________________________________________

11- O senhor fez algum curso de formação profissional com aulas de Saúde e segurança no

trabalho? Sim ( ) ou não ( ). De que

tipo?_____________________________________________________Qual a carga horária

deste curso?_______horas.

12- O senhor fez algum tipo de curso direcionado a atividade que exerce, quando da sua

admissão (oferecido pela empresa)? Sim ( ) ou não ( ).

13- A empresa oferece curso de qualificação profissional? Sim ( ) ou não ( )

Qual?__________________________________________________

Page 151: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO – UFMT§ões... · universidade federal de mato grosso – ufmt faculdade de economia– fe mestrado em agronegÓcios e desenvolvimento regional

135

Aspectos gerais (tempo dedicado a atividade, lazer, mobilidade e direito do trabalhador)

14- Quanto tempo faz que o senhor trabalha neste tipo de atividade?_______em anos

15- Em que município o senhor morava antes de vir trabalhar nesta empresa?

_______________________________________________no mesmo sim ( ) ou não ( ). Se

não especificar _________________________________.

16- O senhor já sofreu algum tipo de acidente no trabalho? Sim ( ) ou não ( ).

8- O senhor recebe algum tipo de benefício assistencial (vale refeição, plano de saúde, auxilio

moradia, entre outros)? Sim ( ) ou não ( ), de que

tipo?__________________________________________________

17- Qual a remuneração média? R$_______

18- Quantas horas em média o senhor dedica a atividade na empresa?______horas

19- Quantas horas de descanso o senhor tem entre um turno e outro?_____horas

20- O senhor recebe os direitos garantidos em lei (férias, décimo terceiro)? Sim ( ) ou não (

).

21- A empresa oferece algum tipo de atividade de lazer (coral, dança, festa de fim de ano,

pascoal, festa junina, dia das mães, entre outros.)? Sim ( ) ou não ( ). De que

tipo?____________________________________________

22- A empresa têm algum espaço para o senhor praticar atividades desportiva ou ginástica

laboral? Sim ( ) ou não ( ).

23- O senhor já trabalhou em outro setor na empresa em que não tinha nenhum conhecimento

técnico, ou seja, substituindo alguém provisoriamente? Sim ( ) ou não ( )

Page 152: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO – UFMT§ões... · universidade federal de mato grosso – ufmt faculdade de economia– fe mestrado em agronegÓcios e desenvolvimento regional

136

Anexo 2- Participação de emprego, municípios da amostra, por código CNAE, MT.

Municípios CNAE Nº Emprego Participação

Alta Floresta 10.112 121 2,70

Claudia 10.112 0 0,00

Colider 10.112 851 19,00

Feliz Natal 10.112 0 0,00

Juína 10.112 301 6,72

Marcelândia 10.112 0 0,00

Nova Mutum 10.112 0 0,00

Lucas do Rio Verde 10.112 0 0,00

Sinop 10.112 1.109 22,10

Sorriso 10.112 0 0,00

Vera 10.112 0 0,00

Juara 10.112 220 5,05

Alta Floresta 10.121 0 0,00

Claudia 10.121 0 0,00

Colider 10.121 0 0,00

Feliz Natal 10.121 0 0,00

Juína 10.121 0 0,00

Marcelândia 10.121 0 0,00

Nova Mutum 10.121 1.521 31,55

Lucas do Rio Verde 10.121 235 5,25

Sinop 10.121 75 1,67

Sorriso 10.121 267 5,96

Vera 10.121 0 0,00

Juara 10.121 0 0,00

Total para amostra da carne 4.480 100,00

Alta Floresta 16.102 341 4,35

Claudia 16.102 649 8,27

Colider 16.102 23 0,29

Feliz Natal 16.102 709 8,76

Juína 16.102 573 7,30

Marcelândia 16.102 474 6,04

Nova Mutum 16.102 9 0,11

Lucas do Rio Verde 16.102 8 0,10

Sinop 16.102 2.135 25,01

Sorriso 16.102 367 4,68

Vera 16.102 325 4,14

Juara 16.102 250 2,60

Alta Floresta 16.218 202 2,57

Claudia 16.218 391 4,78

Colider 16.218 2 0,03

Feliz Natal 16.218 122 1,55

Page 153: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO – UFMT§ões... · universidade federal de mato grosso – ufmt faculdade de economia– fe mestrado em agronegÓcios e desenvolvimento regional

137

Juína 16.218 35 0,45

Marcelândia 16.218 139 1,77

Nova Mutum 16.218 0 0,00

Lucas do Rio Verde 16.218 0 0,00

Sinop 16.218 771 9,33

Sorriso 16.218 0 0,00

Vera 16.218 157 2,00

Juara 16.218 70 0,80

Alta Floresta 16.226 68 0,87

Claudia 16.226 9 0,11

Colider 16.226 21 0,27

Feliz Natal 16.226 27 0,34

Juína 16.226 2 0,03

Marcelândia 16.226 0 0,00

Nova Mutum 16.226 21 0,27

Lucas do Rio Verde 16.226 8 0,10

Sinop 16.226 115 1,47

Sorriso 16.226 50 0,64

Vera 16.226 93 1,19

Juara 16.226 0 0,00

Total para amostra da madeira 7.846 100,00

Total geral 12.326 Fonte: Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), RAIS 2006, dados trabalhado.

Nota: A taxa de participação é definida como a razão entre o total de emprego na CANE no município pelo total

do universo amostral do setor da carne e da madeira.

Page 154: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO – UFMT§ões... · universidade federal de mato grosso – ufmt faculdade de economia– fe mestrado em agronegÓcios e desenvolvimento regional

138

Anexo 3- Roteiro de entrevista da pesquisa complementar.

ROTEIRO PARA CONDUÇÃO DA ENTREVISTA.

ENTREVISTA DIRECIONADA AO SETOR DA MADEIRA.

Eixos importantes para entender a dinâmica do capital:

ORIGEM

- Como tudo começou (lugar de origem, região, que tipo de atividade até chegar a atividade

madeireira)?

- De onde veio o capital para iniciar o empreendimento (herança, de salário como empregado,

saque do FGTS, empréstimo bancário, crédito com antigo patrão, pagamento com parte da

mercadoria produzida)?

- Qual o investimento para montar um empreendimento deste porte? Comprou pronto, ou de

segunda mão.

- Qual o valor aproximado do capital imobilizado, atual? Que tipo de máquina o senhor teve

na indústria, cite as principais e como se desfez delas ao longo do tempo?

- E o capital de giro, como foi para começar? Banco, crédito, empréstimos em agiotas, venda

de cheques.

FORMAÇÃO DO EMPRESÁRIO E GESTÃO DA EMPRESA

- Qual a sua formação escolar?

- Quem administra o escritório?

- Quem faz as vendas?

- A empresa tem uma planilha de custo?

- Como compra a matéria-prima,

- Quanto custa o frete, em relação a matéria prima.

- Quantos quilômetros mais ou menos está a matéria prima da indústria?

Tem reserva para quantos anos?

- Qual o valor da folha? Existem gratificações, extras? Quanto é a relação entre a folha e o

faturamento?

- Quantos empregados tem na produção? E no escritório? Tem apontador?

Observação:

- Procurar diferenciar a pequena empresa da média...ou da grande se for o caso, a composição

do capital (qual a proporção), imobilizado e capital variável; Volume de matéria-prima. Como

que se engendrou ... (transferência, dívida, empréstimo, etc.)

Page 155: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO – UFMT§ões... · universidade federal de mato grosso – ufmt faculdade de economia– fe mestrado em agronegÓcios e desenvolvimento regional

139

APÊNDICES

Page 156: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO – UFMT§ões... · universidade federal de mato grosso – ufmt faculdade de economia– fe mestrado em agronegÓcios e desenvolvimento regional

140

Apêndice 1- Acidentes de Trabalho, incapacidade permanente e óbito por Grupo de CNAE,

MT 2002 a 2007

Grupo CNAE

Registros de Acidente de Trabalho

Total de Acidentes

Registrados

Incapacidade

Permanente Óbito

20

02

20

03

20

04

20

05

200

6 2007

20

02

20

03

20

04

20

05

20

06

20

07

20

02

20

03

20

04

20

05

20

06

20

07

Agricultura, Pecuária 92

0

11

88

14

07

14

52

1.1

45

1.21

1 26 35 34 46 1 6 24 42 33 29 21 28

Silvicultura, Exploração

Florestal e Pesca 31 51 69 71 45 94 0 2 2 1 – 1 1 2 1 0 4 1

Extrativismo Mineral 30 41 79 83 71 83 1 0 1 3 2 2 2 0 3 0 2 1

Abate e preparação de

animais (Frigorífico)

51

5

44

6

66

9

93

4

1.4

68

2.25

6 11 6 4 11 5 9 0 4 4 4 3 5

Proces. Cereais, Óleo

veg, Laticinio e Ração

10

7

14

0

22

7

24

7 175 162 3 3 7 3 1 2 5 1 5 0 6 3

Fabricação de Açucar e

Alcool

18

1

38

6

27

6

16

5 286 223 4 3 5 7 – – 0 1 1 2 3 4

Beneficiamento de

Algodão 46 27 42 50 139 128 3 2 0 5 – 1 1 0 0 0 – –

Fabr. Bebidas, Biscoito e

Massas

11

8

10

2

11

7

15

4 24 30 2 2 3 5 1 – 0 0 2 0 – –

Tecelagem, Fiação e

Confecção 1 11 6 22 43 31 0 0 0 0 – 1 0 1 0 0 – –

Curtimento de Couro e

Artefatos 15 26 32 43 40 36 2 3 0 2 1 2 0 0 0 1 1 –

Indústria da Madeira 63

7

77

0

76

0

59

0 379 433 24 26 26 26 26 24 20 20 14 13 10 12

Indústria Gráfica e

reprodução em

discos/fitas 16 13 11 18 4 6 1 1 1 2 – – 0 0 0 0 – –

Indústria Química, Vidro

e Borracha 34 48 49 59 80 74 0 1 1 0 1 – 1 1 0 1 3 2

Fábrica de Cimento e

Artef. Cimento 24 45 79 57 55 60 2 2 2 2 – 1 2 0 1 2 – –

Cerâmica 35 40 32 34 45 38 2 4 3 0 1 1 0 0 0 1 2 1

Metalurgia, Fabr.

Maquinas e Equip. Elétric 80 82

10

5 95 134 155 3 8 1 2 1 4 0 1 2 1 3 3

Fabric. Reboq, carroceria,

retifica motores e sucatas 7 9 19 18 5 8 0 2 1 2 – – 0 0 0 0 – –

Fabric. Móveis de

madeira e metal, colchões 30 25 34 36 38 37 0 0 0 0 1 1 0 0 0 1 – –

Fabric. Prod. diversos

(lapidação pedra, brinq.,

escovas...) 10 7 6 6 7 14 0 0 0 0 – – 1 0 0 0 – –

Produc. e Ditrib. Eletric. e

Água e Limpz. Urban.

11

4

12

5 88

13

5 130 165 2 2 2 4 1 – 3 2 0 0 3 1

Contrução Civil e Pesada 37

3

35

9

37

8

31

6 318 476 14 14 6 7 7 12 6 9 11 13 14 16

Comércio e Reparação de

Veículos

16

7

20

5

30

0

26

5 209 239 8 7 3 6 2 5 8 5 8 8 1 5

Comércio Atacadista 16

4

15

5

22

2

24

8 237 236 4 6 3 3 2 3 5 7 5 6 9 3

Comércio Varejista 31

1

37

2

57

3

57

1 676 625 12 8 10 15 10 7 12 13 10 12 13 16

Alojamento e

Alimentação (Hotel e

restaurante) 43 54 55 65 83 68 3 3 1 3 – 1 0 2 3 2 1 2

Page 157: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO – UFMT§ões... · universidade federal de mato grosso – ufmt faculdade de economia– fe mestrado em agronegÓcios e desenvolvimento regional

141

Transporte Passageiro,

Terres., Aereo e Marit. e

Ag. Viagens

10

5 79

13

0

12

1 104 101 5 4 4 6 1 3 3 2 5 7 2 3

Transporte de cargas

rodoviario 76

11

1

14

4

16

2 166 156 6 1 6 4 1 2 11 9 13 13 22 12

Armazenagem, carga e

descarga 45 38 26 24 29 37 0 1 0 0 1 – 6 3 0 1 2 1

Correios e

Telecomunicação 53 49 70 79 99 81 2 1 0 0 – 1 2 1 1 2 2 1

Intermediação Financeira

(Banco, seguros, previd.) 13 18 52 41 49 53 2 2 4 1 1 – 1 0 0 1 4 1

Ativid. Imobil. e Alugueis

(Resid., Veículos e

Máquinas) 13 20 23 38 10 15 2 1 2 1 – 1 0 1 1 1 1 1

Atividade de Informática

e conexas 20 6 11 17 22 13 0 0 0 0 – – 0 1 0 0 – –

Ativid. Jurid., Contab.,

Arquit. Engenh.,

Publicidade e pesquisa 13 29 37 27 25 20 2 1 1 2 – – 0 0 2 2 4 1

Prestação de Serviços a

empresas (terceirização)

12

7

21

6

25

6

17

4 192 239 4 1 7 1 4 1 7 6 8 4 3 1

Administração Pública 18 40 46 61 66 63 2 4 2 2 1 1 0 1 3 3 3 1

Educação 11 23 17 32 41 41 1 0 1 1 – 3 0 0 2 1 – –

Saúde e Serviços Sociais 10

4

12

8

12

4

20

3 236 312 2 1 4 2 – – 0 0 0 1 – 1

Atividades Associat.,

Recreat., Cult.,

Desportivas, TV e Rádio

20

2

17

1

20

3

19

1 256 197 5 4 3 3 2 3 3 1 2 2 2 2

Serviços Pessoais

(Lavand., Cabeleireiro,

Funeraria) 8 20 14 16 19 8 0 0 0 0 – – 1 2 1 0 1 –

Serviços Domésticos 3 2 6 6 – 1 0 0 0 0 – – 1 0 1 1 – –

Ignorado 11

3

10

8 86 91 466 437 37 46 22 33 47 56 8 3 5 5 9 15

Total

49

33

57

85

68

80

70

17

761

6 8662

19

7

20

7

17

2

21

1

12

1

15

4

13

4

14

1

14

7

14

0

15

4

14

3

Fonte: AEAT-MPS, CAT-MTE

Page 158: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO – UFMT§ões... · universidade federal de mato grosso – ufmt faculdade de economia– fe mestrado em agronegÓcios e desenvolvimento regional

142

Apêndice 2- Acidentes de Trabalho por municípios da Região Norte de Mato Grosso, 2002 a 2007

UF e Municípios da Região Norte Acidentes de trabalho(1)

2002 2003 2004 2005 2006 2007

Mato Grosso 4.933 5.785 6.880 7.017 7.616 8.662

Municípios da Região Norte 1.506 1.811 2.345 2.215 2.041 2.417

Alta Floresta 103 100 137 129 101 114

Apiacás 2 5 12 14 8 11

Aripuanã 20 49 67 39 30 32

Brasnorte 31 43 63 39 25 32

Campo Novo do Parecis 57 52 82 85 162 225

Campos de Júlio 1 2 8 11 21 17

Carlinda 3 8 4 9 7 3

Castanheira 2 2 9 3 6 1

Cláudia 40 134 61 78 47 35

Colíder 36 34 44 40 53 81

Colniza 4 12 26 23 12 19

Comodoro 28 23 44 39 34 27

Cotriguaçu 8 13 16 26 14 8

Diamantino 109 90 125 142 141 114

Feliz Natal 18 21 26 30 29 21

Gaúcha do Norte 1 1 2 6 2 5

Guarantã do Norte 22 17 25 35 26 27

Ipiranga do Norte 0 0 0 0 0 0

Itanhangá 0 0 0 0 0 0

Itaúba 24 20 36 24 16 54

Juara 52 40 57 72 62 105

Juína 45 45 53 87 68 68

Juruena 11 28 19 14 13 25

Marcelândia 30 41 39 30 19 28

Matupá 34 15 25 55 35 31

Nobres 25 42 86 87 39 26

Nova Bandeirantes 4 3 12 9 10 11

Nova Santa Helena 1 4 2 3 6 3

Nova Brasilândia 5 5 2 4 4 3

Nova Canaã do Norte 7 6 4 24 68 67

Nova Mutum 45 91 82 90 97 160

Nova Ubiratã 18 22 15 21 29 32

Novo Mundo 3 2 7 4 6 4

Novo Horizonte do Norte 1 0 3 0 0 1

Paranaíta 24 21 26 18 18 22

Paranatinga 14 21 46 72 68 193

Peixoto de Azevedo 4 7 9 15 46 15

Planalto da Serra 0 3 4 2 2 0

Porto dos Gaúchos 12 14 19 9 14 7

Santa Carmem 7 11 12 13 10 6

São José do Rio Claro 62 67 65 46 45 48

Rondolândia 0 3 14 17 7 8

Santa Rita do Trivelato 0 1 1 3 8 6

Sapezal 58 58 91 93 100 122

Sinop 339 441 582 422 295 297

Sorriso 104 121 134 114 144 174

Tabaporã 7 4 20 13 14 12

Tapurah 31 23 47 37 24 37

Page 159: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO – UFMT§ões... · universidade federal de mato grosso – ufmt faculdade de economia– fe mestrado em agronegÓcios e desenvolvimento regional

143

Terra Nova do Norte 4 1 5 8 5 10

União do Sul 13 10 11 8 4 1

Vera 22 22 40 25 20 24

Nova Guarita 2 0 2 0 0 2

Nova Maringá 8 9 15 19 19 21

Nova Monte Verde 5 4 9 9 8 22

Participação % 30,53 31,31 34,08 31,57 26,80 27,90

Fonte: AEAT-MPS, CAT-MTE

Nota: (1) Acidentes de trabalho com agravo de incapacidade permanente, óbito e típico.

Page 160: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO – UFMT§ões... · universidade federal de mato grosso – ufmt faculdade de economia– fe mestrado em agronegÓcios e desenvolvimento regional

144

Apêndice 3- Taxa de rotatividade do setor de atividade da madeira e carne da Região Norte, e

do Estado de Mato Grosso, 2002 a 2007

Competência

(mês/ano)

Taxa rotatividade

MT %

Taxa rotatividade Setor da

Carne %

Taxa rotatividade Setor da

madeira %

01/2002 3,10 3,29 4,33

02/2002 3,47 4,12 4,45

03/2002 3,81 4,57 5,87

04/2002 3,74 4,42 4,99

05/2002 4,24 4,03 6,14

06/2002 3,76 2,96 5,47

07/2002 4,29 5,70 5,87

08/2002 4,01 4,38 5,35

09/2002 3,90 3,35 5,29

10/2002 4,17 3,90 6,20

11/2002 3,54 5,82 4,29

12/2002 2,23 1,64 1,60

01/2003 3,20 3,44 4,06

02/2003 3,32 5,35 5,81

03/2003 3,64 3,28 5,42

04/2003 3,41 2,55 4,36

05/2003 4,10 6,66 5,57

06/2003 3,51 3,34 5,48

07/2003 3,74 5,91 5,96

08/2003 3,80 4,56 5,14

09/2003 4,07 3,95 5,56

10/2003 4,43 6,49 5,99

11/2003 3,56 5,11 3,71

12/2003 2,62 6,21 1,54

01/2004 3,48 7,15 3,82

02/2004 3,50 10,34 5,21

03/2004 4,41 7,06 5,76

04/2004 4,11 6,24 4,63

05/2004 4,06 8,47 5,77

06/2004 3,81 9,77 5,25

07/2004 3,94 9,11 5,24

08/2004 4,15 9,27 5,07

09/2004 4,17 8,18 4,85

10/2004 4,35 8,42 4,90

11/2004 4,06 7,92 3,69

12/2004 3,05 7,57 1,79

01/2005 3,71 12,18 4,48

02/2005 3,81 8,38 5,39

03/2005 4,38 10,52 5,18

04/2005 4,30 5,55 4,91

05/2005 4,75 8,07 5,68

06/2005 4,35 6,42 2,79

07/2005 3,64 5,31 2,16

08/2005 3,81 5,34 3,63

09/2005 3,60 4,85 3,54

10/2005 3,76 3,70 3,17

11/2005 3,23 4,03 2,84

12/2005 2,44 5,17 1,24

01/2006 3,12 5,68 3,42

Page 161: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO – UFMT§ões... · universidade federal de mato grosso – ufmt faculdade de economia– fe mestrado em agronegÓcios e desenvolvimento regional

145

02/2006 3,14 5,74 3,27

03/2006 3,95 5,54 3,97

04/2006 3,48 4,21 2,69

05/2006 3,68 4,69 4,59

06/2006 3,30 3,27 4,33

07/2006 3,32 2,75 3,87

08/2006 3,57 4,76 3,92

09/2006 3,42 4,14 4,67

10/2006 3,92 4,85 4,37

11/2006 3,33 4,97 4,12

12/2006 2,49 4,31 1,84

01/2007 3,17 3,99 3,62

02/2007 3,06 4,68 5,00

03/2007 3,87 4,32 4,75

04/2007 3,70 3,33 3,01

05/2007 3,98 4,11 4,49

06/2007 3,39 4,80 4,87

07/2007 3,62 5,12 5,91

08/2007 3,68 5,04 5,12

09/2007 3,63 5,42 4,25

10/2007 4,17 5,26 4,53

11/2007 3,41 4,49 3,24

12/2007 2,43 5,07 1,30

Fonte: Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), RAIS 2002/2003/2004/2005/2006, CAGED jan/2002 a

dez/2007.

Page 162: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO – UFMT§ões... · universidade federal de mato grosso – ufmt faculdade de economia– fe mestrado em agronegÓcios e desenvolvimento regional

146

Apêndice 4- Encargos Sociais Sobre Folha de Pagamento – Empresas Não Optante pelo

Simples

Encargos e folha % %

Valor da Folha de Pagamento 100,00

I.N.S.S 20,00

SAT - Seguro de Acidente de Trabalho 3,00

Salário Educação 2,50

INCRA 0,20

SENAC 1,00

SESC 1,50

SEBRAE 0,60 28,80

FGTS 8,50 8,50

Aviso Prévio Trabalhado (2 horas por dia) = 60 horas no mês 2,27

Décimo Terceiro Salário 8,33

Férias 8,33

Adicional de 1/3 de Férias 2,78

FGTS Reflexo sobre verbas rescisórias (21,71) 1,85

FGTS - 50% (8,50 + 1,5 = 10,35) 5,17 28,73

Total da Folha de Pagamento e Encargos mensais 166,03 Fonte: Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE), 2010.

Page 163: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO – UFMT§ões... · universidade federal de mato grosso – ufmt faculdade de economia– fe mestrado em agronegÓcios e desenvolvimento regional

147

Apêndice 5

Gráfico 1- Taxa de rotatividade do setor da madeira e da carne na Região Norte, e do Estado de Mato Grosso, 2002 – 2007.

Taxa rotatividade MT % Taxa rotatividade Setor da Carne % Taxa rotatividade Setor da madeira %