Separata: Sonolência Excessiva Diurna e Doença de Alzheimer Atividade Introdução.
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS INSTITUTO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ECOLOGIA, CONSERVAÇÃO E MANEJO DE VIDA SILVESTRE A INFLUÊNCIA DA LARVA DE CHAOBORUS (INSECTA: DIPTERA) NA
DISTRIBUIÇÃO ESPACIAL DA COMUNIDADE ZOOPLANCTÔNICA NA
LAGOA DO NADO, BELO HORIZONTE – MG
JOSÉ FERNANDES BEZERRA NETO
ORIENTADOR: PROF. DR. RICARDO MOTTA PINTO-COELHO
Belo Horizonte Minas Gerais – Brasil
2001
JOSÉ FERNANDES BEZERRA NETO
A INFLUÊNCIA DA LARVA DE CHAOBORUS (INSECTA: DIPTERA)
NA DISTRIBUIÇÃO ESPACIAL DA COMUNIDADE
ZOOPLANCTÔNICA NA LAGOA DO NADO, BELO HORIZONTE –
MG
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-
Graduação em Ecologia, Conservação e
Manejo de Vida Silvestre, do Instituto de
Ciências Biológicas, da Universidade Federal
de Minas Gerais, como parte dos requisitos
para a obtenção do título de Mestre em
Ecologia, Conservação e Manejo de Vida
Silvestre.
Área de Concentração: Limnologia
Orientador: Prof. Ricardo Motta Pinto-Coelho
Belo Horizonte Instituto de Ciências Biológicas da UFMG
2001
À minha esposa Kátia
e aos meus filhos, Daniel e Mariana
AGRADECIMENTOS
Ao Prof. Dr. Ricardo Motta Pinto-Coelho, por disponibilizar a infra-
estrutura necessária para a realização deste trabalho. Pela orientação, apoio
e por acreditar no meu potencial.
Ao CNPq pela concessão da bolsa de mestrado.
Ao curso de Pós-Graduação em Ecologia, Conservação e Manejo de Vida
Silvestre, especialmente aos Profs: Dr. Fernando Silveira, Dra. Alessandra
Giani e Dr. Alexandre Godinho pelas disciplinas oferecidas.
Aos funcionários do Parque Fazenda Lagoa do Nado, pelas facilidades
durante os trabalhos de campo.
À INFRAERO, pelo acesso aos dados climatológicos.
À Profa Dra. Arnola Rietzler pela sua constante disposição em me escutar e
ajudar.
Aos Profs.: Dr. Francisco A. R. Barbosa, Dr. Marcos Callisto e Dra.
Paulina M. Barbosa, às crít icas e sugestões às versões iniciais de alguns
artigos desta dissertação.
Às secretárias do curso de ECMVS, Sônia e Rogéria, pela atenção e
disposição em resolver nossos problemas.
Aos colegas do Laboratório de Ecofisiologia de Organismos Planctônicos,
Magda e Giovanni, pela troca de experiências, apoio e amizade que
marcaram o nosso convívio. Ao funcionário Cid, por ter realizado as
análises do nitrogênio total e pela ajuda durante toda a parte laboratorial do
meu trabalho. Meu agradecimento especial à Laura, pela inestimável ajuda
durante as coletas de campo.
Aos amigos: Sandra, Gabriela, João, Maurício, Eneida e Luciana, pelos
bons momentos de nossa convivência.
Aos meus pais e familiares, por acompanharem o meu trabalho e torcerem
pela conquista dos meus ideais.
Em memória do meu saudoso avô, Moacir da Cunha Magalhães, que
sempre me incentivou a estudar e a lutar por meus sonhos.
À Kátia, companheira da minha vida, por seu incentivo, amor e
principalmente paciência comigo em todos os momentos.
Aos meus filhos, Daniel e Mariana, pela alegria e amor, que me deram
força para concluir este trabalho.
A todos que, de alguma forma, auxiliaram no desenvolvimento deste
trabalho.
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO.... . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .1
I – Introdução geral . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .1
II – Objetivos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .4
III – Estrutura da dissertação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .4
IV – Caracterização geral da área de estudo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .7
CAPÍTULO 1 – Caracterização limnológica básica da Lagoa do Nado
.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14
Artigo 1.1 – A morfometria e o estado trófico de um pequeno
reservatório urbano: Lagoa do Nado, BH-MG.
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .15
Artigo 1.2 – A Estrutura térmica, o trabalho do vento e a estabilidade
de um reservatório tropical raso: Lagoa do Nado, BH – MG.
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .39
Artigo 1.3 – O déficit de oxigênio em um reservatório urbano: Lagoa
do Nado, BH – MG.
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .70
CAPÍTULO 2 – A comunidade zooplanctônica da Lagoa do Nado:
composição e distribuição vertical
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .96
Artigo 2.1 – Ciclo de vida, dinâmica populacional e produção de
Chaoborus brasiliensis (Diptera, Chaoboridae) em um reservatório
brasileiro raso: Lagoa do Nado, BH – MG.
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .97
Artigo 2.2 – A migração vertical das larvas de Chaoborus brasiliensis
(Diptera: Chaoboridae) em um reservatório brasileiro: Lagoa do Nado,
BH – MG.
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .125
Artigo 2.3 – A influência da larva de Chaoborus (Insecta: Diptera) na
distribuição espacial da comunidade zooplanctônica da Lagoa do Nado,
BH – MG.
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .151
ANEXOS METODOLÓGICOS... . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .192
Anexo I . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .193
Anexo II . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .196
Anexo III . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .198
1
APRESENTAÇÃO
I – Introdução geral
O fenômeno conhecido como migração vertical diária (MVD) do
zooplâncton caracteriza-se por um movimento coordenado envolvendo
massas de organismos de um grande número de populações, tanto nos
oceanos como nas águas continentais (Hutchinson, 1967).
Os tipos de movimentos verticais observados são variados e
dependem não somente da espécie em consideração e do local, como
também da estação e da idade dos organismos. Estas migrações influenciam
o zooplâncton a nível populacional e de comunidade, a dinâmica trófica da
cadeia alimentar aquática e o transporte de nutrientes na coluna d’água
(Williamson et al. , 1996).
Segundo Hutchinson (1967), o comportamento migratório mais
comum do zooplâncton é a permanência em águas mais profundas durante o
dia e o seu deslocamento para a superfície durante a noite, sendo chamada
de migração normal. Em outros casos, os organismos migram para as
camadas mais profundas da coluna d’água durante a noite e para a
superfície durante o dia, e neste caso, a migração é dita reversa.
Existem muitas hipóteses acerca do significado adaptativo da
migração vertical diurna. A maior parte delas relaciona-se com fatores que
variam com a profundidade: intensidade da luz, temperatura, distribuição e
abundância do alimento e predação (Dini et al. , 1993). Atualmente, a
2
hipótese de que a migração vertical é um comportamento de evasão à
predação tem sido considerada a mais importante (Tjossen, 1990).
Na região tropical o fenômeno da migração vertical diária é
comumente observado. Nestas latitudes os organismos precisam se manter
até doze horas durante o dia nos estratos seguros, l ivres de predação, mas
tem outras 12 horas durante o período noturno para se alimentar, sendo esta
situação aplicável a praticamente todo o ano (Gliwicz, 1999). Este autor
salienta que não é por mero acaso que a primeira evidência de migração
vertical diurna do zooplâncton percebida como um mecanismo efetivo de
evasão à predação por peixes, tenha sido descrita em um reservatório
tropical, no Lago Gatun na zona do canal do Panamá por Zaret & Suffern
(1976).
Em muitas comunidades pelágicas, substancial pressão de predação
pode vir de mais de uma origem, incluindo os vários predadores
invertebrados, bem como os peixes planctívoros. Os predadores
invertebrados ocupam uma posição intrigante na cadeia trófica pelágica.
Como as outras espécies de zooplâncton, eles são vulneráveis à predação
por peixes e, além disso, podem predar intensamente o zooplâncton. Outro
aspecto importante com relação aos predadores invertebrados é que eles
respondem à migração de suas presas e ao risco de encontrarem seus
próprios predadores (Soranno et al. , 1993).
Entre os predadores invertebrados, a larva de Chaoborus ocupa
posição de destaque. De acordo com Lewis (1996), a larva de Chaoborus
tem uma excepcional importância nos trópicos, com a supressão de
zooplâncton por Chaoborus sendo o principal fator no controle da
3
herbivoria nos lagos tropicais. Devido ao seu crescimento em até três
ordens de magnitude através de quatro instares larvais, Chaoborus pode
consumir o espectro completo de organismos do zooplâncton (Lewis, 1977).
Outro fator importante é que nos trópicos os Chaoborideos são os únicos
predadores invertebrados de grande porte, pois nessas regiões não existem
os crustáceos predadores Mysis relicta , Bythothrepes ou Leptodora, comuns
nos lagos temperados (Pinto-Coelho, comunicação pessoal).
Populações de Chaoborus mostram grande variação no seu
comportamento migratório (Luecke, 1986). Observações no campo mostram
que somente as populações migrantes coexistem com peixes. Espécies
altamente visíveis, ou são eliminadas de lagos pela predação ou não
ocorrem quando os peixes estão presentes. Em lagos sem peixe, entretanto
são as espécies mais conspícuas que dominam, e freqüentemente não
mostram um comportamento migratório (Von Ende, 1979).
A dieta de Chaoborus pode variar sazonalmente, dependendo do
estágio de desenvolvimento, a disponibilidade numérica dos diferentes
recursos alimentares e a sobreposição temporal e espacial entre as
populações de predadores e presas (Fedorenko, 1975; Lewis, 1977).
Nesta dissertação buscamos estudar a dinâmica populacional e o
comportamento migratório do predador invertebrado Chaoborus , bem como
sua influência na distribuição espacial (vertical) das comunidades
planctônicas em um pequeno reservatório tropical urbano, a Lagoa do
Nado. Além disso, a partir dos dados de densidade numérica e da estimativa
do tempo de desenvolvimento larval dos instares de Chaoborus , estimou-se
a produção secundária destes organismos.
4
A Lagoa do Nado é um reservatório urbano desconhecido
limnologicamente. No desenvolvimento deste estudo, a inexistência de
informações básicas sobre o sistema nos obrigou a estruturá-lo de maneira
que pudéssemos não só investigar a comunidade planctônica do
reservatório, como também levantar as informações básicas sobre o
ecossistema aquático (limnologia física e química).
II – Objetivos
1 – Fazer a caracterização limnológica da Lagoa do Nado, tendo como
enfoque a morfometria, o estado trófico, o regime térmico e o regime de
oxigênio do reservatório.
2 – Aumentar o conhecimento sobre a ecologia de Chaoborus em corpos
d’água tropicais através da análise da sua dinâmica populacional, aspectos
do ciclo de vida ciclo de vida, produção secundária e migração vertical
diária, ao longo de um ciclo anual.
3 – Analisar as variações na composição específica, abundância relativa,
dominância e padrões de MVD dos grupos zooplanctônicos do reservatório
ao longo de um ciclo anual.
4 – Analisar o efeito do predador invertebrado Chaoborus na distribuição
espacial da comunidade zooplanctônica da Lagoa do Nado, explorando as
mudanças na sobreposição entre predador e presas durante a migração
vertical diária, ao longo de um ciclo anual.
III – Estrutura da dissertação
5
Esta dissertação foi estruturada em artigos, organizados em dois
grandes capítulos: Capítulo 1 – Caracterização limnológica básica da Lagoa
do Nado e Capítulo 2 – A comunidade zooplanctônica da Lagoa do Nado:
composição e distribuição vertical. No total foram seis artigos abrangendo
basicamente os objetivos propostos. Diversos anexos foram acrescentados
no final da dissertação com o objetivo de detalhar a metodologia utilizada
nos trabalhos. Isto porque, em virtude dos estudos estarem no formato de
artigos, muitas vezes foi necessário resumir a metodologia, visando
adequá-los às exigências de espaço das revistas.
Artigo 1.1
Aqui são descritos os aspectos morfométricos e hidrológicos da
Lagoa do Nado e são discutidos os efeitos da morfometria sobre o
funcionamento do reservatório, enfocando basicamente os padrões de
estratificação e mistura. São apresentados também os resultados da
avaliação trófica do reservatório em uma escala anual, utilizando-se o
índice de estado trófico de Carlson (1977).
Artigo 1.2
Neste artigo foi analisada a influência do clima e da morfometria
sobre o regime térmico do reservatório, mostrando seu padrão de circulação
e mistura em um ciclo anual. Também foram quantificados o conteúdo de
calor, a estabilidade da estratificação, o trabalho do vento, o balanço
térmico anual do reservatório e o índice de tropicalidade.
Artigo 1.3
Este artigo trata do regime de oxigênio na Lagoa do Nado. O déficit
real e o déficit hipolimnético por unidade de área no reservatório foram
6
estimados a partir de perfis de temperatura e oxigênio dissolvido. Foram
analisadas as relações entre a variação sazonal do consumo hipolimnético
de oxigênio e alguns fatores ligados à eutrofização e conhecidos como
capazes de definir o estado trófico em ambientes lacustres: a concentração
de fósforo total e a concentração de clorofila-a na zona eufótica e a
profundidade do disco de Secchi. Foram discutidas as limitações na
utilização do déficit hipolimnético de oxigênio como um índice de estado
trófico em ambientes tropicais rasos.
Artigo 2.1
Neste artigo é apresentada uma análise sobre os aspectos
demográficos, a biomassa e a produção secundária da larva de Chaoborus
brasiliensis, predador invertebrado da zona limnética do reservatório. Foi
estimado o ciclo de vida completo deste díptero predador no reservatório.
São feitas considerações sobre sua dinâmica populacional e comparações
com a densidade da larva em outros corpos d’água com diferentes graus de
trofia.
Artigo 2.2
Aqui é tratada a migração vertical diária dos diferentes instares da
larva de Chaoborus . Neste estudo buscou-se responder às seguintes
perguntas: A larva de Chaoborus exibe migração vertical diurna na Lagoa
do Nado? A amplitude da migração vertical de Chaoborus varia de acordo
com o estágio larval? E qual o papel do oxigênio na regulação da
distribuição vertical da larva?
Artigo 2.3
7
Este artigo apresenta uma análise sobre o efeito do predador
invertebrado, Chaoborus brasiliensis , sobre a distribuição espacial da
comunidade zooplanctônica da Lagoa do Nado, explorando as mudanças na
sobreposição espacial entre predador e presas durante a migração vertical
diária. Também é apresentada uma análise quali-quantitativa da
comunidade zooplanctônica do reservatório.
A lista com os tí tulos de cada artigo bem como o atual status de sua
publicação poderá ser vista nas referências, ao final dessa apresentação.
IV – Caracterização geral da área de estudo
Histórico
A Lagoa do Nado, objeto deste estudo, é um pequeno reservatório
localizado no centro de um parque urbano, o Parque Municipal Fazenda
Lagoa do Nado. O reservatório foi construído no final da década de 50 e a
área atualmente ocupada pelo parque era, até o final da década de 60, uma
fazenda, “o Engenho do Córrego do Nado”, de propriedade da família do
ex-prefeito de Belo Horizonte, Américo Reneé Gianetti . Nesta época, o uso
da terra era privativo, sendo freqüentada apenas por familiares e amigos da
família. Durante a década de 60, a fazenda foi caindo em abandono e
ocorreu uma intensa a ocupação urbana da região vizinha à área. Em 1973,
através de um decreto municipal indicando a desapropriação (decreto nº
2408), foi prevista a destinação do espaço para a construção de um parque.
A partir da mobilização da comunidade, o terreno da antiga fazenda foi
comprado pela prefeitura de BH e, em 1994, o parque foi entregue à
população. Atualmente o parque é administrado pela Secretaria Municipal
8
do Meio ambiente da Prefeitura de Belo Horizonte (SMMA-PBH) e o
reservatório é ornamental e destinado à recreação e lazer.
Visão Geral do reservatório
A Lagoa do Nado localiza-se na região norte de Belo Horizonte,
numa área intensamente urbanizada (Fig. 1), formada pelos bairros Planalto
e Itapoã. Ela é formada pelo represamento da água de três nascentes
localizadas dentro da área do parque. O reservatório é circundado por uma
vegetação secundária de grande porte (Fig. 2) e a saída de água da
barragem é superficial e não manejada.
Problemas ambientais
Atualmente, a administração do Parque Fazenda Lagoa do Nado tem
concentrado esforços na preservação das nascentes que alimentam o
reservatório. As áreas ao redor das nascentes estão sofrendo um processo
de intensa erosão. Na época das chuvas, o volume de água que chega ao
parque é bastante elevado, devido principalmente à intensa
impermeabilização de toda a área do entorno do parque, promovido pela
grande urbanização da região. Neste período o problema da erosão é
agravado e as conseqüências são visíveis no próprio reservatório, que passa
a apresentar uma cor marrom, ao invés da cor verde, comum nos outros
períodos do ano.
Outro problema que vem preocupando as autoridades responsáveis
pelo parque é a presença de esgotos domésticos clandestinos, que acreditam
estar ligados às canalizações de escoamento de água da chuva que entram
na área do parque.
9
Fig. 1 – Mapa de localização e aerofotografia mostrando ao centro a Lagoa
do Nado (Fonte: PRODABEL S/A).
(1)
Continua.
10
(2)
(3)
Figura 2 – Fotos (1, 2 e 3) mostrando o reservatório e a vegetação no seu
entorno.
11
Referências citadas
Bezerra-Neto, J. F. B. & Pinto-Coelho, R. M. A morfometria e o estado
trófico de um reservatório urbano: Lagoa do Nado, BH-MG. Acta
Scientiarum (submetido).
Bezerra-Neto, J. F. B. & Pinto-Coelho, R. M. A Estrutura térmica, o
trabalho do vento e a estabilidade de um reservatório tropical raso:
Lagoa do Nado, BH–MG. Bios (submetido).
Bezerra-Neto, J. F. B. & Pinto-Coelho, R. M. O déficit de oxigênio em um
reservatório urbano: Lagoa do Nado, BH-MG. Acta Limnologica
Brasiliensia (no prelo).
Bezerra-Neto, J. F. B. & Pinto-Coelho, R. M. Dinâmica populacional e
produção secundária de Chaoborus brasiliensis (Diptera,
Chaoboridae) em um reservatório tropical raso: Lagoa do Nado, BH –
MG. Acta Limnologica Brasiliensia (submetido).
Bezerra-Neto, J. F. B. & Pinto-Coelho, R. M. A migração vertical das
larvas de Chaoborus brasiliensis (Diptera: Chaoboridae) em um
reservatório tropical: Lagoa do Nado, BH – MG. Acta Scientiarum
(submetido).
Bezerra-Neto, J. F. B. & Pinto-Coelho, R. M. A influência da larva de
Chaoborus (Insecta: Diptera) na distribuição espacial da comunidade
zooplanctônica da Lagoa do Nado, BH – MG (manuscrito).
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Fedorenko, A.Y. 1975. Instar and species-specific diets in two species of
Chaoborus. Limnol. Oceanogr., 20: 238-249.
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Zaret, T. M. & Suffern, J. S. 1976. Vertical migration in zooplankton as a
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14
CAPÍTULO 1
Caracterização limnológica básica da Lagoa do Nado
15
1.1 – A morfometria e o estado trófico de um
reservatório urbano: Lagoa do Nado, Belo Horizonte–
MG.
16
A morfometria e o estado trófico de um reservatório
urbano: Lagoa do Nado, Belo Horizonte–MG.
José Fernandes Bezerra-Neto1 & Ricardo Motta Pinto-Coelho 2
1 Programa de Pós-Graduação em Ecologia, Conservação e Manejo da Vida
Silvestre, Universidade Federal de Minas Gerais. CP 486, 30161-970, Belo
Horizonte-MG, Brasil . (Email - [email protected])
2 Laboratório de Ecofisiologia de Organismos Planctônicos, Departamento
de Biologia Geral, Instituto de Ciências Biológicas, Universidade Federal
de Minas Gerais, Belo Horizonte-MG, Brasil.
(Email – [email protected])
Autor para correspondência: José Fernandes Bezerra Neto.
Título resumido: A morfometria de um reservatório urbano.
RESUMO . São descritas as características morfométricas de um pequeno
reservatório, a Lagoa do Nado e determinado o tempo de retenção médio no
período seco e chuvoso. O mapa batimétrico do reservatório foi desenhado
e o seu estado trófico foi avaliado mensalmente, de setembro/99 a
setembro/2000, utilizando-se o índice de estado trófico (IET) de Carlson.
A Lagoa do Nado é um sistema raso com 7,6 m e 2,7 m de
profundidade máxima e média, respectivamente. A localização no fundo de
17
um pequeno vale, sendo rodeado por vegetação de grande porte, a elevada
profundidade relativa (5,5%) e a sua bacia de acumulação de formato
cônico (Dv = 1,07) indicam uma alta estabilidade física da coluna d’água.
O tempo de retenção da água no reservatório no período seco foi de 78 dias
e no período chuvoso de 2,1 dias. Com o emprego do IET de Carlson, o
reservatório foi considerado como meso-eutrófico ao longo do ano de
amostragem.
Palavras-chave: morfometria, reservatório, estado trófico.
ABSTRACT. The morphometry and trophic state of a urban reservoir:
Lagoa do Nado, Belo Horizonte – MG. Morphometric characteristics of a
small reservoir are described and was determined the mean retention time
in dry and rainy season. The bathymetric map of reservoir was done, and
trophic state was evaluated throughout the sampling year, using the Trophic
State Index (TSI) of Carlson.
The Nado Lake is a shallow system with 7,6m and 2,7m of maximum
and mean depth, respectively. The location in the bottom of a valley,
surrounded by large trees, the relative depth (5,5%) and the conic format of
accumulation basin (Dv = 1,07) provide high stability of the water column.
The mean retention time of reservoir was 78 days and 2,1 days in dry and
rainy season, respectively. With the use of Carlson’s trophic state index
(for TP and Chl a) the reservoir was considered meso-eutrophic throughout
the annual cycle.
Keys words: morphometry, reservoir, trophic state.
18
Introdução
A morfologia de um ambiente aquático exerce influencia nas suas
características limnológicas (físicas, químicas e biológicas). A morfometria
afeta os padrões de mistura da coluna d’água, o conteúdo de calor e o
tempo de residência da água (Cole, 1983), os processos de erosão,
transporte e acumulação de nutrientes (Panosso et al. , 1998), a
produtividade biológica e o consumo de oxigênio (Sperling, 1999).
O estudo da dinâmica de circulação e estratificação e sua vinculação
com as características morfométricas e hidrológicas de um lago ou
reservatório é fundamental para um conhecimento básico sobre a estrutura
do corpo d’água e para uma melhor compreensão da maneira como os
parâmetros morfométricos atuam sobre funcionamento do ecossistema
aquático (Sperling, 1999).
Arcifa et al . (1990), destacam que devido à importância dada aos
grandes corpos d’água, o estudo dos pequenos lagos e reservatórios tem
sido posto em um segundo plano, muito embora tais sistemas sejam
extremamente abundantes na paisagem. Nogueira e Matsumura-Tundisi
(1994), enfatizam a importância de se estudar os pequenos reservatórios,
dada a sua ampla distribuição, seus usos múltiplos, dentre eles sua função
de freqüente depositário de despejos domésticos e industriais.
Outro aspecto importante na caracterização de um corpo d’água é o
seu estado trófico. Os graus de trofia de diferentes sistemas aquáticos têm
sido associados a faixas de valores de variáveis físicas como a
transparência da água, químicas como as concentrações de nitrogênio e
fósforo e bióticas como a concentração de clorofila-a . Com base na análise
19
destes parâmetros é possível classificar o ambiente segundo uma escala de
trofia que vai de oligotrófica a hipereutrófica (Carlson, 1977).
A eutrofização de um corpo d’água pode ser traduzida como um
processo decorrente do aumento da concentração de nutrientes,
especialmente fósforo e nitrogênio, natural ou artificialmente. O aumento
da biomassa fitoplanctônica é o sintoma mais acentuado da eutrofização de
um ecossistema aquático (Esteves, 1988).
O estado trófico é um fenômeno multidimensional, envolvendo
aspectos do fluxo e concentração de nutrientes, produtividade, aspectos
quali e quantitativos da flora e fauna aquática, além da morfometria do
ambiente (Carlson, 1977). Conseqüentemente, este mesmo autor considera
que o estado trófico deveria ser avaliado por índices que utilizem diversos
parâmetros, mas que, ao mesmo tempo, seja simples para que possa ser
utilizado pelo maior número de pessoas. Assim, a avaliação do estado
trófico deve ser abordada sob diferentes pontos de vista, através de
concentrações de variáveis físicas, químicas e biológicas e de índices que,
utilizando numericamente estas variáveis, ofereçam um resultado que possa
ser comparado entre ambientes (Nogueira & Ramirez, 1998).
O presente trabalho tem como objetivo descrever as características
morfométricas e hidrológicas de um pequeno reservatório urbano e avaliar
a sua condição trófica em uma escala sazonal.
Área de estudo
O estudo foi desenvolvido na Lagoa do Nado, reservatório situado
dentro de um parque municipal (Parque Fazenda Lagoa do Nado) na região
20
norte de Belo Horizonte, MG (43º 57’34”W, 19º 49’56”S) a uma altitude
de 770 m (Fig. 1). O reservatório está localizado no centro de um pequeno
vale (a diferença altimétrica entre as curvas de nível da lagoa e o ponto
mais elevado da micro-bacia é de 40 metros), sendo rodeado em toda a sua
extensão por uma vegetação secundária formada por árvores de grande
porte (principalmente Eucalyptus sp.). Ele é formado pelo represamento da
água de três nascentes localizadas dentro da área do parque, sendo a sua
saída de água superficial e não manejada.
O clima regional é classificado como tropical B-2 com um moderado
déficit hídrico (Ferreira, 1992), apresentando duas estações distintas: uma
quente e chuvosa (de novembro a março) e outra mais fria e seca (de abril a
outubro). A precipitação anual, em uma escala histórica, gira em torno de
1400-1600 mm (dados do 5º distrito de meteorologia do Ministério da
Agricultura, Belo Horizonte).
Material e métodos
Para a caracterização morfométrica da Lagoa do Nado foi realizado
um levantamento batimétrico utilizando-se uma ecossonda modelo Hondex.
As medidas de profundidade foram tomadas em 20 perfis perpendiculares
ao eixo do maior comprimento da Lagoa. O mapa batimétrico foi desenhado
baseado em um levantamento aerofotogramétrico da região (escala 1:2000,
PRODABEL S/A, no. 5160).
A partir do levantamento batimétrico foi obtida a profundidade
máxima ( )mZ do reservatório. Utilizando-se um programa de análise de
imagens (Scion Image – Scion Corporation) foram determinados os
21
seguintes parâmetros morfométricos primários: área superficial (Al),
perímetro (P), comprimento máximo efetivo (Ce) e largura máxima efetiva
(Le). Também foram determinados por este método a área de cada estrato
horizontal de água, o comprimento das linhas de contorno (isóbatas) e a
área da micro-bacia de drenagem (Ab). O volume do reservatório foi
determinado pelo somatório dos volumes de cada estrato, que foram
calculados segundo a fórmula (Cole, 1983),
( )21213
AAAAhVi ×+⎟⎠⎞
⎜⎝⎛= +
Onde Vi é o volume do estrato i , h é a espessura vertical do estrato e
A1 e A2 a área da borda superior e inferior do estrato, respectivamente. As
curvas hipsográficas profundidade-área e profundidade-volume da Lagoa do
Nado foram plotadas de acordo com Cole (1983).
Foram também calculados os seguintes parâmetros morfométricos
secundários: profundidade média ( )Z , profundidade relativa ( )RZ , índice de
desenvolvimento de volume ( )VD , índice de desenvolvimento de perímetro
( )PD , largura média do reservatório (Lm), declividade média (α ) e o fator
de envolvimento (Fe), de acordo com Sperling (1999).
O tempo de retenção da água foi estimado para os meses de junho,
julho e agosto de 2000 (período de seca) e os meses de dezembro, janeiro e
fevereiro de 2001 (período de chuva). Os cálculos foram realizados através
da razão entre o volume do reservatório e a sua vazão média diária, a qual
foi obtida através do cálculo da velocidade da corrente do canal de saída de
água do reservatório de acordo com Pielou (1998).
22
Para a avaliação do estado trófico da Lagoa do Nado, coletas foram
realizadas mensalmente durante o período de setembro de 1999 a setembro
de 2000 na região central do reservatório. A transparência da água foi
medida utilizando-se um disco de Secchi de 20 cm. Amostras de água para
análise do fósforo total, nitrogênio total e clorofila-a foram coletadas a 0
m, 1 m, 3 m e 5 m, util izando-se garrafa de Van Dorn com capacidade para
2 litros. O fósforo total (PT) foi determinado pelo método de Murphy &
Riley (1962), após digestão a quente com perssulfato de potássio. O
nitrogênio total (NT) foi determinado através da digestão das amostras em
autoclave com perssulfato de potássio com posterior redução para nitritos
(Mackereth et al. , 1978). A clorofila-a , corrigida para feopigmentos, foi
determinada pelo método espectrofotométrico proposto por Lorenzen
(1967) e a extração do pigmento foi realizada usando acetona 90% a frio,
como solvente orgânico.
Utilizando-se os resultados obtidos das medidas de transparência
(disco de Secchi), bem como os valores médios das quatro profundidades
para fósforo total e clorofila-a , foi calculado o IET de Carlson (1977), com
base nas transformações lineares dos valores obtidos para as variáveis
acima citadas.
Resultados e discussão
Morfometria
As variáveis morfométricas e hidrológicas quantificadas para a Lagoa
do Nado são apresentados na tabela I .
23
Dentro do período estudado, a Lagoa do Nado apresentou uma
variação mínima do nível da água (< 30 cm). O tempo de retenção médio
variou de 2,09 dias para o período chuvoso a 78 dias para o período seco.
Quanto às características físicas, a Lagoa do Nado pode ser
classificada como um reservatório muito pequeno (área <1 Km2 e volume
<106 m3) e com um tempo de retenção intermediário (2 semanas < TR < 1
ano) na maior parte do ano (Straskraba, 1999).
O relevo do fundo do reservatório, evidenciado através do mapa
batimétrico (Fig. 2), apresenta uma inclinação regular aumentando da
cabeceira em direção à barragem onde atinge sua profundidade máxima (7,6
metros).
A configuração da bacia do reservatório pode ser evidenciada pelo
índice de desenvolvimento de volume (Dv). Lagos ou represas que possuam
Dv próximos a 1, tem sua bacia com a forma aproximada de um cone, como
é o caso da Lagoa do Nado que apresentou Dv de 1,07. Já aqueles com o Dv
>1, teriam o formato de U e estariam mais expostos à ação do vento
(Sperling, 1999). Outro parâmetro que descreve a forma da bacia é a
relação Zmédio:Zmáximo e o valor desta relação para um cone ideal é de
0,333. O valor encontrado para a L. do Nado foi de 0,35, indicando
novamente a forma cônica da bacia de acumulação do reservatório.
A forma da cavidade do lago também pode ser evidenciada a partir
da análise das curvas hipsográficas (Fig. 3). Podemos observar que a área
de cada estrato do reservatório vai diminuindo de maneira quase linear à
medida que avança em direção ao fundo. De acordo com Sperling (1999),
24
em lagos de formato linear, a declividade é aproximadamente constante ao
longo de todo o terreno inundado.
O índice de desenvolvimento de perímetro (Dp) é uma medida do
grau de irregularidade da região litorânea. Um lago de forma
aproximadamente circular apresenta Dp próximo a 1. Um bom exemplo de
lago nessa categoria seria a Lagoa Carioca situada no Parque Estadual do
Rio Doce que possui um Dp = 1,29 (Tundisi e Mussara, 1986) e o Lago
Parque Norte, Dp = 1,31 (Ramirez, 2000). Por outro lado, corpos d’água de
margens irregulares (ou dentríticas) têm valores de Dp acima de 3,0, como
é o caso do Lago Dom Helvécio, com um Dp igual a 5,45 (Tundisi e
Mussara, 1986).
A Lagoa do Nado apresentou o Dp = 2,75, o que indica um grau
mediano de irregularidade das margens.
O fator de envolvimento indica a relação entre a área da lagoa e a
área da bacia de drenagem. Em geral, quanto maior Fe , menor a capacidade
de diluição do sistema aquático frente ao material transportado a partir de
sua bacia. O valor de Fe foi de 53 para a Lagoa do Nado, valor considerado
alto quando comparado com outros reservatórios: Lagoa da Pampulha, 37;
Reservatório Vargem das Flores, 23; Reservatório Serra Azul, 30;
Reservatório de Formoso, 31 (Sperling, 1994). O valor de Fe da Lagoa do
Nado, localizada numa região intensamente urbanizada, explica o elevado
volume de água que chega ao reservatório no período chuvoso, água esta
que, devido à elevada declividade da área no entorno, causa erosão na área
do parque por onde passa, sendo que todo este material é carreado para
dentro da Lagoa. A redução do tempo de retenção da água do reservatório
25
de 78 dias no período seco para 2 dias no período chuvoso é a principal
alteração física no sistema aquático em conseqüência deste processo.
A declividade média da Lagoa do Nado (2,7%), como Fe , também
exerce importante influência sobre os processos de erosão, transporte e
acumulação de sedimentos provenientes de sua bacia de drenagem. Quanto
maior a declividade da encosta de um lago, mais intenso o carreamento de
material em direção ao fundo (Sperling, 1999).
A Lagoa do Nado apresentou profundidades máxima e média
relativamente baixas de 7,6 m e 2,7 m, respectivamente. Por outro lado,
esse reservatório apresentou uma profundidade relativa elevada (5,5%) se
comparado com outros lagos e reservatórios: Lagoa Carioca, 2,9%; lago D.
Helvécio, 1,1%; Lagoa da Pampulha, 0,9%; Represa de Três Marias, 0,15%
(Sperling, 1994). Este índice proporciona indícios sobre a estabilidade da
coluna d’água (Cole, 1983) e sugere, por seu alto valor, uma alta
estabilidade térmica da mesma. A profundidade relativa indica a relação
entre a profundidade máxima e o diâmetro médio de um lago e está
relacionada aos padrões de circulação de um sistema aquático. Desta forma,
lagos pequenos e profundos possuem altos valores de ZR e estão menos
expostos às influências do vento. Corpos d’água grandes e rasos
apresentam baixos valores de ZR e estão sujeitos a processos de
resfriamento e aquecimento e à ação de mistura pelo vento, impedindo a
formação de estratificações verticais (Panosso, 1998; Sperling, 1999).
Nogueira e Matsumura-Tundisi (1994), analisando as características
físicas e químicas da Represa do Monjolinho, enfatizaram a importância
dos fatores morfométricos (baixos Z , Zm e formato do fundo em forma de
26
U) e das características da área do entorno (margens desprotegidas de
vegetação e declividade suave), na manutenção da instabilidade física do
sistema estudado.
Segundo Panosso et al. (1998), a reduzida estabilidade térmica
encontrada em lagoas costeiras fluminenses, é devida principalmente aos
fatores morfométricos (valores elevados de comprimento e largura máximos
e valores reduzidos de profundidade relativa) que favoreceriam a ação do
vento sobre a coluna d’água.
Henry (1999) analisando a estrutura térmica de reservatórios
brasileiros, destaca o fato de que somente naqueles reservatórios com
tempo de residência maior do que 40 dias, houve o desenvolvimento de
estratificação térmica na coluna d’água. Segundo este mesmo autor, as
mudanças na estrutura térmica de lagos e reservatórios devem-se aos
fatores climatológicos (modificações da radiação solar e à ação do vento),
além dos fatores geográficos e morfométricos.
Como podemos ver, a partir dos resultados mostrados anteriormente,
a Lagoa do Nado apresenta um conjunto de características morfométricas
que reduziriam a ação do vento sobre a sua lâmina d’água: (a) a localização
no fundo de um pequeno vale e tendo suas margens protegidas por uma
vegetação arbórea de grande porte; (b) o formato cônico da bacia de
acumulação do reservatório; (c) o valor elevado de ZR e o reduzido
comprimento e largura máximos efetivos (290 m e 74 m, respectivamente),
entre outros. Todos estes fatores aliados a um tempo de retenção superior a
50 dias, durante a maior parte do ano, poderiam permitir uma maior
estabilidade física no reservatório, influenciando diretamente o padrão de
27
estratificação e circulação do sistema. Isto pode ser evidenciado pelos
dados de temperatura da água e oxigênio dissolvido do reservatório
(retirado de Bezerra-Neto & Pinto-Coelho, no prelo), onde podemos ver
que o reservatório desenvolve uma estável estratificação térmica que
persiste de agosto a maio, apresentando apenas um período de circulação
durante o ano, em junho–julho. Observamos também que o epilímnio é bem
oxigenado, com o desenvolvimento de intensa anoxia no hipolímnio durante
todo o período de estratificação (Fig. 4).
Índice do estado trófico (IET)
Os valores numéricos gerados através do Índice de Estado Trófico
(IET), não definem a condição de eutrofia e somente podem ser
considerados como indicadores dela, já que o melhor indicador do estado
trófico pode variar entre lagos e ainda estacionalmente (Nogueira &
Ramirez, 1998). Carlson (1977) considera que certos pressupostos devem
ser cumpridos antes de se decidir qual dos indicadores, entre a clorofila-a ,
profundidade do Secchi e fósforo total, é o mais apropriado para um
sistema ecológico particular.
Com relação à transparência e a clorofila-a (Tab. II) como
indicadores tróficos, este autor considera que o índice baseado na
transparência não pode ser aplicado a lagos com elevado material
particulado não algal. Com a finalidade de testar este pressuposto, foi
realizada uma análise de regressão linear simples entre a transparência da
água (PS) e a clorofila-a . Os resultados mostraram que a profundidade do
disco de Secchi não apresentou uma associação significativa com a
28
variação do material fitoplanctônico na Lagoa do Nado (n =13; r2 = 0,07; p
= 0,37). Portanto, apenas a clorofila-a foi utilizada no IET para a Lagoa do
Nado, pois a transparência da água (PS) não foi considerada um bom
indicador trófico para o reservatório.
Com relação ao fósforo total (PT), Carlson (1977) considera que o
uso do IET só produz resultados válidos naqueles ambientes em que o
fósforo é o fator limitante para o crescimento algal. De acordo com
Vollenweider (1983), lagos com a razão NT/PT maior do que 9 são
considerados potencialmente limitados por fósforo, enquanto aqueles com
uma razão menor do que 9 são limitados por nitrogênio. Podemos observar
na Tabela II que o valor da razão NT/PT foi maior do que 9 em 77% das
amostragens, o que significa limitação potencial por fósforo em
praticamente todo o ano no ambiente estudado, cumprindo a condição de
Carlson (1977) para poder usar o IET com base no fósforo total.
A Lagoa do Nado, a partir dos valores obtidos para o IET de Carlson
(1977), com base apenas em Cl-a e PT, mostrou-se eutrófica com relação
ao fósforo total, durante praticamente todo o período de estudo, enquanto
que em relação às concentrações de clorofila-a , o reservatório se mostrou
predominantemente mesotrófico (Fig. 5). O reservatório, portanto, pode ser
classificado como meso-eutrófico ao longo do ano de amostragem.
Agradecimentos
Os autores agradecem à Prefeitura de Belo Horizonte e especialmente
aos funcionários do Parque Lagoa do Nado pelo apoio logístico no campo.
À G.G. Landa pela inestimável ajuda durante o levantamento batimétrico.
29
Ao professor A. L. Godinho por gentilmente emprestar a ecossonda
utilizada neste trabalho. Ao Prof. Dr. Raoul Henry e à Profa. Dra. Arnola
Rietzler pelas sugestões e críticas às versões iniciais do manuscrito. Ao
CNPq, pela bolsa de mestrado ao primeiro autor.
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32
Tabela I - Características morfométricas e hidrológicas da Lagoa do Nado,
BH – MG.
PARÂMETROS MORFOMÉTRICOS
Área (A) 15018 m2
Volume (V) 40562 m3
Perímetro (P) 1193 m
Comprimento máximo efetivo (Ce) 290 m
Largura máxima efetiva (Le) 74 m
Profundidade máxima (Zm) 7,6 m
Profundidade média ( Z ) 2,7 m
Z : Zm 0,35
Profundidade relativa (ZR) 5,5%
Largura média (Lm) 51,8 m
Índice de desenvolvimento de volume (DV) 1,07
Índice de desenvolvimento de perímetro (DP) 2,75
Área da micro-bacia de drenagem (Ab) 804535 m2
Fator de envolvimento (Fe) 53
Declividade média (α ) 2,7%
PARÂMETROS HIDROLÓGICOS
PERÍODO SECO
PERÍODO CHUVOSO
Vazão média 0,006 m3.s-1 0,22 m3.s-1 Tempo de retenção 78 dias 2,09 dias
33
Tabela II – Variação mensal dos valores de clorofila-a, profundidade do
disco de Secchi, nitrogênio total (NT), fósforo total (PT) e os valores da
razão NT/PT na Lagoa do Nado, no período de setembro de 1999 a
setembro de 2000.
Data Secchi Clorofila-a NT PT NT/PT (m) (µg.l-1) (µg.l-1) (µg.l-1)
Set/99
1,40
7,26 697,08 42,03 16,6
Out/99
0,70 9,70 1361,97 58,09 23,4
Nov/99
1,10 7,53 1127,36 62,08 18,2
Dez/99
0,30 6,34 1117,05 122,50 9,1
Jan/00
0,60 10,97 666,21 143,30 4,6
Fev/00
0,30 2,57 617,00 85,78 7,2
Mar/00
0,40 8,61 831,18 127,38 6,5
Abr/00
1,40 8,29 519,12 56,93 9,1
Mai/00
1,00 11,11 1275,95 50,31 25,4
Jun/00 0,80 6,90 1679,96 42,05 40,0
Jul/00 1,00 8,26 1599,04 35,72 16,8
Ago/00
1,10 8,26 1106,35 40,04 27,6
Set/00
0,80 10,79 878,96 73,54 12,0
34
Figura 1 – Mapa de localização e aerofotografia mostrando ao centro a
Lagoa do Nado (Fonte: PRODABEL S/A).
35
Figura 2 – Mapa batimétrico da Lagoa do Nado – BH, MG. Intervalos entre
os contornos em metros.
N
Barragem
36
0 20 40 60 80 100
Prof
undi
dade
(m)
0
1
2
3
4
5
6
Área (%) Volume (%)
0 20 40 60 80 100
A B
Figura 3 – Curvas hipsográficas profundidade-área (A) e profundidade–
volume (B) da Lagoa do Nado – BH, MG.
37
mg O2.l-1
set/99
18 21 24 27 30
0
1
2
3
4
5
6
0 2 4 6 8 10
18 21 24 27 30
0 2 4 6 8 10
18 21 24 27 30
0 2 4 6 8 10
18 21 24 27 30
0 2 4 6 8 10
out/99 nov/99 dez/99
T (ºC)
mg O2.l-1
PR
OFU
ND
IDA
DE
(m)
mai/00
18 21 24 27 30
0
1
2
3
4
5
6
0 2 4 6 8 10
jun/00
18 21 24 27 30
0 2 4 6 8 10
jul/00
18 21 24 27 30
0 2 4 6 8 10
ago/00
18 21 24 27 30
0 2 4 6 8 10
T (ºC)
18 21 24 27 30
0 2 4 6 8 10
18 21 24 27 30
0
1
2
3
4
5
6
0 2 4 6 8 10 12
18 21 24 27 30
0 2 4 6 8 10
18 21 24 27 30
0 2 4 6 8 10
abril/00mar/00jan/00 fev/00
mg O2.l-1
T (ºC)
Fig. 4 – Perfis de temperatura (ºC, linhas tracejadas) e oxigênio dissolvido
(mg O2.l -1 , linhas contínuas) na Lagoa do Nado, durante o período de
setembro de 1999 a agosto de 2000 (modificado de Bezerra-Neto & Pinto-
Coelho, no prelo).
38
set/9
9ou
t/99
nov/9
9
dez/9
9jan
/00fev
/00
mar/00
abr/0
0
mai/00
jun/00
jul/00
ago/0
0se
t/00
IET
35
40
45
50
55
60
65
70
75
80
Fósforo totalClorofila-a
E
M
O
Figura 5 – Variação mensal do estado trófico da Lagoa do Nado segundo o
IET de Carlson (1977) para o fósforo total e clorofila-a.
39
1.2 – A Estrutura térmica, o trabalho do vento e a
estabilidade de um reservatório tropical raso: Lagoa do
Nado, MG – Brasil
40
A Estrutura térmica, o trabalho do vento e a estabilidade de um
reservatório tropical raso: Lagoa do Nado, MG – Brasil.
BEZERRA NETO, J. F.1 & PINTO-COELHO, R. M. 2
1 Programa de Pós-Graduação em Ecologia, Conservação e Manejo da Vida
Silvestre, Universidade Federal de Minas Gerais. CP 486, 30161-970, Belo
Horizonte-MG, Brasil . (Email - [email protected])
2 Laboratório de Ecofisiologia de Organismos Planctônicos, Departamento
de Biologia Geral, Instituto de Ciências Biológicas, Universidade Federal
de Minas Gerais, Belo Horizonte-MG, Brasil.
(Email – [email protected])
RESUMO: Estrutura térmica, o trabalho do vento e a estabilidade de
um reservatório tropical raso: Lagoa do Nado, MG - Brasil . A Lagoa do
Nado (19º 49’56”S, 43º 57’34”W) é um pequeno reservatório (área 15 000
m2, profundidade média 2,7 m), situado na região urbana de Belo
Horizonte, MG. Perfis da temperatura da água e dados climáticos em um
ciclo anual foram util izados na análise do regime térmico, padrões de
estratificação e mistura do reservatório. Também foram quantificados o
conteúdo de calor, a estabilidade da estratificação e o trabalho do vento.
Apesar de sua pequena profundidade média, o reservatório foi identificado
como monomítico quente, com um período de estratificação térmica bem
definido (setembro a maio) e apenas um período de circulação (junho e
julho). O balanço térmico anual do reservatório foi de 1465 cal.cm- 2. O
41
trabalho do vento máximo na distribuição do calor e a estabilidade máxima
da estratificação da coluna d’água foram de 46,37 g.cm.cm- 2 e 13,42
g.cm.cm- 2, respectivamente.
Palavras-chave : estrutura térmica, conteúdo de calor, estabilidade,
trabalho do vento, reservatório.
ABSTRACT: Thermal structure, the work of the Wind, and the stability
of a shallow tropical reservoir: Lagoa do Nado, MG - Brasil . Lake Nado
(19º 49’56”S, 43º 57’34”W) is a small reservoir (area 15000 m2, mean
depth 2.7 m) situated in Belo Horizonte city capital of the state of Minas
Gerais, Brazil. Water temperature profiles and climatic data from an annual
cycle were used in the analysis on the thermal regimes and patterns of
stratification and mixing. The heat content, the stability of the
stratification and the work of the wind were also estimated. Although
shallow, the reservoir was classified as warm monomictic, with a
relatively long period stratification (September to May) and a short period
of circulation (June and July). The annual heat budget of the reservoir was
of 1465 cal.cm- 2. The maximum work of the wind in the heat distribution
and the maximum stability of the water column was 13,42 g-cm.cm- 2 and
46,37 g-cm.cm- 2, respectively.
Key words: Thermal structure, heat content, stability, wind of work,
reservoir.
Introdução
Lagos e reservatórios de regiões tropicais tem sido caracterizados por
exibirem altas temperaturas na superfície e um baixo valor de estabilidade
42
devido às pequenas diferenças entre a temperatura da superfície e do fundo
(Henry, 1999). Quando são suficientemente profundos para estratificar, os
lagos tropicais tendem a circular previsivelmente em breves períodos,
permanecendo estratificados no restante do ano. Esse padrão é conhecido
como sendo o padrão monomítico de circulação (Lewis, 1987, Henry,
1997). Na maioria dos casos a estação de circulação coincide com o
inverno hemisférico, quando são observados os menores valores de
temperatura da água. A circulação, entretanto, pode não ser completa e o
período de mistura é mais curto do que em lagos temperados (Lewis, 1996).
Alguns lagos e reservatórios tropicais apresentam padrões de
estratificação e circulação que não se originam apenas das mudanças
sazonais na radiação. Por exemplo, ambientes sujeitos a episódios de
tempestades tropicais (Lewis, 1983a) e vento (Towsend, 1998) podem
apresentar períodos de circulação completa em diversos períodos no ano.
Esta gama complexa de comportamento térmico, que também inclui aqueles
ambientes que circulam todos os dias (Nogueira & Matsumura-Tundisi,
1994; Ramirez, 2000) e aqueles que são permanentemente estratificados
(Melack & Jellison, 1998), têm sua gênese na diversidade climática tropical
aliada a certas características morfométricas do lago ou reservatório e sua
interação com o clima.
O objetivo deste trabalho é descrever o padrão de estratificação e
circulação sazonal, o conteúdo de calor, a estabilidade da estratificação e o
trabalho do vento em um reservatório urbano, a Lagoa do Nado. São
também avaliadas a influência dos fatores climáticos e morfométricos, além
da proteção contra o vento sobre o regime térmico deste reservatório raso.
43
Área de estudo
A lagoa do Nado (19º 49’56”S, 43º 57’34”W) é um reservatório com
cerca de 15000 m2 de área superficial, volume de 40562 m3 e com uma
profundidade média de 2,7 metros (Fig. 1). Está situada no Parque
municipal Lagoa do Nado, na região norte do município de Belo Horizonte.
A área (300.000 m2) atualmente ocupada pelo parque era, até o final da
década de 60, uma fazenda chamada “Engenho do Córrego do Nado”. Em
1973, através de um decreto municipal indicando a desapropriação, foi
prevista a destinação do espaço para a construção de um parque. A partir da
mobilização da comunidade, o terreno da antiga fazenda foi comprado pela
prefeitura de Belo Horizonte e, em 1994, o parque foi entregue à
população. Atualmente o reservatório é ornamental, destinado à recreação e
lazer.
Em toda a orla do reservatório existe uma vegetação secundária
formada por árvores de grande porte (principalmente Eucalyptus spp .) . O
lago artificial é formado pelo represamento da água de três nascentes
localizadas dentro da área do parque. O tempo de retenção da água varia de
2,09 dias no período das chuvas a 78 dias na estação seca. A tabela I
apresenta as características morfométricas da Lagoa do Nado.
Material e métodos
Entre setembro de 1999 e setembro de 2000, a temperatura da água e
o oxigênio dissolvido foram medidos mensalmente na região central do
reservatório (prof = 6,5 m). Perfis verticais foram realizados a cada 0,5 m
44
utilizando-se um oxímetro-termístor digital YSI (modelo 55). As
amostragens foram sempre realizadas entre 8:00 e 9:00 horas, antes que um
aumento da acumulação de calor pela manhã alterasse a estrutura térmica
alcançada no final da madrugada (Lewis, 1983a). A transparência da água
foi avaliada utilizando-se disco de Secchi de 20 cm de diâmetro.
Os dados climáticos foram coletados pela estação meteorológica do
aeroporto da Pampulha (Infraero), distante cerca de 3 km do reservatório.
Os dados incluem a velocidade média diária do vento, temperatura máxima
e mínima e a pluviosidade média diária do período.
O conteúdo de calor foi calculado como o produto do volume de cada
estrato pela sua temperatura média, assumindo que um grama de água ocupa
o volume de 1 ml e que o calor específico da água é 1 cal.g- 1.ºC- 1 (Cole,
1983).O resultado foi expresso como conteúdo de calor por unidade de área
(cal. cm- 2), que é a razão entre o conteúdo de calor de todos os estratos e a
área da superfície do lago.
A resistência térmica relativa à mistura (R.T.R.), foi calculada
comparando-se a diferença de densidade entre os estratos e a diferença da
densidade da água a 4 ºC e 5 ºC (Wetzel, 1983). Foi utilizada a tabela de
densidade da água de Dadon (1995).
A estabilidade (S), definida como a resistência inercial à mistura
(sem adicionar nem subtrair energia no processo) completa do lago causada
pela diferença vertical de densidade (Wetzel, 1983), foi determinada de
acordo com a equação de Idso (1973):
( ) ( ) zZo
ZmdZZAz
AoS ρρρ −−= ∫
1
45
Onde, Ao=superfície do lago (cm2); Az= área na profundidade Z; Zm
e Zo a profundidade máxima e superfície (positivo e em cm); ρ =densidade
(g.cm- 3) na profundidade Z; ρ é a densidade média quando o lago adquire
isotermia, ρZ é a profundidade (cm) aonde a densidade média ( ρ ) ocorre
antes da mistura.
O trabalho do vento (B , no conceito de Birge) na distribuição de
calor, definido como o trabalho necessário para levar a coluna d’água de
uma condição de isotermia (determinado pelo perfil térmico com menor
conteúdo de calor, julho no nosso caso) para um dado nível de
estratificação (Cole, 1983), foi calculado por:
( ) zzzZo
ZmdA
AoB ρρ −= ∫ 1
1
Onde, Ao=superfície do lago (cm2); Az= área na profundidade Z; Zm e
Zo a profundidade máxima e superfície (positivo e em cm); 1ρ =densidade
inicial determinada pela condição de isotermia (constante para todas as
profundidades)na profundidade Z; zρ = densidade da água na profundidade
Z .
Seguindo o exemplo de diversos autores (Cole 1983; Henry &
Barbosa, 1989; Kjensmo, 1994), a aceleração da gravidade foi omitida no
cálculo de B e S e a unidade empregada foi g.cm.cm- 2 .
O índice de tropicalidade, que é um índice que busca comparar lagos
e reservatórios através do seu conteúdo mínimo de calor, foi calculado
segundo Coche (1974),
ZCRTI =
46
Onde, CR = calor residual e Z = profundidade média.
Resultados
A distribuição das chuvas durante o período estudado seguiu o padrão
típico da região, com o período de inverno seco e o verão chuvoso (Fig. 2).
A estação seca compreendeu aproximadamente 5 meses (abril a agosto) com
média de precipitação diária de 0,7 mm.dia- 1. A estação chuvosa também
compreendeu um período de 5 meses (novembro a março) e com média de
precipitação diária de 7 mm.dia- 1. Os meses de setembro e outubro por sua
vez, apresentaram-se como de transição entre a estação seca e a chuvosa,
pois apesar das altas temperaturas máximas e mínimas, a pluviosidade foi
baixa apresentando um valor médio de 1,2 mm.dia- 1 (média dos anos 1999 e
2000).
A temperatura do ar também apresentou sazonalidade (Fig. 2). Os
maiores valores da temperatura máxima e mínima diária foram de 35,3 ºC
em outubro de 1999 e 23 ºC em janeiro de 2000, respectivamente. A partir
do início da estação seca (abril), os valores da temperatura do ar
diminuíram, apresentando os menores valores de temperatura máxima em
agosto de 2000 (18 ºC) e de temperatura mínima em julho de 2000 (6 ºC).
A velocidade média diária do vento não mostrou um padrão sazonal,
apresentando baixos valores durante todo o período estudado (Fig. 2). Os
meses de maior intensidade dos ventos foram setembro e outubro de 1999
(período de transição seca-chuva), com o maior valor registrado de 5,0 m.s-
1 e a média do período 3,0 m.s- 1. A estação chuvosa e a estação seca não
apresentaram diferenças marcantes quanto à intensidade do vento (2,6 m.s- 1
47
e 2,4 m.s- 1 de velocidade média diária do vento no período,
respectivamente).
A temperatura da água da superfície e do fundo no reservatório pode
ser vista na Figura 3. No período de transição seca-chuva (setembro-
outubro) o hipolímnio do reservatório começou a se aquecer e esta
tendência de elevação foi mantida até o final da estação chuvosa, variando
de 18,9 ºC em setembro para 22,3 ºC em março, quando alcançou o seu
valor mais elevado. Durante toda a estação chuvosa foi notada ampla
variação da temperatura da água na superfície, de 22,8 ºC em novembro a
27 ºC em janeiro, fazendo com que Δ t , que é a diferença entre a
temperatura da superfície e do fundo, apresentasse uma ampla variação, de
5,4 ºC em outubro/99 a 1,9 ºC em janeiro/00. Durante a estação seca,
observou-se uma grande diminuição da temperatura da superfície e em
junho e julho, o reservatório apresentou isotermia, verificando-se os
menores valores de temperatura da água, além das menores diferenças entre
a temperatura da superfície e do fundo (Δt = 0,4 ºC). Em agosto e setembro
de 2000, a coluna d’água apresentou um pequeno gradiente de temperatura
entre a superfície e fundo (Δt = 0,9 ºC em agosto e Δ t =1,3 ºC em setembro
de 2000).
O reservatório apresentou estratificação térmica durante todo o
período estudado, à exceção dos meses de junho e julho de 2000 (Fig. 4).
Em setembro e outubro de 1999, caracterizado pela baixa pluviosidade e
altas temperaturas máxima e mínima do ar (Fig. 2), o epilímnio apresentou
uma espessura de 1,5 metro. Na estação chuvosa, apresentando uma grande
instabilidade climática, a espessura do epilímnio foi drasticamente reduzida
48
de aproximadamente 1,5 metro em novembro de 1999 para menos de 0,5 m
em média durante todo o restante do período. A partir de abril de 2000,
com a diminuição da temperatura da água, a interface entre o metalímnio e
o hipolímnio foi deslocada para as zonas mais profundas do lago, com a
camada epilimnética alcançando o seu valor máximo em maio (3 m). Apesar
da pequena descontinuidade entre a temperatura da superfície e do fundo
em abril e maio (Fig. 3), o reservatório permaneceu estratificado. Em junho
e julho a condição de isotermia foi alcançada na coluna d’água e nos meses
de agosto e setembro/2000 o reservatório voltou a desenvolver a
estratificação térmica, com a termoclina formando-se a partir dos 3 metros.
Durante todo o período de estratificação térmica um padrão de distribuição
de oxigênio do tipo clinogrado foi detectado no reservatório, com o
conteúdo de oxigênio no hipolímnio reduzido a níveis próximos à anoxia
(Fig. 4).
Os valores de transparência da água no reservatório, avaliado através
da profundidade do disco de Secchi, variaram de 0,30 a 1,40 m (Fig. 4). A
estação chuvosa apresentou os menores valores, com 0,40 m em média e a
estação seca e de transição os maiores, com média de 1,01 m.
A variação anual e com a profundidade da resistência térmica relativa
à mistura (R.T.R.) pode ser vista na Figura 5. Os menores valores são
observados no período de circulação (junho e julho) em que a coluna
d’água encontrava-se isotérmica e os maiores valores são encontrados
durante os meses de dezembro/99 e janeiro/00. Durante todo o período de
estratificação os maiores valores de R.T.R. são encontrados acompanhando
a profundidade da termoclina.
49
O conteúdo de calor na Lagoa do Nado (Fig. 7) apresentou um padrão
sazonal na sua evolução, com o menor valor sendo observado durante o
inverno (5,06 kcal.cm- 2 ,em julho) e o maior valor no verão (6,45 kcal.cm- 2
, em janeiro). Durante o período chuvoso, o conteúdo de calor apresentou
flutuações, provavelmente devido à intensa nebulosidade, associada a
chuvas e mudanças abruptas na temperatura do ar que ocorreram nesta
época do ano e que influenciaram na quantidade de radiação que chegou no
reservatório. O conteúdo de calor apresentou uma relação positiva com a
temperatura da água da superfície (r = 0,96; p=<0,0001), com o valor do
coeficiente de determinação indicando que as variações da temperatura
superficial explicam 92% da variação do conteúdo de calor no reservatório
(Fig. 8).
A estabilidade da estratificação (Fig. 7) mostrou o mesmo padrão do
conteúdo de calor, apresentando o seu valor máximo em janeiro (13,42
g.cm.cm- 2) e mínimo durante o período de circulação em junho e julho
(0,53 e 0,86 g.cm.cm- 2, respectivamente). A estabilidade também
apresentou flutuações entre os meses durante o período chuvoso,
entretanto, tais flutuações foram de grande amplitude devido às variações
no gradiente térmico entre a temperatura da superfície e do fundo que
ocorreram durante este período (Fig. 3). A estabilidade da estratificação
não apresentou relação significativa com a intensidade do vento, mais foi
positivamente relacionada com a temperatura superficial da água do
reservatório (r = 0,83, p = 0.0002), com a temperatura da água explicando
70% da sua variação (Fig. 8).
50
Assim como o conteúdo de calor, o trabalho do vento apresentou seu
valor mais elevado no verão, em março (46,37 g-cm.cm- 2) e foi 3,45 vezes
superior à estabilidade máxima alcançada durante o período de estudo (Fig.
7).
O balanço térmico anual (diferença entre o conteúdo de calor máximo
e mínimo durante o ano, Cole 1983) para a Lagoa do Nado foi de 1465
cal.cm- 2. ano- 1. Esta diferença implica em uma perda de calor de 8,4 cal.cm-
2.dia- 1 entre o período de 12 de janeiro a 05 de julho de 2000. A eficiência
de aquecimento (razão entre o trabalho do vento máximo e o balanço
térmico anual, Lewis 1983) foi de 0,04 g-cm.cal- 1 e o índice de
tropicalidade foi de 1874 cal.cm- 2.m- 1.
Discussão
A Lagoa do Nado apresentou apenas um período de circulação
durante o ano de estudo, na estação seca, coincidindo com o período de
inverno. Este padrão encaixa-se no modelo monomítico quente de
classificação de lagos proposto por Lewis (1983 b). Entretanto, diversos
estudos enfocando a dinâmica térmica de reservatórios tropicais rasos
brasileiros (Arcifa et al. , 1990; Nogueira & Matsumura-Tundisi, 1994;
Mercante & Bicudo, 1996; Henry, 1999) mostram um quadro diferente,
onde predominam o padrão de polimixia, ou seja, diversos episódios de
circulação durante o ano. A polimixia contínua e descontínua em corpos
d’água de pequena profundidade da região tropical é o padrão mais comum
encontrado devido principalmente à ação do vento sobre a superfície da
água e às altas perdas de calor noturno por fenômenos convectivos (Lewis,
51
1996). Quais seriam, portanto, as razões que concorreriam para manter a
estratificação térmica da Lagoa do Nado, um reservatório com apenas 2,7
metros de profundidade média, por aproximadamente 10 meses no ano e
com apenas um curto período de circulação no inverno (junho-julho)?
As razões podem estar relacionadas ao que Timms (1975) chama de
fatores ativos (clima e proteção contra o vento) e passivos (morfometria)
que controlariam o regime térmico em ecossistemas aquáticos. A Lagoa do
Nado, além de estar sujeita aos fatores climatológicos típicos da região
tropical, encontra-se situada no fundo de um pequeno vale, com margens
protegidas por uma vegetação arbórea de grande porte, o que lhe confere
uma proteção extra contra a ação do vento sobre a sua lâmina d’água.
Quanto às suas características morfométricas que, segundo Timms (1975),
são mais importantes do que os componentes ativos na eficiência da
distribuição de calor podemos ver que o formato cônico da bacia de
acumulação do reservatório (Zm e d:Zma x = 0,35), o valor elevado da
profundidade relativa (5,5%) e o reduzido comprimento e largura máximos
efetivos (290 m e 74 m, respectivamente), concorrem para a estabilidade
física do reservatório. Some-se a tudo isto a baixa intensidade do vento
durante todo o período de estudo, que podem ser classificados como brisas
muito fracas (1,6 – 3,3 m.s-1) a fracas (3,4 – 5,4 m.s-1) e chega-se
possivelmente nas razões do porque um padrão de circulação térmica tão
peculiar em um corpo d’água tão raso.
Os baixos valores de transparência da água observados na Lagoa do
Nado também podem ter contribuído para a manutenção da estratificação
térmica no reservatório. De acordo com Towsend (1996), em corpos de
52
água com altos valores de transparência, o aquecimento solar direto produz
pequenos gradientes de densidade vertical quando comparados com águas
com baixa transparência. O pequeno gradiente de densidade e, portanto, a
baixa resistência à mistura vertical nos corpos de água clara, resulta em um
epilímnio mais profundo. Os baixos valores de transparência da água,
principalmente durante a estação chuvosa, aliado à pequena espessura do
epilímnio, funcionariam como uma barreira à transferência das mudanças
de temperatura da superfície para as camadas mais profundas do
reservatório. A profundidade na qual a camada de mistura (epilímnio) é
limitada durante o período de estratificação é muito importante
principalmente porque a termoclina originada durante a estratificação isola
o hipolímnio das fontes de calor e produção da superfície (Hanna, 1990).
O padrão sazonal de estabilidade na Lagoa do Nado esteve
diretamente ligado à variação da temperatura da superfície e em última
análise, como a temperatura da água está conectada à radiação (Lewis,
1996), à variação sazonal da radiação que chega no reservatório. Os baixos
valores encontrados devem-se basicamente ao pequeno volume do
reservatório aliado às pequenas diferenças entre a temperatura da superfície
e do fundo (Δt) . Um fator importante na diminuição de Δt foi o
aquecimento do hipolímnio durante todo o período de estratificação. A
elevação da temperatura hipolimnética diminuiu o gradiente térmico
vertical causando a diminuição da estabilidade do reservatório. O
suprimento de calor para as camadas mais profundas do reservatório
durante todo o período de estratificação foi conseqüência da radiação solar
direta e do trabalho do vento. A importância da radiação pode ser notada
53
pelas flutuações na estabilidade térmica do reservatório durante a estação
chuvosa. Durante o verão, a Lagoa do Nado passou por diversos episódios
de intensa nebulosidade e chuva. A densa cobertura de nuvens reduziu a
radiação incidente, provocando perdas de calor superficial. O reflexo direto
deste processo pode ser visto na diminuição, durante estes episódios, da
temperatura superficial, do conteúdo de calor e em maior grau da
estabilidade térmica do reservatório. Entretanto, a redução da estabilidade
não provocou a “erosão” da termoclina e o aprofundamento da camada de
mistura (que se manteve estável durante toda a estação chuvosa).
O trabalho do vento (B) apresentou valores mais elevados do que a
estabilidade (S) durante praticamente todo o período de estudo. Tendência
similar pode ser observada para a Lagoa Carioca e Dom Helvécio (Henry &
Barbosa, 1989), Lago Steinfjord (Kjensmo, 1994), reservatório de
Jurumirim (Henry, 1993) e Lago do Parque Norte (Ramirez, 2000). A
relações entre a estabilidade e o trabalho do vento na manutenção da
estratificação térmica são discutidas por Kjensmo (1994) que sugere a
utilização da razão (B+S)/B como uma maneira de se avaliar o grau de
“estagnação” das águas profundas de um corpo d’água. A expressão
(B+S)/B é a razão entre a quantidade de energia necessária para manter
condições isotérmicas no lago durante o período de estratificação e a
energia real gasta na manutenção da estratificação e é obtida durante o
período em que o corpo d’água exibe a estabilidade (S) em seu valor
máximo. Como exemplo de variação da razão (B+S)/B, o autor cita os lagos
Steinsfjord e Holsfjord, ambos localizados na Noruega. Para o Lago
Steinsfjord, com uma profundidade máxima de 22 metros, a razão (B+S)/B
54
é de 1,42 (Tab. II), significando que um aumento de 42 % na energia
externa fornecida ao sistema seria suficiente manter a sua massa de água
em condições isotérmicas e para prevenir a estratificação térmica durante o
verão. Para o Lago Holsfjord, com profundidade máxima de 295 metros, o
aumento no suprimento de energia deveria ser de aproximadamente 12
vezes (razão (B+S)/B = 11,86). Os valores obtidos para alguns corpos
d’água tropicais (Tab. II), indicam que seria necessário um aporte de
energia extra de aproximadamente 48% para manter a Lagoa Carioca em
isotermia no período de máxima estratificação, 35% para o Lago Dom
Helvécio, 30% Lagoa do Nado e 11% para o Lago Parque Norte e o
Reservatório Jurumirim. Vemos que a variação da razão (B+S)/B independe
da profundidade do corpo d’água e que quanto maior o valor do trabalho do
vento (B) em relação à estabilidade (S) no período de máxima
estratificação, menor a razão (B+S)/B. Entretanto, é necessário salientar,
como afirma Kjensmo (1994), que a razão (B+S)/B apenas indica a
magnitude de processos energéticos envolvidos na formação e manutenção
da estratificação térmica e não pode ser utilizado na comparação entre
corpos d’água, o que poderia induzir-nos a pensar, por exemplo, que o
reservatório Jurumirim, com uma profundidade máxima de 40 metros e um
padrão monomítico quente de circulação (Henry, 1993), seria tão instável
quanto a Lagoa Parque Norte, com profundidade máxima de 2,10 metros e
padrão de circulação polimítico contínuo (Ramirez, 2000).
O balanço térmico, o índice de tropicalidade e a eficiência de
aquecimento da Lagoa do Nado e de alguns corpos de água tropical são
mostrados na Tabela III. O índice de tropicalidade nos mostra que a Lagoa
55
do Nado se insere dentro dos limites do que Coche (1974) identifica como
lago tropical. O índice de tropicalidade é uma medida da quantidade de
calor por metro de profundidade e é influenciado, segundo Ramirez (2000),
pela temperatura que o corpo d’água apresenta durante o período de
conteúdo de calor mínimo, que é normalmente o período de mistura.
O balanço térmico da Lagoa do Nado foi pequeno. A influência da
morfometria do reservatório neste processo foi provavelmente de duas
formas distintas: a pequena profundidade média impediu que o reservatório
armazenasse grandes quantidades de calor e por outro lado, a pequena área
superficial e o formato cônico da bacia de acumulação dificultaram a perda
do pequeno calor acumulado. A ecopaisagem (landscape feature) , com a
prevalência de grandes árvores (>25metros) na orla e cobrindo uma faixa
de 40-100 metros do entorno também agiu no sentido de otimizar a
conservação de energia no sistema. A comparação entre o balanço térmico
da Lagoa do Nado com o balanço térmico de diferentes corpos d’água
torna-se difícil , como afirma Arcifa et al . (1990), em virtude das diferenças
morfométricas existentes entre eles. A eficiência de aquecimento observada
para o reservatório reforça, como já foi citado por Henry & Barbosa
(1989), que tanto a área de um corpo d’água, proporcionando um maior ou
menor contacto entre o vento e a área superficial, quanto a proteção contra
o vento são determinantes na eficiência da distribuição do calor e, portanto
justificaria a pequena eficiência de aquecimento observada na Lagoa do
Nado.
56
Agradecimentos
Os autores agradecem à Prefeitura de Belo Horizonte e especialmente
aos funcionários do Parque Lagoa do Nado pela colaboração; à estação
meteorológica do Aeroporto da Pampulha por ter cedido os dados
climáticos; à Laura Rull del Aguila e Daniel Peifer Bezerra pelo
inestimável auxílio durante o trabalho de campo; à Profa. Dra. Arnola C.
Rietzler, Prof. Dr. Raoul Henry e aos dois revisores anônimos pelas
sugestões e críticas às versões iniciais do manuscrito e ao CNPq pela
concessão da bolsa de mestrado ao primeiro autor.
Referências citadas:
Arcifa, S., Meschiatti , A. J. e Gomes, E. A. T. 1990. Thermal regime and
stability of a tropical shallow reservoir: Lake Monte Alegre, Brazil.
Rev. Hydrobiol. Trop., 23: 271-281.
Coche, A. G. 1974. Limnological study of a tropical reservoir. Em E. K.
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Hague. 247p.
Cole, G. 1983. Textbook of limnology, C. V. Mosby Company, Toronto,
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Dadon, J. R. 1995. Calor y temperatura en cuerpos lenticos. Em E. C.
Lopretto & G. Tell (eds.), Ecosistemas de aguas continentales.
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60
Tabela I – Dados morfométricos da lagoa do Nado, MG.
Área (A) 15018, m2
Volume (V) 40562, m3
Comprimento máximo efetivo (Ce) 290 m
Largura máxima efetiva (Le) 74 m
Profundidade máxima (Zmax) 7,6 m
Profundidade média (Zmed) 2,7 m
Profundidade relativa (ZR) 5,5%
Zmed : Zmax 0,35
Índice de desenvolvimento de volume (DV) 1,07
Índice de desenvolvimento de perímetro (DP) 2,75
61
Tabela II – O trabalho do vento (B), a estabilidade térmica (S) e a razão
(B+S)/B de alguns lagos e reservatórios.
Lago/Reservatório
B
S
(B+S)/B
Autores
D. Helvécio
963
335
1,35 Henry & Barbosa, 1989
Carioca
190 *
92
1,48
Henry & Barbosa, 1989
Jurumirim
3037,50
324,2
1,11
Henry, 1993
L. do Nado
45,05
13,42
1,30
Este estudo
Parque Norte
26 *
3
1,11
Ramirez, 2000
Steinsfjord
1042
442
1,42
Kjensmo, 1994
Holsfjord
1510
16400
11,86
Kjensmo, 1994
* Estes valores foram estimados a partir de gráficos mostrados nos trabalhos dos autores, portanto é possível que o valor real seja um pouco maior ou menor do que o mostrado na tabela.
62
Tabela III – Balanço térmico e índice de tropicalidade de diversos corpos
de água tropicais.
Lago / Reservatório
Ano Balanço térmico
(cal.cm-2.m-1)
Índice de tropicalidade
(cal.cm-2.m-1)
Eficiência de aquecimento
(g-cm.cal-1)
Autor
Dom Helvécio
1978
5732
2010
0,17
Henry & Barbosa, 1989
Carioca
1982-83
3163
2159
0,07
Henry & Barbosa, 1989
Jurumirim
1988-89
14050
1978
0,22
Henry, 1993
Parque Norte
1991-92
490
1740
0,066
Ramirez, 2000
Monte Alegre
1985-86
3030
1776
Arcifa et al., 1990
Das Garças
1997
1485
1577
Henry, 1999
Valencia
1977
4755
2710
0,55
Lewis, 1983
Lagoa do Nado
1999-00
1465
1874
0,04
Este estudo
63
Figura 1 – Mapa batimétrico da Lagoa do Nado, mostrando a localização da
estação de coleta.
64
Temperatura mínima
ºC
10
15
20
25
vento
m.s
-1
0
2
4
6
ESTAÇÃO SECAESTAÇÃO CHUVOSA
Temperatura máxima
15
20
25
30
35
ºC
1999 2000
Pluviosidade
S O N D J F M A M J J A S O N
mm
.dia
-1
0
20
40
60
80
Figura 2 – Variação diária dos dados climatológicos, de setembro de 1999 a
novembro de 2000. Os valores de precipitação (mm.dia- 1) e velocidade do
vento (m.s- 1) referem-se às médias diárias.
65
1999 2000
S O N D J F M A M J J A S
Tem
pera
tura
(ºC
)
10
15
20
25
30
Figura 3 – Temperatura da água da superfície (linha contínua) e do fundo
(linha tracejada) na Lagoa do Nado, durante o período de setembro de 1999
a setembro de 2000.
66
prof
(m)
1
2
3
4
5
6
19,5
20,0
19,0
18,5
19,0
19,5
21,521,020,520,019,5
22,0
22,5
22,5
23,0
22,0
23,522,5
23,0
23,5
22,0
23,0
22,522,0
23,524,024,5
22,0
21,5
22,523,523,024,0
21,0
20,5
21,522,0
22,5
21,5
21,0
20,5
22,022,5
20,0
19,5
22,5
23,023,524,0
1999 2000
S O N D J F M A M J J A S
Prof
. (m
)
1
2
3
4
5
6
1
1
1
2
2
2
3
3
3
3
4
4
4
5 5 5
22
1
6 6
7 7
8
44
33
6 6
7 7
4
4
3
3
3
2
21
111
2
2
2
3
4
34
5
1
1
1
1
1
1
1
1
1
2 2
3456
2
2
22
3
3
3
4
4
45
5
5
67
8
11
6 6
7
8
B
C
A
1999 2000S O N D J F M A M J J A S
Prof
. (m
)
0,5
1,0
1,5
2,0
Figura 4 – Diagrama profundidade-tempo da transparência do disco de
Secchi (A); temperatura da água (B, isotermas em ºC) e oxigênio dissolvido
(C, isolinhas em mg O2.l - 1) na Lagoa do Nado de setembro de 1999 a
setembro de 2000.
67
TEMPERATURA (ºC)
PRO
FUN
DID
ADE
(m)
set/99
18 21 24 27 30
0
1
2
3
4
5
6
0 20 40
out/99
18 21 24 27 30
0 20 40
nov/99
18 21 24 27 30
0 20 40
fev/00
0 20 40
jan/00
0
1
2
3
4
5
6
0 20 40 60
mar/00
0 20 40
jul/00
0
1
2
3
4
5
6
0 5 10
set/00
0 10 20
dez/99
18 21 24 27 30
0 20 40 60 80
abr/00
0
1
2
3
4
5
6
0 10 20 30
jun/00
0 5 10
mai/00
0 10 20
RTR
ago/00
0 5 10
Figura 5 – Variação sazonal da temperatura da água (ºC) e da resistência
térmica relativa à mistura (R. T. R.) na Lagoa do Nado.
68
ESTA
BIL
IDA
DE
(g
.cm
.cm
-2)
0
4
8
12
16
CO
NTE
ÚD
O D
E C
ALO
R
(K
cal.c
m-2
)
5.0
5.5
6.0
6.5
1999 2000S O N D J F M A M J J A S O
TRAB
ALH
O D
O V
ENTO
(g.c
m.c
m-2
)
0
10
20
30
40
50
60
70
Figura 6 – Variação do conteúdo de calor, estabilidade e trabalho do vento
na Lagoa do Nado, durante o período de setembro de 1999 a setembro de
2000.
69
Temp. superfície (ºC)
18 20 22 24 26 28
Con
teúd
o de
cal
or (k
cal.c
m-2
)
5,0
5,5
6,0
6,5
7,0
Temp. superfície (ºC)
18 20 22 24 26 28
Est
abilid
ade
(g.c
m.c
m-2
)
0
2
4
6
8
10
12
14
16
y = 1,41x - 26,23r = 0,83 , p = 0,0002n = 14
y = 0,18x + 1,78r = 0,96 , p = <0,0001n = 14
A
B
Figura 7 – Regressão linear entre a temperatura da água na superfície e (A)
conteúdo de calor e (B) estabilidade térmica.
70
1.3 – O déficit de oxigênio em um reservatório urbano:
Lagoa do Nado, Belo Horizonte – MG.
71
O déficit de oxigênio em um reservatório urbano:
Lagoa do Nado, Belo Horizonte – MG
BEZERRA NETO, J. F.1 & PINTO-COELHO, R. M. 2
1 Programa de pós-graduação em Ecologia, Conservação e Manejo da Vida
Silvestre, Universidade Federal de Minas Gerais. CP 486, 30161-970, Belo
Horizonte-MG, Brasil . (Email - [email protected])
2 Laboratório de Ecofisiologia de Organismos Planctônicos, Departamento
de Biologia Geral, Instituto de Ciências Biológicas, Universidade Federal
de Minas Gerais, Belo Horizonte-MG, Brasil.
(Email – [email protected])
RESUMO: O déficit de oxigênio em um reservatório urbano: Lagoa do
Nado, BH-MG . O déficit real e o déficit hipolimnético por unidade de área
na Lagoa do Nado (Belo Horizonte – MG) foram estimados a partir de
perfis de temperatura e oxigênio dissolvido, no período de setembro de
1999 a setembro de 2000. Foram analisadas as relações entre a variação
sazonal do consumo hipolimnético de oxigênio, medidas de produtividade e
características morfométricas do reservatório. A Lagoa do Nado apresentou
estratificação térmica de setembro a maio e circulação em junho e julho. O
déficit real total variou de 21,71 a 279,37 kgO2 e de 0,53 a 1,86 mgO2.cm- 2
quando expresso por unidade de área. O déficit hipolimnético por unidade
de área variou de 0,0007 a 0,007 mgO2.cm- 2.dia-1 e apresentou correlação
positiva com a espessura média e a temperatura média do hipolímnio e
72
negativa com a profundidade do Secchi. Não foi detectada relação
significativa entre o consumo de oxigênio no hipolímnio e as concentrações
de fósforo total e clorofila-a na zona eufótica. Utilizando-se o índice de
estado trófico baseado no déficit de oxigênio no hipolímnio, o reservatório
pode ser identificado como oligotrófico. Entretanto, utilizando outros
índices, baseados no fósforo total, concentração de clorofila-a e
profundidade do Secchi, a Lagoa do Nado apresenta características meso-
eutróficas. As limitações na util ização do déficit hipolimnético de oxigênio
como um índice de estado trófico em ambientes tropicais rasos são
discutidas.
Palavras-chave : déficit de oxigênio, reservatório, hipolímnio, estado
trófico.
ABSTRACT: The oxygen deficit in an urban reservoir: Lake Nado, BH
– MG. The actual and areal hypolimnetic oxygen deficits in Lake Nado
(Belo Horizonte – MG) were computed from temperature and oxygen
profiles in a study from September 1999 to September 2000. The
relationship between the seasonal variation of hypolimnetic oxygen
consumption, productivity measures and morphometric characteristics of
reservoir were examined. The Nado Lake presented a thermal stratification
from September to May and a mixing was detected in June and July. The
total actual oxygen deficits ranged from 21.71 to 279.37 kgO2 and from
0.53 to 1.86 mg.cm- 2, when expressed by surface area units. The areal
hypolimnetic oxygen deficit ranged from 0.0007 to 0.007 mgO2.cm- 2.day- 1
and were positively correlated with the mean hypolimnion thickness and
73
temperature and inversely correlated with Secchi depth. Significative
correlations between hypolimnetic oxygen consumption and total
phosphorus and chlorophyll-a concentration in eufotic zone were not
detected. Using the trophic status indices based in hypolimnetic oxygen
deficit , the reservoir can be identified as an oligotrophic lake. However,
using other indices, based in total phosphorus, chlorophyll–a concentration
and Secchi depth, the Nado Lake presented a meso-eutrophic
characteristics. The limitations in the use of the areal hypolimnetic oxygen
deficit as an index of trophic state are discussed.
Key words : oxygen deficit, reservoir, hypolimnion, trophic state.
Introdução
Oxigênio é um importante elemento químico em lagos. Como um
subproduto da fotossíntese efetuada pelo fitoplâncton, macrófitas e
perifíton, é produzido, junto com a matéria orgânica, nos estratos
superiores e na região litorânea de lagos e reservatórios. Uma parte da
matéria orgânica sedimenta para os estratos mais profundos (hipolímnio)
aonde, em decorrência de sua decomposição, resulta um consumo líquido de
oxigênio (Cornett e Rigler, 1979; Charlton, 1980, Henry et al. , 1989).
Entre os fatores que influenciam o consumo de oxigênio no
hipolímnio de lagos, a morfometria, a produtividade e a temperatura da
água são os mais importantes (Cornett & Rigler, 1980).
O efeito da morfometria sobre o consumo de oxigênio é mais
pronunciado em corpos d’água que possuem um hipolímnio com pequeno
volume. Em tais ambientes, ocorre rápida depleção do oxigênio devido à
74
pequena massa de água disponível para oxidação comparada com lagos com
um hipolímnio com grande volume, considerando as mesmas condições de
temperatura e produtividade (Towsend, 1996).
Diversos estudos foram realizados, principalmente em ambientes
temperados, buscando testar se AHOD* (segundo a conceituação de
Hutchinson, 1957) seria um índice de grau de trofia confiável, se o
consumo de oxigênio no hipolímnio fosse proporcional à produtividade do
lago (Lasenby, 1975; Cornett e Rigler 1979, 1980; Charlton, 1980;
Fulthorpe e Paloheimo, 1985, Lind, 1987). Dentre os estudos similares
realizados em lagos e reservatórios brasileiros, destacam-se aqueles
realizados no Lago Dom Helvécio e no Reservatório de Jurumirim (Henry
et al. , 1989; Henry 1992; Henry et al. , 1995).
No presente trabalho, foram quantificados o déficit real e o déficit
relativo hipolimnético de oxigênio (AHOD) em um pequeno reservatório
urbano (Lagoa do Nado, BH-MG). Foram examinadas as relações entre
AHOD e alguns fatores ligados à eutrofização e conhecidos como capazes
de definir o estado trófico em ambientes lacustres: a concentração de
fósforo total e a concentração de clorofila-a na zona eufótica e a
profundidade do disco de Secchi. As relações de AHOD e algumas
características morfométricas do reservatório são também examinadas.
* “Areal hipolimnetic oxygen deficit” - Termo consagrado para designar o
consumo de O2 no hipolímnio, expresso por área (transição meta- e
hipolímnio).
75
Área de estudo
O estudo foi desenvolvido na Lagoa do Nado (19º49’56”S,
43º57’34”W), um pequeno reservatório localizado no Parque municipal
Lagoa do Nado, no município de Belo Horizonte, MG (Fig.1). Situado no
centro de um pequeno vale, sendo rodeado em toda sua extensão por
vegetação secundária formada por árvores de grande porte (principalmente
Eucalyptus spp .) , o reservatório apresenta sua bacia de acumulação com
formato cônico (Zm e d : Z m a x = 0,35), com uma declividade linear ao longo de
todo o terreno inundado (Fig. 2). Foi formado pelo represamento da água de
três nascentes localizadas dentro da área do parque, sendo a sua saída de
água superficial e não manejada, não sofrendo qualquer oscilação de nível
ao longo do ano. O espelho d’água está a 770m de altitude, a área é de
cerca 15 ha e a profundidade média de 2,7 m. A Tabela I apresenta as
características morfométricas da Lagoa do Nado.
O clima da região é caracterizado por um clima tropical com estações
marcadas: uma seca e fria, que abrange os meses de maio a agosto e uma
estação chuvosa e quente, de setembro a abril . A precipitação anual durante
o período de estudo foi de 1270 mm (estação meteorológica do aeroporto da
Pampulha).
Material e métodos
A temperatura da água e o oxigênio dissolvido foram determinados
através de perfis verticais com intervalos de 50 cm, na região central do
reservatório, utilizando-se oxímetro/termístor YSI modelo 55. As
76
amostragens foram realizadas mensalmente, entre 8:00 e 9:00 horas da
manhã, de setembro de 1999 a setembro de 2000.
A transparência da água foi avaliada utilizando-se um disco de
Secchi de 20 cm. Amostras de água para análise do fósforo total e
clorofila-a foram coletadas a cada data amostral a 0 m, 1 m, 3 m e 5 m,
util izando-se uma garrafa de Van Dorn com capacidade para 2 litros. O
fósforo total foi determinado pelo método de Murphy & Riley (1962), após
digestão a quente com persulfato de potássio. A clorofila-a foi determinada
pelo método espectrofotométrico proposto por Lorenzen (1967) e a extração
do pigmento foi realizada usando acetona 90% a frio, como solvente
orgânico.
O déficit real de oxigênio (OAD, do inglês oxygen actual deficit) é a
diferença entre a concentração de oxigênio medida numa dada profundidade
e a concentração de saturação, nas mesmas condições de temperatura e
pressão (Wetzel, 1983). O déficit relativo de oxigênio no hipolímnio
(AHOD) é a diferença entre a concentração de oxigênio no hipolímnio em
uma dada época e a concentração encontrada durante o período de máxima
oxigenação da coluna d’água (em julho, para a Lagoa do Nado), expresso
por unidade de área do hipolímnio (mgO2.m- 2.dia- 1). Os cálculos de OAD e
AHOD foram realizados utilizando-se as fórmulas descritas em Henry et al.
(1989).
A espessura média do hipolímnio ( HZ ), em metros, foi calculada de
acordo com a fórmula (Cornett e Rigler, 1980):
H
HH
AVZ =
77
Onde VH é o volume do hipolímnio e AH é a área da superfície do
plano que delimita a borda superior do hipolímnio, a qual foi considerada
para cada mês como sendo o segundo ponto de inflexão da curva
temperatura x profundidade. Como foi utilizado no estudo do Lago Dom
Helvécio (Henry et al. , 1989), a partir do metalímnio, quando a temperatura
de um estrato para outro fosse menor do que 0,3 ºC, o estrato superior foi
considerado como o início do hipolímnio. A temperatura média do
hipolímnio ( HT ) foi calculada utilizando os dados térmicos do período de
estudo.
Resultados
Pode-se observar que o reservatório apresentou estratificação térmica
de setembro/99 a maio/00, sendo que no verão, entre dezembro e março, a
zona epilimnética foi deslocada para cima pelas camadas meta e
hipolimnética, estando limitada aos primeiros 50 cm (Fig. 3). A partir de
abril , entretanto, a interface entre o metalímnio e o hipolímnio foi
deslocada para as zonas mais profundas do lago, até ocorrer homogeneidade
térmica da coluna d’água no inverno (junho e julho). Nos meses de agosto e
setembro/2000, o reservatório apresentou-se novamente estratificado. A
formação da termoclina foi observada a partir dos 3 metros, apesar da
pequena diferença de temperatura (<1ºC) entre o epilímnio e o hipolímnio
nestes meses.
Durante todo o período de estratificação térmica um padrão de
distribuição de oxigênio do tipo clinogrado foi detectado, com o conteúdo
de oxigênio no hipolímnio reduzido a níveis próximos à anoxia (Fig.3). A
78
profundidade de início da oxiclina foi de aproximadamente 2,0 metros entre
setembro e novembro/99. De dezembro a março de 2000, a medida que a
extensão da zona de mistura foi diminuindo, a oxiclina tornou-se mais
superficial. Neste período, a camada oxigenada estava restrita à zona
epilimnética e à metade superior do metalímnio. De abril a maio, a posição
da oxiclina ficou abaixo de 2m, com conseqüente aumento do nível de
oxigenação da coluna d’água. Em junho e julho/2000, no período de
circulação, a homogeneidade no conteúdo de oxigênio não foi alcançada em
sua totalidade, pois observamos a oxiclina sendo formada a partir de 5,5
metros em junho e a partir de 2,0 metros em julho. Em agosto e
setembro/00, apesar da pequena descontinuidade de temperatura entre a
superfície e o fundo do reservatório, uma oxiclina bem pronunciada foi
observada a partir de 2,5 metros, em agosto e 1,5 metros, em setembro.
O reservatório apresentou déficit real de O2 na coluna d’água durante
todo o ano, inclusive durante o período de mistura (OAD, Fig. 3). No mês
de junho, o déficit foi de 5 mg.O2.l -1 até a profundidade de 5 m, alcançando
8 mgO2.l - 1 a 6,5 m. Em julho, nos primeiros 2,5 m, o déficit real foi de 2
mgO2.l - 1, alcançando 6 mgO2.l -1 a partir de 4 m. Quando houve
estratificação térmica na coluna d’água (meses de outubro/99, janeiro e
agosto/2000), na zona epilimnética houve saturação de oxigênio. Na maior
parte do ano, entretanto, o déficit real foi observado a partir da superfície
do reservatório e no hipolímnio alcançou 8 mgO2.l - 1.
O déficit real total (OAD total) na Lagoa do Nado elevou-se em
valores absolutos em toda a coluna d’água de setembro/99 a fevereiro/2000
(Tab. II). Neste período, houve aumento na participação do OAD total no
79
hipolímnio, elevando de 36% em setembro/99 para 63% em fevereiro/2000.
De março a maio de 2000, apesar de que não houve uma diminuição
marcante no OAD total, a camada epi e metalimnética contribuiu para a
maior parte do déficit real total na Lagoa do Nado. No período de
circulação (junho e julho), o OAD total foi elevado, mas os valores foram
menores do que no verão. Em agosto/2000, os menores valores de OAD
total foram obtidos, com o hipolímnio contribuindo com 72% do OAD total.
No mês de setembro/2000, o déficit real total elevou-se a níveis superiores
do verão, sendo que a participação da camada epi e metalimnética chegou a
90 % do OAD total.
Os valores de OAD expressos por unidade de área da Lagoa do Nado
variaram de 0,53 (agosto/2000) a 1,86 mg (dezembro/99), seguindo a
mesma tendência encontrada para o OAD total (Tab. II).
Valores de AHOD de 0,0007 a 0,007 mgO2.cm- 2.dia-1 foram obtidos
Lagoa do Nado (Tab. III). Houve aumento do consumo de oxigênio no
hipolímnio de setembro/99 a fevereiro/2000 (exceto em jan/2000). De
março a maio/2000, os valores permaneceram acima de 0,0037 mgO2.cm-
2.dia- 1. Em agosto e setembro de 2000, os níveis de AHOD foram similares
aqueles de setembro de 1999.
As regressões lineares entre AHOD e a profundidade de Secchi,
temperatura média do hipolímnio ( HT ) e espessura média do hipolímnio
( HZ ), bem como entre a concentração de fósforo total (PT) e clorofila-a
(clor-a) na zona trofogênica na Lagoa do Nado são mostradas na Figura 4.
A taxa de consumo de oxigênio no hipolímnio (AHOD) na Lagoa do Nado
apresentou correlação positiva com HT (n = 11; r2 = 0,77, p = 0,0003) e HZ
80
(n = 11; r2 = 0,61, p = 0,004) e negativa com a leitura do disco de Secchi
(n = 11; r2 = 0,37, p = 0,04). Não foi encontrada uma regressão linear
significativa entre AHOD e PT (n = 11; r2 = 0,184, p = 0,188) e entre
AHOD e clor-a (n = 11; r2 = 0,007, p = 0,811).
Discussão
Em lagos e reservatórios tropicais, o consumo de oxigênio é bastante
pronunciado e o hipolímnio destes ambientes é mais susceptível à anoxia
do que em lagos temperados. Lewis (1987) relaciona algumas
características que explicam o déficit de oxigênio encontrado em ambientes
tropicais: (1) reduzida solubilidade do oxigênio em altas temperaturas
acoplado ao aumento do metabolismo microbiano, (2) período longo de
estratificação térmica em lagos tropicais se comparado a lagos temperados
de tamanho similar, (3) não saturação de O2 durante o período de mistura
da coluna d’água e (4) temperaturas altas da água durante o período de
circulação.
A Lagoa do Nado, além de estar sujeita aos fatores climatológicos
típicos da região tropical, apresenta um conjunto de características
morfométricas que levam ao desenvolvimento e à manutenção de uma
estratificação térmica pronunciada com conseqüente perfil clinogrado no
oxigênio. A localização no fundo de um pequeno vale e tendo suas margens
protegidas por uma vegetação arbórea de grande porte; o formato cônico da
bacia de acumulação do reservatório; o valor elevado da profundidade
relativa e o reduzido comprimento máximo efetivo reduziriam a ação do
vento sobre a lâmina d’água, mantendo a estabilidade da estratificação e,
81
por conseqüência, levando a um decréscimo da difusão do O2 para as águas
profundas do reservatório.
Uma das características físicas mais importantes de um lago é a
profundidade de mistura durante o período de estratificação. A presença de
hipolímnio limita a propagação de calor e produção na superfície, afetando
a ciclagem de nutrientes, a produtividade biológica e o regime de oxigênio
no lago (Hanna, 1990). A distribuição de O2 no verão limitou-se aos
primeiros centímetros da coluna d’água, em função da elevada estabilidade
da estratificação (Bezerra-Neto, dados não publicados) e em decorrência da
redução da transparência da água. Com a diminuição na estabilidade da
estratificação a partir de abril/00, devido ao esfriamento gradativo das
camadas epi e metalimnéticas, houve um aumento da extensão da camada
de mistura e, conseqüentemente, difusão do oxigênio para as camadas mais
profundas do reservatório. No período de circulação, junho e julho/2000,
apesar da oxia em toda a coluna d’água, um déficit de oxigênio bastante
pronunciado foi detectado, atribuído à baixa produção na zona trofogênica,
insuficiente para a demanda de O2.
O déficit real de oxigênio na Lagoa do Nado foi baixo e bastante
próximo aos níveis encontrados no reservatório das Garças (Tab. IV). Este
reservatório, também localizado em um parque urbano, possui área
superficial seis vezes maior (87000 m2) e profundidade média ligeiramente
menor (2,1 m) do que a Lagoa do Nado (Nogueira e Ramirez, 1998). Assim,
em virtude talvez de uma menor proteção contra a ação do vento sobre a
coluna d’água, o reservatório das Garças apresentou um período de
isotermia de até 7 meses (março a setembro), enquanto que a estratificação
82
térmica ocorreu de outubro a fevereiro (Henry, 1999). Em concordância
com a Lagoa do Nado, houve déficit real de oxigênio no reservatório das
Garças durante todo o ano de 1997, entretanto, sua variação sazonal parece
estar ligada à demanda produzida após a senescência da população de
Microcystis aeruginosa (Henry, 1999).
O AHOD pode apenas ser utilizado como um índice de estado de
trofia em lagos em ambientes com no mínimo 20 m e no máximo 75 m de
profundidade (Hutchinson, 1957). Os valores de AHOD de lagos muito
rasos seriam extremamente baixos e de lagos muito profundos, bastante
elevados e, conseqüentemente, a variação de AHOD não poderia apenas ser
explicada pelo estado de trofia do ecossistema. A comparação entre lagos,
portanto, não poderia ser feita sem levar-se em conta os aspectos
morfométricos dos sistemas estudados. Diversos trabalhos (Lasenby, 1975;
Charlton 1980, Cornett e Rigler 1980; Fulthorpe e Paloheimo, 1985)
mostram que, até dentro dos limites de profundidade (entre 20 e 75m)
sugeridos por Hutchinson (1957), os níveis de produtividade explicariam
pouco a variância nas taxas de consumo de oxigênio no hipolímnio. A
Lagoa do Nado (Zmax < 8 m) apresentou valores extremamente baixos de
AHOD e a sua variação sazonal não mostrou uma relação clara com a
produtividade do reservatório (considerada aqui pela relação entre AHOD e
as concentrações de fósforo total e clorofila-a da zona trofogênica do
reservatório).
A Lagoa do Nado poderia ser enquadrada, segundo os valores de
AHOD, na categoria de oligotrófico usando os critérios propostos por
Hutchinson (1957). Entretanto, quando o estado trófico da Lagoa do Nado
83
foi avaliado utilizando-se o índice de estado trófico (IET) de Carlson
(1977), baseado na profundidade do Secchi, fósforo total e clorofila-a e
também segundo os critérios de Salas e Martino (1991), baseado
principalmente no fósforo total, o reservatório foi classificado como meso-
eutrófico.
A baixa relação entre AHOD e os níveis de produtividade em
pequenos lagos pode ser creditada ao aporte de material alóctone visto a
elevada razão entre a área da bacia de drenagem e a área superficial
encontrada nestes sistemas (Charlton, 1980). Outro fator importante pode
ser a espessura do hipolímnio. Em lagos com hipolímnio espesso, há tempo
para a matéria orgânica ser oxidada antes de alcançar o sedimento. Em
lagos com pequena espessura de hipolímnio, como no caso da Lagoa do
Nado, a matéria orgânica produzida na zona trofogênica flui para o
sedimento, não contribuindo para depleção de oxigênio na coluna d’água.
Conseqüentemente, os valores de AHOD seriam subestimativas da produção
epilimnética nestes lagos (Charlton, 1980; Lind, 1987).
A profundidade do Secchi na Lagoa do Nado mostrou associação
negativa com AHOD, o que poderia ser interpretado como uma resposta de
AHOD à produtividade do sistema (Lasenby, 1975). Visto que a
profundidade do Secchi é afetada pela presença do material autóctone e
alóctone no ambiente, a sua utilização como indicador trófico não pode ser
aplicado (Carlson, 1977). A regressão linear entre a profundidade do
Secchi e a clorofila-a, não mostrou nenhuma associação significativa com a
variação do material fitoplanctônico na Lagoa do Nado (n = 11, r2 = 0,07, p
= 0,37). Portanto, a redução na transparência da água na Lagoa do Nado
84
pode ser creditada a outros fatores, como, por exemplo, entrada de material
particulado orgânico e inorgânico no ambiente.
Os valores de AHOD na Lagoa do Nado apresentaram variação
sazonal positivamente relacionada com a espessura e a temperatura médias
do hipolímnio, como também encontrados em lagos de zonas temperadas no
verão (Charlton,1980; Fulthorpe & Paloheimo, 1985). A variação sazonal
dos valores de AHOD na Lagoa do Nado foi relacionada, muito
provavelmente, com o aporte de matéria orgânica no sistema, que influiu na
espessura do hipolímnio e na profundidade do disco de Secchi. Outro
importante fator (a temperatura no hipolímnio) foi influenciado pelos
fatores climáticos e morfométricos do reservatório. Como os coeficientes
da regressão não explicam toda a variação encontrada para AHOD na Lagoa
do Nado, é possível que a ação dos fatores controladores do déficit
hipolimnético de oxigênio seja multiplicativa, representando um
“continuum” entre o aporte de material alóctone, morfometria do
reservatório e fatores climatológicos (Charlton, 1980).
Agradecimentos
Os autores agradecem à Prefeitura de Belo Horizonte e especialmente
aos funcionários do Parque Lagoa do Nado pela colaboração; à Laura Rull
del Aguila e Daniel Peifer Bezerra pelo inestimável auxílio durante o
trabalho de campo; ao Prof. Francisco A.R. Barbosa, Prof. Marcos Callisto
e aos dois revisores anônimos pelas sugestões e críticas às versões iniciais
do manuscrito e ao CNPq, pela concessão da bolsa de mestrado ao primeiro
autor.
85
Referências citadas:
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22:361-365.
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Discussion of productivity and morphometrics effects. Can. J. Aquat.
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Cornett, R. J. & Rigler, F.H. 1979. Hypolimnetic oxygen deficits: Their
prediction and interpretation. Science, 205: 580-581.
Cornett, R. J. & Rigler, F.H. 1980. The areal hypolimnetic oxygen deficit:
an empirical test of the model. Limnol. Oceanogr., 25: 672-679.
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86
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Wetzel, R. G. 1983. Limnology. Saunders College Publishing, U.S.A., 767
p.
88
Tabela I – Dados morfométricos da lagoa do Nado, BH –MG.
Área 15,018 m2
Volume 40,562 m3
Comprimento máximo 290 m
Largura máxima 74 m
Profundidade máxima 7,6 m
Profundidade média 2,7 m
Profundidade relativa 5,5%
Perímetro 1193 m
Zmed : Zmax 0,35
Índice de desenvolvimento de volume 1,07
Índice de desenvolvimento de margem 2,75
89
Tabela II – Déficits reais (OAD) totais de oxigênio na Lagoa do Nado
durante o período de setembro de 1999 a setembro de 2000.
Déficits
OAD (KgO2)
OAD (mg.cm-2)
Estrato Data
Epi + Meta
Hipo
total
Epi + Meta
Hipo
total
Set/99
69,76
39,80
109,55
0,46
0,27
0,73
Out/99
57,55
57,63
115,18
0,38
0,39
0,77
Nov/99
111,60
80,15
191,75
0,74
0,53
1,28
Dez/99
106,25
173,01
279,25
0,71
1,15
1,86
Jan/00
81,72
102,94
184,67
0,54
0,69
1,23
Fev/00
98,00
167,07
265,08
0,65
1,11
1,77
Mar/00
113,23
103,01
216,24
0,75
0,69
1,44
Abr/00
131,94
55,93
187,87
0,88
0,37
1,25
Mai/00
120,19
53,93
174,12
0,80
0,36
1,16
Jun/00
_
_ 192,59
_ _ 1,28
Jul/00
_ _ 90,38
_ _ 0,60
Ago/00
21,71
57,49
79,20
0,14
0,38
0,53
Set/00
254,19
25,18
279,12
1,69
0,17
1,86
90
Tabela III – Taxas de consumo diária de oxigênio no hipolímnio por
unidade de área (AHOD), espessura média do hipolímnio ( HZ ), temperatura
média do hipolímnio ( HT ), clorofila-a (clor-a) e fósforo total (PT) da zona
eufótica na Lagoa do Nado durante o período de setembro de 1999 a
setembro de 2000.
Data
AHOD
Secchi
HZ
HT
Clor-a Zeuf
PT Zeuf
(mgO2.cm-2.dia-1)
(metros)
(metros)
(ºC)
(mg.m-3)
(mg.m-3)
Set/99
0,0007
1,40
0,95
18,9
7,69
40,58
Out/99
0,0013
0,70
1,39
19,9
9,69
47,84
Nov/99
0,0021
1,10
1,62
20,3
8,75
58,94
Dez/99
0,0053
0,30
2,18
21,2
11,39
102,09
Jan/00
0,0037
0,60
1,82
21,9
18,18
96,65
Fev/00
0,0070
0,30
2,18
21,8
3,21
65,24
Mar/00
0,0056
0,40
1,82
22,3
13,47
75,36
Abr/00
0,0037
1,40
1,39
21,8
8,44
56,33
Mai/00
0,0054
1,00
1,39
21,8
12,68
47,79
Ago/00
0,0009
1,10
1,39
18,3
9,52
40,77
Set/00
0,0009
0,80
1,16
19,0
14,30
77,20
91
Tabela IV -Valores de déficit real de oxigênio de ambientes lacustres
tropicais brasileiros.
Lago/reservatório
OAD (mgO2.cm-2)
Referência
Dom Helvécio
1,73 –2,37
Henry (1989)
Jurumirim
0,03 – 0,72
Henry (1992)
das Garças
0,40 – 1,52
Henry (1999)
Lagoa do Nado
0,53 – 1,86
Este estudo
92
Figura 1 – Localização e mapa batimétrico da Lagoa do Nado. Contornos
entre os intervalos em metros.
N
Barragem
93
0 20 40 60 80 100
Prof
undi
dade
(m)
0
1
2
3
4
5
6
Área (%) Volume (%)
0 20 40 60 80 100
A B
Figura 2 - Curvas hipsográficas profundidade-área (A) e profundidade–
volume (B) da Lagoa do Nado – BH, MG.
94
18 21 24 27 30
1
2
3
4
5
6
0 2 4 6 8 10
18 21 24 27 30
0 2 4 6 8 10
18 21 24 27 30
0 2 4 6 8 10
18 21 24 27 30
0 2 4 6 8 10
out/99 nov/99 dez/99mg O2.l-1
T (ºC)
mg O2.l-1
set/99
T (ºC)
18 21 24 27 30
0 2 4 6 8 10
18 21 24 27 30
1
2
3
4
5
6
0 2 4 6 8 10
18 21 24 27 30
0 2 4 6 8 10
18 21 24 27 30
0 2 4 6 8 10
abril/00mar/00jan/00 fev/00
T (ºC)
PR
OFU
ND
IDAD
E (m
)
mai/00
18 21 24 27 30
1
2
3
4
5
6
0 2 4 6 8 10
jun/00
18 21 24 27 30
0 2 4 6 8 10
jul/00
18 21 24 27 30
0 2 4 6 8 10
ago/00
18 21 24 27 30
0 2 4 6 8 10
18 21 24 27 30
0 2 4 6 8 10
set/00 mg O2.l-1
Figura 3 – Variação sazonal da temperatura (linha com círculos cheios), do
oxigênio dissolvido (linha com círculos vazios) e do déficit real do
oxigênio (linha contínua) na Lagoa do Nado durante o período de setembro
de 1999 a setembro de 2000 (as linhas contínuas horizontais referem-se aos
limites entre o epilímnio e o metalímnio e entre o metalímnio e
hipolímnio).
95
PT (µg.l-1)40 60 80 100 120
AH
OD
(mgO
2.m-2
.dia
-1)
0
20
40
60
80
clor-a (mg. m-3)
4 8 12 16 20
1 2
AH
OD
(mgO
2.m-2
.dia
-1)
TH (ºC)
18 19 20 21 22 23 24
0
20
40
60
80
ZH (m)
1,0 1,5 2,0 2,5
Secchi (m)
0,5 1,0 1,5 2,0
3 4 5
Figura 4 – Regressão linear entre a taxa de consumo de oxigênio no
hipolímnio por unidade de área (AHOD) em mgO2 . m- 2.dia-1 e (1) a
concentração de fósforo total na zona trofogênica; (2) a concentração de
clorofila–a na zona trofogênica; (3) a temperatura média do hipolímnio; (4)
a espessura média do hipolímnio e (5) a profundidade do Secchi (as linhas
curvas indicam intervalo de confiança de 95%).
96
CAPÍTULO 2
A comunidade zooplanctônica da Lagoa do Nado:
composição e distribuição vertical
97
2.1 – Dinâmica populacional e produção secundária de
Chaoborus brasiliensis (Diptera, Chaoboridae) em um
reservatório tropical raso: Lagoa do Nado, Belo
Horizonte – Minas Gerais.
98
Dinâmica populacional e produção secundária de
Chaoborus brasiliensis (Diptera, Chaoboridae) em um
reservatório tropical raso: Lagoa do Nado, Belo Horizonte
– Minas Gerais.
BEZERRA-NETO, J. F.1 & PINTO-COELHO, R. M. 2
1 Programa de pós-graduação em Ecologia, Conservação e Manejo da Vida
Silvestre, Universidade Federal de Minas Gerais. CP 486, 30161-970, Belo
Horizonte-MG, Brasil . (Email - [email protected])
2 Laboratório de Ecofisiologia de Organismos Planctônicos, Departamento
de Biologia Geral, Instituto de Ciências Biológicas, Universidade Federal
de Minas Gerais, Belo Horizonte-MG, Brasil.
(Email – [email protected])
RESUMO – Dinâmica populacional e produção secundária de
Chaoborus brasiliensis (Diptera, Chaoboridae) em um reservatório
tropical raso: Lagoa do Nado, Belo Horizonte – MG. A dinâmica
populacional e produção secundária de Chaoborus brasiliensis foram
estudados em um reservatório urbano raso, a Lagoa do Nado, Belo
Horizonte – MG, durante um ciclo sazonal completo. Larvas de instar I e II
foram encontradas durante todo o ano, indicando a reprodução contínua da
espécie no reservatório. A densidade total dos instares na coluna d’água foi
elevada variando de 525 a 35860 ind.m- 2, com as maiores densidades
99
concentradas durante o início da estação seca (abril – maio). A densidade
da pupa variou de 0 a 1100 ind.m- 2. O ciclo larval completo no reservatório
foi estimado em 50 dias. A biomassa total das larvas de C. brasiliensis na
coluna d’água variou de 0,0026 a 2,46 gPSm- 2 e a produção secundária de
0,24 a 297,17 mgPS m- 2.dia-1 , com as larvas de instar IV contribuindo com
uma alta percentagem destes valores.
Palavras-chave : Chaoborus , dinâmica populacional, ciclo larval, produção
secundária.
ABSTRACT – Population dynamics and secondary production of
Chaoborus brasiliensis (Diptera, Chaoboridae) on a small tropical
reservoir: Lagoa do Nado, Belo horizonte – MG. The temporal dynamics
and productivity of Chaoborus brasiliensis were investigated in a small
tropical reservoir during a seasonal cycle. The first and second instar larvae
were found throughout the annual cycle possibly suggesting a continuous
reproduction of this species in the reservoir. Total density amounted up to
35860 individuals.m- 2, being the highest figures recorded during the dry
season (April-May). The density of pupae ranged between 0 and 1100 ind.m-
2. The complete larval cycle was estimated in 50 days. The total biomass of
C. brasiliensis larvae oscillated between 2.6 and 2460.0 mgDW.m- 2 and the
production ranged between 0.24 and 297.2 mgDW.m- 2.day-1. The fourth
instar larvae always made the bulk of larval biomass in the water column.
Key words : Chaoborus , population dynamics, larval cycle, secondary
production.
100
Introdução
O díptero Chaoborus tem uma distribuição cosmopolita, sendo
encontrado tanto na região tropical como nas altas lati tudes temperadas
(Halat & Lehman, 1996). No seu desenvolvimento exibe os quatro estágios
típicos do ciclo de vida de um inseto holometábolo: ovo, larva, pupa e
adulto. O estágio larval consiste de quatro instares discretos, sendo que as
larvas de I e II instares são inteiramente planctônicos e as larvas de III e
IV instares exibem uma migração vertical diária entre a água e o sedimento
(Roth, 1968; Xie et al. , 1998). O corpo da larva é relativamente
transparente, exceto por seus órgãos hidrostáticos, daí ser chamado de
“mosquito fantasma” (Soranno et al. , 1993).
As larvas de Chaoborus têm sido consideradas como um importante
componente na cadeia trófica planctônica. Elas alimentam-se de fito e
zooplâncton, podendo regular a abundância e até mesmo a presença de suas
presas (Hanazato & Yasuno, 1989, Yan et al. , 1991). Além disso,
constituem um item significativo na dieta de muitas espécies de peixes
(Arcifa, 1997).
Diversos trabalhos realizados em lagos e reservatórios tropicais têm
enfatizado a importância de Chaoborus para a comunidade zooplanctônica,
devido principalmente à reprodução contínua exibida pelo díptero nestes
ambientes (McGowan, 1974, Lewis, 1979, Cressa & Lewis, 1986), aliado à
relativa ausência de predadores invertebrados pelágicos nos trópicos, tais
como os cladóceros pertencentes às famílias Polyphemidae e Leptodoridae
(Fernando et al. , 1990).
101
No Brasil, alguns estudos sobre Chaoborus avaliaram a densidade
larval no sedimento (Strixino & Strixino, 1980, Fukuhara et al. , 1985) e
sua variação temporal na água (Arcifa, 1997) e no sedimento (Reiss, 1977);
o comportamento migratório (Fukuhara et al. , 1993, Arcifa, 1997); a
determinação dos hábitos alimentares dos instares larvais (Arcifa, 2000) e
o padrão de emergência dos adultos (Fukuhara, 1989, Fukuhara et al. ,
1992).
O presente trabalho teve como objetivo principal contribuir para o
conhecimento da biologia do díptero Chaoborus em corpos d’água
brasileiros, abordando aspectos ainda não detalhadamente descritos como:
as características biométricas, aspectos do ciclo larval, a dinâmica
populacional e a produção secundária da larva em um pequeno reservatório
artificial do Estado de Minas Gerais, a Lagoa do Nado.
Área de estudo
A Lagoa do Nado (19º 49’56”S, 43º 57’34”W) é um reservatório
urbano meso-eutrófico localizado em Belo Horizonte – MG, na região
sudeste do Brasil. A sua área superficial é de 1,5 ha e a profundidade
máxima e média é de 7,6 e 2,7 metros, respectivamente. O reservatório,
situado no centro de um pequeno vale rodeado por árvores de grande porte,
desenvolve uma estável estratificação térmica que persiste de agosto a
maio, apresentando apenas um período de circulação durante o ano, em
junho–julho. O epilímnio é bem oxigenado, com o desenvolvimento de
intensa anoxia no hipolímnio durante todo o período de estratificação
(Bezerra-Neto & Pinto-Coelho, no prelo).
102
A comunidade zooplanctônica é dominada, entre os crustáceos, pelo
copépodo ciclopóide Thermocyclops minutus e pelo cladócero Moina
micrura e entre os rotíferos por Brachionus falcatus , B. angularis , B.
caudatus , Keratella cochlearis , K. tropica e Kellicottia bostoniensis
(Bezerra-Neto, 2001).
O clima da região é classificado como tropical B-2 com um moderado
déficit hídrico (Ferreira, 1992). No período de maio a julho são registradas
as temperaturas mais baixas. A estação chuvosa ocorre nos meses mais
quentes, de novembro a março. A precipitação anual durante o período de
estudo foi de 1270 mm (estação meteorológica do aeroporto da Pampulha).
Material e métodos
Larvas e pupas planctônicas de Chaoborus foram coletadas
quinzenalmente, de outubro de 1999 a setembro de 2000, na região central
do reservatório (prof. = 6.5 m). Amostragens preliminares mostraram que
larvas de Chaoborus estavam presentes no sedimento durante o dia e
ausentes durante a noite, assim as coletas foram restritas à coluna de água
durante o período noturno. Amostras foram tomadas a cada metro da coluna
d’água entre 22:00 e 24:00 hs, utilizando-se uma armadilha acrílica do tipo
Schindler-Patalas de 17 l equipada com uma rede de abertura de malha 60
µm. Os organismos foram preservados no campo utilizando-se uma mistura
de formalina com sacarose 4%.
As larvas de Chaoborus foram identificadas utilizando Lane (1942) e
Saether (1976). Todas as larvas e pupas coletadas foram contadas. Com o
objetivo de se determinar os intervalos de tamanho entre os estágios
103
larvais, foram tomadas medidas do comprimento da cápsula cefálica (do
ponto de inserção da antena até o final oposto da cabeça) e do comprimento
total do corpo (excluindo a papila anal). Para as pupas, foram tomadas
apenas as medidas do comprimento total do corpo. As medições foram
realizadas com auxílio de um estereomicroscópio equipado com uma
câmera de vídeo Sony-CCD, conectado a um programa de análise de
imagens digital (Scion Image – Scion Corporation).
O peso seco das larvas foi estimado a partir das equações obtidas
para Chaoborus brasiliensis (Cressa & Lewis, 1984) e que relacionam o
comprimento da cápsula cefálica e a biomassa de cada instar:
W = 2,6302 .10- 3 L 1 , 2 8 (1s t instar)
W = 3,3884 . 10- 5 L 2 , 0 7 (2n d instar)
W = 0,3802 L 0 , 6 4 (3r d instar)
W = 5,1286 . 10- 1 1 L 4 , 2 9 (4th instar)
Onde W é o peso seco (µg) e L é o comprimento da cápsula cefálica
(µm).
A produção secundária de cada instar foi computada separadamente
de acordo com o método de incremento de biomassa descrito em
Edmondson & Winberg (1971):
DiWiNiPi Δ⋅
=
Onde Pi é a produção por unidade de tempo no estágio i , Ni é a
densidade no estágio i , WiΔ é a mudança de peso no estágio i e Di é o
tempo de desenvolvimento para o estágio i . Os valores de Di foram obtidos
a partir da análise de coortes, segundo Lewis (1979). Para tal foram
considerados os valores médios do tempo de desenvolvimento de cada
104
instar a partir da análise de 3 coortes. Para se obter a produção da
população, os valores de Pi foram somados. Também foi calculada a razão
P/B (“turnover rate”) para a população de Chaoborus na Lagoa do Nado.
Os dados sobre a concentração de oxigênio no epilímnio e hipolímnio
mostrados neste trabalho foram retirados de Bezerra-Neto & Pinto-Coelho
(no prelo) e foram determinados através de perfis verticais com intervalos
de 50 cm, na região central do reservatório, utilizando-se um
oxímetro/termístor YSI modelo 55. Já os dados sobre a densidade do
zooplâncton total foram retirados de Bezerra-Neto (2001) e foram
determinados a partir de amostras fixadas com uma mistura de formol com
sacarose, coletadas nas mesmas profundidades e período amostral (1999 –
2000), utilizando-se a mesma armadilha utilizada na coleta das larvas de
Chaoborus .
Resultados e discussão
Taxonomia e características biométricas
Durante o período de estudos apenas uma espécie de Chaoboridae foi
encontrada: Chaoborus (Sayomia) brasiliensis (Theobald, 1901). Trata-se
de uma espécie pequena (tamanho máximo encontrado na L. do Nado, 0,86
cm) quando comparada com a maioria das espécies do mesmo gênero da
zona temperada (Cressa, 1984). Sua distribuição geográfica estende-se por
toda a América do Sul e Central, do Panamá à Argentina (Lane, 1942).
A relação entre o tamanho do corpo e o comprimento da cápsula
cefálica entre os instares larvais de C. brasiliensis é mostrado na Figura 1.
Enquanto a distribuição do comprimento do corpo apresenta sobreposições
105
entre os sucessivos instares, o comprimento da cápsula cefálica possibilita
a exata determinação do estágio larval, em concordância com diversos
estudos sobre a morfologia de Chaoborus (Fedorenko & Swift, 1972; Hare
& Carter, 1986; López & Cressa, 1996; Voss & Mumm, 1999).
A média, o desvio padrão (DP) e o coeficiente de variação (CV) do
comprimento total do corpo e da cápsula cefálica da população de C.
brasiliensis estão sumarizados na Tabela I. Os valores do coeficiente de
variação (DP/média x 100%) da cápsula cefálica entre os instares são
baixos quando comparados com os valores de CV para o comprimento total
do corpo. Os valores médios do comprimento do corpo e da cápsula cefálica
obtidos assemelham-se aos registrados para a mesma espécie no Lago
Valencia, Venezuela (Cressa & Lewis, 1984). Entretanto os valores do
coeficiente de variação da cápsula cefálica foram excepcionalmente
menores na população de C. brasiliensis na L. do Nado. Como também foi
relatado por Cressa & Lewis (1984), foi detectado dismorfismo sexual entre
as pupas, com as fêmeas apresentando um tamanho corporal maior do que
os machos.
Dinâmica populacional
A densidade larval total de Chaoborus variou de 525–35860 ind.m- 2.
A densidade média foi de 8436 ind m- 2. A mudança sazonal na densidade
dos vários instares de C. brasiliensis na coluna d’água é mostrado na
Figura 2. Na composição média da população de C. brasiliensis , as larvas
dos instares I , II e III compreenderam 7%, 14% e 27% da população,
respectivamente e as larvas do instar IV compreenderam 50% da população.
106
Voss & Mumm (1999), estudando uma população de Chaoborus flavicans
no Lago Plubsee, norte da Alemanha, encontraram na composição
populacional de C. flavicans o mesmo padrão encontrado na população de
C. brasiliensis na L. do Nado, ou seja, os instares iniciais exibindo sempre
menores densidades do que os instares finais durante praticamente todo o
período de estudo. Estes autores relacionaram uma série de fatores que
poderiam determinar este padrão: (1) a abundância poderia diminuir de um
instar para o próximo devido à mortalidade; (2) a existência de um gargalo
(“bottleneck”) populacional nos instares iniciais como foi reportado por
Neill & Peacok (1980) e (3) ao rápido tempo de desenvolvimento das larvas
dos instares iniciais.
A densidade das pupas variou de 0 – 1100 ind.m- 2 e o seu
aparecimento durante o período estudado na L. do Nado foi irregular com
uma baixa representatividade na população amostrada (2%), similarmente a
outros estudos em corpos d’água tropicais (Lewis, 1979, López & Cressa,
1996).
Uma comparação da densidade máxima de Chaoborus na coluna
d’água, registrada em ambientes com variados graus de trofia é apresentada
na tabela II. A densidade alcançada pela população de Chaoborus na L. do
Nado foi elevada, mesmo quando comparada aos ambientes eutróficos. A
maior densidade de Chaoborus em corpos d’água eutróficos deve-se ao fato
que a eutrofização do ambiente é usualmente acompanhada por uma alta
biomassa de zooplâncton, o que garante abundante recurso alimentar para
Chaoborus (Xie et al., 1998) . Outro fator importante é o desenvolvimento
de déficit de oxigênio no hipolímnio, comum em ambientes eutrofizados,
107
favorecendo a colonização de densas populações de Chaoborus (Brylinsk,
1980). As larvas de Chaoborus podem resistir em condições de anaerobiose
por longos períodos e utilizam o hipolímnio anóxico como refúgio contra
predadores (LaRow, 1970; Rahel & Nutzman, 1994).
Recurso alimentar e refúgio contra predadores parecem ser
importantes fatores no controle da flutuação sazonal da abundância de C.
brasiliensis na Lagoa do Nado. Durante os períodos em que a densidade
zooplanctônica foi elevada e houve um déficit elevado de oxigênio no
hipolímnio, próximo à completa anoxia, a população de Chaoborus exibiu
altas densidades, principalmente durante a primavera de 1999 e outono de
2000 (Fig. 3). Entretanto, a densidade da população entrou em declínio em
dois períodos: (1) durante o verão chuvoso, de dezembro/99 a fevereiro/00,
quando houve uma drástica redução na população zooplanctônica, e (2)
durante o período de circulação do reservatório, no auge do inverno seco,
nos meses de junho e julho/00, quando houve uma elevação na
concentração de oxigênio no hipolímnio (Fig. 3). Nestes episódios de
declínio na densidade da população total de Chaoborus na Lagoa do Nado,
podemos observar que os estágios larvais foram diferencialmente afetados
em cada período particular.
No verão chuvoso, a drástica diminuição nas densidades das
populações zooplanctônicas, provavelmente causada pelo fenômeno do
“wash-out” (Bezerra-Neto, 2001), afetou principalmente as larvas dos
instares III e IV, cujas dietas consistem basicamente de zooplâncton
(Moore et al. , 1994, Arcifa, 2000). Em contraste, as larvas dos instares I e
108
II, principalmente a primeira, cujas dietas são constituídas basicamente de
fitoplâncton, exibiram picos de densidade no período (Fig. 2).
No inverno, durante o período de circulação do reservatório, as
larvas dos instares I e II foram as mais afetadas pela redução do refúgio
anóxico e virtualmente desapareceram da coluna d’água, enquanto que as
larvas dos instares III e IV (apesar de também apresentarem baixas
densidades) continuaram a ser observadas (Fig. 2). Durante este período,
as larvas de Chaoborus ficam expostas à predação por peixes em
praticamente toda a coluna d’água e são obrigadas a se proteger, mantendo-
se em locais seguros (o sedimento ou próximo a ele) durante o dia e saindo
à noite para se alimentar. Por serem inteiramente planctônicas, é possível
que as larvas dos instares iniciais não consigam utilizar estes locais
seguros, ou se usam, não consigam se manter lá durante todo o período
diurno, em virtude de suas demandas energéticas. Já as larvas dos instares
III e IV, além da capacidade de se enterrar no sedimento durante o dia,
fugindo do risco de predação, apresentam baixas demandas energéticas
quando comparadas com as larvas dos instares I e II (Cressa & Lewis,
1984). Elas necessitam ingerir apenas de 2,8 a 6,6% do seu próprio peso
diariamente (Lewis, 1977) e podem resistir mais de 35 dias sem alimento
(Moore, 1986).
A conexão entre as características físicas e químicas do ambiente e a
abundância de Chaoborus também pode ser ilustrado nos estudos no Lago
Valencia, Venezuela. Neste lago, a população de Chaoborus brasiliensis
(única espécie presente) exerceu uma intensa pressão de predação sobre os
herbívoros durante o período de estratificação, apresentando baixas
109
densidades durante a estação seca, coincidindo com o período de
circulação. Durante o período de estratificação, a anoxia no hipolímnio
garantiu à população de Chaoborus um refúgio contra a predação por
peixes, o que, por outro lado permitiu à larva tornar-se muito abundante e
suprimir a produção herbívora (Saunders & Lewis, 1988)
A periodicidade sazonal na abundância de Chaoborus em outros
sistemas tropicais apresenta ampla variação. No Lago Monte Alegre, uma
variação sazonal marcante foi encontrada, com a elevação na abundância de
Chaoborus durante o verão chuvoso e um declínio no inverno seco (Arcifa,
1997). No Lago Tupé, as larvas de Chaoboridae foram mais abundantes
durante a fase de águas baixas, de novembro a abril (Reiss, 1977). No lago
Opi, Chaoborus edulis e C. ceratopogones foram mais abundantes durante a
estação seca e C. anomalus durante a estação chuvosa (Hare & Carter,
1986). No lago Lanao, a variação na abundância de Chaoborus não
apresentou relação com mudanças sazonais nas características físico-
químicas do lago (Lewis, 1979).
Ciclo larval
A reprodução de C. brasiliensis na Lagoa do Nado é contínua, com os
instares sendo encontrados durante todo o ano. Em outros corpos d’água
tropicais como o Lago Lanao (Lewis, 1979), Lago Valencia (Cressa &
Lewis, 1984) e Lago Monte Alegre (Arcifa, 1997), entre outros, idêntico
padrão foi observado. As larvas de I a IV instares mostraram 6-7 picos de
densidade (Fig. 2), sugerindo a ocorrência de 6-7 gerações durante o ano.
A partir da análise das coortes, o tempo médio de desenvolvimento do
110
instar I foi estimado em 7,3 dias e em 9,3 dias para o instar II. No caso dos
instares III e IV, o tempo médio de desenvolvimento foi estimado em 12,9
e 16,6 dias, respectivamente. A partir dos estudos de Cressa & Lewis
(1984), que sugerem um tempo de desenvolvimento da pupa de 2 dias e de
dois dias o tempo entre a postura e a eclosão dos ovos, podemos estimar
que o ciclo larval de C. brasiliensis no reservatório, do ovo até a
emergência do adulto, é de aproximadamente 50 dias. Valores bem
próximos a este foram estimados para o ciclo larval de uma população de
C. brasiliensis no Lago Valencia, 43 dias (Cressa & Lewis, 1986) e de
Chaoborus sp. no Reservatório Socuy, 48 dias (López & Cressa, 1996),
ambos na Venezuela. Já Hare & Carter (1986) estimaram entre 30 e 60 dias
o tempo de geração para as populações de C. edulis , C. anomalus e C.
ceratopogones no Lago Opi, na Nigéria.
Produção Secundária
A variação sazonal da biomassa e da produtividade secundária dos
instares de C. brasiliensis obtidos para a Lagoa do Nado são mostrados na
Figura 4. A biomassa larval dos instares I, II , III e IV na coluna d’água
variou entre 0 - 1,72 mgPS.m- 2, 0 - 23,47 mgPS.m- 2, 0 -109,55 mgPS.m- 2 e 0
- 2369 mgPS.m- 2, respectivamente. A biomassa larval total na coluna d’água
variou entre 2,6 - 2458 mgPS.m- 2 (0,0026 - 2,4 gPS.m- 2). A biomassa média
de todos os instares na coluna d’água foi mais alta durante o outono, de
abril a junho/00 (956 mgPS.m- 2), do que no período de verão, de dezembro a
março/00 (216,4 mgPS.m- 2) e no período de inverno de 2000, de julho a
setembro/00 (288,49 mgPS.m- 2). Durante todo o período de estudo, a larvas
111
do instar IV contribuíram em média, com cerca de 89 % do total da
biomassa amostrada.
Padrão semelhante foi observado para a produtividade secundária,
com as larvas do instar IV contribuindo com a maior porcentagem da
produtividade total (97%), com as taxas de produção sendo proporcionais à
biomassa.
A tabela III sintetiza os resultados obtidos para a biomassa,
produtividade e razão P/B da população de C. brasiliensis na Lagoa do
Nado. Os valores médios de produção e biomassa encontraram-se dentro do
intervalo de variação observado em outros ambientes tropicais (Lewis,
1979, López & Cressa, 1996).
O valor da razão P/B (taxa de renovação) representa a taxa de
produção por unidade de biomassa e pode ser utilizado como um índice da
taxa de fluxo relativo à biomassa (Brylinsk, 1980). A razão P/B é um índice
amplamente utilizado e é recíproco ao tempo de renovação de uma espécie.
O tempo de renovação médio encontrado para a população na L. do Nado (9
dias ou 0,11.dia- 1) foi similar aos valores apresentados por Lewis (1979),
para uma população de Chaoborus sp . no lago Lanao. Já López & Cressa
(1996) encontraram uma razão P/B diária média de 0,06 para Chaoborus sp.
no reservatório Socuy, representando uma taxa de renovação média de
15,92 dias.
Agradecimentos
Os autores agradecem à Prefeitura de Belo Horizonte e especialmente
aos funcionários do Parque Lagoa do Nado pela colaboração; à Laura Rull
112
del Aguila e Daniel Peifer Bezerra pelo inestimável auxílio durante o
trabalho de campo; à Adso Santana por identificar as formas adultas de C.
brasilienses; à Profa. Dra. Paulina M. Barbosa, Profa. Dra. Arnola C.
Rietzler e ao Prof. Dr. Raoul Henry pelas crít icas e sugestões às versões
iniciais deste manuscrito; ao CNPq pela concessão da bolsa de mestrado ao
primeiro autor. E ao projeto SMMA/FUNDEP 3998 que possibilitou
adquirirmos muitos dos equipamentos que foram utilizados neste estudo.
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118
Tabela I – Intervalos, média, desvio padrão e coeficiente de variação do
comprimento do corpo e da cápsula cefálica de larvas e pupas de C.
brasiliensis na Lagoa do Nado.
Comprimento do corpo (µm)
Instar
N
Intervalos
Média
Desvio padrão
C V (100%)
I 186 540 – 2660 1500 345 23 II 563 1500 – 3710 2527 411 16 III 647 2120 – 5780 3830 554 14 IV 724 3250 – 7780 5730 686 12 Pupa fêmea 32 3840 – 4340 4040 15 3,7 Pupa macho 28 3430 - 3790 3640 12 3,2
Comprimento da cápsula cefálica (µm)
Instar
N
Intervalos
Média
Desvio padrão
C V (100%)
I 186 100 – 210 159 23 12 II 563 220 – 360 259 22 8 III 647 370 – 540 437 25 7 IV 724 560 – 860 697 35 4
119
Tabela II – Densidade máxima da larva de C. brasiliensis na coluna d’água
em ambientes apresentando diferentes níveis tróficos.
Lago / Reservatório
Estado trófico Densidade máxima (ind m-2)
Autor
Eunice (Canadá)
oligotrófico
1100
Fedorenko, 1975
McCauley (Canadá)
oligotrófico
4750
Wood, 1956
Dom Helvécio (Brasil)
oligotrófico
2130
Fukuhara et al., 1985
Jacaré (Brasil)
oligotrófico
1460
Fukuhara et al., 1985
Socuy (Venezuela)
mesotrófico
24220
López & Cressa, 1996
L. do Nado (Brasil)
meso-eutrófico
35860
Este estudo
Mikolajskie (Polônia)
eutrófico
14700
Kajak & Rybak, 1979
Wintergreen (U.S.A.)
eutrófico
33500
Threlkeld, 1979
NIES (Japão)
eutrófico
23680
Xie et al., 1998
Frans (U.S.A.)
eutrófico
8000
Roth, 1968
120
Tabela III – Valores médios de biomassa, produção e razão P/B dos instares
de C. brasiliensis na Lagoa do Nado, durante o período de outubro de 1999
a setembro de 2000.
Instar Biomassa (mgPS m-2)
Produção secundária(mgPS m-2 dia-1)
Razão P/B
I
0,32
0,04
0,13
II
3,91
0,53
0,14
III
41,78
0,79
0,02
IV
395,35
47,48
0,12
total
441,36
48,84
0,11
121
tamanho do corpo (mm)
0 2 4 6 8
tam
anho
da
cáps
ula
cefá
lica
(mm
)
0,00
0,05
0,10
0,15
0,20
0,25
0,30
0,35
0,40
0,45
0,50
0,55
0,60
0,65
0,70
0,75
0,80
0,85
0,90
Figura 1 - Relações alométricas entre a cápsula cefálica e o comprimento
do corpo das larvas de C. brasiliensis (n=2121) na Lagoa do Nado.
122
I instar
0,5
1,0
1,5
II instar
2
4
6
III instar
2
4
6
IV instar
1999 2000
Den
sida
de (x
103 i
nd .
m-2
)
10
20
30
O N D J F M A M J J A S O
0,5
1,0
1,5 Pupa
Figura 2 – Variação sazonal da densidade de larvas e pupas de C.
brasiliensis na coluna d’água na Lagoa do Nado, durante o período de
outubro de 1999 a setembro de 2000. Note a diferença de escala entre os
gráficos.
123
Den
sida
de (x
106
ind.
m-2
)
2
4
6
8
10
12
10
20
30
40
1999 2000O N D J F M A M J J A S
OD
(mg
O2
l-1)
2
4
6
8
10
12
Chaoborus total
zoo total
O.D.
Den
sida
de (x
103
ind.
m-2
) A
B
CEPI
HIPO
Figura 3 – Variação sazonal na densidade da população total de C.
brasiliensis (A); variação sazonal na densidade do zooplâncton na L. do
Nado (B) e concentração de oxigênio dissolvido no epilímnio (EPI) e
hipolímnio (HIPO) na Lagoa do Nado (C), durante o período de outubro de
1999 a setembro de 2000. Linhas tracejadas destacam os dois períodos de
queda na abundância na população total da C. brasiliensis durante o
período de estudo.
124
1999 2000
Biom
assa
(gPS
m-2
)
0,05
0,10
0,50
1,00
1,50
2,00
2,50
O N D J F M A M J J A S
Prod
ução
(mgP
S m
-2 d
ia-1
)
2,5
5,0
50,0
100,0
150,0
200,0
250,0
300,0
Chaoborus I + II instaresChaoborus III instarChaoborus IV instar
Figura 4 – Variação sazonal da: (A) Biomassa (gPS m- 2) e (B) Produção
(mgPS m- 2.dia- 1) dos estágios larvais de C. brasiliensis na Lagoa do Nado,
durante o período de outubro de 1999 a setembro de 2000.
125
2.2 – A migração vertical das larvas de Chaoborus
brasiliensis (Diptera: Chaoboridae) em um reservatório
tropical: Lagoa do Nado, Belo Horizonte – MG.
126
A migração vertical das larvas de Chaoborus brasiliensis
(Diptera: Chaoboridae) em um reservatório tropical: Lagoa
do Nado, Belo Horizonte – MG
José Fernandes Bezerra-Neto1 & Ricardo Motta Pinto-Coelho 2
1 Programa de Pós-Graduação em Ecologia, Conservação e Manejo da Vida
Silvestre, Universidade Federal de Minas Gerais. CP 486, 30161-970, Belo
Horizonte-MG, Brasil . (Email - [email protected])
2 Laboratório de Ecofisiologia de Organismos Planctônicos, Departamento
de Biologia Geral, Instituto de Ciências Biológicas, Universidade Federal
de Minas Gerais, Belo Horizonte-MG, Brasil.
(Email – [email protected])
Autor para correspondência: José Fernandes Bezerra Neto.
Título resumido: A migração vertical de Chaoborus brasiliensis .
RESUMO. Inúmeros trabalhos têm mostrado que a larva de Chaoborus
desenvolve migração vertical diária buscando evitar a predação por peixes
e que a amplitude da migração vertical cresce com o estágio larval. Neste
estudo, monitorou-se a distribuição vertical de Chaoborus brasiliensis
durante o dia e noite de outubro/99 a setembro/00 em um reservatório raso,
127
a Lagoa do Nado. Foi determinada a profundidade média de cada instar
durante o dia e noite e comparada a amplitude da migração entre eles.
Adicionalmente, buscou-se determinar se a distribuição vertical de C.
brasiliensis estava relacionada com a concentração crítica de oxigênio, 1,0
mg.l - 1 . Não foram encontradas diferenças significativas entre a amplitude
da migração vertical diária entre os instares. A profundidade média em que
os instares eram encontrados durante o dia e noite mostrou-se
positivamente correlacionada com a profundidade da concentração crít ica
de oxigênio, suportando a hipótese da migração vertical como um
mecanismo de defesa contra a predação.
Palavras-chave : Chaoborus , distribuição vertical, migração vertical diária,
oxigênio.
ABSTRACT. The vertical migration of Chaoborus brasiliensis (Diptera:
Chaoboridae) larvae in an tropical reservoir, Lagoa do Nado, Belo
Horizonte – MG. Several investigations have shown that Chaoborus larvae
develop diel vertical migration to avoid fish predation. Further, the
amplitude of this vertical migration is often found to be associated with the
instar stage. In this study, we followed the vertical distribution of
Chaoborus brasiliensis in a shallow reservoir (Lagoa do Nado, Belo
Horizonte, Brazil) , during the diel cycle for 12 consecutive months,
between October 1999 and September 2000. There was not identified any
association between the instar phase and the amplitude of DVM.
Nonetheless, a clear association between the critical concentration of
dissolved oxygen and the amplitude of Chaoborus DVM was found. We
128
considered the concentration of oxygen, 1,0 mg.l -1 , to be the concentration
below which the fish cannot survive. This finding supports the hypothesis
that the vertical migration is a mechanism of defense against predation,
with larvae using the anoxic shelter to avoid fish predation.
Key words : Chaoborus , vertical distribution, diel vertical migration,
oxygen.
Introdução
A migração vertical diária (MVD) tem sido observada como um
comportamento característico de diversos organismos do zooplâncton,
incluindo a larva de inseto do gênero Chaoborus , freqüente constituinte
entre o zooplâncton lacustre. Este díptero desenvolve extensiva migração
vertical diária, permanecendo próximo ou dentro do sedimento durante o
dia e subindo para as águas superficiais durante o período noturno para se
alimentar (Haney et al. , 1990). Diversos trabalhos demonstram que a
predação é o principal fator na regulação da migração vertical diária e na
distribuição larval de Chaoborus (Dawidowicz et al. , 1990; Tjossem, 1990)
e que os fatores abióticos, tais como luz e oxigênio agem como fatores
acessórios na regulação da MVD, modificando o risco de predação para a
larva (Voss e Mumm, 1999). As larvas de Chaoborus são altamente
vulneráveis à predação por peixes e populações não-migrantes
freqüentemente tornam-se migrantes após a introdução de peixes em um
lago (Luecke, 1986; Dawidowicz et al. , 1990; McQueen et al. , 1999).
Os diferentes instares do díptero Chaoborus diferem quanto à sua
visibilidade e comportamento e, portanto, na sua susceptibilidade à
129
predação por peixes. As larvas de terceiro e quarto instar exibem migração
vertical diária e usualmente enterram-se no sedimento durante o dia nos
lagos tropicais (Reiss, 1977; Hare e Carter, 1986; Fukuhara et al. , 1993) e
temperados (Xie et al. , 1998, Gliwicz et al. , 2000). As larvas de primeiro e
segundo instar, entretanto, são inteiramente planctônicas e usualmente não
migram na mesma extensão do que as larvas dos últimos estágios
(Teraguchi e Northcote, 1966).
A mudança ontogenética na intensidade da MVD na larva de
Chaoborus foi reconhecida pela primeira vez como um mecanismo de
evasão à predação por Voss e Mumm (1999). Foi notado que, como as
larvas dos instares iniciais são menores e, portanto, menos vulneráveis à
predação por peixes do que as larvas dos instares finais, a tendência de
evitar os estratos superficiais deveria aumentar com o tamanho da larva e a
amplitude de migração poderia ser maior em cada um dos subseqüentes
estágios ontogenéticos. Trabalhando no Lago Plubsee, norte da Alemanha,
estes autores demonstraram um aumento na amplitude da migração vertical
dos instares iniciais para os finais em uma população de C. flavicans . Outro
estudo com larvas de C. flavicans , desta vez no Lago Ros, Polônia,
demonstrou o mesmo padrão de mudança ontogenética na amplitude da
MVD (Gliwicz et al. , 2000).
Outro aspecto importante no desenvolvimento da MVD por
Chaoborus é a sua tolerância a baixos níveis de oxigênio (LaRow, 1970) e
a utilização do hipolímnio anóxico de lagos estratificados como refúgio
contra a predação por peixes (Rine e Kesler, 2001). As larvas de Chaoborus
são hábeis em resistir em condições de anaerobiose por longos períodos
130
(Rahel e Nutzman, 1994). Entretanto, a maioria dos peixes não pode
sobreviver em tais condições. O comportamento de fuga dos peixes de
locais com anoxia e a utilização das regiões anóxicas por invertebrados tem
sido reportado em inúmeros estudos ao redor do mundo (Threlkeld, 1979;
Hanazato e Yasuno, 1989; Dini e Carpenter, 1991).
Embora numerosos estudos tenham sido realizados sobre a migração
vertical diária da larva de Chaoborus (Teraguchi e Northcote, 1966; Hare e
Carter, 1986; Fukuhara et al. , 1993; Arcifa, 1997; Rine e Kesler, 2001),
não são conhecidos estudos sobre este padrão em uma escala sazonal em um
ambiente tropical. Assim, foi examinada a distribuição vertical, durante dia
e noite, dos quatro instares da larva de C. brasiliensis na lagoa do Nado
por um período de doze meses. Foram comparadas as amplitudes da MVD
entre os instares, com o objetivo de se detectar a existência de mudanças
ontogenéticas no seu comportamento migratório. Adicionalmente, foram
comparadas as profundidades em que a média da densidade dos instares
eram encontradas na coluna d’água com a profundidade na qual a
concentração de oxigênio ficou abaixo de 1mg. l -1 , considerando esta
concentração como limite abaixo da qual os peixes não podem sobreviver
(Wilding, 1939; Davis, 1975; Rahel e Nutzman, 1994). Com estas
comparações, foi examinada a hipótese de que a larva de Chaoborus
desenvolve a migração vertical diária com o objetivo de evitar a predação
por peixes e, além disso, se este comportamento é comum para todos os
instares.
131
Material e métodos
Área de estudo
O estudo foi desenvolvido na Lagoa do Nado (19º49’56”S,
43º57’34”W), reservatório localizado no Parque municipal Lagoa do Nado,
no município de Belo Horizonte, MG. Este reservatório meso-eutrófico
possuindo área de cerca 1,5 ha e a profundidade máxima de 7,6 m
desenvolve uma estratificação térmica estável que persiste de agosto a
maio, apresentando apenas um período de circulação durante o ano, em
junho–julho. O epilímnio é bem oxigenado, com o desenvolvimento de
intensa anoxia no hipolímnio durante todo o período de estratificação
(Bezerra-Neto e Pinto-Coelho, no prelo).
A única espécie de Chaoborus presente na Lagoa do Nado é
Chaoborus brasiliensis e a comunidade zooplanctônica é dominada, entre
os crustáceos, pelo copépodo ciclopóide Thermocyclops minutus e pelo
cladócero Moina micrura e entre os rotíferos por Brachionus falcatus , B.
angularis , B. caudatus , Keratella cochlearis , K. tropica e Kellicottia
bostoniensis (Bezerra-Neto, 2001).
A distribuição vertical das larvas de Chaoborus
Larvas planctônicas de Chaoborus foram coletadas mensalmente, de
outubro de 1999 a setembro de 2000, na região central do reservatório
(prof. 6,5 m). Amostras foram tomadas a cada metro da coluna d’água
durante o dia (entre 9:00 e 10:00 hs) e noite (entre 22:00 e 24:00 hs).
Estudos preliminares indicaram que as amostragens apenas durante estes
dois horários eram adequados na determinação da amplitude migratória
132
máxima de C. brasiliensis no reservatório, em concordância com outros
estudos sobre a migração vertical de Chaoborus (Voss e Mumm, 1999;
Gliwicz et al. , 2000). Os organismos foram coletados utilizando-se uma
armadilha do tipo Schindler-Patalas de 17 l equipada com uma rede de
abertura de malha 60 µm e preservados no campo utilizando-se uma mistura
de formalina com sacarose 4%.
Todas as larvas e pupas coletadas foram contadas e medidas. A
determinação dos estágios larvais foi feita a partir do comprimento da
cápsula cefálica. As medições foram realizadas com auxílio de um
microscópio estereoscópico equipado com uma câmera de vídeo SONY-
CCD conectado por computador a um programa de análise de imagens
digital - Scion Image (medidas de C. brasiliensis da lagoa do Nado em
Bezerra-Neto (2001)).
A profundidade média do instar i (Pmi), que é a profundidade em que
a densidade média do instar i se localizava na coluna d’água, durante o dia
e durante a noite, foi calculada pela fórmula descrita em Dini, et al.
(1993):
( )( )Xi
XiZiPmi ΣΣ
=
Aonde Xi é a densidade do instar i e Zi é a profundidade da amostra i .
A amplitude da migração vertical das larvas de C. brasiliensis foi
determinada pela diferença entre a profundidade média do instar i durante o
dia e a noite.
A concentração do oxigênio dissolvido na coluna d’água foi medida a
cada coleta através de perfis verticais com intervalos de 50 cm, na região
133
central do reservatório, utilizando-se um oxímetro YSI, modelo 55. A
transparência da água foi medida utilizando-se um disco de Secchi de 20
cm.
Resultados
De uma maneira geral, os quatro instares de C. brasiliensis exibiram
migração vertical diária durante todo o período estudado, permanecendo
nos estratos mais profundos durante o dia e deslocando-se para os estratos
superiores durante a noite (Fig. 1). Durante o dia, apenas 3,3% de todas as
larvas capturadas no período de estudo, encontravam-se nas profundidades
0 e 1 metro e 96,7% foram capturadas a partir de 2 metros de profundidade.
À noite esta proporção subiu para 26,5% nas profundidades 0 e 1 metro e
73,5% a partir de 2 metros de profundidade. De novembro/99 a abril/00 e
durante o mês de setembro/00, larvas de todos os instares foram
encontradas na coluna d’água durante o período diurno e noturno. De maio
a agosto/00, as larvas dos instares III e IV não foram mais detectadas na
coluna d’água durante o dia, mas apareceram durante o período noturno. O
mesmo comportamento foi detectado para as larvas do instar II nos meses
de junho e julho/00. As larvas do instar I desapareceram da coluna d’água
durante o dia e noite nos meses de junho, julho e agosto/00, assim como as
larvas do instar II no mês de agosto/00. Amostras do sedimento durante o
período diurno nos meses de maio e junho/00 (Bezerra-Neto, observação
pessoal), mostraram que apenas larvas do instar IV estavam presentes no
sedimento, sugerindo que as larvas dos instares II e III, no período em que
elas não foram detectadas na coluna d’água durante o dia, estariam
134
localizadas na região imediatamente acima do sedimento, onde a armadilha
util izada neste estudo não conseguia amostrar.
A profundidade média (Pmi) dos diferentes instares larvais durante o
dia e noite podem ser vistos na Fig. 2. O fenômeno do gradual aumento na
amplitude da migração (diferença entre a profundidade diurna e noturna)
dos estágios ontogenéticos iniciais para os finais não foi observado.
Durante o período de novembro/99 a abril/00, quando todos os instares
foram abundantes na coluna d’água, não foram detectadas diferenças
significativas na amplitude da migração entre eles (teste t par-a-par,
p>0,05). Também não foram encontradas diferenças significativas entre as
profundidades médias dos instares I, II e III durante o dia e noite.
Entretanto, as larvas do instar IV apresentaram uma profundidade média
significantemente maior do que todos os outros instares tanto no período
diurno, quanto no noturno (teste t par-a-par, p<0,05).
A profundidade média (Pmi) durante o período diurno dos diferentes
instares de C. brasiliensis apresentou correlação positiva com a
profundidade na qual a concentração de oxigênio alcançou 1 mg.l- 1 (n= 7;
r2 = 0,29; p = 0,05, para o instar I; n = 10; r2 = 0,80; p<0,05, para o instar
II; n = 11; r2 = 0,68; p< 0,05, para o instar III; n = 11; r2 = 0,34; p< 0,05,
para o instar IV), com a densidade média das larvas de C. brasiliensis
sendo encontradas sempre abaixo da concentração crítica de oxigênio para
os peixes durante este período (Fig. 3). Isto quer dizer que, quando o nível
desta concentração de oxigênio era encontrado mais superficialmente na
coluna d’água, a profundidade média diurna (Pmi) de C. brasiliensis
também se movia para a superfície. Da mesma forma, quando esta
135
concentração de oxigênio foi encontrada mais profundamente, a
profundidade média dos diferentes instares também caiu, chegando no
limite nos meses de junho e julho, quando o nível de oxigenação ficou
acima de 2 mg.l-1 em praticamente toda a coluna d’água e houve um
completo desaparecimento das larvas de todos os instares durante o período
diurno nestas datas (Fig. 1). Entretanto, os coeficientes da regressão linear
não explicaram toda a variação na distribuição vertical dos diferentes
instares de C. brasiliensis causada pelo oxigênio. Principalmente no caso
dos instares I e IV, a capacidade explicativa do modelo de regressão linear
foi muito pequena (29% e 34%, respectivamente). Isto indica claramente
que outros fatores, além do oxigênio, podem ter influenciado a distribuição
vertical de C. brasiliensis durante o período diurno. Um destes fatores,
pode ter sido a transparência da água, pois observamos claramente que as
larvas de todos os estágios larvais (principalmente as larvas dos instares III
e IV), evitaram a zona eufótica durante todo o período de estudo (Fig. 1).
Da mesma forma que a profundidade média (Pmi) de C. brasiliensis
durante o período diurno, a profundidade média (Pmi) dos diferentes
instares durante o período noturno apresentou correlação positiva com a
profundidade da concentração crítica de oxigênio (n = 7; r2 = 0,73; p =
0,05, para o instar I; n = 8; r2 = 0,63; p<0,05, para o instar II; n = 10; r2 =
0,76; p< 0,05, para o instar III; n = 11; r2 = 0,50; p< 0,05, para o instar
IV). A profundidade média tornou-se mais superficial quando a
concentração crítica de oxigênio (1 mg.l -1) ficou próxima da superfície e
caiu quando esta concentração alcançou as maiores profundidades (Fig. 3).
136
Discussão
Os diferentes estágios larvais de Chaoborus brasiliensis ocuparam
praticamente todos os estratos da coluna d’água, não sendo detectado um
padrão nítido de partição de habitats entre os instares, como foi descrito em
López e Cressa (1996) e Voss e Mumm (1999), com os instares iniciais
ocupando as profundidades mais superficiais e os instares finais ocupando
as maiores profundidades. Uma possível razão para explicar a ausência de
tal padrão seria a pequena profundidade da Lagoa do Nado, somada ao
perfil de distribuição larval na coluna d’água, com estas evitando as
profundidades superficiais e ficando concentradas abaixo de 2 metros, tanto
no período diurno, quanto no noturno (97% e 73% de todas as larvas
coletadas, respectivamente).
Na Lagoa do Nado, o único estágio larval que mostrou um
comportamento significativamente diferente dos demais foi a larva do
instar IV. Entretanto isto não se traduziu em um aumento da amplitude da
migração vertical em relação aos outros instares, pois, apesar de ter
ocupado os estratos mais profundos no período de estudo durante o dia,
também durante a noite, contrariando a predição de Voss e Mumm (1999)
de que a distribuição vertical noturna seria independente do tamanho
larval, a larva do instar IV ocupou os estratos mais profundos da coluna
d’água.
Segundo Davis (1975), o limite crítico de concentração oxigênio na
massa de água para peixes gira em torno de 1 a 2 mg O2.l - 1 , dependendo da
espécie e da temperatura a que ela estiver submetida. Os dados coletados
neste estudo mostraram que durante o dia, a profundidade média das larvas
137
de todos os instares de C. brasiliensis permaneceram nos estratos em que a
concentração de oxigênio esteve abaixo de 1 mg O2.l - 1 . O mesmo
comportamento foi encontrado durante o período noturno, com a
profundidade média larval de todos os instares sendo encontradas no/ou
abaixo do limite crítico de oxigênio. Assim, mesmo durante a noite, o
maior parte dos instares não foi encontrado nos locais onde podia haver
peixes. Isto claramente suporta a hipótese que a migração vertical é um
mecanismo de defesa contra a predação e que o oxigênio é um importante
fator acessório neste processo. A mera preferência fisiológica das larvas às
baixas condições de oxigênio, como uma explicação alternativa ao padrão
encontrado, é improvável, já que existem diversos estudos mostrando que,
na ausência de predação, as larvas de Chaoborus permanecem nas regiões
epilimnéticas bem oxigenadas (Luecke, 1986; Dawidowicz et al. , 1990).
A relação entre o limite crítico de oxigênio e a distribuição de C.
brasiliensis encontrado na Lagoa do Nado foi bastante similar aos
resultados encontrados por Rine e Kesler (2001), trabalhando com C.
punctipennis no Lago Poplar Tree, USA. Estes autores monitoraram a
profundidade média (Pmi) das larvas de C. punctipennis (dia e noite) e a
concentração crítica de oxigênio no período de outono (início de outubro),
durante 13 anos, detectando correlação significativa entre estes fatores.
Diferentemente do nosso estudo, porém, os autores não separaram as
populações de C. punctipennis entre os diferentes instares, tornando
impossível saber se este comportamento foi comum a um estágio em
particular ou a todos os estágios larvais.
138
A importância do oxigênio em determinar mudanças sazonais na
distribuição vertical foi evidente, com os instares larvais de C. brasiliensis
mantendo-se sempre em condições de baixas tensões de oxigênio,
principalmente durante o período noturno. Entretanto, diversos estudos
mostram que outros fatores, como a intensidade luminosa e os estímulos
químicos produzidos pelos peixes (querormônios), podem ser utilizados
pelas larvas para acessar o risco de predação e estimular diretamente a
migração vertical diurna.
LaRow (1970), mostrou que o comportamento migratório das larvas
de Chaoborus parece ser regulado pela interação entre a luz e a
concentração de oxigênio. Com a luz funcionando como um “gatilho” para
a ritmicidade endógena e a concentração de oxigênio como fator regulador
principal da migração vertical.
De acordo com López e Cressa (1996), a partir de estudos de uma
população de Chaoborus sp. no Reservatório Socuy (Venezuela), a variação
da radiação explicou uma grande parte da distribuição vertical dos instares
iniciais. Já para os instares finais, a transparência da água, a concentração
do oxigênio e a disponibilidade de alimento foram os fatores que
explicaram a localização da larva.
A partir de experimentos em laboratório, Tjossen (1990), observou
uma redução na tendência das larvas de C. albatus de deixar o sedimento
durante o dia quando expostas a uma água com exsudatos químicos de
peixes (querormônios). E em mesocosmos no campo, este autor também
observou que a presença de querormônios reduz a amplitude da migração
vertical de C. flavicans . Já Dawidowicz et al . (1990), mostraram que C.
139
flavicans alterava a profundidade de migração em resposta à água com
querormônios de peixes.
McQueen et al. (1999), mostraram que mudanças na densidade de
peixes em lagos biomanipulados podem ocasionar mudanças no
comportamento migratório nas populações de Chaoborus , sugerindo que as
mudanças no comportamento podem ter sido mediadas pelos efeitos
indiretos de exsudatos químicos liberados pelos peixes na coluna d’água.
Estes autores observaram que uma densidade de peixes acima de 2400/ha
causou a migração das larvas do instar IV para dentro do sedimento durante
o período diurno.
Como podemos ver, o comportamento migratório de Chaoborus
parece ser diretamente ligado ao risco de predação, provavelmente acessado
pela larva através dos querormônios liberados pelos peixes, a transparência
da água e, como foi detectado através de nosso estudo, pela concentração
de oxigênio dissolvido. A estratégia de utilizar as baixas tensões de
oxigênio como refúgio, desenvolvida por Chaoborus , se torna mais
justificada nos lagos rasos e turvos comuns em nosso meio. Nestes lagos,
os peixes mais abundantes são aqueles que utilizam outros mecanismos de
busca de presa não ligados a estímulos visuais, como os filtradores e cuja
maior barreira no deslocamento é a concentração de oxigênio dissolvido na
água (Lazzaro, 1987).
Conclusões
Este estudo mostrou que todos os estágios larvais de C. brasiliensis
desenvolveram migração vertical diária e foram capazes de resistir a baixas
140
tensões de oxigênio durante todo o ano, utilizando o hipolímnio anóxico
tanto no período diurno quanto noturno, provavelmente buscando diminuir
o risco de predação. Outro dado importante é que os dados de campo não
corroboraram a hipótese de um aumento ontogenético da amplitude da
MVD, hipótese esta elaborada a partir do estudo de populações de
Chaoborus vivendo em lagos com mais de 20 metros (Lago Plubsee, Zmax
= 28 m, Voss e Mumm, 1999; Lago Ros, Zmax = 32 m, Gliwicz et al. ,
2000). Como este é o primeiro trabalho com este enfoque em um corpo
d’água tropical raso, são necessários mais estudos buscando-se confirmar
se o comportamento migratório de Chaoborus observado na Lagoa do Nado
é comum a todos os lagos rasos tropicais ou é restrito apenas a este
reservatório.
Agradecimentos
Os autores agradecem à Prefeitura de Belo Horizonte e especialmente
aos funcionários do Parque Lagoa do Nado pelo apoio logístico no campo;
à Laura Rull del Aguila e Daniel Peifer Bezerra pelo inestimável auxílio
durante o trabalho de campo; Ao Prof. Dr. Raoul Henry e à Profa. Dra.
Arnola Rietzler pelas sugestões e críticas às versões iniciais do manuscrito.
Ao CNPq, pela bolsa de mestrado ao primeiro autor.
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145
A10 fev 00
100 200
2 4 609 mar 00
400 800
2 4 6
400 800
2 4 6 8
Densidade (ind. m-3)
18 nov 99
500 1000
2 4 6
100 200
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16 dez 99
150 300
2 4 6
50 100
2 4 6
12 jan 00
50 100
2 4 6 8 10
500 1000
2 4 6 8
15 out 99P
rofu
ndid
ade
(m)
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DIA
50 100
1
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3
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NOITE
06 abr 00
400 800 1200
1
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2 4 6
100 200
1
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2 4 6 8
DIA
NOITE
11 mai 00
300 600
2 4 6
100 200
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08 jun 00
2 4 6
2 4 6
05 jul 00
2 4 6 8
2 4 6 8
03 ago 00
2 4 6 8 10
2 4 6 8 10
06 set 00
100 200
2 4 6
2 4 6
mg O2.l-1
mg O2.l-1
mg O2.l-1
100 200
2 4 6
mg O2.l-1
Continua.
146
B10 fev 00
200 400
2 4 6
09 mar 00
600 1200
2 4 6 8
18 nov 99
2000 4000
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16 dez 99
100 200
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12 jan 00
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5
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-1
mg O2.l-1
50 100
2 4 6
1500 3000
2 4 6 8
1500 3000
2 4 6
150 300
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500 1000
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1
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5
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2 4 6 8 10
NOITE
06 abr 00
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DIA
08 jun 00
2 4 6
06 set 00
400 800
2 4 6
Densidade (ind. m-3)
1000 2000
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2 4 6 8
NOITE
11 mai 00
0 500 1000
2 4 6
800 1600
2 4 6
100 200
2 4 6
05 jul 00
2 4 6 8
50 100
2 4 6 8
03 ago 00
2 4 6 8 10
60 120
2 4 6 8
400 800
2 4 6mg O2.l
-1
mg O2.l-1
Continua.
147
C10 fev 00
800 1600
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09 mar 00
600 1200
2 4 6 8
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300 600
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12 jan 00
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Densidade (ind. m-3)
mg O2.l-1
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mg O2.l-1
mg O2.l-1
mg O2.l-1
mg O2.l-1
Figura 1 – Perfis verticais dia e noite da densidade (ind. m- 3) dos diferentes
instares de C. brasiliensis e da concentração de oxigênio dissolvido (linhas
contínuas, em mg.l - 1) na Lagoa do Nado durante o período de outubro de
1999 a setembro de 2000 (A – I instar; B – II instar; C – III instar e D – IV
instar). As linhas tracejadas mostram a profundidade da zona eufótica
(profundidade do disco de Secchi multiplicada pelo fator 2,7).
149
instar IV
1999 2000O N D J F M A M J J A S
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Pro
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instar III1
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6
instar II1
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6
instar I1
2
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4
5
6
Figura 2 – Profundidade média (Pmi) durante o dia (círculos vazios) e noite
(círculos cheios) dos diferentes instares larvais (I, II, III e IV) na Lagoa do
Nado durante o período de outubro de 1999 a setembro de 2000.
150
1999 2000O N D J F M A M J J A S
Pro
fund
idad
e (m
)
123456
123456
instar I1
2
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DIA
123456
instar IV
instar II
instar III
NOITE
1999 2000O N D J F M A M J J A S
instar I
instar II
instar III
instar IV
Figura 3 – Profundidade do limite crítico de oxigênio (1,0 mg.l - 1 , círculos
vazios) e a profundidade média (Pmi) dos diferentes instares de C.
brasiliensis (círculos cheios) durante o dia e noite na Lagoa do Nado
durante o período de outubro de 1999 a setembro de 2000.
151
2.3 – A influência da larva de Chaoborus brasiliensis
(Insecta: Diptera) na distribuição espacial da
comunidade zooplanctônica da Lagoa do Nado, Belo
Horizonte – MG
152
RESUMO – A influência da larva de Chaoborus brasiliensis (Insecta:
Diptera) na distribuição espacial da comunidade zooplanctônica da
Lagoa do Nado, Belo Horizonte – MG. Foi analisado o efeito do predador
invertebrado, Chaoborus brasiliensis , sobre a distribuição espacial da
comunidade zooplanctônica de um reservatório tropical raso, a Lagoa do
Nado (19º49’56”S, 43º57’34”W), explorando as mudanças na sobreposição
espacial entre predador e presas durante a migração vertical diária. O
estudo foi concentrado nos táxons predominantes do reservatório.
A comunidade zooplanctônica apresentou uma variada gama de
respostas à pressão de predação exercida pelas larvas de Chaoborus.
Diversos táxons exibiram MVD (Brachionus falcatus , B. caudatus , B.
angularis , Moina micrura , Thermocyclops minutus) e outros em que este
comportamento não foi tão nítido ou não foi detectado (K. cochlearis , K.
tropica , K. bostoniensis e náuplios de T. minutus). A maioria dos táxons
predominantes da comunidade zooplanctônica da Lagoa do Nado teve a sua
distribuição vertical associada à presença desse predador invertebrado e a
migração vertical diária destas espécies foi importante na redução da
sobreposição espacial com o predador. Além disso, o estudo demonstrou
que esses padrões experimentam consideráveis mudanças ao longo do ciclo
sazonal. O estudo conclui que a predação por Chaoborus é um dos fatores
mais importantes para descrever a distribuição da maioria dos organismos
zooplanctônicos nesse reservatório.
Palavras chave: migração vertical, sobreposição espacial, Chaoborus ,
zooplâncton.
153
ABSTRACT - The influence of the larva of Chaoborus brasiliensis
(Insecta:Diptera) in the spatial distribution of the zooplankton
community of Lagoa do Nado, Belo Horizonte - MG. The effect of the
invertebrate predator, Chaoborus brasiliensis on the spatial distribution of
the zooplankton was investigated in a shallow tropical reservoir, Lagoa of
Nado (19º49'56"S, 43º57'34"W). This effect was assessed by analyzing the
degree of habitat overlap, i .e. the overlap in the vertical distribution of
predator and its potential preys during the diel vertical migration (DVM).
The study was concentrated on predominants taxons (frequent and
abundant) of the reservoir.
Several organisms exhibited DVM (Brachionus. falcatus, B.
caudatus, B. angularis, Moina micrura, and Thermocyclops minutus ) while
in some others this behavior was not so clear or even detected at all ,
Keratella cochlearis, K. tropica K., K. bostoniensis and T. minutus
(nauplii). This study concludes that C. brasiliensis directly influenced the
spatial distribution of most zooplankters in this reservoir. Further, it was
showed that the diurnal vertical migration can be seen as an important
behavior of predator avoidance since it diminished that spatial overlapping
between preys and its potential predator.
Key words : vertical migration, spatial overlap, Chaoborus , zooplankton.
154
Introdução
Muitas espécies do zooplâncton exibem alguma forma de migração
vertical diária na coluna d’água de lagos, oceanos e reservatórios
(Hutchinson, 1967; Hays et al. , 1994). Este comportamento, o qual pode
variar entre e dentro das espécies, bem como sazonalmente, tem sido
interpretado em grande parte, por diversos autores, como uma defesa contra
a predação, na qual a presa evita porções da coluna d’água onde a pressão
de predação é elevada (Zaret & Suffern, 1976; Stich & Lampert, 1981;
Ohman et al. , 1983; Ohman, 1990).
Os predadores do zooplâncton lacustre são compostos por dois
grupos: os vertebrados (peixes) e invertebrados (insetos, rotíferos e
crustáceos). O papel dos predadores vertebrados em determinar a estrutura
da comunidade zooplanctônica está bem estabelecido. Eles alimentam-se
seletivamente de zooplâncton de maior porte (O’Brien, 1979) induzindo
uma alteração na estrutura da comunidade planctônica, com o gradual
aparecimento de dominância de espécies de pequeno tamanho (Brooks e
Dodson, 1965; Lynch, 1979; Gliwicz, 1994). Já os efeitos dos predadores
invertebrados não são bem definidos, pois eles diferem significantemente
na sua seletividade alimentar, exercendo assim um amplo espectro de
efeitos sobre o zooplâncton (Gliwicz & Pijanowska, 1989; Stenson, 1990;
Yan et al. , 1991).
Em comunidades planctônicas, o risco de predação de um dado tipo
de presa na natureza pode ser estimado a partir de dois componentes
primários: a vulnerabilidade da presa e o risco de densidade, que é uma
função entre a densidade do predador e a sobreposição espacial e temporal
155
entre as populações de predadores e presas na natureza (Williamson &
Stoeckel, 1990).
As interações presa-predador seriam, portanto, fortemente
dependentes da distribuição espacial do predador e da presa e a migração
vertical diária poderia representar um mecanismo efetivo para minimizar o
risco de predação por predadores táteis e visuais (Sih, 1987; Williamson,
1993).
Os sinais ambientais que controlariam o comportamento migratório
no zooplâncton seriam físicos, p. ex., envolvendo mudanças na intensidade
da luz, e químicos, a partir de querormônios liberados pelos predadores
(Nesbitt et al. , 1996). Experimentos de campo e de laboratório tem
mostrado que cladóceros e copépodos podem alterar sua posição vertical na
coluna d’água em resposta a querormônios liberados por uma variedade de
predadores (Leibold, 1990; Neill , 1990; Loose & Dawidowicz, 1994;
Gonzalez & Tessier, 1997).
Apesar de ser largamente demonstrado que os organismos
zooplanctônicos podem alterar o seu comportamento migratório em resposta
aos estímulos químicos liberados por seus predadores (Dodson, 1988),
análises da migração vertical diária do zooplâncton na natureza, tendo
como enfoque o papel da sobreposição espacial presa-predador ainda são
escassos.
Este estudo teve como objetivo principal, a partir de dados de campo,
analisar o efeito do predador invertebrado Chaoborus brasiliensis sobre a
distribuição espacial da comunidade zooplanctônica da Lagoa do Nado, um
reservatório tropical raso, explorando as mudanças na sobreposição
156
espacial entre predador e presas. Considerando-se que a predação é o fator
principal (“ultimate factor”) na regulação da migração vertical do
zooplâncton, esperar-se-ia que: (1) as populações zooplanctônicas
migrassem com o objetivo de diminuir a sobreposição espacial com o seu
predador; (2) esta resposta comportamental seria adaptativa, ou seja,
variaria no tempo em função do risco de predação a que as populações
estariam expostas.
O estudo foi concentrado nos táxons predominantes do reservatório,
tendo sido realizada uma análise quali-quantitativa da comunidade
zooplanctônica da Lagoa do Nado.
Área de estudo
A Lagoa do Nado (19º49’56”S, 43º57’34”W) é um reservatório meso-
eutrófico pequeno e raso (área 1,5 ha, prof. max. 7,6 m, prof. média 2,7 m),
localizado na área urbana do município de Belo Horizonte – MG, a uma
altitude de 770 m. A região é caracterizada por duas estações bem
marcadas: uma seca e fria, que abrange os meses de maio a agosto e uma
estação chuvosa e quente, de setembro a abril . O tempo de retenção da água
no reservatório varia de 2,09 dias no período das chuvas a 78 dias na
estação seca.
O reservatório desenvolve estratificação térmica que persiste de
agosto a maio, apresentando apenas um período de circulação durante o
ano, em junho–julho. O epilímnio é bem oxigenado, com o desenvolvimento
de intensa anoxia no hipolímnio durante todo o período de estratificação. O
reservatório apresenta baixos valores de transparência com média de 0,40
157
m (estação chuvosa) e 1,00 m (estação seca, Bezerra-Neto & Pinto-coelho,
no prelo).
Material e Métodos
Descrição da comunidade zooplanctônica
As coletas para o estudo da composição e abundância da comunidade
zooplanctônica foram realizadas quinzenalmente, de outubro de 1999 a
setembro de 2000, na região central do reservatório (prof. = 6.5 m).
As amostras foram coletadas a cada metro da coluna d’água
utilizando-se uma armadilha acrílica do tipo Schindler-Patalas de 17 l,
equipada com uma rede de abertura de malha 60 µm. Os organismos foram
então acondicionadas em frascos de polietileno de 300ml contendo algumas
gotas de Rosa de Bengala e 10 ml de Formalina bruta a 37%, a fim de
permanecerem fixados a uma concentração final de 2-4%, para as contagens
em laboratório.
A análise qualitativa foi feita através da identificação taxonômica
sob microscópio binocular. A identificação do zooplâncton foi feita até o
nível da espécie quando possível, utilizando-se chaves taxonômicas e a
partir de consultas à literatura especializada (Ruttner-Kolisco, 1974; Koste,
1978; Sendacz & Kubo, 1982; Matsumura-Tundisi & Rocha, 1983; Reid,
1985; Elmoor-Loureiro, 1997).
Para a análise quantitativa, as amostras de zooplâncton foram
contadas em sua totalidade. Quando não era possível processar toda a
amostra, três sub-amostras foram contadas em câmara de Sedgewick-Rafter
sob microscópio binocular Leica DMLB. A sub-amostragem foi realizada
158
retirando-se alíquotas de 1 ml da amostra homogeneizada, com o auxílio de
uma pipeta não-seletiva de Hensel-Stempel. As contagens consistiram no
registro de, no mínimo, 250 indivíduos por amostra.
A estrutura da comunidade zooplanctônica foi avaliada através da
frequência de ocorrência dos táxons, a abundância absoluta e relativa dos
grupos zooplanctônicos.
A distribuição vertical e a sobreposição espacial entre presa e
predador:
A distribuição vertical dos organismos zooplanctônicos e do predador
invertebrado (larva de Chaoborus brasiliensis) foram examinados durante o
dia (entre 9:00 e 10:00 hs) e a noite (entre 22:00 e 24:00 hs) através de
coletas mensais, de outubro de 1999 a setembro de 2000.
As coletas e a análise dos organismos zooplanctônicos, tanto no
período diurno quanto noturno, foram realizadas como descrito no tópico
acima. As larvas de Chaoborus foram coletadas conjuntamente com o
zooplâncton, sendo todas as larvas contadas e medidas. As medições foram
realizadas com auxílio de um microscópio estereoscópico equipado com
uma câmera de vídeo SONY-CCD conectado a um programa de análise de
imagens digital (Scion Image – Scion Corporation). A determinação dos
estágios larvais foi feita a partir do comprimento da cápsula cefálica
(mensurações de C. brasiliensis da L. do Nado em Bezerra-Neto & Pinto-
Coelho, submetido).
A profundidade média do organismo i (Pmi), que é a profundidade em
que a densidade média do organismo i se localizava na coluna d’água,
159
durante o dia e durante a noite, foi calculada pela fórmula descrita em Dini,
et al. (1993):
( )( )Xi
XiZiPmi ΣΣ
=
Aonde Xi é a densidade do instar i e Zi é a profundidade da amostra i .
A amplitude da migração vertical dos organismos foi determinada
pela diferença entre a profundidade média do organismo i durante o dia e a
noite.
No cálculo do índice de sobreposição (Oi j) entre as diversas espécies
de zooplâncton e o predador invertebrado, foi utilizada a equação descrita
por Williamson & Stoeckel (1990):
∑ ∑
∑
= =
=
⋅= m
z
m
zizjz
m
zizjz
ij
nN
mnNO
1 1
1
)()(
)(
Onde z representa a profundidade, m é o número de profundidades
amostradas, Nj z é a densidade do predador i e ni z é a densidade da presa i .
Os valores de Oij variam de zero (sem sobreposição) até o limite superior
(completa sobreposição), limitada ao número de profundidades amostradas
(= 6 neste estudo). Se o predador e a presa estão uniformemente
distribuídos na coluna d’água, Oi j=1, valores <1 indicam que existe algum
grau de segregação entre as espécies estudadas e valores >1 indicam algum
grau de agregação entre as espécies estudadas em algum estrato da coluna
d’água.
Na análise de sobreposição espacial foram consideradas as espécies
zooplanctônicas predominantes (freqüentes – 51 a 75% das amostras e
160
muito freqüentes – 76 a 100% das amostras e as mais abundantes). Já com
relação às larvas de Chaoborus, as densidades das larvas dos instares III e
IV foram somadas, sendo apenas estes estágios considerados na análise da
sobreposição espacial com o zooplâncton. A escolha pelos instares finais se
deve ao fato de que estes estágios alimentam-se predominantemente de
zooplâncton, em contraposição à dieta das larvas de Chaoborus dos instares
I e II , predominantemente herbívoras, alimentando-se de fitoplâncton
(Moore et al. , 1994, Arcifa, 2000). Outro fator importante na escolha dos
estágios finais neste estudo é que as larvas dos instares III e IV de C.
brasiliensis compreenderam 82% da abundância e 99% da biomassa total
das larvas coletadas durante o período de estudo (Bezerra-Neto & Pinto-
Coelho, submetido).
Resultados
A comunidade zooplanctônica
A comunidade zooplanctônica da Lagoa do Nado esteve representada
durante o período de outubro/99 a setembro/00, por 26 táxons, dos quais,
19 de Rotifera, 5 de Cladocera e 2 de Copepoda (Tab. I). Esta tabela mostra
também as classes de frequência de ocorrência de cada táxon na estação de
amostragem. Os táxons mais freqüentes foram Brachionus falcatus , B.
caudatus , B. angularis , B. mirus , Keratella tropica , K. cochlearis e
Polyarthra vulgaris , entre os Rotifera; Moina micrura , entre os Cladocera;
náuplios, copepoditos de Thermocyclops minutus , entre os Copepoda.
161
Dos grupos ocorrentes, os rotíferos predominaram qualitativamente,
com 73% do zooplâncton total, seguidos pelos cladóceros com 19% e
copépodos com 8% (Fig. 1).
A variação temporal da abundância relativa dos grupos
zooplanctônicos é mostrada na Fig. 2. A comunidade zooplanctônica foi
dominada pelos rotíferos durante todo o período, com média de 59,6%,
seguido pelos copépodos com 40,2% e cladóceros com 0,11%.
A variação da densidade total e dos grupos zooplanctônicos pode ser
vista na Fig. 3. As menores densidades do zooplâncton total ocorreram
durante os meses de maior precipitação, com o mês de fevereiro/00
apresentando os menores valores (60 x 103 ind.m-2). As maiores densidades
ocorreram na estação seca, com os maiores valores sendo registrados em
setembro/00 (12,4 x 106 ind.m-2).
Os rotíferos mantiveram densidade superior aos demais grupos
durante todo o período estudado, atingindo sua densidade máxima no mês
de outubro/99 (9,0 x 106 ind.m-2). As menores densidades ocorreram no mês
de fevereiro/00 (18,4 x 103 ind.m-2).
Os copépodos, segundo grupo em abundância, apresentaram as
maiores densidades no mês de setembro/00 (5,2 x 106 ind.m-2) e os menores
valores em janeiro/00 (38,3 x 103 ind.m-2).
Os cladóceros apresentaram relativamente baixas densidades,
comparados com os demais grupos, durante todo o período estudado. As
maiores densidades foram observadas em outubro/99 (98,3 x 103 ind.m-2).
O período de menor densidade foi de 18/11/99 a 28/01/00, quando os
Cladocera praticamente desapareceram das amostras.
162
Os sete táxons predominantes na Lagoa do Nado (Brachionus
caudatus , B. falcatus , B. angularis , Keratella tropica , K. cochlearis e
Kellicottia bostoniensis e T. minutus – náuplios, copepoditos e adultos)
representaram 93% de todos os organismos coletados no reservatório.
Apesar da pequena densidade apresentada pelos cladóceros, optou-se por
incluir a espécie Moina micrura , na análise de sobreposição espacial, por
ser este táxon o único representante dos Cladocera que se apresentou
freqüente (entre 50 a 75% das amostras) no reservatório.
A distribuição vertical
Na Lagoa do Nado existe uma única espécie de Chaoborus, ou seja ,
C. brasiliensis . Durante todo o período de estudo, uma densa população
deste díptero foi observada no reservatório (Fig. 4), com a densidade total
de Chaoborus variando de 525–35860 ind m-2 e a densidade média de 8436
ind m-2 (Bezerra-Neto & Pinto-Coelho, submetido).
Os instares finais de C. brasiliensis exibiram migração vertical diária
normal durante todo o período de estudo, ou seja, permaneceram nos
estratos mais profundos durante o dia e subiram para os estratos superiores
durante a noite (Fig. 5). A profundidade média da população durante o dia
variou de 3,4 m (fev/00) a mais de 6,0 m (de maio a agosto/00), com média
de 5,0 m. Durante o período noturno a profundidade média variou de 1,9 m
(fev/00) a 4,6 m (jul/00), com média de 3,0 m. A amplitude de migração
variou de 1,4 m (janeiro e julho/00) a 3,0 m (maio e junho/00), com média
de 1,85 m para todo o período. De outubro/99 a abri l/00 e durante o mês de
setembro/00, as larvas foram encontradas na coluna d’água durante o
163
período diurno e noturno e de maio a agosto/00, as larvas não foram mais
detectadas nas profundidades amostradas da coluna d’água durante o dia,
mas apareceram durante o período noturno. Neste período, amostras do
sedimento (Bezerra-Neto, observação pessoal) mostraram que, durante o
dia, apenas larvas do instar IV permaneciam enterradas sugerindo que as
larvas do instar III estariam localizadas na região imediatamente acima do
sedimento, onde a armadilha util izada neste estudo não conseguiu amostrar.
A Figura 6 apresenta a profundidade média (Pmi) dos táxons
predominantes e do predador invertebrado (C. brasiliensis) durante o dia e
a noite e a Tabela II apresenta a sobreposição espacial entre o predador e
as presas durante o período estudado.
O impacto da migração vertical diária (MVD) sobre a sobreposição
entre o predador invertebrado e as populações de presas foi estimado a
partir de duas condições: (1) pela distribuição “real”, observada durante o
dia e noite entre cada par presa-predador, e (2) pela distribuição “reversa”,
ou seja, a distribuição diurna da presa e noturna do predador, simulando a
situação de ausência de migração vertical diária. Se a migração foi uma
estratégia efetiva em reduzir a sobreposição espacial entre o predador e sua
presa, então os valores de sobreposição “reversa” deveriam ser maiores do
que os valores de sobreposição “real”.
Os resultados obtidos nas análises descritas acima serão mostrados
para cada espécie nos parágrafos seguintes.
Brachionus falcatus
A população exibiu MVD normal em oito dos onze meses em que
esteve presente na coluna d’água. A amplitude da migração variou de 0,4 m
164
(abr/00) a 1,9 m (jun/00), com média de 1,0 m (Fig. 6). A análise de
sobreposição espacial com o predador indica que a MVD reduziu
substancialmente a sobreposição em todos os oito episódios observados
(Tab. II).
Brachionus caudatus
B. caudatus exibiu MVD (> 0,3 m de variação entre a profundidade
média da população entre o dia e noite) em quatro dos dez meses em foi
detectado sua presença na coluna d’água (Fig. 6). A amplitude da MVD
variou de 0,6 m (Jan e mar/00) a 1,0 m (jun/00), com média de 0,8 m.
Todos os meses onde foi detectado a MVD, se traduziram na redução da
sobreposição espacial com o predador (Tab. II).
Brachionus angularis
A população de B. angularis exibiu MVD em sete dos onze meses
em que este táxon foi analisado (Fig. 6). O padrão de MVD foi normal em
cinco meses e reverso em dois (Jan/00 e jun/00), ou seja, a população
permaneceu nos estratos superficiais durante o dia e à noite desceu para os
estratos mais profundos. A amplitude de migração variou de 0,4 m (abr/00
e jun/00) a 0,8 m (fev/00 e mar/00), com média de 0,6 m. A análise da
sobreposição espacial mostrou que apenas no mês de março/00, a MVD não
resultou na diminuição de sobreposição com o predador (Tab. II).
Keratella tropica
K. tropica exibiu MVD em seis dos onze meses em que esteve
presente na coluna d’água. O padrão de MVD foi normal em dois meses e
reverso em quatro. A amplitude da migração foi pequena, como nos dois
táxons anteriores, variando de 0,4 m (abr/00) a 0,9 m (fev/00 e jun/00),
165
com média de 0,6 m no período (Fig. 6). A análise de sobreposição espacial
com o predador indicou que houve redução na sobreposição com o predador
em apenas três dos seis episódios de MVD, muito embora a redução tenha
sido pequena (Tab. II).
Keratella cochlearis
Não foi detectado um padrão nítido de MVD para este táxon durante
o período de estudo (Fig. 6). De uma maneira geral, a população apresentou
baixos níveis de sobreposição com o predador invertebrado, tanto durante o
período diurno quanto noturno, por esta se manteve permanentemente
localizada nos estratos superficiais (Tab. II).
Kellicottia bostoniensis
Este táxon apresentou uma profundidade média diurna e noturna
maior do que os outros rotíferos (3,4 m e 3,6 m, respectivamente), em todo
o período estudado (Fig. 6). K. bostoniensis exibiu um padrão de MVD em
quatro dos oito meses em foi detectado sua presença na coluna d’água. A
amplitude de migração variou de 0,4 m (julho e setembro/00) a 1,2 m
(junho/00), com média de 0,7 m. Apenas no mês de junho/00 o padrão de
MVD resultou em diminuição da sobreposição espacial com o predador
(Tab. II).
Thermocyclops minutus
(i) Náuplio – Para os náuplios, foi detectado um padrão de MVD em apenas
cinco dos doze meses em que foi analisada a sua distribuição espacial. A
amplitude de migração vertical variou de 0,4 m (out/99, nov/99 e jan/00) a
0,8 m (jul/00), com média de 0,5 m (Fig. 6). Apenas nos meses de out/99,
166
nov/99 e jul/00, a MVD resultou em diminuição sobreposição espacial com
o predador (Tab. II).
(ii) Copepoditos – Com a exceção de dezembro/99, os copepoditos
exibiram um padrão normal de MVD em todos os meses em que estiveram
presentes na coluna d’água. A amplitude de migração variou de 0,4 m em
jan/00 a 1,1 m em maio e agosto/00, com média de 0,8 m (Fig. 6). Dos onze
episódios de MVD, nove representaram substancial diminuição na
sobreposição espacial com o predador (Tab. II).
(iii) Adultos – T. minutus adulto , como os copepoditos, exibiu MVD
normal durante todo o período estudado, com exceção do mês de
dezembro/99. A amplitude da migração foi mais pronunciada do que
náuplios e copepoditos, variando de 0,8 m (março/00) a 2,1 m (junho/00),
com média de 1,4 m (Fig. 6). Dos onze meses em que foi detectado MVD,
nove se traduziram em diminuição na sobreposição espacial com o predador
invertebrado (Tab. II).
Foi observado para o copépodo T. minutus um aumento na amplitude
da migração dos estágios ontogenéticos iniciais para os finais. Durante
todo o período outubro/99 a setembro/00, os estágios adultos de T. minutus
apresentaram a amplitude de migração significativamente maior do que os
copepoditos (teste t paired, p<0,005) e estes uma amplitude de migração
maior do que os náuplios (teste t paired, p<0,005).
Moina micrura
Este táxon exibiu MVD em todos os meses em que ele foi encontrado
na coluna d’água (Fig. 6). Apenas no mês de setembro/00 o padrão de MVD
não resultou em diminuição de sobreposição espacial com o predador (Tab.
167
II). Entre todos os táxons estudados, M. micrura foi o que apresentou as
maiores amplitudes de MVD, variando 0,4 m (set/00) a 3,0 m (junho e
agosto/00), com média de 1,5 m.
Discussão
A comunidade zooplanctônica
Rotifera foi o grupo que apresentou maior número de táxons
identificados. A maior riqueza deste grupo é bem relatado em reservatórios
tropicais (Nogueira & Matsumura-Tundisi, 1996; Landa & Mourgués-
Schurter, 1999, 2000 a e 2000 b). Isso se deve ao fato dos Rotifera ser um
grupo composto por organismos oportunistas, e talvez o funcionamento
hidrodinâmico dos reservatórios favoreça o maior desenvolvimento de
espécies r estrategistas (Matsumura-Tundisi, 1999). .
Dentre os Rotifera, foram identificados táxons de ampla distribuição,
tais como B. falcatus , B. quadridentatus , B. calyciflorus , K. cochlearis e P.
vulgaris; de distribuição neotropical, p. ex . K. tropica (Koste, 1978) e
também uma espécie que, de acordo com a literatura especializada, tem a
distribuição restrita à América do Norte e à Europa (Balvay, 1994), o
rotífero Kellicottia bostoniensis.
O ambiente mostrou-se seletivo com relação aos microcrustáceos,
sobretudo para os copépodos. Diversos fatores podem ter influenciado a
pequena riqueza de espécies dos microcrustáceos no reservatório. Segundo
Nogueira & Matsumura-Tundisi (1996), copépodos e cladóceros, por serem
organismos de maior tamanho, talvez sejam mais susceptíveis a predação
por peixes que se orientam visualmente. O grau de trofia do ambiente, o
168
regime de oxigênio, as relações de competição intra e interespecífica, são
outros fatores que podem ter influenciado o reduzido número de espécies
de microcrustáceos na Lagoa do Nado.
Entre os Copepoda, predominou Thermocyclops minutus , espécie
confinada às regiões tropicais sul-americanas (Reid, 1985). O estado
trófico do corpo d’água parece determinar sua ocorrência, sendo T. minutus
mais freqüente em águas oligo-mesotróficas (Rocha et al. , 1995).
Entre os Cladocera, a única espécie que ocorreu com frequência foi
Moina micrura . Este gênero é amplamente distribuído nos sistemas
aquáticos continentais e são conhecidos pela resistência a condições de
baixa tensão de oxigênio, sendo freqüentemente observados em ambientes
que desenvolvem déficit de oxigênio na coluna d’água (Matsumura-Tundisi,
1999).
De um modo geral, a comunidade zooplanctônica da Lagoa do Nado
apresentou valores elevados de densidade durante o período seco e uma
drástica redução durante o período de maior precipitação. Nesta época, os
cladóceros desapareceram da coluna d’água e os copépodos e rotíferos
tiveram sua abundância bastante reduzida.
Uma hipótese para explicar este fenômeno seria o “wash-out”, com a
perda de organismos à jusante, devido à diminuição do tempo de residência
da água no reservatório. Este variou de 79 dias, média do período seco,
para apenas 2 dias, média do período chuvoso. Nogueira & Matsumura-
Tundisi (1996), trabalhando no reservatório Monjolinho (São Paulo),
também observaram o desaparecimento de copépodos durante a época de
169
maior precipitação na região e concluíram que talvez o “wash-out” poderia
explicar este fato.
Outro fator importante que pode ter influenciado as populações
zooplanctônicas é a elevação no déficit de oxigênio no sistema na época de
maior precipitação (dez/99 a mar/00). Neste período, a camada oxigenada
ficou restrita à zona epilimnética e à metade superior do metalímnio,
correspondendo basicamente ao primeiro metro da coluna d’água (Bezerra-
Neto & Pinto-Coelho, no prelo).
A distribuição vertical
A predação é reconhecida como um dos principais fatores de
influência na dinâmica das populações e a estrutura das comunidades. A
maioria dos estudos sobre os efeitos dos predadores sobre as presas
enfatiza os efeitos letais, ou seja, a predação direta. Entretanto, os
predadores também podem exercer efeitos indiretos importantes sobre a
morfologia, fisiologia, história de vida e comportamento das presas (Sih,
1987).
As presas podem reduzir a pressão de predação evitando o encontro
com o predador e a mais importante das respostas comportamentais que o
zooplâncton exibe contra a predação é o fenômeno da migração vertical
diária. Ela efetivamente reduz o risco de predação, pois permite a redução
da sobreposição espacial entre as populações de presa e predador
(Williamson, 1993).
Williamson (1993), destaca que a sobreposição espacial pode
desempenhar um papel fundamental na determinação de quais presas serão
170
consumidas pelos predadores. Para Chaoborus esta relação é
particularmente importante, pois a sua dieta é determinada largamente pela
disponibilidade espacial de suas presas (Fedorenko, 1975).
As larvas de Chaoborus são predadores de emboscada que esperam,
com o mínimo de movimento, até que a presa esteja na distância do ataque.
Suas interações com presas potenciais, portanto, são governadas
primariamente pela distribuição e comportamento natatório das mesmas
(Pastorok, 1980).
No presente estudo, a distribuição vertical de Chaoborus foi
acompanhada conjuntamente com a distribuição vertical de suas presas, as
populações zooplanctônicas, permitindo que os efeitos comportamentais do
zooplâncton à pressão de predação exercida por Chaoborus pudessem ser
avaliados numa escala anual. Este é o primeiro estudo que analisa o
fenômeno da MVD e a sobreposição espacial com o predador em uma escala
sazonal em um reservatório brasileiro. E isto foi possível principalmente
porque, na Lagoa do Nado, o predador invertebrado pôde ser observado na
coluna d’água em altas densidades durante todo o ano.
Foi observado que a larva de Chaoborus exerce uma pressão de
predação sobre a comunidade zooplanctônica na Lagoa do Nado. Análise do
conteúdo estomacal de 65 larvas de IV instar de C. brasiliensis coletadas
durante o período de estudo no reservatório (Sant’Anna, dados não
publicados), mostrou que as larvas de Chaoborus se alimentam do
zooplâncton do reservatório. Foi observada a presença de diversas espécies
de rotíferos (K. tropica , B. caudatus , K. bostoniensis), além de náuplios,
171
copepoditos e adultos de T. minutus , no conteúdo estomacal das larvas
analisadas.
Os instares finais de Chaoborus na Lagoa do Nado desenvolveram um
nítido padrão de MVD em todo o período de estudo. Outro fator importante
sobre o comportamento de Chaoborus foi a utilização das baixas tensões de
oxigênio na coluna d’água como uma resposta à predação por peixes. Um
estudo sobre as relações entre a concentração de oxigênio e a distribuição
de C. brasiliensis na Lagoa do Nado (Bezerra-Neto & Pinto-Coelho,
submetido) mostrou que, durante o dia e também à noite, os diferentes
estágios larvais permaneceram nos locais onde a concentração de oxigênio
ficou abaixo de 1 mgO2.l -1, l imite de O2 abaixo do qual os peixes não
podem sobreviver (Rahel & Nutzman, 1994).
A comunidade zooplanctônica apresentou uma variada gama de
respostas (em termos de MVD) à pressão de predação exercida pelas larvas
de Chaoborus. Observou-se que diversos táxons exibiram um padrão nítido
de MVD e outros em que este comportamento não foi tão nítido ou não foi
detectado.
O comportamento migratório dos Rotifera na Lagoa do Nado
mostrou três gêneros de uma mesma família (Brachionidae) com estratégias
distintas de comportamento migratório.
As espécies do gênero Brachionus exibiram migração, com um
padrão de MVD normal e uma amplitude de migração que chegou a quase
2,0 metros, como no caso de B. falcatus em junho/00. Além disso, em todos
os episódios em que foi detectado um padrão de MVD para as três espécies
172
analisadas deste gênero, este comportamento levou à redução na
sobreposição espacial com o predador.
As espécies do gênero Keratella (K. tropica e K. cochlearis) não
exibiram um padrão nítido de MVD. Entretanto, os valores de sobreposição
com o predador apresentados por estas espécies não foram elevados, pois
estes táxons permaneceram constantemente nos estratos superiores da
coluna d’água. Trata-se, provavelmente, de uma estratégia eficaz de evitar
o predador mantendo-se em estratos onde estes são escassos tanto durante o
período diurno, quanto o período noturno.
A espécie do gênero Kellicottia (K. bostoniensis) também não exibiu
um padrão nítido de MVD. Em contraste, exibiu altos valores de
sobreposição espacial com as larvas de Chaoborus .
Diversos estudos sobre a migração vertical de rotíferos e a
sobreposição espacial com predadores mostram que as reações destes
organismos são espécie-específicas, como observamos na Lagoa do Nado.
Williamson (1993) observou que os rotíferos Keratella crassa ,
Ascomorpha sp. e Polyarthra vulgaris reduziam substancialmente o risco
de predação por Mesocyclops a partir da migração vertical diária.
González (1998) também encontrou um padrão migratório espécie-
específico em rotíferos na presença de Chaoborus . Kellicottia longispina e
Polyarthra sp. mostraram um nítido padrão de MVD e K. cochlearis não
mostrou um comportamento migratório, como foi observado por nós na
Lagoa do Nado.
Armengol & Miracle (2000), observaram que a predação não parece
ser a causa do comportamento migratório da maioria das espécies de
173
rotíferos do Lago La Cruz (Espanha). Os autores explicam que no período
em que foi feito o estudo, os predadores (peixes e Chaoborus) foram
encontrados em densidades muito baixas.
Os resultados encontrados para o grupo dos copépodos não só
mostraram que a espécie predominante (T. minutus) exibiu MVD buscando
reduzir o risco de predação (pela diminuição da sobreposição espacial com
o predador), como mostrou que existe um aumento ontogenético na
amplitude da MVD para esta espécie.
Padrão semelhante ao encontrado na Lagoa do Nado foi observado
por Neill (1992) para o copépodo calanóide Diaptomus kenai . Foi
observado que os náuplios não exibiam migração quando expostos à
predação por Chaoborus . Entretanto os estágios de copepodito e adulto
exibiam MVD quando os Chaoborídeos eram quimicamente detectados
(querormônios).
Os Cladocera são os organismos em que a MVD já foi amplamente
discutida. Diversos estudos já foram realizados em lagos e reservatórios
brasileiros detalhando o comportamento migratório desta ordem,
destacando Matsumura-Tundisi et al. (1984) e Nogueira & Panarelli (1997).
Nestes trabalhos, entretanto, a distribuição vertical dos Cladocera foi
explicada principalmente em função dos fatores abióticos como temperatura
e oxigênio.
Arcifa (1997, 1999) a partir do estudo da migração vertical de
Chaoborus sp. , no Lago Monte Alegre, observou que a sobreposição
espacial entre as larvas de Chaoborus e a população de cladóceros durante
174
o período noturno possibilitaria uma maior pressão de predação durante
este período.
Na Lagoa do Nado, a espécie mais freqüente, Moina micrura ,
desenvolveu um padrão de nítido de MVD, com a migração representando
uma substancial diminuição de sobreposição com o predador.
Resultados semelhantes foram encontrados por Nesbitt et al. (1996),
a partir de experimentos em mesocosmos, mostrando que o cladócero
Daphnia pulex buscava reduzir a sobreposição espacial com o predador
invertebrado, a larva do díptero Chaoborus , através da migração vertical
diária. González (1998), também observou que três espécies de Daphnia
reagiam à presença de Chaoborus , pela alteração de sua distribuição
espacial.
Em muitas comunidades pelágicas, substancial pressão de predação
pode vir de mais de uma origem, dos predadores invertebrados, bem como
dos peixes planctívoros. A presença de múltiplos predadores pode tornar
mais complexa a resposta migratória das presas zooplanctônicas, uma vez
que, reduzindo o risco de predação a um predador pode simultaneamente
aumentar ao outro (Nesbitt et al. , 1996)
Na Lagoa do Nado, os organismos maiores, mais conspícuos para
predadores visuais (M. micrura e T. minutus adultos e copepoditos)
evitaram os estratos superficiais da coluna d’água durante o período
diurno, provavelmente procurando evitar a predação por peixes. E à noite,
subiam para os estratos que permitiam manter uma baixa sobreposição
espacial com Chaoborus .
175
Um aspecto importante no comportamento migratório dos táxons
predominantes da Lagoa do Nado foi a sua variabilidade no tempo. Se um
estudo fosse realizado sobre o MVD do zooplâncton do reservatório apenas
no mês de outubro/99, o pesquisador chegaria à conclusão que a migração
vertical diária é uma característica comportamental importante nesta
comunidade, pois, à exceção de K. cochlearis , todos os organismos exibiam
um padrão nítido de MVD. Em contraste, se este estudo fosse realizado
apenas no mês de janeiro/00, as conclusões seriam opostas, pois, apenas K.
tropica exibia um fraco padrão de MVD, com o restante dos organismos
permanecendo nos estratos superficiais durante dia e noite. Constatamos,
portanto que o comportamento migratório pode variar no tempo e que
estudos sobre MVD abrangendo apenas um período do ano (seco ou
chuvoso, p. ex.) podem mostrar padrões de períodos particulares. Isto se dá
porque as respostas comportamentais dos organismos podem ser
influenciadas pelo risco de predação (densidade, sobreposição espacial e
vulnerabilidade ao predador), pela disponibilidade de alimento e por
influência de fatores abióticos (temperatura e oxigênio, p. ex.). Entretanto,
como estes fatores variam em diferentes escalas (diárias e sazonais), as
respostas comportamentais dos organismos também variam (Williamson,
1993).
Dentre os aspectos que influenciam a MVD dos organismos, descritos
acima, este estudo focalizou principalmente a sobreposição espacial com o
predador. Foi observado que nos períodos em que os táxons migrantes não
exibiram MVD, a migração nestes períodos, provavelmente, não traria
vantagens para o organismo porque ou, (1) eles já se encontravam em
176
estratos seguros da coluna d’água, onde a sobreposição espacial com o
predador era pequena, tanto no período diurno quanto no período noturno,
ou (2) a densidade do predador era muito baixa e conseqüentemente o risco
de predação era baixo.
Conclusões
Este estudo demonstrou que a distribuição espacial da maioria dos
táxons predominantes da comunidade zooplanctônica da Lagoa do Nado
esteve associada à distribuição da larva de C. brasiliensis e que a migração
vertical diurna destas espécies foi importante na redução da sobreposição
espacial com o predador (hipótese 1). Outra constatação foi que este
comportamento pode ser modulado ou regulado (hipótese 2), com a
presença ou não do comportamento migratório variando no tempo, de
acordo, entre outros fatores, com o risco de predação.
É importante frisar que a predação não é o único fator que pode
influenciar a distribuição e a abundância do zooplâncton na Lagoa do Nado.
Os fatores abióticos tais como o oxigênio, temperatura e luz, assim como
recursos alimentares também podem ser críticos.
Agradecimentos
Os autores agradecem à Prefeitura de Belo Horizonte e especialmente
aos funcionários do Parque L. do Nado pela colaboração; à Laura Rull del
Aguila e Daniel Peifer Bezerra pelo inestimável auxílio durante o trabalho
de campo; ao CNPq pela concessão da bolsa de mestrado ao primeiro autor.
À Eneida Skinazi Sant’ana, por disponibilizar os dados sobre a análise de
conteúdo estomacal das larvas de Chaoborus .
177
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183
Tabela I – composição específica e classes de freqüência de ocorrência dos
diferentes grupos zooplanctônicos na Lagoa do Nado, no período de
outubro/99 a setembro/00.
ORGANISMOS CLASSES DE FREQUÊNCIA ROTIFERA Anuraeopsis fissa (Gosse, 1851) +++ Asplanchna sp. ++ Brachionus angularis Gosse, 1851 ++++ Brachionus angularis var. chelonis Ahlstrom, 1940 ++++ Brachionus calyciflorus Pallas, 1766 ++ Brachionus caudatus Barrois, 1894 ++++ Brachionus falcatus Zacharias, 1898 ++++ Brachionus mirus Daday, 1905 ++++ Brachionus quadridentatus Hermann, 1783 + Conochilus sp. + Filinia longiseta Ehrenberg, 1834 + Keratella tropica (Apstein, 1907) ++++ Keratella cochlearis Gosse, 1851 ++++ Kellicottia bostoniensis (Rousselet, 1908) +++ Lecane luna (O. F. Muller, 1776) + Lecane monostyla (Daday, 1897) + Polyarthra sp. +++ Polyarthra vulgaris Carlin, 1943 ++++ Synchaeta oblonga Ehrenberg, 1832 ++ CLADOCERA Bosmina longirostris (O. F. Muller, 1785) + Ceriodaphnia cornuta Sars, 1886 + Diaphanossoma brevirremes Sars, 1901 + Moina micrura Kurz, 1874 +++ Simocephalus sp. + COPEPODA Mesocyclops sp. + Thermocyclops minutus (Lowndes, 1834) ++++ - náuplio ++++ - copepodito ++++ Classes de Frequência (% das amostras) 1 (+) = 1 a 25% - pouco freqüente 2 (++) = 26 a 50 % – moderadamente freqüente 3 (+++) = 51 a 75% - freqüente 4 (++++) = 76 a 100% - muito freqüente
184
Tabela II – Índice de sobreposição (Oij ) de dez espécies de presas com um predador invertebrado (C. brasiliensis) na Lagoa do Nado, de
outubro de 1999 a setembro de 2000. Os valores foram estimados para a distribuição real dia e noite do predador e da presa (Rl) e a
distribuição reversa entre a distribuição diurna da presa e noturna do predador (Rv) para se testar o efeito da migração sobre a sobreposição
espacial. Os valores sombreados indicam que o organismo desenvolveu migração vertical diurna (considerada aqui como uma mudança entre
a profundidade média dia e noite da população de mais de 0,3 m) no período estudado.
15/10/99 18/11/99 16/12/99 12/01/00 10/02/00 09/03/00 06/04/00 11/05/00 08/06/00 05/07/00 03/08/00 06/09/00
Oij Oij Oij Oij Oij Oij Oij Oij Oij Oij Oij Oij D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N
Rl 0,4 0,3 0,4 0,5 0,2 1,5 0,6 1,0 - - 0,3 1,2 0,2 0,8 0,0 0,6 0,0 0,5 0,0 0,8 0,0 0,9 0,5 1,2 Brachionus falcatus Rv 1,4 1,0 1,5 2,1 1,2 1,1 1,0 0,9 0,5 1,9 1,3
Rl 0,1 0,4 0,4 0,7 - - 0,7 1,6 - - 0,4 1,3 0,4 0,6 0,0 0,7 0,0 0,9 0,0 0,7 0,0 0,5 0,4 1,2 Brachionus caudatus Rv 1,1 1,1 2,0 1,3 1,2 0,7 1,1 0,5 0,5 1,2
Rl 0,2 0,7 0,3 0,8 0,3 1,7 0,4 1,9 0,0 1,4 0,6 1,5 0,4 1,0 - - 0,0 0,8 0,0 1,2 0,0 1,1 0,4 1,1 Brachionus angularis Rv 1,1 1,2 1,4 2,2 2,3 1,3 1,4 1,0 1,1 1,6 1,1
Rl - - 0,3 1,4 0,2 1,3 0,6 2,4 0,6 1,5 0,4 1,3 0,2 1,4 0,0 1,3 0,0 0,9 0,0 0,9 0,0 1,2 0,4 1,2 Keratella tropica Rv 1,2 1,4 2,4 1,7 1,4 0,9 0,7 1,0 0,7 0,7 1,2
Rl 0,9 0,9 0,2 1,3 0,3 1,3 1,0 2,6 0,3 1,1 0,3 1,4 0,4 1,6 0,0 0,7 0,0 1,3 0,0 0,8 0,0 0,6 0,5 1,2 Keratella cochlearis Rv 0,6 1,0 1,5 1,9 1,9 1,5 1,0 0,6 1,0 0,6 0,6 1,2
Rl 1,6 1,5 0,7 2,0 - - - - - - - - - - 0,0 2,4 0,0 0,8 0,0 1,5 0,0 1,9 0,6 1,1 Kellicottia bostoniensis Rv 1,5 1,5 1,9 0,9 1,9 1,9 1,2
Rl 0,3 1,2 0,5 1,4 0,3 1,5 0,8 2,0 1,2 1,8 0,5 1,4 0,2 1,4 0,0 1,3 0,0 1,2 0,0 1,4 0,0 1,9 0,3 1,2 Náuplio Rv 1,5 1,6 1,4 1,9 1,5 1,3 1,7 1,2 1,1 2,0 2,0 1,1 Rl 0,2 1,2 0,4 1,3 0,3 1,6 0,8 1,6 1,2 1,8 0,5 1,4 0,2 1,2 0,0 1,2 0,0 1,3 0,0 1,2 0,0 1,1 0,3 1,2 Copepodito Rv 1,5 1,8 1,4 2,2 1,5 1,5 2,8 2,1 1,2 1,7 2,1 1,4 Rl 0,7 0,7 0,6 1,1 0,3 1,6 1,2 2,5 1,8 1,2 0,5 1,2 0,6 0,8 0,0 1,2 0,0 0,8 0,0 0,9 0,0 0,6 0,4 1,2 T. minutus Rv 1,5 1,6 1,3 1,9 1,2 1,8 2,5 2,1 1,2 2,1 1,9 1,4 Rl 0,0 0,6 - - - - - - - - - - - - 0,0 1,3 0,0 0,7 0,0 1,0 0,0 0,1 0,1 1,3 Moina
micrura Rv 1,5 1,9 1,2 1,6 1,4 1,0
185
Figura 1 – Composição relativa (número de táxons) dos grupos
zooplanctônicos na Lagoa do Nado, no período de outubro/99 a
setembro/00.
Cladocera19%
Copepoda8%
Rotifera73%
186
O N D J F M A M J J A S
Cladocera
CopepodaRotifera
0
20
40
60
80
100
Abun
dânc
ia re
lativ
a (%
)
1999 2000
Figura 2 – Variação da abundância relativa dos grupos zooplanctônicos na
Lagoa do Nado, no período de outubro de 1999 a setembro de 2000.
187
Ind.
m-2 (x
106 )
2
4
6
8
10
Ind.
m-2 (x
106 )
1
2
3
4
5
Rotifera
Copepoda
1999 2000
O N D J F M A M J J A S O
Ind.
m-2 (x
103 )
2468
1020
40
60
80
100
Cladocera
Ind.
m-2 (x
106 )
2
4
6
8
10
12
14zoo total
Figura 3 – Variação temporal da abundância do zooplâncton total e dos
grandes grupos zooplanctônicos na Lagoa do Nado, durante o período de
outubro/99 a setembro/00. Note a diferença de escala entre os gráficos.
188
Figura 4 - Variação sazonal na densidade da população total de C.
brasiliensis , durante o período de outubro de 1999 a setembro de 2000
(modificado de Bezerra-Neto & Pinto-Coelho, em preparação).
1999 2000
O N D J F M A M J J A S
10
20
30
Den
sida
de (x
103 in
d. m
-2)
189
O N D J F M A M J J A S
Prof
undi
dade
(m) 1
2
3
4
5
6
1999 2000
Figura 5 – Profundidade média (Pmi) dos estágios larvais finais (instares
III e IV) de C. brasiliensis durante o dia (círculos vazios) e noite (círculos
cheios) na Lagoa do Nado durante o período de outubro de 1999 a setembro
de 2000.
190
O N D J F M A M J J A S
1
2
3
4
5
6
Keratella tropica
Keratella cochlearis
O N D J F M A M J J A S
Kellicottia bostoniensis
Prof
undi
dade
(m) 1
2
3
4
5
6
Brachionus caudatus
Brachionus angularis
1
2
3
4
5
6
Brachionus falcatus
1 - ROTÍFEROS
1999 2000 1999 2000
Continua..
191
Prof
undi
dade
(m)
1
2
3
4
5
6
O N D J F M A M J J A S
Moina micrura
1
2
3
4
5
6
náuplio
copepodito
O N D J F M A M J J A S
1
2
3
4
5
6
Thermocyclops minutus
2 - COPÉPODOS 3 - CLADÓCERO
1999 2000
1999 2000
Figura 6 – Profundidade média (Pmi) durante o dia (círculos vazios) e noite
(círculos cheios) do predador (III e IV instar de C. brasiliensis) e das
presas (triângulo vermelho vazio – dia; triângulo vermelho cheio – noite)
na Lagoa do Nado durante o período de outubro de 1999 a setembro de
2000.
192
ANEXOS METODOLÓGICOS
193
Anexo I
A morfometria e o estado trófico de um pequeno reservatório urbano:
Lagoa do Nado, Belo Horizonte–MG.
Material e métodos
As fórmulas para o cálculo dos parâmetros morfométricos
secundários abaixo foram retiradas de Sperling (1999).
A profundidade média ( )Z foi calculada pela relação entre o volume
de água acumulado e a superfície do espelho d’água:
ÁreaVolumeZ =
A profundidade relativa ( )RZ foi calculada pela relação entre a
profundidade máxima e o diâmetro médio do reservatório:
AZmZR ×= 6,88
Onde Zm = profundidade máxima e A = área superficial do
reservatório.
O índice de desenvolvimento de volume ( )VD foi calculado pela razão
entre o volume do reservatório e o volume de um cone com área igual à do
reservatório e altura equivalente à sua profundidade máxima:
ZmZDV ×= 3
O índice de desenvolvimento de perímetro ( )PD foi calculado pela
relação entre o perímetro do reservatório e a circunferência de um círculo
que possua a mesma área do reservatório:
APDP ×= 28,0
194
Onde P =perímetro e A= área do reservatório.
A largura média do reservatório (Lm) foi calculada pela razão entre a
área e o comprimento máximo:
CmÁreaLm =
A declividade média (α ) foi calculada pela fórmula
( )( )
nA
ZmInInInIIIo
××
⋅+−+−+++=
10212...212%α
Onde Io, I1,. . . ,In = comprimento (Km) das diversas linhas de
contorno; A = área do reservatório (Km2); n = número de linhas de contorno
e Zm = profundidade máxima (m).
O fator de envolvimento (Fe) foi calculado pela razão entre a área da
microbacia de drenagem e a área do próprio reservatório:
( )( )lagoAbaciaAFe =
Para o cálculo da vazão média do reservatório seguiu-se a
metodologia descrita em Pielou (1998):
1- Foi medida a largura do canal de saída de água do reservatório;
2- Seguiu-se à tomada das profundidades de uma margem à outra a cada
0,10 metro. Com estas medidas, foi calculada a área da secção transversal
do trecho escolhido do ribeirão, expressa em m2.
3- Foram também realizadas diversas medidas (dez no total) da
velocidade da corrente nos trechos estudados. Para cada medida, foram
computados o tempo gasto para uma tampa plástica percorrer 5 metros da
superfície da água. Com o cálculo da velocidade média, segue-se à
195
multiplicação por 0,85, número que corrige a velocidade levando-se em
conta não só a superfície, mas sim as diferentes profundidades da coluna
d’água.
4- A partir destas medições, seguiu-se ao cálculo da vazão média, de
acordo com a equação:
VcAVm ⋅=
Onde, Vm = vazão média, em m3/s; A = área da secção transversal, em
m2; Vc = velocidade média da corrente, em m/s.
Utilizando-se os resultados obtidos das medidas de transparência
(disco de Secchi), bem como os valores médios das quatro profundidades
para PT e Cl-a , foi calculado o IET de Carlson (1977), de acordo com as
equações:
1 – Transparência da água
( ) ⎟⎠⎞
⎜⎝⎛ −=
2lnln610 DSDSIET
2 – Clorofila-a
( ) ⎟⎠⎞
⎜⎝⎛ −
−=2ln
ln68,004,2610 ChlChlIET
3 – Fósforo total
( )⎟⎟⎟⎟
⎠
⎞
⎜⎜⎜⎜
⎝
⎛
−=2ln
48ln610 PTPTIET
196
Anexo II
O déficit de oxigênio em um reservatório urbano: L. do Nado, BH-MG.
Material e métodos
As fórmulas para o cálculo de OAD e AHOD foram retiradas de
Henry et al. (1989).
Os valores de OAD total do reservatório (KgO2) em cada período
foram obtidos a partir da fórmula:
∑=
⋅=n
iViGiDAO
1...
Onde Gi = média dos déficits reais de oxigênio (mg.l -1) encontrados
nos limite superior e inferior de cada estrato do reservatório (50 cm); Vi =
volume (m3) de cada estrato do lago.
Os valores de OAD total também foram expressos por unidade de
área (mgO2.cm-2):
H
ViGiDAO
n
i∑=
⋅= 1...
Onde o somatório Gi.Vi é expresso em mgO2 e H = área superficial
do reservatório em cm-2 .
O déficit relativo de oxigênio (AHOD) foi calculado para todo o
hipolímnio e expresso por unidade de área (mgO2.cm-2.dia-1) utilizando-se
as seguintes fórmulas:
TMMDOHA
Δ−
=21....
Onde M1 = conteúdo de oxigênio (mgO2.cm-2) no período de
circulação (julho) no volume de água correspondente ao volume do
197
hipolímnio em M2; M2 = conteúdo de oxigênio (mgO2.cm-2) no hipolímnio
numa dada época do ano; TΔ = intervalo de tempo em dias entre M1 e M2 .
M1 e M2 foram calculados a partir da fórmula:
( )( )H
ViGiMM
n
i∑=
⋅= 121
Onde Gi = média da concentração de oxigênio medida nos limites
superior e inferior de cada estrato do hipolímnio (mg.l-1); Vi = volume (m3)
de cada estrato do hipolímnio; H = limite superior do hipolímnio (cm2),
determinado através do perfil térmico.
198
Anexo III
Ciclo de vida, dinâmica populacional e produção de Chaoborus
brasiliensis (Diptera, Chaoboridae) em um reservatório brasileiro raso:
Lagoa do Nado, BH – MG.
Material e métodos
Chaoborus brasiliensis foi identificado utilizando basicamente a
larva de IV instar, pois neste estágio todas as características taxonômicas
distintivas da espécie são bem identificadas. Adicionalmente algumas
larvas de IV instar da Lagoa do Nado foram criadas em laboratório (em
béqueres) e alimentadas com zooplâncton do reservatório. As formas
adultas, obtidas a partir deste processo, foram então identificadas pelo
estudante de doutorado em entomologia (Departamento de Parasitologia,
ICB-UFMG) Adso Santana.
As fórmulas para a análise de coortes, que fornece uma estimativa do
tempo de desenvolvimento de cada estágio larval, foram retiradas de Lewis
(1979).
A relação entre a densidade do estágio i e o tempo (TKi) foram
calculadas pela fórmula:
∑∑ ×
=kA
kTkATk
i
iii
Onde, AiK = densidade do estágio i (ind.m-2) e Tik = tempo (dias) de
duração do estágio i , através do acompanhamento da coorte.
Na estimativa do tempo de desenvolvimento de cada instar, são
utilizadas as seguintes fórmulas:
Para as larvas de I instar (D1):
199
121 TKTKD −=
Para as larvas de II instar (D2):
( )( )2
2312
TkTKDD −+=
Para as larvas de III instar (D3):
( )( )2
3423
TkTKDD −+=
Para as larvas de IV instar (D4):
341 TKTKD −=