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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA Alexsandro dos Santos Oliveira Gênese e características de episódios de veranico em Belo Horizonte Belo Horizonte 2017

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS

DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA

Alexsandro dos Santos Oliveira

Gênese e características de episódios de veranico em Belo Horizonte

Belo Horizonte 2017

Alexsandro dos Santos Oliveira

Gênese e características de episódios de veranico em Belo Horizonte

Monografia apresentada ao Departamento de

Geografia do Instituto de Geociências da

Universidade Federal de Minas Gerais como

requisito para obtenção do título de

Licenciatura em Geografia.

Orientador: Prof. Carlos Henrique Jardim

Belo Horizonte

2017

RESUMO:

O objetivo da presente pesquisa é compreender a causa e as características dos

eventos de veranicos em Belo Horizonte, considerando inicialmente três episódios

entre os anos de 2011 e 2015. Esses eventos, marcados pela ausência de chuvas

durante o período chuvoso, desencadeou uma série de problemas como dificuldade

de abastecimento de água e aumento de preços dos produtos agrícolas. Foram

utilizadas na análise imagens de satélite e cartas sinóticas, recursos estatísticos

básicos e informações relativas ao evento recolhidas da internet. Os resultados

mostraram que a permanência de sistemas estáveis sobre uma dada região ou

localidade é o principal fator por trás de seu desencadeamento, cuja intensidade

pode ser reforçada por mecanismos atmosféricos de larga escala.

Palavras-chave: seca; variabilidade climática; impactos ambientais.

ABSTRACT:

The objective of this research is to understand the cause and characteristics of the

summer events in Belo Horizonte, initially considering three episodes between the

years of 2011 and 2015. These events, marked by the absence of rain during the

rainy season, triggered a series such as difficulty in supplying water and rising prices

of agricultural products. Satellite images and synoptic charts, basic statistical

resources and event information collected from the internet were used in the

analysis. The results showed that the permanence of stable systems over a given

region or locality is the main factor behind its triggering, whose intensity can be

reinforced by large scale atmospheric mechanisms.

Keywords: dry; climatic variability; environmental impacts.

Sumário

INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 6

I. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ............................................................................. 10

1.2 - Sistemas meteorológicos importantes: ..................................................... 16

1.2. CARATERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO .................................................. 20

II. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS .............................................................. 23

III. RESULTADOS E DISCUSSÕES ......................................................................... 27

3. 1. Estudo de Casos Específicos: .................................................................... 33

3.1. 1: 20 de janeiro a 24 de fevereiro de 2011 (36 dias sem chuvas) .......... 33

3.1. 2: 26 de janeiro de 2014 a 17 de fevereiro de 2014 (25 dias sem chuvas)

............................................................................................................................ 39

3. 1. 3. 23 de Dezembro de 2014 a 21 de Janeiro de 2015 ( 30 dias sem chuvas):

.................................................................................................................................. 45

IV. CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................. 50

VI. REFERÊNCIAS ................................................................................................... 52

6

INTRODUÇÃO

O município de Belo Horizonte, uma das cidades mais populosas do Brasil, é

assunto de estudo em várias áreas cientificas. Situado na porção central do estado

de Minas Gerais, é a capital e metrópole de um dos maiores estados do país, tanto

em demandas econômicas quanto em extensão territorial, um espaço de muitos

contrastes socioeconômicos e geográficos.

Nimer (1979) descreve a região Sudeste do Brasil com clima Tropical subquente

semiúmido, com uma estação chuvosa entre Outubro e Março com mais de 80% de

toda a pluviosidade anual. Metade dessas chuvas está concentrada entre o trimestre

Dezembro – Janeiro – Fevereiro. Há uma heterogeneidade dos dados anuais das

chuvas onde “o mecanismo atmosférico nas regiões tropicais se caracteriza

sobretudo, por sua notável irregularidade1, isto é, sua dinâmica está sujeita a

apresentar comportamentos bem distintos quando comparada de um ano para outro”

(Idem, p. 295). Somente a Região Nordeste do Brasil apresenta variação

pluviométrica com desvios tão significativos quanto a do Sudeste, com oscilações

anuais de até 15%. Um dos fenômenos que estão correlacionados a essa

variabilidade são os veranicos.

A definição básica de um veranico é a (quase) ausência de chuvas em períodos

habitualmente chuvosos. Estiagens que variam por até vinte dias, podendo

demonstrar seus efeitos negativos em até cinco dias após a última chuva,

dependendo da espécie ou cultura vegetal, segundo Franca (2009).

Segundo Jardim (2012 p. 37), citando Kobiyama et al (2006), é um evento que

possui três tipos principais de classificação: a primeira delas, a seca climatológica,

que diz respeito à baixa pluviosidade em relação às médias estatísticas e históricas

de uma determinada região; a segunda, a seca hidrológica, quando existe um déficit

nos estoques de água tanto nos açudes, quanto nos rios; e por último que é a seca

edáfica, referente a insuficiência de umidade no solo. Ayoade (1996 p. 272, 273)

descreveu quatro tipos diferentes de déficits hídricos, todos sem a mesma origem e

diferentes impactos:

1 Grifo do autor

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Permanente: quando não existe um período pluviométrico suficiente para atender as

necessidades hídricas das plantas em nenhuma estação;

Sazonal: onde se enquadra a região de estudo; com duas estações bem definidas,

uma seca, devido às variações na circulação atmosférica e uma úmida;

Contingente: incidindo de forma imprevisível, com a redução das chuvas em um

dado período de tempo, relacionado principalmente às regiões sub úmidas e úmidas;

Invisível: quando o suprimento hídrico tanto do solo quando das precipitações é

inferior às necessidades diárias das plantas as quais crescem num ritmo inferior ao

considerado ótimo. A irrigação, para combater a seca, é difícil de ser estabelecida,

pois os cultivos não murcham.

O veranico assim como outros episódios de seca é considerado um desastre natural.

Segundo Kobyama (2006) o impacto dessas calamidades afeta principalmente as

classes econômicas menos favorecidas que ocupam áreas não seguras de forma

desordenada. A crescente urbanização, aliada a processos de industrialização,

provoca alterações em menores escalas, como enchentes e alagamentos em áreas

urbanas, desabastecimento hídrico, poluição, ilhas de calor etc. A tendência desses

desastres é aumentar em países em desenvolvimento, sem uma infraestrutura

básica, como o Brasil, ocasionando ainda mais impactos negativos.

Os desastres naturais segundo Kobyama et al. (2006, p. 7) citado por Castro

(1998), é deliberado como “resultado de eventos adversos, naturais ou provocados

pelo homem, sobre um ecossistema (vulnerável), causando danos humanos,

materiais e/ou ambientais e consequentes prejuízos econômicos e sociais”. No

Entanto, se não prevenidos e restituídos, por ações não rotineiras produzem danos e

prejuízos diversos, resultando em perdas e danos a saúde humana. Importante

ressaltar que a natureza não tem uma tendência maniqueísta e nem é uma

“entidade que vinga de seus malfeitores”. Sendo assim, “tragédias” e outros

desastres naturais somente assim se configuram pela ocupação “recente” de um

local, pelos efeitos urbanos. Além disso, esses fenômenos podem ser comuns

quando pensados em escalas de tempo maior. Tucci (2002) destaca que existem

vários tipos de variabilidades desde aquelas de “curto prazo” ocorrendo em termos

de minutos ou até horas, as sazonais que variam dentro de um ano, interanual de

curto prazo, em períodos de dois ou três anos, e até as decadais (de dez em dez

8

anos), causadas por atuações climáticas globais, não sendo descartados períodos

de variabilidade maior. E até mesmo dentro desse processo ocorrem flutuações, que

são condições naturais, fazendo com que nenhuma série temporal seja igual.

Para esse planejamento correto, ponderado a partir das pesquisas científicas,

segundo Burton (1978, p. 8) apud Kobyama (2006, p. 8) et al., é preciso considerar

sete parâmetros diretamente relacionados aos desastres naturais, como “magnitude

(alta – baixa); frequência (frequente – rara); duração (longa – curta); extensão areal

(ampla – limitada); velocidade de ataque (rápida – lenta); dispersão espacial (difusa

– concentrada); espaço temporal (regular – irregular)”. Castro (1999) também

contribui especificando as descrições para esse planejamento como a intensidade

(que é o tamanho dos recursos que deverão ser levantados para suprir os

problemas ocasionados pelos desastres); evolução (que é a velocidade com que

esses eventos evoluem), origem (consistindo ela em natural, antrópica ou mista,

apresentando em sua maioria a participação efetiva do homem) e por último a

duração (episódicos e crônicos).

O setor agrícola é um dos principais prejudicados sofrendo com perdas e elevação

de preços em vários tipos de culturas. Castanho (2014) reporta o período de 40 dias

de chuvas abaixo do esperado no Triângulo Mineiro complementado por Barbosa

(2014), que destaca a alta de 85% no preço de uma das principais commodities

nacionais. A produção cafeeira gera um faturamento anual de aproximadamente 23

bilhões (PORTAL BRASIL, 2016) sendo a segunda bebida mais consumida no país,

perdendo apenas para a água segundo a EMBRAPA (2015). A época do veranico

coincide com o déficit hídrico das plantações do Cerrado, de acordo com Carvalho

(2000) ocasionado a partir de estudos de Espinoza (1980), uma perda de 20% a

70% do total de uma safra de milho.

As altas nos preços acarretam muitos impactos negativos como elevação de preços

dos produtos, racionamentos e multas sobre o consumo. Pimentel (2015): “COPASA

admite situação crítica da água em MG e quer economia de 30%”, onde a presidente

da COPASA admite até a criação de rodízios no consumo na Região Metropolitana

de Belo Horizonte. O Portal R7 (2015) também destaca as consequências desse

fenômeno em “Apagão, falta d’água e tarifa alta: início caótico de 2015 provoca

9

revolta”, falando do aumento das tarifas de energia elétrica imposto pelo governo

federal. Pimentel (2014) noticiou a redução da demanda de procura por hotéis,

restaurantes e atividades pesqueiras em torno do lago de Furnas. Além de ser um

local turístico importante, o lago abastece a maior usina hidrelétrica do Estado.

Um dos questionamentos é por que um estado em que a maior parte de seu

território se encontra em regiões com tendência a altas temperaturas e chuvas tem

problemas de abastecimento, produção e energia? Essas perdas poderiam ser

evitadas em até 30% a partir de um planejamento baseado em estudos climáticos e

meteorológicos, segundo Moura (1986) citado por Cupolillo (1997), com ainda de

investimento em educação e conscientização, combatendo o desperdício e também

em coletas e reutilização após o tratamento da água da chuva ou outros tipos de

usos. Além disso, os valores gastos em prevenção, segundo Kobyama et al. (2006),

ficam de 25 a 30 vezes menor que os valores usados para reconstrução durante um

evento de um desastre.

Nesse sentido, a partir da discussão apresentada, o objetivo desta pesquisa

envolveu a compreensão da dinâmica dos fenômenos atmosféricos e sua relação

com o desencadeamento das situações de veranicos, destacando alguns episódios

de maior significado para Belo Horizonte, considerando três aspectos básicos: (1)

pesquisa bibliográfica básica sobre os eventos de veranico, (2) análise do

comportamento climático das séries pluviométricas e sua relação com os sistemas

atmosféricos nos períodos sem chuva em relação ao trimestre chuvoso e (3)

identificação e análise dos fatores que influenciaram o desencadeamento desse tipo

de evento. Sendo assim, esse trabalho buscará entender como essas anomalias

influem na gênese dos períodos de seca. Pode-se compreender quais os tipos de

veranicos mais comuns e se eles são mais frequentes em anos de aquecimento ou

resfriamento do Oceano Pacífico.

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I. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

A espacialidade do processo climatológico está relacionada às escalas (espaço) das

forças atuantes, e da variabilidade específica a cada região. Ribeiro (1993) explicou

que as escalas superiores (mais próximo dos níveis planetários) interferem

diretamente sobre as escalas inferiores (mais próximas do homem), sendo que a

interferência das escalas inferiores sobre as escalas maiores têem repercussão

restringida. Essa extensão escalar, ainda segundo o autor, é “tridimensional” e

“volumétrica”, “tendo como limite superior a própria atmosfera. ” (Idem, p. 288),

conforme pode ser observado na Tabela 1.

Tabela 1: Organização das Escalas Espaciais, Temporais e do Clima

Ordem da Grandeza

Sub-divisões Escala Vertical

Escala Horizontal

Temporalidade das Variações mais representativas

Exemplificação Espacial

Macroclima

Clima Zonal/ Clima

Regional >200 km 3 a 12 km

Algumas semanas a vários decênios.

O globo, um hemisfério,

oceano, continente, mares etc.

Mesoclima

Clima Regional

Clima Local Topoclima

De 2000 a 10 km

De 12 km a 100 metros

Várias horas a alguns dias.

Região natural, montanha,

região metropolitana,

cidade etc.

Microclima

10km a alguns metros

Abaixo de 100 metros

De minutos ao dia

Bosque, uma rua, uma

edificação, casa etc.

Fonte: Mendonça e Oliveira (2007 p.23)

Segundo Ribeiro (1993) a escala zonal está relacionada principalmente com a

diferença de radiação solar entre uma região e outra, associada a sua curvatura e

seu eixo na elíptica. Sua extensão territorial chega de 10.000 a 50.000 quilômetros

em altitude a nível planetário. Dentro da escala temporal as observações devem ser

pensadas em pelo menos 30 anos. O Sol é o maior sistema atmosférico atuante.

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Responsável pela circulação geral no planeta com a distribuição (menor nos polos e

maior no equador) desigual de radiação. Como a atmosfera é composta por

conjuntos de gases, ele produz movimentos verticais expandindo e ascendendo o ar

em regiões quentes (criando assim as zonas de alta pressão) e retraindo e

subsidência nas regiões frias (criando assim as zonas de baixa pressão). Com essa

diferença de pressão, a atmosfera busca o “equilíbrio” para contrabalancear as

zonas com menor pressão atmosférica (Franca 2009).

Um dos principais sistemas atmosféricos responsáveis pelo regime pluviométrico a

nível mundial são os fenômenos La Ninã e El Niño. São anomalias que causam

vários distúrbios no oceano pacífico. Em condições normais a temperatura é maior a

oeste, próximo a Ásia, por causa dos ventos alísios, com uma variabilidade bastante

alta, dependendo da época do ano escolhida, causadas por um anticiclone quase

estacionário na região. Também em condições normais segundo Cupolillo (1997, p.

14), “a água fria do oceano que fica abaixo do termóclino é rica em fítoplânctons.

Onde o termóclino está mais próximo da superfície ocorre a mistura de água de

superfície com a água rica em nutrientes”. O termóclino é a divisão entre as águas

frias (menor quantidade de oxigênio) e quentes (maior taxa de oxigênio) do oceano.

No El Niño ele acaba horizontalizado ao longo do Equador, “elevando-se a oeste e

aprofundando-se a leste, não ocorrendo a mistura da água de superfície com a água

rica em nutrientes, reduzindo os fitoplânctons; e a superfície do mar ondula-se em

direção à América do Sul” (Idem, p. 17). E ainda segundo o autor, citando Philander

(1985) o La Niña e El Niño são dois efeitos complementares da oscilação sul que

será mais bem explicada na citação abaixo:

A oscilação Sul está relacionada às variações de pressão no Taiti (Oceano Pacífico Leste) e em Darwin (Indonésia), cuja intensidade e fase são representadas por um índice conhecido como Índice de Oscilação Sul (IOS), o qual é definido pela diferença entre os desvios da pressão normal ao nível do mar de duas estações pertencentes aos dois centros de ação, (...) A fase positiva da Oscilação Sul ocorre quando a Alta Subtropical do Pacífico Leste e o Sistema de Baixa Pressão da Indonésia são mais fortes que o normal. Na fase negativa tem-se a Alta Subtropical do Pacífico Leste e o Sistema de Baixa Pressão da Indonésia, que são mais fracos que o normal. Nos anos em que predomina a fase negativa da Oscilação Sul, ocorrem os chamados anos de EI Nino (Kousky e Cavalcanti, 1984). Em condições de La Nina, o mecanismo é inverso ao do EI Nino, ou seja, depois de alguns (mas nem todos) anos de EI Nino, a temperatura da Indonésia c a da América do Sul estão mais baixas do que o normal (AMARAL, 1996, p. 16 e 17).

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Com o efeito do El Niño e consequente aquecimento das águas, “as zonas de

convecção atmosférica do Pacífico Tropical se expandem e se fundem, de modo que

haja uma tendência a favor de condições espacialmente homogêneas”

(CUPOLILLO, 1997, p. 17). Ocorre exatamente o contrário durante o La Niña,

reduzindo as escalas espaciais com zonas de convergência separadas. A Figura 1

ilustra as escalas de análise do clima.

Figura 1: Escala de Analise Geográfico do Clima

Fonte: Faissol (1978), adaptado por Jesus (1995).

Não só a radiação solar gera as dinâmicas atmosféricas, mas também o movimento

de rotação da terra. O Clima regional que tem “extensão horizontal entre 150 e 2500

quilômetros, verticalmente estão limitados pelos fenômenos que ocorrem abaixo da

Tropopausa” (Ribeiro 1993), A circulação é modificada por fatores geográficos de

superfície como a forma dos continentes ou oceanos, maritimidade e

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continentalidade, correntes marítimas e rugosidades. Um exemplo é observar os

domínios morfoclimáticos. Dentro dessa escala de análise, estão as massas de ar,

que são porções ou volumes da atmosfera, tem grande extensão volumétrica, tanto

horizontalmente quanto verticalmente. Elas recebem características relativas a seus

locais de origem. Quando formadas nos oceanos, são úmidas e nos continentes

secas, com a exceção da Massa Equatorial Continental (mEc), presente na floresta

amazônica e conta com a evapotranspiração das plantas. A mEc é formada

originalmente na região amazônica, proporcionada pela posição da Zona de

Convergência Intertropical presente na região, devido à radiação solar presente

durante o ano inteiro, avançando pela extensão territorial brasileira, em locais de

baixa pressão, carregando umidade e calor, com exceção das regiões Sul e

Nordeste do Brasil (Mendes, 2001).

Um dos fatores criados pela elevada intensidade da radiação solar, causada pela

posição tropical são as correntes perturbadas, que são depressões barométricas

formadas pelo aquecimento diurno, principalmente na época de maior incidência

solar (Vianello e Maia 1986). Nos finais da tarde, ocorrem fortes chuvas localizadas

sobre essas regiões, causadas pelas nuvens do tipo Cumulonimbus (nuvens de

grande desenvolvimento vertical) que trazem consigo rajadas de chuva, trovoadas,

descargas elétricas e granizo. Já as linhas de instabilidade tropical são alongadas

depressões barométricas induzidas em pequenas dorsais de altas, provocando, em

geral, chuvas e trovoadas. Tais fenômenos são comuns no interior do Brasil,

especialmente no verão, quando há um decréscimo geral da pressão motivado pelo

forte aquecimento no interior do continente. Há na atmosfera uma circulação geral

tendente a mantê-la em equilíbrio de pressão e temperatura e consequentemente,

há estreita relação entre os diversos sistemas de circulação perturbada ou não, os

quais se movem em perfeito sincronismo. (Nimer 1989).

As massas de ar quentes são formadas em regiões tropicais e as massas de ar frio

nos polos. Sendo assim, uma massa tem duas características principais: com

relação a sua energia térmica (frente ou fria) e seu local de concepção (marítima ou

continental). Nessa escala analisamos a Região onde fica Minas Gerais, o Sudeste,

como o sistema climático e pluviométrico da região é irregular:

O mecanismo atmosférico nas regiões tropicais caracteriza- se, sobretudo, por sua notável irregularidade, isto é, sua dinâmica está sujeita a apresentar

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comportamentos bem distintos quando comparada de um ano para outro. Disto resulta que as precipitações em cada ano estão, consequentemente, sujeitas a totais bem distintos, podendo se afastar grandemente dos valores normais. Em certos anos a Região Sudeste no Brasil recebe chuvas de cerca do dobro da normal, chegando a atingir o triplo nas áreas semiáridas. Em contrapartida, determinados anos acusam totais tão insignificantes que, em certas áreas do norte e nordeste da região, mormente nas semiáridas, as chuvas faltam quase que totalmente. As correntes perturbadas de oeste ou ondas de oeste interferem no regime das chuvas da Região Sudeste, no sentido NW-SE do oeste de Minas Gerais ao estado do Rio de Janeiro, ocorrendo de meados da primavera a meados do outono, as quais são trazidas por linhas de instabilidade tropicais. (NIMER,1989, p. 32)

Nimer (1979, p. 266) descreve que: “A radiação solar, por sua vez, cria melhores

condições a evaporação uma vez que no processo de evaporação é empregado

calor, sendo tanto mais ativa quanto maior o calor disponível a ser empregado no

processamento”. Aliado a essa radiação temos também a presença das superfícies

líquidas, com nuvens formadas por ascendência e resfriamento adiabático do ar

úmido. O autor ressalta que: “à medida que o ar é resfriado, a quantidade de vapor

d’água que ele pode conter diminui, de modo que o ar descendente torna-se

saturado, daí ocorrendo a condensação, porém não necessariamente, chuvas. ”

(NIMER , p. 266 – 267).

O clima local, também conhecido como mesoclima (segundo Ribeiro 1993), destaca-

se o papel do relevo que influencia o fluxo de ventos, causando a distribuição

irregular de umidade, como o barlavento (vento úmido) e sotavento (“vento “seco”).

A altitude também é um fator importante nessa escala. Com isso, destaca Jesus

(2008, p. 171) que “o clima e seus elementos interferem, são modificados e ao

mesmo tempo são derivados pela ação do homem” a partir do nível da mesoescala,

onde existe a influência mútua entre as rugosidades terrestres e “o processo de

evaporação e de geração de campos de pressão” (RIBEIRO, 1993, p. 298), como

sistemas climáticos locais e urbanos, com relações mais complexas e distintas. A

ação antrópica se mostra ativa, com a modificação da cobertura do solo, com a

agricultura e urbanização, por exemplo e a inserção de gases na atmosfera.

Reduzindo-se a escala até o Estado de Minas Gerais Cupolillo (1997, p. 12) explica

que as precipitações no estado são favorecidas, pela “turbulência do ar pela

ascendência orográfica, que é dada aos relevos, que obrigam o ar a se elevar e,

consequentemente, resfriar-se adiabaticamente (Pela definição, um processo

adiabático não envolve nenhum fluxo de calor, ou seja, não ocorre troca de energia

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nem por radiação, nem por condução, nem por convecção.)”. Já na estação

seca, segundo Vianello e Maia (1986) as chuvas na estação chuvosa ocorrem pela

influência das frentes frias que, ao deslocar-se, torna-se mais seca, tendo em vista a

distância que a mesma percorre até a chegada ao estado, tendo como exceção a

esse fato as maiores altitudes do estado. A circulação geral da atmosfera do estado

é explicada pela citação abaixo:

Minas Gerais encontra-se, durante todo o ano, sob o domínio da circulação do anticiclone subtropical do Atlântico Sul, e se caracteriza por ventos predominantes do quadrante nordeste-leste, nos baixos níveis da troposfera. A umidade da região é proveniente do Oceano Atlântico. Indicações sobre a existência de perturbações de escala sinótica, associadas à precipitação, mostram os três meses mais chuvosos. A precipitação inicia-se na primavera e depois desloca-se progressivamente para o norte e nordeste do país, durante o verão e o outono. Essa mesma evolução é seguida pela diminuição da precipitação que se inicia em março sobre o Brasil Central, e se propaga na direção nortenordeste, assinalando o início do processo de estabilização anual da precipitação. Essa oscilação sugere a existência de uma perturbação sinótica que surge sobre o estado na primavera e se desloca na direção norte-nordeste durante o verão e o outono, seguindo a trajetória da precipitação. A análise dos mapas médios da circulação de ventos superiores na América Latina indica que essas perturbações são ciclones de altitude de núcleos frios, formados como resultado de mudanças na circulação geral, sobre o continente. Outro mecanismo dinâmico importante, que atua sobre a precipitação, são as perturbações provenientes das médias latitudes. Isso. ocorre principalmente quando há desprendimento de baixas no fluxo de oeste da média e alta troposfera. Originalmente essas perturbações vêm associadas a massas de ar frio. Entretanto, ao atingirem a parte norte do estado, essas massas de ar já foram aquecidas pela ação da radiação solar e de movimentos verticais, sendo quase sempre difícil definir algum tipo de frente fria nessa região. (Fundação Centro Tecnológica de Minas Gerais – CETEC, 1983, p. 34)

O topoclima se diferencia deste, por gerar diferenças térmicas em menor tempo.

Nessa escala, os lados de uma montanha recebem quantidades diferentes em de

radiação solar ao longo do dia, ou até não pode receber, dependendo de seu

ângulo. Sua extensão territorial chega de meio a cinco quilômetros de extensão, e

de cinquenta até 100 quilômetros de altura.

O microclima é a escala mais próxima do homem, segundo Ribeiro (1993). Sua extensão vai desde 0,1 a mil metros. Ele ainda explica:

A microrugosidade, a cor e a textura das superfícies, aliadas aos abrigos dispostos junto ao solo, como as edificações e a vegetação constituem-se nos elementos que promovem a diferenciação na magnitude das trocas energéticas e gasosas que irão, por sua vez, modificar o comportamento do ar circundante. (Página 6)

16

Além do espaço uma análise climatológica depende de sua evolução temporal (uso

do solo), dependendo de demandas de produção e abastecimento. Sobre isso:

(...) definição do ritmo e expressão quantitativa dos elementos (...). Na análise rítmica as expressões quantitativas dos elementos climáticos estão indissoluvelmente ligadas à gênese ou qualidade dos mesmos e os parâmetros resultantes desta análise devem ser considerados levando em conta a posição no espaço geográfico em que se define. Com isto queremos advertir que a possível aplicação destas análises deve ser integrada no espaço regional e que os parâmetros admitidos como válidos para uma região, não poderão ser aceitos, a priori, para uma região diferente. (Monteiro (1971, p. 12)

Monteiro (1971, p. 6) discute a ideia de climatologia rítmica. Para a fundamentação

de regime climático é necessária uma análise em longo prazo das variações, tanto

anuais quanto mensais. Para se chegar a essas conclusões sobre esse ritmo faz-se

necessário registros no mínimo diários de atributos mensuráveis, paralelo a estudos

sobre sistemas meteorológicos para se entender as dinâmicas.

1.2 - Sistemas meteorológicos importantes:

As perturbações tropicais são causadas pelo aquecimento diurno da superfície. Foi

classificada por Ayoade (1996, p. 11 – 112) em cinco categorias de acordo com a

extensão espacial e duração:

Cúmulos individuais de curta duração;

Sistemas em mesoescala, que são os sistemas de tempestades convectivas

(com gênese a partir de evapotranspiração de corpos hídricos e

evapotranspiração de florestas) organizadas;

O agrupamento de nuvens, de escala sub-sinótica, peculiar aos trópicos,

persistentes de um a três dias;

Os furacões ou perturbações de ordem de escala sinótica;

As ondas planetárias, com comprimento entre 10.000 a 40.000 quilômetros,

divididas em dois tipos, por ocorrer na troposfera tropical ou estratosfera

equatorial.

Os anticiclones são sistemas de alta pressão de circulação anti-horário no

hemisfério sul. Fazem sua convergência na alta troposfera, com um padrão de

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circulação que se caracteriza pela subsidência e divergência (Franca 2009). São

divididos em dois tipos segundo Ayoade (1996, p. 110):

Estacionários: concebidos por um centro com temperaturas elevadas no nível

da troposfera, através de subsidência dinâmica, ganhando força com a

altitude. São formados principalmente nas regiões tropicais, nos oceanos. O

ASAS (Anticiclone Subtropical do Atlântico Sul) é o sistema atuante mais

importante na Região Sudeste do Brasil;

Móveis: formados em regiões polares continentais e com pouca

disponibilidade térmica, ao contrário do sistema anterior, o mesmo é

substituído por sistemas de baixa pressão quando ganha altura.

O ASAS segundo Cupolillo (1997, p. 13) “têm papel importante no regime de chuvas

em MG, na medida em que influencia o escoamento médio da superfície sobre a

América do Sul, afetando a penetração das massas de ar tropicais úmidas e das

massas polares”. Associado a bloqueios atmosféricos, o resultado é estabilidade

atmosférica, céu claro e sem nuvens, redução da umidade relativa do ar e

aquecimento dinâmico do ar. Nos verões, quando o tempo está sob a influência

desse sistema, os céus são limpos, com poucas nuvens com altas temperaturas

durante o dia, devido à alta radiação solar nessa época do ano. Como não há

nuvens, a noite o calor é perdido para a atmosfera, perpetrando noite frescas.

Durante a estação chuvosa, o aquecimento continental e a alta disponibilidade de

umidade promovem condições de instabilidade na atmosfera. O ar aquecido é

menos denso ascende facilmente, transporta umidade em altitude e favorece a

formação de nuvens espessas, responsáveis por consideráveis volumes de chuva.

Nessas condições, o ASAS encontra-se reduzido ao Oceano Atlântico. Sobre o

continente predomina um sistema de baixa pressão, associado à Massa Equatorial

Continental (mEc) (NIMER, 1979). Embora seu centro esteja mais afastado do

continente nessa época, a Alta Subtropical costuma avançar sobre o Brasil Central

em plena estação chuvosa. “Nesses períodos, a atividade convectiva é inibida, o que

causa redução da precipitação e elevação das temperaturas. ” (Franca 2009, p. 25)

Quanto mais afastado esse sistema estiver do continente, maior a probabilidade de

chuvas. Essa circulação anticiclônica tem relação com os ventos que ocorrem de

18

leste/nordeste, evitando o transporte da umidade da Amazônia para a região central

do Brasil. A falta de força desse sistema está relacionada com os meses de maior

chuva na Região Sudeste (Dezembro – Janeiro – Fevereiro), ganhando força

novamente com a chegada do verão no Hemisfério Norte.

A Frente Polar Atlântica é um anticiclone com zonas de alta pressão, dispersora de

ar com chuvas ocorrendo na zona frontal. Apesar de não transferir umidade a sua

passagem resulta em chuvas, quando adentra o sistema tropical, sendo perceptível

logo depois de sua passagem (GALVANI e AZEVEDO, 2012). Segundo Borsato

(2015, pgs. 116 e 117):

É um sistema de alta pressão e geradora de estabilidade atmosférica, exceto na zona frontal. No verão, sua participação nos tipos de tempo é pouco frequente para o interior do Centro Sul do Brasil. Nessa estação, ela avança pelo interior do Atlântico e depois da linha do trópico se funde com a massa Tropical atlântica (mTa). É comum, durante a sua trajetória, cristas avançarem para o interior da região Sul do Brasil e causarem dias ensolarados com pouco reflexo na temperatura. No inverno, ele avança em dois ramos principais. Um deles avança pelo interior do continente, aproveitando-se da calha do Rio da Prata. Dependendo das condições, intensidade e dos bloqueios oferecidos pelos outros sistemas atmosféricos, ele poderá chegar ao sul da Amazônia. O ramo que avança pelo litoral associa-se com a mTa que atua em grandes extensões do litoral brasileiro, do Sul ao Nordeste do Brasil.

A Alta da Bolívia é a “circulação anticiclônica nos altos níveis da troposfera que atua

no verão do hemisfério sul, com forte atividade convectiva e intensas precipitações

na região tropical da América do Sul” (JONES e HOREL, 1990, p.1). A partir do

verão austral, ocorre à ampliação da radiação na região amazônica, e por

consequência a convecção, acarretando na ascensão do ar, gerando o anticiclone a

altos níveis. Vianello e Maia (1986) consideram esse um dos principais sistemas

determinantes para as chuvas no Estado, dentro do período chuvoso.

Aliado aos sistemas geradores de umidade anteriores, as frentes frias são zonas de

transição entre massas de ar frio e massas de ar quente, criando uma região de

instabilidade, ou seja, condição propícia para criação de chuvas. As frentes frias que

chegam as regiões Sudeste e Sul do Brasil são originárias da Antártida que se

deslocam em direção ao Equador.

As frentes frias têm como peculiaridade a sua frente com ar seco e frio e em sua

retaguarda uma de ar quente e menos seco que a anterior. Quando há o encontro

19

das duas, a frente fria que é mais densa causa a ascendência da frente quente.

Posteriormente ocorre a redução de temperaturas máximas, elevação da umidade,

ausência de direção predominante dos ventos e precipitação. Segundo Monteiro

(2007, p. 57-58): “Quanto maior a diferença de densidade entre as massas de ar

envolvidas, mais ativa torna-se a frente, resultando em maior instabilidade com

formações de cumulonimbus, pancadas de chuva fortes, ventos intensos e granizo”.

Franca (2009) destaca que se não fosse pela chegada dessas frentes frias,

causadas pela FPA (Frente Polar Atlântica) o regime de chuvas em Minas Gerais

seria muito diferente do atual.

Os cavados baroclínicos são regiões de baixa pressão relativa, quando comparadas

a outras regiões circunvizinhas. Eles possuem uma quantidade maior de calor e

umidade, comparadas às frentes frias, com uma nebulosidade associada a sua

passagem, criando um choque térmico com a região afetada. A consequência é a

criação de linhas de instabilidade temporal, com a possibilidade maior de chuvas

que uma frente fria. Apesar de algumas semelhanças, os cavados e as frentes frias

têm diferenças (embora frente fria possuirá um cavado em sua composição). Os

cavados não fazem uma mudança brusca de temperatura após a sua passagem

(muito frio como nas frentes frias) e sim que haverá uma redução na pluviosidade. O

maior cavado com influência em Minas Gerais é O Cavado Compensador Leste,

normalmente é observado em verões irregularmente secos, segundo Vianello e Maia

(1986, pg. 193). O autor ainda explica que:

(...) o escoamento dominante de verão é de NO, que transporta ar tropical instável para a região. Esta massa, na presença do aquecimento continental' e da advecção de umidade do oceano, pelos alíseos, resultará na formação e queda de chuvas sobre o Estado de MG. O início da estação seca no interior do Brasil, onde MG situa-se, coincide com a expansão para o Norte do jato subtropical, o que ocorre até setembro(...).

20

1.2. Caracterização da Área de Estudo

Belo Horizonte, com sua localização demonstrada no mapa 1, é a sexta maior

cidade do Brasil com 2.502.557 habitantes, segundo dados estimados do (Instituto

Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2016), ou seja, um pouco mais de 1% da

população total do país.

Mapa 1: Localização de Belo Horizonte. (Autor: Carlos Wagner G A Coelho)

21

Localizada na região central do Estado de Minas Gerais, a capital é a cidade com a

economia mais dinâmica do estado, com destaque para o setor de serviços,

produção industrial e bens de consumo, que acaba por atrair pessoas de diversas

partes do país, buscando melhoria social e econômica. Mas com a falta de

planejamento adequado a cidade sofreu com problemas ambientais e sociais. Essa

é uma área de transição entre a vegetação do Cerrado e da floresta ombrófila

semidecidual (floresta tropical subcaducifolia) popularmente conhecida como Mata

Atlântica, segundo Assis (2012). Com a crescente urbanização as matas de galeria e

ciliares são praticamente inexistentes.

Assis (2012) estudou “Os Climas naturais de Belo Horizonte” e definiu dois climas

locais: Clima Tropical de Altitude da Depressão de Belo Horizonte e Clima Tropical

de Altitude das Serras do Quadrilátero Ferrífero os quais subdivididos em três

mesoclimas e oito topoclimas diferentes. O Clima Tropical de Altitude da Depressão

de Belo Horizonte abrange toda a região norte/nordeste da cidade, com um relevo

menos ondulado que a outra região de clima local, excetuando-se por seu lado

noroeste. A variação do relevo dessa região é entre 675 a 1000 m de altura. Foram

encontrados dois mesoclimas com cada um tendo dois topoclimas diferentes. Nessa

área foram mensuradas as maiores temperaturas médias, máximas e mínimas do

município, além da maior umidade relativa do ar. Já no Clima Tropical de Altitude

das Serras do Quadrilátero Ferrífero localizado principalmente na região centro-sul

de Belo Horizonte compreende as altitudes acima de 1000 a 1510 metros de

altitude. Essa região compreende o último mesoclima além de mais quatro

topoclimas. Nessa área foram mensuradas as menores temperaturas médias,

máximas e mínimas de Belo Horizonte.

Quando associado a grandes contrastes morfológicos com altitude variando entre

680 a 1508 metros de altura, segundo Assis (2012), as rugosidades criam dinâmicas

de chuvas diferentes a cada local. Nimer (1979, p. 268) relata que essa “topografia

favorece as precipitações uma vez que ela atua no sentido de aumentar a

turbulência do ar pela ascendência orográfica”, acentuada nas áreas mais elevadas

localizadas próximo aos municípios de Nova Lima e Ibirité, segundo Moreira (2002).

Essa mesma Serra do Curral acaba criando um efeito de âncora nessa região, com

a efetivação dos meses mais úmidos dessa estação chuvosa. Essa mesma

22

formação rochosa aliada às altas temperaturas, sugere a formação de chuvas

orográficas.

23

II. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

A primeira parte consistiu no levantamento bibliográfico, onde buscou-se a

conceituação teórica e entendimento das dinâmicas meteorológicas e climatológicas

referentes ao assunto.

Depois disso foram coletadas as séries temporais de precipitação (mm) do município

de Belo Horizonte. As fontes de dados analisados foram coletadas do 5º Distrito de

Meteorologia do Instituto Nacional de Meteorologia (5º DISME/INMET) em sua

estação convencional na região Centro-Sul de Belo Horizonte (19º 56’ S / 43º 56’ W /

915 m). Essa é a estação mais antiga em funcionamento na capital mineira e a única

que tem dados referentes ao período total de estudo do trabalho, através do Banco

de Dados Meteorológicos para Ensino e Pesquisa (BDMEP2).

Essa Estação, apresentada no mapa 2, representa não só Belo Horizonte, mas

também uma grande extensão territorial. As estações automáticas em sua maioria

são bem recentes, como Cercadinho (desde 2014), Rola Moça em Ibirité (desde

2008) e Pampulha (desde 2006). As estações pluviométricas da ANA (Agência

Nacional das Águas) não serão contabilizadas.

Mapa2: Localização da Estação Meteorológica Convencional em Belo Horizonte Fonte: Franca 2009 (Adaptado)

2 www.inmet.gov.br

24

Assim foi possível identificar aspectos quantitativos relacionados à duração diária

das sequências de períodos sem chuva no semestre chuvoso de outubro a março

em Belo Horizonte. Dessa série total, foram estudados apenas os últimos 20 anos

(1997 a 2016), por serem recentes e por consequência haverá mais fontes e

trabalhos para referências. Os dados foram agrupados em planilhas do software

Excel, em escala temporal diária, mensal, sazonal e anual, para otimização dos

trabalhos de análise. Depois de organizados, foi executado o cálculo buscando-se a

média aritmética desses dados, (soma dos valores, dividida depois pelo número total

dos valores). Segundo Franca (2009, pg. 49):

“(...) a média aritmética é a mais importante mensuração numérica descritiva. Como medida de tendência central, trata-se do valor mais representativo de um conjunto de dados, isto é, seu ponto de equilíbrio. Geralmente, é apresentada junto ao desvio-padrão. Este último consiste na medida da variação de um conjunto de valores amostrais em relação à média. Quanto maior a dispersão dos dados, maior o desvio-padrão. ”

Depois da média aritmética, foi executado o cálculo de desvio padrão, que consiste

na medida de dispersão em torno da média aritmética. Com esse desvio padrão

encontrado, foi possível correlacionar os valores que estão abaixo e acima do dele.

Isso indicará anos estatisticamente mais secos e anos mais úmidos, para uma

visualização geral dos últimos 20 anos. Essa técnica permitiu a visualização do

veranico no período especifico de sua ocorrência aliado ao seu impacto no ano

inteiro.

Para a definição do que é estação chuvosa utilizou-se como base a quantidade de

chuvas, apoiado na bibliografia de autores como Nimer (1979), Vianello (2006),

Cupolillo (2008) e Franca (2009), apontando os meses de outubro a março do ano

seguinte considerados como estação chuvosa; e os meses de Abril a Setembro,

considerados como estação seca.

Em seguida foram realizadas análises diárias. Entre os meses de dezembro a

fevereiro do ano posterior. Foram escolhidos esses três meses porque são os que

detêm maiores valores de pluviosidade criando mais tem impactos a longo prazo. O

critério de dias secos está ligado ao conceito de Assad e Sano (1998), com dias

secos sendo considerados aqueles com pluviosidade abaixo de 1mm. Aliado a esse

conceito, este trabalho irá considerar veranicos os períodos com pelo menos três

dias consecutivos secos, referenciado pelo trabalho de Minuzzi (2003). Esses dias

25

foram contados um a um, durante os anos e o período abrangido. Associados a

esses conceitos, outra análise a ser considerada é sobre a proporção de aumento

do número de dias secos nos veranicos sob efeito dos fenômenos El Niño e La Niña.

Foram contabilizados dia-a-dia o número de dias secos ocorridos, separando-os em

El Niño, La Niña e Ano Neutro.

A classificação desses períodos secos, terá 4 diferentes classes, como proposto por

Minuzzi (2003), que varia de acordo com a duração diária desses eventos. A

duração da primeira classe varia entre 3 a seis dias. A classe B tem como variação

de sete a dez dias. A Classe C tem duração de onze a quatorze dias. A Classe D

tem variação superior a quinze. Sendo assim, serão analisados os veranicos,

abrangidos dentro dessa última classe, por seu maior espaço de tempo e

consecutivos impactos. Esse tipo de diagnóstico permite entender o quanto são

comuns e pontuais os veranicos, principalmente quando aliados aos anos com e

sem os fenômenos El Niño e La Niña, que são apontados como os principais

responsáveis por essas variações tanto climáticas quanto pluviométricas.

Analisando, somente os episódios referentes a veranicos de Classe D, três períodos

abaixo se destacaram por terem a maior duração em dias e terão análises distintas:

20 de janeiro a 24 de fevereiro de 2011, com 36 dias sem chuvas, sob efeito

do La Niña;

26 de janeiro a 17 de fevereiro de 2014 com 25 secos no verão, sem

variações que o caracterizem como El Niño/La Niña;

e 23 de dezembro de 2014 a 21 de Janeiro de 2015 com 30 dias sem

pluviosidade, um período de El Niño.

Os outros dados coletados como a umidade relativa do ar, (%) pressão atmosférica

(hPa) foram utilizados de forma subsidiária, em conjunto com imagens de satélite

meteorológico do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais - INPE

(www.cpetec.inpe.br) e cartas sinóticas (www.mar.mil.br), afim de determinar a

localização e características dos sistemas atmosféricos atuantes, por trás da gênese

desse tipo de fenômeno. Através da nebulosidade, campo de pressão e direção dos

ventos identificados nas imagens de satélite e cartas sinóticas, em conjunto com os

dados oriundos de estações meteorológicas de superfície, foi possível inferir a

26

localização e características dos sistemas atmosféricos. Ferreira (2006) implementou

o método de análise utilizando imagens de satélite geradas no espectro

infravermelho e visível cujos resultados auxiliaram no exame desse material.

Foi realizado o levantamento de fontes ligadas a dois tipos diferentes de instituições.

A primeira constituiu-se nos artigos, dissertações, monografias e teses ligadas a

área de climatologia. Esses estudos anteriores demonstram as primeiras

experiências e conclusões ligados a eventos de veranicos durante a estação

chuvosa e ainda apontaram quais sistemas atmosféricos são responsáveis por

esses veranicos. A segunda compreendeu dados ligados a imprensa (mídia digital,

mídia impressa e falada). Segundo Jardim (2012, p.38) “Embora esse tipo de

documento não traduza de maneira científica determinados fatos (...), esse material

mostrou-se útil, principalmente na localização, enquadramento temporal e descrição

dos impactos”.

27

III. RESULTADOS E DISCUSSÕES

Executado um recorte anual, apresentando como base os últimos 20 anos (Figura

2), a média anual de precipitação foi de 1564 mm, com 88%, (1380 mm) ocorrendo

dentro da estação chuvosa. O trimestre mais chuvoso (dezembro, janeiro e

fevereiro) contribui com um pouco mais de 60% das chuvas no ano, ou seja, 843

mm.

Figura 2: Pluviosidade Anual em Belo Horizonte. Fonte: 15º Distrito de Meteorologia do Instituto Nacional de Meteorologia (5º DISME/INMET)

O desvio padrão, demonstra que o grau de dispersão dos dados, teve variação de

quase 19% quando comparada à média estatística. Quanto maior, o desvio padrão,

mais dispersos são os dados. A figura acima evidenciou que é comum a variação de

1/5 nas chuvas, tanto para mais, quanto para menos. Dentro desse critério, todos os

valores fora desse desvio padrão são considerados desvios.

A variação apresentada por esses números é maior que os 15%, apresentados pela

pesquisa de Nimer (1979). Dos 20 anos estudados, 7 estiveram fora do desvio

padrão. Os anos de 2004, 2008, 2009 e 2011 estiveram acima, ou seja, com

28

pluviosidade acima de 1861 mm, ao contrário dos anos de 2007, 2014 e 2015, com

pluviosidade abaixo de 1267 mm.

A Figura 3, analisa somente os dados da estação chuvosa, que ocorre dentre os

meses de outubro a março do ano posterior.

Figura 3: Pluviosidade dentro da estação chuvosa (Outubro a março). Fonte: 15º Distrito de Meteorologia do Instituto Nacional de Meteorologia (5º DISME/INMET)

Com desvio padrão próximo a 20%, bem próximo do gráfico anterior, a figura 3

demonstrou a pluviosidade somente dentro da estação chuvosa (outubro a março).

Os casos compreendidos entre 1997/8, 2000/1, 2013/4, 2014/5 e 2015/6 estão

abaixo do desvio padrão, sendo os três últimos anos, compreendidos dentro do El

Niño, considerado como “forte” (maior diferença de amplitude térmica quando

comparado aos anos comuns) pelo instituto “Climatempo”. Os dados de 2013/4 não

tiveram nem 70% (68,26%) da pluviosidade média no período estudado. Os outros

29

anos atípicos foram 2002/3, 2008/9 e 2011/2 com chuvas acima do desvio padrão,

ou seja, irregularmente chuvosos.

Reduzindo-se o tempo para somente os três meses que caracterizam a maior parte

da pluviosidade, restritos aos meses de dezembro, janeiro e fevereiro, elaborou-se o

gráfico a seguir (figura 4).

Figura 4: Pluviosidade anual dentro do Trimestre chuvoso (Dezembro/Janeiro/Fevereiro). Fonte: 5º Distrito de Meteorologia do Instituto Nacional de Meteorologia (5º DISME/INMET)

A figura acima, apresentou a maior variação entre os três períodos apresentados,

chegando até 30%. Os anos de 1998/9, 2000/1 e de 2014/5 ficaram abaixo do

Desvio Padrão da Média de Precipitação (com 60% do valor da média

1.0

16

77

7

56

4

95

8

54

7

1.0

11

1.3

60

1.1

44

89

9

67

0

86

1

72

6

1.1

31

92

7

67

8

1.1

62

64

5

62

2

50

6

65

7

0

200

400

600

800

1.000

1.200

1.400

96

a 9

7

97

a 9

8

98

a 9

9

99

a 2

00

0

00

a 0

1

01

a 0

2

02

a 0

3

03

a 0

4

04

a 0

5

05

a 0

6

06

a 0

7

07

a 0

8

08

a 0

9

09

a 1

0

10

a 1

1

11

a 1

2

12

a 1

3

13

a 1

4

14

a 1

5

15

a 1

6

Trimestre Principal Média Desvio Padrão Acima Desvio Padrão Abaixo

30

pluviométrica), sendo assim irregularmente secos. Destaque para o ano de 2014/5

com quase metade das chuvas, quando considerada a média estatística.

A Tabela abaixo demonstra o total de dias secos, durante os meses na estação

chuvosa:

Tabela 1: Total de Dias Secos na estação chuvosa por ano3

Ano Total de Dias Secos Ano Total de Dias Secos

96/97 47 06/07* 35

97/98* 51 07/08 51

98/99** 51 08/09** 39

99/00** 44 09/10 54

00/01** 59 10/11** 56

01/02 42 11/12** 49

02/03* 41 12/13 54

03/04 38 13/14 63

04/05* 44 14/15* 62

05/06 59 15/16* 47 Fonte: Dados do INMET e NOAA (2017).

Em número de dias secos, o verão que compreendeu os anos de 2013/4 (Ano

Neutro) foi o que teve mais dias secos, com um total de 63. Já o ano de 2006/7 (El

Niño) foi o ano que menos dias secos, com 35 no total.

Já a tabela abaixo demonstra a média anual durante os eventos:

Tabela 2: Média dos dias secos na estação chuvosa

Evento Média

El Niño 47,71

La Niña 49,67

Anos Neutros 50,57

Fonte: Dados do INMET e NOAA (2017)

A Tabela 2 demonstrou a diferença na média de chuvas, dentro da estação chuvosa.

Entre os anos de El Niño e Anos “Neutros” a variação é menor que 7%, um valor

maior que dois dias.

3 Anos com variação positiva de temperatura - El Niño (*) e destacados pela cor cinza, Anos com

variação negativa de temperatura - La Niña (**) e destacados com a cor negra e letras brancas. Fonte NOAA

31

Analisando-se especificamente os veranicos, a tabela abaixo (tabela 1) mostra a

classificação executada por Minuzzi (2003), com quatro diferentes Classes, como

explicada na Metodologia do trabalho.

Tabela 3: Classes de Veranicos proposto por Minuzzi (2003)

Anos4 Classe A Classe B Classe C Classe D

96 a 97 3 - - 1

97 a 98* 4 3 - -

98 a 99** 5 - - 1

99 a 2000**

4 1 1 -

00 a 01** 4 1 1 -

01 a 02 3 1 1 -

02 a 03* 4 - - 1

03 a 04 4 - 1 1

04 a 05* 4 - 1 -

05 a 06 4 - 1 1

06 a 07* 4 1 - -

07 a 08 4 2 - -

08 a 09** 3 2 - -

09 a 10* 3 3 1 -

10 a 11** 1 1 - 1

11 a 12** 2 - 1 1

12 a 13 3 1 - 1

13 a 14 - 1 - 2

14 a 15* 5 - - 1

15 a 16* 5 2 - -

Total 69 19 8 11

Fonte: Dados do INMET e NOAA (2017).

A Classe A, ocorrendo entre 3 a 4 vezes em um ano (com 69 episódios em 20 anos).

A Classe B é praticamente anual, contabilizando 19 episódios em 20 anos.

Analisando-se somente esses dois tipos de veranicos mais frequentes, percebe-se

que temos entre 16 a 34 dias não consecutivos, sem chuva dentro da estação

chuvosa.

4 Anos com variação positiva de temperatura - El Niño (*), Anos com variação negativa de

temperatura - La Niña (**). Fonte NOAA

32

Os períodos entre onze a quatorze dias, estatisticamente os menos frequentes,

expuseram ao total 8 episódios em 20 anos. A Classe D, (episódios acima de quinze

dias sem chuvas), apresentaram onze episódios no total, ocorrendo praticamente

uma vez a cada dois anos. Sendo assim, esses eventos, apesar de relativamente

longos, não são incomuns, em Belo Horizonte.

Dos registros encontrados de veranicos Classe D, seis (96/7, 03/4, 05/6, 12/3, 13/4,

esse último em duas ocasiões no mesmo ano) desses episódios aconteceram

quando não existia a variação do ENOS. Em três vezes (98/9, 10/1, 11/2) esses

eventos ocorreram dentro dos anos de La Niña e por último dois (02/3 e 14/5)

ocorreram durante os anos de El Niño. A tabela abaixo (tabela 2) mostra a

frequência dos tipos de veranicos filtrados em anos com El Niño, La Niña ou sem

variação da TSM no Oceano Pacífico:

Tabela 4: Classes separadas pelos anos com ENOS

Total Números de Episódios Classe A Classe B Classe C Classe D

El Niño 7 29 9 2 2

La Niña 6 19 5 3 3

Anos Neutros 7 21 5 3 6 Fonte: Dados do INMET e NOAA (2017).

Os anos com variação positiva na TSM do Oceano Pacífico, ou de El Niño, segundo

a tabela 2, são os que mais apresentam veranicos de classes A e B. Importante

perceber que os veranicos de classe A são 40% mais frequentes, quando

comparados aos outros anos, sem variação de TSM positiva. Essa frequência chega

a 4 episódios por verão, ou seja, de 12 a 28 dias “espaçados entre dias com

chuvas5” de veranicos em 90 dias, não considerando as outras classes. A Classe B

tem quase o dobro de episódios quando comparados aos AN6 e LA7, com 9

episódios em 7 anos.

Já os Anos Neutros, sem variação na temperatura superficial do oceano Pacífico,

foram os que proporcionaram a maior quantidade de veranicos de classe D. Isso

5 Grifo do autor

6 AN – Anos Neutros.

7 LA – La Niña

33

demonstra que as variações do ENOS acabam por alterar essa dinâmica desses

eventos.

3. 1. Estudo de Casos Específicos:

3.1. 1: 20 de janeiro a 24 de fevereiro de 2011 (36 dias sem chuvas)

Dentro do período analisado, entre 1997 até 2016, o ano de 2011 foi o segundo mais

chuvoso, conforme dados do INMET (como apresentado na figura 2). Considerando-

se somente a estação chuvosa, a maior parte da pluviosidade ficou concentrada no

final de 2011, estendendo-se até o ano seguinte, com uma estação chuvosa com

1835 mm de pluviosidade, conforme a figura 3. Na contramão desses números, o

início desse período ficou abaixo da média estatística. Contando-se a partir de

outubro de 2010 a março de 2011, foram 678 mm de chuvas, com praticamente o

mês de fevereiro inteiro sem chuvas, que é um dos meses mais chuvosos do ano.

Nimer (1979) descreve a Região Sudeste do Brasil com chuvas irregularmente

distribuídas. Isso tem uma consequência tanto quando analisado anualmente como

quando analisado em um curto período de tempo. Mesmo tendo sido marcado pelo

veranico mais forte nas séries estudadas, sete dias antes da ocorrência desse

evento, entre os dias 11 e 12 de janeiro de 2011, ocorreu um deslizamento de terra,

na região Serrana do Rio de Janeiro, que em mesoescala recebe os mesmos

sistemas atmosféricos causadores de chuva que Belo Horizonte. Com um total de

271 mm, segundo dados da estação pluviométrica de Vargem Alta, em Nova

Friburgo. O desastre não ocorreu somente por causas dos altos valores de chuvas,

mesmo quando consideramos o verão na região com média de chuvas de 313 mm³

no mês, segundo Medeiros (2013) mas também as condições locais são pouco

ideias a ocupação urbana, tanto devido ao baixo capital econômico, que é a

realidade da maior parte dos moradores da região, quanto associado as condições

litológicas e geomorfológicas do local. Segundo o CEPED (Centro de Pesquisa em

Estudos de Engenharia e Defesa Civil 2015) da UFSC (Universidade Federal de

Santa Catarina) houve 800 vítimas fatais devido a esse incidente. Isso mostra o

quanto as variações de temperatura no oceano e atmosfera causados pelo La Niña

no Oceano Pacífico, causam instabilidades climáticas, criando efeitos tão

34

contraditórios em poucos dias de diferença. Segundo o NOAA8 entre junho de 2010

a maio de 2011, as temperaturas do oceano tiveram uma redução que variaram

entre 0,5° C a 1,5° C negativos no período. A redução da temperatura traz

repercussões importantes na diminuição das chuvas: a capacidade do ar frio conter

umidade é menor e as correntes convectivas do ar são mais fracas. As nuvens

precipitantes como aquelas do tipo cúmulos requerem forte movimento de

convecção do ar. Como explicado anteriormente esse fenômeno tem por

característica segregar os sistemas atmosféricos. Abaixo as primeiras imagens dos

satélites e cartas sinóticas tendo em vista o início do veranico.

Figura 5: Cartas Sinóticas e imagem de satélite dos dias 19, 20 e 21 de janeiro de 2011. Fonte: INPE <www.cptec.inpe.br> e Marinha <www.mar.mil.br>. Acesso em: Abr. 2017.

8 NOAA é um acrónimo para National Oceanic & Atmospheric Administration. É uma organização que

faz parte do Departamento de Comércio dos Estados Unidos.

35

Os dados do INMET (http://www.inmet.gov.br/portal/index.php?r=bdmep/bdmep),

permitem observar a atuação do ASAS, um sistema com alta pressão atmosférica,

com 1022 hpa, com centro sobre o Oceano Atlântico, formando uma região de

estabilidade atmosférica, tanto no oceano quanto no continente, com temperaturas

máximas de até 31° C e mínimas de 19° C. Essa zona de alta pressão causou ainda

uma alteração na umidade relativa do ar no período, com períodos de até 34%.

Segundo Franca (2009), os anticiclones estacionários como o ASAS, são

concebidos por temperaturas elevadas ao nível da troposfera, ganhando força com a

altitude através de sua subsidência dinâmica. Quanto mais o ar descende até

próximo aos níveis mais baixos da troposfera, aumentando a pressão e,

consequentemente, aumentando a temperatura do ar como resultado da

compressão adiabática (e quanto mais aquecido o ar, menor a umidade). A

consequência é o afastamento de outros sistemas atmosféricos com menor pressão,

gerando situações de estabilidade atmosférica. A baixa nebulosidade é

consequência do processo explicado acima e pode ser percebida na imagem de

satélite acima.

A sequência de imagens na Figura 5 se inicia no último dia chuvoso do mês de

janeiro, no ano de 2011, mostrando a transição para o período seco. É possível

perceber como a ZCAS acaba por não ser formada, sendo influenciada pela ação do

ASAS (1024 hpa) bloqueando o APA (Anticiclone Polar Atlântico de 1020 hpa), com

seu centro formado sobre a costa gaúcha. Essas zonas de alta pressão se

mantiveram até o dia 31 de janeiro. Segundo Jones e De Carvalho (2009), a ZCAS é

responsável por alagamentos e fortes chuvas em todo o Brasil. Mas sua supressão

ou ausência, acaba interferindo diretamente na pluviosidade, causando episódios de

vários dias sem pluviosidade, veranicos ou até secas extremas, dependendo da

região onde a mesma abrange. Esse é um tipo de ZPS (Zonas de Precipitação

Subtropicais) que tem como caraterística importante a formação próxima a Jatos

Subtropicais e regimes de chuvas bastante acentuados (por vota de 400 mm).

Segundo estudos numéricos esses eventos são mantidos principalmente pelos

regimes de monções tropicais.

Os sistemas atmosféricos, como os anticiclones, aumentam ou reduzem seu espaço

de influência de acordo com a sua pressão atmosférica. Quanto mais força e energia

36

esse sistema recebe ele se expande, exercendo pressão sobre uma área ainda

maior que ele costuma exercer. Ocupa maior espaço aquele sistema com mais

força, bloqueando outros sistemas.

O ASAS atua como sistema de bloqueio quando se expande, porque em seu

movimento de descida do ar quente, empurra outros sistemas, como as frentes frias

ou até mesmo outros anticiclones. No dia 1° de fevereiro (Figura 6) foi formada uma

zona de nebulosidade na região, criada pelo afastamento da zona de alta pressão

para o litoral capixaba, abrindo espaço para a entrada de uma frente fria oriunda da

região polar e a formação de duas zonas de baixa pressão, uma dentro do

continente sul-americano, com centro próximo a Brasília e outra próxima ao litoral

uruguaio. Esse tipo de zona de convergência é comum nessa época do ano,

trazendo umidade, empurrada para o continente pelo mTa, que aliada a mEc forma

a ZCAS. A posição geográfica não regular e pressão não comum do ASAS, evitou a

formação de nebulosidade, bloqueando a umidade. Segundo dados do Inep, a

temperatura máxima no período chegou próxima a 30° C, aliada a uma umidade

relativa do ar menor que 70%, com pressão atmosférica maior que 1012 hpa, ou

seja, as zonas de alta pressão (anticiclones) reduziram a umidade, e aumentaram a

temperatura. Essa atividade do ASAS, provoca estabilidade no tempo, evitando a

formação de nebulosidade, que causaria o aumento da umidade relativa do ar, por

causa da força da pressão atmosférica. Essa nebulosidade amenizaria a radiação de

calor provocada pelo Sol na superfície.

37

l

Figura 6:Cartas Sinóticas e imagem de satélite dos dias 1, 2 3 de fevereiro de 2011. Na imagem 1 é a ASPS, 2 o ASAS e 3 Frente Fria. Fonte:INPE <www.cptec.inpe.br> Marinha <www.mar.mil.br>. Acesso em: Abr. 2017.

Essa condição perdurou até o final do período sem chuvas, que apesar da formação

de zonas de baixa pressão dentro do continente, não recebeu umidade oriunda do

oceano, bloqueada pelo ASAS. Nas cartas e imagens de satélite abaixo (figura 7),

pode-se observar que esse impedimento se afasta do continente, criando assim

condições para as precipitações no dia 25 de fevereiro, após 36 dias sem chuvas.

38

Figura 7: Cartas Sinóticas e imagem de satélite dos dias 22, 23 e 24 de fevereiro de 2011. Fonte: INPE <www.cptec.inpe.br> e Marinha <www.mar.mil.br>. Acesso em: Abr. 2017.

A tabela 3 demonstra que o bloqueio atmosférico atrasou as chuvas, proporcionando

um mês de março com precipitação acima do normal. Ou seja, apesar do longo

período de estiagem dentro da estação chuvosa, o maior registrado nos últimos vinte

anos, este veranico teve pouco impacto quando analisado anualmente. Tanto que

foram encontradas somente reportagens repercutindo a quantidade e a calamidade

causadas pelas chuvas no período antes desse veranico.

Tabela 5: Pluviosidade Mensal 2011

Total de Chuvas Mensais em 2011

Mês Total de chuvas

(em mm) Mês

Total de chuvas

(em mm)

Janeiro 317,9 Julho 0

Fevereiro 66,6 Agosto 0

Março 334,5 Setembro 1,4

39

Abril 98,7 Outubro 178,8

Maio 5 Novembro 288,7

Junho 14,6 Dezembro 720

Total: 2026,2

Fonte: INMET (http://www.inmet.gov.br/portal/index.php?r=bdmep/bdmep)

3.1. 2: 26 de janeiro de 2014 a 17 de fevereiro de 2014 (25 dias sem chuvas)

O ano de 2014 foi o mais seco dos 20 anos estudados. Com seus 944,1 mm de

precipitação, ou seja, com menos de 40% de pluviosidade que a média, acabou

trazendo consequências ao longo do ano. Não foi difícil encontrar reportagens sobre

o período. Entre elas, destacou-se a de Madeiro (2014): “A nascente do rio São

Francisco, que está localizada dentro do Parque Nacional da Serra da Canastra, no

sudoeste de Minas Gerais, está seca. Segundo o chefe do parque, diretor Luiz

Arthur Castanheira, o evento é inédito (...)”.

O Rio São Francisco é a bacia principal que é abastecida pelos Rios das Velhas e

Paraopeba. Com o constante assoreamento causado pelo desmatamento e

ocupação das áreas dos rios, os anos em que ocorrem esse tipo de anomalia de

chuvas, acabam criando situações críticas. O Portal Carta Capital (2014) é muito

feliz em buscar especialistas que indicam: "O principal fator da crise da água em São

Paulo é a má gestão. Há anos já se sabia que o Sistema Cantareira tinha limitações

e possivelmente chegaria a uma situação de crise e esgotamento.”, entrevistando

Pedro Telles. Jardim (2011) apoia e endossa o discurso de Telles, destacando que

não existe uma real crise hídrica no Brasil:

(...) Falta de água versus potencial hídrico. A atual “crise hídrica” revela a clara contradição entre a realidade do país detentor do maior potencial hídrico do mundo e a falta de água (somente a descarga do Amazonas responde por 20% da água doce que deságua nos oceanos do mundo inteiro). Excluindo o semiárido (onde há de fato déficit hídrico) e breves períodos de seca no sudeste e centro-oeste do Brasil, todas as demais regiões brasileiras apresentam excedente hídrico no decorrer do ano. Tal fato permite, inclusive, discussões acerca de projetos de transposição de

40

águas entre os estados e regiões. Se há excedente em alguns lugares por que não levá-lo para lugares onde há déficit hídrico? A questão importante, neste caso, é debater a quem esse recurso estará disponível: para toda a população ou apenas para alguns setores historicamente privilegiados como o agronegócio? (JARDIM, 2011, p. 75).

Apesar de receberem a atuação de sistemas de mesoescala diferentes, as Regiões

Metroplitanas do Brasil sofrem de problemas parecidos com relação a

abastecimento de água. Telles (2014), ainda continua: “Há problemas na distribuição

da água, o desperdício nessa etapa ultrapassa 30%, além da pouca preservação da

área de manancial. Mas esses fatores nunca foram tratados adequadamente",

finaliza. Os principais sistemas trabalham sempre no limite com o menor

investimento possível. Esses gargalos sempre ficam claros quando ocorre esse

déficit de precipitação e na maioria das vezes o problema é terceirizado, dando um

status de punidor ao clima. Em menos de três anos antes, como estudado no caso

do veranico de 2011, a situação era completamente reversa, com escorregamentos

causados por chuvas abundantes. As autoridades competentes (ou incompetentes?)

não definiram planos e metas a utilização desses excessos em anos com menor

pluviosidade. Essa fartura de recurso não é aproveitada. A citação abaixo apresenta

dados desse desperdício:

(...) “Outra solução importante, o controle das perdas na rede de distribuição, tem sido o foco das Companhias de Saneamento, já que em algumas delas a perda chega a 72% da água produzida. Segundo IBGE (2002), a média nacional de perdas é de cerca de 40%, enquanto em alguns países da Europa, se a perda total superar 20%, a empresa pode perder a concessão do serviço (CZAPSKI, 2004). Em Minas Gerais, a companhia estadual de saneamento apresenta índices de perdas da ordem de 25%, sendo considerado um dos menores valores do país. Deve-se destacar que, além da perda de água, há também perda de energia elétrica, já que geralmente os sistemas necessitam do bombeamento.” (VIMIEIRO, 2005, p. 2)

Voltando a análise das cartas sinóticas e imagens de satélite, pode-se perceber a

atuação do ASAS, desde o litoral nordestino até o Rio Grande do Sul, exercendo

pressão desde o primeiro dia, de pelo menos 1008 hpa uma pressão exercida com

maior força que o APAS, impedindo a chegada da nebulosidade. Importante

entender que a frente fria é formada exatamente no encontro entre dois tipos de

massas de ar diferente, a mTa (Massa Tropical Atlântica), quente e úmida e a mPa

(Fria e úmida). Essas massas têm temperaturas totalmente diferentes e seu

encontro formam instabilidade e umidade. O resultado desse encontro forma o SFA

41

(Sistema Frontal Atlântico) ou FPA (Frente Polar Atlântica). Lembrando que esse

evento ocorre na “borda” dessas massas, ou seja, quando o ASAS desloca a mTa,

esse encontro ocorre em outra região, alterando aquela dinâmica. A mesma pressão

também contribuiu para o bloqueio da chegada da umidade que vem do Oceano

Atlântico para o continente. Essa força aumentou, alcançando no dia 27 de

dezembro de 2014, 1026 hpa, com seu centro de pressão principal localizado no

Oceano no Atlântico próximo ao litoral sudeste.

Analisando essa primeira parte dos dados, podemos observar que o ASAS tanto

bloqueia as frentes frias, evitando a sua chegada a região Sudeste do Brasil, quanto

atenua ou diminui a evaporação oceânica. Além disso, essa força tem capacidade

de empurrar a nebulosidade oriunda da mEc, da Amazônia. Esse evento também

impossibilitou a formação da ZCAS, que é uma banda de nebulosidade com direção

noroeste – sudeste sobre a América do Sul, dificultando a condensação atmosférica

(nebulosidade, chuva) durante o período.

42

Figura 8: Cartas Sinóticas e imagem de satélite dos dias 26, 27 e 28 de Janeiro de 2014. Fonte: INPE <www.cptec.inpe.br> e Marinha <www.mar.mil.br>. Acesso em: Abr. 2017.

No dia 28 de dezembro, o ASAS chega a se encontrar com o ASPS (Anticiclone

Subtropical do Pacífico Sul) com pressão sobre o continente de até 1022 hpa, até 4

de fevereiro de 2014. A FPA chegava ao máximo até o litoral Sul da Argentina, sem

força suficiente para sobrepor-se ao ASAS (Figura 9).

43

Figura 9: Cartas Sinótica e imagens de satélites dos dias 28 e 31 de janeiro e do dia 04 de fevereiro de 2014. Fonte: INPE <www.cptec.inpe.br> e Marinha <www.mar.mil.br>. Acesso em: Abr. 2017.

Depois de se aproximar ainda mais do continente no dia 11 de fevereiro, mais

precisamente próximo ao litoral carioca, o ASAS perdeu força e se deslocando para

a parte central do Oceano Atlântico. Com isso, permitiu que um centro de baixa

pressão se aproximasse de Minas Gerais, e da FPA, que se iniciou em 14 de

fevereiro se consolidando como precipitação no dia 18 (Figura 10).

44

Figura 10 - Cartas sinóticas e imagens de satélite dos dias 14, 15, 16 e 17 de Fevereiro de 2014. Fonte: INPE <www.cptec.inpe.br> e Marinha <www.mar.mil.br>. Acesso: Abril de 2017.

Uma característica desse ano em específico é que segundo dados no NOAA (2014),

o início de 2014 não se caracterizou nem por ser de El Niño nem La Niña, ou seja,

sem variações de temperatura importante no Oceano Pacífico.

Com o tempo permanecendo estável, a temperatura se manteve com amplitude

térmica de no máximo 6,0° C. A umidade relativa do ar iniciou-se com 54%, com

variações diárias de até 10%. A umidade relativa do ar esteve próxima de 70% em

média, valor considerado aceitável pela OMS (Organização Mundial de Saúde),

segundo Franca (2009).

Menezes (2014) do Portal R7 destacou o período:

A falta de chuvas em Belo Horizonte neste mês de janeiro já representa a segunda maior estiagem desde 2006, quando a capital mineira ficou 19 dias sem precipitações. Em 2014, ainda não houve registro significativo de chuva em BH. O fenômeno conhecido como veranico - estiagem e tempo seco em plena época chuvosa - deixa a temperatura em torno dos 30º C durante toda a semana. Nesta tarde, os termômetros marcam 31º C. A umidade relativa do ar é de 40%.

45

Oliveira, do Portal IG, esclareceu em abril de 2014, e trouxe informações técnicas

acerca desse evento, em fevereiro de 2014. Trouxe a opinião de vários

meteorologistas sobre esses eventos, destacando principalmente o bloqueio

atmosférico criado pelo ASAS no período.

O destaque para esse veranico é seu impacto em longo prazo, nos dois anos

seguintes. Com o ano de 2014 sendo extremamente seco, acabou impactando ainda

mais sobre o ano de 2015, também seco, chegando até o ano de 2016. Ou seja, não

houve compensação e o impacto nos sistemas de abastecimento, como destacado

anteriormente foi severo.

3. 1. 3. Episódio de 23 de Dezembro de 2014 a 21 de Janeiro de 2015 (30 dias

sem chuvas)

A Tabela 4 evidencia a variação das chuvas mensais quando comparados os anos

de 2014 e 2015.

Tabela 6: Pluviosidade mensal dos anos de 2014 e 2015.

Total de Chuvas Mensais em 2014/2015

Mês Total de chuvas (em

mm) em 2014 Mês

Total de chuvas (em mm) em 2015

Janeiro 103,9 Janeiro 103,8

Fevereiro 22,9 Fevereiro 263,8

Março 73,7 Março 237,2

Abril 235,8 Abril 78,7

Maio 18,5 Maio 96,7

Junho 13,1 Junho 5

Julho 48,1 Julho 12,4

Agosto 3,3 Agosto 0

Setembro 1,8 Setembro 43,5

Outubro 69,4 Outubro 67,5

Novembro 215,5 Novembro 184,3

Dezembro 138,1 Dezembro 152,3

Total 944,1 Total 1245,2

Fonte :25º Distrito de Meteorologia do Instituto Nacional de Meteorologia (5º DISME/INMET)

46

As principais variações ocorreram entre fevereiro e abril. Depois de um mês de

janeiro praticamente sem variação nenhuma entre um ano e outro, fevereiro de 2015

teve mais de dez vezes o total de chuvas do que fevereiro de 2014. O ano de 2014

foi tão atípico que não houve recuperação dessa precipitação em março de 2014,

que terminou quase 4 vezes mais seco que o ano posterior. Interessante perceber

que o mês de abril de 2014, que é um mês de transição entre a estação chuvosa e a

estação seca, com características de ambos, registrou 235,8 mm de chuva, valor

habitualmente associado aos meses de janeiro e fevereiro. Segundo dados do

NOAA, a variação de temperatura do oceano pacífico ocorreu somente a partir do

trimestre outubro/novembro/dezembro de 2014, repercutindo até abril/maio/junho de

2016.

Não bastasse o veranico sucedido durante o início do ano (estudo de caso anterior),

dessa vez ocorreu outro período de seca, ao final de 2014, mas com uma

quantidade maior de dias. Com início em 23 de dezembro de 2014 e perdurando até

21 de janeiro de 2015. Os 0,8 mm de chuvas no total de 30 dias, teve impacto direto

sobre a quantidade de pluviosidade na estação chuvosa. O verão teve um total de

241,9 mm no período, ou seja, menos da metade do previsto. Um valor nem de

longe próximo à média (566 mm) quando se reduz a escala temporal somente a

estação chuvosa. A tabela anterior demonstrou que mesmo uma quantidade de

chuvas superior à média nos meses de abril e novembro, não foi suficiente para

recuperar o balanço hídrico ideal. O mês de janeiro teve pelo segundo ano

consecutivo baixos valores de precipitação. A situação só não piorou porque houve

uma recuperação em meses seguintes, com valores de chuva acima de sua média

histórica.

47

Figura 11: Mosaico de Imagens de Satélite e Cartas Sinóticas dos dias 23 a 26 de dezembro de 2014. Fonte: INPE <www.cptec.inpe.br> e Marinha <www.mar.mil.br>. Acesso: Abril de 2017. No dia 23, conforme observado na Figura 11, pode-se perceber a chegada de uma

frente fria ao litoral carioca. No dia 24, essa frente fria se converge com a mEc

(Massa Equatorial Continental). Se esse tipo de fenômeno se mantivesse por três

dias consecutivos, o que é comum nessa época do ano ocorreria a formação da

ZCAS (Zona de Convergência do Atlântico Sul), ou o estabelecimento das frentes

frias que vêm da região Subpolar com a umidade amazônica. Essa convergência

acabou não se concretizando, em função de zonas de Alta Pressão no Continente,

com centros de pressão no litoral gaúcho, no dia 25 de dezembro, que se

convergiram com o ASAS, e no dia seguinte um centro de alta pressão formado no

continente, com centro próximo a Brasília.

48

Figura 12: Imagens de Satélite e Cartas Sinóticas referentes aos dias 27, 28 e 29 de dezembro de 2014. Fonte: INPE <www.cptec.inpe.br> e Marinha <www.mar.mil.br>. Acesso: Abril de 2017

A partir do dia 27 de dezembro, o ASAS se aproximou do continente, criando um

bloqueio as frentes frias que vinham do Sul do oceano Atlântico e evitando a

formação da ZCAS. No dia 29 de dezembro, houve a convergência da ASPS com o

ASAS, com pressão barométrica em 01/01/2015 chegando a 1020 hpa segundo

dados do CPTEC-INPE

(http://www.cptec.inpe.br/~rupload/arquivo/analise_01012015.pdf). (Figura 12)

Esse bloqueio ocorreu até o dia 17 de janeiro de 2015, quando no dia 18 houve a

chegada de uma frente fria, que foi insuficiente em curto prazo para a formação de

chuvas. A pluviosidade voltou a ocorrer somente no dia 22 de janeiro. Segundo

dados da NOAA, final de 2014 foi marcado pelo início do fenômeno El Niño, com

alteração de até 0,5° graus na temperatura do Oceano Pacífico. Essa conclusão vai

de acordo com as conclusões de Cupolillo (1997), citando as interferências “diretas e

indiretas” desse fenômeno durante os anos com fortes estiagens.

49

Parreiras (2015) alertou no site “UAI” no dia 07 de janeiro que essa recessão seria

ainda maior naquele ano, já que o ano de 2014, também houve chuvas abaixo da

média. Essas chuvas que faltaram no início do ano são fundamentais aos

reservatórios, que abastecem não só Belo Horizonte como toda a Região

Metropolitana, já que a chuva tem uma atuação dentro da escala regional, atingindo

também seus reservatórios que ficam nos municípios vizinhos.

Outro problema foi a baixa umidade do ar no período. O valor percentual de água em

suspensão no ar chegou a menos que 30%, índice comparado a climas desértico e

semiárido. Segundo Franca (2009 pag. 16) (...) “a Organização Mundial de Saúde

(OMS), considera valores de umidade relativa inferiores a 30% inadequados à saúde

humana” (...). Essa baixa umidade é também um fator associado às altas pressões

atmosféricas no período, com média acima de 910 hPa. O Portal Hoje em Dia (2015)

alertou a essa situação:

Belo Horizonte está em alerta por causa da baixa umidade relativa do ar. Segundo a Coordenadoria Municipal de Defesa Civil (Comdec), os índices na capital mineira oscilam entre 20 e 30%, o que é considerado estado de atenção pela Organização Mundial de Saúde (OMS). O tempo seco deve permanecer pelo menos até às 21 horas de terça-feira (13). Por isso, a Comdec desaconselha atividades ao ar livre e exposição ao sol entre as 10 e 17 horas, especialmente entre as 14 e 16 horas, período do dia em que a umidade do ar fica mais baixa. Além disso, o órgão recomenda a ingestão de bastante líquido para não ter problemas de desidratação.

Destaque ao alerta do site sobre (...) “incidência de incêndios em matas. Por isso, a

população não deve fazer fogueiras nas proximidades de matas e florestas” (...)

(Hoje em dia, 2015). Importante relembrar que Belo Horizonte está em uma região

de transição de vegetação da mata atlântica e cerrado, vulneráveis a queimadas.

Segundo Silva (2015), do Portal Estado de Minas, somente no dia 17 de janeiro de

2015 as equipes do Corpo de Bombeiros de Minas Gerais foram chamadas para

atender seis ocorrências, tanto em lotes vagos quanto em áreas com vegetação

localizadas tanto em Belo Horizonte quanto na Região Metropolitana. A reportagem

cita que apesar de nem todas as vezes a responsabilidade pelo início das

queimadas ser advinda do forte calor, ele acaba propiciando uma melhor condição

para o alastramento dos mesmos.

50

IV. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esse trabalho se propôs a entender as dinâmicas dos veranicos tendo como

primeiros objetivos elucidados na introdução e desenvolvidos e explanados ao

recorrer do texto. Entende-se que muitas das dinâmicas não são somente restritas a

esse espaço geográfico, que é Belo Horizonte, um recorte político e territorial. As

gêneses desses fenômenos estão correlacionadas à meso-escala (como os

anticiclones, massas de ar, frentes frias por exemplo) e outros até a escala global

(variações de temperatura do Oceano Pacífico). O ASAS, o sistema de alta pressão

influente na região, causa bloqueios atmosféricos, criando-se situações baixa

nebulosidade, altas temperaturas e baixa umidade. Todos esses sistemas já são

conhecidos e tem suas variações estudadas e nada tem a ver com mudanças

climáticas, ou ações antrópicas, mas com a atuação de mecanismos bem

conhecidos como as diferentes massas de ar em interação com fenômenos citados

anteriormente.

Os resultados mostraram que os veranicos de Classe D (Segundo classificação de

Minuzzi 2003) têm frequência de dois em dois anos, até quando considerados

somente os que ocorrem na estação chuvosa onde persiste mais de 60% das

chuvas no ano inteiro em Belo Horizonte. Outra conclusão interessante é que a

média de dias secos tem uma variação menor que 7% dentro da estação chuvosa.

Sendo assim, para uma conclusão mais efetiva, seria necessário um estudo por um

período maior.

Conhecida a gênese e analisadas as frequências temporais, pode-se perceber que é

um fluxo natural do sistema hídrico que abastece Belo Horizonte, necessitando o

entendimento dessas dinâmicas, evitando a mitificação e caracterização da natureza

como ser punidor a seus agressores. A natureza tem seus fluxos ainda não

compreendidos de forma eficaz pelo homem, sendo assim, não sabemos o tamanho

de sua interferência em escalas maiores (meso-escala).

Os administradores públicos precisam se programar para a prevenção em relação a

esse tipo de evento. O ser humano não tem controle sobre esses

eventos/fenômenos, ou seja, não pode interferir nas causas e origens, mas pode

51

interferir nas consequências ou impactos, com um melhor planejamento e

investimento financeiro.

A perspectiva futura é de ampliação desse trabalho, aumentando o número de anos

estudados, o tamanho da área, abrangendo a Região Metropolitana, adicionando

dados em diferentes estações.

52

VI. REFERÊNCIAS

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