UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO DEPARTAMENTO DE … · 2019-07-23 · RESUMO . O presente...
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO
ESCOLA DE MINAS
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE MINAS
ANA PAULA PASSOS TEIXEIRA
SEIS SIGMA: APLICAÇÃO DA FERRAMENTA COMO UMA ALTERNATIVA
ESTRATÉGICA NA REDUÇÃO DOS GASTOS COM PERFURAÇÃO E DESMONTE
OURO PRETO
2019
ANA PAULA PASSOS TEIXEIRA
SEIS SIGMA: APLICAÇÃO DA FERRAMENTA COMO UMA ALTERNATIVA
ESTRATÉGICA NA REDUÇÃO DOS GASTOS COM PERFURAÇÃO E DESMONTE
Monografia apresentada ao Curso de
Graduação em Engenharia de Minas da
Universidade Federal de Ouro Preto como
requisito parcial à obtenção do título de
Engenheira de Minas.
Orientador: Prof. Dr. Carlos Enrique Arroyo
Ortiz
OURO PRETO
2019
A Deus, por plantar sementes e sonhos tão
preciosos em meu coração.
AGRADECIMENTOS
Agradeço aos meus pais, Angela e Olivério, por serem meus pilares e exemplos. Obrigada por
nunca me deixarem desistir dos meus objetivos.
Ao Douglas Lage, pelos ensinamentos contínuos e pelo apoio imensurável no desenvolvimento
deste trabalho.
À toda equipe GAIFS, pela experiência, instrução e crescimento proporcionados.
Aos docentes e colegas do Departamento de Engenharia de Minas, que contribuíram
essencialmente para a minha formação pessoal e profissional.
Ao meu orientador, Prof. Dr. Carlos Enrique Arroyo Ortiz, pelas diretrizes e disposição.
À Fundação Gorceix, pela capacitação de qualidade.
À UFOP, pela chance de expandir os horizontes do meu conhecimento.
“O que te faz diferente é o que te faz mais forte.”
Eva Chen
RESUMO
O presente trabalho compreende um estudo exploratório acerca das oportunidades de
melhoria nas operações de perfuração e desmonte em uma empresa de mineração de ferro a céu
aberto. Tais atividades possuem extrema relevância na variação dos custos das operações de
mina, principalmente pela associação direta com a qualidade de fragmentação do material. Com
a aplicação da ferramenta Seis Sigma, subsidiada pelo ciclo PDCA, o propósito de
desenvolvimento do trabalho baseou-se na redução de gastos do processo de perfuração e
desmonte, com foco nos insumos de detonação e gastos com manutenção das perfuratrizes
operantes nas três minas de estudo. Com base na identificação do problema, a análise estatística
realizada acerca de cada estratificação permitiu a definição de uma meta global: reduzir a média
do gasto unitário com o processo de perfuração e desmonte de R$0,79/t para R$0,71/t. Metas
específicas para cada tipo de gasto também foram traçadas por meio da análise do fenômeno.
A identificação e a tratativa dos desperdícios observados, bem como as mudanças no controle
do processo propiciaram um alcance da meta acima do esperado. Dessa forma, a implantação
das ações propostas resultou em ganhos qualitativos e quantitativos, na ordem de
R$1.600.000,00 no período de verificação.
Palavras-chave: Perfuração. Desmonte. Manutenção. Gasto unitário. PDCA. Seis Sigma.
ABSTRACT
The present work comprises an exploratory study about the opportunities of
improvement in the drilling and blasting operations in an iron ore mining company. Such
activities are extremely relevant in the variation of the costs of mine operations, mainly due to
the direct association with the quality of material fragmentation. With the application of the Six
Sigma tool, subsidized by the PDCA cycle, the purpose of the work development was based on
the reduction of costs of the drilling and blasting process, focusing on the detonation inputs and
maintenance costs of the drills operating in the three study mines. Based on the identification
of the problem, the statistical analysis performed on each stratification allowed the definition
of a global goal: to reduce the average unit cost with the drilling and blasting operations from
R$0.79/t to R$0.71/t. Specific goals for each type of expenditure were also drawn through the
analysis of the phenomenon. The identification and treatment of the observed wastes, as well
as the changes in process control provided a goal reach higher than expected. Thus, the
implementation of the proposed actions resulted in qualitative and quantitative gains, in the
order of R$1.6 million in the verification period.
Keywords: Drilling. Blasting. Maintenance. Unit cost. PDCA. Six Sigma.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - Posicionamento do martelo de fundo e do martelo de topo ..................................... 18
Figura 2 - Método rotativo ....................................................................................................... 19
Figura 3 - Ciclo DMAIC .......................................................................................................... 24
Figura 4 - Ciclo PDCA ............................................................................................................. 26
Figura 5 - Exemplo de plano de ação construído com a metodologia 5W1H .......................... 28
Figura 6 - Acompanhamento dos gastos da gerência (orçado x realizado) .............................. 31
Figura 7 - Distribuição dos grupos de conta ............................................................................. 32
Figura 8 - Gasto com perfuração e desmonte no período de análise ........................................ 33
Figura 9 - Boxplot do gasto unitário da tonelada desmontada .................................................. 34
Figura 10 - Grupos de conta da mina A ................................................................................... 35
Figura 11 - Grupos de conta da mina B .................................................................................... 35
Figura 12 - Grupos de conta da mina C .................................................................................... 36
Figura 13 - Grupos de conta geral das minas A, B e C ............................................................ 36
Figura 14 - Massa detonada nas minas A, B e C no período de análise ................................... 37
Figura 15 - Boxplot do gasto unitário (R$/t) por mina ............................................................. 37
Figura 16 - Boxplots dos gastos com insumos de detonação por mina .................................... 38
Figura 17 - Gráfico de probabilidade normal de GID .............................................................. 38
Figura 18 - Análise de desempenho de GID ............................................................................ 39
Figura 19 - Boxplots dos gastos totais de manutenção por mina .............................................. 40
Figura 20 - Gráfico de probabilidade normal de GTM ............................................................ 41
Figura 21 - Análise de desempenho de GTM ........................................................................... 41
Figura 22 - Evolução do indicador de GID e meta específica .................................................. 43
Figura 23 - Evolução do indicador de GTM e meta específica ................................................ 43
Figura 24 - Mapa do processo de perfuração e detonação ....................................................... 44
Figura 25 - Mapa de processo de manutenção de perfuratriz ................................................... 45
Figura 26 - Diagrama de Ishikawa: alto gasto com insumos de detonação .............................. 46
Figura 27 - Diagrama de Ishikawa: alto gasto com manutenção .............................................. 47
Figura 28 - Parte I da matriz de priorização das causas ........................................................... 48
Figura 29 - Parte II da matriz de priorização das causas .......................................................... 49
Figura 30 - Previsão de massa por avanço no plano de lavra de jan/18 ................................... 50
Figura 31 - Comparativo entre FMC e FMP (2016 a 2017) ..................................................... 50
Figura 32 - Questionário 002 realizado em campo com os operadores.................................... 51
Figura 33 - Perda financeira com o deslocamento das perfuratrizes em 2016 e 2017 ............. 52
Figura 34 - Levantamento do nº de furos em 2016 e 2017 ....................................................... 53
Figura 35 - Perda com subfuração em excesso em 2016 e 2017 .............................................. 53
Figura 36 - Perda financeira de furos em 2016 e 2017 ............................................................. 54
Figura 37 - Aderência de perfuração em 2016 e 2017 ............................................................. 55
Figura 38 - Questionário 001 realizado em campo com os operadores.................................... 56
Figura 39 - Evolução do consumo médio de combustível das perfuratrizes ............................ 57
Figura 40 - Comparativo massa dimensionada x massa realizada ........................................... 58
Figura 41 - Reforço na proteção das áreas perfuradas .............................................................. 60
Figura 42 - Kit HPGPS (coletor e receptor) ............................................................................. 61
Figura 43 - Limitador de aceleração instalado nas perfuratrizes .............................................. 61
Figura 44 - Controle de confecção de polígonos de perfuração ............................................... 62
Figura 45 - Mapeamento dos avanços de lavra por desmonte mecânico ................................. 62
Figura 46 - Controle de checklist na liberação de equipamentos ............................................. 63
Figura 47 - Principais motivos de perda de furos em 2018 ...................................................... 64
Figura 48 - Perdas econômicas com perfuração em 2018 ........................................................ 64
Figura 49 - Progresso do indicador de gasto unitário da tonelada desmontada ....................... 65
Figura 50 - Evolução do gasto unitário com insumos de detonação ........................................ 66
Figura 51 - Evolução do gasto unitário com manutenção ........................................................ 66
Figura 52 - Gasto unitário por categoria no período de análise................................................ 67
Figura 53 - Gasto unitário por categoria no período de verificação ......................................... 67
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
PDCA - plan; do; check; act
DMAIC - define; measure; analyze; improve; control
CTQs - Características Críticas para a Qualidade
FMC - Fator de Manutenção Corretiva
FMP - Fator de Manutenção Preventiva
GE - Gastos de Energia
GF - Gastos com Ferramentas
GID - Gastos com Insumos de Detonação
GTM - Gastos Totais de Manutenção
PF - Perfuratriz
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ................................................................................................................ 15
1.1. FORMULAÇÃO DO PROBLEMA .......................................................................... 15
1.2. JUSTIFICATIVA ...................................................................................................... 16
1.3. OBJETIVOS .............................................................................................................. 16
1.3.1. Geral ................................................................................................................... 16
1.3.2. Específicos .......................................................................................................... 16
1.4. ESTRUTURA DO TRABALHO .............................................................................. 16
2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA .......................................................................................... 17
2.1. PERFURAÇÃO ......................................................................................................... 17
2.1.1. Métodos de perfuração ....................................................................................... 17
2.1.2. Custos de perfuração .......................................................................................... 19
2.2. DESMONTE .............................................................................................................. 20
2.2.1. Custos de desmonte ............................................................................................ 21
2.3. SEIS SIGMA ............................................................................................................. 21
2.3.1. A origem do Seis Sigma ..................................................................................... 21
2.3.2. Conceito da ferramenta ....................................................................................... 22
2.3.3. Ciclo DMAIC ..................................................................................................... 23
2.3.4. Ciclo PDCA ........................................................................................................ 26
3. METODOLOGIA ............................................................................................................. 30
3.1. ESTUDO DE CASO .................................................................................................. 30
3.2. IDENTIFICAÇÃO DO PROBLEMA ....................................................................... 31
3.2.1. Detalhamento do problema ................................................................................. 31
3.2.2. Detalhamento do indicador ................................................................................. 32
3.2.3. Análise do histórico ............................................................................................ 33
3.2.4. Avaliação da meta geral ..................................................................................... 33
3.3. ANÁLISE DO FENÔMENO .................................................................................... 34
3.3.1. Planejamento das estratificações ........................................................................ 34
3.3.2. Realização das estratificações ............................................................................ 35
3.3.3. Análise da variação dos focos ............................................................................ 37
3.3.3.1. Gastos com insumos de detonação (GID) ................................................... 38
3.3.3.2. Gastos totais de manutenção (GTM) ........................................................... 40
3.3.4. Definição das metas específicas ......................................................................... 42
3.4. ANÁLISE DO PROCESSO ...................................................................................... 44
3.4.1. Detalhamento do processo de perfuração e detonação ....................................... 44
3.4.2. Detalhamento do processo de manutenção das perfuratrizes ............................. 45
3.4.3. Levantamento das causas.................................................................................... 46
3.4.4. Priorização das causas ........................................................................................ 47
3.4.5. Causas a serem tratadas ...................................................................................... 49
3.5. ESTABELECIMENTO DO PLANO DE AÇÃO ..................................................... 58
3.6. IMPLANTAÇÃO DO PLANO DE AÇÃO ............................................................... 60
4. RESULTADOS E DISCUSSÕES .................................................................................... 65
4.1. ALCANCE DA META GLOBAL ............................................................................ 65
4.2. ALCANCE DAS METAS ESPECÍFICAS ............................................................... 65
4.3. PADRONIZAÇÃO E MANUTENÇÃO DOS RESULTADOS ............................... 67
5. CONCLUSÃO .................................................................................................................. 69
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .............................................................................. 70
ANEXOS ........................................................................................................................... 72
15
1. INTRODUÇÃO
1.1. FORMULAÇÃO DO PROBLEMA
Desde o início do desenvolvimento da civilização humana, a engenharia de perfuração
tem sido uma das tecnologias de maior avanço e representatividade em todo o mundo. Silva
(2009) considera que, dentro do campo da mineração, tal prática possui a finalidade de realizar
a abertura de furos no maciço rochoso, distribuídos adequadamente, para alojar as cargas de
explosivos e acessórios iniciadores. Paralelo à evolução dos métodos de perfuração e lavra, a
acentuada tecnologia voltada para o desenvolvimento de novos explosivos também vem
sofrendo modificações ao longo das décadas. Tal avanço mostra-se imprescindível, não só para
a economia e cadeia de produção do empreendimento, mas também para a otimização dos
parâmetros técnicos adotados pelas equipes de engenharia.
Frequentemente, a literatura trata de assuntos relacionados à perfuração e desmonte de
forma isolada. No entanto, quando considerados como um processo global, as decisões acerca
dessas etapas contribuem de forma extremamente positiva para o resultado final. Simples
melhorias no método de perfuração adotado trazem resultados satisfatórios na etapa de
desmonte. Como consequência, os controles essenciais do processo estarão contemplados na
solução sugerida. Dentre os principais controles, podemos citar: a fragmentação do material; a
velocidade de vibrações e ruídos, a geração de poeira e matacões, o escape de gases, o desgaste
das ferramentas de perfuração e dos equipamentos de carga e transporte, entre outros.
A visualização dos parâmetros de custo e qualidade também são essenciais. A análise
global do ciclo do produto e de suas etapas específicas faz-se necessária, visto que tal prática
tende a trazer retornos inimagináveis para o empreendimento, inclusive no âmbito econômico.
Guazzelli (2013) menciona que o pouco entendimento acerca da maior parte dos problemas faz
com que estes sejam tratados de forma superficial pelas equipes, justamente pela dificuldade
em mensurá-los. Em consequência disso, grandes janelas de oportunidade passam
despercebidas, e os problemas voltam à etapa zero. Com o propósito de atingir uma
fragmentação ótima, muitas vezes o restante do processo acaba por ser negligenciado. Por mais
que a atividade de perfuração e desmonte seja considerada como porta de entrada para a
contenção de gastos, a superficialidade das tratativas iniciais comprometem todo o processo.
Diante disso, o presente trabalho tem como objeto de estudo a aplicabilidade da
ferramenta Seis Sigma na redução de gastos com perfuração e desmonte numa empresa
16
brasileira de mineração de ferro a céu aberto. Devido às características litológicas,
predominantemente compactas, presentes nas minas de referência, o desmonte por explosivos
possui um papel fundamental na etapa de fragmentação.
1.2. JUSTIFICATIVA
Através da análise dos dados, notou-se uma oportunidade de ganho, visto que o
indicador de gasto unitário com perfuração e desmonte não apresentava estabilidade,
comprometendo significativamente o orçamento da gerência.
1.3. OBJETIVOS
1.3.1. Geral
Reduzir o gasto unitário da tonelada desmontada nas minas de ferro da empresa de
referência, utilizando a metodologia Seis Sigma.
1.3.2. Específicos
▪ Estudar a metodologia do programa Seis Sigma;
▪ Estratificar os gastos totais de perfuração e desmonte;
▪ Estabelecer os focos do problema e analisar os seus comportamentos ao longo do tempo;
▪ Elaborar um plano de ação com a seguinte implantação.
1.4. ESTRUTURA DO TRABALHO
O presente trabalho constitui-se de seis capítulos, sendo este, parte do primeiro. A
introdução foi elaborada diante da formulação do problema, justificativa e objetivos do projeto.
O segundo capítulo apresenta uma revisão bibliográfica acerca dos temas abordados no
trabalho, sendo estes, perfuração, desmonte, e ferramenta Seis Sigma. O terceiro capítulo
abrange a metodologia que foi utilizada no levantamento de dados do projeto. Já a discussão
dos resultados é apresentada no quarto capítulo. O quinto capítulo compõe a conclusão do
trabalho, e as referências bibliográficas encontram-se expostas no capítulo seis.
17
2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
2.1. PERFURAÇÃO
“A perfuração é a fase que antecede o desmonte com explosivos, onde se obtém a
fragmentação da rocha, possibilitando (ou facilitando) o carregamento e o transporte do
material até o destino.” (LUIZ, 2019, p. 47).
Sendo diretamente responsável pela qualidade da desagregação, uma perfuração
otimizada conta com a correta execução dos furos, considerando assim, sua distribuição,
linearidade e inclinação. (GUAZZELLI, 2013). A ausência de controle da atividade de
perfuração traz consequências danosas para o desmonte das rochas, gerando retrabalhos e
gastos desnecessários, além da dificuldade no atendimento dos parâmetros da planta de
beneficiamento.
2.1.1. Métodos de perfuração
Existem três métodos de perfuração de rochas mais comuns na mineração. São eles:
método percussivo; método rotativo; método roto-percussivo.
▪ Perfuração por percussão
O método percussivo possui a finalidade de transferir a percussão (impacto) ao bit.
Jardim (2017) explica que, durante a perfuração, o bit sofre uma pequena rotação para que seus
botões atinjam um outro ponto da superfície rochosa, a fim de fragmentá-la como um todo.
De acordo com Alonso et al. (2013, tradução nossa), a perfuração por percussão baseia-
se no movimento sucessivo e alternado de uma peça de choque (pistão) sobre o martelo. O
acionamento da peça de choque pode ser por ar comprimido (característica das perfuratrizes
pneumáticas), ou por óleo hidráulico (característica das perfuratrizes hidráulicas).
Os martelos utilizados no método percussivo são os de superfície (topo) e os de fundo.
A principal diferença entre eles é a disposição dos elementos em cada uma das ferramentas. O
uso do martelo de topo contempla a percussão na parte superior da máquina (fora do furo).
Logo, a energia é transmitida através da sequência dos complementos. Já o martelo de fundo é
acoplado na parte inferior, atingindo o fundo do furo. Dessa forma, a energia é transmitida
diretamente do pistão para o bit. (ALONSO et al., 2013, tradução nossa).
18
A figura 1 ilustra o posicionamento dos martelos de forma esquemática.
Figura 1 - Posicionamento do martelo de fundo e do martelo de topo
Fonte: Elaborado pelo autor
▪ Perfuração por rotação
“Um empurrão na ferramenta de perfuração que exceda a resistência à compressão da
rocha e um torque que causa o seu corte por cisalhamento, são as duas ações básicas que
definem a perfuração rotativa.” (ALONSO et al., 2013, p. 25, tradução nossa).
Segundo Silva (2009), a perfuração por rotação passou a ser utilizada, inicialmente, na
indústria petrolífera, e com o tempo ganhou destaque nos furos de detonação. As brocas
tricônicas são as ferramentas-chave nesse processo (FIG. 2). A pressão transmitida pela cabeça
rotativa da perfuratriz é transferida para um tubo giratório (haste metálica) que pressiona os
botões da ferramenta contra a superfície rochosa.
Em relação à aplicabilidade das brocas tricônicas, Jardim (2017, p. 17) descreve que
“[...] esse método de perfuração é muito versátil, e que é aplicável a uma grande gama de rochas,
desde as mais brandas até as mais duras.”
A figura 2 ilustra o funcionamento do método rotativo de forma esquemática.
HASTE
MARTELO
DE FUNDO
BIT
HASTE
BIT
MARTELO
DE TOPO
19
Figura 2 - Método rotativo
Fonte: Elaborado pelo autor
▪ Perfuração por roto-percussão
O método roto-percussivo, basicamente, é a união entre o método percussivo e rotativo.
Alonso et al. (2013, tradução nossa) mencionam que esse sistema é o mais utilizado atualmente.
Nesse caso, juntamente ao impacto da percussão, a ferramenta (broca tricônica) recebe o
movimento rotativo a uma pressão considerável.
2.1.2. Custos de perfuração
Os custos dos processos produtivos, muitas vezes, estão aliados à produtividade do
processo. Com o foco na constante otimização do sistema, as organizações têm buscado cada
vez mais atingir a máxima produtividade aliada à redução dos custos.
Na atividade de perfuração, essa teoria não é diferente. Guazzelli (2013) relata que os
custos de perfuração estão diretamente ligados à metragem de rocha perfurada. Esses custos
subdividem-se em diretos e indiretos, englobando parâmetros como manutenção; consumo de
combustível; mão de obra; material de desgaste; entre outros. Entretanto, a variabilidade
PRESSÃO DE
AVANÇO
HASTE
BROCA
TRICÔNICA
20
encontrada na estimativa dos custos tem se tornado um desafio cada vez maior para as empresas
do ramo.
Jardim (2017) descreve que o custo por metro perfurado pode ser estimado pela seguinte
equação (1):
(1)
Onde:
➢ CT = custo total por metro perfurado (R$/m);
➢ Ch = custo horário da perfuratriz (R$/m);
➢ Tp = taxa de penetração (m/h);
➢ Cb = custo de material de desgaste (broca/bit) (R$);
➢ Vb = vida útil do material de desgaste (broca/bit) (m).
Nesse caso, o custo horário da perfuratriz (Ch) inclui as taxas de amortização; impostos
e seguros; manutenção; mão de obra; combustível; lubrificantes; entre outros.
2.2. DESMONTE
O desmonte de rochas é a etapa subsequente à perfuração, e sua finalidade é
proporcionar uma fragmentação ideal do material, a fim de facilitar o seu carregamento ao
destino de interesse. O desmonte pode ser realizado com o uso de explosivos industriais, ou
também de forma manual, mecânica ou hidráulica. (LUIZ, 2019).
No caso do desmonte com o uso de explosivos, Alonso et al. (2013, p. 65, tradução
nossa) descrevem:
“Os explosivos são substâncias químicas com certo grau de instabilidade na
ligação atômica de suas moléculas que, sob certas circunstâncias ou impulsos
externos, promovem uma reação rápida de dissociação e um novo reagrupamento dos
átomos em formas mais estáveis. Esta reação, do tipo oxirredução, é induzida
termicamente pelos chamados ‘pontos quentes’, é conhecida pelo nome de detonação,
e origina gases com alta pressão e temperatura, que por sua vez geram uma onda de
compressão que percorre o meio circundante.”
Os autores ainda ressaltam que o poder expansivo dessas substâncias está muito mais
ligado à capacidade de liberação num curto intervalo de tempo do que à sua quantidade. A
21
transformação da energia química do explosivo em energia mecânica proveniente da onda de
compressão é o que possibilita a fragmentação da rocha.
O processo de desmonte pode ser considerado de alta complexidade quando levado em
consideração que essa atividade depende substancialmente de determinados parâmetros como,
por exemplo, as características do maciço, o tipo de explosivo utilizado e o modelo da malha
de perfuração. (GUAZZELLI, 2013). Durante a elaboração do plano de fogo, é imprescindível
que a equipe responsável considere todos os fatores presentes, desde a presença de fraturas nas
rochas, até os parâmetros geométricos que serão utilizados na malha. (OLIVEIRA, 2017).
2.2.1. Custos de desmonte
Os custos provenientes do desmonte englobam a mão de obra, o consumo de explosivos
e seu transporte. Guazzelli (2013, p. 34) explica que, ao se analisar o custo geral da lavra, “[...]
os custos com o desmonte contribuem apenas com uma pequena porcentagem para o mesmo,
mas possui uma grande influência nos demais custos [...]”, considerando que a eficiência desse
processo determinará a qualidade da fragmentação.
Em relação aos insumos, seus custos compreendem o próprio explosivo e os acessórios
utilizados na detonação, como estopins, cordéis, espoletas, reforçadores, retardos, entre outros.
Conforme a viabilidade do processo, muitas vezes, as empresas optam pela terceirização do
transporte desse material. A mão de obra e os equipamentos utilizados no carregamento dos
furos também são fatores imprescindíveis a serem considerados no custo total do desmonte.
(GUAZZELLI, 2013).
2.3. SEIS SIGMA
2.3.1. A origem do Seis Sigma
Na década de 80, com a finalidade de alavancar os negócios da Motorola para enfrentar
a concorrência, um engenheiro da organização buscou aplicar os princípios da variabilidade de
processos, desenvolvendo a ferramenta chamada Seis Sigma. Um ano após o nascimento do
programa, a Motorola recebeu o Prêmio Nacional Malcolm Baldrige de Qualidade, tornando o
Seis Sigma como o responsável pelo êxito da companhia. (TRAD, 2006; WERKEMA, 2004).
22
Após esse sucesso, empresas como a Sony, GE, Asea Brown Boveri (ABB) e
AlliedSignal também passaram a implementar o Seis Sigma. Werkema (2004) ainda ressalta os
ganhos grandiosíssimos que foram alcançados com tal aplicação. Em um período de dois anos,
a cadeia de produção da ABB chegou a reduzir 68% nos níveis de defeitos e 30% nos custos de
produção. Em um único site da AlliedSignal, três especialistas black belts desenvolveram um
projeto que trouxe um retorno de US$ 25.000.000 para a organização.
O aumento da lucratividade na AlliedSignal despertou o interesse do CEO da GE. Em
1996, a empresa começou a desenvolver o programa disponibilizando treinamentos para mais
de 800 empregados na metodologia Seis Sigma, aumentando sua receita em 300 milhões de
dólares. Com o anúncio do sucesso, o CEO da organização declarou na época que “[...] esses
resultados financeiros são consequência do aumento de market share, à medida que os
consumidores, cada vez mais, ‘sentem’ os benefícios do Programa Seis Sigma [...]”
(WERKEMA, 2004, p. 19).
2.3.2. Conceito da ferramenta
O Seis Sigma pode ser definido como:
[...] uma estratégia gerencial disciplinada e altamente quantitativa, que tem como
objetivo aumentar drasticamente a lucratividade das empresas, por meio da melhoria
da qualidade de produtos e processos e do aumento da satisfação de clientes e
consumidores. (WERKEMA, 2004, p. 15).
Aguiar (2006) descreve ainda que um dos grandes diferenciais desse programa é a
importância dada à modificação da cultura e do posicionamento da empresa em relação à
identificação e tratativa dos problemas, já que a ferramenta objetiva a obtenção de resultados
da forma mais clara e planejada possível.
A solução de problemas no Seis Sigma pauta-se na associação das ferramentas da
qualidade, sendo estas utilizadas na transformação dos dados em conhecimento. Para tanto, é
interessante que a organização proporcione os treinamentos aos colaboradores de perfil
apropriado, a fim de se tornarem idealizadores do programa, sejam estes, máster black belts,
black belts, green belts ou white belts. (AGUIAR, 2006).
Valer (2015) menciona que, de acordo com o nível de defeitos de um determinado
produto, é possível definir qual é o seu nível sigma de qualidade. Cada nível sigma está
associado ao número de defeitos por milhão e ao percentual de conformidades do processo. A
tabela 1 ilustra essa relação.
23
Tabela 1 - Relação entre o nível sigma, defeitos e percentual de conformidades
Fonte: VALER (2015)
De acordo com a tabela 1, pode-se concluir que, quanto maior o nível sigma de
qualidade, menos defeitos surgirão no processo, e maior será o percentual de conformidades.
Toda cadeia produtiva pode atingir o nível 6σ, mas é fundamental mencionar que a
implementação da ferramenta exige precisão, disciplina e organização por parte da equipe
envolvida no projeto. (WERKEMA, 2004).
2.3.3. Ciclo DMAIC
O desenvolvimento dos projetos Seis Sigma pode ser estruturado no método
denominado DMAIC. Segundo Valer (2015), O DMAIC originou-se do método PDCA e
constitui-se de cinco etapas, sendo estas (FIG. 3):
24
Figura 3 - Ciclo DMAIC
Fonte: VALER (2015)
▪ Etapa 1 – Define (Definir)
De acordo com Trad (2006), essa etapa aborda precisamente todo o escopo do projeto
com as metas claramente estabelecidas. Algumas questões são levantadas nessa fase, como:
i. Qual é o problema a ser tratado?
ii. Qual processo está ligado ao problema?
iii. Qual o objetivo e o prazo para alcance dos resultados?
iv. Quem são os clientes atingidos pelo problema?
v. Qual a necessidade dos clientes?
Os dados relacionados às expectativas dos clientes são essenciais, visto que, a partir
deles, poderão ser identificadas as CTQs – Características Críticas para a Qualidade. Tudo que
está gerando resultados insatisfatórios para o consumidor deve ser estudado, e a equipe
envolvida no projeto deve detalhar os processos críticos que possuem relação direta ou indireta
com as CTQs. (CARVALHO, 2005).
25
▪ Etapa 2 – Measure (Medir)
A segunda etapa do DMAIC tem o objetivo medir especificamente o problema. “Por
meio das atividades realizadas nessa etapa, o problema do projeto poderá ser dividido em outros
problemas de menor escopo ou mais específicos, de mais fácil solução.” (WERKEMA, 2004,
p. 85). As medições necessárias à obtenção de dados confiáveis e os focos prioritários do
problema são questões a serem discutidas na etapa measure. (WERKEMA, 2004).
▪ Etapa 3 – Analyze (Analisar)
Essa etapa abrange o uso de ferramentas estatísticas para a análise dos dados que foram
coletados na etapa measure. Para Trad (2006, p. 42), o objetivo dessa fase é “[...] identificar as
causas-raiz dos problemas que foram apontados na etapa anterior [...]”. Para tanto, os softwares
estatísticos são grandes aliados no processo, visto que auxiliam na construção dos cálculos e
gráficos necessários. Segundo Werkema (2004), várias são as ferramentas admissíveis nessa
etapa, como: Histograma, Pareto, Diagrama de Causa-Efeito, Diagrama de Dispersão,
Estratificação, entre outras.
▪ Etapa 4 – Improve (Melhorar)
Após identificar as causas-raiz do problema na etapa anterior, o próximo passo constitui-
se na formulação das soluções. Desenvolver recursos para as soluções potenciais, priorizá-las,
minimizar os riscos dessas soluções, e realizar um teste piloto são alguns dos passos da etapa
improve. (WERKEMA, 2004). Ferramentas como a Matriz de Priorização e o brainstorming
são muito utilizados nessa etapa. (TRAD, 2006).
▪ Etapa 5 – Control (Controlar)
Trad (2006, p. 45) descreve: “O propósito da etapa Controlar do DMAIC é assegurar
que os ganhos obtidos na etapa Melhorar sejam perpetuados na organização. Para isso, é
importante a continuidade das medições por algum tempo [...]”. Caso a meta seja alcançada, é
imprescindível que a organização padronize o processo, objetivando a melhoria contínua.
Carvalho (2005) destaca que a criação de um sistema de medição é indispensável nessa fase. A
autora ainda ressalta que, neste momento, “[...] a equipe deve definir como serão feitos esses
26
controles e passar essa informação para os ‘donos do processo’ [...]”. (CARVALHO, 2005, p.
136).
2.3.4. Ciclo PDCA
Uma segunda alternativa no desenvolvimento dos projetos Seis Sigma é a aplicação do
método PDCA. Juntamente ao DMAIC, as duas metodologias têm sido muito empregadas no
gerenciamento de problemas. (AGUIAR, 2006).
Segundo Campos (1996, p. 262 apud ANDRADE, 2003, p. 10), “O PDCA é um método
de gerenciamento de processos ou de sistemas. É o caminho para se atingirem as metas
atribuídas aos produtos dos sistemas empresariais.” Tal método é composto de quatro etapas
dinâmicas e cíclicas que objetivam a melhoria contínua. A figura 4 ilustra o ciclo.
Figura 4 - Ciclo PDCA
Fonte: VALER (2015)
▪ Etapa 1 – Plan (Planejar)
A etapa de planejamento é a mais importante do ciclo, justamente por ser realizada
primeiramente, embasando todo o restante do processo. Um bom planejamento definirá a
eficácia futura do ciclo, fornecendo os dados necessários às etapas subsequentes. (ANDRADE,
2003). Para o cumprimento das premissas de planejamento, a etapa plan subdivide-se em quatro
estágios, sendo estes:
27
➔ Identificação do problema
Nesse estágio, a intenção é definir claramente o problema a ser tratado e estipular uma
meta geral. “Toda meta a ser definida deverá ser sempre constituída de três partes – objetivo
gerencial, prazo e valor [...]”. (ANDRADE, 2003, p. 23). O escopo do projeto e os
colaboradores envolvidos também são determinados nessa fase.
É interessante que a organização avalie qual é a real importância em tratar o problema
em questão. Nem todo projeto de melhoria é adequado para determinados momentos da
empresa, e projetos inadequados implicarão na decadência da obtenção de resultados.
➔ Análise do fenômeno
Valer (2015) enfatiza que essa fase contempla o estudo do fenômeno em questão. Tal
análise mostra-se imprescindível no reconhecimento das características específicas do
problema. A primeira análise a ser realizada consiste na estratificação do problema em versões
menores, a fim de investigá-lo sob uma visão clara e ampla. “A estratificação permite identificar
o foco com maior oportunidade de ganho, facilitando a adoção de medidas específicas para a
solução do problema.” (VALER, 2015, p. 55). Os pontos de vista da estratificação ainda podem
ser pautados nas seguintes categorias: tempo; local; tipo; sintoma. (ANDRADE, 2003).
➔ Análise do processo
A análise do processo consiste na identificação das causas potenciais dos problemas que
foram priorizados anteriormente. Nas análises iniciais, podem surgir inúmeras ideias para tais
causas. Logo, é interessante que toda a equipe envolvida no processo participe das reuniões de
debate (brainstormings), a fim de contribuir com os respectivos pontos de vista. (ANDRADE,
2003).
Durante o brainstorming, é muito comum que se utilize o Diagrama de Causa e Efeito
(Diagrama de Ishikawa). Andrade (2003, p. 45) descreve que esta ferramenta “[...] constitui-se
de um diagrama de registro de diversas causas de um problema, a partir da análise e
classificação das prováveis origens dessas causas [...]”. Outra ferramenta de uso comum é a
Matriz de Priorização, que tem como objetivo reduzir o número de causas potenciais, tornando
o processo de evidenciação menos trabalhoso. (VALER, 2015).
28
Ao fim do brainstorming, são apresentadas as causas que foram priorizadas. Elas serão
fundamentais na próxima etapa, onde a equipe envolvida no processo desenvolverá um plano
de ação com as devidas tratativas do problema.
➔ Estabelecimento do plano de ação
Com base nas decisões tomadas nas fases anteriores, é chegado o momento em que a
equipe deve estabelecer um plano com ações assertivas a fim de se alcançar a meta proposta.
Andrade (2003, p. 47) descreve que a organização deve “[...] definir seus meios próprios para
realizarem a implantação, considerando-se os recursos disponíveis e suas características
organizacionais.”
O plano de ação constitui-se, basicamente, de um cronograma com a delegação das
ações e da definição das tarefas. Uma das metodologias mais utilizadas no auxílio dessa
construção é a 5W1H. Tal metodologia baseia-se em seis perguntas em inglês que irão facilitar
a elaboração do plano. São estas: what (o que); when (quando); who (quem); where (onde); why
(por que); how (como). As respostas às perguntas resultarão num plano de ação instrutivo e
detalhado que deve ser difundido à toda equipe. (ANDRADE, 2003). A figura 5 ilustra um
exemplo da aplicação da metodologia.
Figura 5 - Exemplo de plano de ação construído com a metodologia 5W1H
Fonte: Adaptado de Andrade (2003)
29
▪ Etapa 2 – Do (executar)
➔ Implantação do plano de ação
A segunda etapa é a fase prática. “Nesta, todas as metas e objetivos traçados na etapa
anterior, e devidamente formalizados em um plano de ação, deverão ser postos em prática, de
acordo com a filosofia de trabalho de cada organização.” (ANDRADE, 2003, p. 53).
O autor ainda ressalta que a elaboração de um plano de ação bem estruturado na etapa
plan é essencial para que a etapa do apresente resultados satisfatórios. Dessa forma, é essencial
que haja uma supervisão eficaz na implantação das ações, a fim de corrigir qualquer desvio
observado. (VALER, 2015).
▪ Etapa 3 – Check (verificar)
➔ Verificação dos resultados
Valer (2015) descreve que essa etapa compreende a apuração dos resultados referentes
ao problema em questão, ou seja, a verificação do alcance da meta geral e das metas específicas.
A quantificação dos ganhos do projeto também é feita nessa fase, juntamente com a verificação
de quais ações foram eficazes e quais resultaram em baixo impacto.
▪ Etapa 4 – Act (agir)
➔ Padronização e manutenção dos resultados
Ao atingir a meta do projeto, é imprescindível que a organização padronize os
resultados, objetivando a melhoria contínua. Carvalho (2005, p. 136) descreve: “Nesta fase,
deve ser estabelecido e validado um sistema de medição e controle para medir continuamente
o processo de modo a garantir que a capacidade do processo seja mantida.”. A autora ainda
ressalta que, nesse momento, “[...] a equipe deve definir como serão feitos esses controles e
passar essa informação para os “donos do processo” [...]”. (CARVALHO, 2005, p. 136).
A não padronização pode acarretar um retorno aos patamares iniciais. Dessa forma, é
fundamental que os indicadores principais sejam controlados e monitorados pela equipe
responsável.
30
3. METODOLOGIA
Com a variabilidade dos preços do minério, as empresas do ramo têm focado cada vez
mais na otimização dos processos na área de mineração. Diversas ferramentas têm sido
desenvolvidas e aplicadas ao longo dos anos por especialistas da área, a fim de evidenciar quais
são as melhores oportunidades de ganho.
As atividades de perfuração e desmonte englobam uma cadeia extensa de variáveis,
principalmente, quando se considera que o resultado desse processo afeta, significativamente,
as etapas posteriores da mineração. A alta variabilidade do processo, geralmente, provoca uma
variabilidade dos custos. Todavia, Guazzelli (2013) explica que, por mais simples que seja uma
estimativa de custos, tal prática é de grande relevância na análise gerencial. As tendências e
associações entre esses números podem abrir portas para novas oportunidades de ganho e
otimização do método, além de indicar possíveis desperdícios no sistema.
3.1. ESTUDO DE CASO
O presente trabalho baseou-se na aplicação da ferramenta Seis Sigma como forma de
otimização do processo de perfuração e desmonte e redução de gastos em uma empresa de
mineração de ferro a céu aberto. O nome da empresa permanecerá conservado durante todo o
detalhamento do trabalho.
O estímulo inicial para o desenvolvimento do projeto teve fundamento na análise da
execução dos gastos da gerência em relação ao orçamento. Num período de um ano, observou-
se um estouro nesses números. Dessa forma, foi identificada uma oportunidade de ganho no
processo de perfuração e desmonte, que compreende um dos grupos de conta de maior
relevância na gerência em questão.
O início desse trabalho foi marcado pela elaboração de um mapa de raciocínio, de modo
a planejar e arquivar as ações a serem executadas durante todo o ciclo. O mapa compreende a
aplicação de todas as fases do ciclo PDCA.
31
3.2. IDENTIFICAÇÃO DO PROBLEMA
3.2.1. Detalhamento do problema
O alto gasto com o processo de perfuração e desmonte nas minas de referência foi o
problema-foco em questão. No período de jan/16 a jul/17, o levantamento de dados
relacionados aos gastos da gerência em questão evidenciou um estouro no orçamento previsto,
principalmente após o mês de julho (FIG. 6).
Figura 6 - Acompanhamento dos gastos da gerência (orçado x realizado)
Fonte: Mapa de raciocínio PDCA (2019)
A figura 7 a seguir ilustra a distribuição dos grupos de conta nesse mesmo período de
análise. Conforme a imagem, observa-se que os gastos com perfuração e desmonte
representaram o terceiro item em relação aos gastos com os demais grupos de conta,
equivalendo a 19,6% do total.
A não atuação no primeiro item (mão de obra direta e indireta) foi justificada pela
estratégia da gerência em manter o quadro de pessoal. Também não houve atuação no item 2
(óleo diesel) por ser considerada uma conta de baixa autonomia.
32
Figura 7 - Distribuição dos grupos de conta
Fonte: Mapa de raciocínio PDCA (2019)
3.2.2. Detalhamento do indicador
O indicador definido para acompanhar o andamento do projeto baseou-se no gasto total
com perfuração e desmonte em relação à massa detonada mensal, representado pela equação 2:
𝑅$
𝑡=
𝛴 (𝑅$𝑃𝑒𝑟𝑓𝑢𝑟𝑎çã𝑜 + 𝑅$𝐷𝑒𝑡𝑜𝑛𝑎çã𝑜)
𝛴 𝐷𝑒𝑡𝑜𝑛𝑎çã𝑜 (𝑡) (2)
Onde:
➢ R$ Perfuração = gasto com perfuração (manutenção, energia e ferramentas);
➢ R$ Detonação = gasto com detonação (explosivos, acessórios, entre outros);
➢ Detonação (t) = massa detonada com explosivos em toneladas.
Os dados de massa detonada foram extraídos dos relatórios de desmonte da companhia,
os quais são preenchidos diariamente pela equipe de blasters responsável. Estes relatórios são
33
auditados e passam por inspeções constantes do Exército Brasileiro. Todos os gastos referentes
ao processo foram repassados pela equipe de gestão econômica.
3.2.3. Análise do histórico
No período de jan/16 a jul/17, a média do indicador de gasto foi de R$0,79/t, variando
de R$0,52/t até R$1,10/t. A figura 8 demonstra que não houve nenhuma tendência definida no
indicador.
Figura 8 - Gasto com perfuração e desmonte no período de análise
Fonte: Mapa de raciocínio PDCA (2019)
O período de análise foi finalizado em jul/16, conforme indicado pela barra avermelhada
no gráfico. A partir daí, uma meta foi estabelecida e o desenvolvimento do projeto foi iniciado.
3.2.4. Avaliação da meta geral
Na utilização da ferramenta Seis Sigma, os desenvolvedores do projeto costumam
estabelecer a meta geral através da análise estatística dos dados ou por definição gerencial. No
caso estatístico, o método da lacuna e o método dos quartis são os mais utilizados.
Neste trabalho, inicialmente, optou-se pelo método dos quartis para a avaliação da meta,
com o auxílio do software MACROTAB. O gráfico de caixa (boxplot) é muito utilizado para
análise da variabilidade dos dados. A figura 9 apresenta o boxplot que foi elaborado para ilustrar
34
a variabilidade do gasto unitário (R$/t) geral das minas. Através dele, pôde-se obter os valores
de média, desvio padrão, mínimo, máximo, mediana, 1ºe 3º quartis.
Figura 9 - Boxplot do gasto unitário da tonelada desmontada
Fonte: Mapa de raciocínio PDCA (2019)
De acordo com o primeiro quartil, a meta do projeto seria estabelecida em cima dos 25%
das amostras coletadas, ou seja, R$0,61/t. Considerado pela equipe gerencial como um valor de
extremo desafio, a mesma optou por adotar uma meta de R$0,71/t.
3.3. ANÁLISE DO FENÔMENO
3.3.1. Planejamento das estratificações
Após o estabelecimento da meta, o problema passou por uma estratificação, a fim de se
obter informações de acordo com vários pontos de vista. Este trabalho teve como foco o estudo
em três minas da empresa em questão. Estas minas terão seus nomes preservados, portanto,
serão denominadas como A, B e C.
A estratificação do problema foi realizada na análise por mina. Para cada uma delas,
foram observados os gastos realizados com insumos de detonação – GID (ANFO; emulsão
bombeada; acessórios; fretes e serviços); gastos com ferramentas – GF, gastos totais de
manutenção – GTM; gastos de energia – GE; e quantidade de massa detonada em cada mina.
Número de dados Média Desvio Padrão Mínimo 1o. Quartil Mediana 3o. Quartil Máximo
19 0,79 0,18 0,52 0,61 0,77 0,90 1,10
35
3.3.2. Realização das estratificações
Os gráficos construídos na realização das estratificações possibilitaram uma análise
clara e ampla acerca dos gastos totais no processo de perfuração e desmonte no período de
análise. O primeiro estudo permitiu a comparação dos gastos (GID; GTM; GE; GF) em cada
mina. Essa classificação inicial foi de extrema relevância para o processo, visto que, cada uma
das três regiões possui uma série de particularidades em suas litologias.
As figuras a seguir ilustram os grupos de conta das minas A, B e C.
Figura 10 - Grupos de conta da mina A
Fonte: Mapa de raciocínio PDCA (2019)
Figura 11 - Grupos de conta da mina B
Fonte: Mapa de raciocínio PDCA (2019)
36
Figura 12 - Grupos de conta da mina C
Fonte: Mapa de raciocínio PDCA (2019)
Figura 13 - Grupos de conta geral das minas A, B e C
Fonte: Mapa de raciocínio PDCA (2019)
Observa-se no gráfico geral da figura 13 que os gastos de maior impacto são com
insumos de detonação e manutenção, representando 84% do gasto total do processo. Analisando
individualmente as minas, nota-se um padrão seguindo um comportamento semelhante. As
figuras 10, 11 e 12 demonstram que os grupos de conta da mina B são, em média, superiores
aos das minas A e C. Isto pode ser explicado pelo surgimento da alta demanda de massa
detonada nessa mina. Em consequência, os gastos com insumos de detonação, manutenção e
ferramentas também aumentaram (FIG. 14).
37
Figura 14 - Massa detonada nas minas A, B e C no período de análise
Fonte: Mapa de raciocínio PDCA (2019)
A figura 15 apresenta um novo comparativo do gasto total de perfuração e desmonte,
onde pôde-se perceber que a mina C apresenta o maior gasto unitário (R$/t) (média e mediana
superiores às demais minas). A mina A apresentou um desvio padrão de 0,51, sendo o menor
entre B (0,63) e C (0,62). Nenhum dos casos apontou a presença de outliers.
Figura 15 - Boxplot do gasto unitário (R$/t) por mina
Fonte: Mapa de raciocínio PDCA (2019)
3.3.3. Análise da variação dos focos
A análise estatística realizada acerca dos grupos de conta evidenciou que os gastos com
insumos de detonação e manutenção destacam-se perante o restante nas minas A, B e C (84,1%,
86,3% e 80,7% na frequência acumulada, respectivamente). Assim sendo, as variáveis GID e
GTM foram examinadas de forma minuciosa na análise da variação dos focos.
38
3.3.3.1. Gastos com insumos de detonação (GID)
Figura 16 - Boxplots dos gastos com insumos de detonação por mina
Fonte: Mapa de raciocínio PDCA (2019)
A figura 16 ilustra a variabilidade dos dados de GID em cada mina. Pode-se entender
que existe uma dispersão desses dados devido às altas amplitudes apresentadas. As minas A e
B demonstram uma distribuição assimétrica, visto que as respectivas medianas se distanciaram
do centro do retângulo. A média se aproximou da mediana somente para a mina C, onde também
é evidenciada a maior dispersão, com a amplitude variando entre R$28,8 mil a R$722,4 mil.
Em sequência, foi realizado um teste de hipóteses com o objetivo de testar a normalidade
da distribuição. Considerando um nível de significância (α) de 0,05, foi possível interpretar o
valor-p obtido no gráfico (FIG. 17).
Figura 17 - Gráfico de probabilidade normal de GID
Fonte: Mapa de raciocínio PDCA (2019)
1.210.816
261687,1
19,0
0,4
0,31
Média:
Desvio Padrão:
N:
Estatistica de Anderson-Darling (AD):
p-Valor:
39
O valor de N = 19,0 mostrado na figura está relacionado ao número de meses em que
foi feita a coleta das amostras (jan/16 a jul/17). A média dos gastos girou em torno de
R$1.210.816,00, com um desvio padrão de 261.687,1. Valer (2015) explica que um valor-p
superior a 0,10 indica que os dados seguem uma distribuição normal. Sendo assim, o valor-p
de 0,31 evidenciado no gráfico da figura 16 indica a aceitação dessa teoria estatística.
Outra análise realizada na variação dos focos foi a análise de desempenho, que
possibilitou observar a capacidade e o desempenho do processo (FIG. 18).
Figura 18 - Análise de desempenho de GID
Fonte: Mapa de raciocínio PDCA (2019)
De acordo com a figura 18, pôde-se observar que 73,68% dos dados representam itens
fora de conformidade, ou seja, apenas 26,32% das amostras estão dentro dos limites de
especificação.
Segundo Valer (2015), a melhor referência para os índices CPK e PPK é 1. Valores
superiores a 1 indicam que o processo possui capacidade de atender aos limites de
especificação, considerando a centralização e a dispersão dos dados. Dessa forma, um CPK de
-0,43 e PPK de -0,25 exibidos no gráfico indicam que o processo pode ser aprimorado.
Visto que a média dos dados não está compreendida dentro dos limites de especificação,
foi definido que o foco de atuação para GID seria no deslocamento desse parâmetro e na
redução da variabilidade.
LIE: 0,00
LSE: 1014645,37
Média 1210816,33
n amostral 19
DesvPad (Dentro): 152685,86
DesvPad (Global): 261687,15
Cp: 1,11
Cpu: -0,43
Cpl: 2,64
Cpk: -0,43
Pp: 0,65
Ppu: -0,25
Ppl: 1,54
Ppk: -0,25
< LIE: 0,00% < LIE: 0,00% < LIE: 0,00%
> LSE: 73,68% > LSE: 90,06% > LSE: 77,33%
Total: 73,68% Total: 90,06% Total: 77,33%
Dados do Processo
Capacidade Potencial (Within)
Capacidade Global (Overall)
Observado Global Esperado (Overall)Dentro Esperado (Within)
Desempenho
1014645,371
0
1
2
3
4
5
6
7
274390,39 531290,39 788190,39 1045090,39 1301990,39 1558890,39 1815790,39 2072690,39 2329590,39 2586490,39
Fre
qüência
Pressão
Análise de Desempenho - GID
40
3.3.3.2. Gastos totais de manutenção (GTM)
A mesma metodologia adotada para os gastos com insumos de detonação foi aplicada
aos gastos totais de manutenção, sendo esta compreendida pela análise de variabilidade, teste
de normalidade e análise de desempenho do processo.
A figura 19 a seguir ilustra o conjunto de boxplots dos gastos totais de manutenção por
mina.
Figura 19 - Boxplots dos gastos totais de manutenção por mina
Fonte: Mapa de raciocínio PDCA (2019)
Os gastos totais de manutenção também apresentaram dispersão nos dados,
principalmente na mina C, com a mais alta amplitude (máximo de R$326,2 mil e mínimo de
R$16,4 mil). As três distribuições podem ser consideradas assimétricas devido à distância entre
as medianas e o centro dos retângulos. Nessa análise, pôde-se evidenciar a presença de um
outlier de R$408,5 mil na mina B.
Para o teste de normalidade de GTM também foi considerado um nível de significância
(α) de 0,05. A figura 20 descreve o gráfico de probabilidade normal desses dados.
41
Figura 20 - Gráfico de probabilidade normal de GTM
Fonte: Mapa de raciocínio PDCA (2019)
O valor-p de 0,27 mostrado na figura 20 evidencia a presença de uma distribuição
normal dos dados (superior a 0,1), assim como ocorrido para os gastos com insumos de
detonação.
A figura 21 a seguir apresenta a análise de desempenho realizada em torno de GTM.
Figura 21 - Análise de desempenho de GTM
Fonte: Mapa de raciocínio PDCA (2019)
A mesma conclusão obtida com base nos limites de especificação para GID pode ser
descrita para GTM: 73,68% dos dados representam itens fora de conformidade, ou seja, apenas
425.921,40
164847,7
19,0
0,4
0,27
N:
p-Valor:
Média:
Desvio Padrão:
Estatistica de Anderson-Darling (AD):
42
26,32% das amostras estão dentro dos limites de especificação. Em relação a CPK e PPK, pôde-
se perceber que houve uma variação baixíssima quando comparados aos índices de GID. Ambos
valores permaneceram negativos, evidenciando uma janela de oportunidade para melhoria do
sistema.
Os limites de especificação desse caso também não englobam a média. Dessa forma, o
foco de atuação para GID e GTM foi o mesmo: deslocamento do parâmetro e redução da
variabilidade dos dados.
3.3.4. Definição das metas específicas
Como referenciado na análise de variação dos focos, os gastos com insumos de
detonação e manutenção apresentaram-se como os mais notáveis. Desta maneira, ambos foram
definidos como os focos de atuação do projeto.
O método da lacuna foi utilizado inicialmente para estabelecimento das metas
específicas. Este método considera o seguinte cálculo:
1 - Valor da média subtraído do melhor valor (menor gasto observado R$/t);
2 - Valor obtido no passo 1 dividido por 2;
3 - Valor obtido no passo 2 somado ao melhor valor (menor gasto observado R$/t).
➔ Para os gastos com insumos de detonação, temos:
1 - R$0,48/t (média) – R$0,34/t (melhor valor) = R$0,14/t;
2 - R$0,14/t / 2 = R$0,07/t;
3 - R$0,07/t + R$0,34/t = R$0,41/t.
Considerando que este foco depende das variações litológicas locais, a equipe
colaboradora do projeto optou por uma meta de R$0,45/t (FIG. 22).
➔ Para os gastos totais de manutenção, temos:
1 – R$0,18/t (média) – R$0,07/t (melhor valor) = R$0,11/t
2 – R$0,11/t / 2 = R$0,055/t
3 – R$0,055/t + R$0,07/t = R$0,12/t
43
A meta para este gasto foi de R$0,12/t, de acordo com o método da lacuna (FIG. 23).
Figura 22 - Evolução do indicador de GID e meta específica
Fonte: Mapa de raciocínio PDCA (2019)
Figura 23 - Evolução do indicador de GTM e meta específica
Fonte: Mapa de raciocínio PDCA (2019)
44
3.4. ANÁLISE DO PROCESSO
3.4.1. Detalhamento do processo de perfuração e detonação
Figura 24 - Mapa do processo de perfuração e detonação
Fonte: Mapa de raciocínio PDCA (2019)
y: Dimensionamento de carga no furo y: Fragmentação do material y: Fragmentação do material
X R - Demora na conferência dos furos e
medições
X R - Furos com água não identificados
X C - Falta de explosivos na fábrica
X R - Perfuração mal executada X R - Ultralançamento de material Y R - Geração de blocos
X R - Quebra do caminhão bombeado na
praça
X C - Falta de justificativas para perda de
furos
X R - Dificuldades na distribuição de
explosivos (perfilagem do furo)
X C - Apropriação de gastos de desmonte
sem maiores detalhes para estratificação
X C - Perda de furosX C - Demora na confecção do plano de
fogo/relatório
Y R - Repé na área devido à má fragmentação
do material
X C - Falta de explosivosX R - Falha na revisão e análise do plano de
fogo/relatório pelo blasterY R - Ejeção de tampão
X R - Furos fora de especificação X R - Não entrega do cartão de bloqueio
X R - Otimização de carga na última linha X C - Massa detonada abaixo da meta
X R - Uso incorreto do tipo de
explosivo/acessório
X R - Impedimento do desmonte devido à
equipamento quebrado na frente
X C - Informações de nº de furos X R - Equipamento quebrado no raio de fogo
PP: Produto em Processo: Carregamento de Furos
CARREGAMENTO
PP: Produto em Processo: Material Desmontado
DETONAÇÃO
PP: Produto em Processo: Carga e Transporte
LAVRA
y: Má qualidade dos furos
X R - Perfuração fora do planoX R - Falha de interpretação/leitura da
diretrizX C - Falha no apontamento de informações
de perfuração do avanço
X C - Falta de hardware e software de
perfuração
X C - Equipamentos e recursos depreciados
X C - Mau dimensionamento dos operadores
entre as turmasX C - Demora para iniciar a atividade
X C - Disponibilidade de equipamentos
y: Dimensões da frente/poligonal y: Presença de blocos, nivelamento
X R - Curto prazo para entrega do material
X R - Disponibilização de frente
X R - Falta de previsibilidade para liberação
de frentes
X C - Densidade pode estar inconsistente
X R - Falha de comunicação no recebimento
do turno
X C - Falta de operador
X C - Baixa produtividade de PF
X R - Falta de disponibilização de frente
X C - Falta de transporte
X C - Disponibilidade de equipamentos
X C - Falta de trator para limpeza de praça
X R - Descumprimento do plano de
manutenção
X R - Falta de diagnostico das falhas para a
operação
X C - Falta de informações para auxilio na
tomada de decisão
X R - Desmontar área fora do plano sem lavrar
X R - Falta de disponibilização de frente
X R - Falta de previsibilidade
X R - Falha de comunicação no recebimento do
turno
X R - Ausência das coordenadas de
perfuração / desmonte
X R - Frente próxima à rede elétrica
X R - Frente próxima à poços
X R - Lavra seletiva
X R - Falta de critério para designação
X C - Falta de carreta/prancha
X C - Falta de marcação de malha de
perfuração
X C - Demora na troca de turno
X C - Perda de ferramentas de perfuraçãoX R - Vazamento de combustível
X R - Executar perfuração utilizando
parâmetros incorretos
X R - Não checagem da condição da
qualidade dos furos após a perfuração
X R - Operador não apropriar o equipamento
corretamente
X R - Perda de furos por falta de conferência
durante a atividade
X C - Subfuração errada/falta de
profundímetro
X C - Alto consumo de combustível
PP: Produto em Processo: Frente preparada
PREPARAÇÃO DA FRENTE
PP: Produto em Processo: Frente Liberada
PLANEJAMENTO
PP: Produto em Processo: Área Perfurada
PERFURAÇÃOINÍCIO
PP
PF
x
Y
y
C
R
Variáveis que interferem no processo
LEGENDA
Produto em processo
Produto final
Parâmetro do produto final
Parâmetro de processo controlado
Parâmetro de processo ruído
Parâmetro do produto em processo
45
A figura 24 descreve como ocorre, sequencialmente, o processo de perfuração e
detonação das minas A, B e C. A etapa consecutiva ao mapeamento compreende o levantamento
das causas potenciais do problema em questão. Dessa forma, é imprescindível que o processo
seja descrito em sua forma real, auxiliando na identificação das oportunidades de melhoria.
Os parâmetros dos processos foram diagnosticados em campo e em brainstormings
envolvendo a equipe técnica. A primeira etapa da construção do mapa consistiu na elaboração
do fluxograma do processo gerador do problema. Posteriormente, foram definidos quais eram
os produtos em processo e os seus respectivos parâmetros. A classificação entre parâmetros de
ruído e parâmetros controlados foi realizada em seguida.
Foram identificados 30 parâmetros controlados. A variável controlada do processo é
ajustada em um valor pré-determinado e mantida em torno deste. Já a variável de ruído não
pode ser controlada ou não se controlava até o momento do desenvolvimento do projeto. Destas,
foram identificadas 36, gerando um total de 66 parâmetros no processo de perfuração e
detonação.
3.4.2. Detalhamento do processo de manutenção das perfuratrizes
Figura 25 - Mapa de processo de manutenção de perfuratriz
Fonte: Mapa de raciocínio PDCA (2019)
y: Liberação da perfuratriz y: Operação de Perfuratriz
X R - Falta de insumos (óleos, lubrificantes...)X R - Diagnóstico do motivo da falha não chega ao
operador
X R - Não parar equipamento ao identificar uma falha
X R - Alto consumo de lubrificantes
X R - Recebimento de peças danificadas do
fornecedor
X R - Falta de manutenção preventiva
PP: Produto em Processo
LIBERAÇÃO
PP: Produto em Processo
OPERAÇÃO
y: Ordens de serviço (O.S.) y: Ferramentas e peças y: Defeito no equipamento
X R - O.S. aberta de forma errada X R - Demora na entrega de peças pelo fornecedor X R - Falta de insumos (óleos, lubrificantes...)
X R - O.S. não aberta X R - Peças erradas X R - Dificuldades no diagnostico da falha
X C - BackLog X R - Equipamento parado por falta de orçamento X R - Demora na entrega de peças pelo fornecedor
X R - Não substituição de componentes no fim de
vida útil
X R - Recebimento de peças danificadas do
fornecedorX R - Falta de manutenção preventiva
PP: Produto em Processo
PLANEJAMENTO
PP: Produto em Processo
MANUTENÇÃO NA PERFURATRIZ
PP: Produto em Processo
ALOCAÇÃO DE RECURSOSINÍCIO
PP
PF
x
Y
y
C
R
Variáveis que interferem no processo
LEGENDA
Produto em processo
Produto final
Parâmetro do produto final
Parâmetro de processo controlado
Parâmetro de processo ruído
Parâmetro do produto em processo
46
A construção do mapeamento de processo de manutenção seguiu a mesma metodologia
do mapeamento de perfuração e detonação. No entanto, o número total de parâmetros
identificados neste caso foi bem inferior ao se comparar os dois levantamentos. 18 variáveis
foram mapeadas, sendo 17 de ruído e apenas 1 controlada (FIG. 25).
3.4.3. Levantamento das causas
O próximo passo consistiu no levantamento das causas potenciais do problema. Para
cada foco de atuação, a equipe técnica realizou os brainstormings necessários a fim de
identificar quais as causas principais levavam ao alto gasto com insumos de detonação e
manutenção. Para auxílio na junção das ideias, foram elaborados dois diagramas de Ishikawa,
ilustrados nas figuras 26 e 27.
Figura 26 - Diagrama de Ishikawa: alto gasto com insumos de detonação
Fonte: Mapa de raciocínio PDCA (2019)
Alto gasto com insumos de detonação
Matéria prima Máquina Mão de obra
Medidas Método
Desmontar área fora do plano e depois não lavrar
Falta de disponibilização de frente
DF de equipamentos (caminhão de explosivos)
Baixa produtividade de PF
Descumprimento do plano de manutenção
Falta de insumos na fábrica
Falta de disponibilização de frente
Falta de marcação de malha de perfuração
Falta de carreta/prancha
Previsibilidade da liberação das frentes
Falta de operador
Falha de comunicação no recebimento do turno
Apropriação de gastos sem maiores detalhes para extratificação
Densidade pode estar inconsistente
Frente próxima à rede elétrica
Frente próxima à poços
Falta de medição topográfica
47
Figura 27 - Diagrama de Ishikawa: alto gasto com manutenção
Fonte: Mapa de raciocínio PDCA (2019)
Para a construção de ambos diagramas, foram consideradas 5 das categorias originais
do método, sendo estas: matéria prima; máquina; mão de obra; medidas; e método.
3.4.4. Priorização das causas
Antes de partir para a elaboração do plano de ação, as causas potenciais do problema
foram priorizadas de modo a garantir a assertividade na seleção. As causas apresentadas no
diagrama de Ishikawa passaram por um desdobramento e receberam critérios de priorização,
sendo estes: detectividade (quão detectável é a causa); severidade (quão severa é a causa);
ocorrência (qual a frequência da causa); e amplitude (em quais minas ocorre a causa).
Para cada um dos critérios, foi atribuído um peso na escala de 5 a 10. Além disso, a
intensidade das relações entre as causas e os critérios foi avaliada utilizando a seguinte escala:
0 – ausência de correlação; 1 – correlação fraca; 3 – correlação moderada; 5 – correlação forte.
Para cada causa, multiplicou-se o grau de correlação pelo peso do critério de priorização. Os
resultados somados foram lançados na coluna “total”.
As figuras 28 e 29 ilustram a matriz de priorização citada no parágrafo anterior, dividida
em duas partes.
X48
X49
X50
X51
X52
X53
X54
X55
X56
X57
X58
X59
X60
X61
X62
X63
X64
X80
X81
Alto gasto com manutenção
Matéria prima Máquina Mão de obra
Medidas Método
Não parar equipamento ao identificar uma falha
Equipamento liberado próximo à troca de turno
Equipamento liberado com pendências
Não parar equipamento ao identificar uma falha
Diagnóstico do motivo da falha não chega ao operador
Alto consumo de lubrificantes
Falta de diagnóstico das falhas e reparos nos equipamentos (feedback)
O.S. aberta de forma errada
Demora na entrega de peças pelo fornecedor
Falta de insumos (óleos, lubrificantes...)
Recebimento de peças danificadas do fornecedor
BacklogEquipamento parado por falta de orçamento
O.S. não aberta
Peças erradas
48
Figura 28 - Parte I da matriz de priorização das causas
Fonte: Mapa de raciocínio PDCA (2019)
49
Figura 29 - Parte II da matriz de priorização das causas
Fonte: Mapa de raciocínio PDCA (2019)
3.4.5. Causas a serem tratadas
A elaboração da matriz de priorização possibilitou uma visualização crítica e ampla de
todos os fatores que influenciam diretamente no processo. Com a pontuação atribuída a cada
variável, foi possível analisar e filtrar as causas de maior impacto. A equipe técnica decidiu por
atuar em 14 causas, dentre as 81 levantadas na matriz. São estas:
▪ X2 - Falta de previsibilidade para liberação de frentes
Durante análise, foi notada a ausência das informações prévias sobre a liberação das
frentes de perfuração no plano de lavra mensal e no plano de fogo. A falta de previsibilidade
acarreta o surgimento de outros problemas, como a dificuldade de alocação de recursos de
topografia na marcação do polígono, execução de furos fora do plano e necessidade de
deslocamento do equipamento até a frente de perfuração (pela dificuldade em aguardar o
transporte em prancha). Tal deslocamento gera alto desgaste nas esteiras e no material rodante
da máquina. A figura 30 ilustra um exemplo de plano de lavra mensal, onde a única informação
a respeito das frentes é sobre a previsão da massa retirada. Os avanços de perfuração não estão
contemplados e nem previstos no plano.
50
Figura 30 - Previsão de massa por avanço no plano de lavra de jan/18
Fonte: Mapa de raciocínio PDCA (2019)
▪ X10 - Disponibilidade de equipamentos (baixa preventiva de PF's)
Ao comparar os dados históricos do Fator de Manutenção Preventiva (FMP) com o Fator
de Manutenção Corretiva (FMC), foi possível observar uma tendência ascendente da curva de
FMC (FIG. 31). A baixa ação preventiva nas perfuratrizes, muitas vezes, pode desencadear
problemas mais agressivos à máquina, como altos desgastes a ponto de ser necessário o descarte
da peça. Uma boa prevenção evita os altos gastos com a correção.
Figura 31 - Comparativo entre FMC e FMP (2016 a 2017)
Fonte: Mapa de raciocínio PDCA (2019)
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
jan
/16
fev/
16
mar
/16
abr/
16
mai
/16
jun/
16
jul/
16
ago
/16
set/
16
out/
16
nov/
16
de
z/1
6
jan/
17
fev/
17
mar
/17
abr/
17
mai
/17
jun/
17
jul/
17
ago
/17
set/
17
out/
17
nov/
17
dez/
17
Fator de Manutenção - FMC x FMP (Tendência)
FMCM.M.
FMPM.M.
Linear (FMCM.M.)
Linear (FMPM.M.)
51
▪ X13 - Falta de diagnóstico das falhas para a operação
Em entrevista em campo, os operadores responderam um questionário a respeito da falta
de recebimento do diagnóstico das falhas após as perfuratrizes serem liberadas pela manutenção
(FIG. 32). Ao analisar as respostas dos questionários, foi identificado que essa ausência na
comunicação era frequente nas minas. Foi considerado pela equipe técnica a importância da
ciência do operador acerca do que foi feito no equipamento. O diagnóstico das falhas, quando
divulgado, possibilita que a operação atue juntamente com a manutenção, evitando futuras
quebras na máquina.
Figura 32 - Questionário 002 realizado em campo com os operadores
Fonte: Mapa de raciocínio PDCA (2019)
▪ X27 - Falta de carreta/prancha
Os fornecedores de equipamentos de esteira não indicam que seja feito o deslocamento
dessas máquinas sem que seja num transporte em pranchas, com exceção para distâncias curtas.
Como mencionado na causa X2, a falta de carreta/prancha faz com que as perfuratrizes se
desloquem sem o devido apoio, gerando desgastes prematuros nas esteiras e no material
rodante, levando o equipamento à quebra. A figura 33 ilustra a perda financeira ocorrida nos
52
anos de 2016 e 2017 com o deslocamento das perfuratrizes. É possível observar um
comportamento ascendente da linha de tendência, indicando que, na ausência de uma tratativa,
o problema tende a se expandir com o passar dos anos.
Figura 33 - Perda financeira com o deslocamento das perfuratrizes em 2016 e 2017
Fonte: Mapa de raciocínio PDCA (2019)
▪ X34 - Falha no apontamento de informações de perfuração do avanço
Todas as informações acerca das operações de perfuração são lançadas no sistema de
despacho que é instalado em cada perfuratriz. Alguns parâmetros são essenciais, e seu
acompanhamento é imprescindível para que a equipe técnica avalie e aponte as anomalias do
processo, bem como as oportunidades de redução de gastos. No estudo do relatório de aderência
de perfuração e desmonte, notou-se que muitos itens estavam fora de conformidade, como
exemplo, o número de furos detonados por avanço, a produtividade das perfuratrizes, a
profundidade de cada furo, e até mesmo a litologia identificada pelo operador. A empresa em
questão a adota uma referência de execução de 150 furos, no máximo, por avanço. Este
parâmetro foi definido conforme as condições ergonômicas da equipe de auxiliares. A figura
34 ilustra parte de um levantamento realizado em 2016 e 2017, apontando um nº de furos
executado muito além do que é padronizado pela equipe ergonômica.
53
Figura 34 - Levantamento do nº de furos em 2016 e 2017
Fonte: Mapa de raciocínio PDCA (2019)
▪ X40 - Subfuração errada/falta de profundímetro (10% da profundidade prevista)
Nas minas de estudo, a prática da furação com 1 metro a mais de subfuração é muito
comum, independente da profundidade exigida nas diretrizes. Entretanto, considera-se correto
que a subfuração obedeça a 10% da profundidade desejada. Na análise realizada, considerou-
se como desvio qualquer subfuração acima de 10%. Foi identificada uma perda de mais de
R$530.000,00 nos anos de 2016 e 2017 considerando a subfuração em excesso (FIG. 35).
Figura 35 - Perda com subfuração em excesso em 2016 e 2017
Fonte: Mapa de raciocínio (2019)
PF1 PF2 PF3 PF4 PF5 TOTAL
54
▪ X43 - Perda de furos
Diversos fatores levam à perda de furos, como a perfuração no extremo do offset,
perfuração fora do plano de lavra, má qualidade da perfuração, presença de material muito
friável, altos índices de pluviometria, entre outros. Num levantamento realizado nos anos de
2016 e 2017, foi identificada uma perda econômica de mais de R$640.000,00 com a perda de
furos de perfuração (FIG. 36). É imprescindível que haja uma inspeção por parte do operador
durante a execução dos furos. A aderência ao plano de lavra e às diretrizes também é um
controle essencial para que sejam visualizadas as oportunidades de melhoria.
Figura 36 - Perda financeira de furos em 2016 e 2017
Fonte: Mapa de raciocínio (2019)
▪ X48 - Informações de nº de furos inconsistente
O número total de furos executados, geralmente, é informado pelo próprio operador, via
rádio ou via sistema de despacho. Cada avanço de perfuração contém um código pré-
determinado, e no momento do lançamento desses furos, o operador faz uma apropriação junto
ao código do avanço em questão. Um erro comum dessa prática é o apontamento inconsistente
dos furos entre os avanços. Um levantamento realizado em 2016 mostrou que, dos 37.118 furos
perfurados, apenas 15.052 foram detonados. Isto indica uma aderência de 40,6%. Já no ano de
2017, 12.537 furos foram detonados, dos 42.340 perfurados, apontando uma aderência de
PF1 PF2 PF3 PF4 PF5 TOTAL
55
34,7% (FIG. 37). Considerada baixa pela equipe envolvida no processo, a aderência de
perfuração foi apontada como uma das prioridades nas tratativas posteriores.
Figura 37 - Aderência de perfuração em 2016 e 2017
Fonte: Mapa de raciocínio (2019)
▪ X49 - Furos fora de especificação
A causa X49 assemelha-se à causa X40. Após um estudo da quantificação das perdas
financeiras nas atividades de perfuração, foram identificadas algumas oportunidades de
melhoria acerca da assertividade na especificação dos furos, como diâmetro, profundidade e
subfuração.
▪ X76 - Diagnóstico do motivo da falha não chega ao operador
A causa X76 assemelha-se à causa X13. As entrevistas em campo que foram
mencionadas anteriormente evidenciaram uma observação dos operadores em relação à análise
de falha dos equipamentos. Muitas vezes, as perfuratrizes sofrem um dano por motivos
operacionais. Seguidamente, é encaminhada para a manutenção, retorna ao campo, e o operador
não recebe um retorno acerca do problema. Diante disso, o primeiro passo foi promover a
interação entre as equipes técnicas de operação e manutenção com reuniões quinzenais. O
próximo capítulo abordará os resultados que foram alcançados a partir da otimização na
comunicação da equipe.
40,6%
29,6%34,7%
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
0
10.000
20.000
30.000
40.000
50.000
60.000
70.000
80.000
90.000
2016 2017 Total
Furos Perf. Furos Det. Aderência
56
▪ X9 - Ausência das coordenadas de perfuração / desmonte
A conferência das coordenadas de perfuração antes e depois do processo executado tem
a finalidade de medir a aderência ao plano de perfuração, evidenciando furos fora do plano.
Como mencionado nas causas X34 e X48, é fundamental que todos os dados referentes ao
processo sejam lançados no sistema, trazendo confiabilidade e assertividade nas análises de
aderência, além de possibilitar a identificação de desperdícios.
▪ X14 - Falta de informações para auxílio na tomada de decisão
Diante de outra entrevista realizada em campo (FIG. 38), um dos fatos levantados pelos
colaboradores foi a respeito da falta de informação disponibilizada à equipe acerca dos gastos
com perfuração e desmonte. Um exemplo prático é a locomoção desnecessária das
perfuratrizes, que gera desgaste nas esteiras e no material rodante. Expor o gasto horário dos
equipamentos ao executante possibilita a criação de uma visão crítica, evitando assim que as
práticas de desperdício voltem ao cenário de operação.
Figura 38 - Questionário 001 realizado em campo com os operadores
Fonte: Mapa de raciocínio PDCA (2019)
57
▪ X80 - Alto consumo de combustível
Nos anos de 2016 e 2017 foi observada uma tendência ascendente do indicador de
consumo de combustível das perfuratrizes (FIG. 39). Esse fenômeno pode ser causado pela
baixa calibragem do motor da máquina, operação incorreta, e até mesmo pelo dano nas válvulas
que compõem o motor. Os gastos com energia não foram priorizados nesse projeto. No entanto,
o tratamento dessa causa foi identificado como uma oportunidade de economia.
Figura 39 - Evolução do consumo médio de combustível das perfuratrizes
Fonte: Mapa de raciocínio PDCA (2019)
▪ X81 - Massa detonada abaixo da meta
No período de jan/16 a mai/17, um comparativo realizado identificou que, em alguns
meses, a massa dimensionada para detonação superou a massa realizada. Visto que o indicador
do projeto contempla a massa e os gastos com perfuração e desmonte, pode-se concluir que,
mantendo constante os gastos totais do processo e aumentando a quantidade em toneladas
desmontadas com explosivos, menor será o gasto unitário (R$/t). Dessa forma, é imprescindível
que se priorize o desmonte com os explosivos e a aderência ao plano. A figura 40 ilustra a
evolução da massa detonada no período em questão.
58
Figura 40 - Comparativo massa dimensionada x massa realizada
Fonte: Mapa de raciocínio PDCA (2019)
3.5. ESTABELECIMENTO DO PLANO DE AÇÃO
Para cada uma das 14 causas selecionadas, foram levantadas as possíveis soluções a
serem implantadas pela equipe técnica. Um plano de ação 5W2H foi desenvolvido a fim de
obter resultados satisfatórios para cada causa do problema em questão (TAB. 2). Essa
ferramenta é composta dos seguintes itens:
➔ What (o que?): solução a ser implantada;
➔ When (quando?): prazo para implantação da solução;
➔ Who (quem?): responsável pela implantação da solução;
➔ Where (onde?): local onde será implantada a solução;
➔ Why (por quê?): motivo da implantação da solução;
➔ How (como?): detalhamento de como a solução será implantada;
➔ How much (quanto custa?): quanto custará a implantação da solução.
59
Tabela 2 - Plano de ação
Fonte: Mapa de raciocínio PDCA (2019)
60
3.6. IMPLANTAÇÃO DO PLANO DE AÇÃO
Como explicitado no plano de ação, 26 soluções foram propostas para tratar as 14 causas
levantadas. Algumas soluções não puderam ser implantadas, seja pela indisponibilidade de
recurso financeiro ou pela dependência de equipes de outras áreas. Abaixo, seguem algumas
das ações que puderam ser executadas.
▪ Fechamento das áreas de perfuração com leiras de contenção
Essa ação partiu da conscientização da equipe técnica em reforçar nas diretrizes a
importância da proteção das frentes de perfuração. A contenção das áreas com leiras passou a
evitar que a água pluvial adentrasse as praças perfuradas, reduzindo a perda de furos pela
presença de intempéries (FIG. 41).
Figura 41 - Reforço na proteção das áreas perfuradas
Fonte: Arquivo interno (2019)
▪ Coleta das coordenadas de perfuração com uso do HPGPS
A aquisição de um HPGPS (High Precision Global Positioning System) possibilitou a
coleta das coordenadas da frente marcada antes de iniciar a perfuração e antes da detonação,
garantindo a aderência do avanço e a evidência de furos fora do plano (FIG. 42).
61
Figura 42 - Kit HPGPS (coletor e receptor)
Fonte: Arquivo interno (2019)
▪ Instalação do limitador de aceleração das perfuratrizes
O limitador de aceleração das perfuratrizes trouxe uma melhoria significativa no
consumo de combustível desses equipamentos sem comprometer a sua produtividade (FIG. 43).
Após a realização dos testes, foi identificada uma economia de 15 mil litros de diesel
considerando as perfuratrizes de grande porte.
Figura 43 - Limitador de aceleração instalado nas perfuratrizes
Fonte: Arquivo interno (2019)
▪ Controle para confecção de polígonos de perfuração
A plotagem dos polígonos de perfuração possibilitou o lançamento dos dados
provenientes do HPGPS e a interpretação destes por parte da equipe técnica. Com esse controle,
os polígonos puderam ser inclusos nas diretrizes (FIG. 44).
62
Figura 44 - Controle de confecção de polígonos de perfuração
Fonte: Arquivo interno (2019)
▪ Mapeamento das áreas com risco de colapso de furos
Com o mapeamento das áreas de litologias detonáveis e não detonáveis, foi possível
selecionar quais os avanços de perfuração com características mais friáveis nas minas. Ao se
realizar o desmonte mecânico nessas áreas, evita-se a perda dos furos por colapso do material
muito friável (FIG. 45).
Figura 45 - Mapeamento dos avanços de lavra por desmonte mecânico
Fonte: Arquivo interno (2019)
63
▪ Controle de checklist na liberação dos equipamentos
A criação do checklist para inspeção dos operadores antes e após a entrega dos
equipamentos à manutenção possibilitou a redução dos gastos com a manutenção corretiva.
Este controle evitou a recorrência das manutenções nas perfuratrizes pelos mesmos motivos
pois, com o checklist preenchido pelos operadores, é possível observar se as pendências estão
sendo sanadas periodicamente (FIG. 46).
Figura 46 - Controle de checklist na liberação de equipamentos
Fonte: Arquivo interno (2019)
▪ Divulgação das principais perdas financeiras com o processo de perfuração
Com o fechamento de 2018, a equipe envolvida no projeto optou por desenvolver um
relatório financeiro com o propósito de expor as principais perdas financeiras com a atividade
de perfuração e estimular a criação das devidas tratativas para os desvios mapeados. O relatório
foi remetido à toda gerência.
INSPEÇÃO PARA ENTREGA E RETIRADA NA MANUTENÇÃO
64
As figuras 47 e 48 ilustram parte das informações contidas no relatório.
Figura 47 - Principais motivos de perda de furos em 2018
Fonte: Arquivo interno (2019)
Figura 48 - Perdas econômicas com perfuração em 2018
Fonte: Arquivo interno (2019)
65
4. RESULTADOS E DISCUSSÕES
A implementação das soluções propostas no plano de ação possibilitou a análise dos
ganhos reais do projeto. Os resultados subdividem-se em alcance da meta global, alcance das
metas específicas e criação de novos padrões na área.
4.1. ALCANCE DA META GLOBAL
No período de verificação do projeto, foi possível observar que a média do gasto unitário
da tonelada evoluiu de R$0,79/t para R$0,62/t, superando a meta global de R$0,71/t. O desvio
padrão da distribuição evoluiu de 0,18 para 0,08, e a porcentagem dos dados fora da
especificação foi reduzida em 75%.
A figura 49 ilustra o progresso do indicador, desde o período de análise (jan/16 a jul/17)
até o período de verificação (out/18 a dez/18).
Figura 49 - Progresso do indicador de gasto unitário da tonelada desmontada
Fonte: Mapa de raciocínio PDCA (2019)
4.2. ALCANCE DAS METAS ESPECÍFICAS
Foram definidas duas metas especificas no projeto: R$0,45/t para os gastos com insumos
de detonação e R$0,12/t para os gastos totais de manutenção.
Para os gastos com manutenção, a média do período de análise evoluiu de R$0,18/t para
R$0,09/t no período de verificação, superando a meta estabelecida. Já para os gastos com
insumos de detonação, o sucesso alcançado não atingiu a meta, evoluindo de R$0,48/t para
0,30
0,50
0,70
0,90
1,10
1,30
jan
/16
fev
/16
ma
r/1
6
ab
r/1
6
ma
i/1
6
jun
/16
jul/
16
ago
/16
set/
16
ou
t/1
6
no
v/1
6
de
z/1
6
jan
/17
fev
/17
ma
r/1
7
ab
r/1
7
ma
i/1
7
jun
/17
jul/
17
ago
/17
set/
17
ou
t/1
7
no
v/1
7
de
z/1
7
jan
/18
fev
/18
ma
r/1
8
ab
r/1
8
ma
i/1
8
jun
/18
jul/
18
ago
/18
set/
18
ou
t/1
8
no
v/1
8
de
z/1
8
R$/
t
Início do projeto Realizado Meta Gerencial
PERÍODO DE
VERIFICAÇÃO
= R$0,62/t
66
R$0,46/t. O resultado geral pôde ser justificado pelo número de ações do plano que foram
desenvolvidas para a equipe de manutenção. Parte das ações voltadas para os gastos com
detonação não puderam ser efetivadas, como mencionado anteriormente.
As figuras 50 e 51 ilustram a evolução do indicador de ambos focos.
Figura 50 - Evolução do gasto unitário com insumos de detonação
Fonte: Mapa de raciocínio PDCA (2019)
Figura 51 - Evolução do gasto unitário com manutenção
Fonte: Mapa de raciocínio PDCA (2019)
As figuras 52 e 53 ilustram o comparativo do indicador de gasto unitário para as quatro
categorias (GID, GTM, GE e GF) entre o período de análise e o período de verificação.
PERÍODO DE
VERIFICAÇÃO
PERÍODO DE
VERIFICAÇÃO
67
Figura 52 - Gasto unitário por categoria no período de análise
Fonte: Mapa de raciocínio PDCA (2019)
Figura 53 - Gasto unitário por categoria no período de verificação
Fonte: Mapa de raciocínio PDCA (2019)
É possível observar que, mesmo sem atuação direta nos gastos com energia e
ferramentas, esses indicadores sofreram queda. Tal fato pode ser explicado pela alta ligação
existente entre os quatro parâmetros.
4.3. PADRONIZAÇÃO E MANUTENÇÃO DOS RESULTADOS
Objetivando a melhoria contínua do processo, os resultados alcançados com as soluções
implementadas passaram por uma padronização na organização:
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▪ Treinamento no HPGPS
Foi ofertado um treinamento aos auxiliares da equipe de detonação para manuseio do
HPGPS na coleta das coordenadas de perfuração, além do esclarecimento dos riscos ao se
realizar a coleta. Este treinamento foi ministrado pela equipe de topografia durante uma semana.
▪ Replicação do limitador de aceleração das perfuratrizes
A instalação do limitador de RPM das perfuratrizes pôde ser replicada em todas as
máquinas de grande porte operantes no complexo.
▪ Informação dos parâmetros de perfuração e orientações gerais via tablet
As orientações acerca da confecção de leiras de contenção para redirecionamento da
drenagem das frentes perfuradas passaram a ser anexadas em todas as diretrizes de
infraestrutura.
▪ Disponibilização do OCAP e evolução do gasto unitário nos quadros de gestão à vista
O OCAP (Out of Control Action Plan) constitui-se de um fluxograma de controle do
indicador principal do projeto. Basicamente, essa ferramenta informa quais etapas deve-se
seguir no caso do não atingimento da meta global (anexo). Juntamente ao OCAP, o
acompanhamento do gasto unitário mensal com perfuração e desmonte também passou a ser
monitorado pela equipe técnica nos quadros de gestão à vista da gerência.
▪ Interface entre as equipes técnicas de manutenção e infraestrutura de mina
Como observado, a manutenção das perfuratrizes é uma das peças-chave no processo
de redução de gastos com esses equipamentos. As reuniões de interface entre operação e
manutenção passaram a ser quinzenais, facilitando assim, a comunicação entre as partes.
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5. CONCLUSÃO
A sequência de etapas requeridas e realizadas através da ferramenta Seis Sigma e do
ciclo PDCA possibilitou o atingimento da meta global de redução do gasto unitário com o
processo de perfuração e desmonte, deslocando a média, em reais por tonelada (R$/t), de 0,79
para 0,62 no período de verificação do projeto.
Com a aplicação do estudo nas minas A, B e C, foi possível identificar, de forma
criteriosa, os principais desperdícios da rotina operacional, sem desconsiderar a variação
litológica observada nas três localidades.
O desenvolvimento dos questionários e a divulgação mensal das perdas financeiras à
equipe propiciaram maior visualização do processo e envolvimento da base. Diversas melhorias
também foram alcançadas através da maior interação com a equipe de manutenção das
perfuratrizes, principalmente devido ao incentivo no controle de checklist para a liberação
desses equipamentos. Além disso, as alterações realizadas no cenário da rotina operacional
passaram por uma padronização, estimulando assim, o empenho no monitoramento dos
indicadores principais.
Com a implantação das ações propostas, obteve-se um ganho financeiro na ordem de
R$1.644.084,4 no período de verificação, sendo tal quantia validada pela equipe de gestão
econômica. Sendo assim, pode-se considerar que o processo passou por uma expressiva
otimização, com base na aplicação da metodologia de estudo sugerida.
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6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Sigma. Belo Horizonte: Ed. Instituto de Desenvolvimento Gerencial, 2006. 229 p. Série
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minería. Madrid, 2013. Disponível em:
<http://oa.upm.es/21848/1/20131007_PERFORACION_Y_VOLADURA.pdf> Acesso
em: 20 abr. 2019.
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Engenharia de Construção Civil e Urbana) – Escola Politécnica, Universidade de São Paulo,
São Paulo, 2003. Disponível em: <http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/3/3146/tde-
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BORGES, A.; LUIZ, P. Seminário Técnico Integrado Infraestrutura e Operação de
Mina – Complexo Mariana e Brucutu. Material didático para consulta. Vale, 2019. 154 p.
CARVALHO, M. M. Gestão da qualidade: teorias e casos. Rio de Janeiro: Ed. Elsevier,
2005. 355 p.
GUAZZELLI, S. R. Análise de custos de perfuração e desmonte em mina de ferro. 2013.
111 f. Dissertação (Mestrado em Tecnologia Mineral) – Escola de Engenharia,
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2013. Disponível em:
<https://lume.ufrgs.br/handle/10183/86448> Acesso em: 01 abr. 2019.
JARDIM, T. F. Análise de desempenho de brocas tricônicas 9 7/8”. 2017. 41 f.
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de Ouro Preto, Ouro Preto, 2017. Disponível em:
<https://www.monografias.ufop.br/bitstream/35400000/500/6/MONOGRAFIA_AnáliseD
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2017. 150 f. Monografia (Graduação em Engenharia de Minas) – Escola de Minas,
Universidade Federal de Ouro Preto, Ouro Preto, 2017. Disponível em:
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<https://www.monografias.ufop.br/bitstream/35400000/811/1/MONOGRAFIA_ProjetoM
elhoriaFragmentação.pdf> Acesso em: 25 abr. 2019
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Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade, Universidade de São Paulo, São
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WERKEMA, M. C. C. Criando a Cultura Seis Sigma. Rio de Janeiro: Ed. Qualitymark,
2004. 256 p. Série Seis Sigma, vol. 1.
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ANEXOS
OCAP
CONTROLE DO GASTO COM PERFURAÇÃO E DESMONTE
(R$/t)
O indicador sob controle emeta atingida?
Sim
Não
Indicador sob controle!
Corrigir drenagens e reforçar a ação nas diretrizes / LineUp.
As áreas de perfuração estão sendo fechadas com leiras de
contenção e drenagem eficiente?
Sim
Não
O tempo de locomoção está baixo e as perfuratrizes estão
utilizando carreta para grandes locomoções?
Sim
NãoAcompanhar relatório de locomoção
no painel de indicadores de infraestrutura e atuar.
Estão ocorrendo detonações em áreas com risco de colapso de furos? (áreas/litologias não
detonáveis)
Atuar junto ao planejamento CP e reforçar o direcionamento das frentes
com os analistas.
Os profundímetros estão em funcionamento em todas as
perfuratrizes de grande porte?
Acionar manutenção/instrutor para atuação e correção.
Os polígonos estão sendo controlados com a topografia
e planejamento?
Atuar junto à topografia e planejamento CP.
Está sendo executado desmonte mecânico em frentes que podem ser
detonadas?
Atuar junto ao planejamento CP.
As perfuratrizes de grande porte estão operando com
no máximo 1.800 RPM?
Acionar manutenção e ajustar o limitador de RPM.
O checklist está sendo feito pelos operadores na entrega e retirada do equipamento
da manutenção?
Atuar junto a equipe quanto à realização do checklist
Sim
Não
Sim
Não
Sim
Não
Não
Sim
Sim
Não
Sim
Não