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Universidade Federal de Ouro Preto Programa de Pós-Graduação Engenharia Ambiental
Mestrado em Engenharia Ambiental
Patrícia da Luz Mesquita
“Caracterização de Produtos Microbianos Solúveis (SMPs) em Reatores
Aeróbio e Anaeróbio de Bancada em Diferentes Condições Operacionais”
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação
em Engenharia Ambiental, Universidade Federal de Ouro
Preto, como parte dos requisitos necessários para a
obtenção do título: “Mestre em Engenharia Ambiental –
Área de Concentração: Saneamento Ambiental”
Orientador: Prof. Dr. Sérgio Francisco de Aquino
Ouro Preto, MG
2009
ii
iii
Esta dissertação é dedicada ao meu esposo, Leonardo, meu “porto-seguro” e principal
incentivador desta etapa de minha vida e aos meus pais e irmã, por todo o carinho e
investimento em minha educação básica, que me permitiram chegar até aqui. Que Deus os
retribua em bênçãos os imensuráveis amor e apoio que sempre me fizeram seguir adiante,
apesar dos atropelos da vida.
“Um dos grandes desafios atuais da humanidade é transformar
toda a informação disponível em conhecimento e, por fim,
todo o conhecimento em verdadeira sabedoria.”
iv
AGRADECIMENTOS Senhor, já não me recordo quantas vezes chamei por Ti todo este tempo. Clamei Teu nome
de várias formas, cada dia de uma maneira.... E Tu, ali, comigo. Companheiro firme, fiel.
Estendendo a mão nas horas aflitas. Encorajando para a batalha. Sorrindo junto com as
vitórias. Senhor, já nem me lembro quantos foram os momentos alegres. Poucos ou
muitos, foram sempre intensos. Tu me mostravas portas abertas, caminhos múltiplos,
soluções iluminadas, amizades eternas. Recordações inumeráveis! Senhor, me falha a
mente ao relembrar o quanto tenho a agradecer. Mas, me é clara, é transparente, Tua
importância até aqui. Elevo agora todo o meu ser para Te louvar , para bendizer, quem
com certeza esteve a cada instante, ao meu lado dizendo: “Filha, segue em frente, você vai
vencer!”.
Primeiramente, agradeço ao Senhor, meu Deus, e à minha amada Nossa Senhora, que me
guiaram e protegeram a cada dia de atividades e de estrada, me abençoando com Sua
companhia sempre.
Ao meu orientador, Prof. Dr. Sérgio Aquino, toda a minha gratidão e respeito, pela
confiança ao me aceitar como mestranda e pela enorme amizade e contribuição ao meu
aprendizado com disposição em ajudar e dividir seu conhecimento sempre.
Agradeço ao meu co-orientador, Prof. Dr. Robson Afonso, por toda a confiança no meu
trabalho, amizade e carinho, desde sempre, que me permitiram crescer pessoal e
profissionalmente de maneira gigantesca e apostar mais em meu potencial.
Gostaria de agradecer à FAPEMIG, pelo completo suporte financeiro ao projeto, sem o
qual sua conclusão teria sido impossível.
Agradeço à UFOP, por ceder suas instalações e infra-estrutura ao nosso aprendizado e ao
PROAGUA, seus professores e funcionários, que agregaram conhecimento ou auxiliaram
com sua experiência, formação e opiniões diante dos mais variados problemas e assuntos.
De forma especial, agradeço aos Professores Maurício Coutrim, Jorge Adílio, Cornélio e
v
Silvana, que mesmo sem vínculo formal com este projeto, contribuíram sobremaneira
dividindo seu espaço, conhecimento e experiência em sua área de atuação.
Agradeço a todos os colegas de laboratório, sem exceção, cuja ajuda foi muito além de
treinamentos e resolução de problemas e que com seu sorriso e amizade, proporcionaram
um ambiente leve e alegre, onde boas idéias e conversas puderam surgir. Gratidão muito
especial aos meus colegas da iniciação científica que compartilharam esta pesquisa comigo
em alguma etapa ou por completo, Amália, Mark, Miriany, Emanuel e Nathália, cujo
esforço e dedicação foram fundamentais na conclusão do meu mestrado e sem os quais eu
jamais teria conseguido. Gostaria de expressar toda a minha enorme gratidão e apreço ao
Júlio, cujo auxílio foi ímpar para as análises cromatográficas e por espectrometria de
massas e sem o qual a etapa final do projeto não teria sido concluída no prazo. Mesmo na
sobrecarga, ele tinha sempre uma incomparável boa vontade e um “calma, Patrícia!” para
me ajudar. Deus te pague, Júlio! Ao Anselmo, ao Carlúcio, à Fernanda, à Lorena, ao
Gustavo, ao Davi e ao Aniel, meus agradecimentos por compartilharem seu conhecimento
e me treinarem em algumas análises fundamentais para esta pesquisa. À Cássia e à Débora,
todo o meu carinho, por toda a ajuda e pela grande amizade construída, por cada sorriso e
palavra de apoio e incentivo! Aos colegas do laboratório de espectrometria de massas, que
me acolheram tão bem em seu espaço e agregaram muito com cada “troca de idéias”, meu
“muito obrigado”!
Gostaria de agradecer à minha mãe, Rosângela, e à minha irmã, Fernanda, pelo ombro
amigo sempre, por todo o apoio, preocupação e incentivo para mais este desafio. Agradeço
ao meu pai, Léo, que, mesmo de longe, não cansou de torcer por mais esta vitória. A eles,
agradeço também pela base de caráter e comprometimento e por todo o investimento num
ensino básico de qualidade, que me preparou para “vôos mais altos”.
Finalmente, agradeço enormemente ao meu esposo, Leonardo, meu “anjo e porto-seguro”,
que tantas vezes abdicou da minha companhia e presença em função das minhas
atividades, pela enorme paciência, por acreditar tanto em mim e apostar na minha
capacidade, por ter sido o grande incentivador desta etapa da minha vida e por dividir
comigo todos os momentos, por mais difíceis que sejam. Esta vitória é nossa!
vi
SUMÁRIO Resumo ................................................................................................................................ xv
Abstract..............................................................................................................................xvii
1. Introdução...................................................................................................................... 1
2. Objetivos........................................................................................................................ 4
2.1. Objetivo geral ........................................................................................................ 4
2.2. Objetivos específicos............................................................................................. 4
3. Revisão da Literatura..................................................................................................... 5
3.1. Bioenergética e microbiologia do tratamento biológico........................................ 5
3.2. A DQO residual e os Produtos Microbianos Solúveis - SMPs ........................... 11
3.3. Fatores que afetam a produção de SMPs............................................................. 15
3.4. Consequências da produção de SMPs ................................................................. 22
3.5. Caracterização da DQO efluente de reatores biológicos ..................................... 25
3.6. Conclusões da revisão de literatura ..................................................................... 30
4. Material e Métodos...................................................................................................... 32
4.1. Aparato experimental .......................................................................................... 32
4.2. Condições operacionais dos reatores de bancada................................................ 34
4.3. Técnicas analíticas............................................................................................... 35
4.3.1. Preparação geral das amostras........................................................................... 35
4.3.2. pH e Oxigênio Dissolvido (OD)........................................................................ 36
4.3.3. Demanda Química de Oxigênio (DQO) ............................................................ 36
4.3.4. Sólidos Suspensos Voláteis (SSV) .................................................................... 37
4.3.5. Ácidos Graxos Voláteis (AGVs) e glicose........................................................ 37
4.3.6. Análise de Proteínas .......................................................................................... 38
4.3.7. Análise de Carboidratos .................................................................................... 39
4.4. Cálculo da concentração de SMPs ...................................................................... 40
4.5. Análise por espectrometria de massas ................................................................. 40
4.6. MALDI-ToF-MS................................................................................................. 43
4.7. Lise Celular e Extração de EPS de Amostras de Lodo........................................ 44
4.7.1. Preparação das amostras para os procedimentos de lise celular e extração de
EPS de amostras de lodo.............................................................................. 44
4.7.2. Extração de EPS .......................................................................................... 45
4.7.3. Lise Celular ................................................................................................. 46
vii
5. Resultados e Discussão.................................................................................................... 47
5.1. Quantificação dos SMPs em diferentes condições operacionais.................................. 47
5.1.1. Tipo de tratamento: aeróbio x anaeróbio............................................................... 47
5.1.2. Condições operacionais ......................................................................................... 65
5.2. Caracterização dos SMPs ......................................................................................... 75
5.2.1. Proteínas e carboidratos......................................................................................... 75
5.2.1. Espectrometria de massas...................................................................................... 83
6. Conclusões e sugestões para trabalhos futuros................................................................ 96
7. Referências Bibliográficas............................................................................................. 100
Anexo ................................................................................................................................ 107
Apêndice............................................................................................................................ 117
viii
Lista de Figuras
Figura 3.1 - Esquema ilustrativo do ciclo de Krebs
Figura 3.2 - Etapas de degradação anaeróbia da matéria orgânica
Figura 3.3 – Classificação da DQO residual de tratamento biológico de águas residuárias
Figura 3.4 – Produção de SMPs em função da idade do lodo. Fonte: Aquino (2003)
Figura 4.1 - Foto da montagem experimental
Figura 4.2 – Critérios utilizados para a escolha das relações m/z a serem consideradas para
identificação
Figura 5.1 - Variação da DQO no afluente e efluente dos reatores aeróbio e anaeróbio ao
longo das fases operacionais estudadas (valores expressos como mediana)
Figura 5.2 – Interação entre o tipo de reator e as fases operacionais para o parâmetro DQO
Figura 5.3 – Variação do teor de sólidos suspensos totais (SST) e voláteis (SSV) nos
reatores aeróbio e anaeróbio ao longo das fases operacionais estudadas (valores expressos
como medianas)
Figura 5.4 – Interação entre o tipo de reator e as fases operacionais para o parâmetro SSV
Figura 5.5 – Variação do pH nos reatores, antes de sua correção para a faixa neutra
Figura 5.6 – Composição da DQO residual para o reator aeróbio nas diferentes fases
operacionais: (a) fase I, (b) fase II, (c) fase III, (d) fase IV, (e) fase V, (f) fase VI
Figura 5.7 – Composição da DQO residual para o reator anaeróbio nas diferentes fases
operacionais: (a) fase I, (b) fase II, (c) fase III, (d) fase IV, (e) fase V, (f) fase VI
Figura 5.8 – Variação do oxigênio dissolvido no reator aeróbio (valores expressos em
medianas)
Figura 5.9 – Acúmulo de ácidos graxos voláteis (AGVs) nos reatores aeróbio e anaeróbio
nas diferentes fases operacionais (valores expressos em medianas).
Figura 5.10 – Estimativa de acúmulo dos SMPs nos reatores aeróbio e anaeróbio para as
diferentes condições operacionais (valores expressos em medianas)
Figura 5.11 – Interação entre o tipo de reator e as fases operacionais para o parâmetro
SMPs
Figura 5.12 – Produção de SMPs normalizada em relação à DQO afluente (SMP/So) nos
reatores anaeróbio e aeróbio durante as fases operacionais estudadas (valores expressos
como medianas)
ix
Figura 5.13 – Interação entre o tipo de reator e as fases operacionais para a produção
normalizada (SMP/So) de SMPs
Figura 5.14 – Estimativa da conversão diária de biomassa a SMPs nos reatores aeróbio e
anaeróbio durante as fases operacionais estudadas (valores expressos como medianas)
Figura 5.15 – Interação entre o tipo de reator e a razão entre o acúmulo de SMPs e a
biomassa presente no sistema
Figura 5.16 – Temperatura das fases operacionais
Figura 5.17 – Interação da temperatura na produção normalizada de SMPs em relação à
DQO afluente (SMP/So), por reator
Figura 5.18 – Interação da temperatura na razão entre a quantidade de SMPs acumulada e
a quantidade de biomassa presente no sistema
Figura 5.19 – Efeito do TDH no acúmulo de SMPs nos reatores aeróbio e anaeróbio
Figura 5.20 – Efeito do TDH na taxa de conversão da DQO afluente em SMPs, por reator.
Figura 5.21 – Interferência do TDH na razão entre o acúmulo de SMPs e a biomassa
presente no sistema
Figura 5.22 – Efeito do substrato na produção de SMPs, por reator
Figura 5.23 – Efeito do tipo de substrato na taxa de conversão da DQO afluente em SMPs,
por reator
Figura 5.24 – Efeito do tipo de substrato na razão entre o acúmulo de SMPs e a biomassa
presente no sistema
Figura 5.25 – Composição acumulada da DQO residual, dos polímeros extracelulares e
dos produtos de lise celular em termos de proteínas e carboidratos – Reator Aeróbio
Figura 5.26 – Composição acumulada da DQO residual, dos polímeros extracelulares e
dos produtos de lise celular em termos de proteínas e carboidratos – Reator Anaeróbio
Figura 5.27 – Composição percentual da DQO residual (porcentagens das contribuições
dos teores de proteínas, carboidratos e porcentagem indeterminada da DQO) para o reator
aeróbio
Figura 5.28 – Composição percentual da DQO residual (porcentagens das contribuições
dos teores de proteínas, carboidratos e porcentagem indeterminada da DQO) para o reator
anaeróbio
Figura 5.29 – Efeitos principais para análise de carboidratos por amostra, reator e fase
operacional
Figura 5.30 – Interação entre o tipo de reator, fases operacionais e amostras para análise
de carboidratos
x
Figura 5.31 – Efeitos principais para análise de proteínas por amostra, reator e fase
operacional
Figura 5.32 – Interação entre o tipo de reator, fases operacionais e amostras para análise
de proteínas
Figura 5.33 – Análise de componentes principais das relações m/z obtidas por
espectrometria de massas, por amostra
Figura 5.34 – Análise de componentes principais das relações m/z obtidas por
espectrometria de massas nas amostras dos afluentes e efluentes a cada fase operacional,
nas amostras de extratos de polímeros extracelulares (EPS) e de produtos de lise celular
para as fases IV, V e VI
Figura 5.35 – Gráfico dinâmico para a contagem das relações m/z presentes nos efluentes
e ausentes nos afluentes
Figura 5.36 – Espectro de massas para o efluente anaeróbio da fase VI, para as relações
massa/carga m/z=339,20 e m/z=325,18
Figura 5.37 – Espectro de massas obtido para análise de massa segunda da relação
massa/carga m/z=339,1987. Amostra do efluente anaeróbio da fase VI
Figura 5.38 – Espectro de massas obtido para análise de massa segunda da relação
massa/carga m/z=325,1832. Amostra do efluente anaeróbio da fase VI
Figura 5.39 – Estrutura química típica do alquilbenzeno sulfonado de cadeia linear (LAS)
Figura A.1 – Ajustes para a determinação da faixa de aplicação para os AGVs (a) fórmico;
(b) acético; (c) propiônico; (d) isobutírico; (e) butírico; (f) isovalérico; (g) valérico
Figura A.2 – Linearidade e análise de regressão para o ácido fórmico
Figura A.3 – Linearidade e análise de regressão para o ácido acético
Figura A.4 – Linearidade e análise de regressão para o ácido propiônico
Figura A.5 – Linearidade e análise de regressão para o ácido isobutírico
Figura A.6 – Linearidade e análise de regressão para o ácido butírico
Figura A.7 – Linearidade e análise de regressão para o ácido isovalérico
Figura A.8 – Linearidade e análise de regressão para o ácido valérico
Figura A.9 – Seletividade e análise de regressão para o ácido fórmico
Figura A.10 – Seletividade e análise de regressão para o ácido acético
Figura A.11 – Seletividade e análise de regressão para o ácido propiônico
Figura A.12 – Seletividade e análise de regressão para o ácido isobutírico
Figura A.13 – Seletividade e análise de regressão para o ácido butírico
Figura A.14 – Seletividade e análise de regressão para o ácido isovalérico
xi
Figura A.15 – Seletividade e análise de regressão para o ácido valérico
Figura A.16 – Resultado da exatidão do método de análise de AGVs para o ácido fórmico
Figura A.17 – Resultado da exatidão do método de análise de AGVs para o ácido acético
Figura A.18 – Resultado da exatidão do método de análise de AGVs para o ácido
propiônico
Figura A.19 – Resultado da exatidão do método de análise de AGVs para o ácido
isobutírico
Figura A.20 – Resultado da exatidão do método de análise de AGVs para o ácido butírico
Figura A.21– Resultado da exatidão do método de análise de AGVs para o ácido
isovalérico
Figura A.22 – Resultado da exatidão do método de análise de AGVs para o ácido valérico.
xii
Lista de Tabelas
Tabela 3.1 – Reações químicas envolvidas no processo de degradação de acetato e glicose
em sistemas aeróbios e anaeróbios
Tabela 3.2 - Fatores que dão origem à produção de compostos microbianos
Tabela 4.1 - Composição da solução nutricional para DQO afluente de 5.000mg/L
Tabela 4.2 – Fases operacionais dos reatores de bancada
Tabela 5.1 – Estatística descritiva para o parâmetro DQO
Tabela 5.2 – Resultados dos testes de medianas para as diferentes fases operacionais nos
reatores aeróbio e anaeróbio
Tabela 5.3 – Amostras mais frequentemente consideradas para investigação, presentes nos
efluentes e ausentes nos afluentes das fases operacionais
Tabela 5.4 – Novas relações m/z para investigação, presentes nos efluentes e ausentes nos
afluentes das fases operacionais estudadas
Tabela A.1 – Resultados da relação sinal/ruído (signal/noise) para a determinação dos
limites de detecção e quantificação da metodologia de análise de AGVs
Tabela A.2 – Dados de áreas de picos para a concentração de 200mg/L da mistura de
AGVs para a avaliação da precisão do método
Tabela A.3 – Valores dos coeficientes angulares, em ordem crescente, para os AGVs,
revelando a sensibilidade de cada ácido
xiii
Lista de Notações
A/M - relação alimento/microrganismo
ABR - reator anaeróbio compartimentado
AFAE – afluentes aeróbios
AFAN – afluentes anaeróbios
AGV – ácidos graxos voláteis
ASM 3 – modelo de lodos ativados no 3 (activated sludge model 3)
ATP - trifosfato de adenosina
BAP – SMPs produzidos como resultado do decaimento endógeno
CABR - reator anaeróbio compartimentado com carreador
CLP - produtos de lise celular
CMD - concentração média determinada
CST - tempo de sucção capilar
CV - coeficiente de variação
DBO - demanda bioquímica de oxigênio
DP – desvio padrão
DQO – demanda química de oxigênio
DQO:N:P – relação DQO:nitrogênio:fósforo
EFAE – efluentes aeróbios
EFAN – efluentes anaeróbios
EI – impacto por elétrons
EPS – substâncias poliméricas extracelulares
EPSAE – substâncias poliméricas extracelulares extraídas do lodo aeróbio
EPSAN – substâncias poliméricas extracelulares extraídas do lodo anaeróbio
ETE – estação de tratamento de esgoto/efluente
FI a FVI – fases operacionais, de I a VI
FIA - análise por injeção de fluxo
GC-MS - cromatografia a gás acoplada a espectrometria de massa
HPLC – cromatografia líquida de alta eficiência
IT – armadilha de íons
LAS - alquilbenzeno sulfonados de cadeia linear
LC - cromatografia de fase líquida
xiv
LD - limite de detecção
LISE – amostras de lisados
LISEAE – amostras de lisados de células do lodo aeróbio
LISEAN – amostras de lisados de células do lodo anaeróbio
LQ - limite de quantificação
M/Z – relação massa/carga
MALDI-ToF-MS - técnica de espectrometria de massas por ionização e dessorção assistida
por laser
MBR - bioreator a membranas
MS – espectrômetro de massas
MS2 – massa segunda
OD – oxigênio dissolvido
PCA – análise estatística por componentes principais
r2 - coeficiente de determinação
rut - taxa de utilização do substrato
SAB – proteína soro-albumina-bovina
SBR - reatores seqüenciais a batelada
SMP – produtos microbianos solúveis
SMP/So - produção normalizada, em relação à DQO afluente, de SMPs
So – DQO afluente
SST – sólidos suspensos totais
SSV – sólidos suspensos voláteis
TDC – tempo de detenção celular
TDH – tempo de detenção hidráulica
TOF – tempo de vôo
UAP – SMPs produzidos como resultado da utilização do substrato
UASB – reator anaeróbio de manta de lodo de fluxo ascendente
Vd - valor desejado
Vr - valor real
xv
Resumo
O tratamento biológico é caracterizado pela utilização de bactérias, aeróbias e/ou
anaeróbias, para a degradação da matéria orgânica poluente. A análise da demanda química
de oxigênio (DQO) é frequentemente utilizada para quantificar a matéria orgânica nos
efluentes e medir a eficiência do tratamento biológico. A DQO efluente de reatores
biológicos é compreendida não apenas por compostos afluentes que não foram degradados,
mas também por compostos produzidos pelos microrganismos durante o tratamento,
denominados na literatura internacional de SMPs (Soluble Microbial Products). Acredita-
se que a minimização da DQO residual de sistemas biológicos operados na ausência de
estresse e alimentados com esgoto tipicamente biodegradável pode estar diretamente
relacionada à minimização da produção de SMPs e, muito embora a importância dos SMPs
já tenha sido reconhecida, a revisão da literatura mostra que poucas pesquisas tentaram
identificar sua estrutura química bem como relacionar sua produção a parâmetros de
operação dos reatores. Portanto, o principal objetivo desta pesquisa foi caracterizar, do
ponto de vista quantitativo e qualitativo, os compostos microbianos presentes na fração
centrifugada do efluente de reatores aeróbio e anaeróbio de mistura completa operados em
escala de bancada e alimentados com glicose e acetato. Conforme esperado, a produção de
SMPs no reator aeróbio foi superior à do anaeróbio (a produção normalizada em relação à
DQO afluente para as diferentes condições operacionais – SMP/So - variou de 2 a 68% no
reator aeróbio e de 9 a 27% no reator anaeróbio). No reator anaeróbio, a carga orgânica
aplicada não apresentou interferência significativa na conversão da DQO afluente a SMPs
sugerindo que os SMPs acumulados podem ter origem principal no decaimento da
biomassa ao invés da utilização do substrato. Já no reator aeróbio parece ter ocorrido o
contrário. Considerando o tipo de substrato, a utilização de acetato contribuiu para uma
maior produção normalizada de SMPs em ambos os reatores, comparativamente à glicose
(no reator aeróbio, SMP/So de 41,9% para o acetato versus 14,1% para a glicose; no reator
anaeróbio, 21,9% e 16,6% para o uso de acetato e de glicose, respectivamente). Já a
temperatura parece não ter interferido significativamente na relação SMP/So no reator
anaeróbio (18,1% a 15oC e 18,3% a 25oC). Por outro lado, no reator aeróbio, a produção
normalizada de SMPs foi superior à temperatura de 15oC (33,8% contra 18,7% a 25oC). No
reator aeróbio, a DQO relacionada ao teor de proteínas representou de 5 a 34% da DQO
residual e o teor de carboidratos (também em termos de DQO) não ultrapassou 16%; já
para o reator anaeróbio, o teor de proteínas atingiu seu máximo em 17% da DQO residual,
xvi
o que confirma que a maior parte da DQO residual não foi proveniente de proteínas e
carboidratos. Em relação aos resultados de espectrometria de massas, os SMPs produzidos
em cada fase operacional não pareceram provenientes de lise celular ou de EPS. A
ocorrência predominante de SMPs de baixas massas molares indicou produtos associados à
utilização do substrato ou provenientes da degradação e/ou hidrólise de SMPs de alta
massa molar.
xvii
Abstract Biological wastewater treatment is characterized by aerobic and/or anaerobic bacteria that
degrade pollutant organic matter and parameters such as chemical oxygen demand (COD)
are usually used to assess these treatments efficiency. Biological reactors effluent COD is
comprised not only of influent compounds that have not been degraded, but also of some
compounds produced by microorganisms during treatment, known as SMPs (Soluble
Microbial Products) in the literature. It is believed that the decrease of effluent COD in
non-stressed conditions biological systems fed with typically biodegradable sewage can be
straightly connected to minimizing SMP production and, even though SMP importance had
already been recognized, literature review shows that only few researches were dedicated
to identifying their chemical structure, as well as to relating their production to reactors
operational parameters. Therefore, the main goal of this research was to characterize,
through quantitative and qualitative approaches, the microbial products present in the
supernatant of aerobic and anaerobic bench scale CSTR fed with glucose and acetate. As
expected, SMP production in the aerobic CSTR was higher than in the anaerobic one
(normalized production of SMP concerning influent COD in different operational
conditions – SMP/So – varied from 2 to 68% in the aerobic reactor and from 9 to 27% in
the anaerobic reactor). In the anaerobic CSTR, the organic load did not seem to have
interfered to the conversion from influent COD to SMP (SMP/So ratio), what suggests that
accumulated SMP can have come mainly from biomass decay, rather than from substrate
use. However, in the aerobic CSTR the opposite seems to have happened. Concerning
substrate kind, acetate use contributed to a higher normalized production of SMP in both
reactors, compared to glucose (in the aerobic reactor, SMP/So was 41,9% for acetate
versus 14,1% for glucose; in the anaerobic reactor, 21,9% and 16,6% for acetate and
glucose, respectively). Temperature did not seem to have significantly interfered to
SMP/So rate in the anaerobic reactor (18,1% at 15oC and 18,3% at 25oC). On the other
hand, in the aerobic CSTR, normalized SMP production was higher at 15oC (33,8% against
18,7% at 25oC). In the aerobic reactor, COD related to protein amount represented 5 to
34% of effluent COD and carbohydrates COD was not higher than 16%; in the anaerobic
CSTR, protein amount achieved its maximum at 17% of effluent COD, what confirms that
the majority of effluent COD had not come from proteins and carbohydrates. As far as
mass spectrometry results are concerned, SMP produced by each operational phase did not
xviii
seem to have come from cell lysis or EPS. The predominance of low molecular weight
SMP indicated products related to substrate use or to degrading/ hydrolysis of high
molecular weight SMP.
1
1. Introdução
Embora haja uma ampla variedade de processos disponíveis para o tratamento de águas
residuárias, o emprego de sistemas biológicos para o tratamento de esgotos sanitários já é
consolidado no mundo. Durante o tratamento biológico, seja ele aeróbio, facultativo ou
anaeróbio, microrganismos utilizam a matéria orgânica presente na água residuária como
fonte de carbono e energia. Sendo assim, o crescimento de microrganismos nos reatores
biológicos é acompanhado pela redução na quantidade de matéria orgânica, geralmente
expressa como demanda química de oxigênio (DQO), afluente ao reator. Com base na
premissa de que o aumento da massa microbiana nos reatores biológicos causa aumento na
degradação da matéria orgânica afluente, acreditava-se que o aumento do tempo de
retenção dos microrganismos (TDC – tempo de detenção celular ou idade do lodo) e/ou do
tempo de detenção hidráulica (TDH) no reator biológico resultaria em maiores eficiências
de remoção e consequentemente redução da DQO efluente. Entretanto, estudos feitos por
Chudoba e seu grupo, ainda na década de 60 (Chudoba, 1967; Chudoba et al., 1968;
Chudoba et al., 1968 apud Aquino, 2004), mostraram que o aumento exagerado da idade
do lodo em sistemas de lodos ativados, ao invés de resultar em aumento da eficiência de
remoção, causou um aumento na DQO efluente dissolvida.
Pode-se dizer que os resultados controversos de Chudoba lançaram as bases para a teoria
dos produtos microbianos solúveis (SMPs – do inglês Soluble Microbial Products). Tal
teoria surgiu da constatação de que a interação dos microrganismos com o meio de cultivo
resulta na liberação de compostos orgânicos que causam DQO, tanto na forma solúvel
quanto particulada. Assim, a DQO efluente de reatores biológicos é compreendida não
apenas por compostos afluentes que não foram degradados, mas também por compostos
produzidos pelos microrganismos durante o tratamento. De fato, estudos sobre a
caracterização da DQO residual em sistemas de tratamento biológico, feitos por diferentes
grupos de pesquisa, demonstraram que a maioria dos compostos dissolvidos efluentes de
sistemas aeróbios e anaeróbios não estava presente no afluente, mas foram produzidos
durante o tratamento (Grady Jr e Williams 1975; Siber e Eckenfelder 1980; Parkin e
McCarty 1981 apud Aquino 2004; Namkung e Rittmann 1986; Noguera et al. 1994;
Barker et al. 1999; Barker e Stuckey 1999). Tais compostos oriundos do decaimento
endógeno, do metabolismo do substrato e/ou deliberadamente excretados para
2
desempenhar alguma função microbiana, são agrupados no conjunto de compostos
comumente denominado de SMPs que, segundo Jarusutthirak e Amy (2007), constituem a
maioria da matéria orgânica solúvel em efluentes biológicos.
Para a maioria dos sistemas de tratamento bem operados, os fatores que afetam a produção
de SMPs são os fatores que também afetam a concentração da DQO residual (Barker e
Stuckey, 2001). Em outras palavras, foi mostrado que em sistemas alimentados com
afluente biodegradável, em que não há acúmulo de intermediários, tais como os ácidos
graxos voláteis (AGVs) formados durante a digestão anaeróbia, a DQO residual efluente
será determinada pela produção dos SMPs (Noguera et al. 1994; Aquino e Stuckey 2004).
Desta forma, alguns pesquisadores acreditam que a minimização da DQO residual de
sistemas biológicos operados na ausência de estresse e alimentados com esgoto
tipicamente biodegradável pode estar diretamente relacionada à minimização da produção
de SMPs (Barker e Stuckey 1999; Barker e Stuckey 2001).
Além do impacto na qualidade dos efluentes biológicos, a produção de SMPs também é
um aspecto importante nos reatores biológicos acoplados a membranas. Vários
pesquisadores têm demonstrado que a colmatação interna de membranas tem sido atribuída
em grande parte a tais compostos microbianos (Wang, 2007; Drews et.al, 2007; Fonseca
et.al, 2007). De fato, os SMPs já têm sido incorporados à modelagem de reatores
biológicos (com ou sem membranas, aeróbios e anaeróbios) (Aquino e Stuckey, 2008;
Oliveira-Esquerre et al., 2006; Le-Clech et al., 2006; Rittmann e McCarty, 2001). Como
exemplo, Oliveira-Esquerre et al. (2006) adaptaram um modelo matemático de plantas
MBR já consolidado (ASM 3 – Activated Sludge Model no 3), incorporando o conceito da
formação de produtos microbianos. Segundo os autores, tais produtos foram incluídos na
descrição do processo de biotransformação por constituírem a maioria da matéria orgânica
no efluente, pelo papel que desempenham no fornecimento de substrato orgânico aos
heterótrofos e pela crítica influência que exercem na taxa de fluxo da filtração das
membranas. Entretanto, é difícil determinar estas interferências, devido à complexidade
química, ao potencial de biodegradação e da carência de informações quanto à natureza
dos SMPs.
3
Há vários fatores envolvidos na geração de produtos microbianos. Alguns deles foram
observados trabalhando-se com culturas puras, enquanto outros foram demonstrados em
sistemas de tratamento aeróbios e anaeróbios. Diferentes estudos mostraram que alguns
SMPs desempenham uma função metabólica, seja pela propriedade quelante que pode
ajudar na assimilação de metais nutrientes ou proteção contra toxicidade (Kuo e Parkin,
1996; Aquino e Stuckey, 2003; Aquino e Stuckey, 2004), seja para desempenhar outras
funções, tais como para comunicação intercelular em sistemas de biofilmes (quorum
sensing). Os SMPs podem ser excretados como resultado de uma deficiência nutricional,
como no caso de excreção de compostos orgânicos no meio como mecanismo de
‘descarga’ de elétrons que não puderam ser utilizados no crescimento celular (Rittmann e
McCarty, 2001). Finalmente, os SMPs podem advir ainda da hidrólise de substâncias
poliméricas extracelulares (EPS) ou do decaimento endógeno (lise celular).
Embora a comunidade científica internacional já tenha reconhecido a importância dos
SMPs para a definição da DQO residual em sistemas de tratamento biológico, pouco se
avançou no conhecimento da identidade química desses compostos e nos fatores que
afetam sua produção em sistemas aeróbios e anaeróbios. Dessa forma, o objetivo principal
deste trabalho foi investigar os fatores operacionais e ambientais que afetam a produção de
SMPs em reatores de bancada aeróbio e anaeróbio efetuando ainda uma caracterização
química mais detalhada de tais compostos.
4
2. Objetivos
2.1. Objetivo geral
A pesquisa teve como objetivo principal caracterizar os compostos microbianos
(SMPs) presentes nos sobrenadantes (fração centrifugada) do efluente de reatores
aeróbio e anaeróbio de mistura completa operados em escala de bancada e
alimentados com substrato sintético biodegradável e de fácil detecção.
2.2. Objetivos específicos
• Avaliar o efeito do tipo de tratamento (aeróbio x anaeróbio) na produção
(quantidade e tipo) de compostos microbianos solúveis (SMP) durante o tratamento
biológico, em escala de bancada, de substrato biodegradável e de fácil detecção.
• Avaliar o efeito das diferentes condições operacionais (tempo de detenção
hidráulica , tipo de substrato, temperatura) na produção (quantidade e tipo) de
compostos microbianos solúveis (SMP) durante o tratamento biológico, em escala
de bancada, de substrato biodegradável e de fácil detecção.
• Efetuar uma caracterização química, usando técnicas de espectrometria de massas,
para tentar identificar os principais compostos causadores da DQO residual no
sobrenadante de efluentes de reatores anaeróbio e aeróbio de mistura completa
operados em escala de bancada sob diferentes condições.
5
3. Revisão da Literatura
3.1. Bioenergética e microbiologia do tratamento biológico
O crescimento dos microrganismos no tratamento biológico ocorre devido à energia
interna (energia potencial) armazenada em compostos reduzidos que, ao serem oxidados,
perdem elétrons para agentes oxidantes. É essa movimentação de elétrons que fornece
energia para a manutenção e o crescimento celular. A transformação de compostos
químicos por reações de oxi-redução é responsável pela obtenção de energia, que
desencadeia na célula processos metabólicos e reprodutivos. Os elétrons são removidos do
doador primário e transferidos para carreadores de elétrons intracelulares (dispersos no
citoplasma ou ligados a enzimas na membrana citoplasmática). Estes transportam os
elétrons ao receptor final, que é, então, reduzido de forma a regenerar o carreador. A
energia livre liberada ao longo de tal transferência é, pois, capturada pelas células e a
quantidade de energia liberada por elétron transferido depende das propriedades químicas
do doador e do receptor de elétrons. A energia produzida é obtida a partir das semi-reações
envolvidas no processo. O metabolismo é a soma total de todos os processos químicos da
célula e pode ser dividido em catabolismo e anabolismo. O catabolismo engloba todos os
processos envolvidos na oxidação do substrato para a obtenção de energia; já o anabolismo
está relacionado aos processos para a síntese de componentes celulares a partir das fontes
de carbono (Rittmann e McCarty, 2001).
As reações apresentadas na Tabela 3.1 a seguir (Eq. 3.1 a 3.12), extraídas de Rittmann e
McCarty (2001), mostram a energia envolvida em processos aeróbios e anaeróbios de
degradação de dois substratos simples, a glicose e o acetato.
Observa-se que a metanogênese, que é um processo anaeróbio, fornece muito menos
energia comparativamente à oxidação aeróbia da glicose e do acetato. De fato, em reatores
aeróbios, o crescimento microbiano se dá muito mais rapidamente e favoravelmente que
em reatores anaeróbios. Além disto, comparando-se o tipo de substrato, a glicose é capaz
de fornecer mais energia que o acetato, em quaisquer dos processos (aeróbio ou
anaeróbio), e isso ocorre devido à maior energia armazenada (potencial) na molécula de
glicose.
6
Tabela 3.1 – Reações químicas envolvidas no processo de degradação de acetato e glicose
em sistemas aeróbios e anaeróbios
Metanogênese do acetato usando dióxido de carbono como aceptor final de elétrons:
Doador: 1/8 CH3COO- + 3/8 H2O = 1/8 CO2 + 1/8 HCO3- + H+ + e- ΔG0 = -27,40 kJ
(Eq. 3.1)
Aceptor: 1/8 CO2 + H+ + e- = 1/8 CH4 + 1/4H2O ΔG0 = 23,53 kJ
(Eq. 3.2)
Global: 1/8 CH3COO- + 1/8 H2O = 1/8 CH4 + 1/8 HCO3- ΔG0 = -3,87 kJ
(Eq. 3.3)
Metanogênese da glicose usando dióxido de carbono como aceptor final de elétrons:
Doador: 1/24 C6H12O6 + 1/4 H2O = 1/4 CO2 + H+ + e- ΔG0 = -41,35 kJ
(Eq. 3.4)
Aceptor: 1/8 CO2 + H+ + e- = 1/8 CH4 + 1/4 H2O ΔG0 = 23,53 kJ
(Eq. 3.5)
Global: 1/24 C6H12O6 = 1/8 CH4 + 1/8 CO2 ΔG0 = -17,82 kJ
(Eq. 3.6)
Oxidação aeróbia do acetato usando oxigênio molecular como aceptor final de elétrons:
Doador: 1/8 CH3COO- + 3/8 H2O = 1/8 CO2 + 1/8 HCO3- + H+ + e- ΔG0 = -27,40 kJ
(Eq. 3.7)
Aceptor: 1/4 O2 + H+ + e- = 1/2 H2O ΔG0 = -78,72 kJ
(Eq. 3.8)
Global: 1/8 CH3COO- + 1/4 O2 = 1/8 CO2 + 1/8 HCO3- + 1/8 H2O ΔG0 = -106,12 kJ
(Eq. 3.9)
Oxidação aeróbia da glicose usando oxigênio molecular como aceptor final de elétrons:
Doador: 1/24 C6H12O6 + 1/4 H2O = 1/4 CO2 + H+ + e- ΔG0 = -41,35 kJ
(Eq. 3.10)
Aceptor: 1/4 O2 + H+ + e- = 1/2 H2O ΔG0 = -78,72 kJ
(Eq. 3.11)
Global: 1/24 C6H12O6 + 1/4 O2 = 1/4 CO2 + 1/4 H2O ΔG0 = -120,07 kJ
(Eq. 3.12)
Os ácidos graxos voláteis (AGVs) são ácidos orgânicos advindos da fermentação da
matéria orgânica, principalmente em sistemas anaeróbios. São referidos como produtos
7
intermediários do tratamento biológico anaeróbio. O processo de fermentação acontece
quando compostos orgânicos são usados por microrganismos tanto como doadores quanto
como aceptores de elétrons. Neste caso, parte da molécula é oxidada e outra parte é
reduzida. Em processos anaeróbios de degradação da matéria orgânica que contém
carboidratos, a formação de AGVs é notada preferencialmente à de etanol. Isto se deve ao
fato de os microrganismos serem, na maioria dos casos, aqueles que encontraram as
melhores rotas para a extração da energia disponível a partir dos carboidratos nas
condições impostas. A energia disponível para a fermentação da glicose a etanol, por
exemplo, é de ΔG0 = -10 kJ/e- eq. Todavia, para a fermentação de glicose a acetato, a
energia fornecida seria maior (ΔG0 = -14 kJ/e- eq) (Rittmann e McCarty, 2001).
Os carboidratos são polissacarídeos, tais como celulose, amido e açúcares complexos. A
hidrólise enzimática de carboidratos normalmente produz 6-carbonos (hexoses) ou 5-
carbonos (pentoses). Estes açúcares simples possuem um conteúdo de energia maior do
que o acetato ou a maioria de outras moléculas orgânicas simples. Por esta razão, os
microrganismos frequentemente podem obter energia dos carboidratos por rotas
fermentativas anaeróbias que levam a produtos finais menos energéticos (Rittmann e
McCarty, 2001). Entretanto, quando um aceptor final de elétrons (como o oxigênio ou gás
carbônico exemplificados nas Equações 3.1 a 3.12, por exemplo) está disponível, os
carboidratos seguem as rotas de formação de acetil-coenzima A (CH3COSCoA ou
acetilCoA), que então entra no ciclo de ácido cítrico ou ciclo de Krebs, ilustrado na Figura
3.1. A Eq. 3.13 mostra a reação de conversão da glicose em acetil-CoA:
C6H12O6+2 HSCoA+4 NAD++2ADP 2Pi → 2CH3COSCoA+4NADH+2ATP+2CO2 + 4H+
(Eq. 3.13)
Se um aceptor final de elétrons não está disponível, muitos microrganismos facultativos
podem obter energia da glicose usando este substrato orgânico como o doador e o aceptor
de elétrons. Este processo fermentativo termina na etapa de produção de piruvato ou antes
da formação de acetil-CoA:
C6H12O6 + 2 NAD+ + 2ADP + 2Pi → 2CH3COCOO- + 2NADH + 2ATP + 4H+
(Eq. 3.14)
8
Figura 3.1- Esquema ilustrativo do ciclo de Krebs.1
A energia liberada da transformação da glicose em piruvato é usada para produzir duas
moléculas de trifosfato de adenosina (ATP), que é usada dentro da célula como moeda
energética. Entretanto, duas moléculas de NADH (carreador orgânico reduzido, ou seja,
com elétrons) também são formados. Uma vez que o microrganismo não tem aceptor final
de elétrons para regenerar a molécula de NAD+ (carreador orgânico oxidado, ou seja, sem
elétrons) necessária para completar a reação, a célula precisa expulsar os elétrons presentes
nos dois mols de NADH, e isto é conseguido por meio da transferência destes elétrons de
volta para o piruvato, levando à formação de uma variedade de possíveis compostos.
Produtos finais possíveis são etanol, acetato ou ainda uma mistura de compostos orgânicos
simples, tais como propanol, butanol, formiato, propionato, butirato. Estes produtos finais
1Fonte: http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Ciclo_de_Krebs.svg, consultado em 26/05/09
9
formados dependem dos microrganismos envolvidos e das condições
ambientais/operacionais presentes (Rittmann e McCarty, 2001).
Três grupos distintos de microrganismos são essenciais no tratamento anaeróbio de águas
residuárias: (i) bactérias fermentativas (acidogênicas); (ii) bactérias sintróficas
(acetogênicas) e (iii) microrganismos metanogênicos. A maioria dos microrganismos
acidogênicos fermenta açúcares, aminoácidos e ácidos graxos resultantes da hidrólise da
matéria orgânica complexa, produzindo ácidos orgânicos (principalmente acético,
propiônico e butírico), álcoois (etanol), cetonas (acetona), dióxido de carbono e
hidrogênio. A Figura 3.2 adaptada de Gujer e Zehnder (1983) apresenta um esquema da
degradação anaeróbia da matéria orgânica.
Os microrganismos fermentativos são os primeiros a atuar na degradação do substrato e
são os que mais se beneficiam energeticamente. Portanto, as bactérias acidogênicas
possuem as mais elevadas taxas de crescimento do consórcio microbiano, com tempo
mínimo de geração (cerca de 30 minutos). Os microrganismos sintróficos acetogênicos
convertem compostos orgânicos intermediários (propionato, butirato...) em acetato,
hidrogênio e dióxido de carbono. Entretanto, as reações acetogênicas não são
termodinamicamente favoráveis em condições padrão, ocorrendo apenas graças à interação
de microrganismos acetogênicos e metanogênicos. Mesmo assim, a energia obtida no
processo é baixa (56,6 kJ/mol propionato) e tem que ser divida entre as três espécies de
microrganismos envolvidas (acetogênicos, metanogênicos acetoclásticos e metanogênicos
hidrogenotróficos). Portanto, esta etapa é fundamental em reatores anaeróbios e as baixas
taxas de crescimento de determinadas espécies do consórcio microbiano contribuem para
problemas relacionados à sua estabilidade (Aquino e Chernicharo, 2005).
Os microrganismos metanogênicos acetoclásticos são os mais importantes no consórcio
microbiano, uma vez que a remoção de DQO da fase líquida depende da conversão de
acetato a gás metano. Conforme discutido em Aquino e Chernicharo (2005), os
microrganismos metanogênicos possuem lento crescimento (tempo de geração mínimo de
2 a 3 dias) e é provável que a acumulação de acetato ocorra no meio pela limitação de tais
microrganismos. De qualquer forma, o acúmulo de AGVs ocorre em sistemas de escala
real como resultado do não atendimento às condições cinéticas e termodinâmicas ótimas,
refletindo ou indicando uma condição de instabilidade (Aquino e Chernicharo, 2005).
10
Figura 3.2 - Etapas de degradação anaeróbia da matéria orgânica Fonte: Gujer e Zehnder
(1983).
Em sistemas aeróbios, existe disponibilidade de oxigênio (para atuar como aceptor de
elétrons) e os microrganismos que podem usá-lo preferem esta rota, uma vez que é
desejável a obtenção do máximo de energia possível (o que se dá quando se dispõe de
oxigênio, conforme descrito anteriormente). Portanto, “microrganismos aeróbios precisam
dispor de poucos elétrons do doador para fornecer ao oxigênio e gerar a energia requerida
para sintetizar uma determinada quantidade de biomassa, o que os permite ter uma taxa de
crescimento muito superior (quando as células crescem rapidamente em condições
favoráveis, o investimento da energia para a síntese é máximo)” (Rittmann e McCarty,
2001). Além disto, esta conversão acontece “em paralelo”, uma vez que, apesar da
diferença populacional presente em sistemas aeróbios em diferentes condições
operacionais, há uma forte redundância funcional destes microrganismos (muitos atuam da
mesma forma e fazem a mesma coisa); desta forma, uma estabilidade maior no consórcio
microbiano aeróbio é verificada e condições adversas não comprometem a população tão
seriamente quanto aconteceria em sistemas anaeróbios.
11
A conversão de substrato a produto final leva à formação de intermediários que,
juntamente com o substrato não degradado, causam DQO residual. Contudo, outros
compostos advindos diretamente da morte de células ou excretados para desempenhar
alguma função microbiana também são produzidos e um dos objetivos deste trabalho é
avançar na caracterização desse material.
3.2. A DQO residual e os Produtos Microbianos Solúveis - SMPs
A demanda química de oxigênio (DQO) é definida como a quantidade de oxigênio
necessária para oxidar os componentes de uma amostra que sejam oxidáveis por um agente
oxidante forte (geralmente dicromato de potássio) em uma solução ácida (APHA, 1998).
Uma vez que as reações de oxi-redução envolvem a transferência de elétrons, a DQO
quantifica, indiretamente, a quantidade de elétrons que pode ser potencialmente transferida
da matéria orgânica não estabilizada (poluente e doador) para um aceptor final que esteja
disponível (Aquino, 2003).
Dessa forma, a DQO residual mede a matéria passível de oxidação que aparece no efluente
e que não é removida nas condições operacionais/ambientais impostas durante o
tratamento. Como a transferência de elétrons é responsável pela obtenção de energia
necessária aos microrganismos, conforme descrito anteriormente, a DQO residual
dissolvida constitui-se, em última instância, em elétrons não investidos na produção
energética ou em elétrons convertidos em compostos intermediários e produtos
microbianos solúveis (do inglês soluble microbial produts – SMPs) (Aquino, 2003). De
fato, Barker e Stuckey (1999) definem DQO residual dissolvida como sendo o “conjunto”
formado por substrato residual degradável, compostos refratários do afluente, compostos
intermediários (ácidos graxos voláteis – AGVs) formados no tratamento e SMPs
produzidos durante o tratamento. A Figura 3.3, adaptada de Aquino (2003), apresenta um
esquema da DQO residual efluente ao tratamento biológico de águas residuárias.
12
Figura 3.3 - Classificação da DQO residual de tratamento biológico de águas residuárias
Vários pesquisadores têm demonstrado que, em sistemas de tratamento bem operados, a
maior parte da DQO residual não é proveniente do substrato não degradado ou de
intermediários produzidos, mas sim de SMPs (Chudoba, 1967; Grady e Williams, 1975;
Siber e Eckenfelder, 1980 apud Aquino, 2004; Parkin e McCarty, 1981; Namkung e
Rittmann, 1986; Noguera et al., 1994; Barker e Stuckey, 2001; Aquino e Stuckey, 2004;
Jarusutthirak e Amy, 2007; Aquino e Stuckey, 2008). Drewes e Fox (1999) apud
Jarusutthirak e Amy (2006) demonstraram que a matéria orgânica efluente a sistemas de
tratamento de água residuária consiste de (i) matéria orgânica natural refratária contida nas
fontes naturais de água potável, (ii) compostos orgânicos sintéticos em níveis-traço
produzidos durante o uso doméstico e subprodutos de desinfecção gerados durante os
processos de desinfecção da água e do tratamento de águas residuárias, e (iii) produtos
microbianos solúveis (SMPs) produzidos durante processos biológicos de tratamento de
águas residuárias. Segundo Liang et al. (2007), a concentração de SMPs no efluente
determina efetivamente os níveis de DQO residual em águas residuárias tratadas, sendo
necessário um melhor entendimento sobre os SMPs e fatores que levem à sua
minimização, com vistas a melhorar o desempenho do tratamento biológico .
Presente no afluente Produzida pelo sistema de tratamento
Biodegrável
DQO residual
Dissolvida Particulada
Não Biodegradável
13
Boero et al. (1991), estudando sistemas aeróbios, definiram SMPs como “intermediários e
produtos finais da degradação do substrato e produtos originários do decaimento
endógeno”. Noguera et al. (1994), abordando sistemas anaeróbios, consideraram SMPs
como “compostos orgânicos resultantes do decaimento endógeno e da completa
mineralização do substrato”. Aquino (2003) sugere que, na prática, “SMPs seja qualquer
matéria orgânica dissolvida causadora de DQO que aparece no efluente e que não estava
originalmente presente no afluente”.
Os ácidos graxos voláteis (AGVs) também são intermediários presentes na degradação
anaeróbia da matéria orgânica. Contudo, não são considerados SMPs. A exclusão dos
AGVs do pool de SMPs parece um contra-senso; contudo Nogueira et al. (1994)
esclarecem que os AGVs podem ser convertidos posteriormente a metano e gás carbônico
se condições operacionais forem propícias, ao passo que com os SMPs isso não
necessariamente acontece uma vez que alguns podem ser recalcitrantes. Além disso, a
conversão dos SMPs a metano e gás carbônico passa necessariamente pela sua conversão
inicial (pelos microrganismos acidogênicos) a AGVs, que são então usados pelos
microrganismos acetogênicos e/ou metanogênicos.
Os SMPs são classificados como UAPs (utilization-associated products - produtos
decorrentes do metabolismo associados à utilização do substrato e ao crescimento da
biomassa) e BAPs (biomass-associated products – produtos gerados a partir da biomassa
como parte do decaimento e morte celular) (Namkung e Rittmann, 1986; Laspidou e
Rittmann, 2002). Os UAPs são compostos carbonáceos predominantemente pequenos
advindos do substrato original, ao passo que os BAPs seriam macromoléculas celulares
contendo carbono e nitrogênio (Urbain et al., 1998 apud Jarusutthirak e Amy, 2006). Foi
verificado que a taxa de produção de UAPs é proporcional à taxa de utilização do substrato
e que na produção de BAPs, as células consomem substratos doadores de elétrons para a
formação de biomassa ativa, produzindo, concomitantemente, substâncias poliméricas
extracelulares (EPS) e UAPs (Jarusutthirak e Amy, 2006).
Em 2002, Laspidou e Rittmann propuseram uma teoria “unificadora”, estudando sistemas
aeróbios, associando a produção e a degradação dos SMPs à formação de EPS. Contudo,
um ponto fraco de tal teoria seria assumir que todos os EPS solúveis seriam UAPs e BAPs,
sugerindo que os SMPs são, de fato, EPS solubilizados (Aquino e Stuckey, 2008). Em um
14
estudo para caracterizar os SMPs e EPS produzidos em um reator anaeróbio de mistura
completa alimentado com glicose, Aquino e Stuckey (2004) sugeriram, a partir de dados de
cromatografia por exclusão de tamanho, que parte dos compostos orgânicos de alta massa
molar e presentes no efluente poderiam ser consequência dos EPS liberados da matriz
celular. Contudo, Ramesh et al. (2006) verificaram que amostras de SMPs e EPS obtidas a
partir de diferente lodos não apresentaram todas as características físico-químicas avaliadas
idênticas, confirmando que SMPs e EPS solubilizados não são a mesma coisa.
Aquino et al. (2006) definem EPS como materiais poliméricos ligados à superfície celular
que são extraídos por métodos físicos e químicos e diferenciam EPS e SMPs pelo caráter
extracelular do primeiro. Segundo Jang et al. (2007), “EPS são de origem biológica,
participam na formação de agregados microbianos e consistem de materiais insolúveis”, ao
passo que os SMPs seriam considerados “EPS solúveis (macromoléculas solúveis e
colóides)”. Wingender et al. (1999) apud Jang et al. (2007) caracterizam EPS, de modo
geral, como proteínas, carboidratos, ácidos nucléicos e substâncias húmicas.
Aquino e Stuckey (2008) apresentam um modelo para a predição de SMPs em reatores
anaeróbios de mistura completa, incorporando o conceito de produção e degradação de
EPS. De acordo com o modelo, em condições estacionárias, cerca de 58% dos SMPs
seriam UAPs e 42%, BAPs. Dentre os últimos, aproximadamente 7% seriam EPS solúveis.
Os autores afirmam ainda que, mediantes condições de estresse (ex. choque de carga
orgânica), a importância de BAPs e de EPS solúveis diminui, sendo que UAPs passam a
constituir mais de 95% dos SMPs.
O interesse na determinação da composição química e propriedades físico-químicas dos
SMPs vêm crescendo pelo papel fundamental que desempenham em agregados
microbianos tais como o lodo de tratamento biológico. Segundo Jang et al. (2007), a
investigação das características dos SMPs e EPS em reatores a membranas é fundamental
para o propósito de reuso da água. De fato, Jarusutthirak e Amy (2006) afirmam que a
presença de SMPs em efluentes não só afeta sua qualidade no que se refere à presença de
compostos orgânicos como também se torna um fator limitante para seu reuso.
15
Segundo Wingender et al. (1999) apud Sheng e Yu (2006), os SMPs, envolvidos na
formação de agregados microbianos, na aderência a superfícies e na floculação, contêm
grandes quantidades de estruturas aromáticas e cadeias de gorduras insaturadas com vários
tipos de grupos funcionais, sendo os principais componentes as proteínas, as substâncias
húmicas e os carboidratos. Portanto, sua produção gera DQO residual podendo, pois, afetar
a qualidade do efluente.
Bilgili et al. (2008) mencionam que, às vezes, as concentrações dos poluentes de lixiviados
tratados biologicamente excedem os padrões de descarte devido à não inclusão dos SMPs
como parâmetro de projeto. Portanto, segundo os autores, seria muito importante
considerar os SMPs no projeto de tratamento biológico de lixiviados para a otimização da
do processo e dos parâmetros operacionais bem como para a estimativa da DQO residual.
3.3. Fatores que afetam a produção de SMPs
Há vários fatores envolvidos na geração de produtos microbianos. Alguns deles foram
observados trabalhando-se com culturas puras, enquanto outros foram demonstrados em
sistemas de tratamento aeróbios e anaeróbios de tratamento de efluentes. Diferentes
estudos mostraram que alguns SMPs desempenham uma função metabólica, seja pela
propriedade quelante que pode ajudar na assimilação de metais nutrientes ou proteção
contra toxicidade (Kuo e Parkin, 1996; Aquino e Stuckey, 2003; Aquino e Stuckey, 2004),
seja para desempenhar alguma outra função, tais como quorum sensing em sistemas de
biofilmes, por exemplo (Hastings e Greenberg 1999; Nies 2003). Estudos usando culturas
puras sugeriram que produtos microbianos podem ser produzidos tanto como o resultado
de escassez de substrato ou de excesso de fonte energética (Boylen e Ensign, 1970;
Neijssel e Tempest, 1976 apud Huajun et al., 2008). A Tabela 3.2, extraída de Aquino
(2003), apresenta os principais fatores que levam microrganismos a produzir SMPs.
A literatura sugere que a produção de SMPs está intimamente relacionada à concentração
de biomassa presente no sistema. À luz dessa hipótese é de se esperar que o tipo de reator,
por determinar maior ou menor retenção de biomassa, também afete a quantidade de SMPs
produzidos. De fato, algumas pesquisas (Barker et al., 2000; Aquino e Stuckey, 2002)
mostraram que a produção de SMPs em reatores anaeróbios seguiu a ordem: reator
16
membrana (MBR) > reator compartimentado (ABR) > reator mistura completa (CSTR). O
reator de membranas estudado usava membranas submersas, cuja função era reter a
biomassa no sistema. Como não havia descarte de lodo, a não ser durante o processo
esporádico de limpeza da membrana, o tempo de detenção celular (TDC) era bastante
elevado, e Aquino (2003) sugeriu que os elevados tempos de retenção celular associados
ao MBR e ao ABR tenham contribuído significativamente para a maior produção de SMPs
naqueles reatores.
Desta forma, de valiosa importância é a avaliação dos parâmetros operacionais e fatores
ambientais para a produção dos SMPs. Entretanto, estudos abrangendo este assunto são
escassos na literatura. Um dos fatores mais importantes para projeto e operação dos
sistemas de tratamento biológico é o tempo de detenção celular (conhecido como idade do
lodo e definido como o tempo médio de permanência da biomassa no reator biológico) e é
de se esperar que ele influencie significativamente a produção de SMPs. Jarusutthirak e
Amy (2006) de fato afirmaram que o tempo de detenção celular possivelmente afeta
significativamente não só a quantidade, mas também as características dos SMPs
produzidos.
Kuo et al. (1996), trabalhando com reatores anaeróbios de mistura completa, mostraram
que a produção normalizada de SMPs (SMP/So) decresceu com o aumento da idade do
lodo até atingir um valor mínimo, quando a idade do lodo era de aproximadamente 25 dias,
e depois aumentou novamente. Vale salientar que os autores determinaram a concentração
de SMPs com base na diferença entre a DQO residual dissolvida e a DQO causada pelo
substrato não degradado e pelos ácidos graxos intermediários presentes. O comportamento
de “variação em U”, mostrado na Figura 3.4, também foi observado para sistemas aeróbios
e um tempo de retenção entre 2 a 15 dias foi reportado como ideal para a produção mínima
de SMPs (Baskir e Hansford 1980; Rittmann et al. 1987; Hao e Lau 1988; Pribyl et al.
1997 apud Aquino, 2003).
Essa “variação em U” foi modelada e explicada baseando-se no fato de que SMPs podem
ser produzidos como resultado da utilização do substrato (UAP) ou como resultado do
decaimento endógeno (BAP), conforme discutido anteriormente. Dessa forma, quando a
idade do lodo é alta, maior será a produção de BAPs devido à maior propensão ao
17
decaimento endógeno e consequente lise celular. Além disso, na medida em que a idade do
lodo aumenta, maior é a remoção de compostos de fácil biodegradação (substrato original e
intermediários) e a DQO residual, nesse caso, seria representada pelo acúmulo de
compostos microbianos de difícil biodegradabilidade (Kuo et al. 1996). Por outro lado, nas
condições em que o tempo de retenção é pequeno e as taxas de carregamento orgânico
elevadas, a taxa de utilização do substrato (rut) será maior e, por causa disso, maior será a
produção de UAPs, uma vez que tal produção é diretamente proporcional à rut (Rittmann e
McCarty, 2001). Em outras palavras, o lodo é “saturado” com substrato biodegradável,
resultando em acúmulo de compostos intermediários e metabólitos excretados pela
biomassa devido à elevada relação A/M (relação alimento/microrganismo).
Figura 3.4 – Produção de SMPs em função da idade do lodo. Fonte: Aquino (2003).
Liang et al. (2007), avaliaram a influência do tempo de detenção celular (TDC) na
produção de SMPs em um bioreator a membranas (MBR), estudando os tempos de
detenção celular de 10, 20 e 40 dias para uma concentração afluente de 600 mgDQO/L,
substrato acetato de sódio. Com o estudo, verificaram um acúmulo de SMPs mais
pronunciado em baixos valores de TDC, e que a diminuição do TDC levou ao aumento do
potencial de colmatação da membrana. Além disso, os autores relacionaram a percentagem
de compostos aromáticos no efluente com o valor de TDC, sugerindo que a produção de
compostos aromáticos foi mais favorecida em altos valores de TDC (baixa relação A/M).
A/M Decaimento endógeno (Formação de BAPs) A/M
rut
Tempo de retenção
SMP/So Faixa reportada como ideal: Sistemas anaeróbios: ~ 25 d Sistemas aeróbios: 2 – 15 d
(Formação de UAPs)
18
Tabela 3.2 - Fatores que dão origem à produção de compostos microbianos
Fator Comentário Referências
Concentração
de equilíbrio
Organismos podem excretar SMPs para estabelecer a
concentração de equilíbrio através da membrana.
Parkin e McCarty
(1981)
Deficiência
nutricional
SMPs podem ser produzidos para auxiliar na absorção de
metais nutrientes ou devido ao mecanismo de ‘descarga’
de elétrons que não puderam ser utilizados no
crescimento devido à ausência de nutrientes essenciais.
Emery (1982);
Rittmann e
McCarty (2001)
Toxicidade SMPs possuem propriedades quelantes e podem estar
envolvidos no processo de mitigação da toxicidade
causada por metais pesados. Compostos microbianos
podem ainda ser produzidos como conseqüência direta da
lise celular causada pelas substâncias tóxicas.
Kuo e Parkin
(1996); Aquino e
Stuckey (2004)
Crescimento
biomassa
Durante o crescimento da biomassa, enzimas
extracelulares são produzidas para a hidrólise de
biopolímeros, e algumas estruturas celulares, ao serem
renovadas, são excretadas em solução. Além disso,
polímeros extracelulares são produzidos para auxiliar na
granulação e na floculação da biomassa, e quando
liberados em solução constituem parte dos SMPs.
Hejzlar e
Chudoba (1986);
Laspidou e
Rittmann (2002)
Quorum
sensing
Um mecanismo de comunicação entre células,
denominado quorum sensing foi descoberto em bactérias
gram-negativas, e envolve a excreção de lactonas no
meio de cultivo.
Hasting and
Greenberg
(1999); Fuqua
and Greenberg
(1998)
Decaimento
endógeno
Durante a morte e lise celulares uma miríade de SMPs é
lançada em solução, e enquanto alguns SMPs podem ser
prontamente biodegradáveis, outros podem ser mais
refratários e escapar com o efluente secundário.
Barker et al.
(1999)
Jarussuthirak e Amy (2006) também avaliaram a influência do TDC na produção de SMPs
em reatores a batelada seqüenciais de bancada (SBR – sequencing batch reactors) - para
simular o processo de lodos ativados – com testes subsequentes de filtração por
19
membranas e concentração inicial de carbono orgânico dissolvido de 100mgC/L,
observando uma baixa produção de colóides hidrofílicos e macromoléculas,
comparativamente a TDC mais elevados.
Para TDCs longos, a variação do conteúdo orgânico residual pode ser atribuída à
ocorrência de mudanças na composição de componentes degradáveis dos SMPs
acumulados (Chipasa e Medrzycka, 2004). Longos TDCs poderiam causar uma queda no
número de células viáveis na biomassa, de forma que uma maior quantidade de material
celular de menor biodegradação ou de metabolismo mais lento seria retida no meio (Shin e
Kang, 2003). Jarusutthirak e Amy (2006) mencionam que um aumento no TDC leva a um
acúmulo de biomassa no sistema, o que levaria a um aumento na quantidade de SMPs.
A mudança na composição das comunidades microbianas em sistemas de tratamento com o
aumento do TDC é reportada na literatura, e podem ser relacionadas com a produção de
SMPs (Kucnerowicz e Verstraete, 1983; Madoni, 1994; Wanner, 1994 apud Chipasa e
Medrzycka, 2008). Chipasa e Medrzycka (2004) estudaram a influência dos SMPs na
concentração de biomassa e na remoção de DQO e DBO em dois experimentos com
bioreatores aeróbios de batelada alimentados por 16 dias com soja e peptona (DQO
afluente de ~860 mg/L) O primeiro experimento permitia o acúmulo de SMPs e, no
segundo, os SMPs eram removidos por meio da lavagem diária da biomassa. Uma vez que
a concentração de SMPs aumentou proporcionalmente ao TDC, os autores concluíram que
microrganismos superiores (protozoa, flagelados heterótrofos, amebas, ciliados)
proliferavam mediante concentrações elevadas de SMPs, e que a presença de SMPs causou
um acúmulo irregular da biomassa devido a possíveis mudanças de espécies e populações
microbianas. De fato, o estudo de Chipasa e Medrzycka (2008) mostrou que mudanças de
espécies microbianas ocorreram rapidamente com o aumento do TDC.
Alguns trabalhos mostram que o aumento do TDC levou ao decréscimo da proporção de
compostos orgânicos de alta massa molar (>10.000 Da) e, em contrapartida, à elevação de
compostos de baixa massa molar e facilmente degradáveis (<1.000 Da) (Shin e Kang, 2003
e Huang et al., 2000 apud Liang et al., 2007). Por outro lado, Liang et al. (2007),
estudando reatores de membrana, reportaram distribuições de massas molares similares em
diferentes TDC.
20
Huajun et al. (2008) avaliaram os efeitos da carga orgânica aplicada, do tempo de detenção
hidráulica (TDH) e da temperatura na produção de SMPs em um reator anaeróbio
compartimentado com carreador (CABR). O CABR era um reator retangular com seis
câmaras de igual volume e preenchido com carreadores esféricos ocos feitos de bambu,
possibilitando a retenção da biomassa por aderência, combinando, portanto, as vantagens
de um reator anaeróbio compartimentado com as características de um reator de biofilme.
A alimentação usada tinha como substrato uma solução sintética tamponada de proteína-
carboidrato (contendo açúcar e peptona) com nutrientes e metais-traço. As concentrações
utilizadas foram de 300, 450 e 600 mgDQO/L, às temperaturas de 10, 18 e 28ºC e valores
de TDHs de 9, 12 e 18 horas. A concentração de SMPs foi calculada subtraindo-se as
contribuições medidas de glicose e dos ácidos acético, propiônico, isobutírico e butírico da
DQO residual filtrada. Considerando o efeito da carga orgânica aplicada, em geral, a
produção de SMPs respondeu de forma proporcional, ou seja, o aumento da carga orgânica
levou ao aumento da produção de SMPs, controversamente aos resultados de Jarussuthirak
e Amy (2006), Chipasa e Medrzycka (2008) e Chipasa e Medrzycka (2004).
Os resultados de Huajun et al. (2008) mostraram ainda que a diminuição da temperatura
levou ao aumento da produção de SMPs, fato este atribuído à diminuição do metabolismo
bacteriano (menor taxa de degradação de SMPs e de substrato) e à condição de estresse da
biomassa (que produziria maior quantidade de SMPs para proteção celular). Os picos na
concentração de SMPs foram obtidos nas temperaturas de 18 e 10º C e no TDH
intermediário de 12 horas. A relação SMP/DQO filtrada efluente foi alta à maior
temperatura (28oC) e maior TDH, fato este atribuído à completa degradação de AGVs. Os
autores reportaram ainda uma participação de SMPs de 50 a 70% na DQO filtrada efluente.
A produção e a caracterização de SMPs em reatores anaeróbios compartimentados (ABR)
com carga orgânica aplicada de 0,5 g/L também foi estudada por Barker et al. (1999) que
avaliaram a influência do TDH, concentração de biomassa e temperatura na produção de
SMPs. Os autores mostraram que a produção de SMPs diminuiu com a redução do TDH,
em desacordo com trabalho anterior feito com o mesmo tipo de reator usado (ABR)
(Schiener et al,1998 apud Barker et al. 1999). Contudo, esta observação foi justificada
pelo elevado decaimento da biomassa e, consequentemente, elevada produção de BAPs
nos ABRs em questão. A diminuição da temperatura fez com que a produção de SMP
21
crescesse, justificada pela condição de estresse gerada e pela desaceleração da taxa de
degradação. Além disso, foi observado que a produção de SMPs aumentou quando a
concentração inicial de biomassa era elevada.
Outro parâmetro relevante na produção de SMPs é a relação alimento/microrganismo
(A/M). Jang et al. (2007), estudando reatores de membrana, verificaram que a qualidade do
efluente melhorou com o decréscimo da relação alimento/microrganismo. Além disto, os
autores verificaram que a concentração total de carboidratos diminuiu com o decréscimo
de A/M e que a concentração de EPS aumentou com o aumento de A/M. Estes resultados
parecem concordar com as observações de Huajun et al. (2008); todavia, são contraditórios
a outros estudos reportados (Jarussuthirak e Amy, 2006; Chipasa e Medrzycka, 2008;
Chipasa e Medrzycka, 2004; Aquino, 2003; Shin e Kang, 2003).
O principal efeito de algum tipo de adversidade no sistema (mudanças bruscas de
temperatura, choques osmóticos, deficiência nutricional ou ainda presença de compostos
tóxicos) é a produção de AGVs e SMPs (Aquino e Stuckey, 2004). Contudo, a alta
biodegradabilidade dos AGVs é clara e, tão logo as condições de estresse (causadoras de
limitações cinéticas e termodinâmicas) sejam minimizadas, eles são metabolizados. Por
outro lado, os SMPs possuem uma lenta cinética de biodegradação, contribuindo, pois,
para o aumento da DQO residual (Barker e Stuckey, 1999).
O efeito da toxicidade (adição de clorofórmio e cromo) em reatores anaeróbios de mistura
completa alimentados com glicose (10gDQO/L) foi estudado por Aquino e Stuckey (2004).
De acordo com o estudo, cerca de 82 a 98% da DQO efluente foi devida a SMPs e de 0,9 a
2% da DQO afluente foi convertida a SMPs. O acúmulo final de SMPs aumentou mediante
condições de estresse, apesar da sua diminuição percentual devido à produção de AGVs. O
aumento de SMPs pareceu proporcional à carga tóxica aplicada, indicando que parte
significativa dos SMPs acumulados advém provavelmente de lise celular. Aquino e
Stuckey (2004) mostraram ainda que as condições de estresse impostas contribuíram ainda
para a produção de polímeros extracelulares (EPS) , que contribuíram, em parte, para a
produção de SMPs e formação de DQO residual.
22
3.4. Consequências da produção de SMPs
Os efeitos da produção de SMPs podem ser interessantes na determinação do
comportamento das comunidades microbianas presentes no meio. Alguns estudos
abordam o efeito dos SMPs nas atividades biológicas, desde potencial ecotoxicidade
produzida por microrganismos em biofilmes (Ross et al., 1998) até atividade mutagênica
aumentada (Rappaport et al., 1979). Estudos recentes têm sido realizados para o
aprofundamento destas interferências (Ichihashi et al., 2006; Chipasa e Medrzycka, 2004;
Chipasa e Medrzycka, 2008). Como exemplo, Ichihashi et al. (2006), estudando dois
reatores anaeróbio-aeróbio com lodos ativados de fluxo contínuo, em escala de bancada
(um com TDH=48h e o outro com TDH=6,4h), alimentados com esgoto sintético contendo
acetato e peptona, avaliaram o efeito de SMPs sobre o metabolismo microbiano para a
remoção de fosfato e nitrogênio e verificaram o efeito inibitório dos SMPs na nitrificação.
Segundo Chipasa e Medrzycka (2004), as diferenças nas taxas de consumo de substrato
podem ser atribuídas a diferenças nas atividades microbianas e à concentração de SMPs
presente. Seu estudo, realizado em sistemas aeróbios, indica que as comunidades
microbianas desenvolvidas na presença de SMPs englobam microrganismos que dependem
dos metabólitos de outros microrganismos, capazes de utilizar os componentes da
alimentação. Já as comunidades microbianas desenvolvidas em níveis reduzidos de SMPs
apresentaram maior eficácia e rapidez no consumo da alimentação sintética. Portanto, a
presença e o acúmulo de SMPs no meio retardaria a degradação do substrato, fato este
atribuído pelos autores à redução na atividade microbiana.
Em outro estudo Chipasa e Medrzycka (2008) avaliaram a interferência dos SMPs na
composição e sucessão da comunidade microbiana de lodos ativados em bioreatores a
batelada em escala de bancada alimentados com esgoto sintético. Os autores observaram e
compararam a ocorrência dos microrganismos desenvolvidos em níveis significativos de
SMPs e também em níveis reduzidos de SMPs. A composição da comunidade microbiana
(principalmente protozoários e metazoários) foi monitorada e na medida em que a
concentração de SMPs crescia, a comunidade microbiana se modificava rapidamente
favorecendo a presença de microrganismos de dimensões bem maiores, tais como
invertebrados. Os autores confirmaram microscopicamente a mudança de espécies
23
microbianas que passaram de ciliados fixos (12 – 175µm) a ciliados livre-natantes (35 –
330µm) e, por fim, a invertebrados, tais como rotíferos (0,2 – 1mm) e nematóides (1 –
50mm). Por outro lado, tais mudanças não foram observadas mediante baixas
concentrações de SMPs, onde foi verificada a proliferação de microrganismos pequenos
tais como ciliados fixos, ciliados livre-natantes, bactérias formadoras de flocos e
flagelados. Portanto, a mudança de tamanho da população foi reportada como uma das
influências mais relevantes da presença de SMPs no meio. Chipasa e Medrzycka (2008)
sugeriram ainda que o acúmulo de SMPs seria um dos mecanismos regulatórios intrínsecos
que controlariam a viabilidade e a atividade microbiana no sistema de lodos ativados.
Esta interferência dos SMPs na atividade microbiana interfere diretamente no desempenho
do tratamento biológico. Os resultados obtidos por Chipasa e Medrzycka (2004) sugerem
que o ajuste do acúmulo de SMPs poderia servir como um método operacional para a
estabilização da comunidade microbiana bem como do processo de biodegradação.
Reforçam, pois, a necessidade de um maior esclarecimento acerca dos SMPs e sua
interferência na determinação da população microbiana e suas variações ao longo do
tratamento.
Atualmente, os SMPs têm sido de particular interesse em sistemas de tratamento que
dispõem de reatores biológicos de membranas (MBR). A difusão cada vez maior dos
processos de membranas impõe restrições quanto à diminuição do fluxo através da
membrana e sua durabilidade. Grande parte dos estudos recentes sobre SMPs é dedicada a
avaliar a influência de sua produção no desempenho de tais reatores, uma vez que estes
compostos são considerados os principais responsáveis pela biocolmatação (biofouling)
das membranas (Drews et al., 2007; Fonseca et al., 2007; Holakoo et al., 2006,
Jarusutthirak e Amy, 2007,Le-Clech et al., 2006, Rosenberger et al., 2006, Trussell et al.,
2006; Oliveira-Esquerre et al.,2006).
O fenômeno de colmatação pode advir de adesão das células microbianas à superfície da
membrana, adsorção de compostos orgânicos ou ainda de precipitação de espécies
inorgânicas (Aquino et al., 2006). Shin e Kang (2003) apud Aquino et al. (2006) reportam
o estreitamento dos poros da membrana pela formação de uma camada gelatinosa,
diminuindo seu cut-off nominal. A colmatação reduz o fluxo de permeado, fator
determinante para definir a viabilidade econômica deste tipo de tratamento. A literatura
24
reporta uma contribuição de 26 a 52% dos SMPs para a colmatação de membranas de
microfiltração ou ultrafiltração normalmente usadas em reatores MBR (Wisniewski e
Grasmick, 1998; Bouhabila et al., 2001 apud Liang, 2007).
Trussell et al. (2006) mostraram que as taxas de colmatação estavam correlacionadas com
a concentração total de SMPs. Os resultados de Fonseca et al. (2007) sugeriram que,
mesmo na ausência de atividades microbianas significativas e de formação de biofilmes, os
SMPs podem ter propriedades intrínsecas para a colmatação de membranas em níveis
operacionais. Na mesma linha, Drews et al. (2007) reportam que mudanças repentinas de
temperatura levam à produção de SMPs e elevam a taxa de colmatação das membranas.
Le-Clech et al. (2006) usaram alginato para modelar a colmatação de membranas por
SMPs-carboidratos, por acreditarem que dentre os SMPs, os desta natureza são os
principais responsáveis pelo biofouling. Segundo Grelier et al. (2006), o parâmetro mais
relevante para a colmatação da membrana é a concentração de polissacarídeos coloidais e
solúveis. De fato, Liang et al. (2007) verificaram que carboidratos e proteínas parecem ser
os principais componentes dos SMPs a acumular nos reatores de membrana,
comparativamente aos compostos aromáticos.
Reid et al. (2008), estudando as características bioquímicas de SMPs e EPS de lodos de
reatores de membranas, observaram que as proteínas foram os componentes dominantes
destes compostos para as cinco plantas estudadas. Entretanto, apesar dos carboidratos
estarem presentes em menores concentrações do que as proteínas, os primeiros pareceram
ter um maior impacto tanto na capacidade de filtração da membrana, quanto na sua
colmatação. Os autores verificaram que o tempo de sucção capilar - CST (medida
quantitativa, em tempo, de liberação de água pelo lodo, particularmente interessante em
processos de secagem de lodo, na avaliação de sua dosagem e acondicionamento) estava
positivamente correlacionado aos SMP-carboidratos e que o índice volumétrico de lodo
(SVI), com a presença de EPS-proteínas. Portanto, a tentativa de elucidação das
características químicas dos SMPs e EPS torna-se particularmente relevante para o
entendimento das interações físico-químicas destes compostos com as membranas dos
reatores. De fato, Li et al. (2000) afirmam que se os compostos não eliminados pelo
tratamento de águas residuárias e presentes na DQO residual fossem conhecidos, sua
25
retenção no reator poderia ser melhorada por adaptação e otimização das membranas de
acordo com os tipos de moléculas presentes no efluente.
As propriedades quelantes dos SMPs já foram estudadas em sistemas anaeróbios e também
têm sido de interesse em reatores aeróbios de membranas. A produção de SMPs
aconteceria para seqüestrar metais nutrientes em sistemas onde ocorre precipitação de
metais, como nos anaeróbios (MeS, Me(OH)2 , MeCO3) (Kuo e Parkin,1996). Holakoo et
al. (2006) estudaram estas propriedades para o metal cobre e, neste caso, os SMPs
demonstraram ser quelantes moderados. Os autores verificaram ainda que a adição de
cobre reduziu significativamente a capacidade de complexação dos SMPs acumulados,
devido à maior massa molar apresentada pelos compostos microbianos (MM > 100.000
Da). Do ponto de vista de distribuição de massas molares dos SMPs, aqueles com tamanho
entre 1.000 e 10.000 Da se mostraram com maior capacidade de complexação com o metal
cobre. A adição de cobre aumentou o acúmulo de SMPs de alta massa molar (> 100.000
Da) – 76% do total de SMPs, reduzindo, pois, a capacidade de complexação dos SMPs
acumulados.
Holakoo et al. (2006) também avaliaram a interferência das condições operacionais na
produção de SMP em sistemas aeróbios de reatores de membranas alimentados com esgoto
sintético na ausência de cobre (condição normal) e após a adição de cobre à alimentação.
Os resultados mostraram que elevados valores de TDCs e baixa relação A/M
(alimento/microrganismo) parecem levar ao acúmulo de SMPs de alta massa molar (>
100.000 Da), associado, pois, ao decaimento da biomassa.
3.5. Caracterização da DQO efluente de reatores biológicos
A caracterização da DQO residual pode subsidiar a adoção mais racional de sistemas de
pós-tratamento e facilitar o entendimento acerca dos processos biológicos envolvidos, com
vistas ao aumento de eficiência de remoção de matéria orgânica. Além disto, é
fundamental para a avaliação dos riscos impostos pela disposição do efluente tratado no
ambiente.
26
Segundo Aquino (2003), a caracterização de efluentes biológicos pode ser efetuada em três
níveis: i) identificação de compostos individuais, ii) identificação das principais classes de
compostos presentes, iii) determinação de parâmetros indiretos e globais (demanda
química de oxigênio – DQO; toxicidade; distribuição de tamanho). Embora haja trabalhos
publicados contemplando os três níveis, a caracterização de efluentes usando parâmetros
indiretos é, em geral, preferida devido à maior conveniência e utilidade prática da
informação. Parâmetros como biodegradabilidade (importante para se avaliar a DBO e o
uso de sistemas biológicos para pós-tratamento), toxicidade (importante para se considerar
a disposição do efluente tratado) e distribuição de tamanho (importante para avaliar a
eficiência e subsidiar a escolha de técnicas de remoção a serem empregadas) são
amplamente citados na literatura (Amy et al. 1987; Barcelo et al. 1999; Galassi e Benfenati
2000 apud Aquino, 2003). Contudo, a caracterização química destes compostos tem sido
pouco estudada e há poucos trabalhos na literatura. Isso talvez ocorra devido ao fato de tal
caracterização não ser trivial, demandando técnicas mais sofisticadas e de custo mais
elevado.
Um dos primeiros resultados publicados sobre a caracterização química da DQO residuária
de sistemas anaeróbios foi feito por Reemtsma e Jekel (1997). Os autores usaram
cromatografia a gás acoplada a espectrometria de massa (GC-MS) para identificar
compostos de baixo peso molecular de uma água residuária de curtume tratada
anaerobiamente seguida por pós-tratamento aeróbio. Os compostos orgânicos presentes
foram agrupados em 12 classes, de acordo com seu comportamento em relação à separação
físico-química empregada. Nenhuma das 12 classes foi completamente removida durante o
tratamento anaeróbio e 25% da DQO efluente desse processo era compreendido de
substâncias que não estavam originalmente presentes no efluente do curtume. Digno de
nota é o fato de que a concentração de compostos aromáticos (principalmente fenóis,
ácidos carboxílicos aromáticos e hidroxilados carboxílicos aromáticos) aumentou
significativamente durante o tratamento anaeróbio. O pós-tratamento aeróbio, por outro
lado, mostrou-se eficiente na remoção dos compostos originalmente presentes no efluente
do curtume e refratários ao tratamento anaeróbio, bem como dos compostos aromáticos
produzidos pelo processo anaeróbio.
27
Dignac et al. (2000) realizaram um trabalho de caracterização no afluente e efluente de um
sistema de lodos ativados tratando esgoto sanitário. As análises permitiram a identificação
de 41% do carbono orgânico solúvel afluente ao sistema e 22% do carbono orgânico
solúvel efluente. Contudo, 67% do nitrogênio afluente ao sistema não pode ser
caracterizado, e após o tratamento a fração não caracterizada aumentou para 90%, sendo os
10% do nitrogênio efluente caracterizado constituídos predominantemente por proteínas. A
análise individual de aminoácidos, carboidratos, lipídios e compostos fenólicos no esgoto
bruto contribuiu para a identificação de 46% do carbono orgânico presente. As classes
químicas proteínas e lipídios foram as mais removidas durante o tratamento, e como
consequência a maior fração do carbono orgânico total efluente era desconhecida. A fração
conhecida era composta por apenas 13% de proteínas e menos que 1% de lipídios. A fração
de matéria orgânica efluente que não pôde ser caracterizada é, segundo os autores,
provavelmente constituída de compostos recalcitrantes e de estrutura mais complexa
formados durante o tratamento biológico.
Dois estudos de caracterização foram feitos em efluentes anaeróbios utilizando-se técnicas
analíticas mais sofisticadas. Em um deles, Barker et al. (2000) mostraram que proteínas e
carboidratos representavam menos que 10% da DQO efluente de um reator de bancada
alimentado com esgoto sintético, e que a maioria da DQO residual permanecia não
identificada. Usando ressonância magnética nuclear, os autores sugeriram ainda a presença
de álcoois, compostos carboxilados e significativa quantidade de compostos aromáticos
(6%) nos efluentes anaeróbios caracterizados. No outro estudo, Aquino e Stuckey (2002)
caracterizaram efluentes de reatores CSTR de bancada alimentados com glicose, usando
extração líquido-líquido seguido de GC-MS. Alguns compostos identificados - compostos
fenólicos, ftalatos e outros aromáticos – parecem ter sido produzidos pelo sistema de
tratamento uma vez que não foram identificados no afluente. É sabido que microrganismos
podem sintetizar variedade enorme de compostos a partir de monômeros básicos e
acredita-se que os compostos aromáticos identificados tenham sido produzidos a partir de
aminoácidos que contêm o anel benzeno. Devido à característica refratária exibida por
compostos aromáticos perante a degradação anaeróbia não é de todo surpreendente a
identificação desses compostos em efluentes anaeróbios.
28
Li et al. (2000) usaram diferentes técnicas analíticas para tentar avaliar a eficiência de
remoção de poluentes de difícil degradação, bem como identificar e comparar compostos
individuais presentes na DQO residual em sistemas reais convencionais de tratamento
biológico e em tratamento biológico assistido por membranas alimentados com esgoto
sanitário. As técnicas utilizadas no estudo foram GC-MS (cromatografia gasosa -
espectrometria de massas), FIA (análise por injeção de fluxo) e LC (cromatografia líquida).
As duas últimas técnicas foram utilizadas acopladas a detectores de massa (MS) e massa
tandem (MS-MS). Os resultados obtidos mostraram taxas favoráveis de eliminação dos
poluentes, principalmente no sistema com membrana, e nenhuma diferença foi observada
dispondo de micro ou ultrafiltração com porosidade nominal (cut-off) da membrana de
200.000 Da. Os autores verificaram que poluentes não eliminados nos efluentes,
observados por GC-MS e FIA-MS e identificados por GC-EI-MS (EI – impacto por
elétrons), FIA-MS-MS e por LC-MS-MS, eram predominantemente ftalatos. Contudo,
poliéteres não voláteis polares e seus precursores (éteres aril e alquilpoliglicóis) foram
observados no modo positivo de ionização. No modo negativo, observou-se a presença de
surfactantes aniônicos tais como os alquilbenzeno sulfonados de cadeia linear ou LAS
(linear-alquil-sulfonates), compostos de difícil degradação anaeróbia. Os métodos
analíticos utilizados na pesquisa mostraram ser as ferramentas mais poderosas para
monitoramento dos processos de tratamento bem como para sua otimização, uma vez que
abordam substâncias específicas.
Especificamente sobre a caracterização dos SMPs, a literatura reporta como sendo uma
ampla gama de compostos de massas molares altas e baixas, incluindo proteínas,
polissacarídeos, ácidos húmicos e fúlvicos, ácidos nucléicos, enzimas e compostos
estruturais (DeWalle e Chian, 1974; Hejzlar e Chudoba, 1986a,b apud Liang et al., 2007;
Rittmann et al., 1987; Chudoba et al., 1980 apud Aquino, 2004; Parkin e McCarty, 1981).
Drews et al. (2007) e Liang et al. (2007) caracterizaram SMPs em reatores de membranas
(MBR) como proteínas e polissacarídeos. No estudo de Jang et al. (2007), de 83 a 91% da
DQO no permeado de um MBR aeróbio em escala piloto alimentado com esgoto sanitário
era constituída de SMPs-carboidratos e de SMPs-proteínas, sendo que os primeiros
apresentaram concentrações superiores. Controversamente, Barker et al. (2000) mostraram
que proteínas e carboidratos representavam menos que 10% da DQO efluente e que sua
maioria permanecia não identificada. Segundo Aquino e Stuckey (2004), proteínas e
29
carboidratos somaram menos de 50% dos compostos orgânicos presentes em solução. De
acordo com Liang et al. (2007), a maioria dos SMPs seriam substâncias húmicas aquáticas
hidrofóbicas.
Alguns resultados de uma caracterização química mais detalhada feita com efluentes de
reatores de manta de lodo (UASB) em escala de demonstração e alimentados com esgoto
sanitário demonstram que de fato a maioria dos compostos que constituem a DQO filtrada
efluente tem baixa massa molar (Elisiário et al. 2006), sendo, portanto, passíveis de análise
por cromatografia gasosa. Além disso, inúmeros estudos de distribuição de tamanho foram
realizados na tentativa de obter mais informações acerca do perfil dos compostos presentes
na DQO residual (Klinkow et al., 1998; Confer e Logan, 1997a, 1997b; Boero et al., 1996
apud Aquino, 2003; Parkin e McCarty, 1981; Kuo e Parkin, 1996; Barker et al.,1999;
Barker e Stuckey, 1999). A revisão de literatura sugere que a maioria dos compostos
causadores de DQO residual tem massas molares baixas, inferiores a 1.000 Da (Aquino,
2003).
Mais recentemente, Jang et al. (2007) reportam que mais de 86% dos SMPs-carboidratos
presentes no permeado de MBR tinham massas molares inferiores a 1.000 Da. Todavia, é
significativa a quantidade de compostos de massas molares elevadas (> 50.000 Da) em
efluentes biológicos. Além disto, observa-se que a distribuição de massas molares está
intimamente relacionada às condições operacionais adotadas no tratamento (Confer e
Logan, 1997a, 1997b; Boero et al., 1996; Klinkow et al.,1998 apud Aquino, 2003; Kuo e
Parkin,1996; Barker e Stuckey, 1999; Barker et al., 1999; Aquino et al., 2006).
Jarusutthirak e Amy (2007), tentando elucidar as características da matéria orgânica
efluente ao tratamento biológico, observaram uma distribuição bimodal de compostos de
alta e baixa massa molar. Em análise por cromatografia por exclusão de tamanho
(HPSEC), os compostos orgânicos foram segregados em três grupos de acordo com a
massa molar apresentada: massas molares inferiores a 1.000 Da, entre 1.000 e 10.000 Da e
maiores que 10.000 Da. Cerca de 30 a 50% dos SMPs apresentaram massas molares
inferiores a 1.000 Da e 25 a 45%, superiores a 10.000 Da. Ainda segundo este estudo,
compostos de alta massa molar (>10.000 Da) – SMPs-BAP - apresentaram características
hidrofílicas e baixa aromaticidade. Moléculas de massas molares inferiores a 500 Da
30
podem indicar pequenos ácidos orgânicos, aminoácidos ou açúcares simples
provavelmente produzidos durante o crescimento da biomassa. Os autores afirmam, pois,
que a matéria orgânica efluente consiste da composição SMP-BAP e matéria húmica
advinda de processos biológicos, uma vez que a fração de baixa massa molar (< 1.000 Da)
– SMP-UAP - é prontamente biodegradada.
No estudo de Barker (1999) para reatores ABR, DQO de alimentação de 0,5g/L,
utilizaram-se técnicas de ultrafiltração e de cromatografia por exclusão de tamanho, para a
caracterização dos SMPs. Notou-se que compostos de alta massa molar ficaram
concentrados nos compartimentos intermediários do reator sendo, provavelmente, produtos
de lise celular. Já os compostos retidos no primeiro compartimento do reator, e também no
efluente, apresentaram-se como sendo de baixa massa molar. Foram, pois, caracterizados
como UAPs ou produtos da degradação dos compostos de alta massa molar. O trabalho de
Schiener et al. (1998) apud Barker et al. (1999), utilizando carga orgânica inicial de 4 g/L
de DQO também para reatores ABR alimentados com solução sacarose-nutrientes, sugeriu
uma distribuição bimodal de massas molares para os SMPs efluentes, pelos resultados de
ultrafiltração. Cerca de 25% dos SMPs teriam massas molares maiores que 100.000 Da,
enquanto 30% apresentaram massas molares inferiores a 1.000 Da. Os autores
identificaram a fração hidrolisada de elevada massa molar como heteropolissacarídeos
consistindo de glicose, fucose e N-acetilgalactoseamina, que são constituintes da parede
celular. Barker et al. (1999) também sugeriram que a fração de alta massa molar de
efluentes anaeróbios era composta por açúcares (glicose, galactose, fucose, ramnose),
conhecidos constituintes dos polissacarídeos encontrados em envólucros capsulares e
paredes celulares.
3.6. Conclusões da revisão de literatura
• Estudos feitos por diversos pesquisadores em reatores aeróbios e anaeróbios
alimentados com esgoto sintético concluíram que a maior parte da DQO residual
efluente não era devido ao substrato não degradado ou intermediários formados
(AGVs no caso dos anaeróbios), mas sim de compostos produzidos por
microrganismos e chamados de SMPs (compostos microbianos solúveis).
31
• A literatura mostra que os SMPs são importantes porque, em sistemas operados na
ausência de estresse, constituem a maior parte da matéria orgânica efluente ao
tratamento biológico, sendo, em última instância, os responsáveis pela DQO
residual. Possuem também crítica influência no fluxo de filtração e biocolmatação
em bioreatores de membrana. Além disto, considerando suas interferências
microbiológicas, desempenham papel fundamental no fornecimento de matéria
orgânica aos heterótrofos, na absorção de metais nutrientes (propriedades
quelantes), na proteção contra toxicidade, deficiência nutricional e comunicação
intercelular, na formação de agregados microbianos e na população microbiana
(tipo e função) do sistema de tratamento.
• A produção de SMPs é afetada por vários fatores, sendo os principais a
concentração da biomassa presente, o tempo de detenção celular (e,
consequentemente, a relação alimento/microrganismo), cargas tóxicas aplicadas ao
sistema e a temperatura.
• Em relação à identificação química de efluentes biológicos, em particular dos
SMPs, percebe-se que há poucos trabalhos publicados. Dos trabalhos publicados,
verifica-se que os SMPs não são idênticos a EPS, e são constituídos em parte de
proteínas e carboidratos; contudo, outros compostos têm sido sugeridos com igual
relevância, tais como, ácidos húmicos e fúlvicos, álcoois, compostos carboxilados e
aromáticos, compostos fenólicos e ftalatos.
• Em relação à distribuição de tamanhos ou massa molar, a literatura assume que a
distribuição de massas molares está relacionada às condições operacionais adotadas
no tratamento; contudo, percebe-se uma tendência em admitir uma distribuição
predominantemente bimodal de massas molares para os compostos constituintes da
DQO residual (<1.000Da e >10.000Da), e que UAPs são sempre associados à baixa
massa molar e os BAPs, à alta massa molar.
• Os trabalhos publicados divergem acerca da caracterização (quantitativa e
qualitativa) da DQO residual, uma vez que as condições ambientais e operacionais
adotadas são distintas, bem como as metodologias empregadas.
32
4. Material e Métodos
4.1. Aparato experimental
A pesquisa foi desenvolvida utilizando-se reatores de mistura completa (volume útil de 6L)
mantidos sob condições aeróbias e anaeróbias, e alimentados com substrato biodegradável
de fácil detecção (glicose ou acetato). Os reatores foram construídos em PVC e foram
alimentados continuamente por meio de bomba peristáltica de dois canais, mantidos sob
constante agitação com o uso de placas de agitação magnética e à temperatura constante
com o uso de um banho termostatizado. O reator anaeróbio foi vedado com um cap para
impedir a entrada de ar e o gás produzido foi descartado na água do banho. O reator
aeróbio foi mantido aberto e teve sua aeração garantida por meio da utilização de
compressores de ar. A Figura 4.1 ilustra o aparato experimental construído.
As soluções nutricionais foram sempre autoclavadas antes de serem introduzidas nos
reatores para evitar crescimento microbiano no meio de cultura e na linha de alimentação.
O substrato (glicose ou acetato) era, então, injetado na solução autoclavada após seu
resfriamento usando filtros de tamanho de poro 0,22µm, evitando assim sua caramelização
pela alta temperatura da autoclavagem e garantindo a esterilização do meio. O mesmo
afluente (substrato e solução nutricional) alimentava simultaneamente, no mesmo TDH, os
dois reatores, por meio da bomba de dois canais.
A solução nutricional utilizada foi adaptada às condições operacionais adotadas e tiveram
como base as sugestões de Aquino et al. (2007) e a relação DQO:N:P mínima de 100:5:1,
conforme Chernicharo (2007) (a relação DQO:N:P adotada foi de 100:6,33:1,03). A Tabela
4.1 mostra a composição nutricional adotada para os afluentes dos reatores.
33
Figura 4.1: Foto da montagem experimental
Tabela 4.1 - Composição da solução nutricional para DQO afluente de 5.000mg/L.
MACRONUTRIENTES (mg/L) NH4Cl 1.112 (NH4)H2PO4 153,2 (NH4)2HPO4 44,5 MgCl2 250 CaCl2 189 NaHCO3 2.500
MICRONUTRIENTES (mg/L) Extrato de levedura 125 FeCl3.6H2O 5 ZnCl2 0,13 MnCl2.4H2O 1,25 (NH4)6Mo7O24.4H2O 1,60 AlCl3.6H2O 0,13 CoCl2.6H2O 5 NiCl2.6H2O 13 H3BO3 3 CuCl2.2H2O 8 HCl 1 mL/L
(c) Sistema de alimentação
(a) Montagem experimental: alimentação/ bombeamento/ controle de temperatura/ reatores aeróbio e anaeróbio
(b) Reatores em banho termostatizado
(d) Sistema de agitação magnética
34
4.2. Condições operacionais dos reatores de bancada
A operação dos reatores de bancada foi feita observando-se as fases descritas na Tabela
4.2. Uma faixa ótima de tempos de detenção hidráulica (TDHs) de 2 a 15 dias foi reportada
por Barker e Stuckey (1999) para sistemas de tratamento aeróbios e de aproximadamente
25 dias para sistemas anaeróbios, em que a produção de SMPs seria mínima. Diante disto,
optou-se por conduzir o experimento avaliando os TDHs de 4, 10 e 16 dias, o que resultou
em cargas orgânicas volumétricas aplicadas de 1,25, 0,5 e 0,31 kgDQO/m3.d,
respectivamente.Ressalta-se, contudo, que em processos de lodos ativados, os TDHs
normalmente adotados são muito inferiores (da ordem de apenas algumas horas).
Os reatores foram inoculados e operados continuamente por um período mínimo de 3
vezes o tempo de detenção hidráulica, para garantir que a condição de equilíbrio dinâmico
aparente (steady-state) fosse atingida. O sistema aeróbio foi inoculado com lodo de retorno
coletado na planta de lodos ativados da ETE-Arrudas, que trata os esgotos de Belo
Horizonte - MG. Para o sistema anaeróbio, o lodo foi coletado de reator UASB operado em
escala de demonstração e alimentado com esgoto sanitário após tratamento preliminar. Tal
reator encontra-se em operação no Centro de Treinamento e Pesquisas em Saneamento
(CTpS) da UFMG-COPASA.
Tabela 4.2 – Fases operacionais dos reatores de bancada
Aeróbio Anaeróbio Fases TDH
(d) S0
(gDQO/L)
Tipo Substrato
TDH (d)
S0 (gDQO/L)
Tipo Substrato
Temp(oC)
Fase I 4 5 Glicose 4 5 Glicose 25
Fase II 10 5 Glicose 10 5 Glicose 25
Fase III 16 5 Glicose 16 5 Glicose 25
Fase IV 10 5 Glicose 10 5 Glicose 15
Fase V 10 5 Acetato 10 5 Acetato 15
Fase VI 10 5 Acetato 10 5 Acetato 25
A escolha da temperatura de 25oC se deu pelo fato ser esta a temperatura ambiente
predominante no Brasil. A temperatura de 15oC simularia a operação de reatores em
35
regiões mais frias (como Ouro Preto e sul país). Portanto, desejou-se simular temperaturas
em que sistemas reais são operados.
Para a avaliação do substrato, a glicose representaria um substrato mais completo e o
acetato, mais simples. O uso de substrato mais complexo (tais como ração animal, esgoto
bruto) dificultaria a interpretação dos resultados de identificação, uma vez que não se teria
informações precisas acerca dos compostos presentes no afluente (difícil distinção entre o
que estava no afluente e o que realmente seria produzido pelo sistema de tratamento).
A concentração da DQO foi fixada em 5.000mg/L em função de os reatores serem de
mistura completa (não há imobilização de biomassa) favorecendo o sistema anaeróbio
(maior DQO de entrada significa maior crescimento microbiano, mesmo no menor TDH).
Além disso, maior concentração de substrato resultaria em maior produção de SMPs, o que
facilitaria o trabalho de quantificação e identificação. Os TDHs foram escolhidos em
função do sistema anaeróbio (4 dias é o menor TDH para o crescimento suspenso de
bactérias anaeróbias). O sistema aeróbio até poderia ser operado com TDH menor (1 dia ou
menos), contudo a intenção foi comparar a produção de SMPs nos dois sistemas nas
mesmas condições. Além disso, havia também a limitação técnica de a bomba ser de dois
canais, o que não permitia adoção de vazões diferentes.
4.3. Técnicas analíticas
4.3.1. Preparação geral das amostras
Os reatores eram monitorados até atingir o steady-state por meio de medições esporádicas
de pH e DQO. Uma vez estabilizada a DQO efluente, as amostras eram coletadas com
mais freqüências para quantificação dos SMPs e caracterização do efluente.
Durante a condição de steady-state, amostras de efluente foram coletadas para análise de
DQO (para o acompanhamento da degradação da matéria orgânica), sólidos suspensos
totais e sólidos suspensos voláteis (monitoramento da biomassa no interior do reator) e
ácidos graxos voláteis (AGVs), de forma que a quantidade de SMPs produzida pudesse ser
36
estimada para cada condição operacional. Também foram monitorados o pH, a temperatura
e o oxigênio dissolvido (para o reator aeróbio).
As amostras dos efluentes dos reatores eram centrifugadas numa centrífuga Fanem
Centrífuga Excelsa II 206 BL, a 5.000rpm durante 15 a 30 minutos, até completa remoção
de sólidos do sobrenadante. O sobrenadante era, então, encaminhado para as análises que
serão descritas a seguir. Vale ressaltar que, para as análises cromatográficas, os
sobrenadantes eram ainda filtrados através de filtros de membrana de 0,45µm para a
completa remoção de sólidos.
4.3.2. pH e Oxigênio Dissolvido (OD)
O pH dos reatores foi medido diariamente usando um pHmetro da Analion, modelo PM
608, calibrado ao uso. Por sua vez, o oxigênio dissolvido foi medido no reator aeróbio
usando um oxímetro CG 867, da Schott Gerate, calibrado ao uso. Como a aeração era
permanente, as medições eram realizadas com a sonda diretamente no interior do reator.
4.3.3. Demanda Química de Oxigênio (DQO)
As medidas de DQO foram feitas de acordo com o método colorimétrico de refluxo
fechado, descrito em APHA (1998). A solução ácida era preparada adicionando Ag2SO4 e
HgSO4 a H2SO4 concentrado. A solução de K2Cr2O7 era preparada secando-se previamente
o dicromato em estufa e resfriando-o em dessecador.
O protocolo para a análise de DQO consistia em adicionar, nesta ordem, 3mL da solução
ácida de ácido sulfúrico, 1,5mL da solução de dicromato de potássio 0,03mol/L e 3mL da
amostra (diluída de 20 vezes para as amostras de afluente e efluente e de 2 vezes para as
amostras de EPS e lisados) em frascos de vidro próprios para esta análise. Os frascos eram,
então, cuidadosamente fechados e seu conteúdo agitado apropriadamente. Em seguida, as
misturas eram aquecidas em termoreator Dry Block MA 4004 da Marconi por 2 horas, à
temperatura de 148ºC. Após seu completo resfriamento, as amostras eram decantadas ou
centrifugadas para eliminação de sólidos em suspensão e, posteriormente, encaminhadas
37
para análise em espectrofotômetro FEMTO 600 PLUS, no comprimento de onda de
585nm. As análises de DQO foram feitas sempre em triplicata. Solução estoque de
biftalato de potássio 1.000mg/L, cuja DQO pode ser calculada, foi usada para preparação
dos padrões para a curva analítica.
4.3.4. Sólidos Suspensos Voláteis (SSV)
A análise de SSV foi realizada para estimar a concentração de biomassa no interior dos
reatores aeróbio e anaeróbio. Cadinhos de porcelana eram levados à estufa 315 SE da
Fanem de um dia para o outro à temperatura de 105º C. No dia seguinte, após resfriamento
em dessecador, os cadinhos eram pesados em balança analítica Mettler Toledo, modelo AB
204, até estabilização da leitura. Em seguida, 10mL de amostras coletadas do interior dos
reatores eram centrifugados e os sobrenadantes eram adicionados aos cadinhos e
encaminhados para estufa novamente para evaporação de água. Após a completa secagem
da amostra e de novo resfriamento em dessecador, a nova massa era registrada. A seguir,
os cadinhos com as amostras eram encaminhados a uma mufla (Coel, TLK 49) à 550ºC por,
no mínimo, 1,5 horas, para combustão e evaporação da fração orgânica. Novamente, as
amostras resfriavam em um dessecador e a massa final era registrada. Efetuando-se os
cálculos descritos em APHA (1998), por diferença de massas, estimava-se a concentração
de SSV em cada sistema. Todas as análises foram realizadas em duplicata.
4.3.5. Ácidos Graxos Voláteis (AGVs) e glicose
A análise de AGVs e glicose residual nos efluentes dos dois reatores foi feita para permitir
o cálculo da produção de SMPs, conforme as equações 4.1 e 4.2 apresentadas no item 4.4
deste capítulo.
O preparo inicial das amostras para análise cromatográfica consistia na sua centrifugação e
remoção de material particulado residual por filtração usando membranas de porosidade
0,45µm. A fração filtrada era, então, congelada a -10oC até análise, que era feita em no
máximo 40 dias.
38
A análise de cromatografia líquida de alta eficiência foi feita em cromatógrafo HPLC da
Shimadzu (nas fase I e VI) ou da Hewlett Packard Series 1050 (nas demais fases),
utilizando-se uma coluna de troca iônica Aminex HPX-87H da Bio-Rad. A fase móvel
empregada foi ácido sulfúrico 0,01mol/L, com uma vazão de 0,6mL/min. A temperatura da
coluna foi mantida em 55ºC e o volume de injeção empregado foi o de 10μL. Os AGVs
foram detectados por ultravioleta no comprimento de onda de 210nm, enquanto que a
detecção da glicose foi feita empregando-se um detector de índice de refração HP 1047A
da Hewlett Packard. Foram feitas curvas analíticas com padrões dos principais ácidos
orgânicos (fórmico, acético, propiônico, butírico, isobutírico, valérico e isovalérico) e com
padrão de glicose utilizada na alimentação dos reatores, nas faixas de 12,5 a 400mg/L para
os AGVs e de 10 a 160mg/L para a glicose.
O método foi validado para as condições descritas e este detalhamento é apresentado no
Apêndice.
4.3.6. Análise de Proteínas
O teor de proteínas foi medido usando o método Lowry modificado descrito em Pontes
(2003), tendo como padrão da curva analítica a proteína SAB (soro albumina bovina) na
faixa de concentração de 0 a 800mg/L.
O método de Lowry se baseia na reação do cobre com a proteína, em meio alcalino, e pela
posterior redução do reagente de fosfomolibdato-fosfotungstenato no reagente Folin-
ciocalteau. Quando o reagente Folin-ciocalteau é adicionado à amostra contendo proteínas
e previamente tratada com o cobre, ocorre sua redução, resultando em uma cor mais
intensa, com absorção máxima em 550nm. Desta forma, as amostras foram analisadas
colorimetricamente a um comprimento de onda de 550nm num espectrofotômetro FEMTO
600 PLUS.
Todas as análises foram feitas em triplicata com a presença de um ‘branco’, constituído de
0,5mL de água destilada em substituição à amostra. Os procedimentos da análise são
apresentados a seguir:
39
• adição de 0,5mL de amostra e 5mL de solução “D” em tubos de ensaio e agitação
dos tubos;
• incubação dos tubos por 10 minutos, à temperatura ambiente, e acréscimo de
0,5mL do reagente Folin 1N. O reagente Folin é preparado pela diluição do
reagente Folin - ciocalteau na proporção de 1:2, com água deionizada;
• agitação dos tubos e, em seguida, incubação por 30 minutos, à temperatura
ambiente;
• leitura da absorbância em espectrofotômetro FEMTO 600 PLUS a 550 nm.
A solução “D” foi preparada a partir da mistura de:
• 98mL da solução A: 20g de carbonato de sódio e 4g de hidróxido de sódio em
1000mL de água destilada.
• 1mL da solução B: 1g de sulfato de cobre pentahidratado em 100mL de água
destilada.
• 1mL da solução C: 2g de tartarato de sódio e potássio em 100mL de água.
4.3.7. Análise de Carboidratos
O método utilizado para a determinação de carboidratos foi o método do fenol e ácido
sulfúrico, baseado na metodologia descrita por Dubois et al. (1956) apud Blundi e Gadêlha
(2001), que consiste na adição de fenol e ácido sulfúrico concentrado que, em presença de
carboidratos, resultam em uma cor laranja.
Para a análise de carboidratos, toma-se 0,5 ml da amostra a ser analisada, adiciona-se 0,5
ml de solução de fenol a 5%p/v e 2,5 ml de H2SO4. O ácido deve ser adicionado
rapidamente, com jato direcionado para a superfície do líquido, de modo a se obter uma
boa mistura. Os tubos de ensaio são deixados em repouso por 10 minutos, período após o
qual são agitados e depois colocados em um banho de água entre 25 e 30ºC por 15
minutos. A absorbância foi lida a 488 nm em espectrofotômetro FEMTO 600 Plus. Deve
ser preparada uma amostra em branco, substituindo-se a amostra por água destilada. A
concentração de carboidratos nas amostras foi determinada usando glicose para a curva de
calibração (faixa de 0 a 400mg/L) e as análises foram realizadas em triplicata.
40
4.4. Cálculo da concentração de SMPs
A quantificação dos principais ácidos orgânicos (C1 a C5) e o uso de relações
estequiométricas possibilita o cálculo da contribuição dos AGVs para a DQO residual
efluente dos reatores, principalmente o anaeróbio, de bancada. O conhecimento da DQO
filtrada efluente, da DQO devido aos AGVs e da DQO devido ao substrato não degradado
(glicose ou acetato) possibilitou estimar a DQO devido a compostos microbianos solúveis
(SMPs) produzidos durante o tratamento biológico, conforme as equações a seguir
(Aquino, 2004):
DQOAGV = 0,35×[formiato] + 1,07×[acetato] + 1,51×[propionato] + 1,82×[butirato +
isobutirato] + 2,04×[valerato + isovalerato] (Eq. 4.1)
DQOSMP = [DQOCent] – [DQOAGV + DQOSubRes] (Eq. 4.2)
onde,
DQOAGV = DQO devido aos ácidos graxos voláteis
DQOSMP = DQO devido aos compostos microbianos solúveis
DQOSubRes = DQO do substrato (glicose ou acetato) não degradado
DQOCent = DQO centrifugada efluente
Vale ressaltar que, para a determinação de SMPs, os AGVs são ‘subtraídos’ da DQO
residual porque eles são os principais metabólitos intermediários da digestão anaeróbia que
se acumulam no meio devido a um desbalanço entre os microrganismos acidogênicos
(rápido crescimento) e acetogênicos e metanogênicos (de crescimento mais lento). Os
AGVs também são produtos microbianos, mas são normalmente excluídos do pool de
SMPs porque se têm interesse em quantificar os produtos microbianos não-intermediários.
4.5. Análise por espectrometria de massas
Testes com injeção direta das amostras de efluentes (previamente centrifugados e filtrados
por membrana de 0,22 µm) no espectrômetro de massas foram realizados, sem êxito.
41
Portanto, verificou-se a necessidade de se dispor de uma técnica de concentração das
amostras destinadas às análises por espectrometria de massas. Foi escolhida a técnica de
liofilização, pela sua característica de preservação do ter orgânico da amostra e, para tal,
foi utilizado o equipamento L101 da Liotop.
Ao fim de cada fase operacional, amostras dos efluentes e afluentes aos reatores foram
centrifugadas em centrífuga Fanem Centrífuga Excelsa II 206 BL, a 5000rpm por 15 a 30
minutos até completa eliminação de sólidos no sobrenadante. O volume de 50mL de
sobrenadante era, então, congelado em vidraria apropriada. Após seu completo
congelamento, as amostras eram encaminhadas ao liofilizador, onde permaneciam até
completa sublimação da água (1 a 2 dias). Os liofilizados (amostra seca) eram, então,
preservados de umidade e luz (os frascos foram completamente cobertos com papel
alumínio e acondicionados em dessecadores, onde permaneceram até a preparação das
amostras para injeção no espectrômetro de massas).
Testes de solventes (para ressuspensão dos liofilizados e fase móvel durante a análise)
foram conduzidos com metanol, acetonitrila e solução aquosa de metanol 30%v/v. A
definição da condição ótima de resposta foi embasada na solubilidade dos sólidos e no
número de picos de relação mz/ obtidos nas amostras em cada solvente testado. Portanto, a
solução de metanol a 30%v/v foi empregada como solvente para ressuspensão dos sólidos
e preparação das amostras e esta mesma proporção foi mantida na composição da fase
móvel durante a análise no espectrômetro de massas. Após sua preparação, as amostras
foram congeladas (-10oC) até sua injeção no equipamento.
Procedeu-se, pois, em uma única batelada, a injeção direta das amostras provenientes de
todas as fases operacionais previamente descongeladas. O volume de injeção foi 5µl, o
fluxo de 0,2mL/min e as análises por espectrometria de massas para a identificação dos
SMPs foram realizadas no equipamento Shimadzu LC-IT-TOF. Os cromatogramas de íons
foram divididos em segmentos contendo eventos de varredura completa, seleção de íons
específicos e massa segunda (MS2) usando argônio como gás de colisão. O espectro obtido
no modo MS2 permite obter a “impressão digital” do composto detectado o que
possibilita, em alguns casos, a sua identificação. Com este procedimento, foi possível obter
os cromatogramas de íons específicos para as amostras dos liofilizados. Os liofilizados
foram analisados no modo de íons negativo e positivo, varrendo as relações m/z de 100 a
42
4.000Da, com a fase móvel consistindo de (A) H2O e (B) Metanol. As análises ocorreram
em modo isocrático com 70% de A e 30% de B, por um tempo de 5 minutos.
De posse de todas as relações m/z presentes em cada amostra, os dados foram extraídos do
equipamento e analisados por análise estatística multivariada de componentes principais
(PCA), bem como por contagem de ocorrências no programa Excel®. A seleção das
relações m/z para reinjeção e análise no modo MS2 foi realizada segundo critérios de
priorização, conforme descrito a seguir:
• dentre todas as relações m/z, foram excluídas aquelas cujas intensidades apareciam
também no afluente da fase considerada;
• determinou-se a frequência de ocorrência de m/z ao longo das diferentes fases e
selecionaram-se as relações m/z mais freqüentes ;
• os espectros das amostras cujas relações m/z tinham sido consideradas prioritárias
foram avaliados e quando os picos eram viáveis (boas intensidades e eliminadas as
hipóteses de ruídos), procedeu-se a reinjeção das amostras para análise no modo
MS2;
• no caso de picos inviáveis, novas relações m/z foram escolhidas, segundo os
critérios de freqüência nos efluentes e intensidade nos espectros de massas.
A Figura 4.2 apresenta os critérios utilizados para a escolha das relações m/z a serem
consideradas para identificação.
43
Figura 4.2 – Critérios utilizados para a escolha das relações m/z a serem consideradas para
identificação
4.6. MALDI-ToF-MS
Amostras de efluentes de duas fases (I e II) foram encaminhadas para análise em
equipamento MALDI-ToF-MS (Matrix Assisted Laser Desorption Ionization-Time of
Flight-Mass Spectrometry - técnica de espectrometria de massas por ionização e dessorção
assistida por laser) da Shimadzu em São Paulo, SP. O objetivo de tal análise era obter
informações acerca do perfil de elevadas massas molares que pudessem estar presentes
nestes efluentes, uma vez que o espectrômetro de massas da UFOP analisava relações m/z
até 4.000 Da (1 Dalton equivale ao peso molecular do átomo de hidrogênio).
Planilha Completa de Massas
Massa presente também em amostras
de afluentes?
Desconsiderar massa
NÃOSIM
Classificar as massas prioritárias por ordem decrescente de
frequência
Contar número de efluentes em que a
massa aparece
NÃO SIM
Verificar intensidade dos picos nos espectros de massa das amostras. Alta intensidade ou picos viáveis?
Reinjetar amostra para análise no modo
MS2.
44
A preparação das amostras seguiu o mesmo protocolo estabelecido para a espectrometria
de massas. Ao fim de cada fase operacional (I e II), as amostras dos efluentes aos reatores
foram centrifugadas (Fanem Centrífuga Excelsa II 206 BL), a 5000rpm por 15 a 30
minutos até completa remoção de sólidos no sobrenadante. O volume de 50mL de
sobrenadante foi, então, congelado em vidraria apropriada. Após seu completo
congelamento, as amostras eram encaminhadas para concentração, em liofilizador L101 da
Liotop, onde permaneciam até completa sublimação da água (1 a 2 dias). Os liofilizados
foram, então, preservados de umidade e luz (os frascos foram completamente cobertos com
papel alumínio e acondicionados em dessecadores). A massa de 10,0 mg dos liofilizados
foi acondicionada em vials e encaminhada para a Shimadzu, em São Paulo. Os
procedimentos específicos adotados para esta análise estão descritos em detalhes no
relatório gerado pela empresa, apresentado em anexo.
4.7. Lise Celular e Extração de EPS de Amostras de Lodo
Segundo Jarusutthirak e Amy (2007), substâncias orgânicas tais como substâncias
poliméricas extracelulares (EPS) e produtos de lise celular (CLP) são produzidas e
liberadas concomitantemente ao consumo de substrato. Desta forma, o monitoramento
destes parâmetros foi feito para tentar entender a principal origem dos SMPs, comparando-
se o perfil químico dos EPS e dos CLP com o perfil químico dos SMPs. Para tal, as
amostras de EPS e CLP foram analisadas no espectrômetro de massas, nas mesmas
condições adotadas para as amostras de efluentes (item 4.5), e incluídas na análise
estatística por componentes principais (PCA).
4.7.1. Preparação das amostras para os procedimentos de lise celular e extração de
EPS de amostras de lodo
Anteriormente aos procedimentos de extração de EPS e lise celular, as amostras foram
lavadas e preparadas conforme a descrição a seguir.
• o volume de 100mL de amostra dos efluentes aos reatores foram coletados nas
Fases IV, V e VI e acondicionados em 2 tubos Falcon de 50mL ;
45
• as amostras foram, então, centrifugadas em centrífuga Fanem Centrífuga Excelsa II
206 BL, a 5.000rpm durante 15 minutos, até completa remoção de sólidos do
sobrenadante;
• o sobrenadante era, então, descartado e o pellet, ressuspenso no mesmo volume
original em uma solução fosfato de potássio (K2HPO4) estéril (previamente
autoclavada), 120mmol/L, pH 8 para lavagem do lodo;
• após a agitação do tubo contendo a solução fosfato e o lodo, a amostra era
novamente encaminhada à centrifugação, de forma idêntica à descrita
anteriormente. Este procedimento foi repetido por 2 vezes, de modo a garantir a
eficácia na lavagem da biomassa;
• após a última centrifugação, o pellet era novamente ressuspenso no mesmo volume
original (50mL) na solução de tampão-fosfato e, só então, encaminhado aos
procedimentos específicos.
4.7.2. Extração de EPS
O procedimento para a extração de EPS foi embasado no estudo de Frolund et al. (1996)
adaptado às condições operacionais/ambientais do laboratório. A extração foi feita com a
resina de troca catiônica Dowex® Marathon® C, Na+-Form, da Sigma-Aldrich. Com base
nos resultados obtidos pelos autores, foram adotadas as condições reportadas para extração
efetiva, quais sejam, tempo mínimo de extração de 12 horas em alta intensidade de
agitação, utilizando de 65 a 80g resina/gSSV. Portanto, 100mL de amostra de biomassa e
solução fosfato preparadas conforme descrito no item 4.7.1 foram encaminhadas em um
béquer para agitação, após a adição de 70g resina/gSSV. Este cálculo era feito com base na
média de SSV de cada fase operacional (da Fase IV em diante), uma vez que os reatores
são de mistura completa. Esta agitação foi feita com agitadores magnéticos Fisatom,
modelo 752, na maior intensidade possível, à temperatura ambiente, de um dia para o
outro, por 12 a 14 horas. Após este período, as amostras foram centrifugadas numa
centrífuga Fanem Centrífuga Excelsa II 206 BL, a 5.000rpm durante 15 a 30 minutos, até
completa remoção de sólidos do sobrenadante. O sobrenadante, contendo os EPS extraídos,
foi então congelado para posterior liofilização e preparação para análise por espectrometria
de massas.
46
4.7.3. Lise Celular
Zhang et al. (2007), Wang et al. (2006) e Tiehm et al. (2001) usaram em seus estudos a
técnica de ultrassom para lisar as células e estabilizar lodos de tratamento biológico
(sistemas de lodos ativados nos primeiros dois estudos e lodo anaeróbio, no último).
Guerlava et al. (1998) compararam diferentes métodos de lise celular em Clostridium
perfringens e indicam a sonicação (ultrassom) como um dos métodos mais eficazes para
este fim. Os autores observaram que 3 a 5 minutos de sonicação foram suficientes para a
lise completa das células. Portanto, com base neste estudo, 100mL de amostra de biomassa
e solução fosfato preparadas conforme descrito no item 4.7.1 foram encaminhadas em um
béquer para um banho de ultrassom da Unique, modelo Maxiclean 1600, por 1 hora, de
modo a garantir tempo suficiente para a completa lise das células da biomassa. Após este
tempo, as amostras foram centrifugadas numa centrífuga Fanem Centrífuga Excelsa II 206
BL, a 5.000 rpm durante 15 minutos, até completa remoção de sólidos do sobrenadante. O
sobrenadante, contendo os produtos da lise (CLP) foi então congelado para posterior
liofilização e preparação para análise por espectrometria de massas.
47
5. Resultados e Discussão
5.1. Quantificação dos SMPs em diferentes condições operacionais
5.1.1. Tipo de tratamento: aeróbio x anaeróbio
O tratamento empregado deve ser avaliado pela diferença da microbiota presente em cada
tipo de reator. Conforme abordado no Capítulo 3, as diferentes características da população
microbiana interferem sobremaneira no desempenho do tratamento da água residuária.
Para a avaliação da interferência do tipo de tratamento na produção/acúmulo dos SMPs,
estão sendo apresentados e discutidos os resultados obtidos para a DQO centrifugada, série
de sólidos, ácidos graxos voláteis (AGVs) e SMPs.
A Figura 5.1 mostra a variação de DQO no afluente e efluente dos reatores aeróbio e
anaeróbio para as diferentes condições operacionais estudadas (ver Tabela 4.2). Um
resumo da estatística descritiva deste parâmetro é apresentado na Tabela 5.1. Conforme
esperado, verifica-se para todas as fases operacionais, uma maior eficiência de remoção da
matéria orgânica afluente pelo reator aeróbio. A Figura 5.2 confirma a melhor eficiência no
reator aeróbio por meio do gráfico de interação por reator. Para a mesma DQO afluente,
resultados consideravelmente distintos foram obtidos para a DQO residual.
Esta observação era prevista, uma vez que há, no processo aeróbio, uma maior
disponibilidade de energia a ser canalizada para a multiplicação da população microbiana,
por ser o oxigênio o aceptor final de elétrons (Rittmann e McCarty, 2001). Na ausência de
oxigênio, ocorre a fermentação do substrato, ou seja, parte da molécula de substrato é
oxidada enquanto outra parte reduzida. Isso implica em menos liberação de energia para a
síntese de ATPs, o que traduz nas baixas taxas de crescimento dos microrganismos
anaeróbios. Em reatores aeróbios, o crescimento microbiano se dá muito mais rapidamente
e favoravelmente do que em reatores anaeróbios, o que pode ser verificado na Figura 5.3,
com os resultados de sólidos suspensos voláteis (SSV). Enquanto o reator aeróbio
apresentou um aumento ou manutenção da biomassa em condições operacionais não
estressantes, o reator anaeróbio mostra um declínio sistemático da biomassa (Figura 5.4),
principalmente em condições adversas (fases IV e V, operadas a baixa temperatura, 15oC).
48
Vale ressaltar que a Figura 5.3 mostra que há mais sólidos no reator anaeróbio do que no
aeróbio pelo fato de a quantidade de lodo inoculada ter sido diferente.
Tabela 5.1 – Estatística descritiva para o parâmetro DQO
Fases Reator Tipo DQO Média Desvio
Padrão Mín Mediana Máx
Afluente 4700 538 3700 4700 5967 Aeróbio Efluente 1646 594 767 1433 3100
Afluente 4740 540 3567 4700 5767 I Anaeróbio Efluente 3410 816 1833 3500 4833
Afluente 4822 824 3367 5033 6300 Aeróbio Efluente 1106 518 167 1167 2100
Afluente 5004 693 3633 4900 6567 II Anaeróbio Efluente 2719 621 1367 2967 3700
Afluente 5596 604 4790 5390 6790 Aeróbio Efluente 452 252 90 390 990
Afluente 5423 579 4590 5290 6590 III Anaeróbio Efluente 1317 458 390 1390 2090
Afluente 5808 662 4690 5890 7190 Aeróbio Efluente 536 364 90 540 1290
Afluente 5999 581 4690 6090 7190 IV Anaeróbio Efluente 4419 290 3890 4440 5090
Afluente 5109 734 3713 5047 6647 Aeróbio Efluente 3229 900 1713 3347 5247
Afluente 5040 713 3513 5080 6380 V Anaeróbio Efluente 4613 781 2980 4513 5913
Afluente 5069 589 4113 5113 6047 Aeróbio Efluente 1358 526 447 1513 2247
Afluente 4882 805 3113 4947 6647 VI Anaeróbio Efluente 3475 705 2313 3580 4513
49
DQ
O (
mg/
L)VIVIVIIIIII
8000
6000
4000
2000
0
FASES VIVIVIIIIII
8000
6000
4000
2000
0
AFLUENTE; AERÓBIO AFLUENTE; ANAERÓBIO
EFLUENTE; AERÓBIO EFLUENTE; ANAERÓBIO
511350475890
539050334700
4947
5080
60905290
49004700
1513
3347
54039011671433
3580
45134440
1390
29673500
Demanda Química de Oxigênio
Figura 5.1 - Variação da DQO no afluente e efluente dos reatores aeróbio e anaeróbio ao
longo das fases operacionais estudadas (valores expressos como mediana)
FA SES
REA T OR
T IPO
A NA ERÓ BIOA ERÓ BIO EFLUENTEA FLUENTE
6000
4000
2000
6000
4000
2000
FASES
IIIIVVVI
III
REATORAERÓBIOANAERÓBIO
Gráficos de Interação - DQO
Figura 5.2 – Interação entre o tipo de reator e as fases operacionais para o parâmetro DQO
50
O reator anaeróbio, na fase VI, mesmo operando a 25oC, apresentou menor acúmulo de
biomassa, devido ao substrato utilizado (acetato), que suportava apenas o crescimento dos
microrganismos metanogênicos. Para o reator aeróbio, a mudança de 25oC para 15oC
(comparação das fases II e IV, para o mesmo TDH), parece ter favorecido o crescimento
de biomassa, a despeito da redução na eficiência de remoção de DQO. Isto poderia ser
atribuído à maior solubilização de oxigênio em temperaturas menores. Contudo, os dados
de OD não revelaram tal tendência.
No reator anaeróbio, a principal causa de abaixamento do pH é a produção de CO2 pelos
microrganismos acidogênicos de rápido crescimento. Entretanto, a literatura prevê o
acúmulo de acetato em reatores anaeróbios durante condições de estresse, provavelmente
devido às limitações cinéticas dos microrganismos metanogênicos, que é acentuada com a
redução de pH (Aquino e Chernicharo, 2005). Portanto, apesar de a degradação de acetato
também produzir CO2, o acetato se acumulou no meio devido à condição adversa. De fato,
a Figura 5.5 mostra a redução expressiva do pH do reator anaeróbio em duas fases
operacionais que impuseram condições adversas à biomassa (fase I, TDH de 4 dias e fase
IV, com temperatura de 15oC). Na fase V (reatores alimentados com acetato), em que
também se operou em condição adversa de temperatura, houve uma elevação do pH. Isto
se explica devido à redução da produção de CO2 decorrente na mudança do substrato
(1C6H12O6 => 3CO2 + 3CH4; 1CH3COO- + H2O => 1HCO3- + 1CH4), e também devido à
reação de hidrólise do acetato (ácido fraco, ou seja, base forte) com a água (CH3COO- +
H2O <=> CH3COOH + OH-) . Além disto, observou-se que a biomassa nesta fase estava
muito escassa e que a remoção de DQO foi seriamente comprometida, o que levou à
necessidade de aclimatação de novo lodo para a operação da fase subseqüente (fase VI).
51
SÓLI
DO
S (m
g/L)
FASES VIVIVIIIIII
70000
60000
50000
40000
30000
20000
10000
0
VIVIVIIIIII
SST SSVREATORESAERÓBIOANAERÓBIO
6675
3945
3520
5145
9280
7825
18490
4535
16300
1650
15795
2555
3090
3390
1365
4115
4000
5290
9210
2930
7660
1285
8305
1810
Série de Sólidos
Figura 5.3 – Variação do teor de sólidos suspensos totais (SST) e voláteis (SSV) nos
reatores aeróbio e anaeróbio ao longo das fases operacionais estudadas (valores expressos
como medianas)
FASEFASE
REATORREATOR
ANAERÓBIOAERÓBIO
12000
9000
6000
3000
0
VIVIVIIIIII
12000
9000
6000
3000
0
FASE
IIIIVVVI
III
REATORAERÓBIOANAERÓBIO
Gráficos de Interação (dados de média) para SSV (mg/L)
Figura 5.4 – Interação entre o tipo de reator e as fases operacionais para o parâmetro SSV
52
pH
Fase VIVIVIIIIII
9,0
8,5
8,0
7,5
7,0
6,5
6,0
VIVIVIIIIII
AERÓBIO ANAERÓBIO
7,927,83
7,007,157,21
7,79
7,60
7,51
6,676,83
6,72
6,47
Perfil do pH (antes de ajustar a alcalinidade)
Figura 5.5 – Variação do pH nos reatores, antes de sua correção para a faixa neutra
No reator aeróbio, a mesma tendência de elevação de pH nas fases V e VI, que utilizaram
acetato como substrato, e da fase I (de baixo TDH) foi observada. Além disto, houve uma
redução na eficiência de remoção de DQO nestas fases. Portanto, estes resultados podem
sugerir que, como o acetato é um substrato mais simples e contém menos energia potencial
armazenada em sua molécula, ele pode apresentar uma situação menos favorável à
atividade da população microbiana aeróbia (condição adversa). O mesmo seria válido para
TDHs baixos, que levaria também a uma condição operacional desfavorável.
Para avaliação da quantidade de substrato residual nos reatores, foi utilizada cromatografia
líquida de alta eficiência (HPLC) para detecção de glicose e acetato (nas fases V e VI),
conforme descrito no Capítulo 4. Em todas as amostras analisadas (principalmente na pior
condição de operação, ou seja, na fase I onde o TDH foi o menor e a carga orgânica diária
aplicada de 1,25kgDQO/m3.d) verificou-se a completa degradação deste substrato (nenhum
pico foi observado no tempo de retenção típico de 9,45 min). Portanto, pode-se afirmar que
não há contribuição de substrato residual para a DQO efluente (ver equação 4.2) nas fases I
a IV e, por isto, a quantificação de SMPs nessas fases foi feita utilizando a concentração de
glicose igual a zero. De fato, Jarusutthirak e Amy (2007) confirmam o desaparecimento
dos picos de glicose em efluentes de reatores aeróbios sequenciais a batelada (SBR –
53
sequencing batch reactors) em escala de bancada dentro de, no máximo, 1 hora de
tratamento. Da mesma forma, Chipasa e Medrzycka (2004), estudando reatores aeróbios a
batelada em escala de bancada, reportaram o aumento da DQO residual como sendo
unicamente devido ao acúmulo de SMPs e não devido ao substrato não degradado.
No caso das fases V e VI houve acúmulo de acetato e outros AGVs no meio, sendo que o
acetato acumulado pode se originar do substrato não degradado ou do metabolismo de
outros AGVs, que foram formados no meio a partir da degradação de SMPs. As Figuras
5.6 e 5.7 mostram o perfil de acúmulo de AGVs nas diferentes fases operacionais para os
reatores aeróbio e anaeróbio, respectivamente (os resultados de validação do método de
quantificação de AGVs encontram-se dispostos no Apêndice).
Com base na quantificação de AGVs, foi realizada a quantificação dos SMPs, segundo a
equação 4.2, descrita no capítulo 4. O valor da DQO residual é, pois, a soma dos
parâmetros AGV e SMP em cada gráfico. Nota-se que, no reator aeróbio, na grande
maioria dos casos, praticamente toda a DQO residual é advinda da produção de SMPs,
conforme reportado por outros pesquisadores (Grady Jr e Williams 1975; Siber e
Eckenfelder 1980; Parkin e McCarty 1981; Namkung e Rittmann 1986; Noguera et al.
1994; Barker et al. 1999; Barker e Stuckey 1999, apud Aquino 2004; Laspidou e Rittmann,
2002; Jarusutthirak e Amy, 2007).
Na fase III, no reator aeróbio, houve, inesperadamente, um acúmulo expressivo de AGVs.
As amostras foram analisadas cromatograficamente mais de uma vez, inclusive com sua
fortificação (spike), para a confirmação dos resultados controversos. Contudo, a presença
de AGVs no sistema aeróbio foi de fato detectada. Apesar de o reator ter operado com
média de oxigênio dissolvido de 6,4 mg/L, conforme mostra a Figura 5.8, foi decidido
aumentar sua aeração. De fato, após esta interferência, os AGVs produzidos reduziram ou
desapareceram. Nas demais fases, apesar de a observação de AGVs ter sido mais
esporádica, há que se considerarem também quedas de energia que ocorreram em épocas
chuvosas, interrompendo, ainda que por pouco tempo, o funcionamento do compressor de
ar do reator aeróbio. Portanto, os resultados de AGVs obtidos podem ser explicados pelo
fato de que, em condições de microaerofilia, há mudança de metabolismo e os
microrganismos aeróbios facultativos passam a fermentar e a produzir AGVs. Ressalta-se
ainda que, conforme descrito no Capítulo 4, a calibração do oxímetro ocorreu ao uso,
54
sendo pouco provável a hipótese de insuficiente oxigenação no meio. A Figura 5.8 mostra
o monitoramento de oxigênio dissolvido neste reator nas diferentes fases operacionais.
Já no reator anaeróbio, grande parte da DQO residual é constituída por AGVs. Observa-se
que as situações de estresse das fases I, IV e V (baixo TDH e/ou baixa temperatura)
contribuíram substancialmente para que a maior parte da DQO residual se devesse aos
AGVs. Em outras palavras, durante situações de estresse (baixo TDH e baixa temperatura)
a maior parte da DQO afluente é canalizada para a produção de AGVs. O acúmulo de
AGVs ocorre em sistemas de escala real como resultado do não atendimento às condições
cinéticas e termodinâmicas ótimas, podendo refletir ou indicar uma condição de
instabilidade (Aquino e Chernicharo, 2005). Com o baixo TDH, ocorre maior washout de
microrganismos de lento crescimento e em baixas temperaturas, os microrganismos de
lento crescimento não conseguem acompanhar o passo dos organismos fermentativos. O
acúmulo de acetato no meio desencadeia mudanças metabólicas e induz formação de
outros AGVs (propiônico, butírico, valérico...) e o acúmulo de tais subprodutos inibem,
termodinamicamente, a conversão de AGVs a acetato (o substrato principal da
metanogênese). A Figura 5.9 apresenta o boxplot para o parâmetro AGVs, onde esta
avaliação pode ser mais bem visualizada.
55
0
1000
2000
3000
4000
5000
6000
6 9 16 20 27 34 41 48Dia de operação - Reator aeróbio - Fase I
Con
c. (m
g/L)
AGV (DQO) SMP (DQO)
0
1000
2000
3000
4000
5000
6000
3 4 5 10 12 15 17 19Dia de operação - Reator aeróbio - Fase II
Con
c. (m
g/L)
AGV (DQO) SMP (DQO)
0
1000
2000
3000
4000
5000
6000
1 2 3 4 5 8 9 11 12 13 14 15 16Dia de operação - Reator aeróbio - Fase III
Con
c. (m
g/L)
AGV (DQO) SMP (DQO)
0
1000
2000
3000
4000
5000
6000
1 3 4 7 8 10 11 15 17 21Dia de operação - Reator aeróbio - Fase IV
Con
c. (m
g/L)
AGV (DQO) SMP (DQO)
0
1000
2000
3000
4000
5000
6000
1 2 3 4 5 8 9 10 11 12Dia de operação - Reator aeróbio - Fase V
Con
c. (m
g/L)
AGV (DQO) SMP (DQO)
0
1000
2000
3000
4000
5000
6000
1 3 5 8 9 10 11 12 15 16 17Dia de operação - Reator anaeróbio - Fase VI
Con
c. (m
g/L)
AGV (DQO) SMP (DQO)
Figura 5.6 – Composição da DQO residual para o reator aeróbio nas diferentes fases
operacionais: (a) fase I, (b) fase II, (c) fase III, (d) fase IV, (e) fase V, (f) fase VI.
(a) (b)
(c) (d)
(e) (f)
56
0
1000
2000
3000
4000
5000
6000
6 9 16 20 27 34 41 48Dia de operação - Reator aeróbio - Fase I
Con
c. (m
g/L)
AGV (DQO) SMP (DQO)
0
1000
2000
3000
4000
5000
6000
4 5 10 15 17 19Dia de operação - Reator anaeróbio - Fase II
Con
c. (m
g/L)
AGV (DQO) SMP (DQO)
0
1000
2000
3000
4000
5000
6000
1 2 3 4 5 8 9 11 12 13 14 15 16Dia de operação - Reator anaeróbio - Fase III
Con
c. (m
g/L)
AGV (DQO) SMP (DQO)
0
1000
2000
3000
4000
5000
6000
1 3 4 8 9 10 11 15 17Dia de operação - Reator anaeróbio - Fase IV
Con
c. (m
g/L)
AGV (DQO) SMP (DQO)
0
1000
2000
3000
4000
5000
6000
1 2 3 4 5 8 9 10 11 12Dia de operação - Reator anaeróbio - Fase V
Con
c. (m
g/L)
AGV (DQO) SMP (DQO)
0
1000
2000
3000
4000
5000
6000
1 3 5 8 9 10 11 12 15 16 17Dia de operação - Reator anaeróbio - Fase VI
Con
c. (m
g/L)
AGV (DQO) SMP (DQO)
Figura 5.7 – Composição da DQO residual para o reator anaeróbio nas diferentes fases
operacionais: (a) fase I, (b) fase II, (c) fase III, (d) fase IV, (e) fase V, (f) fase VI.
(e) (f)
(c) (d)
(a) (b)
57
Fases
OD
(m
g/L)
VIVIVIIIIII
9
8
7
6
5
4
3
2
6,08
4,18
6,356,4
5,7
4,70
Oxigênio Dissolvido - Reator Aeróbio
Figura 5.8 – Variação do oxigênio dissolvido no reator aeróbio (valores expressos em
medianas)
O monitoramento feito mostrou que a produção de SMPs, em termos da DQO residual, no
reator aeróbio foi superior à do anaeróbio. Este resultado era previsto, uma vez que no
reator anaeróbio, os elétrons do doador (substrato) são canalizados tanto para a produção
de SMPs quanto para a de AGVs que se acumulam no meio devido a limitações de ordem
cinética e termodinâmica. Microrganismos aeróbios crescem mais rápido e degradam
substrato em velocidade maior. Se há mais microrganismos no meio, pode haver mais
SMP-BAPs e se há mais degradação de substrato há mais SMP-UAPs. Se os SMPs
desempenharem um papel ecológico no meio (para seqüestrar metais nutrientes, para
comunicação entre células), os microrganismos que crescem mais rápido precisam
produzir mais SMPs, por isso esperar-se-ia, de fato, que o aeróbio produzisse mais SMPs.
A menor produção de SMPs verificada para o reator anaeróbio comparativamente ao
aeróbio, quando avaliada a DQO residual, indica que os elétrons do doador (no caso, a
glicose ou acetato) foram utilizados preferencialmente na produção de intermediários
(AGVs), e que a elevada produção de AGVs foi o principal indicador de situações de
estresse (baixo TDH e baixa temperatura). Estas condições comprometem
significativamente o consórcio microbiano do reator anaeróbio, interferindo,
principalmente, nas taxas de crescimento da população metanogênica e acetogênica. Com
58
menos microrganismos acetogênicos e metanogênicos, os ácidos orgânicos produzidos
pelos microrganismos acidogênicos se acumularam no sistema. Em outras palavras,
condições adversas no reator anaeróbio resultaram em um descompasso entre os
microrganismos produtores de ácidos (acidogênicos) e os consumidores de ácido
(metanogênicos) resultando no acúmulo de compostos reduzidos no meio, causadores de
DQO (Aquino, 2004).
AGV
s (m
gDQ
O/L
)
Fase VIVIVIIIIII
4000
3000
2000
1000
0
VIVIVIIIIII
AERÓBIO ANAERÓBIO
0
29372
204401
0
2338
3780
3272
467
1649
2780
Acúmulo de Ácidos Graxos Voláteis
Figura 5.9 – Acúmulo de ácidos graxos voláteis (AGVs) nos reatores aeróbio e anaeróbio
nas diferentes fases operacionais (valores expressos em medianas)
Vale ressaltar que nas fases V e VI (que empregaram o acetato como substrato), para o
reator anaeróbio, o acúmulo de ácido acético representou 99 e 98% do total da DQO
relacionada a AGVs, respectivamente. Na fase V, para o reator aeróbio, o acetato
representou 88% deste valor. Para as demais fases, de I a IV (utilizando glicose), outros
AGVs também foram produzidos; contudo, os principais AGVs acumulados foram o ácido
acético (39%, 35%, 36% e 47% da concentração total de AGVs para as fases I, II, III e IV,
respectivamente) e o propiônico (26%, 28%, 41% e 38% da concentração total de AGVs
para as fases I, II, III e IV, respectivamente).
59
As Figuras 5.10 e 5.11 apresentam os resultados da estimativa de acúmulo de SMPs feita
para ambos os reatores em todas as fases operacionais. SM
Ps (
mgD
QO
/L)
Fase VIVIVIIIIII
5000
4000
3000
2000
1000
0
VIVIVIIIIII
AERÓBIO ANAERÓBIO
1602
3207
458
91
522
1667
1370
608
1160892
1504
379
Quantificação dos SMPs
Figura 5.10 – Estimativa de acúmulo dos SMPs nos reatores aeróbio e anaeróbio para as
diferentes condições operacionais (valores expressos em medianas)2
Os valores de SMPs apresentados na Figura 5.11 permitem estimar a contribuição de tais
compostos para a DQO residual. No reator aeróbio os SMPs representaram de 23% (fase
III) a 100% (fases I e VI) da DQO centrifugada efluente, sendo que no reator anaeróbio
essa variação foi de 11% (fase I) a 64% (fase III), em termos de medianas.
As Figuras 5.12 e 5.13 exibem as taxas de conversão da matéria orgânica afluente em
SMPs para os reatores aeróbio e anaeróbio. Elas mostram a relação entre os SMPs
formados e a concentração de substrato afluente a cada reator (So) a fim de se estimar a
porcentagem da DQO afluente que é convertida em SMPs.
2 Os poucos valores de concentração aparentemente divergentes entre SMPs (Fig. 5.10) e DQO residual (Fig. 5.1), em termos de medianas, se devem ao diferente volume de dados disponíveis e utilizados para o cálculo de medianas e obtenção dos gráficos para um e outro parâmetro, não representando, de forma alguma, qualquer contrasenso.
60
Fase
Reator
ANAERÓBIOAERÓBIO3000
2000
1000
0
VIVIVIIIIII
3000
2000
1000
0
Fase
IIIIVVVI
III
ReatorAERÓBIOANAERÓBIO
Gráfico de interação (médias) para SMPs
Figura 5.11 – Interação entre o tipo de reator e as fases operacionais para o parâmetro
SMPs
SMP/
So
Fase VIVIVIIIIII
0,9
0,8
0,7
0,6
0,5
0,4
0,3
0,2
0,1
0,0
VIVIVIIIIII
AERÓBIO ANAERÓBIO
0,28
0,68
0,085
0,02
0,11
0,35
0,27
0,13
0,190,17
0,27
0,090
Conversão da DQO afluente em SMPs
Figura 5.12 – Produção de SMPs normalizada em relação à DQO afluente (SMP/So) nos
reatores anaeróbio e aeróbio durante as fases operacionais estudadas (valores expressos
como medianas)
61
Na avaliação da produção normalizada de SMPs, comportamentos distintos foram
apresentados pelos dois reatores. Enquanto os resultados do tratamento aeróbio divergem
substancialmente entre as fases operacionais, variando de 2 a 68% da matéria orgânica
afluente, em termos de mediana, o tratamento anaeróbio pareceu seguir uma tendência
similar, exceto para a fase I, de menor TDH (em que apenas 9% da matéria orgânica
afluente foi convertida a SMPs). A Figura 5.13 revela que, de modo geral, a produção
normalizada de SMPs foi menor para o reator anaeróbio (de 9 a 27%), o que confirma
dados observados por outros pesquisadores (Barker e Stuckey, 2001; Kuo e Parkin,1996;
Aquino e Stuckey, 2004). Boero et al. (1991), estudando reatores aeróbios de mistura
completa mostraram que a produção de SMPs (normalizada em relação à concentração de
substrato afluente, só que em termos de carbono orgânico) variou de 3,1% a 14,7% quando
utilizados glicose e fenol como substratos, respectivamente. Ressalta-se que o TDH
utilizado em sua pesquisa foi de 48 horas, bem inferior a todos os TDHs adotados neste
trabalho. A maior produção de SMPs observada nesse estudo em relação aos resultados,
para a glicose, apresentados por Boero et al. (1991) podem ser explicados pelo maior TDH
adotado nesse trabalho (4 a 20 d), o que provavelmente resultou em maior lise celular e
produção de SMPs.
Fase
Reator
ANAERÓBIOAERÓBIO0,60
0,45
0,30
0,15
0,00
VIVIVIIIIII
0,60
0,45
0,30
0,15
0,00
Fase
IIIIVVVI
III
ReatorAERÓBIOANAERÓBIO
Gráfico de Interação (médias) para SMP/So
Figura 5.13 – Interação entre o tipo de reator e as fases operacionais para a produção
normalizada (SMP/So) de SMPs
62
As fases I e V foram aquelas que apresentaram maior discrepância entre as taxas de
conversão da DQO afluente em SMPs entre os reatores aeróbio e anaeróbio (na fase I, 35%
do aeróbio contra 9% do anaeróbio; na fase V, 68% do aeróbio contra 13% do anaeróbio).
Estes resultados são particularmente interessantes quando associados às condições
operacionais adversas de baixo TDH e baixa temperatura. Nestes casos, para o reator
anaeróbio, há um comprometimento dos microrganismos metanogênicos e acetogênicos no
meio, levando a um acúmulo de AGVs, conforme discutido anteriormente. Como os SMPs
são quantificados a partir da DQO residual e da DQO atribuída ao acúmulo dos ácidos,
taxas menores de conversão a SMPs realmente seriam esperadas. Da mesma forma, caso os
AGVs fossem englobados no “pool” de SMPs, sua maior produção normalizada (SMP/So)
também teria acontecido nas fases I e V (80% e 94%, respectivamente, para o reator
anaeróbio).
Portanto, os resultados confirmam que, em condições de estresse, a produção de SMPs é
minimizada em função do acúmulo de produtos intermediários (AGVs) não incluídos na
classe dos produtos microbianos solúveis.
Já para o reator aeróbio, condições adversas podem colaborar para o acúmulo de SMPs no
meio, uma vez que o metabolismo na presença de oxigênio dissolvido não resulta em
acúmulo de intermediários. A população microbiana poderia responder às condições
adversas alterando seu metabolismo, excretando SMPs no meio, ou ainda, caso as
condições levassem ao aumento do decaimento endógeno, liberando produtos de lise
celular. Variando-se apenas o TDH (avaliação das fases I, II e III), percebe-se que a
produção de SMPs no reator aeróbio foi inversamente proporcional ao TDH, ou seja,
quanto maior a carga orgânica aplicada maior a produção de SMPs, sendo o máximo de
produção observado na fase I (carga orgânica máxima de 1,25kgDQO/m3.d). Tais
resultados sugerem que os SMPs produzidos no reator aeróbio foram mais associados à
degradação do substrato (UAPs – utilization associated products) do que à lise celular
(BAPs – biomass associated products), conforme discutido por Aquino e Stuckey (2004).
Para as fases II e III, operadas com glicose na ausência de estresse, a quantidade de SMPs
produzida no reator aeróbio foi menor que no anaeróbio (11 e 2% contra 27 e 17%,
respectivamente). Contudo, a diferença não é discrepante como os resultados das fases I e
63
V, reportados anteriormente. Isto demonstra que o aumento do TDH nas fases II e III
propiciou uma situação mais favorável à degradação dos AGVs no reator anaeróbio. Na
ausência de estresse, sem acúmulo de AGVs, parte significativa dos elétrons disponíveis na
matéria orgânica afluente foi destinada à produção dos produtos microbianos. Na fase III, a
porcentagem de SMPs produzida nos dois reatores diminuiu comparativamente à fase II.
De fato, uma vez que ambos operaram com uma melhor eficiência, as DQOs efluentes
foram consideravelmente menores, para um valor aproximado de alimentação - DQO
afluente ao reator aeróbio de 5.596 ± 604 mg/L e ao reator anaeróbio de 5.423 ± 579 mg/L.
O baixo valor de SMPs acumulado no reator aeróbio parece ter sido decorrente da aeração
deficiente nos momentos de ‘picos de energia’, que levou à produção de AGVs (conforme
discutido anteriormente), bem como da melhor eficiência de remoção de DQO.
Finalmente, na fase VI, os resultados obtidos para ambos os reatores foram equivalentes
(28% para o aeróbio e 27% para o anaeróbio). Contudo, para o reator aeróbio, esta foi a
terceira maior produção normalizada de SMPs em relação à DQO afluente. Isto pode
sugerir que o acetato utilizado como substrato, por ser uma molécula mais simples e por
prover menos energia que a molécula de glicose para a população microbiana, possa
ocasionar uma maior produção normalizada de SMPs (por exemplo, provenientes de lise
celular devido ao menor fornecimento de energia no reator). No reator anaeróbio, a
produção de AGVs também foi intensa (mantendo a taxa de produção de SMPs
relativamente baixa) e pode ser justificada da mesma forma (acetato é uma molécula mais
simples, fornece menos energia e interfere no consórcio microbiano por suportar o
crescimento apenas dos microrganismos metanogênicos acetoclásticos).
A Figura 5.14 apresenta a estimativa da conversão diária de biomassa a SMPs nos reatores
aeróbio e anaeróbio durante as fases operacionais estudadas.
64
SMP.
Q/S
SV.V
(d-
1)
Fase VIVIVIIIIII
0,30
0,25
0,20
0,15
0,10
0,05
0,00
VIVIVIIIIII
AERÓBIO ANAERÓBIO
0,05
0,07
0,0080,002
0,04
0,21
0,05
0,040,03
0,0060,010,01
Taxa diária de conversão da biomassa em SMPs
Figura 5.14 – Estimativa da conversão diária de biomassa a SMPs nos reatores aeróbio e
anaeróbio durante as fases operacionais estudadas (valores expressos como medianas)
Na Figura 5.15, observa-se, no reator aeróbio, a mesma tendência de decréscimo
sistemático obtida para o parâmetro SMP/So, comparando-se os diferentes TDHs (fases I,
II e III). Já no reator anaeróbio, esta taxa permaneceu praticamente constante nas três
primeiras (0,6 a 1%) e três últimas fases operacionais (3 a 5%). Esses resultados podem
indicar que, no reator anaeróbio, a produção de SMPs esteve mais relacionada à biomassa
presente, sugerindo que a lise celular pode ter contribuído mais para a produção de SMPs
quando comparado à degradação de substrato. Em outras palavras, o fato de a carga
orgânica aplicada não ter tido interferência significativa na conversão da DQO afluente a
SMPs sugere que, provavelmente, os SMPs acumulados são principalmente advindos da
biomassa (SMPs-BAP), ao invés da utilização do substrato (SMPs-UAP).
65
Figura 5.15 – Interação entre o tipo de reator e a razão entre o acúmulo de SMPs e a
biomassa presente no sistema
5.1.2. Condições operacionais
Conforme descrito no capítulo 4, as condições operacionais testadas para a produção de
SMPs foram a temperatura, o tempo de detenção hidráulica (TDH, que, neste caso, é
assumido igual à idade do lodo devido ao emprego de reatores de mistura completa) e o
tipo de substrato (acetato e glicose). Por meio do teste estatístico não paramétrico de
medianas (Mood´s median test) realizado no software Minitab® e transcrito a seguir na
Tabela 5.2, pode-se afirmar com 95% de confiança que, em ambos os reatores, as
diferentes condições operacionais influenciaram a quantidade produzida/acumulada de
SMPs no meio (o valor p obtido foi inferior a 0,05, o que indica a não igualdade entre os
valores testados – no caso, as fases operacionais).
Para avaliar o efeito da temperatura, deve-se comparar as fases II e IV (glicose como
substrato e TDH de 10 dias, a 25 e 14oC, respectivamente) e as fases V e VI (acetato como
substrato e TDH de 10 dias, a 15 e 25oC, respectivamente). Para a avaliação do TDH, cabe
Fase
Reator
ANAERÓBIOAERÓBIO
0,20
0,15
0,10
0,05
0,00
VIV IV IIIIII
0,20
0,15
0,10
0,05
0,00
Fase
IIIIV V VI
III
Reator AERÓBIO ANAERÓBIO
Gráfico de Interação (médias) para a razão SMP.Q/SSV.V
66
a comparação das três primeiras fases operacionais (I – TDH de 4 dias, carga orgânica
aplicada de 1,25kgDQO/m3.d; II – TDH de 10 dias, carga orgânica aplicada de
0,5kgDQO/m3.d; e III – TDH de 16 dias, carga orgânica aplicada de 0,32kgDQO/m3.d),
em que todas as demais condições operacionais foram mantidas constantes em cada reator
(glicose como substrato, temperatura de 25oC). Finalmente, para avaliar o efeito do tipo de
substrato, as fases II e VI (TDH de 10 dias e temperatura de 25oC) e as fases IV e V (TDH
de 10 dias e temperatura de 10oC) foram comparadas entre si.
Tabela 5.2 – Resultados dos testes de medianas para as diferentes fases operacionais nos
reatores aeróbio e anaeróbio.
Teste de Mediana de Mood: SMPs versus Fase - AERÓBIO Teste de mediana de Mood para SMPs
Qi-quadrado = 34,27 DF = 5 P = 0,000 => rejeita Ho => não iguais
Individual 95,0% CIs
Fase N<= N> Mediana Q3-Q1 +---------+---------+---------+------
I 0 8 1667 629 (--*---)
II 6 3 522 812 (-*------)
III 13 0 91 405 (*--)
IV 8 2 458 897 (----*---)
V 1 9 3207 1813 (--------------*---)
VI 3 8 1602 1023 (--------*)
+---------+---------+---------+------
0 1000 2000 3000
Mediana geral = 906
Teste de Mediana de Mood: SMPs versus Fase - ANAERÓBIO Teste de mediana de Mood para SMPs
Qi-quadrado = 14,34 DF = 5 P = 0,014 => rejeita Ho => não iguais
Individual 95,0% CIs
Fase_1 N<= N> Median Q3-Q1 +---------+---------+---------+------
I 7 1 379 653 (-------*-----)
II 2 5 1504 993 (--------------------*---)
III 8 5 892 678 (-------*---)
IV 1 8 1160 355 (-*-----)
V 7 3 608 1084 (-------*--------------)
VI 4 7 1370 1010 (-------------*------)
+---------+---------+---------+------
0 500 1000 1500
Mediana geral = 993
67
Temperatura
Conforme descrito no capítulo 4, a temperatura foi um dos parâmetros controlados para
monitoramento da produção de SMPs. As fases I, II, III e VI empregaram a mesma
temperatura de 25 oC. Nas fases IV e V, a temperatura desejada foi de 15 oC, para a qual se
empregou banho de água resfriada com adição periódica de gelo. A Figura 5.16 mostra o
boxplot das temperaturas medidas nas fases operacionais. Portanto, pode-se dizer que
ambas as fases operadas para temperaturas inferiores à ambiente (e que simularam o
comportamento dos reatores biológicos em regiões de clima mais frio), o fizeram
praticamente à mesma temperatura (15 ± 3 oC na fase IV e 16 ± 4 oC na fase V).
FASES
TEM
PER
ATU
RA
S (o
C)
VIVIVIIIIII
28
26
24
22
20
18
16
14
12
10
26,0
1514
25,025,025,0
TEMPERATURAS
Figura 5.16 – Temperaturas efetivamente medidas ao longo das fases operacionais
De modo geral, a temperatura interfere inversamente na produção de SMPs. Em outras
palavras, os resultados sugerem que, a temperaturas mais baixas, a produção de SMPs é
maior. Observando-se o gráfico da Figura 5.17, pode-se verificar que esta tendência é bem
acentuada para o reator aeróbio, o que corrobora a discussão feita anteriormente para este
reator, de que condições adversas de baixa temperatura contribuiriam para a elevação da
produção/acúmulo de SMPs no meio. De fato, a Figura 5.17, que mostra a interferência da
Estatística Descritiva: TEMPERATURAS FASES Média DP Mediana I 25,3 0,5 25,0 II 25,2 0,4 25,0 III 24,9 0,4 25,0 IV 15 3 14 V 16 4 15 VI 25,7 0,5 26
68
temperatura na taxa de conversão do substrato a SMPs, mostra que, a 15oC, cerca de 33,8%
da DQO afluente foi convertida a SMPs, enquanto que 18,7% foi a proporção obtida a
25oC. Portanto, é possível que a DQO residual de efluentes de reatores operados em climas
mais frios seja devida a substrato não degradado por causa do baixo metabolismo, bem
como ao maior acúmulo de SMPs.
Os SMPs podem se acumular mais em temperaturas menores devido à combinação de
fatores: maior produção e menor degradação. A maior produção pode ser devido à maior
lise celular, ou então devido à maior excreção de metalóforos (pequenos peptídeos
excretados em situações de deficiência nutricional) que teriam a função de quelar e
solubilizar mais metais nutrientes cuja solubilidade teria sido diminuída pela redução na
temperatura. Para o reator anaeróbio, essa tendência não foi verificada, e a Figura 5.17 que
a conversão da DQO afluente a SMPs ficou praticamente constante com a mudança de
temperatura (18,1% para temperatura de 15oC e 18,3% a 25oC). Isto se deveu ao fato de
que, mediante condições adversas, a rota metabólica caminha preferencialmente no sentido
de acúmulo de AGVs, pelo comprometimento das etapas de acetogênese e metanogênese,
conforme discutido anteriormente.
TEMPERATURA (oC)
SMP/
So
2515
0,36
0,32
0,28
0,24
0,20
ReatorAERÓBIOANAERÓBIO
Interferência da temperatura na conversão da DQO afluente em SMPs
Figura 5.17 – Interação da temperatura na produção normalizada de SMPs em relação à
DQO afluente (SMP/So), por reator
18,1% 18,3% 18,7%
33,8%
69
A Figura 5.18 mostra a interação da temperatura na razão entre a quantidade de SMPs
acumulada e a quantidade de biomassa presente no sistema (SMP.Q/SSV.V). Os resultados
obtidos sugerem que, no tratamento aeróbio, a elevação da temperatura aumenta a
porcentagem de conversão da biomassa a SMPs, o que pode ser um indício do aumento da
proporção de SMPs-BAP (decaimento endógeno). Tal resultado é condizente com o
aumento dos valores do coeficiente de decaimento endógeno (elevado nos aeróbios em
relação aos anaeróbios) com o aumento da temperatura. Já no tratamento anaeróbio, o
inverso é observado, indicando que são as baixas temperaturas que favorecem a produção
de SMPs-BAP. Tal resultado está de acordo com o que foi observado por Feng et al.
(2008) que, em um estudo com reator anaeróbio compartimentado com carreador (CABR),
verificaram o maior acúmulo de SMPs em menores temperaturas. Os autores sugeriram
que baixas temperaturas podem levar à redução na taxa de degradação de substrato e dos
SMPs ou inibir o crescimento microbiano.
TEMPERATURA (oC)TEMPERATURA (oC)
SMP.
Q/S
SV.V
(d-
1)
2515
0,35
0,30
0,25
0,20
0,15
0,10
0,05
0,00
ReatorAERÓBIOANAERÓBIO
Interação da temperatura na conversão da biomassa a SMPs
Figura 5.18 – Interação da temperatura na razão entre a quantidade de SMPs acumulada e
a quantidade de biomassa presente no sistema
3,7% 1,8%
4,3%
6,6%
70
Tempo de detenção hidráulica
A variação no tempo de detenção hidráulica (TDH) ocorreu nas três primeiras fases da
pesquisa, conforme mostrado no Capítulo 4, na tabela 4.2. Os resultados da análise de
interferência deste parâmetro na produção de SMPs estão expostos na Figuras 5.19.
Observa-se que, no tratamento aeróbio, o aumento do TDH leva a uma diminuição
sistemática na produção/acúmulo de SMPs, para a faixa estudada de 4 a 16 dias (próxima
da faixa ideal de 2 a 15 dias reportada por Baskir e Hansford 1980; Rittmann et al. 1987;
Hao e Lau 1988; Pribyl et al. 1997 apud Aquino, 2003). De fato, tempos de detenção
muito baixos impõem uma carga orgânica aplicada mais elevada, o que poderia
desencadear um excesso de atividade metabólica e excreção de SMPs para o consumo do
substrato. Além disto, esta relação pode ser um indicativo de que, no reator aeróbio, há
uma maior produção de SMPs-UAP, conforme discutido no item 5.1.1.
TDH
SMP
(mgD
QO
/L)
16104
1800
1600
1400
1200
1000
800
600
400
200
0
ReatorAERÓBIOANAERÓBIO
Interferência do TDH na produção de SMPs
Figura 5.19 – Efeito do TDH no acúmulo de SMPs nos reatores aeróbio e anaeróbio
Para o reator anaeróbio, a mesma tendência é observada, exceto para o menor TDH (4
dias). Isto pode ser explicado pela elevada produção de AGVs diante da situação de
71
estresse imposta nesta condição, confirmada pelo monitoramento do pH. A análise da série
de sólidos da fase I confirmou a hipótese de arraste (washout) de microrganismos que têm
baixas taxas de crescimento específico (microrganismos metanogênicos e acetogênicos),
uma vez que pôde-se verificar uma diminuição sistemática dos sólidos suspensos voláteis
no reator. Como a quantificação de SMPs é obtida por meio dos resultados de AGVs,
explica-se o baixo resultado no menor TDH.
Huajun et al. (2008), estudando reatores anaeróbios compartimentados, confirmam os
resultados obtidos, pois também verificaram que, em geral, o aumento da carga orgânica
levou ao aumento da produção de SMPs. Da mesma forma, Aquino et al. (2009),
estudando a produção de SMPs em reatores UASB, também verificaram um maior
acúmulo de SMPs em menores TDHs (maiores cargas orgânicas). De fato, estudos usando
culturas puras sugeriram que produtos microbianos podem ser produzidos tanto como
resultado de falta ou de excesso de fonte energética, que seria o caso (Boylen e Ensign,
1970; Neijssel e Tempest, 1976 apud Huajun et al., 2008). Kuo et al., trabalhando com
reatores anaeróbios de mistura completa, mostraram que a produção normalizada de SMPs
(SMP/So) decresceu com o aumento da idade do lodo até atingir um valor mínimo, quando
a idade do lodo era de aproximadamente 25 dias, e depois aumentou novamente. As
Figuras 5.20 e 5.21 mostram esta relação para os resultados obtidos e as mesmas
observações são confirmadas, exceto pelo TDH de 4 dias no reator anaeróbio (condição de
estresse – washout do lodo e acúmulo de AGVs).
72
TDH (d)
SMP/
So
16104
0,4
0,3
0,2
0,1
0,0
ReatorAERÓBIOANAERÓBIO
Interferência do TDH na conversão da DQO afluente em SMPs
Figura 5.20 – Efeito do TDH na taxa de conversão da DQO afluente em SMPs, por reator
TDH (d)TDH (d)
SMP.
Q/S
SV.V
(d-
1)
16104
0,25
0,20
0,15
0,10
0,05
0,00
ReatorAERÓBIOANAERÓBIO
Interferência do TDH na conversão de biomassa em SMPs
Figura 5.21 – Interferência do TDH na razão entre o acúmulo de SMPs e a biomassa
presente no sistema.
37,1%
27,4%
3,8%
9,1%
21,5%
14,9%
22,2%
4,1%
0,4%
1,3% 3,7% 0,6%
73
Tipo de substrato
De modo geral, quando a glicose foi utilizada como substrato, a produção de SMPs
diminuiu, comparativamente ao emprego do acetato. As Figuras 5.22 e 5.23 descrevem
este efeito por reator, inclusive para a taxa de conversão da DQO afluente. Isto pode
sugerir que o acetato utilizado como substrato, por ser uma molécula mais simples e por
prover menos energia que a molécula de glicose para a população microbiana, possa
ocasionar uma maior produção normalizada de SMPs (por exemplo, provenientes de lise
celular). Isto justificaria, inclusive, a interferência do substrato bem mais pronunciada no
reator aeróbio que, mediante condições adversas, praticamente não produzem AGVs.
Contudo, tais resultados contradizem o observado por Kuo et al. (1996), que afirmaram
que a produção de SMPs em sistemas anaeróbios de mistura completa alimentados com
glicose é maior que naqueles alimentados com acetato.
A Figura 5.24 apresenta e efeito do tipo de substrato na razão de produção de SMPs em
função da biomassa presente no sistema. No reator aeróbio, o substrato parece não
interferir significativamente na produção de SMPs-BAP, uma vez que a taxa de conversão
da biomassa a SMPs ficou praticamente constante. Já no reator anaeróbio, a taxa inferior
obtida para a glicose no reator anaeróbio pode indicar que, em condições operacionais em
que este substrato é utilizado, a maior produção de SMPs estaria relacionada à utilização
do substrato (SMP-UAP) e não ao decaimento endógeno, comparativamente a situações
dispondo de acetato.
74
SUBSTRATO
SMPs
(m
gDQ
O/L
)
GLICOSEACETATO
2250
2000
1750
1500
1250
1000
750
500
ReatorAERÓBIOANAERÓBIO
Interferência do substrato na produção de SMPs
Figura 5.22 – Efeito do substrato na produção de SMPs, por reator
SUBSTRATO
SMP/
So
GLICOSEACETATO
0,45
0,40
0,35
0,30
0,25
0,20
0,15
0,10
ReatorAERÓBIOANAERÓBIO
Interferência do substrato na conversão da DQO afluente em SMPs
Figura 5.23 – Efeito do tipo de substrato na taxa de conversão da DQO afluente em
SMPs, por reator
41,9%
14,1%
16,6% 21,9%
75
SUBSTRATOSUBSTRATO
SMP.
Q/S
SV.V
(d-
1)
GLICOSEACETATO
0,35
0,30
0,25
0,20
0,15
0,10
0,05
0,00
ReatorAERÓBIOANAERÓBIO
Interação do tipo de substrato na conversão da biomassa em SMPs
Figura 5.24 – Efeito do tipo de substrato na razão entre o acúmulo de SMPs e a biomassa
presente no sistema.
5.2. Caracterização dos SMPs
5.2.1. Proteínas e carboidratos
Conforme descrito no Capítulo 4, ensaios de proteínas e carboidratos foram realizados na
tentativa de caracterizar a DQO residual das diferentes fases operacionais. Além disto, os
mesmos testes foram feitos nas amostras de polímeros extracelulares e lisados, após a fase
IV, quando estes protocolos foram adotados. Os resultados estão reportados em termos de
DQO para que a comparação seja adequada. Para a conversão da concentração de proteínas
e carboidratos em DQO, foram usados os fatores 1,5 e 1,2, respectivamente, que são
coeficientes estequiométricos derivados da fórmula química típica de cada tipo de
composto (C16H24O5N4 para proteínas C6H10O5 para carboidratos). As Figuras 5.25 e 5.26
apresentam a composição da DQO residual nas amostras e fases descritas, nos reatores
aeróbio e anaeróbio, respectivamente.
5,2%
1,4% 4,8%
5,9%
76
LISEEPSEFLUENTE
3000
2000
1000
0
AMOSTRA LISEEPSEFLUENTE
3000
2000
1000
0LISEEPSEFLUENTE
I
DQ
O (
mg/
L)II III
IV V VI
DQO CARBOIDRATOSDQO PROTEÍNASDQO NÃO IDENTIFICADA
REATOR = AERÓBIOComposição da DQO residual - Proteínas e Carboidratos
Figura 5.25 – Composição acumulada da DQO residual, dos polímeros extracelulares e
dos produtos de lise celular em termos de proteínas e carboidratos – Reator Aeróbio
LISEEPSEFLUENTE
4000
3000
2000
1000
0
AMOSTRA LISEEPSEFLUENTE
4000
3000
2000
1000
0LISEEPSEFLUENTE
I
DQ
O (
mg/
L)
II III
IV V VI
DQO CARBOIDRATOSDQO PROTEÍNASDQO NÃO IDENTIFICADA
REATOR = ANAERÓBIOComposição da DQO residual - Proteínas e Carboidratos
Figura 5.26 – Composição acumulada da DQO residual, dos polímeros extracelulares e
dos produtos de lise celular em termos de proteínas e carboidratos – Reator Anaeróbio
77
Os resultados indicam que o conteúdo protéico e de carboidratos nas amostras de efluentes
são baixos e que a maior parte da DQO residual em todas as fases operacionais permanece
não identificada. Esta avaliação é válida exceto para a fase II no reator aeróbio, em que se
verificou que o conteúdo protéico representou 63% da DQO residual. Nas demais fases
ainda no reator aeróbio, a DQO relacionada ao teor de proteínas representou de 5 a 34% da
DQO residual e o teor de carboidratos (também em termos de DQO) não ultrapassou 16%.
Já para o reator anaeróbio, o teor de proteínas em termos de DQO atingiu seu máximo na
fase I, de TDH igual a 4 dias, representando 17% da DQO residual. Já para avaliação do
teor de carboidratos, nenhuma amostra analisada advinda deste reator apresentou
contribuição de carboidratos para a DQO residual.
O baixo conteúdo protéico e de carboidratos das amostras condiz com os resultados
obtidos para as amostras de efluentes das fases I e II encaminhadas para análise de
MALDI-TOF-MS (técnica de espectrometria de massas por ionização e dessorção assistida
por laser ideal para a identificação de macromoléculas como as proteínas), cujo relatório
encontra-se em Anexo. Os ensaios feitos não indicaram presença de macromoléculas
compreendidas na faixa de massa molar de 20.000 a 80.000 Da.
As Figuras 5.27 e 5.28 apresentam os dados de proteínas e carboidratos em termos
percentuais com relação à DQO residual, em cada fase, para os reatores aeróbio e
anaeróbio, respectivamente.
78
10%
34%
63%
22%
100%
5%
92%
0%
22%
0%
0%
17%
7%
1%
2%
8%
0%
0%
0%
0%
0%
0%
0%
73%
59%
36%
76%
0%
95%
8%
100%
78%
100%
100%
92%
0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100%
EFAEI
EFAEII
EFAEIII
EFAEIV
EPSIV
LISEIV
EFAEV
EPSV
LISEV
EFAEVI
EPSVI
LISEVI
%PROTEÍNA
%CARBOIDRATOS
%INDETERMINADA
Figura 5.27 – Composição percentual da DQO residual (porcentagens das contribuições
dos teores de proteínas, carboidratos e porcentagem indeterminada da DQO) para o reator
aeróbio. EFAE – efluentes aeróbios; FI a FVI – fases operacionais, de I a VI; LISE –
amostras de lisados; EPS – amostras de polímeros extracelulares.
Nas amostras de lise e EPS, praticamente todo o seu conteúdo pode ser caracterizado como
protéico. A concentração de carboidratos é nula em praticamente todas as amostras,
aparecendo apenas nas amostras de EPS provenientes do lodo aeróbio na fase IV e do lodo
anaeróbio na fase VI, nas baixas concentrações de 18 e 29 mgDQO/L, respectivamente. Os
valores baixos das concentrações de carboidratos obtidos nas amostras de EPS estão de
acordo com a literatura especializada. Her et al. apud Sheng e Yu (2006), utilizando a
técnica de fluorescência por matriz excitação-emissão (EEM), afirmaram que,
“comparativamente a proteínas e substâncias húmicas, a intensidade do espectro de
carboidratos poderia ser desprezada”. Portanto, os principais sinais de fluorescência para
EPS seriam os correspondentes a proteínas e substâncias húmicas (Sheng e Yu, 2006).
79
Dois dos picos obtidos no estudo de Sheng e Yu (2006) para EPS foram associados a
proteínas (a fluorescência seria associada ao aminoácido aromático triptofano).
9%
8%
13%
9%
100%
0%
100%
100%
16%
100%
93%
0%
0%
0%
0%
0%
0%
0%
0%
0%
0%
0%
7%
91%
92%
87%
91%
0%
0%
100%
0%
0%
84%
0%
0%
100%
0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100%
EFANI
EFANII
EFANIII
EFANIV
EPSIV
LISEIV
EFANV
LISEV
EPSV
EFANVI
LISEVI
EPSVI
%PROTEÍNA%CARBOIDRATOS%INDETERMINADA
Figura 5.28 – Composição percentual da DQO residual (porcentagens das contribuições
dos teores de proteínas, carboidratos e porcentagem indeterminada da DQO) para o reator
anaeróbio. EFAN – efluentes anaeróbios; FI a FVI – fases operacionais, de I a VI; LISE –
amostras de lisados; EPS – amostras de polímeros extracelulares.
A Figura 5.29 apresenta o gráfico de efeitos principais para a avaliação da DQO
proveniente de carboidratos e a Figura 5.30, o de interação entre fases, amostras e reator.
Observa-se que nenhuma amostra de produtos de lise celular apresentou carboidratos. Em
uma análise conjunta das Figuras 5.29 e 5.30 verifica-se que, de modo geral, o conteúdo de
carboidratos nas amostras de efluentes foi maior que em amostras de EPS, destaque dado
às fases I e II, para o reator aeróbio. Isto pode indicar que, nas amostras de efluentes em
que apareceram carboidratos, estes não eram exclusivamente advindos de polímeros
80
extracelulares. Como em amostras de lise verificou-se sua completa ausência, parte destes
carboidratos presentes no efluente poderiam ser talvez advindos de SMPs-UAP. Isso é
coerente com os relatos da literatura de que BAPs seriam de difícil degradação e de maior
peso molecular, ao passo que UAPs são de mais fácil degradação e de baixo peso
molecular.
Méd
ia d
a D
QO
- C
AR
BOID
RA
TOS
(mg/
L)
EPSEFLUENTE
300
200
100
0ANAERÓBIOAERÓBIO
VIIVIIIIII
300
200
100
0
AMOSTRA REATOR
FASE
Gráfico de Efeitos Principais (médias dos dados) para DQO CARBOIDRATOS
Figura 5.29 – Efeitos principais para análise de carboidratos por amostra, reator e fase
operacional
A Figura 5.31 apresenta o gráfico de efeitos principais para a avaliação da DQO
proveniente de proteínas e a Figura 5.32, o de interação deste parâmetro entre fases,
amostras e reator. De modo geral, as amostras provenientes do reator anaeróbio
apresentaram maior concentração de proteínas. Os resultados indicam que o maior
conteúdo protéico é observado nas amostras de EPS. Contudo, aumentou
consideravelmente na fase VI, empregando-se acetato como substrato a 25oC,
especialmente no reator aeróbio. Em uma avaliação deste resultado e daqueles
apresentados no item 5.1, pode-se levantar a hipótese de que, nesta fase, teria ocorrido a
liberação de polímeros extracelulares no meio e seu conteúdo protéico solubilizado no
efluente teria contribuído consideravelmente para o aumento observado na concentração de
81
SMPs. Em outras palavras, parte do conteúdo de SMPs na fase VI para o reator aeróbio
seria constituída de proteínas provenientes de polímeros extracelulares.
FA SE
REA T OR
A MOST RA
A NA ERÓ BIOA ERÓ BIO EPSEFLUENTE
200
100
0
200
100
0
FA SE
IIIIVV I
III
REA TO RA ERÓ BIOA NA ERÓ BIO
Gráfico de Interação (médias) - DQO CARBOIDRATOS
Figura 5.30 – Interação entre o tipo de reator, fases operacionais e amostras para análise
de carboidratos
Portanto, diante da observação de que, em todos os efluentes aeróbios (36% a 95%) e
anaeróbios (87% a 100%), há uma considerável fração da DQO que não parece ser
proteína e carboidratos, permanecendo não-identificada, optou-se pela utilização da técnica
de espectrometria de massas na tentativa de identificar tais compostos.
82
Méd
ia d
e D
QO
PR
OTE
ÍNA
S (m
g/L)
LISEEPSEFLUENTE
600
500
400
300
200ANAERÓBIOAERÓBIO
VIVIVIIIIII
600
500
400
300
200
AMOSTRA REATOR
FASE
Gráfico de Efeitos Principais - DQO PROTEÍNAS
Figura 5.31 – Efeitos principais para análise de proteínas por amostra, reator e fase
operacional
FA SE
REA T OR
A MOST RA
A NA ERÓ BIOA ERÓ BIO LISEEPSEFLUENTE
1000
500
0
1000
500
0
FASE
IIIIVVVI
III
REATORAERÓBIOANAERÓBIO
Gráfico de Interação (médias) - DQO PROTEÍNAS
Figura 5.32 – Interação entre o tipo de reator, fases operacionais e amostras para análise
de proteínas
83
5.2.1. Espectrometria de massas
Como os resultados obtidos nas análises de MALDI-TOF não indicaram presença de
macromoléculas até 80.000Da, conforme mostra o relatório do Anexo II, tentou-se utilizar
outra técnica de espectrometria de massas (LC-IT-TOF-MS), em que a ionização da
amostra se dá por eletronspray, na tentativa de identificação dos SMPs que possuem
massas molares menores (100 a 4.000 Da). Na avaliação das relações massa/carga (m/z)
obtidas por espectrometria de massas, foi utilizada a análise estatística de componentes
principais (PCA) e o software Excel®, conforme descrito no Capítulo 4.
A análise por componentes principais (PCA) foi descrita originalmente por Karl Pearson,
em 1901, e consolidada por Hotelling, em 1931, com o propósito de analisar estruturas de
correlações. Na Química ela foi introduzida por Malinowski, cerca de 30 anos depois. O
PCA é um dos métodos mais frequentemente usados na extração e interpretação de dados
multivariados. A análise permite: (i) transformar as variáveis originais em novos eixos
(componentes principais), que são ortogonais, de tal maneira que os dados expressos como
os “scores” naqueles eixos não apresentam correlação entre si; (ii) expressar, tanto quanto
possível, a variação total dos dados em poucos componentes, agrupando dados similares,
mediante exames visuais em dispersões gráficas no espaço bi ou tridimensional; (iii)
expressar quantidades decrescentes da variação por cada componente principal derivado
sucessivamente. Os dados químicos multivariados podem ser arranjados na forma de uma
matriz, cujos objetos são dispostos em linhas e as variáveis em colunas. Numa
representação geométrica, a matriz dos dados originais pode ser considerada como m
pontos colocados em um gráfico em um espaço p-dimensional, em que os eixos originais
sofreram rotação para um novo conjunto de eixos ortogonais. As coordenadas dos pontos
originais nesse novo espaço são dadas pela matriz dos “scores”, e a orientação dos novos
eixos no espaço dos eixos originais é dada pelos autovetores. Portanto, diante do gráfico de
PCA, é possível interpretar a distribuição dos pontos e identificar as variáveis originais
com maior peso na combinação linear das componentes principais mais importantes.3
A Figura 5.33 mostra um perfil obtido por análise de componentes principais com os
resultados dos espectros de massas obtidos por amostras. Esta figura é particularmente
3 Fonte: http://www.posgraduacao.ufla.br/gauss/congresso/47rbras/p2-4.pdf, consultado em 25/05/09.
84
interessante para a avaliação da formação de clusters, que representariam amostras com
certa semelhança química.
Três grupos podem ser destacados e encontram-se realçados na Figura 5.33. Observa-se
claramente a formação do cluster para os produtos de lise celular. Este grupo é bem
distinto dos demais, principalmente das amostras de efluentes. Isto sugere que, na
caracterização química, os SMPs produzidos em cada fase operacional não parecem ser,
em sua maioria, provenientes de lise celular. Portanto, nos casos em que SMPs-BAP
fossem produzidos, estes produtos teriam sido degradados/hidrolisados em compostos de
menores massas molares, conforme discutiram Shin e Kang (2003).
Outro grupo que pode ser destacado, ainda que menos intensamente que os lisados, é o
formado pelas amostras de EPS. Portanto, da mesma forma, em termos de relação m/z, os
polímeros extracelulares diferem dos efluentes dos reatores nas fases operacionais
estudadas. Curioso é o comportamento da amostra proveniente do reator UASB que, apesar
de não constituir objeto deste estudo, indica que grande parte das massas no seu efluente
pode ser advinda de polímeros extracelulares. Isso talvez ocorra porque o reator é de fluxo
ascendente e operado em TDH bem menor (19 horas). Isso pode ter favorecido a formação
de flocos no lodo resultando na maior liberação de polímeros extracelulares. Além disto, é
interessante observar que na fase IV, quando foi imposta a condição de declínio de
temperatura, os polímeros extracelulares extraídos parecem ser de natureza química um
pouco diferente (a amostra de EPS desta fase encontra-se claramente separada das demais).
85
PC2
PC1
-20000-25000-30000-35000-40000
-185000
-190000
-195000
-200000
-205000
UASB
LISEANF6LISEANF5
LISEANF4
LISEAEF6
LISEAEF5LISEAEF4
EPSANF6 EPSANF5
EPSANF4
EPSAEF6
EPSAEF5EPSAEF4
AFANF6
EFANF6
AFANF5
EFANF5
EFANF4EFANF3
EFANF2
AFANF1EFANF1
AFAEF6EFAEF6
AFAEF5EFAEF5
EFAEF4
EFAEF3EFAEF2
AFAEF1
EFAEF1
PCA amostras
Figura 5.33 – Análise de componentes principais das relações m/z obtidas por
espectrometria de massas, por amostra (AFAE – afluentes aeróbios; AFAN – afluentes
anaeróbios; EFAE – efluentes aeróbios; EFAN – efluentes anaeróbios; EPSAE –
substâncias poliméricas extracelulares extraídas do lodo aeróbio; EPSAN – substâncias
poliméricas extracelulares extraídas do lodo anaeróbio; LISEAE – amostras de lisados de
células do lodo aeróbio; LISEAN – amostras de lisados de células do lodo anaeróbio; F –
fase operacional; UASB – amostra de um efluente de um reator de manta de lodo de fluxo
ascendente alimentado com solução de glicose e nutrientes na concentração de DQO
afluente de 500mg/L)
O mesmo é observado quando se avaliam as amostras de efluentes ao reator aeróbio. A
amostra referente à fase IV destoa completamente das demais, se aproximando inclusive da
amostra de EPS desta mesma fase. Ressalta-se, contudo, que, na fase V, em que a
temperatura continuou baixa, o efluente aeróbio parece apresentar características químicas
similares às demais fases (distintas, pois, dos polímeros extracelulares). Portanto, estas
observações podem sugerir que, em termos químicos, condições de choque (por exemplo,
baixa temperatura) podem contribuir para SMPs advindos de polímeros extracelulares
liberados e solubilizados no meio em resposta ao estresse imposto. Além disto, tais
resultados sugerem também que, à medida que a biomassa se adequa a esta nova condição,
LISADOS
EPS
EFAE,exceto F4
86
estes SMPs seriam degradados e os SMPs produzidos voltariam a ser produtos de natureza
química diferente de polímeros extracelulares. Em outras palavras, a produção de SMPs
advindos de EPS em reatores aeróbios de mistura completa aconteceriam mediante
choques de condições ambientais/operacionais e, na medida em que a biomassa fosse se
adequando a esta nova condição, os SMPs não possuiriam mais característica química de
polímeros extracelulares.
Para os efluentes do reator anaeróbio, nenhuma característica específica foi observada. Os
SMPs produzidos foram quimicamente distintos de amostras de lise e EPS, bem como
distintos entre si, avaliando-se cada fase operacional. Este resultado sugere que, pela
complexidade da bioquímica do consórcio microbiano presente neste reator, cada condição
operacional imporá características químicas distintas para os produtos microbianos
produzidos e que estes não são provenientes de lise celular e nem da extração de polímeros
extracelulares. Ressalta-se também a importância de se realizar, em trabalhos futuros,
testes para avaliação da metodologia de lise celular aplicada aos lodos de tratamento
biológico.
A Figura 5.34 apresenta o PCA para a análise das relações m/z nas amostras injetadas no
LC-MS, agrupados os modos positivo e negativo. Ressalta-se que foram rastreadas
relações m/z de 100 a 4.000 Da.
87
PC2 m/z
PC1
m/z
0,20,10,0-0,1-0,2
0,15
0,10
0,05
0,00
-0,05
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477,15
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469,03468,86468,82468,81468,80468,79468,78468,69468,37468,19
467,80467,78
467,19
466,84466,79466,76466,74466,73466,71466,27466,08465,81465,75465,74465,72465,58464,80464,79464,78464,77464,72464,71464,33463,76463,73463,72463,42463,01462,94462,85462,81462,78462,75462,67461,80461,75460,86460,80460,79460,77460,73460,21459,81459,80459,78459,72458,79458,78458,74457,81457,79457,72457,04456,98456,84456,83456,82456,81456,80456,79456,78456,74456,73456,68456,08455,79455,76455,74455,73455,02455,01454,89454,83454,81454,76454,71454,42453,79452,82452,80452,74452,73452,06451,82451,80451,79451,78450,85450,80450,78450,76450,72450,40450,26449,80449,79448,83448,82448,81448,80448,76448,73447,77447,76447,04447,03446,89446,82446,80446,79446,75446,74446,67446,20445,84445,80444,98444,82444,75444,74444,67444,02443,76442,81442,80442,76442,68442,67441,84441,74441,01441,00440,99440,82440,81440,79439,82439,81439,76439,10438,83438,81438,80438,78438,53
438,10438,09
437,82437,81437,79437,78437,06436,83436,79436,77436,66436,48435,84434,86434,81434,80434,79434,78434,76434,69433,85433,83433,79433,78433,76433,20433,01432,91432,85432,70431,73431,63431,17
430,83430,82430,81430,80430,78430,75430,73430,71430,70430,15429,83429,81429,80429,73429,25429,24429,07428,84428,83428,80428,79428,78428,77428,76428,75428,74428,69427,99427,82427,81427,80427,79427,78427,73427,18426,85426,83426,82426,81426,80426,79426,74425,81425,77424,98424,85424,80424,71423,81423,78423,55422,83422,79422,76422,48421,84421,76421,19420,83420,82420,78420,72420,33419,81419,80419,07418,88418,83418,82418,81418,80417,83417,81417,80417,79
417,11416,83416,82416,81416,80416,79415,81415,80415,78415,30415,05414,98414,85414,84414,82414,80414,78414,77413,69413,27413,26413,11412,88412,80412,78411,81411,34410,82410,79410,76410,28409,80409,78409,27409,23409,22409,20409,19408,82408,81408,79408,23407,83407,82407,81407,80407,54407,05406,89406,81406,79406,73406,41406,02405,82405,80404,85404,84404,80403,85403,79402,95402,84402,83402,81402,80402,79402,63402,50402,15402,09401,84401,63401,21
401,10
401,09
401,03400,87400,82400,81400,80400,77400,73400,66400,31400,17400,10399,83399,80399,79399,74399,10
399,09
399,00398,96398,82398,81398,76398,74398,73398,54398,10397,82397,73397,08396,84396,83396,82396,81396,75396,29395,93395,84395,76395,73395,69395,57395,08394,84394,82394,76394,15393,79393,78393,30393,26393,22393,21393,20393,17
393,15
393,05392,80392,78392,74392,09391,94391,84391,83391,79391,43391,29390,84390,80390,78390,69390,25389,83388,86388,84388,82388,79388,78388,76388,74388,26388,25388,21388,03387,76387,74387,03387,02386,82386,74386,72386,71385,89385,87385,82385,76384,91384,83384,81384,72384,21384,14383,12383,10383,03382,87382,72382,68382,13381,98381,84381,80381,21381,01380,85380,83380,82380,13379,84378,86378,82378,80378,46378,16
378,10
377,84377,83377,10
376,90376,85376,81376,77376,48
376,10
375,79374,86374,82374,81374,74373,83373,82373,39373,01372,78372,74371,77371,75370,82370,79370,77370,74370,16369,86369,84369,83369,76369,37369,31369,15369,08
368,84368,19368,15368,09367,75366,87366,53366,14366,13366,02
365,16
365,09365,03364,97364,87364,81364,32364,14
364,12
363,84363,76363,00362,98362,88362,85362,84362,69362,30361,85361,15361,09361,04360,82360,80360,33360,17360,15360,14359,85359,84359,46359,02359,00358,87358,86358,85358,84358,71357,84357,78356,98356,85356,83356,80356,30356,06355,82355,51354,83354,82354,32353,96353,85353,23353,16353,09352,84352,81352,80352,77352,62351,00350,87349,72349,24349,19349,18
348,85348,83348,82348,79348,77347,84347,75347,46347,25347,07345,88345,85345,78345,73345,03344,94344,81344,25344,23344,19344,15344,13344,04343,87343,84343,40
343,14
343,03342,88342,86342,85342,84342,78342,13341,82341,51341,10
341,09
340,98340,90340,85340,84340,77340,21340,20340,11340,10
339,90339,88339,85339,83339,75339,21339,20339,19
339,10
339,09
339,05338,87338,86338,82338,79337,59337,35336,89336,88336,87336,86336,85336,74335,87335,15
334,86333,79333,63332,85332,72332,61332,15331,86331,82331,80330,88330,84330,83330,79330,76329,84329,44328,94328,89328,85328,80328,76328,75328,12327,21
327,12
326,76326,75325,94325,68325,19325,18325,08324,89324,76324,15322,85322,83321,82
321,13
320,93320,88320,87
320,15
319,82319,03318,86318,85318,12318,00
317,12
316,98316,89316,88316,87316,86316,83316,78315,87315,67315,23315,22314,90314,89314,87314,78313,91313,61313,21312,89312,84312,78311,78311,48311,29311,18311,17311,16310,86310,83310,82310,81310,04309,01308,89308,86308,84308,81308,76306,87306,86306,85
306,13306,12
305,45
305,16
305,15305,14
305,02304,87304,06303,16
303,02302,30302,15302,14301,15
301,14
301,03300,91300,86300,83300,63300,21300,20300,02299,88299,26299,01299,00298,93298,92297,95296,98296,97296,93296,90296,84295,87295,30295,19294,98294,90294,89294,30293,06
293,03292,87292,84292,83292,54292,53292,37291,73291,54291,01291,00290,87288,76288,35288,34288,29287,05286,59286,53285,03284,99284,89284,88284,79284,37284,03283,27283,26283,23283,03282,26281,25281,14280,98280,95280,85280,83280,39279,67279,17279,15278,88277,89277,87
277,11
277,10277,04
277,02277,01276,99276,89276,87276,86276,85274,91274,90274,89274,88274,24273,86271,79271,28271,27271,21271,02270,93270,92270,91270,86270,82270,80269,87269,84
269,11
269,09269,01269,00268,88268,87268,85268,80267,38267,07266,88266,80
263,06
263,01262,91262,90262,89262,85262,54261,73
261,13
260,95260,89260,88260,87259,17259,16258,98258,96258,89258,82258,69257,94257,78257,49257,39257,15256,91256,82256,18256,17255,82255,46255,23255,20254,98254,87254,85254,83254,82254,04253,21253,17252,95252,92252,85
252,05
251,94249,35249,20248,99248,96248,89248,79248,76246,95246,52246,41246,30246,28245,17245,01244,96244,95243,59242,96242,95240,89240,58239,67239,25239,13238,91238,90238,88237,28237,08237,07236,93236,91236,87236,83236,79236,49236,11
236,07
235,08234,87234,42233,98233,36233,08232,94232,90231,81231,12231,09230,94230,93230,90230,25230,16228,94227,98227,21227,10226,98226,81226,47226,14225,05224,92223,48223,26223,02222,52221,06221,05220,90220,89220,23219,80218,17217,15217,11217,10217,04
217,03216,93216,92216,91216,90216,14215,96215,04
215,03
214,94214,93214,92214,89214,85214,09213,24213,08
212,85
212,34212,08212,07210,98210,96210,95210,37209,07206,84205,15203,39203,05201,78201,58201,04201,03200,96200,87200,86200,09199,81199,03198,63198,50197,82
197,81
197,48197,26196,94195,93195,91195,81195,71195,13195,06
195,05194,99194,96194,92193,80193,60193,04192,67192,37191,44190,92189,92189,31189,08187,56
187,04
187,00186,99186,19186,05185,16184,81184,40183,74183,17183,16182,60181,55181,31180,90180,72178,98178,97177,28177,07176,94175,88175,43174,97174,95174,94174,93174,34173,96173,38173,08172,62172,49171,58170,95170,83170,64170,01167,77166,99166,96166,95166,49165,53164,95164,93164,84164,16163,54163,44162,85162,84161,84161,83161,71161,28161,13160,85160,84159,34159,19158,98157,55156,01154,93154,87154,85154,38153,80152,44150,89150,69150,66149,67149,15148,34146,95146,27144,87143,68143,15143,11142,92142,82142,59141,12141,02139,44138,43136,89136,84134,93134,36132,64132,47131,56131,07130,41129,79129,39129,07128,95128,93128,67128,03127,91127,90127,02127,00126,47126,29125,79125,72124,06123,08122,72122,29121,87119,85118,81118,62117,90117,46117,19116,72116,10116,02116,00114,08113,12112,99112,98112,47112,30110,01108,90108,42108,15107,97105,10103,84102,88102,31101,07100,11
PCA massas
Figura 5.34 – Análise de componentes principais das relações m/z obtidas por
espectrometria de massas nas amostras dos afluentes e efluentes a cada fase operacional,
nas amostras de extratos de polímeros extracelulares (EPS) e de produtos de lise celular
para as fases IV, V e VI.
Os espectros das amostras destoantes no gráfico de PCAs foram verificados em relação à
ocorrência nos afluentes, uma vez que tais relações m/z seriam relacionadas a compostos já
provenientes da alimentação, o que não seria interessante na caracterização de SMPs.
Diante da verificação desta ocorrência para tais amostras e do fato de o PCA não prover
diretamente esta informação, houve uma mudança na estratégia para a seleção das relações
m/z de interesse, conforme o fluxograma apresentado no Capítulo 4, na Figura 4.1.
Portanto, a priorização de m/z se deu segundo os critérios de (i) frequência de
aparecimento no efluente e ausência no afluente; (ii) intensidade de picos e (iii) viabilidade
dos picos. A Figura 5.35 mostra os resultados de m/z obtidos por meio de tabela dinâmica
do software Excel, com os mesmos dados extraídos do espectrômetro de massas e usados
na confecção do gráfico de PCA.
88
102,88
105,1
112,98
112,99
116
116,72117,46118,62123,08
124,06
127,02
127,9
128,67128,93128,95129,39131,56132,47134,36136,89141,02
141,12142,59
143,15
146,27
148,34
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321
71,4
321
92,9
122
01,2
922
15,2
122
31,5
922
78,1
622
94,5
822
99,7
423
02,1
723
19,7
323
37,9
923
44,4
523
48,8
223
51,2
723
75,2
824
13,5
724
18,9
624
19,3
624
24,0
824
45,5
524
48,5
924
60,6
724
79,8
724
86,1
524
94,4
125
06,7
425
18,0
725
22,2
925
37,5
925
65,7
425
91,8
2592
,33
2598
,46
2600
,84
2623
,22
2632
,66
2638
,39
2644
,44
2658
,91
2695
,19
2719
,99
2748
,127
73,4
628
08,8
928
51,9
329
48,5
130
50,8
732
27,7
832
40,9
6
Fase 2 Fase 3 Fase 4 Fase 5 Fase 6 Fase 1
Contar de MASSA
MASSA
FASE
Figura 5.35 – Gráfico dinâmico para a contagem das relações m/z presentes nos efluentes
e ausentes nos afluentes
Pôde-se constatar que, houve, de fato, a predominância de baixas massas molares,
conforme esperado diante dos resultados de MALDI-TOF. De fato, a ocorrência
predominante de compostos de baixas massas molares nos SMPs não é surpresa. Aquino et
al. (2009), estudando a produção de SMPs em reatores UASB, verificaram que, apesar da
distribuição de massas molares dos efluentes dependerem das condições operacionais, a
maior parte é constituída de compostos de massa molar inferior a 1.000 Da. Segundo
Jarusutthirak e Amy (2007), produtos associados à utilização do substrato (UAPs) são
esperados em condições abundantes de substrato, enquanto aqueles associados ao
decaimento da biomassa (BAPs) prevalecem em ambientes em que haja sua escassez . Ora,
a alimentação de substrato empregada neste trabalho foi contínua e as cargas orgânicas
aplicadas (1,25; 0,5 e 0,32kgDQO/m3.d) devidamente abundantes para se justificar a
prevalência de SMPs-UAP. Shin e Kang (2003) sugeriram ainda a decomposição de SMPs
de alta massa molar a compostos de massas molares inferiores a 10.000Da por
microrganismos aclimatados (longo TDC) em bioreatores de membrana cerâmica. Nesta
pesquisa, todas as amostras foram coletadas após o tempo de aclimatação da biomassa.
Portanto, a predominância de compostos de baixa massa molar também poderia ser
explicada pela degradação e/ou hidrólise de SMPs de alta massa molar (SMPs-BAP).
89
Diante dos inúmeros dados de m/z detectados pelo equipamento, com base na Figura 5.35,
foi possível selecionar algumas relações m/z para reavaliação dos espectros de massas
obtidos. Esta etapa foi particularmente importante, uma vez que a alta resolução do
equipamento, que permite a obtenção de m/z com 4 casas decimais, havia sido
“mascarada” pelo arredondamento em 2 casas decimais para a planilha de dados do PCA.
Além disto, como o equipamento é capaz de detectar m/z em níveis-traço, foi fundamental
verificar se as relações m/z realmente eram picos ou apenas ruídos, uma vez que a
avaliação matemática também não havia considerado intensidades.
Portanto, com os espectros em mãos e avaliação individual de cada m/z da Tabela 5.3
verificou-se que (i) m/z de 217,10 era a mesma descrita como 217, 11, que estava presente
nos afluentes e que, portanto, foi desconsiderada da análise; (ii) as relações m/z 256,82;
349,18; 349,19 e 305,16 tinham intensidades similares ao ruído da análise sendo, portanto,
desconsideradas da análise. A Tabela 5.3 apresenta, então, o resultado desta análise com as
relações m/z escolhidas e as amostras em que apareceram.
Diante do exposto, as amostras que obtiveram maior intensidade de picos para m/z em
questão foram reinjetadas no equipamento, nas mesmas condições anteriores (descritas no
Capítulo 4) para reavaliação do espectro e obtenção também da massa segunda (modo
MS2). Os espectros de massas obtidos são apresentados nas Figuras 5.36, 5.37 e 5.38.
Tabela 5.3 – Amostras mais frequentemente consideradas para investigação, presentes nos
efluentes e ausentes nos afluentes das fases operacionais.
RELAÇÃO MASSA/CARGA (M/Z) AMOSTRAS EM QUE APARECEM
EFAN F2, F3, F6
EPSAN F4 325,18
UASB
EFAN F2, F3, F6
EPSAE F4 / EPSAN F4, F6
LISEAN F4, F6
339,20
UASB
90
280 290 300 310 320 330 340 350 360 m/z0.0
0.5
1.0
1.5
2.0
2.5
Inten.(x10,000)
339.1994
325.1847
311.1657
14.0147
14.0190
Figura 5.36 – Espectro de massas para o efluente anaeróbio da fase VI, para as relações
massa/carga m/z=339,20 e m/z=325,18
175.0 200.0 225.0 250.0 275.0 300.0 325.0 m/z0.0
1.0
2.0
3.0
4.0
5.0
6.0
7.0
8.0
9.0Inten.(x100,000)
339.1987
183.0132
Figura 5.37 – Espectro de massas obtido para análise de massa segunda da relação
massa/carga m/z=339,1987. Amostra do efluente anaeróbio da fase VI
91
175.0 200.0 225.0 250.0 275.0 300.0 325.0 m/z0.0
1.0
2.0
3.0
4.0
5.0
6.0
7.0
8.0
9.0Inten.(x100,000)
325.1832
183.0133
Figura 5.38 – Espectro de massas obtido para análise de massa segunda da relação
massa/carga m/z=325,1832. Amostra do efluente anaeróbio da fase VI
A Figura 5.36 mostra que a diferença entre as relações m/z 325,1832 e 339,1987
corresponde à m/z= 14,0147, atribuída a um CH2. Isto sugere que as relações m/z são
referentes ao mesmo composto, diferindo apenas pelo número de carbonos da cadeia. As
análises de MS2 para ambas as relações m/z confirmaram a hipótese de se tratarem de
mesmos compostos, uma vez que m/z da massa segunda obtida a partir da colisão para as
duas m/z foi a mesma (183,0133). A seqüência de m/z obtida (339/325/311) diferindo
apenas por um CH2 e a massa segunda de relação m/z 183,0133 confirmaram a
caracterização química de LAS (Alquilbenzenos de cadeia linear), que são agentes
surfactantes muito utilizados na fabricação de detergentes comerciais, conforme detectado
por Leite (2008) analisando esgoto sanitário por espectrometria de massas. A Figura 5.39
mostra a estrutura química típica do surfactante aniônico LAS.
Figura 5.39 – Estrutura química típica do alquilbenzeno sulfonado de cadeia linear (LAS)
92
Entretanto, como LAS são compostos indicadores de contaminação por detergentes,
levantou-se a hipótese de que estes compostos poderiam ser provenientes do processo de
obtenção das amostras para identificação ou que poderiam estar adsorvidos no lodo usado
no tratamento anaeróbio. Contudo, algumas observações são relevantes para consideração:
(i) a hipótese de contaminação a partir do afluente e ao longo de toda a linha até a
chegada da alimentação ao reator está descartada pelo fato de esta relação m/z
não aparecer nos afluentes;
(ii) a hipótese de contaminação por lavagem de vidraria, obtenção e concentração
das amostras e preparo para injeção no LC-MS é praticamente nula, uma vez
que, se fosse este o caso, as demais amostras apresentariam a mesma relação
m/z, por terem todas seguido os mesmos procedimentos anteriores à análise de
espectrometria;
(iii) a hipótese restante de adsorção destes compostos LAS nos lodos provenientes
da estação de tratamento de esgoto de Belo Horizonte quando de sua inoculação
é remota. Apenas duas inoculações de lodo anaeróbio foram realizadas: a
primeira, em 25/10/07, um mês e meio antes do início da coleta de amostras
para resultados de caracterização da fase I (17/12/07). A segunda reinoculação
ocorreu no início da fase VI, por necessidade de reposição da população
anaeróbia, conforme descrito anteriormente. A data de inoculação foi 01/10/08,
27 dias antes do primeiro resultado obtido para a caracterização dos SMPs desta
fase. Estes tempos provavelmente seriam suficientes para que a biomassa
tivesse degradado estes contaminantes. Além disto, nas fases II e III, não houve
qualquer inoculação de novo lodo; contudo, nestas fases estes compostos
também foram observados. Ressalta-se ainda, como citado no Capítulo 4, que o
reator foi operado por, no mínimo, 3 vezes o TDH para a coleta de amostras
para as análises de espectrometria de massas (30 e 48 dias para as fases II e III,
respectivamente).
Desta forma, os resultados abrem a possibilidade de produção de LAS por microrganismos
anaeróbios. Sabe-se que alguns microrganismos produzem agentes surfactantes e isso é
coerente com as observações de que tais compostos são de difícil degradação anaeróbia,
havendo indícios até de ligeiro aumento da concentração de surfactantes nos reatores
anaeróbios (Leite, 2008). Contudo, isto deve ser avaliado com cautela, uma vez que os
biosurfactantes reportados pela literatura não são LAS.
93
A formação de complexos com metais seria uma hipótese forte e promissora diante das
relações m/z obtidas, considerando a produção de metalóforos (SMPs deliberadamente
excretados para complexar metais nutrientes e transportá-los para dentro das células ou
para mitigar toxicidade de metais).
Os metalóforos são constituídos de pequenas sequências de peptídeos (portanto dão
positivo no teste de proteínas – o que é coerente com os resultados obtidos) e possuem
baixa massa molar (por isso não seriam identificados nas análises de MALDI-TOF aqui
realizadas). De fato, os surfactantes microbianos incluem lipopeptídeos e glicopeptídeos e
estão tendo aplicação cada vez maior na produção de cosméticos, detergentes e agentes
anti-microbianos e também na recuperação mineral e de óleo (Price et al., 2009; Nayak et
al., 2009). Portanto, os surfactantes microbianos não são sulfonados como o LAS (Price et
al., 2009; Nayak et al, 2009; Patel et al., 2009), mas sim constituídos de uma parte lipídica
apolar e uma parte glucosídica polar. Como exemplo, os ramnolipídeos são uma classe de
biosurfactantes constituída de moléculas de açúcar ramnose e de ácidos β-
hidroxilalcanóicos. Nayak et al. (2009) indentificaram, também por meio de
espectrometria de massas, a produção deste biosurfactante, verificando a predominância de
unidade mono e di-ramnose ligadas a duas unidades de ácidos β-hidroxilalcanóicos com
cadeia carbônica variando de C5 a C12 e relação m/z baixa (entre 284 e 689).
Na tentativa de se avançar mais na caracterização dos SMPs, novas relações m/z foram
levantadas para análise de MS2, agora com base nos critérios de intensidade e frequência
de duas aparições nos efluentes. Eliminando-se ruídos e aquelas m/z presentes nos
afluentes, selecionaram-se algumas relações m/z, conforme Tabela 5.4.
Apesar da reinjeção destas amostras para obtenção de massas segunda, pouco foi possível
avançar na identificação de sua fórmula química. O software do equipamento LC-MS
utilizado não possui biblioteca, o que dificulta sobremaneira este trabalho. Além disto, os
espectros obtidos não foram conclusivos, o que leva à necessidade de adoção de outras
técnicas de identificação para auxiliarem na identificação química precisa, o que
demandaria um tempo ainda longo de pesquisa.
94
Outro dificultador desta avaliação foi o fato de, exceto para as relações m/z já analisadas e
identificadas, não haver um perfil de relações m/z típico nas amostras das diversas fases
operacionais. Em outras palavras, a maioria das relações m/z detectadas apareceu
pontualmente, em uma ou duas fases, o que pode sugerir que, talvez, muitos compostos
diferentes em baixas concentrações compõem a parcela de SMPs da DQO residual, ao
invés de alguns poucos compostos típicos em alta concentração. Desta forma, cada
condição operacional parece interferir intensamente e ser determinante para a característica
química dos SMPs produzidos, o que leva a uma necessidade ainda maior de esforços no
avanço de sua identificação.
Tabela 5.4 – Novas relações m/z para investigação, presentes nos efluentes e ausentes nos
afluentes das fases operacionais estudadas.
RELAÇÃO MASSA/CARGA (M/Z)
173,0794
236,0714
248,9597
320,8690
342,1338
351,0022
362,9802
368,1489
434,8060
560,5892
Outra hipótese a ser considerada ainda diante das relações m/z obtidas seria a formação de
complexos com metais. Os compostos orgânicos complexados com metais do meio
formaria ‘adducts’, dificultando a sua identificação química no espectrômetro de massas.
Se tal fato aconteceu com as amostras analisadas, abre-se a perspectiva de os SMPs serem
agentes complexantes produzidos por microrganismos para seqüestrar metais nutrientes em
condições de escassez nutricional.
Segundo Aquino (2004), os SMPs possuiriam grupos funcionais quelantes típicos
(carboxilatos, hidroxilas, sulfidrilas, fenóis, aminas) que agiriam como ligantes e
95
complexariam metais normalmente encontrados na água. Kuo e Parkin (1996) verificaram
a produção de SMPs níquel-quelantes, e mostraram que o aumento no TDC (tempo de
detecção celular) implicou no maior acúmulo de SMPs quelantes. Para os autores, os
microrganismos excretariam tais substâncias para reposição nutricional em altos TDCs.
Estudos recentes têm sido realizados na avaliação da produção de sideróforos por
microrganismos (Patel et al., 2009; Nayak et al., 2009). Sideróforos são ligantes ferro-
quelantes de massa molar relativamente baixa (550 a 1.000 Da) sintetizados pela maioria
dos microrganismos em condições ferro-limitantes (Hider, 1984; Neilands, 1981, Neilands,
1995 apud Patel, 2009). Os microrganismos transportam ferro para dentro da célula por
meio da formação de complexos sideróforos-ferro. Os sideróforos solubilizam o ferro
circundante não solúvel para torná-lo biologicamente disponível (Neilands, 1995;
Winkelmann, 1991 apud Patel et al., 2009).
Portanto, uma avaliação de espécies microbianas presentes nos reatores por meio da
tentativa de identificação de espécies com capacidade de produção de sideróforos e a
procura dos metalóforos e seus complexos seria uma abordagem atrativa para a
continuação dessa pesquisa de elucidação acerca da natureza química dos SMPs.
96
6. Conclusões e sugestões para trabalhos futuros
• No reator aeróbio, na grande maioria dos casos, praticamente toda a DQO residual
é advinda da produção de SMPs, conforme previsto em literatura. Alguns atípicos
resultados de AGVs obtidos e confirmados para este reator sugerem possíveis
condições de microaerofilia, em que há mudança de metabolismo e os
microrganismos aeróbios facultativos passam a fermentar e a produzir AGVs.
• No reator anaeróbio, grande parte da DQO residual é constituída por AGVs,
principalmente nas condições de estresse. Observou-se que as situações de estresse
das fases I, IV e V (baixo TDH e/ou baixa temperatura) contribuíram
substancialmente para que a maior parte da DQO residual se devesse aos AGVs,
conforme previsto na literatura, como resultado do não atendimento às condições
cinéticas e termodinâmicas ótimas.
• A produção relativa de SMPs, considerando a DQO residual, no reator aeróbio foi
superior à do anaeróbio, uma vez que no reator anaeróbio, os elétrons do doador
(substrato) são canalizados tanto para a produção de SMPs quanto para a de AGVs
que se acumulam no meio e a elevada produção de AGVs foi o principal indicador
de situações de estresse (baixo TDH e baixa temperatura). Além disto, como os
microrganismos aeróbios crescem mais rápido e degradam substrato em velocidade
maior, pode haver mais SMP-BAPs e SMP-UAPs.
• As fases I e V foram aquelas que apresentaram maior discrepância entre as taxas de
conversão da DQO afluente em SMPs entre os reatores aeróbio e anaeróbio (na fase
I, 35% do aeróbio contra 9% do anaeróbio; na fase V, 68% do aeróbio contra 13%
do anaeróbio). Considerando as condições operacionais adversas de baixo TDH e
baixa temperatura, para o reator anaeróbio, há um comprometimento dos
microrganismos metanogênicos e acetogênicos no meio, levando a um acúmulo de
AGVs e para o reator aeróbio, condições adversas podem colaborar para o acúmulo
de SMPs no meio, uma vez que não é prevista a produção de intermediários.
• O aumento do TDH em condições não estressantes propiciou uma situação mais
favorável à degradação dos AGVs no reator anaeróbio. Nas fases II e III, operadas
com glicose na ausência de estresse, a quantidade de SMPs normalizada em função
da DQO afluente no reator aeróbio foi menor que no anaeróbio (11 e 2% contra 27
e 17%, respectivamente). Portanto, sem acúmulo de AGVs, parte significativa dos
97
elétrons disponíveis na matéria orgânica afluente foi destinada à produção dos
produtos microbianos.
• No reator anaeróbio, a carga orgânica aplicada não apresentou interferência
significativa na conversão da DQO afluente a SMPs sugerindo que, provavelmente,
os SMPs acumulados são principalmente advindos da biomassa (SMPs-BAP), ao
invés da utilização do substrato (SMPs-UAP). Já no reator aeróbio, os SMPs
acumulados parecem principalmente advindos da utilização do substrato (SMPs-
UAP), uma vez que a carga orgânica interferiu proporcionalmente na conversão da
matéria orgânica afluente em SMPs.
• A temperaturas mais baixas, a produção de SMPs parece ser maior, especialmente
para o reator aeróbio, uma vez que condições adversas de baixa temperatura
contribuiriam para a elevação da produção/acúmulo de SMPs no meio. A 15oC,
cerca de 33,8% da DQO afluente foi convertida a SMPs, enquanto que 18,7% foi a
proporção obtida a 25oC neste reator, sugerindo que a DQO residual de efluentes de
reatores aeróbios operados em climas mais frios seja devida a substrato não
degradado por causa do baixo metabolismo, bem como ao maior acúmulo de SMPs
(maior produção e menor degradação). Para o reator anaeróbio, uma tendência
praticamente constante de conversão da DQO afluente a SMPs (18,1% para
temperatura de 15oC e 18,3% a 25oC) foi observada, uma vez que, mediante
condições adversas, a rota metabólica caminha preferencialmente no sentido de
acúmulo de AGVs.
• No tratamento aeróbio, a elevação da temperatura aumenta a porcentagem de
conversão da biomassa a SMPs, o que pode ser um indício do aumento da
proporção de SMPs-BAP (decaimento endógeno). Já no tratamento anaeróbio, o
inverso é observado, podendo indicar que são as baixas temperaturas que
favorecem a produção de SMPs-BAP.
• A utilização do acetato como substrato, por ser uma molécula mais simples e por
prover menos energia que a molécula de glicose para a população microbiana, pode
ocasionar uma maior produção de SMPs (por exemplo, excretados para
desempenhar alguma função microbiana ou provenientes de lise celular).
• O conteúdo protéico e de carboidratos nas amostras de efluentes são baixos e a
maior parte da DQO residual em todas as fases não podem ser atribuídas a estes
compostos. No reator aeróbio, a DQO relacionada ao teor de proteínas representou
98
de 5 a 34% da DQO residual e o teor de carboidratos (também em termos de DQO)
não ultrapassou 16%. Já para o reator anaeróbio, o teor de proteínas em termos de
DQO atingiu seu máximo na fase I, de TDH igual a 4 dias, representando 17% da
DQO residual. Já para avaliação do teor de carboidratos, nenhuma amostra
analisada advinda deste reator apresentou contribuição de carboidratos para a DQO
residual.
• O baixo conteúdo de proteínas e carboidratos nas amostras foi confirmado pelos
ensaios feitos por MALDI-ToF-MS, cujos resultados não indicaram presença de
macromoléculas compreendidas na faixa de massa molecular de 20.000 a
80.000Da.
• Nas amostras de lise e EPS, praticamente todo o seu conteúdo pode ser
caracterizado como protéico e a concentração de carboidratos foi nula em
praticamente todas as amostras, aparecendo apenas nas amostras de EPS
provenientes do lodo aeróbio na fase IV e do lodo anaeróbio na fase VI, nas baixas
concentrações de 18 e 29 mgDQO/L, respectivamente.
• De modo geral, o conteúdo de carboidratos nas amostras de efluentes foi maior que
em amostras de EPS sugerindo que, nas amostras de efluentes em que apareceram
carboidratos, estes não eram exclusivamente advindos de polímeros extracelulares e
que, como em amostras de lise verificou-se teor de carboidratos nulo, parte destes
carboidratos presentes no efluente poderiam ser talvez advindos de SMPs-UAP.
• De modo geral, as amostras provenientes do reator anaeróbio apresentaram maior
concentração de proteínas e o maior conteúdo protéico é observado nas amostras de
EPS. Contudo, a concentração de proteínas aumentou consideravelmente na fase
VI, empregando-se acetato como substrato a 25oC, especialmente no reator aeróbio,
sugerindo que parte do conteúdo de SMPs na fase VI para o reator aeróbio seria
constituída de proteínas provenientes de polímeros extracelulares.
• Os resultados da espectrometria de massas indicaram que os SMPs produzidos em
cada fase operacional não parecem provenientes de lise celular. Portanto, nos casos
em que SMPs-BAP fossem produzidos, estes produtos teriam sido
degradados/hidrolisados em compostos de menores massas molares.
• Os polímeros extracelulares diferem dos efluentes dos reatores nas fases
operacionais estudadas, sugerindo também que os SMPs produzidos não seriam
provenientes de substâncias poliméricas extracelulares. Em termos químicos, a
99
produção de SMPs advindos de EPS em reatores aeróbios de mistura completa
parecem acontecer mediante condições ambientais/operacionais adversas e, na
medida em que a biomassa vai se adequando a esta nova condição, estes SMPs são
degradados e os SMPs produzidos voltam a ser produtos de natureza química
diferente de polímeros extracelulares.
• Para os efluentes do reator anaeróbio, pela complexidade da bioquímica do
consórcio microbiano presente neste reator, cada condição operacional impõe
características químicas distintas para os produtos microbianos produzidos e estes
não são provenientes de lise celular e nem da extração de polímeros extracelulares.
• A ocorrência predominante de SMPs de baixas massas molares foi verificada na
análise de espectrometria de massas, indicando produtos associados à utilização do
substrato (SMPs-UAP) ou provenientes da degradação e/ou hidrólise de SMPs de
alta massa molar (SMPs-BAP).
• Na tentativa de identificação por espectrometria de massas, a seqüência de relações
m/z obtidas (339/325/311) diferindo apenas por um CH2 e a massa segunda de
183,0133 confirmaram a caracterização química de LAS (alquilbenzeno sulfonados
de cadeia linear). Portanto, os resultados abrem a possibilidade de produção de
LAS por microrganismos anaeróbios. Contudo, isto deve ser avaliado com cautela,
uma vez que LAS são possíveis indicadores de contaminação por detergentes (que
poderiam estar adsorvidos no lodo quando de sua inoculação e que se apresentaram
refratários ao tratamento por serem de difícil degradação anaeróbia) e os
biosurfactantes microbianos relatados na literatura não serem reportados como
LAS.
• A formação de complexos com metais seria uma hipótese forte e promissora diante
das relações m/z obtidas, considerando a produção de metalóforos.
• Como sugestão para trabalhos futuros, uma avaliação de espécies microbianas
presentes nos reatores e a procura dos metalóforos e seus complexos seria uma
abordagem atrativa para a continuação da elucidação acerca da natureza química
dos SMPs.
• Uma vez que os espectros obtidos não foram conclusivos, outra sugestão para
trabalhos futuros é a adoção de outras técnicas de identificação, complementares à
espectrometria de massas, para auxiliarem na identificação química precisa dos
SMPs.
100
7. Referências Bibliográficas
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107
Anexo
Relatório Schimadzu – MALDI-ToF-MS
117
Apêndice
Validação do Método para Análise e Quantificação de AGVs
118
• Validação do método de quantificação de AGVs
Limite de Detecção e de Quantificação
“O limite de detecção (LD) corresponde à menor quantidade de um analito que pode ser
detectada, porém não necessariamente quantificada como um valor exato. Na prática, o LD
é determinado como a menor concentração do analito que pode ser diferenciada do ruído
do sistema com segurança. Um procedimento comum é aceitar como LD a concentração do
analito que produz um sinal três vezes maior que o ruído do sistema” (Lanças, 2004). Para
determinação do LD da mistura de AGVs, foram injetadas amostras-padrão preparadas em
diferentes concentrações. Os relatórios gerados foram programados para especificarem a
relação sinal/ruído da análise. Com base nestes resultados, padrões de concentrações mais
diluídas foram sendo preparados até ser atingido o valor sinal/ruído aproximado de 3.
“O limite de quantificação (LQ) corresponde à menor quantidade de um analito que pode
ser quantificada com exatidão e com uma fidelidade determinada. Na prática, pode também
ser definida em relação ao ruído empregando-se o branco como referência; valores ao
redor de 10s (sendo s o desvio-padrão do sinal gerado empregando-se um branco) são
comumente aceitos” (Lanças, 2004). Portanto, a escolha do LQ pode ser feita como 10
vezes o ruído ou aproximadamente 3 vezes o LD. Para a determinação do LQ da mistura
de AGVs, foram injetadas amostras-padrão preparadas em diferentes concentrações. Os
relatórios gerados foram programados para especificarem a relação sinal/ruído da análise.
Com base nestes resultados, padrões de concentrações mais diluídas foram sendo
preparados até ser atingido o valor sinal/ruído aproximado de 10.
Soluções-padrão da mistura dos principais ácidos orgânicos (fórmico, acético, propiônico,
butírico, isobutírico, valérico e isovalérico) foram preparadas de acordo com as
concentrações de interesse para cada parâmetro a ser validado. Para a determinação dos
Limites de Detecção e de Quantificação, uma solução-padrão estoque de 400mg/L foi
preparada a partir dos ácidos puros e as demais concentrações foram obtidas por diluição.
Para este caso, em especial, foram avaliadas as concentrações de 25, 12,5 e 6,25mg/L.
119
Vale ressaltar que a avaliação de LD e LQ foi feita para a mistura de ácidos, uma vez que
as calibrações das amostras reais seriam feitas sempre com os padrões de mistura. Como o
pico do ácido valérico era sempre o menos intenso, ele foi usado como parâmetro para a
escolha destes limites (por apresentar a pior condição). Portanto, o estabelecimento destes
limites para este ácido garante a detecção e quantificação de todos os demais. Como este
ácido nem apareceu para a concentração de 6,25mg/L e a relação sinal/ruído para o ácido
isovalérico nesta concentração ainda foi inferior a 3 (signal/noise=2,9), o LD foi definido
como 12,5mg/L para a mistura de ácidos. Utilizando-se o critério da relação sinal/ruído=10
para o limite de quantificação, 12,5mg/L seria o LQ para todos os ácidos, exceto para o
ácido valérico, para o qual se adotou LQ=25,0mg/L. A Tabela A.1 mostra os resultados
obtidos para a relação sinal/ruído, de onde se extraíram os LD e LQ.
Tabela A.1 – Resultados da relação sinal/ruído (signal/noise) para a determinação dos
limites de detecção e quantificação da metodologia de análise de AGVs.
Sample Name : PADRAO 6.25mg/L Vial : 1
Acq. Operator : Patricia Inj : 1 Inj Volume : 40 µl
Acq. Method : C:\HPCHEM\CORE\PATRICIA.M
Analysis Method : C:\HPCHEM\CORE\PATRICIA.M
Analise de Acidos Organicos Volateis
RetTime k' Area Height SymmWidth Plates Resolution Signal/Noise
[min] [mAU*s] [mAU] [min]
-------|------|--------------|---------------|-------|-------|----------|-----------|------
14.366 - 18.36525 7.18612e-1 0.67 0.3833 7781 10.71 10.0
15.593 - 12.32450 3.96348e-1 0.76 0.4400 6958 1.75 5.5
18.395 - 12.42247 3.32585e-1 0.63 0.5167 7023 3.44 4.6
20.726 - 25.59664 4.36817e-1 1.49 1.0400 2200 1.76 6.1
22.586 - 7.49855 2.28080e-1 0.89 0.5700 8698 1.36 3.2
26.021 - 9.03175 2.06074e-1 0.70 1.4850 1701 1.96 2.9
Sample Name : PADRAO 12,5mg/L Vial : 21
Acq. Operator : Patricia Inj : 1 Inj Volume : 40 µl
Acq. Method : C:\HPCHEM\CORE\PATRICIA.M
Analysis Method : C:\HPCHEM\CORE\PATRICIA.M
Analise de Acidos Organicos Volateis
120
RetTime k' Area Height Symm. Width Plates Resolution Signal/Noise
[min] [mAU*s] [mAU] [min]
-------|------|--------------|------------|-----|------------|----------|---------|------
14.336 - 38.62683 1.56103 0.68 0.3733 8169 20.12 37.1
15.560 - 22.20067 8.45468e-1 0.68 0.3967 8525 1.87 20.1
18.358 - 24.39956 7.05665e-1 0.66 0.5067 7273 3.64 16.8
20.721 - 49.46189 9.16192e-1 1.02 0.6967 4901 2.31 21.8
22.555 - 33.66142 6.48969e-1 0.73 0.7133 5539 1.53 15.4
25.970 - 20.29851 4.47284e-1 0.78 0.7133 7343 2.81 10.6
31.643 - 22.39542 3.54140e-1 0.72 0.9867 5698 3.92 8.4
Sample Name : PADRAO 25,0mg/L Vial : 14
Acq. Operator : Patricia Inj : 1 Inj Volume : 40 µl
Acq. Method : C:\HPCHEM\CORE\PATRICIA.M
Analysis Method : C:\HPCHEM\CORE\PATRICIA.M
Analise de Acidos Organicos Voláteis RetTime k' Area Height Symm. Width Plates Resolution Signal/Noise [min] [mAU*s] [mAU] [min] -------|------|--------------|------------|-------|---------|-------|---------------|------ 14.352 - 77.49631 3.09350 0.67 0.3733 8188 4.23 75.5 15.575 - 47.07532 1.71485 0.69 0.4133 7866 1.83 41.9 18.364 - 51.31936 1.42887 0.63 0.5167 6999 3.52 34.9 20.733 - 79.34251 1.68639 0.88 0.6233 6129 2.44 41.2 22.569 - 51.17665 1.13819 0.69 0.6500 6679 1.69 27.8 26.023 - 40.88130 9.12786e-1 0.81 0.7133 7373 2.98 22.3 31.589 - 42.03296 6.99631e-1 0.72 0.9233 6484 4.00 17.1
Faixa dinâmica (Intervalo dinâmico)
“Segundo a IUPAC, a faixa dinâmica tem como limite inferior o limite de quantificação
(LQ)”. O limite superior pode ser obtido removendo-se os pontos superiores até que o
coeficiente de determinação (r2) apresente um valor satisfatório (0,98, por exemplo)
(Lanças, 2004).
121
Para a determinação do intervalo de aplicação, soluções-padrão da mistura de ácidos foram
preparadas em diferentes concentrações, partindo do limite de quantificação. As
concentrações foram 12,5; 25; 50; 100; 200; 400; 700; 1000; 1500 e 2000mg/L.
A Figura A.1 revela que a partir de 1000mg/L, os coeficientes de determinação apresentam
valores muito ruins (em torno de 0,5) e que perde-se completamente a linearidade. A
primeira coluna da Figura A.1 contém os gráficos incluindo os resultados para as
concentrações de 1500 e 2000mg/L. A segunda coluna apresenta os gráficos dos mesmos
compostos, considerando a faixa dinâmica de 25 a 1000mg/L, que foi adotada como válida.
Fórmico y = 1,1904x + 265,73
R2 = 0,5401
0,00
500,00
1000,00
1500,00
2000,00
2500,00
3000,00
3500,00
0 500 1000 1500 2000 2500
Conc (mg/L)
Inte
nsid
ade
Pico
Fórmico y = 3,0075x + 13,931
R2 = 0,9993
0,00
500,00
1000,00
1500,00
2000,00
2500,00
3000,00
3500,00
0 200 400 600 800 1000 1200
Conc (mg/L)
Inte
nsid
ade
Pico
Acético y = 0,7906x + 160,93
R2 = 0,5408
0,00
500,00
1000,00
1500,00
2000,00
2500,00
0 500 1000 1500 2000 2500
Conc (mg/L)
Inte
nsid
ade
Pico
Acético y = 1,993x - 5,6701
R2 = 0,9971
0,00
500,00
1000,00
1500,00
2000,00
2500,00
0 200 400 600 800 1000 1200
Conc (mg/L)
Inte
nsid
ade
Pico
Propiônico y = 0,7474x + 149,34
R2 = 0,5516
0,00200,00400,00600,00800,00
1000,001200,001400,001600,001800,002000,00
0 500 1000 1500 2000 2500
Conc. (mg/L)
Inte
nsid
ade
Pico
Propiônico y = 1,8586x - 4,5998
R2 = 0,9964
0,00200,00400,00600,00800,00
1000,001200,001400,001600,001800,002000,00
0 200 400 600 800 1000 1200
Conc. (mg/L)
Inte
nsid
ade
Pico
(a)
(b)
(c)
122
Isobutírico y = 0,9506x + 202,03
R2 = 0,5503
0,00
500,00
1000,00
1500,00
2000,00
2500,00
3000,00
0 500 1000 1500 2000 2500
Conc. (mg/L)
Inte
nsid
ade
Pico
Isobutírico y = 2,369x + 5,622
R2 = 0,9976
0,00
500,00
1000,00
1500,00
2000,00
2500,00
3000,00
0 200 400 600 800 1000 1200
Conc. (mg/L)
Inte
nsid
ade
Pico
Butírico y = 0,7317x + 143,59
R2 = 0,5536
0,00200,00400,00600,00800,00
1000,001200,001400,001600,001800,002000,00
0 500 1000 1500 2000 2500
Conc. (mg/L)
Ingt
ensi
dade
Pic
o
Butírico y = 1,8147x - 6,4771
R2 = 0,996
0,00200,00400,00600,00800,00
1000,001200,001400,001600,001800,002000,00
0 200 400 600 800 1000 1200
Conc. (mg/L)In
gten
sida
de P
ico
Isovalérico y = 0,754x + 142,83
R2 = 0,5609
0,00200,00400,00600,00800,00
1000,001200,001400,001600,001800,002000,00
0 500 1000 1500 2000 2500
Conc. (mg/L)
Inte
nsid
ade
Pico
Isovalérico y = 1,8536x - 9,4916
R2 = 0,9958
0,00200,00400,00600,00800,00
1000,001200,001400,001600,001800,002000,00
0 200 400 600 800 1000 1200
Conc. (mg/L)
Inte
nsid
ade
Pico
Valérico y = 0,6148x + 153,93
R2 = 0,5287
0,00
200,00
400,00
600,00
800,00
1000,00
1200,00
1400,00
1600,00
1800,00
0 500 1000 1500 2000 2500
Conc. (mg/L)
Inte
nsid
ade
Pico
Valérico y = 1,6039x - 9,3208
R2 = 0,9949
0,00
200,00
400,00
600,00
800,00
1000,00
1200,00
1400,00
1600,00
1800,00
0 200 400 600 800 1000 1200
Conc. (mg/L)
Inte
nsid
ade
Pico
Figura A.1 – Ajustes para a determinação da faixa de aplicação para os AGVs (a) fórmico;
(b) acético; (c) propiônico; (d) isobutírico; (e) butírico; (f) isovalérico; (g) valérico.
Linearidade
“A linearidade é a resposta obtida em função da concentração do analito, a qual deve ser
estudada em um intervalo de concentração apropriado. Na prática, a linearidade é
determinada por intermédio de gráficos de calibração, seguidos de um tratamento
(d)
(e)
(f)
(g)
123
estatístico, o qual deve envolver, no mínimo, a equação da função, a análise da regressão e
os dados de correlação” (Lanças, 2004).
Os dados para a determinação da linearidade foram obtidos a partir das mesmas amostras
injetadas para determinar a precisão, em sete replicatas por concentração. As
concentrações foram de 12,5; 25; 50; 100; 200 e 400mg/L da mistura de ácidos, atendendo
à demanda mínima recomendada de 5 pontos para a curva analítica. As respostas obtidas
foram plotadas em função da concentração dos padrões, conforme mostram as Figuras A.2,
A.3, A.4, A.5, A.6, A.7 e A.8. Em seguida, foi feita análise de regressão por mínimos
quadrados e as equações das retas foram registradas em cada gráfico. A correlação foi
obtida por meio do coeficiente de determinação r2. Registrou-se, pois, a linearidade do
método para a faixa de concentração comumente usada (de 12,5 a 400mg/L).
Fórmico y = 3,0334x + 11,163R2 = 0,9986
0,00
200,00
400,00
600,00
800,00
1000,00
1200,00
1400,00
0 50 100 150 200 250 300 350 400 450
Conc (mg/L)
Inte
nsid
ade
Pico
Figura A.2 – Linearidade e análise de regressão para o ácido fórmico.
124
Acético y = 1,8928x + 4,9011R2 = 0,9974
0,00
100,00
200,00
300,00
400,00
500,00
600,00
700,00
800,00
900,00
0 50 100 150 200 250 300 350 400 450
Conc (mg/L)
Inte
nsid
ade
Pico
Figura A.3 – Linearidade e análise de regressão para o ácido acético.
Propiônico y = 1,7584x + 5,9292R2 = 0,9967
0,00
100,00
200,00
300,00
400,00
500,00
600,00
700,00
800,00
0 50 100 150 200 250 300 350 400 450
Conc. (mg/L)
Inte
nsid
ade
Pico
Figura A.4 – Linearidade e análise de regressão para o ácido propiônico.
125
Isobutírico y = 2,2968x + 13,187R2 = 0,9958
0,00
200,00
400,00
600,00
800,00
1000,00
1200,00
0 50 100 150 200 250 300 350 400 450
Conc. (mg/L)
Inte
nsid
ade
Pico
Figura A.5 – Linearidade e análise de regressão para o ácido isobutírico.
Butíricoy = 1,717x + 3,865
R2 = 0,9952
0,00
100,00
200,00
300,00
400,00
500,00
600,00
700,00
800,00
0 50 100 150 200 250 300 350 400 450
Conc. (mg/L)
Ingt
ensi
dade
Pic
o
Figura A.6 – Linearidade e análise de regressão para o ácido butírico.
126
Isovalérico y = 1,7675x - 0,2247R2 = 0,9934
0,00
100,00
200,00
300,00
400,00
500,00
600,00
700,00
800,00
900,00
0 50 100 150 200 250 300 350 400 450
Conc. (mg/L)
Inte
nsid
ade
Pico
Figura A.7 – Linearidade e análise de regressão para o ácido isovalérico.
Valéricoy = 1,4942x + 4,2345
R2 = 0,9962
0,00
100,00
200,00
300,00
400,00
500,00
600,00
700,00
0 50 100 150 200 250 300 350 400 450
Conc. (mg/L)
Inte
nsid
ade
Pico
Figura A.8 – Linearidade e análise de regressão para o ácido valérico.
Precisão (Repetibilidade)
A avaliação da precisão do método foi obtida com base na repetibilidade. “A repetibilidade
expressa a fidelidade obtida nas mesmas condições operacionais (mesmo analista, mesmo
equipamento, etc) aplicadas em um curto intervalo de tempo. A repetibilidade da área de
um pico cromatográfico é importante por ser o parâmetro utilizado na quantificação do
composto de interesse” (Lanças, 2004).
127
Soluções-padrão foram preparadas pelo mesmo analista para a concentração de 200mg/L
(concentração intermediária da curva analítica), em sete replicatas e foram analisadas
cromatograficamente, em seqüência, no mesmo equipamento, com o mesmo eluente e
usando as mesmas condições operacionais. As médias e os desvios-padrão foram obtidos
com vistas a se determinar a precisão a partir do coeficiente de variação (CV), conforme a
Equação A.1:
CV = DP/CMP x 100
(Eq. A.1)
onde:
DP = desvio padrão;
CMD = concentração média determinada
Os valores de precisão obtidos com o cálculo de CV estão expressos na Tabela A.2 e
foram confirmados pelo software Validate®, da Croma. Valores de CV de até 20% são
aceitos pelo INMETRO (2003); portanto, pode-se afirmar que o método é preciso.
Tabela A.2 – Dados de áreas de picos para a concentração de 200mg/L da mistura de
AGVs para a avaliação da precisão do método. Concentração
(mg/L) Fórmico Acético Propiônico Isobutírico Butírico Isovalérico Valérico
200 617,16 378,12 354,19 452,32 329,18 341,08 302,07 200 618,82 378,76 351,56 451,13 329,56 343,06 295,57 200 613,37 375,59 350,74 452,72 329,27 337,11 298,21 200 625,80 385,51 355,81 456,45 331,33 352,65 299,77 200 616,94 374,00 349,25 453,76 331,00 343,26 297,11 200 627,55 389,95 358,84 461,63 339,23 351,47 305,69 200 626,00 379,56 354,52 455,96 331,36 347,98 294,32 DP 5,55 5,62 3,29 3,55 3,51 5,68 3,93
MEDIA 620,81 380,21 353,56 454,85 331,56 345,23 298,96 CV 0,89% 1,48% 0,93% 0,78% 1,06% 1,64% 1,31%
Sensibilidade
“A sensibilidade de um método indica sua capacidade de discriminar, com uma fidelidade
estabelecida, concentrações próximas de um analito. A sensibilidade pode ser determinada
128
por intermédio da inclinação do gráfico de calibração.” Quanto maior o coeficiente
angular, mais sensível é o método (Lanças, 2004).
Para cada curva analítica construída (Figuras A.2 a A.8) foi avaliado o coeficiente angular
obtido a partir da análise regressão. Desta forma, foi possível comparar a sensibilidade do
método para cada ácido orgânico. A Tabela A.3 sistematiza a informação dos coeficientes
angulares, em ordem crescente. Portanto, o método empregado é mais sensível para o ácido
fórmico e bem menos sensível para o ácido valérico.
Tabela A.3 – Valores dos coeficientes angulares, em ordem crescente, para os AGVs,
revelando a sensibilidade de cada ácido.
Ácido Coeficiente angular
Valérico 1,49
Butírico 1,72
Propiônico 1,76
Isovalérico 1,77
Acético 1,89
Isobutírico 2,30
Fórmico 3,03
Seletividade
“A seletividade de um método instrumental de separação é a capacidade de avaliar, de
forma inequívoca, as substâncias em exame na presença de componentes que podem
interferir com a sua determinação em uma amostra complexa. O método de adição padrão
também pode ser aplicado para os estudos de seletividade, porém este método é utilizado
quando não é possível obter a matriz isenta da substância de interesse.” (Ribani et al.,
2004).
Este método foi o escolhido para avaliação da seletividade, uma vez que é praticamente
impossível obter a matriz dos efluentes anaeróbios isenta dos ácidos orgânicos. Foi feita
uma curva analítica com a adição dos padrões da mistura de ácidos em diferentes
129
concentrações em amostras reais de efluente anaeróbio. Esta curva foi comparada à curva
analítica obtida para os padrões isentos da matriz. Comparam-se, pois, as duas curvas e,
caso elas sejam paralelas, pode-se dizer que o método é seletivo (não há interferência da
matriz na determinação da substância de interesse). Portanto, avaliando-se as Figuras A.9 a
A.15, o método parece satisfatoriamente seletivo para todos os ácidos, à exceção do ácido
isobutírico, em que o efeito da matriz parece mais pronunciado (ajustes não paralelos,
coeficientes angulares distintos na presença e na ausência da matriz – 0,6849 versus
0,7934, respectivamente).
Fórmico
y = 0,8643x - 0,6317R2 = 0,9982
y = 0,8868x + 4,0703R2 = 0,9981
0,00
100,00
200,00
300,00
400,00
500,00
600,00
700,00
800,00
900,00
1000,00
0 200 400 600 800 1000 1200
Conc (mg/L)
Inte
nsid
ade
Pico
Na matrizIsento matrizLinear (Na matriz)Linear (Isento matriz)
Figura A.9 – Seletividade e análise de regressão para o ácido fórmico.
Acético
y = 0,5598x + 167,61R2 = 0,9959
y = 0,5761x - 1,3648R2 = 0,9979
0,00
100,00
200,00
300,00
400,00
500,00
600,00
700,00
800,00
0 200 400 600 800 1000 1200
Conc (mg/L)
Inte
nsid
ade
Pico
Na matrizIsento matrizLinear (Na matriz)Linear (Isento matriz)
Figura A.10 – Seletividade e análise de regressão para o ácido acético.
130
Propiônico
y = 0,5397x + 52,09R2 = 0,9976
y = 0,5482x - 1,9341R2 = 0,9962
0
100
200
300
400
500
600
700
0 200 400 600 800 1000 1200
Conc (mg/L)
Inte
nsid
ade
Pico
Na matrizIsento matrizLinear (Na matriz)Linear (Isento matriz)
Figura A.11 – Seletividade e análise de regressão para o ácido propiônico.
Isobutírico
y = 0,6849x + 11,694R2 = 0,9957
y = 0,7934x - 5,1676R2 = 0,9929
0,00
100,00
200,00
300,00
400,00
500,00
600,00
700,00
800,00
0 200 400 600 800 1000 1200
Conc (mg/L)
Inte
nsid
ade
Pico
Na matrizIsento matrizLinear (Na matriz)Linear (Isento matriz)
Figura A.12 – Seletividade e análise de regressão para o ácido isobutírico.
131
Butírico
y = 0,5377x + 5,0782R2 = 0,9959
y = 0,5607x - 0,2143R2 = 0,9934
0,00
100,00
200,00
300,00
400,00
500,00
600,00
0 200 400 600 800 1000 1200
Conc (mg/L)
Inte
nsid
ade
Pico
Na matrizIsento matrizLinear (Na matriz)Linear (Isento matriz)
Figura A.13 – Seletividade e análise de regressão para o ácido butírico.
Isovalérico
y = 0,5388x + 5,8619R2 = 0,9973
y = 0,5139x + 2,0911R2 = 0,9794
0,00
100,00
200,00
300,00
400,00
500,00
600,00
0 200 400 600 800 1000 1200
Conc (mg/L)
Inte
nsid
ade
Pico
Na matrizIsento matrizLinear (Na matriz)Linear (Isento matriz)
Figura A.14 – Seletividade e análise de regressão para o ácido isovalérico.
132
Valérico
y = 0,4713x + 5,4296R2 = 0,9953
y = 0,4812x + 2,6474R2 = 0,9849
0,00
100,00
200,00
300,00
400,00
500,00
600,00
0 200 400 600 800 1000 1200
Conc (mg/L)
Inte
nsid
ade
Pico
Na matrizIsento matrizLinear (Na matriz)Linear (Isento matriz)
Figura A.15 – Seletividade e análise de regressão para o ácido valérico.
Exatidão (Fortificação)
A exatidão “representa o grau de concordância entre os resultados individuais encontrados
em um determinado ensaio e um valor de referência aceito como verdadeiro. Os processos
mais utilizados para avaliar a exatidão de um método são: materiais de referência,
comparação de métodos, ensaios de recuperação, adição padrão. Este último método é
usado quando for difícil ou impossível preparar um branco da matriz sem a substância de
interesse” (Ribani et al., 2004). Este foi o caso adotado para avaliação da exatidão neste
estudo, uma vez que é praticamente impossível obter a matriz dos efluentes anaeróbios
isenta dos ácidos orgânicos.
Foram preparadas soluções-padrão de 100, 200, 500 e 1000mg/L da mistura de ácidos
(fórmico, acético, propiônico, butírico, isobutírico, valérico e isovalérico). Amostras de
efluentes anaeróbios foram coletadas e fortificadas em 50% com adição dos padrões. Para
cada concentração adotada, três ensaios foram conduzidos (ensaios em triplicata), de modo
que, ao final, 12 amostras foram obtidas. Em seguida, todos os procedimentos adotados
para a preparação da amostra anteriores ao encaminhamento à análise cromatográfica
133
foram seguidos: centrifugação, filtração do sobrenadante através de membranas de 0,45µm
e alocação em vials. As amostras foram injetadas para análise cromatográfica.
Para o cálculo da exatidão, duas informações são necessárias: o valor real (aquele tido
como verdadeiro; neste caso, corresponde à concentração do padrão preparado para a
fortificação da matriz) e o valor obtido (que é aquela concentração obtida pela curva
analítica a partir da resposta intensidade do pico). Contudo, após a obtenção das respostas,
foi necessário determinar a concentração de cada ácido na matriz original, uma vez que
esta não era isenta dos analitos. Para tal, foi feita uma curva analítica com adição de padrão
nas concentrações de 25, 50, 100, 200, 500 e 1000mg/L, ensaios em triplicata. Por meio da
extrapolação da curva, a intercessão com o eixo x proveu a informação, anteriormente
desconhecida, quanto à concentração de cada ácido presente na matriz original (Ribani et
al., 2004). Este valor foi deduzido da concentração total, proveniente de uma curva
analítica dos padrões isentos da matriz (calibração externa) usando as respostas da matriz
fortificada e a diferença foi utilizada como valor obtido. Segundo Lanças (2004), a
exatidão pode ser determinada pela expressão dada na Equação A.2:
Exatidão = [1-(Vr-Vd)/Vr] x 100
(Eq. A.2)
Onde:
Vr = valor real, aquele tido como verdadeiro
Vd = valor desejado, ou obtido pela curva analítica
A média da triplicata dos valores obtidos e dos verdadeiros foram inseridos no software
Validate®, da Croma, para o cálculo da exatidão do método. As Figuras A.16 a A.22
mostram os relatórios gerados pelo software, com os resultados de exatidão. O método se
mostra exato para todos os ácidos, uma vez que a porcentagem média de exatidão obtida
ficou compreendida entre 85 e 104% (segundo Lanças (2004), a faixa média aceitável para
avaliação de exatidão por ensaios de recuperação, por exemplo, fica entre 70 e 120%).
134
Figura A.16 – Resultado da exatidão do método de análise de AGVs para o ácido fórmico.
Figura A.17 – Resultado da exatidão do método de análise de AGVs para o ácido acético.
135
Figura A.18 – Resultado da exatidão do método de análise de AGVs para o ácido
propiônico.
Figura A.19 – Resultado da exatidão do método de análise de AGVs para o ácido
isobutírico.
136
Figura A.20 – Resultado da exatidão do método de análise de AGVs para o ácido butírico.
Figura A.21– Resultado da exatidão do método de análise de AGVs para o ácido
isovalérico.
137
Figura A.22 – Resultado da exatidão do método de análise de AGVs para o ácido valérico.