UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS - DCTA...

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA E TECNOLOGIA AGROINDUSTRIAL Tese POTENCIAL ENOLÓGICO DE UVAS TANNAT, CABERNET SAUVIGNON E MERLOT PRODUZIDAS NO MUNICÍPIO DE BAGÉ - RS Renata Giménez Sampaio Zocche Pelotas, 2009

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  • UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM CINCIA E TECNOLOGIA AGROINDUSTRIAL

    Tese

    POTENCIAL ENOLGICO DE UVAS TANNAT, CABERNET SAUVIGNON

    E MERLOT PRODUZIDAS NO MUNICPIO DE BAG - RS

    Renata Gimnez Sampaio Zocche

    Pelotas, 2009

  • RENATA GIMNEZ SAMPAIO ZOCCHE

    POTENCIAL ENOLGICO DE UVAS TANNAT, CABERNET SAUVIGNON

    E MERLOT PRODUZIDAS NO MUNICPIO DE BAG- RS

    Tese apresentada ao Programa de Ps-Graduao em Cincia e Tecnologia Agroindustrial da Universidade Federal de Pelotas, como requisito parcial obteno do ttulo de Doutor em Cincias.

    Orientao: Cesar Valmor Rombaldi, Ph. D.

    Luiz Antenor Rizzon, Ph.D.

    Celito Crivellaro Guerra, Ph. D.

    Pelotas, 2009

  • BANCA EXAMINADORA

    Prof. Dr Victor Manfroi Universidade Federal do Rio Grande do Sul

    Prof. Dr Manoel Artigas Schirmer Universidade Federal de Pelotas

    Prof. Dr Fabio Clasen - Universidade Federal de Pelotas (ps-doutorado)

    Prof. Dr Cesar Valmor Rombaldi (Orientador) Universidade Federal de Pelotas

  • Ao meu marido, Fernando,

    escada da minha subida,

    amor da minha vida...

    por me fazer to feliz,

    e minha filha Beatriz, a

    que nos faz querer mais da vida!

  • AGRADECIMENTOS

    Aos meus pais, Norton e Tanira que fizeram deste meu doutorado uma meta em

    suas vidas e agora posso concretizar esse sonho. Obrigado por darem alm do apoio e

    amor, por disporem do seu tempo e esforo fsico e intelectual para tudo isto se realizar!

    Ao Dr. Rizzon, meu orintador na Embrapa Uva e Vinho, pelo ensinamento, que

    o mais valioso, pela disponibilidade e acima de tudo, pelo exemplo de pessoa.

    Ao Dr. Celito por campartilhar conhecimento e disponibilizar a microvinificao.

    A minha amiga, colega e comadre, Suziane Antes. Ela sabe que apesar das

    discusses, sem ela no seria possvel!

    As minhas colegas do laboratrio que fizeram to felizes minha rotina no

    departamento

    A Magda do laboratrio de instrumentao da Embrapa Uva e Vinho pelas

    anlises e pela grande amizade e carinho.

    Ao CNPq pelo custeio do trabalho e pela bolsa de doutorado registrado como

    processo n.141935/2006-5.

    Existe uma fbula que no sei o nome e nem o autor mas que, resumidamente,

    fala de um piloto de avio que ao levantar vo e j a certa altura, percebeu que havia

    um rato que roia a mangueira de combustvel que abastecia o motor do avio. Ele sabia

    que se nada fizesse o rato conseguiria romper a mangueira e o avio cairia. Pensou em

    descer e matar o rato, mas repensou e seguiu subindo, agora mais rpido e cada vez

    mais alto, sabia que em alturas muito grandes o oxignio era escasso e assim o rato

    morreria por si s, sem conseguir respirar na altura que ele atingiu, e assim aconteceu.

    Essa fbula resume o que vejo em meu orientador, o melhor piloto de avies que j

    conheci, que tentou me ensinar como pilotar, seguir subindo apesar de qualquer

    imprevisto, quando se atinge determinada altura, poucos problemas podem nos

    atrapalhar, os deixamos no meio do caminho e atingimos nosso objetivo sem que nada

    nem ningum possa nos desviar da meta. Reconheo que ainda me falta um caminho

    muito grande para que eu consiga pilotar assim, mas o ensinamento ficou gravado.

    Obrigada Prof. Cesar Rombaldi.

    A Deus pelo que tenho e pelo que aprendo.

  • RESUMO

    A regio de Bag, h praticamente 10 anos retomou uma atividade na matriz

    agroindustrial da regio: um novo plo vitivincola no Brasil. Embora a produo de

    uvas e vinhos dessa regio seja uma realidade, as pesquisas formalizadas e a

    disponibilidade de dados tcnico-cientficos acerca da temtica na regio so

    praticamente nulas. Assim, nesse trabalho avaliou-se o potencial enolgico de 3

    cultivares de uva, Cabernet Sauvignon, Merlot e Tannat, produzidas na micro regio de

    Bag, RS. Para tal, as duas primeiras cultivares foram eleitas pelo seu renome

    comercial no Pas e no exterior, e a ltima devido s condies edafoclimticas de

    Bag se assemelharem s encontradas no Uruguai, onde so elaborados vinhos

    Tannat de excelente qualidade. Alm do potencial enolgico das cultivares, foram

    avaliadas duas pocas de colheitas para cada cultivar no ano agrcola de 2008, uma na

    poca denominada maturao industrial e outra, 21 dias aps, denominada maturao

    avanada. Como resultado, foi evidenciado que vinhos elaborados com a cultivar

    Tannat, com uvas no estdio mais avanado de maturao, houve acrscimo de

    polifenis totais e antocianinas, sem prejuzo para as demais variveis que podem

    prejudicar o vinho quando essa prtica adotada, como o caso da reduo da acidez

    e elevao do pH. J para a cultivar Cabernet Sauvignon, a maturao avanada fez

    com que a acidez total que j era baixa na primeira colheita, diminusse ainda mais e o

    pH elevasse para valores prximos a 4,0. Como conseqncia, esses vinhos

    apresentaram os piores ndices de cor, antocianinas e polifenis. Para a cultivar Merlot,

    apesar de apresentarem pH e acidez dentro de valores aceitveis, os ndices de cor,

    polifenis totais e antocianinas, para os vinhos de ambas pocas de colheita, foram

    muito baixos, provavelmente devido a algum distrbio fisiolgico ocorrido durante a

    poca de troca de cor em consequncia de adversidades climticas naquele ano. A

    anlise sensorial dos vinhos acompanhou os dados das anlises fsico-qumicas. A

    cultivar Tannat apresentou bom potencial enolgico na regio de Bag, RS, em

    processo clssico de vinificao. Buscando melhorar ainda mais a qualidade do vinho

    proveniente dessa cultivar buscou-se uma alternativa enolgica que possibilitasse a

    extrao de maior quantidade de polifenis, antocianinas, trans-resveratrol, maior

    potencial antioxidante e de taninos com maior grau de polimerizao. Para isso, testou-

  • se a macerao pr-fermentativa a frio. A hiptese foi confirmada. Os vinhos Tannat

    que passaram pela macerao pr-fermentativa a frio tiveram acrscimo significativo de

    antocianinas, polifenis totais, cor, trans-resveratrol, potencial antioxidante e maior

    extrao proporcional de taninos mais polimerizados. A anlise sensorial confirmou os

    dados das anlises fsico-qumicas, ou seja, os vinhos com macerao pr-fermentativa

    a frio obtiveram notas superiores nos quesitos favorveis qualidade sensorial, como

    colorao, estrutura, maciez tnica e persistncia. Alm das avaliaes pontuais, em

    cada safra, para a cultivar Cabernet Sauvignon elaboraram-se vinhos em trs safras

    (2004, 2007 e 2008), com uvas produzidas no mesmo vinhedo com o intuito de

    comear o processo de caracterizao dos vinhos Cabernet Sauvignon elaborados com

    uvas produzidas em Bag, RS. Nos trs anos agrcolas avaliados, os problemas de

    baixa acidez total, alto pH e excesso de potssio se repetiram, o que leva a crer que

    para obterem-se vinhos Cabernet Sauvignon na regio de Bag, com estabilidade de

    cor, ser necessria a utilizao de alguma prtica agrcola e/ou tcnica enolgica que

    auxilie na extrao de antocianinas e aumente a acidez desses vinhos.

  • ABSTRACT

    The region of Bage, almost 10 years ago started a new activity in the matrix

    agribusiness in the region: a new wine center in Brazil. Although the production of

    grapes and wines of this region is a reality, research organizations, and availability of

    technical-scientific data hits the theme in the region are virtually nil. Thus, this study

    evaluated the oenological potential of 3 cultivars of grape, Cabernet Sauvignon, Merlot

    and Tannat, produced in the micro region of Bage, RS. To this end, the first two cultivars

    were chosen for their commercial reputation in the country and abroad, and the latter

    due to climatic conditions of Bage resemble those found in Uruguay, where Tannat

    wines produced are of excellent quality. In addition to the oenological potential of the

    cultivars were evaluated two times of harvest for each cultivar during the growing

    season of 2008, at the time called industrial maturity and after another 21 days, called

    the late maturing. As a result, it was confirmed that wines with a variety Tannat grapes

    with the most advanced stage of maturation, there was an increase of total polyphenols

    and anthocyanins, without prejudice to the other variables that can affect the wine when

    the practice is adopted, as is the If the reduction of acidity and high pH values. As for the

    cultivar Cabernet Sauvignon, a late maturing made the total acidity was already low in

    the first crop, more decreased and pH increased to values close to 4.0. As a result,

    these wines had the lowest levels of color, anthocyanins and polyphenols. In the cultivar

    Merlot, although their pH and acidity within acceptable values, the color indices, total

    polyphenols and anthocyanins, for wines of both harvest seasons, were very low,

    probably due to some physiological disorder occurring during the time of exchange color

    as a result of bad weather that year. The sensory analysis followed the data on the

    physical-chemical. Cultivar Tannat showed good potential in the winemaking region of

    Bage, RS, in the classic process of winemaking. Seeking to further improve the quality

    of wine from that sought to cultivate alternative umna oenological to allow the extraction

    of higher amount of polyphenols, anthocyanins, trans-resveratrol, the greater the

    antioxidant potential of tannins and a higher degree of polymerization. For this, we

    tested the pre-fermentation maceration cold. The hypothesis was confirmed. Tannat

    wines that have gone through maceration pre-fermentation cold had significant increase

    of anthocyanins, total phenols, color, trans-resveratrol, the antioxidant potential and

  • proportional to the extraction of more polymerized tannins. Sensory analysis confirmed

    the data on the physical-chemical, or wine with maceration pre-fermentation cold graded

    higher in the categories in favor of sensory quality such as color, structure, tannin

    softness and persistence. Apart from occasional assessments in each season for the

    cultivar Cabernet Sauvignon wines were elaborated in three seasons (2004, 2007 and

    2008), with grapes grown in the same vineyard in order to begin the process of

    characterization of wines made with Cabernet Sauvignon grapes produced in Bage,

    Brazil. In the three cropping, the problems of low acidity, high pH and excess of

    potassium were repeated, which suggests that to get to Cabernet Sauvignon in the

    region of Bage with color stability will be necessary to use some technique enological to

    assist in the extraction of anthocyanins and increase the acidity of these wines

  • SUMRIO

    1. Introduo ....................................................................................................................9

    2. Objetivos ....................................................................................................................11

    3. Reviso Bibliogrfica..................................................................................................12

    3.1. A videira e o vinho ...............................................................................................12

    3.2. Vitivinicultura no Brasil.........................................................................................12

    3.3 Regio da Campanha...........................................................................................14

    3.4. Cultivares.............................................................................................................14

    3.4.1. Cabernet Sauvignon......................................................................................14

    3.4.2. Tannat ...........................................................................................................15

    3.4.3. Merlot ............................................................................................................15

    3.5. Alguns componentes variveis dos vinhos ..........................................................16

    3.5.1. Compostos fenlicos .....................................................................................16

    3.5.2. Diferentes formas de acidez..........................................................................21

    3.5.2.1. Acidez total .............................................................................................22

    3.5.2.2. Acidez voltil...........................................................................................23

    3.5.2.3. pH ...........................................................................................................24

    3.5.3. lcool etlico ..................................................................................................24

    3.5.4. lcool metlico ...............................................................................................25

    3.5.5. lcoois superiores de origem fermentativa ...................................................26

    3.5.6. Acetato de Etila .............................................................................................26

    3.5.7. Potssio ........................................................................................................27

    3.6. Clima e uva..........................................................................................................27

    4. Artigo 1: Caracterizao de Vinhos Produzidos com Uva Cabernet Sauvignon da

    Regio de Bag-RS .......................................................................................................30

    RESUMO....................................................................................................................31

    1. Introduo...............................................................................................................32

    2. Material e mtodos .................................................................................................33

    2.1. Material Vegetal ...............................................................................................33

    2.2 Microvinificaes...............................................................................................34

  • 2.3 Anlises fsico-qumicas do vinho .....................................................................34

    2.4. Anlise sensorial ..............................................................................................35

    3. Resultados e Discusso .........................................................................................35

    Agradecimentos..........................................................................................................40

    4. Bibliografia ..............................................................................................................41

    5. Artigo 2: Caracterizao de vinhos provenientes de uvas Merlot, Tannat e Cabernet

    Sauvignon da Regio da Campanha do RS, colhidas em dois estdios de maturao .45

    RESUMO....................................................................................................................46

    1. Introduo...............................................................................................................47

    2. Material e mtodos .................................................................................................49

    2.1 Material vegetal .................................................................................................49

    2.2 Microvinificaes...............................................................................................50

    2.3 Anlises fsico-qumicas do vinho .....................................................................51

    2.4. Anlise sensorial ..............................................................................................52

    2.5.Delineamento experimental e anlise estatstica ..............................................52

    3. Resultados e discusso..........................................................................................52

    3.1 Vinhos Tannat ...................................................................................................53

    3.2 Vinhos Cabernet Sauvignon..............................................................................56

    3.3 Vinhos Merlot ....................................................................................................57

    4. Concluso...............................................................................................................60

    Agradecimentos..........................................................................................................60

    5. Bibliografia ..............................................................................................................60

    6. Artigo 3: Macerao pr-fermentativa a frio na qualidade do vinho Tannat ...............76

    RESUMO: ...................................................................................................................78

    1. Introduo...............................................................................................................78

    2. Material e Mtodos .................................................................................................81

    2.1 Material vegetal .................................................................................................81

    2.2 Microvinificaes...............................................................................................81

    2.3 Anlises fsico-qumicas do vinho .....................................................................82

    2.4. Separao de proantocianidinas por coluna C18 Sep-Pak e determinao dos

    teores de flavan-3-ol ...............................................................................................83

  • 2.5. Determinao do potencial antioxidante ..........................................................83

    2.6. Anlise sensorial ..............................................................................................84

    2.7. Delineamento experimental e anlise estatstica .............................................84

    3. Resultados e Discusso .........................................................................................84

    4.Concluses ..............................................................................................................89

    Agradecimentos..........................................................................................................90

    5. Bibliografia ..............................................................................................................90

    7. Consideraes finais ................................................................................................101

    8. Bibliografia................................................................................................................104

  • 9

    1. Introduo

    A vitivinicultura nacional vem crescendo qualitativamente de maneira notria nos

    ltimos anos. Isso se deve em grande parte descoberta dos benefcios trazidos pelos

    vinhos sade humana e, evidentemente, oportunidade de gerao de trabalho e

    renda que essa atividade pode proporcionar, embora fortemente ameaada pela

    conjuntura internacional, e pela oferta de produtos com baixos valores de venda,

    especialmente pelos pases do mercosul. Atualmente o Rio Grande do Sul

    responsvel por 90% da produo nacional, que atingiu 334.77 milhes de litros de

    vinho na safra de 2008 (Ibravin, 2009).

    A viticultura no Rio Grande do Sul se caracteriza por se desenvolver

    basicamente em pequenas propriedades, com rea mdia de 2,5 ha e mo de obra

    familiar, ou seja, um setor com alta gerao de trabalho e um tpico exemplo de

    agricultura familiar sustentvel. O setor vincola brasileiro, ao contrrio do setor vitcola,

    est concentrado em sua maioria em grandes indstrias que produzem a quase

    totalidade dos vinhos, sucos e derivados do vinho nacionais.

    Para atender a demanda vitivincola nacional, o setor se obrigou a buscar novas

    regies aptas a produzir uvas de alta qualidade que gerem vinhos competitivos com os

    importados. Dentro deste contexto pesquisas agroclimatolgicas foram realizadas e

    demonstraram que a metade sul do Rio Grande do Sul possui potencial climtico e

    edafolgico para tornar-se um grande plo vitivincola brasileiro. A metade sul do Rio

    Grande do Sul est situada no paralelo 31, assim como as regies mundialmente

    conhecidas como produtoras de vinhos de excelente qualidade. O clima se destaca por

    ser seco e quente na poca que antecede a colheita, condio essencial para a

    maturao, o que confere qualidade s uvas. Esta situao consolida como uma das

    mais viveis alternativas produtivas para o desenvolvimento da metade sul do Rio

    Grande do Sul, que, ao longo dos anos, vem apresentando sinais de atraso severo em

    termos de desenvolvimento econmico.

    Com a afirmao da atividade vitivincola na metade sul, a agricultura familiar

    poder ganhar fora, gerar trabalho e insuflar a economia to desfavorecida na regio.

  • 10

    Uma alternativa para a valorizao dos ecossistemas e o aumento da competitividade

    do vinho refere-se, no caso brasileiro, possibilidade da produo de vinhos de

    qualidade em regies demarcadas, atravs da implementao das indicaes

    geogrficas. Para isso faz-se necessrio a intensificao de pesquisas nas regies

    vitivincolas promissoras com o intuito de determinar melhores manejos no que se

    refere adubao, conduo, poda e variedades mais aptas para cada regio.

    O estudo apresentando o comportamento das variedades vinferas em cada

    regio possibilita avaliar o potencial tanto das regies como das variedades nestas

    regies. Nesse contexto, o objetivo deste trabalho foi avaliar o potencial enolgico das

    variedades Cabernet Sauvignon, Tannat e Merlot produzidas na regio de Bag, RS,

    inclusa na macro regio da Campanha do RS. Os dados coletados podero servir como

    apoio ao produtor na escolha de cultivares para a regio, bem como na tomada de

    deciso quanto aos tratos culturais que podero amenizar alguns problemas

    encontrados no processo enolgico, como o caso do excesso de K detectado nas

    cultivares Cabernet Sauvignon e Merlot. Complementarmente, o conhecimento gerado

    poder subsidiar aos profissionais tcnicos responsveis pela vinificao, quanto a

    prticas enolgicas a serem adotadas frente s peculiaridades de cada cultivar.

  • 11

    2. Objetivos

    Caracterizar vinhos da cultivares Cabernet Sauvignon, Merlot e Tannat

    produzidos com uvas da regio de Bag, RS.

    Estudar as respostas macerao pr-fermentativa a frio, na produo de vinhos

    Tannat de qualidade superior, como meio proporcionador de maior extrao de

    antocianinas e de taninos com maior grau de polimerizao,.

  • 12

    3. Reviso Bibliogrfica

    3.1. A videira e o vinho

    A videira um arbusto com caule sarmentoso e trepador, que se fixa em

    suportes naturais ou artificiais, mediante rgos especializados. Quando inexistem

    suportes, se estende sobre a superfcie do terreno em posio mais ou menos ereta,

    ocupando reas significativas (HIDALGO, 1993, POMMER, 2003). A botnica

    sistemtica situa a videira, Vitis L. na diviso Magnoliophyta, classe Magnoliopsida, sub-

    classe Rosidae, ordem Rhamnales, famlia Vitaceae (CRONQUIST, 1981, POMMER,

    2003).

    Cree-se que o vinho possui uma histria de 10.000 anos. Com o nascimento da

    agricultura e o cultivo da videira, o homem constata que o mosto adocicado da uva

    colocado em vasilhas, possivelmente de cermica, inicialmente se transforma num

    lquido agradvel que desprende pequenas borbulhas que lhe d prazer e o deixa

    eufrico (MIELE & MIOLO, 2003).

    Apesar da videira ser nativa tambm da Amrica do Norte, a espcie Vitis

    vinfera introduzida no continente, nos sculos XV e XVI, atravs dos espanhis e

    portugueses, principalmente por ocasio das grandes navegaes. Credita-se a

    Cristvo Colombo, em 1943, a introduo da cultura da videira no Caribe, a qual

    inicialmente difundida para vrias regies da Amrica Central e, depois, para toda a

    Amrica (MIELE & MIOLO, 2003).

    3.2. Vitivinicultura no Brasil

    Segundo Falcalde & Tonietto (1993), as caractersticas dos produtos vitivincolas

    so a expresso do meio geogrfico, da cultivar, das prticas vitcolas e dos processos

    enolgicos empregados. O meio geogrfico, referncia para caracterizar a origem dos

    produtos, um fator de identidade, ao qual est associado o conceito de qualidade. A

  • 13

    regionalizao vitivincola permite conhecer e aprimorar todo o sistema produtivo que,

    neste caso, estar voltado para as potencialidades do meio geogrfico. O conseqente

    desenvolvimento do uso de indicaes geogrficas, fruto da regionalizao, passa a

    referir, ento, as prprias caractersticas da personalidade e tipicidade apresentadas

    pelos produtos vitivincolas.

    No Brasil, a inexistncia de regies vitivincolas delimitadas dificulta

    sobremaneira avanos que permitam o uso de indicaes geogrficas (TONIETTO,

    1993). A atual legislao vitivincola, firmada no Decreto n 99.066 (BRASIL, 1990),

    explicita a necessidade de caracterizar e demarcar as zonas de produo.

    Os estudos geogrficos da vitivinicultura brasileira so genricos, restringindo-se

    a indicar reas de produo, com descries sucintas do meio, eventualmente

    aprofundando um ou outro aspecto do mesmo, conforme pode ser observado em

    alguns dos trabalhos publicados (TERRA et al., 1992; COPAT et al., 1992). Mais

    recentemente, passaram a ser executadas novas pesquisas no sentido de identificar,

    delimitar e caracterizar as regies vitivincolas brasileiras (TONIETTO et al.,1993).

    No Brasil, pas de vasta extenso territorial, a agroindstria vitivincola ocorre em

    diversos estados, localizados nas regies Sul, Sudeste e Nordeste. Esse fato, por si s,

    j indica a grande diversidade de meios geogrficos encontrados na viticultura nacional,

    com reflexos nas caractersticas dos produtos elaborados (FALCALDE & TONIETTO,

    1993).

    Conforme explica Falcalde & Tonietto, (1993), verifica-se que as regies de

    vitivinicultura brasileiras destinadas industrializao, que apresentam expresso

    scio-econmica, esto localizadas em reas restritas de planalto, nos estados de Rio

    Grande do Sul, de Santa Catarina e do Paran, que formam a regio Sul; de So Paulo

    e Minas Gerais, na regio Sudeste; da Bahia e de Pernambuco, na regio Nordeste.

    Na regio Sul, a videira cultivada nas seguintes reas: no Planalto das

    Araucrias (regies da serra Gacha, do Alto do Vale do Rio do Peixe, de Rolante e de

    So Jos do Ouro); na Serra Geral (regio de Urussanga), no Planalto da Campanha

    Gacha (regio da Campanha), Na Depresso Central do Rio Grande do Sul (regio de

    Jaguar); e no Planalto Uruguaio-sul-rio-grandense (regio da Serra do Sudeste)

    (FALCALDE & TONIETTO, 1993). .

  • 14

    3.3 Regio da Campanha

    Miele e Miolo (2003) descrevem a Campanha como uma regio relativamente

    extensa, situada a uma latitude mdia de 31 S na fronteira com o Uruguai. parte de

    duas provncias geomorfolgicas o Planalto Meridional, ao Oeste, e a Depresso

    Central, a Leste. Caracteriza-se por campos limpos, formados por tapetes herbceos

    baixos e densos com a presena de matas galerias remanescentes e, em parte, por

    zona agrcola de uso intensivo de vero. A paisagem predominante o pampa,

    formando coxilhas com altitudes que geralmente variam entre 100 e 200m. A rocha me

    o arenito, e os solos so de mdia a alta profundidade e medianamente frteis.

    O clima da regio temperado do tipo subtropical, com veres relativamente

    quentes e secos. Os ndices mdios dos principais dados climticos so: Temperatura

    do ar 17,8C; Precipitao pluviomtrica 1.388mm; Umidade relativa do ar 76%;

    Insolao 2.372h (MIELE & MIOLO, 2003).

    3.4. Cultivares

    3.4.1. Cabernet Sauvignon

    Segundo Souza, (2000), uma cultivar clssica, apresenta cachos de

    comprimento e larguras medianos, tamanho tendente a pequeno, cilindro-cnico, mais

    longo que largo, pouco alado, com ocorrncia de dois ou trs cachos secundrios

    pouco desenvolvidos. Bagas esfricas pequenas e pretas, bem compactadas, com

    reflexos esbranquiados pela pruna. O suco incolor, sabor doce, agradvel,

    perfumado por um aroma caracterstico. As folhas pequenas, mais largas que

    compridas, mostram a inconfundvel caractersticas de muitos recortes e reentrncias

    que, olhadas de frente, exibem furos bem pronunciados.Nas regies midas onde

    cultivada, exigem um nmero e uma intensidade de tratamentos preventivos de

  • 15

    doenas e pragas que elevam os custos de produo, alm dos efeitos nefastos da

    chuva que precedem a colheita, diluindo a composio das bagas e desfigurando a

    personalidade dos vinhos. Muito embora seja uma uva de amadurecimento tardio e

    produo pouco volumosa, seus vinhos tem uma boa resistncia e, principalmente, um

    carter diferenciado. Ela oferece um mosto doce e agradvel, de aroma que lembra a

    flor violeta, resultando aps a vinificao, um vinho tinto escuro, encorpado, com um

    persistente odor agradvel. O processo de envelhecimento lento, portanto, exigindo

    um longo tempo de guarda. Quando jovem o vinho mostra-se um pouco duro,

    adstringente e taninoso.

    3.4.2. Tannat

    Rizzon e Miele (2004) descrevem a cultivar Tannat como originria da Frana e

    responsvel pelas caractersticas dos vinhos das regies de Madiran na Frana e dos

    vinhos Uruguaios. Os autores ainda citam os elevados teores de taninos e intensidade

    de cor desta cultivar, o que leva os vinhos Tannat a necessidade de envelhecimento em

    barrica por no mnimo seis meses. Gonzles-Neves (2004) afirmam que a Tannat a

    cultivar mais produzida no Uruguai desde o sculo 19 e seus teores de taninos e

    antocianinas proporcionam uma grande tipicidade aos vinhos desta cultivar.

    3.4.3. Merlot

    Segundo Rizzon e Miele, (2003), a uva Merlot uma das responsveis pelos

    vinhos Saint million da regio de Bordeaux na Frana. O mesmo autor ressalta que

    atualmente ela ocupa o segundo lugar na produo de vinhos finos no Brasil. Segundo

    Sousa, (2000), proporciona vinhos mais suaves e redondos que a Cabernet Sauvignon,

    cujo amadurecimento requer um tempo menor de guarda.

  • 16

    3.5. Alguns componentes variveis dos vinhos

    3.5.1. Compostos fenlicos

    Os compostos fenlicos so substncias que proporcionam importantes

    caractersticas no vinho. So responsveis por todas as diferenas entre os vinhos

    brancos e tintos, em particular pela cor e sabor destes ltimos. Possuem propriedades

    bactericidas, antioxidantes, vitamnicas e parecem proteger os consumidores de

    doenas cardiovasculares (Ribereau- Gayon, 2003).

    Segundo Kennedy (2008), nos vinhos tintos, os taninos e as antocianinas so os

    mais importantes polifenis. Os taninos contribuem para o sabor em boca e tambm

    formam pigmentos polimerizados quando associados s antocianinas (Figura 1)

    compondo os pigmentos estveis necessrios para o vinho tinto por longos perodos.

    Radicais diferenciadores das antocianinas R1 R2

    Cianidina OH HPeonidina OCH3 H

    Delphinidina OH OHPetunidina OCH3 OHMalvidina OCH3 OCH3

  • 17

    Substituintes do R3

    ouo

    Ester acetato

    ou

    Ester cumarato

    ou

    Ester cafeoato

    Figura 1. Antocianinas encontradas em Vitis Vinferas (Fonte: KENNEDY, 2008)

    A composio qumica do vinho tem um papel fundamental, pois contribui nas

    caractersticas sensoriais do mesmo, como cor, sabor e adstringncia. Os compostos

    fenlicos do vinho dependem da variedade da uva, da eliminao ou no das cascas

    das uvas aps seu esmagamento, modo de vinificao (temperatura e tempo de

    fermentao) e o tempo de amadurecimento no barril. Os principais compostos

    fenlicos encontrados em cultivares de Vitis vinferas (Figura 2) so os cidos fenlicos,

    as antocianinas, os taninos e o resveratrol segundo Rizzon et al., 1999. Ribreau-

    Gayon et al., (2003), descreve os cidos hidroxicinamicos (figura 3), as antocianinas, e

    os taninos (procianidinas e taninos condensados) como os principais responsveis pela

    qualidade do vinho. Segundo Kennedy (2008), os polifenis da uva no inico da

    maturao so fixos, depois, durante o vraison, os taninos e cidos hidroxicinamicos

    tm um incremento e comea o acmulo de antocianinas na casca que aumenta

    durante o amadurecimento

    Sabe-se que o tipo de uva, a safra e os tratos culturais e exposio do fruto

    influenciam significativamente na quantidade de polifenis das uvas (KENNEDY, 2008,

    RIBREAU-GAYON et al., 2003).

  • 18

    Casca Antocianinas Proantocianidinas Compostos aromticos

    Polpa gua cidos orgnicos Acares Compostos aromticos

    Sementes Proantocianidinas

    Figura 2. Distribuio na baga dos componentes importantes para o vinho

    (Fonte: KENNEDY, 2008)

    cidos hidroxicinmicos R1 R2p-cumrico H H

    Cafeico OH H

    Ferlico OCH3 H

    Sinptico OCH3 OCH3

  • 19

    Esterificao R3

    cido tartrico

    Figura 3. cidos hidroxicinamicos encontrados em Vitis vinfera (Fonte:

    KENNEDY, 2008)

    Aps a metabolizao dos polifenis pela baga, a quantidade destes que estaro

    presentes no vinho depender de tcnicas enolgicas que propiciaro maior ou menor

    extrao dos mesmos. Assim, vrios autores (CHINNICI et al., 2009; POTTR, 2009;

    DAUDT et al., 2008; LAMELA et al., 2007; CARVALHO et al., 2000; ZURBANO et al.,

    1999) citam prticas enolgicas que visam a extrao de maior quantidade de

    antocianinas e taninos polimerizados, ainda que algumas ainda que aumentem a cor

    dos vinho, incrementam a extrao de taninos pouco condensados.

    Kennedy (2008) ressalta que alm dos cidos hidroxicinmicos da polpa, os

    polifenis da casca e sementes so os que compem majoritariamente a parte fenlica

    do vinho. Assim, as quantidades de antocianinas que se encontram quase que

    exclusivamente na casca, com exceo de algumas variedades em que se encontram

    antocianinas na polpa, varia no vinho em conseqncia do processo de macerao e

    fermentao. O mesmo autor considera o processo de difuso, onde compostos se

    movem de solues de maior concentrao para solues de menor concentrao

    desses compostos, o principal mecanismo de atuao na extrao de antocianinas das

    cascas. O processo de difuso depende da temperatura, tamanho e tipo da molcula,

    gradiente de concentrao, permeabilidade da clula, superfcie da rea sob o

    gradiente de concentrao e composio do meio de extrao. Kennedy (2008) ainda

  • 20

    ressalta pesquisas de outros autores que afirmam que a temperatura e o tempo de

    macerao so os fatores mais importantes no processo de extrao de antocianinas.

    conhecido que os taninos da casca so os mais desejveis na composio dos

    vinhos, isso porque o grau de polimerizao desses taninos maior que os taninos da

    semente, e, quanto maior a polimerizao, mais macios so, o que torna os vinhos

    menos adstringentes. Assim, outro desafio das tcnicas enolgicas de extrair taninos

    em maior parte da casca e em menor da semente, e as tcnicas enolgias influenciam

    nessa extrao de maneira determinante.

    Assim, os compostos fenlicos, tm importncia por serem responsveis pela cor

    (antocianinas), estrutura (antocianinas, taninos condensados) e adstringncia

    (flavanis), sendo esta ltima, atribuda aos taninos pouco polimerizados, tambm

    denominados de solveis (GONZALEZ-MANZANO et al., 2004). Os 3-flavanis esto

    presentes na uva como monmeros e sob formas pouco polimerizadas, constituindo os

    taninos catquicos, e localizam-se principalmente nas sementes e casca, embora

    tenham sido localizados monmeros e dmeros na polpa. Os principais monmeros 3-

    flavanis da uva so a (+) catequina e seu ismero, a (-)- epicatequina. A

    epicatequina pode ser tambm encontrada sob a forma de ster glico (3-galato de

    epicatequina). A galocatequina, o 3-galato de catequina e o 3- galato de galocatequina

    tambm foram detectadados na uva, mas parecem se manifestar somente em algumas

    variedades (SOUQUET et al., 1996). Nas uvas, a polimerizao das catequinas produz

    polmeros chamados procianidinas (taninos condensados), podendo formar as

    proantocianidinas ou prodelphinidinas (GONZALEZ-MANZANO et al., 2004; JACSON,

    2008).

    Existem diferenas estruturais entre as procianidinas da casca, polpa e semente

    e essas diferenas tambm so consequncia da variedade da uva. Alm disso, os

    taninos das sementes so menos polimerizados que os da casca. Taninos das

    sementes contm, em mdia, 28 unidades flavanlicas monomricas, enquanto que os

    da casca possuem mais de 74 unidades flavanlicas monomricas, indicando que, de

    modo geral, h uma maior evoluo da maturao fenlica da casca do que da

    semente (JACKSON, 2008).

  • 21

    3.5.2. Diferentes formas de acidez

    A sntese dos cidos orgnicos proveniente da casca da uva, da cultivar e da

    fermentao alcolica do mosto, durante a elaborao do vinho. A composio cida e

    o pH so importantes na percepo da acidez e nas propriedades sensoriais. Alm

    disso esto relacionados com a incidncia e a extenso da fermentao maloltica,

    com a solubilizao do bitartarato de potssio e tartarato de clcio, com o grau de

    formao e hidrlise de steres, com a ionizao e a razo de polimerizao dos

    pigmentos de antocianinas nos vinhos tintos e com a instabilidade das protenas nos

    vinhos brancos (MANDELLI, 2002).

    Dentre os cidos orgnicos mais importantes da uva esto o cido tartrico e o

    cido mlico, responsveis por 90% da acidez total das uvas. Acredita-se que, depois

    da gua e dos acares, so os cidos os componentes qumicos presentes em maior

    quantidade na uva madura. O cido tartrico tem grande importncia tecnolgica,

    principalmente por formar dois tipos de sais pouco solveis, o bitartarato de potssio e

    tartarato neutro de clcio, que podem afetar o pH e a acidez total do vinho. J o cido

    mlico, possui caracterstica de cido fraco, ele aumenta com a maturao da uva e

    diminui quando esta atinge seu grau do amadurecimento. Este fato ocorre devido ao

    cido mlico estar relacionado com a sntese de glicose na uva. Com base nestes fatos,

    a acidez do mosto de suma importncia, pois pode influenciar a estabilidade e a

    colorao dos vinhos, constituindo-se numa das caractersticas gustativas mais

    importantes. Alm disso , a acidez o componente do vinho que mais sofre influncia

    dos fatores naturais como clima e solo (RIZZON et al., 1998).

    A necessidade para o enlogo de distinguir a acidez total, a acidez real (ou o pH)

    e a acidez voltil uma prova do interesse e da importncia da noo da acidez de um

    vinho. A explicao reside sem dvida nas incidncias organolpticas dessas trs

    formas de acidez (RIBEREAU-GAYON et al., 2003).

    Ribereau Gayon et al., (2003) destaca que desta forma, em toda degustao de

    trabalho, sempre so indicadas, da mesma maneira que a graduao alcolica e o

    acar residual, os valores da acidez total, do pH e da acidez voltil da amostra de

  • 22

    vinho a analisar, olfativa e gustativamente. A considerao do equilbrio dos sabores

    pe em evidncia a importncia da acidez total:

    Sensao aucarada sensao cida + sensao amarga

    (acares, lcoois) (cidos orgnicos e minerais) (compostos fenlicos)

    A partir desse equilbrio, se compreende por qu os vinhos brancos secos podem

    possuir acidez total mais elevada que a dos vinhos tintos, nos quais os compostos

    fenlicos se associam aos cidos para equilibrar a sensao aucarada dos lcoois. A

    acidez voltil intervm na interpretao de eventuais alteraes microbianas

    (RIBEREAU-GAYON et al., 2003).

    3.5.2.1. Acidez total

    A acidez total de um mosto ou de um vinho leva em considerao todos os tipos

    de cidos, tanto os cidos minerais como o cido fosfrico, os cidos orgnicos e

    tambm os aminocidos, cuja contribuio para a acidez na titulao, ainda no bem

    conhecida (RIBEREAU GAYON et al., 2003).

    Para cada cido, seja qual for a sua espcie, sua participao na acidez total

    determinada pelo seu carter mais ou menos forte, definindo seu estado de dissociao

    assim como seu grau de salificao. Entre os cidos orgnicos, o tartrico, no mosto e

    no vinho, existe em grande parte sob a forma de sal cido monopotssico. Sob essa

    forma monosalificada, o cido tartrico contribui em parte na acidez total (RIBEREAU

    GAYON et al., 2003).

    Ribereau-Gayon et al (2003) observa que em um mosto, meio aquoso, e um

    vinho, meio hidroalcolico, que possuem a mesma composio em cidos e contribuem

    para conferir-lhes uma idntica acidez total, no tm a mesma curva de titulao, e por

    conseguinte no possuem a mesma capacidade tampo cido-base.

    No estgio atual, ainda difcil prever a acidez total do vinho a partir do mosto do

    qual provem. As razes para isso so mltiplas (RIBEREAU-GAYON et al, 2003).

  • 23

    Ribereau-Gayon et al (2003) descreve que uma parte dos cidos de origem

    vegetal podem ser consumidas pelas leveduras e sobretudo, as bactrias que

    asseguram a fermentao maloltica. Por sua vez, as leveduras e sobretudo as

    bactrias produzem cidos, por exemplo cido succnico e cido lctico. Alm disso,

    sob o efeito do aumento da graduao alcolica, os sais cidos se tornam menos

    solveis. em particular o caso da forma monopotssica do cido tartrico cuja

    cristalizao produz uma diminuio da acidez total.

    3.5.2.2. Acidez voltil

    A acidez voltil de um vinho constitui um parmetro fsico-qumico amplamente

    considerado em todo segmento analtico do vinho durante sua elaborao. Se este tipo

    de acidez parte integrante da acidez total, se diferencia bastante dela mesmo que no

    ponto de vista quantitativo represente somente uma parte menor (RIBEREAU-GAYON

    et al, 2003).

    Desde o ponto de vista qualitativo, seu valor est histrica e justamente ligado

    qualidade de um vinho. De fato, quando um enlogo degusta um vinho e chega

    concluso que existe um excesso de acidez voltil, um julgamento pejorativo e

    desvalorizador. O carter organolptico correspondente deve estar ligado a uma

    concentrao elevada em cido actico (RIBEREAU-GAYON et al, 2003).

    A fermentao alcolica de um mosto conduz normalmente a formao no vinho

    de 0,2 a 0,3 g.L-1, em H2SO4, de acidez voltil. A presena de oxignio favorece sempre

    a formao de cido actico. Desta maneira, este cido se forma no principio da

    fermentao alcolica, mas tambm ao final, quando esta enfraquece. Da mesma

    maneira se observa um aumento da acidez voltil de 0,1 a 0,2 g.L-1, em H2SO4 durante

    a fermentao maloltica de um vinho (RIBEREAU-GAYON et al, 2003).

    Ribreau-Gayon et al., (2003), citaram que o cido actico formado durante a

    fermentao maloltica deve-se a degradao do cido ctrico pelas bactrias lcticas.

    Mas as doses anormalmente elevadas de acidez voltil se devem a interveno

    das bactrias lcticas anaerbicas quando decompem os acares residuais, o cido

  • 24

    tartrico ou o glicerol. As bactrias acticas aerbicas formam tambm cido actico,

    mas pela oxidao do etanol (RIBEREAU-GAYON et al, 2003).

    3.5.2.3. pH

    Tendo em conta a presena do cido tartrico, os valores de pH dos vinhos se

    situam entre 2,8 e 4,0; possvel surpreender-se com valores to baixos e pouco

    fisiolgicos, para um meio biolgico e fermentrio como o vinho. De fato, a vida s

    possvel graas s enzimas das clulas vivas. A atividade tima da grande maioria das

    enzimas se obtm com valores de pH intracelular muito superiores, aproximando-se da

    neutralidade, aos do pH extracelular, como os dos mostos e vinhos. Por outro lado,

    valores to baixos de pH de vinhos lhes conferem uma maior estabilidade

    microbiolgica e fsico-qumica. Por um lado o pH baixo se ope ao desenvolvimento

    dos microorganismos; por outro lado aumenta a frao anti-sptica do dixido de

    enxofre(RIBEREAU-GAYON et al, 2003).

    3.5.3. lcool etlico

    O etanol, ou lcool etlico , depois da gua, o constituinte quantitativamente

    mais importante do vinho. A riqueza do vinho se expressa mediante a graduao

    alcolica que representa a porcentagem, em volume, de lcool no vinho; tendo em

    conta a densidade do etanol igual a 0,79, um vinho cuja graduao alcolica de

    10%vol., contm em peso 79 g.L-1 de etanol. A riqueza alcolica do vinho

    freqentemente de 100 g.L-1 (12,6 % vol.), excepcionalmente pode chegar a 136g.L-1

    (16% vol.) (RIBEREAU-GAYON et al, 2003).

    O etanol do vinho provm essencialmente da fermentao alcolica do acar do

    mosto. No entanto as clulas das bagas so capazes de formar uma pequena

    quantidade do mesmo, sobretudo em anaerobiose. A apario de traos de etanol na

    baga, correspondente a presena de atividade da enzima lcool desidrogenase,

  • 25

    constitui ela mesma um traador do estado de avano do fenmeno da maturao

    (RIBEREAU-GAYON et al, 2003).

    Em regies temperadas, a riqueza natural de lcool tem uma relao direta com

    o estado de maturao; as graduaes altas se obtm unicamente em certos anos que

    se beneficiam com fatores climticos favorveis, em certas condies de cultivo e

    exposio. As grandes colheitas geralmente correspondem a anos de alta graduao.

    No entanto no se pode pretender que o lcool seja o nico elemento de qualidade, se

    conhecem excelentes vinhos da regio de Medoc Frana, cuja graduao alcolica se

    aproxima a 10% vol. E reciprocamente se conhecem vinhos de alta graduao, que so

    pesados, vulgares e sem atrativos (RIBEREAU-GAYON et al, 2003)..

    3.5.4. lcool metlico

    O metanol existe sempre nos vinhos, em pequenas quantidades, compreendidas

    entre 60 e 150 mg.L, valores estes que no tem incidncias organolpticas. A

    fermentao alcolica no est implicada nesta formao, o metanol provm

    exclusivamente da hidrlise enzimtica, durante a vinificao, dos grupos metoxilas das

    pectinas em cidos pcticos. (RIBEREAU-GAYON et al, 2003)..

    O metanol um componente natural dos vinhos. resultante da degradao das

    substncias pcticas presentes na uva pela a ao de enzimas, principalmente a

    pectina-metilesterase. A produo deste lcool est diretamente relacionada

    variedade da uva, quantidade de substncias pcticas presentes nas uvas e a fatores

    tecnolgicos, tais como, tempo de macerao, pH elevado, adio de enzimas pcticas

    e condies de esmagamento e processamento das uvas (CURVELO-GARCIA, 1988;

    IDE et al., 1993; MANFROI & RIZZON, 1996).

    O metanol no apresenta caractersticas sensoriais perceptveis quando

    presente, mesmo em grande quantidade, em bebidas alcolicas. Entretanto, esta

    substncia poder ocasionar srios danos sade do consumidor, dependendo da

    quantidade ingerida. A legislao brasileira estabeleceu um limite mximo tolerado de

    metanol de 0,35 g.L-1 para vinhos.

  • 26

    O percentual de metanol est diretamente relacionado com a importncia da

    macerao das partes slida da vindima, em particular das cascas ricas em pectinas; os

    vinhos tintos so mais ricos (152 mg.L-1) que os vinhos rosados (91 mg.L-1) e sobretudo

    que os vinhos brancos (63 mg.L-1) (RIBEREAU-GAYON et al, 1982). Os vinhos

    provenientes de variedades de cepas hbridas so mais ricos em metanol que os de

    Vitis vinfera; isso conseqncia de uma maior quantidade de pectina na casca

    (RIBEREAU-GAYON et al, 2003).

    3.5.5. lcoois superiores de origem fermentativa

    Os lcoois que possuem mais de dois tomos de carbono so chamados de

    lcoois superiores, e vrios so de origem fermentativa. Esto presentes no vinho em

    doses globais na ordem de 150 a 550 mg.L-1 (RIBEREAU-GAYON et al, 1982). Eles

    mesmos e seus steres possuem odores intensos que so importantes nos aromas dos

    vinhos. Os principais lcoois superiores com origem na fermentao, so o lcool

    isobutilico (metil-2-propanol-1) e os lcoois amlicos (mistura de metil-2-propanol-1 e

    meti-3-butanol-1). Em baixa concentrao (menos de 300 mg.L-1) participam da

    complexidade aromtica; em concentraes elevadas seu odor penetrante mascara a

    fineza aromtica (RIBEREAU-GAYON et al, 2003).

    Os teores de lcoois superiores com origem na fermentao so variveis em

    funo das condies de fermentao, em especial da espcie de levedura. De uma

    maneira geral as prticas que aumentam a velocidade da fermentao (biomassa de

    levedura, oxigenao, temperatura elevada, presena de materiais em suspenso)

    incrementam a formao de lcoois superiores. O teor dos lcoois superiores podem

    aumentar devido a alteraes microbianas causadas por leveduras ou bactrias

    (RIBEREAU-GAYON et al, 2003).

    3.5.6. Acetato de Etila

    Segundo Ribereau-Gayon et al., (2003), o ster mais importante do vinho

    certamente o acetato de etila, que formado por uma pequena quantidade de

  • 27

    leveduras durante a fermentao, mas as doses elevadas provem da interveno das

    bactrias acticas aerbicas, principalmente durante a conservao em madeira. Esse

    ster responsvel pelas caractersticas olfativas dos vinhos afetados pela

    acescncia, delatada por um odor grio e sufocante; esses vinhos possuem

    simultaneamente uma acidez voltil elevada, mas acidez actica no responsvel

    pela caracterstica de acescncia.

    3.5.7. Potssio Segundo Ribereau-Gayon et al., (2003), o potssio o ction dominante no

    vinho. Seu teor se situa entre 0,5 e 3 g.L-1, com uma mdia de 1 g.L-1. Os vinhos

    provenientes de uvas concentradas pela podrido nobre so mais ricos; os vinhos tintos

    contm mais potssio que os brancos, tendo em conta a inibio da precipitao da

    hidrogenotartarato de potssio pelos compostos fenlicos. Conhece-se a influncia do

    potssio na acidez e pH dos vinhos pois, quando associado ao cido tartrico, forma o

    bitartarato de potssio, indisponibilizando este cido ao meio hidroalcolico que o

    vinho. Sabendo-se que o cido tartrico o cido encontrado em maior quantidade nos

    vinhos e o mais atuante na acidez dos mesmos, deduz-se que quando este cido

    encontra-se na forma de bitartarato de potssio, j no acidifique o meio, o que diminui

    a acidez total dos vinhos e aumente o pH dos mesmos. Como a estabilidade das

    antocianinas depende de pH inferior a 4,0, pode-se prever que quando h o excesso de

    potssio no vinho a acidez total ser baixa, o pH alto e consequentemente haver uma

    instabilidade das antocianinas e perda das mesmas, diminuindo assim a intensidade de

    cor dos vinhos.

    3.6. Clima e uva

    O meio vitcola um conjunto de fatores naturais e humanos que determina o

    potencial qualitativo e quantitativo de uma regio. Os fatores naturais (clima, solo,

    exposio topogrfica, etc), so variveis independentes que afetam a qualidade e a

    diferenciao dos produtos, sobre os quais o homem no tem ao direta, pois, uma

  • 28

    vez escolhidos, permanecem durante a vida produtiva do vinhedo, sem prticas

    possveis de retificao (HIDALGO, 1980; MANDELLI, 2002).

    Para Martinez-Pelez (1994) o clima estabelece as condies ecolgicas

    favorveis para o cultivo da videira, ao passo que os mesoclimas determinam as

    particularidades para cada local. Enfatiza tambm, que no possvel conceber que um

    pas possa continuar desenvolvendo uma indstria vitcola baseada na rusticidade da

    espcie ou recorrendo aos seus diversos gentipos. Deve existir um ajuste entre as

    condies ecolgicas de cada regio e a tipicidade de seus vinhos, como citou Mandelli

    (2002).

    Diaz (1992) comenta as relaes existentes entre o meio e as caractersticas

    bioqumicas dos vinhos, afirmando que as especificidades das caractersticas do vinho

    so determinadas pela qualidade das uvas que o produziu, enquanto que a qualidade

    da uva depende, em primeiro lugar, da cultivar, e em segundo, do meio onde ela

    produzida. O restante aportado pelo homem, cincia e tecnologia (MANDELLI, 2002).

    Diversos estudos demonstraram a influncia do ambiente sobre a expresso das

    caractersticas genticas das videiras, entre os quais os de Gobbato (1940), que

    considerou o regime de chuvas, a temperatura do ar e a durao do brilho solar

    (insolao) como os elementos climticos mais importantes para a videira. Vega, (1969)

    comenta que a videira cresce melhor em regies de veres longos e secos,

    moderadamente quentes, e com invernos relativamente frios para satisfazer as

    necessidades de repouso vegetativo. Veres longos, quentes e secos, com

    precipitaes reduzidas beneficiam a qualidade e a produtividade da videira destinada

    elaborao de vinhos, conforme citou Mandelli (2002).

    O Rio Grande do Sul apresenta variedades de clima subtropical, nas regies de

    menor altitude, e temperado naquelas mais elevadas (MORENO,1961). O excesso de

    chuvas e a elevada umidade relativa do ar influenciam negativamente o teor de acar

    da uva e contribuem para o aumento da incidncia de molstias, impedindo a

    maturao uniforme dos frutos (WESTPHALEN, 1977; CARBONNEAU, 1982;

    CHAMPAGNOL, 1984; ORTIZ MALDONADO & CATANIA, 1996; TONIETTO &

    CARBONNEAU, 1999).

  • 29

    As regies de Santana do Livramento e Bag foram identificadas por Mota (1989,

    2003) como as que apresentam as melhores condies climticas para a produo de

    vinhos finos no Rio Grande do Sul. Os ndices adotados para essa delimitao foram:

    ndice heliopluviomtrico de maturao superior a 2,0 (WESTPHALEN, 1977); umidade

    relativa mdia do ar no vero inferior a 73%; nmero de horas de frio (abaixo de 7,0C)

    de maio a agosto superior a 300h; e temperatura mdia do ar do ms mais quente

    inferior a 24C. Entretanto, essa afirmao ainda carece de experimentao para

    comprovao como afirma Mandelli (2002).

  • 30

    4. Artigo 1: Caracterizao de Vinhos Produzidos com Uva Cabernet Sauvignon da

    Regio de Bag-RS

  • 31

    CARACTERIZAO DE VINHOS PRODUZIDOS COM UVA CABERNET SAUVIGNON

    DA REGIO DE BAG-RS

    Renata Gimenez Sampaio Zocche1; Suziane Antes2, Norton Victor Sampaio3;

    Luiz Antenor Rizzon4; Cesar Valmor Rombaldi5

    1 Engenheira Agrnoma, Mestre, Programa de Ps Graduao em Cincia e Tecnologia Agroindustrial, Faculdade de Agronomia

    Eliseu Maciel, Universidade Federal de Pelotas. Email: [email protected]

    2- Qumica de Alimentos, Mestre, Programa de Ps Graduao em Cincia e Tecnologia Agroindustrial, Faculdade de Agronomia

    Eliseu Maciel, Universidade Federal de Pelotas. Email: [email protected]

    3 Engenheiro Agrnomo, Doutor, So Xico Frutivitivinicultura, Bag, RS. Email [email protected]

    4- Engenheiro Agrnomo, Doutor, Embrapa Uva e Vinho, Bento Gonalves, RS. Email: [email protected]

    5 Engenheiro Agrnomo, Doutor, Programa de Ps Graduao em Cincia e Tecnologia Agroindustrial, Faculdade de Agronomia

    Eliseu Maciel, Universidade Federal de Pelotas. Email: [email protected]

    RESUMO A uva Cabernet Sauvignon considerada uma das variedades mais cultivadas no

    mundo inteiro, produzindo vinhos varietais ou para compor assemblagens de alta

    qualidade. Entretanto, a tipicidade do vinho proveniente dessa uva dependente das

    condies edafoclimticas e de manejo na produo e na vinificao. A regio de Bag,

    RS, tem-se destacado como novo plo vitivincola no Brasil, mas pesquisas que

    caracterizem os vinhos elaborados com as uvas dessa regio ainda so escassas. O

    objetivo deste trabalho foi caracterizar os vinhos Cabernet Sauvigon elaborados com

    uvas produzidas na regio de Bag durante 3 safras (2004, 2007 e 2008). Os vinhos,

    em todas as safras, caracterizaram-se por apresentarem elevados valores de pH, baixa

    acidez total, pouca intensidade de cor e aromas herbceos. Uma das causas mais

    provveis para a desestabilizao da colorao foi a baixa acidez, possivelmente

    decorrente dos elevados teores de potssio. Nesse contexto, pode-se prever que para

    a elaborao de vinhos Cabernet Sauvignon da regio de Bag, ser necessraia a

    utilizao de tcnicas enolgicas que auxiliem na extrao e na estabilizao de cor

    durante o processo de vinificao e a utlizao dessa cultivar na formao de

    assemblages.

    Palavras-chave: caractersticas fsico-qumicas, estabilidade de cor, potssio

    mailto:[email protected]:[email protected]:[email protected]:[email protected]:[email protected]

  • 32

    1. Introduo

    O vinho Cabernet Sauvignon, seja varietal ou em assemblage, um dos de

    maior destaque dentre as Vitis viniferae, e um dos mais apreciados no mercado

    brasileiro. Essa cultivar, originria da regio de Bordeaux na Frana, compe

    assemblages dos grandes vinhos dessa regio. Do ponto de vista fenolgico, trata-se

    de uma cultivar com brotao e maturao tardias, vigor e produtividade mdia (Rizzon

    & Miele, 2002), porm essas duas ltimas variveis so altamente dependentes das

    condies edafoclimtivas e de manejo (Van Leeuwen et al., 2004). Jackson (2008) cita

    essa cultivar como a mais conhecida e estudada na Europa, pelo potencial de gerar

    vinhos superiores, com aromas intensos a groselhas pretas quando produzida em

    condies edafoclimticas favorveis, e com aroma herbceo e a pimento quando as

    condies so adversas. Assim como todas as cultivares de uvas vinferas, as

    condies edafoclimticas, associadas s condies de manejo e de vinificao so as

    promotoras das caractersticas da qualidade dos vinhos. sob essa perspectiva que os

    autores ressaltam a importncia do terroir na tipicidade dos vinhos de uma mesma

    cultivar, produzidas em diferentes regies (Gonzles-Neves, 2004; Kontkanen et al.,

    2005; Parr et al., 2009; Rizzon, et al, 2002; Rizzon et al., 2003, Rizzon, at al., 2004;

    Rodriguez- Montealegre et al., 2006; Tao et al., 2009; Cosme et al., 2009; Fischer et al.,

    1999).

    No Brasil, j h estudos com esta cultivar. Por exemplo, Rizzon e Miele (2002)

    descreveram o comportamento da Cabernet Sauvignon na regio da Serra Gacha;

    Manfroi et al. (1997) relacionaram condies de manejo fitotcnico com a qualidade co

    Cabernet Sauvignon na regio de Santana do Livramento RS; Rizzon, Zanuz e Miele

    (1998) estudaram a evoluo de acidez dessa cultivar em diferentes regies do RS;

    Pottr (2009) estudou tratamento pr-fermentativo a frio nessas uvas produzidas no

    municpio de Dom Pedrito; e Fogaa et al. (2007) acompanharam a absoro de

    potssio desta variedade na regio de Itaara, RS. Em todos os estudos ressaltou-se

    que se trata de uma cultivar relativamente bem adaptada, mas a maturao fenlica

    deixa a desejar e, como consequncia, ainda tem-se vinhos com adstringncia

  • 33

    pronunciada e presena de pirazinas, gerando a percepo sensorial herbcea (Rizzon

    & Miele, 2002). Ainda que a regio de Bag- RS j produza comercialmente uvas

    Cabernet Sauvignon h 10 anos, estudos que demonstrem o potencial enolgico dessa

    cultivar na regio so escassos. Deste modo, avaliaram-se caractersticas do vinho

    produzido com essa cultivar em trs safras (2004, 2007 e 2008), num mesmo vinhedo.

    Trata-se de uma pesquisa do tipo descritiva, na qual, com a colheita da uva em um

    nico estdio de maturao por safra, realizaram-se as vinificaes seguindo

    procedimentos clssicos, sem dlestage, correes de acar e acidez, adio de

    taninos, microxigenao e sem envelhecimento em barricas de carvalho.

    2. Material e mtodos

    2.1. Material Vegetal

    O trabalho foi realizado com uvas da cultivar Cabernet Sauvignon, clone CS18A

    enxertadas sobre Paulsen 1103, conduzidas em espaldeira simples, poda em cordo

    esporonado duplo e com espaamento de 1,20m entre plantas e 3,0m entre fileiras. A

    altura dos dossel foi de aproximadamente 1,2m. Foram colhidas uvas de um mesmo

    vinhedo localizado na localidade de Olhos Dgua na regio de Bag-RS, regio esta

    inclusa na denominada Regio da Campanha Gacha. As colheitas foram realizadas

    nos anos agrcolas de 2004, 2007 e 2008, no estdio de maturao comumente

    empregado no processamento industrial (entre 20.1 e 21.1Brix, 87 e 93 meq.L-1 de

    ATT, pH entre 3.43 e 3.59 e densidade entre 1.0852 a 1.0901, sementes de colorao

    castanho claras). A produtividade mdia nas trs safras foi de 2,5 kg por planta. No

    primeiro ano de colheita o vinhedo possua 4 anos de implantao e na ltima, 8 anos.

    O solo da rea dos vinhedos denominado Santa Tecla e se caracteriza por pH 5, teor

    de argila de 24%, 1,2 % de matria orgnica, 3,5 mg/dm3 de P e 80 mg/dm3 de K. Os

    tratamentos fitossanitrios foram realizados seguindo as recomendaes gerais para

    controle de doenas da videira, e no utilizaram-se fosfitos.

  • 34

    2.2 Microvinificaes

    Em cada ano do experimento, foram realizadas 3 microvinificaes que

    formaram as repeties para o clculo das mdias representativas dos resultados as

    anlises. Para cada unidade experimental (garrafes de 20L) 17kg de uva foi

    desenada e esmagada, e imediatamente adicionada de SO2 (50mg/L) e de leveduras

    (20mg/L de Saccharomyces cereviseae, marca Maurivin), seguindo-se a macerao

    durante 6 dias temperatura de 20C 25C, com recalque dirio e descuba no 7 dia.

    Concluda a fermentao alcolica, realizou-se a trasfega e monitorou-se a

    fermentao maloltica, que levou em mdia 4 meses para concluir, aps a qual

    realizou-se a estabilizao tartrica em cmara fria a 4C por 10 dias. Aps

    estabilizao tartrica, os vinhos foram engarrafados. As avaliaes fsico-qumicas

    foram conduzidas no ms de novembro o que corresponde a 8 meses aps o incio da

    vinificao.

    2.3 Anlises fsico-qumicas do vinho

    As determinaes da densidade, teor alcolico, acidez total, acidez voltil, pH,

    acares redutores dos vinhos foram realizadas utilizando-se os mtodos descritos por

    Amerine & Ough (1976). O teor de polifenois totais e de antocianinas , e a intensidade

    de cor foram determinados segundo Ribreau-Gayon & Stonestreet (1965)

    Os teores de Ca, Mg, Mn, Fe, Cu e Zn foram obtidos a partir de anlises por

    absoro atmica, enquanto que os de K, Na, Li e Rb foram obtidos por emisso de

    chama (Perkin-Elmer, 1976). O teor de P foi determinado por colorimetria usando

    molibdato de amnio Os compostos volteis acetato de etila, metanol, propanol-1, metil-

    2-propanol-1, metil-2 + metil-3 butanol-1 e a soma dos alcois superiores foram

    determinados por cromatografia de fase gasosa. Para isso, utilizou-se um aparelho

    equipado com um detector de ionizao de chama e uma coluna de ao inoxidvel

    Carbowax 600, de 3,2m de comprimento e de 1/8 de dimetro interno. O gs vetor

    utilizado foi o nitrognio, na vazo de 30mL/min. A temperatura do vaporizador foi de

  • 35

    140C, a do forno de 98C e a do detector de 160C. A amostra de vinho (3L) foi

    injetada diretamente, aps ter recebido 10% do volume de uma soluo de metil-4

    pentanol-2 a 1g/L como padro interno (Bertrand, 1975).

    2.4. Anlise sensorial

    A anlise sensorial foi conduzida aps seis meses de engarrafamento do vinho

    sa safra 2008, por um painel de 11 degustadores treinados, com habilidade para

    quantificar descritores aromticos, gustativos e visuais em vinhos tintos. A avaliao foi

    realizada em trs dias consecutivos, cada um deles avaliando uma repetio de cada

    tratamento, atribuindo notas variando de zero a nove de acordo com a intensidade

    percebida. Os descritores foram selecionados de modo a testar a hiptese desse

    trabalho: intensidade de cor, intensidade de vermelho violceo, intensidade aromtica,

    frutas vermelhas, frutas secas, tabaco/chocolate/ch, vegetal/herbceo, volume de

    boca, doura tnica, acidez, adstringncia, persistncia, avaliao global.

    3. Resultados e Discusso

    Os valores de densidade dos vinhos apresentaram-se de modo estvel nas 3

    safras, situando-se prximos aos observados por outros autores (Rizzon & Miele,

    2002). O teor de lcool, como esperado, situou-se acima de 10,5%, consequncia do

    teor de slidos solveis da uva que, nessa regio, permite obter vinhos com a

    graduao alcolica mnima exigida pela legislao nacional (7GL), sem

    necessidade de concentrao do mosto ou chaptalizao. No que tange acidez total,

    os vinhos apresentaram valores relativamente baixos, entre 51 e 69 meq.L-1, e os

    valores de pH foram prximos a 4,0.

    Os valores relativamente baixos de ATT e elevados valores de pH projetam

    vinhos com problemas de estabilidade durante a maturao, especialmente em relao

    a componentes da cor, como antocianinas e suas interaes com taninos. Singleton

    (1987) observou que a taxa de oxidao de vinhos com pH 4 nove vezes superior a

    vinhos com pH 3. A AAT na safra de 2004 foi inferior ao limite mnimo estipulado pela

  • 36

    legislao brasileira (55 meq.L-1), e o pH foi de 4,19. Nas safras seguintes o problema

    se repetiu, e, como consequncia, os valores das variveis indicadoras de colorao,

    como as DO.420, 520 e 620, no so os desejados, com elevados nveis para a DO

    420, o que colabora para uma colorao atijolada ao vinho.

    Embora a cultivar CS no seja uma das mais ricas em antocianinas se

    comparada a uvas como Alicante Bouchet ou Tannat, em vrias regies vitivincolas,

    inclusive prximas regio deste estudo, capaz de produzir vinhos com boa

    colorao e estrutura como encontrou Pottr (2009). claro que, na maioria das

    vezes, associam-se prticas enolgicas complementares como uso de enzimas

    pectolticas, termovinificao, uso de temperaturas modulares, pr-macerao

    fermentativa a baixas temperaturas, correo da acidez, uso de taninos enolgicos,

    microxigenao e outros recursos na busca da obteno de maior extrao de

    compontentes de cor e estrutura, e estabilizao durante o processo de maturao do

    vinho (Chinnici et al., 2009; Pottr, 2009; Daudt et al., 2008; Lamela et al., 2007;

    Carvalho et al., 2000; Zurbano et al., 1999). Mas, ao avaliarem-se os vinhos

    produzidos com uvas da cultivar CS da Regio de Bag, fica evidente que, sem o uso

    de processos enolgicos complementares, o produto obtido deixa a desejar no que

    tange colorao e concentrao de polifenis totais. Os valores obtidos nesses

    vinhos so menores do que os obtidos por Rizzon & Miele (2002) e Gonzles-Neves et

    al. (2004) com uvas de outras regies. A diferena foi ainda maior na safra 2007

    caracterizada por um ano agrcola mais chuvoso no perodo de maturao da uva.

    Embora se tenha obtido uva com bom teor de slidos solveis (acima de 20Brix), as

    variveis relacionadas colorao resultaram em valores ainda menores.

    Outro aspecto a destacar que o comportamento foi mantido entre as safras.

    Isso indica que no houve alteraes marcantes entre uvas provenientes de plantas

    com 4 anos e aquelas de plantas de 8 anos. De modo geral, conhecido que h

    melhoria no potencial enolgico da uva com a idade do vinhedo, desde que em boas

    condies sanitrias.

  • 37

    Tabela 1. Composio fsico-qumica de vinhos Cabernet Sauvignon produzidos

    com uvas da regio de Bag-RS nos anos agrcolas de 2004, 2007 e 2008.

    ANLISES CLSSICAS

    2004 2007 2008 MDIA

    Densidade (20/20C) 0.9964 0.9955 0.9965 0.9961 Teor alcolico (%v/v) 10.65 11.93 10.83 11.14 Acidez total (meq/L) 51,00 69.3 65 67.2

    Acidez voltil (meq/L) 7.5 8.0 9 8.2 pH 4,19 3.93 4.01 3.97

    Acares redutores (g/L)

    1,33 2.96 2.12 2.54

    D.O. I 420 0.368 0.07 0.254 0.230 D.O. I 520 0.385 0.19 0.307 0.295 D.O. I 620 0.139 -0.03 0.054 0.053

    Intensidade de cor (D.O.420 + D.O.520 +

    D.O.620) 0.892 0.356 0.84 0.696

    Cor (D.O.420 / D.O.520)

    0.958 0.227 0.614 0.600

    Antocianas totais (mg/L)

    393.63 323.70 441.8 386.38

    Polifenis totais (mg/L)

    36.55 33.40 34.53 34.83

    Em trabalho realizado por Pottr (2009) com uvas Cabernet Sauvignon de Dom

    Pedrito, a mesma obteve vinhos com pH abaixo de 3.6, e com melhores valores de

    polifenis totais e de colorao. Uma das hipteses provveis para a ocorrncia de

    elevados valores de pH e de baixos valores de ATT a elevada absoro de K, o que

    leva excessiva precipitao de bitartaratos de K durante a vinificao (Daudt &

    Fogaa, 2008). No entanto, mais estudos so necessrios para testar esta hiptese,

    ainda que os dados demonstrem claramente que o tipo de solo foi determinante para a

    absoro de potssio pela Cabernet Sauvignon quando se observam os dados dos

    vinhos produzidos com os mesmos ndices climticos e de uma mesma macro regio

    (Regio da Campanha Gacha) mas com solos diferentes, como o caso de Bag e

  • 38

    Dom Pedrito. Van Leeuwen et al. (2004) afirmam que os teores de potssio na uva

    dependem do tipo de solo e da cultivar. Nos vinhos produzidos com uvas de Bag os

    teores de K variaram de 1694 a 1947 mg.L-1. Para outros autores (Rizzon & Miele,

    2002) os valores foram de1426 mg.L-1 na mdia de 6 anos de estudo da cv. Cabernet

    Sauvignon na Regio da Serra Gacha. Dois aspectos adicionais podem estar afetando

    a maior absoro de K em vinhedos de Cabernet Sauvignon da regio de Bag: 1)

    trata-se de uma regio com relativamente baixa umidade relativa no perodo de

    maturao, o que pode contribuir para a maior evapotranspirao e fluxo de massa via

    xilema; 2) o vinhedo constitudo de plantas enxertadas em porta-enxerto Paulsen,

    cujo sistema radicular abundante e profundo o que permite uma maior capacidade

    para a busca de gua e nutrientes

    No que se refere aos compostos volteis (Tabela 2), todos mantiveram-se dentro

    dos padres normais para vinhos finos tintos. Conforme Rizzon & Miele (2002), a

    presena de altas concentraes de lcoois amlicos (2-metil-1-butanol + 3-metil-1-

    butanol) uma caracterstica dos vinhos dessa cultivar, o que pode favorecer o aroma

    vegetal ou herbceo muitas vezes detectados nesses vinhos.

    Tabela 2. Compostos volteis de vinhos Cabernet Sauvignon produzidos com uvas

    da regio de Bag-RS nos anos agrcolas de 2004, 2007 e 2008. Compostos volteis (mg.L-1)

    2004 2007 2008 MDIA

    Aldedo actico 8.3 23.2 16.43 15.98 Acetato de etila 60.2 83.4 60.19 67.93 Metanol 31.9 219.7 174.25 141.95 Propanol 17.9 28.2 33.84 26.65 Metil-2 propanol-1 132.3 42.7 56.66 77.22 Metil-2 + 3-butanol-1 454.4 342 373.3 389.90 Soma de lcoois superiores

    604.6 413.1 463.8 493.83

    A soma de alcois superiores apresentou valores mdios elevados, prximos a 500

    mg.L-1 (Tabela 2) especialmente na primeira safra estudada, resultado que remete

  • 39

    idia de vinhos com escassez de aromas refinados. O metanol e o aldedo actico em

    baixas concentraes indicam que as uvas foram colhidas em bom estado fitossanitrio

    e o processo de vinificao foi bem conduzido. A baixa acidez voltil tambm

    indicativa da boa qualidade do processo de fermentao e estabilizao dos vinhos

    produzidos (Tabela 1)

    Quando analisados os teores de minerais (Tabela 3), observam-se os elevados

    valores de potssio nos vinhos, acima dos detectados por Rizzon & Miele (2002) nos

    vinhos Cabernet Sauvignon da Serra Gacha. Esse excesso de potssio a causa

    mais provvel da baixa acidez total, do elevado pH e a desestabilizao das

    antocianinas como explicou Daudt & Fogaa (2008) e consequente perda de cor

    violcea e aumento da cor amarelada (DO420) que denota a oxidao precoce destes

    vinhos. Para os demais minerais, os valores so considerados normais e dentro do

    esperado.

    Tabela 3. Minerais em vinhos Cabernet Sauvignon produzidos com uvas da regio de

    Bag-RS nos anos agrcolas de 2004, 2007 e 2008. Minerais 2004 2007 2008 MDIA

    Potssio 1947.1 1694.2 1880.8 1840.7 Sdio 12.9 10.8 18.7 14.1 Clcio 68.6 79.7 57.7 68.7 Magnsio 84.9 87.2 103.3 91.8 Mangans 5 4.1 2 3.70 Cobre 1.5 0.23 0.5 0.74 Ferro 2.2 1.16 0.9 1.42 Zinco 0.4 0.29 0.4 0.36 Rubdio 4.2 5.5 8 5.90 Fsforo 112.8 166.8 136.1 138.57

    Na anlise sensorial realizada com os vinhos da safra 2008, os vinhos

    produzidos com a cultivar CS apresentaram qualidade baixa, com notas mdias abaixo

    de 5 para todos os atributos que so considerados como positivos para a qualidade de

    um vinho tinto, como o caso, por exemplo, da intensidade de cor, dos aromas a frutas

    vermelhas, volume de boca e persistncia (Figura 1). Esse resultado concordante

  • 40

    com os dados analticos, indicando que o vinho no apresenta boa concentrao de

    componentes de colorao e estrutura, o que se refletiu na avaliao sensorial. Desse

    modo, h necessidade de estudos complementares na busca da caracterizao da

    evoluo da maturao dessa cultivar, assim como de prticas que permitam prevenir a

    absoro excessiva de potssio. Para vinhedos j implantados com solos que j

    receberam a correo com esse macronutriente provvel que a uva produzida deva

    ser vinificada com correes da acidez e utilizada na forma de assemblages.

    Figura 1. Anlise sensorial de vinhos Cabernet Sauvignon elaborados com uvas

    produzidas no municpio de Bag-RS na safra de 2008.

    4. Concluso

    Os vinhos Cabernet Sauvignon elaborados com uvas produzidas em Bag RS

    apresentam baixa intensidade de cor e excesso de potssio, necessitando, assim de

    prticas agrcolas e/ou tcnicas enolgicas que miniminizem esses defeitos.

    Agradecimentos

  • 41

    Este projeto foi financiado com recursos do CNPq (Bolsa de estudo e taxa de

    bancada, Processo n. 141935/2006-5), e da Embrapa Uva e Vinho e UFPel.

    4. Bibliografia

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  • 45

    5. Artigo 2: Caracterizao de vinhos provenientes de uvas Merlot, Tannat e Cabernet

    Sauvignon da Regio da Campanha do RS, colhidas em dois estdios de maturao

  • 46

    CARACTERIZAO DE VINHOS PROVENIENTES DE UVAS MERLOT, TANNAT E CABERNET SAUVIGNON DA REGIO DA CAMPANHA DO RS, COLHIDAS EM

    DOIS ESTDIOS DE MATURAO

    ZOCCHE, R.G.S.1; ANTES, S.2; SAMPAIO, N.V.3; RIZZON, L.A.4; GUERRA, C.5;

    ROMBALDI,C.V.6

    1 Engenheira agrnoma, M.Sc., Doutoranda do Programa de Ps-graduao em Cincia e Tecnologia Agroindustrial,

    Departamento de Cincia e Tecnologia Agroindustrial, Faculdade de Agronomia Eliseu Maciel, Universidade Federal

    de Pelotas, Campus Universitrio s/n, CEP 96010-900 - Caixa Postal 354 Pelotas RS. Email:

    [email protected]

    2 Qumica de alimentos, Mestre em Cincias, Programa de Ps-graduao em Cincia e Tecnologia Agroindustrial,

    Departamento de Cincia e Tecnologia Agroindustrial, Faculdade de Agronomia Eliseu Maciel, Universidade Federal

    de Pelotas, Campus Universitrio s/n, CEP 96010-900 - Caixa Postal 354 Pelotas RS. Email:

    [email protected]

    3 Engenheiro Agrnomo, So Xico Frutivinicultura, Rua Marechal Deodoro, 218. Bag RS. Email:

    [email protected]

    4 Embrapa Uva e Vinho, Rua Livramento, 515 - Caixa Postal 130. CEP 95.700-000, Bento Gonalves, RS Brasil.

    Email: [email protected]

    5 Embrapa Uva e Vinho, Rua Livramento, 515 Caixa Postal 130. CEP 95700-000, Bento Gonalves, RS Brasil.

    Email: [email protected]

    6 Engenheiro Agrnomo, Dr. Professor do Programa de Ps-graduao em Cincia e Tecnologia Agroindustrial,

    Departamento de Cincia e Tecnologia Agroindustrial, Faculdade de Agronomia Eliseu Maciel, Universidade Federal

    de Pelotas, Campus Universitrio s/n, CEP 96010-900 - Caixa Postal 354 Pelotas RS. Email:

    [email protected]

    RESUMO

    A regio de Bag, RS, apresenta condies edafoclimtica condizentes para a

    produo de vinhos ditos de guarda. Vinhos com uvas vinferas da regio esto sendo

    produzidos h 5 anos, ainda que pesquisas que visam melhorar a qualidade dos vinhos

    mailto:[email protected]:[email protected]://minerva.ufpel.tche.br/Fernando/FRenata%20Zocche/[email protected]:[email protected]:[email protected]:[email protected]

  • 47

    da regio sejam escassas, e protocolos de produo e vinificao sejam os

    empregados em outras regies com condies edafoclimticas diferentes das

    encontradas em Bag. O objetivo deste trabalho foi verificar a influncia de duas

    pocas de colheita (maturao industrial e maturao avanada) das cultivares Merlot,

    Tannat e Cabernet Sauvignon, na composio dos vinhos elaborados com as uvas da

    regio. As cultivares Cabernet Sauvignon e Merlot apresentaram pH elevados, (at 4,2

    na Cabernet Sauvignon), acidez total baixa (de 56 meq.L-1 para a Merlot) e ndices de

    cor e polifenis totais bastante baixos j na primeira colheita (MI), e os resultados foram

    inferiores na segunda colheita (MA). A cultivar Tannat na colheita em estdio de

    maturao industrial mostrou-se bem adaptada a regio de Bag, com um bom

    potencial enolgico, e, por ocasio da colheita tardia, os ndices de antocianinas

    aumentaram assim como os polifenis, sendo ento a maturao avanada uma boa

    opo no que concerne a estrutura e maturao fenlica destes vinhos. A anlise

    sensorial acompanhou os dados das anlises fsico qumicas e apontou vinhos

    Cabernet Sauvignon e Merlot como pouco estruturados, com baixas notas referentes a

    cor e acidez. Ao contrrio, os vinhos Tannat obtiveram notas altas em ambas colheitas,

    com a segunda se destacando em qualidade. Os dados negativos de pH alto, acidez

    total baixa e instabilidade de antocianinas encontrados nas variedades Cabernet

    Sauvignon e Merlot podem ser atribudos s condies climticas adversas para a

    maturao da Merlot e a quantidades elevadas de potssio encontradas nas folhas das

    videiras antes da colheita e nos vinhos (acima de 2500 mg.L-1) gerados com as uvas

    Cabernet Sauvignon.

    Palavras-chave: colheita tardia, vinho tinto fino, potssio.

    1. Introduo

    Diferentemente da principal regio vitcola brasileira (Serra Gacha), a regio

    da Campanha do RS caracteriza-se por proporcionar, no perodo de maturao e

    colheita das uvas, baixa intensidade pluviomtrica (15 a 35mm ao ms), intensa

    radiao solar e boa amplitude trmica (10 a 12oC), fatores positivos para a obteno

  • 48

    de uvas tintas com elevado potencial enolgico (Mota, 2003). A associao dessas

    caractersticas, com algumas prticas culturais como a conduo da videira em sistema

    de espaldeira simples, desfolha, boa relao de rea de dossel/quantidade de uva,

    controle de produtividade por planta e estdio de maturao podem afetar

    positivamente a qualidade do vinho (Gonzales- Neves et al., 2002; Prez-Lamela et al.,

    2007). Essas condies tm sido geradas nessa nova regio vitcola, cuja atividade

    tomou impulso na ltima dcada e estima-se uma rea total de 500 ha. Como

    majoritrias foram plantadas as cultivares tintas Merlot, Tannat e Cabernet Sauvignon, e

    mais recentemente, Shiraz, Tempranillo, Tourriga Nacional, Pinot Noir, dentre outras.

    Embora os avanos no plano fitotcnico, ainda so escassos os dados sobre o

    comportamento das principais cultivares que, como amplamente conhecido

    (Gonzles-Neves, 2004; Kontkanen et al., 2005; Parr et al., 2009; Rizzon, et al, 2002;

    Rizzon et al., 2003, Rizzon, at al., 2004; Rodriguez- Montealegre et al., 2006; Tao et al.,

    2009; Cosme et al., 2009; Fischer et al., 1999), tm sua expresso dependente dos

    componentes do terroir. amplamente citado na literatura que a obteno de vinho de

    qualidade resultante do gentipo, das condies edafoclimticas, de manejo

    fitotcnico do vinhedo (irrigao, adubao, poda, produtividade por planta, controle de

    pragas e doenas), da colheita e dos mtodos enolgicos. Dos fatores relacionados ao

    ecossistema, o clima e o solo so citados como preponderantes na qualidade do vinho,

    e cad