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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA Ernani Martins dos Santos Filho TECNOPOLO CAMPINA GRANDE-PB: TERRITÓRIO-REDE DA TECNOLOGIA RECIFE 2016

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

CENTRO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA

Ernani Martins dos Santos Filho

TECNOPOLO CAMPINA GRANDE-PB: TERRITÓRIO-REDE DA

TECNOLOGIA

RECIFE

2016

ERNANI MARTINS DOS SANTOS FILHO

TECNOPOLO CAMPINA GRANDE-PB: TERRITÓRIO-REDE DA TECNOLOGIA

Tese apresentada ao PPGeo do CFHC da Universidade Federal de Pernambuco-PE, sob a orientação do Professor Dr. José Alcindo Sá, como um dos requisitos para a obtenção do título de Doutor em Geografia.

Orientador: Prof. Dr. Alcindo José de Sá

RECIFE

2016

Catalogação na fonte

Bibliotecária Maria Janeide Pereira da Silva, CRB4-1262

S237t Santos Filho, Ernani Martins dos.

Tecnopolo Campina Grande-PB : território-rede da tecnologia /

Ernani Martins dos Santos Filho. – 2016.

127 f. : il. ; 30 cm.

Orientador: Prof. Dr. Alcindo José de Sá.

Tese (doutorado) - Universidade Federal de Pernambuco, CFCH.

Programa de Pós-graduação em Geografia, Recife, 2016.

Inclui referências e anexos.

1. Geografia. 2. Tecnologia. 3. Inovações tecnológicas. 4. Tecnologia

de ponta e educação. 5. Tecnopolo. 6. Fatores locacionais. 7.

Acumulação flexível. I. Sá, Alcindo José de (Orientador). II Título.

918 CDD (22. ed.) UFPE (BCFCH2017-233)

ERNANI MARTINS DOS SANTOS FILHO

TECNOPOLO CAMPINA GRANDE-PB: TERRITÓRIO-REDE DA TECNOLOGIA

Tese apresentada ao PPGeo do CFHC da Universidade Federal de Pernambuco-PE, sob a orientação do Professor Dr. José Alcindo Sá, como um dos requisitos para a obtenção do título de Doutor em Geografia.

Aprovada em 20/05/2016

Banca Examinadora:

______________________________________________________ Prof. Dr. Alcindo José de Sá (UFPE)

(1º examinador – orientador – PPGEO/DCG/UFPE)

______________________________________________________ Prof. Dr. Antonio Carlos de Barros Corrêa (UFPE)

(2º examinador – PPGEO/DCG/UFPE)

______________________________________________________ Prof. Dr. Caio Augusto Amorim Maciel (UFPE)

(3º examinador – PPGEO/DCG/UFPE )

______________________________________________________ Prof. Dr. Paulo Sérgio Cunha Farias (UFCG)

(4º examinador – PPGEO/DCG/UFPE)

______________________________________________________ Prof.ª Dr.ª Luciana Maria da Cruz (Sem vínculo)

(5ª examinadora – PPGEO/DCG/UFPE)

Aos meus pais:

Ernani Martins dos Santos (in memorian) e

Marta da Costa Santos e, ao meu sobrinho

Anthony Gabriel que, com sua vinda

alegrou meus dias.

AGRADECIMENTOS

Na construção de um trabalho, por mais simples que seja, está contido um

significativo conjunto de expectativas dos quais, familiares, amigos e colegas alentam.

Este momento é de agradecimento a todos estes que de uma maneira ou de outra, ou

ainda pela falta desta, contribuíram decisivamente para a produção deste trabalho.

Ao meu orientador Prof. Dr. Alcindo José de Sá e a todos que fazem o

Programa PPGeo da UFPE, em especial a Eduardo Veras, que sempre muito

gentilmente me recebera e, ao Prof. Drª. Paulo Sergio Cunha docente da UFCG que

(na qualidade de Coorientador), acompanhou, sempre que solicitado, a elaboração

desse trabalho.

Aos amigos de ontem e de hoje. Que nos momentos mais difíceis me

encorajaram, demonstrado a possibilidade da conclusão deste, como Adriana Martins,

Aracely Martins, Antonio Albuquerque e Dona Luzia.

Àqueles que fizeram os colégios porque passei em significativos anos de minha

vida. A começar pelo Montessori, na pessoa de Puquéria, do qual fui aluno e comecei

a ensinar; ao Balão Mágico na pessoa de Tia Finha e Donzica, que me proporcionara

se não a primeira, mas a basilar experiência docente; ao Monte Sião, na pessoa de

Rostand; a Escola Técnica Redentorista – ETER, na pessoa da prof. Fátima e, que

me proporcionaram a vivência no ensino técnico, onde ministro a disciplina de

Geografia do Turismo; a Universidade Estadual Vale do Acaraú – UVA, na pessoa de

Thereza Donato, que muito gentilmente me proporcionara à exitosa experiência do

ensino superior, de que a disciplina Geografia das Indústrias se transformara em

verdadeiro laboratório para reflexões e debates com os alunos.

Aqueles que contribuíram com informações preciosas quando da pesquisa de

campo. Ao pessoal do Projeto Ciência e Tecnologia em Campina Grande (Memória

da UFCG), na pessoa de Fábio, que significamente contribuíram com material

imprescindível a escrita deste.

Ernani Martins dos Santos Filho

Campina Grande-PB, fevereiro de 2016.

RESUMO

O modo capitalista de produção em suas transformações dos processos produtivos e

de trabalho dialeticamente provoca e reflete mudanças em curso no seio da

sociedade. A passagem do paradigma fordista para a acumulação flexível está na

origem dos tecnopolos. Desta feita, este trabalho busca compreender como essas

transformações, amparadas no papel engendrado pelo ambiente social e cultural,

assumem diante das mudanças mais gerais para a emergência de Campina Grande

como tecnopolo. Nesse sentido, o mesmo se apresenta como uma possibilidade de

contribuição para o entendimento da cidade a partir de uma abordagem da Geografia

econômica e, mais especificamente, relacionada ao setor de TIC’s. Fundamentados

em teorias que tem na “fertilização cruzada” e na “destruição criadora” seu foco, os

tecnopolos se apresentam como territórios-rede da tecnologia, fragmentados em um

espaço global, porém articulados entre si. Refletindo uma indefinição conceitual, estes

novos espaços industriais apresentam uma multiplicidade de expressões que geram

uma imprecisão terminológica. De todo modo, se constituem em instrumentos de

desenvolvimento urbano e regional. Cidade a ter um dos cinco primeiros parques

tecnológicos implantados no Brasil, ainda na década de 1980, Campina Grande se

constitui atualmente num tecnopolo de referência em atividades de P&D de

tecnologias de ponta, para empresas nacionais e internacionais. Ancorado nas idéias

de economias de aglomeração, o pólo tem na Universidade Federal de Campina

Grande, na Fundação Parque Tecnológico da Paraíba, nas empresas de base

tecnológica – incubadas na ITCG e na INDEA – e na Embrapa, a base para o

desenvolvimento de processos inovadores.

PALAVRAS-CHAVE: Fatores Locacionais. Acumulação Flexível. Tecnopolo.

ABSTRACT

The capitalist mode of production in its transformations of labor and productive

processes dialectically causes and depicts current changes in the core of society. The

origin of technopoles lies in the turning of the fordist production paradigm into flexible

accumulation. Thus, this research aims at understanding how such transformations –

supported by the role performed by the social and cultural environment – account for

more general changes responsible for the arousal of the city of Campina Grande as a

technopole. This way, the study presents itself as a possibility of contribution toward

understanding the city based on Economic Geography and, more specifically, an

approach related to the realm of TIC’s. Substantiated through theories that focus on

“cross-fertilization” and “creative destruction”, the technopoles present themselves as

net-territories of technology, which are fragmented in a global space, yet connected.

Reflecting a conceptual indefiniteness, these new industrial spots show a multiplicity

of expressions which produce a terminological imprecision. All the same, they

represent instruments of urban and regional development. Being one of the first five

cities in Brazil to have a technology park implemented, still in the 1980’s, Campina

Grande is, at present, a reference technopole concerning state-of-the-art P&D

activities, either for national or international companies. Anchored in the ideas of the

agglomeration economies, the pole has in Universidade Federal de Campina Grande,

Fundação Parque Tecnológico da Paraíba, Embrapa and the technology-based

companies comprised in the ITCG and INDEA, its basis for the development of

innovative processes.

KEY WORDS: Locational factors. Flexible accumulation. Technopole.

RÉSUMÉ

Le capitalisme a changé ses nuances en même temps qui’il a causé des

transformations sociales, incluant des nouveaux paradigmes de production: d'un type

fordiste à l’autre de acumulation flexible. Tout ça est très important pour la constituition

des technopoles. Dans ce travail on veut comprendre le rôle de l’ambiance sociale et

culturelle à la formation de Campina Grande en technopole. Ainsi, on peut contribuer

à la compreension de la ville au sens de la géographie économique, et particulièrement

au rapport sur TIC’s. Les technopoles constituent des territoires-reseaux pour la

téchnologie, fragmentés sur l’espace global, mais articulés en réseau. Ces nouveaux

espaces industriels – malgré les problèmes de définition conceptuel – sont des outils

du développement urbain et régional. Campina Grande a établi l’un des premiers

centre technologique au Brésil et, autour de 1980, la ville s’est établie comme

référence em P&D au dévelopement technologique à service des entreprises au Brésil

e à l’extérieur. Ce pôle est attaché aux idées des économies d’agglomération et il a le

support de l’Universidade Federal de Campina Grande, de l’Embrapa, de la Fundação

Parque Tecnológico da Paraíba et des interprises technologiques couvertes par l’ITCG

et par l’INDEA.

MOTS-CLES: Des facteurs locaux. L’acumulation flexible. Des technopoles.

LISTA DE ABREVIATURAS

ANPROTEC Associação Nacional de Entidades Promotoras de

Empreendimentos de Tecnologias Avançadas

ATECEL Associação Técnica Científica Ernesto Luis de Oliveira Junior

CCT Centro de Ciência e Tecnologia da UFCG

CEEI Centro de Engenharia Elétrica e Informática da UFCG

CEPIS Centro de Produção Industrial Sustentável

CESED Centro de Educação Superior de Campina Grande

CGSoft Centro de Integração Cino-brasileiro

CNPq Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico

C&T Ciência e Tecnologia

C, T e I Ciência, Tecnologia e Inovação

DNOCS Departamento Nacional de Obras contra as Secas

EBT’s Empresas de Base Tecnológica

EMBRAPA Algodão Empresa Brasileira de Produção Agropecuária – Unidade

Campina Grande-PB

FIEP Federação das Indústrias do Estado da Paraíba

FINEP Financiadora de Estudos e Projetos

FUNDACT Fundação para o Desenvolvimento de Ciência e da Técnica

IEL Instituto Euvaldo Lodi

IES’s Instituições de Ensino Superior

INDEA Incubadora de Design de Campina Grande-PB

IDH Índice de Desenvolvimento Humano

ITCG Incubadora Tecnológica de Campina Grande-PB

LPM Laboratório de Produção Mineral

MCT Ministério da Ciência e Tecnologia

PaqTc-PB Parque Tecnológico da Paraíba

PADCT Programa de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico

PBTech Consórcio de Exportação de Software Paraibano

PITCE Política

PMCG Prefeitura Municipal de Campina Grande

P&D Pesquisa e Desenvolvimento

P+L Produção Mais Limpa

RNP Rede Nacional de Pesquisa

SANESA Saneamento de Campina Grande Sociedade Anônima

SEBRAE Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas

SENAI Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial

SEPLAM Secretaria de Planejamento da PMCG

SOFTEX Programa Nacional de Exportação de Software e Serviços Correlatos

TecOut Center Centro de Internacionalização do Software

TELINGRA Companhia Telefônica de Campina Grande

TIC’s Tecnologias da Informação e Comunicação

UFCG Universidade Federal de Campina Grande

UCIP Universidade Corporativa da Indústria Paraibana

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO..................................................................................................13

2 O TECNOPOLO ENQUANTO POSSIBILIDADE DE ENQUADRAMENTO

TEÓRICO-CONCEITUAIL.................................................................................17

2.1 AS TRANSFORMAÇÕES DO CAPITALISMO NO FIM DE SÉCULO: OS

TECNOPOLOS..................................................................................................17

2.2 TECNOPOLOS, PARQUES TECNOLÓGICOS E INCUBADORAS.................25

2.2.1 Tecnopolos........................................................................................................26

2.2.2 Os Parques Tecnológicos.................................................................................32

2.2.3 As Incubadoras..................................................................................................34

2.2.4 A Inovação.........................................................................................................37

2.3 O TECNOPOLO ENQUANTO POSSIBILIDADE DE ENQUADRAMENTO

TEÓRICO-METODOLÓGICO............................................................................43

2.3.1 Tecnopolos: Territórios-Rede Da Tecnologia....................................................43

2.3.2 A Produção De Mais-Valia Relativa No Seio Dos Tecnopolos..........................52

2.3.3 Estado E Mercado Na Construção Dos Territórios-Rede Da Tecnologia.........54

3 CAMPINA GRANDE-PB SOB A ÓTICA DOS FATORES LOCACIONAIS.....59

3.1 A POSIÇÃO GEOGRÁFICA..............................................................................62

3.2 O ENTREPOSTO COMERCIAL........................................................................66

3.3 A FERROVIA.....................................................................................................68

3.4 O AMBIENTE SOCIAL E CULTURAL...............................................................71

4 TECNOPOLO CAMPINA GRANDE: TERRITÓRIO-REDE DA TECNOLOGIA

EM SUA DINÂMICA RECENTE........................................................................81

4.1 AS INSTITUIÇÕES DE ENSINO SUPERIOR – IES.........................................84

4.1.1 A Universidade Federal de Campina Grande – UFCG.....................................88

4.2 AS INSTITUIÇÕES DE ENSINO TÉCNICO E PROFISSIONALIZANTE..........99

4.3 AS INSTITUIÇÕES DE PESQUISA E DESENVOLVIMENTO (P&D).............100

4.3.1 A Fundação Parque Tecnológico da Paraíba – PaqTc-PB.............................101

4.3.2 A Empresa Brasileira de Produção Agropecuária – EMBRAPA.....................107

4.4 AS EMPRESAS DE BASE TECNOLÓGICA – EBT’S.....................................109

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................117

REFERÊNCIAS...............................................................................................120

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1 INTRODUÇÃO

As mudanças nos paradigmas dos processos produtivos e de trabalho

resultantes da evolução histórica do modo capitalista de produção, produzidas no bojo

de suas crises, implicam ciclos cada vez menores de expansão e retração.

Contradições inerentes ao próprio modo de produção e aspectos das dimensões

humanas e sociais recriam novas formas de produzir, talvez híbridas, em uma clara

demonstração de saturação ou até mesmo de estagnação da condição social

preestabelecida.

Recriar processos com base em inovações tecnológicas, sobretudo com vistas

à maximização do lucro do capital, parece ser a saída para tais crises. Esses ciclos

de desenvolvimento se refletem diretamente sobre o espaço, de maneira a

materializar elementos que para aquele momento têm um sentido, uma função e uma

forma, mas que em períodos posteriores sofrem reformulações, regulações em suas

condições. Mesmo em sua especificidade local, sobretudo, no que concerne ao

aspecto cultural, os mais diversos lugares do mundo estão passando por profundas

modificações em suas estruturas e dinâmicas de crescimento, como resultado da ação

direta de três grandes processos históricos inter-relacionados: uma revolução

tecnológica; a formação de uma economia global e o surgimento de uma nova forma

de produção, e sobretudo, relacionada à gestão empresarial. Proporcionado por esses

fatores, o capital transnacional, cada vez mais, comanda e desmanda a produção de

novas áreas industriais dispersas no globo. Pondo e opondo as escalas do local e do

global.

Nesse sentido, a emergência dos Tecnopolos decorre das transformações do

modo capitalista de produção a partir da segunda metade do século XX, como

resultado de uma conjuntura de processos, anteriormente relacionados, que explicam

o surgimento de novas áreas industriais e a reestruturação de outras estagnadas, a

partir da tríade: ciência, tecnologia e inovação. Com exceção do Silicon Valley na

Califórnia (EUA), que surgiu “espontaneamente”, os outros tecnopolos em âmbito

global representam compilações desse modelo que deu certo. Se nos países centrais

as leis de mercado são determinantes, nos periféricos1, esse processo resulta

1 A noção centro-periferia que norteia a elaboração deste trabalho se apóia nas idéias de Manzagol (1985, p. 161), quando de sua discussão acerca do desenvolvimento econômico em escala planetária. Para ele, a idéia que orienta esta categorização se baseia em “um modelo de

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especialmente da atuação do Estado. Desse modo, esta dissertação se pauta por uma

contribuição a reflexão da emergência do Tecnopolo Campina Grande2. Para tanto, a

identificação dos fatores locais e daqueles mais gerais; a compreensão da importância

do ambiente social e cultural; a discussão acerca do conceito de tecnopolo e o papel

que o Estado e o mercado desempenham na criação desses territórios tecnológicos,

se tornaram essenciais. Não se tratando de dissecar aqui esses aspectos,

anteriormente citados, a proposta é que eles possam responder aos processos

engendrados na/e pela cidade.

Os argumentos são múltiplos na tentativa de justificativa do trabalho.

Relacionemos pelo menos dois como forma de demonstrar sua relevância. 01:

Segundo Castells & Hall (2001), de modo geral, os estudos acerca dos tecnopolos

não são recorrentes, produzindo lacuna significativa na produção literária desse ramo

do conhecimento. Todavia, existem trabalhos isolados, capítulos de livros e

dissertações com base em estudo de caso, porém em pequena proporção. Quanto a

Campina Grande, este se apresenta como o primeiro estudo de abordagem geográfica

acerca da temática: “Tecnopolo”, que se conhece; 02: motivações particulares como

profissional que se dedica ao ensino de Geografia, propuseram uma constante

reflexão das transformações por que passa a cidade e dos processos que engendra,

inscrevendo-a na tendência de emergência dos novos “complexos industriais do

século XXI”.

Deve ser ressaltado que no viés adotado na construção deste trabalho, não

cabe uma linearidade positivista, muito observada nos trabalhos que têm nos

tecnopolos o objeto de estudo; perpassando de seu panorama global ao seu aspecto

internacionalização do capital e da exploração das forças produtivas cuja lógica é a acumulação no centro. [...] o centro é caracterizado pelo domínio que as relações sociais exercem sobre as forças produtivas, acontecendo o inverso na periferia”. Ainda complementa o mesmo autor, que “a periferia pouco a pouco se industrializa, mas com dependência tecnológica e financeira e sem lógica de acumulação local” (MANZAGOL, ibid, 162). A respeito da noção centro-periferia, Cano (2007), esclarece que seu “principal problema teórico, no que se refere às tentativas de aplicá-lo à dimensão regional de uma nação, consiste em que a concepção ‘centro-periferia’ só é válida quando aplicada ao relacionamento entre Estados-nações, e não entre regiões de uma mesma nação, em que a diferenciação de fronteiras internas não pode ser formalizada por medidas de política cambial, tarifária e outras, salvo as relacionadas às políticas de incentivos regionais” (CANO, 2007, p.21).

2 Tendo por base as principais linhas de investigação e debates atuais em Geografia Industrial, um dos ramos mais dinâmicos da Geografia Econômica atual, proposta por Méndez & Caravaca (1999), esse trabalho fora elaborado. O estudo acerca dos tecnopolos se enquadra dentro da perspectiva de “Los análisis evolucionistas sobre medios innovadores, que han destacado a importancia de la innovación como respuesta empresarial frente a la crisis, su tendencia a concentrarse en cierto tipo de espacios donde el conocimiento y la información se generan y difunden sin excesivas trabas, o la destacada función que juegan los servicios a la producción en ese proceso” (ibid, 1999, p. 27).

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local. É certo que essa sistematização contribui para a compreensão do fenômeno

localmente, mas para isso, servem os clássicos trabalhos de Castells & Hall (2001),

em nível global e de Tavares (2002) e Cruz (2002), no contexto brasileiro. Este

trabalho, porém, busca a compreensão dos fatores locacionais e amparado na teoria

de aglomeração de PORTER (1997), a explicação para a criação do Tecnopolo

Campina Grande.

Outro ponto importante em sua construção, diz respeito aos procedimentos

metodológicos e ao recorte do objeto. Frente à realidade encontrada em campo, a

mudança do instrumento de coleta foi inevitável. A ineficiência desses produziu

dificuldade de operacionalização da pesquisa, de maneira que podem ser

relacionados pelo menos quatro pontos:

1. por se tratar de um segmento considerado estratégico e levar em conta

aspectos como inovação de produtos e processos, número significativo das

EBT’s optaram por fechar suas portas à pesquisa por temerem a divulgação de

informações consideradas vitais para a posição que ocupam no mercado, como

ocorreu com a Data Sonic e Data Shop;

2. por não se tratar de pesquisa de uma grande instituição de visibilidade nacional

como o IBGE, a FGV ou o SEBRAE local, seus dirigentes se indispuseram por

acreditarem ser um perda de tempo e consequentemente de capital, como

aconteceu nas EBT’s: Light Infocon e Apel, e no Centro de Engenharia Elétrica

e Informática (CEEI) da UFCG;

3. O recorte do objeto estudado ainda se encontrava demasiadamente grande,

produzindo um emaranhado de possibilidades de respostas.

Desta feita, optou-se por recortar a pesquisa, de maneira que, contemplasse o

“Tecnopolo Campina Grande” dentro do contexto dos territórios-rede e os

instrumentos de coleta de dados3. As matérias de jornais, sites, literaturas e

documentos voltados à área, ou correlatas a ela foram, desta forma, imprescindíveis

3 Operou-se em campo nos três conjuntos que compõem o Tecnopolo Campina Grande: IES’s e técnico; Empresas de P&D e EBT’s, a aplicação de entrevista semiestruturada, de acordo com acessibilidade de inserção. A entrevista semi-estruturada é, segundo Triviños (1995, p. 146), “[...] aquela que parte de certos questionamentos básicos, apoiados em teorias e hipóteses, que interessam à pesquisa, e que, em seguida, oferecem amplo campo de interrogativas, fruto de novas hipóteses que vão surgindo à medida que recebem as respostas do informante”.

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à construção deste trabalho. É fato que a relativa escassez de literaturas e outras

fontes relacionadas à temática dos tecnopolos contribuíram, sobremaneira, para que

a estruturação teórico-metodológica, inicial, se revelasse inconsistente.

Operacionalmente, optou-se por cruzar os dados obtidos nas literaturas com o

material coletado nas entrevistas.

Assim o trabalho encontra-se estruturado em quatro capítulos. O primeiro,

intitulado: “O Tecnopolo enquanto possibilidade de Enquadramento Teórico-

Conceitual”, acena para uma breve discussão acerca do conceito de Tecnopolo;

mostra que além dos fatores locais tão bem amparados em Porter (1997), os globais,

produzidos no bojo de uma mudança paradigmática para a acumulação flexível,

também concorrem, seja relacionados ao papel do Estado, seja relacionados ao papel

do mercado para a construção dos espaços tecnopolitanos.

Sob o título, “O Tecnopolo enquanto possibilidade de enquadramento Teórico-

Metodológico”, o segundo capítulo, apresenta proposta de apreensão do objeto

estudado por um caminho teórico-metodológico: o território-rede, que a partir do

elemento “inovação” apresenta a dinâmica recente porque passa o sistema

Capitalista.

O terceiro capítulo, sob o título, “Campina Grande-PB sob a Ótica dos Fatores

Locacionais”, distante de reescrever a história da cidade, levanta considerações

acerca do papel da posição geográfica; do empório; da ferrovia e do ambiente social

e cultural para a criação do Tecnopolo Campina Grande, buscando de alguma

maneira, relacioná-la à lógica de localização, da qual Manzagol (1985) dá conta.

O quarto e último capítulo, intitulado “Tecnopolo Campina Grande: território-

rede da tecnologia em sua dinâmica recente”, apresenta uma breve descrição da

estrutura tecnopolitana, seus “sistemas de engenharia”, mostrando em números e

mapas as principais IES’s e técnico, as EBT’s e os Centros de P&D e, sobretudo, sua

articulação em rede, tentando visualizar o que muitos autores convencionaram

chamar de “fertilização cruzada”.

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2 O TECNOPOLO ENQUANTO POSSIBILIDADE DE ENQUADRAMENTO

TEÓRICO-CONCEITUAIL

Se a combinação de fatores ou processos endógenos contribui para explicar a

emergência dos tecnopolos com uma leitura local, os fatores exógenos – a terceira

revolução tecnológica, a formação de uma economia global e o aparecimento de uma

nova forma de produção e gestão econômica – parecem dar o tom.

Em muitos trabalhos sobre os tecnopolos, esses fatores mais gerais dominam

as discussões atuais com foco no poder de absorção e reprodução do capital, na ação

de dotá-lo de fluidez, tendo por base o binômio, pesquisa e desenvolvimento (P&D),

o que denota, por sua vez, o grau de inserção desse fenômeno na economia global.

O que incomoda é que, grosso modo, esses trabalhos partem de uma mudança

paradigmática do modo capitalista de produção – do Fordismo para a Acumulação

Flexível – sem, no entanto, levar em conta a conjuntura de fatores locais, o ambiente

social e cultural que o produziu. Como se o capitalismo não buscasse locais dotados

de bases materiais mínimas que assegurassem sua reprodução, pois nem toda

localidade é lugar para o capital.

Assim, os fatores exógenos muitas vezes são tratados em trabalhos, que

parecem ter em si mesmos (nos fatores ou processos que entendemos por globais),

como sendo a única explicação para o fenômeno do aparecimento dos tecnopolos,

chegando por vezes a negar os primeiros.

Este segundo capítulo tem por objetivo atender a três pontos básicos. Na

primeira parte, se enquadrará o fenômeno de emergência dos tecnopolos nas

transformações do capitalismo do final do século XX, mais especificamente, na

passagem do paradigma fordista para a acumulação flexível; na segunda, se

produzirá reflexão de cunho teórico-conceitual acerca do conceito de tecnopolo e na

terceira e última parte, se produzirão esforços para enquadrá-lo na categoria

territórios-rede, defendendo a idéia de que esses pólos tecnológicos nada mais são

do que “territórios da tecnologia” produzidos pelo capital, fragmentados em escala

global e articulados a partir do elemento rede.

2.1 AS TRANSFORMAÇÕES DO CAPITALISMO NO FIM DE SÉCULO: OS

TECNOPOLOS

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As transformações político-econômicas do capitalismo do final do século XXI,

discutidas em Harvey (1992); Lipietz (1988); Leite (1994) e Antunes (1999), dentre

outros, são o ponto de partida para se entender a emergência dos tecnopolos. É fato

que,

Na época, a recuperação da Europa Ocidental e do Japão tinha se completado, seu mercado interno estava saturado e o impulso para criar mercados de exportação para os seus excedentes tinha de começar. [...] a solapar o papel do dólar como moeda-reserva internacional estável. A formação do mercado do eurodólar [...] a redução do poder norte-americano de regulamentação do sistema financeiro internacional. [...] as políticas de substituição de importações em muitos países do Terceiro Mundo (da América Latina em particular), associadas ao primeiro grande movimento das multinacionais na direção da manufatura no estrangeiro (no Sudeste Asiático em especial), geraram uma onda de industrialização fordista competitiva em ambientes inteiramente novos, nos quais o contrato social com o trabalho era fracamente respeitado ou inexistente (HARVEY, 1992, p. 135).

Os processos, acima, apresentados, demonstram como a conjuntura desses

fatores, localizados em pontos diferentes do globo, mas não isolados, e diretamente

relacionados, atuaram de maneira decisiva para criar uma nova cena no quadro

político e econômico global. Esses processos de repercussão macroeconômicos

tornaram “[...] cada vez mais evidente a incapacidade do fordismo e do keynesianismo

de conter as contradições inerentes ao capitalismo” (HARVEY, ibid, p.135). Ou como

quer Coriat apud Leite (1994, p.79), quando fala acerca dos anos 60, que assistem

“[...] a uma crise da ‘organização científica do trabalho’ enquanto estratégia social,

‘como técnica de dominação do capital sobre o processo de trabalho’.”.

Essas mudanças no conjunto de estratégias desenvolvidas, reproduzidas e

manifestadas pelo modo capitalista de produção, representam mecanismos de

permanência frente a outros modos que já existiram, ou que pelo menos utopicamente

se pensou existirem. A mutabilidade que o capitalismo apresenta, adaptando-se às

crises cíclicas e se recompondo em bases até então impensadas, demonstra seu

poder de adaptação e reformulação. As crises que aparentemente se apresentariam

como o fim para o sistema, contraditoriamente, ou em outras palavras, dialeticamente,

representam as novas bases em que se apóia o novo modo de regulamentação, o

“novo paradigma”.

Essas transformações do modo capitalista de produção se ancoram em um

conjunto de características fundamentais, que mesmo em suas mutações de um

paradigma a outro, em suas crises que se apresentam em curvas cada vez mais

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curtas, perpetuam-se até os dias atuais. Ainda estabelece Harvey (op. cit., p. 164),

que “a acumulação flexível ainda é uma forma de capitalismo, [e que por isso]

podemos esperar que algumas proposições básicas se mantenham”. Segundo ele,

são três as características essenciais do modo capitalista de produção:

1. O capitalismo é orientado para o crescimento. Uma taxa equilibrada de crescimento é essencial para a saúde de um sistema econômico capitalista, visto que só através do crescimento os lucros podem ser garantidos e a acumulação do capital, sustentada. Isso implica que o capitalismo tem de preparar o terreno para uma expansão do produto e um crescimento em valores reais (e, eventualmente, atingi-los), pouco importam as conseqüências sociais, políticas, geopolíticas ou ecológicas. Na medida em que a virtude vem da necessidade, um dos pilares básicos da ideologia capitalista é que o crescimento é tanto inevitável como bom. A crise é definida, em conseqüência, como falta de crescimento.

2. O crescimento em valores reais se apóia na exploração do trabalho vivo na produção. Isso não significa que o trabalho se aproprie de pouco, mas que o crescimento sempre se baseia na diferença entre o que o trabalho obtém e aquilo que cria. Por isso, o controle do trabalho, na produção e no mercado, é vital para a perpetuação do capitalismo. O capitalismo está fundado, em suma, numa relação de classe entre capital e trabalho. Como o controle do trabalho é essencial para o lucro capitalista, a dinâmica da luta de classes pelo controle do trabalho e pelo salário de mercado é fundamental para a trajetória do desenvolvimento capitalista.

3. O capitalismo é, por necessidade, tecnológica e organizacionalmente dinâmico. Isso decorre em parte das leis coercitivas, que impelem os capitalistas individuais a inovações em sua busca do lucro. Mas a mudança organizacional e tecnológica também tem papel-chave na modificação da dinâmica da luta de classes, movida por ambos os lados, no domínio dos mercados de trabalho e do controle do trabalho. Além disso, se o controle do trabalho é essencial para a produção de lucros e se torna uma questão mais ampla do ponto de vista do modo de regulamentação, a inovação organizacional e tecnológica no sistema regulatório (como o aparelho do Estado, os sistemas políticos de incorporação e representação etc.) se torna crucial para a perpetuação do capitalismo. Deriva em parte dessa necessidade a ideologia de que o "progresso" é tanto inevitável como bom (HARVEY, ibid, pp. 166-169).

Orientado por mecanismos de perpetuação que tem no lucro, no controle do

trabalho e na inovação, as bases de sua acumulação, o sistema capitalista de

produção busca saídas para as suas crises. Como resposta a elas, as reestruturações

surgem como mecanismos de reorientação do tecido produtivo e social. De resultado

muito mais mítico do que real, os processos de reestruturação são abordados em

muitas literaturas como recomeço de uma nova ordem social e econômica. Em seu

livro, Geografias Pós-Modernas: a reafirmação do espaço na teoria social crítica de

20

1993, Edward W. Soja, em capítulo dedicado à Geografia Histórica da Reestruturação

Urbana e Regional, discute como o processo de descentralização industrial em âmbito

global e sua realocação em novas áreas geográficas, resulta dos processos de

reestruturação produtiva produzidas no bojo das transformações do modo de

produção capitalista de meados da segunda metade do século XX, especificamente,

das décadas de 1960 a 1970. Para ele, a

[...] reestruturação, em seu sentido mais amplo, transmite a noção de uma ‘freada’, senão de uma ruptura nas tendências seculares, e de uma mudança em direção a uma ordem e uma configuração significativamente diferentes da vida social, econômica e política. Evoca, pois, uma combinação seqüencial de desmoronamento e reconstrução, de desconstrução e tentativa de constituição, proveniente de algumas deficiências ou perturbações nos sistemas de pensamento e ação aceitos. A antiga ordem está suficiente mente esgarçada para impedir os remendos adaptativos convencionais e exigir, em vez deles, uma expressiva mudança estrutural. (SOJA, 1993, p. 193)

Nesse sentido, a transição de um paradigma fordista para o da acumulação

flexível, é interpretada como resultado de uma reestruturação na lógica de

acumulação capitalista. Entretanto, as reestruturações, em espacial a que culminou

com a passagem do paradigma fordista para a acumulação flexível, nada mais são do

que “uma imensa mudança na aparência superficial do capitalismo a partir de 1973,

embora a lógica da acumulação capitalista e de suas tendências de crise permaneça

a mesma” (HARVEY, 1992, p. 177). Todavia, essa transição nos conduz a uma

reflexão que tem em autores como Marcia de Paula Leite, um posicionamento de que

essa, de fato, ainda não estaria inteiramente completada, de maneira que, para eles,

não se pode, ou pelo menos, não se deve ainda falar em um paradigma da

acumulação flexível.

A mudança paradigmática do fordismo para a acumulação flexível discutida em

Leite (1994), Harvey (1992) e Antunes (1999) acena para uma complexidade de

formas de processos produtivos emergentes em lugares distintos do globo que

refletem suas peculiaridades. As formulações dos autores convergem para o

consenso de que, “a edificação de um único modelo sucessor do fordismo é ainda

prematuro e que as novas formas de produção que estão emergindo, contêm os

germes de um número variado de novos paradigmas alternativos” (LEITE, 1994, p.

102).

A variedade de processos de trabalho e de seus hibridismos concorreu para o

surgimento de novos modelos. No tocante a esses “modelos sucessores”, parece que

21

as reflexões de Marcia de Paula Leite (1994) e Ricardo Antunes (1999), caminham

em direção à produção de abordagens distintas. Enquanto a primeira centra sua

discussão nos modelos regulatórios como o “neotaylorista”, que ao invés de se

caracterizar como uma alternativa ao fordismo se coloca muito “[...] mais como uma

arbitragem4 entre o capital e o trabalho, que se dá no interior do paradigma fordista”,

(LEITE, ibid, p. 103); o segundo estabelece três modelos, mais ou menos, de acordo

com o grau de adoção e representação desses, pelos países, como o sueco, o italiano

(Terceira Itália) e o japonês.

Grosso modo, um número muito grande de literaturas segue na mesma direção

da distribuição modelar em escala global proposta na obra de Antunes, de modo que

na maioria delas o modelo japonês notoriamente se destaca frente a outros, como na

obra de Harvey (1992). Em outras palavras, o modelo que teria maior repercussão

frente ao binômio taylorismo/fordismo, é o Toyotista.

Como principal modelo que compõe o paradigma da chamada acumulação

flexível, o toyotismo é sintetizado por Antunes em oitos pontos,

1) é uma produção muito vinculada à demanda, visando atender às exigências mais individualizadas do mercado consumidor, diferenciado-se da produção em série e de massa do taylorismo/fordismo. Por isso sua produção é variada e bastante heterogênea, ao contrário da homogeneidade fordista;

2) fundamenta-se no trabalho operário em equipe, com multivariedade de funções, rompendo com o caráter parcelar típico do fordismo;

3) a produção se estrutura num processo produtivo flexível, que possibilita ao operário operar simultaneamente várias máquinas (na Toyota, em média até 5 máquinas), alterando-se a relação homem/máquina na qual se baseava o taylorismo/fordismo;

4) tem como principio o just in time, o melhor aproveitamento possível do tempo de produção;

5) funciona segundo o sistema de kanban, placas ou senhas de comando para reposição de peças e de estoque. No toyotismo, os estoques são mínimos quando comparados ao fordismo;

6) as empresas do complexo produtivo toyotista, inclusive as terceirizadas, têm uma estrutura horizontalizada, ao contrário da verticalidade fordista. Enquanto na fábrica fordista aproximadamente 75% da produção era realizada no seu interior, a fábrica toyotista é responsável por somente 25% da produção, tendência que vem se intensificando ainda mais. Essa última prioriza o que é central em sua especialidade no processo produtivo (a chamada “teoria do foco”) e transfere a “terceiros” grande parte do que antes era produzido dentro do seu espaço produtivo. Essa

4 A autora estabelece os modelos: “[...] ‘californiano’, encontrado principalmente entre as firmas japonesas; e o ‘saturniano’ [...] encontrado fundamentalmente na Suécia, mas também em certa medida no Japão, na Itália do norte e na Alemanha” (LEITE, op. cit., p. 105).

22

horizontalização estende-se às subcontratadas, às firmas “terceirizadas”, acarretando a expansão dos métodos e procedimentos para toda a rede de fornecedores. Desse modo, flexibilização, terceirização, subcontratação, CCQ, controle de qualidade total, kanban, just in time, kaizen, team work, eliminação do desperdício, “gerência participativa”, sindicalismo de empresa, entre tantos outros pontos, são levados para um espaço ampliado do processo produtivo;

7) organiza os Círculos de Controle de Qualidade (CCGs), constituindo grupos de trabalhadores que são instigados pelo capital a discutir seu trabalho e desempenho, com vistas a melhorar a produtividade das empresas, convertendo-se num importante instrumento para o capital apropriar-se do savoir faire intelectual e cognitivo do trabalho, que o fordismo desprezava;

8) o toyotismo implantou o “emprego vitalício” para uma parcela dos trabalhadores das grandes empresas (cerca de 25 a 30%) da população trabalhadora, onde se presenciava a exclusão das mulheres), além de ganhos salariais intimamente vinculados ao ganho da produtividade. O “emprego vitalício” garante ao trabalhador japonês que trabalha nas fábricas inseridas nesse modelo a estabilidade do emprego, sendo que aos 55 anos o trabalhador é deslocado para outro trabalho menos relevante, no complexo de atividades existentes na mesma empresa (ANTUNES, 1999, pp. 54-55).

O sistema de kanban, também, reflete as mudanças processadas no segmento

comercial de mercado com o desenvolvimento de atividades de pré-vendas. A

demanda de mercado de determinados produtos é interpretada em processos

gerenciais que determinam o quanto comprar, diminuindo consideravelmente a perda

de espaços para estocagem e de produtos, sobretudo, se forem perecíveis.

Parece haver um ponto de convergência entre o modelo toyotista apresentado

por Antunes e a via “saturniana”, proposta por Leite. De todo modo, fica claro que

muito “[...] embora a via ‘neotaylorista’ tenha se constituído na tendência principal até

metade dos anos 80, as vantagens da via ‘saturniana’ foram se evidenciando com os

sucessos observados nas economias japonesa, alemã e italiana” (LEITE, op. cit., pp.

105-102).

Puxado pelo setor automobilístico essas mudanças na planta industrial refletem

diretamente sobre o chão de fábrica os processos em curso. Enquanto um novo

modelo industrial ainda não se consolida como paradigma, dois pontos, pelo menos,

devem ser ponderados no intuito de vislumbrar a adoção de vias ou modelos por parte

dos países e regiões, ou por seus segmentos industriais. A carência de capitais e a

instabilidade econômica aparecem como fatores decisivos para a implementação de

modelos mais inovadores. Os estudos têm mostrado que em países centrais, esses

23

modelos, mesmo híbridos, são largamente difundidos, enquanto nos periféricos as

inovações tem se dado em um ritmo mais lento.

A discussão acerca da mudança paradigmática do fordismo para a acumulação

flexível é apropriada neste trabalho, como fator basilar para a compreensão da

emergência dos tecnopolos. A mundialização da economia no pós-guerra,

proporcionada pela internacionalização da indústria, do sistema financeiro e pelo

advento das tecnologias da informação e comunicação – TIC’s criaram um cenário

propício à ampliação do capital em escala global. Se esse capital internacional não se

colocou especificamente em prol da criação dos tecnopolos, foi responsável pelos

“sistemas de engenharia”, que explicam sua aparição.

Com a internacionalização da economia, processa-se uma relativa

descentralização da atividade industrial dos países centrais para os países periféricos.

Muitas indústrias tradicionais, como as automobilísticas, migraram para países como

o Brasil, Argentina, Coréia do Sul e China (sobretudo para o Sudeste asiático) em

busca de mão-de-obra barata, incentivos fiscais e legislação trabalhista e ambiental

menos restritiva, corroborando com o que Alain Lipietz chamou de fordismo periférico.5

Não são apenas as indústrias tradicionais, que passam por esse processo, mas

também as de ponta, mesmo que em menor proporção e seguindo uma outra lógica,

pois buscam entre outros fatores para a realocação, a inovação produtiva e a

produção intelectual centrada nas universidades e instituições de pesquisa.

As tecnologias da informação desenvolvidas nesse período buscaram

basicamente maximizar a produção/reprodução do capital, seguindo sua própria

lógica, mas com uma forte doze de militarismo. Muitas das tecnologias adotadas e

utilizadas cotidianamente foram produzidas a partir de necessidades militares no bojo

da Guerra Fria.

Contudo, nem todos os países periféricos receberam aportes industriais

e capital. Apenas um seleto grupo que já havia implantado as bases infra-estruturais,

5 Em Miragens e Milagres: problemas da industrialização no Terceiro Mundo, o fordismo periférico é entendido como sendo “herança da primeira política de substituição das importações, ou da existência antiga de capitalismo mercantil periférico (caso dos chineses), ou ainda graças à promoção as vezes “milagrosa” das exportações de matérias-primas (caso do petróleo), ou em decorrência de uma fase de exportação de produtos manufaturados baseada na taylorização primitiva, de qualquer modo nos anos setenta aparece em certos países a conjunção de um capital local autônomo, de classes médias urbanas relativamente abundantes e de embriões significativos de um classe operária experiente. Esta conjunção oferece a certos estados a oportunidade de desenvolverem, que passamos a chamar de ‘fordismo periférico’!.” (LIPIETZ, 1988, p. 96).

24

o que Santos (2003) convencionou chamar de sistemas de engenharia, e que já teriam

começado seu processo de industrialização (a chamada industrialização tardia), foram

os que receberam tais indústrias. Segundo Santos e Silveira, (2003, pp. 101-102),

Nos dias de hoje, os sistemas de engenharia são projetados e construídos em forma integrada, na intenção de promover a convergência de certos agentes e de certas regiões. Esses grandes sistemas técnicos fornecem as condições para que outras técnicas funcionem. [...] São as grandes barragens, aeroportos, vias rápidas de transportes, suportes de diversas espécies, responsáveis pela criação de situações nas quais há uma solidariedade entre técnicas de comunicações, teleducção, informática e burótica, entre outras, que povoam o território através de redes materiais e imateriais.

Dentro dessa mesma racionalidade de periferização do capital e da produção,

emergem os tecnopolos, com um maior esforço por parte dos Estados e das

instituições nacionais dos países periféricos. Deve ser levado em consideração que o

“surgimento espontâneo” do Silicon Valley e Rota 128 de Boston, produziu um

movimento de criação de tecnopolos na Inglaterra, França e posteriormente no Japão,

que fora compilado como “modelo de desenvolvimento”, sobretudo, por países

emergentes como o Brasil. Os fatores anteriormente ressaltados contribuirão para um

novo entendimento do cenário global, onde a “geografia e a composição da economia

mundial transformaram-se de modo tal que produziu uma complexa dualidade: uma

organização da atividade econômica espacialmente dispersa, mas mundialmente

integrada” (SASSEN, 1993, p.188).

Em verdade, há um hiato na emergência dos tecnopolos pelo mundo, ao menos

em um primeiro momento. Ao que tudo indica, poderíamos falar, teoricamente, em

surgimento dos tecnopolos em países centrais, especificamente nos EUA; e em

criação no resto do mundo, com ênfase aos países periféricos industrializados. Hoje

a emergência deles é indiferente a esses grupos de países. De fato o que difere entre

eles atualmente, é o forte movimento de criação deles nos países centrais, reflexo da

disponibilidade de capital produtivo e da forte presença da iniciativa privada no centro

da economia-mundo.

Em outras palavras, não é só a descentralização da produção e do capital

passando dos países centrais para os periféricos que concorre para a emergência dos

tecnopolos, até porque sua criação se dá em outras bases, que não correspondem

necessariamente à fordista. Todavia, há constituição de sistemas de engenharia que

são promovidos pelo Estado e/ou pelo capital internacional, no caso dos países

periféricos, e das externalidades que essas estruturas produzem, propiciam a criação

25

desses novos espaços industriais. Essa acepção é esclarecida por Rogério Haesbaert

da Costa (1991, p. 105), quando se reporta aos reflexos que o investimento japonês

produziu na capacidade produtiva da indústria sul-coreana. Ele afirma que é, “Difícil

explicar, nesse caso, porque alguns setores da indústria sul-coreana começam a

competir com indústrias japonesas do comércio internacional e mesmo a investir em

países do Sudeste asiático, como a Tailândia”.

A transferência do chão de fábrica de muitas das transnacionais japonesas

como a Honda, a Sansung e a Sony, para países da Bacia do Pacífico, não explica,

em tese, a transferência de tecnologia e conseqüentemente o desenvolvimento por

eles vivenciado. Em todo caso, como repetidamente falamos, o investimento de capital

produtivo internacional e estatal na forma de sistemas de engenharia ou

macrossistemas, apresenta-se como fator basilar na emergência dos tecnopolos.

2.2 TECNOPOLOS, PARQUES TECNOLÓGICOS E INCUBADORAS

Fruto de transformações relativamente recentes, o fenômeno da “emergência

dos tecnopolos” amparado em processos múltiplos produziu uma diversidade de

abordagens e um significativo leque de concepções terminológicas. Se a utilização

usual dessas terminologias relacionadas a novas áreas industriais gera incorreções,

a discussão de cunho teórico-conceitual produziu um aparato de nomenclaturas que

parecem, muito mais, confundir e desestimular o leitor ou pesquisador do que lhes

trazer soluções concretas. É certo que se trata de um fenômeno relativamente novo,

da segunda metade do século XX, mais especificamente a partir da década de 1970

e que por isso, o tratamento teórico-conceitual e metodológico é sempre muito

delicado.

Um primeiro ponto a ser considerado diz respeito à etimologia do vocábulo

tecnopolo. Segundo Benko (1999, p. 153), “O termo [tecnopolo] aparece regularmente

na literatura no final dos anos 70.”, mesmo sendo resultado de transformações que

têm suas raízes, ainda, na década de 1940.

Muitas literaturas foram elaboradas por autores que procuram estabelecer

aproximações no que se refere aos tecnopolos, quase sempre, de cunho empírico,

apoiadas em base teórica, como no clássico trabalho de Castells & Hall (2001):

Tecnópolis del Mundo: la formación de los complejos industriales de siglo XXI. A

multiplicidade de abordagens produziu enfoques que parecem cada vez mais

26

divergirem entre os autores e os ramos do conhecimento, como entre a Economia, a

Geografia e a Sociologia. O conteúdo abordado, todavia, parece acenar para um único

caminho. A variedade de conteúdo, de estrutura dos Tecnopolos, Parques

Tecnológicos, Parques Científicos, Tecno Parks, Cidades Cientificas, Incubadoras,

entre outros, concorrem para também produzir múltiplas abordagens.

No Brasil a Associação Nacional de Entidades Promotoras de

Empreendimentos de Tecnologias Avançadas – ANPROTEC6, e no exterior, a

Associação Internacional de Parques Científicos – IASP7, instituições ligadas ao setor

tecnológico, produziram literaturas que buscam estabelecer as bases conceituais

dessas estruturas e/ou ferramentas. Com base em definições técnicas, esses

documentos nem sempre contribuem para o entendimento crítico desses mecanismos

de desenvolvimento, produzindo um conjunto de vocábulos que teoricamente se

esvaziam, deixando lacunas quanto ao seu entendimento. É certo que o próprio

processo de definição conceitual e categorização concorrem, em certo sentido, para

a estagnação, não contemplando a múltipla complexidade processada por essas

novas áreas industriais. De todo modo, a falta de uma diretriz teórico-conceitual e

metodológica parece deixar as análises meio que absortas.

2.2.1 Tecnopolos

Na literatura brasileira encontramos estudos parciais, artigos, capítulos de

livros, dedicados à exploração dessas novas áreas industriais. A expressão

“tecnopolo” aparece nas abordagens de Benko (1999), Tavares (2002), e Lima (2002),

só para citar algumas. Tal nomenclatura parece ter surgido de um aportuguesamento

da palavra de origem espanhola tecnópolis. Castells y Hall (2001), apropriaram

chamar em seu livro, esses novos espaços industriais, de tecnópolis, como uma

adaptação da expressão francesa genericamente utilizada em projetos: Technopole.

Entretanto, para eles, “Existe [...] um problema, já que em francês el término tiene dos

gêneros y dos significados diferentes: lê technopôle, derivado de pôle (n.m., **pólo**),

6 A ANPROTEC e o SEBRAE elaboraram em 2002 um estudo intitulado: “Glossário dinâmico de termos

na área de Tecnópolis, Parques Tecnológicos e Incubadoras de Empresas”. O documento reúne termos prioritários e complementares dessa área do conhecimento. Ele pode ser acessado em: www.anprotec.org.br/glossario/pdf 7 Além da IASP, a Association of University Research Parks – AURP atua em nível global.

27

y la technopole, derivado de metrópole (n.f., **metrópoli**)” (CASTELLS & HALL,

2001, pp. 19-20). Nesse sentido, é oportuno afirmar que a expressão utilizada no

estudo vigente é “lê technopôle”. Traduzida para a língua portuguesa como “o

tecnopolo”, no sentido estrito de pólo tecnológico.

Na busca de diferenciar os pólos tecnológicos dos tecnopolos e identificar os

“verdadeiros” pólos tecnológicos dos “falsos”, Benko (1999) e Medeiros et al. (1992),

construíram teorias que têm em seu diferencial de conteúdo, sua culminância. É o

caso das análises de Benko (1999, p.155), onde os tecnopolos “são organizações

espaciais de tipo manejamento urbano”, enquanto que os pólos tecnológicos8, ao

contrário,

São instrumentos de desenvolvimento regional e designam os canais técnico-industriais cujo fortalecimento é favorecido pelo Estado – no quadro dos contratos de Plano entre o Estado e a Região. Organizam-se em redes, visando sobretudo à transferência de tecnologia para a indústria regional, permitindo que os diferentes parceiros trabalhem juntos. Trata-se essencialmente de um circuito econômico (BENKO, ibid, p. 155).

Frente a essa confusão terminológica e conceitual que resulta da gênese, da

variedade de conteúdo e da amplitude de suas escalas, diversos autores, dentre eles

Méndez & Caravaca (1999); Benko (1999); Diniz (2001); Castells & Hall, (2001), além

de instituições como as anteriormente relacionadas, buscaram conceituar esses

fenômenos em uma clara tentativa de apreendê-los. Enquanto Méndez & Caravaca

concentram suas investigações nos parques industriais, Castells & Hall se centram

nos tecnópolis. Já Diniz, por sua vez, enfoca os parques tecnológicos.

As concepções de Benko se encontram com as de Castells, quando equipara

os tecnopolos aos parques tecnológicos, colocando como exemplo clássico o seu

estudo sobre o Sophía-Antípolis, França.

A obra de Castells & Hall, supracitada, mesmo de cunho empírico, aparece

como um marco teórico-conceitual na investigação dos processos de emergência

desses novos espaços industriais e de áreas industrialmente estagnadas, onde a

inovação tecnológica é utilizada como política de desenvolvimento urbano e regional.

8 O Glossário ANPROTEC (2002, p. 83), define Pólo tecnológico ou Pólo de ciência e tecnologia como

“Área de concentração industrial caracterizada pela presença dominante de pequenas e médias empresas de segmento empresarial de áreas correlatas e complementares, agrupadas por vocação natural em determinado espaço geográfico, com vínculos operacionais com instituições de ensino e pesquisa e agentes locais, num esforço organizado de consolidação e marketing de novas tecnologias”.

28

Mesmo não tendo como foco o estudo desses espaços inovadores, o trabalho

de Méndez & Caravaca (1999) se destaca ao acrescentar elementos substanciais na

discussão de categorias desses fenômenos. Ao que tudo indica a criação de uma

gama de categorias, sugere uma diversidade de conteúdo constitutivo e a

complexidade das redes de atores da escala local à global a que o processo está

ligado. Parece, todavia, que a dinâmica que os entronizam produz um transitar entre

as disposições das várias propostas. Assim, segundo Gutierrez del Valle y Barroso

(1999, pp. 186-187), existem três categorias de abordagem:

1. Tecnópolis: Espacios tecnológicos de mayor dimensión, que se identifican con una ciudad, nueva o preexistente, donde coinciden una política de fomento de la innovación mediante la promoción de espacios, la instalación de centros de investigación/formación y elevadas inversiones en infraestructuras de calidad, que a veces se acompaña por una decidida política de marketing urbano orientada a atraer iniciativas externas. Aunque las de mayor tradición son las ciudades de Ia ciencia construidas hace más de tres décadas (Akademgorodok en Siberia, Tsukuba en Japón) y las más conocidas hoy son las 26 tecnópolis de nueva planta promovidas en Japón desde 1984, existen otros ejemplos en diferentes países.

2. Parques Tecnológicos: Se trata de espacios delimitados y mucho menos extensos, de dimensión comparable a la de un parque o polígono industrial, que combinan en su interior actividades de investigación y desarrollo tecnológico con actividades de producción material, especialmente en sectores de alta tecnología.

3. Parques Científicos: De dimensión similar a los anteriores, se diferencian por el hecho de albergar tan sólo actividades de I+D y de formación, sin incluir actividades productivas, por lo que es frecuente su relación directa con universidades o centros de investigación próximos, que muchas veces actúan como promotores.

Ao analisarmos as três categorizações, deparamo-nos com a difícil tarefa de

relacioná-las ao processo que nos propomos estudar. É certo que utilizar

determinadas categorias como a de “tecnopolo”, muito disseminada nos meios

acadêmicos, na análise de fenômenos como o que se processa em Campina Grande,

parece, a princípio, resultar de um discurso ufanista, de uma reafirmação de indivíduos

e/ou de segmentos da sociedade que vêem no marketing tecnopolitano uma maneira

de mascarar processos de declínio industrial, ou de desindustrialização. De fato o

marketing, que tem como pano de fundo os tecnopolos, é produzido, em muitos casos,

na tentativa de atrair capital, estruturas e empresas de base tecnológica, cujas

externalidades produzidas por essa fertilização cruzada inserirão a localidade no

contexto da economia informacional.

29

Assim, a nova configuração do APL de TIC’s em Campina Grande, analisada

pela ótica da categorização anterior, parece, acenar muito mais em direção aos

parques científicos do que propriamente aos tecnopolos. Isso se deve ao fato de que

a cidade apresenta uma intensa atividade de P&D, amparada nos Centros de

Pesquisa e Instituições de Ensino Superior e técnico, sem, no entanto, ancorar

grandes empresas nacionais e internacionais com suas linhas de produção fordista

ou híbrida, como a Sansung, a Sony ou Embraer, que buscam nos estados do sudeste

brasileiro sua área de concentração como em Campinas, São José dos Campos e

São Paulo, no estado de São Paulo. Todavia, essas grandes empresas se fazem

presentes em áreas de menor destaque como é o caso do tecnopolo Campina Grande,

com investimentos pesados em inovação tecnológica de ponta como a Alcatel, HP,

Nokia, Motorola, Siemens, Petrobrás, Eletrobrás, dentre outras.

As categorizações aplicadas a determinados fenômenos devem levar em conta

a dinâmica em que essas áreas industriais estão inseridas em um dado momento. “As

interações formais e informais dos agentes e instituições, enraizadas no ambiente

local, estabelecem redes inovativas, onde a comunicação, a cooperação e a

coordenação dos atores agem como elementos facilitadores do processo de inovação”

(DINIZ, 2004, p. 5). A imbricação desses espaços em um sistema de redes locais e

globais, viabilizadas por políticas de planejamento industrial nacional e investimentos

internacionais, diz muito do poder das ações desses atores locais.

Nesse contexto, o fenômeno de emergência dos tecnopolos em diversas partes

do mundo estaria inserido em uma tipologia, que mesmo partindo de estudos

empíricos, representa os diversos tipos de meio inovador que podemos encontrar no

mundo atual. Castells & Hall (2001, pp. 31-33), construíram uma tipologia dos

tecnopolos, onde suas formulações estabelecem cinco categorias:

1. El primer tipo de tecnópolis consiste en complejos industriales de empresas de alta tecnología que han sido construidos sobre la base de un medio innovador. Estos complejos, relacionando el I+D y la fabricación, son los verdaderos centros de mando del nuevo espacio industrial. Algunos han sido creados a partir de la última ola de industrialización de nueva planta, caracterizada por las nuevas empresas de alta tecnología: el más destacado en todo el mundo es el de Silicon Valley, [...]. Sin embargo, otros nuevos complejos se han desarrollado sobre las antiguas regiones industriales que atraviesan un proceso de transformación y reindustrialización: el ejemplo más importante es la carretera 128 de Boston, [...].

2. El siguiente tipo de tecnópolis […] puede ser claramente denominado como ciudades de la ciencia. Son éstos complejos de

30

investigación estrictamente científicos, sin relación territorial directa con la fabricación. Su propósito es el de alcanzar un mayor nivel de excelencia científica mediante la sinergia que se supone generan en su aislado medio científico. [...] la ciudad siberiana de Akademgorodok, el gran experimento japonés de Tsukuba, la creación coreana de Taedok y el nuevo concepto de la ciudad de la ciencia multinuclear que se está desarrollando en el área de Kansai, en Japón.

3. Un tercer tipo de tecnópolis es el que aspira a inducir un nuevo crecimiento industrial, en términos de empleo y producción, intentando atraer a empresas de producción de alta tecnología hacia un espacio privilegiado. Las funciones de innovación no se hallan excluidas de tales proyectos, pero éstas se definen, principalmente, en términos de desarrollo económico. Los clasificamos como parques tecnológicos, ya que es así como más frecuentemente se describen ellos mismos. No obstante, el nombre no debería ocultar una realidad consistente en un área empresarial de alta tecnología deliberadamente establecida como resultado de iniciativas gubernamentales o relacionadas con las universidades. En esta categoría, bastante poco definida, [temos] [...] los casos de Hsinchu en Taiwan, Sofia Antípolis en Francia y Cambridge en Inglaterra.

4. En cuarto lugar, [...] [os] programas completos de tecnópolis como instrumentos del desarrollo regional y de la descentralización industrial. La elección, aquí, era obvia, ya que sólo existe un programa de primera magnitud con estas características en todo el mundo: el programa de tecnópolis en Japón.

5. [Em quinto, as] zonas que no son habitualmente reconocidas como medios innovadores y que, en realidad, puede que posean muy pocas de sus características físicas: las grandes zonas metropolitanas del mundo industrializado. [...] metrópolis que mantenían su liderazgo tecnológico (Tokio, París, Londres), las metrópolis que perdieron su papel de centros industriales avanzados (Nueva York y Berlín) y las metrópolis tecnológicas-industriales recién llegadas que, de hecho, ocuparon el lugar de aquéllas: Los Ángeles y Munich.

Esta tipologia abre espaço para uma compreensão muito mais dinâmica do que

as assertivas elaboradas por Benko (1999), quando distingue “os verdadeiros espaços

tecnopolitanos” dos “falsos”, ou ainda quando diferencia tecnopolo de pólo

tecnológico. Deixemos claro que as cinco categorias, acima estabelecidas, são as

utilizadas para amparar nossas reflexões, sobretudo no que concerne aos tecnopolos,

em nosso trabalho.

Quando constroem uma tipologia dos “tecnópolis”, Castells & Hall (2001),

parecem se encaminhar para uma generalização do vocábulo frente aos vários

processos de emergência desses conteúdos pelo mundo, respeitando as

diferenciações entre eles, expressadas por suas especificidades de conteúdo.

O conjunto de estratégias que cerca o planejamento de espaços para a

introdução de estruturas tecnopolitanas segue caminhos diferentes. É certo que

31

alguns desses fenômenos surgiram “espontaneamente”, como é o caso do Silicon

Valley, na Califórnia (EUA), todavia, a maior parte é resultado de esforços por parte

das universidades e Estados que vêem na criação de tecnopolos o caminho para o

desenvolvimento urbano e regional, como as cidades da ciência no Japão. Assim, a

criação de tecnopolos tem funções diferentes em espaços territoriais também

distintos. A implantação de tecnopolos obedece, segundo Benko (1999, p.160), a uma

classificação em três categorias, onde cada uma apresenta uma conjuntura de fatores

determinantes:

1. As velhas regiões industriais, no âmbito de sua reconversão, foram levadas a criar tecnopolos para mudar sua “imagem de marca”, atrair atividades novas e modernizar seu tecido industrial local. Muitas vezes as atividades e a inovação apresentam características de filiação com o tecido existente, assegurando uma continuidade tecnológica. Uma forte organização coletiva parece ser a condição do êxito.

2. Os espaços metropolitanos oferecem economias de aglomeração, forte concentração dos setores de técnica elevada e transição possível entre antigas e novas tecnologias. A maior parte da concentração dos setores de alta tecnologia está ligada às metrópoles (exemplo: Paris-Sul, Boston-Rodovia 128, Los Angeles etc.).

3. Os novos espaços industriais (e as criações ex nihilo) são fundados seja pelas empresas existentes que se lançam nos novos ramos de atividade, seja pelas empresas novas. As regiões escolhidas são quase sempre sem tradição industrial e por isso mais bem adaptadas às condições e à organização atual da produção [...]. A eles se associam facilmente os espaços da terceira revolução industrial no Sul: Califórnia, Arizona, Texas (o Sun Belt contra o Snow Belt) ou, na França, as regiões do Sul.

Mesmo não utilizando a categoria tecnopolo, mas, a de Clusters9, que em sua

tradução à língua espanhola e portuguesa pode ser definidos conceitualmente como

“aglomerados”, os quais apresentam similaridade de natureza com a de tecnopolos,

no que concerne ao nexo tecnológico, Michael Porter (1997, pp. 34-35), demonstra

que além dos eventos fortuitos que podem ser importantes para o nascimento de um

aglomerado, quatro cenários são apontados:

Las raíces de un aglomerado se suelen encontrar en partes del rombo que están presentes, debido a circunstancias históricas. […] Los aglomerados, también, suelen surgir de una demanda local desusada, sofisticada y exigente. […] Una tercera semilla para los aglomerados es la existencia previa de industrias de proveedores, industrias conexas o aglomerados relacionados completos. […] Una cuarta

9 “Un ‘cluster’: aglomerado es un grupo geográficamente próximo de compañías interconectadas e instituciones asociadas, en un campo particular, vinculadas por características comunes y complementarias. EI alcance geográfico de los aglomerados va desde un estado, o incluso una sola ciudad, hasta cubrir países cercanos y vecinos” (PORTER, 1997, pp. 3-4).

32

semilla para los aglomerados es que haya una o dos compañías innovadoras, que se convierten en la fuente de muchas otras.

Relacionar o conceito de tecnopolo ao de cluster pode produzir problemas de

interpretação quanto a sua natureza constitutiva. Isso reside no fato de que, qualquer

conjunto de empresas, sejam elas comerciais e/ou industriais, instituições e outros,

espacialmente contíguas que se apóiem em um processo de economia complementar,

poderá originar um aglomerado. Assim, existirá uma diversidade de tipos, nos mais

diversos segmentos da economia, colocando, desta forma, a “Teoria dos

aglomerados” como uma abordagem demasiadamente ampla. É tanto que, fazendo

uma análise regional das indústrias competitivas nos Estados Unidos, Porter (ibid, p.

29), relaciona o conjunto de aglomerados mais significativos, que vai desde o setor

agrícola (Baton Rouge/Nueva Orleans – Alimentos Especiales), passando pelo

comercial (Las Vegas – Entretenimiento, Casinos y Aerolíneas Pequeñas), até o de

alta tecnologia (Valle del Silicón – Microelectrónica, Biotecnologia, Capital de Riesgo)

e (Phoenix – Helicópteros, Semiconductores, Laborat. de pruebas electrónicas y

Óptica).

Mesmo existindo um esforço, em especial por parte dos Estados-Nação, no

processo de planejamento e criação de tecnopolos pelo mundo, sobretudo nas três

últimas décadas, e conseqüentemente de seus resultados, não são estes, todavia,

que se colocam como principais meios inovadores. É consensual entre autores como

Sassen (1998) e Castells (2002) que, “[…] as maiores áreas metropolitanas antigas

do mundo industrializado, [ainda] são os principais centros de inovação e produção

de tecnologia da informação, fora dos EUA” (CASTELLS, 2002, p. 104).

2.2.2 Os Parques Tecnológicos

Outra abordagem muito recorrente sobre esses novos espaços territoriais da

indústria de base tecnológica, diz respeito à categoria parque tecnológico. Herdado

de experiências americanas, o primeiro movimento em direção à criação de parques

tecnológicos teve início na década de 1950, na Califórnia, com o Vale do Silício e Rota

128, perto de Boston. Rapidamente essas novas estruturas de desenvolvimento

repercutiram mundo afora. Na França em 1969 e no Reino Unido, onde ganhou

repercussão, motivando o surgimento da Associação dos Pólos Tecnológicos em

33

1984, e mais tardiamente no Japão, onde causou todo um planejamento urbano e

regional pelo Estado com o Programa Technopolos.

Incoerentemente entendido como pólo tecnológico ou tecnopolo, os parques

tecnológicos, segundo o Glossário ANPROTEC (2002, p. 80), podem ser definidos

como um

(a) Complexo industrial de base científico-tecnológica planejado, de caráter formal, concentrado e cooperativo, que agrega empresas cuja produção se baseia em pesquisa tecnológica desenvolvida nos centros de P&D vinculados ao Parque; (b) empreendimento promotor da cultura da inovação, da competitividade, do aumento da capacitação empresarial fundamentado na transferência de conhecimento e tecnologia, com o objetivo de incrementar a produção de riqueza.

Para muitos autores, dentre eles Diniz (2004, p. 16), “A sustentação teórica

sobre a validade de criação de parques tecnológicos fundamenta-se, em grande parte,

na teoria dos pólos de crescimento, originalmente formulada por François Perroux”.

Nesse contexto vê-se que a fertilização cruzada, onde ações de vários atores sociais,

políticos e econômicos articulados desde a escala local a global interagem em um

sistema imbricado de cooperação com vistas a produzirem uma sinergia que promova

o desenvolvimento urbano e regional.

As experiências internacionais de criação de parques mostram perfis

diferenciados de investimentos inovadores, variando de parques com investimentos

exclusivamente direcionados para atividades estritas de P&D, como o Parque

Científico de Barcelona (ES), passando por aqueles que combinam investimentos em

atividades de P&D e produção industrial, como “o Research Triangle Park da Carolina

do Norte (Estados Unidos da América) e o Cambridge Science Park (Gran Bretanha),

até parques com forte predominância de investimentos para produção estritamente

industrial, como o Sophia-Antipolis Parc no Côte d’Azur (França) e o Hsinchu Science-

based Industrial Park em Taiwan” (DINIZ & LEMOS, 2001, p.5).

Nos países periféricos, a exemplo da América Latina, e em especial do Brasil,

o movimento na criação dos Parques Tecnológicos tem um referencial estatal

fortíssimo. Se em muitos países centrais10 suas criações resultam, em muitos casos,

da mobilização do capital privado, no Brasil, ao que tudo indica, sua totalidade seja

resultado de ações por parte do Estado, que os implementam como estratégia de

10 Segundo Diniz (ibid, p. 12). “Em 2000, já se contabilizava a existência de mais de 274 parques associados à Associação Internacional de Parques Científicos (IASP), espalhados por 64 países, e outros 250 associados à Association of University Research Parks (AURP), em 31 países”.

34

desenvolvimento regional, como pode ser observado na definição formulada pela

IASP11. Segundo ela, um parque tecnológico é:

Uma organização gerida por profissionais especializados, cujo objetivo fundamental é aumentar a riqueza de sua comunidade, promovendo a cultura da inovação e a competitividade das empresas e instituições geradoras de conhecimento instaladas no Parque ou associadas a ele. Para tal fim, o Parque Tecnológico estimula e gerencia o fluxo de conhecimento e tecnologia entre universidades, instituições de pesquisa, empresas e mercados; impulsiona a criação e o crescimento de empresas inovadoras mediante mecanismos de incubação e spin-off e proporciona outros serviços de valor adicionado assim como espaço e instalações de alta qualidade” (IASP apud DINIZ, 2004, p. 14).

No Brasil o movimento de criação de parques tecnológicos inspirou-se nas

experiências internacionais de êxito, como a francesa, a inglesa e, sobretudo, norte-

americana. Apoiado no modelo francês de desenvolvimento polarizado, o Estado

brasileiro, através do Conselho Nacional de Pesquisa - CNPq/MCT, implementou na

primeira metade da década de 1980, quando da presidência de Lynaldo Cavalcante

(campinense), os cinco primeiros parques tecnológicos no país. Segundo ele, a

distribuição desses pelo território nacional, obedeceu à divisão do Brasil em cinco

grandes regiões geográficas, buscando minimizar seus desequilíbrios. Assim foram

criados os parques: na região Nordeste, em Campina Grande (PB); na região Norte

em Manaus (AM); na região Centro-Oeste em Brasília (DF); na região Sul em

Florianópolis (SC) e na região Sudeste em São Carlos (SP).

2.2.3 As Incubadoras

Após a implantação da ParqTec – Fundação Parque de Alta Tecnologia de São

Carlos, em dezembro de 1984, começou a funcionar a primeira incubadora de

empresas no Brasil e a mais antiga da América Latina, com quatro empresas

instaladas, naquele parque tecnológico. Nessa mesma década foram constituídas no

país mais quatro incubadoras, compondo um total de cinco, correspondendo aos cinco

primeiros parques tecnológicos criados.

As “Incubadoras”, não são muito utilizadas como categoria de apreensão

desses novos espaços industriais. Em verdade, as incubadoras representam

mecanismos constitutivos fundamentais dos parques tecnológicos. Na ausência

11 IASP, instituição internacional, criada em 1984 com sede em Málaga desde 1996.

35

destes, as incubadoras são geralmente instaladas em IES, secretarias de ciência e

tecnologia das prefeituras e estados federados e instituições do terceiro setor. Elas

são ao mesmo tempo uma estrutura e um programa, podem ser, ou não tecnológica.

Um parque tecnológico pode ter ancorado várias incubadoras, atuando em segmentos

diferentes. A leitura que se faz das incubadoras propõe o entendimento de um

equipamento que promova a materialização de idéias inovadoras que resultem em

empresas com um novo conceito. A expressão “incubadora” surgiu quando da

instalação de um aviário proposto por um novo modelo de gestão empresarial em uma

antiga fábrica da Massey Ferguson nos Estados Unidos, como demonstrado abaixo.

[...] em 1959 no estado de Nova Iorque (EUA), o modelo precursor do processo de incubação de empresas, como conhecemos hoje, quando uma das fábricas da Massey Ferguson fechou, deixando um significativo número de residentes nova-iorquinos desempregados. Joseph Mancuso, comprador das instalações da fábrica, resolveu sublocar o espaço para pequenas empresas iniciantes, que compartilhavam equipamentos e serviços. Além da infra-estrutura física das instalações, Mancuso adicionou ao modelo um conjunto de serviços que poderiam ser compartilhados pelas empresas ali instaladas, como secretaria, contabilidade, vendas, marketing e outros, o que reduzia os custos operacionais das empresas e aumentava a competitividade. Uma das primeiras empresas instaladas na área foi um aviário, o que conferiu ao prédio a designação de “incubadora” (ANPROTEC, 2007).

Já nos anos 1970, as incubadoras se consolidam na “região do Vale do Silício,

nos Estados Unidos, e apareceram como meio de incentivar universitários recém

graduados a disseminar suas inovações tecnológicas e a criar espírito empreendedor.

O mecanismo, então ali criado, traduziu-se em oportunidade para esses jovens

iniciarem suas empresas, através de parcerias, junto a uma estrutura física que

oferecia assessoramento gerencial, jurídico, de comunicação, administrativo e

tecnológico para amadurecerem seus negócios nascentes. A essa estrutura deu-se o

nome de incubadora de empresas.

O termo “incubadora de empresas” é definido no Glossário ANPROTEC, (2002,

p. 59), como

(a) Agente nuclear do processo de geração e consolidação de micro e pequenas empresas; (b) mecanismo que estimula a criação e o desenvolvimento de micro e pequenas empresas industriais ou de prestação de serviços, empresas de base tecnológica ou de manufaturas leves, por meio da formação complementar do empreendedor em seus aspectos técnicos e gerenciais; (c) agente facilitador do processo de empresariamento e inovação tecnológica para micro e pequenas empresas.

Na Europa, estas idéias conceituais de incubação foi usada inicialmente na

Inglaterra com o surgimento de diversas pequenas empresas do setor de produção e

36

manipulação de aço, que passavam a ocupar espaços degradados e pouco utilizados

como galpões e fábricas em decadência. Entretanto, foi somente a partir da década

de 1970 que as incubadoras passaram apresentar a grande parte das características

atuais. Esse período foi marcado pelo início do apoio de entidades governamentais,

privadas e universidades que perceberam a importância da incubadora para o

desenvolvimento social, econômico e para a aceleração dos processos de utilização

das novas tecnologias. Mas as empresas dos setores tradicionais da economia

também foram beneficiadas com as incubadoras com a inovação em seus produtos.

Nas décadas seguintes foi possível verificar um rápido crescimento do número de

incubadoras em todo o mundo, sobretudo nos EUA12. Para se ter idéia, entre 1980 e

1999 foram criadas mais de 800.

No Brasil, as primeiras incubadoras de empresas foram inauguradas no ano de

1984. Em 1991, o SEBRAE (que surgiu ainda na década de 1980 em Campina

Grande-PB) passou a apoiar o movimento através de ações destinadas à sua

implantação, desenvolvimento e fortalecimento, entendendo que as incubadoras

apresentam-se como uma importante ferramenta de apoio às micro e pequenas

empresas. Tal apoio tem se viabilizado até hoje através de uma série de ações como

acesso a produtos e serviços que o sistema oferece, além do repasse de recursos

financeiros. Atualmente, o Brasil tem o maior número de incubadoras na América

Latina.

Enquanto mecanismos-chave dos parques tecnológicos as incubadoras podem

estar ou não ancoradas em parques tecnológicos. Na ausência desses, as

incubadoras podem ser implantadas em IES e órgãos da esfera municipal e estadual

como ocorrem em outras partes do país.

Apesar da inauguração das primeiras incubadoras brasileiras, elas somente se

consolidaram, como meio de incentivo para atividades e produção tecnológica, a partir

da realização do Seminário Internacional de Parques tecnológicos, em 1987, no Rio

de Janeiro. Nesse mesmo ano, surgia a Associação Nacional de Entidades

Promotoras de Empreendimentos de Tecnologias Avançadas (ANPROTEC13), que

12 “a National Business Incubation Association (NBIA), dos EUA, informa a existência, atualmente, de 950 incubadoras de empresas na América do Norte; enquanto na União Européia contabilizam-se mais de 800 incubadoras” (DINIZ, 2004, p. 12). 13 Criada em 1987, a ANPROTEC é o órgão representativo das entidades gestoras de incubadoras de

empresas, pólos, parques tecnológicos e tecnópolis, que tem como missão representar e defender os

37

passou a representar não só as incubadoras de empresas, mas todo e qualquer

empreendimento que utilizasse o processo de incubação para gerar inovação no

Brasil.

Mesmo dada à complexa diversidade de tipologias de tecnopolos e as diversas

funções que eles desempenham em diferentes espaços industriais, ou em outras

palavras, indiferentes às semelhanças e diferenças próprias dos tecnopolos, um

aspecto é inerente a todos, o elemento “inovação”. Decisivo para a consolidação

dessas estruturas, o processo inovador responderá pelo aporte de capitais diversos e

conseqüentemente de sua inserção no espaço de fluxos e a visibilidade conquistada.

2.2.4 A Inovação

Consideração importante a ser levantada acerca dos tecnopolos, diz respeito

ao fator “inovação”. A capacidade criadora de desenvolver produtos e processos

novos ou sensivelmente modificados para o mercado, diz muito da capacidade

competitiva das nações, empresas e regiões, de seus atores, frente ao concorrido

mercado global. Assim, “[...] a competitividade está cada vez mais assentada na

capacidade de adaptação a mudanças tecnológicas e nos avanços organizacionais”

(BRANDÃO et al., 2006, p. 15).

Reconhecida como elemento basilar para o surgimento e desenvolvimento

desses novos espaços industriais e reconversão de antigos, a inovação ganha papel

de destaque na discussão de um grande número de autores na atualidade,

reconhecida aqui como resultado do conhecimento.

De fato, estudos de diversos economistas que se debruçaram sobre a questão do desenvolvimento a partir da segunda metade do século XX convergem para um ponto comum, [...] o conhecimento acumulado pode ser mais importante para o crescimento econômico do que o investimento em fábricas e máquinas (Banco Mundial – BIRD apud BRANDÃO et al., 2006, p. 15).

Não é de hoje que os estudos em desenvolvimento econômico são elaborados

a partir da formulação de vários autores e seguindo diferentes correntes. Eles

buscaram conhecer os fatores que concorrem para tal processo, como aquele

elaborado por Krugman em Desarrollo, Geografia y Teoría Económica de 1995. Desde

o clássico estudo sobre a relação de causa e efeito entre acumulação de capital e

interesses das entidades, promovendo estes modelos como instrumentos para o desenvolvimento do país e objetivando a constante criação e fortalecimento de empresas baseadas no conhecimento.

38

tecnologia do filósofo e economista escocês Adam Smith (1723-1790) à Teoria do

Desenvolvimento Econômico de Joseph Alois Schumpeter (1911), os fatores que

promovem o desenvolvimento econômico se alternam com o avanço dos processos

de inovação tecnológica.

Para Brandão et al. (2006, p. 18): “Um dos grandes precursores do conceito de

inovação foi o economista alemão Friedrich List (1789-1846)”. Entretanto, segundo o

mesmo autor, é com a teoria do “[...] desenvolvimento econômico a partir dos trabalhos

de Karl Marx (1818-1883), na segunda metade do século XIX, e de Joseph Alois

Schumpeter (1883-1950), economista austríaco e professor da Universidade de

Harvard, na primeira metade do século XX”, (BRANDÂO, ibid, pp. 18-19), que o

desenvolvimento econômico calcado na tecnologia e na inovação começa a ser

analisado em profundidade.

No Brasil, literaturas como as de Brandão et al. (2006), Sáenz & García Capote

(2002), dentre outras, dão uma idéia da discussão acerca da temática da inovação

produzida nas cátedras das universidades e no seio do tecido produtivo do nosso país.

Dentre as obras aqui contempladas, a primeira intitulada: Brasil inovador, publicada

em 2006, financiada pelo Instituto Euvaldo Lodi (IEL) em parceria com a Finep, de

caráter empírico, buscou dimensionar o setor produtivo das principais empresas

inovadoras do país. Já a segunda, intitulada: Ciência, Inovação e Gestão Tecnológica

do ano de 2002, elaborada por pesquisadores cubanos e financiada pela

CNI/IEL/SENAI e ABIPTI, apresenta um estudo de natureza teórico-metodológica com

revisão de conceitos e temas em definições técnicas, baseado em vários autores de

renome nacional e internacional.

Parece haver, de certa forma, um modismo quanto aos estudos em

desenvolvimento urbano e regional, agora amparados pela abordagem do

desenvolvimento local calcado na inovação. Fica claro nos esforços das mais diversas

esferas de poder e segmentos da sociedade que a inovação soa, muito mais, como

salvação aos problemas de empobrecimento da população, das desigualdades entre

cidades, regiões e Estados, do que produzir resultados efetivos.

Para a natureza dos tecnopolos14, a capacidade de inovar ganha importância

preponderante na definição de quem vai prosperar ou sucumbir. “Segundo

14 Outra expressão muito utilizada para definir esses territórios é de “Habitats de inovação”.

Conceitualmente, o vocábulo parece uma generalização a gama de categorias existentes, já que esses ambientes, de modo geral, são inovadores por sua natureza. De todo modo, o Habitat de inovação ou

39

Schumpeter, qualquer inovação produz o que ele definiu de ‘destruição criadora’, na

qual o novo viceja ao lado do velho e mais tarde ocupa seu lugar, deixando para trás

mortos e feridos, mas impulsionando o progresso” (BRANDÃO et al., op. cit., p. 21)

Segundo o Manual de Frascati15 – OCDE-1993, apud Sáenz & García Capote

(2002, p. 69), o conceito de inovação é definido como sendo,

[...] a transformação de uma idéia em um produto novo ou melhorado que se introduz no mercado, ou em novos sistemas de produção, e em sua difusão, comercialização e utilização. Entende-se também por inovação tecnológica, a melhoria substancial de produtos ou processos já existentes.

Inicialmente o conceito de inovação deve ser entendido como um processo e

produzido a partir de uma demanda de mercado. Todavia, algumas considerações

podem ser ponderadas sobre a natureza do processo inovador.

De modo geral, o Brasil apresenta índices de inovação inferiores aos dos

países centrais. Isso decorre da ausência de capitais de risco, imprescindíveis a esse

segmento do setor produtivo. De todo modo, as análises econômicas acenam para

um quadro relativamente satisfatório do investimento em inovação no Brasil, com

ressalvas à educação, entendida como gargalo para o desenvolvimento dessas

atividades.

Mas as atividades inovadoras não refletem apenas o desempenho do

PIB de um país. Elas implicam uma conjuntura de, pelo menos, quatro processos e

três características que as notabilizam:

• a identificação de uma necessidade de mercado ou a oportunidade de uma tecnologia;

• a geração ou adaptação de uma tecnologia para satisfazer esta necessidade;

• a presença de um potencial de invenção, de P+D e engenharia adequadamente capacitado;

• a capacidade para conduzir esta tecnologia ao mercado ou à sociedade.

• irregulares; eles se realizam em diferentes etapas com múltiplas retroalimentações, interações e modificações;

ambiente inovador é um: “(a) Espaço relacional em que a aprendizagem coletiva ocorre mediante a transferência de know how, imitação de práticas gerenciais de sucesso comprovado e implementação de inovações tecnológicas no processo de produção. Nesse ambiente é intenso o intercâmbio entre os diversos agentes de inovação: empresas, instituições de pesquisa e agências governamentais; (b) ambiente que congrega fatores favoráveis ao processo de inovação contínua” (Glossário ANPROTEC, 2002, p. 57). 15 A ‘família Frascati’ “[...] compreende manuais sobre os seguintes assuntos: P&D (Manual Frascati),

o balanço de pagamentos de tecnologia e estatísticas de inovação [Manual de Oslo; OCED/ EC (Eurostat)], o uso de estatísticas sobre patentes como indicadores de ciência e tecnologia (Patent Manual — Manual de Patentes) e recursos humanos dedicados às ciência e tecnologia [Manual Camberra; OCED/EC (DG XII e Eurostat)]” (Manual de Oslo, OCDE/FINEP, p. 14).

40

• de alto risco; só uma pequena proporção de idéias tomadas, seriamente, em consideração chega ao mercado como um novo produto, um novo processo ou um novo sistema;

• freqüentemente lentos; em muitos casos, o lapso que transcorre entre a percepção de uma necessidade não satisfeita e a uma entrada de uma nova tecnologia para satisfazê-la, é prolongado (SÁENZ & GARCÍA CAPOTE, op. cit., p. 73).

De alto risco, irregulares e frequentemente lentos os processos de inovação

estão diretamente relacionados às atividades de pesquisa e desenvolvimento (P&D).

Elementar para o entendimento da dinâmica pela qual emergem os tecnopolos, as

atividades de P&D, amparadas em uma generalidade conceitual, tanto podem

representar as atividades de pesquisa de base tecnológica, mais de ponta, como

aquelas desenvolvidas nos laboratórios universitários, quanto àquelas consideradas

mais banais, representadas por produtos e processos produzidos para a indústria

tradicional. Em outras palavras, para Lacroix & Martin, 1987 apud Benko, (1999,

p.170), os processos inovadores categorizam-se em de “alta gama” e de “baixa gama”,

respectivamente.

Nesse sentido, ainda segundo Benko (1999, p.170), apoiado nas formulações

da OCDE, distingue duas categorias de pesquisa e três tipos de desenvolvimento na

atividade de P&D:

• a pesquisa fundamental visa essencialmente à criação de conhecimentos de base, úteis na prossecução do progresso mas sem idéia precisa quanto a suas aplicações ulteriores. Ela se realiza nos laboratórios científicos, nas universidades e em algumas grandes empresas;

• a pesquisa aplicada é a aplicação prática dos conhecimentos, mas visa a descobertas de conhecimentos diretamente necessários à prossecução dos trabalhos de desenvolvimento. Assim a nova tecnologia nasce da aplicação às indústrias dos progressos da engenharia, da ciência e da organização;

• o desenvolvimento simples apela para a imaginação (para o espírito inventivo, para o engenho individual), assim como para uma longa experiência do ofício ou da profissão;

• o desenvolvimento tecnológico refere-se sobretudo a uma atualização técnica e apela para métodos e para uma experimentação mais sistemática, assim como para ensaios mais numerosos;

• o desenvolvimento científico refere-se igualmente a uma atualização tecnológica, mas que repousa mais na aplicação de conhecimentos científicos do que na mera experimentação.

Outro ponto importante a ser ventilado diz respeito ao sistema de inovação

resultante das atividades de P&D e aos lugares, ou ambientes da inovação. De modo

geral, “[...] as inovações importantes se realizam nas grandes empresas e nas grandes

aglomerações urbanas. No entanto, quando aparecem tecnologias radicalmente

41

novas, são quase sempre pequenas empresas e empresas novas que vão

desenvolvê-las” (LACROIX & MARTIN apud BENKO, op. cit., pp.170-171).

Não fica claro a que categoria, os autores, acima, ao se utilizarem da expressão

“grandes aglomerações urbanas”, querem se referir. Em todo caso, é pertinente

enquadrá-las em nossa realidade nacional. Além dos grandes centros urbanos como

São Paulo e Rio de Janeiro, as atividades inovadoras também apresentam fortes

realizações em cidades médias16 como Campina Grande na Paraíba, Campinas, São

Carlos e São José dos Campos em São Paulo. Explicado através da teoria das

“economias de aglomeração”, essas cidades geralmente se localizam próximo a

metrópoles nacionais e/ou regionais, oferecem todo um aparato infra-estrutural em

IES e técnico público e privado, centros de pesquisa e órgãos de fomento e

financiadores. Diferentemente das cidades médias, as grandes metrópoles regionais

e, sobretudo, as nacionais, produziram “deseconomias de aglomeração” que

encareceram em muito as atividades de P&D. O auto preço do solo urbano, o

esgotamento do transporte público e a acessibilidade restrita por engarrafamentos e

poluição, estão entre os fatores mais danosos. O movimento em direção às cidades

médias17 não é somente prática das atividades de P&D, elas se inscrevem em um

contexto de relativa desconcentração industrial do Sudeste para outras regiões

brasileiras, com destaque para os estados do Nordeste e do Sul.

Apoiadas em um pequeno capital, as EBT’s estão inseridas em um ambiente

favorável ao desenvolvimento de altas tecnologias e/ou tecnologias radicalmente

16 Em uma discussão acerca da construção do conceito de cidade média, Roberto Lobato Correa (2006) acena para a difícil tarefa de se construir teoricamente esse objeto de estudo. Apoiado em “uma específica combinação entre tamanho demográfico, funções urbanas e organização de seu espaço intra-urbano”, (Corre, 2006, p.23), sugere uma tipologia dessas cidades em três categorias: a) como lugar central, caracterizado por poderosa concentração da oferta dos bens e serviços para uma hinterlândia regional; b) como centro de drenagem e consumo da renda fundiária; e c) como centro de atividades especializadas. Esse último “tipo de cidade média caracteriza-se pela concentração de atividades que geram interações espaciais a longas distâncias, pois se trata de atividades destinadas ao mercado nacional ou internacional. As interações espaciais regionais são menos importantes. A especialização advém dos esforços de uma elite local empreendedora que, sob condições de competição com outros centros, estabeleceu nichos específicos de atividades que, bem sucedidas, originaram uma especialização produtiva na indústria ou em certos segmentos do setor terciário. A especialização produtiva acaba constituindo símbolo identitário da cidade e, possivelmente, essas atividades passam a ser vistas como o resultado de uma ação de toda a cidade” (CORRÊA, ibid, p.31). Por sua vez, esse último tipo conceitual de cidade média converge para as definições de Tecnopolo, no qual se enquadra a cidade de Campina Grande-PB. 17 Segundo o Glossário ANPROTEC (2002, p.80), o Pólo de inovação, é o “Espaço que concentra micro e pequenas empresas que mantém vínculos operacionais com instituições de ensino e pesquisa e agentes locais. Visa a consolidação e marketing de novas tecnologias e a possibilidade de proporcionar treinamento e consultoria para facilitar a absorção e difusão de tecnologias. O pólo permite o acesso a sistemas de informação e outros serviços que atendem às necessidades das empresas”.

42

novas. Isso decorre do fato de que, geralmente, essas empresas são gestadas em

incubadoras, ancoradas em parques tecnológicos e/ou nas universidades, de onde

extraem seu principal insumo, o conhecimento. Correlato a esse fato, se a mesma se

encontrar em uma Cidade Média, as amenidades locacionais relacionadas ao fato

anterior proporcionará uma diminuição nos custos da produção.

No bojo da discussão sobre a emergência desses novos espaços, a expressão

“tecnologia” ganha papel de destaque nas abordagens que tem no nível tecnológico

suas reflexões. Tratados em muitos trabalhos por terminologias como tecnologia de

ponta, alta, média e baixa tecnologia, o termo apresenta diferentes ramificações.

Conceitualmente, a tecnologia18 pode ser definida como:

[...] o conjunto de conhecimentos científicos e empíricos, de habilidades, experiências e organização requeridos para produzir, distribuir, comercializar e utilizar bens e serviços. Inclui tanto conhecimentos teóricos como práticos, meios físicos, "know how", métodos e procedimentos produtivos, gerenciais e organizacionais, entre outros (SÁENZ & GARCÍA CAPOTE, 2002, p. 47).

Desta forma, apoiados nas atividades de P&D, os espaços industriais

apresentam-se como instrumentos indutores do desenvolvimento urbano e regional,

catalisando sinergias entre os mais diversos atores locais. Inseridos de maneira a

proporcionar dinamicidade ao tecido produtivo onde foram introduzidos, os tecnopolos

agem como catalisadores de ciência, tecnologia e inovação e das atividades de

pesquisa e desenvolvimento e irradiadores de desenvolvimento, constituindo

verdadeiros territórios da tecnologia articulados em rede.

18 Ainda segundo Sáenz & García Capote (op. cit., 2002), “Os conhecimentos científicos e tecnológicos

apresentam características diferentes. Os primeiros são mais complexos; surgem da observação e da análise, tratando de fornecer conjuntos de conceitos cada vez mais abrangentes e também, na medida do possível, mais simples, relativos aos fenômenos e seus vínculos, às variações que tais fenômenos possam experimentar, assim como as causas e as conseqüências dos mesmos. Os conhecimentos tecnológicos consistem em novos procedimentos, mediante os quais se alcançam fins práticos; podem ser considerados como conhecimentos de procedimentos provados que permitem alcançar objetivos práticos predeterminados”.

43

2.3 O TECNOPOLO ENQUANTO POSSIBILIDADE DE ENQUADRAMENTO

TEÓRICO-METODOLÓGICO

2.3.1 Tecnopolos: Territórios-Rede Da Tecnologia

A posse de um território é [...] fator de sociabilidade em populações animais. Um território é uma área fixa da qual invasores da mesma espécie são excluídos. Esta exclusão inclui defender a área de invasores e passar longos períodos sendo conspícuo no local. A defesa territorial foi observada em inúmeros animais: insetos, crustáceos, peixes, anfíbios, lagartos, aves e mamíferos, incluindo humanos. [...] Aves marinhas, como gaivotas, atobás, alcatrazes e albatrozes ocupam colônias que são divididas em territórios muito pequenos, grandes o suficiente só para a nidificação (HIGKMAN, ROBERTS & LARSON, 2004, pp. 750-751).

O trecho, acima, extraído de Princípios Integrados de Zoologia, apresenta

dimensões elementares à reflexão contemporânea da categoria “território”. Calcado

em uma fixidez onde as bases materiais de seus elementos constitutivos naturais o

entronizam, esta abordagem parece estar muito próxima da noção inicialmente

formulada sobre o território (concepção naturalista). Como pode ser observado, da

Biologia a Antropologia, parece que a natureza dessa categoria ancora no

tencionamento de forças pelo controle do território. Citamos esse exemplo porque “é

possível reconhecer a não-exclusividade de algumas propriedades que muitos

consideram prerrogativas da territorialidade humana” (COSTA, 2004, p. 48).

Este segmento dedicado à compreensão dos territórios dos animais, traça

aspectos de um território que, em muitos sentidos, ainda são válidos em análises de

cunho social humano. Os elementos em muitos casos se enquadram diretamente aos

propósitos do estudo de cunho antropológico. Estabelecer relações entre a

territorialidade humana e a territorialidade animal produziu interpretações

equivocadas, onde “a territorialidade humana pode ser tratada como uma simples

extensão do comportamento animal, num sentido neodarwinista” (COSTA, ibid, p. 50).

O território é uma categoria de análise que, com a globalização, como diz Milton

Santos em Território: globalização e fragmentação (2002), “retorna”. Propalada por

autores nas mais diversas áreas do conhecimento, há muito já fora discutida na

Geografia. De sua forma clássica na Geografia Política de Ratzel à abordagem

fenomenológica contemporânea, a categoria parece reviver, ou melhor, ter vida nova,

com o aprofundamento dos processos globalizatórios. Utilizado exaustivamente no

campo das ciências humanas, essa categoria de análise proporciona diferentes

44

abordagens e consequentemente, acepções também diferentes. Deve ficar claro que

“[...] o território, em si mesmo, não constitui uma categoria de análise ao

considerarmos o espaço geográfico como tema das ciências sociais, isto é, como

questão histórica. A categoria de análise é o território utilizado” (SANTOS &

SILVEIRA, 2003, p. 247).

Essa afirmação abre espaço a uma reflexão acerca dos tecnopolos, sinônimo

aqui de territórios da tecnologia, como espaços não utilizados, mas usados, pelo

capital, onde uma conjuntura de forças sinérgicas de atores da escala local à global

atuam em sistema de cooperação, mas com vistas à competição, de maneira a

produzir e, sobretudo, extrair os elementos necessários a sua reprodução, o

conhecimento. Nessa perspectiva, falar-se-á de um território moldado pela fluidez,

rapidez, luminosidade e densidade, onde a rápida dinâmica de suas constituições e

desconstruções, tanto obedecem a ordens, como ordenam. Dentre suas

características, acima citadas, chamemos a atenção para a luminosidade. “[...]

Chamaremos de espaços luminosos aqueles que mais acumulam densidades

técnicas e informacionais, ficando assim mais aptos a atrair atividades com maior

conteúdo em capital, tecnologia e organização” (SANTOS & SILVEIRA, ibid, p. 264).

Os territórios são segundo Milton Santos (2002, p. 228), um conjunto de

sistemas de objetos e de ações, em que “[...] a necessidade de adoção, de um lado,

de objetos susceptíveis de participar dessa ordem e, de outro lado, de regras de ação

e de comportamento a que se subordinem todos os domínios da ação instrumental”,

prescinde atualmente a uma fundamental “organização” atual das “coisas”. Mas “[...]

não se trata, contudo, apenas de objetos e ações, num sentido funcional, pois esses

objetos e essas ações são sempre, também, carregados de diferentes significados,

ou seja, são também simbólicos ou [...] ‘expressivos’.” (COSTA, 2004, p. 281).

Assim, utilizar-se-á a categoria “territórios-rede”, a começar por território, como

forma de enquadramento dos tecnopolos em seus processos de criação,

desconstrução e reconstituição.

Como mencionado anteriormente, a categoria território infere diferentes

acepções. Comungamos com aquela que o reconhece como

[...] resultado de uma noção conduzida por um ator sintagmático (ator que realiza um programa) em qualquer nível. Ao se apropriar de um espaço concreta ou abstratamente (por exemplo, pela representação), o ator ‘territorializa’ o espaço. [...]. O território, nessa perspectiva, é um espaço onde se projetou um trabalho, seja energia e informação, e

45

que, por conseqüência, revela relações marcadas pelo poder (RAFFESTIN, 1993, pp. 143-144).

Mais especificamente, no caso dos territórios da tecnologia, as relações de

poder que os produzem, são entendidos como resultado de um tencionamento de

forças entre o capital internacional e o nacional em uma disputa pelos melhores

espaços para sua reprodução, em um movimento dialético que tem na Mais-Valia

relativa seu ponto chave. Nesse sentido a noção de território aqui apresentada remete

àquela proposta por Rogério Haesbaert da Costa (2004, p. 40), em que

A noção de território [...] econômica (muitas vezes economicista): menos difundida, enfatiza a dimensão espacial das relações econômicas, o território como fonte de recursos e/ou incorporado no embate entre classes sociais e na relação capital-trabalho, como produto da divisão “territorial” do trabalho, por exemplo.

As noções de território apresentadas por Raffestin (1993) e Costa (2005),

anteriormente, acenam para uma definição conceitual de território como sendo “[...]

fundamentalmente um espaço definido e delimitado por e a partir de relações de

poder” (SOUZA, 2001, p. 78).

O poder, nesse sentido, se apresentará como elemento fundamental na

constituição destes. Se na teoria o território é produzido por e a partir de relações de

poder, em uma simbiose dialética na qual o tencionamento de forças parece produzir

“espaços que mandam e os espaços que obedecem”, como resultado das forças de

dominação, na prática, a realidade insiste em mostrar outra ótica, em que a força de

maior amplitude domina a de menor, sem, no entanto, haver uma mistura cíclica.

Na busca de identificar As Formas do Poder Global, Octavio Ianni (1999, pp.130

– 137), as elencou em quatro categorias. Segundo ele, as formas podem ser de modo

geral, entendidas a partir de algumas distinções, e indicam as polarizações mais

salientes:

1. Em primeiro lugar, mas não necessariamente mais ativa e efetiva, coloca-se a Organização das Nações Unidas (ONU), com as suas diversas ramificações de cunho político, econômico, social e cultural;

2. Em segundo, colocam-se as poderosas instituições ligadas ao sistema monetário mundial, tais como o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial ou Banco Internacional de Reconstrução e Desenvolvimento (BIRD);

3. Em terceiro lugar, colocam-se também como centros de mando e decisão as empresas, corporações e conglomerados ditos multinacionais, transnacionais, mundiais, globais ou planetários;

4. Em quarto lugar, o predomínio dos interesses das classes dominantes, em escala nacional e global, tem sido cada vez mais garantido pela eficácia e expansão da indústria cultural.

46

Estritamente, neste trabalho, fala-se em poder eminentemente em e/ou de

espaços territorialmente constituídos, onde elementos das quatro formulações

anteriores se mesclam. Os tecnopolos dão uma idéia dessa simbiose de forças

atuando concomitantemente, seja pelas ações da ONU, ou do capital internacional do

BIRD, seja pelas corporações transnacionais sintonizadas com a elite dominante

nacional ou local, o poder de atores hegemônicos parece inviabilizar, ou até mesmo,

bloquear as forças que emanam de baixo, da periferia. De todo modo, “O centro da

economia mundial representa o locus do poder de comando, sendo predominante as

atividades de controle do excedente das cadeias produtivas, bem como de produção

e difusão de novas tecnologias” (POCHMANN, 2001, p.4). Enquanto “[...] A periferia

assume, entretanto, um papel secundário na estrutura de poder mundial, sendo locus

subordinado na apropriação do excedente econômico e dependente na geração e

absorção tecnológica” (POCHMANN, ibid, p.4).

Algumas considerações, sobre a natureza do poder, devem ser ponderadas.

Amparado nas proposições de Michel Foucault ao caracterizar o que entende por

natureza do poder, Raffestin19 (1993, p. 53), as sintetiza:

1. O poder não se adquire; é exercido a partir de inumeráveis pontos;

2. As relações de poder não estão em posição de exterioridade no que diz respeito a outros tipos de relações (econômicas, sociais etc.), mas são imanentes a elas;

3. O poder vem de baixo; não há uma oposição binária e global entre dominador e dominados;

4. As relações de poder são, concomitantemente, intencionais e não subjetivas;

5. Onde há poder há resistência e, no entanto, ou por isso mesmo, esta jamais está em posição de exterioridade em relação ao poder.

Autores como Raffestin e Foucault são de opinião de que “o poder vem de

baixo”, em um sentido de que, o mesmo, emanaria de atores com menor

expressividade. É claro que o discurso de cada autor apresenta uma construção

teórica ligada em grande medida a uma corrente filosófica que estabelece um

determinado olhar sobre seu objeto de estudo. Sobre o “poder em si”, fica difícil

compreende-ló, quando emanado por atores de “baixo”, quando está em pauta a

19 O autor levanta a discussão acerca da ambigüidade do termo poder. Para ele há o “Poder” e o “poder”. Em nosso trabalho a expressão é usada em seu sentido geral, não cabendo sua distinção.

47

África Subsaariana, ou o próprio continente africano – com seus bolsões de miséria,

fome e altos índices de HIV – no contexto da geopolítica global.

O panorama Mundial em que há pelo menos três centros de poder mundial,

mas ainda determinado por uma hegemonia dos EUA, no papel de árbitro

internacional, parece esvaziar o sentido de “poder que vem de baixo”. De fato existe

uma sinergia entre forças de atores de menor expressão e de atores hegemônicos.

Contudo, deve-se entender essa mistura como uma relação de forças com amplitudes

distintas, onde a de maior amplitude se sobrepõe a de menor. Desta feita, um ponto

chave deve ser considerado na construção dos territórios. Seus limites vão até onde

alcançam a ação do poder, de maneira que as redes constituem-se em vetores da

ação deste em seu processo de manifestação, ou seja, em sua territorialização e

desterritorialização.

A tecnologia constitui uma das formas pelas quais os Estados e as grandes

corporações transnacionais se utilizam para exercer o poder de dominação frente a

outras nações e/ou corporações. Seus tecnopolos constituem-se em trunfos, na

medida em que a tecnologia como sinônimo de poder de dominação, também o é. “[...]

o trunfo raramente é único. Trata-se quase sempre de um trunfo complexo”

(RAFFESTIN, ibid, p. 59). Nesse sentido, consideremos o território como trunfo. Sob

esta ótica o território se apresenta como campo de disputa de forças sinérgicas entre

vários conjuntos de atores na busca pelos recursos que proporcionem a maior

reprodução de capital. Neste caso o conhecimento em sua forma de tecnologia.

Imbuído de estratagemas, o trunfo ganha sentido quando amparado na população, no

território e nos recursos. Nesse sentido, “[...] O território é um trunfo particular, recurso

e entrave, continente e conteúdo, tudo ao mesmo tempo. O território é o espaço

político por excelência, o campo de ação dos trunfos” (RAFFESTIN, ibid, pp. 59-60).

Assim, o território contemporâneo resulta de uma evolução da compreensão

por que passou a categoria. Em seu processo de evolução multidimensional, o

território, inicialmente, fora identificado com o espaço dos Estados-Nação. Essa

concepção rígida traduz a imagem de território que é veiculada e representada até

hoje, salvo algumas exceções.

Ela apresenta os índices de realização tecnológico em âmbito global com base

na noção de território de Estado-nação, ou seja, a noção de território da tecnologia.

Todavia, o modelo, ou mais precisamente a concepção de território apresentado por

ele, em muito difere daquela que prescindimos refletir, na qual se conceberia um

48

conjunto de fixos e fluxos, ou de nós e redes, ou ainda, de pontos e arcos equivalentes

a um conjunto de cidades em rede, fragmentados no espaço global.

Parece que, se em um primeiro momento o poder tecnológico estava centrado

na figura territorial dos Estados-Nação, hoje em um sistema neoliberal que avassala

o mundo, tendo como resultado a compressão espaço-tempo, ele parece emanar dos

territórios da tecnologia e das grandes corporações. Desse modo, as áreas de

reprodução por excelência do poder tecnológico são os tecnopolos, ou seja, os

territórios-rede da tecnologia.

Nesse sentido,

[...] nos territórios-rede a lógica se refere mais ao controle espacial pelo controle de fluxos (‘canalizações’ ou dutos) e/ou conexões (emissores, receptores e/ou simplesmente relais). Uma característica muito importante é que a lógica descontinua dos territórios-rede admite uma maior sobreposição territorial, na partilha concomitante de múltiplos territórios (COSTA, 2004, p. 307).

A noção de territórios-rede ou de territórios em rede não é nova. Aparece em

vários autores como Michel Chevalier (1832) e Jean Labasse (1955), como afirma

Leila Christina Dias (2001). Muitas vezes aparecem de forma implícita quando

relaciona território as redes. O que é mais surpreendente é que com as

transformações do capitalismo do final do século XX, que promove à emergência das

tecnologias da informação e comunicação (TIC’s) e de um mercado global de capitais

e produtos, ou como quer Harvey, com a compressão espaço-tempo, as redes voltam

novamente à notoriedade.

Há, no entanto, duas noções essenciais apregoadas; aquela que concebe os

territórios desvinculados das redes, e em um sentido mais profundo como elemento

destruidor de territórios; e aquela que reconhece as redes como parte integrante dos

territórios. Isso fica claro em muitos autores, como em Manuel Castells em seu célebre

trabalho: A Sociedade em Rede (2002), no qual desvincula os territórios das redes,

falando, nesse sentido, no fim dos territórios, em contrapartida, da emergência de uma

sociedade em rede. Diferentemente dessa idéia, compartilhamos da noção de que as

redes fazem parte da natureza dos territórios, colocando-se desta forma, como

mecanismo essencialmente territorializador e desterritorializador. Conceitualmente

esses territórios-rede podem ser definidos como que “[...] espacialmente

descontínuos, dinâmicos (com diversos graus de mobilidade) e mais susceptíveis a

sobreposições” (COSTA, ibid, p. 306).

49

Se por um lado elas territorializam, materializam dimensões e elementos –

fluxos; por outro, elas desterritorializam. Dessa maneira, a territorialização de

tecnologias nos tecnopolos, assim como sua desterritorialização, produz uma

inserção, seja em contextos regionais e nacionais, seja em um contexto global. Uma

série de noções, já bastante conhecidas, podem ser traçadas no entendimento das

redes. Há autores que enfatizam sua dimensão material, no caso das redes técnicas

– dutos, oleodutos, rede elétrica, rede telefônica e o conjunto de estradas e rodagens;

enquanto outros, também ressaltam seu aspecto imaterial, no caso das redes

informacionais – rede backbone de internet e de microondas, dos fluxos de informação

via rede telefônica e outras. De todo modo, podemos falar em uma rede “[...]

proteiforme, móvel e inacabada, e é dessa falta de acabamento que ela tira sua força

no espaço e no tempo: se adapta as variações do espaço e as mudanças que advêm

no tempo” (RAFFESTIN, 1993, p. 204).

Outro aspecto importante diz respeito a sua escala de atuação. As redes locais

e globais parecem ser na contemporaneidade uma só, em um misto de materialidade

e imaterialidade. A evolução das redes se encaminha para o que já vem ocorrendo na

Europa, Ásia e Estados Unidos com a adoção da tecnologia Mesh, com a implantação

de sistemas de engenharia de informação e comunicação. Na atualidade é mais

barato espalhar ondas pelo ar do que cabos por postes e subterrâneos, por isso, cada

vez mais a mobilidade das coisas se ampara na imaterialidade das redes que tudo

conecta.

Como se pode perceber o imbricamento de várias dimensões em dado

momento real (convergência balizada pela fluidez) e sua mobilidade parece ser a

tendência futura das redes informacionais, e nesse sentido, da sociedade em rede.

Contudo há uma pergunta que fica: como poderíamos distinguir as redes locais das

globais em momento tão comprimido da sociedade pelas TIC’s, ou ainda como quer

Harvey, em um momento de cada vez maior compressão do tempo-espaço, sem, no

entanto, nos posicionarmos de maneira arbitrária?

Conti & Giaccaria (2005, p. 224), corroboram para o entendimento da noção de

diferentes tipos de redes, quando supõe uma aproximação inicial de dois níveis

possíveis, em que o sistema de redes pode ser discriminado:

1. conceito de redes globais, em primeiro lugar, busca representar agentes que não mais se vêem como ilhas auto-suficientes. Caracteriza-se uma estratégia de globalização por trocas recíprocas dentro de um sistema policêntrico, no qual

50

cada centro (ou nodo) contribui com seus recursos específicos, que se constituem de competências ou habilidades de produção desenvolvidas no local, por meio de processos de aprendizagem; pela combinação da coordenação dos processos de aprendizagem (que representam, em todos os sentidos, uma habilidade, no sentido amplamente discutido por Teece, Pisano e Shuen, 1997), torna-se, portanto, uma importante fonte de vantagem competitiva;

2. conceito de redes locais representa, conseqüentemente, uma série de relações entre agentes auto contidos em um dado “lugar”, em que por local queremos dizer a escala geográfica que torna possível as típicas interações da proximidade física (tais como relações face a face, de reciprocidade, de confiança etc.). Entretanto, pode-se explicar esta rede não apenas em termos de mera proximidade geográfica, mas também graças à imersão em um contexto econômico, social e cultural específico. Nesse sentido, imersão vai além de uma simples localização de fábricas e pressupõe um complexo conjunto de relações, específicas desse local, em que a atividade se localiza fisicamente.

Dimensionar a escala de atuação de uma rede em seu sentido específico é no

mínimo delicado, sobretudo, se tomarmos por base seu nexo informacional. Por

natureza as redes são instáveis, estão sempre em um contínuo processo de

reafirmação como elementos territoriais. Adaptam-se às reestruturações e as

produzem na medida em que territorializam (em um sentido de materializar) ou

desterritorializam (em um sentido oposto) fluxos. Em todo caso, é fato que “[...] nunca

lidamos com uma rede máxima, mas com a rede de circulação que é ‘o resultado das

manifestações das coações ao mesmo tempo técnicas e econômicas” (RAFFESTIN,

op. cit., p. 205).

Grosso modo, com o atual processo de globalização, as escalas do local e do

global amparadas em seus sistemas de redes informacionais se fundem de maneira

a se confundirem em uma espécie indissociável de hibridismo do espaço territorial.

Desse modo, as redes “[...] encontram-se, agora, parcialmente no território, nas forças

naturais, dominadas pelo homem (o espectro eletromagnético) e parcialmente nas

forças recentemente elaboradas pela inteligência e contidas nos objetos técnicos (por

exemplo, o computador” (SANTOS, 2002, p.264).

Não se precisa de um olhar analítico para se perceber, logo de início, ao

analisar o mapa das redes de informação no Brasil, figura: 03, a fatal concentração de

pontos e arcos, configurando uma interlândia na região sudeste e em uns poucos

pontos distribuídos pelo restante do território nacional, em especial a região sul, como

observado na figura supracitada. A presença dos sistemas de engenharia e da

51

dinâmica que elas engendram, denunciam as estratégias do capital nos Estados

nacionais. “[...] Essas redes possuem papel cada vez mais importante na estruturação

do território [...] são vitais ao funcionamento da economia, e tornam-se um fator de

localização tão importante quanto os transportes físicos e a disponibilidade de energia,

e [...] mão-de-obra qualificada” (PNOT/MIN, 2006, p. 55).

Característica marcante dos países periféricos, e, sobretudo, do BRIC, sigla

utilizada na economia internacional para designar, respectivamente, Brasil, Rússia,

Índia e China, “emergentes”, esses apresentam uma concentração espacial de seus

“sistemas de engenharia”, podendo ser justificada por serem áreas comandadas por

uma economia global.

Aos Estados cabe a manutenção dessas redes, e em um sentido estrito, de

justificá-las em sua adoção ao território, como resultado do pacto de uma elite nacional

com o capital internacional e como possibilidade de inserção desses Estados no

mercado global. Não se trata apenas de fixos e fluxos, de nós e arcos, mas de uma

“organização de territórios em rede que reflete decisivamente uma lógica de

acumulação capitalista internacional, em uma clara Divisão Territorial do Trabalho

(DTT). Ainda segundo o relatório “Elaboração de Subsídios Técnicos e Documento

Base para a Definição da Política Nacional de Ordenamento do Território – PNOT do

MIN”:

[...] Essa resiliência fica bem clara no caso do litoral, que permanece o eixo principal do país, onde todas as redes se concentram. Curiosamente, o desenho da rede de fibras ópticas, por mais moderno que seja, reproduz o desenho do mais antigo dos meios de transporte brasileiros, a cabotagem costeira, que não se alterou desde o tempo das caravelas portuguesas. E os pontos altos, os topos de picos, continuam procurados, como no tempo dos sinais de fumaça (PNOT/MIN, ibid, p. 55).

A fluidez dos territórios, em muitos casos, carregada de imaterialidade, se

enfatiza na ação das redes e indica a tendência contemporânea de uma sociedade

cada vez mais balizada pelo elemento da mobilidade. Se o território e os recursos se

apresentam como trunfos no tencionamento de forças entre os atores, a população

também o é. Invariavelmente, também, visto como recurso, a população, ou parte

ínfima dela, da qual se sobressaem médicos, engenheiros e cientistas

computacionais, dentre outros, torna-se trunfo quando a disputa é pelo conhecimento.

Essa noção de pessoas como recurso se apresenta, quando se apregoa a expressão

“capital humano”, ou quando se fala em pessoas como parte do capital ativo da

empresa. De todo modo, a utilizaremos para indicar pessoas com alto grau instrução.

52

O tecnopolos como territórios-rede da tecnologia engendram uma dinâmica que

tem nos fluxos de pessoas, capitais, produtos e serviços, ciência e tecnologia sua

notoriedade. Todavia, como se fundam a partir do elemento “conhecimento”, que por

sua vez está nas pessoas, há uma necessidade de se produzir o que muitos chamam

de capital humano, e/ou de adquiri-los. Essa “necessidade” aliada a fatores como as

desigualdades entre as regiões do globo e dentro dos Estados-Nação produzem, a

princípio, a lógica de mobilidade entre esses nós das redes globais de informação.

2.3.2 A PRODUÇÃO DE MAIS-VALIA RELATIVA NO SEIO DOS TECNOPOLOS

Um ponto importante a ser considerado diz respeito à produção de mais-valia

relativa no interior dos territórios-rede da tecnologia. Eles se apresentam como os

espaços basilares para a reprodução do capital. Conforme foi colocado anteriormente,

como o paradigma que ainda se coloca é uma reformulação do modo capitalista de

produção, pressupõe-se que muitas de suas premissas se coloquem quanto a sua

natureza.

Amparados na produção de produtos e/ou processos novos ou

substancialmente modificados, os tecnopolos colocam-se na atualidade como os

centros de reprodução do capital em seu processo de acumulação. A relação existente

entre inovação e capital é estreita. Na verdade como coloca Harvey, o capital é por

natureza inovador, implicando a compreensão de que a inovação é apenas mais um

mecanismo de perpetuação do capital, o que é fundamentado na produção de

produtos com vida útil curta e alto valor agregado o que proporciona a reprodução de

mais-valia relativa.

Esclarecendo melhor, produtos como a plataforma Windows da Microsoft

apresentam renovações freqüentes, que em média variam entre dois e três anos

aproximadamente. Tempo suficiente para seus laboratórios aprimorarem seu sistema

operacional, lançando no mercado produtos com base nos anteriormente

desenvolvidos, o que muitos chamam de renovação por sistema de aprimoramento.

De modo geral, o sistema de inovação se ampara nos seguintes elementos:

• A aquisição de tecnologia não incorporada, que compreende a compra de tecnologia externa na forma de patentes, invenções não patenteadas, licenças, transferências de conhecimentos (know-how), marcas comerciais, designs, modos e serviços com um conteúdo tecnológico.

53

• A aquisição de tecnologia incorporada, compreendendo as máquinas e os equipamentos que tenham um conteúdo tecnológico relacionado com a inovação de produtos ou de processos introduzidos pela empresa.

• A engenharia industrial e a normalização, que abarcaram a compra e as modificações da maquinaria e ferramentas de produção, dos processos de produção e de controle da qualidade, dos métodos e normas requeridos para fabricar o novo produto ou para utilizar o novo processo.

• O inicio da fabricação e desenvolvimento anterior à produção compreendem as modificações aportadas ao produto ou ao processo, a “reciclagem” do pessoal para sua formação em novas técnicas ou para a utilização de novas máquinas e os ensaios de produção, se são acompanhados de trabalhos complementares de desenho e de engenharia.

• A comercialização de novos produtos cobre as atividades associadas a seu lançamento, podendo incluir ensaios de mercado, adaptação do produto a diferentes mercados e lançamento de publicidade (SÁENZ & GARCÍA CAPOTE, op. cit., pp. 89-90).

A questão central consiste na produção de itens que se diferenciem no

mercado, ou melhor, que apresentem inovações o que garantirá a reprodução da

Mais-Valia relativa. Mesmo apresentando uma vida útil menor, esses produtos

conseguem maximizar a reprodução do capital e em um sentido estrito acumular.

A renovação calcada no avanço do produto garante ao capitalista diferenciá-lo

no mercado, como um produto ou processo que melhor atenda às necessidades da

sociedade, frente a outros que não conseguiram competir. Essa diferenciação do

produto por sua vez produzirá um aumento no preço do produto frente a outros, pelo

menos temporariamente, até o lançamento de uma nova versão.

Amparado nas clássicas formulações de Karl Marx acerca do capital, Jean-Paul

de Gaudemar (1977, p. 213) esclarece que a mais-valia relativa “provém da redução

do tempo de trabalho necessário e da correspondente alteração na grandeza relativa

das duas partes de que se compõe a jornada de trabalho”. “Enquanto a mais-valia

absoluta afeta apenas a redução do trabalho, a produção de mais-valia relativa

transforma inteiramente os processos técnicos e as combinações sociais. [A divisão

do trabalho coloca-se como] método particular de produzir a mais-valia relativa”

(MARX apud GAUDEMAR, 1977, p. 214). Nesse sentido, a produção de mais-valia

relativa fundamenta teoricamente a tese de que os tecnopolos são os lugares por

excelência de reprodução do capital.

Mas esse novo sistema de acumulação incita a discussão entre as várias

correntes do pensamento e seus tributários, produzindo um grande número de teorias

54

que buscam compreender em que medida, esse novo modelo produz cada vez mais

uma centralização do capital nas grandes corporações, ou mesmo possibilita uma

ascensão e desenvolvimento de sistemas produtivos locais, calcado nas Pequenas e

Médias Empresas – PMES.

Em uma economia cada vez mais neoliberalizada, o Estado atua de maneira a

dar suporte às estratégias político-econômicas e sócio-ambientais do mercado. Em

outras palavras, parece que o Estado se presta a subordinar-se ao mercado na criação

de territórios que não representam apenas mecanismos de desenvolvimento urbano

e regional (agora local) para o país, mas, as pontes de ligação, os pontos de contato,

entre o país e a economia internacional. Nesse sentido, o Estado desempenha papel

determinante na criação de mecanismos de reprodução do capital.

2.3.3 ESTADO E MERCADO NA CONSTRUÇÃO DOS TERRITÓRIOS-REDE DA

TECNOLOGIA

Na construção do espaço geográfico atua um conjunto de forças em ação, em

que “[…] o Estado e o mercado, as influências externas e internas, a inovação e o

preexistente” (SANTOS, 1988, p. 75), aparecem apenas como alguns dos fatores que

se poderiam elencar. É certo que na constituição dos “sistemas de engenharia” em

uma economia capitalista, o papel do mercado e, sobretudo, do Estado se superpõe

a outros. Essas duas forças ou fatores operam por vezes separadamente e em outras

conjuntamente. É fato que o poder do capital instituído pelo mercado subjuga o Estado

em suas ações, levando-o muitas vezes a agir de maneira a justificar a ação do

primeiro. Mas ao Estado, cabe inevitavelmente, uma variedade de papéis na

economia que vão além da simples adoção de “sistemas de engenharia”. […] Su papel

más elemental es lograr la estabilidad macroeconómica y política. Esto incluye

establecer instituciones gubernamentales estables, un marco económico básico

consistente y políticas macroeconómicas sólidas que incluyan finanzas prudentes del

gobierno y baja inflación (PORTER, 1997, p. 41).

O poder de atuação dos Estados nacionais muda de um para outro, em

decorrência do contexto em que os mesmos se inscrevem. Em outras palavras, sua

escala de atuação e força empreendida resulta da estabilidade econômico-social em

que se encontra e da visibilidade que fora construída internacionalmente. “Ao Estado

cabe criar fixos, precipuamente a serviço da produção ou do homem: Mas, os fixos

55

atraem e criam fluxos. Dessa forma, o subsetor governamental orienta os fluxos

econômicos e humanos e determina sua viabilidade e direção” (SANTOS, op. cit., p.

76).

Na criação dos tecnopolos, o Estado tem papel primordial, sobretudo, em

países periféricos. Nesse caso, a forte atuação do Estado pode ser explicada pelo

parco mercado de capitais nacional privado, levando-o a desempenhar funções

meramente mercadológicas. No contexto das experiências internacionais de criação

de tecnopolos, deve ser ressaltada a atuação do Estado japonês. Dentre todos os

países que se lançou na criação desses equipamentos, o Japão foi aquele que mais

enfaticamente atuou, com a promoção do programa Technopolis, como pode ser

observado em Castells (2002, p. 105):

[…] se reconhece que o papel do Estado é decisivo no Japão, onde grandes empresas foram orientadas e apoiadas pelo MITI (Ministério do Comércio Internacional e Indústria) durante muito tempo, chegando a se estender por boa parte da década de 1980, mediante uma série de audaciosos programas tecnológicos, em que alguns fracassaram […]. Porém a maior parte desses programas ajudaram o Japão a transformar-se em uma superpotência tecnológica em apenas cerca de vinte anos.

No Brasil, os tecnopolos existentes hoje surgiram, pelo menos teoricamente,

ainda em fins da década de 1970. Encontram suas raízes na elaboração pelo Estado

de um “projeto geopolítico para a modernidade20”, que se apoiara em duas premissas

fundamentais: “a) o reconhecimento de que apenas a indústria de bens de capital não

era suficiente para garantir a soberania nacional, e que requeria também a autonomia

tecnológica; b) a instrumentalização do espaço como base para a acumulação e a

legitimação do Estado” (BECKER & EGLER, 1993, p. 125). Reflete em muito um

movimento que já se havia começado internacionalmente adaptado à realidade

brasileira, culminando com a implantação dos primeiros cinco parques tecnológicos,

através do Conselho Nacional de Pesquisa (CNPq/MCT).

Desta maneira, fora produzido um contexto onde a política científica e

tecnológica21 nacional dava seus primeiros passos em direção à substituição de

20 Salienta Becker e Egler (1993, p. 125), que “[...] Iniciado em pleno regime liberal do após-guerra, o projeto geopolítico já estava implícito no Plano de Metas do governo Kubitschek, e não foi fruto apenas das Forças Armadas, e sim de diversas frações da elite civil e militar. Não resultou de uma campanha inteligente e racional, mas de uma série de iniciativas isoladas e tomadas de decisões segundo as condições do momento, cheias de dilemas, que acabaram convergindo num projeto de governo gerido pelos militares”. 21 Dias (2005, p. 73) ao analisar o panorama da política científica e tecnológica na América Latina e

sua evolução no Brasil, admite a existência de duas concepções teóricas. A que remete a uma visão

56

importações do Segundo Plano Nacional de Desenvolvimento (II PND – 1975-1979),

que culminaria com a emergência da indústria de alta tecnologia no Brasil. O objetivo

não era apenas substituir as importações, mas criar mecanismos de ação que

pudessem dotar o território de estruturas que dominasse, assim como ampliasse, o

“vetor tecnológico moderno”, como estratégia de competitividade em uma economia

comparativa que se globalizara. Schwartzman et al. (1995, p. 1), ao estudarem a

política de C&T do Brasil, concluíram que nos “[...] últimos 25 anos, o Brasil

desenvolveu o maior sistema de C&T da América Latina, composto por: 15 mil

cientistas e pesquisadores ativos; cerca de mil programas de pós-graduação cobrindo

a maioria das áreas do conhecimento; 147 mil professores universitários, 18 mil dos

quais com doutorado”.22

Assim, na busca da autonomia tecnológica, o Estado sustentou níveis elevados

de investimentos a custa do endividamento com o sistema bancário nacional e

internacional. Nesse momento, foram criadas grandes empresas estatais como a

Telebrás. Desse modo,

O Estado exerceu um significativo papel como impulsionador da industrialização não só através de sua função de provedor de bens públicos, mas também e, sobretudo: a) na edificação, articulação e suporte financeiro de grandes blocos de investimento que determinaram as principais modificações na estrutura econômica brasileira; b) na construção de infra-estrutura, objetivando a integração dos sistemas rodoviários, energético, urbano e de telecomunicações; c) na produção direta de insumos intermediários indispensáveis à industrialização pesada (BECKER & EGLER, ibid, p. 140).

Mais recentemente o Brasil produziu avanços significativos em sua política

tecnológica. As leis que foram criadas constituíram marcos regulatórios na corrida

competitiva das nações. São elas:

• Lei de biossegurança - Lei no 11.105 de 24 de Março de 2005;

• Lei de biossegurança - Regulamentação - Decreto no 5.591 de 22 de

novembro de 2005;

Linear e a que remete a uma visão Evolucionária, relacionadas respectivamente com as políticas adotadas nos países periféricos e nos países centrais. Muito embora, no Brasil, salienta o autor, que gradualmente foi sendo substituída, resultando na criação de “arranjos institucionais, como parques e pólos tecnológicos, incubadoras de empresas, escritórios de transferência de patentes, etc”. 22 Ainda acrescentam os autores que “a pesquisa é desenvolvida nas principais universidades federais,

como a Universidade de São Paulo, Universidade de Brasília, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Universidade de Campinas, além dos diversos institutos e centros de pesquisas tecnológicas vinculados ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico-CNPq e ao Ministério de Ciência e Tecnologia-MCT; empresas estatais como Petrobrás, Eletrobrás e Embraer; em institutos de pesquisa estaduais; e ainda em algumas empresas privadas de grande porte. Contudo, a maior parte da pesquisa no Brasil ainda se dá nas universidades” (SCHWARTZMAN et al., ibid, p.01).

57

• Lei de inovação - Lei no 10.973 de 2 de dezembro de 2004;

• Lei de inovação - Regulamentação - Decreto no 5.563 de 11 de outubro de

2005;

• Lei de informática - Lei no 11.077 de 30 de dezembro de 2004

• Lei no 11.196, de 21 de novembro de 2005, que institui regimes especiais

de tributação e aquisição de bens de capital para empresas exportadoras;

• Lei no 8661, de 2 de junho de 1993, de incentivos fiscais para a capacitação

tecnológica;

• Lei no 8661 - Regulamentação - Decreto no 949 de 5 de outubro de 1993;

• Lei no 9.532, de 10 de dezembro de 1997, que altera a legislação tributária

federal;

• Lei no 11080, de 30 de Dezembro de 2004de Instituição da Agência

Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI);

• Política Industrial, Tecnológica e de Comércio Exterior (PITCE/MDIC) de 31

de março de 2004.

Além dessas leis mais gerais, alguns programas federais e institucionais como

os do BNDES, os dos fundos SETORIAIS e PROEX – Financiamento às Exportações,

dão sustentação à política tecnológica e industrial brasileira. Essas ações se

inscrevem em um contexto maior, de uma política nacional de C, T e I implementada

pelo Estado brasileiro através da compra, transferência e/ou desenvolvimento

individual ou conjunto com outros países.

A política científica e tecnológica se enquadra dentro do conjunto de ações que

o Estado desenvolve. Ela pode ser sintetizada em quatro ações ou papeis

fundamentais: “[…] Su papel más elemental es lograr la estabilidad macroeconómica

y política. […] EI segundo […] es mejorar la capacidad macroeconómica general,

mejorando la calidad y la eficiencia de los insumos de uso general para Ias empresas

identificadas en la teoría del rombo, […] EI tercer […] es establecer Ias regIas e

incentivos microeconómicos globales que rigen la competencia y que fomentan el

crecimiento de la productividad. […] un cuarto papel: el de facilitar el desarrollo y la

mejora de los aglomerados” (Porter, 1997, 1997).

Nesse ínterim, essas políticas públicas apareceram como instrumentos de

promoção de uma “vantagem competitiva das nações”, em que, a busca pela

“autonomia”, produz um Estado que “[...] juega, inevitablemente, una variedad de

papeles en una economia”. (PORTER, op. cit., p. 41). De modo geral, o “[…] papel

58

final del gobierno es desarrollar e implementar un programa de acción económica

positivo, distintivo y de largo plazo o un proceso de cambio que movilice al gobierno,

la empresa, las instituciones y los ciudadanos para que mejoren el ambiente

empresarial general y los aglomerados” (PORTER, ibid, p. 41).

59

3 CAMPINA GRANDE-PB SOB A ÓTICA DOS FATORES LOCACIONAIS

Las tecnópolis, de hecho, hacen explicita una realidad: las ciudades y regiones están siendo profundamente modificadas en su dinámica de crecimiento, por la acción recíproca de tres grandes procesos históricos interrelacionados:

• Una revolución tecnológica, principalmente basada en las tecnologías de la información (incluyendo la ingeniería genética),

• La formación de una economía global, que representa la estructuración de todos los procesos económicos a nível planetario, incluso si las fronteras nacionales y los gobiernos nacionales siguen siendo elementos esenciales y actores claves en las estrategias que se juegan en la competición internacional.

• La aparición de una nueva forma de producción y gestión económica: aquella que –al igual que cierto número de economistas y sociológicos– nosotros denominamos informacional (CASTELLS & HALL, 2001, pp.21-22).

De fato, os tecnopolos emergem dentro de um contexto onde as tecnologias da

informação e comunicação – TIC’s, o estreitamento das relações exteriores entre as

nações, sobretudo no que concerne ao seu aspecto econômico, e do estabelecimento

de um “novo paradigma” de produção – a acumulação flexível – têm papel

determinante. Igualmente, os processos de reestruturação de antigas áreas industriais

seguem a mesma tendência. Contudo, esses fatores macroeconômicos não

determinam um processo homogêneo de surgimento desses novos territórios. Ao

contrário, existe uma infinidade de outros fatores das dimensões humanas e sociais

locais, que geralmente relegados a segundo plano, são interpretados como de menor

valor, por nem sempre serem vistos a olhos nus. Essas ações aparecem na tomada

de decisões desses atores que por motivos diversos, e seguindo uma infinidade de

caminhos diferentes, determinam a feição real dos tecnopolos. Por isso, “Es posible

que algunos tengan objetivos más ambiciosos y que otros los tegan más modestos”

(CASTELLS & HALL, ibid, p. 31).

Entretanto, esse quadro começa a mudar, sobretudo, na última década do

século XXI, quando da publicação de vasta literatura demonstrando a tendência

contemporânea para uma abordagem da influência dos aspectos históricos locais na

origem dos tecnopolos. Esclarece Michael Porter (1997, p. 34) que as produções de

Cox (1997) e Stolper (1997), são exemplos de “[...] obras recientes interesantes de

geógrafos económicos [que] están explorando la síntesis entre globalización y el papel

60

del lugar.”. Para ele, “Las raíces de un aglomerado23 se suelen encontrar en partes

del rombo que están presentes, debido a circunstancias históricas” (PORTER, ibid, p.

34).

Nesse sentido, interpretar as transformações por que passam esses espaços

territoriais apenas pelo prisma de uma abordagem macroeconômica, implica um

entendimento superficial, em um quadro surreal como em um cartão postal. Não

demonstra compreender de fato o sentido das interações, das relações sociais que

promoveram sua existência. Na realidade, é necessário que comecemos “con un

objetivo más modesto: contar la historia tal y como es, en términos de estudios de

caso de los lugares reales, antes de adentrarnos en el análisis [mais generalizantes]”

(CASTELLS & HALL, op. cit., p. 31). Assim, se quisermos verdadeiramente

compreendê-lo em sua totalidade: gênese, quadro atual e perspectivas, teremos que

adotar uma visão relacional, entendido no bojo de uma conjuntura de maior proporção,

onde as dimensões do local, do regional e do global se encontram intrinsecamente

relacionadas, de tal maneira que possam ser interpretadas como um todo.

Poderíamos nos indagar o porquê de cidades aparentemente parecidas e

produzidas dentro de um mesmo contexto histórico, com estruturas produtivas

inicialmente idênticas, se apresentam atualmente tão diferentes. Como Campina

Grande-PB24 e Caruaru-PE, por exemplo? Os atores locais parecem explicar o

questionamento. Assim, na busca por conhecer os fatores locacionais basilares para

a emergência do Tecnopolo Campina Grande25, apoiamo-nos em posições teóricas

há muito discutidas em estudos no âmbito da cidade. Mesmo apresentando

vinculações metodológicas diferentes, essas posições parecem convergir, em alguns

momentos.

Aparecem nas literaturas voltadas ao desenvolvimento econômico de

Campina Grande a importância de fatores como a localização geográfica, sua função

23 O conceito de aglomerado se apóia na tese de que “[...] La proximidad, en términos geográficos, culturales e institucionales, permite gozar de acceso especial, relaciones especiales, mejor información, incentivos poderosos y otras ventajas en productividad y crecimiento de la productividad, que son difíciles de obtener a distancia” (PORTER, 1997, p. 34). Aqui a idéia de aglomerado tecnológico, ou de cluster, pode ser utilizada como sinônimo de tecnopolo. A esse respeito, ver algumas considerações acerca dos aglomerados no capítulo II. 24 Distante 120 quilômetros da Capital João Pessoa, a cidade de Campina Grande localiza-se na Mesorregião do Agreste da Paraíba, em uma área de transição entre duas regiões Bioclimáticas. A cidade apresenta uma área municipal de 641,37km2, uma área urbana de 75km2 e uma população de cerca de 365.331 habitantes (Atlas Geográfico da Paraíba e Censo 2000 do IBGE). 25 Fundada em 1º de dezembro de 1697, foi elevada à categoria de cidade em 11 de outubro 1864.

61

como entreposto comercial de algodão e atacadista, a ação dos atores locais, a

implantação da ferrovia e a atuação de organismos de desenvolvimento regional como

a SUDENE, entre outros. De modo geral, essas abordagens se enquadram

basicamente em três correntes mais elementares: à posição geográfica excepcional;

ao comércio do algodão e ao comércio atacadista; e à estrada de ferro.

Por esse motivo, é recorrente encontrarmos divergências quanto à posição de

muitos desses autores quanto à importância desses fatores. Se para Gurjão (1994, p.

230); Costa (2003, p. 19) e Sá (1986, p. 190), a posição geográfica é o fator

determinante em suas análises, para Aranha (1991, p. 86), é a ferrovia que tem papel

de destaque, responsável pelo desenvolvimento econômico de Campina Grande,

como pode ser observado na passagem abaixo:

[...] carece de fundamento a tese de que a estrada de ferro não foi a grande responsável pelo desenvolvimento econômico de Campina Grande. O argumento de que esse desenvolvimento deva ser creditado a sua função comercial conjugada a estrutura de produção do agreste, bastante diversificada, e a sua posição geográfica, [...] perece insuficiente. Tanto isso é verdade que, antes da chegada do trem, mesmo que ela comportasse os elementos acima mencionados e houvesse se transformado num pólo mercantil importante, Campina Grande não assumira ainda a condição de grande empório do sertão. Essa condição, a cidade só adquire com o trem e com o trem em sua função de ponto terminal.

Indiferente à problematização acerca do fator, ou processo, mais ou menos

importante para a criação do tecnopolo, busca-se neste primeiro capítulo, apenas

levantar algumas considerações acerca dos fatores locacionais mais importantes, de

maneira a identificar a contribuição que eles desempenharam em um dado momento

histórico. Não compactuando com nenhuma das correntes anteriormente explicitadas,

e buscando isentar-se do subjetivismo cômodo que permite essa posição,

estabeleceu-se nesta obra uma via alternativa, onde uma conjuntura de maior

proporção, onde quatro fatores ou processos são visivelmente identificados e

interpretados a partir de uma visão relacional. É certo que dependendo da ótica

adotada alguns fatores se sobressaem frente a outros. Em outras palavras, este

capítulo busca levantar algumas considerações sobre o papel que estes fatores,

abaixo relacionados, em momentos cronologicamente distintos ou não,

correlacionados ou não, desempenharam para o desenvolvimento socioeconômico e

cultural da cidade, na medida em que, na posição de processos, produziram a

territorialização de substrato responsável pela emergência do Tecnopolo Campina

62

Grande. Desse modo, quatro fatores historicamente construídos e relacionalmente

imbricados se apresentam:

1. Localização geográfica – posição privilegiada;

2. Função de Empório – entreposto comercial entre a Zona da Mata açucareira

e o Sertão pecuarista com ênfase na atividade algodoeira e comércio

atacadista;

3. Ferrovia – implantação da estrada de ferro Great Western of Brasil Railway

em 1907;

4. Ambiente Social e Cultural – Atuação das Oligarquias Políticas e da

burguesia comercial.

3.1 A POSIÇÃO GEOGRÁFICA

Há muito estudada como fator determinante, a localização geográfica tem papel

de destaque nas teorias clássicas de localização industrial. Para Claude Manzagol

(1985, p. 25), a solução do custo mínimo de Alfred Weber “é a correspondência

industrial da obra de von Thünen, elaborada na Europa rural do início do século XIX”.

A importância que este fator imprime, sobretudo, antes mesmo da I Revolução

Industrial, em um momento em que os meios de transporte ainda se caracterizavam

por um emprego mínimo da técnica – sob a ótica de hoje – e baseado em um modo

de produção que privilegiava as relações de natureza rural, dá uma ideia de sua

relevância e determinação na organização do espaço.

Os modos de produção comunitário primitivo, escravista, feudal e, sobretudo,

capitalista, comprova-nos como esse fator sempre fora determinante para povos e

civilizações que vieram a aparecer na face da Terra. Sejam estrategicamente

localizadas às margens de grandes rios como Tigres e Eufrates na Mesopotâmia, Nilo

no Egito, Yang-tse-Kiang na China, seja mais tarde em uma Europa Medieval onde o

florescer das cidades ou aglomerados urbanos estavam diretamente relacionados às

rotas comerciais, caminhos por onde o fluxo de artefatos simples, escravos e matérias-

primas eram deslocados, a localização fora estrategicamente pensada. Inseridas em

uma lógica de dupla função, essas localizações deveriam prover alimentos e proteção

contra invasões. De uma forma ou de outra, a lógica da localização continua ainda

hoje emplacando sua relevância, mesmo que estabelecida em outras bases do modo

capitalista de produção.

63

Resultado local de uma estrutura produtiva que se esboçava nos primeiros

momentos de uma internacionalização da economia, o Brasil apresentava, em

meados do século XVI, pontos de povoamento praticamente isolados ao longo de sua

costa. Amparado nas necessidades de localização, esses pontos eram estabelecidos

nas proximidades de mares com baías que, naturalmente, atenderiam as

necessidades de um porto, ou nas desembocaduras de rios que singravam o interior,

além de estarem próximos a regiões produtoras de matérias-primas como o Pau-Brasil

e a Cana-de-açúcar. Voltados ao mercado externo, esses pontos parcialmente

apresentavam ligações entre si, uma vez que, inseridas no contexto de uma Divisão

Internacional do Trabalho – DIT26, essas localidades deveriam, na posição de colônia,

atender às necessidades da metrópole, não havendo necessidade de ligações entre

si. Nesse sentido, salienta Pochmann (ibid, p.6) que estabelecendo um papel

centralizador, “a Inglaterra manteve uma relação dicotômica com as demais nações,

que na posição de periferia procuravam compensar a grande importação de produtos

manufaturados ingleses através da exportação de produtos primários, basicamente

alimentos e matéria-prima”. Esse é o contexto no qual o Brasil fora inserido na

economia internacional, de maneira que a exportação de matérias-primas e gêneros

agrícolas compreendia a pauta das exportações, seja pela economia canavieira, da

Zona da Mata nordestina, pelos minérios nas Minas Gerais, pelo café no atual

Sudeste, pela borracha na Amazônia, ou, ainda, pelo algodão no Semi-árido

nordestino, em uma dinâmica de ciclos e subciclos que ocorreram, em alguns casos,

concomitantemente.

Essa inserção na economia internacional produziu uma estrutura produtiva

local com base nas especificidades naturais de cada região. Desse feita, fundado nas

vantagens comparativas locacionais, foi estabelecida uma Divisão Territorial do

Trabalho (DTT) entre as regiões, “[...] expressa no período colonial em dois sistemas

de exploração agrária diversos, que se complementam economicamente, mas que

política e socialmente se contrapõem: o Nordeste da cana-de-açúcar e o Nordeste do

gado” (ANDRADE, 1986, p. 25), de maneira a facilitar a extração de riquezas.

26 O conceito de Divisão Internacional do Trabalho é sustentado a partir de duas noções teóricas: a

que se fundamenta “[...] nas vantagens comparativas que determinadas nações possuem ao produzir e comercializar seus bens e serviços [...] [e a] noção teórica diametralmente oposta, que identifica a estratificação e hierarquização da economia mundial como não associadas à simples noção de vantagem comparativa na produção e comercialização de bens, serviços e informação, mas produto da lógica intrínseca de funcionamento do sistema econômico e social” (POCHMANN, 2001, p. 3).

64

No Nordeste, a introdução de uma estrutura produtiva com base nas regiões

geográficas torna-se basilar para o entendimento da formação dos primeiros núcleos

urbanos e que posteriormente viriam a ser as principais cidades dessa região.

A estrutura produtiva empregada no período colonial estabeleceu uma Divisão

Territorial do Trabalho, onde cabia a Zona da Mata27 com o cultivo da Cana-de-açúcar

e a produção de derivados, em vastas áreas do litoral oriental nordestino, no regime

de plantation; e no Sertão,28 a criação de gado bovino para utilização como alimento

e força motriz nos engenhos e moendas da Zona da Mata.

Dentro desse quadro de economias complementares, aparece o Agreste29

como área de transição e ponto de apoio para o fluxo de pessoas, boiadas e produtos

entre as sub-regiões da Mata e do Sertão. A ele, cabia a atividade da policultura,

atividades agrícolas complementares, que tinham por objetivo suprir a Zona da Mata

e o Sertão de gêneros agrícolas como feijão, farinha de mandioca, fava, café e outros.

Todavia, a função de entreposto comercial entre as regiões parece ser sua principal

função, com notável desenvolvimento de cidades, nessa faixa, que tinham na

atividade das feiras, sobretudo de gado, sua principal fonte de aporte de capitais.

Respeitando as especificidades de cada localidade, esse parece ser, grosso modo, o

quadro da organização do espaço nordestino.

Localizada em um ponto para onde convergiram os caminhos que cortavam o

interior da Paraíba e estados limítrofes, a aproximadamente 650 m acima do nível do

mar, em área aplainada do Planalto da Borborema, a Vila Nova da Rainha, atual

Campina Grande, surge nesse contexto de uma Divisão Territorial do Trabalho com o

desenvolvimento de economias complementares.

Em um momento em que os meios de transporte, ainda eram feitos em lombos

de burros, a localização geográfica privilegiada, desfrutava de amenidades que outras

27 Segundo Andrade (1986, p.25), “A Região da Mata e do Litoral Oriental estende-se desde o Rio

Grande do Norte até o sul da Bahia, sempre ocupando as terras situadas a leste da região nordestina. No Rio Grande do Norte e na Paraíba ela apresenta pequenas extensões, sendo a mata propriamente dita restrita às várzeas dos rios que deságuam no Atlântico, enquanto nas encostas e nos interflúvios planos que separam as bacias fluviais dominam associações vegetais semelhantes e chamadas localmente tabuleiros”. 28 “O Sertão e o Litoral Setentrional são as áreas mais extensas, ocupando, aproximadamente, 55%

da região nordestina. [...] graças à sua vastidão, encontramos uma série de diversificações regionais que se exprimem não só pelas condições naturais, como também pelas formas de atividade humana” (ANDRADE, ibid, p. 38). 29 O Agreste “[...] é uma região de transição entre a Mata e o Sertão. Às vezes ele é bem característico

em seus aspectos, mas em outras ocasiões pode ser confundido com a Mata em seus trechos mais úmidos e com o Sertão nos mais secos” (ANDRADE, ibid, p. 31).

65

localidades não poderiam oferecer. Colocava-se como de fundamental importância

(ponto optimum), por representarem uma diminuição de esforço físico no transcurso

entre as cidades do sertão e as do litoral oriental e consequentemente uma maior

acumulação de capital, proporcionando àqueles que faziam a travessia, descanso,

abastecimento de água e de produtos de que necessitavam. Posteriormente, a

localidade, não mais, apenas, se colocava como ponto de pouso para aqueles que se

deslocavam, mas, como centro comercial que promovera um fluxo crescente e

contínuo entre as principais cidades regionais como João Pessoa e Souza na Paraíba;

Crateús e Icó no Ceará; Goiana, Olinda e Pesqueira em Pernambuco. Nesse sentido,

fora estabelecido uma vasta “rede comercial” que tinha na cidade do Recife seu centro

irradiador de poder, de comando, e na cidade de Campina Grande, centro do comércio

do gado, seu posto avançado para o interior paraibano e estados limítrofes, por

apresentar uma imbricação relevante às malhas da rede que por Recife fora

estabelecida. Nesse momento, a Vila Nova da Rainha centralizava uma encruzilhada

de caminhos que tinham nas Estradas do Sertão, Seridó, Brejo, Queimadas e de

Alagoa Grande do Paó, sua densa rede de fluxos. Esses caminhos por sua vez

contribuíram para originar um significativo número de vilarejos, vilas e, posteriormente

cidades, como a de Juazeirinho na Paraíba.

É de consenso entre um considerável número de autores, dentre eles Gurjão

(1994); Costa (2003) e Sá (1986), que a posição geográfica desempenhou papel

determinante para o desenvolvimento econômico e social por que passou, e ainda

passa, a cidade, como pode ser observado abaixo:

Campina Grande, por força de sua posição geográfica entre as regiões pastoris do Sertão e do Cariri e as regiões agrícolas do Brejo e Litoral, tornou-se ponto de passagem dos comerciantes de gado e de cereais rumo ao litoral. Resultante desse movimento estabelece-se uma feira de gado e cereais, cuja importância chega a superar nos fins do séc. XIX os famosos centros como Areia e Mamanguape (SÁ, 1986, p. 190).

Os fatores locacionais podem atuar isoladamente, mas, de modo geral,

aparecem conjugados, quase sempre, relacionados uns aos outros, como demonstra

a passagem acima. O fator localização geográfica parece justificar a função de

entreposto comercial, na medida em que, a inversa também pode ser considerada,

em uma mistura das ordens.

66

3.2 O ENTREPOSTO COMERCIAL

Estabelecida como função principal desde seus primórdios, “[...] Campina

Grande chega ao século XIX sob a influência de três elementos na composição de

seu comércio: os produtos da pequena lavoura, o gado e o algodão. Mas esse

comércio não teria sido possível sem o apoio de dois importantes fatores

infraestruturas: as Estradas Gerais e o Açude Velho” (ARANHA, 1991, p. 47).

O fato é que as amenidades, acima mencionadas, relacionadas com a

privilegiada localização geográfica, contribuiriam, decisivamente, para sua posição de

destaque. Todavia, parece que é com a farinha de mandioca que sua condição de

entreposto comercial é iniciada com o interior da capitania. Ela pode ser justificada

com base na travessia dos “[...] boiadeiros que iniciaram o comércio entre o litoral e

os sertões e dada à necessidade que tinha de adquirir a farinha, [por isso] não resta

dúvida que eles, ao retornarem de Pernambuco, na Campina se abastecessem desse

produto” (CÂMARA, 1999, p. 29).

De acordo com a idéia anterior, Sá (1986, p. 190) afirma que nesse momento

“[...] operavam-se as permutas, as trocas comerciais, vendiam-se produtos do Sertão,

principalmente algodão, couros e queijos, e compravam-se as mercadorias para o

abastecimento da zona seca, em maior quantidade gêneros alimentícios, de

preferência rapadura e farinha-de-mandioca.”, tornando-se praça de escambos da

Província. Se em um primeiro momento o comércio da farinha de mandioca, dos

produtos da pequena lavoura e do gado contribuiu para a emergência da cidade como

entreposto comercial, em um segundo, as atividades do algodão e do comércio

atacadista operaram, decisivamente, para sua consolidação.

Para Gurjão (1994, p. 23), o grande desenvolvimento pelo qual passara

Campina Grande resulta principalmente da “[...] sua função comercial, que por sua

vez está relacionada à estrutura de produção do Agreste e a sua posição geográfica

privilegiada”. Ainda complementa a autora que “A década de 1920 assistiu à

consolidação do pólo30 algodoeiro de Campina Grande. Suas exportações, que em

1919 totalizaram 81.422 sacas, em 1923, passaram a 219.587 sacas. O sucesso dos

negócios algodoeiros proporcionava o crescimento da cidade”. Diferentemente da

30 “O pólo de desenvolvimento é constituído por um ‘conjunto de unidades motrizes que exercem efeitos geradores em relação a um outro conjunto econômico e territorialmente definido” (PERROUX apud SANTOS, 2003, p. 80).

67

autora anterior, Aranha (1991), atribui esse grande desenvolvimento à estrada de ferro

e sua constituição como ponta de trilho na cidade.

Na constituição do entreposto, pode ser observado, segundo Aranha, dois

momentos distintos em seu comércio, que, todavia, se complementam, em sua

evolução. A primeira que corresponde a “[...] mais ou menos, as seguintes décadas:

1910, 1920 e 1930 para a fase em que o algodão é produto principal; e 1940 e 1950

para a fase em que o algodão é apenas um componente, embora importante, do

comércio atacadista em geral” (ARANHA, ibid, p. 220).

A feira está na base da constituição do entreposto comercial. Considerada por

Antonio Albuquerque da Costa em Sucessões e Coexistências do Espaço

Campinense de 2003 (p. 95) como uma transversalidade, a feira “[...] acompanhou

toda a história da cidade, adaptando-se ao advento dos diversos meios técnicos que

se sucederam. Conservando elementos dos meios pretéritos, ao mesmo tempo em

que absorvia as modernidades dos meios emergentes”. Contrapondo momentos de

progresso e declínio em virtude de concorrências com praças mercantis de Icó (CE),

Timbaúba e Limoeiro do Norte (PE), a feira de Campina Grande foi ao longo de sua

história “[...] território de disputa não apenas dos coronéis que comandavam a política

local, mas também palco de outras disputas a exemplo da revolta dos Quebra-Quilos

em 1874 e do Rasga-Vales em 1895” (COSTA, ibid, p. 106). Essa passagem acena

para a importância que a feira, como núcleo primeiro do entreposto comercial, detinha

na vida de sua população.

Interpretado pela ótica dos dois circuitos da economia31, o entreposto comercial

campinense ampliou sua escala espacial de atuação em seu circuito superior com

abragência para cidades como Imperatriz no estado do Maranhão e Teresina no Piauí,

em decorrência do advento do automóvel e de um redirecionamento nas políticas de

transporte público no Brasil, como resultado de um “pacto” firmado entre este, e as

montadoras internacionais, no qual, o caminhão gradativamente ocupava o papel que

31 Em capítulo dedicado a “Uma Revisão da Teoria dos Lugares Centrais” em Economia Espacial: críticas e alternativas de 2003, Santos propõe uma leitura da economia com base em dois circuitos distintos, mas que, todavia, apresentam complementaridade. O circuito superior e o circuito inferior. Segundo ele, “O circuito superior é resultado direto da modernização tecnológica e seus elementos mais representativos são os monopólios. A maior parte de suas relações ocorre fora da cidade e da área que a circunda porque este circuito tem um quadro de referência nacional ou internacional. [enquanto que] O circuito inferior consiste de atividades em pequena escala e diz especialmente respeito à população pobre. Contrariamente ao circuito superior, o inferior é bem sedimentado e goza de relações privilegiadas com sua região. Cada circuito forma um sistema, isto é, um subsistema do sistema urbano” (SANTOS, ibid, p. 126).

68

os trens desempenhavam. Considerar-se-á aqui “circuito inferior”, as manifestações

advindas das atividades mercantis em sua dimensão informal e com escala espacial

de atuação reduzida; enquanto o “circuito superrior” são os estabelecimentos

juridicamente constituídos, como os armazéns e lojas de venda em atacado para

cidades do Maranhão, Piauí e Ceará. Em outras palavras, “[...] cada circuito mantém

um tipo particular de conexão com a área de influência da cidade: pode-se dizer,

portanto, que cada cidade tem duas áreas de influência” (SANTOS, ibid, pp. 127-128).

O redirecionamento do foco dos transportes de cargas e passageiros para as

estradas de rodagem concorreu, por conseguinte, para consolidar, pelo menos

inicialmente o pólo comercial campinense. Posteriormente, parece que o incremento

desses novos “sistemas de engenharia” dotam de autonomia o território que o

circunscreve. Assim as décadas de 1940 e 1950 conheceram seu apogeu com a

diversificação das atividades comerciais e ampliação de suas áreas de influência que

atingira “[...] quase todo o Nordeste (Rio Grande do Norte, Ceará, Pernambuco,

Alagoas, Bahia, Piauí e Maranhão), [...] [como conseqüência de] suas raízes na

condição primeira que ela assumiu como porta oriental do Sertão e posto avançado

do Recife através da ponta de trilhos” (ARANHA, op. cit., p. 220).

Outro ponto a ser ventilado, diz respeito, à relação existente entre o comércio

e a indústria. Segundo Lima (1996), é com a atividade do algodão que as primeiras

indústrias surgem na cidade. Mas é com o avanço das estradas de rodagem para o

interior, a opção pelo transporte rodoviário, e da instituição das políticas nacionais de

industrialização, via SUDENE, que a indústria campinense se notabiliza. Tirando

proveito de suas condições especiais, a mesma em 1962 se torna:

[...] uma das cidades mais promissoras e uma das que mais crescia em toda a região. O município havia se transformado de simples entreposto comercial do final dos anos 30, em uma cidade com importância fundamental para todo o Estado e até para Estados vizinhos. A importância da cidade não era medida apenas por seu comércio, pois estavam estabelecidos na cidade, 16 bancos (incluindo cooperativas que funcionavam como bancos), sendo nove delas com matrizes na cidade [...] contava com mais de 220 estabelecimentos industriais. Destes, 24 estabelecimentos com mais de 10 operários e 12 com mais de 50 operários (LIMA, 1996, pp. 43-44).

3.3 A FERROVIA

“A cada momento histórico os objetos modernos não se distribuem de forma

homogênea, e as normas que regem seu funcionamento pertencem a escalas

69

diversas. Isso é ainda mais válido para o sistema ferroviário” (SANTOS & SILVEIRA,

2003, p.174), que inaugurara, por sua vez, um novo momento nas estratégias de

localização do capital e, por conseguinte, de sua acumulação, com a I Revolução

Industrial.

Em sua obra: Lógica do Espaço Industrial, Claude Manzagol (1985, p. 21),

afirma que, “[...] A escola de Saint-Simon enfatiza o papel das estradas de ferro”, na

teoria dos fatores de localização. Essa afirmativa demonstra como as estradas de

ferro e os meios de transporte, de modo geral, sustentaram por muito tempo, uma

considerável produção literária acerca da localização industrial. A grande malha

ferroviária implementada nos Estados Unidos da América, ligando o Leste à costa

Oeste, e a notável imbricação compatível de bitolas entre as várias malhas dos mais

diversos países europeus, tornaram se, em muito, tese de comprovação do apogeu

econômico vivido por essas nações, amparado no fator locacional das estradas de

ferro. Igualmente, no Brasil, a significativa malha ferroviária que cortava todo o estado

de São Paulo e sua estreita relação com o café, acena para uma explicação preliminar

de uma área core no país e, por conseguinte, da hegemonia que ela exerce frente aos

demais estados da federação.

No caso campinense, o prolongamento da ferrovia, via Itabaiana, com ponto de

trilho em Campina Grande, serviu a hegemonia inglesa na medida em que sua “[...]

dominação criou e favoreceu certos exutórios da produção exportável das nações

subdesenvolvidas, os quais assim se tornaram centros de crescimento” (SANTOS,

2003, p. 76). Esses centros de crescimento, ou como quer Sá (1986), entrepostos

comerciais, desempenharam uma dupla função: a de absorção, processamento e

escoamento das matérias-primas regionais para o mercado internacional, assim

como, serviram de centro dinâmico-irradiador de distribuição de manufaturados para

a região em que se inscrevera.

A implantação da estrada de ferro por si só, não se explica. Ela se inscreve em

um contexto maior de inserção do Brasil em uma Divisão Internacional do Trabalho –

DIT. Em Campina Grande, essa se justifica:

“[...] em decorrência das vantagens que a cidade oferecia, enquanto sede pólo mercantil, capturando a produção algodoeira sertaneja, caririzeira, brejeira e agrestina e deslocando-a para Recife de onde era exportada para os centros industrializados da Europa. A ferrovia reforçou assim, o desenvolvimento da cidade, na medida que ela favorecia a reprodução do capital” (GURJÃO, 1994, p. 24).

70

Grosso modo, introduzidas em partes da América Latina, África e Ásia com

capital inglês excedente, essas malhas férreas tinham por objetivo escoar a produção

local de produtos agrícolas e matéria-prima como o algodão – no caso de Campina

Grande – e abrir mercados, no processo de interiorização de produtos manufaturados.

Apresentando um traçado periférico, essas ferrovias foram estabelecidas em uma

lógica que ligava pontos estratégicos e isolados a partir de entroncamentos a portos,

como o do Recife, sem, no entanto, percorrem todo o território, possibilitando maior

controle e acumulação do capital internacional. Essa acepção pode ser observada nos

escritos de Costa (2003, p.32), quando afirma que:

Configurando-se como cidade primaz de ampla região, teve o Recife na cidade de Campina Grande o seu entreposto mais avançado na drenagem da produção do interior paraibano. Como “porta de entrada” para o Sertão e como “ponta de trilhos”, Campina Grande passou a representar um centro difusor do comércio e serviços recifenses, mas também foi definindo um amplo raio de influência para si.

A implantação em Campina Grande da estrada de ferro Great Western of Brasil

Railway produziu divergências internas entre as oligarquias paraibanas, que tinham

na construção do ramal Itabaiana-Campina Grande seu ponto de tencionamento.

Enquanto a oligarquia açucareira do litoral postulava sua implantação via Alagoa

Grande, como premissa de uma não sangria das finanças paraibanas, a burguesia

campinense algodoeira, cedo enriquecida com seu comércio, e por sua vez, afinada

com as tendências que pelo porto do Recife chegaram, sabiamente optou por sua

integração via Itabaiana. Christiano Lauritzen, dinamarquês que aqui chegara,

inclinando-se para o comércio rapidamente ocupou o posto de prefeito da cidade,

desempenhando pessoalmente papel crucial nessa tensão político-econômica.

Gurjão (1994) e Aranha (1991) referem o embate que se travou pela oligarquia

dos senhores de engenho com a pequena burguesia campinense em decorrência da

implantação da estrada de ferro Great Western of Brasil Railway em 1907. “[...] Os

comerciantes campinenses e demais interessados no fortalecimento desta cidade

eram naturalmente favoráveis a que o prolongamento se fizesse a partir de Campina

Grande. Entretanto, outro grupo rejeitava este traçado, alegando, entre outros fatores,

que o mesmo iria acarretar o agravamento da situação da capital” (GURJÃO, op. cit.,

p. 24).

Em dissertação intitulada: Campina Grande no Espaço Econômico Regional:

estrada de ferro, tropeiros e empório comercial algodoeiro (1907-1957), Gervácio

71

Batista Aranha dedica seu terceiro capítulo ao tratamento do impacto que a estrada

de ferro produzira no seio da sociedade algodoeira campinense. Para ele,

A posição de que essa cidade assume como grande entreposto comercial, em particular no setor algodoeiro, não se deve ao simples fato de ter se tornado ponta de trilho e sim às excepcionais condições dessa ponta de trilho. Se ela prosperou nessa cidade e, por sua vez, contribuiu para sua prosperidade econômica, isto se deve a dois fatores de fato excepcionais. De um lado, a privilegiada posição dessa ponta de trilho, já que ficava no mais movimentado entroncamento das principais estradas da Paraíba e dos Estados limítrofes; de outro, sua ligação direta com o maior porto de exportação do Nordeste, o porto do Recife (ARANHA, 1991, p. 83).

Pelo exposto, observa-se a tênue imbricação dos fatores: entreposto comercial

e ferrovia, em uma imperceptível dialética complementar e retro alimentar dos fatores.

Deve ser inferido desse processo, a construção de uma expressividade, que tem na

organização de seu espaço urbano e regional o resultado da acumulação de capital.

Essa acumulação oriunda, sobretudo, das atividades algodoeiras, permitiu que

seus dirigentes (Vergniaud Wanderley) promovessem duas grandes reformas

urbanísticas, uma em 1935 e outra em 1940, que mudariam definitivamente sua

configuração morfológica urbana. Assim, a cidade é “reordenada”, seguindo os

projetos franceses de organização urbana. Segundo alguns autores, a cidade foi

parcialmente demolida e reconstruída seguindo padrões da arquitetura francesa da

época – o estilo Art decó – que, dentre outras coisas, propunha avenidas largas e

simétricas para um fluxo cada vez maior de automóveis. Como fruto de sua

expressividade, a cidade conta, naquele momento, com uma das maiores frotas de

automóveis do Nordeste brasileiro.

3.4 O AMBIENTE SOCIAL E CULTURAL

Em contato direto com os sertões – comércio de farinha – e com o Recife – comércio de gado –, o campinense perdia qualquer traço de afinidade com a gente do mato, com o matuto propriamente dito; ao passo que estruturava um tipo social heterogêneo, uma mistura de especuladores pobres e mamelucos, com maneiras sertanejas e idéias recifenses (CÂMARA, 1999, p. 32).

Essa parece ser a mística que forjou sua gente ao longo de sua história.

Contudo, o fator de entreposto comercial algodoeiro conjugado a outros, como o de

sua localização geográfica e a estrada de ferro, parece se esvaziar diante do papel

que o ambiente social e cultural desempenharam para a condição atual da cidade. O

papel em um primeiro momento, das oligarquias, representadas pelos grandes

72

coronéis, e em um segundo, por uma pequena burguesia enriquecida com o comércio

do algodão e posteriormente com o comércio atacadista, parece ter posição decisiva

para a compreensão do desenvolvimento urbano e regional por que passou a cidade,

tendo resultado nos “sistemas de engenharia” que fora implementados. Salienta

Corrêa (2007, p. 29), que

é essa elite empreendedora que marca a diferença com outras cidades com a mesma dimensão demográfica, porque é ela que estabelece uma relativa autonomia econômica e política numa cidade, criando interesses locais e regionais, competindo em alguns setores de atividades com as grandes cidades e centros metropolitanos.

A função de entreposto causou um significativo aporte de influências das mais

diversas, que para lá convergiam, assim como as mercadorias da atividade algodoeira

e do comércio atacadista, que para o derredor regional e internacional era

disseminada. Uma nítida visibilidade fora criada por este processo. A cidade vivera

uma sinergia de ideias que se consolidavam nas ações, sobretudo, de segmentos da

sociedade civil, produzindo o que viria a ser, posteriormente, as bases técnicas que

promoveriam a emergência como tecnopolo. Em constante ebulição, essa sociedade

refletia, em muito, os ideais de modernidade de uma Europa que se transformava, e

que pelo Recife a influenciava.

Em outras palavras, a mobilidade de dinamarqueses, franceses, italianos e em

especial de sertanejos do interior do estado e de outros da federação, varridos das

secas para lá, colocava em confluência ideias modernas que tiveram na pequena

burguesia local sua execução, amparada em modelos europeus e de grandes cidades

do Sudeste do país, como os implantados no Rio de Janeiro, quando das reformas

sanitaristas. De todo modo, as experiências introduzidas na cidade não representaram

apenas compilações de modelos bem sucedidos em contextos nacionais e

internacionais, em muito, representam especificidades de experiências locais do

pioneirismo de uma gente que parece produzir um perfil empreendedor todo particular.

Da implantação da estrada de ferro Great Western of Brasil Railway postulada

por Christiano Lauritzen, e que aqui chegou em 1907, passando pelas reformas

urbanísticas das décadas de 1930 e 1940, amparadas em tendências francesas do

estilo Art Decó e permitidas pela acumulação de capital advinda da atividade

comercial algodoeira da qual Wergnuod Wanderley deu conta, à implantação da

Escola Politécnica, demandada por um grupo de engenheiros do Laboratório de

Produção Mineral, esses fatos demonstram o poder que o ambiente social e cultural

engendrara na cidade.

73

Seguindo essa abordagem, Diniz, Santos & Crocco (2004, p. 4) acenam para

“[...] o papel que o ambiente social e cultural assume, em relação ao processo

de desenvolvimento regional ou local”. Para demonstrar a atualidade dessa

abordagem, eles ressaltam trabalhos de diversos autores como os de

[...] Storper (1995, 1997) [que] demonstra a importância do ambiente social e cultural no processo de desenvolvimento regional ou local, por ele denominado “ativos relacionais” (relational assets) e de “interdependências não comercializáveis” (untraded interdependences). Putnam (1993) [onde] demonstra o papel da sociedade civil e suas tradições no desenvolvimento econômico regional diferenciado da Itália, também identificado como capital social. Saxenian (1994) interpreta a força da cultura no desenvolvimento do Vale do Silício, comparativamente a Boston. Amin e Thriff (1994) argumentam que a vida econômica local ou regional depende das relações cognitivas entre as instituições culturais, sociais e políticas, por eles identificados como robustez institucional. Hodgson (1996) afirma que as instituições possuem certa estabilidade, determinada pelo peso das interações cumulativas e da herança histórica, as quais estabelecem certos padrões de dependência (path dependence). Nessa mesma linha, a concepção evolucionista mostra que o sistema se move através de um processo contínuo de inovação, porém dentro de um ambiente de seleção e rotinas, resultantes dos condicionantes históricos e sociais (Nelson and Winter, 1982). (DINIZ; SANTOS & CROCCO, ibid, p. 4).

Frente às ações engendradas pela sociedade campinense em escala

cronológica, optou-se por contemplar, mesmo que arbitrariamente, as produzidas a

partir da existência do Laboratório de Produção Mineral (LPM). Isso pode ser

explicado em decorrência da forte técnico-cientifização do espaço campinense a partir

daquele momento. Esses “sistemas de engenharia” refletiam, assim como produziam

sinergias que a engendrariam às tendências de um Estado Nacional que se

modernizara.

Em 1951, a capital paraibana contava com três Escolas Superiores, todas

privadas, fato que fez a população campinense reivindicar a instalação de uma pelo

governo estadual. Paralelamente, foram surgindo algumas na cidade, como resultado

do esforço do poder público municipal e da articulação coletiva de segmentos da

sociedade de classe. Esforços que resultaram na criação das Faculdades de Ciências

Econômicas, criada pela Prefeitura Municipal de Campina Grande; a de Filosofia,

criada pela Diocese de Campina Grande; a de Serviço Social, fundada pela

Congregação Religiosa das Filhas de Caridade de Campina Grande (São Vicente de

Paula); a de Medicina, fundada por sua Associação de Médicos e a de Odontologia,

fundada pela Associação de odontólogos.

74

Contudo, a idéia do Governador José Américo era criar, na cidade, uma Escola

de Química, o que ia de encontro com os ideais de uma Escola Politécnica,

vislumbrada pelo grupo de engenheiros que compunhão o LPM. Em todo caso, “O

pensamento de José Américo de Almeida pode ter sido influenciado pela existência,

em Campina Grande, de um bem aparelhado laboratório da Produção Mineral, servido

por pessoal técnico de boa qualidade” (LOPES, S/N, p.4).

Assim, foi fundada em 06 de outubro de 1952 pela lei nº. 792, a Escola

Politécnica da Paraíba, atual Universidade Federal de Campina Grande – UFCG (ver

foto 01 na página 39), vindo a funcionar um ano depois com o curso inicial de

Engenharia Civil. Esse fato teve por base o numeroso grupo de engenheiros e técnicos

em Campina Grande. Os do Laboratório de Produção Mineral, “[...] os do Laboratório

de Solos e Concreto do DNOCS, os dos Departamentos Nacionais de Estrada de

Ferro e de Rodagem e os engenheiros independentes ligados ao ramo das

construções e indústria” (LOPES, ibid, p.4). Concordante com a opinião, acima

esboçada, Lynaldo Cavalcante de Albuquerque32, quando perguntado sobre a origem

do tecnopolo Campina Grande, concisamente respondeu que sua origem repousa

sobre o Laboratório da Produção Mineral.

32 Quando do Encontro de História da Ciência e Tecnologia: desafios para o Nordeste, realizado de 03 a 05 de Outubro de 2007, na Universidade Federal de Campina Grande – campus I, Lynaldo Cavalcante de Albuquerque, que orientou a criação dos cinco primeiros parques tecnológicos no país, ainda em 1984, por ocasião de sua presidência no CNPq, se dispusera a uma entrevista rápida acerca da temática “Tecnopolo Campina Grande”.

75

Foto - Maquete do Projeto Inicial do que seria a Escola Politécnica da Paraíba, posteriormente modificado e agora completamente diferente do projeto inicial – 1958

Fonte: Projeto Ciência e Tecnologia em Campina Grande – CCHLA/UFCG (projeto memória/2014).

A gestão de Lynaldo como reitor, que se iniciou em 13 de Janeiro de 1964,

logrou êxito significativo para a consolidação da Politécnica. No mesmo ano a Escola

foi inserida no Projeto RITA – Rural Industry Technical Assistence, com o California

State College at Los Angeles (EUA), e estabeleceu programas de intercâmbio com

instituições nacionais e internacionais. No Brasil, a Escola de Engenharia de São

Carlos, a PUC do Rio e, sobretudo, o Instituto Tecnológico Aeronáutico, situado em

São José dos Campos, foram algumas das instituições conveniadas. No exterior, as

Universidades de Dundee na Escócia, a de Toulouse na França e a de Laval no

Canadá ilustram três de uma dezena. Além de serem criados os laboratórios de Física

e Química, foi criada em “[...] 1962, a ATECEL (Associação Técnica Científica Ernesto

Luis de Oliveira Junior), como sociedade civil, a primeira entidade de apoio a uma

instituição universitária em nosso país” (LOPES, 1992, p. Notas Introdutórias).

Os programas de intercâmbio, apoiados em uma política nacional de autonomia

científica e tecnológica, e por ações de visão do reitorado de Lynaldo produzira um

fluxo de capital humano estrangeiro para a Paraíba, em especial para Campina

Grande, o que repercutiu internacionalmente. Dessa feita, os levantamentos indicam

a presença de 343 professores de 34 nacionalidades diferentes, com 6 deles sem

identificação de origem no período de 1970 a 1980. Vieram para a UFPB 47 indianos,

76

47 canadenses, 34 franceses, 33 alemães, 29 argentinos, 24 chilenos, 22 ingleses e

20 norte-americanos. “O dado, porém, mais importante é que do total de 11 Centros

e 4 Laboratórios e Núcleos Tecnológicos Autônomos existentes na Universidade, o

CCT (Centro de Ciências e Tecnologias) sediado em Campina Grande absorveu 158

dos 343 Professores estrangeiros (46, 06%)” (Barros apud Lopes, ibid, p. 128).

Ao que tudo indica o primeiro laboratório da Politécnica foi o de Hidráulica (foto

02, página 85), inaugurado em 30 de dezembro de 1966, seguido de outros, como o

de Física (foto 03, página 85), o de Eletrônica (foto 04, página 86), e o de Análises

Minerais (foto 05, página 86), aqui dispostos em iconografias de forma aleatória por

não se precisar a data exata de suas instalações.

Foto 1 – Laboratório de Hidráulica - 1966

Fonte: Projeto Ciência e Tecnologia em Campina Grande – CCHLA/UFCG (projeto memória/2006).

77

Foto 2 – Laboratório de Física - 1966

Fonte: Projeto Ciência e Tecnologia em Campina Grande – CCHLA/UFCG (projeto memória/2006).

Foto 3 – Laboratório de Eletrônica

Fonte: Projeto Ciência e Tecnologia em Campina Grande – CCHLA/UFCG (projeto memória/2006).

78

Foto 4 - Laboratório de Análises Minerais

Fonte: Projeto Ciência e Tecnologia em Campina Grande – CCHLA/UFCG (projeto memória/2006).

Nesse mesmo momento, a atuação dos sócios da ATECEL, que por sua vez

eram professores da Politécnica, em coalizão com ex-alunos e segmentos da

sociedade civil, a partir da rifa de um novilho holandês puro sangue e posteriormente

de um carro Volkswagen, permitiu a aquisição de um computador ultramoderno em

1967, um “sistema IBM 1130 com 8 palavras de memória, um disco de 512.000

palavras, uma leitora perfuradora de cartões e uma impressora”; (LOPES, 1992, p.

82), o primeiro do Nordeste (foto 06), abaixo.

Foto 06: 1º Computador do NE – IBM 1130, 1967.

79

Foto 5 - 1º Computador do NE – IBM 1130, 1967

Fonte: Projeto Ciência e Tecnologia em Campina Grande – CCHLA/UFCG (projeto memória/2006).

Também neste momento,

[...] veio instalar-se em Campina Grande o laboratório de solos e concreto que havia servido durante a construção do Açude Curemas. [...] Aqui sediado, pôde o laboratório prestar assinalados serviços técnicos ao DNOCS, em todas as construções que estiveram sendo levadas a efeito no Ceará, na Paraíba, no Rio Grande do Norte, em Pernambuco. [...] O laboratório tinha vários engenheiros e técnicos nele trabalhando, e alguns daqueles [...] eram professores da Escola Politécnica” (LOPES, 1989, pp. 146-147).

Ainda acrescenta o autor (ibid, p. 148) que, quando da desvinculação do

DNOCS do Ministério da Viação e Obras Públicas para se transformar em autarquia,

a população campinense “[...] não se deu conta de que o novo DNOCS trazia para

Campina Grande, além da sede da 2ª Residência do Distrito de Engenharia Rural,

uma seção do Laboratório de Solos e Águas sediado no Recife e uma Unidade de

Recuperação de Máquinas de todo o DNOCS no Nordeste”. 33

33 “A 2ª Residência de Engenharia Rural ficou com a incumbência da construção e recuperação de pequenos açudes, perfuração de poços tubulares e outras obras típicas. O laboratório de solos e águas realiza análises de solos para fins agrícolas, análises físicas, químicas e físico-químicas de águas para fins agrícolas e industriais, executando trabalhos não só para a Paraíba, mas também para os Estados vizinhos. A Unidade de Recuperação ficou com o encargo de manter em condições de uso praticamente toda a maquinaria pesada do DNOCS no Nordeste” (LOPES, ibid, p. 148).

80

A confluência de ideias auspiciosas de sua gente fizera as décadas de 1950 a

1970 representarem a constituição, e por vezes, a já consolidação de entidades e

instituições de relevo. Sob influência do grupo inicial de engenheiros do LPM, e em

confluência com a Politécnica e a ATECEL foi criada, ainda em 1956, “[...] a FUNDACT

(Fundação para o Desenvolvimento de Ciência e da Técnica), que teve papel decisivo

no desenvolvimento do ensino superior em Campina Grande, até sua extinção em

1966”, (LOPES, 1992, p. 1). Ao que tudo indica, contribuiu para a criação da

Universidade Regional do Nordeste – URN, que posteriormente, veio a ser a

Universidade Estadual da Paraíba – UEPB. Na década de 1960 foi, ainda, criada a

Saneamento de Campina Grande Sociedade Anônima (SANESA) e a Companhia

Telefônica de Campina Grande (TELINGRA) que posteriormente foram absorvidas

pelas companhias estaduais de águas e esgotos – CAGEPA e Telecomunicações da

Paraíba S/A – TELPA, respectivamente. Também nesse momento, originam-se na

cidade o SEBRAE e o Banco do Nordeste.

Os fatos acima explicitados representam pequena parte das ações produzidas

no bojo do ambiente social e cultural campinense demonstrando como “[…] Las

asociaciones o cuerpos colectivos son una herramienta para institucionalizar los

vínculos del aglomerado. Además de servir de foro neutral para identificar

necesidades, restricciones y oportunidades comunes, las asociaciones pueden ser el

punto focal de los esfuerzos para ocuparse de ellas” (PORTER, 1997, p. 51).

As mais diversas associações que deram origem às Faculdades, a ATECEL, e

outros, além de todo o aparato técnico-científico produzido naquele momento, apoiam-

se em ideias inovadoras, que se não eram locais, tomavam toda uma conotação

locacional. Esse caso parece se relacionar diretamente ao fato de a pequena

burguesia, calcada nas famílias enriquecidas com o comércio do algodão e comércio

atacadista, ao enviar seus filhos para estudarem, sobretudo, em Recife (PE) e em

cidades do Sudeste, como Rio de Janeiro e São Paulo. Estes ao retornarem a cidade

traziam consigo um significativo aporte de ideologias “modernizadoras”.

81

4 TECNOPOLO CAMPINA GRANDE: TERRITÓRIO-REDE DA TECNOLOGIA EM

SUA DINÂMICA RECENTE

Este quarto e último capítulo se presta a fazer uma análise descritiva, e em

certa parte, analítica, do tecnopolo Campina Grande, de maneira a demonstrar como

as ações e atuações das (1): Instituições de Ensino Superior (IES) e técnico; dos (2):

centros de pesquisa e desenvolvimento (P&D); e das (3): empresas de base

tecnológica (EBT’s), produzem o que Medeiros et al. (1992) chamaram de fertilização

cruzada. Deve ser ponderado que, mesmo em se tratando de uma “descrição” da

materialidade construída do pólo, esse não dá conta da totalidade de todos os seus

elementos constitutivos, havendo certamente lacunas que, todavia, não esvaziam o

seu objetivo.

A ideia que orienta sua elaboração parte das formulações metodológicas

propostas por Castells & Hall (2001, p.30), na qual “[...] La comprensión del fenómeno

de las tecnópolis se ha visto tan empeñada por los sesgos políticos, ideológicos y

comerciales, que todo estudio serio debe comenzar por un cuidadoso estudio empírico

de cómo estos centros se crearon y desarrollaron”.

A abordagem do conceito de tecnopolo adotado para apreendermos o processo

em curso em Campina Grande se apóia nas formulações de Castells & Hall (2001),

cujas nomenclaturas “parques tecnológicos”, “parques científicos”, “cidades da

ciência”, e outras denominações estão inseridas em uma única categoria de análise,

a dos tecnópolis (em nosso trabalho, tecnopolo) que eles conceberam em cinco tipos.

Nessa perspectiva, o tecnopolo Campina Grande-PB se enquadra no terceiro tipo, que

é o

[…] que aspira a inducir un nuevo crecimiento industrial, en términos de empleo y producción, intentando atraer a empresas de producción de alta tecnología hacia un espacio privilegiado. Las funciones de innovación no se hallan excluidas de tales proyectos, pero éstas se definen, principalmente, en términos de desarrollo económico. Los clasificamos como parques tecnológicos, ya que es así como más frecuentemente se describen ellos mismos. No obstante, el nombre no debería ocultar una realidad consistente en un área empresarial de alta tecnología deliberadamente establecida como resultado de iniciativas gubernamentales o relacionadas con las universidades. En esta categoría, bastante poco definida, [observamos] [...] los casos de Hsinchu en Taiwan, Sofia Antípolis en Francia y Cambridge en Inglaterra. (Castells & Hall, 2001, p. 32).

Nesse sentido, o tecnopolo é entendido como um aglomerado de IES, EBT’s,

centros de pesquisa e desenvolvimento (P&D), instituições de fomento, e outros,

82

articulados a partir de um sistema de redes de cooperação dentro de um espaço

compatível com a área territorial de uma cidade, no caso, o de Campina Grande.

Ranqueada como 76º dentre as 100 melhores cidades do Brasil para investir

em negócios (Revista Exame34), Campina Grande (PB), apresentou bom desempenho

frente à capitais do Nordeste como Teresina (PI), Maceió (AL) e cidades

economicamente importantes como Foz do Iguaçú (PR), Osasco (SP) e Juiz de Fora

(MG). Já em outro estudo, realizado pela mesma revista em 05 de dezembro do

corrente ano sob o título de “As melhores e as piores grandes cidades do Brasil: as

melhores entre as 100 maiores do Brasil”35, a cidade aparece como a 57º melhor

cidade no conjunto geral da pesquisa na frente de capitais da região nordeste como

Belém (PA), João Pessoa (PB), São Luís (MA), Teresina (PI), Maceió (AL); da região

Norte como Manaus (AM), Rio Branco (AC), Macapá (AP) e, outras cidades

notadamente importantes como Porto Velho (RO), Vitória da Conquista e Feira de

Santana no estado da Bahia, Caruaru e Petrolina no estado do Pernambuco, Juazeiro

do Norte (CE), Santa Maria (RS), Montes Claros, Betim e governador Valadares no

estado das Minas Gerais.

O panorama das pesquisas acima apontadas dão conta do momento atual

porque vive o conjunto das cidades brasileiras, mas em particular, do papel cada vez

maior no conjunto da economia brasileira das cidades que se convencionou chamar

de Cidades Médias ou Cidades de Porte Médio. O papel dessas cidades está cada

vez mais atrelado ao processo de reestruturação da economia nacional na última

década, dentro de um contexto de expansão do capital para a periferia da área “core”

do país, o eixo Belo Horizonte/Rio de janeiro/São Paulo/ Porto Alegre. Esse

crescimento e reestruturação da economia brasileiro não é algo particular de nosso

país, mas repousa sob um ciclo maior de crescimento da economia global, onde os

“países emergentes” têm papel de destaque.

34 Realizada pela consultoria paulista Urban Systems, a Revista Exame de abril de 2014 apresentou pesquisa com amplo levantamento “sobre a situação das cidades brasileiras com mais de 100 mil habitantes no que se refere a investimentos em negócios. Um ranking com as 100 melhores foi elaborado levando em conta 27 indicadores, divididos em sete subcategorias, com pesos diferentes”. Os índices contemplados nessa metodologia de análise foram os seguintes: Sociodemografia, Economia, Saúde, Educação, Finanças, Transporte e Telecomunicações. 35 A pesquisa fora realizada pela consultoria Delta Economics & Finance/América Economia e, “chegou a esta conclusão após analisar 77 características de cada uma das mais de 5,5 mil cidades do Brasil. O estudo levou em conta variáveis relacionadas à qualidade de vida, saúde, educação, segurança pública, saneamento básico, economia e governança, entre outros fatores.”.

83

Este trabalho não é o primeiro que enquadra Campina Grande-PB na categoria

tecnopolo. Como pode ser observado na citação de Hermes Magalhães Tavares,

tratando dos Complexos de Alta Tecnologia e da Reestruturação do Espaço no

contexto brasileiro, em O Novo Mapa do Mundo: fim de século e globalização de

2002:36

São vários os sinais desse fenômeno no contexto brasileiro. Complexos de inovação tecnológica existem há algumas décadas no eixo Rio – São Paulo e outros estão em implantação ou em planejamento, em áreas mais distantes do centro dinâmico do país (por exemplo, em Campina Grande). (TAVARES, 2002, p. 270).

Além de Tavares (2002), são encontradas referências ao Tecnopolo Campina

Grande em autores nacionais e internacionais, como Diniz & Lemos (2001); Diniz,

Santos & Grocco (2004); Medeiros et al. (1992); Firmino (2000); Enríquez (2005) e

Costa (2003), nas análises de desenvolvimento urbano e regional, calcado em

processos inovadores.

Matéria que corrobora com essa análise pode ser visualizada na edição de abril

de 2001 da Revista norte-americana Newsweek (mesmo considerando o tempo

histórico da matéria), que destacou as novas 09 cidades high tech do mundo, que

representam um novo modelo de centro tecnológico. As cidades citadas foram: Akron

(Ohio - EUA); Huntsville (Alabama - EUA); Oakland (Califórnia - EUA); Omaha

(Nebraska - EUA); Tulsa (Oklahoma - EUA); Campina Grande (Paraíba - Brasil);

Barcelona (Espanha); Suzhou (China) e Côte d'Azur (França).

Atualmente o pólo conta com duas Universidades públicas, a Universidade

Federal de Campina Grande (UFCG) e a Universidade Estadual da Paraíba (UEPB);

uma privada, a CESED que congrega a Faculdade de Ciências Sociais Aplicadas

(FACISA), a Faculdade de Ciências Médicas (FCM) e a Escola Superior de Aviação

Civil (ESAC – primeira do norte-nordeste do país); a União do Ensino Superior de

Campina Grande (UNESC); a Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA); a

Universidade Corporativa da Indústria da Paraíba (UCIP); a Faculdade Anglo-

Americano; a Faculdade Maurício de Nassau (FMN); a Faculdade CESREI, dentre

outras.

36 No Programa Fundamental para el Desarrollo Económico del Estado del México hacia el 2005 y de

Competitividad Visión 2020: cluster de parques industriales, p. 222, a cidade é referenciada como modelo nas experiências internacionais de criação dos tecnopolos.

84

Orbitam as universidades, vários centros, empresas e instituições públicas e

privadas de fomento às atividades de pesquisa e desenvolvimento (P&D), como a

Fundação Parque Tecnológico da Paraíba (PaqTcPB); a Incubadora Tecnológica de

Campina Grande (ITCG) e a Incubadora de Design (INDEA); o Centro de Produção

Industrial Sustentável (CEPIS); a Associação Técnico-Científica Ernesto Luiz de

Oliveira Junior (ATECEL); o Instituto Euvaldo Lodi (IEL); à Fundação de Amparo a

Pesquisa (FAPESq); o Instituto do Semi-Árido (INSA); a Empresa Brasileira de

Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA); o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial

(SENAI/CTCC/CITI/CTModa/Stenio Lopes); a Escola Técnica Redentorista (ETER); o

Instituto Federal da Paraíba (IFPB); o Centro de Integração Cino-brasileiro (TecOut

Center), o único do país; os laboratórios da Eletrobrás; da Hewlett-Packard

Computadores Ltda; da Nokia e da Motorola Industrial Ltda; além de mais de 100

empresas de tecnologia que exportam para países como China, Austrália, Espanha,

Estados Unidos.

Para alguns especialistas na área tecnológica, o Tecnopolo Campina Grande

se destaca no desenvolvimento de aplicações para dispositivos móveis, como

celulares e tablets (PC ultra mobile), mais no contexto da mobilidade e do software

livre, enquanto outros, como o Porto Digital (Recife), é referência em software

corporativo e jogos eletrônicos. Em todo caso, deve ser salientado que a criação dos

tecnopolos se inscreve, “[...] portanto, dentro de condições e limites precisos e embute

três propostas bem definidas: um projeto de modernidade; um projeto geopolítico do

Estado; e os projetos da própria comunidade de pesquisadores, sempre em busca da

fronteira do conhecimento científico-tecnológico mundial”. (MEDEIROS et al., 1992, p.

30).

4.1 AS INSTITUIÇÕES DE ENSINO SUPERIOR – IES

Fator decisivo para a criação e consolidação dos tecnopolos, as instituições de

ensino superior centralizam a maior parte das atividades de P&D e se entronizam

como responsáveis pela transferência desse conhecimento ao setor produtivo. No

Brasil, a “grande concentração de publicações da USP, UNICAMP e UFRJ [...] aponta

que são essas as universidades brasileiras de maior destaque na produção científica

de circulação internacional”. (LETA & CRUZ, 2003, p. 143).

85

O Tecnopolo Campina Grande concentra um número de IES públicas e

privadas relevante para uma cidade de aproximadamente 400 mil habitantes,

tornando-se, assim um pólo educacional de referência, com escala espacial de

abrangência às regiões Norte e Nordeste do País como área de atração.

De algum modo, a produção de tecnologia está centrada na Universidade

Federal de Campina Grande (UFCG), na Universidade Estadual da Paraíba (UEPB),

em particular com seu núcleo de tecnologia em saúde (NUTES) e no Instituto Federal

da Paraíba, campus Campina Grande, com seus cursos de Telemática e Engenharia

de Petróleo e Gás. A essas, somam-se cinco outras faculdades, a ANGLO

AMERICANO, instalada no Shopping Iguatemi, a CESREI no Colégio Regina Coeli, a

MAURÍCIO DE NASSAU nas proximidades do centro jurídico, a UNESC com duas

unidades, uma no Bairro do Alto Branco e outra no centro (no prédio onde funcionava

a UNIMED) e a EDUCON no prédio onde funciona hoje o Colégio Pro-Saúde, na Av.

Floriano Peixoto. A FACISA faz parte do que se configura como a primeira grande

Universidade privada genuinamente campinense, a CESED, que ainda engloba a

Faculdade de Ciências Médicas (FCM) e a Escola Superior de Aviação Civil (ESAC),

que abarcou o aeroclube de Campina Grande em regime de comodato.

Devem ser contabilizados 6 cursos (Pedagogia, Letras, História, Geografia,

Biologia e Matemática) na UVA, ao invés de 2; mais 3 cursos na FCM, Medicina,

Enfermagem e Fisioterapia; mais 5 na MAURÍCIO DE NASSAU, Administração Geral,

Administração em Marketing, Enfermagem, Nutrição e Biomedicina; mais 2 na

CESREI, Direito e Publicidade & Propaganda; mais 5 cursos na UNESC,

Enfermagem, Fisioterapia, Direito, Ciências Contábeis e Administração; mais 6 na

EDUCON, Tecnologia de Desenvolvimento em Análise de Sistemas, Administração,

Ciências Contábeis, Letras, Serviço Social e Pedagogia; mais 3 na ANGLO

AMERICANO, Gestão de Agronegócio, Administração e Ciências Contábeis; mais 1

no IFPB, Tecnologia em Telemática; mais 13 oferecidos pela Faculdade Francisco

Mascarenhas de Patos (FIP), nas áreas de educação e saúde, Psicopedagogia,

Supervisão Educacional, Educação Inclusiva, Educação Infantil, Linguística Aplicada

ao Ensino de Português, Educação Básica para a Contemporaneidade, História da

Paraíba, Ensino de Matemática para Educação Infantil, Ensino-Aprendizagem

Mediado por Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC); Saúde Mental e

Atenção Psicossocial, Saúde da Família, Saúde do Trabalhador; além dos criados

86

pela UEPB, que no período de 2005 a 2007 se aproximam dos três cursos e de outros

pontuais oferecidos pela Universidade Corporativa da Indústria Paraibana (UCIP).

De certa forma, esses dados podem ser relativizados, se levarmos em conta, a

não estruturação físico-espacial de algumas dessas instituições na cidade,

empregando, nesse sentido, um caráter de sazonalidade a certo número das IES e de

seus cursos. Constituídas a partir da lógica atual da economia global, essas

apresentam estruturas enxutas e flexibilidade espacial, deslocando-se facilmente

dentro de um mercado ditado pela demanda de mercado. As TIC’s detêm papel

decisivo nos fluxos de informação empregados por essas instituições, como ocorre

com a ANGLO AMERICANO e a EDUCON, que se utilizam do sistema de Ensino a

Distância (EAD), com aulas presenciais semanais via Videoconferência e internet.

De um total de 56 cursos de graduação existentes na cidade no ano de 2005,

foram acrescentados por nossa pesquisa mais 39, o que perfaz um total de 95. A

inclusão de novos cursos e os que não foram contabilizados na pesquisa FIEP/UCIP

de 2005, implica conseqüentemente um aumento no número do corpo docente e

discente, propondo desta forma, um novo quadro da educação superior na cidade.

Espacialmente, essas instituições estão distribuídas de maneira assimétrica no

território campinense, com destaque para a concentração no bairro de Bodocongó,

com a UFCG e parte da UEPB, Escola Técnica Redentorista e do CTCC/SENAI, como

pode ser observado no Mapa 1: territorialização das IES e Técnico no Tecnopolo

Campina Grande-PB.

Deve ser ressaltado que o total de 95 cursos de graduação contabilizados por

nossa pesquisa, leva em conta os cursos reconhecidos pelo MEC, como os da UFCG

e UEPB, assim como aqueles, ainda, em processo de reconhecimento de algumas

das instituições privadas da cidade como os da UNESC e da FACISA.

De modo geral, as bases para o surgimento dos tecnopolos se ancoram em

IES’s de renomado desempenho nas atividades de P&D. No Tecnopolo Campina

Grande esse papel é protagonizado pela UFCG, como pode ser observado no tópico

apresentado a seguir.

87

Mapa 1 - Territorialização das IES e Técnico no Tecnopolo Campina Grande-PB

88

4.1.1 A Universidade Federal de Campina Grande – UFCG

Mesmo distante espacialmente do “Cinturão de Campolina”, o centro

econômico nacional, onde se concentram a maior parte das IES mais bem

conceituadas e dos maiores investimentos em P&D do país, a UFCG desenvolve

pesquisas de alto impacto no sistema produtivo com repercussão internacional.

Criada pela Lei nº. 10.419 de 09 de abril de 2002, a Universidade Federal de

Campina Grande (UFCG) já nasceu como uma das mais importantes instituições

federais de ensino superior das regiões Norte e Nordeste do país, isso porque sua

criação ocorreu a partir do seu desmembramento da Universidade Federal da Paraíba

(UFPB), herdando toda uma estrutura preexistente.

As controvérsias foram freqüentes em sua criação. A primeira dizia respeito ao

desmembramento dos Campi a leste do campus II Campina Grande, da UFPB,

justificada pela retenção de capital na sede João Pessoa. A segunda ocorreu em

virtude da não aceitação da denominação UFCG, por parte dos representantes dos

outros campi, (fora a Sede), que postulavam pela denominação de Universidade do

Semi-árido do Brasil, denominação que era justificada pelo número de campi

espalhados pelo semi-árido paraibano e como estratégia na capitação de recursos,

não havendo parecer sentido em uma instituição multicampi adotar o nome da cidade

sede. Seguindo exemplos do Sudeste, como a criação da UFSCar em São Carlos e

da UNICAMP em Campinas, ambas no estado de São Paulo, as quais receberam o

nome de suas cidades, assim foi criada a UFCG que desde a sua criação, conta com

a estrutura multicampi.

A cidade de Campina Grande, sede da Reitoria, conta com o Centro de

Humanidades (CH), o Centro de Ciências Biológicas e da Saúde (CCBS), o Centro de

Ciências Tecnológicas (CCT), o Centro de Engenharia Elétrica e Informática (CEEI) e

o Centro de Tecnologia e Recursos Naturais (CTRN), esses dois últimos

desmembrados do antigo CCT. Em Cajazeiras situa-se o Centro de Formação de

Professores (CFP); em Sousa, o Centro de Ciências Jurídicas e Sociais (CCJS) e em

Patos, o Centro de Saúde e Tecnologia Rural (CSTR).

Resultado de uma divisão que remonta à antiga estrutura descentralizada

multicampi da UFPB, a qual estabeleceu no campus I – João Pessoa, as Ciências

Biológicas; no campus II – Campina Grande, as Ciências Tecnológicas; no campus III

– Areia, as Ciências Agrárias; no campus IV – Bananeiras, o Centro de Formação de

89

Tecnólogos. A UFCG campus Campina Grade atualmente conta com 28 cursos de

graduação, dos quais 15 são na área do conhecimento em Ciências Tecnológicas, 01

nas Ciências Biológicas e 12 nas áreas de Humanidades e Ciências Sociais

Aplicadas, refletindo, dessa forma, uma clara tendência à centralização de recursos

nessa área do conhecimento.

De um total de 9.151 alunos matriculados na UFCG, 5 973 estão no campus I

Campina Grande, assim distribuídos: 3.039 nas Ciências Tecnológicas, 2.450 nas

Ciências Humanas e apenas 484 nas Ciências da Saúde. O número de cursos de

graduação e de seus respectivos alunos matriculados refletem a concentração de

recursos na área de Ciência e Tecnologia, já mencionado anteriormente.37 Cursos

novos foram criados, como o de Art & Mídia, ou estão em processo de criação, como

os de Enfermagem e Geografia, dentre outros.

A criação dos programas de pós-graduação em Letras e em História,

recentemente, incrementou o número de cursos de mestrado na área das Ciências

Humanas e Ciências Sociais Aplicada, que já contava com o de Ciências Sociais e

Economia, fechado em fins da década passada. Todavia, o domínio dos cursos na

área de Ciências e Tecnologia se confirma ao analisarmos a tabela 03: cursos de

mestrado e conceito Capes – UFCG/2014. À exceção do doutorado em Ciências

Sociais, os demais estão todos concentrados em áreas ligadas às tecnologias.

Os cursos de pós-graduação na área de engenharia são uma tradição na

UFCG. A começar pelo curso de Mestrado em Engenharia Elétrica, ainda enquanto

Escola Politécnica, instituído em 05 de outubro de 1970, o primeiro das regiões Norte

e Nordeste do país. Atualmente, o curso matem uma das melhores estruturas de

ensino em nível de Brasil, como o laboratório de Alta Tensão, o único do N-NE, o

laboratório da Eletrobrás e outros, mobilizando um grande número de pessoas a virem

graduar e pós-graduar na cidade.

A pós-graduação em nível de doutorado é concentrada quase exclusivamente

nas engenharias, como pode ser observado na tabela 04: cursos de Doutorado e

conceito CAPES (20014/parcial), abaixo. Resultado, em parte, de investimentos da

própria instituição, de capital privado nacional e, sobretudo, estrangeiro; implicando

na construção de laboratórios do curso de Engenharia Química em cooperação com

instituições francesas; dos laboratórios do curso de computação em cooperação com

37 Fonte: PRG/UFCG – dados de 2014.

90

a HP e NOKIA. Ressalte-se que, os alunos graduados em Engenharia Elétrica da

UFCG, automaticamente, recebem diploma de validade no Mercosul no Brasil e na

França, emitido por instituições dos dois países.

Atualmente os cursos em Engenharia Elétrica e Ciências da Computação,

respondem por cerca de 50% da produção científica da UFCG em congressos

internacionais e 25% em periódicos internacionais. O curso de Engenharia Elétrica, é

o único da região Norte e Nordeste com conceito 6 da CAPES na área de tecnologia.

O mestrado e o doutorado em Engenharia Elétrica foram criados em 1970 e 1979,

respectivamente, e já formaram em torno de 400 Mestres e 120 Doutores. O mestrado

e o doutorado em Informática foram criados em 1973 e 2005, respectivamente, e já

formaram mais de 300 Mestres.

Os grupos de pesquisa certificados pelo CNPq confirmam a excelente tradição

das engenharias na UFCG, mas também a lamentável concentração de recursos.

Nota-se que a área de Engenharia com 37 grupos, representando um total de 154

linhas de pesquisa, se sobressai diante das outras áreas do conhecimento na UFCG.

Para se ter uma idéia de suas atividades em P&D, ver em anexo, as principais linhas

de pesquisa, que dão uma idéia, mesmo que parcial, do foco de sua atuação. Em

outras palavras, o papel que o Tecnopolo Campina Grande exerce dentro da Divisão

Territorial do Trabalho, já que esta concentra grande parte dessa atividade na cidade.

Os grupos de pesquisa certificados pelo CNPq e seu elevado desempenho,

colocam-se como atrativo as empresas que buscam no conhecimento, sua principal

fonte de insumo. Para tanto, a IES estabelece cooperação em C, T & I com demais

universidade no globo, mande sua tradição na produção do conhecimento inovador e,

se tornando “interessante” ao Capital Internacional, como mostra a figura 05:

Cooperação Internacional em C,T&I entre a UFCG e demais Universidades. 2012-

2016, página 100.

91

92

Só em um semestre a UFCG estabeleceu 45 convênios com empresas de

praticamente todas as regiões brasileiras. Consoante os investimentos, as áreas que

se destacam nessa relação são as engenharias Elétrica, de Materiais e Química,

Ciências da Computação e Meteorologia. 159 alunos foram colocados no mercado,

na categoria de estagiário, no mesmo período, em empresas como o Instituto Nokia

de Tecnologia, Petrobrás, Gerdau, Acumuladores Moura S.A., ALUNORTE, ALUMAR,

BRASKEM, CHEMTECH e Texas Turbinas a Vapor, dentre outras.

A Coordenação de estágios, órgão responsável por essa relação, acrescentou

que os convênios em Computação e Engenharia Elétrica são executados, quase que

exclusivamente, por seus próprios departamentos, não aparecendo dados

significativos na tabela supracitada. Isso se deve a estreita relação firmada entre

transnacionais como a HP e a Nokia que investem maciçamente na estruturação de

laboratórios e financiamento de pesquisas. Atualmente, o Departamento de

Computação firmou cooperação com a HP para o desenvolvimento de tecnologia Our

Grid que, segundo alguns especialistas na área, proporcionará uma “segunda

revolução nas tecnologias da informação”, como já vem acontecendo parcialmente

com a Google, a HP e outras gigantes, que se estabeleceram como grandes

servidores, terceirizando completamente os setores de informação das empresas.

4.1.1.1 O CEEI - Centro de Engenharia Elétrica e Informática

O Centro de Engenharia Elétrica e Informática (CEEI) da UFCG teve sua

criação em junho de 2005. Oriundo do Centro de Ciências e Tecnologia (antigo CCT)

da UFCG é formado por duas Unidades Acadêmicas: 1) Departamento de Engenharia

Elétrica (DEE); 2) Departamento de Sistemas e Computação (DSC). Esse novo

departamento foi criado para estruturar novos cursos e manter os índices de

desempenho dos cursos atuais.

Centralizando a maior parte dos recursos financeiros e conseqüentemente

obtendo a maior visibilidade junto à sociedade científica e ao mercado, os cursos de

Ciências da Computação e Engenharia Elétrica apresentam um corpo docente que

em sua maioria é formado por doutores ou PHD’s. De maneira que dos 77 docentes,

28% são mestres, 71% são doutores com formação no Canadá, Estados Unidos,

93

França, Inglaterra, Austrália e Brasil. Os cursos contam ainda com 3 engenheiros, 17

técnicos, 9 secretárias e 10 auxiliares administrativos38.

Com uma estrutura física composta de 23 laboratórios, o curso em nível de

graduação de Engenharia Elétrica atua nas seguintes campos disciplinares:

Eletrotécnica, Eletrônica, Controle e Automação e Telecomunicações. Criado em

1963, já diplomou até 2005 mais de 1600 engenheiros e seu corpo discente é formado

por 700 alunos, atualmente. No último Exame do INEP obteve Conceito A. O Curso

de Formação de Tecnólogos em Processamento de Dados teve sua criação em 1973,

passando a ser curso de Bacharelado em Ciência da Computação em 1977, em que

cerca de 1000 profissionais foram graduados numa estrutura física que inclui 7

laboratórios. Já o curso de Computação tem parceria de grande monta (no mínimo R$

500 mil) com até 12 empresas, dentre elas, o Instituto Nokia de Desenvolvimento

Tecnológico (INdT), que estrutura as disciplinas disponíveis na grade curricular de

modo a satisfazer suas demandas no desenvolvimento de capital humano.

O centro tem atuado em projetos de P&D em parceria com várias empresas do

Brasil e do exterior. Dentre os principais destacam-se: o projeto de um chip utilizado

na compressão e descompressão de vídeo. Segundo o chefe de departamento do

CEEI, Elmar Uwe Kurt Melcher, “o projeto, intitulado de MPEG-4, prevê a criação de

um conjunto de circuitos integrados capaz de atender às mais avançadas demandas

tecnológicas, permitindo o aumento da velocidade na transmissão via internet, celular,

rádio e satélite”.

Desenvolvido em cooperação, o MPEG-4 é resultado do Projeto Brazil-IP,

nascido em 2001, que envolve professores de três universidades brasileiras: UFCG,

UNICAMP e UFPE, cabendo a cada IES o desenvolvimento de um circuito integrado

específico. Coube à UNICAMP criar o decodificador de áudio MP3; à UFPE, a unidade

de processamento dedicado 8051; e à UFCG o componente mais complexo de todo

o sistema: o decodificador: de vídeo MPEG-4. O sucesso dessa iniciativa inédita deu

à equipe da UFCG, o título de melhor projeto técnico-científico de todo o país, entre

dezenas de outros avaliados pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico

e Tecnológico-CNPq.

Outro projeto de destaque é o desenvolvimento de um sistema

computacional que vai permitir à Petrobrás uma economia de cerca de 25% dos

38 Dados informados pelo departamento.

94

gastos com energia elétrica, na operação dos sistemas de bombeamento de petróleo

em redes de dutos e o programa, chamado de Smart Pumping: Controle Inteligente

de Sistemas de Bombeamento em Redes de Escoamento de Petróleo que faz o

monitoramento remoto, distribuído e em tempo real, do sistema de escoamento de

fluidos produzidos na extração de petróleo e, segundo Francisco Vilar Brasileiro,

coordenador do Laboratório de Sistemas Distribuídos-LSD, “garante a máxima

eficiência de movimentação e a redução do consumo de energia, da pressão dos

dutos, da perda de produção e dos riscos de falhas operacionais e de poluição

ambiental na unidade da Petrobras em Mossoró, no Rio Grande do Norte”.

O projeto Smart Pumping agregou novas funcionalidades à plataforma

desenvolvida no projeto Monitoramento e Otimização Distribuídos e em Tempo Real

do Escoamento da Produção (MDTP), desenvolvida anteriormente pelo mesmo centro

da IES.

O centro tem como principais parceiros no desenvolvimento de processos,

produtos novos e substancialmente melhorados, a Petrobrás, Chesf, Motorola, Nokia,

HP, WEG Automação, NHS Sistemas Eletrônicos, Celpe, Saelpa, Celb,

Termopernambuco como mostra a figura 04, página 118.

Laboratórios de Pesquisa

• LABCOM - Laboratório de Computação

• LES - Laboratório de Engenharia de Software

• LABPETRI - Laboratório de Métodos Formais e Redes de Petri

• LAD - Laboratório de Arquiteturas Dedicadas

• LEPRECOM - Laboratório de Ensino e Pesquisa em Redes de

Computadores

• LSD - Laboratório de Sistemas Distribuídos

• LSI - Laboratório de Sistemas de Informação e Banco de Dados

• LIA - Laboratório de Inteligência Artificial

• EMBED – Laboratório de Sistemas Embarcados e Computação Pervasiva.

Laboratórios de Ensino

• LCC - Laboratório de Ciência da Computação

95

96

Projetos em andamento

• Projeto Our Grid - HP

• Seg Hidro - FINEP

• Projeto Smart Pumping - Petrobrás

Projetos concluídos

• Projeto Failure Spotter - HP

• COPAD - FINEP

• Projeto MDTP - Petrobrás

4.1.1.1.1 A Rede Nacional de Pesquisa (RNP)

Parte das IES, técnico e profissionalizante, dos centros de pesquisa instalados

na cidade estão conectados à Rede Nacional de Ensino e Pesquisa (RNP). Um

equipamento que dispõe de conectividade, DNS, NTP, e de outras tecnologias, em

fibra óptica que faz a transmissão de dados em banda larga, ligando Campina Grande,

diretamente, ao Rio de Janeiro.

O ponto de presença da RNP na Paraíba está situado no Departamento de

Sistemas e Computação (DSC), que compõe o CEEI/UFCG, proporcionando a

comunicação entre instituições da Paraíba e a espinha dorsal nacional, de modo a

disponibilizar o serviço Internet acadêmica no estado, visando aplicações em

atividades de apoio à educação, à pesquisa e ao desenvolvimento científico e

tecnológico. O ponto de conexão estabelecido na cidade justifica sua posição no pólo

tecnológico e o qualifica para o aporte de instituições de pesquisa e empresas de base

tecnológica, isso porque a acessibilidade a conteúdos via rede de computadores, em

tempo real, é essencial na transferência de fluxo de dados.

Dentre as aplicações que podem ser utilizadas no backbone da RNP, pode-se

citar: videoconferência, aplicações multicast, proxy, serviço de tempo; além das

aplicações usuais: web, correio eletrônico, ftp, ssh, dentre outras. As instituições

paraibanas conectadas ao PoP-PB são:

• Universidade Federal da Paraíba (João Pessoa, Areia e Bananeiras);

• Hospital Universitário Lauro Wanderley (João Pessoa)

• Universidade Federal de Campina Grande (Campina Grande, Patos, Souza,

Cuité e Cajazeiras);

• Hospital Universitário Alcides Carneiro (Campina Grande);

97

• Universidade Estadual da Paraíba (Campina Grande e Guarabira);

• Instituto Nacional do Semi-árido - Celso Furtado (Campina Grande);

• Escola Técnica Redentorista (Campina Grande);

• Fundação de Apoio à Pesquisa do Estado da Paraíba (Campina Grande);

• Fundação Parque Tecnológico da Paraíba – PaqTecPB (Campina Grande);

• Centro Federal de Educação - Cefet (João Pessoa e Cajazeiras);

• EMBRAPA - Centro Nacional de Pesquisa do Algodão (Campina Grande)

• Associação Técnico-científica Ernesto Luiz de Oliveira - ATECEL (Campina

Grande).

A Rede Nacional de Ensino e Pesquisa (RNP) – REDE IPÊ, com seus arcos e

nós, pode ser visualizada na figura 05, página 119. Ao observá-la, pode-se perceber

que a cidade de Campina Grande-PB entroniza papel de destaque. Sua função de

irradiadora de dados no estado, por conseguinte, à equipara as demais capitais da

Região Nordeste do país como Natal, Maceió, Aracajú, São Luiz e Teresina, com

exceção, apenas, das Metrópoles Regionais: Salvador, Fortaleza e Recife; e outras

das regiões Centro-Oeste e Sudeste como Campo Grande, Cuiabá e Goiânia e Vitória,

respectivamente.

98

Figura 03 - Rede Nacional de Ensino e Pesquisa (RNP) – REDE IPÊ39

39 Retirado de: http://www.rnp.br/backbone/index.php Acesso em: Janeiro de 2014.

99

4.2 AS INSTITUIÇÕES DE ENSINO TÉCNICO E PROFISSIONALIZANTE

Tão importante quanto as IES, às instituições de nível técnico e

profissionalizante compreendem segmento significativo na constituição e

consolidação dos tecnopolos. Isso decorre em parte, de acordo com papel que elas

desempenham na formação de capital humano necessário à manutenção e

desenvolvimento das EBT’s de menor teor tecnológico ou nas linhas de montagens

de equipamentos eletro-eletrônicos, como ocorre com a N3 Computadores e a Data

Sonic Informática que aqui implementaram suas linhas de montagens de PC’s de

mesa e Laptops. Da mesma forma, a Protec e a Ultrason, empresas industriais que

atuam no ramo de eletroeletrônica, com produção de aterramento elétrico e de

transformadores, absorvem muito a mão-de-obra qualificada produzida por essas

instituições.

Como o modelo de acumulação flexível vigente ainda não conseguiu eliminar,

em sua maior parte, os postos de trabalho desse segmento de mercado (linhas de

montagem especializada), no qual o capital humano altamente qualificado, ainda se

coloca como imprescindível a sua execução, as indústrias mais tradicionais continuam

a absorver contingente de pessoal considerável em sua produção. Entretanto, o

relativo pequeno número de EBT’s que constituem o pólo campinense e seu caráter

familiar, produzem uma significativa dispersão do capital humano em direção aos

mercados regionais do Norte e Nordeste, extrapolando os limites espaciais do

tecnopolo. Tomando a Escola Técnica Redentorista (ETER), como exemplo no

universo dessas instituições, observa-se um envio significativo de capital humano ao

mercado regional e nacional como a Phillips e as Baterias Moura em Recife (PE), a

Vale do Rio Doce em Paraoapebas (PA), a Polygram em Manaus (AM), a SEICOM e

a Sony Ericson São Paulo (SP) e, em menor proporção, a Telemar Nordeste em Recife

(PE).

Atualmente, o Tecnopolo Campina Grande conta com um conjunto

considerável de instituições de ensino técnico e profissionalizante, entre privadas

públicas e mistas. As públicas notadamente se apresentam como as de maior escala

de atuação e visibilidade mercadológica como o Centro Federal de Educação

Tecnológica (CEFET), que mesmo ainda em processo de implantação estrutural, já

disponibiliza os cursos de nível superior de Tecnologia em Telemática e o de nível

técnico em Mineração; as três unidades do Serviço Nacional de Aprendizagem

100

Industrial (SENAI), que conta com o Centro de Tecnologia do Couro e do Calçado

(CTCC), o Centro de Tecnologias da Informação (CITI) e o Centro de Tecnologia da

Moda (CTMODA) na mesma unidade, o Stenio Lopes (Prata); o Serviço Nacional de

Aprendizagem Comercial (SENAC); o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e

Pequenas Empresas (SEBRAE); e a já mencionada Escola Técnica Redentorista

(ETER).

Dentre os cursos da área de tecnologia, os do SENAI/CITI (ver tabela 07:

SENAI – Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial – Laboratórios, abaixo), se

destacam por trabalharem com tecnologias de ponta e por sua visibilidade

mercadológica. Com áreas de atuação que vai da energia fotovoltaica,

telecomunicação, eletrônica e informática.

De alguma maneira, a criação dessas instituições, e de seus cursos mais

recentes se justificam em decorrência da dinâmica econômica local, que tem nos

arranjos produtivos locais (APL’s) do couro e do calçado, de TIC’s e da indústria têxtil,

papel de destaque. Esse último com menor visibilidade em virtude da concorrência

com cidades fortes nesse segmento de mercado, como as cidades de Santa Cruz do

Capibaribe – terra da sulanca, nome dado em virtude dos trabalhos produzidos em

elanca (malha), e Toritama com um segmento forte em jeans, ambas no limítrofe

estado de Pernambuco.

4.3 AS INSTITUIÇÕES DE PESQUISA E DESENVOLVIMENTO (P&D)

Como todos os tecnopolos, a cidade concentra uma dezena de instituições de

P&D, distribuídas ao longo do tecido urbano, conforme pode ser visualizado no mapa

02: Territorialização dos Centros de P&D no Tecnopolo Campina Grande-PB, que tem

na Ciência, Tecnologia e Inovação (C, T & I), sua área de atuação. Dentre elas se

destacam a Fundação Parque Tecnológico da Paraíba – PaqTc-PB com suas duas

incubadoras, a ITCG e a INDEA; a Empresa Brasileira de Produção Agropecuária –

EMBRAPA Algodão; o Instituto Nacional do Semi-Árido – INSA; a Fundação de Apoio

à Pesquisa do Estado da Paraíba – FAPesq; a Associação Técnico-Científica Ernesto

Luiz de Oliveira Junior – ATECEL.

101

4.3.1 A Fundação Parque Tecnológico da Paraíba – PaqTc-PB

Na primeira metade da década de 1980 foram criados os cinco primeiros

parques tecnológicos no Brasil. Em Campina Grande (PB), Florianópolis (SC),

Manaus (AM), Brasília (DF) e São Carlos (SP), com o objetivo de apoiar a

aproximação da academia com o setor produtivo no que diz respeito a facilitar a

apropriação do conhecimento gerado dentro das universidades no surgimento de

empresas inovadoras e com alguma vinculação à apropriação de tecnologia no

mercado. Em outras palavras, a idéia é aproximar o mercado do setor gerador de

conhecimento, das universidades onde:

A interação entre o segmento produtivo e as instituições de ensino e/ou pesquisa deve ser incentivada e apoiada, não só nas tecnologias ditas de ponta mas também como forma de catalisar o processo de modernização tecnológica em qualquer setor onde o fator ‘tecnologia’ seja crítico, com ênfase naqueles considerados prioritários dentro do Programa de Competitividade Industrial.” (MEDEIROS et al., 1992, p.256).

Assim surge há vinte e três anos a Fundação Parque Tecnológico da Paraíba

– PaqTcPB, criada por Lei do Governo Federal através do Ministério da Ciência e

Tecnologia – MCT, a partir de uma de suas agências, o Conselho Nacional de

Pesquisa – CNPq em 1984.

102

Mapa 2 - Territorialização dos Centros de P&D no Tecnopolo Campina Grande-PB 40

40 Elaborado a partir de solicitação do pesquisador junto a Secretaria de Planejamento

(SEPLAN/PMCG). Algumas instituições anteriormente referenciadas não aparecem no mapa porque, mesmo que temporariamente, estão instaladas nas estruturas do PaqTcPB, como é o caso do CGSoft ou na UFCG como a ATECEL.

103

Em sua criação, foi necessário a participação de várias entidades e esferas do

poder, como observado abaixo.

A PaqTc-PB foi criada através de associação entre o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), a Universidade Federal da Paraíba (UFPB), o Governo do Estado da Paraíba e o Banco do Estado da Paraíba (PARAIBAN). Como entidades participantes estão a Prefeitura Municipal de Campina Grande (PMCG) e a Federação das Indústrias do Estado da Paraíba (FIEP). A PaqTc-PB recebe apoio da PMCG e do Serviço Social da Indústria. (SESI/FIEP), que cedem os ambientes físicos onde funcionam suas instalações; da UFPB; da PMCG, do Governo do Estado e do Programa de Recursos Humanos em Áreas Estratégicas do CNPq (RHAE/ CNPq), que cedem o pessoal para trabalhar na Fundação; e da PMCG, Governo do Estado e do Banco do Nordeste do Brasil (BNB) para a construção de sua nova incubadora. (MEDEIROS et al., ibid, p.71).

Atualmente, a Fundação PaqTc-PB conta com duas incubadoras: a Incubadora

Tecnológica de Campina Grande – ITCG e a Incubadora de Design – INDEA.

Destoando de seu objetivo que é o de fortalecer e apoiar empreendimentos

tecnológicos, proporcionando-lhes condições básicas para viabilização e

operacionalização de negócios inovadores, a ITCG, ultimamente desponta na

incubação de outras incubadoras do segmento tradicional da economia em todo o

estado da Paraíba. Assim a ITCG desempenha função relevante quanto ao

desenvolvimento socioeconômico do estado na identificação e consolidação de

arranjos produtivos locais de cada região, com ênfase na constituição de incubadoras

do ramo agroindustrial, coureiro-calçadista, têxtil e mineral.

Segundo Medeiros et al. (ibidem, p. 74), a PaqTc-PB está estruturada de forma

a prestar serviços de apoio às empresas em quatro categorias principais:

a. Sistema de lncubação e Associação de Empresas de Base Tecnológica SIAEBT, considerada a principal categoria de atividades da PaqTc-PB.

b. Setor de eventos técnico-científicos. A principal atividade deste setor é a realização anual da Feira de Tecnologia de Campina Grande-FETEC, que em 1992 se realiza pela quinta vez.

c. Informações Tecnológicas - INFOTEC. Setor responsável pela disseminação de informações, através de documentação e de redes de computação. Por meio da Divisão de lnformática são acessados o Serviço de Tratamento de Imagens (STM/Embratel), diversos bancos de dados (como IBICT, FGV, IBGE, SERPRO, CNEN, BIREME e ABIA) e bitnet. Estão sendo adquiridos equipamentos para videotexto e o INFOTEC pleiteia assumir as funções de um posto de serviço da rede IBICTIPADCT e de um nó da Rede Nacional de Pesquisas (RNP).

d. Cooperação Técnica Internacional e Comércio Exterior-CTI/CE. Este setor é responsável por treinamento, assessoria

104

na realização de acordos com o exterior e exportação e importação de produtos e serviços.

Das quatro “funções essenciais” que Medeiros et al. atestaram ao PaqTc-PB,

ainda em 1992, observa-se que hoje, algumas vieram a se consolidar, enquanto

outras entraram em declínio notório. Se o Sistema de Incubação e Cooperação

Técnica Internacional se consolidou, relacionados nos itens “a” e “d”, acima, por outro

lado, a Feira de Tecnologia de Campina grande (FETEC) e o nó da Rede Nacional de

Pesquisas (RNP) não se concretizaram. Esse último fora implantado nas estruturas

do Centro de Engenharia Elétrica e Informática (CEEI) da UFCG.

A Fundação PaqTc-PB se utiliza de várias ferramentas para promover o

desenvolvimento do empreendedorismo e da inovação tecnológica. Como exemplo

dessas ferramentas, a instituição abriga programas como:

TecOut Center – Instalado em uma área de 350 m2, o centro de

internacionalização do software, centro inédito no Brasil, visa aproximar as empresas

de TI brasileiras e chinesas, promovendo o intercâmbio tecnológico e as exportações

de software brasileiro para o mercado oriental. O TecOut Center, no Brasil, e o

Zhaoqing Software Internationalization Center (ZQSIC), na China, são resultado de

iniciativas em políticas de incentivos à produção e exportação de software por parte

dos Governos do Brasil e da China que estabeleceram uma cooperação no campo de

TI em 2003, ocasião em que foram inaugurados.

O centro é o primeiro do gênero criado no Brasil para prestar serviços

tecnológicos de mercado para as empresas brasileiras com potencial para operar no

mercado oriental e oferecer serviços especializados como a realização de estudos de

mercado, avaliação de produtos, contratação de pessoal qualificado, capacitação de

recursos humanos, realização de eventos, checagem de perfil de parceiro de negócio,

dentre outros serviços.

No que se refere ao Brasil, estão envolvidos o MCT, a Sociedade SOFTEX e a

Fundação Parque Tecnológico da Paraíba. E na chinês, o MOST (Ministério de C&T

da China), o ICT e o Birô da Indústria de Informação de Zhaoqing. O TecOut conta

ainda com o apoio do SEBRAE, da Universidade Federal de Campina Grande

(UFCG), do Governo do Estado da Paraíba e da Prefeitura Municipal Campina

Grande. Além do mercado chinês, o centro tem como mercados-alvo o Canadá, a

Espanha e a França, países onde já tem vínculos de relacionamento com parceiros

locais.

105

Laboratório de Usabilidade – O Laboratório de Interfaces Homem-Máquina é

um ambiente especializado em testes de usabilidade de produtos, e itens como

demanda de mercado, prestação de serviços à indústria, capacitação pessoal e

consultorias.

Núcleo de Gestão da Rede Paraibana de Incubadoras – Inaugurado em 18

de maio de 2004, o núcleo gerencia o processo de implantação e de modernização

das incubadoras na Paraíba. O núcleo funciona como suporte para a gestão de

incubadoras existentes na Paraíba e outras em processos de implantação.

Rede Tecnológica de Design – A Rede Tecnológica resulta da parceria do

SEBRAE Nacional e da Fundação PaqTcPB. Orçada em torno da cifra de R$ 80 mil,

esse programa possui uma equipe montada de profissionais ligados à TI e à Web

Design. A idéia proposta para implantação dessa estrutura visa ao desenvolvimento

de uma plataforma capaz de fornecer e gerir todas as informações necessárias para

viabilizar o fluxo de atendimento dos serviços.

Coordenação da Rede Nordeste de Incubadoras de Empresas e

Empreendedorismo – A Fundação PaqTcPB coordena a Rede Nordeste de

Incubadoras de Empresas e empreendedorismo, cuja missão é promover a

articulação das incubadoras de empresas já existentes e contribuir na formação de

sistema de inovação local que estão sendo formalizadas na região. Com um perfil

diferenciado das demais Redes do Brasil, ela é composta por Redes Estaduais e

associados dos nove estados da Região Nordeste, que somam ao todo 35

incubadoras.

Incubadora Tecnológica de Campina Grande (ITCG) – Instrumento dos mais

importantes de um parque tecnológico, a Incubadora Tecnológica de Campina Grande

– ITCG, foi implantada em 1986. Segundo sua diretora Elma Leal, foi incubada desde

sua criação até hoje “mais de 60 empreses – graduadas”.

Incubadora de Design (Indea) – Instalada nas dependências do PaqTcPB, a

incubadora se configura como mais uma ferramenta fruto de uma parceria entre a

Fundação PaqTcPB, a UFCG e o Sebrae. A Indea tem como objetivo a promoção de

negócios e projetos voltados para as áreas de design de produtos, mobiliários, jóias,

calçados, moda, artesanato e design gráfico. Ela é a única incubadora nesse ramo

mercadológico no Estado, e juntamente com outra instalada na Bahia formam as duas

primeiras implantadas no Nordeste, entre 14 previstas no Brasil. O programa se

apresenta como uma nova oportunidade oferecida, sobretudo, aos profissionais

106

oriundos do curso de Desenho Industrial da UFCG, que ali podem incubar suas

empresas.

CGSoft - Centro de Integração Cino-brasileiro – Instalado o Núcleo Softtex

de Campina Grande (CGSOFT) em 1992 no PaqTcPB, o CGSoft, núcleo local do

programa Softex, é responsável pelas operações do Programa na China (em Beijing).

A partir de Campina Grande, o mercado asiático é atendido e gerenciado através de

parcerias na China onde diversas empresas paraibanas fazem negócios,

desenvolvem novas tecnologias e o mais importante: trazem divisas para o nosso

país. Alguns dos agentes possuem contatos internacionais, funcionando como porta

de entrada para o mercado externo. Assim, atualmente, a SOFTEX conta com ações

na Europa (Alemanha, Espanha e França), EUA (Boston e Vale do Silício), Mercosul

(Argentina) e Ásia (China, Japão e Emirados Árabes Unidos).

Consórcio de Exportação de Software PBTech – Em março deste ano, dez

empresas paraibanas especializadas em Tecnologia da Informação (TI) se uniram

para incrementar o volume de exportações de softwares e soluções para outros

países. Batizada de Consórcio de Exportação de Software PBTech, a iniciativa, que

também tem como objetivo fomentar o mercado de TI da Paraíba, conta com

financiamento da Agência de Promoção de Exportações (Apex) e Sebrae-PB. As dez

empresas paraibanas que, juntas, estão buscando o mercado externo são a Light

Infocon, Apel, Zênite, Insiel, Decisão, CG Sistemas, Tradesoft, Net in Page, S.Toledo

e EraDigital. Duas delas (Light Infocon e TradeSoft) já exportam seus produtos e as

demais possuem experiência na venda de software em vários Estados do País.

Centro de Produção Industrial Sustentável – CEPIS – Implantado pelo

Governo suíço, e que teve na disputa Paraíba e Pernambuco para abrigá-lo, o Centro

de Produção Industrial Sustentável (Cepis) inicialmente sediado na Fundação Parque

Tecnológico da Paraíba – PaqTcPB, cuja implantação custou R$ 4,5 milhões, resulta

da cooperação técnica e científica da Faculdade de Ciências Aplicadas da Basiléia

(FHBB), instituição suíça com experiência na preservação do Meio Ambiente, do

SEBRAE e da Secretaria de Estado da Economia (Seco) do Governo da Suíça, com

o apoio da Fundação PaqTcPB.

O centro foi criado com o objetivo de tornar os processos produtivos das

indústrias da Paraíba e do Nordeste mais eficientes e limpos, minimizando o consumo

de lenha nativa para fins energéticos, beneficiando empresas de cerâmica vermelha,

olarias, panificação e de derivados de cana-de-açúcar, gesso e minerais não

107

metálicos, proporcionando o aumento da competitividade e do potencial de exportação

das pequenas e médias empresas.

Com o início de suas ações no primeiro semestre de 2004, o centro se tornou

o segundo do país no gênero, junto com o CNTL em São Paulo, que é hoje a referência

brasileira em P+L com mais de 10 anos de experiência. Estes centros fazem parte de

uma rede na América Latina com 14 Centros e Programas de Produção Mais Limpa

(P+L), dentre eles: Bolívia, Brasil, Colômbia, Costa Rica, Cuba, Equador, El Salvador,

Guatemala, Honduras, México, Nicarágua, Panamá, Paraguai e Peru.

4.3.2 A Empresa Brasileira de Produção Agropecuária – EMBRAPA

Tendo por objetivo viabilizar soluções para o desenvolvimento sustentável do

espaço rural, com foco no agronegócio, por meio da geração, adaptação e

transferência de conhecimentos em ciência, tecnologia e inovação (C, T e I), a

Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA), vinculada ao Ministério

da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, foi institucionalizada em 26 de abril de

1973.

Em uma política nacional que priorizara o desenvolvimento polarizado, a

EMBRAPA foi criada com várias unidades de pesquisas descentralizadas pelo

território nacional. Em 1975, foi criada a Embrapa Algodão Campina Grande, uma das

unidades descentralizadas da empresa, que com sede em Campina Grande-PB atua

em todo o país, na geração de tecnologias, produtos e serviços para as culturas do

algodão, mamona, amendoim, gergelim e sisal. Para execução de seus projetos de

pesquisa, vários em parceria com instituições nacionais e internacionais, a Embrapa

Algodão conta com 55 pesquisadores, 136 funcionários de apoio e sete campos

experimentais: Patos (PB), Barbalha (CE), Missão Velha (CE), Barreiras (BA), Irecê

(BA), Primavera do Leste (MT) e Santa Helena (GO), além de 35 pontos de pesquisa,

assim como pode ser visualizado na figura 07: Brasil - Distribuição dos centros de

pesquisa da Embrapa – 1996, na página 129. Inicialmente, as atividades da Embrapa

Algodão contemplavam duas linhas de atuação, a primeira voltada para a cultura do

algodoeiro arbóreo, de grande expressão socioeconômica na região Nordeste e a

segunda dirigida para o algodoeiro herbáceo, com maior ênfase na região Sul.

Dentre as vicissitudes históricas das relações entre o Estado e o mercado, na ‘invenção’ de sementes destaca-se, em certos casos,

108

uma separação territorial entre a pesquisa científica de origem pública e a produção das empresas. Enquanto as maiores produções de sementes melhoradas de algodão desenvolvem-se em São Paulo, Paraná e Goiás, é em Campina Grande (PB) que a Embrapa localiza seu centro especializado. (SANTOS & SILVEIRA, 2003, p.90)

Em 1985, a infestação das lavouras de algodão pelo bicudo levou a unidade a

buscar novas alternativas de pesquisa, lançando cultivares de algodão precoce e

integrando as culturas de amendoim, mamona, gergelim e sisal, a seu portifólio de

pesquisa. Foi o ponto de partida para o desenvolvimento de sistemas de produção e

lançamento de duas cultivares de amendoim, três de gergelim e duas de mamona.

Na década de 90, a Embrapa Algodão passou a promover pesquisas para o

desenvolvimento de cultivares de algodoeiro adaptadas às condições do Cerrado

brasileiro - inicialmente no Mato Grosso, depois em Goiás e na Bahia. Na atualidade,

aproximadamente, metade da área plantada no Brasil tem nas cultivares

desenvolvidas na Embrapa Algodão sua fonte, sobretudo a da cotonicultura do

Cerrado com a obtenção e distribuição da CNPA ITA 90, a partir de 1992.

As variedades de algodão naturalmente colorido começaram a ser lançadas em

2000. A primeira cultivar foi a BRS 200 Marrom, seguida pela BRS Verde, BRS Safira

e BRS Rubi. Todas são indicadas para o Nordeste brasileiro, assim como outras 11

cultivares brancas, lançadas a partir de 1978. Hoje, além de cultivares e sistemas de

produção, a Embrapa Algodão desenvolve pesquisas na área de controle biológico,

biotecnologia, mecanização agrícola, qualidade de fibras e fios de algodão, tecnologia

de alimentos e produção de Biodiesel de mamona, prestando serviços de consultoria,

assessoria, treinamento e análises laboratoriais.

109

Figura 07 - Brasil - Distribuição dos Centros de Pesquisa da Embrapa – 1996

Fonte: Embrapa – Relatório Anual de Atividades, 1996 apud SANTOS & SILVEIRA, 2003,

4.4 AS EMPRESAS DE BASE TECNOLÓGICA – EBT’S

110

Segmento estratégico no desenvolvimento de um país, as empresas

industriais41 de base tecnológica são objeto de pesquisa por parte de instituições no

Brasil como FIEP, SEBRAE e IBGE, que vêem em suas dinâmicas um termômetro da

economia nacional. Na tentativa de estabelecer uma aproximação do panorama das

empresas industriais de base tecnológica que compõem o Tecnopolo Campina

Grande, apoiaremos este trabalho em dados do Relatório Diagnóstico Empresarial –

Arranjo Produtivo de Tecnologia da Informação e Comunicação da Paraíba –

SEBRAE/Farol Digital de 2006 e Panorama ANPROTEC de 2005/2014.

Objeto de estudo de administradores, economistas, geógrafos e sociólogos, as

empresas vêem suas categorizações se multiplicarem com base em “[...] Su tamaño,

organización y número de establecimientos, así como el origen y propiedad de su

capital” (MÉNDEZ & CARAVACA, 1999, p.38). Igualmente, é importante situar o lugar

de origem das empresas privadas que se localizam em um determinado território, de

maneira a “distinguir, en tal sentido, las empresas locales, cuyo capital y sede social

donde se toman las decisiones se identifican con el área de estudio, de las empresas

nacionales con sede en otra región, y de las empresas transnacionales o

multinacionales cuyo capital y sede central son ajenos al país” (MÉNDEZ &

CARAVACA, ibid, p. 50).

Além dessas categorias, acima mencionadas, a ANPROTEC/SEBRAE (2002)

em seu Glossário Dinâmico de Termos na Área de Tecnópoles, Parques Tecnológicos

e Incubadoras de Empresas, ao analisar as empresas que de alguma maneira

estabelecem relações com as incubadoras, utiliza-se das categorias: empresas

incubadas, associadas e apoiadas.

“Quando a PaqTc-PB começou a funcionar existiam na cidade no máximo cinco

empresas de base tecnológica” (MEDEIROS et al., 1992, p.74). Posteriormente, a

cidade já contava com um grupo de 7 empresas incubadas e 13 associadas. Dentre

elas se destacam: “APEL Aplicações Eletrônicas Indústria e Comercio Ltda.; CANDE

41 “La empresa industrial se define como unidad básica de producción, con personalidad jurídica propia, que lleva a cabo una actividad de transformación a partir de la combinación de diversos factores productivos (materias primas, trabajo, capital), mediante el uso de tecnología, para la obtención de unos determinados bienes conocidos genéricamente como manufacturas, destinados al mercado, ya sean acabados (destinados al consumo final) o semielaborados (destinados a otras empresas), Se trata, pues, de una entidad con capacidad de decisión, gestión y administración, que presenta una determinada estructura interna y declara un domicilio o razón social, aunque la localización de sus actividades pueda situarse en uno o varios establecimientos situados en lugares diversos” (MÉNDEZ, R. & CARAVACA, B., 1999, p.35).

111

Campina Grande Industrial S.A.; CAPS Controle e Aplicação de Processos Ltda.;

ESAC Engenharia de Software Ltda.; INBRATEC Indústria Brasileira de

Telecomunicações e Componentes Ltda.; [...] INFOCON Tecnologia Ltda”.

(MEDEIROS et al., 1992, pp.71-72). Muitas dessas empresas lograram êxito, de tal

maneira que, produziram fusões ou absorveram outras, como a INFOCON que se

fundira a LIGHT, transformando-se na LIGHT INFOCON.

Em Campina Grande, essas empresas, por suas especificidades flexíveis,

apresentam-se distribuídas pelo tecido urbano da cidade, como a PROTEC, a

ULTRASON, e a DATA SONIC, localizadas no bairro da Prata. Outras tantas

empresas de base tecnológica e/ou inovadoras estão localizadas de forma dispersa

pelo espaço campinense. Entretanto, recentemente, há esforço não só para atrair

mais empresas de base tecnológica, mas sobretudo para consolidar as já existentes

no âmbito da cidade. Como exemplo, a criação do CITTA, Centro de Inovação e

Tecnologia Telmo Araújo, que congrega laboratórios da Sony, da Samsung, entre

outros e, o Projeto Aluísio Campos – Tecnopolis em implantação, como mostra

Mapa 2.

112

Mapa 3 - Complexo Aluísio Campos – Tecnopólis

113

Uma dezena dessas EBT’s que compõem o Tecnopolo Campina Grande são

reconhecidamente competitivas e consolidadas, com vários anos de atuação no

mercado nacional e internacional, o que para esse setor, é um diferencial, por

apresentarem altas taxas de mortalidade. Para tanto, o estado paraibano montou um

pacote de incentivos, no qual “o ICMS é praticamente zero”, para atrair empresas para

Campina Grande em uma tentativa de rivalizar com outros pólos nordestinos, como o

de Informática de Ilhéus (BA) e o Porto Digital de Recife (PE). Ao que tudo indica, na

guerra dos lugares, o diferencial é o conhecimento nesses produzido.

Uma série de vantagens estão sendo criadas com vistas à atração de

investimentos dessas empresas privadas para o estado. A infra-estrutura é um fator

determinante na competitividade. Dentre os pontos que estão atraindo essas, além da

proposta de vantagens fiscais, são as obras de duplicação da BR-230 e BR-101, que

atuarão na integração dos estados da Paraíba, Pernambuco e Rio Grande do Norte;

o fornecimento de energia elétrica com base na termoelétrica, que começará a ser

implantada em Campina Grande em 2008 e a malha de gasodutos GNV, necessários

para o funcionamento das empresas tradicionais, e em menor proporção das EBT’s,

além da promessa do Governo Federal de transposição do Rio São Francisco, que

garantirá o abastecimento de água para o estado, criam um panorama favorável a

atração e fixação das empresas que já existem no estado no conjunto dos fatores de

localização das empresas industriais.

O Tecnopolo Campina Grande tem quase que em sua totalidade, 98% das

matrizes de suas empresas, localizadas na cidade. Apenas 2% de suas EBT’s têm

matrizes em outras cidades do estado, ou de outros estados da Federação. Todavia,

esse quadro vem mudando. Um exemplo disso é a POLITEC, empresa nacional

sediada em Brasília (DF), com várias filiais no Brasil e no mundo, a qual implantou na

cidade, uma de suas unidades produtivas. Já as empresas, TRADE SOFT, ZÊNITE e

a FELbus de João Pessoa, capital do estado, buscam na sinergia do pólo, o lócus de

solidez e desenvolvimento. Os caminhos são os mais diversos, a PACTO4, que

desenvolve programas para a transnacional suíça Nestlé, percorreu o caminho

contrário. Incubada na ITCG, após sua graduação manteve unidade em Campina

Grande, mas se sediou na capital do estado. O gráfico 04: Empresas por área de

atuação em Campina Grande, apresenta a porcentagem das empresas por setor de

TIC’s.

114

O diagnóstico empresarial SEBRAE/Farol Digital de 2005, setor responsável

pelo apoio a empreendimentos de tecnologia da informação e da comunicação (TIC’s)

na Paraíba, apresenta dados reveladores quanto a esse setor na cidade. Segundo

ele, “Estima-se que o número de empresas e instituições atuantes em TIC na região

metropolitana de Campina Grande gire em torno de 100, com a grande maioria

instalada no centro da cidade.” (FAROL DIGITAL/SEBRAE, 2005, p.43). O mesmo

ainda com base em estudo anterior, realizado para traçar um diagnóstico acerca da

caracterização e formas de atuação e funcionamento das empresas de TIC’s na

cidade, concluiu que:

– As empresas são jovens, com média entre três a seis anos de existência; – Quadro de pessoal enxuto e formas de gestão baseadas em ações empíricas fundamentadas na capacidade empreendedora dos seus criadores, com forte atuação familiar na condução dos negócios, com interferência direta para a melhor forma de gestão, em especial quanto à definição e viabilização de estratégias e ao processo de tomada de decisão; – Pouca vinculação das empresas com as instituições de apoio à atividade econômica na região e frágeis formas de parceria entre os agentes produtivos, causadas por desconhecimento e/ou ceticismos em relação a este tipo de prática; – Faturamento per capita aquém do padrão internacional; o faturamento médio anual per capita de empresas internacionais do setor é de quase 5 vezes aquele das de Campina Grande. As possíveis causas para esta diferença estão relacionadas à forte concentração no mercado local, foco nos processos internos, sem considerar de forma mais sistêmica as vinculações e interdependências destas empresas com o seu ambiente, especialmente os mercados de atuação, inexistência de pesquisa de necessidades e de satisfação de clientes e utilização de tecnologias de gestão de forma empírica, baseada na experiência, maturidade e conhecimento dos sócios proprietários; – Baixo valor agregado pelos empreendimentos, achatando margens. Uma alternativa interessante para aumentar o valor agregado localmente seria através do desenvolvimento e fornecimento de software. Uma maior atuação em software esbarra nas seguintes dificuldades: recursos humanos sem pós-graduação; falta de parcerias para projetos de P&D conjuntos com a academia; banco de dados limitado ao MS-SQL Server; empresas sem capital para investir no crescimento da atuação geográfica e/ou na expansão de produtos e serviços. Adiante-se que esta constatação se aplica à maioria das empresas brasileiras de base tecnológica, não sendo exclusiva daquelas no APLTIC de Campina Grande. (SEBRAE/ Farol Digital/, 2012, pp.43-44).

Alguns dos pontos levantados pelo diagnóstico, em certa medida, devem ser

ponderados. Mesmo em se tratando de um número reduzidíssimo de EBT’s, algumas

como a Apel e Light Infocon, constituem empresas sólidas que atuam no mercado

115

regional há pelo menos duas décadas. Mais ultimamente, essas empresas amparadas

em políticas de exportação, da qual os programas Softex e PBTech dão conta, firmam-

se no mercado internacional, com forte presença em alguns países da Europa como

Espanha e Portugal, da América como Estados Unidos e da Ásia. Em todo caso, “O

segmento das empresas de TIC em Campina Grande é composto de

empreendimentos novos, com 79,30% deles com idade entre 1 e 6 anos. O percentual

restante tem entre 7 e 9 anos de existência”, (SEBRAE/Farol Digital, ibid, p. 56).

Outra questão delicada que o relatório infere, diz respeito ao fato de comparar

as EBT’s locais a empresas de base tecnológica internacionais. Se partirmos do

pressuposto de que a industrialização apresentara processos diferentes entre os

países centrais e os periféricos, e mesmo entre países do conjunto dos últimos; que a

burguesia comercial local desempenha papel decisivo para a constituição e

consolidação dos processos de industrialização, o sentido da análise meio que se

esvazia. A forte concentração no mercado local dessas empresas acena para

ausência de uma política sólida em Ciência, Tecnologia e Inovação (C, T & I) de

âmbito nacional. Esse quadro, por sua vez relaciona-se diretamente com os processos

de aquisição de inovação tecnológica que elas arrolam, buscando na sinergia do

ambiente local suas fontes de inovação.

Contudo, na “percepção da grande maioria dos empresários pesquisados

(81,82%), a qualidade dos serviços prestados por suas empresas melhorou nos

últimos três anos. Os motivos alegados para a necessidade da melhoria dos serviços

são o incremento da concorrência (35%), e o aumento no nível de exigência dos

clientes (42,14%)”. (SEBRAE/Farol Digital, 2005, p. 62).

A inovação de processos e produtos se inscreve em um pacote de estratégias

levadas a cabo pelas EBT’s, onde as relações de cooperação desempenham papel

significativo na posição em que elas encadeiam. De maneira que:

A grande maioria (69,94%) dos empresários pesquisados informa que existem condições para a prática da cooperação entre as empresas locais; No entanto, 78% informaram a inexistência de algum acordo formal com outras empresas do setor. Os acordos informais, em compensação, acontecem com percentual já bastante alto de empresários 45,65% declararam praticá-los; Os acordos informais realizados envolvem práticas relacionadas à cessão de produtos, troca de informações acerca de formas de funcionamento, tendências de mercado e oportunidades de negócio; Os poucos acordos formais envolvem aspectos relacionados ao desenvolvimento de tecnologias e estratégias de marketing; Os motivos indicados pelos empresários para cooperação foram melhoria de qualidade (35,48%), acesso a novos mercados (29,05%) e redução de custos (25,81%).

116

No conjunto das empresas de TIC’s que compõem o Tecnopolo Campina

Grande, atualmente (período da pesquisa de campo), encontram-se incubadas na

ITCG a: BBR; COOAGRIL; CSTEC; Decisão Informática; Eventos.com; LEE; Pacto4

Tecnologia e Informação e OASIS-TECH. Além das apoiadas e associadas: APEL -

Eletroeletrônica, CANDE, LABOREMUS, VEJA e XSUNG.

Com um alto índice de mortalidade, esses tipos de empresas industriais

buscam nas estratégias de mercado a superação da concorrência. Na maioria das

vezes, além da qualidade, a inovação de produtos e processos totalmente novos ou

parcialmente, aparece como estratégia dessas. Essa tática aparece nas empresas

campinenses, como no caso da tornozeleira eletrônica para apenados com

localização geográfica via GPS, produzida pela Insiel Tecnologia, que representa uma

adaptação de uma tecnologia já existente produzida por outra empresa internacional,

todavia, a custos baixos.

Do conjunto das cerca de 100 EBT’s que compõem o Tecnopolo Campina

Grande, pelo menos três merecem destaque. A Apel Aplicações Eletrônicas, por já

existir antes mesmo da implantação do PaqTcPB e desenvolver equipamentos para

rádio-transmissão; a Light Infocon Tecnologia S/A por ser umas das primeiras que foi

incubada e a maior EBT da Paraíba na atualidade; a Politec, empresa da cidade de

Brasília, por se apresentar como uma das maiores empresas de TI nacional e a N3

Computer, linha de montagem de PC’s de mesa e laptops que se originou na cidade

de Campina Grande, mas com capital recifense.

117

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A passagem do paradigma fordista para a acumulação flexível estabelece as

bases para os processos de criação dos tecnopolos. A especificidade local se

apresenta como vantagem competitiva na guerra dos lugares em um mundo cada vez

mais comprimido pelas tecnologias da informação. Dada à multiplicidade de formas e

conteúdos e, nesse sentido, dos processos que eles engendram sua natureza, os

tecnopolos receberam uma diversidade de nomenclaturas que vão desde os parques

tecnológicos às cidades da ciência, esta última muito comum no Japão.

Sobre esses territórios-rede da tecnologia, alguns pontos devem ser

ponderados. A disparidade existente nos processos de criação, entre os países

periféricos da economia-mundo, como no caso brasileiro, e os países centrais, como

Silicon Valley e Rota 128 de Boston (EUA), Taedok (Coréia do Sul), Sofía-Antípolis

(França), Tsukuba e Kansai (Japão), decorre, em grande medida, de dois fatores

elementares: a inexistência ou pequena proporção de capital de risco e a falta de uma

política sólida em Ciência, Tecnologia e Inovação (C, T e I), como a ferozmente

estabelecida pelo Estado japonês.

Os tecnopolos resultam em sua totalidade do tencionamento de forças do

mercado com a introdução de capital de risco e do Estado com a implementação de

políticas tecnológica e industrial consistentes, como a que foi estabelecida há pouco

no Brasil, a PITCE. O Estado desempenha papel primaz em sua criação, seja nos

países centrais, seja nos periféricos. Entretanto, cabe ao Estado, no caso dos países

periféricos, além de instituir políticas públicas em C, T e I, aportar capital considerável

para sua construção. Sobretudo, nos periféricos os tecnopolos apresentam uma

significação todo especial, na medida em que são vistos como trunfo na estratégia de

um mercado competitivo, possibilitando-lhes, uma inserção mais rápida ao mundo

“desenvolvido”.

No que concerne ao Tecnopolo Campina Grande, as perspectivas parecem ser

animadoras “apenas” para o capital transnacional, que com investimentos parcos

como o da Nokia, HP e Motorola obtém resultados significativos em inovação de

produtos e processos totalmente novos que já se espalharam por todo o mundo.

Nesse particular, depois de todo o exposto, que resulta de um árduo trabalho de

reflexão e posterior compreensão, um misto de desencantamento e sentimentos

118

outros são vivenciados, quando um notável “esvaziamento do Tecnopolo Campina

Grande-PB” é observado.

Este quadro pode ser compreendido a partir do imbricamento de questões

internas e externas ao espaço tecnopolitano campinense, compreendidas através das

escalas do global, do nacional e local. Em primeiro lugar, figura uma questão global,

um aparente descolamento das atividades de P&D oriundas dos laboratórios da UFCG

e a acumulação de capital nas EBT’s que compõe o segmento na cidade; lógica do

capital na relação centro-periferia. Contudo, este panorama não é tão atual assim,

Clélio Campolina Diniz & Mauro Borges Lemos (2001, p.10), quando da elaboração

da proposta de implantação de um parque tecnológico para Belo Horizonte fundada

na estreita relação com a UFMG, ao analisar as experiências nacionais, decretam que

as experiências como a “[...] de Campina Grande, enfrentam grandes dificuldades

para se consolidarem como um verdadeiro centro de crescimento”. Em consonância

com esse pensamento, Medeiros et al., ainda em 1992 (p.76), atestam que “A PaqTc-

PB têm enfrentado várias dificuldades que tem comprometido o seu desempenho. A

principal delas é a falta de recursos. Uma outra dificuldade é a demora, por vezes

anos, das instituições financiadoras em responder aos pleitos, mesmo quando

indeferidos”.

Em segundo, aparece uma questão de cunho nacional, que reflete uma

concentração e integralização dos “sistemas de engenharia”, na região Sudeste do

Brasil, com ênfase para o eixo São Paulo-Campinas. Contudo, a exceção dos EUA,

essa concentração parece ser a tendência global, podendo “[...] se dizer a mesma

coisa da Cidade do México, no México [...] e de Buenos Aires, na Argentina”

(CASTELLS, 202, p.104). No Brasil a área “core” que corresponde ao “Cinturão de

Campolina”42, que concentra a maior parte das riquezas do país, aliada à falta de

políticas sólidas em ciência e tecnologia e o redirecionamento local das atividades

econômicas em prol do turismo de eventos estão na base de um possível

esvaziamento do Tecnopolo Campina Grande.

Essa terceira e última questão, a mais relevante, frente às demais já

mencionadas, de escala local, essa questão produziu resultados danosos à cidade.

Mesmo com o apoio da oligarquia “dos vinte e dois anos” à implantação do PaqTcPB,

42 A tese do “Cinturão de Campolina” repousa sobre a idéia de uma área concentrada, na qual a “[...] indústria se aglomera num polígono que sai de Belo Horizonte e passa por Uberlândia, Londrina, Porto Alegre, Florianópolis, São José dos Campos e volta a Belo Horizonte” (VIEIRA, 2007, p.8).

119

doando terreno para sua edificação, a gestão apresentou um claro direcionamento da

política econômica citadina com vistas à atividade turística, o que resultou na criação

do “Maior São João do Mundo”, na Micarande e no Encontro para a Nova Consciência.

Assim como atesta Carlos Augusto de Amorim Cardoso em sua Tese doutoral (2000,

p.147): “Esse conjunto de espetáculos - e o turismo de eventos - tornou-se umas das

principais “bandeiras” da Prefeitura na área de entretenimento popular”. Ainda

complementa o mesmo autor que “A metodologia das festas de Campina Grande

tornou-se um modelo do turismo de eventos, uma espécie de reciclagem, para

mercantilizar a cidade na forma de espetáculos e produtos de consumo” (CARDOSO,

ibid, p.148). Esse parece ter sido o erro que não só Campina Grande cometeu, o de

ver a atividade turística, quase que exclusivamente como segmento econômico da

cidade. A revolução tecnológica após a década de 1970 e suas conseqüências na

sociedade, permitiu, dentre outras coisas, a liberação de tempo de trabalho para o

ócio. Na década seguinte a atividade turística se tornaria a redenção para o

desenvolvimento econômico local. Pautado, sobretudo, pela ideologia da indústria do

turismo, Indústria branca (menos poluente), as cidades e localidades incorreram na

busca da planificação de políticas econômicas pautadas na atividade turística.

A falta de uma secretaria de Ciência e Tecnologia nos moldes da antiga

FUNDACT, que oriente a política em C&T e industrial na cidade e pleiteie recursos

federais, aparece como um dos maiores entraves a consolidação do Tecnopolo

Campina Grande-PB. Esse quadro, todavia, anda na contramão da tendência

verificada em outros tecnopolos, como a implementada, pela Prefeitura Municipal de

Porto Alegre. Lá a política de atração de EBT’s e o forte marketing publicitário em

torno do nome: “Porto Alegre Tecnópolis”, parece consolidar a cidade nesse ramo de

mercado.

Enfrentando problemas ou não, percebe-se a emergência da cidade como

tecnopolo. Sua constituição apresenta um conjunto de IES e técnico, centros de P&D

e uma centena de EBT’s que exportam seus produtos e serviços para EUA, Canadá,

Europa, América do Sul e alguns países da Ásia. Resultado da pré-existente base de

atividades menos sofisticadas nesse campo e da presença de uma elite

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